Unico - Socilogia 2008

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1 1 Índice Unidade Título Página Os 10 Mandamentos Do Vestibulando 03 Aula 01 O Conhecimento em Ciências Sociais 04 Aula 02 Auguste Comte (1798-1857)(...) 06 Aula 03 A Tradição Francesa: Émile Durkheim 08 Aula 04 As Principais Correntes Teóricas 10 Aula 05 Relação Homem/Natureza 12 Aula 06 Exploração ou libertação 15 Aula 07 O trabalho na época contemporânea 17 Aula 08 Indivíduo, Identidade e Socialização 19 Aula 09 Estrutura e Estratificação Social 22 Aula 10 Desigualdades Sociais: Explicações Teóricas 24 Aula 11 Mudança/Transformação Social 26 Aula 12 Movimentos sociais contemporâneos 27 Aula 13 Política/ Estado 29 Aula 14 Estado Moderno: Poder e Representação 33 Aula 15 Cultura e Diversidade Cultural 35 Aula 16 A Indústria Cultural e a Ideologia 37 Aula 17 Indústria Cultural 39 Aula 18 Ideologia 41 Atividade 01 42 Atividade 02 45 Atividade 03 47 UEL 2006 50

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Índice

Unidade Título Página

Os 10 Mandamentos Do Vestibulando 03

Aula 01 O Conhecimento em Ciências Sociais 04

Aula 02 Auguste Comte (1798-1857)(...) 06

Aula 03 A Tradição Francesa: Émile Durkheim 08

Aula 04 As Principais Correntes Teóricas 10

Aula 05 Relação Homem/Natureza 12

Aula 06 Exploração ou libertação 15

Aula 07 O trabalho na época contemporânea 17

Aula 08 Indivíduo, Identidade e Socialização 19

Aula 09 Estrutura e Estratificação Social 22

Aula 10 Desigualdades Sociais: Explicações Teóricas 24

Aula 11 Mudança/Transformação Social 26

Aula 12 Movimentos sociais contemporâneos 27

Aula 13 Política/ Estado 29

Aula 14 Estado Moderno: Poder e Representação 33

Aula 15 Cultura e Diversidade Cultural 35

Aula 16 A Indústria Cultural e a Ideologia 37

Aula 17 Indústria Cultural 39

Aula 18 Ideologia 41

Atividade 01 42

Atividade 02 45

Atividade 03 47

UEL 2006 50

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Apresentação

Caro Vestibulando:

A apostila de Sociologia 2007 esta voltada aos vestibulares da UEL, UEM e UFPR. Este material foi

elaborado cuidadosamente, destacando sempre os conteúdos dos programas das provas de vestibulares

2007 das universidades citadas.

Este material tem como colaborador o site www.vestibular1.com.br, onde o mesmo permitiu a

utilização de forma impressa de seu conteúdo elaborado pelo Prof. Mstndo Cláudio Silva. Sendo de

extrema importância sempre que fazer uso deste material ou de qualquer outro material; colocar a

referência, preponderando assim os diretos seja de publicação, seja de autoria.

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OS 10 MANDAMENTOS DO VESTIBULANDO

I - Não escolherás uma profissão pensando apenas no mercado de trabalho e no retorno financeiro. O

candidato tem de buscar sempre saber o porquê de estar realizando o vestibular e, também, o motivo

de estar escolhendo uma determinada carreira. O autoconhecimento é condição fundamental para uma

decisão adequada. É preciso escolher algo de que se vá gostar.

II - Honrarás teus pais sendo feliz com tua escolha profissional.

O vestibulando deve dialogar com os pais para que eles compreendam e respeitem suas decisões. Uma

recomendação é que não haja promessas de ambos os lados (por exemplo, o compromisso de ganhar

um carro com a aprovação no concurso é um fator de ansiedade).

III - Amarás o próximo como a ti mesmo, mas, no dia do vestibular, competirás com ele. Ninguém

precisa rejeitar os amigos nem adotar um comportamento agressivo, mas é necessário ser competitivo

no momento da prova para buscar o melhor desempenho possível.

IV - Respeitarás teus hábitos de alimentação, sono, diversão e descanso.

A disciplina de estudos é importante, mas deve haver espaço para o lazer. O tempo de sono, por

exemplo, deve ser preservado. O lazer diminui a possibilidade do estresse. Na alimentação, frutas,

líquidos e alimentos leves são recomendados. Remédios contra a ansiedade e estimulantes não devem

ser tomados por conta própria.

V - Buscarás o apoio incondicional dos teus familiares. Um ambiente tranqüilo é o mais recomendável

para o estudo. Todo o grupo familiar deve colaborar com o vestibulando, mas sem cobrar dele o tempo

de estudo, por exemplo, para não aumentar a ansiedade.

VI - Não estudarás toda a matéria nos últimos dias antes da prova. O conhecimento exigido no

vestibular é construído ao longo do Ensino Médio. O melhor momento para aprender é a explicação

em aula, para a qual o aluno deve prestar o máximo de atenção. A prova do vestibular é o término de

um processo.

VII - Vestibular é vida. Vida não é vestibular. Respeitarás teu ritmo de estudo e teus limites. A idéia é

descobrir o tempo ideal de estudo, em lugar de estudar horas a fio ou sacrificar o sono sem conseguir

se concentrar. Uma sugestão é revisar a matéria fazendo resumos dos conteúdos e resolvendo provas

de vestibulares passados. É importante também contextualizar as informações de cada matéria,

procurando correspondência com as outras disciplinas.

VIII - Conhecerás antecipadamente o local da prova e não esquecerás os documentos no dia. É

importante visitar o local de prova para saber como é o trajeto e para conhecer os horários dos meios

de transporte disponíveis (ônibus, lotação, táxi, etc). No dia da prova, evite correrias deslocando-se

com antecedência para a prova.

IX - Não farás das provas teste de rapidez e ocuparás todo o tempo disponível. O recomendável é ler

atentamente os enunciados das questões, para interpretá-las corretamente. Outra dica é garantir o

máximo de acertos com as questões consideradas mais fáceis, enfrentando depois as mais

complicadas.

X - Nunca desistirás da tua identidade profissional. Persistirás na busca da faculdade que desejas,

mesmo se fores reprovado. Se a convicção pela a escolha profissional é firmada no autoconhecimento,

o vestibulando deve perseguir sempre seu objetivo, sem esmorecer com eventuais reprovações.

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AULA - 01

I. O Conhecimento em Ciências Sociais

Sociologia é o estudo do comportamento social das interações e organizações humanas. Todos nós somos sociólogos porque estamos sempre analisando nossos comportamentos e

nossas experiências interpessoais em situações organizadas.. O objetivo da sociologia é tornar

essas compreensões cotidianas da sociedade mais sistemáticas e precisas, à medida que suas

percepções vão além de nossas experiências pessoais.

A sociologia estuda todos os símbolos culturais que os seres humanos criam e usam

para interagir e organizar a sociedade; ela explora todas as estruturas sociais que ditam a

vida social, examina todos os processos sociais, tais como desvio, crime, divergência, conflitos,

migrações e movimentos sociais, que fluem através da ordem estabelecida socialmente; e busca

entender as transformações que esses processos provocam na cultura e estrutura social.

O mundo hoje está passando por uma transformação dramática: o aumento de conflitos

étnicos, o desvio de empregos para países com mão-de-obra mais barata, as fortunas instáveis da

atividade econômica e do comércio, a dificuldade de serviços de financiamento do governo, a

mudança no mercado de trabalho, a propagação de uma doença mortal ( AIDS), o aumento da

fome nas superpopulações , a quebra do equilíbrio ecológico, a redefinição dos papéis sociais

dos homens e das mulheres e muitas outras mudanças . Enquanto a vida social e as rotinas

diárias se tornam mais ativas, a percepção sociológica não é completamente necessária. Mas,

quando a estrutura básica da sociedade e da cultura muda, as pessoas buscam o conhecimento

sociológico. Isso não é verdade apenas hoje – foi a razão principal de a sociologia surgir em

primeiro plano como uma disciplina diferente nas primeiras décadas do século XIX.

O SURGIMENTO DA SOCIOLOGIA

No limiar do século XXI, estamos vivendo um momento da História que os especialistas

estão denominando de globalização. Uma das características marcantes da globalização são os

sistemas de comunicação que unem e aproximam os espaços. A televisão, por exemplo, coloca

um fato de um país distante dentro de nossa casa no mesmo momento em que ele está

acontecendo, e tudo parece estar ocorrendo ali ― na esquina de nossa casa‖.

A tecnologia da comunicação imprimiu maior velocidade ao mercado econômico, fazendo

com que a mercadoria circulasse e fosse distribuída mais rapidamente. Utilizando a expressão de

McLuhan, o mundo se transformou em uma aldeia global. Ianni (1922) e Souza Neto (1998)

constatam que a globalização não é um fato acabado, mas um fenômeno em marcha, que destrói

possibilidades e, ao mesmo tempo, cria outras. É um movimento que atinge todas as esferas da

vida social, individual e coletiva.

Em cada lugar ou cidade, a globalização toma uma diferente fisionomia, ou seja, uma coisa

é a interface da globalização com a cidade de são Paulo, outra coisa é a mesma interface em

Salvador, na Bahia. Na expressão de Castells (1999), a sociedade hoje é a sociedade da

informação, uma sociedade em rede, que conecta e desconecta em qualquer momento e lugar.

Uma sociedade em rede ultrapassa as relações sociais e técnicas de produção, atinge a cultura e as

relações de poder.

Rifkin (1995) caracteriza o movimento da globalização como uma era de mercados

globais , de produção automatizada, o processo produtivo à vista quase sem a presença do

trabalhador da forma pela qual estamos acostumados, as multinacionais buscando abrir as

fronteiras e transformando a vida de bilhões de pessoas para conquistar os mercados

globais. Ele constata que a dinâmica da globalização poderá conduzir a humanidade a um

porto seguro ou a um terrível abismo. Se de um lado o fim do trabalho é a sentença de morte

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5 da civilização, poderá sinalizar também algumas mudanças que provocarão um ressurgimento do

espírito humano. Enfim, ―o futuro está em nossas mãos‖.

Através dos tempos , o homem pensou sobre si mesmo e sobre o universo. Contudo, foi

apenas no século XVIII que uma confluência de eventos na Europa levou à emergência da

sociologia. Quando os antigos sistemas feudais começaram a abrir caminho ao trabalho

autônomo que promovia a indústria nas áreas urbanas e quando novas formas de governo

começaram a desafiar o poder das monarquias, as instituições da sociedade - emprego e receita,

planos de benefícios , comunidade , família e religião - foram alteradas para sempre. Como era

de se esperar, as pessoas ficaram inquietas com a nova ordem que surgia e começaram a

pensar mais sistematicamente sobre o que as mudanças significavam para o futuro ( Turner,

Beeghley e Powers, 1989).

O movimento intelectual resultante é denominado de Iluminismo ou Século das Luzes, pois

a influência da religião, da tradição e do dogma no pensamento intelectual foi finalmente

rompida. A ciência agora poderia surgir plenamente como uma maneira de pensar o mundo; já a

física e, mais tarde, a biologia foram capazes de superar a perseguição realizada pelas elites

religiosas e estabeleceram-se como um caminho para o conhecimento. Junto com o crescimento

da influência da ciência, veio uma avalanche de conceitos sobre o universo social. Muitos desses

conceitos, de caráter especulativo, avaliavam a natureza dos homens e as primeiras sociedades

infiltradas pela complexidade do mundo moderno. Parte desses conceitos era moralista, mas não

no sentido religioso. Com eles, o tipo adequado de sociedade e de relações entre indivíduos (

uns com os outros e na sociedade) foi reavaliado com base nas mudanças econômica e política

ocorridas com o comércio e, em seguida, com a industrialização. Na Inglaterra, esse novo

pensamento foi denominado de Era da Razão; e estudiosos, como Adam Smith (1776), que

primeiramente articulou as leis da oferta e da procura na área de mercado, também avaliaram

os efeitos, na sociedade, do rápido crescimento populacional, da especialização econômica em

escala , da comunidade em declínio e dos sentimentos morais debilitados. Na França, um grupo

de pensadores conhecido como filósofos das luzes também começou a expor uma visão do

mundo social que defendia uma sociedade em que os indivíduos eram livres da autoridade

política arbitrária e eram guiados por padrões morais combinados e pelo governo democrático.

Ainda outra influência por trás do surgimento da sociologia – a Revolução Francesa, de

1789 – acelerou o pensamento sistemático sobre o mundo social. A violência da revolução foi um

choque para toda a Europa, pois, se tal violência e influência puderam derrubar o velho regime,

o que houve para substituí-lo? Como a sociedade poderia ser reconstruída a fim de evitar tais

eventos cataclísmicos? É nesse ponto, nas décadas finais do século XVIII e início do XIX,

que a sociologia como uma disciplina autoconsciente foi planejada.

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AULA - 02

Auguste Comte (1798-1857), o Fundador da Sociologia.

A herança francesa do Iluminismo e as ondas de choque da Revolução Francesa levaram

Auguste Comte em seu quinto volume do Curso de Filosofia Positiva ( 1830-1842) a

examinar a solicitação por uma disciplina dedicada ao estudo científico da sociedade . Comte

quis chamar essa disciplina de ― física social‖ para enfatizar que estudaria a natureza

fundamental do universo social, mas ele foi praticamente forçado a determinar o termo híbrido

greco-latino, sociologia.

―As múltiplas controvérsias entre os sociólogos‖ praticamente

desaparecem quando se trata de determinar a ―paternidade‖ da

sua disciplina. Quase todos eles concordam que a Sociologia

começa com a obra de Augusto Comte ( 1798 – 1857). Além

de cunhar o nome da nova ciência, foi de Comte a primeira

tentativa de definir-lhe o objeto, seus métodos e problemas

fundamentais; bem como a primeira tentativa de

determinar-lhe a posição no conjunto das ciências.” (GALLIANO, 1981, p.30)

O problema central para a sociologia era aquele que tinha sido articulado pelos pensadores

mais antigos do Iluminismo: como a sociedade deve ser mantida unida quando se torna maior,

mais complexa, mais variada, mais diferenciada, mais especializada e mais dividida? A resposta

de Comte foi que as idéias e as crenças comuns precisavam ser desenvolvidas para dar à

sociedade uma moralidade "universal‖. Essa resposta nunca foi desenvolvida, mas a preocupação

com os símbolos e a cultura, como uma força unificadora para manter a essência do conceito

sociológico francês, existe até os dias de hoje.

Uma tática que Comte empregou para fazer com que a sociologia parecesse legítima foi

postular a lei dos três estados, na qual o conhecimento está sujeito, em sua evolução, a passar

por três estados diferentes. O primeiro estado é o teológico, em que o pensamento sobre o mundo

é dominado pelas considerações do sobrenatural, religião e Deus; o segundo estado é o metafísico,

em que as atrações do sobrenatural são substituídas pelo pensamento filosófico sobre a essência

dos fenômenos e pelo desenvolvimento da matemática, lógica e outros sistemas neutros de

pensamento; e o terceiro estado é o positivo, em que a ciência , ou a observação cuidadosa dos

fatos empíricos, e o teste sistemático de teorias tornam-se modos dominantes para se acumular

conhecimento. E com o estado positivo o conhecimento pode Ter utilidade prática a fim de

melhora as vidas das pessoas.

A sociedade como um todo, bem como o pensamento sobre cada domínio do universo, evolui

através desses três estágios, mas em velocidades diferentes: a astronomia e a física primeiro,

depois a química e a biologia, e finalmente a sociologia surge como o último modo de pensar

para entrar no estado positivo. Na visão de Comte, a análise da sociedade estava pronta para

ser reconhecida como ciência - uma reivindicação que era desafiada na época de Comte, assim

como ainda hoje. E como as leis da organização humana eram desenvolvidas , Comte ( 1851-

1854) acreditava que elas poderiam ser usadas para melhorar a condição humana - novamente ,

um tema tão controverso hoje quanto na época de Comte.

Uma segunda tática legítima empregada por Comte foi postular a hierarquia das ciências,

na qual todas as ciências eram ordenadas de acordo com sua complexidade e seu

desenvolvimento no estado positivo. Na parte inferior da hierarquia estava a matemática, a

língua de todas as ciências mais altas na hierarquia, e no topo, surgindo da biologia, estava a

sociologia, que num momento de êxtase Comte definiu como ―ciência da humanidade‖,

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7 coroamento de toda a formação científica. Pois, se a sociologia foi a última ciência a surgir, era

também a mais avançada em relação a seu assunto, como um modo legítimo de questionamento.

O PRIMEIRO SOCIÓLOGO INGLÊS : HERBERT SPENCER ( 1820-1903)

Como Comte, Spencer acreditava que os agrupamentos humanos podiam ser estudados

cientificamente, e em seu notável trabalho “Os Princípios da Sociologia” ( 1874-1896), ele

desenvolveu uma teoria de organização social do homem, apresentando uma vasta série de

dados históricos e etnográficos para fundamentá-la. Para Spencer, todos os domínios do universo

– físico, biológico e social - desenvolvem-se segundo princípios semelhantes. E a tarefa da

sociologia é aplicar esses princípios ao que ele denominou de campo superorgânico, ou o estudo

dos padrões de relações dentre os organismos.

Spencer retorna a questão de Comte: o que mantém unida a sociedade quando esta se

torna maior, mais heterogênea, mais complexa e mais diferenciada? A resposta de Spencer em

termos gerais , foi muito simples: sociedades grandes complexas, desenvolvem: 1)

interdependências dentre seus componentes especializados; e 2) concentrações de poder para

controlar e coordenar atividades dentre unidades interdependentes. Para Spencer a evolução da

sociedade engloba o crescimento e a complexidade que é gerenciada pela interdependência e

pelo poder. Se os padrões da interdependência e concentrações de poder falham ao surgir na

sociedade, ou são inadequados à tarefa , ocorre a dissolução, e a sociedade se desmorona.

Ao desenvolver resposta à questão básica de Comte, Spencer fez uma analogia aos corpos

orgânicos, argumentando que as sociedades, como organismos biológicos, devem desempenhar

certas funções-chave se elas quiserem sobreviver. As sociedades devem reproduzir-se; devem

produzir bens e produtos para sustentar os membros ; devem prover a distribuição desses

produtos aos membros da sociedade; e elas devem coordenar e regular as atividades dos

membros. Quando as sociedades crescem e se tornam mais complexas, revelando muitas

divisões e padrões de especialização , estas funções –chave tornam-se distintas ao longo de três

linhas:

1) a operacional ( reprodução e produção ),

2) a distribuidora ( o fluxo de materiais e informação),

3) a reguladora ( a concentração de poder para controlar e coordenar).

Spencer é mais bem lembrado por instituir uma teoria na sociologia conhecida como

funcionalismo. Essa teoria expressa a idéia de que tudo o que existe em uma sociedade

contribui para seu funcionamento equilibrado; de que tudo o que nela existe tem um

sentido, um significado. A sociologia funcionalista dessa maneira faz uma pergunta básica e

interessante: o que um fenômeno cultural ou social faz para a manutenção e integração da

sociedade?

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AULA - 03

A Tradição Francesa: Émile Durkheim (1858-1917) O que marca a contribuição de Durkheim à sociologia é o reconhecimento de que os

sistemas de símbolos culturais - ou seja, valores, crenças , dogmas religiosos, ideologias etc.-

são uma base importante para a integração da sociedade ( J. Turner, 1981). À medida que as

sociedades se tornam complexas e heterogêneas, a natureza de símbolos culturais, ou o que

Durkheim (1893) denominou de consciência coletiva, muda. Em sociedades simples, todos os

indivíduos têm uma consciência coletiva comum que regula seus pensamentos e ações, ao passo

que em sociedades mais complexas a consciência coletiva deve também mudar se a sociedade

deve manter-se integrada. Deve tornar-se mais ―generalizada‖ e ―abstrata‖ a fim de fornecer

alguns símbolos comuns dentre as pessoas em atividades especializadas e separadas, ao passo

que em outro nível se torna também mais concreta para assegurar que as relações entre, e

interiormente, as posições especializadas e organizações nas sociedades complexas sejam

reguladas e coordenadas. A condição social, entretanto, é possível em sociedades grandes,

complexas quando há alguns símbolos comuns que todos os indivíduos partilham, juntamente

com grupos específicos de símbolos que guiam as pessoas em suas relações concretas com os

outros ( J. Turner, 1990). Se esse equilíbrio observado entre os aspectos abstrato e específico ou

os gerais e concretos da consciência coletiva não é observado, então várias patologia se tornam

evidentes ( Durkheim, 1893,1897).

Durkheim (1912) estudou posteriormente a sociedade num nível mais interpessoal,

procurando entender a formação da consciência coletiva. Em seu estudo sobre a religião dos

aborígenes australianos, Durkheim estava menos interessado na religião do que nos processos

interpessoais que produzem a consciência coletiva. O que ele descobriu foi o significado da

interação entre as pessoas, como isso produzia o sentimento de que há uma ―força‖

sobrenatural acima e além delas. Ao compreender o poder dessa força que nascia da animação

e energia das interações , os aborígenes construíram totens e se engajaram em rituais para

honrar as forças sobrenaturais, agora simbolizadas pelos totens. Dessa observação, Durkheim

concluiu que a adoração aos deuses e ao sobrenatural é , na realidade, a adoração da própria

sociedade e dos vínculos gerados pela interação entre as pessoas. Assim, a ―cola‖ que mantém

unida a sociedade é sustentada pelas interações concretas entre os indivíduos.

KARL MARX ( 1818-1883)

Marx sentiu que cada época histórica era construída em torno de um tipo específico de

produção econômica ,organização de trabalho e controle de propriedade, revelando, assim, sua

própria dinâmica. Para Marx, a organização de uma sociedade num momento histórico específico

é determinada pelas relações de produção, ou a natureza da produção e a organização do

trabalho. Assim, a organização da economia é o material-base, ou, em seus termos, a infra-

estrutura, que descreve e dirige a superestrutura, que consiste de cultura, política e outros

aspectos da sociedade. O funcionamento da sociedade humana deve ser entendido por sua base

econômica ( Marx e Engels, 1846).

Para Marx (1867), há sempre o que ele denominou de “ contradições” próprias na estrutura

da base econômica. Por exemplo, no capitalismo ele viu que a organização da produção ( em

fábrica) se encontrava em contradição quanto à propriedade privada de bens e à obtenção de

lucro por poucos a partir do trabalho cooperativo de muitos. Quais sejam os méritos desse

argumento, Marx tem como base da contradição nas sociedades humanas as relações entre

aqueles que controlam os meios de produção e aqueles que não. Argumentando dessa forma,

Marx tornou-se a inspiração para a linha de estudo da sociologia conhecida como a “teoria

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9 do conflito” ou a “sociologia do conflito”. Desse ponto de vista, todas as estruturas da

organização social revelam desigualdades que levam ao conflito, em que aqueles que detêm

ou controlam os meios de produção podem consolidar o poder e desenvolver ideologias

para manter seus privilégios, enquanto aqueles sem os meios de produção eventualmente

entram em conflito com os mais privilegiados ( Marx e Engels, 1848). No mínimo, há sempre

uma contradição ardente entre as relações de produção nos sistemas sociais, e essa “luta de

classes” , ou seja, conforme a percepção de Marx quanto a essa questão, periodicamente explode

esse conflito aberto e uma mudança social.

A análise sociológica deve, portanto, concentrar-se nas estruturas de desigualdade e nas

combinações entre aqueles com poder, privilégio e bem-estar material, por um lado , e os

menos poderosos, privilegiados e materialmente abastados, por outro. Para Marx e as

gerações subseqüentes de estudiosos do conflito, ―a ação está‖ dentro da organização social

humana.

Há ainda outra importante faceta do trabalho de Marx: a função militante do sociólogo. O

objetivo da análise é expor a desigualdade e a exploração em situações sociais e, assim

fazendo, desempenhar papel militante para superar essas condições. Os sociólogos não devem

apenas ficar na platéia; eles devem trabalhar para mudar o mundo social de modo a reduzir as

desigualdades e a dominação de um segmento da sociedade pelo outro. Marx propõe a

superação do modo de produção capitalista e a uma nova forma de produção com base no

coletivismo. Esse programa permanece ainda como fonte de inspiração para muitos sociólogos

que participam como militantes no mundo social.

MAX WEBER ( 1864-1920)

Weber enfatizava que a desigualdade é multidimensional e não exclusivamente baseada na

economia, que o conflito é contingente em condições históricas e não é o resultado inevitável

e inexorável da desigualdade, e que a mudança poderia ser causada pelas ―idéias‖ assim como

a base material e econômica de uma sociedade. Ele também realçou que a sociologia deve

olhar tanto para a estrutura da sociedade como um todo para os significados que os

indivíduos conferem para essas estruturas. Como Marx, ele duvidava de que houvesse leis

gerais da organização humana, mas, ao contrário de Marx, ele sentia que é necessário que

sejam isentas de juízos de valor, ou objetivas, na descrição e análise dos fenômenos sociais.

A SOCIOLOGIA HOJE

A sociologia é agora uma área ampla e diversa que analisa todas as facetas da cultura, da estrutura

social, do comportamento e interação e da mudança social.

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AULA - 04

AS PRINCIPAIS CORRENTES TEÓRICAS E AS

POSSIBILIDADES DE ANÁLISE CIENTÍFICA DOS

PROBLEMAS SOCIAIS TEORIZAÇÃO FUNCIONAL

- Vê o universo social como um sistema de partes interligadas ( Turner e Maryanski,

1979)

- As partes são analisadas em termos de suas conseqüências, ou funções para o sistema

maior;

- Uma parte é examinada com respeito a como se preenche uma necessidade ou requisito do

todo

- As teorias funcionalistas nos levam a ver o universo social, ou qualquer parte dele, como

um todo sistêmico cujos elementos constitutivos funcionam em conjunto; ou seja, o

funcionamento de cada elemento tem conseqüências sobre o funcionamento do todo

Problema: as teorias funcionalistas freqüentemente vêem as sociedades como demasiadamente bem

integradas e organizadas.

1. TEORIAS DO CONFLITO

Expoentes: Karl Marx e Max Weber

- Vêem o mundo social segundo suas contradições

- Vêem os fatos sociais cheios de tensão e contradições ( Collins , 1975)

- A desigualdade é a força que move o conflito

- O conflito é a dinâmica central das relações humanas

- As contradições se manifestam em formas distintas de conflito

- O conflito é uma contingência básica da vida social

2. TEORIAS INTERACIONISTAS

- Os homens interagem emitindo símbolos – palavras, expressões faciais, corporais ou

qualquer sinal que ―signifique‖ algo para os outros e para si mesmos ( Goffman)

- Através de gestos simbólicos demonstramos nosso estado de espírito, intenções e sentido

de ação; e contrariamente, pela leitura dos gestos dos outros, obtemos um sentido do

que eles pensam e como eles de comportarão

- A vida social está mediada por símbolos e gestos ;

- Usamos esses gestos para nos entendermos uns com os outros, para criarmos imagens

de nós mesmos e das situações e construirmos uma idéia de situações futuras ou

desejadas

- Para os interacionistas, a explicação da realidade social deve emanar da investigação

meticulosa do micromundo dos indivíduos que mutuamente interpretam os gestos ,

que constróem as imagens de si próprios e definem a situações segundo certos

princípios

- As macro ou grandes estruturas da sociedade – o Estado, a economia, a estratificação e

similares – são construídos e sustentados por microinterações

- Para os interacionistas seria impossível entender o mundo social sem investigar esses

encontros no micronível

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3. TEORIAS UTILITARISTAS

- Vêem os homens como racionais até o ponto em que eles têm objetivos e finalidades;

- Calculam os custos das várias alternativas para atingir esses objetivos e escolher a

alternativa que maximize seus benefícios ( ou o que os economistas chamam de

utilidade e minimizar seus custos

- Para os teóricos utilitaristas, todas as relações sociais são, em última análise, trocas entre

atores que incluem custos a fim de obter benefícios uns dos outros , ou seja, que

calculam a relação custo – benefício

- A interação, a sociedade e a cultura são criadas e sustentadas porque elas oferecem

bons resultados para indivíduos racionais.

Esses resultados raramente são monetários ; em geral , eles são ―posses‖ menos tangíveis –

sentimentos pessoais, afeição orgulho , estima , poder , controle e outras moedas ―suaves‖ que

estruturam a sociedade.

BIBLIOGRAFIA

BOTTOMORE T. B. . Introdução à sociologia. 5ª ed. Rio de Janeiro. Zahar; Brasília, INL, 1973 ( Biblioteca de Ciências Sociais)

GALLIANO. Introdução à sociologia. São Paulo: Harbra, 1986.

POSITIVO, apostila seg. série - ens. médio

SOUZA, S.M.R. Um outro olhar. São Paulo: FTD, 1995.

TURNER. Jonathan H. Sociologia: conceitos e aplicações. São Paulo: Makron Books, 1999.

AULA - 05

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12 II. Relação Homem/Natureza: a questão do trabalho na

perspectiva antropológica e sociológica

A relação entre o homem e a natureza nas várias sociedades da perspectiva do trabalho e da

cultura:

A questão ambiental e as diversas sociedades

A dinâmica rural e urbana

As várias formas de trabalho: escravo, servil e assalariada

As transformações recentes no mundo do trabalho

A palavra trabalho vem do latim tripalium:

Tripalium era um instrumento feito de três paus aguçados, algumas vezes ainda

munidos de pontas de ferro, no qual os agricultores bateriam o trigo, as espigas

de milho, para rasgá-los , esfiapá-los. A maioria dos dicionários , contudo, registra

tripalium apenas como instrumento de tortura, o que teria sido originalmente, ou

se tornado depois. A tripalium se liga o verbo do latim vulgar tripaliare, que

significa justamente ― torturar‖.

Essa é uma faceta da realidade evocada no termo trabalho , aquela que revela a dureza,

a fadiga, a dificuldade, irreversivelmente constitutivas da vida humana. Talvez por isso não seja

incomum encontrar no repertório simbólico de diversas culturas tal percepção do trabalho como

pena.

O único ser vivo capaz de agir além daquilo que seu equipamento biológico permite de

imediato é o homem. Ele não é provido de asas e de estrutura óssea favorável ao vôo, mas voa

inventando um avião. Ele não está equipado para retirar oxigênio diretamente da água, mas isso

não o impede de descer ao fundo dos mares, seja em submarinos, seja por intermédio de

equipamentos apropriados como tanques de oxigênio, escafandros, máscaras, etc. Tudo isso indica

que o homem é um animal ímpar. Embora permanecendo animal, livra-se dos laços que o

prendem à natureza.

O trabalho é um fazer exclusivo do ser humano. Determinado materialmente como corpo,

como organismo, ele é dotado de vida. E a vida humana suplanta a sua dimensão biológica,

corpórea , orgânica e deixa de ser somente fato para ser também um valor.

Os gregos , dados às minúcias da intuição e aos refinamentos da razão, deixaram

reflexões argutas sobre a questão do trabalho e parecem menos ingênuos do que os

contemporâneos. É freqüente encontrarmos , nos textos da Grécia clássica, formulações em que

aparecem o desprezo pelo trabalho e o culto da única atividade digna do homem livre: o ócio

dos filósofos. Embora tais idéias expressem verdades, vale a pena tomar conhecimento das

reflexões de uma categorizada autora contemporânea, Hannah Arendt (1897:94-5), historiadora

norte-americana de origem alemã:

― Ao contrário do que ocorreu nos tempos modernos, a instituição da escravidão na

Antigüidade não foi uma forma de obter mão-de-obra barata nem instrumento de

exploração para fins de lucro, mas sim a tentativa de excluir o labor das condições da

vida humana. Tudo o que os homens tinham em comum com as outras formas de vida

animal era considerado inumano. ( Essa era também, por sinal, a razão da teoria grega, tão

mal-interpretada, da natureza inumana do escravo. Aristóteles, que sustentou tão

explicitamente a sua teoria para depois, no leito de morte, alforriar seus escravos, talvez

não fosse tão incoerente como tendem a pensar os modernos. Não negava que os

escravos pudessem ser humanos; negava somente o emprego da palavra homem para

designar membros da espécie humana totalmente sujeitos à necessidade.) E a verdade é

que o emprego da palavra animal no conceito de animal laborans, ao contrário do outro

uso, muito discutível, da mesma palavra na expressão animal rationale, é inteiramente

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13

13 justificado. O animal laborans é, realmente, apenas uma das espécies animais que vivem

na Terra - na melhor das hipóteses a mais desenvolvida.‖

Percebe-se que, para os antigos gregos, não estava presente a adesão irrefletida à

escravidão e uma rejeição do trabalho como algo indigno em si mesmo. A se crer nas

advertências de Hannah Arendt, eles produziram tal interpretação da realidade humana do

trabalho que o problema da tensão entre liberdade da razão e a necessidade do labor se

exprimia na contradição entre o animal laborans e o animal rationale.

A justificativa da escravidão , feita por Aristóteles em sua Política, mais que exprimir

a apologia da ascendência de uma homem sobre outro, de um homem que se apropria de

outro para explorá-lo, para auferir lucro, aponta a percepção de uma contradição que perpassa

todas as dimensões da vida humana e que, no caso do trabalho, apresenta-se sempre como um

desafio entre liberdade e necessidade.

Os historiadores modernos, assumindo muitas vezes acriticamente os reparos e as

acusações que os renascentistas faziam à Idade Média, generalizaram a concepção de que foi

um período de trevas. Com tal afirmação queriam indicar que, entre os séculos V e XV, o

pensamento na Europa ficou enclausurado pela necessidade que a Igreja tinha de submeter o

conhecimento à fé, de modo que o uso do argumento de autoridade generalizou-se, impedindo

que se pensasse em direção não-autorizada por essa mesma fé.

O trabalho, que durante a Antigüidade grega se realizava sob forma geral da

escravidão, assume, na Idade Média, a forma geral da servidão. A queda do Império Romano

provocou mudanças na vida das cidades, com o conseqüente enfeudamento. Por toda a Europa

desenvolveu-se uma sociedade onde contingentes populacionais punham-se sob a proteção de

senhores da terra prestando-lhes homenagem ( promessa de fidelidade do vassalo ao senhor

feudal). As condições gerais dos exercício da atividade produtiva eram, portanto, análogas, isto é,

sob certos aspectos , semelhantes às da Antigüidade grega.

Do ponto de vista intelectual, o panorama medieval foi dominado pelas duas sínteses

filosóficas das verdades cristãs elaboradas por Santo Agostinho , no século V, e por Santo

Tomás de Aquino, no século XIII. Essas sínteses traduziam o credo cristão utilizando as

referências filosóficas dos gregos, respectivamente Platão e Aristóteles. Elas influenciaram as

reflexões sobre o homem , incluindo aquelas sobre o fazer humano, sobre o trabalho.

Durante a Antigüidade grega a preocupação de reafirmar a liberdade do homem no

âmbito da necessidade levou a uma visão do trabalho que o considerava indigno e servil, à

medida que atava o homem ao reino da necessidade.

Na Idade Média permanece a influência teórica de Platão e Aristóteles e, por isso o

problema é pensado mais ou menos nos mesmos termos, mas já com uma diferença marcante.

Santo Tomás de Aquino considera o trabalho um bem. Um bem árduo, mas um bem.

Tanto que o papa João Paulo II utiliza o texto do teólogo medieval como fonte de inspiração

para fazer uma veemente e explícita afirmação da intrínseca dignidade do trabalho humano.

Com o fim da Idade Média , irrompeu o Renascimento. Esse complexo movimento de

natureza filosófica, científica e artístico-cultural, ocorrido nos séculos XV e XVI, revolucionou a

Europa medieval e lançou as bases de uma nova concepção do trabalho. Inaugurou uma era de

inversão das concepções sobre o trabalho humano que chegou ao auge nas proposições de

glorificação do trabalho próprias da modernidade.

Tal trajetória teve muitas fases diferenciadas, muitos meandros , muitos desdobramentos,

e se manifestou em diversos âmbitos da vida humana. Isso desde o filosófico-cultural até o

político-econômico e religioso, formando um mosaico rico, variado e complexo e deixando suas

marcas também na dimensão técnico-científica. Isso se explica pelo fato de que a partir da

revolução científica do Renascimento e com uma retomada de ímpeto na Revolução Industrial,

as transformações sociais e econômicas foram cada vez mais céleres e amplas, espalhando - se

por todo o mundo e atingindo direta ou indiretamente um contingente populacional maior.

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14 Essas transformações encontram uma expressão vigorosa e diversificada no plano

religiosos a partir do desenvolvimento de uma ética religiosa do trabalho na Reforma

Protestante. Sua expressão mais forte está no calvinismo que entende o sucesso no trabalho e

nos negócios como provável índice da predestinação para a salvação e, portanto, como sinal da

benção divina. Para João Calvino ( 1509-1564), o homem se salva, independentemente de suas

obras, e deve viver o cristianismo no mundo através de uma moral rígida da simplicidade do

trabalho e da honestidade.

No que diz respeito ao campo econômico, o momento marcante dessa inversão, cuja

trajetória analisa-se agora, encontra-se nos séculos XVII e XVIII com o desenvolvimento da

economia política.

Os principais representantes da escola clássica sedimentaram uma visão da economia

segundo a qual o valor se identificava unicamente no trabalho em geral, fosse agrícola ou

industrial [ William Petti ( 1623-1697), Adam Smith (1723-1790) e Davi Ricardo (1772-1823)].

Posteriormente, Karl Marx (1818-1830 foi além dos economistas clássicos quando elaborou a

teoria da mais-valia e identificou no trabalho não só a fonte de todo valor, mas

principalmente o seu caráter social através de uma minuciosa rede de conceitos e distinções.

No terreno filosófico, a mais alta contribuição para a reviravolta na concepção acerca do

trabalho se exprimiu na filosofia de Georg W. Friedrich Hegel ( 1770-1831). Ele dá ao trabalho

uma importância capital no processo pelo qual o homem toma consciência de si mesmo,

pois essa consciência apenas se desenvolve quando o homem se encontra com os demais

no processo de criação do próprio mundo. O trabalho aparece, então, como lugar da conquista

da subjetividade, da consciência em si.

Porém, antes que o homem chegasse ao mundo contemporâneo ostentando uma nova

concepção do trabalho, orgulhoso de sua obra de domínio das forças naturais, embevecido com

as maravilhas que ele vinha alcançando e com o futuro de progresso e conforto que se

avizinhava, soaram alguns alarmes.

AULA - 06

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15 Exploração ou libertação

O ruído mais forte foi produzido por Karl Marx, que, ao analisar o modo de produção

capitalista, encontra um de seus fundamentos na alienação do trabalho umbilicalmente ligada à

existência da propriedade privada. Ele denuncia o fetichismo da mercadoria, o afastamento do

homem diante do que produz, o fato de que as relações entre os homens se dão como relações

materiais entre coisas, enquanto as relações entre coisas se dão como relações sociais entre

pessoas.

Mas, desde o século XV e até o século XIX, século em que Marx viveu e escreveu,

várias obras e reflexões, tanto quanto tentativas de ação, problematizaram a questão do trabalho

e da vida humana, de modo a revelarem as contradições que dilaceravam os homens, enquanto

estes produziam suas próprias condições de vida na sociedade que se modernizava.

Tommaso Campanella ( 1568-1639), Thomas Morus (1478-1535), os socialistas utópicos,

François Marie Charles Fourier (1772-1837), Pierre Joseph Proudhon ( 1809-1865), Claude Henry

de Rouvroy Saint-Simon ( 1760-1825), Robert Owen (1771-1859), o igualitarista François Noel

Babeuf ( 1760-1797) foram homens cujas ações e escritos agitaram o tempo em que viveram,

tratando da questão do trabalho, do poder, da vida social e econômica. Suas atividades

intelectuais e ações tragicamente críticas exprimiram a crença no trabalho como ―lugar‖ de

libertação e não de alienação e exploração.

Como se vê, a concepção de trabalho desde os gregos até a Idade Moderna é bastante

diversificada. Aqui aparecem apenas algumas breves indicações dessa trajetória.

A partir da modernidade, passando também pela valorização das artes mecânicas

consagradas pelos enciclopedistas, pela crença na razão como instrumento de domínio da

natureza e como construtora da liberdade, do progresso e da felicidade, chega-se ao mundo

contemporâneo.

Mas, nem bem o homem havia vislumbrado um futuro promissor durante o final do

século XIX, pois tinha, então, diante de si, o horizonte do progresso e do conforto que o trabalho

criara, o início do século XX encarregou-se de dar-lhe um grande susto. A ciência, cuja

aplicação prometia um mundo em que o homem caminharia a passos firmes para reduzir o

âmbito da necessidade e aumentar o espaço de liberdade , transformou-se em arma mortal.

Veio a Primeira Guerra Mundial, a crise de 1929, outra guerra mundial e, refeita do susto, mas

ainda temerosa, a humanidade no pós-guerra recuperou a esperança de viver num mundo de

estabilidade e progresso.

Hoje, (...), a humanidade encontra-se no meio de outra grande crise. Um se seus

aspectos mais preocupantes é a ameaça de “desemprego estrutural”. Enquanto o homem

avança para uma situação sempre tão almejada, de Ter à disposição meios de reduzir a fadiga

e o esforço no trabalho, vive a contradição de reduzir postos de trabalho numa velocidade

maior do que talvez as sociedades possam suportar sem criar sérios desequilíbrios. Assim, a

questão de se saber que direção dar a esse processo e de encontrar uma adequada forma de

ordenamento da vida , do trabalho e da apropriação de seus frutos , obriga o homem a pensar na

problemática das relações humanas, que se tornam cada vez mais conflituosas.

EM SÍNTESE

À medida que se relaciona com os outros homens e com a natureza, o homem constrói o

seu mundo histórico e produz a sua existência. É neste aspecto que ele se diferencia dos

outros animais, ao adaptar a natureza às suas necessidades, ou seja, diferencia-se pelo trabalho.

Portanto, para o homem continuar existindo, ele precisa produzir continuamente através do

trabalho; assim, a sua vida passa a ser dominada pelo modo como produz sua existência.

Com a consolidação do capitalismo no século XVIII, mais uma vez tornou-se necessário

dominar a natureza a favor do homem. E é na indústria que deverá ser investido. Será preciso

então incorporar a ciência no processo produtivo.

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16 Ainda durante o século XVIII, o movimento histórico impôs um rompimento com a

organização da sociedade baseada nos privilégios de nascimento, em que a nobreza e o clero

viviam , à custa de cargos do aparelho do Estado. Para estas classes, especialmente para a

nobreza, o trabalho era indigno. O envolvimento em atividades mercantis e industriais significaria

a perda dos seus privilégios.

Neste sentido, à medida que a sociedade capitalista se desenvolve, rompe-se com a

estratificação social e com a idéia de servidão, até então dominante. O homem passa a ser livre

para dispor , como quiser, da sua propriedade, que significava, segundo o liberalismo nascente, a

sua vida, a sua liberdade e os seus bens. Assim, o trabalhador do campo, ainda preso à terra,

pode considerar-se proprietário da sua força de trabalho e vendê-la aos donos dos meios de

produção ( proprietários); pois a sociedade que estava se consolidando era uma sociedade de

proprietários livres.

A sociedade se organizava a partir da indústria e incorporava a ciência ao processo

produtivo. A burguesia , então, procurava constituir-se como classe hegemônica. Defendia uma

sociedade igualitária, com escolarização obrigatória, gratuita e universal, uma vez que a escola

correspondia às necessidades do progresso e à formação do cidadão. Até então, a educação era

privilégio de poucos.

Alguns teóricos perceberam o avanço para a modernidade. Adam Smith ( 1723-1790) ,

economista que viveu no século XVIII, foi um deles. Ele procurou romper com o mercantilismo (

política econômica que norteava o comércio), ainda predominante nesse século. Mostrou que a

riqueza não se originava do comércio , mas do trabalho. Contrariou desta forma, os privilégios

do clero e da nobreza, que desprezavam o trabalho. Afirmou também que, para o trabalhador

possuir um pensamento mais ágil e dar conta do processo produtivo que a modernidade exigia,

era necessária a educação básica para todos, ―instrução para os trabalhadores, porém, em doses

homeopáticas‖. Ou seja, 0 trabalhador precisava somente de um mínimo de instrução para que

pudesse produzir de forma eficiente, mas sem ultrapassar este mínimo.

Como estabelecer o limite deste mínimo que o trabalhador deve dominar? Frederick

Winslow Taylor ( 1856 – 1915) vai se ocupar desta questão. Sua preocupação centrou-se em

detectar um método científico para aumentar a produtividade do trabalho, evitando a perda de

tempo da produção.

Nas suas investigações, Taylor percebeu que, na fábrica, mesmo havendo a separação

entre o saber e o fazer, o trabalho era ensinado oralmente, pelos próprios operários. Considerou,

então, fundamental tornar científica esta prática. Acreditava que cada movimento do operário

possuía uma ciência que deveria ser estudada por cientistas do trabalho, separando as fases de

planejamento e de direção da produção da execução. Ou seja, o saber do trabalhador deveria ser

apropriado pelo capital, garantindo a eficiência no processo de produção e impondo ao operário

o tempo e o ritmo do seu trabalho.

Taylor propôs que se tornassem científicos os movimentos do trabalhador, controlados

pela gerência. Henry Ford ( 1886-1947) avança as inovações tayloristas, introduzindo as linhas

de montagem nas quais a esteira e os sistemas automáticos impõem o ritmo da produção.

O trabalhador não precisava se locomover , pois as peças iam até ele. O operário se

confundia com a própria máquina. Esse método exigia apenas uma atividade motora e

dispensava qualquer iniciativa própria.

O homem foi reduzido a gestos mecânicos. Charles Chaplin faz , no seu filme Tempos

Modernos , uma crítica aos métodos pensados por Taylor e Ford.

AULA - 07

O trabalho na época contemporânea

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17

Hoje, com a construção de um mundo sem fronteiras e com a globalização da economia,

impõe-se , revolucionariamente, a microeletônica e a robótica trazendo inovações a uma

velocidade meteórica. Porém, ainda vivemos uma transitoriedade para as novas tecnologias, pois

o mundo da produção ainda convive com os paradigmas tradicionais do taylorismo /fordismo.

Por outro lado, vivencia também a automação, a flexibilização e a integração.

De qualquer maneira, o que se verifica é que dos anos 70 ( séc. XX) em diante, uma

inovação tecnológica possuía uma duração de dois anos, hoje, não dura seis meses e,

dependendo da área do saber, dura alguns dias, ou, às vezes, horas.

A ciência, que era dissociada do trabalho, torna-se força produtiva com as novas

tecnologias. Várias empresas, nos dias atuais, exigem que seus funcionários leiam os jornais

diariamente, justificando que quem não se informa não consegue acompanhar ou resolver os

problemas colocados pelo cotidiano.

A bagagem de conhecimento que um profissional recém –formado adquiriu na

universidade estará defasada se ele não estudar constantemente. Em outras palavras, o mundo do

trabalho só absorverá quem for capaz de aprender constantemente.

PERFIL EXIGIDO DO PROFISSIONAL HOJE:

Saber trabalhar em equipe;

Ser estudioso;

Ter uma visão global das coisas;

Saber liderar mudanças;

Ser flexível;

Busca aprendizado contínuo

De uma época em que se cultuou o trabalho como meio pelo qual o homem afirmava

sua soberania perante a natureza, dominando-a e construindo um novo mundo – a época moderna

-, chegou-se a um tempo em que o culto não é mais o do trabalho, mas o do lazer, do tempo livre

– a época contemporânea.

Tudo agora é interpretado em termos de eficiência, de eficácia, de produtividade. O ideal

de qualidade total, que se tornou uma das divisas da contemporaneidade, significa exatamente

isto: nenhuma atitude, nenhuma ação, nenhum gesto que possa ser substituído por um outro em

que a relação entre esforço despendido versus resultado alcançado é mais favorável, deve

permanecer.

Doravante todas as escolhas , seja a de uma opção de investimento, seja a da escola de

um filho, seja a de um médico, seja a de uma namorada, ou de uma religião, ou mesmo de um

representante no Congresso Nacional, devem seguir o mesmo critério que orienta a escolha de

um detergente ou sabão em pó nas gôndolas de um supermercado, isto é, a relação

custo/benefício.

Isso aconteceu e acontece, entre outros motivos, pelo transbordamento da racionalidade

técnica do mundo da industrialização para todas as outras instâncias da vida. No mundo

moderno, o homem potencializou o rendimento do trabalho pelo aprendizado , pelo conhecimento

das forças naturais e pela multiplicação da capacidade de uso dos recursos que a natureza lhe

oferece. mas os problemas daí advindos são as campainhas de um alarme que não cessa de

soar, indicando que o sucesso obtido pela humanidade no plano de sua ação material de

transformação da natureza não pode se dissociar da reflexão sobre o homem e sobre as

circunstâncias e a finalidade de sua ação.

A experiência tem chamado a atenção para o fato de que , talvez, tentar alcançar o

objetivo da maximização do rendimento do trabalho em detrimento da reflexão sobre o conteúdo

humano desse processo pode levar a humanidade a um malogro que, contraditoriamente, efetuar-

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18 se-ia exatamente no momento em que ela chegasse ao ponto mais alto de domínio da natureza

vivenciado em sua história.

BIBLIOGRAFIA

BOTTOMORE T. B. . Introdução à sociologia. 5ª ed. Rio de Janeiro. Zahar; Brasília, INL, 1973 ( Biblioteca de Ciências Sociais)

GALLIANO. Introdução à sociologia. São Paulo: Harbra, 1986.

POSITIVO, apostila seg. série - ens. médio

SOUZA, S.M.R. Um outro olhar. São Paulo: FTD, 1995.

TURNER. Jonathan H. Sociologia: conceitos e aplicações. São Paulo: Makron Books, 1999.

AULA - 08

Page 19: Unico - Socilogia 2008

19

19

III. INDIVÍDUO, IDENTIDADE E SOCIALIZAÇÃO.

A questão da identidade nas várias sociedades

A emergência do indivíduo/individualidade e do individualismo

A diversidade do processo de socialização

A questão da família e da escola na formação do indivíduo

INDIVÍDUO

“Indivíduo ou ser individual significa o portador ou sujeito concreto de uma essência em sua

peculiaridade não – comunicável. De indivíduo deriva individuação, termo que designa a

determinabilidade individual, ou seja, aquilo que faz com que este indivíduo seja precisamente

este e se distinga de todos os outros, por exemplo: este determinado ser – Pedro. “

( BRUGGER, 1977, p. 230)

Durkheim em termos de representações coletivas e instituições trata de separar o social

do individual como duas esferas independentes da realidade humana. Para ele, “ a sociedade

não é mera soma de indivíduos ; ao contrário , o sistema formado por sua associação

representa uma realidade específica que tem suas próprias características “, e é “na

natureza dessa individualidade (...) que se deveriam buscar as causas imediatas e

determinantes dos fatos que lá aparecem”. A referência aos fenômenos de “ síntese criadora

“ na natureza serve-lhe para comprovar , por analogia, a separação entre os dois níveis de

realidade.

INDIVIDUALISMO

De acordo com BRUGGER , este termo designa :

1. a acentuação do valor da personalidade do homem, o cultivo e desdobramento da

mesma, em oposição ao gregarismo humano , à massificação‖; e isto entendido em sentido lato,

isto é, não só da personalidade individual, mas também de famílias e de outros grupos

valiosos , nos quais se cultiva e frutifica a consciência da própria classe e do próprio valor;

2. a superacentuação do indivíduo ou de grupos particulares;

3. uma concepção de sociedade que realça o indivíduo a o ponto de reduzir a sociedade

a uma soma de entes individuais.

IDENTIDADE

―A identidade passa a ser qualificada como identidade pessoal (atributos específicos do indivíduo) e/ou

identidade social (atributos que assinalam a pertença a grupos ou categorias).‖ (Jacques,1998, p. 161).

Os termos identidade e social sugerem, respectivamente, um conceito que "explique por

exemplo o sentimento pessoal e a consciência da posse de um eu..." (Brandão, 1990 p.37)

privilegiando, de um lado, o indivíduo, e de outro lado, a coletividade, resultando numa configuração

na qual se capta o homem inserido na sociedade, bem como à dinâmica das relações sociais. A

importância dessa relação pode ser melhor compreendida nessa citação de Marx (1978a, p.9) “ A

sociedade é, pois, a plena unidade essencial do homem com a natureza, a verdadeira ressurreição da

natureza, o naturalismo acabado do homem e o humanismo acabado da natureza”.

Hamelink (1989) refere que a identidade diz respeito a uma cultura determinada e opõe

este conceito ao de identidade cultural. A identidade de uma cultura referir-se-á às características que

se podem atribuir a uma cultura determinada, enquanto a identidade cultural são as características que

um indivíduo ou grupo atribui pelo fato de sentir que pertence a uma cultura definida.

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20 Ibáñez (1990) considera a identidade a nível individual. Assim a identidade pessoal é

basicamente produzida pela cultura ou sub-culturas que nos socializam enquanto a identidade

cultural é estabelecida com base no sentido de pertença à comunidade.

A investigação sobre a identidade revela uma forma de conhecimento de nós próprios que

repousa sobre a interpretação da imagem que os outros têm de nós e que serve para consolidar o que

fazemos nós próprios.

SOCIALIZAÇÃO

A socialização é um tipo específico de interação - que molda a natureza da

personalidade humana e, por sua vez , o comportamento humano, a interação e a

participação na sociedade. Sem socialização, nem os homens sem a sociedade seriam possíveis.

São facilmente perceptíveis as diferenças de costumes que existem de uma sociedade para

outra. Os primeiros pensadores sociais apontaram, com certa razão, que estes costumes são diferentes

em parte por causa da própria diferença entre os meios físicos em que se encontram as sociedades: em

um ambiente de clima frio, as pessoas usarão mais roupas e provavelmente ficarão menos tempo fora

de suas casas; em um local com alimentos abundantes elas poderão trabalhar menos e não terão de

competir por comida. Mas como explicar, através desta idéia de determinismo físico, que em certos

lugares a manipulação da comida seja feita com dois pauzinhos, em outros com diversos talheres e

ainda em outros com as próprias mãos? Estas diferenças são resultados não da adaptação da sociedade

ao meio, mas da adequação dos indivíduos à vida em sociedade. É a este processo de integração de

cada pessoa aos costumes preexistentes que damos o nome da socialização.

De maneira mais completa, define-se socialização como a internalização de idéias e valores

estabelecidos coletivamente e a assimilação de papéis e de comportamentos socialmente desejáveis.

Significa, portanto, a incorporação de cada homem a uma identidade maior que a individual: no caso,

a incorporação do homem à sociedade. É importante associar de maneira correta a socialização à

cultura: esta se encontra profundamente ligada à estrutura social, enquanto que a socialização pode ser

resumida à transmissão de padrões culturais.

O processo de socialização por excelência é a educação. Mas não somente aquela que

adquirimos na escola, a denominada educação formal que consiste, entre outros conhecimentos, no

aprendizado da língua e da história do próprio povo. Há uma outra educação, que aprendemos apenas

no próprio convívio com as outras pessoas e que corresponde ao modo como devemos agir em

momentos-chave da nossa vida. É a socialização através da família, dos amigos e até mesmo de

desconhecidos. As famílias ensinam, a título de exemplo, quais das suas necessidades devem ser

atendidas pelo pai e quais devem ser atendidas pela mãe. Com os amigos aprendemos os princípios da

solidariedade e a importância da prática de esportes. Com desconhecidos podemos aprender a aguardar

a nossa vez em fila, sem atropelos, e a não falar alto em locais como o teatro ou a sala de aula. Outro

exemplo claro é o caso de um homem que muda de país e que tem de aprender o idioma e as normas

da nova sociedade em que se encontra, isto é, os padrões segundo os quais seus membros se

relacionam (v. Relação Social). Vista dessa maneira, a socialização pode ser interpretada como condicionadora das atitudes

e, portanto, como uma expressão da coerção social. Mas a socialização, justamente por se realizar de

maneira difusa e fragmentada por diferentes processos, deixa alguns espaços de ação livres para a

iniciativa individual espontânea, como a escolha dos amigos, do local onde deseja-se morar ou da

atividade que se quer exercer.

Se existem diferentes processos de socialização, tanto entre sociedades quanto dentro de uma

mesma, é possível atribuir a eles limites e graduações. A socialização na esfera econômica induz ao

trabalho, mas não a que tipo de trabalho. Aprende-se a respeitar os mais velhos, mas nada impede a

repreensão de um setuagenário que solte baforadas de charuto em alguém. Há a possibilidade de

identificarmos indivíduos mais ou menos socializados, isto é, mais ou menos integrados aos padrões

sociais. Uma pessoa pode ser um ótimo arquiteto, ao mesmo tempo em que é alcoólatra. Uma pessoa

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21

21 pouco socializada não absorveu completamente os princípios que regem a sociedade, causando

freqüentemente transtornos aos que estão à sua volta.

Bibliografia

BRUGGER, W. Dicionário de filosofia. São Paulo: EPU, 1977

BOTTOMORE T. B. . Introdução à sociologia. 5ª ed. Rio de Janeiro. Zahar; Brasília, INL, 1973 ( Biblioteca de Ciências Sociais)

GALLIANO. Introdução à sociologia. São Paulo: Harbra, 1986.

SOUZA, S.M.R. Um outro olhar. São Paulo: FTD, 1995.

TURNER. Jonathan H. Sociologia: conceitos e aplicações. São Paulo: Makron Books, 1999.

Page 22: Unico - Socilogia 2008

22

22 AULA - 09

IV. ESTRUTURA E ESTRATIFICAÇÃO SOCIAL/ AS

DESIGUALDADES SOCIAIS

A relação entre a estrutura social e a estratificação: as castas, os estamentos e as

classes.

As várias formas de desigualdades sociais e a diversidade das explicações teóricas.

ESTRATIFICAÇÃO SOCIAL E ESTRUTURA DE CLASSE

Estratificação

Processo em que os indivíduos e grupos sociais mais amplos são hierarquizados numa escala

do inferior ao superior.

a) As estratificações são universais e representam a distribuição desigual de direitos e obrigações na

sociedade.

b) A principal necessidade funcional da estratificação é a exigência de situar e motivar os indivíduos

na estrutura social.

c) A desigualdade social não é um artifício desenvolvido inconscientemente. Sua função é estimular

as pessoas a exercerem os diversos papéis necessários à sobrevivência da sociedade. (Ex: os

requisitos para ser presidente são maiores do que para ser carteiro, logo, a sociedade determina

como justo o salário de um ser maior que o do outro).

Fatores que determinam a estratificação

a) Importância funcional diferencial: importância do cargo (médico, jurista)

b) Escassez diferencial de pessoal: treinamento e talento demandados pela sociedade (empresários,

cientistas)

MOBILIDADE SOCIAL

É um movimento significativo na posição econômica, social e política de um indivíduo ou

de um estrato. Mas o que mais se estuda é a individual, já que a de estrato tem mais a ver com

mobilidade social. Com isto, o conceito de mobilidade tende a mostrar que na sociedade ocidental o

conflito de classes foi suprimido.

Posição de conflito: a sociedade de classes

a) As classes sociais constituem categorias analíticas, e os estratos constituem categorias derivativas

e estáticas.

b) As classes sociais mudam no decorrer da história e surgem a partir de determinadas condições

estruturais.

c) Definem-se as classes sociais pela relação dos homens com os meios de produção.

d) As classes não existem isoladas, mas como sistema de classes: as relações entre as classes são

relações de oposição.

e) Os conflitos são expressões das contradições de sistemas sócio-econômicos determinados.

DESIGUALDADES SOCIAIS

A desigualdade em uma sociedade gira em torno da distribuição diferenciada de

recursos de valor às variadas categorias de indivíduos - sendo as de classe, étnica e gênero

as três mais importantes.

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23 A estratificação de classe existe quando a renda , poder, prestígio e outros recursos

de valor são dados aos membros de uma sociedade desigualmente e quando, com base

nessa desigualdade, variados grupos tornam-se cultural, comportamental e organizacionalmente

distintos.

O grau de estratificação está relacionado ao nível de desigualdade, à distinção entre as

classes em nível de mobilidade entre as classes e à durabilidade das classes.

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24 AULA - 10

DESIGUALDADES SOCIAIS: EXPLICAÇÕES TEÓRICAS

Existem várias propostas para o estudo da estratificação:

A. Proposta marxista: enfatiza que a propriedade dos meios de produção é a causa da

estratificação de classe e mobilização para o conflito, com subseqüente mudança nos padrões

de estratificação;

B. Proposta weberiana : enfatiza a natureza multidimensional da estratificação ( que gira em

torno não apenas da classe, mas de partido e grupos de status também);

C. Proposta funcionalista: argumenta que a desigualdade reflete o sistema de recompensa para

encorajar os indivíduos a ocupar posições funcionalmente importantes e difíceis de preencher;

D. Proposta evolucionista: argumenta que, a longo prazo, partindo das sociedades de caça e

coleta, as desigualdades aumentaram , como refletem as sociedades modernas.

A estratificação nos Estados Unidos e no Brasil é marcada por altos níveis de

desigualdade com respeito a bem-estar material e prestígio. A desigualdade na distribuição de

poder é mais ambígua. Fronteiras obscuras entre as classes sociais próximas existem nos

Estados Unidos. A mobilidade é freqüente, mas a maioria das pessoas não consegue grande

mobilidade durante sua vida.

ESTRATIFICAÇÃO ÉTNICA

Etnia é a identificação de um grupo como distinto em termos da biologia superficial,

recursos, comportamento, cultura ou organização; e a estratificação étnica existe quando

alguns grupos étnicos conseguem mais recursos de valor em uma sociedade do que outros

grupos étnicos.

A estratificação étnica é criada e sustentada pela discriminação que é legitimada pelas

crenças preconceituosas. A discriminação e o preconceito são embasados pela ameaça (

econômica, política, social) apresentada de forma real ou imaginária por um grupo étnico-alvo e

são ainda sustentados pelos ciclos de reforço que giram em torno da identificação étnica,

ameaça, preconceito e discriminação.

ESTRATIFICAÇÃO DE GÊNERO

O gênero é a diferenciação entre homens e mulheres em termos de características

culturalmente definidas e status na sociedade. A estratificação de gênero existe quando os

homens e as mulheres em uma sociedade recebem efetivamente parcelas desiguais de dinheiro,

poder, prestígio e outros recursos.

A estratificação de gênero é sustentada pelos ciclos de socialização, que se reforçam

mutuamente pela identidade de gênero e por crenças relacionadas ao gênero, que, por sua vez,

se tornam a base para discriminação e crenças preconceituosas, frutos da ameaça ressentida

pelos homens.

As relações de gênero estão mudando nos Estados Unidos, visto que esses ciclos estão

sendo quebrados pela participação das mulheres no trabalho e na política e pelos ataques às

crenças que colocam as mulheres em desvantagem.

Nosso país também é marcado por uma grande desigualdade social: poucos tem muito, muitos

tem pouco.

Uma sociedade visivelmente heterogênea, onde nos vidros de carros importados, crianças

passando fome se refletem. Os problemas são muitos mas as soluções são quase inexistentes.

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25

25 O desemprego no Brasil, uma das grandes causas dessa desigualdade vem aumentando. De

acordo com o IBGE o índice que em dezembro de 99 era de 6,3% começou o ano 2000 em 7,6% .

Muitos dos que já se encontram no mercado de trabalho se submetem a salários de verdadeira miséria.

O salário mínimo que nesse ano de 2000 completa 60 anos é um dos mais baixos do Mercosul,

pois seus R$ 136,00 só ficam a frente dos salários do Uruguai e Bolívia. Vinte por cento dos

trabalhadores e sessenta por cento dos aposentados recebem somente um salário mínimo por mês.

Enquanto o governo estuda um irrisório aumento para o mínimo, o teto salarial dos funcionários

públicos chega às alturas, aumentando as diferenças sociais já existentes.

Somam-se a estes fatores o enorme descaso com as crianças que em grande número trocam as

salas de aula pelo subemprego, segundo o IBGE 92,18% destas crianças não recebem nenhum

rendimento. Só em Santa Catarina já são 99 mil menores entre 10 e 14 anos trabalhando na produção

de calçados, olarias e madeireiras. Sabendo que 2,9 milhões de crianças entre 9 e 14 em todo o Brasil

trabalham para ajudar a família o governo criou o PETI (Programa de Erradicação do Trabalho

Infantil) onde cada família que retirar sua criança da atividade e levar à escola recebe R$40,00.

Felizmente vem ocorrendo uma queda do anafalbetismo no país mas no nordeste, onde as

desigualdades são maiores, 40% dos adolescentes na faixa de 15 a 17 anos têm menos de 4 anos de

estudo.

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26 AULA - 11

V. Mudança/Transformação Social

Movimentos Sociais/ Direitos/ Cidadania

Mudança social e revolução: diferentes abordagens teóricas.

Mudança tecnológica e mudança social.

Movimentos Sociais. Os direitos civis, políticos e sociais. Os direitos e a

democracia.

Os ―novos‖ movimentos sociais contemporâneos.

Mudança Social

O ritmo da mudança social vem se acelerando dramaticamente no último século. A

mudança pode ser cumulativa, mas a história das sociedades humanas revela repentinas

inversões. Esse foi, particularmente , o caso na era agrária.

A mudança pode se originar de causas culturais, particularmente de:

a. inovações tecnológicas;

b. novas crenças ou expectativas; e

c. difusão de sistemas de símbolos.

Tais mudanças culturais estão intimamente ligadas às mudanças nas estruturas, servindo

para iniciar as mudanças na estrutura ou, no mínimo, acelerando as mudanças já iniciadas.

As estruturas sociais revelam diversas fontes importantes de mudança, incluindo:

a. Desigualdade e o conflito sobre os recursos;

b. Subculturas que buscam superar desvantagens; e

c. Instituições que revelam processos que geram suas próprias transformações.

Processos demográficos são também um impulso para a mudança, especialmente

transformações no tamanho de uma população , nos padrões de movimento populacional e em

sua estrutura etária.

O estudo da mudança está no centro da análise sociológica, desde o início da disciplina até

o presente. Teorias e análises foram propostas para explicar a mudança, incluindo:

a. Teorias cíclicas que enfatizam o movimento de sociedades entre os pólos opostos;

b. Análise dialética, que demonstra a dinâmica das mudanças inerentes às desigualdades;

c. Análises funcionalistas, que enfatizam a evolução das formas societárias simples para

as mais complexas como um esforço correspondente para preencher novas necessidades

e requisitos;

d. Perspectiva evolucionista, para a qual a desigualdade é a força motriz da evolução e

mudança social; e

e. Críticas , quer ―pós-industrial‖ quer ―pós-moderna‖, sobre as influências da tecnologia e

sistemas de informações de ponta, na transformação da sociedade.

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27 AULA - 12

Movimentos sociais contemporâneos

De acordo com Ilse Scherer-Warren em seu artigo ―Associativismo civil e interculturalidade

na sociedade global “, na década de 1960 a 1980 uma série de novos movimentos sociais - de

gênero, ecológicos, regionais, étnicos e outros - organizaram-se a partir da afirmação de identidades

coletivas auto-construídas e de projetos específicos de auto-defesa. Em nome destas especificidades se

exigia reconhecimento, respeito às diferenças culturais e defendiam-se novos direitos. Nos campos da

pesquisa e educacional, novas áreas de conhecimento desenvolveram-se: estudos de gênero, negros,

étnicos, ecológicos e similares.

A partir da segunda metade da década de 1980, e sobretudo na década de 1990, há uma

crescente interação destes movimentos entre si, ou uma penetração de seus ideais em movimentos

mais clássicos, como o sindical e o de moradores. As chamadas lutas específicas, contra a

discriminação de gênero, racial, cultural, contra a degradação ambiental, a exclusão social,

econômica e política, como, por exemplo, as campanhas contra a pobreza ou pela qualidade de

vida, passam a ser consideradas relevantes no interior dos mais diversos movimentos sociais e

organizações da sociedade civil. Portanto, as lutas identitárias e pela autonomia cedem lugar aos

movimentos sociais solidarísticos, onde a cooperação e a complementaridade passam a ser palavras

de ordem. Estes princípios remetem também para o ideário de construção de uma esfera pública

democrática, ampla, conectando iniciativas locais com outras mais globais. É neste contexto que a

idéia de parcerias se legitima.

No plano político, as ONGs passam a lutar por um lugar de participação na gestão da coisa

pública. Surge nos cenários locais, estaduais, nacionais e internacionais um grande número de

parcerias entre organizações da sociedade civil e organismos governamentais, como nos

Conselhos setoriais, Fóruns especializados, Agendas 21, etc.

No plano da cultura, para além da defesa das identidades, passa-se a valorizar a abertura à

alteridade e à reciprocidade nas trocas. Duas possibilidades se colocam neste processo interativo: a

da hibridação cultural, através de sincretismos, ecumenismos, etc.; a de formação de um

movimento cidadão sob a forma de redes e parcerias, onde a complementaridade se constrói a

partir do respeito às diferenças, não se impondo uma uniformização no trabalho cooperativo.

Monoculturalismo: tem uma visão essencialista acerca da identidade dos sujeitos coletivos. Os

negros, índios e demais minorias têm suas identidades determinadas objetivamente numa realidade

específica.

Multiculturalismo: as identidades são construídas historicamente. Ex.: Muito mais do que se

nascer mulher ou com cor negra, torna-se mulher ou negra.

O que se denomina "construção da cidadania", é um valor cultural da modernidade, que tem

uma dimensão ética e política.

Na dimensão ética encontram-se os princípios da responsabilidade e da solidariedade. Ainda que

as desigualdades e as injustiças sejam legados históricos, sua reprodução no presente pode ser

assumida como uma responsabilidade da humanidade.

"As injustiças do passado chegam até nós na forma de herança [...] não herdamos a culpa de

quem originou a injustiça, porém sim a responsabilidade de fazer frente à injustiça passada

[...] Nossa responsabilidade não se circunscreve às desigualdades de nosso Estado, mas as da

humanidade". (Reys Mate, 1997, p.170).

O corolário da responsabilidade é a solidariedade. É através dela que se efetiva a

responsabilidade pelo outro, em uma comunidade local ou global. Nos movimentos sociais, a

solidariedade tem sido utilizada amplamente como uma interpelação aos indivíduos ou grupos para a

ação comunitária ou de responsabilidade cidadã.

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28 Estes princípios éticos operam para a construção de uma cidadania plena quando se associam

a um conjunto de princípios de ordem política, a serem incorporados nas práticas associativistas.

Na dimensão política merecem ser resgatadas as noções de reconhecimento, integração,

participação e a conseqüente idéia de constituição de uma esfera pública.

A negação mais absoluta destes princípios é a "exclusão" (social, cultural ou política).

Muitos indivíduos ou grupos vivem numa situação de apartheid sem o reconhecimento público de si

ou do grupo como parte integrante da comunidade.

A construção da cidadania, somente poderá ser concretizada na medida em que se associarem

os princípios de responsabilidade e de solidariedade com os princípios de integração social de todos

os tipos de minorias, de reconhecimento público das diversidades culturais e de legítima e igualitária

possibilidade de participação de todos nas esferas públicas referentes que lhes dizem respeito.

Bibliografia REYS MATE, M. "Etica y política". In: La integración y la democracia del futuro en América Latina. Caracas, Ministerio para el Enlace

entre el Ejecutivo Nacional y el Congresso de la República / Nueva Sociedad, 1997. SCHERER-WARREN, I. & NPMS. Organizações voluntárias de Florianópolis: cadastro e perfil do associativismo civil. Florianópolis:

Insular, 1996.

________. Cidadania sem fronteiras: ações coletivas na era da globalização. São Paulo: Hucitec, 1998. SEMPRINI, Andrea. Le multiculturalisme. Paris: Presses Universitaires de France, 1997.

TOCQUEVILLE, A. A democracia na América. Tradução de Neil Ribeiro da Silva. São Paulo / Belo Horizonte: EDUSP/Itatiaia, 1977.

(Título original: De la Démocracie en Amérique) VIEIRA, L. Cidadania e globalização. Rio de Janeiro: Record, 1997

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29 AULA – 13 / PARTE 01

VI. Política/ Estado

Dominação e Poder

As sociedades sem estado.

As várias formas de poder e dominação.

Surgimento e desenvolvimento do Estado Moderno. Poder e representação.

Estado nacional no mundo contemporâneo.

POLÍTICA E PODER

O campo da política se configura na exist6encia do conflito entre a dimensão privada e

a pública, na medida em que o homem é um ser social. Essa configuração inclui a realidade da

intersubjetividade, posto que a sociabilidade não apaga a subjetividade , o caráter individual das

singularidades.

A ação desse homem, a um só tempo pública e privada , social e individual, particular e

comum, se exerce por meio de condutas não- naturais. Ao contrário , regular a ação humana é

obra do homem racional , consciente e livre.

A questão do poder

Em seu significado mais geral, a palavra poder designa a capacidade ou a possibilidade

de agir, de produzir efeitos. Tanto pode ser referida a indivíduos e a grupos humanos como a

objetos ou a fenômenos naturais ( como nas expressões ―poder calorífico‖ , ―poder de

absorção‖)

Se o entendemos em sentido especificamente social , ou seja, na sua relação com a vida

do homem em sociedade, o poder torna-se mais preciso , e seu espaço conceitual pode ir desde

a capacidade geral de agir , até à capacidade do homem em determinar o comportamento do

homem: poder do homem sobre o homem. O homem não só é o sujeito, mas também o objeto do

poder social. É poder social a capacidade que um pai tem para dar ordens a seus filhos ou a

capacidade de um Governo de dar ordens aos cidadãos. Por outro lado, não é poder social a

capacidade de controle que o homem tem sobre a natureza nem a utilização que faz dos

recursos naturais. (...)

O poder social não é uma coisa ou a sua posse : é uma relação entre pessoas (

Stoppino, 1986: 933-4)

É impossível estudar uma sociedade sem fazer referência à política que a organizou e a

manteve. Da mesma forma , não existe a possibilidade de discorrer a respeito da política sem

esbarrar no conceito de poder.

Ter o poder é dispor de autoridade para governar. O poder supõe , consequentemente, a

existência de dois elementos: de quem tem a autoridade para exercer o poder e daquele sobre o

qual se exerce o poder; do governante e do governado; de quem manda e de quem é mandado;

de quem dá as ordens e de quem as cumpre. Assim, quem detém o poder político decide , em

última instância , a vida da coletividade, a nossa vida , a sua vida.

Segundo Georg W. F. Hegel ( 1770 – 1831) , o que leva o ser humano a desejar o poder não

é apenas a vontade de dominar os outros homens , mas também a vontade de ser amado e

reconhecido. Hegel, em seu livro Fenomenologia do Espírito, nos ensina que o homem só se

torna realmente humano quando, além de satisfazer os desejos puramente animalescos -

como comer e beber - , lança-se à luta pela conquista do poder. O animal tem por

preocupação máxima a sobrevivência biológica; o homem, para conquistar a liberdade ( para não

viver escravizado) luta pelo poder e coloca a sua vida biológica em risco. A condição humana

pressupõe dominar e ser reconhecido como dominador.

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30 A luta pelo poder tem sido, de uma forma ou de outra , a mola propulsora da história das

civilizações. A história dos povos é determinada pelos grupos , pelas classes , pelos partidos,

pelas personalidades que exerceram o poder.

Importante dizer aqui que o poder não nos é dado gratuitamente: ele tem de ser

conquistado. E após a sua conquista , a luta continua para que ele seja mantido. Toda

sociedade abriga interesses diversos e nela há governantes ( que jamais renunciam ao poder

espontaneamente) e governados ( entre eles, muitos lutam para assumir o poder). Por

decorrência, a luta pelo poder sempre existirá.

A luta pela conquista do poder nos tem levado , ao longo da história, as duas dimensões do

ser humano: a animalidade ( quando há violência ) e a racionalidade ( quando a conquista se

dá por meios pacíficos).

Quando há violência na luta pelo poder, o homem se equipara aos animais que se

entredevoram para continuar sobrevivendo. Os assassinatos, as revoluções , os golpes de estado

, as guerras ( internas e externas) têm constantemente manchado de sangue as páginas da

história da humanidade.

AULA 13 / PARTE 02

John Fitzgerald Kennedy

Kennedy foi o primeiro presidente católico dos Estados Unidos da América. . Foi

assassinado em Dallas, Texas, no dia 22 de novembro de 1963.

Martin Luther King

Luther King foi um dos principais dirigentes da campanha a favor do reconhecimento dos

legítimos direitos dos negros nos Estados Unidos. Aconselhou a luta dentro da dignidade e da

disciplina. Ganhou o Prêmio Nobel da paz em 1964. Foi assassinado em 1968.

Mahatma Gandhi

Gandhi foi a alma do movimento da independência da Índia, pregando a ação baseada no

princípio da não – violência. Foi assassinado em 1948.

Júlio César

César, célebre general romano, foi um dos mais ilustres homens de guerra da Antigüidade.

Foi assassinado por seu filho Brutus nos idos de março de 44 a.C.

A dimensão racional do ser humano se coloca em evidência nos processos pacíficos da

luta pelo poder. Se até se pode justificar a necessidade de exercer a autoridade, colocando as

tropas na rua para que se mantenha a ordem social, não é essa a condição para que o poder

seja duradouro. Muito mais importante que a força física e violenta , para haver poder - poder

legítimo – há necessidade de consentimento.

A luta sem violência para conquista do poder ocorre nos regimes livres - democráticos - , em que todos os homens , em princípio , são considerados iguais e, portanto, todos têm

condições de participar do exercício do poder.

Apesar das deficiências que possam apresentar , as eleições são o processo mais racional de

luta pacífica pela conquista do poder. Pressupondo a liberdade da defesa de ideais, do debate ,

da crítica, da oposição ... as eleições excluem a violência. Pela manifestação livre da vontade

do povo, o voto assegura a legitimidade do poder.

Pelas eleições, num regime democrático, o poder político:

- Não é usurpado, mas consentido;

- Não é herdado nem vitalício, pois é exercido por representantes da maioria por um

tempo determinado;

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31 - Por emanar do povo em geral, não é privilégio de poucas pessoas ( de um grupo ou

de uma classe), pois todos os setores da sociedade têm o direito de candidatar-se a

ele;

- É transparente , porque as informações sobre as decisões governamentais devem

circular livremente;

- É legítimo, pois existem leis que o asseguram.

―Alguns princípios de legitimidade do poder:

- Nos Estados Teocráticos: o poder considerado legítimo vem da vontade de Deus;

- Força da Tradição: quando o poder é transmitido de geração em geração, como nas

monarquias hereditárias;

- Nos Governos Aristocráticos: apenas os melhores podem Ter funções de mando; é

bom lembrar que os considerados ―melhores‖ variam conforme o tipo de aristocracia:

os mais ricos, ou os mais fortes, ou os de linhagem nobre, ou, até, a elite do saber;

- Na Democracia: vem do consenso , da vontade do povo.

A discussão a respeito da legitimidade do poder é importante na medida em que está ligada à

questão de que a obediência é devida apenas ao comando do poder legítimo, segundo o qual a

obediência é voluntária, e portanto livre. Caso contrário , surge o direito à resistência , que leva à

turbulência social.‖ ( ARANHA & MARTINS.1993: 180-1)

A antropologia evolucionista considera também que o Estado é uma simples estrutura social total,

resultante do crescente domínio do político sobre o parentesco. Segundo as linhas estabelecidas por

Edward Evans-Pritchard e Mayer Fortes, temos que:

- primeiro, detecta-se a existência de sociedades dominadas pelo parentesco, onde a

ausência do político, no entanto, não significaria a ausência de distinção. Trata-se de

sociedades muito pequenas onde a estrutura política se confunde com a estrutura do

parentesco.

- Surgem, em segundo lugar, sociedades onde o político domina o parentesco,

detectando-se a existência de grupos políticos, de grupos que se definem pela base

territorial. Contudo, nesta segunda fase da evolução, se o político sobrepõe ao parentesco,

estes laços ainda são os dominantes. E isto porque faltam instituições especializadas, com

autoridade permanente, tendo como função a manutenção da ordem social. Nestas

formações sociais, ainda sem hierarquia ou autoridade, o mecanismo de equilíbrio social

surge de uma liderança, ou leadership.

- Em terceiro lugar, dá-se o aparecimento de sociedades com uma autoridade

centralizada, um aparelho administrativo e instituições judiciais, onde já é flagrante o

domínio do político sobre o parentesco. Agora, em lugar do equilíbrio, temos a hierarquia

a marcar o novo modelo organizacional. Surge também o sistema político que unifica no

mesmo nível de extensão territorial os antagonistas e realiza a equivalência estrutural.

Para A. W. Southall há também um processo contínuo de complexificação institucional desde

as sociedades sem Estado até aos Estados unitários, através do qual o poder se desloca para fora e

acima da sociedade. Depois das sociedades sem Estado, vêm as sociedades segmentares e, só a partir

de então, surgem os Estados segmentares. Dentro destes, haveria, aliás, que distinguir, numa primeira

fase, a chamada chefatura, onde o poder político ainda está no seio da sociedade, para, numa segunda

fase, surgir uma especialização do poder e uma estruturação piramidal. Finalmente, surgiria o Estado

unitário, onde se dá a distribuição do poder através do centro, de forma hierárquica. Se Estado unitário

é considerado como completamente desenvolvido, mas que nunca se realizou, já no Estado segmentar,

onde há uma estrutura hierárquica de poder, notam-se as seguintes características fundamentais: — a

estrutura da soberania é limitada, esbatendo-se nas regiões afastadas do centro; o governo central tem

apenas um controlo relativo dos outros focos do poder; há administrações especializadas tanto no

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32 poder do centro como nos poderes das periferias; — o monopólio legítimo da força não é completo; se

as relações de poder se organizam de forma piramidal, há, porém, diferentes níveis de subordinação;

quanto mais periféricas são as autoridades subordinadas, mais estas têm possibilidade de mudar de

obediência.

AULA - 14

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33 Estado Moderno: Poder e Representação

Durante o Período Medieval, o interior do mundo feudal europeu era politicamente

fragmentado. Cada grande senhor feudal exercia em seus domínios uma autoridade quase

absoluta sobre pessoas e bens. Nesse contexto, a Igreja Católica desempenhou o importante

papel de órgão conciliador das elites dominantes, procurando contornar os problemas da

fragmentação política e das rivalidades internas da nobreza feudal. Como os nobres eram

cristãos , a Igreja procurou desviar as tensões internas do feudalismo , apontando como inimigos

externos e comuns da cristandade os árabes muçulmanos.

É preciso ressaltar que, além da autoridade religiosa, a Igreja também conquistou

poderes materiais para impor laços de união concreta entre nobres de diversos países, na

medida em que era proprietária de aproximadamente um terço das terras cultiváveis. Assim, a

Igreja estendia seu manto de poder ―universalista‖ sobre diferentes regiões européias.

No início dos tempos modernos, assistimos a uma série de grandes transformações que

atuaram na desestruturação do mundo feudal e, também, se refletiram na diminuição do

poder da Igreja: a expansão comercial e marítima, o desenvolvimento da burguesia, o

Renascimento e a Reforma Religiosa. Entretanto, no plano propriamente político, o início dos

tempos modernos foi marcado pelo processo de fortalecimento das monarquias nacionais.

Aliado a importantes setores da burguesia e, mesmo, da nobreza, os reis passaram a concentrar

crescentes forças em suas mãos, enfraquecendo os poderes locais da nobreza agrária e

impondo-se sobre os poderes universalistas da Igreja Católica.

No decorrer do processo de formação das monarquias nacionais, surgiu o Estado

Moderno, tendo as seguintes características gerias:

Idioma comum: um dos elementos culturais que mais influenciou o sentimento nacionalista

foi a língua falada por um mesmo povo. Esse era um elemento que identificava origens,

tradições e costumes comuns;

Território definido: eliminando-se , aos poucos , a fragmentação política do mundo feudal

e o predomínio das relações de vassalagem, cada Estado foi procurando definir suas

fronteiras políticas , estabelecendo, enfim, o território comum da nação;

Soberania: no mundo feudal, o poder estava baseado, em grande parte, na suserania. Aos

poucos, esse conceito foi cedendo lugar à noção de soberania, pela qual o governante tinha

o direito de fazer valer as decisões do Estado dentro do território nacional;

Exército permanente: para garantir as decisões do governo soberano, era preciso a

formação de exércitos permanentes, controlados pelos reis. A sociedade estava dividida entre

grupos rivais da nobreza e da burguesia. O rei passou a alimentar essa divisão, enquanto foi

concentrando uma grande soma de poderes em suas mãos. Assim, os reis passaram a

comandar exércitos , distribuir a justiça entre os súditos, decretar leis e arrecadar tributos .

essa enorme concentração de poderes em torno do rei caracterizou o absolutismo

monárquico.

Vários pensadores formularam teses procurando dar fundamento teórico ao absolutismo.

Entre eles, destacam-se os seguintes:

Nicolau Maquiavel ( 1469-1527): nascido em Florença, Maquiavel foi um ativo político e

hábil diplomata que defendeu a unidade italiana. É considerado um precursor da teoria

política do Estado Moderno, pois pregou a construção de um Estado forte, independente da

Igreja e dirigido de modo absoluto por um Príncipe dotado de inteligência e de

inflexibilidade na direção dos negócios públicos. Expondo com grande franqueza e

objetividade suas idéias, Maquiavel deu astutos conselhos aos governantes, rompendo com a

religiosidade medieval e separando a moral individual da moral pública. Em sua célebre

obra O Príncipe, escreveu que “o homem que queira em tudo agir como bom acabará

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34 arruinando-se em meio a tantos que não são bons‖. Daí porque “o Príncipe deve aprender

a não ser bom e a usar ou não o aprendido, de acordo com a necessidade”. O resultado das

ações do Príncipe é o que conta, e não a maneira por ele utilizada para conseguir os

objetivos. Assim, para Maquiavel, os fins justificam os meios. Do nome de Maquiavel

surgiu o adjetivo maquiavélico, que tem o sentido figurado de pessoa astuta, matreira e

ardilosa;

Jean Bodin ( 1530-1596): jurista e filósofo francês, defendeu, em sua obra A República, o

conceito do soberano perpétua e absoluto, cuja autoridade representava a vontade de Deus.

Assim, todo aquele que não se submetesse à autoridade do rei deveria ser considerado um

inimigo da ordem pública e do progresso social. Segundo Bodin, o rei deveria possuir um

poder supremo sobre o Estado, respeitando , apenas o direito de propriedade dos súditos;

Thomas Hobbes (1588-1679): filósofo inglês, escreveu o livro Leviatã ( o título refere-se ao

monstro bíblico, citado no livro de Jó, que governava o caos primitivo), no qual compara o

Estado a um monstro todo-poderoso, especialmente criado para acabar com a anarquia da

sociedade primitiva. Segundo Hobbes, nas sociedades primitivas “ o homem era o lobo do

próprio homem” , vivendo em constantes guerras e matanças, cada qual procurando garantir

sua própria sobrevivência. Só havia uma solução para dar fim à brutalidade: entregar o

poder a um só homem, que seria o rei, para que ele governasse todos os demais, eliminando

a desordem e dando segurança a todos.;

Jacques Bossuet ( 1627-1704): bispo francês, reforçou a teoria da origem divina do poder

do rei. Segundo Bossuet, o rei era um homem predestinado por Deus para assumir o trono e

governar toda a sociedade. Por isso, não tinha que dar justificativas a ninguém de suas

atitudes; somente Deus poderia julgá-las. Bossuet criou uma frase que se tornaria verdadeiro

lema do Estado absolutista: “ Um rei, uma fé, uma lei”.

AULA - 15

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35 VII. Cultura e Diversidade Cultural

Conceito antropológico de cultura e a compreensão do homem como totalidade.

A unidade humana e a diversidade cultural. O Etnocentrismo e a diversidade étnica

CULTURA

Conceito antropológico

Em 1871, Edward B Tylor publicou uma obra intitulada Cultura Primitiva, onde definiu

cultura da seguinte forma “ este todo complexo que inclui os conhecimentos , as crenças

religiosas, a arte, a moral , o direito , os costumes e todas as outras aptidões e hábitos que o

homem adquire como membro das sociedade”.

Esse trabalho de Tylor é uma obra de referência em que a realidade designada pelo

termo cultura engloba tudo aquilo que é relativo ao homem, sejam as coisas e/ou os

acontecimentos ; tal conceito realça sua co- extensibilidade a tudo o que é humano. Tylor

destaca as idéias de universalidade da cultura e de sua multiplicidade através do espaço e do

tempo, daí o emprego de culturas, no plural , pelos antropólogos.

Uma prática econômica e simbólica

Para sobreviver , o homem tem de, como todo ser vivo entrar em relação com a natureza.

Mas, como não dispõe de equipamentos biológicos especializados e como a manutenção da vida

assume um caráter valorativo, ele se associa a outros homens para realizar essa tarefa. E aí

se descortina o horizonte da ação humana como um universos aberto e infinitamente

diversificado. É aí que, como prática social, o homem desenha o conjunto das suas ações em dois

níveis : o da prática econômica e o da prática simbólica.

É no âmbito da prática econômica que o homem produz coisas que se transformam em

bens materiais e consumíveis para se manter vivo: alimento, roupa , abrigo, artefatos

domésticos , meios de transporte, ferramentas, etc. Aí aparece a dimensão prático – material,

técnico – científica da ação humana.

Se você olhar com atenção para o mundo dos homens e de suas ações, notará que ele

constrói e inventa coisas cuja utilidade material , biológico – corpórea é indispensável: não se

pode , por exemplo, viver sem alimento , sem roupa, sem abrigo , etc.

O humano se realiza pela cultura

A ação humana não se esgota na sua dimensão prática. O homem também produz

símbolos , isto é , valores, idéias , leis , linguagem, sonhos e fantasias.

Para permanecer vivo, ele produz bens materiais que lhe suprem as necessidades

corpóreas e biológicas. Além disso , produz bens simbólicos que o ajudam a dar significado às

suas ações e às coisas por ele produzidas, bem como hierarquiza e ordena o mundo da

produção , da circulação e do consumo desses bens.

É assim que o homem se liberta da natureza , rompe as cadeias que o prendem à

animalidade, subtrai-se de uma região onde tudo se realiza imperativamente pela voz

silenciosa do instinto e inaugura o mundo da liberdade, da indeterminação, da linguagem, da

educação. Numa palavra, da cultura

DIVERSIDADE CULTURAL

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36

36 "A verdadeira contribuição das culturas não consiste numa lista das suas invenções particulares mas na

maneira diferenciada com que elas se apresentam. O sentimento de gratidão e de humildade de cada

membro de uma cultura dada deve ter em relação a todas as demais não deve basear-se senão numa só

convicção: a de que as outras culturas são diferentes, de uma maneira a mais variada e se a natureza

última das suas diferenças nos escapa...deve-se a que foram imperfeitamente penetradas.

Se a nossa demonstração é válida não há nem pode haver uma civilização mundial no seu sentido

absoluto, porque civilização implica na coexistência de culturas que oferecem o máximo de

diversidade entre elas, consistindo mesmo nesta coexistência. A civilização mundial não será outra

coisa que a coalizão de culturas em escala mundial, preservando cada uma delas a sua originalidade".

Lévi-Strauss - Antropologia estrutural

ETNOCENTRISMO

Todos os sistemas culturais fazem com que as pessoas vivam numa sociedade

etnocêntrica - isto é, os indivíduos tendem a ver seu sistema de valores , crenças e normas

como melhores do que os dos outros. Esse etnocentrismo leva à intolerância , e a intolerância

leva, por sua vez, ao conflito e às tensões.

Assim a crença dos Estados Unidos em sua superioridade moral pode levá-los a

interferir nas questões das outras nações cujos caminhos são, sob uma visão etnocêntrica,

inferiores. Várias outras sociedades fizeram isso , e portanto não deveríamos nos punir. O

etnocentrismo também existe no interior de uma sociedade: membros de certas subculturas

podem ver como inferiores os de outras subculturas, e isso também pode levar ao conflito.

Observando praticamente qualquer campus universitário nos Estados Unidos , o

etnocentrismo é imediatamente evidente. O esforço para aumentar o intercâmbio cultural, a

convivência , a mistura étnica entre alunos , trouxe aos indivíduos , de uma forma ou de outra,

normas e crenças diferentes e com diferenças de comportamentos. Cada subcultura - afro-

americanos, americanos de origem asiática, de origem anglo-saxônica, americanos brancos e assim

por diante – vê a outra com desconfiança e aplica os padrões de sua subcultura ao avaliar os

outros. Esse etnocentrismo é claro, agravado pelo domínio dos brancos de classe média e

valores anglo-saxônicos, suas crenças e normas , na maioria das faculdades norte-americanas,

pois membros de outras subculturas devem constantemente se confrontar com o domínio de

muitos símbolos culturais diferentes de seus próprios.

Um dos desafios da era da globalização é aprender a viver com as diferenças culturais

e utilizá-las como formas de humanização. Nesse sentido, a educação deve contribuir para

formar o projeto na ética da tolerância

O etnocentrismo é um subproduto inevitável das diferenças culturais , com indivíduos

que vêem como inferiores aqueles símbolos culturais distintos dos seus. O etnocentrismo

produz preconceitos que geralmente vêm à tona em conflitos declarados.

Bibliografia BRUGGER, W. Dicionário de filosofia. São Paulo: EPU, 1977 BOTTOMORE T. B. . Introdução à sociologia. 5ª ed. Rio de Janeiro. Zahar; Brasília, INL, 1973 ( Biblioteca de Ciências Sociais)

GALLIANO. Introdução à sociologia. São Paulo: Harbra, 1986.

POSITIVO, apostila seg. série - ens. médio

SOUZA, S.M.R. Um outro olhar. São Paulo: FTD, 1995.

TURNER. Jonathan H. Sociologia: conceitos e aplicações. São Paulo: Makron Books, 1999.

AULA - 16

Page 37: Unico - Socilogia 2008

37

37

VIII. A Indústria Cultural e a Ideologia

Os meios de comunicação e a massificação/homogeneização cultural. O universo da

propaganda.

Os diversos sentidos de ideologia. Ideologia e classes sociais.

CULTURA DE MASSA E INDÚSTRIA CULTURAL

A expressão cultura de massa designa o conjunto de comportamentos, mitos e

representações , produzidos e difundidos conforme uma técnica industrial que acompanha

a expansão das mídia. Daí, também, a expressão indústria cultural, utilizada inicialmente por

Theodor Adorno ( 1903 – 1969) e Max Horkheimer ( 1895 – 1973) na década de 1940. Para

Kawamura ( 1990: 75), a indústria cultural:

―Consiste na produção cultural como mercadoria , de acordo com os mesmos

princípios de acumulação capitalista que regem a produção geral das

mercadorias, tais como a exploração do trabalho intelectual e sua subordinação

aos objetivos da acumulação; o uso intensivo do trabalho mediante novas

tecnologias; a subordinação do trabalhador ao ritmo da máquina e o

parcelamento das funções. Nesse contexto a cultura é produzida em série como

produto “cultural” padronizado a ser comprado, vendido e consumido como

qualquer bem perecível‖. (...)

Marilena Chauí ( 1994:330) faz uma análise contundente da cultura de massa e da

indústria cultural: ―A democratização da cultura tem como precondição a idéia de que os

bens culturais [...] são direito de todos e não privilégio de alguns. Democracia

cultural significa direito de acesso e de fruição das obras culturais, direito

à informação e à formação cultural, direito à produção cultural.

Ora, a indústria cultural acarreta o resultado oposto, ao massificar a

cultura. Por quê?

Em primeiro lugar, porque separa os bens culturais pelo seu suposto

valor de mercado: há obras ―caras‖ e ―raras‖, destinadas aos privilegiados que

podem pagar por elas , formando uma elite cultural; e há obras ―baratas‖ e

―comuns‖, destinadas à massa. Assim, em vez de garantir o mesmo direito de

todos à totalidade da produção cultural, a indústria cultural introduz a divisão

social entre elite “cultural” e massa “ïnculta”. O que é massa? É um

agregado sem forma, sem rosto, sem identidade e sem pleno direito à cultura.

Em segundo lugar, porque cria a ilusão de que todos têm acesso aos

mesmos bens culturais, cada um escolhendo livremente o que deseja, como

consumidor num supermercado. No entanto, basta darmos atenção aos horários

dos programas de rádio e televisão ou ao que é vendido nas bancas de

jornais e revistas para vermos que, através dos preços, as empresas de

divulgação cultural já selecionaram de antemão o que cada grupo social

pode e deve ouvir , ver ou ler. [...]

Em terceiro lugar, porque inventa uma figura chamada “espectador

médio”, “ouvinte médio” e “leitor” médio”, aos quais são atribuídas certas

capacidades mentais “médias” e certos gostos “médios” , oferecendo-lhes

produtos culturais “médios”. Que significa isso?

Em quarto lugar, porque define a cultura como lazer e entretenimento ,

diversão e distração , de modo que tudo o que nas obras de arte e de

pensamento significa trabalho da sensibilidade, da imaginação , da inteligência ,

da reflexão e da crítica não tem interesse, não ―vende‖ . Massificar é, assim,

banalizar a expressão artística e intelectual. Em lugar de difundir e divulgar a

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38

38 cultura, despertando interesse por ela, a indústria cultural realiza a

vulgarização das artes e dos conhecimentos.‖

Meios de Comunicação de Massa

A maior parte do tempo em que você passa acordado, é vivida em contato voluntário ou

involuntário com meios de comunicação de massa: livros, jornais e revistas, rádio, cinema e

televisão.

Esses veículos de divulgação ―em massa‖ ( isto é , em grande quantidade) se tornaram

intermediários entre você e o mundo, colocando ao seu alcance acontecimentos, experiências e

idéias aos quais você não poderia Ter acesso diretamente. Esta mediação é possível graças à

capacidade dos meios de comunicação de massa (MCM) para produzir, reproduzir e distribuir

rapidamente textos, sons e imagens a um número praticamente ilimitado de pessoas - uma

―massa‖ de gente.

AULA - 17

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39

Indústria cultural Gisela Taschner Glodstein

Fundação Getúlio Vargas

Criada por T.W. Adorno e M. Horkheimer, a expressão indústria cultural tem sido usada

correntemente como designadora do conjunto de complexos empresariais ligados ao chamado

setor de comunicações de massas, bem como de seus produtos , em um determinado país ou

região. Na verdade, ela engloba mais do que isto, pois é uma noção que diz respeito a um

momento histórico específico da existência de sociedades capitalistas determinadas : a sua etapa

monopolista. A indústria cultural desenvolve-se lentamente junto com o capitalismo , mas é

nessa etapa somente que pode adquirir sua configuração plena. Antes disso, o processo de

acumulação não tem condições ainda de fornecer as bases materiais , técnicas , financeiras e

de organização necessárias à sua estruturação.

Entre suas principais características estão as seguintes:

Suas mensagens estão submetidas a uma lógica de produção e de distribuição

semelhante à das demais mercadorias nesta fase.

São elaboradas no interior de grandes complexos empresariais, altamente concentrados

do ponto de vista técnico e econômico.

São produzidas em escala industrial, num esquema muitas vezes marcado por alto

grau de divisão do trabalho ( ainda que, em alguns casos , este coexista com formas

artesanais de produção.

Como produto, são individualizadas, mas têm uma estrutura padronizada.

Sua produção e distribuição orientam-se por um critério de rentabilidade. Não se

trata, portanto, de produtos culturais que são também mercadorias, mas sim de

produtos que o são integralmente . Esta diferença é importante , pois , no primeiro

caso, encontra-se boa parte da produção cultural e artística que preexiste à era

da indústria cultural e - o que é fundamental – cujas regras de elaboração obedecem

a uma lógica que não se confunde imediatamente com o sistema social, ao contrário

do que ocorre com as mensagens da indústria cultural.

Os diversos complexos empresariais deste setor não estão todos formalmente

interligados ( uns concorrem com os outros comercialmente); mas todos atuam sob a mesma

lógica e numa direção semelhante. Neste sentido, constituem um sistema , que tende a se

tornar virtualmente ubíquo, ocupando, por assim dizer, o espaço destinado ao lazer, à reflexão, à

arte, à cultura. Deve-se observar que é justamente como arte ou cultura que se apresentam ,

muitas vezes , os produtos da indústria cultural. Mas eles pertencem a esferas distintas , não

só por suas regras de construção , como também ( em parte como decorrência desta diferença)

pela maneira através da qual abordam a realidade. Se as criações artísticas e culturais têm

como característica a possibilidade de pôr a sociedade a nu, desvendando a aparência sob a

qual se esconde sua verdadeira natureza, as mensagens da indústria cultural têm como traço

típico a antítese do que fazem a arte e a cultura: tendem a fornecer uma visão que não

transcende o real imediato, ou seja, que não vai além da forma pela qual a sociedade se nos

apresenta; neste sentido, caracterizam-se como ideologia. Isto se deve ao princípio operativo

básico da produção das mensagens da indústria cultural, derivado da expectativa de lucro dos

empresários do setor: a grande ( quando não a única) fonte de receitas da maioria dos “mass

media” é a publicidade, que patrocina as mensagens veiculadas.

O volume de anúncio que um veículo pode angariar , bem como o preço que pode

cobrar pelo seu tempo ou espaço, estão diretamente relacionados à sua capacidade de difusão.

Assim, a tendênca vigente na produção das mensagens da indústria cultural é a de maximizar

suas chances de difusão. A experiência ensinou que as pessoas dificilmente aceitam

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40

40 mensagens que contrariem seus valores básicos. Tendo em vista este fato, os produtores da

indústria cultural procuram evitar, tanto quanto possível , ferir os valores e crenças que

imaginam caros à maioria de seus consumidores potenciais. Ora, os valores dominantes em

uma sociedade confundem-se com a ideologia da referida sociedade. Daí alguns autores verem

o advento da indústria cultural como uma verdadeira revolução industrial no plano da

ideologia , ou seja, como o momento a partir do qual a ideologia passa a ser produzida

industrialmente, nos mesmos moldes que regem a chamada produção material no capitalismo.

Cabe ressaltar , contudo , que no tocante à indústria cultural, trata-se antes de

um processo de reprodução do que de produção de ideologia. Esta se dá primariamente

na própria trama social e serve de base para a confecção das mensagens da indústria cultural

. Este fato nos leva a ver que a indústria cultural é um sistema que não pode ser tomado

isoladamente, pois ela é também resultado e expressão de todo um processo, através do qual o

domínio do capital sobre o trabalho e sobre o conjunto da sociedade atinge historicamente seu

ponto máximo de desenvolvimento, racionalidade e sofisticação , na medida em que, ao mesmo

tempo, se aprofunda nos locais em que existiu desde o início do capitalismo ( as fábricas ) e

expande-se para novas áreas . engolfando, tendencialmente, todas as dimensões da vida social.

A forma pela qual se vem racionalizando o sistema de trabalho industrial e de

escritórios nas grandes empresas torna as relações de produção cada vez mais opacas. O

operário de produção ( e embora em grau menos, também o trabalhador de escritório ) vem

perdendo progressivamente todo o controle sobre o seu trabalho ( que se tornou uma tarefa a

ser executada de modo mais ou menos mecânico, de acordo com as instruções da gerência). De

outro lado, ele tem cada vez mais dificuldade para identificar seu patrão , cuja figura vem

sofrendo um processo contínuo de despersonalização: enquanto proprietário dividiu-se em um

sem-número de acionistas, a maioria dos quais jamais comparece à empresa; e enquanto

administrador, teve sua função distribuída por um conjunto sempre crescente de executivos de

diversos níveis hierárquicos e por uma série de ordens de serviços fragmentárias e

impessoais. Em outras palavras, o domínio do capital sobre o ser humano no momento do

trabalho torna-se simultaneamente maior e menos perceptível.

A indústria cultural, por sua vez, integra-se diretamente no processo de acumulação

capitalista, seja enquanto espaço de investimento em si mesma, seja enquanto instrumento da

atividade publicitária, a qual, de seu lado, facilita também o processo de acumulação na medida

em que ajuda a abreviar o tempo de circulação do capital, ao promover as vendas das

mercadorias anunciadas. Mas é enquanto aparato industrial de reprodução e difusão em larga

escala da ideologia que a indústria cultural talvez reste seu maior serviço ao capitalismo

monopolista: envolvendo o ser humano em seu momento de lazer, reforça e complementa , com

suas mensagens características, o domínio sobre ele exercido pelo capital no momento do

trabalho. O mundo do lazer torna-se , com a indústria cultural, um mero prolongamento do

universo do trabalho.

AULA - 18

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Ideologia

Os meios de comunicação de massa ( os jornais , o rádio, a televisão , o cinema , a

propaganda), as instituições ( a escola , a Igreja , a família) , os atos cotidianos produzem e

reproduzem dia a dia, por suas falas , por seus gestos , por seus discursos, enfim pela

linguagem que os caracteriza , campos de significações que ordenam, dirigem, criam tudo aquilo

que o real , no seu movimento incessante , produz.

Esses campos de significações são justamente o que percebemos como realidade . é

aí mesmo , na realidade, que o real se embrulha , apreendido, aí se enrola.

Para Karl Marx, a função da ideologia é a de ocultar a verdadeira realidade, ou

seja, condições reais de existência dos homens , mostrando , ilusoriamente , as idéias como

motor da vida real. Os homens são produtores de suas idéias. Entretanto, como a ideologia

exerce uma função de ocultamento da realidade, ela mostra um mundo ideal, válido, o qual

―deve ser preservado por todos‖. Sendo assim, as crenças, valores e opiniões são interiorizados

como se fossem verdadeiros e universais. Com freqüência, ouvimos ou repetimos frases, como

―todos os homens são iguais‖; ― o trabalho dignifica o homem e produz riquezas‖. Ora , são

afirmações verdadeiras , difíceis de serem contestadas; e seus termos , isoladamente, não

apresentam contradições. Porém, o sentido dessas frases torna-se uma abstração e um

mascaramento da realidade se não for considerado o contexto histórico concreto em que os

homens vivem e se relacionam.

Marilena Chauí define ideologia como “um conjunto lógico , sistemático e

coerente de representações ( idéias e valore ) e de normas ou regras ( de conduta) que

indicam e prescrevem aos membros da sociedade o que devem pensar e como devem pensar, o

que devem valorizar e como devem valorizar, o que devem sentir e como devem sentir, o que

devem fazer e como devem fazer. Ela é , portanto, um corpo explicativo (representações) e prático

(normas, regras, preceitos) de caráter prescritivo, normativo, regulador...”.

É preciso que nos lembremos de que cada imagem que aparece no vídeo é fruto

de uma escolha em termos de enquadramento ( quais os elementos que vão ser mostrados e

quais os que vão ser deixados de lado; quais os que aparecerão em primeiro plano, portanto

maiores e mais visíveis, quais em último plano , e assim por diante); de seqüência ( qual a cena

que vem em primeiro, segundo, terceiro... até o último lugar); de texto ou música que

acompanhará a imagem. Quem escolhe as imagens que vão ao ar é o diretor do programa.

Assim, é ele que elabora a interpretação dos fatos. Como resultado, o que aparece em nosso

aparelho de TV já não é a realidade, mas um relato, uma representação dessa realidade ,

segundo o ponto de vista do diretor do programa.

A fragmentação é utilizada como um recurso ideológico. É a própria visão de

mundo que aparece de modo fragmentário, impedindo que os telespectadores , que somos todos

nós, tenhamos a visão do todo, que possamos atribuir um sentido global ao mundo e que

encontremos o nosso lugar específico.

E , finalmente, a linguagem televisiva caracteriza-se por assumir a forma de

espetáculo.

O que é espetáculo? É tudo o que chama a atenção , atrai e prende o olhar.

A televisão , trabalhando sobre a forma de apresentação de seus programas,

transforma qualquer conteúdo em espetáculo de grande eficácia visual.

É só pensarmos na transmissão pela TV da Guerra do Golfo, no início de 1991,

para compreendermos como funciona a linguagem da televisão.

Bibliografia

BRUGGER, W. Dicionário de filosofia. São Paulo: EPU, 1977

BOTTOMORE T. B. . Introdução à sociologia. 5ª ed. Rio de Janeiro. Zahar; Brasília, INL, 1973 ( Biblioteca de Ciências Sociais)

Page 42: Unico - Socilogia 2008

42

42 GALLIANO. Introdução à sociologia. São Paulo: Harbra, 1986.

POSITIVO, apostila seg. série - ens. Médio

QUEIROZ E SILVA, R.P. Temas básicos em comunicação. São Paulo: Ed. Paulinas / INTERCOM,1983

SOUZA, S.M.R. Um outro olhar. São Paulo: FTD, 1995.

TURNER. Jonathan H. Sociologia: conceitos e aplicações. São Paulo: Makron Books, 1999.

ATIVIDADE - 01

Para revisar

Trabalho - uma retrospectiva

EVOLUÇÃO DO TRABALHO ALENCASTRO

A origem da palavra trabalho deriva do latim vulgar tripalium, que era o nome de um

instrumento formado por três paus aguçados, com o qual os agricultores batiam o trigo, as espigas de

milho, o linho, para rasgá-los, esfiapá-los. A maioria dos dicionários, contudo, registra tripalium como

um instrumento de tortura, o que teria sido no início ou se tornado depois. O fato é que este termo está

ligado à idéia de tortura e sofrimento, sentido esse que se perpetua até hoje, principalmente nos povos

de língua latina.

De uma forma muito simplificada, podemos entender o trabalho como sendo a aplicação da

energia humana (física e mental) em uma atividade determinada e útil. Pelo trabalho, como já

dissemos, o homem se torna capaz de modificar a própria natureza, colocando-a a seu serviço.

O trabalho exercido de forma qualificada, mediante um preparo técnico-científico, específico

para determinada atividade é comumente chamado de profissão. A profissão supõe continuidade e não

uma atividade ocasional e também status social. A atividade de um engenheiro, por exemplo, é uma

profissão, pois exigiu a capacitação de alguém para exercê-la.

Na linguagem bíblica, a idéia de trabalho também está ligada a do sofrimento e de punição:

"Ganharás o seu pão com o suor de seu rosto" (livro do Gênese). Assim, é por um esforço doloroso

que o homem sobrevive na natureza. Os gregos consideravam o trabalho como a expressão da miséria

do homem, os latinos opunham o otium (lazer, atividade intelectual) ao vil negotium (trabalho,

negócio). Mas será que sempre foi assim?

Podemos dizer que, considerado o "potencial de mão-de-obra" de uma sociedade, ou seja, suas forças

produtivas, o trabalho usa para o desempenho de seu papel elementos materiais como a terra, animais,

metais, ferramentas, energia, máquinas e outros insumos, também conhecidos como meios de

produção. De acordo com a estruturação da propriedade e da manipulação desses meios de produção

na sociedade em cada etapa histórica, configura-se o seu modo de produção, que, em outras palavras,

se funda no tipo de relacionamento ou relações de produção existentes entre o trabalho e os detentores

dos meios de produção.

Já nas sociedades primitivas o homem sentiu necessidade de lançar mão do trabalho que, em

sua função mais primordial, era a defesa da unidade do clã, numa luta constante contra os perigos

oferecidos pela natureza, seu clima hostil e os animais selvagens.

Foi pelo trabalho, ainda na era Neolítica, que o homem descobriu que agia melhor em

comunidade do que sozinho ou em seu pequeno grupo familiar. Constatou que era um ser social, e

adotou um estilo de vida comunitário, com fortes reflexos sobre a vida moral da época.

Há milênios, desde o surgimento da propriedade privada dos meios de produção, a prática

dominante nas relações de trabalho ocidentais foi o escravismo, ou seja, o emprego do trabalho

escravo na agropecuária, extração mineral e comércio.

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43 Os gregos antigos, desprezavam o trabalho, deixando-o para os escravos, valorizando a única

atividade considerada digna de um homem livre, que era o ócio dos filósofos. Buscavam inclusive

inúmeras justificativas éticas para a escravidão.

Para Aristóteles a diferença entre os homens era natural, não havendo qualquer contradição na

divisão existente, entre o trabalho manual e as atividades intelectuais e políticas. Segundo o filósofo a

superioridade dos cidadãos explicava-se pelo fato de que eles definiam o sentido das coisas, fossem

elas econômicas, sociais ou políticas. O cidadão grego não exercia o trabalho braçal pois tinha de ter

tempo livre para se dedicar à filosofia e ao exercício da cidadania. Para que isso fosse possível os

escravos executavam todas as atividades inferiores determinadas pela vontade das classes superiores.

Durante cerca de mil anos, período que foi da desagregação do Império Romano à Idade

Média, as relações de produção na Europa Ocidental evoluíram do escravismo puro ao servilismo, ou

seja abrandava-se a sujeição homem-homem, passando-se a outra menos direta, transformadora do

homem em "servo de gleba", virtual prisioneiro da terra em que vivia, consumindo quase tudo que

produzia, e produzindo por suas próprias mãos quase tudo de que necessitava. A Igreja Católica,

pregando a adoração a Deus defendia o desapego às riquezas terrenas. Preocupada em organizar e

manter seu poder temporal, ela condenava o trabalho como forma de enriquecimento. O trabalho era

visto apenas como meio de subsistência, de disciplina do corpo e purificação da mente. Assim servia

como instrumento de dominação social e de condenação a qualquer rebeldia contra a ordem

estabelecida.

A ociosidade entre as classes senhoriais, assim como ocorrera na Grécia antiga, não era

sinônimo de preguiça, mas de abstenção às atividades manuais para se dedicarem a funções mais

nobres como a política, a guerra, a caça, o sacerdócio e o exercício do poder.

A partir do século XI a sociedade medieval européia sofreu profundas transformações. O

renascimento do comércio e das cidades afetou e foi afetado pelas transformações do trabalho e das

relações de produção. Daí até os séculos XVI e XVII a economia ampliou-se sucessivamente do

restrito âmbito local ao regional, deste ao nacional (com a formação dos chamados estados nacionais

modernos) e ao internacional: do quase nenhum mercado e escassa circulação monetária da Idade

Média, chega-se a economia do dinheiro e dos múltiplos mercados dos séculos XVII-XVIII, com base

no crescimento agrícola, na exploração colonial da América-África-Ásia e na diversificação do

artesanato, cada vez mais se diferenciando em indústria.

A crise da ordem feudal, fundada na subsistência e na servidão, e o desenvolvimento do

comércio e das atividades manufatureiras deu origem a uma nova estrutura social: a sociedade

capitalista.

O crescimento do mercado não só irá conviver por algum tempo com antigas formas de

servidão, como fará renascer a escravidão: o trabalho compulsório de africanos nas colônias da

América.

Mas, para as elites que comandavam a implantação desse sistema, o trabalho livre era a forma

ideal.

Essa é por excelência a concepção burguesa da liberdade individual do homem: ele é livre

para usar a força de seu corpo como uma máquina natural e para escolher de forma soberana o que

deseja para si mesmo. Se ao escravo na América não era dada a oportunidade da escolha, ao

trabalhador europeu era concedido o direito soberano da liberdade.

Porém a busca da produção de excedentes para a troca no mercado mediante a introdução de

novas técnicas de produção e de organização do trabalho fazia desaparecer a propalada livre escolha.

Afinal, como seria possível o trabalhador sobreviver numa economia de mercado, senão submetendo-

se às imposições de quem detinha os recursos que o sistema exigia? Aquele artesão, que na

manufatura medieval detinha as ferramentas e uma autonomia no uso de seu tempo, desaparece,

submetendo-se ao capital.

Ocorre, portanto, a separação entre o trabalhador e a propriedade dos meios de produção

(capital, ferramentas, máquinas, matérias-primas, terras). Desse modo, podemos afirmar que a

essência do sistema capitalista encontra-se na separação entre o capital e o trabalho.

Essa separação criou dois tipos de homens livres: o trabalhador livre assalariado, que vive

exclusivamente de seu trabalho, ou seja, da venda de sua força de trabalho, e o burguês, ou capitalista,

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44 proprietário dos meios de produção. A novidade em relação aos modelos anteriores de sociedade é

que, ao conceder a liberdade para todos os indivíduos, a sociedade estabeleceu uma espécie de

contrato social, em que ficavam definidos os direitos e deveres de cada parte.

A ÉTICA CAPITALISTA DO TRABALHO

Se o trabalho como fator de enriquecimento pessoal era proibido na Idade Média, legitima-se

agora, na ética da sociedade capitalista, como tábua de salvação divina. A riqueza não é mais vista

como pecado, mas como estando de acordo com a vontade de Deus. Trata-se de uma vontade que se

confunde com os interesses do mercado e do lucro, e que valoriza o trabalho enquanto força passível

de gerar riqueza. Ele deixa de existir apenas para atender às necessidades humanas básicas. Sua

finalidade principal é produzir riqueza acumulada.

Max Weber, em sua "Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo" diz que esta necessidade

de acumulação de riquezas ultrapassou os limites do bom senso comercial e passou a ser um fim em si

mesmo, uma concepção de vida, um ethos. Deixemos que ele fale:

De fato, o summum bonum desta "ética", a obtenção de mais e mais dinheiro,

combinado com o estrito afastamento de todo gozo espontâneo da vida é, acima de

tudo, completamente destituído de qualquer caráter eudemonista ou mesmo hedonista,

pois é pensado tão puramente como uma finalidade em si, que chega a parecer algo de

superior à "felicidade" ou "utilidade" do indivíduo, de qualquer forma algo de

totalmente transcendental e simplesmente irracional. O homem é dominado pela

produção do dinheiro, pela aquisição encarada como finalidade última de sua vida. A

aquisição econômica não mais está subordinada ao homem como meio de satisfazer as

suas necessidades materiais. Esta inversão do que poderíamos chamar de relação

natural, tão irracional de um ponto de vista ingênuo, é evidentemente um princípio

orientador do capitalismo, tão seguramente quanto ela é estranha a todos os povos fora

da influência capitalista. Mas, ao mesmo tempo, ela expressa um tipo de sentimento

que está inteiramente ligado a certas idéias religiosas. Ante a pergunta: Por que se

deveria "fazer dinheiro do ganho dos homens?" o próprio Benjamim Franklin, embora

fosse um deísta pouco entusiasta, responderia em sua autobiografia com uma citação

da Bíblia, com que seu pai, intransigente calvinista, sempre o assediou em sua

juventude: "Se vires um homem diligente em seu trabalho, ele estará acima dos reis".

(WEBER, 1974, p.187)

A ociosidade, mesmo entre as classes abastadas, passou a ser sinônimo de negação de Deus.

Só se mostrava a verdadeira fé pelo trabalho incessante e produtivo. O trabalho era a oração moral

burguesa e capitalista. Quem se resignasse à pobreza não merecia a salvação divina.

Teóricos do novo sistema descobriram no trabalho a fonte de toda riqueza individual e

coletiva. Em 1776, Adam Smith (1723-1790), afirmava que a riqueza de uma nação dependia

essencialmente da produtividade baseada na divisão do trabalho. Por essa divisão, as operações de

produção de um bem, que antes eram executadas por um único homem (artesão), são agora

decompostas e executadas por diversos trabalhadores, que se especializam em tarefas específicas e

complementares.

Com a produção mecanizada, o trabalho é glorificado como a essência da sociedade do

trabalho. Não se concebe mais a possibilidade de existir ordem social fora da moral do trabalho

produtivo.

Segundo Adam Smith, uma das características do ser humano, capaz de diferenciá-lo dos

outros animais é uma certa propensão para trocar coisas. Essa propensão torna necessária a divisão do

trabalho.

Outra diferença apontada por Adam Smith é que o homem, contrariamente a maioria dos

animais, que ao se tornarem adultos ficam auto-suficientes, é muito dependente de seus semelhantes.

Existindo a necessidade de cooperação, mas tendo de conviver com seus impulsos egoístas, as

sociedades elaboraram regras e leis morais para regular as ações humanas. As bases para a construção

dessas regras são criadas a partir de uma espécie de "jogo de interesses". Ou seja, se necessitamos da

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45 ajuda das grandes multidões para vivermos e é impossível fazer amizade com todos eles para obter sua

benevolência, podemos então mostrar ao outro que lhe é vantajoso nos dar o que precisamos, num

sistema de trocas.

A ética capitalista defende a idéia de que o bem estar da coletividade é melhor obtido se

apelarmos não ao altruísmo das pessoas, mas à defesa de seus interesses em relações de mercado.

Desta forma o egoísmo (defesa do interesse próprio) é apresentado como a melhor forma de solucionar

os problemas de um grupo social.

A eficácia econômica do sistema de mercado passou a ser o critério supremo para todos os

juízos morais. A eficácia (critério técnico) passou a ser o critério ético fundamental. A ética capitalista

é uma "ética" reduzida a uma questão puramente técnica.

Também fica claro, que a revolução tecnológica dos séculos XVIII e XIX, mais do que um progresso,

significou a generalização de um projeto de controle social. As teses das classes dominantes revelam

que o desejo de expansão de mercado e de aumento de suas riquezas passava pela necessidade da

universalização dessa nova ordem social.

O que estava em jogo era o fim da autonomia do trabalho artesanal e a reunião e domesticação

dos trabalhadores na fábrica. A divisão do trabalho defendida por Adam Smith teria a função de

destruir o saber-fazer do artesão, subordinando-o à nova tecnologia da maquinofatura.

Para que essa sociedade voltada para o trabalho se viabilizasse, houve necessidade de construir

um corpo disciplinar que envolvesse todos os indivíduos dentro e fora da fábrica. A ordem burguesa

da produtividade tornava-se a regra que deveria gerir todas as instâncias do social. Para isso, instituiu-

se um discurso moralizante que visava cristalizar no conjunto da sociedade a ética do tempo útil.

O tempo útil do trabalho produtivo deveria funcionar como um "relógio moral" que cada

indivíduo levaria dentro de si.

O uso do tempo que não de forma útil e produtiva, conforme o ritmo imposto pela fábrica,

passou a ser sinônimo de preguiça e degeneração. Só o trabalho produtivo, fundado na máxima

utilização do tempo dignificava o homem.

A empresa dos dias atuais é um imenso cosmos, no qual o indivíduo nasce, e que se apresenta

a ele, pelo menos como indivíduo, como uma ordem de coisas inalterável, na qual ele deve

viver. Obriga o indivíduo, na medida em que ele é envolvido no sistema de relações de

mercado, a se conformar às regras de ação capitalistas. O fabricante que permanentemente se

opuser a estas normas será economicamente eliminado, tão inevitavelmente quanto o

trabalhador que não puder ou não quiser adaptar-se a elas será lançado à rua sem trabalho.

(WEBER, 1974, p.188)

Para tornar vitoriosa a nova ordem, procurou-se eliminar qualquer forma de resistência.

Impôs-se um modelo de sociedade em que só o trabalho produtivo fabril imperava. Quem se

encontrasse fora desse modelo era expurgado da sociedade. A grande massa de europeus que

imigraram para América no século XIX pode ser tomada como exemplo desse expurgo.

Fonte: ALENCASTRO, M.A Importância da Ética na Formação de Recursos Humanos . Fundação Biblioteca Nacional, 1997

ATIVIDADE - 02

Todos os homens são iguais

Dimas Floriani

O grande debate que os padres dominicanos espanhóis travavam entre si, durante o século

XVI, era se os indígenas da América possuíam ou não alma. Rei Bartolomeo de las Casas,

apelidado de ―defensor dos povos indígenas‖, apoiava fervorosamente o princípio de Direito

Natural que afirmava “serem todos os homens iguais perante Deus”. Ora , este princípio era

uma declaração de importância fundamental para proteger os indígenas da matança

indiscriminada praticada pelos espanhóis e portugueses; reconhecia, assim, que os povos

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46

46 indígenas pertenciam à espécie humana e eram, portanto, portadores de uma alma. Nesse

sentido, poderiam ser catequizados em nome da verdade divina e da fé cristã e eram

reconhecidos como humanos, contrariamente às teses de outros teólogos que não reconheciam

neles uma condição humana, não sendo pecado escravizá-los nem exterminá-los.

O princípio da igualdade dos seres humanos, perante Deus, foi um importante passo para

que dois séculos após se declarasse como inalienável, inegociável e fundamental o princípio da

igualdade entre os homens. As revoluções norte-americanas ( 1778) e francesa ( 1789)

consagrariam esse princípio nos termos da Declaração Universal dos Direitos Humanos. Apenas

substituíram o argumento de fundo, que dava suporte e legitimidade ao princípio , isto é,

humanizando a referência da igualdade, não mais em nome de Deus, mas em nome da Lei (

“todos os homens são iguais perante a lei”). E esta lei deveria ser garantida pelo Contrato

Social que os homens selariam entre si, em sociedade, abdicando parcialmente de sua liberdade,

em nome da proteção e da segurança das instituições públicas, ou seja, do Estado de Direito.

Devemos distinguir, portanto, dois aspectos ligados à questão da igualdade: o primeiro,

de caráter político-filosófico; o segundo, de natureza socioeconômica.

Não se pode deixar de mencionar uma dimensão histórica, como pano de fundo, em relação a

princípio de igualdade. Não se deve esquecer de que a emergência da sociedade industrial foi

impulsionada pelo surgimento de uma nova classe social, a burguesia, defensora de valores e

princípios, tais como:

A liberdade de pensamento, de credo e de filiação política (a filosofia iluminista e o

racionalismo eram os principais apoios);

A liberdade de comercializar, de trabalhar, de vender e comprar a força de trabalho no

mercado;

A liberdade de ir e vir;

O direito à igualdade social, sem distinção de origem social, e à crítica ao privilégio

social que diferenciava os homens em função de pertencerem a uma elite.

Do ponto de vista socioeconômico, porém a sociedade de classes dificulta, concretamente,

a realização da igualdade entre os indivíduos de uma mesma sociedade que se rebelou,

justamente , contra a desigualdade social? Porque, do ponto de vista do acesso aos bens

materiais, há uma série de facilidades para alguns indivíduos ( dotados de capital, de poder e

de títulos escolares) e de dificuldades para outros alcançarem o topo do sistema ( uma vez que

não são detentores de capital, nem de poder e de títulos escolares).

A contradição entre a declaração teórica da desigualdade e as dificuldades práticas, de

realização para todos , está presente ainda nas atuais sociedades de classe. A frase de George

Orwell, em seu livro “A Revolução dos Bichos”, não é apenas válida para as sociedades

socialistas, mas igualmente para as capitalistas, a saber: “Todos são iguais, mas alguns são

mais iguais do que outros”.

(Dr Dimas Floriani é professor da UFPR)

Bibliografia

BRUGGER, W. Dicionário de filosofia. São Paulo: EPU, 1977 BOTTOMORE T. B. . Introdução à sociologia. 5ª ed. Rio de Janeiro. Zahar; Brasília, INL, 1973 ( Biblioteca de Ciências Sociais)

GALLIANO. Introdução à sociologia. São Paulo: Harbra, 1986.

POSITIVO, apostila seg. série - ens. médio SOUZA, S.M.R. Um outro olhar. São Paulo: FTD, 1995.

TURNER. Jonathan H. Sociologia: conceitos e aplicações. São Paulo: Makron Books, 1999.

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47

47 ATIVIDADE - 03

Estado nacional e mundo contemporâneo

A CRISE DO ESTADO CONTEMPORÂNEO

Osvaldo Luís Golfe INTRODUÇÃO

Quando falamos de neoliberalismo e globalização estamos falando de uma nova ordem

mundial. Tal ordem é capaz de tornar obsoleta a já existente: o Estado entra em crise, e é obrigado a

redefinir o seu papel; problemas sociais agravam-se cada vez mais e a desigualdade aumenta.

As conseqüências desta nova ordem mundial não demoram aparecer: "A renda dos brasileiros

que estão no topo da pirâmide social, os 10% mais ricos, é quase dez vezes maior que a soma dos

rendimentos dos brasileiros que vivem abaixo da linha de pobreza, cerca de 30% da população, na

estimativa mais otimista". Junto com o desemprego, esta é uma questão que deve ser o alvo principal

de qualquer governo.

Não podemos negar que os planos de estabilização trouxeram uma relativa tranqüilidade, porém,

sucedido de recessão. Isto mostra que, em primeiro momento, tais planos não são duradouros. Quanto

ao futuro deles é bastante incerta qualquer previsão.

Sem dúvida, hoje, mais do que nunca estamos sujeitos às intempéries mundiais. A grande

questão é: "para quem deve o governo governar, para os mercados ou para a sociedade?" A

resposta óbvia seria governar para a sociedade, porém não é isto o que acontece. Os Estados nacionais

muitas vezes não conseguem governar para a sociedade porque grande parte do dinheiro é gasto

com juros, etc.Com este trabalho, embora não tenhamos ainda perspectivas claras sobre a "nova

ordem mundial", queremos acenar para esta crise que, sobretudo hoje, atinge o estado contemporâneo.

1.CRISE DO ESTADO CONTEMPRÂNEO

O marco inicial das sociedades contemporâneas é a Era das Revoluções Burguesas, que teve

início com a Revolução Inglesa na Século XVII, tendo como auge a Revolução Francesa em 1789.

Para muitos historiadores a Revolução Francesa faz parte de um movimento global que atingiu os

EUA, Inglaterra, Irlanda, Alemanha, Bélgica, Itália, etc., culminando com a Revolução Francesa em

1789. Esta é a revolução que marca a passagem das instituições feudais do Antigo Regime para o

capitalismo industrial. O que marca, basicamente a passagem da Idade Moderna para a

Contemporânea são as revoluções: Industrial, Americana e Francesa.

As conseqüências deste marco são irreversíveis para todo o mundo; as nações passaram a

identificar o poderio de um país com sue desenvolvimento industrial. Este processo difundiu-se pela

Europa, Ásia e América. Também os ideais da "Igualdade, Liberdade e Fraternidade" espalham-se por

toda a parte, então, as Revoluções Liberais, a independência das colônias...

A independência das colônias latino-americanas faz parte da crise do Antigo Regime e da

crise do sistema colonial que havia sofrido o primeiro abalo com a independência dos EUA em 1783.

Os elemento essenciais que desencadearam este processo são três: Revolução Industrial inglesa e a

busca de mercados consumidores, quebrando assim o monopólio (peça essencial do sistema colonial);

desequilíbrio político europeu resultante dos conflitos provocados pela Revolução Francesa e o

Império Napoleônico; desenvolvimento das colônias que entram em choque com a política

mercantilista do sistema colonial.

No Brasil, o que pode ser considerado como fato decisivo no processo de independência é a

liberdade comercial que marca o fim do pacto colonial.

Desde a Revolução Industrial o capitalismo comercial estava sendo substituído pelo capitalismo

industrial. Para este o que interessa é o comércio livre, isto é, compra de matéria prima de quem

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48

48 quisesse e venda de produtos onde lucrasse mais.

Não queremos nos aprofundar nesta questão, pois, não é nosso objetivo. Queremos apenas acenar

para o contexto da passagem da Idade Moderna para a Contemporânea e a nova ordem que este fato

implantou. Como nosso tema de estudo "A Crise do Estado Contemporâneo" é bastante amplo

queremos nos deter, sobretudo, no projeto neoliberal , globalização e algumas conseqüências.

1.1 O projeto neoliberal Dentre os projetos neoliberal, socialdemocrata e o democrático popular, o neoliberalismo está se

tornando ou já é um projeto hegemônico no Brasil e no mundo.

O liberalismo, em termos econômicos "prega" a não interferência do Estado na economia. Esta

deve ter como base o livre jogo das forças do mercado, por exemplo: os preços das mercadorias são

definidos pela concorrência entre os agentes econômicos e pela lei da oferta e da procura. Nesta

perspectiva o esperado é que o aumento da oferta seja causa da diminuição dos preços e vice-versa.

Alguns pontos essenciais do liberalismo são: a livre iniciativa de indivíduos e grupos; a livre

concorrência entre eles e o livre acesso à propriedade e ao lucro.

Depois de "um tempo em baixa", por causa do fortalecimento do Estado durante algum período do

século XX, nas últimas décadas, após o fim do socialismo no leste europeu, o liberalismo ressurge

com novo vigor sob o nome de neoliberalismo.

Os pontos básicos deste projeto neoliberal foram sistematizados no chamado "Consenso de

Washington, em 1989. Integrantes do Instituto de Economia Internacional e Washignton, do Banco

Mundial, do Banco Internacional de Desenvolvimento e do Fundo Monetário Internacional; também

estavam presentes representantes dos EUA, países da América Latina, Central e Caribe. Tal reunião

teve como objetivo discutir a economia do continente, que resultou em dez pontos: ajuste fiscal;

redução do tamanho do Estado (redefinição do seu papel; menor intervenção na economia);

privatização; abertura comercial; fim das restrições ao capital externo; abertura financeira;

desregulamentação (redução das regras governamentais para o funcionamento da economia);

restruturação do sistema previdenciário; investimentos em infra-estrutura básica; fiscalização

dos gastos públicos e fim das obras faraônicas". É evidente que esta reunião, da qual falamos, foi provocada por um necessidade de discutir a

economia de uma forma global e porque os problemas são muitos e também globais. Estas medidas já

estão sendo implantadas também em alguns países latino-americanos , e, uma das críticas que já pode-

se fazer é que tais medidas não tem se preocupado, em primeiro lugar com os graves problemas sociais

existentes.

1.2 Neoliberalismo e políticas públicas.

A tese central do liberalismo velho e novo continua sendo a mesma "o menos de Estado e de

política possível", isto é, o Estado deve intervir o mínimo possível na economia. Segue-se a isto os

"dez pontos" sistematizados pelo Consenso de Washington.

Um fator que impulsionou a expansão do neoliberalismo em todo o mundo foi a junção entre os

ideais neoliberais e o "movimento real do capitalismo na direção de um desregulamentação

crescente e de uma globalização econômica de natureza basicamente financeira". Este foi o

mesmo caminho pelo qual o neoliberalismo chegou ao Brasil e na maior parte da América Latina: um

caminho econômico e o outro político. Temos bem claro estes dois caminhos: primeiro, contexto de

renegociação da dívida externa; segundo, faz parte deste jogo a aceitação das condições e das políticas

e reformas econômicas impostas pelo credor.

A razão, pela qual este projeto deve vigorar em todo o mundo é a de que uma economia nacional,

no mundo globalizado do ponto de vista financeiro, que não tenha moeda estável e um equilíbrio fiscal

e não tenha implementado o "tripé reformista", precisa de crédito junto aos "manda-chuvas" da

economia mundial, isto é, FMI, etc. (já citados acima). A não observação das regras pode resultar

numa sanção por parte dos mercados financeiros. Um ataque especulativo de tais mercados é capaz

de destruir um governo e uma economia nacional em poucas horas. Os mercados financeiros

ditam as medidas que precisam ser adotadas pelos governo. Assim, as políticas públicas nacionais

estão "amarradas" a uma política internacional.

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49

49 Quanto aos países que assumiram tardiamente este projeto, como o Brasil e muitos países latino-

americanos, que dizer a respeito do futuro das políticas públicas destes países?

Já falamos anteriormente que estes planos não têm resolvido os reais problemas sociais; o sucesso

inicial dos planos de estabilização têm sido sucedido pelo "aumento do desemprego,

desaceleração do crescimento e do aumento exponencial da dívida pública"

Neste sentido, o que podemos esperar é um agravamento da crise provocada pela diminuição dos

recursos disponíveis para fazer políticas públicas de tipo social.

1.3 O novo papel do Estado frente à globalização

Este subtítulo "O novo papel do Estado frente à globalização" induz a pensar que isto seja consenso

universal e que frente a ela o único papel a ser desempenhado pelo Estado é desenvolver um política

de inserção no mundo globalizado, com eficiência.

A globalização está fundamentada, basicamente em três mitos: 1o.: "a globalização é uma

resultante exclusiva das forças de mercado". Se assim fosse, tratar-se-ia de uma nova ordem

econômica e que qualquer governo de bom senso deveria adotá-la. 2o.: "a globalização é um

fenômeno universal, inclusivo e homogeneizador". Neste sentido, globalização é uma nova ordem

mundial, dinâmica, e, os países que não aderirem a este projeto estão fadados a "nadar, nadar e morrer

na praia". 3o.: "a globalização promove uma redução pacífica e inevitável da soberania dos

estados nacionais". Com isto muitos ideólogos mais eufóricos prevêem o inutilidade do estado. Toda

a raça humana estaria agregada às nações desenvolvidas.

Com relação a estes três mitos, percebemos que não só as forças de mercado, mas também

determinações políticas e ideológicas atuam ao lado da economia, abrindo assim as portas para um

processo de globalização restrito e excludente; um projeto que aumenta a polarização das riquezas

entre os países e classes.

Enfim, na globalização também há contradições. O impacto produzido por ela é sentido

diferentemente em cada Estado Nacional e em cada classe social. O novo papel do Estado, das forças

sociais e políticas internas é adotar medidas para conter a crescente desigualdade social. Também cabe

aos países "centrais", "pais do neoliberalismo" preocupar-se em desenvolver programas que tenham

por base a solidariedade para com os países chamados "periféricos" que adotaram tardiamente o

projeto neoliberal.

CONCLUSÃO

Quanto ao Estado assistimos a duas situações: 1o.: triunfo do Estado sobre os indivíduos

(socialismo no leste europeu); 2o.: é o triunfo de grupos econômicos sobre o resto do mundo. Com isto

nem indivíduos e nem nações tem seu direitos respeitados. Nações pobres são obrigadas à recessão, à

não construção de escolas, à baixos salários, à não cuidar da saúde pública, muitas pessoas são

condenadas à morte por causa dos altos juros pagos aos credores. Diante desta situação os governos

perdem a autonomia, não conseguem realizar uma política pública direcionada realmente ao bem

comum de toda a nação.

A globalização é o triunfo de um grupo econômico sobre o mundo. Tal triunfo não se preocupa com

os problemas sociais que isto trás como conseqüência.

Este caminho, penso, é irreversível. O que precisamos é redimensinar a globalização: ao invés de

ser exploradora deveria ser uma globalização solidária. BIBLIOGRAFIA

BRUGGER, W. Dicionário de filosofia. São Paulo: EPU, 1977

BOTTOMORE T. B. . Introdução à sociologia. 5ª ed. Rio de Janeiro. Zahar; Brasília, INL, 1973 ( Biblioteca de Ciências Sociais)

GALLIANO. Introdução à sociologia. São Paulo: Harbra, 1986. POSITIVO, apostila seg. série - ens. médio

SOUZA, S.M.R. Um outro olhar. São Paulo: FTD, 1995. TURNER. Jonathan H. Sociologia: conceitos e aplicações. São Paulo: Makron Books, 1999.

ARRUDA, J. J. de A. & PILETTI, N. Todo a História, Ática, 7a. ed., 1997, 408 p.

ANGELI, J.M., Neo-Imperialismo: uma chave de leitura da globalização?, in cultura VOZES, No. 6, Ano 91 Vol. 91, 1997. p. 50-68. ARIGHI, G., A Ilusão do Desenvolvimento, Coleção Zero à Esquerda, Vozes, 1997, Td. Sandra Vasconcelos, 371 p.

CASTEL, R., As Metamorfoses da Questão Social, Coleção Zero à Esquerda, Vozes, 1998. Td. Iraci D. Poleti, 611 p.

FIORI, J.L., Os Moedeiros Falsos, Coleção Zero à Esquerda, Vozes, 1997, 239 p. KURTZ, R., Os Últimos Combatentes, Coleção Zero à Esquerda, Vozes, 1997, 394 p.

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50

50 SANTOS, M. & SILVEIRA, M.L., De uma geografia metafórica da pós-modernidade a uma geografia da globalização, in Cultura

VOZES, No. 4, Ano 91, Vol. 91, Julho/agosto de 1997, p. 14-30.

SILVEIRA, J.P.B. da, O Avesso da Globalização, in Cultura VOZES, No. 2, Ano 91, março/abril de 1997, p. 23-38.

VESTIBULAR / UEL 2006 – 19/12/2005 - SOCIOLOGIA

01. (UEL 2006) - ―Em geral, o feminismo veio demonstrar que a opressão tem muitas faces,

uma das quais é a opressão das mulheres por via da discriminação sexual. Ao privilegiar a

opressão de classe, o marxismo secundarizou e, no fundo, ocultou a opressão sexual e, nessa

medida, o seu projeto emancipatório ficou irremediavelmente truncado. [...] Se para as

feministas marxistas, a primazia explicativa das classes é admissível desde que seja articulada

com o poder e a política sexual, para a maioria das correntes feministas não é possível

estabelecer, em geral, a primazia das classes sobre o sexo ou sobre outro fator de poder e de

desigualdade e algumas feministas radicais atribuem mesmo a primazia explicativa ao poder

sexual.‖ (SOUZAS., Boaventura. Pela mão de Alice, o social e o político na pós-

modernidade. São Paulo: Cortez, 1996. p. 41.)

De acordo com o texto, é correto afirmar:

a) A teoria marxista das classes, como explicação das relações de gênero, é o fundamento dos

movimentos feministas.

b) Ao priorizar a opressão de classe, o marxismo eclipsou a opressão feminina, destituindo-a

de sua relevância social.

c) As feministas marxistas defendem a primazia do poder sexual sobre a de classes.

d) O feminismo radical, ao explicitar a discriminação sexual como forma de opressão,

fortaleceu o entendimento marxista da sociedade.

e) O projeto emancipatório das feministas teve significativo impulso após a adoção do

marxismo enquanto modelo explicativo da opressão feminina.

02. (UEL 2006) - Leia, a seguir, texto sobre o significado do zapatismo.

―Marcos é gay em São Francisco, negro na África do Sul, asiático na Europa, chicano em San

Isidoro, anarquista na Espanha, palestino em Israel, indígena nas ruas de San Cristóbal ...

judeu na Alemanha ... feminista nos partidos políticos, comunista no pós-guerra fria ...

pacifista na Bósnia ... artista sem galeria, nem port-fólio, dona-de-casa sábado à noite em

qualquer colônia de qualquer cidade de qualquer México ... machista no movimento

feminista, mulher sozinha no metrô às 10 da noite ... camponês sem terra, editor marginal,

operário desempregado, médico sem lugar para trabalhar, estudante não conformista,

dissidente no neoliberalismo, escritor sem livros nem leitores e, seguramente, zapatista no

sudeste mexicano‖. (CECEÑA,A. E. Pela humanidade e contra o neoliberalismo: linhas

centrais do discurso zapatista. In: SEOANE, J.; TADDEI, E. (Orgs.)

Resistências mundiais, de Seattle a Porto Alegre. Petrópolis: Vozes, 2001. p.187, 188.)

Com base no texto e nos conhecimentos sobre o tema, é correto afirmar que o zapatismo

é um movimento:

a) Que atua internacionalmente em diversas frentes voltadas à emancipação dos Estados

Nacionais.

b) Fundado na contraposição a qualquer forma de opressão.

c) Moderno porque visa à ruptura com os tradicionais preceitos de esquerda.

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51 d) Que organiza os desempregados do mundo inteiro visando à conquista do poder estatal.

e) Que visa a armar a população para um enfrentamento bélico com o poderoso vizinho do

Norte.

03. (UEL 2006) - ―Uma esfera pública não-estatal, conforme rezam todas as inspirações

teóricas que mostram o trânsito tenso para uma democracia real em um mundo globalizado,

tem todo o direito a se produzir como espaço público ativo desde que suas práticas e presença

tenham uma interlocução constante com o contexto político da sociedade e do Estado, o que

implica em que sejam também espaço inovador de circulação de idéias e de experiências de

participação democrática. As instituições voltadas à filantropia empresarial falham

precisamente neste aspecto: externamente, evitam incorporar-se ao debate sobre as decisões

governamentais, e sua presença diante do Estado aparece apenas pelo lado tradicionalíssimo

de pressão por seus interesses econômicos e financeiros, não escondidos em sua demanda de

ser intermediária de recursos públicos. Internamente, diante de sua clientela específica, o

modo de funcionamento de sua ação social também reproduz algo muito tradicional:

transforma cidadãos designados como sujeitos de direitos em receptores de favores e

generosidades, e, desse ângulo, a diferença com o velho modo de se fazer caridade repousa

unicamente na excelência dos programas adotados e no compromisso de quem os cria.‖

(PAOLI, M. C. Empresas e responsabilidade social: os enredamentos da cidadania no Brasil.

In: SOUZA SANTOS, B. (Org.) Democratizar a Democracia. Rio de Janeiro: Civilização

Brasileira, 2002. p. 413.)

Com base no texto e nos conhecimentos sobre cidadania e programas sociais das

empresas, é

correto afirmar:

a) Os programas sociais das empresas constituem-se em espaço público ativo, pois, por meio

de programas filantrópicos, usurpam os papéis do Estado.

b) As empresas se engajam em programas de responsabilidade social visando a consolidar

uma justa distribuição de renda no país.

c) Os programas sociais desenvolvidos pelas empresas são construídos democraticamente,

pois são elaborados no processo de interlocução com a sociedade e com o Estado.

d) Ao mesmo tempo que buscam garantir acesso às benesses do Estado, as empresas

distanciam-se, em seus programas sociais, da construção de uma cidadania fundada na

participação democrática.

e) O desenvolvimento de programas sociais pelas empresas, especialmente na última década,

expressou a generosidade como característica inerente ao povo brasileiro.

04. (UEL 2006) - ―Três grandes dimensões fundamentam o vínculo social. Primeiro, a

complementaridade e a troca: a divisão do trabalho social cria diferenças com base na

complementaridade, o que permite aumentar as trocas. Em segundo lugar, o sentimento de

pertença à humanidade que nos leva a reforçar nossos vínculos com os outros seres humanos:

força da linhagem, do vínculo sexual e familiar; afirmação de um destino comum da

humanidade por grandes sistemas religiosos e metafísicos. Por fim, o fato de viver junto, de

partilhar uma mesma cotidianeidade; a proximidade surge então como produtora do vínculo

social e o camponês sedentário como o ser social por excelência.‖ (BOURDIN, Alain. A

questão local. Rio de Janeiro: DP&A, 2001 p. 28.)

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52 Com base no texto e nos conhecimentos sobre o tema, é correto afirmar:

a) A divisão do trabalho social na sociedade contemporânea desagrega os vínculos sociais.

b) Os sistemas religiosos e metafísicos são fatores de isolamento social, por resultarem de

criações subjetivas dos indivíduos.

c) O cotidiano das pequenas cidades e do mundo campesino favorece a criação de vínculos

sociais.

d) Pela ausência da cotidianeidade, as grandes metrópoles deixaram de ser lugares de

complementaridade e de trocas.

e) O forte sentimento de pertencer à humanidade desmantela a noção de comunidade e

minimiza o papel da afetividade nas relações sociais.

05. (UEL 2006) - O misterioso da forma da mercadoria reside no fato de que ela reflete

aos homens as características sociais do seu próprio trabalho, como características

objetivas dos próprios produtos do trabalho e, ao mesmo tempo, também da relação

social dos produtores com o trabalho total como uma relação social existente fora deles,

entre objetos. (Adaptado: MARX, Karl. O Capital. São Paulo: Nova Cultural, 1988. p. 71.)

Com base no texto e nos conhecimentos sobre o tema, é correto afirmar que, para Marx:

a) As mercadorias, por serem objetos, são destituídas de qualquer vinculação com os seus

produtores.

b) As mercadorias materializam a harmonia presente na realização do trabalho alienado.

c) Os trabalhadores, independentemente da maneira como produzem a mercadoria, são

alijados do processo de produção.

d) As mercadorias constituem-se em um elemento pacificador das relações entre patrões e

trabalhadores.

e) A mercadoria, no contexto do modo capitalista de produção, possui caráter fetichista,

refletindo os aspectos sociais do trabalho.

06. (UEL 2006) -

propósito à experiência, seja o desafio de dar o melhor de si nos esportes e nos exercícios

físicos ou a afirmação de que a xícara de café que você bebe realmente importa [...] Segundo

o velho paradigma, tudo o que o marketing vendia era um produto. De acordo com o novo

modelo, contudo, o produto sempre é secundário ao verdadeiro produto, a marca, e a venda de

uma marca adquire um componente adicional que só pode ser descrito como espiritual‖. O

efeito desse processo pode ser observado na fala de um empresário da Internet comentando sua decisão de tatuar o logo da Nike em seu umbigo: ―Acordo toda manhã,

pulo para o chuveiro, olho para o símbolo e ele me sacode para o dia. É para me lembrar a

cada dia como tenho de agir, isto é, ‗just do it‘.‖ (KLEIN, Naomi. Sem logo: a tirania das

marcas em um planeta vendido. Rio de Janeiro: Record, 2002, p. 45-76.)

Com base no texto e nos conhecimentos sobre ideologia, é correto afirmar:

a) A atual tendência do capitalismo globalizado é produzir marcas que estimulam a

conscientização em detrimento dos processos de alienação.

b) O capitalismo globalizado, ao tornar o ser humano desideologizado, aproximou-se dos

ideais marxistas quanto ao ideal humano.

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53 c) Graças às marcas e à influência da mídia, em sua atuação educativa, as pessoas tornaram-se

menos sujeitas ao consumo.

d) O trabalho ideológico em torno das marcas solucionou as crises vividas desde a década de

1970 pelo capital oligopólico.

e) Por meio da ideologia associada à mundialização do capital, ampliou-se o fetichismo das

mercadorias, o qual se reflete na resposta social às marcas.

07. (UEL 2006) - ―A indústria cultural vende Cultura. Para vendê-la, deve seduzir e agradar o

consumidor. Para seduzí-lo e agradálo, não pode chocá-lo, provocá-lo, fazê-lo pensar, fazê-lo

ter informações novas que perturbem, mas deve devolver-lhe, com nova aparência, o que ele

sabe, já viu, já fez. A ‗média‘ é o senso-comum cristalizado que a indústria cultural devolve

com cara de coisa nova [...]. Dessa maneira, um conjunto de programas e publicações que

poderiam ter verdadeiro significado cultural tornam-se o contrário da Cultura e de sua

democratização, pois se dirigem a um público transformado em massa inculta, infantil,

desinformada e passiva.‖ (CHAUÍ, Marilena. Filosofia. 7. ed. São Paulo: Ática, 2000. p. 330-

333.)

Com base no texto e nos conhecimentos sobre meios de comunicação e indústria

cultural, considere as afirmativas a seguir.

I. Por terem massificado seu público por meio daindústria cultural, os meios de

comunicação vendem produtos homogeneizados.

II. Os meios de comunicação vendem produtos culturais destituídos de matizes

ideológicos e políticos.

III. No contexto da indústria cultural, por meio de processos de alienação de seu público,

os meios de comunicação recriam o senso comum enquanto novidade.

IV. Os produtos culturais com efetiva capacidade de democratização da cultura perdem

sua força em função do poder da indústria cultural na sociedade atual.

Estão corretas apenas as afirmativas:

a) I e II.

b) I e III.

c) II e IV.

d) I, III e IV.

e) II, III e IV.

08. (UEL 2006) - ―Se a pobreza é questão de direitos e conquista de cidadania, o que parece

hoje estar em jogo é a possibilidade de que, neste país, se dê a construção democrática de uma

noção de bem público, de interesse público e de responsabilidade pública que tenham como

medida os direitos de todos. Sabemos muito bem que é esse o nó cego da tradição brasileira,

construída em uma história regida por um privativismo selvagem que faz da vontade privada a

medida de todas as coisas, recusa a alteridade e obstrui, por isso mesmo, a dimensão ética da

vida social pela obliteração de um sentido de responsabilidade pública e obrigação social.

Sabemos também que o pouco que, nessa história, o país foi capaz de construir está se

erodindo por conta de uma crise do Estado, que desestrutura as referências nas quais, durante

décadas, para o bem ou para o mal, se projetaram esperanças de progresso.‖ (TELLES, Vera

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54 da Silva. Pobreza, movimentos sociais e cultura política. In: DINIZ, E; LOPES, J; PRANDI,

S.L. (Orgs.) O Brasil no Rastro da Crise. São Paulo: HUCITEC, 1994. p. 226.)

Com base no texto e nos conhecimentos sobre cidadania, é correto afirmar:

a) A crise do Estado favorece a efetivação da cidadania, por desestimular o privativismo e

acentuar o caráter público das instituições.

b) A tradição brasileira favorece a construção da cidadania, visto que esta como igualdade de

direitos, sobrepôs-se socialmente.

c) A cidadania é um artefato humano e, como tal, precisa ser construída e assegurada por

quaisquer meios que os indivíduos julgarem válidos.

d) No Brasil, a pobreza, enquanto evidência da desigualdade social tem sido abordada por

meio da consolidada noção de responsabilidade pública.

e) A falta de ações públicas que respeitem os direitos de todos constitui o que é denominado

de ―nó cego da tradição brasileira‖.

09. (UEL 2006) - ―No Brasil, a Proclamação da República efetivou-se basicamente no âmbito

das elites e como reação às tensões sociais que se acumulavam na ordem pósescravista [...].

Uma alternância entre indiferença, pragmatismo e violência, quando não o deboche e a

carnavalização, pautaria a relação das classes subalternas com o mundo formal da política.

Não se trataria nem de ruptura, nem de legitimação da ordem, mas talvez da articulação de

ambas num outro registro [...].‖ (BAIERLE, Sérgio G. A Explosão da Experiência. In:

ALVAREZ, S. et al. (Orgs.) Cultura e Política nos Movimentos Sociais Latino-Americanos.

Belo Horizonte: UFMG, 2000. p. 189.)

Com base no texto e nos conhecimentos sobre o advento da República, é correto afirmar

que ela significou:

a) A continuidade dos princípios políticos da ordem institucional anterior.

b) O rompimento com a cultura patrimonial típica do escravismo.

c) A privação das elites do livre exercício do poder político.

d) A instituição de uma ordem democrática perpassada pela fragilização do exercício da

política.

e) O rompimento com um passado de mando e de subserviência.

10. (UEL 2006) - ―As reformas de base, a grande bandeira unificada dos anos cinqüenta e

sessenta, que se amplifica extraordinariamente na década do Golpe [de 1964], significavam o

questionamento da repartição da riqueza, unificando também categorias diversas de

trabalhadores urbanos, classes médias antigas e novas, profissionais de novas ocupações,

agora autonomizados e, em geral, tendo invertido sua velha relação com o populismo. O

grande debate sobre a educação colocou num novo patamar a questão da escola pública, da

produção científica e tecnológica, o papel dos cientistas que, nessa nova relação, tornavam-se

‗intelectuais orgânicos‘ da política, sem que estivessem necessariamente ligados a partidos.

Mas talvez a amplificação mais notável da política tenha ocorrido mesmo no lado do

campesinato e dos trabalhadores rurais. As Ligas Camponesas, menos pelo seu real poder de

fogo, medido do ponto de vista de travar uma luta armada com os latifundiários – quando ela

ingressou por essa via seu verdadeiro potencial revolucionário se exauriu –, deram a fala, o

discurso, capaz de reivindicar a reforma agrária e de dessubordinar o campesinato, após

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55 longos séculos, da posição de mero apêndice da velha classe dominante latifundiária.‖

(OLIVEIRA, F. Privatização do público, destituição da fala e anulação da política: o

totalitarismo neoliberal. In: Oliveira, F.; Paoli, M. C. (Orgs.). Os sentidos da Democracia,

políticas do dissenso e hegemonia global. Petrópolis: Vozes, 1999. p. 63.)

Com base no texto e nos conhecimentos sobre movimentos sociais no Brasil, é correto

afirmar:

a) Os movimentos que lutaram pelas ―reformas de base‖ foram significativos, porque

mostraram, além da importância e da legitimidade de suas demandas, a sua capacidade de

politizar problemas fundamentais da sociedade brasileira.

b) As Ligas Camponesas, ao potencializarem sua ação revolucionária por meio da luta

armada, lograram a superação da dominação do latifúndio.

c) As relações populistas foram fundamentais como forças impulsionadoras dos movimentos

pelas reformas de base.

d) As reformas de base resultaram da unificação dos trabalhadores urbanos e rurais e das suas

demandas, promovida pelos intelectuais orgânicos brasileiros.

e) No debate sobre as reformas educacionais, nos anos que antecederam a 1964, prevaleceu a

pauta ditada pelos interesses do mercado.

11. (UEL 2006) - ―Pesquisadores das universidades britânicas de Glasgow e Bristol

acompanharam os hábitos de 9.000 crianças nos últimos catorze anos. Concluíram que o

ambiente no qual elas foram educadas teve tanta influência nos casos de obesidade infantil

quanto a herança genética. O estudo identificou oito fatores que podem levar à obesidade a

partir dos 7 anos, dos quais destacam-se, aqui, dois: crianças com mais de 3 anos que

permanecem diante da TV mais de oito horas por semana têm tendência ao sedentarismo e à

superalimentação; filhos de pais obesos podem, além de herdar características genéticas de

obesidade, imitar seu comportamento.‖ (Veja, ano 38, n. 23, p. 37, 8 jun. 2005.)

Com base no texto, é correto afirmar:

a) O fato de filhos de pais obesos serem obesos indica que a causa da obesidade infantil é

necessariamente genética.

b) Escolarização e incidência de obesidade infantil são diretamente proporcionais, revelando o

equívoco dos conceitos sobre alimentação e saúde.

c) Fatores biológicos e a construção de hábitos alimentares no processo de socialização da

criança são determinantes na obesidade infantil.

d) A interdição das crianças à televisão é uma medida que elimina o risco da obesidade

infantil.

e) O sedentarismo, a superalimentação e o ambiente no qual as crianças são educadas são

fatores de obesidade infantil circunscritos aos povos de origem anglo-saxã.

12. (UEL 2006) - Nas três últimas décadas, os trabalhos publicados por Ralph

Dahrendorf, Daniel Bell, Alain Touraine e André Gorz permitiram ampliar a

compreensão do processo de passagem da sociedade industrial para a pós-industrial.

Desde então, muitos dos conceitos que haviam norteado o campo da análise social desde

o século XIX perderam relevância. Com base nos conhecimentos sobre o tema, considere

as afirmativas a seguir.

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I. Na sociedade pós-industrial, além da concentração do capital, ocorre a perda da

identidade coletiva dos trabalhadores, que se tornam cada vez mais individualistas.

II. O retorno aos conceitos elaborados à luz da análise social do século XIX impõe-se,

dada a imobilidade socioeconômica desde o advento da sociedade industrial.

III. Com o advento da sociedade pós-industrial, o campo da investigação sociológica

amplia-se para além dos estudos dos movimentos de classe.

IV. O uso de sistemas técnicos oriundos das descobertas científicas é o que distingue a

sociedade pós-industrial da sociedade industrial.

Estão corretas apenas as afirmativas:

a) I e II.

b) I e III.

c) III e IV.

d) I, II e IV.

e) II, III e IV.

13. (UEL 2006) - A categoria que comanda as relações entre o homem e a natureza é,

para a modernidade

ocidental, a da produção, concebida como ato de subordinação da matéria ao desígnio

humano. A reprodução das sociedades indígenas é, ao contrário, concebida e vivida sob

o signo de uma troca de propriedades simbólicas entre os humanos e os demais

habitantes do cosmos (troca que pode ser violenta e mortal, sem deixar de ser social),

não de uma produção de bens sociais a partir de uma matéria informe. (Adaptado de:

CASTRO, Eduardo V. Sociedades indígenas e natureza na Amazônia. In: SILVA, A. L;

GRUPIONI, L. D. B. (Orgs.) A temática Indígena na Escola. Brasília: MEC, 1995. p. 117-

118.)

Com base no texto e nos conhecimentos sobre o tema, é correto afirmar:

a) A produção de bens sociais a partir de uma matéria uniforme é o que caracteriza as

sociedades indígenas.

b) Os povos indígenas objetificam a natureza por meio de relações estritamente violentas e

mortais.

c) A reprodução das sociedades indígenas funda-se na irrestrita subordinação da matéria aos

desígnios humanos.

d) As relações entre os indígenas e a natureza estão fundadas em uma história de adaptação

passiva ao cosmos.

e) A troca de propriedades simbólicas caracteriza as sociedades indígenas em sua relação com

a natureza.

14. (UEL 2006) - Analise a imagem a seguir.

Charles Le Brun (Paris 1619-1690). ―América‖.

O quadro pretende mostrar os habitantes do continente americano e seus costumes,

contudo os ameríndios aparecem com feições apolíneas e cabelos anelados. Nesta

representação, como em muitas outras, os personagens mais se assemelham aos

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57 europeus do que propriamente aos povos da América. O quadro, assim, acaba nos

dizendo mais sobre o olhar do próprio europeu do que sobre aqueles que procurava

retratar. A identidade dos grupos humanos é uma característica fundamental para a

criação de um “nós coletivo” que, ao mesmo tempo, identifica e diferencia os grupos

entre si. Sobre a identidade, considere as afirmativas a seguir.

I. A identidade possui natureza estática, daí perpassar as gerações e os subgrupos que se

originam a partir de um tronco comum.

II. Como em um jogo de espelhos, a identidade é construída a partir das representações

que os grupos fazem dos outros, o que permite que enxerguem a si mesmos.

III. A herança genética dos diferentes grupos humanos impede transformações de

identidade, posto que delimita a abrangência das respectivas culturas.

IV. A identidade supõe um processo de resignificação das diferenças entre os grupos

sociais em função de um determinado contexto.

Estão corretas apenas as afirmativas:

a) I e II.

b) I e III.

c) II e IV.

d) I, III e IV.

e) II, III e IV.

15. (UEL 2006) - Contardo Calligaris publicou um artigo em que aborda a prática social

brasileira de denominar como doutores os indivíduos pertencentes a algumas profissões,

dentre eles médicos, engenheiros e advogados, mesmo na ausência da titulação

acadêmica. Segundo o autor, estes mesmos profissionais não se apresentam como

doutores no encontro com seus pares, mas apenas diante de indivíduos de segmentos

sociais considerados subalternos, o que indica uma tentativa de intimidação social,

servindo para estabelecer uma distância social, lembrando a sociedade de castas. A

questão levantada por Contardo Calligaris aborda aspectos relacionados à estratificação

social, estudada, entre outros, pelo sociólogo alemão Max Weber. De acordo com as

idéias weberianas sobre o tema, é correto afirmar:

a) As sociedades ocidentais modernas produzem uma estratificação social multidimensional,

articulando critérios de renda, status e poder.

b) Médicos, engenheiros e advogados são designados de doutores porque suas profissões

beneficiam mais a sociedade que as demais.

c) A titulação acadêmica objetiva a intimidação social e a demarcação de hierarquias que

culminem em uma sociedade de castas.

d) A intimidação social perante os subalternos expressa a materialização das castas nas

sociedades modernas ocidentais.

e) Nas sociedades modernas ocidentais, a diversidade das origens, das funções sociais e as

condições econômicas são critérios anacrônicos de estratificação.

16. (UEL 2006) - ―Na raiz de nossos julgamentos existe um certo úmero de noções essenciais

que dominam toda a vida intelectual; são aquelas que os filósofos chamam e categorias do

entendimento: noções de tempo, de espaço, de gênero, de número, de causa, de substância, de

personalidade etc. [...] Mas, se, como pensamos, as categorias são representações

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58 essencialmente coletivas, traduzem antes de tudo estados da coletividade: elas dependem da

maneira ela qual esta é constituída e organizada, de sua morfologia, de suas instituições

religiosas, morais, econômicas etc.‖ (DURKHEIM, Émile. Sociologia. São Paulo: Ática,

1981. p. 154-157.)

Com base no texto e nos conhecimentos sobre o tema, é correto afirmar que a noção de

categorias do entendimento compreende:

a) Os estados emocionais fugazes dos indivíduos de distintas sociedades.

b) Aquelas representações cuja formação é exterior às instituições religiosas, morais e

econômicas.

c) O modo como a sociedade vê a si mesma nos modos de agir e pensar coletivos.

d) A tradução de estados mentais dos indivíduos portadores de distintas visões de mundo.

e) As noções incomuns à vida intelectual de uma sociedade que deturpa os julgamentos dos

sujeitos.

17. (UEL 2006) - ―No início a ciência quis a morte do mito, como a razão quis a supressão do

irracional, visto como obstáculo a uma verdadeira compreensão do mundo, dando início assim

a uma guerra interminável contra o pensamento mítico. Valéry glorificou esta luta destruidora

contra as ‗coisas vagas‘: ‗Aquilo que deixa de ser, por ser pouco preciso, é um mito; basta o

rigor do olhar e os golpes múltiplos e convergentes das questões e interrogações categóricas,

armas do espírito ativo, para se ver os mitos morrerem‘. O mito por sua vez trabalha duro para

se manter e, por meio de suas metamorfoses, está presente em todos os espaços. Do mesmo

modo, a ciência atual busca menos sua erradicação que seu confinamento. Quando a ciência

traça seus próprios limites, ela reserva ao mito – e ao sonho – o lugar que lhe é próprio.‖

(BALANDIER, Georges. A desordem: elogio do movimento. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil,

1997.p.17.)

Com base no texto, é correto afirmar:

a) Pelo fato de ser destituído de significado social, o mito está ausente dos espaços sociais

contemporâneos.

b) A delimitação da área de atuação do saber científico implica na constituição de um lugar

próprio para o mito.

c) A morte e o extermínio do mito no ocidente decorrem da supervalorização e conseqüente

predomínio da razão.

d) Na modernidade, o pensamento mítico é crucial para a compreensão científica do mundo.

e) O pensamento mítico se disseminou porque se pauta em conceitos e categorias.

18. (UEL 2006) - Ao receber um convite para uma festa de aniversário, é comum que o

convidado leve um presente. Reciprocamente, na festa de seu aniversário, este indivíduo

espera receber presentes de seus convidados. Do mesmo modo, se o vizinho nos convida

para o casamento de seu filho, temos certa obrigação em convidá-lo para o casamento do

nosso filho. Nos aniversários, nos casamentos, nas festas de amigo-secreto e em muitas

outras ocasiões, trocamos presentes. Segundo o sociólogo francês Marcel Mauss, a

prática de “presentear” é algo fundamental a todas as sociedades: segundo ele, a relação

da troca, esta obrigatoriedade de dar, de receber e de retribuir é mais importante que o

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59 bem trocado. Com base no texto e nos conhecimentos sobre o tema, considere as

afirmativas a seguir.

I. O ato de presentear instaura e reforça as alianças e os vínculos sociais.

II. A troca de presentes cria e alimenta um circuito de comunicação nas sociedades.

III. O lucro obtido a partir dos bens trocados é o que fundamenta as relações de troca de

presentes.

IV. O presentear como prática social originou-se quando da consolidação do modo

capitalista de produção.

Estão corretas apenas as afirmativas:

a) I e II.

b) I e III.

c) III e IV.

d) I, II e IV.

e) II, III e IV.

19. (UEL 2006) - Em novembro último, 100 policiais foram mobilizados para retirar 50

indígenas avá-guarani que haviam ocupado o Parque Nacional do Iguaçu, no Paraná. A

desocupação foi tensa, mas os indígenas acabaram deixando o local pacificamente, após

rezarem e dançarem, em um ritual comandado pelo Pajé. Com base no texto e nos

conhecimentos sobre o tema, é correto afirmar:

a) A despeito de terem o direito legal de habitar no Parque, os indígenas o desocuparam pelo

fato de os brancos terem profanado seu lugar de culto religioso.

b) A presença dos povos indígenas é inconciliável com medidas de conservação ambiental,

daí a necessária interdição plena das florestas e remanescentes em que vivem.

c) A retirada dos indígenas marcou o encerramento das atividades de exploração comercial no

Parque Nacional do Iguaçu.

d) A jurisprudência acerca da incompatibilidade entre os rituais religiosos dos avá-guarani e

os preceitos religiosos hegemônicos no Brasil motivou a desocupação do Parque.

e) Apesar de serem os tradicionais ocupantes da região, os indígenas foram retirados do

Parque, por meio do uso de expedientes legais elaborados pelos e para os brancos.

20. (UEL 2006) - Na Inglaterra do século XVII, puritanismo era o nome dado ao

policiamento exercido por uma seita religiosa sobre o comportamento alheio,

especialmente em relação à sexualidade. O neopuritanismo, por sua vez, não tem relação

com religião [...] sua censura se pauta por uma visão estereotipada e generalizante de

bom senso. O neopuritanismo consiste em uma pressão social contemporânea para que o

indivíduo seja correto, competente e bem sucedido em todas as esferas da vida.

(Adaptado de: QUINTANILHA, Leandro. Tudo o que se faz é ilegal, imoral ou engorda. In:

Folha de Londrina, Londrina, 27 nov. 2005. Especial, p. 16.)

Com base no texto e nos conhecimentos sobre o tema, considere as afirmativas a seguir.

I. O neopuritanismo propaga um padrão comportamental que auxilia a reprodução da

lógica mercantil capitalista, portanto a reprodução das relações sociais de produção.

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60 II. A ruptura do neopuritanismo com a religião conduziu seus seguidores a combater a

censura na sociedade atual.

III. O neopuritanismo, em função de suas origens, tem alimentado os fundamentalismos

das seitas religiosas orientais e ocidentais.

IV. Uma das diretrizes gerais do neopuritanismo é a constituição de formas de controle

social fundadas na instauração de consensos a partir dos valores sociais hegemônicos.

Estão corretas apenas as afirmativas:

a) I e II.

b) I e IV.

c) III e IV.

d) I, II e III.

e) II, III e IV.