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1 FURB – Universidade Regional de Blumenau Departamento de Economia Disciplina: Engenharia Econômica Prof. Paulo Cesar da Motta Ribeiro, Economista UNIDADE 1 – NOÇÕES DE ECONOMIA INTRODUÇÃO À ECONOMIA DEFINIÇÕES DE ECONOMIA A palavra Econômica tem a sua origem no termo grego Oikonomique, concebido por Aristóteles para designar a atividade, arte, faculdade, ciência ou virtude do uso adequado dos bens necessários a uma vida moralmente boa e feliz. Economia é a ciência que estuda a atividade produtiva focalizando o uso eficiente de recursos escassos para a produção de bens e serviços e as variações e combinações na alocação dos fatores de produção (terra, capital, trabalho e tecnologia), distribuição de renda, oferta e demanda e preços de bens, mercadorias e serviços. Polis - cidade (instância pública) Economia = administração da casa (patrimônio privado). Economia Política = administração da polis (cidade). Economia Política é a ciência que estuda as relações sociais de produção, circulação e distribuição de bens materiais, definindo leis que regem tais relações. Analisa o caráter das leis econômicas, suas especificidades, sua natureza e suas relações mútuas. AS TRÊS GRANDES PERGUNTAS DA ECONOMIA (ORGANIZAÇÃO ECONÔMICA). 1) o que produzir Quais bens devem ser produzidos e em quais quantidades. O Estado pode intervir no mercado para que mais armamentos sejam produzidos (os cidadãos seriam prejudicados a menos que o país estivesse em guerra). Da mesma forma, devem-se produzir bens de consumo durável (automóveis, eletrodomésticos e eletroeletrônicos) ou bens de capital (máquinas e equipamentos)? Na mesma linha de raciocínio, devem-se produzir bens supérfluos ou de primeira necessidade? 2) para quem produzir Nesta questão, envolve-se na verdade a distribuição de renda e produto. Esta questão também envolve o direcionamento do parque industrial da região em questão. Por exemplo, se os empresários da região estão preocupados com o mercado externo, os consumidores da região podem ficar sem produtos para consumir. Caso haja capital para pequenos empreendedores, estes podem suprir os espaços, no entanto se não houver capital disponível, os consumidores realmente ficarão sem opções. Se a opção é de produzir para exportação, a demanda nacional será atendida por empresas menos modernas, que produzem com custos mais altos, portanto derivando maior custo de vida para a população. 3) como produzir Esta questão diz respeito à tecnologia empregada nos processos produtivos. Esta tecnologia reporta à disponibilidade de recursos financeiros para adquirir esta tecnologia. Da mesma forma que depende da capacidade de desenvolvimento científico e tecnológico da nação.

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Noções de economia

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FURB – Universidade Regional de Blumenau Departamento de Economia Disciplina: Engenharia Econômica Prof. Paulo Cesar da Motta Ribeiro, Economista

UU NNII DD AADD EE 11 –– NNOOÇÇÕÕ EESS DD EE EECCOO NNOOMM II AA

IINNTTRROODDUUÇÇÃÃOO ÀÀ EECCOONNOOMMIIAA

DEFINIÇÕES DE ECONOMIA

A palavra Econômica tem a sua origem no termo grego Oikonomique, concebido por Aristóteles para designar a atividade, arte, faculdade, ciência ou virtude do uso adequado dos bens necessários a uma vida moralmente boa e feliz.

Economia é a ciência que estuda a atividade produtiva focalizando o uso eficiente de recursos escassos para a produção de bens e serviços e as variações e combinações na alocação dos fatores de produção (terra, capital, trabalho e tecnologia), distribuição de renda, oferta e demanda e preços de bens, mercadorias e serviços.

Polis - cidade (instância pública) Economia = administração da casa (patrimônio privado). Economia Política = administração da polis (cidade).

Economia Política é a ciência que estuda as relações sociais de produção, circulação e distribuição de bens materiais, definindo leis que regem tais relações. Analisa o caráter das leis econômicas, suas especificidades, sua natureza e suas relações mútuas.

AS TRÊS GRANDES PERGUNTAS DA ECONOMIA (ORGANIZAÇÃO ECONÔMICA).

1) o que produzir

Quais bens devem ser produzidos e em quais quantidades. O Estado pode intervir no mercado para que mais armamentos sejam produzidos (os cidadãos seriam prejudicados a menos que o país estivesse em guerra). Da mesma forma, devem-se produzir bens de consumo durável (automóveis, eletrodomésticos e eletroeletrônicos) ou bens de capital (máquinas e equipamentos)? Na mesma linha de raciocínio, devem-se produzir bens supérfluos ou de primeira necessidade?

2) para quem produzir

Nesta questão, envolve-se na verdade a distribuição de renda e produto. Esta questão também envolve o direcionamento do parque industrial da região em questão. Por exemplo, se os empresários da região estão preocupados com o mercado externo, os consumidores da região podem ficar sem produtos para consumir. Caso haja capital para pequenos empreendedores, estes podem suprir os espaços, no entanto se não houver capital disponível, os consumidores realmente ficarão sem opções. Se a opção é de produzir para exportação, a demanda nacional será atendida por empresas menos modernas, que produzem com custos mais altos, portanto derivando maior custo de vida para a população.

3) como produzir

Esta questão diz respeito à tecnologia empregada nos processos produtivos. Esta tecnologia reporta à disponibilidade de recursos financeiros para adquirir esta tecnologia. Da mesma forma que depende da capacidade de desenvolvimento científico e tecnológico da nação.

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ELEMENTOS DOS SISTEMAS ECONÔMICOS

Fatores de produção

Terra – terras disponíveis para atividades agropecuárias e recursos naturais; Capital – máquinas, equipamentos e imóveis em geral; Trabalho – mão-de-obra para trabalhar, ou seja, criar valor; Capacidade empresarial – capacidade de vislumbrar possibilidades e organizar a produção; Tecnologia – capacidade de desenvolver os meios e processos de produção em uso.

Elementos da economia capitalista

Capital – estoque de capital (máquinas, equipamentos e imóveis em geral); Propriedade privada – os meios de produção possuem um proprietário e esta propriedade está assegurada pelo Estado. Portanto, os retornos da utilização do capital (lucros e aluguéis) são apropriados pelos detentores do capital. É um conceito em evolução; Divisão do trabalho – é a especialização laboral da mão-de-obra. Por meio deste mecanismo, aumenta-se a produtividade do trabalho. Também está em evolução; Moeda – é o meio de troca de uma economia monetizada na qual os produtos e serviços têm seus valores referidos a esta moeda.

Organização da economia

Economia de mercado – é aquela economia onde as decisões sobre as três perguntas anteriormente citadas (o que, para quem e como produzir), são tomadas por um mecanismo de preços (dado um preço de mercado um empresário resolve produzir). É uma situação limite; Economia dirigida – economia na qual as decisões são tomadas pelo Estado visando o atendimento de necessidades básicas da população. Também situação limite, porém comum em estado de guerra e graves crises; Economista mista – todas as economias são mistas, o que varia é o nível de liberdade das empresas e de intervenção do Estado na economia.

NNOOÇÇÕÕEESS DDEE MMIICCRROOEECCOONNOOMMIIAA

Microeconomia é o ramo das Ciências Econômicas que se dedica ao estudo do comportamento das unidades de consumo (indivíduos/famílias), ao estudo das empresas com suas produções e custos, e ao estudo dos mecanismos de preços na economia.

TEORIA DA DEMANDA (DO CONSUMIDOR)

Esta é uma abordagem simplificada. Um estudo completo pode ser feito em capítulos intitulados Teoria do Consumidor (Manual de Economia da USP é uma boa opção).

Estuda a forma como os consumidores interagem no mercado. Basicamente os determinantes das decisões de consumo são: Preço do bem – determina a quantidade que o consumidor esta disposto a comprar. Os bens dividem-se em normais (quanto menor o preço ou maior a renda maior o consumo), de consumo saciado (uma vez atendida a necessidade o consumo não cresce) e inferiores (quando a renda aumenta o consumo cai); Preço de outros bens – comparando com outros bens, complementares (que complementa o bem principal) e substitutos (que substitui o principal se for o caso); Renda – quando maior a renda maior o nível de consumo do indivíduo. À medida que a renda aumenta alguns bem passam de normais para inferiores; Gosto – este fator é determinado por fatores sócio-culturais além de ser influenciado por fatores externos. GGoossttoo ee rreennddaa iinntteerraaggeemm mmuuddaannddoo ooss ppaaddrrõõeess ddee ccoonnssuummoo ddoo iinnddiivvíídduuoo.

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TEORIA DA OFERTA

Teoria que estuda os determinantes das decisões de oferta tomadas pelos empresários. Estes determinantes são: Preço de mercado – o preço que o mercado paga por determinado bem; Preços de outros bens – o preço de bens complementares e substitutos; Preços dos fatores de produção e Tecnologia – o preço dos fatores de produção junto com o preço dos bens de capital determina os custos de produção.

AS CURVAS PREÇO-CONSUMO E RENDA-CONSUMO

O mecanismo preço-consumo resume-se a tradicional curva de demanda (negativamente inclinada), onde dado o aumento do preço, ceteris paribus, ocorre a queda no consumo.

Quanto ao mecanismo renda-consumo, a influência do aumento da renda deve ser estudada de acordo com cada tipo de bem. Temos que recordar em primeiro lugar os tipos de bens, bens normais, bens inferiores, de consumo saciado, complementares e substitutos. A princípio, a forma da curva renda-consumo é o da curva da oferta (positivamente inclinada). – Bens normais: aumenta a renda, aumenta o consumo; – Bens inferiores: aumenta a renda, aumenta o consumo até certo nível de renda, se a renda subir além deste nível, ocorre queda no consumo; – Bens de consumo saciado: ocorrendo o consumo, nova aquisição independe do nível de renda; da mesma forma, o aumento de renda não implica em novo consumo; – Bens complementares: dado o aumento no consumo de um bem, o consumo de outro também se eleva; – Bens substitutos: dado o aumento no consumo de um bem, o consumo de outro se reduz.

COEFICIENTES DE ELASTICIDADE

Elasticidade é a medida da sensibilidade de uma variável em relação à outra. Ela nos informa a variação percentual em uma variável em decorrência da variação de 1% em outra variável. Segue a Fórmula da Elasticidade Preço da Demanda no ponto:

Q

P

P

QD •

∆=Ε

Os valores da elasticidade são analisados sempre em módulo. As notações para elasticidade são E e η. Segue a descrição das três categorias:

I – demanda inelástica, quando |ηD|<1. Demanda varia menos que o preço. II – demanda de elasticidade unitária, quando |ηD|=1. Variação da demanda igual a do preço. III – demanda elástica, quando |ηD|>1. Demanda varia mais que o preço.

Quando a demanda é inelástica, os consumidores são menos sensíveis às variações de preço. Neste caso, reduções de preço resultam em pequenos aumentos de venda. Em compensação os aumentos de preços pouco afetam as vendas. Quando a demanda é elástica, os consumidores são mais sensíveis a variações de preço. Neste caso, pequenas reduções de preço ocasionam em bom aumento nas vendas. Da mesma forma pequenos aumentos de preço repercutem muito nas vendas, ocorrendo queda nas receitas.

TABELA DE CARACTERÍSTICAS DAS ESTRUTURAS CLÁSSICAS DE MERCADO Concorrencial Monopólio Monopólio

Concorrencial Oligopólio

Nº de ofertantes muitos único muitos poucos Produtos homogêneos não têm substitutos diferenciados substitutos próximos Preço dado lucro máximo lucro máximo

temporariamente mark-up

Mobilidade de capital total quase impossível barreiras à entrada barreiras à entrada Uso da cap. instalada total ociosa ociosa ociosa Tecnologia difícil (parcerias) fácil fácil fácil

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Inter-relações entre os setores da economia Este tópico trata das inter-relações entre as diversas cadeias produtivas de uma economia. Todos os setores são interligados em maior ou menor grau. Os bens finais de uma cadeia produtiva são os bens intermediários utilizados por outras. Diversas cadeias produtivas fornecem para uma cadeia produtiva que fornece bens finais para os consumidores. Além das interligações entre os setores produtivos em geral, existem as inter-relações entre as diversas dimensões da sociedade, como aspectos econômicos, políticos, sociais, históricos, geográficos e demográficos. O sistema econômico existe para satisfazer as necessidades da sociedade. Todavia, este sistema é construído e mantido para fazer valer os interesses dos extratos sociais que dominam a sociedade, seja pelo poder político ou pelo poder econômico. Os diversos setores produtivos configuram ao longo do tempo sistemas que podem ser pesquisados e definidos a partir de suas características. Estes sistemas podem ter o potencial de dinamizar os setores nele inseridos. A seguir, os principais sistemas, configurações de empresas: Cadeia produtiva: é o encadeamento de atividades econômicas pelas quais passam e são transformados e transferidos os diversos insumos, incluindo desde as matérias-primas, máquinas e equipamentos, produtos intermediários até os finais, sua distribuição e comercialização. Resulta de e implica em crescente divisão do trabalho, na qual cada agente ou conjunto de agentes especializa-se em etapas distintas do processo produtivo. Aglomeração: o termo aglomeração – produtiva, científica, tecnológica e/ou inovativa – tem como aspecto central a proximidade territorial de agentes econômicos, políticos e sociais (empresas e outras instituições e organizações públicas e privadas), onde existe a formação de economias de aglomeração, ou seja, de vantagens oriundas da proximidade geográfica dos agentes. A aglomeração aumenta as chances de sobrevivência e crescimento das empresas, principalmente micros e pequenas, além de ser uma fonte geradora de vantagens competitivas. Cluster: é um aprofundamento do conceito de aglomeração, onde a proximidade de empresas rivais que competem e ao mesmo tempo cooperam e seus principais clientes, estimulam o desenvolvimento da competitividade das empresas. Também ocorre a eficiência coletiva, que vêm a ser os ganhos competitivos associados à interação entre empresas em nível local, além de outras vantagens derivadas da aglomeração. A existência de instituições de ensino e pesquisa, normalmente com apoio governamental, também potencializa a competitividade do cluster. Redes de empresas: forma organizacional que ocorre em aglomerações produtivas. Elas nascem da consolidação de vínculos sistemáticos entre firmas. Caracterizam-se pelo agrupamento formal ou informal de empresas autônomas, com o objetivo de realização de atividades comuns, permitindo que as empresas participantes se concentrem apenas em suas atividades principais. Arranjos produtivos: Arranjos Produtivos Locais (APL) são aglomerações de empresas localizadas em um mesmo território, que apresentam especialização produtiva e mantêm algum vínculo de articulação, interação, cooperação, governança e aprendizagem entre si e com outros atores locais como governo, associações empresariais e instituições de crédito, ensino e pesquisa. Um APL é caracterizado pela existência da aglomeração de um número significativo de empresas que atuam em torno de uma atividade produtiva principal. Para isso, é considera-se a dinâmica do território em que essas empresas estão inseridas, tendo em vista o número de postos de trabalho, faturamento, mercado, potencial de crescimento, diversificação, entre outros aspectos. Território é um campo de forças, uma teia ou rede de relações sociais que se projetam em um determinado espaço. No Brasil o conceito de APL é utilizado para qualquer dimensão de arranjo, desde associações de artesanato e de coleta de insumos oriundos da biodiversidade até pólos de calçados e roupas de banho e roupas íntimas. Os APL não são iguais porque a organização da produção é muito diversa e porque cada arranjo tem sua própria dinâmica de desenvolvimento.

Uma característica importante em todas as configurações é a presença de um grande número de micros e pequenas empresas integradas com grandes empresas. Esta integração garante mercado para absorver a produção das micro e pequenas, garantindo sua sobrevivência, além de proporcionar flexibilidade produtiva para as grandes empresas, pois é mais fácil para uma pequena empresa alterar as características de seus produtos do que uma grande empresa.

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NNOOÇÇÕÕEESS DDEE MMAACCRROOEECCOONNOOMMIIAA

Macroeconomia é o ramo das Ciências Econômicas que estuda a determinação dos agregados econômicos e seu comportamento conjunto ao longo do tempo. Portanto, lida com a economia de um país como um todo. Os principais agregados são: – renda; – produto interno/nacional; – consumo; – investimento; – nível de emprego/desemprego; – nível geral de preços; – gastos do governo.

Ao tratar dos agregados despreza-se o comportamento dos agentes econômicos individuais. A partir deste estudo podem-se inferir relações entre os agregados e compreender estas relações.

TEORIA MACROECONÔMICA

A macroeconomia procura tratar de temas de curto prazo como desemprego, nível geral de preços e nível de produção, que caracterizam as flutuações econômicas. As questões de longo prazo como progresso tecnológico e política industrial e outros fatores que determinam a melhoria da qualidade de vida das pessoas, são tratadas conjuntamente com as teorias de desenvolvimento econômico.

As metas das políticas macroeconômicas são:

– alto nível de emprego (pleno emprego, ou quase); – estabilidade de preços; – distribuição e redistribuição de renda; – crescimento econômico; – desenvolvimento em todas as suas dimensões; e – equilíbrio no balanço de pagamentos.

As inter-relações entre os objetivos exigem decisões dos formuladores de políticas quanto à ênfase que será dada a cada objetivo e forma de obter os resultados esperados. Isto porque cada objetivo interessa a um grupo distinto dentro da sociedade gerando conflitos quanto às políticas.

ESTRUTURA DA ANÁLISE MACROECONÔMICA

A análise macroeconômica se faz através da observação de algumas variáveis básicas em relação aos mercados a que dizem respeito:

Mercados Variáveis determinantes

Lado real da economia Bens e serviços Produto nacional

Nível geral de preços

Investimento

Trabalho Nível de emprego

Salários nominais

Lado monetário da economia Financeiro Taxa de juros

Estoque de moeda

Divisas Taxa de câmbio

O Estado atua sobre a Produção agregada (capacidade produtiva) e sobre a Demanda agregada (despesas dos agentes econômicos) para garantir que a economia opere no pleno emprego (ou próximo a ele) e com taxas baixas de inflação e justa distribuição de renda.

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FLUXO CIRCULAR PRODUTO RENDA

Um entendimento que se faz necessário em relação ao sistema econômico é o Fluxo Circular Renda Produto. Este fluxo permite visualizar como se comporta a economia como um todo. Os indivíduos/famílias ofertam fatores de produção para as empresas. Com a renda auferida os indivíduos/famílias compram no mercado os bens e serviços produzidos pelas empresas e necessários para a satisfação de suas necessidades.

TEMAS DE MACROECONOMIA

O mercado de moeda e ativos

A moeda surgiu como um produto que serve como meio de troca, reserva de valor e medida de valor numa economia monetária. O que determina a riqueza é o montante da produção, não o volume de moeda que gira na economia. Portanto, não existe a necessidade de lastro em metais preciosos, bastando que haja confiança no valor da moeda em função das características da economia e da gestão dos meios de pagamentos por parte da autoridade monetária; por isso o nome “moeda fiduciária”.

Taxa de câmbio

A taxa de câmbio é um fator essencial na determinação da competitividade da produção de um país no mercado internacional. A taxa de câmbio é a relação de troca de uma moeda por outra. Ela pode ser nominal (mede o poder de compra da moeda local) ou real (quando são descontadas as inflações dos países).

Ex. Taxa de câmbio nominal: TCn = R$ 2,555 / US$ 1.00 Taxa de câmbio real: TCr = [R$ 2,555 / IGP(BR)] / [US$ 1.00 / IGP(US)] simplificando: TCr = [R$ 2,555 / US$ 1.00] * [IGP(US) / IGP(BR)]

Ex. numérico: 2,555 * (1,025/1,055) = TCr 2,4823

Mudanças nas taxas de câmbio de mercado podem afetar a demanda de bens e serviços de um país. Como os preços dos bens mudam, torna-se necessário ajustar tais mudanças de preços sobre a taxa de câmbio determinada no mercado cambial.

A apreciação da taxa de câmbio de um país tem dois efeitos distintos:

– As importações ficam menos caras para seus residentes. – Os bens deste país ficam mais caros nos mercados mundiais.

Como as exportações diminuem e as importações aumentam, as exportações líquidas (exportações menos importações) diminuem. Para evitar aumentos acentuados em seu custo de

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vida ou redução nas exportações líquidas através de uma apreciação da taxa de câmbio, os governos podem entrar no mercado de câmbio comprando ou vendendo divisa (moeda estrangeira) nos mercados a vista e futuro para tentar influenciar o preço da moeda estrangeira.

Sistemas de taxas de câmbio

As taxas de câmbio podem ser fixas ou flutuantes. A taxa é fixa quando a autoridade monetária determina as cotações de compra e venda das divisas garantindo todas as operações na taxa por ele fixada. A taxa é flutuante quando a autoridade monetária deixa os agentes ofertantes e demandantes de divisas operarem livremente suas transações. Nesta situação, o mercado determina as cotações das divisas. Esta situação é rara, pois todas as autoridades monetárias interferem em maior ou menor grau nas cotações para que elas não flutuem demais. Este regime de taxa de câmbio é conhecido por flutuação suja. É o caso brasileiro onde o Banco Central (BC), através de seus agentes credenciados, compra e vende divisas incognitamente (para que não se perceba o movimento do BC), para evitar flutuações excessivas da taxa de câmbio. Além deste mecanismo de atuação direto junto ao mercado cambial a autoridade monetária ainda tem instrumentos fiscais e monetários para influenciar nas taxas de câmbio.

O movimento de capitais

Os capitalistas buscam as melhores alternativas econômicas para colocar seus recursos. Em virtude desta busca de rentabilidade existe o fluxo internacional de fatores de produção. Todavia, nem todos os fatores podem ser transferidos com a mesma facilidade. Alguns fatores têm maior facilidade de serem transferidos e outros não. Os recursos financeiros junto com máquinas e equipamentos são os fatores de maior facilidade de transferência. Além do acima exposto, que é um fator de fundamento microeconômico, existem outros fatores de ordem macroeconômica e de política internacional que fazem com que exista o fluxo internacional de fatores de produção e especialmente o fluxo internacional de capitais:

– financiamento do crescimento econômico: interessa às grandes corporações que outros países se desenvolvam e se tornem bons mercados consumidores;

– estabilização de ciclos econômicos: os ciclos reais de negócios são inerentes à economia e a transferência de recursos com fins anticíclicos permite a manutenção de equilíbrio macroeconômico numa economia, o que é bom para os negócios; e

– ajustamento de contas externas: é normal que um país tenha problemas com o Balanço de Pagamentos e a transferência de recursos financeiros permite que o governo tenha fôlego e tempo para realizar os devidos ajustes macroeconômicos para solucionar estes problemas.

Portanto considera-se como movimento de capitais as transferências de recursos financeiros de um país para outro, sob a forma de investimento, financiamento ou empréstimo.

O MERCADO DE FATORES DE PRODUÇÃO

Emprego e desemprego

O nível de emprego é dado pelas decisões de investimento dos empresários e do Estado. O empresário em relação a produção de bens e serviços e o Estado em relação a produção e prestação de bens e serviços públicos. Portanto: – Um trabalhador não cria sua vaga no mercado de trabalho. – A disposição de trabalhar não cria vaga no mercado de trabalho. – A qualificação não cria vaga no mercado de trabalho. Um dos maiores erros nas análises do desemprego é imputar ao trabalhador responsabilidade da sua condição de excluído do mercado de trabalho. Este é um raciocínio simplista que atende a uma ideologia; apenas isso.

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Investimento, produção e emprego

Investimento é o gasto que os empresários realizam ao comprar bens de capital (máquinas, equipamentos e estoque imobiliário) e que as famílias realizam ao adquirirem imóveis. Os investimentos realizados pelos empresários podem ser divididos basicamente em dois tipos: – Para reposição e ampliação da capacidade produtiva com a mesma tecnologia; e – Para reposição e ampliação da capacidade produtiva com nova tecnologia.

A escolha do padrão tecnológico conduz diretamente à questão da qualificação da mão-de-obra, além do acesso a matérias primas e insumos e ao lançamento de produtos diferenciados com maior valor agregado, entre outros. Quando ocorre investimento para ampliação da capacidade com mesma tecnologia, aumenta-se o volume de produção com maior nível de emprego. Quando ocorre investimento com nova tecnologia de processo, pode-se ter basicamente o mesmo produto, porém devido ao processo produtivo, com algumas características que o diferenciam da geração anterior (normalmente mais recursos e qualidade superior). Quando existe investimento e novas tecnologias de processo e produto, novos produtos são incorporados ao rol de escolhas dos consumidores. As novas tecnologias impactam sobre o nível de emprego nas cadeias produtivas, reduzindo o nível de emprego em alguns elos da cadeia e aumentando em outros. Este efeito é potencializado pelo fato de que novas tecnologias podem criar e extinguir elos das cadeias produtivas, ou alijar algumas empresas a um papel secundário nesta mesma cadeia. Estas empresas alijadas podem inclusive se beneficiar da demanda em nichos de mercado, todavia esta opção serve a poucas empresas, pois os nichos muitas vezes comportam apenas uma empresa por região.

Tecnologia e emprego

O grande debate em torno do desenvolvimento tecnológico e nível de emprego está baseado, na verdade, em equívocos. Em primeiro lugar a tecnologia não existe para prejudicar o ser humano. A tecnologia existe para reduzir o desconforto do dia-a-dia do ser humano, tornando a vida mais confortável. Em segundo lugar a tecnologia não é desenvolvida com o intuito de desempregar a mão-de-obra. A lógica capitalista usa os benefícios em termos de produtividade da tecnologia para reduzir os gastos com trabalhadores e com isso aumentar os lucros das empresas (redução de preços nem pensar, apenas se um concorrente iniciar uma pequena guerra de preços). Ou seja, usa-se tecnologia como artifício para aumentar os lucros de uma empresa. Em terceiro lugar, desde as revoluções da microeletrônica e da telemática, a força de trabalho não teve oportunidade de se reciclar adequadamente. Deste fato resulta o desemprego estrutural e parte do desemprego por desalento. O tema reciclagem dos trabalhadores é de suma importância para compreender a dinâmica das economias modernas face às novas tecnologias. Durante décadas, a adaptação às novas tecnologias era lenta e seguia um ritmo no qual os trabalhadores não perdiam o emprego por falta de reciclagem. A adesão das empresas às inovações era de acordo com a capacidade financeira e da necessidade de competir pelos consumidores. As revoluções tecnológicas da microinformática e telemática aceleraram a necessidade de atualização por parte das empresas. No entanto os trabalhadores não estavam preparados para uma reciclagem tão rápida. Muitos trabalhadores não conseguem se atualizar, sendo o resultado a exclusão do mercado formal de trabalho.

NNOOÇÇÕÕEESS DDEE EECCOONNOOMMIIAA IINNTTEERRNNAACCIIOONNAALL

ECONOMIA INTERNACIONAL

Por que os países transacionam entre si mercadorias, serviços, capitais (investimentos) e recursos financeiros (aplicações financeiras)? A resposta é dupla. Por um lado os países não conseguem, em condições normais, produzir todos os bens e serviços de que necessitam. Por outro lado temos a possibilidade de auferir lucro por meio destas transações. Este lucro ocorre em virtude de diferenças de preços entre os fatores existentes nos diferentes países, seus recursos naturais e de situações conjunturais. Outra linha de

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resposta, mais avançada, entra na esfera do poder político e econômico, domínio de mercados e garantia de fontes de matérias primas. Atualmente os países transacionam bens e serviços que têm condições de produzir, porém, por questões de custo, fica mais interessante importar. Estes custos são associados às diferenças que existem entre os países, que basicamente são: disponibilidade de recursos naturais (incluindo área cultivável), clima, recursos humanos, capital e tecnologia. O ramo das Ciências Econômicas denominado Economia Internacional estuda a interdependência econômica existente entre as nações. A primeira Teoria Econômica que trata do comércio internacional, explicando seus benefícios para as sociedades, foi a Teoria das Vantagens Absolutas, de Adam Smith, desenvolvida em sua principal obra A Riqueza das Nações: Investigação sobre sua Natureza e suas Causas, publicada em 1776.

Teoria das Vantagens Absolutas

O comércio exterior deve beneficiar todas as partes envolvidas. Dentro da teoria de Adam Smith um país pode exportar quando tem vantagens absolutas na produção de um determinado produto, ou seja, produz com um custo menor que o de outro país. Neste caso, o país deve concentrar suas forças produtivas na produção deste produto para consumo interno e exportação. Com as divisas obtidas na exportação ele compra no exterior os produtos que para produzir, necessitaria de maior dispêndio de insumos e mão-de-obra.

Teoria das Vantagens Comparativas

A teoria de Adam Smith funcionava quando se referia a países que eram mais produtivos e produziam com custos menores algum produto. E quando o país não era mais produtivo em nenhum produto? Ficaria alijado do comércio exterior? Em hipótese alguma! David Ricardo em 1817 publicou sua principal obra, Princípios de Economia Política e Tributação, na qual apresentou sua Teoria das Vantagens Comparativas. Esta teoria demonstra que qualquer país pode obter ganhos com o comércio internacional. A base desta teoria é a comparação de custos de produção entre dois países, ou seja, custos relativos. Um país obtém ganhos com o comércio internacional quando exporta produtos nos quais possui custos comparativamente menores que os dos outros países e importa aqueles bens nos quais possui custos de produção relativamente maiores. David Ricardo construiu sua Teoria das Vantagens Comparativas a partir da constatação de que existem diferenças entre os níveis de produtividades entre as diferentes empresas dos diferentes países. Todavia ele não trabalhou as razões que levam a existência destas diferenças. A análise destes aspectos começou a ser realizada no início do século XX por dois economistas suecos, Eli Filip Heckscher e Bertil Ohlin (com defasagem temporal, pois se tratava de professor e aluno). Várias teorias, teoremas, condições e abordagens que tratam de comércio exterior construídos desde então possuem como base a Teoria e o Teorema de Heckscher-Ohlin, que é um aprofundamento da Teoria das Vantagens Comparativas de Ricardo. Os dois principais teoremas desenvolvidos Eli Filip Heckscher e Bertil Ohlin e que serviram de base para diversos estudos foram:

a. Teorema de Heckscher-Ohlin

A Teoria de Heckscher-Ohlin afirma que cada país se especializa e exporta o bem que requer utilização mais intensiva de seu fator de produção abundante. Heckscher e Ohlin trabalham com os fatores de produção capital (K) e trabalho (L). O Teorema de Heckscher-Ohlin mostra que com a especialização em função da ocorrência das hipóteses da teoria ocorre o aumento da disponibilidade total de bens. Desta forma têm-se um maior nível de bem estar.

b. Teorema da equalização dos preços dos fatores

Mantidas as hipóteses da Teoria de Heckscher-Ohlin, o comércio de bens equaliza a remuneração dos fatores de produção.

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Como não existe perfeita mobilidade de fatores de produção, as unidades de produção se instalam onde podem operar com menores custos de acordo com a técnica de produção disponível. Assim, ao utilizar o fator de produção abundante ele tende a ficar mais caro à medida que é mais demandado, diminuindo as diferenças entre as remunerações dos fatores.

CRÍTICAS

Ao longo do tempo também surgiram críticas e alternativas à linha de pensamento neoclássica. Afinal o desenvolvimento dos países não seguiu a teoria das vantagens comparativas ou da dotação favorável de fatores. Se o Brasil e o Japão estivessem seguindo estritamente essas teorias, eles ainda estariam produzindo apenas produtos primários e manufaturas intensivas em trabalho e de tecnologia simples, como calçados e guarda-chuvas. A diversificação da produção mostra que as vantagens comparativas são dinâmicas. Ou seja, as vantagens comparativas podem ser construídas através de Ciência & Tecnologia (C&T) e Pesquisa, Desenvolvimento & Inovação (P,D&I). O comércio entre os países ricos cresceu em maior medida do que entre ricos e em desenvolvimento, pois suas economias eram (e continuam sendo) complementares de mesma base tecnológica. Outro fator de desenvolvimento do comércio entre países foi a disseminação de filiais de empresas multinacionais entre os países com o consequente efeito de transmissão de tecnologia. Seguem duas abordagens que tratam de comércio e desenvolvimento. Na Abordagem de Linder as cadeias de intercâmbios entre os países nascem de potenciais internos de procura. Desta forma, os ganhos mais expressivos do comércio resultam da transmissão internacional de padrões de consumo e de produção. Esta abordagem não invalida as teorias neoclássicas, apenas inclui as dinâmicas econômica e social como variáveis que influenciam a atividade econômica. A Teoria do Ciclo de Vida dos Produtos de Vernon explica o comércio internacional a partir do progresso tecnológico e das várias etapas da vida de um produto. Os trabalhos de Linder e Vernon se encaixam nas abordagens modernas que incorporam mercados imperfeitos, economias de escala e diferenciação de produtos.

REVISÕES - ESTRUTURALISMO

Existem muitos trabalhos que questionam e provam com evidências empíricas que o Teorema de Heckscher-Ohlin e seus aprofundamentos não funcionam. Os trabalhos estão corretos. Existem imperfeições nos mercados, as vantagens podem ser construídas (e às vezes sabotadas), existe a questão da dinâmica econômica e social, enfim vários fatos derrubam estes teoremas. Além destes aspectos existem também as revisões, que são estudos que mostram onde estão as falhas das teorias e teoremas. A mais famosa, e que gerou o maior número de trabalhos acadêmicos (a favor e contra) da história, é a corrente estruturalista. Ela foi desenvolvida na Comissão Econômica Para a América Latina e Caribe (CEPAL), uma das cinco comissões regionais das Nações Unidas (ONU) e é legitimamente LATINO-AMERICANA. Em termos básicos o estruturalismo prova que existe um problema nas relações comerciais entre países desenvolvidos e os subdesenvolvidos e em desenvolvimento. Este problema chama-se Deterioração dos Termos de Troca. Esta deterioração é observada a partir cinco razões: – Baixa elasticidade-preço dos produtos primários; – Baixa elasticidade-renda da maior parte dos produtos primários; – Retração da procura de inúmeras matérias-primas de exportação; – Baixo valor adicionado dos produtos primários de exportação; e – A estrutura dos mercados de commodities primárias.

Em função destas cinco evidências, demonstrou-se a ocorrência de uma forte tendência a deterioração dos termos de troca, resultando em ganhos assimétricos de comércio exterior, com pelo menos três conseqüências: – Dificuldades cumulativas para equilibrar as contas externas;

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– Desacumulação externa líquida pelos países exportadores de produtos primários, que implica em círculos viciosos de empobrecimento; e – Ampliação da distância relativa dos padrões de riqueza entre países industrializados de “centro” e países de economia predominantemente primária da “periferia”.

Os estruturalistas não se limitaram a revisar as teorias, passando a propor reações estratégicas aos países atingidos pela deterioração dos termos de troca. As propostas baseavam-se na indução do progresso técnico e da industrialização. Movimentos dinâmicos, descritos pelas abordagens de Linden e Vernon seriam induzidos nos dois processos propostos: – Substituição de importações: modelo fechado, de orientação nacionalista, ancorado em protecionismo; e – Industrialização intensiva: modelo aberto, voltado para a conquista dos mercados mundiais, baseado em competitividade construída. Quando da implantação das políticas para o desenvolvimento a primeira etapa é a substituição de importações, que permite consolidar um parque industrial diversificado; e a segunda é a abertura gradual para o comércio exterior, intensificando a industrialização para avançar no mercado externo.

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Os trabalhos atuais sobre competitividade no comércio exterior apontam como fator de maior relevância os atributos construídos ante a dotação natural de fatores. Estes atributos são derivados tanto de heranças culturais e tecnológicas como de estratégias substitutivas de importações e de industrialização intensiva. Da mesma forma as novas estruturas de produção e de mercado e as novas formas de transações externas, marcadamente intra-industriais corroboram estas linhas de pensamento. O foco das análises sobre competitividade hoje é dividido entre as empresas e as indústrias (conjunto de empresas do mesmo setor). Desta análise industrial definem-se quatro categorias de fatores de competitividade internacional:

– As condições dos fatores de produção. - Recursos humanos qualificados e submetidos a reciclagens permanentes; - Inovação do capital, por investimentos sustentados em C&T e P&D; e - Estratégia global de acesso a recursos naturais: busca por suprimentos competitivos em

qualidade e custos. – As condições internas da procura. - Mercado interno amplo, com base para escalas competitivas; e - Mercado interno exigente e antecipativo de tendências mundiais: a percepção de

necessidades emergentes. – As cadeias de suprimentos. - Inovações e aperfeiçoamentos contínuos em insumos básicos; e - Extensão de padrões mundiais de qualidade e custos a todos os elos das cadeias

produtivas. – A estrutura da concorrência no mercado interno. - Estruturas de mercado não cartelizadas: condição essencial para posturas competitivas

em megamercados mundiais; e - Diretrizes estratégicas de negócios centradas na busca de vantagens competitivas.

Estas quatro categorias de fatores são em parte determinadas pela ação do Estado. A atuação do Estado pode gerar fatores sistêmicos de competitividade.

1 Resumo elaborado a partir dos itens A Revisão dos Pressupostos Clássicos e A Competitividade Como Foco dos Desenvolvimentos Recentes, Capítulo 20 – Relações Internacionais, da obra: ROSSETTI, J. P. Introdução à economia. 19 ed. São Paulo: Atlas, 2002.

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O Estudo da competitividade da indústria brasileira, de 1994, baseado nos complexos industriais, subdividiu os fatores de competitividade em três grupos:

– Fatores internos à empresa. Capacidade tecnológica e produtiva; qualidade e produtividade dos recursos humanos; conhecimento do mercado e capacidade de adequação; relações com as cadeias de suprimentos, para trás e para frente. – Fatores estruturais. Não são controlados pela empresa, todavia elas fazem parte do ambiente competitivo. Características dos mercados; configuração do complexo industrial (concentração, escalas, verticalização e diversificação, ritmo, origem e direção do progresso técnico); concorrência. – Fatores sistêmicos. Externos a empresa e afetam o ambiente competitivo. Condições macroeconômicas, político-institucionais e regulatórias, infra-estruturais, sociais e internacionais.

CCOONNCCLLUUSSÃÃOO DDAA IINNTTRROODDUUÇÇÃÃOO ÀÀ EECCOONNOOMMIIAA

A INFLUÊNCIA DAS INOVAÇÕES TECNOLÓGICAS (C&T E P&D) SOBRE A ECONOMIA

Todo o sistema econômico em escala mundial é afetado pelos resultados dos investimentos em Ciência & Tecnologia (C&T) e Pesquisa & Desenvolvimento (P&D). As tecnologias de processo (como fabricar um produto) e de produto (novos produtos) mudam as formas como as sociedades se organizam e evoluem.

O conhecimento científico desenvolvido tem por objetivo melhorar a vida das pessoas. O fato de este conhecimento ser utilizado para subjugar povos deve-se ao fato de que as elites que estão no poder (do país no qual foram desenvolvidas determinadas tecnologias) utilizam estes conhecimentos em benefício próprio e para a manutenção da estrutura de dominação existente.

Em relação ao sistema produtivo, as inovações tecnológicas afetam os níveis de produtividade, padrões de qualidade, escalas de produção, estruturas de custos e podem influenciar estruturas de preços (neste caso condicionada a existência de concorrência, ou de mecanismos legais que garantam um mínimo de concorrência entre os agentes econômicos ofertantes de bens e serviços).

Tecnologias criam insumos produtivos, produtos e necessidades. Tecnologias criam profissões, empregos e novas empresas. Tecnologias tornam obsoletas outras tecnologias, profissões, empregos, produtos e empresas. Até meados da década de 1960, o desenvolvimento tecnológico tinha uma dinâmica que permitia a convivência de tecnologias novas e antigas. Portanto a migração da força de trabalho de uma tecnologia para outra se fazia de forma harmoniosa. Esta harmonia deixou de existir com as revoluções da microeletrônica e da telemática. Estas trouxeram o desemprego estrutural em virtude de se renovar em ciclos nunca antes vistos.

Uma das soluções para o desemprego estrutural é o uso de tecnologias atrasadas em regiões nas quais estas venham a ser a melhor solução para geração de riqueza (emprego e renda). O uso de tecnologias para redução de danos ambientais, pois normalmente tecnologias mais antigas poluem mais que as novas, reduzem o impacto ambiental da implantação de fábricas em padrões defasados de produção.

Os desenvolvimentos em C&T e P&D se fazem em esferas distintas, todavia interligadas. As pesquisas em C&T são feitas em universidades e institutos de pesquisa, na maior parte dos casos públicos (em todo o mundo). Isto se deve ao fato de que a evolução das pesquisas ocorre, em parte, pela incorporação de novos pesquisadores, normalmente os melhores alunos de professores universitários. Ou seja, o ambiente acadêmico facilita a evolução do desenvolvimento científico. As universidades e institutos de pesquisa desenvolvem novas tecnologias que são colocadas à disposição de empresas que possuem departamentos de P&D.

As empresas se apropriam das novas tecnologias para desenvolver novos processos produtivos e novos produtos. Elas apóiam a pesquisa em C&T, pois normalmente não poderiam

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realizá-las por conta própria. Desta forma caracteriza-se o caráter imanente das áreas de C&T e P&D, caráter este que se repete entre academia e empresas, no que tange às economias desenvolvidas.

Apesar de o Brasil estar atrasado nas relações entre academia e empresas, pelo menos em comparação às nações desenvolvidas, existem alguns setores que já possuem parcerias para desenvolvimento de conhecimento. Como exemplos: as empresas que gravitam em torno da Embraer; e as empresas em torno da Embrapa e da UF de Lavras. Neste início de milênio está ocorrendo um movimento muito promissor de parcerias entre Universidades e Institutos de Pesquisa, Estado e meio empresarial (público e privado, nacional e estrangeiro), com o intuito de aumentar o conteúdo tecnológico da produção interna.

A INFLUÊNCIA DAS QUESTÕES AMBIENTAIS SOBRE A ECONOMIA

As questões ambientais têm papel fundamental nos sistemas econômicos. Em termos legais, as empresas devem se enquadrar nos ditames da legislação do país onde tem suas unidades produtivas. Outro aspecto diz respeito à questão dos custos de desenvolvimento científico e tecnológico destinados à melhoria de processos produtivos e produtos no que tange à redução da poluição em todas as fases do produto, que devido ao alto custo deve ser dividido com o Estado, via universidades e instituto de pesquisas.

O conceito de Desenvolvimento Sustentável surgiu na década de 1970, no estudo intitulado “Nosso Futuro Comum” (tem na biblioteca do Campus II) e consiste no seguinte: “O Desenvolvimento Sustentado é aquele que atende as necessidades da geração presente sem comprometer a possibilidade das gerações futuras atenderem as suas necessidades”. Deste conceito tem-se o ambiente condicionando as decisões de investimento empresariais e as políticas ambientais governamentais. Afinal, todos nós queremos que nossos descendentes tenham as mesmas, ou até melhores, condições de vida em relação à disponibilidade de recursos naturais para fins industriais ou para usufruto, na forma de dádivas da natureza, tais como praias, florestas, montanhas e etc.

O problema da economia mundial está nos modelos de desenvolvimento e consumo de energia. O padrão de industrialização dos países desenvolvidos, que há décadas vem sendo disseminado nos países em desenvolvimento, é mantido mediante o consumo de energia e matérias-primas em quantidades que impossibilita a manutenção de seu ritmo de crescimento de produção em longo prazo. Este padrão é insustentável. Um exemplo são os preços do petróleo. Todos sabem que o petróleo é extraído, nunca produzido, e que o petróleo em jazidas cujo custo de extração é relativamente baixo está realmente acabando. Existem muitas jazidas inexploradas, cujo custo de extração hoje seria muito elevado. Como exemplo, porque a Inglaterra faz questão de manter o domínio sobre as Ilhas Malvinas, no litoral da Argentina? Por causa das reservas de petróleo. O custo de extração é muito alto, inviável atualmente (mas empresas já estão fazendo pesquisas). Entretanto, quando as jazidas cuja extração possui baixo custo se exaurirem, onde buscar petróleo? Nas jazidas cujo custo seria hoje de algumas centenas de dólares o barril.

Em relação aos combustíveis, uma solução é o uso de combustíveis produzidos a partir de fontes renováveis. O melhor exemplo do mundo é o brasileiríssimo programa do álcool combustível (etanol). Alguns países adicionam etanol na gasolina para diminuir o consumo de petróleo e para reduzir os níveis de poluição. Outro avanço nesta área é o desenvolvimento e produção do biodiesel, que atenderá a muitos mercados gerando empregos e renda no Brasil.

O uso de recursos naturais nos processos industriais é necessário. O que deve ser pesquisado são formas de aperfeiçoar o uso destes recursos, reduzindo o desperdício e aproveitando os subprodutos, além de aumentar os níveis de reciclagem. Desta forma mantêm-se os níveis de produção, aumentando quando for necessário, sem exaurir as jazidas. Novamente as pesquisas são necessárias para desenvolver alternativas renováveis para alguns recursos naturais. Como exemplo brasileiro existe o plástico biodegradável produzido a partir de matéria vegetal.

O que deve ser entendido é a impossibilidade de que a maioria dos países atinja o mesmo nível de consumo que os países ricos e desenvolvidos possuem. Não há recursos naturais

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disponíveis para atendimento deste padrão de consumo para a maioria dos habitantes do planeta, pois estes padrões de consumo são inviáveis em larga escala.

O conhecimento científico disponível demonstra a viabilidade de melhores condições de vida, sob o ponto de vista ambiental, para a maioria da população do planeta. A implantação de sistemas em que o uso dos recursos naturais seja adequado, portanto eficiente, exige vontade política e aceitação por parte das grandes corporações de que a implantação de novos modelos econômicos e a aceitação da democracia participativa, portanto com interação política e social, é condição sine qua non para a manutenção da valorização e remuneração justa do capital dos acionistas. Um conceito a ser definitivamente enterrado é o de que para um ente ganhar outro deve perder. As estratégias ganha-ganha-ganha, evidenciam a possibilidade de que todos os agentes podem se beneficiar do sistema econômico. A principal exigência para a implantação desta estratégia é a transparência nas informações, tanto corporativas como do Estado.

A EVOLUÇÃO DOS SISTEMAS ECONÔMICOS

Desde o século XIX existe uma consideração errada com relação aos sistemas econômicos e por extensão aos sistemas sociais em geral. Esta vem a ser a idéia de que os sistemas possuem evolução linear e contínua, podendo ser, portanto, explicados pela física newtoniana.

A evolução de todo e qualquer sistema é descontínua, com sobressaltos. Os sistemas possuem natureza complexa, ou seja, muitas variáveis interagem na determinação dos acontecimentos. Dentro desta perspectiva, quando uma variável sofre um choque de qualquer natureza, sua interação no sistema provoca ondas que resultam em comportamentos totalmente imprevisíveis em diversas áreas, tornando as projeções (ou previsões) falhas.

Entretanto, esta complexidade não significa impossibilidade de se realizar projeções ou estimativas. O que deve ser muito bem entendido é que as projeções podem nos proporcionar limites de variações dos componentes do sistema. Isto porque os sistemas apresentam comportamentos regulares, que indicam uma auto-regulação do seu funcionamento como um todo. Ou seja, todos os sistemas estão em equilíbrio dinâmico. Choques desequilibram o sistema, mas ele retorna a um estado de equilíbrio dinâmico, ao cessar o choque e as ondas que este causou. Este equilíbrio tem novos valores, mas não deixa de ser um equilíbrio dinâmico.

A pedra de toque desta forma de estudar a evolução dos sistemas está nas formas avançadas dos estudos de física e biologia que se estenderam para economia e ciências sociais. Sistemas complexos e de equações não-lineares, caos determinístico, física quântica, entropia, teoria da autopoiese e outros estudos estão ajudando a melhorar a compreensão da evolução dos sistemas possibilitando a construção de teorias que verdadeiramente se aproximam das realidades vividas pelos cidadãos. A ciência ainda serve aos interesses dos grupos dominantes, todavia cada vez mais cientistas reconhecem que este viés prejudica o desenvolvimento das sociedades. Em virtude do reconhecimento da existência deste círculo vicioso de dominação e empobrecimento, cada vez mais pesquisadores se encaixam em linhas de pesquisa que procuram diminuir esta defasagem entre o potencial de melhoria de vida que o conhecimento científico pode proporcionar e a melhorias que realmente são apropriadas pelos cidadãos em geral.