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UNIVERSIDADE BANDEIRANTE DE SÃO PAULO SILVIO ANTONIO DA SILVA OS MULTISIGNIFICADOS DE EQUAÇÃO NA APRENDIZAGEM DE MATEMÁTICA PARA O ENSINO MÉDIO SÃO PAULO 2011

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UNIVERSIDADE BANDEIRANTE DE SÃO PAULO SILVIO ANTONIO DA SILVA

OS MULTISIGNIFICADOS DE EQUAÇÃO NA APRENDIZAGEM DE MATEMÁTICA PARA O ENSINO MÉDIO

SÃO PAULO 2011

2

SILVIO ANTONIO DA SILVA

MESTRADO EM EDUCAÇÃO MATEMÁTICA

OS MULTISIGNIFICADOS DE EQUAÇÃO NA APRENDIZAGEM DE MATEMÁTICA PARA O ENSINO MÉDIO

SÃO PAULO 2011

Dissertação apresentada à Banca Examinadora da Universidade Bandeirante de São Paulo, como exigência parcial para obtenção do título de MESTRE EM EDUCAÇÃO MATEMÁTICA, sob a orientação da Professora Doutora Vera Helena Giusti de Souza.

3

da Silva, Silvio Antonio.

Os multisignificados de equação na aprendizagem de Matemática

para o ensino médio / Silvio Antonio da Silva. – [s.n.], 2011. São Paulo.

---f.; 30 cm.

Dissertação de Mestrado - Universidade Bandeirante de São Paulo,

Mestrado Acadêmico em Educação Matemática.

Orientador: Professora Doutora Vera Helena Giusti de Souza.

1. Multisignificados de Equação 2. Equação. 3. Educação Algébrica

4. Educação Matemática 5. Modelagem Matemática 6. Ensino Médio

I. Título

4

UNIVERSIDADE BANDEIRANTE DE SÃO PAULO

SILVIO ANTONIO DA SILVA

Os multisignificados de equação na aprendizagem de

Matemática para o ensino médio

Dissertação apresentada como requisito parcial para obtenção do título de MESTRE EM

EDUCAÇÃO MATEMÁTICA, na Universidade Bandeirante de São Paulo – UNIBAN, à

seguinte banca examinadora:

____________________________________________________________________ Profa. Dra. Vera Helena Giusti de Souza (Orientadora ). Doutorado em Educação Matemática pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP), em 2008.

____________________________________________________________________ Prof. Dr. Alessandro Jacques Ribeiro (Membro Titular Externo – UFABC) Doutorado em Educação Matemática pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP), em 2007. ____________________________________________________________________ Profa. Dra. Helena Noronha Cury (Membro Titular Externo – UNIFRA) Doutorado em Educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2005.

UNIBAN São Paulo

2011

5

Autorizo, exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta Dissertação por processos de fotocópias ou eletrônicos. ____________________ ___________________ Assinatura Local e data

6

Dedico este trabalho a minha esposa Luzimar,

aos meus filhos Daniel e Mateus, a minha

irmã Márcia e aos meus pais Benedito e

Margarida.

7

AGRADECIMENTOS

A Deus, pela presença em todos os momentos difíceis deste percurso importante em

minha vida.

Ao Professor Dr. Alessandro Jacques Ribeiro, que me acompanhou na construção

deste trabalho em quase toda a sua totalidade.

À minha orientadora, Professora Dra. Vera Helena Giusti de Souza, pois sem ela,

este trabalho talvez não tivesse sido realizado.

Aos meus amigos, aos colegas e aos alunos que participaram da pesquisa.

À Profa. Dra. Helena Noronha Cury, por aceitar participar de minha banca e por ter

realizado contribuições magníficas para o desenvolvimento e a continuidade da

presente pesquisa.

Aos professores e companheiros do Curso de Pós-Graduação.

A todos que, direta ou indiretamente, contribuíram para a realização desta pesquisa,

com sugestões e críticas, enriquecendo ainda mais o meu trabalho, em especial:

Marcio Dorigo, Isabela Galvão Barbosa Stempniak, Yuri Osti Barbosa e Etienne

Lautenschlager.

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RESUMO

Colocamos como objetivo de nossa pesquisa analisar possíveis contribuições que

uma abordagem dos Multisignificados de Equação (RIBEIRO, 2007), num ambiente

de Modelagem Matemática (BARBOSA, 2001), pode trazer à construção e/ou

ampliação da noção de equação. Para responder nossas questões de pesquisa,

“Como os alunos concebem a noção de equação?”, “Quais significados eles

atribuem à noção de equação?” e “Como uma abordagem dos Multisignificados de

Equação, por meio da Modelagem Matemática, pode contribuir para a construção

e/ou ampliação da noção de equação?”, desenvolvemos uma pesquisa interventiva,

com análise qualitativa dos dados, fundamentada, do ponto de vista teórico, nos

resultados de Ribeiro (2007) e do ponto de vista pedagógico, na Modelagem

Matemática (BARBOSA, 2001). Para tanto, elaboramos duas atividades e

realizamos quatro sessões de intervenção, junto a um grupo de alunos da 2ª série

do Ensino Médio. Tais atividades possibilitaram discutir equação, inserida em

problemas contextualizados que contemplam diferentes Significados que tal noção

pode assumir. A análise dos protocolos e das transcrições de algumas áudio-

gravações possibilitou concluir que, em geral, os alunos não equacionaram, numa

linguagem algébrica simbólica, os problemas propostos e utilizaram essencialmente

o multisignificado Intuitivo-Pragmático (RIBEIRO, 2007), pois as estratégias

apresentadas envolvem o uso de cálculos aritméticos. Em virtude da importância e

da relevância da noção de equação, sugerimos que mais pesquisas sejam

realizadas para apontar caminhos que permitam uma utilização dos multisignificados

e da Modelagem Matemática em salas de aula da Educação Básica.

Palavras-chave: Multisignificados de equação; Modelagem Matemática; equação;

Educação Algébrica; Ensino Médio.

9

ABSTRACT

Our purpose, with this research, is to analyse if an approach using Multimeanings of

equation (RIBEIRO, 2007), in an environment using Mathematical Modelling

(BARBOSA, 2001), may bring contributions to the construction and/or enlargement of

the notion of equation. In order to give answers to our research questions, “How

students conceiving the notion of equation?”, “Which meanings they give to the

notion of equation?”, “An approach based on Multimeanings of equation, in an

environment using Mathematical Modelling, may bring contributions to the

construction and/or enlargement of the notion of equation?”, we developed an

intervention and analysed qualitatively data, theoretically based on results obtained

by Ribeiro (2007) and pedagogically, on Mathematical Modelling (BARBOSA, 2001).

In order to do so, we designed and applied two activities, in four sessions, to a group

of pupils of a second year (16-17 years old) of Brazilian High School. Such activities

have provided a discussion about equation, by means of contextualised problems,

evolving different meanings such a notion may have. Analysis of protocols, and

transcriptions of some audio recorded tapes, allowed us to conclude that, in general,

these students did not put, in a symbolic algebraic language, the proposed problems,

and used just arithmetic calculations, a strategy that characterizes the Intuitive-

Pragmatic meaning (RIBEIRO, 2007). As equation is, in our view, an important and

relevant notion, we suggest the development of many more researches to point out

how to use Multimeanings of equation and Mathematical Modelling in Brazilian High

School Mathematics classrooms.

Key-words: Multimeanings of equation, Mathematical Modelling, equation, Algebraic

Education, Brazilian High School.

10

SUMÁRIO

AGRADECIMENTOS............................................................................................................7

RESUMO ...........................................................................................................................8

ABSTRACT .........................................................................................................................9

SUMÁRIO ........................................................................................................................10

INTRODUÇÃO ..................................................................................................................12

CAPÍTULO 1 .....................................................................................................................14

PROBLEMÁTICA...............................................................................................................14

1.1 Justificativa ................................................................................................................................................................. 15

1.2. Objetivo e questões de pesquisa........................................................................................................................ 18

CAPÍTULO 2 .....................................................................................................................20

REVISÃO DE LITERATURA.................................................................................................20

2.1 Introdução................................................................................................................................................................... 21

2.2 Álgebra ......................................................................................................................................................................... 21

2.3 Equações ...................................................................................................................................................................... 25

2.4 Multisignificados de Equação .............................................................................................................................. 27

2.5 As pesquisas do projeto maior ............................................................................................................................ 28

2.6 Modelagem Matemática ......................................................................................................................................... 29

CAPÍTULO 3 .....................................................................................................................38

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA E METODOLÓGICA ..............................................................38

3.1 Introdução................................................................................................................................................................... 39

3.2 Multisignificados de Equação .............................................................................................................................. 39

3.3 Perspectiva Sócio-crítica de Modelagem Matemática ................................................................................ 42

3.4 Metodologias e Procedimentos Metodológicos............................................................................................. 45

11

3.4.1 Nossa Pesquisa.......................................................................................................................................................................45 3.4.2 Procedimentos .......................................................................................................................................................................46

CAPÍTULO 4 .....................................................................................................................50

AS ATIVIDADES................................................................................................................50

4.1 Introdução................................................................................................................................................................... 51

4.2 Análises Preliminares das Atividades Desenvolvidas ................................................................................ 51

CAPÍTULO 5 .....................................................................................................................61

ANÁLISE DOS DADOS.......................................................................................................61

5.1 Introdução................................................................................................................................................................... 62

5.2 Análise das atividades do Grupo 4 ..................................................................................................................... 63 5.2.1 Atividade 1...............................................................................................................................................................................63 5.2.2 Atividade 2...............................................................................................................................................................................77

5.3 Apresentação dos resultados dos demais grupos ........................................................................................ 96

CAPÍTULO 6 ................................................................................................................... 118

CONCLUSÕES, RESPOSTAS ÀS QUESTÕES DE PESQUISA E CONSIDERAÇÕES FINAIS ......... 118

6.1 Conclusões ................................................................................................................................................................119

6.2 Respostas às Questões de Pesquisa .................................................................................................................133

6.3 Considerações finais..............................................................................................................................................135

REFERÊNCIAS................................................................................................................. 138

ANEXOS ........................................................................................................................ 143

TERMO DE CONSENTIMENTO....................................................................................................................................144

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO ......................................................................................145

Atividade 1 .......................................................................................................................................................................146

Atividade 2 .......................................................................................................................................................................148

12

Introdução

Estive fora da escola desde o final dos anos 80, quando cursei o ensino

secundário e não continuei nesta ocasião a minha formação acadêmica, pois me vi

em uma fase da minha vida de completa mudança. Eu, um jovem criado em uma

cidade do interior de São Paulo, já via a necessidade de procurar um espaço meu,

ou seja, procurar um futuro de melhor sucesso para mim. Enxerguei esta

oportunidade em minha mudança do interior para uma cidade grande como São

Paulo. Desta decisão tomada, só me arrependo de uma coisa – não ter procurado

desde o inicio da minha chegada em São Paulo, em 1990, a continuação da minha

trajetória acadêmica.

Em 2003, vi-me num dado momento de minha vida, diante de uma enorme

frustração profissional, a qual me motivou a voltar a estudar. Depois de uma

profunda auto-reflexão, lembrei-me dos tempos de estudante e achei ali, nas

lembranças das aulas de Matemática, a escolha pelo curso de graduação a ser feito.

No início de 2004, comecei a cursar, na Universidade Paulista (UNIP), a

Licenciatura em Matemática, com ênfase em informática. Neste dado momento, meu

interesse maior era a própria Matemática e não a Educação Matemática, muito

embora assim devesse ser, pois estava num curso de formação de futuros

professores.

Ainda cursando o 5º semestre da faculdade, comecei a lecionar como

professor da rede estadual pública de ensino do Estado de São Paulo. A partir daí,

comecei a me dar conta realmente da mudança profissional à qual tinha me

submetido e, por influência desta, também uma mudança em minha vida pessoal.

Comecei a compreender o quanto era grande a responsabilidade que eu estava

assumindo naquele momento, principalmente devido à influência que eu começaria

a ter na formação de meus alunos.

Formei-me no final de 2006 como professor de Matemática com habilitação

em Física e desde então leciono estas duas disciplinas na Educação Básica. Como

citado anteriormente, somente me dei conta das dificuldades existentes na profissão

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de professor, quando efetivamente comecei a lecionar. As dificuldades são muitas e

a maior parte delas diz respeito a como propiciar e intermediar o conhecimento, para

que o aluno possa assimilar e ter um desenvolvimento coerente com aquilo que é

colocado e que é cobrado dele. Dentre estas dificuldades, enfrentadas por mim

mesmo e pelos alunos, venho me deparando com algumas que dizem respeito à

compreensão de alguns tópicos particulares do ensino da Matemática, mais

especificamente ligados à Álgebra.

Com a continuidade de minha formação acadêmica, fui buscar um curso de

Pós-Graduação e escolhi o Mestrado em Educação Matemática da Universidade

Bandeirante de São Paulo – UNIBAN-SP.

14

CAPÍTULO 1

PROBLEMÁTICA

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1.1 Justificativa

No Mestrado em Educação Matemática da UNIBAN-SP, percebemos1 que

deveríamos desenvolver uma pesquisa que se relacionasse com as preocupações e

inquietações que estavam presentes em nossas experiências como aluno e como

professor. No nosso caso, eram relacionadas ao ensino e à aprendizagem de

Álgebra.

Um fato que nos deixa muito curioso e que nos motiva a desenvolver tal

pesquisa é que, desde nosso tempo de aluno do Ensino Fundamental – há cerca de

vinte e dois anos – e até os dias de hoje, os problemas relacionados ao aprendizado

de tópicos de Álgebra parecem ser os mesmos, quais sejam, um excesso de

mecanização, em detrimento de uma discussão mais conceitual.

Diversos pesquisadores da área de Educação Matemática têm a mesma

preocupação e desenvolveram trabalhos que, direta ou indiretamente, têm o seu

principal foco na Álgebra. Podemos citar alguns trabalhos desenvolvidos na área de

Educação Matemática que apontam nesse sentido:

• A tese de Doutorado em Educação Matemática “Equação e seus

Multisignificados no Ensino de Matemática”, de Alessandro Jacques

Ribeiro (2007).

“Os resultados de avaliações diagnósticas de exames como o SARESP, SAEB, e

ENEM, por exemplo, apontavam para resultados pouco animadores nessas

macro-avaliações, no que tange questões que envolviam conhecimentos

elementares de Álgebra, dentre eles, as equações. (Ribeiro 2007, p.22)”

• A dissertação de Mestrado em Educação Matemática “Ensino introdutório

à Álgebra Elementar”, de Eveline Vieira Costa (1998).

• A dissertação de Mestrado em Educação Matemática “Desenvolvimento na

perspectiva de aprendizagem significativa”, de Beatriz Maria Boéssio

Zanchet (2000).

1 Desde ponto em diante, optamos por utilizar a 1a pessoa do plural.

16

• A dissertação de Mestrado em Educação “Equações do primeiro grau:

Trajetória de uma análise de significados”, de Arleni Elise Sella Langer

(2004).

• A tese de Doutorado em Educação Matemática "Aspectos do pensamento

matemático na resolução de problemas: uma apresentação

contextualizada da obra de Krutetskii", de Gladys Denise Wielewski

(2005).

Ao iniciar nossa participação na linha de pesquisa Ensino e Aprendizagem de

Matemática e suas Inovações, da UNIBAN-SP, lemos com interesse a tese de

doutorado “Equação e seus multisignificados no Ensino de Matemática”, de

Alessandro Jacques Ribeiro, defendida em 2007. Dentre suas conclusões, o autor

apresenta diferentes significados para a noção de equação (Multisignificados de

Equação), os quais, pensamos, vão ao encontro de nossas expectativas com

relação à pesquisa que pretendemos desenvolver. Vale destacar as considerações

finais do trabalho de Ribeiro (2007):

“Com isso, deixo como sugestão para pesquisa futura, o desenvolvimento de

situações de aprendizagem que contemplem esses multisignificados para a

noção de equação entre alunos e professores de Matemática. Sugestões essas

que procurem articular esses significados, levando em consideração o nível de

ensino e os objetivos propostos para a educação matemática que se quer

praticar (RIBEIRO 2007, p. 131)”.

A partir dessas nossas reflexões e preocupações, decidimos participar, como

colaborador, de um projeto de pesquisa docente, mais amplo – “Os

Multisignificados de Equação no Ensino e na Aprendizagem de Matemática” -

desenvolvido pelo Prof. Dr. Alessandro Jacques Ribeiro, a partir de sua tese de

Doutorado em Educação Matemática, “Equação e seus multisignificados no ensino

de Matemática: contribuições de um estudo epistemológico “. Por essa razão, nossa

dissertação de Mestrado em Educação Matemática situa-se como um subprojeto

dentro desse projeto maior, que tem sua configuração definida como segue.

O projeto de pesquisa docente de Ribeiro compõe o cenário das

investigações que estão sendo desenvolvidas na linha de pesquisa “Ensino e

Aprendizagem de Matemática e suas Inovações”, do Programa de Pós Graduação

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em Educação Matemática da Universidade Bandeirante de São Paulo e tem por

objetivo principal avaliar as contribuições que uma abordagem com os

Multisignificados de Equação no ensino e na aprendizagem de Matemática poderá

fornecer à Formação do Professor de Matemática. Tal projeto será desenvolvido na

perspectiva de uma pesquisa com análise qualitativa dos dados e está dividido em

duas etapas – uma diagnóstica e outra de intervenção – com alunos e professores

de Matemática do Estado de São Paulo, sob a temática da Educação Algébrica,

atualmente importante subárea de investigação no campo da Educação Matemática.

Pretende-se investigar, como parte da pesquisa, se e como os multisignificados de

equação, concebidos e apresentados como resultados finais da tese de Ribeiro

(2007), são discutidos e abordados nos processos de ensino e de aprendizagem de

Matemática, com o objetivo principal de avaliar as contribuições que a abordagem

dos multisignificados de equação no ensino e na aprendizagem de Matemática

poderá fornecer à Formação do Professor de Matemática. Aliado a esse objetivo

principal, outros objetivos mais pontuais e adjacentes acabaram surgindo, como:

investigar, nas concepções de equação de professores e alunos, quais dos

Multisignificados de Equação estão presentes; desenvolver atividades matemáticas

que contemplem os Multisignificados de Equação e trabalhar essas atividades com

alunos e professores da Educação Básica.

A questão principal que serve de fio condutor para atingir os objetivos

propostos é: “Quais contribuições são fornecidas à Formação do Professor de

Matemática, após a análise da abordagem dos multisignificados de equação no

ensino e na aprendizagem de Matemática?”

Aliadas a esta, outras questões secundárias surgem, tais como: “Como os

alunos concebem a noção de equação?”, “Quais dos multisignificados eles atribuem

à noção de equação?”, “Como os professores concebem a noção de equação?”,

“Quais dos multisignificados eles atribuem à noção de equação?”, “Quando, como e

com que finalidade professores discutem a noção de equação nas aulas de

Matemática?”

Alguns subprojetos desse projeto já foram realizados e contribuíram, de certa

forma, para o nosso. Dois deles dizem respeito ao diagnóstico que a pesquisa de

Ribeiro se propõe a fazer e um, à parte interventiva. São eles: os diagnósticos

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“Multisignificados de Equação: Uma investigação sobre as imagens de conceito de

professores de Matemática”, de Yuri Osti Barbosa (2009), realizado junto a um grupo

de professores de Matemática e “Investigando as Concepções de Equação de um

Grupo de Alunos do Ensino Médio”, de Marcio Dorigo (2010), realizado junto a um

grupo de alunos; e a intervenção “Multisignificados de Equação e o Professor de

Matemática: uma proposta usando a Modelagem Matemática num curso de

licenciatura”, de Isabela Galvão Barbosa Stempniak (2010), feita junto a uma turma

de Licenciatura em Matemática.

Até aqui, situamos nossa pesquisa como parte de um projeto maior, que tem

por objetivo avaliar as contribuições que a abordagem dos multisignificados de

equação, no ensino e na aprendizagem de Matemática, poderá fornecer à Formação

do Professor de Matemática. Dentro deste projeto, nossa colaboração dar-se-á pelo

desenvolvimento de uma dissertação de Mestrado em Educação Matemática, com

características interventivas, junto a alunos de Ensino Médio, com o tema “Os

Multisignificados de Equação na aprendizagem de Matemática para o Ensino

Médio”.

Com isto, podemos colocar nosso objetivo e nossas questões de pesquisa.

1.2. Objetivo e questões de pesquisa

Considerando a proposta de nossa pesquisa, qual seja, possibilitar

discussões sobre os Multisignificados de Equação, com alunos do Ensino Médio,

colocamos como nosso objetivo de pesquisa analisar quais são as contribuições que

uma abordagem com os Multisignificados de Equação, num ambiente de modelagem

matemática, pode trazer para a construção e/ou ampliação do conhecimento

equação.

A partir deste objetivo, colocamos as questões de pesquisa que nortearão

nosso estudo.

1) Como os alunos concebem a noção de equação?

2) Quais significados eles atribuem à noção de equação?

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3) Como uma abordagem dos Multisignificados de Equação, por meio

de Modelagem Matemática, pode contribuir para a construção e/ou

ampliação do conhecimento equação?

Para reforçar nossas convicções e estabelecer um cenário que nos permita

unir a Educação Algébrica, os Multisignificados de Equação e a Modelagem

Matemática, a fim de responder nossas questões de pesquisa, procuramos

trabalhos, desenvolvidos por pesquisadores da área de Educação Matemática, que

pudessem ajudar-nos nessa empreitada. No Capítulo 2, Revisão de Literatura,

apresentamos nossa visão, decorrente da leitura de tais trabalhos.

20

CAPÍTULO 2

REVISÃO DE LITERATURA

21

2.1 Introdução

Elaboramos nossa revisão de literatura baseada em cinco vertentes,

escolhidas, como já dissemos, para compor o cenário de nossa pesquisa, que

pretende aliar a Educação Algébrica, os Multisignificados de Equação e a

Modelagem Matemática.

• Uma visão geral dos que se entende, hoje em dia, por Álgebra e Educação

Algébrica.

• O ensino de equações envolvendo alunos do Ensino Médio.

• Os Multisignificados de Equação (Ribeiro, 2007).

• Os trabalhos de pesquisa que apresentam resultados que compõem o projeto “Os

Multisignificados de Equação no Ensino e na Aprendizagem de Matemática”,

desenvolvido pelo Prof. Dr. Alessandro Jacques Ribeiro e ao qual nosso projeto

está vinculado.

• Um panorama sobre a Modelagem Matemática como abordagem de ensino.

2.2 Álgebra

Em relação aos caminhos escolhidos para nossa pesquisa, cujo foco de

discussão é o entendimento de equações no Ensino Médio, percebemos, em muitas

pesquisas, uma grande preocupação com o ensino de Álgebra em geral, o que inclui

o ensino de equações e, portanto, seu entendimento. Trazemos, neste parágrafo,

uma visão geral de nossas leituras sobre o ensino de Álgebra, principalmente com o

Ensino Médio, foco de nossa intervenção. Apresentamos algumas concepções de

Álgebra, de Pensamento Algébrico e de Educação Algébrica, envolvendo equação,

conteúdo que abordamos em nosso trabalho.

Fiorentini, Miguel e Miorim (1993) trazem uma reflexão sobre Educação

Algébrica, a partir de algumas concepções de Álgebra que, segundo eles, foram

sendo construídas ao longo da história do desenvolvimento da Álgebra. Para

apresentar estas concepções, os pesquisadores trazem algumas leituras que

fizeram sobre as contribuições que diversas civilizações, ao longo da História, deram

22

para o desenvolvimento da Álgebra, tais como: “álgebra egípcia”, “álgebra

babilônica”, “álgebra grega pré-diofantina”, ”álgebra diofantina”, “álgebra chinesa”,

“álgebra arábica”, “álgebra hindu”, “álgebra da cultura europeia renascentista”.

Encontraram, com grande frequência nos manuais de História da Matemática,

as fases evolutivas da linguagem algébrica: a retórica, fase em que não se fazia uso

de símbolos nem de abreviações para expressar o pensamento algébrico; a

sincopada, que foi o início da utilização de símbolos para a incógnita de uma

equação; e a simbólica, na qual as ideias algébricas passam a ser expressas

somente por símbolos.

Os pesquisadores evidenciam algumas concepções de Álgebra: a

processológica, segundo a qual a Álgebra é um conjunto de técnicas e de

procedimentos para abordar problemas cuja resolução é uma sequência

padronizada de passos; a linguístico-estilística, para a qual a Álgebra é uma

linguagem artificial e específica; a linguístico-sintático-semântica, na qual a

Álgebra é uma linguagem capaz de realizar e expressar transformações algébricas

estritamente simbólicas; a linguístico-postulacional, que também vê a Álgebra

como uma linguagem simbólica, com aplicação em todos os campos da Matemática.

A partir dessas concepções sobre Álgebra, Fiorentini (1993) estabelece as de

Educação Algébrica, que se manifestaram ao longo da história da educação

matemática elementar: a concepção linguístico-pragmático, segundo a qual o

papel pedagógico da Álgebra é o de instrumento para a resolução de problemas e

prevalece a crença de que a aquisição, ainda que mecânica, das técnicas requeridas

para o “transformismo algébrico” é necessária e suficiente para que o aluno seja

capaz de resolver problemas, que podem ser artificiais; ou seja, os problemas são

“fabricados” e propostos visando a aprendizagem de um certo conteúdo e não o

contrário. A concepção fundamental-estrutural, que visa o ensino de alguns

tópicos, com a intenção de identificar, justificar e aplicar, em diferentes contextos,

estruturas algébricas importantes para os procedimentos algébricos. A concepção

fundamentalista-analógica que, assim como a linguístico-pragmático, estabelece o

papel pedagógico da Álgebra como instrumento de resolução de problemas, porém

com justificativas.

23

Fiorentini, Miguel e Miorim (1993) analisam que, nas três concepções de

Educação Algébrica, há um ponto comum, a redução do pensamento algébrico à

linguagem algébrica, o que consideram negativo, do ponto de vista didático. E

argumentam que a relação entre a linguagem algébrica e o pensamento algébrico

não deve ser de subordinação, mas sim de uma natureza dialética.

Baseados na ideia de que o pensamento algébrico não depende única e

exclusivamente de uma linguagem algébrica formal, acreditam que este pode

manifestar-se por outros tipos de linguagem, tais como: a linguagem natural, a

linguagem aritmética, a linguagem geométrica ou qualquer outra criada

especificamente para esse fim. E que isso pode trazer implicações pedagógicas

positivas, pois como não é necessária uma linguagem estritamente simbólico-formal,

é possível iniciar o ensino de Álgebra pelo estímulo ao pensamento algébrico, muito

antes do que se propunha na época (1993), o que pode acarretar numa preparação

melhor do aluno para a utilização da linguagem simbólica algébrica e,

conseqüentemente, para a simbólico-formal. Defendem ainda que o pensamento

algébrico é mais amplo e pode ser estendido a todos os campos da Matemática e de

outras áreas do conhecimento e sugerem que a primeira etapa da Educação

Algébrica seja feita por meio de “situações-problema” (Fiorentini, Miguel e Miorim,

1993, p. 89).

Usiskin (1995) também coloca suas concepções sobre Educação Algébrica,

que são quatro: 1. A Álgebra como aritmética generalizada: as letras são usadas

como variáveis e generalizam fatos aritméticos; os alunos precisam traduzir e

generalizar. 2. A Álgebra como um estudo de processos para a resolução de

problemas: as letras são constantes ou incógnitas; os alunos precisam equacionar.

3. A Álgebra como estudo de variação de grandezas: as letras são parâmetros ou

argumentos de uma função; os alunos precisam expressar uma função e esboçar

gráficos. 4. A Álgebra como estudo das estruturas matemáticas: as letras são

variáveis que não são só numéricas, podendo representar conjuntos, polinômios,

grupos, operadores; em geral, é a Álgebra trabalhada nos cursos superiores e os

alunos precisam abstrair de valores numéricos.

Entendemos que, tanto as concepções colocadas por Fiorentini, Miguel e

Miorim (1993), como as de Usiskin (1995), têm um ponto em comum, que é a

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tendência letrista no pensamento algébrico e na linguagem algébrica, o que acarreta

uma influência no que diz respeito à Educação Algébrica.

Tal ponto comum também é percebido e analisado por Lins e Gimenez

(2001), no capítulo “Sobre a Álgebra”, no qual o autores expõem três pontos de vista

relacionados ao ensino de Álgebra: 1. não sabemos o que é Álgebra e sim quais

conteúdos dizem respeito à Álgebra. 2. temos um dilema com a notação: a Álgebra é

caracterizada pelo conteúdo ou pela notação?. 3. a atividade algébrica resulta do

pensamento formal. Com relação aos conteúdos (ponto de vista 1) e às notações

(ponto de vista 2), afirmam que têm uma característica externalista: estão fora do

sujeito e este tem que conhecê-los para entrar no mundo da Álgebra. O pensamento

formal (ponto de vista 3) tem uma característica internalista: está dentro do sujeito,

mas depende dos outros dois.

Um quarto ponto de vista possível é o da Teoria dos Campos Conceituais

(VERGNAUD, 1993), segundo a qual a Álgebra é um Campo Conceitual, ou seja,

uma tríade: um conjunto de esquemas operacionais e de invariantes; um conjunto de

símbolos; e um conjunto de problemas que podem ser resolvidos pelos esquemas e

pelos invariantes e são representados pelos símbolos2. Neste caso, Lins e Gimenez

(2001) apontam a dificuldade de elaboração de atividades com problemas que

gerem as notações e os conceitos desejados.

A partir desses pontos de vista, trazem à discussão alguns pontos que

precisam ser considerados ao se repensar abordagens para o ensino de Álgebra: a

atividade algébrica não é só um cálculo literal; situações ditas “concretas”, como por

exemplo o uso de uma balança para “ensinar” a resolução de equações, esbarra na

questão da passagem do concreto para o formal; em atividades baseadas em

situações reais, do tipo modelagem matemática, o processo de aprendizagem é

mais lento e as técnicas algébricas podem não ficar explícitas; a “álgebra como

aritmética generalizada” é uma abordagem na qual o uso exclusivo das letras é

compensado pela preocupação com a linguagem algébrica, como meio de

expressão e as atividades não têm uma delimitação de conteúdo, desde que haja o

2 Em nossa pesquisa, não pretendemos utilizar a teoria de Vergnaud (1993). Assim, só colocamos um resumo muito simplificado das ideias dele, que não pretende (e não pode) nem de longe ser considerado completo. (Nota do autor.)

25

envolvimento dos alunos. Lins e Gimenez (2001) defendem esta última que,

segundo eles, deve e pode ser iniciada o quanto antes no calendário escolar.

Para finalizar, argumentam que Álgebra e Aritmética são mutuamente

dependentes e que se entendermos o que têm em comum, poderemos perceber o

que é preciso fazer em sala de aula de Álgebra.

Estas foram as leituras que fizemos, com relação à Álgebra e à Educação

Algébrica e que julgamos importantes para justificar a nossa escolha do assunto

equação e de uma abordagem não tradicional, no caso a Modelagem Matemática.

2.3 Equações

Lucas (2009) realizou uma pesquisa com alunos do Ensino Médio, com o

objetivo de investigar entre diversas expressões algébricas, os alunos sujeitos de

pesquisa sabem discernir quais são funções e quais são equações. Para tanto,

aplicou exercícios envolvendo equações de primeiro e de segundo grau aos alunos

divididos em duplas. Lucas (2009) sintetiza as concepções de equação descritas

pelos alunos e que podem, segundo ele, ser divididas em dois tipos: as mais

próximas ao conceito formal e as que relacionam equação ao processo de

resolução. Conclui que os alunos procederam de forma mecanizada, do tipo “letra

para um lado, número para o outro”, com as equações de primeiro grau e “fórmula

de Bhaskara”, para os de segundo. Segundo o pesquisador, estes alunos

demonstraram permanência no registro algébrico, mesmo em questões que

incentivavam a passagem para outras formas de representação, como o gráfico ou a

tabela.

Dreyfys e Hoch (2004, apud Lima, 2007) realizaram uma pesquisa com

alunos do Ensino Médio israelense, com o objetivo de entender qual é o tipo de

estrutura que tais alunos percebem que está presente em uma equação. Concluíram

que, para esses alunos, é fácil reconhecer uma equação, mas difícil falar sobre ela e

entender sua estrutura, pois o entendimento deles está relacionado, principalmente,

aos procedimentos utilizados. Tanto, que para definir uma equação, citam a

necessidade de encontrar o valor da incógnita.

26

“A estrutura interna de uma equação é importante, pois, ao ser relacionado com à

Álgebra de manipulação, esse entendimento pode colaborar para que o aluno

compreenda o significado de cada uma dos símbolos usados para representar

uma equação.” (LIMA, 2007, p. 27).

Lima (2007) tinha como objetivo ir às raízes dos significados dados pelos

alunos a equações e aos métodos de resolução usados por eles, a fim de

compreender por que eles cometem erros ao resolverem equações. As concepções

de equação dadas por alunos do Ensino Médio são

“Têm a concepção de equação como uma conta a ser efetuada, que é comparada

a qualquer uma das quatro operações elementares: adição, subtração,

multiplicação ou divisão). Nesta concepção, a incógnita não está em evidência,

isto é, ela não é característica importante de uma equação e o sinal de igual é

visto como um sinal operacional.” (LIMA, 2007, p. 281-282).

Blanton e Kaput (2003) desenvolveram estudos que mostram que

professores devem procurar formas de desenvolver a atividade algébrica, por meio

de abordagens baseadas em modelagem, de modo que os alunos tenham que fazer

conjecturas, discutir, testar ideias. Afirmam ainda que devem ser exploradas

diferentes formas do pensamento algébrico durante essas atividades.

Entendemos que propor questões envolvendo os Multisignificados de

Equação, num ambiente de Modelagem Matemática, como é o caso de nossa

pesquisa, contempla as recomendações dadas por Blanton e Kaput (2003).

Arcavi (1994) preocupou-se com a representação e a manipulação simbólica.

Para ele, alunos da escola secundária possuem pouca compreensão dos símbolos

algébricos, apesar de os manipularem durante anos. Segundo ele, nem mesmo os

alunos mais adiantados em Álgebra são capazes de percebê-la como uma

ferramenta que permite compreender, generalizar, revelar estruturas e relações e

fazer demonstrações. Recomenda que seja desenvolvido, nos alunos, o sentido dos

números, como uma forma de dar sentido aos símbolos. E afirma que compreender

27

as operações é o caminho para dar sentido aos números, aos símbolos e às

funções.

Depois de fazer a leitura dos trabalhos realizados por esses pesquisadores,

que tratam a Álgebra e equação como campo de pesquisa, percebemos que têm em

comum duas preocupações principais: a primeira diz respeito à complexidade de

compreender e determinar a relação entre pensamento algébrico e linguagem

algébrica; a segunda é, como o ensino de Álgebra é confundido, tanto por alunos

como por professores, com uma simples manipulação de letras e números,

prevalecem as técnicas mecanizadas e não a real compreensão do que acontece

nas relações algébricas. Concluímos que tem que haver uma junção de duas coisas:

a problematização de questões que gerem e motivem o pensamento algébrico e a

conscientização de que existe necessidade de uma maneira própria de expressar

esse pensamento. Esta junção podemos chamar de linguagem algébrica.

Nos Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio (1998), no que

diz respeito ao ensino de Álgebra, os principais objetivos são: identificar as

diferentes funções da Álgebra, tais como generalizar padrões aritméticos;

estabelecer relações entre grandezas; modelar; resolver problemas aritméticos

difíceis, explorados por “situações-problema” que, por sua vez, serão representadas

por equações e inequações.

2.4 Multisignificados de Equação

Os fundamentos teóricos de nossa pesquisa, sobre os quais nos apoiamos

para elaborar as questões de intervenção, são os dados pelos Multisignificados de

Equação, elaborados por Ribeiro (2007) em sua tese de Doutorado em Educação

Matemática. Ribeiro (2007) traz um estudo epistemológico das concepções de

equação, tomando como base os períodos de evolução das principais civilizações.

Também analisou alguns livros didáticos, em busca do que se entende como

equação. Com esses dados, classificou as concepções de equação encontradas em

cinco significados: Intuitivo-Pragmatico; Estrutural-Generalista; Estrutural-

Conjuntista; Processual-Tecnicista; Dedutivo-Geométrico e Axiomático-

Postulacional. Estes Multisignificados são definidos e exemplificados no Capítulo 2,

Fundamentação Teórica e Metodológica (ver p. 39).

28

2.5 As pesquisas do projeto maior

Como já mencionamos, nossa pesquisa está inserida no projeto docente “Os

Multisignificados de Equação no Ensino e na Aprendizagem de Matemática”,

desenvolvido pelo Doutor Alessandro Jacques Ribeiro desde 2008 e já produziu três

Dissertações de Mestrado em Educação Matemática, todas no Programa de Pós-

graduação Educação Matemática da UNIBAN-SP. Como são “companheiras” da

nossa, achamos importante destacá-las no corpo de nosso trabalho.

Barbosa, Y. A. (2009) realizou uma pesquisa de caráter diagnóstico, junto a

três professores de Matemática da Educação Básica, com o objetivo de verificar

quais as concepções de equação que esses professores de investigar as imagens

de conceito desses professores de matemática, quanto à forma de ver, interpretar e

tratar situações-problema que envolva a ideia de equação, observando se existe

alguma relação entre essas imagens de conceito e os Multisignificados de equação.

Para tanto, propôs uma atividade com problemas relacionados a equação,

elaborados com base nos Multisignificados e analisou os protocolos obtidos, em

busca de quais significados emergem e quais as imagens de conceito (TALL;

VINNER, 1981) desses professores. Em seguida, realizou entrevistas

semiestruturadas, a fim de melhor entender as concepções e as imagens de

conceito. Para dois desses professores, a imagem de conceito de equação

relaciona-se à ideia de algoritmo de resolução, bem como à existência de uma

incógnita. Para o terceiro professor, a imagem de conceito (TALL; VINNER, 1981)

reduz-se a um método de tentativa e erro e ao emprego de métodos aritméticos. O

pesquisador chegou à conclusão que esses professores têm, como imagem de

conceito de equação, os significados: Processual-Tecnicista, pois reconhecem uma

equação por meio de seu processo de resolução e tratam-na por meio de técnicas

de manipulação; e Intuitivo-Pragmático, pois reconhecem uma equação em uma

situação do cotidiano e tratam-na por meio de métodos aritméticos ou de tentativa e

erro.

Dorigo (2010) traz como objetivo de pesquisa diagnosticar as concepções de

equação de alunos do Ensino Médio, com base nos Multisignificados de Equação.

Para atingir o objetivo proposto, Dorigo (2010) desenvolveu duas atividades, que

29

foram aplicadas a alunos de 1o ano do Ensino Médio, com problemas envolvendo a

idéia de equação, embora nem sempre estivessem explícitas. Em particular, na

última questão proposta, os alunos são perguntados qual o objeto matemático que

aparece nas questões anteriores, pois o pesquisador estava interessado em verificar

também se os alunos pesquisados reconheceriam a equação “subjacente” em cada

uma das atividades propostas.

Em suas análises, Dorigo (2010) observou uma forte tendência dos alunos

para utilizar métodos de tentativa, o que remete ao Significado que foi mais utilizado,

o Intuitivo-Pragmático. Também observou que os alunos envolvidos em sua

pesquisa não possuem uma idéia clara do que seja equação. Eles a utilizam para

resolver algumas situações matemáticas apresentadas, porém a própria definição de

equação que eles possuem parece ser confusa.

Stempniak (2010) realizou uma pesquisa de caráter interventivo, com alunos

do último ano de Licenciatura em Matemática, com o objetivo de investigar as

contribuições que a abordagem dos Multisignificados de Equação, utilizando-se da

Modelagem Matemática, pode trazer para a formação e para a ampliação da

concepção de equação dos alunos de um curso de licenciatura em Matemática. A

pesquisadora elaborou atividades com problemas baseados nos Multisignificados de

Equação e aplicou-as, num ambiente de Modelagem Matemática Barbosa (2001), a

fim de provocar discussões que possibilitassem observar como os Multisignificados

de Equação podem contribuir com a formação e a ampliação das concepções de

equação desses alunos em formação inicial. Em suas conclusões, Stempniak (2010)

ressalta a importância do ambiente de Modelagem Matemática para o surgimento

dos significados de equação, pois a Modelagem propiciou discussões que

permitiram que os alunos trocassem informações e experiências, para maior

compreensão do conceito equação.

2.6 Modelagem Matemática

Em nossa pesquisa, propusemo-nos a utilizar, como ambiente de

aprendizagem, a Modelagem Matemática. Para justificar esta escolha, de que é a

mais coerente no emparelhamento com os princípios e fundamentos da nossa

proposta, apresentamos as concepções de alguns autores, que colaboram com o

30

desenvolvimento da Modelagem Matemática no Brasil e também um trabalho de

pesquisa internacional, sobre esse ambiente de aprendizagem.

Biembengut (2003) coloca a Modelagem em geral como linha de pesquisa e

ressalta três grandes pesquisadores brasileiros como sendo essenciais nesse

processo.

O movimento pela modelagem matemática no ensino brasileiro, tem como

referência três singulares pessoas, consideradas fundamentais no impulso e na

consolidação da modelagem como linha de pesquisa na Educação Matemática:

Aristides Camargo Barreto, entusiasta em modelar matematicamente músicas, na

década de 1970, na PUC/Rio, utilizava-se de modelos matemáticos como

estratégia de ensino em disciplinas Licenciatura em Matemática e em programa de

Pós-graduação; Ubiratan D’ Ambrosio, representante brasileiro na comunidade

internacional de Educação Matemática, nas décadas de 1970 e 1980 promoveu

cursos e coordenou projetos na Universidade de Campinas (SP) - UNICAMP que

impulsionaram a formação de grupos em matemática aplicada, biomatemática e

em modelagem e Rodney Carlos Bassanezi que além de atuar nesses cursos e

projetos da UNICAMP, tornou-se o principal disseminador da modelagem

matemática, pois ao adotá-la em suas práticas de sala de aula (Graduação, Pós-

Graduação lato e stricto sensu e Cursos de extensão) conquistou número

significativo de adeptos por todo o Brasil. Biembengut pertence aos adeptos da

Modelagem através de Bassanezi.(Biembengut, 2003).

Com base nessas idéias de Biembengut, selecionamos, para apresentar, as

concepções de Modelagem Matemática de Burak (1992), Biembengut (1999),

Bassanezi (2004) e Barbosa (2001).

Burak (1992, p. 62), em sua tese, entende a modelagem matemática como

um conjunto de procedimentos cujo objetivo é construir um paralelo para tentar explicar, matematicamente, os fenômenos presentes no cotidiano do ser humano, ajudando-o a fazer predições e a tomar decisões.

Biembengut (1999, p. 20), em seu livro Modelagem Matemática & Implicações

no Ensino-Aprendizagem de Matemática, diz que a modelagem é

o processo que envolve a obtenção de um modelo.

31

E, nesse processo, a modelagem é uma forma de interligar a Matemática com

a realidade que, na visão da autora, têm sido consideradas disjuntas.

Para Bassanezi (2004, p.17),

A modelagem matemática é um processo que alia teoria e prática, motiva o usuário na procura do entendimento da realidade que o cerca na busca de meios para agir, sobre ela e transformá-la.

Barbosa (2001, p.5), afirma

Modelagem para mim, é um ambiente de aprendizagem no qual os alunos são convidados a problematizar e investigar, por meio da matemática, situações com referência na realidade.

Em todas essas concepções, percebe-se que há um consenso no que diz

respeito à tentativa de interpretação da realidade e na estruturação de um modelo,

com o objetivo de chegar a uma compreensão dessa realidade, naquele dado

momento e naquele dado contexto.

Os trabalhos de Burak mostram como a visão de modelagem vai se

distanciando das ciências naturais e vai caminhando junto às ciências humanas,

abrindo brechas para sua utilização em sala de aula, sem ter inicialmente uma

preocupação com conteúdos matemáticos.

As concepções existentes nas escolas, sobre Modelagem Matemática, é

assunto de uma pesquisa realizada por Klüber e Burak (2008), que concluem que

existe uma influência epistemológica presente na escola, nas aulas de Matemática,

que fica evidente nos currículos escolares, nas apresentações dos programas

didáticos, nos livros didáticos e sob as formas de avaliação ainda muito utilizadas na

atualidade. Concluíram isso, pelas “falas” dos alunos, que se referiram ao caráter

mítico e até mesmo místico da Matemática.

Kluber e Burak (2008) colhem, nessa pesquisa, alguns depoimentos que

reforçam a afirmação de que os conteúdos matemáticos estão acima da

compreensão dos alunos: “Pois se o professor fica só lá na frente explicando no

quadro, acaba se tornando uma rotina irritante e chata, e a matemática tem várias

maneiras de se aprender.”, e “o ensino é um pouco fraco e a vontade de aprender as

vezes fica um pouco monótono ouvir o professor.” (SIC).

32

Provavelmente, a maioria dos professores que ministram Matemática adquiriu

em sua formação parte das influências epistemológicas de um ensino por repetição

e por reprodução. Ensino em que o professor é a peça principal e os alunos são

inseridos passivamente no processo, apenas como ouvintes. Burak (1992)

acrescenta dois princípios básicos à sua concepção de modelagem matemática: 1) o

interesse do grupo; e 2) a obtenção de informações e dados do ambiente, se

encontra o interesse do grupo. O que o motivou a colocar três questionamentos

principais, que envolvem o ambiente de sala de aula: (1º) Como os alunos veem a

Matemática?; (2º) Como os alunos se veem perante a Matemática? ; (3º) Como os

alunos interpretaram o trabalho com a Modelagem Matemática?

Com relação ao (1º), os alunos argumentaram que a disciplina é a mais

importante e que está presente em praticamente todas as demais. Os depoimentos

também evidenciaram o caráter mítico e místico conferido à Matemática, o que

causa um distanciamento da Matemática da vida cotidiana, como se ela não fizesse

parte do mundo humano.

Com relação ao (2º) questionamento, vários depoimentos indicam o desgosto

dos alunos e a atribuição de culpa à dificuldade de aprendizagem da Matemática e

vários deles acreditam que os problemas de aprendizagem são deles mesmos.

Interpretamos que as dificuldades de aprendizagem e de interesse são rejeições

advindas de diversos traumas.

Em relação ao (3º) questionamento “Como os alunos interpretaram o trabalho

com a Modelagem Matemática?”, os depoimentos revelaram que os alunos estão

condicionados à estrutura educacional vigente, o que é ‘natural’ depois de tantos

anos de vida em âmbito escolar. Quando se discutia quais eram seus interesses de

pesquisa e eles eram orientados para a pesquisa exploratória, os alunos entendiam

que isso seria “matar” aula, quando na verdade a principal ideia era, a partir dos

seus interesses, incentivá-los à autonomia. Consideramos que essa visão dos

alunos prejudica o trabalho cooperativo e em grupo, pois este se torna difícil quando

os participantes não têm clareza do seu papel de ser ativo ou passivo no processo.

Para o ensino de Matemática, Biembengut (1999, p. 36) explicita que a

modelagem pode ser “um caminho para despertar no aluno o interesse por tópicos

33

matemáticos que ele ainda não conhece, e ao mesmo tempo se aprende a arte de

modelar, matematicamente”. Mas, no viés assumido pela própria autora, o professor

já “sabe” onde tem de chegar. Assim, não se geram muitos desafios, nem para ele,

nem para os alunos, já que o docente sabe de antemão quais serão os conteúdos

matemáticos a serem ministrados.

A ideia de modelagem matemática como estratégia de ensino defendida por

Bassanezi (2004) é a de que os alunos devem agrupar-se e escolher um

tema/assunto de acordo com interesses e afinidades e, a seguir, sob a orientação do

professor, cada grupo elabora questões sobre o tema/assunto, coleta dados para a

pesquisa e então formula um modelo matemático. O professor só ensina os

conteúdos matemáticos que emergirem e no momento em que é necessário.

Segundo Bassanezi (1994a) e Blum e Niss (1991), podem-se destacar cinco

argumentos para o uso de Modelagem no currículo: o formativo, que desenvolve

habilidades gerais de exploração, de criatividade e de resolução de problemas; o da

competência crítica, que habilita os alunos a reconhecer, compreender, analisar e

avaliar exemplos de uso da Matemática na sociedade; o da utilidade, que prepara os

alunos para utilizar a Matemática em diferentes áreas; o intrínseco, que permite aos

alunos perceber uma das facetas da Matemática; o da aprendizagem, que promove

a motivação e a relevância do envolvimento e da aprendizagem dos alunos nas

tarefas escolares de Matemática.

Barbosa (2001) concebe a Modelagem Matemática como uma oportunidade

para os alunos investigarem diferentes situações por intermédio da Matemática, sem

procedimentos fixados previamente e os conceitos e as ideias matemáticas surgem

de acordo com o desenvolvimento das atividades, que devem focar situações da

realidade e não situações fictícias. Segundo ele, nem Matemática nem Modelagem

são “fins”, mas sim “meios” para questionar a realidade vivida e os alunos são

convidados a utilizar seu conhecimento e suas experiências para chegar à

formulação de um modelo. Com isso, a Modelagem Matemática traz o potencial de

gerar algum nível de crítica, por meio das discussões produzidas no

desenvolvimento das atividades e que ele classifica em três tipos.

34

Discussões matemáticas: referem-se aos conceitos e às ideias

integralmente pertencentes à disciplina matemática.

Discussões técnicas: referem-se ao processo de matematização da

situação em estudo.

Discussões reflexivas: referem-se à conexão entre os pressupostos

utilizados na construção do modelo matemático e os resultados, bem como à

utilização desses últimos na sociedade.

Ele aponta que essas discussões são produzidas a partir da heterogeneidade

de vozes no ambiente de Modelagem Matemática, algumas mais ou menos

privilegiadas. Do ponto de vista dos objetivos didáticos, diferentes propósitos para a

Modelagem Matemática privilegiam diferentes tipos de discussão, sintetizados na

tabela1.

PROPÓSITO DA MODELAGEM TIPOS DE DISCUSSÃO PRIVILEGIADAS

Desenvolver conceitos/ideias

matemáticas MATEMÁTICAS

Desenvolver habilidades de

resolução de problemas

matemáticos aplicados

TÉCNICAS

Analisar a natureza dos modelos

matemáticos REFLEXIVAS

Tabela 1. Relação entre os propósitos de Modelagem e o tipo de discussão privilegiada. (BARBOSA,

SANTOS, 2007 apud Barbosa 2009)

Em 2009, Barbosa assinala a possibilidade de surgimento de um quarto tipo

de discussão, as Discussões Paralelas, que não têm relação clara com a produção

35

do modelo matemático em questão e podem remeter os alunos à reflexão sobre

aspectos da vida em sociedade.

Figura 3. Esboço de um framework3 para a prática dos alunos no ambiente de Modelagem

Matemática (BARBOSA, 2009)

No cenário internacional da Modelagem Matemática, citamos os trabalhos de

Kaiser e Sriraman (2006), que tiveram um importante papel na promoção de um

debate internacional. Estes pesquisadores apresentam várias perspectivas, no

âmbito da discussão sobre Modelagem Matemática, de acordo com seus objetivos

centrais.

1) Perspectiva Realística: com objetivos pragmáticos, como resolver problemas

reais, compreender o mundo real e promover competências de modelização.

2) Perspectiva Contextual: com objetivos psicológicos e relacionados a um

conteúdo, como resolver problemas escritos em língua materna.

3) Perspectiva Educacional: com objetivos pedagógicos e relacionados a um

conteúdo, como estruturar processos de aprendizagem e aplicá-los ou

introduzir e desenvolver conceitos.

3 Barbosa (2009) entende como framework um conjunto de conceitos relacionados que explicam um determinado fenômeno. Uma tradução possível “quadro teórico”.

Prática de Modelagem Matemática

Espaço de Integração

Rotas de Modelagem Discussões Paralelas

Discussões matemáticas

Discussões técnicas

Discussões reflexivas

36

4) Perspectiva Sócio-crítica: com objetivos pedagógicos, como compreender

criticamente o mundo em que se vive.

5) Perspectiva Epistemológica: com objetivos orientados para a teoria, como

promover teorias de desenvolvimento da própria Modelagem Matemática.

Estas diferentes perspectivas classificam a Modelagem Matemática de

acordo com os objetivos a que se propõe.

Dessas leituras, decidimos utilizar, em nossa pesquisa, a Modelagem

Matemática segundo Barbosa (2001, 2009) na perspectiva Sócio-critica, pois

consideramos ser a que melhor se adapta a uma atividade didática em sala de aula

da Educação Básica (no nosso caso, Ensino Médio), com vistas à formação de um

cidadão preparado para ser inserido na vida social e profissional, com uma visão

critica do mundo que o cerca. Em razão destas escolhas, a Modelagem Matemática

segundo Barbosa (2001, 2009), na perspectiva Sócio-crítica, será melhor descrito no

capítulo 3, “Fundamentação teórica e metodológica”.

Como acreditamos que a Modelagem Matemática prestigia situações na

aprendizagem que estejam centradas na construção de significados, na elaboração

de estratégias e na resolução de problemas, também fomos buscar respaldo para

sua utilização nos Parâmetros Curriculares Nacionais de Matemática para o Ensino

Médio (PCNEM, 1998). Destacamos uma observação, que julgamos importante.

O estimulo à capacidade de ouvir, discutir, escrever, ler idéias matemáticas, interpretar significados, pensar de forma criativa, desenvolver o pensamento indutivo/dedutivo, é o caminho que vai possibilitar a ampliação da capacidade para abstrair elementos comuns a varias situações, para fazer conjecturas, generalizações e deduções simples, como também para o aprimoramento de representações, ao mesmo tempo em que permitirá aos alunos irem se conscientizando da importância de comunicar suas idéias com concisão. (Parâmetros Curriculares Nacionais de Matemática para o Ensino Médio, 1998, p.63).

Os PCNEM (1998) destacam ainda que, na relação entre o professor que

ensina Matemática e o aluno, o primeiro atua como mediador e esta atuação deve

apresentar as seguintes características:

37

I. Ser o organizador da aprendizagem. Conhecedor da realidade, selecionará as situações-problema que possibilitem a construção de conceitos e procedimentos, além de estimular os processos próprios de resolução que surgirem dos alunos. Além de estabelecer as condições em que as atividades se realizarão, devera fixar os prazos para isso, considerando o ritmo de cada aluno.

II. Ser o facilitador nesse processo. Não é mais o expositor de conteúdos, mas sim aquele que fornece as informações necessárias para o que o aluno não consegue obter sozinho.

III. Considerar o aluno como protagonista da construção da sua aprendizagem.

IV. Atuar na promoção da análise das respostas dos alunos e sua comparação, ao disciplinar as condições em que cada aluno pode intervir para expor sua solução, questionar, contestar, etc.

V. Ser um incentivador da aprendizagem, estimulando a cooperação entre os alunos, tão importante quanto a própria interação professor-aluno.

VI. Atuar como avaliador do processo. Procurar identificar e interpretar, mediante observações, diálogos e instrumentos apropriados, sinais e indícios das competências desenvolvidas pelos alunos, reorganizando o processo, quando necessário.

VII. Buscar a interação entre professor-aluno e aluno-aluno, o que é fundamental no desenvolvimento das capacidades cognitiva, afetiva e de inserção social.

Ao trabalhar coletivamente, favorece aos alunos o desenvolvimento de capacidades como:

- cooperação; - consenso na busca de soluções para uma atividade proposta; - explicitar o próprio pensamento e procurar compreender o do outro; - discutir as dúvidas, aceitando as soluções dos outros e buscar suas próprias

soluções; - incorporar soluções alternativas, reestruturando e ampliando a compreensão

acerca dos conceitos envolvidos e, desse modo, aprender.

Essas aprendizagens somente serão possíveis, quando o professor proporcionar um ambiente de trabalho que estimule o aluno a aceitar, comparar, discutir, rever, perguntar e ampliar idéias. (Adaptado pelo autor, dos Parâmetros Curriculares Nacionais de Matemática para o Ensino Médio, 1998).

Portanto, julgamos que a Modelagem Matemática, da forma proposta por

Barbosa (2001, 2006), na perspectiva Sócio-crítica, é uma abordagem de ensino que

atende essas recomendações e pode propiciar uma atmosfera na qual ocorram

ambos os processos, de ensino e de aprendizagem de Matemática, particularmente

nas aulas de Álgebra.

Neste capitulo, apresentamos nossa revisão de literatura, com o intuito de

situar nossa pesquisa na área da Educação Matemática, mais precisamente na linha

de Educação Algébrica, justificando nossas escolhas e a própria pesquisa.

38

CAPÍTULO 3

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA E

METODOLÓGICA

39

3.1 Introdução

Como já observamos anteriormente, nossa pesquisa tem caráter interventivo,

é realizada na linha Educação Algébrica, com os Multisignificados de Equação

(RIBEIRO, 2007), com o objetivo de analisar quais são as contribuições que uma

abordagem com os Multisignificados de Equação, num ambiente de Modelagem

Matemática (BARBOSA, 2001, 2009), pode trazer para a construção e/ou ampliação

do conhecimento equação e será desenvolvida junto a alunos do Ensino Médio, num

ambiente de Modelagem Matemática.

Assim, neste capitulo, apresentamos a fundamentação teórica e metodológica

que pretendemos utilizar em nossa pesquisa, quais sejam, os Multisignificados de

Equação (RIBEIRO, 2007) e a Modelagem Matemática (BARBOSA, 2001, 2009) na

perspectiva sócio-crítica.

3.2 Multisignificados de Equação

Neste parágrafo, apresentamos os Multisignificados de Equação (RIBEIRO,

2007), que foram o ponto de partida para a elaboração das questões de nossa

atividade de intervenção.

Os processos de ensino e de aprendizagem de equação são, atualmente,

objetos de pesquisa da área Educação Matemática (ver capítulo 2, Revisão de

literatura), dentro da qual idealizamos a nossa, a partir dos resultados da tese de

Doutorado em Educação Matemática de Ribeiro (2007), sob o título “Equação e seus

multisignificados no ensino de Matemática: contribuições de um estudo

epistemológico”.

Ribeiro (2007), considerando, por um lado, a noção de equação como objeto

de estudo – como aparece ao longo da História da Matemática – e, por outro, a

noção de equação como um conjunto de regras e técnicas – como aparece em livros

didáticos e artigos científicos - concebeu o que chamou de multisignificados de

equação.

Este pesquisador percebeu que diferentes povos, com diferentes culturas,

entendiam e tratavam equação de formas diferentes. Os babilônios e os egípcios

40

concebiam-nas a partir de problemas do dia a dia, de ordem prática. Como não

existia uma linguagem simbólica, nem métodos algébricos, esses povos tratavam as

equações de um ponto de vista aritmético. Os gregos, por sua vez, concebiam-nas a

partir de situações geométricas, que eram tratadas de um ponto de vista geométrico.

Os árabes e os hindus concebiam-nas a partir de sua estrutura, procurando resolvê-

las do ponto de vista algébrico.

Além desse estudo epistemológico, Ribeiro (2007) desenvolveu um estudo

didático, pois investigou também como as equações aparecem em livros didáticos de

Matemática e em dicionários de Matemática. Com isso, pôde perceber outras

formas, diferentes daquelas observadas em seu estudo epistemológico, de conceber

e tratar as equações.

A partir desses dois estudos, o epistemológico e o didático, Ribeiro (2007)

concebeu seis diferentes significados de equação, que denominou Multisignificados

de Equação e que buscam contemplar, de forma sistêmica, os diversos significados

apresentados pelos mais diferentes povos ao longo da história. São eles (RIBEIRO,

2008, pp. 123-127)

Intuitivo-Pragmático: por esse significado a noção de equação é concebida como uma noção intuitiva, ligada à idéia de igualdade entre duas quantidades. Sua utilização está relacionada à resolução de problemas de ordem prática, os quais são originários de situações do dia-a-dia. Exemplo: como os Babilônios e Egípcios concebiam a noção de equação, relacionando-a a problemas de origem prática envolvendo questões da agricultura.

Dedutivo-Geométrico: por esse significado a noção de equação é concebida como uma noção ligada às figuras geométricas, aos segmentos. Sua utilização está relacionada à situações envolvendo cálculos e operações com segmentos, com medida de lados de figuras geométricas, com intersecções de curvas. Exemplo: como os Gregos concebiam a noção de equação, relacionando-a com situações envolvendo área de figuras ou proporções e medidas de segmentos.

Estrutural-Generalista: por esse significado a noção de equação é concebida como uma noção estrutural definida e com propriedades e características próprias. A equação aqui é considerada por si própria, operando-se sobre ela mesma na busca de soluções gerais para uma classe de equações de mesma natureza. Exemplo: como os Árabes concebiam a noção de equação, procurando soluções gerais para a equação de 2º grau.

Estrutural-Conjuntista: dentro dessa visão, a noção de equação é concebida dentro de uma perspectiva estrutural, que está diretamente ligada à noção de conjunto. É vista como uma

41

ferramenta para resolver problemas que envolvam relações entre conjuntos. Exemplo: como Bourbaki concebia a noção de equação, relacionando-a com situações que envolvem diretamente a noção de conjunto e/ou funções.

Processual-Tecnicista: concebe equação como a sua própria resolução – como os métodos e técnicas que são utilizadas para resolvê-la. Diferentemente dos estruturalistas, não enxergam a equação como um ente matemático sobre o qual as operações e manipulações que são realizadas atendem à regras bem definidas. Exemplo: como aparece em resultados de pesquisa, onde se constata que a noção de equação é vista somente como um processo, um algoritmo.

Axiomático-Postulacional: concebe equação como uma noção da Matemática que não precisa ser definida, uma idéia a partir da qual outras ideias, matemáticas e não matemáticas são construídas. Por essa concepção, a noção de equação é utilizada no mesmo sentido de Noção Primitiva, como ponto, reta e plano na Geometria Euclidiana.

Para cada um deles, apresentamos um exemplo simples, que pode ser

considerado como um representante do multisignificado, se olharmos a forma como

pode ser resolvida a equação correspondente, numa tentativa de ilustrar as

definições dadas.

Exemplo Intuitivo-Pragmático: um pai possui uma propriedade com 1500 m2 e

tem 6 filhos. Quanto caberia para cada filho, em m2, uma partilha homogênea dessa

propriedade?

Exemplo Dedutivo-Geométrico: um pai possui uma propriedade com 1500 m2,

dividiu-a entre seus 6 filhos e cada um ficou com um terreno de 10mx25m. Um deles

quer construir uma casa com 200 m2 bem no centro do terreno. Qual a distância

entre as paredes da casa e os muros do terreno?

Exemplo Estrutural-Generalista: perceber que, para resolver uma equação do

segundo grau do tipo , basta procurar dois números cujo produto

é n e a soma –m.

Exemplo Estrutural-Conjuntista: perceber que, para calcular o imposto de

renda na fonte, podemos relacionar o conjunto dos rendimentos líquidos com o

conjunto de alíquotas de retenção na fonte e os descontos respectivos para chegar a

uma equação (ver tabela no apêndice A)

42

Exemplo Processual-Tecnicista: associar a equação

imediatamente com e não perceber que poderia achar as

soluções sem desenvolver os parênteses.

Exemplo Axiomático-Postulacional: não temos exemplos, porque a noção de

equação, neste multisignificado, é primitiva e não tem uma definição.

Os Multisignificados de Equação serviram de base para as questões que

propusemos em nossa intervenção e também para a análise dos protocolos dos

alunos.

3.3 Perspectiva Sócio-crítica de Modelagem Matemática

A escolha pela Modelagem Matemática, como ambiente de aprendizagem

para o desenvolvimento de nossas atividades, deu-se pela “característica aberta”

que tal abordagem pode propiciar. O aluno pode se sentir à vontade para expor suas

idéias e, conseqüentemente, suas concepções, colocando em prática, durante o

desenvolvimento das atividades, argumentos e ferramentas, o que, esperávamos,

deveria contribuir com a construção do conhecimento equação.

Por tais razões, acreditamos que a Modelagem Matemática proposta por

Barbosa (2001), é uma abordagem de ensino que combina com o objetivo de nossa

pesquisa e com os Multisignificados de Equação, pois dá oportunidade ao aluno de

explorar aspectos que envolvem o lado intuitivo, criativo e crítico, na construção do

conhecimento matemático.

Barbosa (2001) traz aspectos e características de muita relevância para o

desenvolvimento do ambiente de aprendizagem com Modelagem Matemática, no

qual professor e aluno ficam à vontade em relação ao desenvolvimento dos

conteúdos de Matemática, sem que o aluno se sinta pressionado a ter uma visão

tecnicista, em virtude de querer chegar a um resultado final pré-determinado,

contrapondo o modelo de ensino tradicional. Conseqüentemente, a absorção daquilo

que ele deve compreender e assimilar fica mais fácil. Em particular, na perspectiva

sócio-crítica (BARBOSA, 2001), o aluno fica livre não somente para ouvir e acatar

aquilo que é colocado pelo professor, mas também é incentivado a argumentar,

43

socializar e criticar, condições importantes se queremos formar cidadãos sócio-

críticos.

A organização e a formulação das atividades para o ambiente de Modelagem

Matemática, segundo Barbosa (2001), dependem das possibilidades do contexto

escolar, da experiência do professor, dos interesses dos alunos e de outros fatores.

De acordo com essas características, cada forma escolhida pode ser vista em

termos de casos que, tomando em conta as experiências relatadas na literatura,

Barbosa (2001) classificou em três casos principais.

• Caso 1. O professor apresenta a descrição de uma “situação-problema”, com

as informações necessárias à sua resolução e o problema formulado,

cabendo aos alunos o processo de resolução. No caso 1, o professor fica

encarregado da elaboração da situação problema, da simplificação e dos

dados, sejam qualitativos e/ou quantitativos e a resolução da situação é

concluída em parceria com o aluno.

• Caso 2. O professor traz para a sala um problema de outra área da realidade

e os ficam encarregados da coleta das informações necessárias à resolução

do problema proposto.

• Caso 3. A partir de temas não-matemáticos, os alunos formulam os

problemas e os resolvem. Também são responsáveis pela coleta de

informações e pela simplificação das situações propostas.

44

Tabela 2. O aluno e o professor nos casos de Modelagem. (BARBOSA, 2001, p.40)

Nossa pesquisa tem objetivo pedagógico, pois queremos analisar quais são as

contribuições que uma abordagem com os Multisignificados de Equação pode trazer

para a construção e/ou ampliação do conhecimento equação. Por outro lado,

elaboramos atividades com problemas e situações correntes da realidade de nossa

sociedade, que serão resolvidas em duplas, num ambiente de Modelagem

Matemática que propicie a discussão, a troca de informações e uma compreensão

crítica do mundo em que se vive. Assim, escolhemos trabalhar com o caso 1, numa

perspectiva Sócio-critica, pois queremos “focar” as discussões e resoluções das

atividades de forma a conseguir responder duas de nossas questoes de pesquisa:

“Como os alunos concebem a noção de equação?”, “Quais significados eles

atribuem à noção de equação?”.

Com todos essas colocações, acreditamos que fica justificado o emprego da

Modelagem Matemática defendida por Barbosa (2001), na perspectiva Sócio-crítica,

como a abordagem de ensino escolhida para a aplicação das atividades de nossa

pesquisa interventiva.

45

3.4 Metodologias e Procedimentos Metodológicos 3.4.1 Nossa Pesquisa

Nesta secção, indicamos e justificamos nossa opção por utilizar a

metodologia de pesquisa Qualitativa Experimental. Iniciamos definindo Metodologia

de pesquisa, para posteriormente definir também metodologia de pesquisa com

análise qualitativa dos dados.

É preciso esclarecer que metodologia é entendida aqui como o conhecimento

crítico dos caminhos do processo científico, indagando e questionando acerca de

seus limites e possibilidades (Demo, 1989).

A pesquisa com análise qualitativa dos dados evita números e lida com

interpretações das realidades sociais e pode ser caracterizada como uma

tentativa de compreender, em detalhes, os significados e as características

apresentados pelos sujeitos da pesquisa. A pesquisa com análise quantitativa

dos dados é aquela que mede quantitativamente esses significados e

características, mas antes dessa quantificação tem que haver uma categorização

do mundo social, pois as atividades sociais devem ser distinguidas, antes que

qualquer frequência ou percentual possa ser atribuído a essas distinções.

Entendemos ainda que a pesquisa com análise qualitativa dos dados é vista

como uma maneira de dar poder ou voz às pessoas, em vez de tratá-las como

objetos, cujo comportamento deve ser quantificado e estatisticamente modelado.

Segundo Filstead (1979)

Métodos quantitativos e qualitativos são mais que apenas diferenças entre

estratégias de pesquisa e procedimentos de coleta de dados. Esses enfoques

representam, fundamentalmente, diferentes referenciais epistemológicos para

teorizar a natureza do conhecimento, a realidade social e os procedimentos para

se compreender esses fenômenos (FILSTEAD, 1979, p. 45).

Assim, para nossa pesquisa, optamos por utilizar a metodologia qualitativa

experimental, que nos permite trabalhar as nossas idéias, no sentido de formular

nossas perguntas, respeitando as experiências que os sujeitos de pesquisa nos

trazem e funcionando como condutor que nos leva a alcançar nossos resultados,

permitindo uma reflexão, para que até mesmo surjam novos questionamentos que

46

servirão para alcançar uma contribuição ainda maior, no que diz respeito aos

objetivos a serem alcançados na pesquisa.

3.4.2 Procedimentos

Nesta secção, vamos relatar como foram as escolhas feitas, no que diz

respeito ao local e aos sujeitos de pesquisa e também como ocorreu a aplicação da

pesquisa, desde o seu início.

Do ponto de vista metodológico, desenvolvemos uma pesquisa de caráter

qualitativo experimental, que produziu protocolos escritos e material áudio-gravado.

Nosso foco é o trabalho com alunos do Ensino Médio e a escolha pela escola

que foi utilizada em nossa coleta de dados deveu-se a alguns fatores.

Primeiramente, pelo perfil geográfico e social no qual essa escola se insere, uma

região da periferia da cidade de São Paulo, em um bairro constituído em maior parte

por favelas, trazendo consequentemente uma grande quantidade de alunos que

habitam essas favelas, o que atende ao esperado na perspectiva Sócio-crítica

(BARBOSA, 2001), no sentido da contextualização das atividades que foram criadas

e da necessidade de formar cidadãos críticos, capazes de analisar e criticar o mundo

em que vivem, em busca de melhores condições de vida. Em segundo lugar, porque

trabalhamos nessa escola durante dois anos, como professor de Matemática para as

séries do Ensino Médio e o perfil tanto da escola como dos alunos me deixou seguro

quanto à questão do comprometimento com a execução da totalidade das Atividades

que seriam conduzidas por mim.

Para iniciar o processo de coleta de dados, procuramos a diretora da escola e

explicamos a ela quais eram as nossas intenções e pretensões, relativas a este

projeto de trabalho. De posse do consentimento da direção da escola, passamos

para a próxima etapa da coleta de dados, que foi a escolha dos alunos que iriam

participar das sessões de intervenção. A opção por alunos do 2º ano do Ensino

Médio se deu por se tratarem de alunos mais amadurecidos e, assim, mais

comprometidos e de maior discernimento ao assumir a responsabilidade de

participar de nossa pesquisa. Outro motivo para a opção por alunos do segundo ano

47

é que, por estarem numa faixa etária mais elevada, já existe uma preocupação maior

no que diz respeito às posturas assumidas na convivência em sociedade.

Procuramos a professora de Matemática e pedimos que ela que nos ajudasse

a escolher doze alunos, dentre as cinco salas de 2º ano do Ensino Médio do período

da manhã, naquela escola. A professora de Língua Portuguesa dessas turmas

também nos ajudou nessa decisão, cujo único critério para a escolha era o de

alunos mais comprometidos com os assuntos relacionados à educação e de maior

responsabilidade para assumir a tarefa.

Escolhidos os alunos, procuramos a vice-diretora para acertar os detalhes,

como dias possíveis, horários e um espaço que pudéssemos utilizar para as sessões

da pesquisa. Assim, iniciamos nossa intervenção com dez dos doze alunos. Falamos

a eles sobre nosso trabalho, a importância dele para a Educação Matemática em

geral e perguntamos se gostariam de participar. Todos os alunos consultados

aceitaram o convite e levaram o termo de compromisso, o qual foi devolvido

devidamente assinado pelo responsável.

Diante das respostas afirmativas, demos início à primeira das quatro sessões

programadas para a coleta de dados, cada sessão com previsão inicial de cem

minutos. Esta primeira sessão ocorreu conforme o planejado e teve um bom

rendimento, pois os alunos conseguiram trabalhar os itens A, B e C da Atividade 1.

Como fato negativo, a sala do laboratório de química, que estávamos utilizando, era

bem ao lado da quadra esportiva da escola e durante todo o período da manhã

ocorrem aulas de Educação Física, o que acarretou um de excesso de barulho

constante, advindo da quadra.

No dia seguinte, conseguimos realizar a Sessão 2; porém, além do barulho

proveniente da quadra, só compareceram sete dos alunos e conseguimos finalizar o

item D, último da Atividade 1. Diante da insistência dos alunos, aproveitamos para

mostrar uma estratégia de resolução para o item A da Atividade 1 e, em seguida,

distribuímos o texto da Atividade 2 e fizemos uma leitura desse texto até o final da

sessão.

Nas Sessões 3 e 4, as coisas não ocorreram tão bem como nas duas

primeiras. Devido a um período de provas, tivemos que encurtar o tempo de

48

realização da Sessão 3 e participaram desta sessão oito alunos. Mesmo com o

tempo mais curto, conseguimos trabalhar com os alunos os itens A e B da Atividade

2.

Para a Sessão 4, última realizada, os problemas já foram mais complicados.

Devido a trabalhos, feriados e avaliações finais que envolviam a vida escolar desses

alunos, só pudemos marcar a Sessão 4 para quinze dias depois da aplicação da

Sessão 3.

Ao longo das quatro sessões realizadas, pudemos observar momentos

distintos de discussão, nos quais os alunos trocaram informações, não somente com

os membros do próprio grupo, como também interagiram com os demais grupos, em

momentos oportunos. Nossa avaliação é que essas interações só ocorreram porque

foram propiciadas pelo ambiente de aprendizagem ter sido o de Modelagem

Matemática (BARBOSA, 2001), na perspectiva Sócio-Crítica.

Vamos agora descrever como conduzimos as sessões realizadas. Ao iniciar

as atividades, distribuímos uma folha para cada grupo de alunos, contendo a

problemática da atividade e demos um tempo para que os alunos lessem o

problema. Em seguida, lemos em voz alta para os alunos o problema proposto no

item A da Atividade 1 e solicitamos que cada grupo começasse a discutir e a

elaborar a resolução deste primeiro item.

Durante o desenvolvimento das discussões e das resoluções das atividades,

fui circulando pelos grupos e discutindo as ideias e as estratégias colocadas pelos

alunos. À medida que todos os grupos terminavam a resolução de um item, como

interventores, sugeríamos que começassem uma explanação grupo a grupo de

quais conclusões e observações cada grupo teve, compartilhando assim as próprias

ideias com os demais colegas.

Ao final do item D da Atividade 1 e após ter recolhido todos os protocolos de

resolução, atendendo a pedidos dos alunos, mostramos na lousa uma possível

estratégia de resolução para o item A.

Nossa ideia inicial era propor duas atividades, cada uma contendo quatro

itens, que seriam trabalhados em quatro sessões de cem minutos; porém, conforme

49

já relatamos, tivemos alguns contratempos, que dificultaram nosso cronograma

inicial e o que realmente ocorreu foi:

Sessão 1 – Trabalhamos Atividade 1, itens A, B e C.

Sessão 2 – Trabalhamos Atividade 1, item D.

Sessão 3 – Trabalhamos Atividade 2, itens A e B.

Sessão 4 – Trabalhamos Atividade 2, itens C e D.

Neste capítulo, descrevemos e justificamos as nossas escolhas da escola,

dos alunos e como foi a aplicação das atividades, para dar uma idéia de como foi

nossa coleta de dados. Definimos também o que consideramos uma pesquisa com

análise qualitativa de dados, que escolhemos para realizar a análise dos dados.

50

CAPÍTULO 4

AS ATIVIDADES

51

4.1 Introdução

No capítulo anterior, descrevemos as fundamentações de nossa pesquisa

interventiva, justificando a escolha teórica pelo Multisignificados de Equação

(RIBEIRO, 2007) e a metodológica pela Modelagem Matemática na perspectiva

Sócio-crítica (BARBOSA, 2001), como abordagem de ensino e pela pesquisa

Qualitativa Experimental, para a análise dos dados. Também explicitamos nossos

procedimentos metodológicos, com uma justificativa pela escolha da Escola e dos

alunos, incluindo uma breve descrição de como foram as sessões interventivas que

realizamos.

4.2 Análises Preliminares das Atividades Desenvolvidas

Foram utilizadas duas atividades na coleta de nossos dados e, neste

parágrafo, apresentamos as principais características de cada uma delas, tais como

objetivos, justificativas, referencial téorico e algumas possíveis estratégias de

resolução, procurando relacionar tanto os itens de cada uma das atividades entre si,

como em relação ao instrumento de coleta de dados como um todo.

Atividade 1

Esta primeira atividade tem como objetivo contemplar os Multisignificados de

Equação (RIBEIRO, 2007), utilizando como ambiente de aprendizagem a

Modelagem Matemática, na perspectiva Sócio-crítica (BARBOSA, 2001), pois

queremos verificar que estratégias os alunos utilizam para perceber quando um

plano é mais vantajoso do que o outro, em situações específicas.

Plano de Telefonia

Nos últimos anos houve uma popularização das linhas telefônicas

residenciais. Isto foi possível graças à expansão do mercado, o que acabou gerando

uma forte concorrência entre as diferentes operadoras.

O valor a ser pago em uma determinada conta telefônica é calculado

considerando-se os minutos (tempo) utilizado, mais o valor fixo da franquia escolhida

52

pelo cliente. Na tabela abaixo são apresentados quatro planos de telefonia

residencial

Plano Mensalidade Horário Normal – minuto

excedente

Franquia Linha Clássica Linha Clássica

250 47,62 0,20457

350 58,17 0,19321

450 68,55 0,18184

550 79,37 0,18184

Fonte: http://www.telefonica.com.br/portal/site/on/menuitem

a) Uma família fez uma expectativa de gastar 390 minutos por mês. Neste caso

qual é o plano mais vantajoso para eles? Justifique sua resposta.

b) Após algum tempo utilizando o serviço telefônico esta família percebeu que

estava consumindo, em média 490 minutos. Ainda é vantagem para esta

família permanecer com o plano do item anterior? Justifique sua resposta

(Procure utilizar uma estratégia diferente daquela que você utilizou na item a)

c) Você deve ter percebido que à medida que o consumo aumentou um plano

passa a ser mais vantajoso que o anterior. Imagine então, que esta mesma

família está pensando em contratar o último plano, a partir do próximo mês.

Quanto deve ser o consumo dessa família para que este plano se torne mais

vantajoso? Justifique sua resposta.

53

d) Através deste gráfico, mostre a partir de quantos minutos um plano é mais

vantajoso que o outro.

Para o item A da atividade 1

a) Uma família fez uma expectativa de gastar 390 minutos por mês. Neste caso

qual é o plano mais vantajoso para eles? Justifique sua resposta.

Os alunos poderão identificar, dentre os planos, algumas características

envolvendo relações entre dois ou mais conjuntos de dados, como por exemplo:

conjunto de valores monetários; conjuntos de minutos envolvendo franquias.

54

Traduzido em uma forma de linguagem que represente uma comparação entre

possíveis valores oriundos destes conjuntos, como por exemplo, uma expressão do

tipo:

X = Y , ou

Franquia = Minutos gastos

Desta forma, espera-se que os alunos percebam e consigam estabelecer

relações entre conjuntos, caracterizando o surgimento do Significado

ESTRUTURAL-CONJUNTISTA.

Outra possível estratégia de resolução é a ideia de estabelecer uma

generalização dos dados apresentados, levando à formulação de uma lei de

generalização, explicitada por uma expressão algébrica do tipo:

F (x) = a.(x – k) + b , onde

x = Minutos gastos

a = Valor dos minutos excedentes

k = Minutos da franquia

b = Valor da franquia

Caso surja algo desta forma, poderemos identificar o surgimento do

Significado ESTRUTURAL GENERALISTA.

Outro Significado que acreditamos que poderá aparecer, dentre as estratégias

de resolução para este item, é o INTUITIVO-PRAGMÁTICO. Neste, os alunos

55

tentam por métodos aritméticos encontrar a resposta para a atividade, utilizando

conhecimentos previamente adquiridos, em relação a cálculos aritméticos.

Pensando agora no questionamento do item B da Atividade 1

b) Após algum tempo utilizando o serviço telefônico esta família percebeu que

estava consumindo, em média 490 minutos. Ainda é vantagem para esta família

permanecer com o plano do item anterior? Justifique sua resposta (Procure

utilizar uma estratégia diferente daquela que você utilizou).

Para este item, imaginamos que os alunos irão, de imediato, utilizar a mesma

estratégia do item A, na intenção de chegar rapidamente a uma resposta para este

item B. Logo após se certificarem da resposta, irão aí sim se preocupar em encontrar

uma nova estratégia ou, quem sabe, justificar o porquê de não utilizarem uma outra

estratégia Matemática.

Como os itens A e B foram elaborados por nós em conjunto, prevemos que

possam surgir, como significados esperados, os mesmos mencionados no item A, ou

seja: ESTRUTURAL-CONJUNTISTA, ESTRUTURAL-GENERALISTA e INTUITIVO-

PRAGMÁTICO.

Atividade 1, item C

c) Você deve ter percebido que à medida que o consumo aumentou um plano

passa a ser mais vantajoso que o anterior. Imagine então, que esta mesma

família está pensando em contratar o último plano, a partir do próximo mês.

Quanto deve ser o consumo dessa família para que este plano se torne mais

vantajoso? Justifique sua resposta.

Como estratégia de resolução, acreditamos que os alunos possam chegar à

conclusão que uma estratégia possível é a da construção de um gráfico que

represente o comportamento de cada plano para que, por meio deste, o aluno

consiga perceber a partir de qual momento o último plano passa a ser mais

vantajoso. É importante salientar que o item D, traz o gráfico já construído, no

56

sentido de verificar se estes alunos conseguem efetuar uma leitura do que esta

ocorrendo com os respectivos planos, conseguindo desta forma, equacionar o

problema. Portanto esperamos que no item C e D, emerja o Significado DEDUTIVO-

GEOMÉTRICO.

Outra estratégia que poderá ser utilizada para o item C é a construção de uma

lei de formação, utilizando os dados do enunciado para, por intermédio de

Inequações, fazer uma comparação plano a plano e decidir em qual momento o

último plano passa a ser mais vantajoso.

Imaginando que os alunos possam utilizar pelo menos uma dessas

estratégias de resolução, o que poderá emergir é o Significado DEDUTIVO-

GEOMÉTRICO ou o Significado ESTRUTURAL-GENERALISTA.

Elaboramos o item D desta primeira atividade pensando em complementar o

item C. Trouxemos o gráfico já construído e solicitamos ao aluno a interpretação do

mesmo:

d) Através deste gráfico, mostre a partir de quantos minutos um plano é mais

vantajoso que o outro.

57

Esperamos que este item da atividade leve ao aparecimento do Significado

DEDUTIVO-GEOMÉTRICO, pois o aluno utilizará argumentos geométricos para

justificar em que momento um plano é mais vantajoso que outro.

Atividade 2

Esta segunda atividade tem como objetivo, assim como a Atividade 1,

contemplar os Multisignificados de Equação (RIBEIRO, 2007) na perspectiva Sócio-

crítica (BARBOSA, 2001), como ambiente de aprendizagem, pois acreditamos que o

assunto abordado nesta atividade prestigia não só o que diz respeito ao aprendizado

de conteúdos matemáticos, mas também trata de um problema de muita

importância, no que diz respeito às relações de convívio em sociedade destes

alunos. Assim sendo, propiciará ao aluno um momento de reflexão sobre a realidade

social em que está inserido.

Uma favela na cidade de São Paulo ocupa um terreno de 30 metros de

largura por 100 metros de comprimento, e abriga em barracos 240 famílias.

a) De que forma, poderíamos aproveitar este terreno, a fim de abrigarmos essas

mesmas famílias, com uma moradia mais digna?

58

b) Pensando em utilizar prédios com apartamentos, seria possível acomodarmos

todas essas famílias? Como?

c) Se pensarmos em prédios de 4 andares com 4 apartamentos por andar,

sendo cada prédio medindo por volta de 200 metros quadrados. Quantas

famílias poderíamos acomodar?.

d) O que poderíamos mudar na estrutura dos prédios para que pudéssemos

acomodar mais de 300 famílias? Justifique.

Vamos explorar o que esperamos em nossa pré-análise, do que possa surgir

dentre os Multisignificados de Equação, nesta Atividade 2.

a) De que forma, poderíamos aproveitar este terreno, a fim de

abrigarmos essas mesmas famílias, com uma moradia mais

digna?

59

Com o item A desta segunda atividade, propiciamos um momento de reflexão

ao aluno, no qual ele pode tentar interpretar a problemática que envolve a atividade,

refletindo e debatendo com os colegas, tanto em seu grupo em um primeiro

momento, como logo em seguida com os demais grupos participantes e com o

professor que conduziu a intervenção, com o objetivo de estabelecer qual o melhor

encaminhamento para o desenvolvimento da atividade; portanto, neste item não se

espera o surgimento de algum dos Significados de Equação. O que realmente é

esperado dos alunos é que cheguem a um consenso. Nós, como pesquisadores,

esperamos que surja a ideia de trabalhar com prédios, daí a elaboração do item B.

b) Pensando em utilizar prédios com apartamentos, seria possível

acomodarmos todas essas famílias? Como?

Após a discussão e a decisão da ocupação por prédios, acreditávamos que os

alunos poderiam partir para uma estratégia de resolução do item B, que envolvesse

relações entre conjuntos. Eles poderiam perceber as características dos dados

apresentados e organizar os dados em forma de conjuntos, como por exemplo:

conjunto de dimensões (medidas); conjunto de contagem (número de famílias ou

apartamentos), partindo assim para um equacionamento envolvendo esses

conjuntos.

O Significado ESTRUTURAL-CONJUNTISTA poderá emergir das resoluções

ou nas discussões dos alunos.

c) Se pensarmos em prédios de 4 andares com 4 apartamentos

por andar, sendo cada prédio medindo por volta de 200 metros

quadrados. Quantas famílias poderíamos acomodar?.

60

Acreditamos que os alunos poderão utilizar as dimensões propostas para a

construção de um desenho geométrico. Com esse encaminhamento, emerge o

significado DEDUTIVO-GEOMÉTRICO, no qual o aluno justifica sua estratégia, para

chegar à solução, por meio de desenhos que contenham formas geométricas.

Outro Significado que pode surgir é o INTUITIVO-PRAGMÁTICO, no qual o

aluno utilizará cálculos aritméticos, envolvendo os dados e equacionando, com a

idéia de igualar possivelmente duas quantidades, como número de famílias e

número de edificações, ou número de edificações e tamanho do terreno.

d) O que poderíamos mudar na estrutura dos prédios para que

pudéssemos acomodar mais de 300 famílias? Justifique.

Neste item D da Atividade 2, esperamos que os alunos pensem em aumentar

o número de andares de cada prédio, no sentido de acomodar um número ainda

maior de famílias por prédio. Imaginamos que esses alunos utilizarão os

dimensionamentos pré-estabelecidos no item C desta Atividade 2 e, com esses

parâmetros, formulem uma generalização sobre as estruturas desses mesmos

parâmetros, chegando a uma equação. Emergiria, assim, o Significado

ESTRUTURAL-GENERALISTA, no qual o aluno apresenta uma lei de formação para

justificar a alocação do espaço do terreno.

Neste parágrafo, apresentamos os objetivos, as justificativas e possíveis

estratégias de resolução de cada um dos itens das duas atividades propostas,

procurando relacioná-los entre si e com os objetivos de nossa pesquisa, destacando

possíveis Multisignificados de Equação que podem aparecer na resolução dos

alunos. Esperamos que os alunos discutam entre si e com os demais participantes e

o pesquisador as ideias e estratégias que surgirem, justificando assim nossas

escolhas: pela Escola, pelos alunos, pelo assunto equação, pelas atividades

propostas e pelo ambiente proporcionado pela Modelagem Matemática numa

pesrpectiva Sócio-crítica.

61

CAPÍTULO 5

ANÁLISE DOS DADOS

62

5.1 Introdução

No capítulo anterior, apresentamos nossas fundamentações, teórica e

metodológica, bem como os procedimentos metodológicos que adotamos para o

desenvolvimento de nossa pesquisa.

As análises que apresentamos a seguir foram realizadas item a item das

Atividades 1 e Atividade 2, propostas nessa referente pesquisa, e teve como

preocupação a elucidação dos questionamentos colocados dentre as nossas

questões de pesquisa. Com esse objetivo, utilizamos o referencial teórico

Multisignificados de Equação de Ribeiro (2007), para identificar a emersão ou não

de algum dos Significados.

Para enriquecer ainda mais a análise, fizemos também uma relação com as

nossas análises preliminares referentes à emersão de alguns dentre os Significados.

O material que está sendo analisado é oriundo dos protocolos e transcrições

produzidos no ambiente de aprendizagem Modelagem Matemática sob a perspectiva

de Barbosa (2001).

Apresentamos inicialmente os resultados somente do Grupo 4, pois ao

analisarmos as transcrições e os protocolos dos demais grupos, percebemos que

dentre os registros envolvendo os protocolos e principalmente o material áudio-

gravado, os pertencentes ao Grupo 4, estão mais completos no que diz respeito, a

produção escrita e principalmente a qualidade do material áudio-gravado.

Em uma segunda parte da apresentação das análises dos dados coletados,

iremos apresentar as analises dos demais grupos. Mas somente dos protocolos, pois

devido às condições do ambiente, foi inviável a transcrição áudio gravada.

Apresentamos nessa análise, trechos que julgamos relevantes das

transcrições do áudio. E para representar os alunos nessas transcrições, adotamos

a seguinte simbologia: aluno 1 de A1, o aluno 2 de A2 e o aluno 3 de A3. Nas

discussões onde não conseguimos diferenciar a fala dos alunos dos diferentes trios,

chamaremos os alunos de A e o pesquisador que fez as intervenções, de P.

63

5.2 Análise das atividades do Grupo 4

Nesse processo de análise iremos começar com a apresentação do item da

atividade, exibiremos o protocolo produzido pelos alunos, e iremos mesclando as

análises dos protocolos com trechos das transcrições das análises que julgamos

trazer contribuições com a leitura da estratégia envolvendo a resolução do item.

5.2.1 Atividade 1

Plano de Telefonia

Nos últimos anos houve uma popularização das linhas telefônicas

residenciais. Isto foi possível graças à expansão do mercado, o que acabou

gerando uma forte concorrência entre as diferentes operadoras.

O valor a ser pago em uma determinada conta telefônica é calculado

considerando-se os minutos (tempo utilizado), mais o valor fixo da franquia

escolhida pelo cliente. Na tabela abaixo são apresentados quatro planos de

telefonia residencial

Plano Mensalidade Horário Normal – minuto

excedente

Franquia Linha Clássica Linha Clássica

250 47,62 0,20457

350 58,17 0,19321

450 68,55 0,18184

550 79,37 0,18184

Fonte: http://www.telefonica.com.br/portal/site/on/menuitem

64

Para a aplicação da Atividade 1, adotamos a seguinte metodologia:

entregamos para os alunos, a folha contendo o item a ser apreciado, ou seja,

primeiro entregamos o item A, e após a resolução e discussões do mesmo,

passamos a entregar o item , B e assim sucessivamente até o termino da atividade.

Escolhemos iniciar as sessões de coleta de dados, pela Atividade 1, a qual é

composta por questões mais “fechadas”, isso porque pretendíamos acalentar o

impacto sobre os alunos, pois os mesmos não tinham experiência com o ambiente

de aprendizagem escolhido.

Primeiramente deixamos os grupos lerem a atividade e discutirem entre eles a

problemática a ser apreciada. Os alunos tiveram um tempo para resolver o item A da

atividade e, logo após todos os grupos assinalassem que haviam terminado o item A

da atividade, abrimos as discussões entre os grupos, para fazer um levantamento do

que cada grupo fez, ou seja, as estratégias por eles utilizadas para responder

nossos questionamentos.

Nossa escolha para a elaboração e aplicação dessa atividade, fundamenta-se

no Caso 1 de Modelagem Matemática proposta por Barbosa (2001).

a) Uma família fez uma expectativa de gastar 390 minutos por

mês. Neste caso qual é o plano mais vantajoso para eles?

Justifique sua resposta

65

Figura 1.

Ao analisarmos a figura 1, o grupo relata em texto, que está fazendo uma

comparação de valores entre o plano de 350 minutos e o de 450 minutos, Eles

concluem que, apesar do plano de 450 minutos cobrar um valor fixo, devido ao fato

de não ser ultrapassado o limite de minutos que a família utiliza, o plano de 350

66

minutos é mais vantajoso, pois mesmo ultrapassando em 40 minutos o limite que

pode ser utilizado, ainda assim, se tem um valor a pagar inferior ao do plano de 450

minutos. Isto fica bem evidenciado nos cálculos utilizados pelos alunos, os quais

serviram de subsídios para essa conclusão.

O motivo pelo qual o grupo, logo de inicio, eles descartam os planos, de 250 e

550 minutos, fica esclarecido pela discussão que está na transcrição 1.

Transcrição 1

A1: Lembrando.

Existem duas possibilidades, uma de 350 e outra de 450. Porque a de 550 e

fora da realidade.

A2: E a outra é abaixo demais.

A1: E outro é muito baixo. Com isso ela paga o que.

A1: Pela logica o certo seria 350.

Analisando a transcrição 2, pudemos observar que aparece a formulação e as

relações em funções, onde existe um equacionamento dos dados para uma

expressão matemática envolvendo uma possível incógnita x, que igualada a uma

resposta que é esperada y.

Transcrição 2

A3: Ai da x

A3: Ai a gente pega esse aqui, menos o valor desse aqui vai dar 60 né e multiplicar

por esse aqui vai dar y, ai (...) a resposta é maior ai (...), o maior ai maior a gente vai

tira, ai vamos pegar o menor.

67

A1: Na realidade a gente vai somar e sim vai acrescentar a mensalidade disso e vai

multiplicar no final.

Durante a transcrição 3, os alunos tentam de alguma forma encontrar uma

relação lógica entre os planos, e tentam relacionar o valor de 390 minutos que

consta do enunciado do item A, em algum desses planos.

A2: Claro de 390 é maior.

A1: Apesar de que o 390 não têm vai ter que encaixar num plano, ou de 350 ou de

450.

A1: Na verdade esse plano deles é de cem em cem, de 350, 450 e 550.

Transcrição 3

Na Atividade 1 item A, identificamos o significado ESTRUTURAL-

CONJUNTISTA, “(equação como uma ferramenta para resolver problemas que

envolvam relações entre conjuntos)” conforme havíamos previsto em nossa análises

preliminares. Nas transcrições 2 e 3, se percebe que os alunos elaboraram relações

envolvendo conjuntos, e formulam mesmo que verbalmente uma expressão

algébrica que leva ao equacionamento das informações desses conjuntos.

Observamos também o significado INTUITIVO-PRAGMÁTICO devido a

utilização de cálculos aritméticos, mostrando que os alunos utilizam conhecimento

previamente adquiridos, para a sua aplicação como ferramenta na estratégia de

resolução de problemas de ordem prática.

Não é identificado o Significado ESTRUTURAL GENERALISTA.

68

Para a aplicação do item B, o processo foi o mesmo, Primeiro os grupos

discutiam entre si e depois de terem resolvido, abrimos para as discussões que

envolveram os grupos em conjunto.

b) Após algum tempo utilizando o serviço telefônico esta família percebeu

que estava consumindo, em média 490 minutos. Ainda é vantagem

para esta família permanecer com o plano do item anterior? Justifique

sua resposta (Procure utilizar uma estratégia diferente daquela que

você utilizou no item A)

69

Figura 2.

A justificativa pela escolha por outro plano é inicialmente identificada nas

transcrições. Observamos que o grupo escolhe o plano de 450 minutos (conforme a

transcrição 4). Entretanto, mesmo tendo respondido corretamente a questão, o que é

70

identificado no protocolo, é o emprego da mesma estratégia de resolução utilizada

no item A, o calculo aritmético.

Transcrição 4

A1: A nova alternativa é a de 550.

A1: A gente fez daquela vez entre o que podia ser entre 350 e 450.

A2: É então de 450 mais 40 minutos, Porque é 490 né.

A1: Não gente é a de 450 mesmo.

A3: Por quê?

A1: Porque é a gente ia escolher a de 350 anteriormente não é, mesmo dando 99

minutos dando 40 minutos de diferença não é.

A1: 450 minutos quantos minutos têm exatos?

A3: 40 minutos.

A1: Então dá a mesma coisa.

Assim como no item A, os alunos decidem escolher os planos que ficam no

entorno da expectativa de gasto da família, para compararem qual deles é o mais

vantajoso. Os alunos descartaram os planos de (250 e 350 minutos), e comparam os

planos C e D.

Outro motivo pela escolha do plano de 450 minutos se dá pelo fato de que

existe uma lógica que envolve o acréscimo de 100 minutos na expectativa de gasto,

do item A para o item B, que de forma coincidente, acaba acarretando a mesma

distância de 40 minutos na relação entre 490 minutos e a franquia do plano que é de

450 minutos. Essa discussão dos alunos é identificada na transcrição 4.

71

No final da sessão envolvendo a resolução deste item B, pedi para que o

Grupo 4, falasse para mim e os demais grupos, qual a solução por eles imaginada.

Eles informaram que a melhor opção seria o plano de 550 minutos, pois apesar de

ficar mais caro, valeria a pena para esta família. Pois teriam um pequeno acréscimo

de 3,65 centavos em relação a uma possível escolha pelo plano de 450 minutos. Em

compensação, eles teriam a possibilidade de ter mais 60 minutos para gastar sem

que tivessem de pagar algum valor excedente. E ainda também o questionamento

da atividade não deixa claro, a real intenção de gasto desta família, assim não

sendo, um valor de minutos, gastos exatos, e sim uma perspectiva de gasto. Este

raciocínio fica evidenciado na Transcrição 5.

Transcrição 5

P: E vocês optaram por qual?

A1: A gente escolheu o de 550.

A1: A gente viu que quanto menor a mensalidade maior o valor de excedente.

A1: Anteriormente a gente tinha escolhido o de 450, só que ai ele começou a gastar

490 minutos agora, só que agora ele vai estar gastando noventa e dois reais e

noventa e três centavos, ele vai estar passando de um valor que nem se quer consta

da tabela. Ai a gente colocou o de 550, pois ai ele acaba gastando três reais e

sessenta e cinco centavos a mais que esse aqui que tem cem minutos a mais, como

anteriormente ele já tinha passado, agora pode ser que ele passe mais ai ele tem

mais sessenta minutos a mais para gastar sem ter que pagar minutos excedentes.

Apesar de ter sido solicitado uma nova estratégia de resolução, o grupo uso

da mesma estratégia matemática para a resolução. E tentam justificar a nova

estratégia, quando envolvem a incerteza da família em optar por um gasto maior ou

menor. Isso fica referenciado na transcrição 5.

A estratégia utilizada é a mesma apresentada no item A, consequentemente

apresentado às mesmas ideias quanto a sua elaboração. Portanto caracterizando

72

assim a identificação do Significado ESTRUTURAL-CONJUNTISTA, pois os alunos

elaboraram relações envolvendo conjuntos. E também a identificação do Significado

INTUITIVO-PRAGMÁTICO, pois na estratégia de resolução elaborada, utiliza de

conhecimento previamente adquiridos, o cálculo aritmético, para resolução do

problema.

c) Você deve ter percebido que à medida que o consumo aumentou um

plano passa a ser mais vantajoso que o anterior. Imagine então, que

esta mesma família está pensando em contratar o último plano, a partir

do próximo mês. Quanto deve ser o consumo dessa família para que

este plano se torne mais vantajoso? Justifique sua resposta.

Figura 3.

O resultado apresentado pelo Grupo 4 na figura 3, não deixa claro em

momento algum, como eles conseguiram chegar ao resultado deste valor de “maior

de 390 minutos”.

73

Apesar de não ficar totalmente claro a estratégia utilizada pelo Grupo 4, eles

chegam a conclusão que a resposta é “maior que 390 minutos”.

Analisando o material áudio-gravado referente ao item C, não fica claro em

nenhum momento, o porquê da escolha pelo valor maior de 390.

Neste item não fica evidenciado nenhuma estratégia de resolução que possa

ser analisada, e consequentemente não emerge nenhum dentre os Significados de

Equação de Ribeiro (2007).

d) Através deste gráfico, mostre a partir de quantos minutos um plano é

mais vantajoso que o outro.

74

Figura 4

75

Analisando a figura 4, os alunos não chegam a um encaminhamento correto

da solução, e não demonstram compreensão do real questionamento da atividade,

que pede uma comparação entre o gráfico de cada plano, com o intuito de perceber,

a partir de qual momento um plano passa a ser mais vantajoso que outro.

Porém ao analisarmos a transcrição 6, percebe-se que os alunos conseguem

efetuar a leitura do gráfico apresentado. Apesar de demonstrarem pouca

familiaridade com interpretação de gráfico, eles conseguem perceber, por exemplo:

que a mudança de direção da curva é associada a coordenadas, e conseguem a

partir dai comparar momentos em que determinado plano é mais vantajoso que

outro.

Transcrição 6

A1: Aqui na lilás a partir de 250, aqui ele mantém.

é a de 350.

A3: Aqui em 300 ele já muda.

A1: Em 350 ele já começa há ser mais vantajoso.

A3: 300 ó.

A3: Porque aqui ele começa a se curvar ó, depois ele começa a andar em linha reta.

A1: Então a partir de 300 então.

A2: Mas não é em 350 aqui não. Há não.

A1: É 350.

A2: Ai ele muda aqui ó, muda aqui.

A3: Então, em que momento ele começa a ser mais vantajoso?

A1: Ó a partir de 350 aqui, e aqui vai fazendo o que? O numero de reais vai estar

250, setenta reais.

76

A1: 250, setenta reais.

A3: Puxa o lugar mais baixo, o que mais compensa é este b.

A1: É mesmo o b de 350.

A2: Como assim mais baixo.

A1: É que ele está em oitenta, oitenta reais.

A3: Não, já começa a compensar o de 550.

A3: Porque ai ele fica mais baixo.

Durante as discussões apresentada na transcrição 7, o grupo consegue

estabelecer relações de comparações de forma correta, utilizando a interpretação de

curvas eles conseguem relacionar valores, e associa-los a quantidade de minutos.

Transcrição 7

A1: O cara não vai querer mil reais, novecentos reais, ele vai pagar 220, 200 minutos

ele vai querer pagar duzentos reais, se ele pode ter um plano de 550 minutos, e

pagar cento e cinquenta reais.

O plano mais vantajoso seria o D.

A3: A variação dele é pouca.

A2: Seria o D.

Neste item D, emerge de acordo com a nossa análise preliminar, o Significado

DEDUTIVO-GEOMÉTRICO. Os alunos utilizam o gráfico para fazerem relações de

posicionamento de curvas no plano cartesiano para analisarem e determinarem em

qual momento um plano se torna mais vantajoso que o outro.

77

5.2.2 Atividade 2

Uma favela na cidade de São Paulo ocupa um terreno de 30 metros de

largura por 100 metros de comprimento, e abriga em barracos 240 famílias.

a) De que forma, poderíamos aproveitar este terreno, a fim de abrigarmos

essas mesmas famílias, com uma moradia mais digna?

b) Pensando em utilizar prédios com apartamentos, seria possível

acomodarmos todas essas famílias? Como?

c) Se pensarmos em prédios de 4 andares com 4 apartamentos por

andar, sendo cada prédio medindo por volta de 200 metros quadrados.

Quantas famílias poderíamos acomodar?.

78

d) O que poderíamos mudar na estrutura dos prédios para que

pudéssemos acomodar mais de 300 famiíias? Justifique.

Para a aplicação da atividade 2, procedemos de forma semelhante aos

procedimentos da Atividade 1. Entregamos para os alunos cada item da atividade 2

separadamente, ou seja, primeiro entregamos o item A, e após a resolução e

discussões do mesmo, entregamos o item B e assim sucessivamente até o termino

das atividade.

Para a escolha desta atividade 2, procuramos criar uma atividade que

trouxesse uma temática que fosse capaz de envolver os alunos, motivando-os a

produção de estratégias, indo ao encontro da proposta do ambiente de

aprendizagem escolhido, a perspectiva Sócio-Crítica de Barbosa (2001).

Escolhemos inicialmente um texto, que proporcionava aos alunos a possibilidade de

refletirem sobre a temática que iria posteriormente envolver a problemática da

Atividade 2. O texto está apresentado em seguida como anexo 1, e após a leitura

procedemos conforme descrito no parágrafo anterior.

Este texto está como anexo 1, e foi entregue aos alunos ao final da segunda

sessão de aplicação da coleta de dados. Após eles efetuarem a leitura, eu

apresentei o enunciado do item A da atividade 2 e em seguida solicitei a eles que

pensassem nas possíveis alternativas para o encaminhamento da Atividade. Na

sessão 3, começássemos com os trabalhos envolvendo o item A.

Da falta de saneamento básico à ausência de asfalto, os obstáculos variam - até a

localização do assentamento pode ser um problema. "As favelas costumam surgir em

regiões que outros empreendimentos imobiliários não ocuparam: sob pontes e viadutos,

à beira de córregos ou em encostas de morros", diz Alex Abiko, professor de

engenharia civil da USP. A urbanização de favelas no Brasil é recente. Nos anos 60, os

moradores eram simplesmente removidos. Depois, por volta dos anos 80, programas do

governo passaram a resolver questões pontuais, como redes de água. Hoje, os projetos

79

incluem não só infraestrutura mas também melhora na qualidade de vida. Veja aqui os

principais problemas que afetam as favelas e vire a página para entender como elas

são urbanizadas.

Ricardo

Benichio

CIDADE SITIADA

Falta de infraestrutura, condições precárias de saúde e problemas sociais afetam

favelas

LADEIRA ABAIXO

Nas grandes cidades, em geral, os únicos terrenos livres são as áreas de risco, como

encostas de morros e barrancos. É justamente nesses vazios urbanos que surgem as

favelas. Improvisadas, as moradias à beira de morros correm risco de sofrer

solapamento e deslizamentos de terra. Quanto mais inclinado o terreno, maior o risco

CURTO-CIRCUITO

Muitas favelas não têm redes de energia elétrica oficiais e recorrem a gatos para

desviar energia. As ligações clandestinas, feitas com material velho e inadequado, são

perigosas: podem provocar desde choques em quem passar perto de um fio

desencapado a incêndios e curtos-circuitos

SEM DOCUMENTO

80

Quem mora na favela não tem CEP. Entre becos e vielas sem nome, os carteiros ficam

perdidos e as correspondências não chegam. Para piorar, os moradores não

conseguem comprovante de residência, documento necessário para conseguir

emprego, por exemplo. Como as moradias são ilegais, sem escritura, os moradores

correm o risco de despejo o tempo todo

E A CHUVA LEVOU

Sem valetas ou canaletas, a água da chuva não tem por onde escorrer. Quando chove,

a água pode empoçar e virar ninho para o Aedes aegypti, mosquito transmissor da

dengue. A água pluvial arrasta o que está no caminho, além de transformar as ruas de

terra batida em lamaçal

ERA DAS TREVAS

Sem postes de iluminação pública, a população fica desprotegida da violência durante

as noites. Afinal, fica mais fácil para ladrões e traficantes sumir no escuro... Só sobra a

iluminação vinda de dentro das residências

QUESTÃO DE SAÚDE

Como os barracos ficam colados uns aos outros, a luz do Sol não entra. A umidade

aumenta, prato cheio para o crescimento de fungos, que podem causar doenças. Isso

sem falar nos males causados pela falta de saneamento básico, como cólera, disenteria

e esquistossomose

BECO SEM SAÍDA

A densidade demográfica é alta - há muita gente por metro quadrado. Sem espaço livre,

falta lugar para ruas - no máximo, há becos e vielas. Isso impede não só o acesso de

carros mas também a entrada de serviços importantes, como caminhões de lixo e

ambulâncias

ENTRANDO PELO CANO

Improvisadas, as casas não estão ligadas à rede de água nem à rede de esgoto oficial

da cidade. Os moradores dão um jeitinho, fazendo gatos que roubam água de casas

vizinhas ou da própria prefeitura, e despejam o esgoto a céu aberto, principal problema

81

ambiental do país, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)

Ô DE CASA

Pesquisa* mostra quem são os moradores das favelas de SP

Fontes: Urbanização de favelas em foco: Experiências de seis cidades; Urbanização de

favelas – A experiência de São Paulo;

João

Urban/Divulgação

CIDADE RESTAURADA

Além de redes de água e luz, área de lazer e geração de emprego dão nova cara à

região

A PRAÇA É NOSSA

As famílias que moravam à beira das áreas de risco também são removidas. Para

acomodá-las, são erguidos prédios - na horizontal, não há para onde crescer. Praças

são construídas nas encostas, cumprindo duas funções: melhoram a qualidade de vida

da comunidade, com esporte e lazer, e evitam que as áreas de risco voltem a ser

ocupadas por barracos

82

ÀS CLARAS

Os gatos dão lugar à rede oficial de energia elétrica. A favela também ganha postes de

iluminação pública, que, além de aumentar a segurança de quem passa por ali à noite,

ajudam o trânsito noturno de veículos e embelezam os novos prédios e praças

construídos com a urbanização

DESTINO DA CHUVA

A água da chuva escorre por valetas, grelhas e bueiros, feitos de material durável e

sem valor comercial, como concreto. Raramente empregam-se materiais como cobre ou

ferro - os metais têm valor comercial e poderiam ser roubados para revenda em sucatas

e ferros-velhos

CHECK-UP

A urbanização também deve acabar com as moradias insalubres - úmidas e sem luz

natural. Os barracos de madeira, mais frágeis, são substituídos por construções de

alvenaria, que protegem melhor de chuvas e ventos. Com o espaçamento maior entre

as casas, elas ganham janelas, o que já melhora a circulação de ar, a umidade e a

entrada de luz

LAR, DOCE LAR

A etapa final da urbanização da favela é a regularização fundiária. De uma área

ocupada ilegalmente e sujeita a despejos, a favela passa a ser um bairro dentro da lei.

Além de uma casa para chamar de sua, os moradores ganham documentos que evitam

que eles sejam expulsos de seu imóvel

VIAS DE FATO

As ruas ganham pavimentos permeáveis - os espaços entre os blocos deixam a água

passar. Os antigos becos e vielas viram ruas largas, em que passam ambulâncias e

caminhões de lixo. O problema é que algumas casas podem ser removidas para abrir

espaço

SALVO PELO CANO

83

Para regularizar o abastecimento de água, as tubulações clandestinas são substituídas

por ramificações da rede oficial de água. O esgoto é canalizado, evitando a poluição de

córregos e rios. Segundo o IBGE, a mortalidade infantil cai de 44,8 mortes por mil

crianças de até 5 anos de idade em residências sem saneamento básico para 26,1 por

mil crianças com a medida

DINDIN POR DINDIN

A urbanização melhora a qualidade de vida, mas traz um problema prático: como pagar

as contas de água e luz, que antes eram "grátis"? Favelas como a de Sacadura Cabral,

em Santo André (SP), criaram programas sociais no entorno, para gerar empregos e

renda aos moradores da região

Consultoria – Alex Abiko, Professor de engenharia civil da POLI – USP; Anderson

Kazuo, arquiteto do Instituo Pólis

a) De que forma, poderíamos aproveitar este terreno, a fim de abrigarmos essas

mesmas famílias, com uma moradia mais digna?

84

Figura 5.

85

Logo no inicio da sessão 3, nós perguntamos a todos os grupos qual seria a

melhor opção para a resolução do item A, e eles foram todos unanimes em

responder que a melhor alternativa seria a construção de prédios no terreno.

Quando perguntei a eles o porquê desta escolha, eles me responderam que casa

ocuparia mais espaço no terreno e caberiam menos pessoas.

E analisando a figura 5, eles descrevem claramente a opção por prédios e

justificam argumentando que em uma casa caberiam apenas 5 pessoas, número

estimado por família. Enquanto que em um prédio, caberiam mais pessoas e ainda

sobraria um espaço para área de lazer.

b) Pensando em utilizar prédios com apartamentos, seria possível acomodarmos

todas essas famílias? Como?

86

Figura 6.

87

Durante a resolução do item B da Atividade 2, começou uma discussão que

envolveu todos os grupos, pois os alunos perceberam que se tratava de um

problema que envolvia conceitos geométricos, e a partir dai começaram a me

questionar sobre informações que envolviam o conteúdo de geometria, como área

do quadrado. Conforme as discussões surgiam, a curiosidade dos alunos

aumentava, trazendo o debate a outras características envolvendo o padrão que o

apartamento deveria ter. Esse questionamento foi respondido pelos próprios alunos.

Deveria ser de padrão popular, ou seja, para famílias de baixa renda. Mas a escolha

por apartamento apresentava um novo questionamento, de quantos metros

quadrados se tratava um apartamento para famílias de baixa renda. Nós então

perguntamos aos alunos se eles já teriam visto alguma propaganda em jornal,

televisão ou panfleto que oferecia esse tipo de apartamento. Como eles não

lembravam especificamente de nenhum tipo de empreendimento, eu perguntei se

eles já teriam visto ou ouvido falar de conjuntos habitacionais do tipo CDHU ou

Cingapura. Os alunos nos responderam que sim e nos disseram que os

apartamentos tinham um tamanho pequeno.

Definido então, que teria que ser apartamentos de padrão para baixa renda,

de tamanho pequeno. Os alunos começaram então, a discutir quantos prédios

poderiam ocupar este terreno e, consequentemente, dependendo do tamanho,

quantos andares poderiam ter estes prédios. Uma aluna então falou que se fossem

prédios do tipo conjunto do CDHU, teriam que ser no máximo de cinco andares, pois

se tivessem mais do que cinco, teriam que ter elevador, e ela comentou que não

conhecia nenhum conjunto do tipo CDHU que tivesse elevador. Eu informei a ela

que existem sim, prédios do CDHU com mais de cinco andares, e citei um exemplo

de conjunto habitacional do CDHU, que fica as margens da AV Radial Leste, na

zona leste de São Paulo, e que possui mais de 18 andares.

Durante as discussões com os grupos definimos que os prédios teriam quatro

apartamentos por andar.

Analisando a figura 6 e as transcrições referentes a Atividade 2 item B. Eles

admitem a ideia de acomodar estas famílias em prédios com apartamentos, e

trabalham com a ideia de quatro apartamentos por andar. Então começaram uma

88

discussão entre eles, de quantos andares e quantos prédios teria a ocupação do

terreno.

Na figura 6, eles deixam especificado que será 18 andares por prédio com 4

apartamentos por andar. Números esses que seriam capazes de acomodar 288

famílias. Assim dessa forma conseguindo acomodar as 240 famílias mencionadas no

enunciado.

Analisando as transcrições, percebe-se que durante a discussão um dos

alunos do grupo já apresenta a sugestão de 4 prédios de 18 andares cada um.

Transcrição 8

A1: A gente pode supor apartamentos com 18 andares, ai você tem lá 18 andares, caso

cada andar ocupa, se lá, 4, 4 apartamentos.

A3: Temos que fazer a conta pra ver tipo, sei lá quantos andares de 4 vai precisar.

A1: Então.

A2: Ah tem que saber a medida do tamanho do apartamento.

A1: É melhor colocar um de 18 Andares.

Os alunos conseguem estabelecer o tamanho da área do terreno em metros

quadrado, conforme o que demonstra a transcrição 9.

Transcrição 9

A1: Ai você tem lá três mil metros,tá.

A2: É vezes quantos?

A1: Trinta vezes cem - três mil.

89

O grupo assinala na figura 6 e nas transcrições, uma preocupação com o

número de pessoas em média que possuem as famílias, apesar desse parâmetro

não ser a preocupação da atividade.

Durante a discussão apresentada na transcrição 10, fica evidenciado o uso de

cálculos aritméticos na estratégia.

Transcrição 10

A2: Só que são 18 andares concorda?

Agora tem que fazer este por quantos apartamentos tem por andar.

A1: Por exemplo, aqui.

A2: Aqui, você fez 18 andares vezes 4 apartamentos.

Percebemos na transcrição 11, que os alunos se envolvem com o tema

abordado. Demonstrando interesse em discutir características sobre a construção de

prédios. Como por exemplo: o fato de que o tamanho do apartamento, não é o único

componente na composição das dimensões que um prédio irá ocupar no terreno.

Transcrição 11

A2: Gente, a gente tem que saber o ponto médio, quatro apartamentos por andar, tem

corredor e tal.

A1: Na verdade nós teríamos que saber as dimensões de um prédio.

Durante as suas discussões conseguiram compreender que o número de

prédios construídos no terreno, não poderia ocupar o limite total da área, porque

dessa forma, os prédios teriam que ser colados um no outro, formando somente um

bloco, sem espaço para o deslocamento das famílias que ali iriam habitar. Essa

observação pode ser percebida na transcrição 12.

90

Transcrição 12

A3: Três mil metros para quatro prédios.

A2: Exatamente três mil por 4.

A3: Mas ai vai ter o espaço que ela perde.

A2: Ai dependendo do espaço tem que ver quanto mede cada apartamento.

A2: Porque aqui a gente tá falando sobre prédio.

A3: Então 750 metros para cada apartamento, é quer dizer prédio.

A1: Vamos lá, se cada prédio ocupa 750 metro.

A2: Ai vai ocupar o espaço todo.

A1: Na verdade ele vai pegar pertinho.

A2: Vai ser um colado no outro. Ai Vai fazer assim quatro apartamentos. Ai não vai poder

sair.

Dentre os Significados emerge o INTUITIVO PRAGMÁTICO, que fica

caracterizado pelo uso de cálculos aritméticos. E surge na figura 6 e na transcrição

10.

Não emergem os Significados, ESTRUTURAL GENERALISTA e DEDUTIVO

GEOMETRICO.

c) Se pensarmos em prédios de 4 andares com 4 apartamentos por andar, sendo

cada prédio medindo por volta de 200 metros quadrados. Quantas famílias

poderiam acomodar?

91

Figura 7.

92

Transcrição 13

A1: Você tem quatro andares

E você tem quatro apartamentos por andar, então cada prédio vai dar dezesseis.

Agora a gente vai ter estes três mil e dividir por duzentos metros.

O uso de cálculos aritméticos surge claramente na figura 7 e na transcrição

13.

Os membros do grupo analisam e definem quais as variáveis que deverão

utilizar na estratégia adotada:

Transcrição 14

P: Quantos prédios, vocês imaginam que poderia ser colocado dentro deste terreno?

A1: Quinze.

P: Quinze, por quê?

A1: Porque você tem três mil metros, certo.

P: sim.

A1: E ele está colocando que cada prédio ocupara por volta de seus duzentos

metros.

Ai ele vai pegar os três mil e dividir por duzentos.

Logo ele vai dar o que?

A2: Quinze.

93

A1: Certo, ele deu quinze apartamentos, e a gente sabe que a gente tem, quatro

andares com quatro apartamentos cada andar, isso vai dar dezesseis. Dentro

desses dezesseis, a gente vai ter que multiplicar de novo pelo numero de

apartamentos.

Quando nós pedimos que nos explicassem a estratégia adotada para o item

C, eles nos explicaram exatamente os cálculos aritméticos contidos na figura 7.

Pela conclusão apresentada pelo grupo caberiam quinze prédios no terreno.

Então eu argumentei com o grupo que se fossem quinze prédios, o terreno seria

todo ocupado pelos prédios. Ai eu questionei, Como fica o acesso de entrada e

saída de cada prédio, pois se forem quinze, não iria sobrar espaço para este acesso;

como ficaria a questão da ventilação dentro dos prédios, pois teríamos apartamentos

sem janelas. A solução que eles me apresentaram foi de diminuir o numero de

prédios.

Nós aproveitamos o momento da discussão e instigamos os alunos a lembrar

de alguns conceitos matemáticos, como o de área, no intuito de que eles pudessem

relacionar a disposição dos prédios dentro das dimensões do terreno, pensando em

laterais, agrupamentos.

Sugeri aos alunos que considerassem a estrutura dos prédios, como

quadrada, e que encontrassem o valor aproximado da lateral do prédio.

Os alunos fizeram o calculo e descobriram que daria por volta de quatorze

metros de lateral. Dai por diante fomos deduzindo que a largura do terreno é de

trinta metros, portanto daria para colocar dois prédios lado a lado, e entre eles

sobraria um vão de dois metros. Então utilizando essa lógica sugeri aos alunos que

verificassem para todo o terreno, na finalidade de encontrar o numero de prédios

ideal, e consequentemente o numero de famílias que poderíamos acomodar.

Transcrição 15

94

A1: Você consegue seis prédios na horizontal, sendo que tem um vao de dois

metros cada.

Se eu tenho seis aqui, é só multiplicar por dois, que vai dar doze.

A2: Vai ser doze prédios então, eram quinze prédios e agora, são doze.

Os alunos resolvem utilizar essa estratégia de utilizar a lateral de quatorze

metros para os prédios, e usam a medida de dois metros entre um prédio e o outro,

inclusive para enfileira-los pelos cem metros de comprimento. Chegando a

conclusão que seria uma fila de seis prédios. Com o número de prédios

estabelecidos de um lado do terreno, então era somente multiplicar o seis por dois

para chegar ao numero de doze prédios do total para este terreno.

Novamente utilizando cálculos aritméticos, multiplicaram o valor doze pelo

numero de apartamentos por prédio, que é dezesseis, chegando à conclusão que

daria para acomodar 192 famílias no total. Este raciocínio é evidenciado pela

transcrição 15.

Em relação aos Multisignificados de Equação, emerge o significado

INTUITIVO-PRAGMÁTICO, devido ao uso das quatro operações como ferramenta

de estratégia de resolução.

Emerge também o significado DEDUTIVO-GEOMÉTRICO, quando os alunos

utilizam de desenhos geométricos para estabelecer relações de medidas.

a) O que poderíamos mudar na estrutura dos prédios para que

pudéssemos acomodar mais de 300 famílias? Justifique.

95

Figura 8

96

Como estratégia de resolução, os alunos decidem aumentar o número de

andares dos prédios, podendo dessa forma, serem acomodadas mais famílias.

E utilizando novamente cálculos aritméticos, chegam à conclusão que devem

acrescentar mais dois andares em cada prédio.

Novamente emerge o Significado INTUITIVO-PRAGMÁTICO.

O grupo também apresenta na figura 8, desenhos de forma geométrica, no

objetivo de representar o equacionamento concebido em sua estratégia de

resolução, emergindo do Significado DEDUTIVO GEOMÉTRICO.

Ao final da resolução da atividade 2, perguntei aos alunos do grupo 4, Se na

opinião deles, eles chegaram a utilizar algum conteúdo de matemática, aprendido

anteriormente?. Eles nos responderam que usaram um pouco de lógica e aritmética.

5.3 Apresentação dos resultados dos demais grupos

Agora iremos apresentar os resultados das análises referentes aos protocolos

dos Grupos 1, 2 e 3.

Atividade 1 – item A

Grupo 1

97

Figura 9.

Este grupo utiliza cálculos aritméticos. Somam o valor da franquia de 350

minutos, com o resultado da multiplicação dos 40 minutos pelo valor dos minutos

excedente cobrado nessa franquia. Chegando a conclusão que esse é realmente o

plano mais barato. Mas porem, através de discussões realizadas entre os seus

integrantes, chega à conclusão que o plano de 450 minutos é o mais vantajoso, pois,

apesar de ficar dois reais e setenta e oito centavos mais caros, a família ganha o

direito de usar sessenta minutos a mais por esse valor, que segundo o grupo 1 é um

valor pequeno a se pagar pelo direito de utilização desses minutos.

Surge o Significado INTUITIVO PRAGMÁTICO quando os alunos tentam por

cálculos aritméticos estabelecer os valores a serem gastos, enquadrando com a

intenção de gasto desta família.

Grupo 2

98

Figura 10.

Analisando a figura 10 desta atividade resolvida pelo grupo 2, não fica claro

qual estratégia utilizada. Não evidenciando de forma lógica o porquê da escolha do

plano de 550 minutos.

99

Portanto não surge nenhum Significado de Equação.

Grupo 3

Figura 11.

Analisando a figura com a resolução, é apresentado um cálculo aritmético

envolvendo os minutos excedentes do plano de 350 minutos, e identificação desse

plano como o mais vantajoso. O que caracteriza o entendimento e a compreensão

das relações entre os dados fornecidos na problemática. Eles acertam sobre o plano

mais vantajoso. Fica caracterizado o surgimento do Significado INTUITIVO

PRAGMÁTICO.

Atividade 1 – item B

Grupo 1

100

Figura 12.

A figura mostra o uso da mesma estratégia concebida no item A, ou seja,

ainda continuam executando cálculos aritméticos para chegar ao resultado.

Novamente como no item A, fica caracterizado o surgimento do Significado

INTUITIVO PRAGMÁTICO.

Grupo 2

101

Figura 13.

102

Eles respondem que ainda é mais vantajoso utilizar o plano de 550 minutos,

conforme foi para o item A. Não é identificada na figura13 uma estratégia

matemática, sugerindo como o grupo chegou a esta escolha. Existem apenas

algumas contas feitas de multiplicação e soma envolvendo valores que aparecem na

tabela de planos, mas que também não levam a equacionamento algum.

Em relação aos Multisignificados de Equação, não fica caracterizado o

surgimento de algum dentre os Significados.

Grupo 3

Figura 14.

Na figura não aparece nenhum tipo de estratégia para justificar a escolha pelo

plano de 550 minutos. Há justificativa apontada para a escolha deste plano é o fato

da família não ter a certeza de quanto irá gastar.

Em relação aos Multisignificados de Equação, não fica caracterizado o

surgimento de algum dentre os Significados.

103

Atividade 1 – item C

Grupo 1

Figura 15.

Pela figura 15 o grupo não apresenta nenhum tipo de estratégia matemática,

que justifique a resposta apresentada. Mas afirma que o consumo deve estar entre

490 e 550 minutos.

Em relação aos Multisignificados de Equação, não fica caracterizado o

surgimento de algum dentre os Significados.

Grupo 2

104

Figura 16.

Pela figura o grupo não apresenta nenhum tipo de estratégia, mas afirma que

o consumo deve estar entre 500 e 530 minutos para justificar a escolha pelo último

plano.

Pela transcrição não é identificado durante as discussões nenhuma estratégia

válida que consolide a resposta apresentada na figura16.

Em relação aos Multisignificados de Equação, não fica caracterizado o

surgimento de algum dentre os Significados.

Grupo 3

105

Figura 17.

A figura 17 não apresenta nenhum tipo de estratégia matemática.

Em relação aos Multisignificados de Equação, não fica caracterizado o

surgimento de algum dentre os Significados.

Atividade 1 – item D

Grupo 1

106

Figura 18.

107

Na figura 18 os alunos conseguem perceber a relação entre as coordenadas

envolvendo, o número de minutos e os valores em reais gastos, e conseguem

também perceber algumas características de continuidade das retas formadas para

cada plano.

Fica caracterizado dessa forma o surgimento do significado DEDUTIVO

GEOMÉTRICO.

Grupo 2

Figura 19.

108

Analisando a figura 19, percebe-se que os alunos conseguem identificar

alguns comportamentos das retas estabelecidas para cada plano, como por

exemplo, quando identificam mesmo não com muita exatidão que o comportamento

da reta a partir de 550 minutos a torna mais vantajosa dentre os planos.

Analisando a transcrição percebe-se que os alunos conseguem acompanhar

o comportamento da curva de cada plano, identificando as variações em relação ao

crescimento dos gastos em minutos, e ainda conseguem também estabelecer

algumas comparações quando existe a intersecção entre as retas, percebendo a

relação entre dois ou mais planos quanto ao gasto em reais e os minutos utilizados.

Fica caracterizado dessa forma o surgimento do significado DEDUTIVO-

GEOMÉTRICO.

109

Atividade 2 – item A

Grupo 1

Figura 20

Pela figura 20 e pela transcrição, fica claro que os alunos estabelecem que a

melhor forma de aproveitar o terreno é a construção de prédios.

110

Grupo 2

Figura 21.

111

Pela figura 20 e pela transcrição, fica claro que os alunos estabelecem que a

melhor forma de aproveitar o terreno é a construção de prédios.

Atividade 2 – item B

Grupo 1

Figura 22.

Na figura 22, os alunos descrevem as medidas propostas para justificar o

número de andares e de apartamentos por prédios, e propõem a construção de

quatro prédios e determinam ainda o espaço que provavelmente sobraria dentro do

112

terreno para a construção de área de lazer. Completam a sua resposta esboçando

um desenho da representação da ocupação do terreno.

Surge então o Significado DEDUTIVO-GEOMÉTRICO, quando os alunos

através de um desenho geométrico modelam a disposição dos prédios em relação à

área do terreno.

113

Grupo 2

Figura 23.

114

Os alunos propõem a construção de seis prédios de dez andares, sendo cada

andar composto de quatro apartamentos, mas erram nos cálculos, onde estimam

que cada prédio ira ocupar uma área de 750 metros quadrado, sendo dessa forma

impossível a construção destas seis unidades propostas.

Dentre os Multisignificados de Equação, surge o Significado INTUITIVO

PRAGMÁTICO quando os alunos se utilizam de cálculos aritméticos em sua

estratégia de resolução.

Atividade 2 – item C

Grupo 1

Figura 24.

115

Os alunos apresentam uma estratégia envolvendo cálculos aritméticos.

Caracterizando assim o surgimento do Significado INTUITIVO PRAGMATICO.

Grupo 2

Figura 25

116

Os alunos partem para cálculos aritméticos, caracterizando o surgimento do

Significado INTUITIVO PRAGMÁTICO.

Atividade 2 – item D

Grupo 1

Figura 26.

Os alunos propõem o aumento dos andares de quatro para sete, mostrando

assim uma relação entre número de apartamentos e número de prédios.

Em relação aos Multisignificados de Equação, não emerge nenhum dentre os

Significados.

117

Grupo 2

Figura 27.

Os alunos não conseguem compreender a relação entre o item C e o item D,

desta atividade, pois ao invés de pensar em mudar a estrutura do prédio já

determinada no item anterior, eles começam já propondo a alteração no número de

prédios já previamente estabelecidos no item anterior.

Em relação aos Multisignificados de Equação, não emerge nenhum dentre os

Significados.

118

CAPÍTULO 6

CONCLUSÕES, RESPOSTAS ÀS

QUESTÕES DE PESQUISA E

CONSIDERAÇÕES FINAIS

119

6.1 Conclusões

Nesta pesquisa, procuramos investigar contribuições que uma abordagem

com problemas envolvendo os Multisignificados de Equação (RIBEIRO, 2007), num

ambiente de Modelagem Matemática (BARBOSA, 2001), pode trazer, para a

construção ou ampliação do conhecimento equação.

Neste capítulo, vamos elaborar algumas conclusões de como foi a

experiência de trabalhar com atividades envolvendo o conceito equação, em um

ambiente de ensino com a Modelagem Matemática, com um grupo de alunos do 2º

ano do Ensino Médio.

Este experimento permitiu que este grupo de alunos se desvinculasse do

método de aula tradicional, do tipo lousa e giz. Logo no inicio da primeira sessão,

pudemos perceber na observação feita por um dos alunos pertencente ao Grupo 1,

mas que infelizmente não temos esse relato transcrito, devido péssima qualidade do

material áudio-gravado. O seguinte comentário:

“Mas o que ele quer que a gente faça? o que ele quer saber?”. (Aluno pertencente

ao grupo 1)

Isso demonstra o impacto que os alunos tiveram com o fato de não se ter

relatado qual o conteúdo iria ser trabalhado, e principalmente por eu não ter no inicio

da primeira sessão, demonstrado previamente nenhuma técnica de resolução,

conforme é feito em uma aula do tipo tradicional. Essa forma tradicional de se

trabalhar o ensino, é citada em nossa revisão de literatura, por Fiorentini, (1993), que

nas suas concepções sobre Educação Algébrica, aponta para esse aspecto de se

trabalhar com modelos prontos e artificiais, o que leva o aluno ao tecnicismo

mecanizado, treinando-o a resolver apenas alguns tipos de problemas em particular.

Conforme havíamos previsto em nossa análise preliminar, os alunos de nossa

pesquisa encontraram uma grande dificuldade em relacionar com a atividade, o

conteúdo equação, já estudado durante a sua trajetória educacional.

Essa dificuldade é novamente demonstrada logo na Atividade 1, quando

alunos pertencentes ao Grupo 2, me perguntaram o que eu queria que eles

120

colocassem como resposta, infelizmente devido a má qualidade da áudio-gravação,

houve a impossibilidade da transcrição desse diálogo. Por vários momentos flagrei

os alunos discutindo entre si, de que maneira eu professor, gostaria que eles

resolvessem as atividades propostas. Essa dificuldade percebida demonstra ao meu

entender que os alunos estão acostumados a que se diga a eles logo no inicio da

atividade proposta, qual conteúdo se está trabalhando, e o que queremos como

resposta, para que a partir dai ele possa se munir de ferramentas para elaboração

de sua estratégia de resolução.

Conforme os alunos haviam solicitado, ao termino da Atividade 1, eu

professor mostrei uma maneira de resolver o item A da Atividade 1, formulando uma

equação conforme foi feira nas análises preliminares, que esta na pagina 47 dessa

dissertação. Eu em nenhum momento falei a palavra equação, entretanto, os alunos

conseguiram perceber e disseram que se tratava do conteúdo de equações.

Agora vamos tirar conclusões dos protocolos produzidos em nossa coleta de

dados, com o intuito de mostrar um panorama dos Significados que eram esperados

e os que efetivamente surgiram durante a realização das atividades. Podemos partir

de um quadro como este para tirar algumas conclusões:

121

ATIVIDADES

SIGNIFICADO

ESPERADO

GRUPO 1 GRUPO 2 GRUPO 3 GRUPO 4

ATIVIDADE 1A

EST CONJ

EST GEN

INT PRAG

INT PRAG

N.S.P. INT PRAG EST CONJ

INT PRAG

ATIVIDADE 1B

EST CONJ

EST GEN

INT PRAG

INT PRAG N.S.P. N.S.P. EST CONJ

INT PRAG

ATIVIDADE 1C

DED GEOM

EST GEN

N.S.P. N.S.P. N.S.P. N.S.P.

ATIVIDADE 1D

DED GEOM DED

GEOM

DED

GEOM ----------- DED GEOM

ATIVIDADE 2ª

N.E.S. N.E.S. N.E.S. ----------- N.E.S.

ATIVIDADE 2B

EST CONJ DED

GEOM INT PRAG ----------- INT PRAG

ATIVIDADE 2C

DED GEOM

INT PRAG INT PRAG INT PRAG -----------

DED GEOM

INT PRAG

ATIVIDADE 2D

EST GEN N.S.P. N.S.P. ----------- DED GEOM

INT PRAG

Legendas:

DED GEOM – Dedutivo Geométrico

EST CONJ – Estrutural Conjuntista

122

EST GEN – Estrutural Generalista

INT PRAG – Intuitivo Pragmático

N.S.P. – Nenhum dos Significados Percebido

N.E.S. – Não era esperado Significado

-------- – Não participou do item da atividade

Utilizando o quadro ilustrativo, faremos agora primeiramente, uma explanação

do que ocorreu item a item nas Atividades 1 e 2. Logo em seguida faremos também

relacionando ao quadro ilustrativo, uma leitura do que ocorreu grupo a grupo do que

surgiu em nossas análises. Essas leituras do quadro ilustrativo irão servir logo na

sequencia, como suporte para as repostas aos nossos questionamentos, e as

considerações finais que eventualmente tiraremos desse nosso trabalho de

pesquisa.

Os itens A e B da Atividade 1 foram concebidos em conjunto, no intuito de

criar uma possível estratégia comum de resolução, ou seja, proporcionar ao aluno

que no item A reconheça a estrutura dos dados que eram informados e seja capaz

de generaliza-los, apresentando uma expressão algébrica conforme as

características dos dados. Para o item B, o aluno poderia utilizar a mesma estrutura

do item A e chegar a um equacionamento geral para o problema dos planos de

telefonia. Com isto, no nosso entender, apareceria o Significado ESTRUTURAL

GENERALISTA; entretanto, isto não ocorreu e essa forma de estratégia não aparece

nos protocolos de resolução dos quatro grupos que participaram da atividade

envolvendo os itens A e B, nem nas transcrições de áudio efetuadas apenas do

Grupo 4. Acreditamos que os alunos não conseguiram reconhecer e expressar em

forma de equação a estrutura dos dados colocados tanto no item A como no item B,

por não estarem acostumados, em seu dia a dia escolar, com um trabalho com

problemas contextualizados. Os alunos que foram sujeitos de nossa pesquisa estão

acostumados com o tipo de aula tradicional, na qual, no inicio da aula, o professor já

informa qual o conteúdo matemático que vai ser apresentado e logo em seguida

passa às definições com as respectivas fórmulas e mostra, às vezes de forma

123

exaustiva, exemplos que têm, em seu enunciado, uma expressão algébrica pronta.

Este tipo de abordagem acarreta, em nossa opinião e na de Fiorentini (1993) uma

espécie de treinamento baseado em um modelo previamente imposto, que envolve

um processo mecanizado repetitivo.

Outro significado que também esperávamos (ver análise preliminar, página

51), para os itens A e B, era o INTUITIVO PRAGMÁTICO, que surgiria na forma de

uma estratégia de resolução que envolvesse o entendimento da problemática dos

dois itens e do uso dos dados informados, para chegarem, por meio de cálculos

aritméticos, a valores que pudessem ser comparados e que possibilitassem chegar a

uma conclusão, tanto para o item A como para o item B, de qual seria o melhor

plano de telefonia. O Significado INTUITIVO PRAGMÁTICO surgiu nos Grupos 1, 3

e 4. O Grupo 2 não conseguiu formular nenhum tipo de cálculo, nem qualquer outro

tipo de operação, com os quais pudéssemos interpretar como relativos ao

Significado INTUITIVO PRAGMÁTICO, ou a qualquer outro tipo de Significado de

Equação, em suas tentativas de resolução. Concluímos que duas podem ser as

causas: os alunos do Grupo 2 não se sentiram confiantes para responder, por não

terem o costume de trabalhar conteúdos matemáticos com problemas

contextualizados, antes da “explicação” do professor; ou não se envolvera com tema

abordado no problema, pois nos demais itens dessa atividade também não

conseguimos perceber um interesse maior para o equacionamento da atividade.

Ainda para os itens A e B da Atividade 1 apontamos, em nossa análise

preliminar (ver página 50), o possível surgimento de uma estratégia ligada ao

Significado ESTRUTURAL CONJUNTISTA, na qual o aluno reconheceria dois

conjuntos, no que diz respeito aos valores dados e, a partir daí, apresentaria um

equacionamento que levasse a comparações entre os elementos desses dois

conjuntos. Nos protocolos dos Grupos 1, 2, 3 e 4 percebemos a compreensão das

relações entre os conjuntos de valores monetários e de contagem de minutos,

embora não apresentem nenhuma expressão algébrica que nos permitiria afirmar

que o Significado ESTRUTURAL CONJUNTISTA realmente surgiu. Apenas na

análise do Grupo 4, referente à transcrição 2, percebemos, no diálogo entre os

integrantes, as relações que justificariam o surgimento do significado ESTRUTURAL

CONJUNTISTA.

124

Transcrição 2

A3: Ai da x

A3: Ai a gente pega esse aqui, menos o valor desse aqui vai dar 60 né e multiplicar

por esse aqui vai dar y, ai (...) a resposta é maior ai (...), o maior ai maior a gente vai

tira, ai vamos pegar o menor

A1: Na realidade a gente vai somar e sim vai acrescentar a mensalidade disso e vai

multiplicar no final.

Mesmo com o surgimento do Significado ESTRUTURAL CONJUNTISTA

observado nesta transcrição, o que parece claro para nós é a insegurança, por parte

dos alunos, de tentarem escrever, de uma forma simbólica, aquilo que conseguem

perceber no enunciado proposto. Esta insegurança, em alunos da 2ª série do Ensino

Médio, tem, no nosso entender, pelo menos três causas muito séria: a falta de

confiança no próprio potencial para resolver matematicamente um problema novo

(BARBOSA, 2001); a dificuldade da passagem da Aritmética para a Álgebra, já

ressaltada por Lins e Gimenez (2001); a falta de motivação e de interesse em

matematizar, de alguma maneira formal, conteúdos matemáticos (o saber), sem que

o professor interfira diretamente, apresentando fórmulas e sugestões, o que

auxiliaria o crescimento da relação entre o ensino (professor) e a aprendizagem

(aluno).

Queremos ressaltar ainda, em relação aos itens A e B, o não surgimento de

nenhum dos Significados de Equação no protocolo analisado do item B do Grupo 3

(ver página 96). Neste caso, a resposta dada no protocolo não envolve Matemática,

pois os alunos decidem apontar o plano de maior franquia, “... devido a família não

ter certeza de quanto irá gastar”. Assim, fica para nós uma pergunta “Será que eles

se interessaram pelo assunto abordado?... ou simplesmente deram uma resposta a

um exercício proposto pelo professor?”.

125

Os itens C e D foram elaborados, assim como os itens A e B, de forma

conjunta. Inicialmente imaginamos que o questionamento do item C traria uma

estratégia que envolvesse a construção de gráfico, dessa forma caracterizando o

surgimento do Significado DEDUTIVO GEOMETRICO. Caso os alunos não

construíssem um gráfico no item C, colocamos, no item D, o gráfico já construído, o

que poderia possibilitar ao aluno interpretar as curvas pertencentes a cada uma das

franquias e apontar em quais pontos do gráfico um plano se torna mais vantajoso

que o outro. Para o item C, ainda previmos uma possível estratégia por meio de

Inequações, o que poderíamos interpretar como relativo ao surgimento do

significado ESTRUTURAL GENERALISTA.

Com relação ao item C, nem nos protocolos dos Grupos 1, 2, 3 e 4, nem na

transcrição do Grupo 4, aparece algum dos Significados de Equação. Os alunos não

conseguem conceber nenhum tipo de estratégia para equacionar matematicamente

o problema e apegam-se à argumentações referentes à incerteza da família quanto

à expectativa de gasto em minutos. Concluímos que a não generalização, por meio

de uma expressão algébrica, das respostas dadas nos itens A e B, impediu-os de

construir um gráfico que pudesse representar os modelos das possíveis situações

dadas e, a partir do qual, pudessem responder o item C. Nossa avaliação é que

estes alunos não tiveram - ou pelo menos não o foi de forma a se tornar relevante -

experiências que envolvessem gráficos como uma ferramenta para resolver

problemas de Matemática. O que consideramos muito negativo, pois os gráficos

podem trazer uma nova visão de um modelo matemático, tanto no caso de equação,

como no de inequação ou qualquer outro conteúdo relacionado à Matemática e

podem contribuir para a compreensão do modelo em pauta.

No item C podemos concluir que não houve o surgimento nem do Significado

DEDUTIVO-GEOMÉTRICO e nem do ESTRUTURAL-GENERALISTA.

Fizeram o item D os Grupos 1, 2 e 4 e, pelas análises dos protocolos destes

grupos, percebemos o surgimento do Significado DEDUTIVO GEOMÉTRICO. Nos

protocolos 4, 18 e 19 (respectivamente nas páginas 69, 100 e 101), vemos que eles

conseguem reconhecer as curvas pertencentes a cada plano e conseguem

estabelecer relações entre elas e comparar determinados pontos dessas curvas. Isto

mostra que é possível trabalhar o conceito equação utilizando gráficos, não somente

126

a partir de um gráfico pronto, para o aluno interpretar, mas também por meio da

utilização de problemas contextualizados para a construção dos mesmos. Também

achamos possível o uso dos gráficos para conseguir uma relação entre o que

chamamos pensamento algébrico (FIORENTINI, 1993; LINS e GIMENEZ, 2001) e

uma linguagem algébrica simbólica formal.

Para terminar nossas conclusões, relativas à Atividade 1, é importante relatar

que, em vários momentos, principalmente durante a primeira sessão de aplicação,

os alunos demonstraram grande preocupação sobre qual seria o conteúdo

matemático implícito na atividade, ou em relatos em forma de diálogo, como o

ocorrido entre integrantes do grupo 2, em que uma aluna questiona os colegas

perguntando “Qual será o conteúdo que ele quer ver se nós sabemos?”. Ou em

forma direta de pergunta para nós, como é o caso dos alunos do Grupo 4, que nos

questionam da seguinte forma: “Que conteúdo está sendo perguntado nesta

atividade?”. Infelizmente não temos a transcrição do áudio para estas solicitações.

Devido à curiosidade excessiva demonstrada por estes alunos, fomos à lousa

e mostramos uma possível estratégia de resolução e, prontamente, quatro dos

alunos disseram tratar-se do conteúdo equação.

Apesar de nossa intervenção, podemos concluir que na continuidade, com a

aplicação da Atividade 2, não houve influência, nem positiva nem negativa, nos

resultados que obtivemos. Pois não é percebida qualquer menção, tanto nos

protocolos quanto nas transcrições, ao fato de se tratar de equação o conteúdo

implícito nas atividades.

Atividade 2 item A: Este item da Atividade propiciava, logo após a leitura do

texto referente à problemática, uma reflexão para gerar uma discussão entre nós e

todos os alunos sobre qual seria a melhor forma de ocupar o terreno para acomodar

as famílias que ali iriam habitar. Não esperávamos nenhuma forma de

equacionamento e, portanto, nenhum dos Significados de equação. Queríamos que

os alunos chegassem a um consenso, de qual seria a melhor forma de ocupação do

terreno e acreditávamos que eles iriam se decidir pela construção de prédios,

expectativa esta confirmada.

127

Atividade 2 item B: O que era esperado para este item era que os alunos

conseguissem interpretar as características de cada informação referente à

problemática e pudessem criar relações entre esses dados distintos, que os

levassem a conceber e formular uma expressão algébrica para os valores propostos,

relacionando espaço e número de famílias, o que poderia trazer à tona o Significado

ESTRUTURAL CONJUNTISTA.

Participaram deste item os Grupos 1, 2 e 4; o Significado ESTRUTURAL

CONJUNTISTA não surge nas análises dos protocolos nem nas transcrições do

Grupo 4. Os alunos até conseguem observar e apontar relações envolvendo o

conjunto de dimensões do terreno e o conjunto de prédios, mas em nenhum

momento formulam algum tipo de expressão algébrica que pudesse sugerir um

equacionamento. Essa dificuldade em expressar, em uma linguagem algébrica

simbólica, as relações entre conjuntos, já foi apresentada por nós nas conclusões

relativas à Atividade 1, onde apontamos três possíveis causas para essa

dificuldade: a falta de confiança no próprio potencial para resolver matematicamente

um problema novo; a dificuldade da passagem da Aritmética para a Álgebra; a falta

de motivação e de interesse em matematizar, de alguma maneira formal, conteúdos

matemáticos.

Porém, nas resoluções dos Grupos 2 e 4, surge o Significado INTUITIVO

PRAGMÁTICO, pelo uso de cálculos aritméticos como forma de equacionamento

dos dados apresentados.

Já o Grupo 1 traz, em sua resolução, um desenho geométrico representando

as dimensões envolvendo o terreno e a construção dos prédios, trazendo assim

dessa forma o uso da Geometria para o equacionamento do problema proposto.

Com isso caracteriza-se o surgimento do Significado DEDUTIVO GEOMÉTRICO,

embora acreditemos que isto ocorreu porque a atividade tem no seu enunciado do

item A, um desenho de um retângulo para representar os dados do terreno.

Para o item C da Atividade 2, esperávamos, como estratégia de resolução, o

uso de cálculos aritméticos envolvendo os dados propostos no enunciado deste

item, o que caracterizaria o surgimento do Significado INTUITIVO PRAGMÁTICO.

Outro Significado esperado era o DEDUTIVO GEOMÉTRICO, que poderia surgir

128

quando os alunos utilizassem os dados apresentados para a construção de

desenhos de formas geométricas que pudessem expressar um equacionamento do

problema proposto.

Participaram do item C da Atividade 2 os Grupos 1, 2 e 4 e o Significado

INTUITIVO PRAGMÁTICO aparece nas resoluções dos protocolos dos três grupos,

na forma de cálculos com operações aritméticas, mostrando uma repetição do que

ocorreu na Atividade 1, qual seja, partir sempre, como estratégia principal de

resolução, para o calculo aritmético. Novamente concluímos que podem existir duas

causas para esse fato: a insegurança em trabalhar com problemas contextualizados,

devido ao fato de não terem o costume de trabalhar com esse tipo de atividade; e o

desinteresse pelo tema abordado na atividade, o que pode ter acarretado uma falta

de motivação no sentido de se empenhar mais na tentativa do equacionamento da

atividade.

Outro Significado esperado para este item era o DEDUTIVO GEOMÉTRICO,

que pudemos identificar nos protocolos dos Grupos 2 e 4, onde os alunos partem

para o uso de formas geométricas para representar o terreno e os prédios dentro

dele, embora não tenham feito uma representação proporcional disso. Esta falta de

proporcionalidade preocupa-nos, pois são alunos da 2ª série do Ensino Médio e, no

nosso entender, deveriam ter mais cuidado com a apresentação de soluções que

envolvem medidas em Matemática.

Atividade 2 item D: este item foi elaborado como uma continuação do item C,

ou seja, aproveitando a solução encontrada no item C, os alunos poderiam criar uma

lei, em forma de uma expressão algébrica simbólica, que preservasse as

características encontradas na solução do item C e chegasse a uma equação que

traria a generalização da estratégia.

Os Grupos 1 e 4 relacionam algumas informações concebidas na resolução

do item C e conseguem, com a ideia do aumento do número de andares,

estabelecer uma solução para o questionamento do item D; entretanto, não

apresentam nenhuma linguagem simbólica para mostrar essa generalização. O

grupo 2 não consegue nem mesmo preservar as características da estratégia

apresentada no item C e parte para uma solução desvinculada da dada no item C.

129

Assim, não surge, em nenhum dos grupos, o Significado ESTRUTURAL

GENERALISTA, pois os alunos não conseguem extrair e utilizar, dos dados do

problema, características que permitiriam a generalização. Como discutimos

anteriormente, na Atividade 1, o reconhecimento das informações e das relações

entre os dados fornecidos no problema e a dificuldade de apresentar uma forma de

equacionamento com uma linguagem algébrica simbólica, pode ser atribuída às

mesmas duas possíveis causas citadas em nossas conclusões do item C (ver página

121).

Ainda neste item surge o Significado DEDUTIVO GEOMETRICO, por meio de

formas Geométricas, identificadas nos protocolos do Grupo 4.

Terminamos aqui nossas conclusões, referentes ao surgimento ou não dos

Significados de Equação, item a item. A partir daqui, vamos olhar e analisar como

cada grupo em particular, concebe o conceito de equação, para verificar se o

conceito aparece e se se transforma, ao longo das duas atividades.

Vamos iniciar essas análises com o Grupo 1, que participou de todos os itens

envolvidos nas Atividades 1 e 2. Foram analisados desse grupo somente os

protocolos.

O Grupo1 usa como estratégia logo na Atividade 1 item a, o cálculo

aritmético, remetendo ao Significado INTUITIVO PRAGMÁTICO. Para o item B, era

solicitada uma nova estratégia de resolução, e mesmo com essa solicitação, o grupo

utiliza novamente o calculo aritmético para chegar ao resultado. Novamente surge

no nosso entender, o Significado INTUITIVO PRAGMÁTICO.

O protocolo referente ao item C mostra um desinteresse do grupo em tentar

chegar a um equacionamento para a atividade. Isso fica evidente quando os alunos

não produzem nenhum tipo de estratégia matemática. Consequentemente, não

surge nenhum Significado de Equação.

No item D, a atividade apresenta um gráfico e, com eles, procura-se identificar

se o aluno consegue perceber as relações nele contidos. O Grupo 1 consegue

estabelecer estas relações, caracterizando o Significado DEDUTIVO

GEOMÉTRICO. Isso demonstra que esses alunos conseguem interpretar a leitura do

130

gráfico, percebendo assim parâmetros que os permite efetuar comparações, no

sentido de equacionar problemas.

A Atividade 2, é de um caráter mais aberto, na qual os alunos tinham um

maior controle na condução da atividade. No item A, os alunos deste grupo

contribuem bastante para a discussão que leva à decisão pela construção de

prédios.

No item B, utilizam como estratégia de resolução um desenho geométrico que

demonstra a ocupação do terreno, mesmo sem usar as proporções corretas na

construção desse desenho, mas caracterizando equacionamento que leva à ideia

do Significado DEDUTIVO GEMÉTRICO.

No item C confirmou-se nossa expectativa do uso de uma estratégia

envolvendo cálculos aritméticos e surge assim o Significado INTUITIVO

PRAGMÁTICO.

A ideia para o item D era de aproveitar a estrutura dos dados da resolução do

item C, para que se fizesse uma generalização, por meio de uma expressão

algébrica simbólica, que caracterizaria o surgimento do Significado ESTRUTURAL

GENERALISTA, o que não ocorreu, pois novamente usaram cálculos aritméticos,

que caracterizariam o surgimento, novamente, do Significado INTUITIVO

PRAGMÁTICO.

O que podemos concluir é que não houve em nenhum momento,

preocupação em produzir um resultado com maior rigor na escrita matemática. Não

houve, também, uma preocupação na proporcionalidade referente aos desenhos

geométricos produzidos. Os alunos se apegaram, desde o principio, ao uso de

cálculos aritméticos e não demonstraram nenhuma evolução no que diz respeito à

apresentação de novas estratégias matemáticas que pudessem envolver novos

modelos. Acreditamos que duas são as causas possíveis: a falta de costume em

trabalhar com problemas contextualizados; e um provável desinteresse pelos temas

abordados.

Pensando nos Multisignificados de Equação, os alunos do Grupo 1 concebem

a ideia de equação por meio do Significado INTUITIVO PRAGMÁTICO.

131

O Grupo 2 participou de todos os itens das duas atividades trabalhadas e

foram analisados apenas protocolos.

Desde o inicio, os alunos mostraram uma grande dificuldade em compreender

o que estava sendo solicitado no enunciado de cada uma das atividades.

Concluímos que esse é o motivo pelo qual não conseguiram mostrar nenhuma

estratégia matemática para os itens A, B e C da Atividade 1.

Somente no item D da Atividade 1 parecem ter compreendido as relações do

gráfico apresentado, caracterizando assim o surgimento do Significado DEDUTIVO

GEOMÉTRICO.

Na Atividade 2, nos itens B, C e D, os alunos do Grupo 2 tentam, por cálculos

aritméticos o equacionamento do problema. Mesmo com equívocos nos cálculos

aritméticos, há o surgimento do Significado INTUITIVO PRAGMÁTICO.

Podemos concluir que os alunos desse grupo tiveram uma enorme dificuldade

em se envolver com esse tipo de atividade, possivelmente pela falta de costume em

se trabalhar com atividades contextualizadas, e sem terem sido informados, no inicio

da atividade, qual o conteúdo que estava em jogo. Isto fica evidente pois na

continuidade da Atividade 2, os alunos conseguiram evoluir para um

equacionamento por meio de cálculo aritmético.

O Grupo 3 participou apenas dos itens A, B e C da Atividade 1, sendo que no

item A conseguiram conceber uma estratégia de resolução por meio de cálculos

aritméticos. Para o item B, partiram para uma justificativa não matemática como uma

nova estratégia de resolução. E no item C, como os demais grupos participantes,

não conseguiram apresentar nenhuma solução Matemática para o problema

proposto.

Apesar da participação em menos da metade das atividades de nossa

pesquisa, o que podemos concluir é que esses alunos não se sentiram motivados a

se envolver nas atividades. Uma explicação para essa falta de motivação talvez se

dê pelo fato dos alunos deste grupo pertencerem a classes diferentes; e talvez por

isso, não se sentiram à vontade para trabalhar em conjunto para resolverem as

atividades.

132

O Grupo 4 no nosso entender, foi o que manifestou maior interesse nas

sessões desenvolvidas. Interesse esse demonstrado, por meio do maior número de

discussões entre seus integrantes e uma maior interação com o professor. Sempre

manifestando curiosidade sobre as possíveis soluções para as atividades.

Este grupo participou de todos os itens que envolviam as Atividades 1 e 2, e

foram analisados os protocolos e as transcrições nas quatro sessões realizadas.

Logo no item A da Atividade 1, os alunos mostram interesse no tema

abordado, questionando e discutindo a problemática. Similarmente aos demais

grupos, produzem uma estratégia, no protocolo, que envolve cálculos aritméticos,

caracterizando o Significado INTUITIVO PRAGMÁTICO. Na análise das

transcrições, pudemos perceber que os alunos desse grupo conseguem conceber

equação de forma a emergir o Significado ESTRUTURAL CONJUNTISTA, pois

expressam e compreendem as relações dos dados em forma de conjuntos distintos,

e chegam a identificar uma forma de pensamento algébrico simbólico, conforme a

transcrição que está na página (62); mas não conseguem traduzir para o protocolo

essa linguagem. Na continuidade das atividades, no item B, repetem o mesmo tipo

de estratégia empregada no item A, como os demais grupos e não conseguem

elaborar nenhum tipo de estratégia para o item C, talvez pelos mesmos motivos que

apontamos para os demais grupos: No item D conseguem interpretar o gráfico

proposto, concretizando o surgimento do Significado DEDUTIVO GEOMÉTRICO.

Para a Atividade 2, devemos apontar dois aspectos: em primeiro lugar apesar

de termos mostrado ao final da Atividade 1, uma estratégia de resolução para o item

A e logo em seguida os alunos terem dito que se tratava de equação, isto não se

traduziu em uma influência nos resultados produzidos pelos grupos, pois não foi

apresentada a partir de então, nenhuma estratégia que pudesse expressar uma

forma diferente de equacionamento daquela apresentada até aquele dado

momento; um segundo lugar o desenho apresentado no enunciado do item A da

Atividade 2 pode ter influenciado os alunos do Grupo 4, pois nos protocolos C e D

utilizam desenhos de formas geométricas para representar o equacionamento da

problemática desses itens.

133

6.2 Respostas às Questões de Pesquisa

Vamos retomar cada uma de nossas questões de pesquisa, a fim de

respondê-las, a partir de nossas conclusões e reflexões, que estão fundamentadas

nas análises que fizemos dos protocolos e transcrições.

1) Como os alunos concebem a noção de equação?

Estes alunos apresentaram uma noção de equação por meio de cálculos

aritméticos, o que caracteriza o Significado INTUITIVO PRAGMÁTICO. Vamos

justificar esta nossa resposta a partir das conclusões que temos de nossas análises

grupo a grupo.

Todos os quatro grupos envolvidos nessa atividade, demonstraram ter

capacidade para entender, agrupar e fazer comparações. A dificuldade que nós

percebemos está em transpor o que eles observam e compreendem dessas

relações para uma linguagem que possa ser manifestada por meio de uma

expressão algébrica. Essa dificuldade em transpor para uma linguagem algébrica

simbólica acaba acarretando um circulo vicioso, pois eles não conseguiram associar

o conteúdo equação, com as atividades propostas.

Essa dificuldade vai ao encontro das ideias de Fiorentini (1993), que aponta

que o pensamento algébrico não depende única e exclusivamente de uma

linguagem algébrica formal para se expressar, e sim que o pensamento algébrico

pode se manifestar por outros tipos de linguagem como: a linguagem natural,

linguagem aritmética, linguagem geométrica ou da criação de uma linguagem

específica para esse fim. Na pesquisa de Dorigo (2010), ele também observa essa

dificuldade do aluno em conceber a noção de equação, mesmo quando o aluno é

informado que o conteúdo implícito na atividade se trata de equação.

Então podemos entender que na tentativa de interpretar os questionamentos

propostos, eles conseguem conceber o conceito de equação, indo ao encontro do

Significado INTUITIVO PRAGMÁTICO.

134

2) Quais significados eles atribuem à noção de equação?

Para responder esta questão, vamos utilizar nossas conclusões item a item.

Como não dissemos a este grupo de alunos, no inicio das atividades, que se

tratava de equação o conteúdo implícito, esses alunos não conseguiram relacionar,

de forma consciente, o conteúdo equação à atividade. Com isso esses alunos

partem como estratégia de resolução para os cálculos aritméticos, surgindo assim o

Significado INTUITIVO PRAGMÁTICO. Indo ao encontro dos resultados obtidos na

pesquisa de Dorigo (2010), que observa através de um diagnóstico, que os alunos

utilizam como estratégia de resolução o processo de tentativa, emergindo assim o

significado INTUITIVO PRAGMÁTICO.

Outro Significado que surge é o DEDUTIVO GEOMÉTRICO, na forma de

estratégias envolvendo dois aspectos: esses alunos demonstram a capacidade de

equacionamento quando é fornecido a eles um gráfico, entendem e estabelecem

relações entre os dados abstraídos da leitura do mesmo, para poderem a partir dai

expressar comparações; quando a problemática envolve dimensões como em forma

de medidas, estes alunos utilizam desenhos de formas geométricas para expressar

o equacionamento da problemática envolvida, entretanto não preservando o rigor

matemático no que diz respeito à proporcionalidade na construção desses

desenhos.

Para sermos mais rigorosos na resposta desta questão de pesquisa, temos

que relatar o Significado ESTRUTURAL CONJUNTISTA, que surge no item A da

Atividade 1, somente na transcrição analisada, onde é formulada uma expressão

algébrica que caracteriza o surgimento desse Significado na (pagina 62). O que

podemos perceber nos demais grupos é que eles conseguem até compreender e

estabelecer relações em forma de conjunto, mas talvez por insegurança não

consigam transpor isso para uma expressão algébrica.

3) Como à abordagem dos Multisignificados de Equação, por meio de

Modelagem Matemática, pode contribuir para a construção e/ou

ampliação do conhecimento equação?

135

O uso do ambiente de aprendizagem Modelagem Matemática permitiu que se

trabalhassem atividades mais contextualizadas. Com isso, as atividades elaboradas

em conjunto com o ambiente de modelagem, permitiram diversas discussões no

intuito de estabelecer estratégias Matemáticas de resolução, o que pode, embora

subliminarmente, contribuir com a construção e/ou ampliação do conhecimento

equação. Entretanto como professor e pesquisador, refletindo sobre a intervenção

realizada com esses alunos, acredito que a Modelagem Matemática pode contribuir

muito se aplicada paralelamente como ambiente de aprendizagem no dia-dia da sala

de aula, servindo como auxiliadora na compreensão dos conteúdos a serem

trabalhados junto com os alunos.

6.3 Considerações finais

Este trabalho científico de pesquisa partiu de uma problemática que envolvia

nossas inquietações como aluno e agora como professor, em relação à forma como

são apresentados e trabalhados os conteúdos de Álgebra na Educação Básica.

Partindo dessa problemática, encontramos a possibilidade de realizar um trabalho

científico, que tem como principal preocupação, contribuir com o ensino e,

consequentemente, com o aprendizado do conceito equação. Baseamo-nos nas

ideias de Ribeiro (2007) de que existem pelo menos seis significados diferentes de

equação, caracterizados por ele a partir de um estudo histórico epistemológico. Não

tivemos a pretensão de quantificar ou de mostrar que determinado Significado é

melhor ou pior ou que apareceu mais ou menos vezes nos protocolos gerados pela

aplicação de duas atividades e em algumas áudio-gravações que conseguimos

transcrever.

A Problemática e o trabalho de intervenção - junto a um grupo de alunos de

uma 2ª série do Ensino Médio - e posteriormente as análises e conclusões que

apresentamos têm o intuito de contribuir com o que foi proposto inicialmente, dentro

de um projeto maior, no qual nosso trabalho de dissertação está inserido, que é

analisar quais são as contribuições que uma abordagem com os

Multisignificados de Equação, num ambiente de modelagem matemática, pode

trazer à construção e/ou ampliação do conhecimento equação junto aos alunos.

136

No nosso entender, conseguimos obter uma contribuição positiva, tanto pelo

ambiente de aprendizagem escolhido por nós, que é a Modelagem Matemática

(BARBOSA, 2001), como também pelo trabalho que foi desenvolvido envolvendo os

Multisignificados de Equação (RIBEIRO, 2007). Com a modelagem, o grupo de

alunos, sujeitos da pesquisa, pôde vivenciar uma forma não tradicional de ensino,

com problemas contextualizados, que não os induzisse a estratégias de resolução

previamente determinadas, portanto mecanizadas (FIORENTINI, 1993); esta forma

de abordagem conseguiu expor certas fragilidades no que diz respeito à abordagem

do conteúdo equação. Nós ficamos muito preocupados sobre a forma em que a

Álgebra em geral é trabalhada. Em conversa informal, pudemos perceber que alguns

dos alunos, manifestaram preocupações em relação ao conteúdo que já deveriam

ter sido “aprendidos”. Lanço como desafio a procura da resposta. Será que esta falta

de “autonomia” não merece uma reflexão mais profunda sobre a forma de ensino?

Com relação aos resultados, se os colocarmos numa “hierarquia”, do tipo

mais simples para mais sofisticado – INTUITIVO PRAGMÁTICO; DEDUTIVO

GEOMÉTRICO; ESTRUTURAL CONJUNTISTA; ESTRUTURAL GENERALISTA;

PROCESSUAL TECNICISTA; AXIOMÁTICO POSTULACIONAL – percebemos que

estes alunos, embora no 2º anos do Ensino Médio, partem de imediato para um

cálculo aritmético numérico.

Como acreditamos que uma abordagem de equação deveria permitir aos

alunos vivenciar em pelo menos 5 dos Multisignificados de Equação (Achamos que o

Significado AXIOMÁTICO POSTULACIONAL, não seria necessário na Educação

Básica, pois se trata de uma forma de perceber a equação como um ente primitivo,

que não necessariamente precisaria ser aprendido). Gostaríamos de deixar

registrado neste trabalho nossa preocupação com os resultados que obtivemos e

que mostram uma limitação naquilo que se espera de um grupo de alunos do Ensino

Médio, no que se refere não somente ao conteúdo equação, como também a

Álgebra. Fazendo uma avaliação dos componentes empregados nesta pesquisa,

lançamos alguns questionamentos que talvez nós mesmos devamos tentar

encontrar a resposta: Será que as atividade estavam bem elaboradas no que se

refere à pergunta e à resposta que esperávamos dos alunos?; Será que o nosso

desempenho na realização da intervenção, utilizando o ambiente Modelagem

Matemática, foi satisfatória e contribuiu com os alunos?; Por não termos realizado

137

nenhuma atividade antes com esses alunos, isso não afetou o seu desempenho?

Como se tratava de uma atividade que envolvia equação. Será que deveríamos

então dizer aos alunos logo no inicio da atividade que se tratava de equação?.

Esses questionamentos talvez só possam ser respondidos, com uma nova

sessão com esses mesmos alunos, talvez empregando novas atividades e

realizando uma entrevista com esses alunos.

Termino aqui as minhas considerações finais, deixando manifestada a

sugestão para futuros pesquisadores, que se utilizem desse trabalho, como mais

uma fonte inspiradora, no sentido de desenvolverem novos projetos, artigos, etc.

Tanto abordando trabalhos que possam envolver o conteúdo equações e o campo

Álgebra. Como também trabalhos envolvendo o ambiente de aprendizagem

Modelagem Matemática.

138

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ZANCHET, BEATRIZ MARIA BOÉSSIO. “Desenvolvimento na perspectiva de

aprendizagem significativa” de 2000. Dissertação (Mestrado em Educação

Matemática).

143

ANEXOS

144

TERMO DE CONSENTIMENTO São Paulo, __ de _______ de 2010.

Prezado(a) Sr(a). Diretor(a) _________________________________

Diretor(a) da ______________________________________________.

Vimos por meio desta solicitar vossa autorização para o desenvolvimento e a

participação de alunos desta escola na pesquisa mestrado “Os Multisignificados

de Equação no ensino e aprendizagem de Matemática para o Ensino Médio.”,

vinculada ao Programa de Pós-Graduação em Educação Matemática da

Universidade Bandeirante de São Paulo, a ser desenvolvida na

_____________________________, durante este mês de Novembro e Dezembro.

Gostaríamos de esclarecer que:

1) Estaremos solicitando autorização de participação dos alunos;

2) O aluno irá participar das seções de intervenção, onde ele irá trabalhar em

grupo para resolver algumas atividades envolvendo “Conhecimentos

Matemáticos”;

3) A identidade dos alunos assim como da escola serão mantidas em absoluto

sigilo;

4) Tanto o aluno e a escola podem solicitar informações adicionais, bem como

tomar ciência do andamento e dos resultados (parciais e finais) da pesquisa a

qualquer momento;

5) É facultado ao aluno deixar de participar da pesquisa a qualquer momento;

6) Não há qualquer vinculo financeiro entre o pesquisador, instituições de ensino

e alunos.

Esclarecemos ainda que os resultados desta pesquisa deverão ser publicados

em revistas cientificas e/ou congressos na área da educação, sempre mantendo

o anonimato dos alunos e da escola. Colocamos a disposição para quaisquer

esclarecimentos e necessidades, pelo telefone (11) 2972-9045, com Professor

Alessandro Jacques Ribeiro ou Professora Tânia Maria Mendonça Campos.

Atenciosamente,

_________________________________

Prof. Dr. Alessandro Jacques Ribeiro

Autorizado: __________________________________

Diretor(a) da Instituição

145

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

São Paulo, ____ de Novembro de 2010.

Prezado aluno_______________________________________________________,

Vimos por meio desta solicitar vossa concordância para participação, na

pesquisa de mestrado Silvio Antonio da Silva sob o título “Os Multisignificados de

Equação no ensino e aprendizagem de Matemática para o Ensino Médio..”,

vinculada ao Programa de Pós-Graduação em Educação Matemática da

Universidade Bandeirante do Brasil, a ser desenvolvida durante este mês de

Novembro e Dezembro de 2010.

Gostaríamos de esclarecer que:

1) Você irá participar das seções de intervenção, onde você irá trabalhar em

grupo para resolver algumas atividades envolvendo “Conhecimentos

Matemáticos”;

2) Sua identidade será mantida em absoluto sigilo;

3) Você pode solicitar informações adicionais, bem como tomar ciência do

andamento e dos resultados (parciais e finais) da pesquisa a qualquer

momento;

4) É facultado a você deixar de participar da pesquisa a qualquer momento;

5) Não há qualquer vinculo financeiro entre o pesquisador, a instituição de

ensino, e a sua pessoa.

Esclarecemos ainda que os resultados desta pesquisa vão compor a

dissertação de mestrado de Silvio Antonio da Silva, assim como poderão ser

publicados em revistas cientificas e/ou congressos na área da educação, sempre

mantendo o anonimato dos alunos entrevistados e da escola. Colocamos a

disposição para quaisquer esclarecimentos e necessidades, pelo telefone (11)

2972-9045, com Profo. Alessandro Jacques Ribeiro ou Profa. Tânia Maria

Mendonça Campos.

Atenciosamente,

______________________________

Prof. Dr. Alessandro Jacques Ribeiro

Autorizado: __________________________________

146

Atividade 1

Plano de Telefonia

Nos últimos anos houve uma popularização das linhas telefônicas

residenciais. Isto foi possível graças à expansão do mercado, o que acabou gerando

uma forte concorrência entre as diferentes operadoras.

O valor a ser pago em uma determinada conta telefônica é calculado

considerando-se os minutos (tempo) utilizado, mais o valor fixo da franquia escolhida

pelo cliente. Na tabela abaixo são apresentados quatro planos de telefonia

residencial

Plano Mensalidade Horário Normal – minuto

excedente

Franquia Linha Clássica Linha Clássica

250 47,62 0,20457

350 58,17 0,19321

450 68,55 0,18184

550 79,37 0,18184

Fonte: http://www.telefonica.com.br/portal/site/on/menuitem

a) Uma família fez uma expectativa de gastar 390 minutos por mês. Neste caso

qual é o plano mais vantajoso para eles? Justifique sua resposta.

147

b) Após algum tempo utilizando o serviço telefônico esta família percebeu que

estava consumindo, em média 490 minutos. Ainda é vantagem para esta

família permanecer com o plano do item anterior? Justifique sua resposta

(Procure utilizar uma estratégia diferente daquela que você utilizou na item a)

c) Você deve ter percebido que à medida que o consumo aumentou um plano

passa a ser mais vantajoso que o anterior. Imagine então, que esta mesma

família está pensando em contratar o último plano, a partir do próximo mês.

Quanto deve ser o consumo dessa família para que este plano se torne mais

vantajoso? Justifique sua resposta.

d) Através deste gráfico, mostre a partir de quantos minutos um plano é mais

vantajoso que o outro.

148

Atividade 2

Uma favela na cidade de São Paulo ocupa um terreno de 30 metros de

largura por 100 metros de comprimento, e abriga em barracos 240 famílias.

a) De que forma, poderíamos aproveitar este terreno, a fim de abrigarmos essas

mesmas famílias, com uma moradia mais digna?

b) Pensando em utilizar prédios com apartamentos, seria possível acomodarmos

todas essas famílias? Como?

c) Se pensarmos em prédios de 4 andares com 4 apartamentos por andar,

sendo cada prédio medindo por volta de 200 metros quadrados. Quantas

famílias poderíamos acomodar?.

d) O que poderíamos mudar na estrutura dos prédios para que pudéssemos

acomodar mais de 300 famiíias? Justifique.

149

Da falta de saneamento básico à ausência de asfalto, os obstáculos variam - até a

localização do assentamento pode ser um problema. "As favelas costumam surgir em

regiões que outros empreendimentos imobiliários não ocuparam: sob pontes e viadutos,

à beira de córregos ou em encostas de morros", diz Alex Abiko, professor de

engenharia civil da USP. A urbanização de favelas no Brasil é recente. Nos anos 60, os

moradores eram simplesmente removidos. Depois, por volta dos anos 80, programas do

governo passaram a resolver questões pontuais, como redes de água. Hoje, os projetos

incluem não só infraestrutura mas também melhora na qualidade de vida. Veja aqui os

principais problemas que afetam as favelas e vire a página para entender como elas

são urbanizadas.

Ricardo

Benichio

CIDADE SITIADA

Falta de infraestrutura, condições precárias de saúde e problemas sociais afetam

favelas

LADEIRA ABAIXO

Nas grandes cidades, em geral, os únicos terrenos livres são as áreas de risco, como

encostas de morros e barrancos. É justamente nesses vazios urbanos que surgem as

150

favelas. Improvisadas, as moradias à beira de morros correm risco de sofrer

solapamento e deslizamentos de terra. Quanto mais inclinado o terreno, maior o risco

CURTO-CIRCUITO

Muitas favelas não têm redes de energia elétrica oficiais e recorrem a gatos para

desviar energia. As ligações clandestinas, feitas com material velho e inadequado, são

perigosas: podem provocar desde choques em quem passar perto de um fio

desencapado a incêndios e curtos-circuitos

SEM DOCUMENTO

Quem mora na favela não tem CEP. Entre becos e vielas sem nome, os carteiros ficam

perdidos e as correspondências não chegam. Para piorar, os moradores não

conseguem comprovante de residência, documento necessário para conseguir

emprego, por exemplo. Como as moradias são ilegais, sem escritura, os moradores

correm o risco de despejo o tempo todo

E A CHUVA LEVOU

Sem valetas ou canaletas, a água da chuva não tem por onde escorrer. Quando chove,

a água pode empoçar e virar ninho para o Aedes aegypti, mosquito transmissor da

dengue. A água pluvial arrasta o que está no caminho, além de transformar as ruas de

terra batida em lamaçal

ERA DAS TREVAS

Sem postes de iluminação pública, a população fica desprotegida da violência durante

as noites. Afinal, fica mais fácil para ladrões e traficantes sumir no escuro... Só sobra a

iluminação vinda de dentro das residências

QUESTÃO DE SAÚDE

Como os barracos ficam colados uns aos outros, a luz do Sol não entra. A umidade

aumenta, prato cheio para o crescimento de fungos, que podem causar doenças. Isso

sem falar nos males causados pela falta de saneamento básico, como cólera, disenteria

e esquistossomose

151

BECO SEM SAÍDA

A densidade demográfica é alta - há muita gente por metro quadrado. Sem espaço livre,

falta lugar para ruas - no máximo, há becos e vielas. Isso impede não só o acesso de

carros mas também a entrada de serviços importantes, como caminhões de lixo e

ambulâncias

ENTRANDO PELO CANO

Improvisadas, as casas não estão ligadas à rede de água nem à rede de esgoto oficial

da cidade. Os moradores dão um jeitinho, fazendo gatos que roubam água de casas

vizinhas ou da própria prefeitura, e despejam o esgoto a céu aberto, principal problema

ambiental do país, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)

Ô DE CASA

Pesquisa* mostra quem são os moradores das favelas de SP

Fontes: Urbanização de favelas em foco: Experiências de seis cidades; Urbanização de

favelas – A experiência de São Paulo;

João

Urban/Divulgação

152

CIDADE RESTAURADA

Além de redes de água e luz, área de lazer e geração de emprego dão nova cara à

região

A PRAÇA É NOSSA

As famílias que moravam à beira das áreas de risco também são removidas. Para

acomodá-las, são erguidos prédios - na horizontal, não há para onde crescer. Praças

são construídas nas encostas, cumprindo duas funções: melhoram a qualidade de vida

da comunidade, com esporte e lazer, e evitam que as áreas de risco voltem a ser

ocupadas por barracos

ÀS CLARAS

Os gatos dão lugar à rede oficial de energia elétrica. A favela também ganha postes de

iluminação pública, que, além de aumentar a segurança de quem passa por ali à noite,

ajudam o trânsito noturno de veículos e embelezam os novos prédios e praças

construídos com a urbanização

DESTINO DA CHUVA

A água da chuva escorre por valetas, grelhas e bueiros, feitos de material durável e

sem valor comercial, como concreto. Raramente empregam-se materiais como cobre ou

ferro - os metais têm valor comercial e poderiam ser roubados para revenda em sucatas

e ferros-velhos

CHECK-UP

A urbanização também deve acabar com as moradias insalubres - úmidas e sem luz

natural. Os barracos de madeira, mais frágeis, são substituídos por construções de

alvenaria, que protegem melhor de chuvas e ventos. Com o espaçamento maior entre

as casas, elas ganham janelas, o que já melhora a circulação de ar, a umidade e a

entrada de luz

LAR, DOCE LAR

A etapa final da urbanização da favela é a regularização fundiária. De uma área

ocupada ilegalmente e sujeita a despejos, a favela passa a ser um bairro dentro da lei.

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Além de uma casa para chamar de sua, os moradores ganham documentos que evitam

que eles sejam expulsos de seu imóvel

VIAS DE FATO

As ruas ganham pavimentos permeáveis - os espaços entre os blocos deixam a água

passar. Os antigos becos e vielas viram ruas largas, em que passam ambulâncias e

caminhões de lixo. O problema é que algumas casas podem ser removidas para abrir

espaço

SALVO PELO CANO

Para regularizar o abastecimento de água, as tubulações clandestinas são substituídas

por ramificações da rede oficial de água. O esgoto é canalizado, evitando a poluição de

córregos e rios. Segundo o IBGE, a mortalidade infantil cai de 44,8 mortes por mil

crianças de até 5 anos de idade em residências sem saneamento básico para 26,1 por

mil crianças com a medida

DINDIN POR DINDIN

A urbanização melhora a qualidade de vida, mas traz um problema prático: como pagar

as contas de água e luz, que antes eram "grátis"? Favelas como a de Sacadura Cabral,

em Santo André (SP), criaram programas sociais no entorno, para gerar empregos e

renda aos moradores da região

Consultoria – Alex Abiko, Professor de engenharia civil da POLI – USP; Anderson

Kazuo, arquiteto do Instituo Pólis