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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS
PROJETO A VEZ DO MESTRE PÓS-GRADUAÇÃO EM
PLANEJAMENTO E EDUCAÇÃO AMBIENTAL
AS DIFICULDADES ENFRENTADAS PELAS ORGANIZAÇÕES NÃO GOVERNAMENTAIS ECOLÓGICAS NO PROCESSO DE
PRESERVAÇÃO AMBIENTAL
Paulo Garcia de Souza
Profª Orientadora: Maria Esther
NITERÓI – RJ
2005
2
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
PROJETO A VEZ DO MESTRE
AS DIFICULDADES ENFRENTADAS PELAS ORGANIZAÇÕES
NÃO GOVERNAMENTAIS ECOLÓGICAS NO PROCESSO DE
PRESERVAÇÃO AMBIENTAL
OBJETIVOS:
Coletar informações que possibilitem apontar
as causas freqüentes do insucesso das
Organizações Não Governamentais
ecológicas junto a comunidades fluminenses.
3
AGRADECIMENTOS
A todos da minha família e amigos próximos que
me apoiaram, aos meus professores do Projeto “A
Vez do Mestre”. Aos colegas e amigos da minha
turma de Planejamento e Educação Ambiental que
direta ou indiretamente me auxiliaram na
confecção dessa monografia.
4
DEDICATÓRIA
Dedico essa monografia a minha mãe e meu pai por
serem tão especiais na minha vida. Aos meus seis
sobrinhos que me deram lições valiosas de vida.
Paulo Garcia de Souza
5
RESUMO
Esta monografia teve como objetivo analisar o processo de
conscientização para a preservação ambiental praticado pelas organizações
não governamentais, começando por um histórico do movimento ecológico
internacional e nacional; relatando o perfil do terceiro setor e por fim,
buscando através de três dessas entidades, entender como esse processo
se dá na prática. Para isso é importante responder as questões: nós também
fazemos parte do meio ambiente? O que precisamos para preservar nosso
“lar”, a Terra? Temos que preservar ou conservar? Como sobreviver a
necessidade, cada vez maior, de tantos recursos naturais?
Muitas dúvidas que permeiam nossa mente e não sabemos como
respondê-las. Tal vez seja essa a razão porque algumas Organizações Não
Governamentais ecológicas encontram dificuldades na implementação de
seus projetos sócio-ambientais.
Os aspectos econômicos contam, e muito! Como defender a natureza
ou o meio ambiente se precisamos deles para sobreviver? A sobrevivência
sempre é prioritária.
Alterar o que é cotidiano ou dito “normal” e corriqueiro é um trabalho
desafiador e, às vezes, decepcionante. A aplicação de novas técnicas ou do
“fazer diferente” para melhorar os resultados sem impactar o meio ambiente
que habitamos é complicado e preocupa qualquer comunidade. Essas
mudanças podem passar pela escolha entre sobrevivência ou pelo simples
fato de ter que deixar de praticar um determinado manejo.
Os aspectos sociais, não menos importantes, estão ligados a
resistência ao “novo” e a intervenção de agentes externos ou desconhecidos
das comunidades.
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METODOLOGIA
Utilizei como metodologia definições e dados obtidos na consulta de
pesquisa bibliográfica, na internet e na pesquisa descritiva, chegando a
conclusão do relevante papel das Organizações Não Governamentais
Ecológicas como indispensáveis agentes na preservação do meio ambiente.
Sua ação, quase sempre, transcende o setor ecológico, passando
efetivamente pela recuperação da auto-estima das comunidades envolvidas
e uma mudança substancial na sua visão do que é o meio ambiente e quem
faz parte dele.
Foram recolhidos índices atuais do Ministério do Meio Ambiente,
ABONG, IBGE e dos “sites” das ONGs, como forma de antever o que
realmente acontece com essa intervenção sócio-ambiental. E a partir daí
comparar dados e relatas para chegar a um quadro que retrata sua ação
junto às comunidades em questão, da forma mais fiel possível.
7
Sumário:
Introdução 8
Capítulo I ¾ Ecologia 10
Capítulo II ¾ O Terceiro Setor 27
Capítulo III ¾ As Organizações Não Governamentais pesquisadas 34
Conclusão 45
Bibliografia 48
Índice 50
8
INTRODUÇÃO:
As Organizações Não-Governamentais ecológicas enfrentam
dificuldades na prática da preservação ambiental e na conscientização dos
cidadãos. Por que essas Organizações Não-Governamentais ecológicas
encontram problemas na materialização de seus projetos sócio-ambientais?
O que ocorre de fato? Conflitos de interesses ou ignorância do valor da
preservação da vida?
A aplicabilidade de certos projetos ecológicos esbarra na desconfiança
diante de novas possibilidades, na mudança comportamental e da
necessidade de sobrevivência da comunidade a ser afetada, quer como
cidadãos participativos ou como comunidade beneficiada. Por isso, é
necessário se adequar aos limites impostos nos primeiros contatos, respeitar
o que é considerada “verdade” para uns e, aos poucos, através de
sondagens, da promoção da auto-estima, da re-integração social, da
conscientização e de uma ampla mobilização conquistar aliados junto à
comunidade. Mostrando que a desconfiança é fruto da ignorância.
É importante a identificação dos elementos sociais e econômicos, tais
como: integração comunitária, fonte de trabalho, condições de moradia,
necessidades prioritárias e outras demandas que podem interferir
fundamentalmente no sucesso de qualquer projeto ambiental.
Coletar informações, discutir a prática cotidiana e as possibilidades
que podem surgir a partir disso, apontam as causas freqüentes do insucesso
de Organizações Não-Governamentais ecológicas junto às comunidades
fluminenses.
O aspecto econômico é o principal fator de impedimento ou limitação à
plena realização dos projetos ambientais, em comunidades de baixa renda.
A sobrevivência sempre “fala” mais alto.
9
Observar três Organizações Não-Governamentais ecológicas que
atuaram em comunidades fluminenses preferencialmente de baixa renda
deve dar uma amostra de como esse processo ocorre no Estado do Rio de
Janeiro. Levando-se em consideração comunidades bem distintas, com
diversidades de interesses.
10
Capítulo I
Ecologia
"
"Os poderosos podem matar uma, duas ou três rosas, mas jamais conseguirão deter a
primavera inteira". Ernesto 'Che' Guevara
(1928-1967)
11
O Novo Dicionário Aurélio diz: - “Ecologia é a parte da biologia que estuda as relações entre os seres vivos e o ambiente em que vivem, bem como as suas recíprocas influências.”
1.1) O QUE É ECOLOGIA?
Ecologia é o estudo das relações entre os seres vivos e o ambiente
onde vivem. O termo "ecologia" (do grego oikos, casa, domicílio, habitat, e
logos, ciência, estudo) foi originalmente empregado em 1866, pelo zoólogo
alemão Ernst Haeckel (1834-1919). Daí ser o estudo de nossa morada.
Também é considerada o ramo das ciências humanas que estuda a
estrutura e o desenvolvimento das comunidades humanas e suas interações
com o meio ambiente e sua adaptação a ele.
No final do século XIX e início do século XX foram publicados diversos
trabalhos tratando das relações entre seres vivos e o ambiente. Somente a
partir de 1930 o estudo da Ecologia ganhou um espaço independente dentro
da Biologia. Hoje os danos ambientais causados pela escassez de recursos
naturais e pela poluição ambiental fazem com que a Ecologia seja um dos
mais importantes ramos da ciência atual. E o cientista, o técnico, o
pesquisador, o educador, enfim, um profissional que atua sobre o tema meio
ambiente é considerado um "ecologista".
As pessoas leigas e os movimentos que defendem o meio ambiente
são erroneamente chamados de ecologistas, pois quem defende o meio
ambiente deve ser chamado de "ambientalista”.
Segue dois breves históricos com os principais acontecimentos que
levaram a uma maior conscientização dos povos sobre a importância da
preservação e conservação ambiental e, conseqüentemente, de que o
homem é parte do meio ambiente natural. Os fatos que levaram a ecologia à
educação ambiental. O primeiro relaciona os principais acontecimentos no
mundo e o segundo, no Brasil.
12
1.2) Dados Históricos da Educação Ambiental Internacional
Acontecimentos no Mundo Ano
- Século XIX -
1869
Ernst Haeckel, propõe o vocábulo “ecologia” para os estudos das relações entre as espécies e seu ambiente.
1872 Criação do primeiro parque nacional do mundo “Yellowstone”, Estados Unidos.
- Século XX -
1947 Funda-se na Suíça a UICN - União Internacional para a Conservação da Natureza
1952
Acidente de poluição do ar em Londres provoca a morte de 1600 pessoas
- anos 60 -
1962
Publicação da “Primavera Silenciosa” por Rachel Carlson.
1965
É utilizada a expressão “Educação Ambiental” (Enviromental Education) na “Conferência de Educação” da Universidade de Keele, Grã-Bretanha.
1966
Pacto Internacional sobre os Direitos Humanos - Assembléia Geral da ONU
1968
Fundação do Clube de Roma.
1968 Manifestações de Maio de 68 na França.
- anos 70 -
1972
Publicação do Relatório “Os Limites do Crescimento” - Clube de Roma.
1972
Conferência de Estocolmo - Discussão do Desenvolvimento e Ambiente, Conceito de Ecodesenvolvimento. Recomendação 96 Educação e Meio Ambiente.
1973
Registro Mundial de Programas em Educação Ambiental – EUA.
1974
Seminário de Educação Ambiental em Jammi, Finlândia - Reconhece a Educação Ambiental como educação integral e permanente.
13
1975
Congresso de Belgrado - Carta de Belgrado estabelece as metas e princípios da Educação Ambiental.
1975 Programa Internacional de Educação Ambiental – PIEA
1976
Reunião Sub-regional de Educação Ambiental para o ensino Secundário Chosica Peru. Questões ambientais na América Latina estão ligadas às necessidades de sobrevivência e aos direitos humanos.
1976
Congresso de Educação Ambiental Brasarville, África, reconhece que a pobreza é o maior problema ambiental.
1977
Conferência de Tbilisi - Geórgia, estabelece os princípios orientadores da educação ambiental e remarca seu caráter interdisciplinar, critico, ético e transformador.
1979
Encontro Regional de Educação Ambiental para América Latina em San José, Costa Rica.
- anos 80 -
1980
Seminário Regional Europeu sobre Educação Ambiental, para Europa e América do Norte. Assinala a importância do intercâmbio de informações e experiências.
1980
Seminário Regional sobre Educação Ambiental nos Estados Árabes, Manama, Bahrein. UNESCO – PNUMA.
1980 Primeira Conferência Asiática sobre EA Nova Delhi, Índia.
1987 Divulgação do Relatório da Comissão Brundtland, Nosso Futuro Comum.
1987
Congresso Internacional da UNESCO - PNUMA sobre Educação e Formação Ambiental - Moscou. Realiza a avaliação dos avanços desde Tbilisi, reafirma os princípios de Educação Ambiental e assinala a importância e necessidade da pesquisa, e da formação em Educação Ambiental.
1988
Declaração de Caracas, ORPAL - PNUMA, Sobre Gestão Ambiental em América Denuncia a necessidade de mudar o modelo de desenvolvimento.
1989
Primeiro Seminário sobre materiais para a Educação Ambiental. ORLEAC - UNESCO - PIEA. Santiago, Chile.
1989
Declaração de HAIA, preparatório da RIO-92, aponta a importância da cooperação internacional nas questões ambientais.
14
- anos 90 -
1990
Conferência Mundial sobre Ensino para Todos, Satisfação das necessidades básicas de aprendizagem, Jomtien, Tailândia. Destaca o conceito de Analfabetismo Ambiental.
1990
ONU Declara o ano 1990 - Ano Internacional do Meio Ambiente.
1991
Reuniões preparatórias da Rio 92.
1992
Conferencia sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, UNCED, Rio-92 - Criação da Agenda 21- Tratado de Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis FORUN das ONG’s - compromissos da sociedade civil com a Educação Ambiental e o Meio Ambiente. Carta Brasileira de Educação Ambiental. Aponta as necessidades de capacitação na área. MEC.
1993
Congresso Sul-americano continuidade Eco/92 – Argentina.
1993
Conferência dos Direitos Humanos. Viena.
1994
Conferência Mundial da População. Cairo.
1994
Congresso Ibero Americano de Educação Ambiental. Guadalajara, México.
1995
Conferência para o Desenvolvimento Social. Copenhague Criação de um ambiente econômico-político-social-cultural e jurídico que permita o desenvolvimento social.
1995
Conferência Mundial do Clima. Berlim.
1996
Conferência Habitat II Istambul.
1997
II Congresso Ibero-americano de Educação Ambiental. Junho Guadalajara, México.
1997 Conferência sobre Educação Ambiental em Nova Delhi.
1997
Conferência Internacional sobre Meio Ambiente e Sociedade: Educação e Conscientização Pública para a Sustentabilidade, Thessaloniki, Grécia.
Naná Minnini Medina
Consultora de Educação Ambiental Fonte: http://www.mma.gov.br
15
1.3) Dados Históricos da Educação Ambiental no Brasil
Acontecimentos no Brasil Ano
- Século XIX -
1808 Criação do Jardim Botânico no Rio de Janeiro.
1850
Lei 601 de Dom Pedro II proibindo a exploração florestal nas terras descobertas, a lei foi ignorada, continuando o desmatamento para implantação da monocultura de café.
1876
André Rebouças sugere a criação de parques nacionais na Ilha de Bananal e em Sete Quedas.
1891
Decreto 8.843 cria reserva florestal em Acre, que não foi implantada ainda.
- Século XX -
1920 O pau brasil é considerado extinto.
1932
Realiza-se no Museu Nacional a primeira Conferência Brasileira de Proteção à Natureza.
1934
Decreto 23793 transforma em Lei o Anteprojeto de Código Florestal.
1937
Cria-se o Parque Nacional de Itatiaia.
1939
Cria-se o Parque Nacional do Iguaçu.
- anos 60 -
1961
Jânio Quadros declara o pau-brasil como árvore símbolo nacional, e o ipê como a flor símbolo nacional.
- anos 70 -
1971
Cria-se em Rio Grande do Sul a associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural. AGAPAN.
1972
A Delegação Brasileira na Conferência de Estocolmo declara que o país está “aberto a poluição, porque o que se precisa é dólares, desenvolvimento e empregos” . Apesar disto, contraditoriamente o Brasil lidera os países do Terceiro Mundo para não aceitar a Teoria do Crescimento Zero proposta pelo Clube de Roma.
16
1972
A Universidade Federal de Pernambuco inicia uma campanha de re-introdução do pau-brasil considerado extinto em 1920.
1973
Cria-se a Secretaria Especial do Meio Ambiente, SEMA, no âmbito do Ministério do Interior, que entre outras atividades, começa a fazer Educação Ambiental.
1976
A SEMA e a Fundação Educacional do Distrito Federal e a Universidade de Brasília realizam o primeiro curso de Extensão para professores do 1º Grau em Ecologia.
1977 Implantação do Projeto de Educação Ambiental em Ceilândia. (1977 - 81).
1977
SEMA constitui um grupo de trabalho para elaboração de um documento de Educação Ambiental para definir seu papel no contexto brasileiro.
1977
Seminários Encontros e debates preparatórios à Conferência de Tbilisi são realizados pela FEEMA-RJ.
1977
A disciplina Ciências Ambientais passa a ser obrigatória nos cursos de Engenharia.
1978
A Secretaria de Educação de Rio Grande do Sul desenvolve o Projeto Natureza (1978 - 85).
1978
Criação de cursos voltados para as questões ambientais em varias universidades brasileiras.
1978
Nos cursos de Engenharia Sanitária inserem-se as disciplinas de Saneamento Básico e Saneamento Ambiental.
1979
O MEC e a CETESB/ SP, publicam o documento “Ecologia uma Proposta para o Ensino de 1o e 2o Graus.”
- anos 80 -
1981
Lei Nr. 6938 de 31 de Agosto dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente (Presidente Figueiredo)
1984
Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA), apresenta uma resolução estabelecendo diretrizes para a Educação Ambiental, que não é tratada.
1986
A SEMA junto com a Universidade Nacional de Brasília, organiza o primeiro Curso de Especialização em Educação Ambiental. (1986 a 1988)
17
1986
I Seminário Nacional sobre Universidade e Meio Ambiente.
1986
Seminário Internacional de Desenvolvimento Sustentado e Conservação de Regiões Estuarino – Lacunares (Manguezais) São Paulo.
1987
O MEC aprova o Parecer 226/87 do conselheiro Arnaldo Niskier, em relação a necessidade de inclusão da Educação Ambiental nos currículos escolares de 1o e 2o Graus.
1987 Paulo Nogueira Neto representa ao Brasil na Comissão Brundtland.
1987
II Seminário Universidade e Meio Ambiente, Belém, Pará.
1988
A Constituição Brasileira, de 1988, em Art. 225, no Capítulo VI - Do Meio Ambiente, Inciso VI, destaca a necessidade de ‘’promover a Educação Ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a preservação do meio ambiente’’. Para cumprimento dos preceitos constitucionais, leis federais, decretos, constituições estaduais, e leis municipais determinam a obrigatoriedade da Educação Ambiental.
1988
Fundação Getúlio Vargas traduz e publica o Relatório Brundtland, Nosso Futuro Comum.
1988
A Secretaria de Estado do Meio Ambiente de SP e a CETESB , publicam a edição piloto do livro “Educação Ambiental” Guia para professores de 1o e 2o Graus.
1989
Criação do IBAMA (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente), pela fusão da SEMA, SUDEPE, SUDEHVEA e IBDF. Nele funciona a Divisão de Educação Ambiental.
1989
Programa de Educação Ambiental em Universidade Aberta da Fundação Demócrito Rocha, por meio de encartes nos jornais de Recife e Fortaleza.
1989
Primeiro Encontro Nacional sobre Educação Ambiental no Ensino Formal. IBAMA/ UFRPE. Recife
1989
Cria-se o Fundo Nacional de Meio Ambiente FNMA no Ministério do Meio Ambiente MMA.
1989 III Seminário Nacional sobre Universidade e Meio Ambiente. Cuiabá. MT
18
- anos 90 -
1990
I Curso Latino-Americano de Especialização em Educação Ambiental. PNUMA/IBAMA/CNPq/CAPES/UFMT. CUIABÁ - MT (1990 a 1994)
1990
IV Seminário Nacional sobre Universidade e Meio Ambiente, Florianópolis, SC.
1991
MEC resolve que todos os currículos nos diversos níveis de ensino deverão contemplar conteúdos de Educação Ambiental (Portaria 678 de 14/05/91).
1991 Projeto de Informações sobre Educação Ambiental IBAMA/ MEC.
1991
Grupo de Trabalho para Educação Ambiental coordenado pelo MEC, preparatório para a Conferência do Rio 92.
1991
Encontro Nacional de Políticas e Metodologias para Educação Ambiental. MEC/ IBAMA/Secretaria do Meio Ambiente da Presidência da República/ UNESCO/ Embaixada do Canadá.
1992 Criação dos Núcleos Estaduais de Educação Ambiental do IBAMA, NEA’s.
1992
Participação das ONG’s do Brasil no Fórum de ONG’s e na redação do Tratado de Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis. Destaca-se o papel da Educação Ambiental na construção da Cidadania Ambiental.
1992
O MEC promove no CIAC do Rio das Pedras em Jacarepaguá Rio de Janeiro o Workshop sobre Educação Ambiental cujo resultado encontra-se na Carta Brasileira de Educação Ambiental, destacando a necessidade de capacitação de recursos humanos para educação ambiental.
1993
Uma Proposta Interdisciplinar de Educação Ambiental para Amazônia. IBAMA, Universidades e SEDUC’s da região, publicação de um Documento Metodológico e um de caráter temático com 10 temas ambientais da região.(1992 a 1994)
1993
Criação dos Centros de Educação Ambiental do MEC, com a finalidade de criar e difundir metodologias em Educação Ambiental.
1994
Aprovação do Programa Nacional de Educação Ambiental, PRONEA, com a participação do MMA/IBAMA/MEC/MCT/MINC.
1994
Publicação da Agenda 21 feita por crianças e jovens em português. UNICEF.
1994
3º Fórum de Educação Ambiental
19
1995
Todos os Projetos Ambientais e/ou de desenvolvimento sustentável devem incluir como componente: atividades de Educação Ambiental.
1996 Criação da Câmara Técnica de Educação Ambiental do CONAMA.
1996
Novos Parâmetros Curriculares do MEC, nos quais incluem a Educação Ambiental como tema transversal do currículo.
1996
Cursos de Capacitação em Educação Ambiental para os técnicos das SEDUC’s e DEMEC’s nos Estados, para orientar a implantação dos Parâmetros Curriculares. Convênio UNESCO – MEC.
1996
Criação da Comissão Interministerial de Educação Ambiental. MMA
1997
Criação da Comissão de Educação Ambiental do MMA.
1997 I Conferência Nacional de Educação Ambiental. Brasília. ICNEA.
1997
Cursos de Educação Ambiental organizados pelo MEC – Coordenação de Educação Ambiental, para as escolas Técnicas e Segunda etapa de capacitação das SEDUC’s e DEMEC’s. Convênio UNESCO – MEC.
1997
IV Fórum de Educação Ambiental e I Encontro da Rede de Educadores Ambientais. Vitória.
1997
I Teleconferência Nacional de Educação Ambiental, Brasília, MEC.
1998 Publicação dos materiais surgidos da ICNEA.
1999
Criação da Diretoria de Educação Ambiental do MMA Gabinete do Ministro.
1999
Aprovação da LEI 9.597/99 que estabelece a Política Nacional de Educação Ambiental.
1999
Programa Nacional de Educação Ambiental.
1999 Criação do Movimento dos Protetores da Vida - Carta de Princípios Brasília DF
1999
A Coordenação de Educação Ambiental do MEC passa a formar parte da Secretária de Ensino Fundamental – COEA
20
2000
Seminário de Educação Ambiental organizado pela COEA/ MEC Brasília DF
2000
Curso Básico de Educação Ambiental a Distancia DEA/ MMA UFSC/ LED/ LEA
2002 Rumo a sustentabilidade global, “Rio + 10” - Joanesburgo – África do Sul.
Naná Minnini Medina
Consultora de Educação Ambiental Fonte: http://www.mma.gov.br
A partir desses históricos, duas conferências internacionais marcaram
significativamente o movimento ecológico no mundo. Foram elas: a
Conferência das Nações Unidas sobre o Homem e o Meio Ambiente, em
Estocolmo (Suécia), em 1972 e a Conferência das Nações Unidas sobre Meio
Ambiente e Desenvolvimento, em 1992 no Rio de Janeiro.
1.4) Estocolmo-72: A conscientização.
Antes de Estocolmo se entendia a natureza e seus ecossistemas
apenas como "inesgotáveis" matérias-primas e fontes de energia e, ainda
como depósito dos dejetos produzidos por suas indústrias, cidades, e
atividades agropecuárias. A natureza era vista apenas como fonte de lucros,
de enriquecimento.
O ser humano avançou tanto em termos tecnológicos, libertou-se tanto
dos limites impostos pela natureza aos outros animais, dominou-a tão
completamente que se sentiu seu dono e passou a vê-la como algo separado
dele mesmo – um bem. O preço dessa pretensão não demorou a ser
cobrado: já nos séculos XVIII e XIX, os impactos ambientais provocados pela
crescente industrialização eram muito grandes. Mas, de qualquer maneira,
ainda eram localizados, atingiam basicamente os trabalhadores, os
operários, os pobres. Os donos das fábricas poluidoras, os ricos, ainda
tinham como se refugiar das mazelas da industrialização. Com o passar do
tempo, devido à crescente expansão do processo de industrialização-
21
urbanização, os impactos foram aumentando cada vez mais e no pós-guerra,
passaram a ter conseqüências mundiais.
O alerta foi dado no início da década de 1970. Em 1972, foi realizada
a conferência das Nações Unidas sobre o Homem e o Meio Ambiente, em
Estocolmo (Suécia). Nesse primeiro encontro de chefes de Estado para
debater as questões sobre meio ambiente e desenvolvimento; nasceram as
primeiras polêmicas acerca desses complexos temas. Nesse mesmo ano,
uma entidade formada por importantes empresários, chamada Clube de
Roma, encomendou ao Massachusetts lnstitute of Technology (MIT), dos
Estados Unidos, um estudo que ficou conhecido como o Desenvolvimento
Zero. Esse estudo chamava a atenção do mundo para os problemas
ambientais globais causados pela sociedade urbano-industrial e propunha o
congelamento do crescimento econômico como única solução para evitar
que o aumento dos impactos ambientais levasse o mundo a uma tragédia
ecológica. O que não era nada bom para os países subdesenvolvidos e os
em desenvolvimento.
A Conferência Estocolmo-72 foi marcada pela polêmica entre os
defensores do “desenvolvimento zero” basicamente representantes dos
países industrializados, e os defensores do “desenvolvimento a qualquer
custo” representantes dos países não-industrializados. A proposta dos
países ricos era congelar as desigualdades socioeconômicas mundiais; a dos
países pobres era a de implementar uma acelerada industrialização de alto
impacto ecológico e humano. Nenhuma proposta menos maniqueísta surgiu
nessa ocasião.
A crise econômica mundial dos anos 70, detonada em parte pela crise
do petróleo e que alertou o mundo para o fato de que os recursos naturais
não são inesgotáveis, depositou questões econômicas mais urgentes para os
governantes do mundo inteiro se preocuparem. Somente no início dos anos
80 a polêmica desenvolvimento x meio ambiente seria re-avaliada.
22
Em 1983, a Assembléia Geral da ONU indicou a então primeira-
ministra da Noruega, Gro Harlem Brundtland1, para presidir uma comissão
encarregada de estudar esse tema. Em 1987, foi publicado pela Comissão
Mundial sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento (CMMAD) da ONU um
estudo denominado “Nosso Futuro Comum”, mais conhecido como Relatório
Brundtland. Esse estudo defendia o crescimento para todos, buscando um
equilíbrio entre as posições contrárias surgidas na Estocolmo-72. Tentando
conciliar preservação do meio ambiente e o desenvolvimento, surgiu pela
primeira vez a concepção de “desenvolvimento sustentável”. Ou seja, a
preservação da qualidade dos sistemas ecológicos, a necessidade de um
crescimento econômico para satisfazer as necessidades sociais e a
igualdade - todos podem compartilhar - entre geração presente e futura.
O Relatório Brundtland sugeriu um novo conceito de desenvolvimento, que seria "uma correção, uma retomada do crescimento, alterando a qualidade do desenvolvimento, a fim de torná-lo menos intensivo de matérias-primas e mais eqüitativo para todos", e, ao mesmo tempo, "um processo de mudança no qual a exploração dos recursos, a orientação dos investimentos, os rumos do desenvolvimento tecnológico e a mudança institucional estão de acordo com as necessidades atuais e futuras" (CMMAD, 1987).
§ A noção de sustentabilidade foi emprestada pela ecologia natural.
Muitos ambientalistas do mundo inteiro criticaram esse relatório, pois,
segundo eles, não passava de um ponto de vista conservador do
crescimento sustentável, já que não questionava o modelo de
desenvolvimento vigente no mundo, por propor apenas a transformação do
capitalismo num “ecocapitalismo” e acreditar nas “boas” intenções dos
agentes econômicos.
1 Brundtland, Gro Harlem Doutorada em Medicina e presidente do Partido Social-Democrata dos Trabalhadores da Noruega entre 1981 e 1992.
23
O Relatório Brundtland sugeria um "capitalismo verde", apenas a
implantação de uma série de medidas paliativas, para mitigar os impactos
ambientais, muito além das propostas radicais dos que defendiam a
concepção de sociedades sustentáveis. Os defensores de uma proposta
radical de sustentabilidade, nem utilizam o termo desenvolvimento,
consideravam o termo já está fortemente saturado de uma perspectiva
meramente econômica. As sociedades sustentáveis estariam baseadas em
justiça social, preservação da diversidade cultural, igualdade econômica e da
integridade ecológica, o que obrigaria a mudanças não apenas econômicas,
mas morais, éticas e filosóficas. Daria a entender numa visão holística para a
relação homem-natureza.
Surge uma nova utopia que tenta dar respostas aos anseios de
parcelas da humanidade que não vêem no modelo de desenvolvimento
vigente a saída para os problemas que as afligem. São problemas
socioeconômicos e ambientais, muitos deles agravados sob o capitalismo em
seu período técnico-científico.
§ Entre o ideal e o real há uma distância muito grande.
O que se está tentando fazer para equilibrar a necessidade de
acumulação de capital com as desigualdades sociais, os impactos
ambientais e a apropriação da natureza de forma sustentável; combinada
com a melhoria das condições de vida dos seres humanos.
O que é possível fazer dentro da concepção de desenvolvimento
sustentável, caminharmos para um "capitalismo verde”?
A Rio-92 traz novas respostas para essas dúvidas.
24
1.5) Conferência sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, UNCED, Rio-92:
A Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e
Desenvolvimento, realizada em 1992 no Rio de Janeiro, reuniu chefes de
Estado da maioria dos países do mundo, além de milhares de representantes
de organizações não-governamentais (ONGs), numa conferência paralela.
Esse encontro, que na fase preparatória teve como auxílio o Relatório
Brundtland, definiu uma série de resoluções, visando alterar o modelo
consumista de desenvolvimento vigente no mundo para outro, mais
ecologicamente sustentável. O objetivo fundamental era tentar mitigar os
impactos ambientais no mundo, garantindo o futuro das próximas gerações.
Segundo o Relatório da CMMAD: "O desenvolvimento sustentável é aquele
que atende às necessidades do presente sem comprometer a possibilidade
de as gerações futuras satisfazerem suas próprias necessidades”. Para
atingir tal fim, foram elaboradas duas convenções (uma sobre
biodiversidade2, outra sobre mudanças climáticas), uma declaração de
princípios (Declaração do Rio), uma declaração sobre as florestas e um
plano de ação.
1.5.1) Agenda 21
A Agenda 21, o plano de ação, mais conhecido, é um ambicioso
programa para a implantação de um modelo de desenvolvimento sustentável
em todo o mundo para o século XXI. Os países desenvolvidos
comprometeram-se a canalizar 0,7% de seus PIBs (produto interno bruto)
para a aplicação do programa. Com raras exceções, como os países
nórdicos, esses países não estão cumprindo esse compromisso. Já faltam
recursos para os primeiros passos rumo à implementação da Agenda 21.
2 "Diversidade biológica" significa a variabilidade de organismos vivos de todas as origens, compreendendo, dentre outros, os ecossistemas terrestres, marinhos e outros ecossistemas aquáticos e os complexos ecológicos de que fazem parte; compreendendo ainda a diversidade dentro de espécies, entre espécies e de ecossistemas. (Artigo 2 da Convenção sobre Diversidade Biológica) - MMA
25
Já a Convenção sobre Biodiversidade e a Convenção sobre Mudanças
Climáticas têm como agente financiador um organismo denominado GEF
(Global Environment Facility) ou Fundo para o Meio Ambiente Global. Criado
em 1990, o GEF é dirigido pelo Banco Mundial e recebe apoio técnico e
científico dos Programas das Nações Unidas para o Desenvolvimento
(PNUD) e para o Meio Ambiente (PNUMA).
A Convenção sobre Biodiversidade traça uma série de medidas para a
preservação das várias espécies de vida que habitam o planeta. Em vigor
desde 1993, essa convenção tenta diminuir a destruição da flora e da fauna,
concentradas principalmente nas florestas tropicais, as mais ricas em
biodiversidade.
A Convenção sobre Mudanças Climáticas estabeleceu várias medidas
que visam diminuir a emissão de poluentes pelas fábricas, automóveis e
outras fontes poluidoras, com o objetivo de impedir a destruição da camada
de ozônio, a ação do efeito estufa, o avanço da desertificação, etc. Essa
convenção entrou em vigor em 1994. Novo acordo sobre o tema foi firmado
em 1997, através do Protocolo de Quioto.
1.5.2) Protocolo de Quioto.
Quando adotaram a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre
Mudança do Clima, em 1992, os governos reconheceram que ela poderia ser
a propulsora de ações mais enérgicas no futuro. Ao estabelecer um processo
permanente de revisão, discussão e troca de informações, a Convenção
possibilita a adoção de compromissos adicionais em resposta a mudanças
no conhecimento científico e nas disposições políticas.
A primeira revisão da adequação dos compromissos dos países
desenvolvidos foi conduzida, como previsto, na primeira sessão da
Conferência das Partes (COP-1), que ocorreu em Berlim, em 1995. As Partes
decidiram que o compromisso dos países desenvolvidos de voltar suas
26
emissões para os níveis de 1990, até o ano 2000, era inadequado para se
atingir o objetivo de longo prazo da Convenção, que consiste em impedir
"uma interferência antrópica (produzida pelo homem) perigosa no sistema
climático".
Ministros e outras autoridades responderam com a adoção do
"Mandato de Berlim" e com o início de uma nova fase de discussões sobre o
fortalecimento dos compromissos dos países desenvolvidos. O grupo Ad Hoc
sobre o Mandato de Berlim (AGBM) foi então formado para elaborar o
esboço de um acordo que, após oito sessões, foi encaminhado à COP-3 para
negociação final.
Cerca de 10.000 delegados, observadores e jornalistas participaram
desse evento de alto nível realizado em Quioto, Japão, em dezembro de
1997. A conferência culminou na decisão por consenso (1/CP.3) de adotar-se
um Protocolo segundo o qual os países industrializados reduziriam suas
emissões combinadas de gases de efeito estufa em pelo menos 5% em
relação aos níveis de 1990 até o período entre 2008 e 2012. Esse
compromisso, com vinculação legal, promete produzir uma reversão da
tendência histórica de crescimento das emissões iniciadas nesses países há
cerca de 150 anos.
O Protocolo de Quioto foi aberto para assinatura em 16 de março de
1998. Entrou em vigor 90 dias após a sua ratificação por pelo menos 55
Partes da Convenção, incluindo os países desenvolvidos que contabilizaram
pelo menos 55% das emissões totais de dióxido de carbono em 1990 desse
grupo de países industrializados. Enquanto isso, as Partes da Convenção
sobre Mudança do Clima continuarão a observar os compromissos
assumidos sob a Convenção e a preparar-se para a futura implementação do
Protocolo.
27
Capítulo II
O Terceiro Setor: Organizações Não Governamentais
“Na natureza não há nem prêmios nem castigos: apenas conseqüências.”
Robert Ingersoll (1833-1899)
28
2.1) Definição:
O Terceiro Setor é assim denominado porque engloba instituições com
objetivos públicos, mas de caráter privado, que não pertencem ao Primeiro
Setor (Estado). São regidas pelo direito privado, mas não possuem objetivos
mercantis, também não sendo qualificadas como instituições do Segundo
Setor (Mercado). Fazem parte do chamado espaço público não estatal.
Qualificam-se como entidades do Terceiro Setor as ONGs,
associações, fundações, entidades de assistência social, educação, saúde,
esporte, meio ambiente, cultura, ciência e tecnologia, entre outras várias
organizações da sociedade civil.
O Terceiro Setor abrange ações públicas que saem do domínio estatal,
e passam a ser encampadas por organizações da sociedade civil. É o
surgimento da iniciativa privada com fins públicos, com o objetivo de
combater grandes problemas do mundo atual, como a pobreza, violência,
poluição, analfabetismo, racismo, etc. São instituições com grande potencial
de representatividade, podendo ser vistas como legítimas representantes dos
interesses da sociedade civil.
Dentre as razões que levaram ao crescimento mundial do Terceiro
Setor, encontram-se a pouca representatividade, a capacidade limitada na
execução de tarefas sociais, e a falta de capilaridade por parte de órgãos
governamentais, características necessárias à execução de determinadas
ações, e tão típicas das modernas ONGs. Além disso, estes órgãos do
governo têm dificuldade na manutenção de programas já implementados, e
uma morosidade no repasse de recursos que torna certas ações inviáveis.
É notório que ações públicas são comprovadamente mais eficazes se
realizadas em parceria, e ações conjuntas entre o governo e organizações da
sociedade civil fazem parte da política global de descentralização, citada em
nossa Constituição Federal (capítulo 3, seções A e C).
29
As organizações da sociedade civil acumulam infra-estrutura,
conhecimentos, recursos humanos de qualidade, experiência, e estão
perfeitamente aptas a trabalhar em parceria com órgãos públicos.
O crescimento do Terceiro Setor denota um aumento do compromisso
da sociedade com a cidadania, e o produto das organizações da sociedade
civil é um ser humano mudado, consciente de suas responsabilidades como
cidadão global.
Sabe-se que o Terceiro Setor está em pleno crescimento no mundo.
Entretanto, existe uma grande dificuldade no dimensionamento do verdadeiro
potencial das organizações da sociedade civil. Há uma falta de coerência em
informações como cifras, número de instituições, quantidade de
trabalhadores remunerados e voluntários, porém os dados disponíveis nos
indicam um efetivo aumento nas atividades deste setor da sociedade.
Apesar da multiplicação das ONGs e de outras categorias de
organizações da sociedade civil no Brasil, ainda apresentamos números
muito inferiores aos de países da Europa ou América do Norte. De acordo
com o Advogado Manoel Gomes, em matéria para a Gazeta do Povo, há
registros não oficiais de aproximadamente 200 mil ONGs no Brasil,
empregando mais de 2 milhões de pessoas.
Nos Estados Unidos, é usual usar o termo terceiro setor paralelamente
a outras expressões, como: ''Organizações sem fins lucrativos - Non Profit
Organizations'', significando um tipo de instituição cujos benefícios
financeiros não podem ser distribuídos entre seus diretores e associados.
Ainda como expressão utilizada - Organizações Voluntárias, com significado
complementar à citada. Em 1990, o setor movimentava 300 bilhões de
dólares, já em 1996, as organizações da sociedade civil americanas
movimentaram 6,3% do PIB, (320 bilhões de dólares, em números absolutos,
metade do PIB brasileiro no mesmo ano).
30
Hoje, o terceiro setor nos Estados Unidos movimenta anualmente 600
bilhões de dólares, empregando 12 milhões de trabalhadores remunerados,
além de inúmeros voluntários (Professor Luiz Carlos Merege - FGV). Em
países como Itália, França e Alemanha, as instituições sem fins lucrativos
atingem anualmente mais de 3% do PIB nacional.
De acordo com a pesquisadora Leilah Landim (Universidade Federal do
Rio de Janeiro), houve um crescimento de 30% no setor entre 1991 e 1995,
passando a ocupar cerca de 1,4 milhão de pessoas no Brasil. Este número
inclui funcionários remunerados e voluntários, e representa mais que o dobro
do número de funcionários públicos federais na ativa. A mesma pesquisa cita
que em 1991, o Cadastro Geral de Contribuintes do Ministério da Fazenda
registrava cerca de 200.000 entidades sem fins lucrativos.
O IBGE estima que existam cerca de 22.207 ONGs atuando no Brasil
em diversas áreas. Oficialmente só existem 2.969. Ver gráfico abaixo:
ONGs por área princiapal de atividade:
29%
21%13%
13%
9%
5%
6% 4%Educação e pesquisa
Assistência e promoção social
Desenvolvimento comunitário,social e econômico/moradiaOutras
Saúde
Cultura e recreação
Não informada
Meio ambiente
Fonte: IBGE (www.ibge.gov.br, em 28/06/2005)
Segundo pesquisadores da John Hopkins University, dos Estados
Unidos, o Terceiro Setor é a oitava força econômica mundial, movimentando
1,1 trilhão de dólares por ano, gerando aproximadamente 10,4 milhões de
31
empregos. O economista Lester Salamon, da mesma universidade,
coordenou uma pesquisa em 22 países, incluindo o Brasil, que concluiu que
o segmento gira 1,1 trilhão de dólares, empregando 19 milhões de pessoas,
excluindo-se os voluntários. Esta pesquisa levantou o perfil do Terceiro Setor
no Brasil, em pessoal ocupado por área de atuação:
Área de atuação Número de pessoas %
Educação e pesquisa 381.098 34
Saúde 184.040 16,4
Cultura 175.540 15,7
Assistência social 169.663 15,2
Associações profissionais 99.203 8,9
Religião 93.769 8,4
Defesa dos direitos 13.721 1,2
Meio ambiente 2.499 0,2
Fonte: John Hopkins University
O Conselho da Comunidade Solidária informa que o Terceiro Setor no
Brasil conta com aproximadamente 250.000 entidades, empregando 1,5
milhão de pessoas e 12 milhões de voluntários.
Diferenciação - As Organizações da Sociedade Civil podem ser
diferenciadas de acordo com seu formato, formalização, fim e setor.
2.2) Organização Não Governamental – ONG
(1) Organização não governamental; expressão difundida a partir dos
Estados Unidos (em inglês non governmental organization/NGO) para
designar grupos de ação independente, sem vinculação com a administração
pública; usado para designar as associações ambientalistas.
(2) Organizações Não Governamentais, grupos de pressão social, de
caráter diverso (ambientalistas, étnicos, profissionais etc) que não tenham
relação com o Estado (Glossário Ibama, 2003).
32
O termo ONG é oriundo do inglês, tendo sido utilizado oficialmente pela
primeira vez em 1950 pela Organização das Nações Unidas (ONU) no
ECOSOC (Conselho Econômico e Social).
Organização Não Governamental é uma terminologia adotada às
entidades sem fins lucrativos que se dedicam a realizar tarefas essenciais
pertencentes ao Estado, entretanto, devido sua omissão em atuar nestes
segmentos, por incapacidade administrativa ou financeira, estas tarefas são
encampadas por segmentos da sociedade civil que, sensibilizados, se
organizam para suprir tais deficiências. São, portanto, instituições privadas
que têm finalidade pública, sem fins lucrativos.
As ONG podem atuar nas áreas de saúde, educação, assistência
social, cultura, preservação e conservação do meio-ambiente.
2.3) O Papel das ONGs.
Muitas ONGs têm desempenhado um papel fundamental como
defensoras da natureza, ao longo das últimas décadas. Elas simbolizam a
conscientização e a organização da sociedade civil na luta pela preservação
dos ecossistemas do planeta. Exercem importante papel, na fiscalização da
aplicação das resoluções da Rio-92. No entanto, uma foi criada
especialmente para esse fim. Trata-se do Conselho da Terra, uma ONG
liderada por 21 eminentes ambientalistas de vários países. Funciona desde
1993 e está sediada em San José (Costa Rica).
A mais famosa ONG do mundo é o Greenpeace. Criada em 1971, hoje
tem mais de 5 milhões de filiados espalhados por 29 países. É uma das
ONGs mais atuantes em vários campos da preservação ambiental. Ficou
conhecida por organizar protestos contra a caça predatória, como a das
baleias, e testes nucleares subterrâneos, como os realizados pela França no
oceano Pacífico (Polinésia), em 1995.
33
Outra ONG importante é o WWF - World Wildlife Fund ou Fundo
Mundial para a Natureza, uma das mais antigas, que desde 1961 luta em
defesa da natureza em todo o planeta. Trata-se de uma das entidades que
mais investem na preservação de ecossistemas ameaçados de extinção no
nosso país, algo em torno de 3 milhões de dólares por ano.
No Brasil, uma das ONGs mais atuantes é a Fundação SOS-Mata
Atlântica, criada em 1986 com o objetivo de preservar o que restou dessa
floresta nas encostas da serra do Mar.
34
Capítulo III
As Organizações Não Governamentais pesquisadas
“A verdadeira dificuldade não está em aceitar idéias novas, mas em escapar
das idéias antigas". John M Keynes
(1883 - 1946)
35
As Organizações Não Governamentais Ecológicas analisadas:
Foram selecionadas três Organizações Não Governamentais que
atuam na área ecológica, com ênfase em educação ambiental, são elas:
ü A ONG Puris do município de Itaperuna;
ü A Associação Ecocidade, localizada em Duque de Caxias;
ü A Ecomarapendi, município do Rio de Janeiro.
3.1) ONG PURIS – Itaperuna.
A ONG Puris atua na defesa e a preservação do meio ambiente, no
incentivo e apoio a cultura e artes em geral. Tem como missão alcançar uma
melhor qualidade de vida para a comunidade através, principalmente, de
trabalhos de educação ambiental. Situa-se no centro da cidade de Itaperuna,
onde atua.
A origem do nome vem daqueles que foram os primeiros habitantes
desta região: Os Puris. Vítimas, desde o inícío da colonização do município,
dos mais diversos aventureiros, tiveram os Puris nos poaieiros (extrativistas
da poaia) a sua mais forte degradação. Eles os exploravam o mais que
podiam, pagando com aguardente, a extração de um vegetal chamado
poaia3, muito abundante nessa região. Essa bebida exercia grande atração
sobre os Puris e, muitas das vezes, em troca da bebida ofereciam aos
poaeiros suas mulheres e filhas.
Daí, em poucas palavras, uma das razões pela qual os índios
mereceram essa homenagem. Pois, estes seres que já foram chamados de
"crianças das selvas", são a causa primeira da vida humana na terra
itaperunense. Descendente dos Goytacazes que, perseguidos, caçados e
3 Poaia, [Do Tupi pu´aya.] S.f. Bras. 1. ipecacunha. (LUFT, Celso Pedro. Dicionário O Globo. p.552, 1993 – São Paulo. 30ª ed.)
36
derrotados, subiram o Rio Muriaé, invadindo a densa floresta virgem e
povoando-a até o início do Século XIX.
Segundo a ONG Puris, os principais problemas ambientais do vale do
rio Muriaé são:
§ Falta de saneamento básico, incluindo falta de tratamento de esgoto.
Aproximadamente 98% do esgoto doméstico é jogado in natura nos
córregos e no rio Muriaé. Em grande parte da cidade a rede de esgoto
se mistura com a rede de águas pluviais;
§ Desmatamento intenso. A região é uma das áreas mais desmatadas
do estado do Rio de Janeiro devido, no passado, ao cultivo de café e
posteriormente à pecuária extensiva sem monitoramento ambiental;
§ A Secretaria Municipal de Meio Ambiente recém criada, carente de
mão-de-obra qualificada e sem aparelhamento adequado;
§ Não existe uma política municipal de educação ambiental;
§ Carência de áreas de lazer, parques florestais e horto florestal.
§ Grande parte das áreas públicas foi cedida para igrejas e outras
instituições descomprometidas com a preservação ambiental;
§ Falta de planejamento urbano;
§ Queimadas são realizadas indiscriminadamente durante o período das
secas;
§ A única unidade de fiscalização ambiental no município é do IBAMA,
mas só tem um funcionário, não dispõe sequer de um veículo e fiscais;
§ SERLA, FEEMA, IEF E BATALHÃO FLORESTAL ficam distantes a
mais de 100km;
§ Uso indiscriminado de agrotóxicos e plantios em áreas impróprias. O
plantio do tomate é um exemplo típico em nossa região. Esta cultura é
normalmente feita próximo de mananciais hídricos e faz uso intenso
de agrotóxicos;
§ É também muito comum a exploração de recursos minerais, pedras,
areias, areola, barro, sem controle dos órgãos competentes e sem os
registros necessários;
37
§ É prática corriqueira a pesca predatória com tarrafas, paris4,
explosivos e pesca em época de defeso. Inexiste escada de peixes no
distrito de Venâncio junto à usina hidrelétrica o que impede a migração
dos peixes para reprodução;
§ A prefeitura e demais órgãos fazem 'vista grossa' para quiosques e
lanchonete sem banheiros e os que possuem despejam seus esgotos
in natura no rio, a céu aberto;
§ O lixo da cidade é descartado de forma irregular em LIXÃO;
3.1.1) Dados socioeconômicos do município de Itaperuna:
§ Econômicos:
ü Produto Interno Bruto R$ 638.622.000,00;
ü Agropecuária R$ 20.768.000,00;
ü Indústria R$ 297.902.000,00;
ü Serviços R$ 324.982.000,00;
ü Impostos R$ 6.884.000,00.
§ Sociais:
ü Esgoto 20.309 domicílios; ü Água 21.885 domicílios;
ü Lixo coletado 21.748 domicílios;
ü População 89.222 habitantes;
ü PIB per capita R$ 7.158,00.
Fonte: Anuário das cidades -IBGE – 2002
4 Pari [Do Tupi pa´ri.] S. m. Bras. Armadilha feita de talas e varas, com que se apanha peixe nos rios; paritá. (p.1037 – Dicionário Aurélio)
38
A ONG Puris já realizou vários projetos de plantio de árvores, mas
nenhum em grande escala, pois faltaram recursos e voluntários.
Outro projeto importante foi sobre alternativas viáveis ao período do
defeso (Piracema). Neste encontro foram discutidas várias formas de como
aproveitar esse período para trabalhar na educação dos pescadores, e
preservação do meio ambiente e na proteção dos rios e lagos que são seus
locais de trabalho.
Sendo assim foi possível identificar os verdadeiros pescadores
artesanais. Pois, é neste período que eles têm a concessão do Seguro
Desemprego, a melhor ocasião para trabalhar na educação e
conscientização desses trabalhadores, foi com esse intuito que na reunião de
04 de novembro de 2003 se decidiu realizar um Fórum com a participação
além dos pescadores, de todas as secretarias de Agricultura e Meio
Ambiente da Região Noroeste.
3.2) Ecocidade – Duque de Caxias.
A ONG Ecocidade foi fundada em 1994, por líderes comunitários,
oriundos das associações de moradores, com experiência acumulada desde
1988 nas lutas comunitárias do município de Duque de Caxias e região.
Durante as atividades da Rio-92, foram divulgadas imagens e relatos sobre
um abrigo de menores e uma comunidade (Cidade dos Meninos) em área
ocupada, ambos localizados em terreno de um antigo depósito de pó de
broca, BHC, abandonado à céu aberto, desde 1960, com o fim do
Departamento de Malariologia da região.
Data deste período a inserção de um componente ambiental nas lutas
comunitárias, com ações de educação ambiental, reforçadas com curso de
meio ambiente por inteiro em 1994, para várias lideranças de comunidades,
que estabeleceram departamentos de meio ambiente em algumas
39
Associações de Moradores. Nesse contexto político temporal e fundada a
Associação Ecocidade.
Os principais objetivos da instituição são a sistematização de propostas
sócio-ambientais amplas, visando planejamento de ações para influir em
políticas públicas relacionadas ao meio ambiente da região, capacitando
professores e alunos em temáticas ambientais visando a conscientização
ambiental e educação sócio-ambiental para jovens e a disseminação de
informações ambientais.
A atuação na área de Duque de Caxias propiciou ao ECOCIDADE a
participação em diversos Fóruns Ambientais como a APEDEMA (Assembléia
Permanente de Entidades em Defesa do Meio Ambiente), onde atualmente
ocupa a coordenação regional baixada, o Conselho Estadual de Meio
Ambiente - CONEMA, onde participa da Câmara Técnica de Qualidade
Ambiental, a Rede Estadual de Educação Ambiental -RJ, o Comitê de Meio
Ambiente da Baixada Fluminense, o Conselho Municipal de Meio Ambiente
de Duque de Caxias e a Comissão Permanente das Entidades Ligadas a
Preservação da Reserva Biológica do Tinguá - ComRebio Tinguá.
O trabalho da Ecocidade é acompanhado pela
Recicloteca, que forneceu os cursos para os garotos
aprenderem a reciclar e a fabricar os produtos, e
também serve como vitrine de venda dos produtos.
Hoje, a ONG tem uma pequena biblioteca formada por
livros doados e vai ter uma professora para dar aulas
de reforço aos garotos que estão na escola. "Eles
ganham para estudar e trabalhar. Quem falta na escola
tem que trabalhar no fim de semana para compensar",
explica o eletricista Valmir Santana, morador do bairro e
um dos criadores do projeto. (Valor Econômico -
11/04/03)
40
Atualmente, a ONG Ecocidade desenvolve um projeto de reciclagem
em um bairro pobre de Duque de Caxias (RJ), onde cinco adultos e 12
jovens entre 14 e 18 anos se revezam entre a escola e o trabalho. Eles
reciclam 10 toneladas de garrafas pet por mês e até 20 toneladas de
papelão. Parte do material é vendida para indústrias. O plástico das garrafas
pet é usado para fazer vassouras, pufs, sofá e camas. Cada jovem recebe
R$ 80 para ajudar no orçamento familiar. Os maiores de idade, que trabalho
o dia todo, recebem mais.
Somente com as doações e a reciclagem do lixo seria muito difícil o
trabalho da Ecocidade, por isso se fazem necessárias parcerias.
3.2.1) Situação socioeconômica do município de Duque de Caxias:
§ Econômicos:
ü Produto Interno Bruto R$ 14.066.468.000,00;
ü Agropecuária R$ 2.762.000,00;
ü Indústria R$ 7.070.098.000,00;
ü Serviços R$ 5.106.818.000,00;
ü Impostos R$ 1.971.012.000,00.
§ Sociais:
ü Esgoto 124.030 domicílios; ü Água 152.548 domicílios;
ü Lixo coletado 195.665 domicílios;
ü População 806.340 habitantes;
ü PIB per capita R$ 17.445,00.
Fonte: IBGE, Produto Interno Bruto dos Municípios 1999-2002
41
Os valores socioeconômicos de Duque de Caxias são altos em relação
a Itaperuna, mas os problemas ambientais também.
3.3) Ecomarapendi – Rio de Janeiro.
Localizada na cidade do Rio de Janeiro, esta ONG tem sua área de
atuação na reciclagem de lixo jogados na lagoa de Marapendi na zona oeste
da cidade e com parceria com o Programa Reciclagem Solidária.
O Programa Reciclagem Solidária – Cooperativas, em sua fase piloto,
teve como área de abrangência a Região Metropolitana do Rio de Janeiro.
Os grupos beneficiados estão nos seguintes bairros: Bangu, Bonsucesso,
Botafogo, Campo Grande, Fazenda Botafogo, Olaria, Realengo e Sepetiba,
no município do Rio de Janeiro; Vila Araci, em Duque de Caxias, todos no
estado do Rio de Janeiro.
De julho de 2002 a março de 2003 estima-se que cerca de 1.352
trabalhadores da reciclagem estejam sendo diretamente beneficiados com a
cessão da prensa. Estas pessoas são responsáveis pela coleta e
comercialização dos recicláveis nas comunidades do entorno da cooperativa.
Indiretamente, estima-se que 3.300.000 pessoas estejam sendo beneficiadas
com a coleta nestas comunidades.
Em maio de 2002, antes do início do Programa Reciclagem Solidária –
Cooperativas, o volume de PET comercializado mensalmente pelo conjunto
de 12 cooperativas era de 52.620 kg. O valor médio obtido pelos grupos na
venda deste material era de R$ 0,27/kg. Até março de 2003, quase um ano
após a implantação, os grupos beneficiados pelo Programa comercializaram
123.947 kg de PET e conseguiram vender o material a R$ 0,62/kg. Os
valores acima correspondem a um incremento de 135,55% na quantidade de
material encaminhado mensalmente para reciclagem, enquanto o aumento
no valor obtido pelo quilo de material foi de 129,63%. O total de PET coletado
42
entre maio de 2002 e março de 2003 foi de 92.7131 kg, correspondendo a
uma arrecadação de R$ 412.573,30.
As prensas foram cedidas às associações e cooperativas em regime de
comodato, por um prazo de doze meses. Ao término deste prazo, os grupos
terão a oportunidade de adquirir o equipamento a um preço simbólico. Os
valores arrecadados serão revertidos em benefícios sociais, de acordo com
as demandas de cada grupo. Exemplos: cursos de alfabetização para
cooperados e familiares, cursos de artesanato com recicláveis, aquisição de
equipamentos adicionais como balança ou carrinhos de carga.
Os principais objetivos da Ecomarapendi são:
§ Promover a valorização social e incentivar o aumento na rentabilidade
das populações de baixa renda envolvidas na coleta e
comercialização de materiais recicláveis.
§ Contribuir para o resgate da cidadania e melhoria da qualidade de vida
dos membros das cooperativas e comunidades adjacentes.
§ Minimizar os impactos ambientais na disposição final de resíduos
sólidos, uma vez que a coleta organizada de recicláveis diminui a
quantidade de materiais inadequadamente descartados em encostas,
margens de rios e terrenos baldios.
§ Reduzir o volume de lixo coletado a ser encaminhado pela
municipalidade para destinação final.
3.3.1) Situação socioeconômica do município do Rio de Janeiro:
§ Econômicos:
ü Produto Interno Bruto R$ 62.862.104.000,00;
ü Agropecuária R$ 2.762.000,00;
ü Indústria R$ 16.423.870.000,00;
43
ü Serviços R$ 43.512.063.000,00;
ü Impostos R$ 9.759.910.000,00.
§ Sociais:
ü Esgoto 1.405.606 domicílios; ü Água 1.762.861 domicílios;
ü Lixo coletado 1.781.966 domicílios;
ü População 5.966.115 habitantes;
ü PIB per capita R$ 10.537,00.
Fonte: IBGE, Produto Interno Bruto dos Municípios 1999-2002
Levando-se em consideração a relação entre as redes de água e
esgoto, o município do Rio de Janeiro se encontra em melhor situação que
as duas cidades anteriores. Quase todas residências possuem esse tipo de
infra-estrutura básica. Além disso, o PIB per capita é um dos maiores do
Brasil. Ou seja, a distribuição de parte da renda, mostrando uma melhor
qualidade econômica de vida.
Mesmo com toda participação ativa das Organizações Não
Governamentais citadas anteriormente e das que fazem grandes esforços,
apesar dos poucos incentivos, o trabalho de conscientização é árduo e
esbarra num modelo de consumo cada vez mais ambicioso e dinâmico.
Luis P. Conde (2005), Secretário de Estado de Meio Ambiente e
Desenvolvimento Sustentável do Estado do Rio de Janeiro, afirmou em
discurso: “Sabemos que o modelo econômico atual favorece o surgimento de
impactos ambientais, conflitos de uso, choques de interesse na utilização dos
recursos, além de propiciar riscos de esgotamento dos recursos naturais não
renováveis”.
44
Um importante jornal econômico, a Gazeta Mercantil, em 25 de junho
de 2002, publicou uma reportagem sobre a ação das ONGs e em trecho
afirmou: “A qualidade dos trabalhos feitos para as Organizações Não
Governamentais está baseada em dois pontos: liberdade de criação e forte
apelo emocional. Inclusive para quem trabalha nas campanhas das
entidades”. Reiterando a necessidade de parcerias com as mais diversas
formas de mídias, como forma de inclusão sócio-ambiental.
45
Conclusão:
Os países desenvolvidos congregam em torno de um quinto da
população mundial, o que dá pouco mais de um bilhão de habitantes (2000).
No entanto, essa minoritária população responde por cerca de 80% de todos
os recursos naturais (energia, matérias-primas e alimentos) consumidos no
planeta. Conseqüentemente, sobram apenas 20% desses recursos para
serem consumidos por quatro quintos da humanidade. Concentrado nos
países subdesenvolvidos, esse índice corresponde a uma população de 4,8
bilhões de seres humanos. Destes, aliás, uma população equivalente àquela
dos países desenvolvidos, cerca de um bilhão, vive na mais absoluta miséria.
Se considerar que a riqueza, nesses países, é muita concentrada e há uma
elite e uma reduzida classe média que seguem padrões de consumo
idênticos aos do mundo desenvolvido, conclui-se que a maioria da população
dos países subdesenvolvidos vive na pobreza ou na absoluta miséria ou com
baixíssimos níveis de consumo.
Por ser ter uma idéia, um bebê norte-americano chega a consumir
trinta vezes mais que um bebê nascido num país subdesenvolvido da África
subsaariana ou América Latina. Os habitantes dos países ricos consomem,
em média, quinze vezes mais papel, dez vezes mais aço e doze vezes mais
energia comercial do que os habitantes dos países pobres.
O modelo de desenvolvimento consumista e de alto impacto ambiental
é impossível de ser estendido a toda a população do planeta. O modelo de
progresso difundido pelos países ricos é insustentável ecologicamente.
É por isso que o grande questionamento é a busca de um novo
modelo de desenvolvimento que não cause tantos impactos no meio
ambiente, que seja ecologicamente sustentável e que promova uma melhor
distribuição da riqueza no mundo. Para isso não bastaria apenas um novo
modelo de desenvolvimento, mas sim de sociedade. Essa discussão já tinha
aparecido na Estocolmo-72, permeou a Rio-92 e também apareceu na
46
Conferência sobre População e Desenvolvimento realizada no Cairo (Egito)
em 1994.
É impossível não associar crescimento populacional e/ou políticas
demográficas, aos impactos ambientais. Essa polêmica surgiu novamente na
Conferência do Cairo-94. No entanto, é importante ter claros quais são os
interesses envolvidos. O próprio Relatório Brundtland identifica a pobreza
como causa primordial da deterioração ambiental. A solução estaria no
planejamento ou até, controle da natalidade. A outra perspectiva, que abriga
várias correntes, as quais podem ser agrupadas como reformistas, afirma
que o alto crescimento populacional é conseqüência da miséria, da
desinformação, da falta de assistência médica, etc. Assim, bastaria a
elevação do padrão de vida da população para que as famílias
espontaneamente reduzissem o número de filhos, como ocorreu nos países
desenvolvidos.
É justamente dentro do modelo de desenvolvimento atual que surge
uma grande contradição. Elevar o padrão de vida dessas populações é
seguir o parâmetro dado pelos países desenvolvidos? O que significa a
população chinesa e a indiana, dois dos países mais populosos, chegarem
ao padrão de vida ou de consumo idêntico ao norte-americano, japonês ou
europeu ocidental? Os sérios defendem um novo modelo de sociedade:
sustentável ecologicamente, política e economicamente democrática. Os
inconseqüentes defendem o controle demográfico puro e simples, ignorando
uma série de aspectos importantes para a solução do problema. Parece
óbvio que a população não pode crescer indefinidamente, já que os recursos
naturais são finitos. Por isso, aumenta a poluição resultante da miséria,
principalmente por causa da carência de infra-estrutura de saneamento
básico, o que facilita a proliferação de doenças e a resistência a um meio
ambiente sadio.
Afirmar que as causas econômicas ou sociais são responsáveis pelo
insucesso das ONGs ecológicas junto às comunidades carentes é leviano e
pouco provável, não tocar em questões importantes como distribuição da
47
riqueza, acesso às tecnologias, o controle do poder, a má gestão do meio
ambiente e uma sociedade pouco justa mostra que esses contratempos são
causados por problemas complexos e peculiares a cada comunidade
avaliada.
Deve-se respeitar a individualidade e resgatar a cidadania com ajuda
da sociedade civil organizada através de organizações não governamentais
ou não, mas com o objetivo de que, qualquer projeto conduza a um meio
ambiente mais equilibrado e socialmente justo.
48
Bibliografia: CARVALHO, Vilson Sérgio de. Educação ambiental e desenvolvimento
comunitário. Rio de Janeiro: WAK, 2002. MACHADO, Carly Barboza. Educação Ambiental Consciente. Rio de Janeiro:
WAK, 2003. MINC, Carlos. Como fazer movimento ecológico. Petrópolis, Vozes. 1985
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2004. SENE, Eustáquio de. Geografia Geral e do Brasil: espaço geográfico e
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Valor Econômico – São Paulo: 11/04/03.
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49
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Reserva da Biosfera da Mata Atlântica ( http://www.unicamp.br/nipe/rbma/index0.html, 07 de maio de 2005.)
RITS – Rede de Informações sobre o Terceiro Setor (http://www.rits.org.br/gestao_teste/ge_testes/ge_tmes_maio2005.cfm)
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(http://www.semads.rj.gov.br/) Em 02/05/2005.)
SOS Mata Atlântica ( http://www.sosmatatlantica.org.br , 17 de abril de 2005.)
UOL Ecologia (http://www2.uol.com.br/ecologia/ , 07 de junho de 2005.)
50
ÍNDICE:
INTRODUÇÃO 8
CAPÍTULO I ¾ ECOLOGIA 10
1.1) O que é ecologia? 11
1.2) Dados Históricos da Educação Ambiental Internacional. 12
1.3) Dados Históricos da Educação Ambiental no Brasil. 15
1.4) Estocolmo - 72: A consciência. 20
1.5) RIO – 92: Um futuro sustentável 24
1.5.1) Agenda 21 24
1.5.2) Protocolo de Quioto. 25
CAPÍTULO II ¾ O TERCEIRO SETOR. 27
2.1) Definição. 28
2.2) Organização Não Governamental – ONG 31
2.3) O Papel das ONGS. 32
CAPÍTULO III ¾ AS “ONGs” ANALISADAS 34
3.1) ONG PURIS – Itaperuna. 35
3.1.1) Dados socioeconômicos do município de Itaperuna 37
3.2) ONG ECOCIDADE – Duque de Caxias. 38
3.2.1) Situação socioeconômica do município de Duque de Caxias 40
3.3) ONG ECOMARAPENDI – Rio de janeiro. 41
3.3.1) Situação socioeconômica do município do Rio de Janeiro. 42
CONCLUSÃO 45
BIBLIOGRAFIA 48
ÍNDICE 50
ANEXO 51