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0 UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO MESTRE PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” A IMPORTÂNCIA DA FORMAÇÃO DOCENTE NO TRABALHO COM DISLÉXICO MARGARIDA LOPES DE FRANÇA ORIENTADORA SIMONE FERREIRA Rio de Janeiro 2012

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

A IMPORTÂNCIA DA FORMAÇÃO DOCENTE NO

TRABALHO COM DISLÉXICO

MARGARIDA LOPES DE FRANÇA

ORIENTADORA

SIMONE FERREIRA

Rio de Janeiro

2012

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

A IMPORTÂNCIA DA FORMAÇÃO DOCENTE NO

TRABALHO COM DISLÉXICO

Apresentação de monografia à

Universidade Candido Mendes

como requisito parcial para

obtenção do grau de

especialista em

Psicopedagogia.

Por: Margarida Lopes de

França

Rio de Janeiro

2012

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Quando semeamos o amor, revestimos de humanidade a práxis escolar, com laços de compreensão e entendimento, em atividades dinâmicas participativas, nutridas pelo interesse, tornando o aprendizado surpreendentemente desejante.

(Eugênio Cunha)

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Agradeço a Deus pela força e coragem que me é restaurada todos os dias para a realização deste trabalho.

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Dedico este trabalho a minha família pela compreensão, incentivo, respeito.

A minha querida sobrinha Catia por estar sempre caminhando ao meu lado em todos os momentos.

A meus professores que de alguma forma deixaram mais que conhecimento acadêmico, deixaram respeito, vivência, amor a profissão.

A todos aqueles que de alguma forma contribuíram com o sucesso da minha caminhada.

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RESUMO

Com a realização deste trabalho buscou-se entender melhor o que é a dislexia,

seus sintomas, causas como também demonstrar a importância da formação

continuada dos docentes, pois a dislexia é um transtorno de pouco conhecido

para muitos educadores e é no espaço escolar que torna-se mais visível esta

dificuldade. Sabe-se que o diagnóstico é feito por uma equipe multidisciplinar,

mas por meio da capacitação o professor poderá ter um olhar diferenciado para

estas crianças buscando estratégias para possibilitar ao disléxico potencializar

suas habilidades e aprendizagem. Criando assim um ambiente afetuoso,

elevando sua autoestima dando a este sujeito instrumentos que o ajudem a

ultrapassar suas dificuldades.

Palavras-chave: Dislexia, Formação docente, Afeto.

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METODOLOGIA

Esta pesquisa sobre o “A importância da formação docente no trabalho

com disléxico” têm como objetivo descrever a dislexia, mostrar a importância

da formação continuada dos professores e identificar instrumentos

pedagógicos que possibilitem o sucesso escolar das crianças disléxicas.

Para melhor compreensão desse estudo, o presente trabalho foi

estruturado em três partes. Na primeira - fundamentação teórica sobre o que é

dislexia, na segunda – a dislexia no espaço escolar e na terceira – propostas

de atividades pedagógicas.

Será realizada uma pesquisa descritiva baseando-se em Rotta, Davis,

Shaywitz, dentre outros autores que abordam a temática.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO.....................................................................................................8

CAPITULO I – DISLEXIA.....................................................................................9

CAPITULO II - A DISLEXIA NO ESPAÇO ESCOLAR.......................................20

CAPITULO III - PROPOSTAS DE ATIVIDADES PEDAGÓGICAS...................26

CONCLUSÃO....................................................................................................38

BIBLIOGRAFIA..................................................................................................40

WEBGRAFIA.....................................................................................................44

ÍNDICE...............................................................................................................45

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INTRODUÇÃO

Sabe-se que são várias as dificuldades de aprendizagem

relacionadas a linguagem presentes no espaço escolar. Diante deste quadro

esta pesquisa aborda a disléxia que é um transtorno da aprendizagem de

origem neurológica e genética, que se caracteriza pelo comprometimento da

aquisição da leitura e da escrita

Por ser ela de difícil entendimento, muitas vezes as crianças

portadoras deste transtorno, passam a ser mal interpretadas e apesar de

vivermos em um mundo moderno, em pleno século XXI, há o despreparo do

professor em saber diferenciar o processo normal de aprendizagem e aquelas

compatíveis com o transtorno e ainda há aqueles que nunca ouviram falar

sobre a dislexia.

Considerando a importância do espaço escolar num olhar

investigativo e de intervenção, este trabalho busca:

• Descrever a dislexia.

• Mostrar a importância da formação continuada dos professores

• Identificar instrumentos pedagógicos que possibilitem o sucesso

escolar destas crianças.

A convivência em sala de aula com crianças com distúrbio de leitura

exige um nível de preparo mais especifico. É preciso que o professor tenha um

olhar diferenciado e que o exercício da sua profissão tenha como mola

propulsora o afeto. A intervenção precoce é provavelmente o fator mais

importante na elevação da autoestima e no sucesso dos alunos (leitores)

disléxicos.

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CAPÍTULO I

DISLEXIA

1.1 Definição

Na Inglaterra por meados do século XIX surgem relatos médicos de

crianças que, apesar do esforço familiar e educacional, não conseguiam

aprender a ler.

Shaywitz (2006) relata que em 7 de novembro de 1896, o Dr. W.

Pringe Morgan escreveu

Ele sempre foi um menino brilhante e inteligente, rápido nos jogos, e em nenhum aspecto inferior aos colegas da mesma idade.

Sua grande dificuldade foi – e permanece – sua incapacidade de ler. (...) apesar do treinamento trabalhoso e persistente, é só com dificuldade que ele consegue soletrar palavras de uma sílaba ... Ele tem o que [Adolf] Kussmaul [neurologista alemão] chamou de “cegueira verbal”. (SHAYWITZ, 2006, p.25)

A “cegueira verbal” que atualmente é chamada “dislexia” esta

relacionada ao individuo que apesar dos órgãos sensoriais, intelectual, da

motivação e da instrução estarem em perfeito funcionamento o mesmo é

afetado em seu processo de desenvolvimento da leitura.

A dislexia é de origem neurobiológica e genética e não tem cura, o

que existe é um tratamento que possibilita ao disléxico aprender a conviver

com suas dificuldades, trabalhar sua autoestima e suas potencialidades para

que ele perceba na prática que é capaz e inteligente. É uma dificuldade de

aprendizagem especifica nos processamentos da linguagem para reconhecer,

reproduzir, identificar, associar, ordenar os sons e as formas das letras, sendo

eles incapazes de ler com a mesma agilidade que as crianças da mesma

idade. Segundo estudiosos eles apresentam deficiência na consciência

fonológica.

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Mousinho e Correa (2011) definem a consciência fonológica como:

A habilidade para refletir sobre a estrutura sonora da fala, bem como manipular seus componentes; envolve a capacidade de pensar e operar sobre a linguagem falada como um objeto. (MOUSINHO E CORREA, 2011, p.73)

O diagnóstico da dislexia exige quase sempre uma equipe

multidisciplinar - neurologista, psicólogo, fonoaudiólogo e psicopedagogo - que

irão descartar outras causas possíveis das dificuldades apresentadas pelo

sujeito, no entanto segundo Rotta e Pedroso (2006) o diagnóstico deve ser feito

a partir das premissas do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos

Mentais - DSM-IV, que denomina transtorno especifico da linguagem quando:

o o rendimento da leitura está abaixo do esperado para a idade

cronológica, em criança com inteligência normal e com escolaridade apropriada para sua idade;

o a dificuldade na compreensão da leitura interfere significativamente no rendimento escolar ou nas atividades da vida diária que exigem habilidades de leitura;

o na presença de um déficit sensorial, as dificuldades de leitura excedem aquelas esperadas nessa associação. (ROTTA e PEDROSO, 2006, p. 162)

Alguns pesquisadores acreditam que quanto mais cedo a dislexia é

diagnosticada mais sucesso terá o tratamento, proporcionando aos disléxicos

novas oportunidades principalmente de uma possível independência na sua

vida diária.

Aprender a ler não é um processo natural como falar, que é

aprendido naturalmente na interação com o outro, a leitura é mais complexa,

pois é necessário que a criança perceba que a linguagem é formada por

palavras e que as palavras são subdivididas em partes menores e, no entanto

os disléxicos não desenvolveram essa consciência.

Como nos disléxicos a leitura não se desenvolve, pressupõe-se que

ocorra falha no desenvolvimento cerebral na área ligada à linguagem.

Shaywitz (2006) afirma que

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esta falha leva a dezenas de milhares de neurônios que carregam as mensagens fonológicas necessárias à linguagem não se conectam adequadamente para formar as redes de ressonâncias que tornam possível a boa capacidade de leitura. (SHAYWITZ, 2006, p. 63)

Segundo Rotta e Pedroso (2006),

a década de 1990 foi prodiga em trabalhos que tentavam desvendar os aspectos genéticos envolvidos na dislexia. Por outro lado, inúmeros autores, utilizando-se de exames complementares, provaram a possibilidade de malformações ou alterações funcionais cerebrais em crianças disléxicas. (ROTTA e PEDROSO, 2006, p. 152)

Atualmente a ressonância magnética funcional (fMRI) é o método

mais utilizado para estudar o cérebro em funcionamento.

1.2 Tipos de dislexia

Moojen e França (2006) afirma que:

para classificar os tipos de dislexia, é necessário descrever as duas vias independentes que possibilitam o reconhecimento de uma palavra escrita: a via léxica, ou direta – na qual se estabelece uma conexão direta entre a forma visual da palavra, a pronúncia e o significado na memória lexical. Ocorre diante de palavras familiares; a via fonológica, indireta, pré-lexical ou de subpalavras – é um processo de recodificação fonológica que envolve a aplicação de um conjunto de regras de conversão letra-som. Ocorre diante de palavras desconhecidas. (MOOJEN e FRANÇA, 2006, p. 169).

A partir do esclarecimento das funções das vias, Moojen e França

(2006) classifica a dislexia em três tipos:

Dislexia Fonológica – caracterizada por uma dificuldade seletiva para operar a rota fonológica durante a leitura (...); com frequencia os problemas residem no conversor fonema-

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grafema e/ou no momento de juntar os sons parciais em uma palavra completa. (...) Subjacente a essa via, encontra-se dificuldade em tarefas de memória e consciência fonológica. (...) Dislexia Lexical – as dificuldades residem na rota lexical (preservada ou relativamente preservada a rota fonológica), afetando fortemente a leitura de palavras irregulares. Nesses casos, os disléxicos lêem lentamente, vacilando e errando com freqüência, pois ficam escravos da rota fonológica, que é morosa em seu funcionamento. (...) Dislexia Mista – Nesse caso, os disléxicos apresentam problemas para operar tanto a rota fonológica quanto com a lexical. São assim situações mais graves e exigem um esforço ainda maior para atenuar o comprometimento das vias de acesso ao léxico. (MOOJEN e FRANÇA, 2006, p. 169 e 170)

1.3 Sintomas

Durante o processo de aprendizagem da leitura muitas crianças

encontram dificuldades. No entanto muitas vezes essas dificuldades não são

avaliadas de forma correta, identificando as que fazem parte normalmente do

processo das que podem caracterizar um transtorno de aprendizagem.

Para tanto seguem algumas características que são marcantes nos

disléxicos:

• Leitura e escrita incompreensíveis;

• Confusões de letras com diferente orientação (p/q – b/d);

• Confusões de letras com sons semelhantes (b/p – d/t – g/j);

• Inversões de sílabas ou palavras (par/pra – lata/alta);

• Substituições de palavras com estruturas semelhantes

(contribuiu/construiu);

• Ao ler, pula linha ou volta para a anterior;

• Possuem dificuldades em lembrar-se de sequencias como letras

do alfabeto, dias da semana, meses do ano, lê as horas;

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• Supressão ou adição de letras ou de sílabas (caalo/cavalo –

berla/bela);

• Repetição de sílabas ou palavras (eu jogo jogo bola – bolo de

chococolate);

• Fragmentação incorreta (querojo garbola - quero jogar bola);

• Dificuldade para entender o texto lido;

• Afeta mais meninos que meninas.

Segundo Davis (2004)

existem muitas palavras que causam problemas para a maioria dos disléxicos. Apesar de pertencerem a seu vocabulário oral, o disléxico não consegue formar uma imagem mental de seus significados. (...). Essas palavras, muitas vezes pequenas e, aparentemente, as mais simples em qualquer língua, são os estímulos ou gatilhos para os sintomas da dislexia. (DAVIS, 2004, p. 48)

Quando o sujeito já vivenciou as ações descritas nas palavras sejam

elas substantivos, verbos é possível ao ler uma frase onde tenha a palavra gato

ver a imagem de um gato – pois o disléxico é um pensador não-verbal (pensa

por imagem) – no entanto ao prosseguir a leitura ao encontrar palavras que

não tenham a imagem armazenada em seu cérebro – o, por, do, e, pelo - serão

vistas apenas como letras sem imagem e sentido concreto, que são definidas

por Davis (2004, p. 48) como palavras que possuem significados abstratos e,

frequentemente, vários sentidos diferentes confundindo os disléxicos por não

indicarem objetos ou ações ocorrendo nesse momento lacunas na leitura.

Davis (2004) explica

que cada vez que o processo de formação de imagens é interrompido, a pessoa experimentará um sentimento de confusão, porque a imagem em formação se tornará mais incoerente. Usando sua concentração, o leitor poderá se forçar a ultrapassar os espaços em branco e prosseguir. Mas se sentirá cada vez mais confuso. Por fim, atingirá seu limiar de tolerância à confusão. Nesse ponto a pessoa se tornará desorientada. (DAVIS, 2004, p. 40)

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Dentre as várias causas da desorientação é possível associá-la ao

acumulo de pensamentos e também pela tentativa de organizar diversas

informações conflitantes recebidas ao mesmo tempo pelos órgãos dos sentidos

causando distorções na visão, na audição, no equilíbrio, na noção de tempo.

Por isso na tentativa de ler e escrever acaba ocorrendo a desorientação

tornando este processo difícil ou impossível de acontecer.

Pelo fato do disléxico ler por imagem, pensar de forma intuitiva e

multidimensional, ser possuidor de alta curiosidade leva este individuo a ser

portador de alto nível de criatividade. Não é a toa que grandes gênios da nossa

História são disléxicos.

É importante ressaltar que duas pessoas disléxicas não apresentam

os mesmos sintomas, mas os mesmos compartilham das mesmas habilidades

básicas como nos descreve Davis (2004).

1-São capazes de utilizar seu dom mental para alterar ou criar percepções (a habilidade primária). 2- São altamente conscientes do meio ambiente. 3- São mais curiosos que a média. 4- Pensam principalmente em imagens, em vez de palavras. 5- São altamente intuitivos e capazes de muitos insights. 6- Pensam e percebem de forma multidimensional (utilizando todos os sentidos). 7- Podem vivenciar o pensamento como realidade. 8- São capazes de criar imagens muito vividas. (DAVIS, 2004, p. 33)

Estas habilidades são desenvolvidas em várias áreas do

conhecimento, como nos esportes, nas artes possibilitando ao disléxico

vivenciar conflitos e superações.

1.4 Transtornos associados a dislexia.

• Discalculia

A discalculia é um distúrbio da aprendizagem da matemática onde

as crianças não conseguem compreender a linguagem matemática cometendo

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erros variados, como na solução de problemas, conservação de quantidade,

sequenciar números, classificação dos números, compreensão dos sinais (+. -,

:, x), montar operações, entender os princípios de medida.

De acordo com Sampaio (2011) os processos cognitivos envolvidos

na discalculia são:

- dificuldade na memória de trabalho;

- dificuldade de memória em tarefas não verbais;

- dificuldade na soletração de não-palavras (tarefas de escrita);

- não há problemas fonológicos;

-dificuldade na memória de trabalho que implique em contagem;

- dificuldade nas habilidades visuo-espaciais;

- dificuldade nas habilidades psicomotoras e perceptivo-táteis.

(SAMPAIO, 2011, p.122)

No disléxico a desorientação ocorre junto com a distorção do sentido

de tempo e como a matemática é composta por três conceitos fundamentais de

ordem, sequência e tempo o mesmo não consegue fazer uso real destes

elementos.

• Disgrafia

A disgrafia é um transtorno na escrita que afeta a grafia de letras e

números comprometendo a clareza textual. O desenvolvimento da escrita exige

que o sujeito tenha uma estruturação espaço-temporal, destreza motora fina e

ampla. Os disgráficos não são possuidores destas habilidades sendo

prejudicados no plano motor, perceptivo e simbólico.

Para Sampaio 2009 (apud Cunha, 2011) há dois tipos de disgrafia:

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1- Motora: o aluno lê e fala bem, mas possui dificuldade na coordenação motora fina para escrever as letras, as palavras e os números;

2- Perceptiva: encontra dificuldade para fazer relação entre o sistema simbólico e as grafias que representam sons, palavras e frases. (SAMPAIO, 2009 apud CUNHA, 2011, p. 120)

O disgráfico apresenta um conjunto de características dentre as

quais é possível destacar: letra ilegível; escrita desordenada; desorganização

na folha de escrita; quando há comprometimento fonológico escrevem as letras

de forma invertida (espelho); ligam as letras de forma inadequada; onde muitas

vezes estas características também têm o peso de encobrir suas deficiências.

O disléxico apresenta dificuldade na grafia principalmente devido a

sua desorientação enxergando as letras de forma tridimensional. Davis (2004,

p. 66) relata que a palavra é vista de frente para trás, de trás para diante, de

cabeça para baixo em ambos os sentidos; além disso, ela é desmembrada e

reagrupada em todas as combinações possíveis.

(DAVIS, 2004. p. 111)

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Para ele a desorientação tem como função tentar reconhecer o objeto.

• Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade - TDAH

O Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade – TDAH é um

transtorno neurobiológico de causas genéticas que surge na infância e

acompanha o individuo por toda sua vida.

Cunha (2011) apresenta algumas características presentes no

TDAH.

- não prestar atenção a detalhes;

- dificuldade para concentrar-se;

- dificuldade em seguir regras e instruções;

- não concluir o que começa;

- desorganização;

- entediar-se com tarefas complexas, esquecendo-as;

- ficar mexendo as mãos ou os pés quando sentado;

- não permanecer sentado por muito tempo;

- constante agitação;

- falar em demasia;

- responder perguntas antes de concluídas;

- dificuldade para esperar a vez.

(CUNHA, 2011, p. 98)

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Para serem diagnosticados como TDAH precisam ter pelo menos

seis sintomas que devem surgir antes dos sete anos de idade e terem

continuidade por pelo menos seis meses e estarem presente em dois espaços

causando-lhe prejuízo social e/ou escolar.

O TDAH é uma das causas mais freqüentes do prejuízo acadêmico,

segundo Siqueira (2011)

O mau desempenho escolar (MDE) pode ser definido como um rendimento aquém do esperado para habilidades cognitivas, idade (maturação) e escolaridade em domínios específicos da leitura, escrita (grafia e ortografia) e matemática. (SIQUEIRA 2011, p. 286)

Segundo pesquisadores estes indivíduos possuem deficiência na

atenção, na memória de trabalho e nas funções executivas que possuem papel

fundamental na aprendizagem escolar. Essas deficiências podem interferir na

aquisição da leitura porque ocorre a incapacidade no processo de

decodificação.

Siqueira (2011, p. 290) relata que é consenso na literatura a

correlação entre velocidade de nomeação e capacidade de leitura,

encontrando-se alterado tanto em crianças com TDAH quanto em Dislexia.

• Transtorno de Ansiedade

A criança durante seu crescimento normalmente pode passar por

momentos de ansiedade tendo alguns medos que são transitórios. No entanto

Riesgo (2006, p. 354) diz que o TA se caracterizaria pela perpetuação destes

estados de ansiedade, em situações e faixas etárias já incompatíveis para sua

ocorrência.

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O disléxico na busca de superar as injustiças e a decepção pelo seu

insucesso devido aos seus repetidos fracassos na tentativa de vencer suas

dificuldades na aprendizagem e principalmente por ser geralmente considerado

desatento, preguiçoso e sem interesse em aprender acaba desenvolvendo

transtorno de ansiedade sendo que este transtorno pode vir acompanhado de

fobias que Padula, Santos e Lourenceti (2011, p. 312) define como um medo

irracional e de proporções acima do justificado para a situação exposta.

No contexto da dislexia são dois os tipos de fobias: a fobia escolar

onde a criança se recusa a participar das aulas e a fobia social que a criança

busca alternativas para se esquivar e não ler em voz alta e tampouco se expor

publicamente.

• Transtorno de conduta

O transtorno de conduta abrange crianças e adolescente que

possuem dificuldade em aceitar regras e limites, que desafiam pais e

professores.

Cunha (2011) relata que de acordo com o DSM-IV,

a característica essencial do transtorno consiste em um padrão repetitivo e persistente de comportamento, no qual são violados os direitos individuais dos outros, ou normas ou regras sociais importantes. (CUNHA, 2011, p. 106)

O transtorno pode estar associado às dificuldades acadêmicas, em

particular na leitura, como o disléxico sofre constantemente com a baixa

autoestima, insegurança, incapacidade, vergonha, frustração de não conseguir

executar suas tarefas com êxito acaba apresentando conduta inadequada com

o grupo na qual esta inserido gerando problemas de comportamento, como

agressividade, oposição e desobediência a pais, professores.

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CAPITULO II

A DISLEXIA NO ESPAÇO ESCOLAR

2.1 A formação docente

Se uma pessoa não pode aprender da maneira que é ensinada, é melhor ensiná-la da maneira que pode aprender.

Marion Welchmann

Espera-se que o docente desenvolva em seus alunos

conhecimentos e habilidades, atitudes e valores para que possam construir

seus saberes e que seja capaz de ver cada aluno como único e importante.

A graduação não é suficiente para capacitá-lo para a docência

plena, necessitando de formação continuada para que possa desenvolver

habilidades e competências necessárias para sua prática com o objetivo de

superar os desafios diários encontrados no espaço escolar, mesmo porque a

sociedade da atualidade necessita de profissionais dinâmicos, autônomos.

É na inclusão onde está o maior desafio dos docentes, pois a

graduação não os prepara para tê-los em sala de aula principalmente em

turmas regulares.

Carvalho (2011) nos diz que

no caso da educação inclusiva, principalmente quando entendida, apenas, como a presença física de pessoas com deficiência nas classes comuns do ensino regular, encontramos na literatura sobre o tema inúmeras referências à necessidade de que ocorram mudanças. São propostas segundo critérios sociais, políticos e educacionais, embora nem sempre sejam desejadas pelos educadores, devido a seus receios diante do novo, geralmente percebido como ameaçador, porque é desconhecido. (CARVALHO, 2011, p.78)

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O docente não deve permitir que as dificuldades encontradas no

exercício do magistério façam com que desanime na sua caminhada, pois

segundo Werneck (2008, p. 22) se o professor perde a motivação terá perdido

tudo. Como conseqüência, não terá compromisso com seus alunos nem o

desenvolvimento de sua profissão.

Como o próprio nome diz a formação continuada precisa ser

constante e ao longo de toda sua carreira. O docente necessita refletir sobre

sua ação pedagógica porque o professor de crianças disléxicas precisa além

da competência, habilidade, equilíbrio emocional é ter a consciência que mais

importante que o desenvolvimento intelectual é o desenvolvimento humano

sabendo respeitar as diferenças acima de tudo.

É importante que o professor transforme a sala de aula num lugar de

respeito mútuo onde o erro não signifique falta de conhecimento e sim a

construção da aprendizagem. Para Cunha (2010, p. 63) o modelo de educação

que funciona verdadeiramente é aquele que começa pela necessidade de

quem aprende e não pelos conceitos de quem ensina.

Um docente consciente precisa ter embasamento teórico do

processo de aprendizagem da criança, pois Werneck (2008, p.105) afirma que

grande porcentagem dos educadores de hoje tem uma postura inconsciente e

alheia à percepção e ao conhecimento da criança e do homem em sua

totalidade.

No Brasil o único apoio aos disléxicos é a Associação Brasileira de

Dislexia – ABD, que tem reconhecimento internacional podendo ser um recurso

de pesquisa valiosíssimo para o docente.

A formação continuada pode acontecer independente da realização

de programas, orientação de especialistas, ele tem autonomia suficiente para

buscar sozinho respostas para suas dúvidas redirecionando sua aprendizagem

para suas necessidades presentes. Estes são os verdadeiros profissionais da

educação.

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A função do docente é se capacitar buscando conhecer a cerca da

dislexia, suas causas, diagnóstico através de cursos, literaturas, internet, o

maior número de recurso possível para se instrumentalizar como forma de

auxiliá-lo no desenvolvimento de um trabalho verdadeiramente significativo

para melhorar a cada dia a aprendizagem do disléxico.

Saber ouvir seu aluno é uma forma riquíssima de identificar nas suas

palavras e expressões as necessidades que precisam ser saciadas sendo de

suma importância valorizar o conhecimento que ele já tem. Freire (1996)

enfatiza que

Ensinar não é transferir a inteligência do objeto ao educando, mas instigá-lo no sentido de que, como sujeito cognoscente, se torne capaz de inteligir e comunicar o inteligido. É neste sentido que se impõe a mim escutar o educando em suas dúvidas, em seus receios, em sua incompetência provisória. E ao escutá-lo, aprendo a falar com ele. (FREIRE, 1996, p.135)

Tendo como base as necessidades a ser suprido o docente usa sua

criatividade e empenho para elaborar aulas proveitosas que alcancem a

aprendizagem de todos os seus alunos independente das dificuldades

apresentadas.

2.2 A importância do afeto

“A escola é uma árvore. A árvore é alimentada e alimenta. Abriga e ensina aos passantes à sua sombra. Sustenta os que se aconchegam e fazem seus ninhos e, como pássaros, prepara ali uma nova geração para voar.”

Eugênio Cunha

Chalita (2001, p. 242, 243) diz que o amor é um sentimento nobre que tem

a capacidade de fazer a pessoa humana feliz. (...) E como preparar o ser humano para

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o amor ou para a habilidade emocional? O que pode a escola fazer para despertar

esse gigante?

Apesar do afeto não constar na grade curricular com certeza é ele que faz

com que professor e aluno possam desenvolver-se. O aluno terá maior sucesso se

puder confiar naquele que o media neste processo de aprendizagem.

Sabe-se que a aprendizagem não é o resultado de armazenar dados, mas

sim como afirma Sampaio e Freitas (2011, p. 30 e 31) ser a capacidade de processar

e elaborar as informações por meio da conexão que nossos receptores sensoriais

estabelecem com o ambiente, o que faz com que cada indivíduo tenha um estilo

próprio de aprendizagem.

O docente na sua inter-relação com seus alunos – em grupo e

individualmente – na prática diária no espaço escolar que é construído a base

afetiva para o conhecimento.

Para Saltini (2008, p. 100) a criança deseja e necessita ser amada,

aceita, acolhida e ouvida para que possa despertar para a vida da curiosidade

e do aprendizado.

No espaço escolar encontram-se crianças com dificuldades de

aprendizagem que já trazem consigo o peso do rótulo da sua incapacidade.

Entretanto, o que pode modificar esta condição será o afeto.

O afeto é como uma lente de aumento que possibilita o professor

reconhecer em seu aluno um ser capaz, autônomo e buscar ações para as

diversas dificuldades encontradas por ele valorizando a sua capacidade de

aprendizagem independente das suas limitações.

É preciso que seja resgatado o afeto pelo seu aluno, pelo seu fazer

pedagógico, pois assim na escola, que é o lugar próprio de desenvolver e

vivenciar o respeito mútuo, as trocas afetivas passarão a ser vistas por estas

crianças como um lugar prazeroso de freqüentar. O mundo está em constante

mudança, com meios mais atrativos – as tecnologias – que possibilitam as

pessoas a terem acesso a informações que assim necessitarem, sendo eles

autônomos das suas investigações e aventuras, independente da sua idade.

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Para Werneck (2008, p. 43) os docentes serão sempre as melhores

tecnologias dentro de uma sala de aula porque temos a humanidade que

máquina alguma é capaz de ter.

Para isso é necessário uma nova visão docente das suas ações que

não são mais permitidas ficarem amarradas a currículos pré-estabelecidos,

onde o afeto, o estimulo para o gosto pelo aprender não tem lugar, ocultando

que a afetividade esta intimamente ligada a cognição.

Apesar dos que trabalham para que ocorra a evolução que

transforma rapidamente a nossa sociedade tenham passado pela escola, esta

não acompanha esta evolução, continuando separando conteúdo escolar da

vida cotidiana, e esta dicotomia faz com que as crianças vejam a escola como

desperdício de tempo.

É possível observar em sala de aula que muitas dificuldades de

aprendizagem não conseguem ser amenizadas ou superadas pela falta de

afeto, de incentivo que leve este aluno a ter motivos para aprender e, no

entanto, são encontrados indivíduos carentes de respeito, valorização pelo que

ele é e não visto pelo que carrega como estigma.

O erro é visto pelo educador como algo punitivo e não como uma

forma de intervenção pedagógica no processo da aprendizagem para que

possam efetivamente alcançar os acertos.

Davis (2004) afirma que

os disléxicos realmente aprendem mais em menos tempo do que a pessoa comum. De fato, quando a aprendizagem é apresentada através da experiência prática, os disléxicos conseguem dominar muitas coisas mais rapidamente do que a pessoa comum levaria para compreendê-las. (DAVIS, 2004, p.134)

Segundo pesquisadores os problemas emocionais que os disléxicos

enfrentam não estão ligados diretamente a dificuldade da leitura, mas como

conseqüência. Diante disto torna-se fundamental o educador ter em mente o

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que deseja para seu aluno se é apenas ensinar ou estimular o desejo de

aprender, ou ainda fazer que um complemente o outro.

A aprendizagem se dá num processo constante de construção e

reconstrução do conhecimento e nos que possuem dificuldade de

aprendizagem - como é o caso dos disléxicos - isto é muito presente. Quanto

mais for semeado o respeito, dedicação, afeto, mais estimulado estará este

aluno para superar os obstáculos que venham a surgir ao longo da sua vida.

Cunha (2010) afirma que

É possível levar o aprendente a construir bons sentimentos. Ajudar o educando a ser feliz não significa livrá-lo de todos os percalços – que, às vezes, transcendem a abrangência de controle da escola -, mas conduzi-lo durante o caminho com a certeza de que ele será capaz de superá-los. (CUNHA, 2010, p. 70)

É o afeto que impulsiona o professor a ir em busca de novos caminhos que

modifique seu trabalho em ações transformadoras e que leve seu aluno ao prazer de

aprender.

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CAPITULO III

PROPOSTAS DE ATIVIDADES PEDAGÓGICAS

“Não há ensino sem pesquisa e pesquisa sem ensino. Esses que-fazeres se encontram um no corpo do outro.

Enquanto ensino continuo buscando, reprocurando. Ensino porque busco, porque indaguei, porque indago e me indago. Pesquiso para constatar, constatando,

intervenho, intervindo educo e me educo. Pesquiso para conhecer o que ainda não conheço e comunicar ou

anunciar a novidade.”

Paulo Freire

Quando o professor tem em sala de aula alunos diagnosticados com

dislexia este precisa se organizar na reformulação de suas práticas no

processo de ensino-aprendizagem. Não podendo esquecer que este aluno é

um ser capaz e competente, seu cognitivo está preservado e que a sua

dificuldade esta na aquisição da leitura.

Para Davis (2004, p. 236) a única finalidade da leitura é

compreender o que é lido. Ler sem compreensão total e completa do que é lido

é a origem da maioria dos mal-entendidos em qualquer assunto a qualquer

nível.

Portanto, é fundamental um trabalho intensivo com o alfabeto e a

pontuação até que o aluno tenha domínio da imagem de ambos para poder

desenvolver habilidades na aprendizagem da leitura com mais facilidade e

compreensão.

Sampaio (2011) sugere um

• ensino sistemático e direto em:

consciência fonológica – perceber, identificar e manipular os sons da linguagem oral;

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fônico – como as letras e os grupos de letras representam os sons da linguagem oral;

ortografia; leitura de palavras à primeira vista; estratégias de compreensão de leitura.

• prática na aplicação dessas habilidades na leitura e na escrita; • treinamento em fluência; • experiências lingüísticas enriquecedoras: ouvir, falar sobre um determinado assunto e contar histórias. (SAMPAIO, 2011, p. 60)

Não há receita para desenvolver um trabalho com o disléxico, mas o

professor precisa estar ciente dos diferentes métodos de ensino para que

possa proporcionar maiores chances de sucesso para esta criança, pois ele

tem o papel explicito de interferir no processo diferentemente de situações

informais na qual a criança aprende por imersão em um ambiente sócio-cultural

proporcionando um avanço no seu desenvolvimento. Está ai o grande desafio

de quem ensina.

Este ensino precisa ser voltado para estimular e desenvolver todos

os sentidos, pois os canais sensório-motores (visual, auditivo, cinéstesico-

motor, fala) da criança disléxica não trabalha em harmonia incapacitando o

mesmo de produzir resposta automática para os estímulos.

Associação Brasileira de Dislexia diz que

Não há nenhuma linha de tratamento que seja considerada ‘’a melhor’’ ou ‘’a única’’. O importante é a aceitação e adaptação do próprio disléxico à linha adotada pelo profissional. O que podemos dizer é que como a principal característica dos disléxicos é a dificuldade da relação entre a letra e o som (Fonema -Grafema), na terapia deverá ser enfatizado o método Fônico. Deve-se também treinar a memória imediata a percepção visual e auditiva. É sugerido que se adote o método multissensorial, cumulativo e sistemático. Ou seja, deve-se utilizar ao máximo todos os sentidos. Um exemplo básico é poder ler e ouvir enquanto se escreve. O disléxico assimila muito bem tudo que é vivenciado concretamente. (http://www.dislexia.org.br/)

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Na sua prática diária o professor vai poder perceber as dificuldades

deste aluno e analisar as possibilidades de alterar sua metodologia, fazer

adaptações curriculares e até encontrar formas diferenciadas da forma de

avaliar, estimulando-o para que seja possível ultrapassar os obstáculos que

estejam impedindo seu desenvolvimento.

A avaliação que é algo cristalizado precisa ser revisto, para atender

estas crianças. Procedimentos simples como ler o texto pausadamente e

depois as questões uma de cada vez; fazer questionamentos orais são ações

importantes para que os resultados sejam positivos.

O método aplicado pelo professor para trabalhar com os disléxicos

deve ser apropriado para cada aluno - não existem dois disléxicos com os

mesmos sintomas -, possuindo as melhores estratégias para que este aluno se

sinta inserido de fato na sala de aula juntamente com outras crianças ditas

“normais”.

São várias as estratégias que podem ser utilizadas em sala de aula

que poderá ajudar no processo de ensino-aprendizagem deste aluno.

• Trate o disléxico com naturalidade;

• Propiciar atividades inclusivas para serem realizadas por toda a

turma;

• Identificar o que o aluno já sabe;

• Muitos disléxicos têm dificuldade de entender linguagem

simbólica, portanto use uma linguagem direta, clara, objetiva com

frases curtas e precisas;

• Quando falar olhe diretamente nos seus olhos, pois ajuda na

comunicação;

• Deixe-o sentar próximo à mesa do professor, assim facilitará a

orientação como também criará e fortalecerá os vínculos;

• Certifique-se sempre que o aluno está compreendendo o que é

solicitado ou mesmo explicado;

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• Observe se ele está interagindo com os demais alunos;

• Estimule, incentive mostre que ele é capaz ajudando-o a resgatar

sua confiança;

• Não peça que leia em voz alta principalmente na frente dos

colegas;

• Em geral o disléxico aprende melhor em partes do que com o

todo;

• É importante que o professor prepare diariamente atividades que

proporcione ao aluno momentos para contar algo que queira,

sendo este um bom momento para o professor conhecer mais

seu aluno, e por sua vez possibilitará que o aluno aprenda a se

expressar e também aprenda a ouvir;

• Criar grupos para resolução de atividades possibilitando uma

maior interação entre todos;

• Dar dicas e orientar o aluno como organizar-se e realizar as

atividades na carteira;

• Valorizar os acertos;

• Permitir o uso de gravador, uso da tabuada, material dourado,

dicionário e outros recursos que se fizerem necessário;

• Quando usar material impresso que seja com o mesmo tamanho

de letra (Arial 11 ou Times New Roman 12) evitando misturar

fontes e tamanhos;

• Se utilizar figuras, fotos, ícones ou imagens, e preciso que haja

correspondência direta com o texto escrito;

• Dê mais tempo para a realização das provas e sua avaliação

deve ser continua;

• O disléxico assimila muito bem tudo que é vivenciado

concretamente;

• Reforçar a aprendizagem visual com o uso de letras em alto

relevo;

• Evitar o excesso de conteúdo.

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O professor pode utilizar o lúdico como ferramenta no

desenvolvimento da aprendizagem dos disléxicos. Através das atividades

lúdicas é possível observar as qualidades e habilidades do individuo como

também desenvolver a percepção visual, memória visual, percepção e

discriminação auditiva e memória auditiva.

Sampaio (2011) sinaliza que

É extremamente importante que sejam utilizados materiais sinestésicos, pelos quais a criança possa sentir as letras. É importante senti-las em alto relevo que podem ser feitas de material macio (feltro, tecido felpudo), áspero (lixa de parede escrita com a letra), mole (massa de modelar ou argila) e duro (letras plásticas prontas). A utilização de cores variadas também ajuda. (SAMPAIO, 2011, p.61)

Portanto é grande a quantidade de materiais disponíveis para serem

confeccionados jogos e desenvolver diversas atividades, como é possível

observar algumas sugestões.

ü Com uma caixa de areia a criança pode trabalhar a

linguagem através da escrita com o dedo;

ü Apresentar gravuras aparentemente iguais para que

identifiquem a diferença;

ü MEMOREX - Nesta atividade deverá ser mostrado a

criança uma imagem e pedir que ela observe por alguns minutos. Em seguida vire a imagem e faça perguntas sobre as situações pertinentes a imagem vista;

ü Jogo da memória;

ü Sequência e seriação;

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ü FIGURA-FUNDO é uma atividade que proporciona a criança alcançar a capacidade de distinguir e analisar um objeto, uma forma, um símbolo, dentro de um contexto e nele concentrar sua atenção;

ü Apresentar sons para que o aluno identifique e relate sua

sensação ao ouví-la;

ü Trabalhar com argila ou massa de modelar com o objetivo

de modelar as letras do alfabeto, pontuação dentre outros;

ü Com canetas de várias cores, uma cor para cada fonema.

Comece a escrever palavras com dois fonemas e só

aumente a quantidade de fonemas quando tiver certeza

que o aluno tem domínio do mesmo;

ü O QUE SERÁ?

Esta atividade ajuda o disléxico a reconhecer, identificar e

memorizar as letras. Sempre que for trabalhada uma letra,

pedir que a criança a reproduza em outra folha, mostrando

palavras com espaços em branco para a criança

completar. Pode-se iniciar com o próprio nome da criança

e depois seguir com nomes de objetos do interesse do

aluno como carros, jogadores de futebol, filmes, etc.

Machado e Nunes (2011) apresentam algumas atividades que tem

como finalidade desenvolver a afetividade, percepções, coordenação motora

fina, imaginação, criatividade entre os envolvidos proporcionando aos mesmos

momentos de desenvolvimento integral.

ü CAIXINHA DAS TAREFAS – dispor os alunos de modo que forme uma grande roda, e o professor entregará a algum aluno uma caixinha, que, ao iniciar uma música, deverá ser passada

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de mão em mão. Quando a música parar, o aluno que estiver com a caixinha neste momento deverá abri-la e sortear uma tarefa, tal como: abraçar dois colegas; cantar o refrão de uma música de que mais gostar; contar uma passagem bonita de sua vida; falar sobre o lugar mais bonito que já visitou;

ü CONSTRUÇÃO COM PALITOS – separar a turma em pequenos grupos de cinco alunos cada e entregar a cada um uma cartolina, uma cola e 20 palitos de picolé. Ao som de uma música, cada grupo deverá realizar o um desenho utilizando apenas os palitos. Desenhos estes que deverão expressar a opinião dos grupos de como seria o mundo ideal. Ao final, os grupos deverão apresentar seus trabalhos para a turma e explicar a construção do desenho, desde a sua idéia principal até a sua concretização.

ü REPRESENTAÇÃO DO DIA A DIA – O professor deverá

preparar previamente fichas com imagens de representações cotidianas, tais como: passeio de uma família na praia; motorista de um ônibus em movimento; dois senhores lendo o jornal no banco da praça; guarda de trânsito comandando um cruzamento bem movimentado; meninos no sinal de trânsito pedindo dinheiro. Diante disso, a turma estará separada em dois grupos ( grupo A e grupo B), e um representante de cada equipe, por vez, deverá sortear uma ficha e realizar por meio de mímica a representação exigida. Este aluno poderá chamar algum componente de seu grupo para auxiliá-lo na representação.

ü BRINCADEIRA DE ESPIÃO – dividir a turma em duplas. Cada

integrante da dupla observará bem a outra pessoa e vice-versa. Os dois viram de costas, e cada um fará alguma mudança no visual. Pode ser tirando um anel, trocando o relógio de lugar, desamarrando o sapato, pretendo o cabelo, etc. Os dois se voltam um de frente para o outro, e cada um tem que adivinhar o que mudou. Depois de cada realização da atividade, solicitar a troca das duplas, para aumentar o contato dos participantes. Para terminar, abrir o debate para compartilhar sensações, idéias, etc.

ü SAQUINHO DAS TAREFAS – dispor a turma em roda, com os

participantes sentados no chão. Criar uma história nova e de preferência que renda idéias e sugestões para o inicio de alguma atividade, jornada, situação. O professor começará tirando um objeto de dentro do saco cheio de objetos e começará a contar uma história que tem relação com o momento das pessoas envolvidas na atividade. Por exemplo: se forem jovens, começar falando sobre a participação do âmbito escolar, sobre a importância da família, a importância dos estudos, ou se forem adultos, sobre o trabalho que desenvolvem e assim sucessivamente. O professor segurará o objeto consigo e passará o saquinho para o próximo, que deverá tirar uma um objeto e continuar a história, de maneira

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que todos tenham contribuído com uma parte dela. (MACHADO e NUNES, 2011, p. 63, 72, 80, 98, 116)

O aluno disléxico possui dificuldades na consciência fonológica,

portanto é importante o professor articular atividades que envolvam rimas

favorecendo assim o desenvolvimento desta área. Sampaio (2011) defende a

importância de trabalhar com

cartões, contendo desenhos de palavras que rimam, para que as crianças possam fazer esta classificação, buscar em revistas palavras que rimam, trabalhar com músicas e poesias que rimam, são formas por meio das quais o professor pode ajudar uma criança a desenvolver sua consciência fonológica, amenizando as dificuldades. (SAMPAIO, 2011, p. 115)

A Barata diz que tem

A Barata diz que tem sete saias de filó É mentira da barata, ela tem é uma só Ah ra ra, iá ro ró, ela tem é uma só !

A Barata diz que tem um sapato de veludo É mentira da barata, o pé dela é peludo Ah ra ra, Iu ru ru, o pé dela é peludo !

A Barata diz que tem uma cama de marfim É mentira da barata, ela tem é de capim Ah ra ra, rim rim rim, ela tem é de capim

A Barata diz que tem um anel de formatura É mentira da barata, ela tem é casca dura Ah ra ra , iu ru ru, ela tem é casca dura

A Barata diz que tem o cabelo cacheado É mentira da barata, ela tem coco raspado Ah ra ra, ia ro ró, ela tem coco raspado

Se a escola possuir computador para uso pedagógico dos seus

alunos Sampaio (2011) recomenda

os softwares da coleção “coelho sabido” que são excelentes para reconhecimento de sons, letras, fonética, rimas,

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vocabulário, ortografia, além de outras áreas na matemática, raciocínio lógico, ciências, artes etc.,bem como a concentração. (SAMPAIO, 2011, p.117)

A Associação Brasileira de Dislexia - ABD lançou o Jogo de Réguas

para Leitura, especialmente desenvolvido pela equipe científica da ABD a

partir das experiências clínicas objetivando auxiliar a atividade acadêmica dos

disléxicos.

Segundo a ABD,

no processamento visual observa-se que anormalidades neuroanatômicas dificultam o rápido processamento da informação apresentada, assim existe grande instabilidade na fixação e nos movimentos oculares, fazendo com que o indivíduo pule linhas e se perca facilmente na leitura.

Régua 1: Usada para medir e para a tabuada.

Régua 2: Auxilia na leitura de cada palavra em particular.

Régua 3: Auxilia na leitura de cada linha.

Régua 4: Auxilia no direcionamento quando o leitor volta para a esquerda.

Régua 5: Permite a leitura na vertical, na horizontal e colunas.

(http://www.dislexia.org.br/)

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Há alguns mitos sobre a dislexia que circulam em nossa sociedade que o

professor precisa estar atento para não tomá-los como verdade sem antes

buscar esclarecimentos sobre os mesmos.

1º mito: A dislexia atrapalha a alfabetização

Criança que troca letras é disléxica, certo? Não. Focar a expressão escrita na oralidade (escrever como se fala), trocar tipos parecidos foneticamente (como F e V), juntar palavras e unir letras de forma aparentemente aleatória são ações absolutamente normais do processo de alfabetização. Quem sabe como o aluno constrói esse novo conhecimento considera esses fatos como um avanço em relação a uma etapa anterior, não um erro.

2º mito: O disléxico não gosta de ler e escrever

Na verdade, o desinteresse pela leitura e pela escrita está muitas vezes associado às próprias dificuldades da alfabetização. A expectativa equivocada de pais e educadores quanto ao ritmo de aprendizagem e a simples comparação entre os colegas de classe podem criar estigmas. Essa mania de colocar rótulos nos estudantes (bons, esforçados, casos perdidos...) cria o que Giselle Massi chama de aquisição por sentido: "Ao ser carimbado pelo professor e pelos pais, a criança desenvolve uma equivocada noção de si e passa a se ver como incapaz de avançar". Assim, é natural que perca o interesse pelas atividades ligadas ao que considera ser a sua fragilidade.

3º mito: O disléxico é mais inteligente e criativo

Essa é outra afirmação, digamos, um tanto quanto estranha. Alguém acha que é possível medir a inteligência ou a criatividade de forma objetiva, como resultado de uma avaliação pragmática? Uma tese amplamente aceita é a de que, por utilizarem formas singulares de elaboração da linguagem escrita e de interação com o idioma, as crianças ditas disléxicas acabariam por desenvolver estratégias mais criativas de comunicação, interessando-se mais pelas artes e pelos esportes.

O fato é que cada ser humano é único, cheio de sutilezas e tem uma intrincada e singular forma de observar e interagir com o mundo. Em outras palavras, todos os estudantes apresentam afinidade com diferentes linguagens. Pesquisas do psicólogo norte-americano Howard Gardner comprovam essa diversidade. Tanto que ele cunhou a expressão "inteligências múltiplas" (ou seja, não há "uma" inteligência a ser medida). Testar essas habilidades implica considerar um universo de possibilidades do conhecimento humano e não apenas a

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expectativa da sociedade numa determinada época. (Extraído da Nova Escola, Edição 209, Fevereiro 2008)

Shaywitz (2006) também desmistifica alguns mitos:

Diz-se que escrever com a mão esquerda, ter dificuldades espaciais (inclusive saber o que é direita e o que é esquerda), não saber amarrar os sapatos e ser desastrado são fatores associados à dislexia. Essas constatações não são certamente tão importantes ao ponto importantes ao ponto de as encontrarmos na maioria das pessoas com dislexia, mas, é claro, há muitas pessoas dentre a grande quantidade de indivíduos disléxicos que são canhotos ou que têm dificuldades espaciais. (SHAYWITZ, 2006, p.88)

No espaço escolar onde as diferenças são respeitadas e há uma busca

constante na interação dos envolvidos neste grande evento que é o ensino-

aprendizagem, a inclusão acaba sendo para todos, pois os disléxicos são sujeitos

como qualquer outro aluno que inserido em uma sociedade letrada necessita

de instrumentos que os torne, independente das suas limitações, participantes

ativos no meio em que está inserido.

Maia (2011) relata que

Podemos encontrar no portador de dislexia uma série de competências cognitivas que reforçam a natureza circunscrita do transtorno e a tentativa do aluno em suplantar sua dificuldade. Entre elas, podemos citar a curiosidade, a imaginação e a criatividade; boa habilidade em captar as informações (“pegar o espírito da coisa”); bom entendimento de novos conceitos; vontade de aprender; maturidade de comportamento; um bom vocabulário; gosto de resolver quebra-cabeças; talento para montar móbiles; excelente compreensão de histórias que são lidas para ele; excelente pensamento (conceitualização, raciocínio lógico, abstração, imaginação e inferência); aprendizado mais por compreensão do que por memorização; habilidade para ler e entender palavras em áreas de interesse especial em razão de grande treino. (MAIA, 2011, p. 89)

Busca-se diante de trabalhos variados, produzidos e apresentados

através de diferentes expressões e linguagens, envolvendo criatividade e

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experiências proporcionar trocas ricas em amizade, cooperação, solidariedade

não só objetivando o desenvolvimento do aluno disléxico, mas todos os

envolvidos, pois cada um tem muito a oferecer e muito a receber.

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CONCLUSÃO

Através desta pesquisa pode-se concluir que a dislexia é uma

dificuldade de aprendizagem especifica no processo de aquisição da linguagem

impossibilitando o disléxico de ler com qualidade e fluência, é de origem

neurológica e genética e não tem cura. Pode estar associada a uma falha no

desenvolvimento cerebral que acarreta deficiência na consciência fonológica,

O diagnóstico da dislexia exige uma equipe multidisciplinar e quando

mais cedo for diagnosticada maiores são as chances de que este sujeito possa

desenvolver habilidades que o ajude a lidar com suas limitações.

Durante o processo de aprendizagem da leitura o disléxico

apresenta alguns sintomas no qual o professor precisa saber diferenciá-lo das

dificuldades que são normais nesta etapa e a dislexia também pode estar

associada a alguns outros transtornos, como por exemplo: Discalculia;

Disgrafia; Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade- TDAH; Transtorno

de Ansiedade; Transtorno de conduta, para isto o professor necessita estar em

constante capacitação profissional que o possibilite mudanças em sua prática

pedagógica,visto que estes momentos oportunizam a criação de novos saberes

pedagógicos, enfim um olhar mais refinado que o possibilite atuar de forma

mais eficaz na sua prática diária.

São inúmeras as propostas pedagógicas – estratégias em sala de

aula; dinâmica; cantigas; jogos; rimas - que o professor pode utilizar para tornar

sua aula mais atraente e enriquecedora, principalmente na estimulação de

todos os sentidos, pois os canais sensório-motores não trabalham em

harmonia no disléxico.

O professor tem em suas mãos grande responsabilidade e a

graduação não o prepara para a inclusão em turmas regulares. Ele precisa

buscar recursos, métodos que possibilite transformar suas ações e não permitir

que os desafios diários o desanimem.

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O disléxico já traz em si o peso das suas dificuldades, pois

normalmente suas qualidades e habilidades não são percebidas pelos que

convivem com ele. Necessitando assim que com respeito, acolhimento,

estímulos buscar elevar sua autoestima, valorizando sua capacidade de

aprender, mesmo porque são sujeitos altamente inteligentes e capazes.

É de fundamental importância que o professor tenha habilidades e

competências, equilíbrio emocional, ter consciência que as exigências da

atualidade é que ele seja um profissional dinâmico, autônomo, mas todos estes

predicados não frutificarão possibilitando desenvolver um trabalho de qualidade

se nele não tiver como parte integrante o afeto.

Somente quem trabalha com amor e respeito ao próximo poderá

estimular em seu aluno o desejo de aprender e desenvolver uma aprendizagem

de qualidade independente das limitações do seu aluno, lembrando-se que não

existe dois disléxicos com os mesmos sintomas.

Quando o professor está motivado, o afeto, o respeito são

instrumentos que o levará a desbravar novos horizontes em busca de melhores

recursos que o possibilite transformar o convívio entre eles - professor e aluno -

enriquecedor, estimulante para que possam superar os obstáculos que venham

surgir ao longo de suas vidas.

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ÍNDICE

EPÍGRAFE...........................................................................................................2

AGRADECIMENTOS...........................................................................................3

DEDICATÓRIA....................................................................................................4

RESUMO.............................................................................................................5

METODOLOGIA..................................................................................................6

SUMÁRIO............................................................................................................7

INTRODUÇÃO....................................................................................................8

CAPITULO I – DISLEXIA....................................................................................9

1.1 Definição........................................................................................................9

1.2 Tipos de dislexia..........................................................................................11

1.3 Sintomas......................................................................................................12

1.4 Transtornos associados a dislexia...............................................................14

CAPITULO II – A DISLEXIA NO ESPAÇO ESCOLAR......................................20

2.1 A formação docente.....................................................................................20

2.2 A importância do afeto.................................................................................22

CAPITULO III – PROPOSTAS DE ATIVIDADES PEDAGÓGICAS..................26

CONCLUSÃO....................................................................................................38

BIBLIOGRAFIA..................................................................................................40

WEBGRAFIA.....................................................................................................44

ÍNDICE...............................................................................................................45