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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
PSICOPEDAGOGIA INSTITUCIONAL ESCOLAR
Por: Luanda Maria Amancio
Orientador (a): Carly Machado
Rio de Janeiro
2010
2
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
PSICOPEDAGOGIA INSTITUCIONAL ESCOLAR
Objetivos:
Esta pesquisa é um estudo de
complementação teórico-científica para
alunos de Psicopedagogia Institucional
Escolar.
3
AGRADECIMENTOS
A todos que contribuíram para realização dessa
pesquisa e ao corpo docente do Instituto “A vez do
Mestre” pelos seus ensinamentos.
4
DEDICATÓRIA
Dedico esta pesquisa aos meus pais Odete Maria da
Cunha e Carlos Henrique Amancio (in memória) pelo
apoio em todos os momentos.
5
RESUMO
A presente pesquisa busca conhecer a origem do estudo acerca da
Psicopedagogia, sua atuação e intervenção no processo de ensino-
aprendizagem, pensando o sujeito-aprendente a partir dos seus aspectos
afetivos, cognitivos e sociais, o considerando integralmente, para intervir nas
suas dificuldades de aprendizagem, através de uma análise interdisciplinar,
evidenciando alguns dos principais objetivos da Psicopedagogia nas
instituições de ensino. Por meio deste trabalho procurou- se destacar a
inserção da Psicopedagogia nas instituições de ensino, visando combater os
problemas de aprendizagem, intervindo junto aos alunos, família e
profissionais de educação. O psicopedagogo numa ação preventiva nas
instituições de ensino incorpora uma nova consciência educativa, que
determina a realização de um aprendizado significativo.
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METODOLOGIA
A metodologia aplicada objetiva- se a fornecer apoio teórico-científico
para produção de futuras pesquisas com fins pedagógicos. Utilizou- se análise
bibliográfica e material digitalizado para sua fundamentação. A bibliografia de
autores como Beatriz Scoz, Nádia Bossa, Deyse Serra, Maria Lúcia Weiss
tiveram ênfase na elaboração dessa pesquisa.
O pressuposto metodológico, aqui apresentado não se resume apenas
em relatar a trajetória da Psicopedagogia, e muito menos o desejo de realizar
uma análise crítica da intervenção psicopedagógica nas dificuldades de
aprendizagem. A proposta estabelecida será de perceber a necessidade da
Psicopedagogia para o ensino-aprendizagem e a sua cooperação para o
desenvolvimento sócio-cultural do sujeito-aprendente.
7
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 8
CAPÍTULO I- Psicopedagogia Institucional Escolar e Aprendizagem 10
CAPÍTULO II- As Principais Dificuldades de Aprendizagem no Âmbito 18
Institucional Escolar
2.1-Dislexia 20
2.2-Disgrafia 23
2.3- Discalculia 25
CAPÍTULO III- A Intervenção do Profissional de Psicopedagogia 28
nas Dificuldades de Aprendizagem
CONCLUSÃO 36
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 37
ÍNDICE 39
FOLHA DE AVALIAÇÃO 40
8
INTRODUÇÃO
A Psicopedagogia vem se difundindo ao longo de algumas décadas no
Brasil, ganhando cada vez mais reconhecimento em diversos campos como:
profissional, teórico e científico. O papel geral do psicopedagogo nas
instituições de ensino viabiliza variadas competências, desempenhadas por
esse profissional, desde a criação de métodos de ensino ao suporte técnico
educacional. São inúmeras as tarefas que permeiam o seu trabalho e vastas
as possibilidades de intervenção nas dificuldades de aprendizagem.
Logo, a Psicopedagogia por ter como objetivo principal a
aprendizagem, terá seu olhar direcionado também para suas dificuldades, que
motivam o surgimento de transtornos e impedem, assim, a aquisição do
conhecimento. Concluímos no decorrer da pesquisa, que os transtornos mais
comuns nas instituições de ensino são aqueles relacionados às aptidões para
leitura, escrita e raciocínio lógico-matemático, tais como: a dislexia, disgrafia e
discalculia. Dessa maneira percebemos a importância da Psicopedagogia nas
escolas para o processo de ensino-aprendizagem.
Com a constatação dos avanços psicopedagógicos nas instituições de
ensino, é que surgiu o interesse pelo aprofundamento nas questões
abrangentes a Psicopedagogia. Um dos fatores fundamentais para definição
da linha de estudo a ser trabalhada está na eficácia da intervenção
psicopedagógica. “A Psicopedagogia não é um elemento milagroso, mas sem
dúvida, é uma forma diferenciada de compreender a aprendizagem humana e
atuar sobre ela” [...] (SERRA, 2009, p.6).
9
A pesquisa propõe destacar algumas das causas das dificuldades de
aprendizagem nas instituições de ensino e como o psicopedagogo vem
atuando nesses estabelecimentos educacionais na tentativa de remover os
obstáculos, que obstruem o aprendizado. Desse modo, a pesquisa obtém
relevância por servir como instrumento de estudo para outros interessados nos
assuntos psicopedagógicos.
Inicialmente falaremos da etimologia do pensamento psicopedagógico,
do seu desenvolvimento e sua inserção na área educacional. Após serão
salientadas as principais dificuldades de aprendizagem vistas nas escolas.
Finalizaremos a pesquisa abordando as possíveis intervenções
psicopedagógicas nas dificuldades de aprendizagem, sendo esses os
principais objetivos da pesquisa.
10
CAPÍTULO I
PSICOPEDAGOGIA INSTITUCIONAL ESCOLAR E
APRENDIZAGEM
Nos últimos anos, o crescente interesse acerca dos estudos
psicopedagógicos, principalmente, em âmbito institucional escolar, evidencia
uma tentativa por parte dos profissionais da área de reformular o presente
quadro de “degradação” educacional, tendo em vista as provenientes causas
do seu agravamento. Diante de tal contextualização é designado a
Psicopedagogia, a complexa tarefa de intervir sobre os óbices, que interferem
na construção de conhecimento humano e possibilitam, assim, o
desenvolvimento patológico da aprendizagem.
Desse modo, a Psicopedagogia tem como propósito estabelecido a
compreensão do processo de aprendizagem e todos os seus aspectos
funcionais, pois visa criar condições favoráveis para sua ocorrência. Segundo
Mamede-Neves (1991, p. 12), a análise psicopedagógica deve abranger todos
os fatores inerentes a aprendizagem:
A psicopedagogia estuda o ato de aprender e ensinar,
levando sempre em conta as realidades interna e externa da
aprendizagem, tomadas em conjunto. E, mais, procurando
estudar a construção do conhecimento e toda a sua
complexidade, procurando colocar em pé de igualdade os
aspectos cognitivos, afetivos e sociais que lhe estão
implícitos.
Com a inserção da Psicopedagogia os assuntos relacionados à
aprendizagem ganharam relevância, passando a ser tratados de maneira mais
efetiva. Os enganos antes contemplados em teorias mal fundamentadas e
pouco eficazes foram estigmatizados, pelos conceitos psicopedagógicos, por
11
esse estabelecer uma abordagem ampla da questão. Logo, viu- se a
incorporação dessa nova metodologia na área clínica, em função do seu
caráter terapêutico, buscando as matrizes geradoras das dificuldades de
aprendizagem e na área institucional (escolar, empresarial e hospitalar)
caracterizada pela sua ação preventiva, afim de, fomentar o aprendizado. “O
trabalho psicopedagógico é de natureza clínica e institucional, de caráter;
preventivo e/ou remediativo”. (Código de Ética Psicopedagógico, Cap. 1º,
Artigo 3º).
As pesquisas iniciais direcionadas as dificuldades aprendizagem deram-
se na Europa, a partir século XIX, sobre a perspectiva de se estabelecer uma
articulação entre a prática pedagógica e psicológica, as quais serviram de
sustentáculo para a consolidação da Psicopedagogia. Na Argentina, a
proposta psicopedagógica obteve projeção, por intermédio da Epistemologia
Convergente, que parte do princípio de integração das teorias psicanalítica de
Freud, psicogenética de Piaget e da Psicologia Social de Pichon Rivière,
ambas tendo como ponto de convergência a aprendizagem.
Torna- se de suma importância ressaltar a influência de Jorge Visca, na
elaboração dos estudos epistemológicos, sendo considerado um dos
precursores da Psicopedagogia, em vários países como o Brasil, onde fundou
centros de referência da mesma, nas cidades do Rio de Janeiro, São Paulo,
Salvador e Curitiba.
Nesse particular, Nádia Bossa (2000, pp. 36, 37), discorre a respeito da
etimologia psicopedagógica. Para a autora, “a origem do pensamento
argentino acerca da Psicopedagogia, está fortemente marcada pela literatura
francesa”, cuja já se observa as primeiras tentativas de articulação de um
projeto interdisciplinar, voltado para solucionar problemas referentes à
aprendizagem:
Na literatura francesa – que, como vimos, influencia as
idéias sobre psicopedagogia na Argentina (a qual, por sua
vez, influencia a práxis brasileira) – encontra-se, entre
outros, os trabalhos de Janine Mery, a psicopedagoga
francesa que apresenta algumas considerações sobre o
12
termo psicopedagogia e sobre a origem dessas idéias na
Europa, e os trabalhos de George Mauco, fundador do
primeiro centro médico psicopedagógico na França,..., onde
se percebeu as primeiras tentativas de articulação entre
Medicina, Psicologia, Psicanálise e Pedagogia, na solução
dos problemas de comportamento e de aprendizagem.
No Brasil, a Psicopedagogia por ser uma ciência contemporânea,
passou e passa por um longo processo de discussões geradas em torno de
sua legitimação. Atualmente, tramita nos parlamentos brasileiro o projeto de
Lei (nº 3.512/08), de regulamentação profissional, da Deputada Federal Raquel
Texeira, já aprovado em caráter conclusivo. A proposta assemelha- se ao
projeto de Lei (3.124/97), criado pelo ex- deputado, Sebastião Barbosa Neto,
arquivada após quase uma década sem definição. O projeto em questão
permite o exercício da profissão de psicopedagogo, pelos portadores de
graduação em Psicopedagogia, além de Pedagogos, Psicólogos e Licenciados
com especialização nessa mesma área ou profissionais graduados que
comprovem já exercer atividades psicopedagógicas, até a data de vigor da
nova lei. O Código de Ética, Capítulo 1º, Artigo 4º já estabelece essas
atribuições, as quais definem os profissionais aptos ao exercício da função de
psicopedagogos:
Estarão em condições de exercício da Psicopedagogia os
profissionais graduados em 3º grau, portadores de
certificados de curso de Pós-Graduação de Psicopedagogia,
ministrado em estabelecimento de ensino oficial e/ou reco-
nhecido, ou mediante direitos adquiridos, sendo
indispensável submeter-se à supervisão e aconselhável
trabalho de formação pessoal.
Com a criação de entidades psicopedagógicas como a APE (Associação
Estadual de Psicopedagogia), fundada no estado de São Paulo, em 12 de
novembro de 1980, hoje então ABPp (Associação Brasileira de
13
Psicopedagogia), várias medidas favoráveis ao reconhecimento desse campo
profissional foram instituídas.
A Psicopedagogia é introduzida nas instituições de ensino brasileiras,
mediante a necessidade de se encontrar soluções cabíveis para os problemas
de aprendizagem, que afetam diretamente o desenvolvimento da educação em
nosso país. No entanto, inicialmente, buscava- se conhecer os agentes
causadores dessas dificuldades, levando um número sugestivo de alunos para
tratamentos clínicos. A difusão da atividade psicopedagógica institucional
escolar ocorreu num curto período de tempo e, com isso o trabalho de
prevenção contra as dificuldades de aprendizagem, a tentativa de reeducação
dos alunos com baixo rendimento educacional e a inclusão dos portadores de
necessidades especiais passaram a ser enfatizados. Beatriz Scoz (1990, p.8),
atesta a evolução da Psicopedagogia nas escolas brasileiras:
Esta nova visão oferecida pela Psicopedagogia vem
ganhando espaço nos meios educacionais brasileiros e vem
despertando, cada vez mais, o interesse dos profissionais
que atuam nas escolas. Assim, embora a Psicopedagogia
tenha nascido com o objetivo de proporcionar uma
reeducação das crianças com problemas de aprendizagem,
hoje, ela se preocupa principalmente com a prevenção do
fracasso escolar.
Reduzir a evasão e o fracasso escolar também é uma das competências
do psicopedagogo nas instituições educacionais, pois esse se ocupa de
estabelecer um aprendizado significativo, dando assistência aos profissionais
de educação, delimitando o papel da família-aluno-escola no processo de
ensino-aprendizagem. As escolas na maioria das vezes, não consideram as
experiências e aprendizagens que os alunos trazem em si, com isso geram
uma série de dificuldades, as quais contribuem na maioria dos casos, para
falta de interesse no que está sendo ensinado.
Assim, muitos professores diante das decorrentes recuperações e
seguidas reprovações tendem culpar seus alunos pelas dificuldades, que os
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impedem de desenvolver um aprendizado satisfatório. Isso ocorre devido ao
despreparo desses profissionais, que não conseguem refletir sobre as causas
desse insucesso educacional e, passam a subestimar seus alunos, os
rotulando como sujeitos não-aprendentes e atribuído- lhes o fracasso escolar.
Para Deyse Carla Gênero Serra (2009, p.12), o fracasso escolar não é
de responsabilidade única e exclusivamente dos alunos, pelas dificuldades
apresentadas em alguns momentos, pela falta de interesse, pelo seu histórico
familiar e sócio-cultural ou das escolas pela ausência políticas públicas
específicas. “Todos esses fatores podem apresentar, certamente, causas para
o não-aprender. Ou, ainda, o fracasso escolar pode ter origem num conjunto
de causas anteriormente apresentadas que se entrelaçam” (SERRA, 2009, p.
12).
Certamente, é na escola que as dificuldades de aprendizagem tornam-
se nítidas, daí a extrema necessidade de haver nesses estabelecimentos,
profissionais especializados, capazes de lidar com essas adversidades, afim
de, promover o aprendizado sem submeter o sujeito-aprendente a um ensino
defasado, inibidor dos seus próprios conhecimentos. “Aprender algo requer
interesse pelo objeto, numa linguagem psicopedagógica, requer desejo”
(SERRA, 2009, p.12).
A Psicopedagogia se lança numa tentativa de equilibrar todos os
aspectos potencializadores da aprendizagem, reestruturando o vínculo de
afetividade na relação de quem ensina com quem aprende. Pais, professores,
todos que participam, ativamente, da construção do conhecimento, são tidos
pela Psicopedagogia como elementos fundamentais no processo de
maturação do sujeito-aprendente. Portanto, a presença da família na vida
escolar dos alunos serve de base emocional, principalmente, para aqueles que
apresentam dificuldades de aprendizagem, pois aprender algo novo,
desconhecido, em alguns momentos, desperta em nós sentimentos de medo e
insegurança, podendo ocasionar uma recusa do que nos está sendo oferecido.
Para Beatriz Scoz (1994, p. 71), o apoio familiar faz toda diferença na
vida do sujeito-aprendente:
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a influência familiar é decisiva na aprendizagem dos alunos.
Os filhos de pais extremamente ausentes vivenciam
sentimentos de desvalorização e carência afetiva, gerando
desconfiança, insegurança, improdutividade e desinteresse,
sérios obstáculos à aprendizagem escolar.
Contudo, algumas famílias ainda são negligentes ao tratar de assuntos
educacionais, eximem- se das suas obrigações, deixando toda
responsabilidade por conta dos professores, que acabam exercendo uma
dupla função. Esses por sua vez, sobrecarregados passam a não dar conta da
sua função de educador, mediador do aprendizado, sendo impossibilitados
pela grande demanda de criar métodos eficazes, que atendam a necessidade
da maioria dos alunos. O psicopedagogo deve auxiliar os professores para
que possam, juntamente, com as famílias, conhecer as dificuldades de seus
alunos, respeitando a sua individualidade e o seu ritmo de aprendizagem.
Em Psicopedagogia Institucional Aplicada, Eloisa Quadros Fagali e Zélia
Del Rio do Vale (2008, pp. 14,15), consideram que a orientação
psicopedagógica junto aos professores deve abranger todas suas ações
pedagógicas sem se restringir as relações vinculares:
A orientação do psicopedagogo junto ao professor deve ser
constante, discutindo não apenas as relações vinculares,
mas também as que dizem respeito ao conteúdo, atuação
do aluno, formas de avaliação e reação dos pais frente a
essa nova postura da instituição. Desta forma o professor
poderá rever constantemente a relação afetiva e as
dificuldades do educando e saber esperar pela resposta e
produção do aluno, independente das pressões e tensões.
Trabalhar a ansiedade do aluno, dos pais, da escola e dele
próprio enquanto educador.
De modo geral, o aprendizado se constrói, a partir da integração de
diversos saberes, num ato recíproco e constante, através da exposição do
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sujeito-aprendente as mais variadas instâncias de ensino, numa ação subjetiva
e interativa. Logo, a todo o momento, nos deparamos com um número infinito
de informações, que se múltipilicam e determinam a trajetória evolutiva da
humanidade. No entanto, muitas das vezes, não somos capazes de dominar
ou até mesmo assimilar integralmente o que nos é ensinado e, passamos a
apresentar certas dificuldades, para estabelecer um entendimento a respeito
de um determinado assunto.
Com a velocidade do mundo globalizado, acompanhar tantas
informações torna- se um desafio para muitas pessoas, que acabam excluídas,
banidas de alguns grupos sociais, ficando as margens da sociedade. Pensar
essa situação no ambiente escolar não é tarefa muito difícil, pois as instituições
educacionais lidam com essa triste realidade no seu cotidiano. Alunos com
dificuldade de aprendizagem apresentam um baixo rendimento educacional,
que os deixam as margens do conhecimento, sem ocupar um espaço no seio
da comunidade escolar. A questão se intensifica quando há preconceito e
recusa por parte daqueles que deveriam assumir o problema e procurar meios
para solucioná- lo.
As escolas defronte aos avanços sociais, culturais e tecnológicos estão
repensando as suas práticas educacionais, apresentando uma postura
diferenciada diante das necessidades de seus alunos. As instituições
educacionais ao introduzirem no seu discurso, uma perspectiva
psicopedagógica, abre espaço para uma nova maneira de se pensar o ensino,
refletindo sobre seus pontos positivos e negativos, reconstruindo os caminhos
que levam de encontro ao conhecimento. Métodos ultrapassados e
insuficientes devem ser questionados, para que não sejam mais percebidos
como reforçadores das dificuldades de aprendizagem, mas sim, facilitadores
do aprendizado significativo.
O aprofundamento da metodologia psicopedagógica nas instituições
educacionais compreende a integração com essas transformações para atuar
de forma assistencial aos professores junto à equipe multidisciplinar. Fagali e
Vale (p.14, 2008) atestam a necessidade dos professores atentarem- se para
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as experiências de ensino que promovam uma aprendizagem capaz de
desenvolver a autonomia do sujeito-aprendente:
É importante que o educador tenha cuidados necessários
para permitir que a autonomia do educando avance sem
que ele, educador se sinta ameaçado e não exija mais que
o aluno pode dar. Ao facilitar e organizar o processo
produtivo de aprendizagem o educador deve assegurar a
todos a prática e a vivência, a possibilidade de observar e
construir o conhecimento. O trabalho psicopedagógico atua
não só no interior do aluno ao sensibilizar para a construção
do conhecimento, levando em consideração os desejos do
aluno, mas requer também um a modificação interna do
professor.
Portando, ao priorizar um trabalho interdisciplinar a Psicopedagogia visa
por intermédio diferentes abordagens encontrar os mais variados meios de
formulação do ensino-aprendizagem, que possibilitam o sujeito-aprendente a
se apropriar do conhecimento e refletir sobre ele, contribuindo para a formação
de alunos críticos capazes de perceber e atuar sobre o mundo em que vivem.
Assim, o psicopedagogo não só contribuirá para o desenvolvimento do aluno,
mas também cuidará da sua reintegração no mundo, o adaptando a realidade
a qual está exposto, o valorizando independente das suas limitações e o
oferecendo melhores condições de vida.
As instituições educacionais ao pensarem o ensino, a partir de um
ponto de vista psicopedagógica compreendem que a aprendizagem não se
baseia num simples processo sistemático de troca de conhecimento, sem levar
em consideração o ser em desenvolvimento e os seus aspectos cognitivos,
afetivos e sociais os quais determinam a construção do aprendizado. O sujeito-
aprendente deve ser percebido na sua totalidade, todos os sinais manifestados
por ele poderão servir como ponto de partida para se chegar as causas das
dificuldades que o impede de aprender.
18
CAPÍTULO II
AS PRINCIPAIS DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM
NO ÂMBITO INSTITUCIONAL ESCOLAR
O período escolar é uma fase de muitas surpresas para pais e alunos,
marcado por novas descobertas, angústias e anseios frente ao deconhecido,
onde vínculos e relacionamentos são formados; é também, como já foi
salientado no capítulo anterior, o período no qual as dificuldades de
aprendizagem são evidênciadas. Nas escolas inúmeras situações podem levar
os alunos a manifestarem dificuldades de aprendizagem, sendo essas
procedentes de diversos fatores como orgânicos, específicos, psicôgenicos e
ambientais; advindos de causas físicas, sensorias e neurológicas que variam
de acordo com cada aluno.
A rotina escolar pode provocar certas inquietações, que se somatizam a
fatores de natureza extra-escolar e configuram uma alteração comportamental
em alguns alunos, aumentando assim, a incidência das dificulades de
aprendizagem. Deve- se dar o máximo de atenção para essas mudanças de
comportamentos ou dificuldades apresentadas para a realização de atividades
como compreensão de textos, ortografia e raciocínio matemático. Contudo, por
mais evidentes que sejam os sinais das dificuldades de aprendizagem nas
instituições educacionais, os professores devem ter bastante cautela ao
verificar se os alunos com tais sintomas podem ser considrados como
portadores de problemas de aprendizagem.
Esses alunos devem receber um acompanhamento dos seus
professores, para que uma simples indisposição não possa ser vista como
dificudades de aprendizagem, podendo essas ter uma curta ou longa duração,
provocando um súbito bloqueio na aprendizagem, que os fazem retroceder em
determinados momentos.
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O comprometimento educacional caracterizado pelas dificuldades de
aprendizagem, na maioria dos casos, estão associadas a uma disfunção
neurológica, a qual compromete a aquisição do conhecimento. As áreas,
geralmente, afetadas são aquelas responsáveis pelas habilidades de leitura,
cálculo e escrita, propiciando um desarcordo entre a idade escolar e
cronológica. Logo, as dificuldades de aprendizagem não estão relacionadas a
deficiências como: autismo, atraso mental, déficit visual ou auditivo e privação
educacional. Sara Paín defini o não-aprendizado como uma reestruturação dos
fatores que intervem na aprendizagem:
“Podemos considerar o problema de aprendizagem como
um sintoma, no sentido de que não aprender não configura
um quadro permanente, mas sim entra numa variedade
peculiar de comportamentos nos quais se destaca como
sinal de descompensação.” Nenhum fator é determinante do
seu surgimento e ele aparece da fratura contemporânea de
uma série de concomitantes.” “o sintoma deve ser entendido
como um estado particular de um sistema que, para
equilibrar- se, precisou adotar esse tipo de comportamento
que mereceria um nome positivo, mas que caracterizamos
como não-aprendizagem. Assim pois, a não aprendizagem
não constitui o contrário de aprender, já que como sintoma
está cumprido uma função positiva tão integradora como a
primeira, porém, com outra disposição dos fatores que
intervêm” (PAÍN, 1983 apud GÓMEZ; TERÁN, 2008, p.94).
O contexto social no qual estamos inseridos nos coloca diante de
situações que exigem de nós capacidade de raciocínio lógico e sensibilidade
para interpretar as diversas leituras de mundo. Ao iniciar a vida escolar essas
habilidades passam a ser sistematizadas, adaptadas a conteúdos, que muitas
das vezes se distaciam do cotidiano de grande número de alunos, gerando
complicações para o seu entendimento. Ler, escrever e contar são ações
indispensáveis para o enriquecimento sócio-cultural de qualquer indivíduo, que
20
a partir do enquadramento escolar vão adquirindo definições e objetivos
específicos.
Facilmente, encontramos indivíduos que nunca tiveram contato com a
escola, mas são capazes de efetuar cálculos sem nenhuma dificuldade, já
outros tiveram essa oportunidade demonstraram ter dificuldades para realizar
essas mesmas operações matemáticas. Ou até mesmo pessoas que
desistiram de estudar por sentirem dificuldades para reconhecer os símbolos
gráficos, ficando impossibilatadas de desenvolver habilidades de leitura e a
escrita.
Hoje é comum vermos nas escolas alunos que aprensetam uma ou mais
dificuldade em diversas áreas e, uma mobilização por parte dos profissionais
de educação para trabalhar com esses impedimentos. Vários estudos em torno
das causas e tratamentos de dislexia, disgrafia e discalculia estão sendo
formulados, estratégias de suporte para professores que lidam com esses
problemas nas salas de aula são incoporadas ao planejamento de ensino e
cada vez mais psicopedagogos ganham espaços nas instituções educacionais.
No decorrer da pesquisa falaremos dessas dificuldades de aprendizagem
distintamente.
2.1- Dislexia
“Analisando a origem do grego “dis” – dificuldade e lexia – linguagem,
entende- se que a dislexia seja uma dificuldade na aquisição de linguagem”
(OLIVIER, 2008, p.51).
A dislexia é uma das dificuldades de aprendizagem mais diagnosticadas
nas escolas, devido o fato de ser através da leitura que os alunos começam a
realizar as primeiras atividades educaionais. Decodificar e comprender
símbolos gráficos requer um funcionamento adequado dos órgão perceptivos
visuais e auditivos, sem nenhuma disfunção das regiões cerebrais
responsáveis pela leitura. Em indivíduos disléxicos a formação cerebral não
21
apresenta nenhuma alteração, havendo comunicação entre os neurônios,
entretanto ocorrem falhas nas conexões cerebrais, dificultando a transmissão
de informações. Na leitura as duas áreas do cérebro são ativadas:
“Intervêm nesse processo ambos os hemisférios; no
reconhecimento da palavra como um todo intervém o
hemisfério direito, no reconhecimento de grafemas e
fonemas intervém o hemisfério esquerdo” (GÓMEZ;
TERÁN,2008, p.161).
No cérebro dos disléxicos algumas regiões ficam inativas como a que
responde pela análise e identificação das palavras, por isso esses possuem
dificuldades para diferenciar sílabas de fonemas e recordar leituras já
realizadas. Portanto, a dislexia pode ser definida como um transtorno
específico, o qual tende ocasionar uma dificuldade para o aprendizado de
leitura e consequentemente na escrita. Lou de Olivier (2008, p.47 defini
dislexia na visão da Neuropsicologia a partir do seguinte trecho:
Uma definição neuropsicológica da dislexia é de que
encontram alterados os processamentos periférico e central.
Dislexia Periféricas são causadas por um comprometimento
no sistema de análise visuo-perceptiva, enquanto que as
centrais são causadas por comprometimento do
processamento linguistico dos estímulos.
De acordo com essa mesma autora ( 2008, pp.52, 53, 54, 55, 56)
“dentro da Psicopedagogia, os três tipos básicos de dislexia são”:
Dislexia Congênita ou Inata: É a dislexia que nasce com
indivíduo. Pode ter a mais variadas causas e tem
característica próprias, como, por exemplo, uma
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comprovada alteração cerebral, onde os hemisférios
encontram- se invertidos ou em igualdade ou até por uma
alteração nos cromossomos, [...] Dislexia Adquirida: É a
dislexia que vem por meio de um ascidente qualquer. Como
exemplo, temos” Anoxia Perinatal”, Acidente Vascular
Cerbral, e outros acidentes e distúrbios, [...] Dislexia
Ocasional: É a dislexia causada por fatores externos e que
aparecem ocasionalmente. Pode ser causada por
esgotamento do Sistema Nervoso/estresse, excesso de
atividade, em algum casos, considerados raros, por TPM
e/ou hipertensão [...]. Existe também uma espécie de quarto
tipo que classifico como características disléxicas, mas
que, isoladas, nada significa ou podem ser causadas por
outros distúbios, às vezes, bem mais simples de curar [...}.
Todavia ressaltar que, a dislexia é uma dificuldade de aprendizagem
bastante complexa, pois cada pessoa tende a manifestar o transtorno de forma
diferenciada. Para se chegar ao seu diagnóstico o indivíduo deve passar por
uma investigação da sua trajetória esolar, o mapeamento familiar também é
importante para observação de uma pré-disposição genética e hereditária,
além de testes de leitura, escrita, memória, prcepção e nível intelectual, sendo
indispensável a avaliação de uma equipe multidisciplinar composta por
psicólogo, psicopedagogo, neurologista e geralmente conta- se também com a
ajuda de um fonoaudiólogo.
Após o diagnóstico torna- se imprescindível a participação dos pais e
profesores no tratamento da dislexia. Os professores devem realizar atividades
diferenciadas utilizando material que, estimule e desenvolva a leitura, podem
também solicitar a ajuda de um psicopedagogo, para a adaptação do conteúdo
as necessidades do aluno, zelando para que esse não se sinta excluído e
acabe, assim, causando um agravamento do problema. Alunos com dificuldade
de aprendizagem em leitura quando tratados adequadamente, são capazes de
contornar o transtorno sem interfirência desse no seu desenvolvimento
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educacional, mas isso não significa que deixarão de ser disléxicos e sim, que
poderão ler de acordo com suas limitações.
2.2- Disgrafia
Resumidamente, a disgrafia é a incapacidade de domínio da escrita
associada a um transtorno perceptivo-motor. O indivíduo ao escrever capta
informações visuais, que são reproduzidas através do sistema motor, devendo
haver uma integração, ou melhor, uma coordenação entre ambos os sentidos,
para ocorrência da escrita de acordo com os padrões educacionais. “Será
disgráfica toda criança cuja escrita seja defeituosa, quando não tem algum
déficit neurológico ou intelectual importante que o justifique” [...]. (CALMELS,
2003 apud GÓMEZ; TERÁN, 2008, p.163).
A letra ao ser traçada requer certa habilidade motora de movimentos
coordenados e precisos, que o indivíduo vai desenvolvendo ao longo do seu
processo de maturação proporcionando, assim, o aprimoramento da escrita.
Desse modo, os alunos das séries iniciais apresentam uma grafia pouco
organizada, pois como já sabemos, estão passando por um processo de
aquisição da escrita, por isso demonstram certas dificuldades, que muitas
vezes são confundidas com disgrafismo. Nesse período diferenciar a grafia
própria da idade, com seus erros e limitações do transtorno, para muitos
professores é algo difícil, devido à escassez de informação não reconhecem os
sintomas da disgrafia ou a ausência deles.
Elisabete de Assunção José e Maria Teresa Coelho em “Problemas de
Aprendizagem” (2006, p. 95), especificam as principais faltas cometidas pelas
crianças portadoras de disgrafia:
Apresentação desordenada do texto. Margens malfeitas ou
inexistentes, a criança ultrapassa ou para muito antes da
margem, não respeita limites, amontoa letras na borda da
24
folha. Espaço irregular entre palavras, linha e entrelinhas.
Traçados de má qualidade, tamanho pequeno ou grande,
pressão leve ou forte, letras irregulares e retocadas.
Distorção da forma da letra e a substituição de curvas por
ângulos. Movimentos contrários aos da escrita
convencional. Separação inadequada das letras.
Dificuldades na escrita e no alinhamento dos números na
página.
Logo, os professores ao perceberem os seguidos erros de escrita dos
seus alunos, geralmente, utilizam correção ortográfica e cadernos de caligrafia
na tentativa de minimizar a dificuldade, mas perante as circunstâncias esses
métodos pouco podem ajudar.
A escrita se estabelece através de uma relação verbal e gráfica numa
estrutura de símbolos significativos, expostos dentro de uma determinada
ordem e de acordo com regras a serem respeitadas. Os disgráficos encontram
dificuldades para ordenar suas idéias e transpô- las graficamente, de modo a
apresentar falhas na organização da mensagem, que impossibilitam a
compreensão dos seus escritos devido à elaboração de frases e textos
incoerentes, os quais caracterizam os possíveis erros de sintaxe. Assim, os
professores devem elaborar tarefas que busquem desenvolver as habilidades
motoras e espaciais para que os alunos disgráficos possam obter êxito na
reprodução das palavras de maneira coerente e legível. Trabalhar a
motricidade fina, os estímulos perceptivos-visuais, lateralidade e
direcionalidade, é extremamente necessário para superação do transtorno,
pois a escrita necessita de aperfeiçoamentos, que a faz bem mais criteriosa
que a leitura. Torna-- se relevante a orientação psicopedagógica e
acompanhamento neurológico.
25
2.3- Discalculia
Nas escolas as queixas acerca do ensino de matemática são frequentes.
O aumento no número de alunos com dificuldade no aprendizado de tal
disciplina é alarmante, pois suas causas podem está relacionadas a
procedimentos educacionais insuficientes. No entanto, para associar essas
dificuldades a discalculia outros sintomas devem ser analisados devido o fato
do transtorno, desencadear- se por inúmeros fatores. Para Gómez e Téran
(2008, p.178):
Na aprendizagem de matemática estão envolvidas distintas
competências cognitivas como: a utilização da informação
numérica, a memória de trabalho, a atenção e a
concentração, destrezas perceptivo-motoras, competências
do raciocínio lógico e outras mais. À margem destes
aspectos, a dificuldade nesta área tem muito a ver com a
forma como ela é abordada; com as estratégias didáticas
utilizadas para o seu ensino-aprendizagem e as situações
emocionais que afetam seu desempenho.
A discalculia é uma desordem que atinge a habilidade numérica,
ocasinando uma dificuldade para realização de oprerações matemáticas,
interferindo diretamente na capacidade do indivíduo de realizar atividades, que
demandam racicíno lógico-matemático, podendo ser considerado como um
distúrbio neuropsicológico, não vinculado a nenhuma deficiência mental ou
intelectual. Os discalcúlicos encontram dificuldades para interpretar,
compreender os símbolos e os conceitos matemáticos, com isso apresentam
uma inabilidade linguística da função simbólica, ocasionando uma
impossibilidade no desenvolvimento das operações numéricas.
Johnson e Myklebust (1987, p.292) ressaltam que as criannças
discalcúlicas não demostram dificuldades para compreensão da linguagem
26
falada, dominam a leitura e a escrita, porém sentem- se impedidas para
aprender atividades que envolva cálculos:
[...] elas não conseguem distinguir rapidamente as
diferenças em formas, tamanhos, quantidades ou
comprimentos. Elas não são capazes de olhar grupos de
objeto e dizer qual deles contém a quantidade maior.
Algumas tem dificuldade para calcular distâncias e fazer
julgamentos relacionados a organizações visuais-espaciais.
Para KOCS (apud GARCIA 1998, p. 213), a discalculia é classificada em
seis subtipos, podendo ocorrer variadas combinações e com outros transtornos
de aprendizagem:
• Discalculia Verbal - dificuldade para nomear as quantidades matemáticas,
os números, os termos, os símbolos e as relações.
• Discalculia Practognóstica - dificuldade para enumerar, comparar e
manipular objetos reais ou em imagens matematicamente.
• Discalculia Léxica - Dificuldades na leitura de símbolos matemáticos.
• Discalculia Gráfica - Dificuldades na escrita de símbolos matemáticos.
• Discalculia Ideognóstica – Dificuldades em fazer operações mentais e na
compreensão de conceitos matemáticos.
• Discalculia Operacional - Dificuldades na execução de operações e cálculos
numéricos.
Entende- se que o ensino de matemática nas instituições educacionais,
desperta pouco interesse dos alunos, por ser estabelecido mediante
aplicações, que não estimulam na maioria dos casos, o senso crítico e, assim,
acaba os prendendo a fórmulas e a ensinamentos sistematizados, sem
nenhuma reflexão sobre os objetivos da matéria estudada. Desse modo,
quando nos deparamos com essa deficiência educacional, percebemos os
27
danos causados na aprendizagem dos alunos, independente desse ser
portador de discalculia ou não.
Os professores devem lançar mão de métodos educacionais criativos
para o ensino-aprendizagem de matemática, sendo o trabalho
psicopedagógico de grande valia para evitar o surgimento desse tipo de
dificuldade e no seu tratamento quando há sua ocorrência. Estratégia como a
aproximação do conteúdo ao cotidiano do aluno no intuito de valorizar as suas
experiências, priorizando a qualidade e não a quantidade de acertos pode ser
uma maneira de estimular o raciocínio lógico-matemático.
28
CAPÍTULO III
A INTERVENÇÃO DO PROFISSIONAL DE
PSICOPEDAGOGIA NAS DIFICULDADES DE
APRENDIZAGEM
A Psicopedagogia investiga o processo de ensino-aprendizagem e todas
suas variáveis, atendendo- se do sujeito-aprendente, das causas que
determinam o surgimento das dificuldades de aprendizagem, atuando de forma
preventiva no ambiente escolar. Reelabora as práticas educacionais
valorizando o conhecimento sócio-cultural do sujeito-aprendente. Ao realizar
uma tarefa preventiva na escola, torna- se possível diagnosticar desarranjos na
aprendizagem do aluno, intervindo de forma educativa no intuito de encontrar
soluções para as dificuldades de aprendizagem.
Maria Irene Miranda (2008, p. 42) descreve o objetivo de um projeto de
intervenção psicopedagógica:
Um projeto de intervenção psicopedagógica tem como foco
o processo de aprendizagem, considerando do ponto de
vista do sujeito que aprende e da instituição que ensina.
Olhar psicopedagogicamente o processo de aprendizagem
significa investigar como o sujeito utiliza suas capacidades
para aprender, a partir das circunstâncias do ambiente,
sendo este composto de natureza, cultura, pessoas e
objetos. Em outros termos, o enfoque psicopedagógico
possibilita uma visão multidimensional da aprendizagem,
ressaltando os aspectos orgânicos, cognitivos, afetivos,
sócio-culturais e pedagógicos.
29
Por conseguinte, análise psicopedagógica das dificuldades de
aprendizagem compreende o reconhecimento dos variados fatores, que
possibilitam o não-aprendizado, numa abordagem interdisciplinar. Logo, sua
introdução nas instituições educacionais, proporciona um enriquecimento
pedagógico do processo de ensino-aprendizagem, propondo um severo
combate a evasão e o fracasso escolar.
O campo de estudo da Psicopedagogia nas instituições de ensino não
se limita ao tratamento de alunos portadores de dificuldades de aprendizagem;
intervém na família, nos profissionais de educação, na escola de modo geral e
todos que contribuem para o aprendizado. Portanto, o psicopedagogo ao
trabalhar a relação da família com a escola, deve organizar atividades como
reuniões, que tenham a finalidade de reeducar e informar os pais, sobre os
assuntos educacionais, proporcionando o acompanhamento por parte desses
dos projetos de ensino em sala de aula, preenchendo as lacunas existentes
entre esses grupos.
Os pais e responsáveis ao adquirirem consciência da importância do seu
papel dentro da escola passam a ter uma postura diferenciada diante dos
professores. Renunciam o cargo de observadores, meros espectadores, os
quais deixam tudo que diz respeito à educação de seus filhos, por conta única
e exclusivamente das decisões escolares.
Para a Psicopedagogia motivar a participação da família na escola
consiste na formação de uma parceria entre pais e professores em pros de
uma educação inclusiva e igualitária para todos os alunos, dividindo a
responsabilidade do ensino e definindo a função de cada um nesse
empreendimento que é a aprendizagem. Assim, quanto mais se conhece da
família, mais claros são os motivos que ocasionam as dificuldades de
aprendizagem.
De acordo Boszormeny- Nagy (1983, p. 189) família influencia
emocionalmente aprendizado do aluno:
[...] uma criança pode desistir da escola porque aceita a
responsabilidade emocional, encarregando- se do cuidado
30
de algum membro da família. Isso se produz, em resposta à
depressão da mãe e da falta de disponibilidade emocional
do pai que, de maneira inconsciente ratifica a necessidade
que tem a esposa, que seu filho cuide.
O psicopedagogo juntamente com toda a equipe escolar, está destinado
a criar condições de estudo adequadas à aprendizagem, evitando possíveis
comprometimentos educacionais. Convêm ao psicopedagogo encaminhar sua
investigação para o reconhecimento da instituição, num levantamento de
dados sobre a sua trajetória educacional, tendência pedagógica, projeto
político pedagógico e propostas de ensino.
Em Psicopedagogia Clínica: uma visão dos diagnósticos dos problemas
de aprendizagem escolar, Maria Lúcia Lemme Weiss (2008, pp. 26), salienta
“que a função básica dos profissionais da área de educação deveria”:
a) melhorar as condições de ensino para o crescimento constante do
processo de ensino-aprendizagem e assim prevenir dificuldades na
produção escolar;
b) fornecer meios, dentro da escola, para que o aluno possa superar
dificuldades na busca de conhecimentos anteriores ao seu ingresso na
escola;
c) atenuar, ou no mínimo contribuir para não agravar, os problemas de
aprendizagem nascidos ao longo da história pessoal do aluno e de sua
família.
A metodologia psicopedagógica envolve procedimentos como: entrevista
com alunos/pais/professores e Anamnese, observando as condições
psicológicas e cognitivas do indivíduo em análise, coletando informações
através das queixas familiares e escolares, as quais caracterizam o transtorno.
Reúne- se com a equipe multidisciplinar para avaliação do caso e conclusão do
diagnóstico, para um prévio tratamento, encaminhando para um profissional
especializado de acordo com a dificuldade apresentada. Utiliza jogos, provas e
testes como recursos de intervenção.
31
Segundo Weiss (2003, p. 29):
Todo diagnóstico psicopedagógico é em si, uma
investigação, é uma pesquisa do que não vai bem com o
sujeito em relação a uma conduta esperada. Será, portanto,
o esclarecimento de uma queixa, do próprio sujeito, da
família, na maioria das vezes, da escola. No caso, trata- se
do não aprender, do aprender com dificuldades ou
lentamente, do não-revelar o que aprendeu, do fugir de
situações de possível aprendizagem.
“O objetivo básico do diagnóstico psicopedagógico é identificar os
desvios e os obstáculos básicos no Modelo de Aprendizagem do sujeito que, o
impedem de crescer na aprendizagem dentro do esperado pelo meio social”.
(WEISS, 2003, p.34). Nesse sentido, a relação professor-aluno e o vínculo
escolar também devem ser avaliados pelo psicopedagogo.
Certamente, o professor quando resiste a uma aproximação com seus
alunos, tende a produzir um afastamento da sua vida social e familiar. Diante
dessa atitude os professores acabam desprezando informações sobre o aluno,
que poderiam ajudá- lo em sala de aula. Através dos laços de afetividade
muitas dificuldades de aprendizagem poderiam ser evitadas, pois o desejo
pelo aprendizado pode ser aceso pelo simples ato de motivar e respeitar cada
aluno, num movimento recíproco de respeito e admiração pelo que o outro tem
de melhor.
Desta forma, o professor, numa perspectiva psicopedagógica, deve está
sempre aprimorando os seus conhecimentos, acompanhando os avanços
sociais, políticos e educacionais, afim de, contribuir para socialização de seus
alunos, construindo em sala de aula uma ambiente de integração com a
realidade, interferindo ativamente sobre ela.
O psicopedagogo institucional deve fornecer aos professores
ferramentas para implantação de novos métodos educacionais em que o
32
sujeito-aprendente, possa se identificar com a escola, tomando posse do
aprendizado, mesmo na presença de um transtorno, resgatando a sua auto-
confiança e o socializando. Na tentativa de repensar sua prática de ensino, o
professor encontra na Psicopedagogia emendas para as falhas educacionais,
tendo nessa um aparato teórico- científico, que redimensione sua ação
pedagógica.
Nas escolas o psicopedagogo oferece além do apoio pedagógico aos
professores um amparo emocional, para que esses saibam trabalhar com a
heterogeneidade de seus alunos, lidando com essa pluralidade sócio-cultural
de forma segura e analítica, refletindo sobre os conteúdos aplicados, os
procedimentos didáticos e as dificuldades de aprendizagem. A intervenção
psicopedagógica nas instituições educacionais inclui uma reavaliação dos
conceitos pré- estabelecidos relativos à aprendizagem e as dificuldades que a
cerca.
Para Nádia Bossa (1994, p.23), o psicopedagogo ocupa-se das
seguintes atividades na dinâmica escolar:
[...] cabe ao psicopedagogo perceber eventuais
perturbações no processo aprendizagem, participar da
dinâmica da comunidade educativa, favorecendo a
integração, promovendo orientações metodológicas de
acordo com as características e particularidades dos
indivíduos do grupo, realizando processos de orientação. Já
que no caráter assistencial, o psicopedagogo participa de
equipes responsáveis pela elaboração de planos e projetos
no contexto teórico/prático das políticas educacionais,
fazendo com que os professores, diretores e coordenadores
possam repensar o papel da escola frente a sua docência e
às necessidades individuais de aprendizagem da criança ou,
da própria ensinagem.
33
O sujeito-aprendente e as dificuldades de aprendizagem são os
principais alvos de intervenção psicopedagógica nas instituições de ensino,
cabendo ao psicopedagogo realizar atividades individuais e grupais nas salas
de aula, que priorize o aprendizado na sua totalidade, mas não tendo intenção
de realizar procedimentos de uma Psicopedagogia clínica nas escolas.
Compreender o sujeito-aprendente a partir de uma perspectiva
psicopedagógica é entendê- lo como um ser em movimento num inevitável
processo de aprendizagem gerado socialmente.
Segundo Alicia Fernándes (1991 p. 117):
[...] intervenção psicopedagógica não se dirige ao sintoma,
mas o poder para mobilizar a modalidade de aprendizagem,
o sintoma cristaliza a modalidade de aprendizagem em um
determinado momento, e é a partir daí que vai
transformando o processo ensino aprendizagem.
Logo, psicopedagogo por não elaborar atividades presas a conteúdos
tem uma maior flexibilidade, para desenvolver tarefas educacionais
direcionadas a alunos portadores de dificuldades de aprendizagem. Com isso
ganha espaço para intervir de maneira a tratar das dificuldades de cada aluno,
através de trabalhos específicos.
O uso do lúdico é um recurso de grande valor para o psicopedagogo.
Brinquedos e jogos que para muitos não apresenta nenhuma relevância
educacional, serve como material de apoio psicopedagógico, principalmente,
na intervenção de alunos portadores de necessidades especiais, pois “brincar
é muito importante porque, enquanto estimula o desenvolvimento intelectual da
criança, também ensina, sem que ela perceba, os hábitos necessários a esse
crescimento” (BETTELHEIM, 1988, p.168). As regras adotadas em algumas
brincadeiras e jogos podem servir de instrumento socializador, quando se tem
uma finalidade sócio-educativa.
De acordo com Weiss ( 2008, 72):
34
Todo profissional que trabalha com crianças sente que é
indispensável haver um espaço e tempo para a criança
brincar e assim melhore se comunicar, se revelar: o médico
que cria jogos com objetivos de consultório, o vendedor que
provoca uma brincadeira com o comprador-mirim, o
professor que possibilita situações lúdicas em sala de aula,
etc. são exemplos claros desta situação. No trabalho
psicopedagógico, chega- se ás mesmas conclusões, quer
seja no diagnóstico, quer no tratamento. Em pregamos a
palavra lúdico [...] no sentido do processo de “jogar”,
“brincar”, “representar” e “dramatizar” como condutas
semelhantes na vida infantil.
As brincadeiras quando bem planejadas e conduzidas pelos seus
mediadores, professores e psicopedagogos, fazem transparecer os
sentimentos que, muitas das vezes os alunos, por intermédio das atividades
propostas em sala de aula não são capazes de expô- los. Essa é uma
maneira que o psicopedagogo tem de revelar as questões internas, as
trazendo para outro plano. “Nesse espaço transicional: criança-outro, indivíduo-
meio, dá- se a aprendizagem. Por essa razão, o processo lúdico é fundamental
no trabalho psicopedagógico” (WEISS, 2008, P.74).
Winnicott (1975 apud WEISS, 2008, p. 74) faz a seguinte consideração
a respeito do uso do lúdico na aprendizagem:
É no brincar, e somente no brincar, que o indivíduo, criança
ou adulto, pode ser criativo e utilizar sua personalidade
integral: e é somente sendo criativo que o indivíduo
descobre o eu (self).
O sujeito-aprendente através da brincadeira cria um mundo de
descobertas e experimentações, através das suas próprias experiências. As
35
atividades lúdicas possibilitam um recriar das dos conceitos e valores sócio-
culturais, presentes no ato de brincar, aprendendo inconscientemente e
lidando com o mundo real de forma criativa. Através do lúdico o indivíduo pode
incorporar aplicações antes não compreendidas pela rigidez dos conteúdos.
Habilidades como leitura, escrita e raciocínio lógico-matemático podem ser
desenvolvidas, quando seus conteúdos estão implícitos nas atividades lúdicas.
Lopes (2006, p.110) considera a ação de brincar fundamental para o
desenvolvimento intelectual do sujeito-aprendente:
Brincar é uma das atividades fundamentais para o
desenvolvimento da identidade e da autonomia. O fato de a
criança, desde muito cedo poder se comunicar por meio de
gestos, sons e mais tarde, representar determinado papel
na brincadeira, as crianças podem desenvolver algumas
capacidades importantes, tais como a atenção, a memória,
e a imaginação. Amadurecem também algumas
capacidades de socialização, por meio da interação, da
utilização e da experimentação de regras e papéis sociais.
Neste âmbito educacional, a Psicopedagogia ao introduzir na prática
pedagógica o uso de material lúdico, traz benefícios para o ensino como: a
facilidade de aprendizagem e o estímulo para construção do conhecimento. O
lúdico “[...] é um recurso metodológico capaz de proporcionar uma
aprendizagem espontânea e natural. Estimula a crítica, a criatividade, a
sociabilização [...]” (OLIVEIRA, 1985, p74), onde o sujeito-aprendente
reconhece os seus pontos fracos e fortes, podendo criar estratégias para
superar as suas limitações, construindo e reconstruindo sua aprendizagem. Em
suma, nesse contexto percebemos que, para a Psicopedagogia o lúdico e a
aprendizagem caminham na mesma direção, pois a brincadeira serve como
um reforço para sua intervenção.
36
CONCLUSÃO
Concluímos que a Psicopedagogia é uma linha de estudo e intervenção
da aprendizagem no seu processo de ensino. Defini- se como uma ciência
complexa, voltada para a aprendizagem humana e todas as suas
manifestações, exigindo do seu profissional um conhecimento amplo, para que
possa ser capaz de basear a sua intervenção num trabalho interdisciplinar com
a participação de especialistas na área educacional e clínica.
Enfim, os serviços psicopedagógicos têm sido cada vez mais solicitados,
nas instituições educacionais, devido o seu trabalho, está direcionado para o
ensino-aprendizagem, sendo a escola um dos locais mais adequados para sua
incorporação, pois a intervenção psicopedagógica ultrapassa as fronteiras do
conhecimento, para alcançar comportamentos que levam à aprendizagem.
Portanto, as escolas encaminham seus planejamentos educacionais de
acordo com as transformações sociais, políticas e culturais. Desse modo
podemos perceber as mudanças ocorridas no sistema de ensino, refletidas
diretamente na aprendizagem. O psicopedagogo institucional escolar tem
como um dos seus princípios, intervir sobre essas alterações no interior das
escolas, com a intenção de promover experiências educacionais que
possibilitem o desenvolvimento humano.
37
BIBLIOGRAFIA
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Rio de Janeiro: Campus, 1988.
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http://creionapsicologia.blogspot.com, acesso 17/08/2010.
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2006.
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38
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Rio de Janeiro: Wak, 2008.
11. OLIVEIRA. V. M. O que é educação física, São Paulo: Brasiliense. 1985.
12. SCOZ, Beatriz. Psicopedagogia e realidade escolar: o problema escolar
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13. SERRA, Deyse C. G. Teorias e Práticas da Psicopedagogia
Institucional. 2 ed. Rio de Janeiro: IESDE, 2009.
14. Dificuldades de Aprendizagem. 2º ed. São Paulo:
Grupo Cultural, 2008.
15. WEISS, Maria Lúcia Lemme. Psicopedagogia Clínica: uma visão
diagnóstica dos problemas de aprendizagem escolar, 13 ed. rev. e
ampl., Rio de Janeiro: Lamparina, 2008.
39
ÍNDICE
FOLHA DE ROSTO 2
AGRADECIMENTO 3
DEDICATÓRIA 4
RESUMO 5
METODOLOGIA 6
SUMÁRIO 7
INTRODUÇÃO 8
CAPÍTULO I- Psicopedagogia Institucional Escolar e Aprendizagem 10
CAPÍTULO II- As Principais Dificuldades de Aprendizagem 18
no Âmbito Institucional Escolar
2.1-Dislexia 20
2.2-Disgrafia 23
2.3- Discalculia 25
CAPÍTULO III- A Intervenção do Profissional de Psicopedagogia 28
nas Dificuldades de Aprendizagem
CONCLUSÃO 36
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 37
INDICE 39
40
FOLHA DE AVALIAÇÃO
Nome da Instituição:
Título da Monografia:
Autor:
Data da entrega:
Avaliado por: Conceito: