UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · A Deus por ter me dado saúde e força para...
Transcript of UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · A Deus por ter me dado saúde e força para...
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
AVM FACULDADE INTEGRADA
QUALIDADE DE VIDA E SAÚDE DOS PROFISSIONAIS
DOCENTES DA EDUCAÇÃO BÁSICA
Por: Aline dos Santos Cunha
Orientador
Prof. Carlos Cereja
Rio de Janeiro
2016
DOCUMENTO PROTEGID
O PELA
LEI D
E DIR
EITO AUTORAL
2
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
AVM FACULDADE INTEGRADA
QUALIDADE DE VIDA E SAÚDE DOS PROFISSIONAIS
DOCENTES DA EDUCAÇÃO BÁSICA
Apresentação de monografia à AVM Faculdade
Integrada como requisito parcial para obtenção do
grau de especialista em Recursos Humanos.
Por: Aline dos Santos Cunha.
3
AGRADECIMENTOS
A Deus por ter me dado saúde e força
para superar as dificuldades.
Aos meus pais, pelo amor, incentivo e
apoio incondicional.
A esta universidade, seu corpo
docente, direção e administração que
oportunizaram a janela que hoje
vislumbro um horizonte superior,
constituída pela confiança no mérito e
ética aqui presentes.
Ao meu orientador, Carlos Cereja, pelo
suporte no pouco tempo que lhe coube,
pelas suas correções e incentivos.�
Agradeço � todos os professores por
m� proporcionar � conhecimento não
apenas racional, mas � manifestação
do caráter � afetividade da educação
no processo de formação profissional,
por tanto q�� se dedicaram, não
somente por terem ensinado, mas por
terem me feito aprender. � palavra
mestre, nunca fará justiça
��s professores dedicados ��s quais
sem nominar terão os meus eternos
agradecimentos.
A todos q�� direta �� indiretamente
fizeram parte da minha formação, �
m�� muito obrigada.
4
DEDICATÓRIA
Ao meu futuro marido e eterno namorado,
Reinaldo Nunes, com seu amor,
admiração, respeito e gratidão, por sua
compreensão, carinho, presença e
incansável apoio ao longo do período de
elaboração deste trabalho.
5
EPÍGRAFE
"Quero ser o teu amor amigo. Nem
demais e nem de menos.
Nem tão longe e nem tão perto.
Na medida mais precisa que eu puder.
Mas amar-te sem medida e ficar na tua
vida,
Da maneira mais discreta que eu souber.
Sem tirar-te a liberdade, sem jamais te
sufocar.
Sem forçar tua vontade.
Sem falar, quando for hora de calar.
E sem calar, quando for hora de falar.
Nem ausente, nem presente por demais.
Simplesmente, calmamente, ser-te paz.
É bonito ser amor amigo, mas confesso é
tão difícil aprender!
E por isso eu te suplico paciência.
Vou encher este teu rosto de lembranças,
Dá-me tempo de acertar nossas
distâncias.”
(Fernando Pessoa).
Pensador.uol.com.br
6
RESUMO
Este trabalho mostra o quanto é importante e necessária a qualidade de
vida dos profissionais docentes da educação básica. E objetivou-se conhecer
os desafios enfrentados por eles em suas práticas docentes que interferem nos
problemas adquiridos no magistério no cotidiano escolar, observando-se
também a necessidade dos professores de terem seu bem-estar na prática
docente, proporcionando-lhes uma Qualidade de Vida no Trabalho – QVT e,
por sua vez, sua valorização e motivação para seguir adiante em seu ofício, e
através desses aspectos, oferecer um ensino mais qualificado, sendo que eles
mesmos sofrem com a desqualificação em sua profissão, uma vez que o
profissional docente vai se adequando às variadas situações para a melhoria
do ensino aprendizagem e desenvolvimento dos educandos, sacrificando sua
saúde.
Palavras – chave: Qualidade de Vida, Doença do Professor, Motivação.
7
METODOLOGIA
Quanto ao enfoque metodológico, optou-se por ser realizada de forma
bibliográfica e documental através da análise de diversos livros, documentos,
revistas ou sites de pesquisas sobre o tema abordado, contemplando a
subjetividade dos autores que abordam Qualidade de Vida dentro da área do
profissional Docente.
Os métodos que levam ao problema proposto, como leitura de livros,
jornais e revistas, pesquisas bibliográficas e observação do objeto de estudo é
que se possibilitem a exploração do tema de forma que a realidade seja
descrita com o máximo de fidelidade possível se enquadrando e deixando clara
a possibilidade de aumentar os conhecimentos sobre os problemas que
envolvem a questão da qualidade de vida dos professores.
E em suma, o estudo dá-se pela busca de identificações variáveis que
determinam os critérios de qualidade de vida no trabalho, bem como a análise
e interpretação de fenômenos atuais. Assim será mais fácil e possível entender
toda essa realidade em que os profissionais docentes estão passando desde
décadas atrás até os dias de hoje.
8
SUMÁRIO INTRODUÇÃO ............................................................................................. 09
CAPÍTULO I – Conceitos de Qualidade de Vida - QVT ............................... 11
CAPÍTULO II – Doenças do Professor ......................................................... 24
CAPÍTULO III – Motivação no Desempenho Profissional ............................ 34
CONCLUSÃO .............................................................................................. 38
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................. 39
ÍNDICE ......................................................................................................... 44
9
INTRODUÇÃO
Este trabalho apresenta ao leitor uma visão ampla e extensa das discussões
e problemas relacionados com a questão da qualidade de vida, levando em
conta a qualidade de vida dos professores, que não foge dos variados
conceitos do que seja qualidade de vida e existem comentários a serem
realizados quando o interesse é a Qualidade de Vida no trabalho, no exercício
da profissão docente.
Estudos têm mostrado que grande parte dos afastamentos dos profissionais
docentes da educação básica está relacionada à motivação e às suas
qualidades de vida e saúde.
Com base nesses estudos, pode-se afirmar que a falta de motivação e a
precária qualidade de vida dos professores contribui na qualidade da educação
e na falta do desempenho profissional?
É por meio do problema apresentado que se dará a investigação sobre o fato
de a falta de Qualidade de Vida no trabalho afetar a saúde dos professores e
consequentemente a qualidade da educação. A qualidade de vida dos
professores da educação básica chamou atenção por estar cada vez mais
prejudicada em função de diversos fatores de responsabilidade, que
independem desses profissionais. Por ser uma profissão atribulada, em que se
precisam dar aulas em diversas escolas para ter vida financeira estável, o
profissional docente acaba não percebendo a queda de sua qualidade
profissional, que merecem relevância nos estudos nesse contexto, para a sua
melhoria. E a presente leitura mostra a importância da qualidade de vida dos
professores da educação básica expondo dados que sejam suficientes para
diminuir esse quadro, tornando-se cada vez mais evidente que os aspectos
associados à qualidade de vida e saúde dos professores refletem na qualidade
do ensino e em possíveis afastamentos do magistério em função dessa
precariedade.
No decorrer do trabalho, serão identificados os principais aspectos que
afetam a Qualidade de Vida dos professores que dificultam, por consequência
disso, a qualidade da educação e serão feitas elaborações de ações ou atos
10
que minimizem possíveis afastamentos relacionados à falta de Qualidade de
Vida no Trabalho.
Existem fatores que ocasionam a degradação da qualidade de vida do
indivíduo, os quais quando não sanados no próprio ambiente de trabalho, como
o desrespeito profissional, a falta de condições no ambiente, a falta de recursos
didáticos, ou a nível individual, como a desmotivação financeira e a
impossibilidade de se capacitar acarretam sintomas de prováveis doenças
psicossomáticas ou cardiovasculares, como por exemplo, a depressão ou o
estresse, os quais levam a diminuição da produtividade do profissional e
consequentemente a qualidade do ensino ministrado por ele.
O primeiro capítulo apresenta os variados conceitos de Qualidade de Vida
que são abrangentes e dependem muito de cada situação;
O segundo capítulo já aborda as doenças que afetam os professores,
demonstrando o quanto a saúde do professor é importante para o seu melhor
desempenho devendo ser entendida também como um problema da educação;
O terceiro capítulo descreve e procura acentuar condições motivadoras que
atuam diretamente no desempenho profissional e em sua valorização para não
ocorrer futuras desistências do magistério.
11
CAPÍTULO I
CONCEITOS DE QUALIDADE DE VIDA - QVT
O termo Qualidade de Vida no Trabalho (QVT) é abrangente em vários
aspectos (WALTON, 1973). Westley (1979) corrobora com Walton (1973),
afirmando que o termo Qualidade de Vida no Trabalho é aplicado a diversas
mudanças propostas no ambiente de trabalho e no emprego, e este fato dá
origem a considerável confusão. Segundo Walton (1973), o termo QVT
abrange, mas é muito mais amplo, do que:
� Os objetivos de uma série de atos legislativos elaborados no início do
século XX, tais como às oito horas de trabalho diário, às quarenta horas de
trabalho semanal e a compensação por lesões decorrentes do trabalho;
� Os objetivos do movimento de padronização dos anos 30 e 40, cuja ênfase
estava na segurança no emprego e ganhos econômicos para o trabalhador;
� A relação existente entre moral e produtividade e de que a melhoria das
relações humanas proporcionaria a melhoria de ambos (noção defendida
por psicólogos nos anos 50), e;
� Qualquer tentativa de reforma nos anos 60, como as campanhas por
oportunidades iguais de trabalho e os numerosos planos para
enriquecimento financeiro do trabalhador proporcionado pelo emprego.
Ainda segundo Walton (1973), nos anos 70, o conceito de Qualidade de
Vida no Trabalho deveria incorporar as necessidades e aspirações humanas da
época, tais como o desejo de um empregador socialmente prestativo.
Segundo Rodrigues (1998), a Qualidade de Vida no Trabalho pode ser vista
como “uma abordagem sócio técnica em relação à organização do trabalho,
tendo como base a satisfação do trabalhador no trabalho e em relação a ele”.
Neste contexto, a Qualidade de Vida no Trabalho, diretamente relacionada à
satisfação e ao bem-estar do indivíduo na execução de suas tarefas, é
indispensável à produtividade e a competitividade, sem as quais uma
organização não sobrevive ao mercado.
De acordo com Fernandes (1996), a QVT pode ser considerada como uma
gestão dinâmica e contingencial de fatores físicos, sociológicos, psicológicos e
12
tecnológicos da organização do próprio trabalho, que afetam a cultura e
interferem no clima organizacional refletindo na produtividade e na satisfação
dos clientes internos. De forma semelhante, Carayon e Smith (2000)
consideram que os efeitos dos sistemas de trabalho nos indivíduos são
assumidos serem mediados pela carga de stress físico e mental. Esses efeitos
influenciam a Qualidade de Vida no Trabalho, o desempenho, a resistência
física e a saúde.
Por outro lado, Limongi-França (2004), afirma que as definições de QVT, na
amplitude em que vem sendo tratada, se estendem de cuidados médicos
estabelecidos pela legislação de saúde e segurança até motivação, caminhos
que levam a discussão das condições de vida e bem-estar de pessoas, grupos
ou mesmo comunidades. A base da discussão sobre o conceito de QVT,
portanto, está em torno de escolhas de bem-estar e percepção por usuários
das ações de QVT nas empresas (funcionários - clientes internos).
Mais recentemente, Lawler (2005) considera que o relacionamento entre as
pessoas e as organizações nas quais elas trabalham estão mudando. Neste
cenário, no qual as empresas privadas não podem mais oferecer a segurança
no emprego e os planos de carreira que habitualmente ofereciam, o autor
sugere o desenvolvimento de um novo relacionamento que recompense o
desempenho e habilidades do trabalhador de forma a contribuir para a eficácia
organizacional.
Em estudos recentes, Rose et al. (2006) investigaram a Qualidade de Vida
no Trabalho em termos de aspectos que influenciam a carreira e o clima
organizacional.
Neste contexto, observa-se que as questões relacionadas à Qualidade de
Vida no Trabalho são amplas e desafiadoras. Mais ainda, observa-se na
literatura científica ao longo das últimas décadas que a QVT tem sido abordada
sob diversos aspectos, sendo fortemente influenciada por fatores
organizacionais e sociais vigentes à época da realização do estudo. Diversos
modelos têm sido desenvolvidos com o intuito de identificar os aspectos que
influenciam na Qualidade de Vida no Trabalho.
13
Há diversos autores que apresentam dificuldades para definir “qualidade
de vida”, pois vários são os critérios que englobam sua dimensão. O conceito
de qualidade de vida é diferente de pessoa para pessoa e ao longo da vida de
cada um, tende a mudar.
Na década de 90 o termo qualidade de vida invadiu todos os espaços,
passando a integrar o discurso acadêmico, a literatura relativa ao
comportamento nas organizações, as conversas informais e a mídia em geral.
Dessa forma, o termo tem sido utilizado tanto para avaliar as condições de vida
urbana, incluindo transporte, saneamento básico, lazer e segurança, quanto
para se referir à saúde, conforto e bens materiais (BAHIA, 2002).
Segundo Nassar e Gonçalves (1999), a qualidade de vida pode ser
compreendida como uma percepção subjetiva do sujeito sobre o bem estar em
sua vida agrupado em algumas dimensões, como: o bem estar físico e
material, as relações com outras pessoas, as atividades sociais, comunitárias e
cívicas, o desenvolvimento pessoal, as realizações e as recreações.
Para Neto (apud BAHIA, 2002) a expressão “qualidade de vida” é de origem
recente. Surgiu nos últimos 30 anos oriundo de problemas ambientais
decorrentes da industrialização descontrolada. Considera-se que, avaliar a
qualidade de vida implica na adoção de múltiplos critérios de natureza
biológica, psicológica e socioestrutural.
Apesar da proliferação de instrumentos e o crescimento rápido da literatura
voltada para medir a qualidade de vida, não existe uma concordância no seu
significado. Os autores salientam que a qualidade de vida é diretamente
proporcional ao status funcional, que é traduzido basicamente pela capacidade
de desenvolver atividades diárias (ALVAREZ, 1996).
Setién (apud MARQUES, 2000), considera que a multidimensionalidade dos
oito fenômenos de qualidade de vida, tem sua base no termo “vida”, por haver
um consenso em considerar que a vida compreende múltiplas facetas,
referindo-se a um conjunto complexo que obrigatoriamente leva em conta a
hora de definir e medir a qualidade de vida.
14
A Organização Mundial de Saúde definiu a qualidade de vida englobando
cinco dimensões: saúde física; saúde psicológica; nível de independência;
relações sociais e meio ambiente.
Assim, a qualidade de vida diz respeito justamente à maneira pela qual o
indivíduo interage com o mundo externo, portanto a maneira como o sujeito é
influenciado e como influencia. Logo, o acesso a uma vida com qualidade é
determinado por uma relação de equilíbrio entre forças internas e externas
(BAHIA, 2002).
1.1 Modelos conceituais de qualidade de vida
Martel e Dupuis (2006) afirmam que a QVT é fortemente influenciada pelo
cenário econômico de um determinado período. Para fundamentar esta
afirmação, estes pesquisadores enfocaram a realidade dos anos 90,
caracterizada por diversos aspectos, dentre os quais se citam:
� Globalização do mercado, resultando em crescente competição entre
nações e, por conseguinte, entre empresas;
� A emergência de países onde os custos de produção são menores, e;
� O crescimento de tecnologias de comunicação (telefones celulares, e-mail,
etc.) que crescentemente perturbou e reduziu a vida privada das pessoas
que as usam.
Esses fatores, dentre outros, podem explicar bem o declínio dos esforços
de pesquisa em QVT nos anos 90, embora seja perceptível que o número de
estudos sobre stress e saúde mental no trabalho aumentou durante o mesmo
período.
Segundo Martel e Dupuis (2006), o declínio do conceito de QVT no período
em questão também pode ser atribuído a deficiências teóricas e a condições
econômicas e sociais específicas. O impacto da ausência de uma definição
clara tem repercussões para dois aspectos essenciais para pesquisadores
interessados em fatores que afetam o mundo do trabalho: o consenso sobre o
que QVT realmente significa e a possibilidade de quantificar este constructo
para um indivíduo específico baseado em uma dada definição.
15
Adicionalmente, a literatura científica sobre QVT revela que diversos fatores
considerados influenciadores da Qualidade de Vida no Trabalho por modelos
desenvolvidos há mais de três décadas (por exemplo, os modelos propostos
por Walton (1973); Westley (1979); Davis e Werther (1983), e Hackman e
Oldham (1975)) ainda continuam sendo considerados em estudos recentes que
buscam avaliar a QVT e/ou identificar os fatores que influenciam a QVT. Dentre
os estudos mais recentes, citam-se os trabalhos desenvolvidos por Kandasamy
e Ancheri (2009); Ramstad (2009); Lawler (2005); Ingelgard e Norrgren (2001);
Molleman e Broekhuis (2001); e, Delaney e Godard (2001).
Neste contexto, considera-se que os modelos supracitados ainda são
relevantes para estudos que buscam avaliar a Qualidade de Vida no Trabalho,
mesmo nos tempos atuais, mas principalmente em estudos exploratórios.
Considera-se também a maioria das dimensões abordadas por tais modelos
representam uma base referencial para grande parte dos modelos que buscam
avaliar a QVT. Ressalta-se, entretanto, que para situações intrínsecas a um
determinado tipo de trabalho ou atividade, dimensões específicas podem ser
incorporadas a fim de constituir um modelo mais adequado. Como exemplo de
atividades especiais ainda não adequadamente exploradas por estudos de
QVT, citam-se os trabalhos realizados em plataformas petrolíferas off-shore.
1.2 O Modelo de Walton (1973)
Walton (1973) estabeleceu critérios para a Qualidade de Vida no Trabalho.
Estes se dividem em oito categorias conceituais, assim descritas:
• Compensação justa e adequada: Justa, se o que é pago ao empregado
é apropriado para o trabalho executado se comparado a outro trabalho.
Adequada, se a renda é suficiente quando comparada com os padrões sociais
determinados ou subjetivos do empregado. Segundo Walton (1973), não há
nenhum consenso em padrões objetivos ou subjetivos para julgar a
compensação adequada, afirmando serem questões parcialmente ideológicas.
A avaliação do trabalho especifica relacionamentos entre o pagamento e os
fatores tais como a responsabilidade requerida, treinamento do trabalho e a
16
nocividade de condições de funcionamento. Por outro lado, a compensação
justa pode estar associada à capacidade de pagar (empresas mais lucrativas
deveriam pagar mais) e também quando mudanças nas formas de trabalhar
ocasionam aumento de produtividade (é justo que os ganhos obtidos sejam
divididos com os funcionários envolvidos).
• Segurança e saúde nas condições de trabalho: envolve variáveis como
horas razoáveis de trabalho, pagamento de horas extras requeridas, condições
físicas do trabalho que minimizem risco de doenças relacionadas ao trabalho e
acidentes de trabalho, imposição de limite de idade quando o trabalho é
potencialmente destrutivo para o bem-estar das pessoas abaixo ou acima de
certa idade.
• Oportunidade Imediata para uso e desenvolvimento da capacidade
humana: Cinco variáveis são necessárias para que haja este desenvolvimento,
afetando a participação, a autoestima e mudanças no trabalho: (a) autonomia
(quando o trabalho permite a autonomia e autocontrole das atividades); (b)
habilidades múltiplas (quando o trabalho permite o empregado usar suas
habilidades); (c) informação e perspectiva (está relacionada a obtenção de
informações significativas sobre o processo total do trabalho e os resultados de
sua própria ação, tal que permita o funcionário apreciar a relevância e as
consequências destas ações); (d) tarefas completas: se o trabalho envolve uma
tarefa completa ou é apenas uma parte significativa desta); e, (e) planejamento:
se o trabalho envolve o planejamento e implementação do próprio trabalho.
• Oportunidade futura para crescimento e segurança continuados: Os
aspectos observados referem-se a oportunidade de carreira no emprego,
como: (a) desenvolvimento (intensidade com que as atividades atuais -
atribuições de trabalho e atividades educacionais); (b) aplicação futura (a
expectativa de utilizar conhecimentos avançados ou novos conhecimentos e
habilidades em futuros trabalhos); oportunidades de progresso (disponibilidade
de oportunidades de avançar em termos organizacionais ou de carreira
reconhecidos por pares, por membros da família, ou por associados); e,
segurança (emprego ou renda segura associada ao trabalho).
17
• Integração social na organização do trabalho: Segundo Walton (1973,
p.15), “desde que o trabalho e a carreira são perseguidos tipicamente dentro da
estrutura de organizações sociais, a natureza de relacionamentos pessoais
transforma-se numa outra dimensão importante da qualidade da vida no
trabalho”. Os seguintes atributos são considerados no ambiente de trabalho: (a)
ausência de preconceitos (aceitação do trabalhador por suas habilidades,
capacidade e potencial independente de raça, sexo, nacionalidade, estilo de
vida ou aparência física); (b) igualitarismo (ausência de divisão de classes
dentro da organização em termos de status traduzido por símbolos e/ou por
estrutura hierárquica íngreme); (c) mobilidade (mobilidade ascendente como,
por exemplo, empregados com potencial que poderiam se qualificar para níveis
mais elevados); (d) grupos preliminares de apoio (grupos caracterizados pela
ajuda recíproca, sustentação sócio emocional e afirmação da unicidade de
cada indivíduo); (e) senso comunitário (extensão do senso comunitário além
dos grupos de trabalho); e, (f) abertura interpessoal (forma com que os
membros da organização relatam entre si suas ideias e sentimentos).
• Constitucionalismo na organização do trabalho: está relacionado aos
direitos e deveres que um membro da organização tem quando é afetado por
alguma decisão tomada em relação a seus interesses ou sobre seu status na
organização, e a maneira como ele pode se proteger. Os seguintes aspectos
são elementos chaves para fornecer qualidade de vida no trabalho: (a)
privacidade (direito de privacidade pessoal, por exemplo, não revelando
informações do comportamento do empregado fora do trabalho ou de membros
da sua família); (b) liberdade de expressão (direito de discordar abertamente da
visão de seus superiores, sem medo de represálias); (c) equidade (direito a
tratamento igual em todos os aspectos, incluindo sistema de compensação,
premiações e segurança no emprego); e, (d) processo justo (uso da lei em
caso de problemas no emprego, privacidade, procedimentos de processos e
apelações).
• Trabalho e o espaço total de vida: a experiência individual no trabalho
pode trazer efeitos positivos ou negativos na vida pessoal e nas relações
familiares. Prolongados períodos de trabalho podem causar sérios danos na
18
vida familiar. O trabalho encontra-se em seu papel de maneira equilibrada
quando as atividades e cursos requeridos não excedem ao tempo de lazer e o
tempo com a família.
• A relevância social do trabalho na vida: a autoestima do trabalhador
pode ser afetada quando a organização em que trabalha não é socialmente
responsável, causando uma depreciação do próprio trabalho ou de sua
carreira.
Por este modelo, os critérios apresentados são intervenientes na qualidade
de vida no trabalho de modo geral. Sendo tais aspectos determinantes dos
níveis de satisfação experimentados pelos clientes internos, repercutindo nos
níveis de desempenho.
Rogerson (apud ROCHA, OKABE e MARTINS et al, 2000) desenvolveu dois
modelos conceituais sobre qualidade de vida: o primeiro relacionado à saúde e
a sua recuperação e o segundo relacionado às questões ambientais. O
primeiro enfoque envolve o processo de sobrevida ou pós-trauma dos
indivíduos que recuperam sua saúde após um evento de doença ou agravo, ou
melhor, está diretamente associado aos sintomas, incapacidades ou limitações
ocasionadas pelas enfermidades. O segundo ponto relaciona-se ao meio
ambiente como reflexo da realidade de um determinado grupo social, ou seja, o
ambiente incorpora conceitos mais amplos resultante das questões
socioeconômicas de uma realidade.
Ao analisar-se o termo qualidade de vida verificam-se dois aspectos
relevantes: a subjetividade e a multidimensionalidade (SILVA, JESUS &
SANTOS, 2007). No que se refere à subjetividade, considera-se a percepção
da pessoa sobre o seu estado de saúde e sobre os aspectos não médicos do
seu contexto de vida. A multidimensionalidade, além de se referir nove, as
quatro dimensões do ser humano (física, psicológica, social e ambiental), pode
também ser analisada através do senso comum, do ponto de vista objetivo ou
subjetivo, e em abordagens individuais ou coletivas.
19
1.3 Fatores que influenciam na qualidade de vida
Atualmente, coloca-se a qualidade de vida como base de todas as outras
qualidades, uma vez que esta focaliza a saúde e a satisfação como condições
necessárias para que o ser humano se esforce e produza da melhor maneira
possível, acreditando que o homem vale mais do que o seu produto e que a
qualidade de vida é medida pela saúde e pela satisfação total de cada um
(BAHIA, 2002).
A qualidade de vida das pessoas, conforme Nahas (2001) está diretamente
associada aos fatores do estilo de vida, como: nutrição, atividade física,
comportamento preventivo, relacionamentos e estresse.
Vários são os elementos apontados como determinantes ou indicadores de
bem-estar, como por exemplo: longevidade, saúde biológica, saúde mental,
satisfação, controle cognitivo, competência social, produtividade, status social,
renda, continuidade de papéis familiares e ocupacionais (BAHIA, 2002).
NAHAS (2003, p.14), define a qualidade de vida como: “condição humana
resultante de um conjunto de parâmetros individuais e socioambientais,
modificáveis ou não, que caracterizam as condições em que vive o ser
humano”.
Neste contexto, os parâmetros socioambientais são: moradia, transporte,
segurança; assistência médica; Condições de trabalho e remuneração;
Educação; Opções de lazer; Meio-ambiente. Os parâmetros individuais são:
Hereditariedade; Estilo de Vida; Hábitos alimentares; Controle do Stress;
Atividade Física habitual; Relacionamento; Comportamento preventivo.
(NAHAS, 2003, p. 14).
Dessa forma, observa-se que alguns parâmetros podem ser modificáveis
principalmente os referentes ao estilo de vida que consequentemente
influenciam a saúde e bem-estar (SILVA, JESUS & SANTOS, 2007). Por outro
lado, se enfatiza a importância do estilo de vida do indivíduo na promoção da
saúde como também na redução da mortalidade por todas as causas. De
acordo com Nahas (2001), os parâmetros individuais que afetam diretamente
na qualidade de vida, principalmente os componentes do estilo de vida,
20
influenciam na saúde e bem-estar. Destaca o autor, que estudos recentes
evoluem para uma valorização de fatores como satisfação, realização pessoal,
qualidade dos relacionamentos, opções de lazer, acesso a eventos culturais,
percepção de bem-estar geral, entre outros. Em qualquer caso, considera-se
como pré-requisito, ou componente fundamental sobre o qual se pode fazer um
breve levantamento de uma vida com qualidade, o atendimento das
necessidades humanas básicas: o alimento, a moradia, a educação e o
trabalho.
1.3.1 Qualidade de Vida e Saúde do Professor
A relação entre qualidade de vida e saúde existe desde o nascimento da
medicina social nos séculos XVIII e XIX (MINAYO, et al 2000).
Saúde é um direito fundamental do homem, reconhecido como o maior e o
melhor recurso para o desenvolvimento social, econômico e pessoal, como
também uma das mais importantes dimensões da qualidade de vida (BUSS,
2003).
Neste sentido, a saúde não pode ser reduzida a uma relação biológica de
causa e efeito, pois o homem é um ser histórico e como tal, sofre influência do
meio social e cultural (ASSUMPÇÃO, MORAIS e FONTOURA, 2002).
Assim, faz pouco sentido centrar a ideia de saúde na dimensão estritamente
orgânica. “Saúde” não é um conceito universal, muito pelo contrário, varia sob
distintas condições sociais. Ela é o resultado de um conjunto de fatores sociais,
econômicos, políticos, culturais, coletivos e individuais, que se combinam, de
forma particular, em cada sociedade resultando em comunidades mais ou
menos saudáveis (BUSS, 2003).
A saúde pode ser analisada sob diferentes perspectivas, ela pode ser vista
tanto como ausência de doenças, como completo bem-estar físico-psíquico-
social, como a capacidade de superação de dificuldades físicas, psíquicas,
sociais, culturais e simbólicas (ASSUMPÇÃO, MORAIS e FONTOURA, 2002).
Sob o ponto de vista da saúde, pode-se pensar em duas maneiras de olhar
a qualidade de vida: a individual e a coletiva. A primeira refere-se à avaliação
21
da capacidade funcional e da consequência da doença, da natureza física,
biológica e social (Forattini, apud XAVIER & MORAIS, 2007).
Forattini (apud XAVIER & MORAIS, 2007) ainda informa que indicadores da
qualidade de vida em nível coletivo, quando mostram a necessidade de
intervenção para sua melhoria, compreendem ações estruturadas social e
politicamente. Porém, quando a qualidade de vida é entendida como satisfação
de viver, quando se liga a um conceito tão sutil como a felicidade, exige
intervenções em outra dimensão, a individual.
Para BUSS (2003), a promoção da saúde pode ser entendida como dirigida
à transformação do comportamento dos indivíduos, focalizando a educação
para mudanças no estilo de vida. Essa visão abrange indivíduos, família e meio
ambiente e as ações transformadoras dependem do indivíduo.
Em resumo, pode-se dizer que a saúde não é apenas um processo de
intervenção na doença, mas um processo para que o indivíduo e a coletividade
disponham de meios para a manutenção ou recuperação do seu estado de
saúde. Diante disso, enfatiza-se a ideia de promoção da saúde, que se
apresenta como uma forma moderna e eficaz de enfrentar os desafios
referentes à saúde e qualidade de vida, oferecendo condições e instrumentos
para uma ação integrada e multidisciplinar que inclui as diferentes dimensões
da experiência humana que pode ser expressa pelos diferentes campos do
conhecimento (SECRETARIA DE POLÍTICAS DE SAÚDE, 2001).
Considerando que o professor é um mediador do processo educativo, ele
tem um papel importante para a adoção e valorização de uma concepção mais
crítica e humana de qualidade de vida, não só pelo seu discurso, como também
por seu comportamento (SANTOS 2006). Segundo Libâneo (1991), a educação
é um processo complexo de influências e inter-relações que colaboram para a
formação do caráter humano, e consequentemente, para a concepção de
valores, atitudes e comportamentos que, se orientados para o bem maior da
sociedade, podem conduzi-la a um estágio de desenvolvimento sustentável
cujas desigualdades sociais sejam amenas (MONTIBELLER FILHO, 2004).
A qualidade de vida no trabalho tem ganhado cada vez mais espaço nas
discussões sociais. O trabalho, conforme aborda Roeder, ocupa um espaço
22
muito importante na vida das pessoas, ou seja, quase todo mundo trabalha, e
uma grande parte da vida é passada dentro de seus ambientes de trabalho. As
características e exigências do trabalho fazem com que sejam necessários
vários ajustes psíquicos e físicos por parte do trabalhador para que o
sofrimento causado por ele não se desenvolva em um estado patológico. Esse
mesmo trabalho, no entanto, não é unicamente uma fonte de doença ou de
infelicidade; pelo contrário pode ser operador de saúde e de prazer. De
qualquer maneira o trabalho nunca é neutro em relação à saúde, favorecendo
seja a doença ou o bem-estar.
Algumas profissões têm sido foco de análise dentro dessa temática por
apresentarem características peculiares como é o caso dos professores. O
trabalho docente sofre grandes alterações durante a história recente do Brasil,
marcadas por uma perda de prestígio social, remuneração injusta, condições
de trabalho degradantes, enfraquecimento sindical, dentre outros, sendo que
tanto a sua subjetividade como aspectos políticos e sociais precisam de maior
compreensão e atenção por parte dos cientistas.
Codo e Gazzatti abordaram que as atividades dos professores exigem um
grande investimento de energia afetiva para promover o bem-estar do outro.
Nessas atividades quando algo não vai bem, quando as expectativas não são
alcançadas e não há um retorno, o profissional pode desenvolver um
esgotamento profissional e isso é cada vez mais comum no meio educacional
no qual, as relações professor-aluno mudaram fazendo com que o interesse, o
respeito e a valorização do trabalho por parte do aluno ficassem aquém do
esperado pelo professor.
Segundo Kyriacou a investigação sobre o estresse do professor tornou-se
uma importante área de interesse internacional. O autor aponta que existem
falhas de conhecimento sobre o tema e que devem nortear futuras
investigações como: acompanhamento individual dos professores na medida
em que reformas educativas sejam implementadas (que, ao contrário do que se
espera, têm gerando altos níveis de estresse nos professores); investigar o que
leva com relação a alguns professores serem capazes de se adaptar facilmente
a carreira do magistério mantendo um compromisso com seu trabalho e outros
23
não; esclarecer a natureza e o processo de estresse nos professores
relacionados com as demandas do trabalho e com a autoimagem do professor;
avaliar o bom resultado de intervenções para reduzir o estresse do professor e
investigar o impacto da interação professor aluno bem como questões de
ambiente no estresse.
24
CAPÍTULO II
DOENÇAS DO PROFESSOR
A importância presente nos estudos está na tentativa de tentar desvendar e
compreender como os processos de trabalho dos professores, contribuem para
favorecer o desgaste e o adoecimento dos trabalhadores desta categoria,
revelados por situações particulares de doença que impedem o exercício da
profissão. Os motivos ou situações que mobilizaram os pesquisadores nessa
área foram às ocorrências sistemáticas e em elevação de licenças médicas, em
diferentes sistemas educacionais. São investigações amparadas pela
perspectiva da Medicina do Trabalho, mas que se contrapõem a uma visão
tradicional da área médica, de cunho individual e biológico, onde as causas das
doenças são procuradas nas condições do próprio sujeito.
Na atenção voltada sobre os processos de adoecimento dos professores, o
que se procura é a explicação da doença ou do quadro de desgaste do sujeito
produzido nas relações de trabalho. A situação de adoecimento na profissão
docente é reforçada por outras sobre a saúde do trabalhador que têm crescido,
diante das evidências entre saúde e condições estressantes, e da constatação
de que o trabalho, na sociedade atual, assume um caráter cada vez mais
antinatural e degradante para determinados segmentos da sociedade. Há
evidências de que, para quase todas as categorias profissionais, cerca de 50%
dos casos de stress e de outros tipos de doenças de seus trabalhadores, têm
como causa situações do ambiente de trabalho (LIPP, 1996).
A partir daí os docentes são analisados em função de situações adversas a
que são expostos no próprio trabalho e tomam, como ponto de partida, a
existência, cada vez mais crescente, de um contingente de professores que se
encontram sob tratamento médico e são portadores de laudos para justificar
afastamento de sala de aula, situação que é registrada nas secretarias e
delegacias de ensino que gerenciam os contratos de trabalho dos professores
de escolas públicas. Essa perspectiva também se ampara nas dimensões
25
das análises de perfis profissionais e condições de trabalho desenvolvidas pela
OIT (DOMINGUES, 1997; LIPP, 1996). Consideram-se esses estudos como
precursores da abordagem de pesquisa sobre a síndrome de burnout que
preferimos tratar como categoria particular.
Independentemente de revelarem dimensões da profissão docente a partir
de um olhar externo ao próprio corpo profissional, as pesquisas conduzidas
segundo a abordagem da Sociologia do Trabalho (Relatórios da OIT) e da
Medicina do Trabalho (adoecimento dos professores), revelaram uma realidade
que penetrou facilmente no campo educacional, como também foi apropriada
por sindicatos profissionais, que assumiram a crítica das condições de trabalho
dos professores e a defesa do resgate da qualidade de vida e de trabalho dos
profissionais desta categoria. Sua grande positividade foi a repercussão que
tiveram nos setores envolvidos com a pesquisa e a formação de professores,
decorrendo daí uma abordagem particular da crise da profissão docente que
tem sido abordada como o o mal estar docente. Essa nova vertente procura
não isolar as situações vividas pelos professores em um quadro de doenças ou
de crise profissional, mas enfatiza os aspectos relacionais e produzidos na
instituição escolar devido ao enfrentamento real dos docentes das questões
sociais e pedagógicas, do seu tempo, que fazem novas exigências à educação
a aos professores e agravam as suas condições de trabalho (ESTEVE, 1999).
Os apoios mais significativos, divulgados no Brasil, são os trabalhos de
Nóvoa e sua equipe sobre a situação dos professores em Portugal, e de
Perrenoud, na Suíça. Sendo que estas contribuições soam-se às análises
sobre a história da profissão docente e os processos particulares de percursos
de carreira e de profissionalização, associados a padrões culturais específicos,
como ingredientes necessários para viabilizar e repensar o papel do educador
nas atuais condições da sociedade e, ainda, do que ela demanda da escola
(PEREIRA, 2001; CASTRO E VILELA, VILELA 2001; BARBOSA, 2003).
Essa problemática vivenciada pelos professores, no atual contexto da
pós-modernidade, são examinadas e exploradas para se tentar chamar a
26
atenção da sociedade, de que o insucesso escolar não é de responsabilidade
única do professor, mas está relacionado com a forma em que a sociedade
atual trata a própria escola e a educação. Nesse pnto de vista, um elemento
importante, reconhecido com um dos responsáveis para desencadear e moldar
o mal estar docente, é a falta de apoio, as críticas, a negação de legitimidade à
escola para desempenhar um papel significativo na formação de sujeitos
profissionais e cidadãos (PERRENOUD, 1997; ESTEVE, 1999; NÓVOA, 1995).
Estudar o mal estar docente significa estudar a profissão docente na sua
relação, por inteiro: com a escola e o lugar que lhe cabe ou que lhe é negado
na sociedade. É estudar o trabalho dos professores no microcosmo da sala de
aula, nas relações estabelecidas com os alunos, com os pares e com o
conhecimento escolar; é desvendar as representações sociais sobre a
docência, o lugar atribuído aos professores nas reformas educacionais e nas
políticas públicas, é defender os professores devido à importância da profissão,
é assumir que é necessário e urgente devolver para a escola e para os
professores o papel de ser responsável e insubstituível no processo educativo
(NÓVOA, 1995; ESTRELA, 1997; PERRENOUD, 1997).
Conforme Roy et al (2004), a voz é um dos instrumentos de trabalho do
professor de maior importância, entretanto, convive com algumas situações
que acabam por causar sérios desconfortos ao professor, contribuindo
consideravelmente para baixa qualidade de vida. São elas: jornada de trabalho
estendida; o que causa o uso da voz por muitas horas seguidas; grande
quantidade de turmas o que acarreta em levar trabalho para casa, diminuindo
assim seu tempo de lazer; turmas com excesso de alunos, precisando o
professor elevar o tom de sua voz para ser ouvido pela turma; salas de aula
mal projetadas, sem acústica e sofrendo com barulhos externos e internos à
ela; desconhecimento de orientações quanto o cuidado necessário com a voz.
Essa situação contribui muito para que o professor sinta-se desvalorizado
pela instituição quanto à sua boa saúde, causando stress e,
consequentemente, contribuindo para a baixa qualidade de vida. São aspectos
27
que, de forma isolada, não possuem grande peso, entretanto, fazem parte de
um conjunto de outros fatores que desagradam o professor no seu sentimento
de respeito humano. O profissional sente-se desprestigiado e desmotivado
para desempenhar suas funções, rendendo menos do que poderia render.
1.1 Mal – Estar dos Professores
Doenças associadas à atividade docente elevam os índices de faltas e
prejudicam o ensino, além de afetarem a qualidade de vida dos professores.
O professor tenta vencer o barulho dos alunos e a indisciplina enquanto
explica o conteúdo de sua matéria. Em seu corpo, cordas vocais estressadas
pela vibração em alta frequência por horas. Ouvidos submetidos
constantemente a sons acima do limite adequado para o trabalho. Tendões
sobrecarregados e músculos cansados por estar em pé durante horas, todos
os dias, ao longo do ano, além do acréscimo do quadro de administração
constante de conflitos. Por fim, o retorno muitas vezes é poupado, os salários
são baixos e, mais, a sociedade observa atenta seu trabalho, reiterando que
dele depende o futuro do país.
Ainda que muitas profissões exijam do corpo humano um sobre-esforço, a
vida profissional dos docentes vem chamando a atenção de pesquisadores. As
doenças funcionais dos professores explicam, pelo menos em parte, o elevado
absenteísmo de algumas redes.
As estatísticas são imprecisas, até porque dependem de análises
cruzadas entre saúde e educação. Também é difícil isolar as doenças
preexistentes e as originadas por questões pessoais daquelas advindas das
dificuldades no contexto de trabalho, e deve-se considerar que muitas vezes as
licenças médicas são usadas como álibis para a ausência por outros motivos.
Mas os estudos, realizados não deixam dúvidas: "A saúde do professor deve
ser entendida como um problema da educação e da saúde, e o quadro é muito
grave", atesta a psicóloga Flávia Gonçalves da Silva, da Universidade Federal
dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri.
28
1.2 Diferentes Problemas
De acordo com vários trabalhos acadêmicos, os problemas mais comuns
que acometem o professor podem ser divididos entre os ligados à voz e à
audição, ao aparelho respiratório (como alergias), ao sistema
musculoesquelético e aos problemas psíquicos e comportamentais.
Dores musculares e problemas ósseos, causados pelo tempo excessivo
em pé e tensão, também são queixas constantes dos docentes. Contudo,
nesse campo, entram em jogo outros fatores que agravam o quadro geral, e
são válidos também para o conjunto da população, como o fumo, a obesidade
e a falta de exercícios.
1.3 Doenças Psicológicas
Embora os problemas ligados à voz e ao corpo sejam bem conhecidos
dos docentes, o que mais vem chamando a atenção dos pesquisadores é o
quadro psicológico do professor. Professores são afastados por problemas de
saúde com causa de quadros depressivos, sendo as que mais vêm
aumentando são as psíquicas, especialmente depressão e estresse. No
entanto, os índices de transtornos psíquicos têm crescido na população em
geral, e não só entre esses trabalhadores. Além disso, há uma tendência do
que chama "patologização da vida", que iguala indevidamente sentimentos
universais de tristeza e melancolia a quadros de depressão. Quando se trata
dos alunos, por exemplo, o processo correlato promove uma explosão de
diagnósticos de hiperatividade e déficit de atenção.
Contudo, há a existência de outro tipo de mal-estar psicológico, que vem
se tornando o objeto de estudo mais frequente no campo da saúde do
professor: a síndrome de burnout. O termo surgiu na Europa na década de
1970 e permitia uma abordagem dos sentimentos, afetos e da saúde dos
trabalhadores no estudo de fatores como a desmotivação, o desgaste
emocional e a sensação de exaustão. Esse tipo específico de estresse
ocupacional - que impacta o exercício da profissão - acaba por se estender
29
para todas as dimensões da vida. O conceito caiu como uma luva na categoria
dos professores, e logo surgiu a ideia de se tornar um "mal-estar docente".
1.3.1 Síndrome de Burnout
Entre os profissionais mais sensíveis à síndrome, o professor é a
categoria mais estudada. Movida pelas crenças nas possibilidades de
transformação pela educação, há um descompasso entre as expectativas
profissionais e a impossibilidade de alcançá-las. Da mesma forma, as
perspectivas sociais, familiares e dos dirigentes do sistema educacional para
que os professores tenham um desempenho que seja capaz de superar as
adversidades, sem lhes dar condições para isso, contribuem para levar ao
burnout.
Os estudos que analisam a síndrome de burnout em professores discutem
as situações da profissão docente que estão relacionadas com uma possível
síndrome de desistência frente ao magistério, que se configura como uma
desistência psicológica para o desempenho da profissão e que afeta diferentes
grupos profissionais, como uma síndrome da Idesistência de quem ainda está
lá, já desistiu mas permanece no trabalho (CODO, 1999, p.34).
Os professores, atingidos por esta síndrome, vivem sob uma situação
crônica de tensão emocional, de insatisfação com o que fazem, mas persistem
nesta situação de desconforto. Aqui, enquadram-se as pesquisas
desenvolvidas na perspectiva da Psicologia do Trabalho, de forma particular
sobre a saúde e qualidade de vida de trabalhadores na contemporaneidade e
as suas repercussões no próprio ambiente de trabalho. Trata-se de uma
dimensão de análise mais recente e que, no Brasil, tem sido assumida de
forma pioneira pelo Laboratório de Psicologia do Trabalho da Universidade de
Brasília. Essa equipe da UNB tem desenvolvido uma metodologia de trabalho e
uma teoria de investigação sobre a relação entre saúde mental e trabalho
desde 1979 (CODO, 1999).
30
Não há um consenso sobre a definição da síndrome, mas ela se refere a
um processo de resposta ao stress crônico no trabalho. Não é o próprio stress,
mas, a forma de reação a ele com atitudes de desistência e desatenção
durante o exercício das atividades profissionais e frente às responsabilidades
do cargo ou da função. Expressa um quadro de condutas negativas com
relação ao usuário ou clientes e à organização do trabalho, que acarretam
problemas de ordem prática e emocional ao trabalhador e ao local,
afastamento ou rompimento com os compromissos e as responsabilidades da
profissão.
A síndrome de burnout está revelada numa certa atitude não só de
descontentamento, mas de negação passiva daquilo que faz: o sujeito está
perdido e não tem estratégias para enfrentar o que sente. Tem como
explicações ou sintomas: um estado de exaustão resultante de trabalhar até a
fadiga deixando de lado as próprias necessidades; trabalho executado sob
tensão emocional resultante de contato excessivo com outros seres humanos
que também se encontram sob situações insatisfatórias de trabalho e de vida; o
trabalho é estressante, frustrante e monótono; é resultante e resulta em
discrepância entre esforço e resultado daquilo que o profissional realiza;
demonstra impossibilidade de estabelecimento de vínculo afetivo com o
trabalho executado (CODO, 1999).
Também os estudiosos da Síndrome de burnout na profissão docente, têm
procurado explicar suas causas na situação da escola da sociedade
contemporânea: mudanças da função pedagógica da escola, que, diante do
agravamento da crise social foi incutida de tarefas desafiadoras para as quais
os docentes não estão preparados; mudanças do estatuto social do professor
marcado por desvalorização social e perda salarial; evidências do declínio da
classe docente nas atuais relações de trabalho; fragilidade da cultura docente
que não se reconstruiu na nova realidade da educação e se apega aos valores
e princípios já superados; multiplicação e acúmulo de atividades atribuídas ao
professor pelas atuais instituições de ensino; influência dos agentes de
socialização (mídia) nas personalidades dos alunos e nas relações sociais;
31
sobrecarga de trabalho mental; conflitos entre a vida profissional e a vida
doméstica ou familiar (CODO, 1999; GIACON, 2001; FERENHOF;
FERENHOF, 2001).
Os estudos de referência para entender burnout em professores foram,
portanto, os desenvolvidos por Wanderley Codo e de sua equipe,
compreendidos no âmbito de uma grande pesquisa realizada para
Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação/CUT, pelo
Laboratório de Psicologia do Trabalho da UNB. Durantes dois anos e meio de
investigação, de 1996 e 1998, a pesquisa abrangeu professores, funcionários e
especialistas em educação da rede pública estadual em diversas regiões do
país. Foram entrevistados 52 000 sujeitos em 1 140 escolas, contando com
uma equipe multidisciplinar de 15 pesquisadores, 04 coordenadores regionais e
cerca de 100 aplicadores de questionários, treinados em todo o país e
responsáveis também, pela observação in loco de cada uma das escolas.
Na concepção apontada pelos estudos no âmbito dessa pesquisa a
síndrome de burnout em professores é uma síndrome de desistência frente ao
magistério, uma desistência psicológica dos professores em exercer a
profissão. Está configurada num quadro de desânimo, apatia, situação crônica
de tensão emocional e de insatisfação com o que fazem. Tem como
indicadores: a baixa produtividade do professor como consequência da
síndrome; uma situação crônica de tensão emocional, de insatisfação com o
que fazem, enquanto persistem nessa situação de desconforto e permanência
no trabalho; a revelação de atitudes negativas frente às tarefas típicas da sua
função; apresentam dificuldades de relacionamento com os colegas de trabalho
e com os alunos; estão em permanente esgotamento emocional e passam a
justificar, com isso, sua apatia, sua falta de esforço no trabalho.
E foram nos estudos sobre a síndrome de burnout, realizados pelo
Laboratório de Psicologia do Trabalho da UNB, que foi encontrada a primeira
aproximação de questões relativas à violência na escola para a discussão de
problemas que afetam a profissão docente. Duas das subequipes de pesquisa,
32
que exploraram as situações de trabalho reveladas pelos professores,
assinalaram como a temática da violência está presente no cotidiano dos
professores. Batista e El Moor (1999) revelaram quais as representações que
os professores têm sobre violência e agressão, assim como, ainda, agregaram
e discutiram dados reveladores de violência na escola, inclusive com
possibilidade de comparação entre os Estados brasileiros.
Os autores procuram relacionar o quadro de violência, considerada por
eles como estando em processo emergente, à época pesquisada, com o
quadro de desgaste dos professores, ou seja, suas implicações na
configuração da síndrome de burnout em professores. Apontam que algumas
indagações passam a ser necessárias para melhor possibilitar desvendar as
relações entre violência na escola e burnout em professores. Segundo eles,
alguns aspectos devem ser pesquisados para dar respostas às seguintes
questões levantadas pela pesquisa: Os registros de violência na escola
constituíam de fato, uma situação de rotina ou é resultado de uma paisagem
construída pela mídia? Quais os tipos de violência que atingem as escolas com
mais frequência e qual a sua regularidade? Que recursos de segurança são
instalados nas escolas? Quais seus resultados efetivos? Quem são os atores
dos quadros de violência existentes nas escolas?
A aparência exterior da escola será já ele revelador da violência: muros
poderão ser levantados outorgando-lhes um aspecto quase feudal, grades e
cadeados lembrarão tristes presídios. As janelas, antes abertas assumirão a
feição de um limitado e chocante olho de cárcere. Patrulhamento interno e
externo poderá ser exigido pelas escolas às autoridades públicas. A escola
parecerá isolada materialmente da comunidade que a rodeia erguendo-se por
efeito dessa sorte de defesa radical como uma árvore solitária numa paisagem
desértica. Os vínculos sociais entre a escola e a comunidade ficam afetados,
desde os mais banais como o pipoqueiro que frequenta a frente da escola, os
namorados que vem encontrar seus amores, a carona que espera pelos
professores na saída, e até a sadia interação pais e amigos da escola que
poderiam se utilizar do espaço para reuniões. Porém, olhando para o outro lado
33
da face da moeda, se a prioridade da escola passa a ser exatamente a de
evitar invasões, proteger-se do seu próprio meio ambiente, como pode conviver
socialmente de maneira pacífica e cordial com sua comunidade? (BATISTA; EL
MOOR, 1999, p.314
34
CAPÍTULO III
MOTIVAÇÃO NO DESEMPENHO PROFISSIONAL
A discussão sobre motivação nesse estudo é pertinente, na medida em
que se propõe a investigar a percepção dos professores do ensino básico
quanto à qualidade de vida, assim como a motivação que faz parte do conjunto
de fatores que melhora a qualidade de vida de um indivíduo, tanto na condição
de sua vida pessoal, quanto no desempenho de suas atividades profissionais.
De uma forma bem simples e objetiva Bzuneck (2001) coloca que a
teoria de motivação que parece mais pertinente nesse estudo é a teoria
da “hierarquia das necessidades” de Abraham Maslow. Segundo esta teoria o
ser humano possui cinco níveis de necessidades básicas, organizadas
segundo uma hierarquia de importância, comparadas a figura de uma pirâmide:
a) Na base da pirâmide estão as necessidades fisiológicas, que são as
necessidades vitais (comida, bebida, descanso, abrigo, etc);
b) logo acima aparecem as necessidades de segurança: proteção e defesa;
c) o terceiro degrau refere-se às necessidades sociais: desejo de ser aceito, de
ser amado, de ter amizades, etc.
d) No quarto nível estão as necessidades de estima: são todas as
necessidades relacionadas com a autoestima, como confiança, amor-próprio,
sucesso, competência, etc.
e) No ponto mais alto aparecem as necessidades de auto realização: é o
desejo que a pessoa tem de atingir o seu mais elevado potencial, de realizar
plenamente tudo o que há de melhor de si, de se desenvolver e de se
aperfeiçoar ao máximo.
Portanto, é a busca da satisfação de uma necessidade que desperta o
interesse das pessoas. Pois, nessa busca eles encontram uma razão ou um
motivo que as impulsionam para a ação ou para a adoção de um
comportamento que as leve para a realização de algo que sacie suas
necessidades. Dessa forma, pode-se constatar que o ser humano não se
interessa por aquilo que não tem necessidade.
35
Entretanto, é comum se ouvir um indivíduo dizer que não tem necessidade
de fazer ou comprar tal coisa, mas, que gostaria de fazê-la ou comprá-la. Esta
necessidade a que se refere está no campo das necessidades vitais, básicas,
realmente tal compra ou realização não é vital para sua sobrevivência, mas, faz
parte de suas necessidades de auto realização. Para muitos, as necessidades
de auto realização são consideradas supérfluas, por isso as pessoas referem-
se a elas como “não tenho necessidade... mas gostaria”.
O acúmulo de situações desconfortáveis faz com que haja o desgaste
físico e psicológico. Algumas dessas situações são geradas por estímulos que
são claramente perceptíveis como um conflito expresso abertamente, porém
muitas situações provêm de estímulos sutis que passam despercebidos, e
esses são, em geral, os que geram maiores riscos, pois o indivíduo sente
apenas as consequências que decorrem da exposição a eles.
Segundo colocam Codo et al(1999); Kienen (2003), entre outros, dizem
que o bem estar do trabalhador é altamente influenciável pelo ambiente de
trabalho. São diversos fatores que atuam diretamente no aspecto emocional de
forma tão abrangente que podem causar diversos problemas de saúde ao
trabalhador. A importância de serem percebidos pelo próprio profissional é
fundamental, pois permite que ele adote medidas de prevenção. Como prática
social, a saúde dos trabalhadores em geral e especificamente dos professores,
apresentam dimensões sociais, políticas e técnicas indissociáveis (ESTEVE,
1999; CODO; 1999) .
A saúde do trabalhador não mais é definida apenas pelo seu aspecto
orgânico, ela está contextualizada também ao ambiente social e político. O
trabalho ocupa um papel de grande importância na inserção dos indivíduos no
mundo, contribui diretamente para a formação de sua identidade, permitindo o
convívio social. Não obstante, da forma que ele está sendo conduzido, por um
grande número de trabalhadores e, em consequência da própria organização
do mundo do trabalho, na sociedade de hoje, preponderam efeitos negativos,
entre eles o adoecimento e a morte (CODO, 1999).
A busca pela qualidade de vida no trabalho, isto é, por melhores
condições de trabalho nada mais é que uma tentativa de tornar o ambiente
36
mais saudável e menos propício ao adoecimento físico e mental. A saúde de
todo trabalhador, inclusive a do professor, é definida por Rouquayrol (1999, p.
78).
Para Esteve (1999), o mal-estar docente é um dos fenômenos
internacionais, cujos sintomas começaram a ficar evidentes no início da década
de 1980, nos países mais desenvolvidos. O autor identificou todas as licenças
oficiais por doença que constavam nos Arquivos de Inspeção Médica da
Delegação de Educação e Ciência em Málaga, durante um período de sete
anos (1982-1989). Segundo os dados da pesquisa, as causas mais importantes
de licença em ordem de classificação foram: os diagnósticos de traumatologia,
os geniturinários e obstétricos e os neuropsiquiátricos, em 1988-1989. Entre
muitos dados o autor identifica cinco grandes mudanças sociais que
impuseram certa pressão aos professores e que criaram condições para o
crescimento dos estudos sobre o estresse nessa categoria. O autor destaca a
transformação do papel do professor e dos agentes tradicionais de integração
social, as crescentes contradições no papel do professor, as mudanças nas
atitudes da sociedade em torno do professor, a incerteza acerca dos objetivos
do sistema educacional e da utilidade do conhecimento mediante os avanços
do saber e o desgaste da imagem do professor.
As variáveis citadas acima dizem respeito ao contexto social, econômico
em que se exerce a docência, chamadas de fatores secundários. Os fatores
primários, por outro lado, são aqueles que estão diretamente relacionados ao
contexto de sala de aula e infraestrutura, aos recursos materiais e às condições
de trabalho. Os professores necessitam desenvolver capacidades para lidar
não apenas com conhecimentos, mas também para lidar com os fatores que
encontram nas suas salas de aula, na organização em que atuam, e no
contexto social em que se inserem (ROUQUAYROL, 1999).
Quaisquer que sejam as relações de trabalho estão inseridas no contexto
organizacional, mesmo as atividades docentes, pois as escolas são também
organizações. Dessa, forma, conforme coloca Morgan (1996), entender o
comportamento das pessoas e suas relações no trabalho inclui também
37
entender os fatores que interferem nas condições laborais e na vida do
professor.
A maneira como se estuda os fenômenos organizacionais pode
proporcionar compreensão sob diferentes perspectivas. Por exemplo, os
estudos em Hawthorne, realizados por Elton Mayo, possibilitam demonstrar
que um dos fatores importantes para o desempenho individual são as relações
sociais, distanciando-se das concepções das teorias da administração científica
centradas na execução das tarefas, na estrutura física e hierárquica. Há o início
de uma nova fase na administração das empresas, onde o comportamento
humano começa a ser evidenciado (ROBBINS, 2002). O comportamento do
professor é avaliado no contexto em que ele está inserido, de modo geral, é
possível considerar que o comportamento do professor e as relações que
estabelece com os colegas e seus alunos ocorrem dentro de um contexto
organizacional que as influencia.
38
CONCLUSÃO
De forma geral, o domínio dos professores do ensino básico encontra-se
com a saúde prejudicada, destacando-se a vitalidade e a dor, as quais são as
que menos se apresentam. Este resultado chama muito a atenção para a
necessidade da realização de intervenções com a população próxima ao
estabelecimento de ensino, tanto em nível de políticas públicas que
possibilitem o desenvolvimento de um trabalho docente adequado, que objetive
a promoção de saúde destes trabalhadores, quanto em nível de ações de
profissionais de saúde que possam minimizar os danos à saúde, advindos de
tal prática profissional. Na perspectiva de criação de escolas promotoras de
saúde, não se pode perder de vista a saúde dos professores como elemento
indispensável na concretização desta proposta. É de fundamental importância
que sejam criadas discussões sobre educação e promoção de saúde no
ambiente escolar, devendo evoluir para a operacionalização de programas que
possibilitem o aumento da qualidade de vida dos professores.
O objetivo geral deste trabalho seria não só promover ações que elevem o
bem-estar como fator influente na qualidade de vida dos professores no Ensino
Básico, mas também observar os principais sintomas de cada doença
psicológica, no âmbito de fortalecer o desempenho da prática pedagógica dos
professores, que num mundo que se encontra em constante mudança, onde a
busca pela estabilidade e satisfação torna-se cada vez mais intensa e
necessária para sua sobrevivência, mundo este mutante e que sem a
educação não existiria.
Destarte, há uma enorme preocupação com a Qualidade de Vida e saúde
dos profissionais docentes, porém, deve-se atentar a uma qualidade de vida
mais decente generalizada, pois a sociedade sem educação torna-se cada vez
mais sem limites, sem tolerância, sem orientação e sem parâmetros para
evoluir a favor do bem alheio.
39
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALVAREZ, B.R. Qualidade de vida relacionada à saúde de trabalhadores.
1996. Dissertação. (Mestrado em Engenharia da Produção) – Programa de
Pós-graduação em Engenharia da Produção, UFSC. Florianópolis.
ASSUMPÇÃO, L.O.T.; MORAIS, P.P; FONTOURA, H. Relação entre atividade
física, saúde e qualidade de vida. Notas Introdutórias. Lecturas: EF y Deportes.
Buenos Aires. Ano 8 n.52, 2002.
BAHIA, Patrícia Harder do Nascimento. O estresse como indicador de
qualidade de vida em professores do curso de fisioterapia. 2002. Dissertação
(Mestrado em Engenharia de Produção). Programa de Pós-Graduação em
Engenharia de Produção. UFSC, Florianópolis.
BARBOSA, Raquel Lazzarini Leite (Org.).Formação de Educadores. Desafios e
perspectivas. São Paulo: UNESP, 2003.
BATISTA, Analía Soria; EL MOOR, Patrícia Dario. Violência e Agressão. in:
CODO, Wanderley (org.) Educação: Carinho e Trabalho. “Burnout”, a Síndrome
da Desistência do Educador, que pode levar à falência da educação Petrópolis:
Vozes, 1999.
BUSS, P. M. Promoção da saúde e qualidade de vida. Revista Ciência e saúde
coletiva. vol.5 no.1, Rio de Janeiro, 2000.
BZUNECK, J.A; BORUCHOVITVH, E. Aprendizagem–processos psicológicos e
o contexto social na escola. Petrópolis: Vozes, 2001.
CARAYON, Pascale; SMITH, Michael J. Work organization and ergonomics,
Applied Ergonomics. 31. pp. 649-662, 2000.
40
CASTRO, Magali de; VILELA, Rita Amélia Teixeira: Profissão Docente:
refletindo sobre a experiência de pesquisa na abordagem sócio-histórica. In:
ZAGO, Nadir, CARVALHO, Marilia Pinto, VILELA, Rita Amélia Teixeira ( Orgs.)
Itinerários de Pesquisa: Perspectivas Qualitativas em Sociologia da Educação.
Rio de Janeiro. DP&A. 2002;
Codo W, Gazzotti AA. Trabalho e afetividade. In: Codo W. Educação: carinho e
trabalho. Petrópolis: Vozes; 1999. p. 48-59.
CODO, W. Indivíduo, trabalho e sofrimento: uma abordagem interdisciplinar
U.4.ed.Petrópolis: Vozes, 1999.
DELANEY, John T.; GODARD, John. An industrial relations perspective on the
highperformance paradigm. Human Resource Management Review. 11, 395–
429, 2001.
DOMINGUES, Dinéia Aparecida. Impactos do Trabalho na Saúde de Docentes
1997. Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal de Minas Gerais,
Programa de Pós-graduação em Educação. 1997.
ESTEVE, José Maria. O mal estar Docente: a sala de aula e a saúde dos
professores. São Paulo, Edusc: 1999.
FERENHOF & FERENHOF. A síndrome de burnout em educação influenciará
a educação? Educação Brasileira, Brasília, v.23, n.47, p.109-130,jul/dez. 2001.
FERNANDES, Eda. Qualidade de Vida no Trabalho: como medir para
melhorar. 2 ed. Salvador: Casa da Qualidade Editora Ltda, 1996.
GIACON, Beatriz. O mal estar Docente a Síndrome de burnout. São Paulo.
Dissertação (Mestrado). São Paulo. PUC/SP. 2001.
41
HACKMAN, J. Richard, OLDHAM, Greg R. Development of the Job Diagnostic
Survey. Journal of Applied Psychology. vol. 60, no . 2, 159-170, 1975.
INGELGARD, Anders; NORRGREN, Flemming. Effects of change strategy and
topmanagement involvement on quality of working life and economic results.
International Journal of Industrial Ergonomics. 27, 93 -105, 2001.
KANDASAMY, Indira; ANCHERI, Sreekumar. Hotel employees’ expectations of
QWL: A qualitative study. International Journal of Hospitality Management. 28,
328–337, 2009.
Kyriacou C. Teacher stress: directions for future research. Educ Rev
2001;53(1):27-35.
KIENEN, N.. U Percepção das Relações entre Trabalho e Saúde dos
Professores e Alunos Universitários U. Dissertação de Mestrado. Florianópolis.
2003.
LAWLER, Edward E. Creating high performance organizations. Asia Pacific
Journal of Human Resources. 43(1), 10 – 17, 2005.
LIBÂNEO, J.C. Didática. Cortez: São Paulo, 1991.
LIMONGI-FRANÇA, Ana Cristina. Qualidade de Vida no Trabalho – QVT:
Conceitos e práticas nas empresas da sociedade pós-industrial. 2 ed. Atlas
S.A., São Paulo, 2004.
LIPP, M. e ROCHA, J.C. Stress, hipertensão e qualidade de vida. Campinas:
Papirus, 1996.
42
MARTEL, Jean-Pierre; DUPUIS, Gilles. Quality of work life: theoretical and
methodological problems, and presentation of a new model and measuring
instrument. Social Indicators Research, 77, 333 – 368, 2006.
MINAYO, M.C.S., Hartz, Z.M.A., Buss, P.M. Qualidade de vida e saúde: um
debate necessário. Ciência & Saúde Coletiva. 2000.
Ministério da Saúde. A promoção da saúde no contexto escolar. Rev. Saúde
Pública, vol.36, n.4. São Paulo, Agosto de 2002.
MOLLEMAN, Eric; BROEKHUIS, Manda. Sociotechnical systems: towards an
organizational learning approach. Journal of Engineering and Technology
Management. 18, 271 – 294, 2001.
MONTIBELLER FILHO, G. O mito do desenvolvimento sustentável: meio
ambiente e custos sociais no moderno sistema produtor de mercadorias. Ed.
UFSC: Florianópolis, 2004.
MORGAN, G. U. Imagens da Organização. São Paulo: Atlas, 1996.
NASSAR, S.M. e GONÇALVES, L.H.T. A confiabilidade da escala de qualidade
de vida de Flanagan. (EQVF) – Versão em português – UFSC / CESPI. In I
Congresso de Geriatria e Gerontologia do Mercosul. Foz de Iguaçu – PR. 12 a
15 de maio de 1999.
NÓVOA, Antonio. (Org.) Profissão Professor. Portugal: Porto Editora, 1995.
PEREIRA, Gilson R. de M. Servidão Ambígua. Valores e Condição do
Magistério. São Paulo: Escrituras, 2001.
PERRENOUD, Philippe. Práticas Pedagógicas, Profissão Docente e Formação:
Perspectivas Sociológicas. Lisboa: Dom Quixote. 1997
43
RAMSTAD, Elise. Promoting performance and the quality of working life
simultaneously. International Journal of Productivity and Performance
Management. v. 58, n. 5, 423 - 436, 2009.
Revistaescolapuplica.uol.com.br – (Mal-estar Docente).
ROBBINS, P.S. Comportamento Organizacional. 9.ed. São Paulo: Prentice
Hall, 2002.
RODRIGUES, Marcus Vinicius Carvalho. Qualidade de Vida no Trabalho:
Evolução e Análise no Nível Gerencial. 4 ed. Vozes, Petrópolis, RJ, 1998.
ROUQUAYROL, M. Z. Epidemiologia e Saúde. 5.ed. Rio de Janeiro: MEDSI.,
1999.
ROY, N.; MERRILL, R.M.; THIBEAULT, S; PARSA, R.E.; GRAY, S.D.; SMITH,
E.M. Prevalence of voice disorders in teacher and the general population. J
Speech Lang Hear Rs.47(2): Apr 2004, p.285-93.
Roeder MA. Atividade física, saúde mental & qualidade de vida. Rio de Janeiro:
Shape; 2003.
SANTOS, João Francisco Severo. Globalização, qualidade de vida e educação.
Revista Espaço Acadêmico, n.61. Jun. 2006.
WALTON, Richard E. Quality of Working Life: What is it? Sloan Management
Review, 15, 1, pp. 11-21, 1973.
WESTLEY, William A. Problems and Solutions in the Quality of Working Life.
Human Relations. 32, 113 – 123, 1979.
44
ÍNDICE
FOLHA DE ROSTO ..................................................................................... 02
AGRADECIMENTOS ................................................................................... 03
DEDICATÓRIA ............................................................................................ 04
EPÍGRAFE ................................................................................................... 05
RESUMO ..................................................................................................... 06
METODOLOGIA .......................................................................................... 07
SUMÁRIO .................................................................................................... 08
INTRODUÇÃO ............................................................................................. 09
CAPÍTULO I - 1. Conceito de Qualidade de Vida ......................................... 11
1.1 Modelos conceituais de qualidade de vida ............................................ 14
1.2 Modelos de Walton ................................................................................ 15
1.3 Fatores que influenciam na qualidade de vida ....................................... 19
1.3.1 Qualidade de Vida e Saúde do Professor ........................................... 20
CAPÍTULO II – 1. Doenças do Professor ..................................................... 24
1.1 Mal – Estar dos Professores .................................................................. 27
1.2 Diferentes Problemas ............................................................................. 28
1.3 Doenças Psicológicas ............................................................................ 28
1.3.1 Síndrome de Burnout .......................................................................... 29
CAPÍTULO III – Motivação no Desempenho Profissional ............................ 34
CONCLUSÃO .............................................................................................. 38
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................. 39
ÍNDICE ......................................................................................................... 44