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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
PROJETO A VEZ DO MESTRE
A IMPORTÂNCIA DA MÚSICA E DE SEUS ELEMENTOS
FORMADORES NO DESENVOLVIMENTO GLOBAL DA CRIANÇA
DE 0 A 6 ANOS
Por: Luciane Marcelino Garcia
Orientador
Profª. Mary Sue Pereira
Rio de Janeiro
2009
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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
PROJETO A VEZ DO MESTRE
A IMPORTÂNCIA DA MÚSICA E DE SEUS ELEMENTOS
FORMADORES NO DESENVOLVIMENTO GLOBAL DA CRIANÇA
DE 0 A 6 ANOS
Apresentação de monografia à Universidade
Candido Mendes como requisito parcial para
obtenção do grau de especialista em Educação
Infantil e Desenvolvimento.
Por: Luciane Marcelino Garcia
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AGRADECIMENTOS
Ao Gustavo e Rafael, pelo amor,
paciência e compreensão e aos meus
pais, por todo apoio e carinho que
sempre me deram.
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DEDICATÓRIA
Dedico essa monografia à todos os meus
alunos, por serem fonte constante de
aprendizado e renovação, aos
profissionais de Educação Infantil e à
Professora Mary Sue, pela atenção e
carinho no processo de realização desse
trabalho.
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RESUMO
Esta monografia busca refletir sobre o importante papel da música e de
seus elementos formadores no desenvolvimento global da criança, aqui sendo
focada a idade de 0 a 6 anos. Considerações sobre: a importância de um
trabalho musical bem estruturado no período da Educação Infantil; os
benefícios do constante contato com a música e seus elementos formadores e
o trabalho do professor especialista, serão abordados no decorrer dessa
pesquisa.
6
METODOLOGIA
Esta dissertação foi realizada com base em literaturas já existentes
sobre o assunto. Após leitura, confronto de idéias e posicionamento, foi
possível fundamentar e perceber que torna-se necessária uma conscientização
por parte dos profissionais e instituições envolvidos, em relação à maneira
como a música e seus elementos formadores vêm sendo trabalhados.
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 08
CAPÍTULO I - O poder da Música 10
CAPÍTULO II - A criança e a música 22
CAPÍTULO III – Música na Educação Infantil 31
CONCLUSÃO 45
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 47
ATIVIDADES CULTURAIS 49
ÍNDICE 52
FOLHA DE AVALIAÇÃO 63
8
INTRODUÇÃO
As manifestações sonoras estão presentes no dia-a-dia do ser
humano, seja para o lado positivo como para o negativo, desde o momento de
sua concepção até a chegada hora da morte.
A receptividade em relação à música é um fenômeno natural na
criança. Desde os primeiros meses de vida, a atividade sensório-motora do
bebê pode tomar a forma de uma exploração de objetos que produzem ruído.
Antes mesmo de começar a falar, o bebê faz vários sons, experimentando o
que pode produzir com a boca.
O modo como as crianças percebem os sons, revela a maneira como
se relacionam com o mundo que vêm explorando a cada dia.
Nas produções sonoras das crianças pequenas, a experimentação,
exploração e a repetição aparecem como uma reminiscência das reações
circulares da pequena infância.
A criança é um ser brincante e, brincando faz música. Fazendo música,
ela, metaforicamente, se transforma em sons: pesquisa materiais sonoros,
“descobre” instrumentos, inventa e imita motivos rítmicos e melódicos.
Preciso ou impreciso, regular ou não, bonito ou feio... Essa conotação
de valor (de afinação coerente com o repertório cultural, de certo ou errado,
melhor ou pior) não acontece nessa fase de exploração do universo sonoro.
Experimentar, explorar, criar, achar graça, achar barulhento demais,
descobrir movimentos sonoros ascendentes e descendentes, tampar os
ouvidos: “é muito barulhento!” Tocar “aquele tambor legal”. “Oba, agogô! É
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pesado!” Bater palmas com entusiasmo. Esperar, “com gostinho de quero
mais”, a sua vez de tocar. Tocar, todos ao mesmo tempo, numa produção
frenética de sons e alegria. Explorar gestos!
É fundamental dar subsídios para a criança para que ela possa
explorar e vivenciar, dentro de seu espaço de convivência, a música e seus
elementos formadores.
10
CAPÍTULO I
O PODER DA MÚSICA
No princípio, podemos supor, era o silêncio. Havia
silêncio porque não havia movimento e, portanto,
nenhuma vibração podia agitar o ar – um fenômeno de
fundamental importância na produção do som. A criação
do mundo, seja qual for a forma como ocorreu, deve ter
sido acompanhada de movimentos e, portanto, de som.
(karóly,1990, p.5)
Pouco se sabe quando surgiu a música no mundo, no entanto, sabe-se
que ela vem sendo usada desde os povos primitivos.
No começo dos tempos, foi o vento assobiando nos bambus. Depois
quando o homem dominou o fogo, aprendeu a mantê-lo aceso soprando
suavemente através de um caniço.
O homem da pré-história, provavelmente, também usava seu corpo
todo como instrumento musical, batendo os pés no chão com cadência,
batendo palmas, sacudindo colares e braceletes de ossos, de sementes ou
conchas, envolvendo-se completamente em sons. Atentavam e reconheciam
os sons feitos por seus predadores para deles fugirem ou, imitavam os sons
daqueles que viriam a ser suas presas. Os sons sempre estiveram incluídos na
vida do ser humano.
O canto foi sempre empregado, desde a época mais remota, em todas
as cerimônias religiosas. Por isso, os historiadores são unânimes em afirmar
que a música é de origem sagrada.
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Para Marius Schneider:
A música primitiva não constitui uma arte propriamente
dita, mas um instrumento indispensável à vida cotidiana
do homem, para expressar seu sentimento e sua vontade.
Ele não canta somente no culto, para chamar os espíritos,
mas também canta e tamborila em si próprio, para saudar
alguém, formular um agradecimento, zombar de outra
pessoa, elogiar o chefe da tribo, caçar um animal ou
atiçar o fogo.
(1957, p.937)
Aos poucos, o homem aprendeu a selecionar entre a matéria, o que
produzia sons agradáveis. A ressonância da madeira preparada, da pele
esticada e da corda vibrando o encantou. Ele destaca e produz os primeiros
timbres. O som melódico aparece, fascinado- o e despertando sua consciência
estética.
A música é a arte de combinar sons, de desenvolver a criatividade, o
raciocínio. Faz-se presente desde os tempos mais remotos e primitivos. É
possível que, mais adiante, convivendo com outras pessoas, o homem tenha
sentido necessidade de comunicar-se, fazendo uso dessa “música” como meio
de expressão e de interação com o outro, formando os primeiros elementos
que viriam a fazer parte da paisagem sonoro-musical.
O homem expressa suas emoções, isso é fato. O conhecimento cresce
à medida que criamos novas formas de vivenciar situações, emoções e
sensações. A música propicia estas descobertas por meio de uma sonoridade
rítmica e melódica presentes na vida de todo ser humano.
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À medida que o homem vai vivendo e adquirindo experiência, ampliam-
se sua visão e sua capacidade de interpretar o mundo de maneira cada vez
mais criativa.
1.1- A Música e seus elementos formadores
O que é música? Seria uma linguagem? Uma manifestação artística
que atinge os seres humanos profundamente, numa esfera em que a razão e o
raciocínio lógico talvez não penetrem? Ou simplesmente uma sucessão de
sons?
De todas as artes, a música é a que, provavelmente, se faz mais
presente na vida das pessoas.
De acordo com Jeandot:
A música é uma linguagem universal, com muitos
dialetos, que variam de cultura para cultura, envolvendo a
maneira de tocar, de cantar, de organizar os sons e de
definir as notas básicas e seus intervalos.
(1993, p.12)
1.1.1 - O Som e o silêncio
Os sons sempre estiveram presentes na vida do ser humano. Ele
depende do movimento e não existe na ausência dele. Em termos físicos, o
som é uma vibração que chega aos nossos ouvidos na forma de ondas que
percorrem o ar que nos rodeia.
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Som é tudo o que soa! Tudo o que o ouvido percebe sob a forma de
movimentos vibratórios.
E o silêncio? Entende-se por silêncio a ausência de som, mas na
verdade, a ele correspondem os sons que já não se pode ouvir, ou seja, as
vibrações não perceptíveis ao ouvido humano. Som e silêncio são portadores
de informações e significados.
De acordo com Brito: “Tudo vibra, em permanente movimento, mas
nem toda vibração transforma-se em som para os ouvidos; seja porque são
produzidos por movimentos de ondas muito rápidas ou muito lentas”. (2003,
p.37).
A escuta é profundamente guiada por padrões culturais. Isso explica,
por exemplo, a dificuldade em perceber e produzir microtons presentes na
música indiana. Os monges tibetanos cantam sons extremamente graves,
acreditando promover sintonia com o som cósmico.
Som e silêncio são partes de uma única coisa. Pode-se dizer que são:
opostos que se complementam. De acordo com Koellreutter: “O silêncio deve
ser percebido como outro aspecto de um mesmo fenômeno, e não apenas
como ausência de som”. (1990, p.56)
Muitos dos mitos presentes nas culturas humanas atribuem ao som o
poder da criação do universo. A busca do silêncio também nos remete,
simbolicamente, ao início, à essência da criação, ao sopro da vida e, ao
mesmo tempo, ao final, ou à morte.
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1.2 - Os parâmetros do som
O som depende, dentre outras coisas, da densidade do ar, da distância
em que o receptor se encontra da fonte sonora e da ressonância por simpatia
de outros corpos afinados com igual número de vibrações.
O som possui algumas qualidades fundamentais. São elas:
1.2.1 - Altura
Dependendo da frequência de vibrações, um som pode ser agudo ou
grave.
Um som será mais grave, quanto menor for o número de vibrações, ou
seja, quanto menor for a freqüência da onda sonora. Quanto maior for a
freqüência, mais agudo ele será.
A altura de um som tem um significado relativo. Por exemplo, os sons
agudos do violino não são os mesmos do trombone ou do contrabaixo.
1.2.2 - Duração
Um som pode ser curto ou longo, ou seja, ele é medido pelo tempo de
sua ressonância.
Os instrumentos chamados de “metais” produzem sons que vibram
durante um lapso maior, enquanto os de “madeira” produzem sons curtos.
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1.2.3 - Intensidade
Um som pode ser medido pela amplitude de sua onde e classificado
como forte ou fraco, dependendo, principalmente, da energia emitida pela
fonte sonora.
1.2.4 - Timbre
É a característica que diferencia cada som. Costuma-se dizer que o
timbre é “a cor do som”.
É a qualidade do som que nos permite distinguir a voz das pessoas e o
som dos instrumentos, mesmo aqueles que estejam produzindo a mesma nota
com a mesma intensidade. O timbre depende da forma como a energia se
distribui entre as várias freqüências que determinam a vibração do som.
1.2.5 – Densidade
É um parâmetro que se refere a um grupo de sons, caracterizando-o
pelo menor ou maior agrupamento de sons num lapso, ou seja, pela rarefação
ou adensamento.
1.3 - As Manifestações Sonoras: presença no cotidiano
Sempre que estivermos no campo audível da música, sua
influência atuará diretamente e constantemente sobre
nós, nos relaxando ou irritando, acelerando ou regulando
as batidas do coração, influindo na pressão sanguínea,
na digestão e no ritmo da respiração. Seus efeitos sobre
as emoções, sobre os processos mentais e intelectuais
são vastos. Os poderes da música são multifacetados.
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Podem ser usados e abusados, podendo representar um
papel importante no determinar o caráter e direção de
uma sociedade.
(Tame, 1984, p.13)
Tudo o que o ouvido percebe sob a forma de movimentos vibratórios é
chamado de som. Som é tudo aquilo que soa. Os sons que nos cercam são
expressões da vida, da energia, do universo em movimento. Indicam situações,
ambientes, “paisagens sonoras”. Os animais, a natureza, os seres humanos e
suas máquinas, traduzem sonoramente, o “Ser-estar” no mundo.
O sentido da audição é responsável por significativa leitura das coisas
deste mundo, já que som e silêncio são portadores de informações e
significados. Os sons traduzem informações objetivas, provocando sensações
e reações subjetivas.
Em uma situação hipotética:
Um indivíduo chega em casa, numa sexta-feira chuvosa, com o filme
que vem tentando alugar há algum tempo. Na sacola, pipoca e refrigerante. O
cenário perfeito para relaxar. Coloca-se o filme e senta-se diante da televisão.
De repente, nota-se que a televisão passa a ficar sem som, volume. O
filme terá que ser visto usando somente a legenda! O cenário perfeito e a
expectativa de um momento de lazer são substituídos pela frustração e pelo
mau-humor.
Em outra situação Hipotética
Um indivíduo está em seu quarto, cansado. Conseguiu a tão almejada
folga naquela tarde, aproveitando para dormir. No mesmo instante em que
deita para repousar, começa a obra no apartamento acima.
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Após imaginar essas duas situações perfeitamente possíveis de
acontecer com qualquer pessoa, conclui-se que as manifestações sonoras
estão presentes no dia-a-dia, seja para o lado positivo como para o negativo.
Desde a concepção até a hora da morte, o ser humano vivencia um
universo impregnado de sons.
Perceber, produzir e relacionar-se com e por meio de sons faz parte da
comunicação. Existem padrões de comunicações pré-estabelecidos
culturalmente, como por exemplo, ouve-se o som de um trovão, fecha-se a
janela; ao atravessar a rua, ouve-se a buzina de um carro e a atenção é
acionada. Os sons e ruídos estão presentes em todas as ações.
Pesquisadores vêm constatando o importante papel que a música e
seus elementos formadores desempenham nos campos da educação, saúde,
social, no entretenimento e nos demais que nos cercam. E tendo em vista a
importância vital das manifestações, torna-se urgente perceber e filtrar sua
presença no dia-a-dia.
É fundamental que haja o resgate, começando dentro do espaço de
convivência de cada um, do hábito de saber escutar e de selecionar os sons,
criando, dessa forma, uma consciência sonora.
De acordo com Schaffer:
Somente através da audição seremos capazes de
solucionar o problema da poluição sonora. Clariaudiência
nas escolas para eliminar a audiometria nas fábricas.
Limpeza de ouvidos em vez de entorpecimento de
ouvidos. Basicamente, podemos ser capazes de produzir
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a paisagem sonora para melhorá-la esteticamente – o que
deve interessar a todos os professores contemporâneos.
(1991, p.13)
A percepção, a discriminação, a seleção e a interpretação de situações
sonoras, são de fundamental importância na formação e constante
transformação do ser humano.
1.4 – A música como terapia: a Musicoterapia
Em todo o curso da História, inúmeras referências são encontradas
quanto a participação da música no tratamento de doenças; e seus efeitos
fisiológicos e psicológicos sobre o Homem, têm sido discutidos através dos
séculos por filósofos, médicos, educadores e músicos.
Desde 1500 A.C, a música já é referida como terapia. De acordo com
Portnoy: “as sociedades primitivas davam, com freqüência, maior importância
aos cantos mágicos e às danças rituais do que às ervas medicinais para curar
seus doentes”. (1963, p.27)
Dos escritos chegados, deduz-se que a música era utilizada como
instrumento terapêutico pelos antigos chineses, hindus, persas, egípcios e
gregos.
No primeiro livro de Samuel, do Velho Testamento, encontra-se uma
passagem: “quando um mau espírito de Deus se apoderava de Saul, David
tomava a harpa, a tocava e Saul se acalmava e sentia-se melhor, e o espírito
mau se afastava dele.” (I Samuel 16: 14-23).
O emprego da música como tratamento pelos gregos lhes foi
originalmente transmitido por civilizações anteriores. Mas após a vida e obra de
Pitágoras, a prática da Musicoterapia também passou a ser uma extensão
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natural das crenças Pitagóricas. Aplicando os ensinamentos da antiga
sabedoria à civilização da Grécia, os pitagoristas concebiam a música como a
redução em freqüência da música das esferas (som cósmico). A boa música
portanto, achava-se em sintonia com o ritmo da vida. Conta-se que Hipócrates,
o “pai da medicina”, levava seus casos de enfermidade mental ao templo de
Esculápio para ali ouvirem a “música comovedora”.
Os sacerdotes do templo e os médicos de Roma fizeram uso da
Musicoterapia até a completa cristianização do Império.
Embora a Musicoterapia seja tão antiga quanto o próprio homem, só
recentemente é que começa a haver uma preocupação com seu “status”
científico e com a procura do seu objeto de estudo e dos seus fundamentos.
Foi a partir dos anos 50, que começaram a haver investigações mais
objetivas sobre o tema, com o propósito de evidenciar e explicar a função
terapêutica da música, ligando-a a recuperações de ordem física e emocional.
A vanguarda dessas realizações cabe aos Estados Unidos. Lá, desde
a Primeira Guerra Mundial, os hospitais de veteranos contratavam músicos
profissionais para “ajuda musical”, preparando assim, o caminho para a
Musicoterapia. Os resultados positivos de algumas dessas experiências
atraíram o interesse dos médicos e se compreendeu, cada vez mais, a
necessidade de um treinamento específico para fazer do músico um terapeuta.
Assim, em 1950, um grupo de profissionais fundou a National Association for
Music Therapy.
Na mesma época, há uma dissipação do movimento por alguns países
da Europa, como Suíça, Suécia, Inglaterra, Alemanha, França, Iuguslávia,
entre outros.
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A Argentina foi sede do primeiro conclave dessa natureza, efetuado na
América do Sul. Ocorreu em 1968, com o nome de “Primeiras Jornadas Latino
Americanas de Musicoterapia” e, entre as várias conclusões que chegaram
nesse congresso, uma delas foi a de que havia a necessidade de uma
formação científica em bases profundas para uma aplicação dessa nova
realidade, originando assim a profissão de musicoterapeuta.
A Musicoterapia é uma ciência em pleno desenvolvimento e
crescimento, não só no Brasil, mas em todo o mundo e tem-se visto aumentar
a curiosidade das pessoas em relação a esse novo caminho que auxilia os
seres humanos, através do auto-conhecimento e do auto-controle, a
conquistarem uma melhor qualidade de vida.
A construção de um campo teórico em Musicoterapia, vem sendo
enriquecido constantemente com contribuições de autores nacionais e
internacionais.
Dentro de sua área específica e dependendo de sua área de atuação,
a Musicoterapia tem alguns objetivos bem definidos. Para Benezon (1988),
existem duas possibilidades de definir a musicoterapia: uma, é encarando seu
aspecto científico e a outra, o terapêutico.
Levando em conta o aspecto científico, ele considera que a
musicoterapia é uma especialização que estuda e investiga o complexo
som/ser humano, seja o som musical ou não, buscando assim, os elementos
diagnosticados e os métodos terapêuticos do mesmo. Levando em conta o
aspecto terapêutico, ele considera que a musicoterapia é uma disciplina
paramédica que utiliza o som, a música e o movimento para produzir efeitos
regressivos e abrir canais de comunicação com o objetivo de empreender
através deles o processo de treinamento e recuperação do paciente para a
sociedade.
21
Para Bruscia:
Musicoterapia é um processo inter-pessoal no qual o
terapeuta utiliza a música e todos os seus aspectos físico,
emocional, social, estético, e espiritual, para ajudar os
pacientes a melhorar, restaurar e manter a saúde. Em
algumas situações, as necessidades dos pacientes se
dirigem diretamente para os elementos da música, em
outras, para o relacionamento inter-pessoal desenvolvido
entre o paciente e o terapeuta ou o grupo.
(1991, p.31)
Segundo a Federação Mundial de Musicoterapia:
Musicoterapia é a utilização da música e/ou seus
elementos formadores (som, ritmo, melodia e harmonia)
por um grupo num processo, para facilitar e promover a
comunicação, relação, aprendizagem, mobilização,
expressão, organização e outros objetivos terapêuticos
relevantes, no sentido de alcançar necessidades físicas,
emocionais, mentais, sociais e cognitivas.
A Musicoterapia objetiva desenvolver potenciais e/ ou
restabelecer funções do indivíduo para que ele possa
alcançar uma melhor integração intra e/ou inter-pessoal e,
consequentemente, uma melhor qualidade de vida, pela
prevenção, reabilitação ou tratamento.
(1991, p.25)
22
CAPÍTULO II
A CRIANÇA E A MÚSICA
Por meio da linguagem musical, é possível sensibilizar e
ensinar a criança a apreciar o belo, a reconhecer as
várias possibilidades de produzir sons e torná-la curiosa
para explorar o universo sonoro que a cerca.
(Ferla, 2002. p.2)
O que seria da música sem o homem? E existe terreno de observação
mais favorável ao estudo das relações entre a música e o homem do que o das
reações da criança ante a música? Com efeito, observar e estudar essas
reações resulta em perguntar de que maneira é conveniente abrir ao homem o
domínio da música, como ela pode chegar a fazer parte integrante de seu ser
íntimo e o que ela pode significar para sua vida?
O ser humano interage com as pessoas e o ambiente valendo-se da
fala, da escrita e da linguagem corporal, plástica e musical.
Os estímulos sonoros do ambiente que nos cerca são intensos e a
criança, desde seus primeiros anos de vida, já reage a eles mediante
balbucios, gritos e movimentos corporais: é a maneira encontrada para se
manifestar diante dos sons; ela os ouve, capta sua direção e identifica as
vozes das pessoas. Ela penetra progressivamente no mundo dos sons e,
quanto mais adequados forem os estímulos sonoros, melhor ela captará o
ambiente que a rodeia.
O barulho da água que cai, o canto dos pássaros e o coaxar dos
sapos, por exemplo, fazem parte de um ambiente estimulador propício ao
23
desenvolvimento de habilidades perceptivas que muito contribuem para a
construção do processo de comunicação e expressão.
2.1 - Crianças, sons e música
O envolvimento das crianças com o universo sonoro começa ainda
antes do nascimento, pois na fase intra-uterina os bebês já convivem com um
ambiente de sons provocados pelo corpo da mãe, como o sangue que flui nas
veias, a respiração e a movimentação dos intestinos. A voz materna constitui
material sonoro especial e referência afetiva para eles.
Segundo Brito:
Os bebês e as crianças interagem permanentemente
com o ambiente sonoro que os envolve e, logo, com a
música, já que ouvir, cantar e dançar são atividades
presentes na vida de quase todos os seres humanos,
ainda que de diferentes maneiras. O processo de
musicalização dos bebês e crianças começa
espontaneamente, de forma intuitiva, por meio do contato
de toda a variedade de sons do cotidiano, incluindo aí a
presença da música. Nesse sentido, as cantigas de ninar,
as parlendas, as canções de roda e todo o tipo de jogo
musical têm grande importância, pois é por meio das
interações que se estabelecem, que os bebês
desenvolvem um repertório que lhes permitirá comunicar-
se pelos sons. Os momentos de troca e comunicação
sonoro-musicais favorecem o desenvolvimento afetivo e
cognitivo, bem como a criação de vínculos fortes tanto
com os adultos quanto com a música. (2002, p.67)
24
O balbucio e o ato de cantarolar dos bebês têm sido objetos de
pesquisas que apresentam dados importantes sobre a complexidade das
linhas melódicas cantaroladas até os dois anos de idade, aproximadamente.
Procuram imitar o que ouvem e também inventam linhas melódicas ou ruídos,
explorando possibilidades vocais, da mesma forma como interagem com os
objetos e brinquedos sonoros disponíveis, estabelecendo, desde então, um
jogo caracterizado pelo exercício sensorial e motor com esses materiais.
Do primeiro ao terceiro ano de vida, os bebês ampliam os modos de
expressão musical pelas conquistas vocais e corporais. Podem articular e
entoar um maior número de sons, inclusive os da língua materna, reproduzindo
letras simples, refrões e onomatopéias, explorando gestos sonoros, como
bater palmas, pernas , pés, especialmente depois de conquistada a marcha, a
capacidade de correr, pular e movimentar-se acompanhando uma música.
No que diz respeito à relação com os materiais sonoros é importante
notar que, nessa fase, as crianças conferem importância e equivalência a toda
e qualquer fonte sonora e assim explorar as teclas de um piano é tal e qual
percutir uma caixa ou um cestinho, por exemplo. Interessam-se pelos modos
de ação e produção dos sons, sendo que sacudir e bater são seus primeiros
modos de ação.
O que caracteriza a produção musical das crianças nesse estágio é a
exploração do som, e não a criação de temas ou melodias definidos
precisamente.
Diante de um teclado, por exemplo, a criança irá explorar livremente as
possibilidades do instrumento: os registros (altura), tocando forte ou fraco
(intensidade), produzindo sons curtos ou longos (duração), imitando gestos
motores que observou e que reconhecem como responsáveis pela produção
do som, sem a preocupação de localizar as notas musicais ou reproduzir
melodias conhecidas. E ainda que consigam, em alguns casos, manter um
25
pulso (medida referencial de duração constante), a vivência do ritmo não se
subordina à pulsação e ao compasso (organização dos pulsos em tempos
fortes e fracos) e assim vivenciam o ritmo livre.
Diferenças individuais e grupais acontecem, fazendo com que, aos três
anos, por exemplo, integrantes de comunidades musicais ou cujos pais toquem
instrumentos possam apresentar um desenvolvimento e controle rítmico
diferente das outras crianças, demonstrando que o contato sistemático com a
música amplia o conhecimento e as possibilidades de realizações musicais.
A expressão musical das crianças nessa fase é caracterizada pela
ênfase nos aspectos intuitivo e afetivo, e pela exploração sensório-motora dos
materiais sonoros. A música faz parte das brincadeiras e jogos infantis: cantam
enquanto brincam, acompanham com sons os movimentos de seus carrinhos,
dançam e dramatizam situações sonoras diversas, conferindo “personalidade”
e significados simbólicos aos objetos sonoros ou instrumentos musicais e a
sua produção musical. O brincar permeia a relação que se estabelece com os
materiais: mais do que sons, podem representar personagens, como animais,
carros, máquinas, super-heróis, entre outros.
A partir dos três anos, aproximadamente, os jogos com movimentos
são fonte de prazer e possibilidade afetiva para o desenvolvimento motor e
rítmico, sintonizados com a música, uma vez que o modo de expressão
característico dessa faixa etária integra gesto, som e movimento.
Aos poucos ocorre um maior domínio com relação à entoação
melódica. Ainda que sem controle preciso da afinação, mas já com retenção de
desenhos melódicos e de momentos significativos das canções, como refrão,
onomatopéias, o “to-to” de “Atirei o pau no gato”, por exemplo. A criança
memoriza um repertório maior de canções e conta, consequentemente, com
um arquivo de informações referentes a desenhos melódicos e rítmicos que
utiliza com freqüência nas canções que inventa. Com o passar do tempo,
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começa a cantar com maior precisão de entoação e a reproduzir ritmos
simples orientados por um pulso regular. Os batimentos rítmicos corporais
(palmas, batidas nas pernas, pés, etc.) são observados e reproduzidos com
cuidado, e, evidentemente, a maior ou menor complexidade das estruturas
rítmicas dependerá do nível de desenvolvimento de cada criança ou grupo.
2.2 - A trajetória da expressão musical infantil segundo
François Delalande
Antigamente, até aproximadamente 1950, não viria à
idéia de ninguém propor uma aproximação entre a
linguagem da criança de oito meses e uma ária de
Haendel acompanhada pelo cravo. Para todos, a música
era uma questão de melodias e ritmos, e o som musical
se diferenciava radicalmente do ruído. Quanto à
tagarelice da criança e a todas as suas produções
sonoras, eram consideradas como uma atividade
sensório-motora pela qual ela tomava conhecimento do
mundo exterior ao mesmo tempo que exercia suas
possibilidades motoras: uma criança de um ano que se
distrai fazendo ranger uma porta explora uma relação de
causa e efeito entre um gesto e um ruído.
Mas a introdução do gravador, por volta de 1950, alterou
radicalmente nossa concepção de música, trazendo duas
grandes descobertas. Por um lado, certos compositores
puseram-se a fazer música concreta, quer dizer, a compor
musicalmente os ruídos, mas tão bem que se podia ouvir
o ranger de portas.
Por outro lado, o público não especialista pôde escutar
músicas extra-européias que pouco tempo antes teríamos
tido dificuldade em considerar como música. Por exemplo,
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os cantos de garganta das mulheres esquimós, que
utilizam ruídos insólitos produzidos com a voz, são
certamente mais próximos das pesquisas sonoras de uma
criança com sua voz do que uma ária de Haendel.
No espaço de alguns anos, houve a tomada de
consciência da diversidade de produções humanas
chamadas “música”, e não seria mais possível reduzi-la
às nossas melodias tonais clássicas nem a nossos ritmos,
a três ou quatro tempos.
Há, portanto, um denominador comum em todas as
práticas. Mas não é preciso ir buscá-lo nos níveis de
estilos nem de objetivos musicais, eminentemente
diferentes, que se podem ouvir em discos. Eles são
encontrados no nível das condutas dos músicos; pois,
assim como os estilos e as linguagens são variáveis,
também é universal o comportamento do músico que
concentra sua atenção sobre o som que ele produz com
seu instrumento, dominando o gesto para melhor
controlar a sonoridade. Se os estilos são diferentes, as
condutas são bastante vizinhas. Agora podemos ter um
novo olhar sobre as produções sonoras das crianças. A
aproximação com a música dos adultos vem a ser
possível e, aliás, instrutiva nos dois sentidos.
Compreendem-se melhor as condutas do músico adulto
observando-se a gênese na infância, e as pesquisas da
criança são interpretadas de uma perspectiva mais rica,
uma vez que as comparamos àquelas dos músicos.
(Delalande, 2000, p.48)
François Delalande, compositor Francês, defende que as condutas de
produção sonora da criança revelam a ênfase num ou noutro estágio de
atividade lúdica, segundo Piaget, à semelhança de seus estudos aplicados à
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linguagem musical como um todo. Ele classifica as categorias de condutas em:
exploração, expressão e construção, referentes ao jogo sensório-motor, ao
jogo simbólico e ao jogo com regras.
2.2.1 - Exploração
Desde os primeiros meses de vida, a atividade sensório-motora do
bebê pode tomar a forma de uma exploração de objetos que produzem ruídos.
Ele diz:
Ao pendurar um tambor no berço de uma criança de
quatro meses, mais cedo ou mais tarde sua mão
encontrará a pele do instrumento, cuja sonoridade ela
explorará raspando com as unhas, batendo ou
esfregando. Por volta de oito meses, observam-se
comportamentos mais elaborados nos quais as
modificações de gestos introduz variações do resultado
sonoro. Para os nossos músicos, essa repetição com
variações, mesmo se ela não é procurada
intencionalmente, só pode ser um alento. (Delalande,
1998, p.43)
Uma menina de três anos gira uma bolinha numa lata de conserva. A
bolinha, girando, produz um ruído mais ou menos irregular. Porém, a menina
encontrou um meio de introduzir uma variação suplementar. Fechando mais ou
menos a abertura da lata com sua mão livre, ela modifica o timbre,
encontrando, dessa maneira, o princípio da guimbarde (instrumento também
chamado, popularmente, de berimbau-de-boca), que se coloca em frente à
boca: aqui também modifica o timbre agitando sobre a abertura de uma
cavidade.
Nas produções sonoras das crianças pequenas, de até
aproximadamente quatro ou cinco anos, a forma privilegiada é a repetição,
como uma reminiscência das reações circulares da pequena infância, e esse
29
aspecto as aproxima de uma proporção importante das produções musicais do
mundo inteiro, que adotam com freqüência a forma repetitiva. Nota-se, uma
vez que há repetição de um gesto sensivelmente idêntico num mesmo corpo
sonoro, não é tanto sobre o objeto material que se faz a exploração, mas sobre
a descoberta sonora, que, ela sim, é ligeiramente variada.
2.2.2 – Expressão
Variando a entonação sobre um som vocal, está-se no limiar de uma
segunda grande família de condutas observadas na criança: a utilização
expressiva do som, A palavra “expressão” é talvez precisa demais. Sem
dúvida, deveria se falar de maneira mais geral de uma representação do real
pelo som, na qual a expressão dos estados afetivos é apenas um caso
particular. A representação define, na verdade, o jogo simbólico da criança.
Mas, para justificar esse abuso de linguagem, observa-se que, por
volta dos quatro ou cinco anos, a representação do real pelo som é fortemente
ligada à vivência afetiva. Mais tarde, pelos dez anos, o realismo acústico será
procurado, mas aos cinco anos não há diferença notável entre a música de um
personagem que anda sobre gravetos ou sobre a grama.
Por outro lado, que se suba com dificuldade uma escada ou que se
desça com facilidade, isso se ouve. É uma seqüência gestual reinterpretada
por meio da lembrança do esforço ou da facilidade. Não é a objetividade da
cena descrita que impõe sua lei, mas a vivência corporal e afetiva que está
associada a ela. O realismo acústico dominará por volta dos sete anos, mas
por volta dos cinco anos é ainda um realismo quinestésico.
Quando crianças de cinco anos, em um jogo dramático, realizam a
música do mar calmo ou da tempestade, elas fazem a mímica corporal do
estado do mar ao mesmo tempo que o representam pelo som. A música dobra
a expressão gestual. O mar calmo é feito por pequenos movimentos de mãos
acompanhando sons breves, leves, mas a tempestade é representada por
movimentos amplos do corpo inteiro e de grandes e trágicos perfis sonoros.
30
Há uma ligação entre a motricidade na criança e a representação
sonora do real, que a aproxima da expressão musical. Assim como a
preocupação do realismo do ruído poderia nos afastar da música, também o
sincretismo que se observa na criança de quatro ou cinco anos entre o gesto, o
som e a expressão é próximo da experiência dos músicos. Parece que, se uma
frase musical pode evocar um sentimento, é porque ela é, primeiramente, a
imagem de um gesto, e que os gestos – mais ou menos rápido - estão ligados
aos estados afetivos.
2.2.3 – Construção
Ainda hesita-se em falar de música a propósito das seqüências que
crianças de menos de seis anos produzem, ainda muito marcadas pela
exploração das fontes ou pelo desejo de simbolizar diretamente uma cena.
Falta um componente essencial à produção musical do adulto: a preocupação
de organizar a música, de lhe dar uma forma. Aparece, na verdade, por volta
dos seis ou sete anos, quando o respeito à regra domina no jogo da criança.
Não é uma coincidência: pode-se ver, nesse jogo combinatório que é,
frequentemente, a música, uma forma de jogo de regras.
As brincadeiras cantadas infantis são talvez uma das primeiras
manifestações do jogo musical com regras. Trata-se de fazer entrar uma frase
em um molde rítmico, e essa conduta é bastante comparável àquela que
consiste, quando a gente passeia na calçada, em evitar andar sobre as linhas
da pavimentação (conduta encontrada no jogo da amarelinha). Mas organizar a
música, ou organizá-la entre crianças quando ela é produzida, é uma
preocupação que toma sua verdadeira dimensão na criança coletiva.
Os três grandes fatores que caracterizam as condutas dos músicos
são sucessivamente dominados pela criança: a exploração das fontes e as
pesquisas sonoras, a expressão da vida afetiva e a organização das idéias
entre tais (a forma).
31
Capítulo III
Música na Educação Infantil
A linguagem da música parece ter estado sempre presente na vida dos
seres humanos, fazendo parte da educação de crianças e adultos.
Nas sociedades primitivas, música e dança expressavam alegrias,
tristezas, inquietações e animosidades da comunidade. A música era
constante e indispensável à vida grupal.
Entre os povos antigos do Ocidente, coube aos gregos a valorização
da linguagem musical na educação e a difusão do ensino da música entre os
romanos. Na Grécia, a música era considerada de fundamental importância na
formação dos cidadãos, tanto quanto a filosofia e a matemática, e o ensino
começava na infância.
Na Europa medieval, o ensino da música encontrava-se restrito aos
mosteiros. Somente em período posterior, introduziu-se a música em escolas e
núcleos intelectuais.
Com a reforma, no século XVI, o ensino da música ficou cada vez mais
acessível às criança e aos jovens, tal como na Grécia antiga. Lutero afirmava
que a música governava o mundo e apregoava sua nivelação à filosofia e às
ciências nas escolas públicas.
No século XVII, apareceram na Europa duas tendências no ensino da
música: o racionalismo, que defendia o ensino da teoria musical, e o
sensorialismo, que preferia a prática. A segunda tendência deixa uma
inquietação pedagógica para o século seguinte, respondida, de certa forma,
pelo filósofo Jean- jacques Rousseau, que criou uma série de exercícios
musicais com o objetivo de difundir e popularizar o ensino de música. O
32
método de Rosseau foi, mais tarde, aperfeiçoado por Gabin, matemático e
músico francês.
Foi justamente na França, no século XIX, que o ensino da música
passou a ser novamente valorizado, evoluindo através dos continuadores do
trabalho de Rosseau.
No século XX, houve uma reação ao intelectualismo dos racionalistas e
apareceram em educação os métodos ativos de Decroly, Montessori, Dalton e
Parkhurst, formando a chamada “Escola Nova”. Os adeptos da Escola Nova
encararam a linguagem musical como necessária e acessível a todos e não
somente aos considerados bem dotados. Os criadores dos métodos ativos
outorgaram à música um papel importante dentro de seus sistemas
educacionais, reconhecendo o ritmo como elemento ativo da música e
favorecendo as atividades de expressão e criação.
Nas primeiras décadas do século XX, recuperou-se a educação
musical das crianças, através da atividade e da experiência. Alguns pedagogos
musicais se destacaram: Émile Jacques Dalcroze, Maurice Martenot, Carl Orff,
Zoltan Kodaly, Shinichi e Edgard Willems.
Na segunda metade do século, passou a predominar o ponto de vista
de que um estudo em desenvolvimento musical envolve necessariamente a
observação das reações do ser humano ao primeiro contato com a música, o
estudo da forma pela qual a música consegue integrar-se ao seu ser íntimo e
adquirir significações para sua vida pessoal, assim como a observação das
etapas por que passa o processo de aquisição do conhecimento musical e a
caracterização dos modos pelos quais o ser humano participa da atividade
humana.
Alguns nomes importantes da pedagogia musical da segunda metade
do século XX são: George Self, Lilli Fiedemann, Folke Rabe e Jan Bark.
Através das teorias psicológicas desenvolvimentistas, tais como a
cognitivista de Jean Piaget, a psicanalítica de Erikson e a de aprendizagem de
33
Sears, ampliou-se a compreensão do desenvolvimento do ser humano na
construção do conhecimento.
No entender de Moreira e Masini:
A psicologia cognitivista preocupa-se com o processo da
compreensão, transformação, armazenamento e uso da
informação envolvida na cognição, e tem como objetivo
identificar os padrões estruturados dessa transformação.
A asserção central é a de que ouvir, ver, cheirar, assim
como lembrar, são atos de construção que podem fazer
maior uso dos estímulos externos, dependendo das
circunstâncias, isto é, das condições pessoais de quem
realiza o processo. (1982, p.3)
Para uma visão cognitiva, o conhecimento musical se inicia por meio
da interação com o ambiente, através de experiências concretas, que aos
poucos levam à abstração. A criança se envolve integralmente com a música e
a modifica constantemente, transformando-a, pouco a pouco, numa resposta
estruturada.
Atualmente, a linguagem musical é estudada e analisada em diferentes
aspectos: como terapia, como relação importante entre certos comportamentos
da sociedade e o consumismo, como recurso dos meios de comunicação e de
massa, como meio de sensibilização na educação de deficientes auditivos e
como auxiliar em psicoterapia.
Considerando as teorias psicológicas desenvolvimentistas e os
estudos de musicólogos como Mursell, Teplov e outros, conclui-se que influem
sobre o aprendizado de música as experiências anteriores da criança: a
atenção, a memória, a percepção e, principalmente, sua interação com o
mundo.
34
Para Gainza:
Por princípio, todo conceito deverá ser precedido e
apoiado pela prática e manipulação ativa do som: a
exploração do ambiente sonoro, a invenção e construção
dos instrumentos, o uso sem preconceitos dos
instrumentos tradicionais, a descoberta e valorização do
objeto sonoro. Na pedagogia como na arte, a única
constante é o movimento, a busca interna e a exploração
da realidade circundante. Educar musicalmente é
propiciar à criança uma compreensão progressiva da
linguagem musical, através de experimentos e
convivência orientada. (1988, p.109-110)
No dia-a-dia da Educação Infantil brasileira, a música vem atendendo à
propósitos diversos, segundo concepções pedagógicas que vigoraram (ou
vigoram) por aqui.
Ainda percebe-se fortes resquícios de uma concepção de ensino que
utilizou a música (a canção) como suporte para aquisição de conhecimentos
gerais, para a formação de hábitos e atitudes, disciplina, condicionamento da
rotina, comemoração de datas festivas. Os cantos (ou “musiquinhas”, como
muitos ainda insistem em dizer) eram quase sempre acompanhados de gestos
e movimentos que, pela repetição, tornavam-se mecânicos e esteriotipados,
automatizando o que antes era, ou poderia vir a ser, expressivo. A música,
nesses contextos, era apenas um meio para atingir objetivos considerados
adequados à instrução e à formação infantil.
A Escola Nova direcionou o ensino de arte para a livre expressão e a
valorização do processo, promovendo situações para o aprender fazendo,
introduzindo mudanças. A crítica à Escola Nova aponta para o espontaneísmo
centrado na valorização extrema do processo sem preocupação com os seus
resultados.
35
De um lado, respeitar o processo criativo foi entendido como deixar
fazer qualquer coisa; o “vale-tudismo”, sem orientação, sistematização e,
consequentemente, sem aplicação do repertório e das possibilidades
expressivas das crianças; por outro lado, integrar diversos modos de realização
musical assustava os educadores, que optavam, então, por continuar
reproduzindo os mesmos modelos, estratégias, técnicas e procedimentos, que,
de modo geral, excluíam a criação.
A maioria dos professores, estava muito mais preocupada em cumprir
o calendário de eventos do que em fazer música com as crianças. Enquanto
isso, explorar possibilidades de expressão vocal, corporal ou instrumental e
pesquisar, inventar, escutar e pensar a música ficavam em segundo plano ou,
muitas vezes, em plano nenhum.
Ainda hoje, mesmo havendo um redirecionamento de conceitos,
abordagens e modos de atuação, sob a influência de novas pesquisas e
teorias pedagógicas, percebe-se que o trabalho com a educação musical
avança a passos muito lentos rumo a uma transformação conceitual. É comum
detectar a existência de certa defasagem entre o trabalho realizado na área de
música e aquele efetivado nas demais áreas do conhecimento.
Felizmente, o ato de oferecer desenhos prontos aos alunos para serem
coloridos, conforme sugestões prévias dos professores, já não são práticas
corriqueiras. No entanto, ainda hoje, os alunos continuam cantando canções
que já vêm prontas, tocando instrumentos com a indicação prévia do professor,
batendo o ritmo, o pulso, quase sempre excluindo a interação com a linguagem
musical, que se dá pela exploração, pela pesquisa e criação, pela integração
de subjetivo e objetivo, pela elaboração de hipóteses e comparação de
possibilidades, pela ampliação de recursos, respeitando as experiências
prévias, a maturidade, a cultura do aluno, seus interesses e motivações.
36
3.1 - O professor de Música
De nada servirá uma educação musical que não desperte nas crianças
o amor pela música. A influência do educador é decisiva neste aspecto, pois se
ele mesmo não é capaz de se comover com o universo musical, também não
sentirá necessidade de transmitir essas sensações às crianças. Se a música o
deixa indiferente ou ele a recusa, esta sensação negativa será transmitida à
criança com a mesma facilidade com que ele adota qualquer atitude vinda do
aluno. Não é lógico querer comunicar atitudes quando a pessoa mesma não as
compreende nem está convencida de sua importância.
Infelizmente, o trabalho realizado na área de música reflete problemas
que somam à ausência de profissionais especializados a pouca (ou nenhuma)
formação musical dos educadores responsáveis pela educação infantil,
conseqüência de um sistema educacional que se descuidou quase por
completo da educação estética de muitas gerações. Reflete, a necessidade de
repensar a concepção enraizada, e muitas vezes ultrapassada, que se tem de
música, assim como a necessidade de conhecer e respeitar o processo de
desenvolvimento musical das crianças.
Perdem-se muitas oportunidades de despertar o interesse pela música
por falta de preparação suficiente do professor.
É possível que o educador tenha uma disposição natural para
compreender e intuir os sentimentos e as necessidades das crianças e que
encontre o momento propício para realizar uma atividade. Nesse caso, ainda
que não possuam as habilidades necessárias para uma educação musical,
convém que realize a experiência em nível sensorial.
Não há dúvida, entretanto, de que os resultados serão melhores se o
educador possuir a formação adequada na área específica de música.
Outro complicador diz respeito ao caráter de espetáculo que
frequentemente ronda o trabalho musical: dedica-se muito tempo a ensaios
para apresentações em comemorações diversas que até mesmo excluem os
37
alunos considerados desafinados, “sem voz”, “sem ritmo”. Ainda hoje, existem
escolas de educação infantil que iniciam os ensaios para a festa junina no mês
de abril, reduzindo a isso as atividades da área de música durante todo o
decorrer do semestre. E nem ao menos se desenvolvem projetos de pesquisa,
de criação, de integração com outras áreas do conhecimento.
De acordo com Brito:
Música é linguagem cujo conhecimento se constrói com
base em vivências e reflexões orientadas. Desse modo,
todos devem ter o direito de cantar, ainda que
desafinando! Todos devem poder tocar um instrumento,
ainda que não tenham, naturalmente, um senso rítmico
fluente e equilibrado, pois as competências musicais
desenvolvem-se com a prática regular e orientada, em
contextos de respeito, valorização e estímulo a cada
aluno, por meio de propostas que consideram todo o
processo de trabalho, e não apenas o produto final.
(2003, p.53)
Mas nem tudo é negativo. O ensino-aprendizagem na área de música
vem recebendo influências das teorias cognitivas, em sintonia com
procedimentos pedagógicos contemporâneos. Amplia-se o número de
pesquisas sobre o pensamento e a ação musicais que podem orientar os
educadores e gerar contextos significativos de ensino-aprendizagem, que
respeitem o modo de perceber, sentir e pensar de bebês e crianças.
3.2 - O fazer musical
O fazer musical é uma forma de comunicação e expressão que
acontece por meio da interpretação, improvisação e composição.
38
3.2.1 – Interpretação
É atividade ligada à imitação e reprodução de uma obra. Mas
interpretar significa ir além da imitação pro meio da ação expressiva do
intérprete.
3.2.2 - Improvisação
É criar instantaneamente orientando-se por alguns critérios. Quando
improvisa, o músico orienta-se por critérios e referenciais prévios, e, tal qual
acontece na fala improvisada, quando coisas interessantes e significativas são
ditas sem que fiquem registradas, a improvisação musical lança idéias,
pensamentos, frases e textos. Se não ficam registradas integralmente, como
acontece com o documento escrito, as idéias musicais não se perdem
totalmente. Vão e vêm, transformando-se, recriando-se, podendo ser
trabalhadas e amadurecidas.
3.2.3 – Composição
É a criação musical caracterizada por sua condição de permanência,
seja pelo registro da memória, pela gravação por meios mecânicos, ou ainda,
pela escrita musical.
3.3 - Objetivos e Conteúdos
No dia-a-dia da Educação Infantil, a linguagem musical deve
contemplar atividades como:
• trabalho vocal;
• interpretação e criação de canções;
• brinquedos cantados e rítmicos;
• jogos que reúnam som, movimento e dança;
• jogos de improvisação;
39
• sonorização de histórias;
• histórias cantadas;
• elaboração e execução de arranjos vocais e instrumentais;
• construção de instrumentos e objetos sonoros;
• registro e notação;
• escuta sonora e musical: escuta atenta, apreciação musical;
• reflexão sobre a produção e a escuta.
No decorrer dos primeiros anos de vida, a prática musical deverá
ocorrer por meio de atividades lúdicas.
3.3.1 - de 0 a 3 anos
O professor estará contribuindo para o desenvolvimento da percepção
e da atenção de seus “pequenos” alunos, quando canta para eles; produz sons
vocais diversos por meio da imitação de vozes de animais, ruídos, ou sons
corporais, como palmas, batidas nas pernas, pés; embala-os e dança com
eles.
As canções de ninar tradicionais, os brinquedos cantados e rítmicos,
as rodas de cirandas, os jogos com movimentos, as brincadeiras com palmas e
gestos sonoros corporais, assim como outras produções do acervo cultural
infantil, podem estar presentes e devem se constituir em conteúdos de
trabalho.
É de fundamental importância brincar, dançar e cantar com as
crianças, levando em conta suas necessidades de contato corporal e vínculos
afetivos. Deve-se cuidar para que os jogos e brinquedos não estimulem a
imitação gestual mecânica e esteriotipada que, muitas vezes, se apresenta
como modelo às crianças.
40
O canto, como forma de expressão e não ainda, com a cobrança da
afinação, desempenha um papel de grande importância na educação musical
infantil, pois integra melodia, ritmo e harmonia, sendo excelente meio para o
desenvolvimento da audição. Quando cantam, as crianças imitam o que ouvem
e assim desenvolvem condições necessárias à elaboração do repertório de
informações que posteriormente lhes permitirá criar e se comunicar por
intermédio dessa linguagem.
É importante apresentar às crianças canções do cancioneiro popular
infantil, da música popular brasileira, entre outras que possam ser cantadas
sem esforço vocal, cuidando para que os textos sejam adequados a sua
compreensão. Os gestos esteriotipados e marcados pelo professor devem ser
evitados, pois, muitas vezes, fazem com que a criança pare de cantar para
realizá-los, contrariando sua tendência natural de integrar expressão musical e
corporal.
O fazer musical requer atitudes de concentração e envolvimento com
as atividades propostas, posturas que devem estar presentes durante todo o
processo educativo, em suas diferentes fases.
É importante que todos os conteúdos sejam trabalhados em situações
expressivas e significativas para as crianças, tendo-se o cuidado fundamental
de não tomá-los como fim em si mesmos.
Alguns objetivos que devem ser trabalhados nessa etapa do
desenvolvimento musical infantil:
• desenvolver o canto como forma de socialização;
• exploração das possibilidades vocais (sem a preocupação com a
altura precisa);
• ampliar o universo lúdico, através do estímulo da criação e da
imaginação;
41
• desenvolver a percepção rítmica e auditiva, a capacidade de
organização espacial, a concentração e memória;
• contos sonoros com ênfase nas onomatopéias;
• exploração do corpo e dos objetos sonoros que o cercam
(atividade sensório-motora);
• experimentação dos instrumentos musicais e de suas
possibilidades sonoras;
• percepção dos sons que permeiam o universo dessa faixa etária
(percepção auditiva);
• repetição de padrões rítmicos bem simples.
• Coordenação motora ampla.
3.3.2 - de 4 a 6 anos
Nessa fase, ampliam-se as possibilidades de trabalho que já vinham
sendo desenvolvidas com as crianças de 0 a 3 anos. Os conteúdos podem ser
trabalhados em contextos que incluem a reflexão sobre aspectos referentes
aos elementos da linguagem musical. No entanto, ainda não é chegada a hora
dos conceitos. Experimentar, sim! Criar, cantar, imaginar, explorar, vivenciar
todo o processo, desenvolvendo assim, o vínculo com o mundo da música.
Alguns objetivos que devem ser trabalhados nessa etapa do
desenvolvimento musical infantil:
• canto como forma de expressão (início da tomada de consciência
em relação à afinação);
• poluição sonora: o que é isso? (percepção e discriminação
auditiva);
42
• execução de instrumentos musicais atentando para suas
propriedades sonoras (altura: grave ou agudo; duração: curto e longo;
intensidade: forte e fraco; timbre: característica que distingue e “personaliza”
cada som);
• criação de instrumentos musicais não convencionais;
• experimentação de objetos sonoros não-convencionais, criando
motivos rítmicos e/ ou melódicos;
• participação em jogos e brincadeiras que envolvam a dança e/ou
a improvisação musical;
• improvisação, criação de movimentos corporais e consciência
corporal como forma de expressão musical;
• criação e repetição de padrões rítmicos;
• composição e criação de partituras não convencionais;
• apreciação de diferentes estilos musicais;
3.4 - O importante papel dos brinquedos e das histórias
cantadas no decorrer do processo de musicalização
3.4.1 - Brinquedos cantados
Se as crianças de todo mundo têm a necessidade de se
expressar e brincar com as mesmas coisas, é
fundamental que os profissionais das áreas que lidam
com crianças reaprendam a sua linguagem e a sua
expressão mais verdadeira: O Brinquedo. (Adelsin, 1997,
p.7)
43
“De abóbora faz melão, de melão faz melancia....”, “joga a mão pro alto
descansa nas cadeiras....”, “ para dentro e para fora, Mazú, Mazú...” cantar
brincando, brincar cantando.... brincar, cantar, crescer! Quem nunca brincou
embalado por melodias?
Passados de geração para geração, ou mesmo sofrendo processo de
recriação por parte das próprias crianças (transposição e desdobramentos), os
brinquedos cantados têm como principal função transportar a criança, através
do lúdico, para o mundo do faz de conta.
Muitos folcloristas consideram que os brinquedos - os quais contém
música e som associados, e são desenvolvidos em grupo - tiveram diferentes
origens: nasceram de histórias infantis; foram influenciados pela união dos três
elementos étnicos – o índio, o português e o africano; provieram de danças,
folguedos e jogos realizados em salões, nos quais os adultos executavam;
tiveram influência européia, principalmente de Portugal.
A variedade de movimentos do repertório dos brinquedos, permite à
criança experimentar um grande número de situações e desafios, onde ela
estará desenvolvendo aspectos importantes em seu processo de crescimento.
De acordo com Cascudo:
A possessão do jogo, que nos acompanha sempre, fixada
na memória, capaz de ser reconstituída pela vontade, é
um indício desse ignorado e latente poderio interior. As
brincadeiras dificilmente desaparecem e são das mais
admiráveis constantes sociais, transmitidas oralmente,
abandonadas em cada geração e reerguidas pela outra,
numa sucessão ininterrupta de movimento e de canto,
quase independente da decisão pessoal ou do arbítrio
administrativo, na velha tendência modificadora.
Infalivelmente, as crianças brincam como gostam de
brincar, escolhendo livremente o processo de encaminhar
44
e expandir essa força viva, pura e ampla, que as possui
totalmente. (1991, p.188)
3.4.2 - Histórias cantadas
Desde muito pequenas, histórias são contadas e ouvidas. Todo fim de
dia, há uma nova história para ser contada. Ela pode ser triste, feliz, rotineira,
ou um misto de todas essas emoções. Pode ser pessoal ou de outra pessoa.
Pode ser uma “fofoca” ou uma informação. A vida é um grande “livro de
histórias”.
O que são “Histórias cantadas”? São histórias que têm a música, e em
muitos casos, elementos musicais como onomatopéias e sonoplastias, como
principal meio de apresentação. É através da repetição de uma melodia, que
vai sendo reapresentada no decorrer da narrativa, que o enredo vai se
desenvolvendo.
Ler histórias para crianças, sempre, sempre... É poder
sorrir, gargalhar com situações vividas pelos
personagens, poder ser um pouco cúmplice desse
momento. É também suscitar o imaginário, é ter a
curiosidade respondida em relação a tantas perguntas, é
encontrar outras idéias para solucionar questões. É uma
possibilidade de descobrir o mundo imenso dos conflitos,
dos impasses, das soluções que todos vivemos e
atravessamos- de um jeito ou de outro- através dos
problemas que vão sendo defrontados, enfrentados (ou
não), resolvidos (ou não) pelas personagens de cada
história... É a cada vez ir se identificando com outra
personagem (cada qual no momento que corresponde
àquele vivido pela criança) e assim esclarecer melhor as
próprias dificuldades ou encontrar um caminho para
resolução delas. (Abramovich, 1991, p.67)
45
CONCLUSÃO
A música e seus elementos formadores têm, por si só, o poder de
mobilizar um indivíduo, um grupo de pessoas, ou até mesmo uma sociedade.
Através dela, ocorre um processo contínuo de perceber, sentir, experimentar,
imitar, organizar, criar e refletir.
A música está presente em diversas situações da vida humana. Existe
música para adormecer, música para dançar, para chorar os mortos, para
conclamar o povo a lutar, o que remonta à sua função ritualista. Presente na
vida diária de alguns povos, ainda hoje é tocada e dançada por todos,
seguindo costumes que respeitam as festividades e os momentos próprios a
cada manifestação musical.
No contexto da Educação Infantil, a música vem atendendo, ao longo
da história, a vários objetivos, alguns dos quais alheios às questões próprias
dessa linguagem, como a formação de hábitos, atitudes e comportamentos.
Outra prática corrente tem sido o uso das “bandinhas rítmicas” para o
desenvolvimento das questões motoras, da audição e do domínio do ritmo.
Essa prática, na grande maioria dos casos é realizada com material
inadequado e consequentemente, com qualidade sonora deficiente. Isso
reforça o aspecto mecânico e a imitação, criando uma atmosfera de ruídos
desordenados, deixando pouco ou nenhum espaço às atividades de criação ou
às questões ligadas a percepção e conhecimento das possibilidades e
qualidades expressivas dos sons.
O lugar que a educação musical ocupa nos dias de hoje, ainda está
muito longe de ser o idealizado pelos profissionais da área.
Muito já se sabe sobre os benefícios da música na vida das pessoas,
porém, parece haver uma lacuna quando nos deparamos com a realidade da
46
grande maioria das escolas de educação infantil: em muitas, a música é
ensinada pelo próprio professor de turma, que, mesmo com boa vontade e
amor, não tem a devida preparação, cometendo enganos e deixando de
desenvolver adequadamente as potencialidades musicais; em outras, quando
há o professor especialista, esse, muitas vezes, passa a ser o “ensaiador”,
ficando seu planejamento em segundo plano em prol das datas festivas.
O papel da música nas escolas é muito mais do que ensaios, do que
formação de hábitos que muitas vezes “robotizam” o expressar das crianças. É
preciso que haja uma consciência por parte das instituições e dos profissionais
envolvidos, para que se desenvolva um trabalho pedagógico- musical que
entenda a música como processo contínuo de construção, envolvendo o
perceber, sentir, experimentar, imitar, criar e refletir.
Nesse sentido, importa, prioritariamente, a criança, sua experiência,
seu processo de experimentação e construção, e não a música em si, como
muitas situações de ensino insistem em considerar.
47
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ZiMMERMANN, N. A Música através dos tempos. São Paulo: Paulinas, 1996.
49
ATIVIDADES CULTURAIS
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52
ÍNDICE
FOLHA DE ROSTO 2
AGRADECIMENTO 3
DEDICATÓRIA 4
RESUMO 5
METODOLOGIA 6
SUMÁRIO 7
INTRODUÇÃO 8
CAPÍTULO I
O PODER DA MÚSICA 10
1.1 - A música e seus elementos formadores 12
1.1.1- O som e o silêncio 12
1.2 – Os parâmetros do som 14
1.2.1 - Altura 14
1.2.2 - Duração 14
1.2.3 – Intensidade 15
1.2.4 – Timbre 15
1.2.5 – Densidade 15
1.3 – As manifestações sonoras: presença no cotidiano 15
1.4 – A música como terapia: a Musicoterapia 18
CAPÍTULO II
A CRIANÇA E A MÚSICA 22
2.1 – Crianças, sons e música 23
2.2 – A trajetória da expressão musical infantil
segundo François Delalande 26
2.2.1 – Exploração 28
2.2.2 – Expressão 29
2.2.3 – Construção 30
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CAPÍTULO III
MÚSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL 31
3.1 – O professor de música 36
3.2 – O fazer musical 37
3.2.1 – Interpretação 38
3.2.2 – Improvisação 38
3.2.3 – Composição 38
3.3 – Objetivos e conteúdos 38
3.3.1 – De 0 a 3 anos 39
3.3.2 – De 4 a 6 anos 41
3.4 – O importante papel dos brinquedos e das histórias
cantadas no decorrer do processo de musicalização 42
3.4.1 – Brinquedos cantados 42
3.4.2 – Histórias cantadas 44
CONCLUSÃO 45
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 47
ATIVIDADES CULTURAIS 49
ÍNDICE 52
FOLHADEAVALIAÇÃO 54
54
FOLHA DE AVALIAÇÃO
Nome da Instituição: Universidade Candido Mendes - Instituto A vez do
Mestre.
Título da Monografia: A importância da música e de seus elementos
formadores no desenvolvimento global da criança de 0 a 6 anos.
Autor: Luciane Marcelino Garcia
Data da entrega: 31/ 01/ 2009
Avaliado por: Conceito: