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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” PROJETO A VEZ DO MESTRE A IMPORTÂNCIA DO JOGO NA EDUCAÇÃO INFANTIL Por: Kelly Assiz Orientador Prof. Luiz Claudio Lopes Alves D. Sc. Rio de Janeiro 2007

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

A IMPORTÂNCIA DO JOGO NA EDUCAÇÃO INFANTIL

Por: Kelly Assiz

Orientador

Prof. Luiz Claudio Lopes Alves D. Sc.

Rio de Janeiro

2007

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

A IMPORTÂNCIA DO JOGO NA EDUCAÇÃO INFANTIL

Apresentação de monografia à Universidade

Candido Mendes como requisito parcial para

obtenção do grau de especialista em

Psicopedagogia

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AGRADECIMENTO

A todos aos meus amigos e familiares que me

incentivaram a dar mais um passo na minha

vida profissional.

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DEDICATÓRIA

Dedico esta monografia a todas as crianças

que fizeram parte da minha vida ao longo da

minha vida profissional e que foram

indiretamente meus principais incentivadores

neste processo.

Kelly Assiz

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RESUMO

Este trabalho aborda a importância do jogo na educação infantil. No

primeiro capítulo será abordado a evolução da educação infantil ao longo dos

séculos e seus pontos mais importantes. A utilização do jogo ao longo da

história e sua importância na educação de crianças na faixa etária de 0 a 2

anos serão relatadas no segundo capítulo. Após esta abordagem irei discorrer

sobre a importância do jogo no desenvolvimento da criança e logo em seguida

será explorado a utilização do jogo na sala de aula e como a participação do

professor é importante neste processo. No capítulo cinco será discutido a

importância do jogo para alguns pensadores da educação como: Vygotsky,

Piaget e Froebel

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METODOLOGIA

A metodologia utilizada neste trabalho monográfico foi a de pesquisa

bibliográfica, apoiada pelos conhecimentos adquiridos no decorrer do curso e

pela elaboração de idéias adquiridas na vida profissional.

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SUMÁRIO INTRODUÇÃO................................................................................................................8 CAPÍTULO I A HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO INFANTIL...................................................................9 CAPÍTULO II A UTILIZAÇÃO DO JOGO E DO BRINQUEDO AO LONGO DA HISTÓRIA........22 CAPÍTULO III O JOGAR E O BRINCAR NO DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA.....................29 CAPÍTULO IV JOGOS E BRINQUEDOS NA SALA DE AULA.......................................................35 CAPÍTULO V A IMPORTÂNCIA DO JOGO PARA ALGUNS PENSADORES..............................38 CONCLUSÃO...............................................................................................................45 BIBLIOGRAFIA............................................................................................................47 ÍNDICE...........................................................................................................................49 ANEXOS........................................................................................................................50

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INTRODUÇÃO

O presente trabalho tem por objetivo abordar como os jogos influenciam

e interferem no desenvolvimento infantil levando em consideração aspectos

sociais, psicológicos, físicos e cognitivos.

Ao longo dos primeiros capítulos será relatado o desenvolvimento da

educação infantil e a influência do jogo nesse desenvolvimento.. Ao longo da

história surgiram preocupações com a educação das crianças a partir destas

preocupações iremos discutir sobre a evolução da educação infantil.

Ao longo do segundo capítulo iremos abordar a importância do

brinquedo e das brincadeiras para a educação infantil enfatizando a

necessidade de recuperar brinquedos e brincadeiras tradicionais, bem como

sua importância para o desenvolvimento infantil.

O jogo tem um papel muito importante nas áreas de estimulação da pré-

escola e é uma das formas mais naturais da criança entrar em contato com a

realidade, tendo o jogo simbólico um papel especial, portanto no capítulo três

irá ser abordado como o jogo influencia no desenvolvimento da criança

enquanto no capítulo quatro iremos discorrer sobre a utilização dos jogos na

sala de aula e como a intervenção do educador como mediador dessa relação

de ensino- aprendizagem é muito importante.

O jogo é uma característica do comportamento infantil e a criança dedica

a maior parte de seu tempo a ele, enquanto atividade espontânea da criança o

jogo, foi analisado e pesquisado por centenas de estudiosos para melhor

compreender o comportamento humano; é um meio privilegiado tanto para o

estudo de crianças normais, quanto para aquelas com problemas, haja vista os

inúmeros trabalhos psicanalíticos sobre o assunto, como os de Sigmund Freud,

Claparéde, Piaget, Vygotsky, Callois, Froebel que escreveram obras sobre o

jogo na criança. Assim sendo alguns pensadores como Vygotsky, Piaget e

Froebel serão abordados no capítulo cinco.

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CAPÍTULO I

A HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO INFANTIL

Os fundamentos sociais, morais, econômicos, culturais e políticos da

sociedade antiga foram sendo superados desde a instauração da sociedade

moderna no século XVI. A constituição de modos de vidas passou a ser

exigência do novo contexto social. A burguesia, classe em franca expansão

passou a reivindicar formas mais concretas de vida, não mais lhes bastava

uma educação dogmática, era preciso recorrer a uma educação que lhes desse

condições de dominar a natureza.

Houve por parte do papado católico e do império, reações contra as

tentativas de inovação ocasionadas pela rejeição ao mundo medieval. Nesse

contexto, a instrução passou a chamar a atenção, tanto daqueles que

desejavam manter, quanto dos que almejavam subverter a ordem vigente. De

um lado, os defensores da manutenção da estrutura social e das prerrogativas

da igreja reorganizaram suas escolas de modo a garantir uma educação

religiosa e a instrução em disciplinas eclesiásticas, por outro lado, aqueles que

se rebelaram contra a estrutura social vigente, clamavam por uma instrução

mais democrática, calcada em modelos populares e modernos, que

permitissem ao homem lidar com os novos modos de produção, subvertendo

as velhas corporações artesanais, permitindo-lhes descobrir e conquistar a

nova sociedade.

Vamos localizar, então, na literatura educacional, vários teóricos

preocupados em delinear uma nova proposta educativa para adolescentes e

jovens. Uns com o propósito de salvar-lhes as almas, através do

restabelecimento da disciplina e do ensino do cristianismo, outros na tentativa

de lhes garantir uma socialização e um conseqüente domínio das ciências

letras e instrumentos de produção.

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Foi no início do século XVII que surgiram as primeiras preocupações

com a educação das crianças pequenas. Essas preocupações foram

resultantes do reconhecimento e valorização que elas passaram a ter no meio

em que viviam. Mudanças significativas ocorreram nas atitudes das famílias em

relação às crianças que, inicialmente, eram educadas a partir de

aprendizagens adquiridas junto aos adultos e, aos sete anos, a

responsabilidade pela sua educação era atribuída a outra família que não a

sua. Apesar de uma grande parcela da população infantil continuar sendo

educada segundo as antigas práticas de aprendizagem, o surgimento do

sentimento de infância provocou mudanças no quadro educacional.

Começaram a surgir às primeiras preocupações com a educação das crianças

pequenas. Campanella (1568-1639), em sua obra “Cidade do Sol”, criticou o

ensino servil da gramática e da lógica aristotélica e ressaltou a importância das

crianças aprenderem ciências, geografia, os costumes e as histórias pintadas

nas paredes das cidades, “sem enfado, brincando”.

Podemos constatar que Campanella já demonstrava uma preocupação

com a educação da criança pequena e, desde então, podemos verificar,

surgiram as primeira propostas educativas contemplando a educação da

criança de 0 a 6 anos.

1.1 - A Educação Infantil no Século XVII

Vários teóricos desenvolveram seus ideais sobre educação, incluindo aí

a educação para a infância, influenciados por idéias de universalização dos

conteúdos da instrução, seu caráter moderno e científico, a didática

revolucionária, a articulação da instrução com o trabalho, a importância do

trabalho agrícola, sempre marginalizado na reflexão dos filósofos e pedagogos.

Procuraremos rastreá-los enfatizando suas contribuições para o delineamento

da educação da criança pequena.

João Amós Comênio (1592 - 1657) é considerado como o maior

educador e pedagogo do século XVII e um dos maiores da história. Foi em

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1657 que Comênio apresentou à sociedade européia a sua “Didática Magna”,

obra considerada como um dos mais brilhantes tratados educacionais que se

tenha escrito até atualidade. Nela, Comênio enfatiza a importância da

economia do tempo em seu capítulo XIX, “Bases para a rapidez do ensino, com

economia de tempo e de fadiga”.

Ele organizou a sua didática em quatro períodos considerando os anos

de desenvolvimento, quais sejam: a infância, puerícia, adolescência e

juventude, sendo que cada um desses períodos durava seis anos. Ao lermos o

plano da escola materna, podemos constatar que ele foi elaborado atribuindo

aos pais uma tarefa educativa de muita responsabilidade, pois cabia-lhes a

responsabilidade pela educação da criança antes dos sete anos. Para

Comênio:

“Todos os ramos principais que uma árvore virá a ter, ela fará despontar do seu tronco, logo nos primeiros anos, de tal maneira que, depois apenas é necessário que eles cresçam e se desenvolvam. Do mesmo modo, todas as coisas, que queremos instruir um homem para utilidade de toda a vida deverão ser-lhes plantadas logo nesta primeira escola”.

Ao atribuir aos pais a tarefa pela educação da criança pequena, o que

na época representava um grande avanço, pelo fato dos pais, até então, não

terem essa responsabilidade, Comênio chamou a atenção para a importância

desse período e suas repercussões na vida do ser humano.

1.2 - A Educação infantil no século XVIII

A busca por uma sistematização definitiva do saber levou o homem

desse século a realizar novas tentativas de ação para transmitir às crianças, a

“moderna instrução”. Carregada de um conteúdo ‘real’ e ‘mecânico’, isto é,

científico-técnico em vista de atividades trabalhistas ligadas às mudanças que

vinham acontecendo nos modos de produção.

A revolução burguesa introduziu a necessidade de elaboração de

novos métodos educacionais, adequados à nova ordem social.É nesse

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contexto que destacamos as contribuições de Jean Jacques Rousseau (1712-

1772), no delineamento da educação da criança pequena de sua época.

Considerado como uma das personalidades mais destacadas da história da

pedagogia, apesar de não ter sido propriamente um educador. Todavia, suas

idéias muito influenciaram na educação da modernidade. Foi ele quem

centralizou a questão da infância na educação, evidenciando a necessidade de

não mais considerar a criança como um homem pequeno, mas que ela vive em

um mundo próprio cabendo ao adulto compreendê-la.Ao ressaltar esse

aspecto, direciona a discussão para o reconhecimento da necessidade de se

enxergar a infância com um período distinto, que apresenta características

peculiares, as quais precisam ser estudas e respeitadas. Rousseau chamou

nossa atenção para esse aspecto ao afirmar:

“Procuram sempre o homem no menino, sem cuidar no que ele é antes de ser homem. Cumpre, pois, estudar o menino.Não se conhece a infância; com as falsas idéias que se tem dela, quanto mais longe vão mais se extraviam. A infância, tem maneiras de ver, de pensar, de sentir, que lhes são próprias”

Suas concepções sobre educação podem ser localizadas em grande

parte no seu livro “Emílio” publicado em 1762. Nessa obra, Rousseau

estruturou a educação em cinco partes, de acordo com as diferentes fases á

serem vividas por Emílio (aluno imaginário), desde o seu nascimento até a

idade de 25 anos.

Os dois primeiros livros do ‘Emílio’ foram dedicados à infância. No

“Livro primeiro: Do Nascimento aos dois anos, ele ressaltou a importância da

valorização da infância, seu desenvolvimento e suas especificidades. O “livro

segundo”: Dos 2 anos aos 12 anos é apresentado como sendo a idade da

natureza, onde ele aborda questões como o começo da fala da criança,

liberdade ligada a sofrimento, a educação na infância, o homem livre, as

atitudes do educador, as virtudes e a imitação, ação e pensamento e muitos

outros temas.

Enfim, Rousseau demonstrou, nessa obra, toda sua preocupação com

a infância e considerava-a marcada pela vulnerabilidade, pois naquela época

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esse período apresentava grandes riscos à sobrevivência das crianças. Para

ele esse fato não poderia servir como pretexto na limitação da educação que

se impunha a elas, a educação deveria estar vinculada à própria vida da

criança e deveria, em cada fase do desenvolvimento, propiciar-lhe condições

de vivê-la o mais intensamente possível.

Ainda no Século XVIII, no auge da Revolução Francesa destacamos a

figura de Johann Heinrich Pestalozzi (1746-1827), considerado o “educador

da humanidade”. Influenciado por Rousseau, preocupou-se com a formação do

homem natural, contrariamente ao seu antecessor, buscou unir esse homem à

sua realidade histórica.

O sistema pedagógico de Pestalozzi tinha como pressuposto básico

propiciar à infância a aquisição dos primeiros elementos do saber, de forma

natural e intuitiva. Foi considerado um dos precursores da educação nova que

ressaltou a importância da psicologia na educação e a definiu em função das

necessidades de crescimento e desenvolvimento da criança. Há que se

destacar, também, que seu projeto educativo tinha a “intuição” como

fundamento básico para se atingir o conhecimento. Assim sendo, a educação

se fundamenta na “arte de conduzir as crianças de intuições superficiais e

fragmentárias a intuições sempre mais claras e distintas”.

Apesar de tê-lo situado no Século XVIII, é importante destacar que

suas contribuições foram de grande valia para a estruturação do pensamento

educacional do século XIX.

1.3 - A educação infantil no século XIX

No século XIX destacamos a figura de Friedrich Fröebel (1782 -

1852), educador protestante alemão que desenvolveu suas teorias arraigadas

em pressupostos idealistas inspiradas no amor à criança e à natureza. Foi

notadamente reconhecido pela criação dos “Kindergartens” (jardins de

infância), nos quais destacava ser importante cultivar as almas infantis e para

isso o fundamental era a atividade infantil.

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Considerado como o clássico da primeira infância, Froebel fez suas

primeiras incursões no campo educativo, dando aula em uma escola que

fundamentava seu trabalho nas idéias de Pestalozzi. Posteriormente, organizou

suas idéias educacionais em vários livros. Essas idéias tiveram uma aplicação

prática na primeira infância, mas considerava-se que elas se estendiam a todos

os níveis educacionais, pois, para ele o conhecimento se dá ao:

“Exteriorizar o interior, interiorizar o exterior, unificar ambos, esta é a fórmula geral do homem. Por isso, os objetos exteriores excitam o homem para que os conheça, em sua essência e em suas relações; para ele o homem está dotado de sentidos, isto é, de instrumentos com os quais possa interiorizar as coisas que o rodeiam. Mas nenhuma coisa pode ser mais conhecida quando são comparadas com os seus opostos e se encontram as suas semelhanças, o ponto de união/interseção. Tanto mais perfeito será o conhecimento de um objeto, quanto melhor se realiza a comparação com o seu oposto e a unificação dos dois”.

Concomitantemente às suas produções teóricas, Froebel concretizou o

seu projeto educativo com a criação do chamado Kindergarten (Jardim de

infância), em 1837, em Blankenburg, na Alemanha. Desde então, todos os

estabelecimentos criados para crianças pequenas passaram a receber essa

denominação. Segundo RICHTER, Froebel é, ao mesmo tempo, o máximo

teórico do jogo e o seu mais ilustre realizador prático. Ao compreender o

aspecto educativo do brinquedo ou das atividades lúdicas, Froebel enfatizou

seu papel ativo no processo de desenvolvimento na infância.

1.4 - A educação Infantil no século XX

Foi no final do Século XIX e no decorrer do Século XX, que

aconteceram, na Europa e nos Estados Unidos da América, mudanças

significativas no campo educacional.

As escolas laicas marcaram a ruptura do domínio da Igreja sobre a

educação, reafirmando a hegemonia da burguesia liberal. Um grande

movimento de renovação pedagógica denominado “movimento das escolas

novas”, também, aconteceu nesse período.

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Pode-se dizer que esse movimento foi resultante de toda uma

mudança que já estava ocorrendo no processo produtivo, conseqüentemente,

gerando mudanças sociais.

Essas, por sua vez, exigiam a criação de um novo sistema de

instrução. Nesse contexto destacamos Ovide Decroly (1871 - 1932) que,

inicialmente, desenvolveu suas atividades educativas junto a crianças anormais

(1901). Sua proposta de trabalho estava alicerçada nas atividades individual e

coletiva da criança, sustentadas em princípios da psicologia. Inicialmente, suas

experiências foram concretizadas em sua própria residência, onde pode

observar, diretamente, o desenvolvimento infantil.

Num momento posterior (1907), resolveu desenvolver sua proposta

educativa junto às crianças normais, criando uma escola em Bruxelas. O

trabalho desenvolvido por ele nessa escola, serviu para que as autoridades

belgas oficializassem-no nas escolas públicas. Sua preocupação, ao expor sua

proposta, era a de substituir o ensino formalista, baseado no estudo dos

tradicionais livros de textos, por uma educação voltada para os interesses e

necessidades das crianças.

O “Sistema Decroly” está baseado em fins e em princípios para uma

nova escola, que supere a escola tradicional. Considerando a finalidade de seu

sistema, podemos afirmar que ele organizou o mesmo com vistas a superar as

deficiências do sistema educativo que vigorava na época, criando novas

possibilidades educativas.

Ao propor o seu programa, Decroly definiu suas características e quais

domínios de conhecimento deveria atingir. Preocupamo-nos em resgatá-los

porque eles nos dão a dimensão e a referência do movimento do ato de

ensinar e do de aprender.

Em conseqüência, concluiu que o que mais interessa ser conhecido

pela criança é, em primeiro lugar, ela mesma, para depois conhecer o meio em

que vive. Foi em função dessas conclusões e das características e domínios,

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acima citados, que apresentou seu programa de idéias associadas, concebido

da seguinte maneira: 1- a criança e suas necessidades; 2 - A criança e seu

meio.

Ao apresentar esse programa, Decroly preocupou-se com a forma

como ele deveria ser abordado. Partia do princípio de que a melhor alternativa

para abordá-lo seria fazer uso da “globalização”. Essa globalização, a seu ver,

só seria possível, se houvesse uma mudança na dinâmica do trabalho escolar

e, para isso, propôs que o ensino fosse desenvolvido a partir dos “Centros de

interesse”.. Partir do interesse da criança significa respeitar o seu

desenvolvimento e suas necessidades, é desenvolver uma proposta educativa

que considere o seu universo real e respeite seus desejos. A dinâmica desse

trabalho vai exigir, segundo Decroly, novas estratégias que levem as crianças a

realizarem plenamente suas atividades. Para isso deveriam fazer uso da

“observação, associação e da expressão”.

A sistematização desses estudos leva-nos a constatar, mais uma vez,

a atualidade do pensamento de Decroly, estimulando-nos a buscar, cada vez

mais, um aprofundamento sobre suas contribuições para que possamos

difundir a riqueza de seu pensamento.

John Dewey (1859 - 1952) denominado como o máximo teórico da

escola ativa e progressista foi considerado um dos mais importantes teóricos

da educação americana e, por que não dizer, da educação contemporânea. Em

sua abordagem sobre educação considerava que o método científico deveria

subsidiar o trabalho em sala de aula, de tal maneira que o conhecimento fosse

trabalhado de forma experimental, socialmente, desde a infância, com o intuito

de torná-la um bem comum. Partia do princípio de que o caminho mais viável

para o aprender é o fazer, isso significou, superar aquela visão de que cabia ao

professor a responsabilidade integral pelo conhecimento a ser adquirido pelo

aluno. Para Dewey, ao definir os objetivos, o professor poderá dimensionar um

plano de ação e, conseqüentemente, os recursos disponíveis, condições,

meios e obstáculos para sua exeqüibilidade.

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Um dos pontos culminantes das contribuições de Dewey pode ser hoje

encontrado em um grande número de escolas infantis, trata-se do “método de

projetos”. Sua gênese pode ser encontrada numa escola experimental, da

Universidade de Chicago, assumida por Dewey em 1896, onde o que se

desejava com a mudança de procedimentos didáticos era elaborar uma nova

teoria experimental, através da qual melhor se definisse o papel dos impulsos

de ação. Partia-se do princípio de que:

“O que se deve desejar nos educandos - escreve Dewey - é o inteligente desempenho de atividades com intenções definidas ou integradas por propósitos pessoais”. Com isso é que se forma e se eleva, grau a grau, a experiência humana em conjuntos de maior sentido e significação e, assim, mais eficientes na direção das atividades. Bom ensino só se dará quando os alunos, sob conveniente direção, possam mover-se por intenções que liguem suas impulsões e desejos a propósitos definidos, ideais e valores”.

Na realidade, o que vimos foi o desencadeamento de novos modelos

didáticos e, desde esse período, o “sistema de projetos” foi aperfeiçoado por

vários discípulos de Dewey, dentre os quais destacamos William Heard

Kilpatrik.

Ainda nesse século, em um universo basicamente masculino,

destacamos a figura feminina de Maria Montessori (1870 - 1952). O que mais

nos chamou a atenção foi o fato de que foram os homens que começaram a se

preocupar com a educação infantil, uma tarefa atribuída, quase que

exclusivamente, à mulher. Vale destacar que dos dez teóricos arrolados,

somente um, Maria Montessori, é mulher. É considerada, uma das mais

importantes representantes dessa mudança radical que se dá na escola com

relação a concepção de ensino e aprendizagem. Na perspectiva de

fundamentar, teoricamente, suas idéias, Montessori aprofundou seus estudos

em filosofia e psicologia, matriculando-se, novamente, na Universidade de

Roma. Seu envolvimento com a educação da criança pequena data de 1907,

quando fundou em Roma a primeira “Casa dei Bambini”, para abrigar,

aproximadamente, cinqüenta crianças normais carentes, filhas de

desempregados.

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Nessa casa-escola, Montessori realizou várias experiências que deram

sustentação a seu método, fundamentado numa concepção biológica de

crescimento e desenvolvimento. Por ser médica preocupou-se com o biológico,

contudo, não deixou de lado, em seu método, o aspecto psicológico bem como

o social. Montessori, ao referir o seu próprio método enfatiza:

“Se abolíssemos não só o nome, mas também o conceito comum de método para substituí-lo por uma outra indicação, se falássemos de “uma ajuda a fim de que a personalidade humana pudesse conquistar sua independência, de um meio para libertá-la das opressões, dos preconceitos antigos sobre a educação”, então, tudo se tornaria claro. É a personalidade humana e não um método de educação que vamos considerar, é a defesa da criança, o reconhecimento científico de sua natureza, a proclamação social de seus direitos que devem substituir os falhos modos de conceber a educação”.

À primeira vista poderíamos afirmar que Celestin Freinet (1896 -

1966) nada tem a ver com a educação infantil, que sua preocupação maior

estava voltada para a renovação do ensino primário público. Entretanto, à

medida em que lemos suas obras, vamos constatando que suas preocupações

podem ser direcionadas à educação das crianças pequenas. Freinet foi

considerado um educador revolucionário, o cultivo na educação do aspecto

social foi um dos grandes feitos desse educador francês.

Suas técnicas (texto impresso, a correspondência escolar, texto livre, a

livre expressão, o aula-passeio, o livro da vida) faziam sentido num contexto de

atividades significativas, que possibilitassem às crianças sentirem-se sujeitos

do processo pessoal de aquisição de conhecimentos. Freinet entendia que o

dinamismo, a ação é que estimulavam as crianças a buscar esse

conhecimento, multiplicando seus esforços em busca de uma satisfação

interior.

Poderíamos, aqui, evidenciar vários outros pontos da pedagogia de

Freinet, mas, como falamos inicialmente, nosso propósito é o de suscitar a

importância desses estudos e aprofundamentos, na formação e exercício

profissional do professor e despertar sua curiosidade e compromisso em busca

de um aprofundamento maior.

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A complexidade e a extensão da obra de Jean Piaget (1896 - 1980)

levou-nos a optar por evidenciar aspectos que estão mais diretamente ligados

à educação, numa perspectiva de ensaio. Criador de uma epistemologia, “a

epistemologia genética, sempre esteve preocupado em investigar como se

dava a construção do conhecimento no campo social, afetivo, biofisiológico e

cognitivo, mais especificamente, qual é a sua gênese, seus instrumentos de

apropriação e, em como se constituem, sendo as crianças o seu objeto de

investigação, para a construção de seu conhecimento científico.

Quanto à aplicabilidade de sua teoria no campo pedagógico, é

fundamental reafirmar que esse não foi seu objetivo, seu interesse voltava-se

para o campo epistemológico O próprio Piaget adverte:

“Estou convencido de que os nossos trabalhos podem prestar serviços à educação, na medida em que vão além de uma teoria do aprendizado e permitem vislumbrar outros métodos de aquisição de conhecimentos. Isso é essencial. Mas como não sou pedagogo, não posso dar nenhum conselho aos educadores. A única coisa que posso fazer é fornecer fatos. Além do mais, considero que os educadores estão em condições de encontrar por si mesmos novos métodos pedagógicos”.

Partindo, portanto, dessas investigações é que Piaget elaborou a sua

“epistemologia genética” com o intuito de:

“Construir um método capaz de oferecer os controles e, sobretudo, de retornar às fontes, portanto à gênese mesmo dos conhecimentos de que a epistemologia tradicional apenas conhece os estados superiores, isto é, certas resultantes. O que se propõe à epistemologia genética é pois [por] a descoberto as raízes das diversas variedades de conhecimento, desde as suas formas mais elementares e seguir sua evolução até os níveis seguintes, até, inclusive, o pensamento científico”.

Tratou-se, pois, de constatar, experimentalmente, como se processa a

aquisição do conhecimento, evidenciando que esses conhecimentos são

mutáveis ao longo de todas as fases da vida humana. Constatamos que para a

realização de tal feito, Piaget desenvolveu longos estudos e pesquisas nos

mais diversos campos do saber. Somente um estudo exaustivo de suas obras

nos permitiria dominar a gama de contribuições, por ele deixadas, para que

compreendamos suas concepções a respeito da gênese e desenvolvimento do

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conhecimento infantil. Por certo, poderíamos destacar, nas obras de Piaget,

vários aspectos relevantes para a educação infantil, dentre eles a construção

do real, a construção das noções de tempo e espaço, a gênese das operações

lógicas. Nosso objetivo foi o de chamar a atenção sobre a importância das

contribuições por ele deixadas, e que hoje se fazem presentes em muitas

propostas educativas, mas que, a nosso ver precisam ser aprofundadas.

A preocupação com o desenvolvimento cultural da humanidade, levou

Lev Semenovich Vygotsky (1896 - 1934) a envolver-se com a infância,

através de alguns estudos que lhe permitissem compreender o comportamento

humano, justificou que “a necessidade do estudo da criança reside no fato de

ela estar no centro da pré-história do desenvolvimento cultural devido ao

surgimento do uso de instrumentos da fala”. Para isso dedicou-se ao estudo da

“pedologia” - ciência da criança, voltada para o estudo do desenvolvimento

humano, articulando os aspectos psicológicos, antropológicos e biológicos.

O caminho trilhado por Vygotsky baseou-se sempre nas contribuições de

Marx, buscando sempre compreender o homem em processos constantes de

interação social. Vale ressaltar que o interesse por questões educacionais,

diferentemente de Piaget, sempre esteve presente em sua obra, sendo

considerado por muitos, como que responsável pela elaboração de uma teoria

de educação, enquanto atividade sócio-historicamente determinada. Suas

preocupações foram direcionadas para o entendimento das origens

sociais e das bases culturais do desenvolvimento individual, tendo como

pressuposto fundamental que “tais processos psicológicos superiores se

desenvolvem nas crianças por meio da imersão cultural nas práticas das

sociedades, pela aquisição dos símbolos e instrumentos tecnológicos da

sociedade e pela educação em todas as suas formas”.

Os postulados básicos da teoria de Vygotsky dão destaque à mudança

em quatro níveis históricos - filogênico (desenvolvimento das espécies),

histórico (história dos seres humanos), ontogênico(história individual das

crianças e microgenético (desenvolvimento de processos psicológicos

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particulares) - para que uma teoria do desenvolvimento humano seja elaborada

consistentemente. Esses níveis foram considerados por ele e seus

colaboradores, na proposição de suas teorias, na escola sóciohistórica. Aplicá-

los ao problema do desenvolvimento cognitivo e da escolarização formal,

permite-nos compreendê-los de forma mais aprofundada.

Há que se destacar, também, para o entendimento de sua teoria, no que

se refere à relação entre desenvolvimento e aprendizagem, a contribuição

deixada a respeito da “zona de desenvolvimento proximal”.. Para Vygotsky

desenvolvimento e aprendizagem são processos interativos, no entanto, cabe

ao processo de aprendizagem, realizado em um contexto social específico,

possibilitar o processo de desenvolvimento, “o aprendizado pressupõe uma

natureza social específica e um processo através do qual as crianças penetram

na vida intelectual daqueles que as cercam”.

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CAPÍTULO II

A UTILIZAÇÃO DO JOGO E DO BRINQUEDO

Pode-se situar na antiga Roma e na Grécia o nascimento das primeiras

reflexões em torno da importância do brinquedo na educação. Platão, em Les

Lois (1948), comenta a importância de se aprender brincando, em oposição à

utilização da violência e da opressão. Da mesma forma, Aristóteles sugere,

para a educação de afianças pequenas, o uso de jogos que imitem atividades

sérias, de ocupações adultas, como forma de preparo para a vida futura. Mas,

nessa época, ainda não se discutia o emprego do jogo como recurso para o

ensino da leitura e do cálculo.

Os jogos destinados ao preparo físico aparecem entre os romanos com

a finalidade de formar soldados e cidadãos obedientes e devotos. A influência

grega traz às escolas romanas uma nova orientação, acrescentando á cultura

física a formação estética e espiritual.

Posteriormente, escritores como Horácio e Quintiliano assinalam em

seus escritos a presença de pequenas guloseimas em forma de letras,

elaboradas pelas doceiras de Rolha, destinadas ao aprendizado das letras.

Parece que a prática de aliar o jogo aos primeiros estudos justifica que as

escolas responsáveis pelas instruções elementares tenham recebido, nessa

época, o nome de ludus, semelhante aos locais destinados a espetáculos e ã

prática de exercícios de fortalecimento do corpo e do espírito.

Com o advento do Cristianismo, a sociedade cristã forma um Estado

poderoso e toma posse do Império desorganizado, impondo uma educação

disciplinadora. As escolas episcopais e as anexas a mosteiros buscam a

imposição de dogmas, distanciando-se do desenvolvimento da inteligência. Os

mestres recitam e lêem cadernos. Aos alunos cabe a decoração. Neste clima

não há condições para a expansão dos jogos, considerados delituosos, à

semelhança da prostituição e embriaguez.Durante o Renascimento, o

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aparecimento de novo ideal carregado de paganismo traz outras concepções

pedagógicas. A felicidade terrestre é considerada legítima, não sendo

necessário mortificar o corpo, mas sim desenvolvê-lo. Assim, reabilita-se o

jogo.

A partir do momento em que o jogo deixa de ser objeto de reprovação

oficial, incorpora-se no cotidiano dos jovens, não como diversão, mas como

tendência natural do ser humano.

O grande acontecimento do século XVI foi à criação do Instituto dos

Jesuítas. Ignácio de Loyola um dos líderes dessa Companhia, por ter sido

militar e nobre compreende a importância dos jogos de exercícios para a

formação do ser humano, e preconiza sua utilização no sistema educacional de

sua organização.

O Renascimento admite cada vez mais a necessidade de exercícios

físicos, banidos pela Idade Média.

O século seguinte continua a expansão dos jogos de caráter educativo.

Acompanha esse processo o comentário de filósofos que apontam a

importância das imagens e dos sentidos para a apreensão do conhecimento. A

obra Orbis Sensualium Pictus, de Comenius,mostra, em 1657, a relevância das

imagens para a educação infantil. Locke, o pai do empirismo, reforça essa tese,

mostrando que tudo que está na inteligência passa pelos sentidos. Desta

forma, multiplicam-se jogos de leitura preconizados por Locke, bem como

diversos jogos destinados à tarefa didática nas áreas de História, Geografia,

Moral, Religião, Matemática, entre outras.

A eclosão do movimento científico diversifica os jogos que passam a

incluir as inovações científicas no século XVIII. A publicação da Enciclopédia

favorece o aparecimento de novos jogos. Preceptores da época utilizam as

imagens publicadas na Enciclopédia para criar jogos destinados à educação

dos príncipes e nobres.

Outra característica do século XVIII é a popularização dos jogos

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educativos. Antes restritos aos príncipes e nobres, agora tornam-se veículos de

divulgação, crítica e doutrinação popular. Utilizados para o desempenho de

papéis, difusão de idéias e crítica de personagens, tais jogos penetram no

cotidiano popular. Ainda no século XVIII que nasce a concepção de infância

construída ao longo de cinco longos séculos e postulada por Rousseau em

Emílio, como a necessidade de uma educação ajustada à natureza infantil. A

infância, entendida como período especial na evolução do ser humano, dotada

de uma especificidade, batizada por Aries (1986) posteriormente como

"sentimento de infância traz em decorrência a adoção de práticas educativas

que prevalecem até hoje: a criança passa a ser vestida de acordo com sua

idade, brinca com cavalinhos de pau, piões e passarinhos e tem permissão

para se comportar de modo distinto do adulto. Abre-se, assim, um espaço

propicio ao nascimento da Psicologia Infantil, que desabrocha, no século XX,

com a produção de pesquisas e teorias que discutem a importância do ato de

brincar para a construção de representações infantis. Estudos e pesquisas de

caráter psicogenético, encabeçados por Piaget, Bruner, Vygotsky, entre outros,

fecundam relevantes pressupostos para a construção de representações

infantis relacionadas às diversas áreas do conteúdo, influenciando as

atividades curriculares dos novos tempos. Complementam tais estudos,

pesquisas de caráter interdisciplinar, demonstrando que o ato de brincar, assim

como outros comportamentos do ser humano, sofre intensa influência da

cultura na qual está inserida a criança.

O fato de cada cultura apresentar uma relativa continuidade histórica e,

de certa forma, uma especificidade que pode se refletir nas condutas lúdicas

faz emergir a valorização dos brinquedos e brincadeiras tradicionais como nova

fonte de conhecimento e de desenvolvimento infantil.

No Brasil, o levantamento de brincadeiras tradicionais ainda é bastante

precário e as pesquisas que demonstram sua importância para a socialização,

integração social, bem como para o desenvolvimento da linguagem e o

desenvolvimento cognitivo, ainda estão começando.

O início do século XIX presencia o término da Revolução Francesa e o

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surgimento das inovações pedagógicas. As escolas esforçam-se para colocar

em prática princípios de Rosseau, Pestalozzi e Froebel. Rousseau, por

exemplo, já aponta duas facetas no brinquedo: o objeto e a ação de brincar. A

primeira não merece sua atenção, uma vez que considera os sentidos uma

fonte nem sempre fidedigna de conhecimento. É a ação do sujeito, a relação

estabelecida pela inteligência, que julga relevante ao desenvolvimento infantil.

Pestalozzi segue o mestre e procura estudar a ação mental da criança,

pesquisando as intuições necessárias ao estabelecimento de relações. Mas é

com Froebel que o jogo, entendido como objeto e ação de brincar, passa a

fazer parte da história da educação pré-escolar. Partindo do pressuposto de

que, manipulando e brincando com materiais como bola, cubo e cilindro,

montando e desmontando cubos, a criança estabelece relações matemáticas e

adquire noções primárias de Física e Metafísica Aliando a utilização de

materiais educativos, que denomina dons, ao canto e às ocupações manuais

(recorte, colagem, tecelagem,dobradura etc.), o pai das atuais caixas de

construção elabora uma proposta curricular para a pré-escola que contém, em

seu bojo, a relevância do brinquedo.

Dando prosseguimento à prática iniciada por Froebel, de criar materiais

educativos para a pré-escola, Ovídio Decroly, médico belga, elabora, no início

deste século, um conjunto de materiais para a educação de crianças

deficientes mentais. A obraL'iniciations à I'activité intellectuelle et motrice par

les jeux éducatifs (1925) relaciona desde materiais neutros como água, argila;

materiais alternativos como botões, carretéis; até jogos em cartonados,

destinados ao desenvolvimento da percepção, motricidade e raciocínio. Seus

jogos editados pela Nathan tiveram ampla aceitação no mundo todo, inclusive

no Brasil.

Na mesma época, a médica italiana Maria Montessori elabora uma

metodologia de ensino destinada às crianças deficientes mentais, empregando

materiais criados por Itard e Séguin, com o objetivo de implementar a educação

sensorial. Em sua obra, traduzida em Língua Portuguesa cromo Pedagogia

Científica (1965), há uma relação desses materiais, bem como a forma de

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utilização. Embora o Método Montessori tenha penetrado no Brasil desde

primórdios deste século, sua expansão ocorrerá mais tarde, quando a linha

Lubienska-Montessori começa a ser adotada pelas escolas católicas

destinadas à elite. Atualmente existe um grande número de pré-escolas

montessorianas, orientadas por associações montessorianas presentes nos

vários pontos do País.

Outra educadora que disputa o mercado dos materiais educativos é

Madame Herbinière-Lebert, que divulga jogos educativos em cores pela

Nathan. A fabricação de jogos educativos, na França, no período de 1919 a

1939, fica dividida entre Montessori, Decroly e Herbinière-Lebert.

Uma área que recebeu grandes benefícios com a utilização de

brinquedos é a educação de crianças portadoras de deficiências. Essa prática

teve origem no século XVIII, com a criação de materiais para surdos-mudos.

Logo depois, Valentin Hauy, em 1784, elabora livros de leitura, em alto relevo,

para cegos. No século seguinte, os médicos educadores, Itard e Séguin,

constroem diversos materiais analíticos para a educação sensorial e intelectual

de Vítor, o selvagem de Aveyron. Em seguida, Montessori incorpora os

materiais criados por Itard e Séguin em sua metodologia de ensino dirigida aos

deficientes mentais. Na mesma época, Decroly, baseado em princípios de

globalização, organiza seus jogos intelectuais e motores, também destinados

às crianças deficientes mentais.

Atualmente, cresce o interesse pela utilização de brinquedos para

educar e reeducar crianças portadoras de deficiências. Multiplicam-se as

pesquisas e a produção de brinquedos especializa-se, para atender às

diferentes formas de deficiências da criança.

Surgem revistas especializadas, organizações nacionais e internacionais

que se preocupam com a questão, bem como ludotecas destinadas a crianças

deficientes.

A valorização crescente do jogo reflete-se nos anos 60 com o

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aparecimento de museus, com uma concepção mais dinâmica, onde as

crianças podem tocar e manipular brinquedos.

A ludoteca, criada em 1934, em Los Angeles, expande-se na França,

transformando-se numa instituição de educação assistemática e num centro de

valorização e divulgação da cultura infantil. O longo processo de valorização do

brinquedo permite o florescimento de inúmeras associações nacionais e

internacionais, bem como organizações de estudo e divulgação do jogo.

Não se pode omitir a proliferação de revistas e jornais especializados na

questão do jogo, bem como a multiplicação de empresas que investem na linha

dos chamados "brinquedos educativos".

Esse processo de valorização do jogo, mais recente, chega ao Brasil na

década de oitenta, com o advento das brinquedotecas, a criação de

associações de brinquedotecas, a multiplicação de congressos, o aumento da

produção científica sobre o tema e o interesse crescente dos empresários em

aumentar seu faturamento, investindo em novos produtos.

A importância do jogo na educação tem oscilado ao longo dos tempos.

Principalmente nos momentos de crítica e reformulação da educação, são

lembrados como alternativas interessantes para a solução dos problemas da

prática pedagógica. Tais oscilações dependem, basicamente, de

reestruturações políticas e econômicas de cada país. Geralmente, em períodos

de contestação, de inquietações políticas e crises econômicas, aumentam as

pesquisas e os estudos em torno dos jogos.

Atualmente, o jogo que tinha a função de desenvolver fantasias, com

caráter de gratuidade, é canalizado para uma visão de eficiência, visando à

formação do grande homem de amanhã, e toma-se, em decorrência, pago. A

especialização excessiva dos "brinquedos educativos", dirigidos ao ensino de

conteúdos específicos, está retirando o jogo de sua área natural e eliminando o

prazer, a alegria e a gratuidade, ingredientes indispensáveis à conduta lúdica.

Vial (1981), ao analisar a história dos jogos didáticos, define-o como "uma

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aventura fracassada". Os jogos didáticos procuram associar prazer e estudo,

pólos considerados opostos. Para Vial, Leif, Brunelle e Rabecp-Maillard, há

uma contradição no jogo didático. O criador deste tipo de jogo fica entre

escolher a didática que tira o prazer e o jogo que interfere na apropriação

sistemática do conteúdo. Tais autores apontam a incompatibilidade entre o

aspecto gratuito e livre do jogo, que inclui prazer, e o aspecto sério e utilitário

do trabalho escolar.

Em decorrência, se quisermos aproveitar o potencial do jogo como

recurso para o desenvolvimento infantil, não poderemos contrariar sua

natureza, que requer a busca do prazer, a alegria, a exploração livre e o não-

constrangimento.

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CAPÍTULO III

O JOGAR E O BRINCAR

NO DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA

A atividade lúdica é uma necessidade da criança ocupando um lugar

especial em seu mundo . O brincar e o jogar , para a criança , representam

uma razão de viver, se entregando ao fascínio da brincadeira.

A brincadeira e o jogo desempenham funções psicossociais, afetivas e

intelectuais básicas no processo de desenvolvimento infantil, satisfazem a

necessidade de “movimento e ação”. É fundamental inserir as crianças em

atividades que permitam ir da imaginação à abstração, levantamento de

hipóteses, reflexão , análise , síntese e criação de estratégias diversificadas de

resolução de problemas em jogo. Da criação à imaginação , da imaginação à

criação .

Para Vygotsky (1995) a imaginação exerce um papel fundamental para o

desenvolvimento da criança , ampliando sua capacidade de projetar suas

experiências e de poder conceber o relato e as experiências dos outros. No

jogo pelo jogo,a criança atribui aos objetos , significados diferentes , abstrai e

começa a agir independentemente daquilo que vê . A partir da atividade lúdica

torna possível o uso dos signos .

A função do brincar na atividade infantil é vital para a constituição da

atividade imaginária. Por meio da interação entre a experiência e a fantasia, na

atividade lúdica, a criança constrói noções, tais como as de si mesma e as da

realidade.

Os jogos de faz-de-conta, baseados na imaginação e na

experiência,apresentam, mesmo em seus níveis denominados de pré-

conscientes (não reflexivos), os elementos organizadores das regras de seu

contexto sócio-histórico, ou seja, a imaginação não é um produto desvinculado

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de seu meio ambiente. Ela é, ao mesmo tempo, estruturada e estruturante da

realidade.

Relacionando experiência, imaginação e linguagem, por meio da

brincadeira, a criança começa a organizar sua consciência (reflexiva) com o

desenvolvimento das funções psíquicas superiores, assim compreendida:

A) Percepção significante: a criança torna-se capaz de agir relacionando

o campo do significado e o da ação. Não mais submetida à primazia das

informações sensoriais é capaz de agir numa esfera cognitiva. No jogo, a

criança desenvolve ações organizadas em idéias independentes daquilo que

vê;

B) Movimento voluntário: a ação voluntária constitui-se no deslocamento

da fala em relação com a ação. No princípio, a criança age independente da

fala. Com o decorrer de seu desenvolvimento, fala e ações passam a organizar

o comportamento, juntas. Num terceiro estágio, a fala internalizada é capaz de

organizar e planejar as ações futuras. No brinquedo a criança vivencia todas

essas passagens, constituindo, por meio destas, as noções de passado,

presente e futuro;

C) Pensamento verbal-lógico: no brinquedo a criança é capaz de agir

num, grau de transição entre os objetos concretos (um cabo de vassoura) e o

pensamento abstrato (cavalo de pau). Observa-se uma operação que , iniciada

como significado de coisas, se transfere para o significado ideativo das idéias.

A capacidade de substitui um objeto (concreto) por outro (abstrato), e uma

ação por outra, contribui para estabelecer as possibilidades de fazer escolhas

conscientes;

D) A Fala Interior: a fala interior é o terceiro estágio do desenvolvimento

que é antecedida pela fala social e egocêntrica. Com a internalização da fala, a

criança é capaz de estabelecer a consciência reflexiva. No brinquedo, a criança

pode estabelecer as relações necessárias para a internalização, por meio das

estratégias que envolvem a dinâmica ação/fala/ação e por sua capacidade de ir

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estabelecendo continuas construções na relação entre fala e objeto.

E) Memória Semântica: a memória surge no brinquedo por meio da

capacidade que a criança demonstra em criar, no mundo do faz-de-conta,

situações que observa em seu cotidiano. Assim, é capaz de reconstruir na vida

diária, situações do mundo real percebidas em sua experiência.

F) Atenção Voluntária: a atenção é uma função “chave” para a

construção de todas as outras e, por outro lado, necessita destas contribuições

solidárias para constituir-se como foco de interesse visando a realização de

uma atividade. Por meio dela, e no brinquedo, a criança é capaz de reorganizar

todo o seu campo espaço-temporal, com o concomitante auxílio da fala. A fala

age como organizadora para focar a atenção em atividades que exigem

dinâmicas mais complexas, reflexivas.

Durante a pré-escola , as habilidades conceituais da criança são

ampliadas a partir do brinquedo , do jogo , e , portanto , do uso da imaginação.

Segundo ele, ao brincar , a criança está sempre acima da própria idade, acima

de seu comportamento diário, maior do que é na realidade. Como se observa ,

pelo jogo, durante sua ação , o adversário serve de referência para o jogador

se conhecer , estabelecendo uma transição do interpessoal para o

intrapessoal, como um diálogo do indivíduo consigo mesmo.

Barco (1998),o autor afirma que, em lugar de incentivar a diferença e a

criatividade, as escolas, muitas vezes , acabam fazendo com que as crianças

pensem da mesma forma , não incentivando a imaginação .

Piaget (1978), propõe estruturar os jogos segundo três formas básicas: o

exercício, primeiras manifestações lúdicas , o prazer reside na própria função

exercida, o símbolo o jogo do “faz de conta” , e a regra , investigando o

desenvolvimento da criança nos vários tipos de jogos e sua evolução no

decorrer dos estágios de desenvolvimento cognitivo.

O mais importante nessa estrutura de jogo são as regras que devem ser

respeitadas segundo o consentimento mútuo e que podem ser transformadas

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conforme a necessidade do grupo. No jogo de regras , a criança abandona o

seu egocentrismo e seu interesse para a ser social, com necessidade de

controle mútuo e de regulamentação , cuja violação significaria o fim do jogo

social.

O jogo representa uma atividade lúdica, que envolve o desejo e o

interesse do jogador pela própria ação do jogo, e mais ,envolve a competição e

o desafio que motivam o jogador a conhecer seus limites e suas possibilidades

de superação de tais limites, na busca da vitória, adquirindo confiança e

coragem para arriscar. O saber perder, envolve o estabelecimento do limite de

sua competência, o relacionar com o outro o que pensa, agir e criar estratégias

diferenciadas.

Segundo Piaget (1995), a criança ouve o colega e discute identificando

diferentes perspectivas e se justificando, ao se justificar , argumenta e reflete

sobre os seus próprios procedimentos. Esta ação reflexiva , ocorre em duas

fases , primeiro a conceituação da ação , depois abstrai o conceito.

3.1 - Cooperação no jogo de regras.

Piaget (1998) ,discute a importância da cooperação , no jogo a criança é

capaz de renunciar aos seus desejos e interesses próprios , para pensar no

interesse coletivo .

Corbalán (1996) , caracteriza os jogos de estratégia como os mais

próximos da metodologia de resolução de problemas , na medida em que as

estratégias utilizadas no processo de resolução de um problema podem ser

analogamente definidas como estratégias de jogo. Analogicamente a Polya ,

para a resolução de problemas, estabelece quatro etapas para a elaboração de

estratégias de um jogo:

- Familiarização com o jogo;

- Exploração inicial: procura de estratégias de resolução;

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- Aplicação da estratégia: seleção de posições ganhadoras, validação

das conjeturas, etc.;

- Reflexão sobre o processo desencadeado.

Vantagens

-fixação de conceitos ;

-introdução e desenvolvimento de novos conceitos de “difícil

compreensão”;

-desenvolvimento de estratégias de resolução de problemas ;

-tomada de decisões e saber avalia-las;

-significação de novos conceitos;

-interdisciplinaridade;

-participação ativa na construção do seu próprio conhecimento;

-socialização;

-motivação ;

-criatividade e senso crítico , da participação , da competição “sadia” , da

observação , resgate o prazer em aprender;

-reforço ou recuperação de habilidades necessárias ;

-diagnóstico e identificação de dificuldades de aprendizagem.

Desvantagens

- os alunos jogam e se sentem motivados apenas pelo jogo , sem saber

porque jogam;

- o tempo gasto em sala de aula é maior;

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- a falsa concepção de que se deve ensinar todos os conceitos através

de jogos;

- a perda do lúdico do jogo com a constante interferência do professor;

- destruição da voluntariedade quando força o aluno a jogar;

- dificuldade de acesso e disponibilidade de material sobre o uso correto

de jogos no ensino, que possam a subsidiar o trabalho docente.

Pedagogos e psicólogos estão de acordo em que o Jogo Infantil é uma

atividade física e mental que favorece tanto o desenvolvimento pessoal como a

sociabilidade, de forma integral e harmoniosa. A criança evolui com o jogo e o

jogo da criança vai evoluindo paralelamente ao seu desenvolvimento, ou

melhor dizendo, integrado ao seu desenvolvimento.

Independente de época, cultura e classe social, os jogos e os

brinquedos fazem parte da vida da criança, pois elas vivem num mundo de

fantasia, de encantamento, de alegria, de sonhos, onde realidade e faz-de-

conta se confundem. O jogo está na gênese do pensamento, da descoberta de

si mesmo, da possibilidade de experimentar, de criar e de transformar o

mundo.

O caráter de ficção é um dos elementos constitutivos do jogo e, é um modo de

expressão de grande importância, pois também pode ser entendido como um

modo de comunicação em que à criança expressa os aspectos mais íntimos de

sua personalidade e sua tentativa de interagir com o mundo adulto.

Pelo jogo as crianças exploram os objetos que os cercam, melhoram sua

agilidade física, experimentam seus sentidos, e desenvolvem seu pensamento.

Algumas vezes o realizarão sozinhos, em outras, na companhia de outras

crianças, desenvolvendo também o comportamento em grupo. Podemos dizer

que aprendem a conhecer a si próprios, ao mundo que os rodeia e aos demais.

O jogo da criança não é equivalente ao jogo para o adulto, pois não é uma

simples recreação, o adulto que joga afasta-se da realidade, enquanto a

criança ao brincar/jogar avança para novas etapas de domínio do mundo que a

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cerca.

Também a auto-estima, uma das condições do desenvolvimento normal,

tem sua gênese na infância em processos de interação social - na família ou na

escola – que são amplamente proporcionados pelo brincar.

É de grande importância que os professores compreendam e utilizem o jogo

como um recurso privilegiado de sua intervenção educativa.

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CAPÍTULO IV

JOGOS E BRINQUEDOS NA SALA DE AULA

O jogo tem um papel muito importante nas áreas de estimulação da

pré-escola e é uma das formas mais naturais da criança entrar em contato com

a realidade, tendo o jogo simbólico um papel especial. O jogo é uma

característica do comportamento infantil e a criança dedica a maior parte de

seu tempo a ele. O jogo, enquanto atividade espontânea da criança, foi

analisado e pesquisado por centenas de estudiosos para melhor compreender

o comportamento humano; é um meio privilegiado tanto para o estudo de

crianças normais, quanto para aquelas com problemas, haja vista os inúmeros

trabalhos psicanalíticos sobre o assunto, como os de Sigmund Freud, R.

Waelder, Melanie Klein, Erik Erikson, e ainda, autores como J. Huisinga,

Claparéde, Piaget, Vygotsky, Ajuriaguerra, Callois, que escreveram obras

sobre o jogo na criança. Através do jogo a criança: Libera e canaliza suas

energias; Tem o poder de transformar uma realidade difícil; Propicia condições

de liberação da fantasia; É uma grande fonte de prazer.

O jogo é, por excelência, integrador, há sempre um caráter de

novidade, o que é fundamental para despertar o interesse da criança, e à

medida em que joga ela vai se conhecendo melhor, construindo interiormente o

seu mundo. Esta atividade é um dos meios mais propícios à construção do

conhecimento. Para exercê-la a criança utiliza seu equipamento sensório-

motor, pois o corpo é acionado e o pensamento também, e enquanto é

desafiada a desenvolver habilidades operatórias que envolvam a identificação,

observação, comparação, análise, síntese e generalização, ela vai conhecendo

suas possibilidades e desenvolvendo cada vez mais a autoconfiança. É

fundamental, no jogo, que a criança descubra por si mesma, e para tanto o

professor deverá oferecer situações desafiadoras que motivem diferentes

respostas, estimulando a criatividade e a redescoberta.

Apesar de o jogo ser uma atividade espontânea nas crianças, isso não

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significa que o professor não necessite ter uma atitude ativa sobre ela,

inclusive, uma atitude de observação que lhe permitirá conhecer muito sobre as

crianças com que trabalha. A criação de espaços e tempos para os jogos é

uma das tarefas mais importantes do professor, principalmente na escola de

educação infantil. Cabe-lhe organizar os espaços de modo a permitir as

diferentes formas de jogos, de forma, por exemplo, que as crianças que

estejam realizando um jogo mais sedentário não sejam atrapalhadas por

aquelas que realizam uma atividade que exige mais mobilidade e expansão de

movimentos.

O professor precisa estar atento à idade e às necessidades de seus

alunos para selecionar e deixar à disposição materiais adequados. O material

deve ser suficiente tanto quanto à quantidade, como pela diversidade, pelo

interesse que despertam, pelo material de que são feitos. Lembrando sempre

da importância de respeitar e propiciar elementos que favoreçam a criatividade

das crianças. A sucata, é um exemplo de material que preenche vários destes

requisitos.

As crianças sentem grande prazer em repetir jogos que conhecem

bem. Sentem-se seguras quando percebem que contam cada vez com mais

habilidades em responder o que é esperado pelos outros; sentem-se seguras e

animadas com a nova aprendizagem.

Uma observação atenta pode indicar o professor que sua participação

seria interessante para enriquecer a atividade desenvolvida, introduzindo novos

personagens ou novas situações que tornem o jogo mais rico e interessante

para as crianças, aumentando suas possibilidades de aprendizagem. Valorizar

as atividades das crianças, interessando-se por elas, animando-as pelo

esforço, evitando a competição, pois em jogos não competitivos não existem

ganhadores ou perdedores outro modo de estimular a imaginação das crianças

é servir de modelo, brincar junto ou contar como brincava quando tinha a idade

delas. Muitas vezes o professor, que não percebe a seriedade e a importância

dessa atividade para o desenvolvimento da criança, ocupa-se com outras

tarefas, deixando de observar atentamente para poder refletir sobre o que as

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crianças estão fazendo e perceber seu desenvolvimento, acompanhar sua

evolução, suas novas aquisições, as relações com as outras crianças, com os

adultos. Para tanto, pode ser elaborada uma planilha, um guia de observação

que facilite o trabalho do professor.

Durante certos momentos dos jogos acontecem com certa freqüência

pequenos conflitos entre as crianças. A atitude mais produtiva do professor é

conseguir que as crianças procurem resolver esses conflitos, ensinando-lhes a

chegar a acordos, negociar e compartilhar.

Através dos jogos cada criança terá a oportunidade de expressar seus

interesses, necessidades e preferências. O papel do professor será o de

propiciar-lhes novas oportunidades e novos materiais que enriqueçam seus

jogos, porém, respeitando os interesses e necessidades da criança de forma a

não forçá-la a realizar determinado jogo ou participar de um jogo coletivo.

Tanto meninos quanto meninas expressam através de seus jogos

grande parte dos usos e relações sociais que conhecem. O jogo é, por sinal,

um meio extraordinário para a formação da identidade e a diferenciação

pessoal. Entretanto, os professores precisam ser bastante cuidadosos e

sensíveis para não reproduzir através de seus valores, os papéis

preconceituosos tradicionais. Neste sentido possibilitar que meninos e meninas

joguem juntos, evitando expressões como "os meninos não jogam...." ou, "isto

não é para uma menina...", estimulando e favorecendo o crescimento e a

identidade tanto de meninos como meninas, sem reforçar esteriótipos sociais,

ainda existentes em muitas regiões do país ou arraigados em certas culturas.

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CAPÍTULO V

A IMPORTÂNCIA DO JOGO PARA

ALGUNS PENSADORES

Para Piaget os estágios e períodos do desenvolvimento caracterizam as

diferentes maneiras do indivíduo interagir com a realidade, ou seja, de

organizar seus conhecimentos visando sua adaptação, constituindo-se na

modificação progressiva dos esquemas de assimilação. Os estágios evoluem

como uma espiral, de modo que cada estágio engloba o anterior e o amplia.

Piaget não define idades rígidas para os estágios, mas sim que estes se

apresentam em uma seqüência constante, traça um esquema muito claro do

desenvolvimento intelectual, segundo Piaget, discorrendo sobre os estágios

propostos por ele: Estágio sensorio-motor, mais ou menos de 0 a 2 anos: a

atividade intelectual da criança é de natureza sensorial e motora. A principal

característica desse período é a ausência da função semiótica, isto é, a criança

não representa mentalmente os objetos. Sua ação é direta sobre eles. Essas

atividades serão o fundamento da atividade intelectual futura. A estimulação

ambiental interferirá na passagem de um estágio para o outro; Estágio pré-

operacional, mais ou menos de 2 a 6 anos: a criança desenvolve a

capacidade simbólica; "já não depende unicamente de suas sensações, de

seus movimentos, mas já distingue um significador (imagem, palavra ou

símbolo) daquilo que ele significa (o objeto ausente), o significado". Para a

educação é importante ressaltar o caráter lúdico do pensamento simbólico.

Este período caracteriza-se: pelo egocentrismo: isto é, a criança ainda não se

mostra capaz de colocar-se na perspectiva do outro, o pensamento pré-

operacional é estático e rígido, a criança capta estados momentâneos, sem

juntá-los em um todo; pelo desequilíbrio: há uma predominância de

acomodações e não das assimilações; pela irreversibilidade: a criança parece

incapaz de compreender a existência de fenômenos reversíveis, isto é, que se

fizermos certas transformações, somos capazes de restaurá-las, fazendo voltar

ao estágio original, como por exemplo, a água que se transforma em gelo e

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aquecendo-se volta à forma original; Estágio das operações concretas, mais ou

menos dos 7 aos 11 anos: a criança já possui uma organização mental

integrada, os sistemas de ação reúnem-se em todos integrados. Piaget fala em

operações de pensamento ao invés de ações. É capaz de ver a totalidade de

diferentes ângulos. Conclui e consolida as conservações do número, da

substância e do peso. Apesar de ainda trabalhar com objetos, agora

representados, sua flexibilidade de pensamento permite um sem número de

aprendizagens. Estágio das operações formais, mais ou menos dos 12 anos

em diante: ocorre o desenvolvimento das operações de raciocínio abstrato. A

criança se liberta inteiramente do objeto, inclusive o representado, operando

agora com a forma (em contraposição a conteúdo), situando o real em um

conjunto de transformações. A grande novidade do nível das operações

formais é que o sujeito torna-se capaz de raciocinar corretamente sobre

proposições em que não acredita, ou que ainda não acredita, que ainda

considera puras hipóteses. É capaz de inferir as conseqüências.

Piaget descreve quatro estruturas básicas de jogos infantis, que vão se

sucedendo e se sobrepondo nesta ordem: jogo de exercício, jogo simbólico/

dramático, jogo de construção, jogo de regras. A importância do jogo de regras,

é que quando a criança aprende a lidar com a delimitação, no espaço, no

tempo, no tipo de atividade válida, o que pode e o que não pode fazer, garante

uma certa regularidade que organiza a ação tornando-a orgânica. O valor do

conteúdo de um jogo deve ser considerado em relação ao estágio de

desenvolvimento em que se encontra a criança, isto é, como a criança adquire

conhecimento e raciocina. Constance Kamiie: Cita alguns critérios para que um

jogo possa ser útil no processo educacional: Proposição de alguma coisa

interessante e desafiadora para as crianças resolverem; Permitir que as

crianças possam se auto-avaliar quanto a seu desempenho; Permitir que todos

os jogadores possam participar ativamente, do começo ao fim do jogo.

Com relação ao jogo, Piaget (1998) acredita que ele é essencial na vida

da criança. De início tem-se o jogo de exercício que é aquele em que a criança

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repete uma determinada situação por puro prazer, por ter apreciado seus

efeitos. Em torno dos 2-3 e 5-6 anos nota-se a ocorrência dos jogos

simbólicos, que satisfazem à necessidade da criança de não somente

relembrar o mentalmente o acontecido, mas de executar a representação.

Para Piaget o jogo simbólico é a representação corporal do imaginário,

e apesar de nele predominar a fantasia, a atividade psicomotora exercida

acaba por prender a criança à realidade. Na sua imaginação ela pode

modificar sua vontade, usando o "faz de conta", mas quando expressa

corporalmente as atividades, ela precisa respeitar a realidade concreta e as

relações do mundo real. Por essa via, quando a criança estiver mais velha, é

possível estimular a diminuição da atividade centrada em si própria, para que

ela vá adquirindo uma socialização crescente. As características dos jogos

simbólicos são: liberdade de regras; desenvolvimento da imaginação e da

fantasia; ausência de objetivo explícito ou consciente para a criança; lógica

própria com a realidade; assimilação da realidade ao "eu". No jogo simbólico

a criança sofre modificações, à medida que vai progredindo em seu

desenvolvimento rumo à intuição e à operação. E finalmente, numa tendência

imitativa, a criança busca coerência com a realidade. Na pré-escola, o

raciocínio lógico ainda não é suficiente para que ela dê explicações coerentes

a respeito de certas coisas. O poder de fantasiar ainda prepondera sobre o

poder de explicar. Então, pelo jogo simbólico, a criança exercita não só sua

capacidade de pensar ou seja, representar simbolicamente suas ações, mas

também, suas habilidades motoras, já que salta, corre, gira, transporta, rola,

empurra, etc. Assim é que se transforma em pai/mãe para seus bonecos ou

diz que uma cadeira é um trem. Didaticamente devemos explorar com muita

ênfase as imitações sem modelo, as dramatizações, os desenhos e pinturas,

o faz de conta, a linguagem, e muito mais, permitir que realizem os jogos

simbólicos, sozinhas e com outras crianças, tão importantes para seu

desenvolvimento cognitivo e para o equilíbrio emocional.

O jogo para Vygotsky estabelece uma relação estreita entre o jogo e a

aprendizagem, atribuindo-lhe uma grande importância. Para que possamos

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melhor compreender essa importância é necessário que recordemos algumas

idéias de sua teoria do desenvolvimento cognitivo. A principal é que o

desenvolvimento cognitivo resulta da interação entre a criança e as pessoas

com quem mantém contato regular. Convém lembrar também que o principal

conceito da teoria de Vygotsky é o de Zona de Desenvolvimento Proximal, que

ele define como a diferença entre o desenvolvimento atual da criança e o nível

que atinge quando resolve problemas com auxílio, o que leva à conseqüência

de que as crianças podem fazer mais do que conseguiriam fazer por si sós. "No

desenvolvimento a imitação e o ensino desempenham um papel de primeira

importância. Põem em evidência as qualidades especificamente humanas do

cérebro e conduzem a criança a atingir novos níveis de desenvolvimento. A

criança fará amanhã sozinha aquilo que hoje é capaz de fazer em cooperação.

Por conseguinte, o único tipo correto de pedagogia é aquele que segue em

avanço relativamente ao desenvolvimento e o guia; deve ter por objetivo não as

funções maduras, mas as funções em vias de maturação" (Vygotsky,

1979:138). Não é o caráter de espontaneidade do jogo que o torna uma

atividade importante para o desenvolvimento da criança, mas sim, o exercício

no plano da imaginação da capacidade de planejar, imaginar situações

diversas, representar papéis e situações do cotidiano, bem como, o caráter

social das situações lúdicas, os seus conteúdos e as regras inerentes a cada

situação. Também não é todo jogo da criança que possibilita a criação de uma

Zona de Desenvolvimento Proximal, do mesmo modo que nem todo o ensino o

consegue; porém, no jogo simbólico, normalmente, as condições para que ela

se estabeleça estão presentes, haja vista que nesse jogo estão presentes uma

situação imaginária e a sujeição a certas regras de conduta. As regras são

partes integrantes do jogo simbólico, embora, não tenham o caráter de

antecipação e sistematização como nos jogos habitualmente "regrados". Ao

desenvolver um jogo simbólico a criança ensaia comportamentos e papéis,

projeta-se em atividades dos adultos, ensaia atitudes, valores, hábitos e

situações para os quais não está preparada na vida real, atribuindo-lhes

significados que estão muito distantes das suas possibilidades efetivas. A

atuação nesse mundo imaginário cria uma Zona de Desenvolvimento Proximal

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formada por conceitos ou processos em desenvolvimento. Podemos sintetizar

dizendo que a regra e a situação imaginária caracterizam o conceito de jogo

infantil para Vygotsky. O autor também detecta no jogo outro elemento a que

atribui grande importância: o papel da imaginação que coloca em estreita

relação com a atividade criadora. Vygotsky (1999) afirma que os processos de

criação são observáveis principalmente nos jogos da criança, porque no jogo

ela representa e produz muito mais do que aquilo que viu.

“Todos conhecemos o grande papel que nos jogos da criança desempenha a imitação, com muita freqüência estes jogos são apenas um eco do que as crianças viram e escutaram aos adultos, não obstante estes elementos da sua experiência anterior nunca se reproduzem no jogo de forma absolutamente igual e como acontecem na realidade. O jogo da criança não é uma recordação simples do vivido, mas sim a transformação criadora das impressões para a formação de uma nova realidade que responda às exigências e inclinações da própria criança” (Vygotsky , 1999:12).

Froebel atrela a cada fase um tipo de educação que deve respeitar as

características próprias da fase. Isso fica muito claro num dos textos dessa

obra, intitulado “O homem no primeiro período da infância”. Em certo momento

desse texto Froebel explica que, se o adulto observar, por exemplo, o jogo e a

fala de uma criança, poderão compreender o nível de desenvolvimento no qual

ela se encontra. Isso significa que a observação das atividades espontâneas da

criança, como a brincadeira e a fala, é de grande importância para o êxito da

atividade educativa. Para a realização do autoconhecimento com liberdade,

Froebel elege o jogo como seu grande instrumento, juntamente com os

brinquedos.

O jogo seria um mediador nesse processo de autoconhecimento, por

meio do exercício de exteriorização e interiorização da essência divina

presente em cada criança, levando-a assim a reconhecer e aceitar a “unidade

vital”.. Froebel foi pioneiro ao reconhecer no jogo a atividade pela qual a

criança expressa sua visão do mundo. Segundo Froebel o jogo seria também a

principal fonte do desenvolvimento na primeira infância, que para ele é o

período mais importante da vida humana, um período que constitui a fonte de

tudo o que caracteriza o indivíduo, toda a sua personalidade. Por isso Froebel

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considera a brincadeira uma atividade séria e importante para quem deseja

realmente conhecer a criança.

A brincadeira é a fase mais alta do desenvolvimento da criança ,pois ela

é a representação auto-ativa do interno - representação do interno, da

necessidade e do impulso internos. A brincadeira é a mais pura, a mais

espiritual atividade do homem neste estágio e, ao mesmo tempo, típica da vida

humana como um todo - da vida natural interna escondida no homem e em

todas as coisas. Por isso ela dá alegria, liberdade, contentamento, descanso

interno e externo, paz com o mundo. Ela tem a fonte de tudo o que é bom. A

criança que brinca muito com determinação auto-ativa, perseverantemente até

que a fadiga física proíba, certamente será um homem determinado, capaz do

auto-sacrifício para a promoção do bem-estar próprio e dos outros.

Em seu livro Pedagogia dos jardins-de-infância (1917, p. 93), Froebel

reforça a idéia acima exposta ressaltando que a brincadeira é a chave para nos

comunicarmos e conhecermos a criança pequena. O autor ainda destaca que a

brincadeira desenvolve as características humanas das crianças, auxiliando

meninos e meninas a encontrarem e exercerem desde cedo o papel que lhes

cabe na sociedade.

Froebel reconhecia que o jogo varia conforme a idade da criança. O

professor não deve menosprezar esse aspecto, mas sim, ao contrário, observá-

lo com atenção e trabalhá-lo adequadamente, auxiliando assim o

desenvolvimento infantil. No capítulo em que Froebel descreve a infância, em A

educação do homem (1887, p. 112-113), ele chama a atenção para as

diferenças existentes entre as brincadeiras na primeira infância e na infância.

Na primeira infância as brincadeiras seriam mais centradas na atividade, no

movimento, no início do processo de exteriorização da criança. No período

chamado por Froebel de infância, a brincadeira seria mais grupal que no

período da primeira infância. Esse caráter grupal da brincadeira na infância

produziria o desenvolvimento moral das crianças e as prepararia para a

convivência em harmonia.

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Na obra Pedagogia dos jardins-de-infância (1917), Froebel apresenta-

nos os seus brinquedos criados para auxiliar a brincadeira infantil sem ferir seu

desenvolvimento natural. Os brinquedos criados para este fim foram chamados

de “dons”. Froebel assim chamou esses brinquedos, ou materiais educativos,

porque eles seriam uma espécie de “presentes” dados às crianças, ferramentas

para ajudá-las a descobrir os seus próprios dons, isto é, descobrir os presentes

que Deus teria dado a cada uma delas. Com esses brinquedos Froebel

cristalizou importantes concepções a respeito do jogo, como por exemplo: ele

observou que o jogo só funciona se as regras são bem entendidas; a

continuação do jogo requer sempre a introdução de novos materiais e idéias;

por essa razão existem muitas ocasiões nas quais o adulto deve brincar junto

com a criança para auxiliá-la e manter vivo seu interesse.

Todos os jogos de Froebel que envolvem os “dons” sempre começavam

com as pessoas formando círculos, dançando, movendo-se e cantando. Dessa

forma elas atingiriam a perfeita unidade. Froebel percebeu também, por meio

desses jogos e brincadeiras, a grande força que os símbolos possuem para a

criança. Assim Froebel elegia a brincadeira e os brinquedos como mediadores

tanto no processo de apreensão do mundo pela criança, por meio da

interiorização, como também no processo de conhecimento de si mesma pela

criança (autoconhecimento), por meio da exteriorização. Por essa razão o

criador dos Kindergarten entendia que os brinquedos e as brincadeiras não

poderiam mais ser escolhidos ao acaso. Eles deveriam ser estudados para que

se pudesse oferecer às crianças as atividades mais adequadas ao seu nível de

desenvolvimento.

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CONCLUSÃO

Quando brinca, a criança elabora hipóteses para a resolução de seus

problemas e toma atitudes além do comportamento habitual de sua idade, pois

busca alternativas para transformar a realidade. Os seus sonhos e desejos, na

brincadeira podem ser realizados facilmente, quantas vezes o desejar, criando

e recriando as situações que ajudam a satisfazer alguma necessidade presente

em seu interior.

A promoção de atividades que favoreçam o envolvimento em

brincadeiras, principalmente aquelas que promovem a criação de situações

imaginárias, têm nítida função pedagógica. O sentido de imitação não pode ser

confundido com o que podemos constatar ainda em tantas escolas: proposição

de atividades que visam tão somente a reprodução, descontextualizadas,

imitações mecânicas de modelos fornecidos pelos professores, as "famosas

cópias" de desenhos fornecidos pelos docentes ou retirados de alguma cartilha.

As situações de imitação precisam intervir e desencadear um processo de

aprendizagem.A escola e, particularmente a pré-escola, poderiam a partir

desse tipo de situações, atuar no processo de desenvolvimento das crianças.

Principalmente na pré-escola, a brincadeira não deveria ser considerada uma

atividade de passatempo, sem outra finalidade que a diversão. Para tanto, é

preciso, inicialmente, considerar as brincadeiras que as crianças trazem de

casa ou da rua e que organizam independentemente do adulto, como um

diagnóstico daquilo que já conhecem, tanto no diz respeito ao mundo físico ou

social, bem como do afetivo e, é necessário que a escola possibilite o espaço,

o tempo e um educador que seja o elemento mediador das interações das

crianças com os objetos de conhecimento.

Através de uma brincadeira de criança, podemos compreender como ela

vê e constrói o mundo o que ela gostaria que ele fosse, quais suas

preocupações e que problemas a estão assediando. Pela brincadeira, ela

expressa o que teria dificuldade de colocar em palavras. Nenhuma criança

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brinca só para passar o tempo, sua escolha é motivada por processos íntimos,

desejos, problemas, ansiedades. O que está acontecendo com a mente da

criança determina suas atividades lúdicas; brincar é sua linguagem secreta,

que devemos respeitar mesmo se não a entendemos.

Tanto a atividade lúdica quanto a atividade criativa surgem marcadas

pela cultura e mediadas pelos sujeitos com que ela se relaciona. Mas além de

ser uma situação imaginária, o brinquedo é também uma atividade regida por

regras. Mesmo no universo do "faz-de-conta" há regras que devem ser

seguidas. Ao brincar de ônibus, por exemplo, exerce o papel de motorista. Para

isso tem que tomar como modelo os motoristas reais que conhece e extrair

deles um significado mais geral e abstrato para a categoria "motorista". Para

brincar conforme as regras, têm que esforçar-se para exibir um comportamento

ao do motorista, o que a impulsiona para além de seu comportamento como

criança. Tanto pela criação da situação imaginária, como pela definição de

regras específicas, o brinquedo cria uma zona de desenvolvimento proximal na

criança. No brinquedo a criança comporta-se de forma mais avançada do que

nas atividades da vida real e também aprende a separar objeto/significado.

Vygotsky vem quebrar a dicotomia de mundo – adulto – sério - real e mundo –

infantil – lúdico - fantasioso. Fantasia e realidade se realimentam e possibilitam

que a criança - assim como os adultos - estabeleça conceitos e relações;

insira-se enquanto sujeito social que é. Ele sinaliza que, ao brincar, a criança

não está só fantasiando, mas fazendo uma ordenação do real; tendo a

possibilidade de ressignificar suas diversas experiências cotidianas. Não

podemos nos esquecer de que para ele, a imitação, o faz-de-conta, permite a

reconstrução interna daquilo que é observado externamente e, portanto,

através da imitação são capazes de realizar ações que ultrapassam o limite de

suas capacidades. Pois se através da imitação a criança aprende, nada mais

positivo que a escola promova situações que possibilitem a imitação, a

observação e a reprodução de modelos.

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ÍNDICE

INTRODUÇÃO................................................................................................................8 CAPÍTULO I A HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO INFANTIL..................................................................9

1.1 – A EDUCAÇÃO INFANTIL NO SÉC. XVII...............................................10 1.2 - A EDUCAÇÃO INFANTIL NO SÉC. XVIII...............................................11 1.3 - A EDUCAÇÃO INFANTIL NO SÉC. XIX.................................................13 1.4 - A EDUCAÇÃO INFANTIL NO SÉC. XX...................................................20

CAPÍTULO II A UTILIZAÇÃO DO JOGO E DO BRINQUEDO AO LONGO DA HISTÓRIA........22 CAPÍTULO III O JOGAR E O BRINCAR NO DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA.....................29 3.1 – A COOPERAÇÃO NO JOGO DE REGRAS..............................................32 CAPÍTULO IV JOGOS E BRINQUEDOS NA SALA DE AULA.......................................................35 CAPÍTULO V A IMPORTÂNCIA DO JOGO PARA ALGUNS PENSADORES..............................38 CONCLUSÃO...............................................................................................................45 BIBLIOGRAFIA..........................................................................................................47 ÍNDICE..........................................................................................................................49

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ANEXOS........................................................................................................................50

ANEXOS