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UN IVE RSIDADE CANDIDO MENDES PÓS -GRADUAÇÃO “LATO SENSU” PROJETO A VE Z DO MESTRE ÉTICA NA E MPRESA COMO AT RIBUIÇÃO FUNDAMENTAL EM RH P or: Ezaulina da Cruz Paulo Orie ntador P rof. Dr. Mary S ue Rio de Ja neiro 2006

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

ÉTICA NA EMPRESA COMO ATRIBUIÇÃO FUNDAMENTAL

EM RH

Por: Ezaulina da Cruz Paulo

Orientador

Prof. Dr. Mary Sue

Rio de Janeiro

2006

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

ÉTICA NA EMPRESA COMO ATRIBUIÇÃO FUNDAMENTAL DO

RECURSOS HUMANO

Apresentação de monografia à Universidade Cândido

Mendes como requisito parcial para obtenção do grau

de especialista em Gestão de Recursos Humano

Por:. Ezaulina da Cruz Paulo

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AGRADECIMENTOS

A Deus pela minha vida!

Aos educadores e demais profissionais

que têm em comum o objetivo de construir

uma sociedade mais justa, através da

educação. E aos meus futuros colegas,

“profissionais em RH”.

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DEDICATÓRIA

Ao meu amado filho, Paulo Roberto, que

tanto me incentiva a prosseguir, com

esperança, confiante na transformação de

uma sociedade mais justa.

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RESUMO

A abordagem do tema é devido experiência pessoal, diante confronto existentes entre valores considerados fundamentais para os trabalhadores e valores supostamente afirmados como mais importante para cultura da empresa. É urgente uma nova cultura organizacional, preparando terrenos para uma nova maneira de gerenciar a vida das organizações para o terceiro milênio.

Através pesquisas bibliográficas, entrevistas com alguns profissionais da área de RH, ressaltamos a importância da ética na formação de Recursos Humanos, a necessidade dessa prática nas empresas, mostrando as vantagens que as empresas e sociedade poderiam obter com esse estudo. Inicialmente apresentamos a ética através de uma perspectiva mais teórica, discutindo sua definição, história e doutrinas; em seguida abordamos a ética no ambiente das empresas e organizações, mostrando os benefícios para os trabalhadores e sociedade; discutimos a importância da ética na formação de Recursos Humanos.

Chegamos ao coroamento do nosso estudo quando analisamos a questão da educação ética , buscando alternativas de aplicação em empresas, escolas e universidades.

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METODOLOGIA

A escolha do tema feita a partir de experiência pessoal, em observação a

falha apresentada pelo RH de empresas, que não têm, ou desconhecem a

importância da ética para empresa, para o trabalho e para vida pessoal. A troca

de informações sobre o tema com diferentes profissionais da área de RH, e

colegas de trabalho _ assistente Administrativo, de da mesma empresa. Pesquisa

de campoo, resposta à questionário.. Pesquisando na internet encontramos uma

diversidade de sites que favoreceram na abordagem do tema, sugerindo de livros,

artigos de revistas, experiências de diferentes empresas no assunto tratado etc.

Também a indicação, sugestões de livros, revistas sob orientação dos professores

no decorrer do curso.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ...................................................................................................08

I – ÉTICA ............................................................................................................10

1.1 - DEFINIÇÃO DE ÉTICA .............................................................................11

1.2 - ÉTICA E TRABALHO .................................................................................12

II – REFLETINDO SOBRE A ÉTICA EMPRESARIAL ........................................13

III – A NOVA ÉTICA EMPRESARIAL ..................................................................16

3.1 RESPONSABILIDADE SOCIAL DAS EMPRESAS .....................................18

3.2 ÉTICA COMO FATOR DE LUCRO E BONS NEGÓCIOS ..............................20

IV - ÉTICA NA FORMAÇÃO DE RECURSOS HUMANOS ..................................22

CONCLUSÃO.........................................................................................................24

BIBLIOGRAFIA.......................................................................................................26

ATIVIDADES CULTURAIS.....................................................................................30

ÍNDICE...................................................................................................................32

AVALIAÇÃO ...........................................................................................................33

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INTRODUÇÃO

São freqüentes as queixas sobre falta de ética na sociedade, na política, na indústria e até mesmo nos meios esportivos, culturais e religiosos. A sociedade valoriza comportamentos que praticamente excluem qualquer possibilidade de cultivo de relações éticas. É fácil verificar que o desejo obsessivo na obtenção, possessão e consumo da maior quantidade possível de bens materiais é o valor central na nova ordem estabelecida no mundo e que o prestígio social é concedido para quem consegue esses bens. O sucesso material passou a ser sinônimo de sucesso social e o êxito pessoal deve ser adquirido a qualquer custo. Prevalecem o desprezo ao tradicional, o culto à massificação e mediocridade que não ameaçam e que permitem a manipulação fácil das pessoas. Um dos campos mais carentes, no que diz respeito à aplicação da ética, é o do trabalho e exercício profissional. Por esta razão, executivos e teóricos em administração de empresas voltaram a se debruçar sobre questões éticas. A lógica alimentadora desse processo não é idealista nem "cor de rosa". É lógica do capital que, para poder sobreviver, tem que ser mais ético, evitando cair na barbárie e autodestruição. São os próprios pressupostos da disputa empresarial que forçam a adoção de um modelo mais ético.

O individualismo extremo, muitas vezes associado à falta de ética pessoal, tem levado alguns profissionais a defender seus interesses particulares acima dos interesses das empresas em que trabalham, colocando-as em risco. Os casos de corrupção e investimentos duvidosos nas empresas públicas e privadas são os maiores exemplos do que estamos dizendo.

Esse quadro nos remete diretamente à questão da formação de recursos humanos, pois são as pessoas a base de qualquer tentativa de iniciar o resgate da ética nas empresas e nas relações de trabalho. Os programas de treinamento, educação e desenvolvimento de recursos humanos dão muita ênfase aos assuntos técnicos, que são exaustivamente abordados, discutidos e considerados, esquecendo por completo os aspectos éticos, essenciais para a dinâmica de qualquer atividade profissional.

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Esta deficiência de formação também ocorre nos meios acadêmicos, onde é possível verificar o profundo desconhecimento que os estudantes têm sobre o assunto.O currículo adotado em grande número de escolas e universidades, exceções à parte, parece não dar muita ênfase ao estudo da ética. A pesquisa tem como proposta discutir a importância da ética na formação de recursos humanos,buscando as vantagens que as empresas e a sociedade poderiam obter com esse estudo. E se entendermos a universidade como o local da produção do conhecimento e ampliação de horizontes cognitivos, passaremos então a vê-la como o espaço natural para o desenvolvimento científico do estudo da ética. Seria redundante lembrar que administradores e homens de negócios quase sempre passam pelos bancos escolares e que teriam sua formação enriquecida com a oportunidade de desenvolver conhecimentos na área da Ética Empresarial.Utilizamos ampla pesquisa bibliográfica buscando sempre o equilíbrio entre a tradição filosófica os novos paradigmas que estão servindo de inspiração para a administração contemporânea de empresas e exercício profissional.O estudo aborda inicialmente o estudo da ética, numa perspectiva mais teórica, discutindo sua definição, história e doutrinas.

O capítulo seguinte estabelece as ligações e influências mútuas que ocorreram entre o trabalho humano e a ética, ao longo da história.

Este capítulo tem sua seqüência natural nos dois seguintes, quando procuramos trazer a ética para o ambiente das empresas e organizações, estudando as vantagens de sua implantação, para os trabalhadores e sociedade.

Uma vez analisados todos esses aspectos, chegamos ao coroamento de

nosso estudo, quando analisamos a questão da educação ética, buscando

alternativas de aplicação, em empresas, escolas e universidades.

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CAPÍTULO I

ÉTICA

A ética é uma característica inerente a toda ação humana e, por esta razão, é umelemento vital na produção da realidade social. Todo homem possui um senso ético, uma espécie de "consciência moral", estando constantemente avaliando e julgando suas ações para saber se são boas ou más, certas ou erradas, justas ou injustas. Existem sempre comportamentos humanos classificáveis sob a ótica do certo e errado, do bem e do mal. Embora relacionadas com o agir individual, essas classificações sempre têm relação com as matrizes culturais que prevalecem em determinadas sociedades e contextos históricos. A ética está relacionada à opção, ao desejo de realizar a vida, mantendo com os outros relações justas e aceitáveis. Via de regra está fundamentada nas idéias de bem e virtude, enquanto valores perseguidos por todo ser humano e cujo alcance se traduz numa existência plena e feliz.

O estudo da ética talvez tenha se iniciado com filósofos gregos há 25 séculos atrás. Hoje em dia, seu campo de atuação ultrapassa os limites da filosofia e inúmeros outros pesquisadores do conhecimento dedicam-se ao seu estudo. Sociólogos, psicólogos, biólogos e muitos outros profissionais desenvolvem trabalhos no campo da ética. A ética não é algo superposto à conduta humana, pois todas as nossas atividades envolvem uma carga moral. Idéias sobre o bem e o mal, o certo e o errado, o permitido e o proibido definem a nossa realidade.

Em nossas relações cotidianas estamos sempre diante de problemas do tipo: devo sempre dizer a verdade ou existem ocasiões em que posso mentir? Será que é correto tomar tal atitude? Devo ajudar um amigo em perigo, mesmo correndo risco de vida? Existe alguma ocasião em que seria correto atravessar um sinal de trânsito vermelho? Diante dos dilemas da vida, temos a tendência de conduzir nossas ações de forma quase que instintiva, automática, fazendo uso de alguma "fórmula" ou "receita" presente em nosso meio social, de normas que julgamos mais adequadas de serem cumpridas, por terem sido aceitas intimamente e reconhecidas como válidas e obrigatórias. Fazemos uso de normas, praticamos determinados atos e, muitas vezes, nos servimos de determinados argumentos para tomar decisões, justificar nossas ações e nos sentirmos dentro da normalidade.

As normas de que estamos falando têm relação como o que chamamos de valores morais. São os meios pelos quais os valores morais de um grupo social são manifestos e acabam adquirindo um caráter normativo e obrigatório. A palavra moral tem sua origem no latim "mos"/"mores", que significa "costumes", no sentido de conjunto de normas ou regras adquiridas por hábito. Notar que a expressão "bons costumes" é usada como sendo sinônimo de moral ou moralidade. A moral pode então ser entendida como o conjunto das práticas cristalizadas pelos

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costumes e convenções histórico-sociais. Cada sociedade tem sido caracterizada por seus conjuntos de normas, valores e regras. São as prescrições e proibições do tipo "não matarás", "não roubarás", de cumprimento obrigatório. Muitas vezes essas práticas são até mesmo incompatíveis com os avanços e conhecimentos das ciências naturais e sociais.A moral tem um forte caráter social, estando apoiada na tríade cultura, história e natureza humana. É algo adquirido como herança e preservado pela comunidade.

1.1 DEFINIÇÃO DE ÉTICA

A ética seria então uma espécie de teoria sobre a prática moral, uma reflexão teórica que analisa e critica os fundamentos e princípios que regem um determinado sistema moral. O dicionário Abbagnado, entre outras considerações nos diz que a ética é "em geral, a ciência da conduta" (ABBAGNANO, sd, p.360) e Sanchez VASQUEZ (1995, p.12) amplia a definição afirmando que "a ética é a teoria ou ciência do comportamento moral dos homens em sociedade. Ou seja, é ciência de uma forma específica de comportamento humano." E reforça esta definição com a seguinte explicação:

Assim como os problemas teóricos morais não se identificam com os problemas práticos, embora estejam estritamente relacionados, também não se podem confundir a ética e a moral. A ética não cria a moral. Conquanto seja certo que toda moral supõe determinados princípios, normas ou regras de comportamento, não é a ética que os estabelece numa determinada comunidade. A ética depara com uma experiência histórico-social no terreno da moral, ou seja, com uma série de práticas morais já em vigor e, partindo delas, procura determinar a essência da moral, sua origem, as condições objetivas e subjetivas do ato moral, as fontes da avaliação moral, a natureza e a função dos juízos morais, os critérios de justificação destes juízos e o princípio que rege a mudança e a sucessão de diferentes sistemas morais. (ibid., p.12)

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1. 2 ÉTICA E TRABALHO

Os animais vivem em harmonia com sua própria natureza. Isso significa que todo animal age de acordo com as características de sua espécie quando, por exemplo, se acasala, protege a cria, caça e se defende. Os instintos animais são regidos por leis biológicas, de modo que podemos prever as reações típicas de cada espécie. Os animais vêm ao mundo com impulsos altamente especializados e firmemente dirigidos, e por isso vivem quase que completamente determinados pelos seus instintos e cada espécie vive no seu ambiente particular (mundo dos cavalos, dos gatos, dos elefantes, etc.). A etologia é a ciência que se ocupa do estudo comparado do comportamento dos animais, indicando a regularidade desse comportamento. É evidente que existem grandes diferenças entre os animais conforme seu lugar na escala zoológica: enquanto um inseto como a abelha constrói a colméia e prepara o mel seguindo os padrões rígidos das ações instintivas, animais superiores, como alguns mamíferos, agem por instinto mas também desenvolvem outros comportamentos mais flexíveis e portanto menos previsíveis. Essas habilidades, porém, não levam os animais superiores a ultrapassar o mundo natural, caminho esse exclusivo da aventura humana.

O ser humano, ao contrário, é imperfeitamente programado pela sua constituição biológica. Sua estrutura de instintos no nascimento é insuficientemente especializada e não é dirigida a um ambiente que lhe seja específico. Sugar e chorar são das poucas coisas que sabemos quando nascemos. O mundo humano é um mundo aberto, isto é, um mundo que deve ser construído pela própria atividade humana.

Como os outros mamíferos, estamos num mundo que é anterior ao nosso aparecimento. Mas, diferentemente deles, este mundo que nos precede não é simplesmente dado, colocado à nossa disposição para um relacionamento imediato. O ser humano precisa "organizar" o mundo para superar o "caos", necessita construir um mundo para si, um mundo que tenha um sentido humano, e, nesse processo, construir a si mesmo.

Karl MARX (1980, p.202) consegue colocar essa idéia de uma forma extraordinariamente clara, quando faz a distinção entre o trabalho humano e a atividade instintiva do animal:

Uma aranha executa operações semelhantes às do tecelão, e a abelha supera mais de um arquiteto ao construir sua colméia. Mas o que distingue o pior arquiteto da melhor abelha é que ele figura na mente sua construção antes de transformá-la em realidade. No fim do processo de trabalho aparece um resultado que já existia antes idealmente na imaginação do trabalhador. Ele não transforma apenas o material sobre o qual opera; ele imprime ao material o projeto que tinha conscientemente em mira, o qual constitui a lei determinante do seu modo de operar e ao qual tem de subordinar sua vontade. E essa subordinação não é um ato fortuito. Além do esforço dos órgãos que trabalham, é mister a vontade adequada que se manifesta através da atenção durante todo o curso do trabalho. E isso é tanto mais necessário quanto menos se sinta o trabalhador atraído pelo

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conteúdo e pelo método de execução de sua tarefa, que lhe oferece por isso menos possibilidade de fruir da aplicação das suas próprias forças físicas e espirituais.

È como se pelo trabalho o homem, na condição de transformador da natureza,

pudesse atingir seu mais elevado ideal de realização, com consciência e

liberdade. Quando o homem age, cria e empreende, produzindo objetos e

saberes, bens materiais e simbólicos, está atuando não somente no campo do

fazer, isto é, no âmbito do trabalho, mas também no campo do saber e do poder,

ou seja, no campo da cultura e da política. Tais dimensões estão

entrelaçadas e carregam uma forte componente ética.

II – REFLETINDO SOBRE A ÉTICA EMPRESARIAL

A doutrina no âmbito do direito empresarial tem conceituado a empresa como uma atividade econômica organizada pelo empresário, que se utiliza dos fatores da produção - a natureza, o capital e o trabalho - para produzir um resultado, que pode ser um serviço, um bem ou um direito, para venda no mercado, com o objetivo final de lucro. A história nos dá conta de que, nas sociedades primitivas e antigas, a atividade econômica se baseava na troca de mercadoria por mercadoria, não existindo nesse período a idéia de lucro e nem de empresa. Portanto, a ética se restringia às "relações de poder entre as partes e pelas eventuais necessidades presentes de obtenção de certos bens ou artigos". O surgimento do conceito de lucro nas operações de natureza econômica, trouxe uma certa dificuldade para a moral, posto que ele (o lucro) era originariamente considerado um acréscimo indevido, sob o ponto de vista da moralidade. Somente no século XVIII, o economista Adam Smith, na sua obra A Riqueza das Nações, citado por Moreira, "conseguiu demonstrar que o lucro não é um acréscimo indevido, mas um vetor de distribuição de renda e de promoção do bem-estar social", expondo "pela primeira vez a compatibilidade entre ética e atividade lucrativa". Nas lições de Moreira, "a encíclica Rerum Novarum, do Papa Leão XIII", foi "a primeira tentativa formal de impor um comportamento ético à empresa".

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Esse documento papal trouxe no seu bojo princípios éticos aplicáveis nas relações entre a empresa e empregados, valorizando o respeito aos direitos e à dignidade dos trabalhadores. Surge nos Estados Unidos em 1.890, a Lei "Shelman Act", destinada "a proteger a sociedade contra os acordos entre empresas, contrários ou restritivos da livre concorrência"

No início do século XX, foi editada a Lei "Clayton", alterada pela "Pattman-Robison", que complementou a lei "Shelman Act", "proibindo a prática de discriminação de preços por parte de uma empresa em relação aos seus clientes".

Em 1972, realiza-se a Conferência Internacional Sobre o Meio Ambiente, em Estocolmo, Suécia, organizada pela Organização das Nações Unidas, que teve como finalidade conscientizar "todos os segmentos sociais, inclusive as empresas sobre a necessidade de se preservar o planeta".

Cinco anos após, o governo americano legisla sobre a ética empresarial, através da edição da Lei "Foreign Corrupt Practices Act", que proíbe e estabelece penalidades às pessoas ou organizações que ofereçam subornos às autoridades estrangeiras, com a finalidade de obter negócios ou contratos.

No Brasil foi editada a Lei n. 4.137/62, alterada pela Lei n. 8.884/94, que reprime o abuso do poder econômico e as práticas concorrenciais. Em diversas outras áreas, como nas de proteção ao trabalho, do meio ambiente, do consumidor, existem leis específicas, tratando da questão da ética.

Diante dessa preocupação mundial com a ética empresarial, pode-se afirmar que estamos vivendo uma nova era nessa matéria.

Relativamente a evolução da ética na empresa societária, ao que se tem notícia, até o fim da primeira metade do século XX, os conflitos societários eram solucionados na própria empresa, sendo poucas as demandas judiciais. Prevalecia o poder daquele que majoritariamente comandava a empresa. Esse período foi chamado de fase monárquica da sociedade comercial. "Aplicava-se a visão do banqueiro alemão ao qual se atribui a qualificação dos acionistas minoritários como sendo tolos e arrogantes. Tolos porque lhe entregavam o dinheiro e arrogantes, pois ainda pretendiam receber os dividendos".

Paulatinamente vai-se criando nova consciência nessas relações, e os controladores passam a buscar o consenso junto aos demais participantes da sociedade (empregados, minoritários etc.)No Brasil, a partir da metade do século XX, já há uma preocupação do direito brasileiro para com os direitos dos minoritários, possibilitando-hes o recebimento dos dividendos, o recesso e responsabilizar os administradores e controladores da companhia.

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Para Wald, "É o primeiro passo para a democratização e moralização da empresa, mediante a criação de um sistema de liberdade com responsabilidade, que sucedeu ao regime da mais completa irresponsabilidade".

Verifica-se, modernamente, que a legislação brasileira consagra os conceitos de abuso de direito e de responsabilidade pelo desvio de poderes.

A Lei n. 6.404/76, assim como a legislação do mundo inteiro, tem reconhecido que o poder do voto deve ser exercido no interesse da sociedade, consoante dispõe o artigo 115 da citada lei:

O acionista deve exercer o direito de voto no interesse da companhia; considerar-se-á abusivo o voto exercido com o fim de causar dano à companhia ou a outros acionistas, ou de obter, para si ou para outrem, vantagem a que não faz jus e de que resulte, ou possa resultar, prejuízo para companhia ou para outros acionistas.

Conforme se vê, "A obediência à ética e aos bons costumes se impôs até aos acordos de acionistas cujas cláusulas ilegais, abusivas ou imorais não podem ser consideradas vinculatórias para os seus signatários".

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III A NOVA ÉTICA EMPRESARIAL

Numa visão mais ampla, da mesma forma que um empregado não mantém seu emprego com a falência de sua empresa, também uma empresa terá muitas dificuldades com a falência econômica, social e ambiental do país em que estiver operando.

Estão começando a reconhecer que o desejo de acumulação infinita e de consumo sem limites exige uma desenfreada exploração de recursos naturais, que são escassos. Os altos custos ecológicos, pela ameaça que representam à população e ao planeta, estão colocando as empresas devastadoras numa posição muito delicada. Afinal, os interesses deste tipo de empresa entra em conflito frontal com os interesses da coletividade e uma das questões éticas mais "quentes" dos dias de hoje é o controle social sobre a agressão ao meio ambiente e as empresas que estão sensíveis à esta realidade têm sua sobrevivência reforçada, pois existirá uma procura crescente por aquelas não apenas voltadas para a produção e lucro, mas que também estejam preocupadas com a solução de problemas mais amplos como preservação do meio ambiente e bem estar social.Percebemos que, mesmo no campo dos negócios e empresas, aparentemente o menos propício para aplicações éticas, tem surgido uma necessidade cada vez mais urgente de seu estudo. Seguindo esta lógica, onde o próprio capitalismo necessita redescobrir suas regras, ter padrões éticos significa ter bons negócios e parceiros a longo prazo, pois o consumidor está cada vez mais atento ao comportamento das empresas pois existe um intenso metabolismo no relacionamento entre as empresas e as sociedades em que estão inseridas. Códigos de conduta, regulamentos, responsabilidade social, políticas, contratos e liderança, são exemplos de como as empresas podem desenvolver sua ética no contato com a sociedade. Há quem afirme que as organizações de sucesso devem se afastar de uma época marcada por contratos e litígios e entrar na era do "aperto de mão". As empresas devem estabelecer altíssimos padrões de integridade e depois aplicá-los sem incertezas. Nossa primeira preocupação ao pesquisarmos sobre a importância da ética na formação de recursos humanos é verificarmos o interesse e a contemporaneidade do tema. Foi possível, através da rica literatura existente, levantar muitos pontos interessantes e ampliarmos os horizontes deste trabalho de pesquisa.Logo de início, constatamos que os teóricos em administração de empresas, na tentativa de ampliar as chances de sobrevivência do atual modelo econômico, estão revendo posturas e adotando práticas mais éticas na condução de seus negócios e na gestão das empresas. Não estamos falando de idealismos ou de nobreza de atitudes. É a própria necessidade de sobrevivência que leva o atual modelo empresarial a ser mais ético.

Jung Mo SUNG e Josué Cândido da SILVA (1995, p. 66) fazem uma excelente análise sobre esta necessidade de sobrevivência: Os próprios ardorosos defensores da cultura capitalista perceberam que não se pode levar muito a sério

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a tese de que a defesa do interesse individual gera o bem-estar da coletividade. Com a difusão e aceitação generalizada desta tese na sociedade, os indivíduos que trabalham nas empresas começaram também a defender os seus interesses particulares sem levar em consideração o interesse da coletividade em questão, a empresa. Com isso, os executivos passaram a defender mais os seus interesses particulares do que o dos acionistas, gerando sérios problemas de corrupção e investimentos "duvidosos" de dinheiro das empresas privadas.

Além disso, quando o espírito da defesa do interesse próprio é o mais forte numa empresa, é impossível criar o espírito de equipe, um item fundamental para aumentar a produtividade da empresa, tão necessária num mercado competitivo.

Basicamente estes dois problemas levaram os executivos e os teóricos da administração a se debruçar sobre questões éticas. Perceberam que a ausência de ética e a simples defesa do interesse próprio põem em perigo a sobrevivência das empresas e, portanto, dos seus próprios empregos. É o instinto de sobrevivência falando mais alto que teorias aprendidas na escola.

Jonh Kenneth GALBRAITH (1996, p. 90) um dos "papas" do pensamento econômico contemporâneo, aborda esta questão de forma ainda mais clara quando diz: "O sistema econômico só funciona eficazmente dentro de regras de conduta firmes. A primeira é a honestidade comum - a verdade deve ser transmitida como informação essencial aos investidores, ao público em geral e aos consumidores."

É como se a necessidade de sobrevivência estivesse impondo às empresas uma urgente retomada de atitudes e valores éticos. Afinal, que empresa teria condições de sobreviver e prosperar num clima de falência econômica, social e ambiental?

Quem nos responde é ainda Jonh Kenneth GALBRAITH (ibid., p. 93). A sociedade justa tem três exigências econômicas estreitamente relacionadas, cada qual com força independente: a necessidade de suprir os bens de consumo e serviços requeridos; a necessidade de assegurar que essa produção e seu uso e consumo não exerçam um efeito adverso sobre o atual bem-estar do público em geral; e a necessidade de assegurar que não afetem adversamente as vidas e o bem-estar das gerações futuras. As duas últimas exigências estão em freqüente conflito com a primeira, conflito esse fortemente manifesto na economia e na política diárias. A referência comum é o efeito sobre o meio ambiente.

As empresas não podem continuar gerando altos custos ecológicos em suas operações, pois seus interesses estariam colidindo com os da sociedade, uma população cada vez mais preocupada e exigente em relação à preservação do meio ambiente.Quando a empresa se preocupa com as questões ambientais e bem estar social, preocupações evidentemente éticas, aumenta suas chances de sobrevivência, pois a sociedade desenvolve uma imagem positiva em relação a este tipo de organização.

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Quando as empresas passam a atuar de forma menos predatória e selvagem, todos saem ganhando, embora muitas vezes as intenções que estão por trás desta atitude não possam ser consideradas altruístas. É como se as empresas, ao aplicarem uma espécie de "ética do egoísmo" conseguissem, como efeitocolateral, atingir de forma benéfica o conjunto da sociedade. Esse movimento poderia ser chamado de "responsabilidade social" de empresas e organizações.

3.1 RESPONSABILIDADE SOCIAL DAS EMPRESAS

A competição no mercado de consumo é fato notório no cenário mundial, fruto do modelo capitalista que prega a maximização de lucros e resultados. Nunca se produziu e se consumiu tanto.

Para atrair os consumidores, as empresas, cada vez mais, procuram agregar valores aos seus produtos e/ou serviços, como forma de criar diferenciais competitivos e alcançar maiores fatias no mercado.

Entre os valores mais comuns podem ser citadas a qualidade, segurança e a comodidade, características que fazem os consumidores identificarem, rapidamente, uma marca específica. Atualmente, entretanto, muitas empresas estão associando os valores éticos às suas marcas. Não que a ética estivesse ausente no ambiente empresarial, mas é inegável que sempre ocupou uma posição secundária, em razão, sobretudo, do sistema capitalista.

De fato, a defesa dos valores éticos nos ambientes empresariais sugeria, no passado, a falsa idéia de que haveria redução nos lucros, o que a renegou a uma posição meramente coadjuvante.

No entanto, a globalização e a competitividade desmascararam essa idéia. As empresas, com maior

freqüência, investem em valores éticos, os quais, associados à diversas ferramentas de marketing, podem agregar bastante valor à marca e, com isso, alcançar resultados muito satisfatórios.

Certamente, o valor ético que mais vem sendo associado às marcas das empresas, como forma de criar um diferencial competitivo, é o desenvolvimento de programas de responsabilidade social.Mas afinal, o que é a responsabilidade social?

O Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social traz o seguinte conceito:"Responsabilidade social empresarial é uma forma de conduzir os negócios que torna a empresa parceira e co-responsável pelo desenvolvimento social. A empresa socialmente responsável é aquela que possui a capacidade de ouvir os

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interesses das diferentes partes (acionistas, funcionários, prestadores de serviço, fornecedores, consumidores, comunidade, Governo e meio ambiente) e conseguir incorporá-los ao planejamento de suas atividades, buscando atender às demandas de todos, não apenas dos acionistas ou proprietários".

De maneira bem simples, pode-se dizer que "empresa socialmente responsável" é aquela que tem os interesses da comunidade incorporados em seus negócios.

Desnecessário dizer, diante desse conceito, que não podem ser consideradas empresas socialmente responsáveis aquelas que realizam algum ato em prol da sociedade, mas que, de outra forma, não respeitam os ditames básicos da lei como, por exemplo, o pagamento em dia de seus funcionários e o recolhimento dos tributos devidos aos entes estatais. Em outras palavras, para que a empresa seja considerada como socialmente responsável, é preciso que haja coerência e harmonia entre suas ações e seu discurso.

No mesmo sentido, importa dizer que os programas de responsabilidade social não podem ser confundidos, em momento algum, com filantropia. Filantropia nada mais é que um simples "auxílio" da empresa em prol da comunidade. Representa uma ação externa e altruísta da empresa em virtude de algum valor humanitário, sendo utilizada, muitas vezes, de forma esporádica.

A responsabilidade social, por sua vez, está direcionada para os negócios da empresa, que, culturalmente, desenvolve seus planejamentos e traça seus objetivos buscando atender aos interesses dos acionistas, clientes, fornecedores, funcionários, ou seja, todos aqueles que se relacionam, direta ou indiretamente, com os negócios da organização. Entretanto, quais seriam os benefícios obtidos por uma empresa que desenvolve programas de responsabilidade social? Como dito anteriormente, o emprego de ferramentas de marketing apropriadas pode criar um diferencial competitivo em relação aos concorrentes, principalmente como forma de tornar os consumidores mais fiéis à marca.Com efeito, os programas de responsabilidade social geram valor à marca da empresa, de maneira que os consumidores dispõem-se a pagar um pouco mais pelo produto e receber, em troca, o valor agregado.

Pode-se ressaltar, ainda, que empresas socialmente responsáveis possuem uma longevidade maior no mercado, além de conseguirem, com maior facilidade, recrutar e manter talentos.

É importante ressaltar que, para que haja um retorno sólido dos investimentos, a realização de programas de responsabilidade social deve ser uma prática inserida na cultura da organização, com a inserção dos valores éticos na missão da empresa. É também essencial que tais valores sejam devidamente transmitidos aos funcionários para que a cultura seja difundida e a organização sofra um processo de valorização e admiração internas.

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3.2 ÉTICA COMO FATOR DE LUCRO E BONS NEGÓCIOS

Ter padrões éticos significa ter bons negócios a longo prazo. Existem estudos indicando a veracidade dessa afirmativa. Na maioria das vezes, contudo, as empresas reagem a situações de curto prazo.O Center for Ethics da Universidade do Arizona, concluiu que as empresas norte-americanas que renderam dividendos por cem anos ou mais, eram exatamente aquelas que viam na ética uma de suas maiores prioridades.

Empresários sagazes sabem que o sucesso nos negócios e as práticas éticas andam de mãos dadas. Eles se concentram num objetivo empresarial que ultrapassa os simples negócios do dia-a-dia e sabem, em última análise, que não há nenhuma forma correta de fazer algo errado. Em abril de 1992, a revista Industry Week informou aos seus leitores: muitas organizações acreditam que não existe correlação entre a integridade e o desempenho financeiro. Elas estão enganadas. A integridade e o desempenho não são extremidades opostas de um contínuo. Quando as pessoas trabalham para uma organização que acreditam ser justa, onde todos estão dispostos a dar de si para a realização das tarefas, onde as tradições de fidelidade e cuidado são marcantes, as pessoas trabalham em um nível mais elevado. Os valores ao seu redor passam a fazer parte delas e elas vêem o cliente como alguém a quem devem o melhor produto ou serviço possível.Bons negócios dependem essencialmente do desenvolvimento e manutenção de relações de longo prazo. O empresário que obtém um rápido ganho financeiro tirando vantagens de clientes, fornecedores ou funcionários pode acusar um lucro um pouco mais alto neste trimestre, mas a confiança que perdeu no processo pode jamais voltar a ser instaurada em suas relações de negócios.

Na maioria das vezes o cliente desapontado passará a consumir os produtos da concorrência assim que aparecer uma oportunidade. Chegará o dia em que um fornecedor explorado estará por cima. E os funcionários explorados saberão retribuir ao mau tratamento de várias maneiras: roubando no almoxarifado ou no patrimônio, fazendo longas ligações interurbanas, apresentando licenças médicas sem estar doente, etc. Falhas éticas nos levam a perder clientes e fornecedores importantes, dificultando o estabelecimento de parcerias. A prática de parcerias é cada vez mais comum hoje em dia. Na hora de dar as mãos, além de levantar as afinidades culturais e comerciais, as empresas também verificam se há compatibilidade ética. Será que unir nossos negócios não vai acabar envergonhando minha empresa?Recuperar o nome de uma empresa é muito difícil. Quando uma companhia age corretamente, o tempo de vida do fato na memória do público é de cinco minutos. A lembrança de uma transgressão à ética pode durar cinqüenta anos. A percepção do público pode ter um impacto direto sobre os lucros da empresa. As ações da União Carbide caíram vertiginosamente em função do desempenho de sua administração diante do desastre de Bhopal na Índia.

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A reputação de uma empresa é um fator primário nas relações comerciais, formais ou informais, quer estas digam respeito à publicidade, ao desenvolvimento de produtos ou a questões ligadas aos recursos humanos. Nas atuais economias nacionais e globais, as práticas empresariais dos administradores afetam a imagem da empresa para qual trabalham. Assim, se a empresa quiser competir com sucesso nos mercados nacional e mundial, será importante manter uma sólida reputação de comportamento ético.

Temos também a confiança de clientes e fornecedores. É um benefício a curto prazo, pois eles divulgam a empresa recomendando-a a terceiros.

Uma empresa não ética também não pode esperar comportamento ético de seus colaboradores. Os padrões éticos da companhia são a base do comportamento de seus funcionários.Talvez a expressão maior da ética moderna tenha sido o filósofo alemão Immannuel Kant (1724-1804).

A preocupação maior da ética de Kant era estabelecer a regra da conduta na substância racional do homem. Ele fez do conceito de dever ponto central da moralidade. Hoje em dia chamamos a ética centrada no dever de deontologia.

Kant dizia que a única coisa que se pode afirmar que seja boa em si mesma é a "boa vontade" ou boa intenção, aquilo que se põe livremente de acordo com o ever. O conhecimento do dever seria conseqüência da percepção, pelo homem, de que é um ser racional e como tal está obrigado a obedecer o que Kant chamava de "imperativo categórico", que é a necessidade de respeitar todos os seres racionais na qualidade de "fins em si mesmo". É o reconhecimento da existência de outros homens (seres racionais) e a exigência de comportar-se diante deles a partir desse reconhecimento. Deve-se então tratar a humanidade na própria pessoa como na do próximo sempre como um fim e nunca só como um meio.

A ética kantiana busca, sempre na razão, formas de procedimentos práticos que possam ser universalizáveis, isto é, um ato moralmente bom é aquele que pode ser universalizável, de tal modo que os princípios que eu sigo possam valer para todos."Age apenas segundo uma máxima tal que possas ao mesmo tempo querer que ela se torne lei universal." (KANT, 1984, p.129)

Analisando a questão da tortura, por exemplo, me questiono se tal procedimento deveria ser universalizado ou não. Se não posso querer a universalização da tortura, também não posso aceitá-la no aqui e agora .

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IV ÉTICA NA FORMAÇÃO DE RECURSOS HUMANOS

Chegamos a um ponto de nosso trabalho onde podemos inserir o processo educacional nesta nova visão de negócios, ou seja, uma proposta de educação para a ética empresarial /profissional. Numa analogia simplificada, podemos supor que, da mesma forma que o estudo da disciplina "educação ambiental" contribui para o desenvolvimento de uma reflexão quanto às questões de proteção ambiental, o estudo da ética empresarial pode ter um papel importante no processo de migração para condutas mais éticas no mundo dos negócios. Uma das razões é o fato de que, a maioria de nossos empresários e administradores não têm qualquer idéia do que seria "ética empresarial" e existe um preconceito quanto à necessidade de se estudar o assunto. Num país como este, quem é que está preocupado com ética e futuro? Não está, mais devia estar. Talvez os quatro inscritos façam parte dos 5% que estarão melhores daqui a cinqüenta anos. (SEMLER, 1988, p. 124)

São afirmativas que demonstram o total desconhecimento sobre a importância da ética empresarial e também sobre a tendência crescente de sua implantação no mundo dos negócios, conforme já comentamos bastante.

Acreditamos que esses conceitos não podem mais continuar sendo trabalhados de forma empírica no dia a dia empresarial. Os desafios do mercado de hoje e as sérias falhas éticas que ocorrem em quase todos os setores empresariais exigem uma abordagem mais sofisticada dos dilemas éticos, algo mais do que simplesmente fazer um jogo ou ceder a sentimentos pessoais a respeito de si mesmo. A raiz da palavra integridade significa "manter junto". A integridade nos negócios hoje exige capacidades incrivelmente integrativas; o poder de manter junta uma infinidade de valores importantes e quase sempre conflitantes; e o poder de colocar na mesma dimensão a moralidade pessoal e as preocupações gerenciais. Nenhum administrador pode se dar ao luxo, do ponto de vista econômico ou moral , de manter suas noções morais em um compartimento fechado, reservado para os casos mais estreitos e óbvios. (NASH, 1993, p. 5).Também acreditamos que os recursos humanos devem ter uma visão global, no que diz respeito a decisões éticas. Para isso torna-se necessário que tenham tido a oportunidade de exercitar e ampliar seus horizontes cognitivos sobre esta disciplina, sendo o período de formação universitária o mais adequado para esse aprendizado.

A idéia de se estudar formalmente a questão ética não é recente. Aristóteles chegou mesmo a definir virtude como questão de hábito ou faculdade treinada de escolha. "Quanto a excelência moral, ela é o produto do hábito, razão pela qual seu nome é derivado, com uma ligeira variação da palavra hábito." (ARISTÓTELES, 1992, P. 35)

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Não estamos sugerindo uma ação forçada para se introduzir o pensamento ético na mente dos futuros profissionais e empreendedores, mas o estudo da ética empresarial nos bancos universitários, com a sua conseqüente reflexão e produção de conhecimentos. A práxis resultante deste processo reflexivo seria de extrema importância para os contextos social e empresarial.

Para um futuro administrador, por exemplo, essa produção de novos conhecimentos seria fundamental para a formação de uma intensa consciência crítica. O mercado de trabalho receberia uma massa de profissionais capazes de exercer a chamada "reflexão ética", de modo sistemático e científico, no exercício de suas funções enquanto gerentes e administradores de empresas.

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CONCLUSÃO

Concluímos enfatizando a ética na formação de recursos humanos. Acreditamos ser da maior importância a reformulação do papel das empresas e organizações no que diz respeito à educação, treinamento e desenvolvimento de seus empregados. É da maior importância o papel que essas empresas podem absorver como agentes de educação de recursos humanos e de transformação positiva da sociedade em que estão inseridas.

Já existe uma opinião crescente, na moderna administração contemporânea quanto a esse novo papel a ser incorporado pelas organizações do futuro.

As organizações para sobreviverem terão de estar aptas a se ajustarem às exigências do seu tempo, às velozes mudanças que estão ocorrendo. Será necessária muita acuidade mental por parte de empresários e dirigentes de empresas para que suas organizações não desapareçam neste turbilhão de mudanças aceleradas.

É urgente o advento de uma nova cultura organizacional, preparando o terreno para uma nova maneira de gerenciar a vida das organizações para o terceiro milênio. Assim as organizações e através delas a tecnologia contribuirá para que o ser humano atinja plenamente sua plenitude produtiva, trabalhando de forma inteira e completa. Estão caminhando no sentido de devolver ao trabalho humano sua dignidade e caráter sagrado. Quando isso acontecer, tornar-se-á redundante qualquer aplicação de programas de ética no trabalho, pois a sua própria essência engrandecedora e moral terá sido resgatada. Não é mais possível continuarmos vivendo de forma miserável, enganando os outros, dizendo meias verdades, manipulando, cedendo a jogos de poder.

Acreditamos existir alguns valores universais que podem ser cultivados quando se fala em formação de pessoas. Respeito, fraternidade e igualdade, por exemplo, são valores básicos. Nós, que atuamos na área de recursos humanos temos de rever a postura até aqui adotada. Teremos de buscar novos valores e transcender os valores da empresa. Qualidade, respeito a clientes e colaboradores são coisas legais, interessantes, mas temos de ir além disso.

O debate quanto às questões éticas está se ampliando muito nesse final de século e temos de extrapolar os limites de nossas áreas de conhecimento para poder responder as questões que estão surgindo.

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As empresas, escolas e universidades, todos envolvidos no processo de treinamento, educação e desenvolvimento de seres humanos, devem criar espaços para o crescimento pessoal, profissional e existencial das pessoas.Devem criar serviços de apoio, para o auto-desenvolvimento de seus recursos humanos, evitando sempre o paternalismo, o clientelismo e o assistencialismo. Encarar os colaboradores como seres emancipados, seres humanos plenos.

Investir continuamente em saúde, lazer, aperfeiçoamento profissional contínuos é uma forma de fortalecer as virtudes profissionais e, conseqüentemente, a auto-estima dos empregados. Uma empresa é feita por cidadãos que vivem numa comunidade, por isso, ela também precisa participar positivamente da vida da comunidade. Deve estimular projetos educativos que reforcem o poder de cidadania de seus colaboradores. Uma empresa pode investir em educação, numa gama que vai da pré-escola à universidade.

Esperamos que esse trabalho possa contribuir de alguma forma com o esforço de trazermos a ética para o campo do trabalho e das empresas, iluminando corações e mentes, no desejo de humanizar cada vez mais a questão do trabalho.

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BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

ARISTÓTELES. Ética a nicômanos.3 ed. Tradução de Mário da Gama Kuriy. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 1992.

GALBRAITH, Jonh Kenneth. A Sociedade justa: uma perspectiva humana. Rio de Janeiro: Campus, 1996.

KANT, Immanuel. Textos selecionados; seleção de textos de Marilena de Souza Chauí; traduções de Tânia Maria Bernkopf, Paulo Quintela, Rubens Rodrigues Torres Filho - 2 ed - São Paulo: Abril Cultural, 1984.

MAQUIAVEL. O príncipe. São Paulo: Círculo do Livro S. A., sd.

MARX, Karl. O Capital: crítica da economia política. Tradução de Reginaldo Sant’Anna. 5. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1980. Livro Primeiro. v. I.

NASH, Laura L. Ética nas empresas. São Paulo: Makron Books, 1993.

SUNG, Jung Mo; SILVA, Josué Cândido da. Conversando sobre ética esociedade. Petrópolis: Vozes, 1995.

VÁZQUEZ, Adolfo Sanchez. Ética.15.ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1995.

WEIL, Pierre. A nova ética. 2 ed. Rio de Janeiro: Editora Rosa dos Ventos, 1994.

WEIL, Pierre. Organização e tecnologias para o terceiro milênio: a nova cultura organizacional holística. Rio de Janeiro: Editora Rosa dos Ventos, 1991.

WERBER, Max. A ética protestante e o espírito do capitalismo. São Paulo: Livraria Pioneira Editora, 1974.

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ATIVIDADES CULTURAIS

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ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO 2

AGRADECIMENTO 3DEDICATÓRIA 4RESUMO 5

METODOLOGIA 6

SUMÁRIO 7

INTRODUÇÃO 8

CAPÍTULO I

ÉTICA 10

1.1 – Definição Ètica 11

1.2 – Ètica e Trabalho 12

CAPITULO II

REFLETINDO SOBRE A ÉTICA EMPRESARIAL 13

CAPITULO III

A NOVA ÉTICA EMPRESARIAL 16

3.1 Responsabilidade Social das Empresa 18

3.2Ética como fator de lucro e bons negócios 20

CAPITULO IV

ÉTICA NA FORMAÇÃO DE RECURSOS HUMANO 22

CONCLUSÃO 24

BIBLIOGRAFIA 26

ATIVIDADES CULTURAIS 27

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FOLHA DE AVALIAÇÃO

Nome da Instituição: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

Título da Monografia: ÉTICA NA EMPRESA COMO FATOR FUNDAMENTAL

DE RH

Autor: Ezaulina da Cruz Paulo

Data da entrega:

Avaliado por: Conceito: