UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · encantam com os desenhos das crianças....
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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
PROJETO A VEZ DO MESTRE
O DESENHO PROMOVENDO O DESENVOLVIMENTO
COGNITIVO, AFETIVO E EMOCIONAL DA CRIANÇA.
Por: Maria Regina Pacheco do Espírito Santo
Orientador
Prof.ª Mary Sue
Rio de Janeiro
2010
2
UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
PROJETO A VEZ DO MESTRE
O DESENHO PROMOVENDO O DESENVOLVIMENTO
COGNITIVO, AFETIVO E EMOCIONAL DA CRIANÇA.
Apresentação de monografia à Universidade
Cândido Mendes como requisito parcial para
obtenção do grau de especialista em Educação
Infantil e Desenvolvimento.
Por. Maria Regina Pacheco do Espírito Santo
AGRADECIMENTOS
3
Ao meu marido, pela força, carinho,
compreensão e apoio durante todo o processo de meu
envolvimento neste trabalho.
As amigas Débora, Renata e Vera que
se mostraram francamente abertas e dispostas a ajudar.
Obrigada hoje e sempre.
DEDICATÓRIA
4
A Clara e Bruna que sempre me encantaram com seus
lindos desenhos. E a todas as pessoas que também se
encantam com os desenhos das crianças.
EPÍGRAFE
5
“Não sei se a vida é curta ou longa demais para nós. Mas
sei que nada do que vivemos tem sentido se não
tocarmos o coração das pessoas”.
RESUMO
A Educação Infantil é o período que compreende do nascimento aos seis anos
de idade. Nesta etapa a criança passa por várias modificações, caracterizadas
como etapas do desenvolvimento infantil. De acordo com a mediação entre o
6
meio cultural, a criança vai avançando e os estímulos recebidos do meio em
que ela está inserida, contribuem para o processo de construção do
conhecimento. A sua formação como sujeito em processo de humanização vai
se estruturando a partir das experiências assimiladas em interação com as
outras pessoas. Por isso, não podemos deixar de considerar a importância das
instituições que atendem no âmbito da Educação Infantil. Alguns anos atrás, as
instituições de Educação Infantil tinham um cunho apenas assistencialista.
Hoje é assegurado pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação (9324/96) e
pelo Estatuto da Criança e do Adolescente, o direito a todos à Educação
Infantil, com uma proposta educacional que vise à totalidade da criança. O
município de Duque de Caxias atualmente possui 29 creches, além de turmas
de Educação Infantil em suas unidades escolares. A proposta pedagógica da
rede favorece a aprendizagem significativa, através da experimentação de
novas descobertas. O reconhecimento da importância de trabalhar o desenho
infantil nessa faixa etária é feito através de pesquisa bibliográfica por alguns
autores como: Ferraz, Ferreira, Pereira, Silva e principalmente por Vygotsky. É
preciso valorizar as produções gráficas das crianças. Devemos compreender
que o ato de desenhar é a representação gráfica infantil e suas mensagens. A
criança está dialogando consigo mesma e com o mundo.
Palavras-chave: desenvolvimento, desenho, educação infantil.
METODOLOGIA
Como procedimento metodológico optamos por um estudo que se
realizará através de coleta de dados bibliográficos.
7
A pesquisa bibliográfica abrangerá a leitura de livros de arquivo próprio e
de bibliotecas públicas, site da internet, revistas especializadas, artigos e
textos legais.
Todo material recolhido será submetido a uma triagem onde será
estabelecido um plano de leitura para registros futuros.
A leitura focará as crianças da Educação Infantil na faixa etária de zero
a seis anos. Contaremos principalmente com as contribuições do autor
Vygotsky e apoiadas também pelos conhecimentos adquiridos no decorrer dos
anos de experiência profissional.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 9
8
CAPÍTULO I - Desenvolvimento Infantil 12
CAPÍTULO II - Educação Infantil – Um Breve Histórico 23
CAPÍTULO III – A Importância do Desenho Promovendo o Desenvolvimento da Criança 31 CONCLUSÃO
40
ANEXOS 42
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 45
ÍNDICE 48
FOLHA DE AVALIAÇÃO 49
INTRODUÇÃO
9
Os primeiros anos de vida são reconhecidos como fundamentais no
curso do desenvolvimento, portanto a educação infantil é de extrema
relevância para a criança se desenvolver integralmente.
Para referenciar esta monografia, abordaremos a concepção sócio-
histórica do desenvolvimento infantil, enfatizando os estudos de Vygotsky.
As creches e pré-escolas da rede pública do município de Duque de
Caxias atendem crianças na faixa etária de zero a seis anos. A proposta da
Secretaria Municipal de Educação enfatiza que todas as unidades tenham o
seu Projeto Político Pedagógico e que tenham uma proposta pedagógica que
valorize a criança e suas singularidades na busca do seu desenvolvimento
biopsicossocial, rompendo com a visão assistencialista neste início de
escolarização.
Para encaminhar nossa discussão, faz-se mister revelar que
trabalhamos no município de Duque de Caxias, inicialmente como educadora
da educação infantil e atualmente como implementadora da SME, na Equipe
de Educação Infantil no município acima mencionado. No transcorrer de nossa
vivência, observamos a grande trajetória da Educação Infantil neste município
o que nos impulsionou a realizar este trabalho. Vimos e vivemos nesta
trajetória como profissional a ressignificação da educação infantil.
Consideramos que no processo de aprendizagem, numa visão sócio-
histórica o professor deve efetivar a sua prática como mediador do
conhecimento, ainda que na maioria das vezes, ele não tenha tal compreensão
da importância de seu papel.
Na educação infantil, portanto, é necessário que o educador tenha o
compromisso de ter a intenção de ter o prévio conhecimento teórico na
produção de seus trabalhos, com um planejamento que enfoque o pleno
desenvolvimento das potencialidades da criança, tendo a possibilidade de
vislumbrar o significado das produções de seus educandos que iniciam o
processo de dar significado ao mundo.
10
Por isso, o educador necessita saber entre outras coisas que o desenho
da criança de dois a seis anos também tem grande importância no
desenvolvimento infantil, pois é uma ação permeada pela criação e apreciação
do símbolo, constituindo o homem como ser que significa e se constrói nas
relações concretas de vida. Relações sociais que com certeza pressupõem
necessariamente as pessoas envolvidas nelas.
Descreveremos neste trabalho de pesquisa, ancorada na concepção
sócio-histórica, o conceito de representação no ato do desenhar infantil como
atividade compartilhada e socialmente construída, entendendo assim a ação
de desenhar como individualmente produzida e coletivamente significada.
Temos como objetivo reconhecer a importância do desenho no
desenvolvimento infantil e será realizado através de uma pesquisa
bibliográfica.
No primeiro capítulo será abordado o desenvolvimento infantil de acordo
com os estudos de Vygotsky, que apresenta importantes conceitos como a
Mediação, a Internalização, a Linguagem e a Zona de Desenvolvimento
Proximal, ambos os conceitos diretamente relacionados ao desenvolvimento
humano, portanto, nos levam também a entender o desenho infantil.
No segundo capítulo descreveremos o surgimento das instituições de
Educação Infantil que tinham apenas uma visão assistencialista e funcionavam
como depósitos de crianças. Atualmente o direito à Educação Infantil é
garantido por lei a todos, além do reconhecimento da importância dessa faixa
etária e a realização de um ativo trabalho pedagógico pela Lei de Diretrizes e
Bases da Educação 9394/96, pelo Referencial Curricular Nacional da
Educação Infantil e pelo Estatuto da Criança e do Adolescente.
No terceiro capítulo, identificaremos a importância do desenho
promovendo o desenvolvimento da criança. A criança que desenha está
liberando suas fantasias, seus contos e encantos, portanto, suas emoções, sua
forma de ser e compreender o mundo com suas possibilidades e limites. Está
11
dialogando consigo mesma e com o mundo. Relacionaremos também a
evolutiva do grafismo segundo Vygotsky.
Consideramos a educação infantil como um período fundamental na
vida do indivíduo e trabalhar com o desenho nessa faixa etária, não somente
pelo simples fato de desenhar, mas como um importante recurso pedagógico.
Portanto, a criança faz seus desenhos a partir de sua memória, de sua
imaginação, do que conhece e percebe de sua realidade social e cultural.
Vale ressaltar que os desenhos representam a significação do contexto
que as crianças têm a expressão do conhecimento do mundo que as cerca
como força criativa e como representação de práticas culturais, sociais e
afetivas.
Os desenhos infantis nos apresentam um organizado texto visual que
relata fatos conhecidos, histórias desconhecidas, histórias para nós
inimagináveis, todas recheadas de conteúdo lúdico, instigante e cheio de
sentimentos.
Uma educação que vise ao desenvolvimento integral da criança, como
ser criativo, crítico e provocador de mudanças, há de ter como prática a
expressão criadora desde a Creche.
Desejamos uma boa leitura e que a presente pesquisa possa ser
prazerosa e proveitosa.
1. DESENVOLVIMENTO INFANTIL: UM OLHAR A
PARTIR DA TEORIA DE LEV SEMYONOVITCH
VYGOTSKY
Vygotsky, pensador bielo-russo teve uma intensa produção intelectual,
apesar de ter tido sua vida interrompida, morreu de tuberculose em 1934, aos
12
37 anos. Seu trabalho foi desenvolvido num momento de muita efervescência
intelectual e política, no ápice da Revolução soviética.
A teoria marxista da sociedade teve um papel predominante no
pensamento de Vygotsky. De acordo com Marx, mudanças históricas na
sociedade e na vida material produzem mudanças na “Natureza Humana”
(consciência e comportamento). Vygotsky se contrapôs ao pensamento
inatista, segundo o qual as pessoas já nascem com suas características, como
a inteligência pré-determinada. Da mesma forma se contrapôs ao pensamento
empirista, corrente que tem como pressuposto que as crianças nascem como
um balde vazio e são formadas de acordo com as suas experiências.
No Brasil, suas obras só chegaram no início da década de 80.
A psicologia construída por Vygotsky defende que o homem é um ser
biológico e um ser histórico, cultural, uma junção inédita na época, mas muito
aceitável hoje para nós. Com seus estudos ele construiu uma terceira forma de
conceber o desenvolvimento humano, a corrente sócio-histórica.
Vygotsky estruturou uma proposta que explicita os fenômenos sociais,
inclusive os educacionais, a partir da nossa ação objetiva colocando-a como
parte de um todo, um fenômeno sócio-histórico. Um ponto central de sua
proposta é de que todos os fenômenos sejam estudados como processos em
movimento e em mudança. Em termos do objeto da psicologia, a tarefa do
cientista seria a de reconstruir a gênese e o curso do desenvolvimento do
comportamento e da consciência. Vygotsky aplicou essa linha de raciocínio
para explicar a transformação dos processos psicológicos elementares em
processos complexos. Ressaltou que o desenvolvimento é fruto de uma grande
influência das experiências do indivíduo, entretanto cada um dá um significado
pessoal a essas experiências. Para o autor, desenvolvimento e aprendizado
estão intrinsicamente ligados: nós quando aprendemos nos desenvolvemos.
O desenvolvimento humano é, portanto um processo onde surgem
novas formas de conhecimento, onde cada pessoa apresenta características
13
individuais, que a torna diferente das demais. Esse processo se constrói na
interação que o ser humano estabelece com o seu contexto sócio cultural e se
processa de forma dialética através de rupturas e de contínuas reorganizações
por parte do indivíduo. Portanto, podemos exemplificar que o ser humano tem
o potencial de andar ereto, de se alfabetizar, de pensar baseado em conceito.
Mas isso ocorre dos aprendizados que tiver ao longo da vida dentro de sua
cultura. Apesar de ter condições biológicas uma criança se alfabetizará se
estiver em contato com um grupo de pessoas alfabetizadas.
“Para se estudar o desenvolvimento das crianças, deve-se começar
com um entendimento da unidade dialética entre duas linhas
radicalmente diferentes: a biológica e a cultural. Para adequadamente
estudar tal processo, é preciso conhecer estes dois componentes e
as leis que governam seu entrelaçamento a cada período do
desenvolvimento infantil”. (Vygotsky, 1978, apud Davis, 1994, p19).
Para continuarmos nossa reflexão acerca do desenvolvimento infantil,
entendemos ser pertinente buscar em Vygotsky uma sucinta apresentação de
alguns dos seus pressupostos teóricos.
Assim, faz-se necessário apresentarmos a essência dessa teoria que é
a formação da consciência e sua origem social, bem como o uso das
ferramentas simbólicas para a construção dos processos superiores.
O pensamento Vigotskiano é composto por conceitos que, em conjunto,
configuram uma abordagem singular acerca da aprendizagem infantil,
ressaltando que o processo de aprender do ser humano ocorre devido ao fato
deste ser um sujeito social, um ser transversalizado por uma história que já
está em cena muito antes de seu nascimento. Assim, podemos afirmar que o
bebê, ao nascer, está inserido numa cultura e é esta cultura que dará as
primeiras significações para a sua constituição e desenvolvimento como ser
humano. Vygotsky ressalta que desde que nasce a criança está em constante
14
interação com os adultos que não só asseguram sua sobrevivência, mas
também mediam sua relação com o mundo. O conhecimento adquirido na
infância possui então influência social e serão as operações com os sistemas
de signos que constituirão a base da reconstrução da atividade psicológica.
De acordo com Vygotsky (1998, p.75):
“Todas as funções no desenvolvimento da criança aparecem duas
vezes: primeiro, no nível social, e, depois, no nível individual; primeiro,
entre pessoas (interpsicológica), e, depois, no interior da
criança (intrapsicológica). Isso se explica igualmente
para a atenção voluntária, para a memória lógica e para a formação
de conceitos. Todas as funções superiores originam-se das relações
reais entre indivíduos humanos”.
Vimos que os aspectos históricos e sociais do desenvolvimento são
pontos centrais da obra de Vygotsky. O que significa que ele atribuiu
importante papel ao Outro e a interação na formação e desenvolvimento do
pensamento e da linguagem da criança. Assim, a participação do outro na
constituição do sujeito é fundante, pois a relação do sujeito com o mundo só é
possível, através da mediação de outro sujeito. “O caminho do objeto até a
criança e desta até o objeto passa através de outra pessoa”. (Vygotsky, 1998,
p.33).
Desde os primeiros dias do desenvolvimento da criança, suas atividades
adquirem um significado próprio num sistema de comportamento social e,
sendo dirigidas a objetivos definidos, são refratados através do prisma do
ambiente da criança. Essa estrutura humana complexa é o produto de um
processo de desenvolvimento profundamente enraizado das ligações entre
história individual e história social. Compreender a importância do contexto
social e das interações no processo de desenvolvimento infantil é, portanto,
essencial para conhecer, entender a criança como sujeito social, constituído
15
intrinsicamente por relações sociais, culturais e históricas. Segundo Vygotsky
(2000) “Na ausência do outro, o homem, não se constrói homem”. A criança
nasce dotada apenas de funções psicológicas elementares, como reflexos e a
atenção involuntária, presentes em todos os animais mais desenvolvidos. Com
o aprendizado cultural, no entanto, parte dessas funções básicas transforma-
se em funções psicológicas superiores, como a consciência, o planejamento e
a deliberação, características exclusivas do homem. Essa evolução acontece
pela elaboração das informações recebidas do meio. Essas informações são
sempre intermediadas, explícita ou implicitamente, pelas pessoas que rodeiam
a criança, carregando significados sociais e históricos. As informações
intermediadas são reelaboradas numa espécie de linguagem interna. É isso
que caracterizará a individualidade. Por isso a linguagem é duplamente
importante para Vygotsky. Além de ser o principal instrumento de
intermediação do conhecimento entre os seres humanos, ele tem relação
direta com o próprio desenvolvimento psicológico. A fala (instrumento e signo)
tem papel fundamental na organização da atividade prática e das funções
psicológicas superiores. O desenvolvimento das funções intelectuais é
mediado socialmente pelos signos e pelo outro.
Para Vygotsky (1998) “Ao internalizar as experiências fornecidas pela
cultura, a criança reconstrói individualmente os modos de ação realizados
externamente e aprende a organizar os próprios processos mentais”.
Internalizar não é reproduzir mecanicamente dados da cultura, mas
apropriar-se deles para usos singulares e criativos.
Segundo o autor estudado, a construção do pensamento e da
subjetividade é um processo cultural, e não uma formação natural e universal
da espécie humana. Ela se dá graças ao uso de signos e do emprego de
instrumentos elaborados através da história humana em um contexto social
determinado. Enquanto os animais agem e reagem a natureza de uma forma
sensorial instintiva, o homem extrapola suas capacidades sensoriais pelo uso
de instrumentos construídos por meio do trabalho coletivo no qual interage com
16
outros homens. Esses instrumentos não se reduzem à dimensão material, mas
inclui a utilização de signos - um brinquedo para possibilitar a emergência da
capacidade de representar algo em uma situação, uma questão para ativar um
raciocínio argumentativo – que estimulam diferentes funções mentais.
Ao incorporarem os signos elaborados pelos grupos sociais como forma
de registrar e transmitir determinadas informações no processo de trabalho, as
ações humanas vão-se tornando mais complexas. Os signos não são criados
ou descobertos pelo sujeito, deles se apropria desde o nascimento, na sua
relação com parceiros mais experientes que emprestam significações as suas
ações em tarefas realizadas em conjunto. Com o uso de signos, ocorrem
transformações qualitativas nos processos psíquicos como a atenção, a
memória e a percepção.
Assim como foi dito anteriormente, entendemos que o sujeito constrói
seu conhecimento a partir da relação com Outro. O aprendizado desperta
processos internos do desenvolvimento - aprendizado adequadamente
organizado resulta em desenvolvimento mental. Segundo Vygotsky (1998), “o
desenvolvimento da criança num primeiro momento, é mediado pelo outro.
Num segundo momento a criança se apropria do comportamento da cultura e
dos modos do funcionamento psicológico do seu grupo cultural internalizando-
o”. A vida social é dinâmica e cada sujeito é ativo nela.
Abordaremos quatro conceitos básicos da obra de Vygotsky: a
Mediação, a Internalização, a Linguagem e a Zona de Desenvolvimento
Proximal.
Mediação “é o processo de intervenção de um elemento intermediário
numa relação, a relação deixa então de ser direta e passa a ser mediada por
esse elemento” (Oliveira, 1993, apud, Vygotsky, 1998, p.34). Para ele a função
da palavra neste processo é fundamental.
Ao conceber a criança em suas relações sociais internalizadas, o
modelo histórico cultural instaura a concepção do processo de
17
desenvolvimento e aprendizagem numa construção social. Portanto, o conceito
de interação não é desprovido de historicidade e descontextualizado sócio-
culturalmente, como é utilizado nas concepções empirista e inatista. Para
Vygotsky, (1989) “o desenvolvimento da criança acontece a partir das
constantes interações com o meio social em que vive mediante aprendizagem”.
Nesta interação, ela modifica seu ambiente e é por ele modificada. A
interação com outras pessoas, adulta e crianças, exercem um papel
preponderante no desenvolvimento infantil e na construção do conhecimento,
sendo mais efetiva quando se dá de forma lúdica e afetiva, e, portanto,
prazerosa. O desenvolvimento afetivo e a identidade também se constroem na
interação com os outros, sendo a primeira infância momento fundamental
neste processo, portanto o conhecimento é sempre mediado.
Inicialmente a criança entra em contato com o seu meio através das
ações, dos movimentos sensórios motores, que são os primeiros gestos
(expressões faciais e gestuais) e através do adulto que estabelecerá a
compreensão e as respostas, retratando suas primeiras interações
significativas, constituindo a seguir o que conceituamos como função simbólica
(possibilidade de representar mentalmente por símbolos o seu mundo). Surge
então a linguagem oral, que aos poucos substituirá a predominância da ação
através dos movimentos. A língua(gem) inspira novas relações com o meio. O
universo da língua(gem) chega à criança através dos membros do seu grupo
social, quando nomeiam, apontam, compartilham e significam o mundo com a
cultura do grupo social à sua volta.
Para Vygotsky, a capacidade que tem uma criança de comunicar-se por
meio da linguagem relaciona-se diretamente com a diferenciação dos
significados das palavras na sua fala e na sua consciência.
A linguagem é fator de interação social. É ela que permite a
comunicação entre os indivíduos, à troca de informações e de experiências.
Neste sentido, a linguagem é, sem duvida, um fenômeno que diferencia os
homens dos animais. É na relação com o outro que o homem toma
18
consciência de si mesmo, e esta relação é mediada pela fala. A fala constitui
um papel fundamental na construção do ser humano, pois tem como primeira
função, a da comunicação, de contato social, de influência sobre as pessoas
que vivem em um mesmo contexto.
Assim o papel do Outro é primordial quando pensamos o
desenvolvimento infantil numa perspectiva sócio-histórica. Atribuímos à
linguagem o caráter, por excelência de construção da consciência humana.
Para Vygotsky é na interação com o adulto, com crianças mais experientes é
que a criança enriquece seu vocabulário e amplia as possibilidades de
significação das palavras que já conhece. Neste ponto, é interessante
trazermos que a criança é um ser biologicamente cultural ou culturalmente
biológico, pois quando o desenvolvimento da criança ocorre sem o contato do
outro, a estrutura biológica responsável pela maturação, por si só, não garante
a aprendizagem. Sabemos de casos de crianças que foram apartadas de
outros seres humanos que confirmam que essas crianças não se tornaram
propriamente humanas, como exemplo podemos citar: Victor de Aveyron – o
menino lobo, caso apresentado na literatura, que em setembro de 1799 um
menino de cerca de doze anos foi encontrado perto da floresta de Aveyron, sul
da França. Estava sozinho, sem roupa, andava de quatro e não falava uma
palavra. Aparentemente fora abandonado pelos pais e cresceu sozinho na
floresta. O menino, a quem lhe deram o nome de Victor, foi levado para Paris,
onde ficou aos cuidados do médico Jean-Marc-Gaspar Itard. Durante cinco
anos o Dr. Itard dedicou-se a ensinar Victor a falar, a ler e a se comportar
como um ser humano, mas seus esforços foram em vão. Pouco progresso foi
conseguido durante esse tempo. Victor nunca falou e aprendeu a ler somente
uma palavra (leite).
Chegamos à compreensão de que sem o contato significativo com
pares, as crianças somente amadurecem, biologicamente falando, não se
constituindo como seres sociais. A linguagem não é, com tudo, a única
maneira de representação que a criança utiliza em seus primeiros anos de
vida. Anterior a escrita, a criança representa graficamente a realidade através
19
do desenho. O desenho, portanto, é parte constitutiva do processo de
desenvolvimento infantil e não deve ser entendido como uma ação/atividade
secundária, isto é, uma atividade de menos valor. O desenho representa o
real, ao desenhar a criança organiza suas experiências, com o esforço para
compreendê-la. No desenho está colocada de forma implícita a história da
criança que o realizou, inclui, portanto a narrativa mesmo que para o adulto
pareça algo estático no papel.
Como vimos valores, símbolos, relações, são apreendidos pela criança
no contato com o outro, a partir da mediação de sujeitos mais experientes.
Para Vygotsky “o desenvolvimento do sujeito humano e de sua singularidade
se dá a partir das constantes interações com o meio social em que vive, já que
formas psicológicas mais sofisticadas emergem da vida social” (Rego, 2008
apud Aquino, 1998, p.62/63).
Reafirmando o que escrevemos até o momento, trazemos o que Smolka
e Góes (1993) no seu dialogo com Vygotsky, afirmam que: “o que parece
fundamental nessa interpretação do sujeito é que o movimento de individuação
se dá a partir das experiências propiciadas pela cultura. O desenvolvimento
envolve processos que se constituem mutuamente, de imersão na cultura e
emergência na individualidade. Num processo de desenvolvimento que tem
caráter mais de revolução que de evolução, o sujeito se faz como ser
diferenciado do Outro, mas formado na relação com o Outro, singular, mas
constituído socialmente e, por isso mesmo, numa composição individual, mas
não homogênea” (Rego, 2008, apud Aquino, pp.62/63).
Em convergência com a citação acima mencionada, remete-nos ao
processo de internalização fundamental para o desenvolvimento psicológico
humano. A internalização envolve uma atividade externa que deve ser
significada para tornar-se uma atividade interna, de interna de uma operação
externa interpessoal passar a ser intrapessoal. Assim, as funções mentais
inferiores como atenção, percepção e memória evoluem para funções mentais
superiores. “Chamamos de internalização a reconstrução interna de uma
20
operação externa” (Vygotsky, 1998, p.63). Apresentaremos de forma
esquemática esse processo:
- Atenção involuntária (quando a criança/bebê olha para algo que
passa em seu campo visual ou estímulo sonoro).
- Percepção involuntária (a criança vive e experimenta as diferentes
sensações, independente de sua vontade).
- Memória involuntária (a criança ainda não se utiliza da memória como
recurso para resgatar algo que fez. Somente o próprio objeto ou evento a faz
lembrar).
Estas funções mentais inferiores se transformam, a partir da linguagem,
em funções mentais superiores:
- Atenção voluntária (primeiro a mãe (o outro), usa a linguagem para
chamar a atenção da criança para uma situação, objeto, pessoa, depois, a
criança aprenderá a usar sua atenção voluntária).
- Percepção voluntária (não se faz mais necessário que o objeto,
pessoa ou evento esteja presente ao alcance de suas sensações, a percepção
da criança pode ser orientada).
- Memória mediada (a criança já é capaz de “lembrar” a partir de um
signo (palavra), símbolo (M do MC Donald’s) ou ícone (bengala na porta do
banheiro masculino) aquilo a que deseja se referir)
Nesse processo, a aprendizagem é gerada, pelo constante diálogo entre
exterior e interior, o que nos faz pensar que esse processo se desenvolve do
Proximal.
“Segundo o especialista russo, a referência do indivíduo com
parceiros mais experientes cria uma zona de desenvolvimento
potencial ou proximal. Ele usou este termo para se referir à distância
21
entre o nível de desenvolvimento real – determinado pela capacidade
de solução, sem ajuda, de problemas – e o nível potencial de
desenvolvimento – medido através da solução de problemas sob a
orientação ou em colaboração com as crianças mais experientes”.
(DAVIS, 1994, p.53).
Para Vygotsky, este é, um importante nível de desenvolvimento e se
refere ao nível que a criança pode alcançar em matéria de aprendizagem, com
o auxílio do professor e de outras pessoas.
Podemos dizer que a ZDP é o caminho que o indivíduo vai percorrer
para desenvolver funções que estão em processo de amadurecimento e que
se tornarão funções consolidadas, firmadas no seu nível de desenvolvimento
real. A ZDP é um domínio psicológico em constante mudança; o que uma
criança não faz hoje sozinha, com a ajuda de alguém, ela conseguirá fazer
amanhã. O aprendizado descortina processos de desenvolvimento que aos
poucos, vão tornar-se parte das funções psicológicas consideradas da criança.
Interferindo constantemente na ZDP das crianças, os adultos e as crianças
mais experientes contribuem para movimentar os processos de
desenvolvimento de todos os membros do seu grupo cultural.
Portanto para JOBIM e SOUZA (1998) o desenvolvimento humano
constitui-se a partir de uma atividade produzida em que as crianças e seus
pares compartilham-na reciprocamente num espaço de mediação. Esse
espaço propicia a elaboração e a reflexão das experiências produzidas e
constituídas num processo tão pessoal quanto social.
Remetemo-nos neste momento a descrever um breve histórico da
Educação Infantil.
22
2. EDUCAÇÃO INFANTIL – UM BREVE HISTÓRICO
A infância, etapa compreendida de zero a doze anos de idade, pode ser
caracterizada como um período de vida e não apenas como uma fase de
transição. Devido às mudanças ocorridas ao longo dos anos, as instituições
que atendem a essa faixa etária tiveram que adaptar seus objetivos, para
poderem acompanhar as modificações ocorridas na sociedade e,
principalmente, como um grande desafio, compreender como a criança vê o
mundo.
Historicamente, podemos relatar que na sociedade medieval, a criança
era vista como um ser sem sentimentos e, ao mesmo tempo, um divertimento.
Assim que passava a ser independente da mãe, a criança ingressava na
sociedade dos adultos.
No século XVII, as condições higiênico-sanitárias eram bastante
precárias o que favorecia altos índices de mortalidade infantil, mas este fato
era compreendido como natural. As crianças que sobreviviam só passavam a
ser integrantes da sociedade quando já podiam realizar atividades como
23
aquelas realizadas pelos adultos. Mas no final deste século, a escola surge
como uma estratégia de educação.
No século XVIII a criança é vista como um ser não pensante.
Acreditava-se que era preciso educá-la para desenvolvê-la.
Surge então no século XIX, uma nova concepção: preparar a criança
para a vida adulta. Havia a preocupação com o processo de formação que
exigia cuidados visando à posição que a criança ocuparia na sociedade.
As crianças das classes mais abastadas eram educadas por
preceptores particulares, não tendo freqüentado escolas até o início do século
XX, e os filhos dos pobres, desde muito cedo, eram considerados força
produtiva, não tendo a educação como prioridade.
Com o início da Revolução Industrial, as mulheres para ajudar no
orçamento familiar, além de realizarem os seus trabalhos domésticos, tiveram
que passar a trabalhar fora. Como não tinham com quem deixar seus filhos,
surgiram então às creches e as instituições de cunho assistencialistas.
No século XX, as creches são vistas como uma solução para a
superação da miséria, da pobreza e da negligência familiar. Assim são criadas
instituições que funcionavam como depósitos. Seu atendimento era destinado
a atender as preocupações sanitárias e filantrópicas. Consequentemente o
trabalho da creche no século XX recebe grande influência assistencialista e de
saúde. Portanto, as instituições não tinham enfoque para o trabalho
pedagógico e sim um trabalho predominantemente voltado para a alimentação
e cuidados de higiene.
Nos primeiros anos do século XX, algumas escolas da rede pública,
criaram o jardim da infância, que tinha como objetivo, a autonomia da criança e
a recreação, porém, apenas as crianças das classes de elite que a
frequentavam. Contudo, a pré-escola tinha a concepção de que a criança era
uma sementinha do jardim (escola) e as jardineiras (professoras) que iriam
cuidar das sementes para se desenvolverem em futuras plantinhas.
24
Ao longo do século XX, cresceu o esforço pelo conhecimento da
criança, em vários campos do conhecimento.
2.1. Educação Infantil no Brasil
Na década de 30, começam a surgir projetos dentro do contexto social e
político. A criança era vista como alvo de intervenções sociais. Em relação as
crianças mais carentes existia a preocupação de medidas legais. Essas
medidas eram inspiradas no Código de Menores de 1927, onde a criança
começa a ser caracterizada como menor.
Com o objetivo de proteger o menor, foi criada em 1938, a casa do
pequeno jornaleiro. Somente a partir de 1940 é que surge a preocupação
voltada para a inclusão e exclusão social. Foi criado o Departamento Nacional
da Criança – ligado ao Ministério da Saúde e da Educação Pública – cujo
intuito era organizar e estruturar o atendimento a criança pequena e pobre.
Entretanto, a intenção principal era integrar ações que atingiam não só as
crianças, mas também aos jovens das famílias operárias com programas
assistenciais, nutricionais, de higiene e de capacitação para o mercado de
trabalho. Ainda nessa proposta, surge a Legião Brasileira de Assistência (LBA),
cuja finalidade era atender as mães e crianças na primeira infância inscritas
em programas de educação higiênica e apoio nutricional.
Na década de 60, com o objetivo de atender a criança que necessitava
de cuidados e das mães carentes que precisavam trabalhar fora para
sobreviver é que foi concretizada a criação de creches.
25
Na década de 70, o processo de crescimento do país acentua-se cada
vez mais. Esse crescimento, somado a uma participação maior do mercado de
trabalho e a pressão dos movimentos sociais, levaram ao aumento de políticas
públicas e atendimento educacional voltada para a criança de quatro a seis
anos. Sendo que era uma educação compensatória que visava à
compensação de carências culturais, afetivas, deficiências lingüísticas e
defasagens afetivas oriundas das crianças de camadas populares.
Na década de 80, ocorre uma expansão significativa na Educação
Infantil no que se refere às crianças de zero a três anos. Portanto, para essa
faixa etária o enfoque da educação era voltado para os cuidados em relação à
saúde, à higiene, à alimentação, enquanto na faixa etária de quatro a seis anos
a educação era concebida como preparatório para ingressar no ensino
fundamental. Entretanto, na Constituição Federal de 1988, a educação na faixa
etária de zero a seis anos, que antes era assistencialista, passou a figurar
como direito e dever do Estado, numa perspectiva educacional, em resposta
aos movimentos sociais, já citados, em defesa dos direitos das crianças. É
responsabilidade do poder público municipal oferecer creches e pré-escolas a
todas as crianças cujas famílias desejem esses serviços ou deles necessitem.
A Constituição Federal no seu artigo 227 determina:
“É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à
criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida,
à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à
cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e
comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência,
discriminação exploração, violência, crueldade e opressão”.
É de suma importância considerar a criança como um todo e promover
seu desenvolvimento integral e sua inserção na sociedade.
26
Assim, na década de 90, iniciou-se pelo direito assegurado na
Constituição Federal de 1988, a primeira que reconhece a educação infantil
como direito das crianças de zero a seis anos de idade, dever do Estado e
opção da Família; o Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei nº 8.069, de
1990), que afirma os direitos das crianças e as protege; e a Lei de Diretrizes e
Bases da Educação Nacional (LDB) 9324/96, que reconhece a educação
infantil como primeira etapa da educação básica.
Em 1993 foi elaborado o Plano Decenal de Educação para Todos que
estabeleceu a meta de ampliação do Ensino Fundamental para nove anos,
destinado a cumprir as resoluções da Conferência Mundial de Educação para
Todos realizada em Jomtien, na Tailândia, em 1990, pela UNESCO, UNICEF e
Banco Mundial. Foi um marco político e constituiu um compromisso em
reafirmar que todos dominem os conhecimentos indispensáveis à
compreensão do mundo em que vivem.
A partir de 2000, a educação infantil, pauta de diversos fóruns de debate
espalhados por todo o Brasil, passa a ser vista como uma necessidade da
sociedade contemporânea, caracterizando-se por um espaço de socialização,
de troca, de ampliação de experiências e conhecimentos, de acesso a
diferentes produções culturais.
No Plano Decenal de Educação para Todos, o governo brasileiro
assume o compromisso de garantir a satisfação das necessidades básicas de
educação de seu povo, cujo objetivo mais amplo é assegurar, até o ano de
2003, a crianças, jovens e adultos, conteúdos mínimos de aprendizagem que
atendam a necessidade as necessidades elementares da vida contemporânea.
O Plano Nacional de Educação foi instituído sob a Lei nº 10.172, de 09
de janeiro de 2001. Determina em seu art.2º que os estados, o Distrito Federal
e os municípios com base no Plano Nacional de Educação, elaborem planos
decenais correspondentes. Visto que as metas nacionais representam um
quadro possível e necessário para todo o país, mas que, em cada ente
federativo, se dá diferentemente, em decorrência do estágio em que se
27
encontram cada um dos níveis e modalidades de ensino e das questões
administrativas, financeiras e técnicas da educação em seu território e sua
rede de ensino. Considerando que estados e municípios são entes autônomos,
com sistemas de ensino próprios, cada um terá de elaborar seu plano decenal,
em consonância com o nacional, expressando suas diretrizes, objetivos e
metas. Sendo aprovado em 2001 o Plano Nacional de Educação, que assim se
expressa em relação às competências dos entes federado;
“Na distribuição de competências referentes à Educação Infantil, tanto
a Constituição Federal quanto a LDB são explicitadas na co-
responsabilidade das três esferas do governo – município, estado e
União – e da família. A articulação com a família vista mais do que
qualquer outra coisa, ao mútuo conhecimento de processos de
educação, valores, expectativas, de tal maneira que a educação
escolar e a familiar se complementem e se enriqueçam produzindo
aprendizagens coerentes, mais amplas e profundas. Quanto às
esferas administrativas, a União e os estados atuarão
subsidiariamente, porém necessariamente, em apoio técnico e
financeiro aos municípios, consoante ao art.30, VI, da Constituição
Federal.” (MEC, 2006).
É um direito constitucional a educação de crianças de zero a seis anos
e, ressaltando a importância desta faixa etária, a primeira meta de Educação
para Todos é expandir e aperfeiçoar o cuidado e a educação abrangentes na
primeira infância, especialmente para as crianças mais vulneráveis e
desfavorecidas. O Plano nacional de Educação (PNE), em consonância com
os princípios da Educação para Todos, estabelece metas relevantes de
expansão e de melhoria da qualidade da Educação Infantil com o objetivo de
incentivar estados e municípios a elaborarem seus planos locais de educação,
contemplando neles a Educação Infantil.
28
Em 1998, foi elaborado o Referencial Curricular Nacional para a
Educação Infantil (RECNEI) pelo Ministério da Educação e Cultura no contexto
da definição dos Parâmetros Curriculares Nacionais – mais uma ação do
governo no campo das reformas em andamento – que atendiam ao
estabelecido no art. 26 da LDB em relação à necessidade de uma base
nacional comum para os currículos. Concebendo que a educação possa atuar
decisivamente no processo de construção da cidadania, tendo como meta o
ideal de uma crescente igualdade de direito entre os cidadãos, baseados nos
princípios democráticos. O RECNEI consiste num conjunto de referências e
orientações pedagógicas, não se constituindo como base obrigatória à ação
docente.
Durante anos, a visão que se tinha das instituições que cuidavam de
crianças pequenas tinha sua finalidade exclusivamente social, ou seja, o
atendimento era para crianças de baixa renda como estratégia de combate à
pobreza, fez com que essas instituições ficassem com seu foco de atuação
compensatório, sanando supostas faltas e carência das crianças e famílias.
Nessa perspectiva, a concepção educacional era assistencialista.
Com o passar dos anos, a luta dos movimentos sociais fez garantir por
lei o direito a todos à educação Infantil, garantindo um ambiente físico onde as
crianças sintam-se seguras, e ao mesmo tempo esse ambiente deve ser
desafiador para possibilitar que amplie seu conhecimento.
Em geral, a Educação Infantil, enquanto campo de conhecimento, de
atuação profissional, vem ganhando contornos mais nítidos e com isso as
discussões que emanam de seu interior adquirem maior viabilidade e
consciência. Favorece essa trajetória a crescente compreensão sobre os
processos envolvidos no crescimento e desenvolvimento das crianças desde
que nascem, bem como nas formas de apropriação de significados e na
consolidação dos direitos a elas consignados pela sociedade brasileira.
Com a garantia assegurada pela legislação, a Educação Infantil deve
passar por mudanças nas áreas administrativas e pedagógicas, dentre elas
29
pode-se enfatizar vários aspectos citados na legislação: a integração das
instituições que atendem crianças de zero a seis anos aos sistemas
educacionais; a implementação de projetos pedagógicos que consideram a
criança na sua totalidade; a articulação com famílias e comunidade; a
formação específica dos profissionais e a integração do cuidar e educar nas
atividades cotidianas.
Para se fazer uma proposta renovadora de trabalho para Educação
Infantil deve-se aproximá-la de um contato dinâmico, vivo, de aprendizagem e
são necessários muitos conhecimentos. Deve-se ter uma visão sócio-política,
antropológica, cultural e pedagógica da instituição.
É preciso garantir um atendimento de qualidade que favoreça o
desenvolvimento das crianças enquanto cidadãos capazes de colaborar e lutar
por um país melhor.
A partir deste momento, remetemo-nos a reflexão da importância do
desenho para o desenvolvimento da criança.
30
3. A IMPORTÂNCIA DO DESENHO PROMOVENDO O DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA
“Antes eu desenhava como Rafael, mas precisei de toda uma
excelência para aprender a desenhar como as crianças”. Picasso.
Afetividade, compromisso, criatividade, imaginação e o desejo de
contribuir para uma educação mais digna e prazerosa, são sentimentos que a
autora desta monografia como educadora e artista plástica se propõe a
direcionar o seu olhar, para compreender o desenho como atividade infantil,
socialmente construída.
Atualmente, as instituições de educação infantil devem tornar acessíveis
a todas as crianças que as frequentam elementos da cultura que enriquecem
seu desenvolvimento e sua inserção social, tendo um papel socializador.
Devem contribuir para o desenvolvimento da identidade das crianças, e propor
aprendizagens em situações de interação. O desenho é uma atividade
sociocultural aprendida, não se nasce sabendo desenhar, da mesma forma
que não há aquele que não possa aprender a fazê-lo.
Durante o período de trabalho junto com as crianças na educação
infantil, vivenciamos diferentes produções gráficas. Neste trabalho destacamos
a atividade simbólica na criança sobre o desenho. Discutiremos de forma
sucinta, ancorada na concepção sócio-histórica, o conceito de representação
no ato de desenhar infantil como atividade compartilhada e socialmente
construída, entendendo assim a ação de desenhar como individualmente
produzida e coletivamente significada.
31
Vygotsky apresenta relevantes considerações sobre a compreensão do
desenho. Enfatiza em sua formulação teórica, a interação social, permeada
pela linguagem, como fonte primeira para a interpretação do desenho. Ao
entendermos a criança como sujeito ativo, histórico, social e cultural,
desvinculado de níveis evolutivos, pretendemos olhar da mesma maneira, seus
desenhos. Falamos do desenho como expressão, transbordamento, fruição.
Possibilidade singular de narrativa visual, desprovido de códigos
preestabelecidos ou convencionados.
O ato de desenhar na vida das crianças não é um fato contemporâneo.
As crianças sempre desenvolveram suas funções simbólicas tentando
compreender o mundo através do faz-de-conta, dos jogos e inclusive do
desenho. A arte do desenho não é uma cópia da realidade, mas a expressão
da sabedoria da criança. Desde as épocas mais remotas da humanidade,
diferentes gerações deixaram registradas com desenhos, aspectos variados do
contexto vivido. Nesses registros, vemos que os desenhos retratam a vida de
cada civilização. Desde muito pequena a criança encontra-se em um mundo
em constante expansão na qual atua e que se esforça para conhecer, saber
como funciona, o seu mundo social, de relação e sentimentos, com o qual se
relaciona enquanto se esforça na construção de sua identidade.
As primeiras produções gráficas das crianças encantam pela sua
beleza, pela síntese do humano que encerram e pela poesia. No início, a
criança desenha pelo prazer de riscar sobre o papel e pesquisa formas de
ocupar a folha.
“A criança se exprime naturalmente, tanto do ponto de vista verbal,
como plástico ou corporal, e sempre motivada pelo desejo da
descoberta e por suas fantasias. (...) Por isso, quando ela
desenha,pinta, dança e canta, o faz com vivacidade e muita emoção”.
(FERRAZ, 1999, p. 55).
32
No desenhar, a criança cria situações imaginárias que lhe possibilita
viver o mundo dos adultos. O desenho é uma forma de expressão de como a
criança vê o mundo e suas particularidades, representado situações que lhe
interessam. Enquanto desenha, o seu conhecimento de mundo se amplia, pois
pode desenhar o carro do pai, o monstro que corre atrás da sua irmã (como no
sonho ou pesadelo) e outros.
“A criança que está fantasiando em suas histórias, brincadeiras,
desenhos e, de modo geral, misturando sonho e realidade, está
fazendo uso mais intenso da inteligência e está se aproximando cada
vez mais de conquistar uma nova visão de mundo”. (SANS, 1995,
p48, apud FERREIRA, 2008, p.35).
Vygotsky (1987) analisa o desenho infantil. Não estabelece uma relação
fixa entre a idade e estágios do desenho. Apresenta uma abordagem baseada
em etapas, ao dividir em quatro fases o processo do desenvolvimento do
grafismo. Grafismo é o resultado de uma tendência natural, expressiva. O
processo de desenvolvimento gráfico infantil está ligado ao desenvolvimento
físico, social, intelectual e afetivo - emocional da criança. Ele efetua um recorte
no desenvolvimento cultural do grafismo infantil, desprezando a fase inicial,
isto é, a fase simbólica do desenho. Sem abordar as garatujas e rabiscos, este
autor inicia sua análise a partir do desenho figurativo que se desdobra nas
etapas: 1- Etapa simbólica – é a fase dos conhecidos bonecos “cabeças-pé”
que representam, a figura humana. É o momento em que as crianças
desenham os objetos “de memória” sem se preocuparem em desenhar com
fidelidade o que esta sendo representado. Também representam os desenhos
chamados de “desenhos-radiografias” onde as crianças desenham pessoas
vestidas mostrando suas pernas sobre a roupa; 2-Etapa simbólico-formalista –
é a etapa na qual já se percebe maior elaboração dos traços e formas do
grafismo infantil. Há uma espécie de mescla de aspectos formalistas e
simbolistas na representação plástica nesta etapa. A criança esforça-se em
33
fazer suas representações mais verdadeiras possíveis, mas os “desenhos-
radiografias” continuam sendo representados; 3- Etapa formalista veraz - é o
período em que o simbolismo que se encontrava presente nas representações
típicas das duas etapas anteriores definitivamente acaba. Nesta fase, as
representações gráficas são fiéis ao aspecto observável dos objetos
representados, mas a criança ainda não faz uso das técnicas projetistas e 4-
Etapa formalista plástica - é o estágio final, da imagem plástica, em que o
objeto é representado em perspectiva, refletindo seu aspecto real.
Nessa caracterização, a criança passa pelas etapas do desenho
naturalmente.
“Vygotsky enfatiza a importância de se desenvolver a imaginação
infantil com o objetivo de preparar a criança para o futuro, sendo que
para isso são fundamentais a riqueza e a variedade de experiências
vividas”. (SILVA, 2002, p.23).
A criança desenha para falar e poder registrar a sua fala. O desenho é a
sua primeira escrita. Para deixar a sua marca, antes de aprender a escrever a
criança se serve do desenho. A criança desenha para falar de seus medos,
suas descobertas, suas alegrias e tristezas. Ela percebe que pode representar
graficamente um objeto. É o indício de que o desenho é precursor da escrita.
Como diz Mário de Andrade: “O desenho fala, chega a ser uma espécie de
escritura, uma caligrafia”.
Vygotsky enfatiza a importância da escrita no desenvolvimento cultural
da criança, situando o desenho como um estágio anterior e preparatório à
linguagem escrita.
A fala durante a atividade gráfica possibilita uma multiplicidade de ações
sobre o desenho e a própria linguagem.
“O desenho provoca determinadas verbalizações, enquanto está
sendo produzido, e a fala, por outro lado, promove uma série de
marcas gráficas. Linguagem verbal e desenho estão ligados de
34
múltiplas maneiras, que se mostram e interpenetram no decorrer da
atividade gráfica”. (SILVA, 2002, p.12).
Nós educadores, devemos ampliar o nosso olhar para ver além dos
padrões e procurar ver nas crianças, sempre o que elas já têm e não o que
lhes falta. O processo de criação é resultado de inúmeros fatores e o meio
social e cultural estão fortemente presentes como experiências marcantes, são
constituintes da história de vida, de um modo particular de interação com o
mundo de busca pela expressividade. A vivência/experiência é parte
fundamental do processo criativo da criança. Os produtos são tão mais
elaborados, variados, com qualidade estética, quanto mais rica for sua
trajetória.
“A criatividade é transmitida com ações e vale a pena lembrar que o
processo de desenvolvimento na criança começa com a formação do
professor. Aqueles que não tiveram a oportunidade de conceituar a
importância de fazer desabrochar o pensamento criador necessitam,
mesmo com atraso, de ‘aprender’ a criatividade. Esse aprender dá-se
no sentido de assimilar seu sentido, compreender a sua maneira de
pensar e agir”. (PEREIRA, 2002, pp. 121-122).
Na opinião de FERRAZ e FUSARI (1993), quando o educador sabe
intermediar os conhecimentos, ele é capaz de incentivar a construção e as
habilidades do ver, do observar, do ouvir, do sentir, do imaginar e do fazer,
assim como suas representações. O importante é que o adulto procure
estimular sempre a criança fazendo, com que ela se expresse da forma mais
criativa possível. Caso isso não aconteça, a criança perderá a confiança na
sua capacidade de criar e se expressar ou, até mesmo com o tempo, deixar de
desenhar, como acontece com muitas crianças e adolescentes.
“O homem cria, não apenas porque quer, ou porque gosta, e sim
porque precisa; ele só pode crescer, enquanto ser humano,
35
coerentemente, ordenando, dando forma, criando”. (OSTROWWER,
1978, p. 9 apud FERREIRA 2008, p, 52).
Percebemos a criança como capaz de expressar-se e, então, fazê-la
sentir-se convidada, desafiá-la a isso, é parte fundante de uma pedagogia da
educação infantil.
“Do educador, espera-se fornecer a criança equilíbrio e formação
convenientes para que a aptidão natural não desapareça, mas
continue sempre ‘crescendo’”. (PEREIRA, 2002, pp.120-121).
No desenvolvimento infantil, o desenho tem como principal função, a
possibilidade de oferecer a representação da realidade. “Trazer os objetos
vistos no mundo para o papel é uma forma de lidar com os elementos do dia-a-
dia”. (Revista Nova Escola, 2009). Mais cedo ou mais tarde, todos os
pequenos se interessam em registrar no papel algo que seja reconhecido pelos
outros. Com o tempo, a criança busca registrar as coisas do mundo. Conforme
a criança vai crescendo, o seu desenho vai ganhando complexidade,
impulsionando assim, o seu desenvolvimento cognitivo e expressivo.
“A criança olha, cheira, toca, ouve, se move, experimenta, sente,
pensa. Desenha com o corpo, canta com o corpo, sorri com todo o
corpo. Chora com todo o corpo. O corpo é
ação/pensamento”.(Martins, 1998, p.96).
Para OSTROWER (1978), “a criatividade é um potencial inerente ao
homem, e a realização desse potencial uma de suas necessidades”.
Corroborando com Ostrower, o desenho é para a criança um campo imaginário
em que ela poderá desenvolver a imaginação criadora e relevar a sua
subjetividade.
36
Neste momento apresentamos as produções gráficas das crianças da
educação infantil com quem vivenciamos para aproximar a teoria da prática, de
acordo com as etapas do grafismo segundo Vygotsky. Ver anexos páginas 40
e 41.
“A criança em um determinado momento, percebe que tudo que está
depositado no papel partiu dela. Não lhe foi dado, foi inventado por ela
mesma. Inaugurou-se o termo da criação”. (DERDYK, 2003, p.64,
apud FERREIRA, 2008, p.21).
PORCHER (1982) afirma que o desenho é um ato de inteligência,
desenhar é um ato inteligente. Isto quer dizer notadamente que, para as
crianças, ele representa uma das maneiras fundamentais de apropriar-se do
mundo e, em particular do espaço.
Podemos afirmar que isso significa:
“Aqui como nos outros campos, o objetivo não dever ser a formação
de desenhistas profissionais e de especialistas; trata-se de dar a cada
um os meios de expressar-se e, através disso, de dotá-lo dos
instrumentos sensoriais e mentais necessários para as suas relações
com o mundo”. (PORCHER, 1982, p.107, apud FERREIRA, 2008,
p.21).
Diante disso, cabe ao professor, principalmente da educação infantil,
incentivar a criação da criança por meio de seu próprio esforço, levando-a a
descobrir por si só, a inventar e criar suas idéias. O professor deve procurar
sensibilizar a criança em relação ao meio em que ela vive. Deve incentivá-la
sempre que conseguir expressar sua própria experiência, retratando elementos
do seu cotidiano. Cabe ao professor ser compreensivo e afetuoso, encorajando
37
sempre as crianças a expressarem suas ideias, encorajando a individualidade
e a originalidade.
“A criança está em constante assimilação de tudo aquilo com que
entra em contato no seu meio ambiente; compete ao professor saber
lidar com os fatos em sala de aula, constituindo a sua metodologia de
trabalho”. (FERRAZ, 1999, p.49).
Segundo VYGOTSKY (1998), o processo de formação de pensamento é
despertado e acentuado pela vida social e pela constante comunicação que se
estabelece entre crianças e adultos, a qual permite a assimilação da
experiência de muitas gerações.
Para SILVA (2002), o desenvolvimento do grafismo é marcado pelo real
e pela cultura, mas especificamente, pelas interações sociais, que são
mediadas pela linguagem.
A atividade gráfica favorece entre as crianças momentos de mútua
cooperação. Ao observar os desenhos de seus colegas, compara com o seu
próprio e com os demais e com isto, consegue perceber as diferenças e /ou as
semelhanças existentes. Durante esta interação, a criança pode modificar e
acrescentar traços aos seus desenhos, em função do modelo fornecido pelo
companheiro, ou pela professora.
“O intercâmbio entre a professora e as crianças, é muito rico, porque
permite uma troca de experiências gráficas em um plano bastante
informal e lúdico. As interferências no desenho da criança geram
mudanças no próprio desenho e em seu autor. Graficamente, a
criança tem possibilidades de acrescentar detalhes e/ou figuras
inteiras ao seu trabalho, gerando novas formas. E as alterações
repercutem nos processos psíquicos envolvidos na execução do
grafismo: percepção, memória e conceitualização”. (SILVA, 2002,
p.90).
38
Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais, a criança que exercita
continuamente a sua imaginação está mais preparada para realizar atividades
de outras áreas de conhecimento, como textos mais ricos, relações mais
amplas, com períodos históricos ou estratégias pessoais para resolver
problemas.
É necessário destacar a importância da arte no processo educativo para
o desenvolvimento da criança, como sujeito que se expressa e se insere no
mundo. O educador tem como função possibilitar à criança transformar a
realidade, o que só pode acontecer se o próprio educador puder refletir acerca
de sua prática pedagógica.
Para Almeida (1981), é fundamental que exista um maior conhecimento
do docente sobre a atividade gráfica como processo que envolve ações
compartilhadas entre sujeitos e gera desenvolvimento e aprendizagem.
“Entreguem à criança somente o essencial, não tentem ensinar-lhes
como se desenha, e sim incentivem nelas o uso (...) de seus materiais
exteriores e interiores. A emoção dominante da verdadeira arte infantil
deve ser a alegria da revelação! Que formoso é o mundo! Eu o vejo
assim e assim posso fazê-lo! Um professor que tenha experimentado
esse sentimento de maravilha e delícia pode ser o professor da arte
infantil. Um professor de arte, que seja triste, é uma contradição, pois
mesmo que possuísse todos os conhecimentos do mundo nada tiraria
dele. Coagir as crianças e coibir seu poder de criar será sempre mais
perigoso que deixar que elas se desenvolvam livremente”. (Marino,
1988, p. 139).
39
CONCLUSÃO
A Educação Infantil abrange uma fase que tem sido considerada um
período de fundamental importância para a constituição da identidade do ser
humano, caracterizando-se pelo desenvolvimento integral da criança. Surge
então, cada vez mais, a preocupação na elaboração de propostas educativas
que atendam as necessidades e as especificidades das crianças.
A infância é uma construção social. A criança precisa ser cuidada,
educada e preparada para a vida futura. É preciso planejar práticas
pedagógicas que priorizem na criança possibilidades de construírem seus
conhecimentos de forma crítica e criativa.
As crianças aprendem interagindo com o seu ambiente e transformando
ativamente seus relacionamentos com o mundo dos adultos, das coisas, dos
eventos e, de maneiras originais, com seus pares.
Nesse contexto, surge um questionamento que trabalhar com o desenho
infantil desde a creche, pode auxiliar no desenvolvimento infantil, cuja hipótese
do projeto desta pesquisa afirmava que os primeiros anos de vida são
fundamentais para o desenvolvimento infantil. Portanto, é importante a
utilização do desenho na Educação Infantil, não somente pelo simples fato das
crianças desenharem, mas como um importante instrumento de trabalho.
A hipótese levantada anteriormente é verdadeira e pode ser confirmada
relembrando o terceiro capítulo, que se refere à importância do desenho da
criança promovendo o seu desenvolvimento, além de ser um importante
instrumento para situações de ensino-aprendizagem.
Além disso, o desenho infantil proporciona o desenvolvimento cognitivo,
afetivo, social e emocional, consequentemente organiza as habilidades já
dominadas pela criança, estimula a imaginação, explora a criatividade,
desencadeando assim, um processo de desenvolvimento pleno da criança.
40
No processo de construção de conhecimento, o professor participa
como mediador, promovendo oportunidades desafiadoras, para facilitar o
entendimento da realidade tornando a aprendizagem significativa.
O educador infantil deve estar em constante processo de formação,
pesquisa, investigação e observação, para que se sinta efetivamente parte
desse enredo tão gratificante que se traduz no ato de educar.
Em função do exposto a criança, como todo ser humano, é um sujeito
integrante de uma sociedade, que deve ter uma infância enriquecedora, ou
seja, recebendo estímulos que favoreçam o seu desenvolvimento. É
importante que a família tenha condições de contribuir para a formação da
criança. Não só a família, como também a creche, a escola, pois a criança
recebe influência do meio que está inserida.
O desenvolvimento infantil descrito nessa pesquisa foi baseado nos
estudos de Vygotsky. Sugere-se então que novas pesquisas sejam realizadas
sobre o desenvolvimento infantil de acordo com outros estudiosos, como
Piaget, relacionando e confrontando com as idéias de Vygotsky.
Outras questões podem ser estudadas, como a importância da
formação do profissional de Educação Infantil, visto que nessa fase a criança
está em constante desenvolvimento. A formação do profissional que atua com
crianças contribui para sua prática pedagógica.
Outra sugestão seria o aprofundamento sobre o desenho infantil
baseado nos estudos de Piaget.
Espera-se que esta pesquisa tenha contribuído para o aprofundamento
teórico sobre a relação entre a importância do desenho e a Educação Infantil.
41
ANEXOS
Bianca – 4 anos
Bruna – 4 anos
Bruna – 4 anos Juliana – 4 anos
42
Rafael – 5 anos Gabriele – 6 anos
Carlos – 6 anos Clara – 7 anos
43
João Vitor – 9 anos
João Luís – 12 anos
Matheus – 12 anos
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Picosque, M. Terezinha Telles Guerra. – São Paulo: FTD, 1998.
PEREIRA, Mary Sue Carvalho. A descoberta da criança: introdução à
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______________A Psicologia da Arte. São Paulo, Martins Fontes, 1998.
______________La imaginación y El arte em La infância. México: Hispânicas,
1987
ÍNDICE
47
FOLHA DE ROSTO
2
AGRADECIMENTO
3
DEDICATÓRIA 4
EPÍGRAFE 5
RESUMO 6
METODOLOGIA 7
SUMÁRIO 8
INTRODUÇÃO 9
1. DESENVOLVIMENTO INFANTIL: UM OLHAR A PARTIR DA TEORIA DE
LEV SEMYONOVITCH VYGOTSKY 12
2. EDUCAÇÃO INFANTIL – UM BREVE HISTÓRICO
23
2.1 Educação Infantil no Brasil 25
3. A IMPORTÂNCIA DO DESENHO PROMOVENDO O DESENVOLVIMENTO
DA CRIANÇA 31
CONCLUSÃO 40
ANEXOS 42
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 45
48
FOLHA DE AVALIAÇÃO
UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
CURSO: EDUCAÇÃO INFANTIL E DESENVOLVIMENTO
NOME: MARIA REGINA PACHECO DO ESPÍRITO SANTO
ORIENTADORA: PROFESSORA MARY SUE PEREIRA
TÍTULO: O DESENHO PROMOVENDO O DESENVOLVIMENTO COGNITIVO,
AFETIVO E EMOCIONAL DA CRIANÇA.
DATA DA ENTREGA:
AVALIAÇÃO:
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