UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … JOSE CAMPOS SALMERON.pdf · A linguagem corporal...
Transcript of UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … JOSE CAMPOS SALMERON.pdf · A linguagem corporal...
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
PROJETO A VEZ DO MESTRE
LINGUAGEM CORPORAL:
UM OLHAR PSICOMOTOR NA ARTE E EDUCAÇÃO
SÉRGIO JOSÉ CAMPOS SALMERON
Orientadora
Profa. Fabiane Muniz
RIO DE JANEIRO
2004
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
PROJETO A VEZ DO MESTRE
LINGUAGEM CORPORAL:
UM OLHAR PSICOMOTOR NA ARTE E EDUCAÇÃO
Apresentação de monografia à
Universidade Candido Mendes como
condição prévia para a conclusão do
Curso de Pós-Graduação “Lato Sensu”
em Psicomotricidade.
Por: Sérgio José Campos Salmeron.
RIO DE JANEIRO
2004
DEDICATÓRIA
Dedico esta monografia a todos que
estiveram ao meu lado contribuindo
diretamente ou indiretamente para esta
pesquisa. Aos meus familiares, por
apoiarem as minhas decisões de
progresso, incentivando sempre a ir
mais longe.
AGRADECIMENTOS
Aos professores, por contribuírem para
o nosso crescimento profissional com
suas experiências de vida.
Aos meus amigos, por torcerem por
mais uma vitória.
A profa. Fabiane Muniz, pela
contribuição na conclusão deste
trabalho.
RESUMO
Uma das principais funções do trabalho corporal é de estabelecer uma
conexão contínua corpo-mente; a percepção (como tomada de consciência) de
sensações e de suas manifestações em sensíveis mudanças corpóreas.
Para ir ao encontro da linguagem do corpo é preciso desenvolver as
possibilidades do movimento corporal, que exige a descoberta do próprio corpo,
percebendo seus aspectos físicos, psíquicos e suas inter-relações.
Para que a linguagem do corpo seja totalmente compreendida, é preciso
também entender a linguagem dos gestos, das atitudes e das ações.
A linguagem corporal se propõe a abrir caminhos e possibilitar a
representação de um mundo imaginário. Por isso além do desenvolvimento do corpo
deve-se cuidar do desenvolvimento da mente.
No trabalho com crianças, o diálogo corporal não se instala apenas através
do agir, mas também do sentir. A aprendizagem de conceitos, a elaboração de
raciocínios e a alfabetização, em consonância com o material afetivo e psicomotor,
vivenciados como atividades livres de educação psicomotora, tornam-se parte do
crescimento global da criança.
O trabalho corporal desenvolvido pelo ator, trata de conscientizá-lo de seu
instrumento, a partir da auto-observação num grande número de ações, a fim de
possibilitar autocontrole: vontade influindo no tônus muscular, alterações musculares
como conseqüência de elementos interiores aplicados em cada ação ou posição
particular.
6
SUMÁRIO
Introdução.......................................................................................................................
...1
Capítulo I – O Corpo e o
Movimento................................................................................3
1.1 – Imagem
Corporal..........................................................................................4
1.2 – Como se Processa o Desenvolvimento da Imagem
Corporal.......................6
1.3 – A Experiência da “Falta” no Processo de Desenvolvimento da
Identidade
Corporal........................................................................................................9
Capítulo II – Linguagem
Corporal..................................................................................11
Capítulo III – A Comunicação com o
Corpo...................................................................14
Capítulo IV – A Linguagem e o
Corpo...........................................................................18
4.1 – A Fisiognomonia ou a Morfologia do
caráter.............................................18
4.2 – A Patognomonia das
Emoções...................................................................19
Capítulo V – O Corpo
Fala..............................................................................................22
7
5.1 – Homem através de seu Corpo, Expressa
Emoções.....................................22
5.2 – A linguagem Silenciosa da Comunicação Não
Verbal...............................23
5.3 – A Ação é Comunicação com o
Mundo.......................................................23
5.4 – A Linguagem das Atitudes e dos
Gestos....................................................24
5.5 – A Linguagem da
Ação................................................................................24
5.6 – O Desenvolvimento da Capacidade de
Expressão......................................25
5.7 – As Dificuldades da
Expressão....................................................................25
Capítulo VI – Corpo
Integrado........................................................................................27
Capítulo VII – O Corpo como Objeto e Instrumento de
Aprendizagem.........................31
7.1 – Dois Níveis de
Corporalidade.....................................................................31
7.2 – O Lugar do Corpo na
Educação..................................................................33
Capítulo VIII – O Corpo na
Arte.....................................................................................35
Conclusão........................................................................................................................
38
Referências
Bibliográficas...............................................................................................39
8
Anexos............................................................................................................................
.41
INTRODUÇÃO
A Unidade é algo a ser priorizado quando se trata do humano,
pois não há situação somática que não possua representação psíquica. O homem é
seu corpo (BRIKMAN, 1989).
A linguagem corporal se propõe a abrir caminhos e possibilitar a
representação de um mundo imaginário. Por isso além do desenvolvimento do corpo
deve-se cuidar do desenvolvimento da mente. Assim poderemos sentir e
compreender as situações que nos são dadas na experiência e criar novas situações.
A comunicação através do corpo, dá-se a partir do momento que
exista, assim como na linguagem verbal, um emissor, um receptor e um
entendimento da mensagem emitida.
Isso acontece naturalmente no dia-a-dia das pessoas, nos seus
relacionamentos interpessoais e pode ser de forma consciente ou inconsciente,
agradável ou desagradável.
9
A unidade é algo a ser priorizado quando se trata do humano,
pois não há situação somática que não possua representação
psíquica. “O homem é seu corpo”.
O corpo que se expressa é um corpo fantasmático no qual se inscrevem
vivências, sentimentos, conflitos, que vão ser retomados simbolicamente e, a
posteriori, nomeados, inscrevendo-se no discurso psíquico. É um corpo de
fantasmas, que se reatualizam desde as fantasias primárias até as complexas
estruturas da cadeia significante do adulto, e pode “falar” sobre o mundo interno do
sujeito, quando uma vivência corporal remete ao discurso que o especifica
(GUIRAUD, 1991).
A criança percebe seu próprio corpo por meio de todos os sentidos, estando
o seu corpo ocupando um espaço no ambiente em função do tempo, captando assim
imagens, recebendo sons, sentindo cheiros e sabores, dor e calor, movimentando-se.
O corpo é o seu centro, o seu referencial, para si mesma, para o espaço que ocupa e
na relação com o outro.
Esse estudo, através de levantamento bibliográfico, se propõe investigar,
sobre a linguagem corporal na educação e na arte.
10
CAPÍTULO I
O CORPO E O MOVIMENTO
Segundo Alves (2003), o primeiro objeto que a criança percebe é seu
próprio corpo. Este conhecimento se estrutura através de sensações, mobilizações e
deslocamentos.
Esquema corporal é a organização das sensações relativas ao próprio corpo,
como resultado da associação de elementos cada vez mais coordenados e complexos.
O esquema corporal nada mais é do que a imagem de si mesmo, isto é, uma imagem
que tem como particularidade o interesse afetivo que lhe dirige o sujeito. A par da
elaboração do esquema corporal, que resulta de atividades mentais, temos que
considerar a tomada de consciência de si, como Ego corporal, que resulta da relação
do sujeito com os demais.
A construção do esquema corporal se dá a partir da maturação neurológica,
da evolução sensório-motora e da relação com o corpo do outro.
Sendo o movimento uma resposta muscular à estimulação sensorial, só se
pode estudar na unidade sensório-motora, isto é, levando em consideração a
informação motora.
Sherrigton e Head distinguem dentro da sensibilidade:
• Uma sensibilidade interoceptiva:
- é a sensibilidade visceral
11
• Uma sensibilidade proprioceptiva:
- é ligada às posturas, movimentos e atitudes
• Uma sensibilidade exteroceptiva:
- englobando as funções táteis, visuais e auditivas.
Movimento reflexo: reação involuntária, esterotipada e localizada no
organismo a um estímulo específico. Os reflexos podem ser inatos ou adquiridos por
aprendizagem. Exemplo: reflexo pupilar – reflexo de sucção.
Movimentos voluntários: são os atos intencionais que encerram dois
elementos importantes: motivação e antecipação. Tais características dão ao
movimento voluntário a conotação de atividade psicomotora por excelência. Já que o
projeto motor é a intencionalidade convertida em ato, representa o ponto onde se
reúnem as faculdades intelectuais e psíquicas e as possibilidades motrizes.
Movimentos automáticos: reações globais do organismo aos estímulos do
meio, sem possibilidades de decomposição e análise. São reações aprendidas
tornando-se involuntárias, isto é, a partir de um estímulo, surge uma cadeia de
respostas que se sucedem com o controle consciente do sujeito. Exemplo: na marcha,
os primeiros movimentos são voluntários seguindo-se uma ação automática.
1.1 - Imagem Corporal
Imagem corporal é a figuração do próprio corpo formada e estruturada na
mente do mesmo indivíduo, ou seja, a maneira pela qual o corpo se apresenta para si
próprio. É o conjunto de sensações sinestésicas construídas pelos sentidos (audição,
visão, tato, paladar), oriundos de experiências vivenciadas pelo individuo, onde o
referido cria um referencial do seu corpo, para o seu corpo e para o outro, sobre o
objeto elaborado (ALVES, 2003).
O termo Imagem Corporal vem sendo usado freqüentemente de maneira
permutável com a terminologia Esquema do Corpo, em estudos neurológicos e
12
psicológicos, onde ocorrem também resistências a determinadas definições e muitas
confusões metodológicas e conceituais.
O esquema corporal é tido como a "experiência imediata de uma unidade
do corpo, (....) percebida, porém é mais do que uma percepção, (...) chamamos de
esquema de nosso corpo", ou mesmo, segundo Brikman (1989), que o denomina
como modelo postural do corpo. O aludido é a imagem tridimensional que todo
sujeito tem do seu próprio corpo, não abordando sob a ótica de uma mera sensação
ou imaginação, mas da percepção corporal, mesmo que a informação tenha chegado
através dos sentido.
A imagem que pode ser visual, motora, auditiva, tátil, entre outras, não
pode ser analisada separadamente os itens ou adotar para casa estrutura um padrão
único para a avaliação de alteração em todas as estruturas.
Toda mudança reconhecível entra na consciência comparando-se com
situações já vivenciadas, realizando assim uma avaliação da nova situação que gera
uma mudança na Imagem Corporal.
Há uma distinção desobstruída proposta primeiramente por Feldenkrais
(1987), entre um esquema do corpo considerado como "um padrão combinado de
encontro em que todas as mudanças subseqüentes da postura estão sendo medidas
(...) antes que a mudança postural incorpore o consciente."; e a imagem do corpo
como "uma representação interna na experiência consciente da informação visual,
tátil e motor, da origem corporal".
Segundo Vayer e Toulouse (1982), a imagem corporal pode ser definida
como a visão do nosso corpo que produzimos em nossa mente. A imagem corporal é
definida como a representação mental do próprio corpo.
13
1.2 - Como se processa o desenvolvimento da Imagem Corporal?
A Imagem Corporal se desenvolve desde o nascimento até a morte, dentro
de uma estrutura complexa e subjetiva, sofrendo modificações que implicam na
construção contínua, e reconstrução incessante, resultante do processamento de
estímulos (GUIRAUD, 1991).
Durante os anos pré-escolares a criança desenvolve de forma acentuada o
seu conceito a respeito da imagem corporal. Com um pensamento e uma linguagem
mais abrangente, começa a reconhecer que a aparência das pessoas pode ser mais ou
menos desejável e as diferenças de cor ou raça. Ela conhece o significado das
palavras "bonito" e "feio" e reflete a opinião que os outros têm a respeito de sua
aparência.
Aos cinco anos, por exemplo, a criança já compara sua altura com a de seus
pais e pode dar-se conta de ser alta ou baixa, especialmente quando as pessoas se
referem a ela, chamando-a de "alta ou baixa para a idade".
Apesar de seus progressos no desenvolvimento da imagem corporal, o pré-
escolar ainda tem uma noção pouco definida a respeito dos limites do seu corpo,
além de possuir escassos conhecimentos de sua anatomia interna. Em virtude disto,
qualquer experiência invasiva o atemoriza, especialmente quando há solução de
continuidade da pele, tais como pequenos cortes ou escoriações. Em seu pensamento,
em conseqüência de uma pele rompida pode escapar todo o seu sangue e interiores.
Por isto, os curativos são tão importantes para segurar tudo dentro, e qualquer
arranhão precisa de mercúrio ou esparadrapo, para que a interpretação da imagem
corporal da criança seja atendida evitando distúrbios que possam surgir
posteriormente.
A criança percebe seu próprio corpo por meio de todos os sentidos, estando
o seu corpo ocupando um espaço no ambiente em função do tempo, captando assim
imagens, recebendo sons, sentindo cheiros e sabores, dor e calor, movimentando-se.
14
O corpo é o seu centro, o seu referencial, para si mesma, para o espaço que ocupa e
na relação com o outro.
A noção do corpo está no centro do sentimento de mais ou menos
disponibilidade e adaptação que temos de nosso corpo e está no centro da relação
entre o vivido e o universo. É nosso espelho afetivo-somático ante uma imagem de
nós mesmos, do outro e dos objetos.
O esquema corporal, da maneira como se constrói e se elabora no decorrer
da evolução da criança, não tem nada a ver com uma tomada de consciência
sucessiva de elementos distintos, os quais, como num quebra-cabeça, iriam pouco a
pouco se encaixar uns aos outros para compor um corpo completo a partir de um
corpo desmembrado (BERGE, 1988).
O esquema corporal revela-se gradativamente à criança da mesma forma
que uma fotografia revelada na câmara escura mostra-se pouco a pouco para o
observador, tomando contorno, forma e coloração cada vez mais nítidos. A
elaboração e o estabelecimento deste esquema parecem ocorrer relativamente cedo,
uma vez que a evolução está praticamente terminada por volta dos quatro ou cinco
anos. Isto é, ao lado da construção de um corpo 'objetivo', estruturado e representado
como um objeto físico, cujos limites podem ser traçados a qualquer momento, existe
uma experiência precoce, global e inconsciente do esquema corporal, que vai pesar
muito no desenvolvimento ulterior da imagem e da representação de si mesmo, idem.
A imagem corporal é continua e representativa do esquema postural e
acompanha o indivíduo desde o seu nascimento até o ultimo suspiro, sofrendo
adaptações e transformações globais de acordo com o momento vivido.
Quanto maior forem os estímulos e as possibilidades de novas experiências
do recém nascido durante toda sua trajetória de vida, mais completa será a sua
formação do esquema corporal, principalmente sob o ponto de vista psicomotor. As
experiências corporais que determinam a imagem corporal corroboram para a
modelação de um esquema que refletirá na adolescência e na vida adulta. Sua forma
15
poderá ser lapidada, porém terá seus elementos da construção inicial preservados,
apesar das transformações ocorridas ao longo da vida.
O esquema corporal é uma aquisição lenta e paulatina. Desenvolve-se desde
antes do nascimento, se incrementa em forma notável desde este até o terceiro ano de
vida e, logo, continua em permanente evolução adaptativa pelo resto da existência do
individuo. Se estrutura sobre a base dos componentes neurológicos em
desenvolvimento e maturação onde se liga fundamentalmente, as percepções
exteroceptivas, proprioceptivas e interoceptivas que permitem estabelecer, em um
momento inicial a consciência sobre localização espacial total, a capacidade e o
funcionamento de uma determinada parte do corpo, a consciência inicial sobre a
magnitude do esforço necessário para realizar uma determinada ação, e a consciência
sobre a posição do corpo e suas partes no espaço durante esta ação.
Estas noções que se desenvolvem prioritariamente durante os primeiros
meses de vida extra-uterina, mas que se inicia durante a vida intrauterina, como já se
abordou, vão ocorrendo cada vez mas fáceis e inconscientes pela repetição continua e
eficaz de cada ato em questão, até chegar a automatização da resposta frente ao
estímulo específico.
Liga-se sem associações ao estabelecimento dos reflexos em que as
percepções sensoriais, sensitivas e proprioceptivas se conjugam para gerar a
excitação neuronal que, em nível central ou em nível da medula espinal, desencadeia
a motricidade requerida como resposta ao estímulo percebido ou a uma ação gerada
conscientemente.
Ainda que pareça evidente, é necessário aclarar que o esquema corporal se
implanta e evolui, especial e especificamente, sobre a maturação do conjunto
neuromúsculo-esquelético e que se liga ao processo de ereção que leva o neonato
através das etapas de rastejar, engatinhar e primeiros passos, até ao total domínio da
marcha e orientação, as quais são suportadas pelo eixo axial que está localizado na
coluna vertebral.
16
A imagem corporal do bebê amadurece aos poucos na medida em que ele
experimenta o toque, a exploração do espaço, a manipulação e contato com objetos.
A idéia de separação de seu corpo de outros corpos e objetos se dá gradativamente
(LE BOULCH,1987). Trinta (1990) e Lapierre (1984) concordam que a percepção da
existência do corpo próprio, individual, se dá por volta dos 18 meses. Le Boulch
(1987) aponta que Lacan, após Wallon enfatizam a grande importância da "fase do
espelho", quando a criança vê sua imagem projetada no espelho, olha por trás do
mesmo... Até então, a imagem de seu corpo encontra-se incompleta, fragmentada. A
imagem do todo acontece quando ela se vê no espelho. Ela passa então da imagem
do corpo fragmentado à compreensão da unidade de seu corpo como um todo
organizado. Guiraud (1991) ressalva a importância da imagem corporal não ser
limitada a imagens visuais, mas como fruto da absorção de experiências vividas.
A imagem corporal nunca é estática. Ela muda de ação para ação. De início,
quando a imagem está sendo estabelecida, sua taxa de mudança é alta; novas formas
de ação que, apenas um dia antes, estavam além da capacidade da criança, são
rapidamente conseguidas.
1.3 - A experiência da "falta" no processo de desenvolvimento da
Identidade Corporal
A criança não espera nada do mundo exterior de plenitude e fusionalidade.
A perda da plenitude fusional não assegura a separação do Eu e do não-EU, a qual
exige uma dissociação perceptiva entre as sensações provocadas pelo exterior e as
sensações internas, que se revertem em experiência (LAPIERRE, 1984).
Os objetos transicionais e os desejos do homem ocorrem para minimizar, ou
seja, compensar a falta do se ou de um ser. O desejo de possuir o corpo do outro se
transforma em desejo possessivo pelos objetos.
17
A falta no corpo, oculta no inconsciente, vai emergir no consciente sob a
forma simbólica de uma falta do ter. Mas o ter não pode nunca preencher esta falta e
o desejo de posse pelos objetos torna-se incontrolável cumulativo e desabando como
uma avalanche.
La Pierre contextualiza a experiência da "falta" no processo de
desenvolvimento da Identidade Corporal na necessidade do individuo transferir ou se
apoiar, e porque não dizer, consumir o outro. Este se revela desde o nascimento do
bebê, quando se corta o cordão umbilical e há a separação do líquido amniótico, até a
fase adulta quando ainda há a necessidade de recuperar o trauma ocorrido na quebra
da fusionalidade. Para o autor a construção da identidade corporal ocorrerá espelhada
no que o outro apresenta, e sobre o desejo do individuo reproduzido pelo outro.
A construção deste modelo corporal surgirá de uma maneira pela qual o
sujeito tenta consumir, enquanto objeto, o corpo de um outro individuo para suprir o
seu espaço fusional interior.
Na fantasmática fusional da criança, as "cavidades" são aberturas para o
mundo misterioso do interior do outro, daí o desejo inconsciente de penetrar nestas
cavidades (...), onde a criança com seus dedos , a mão, o olhar, e com todo o corpo
explora estes orifícios na busca da interioridade alheia no seu próprio corpo, fato que
no futuro vai se investir nas relações sexuais.
Para o surgimento da identidade corporal, o corpo deve estar reunido com
uma imagem global que aparece por volta do oitavo mês de vida, durante o estágio
do espelho, que ainda é imperfeita mas que se aprimora com o reforço. As
experiências motoras corroboram para o conhecimento das dimensões corporais
permitindo atingir com maior facilidade esta totalidade.
18
CAPÍTULO II
LINGUAGEM CORPORAL
Linguagem corporal é uma necessidade de exprimir-se fisicamente,
uma reação contra as inibições do século passado, e a necessidade de criação é
resposta ao fato de que tudo se compra, nada de fabrica pessoalmente, com isso, os
instintos de criatividade estão totalmente recalcados (GUIRAUD, 1991).
A expressão corporal nos faz tomar consciência de lembranças
nostálgicas que relegamos ao mais profundo do nosso ser. Mexer-se com liberdade é
exprimir nossos sentimentos mais escondidos, partilhar o que pensamos mas não
sabemos dizer, reencontrar o contato com a natureza e com o outro, realizar um
pouco nossa necessidade de autenticidade.
Expressão corporal sem exigências é liberdade sem responsabilidade.
Há certamente terapias de grupo e psicodramas muito salutares, mas
são tratamentos que geralmente se dirigem a casos patológicos.
A linguagem corporal não tem o intuito de curar distúrbios psíquicos
graves, mas simplesmente ajudar as pessoas a encontrarem melhor equilíbrio para
viverem mais de acordo com sua natureza profunda.
Para ir ao encontro da linguagem do corpo é preciso desenvolver as
possibilidades do movimento corporal, que exige a descoberta do próprio corpo,
percebendo seus aspectos físicos, psíquicos e suas inter-relações.
19
Expressar tem vários significados, em relação com o corpo, com a
mente, a emoção, a sensibilidade e a capacidade de dar e receber.
Podemos dizer que possibilita ao indivíduo:
Manifestar de forma corporal e plenamente sua mente, sua emoção e suas
idéias;
Relacionar-se e integrar-se criativamente com os membros de sua sociedade;
Aprender a desfrutar e manejar seu corpo como uma totalidade integrada.
Para que a linguagem do corpo seja totalmente compreendida, é
preciso também entender a linguagem dos gestos, das atitudes e das ações.
A linguagem corporal se propõe a abrir caminhos e possibilitar a
representação de um mundo imaginário. Por isso além do desenvolvimento do corpo
deve-se cuidar do desenvolvimento da mente. Assim poderemos sentir e
compreender as situações que nos são dadas na experiência e criar novas situações.
As expressões corporais revelam evidentemente muitas coisas diferentes. É
o resultado, ou da busca de um objeto dotado de valor, ou de uma condição mental.
Suas formas mostram a atitude da pessoa que se move numa determinada situação.
Pode tanto caracterizar um estado de espírito e uma reação, como atributos mais
constantes da personalidade. As expressões podem ser influenciadas pelo meio
ambiente do ser que se move.
Os movimentos expressivos no corpo e rosto...servem como primeiro
meio de comunicação entre a mãe e seu filho. Os movimentos expressivos conferem
vivacidade e energia às nossas palavras faladas. Revelam os pensamentos e
intenções dos outros, de modo mais verdadeiro do que o fazem as palavras, que
podem ser falseadas... A livre expressão de uma emoção através de sinais externos,
intensifica...
20
Por outro lado, a repressão, até onde isso for possível de todos os sinais
externos, enfraquece nossas emoções. Aquele que se permite expressar por uma
gesticulação violenta incrementará sua ira; aquele que não controla os sinais de
medo, vivenciará esse medo em grau mais elevado; e aquele que permanece passivo,
quando subjulgado pelo pesar, perde sua melhor oportunidade de recuperar a
elasticidade mental.
21
CAPÍTULO III
A COMUNICAÇÃO COM O CORPO
Nosso corpo fala e nós falamos com nosso corpo de diversas maneiras e
em diversos níveis (FELDENKRAIS, 1987).
O corpo pode falar por intermédio de nossas emoções, que são os
"movimentos" do nosso organismo, exemplo: trememos de medo, coramos de
vergonha, fazemos careta de dor, etc. Estas são reações físicas, pelas quais se
exprimem os nossos sentimentos, que são traduzidos pela linguagem, o modo pelo
qual concebemos e representamos esses fenômenos. As reações físicas, são também
chamadas de signos. Os signos fisiognômicos e cinestésicos são naturais,
espontâneos e meio inconscientes, o que deveria fazer recusar-lhes o status de
linguagem.
Esses signos têm a função inicial de conhecer o caráter, o estado de saúde, os
sentimentos do outro e são utilizados "artificialmente" para conhecer o nosso
caráter, nossos sentimentos, por exemplo, abrimos a boca espontaneamente sob
efeito de surpresa, mas podemos fazê-lo deliberadamente para mostrar que estamos
surpresos. Constitui-se então, desta forma um objeto gestual em que a relação entre
signos e as relações naturais de que derivam tornou-se há tempos, obscura, como de
costume nas linguagens articuladas, por exemplo, a saudação mediante inclinação de
cabeça remonta um reflexo de submissão muito antiga.
Conforme a natureza e a função que apresentam pode-se distinguir
diferentes tipos de códigos corporais:
22
- Primeiro: os substitutos da linguagem articulada, gestos e mímicas suprem os
sons;
Exemplo: linguagem dos surdos-mudos, dos trapistas e dos
boookmakers, etc.
- Segundo: os auxiliares da linguagem articulada, gestos e movimentos corporais
acompanham a fala; estudo dos auxiliares da linguagem articulada deu origem a três
disciplinas:
- Cinésia: estudo dos gestos e mímicas;
- Proxênica: estudo das posições do corpo num espaço cultural (abraço,
posição num cortejo);
- Prosódica: estudo das entonações e variações por meio das quais se exprimem
os sentimentos e intenções dos interlocutores (gritos, lágrimas e risos).
Através das fontes de informações que interpretamos com o auxílio de
códigos (fisiognomias e caracterologias), nosso corpo fala .Por outro lado, nós
falamos com o corpo através de um sistema de gestos, mímicas, deslocamentos e
gritos. Imaginamos um mundo segundo o modelo de nosso corpo, formando assim
conceitos e palavras a partir de imagens corporais. Fazemos o nosso corpo falar, ao
utilizá-lo como modo de expressão de uma realidade extracorporal, e falamos com o
corpo, na medida em que nos servimos de gestos e mímicas corporais para transmitir
informações.
Temos, a respeito do corpo do outro apenas uma visão sincrética, isto é,
uma apreensão global e mais ou menos confusa de um todo. Traduzindo
espontaneamente por um sentimento: ele está contente..., ele está triste..., ele está
deprimido..., ele está com raiva... ou por uma intenção: ele quer me seduzir..., me
convencer ou me dominar... ele mente etc. É seu corpo que o diz mesmo antes que
ele tenha pronunciado uma palavra. Compreende-se esta linguagem do corpo sem ter
necessidade de identificar e de analisar os múltiplos elementos que a constituem. É
23
neste sentido que Sapir a define como “alguma coisa que não está escrita em lugar
algum, que ninguém conhece, mas que todo mundo compreende”.
A linguagem corporal é universal, porque ela repousa sobre estruturas
arcaicas, inatas, transmitidas de geração em geração, inscritas de alguma forma no id.
Essas estruturas neuropsicomotoras fazem parte do patrimônio gene´tico da
humanidade. A espécie humana, como cada espécie animal, tem seus códigos
gestuais e seus rituais de comunicação. Há até uma certa analogia entre os códigos
gestuais de diferentes espécies, o que permite ao homem e ao animal
compreenderem-se na expressão dos sentimentos primários (BRIKMAN, 1989).
Esses códigos constituem, às vezes, rituais, sinais emitidos
espontaneamente e percebidos também inconscientemente pelo outro.
O corpo fala essencialmente de sentimentos. O corpo é a expressão mais
direta do sistema e se presta muito mal a sua utilização pelo sistema. O corpo fala de
desejos e de fantasmas, não de realidade objetiva.
O corpo não é feito para informação objetiva, mas para comunicação. O que
é então a “comunicação”, tal qual a entendemos? “Comunicar e “comunicação”
aparecem na língua francesa na segunda metade do século XVI. O sentido básico é
ainda muito próximo ao do latim “communicare” (colocar em comum)... esta
colocação em comum compreende até aparentemente, a união dos corpos.. Até o
século XVI, “comunicar” e “comunicação” são, então, muito próximo de
“comungar” e “comunhão”... a partir desse sentido de “partilha”, aparece no século
XVI o sentido “partilhar” uma novidade. Desde então, no fim do século,
“comunicar” começa a significar também “transmitir”... é esse sentido de
transmissão que predomina em todas as acepções francesas contemporâneas. “A
nova comunicação”.
Quando fala-se de comunicação em análise corporal, é para designar o
estabelecimento de uma relação muito profunda, com uma partilha de sentimentos de
forte carga emocional, com uma união numa troca íntima.
24
A relação se limita habitualmente a um nível mais superficial, e o corpo
exprime sempre espontaneamente os sentimentos, os desejos e os fantasmas.
Exprime pela atitude, mímica, olhar, gesto (ou imobilidade), contato, distância,
ritmo, respiração, tonalidades vocais, ato e maneira com a qual ele utiliza os objetos.
Todas essas mensagens não-verbais que constituem, ao que parece, dois terços da
relação. Ainda, é necessário que essas diferentes partes da mensagem sejam
coerentes entre si, para que haja a percepção de uma mensagem global e sem
ambigüidade. Esta coerência é assegurada pelo tônus, pelas modulações tônicas
involuntárias geradas pelas tensões psíquicas que se transmitem simultaneamente, a
partir do mesencéfalo, para todas as partes do corpo.
25
CAPÍTULO IV
A LINGUAGEM E O CORPO
Estudo dos índices corporais são divididos em duas partes: a forma do
corpo e seus movimentos (WEIL e TOMPAKOW, 1988).
A forma do corpo constitui uma morfologia do caráter que interpreta o
comprimento do nariz como signo de faculdades permanentes.
Chamamos de fisiognomonia, esse estudo, que hoje sobrevive em diversas
caractereologias.
Por outro lado, existe uma cinética das emoções, que são designadas pelo
nome de patognomonia. E, os traços fisiognomicos e patognomicos, encontram-se na
origem de metáforas: uma acolhida pode ser fria ou calorosa, por exemplo.
4.1 - A Fisiognomonia ou a Morfologia do Caráter
Podemos dizer que o corpo "fala" na medida em que nos dá
informações sobre a personalidade das pessoas: sexo, idade, origem étnica, social,
estado de saúde, o caráter, etc.
26
A aparência física do indivíduo é o que nos leva a dizer se ele é
energético ou tímido, inteligente ou estúpido, sincero ou velhaco, antipático ou
simpático (TRINTA, 1990).
Desde a antiguidade, a análise do caráter pela morfologia tem dado
origem a constituição de estruturas de signos em oposição: testa/queixo,
largo/estreito, etc. Estruturas que são investidas de conteúdo psíquico
correspondente: testa "inteligência"/queixo "vitalidade", onde testa larga "grande
inteligência", queixo estreito "vitalidade reduzida", etc.
Aristóteles imaginava relações entre o homem e o animal, onde o
indivíduo que tivesse cara de raposa, ou pescoço de touro, partilharia com esses
animais certos traços de caráter (astúcia , obstinação, etc).
Na mesma época, Camper definiu a noção de ângulo facial como
medida da inteligência, enquanto Gall inventava a frenologia ; o estudo do caráter a
partir da forma do crânio.
Partindo de critérios psicanalíticos, alguns distinguem: os
dependentes, os inibidos, os desregrados, etc. Todos esses sistemas são
"sistemáticos", ou seja, constituem classes a partir de combinações de pequeno
número de traços críticos básicos. Exemplo:
- Emotivos - inativos - primários – nervosos
- Não emotivos - ativos - primários - sanguíneos.
4.2 - A Patognomonia das Emoções
A patognomonia é o termo pelo qual Lavanter designa o estudo dos sinais
físicos de nossas emoções, é a interpretação das paixões, ou a ciência que trata dos
sinais da paixão. A fisiognomonia é a interpretação das forças, ou a ciência que
explica os signos das faculdades (WEIL e TOMPAKOW, 2000).
27
Uma examina o caráter quando em ação, a outra o considera no estado de
repouso...
A patognomônica é exatamente como a fisiognomônica, uma linguagem
natural, porém, insere-se uma linguagem artificial, utilizada voluntariamente para
fins de comunicação, com a qual, aliás, está estreitamente imbricada, como mostram
os gestos espontâneos ou premeditados que acompanham a fala. Essa ciência dos
sinais exteriores de nossas emoções compreende, de início, um estudo dos índices
naturais e espontâneos que as manifestam; na cólera, por exemplo, enrubescemos,
empalidescemos, batemos com os pés etc. Mas, por outro lado, podemos fingir a
cólera, para fazer crer que estamos encolerizados; e, enfim, imita-la, ao descrever um
indivíduo encolerizado, por exemplo.
As duas situações - a natural e a artificial - ligam-se uma à outra, mas
são distintas. Por um lado, certos sintomas não podem ser reproduzidos
voluntariamente (por exemplo, o rubor ), por outro lado, existem linguagens gestuais
que são substitutos da fala (surdos- mudos, trapistas etc.).
Acrescentamos também que a dança é um modo de expressão
corporal, também é uma linguagem do corpo.
O estudo da linguagem constitui, sem dúvida - e à falta de coisa
melhor - , a abordagem mais simples e a mais eficaz desse tema. Com efeito,
expressões do tipo esfregar as mãos, cruzar os braços, dobrar a espinha etc., ou
derivados, como sobrancelhudo, ofegante , arrufado etc., atestam a existência de uma
relação entre gestos corporais e sentimentos a eles ligados.
A fisiognomonia e a patognomonia constituem disciplinas muito
diferentes, pois se podemos pôr em dúvida a pertinência de um sistema que pretende
ver no reflexo da alma, é claro, em contraposição, que nossas emoções se
manifestam por gestos, gritos e mímicas que permitem observá-las e idendificá-las.
Outra diferença importante, enquanto é difícil simular nossa aparência física, gestos,
gritos e caretas podem ser reproduzidos e modificados à vontade, de modo que
podemos abrir a boca para exprimir uma surpresa, mais ou menos, fingida ou sincera,
28
enquanto é difícil (a não ser com a ajuda de maquilagem) modificar o perfil ou a
espessura de nossos lábios.
29
CAPÍTULO V
O CORPO FALA
5.1 - Homem através de seu Corpo, Expressa Emoções
Alguns acontecimentos, levaram o homem moderno a grandes
mudanças nas formas de expressar-se.
Segundo Weil e Tompakow (2000), em sua obra "O Corpo Fala", os
autores citam o aparecimento da linguagem falada e o processo de civilização do
homem primitivo, como principais fatores.
As invenções de ferramentas e máquinas também podem ter
contribuído de forma gradativa para esse acontecimento. Logicamente ao que se
refere a expressão corporal no sentido utilitário, que requer esforço físico.
Estamos atualmente na era da "Comunicação Automatizada" e desde
que temos registros os povos nunca estiveram tão interligados tecnologicamente.
É justamente em plena era da Comunicação que podemos perceber
nossa sociedade tentando resgatar ou reaprender alguns dos princípios básicos de
expressão que fazem do homem um ser completo: instintivo, emocional e racional.
"O homem atual não mais necessita tão intensamente do esforço físico
para a sobrevivência".
30
Para que haja comunicação, é necessário apenas que o recptor entenda
a mensagem do emissor. Isto pode acontecer consciente ou inconscientemente, no
silêncio de um simples gesto.
5.2 - A Linguagem Silenciosa da Comunicação Não Verbal
Os gestos, expressões corporais, faciais, coloração da pele, o brilho
nos olhos percebido em algumas situações, tudo isso dentro de um contexto, pode ser
entendido como forma de comunicação, tanto a percepção de uma mensagem não
verbal, quanto a reação da mesma podem ser conscientes ou inconscientes (TRINTA,
1990).
"Pela linguagem do corpo você diz muitas coisas aos outros e eles tem
muitas coisas a dizer para você".
A característica dominante do símbolo, é fugir da palavra ou frase
escrita por extenso.
Frase já é um grupo de símbolos (palavras), por sua vez também
composta de símbolos (letras), de fugazes vibrações sonoras. Tudo isso sujeito a um
código gramatical de origem empírica e lastrado com inevitável imprecisão
semântica, especialmente a deterioração do significado percebido.
5.3 - A Ação é Comunicação com o Mundo
Dinâmica da ação e dinâmica corporal - Para o indivíduo se
autoconstruir ele precisa ser sujeito de sua ação, princípio dinâmico de todo
desenvolvimento, e só tem significado quando de comunica com o mundo.
Para a construção da personalidade, este indivíduo deve assegurar e
assumir as informações de suas interações com o meio.
31
A dinâmica da ação é um movimento existencial aberto para o mundo.
5.4 - A Linguagem das Atitudes e dos Gestos
Corpo é modo e meio de integração do indivíduo na realidade do
mundo, logo, carregado de significado (TRINTA, 1990)
Sempre soube-se que as posturas, as atitudes, os gestos e sobretudo o
olhar exprimem melhor do que as palavras, as tendências e pulsões, bem como as
emoções e sentimentos da pessoa que vive uma determinada situação, num
determinado contexto.
Seqüências de comportamento foram analisadas e mostraram que as
posturas, as atitudes, os gestos e as mímicas unem-se como as frases num diálogo
verbal e constituem informações que são compreendidas pelo outro.
5.5 - A Linguagem da Ação
As posturas, as atitudes, exprimem o que é a personalidade, o que são
seus sentimentos, é a ação que expressa a intenção.
A psicologia do conhecimento nos ensinou que a ação permite
apreender, reconhecer e construir a realidade do mundo material, a realidade dos
objetos e do espaço.
A ação não é somente relação com o objeto, é um meio de
comunicação com o outro, é o significado afetivo contido nas atitudes e gestos.
Há uma observação que todos podem fazer: a de que crianças
pequenas na praia, crianças de nacionalidades diferentes, utilizando pois, linguagens
verbais diferentes, são capazes tanto de brincar juntas, como de imaginar e
desenvolver projetos bem elaborados.
32
A ação não é privilégios da infância. Permite a cada interlocutor
inserir-se no diálogo, propor, aceitar, recusar, imitar, compreender o outro.
5.6 - O Desenvolvimento da Capacidade de Expressão
Por volta de um ano e meio a dois anos de idade, a inteligência
sensório motora passa para a inteligência pré-operacional, também chamada de
inteligência representativa, caracterizando-se pela capacidade de falar sobre
realidades ausentes, através do uso de símbolos.
Quando o homem passou a criar significados usando gestos corporais,
sons vocais e objetos como símbolos de realidades ausentes ou como forma de
expressão de seus sentimentos e pensamentos, iniciou-se a comunicação gestual, a
linguagem oral e a criação de simbolismo com objetivos, marcando temores e
esperanças e servindo à adoração de deuses.
Na criança, os gestos expressivos e criativos substituem os
movimentos puramente imitativos e condicionados.
Aos 4 anos, os objetos do mundo passam a provocar, além de
sensações e respostas motrizes, a representação de aspectos do meio ambiente que
impressionaram a criança.
5.7 - As Dificuldades da Expressão
Quando os psicólogos identificam uma imagem de corpo e um
esquema corporal, bem como seu relacionamento numa perspectiva libidiana ou
quando de esforçam por definir seu vaivém como a condição do processo de
simbolização, eles não fazem outra coisa senão expressar numa linguagem particular,
a da psicanálise, a organização permanente das informações pelos três níveis
funcionais do sistema nervoso.
33
Conhecimento do corpo é inibido pelo dualismo corpo-espírito, que
faz parte de nossa cultura e particularmente da psicologia.
34
CAPÍTULO VI
CORPO INTEGRADO
O corpo integrado é o objeto de estudo e da abordagem terapêutica em Psicomotricidade (BERGE, 1988).
Esse corpo age, se estrutura e se situa num mundo organizado espaço-temporal, que é mensageiro de idéias e sentimentos, e que expressa o mundo fantasmático, o desejo e a personalidade global.
É a partir da própria vivência corporal e das primeiras cenestesias e
sensibilidades que se inscrevem psiquicamente que vai surgindo a noção do próprio
corpo e de si mesmo.
As pulsões e os fantasmas primitivos inconscientes ligam-se,
originariamente, a estas vivências primárias e, na “relação corpo-a-corpo e coração a
coração”, vai se formando um Eu Corporal, base do Ego, com a função de adaptação
à realidade.
Esse rudimento de Eu, ainda sem consciência de si mesmo, poderíamos
dizer ainda em pedaços, supre-se nas fontes narcísicas primárias e é reinvestido
libidinalmente, pois insere-se na relação objetal primária.
As primeiras manifestações psíquicas expressam-se em atividades
tônicomotoras que vão se integrando num verdadeiro “diálogo corporal” através da
relação objetal. Por intermédio dessa linguagem corporal, codificadas em inibição,
relaxamento, impulsos ou descargas motoras de tensão, são estabelecidos os
primeiros significantes para o vínculo mãe/filho.
35
Estas expressões tônico-motoras do bebê são interpretadas pela mãe, que
lhes atribui significação de elementos de relação e, logo, passam a ser utilizadas
como meio de comunicação mãe/filho. O corpo é, assim, desde o início da vida,
catequizado libidinalmente e reinvestido, a partir da relação com a mãe, nos
momentos de cuidados de maternagem, ou de expressão de afeto entre ela e seu bebê.
É um corpo que vai começar a ter um limite, um contorno, à medida que for
se criando um espaço do “dentro e do fora”. Este começa a se instaurar através de um
espaço entre a mãe e o bebê, espaço originado com a possibilidade de lidar com a
tensão da estimulação e da frustração, com a capacidade de adiar satisfações e criar
representantes psíquicos e fantasiar. Daí surgem, associadas e concomitantes, uma
imagem corporal e a imagem do outro.
O corpo que se expressa é um corpo fantasmático no qual se inscrevem
vivências, sentimentos, conflitos, que vão ser retomados simbolicamente e, a
posteriori, nomeados, inscrevendo-se no discurso psíquico. É um corpo de
fantasmas, que se reatualizam desde as fantasias primárias até as complexas
estruturas da cadeia significante do adulto, e pode “falar” sobre o mundo interno do
sujeito, quando uma vivência corporal remete ao discurso que o especifica (BERGE,
1988).
É neste sentido de corpo testemunha do psiquismo que Françoise Besobeau
usa seu conceito de “Corpo Lembrete” (aide-mémoire) e Lapierre fala do corpo
fantasmático em Psicomotricidade Relacional.
É esse corpo que pode tornar-se a sede de bloqueios ou de passagens ao ato,
expressar-se por instabilidade ou impulsividade, e prender-se em inibições ou
passividade, quando o sujeito não consegue elaborar seu vivido no plano simbólico.
É no domínio da ação que o corpo se especifica como instrumento de
adaptação à realidade. À medida que o corpo age, vai ocorrendo maturação
neurológica e a organização dos movimentos e gestos. Concomitantemente, há um
36
melhor domínio de tensões moduladas e diferenciadas, afirmando-se a base tônica e
postural das atividades corporais.
Desta base projetam-se movimentos cada vez mais objetivos. Movimentos
coordenados, intencionais, com seqüências gestuais adaptadas ao espaço e ao tempo,
capazes de adaptar sua rapidez, precisão e força de acordo com as necessidades da
ação. Movimentos que vão se organizando praxicamente e se definindo de acordo
com a lateralidade dominante. Movimentos que vão sendo acompanhados por
sensações e percepções cada vez mais diferenciadas e que vão, progressivamente,
inscrevendo-se em esquemas de ação (no sentido piagetiano) e tornam-se
instrumentos de cognição.
Esse corpo, que é, portanto, instrumento de conhecimento sobre esse
mesmo mundo e torna-se expressão do sujeito e elemento de contato afetivo e de
comunicação com os outros.
É esse corpo inteiro, integrado, que é o objeto da Psicomotricidade. É esse
corpo que deve-se enfocar em quatro dimensões interligadas e, necessariamente,
influentes entre si, que pode-se classificar em quatro campos, para facilitar a
abordagem de suas características (LAIPERRE e AUCOUTURIER, 1986):
1. Corpo instrumento de ação (funcional )
- Corpo do tônus.
- Corpo das atitudes e posturas.
- Corpo da motricidade.
- Corpo das sensações.
- Corpo das percepções.
- Corpo da lateralidade.
- Corpo das emoções primárias (a nível icônico).
2. Corpo instrumento de conhecimento
- Corpo do conhecimento sobre si mesmo, corpo do Esquema Corporal.
- Corpo que conhece o objeto e o outro.
37
- Corpo que conhece o mundo: o espaço, o tempo e a causalidade.
- Corpo que vai permitir o percurso da ação ao pensamento.
- Corpo base primária da possibilidade de abstração, da operatividade no
sentido piagetiano e do raciocínio lógico.
3. Corpo fantasmático e relacional
- Corpo da imagem corporal e dos fantasmas primitivos.
- Corpo diferenciado sexualmente de acordo com papéis sociais.
- Corpo influenciado por papéis culturalmente definidos.
- Corpo manipulado, reprimido, ou valorizado, de acordo com a ideologia da
sociedade.
É este corpo de quatro dimensões integradas, e que foi tão longamente esquecido pelo pensamento racional e idealista do século passado e início deste, que a Psicomotricidade buscar reabilitar.
É este corpo total, base da pessoa integrada, que está tendo a oportunidade
de mostrar a sua linguagem.
É este corpo redimensionado, que é levado a se inscrever psiquicamente e
abre o percurso para a inteligência e a afetividade, que devemos valorizar em nosso
trabalho, sem esquecer o contexto mais amplo psicossocial.
É este corpo que deve-se compreender integralmente para não incorrer no
erro de enfatizar um “corpismo” que tende a se tornar estéril e estagnado,
contrapartida pragmática e epicurista dos anteriores racionalismo e idealismo.
38
CAPÍTULO VII
O CORPO COMO OBJETO E INSTRUMENTO
DE APRENDIZAGEM
O sentido dos gestos não é dado, mas compreendido. É através do meu
corpo que compreendo o outro. Quer se trate do corpo do outro ou do meu próprio
corpo, eu não tenho outro meio de conhecer a não ser vivê-lo (FELDENKRAIS,
1987).
É na educação psicomotora que buscamos profilaticamente dar espaço ao
mundo psicomotor da criança, dar espaço para sua expressão através das atividades
corporais lúdicas, espontâneas e livres. É a partir da relação psicomotora que o
educador ajuda a criança em sua expressão pessoal, em suas pesquisas, permitindo-
lhe exprimir suas vivências afetivas e, sobretudo, manifestar o seu desejo.
A criança possui – e é – um corpo que fala e se estrutura, com a linguagem
estruturando, assim, o próprio sujeito.
7.1 - Dois Níveis de Corporalidade
O sujeito vive sua corporalidade em dois níveis: um estruturado com
atividades motoras elaboradas tanto no sentido da busca de conhecimento,
inicialmente sensório-motor e, a seguir, lógico, racional; outro, fantasmático, é o
nível do inconsciente, dos desejos e conflitos vividos na relação com o outro. Esses
39
dois níveis de vivência corporal se inter-relacionam e têm mútua interferência em
qualquer manifestação humana. Sabemos que o período sensório-motor é uma fase
essencial, pois é através da vivência corporal que a criança adquirirá mais
conhecimento e autonomia sobre si mesma.
Pode-se observar, em creches, crianças de pouca idade com personalidades
bem estruturadas, com perfis de comportamento instalados e difíceis de serem
modificados; encontra-se também crianças atrasadas no seu desenvolvimento
psicomotor e outras ainda que se mantêm sem nenhuma possibilidade para o outro,
estando muitas vezes, portanto, defasadas em relação ao seu grupo escolar.
A aula de psicomotricidade relacional é um momento livre no qual, utiliza-
se objetos variados como bolas, panos, caixas, etc., a criança pode inventar, colocar
seus desejos e se relacionar, fazendo uso de toda a sua motricidade global. Através
dessa atividade motora, a criança usa o seu corpo colocando em jogo componentes
motores, afetivos e mentais e passa a se conhecer mais, a ter cada vez mais domínio
sobre si mesma, da forma que mais gosta – brincando.
No trabalho com crianças, o diálogo corporal não se instala apenas através
do agir, mas também do sentir. A aprendizagem de conceitos, a elaboração de
raciocínios e a alfabetização, em consonância com o material afetivo e psicomotor,
vivenciados como atividades livres de educação psicomotora, tornam-se parte do
crescimento global da criança.
O objetivo é dar sempre à criança o poder de seu próprio desenvolvimento.
Acompanhar a criança nas suas explorações: olhar, estimular, motivar e fornecer o
material de que a criança necessita, que desenvolva sua linguagem corporal,
desenvolvendo e permitindo a imagem e consciência do corpo, os movimentos
espontâneos, expressivos e representativos.
A psicomotricidade é um corpo em relação; a atividade motora é uma
porta aberta ao desenvolvimento da livre comunicação.
40
7.2 - O Lugar do Corpo na Educação
"O corpo é a origem de todo conhecimento e meio de relação e
comunicação com o mundo exterior" - Ajuriaguerra
A educação, desde uma perspectiva mais ampla, contempla tanto a
aquisição de conhecimentos como o desenvolvimento harmônico da personalidade, a
criatividade, a conquista da identidade e o equilíbrio afetivo. É o resultado de um
processo comunicativo autêntico, resultando na individualidade de cada um dos
implicados neste processo. Acredita-se que existe no sujeito uma dimensão
intelectual, que nossa sociedade valoriza e reforça sempre que seja "produtiva", e
existe uma dimensão emocional - afetiva que muitas vezes é esquecida e até ignorada
(BRIKMAN, 1989).
Segundo as teorias de Wallon e Ajuriaguerra, temos, no nível corporal, uma
organização tônica involuntária, espontânea, ligada a vivências afetivas e
emocionais, vinculada às pulsões, proibições, aos conflitos relacionais, uma forma
espontânea de atuar com um significado simbólico que não podemos esquecer. Esta
organização tônica individual está presente em qualquer ato e acompanha o sujeito
na sua evolução.
Ainda referindo Wallon, antes do aparecimento da fala, a criança comunica-
se com o ambiente através de uma linguagem corporal e utiliza o corpo como uma
ferramenta operacional e relacional, seja qual for o nível evolutivo ou o domínio
lingüístico em que se encontre.
Ao nosso ver um novo paradigma se impõe neste momento - O homem é o
seu corpo - em contraposição a um outro subjugado por séculos de pensamento
cartesiano - O homem e o seu corpo. Esta visão cartesiana ainda está muito presente
na prática educacional, mesmo que o discurso não demonstre. Valoriza-se a produção
intelectual do sujeito por um lado e a performance corporal por outro, ignorando a
totalidade do indivíduo.
41
O Homem existe como ser de comunicação neste universo - universo de
espaço-tempo, dos objetos e do outro-, na medida em que é capaz de estabelecer
relações significativas entre seu corpo (corpo funcional) com suas sensações e
produções, e tudo o que pertence ao mundo exterior.
Estabelecer estas relações depende, antes de tudo, do desejo e do prazer de
comunicar, de produzir e de criar. Vemos como um grande desafio para a Educação
olhar para nossas crianças e adolescentes especialmente, mas também para os adultos
como uma unidade dinâmica e indivisível, como seres inteiros, como seres de alma,
corpo e mente. Este novo paradigma - O homem é o seu corpo - exige de nós,
educadores, um olhar para o nosso corpo resgatando em nós esta unidade do ser,
como um ser inteiro, com um corpo que pensa, que sente, que intui, que age, que
sofre, que ama, um corpo que deseja; que deseja ver, ouvir, sentir, tocar, brincar, rir,
mas que também chora, sofre ...
Resgatar o corpo do educador para resgatar a educação. Os valores
fundamentais como solidariedade, confiança, respeito à individualidade, honestidade,
lealdade e compaixão são transmitidos pelo homem e não pelas máquinas.
Acreditamos que desenvolver estes valores é um dos papéis fundamentais da
Educação juntamente com a transmissão de conhecimentos, facilitando o processo
ensino-aprendizagem e promovendo o desencadear do gosto pela descoberta.
Agir, conhecer, desenvolver-se implicam, ao nosso ver, em permitir à
criança entrar em contato com o desejo dela.
A partir daí será possível pensar em processo ensino-aprendizagem. Ela se
torna criativa e criadora comprometendo-se com esse processo. Nesta abordagem
quando se fala de corpo como unidade dinâmica e indivisível, nos referimos em
principio às quatro dimensões interligadas e necessariamente influentes entre si.
42
CAPÍTULO VIII
O CORPO NA ARTE
De acordo com Azevedo (2002), um ator deve dar conta da
capacidade expressiva de seu corpo.
O ator deve ser aquele que entra diretamente em contato com o
fenômeno da expressão, percebendo como, quando e por que ela ocorre em si
mesmo. Deve aprender a ver-se, a trabalhar seu corpo e partes deste como um artista
ao misturar as cores, observando o efeito, preparando um quadro.
O trabalho corporal desenvolvido pelo ator, trata de conscientiza-lo de
seu instrumento, a partir da auto-observação num grande número de ações, a fim de
possibilitar autocontrole: vontade influindo no tônus muscular, alterações musculares
como conseqüência de elementos interiores aplicados em cada ação ou posição
particular.
O ator precisa desenvolver extrema sensibilidade do corpo na relação
com os impulsos criativos psicológicos, já que é motivado por impulsos artísticos,
impulsos vindos de sua imaginação trabalhando juntamente com seu físico, precisa
também desenvolver uma psicologia rica em cores e matizes, trabalhando com
intensidades variadas, sentimentos e sensações bem delineadas, conseguindo
relacionar tudo ao trabalho corporal, manter tanto o corpo como seu mundo
psicológico a serviço de sua arte.
43
O que se pretende é que, por meio do corpo, o mundo interno do ator
torne-se diretamente participante de toda e qualquer ação criada a partir do exterior.
O ator, com domínio de seu corpo, será hábil fisicamente e tornará sua
técnica imperceptível, porque já estará assimilada a sua própria personalidade. Desse
domínio fazem parte: relaxamento, prontidão, agilidade, flexibilidade, precisão,
concentração, equilíbrio, entrega, vontade, contato, plasticidade, memória, fluência,
sensibilidade, acabamento, economia, imaginação, auto-exame, harmonia,
organicidade, transparência, controle, cooperação, composição e decomposição,
projeção, pesquisa sistemática, auto-disciplina e liberdade.
Dominando um método personalizado de trabalho, a ser realizado na
relação com o corpo como instrumento, passando para o corpo símbolo e terminando
com a investigação do corpo como signo teatral, considerar-se-ia o treinamento
realizado em suas bases, já que ele necessita de uma continuidade de pesquisa a ser
efetuada ao longo dos anos; pesquisa essa a ser encaminhada em direção a arte do
movimento por meio da experimentação de suas várias linguagens (AZEVEDO,
2002).
Localizar no próprio corpo as intenções de um ente ficcional, deixá-
las realizarem-se sensivelmente, conectá-las com sua inteireza de artista, são
procedimentos que asseguram o surgimento de impulsos dirigidos para a criação e
para a ação criativa. Sem liberdade, ousadia e, sobretudo, a mais íntima entrega, não
há impulsos autenticamente criativos, imprevistos em sua manifestação somática.
Esses impulsos aparecem em ações inesperadas, em configurações imprevistas, mas
são, no fundo, profundamente relacionados ao processo que está sendo desenvolvido.
Todo o ser do ator, seu soma, terá de estar aberto, decididamente, a
cada nova manifestação que dele exigir a personagem por ele representada.
E quando isso ocorre, naqueles raros momentos em que o ator se deixa
possuir, seu corpo se nos apresenta como pura força, talvez, mais que em qualquer
outro momento de sua existência, habilitado por uma espécie de magia.
44
É impossível trabalhar corretamente o corpo do ator sem uma invasão
em sua capacidade interpretativa; assim como não se pode lidar com a interpretação
deixando de lado o corpo do ator. Se a técnica interpretativa não pode ignorar o fato
corporal, por sua vez a técnica corpórea deve encontrar sua especificidade no trato
com o ator.
Há, sem dúvida, a necessidade de se traçar os contornos de tal
trabalho, tentando, a partir do corpo,a conexão com a percepção e a imaginação
artísticas.
O trabalho do ator visa a transformação. Um ator é seu próprio corpo e
seu corpo não pode jamais ser tratado como uma entidade apartada de si, suprimida e
castrada em suas sensações, emoções e pensamentos. Ele não será nunca um
invólucro, mas a concretude que torna visível e palpável a invisibilidade interior.
Pode parecer óbvia tal afirmação, mas o que se quer é o
desenvolvimento de uma consciência corporal que permita o jogo, o risco, o erro;
uma consciência criança, uma consciência de artista, que, atenta ao que ocorre no
corpo, possa permitir o acaso, a surpresa, o susto.
Essa forte inter-relação corpo-mente não poderá ser esquecida e será
tomada como fundamento para qualquer labor a ser desenvolvido com o ator.Seu
treinamento baseia-se num treino corporal e afetivo, pois, quanto mais trabalha com
seu físico, mais descobrirá (se se permitir) a intrincada rede de afetos presente em
seu corpo ou a ser presentificada através dos impulsos tornados atos; até mesmo pela
inibição desses impulsos, antes de sua realização, e se esta repressão for proposital e
consciente.
45
CONCLUSÃO
O corpo é concebido como um meio de expressão, um instrumento a
serviço de um encadeamento de idéias, mais ou menos intelectualizada, enquanto que
numa relação de tipo fusional, o corpo, ao mesmo tempo emissor e receptor, é em si
mesmo o elemento fundamental de uma relação indissociavelmente psico-somática.
O nosso corpo não é um somatório de órgãos justapostos, mas sim
uma autoposse indivisível da nossa existência completa; quer dizer, a autodescoberta
não é mais que um sentir-se corporalmente no espaço e no tempo.
O sujeito no mundo expressa-se e concretiza-se através da atividade
corporal. É esta atividade que virá a ser transformada em linguagem propriamente
dita.
A partir daí a comunicação não verbal surge com uma importância
fundamental para a compreensão da problemática da comunicação humana. A
linguagem verbal apóia-se numa linguagem corporal que facilmente se pode observar
não só na criança, mas também na arte. As emoções se expressam fundamentalmente
no campo mímico corporal, e o corpo, nesta perspectiva, é um emissor de sinais de
significado sociocultural.
No término da pesquisa pode-se afirmar que o corpo é o objeto de estudo e
da abordagem terapêutica em Psicomotricidade, ele age, se estrutura e se situa num
mundo organizado espaço-temporal, que é mensageiro de idéias e sentimentos, e que
expressa o mundo fantasmático, o desejo e a personalidade global.
46
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALVES, F. Psicomotricidade: corpo, ação e emoção. Rio de Janeiro: Wak, 2003.
AZEVEDO, S.M. O Papel do Corpo no Corpo do Ator. São Paulo: Perspectiva,
2002.
BERGE, W. Viver o seu corpo. 4 ed. São Paulo: Martins Fontes, 1988.
BRIKMAN, L. A Linguagem do Movimento Corporal. São Paulo: Summus
Editorial, 1989.
FELDENKRAIS, M. Consciência pelo movimento. São Paulo: Summus,1987.
GUIRAUD, P. A Linguagem do Corpo. São Paulo: Ática, 1991.
LAPIERRE, A. A Falta - Fusionalidade e Identidade. In: Fantasmas Corporais e
Prática Psicomotora. São Paulo: Manole, 1984.
LAPIERRE, A. AUCOUTURIER, B. Fantasmas corporais e prática psicomotora.
Porto Alegre: Artes Médicas, 1986.
LE BOULCH, J. O desenvolvimento psicomotor - do nascimento até 6 anos. Porto
Alegre: Artes Médicas,1987.
TRINTA, A. R. 2 ed. Comunicação do corpo. São Paulo: Ática, 1990.
VAYER, P. & TOULOUSE, P. Linguagem Corporal. Porto Alegre:Artes Médicas,
1982.
WEIL, P. & TOMPAKOW, R. O Corpo Fala. 19 ed. Petrópolis: Vozes, 1988.
ANEXOS
ATIVIDADES EXTRA-CURRICULARES
FOLHA DE AVALIAÇÃO
Universidade Cândido Mendes
Título: Linguagem Corporal: um olhar psicomotor na arte e educação
Autora: Sérgio José Campos Salmeron
Data da entrega:
Avaliado por: Conceito:
Avaliado por: Conceito:
Avaliado por: Conceito:
Conceito Final: