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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
PROJETO A VEZ DO MESTRE
A MEMÓRIA DO APRENDENTE
JANAÍNA DA SILVA BELLO
ORIENTADORA CARLY MACHADO
RIO DE JANEIRO
2010
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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
PROJETO A VEZ DO MESTRE
A MEMÓRIA
Apresentação de monografia ao Instituto A vez do Mestre – Universidade
Candido Mendes como requisito parcial para obtenção do grau de especialista em
psicopedagogia Institucional.
Por: Maria Clara B. P.
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RESUMO
A intenção deste trabalho é estabelecer maior sensibilidade do psicopedagogo
em função de uma atenção mais ampla a tudo o que se passa ao seu redor e, ao
mesmo tempo, a tudo o que esteja ocorrendo no interior de cada organismo
(aprendente) em que pretenda estabelecer níveis cada vez mais complexos de
consciência, conhecimento e saber. O conteúdo fala sobre a sinapse que é um local
de comunicação entre os neurônios e unidade elementar de armazenamento da
memória. A falta de libidinação gera problemas conflitantes, inibindo o processo de
aprendizagem. O termo memória tem sua origem etimológica no latim e significa a
faculdade de reter e/ou readquirir idéias, imagens, expressões e conhecimento. É o
registro de fatos vividos. Para se construir a memória, passamos por um processo
de assimilação. Existem memórias simples e complexas. Existem memórias
visuais, auditivas, somestésicas, cinestésicas, olfativas, emocionais e muitas
outras.
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METODOLOGIA
Os métodos que levam ao problema proposto, como leitura de livros e apostilas
obtendo a resposta, após a coleta de dados, pesquisa bibliográfica, pesquisa de
campo, observação do estudo foi encontrado nos livros de Marta Pires Relvas,
Newra Tellechea Rotta e Regina Cazaux Haydt.
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO..........................................................................5 CAPÍTULO 1 – Memória...........................................................7 CAPÍTULO 2 – Transtorno da memória e aprendizagem.......19 CAPÍTULO 3 – Mudanças de estratégias................................30 CONCLUSÃO...........................................................................35 BIBLIOGRAFIA ÍNDICE
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INTRODUÇÃO
O ideal é que o sujeito aprendente construa sua própria teia de conexões
cognitivas, entendendo e compreendendo suas escolhas e decisões para sua
própria autoria de vida, sendo assim, contribuindo com a evolução da espécie
humana no Planeta Terra, estabelecendo-se então; uma educação mais plena,
solidária e harmoniosa.
Para que a pessoa que aprende com sentido e significado o novo material é muito
importante que este esteja conectado a suas experiências prévias. Não podemos
esquecer que para que qualquer aprendizagem seja possível, o aspecto emocional
é primordial: não ocorre uma aprendizagem se existe uma interferência afetiva.
Trabalha-se a questão da memória do aluno, buscando melhora-la através de um
psicopedagogo, nas dificuldades de aprendizagem.
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A partir do momento que o cidadão precisa fazer uso da língua portuguesa na sua
prática diária, esta prática pode ficar seriamente comprometida se não houver um
pré-requisito básico suficiente para que o mesmo possa ser inserido no mercado de
trabalho. Práticas facilitadoras para as dificuldades de aprendizagem na vida do
aprendente.
Os capítulos a serem apresentados são os da definição da memória, transtorno
da memória e aprendizagem e mudanças de estratégias. Os tópicos relatando
memória um fenômeno biológico, a relação entre memória e atenção. Mostrando
também a memória e a motivação e a relação entre memória e a ansiedade. Isso
tudo no primeiro capítulo.
No segundo capítulo os tópicos relatam sobre os transtornos da aquisição da
memória e também os transtornos da consolidação da memória.
No terceiro capítulo houve uma pesquisa sobre a importância da prática do
professor em sala de aula e o momento da ação psicopedagógica.
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CAPÍTULO 1
MEMÓRIA
Segundo Relvas (2008), a memória é a base de todo o saber e também de toda a
existência humana, desde o nascimento. Todo o nosso cérebro funciona através da
memória, comemos, andamos, falamos porque nos lembramos de como faze-lo. A
memória determina nossa individualidade como pessoas e como povos. O cérebro
manda secretar um ou outro neurotransmissor ou hormônio, quando estamos
alegres ou tristes, quando sentimos medo ou prazer.
A memória é uma das funções mais importantes do cérebro, está ligada ao
aprendizado e à capacidade de repetir acertos e evitar erros. A memória é a
reprodução mental das experiências captadas pelo corpo por meio de movimentos
e dos sentidos. Essas representações são evocadas na hora de executar
atividades, tomar decisões e resolver problemas, na escola e na vida, afirma Elvira
Lima, Psicóloga e Antropóloga, especialista em desenvolvimento humano. O
conceito de memória vai, portanto, muito além do poder de recordar. Memória é
também a capacidade de planejamento, abstração, julgamento crítico e atenção.
Para Relvas (2008), a sinapse é um local de comunicação entre os neurônios e
unidade elementar de armazenamento da memória e onde ocorrem sínteses de
proteínas, trocas elétricas e ativação de genes que resultam no armazenamento da
informação. Quanto mais conexões, mais memória. Cada neurônio pode se
comunicar com até outros mil. Fazendo as contas, como o ser humano tem de dez
bilhões a cem bilhões de células, é possível haver até cem trilhões de conexões
sinápticas. A capacidade de processamento de informações do sistema nervoso
provém da integração entre os milhares de sinapses existentes em cada neurônio.
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Ao vivenciar uma experiência, o sujeito recebe informações de todo o tipo. Em
determinadas situações , os sentidos visuais e auditivos podem estar sendo mais
exigidos, neurônios são ativados de forma consistente e simultânea, a “força
sináptica” dessas conexões são potencializadas. Sinais luminosos são captados
pela retina e sons pelos aparelhos auditivos, são transformados em impulsos
elétricos que migram para o córtex cerebral, eles circulam antes de serem
descartados ou arquivados. O impulso morre, mas a passagem por determinado
caminho estabelece conexões, criam-se “ganchos”, que permite ao cérebro recriar
imagens. Quando essa informação é resgatada da memória, o conhecimento será
acessado de forma simples e rápida. O que não tem nada a ver com “decoreba”.
Relvas (2008),afirma que se o estudante não aprende o conteúdo é porque não
entrou nenhuma referência nos arquivos já formados para abrigar a nova
informação e, com isso, a aprendizagem não ocorre. Não adianta insistir no mesmo
tipo de explicação. Por isso, os conhecimentos do educando precisam ser
investigados, recordar aulas anteriores e dispor de diversos recursos pedagógicos
são importantes para formar “ganchos”, facilitando a aprendizagem
do mesmo. Se o assunto estudado estiver ligado a um som, a uma linguagem e um
cheiro, três áreas diferentes do cérebro tentarão recuperar essa memória.
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Segundo Relvas (2008), temos duas memórias, uma que se emociona, sente,
comove..., outra que compreende, analisa, pondera, reflete...Trata-se de emoção e
de razão. Essa dualidade se articula através de um mecanismo dinâmico, uma
impulsionando outra com grande rapidez nas tomadas de decisões. Na verdade,
complementam-se. Cada pessoa apresenta diferentes reações conforme a
utilização de suas mentes. Nessa interação o sistema límbido está presente,
personagem importante para o cérebro. Elemento responsável pelo prazer e
aprendizado situa-se nesta região. A falta de libidinação gera problemas
conflitantes, inibindo o processo de aprendizagem, “aprender é um ato desejante e
sua negação é o não aprender. O desejo é movido pelo inconsciente, que nesse
momento do aprender ou não aprender responde ás informações libidinadas (
negação, recusa, omissão, rejeição etc. ) ...” A emoção está para o prazer assim
como o prazer está para o aprendizado, e a auto-estima é a ferramenta que
movimenta os estímulos para gerar bons resultados. O cérebro processa tão
velozmente essa relação que não se pode perceber a ligação de elementos
consultando uns aos outros ao resolver uma simples questão.
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1.1 - Origem da memória
Relvas (2008), explica que o termo memória tem sua origem etimológica no latim
e significa a faculdade de reter e/ou readquirir idéias, imagens, expressões e
conhecimento. É o registro de experiências e fatos vividos e observados, podendo
ser resgatados quando preciso. Isso faz com que a memória seja a base para
aprendizagem, pois, com as experiências que possuímos armazenadas na
memória temos a oportunidade e habilidade de mudar o nosso comportamento. Ou
seja, a aprendizagem é a aquisição de novos conhecimentos e a memória é a
fixação ou retenção desses conhecimentos adquiridos.
Segundo Relvas(2008) para se construir a memória, passamos por um processo
de assimilação. E é através desse processo que enviamos as informações para a
memória de curta ou de longa duração. Neste momento, o Hipocampo é ativado. O
Hipocampo ajuda a selecionar onde os aspectos importantes para fatos, eventos
serão armazenados e está envolvido também, com o reconhecimento de novidades
e com as relações espaciais, tais como o reconhecimento de uma rota rodoviária. É
ele que filtra os dados, usa e joga fora informações de curto prazo e se encarrega de
enviar outras para diferentes partes do córtex cerebral. Essas informações se
envolvem numa verdadeira "sopa química" que passa a provocar "intercâmbio"
entre os neurônios. Nesta fase, o hipocampo, descansa e quem passa a trabalhar é
o lobo frontal.
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1.2 - Memória: um fenômeno biológico
A memória não está localizada em uma estrutura isolada no cérebro: ela é um
fenômeno biológico e psicológico envolvendo uma aliança de sistemas cerebrais
que funcionam juntos.
Os fatos antigos naturalmente têm mais tempo de se fixar em nosso banco de
dados e daí sua melhor fixação, o que não ocorre com fatos recentes, que têm
pouco tempo para se fixarem e ainda podem ter sua capacidade de fixação alterada
por razões relacionadas a variações de estado emocional ou a problemas de ordem
física.
Cada célula cerebral ( ou neurônio), contribui para o comportamento e para a
atividade mental, conduzindo ou deixando de conduzir impulsos. Todos os
processos da memória são explicados em termos destas descargas.
Para Relvas(2008), o estilo de vida ativa com atividade física realizada
regularmente e uma dieta saudável são pontos importantes para a manutenção da
memória.
A diminuição da memória que ocorre na terceira idade, na maioria das vezes é
absolutamente benigna, mas freqüentemente, por falta de melhor informação,
angustia o idoso que tem dificuldade de aceitá-la como um fato normal.
Semelhante ao que ocorre com exercícios musculares realizados para se manter
a boa forma física, a atividade cerebral também deve ser realizada com frequência,
sempre procurando estimular nossos principais sentidos: olfato, paladar, tato, visão
e audição, bem como nossa memória e inteligência.
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A aprendizagem corresponde à primeira das três etapas dos fenômenos
mnemônicos. Quando chega uma informação ao SNC e ela é "antiga" e conhecida,
ela gera uma lembrança. Mas quando chega uma informação "nova" e
desconhecida, ela gera uma mudança: isso é aprendizado.
Segundo Relvas(2008), a estrutura que reconhece se uma informação é antiga ou
inteiramente nova fica localizada nas regiões anteriores dos lobos frontais e
certamente têm muitas conexões, em especial com os quadrantes posteriores dos
hemisférios cerebrais e também com o tronco encefálico. Esta é uma descrição
puramente neuroanatômica.
No estudo da memória, o modelo animal mais simples possivelmente seja o
chamado esquiva enibitória. Ele acaba provocando todos os três mecanismos
mnemônicos. O animal é exposto a um estímulo aversivo, acaba por fazer um
aprendizado, consolida a informação e , quando é novamente exposto ao mesmo
tipo de informação, evoca a memória e adequa seu comportamento, passando a
evitar o estímulo.
Não existe uma única memória, senão um conjunto de memórias. Existem
memórias simples e complexas. Existem memórias visuais, auditivas,
somestésicas, cinestésicas, olfativas, emocionais, complexas e muitas outras.
Existe uma memória para cada uma das funções corticais e existem tantas
memórias quantas experiências tivermos tido a oportunidade de viver.
A fase de recepção de estímulos novos, que são aqueles que geram mudanças
nos processos mentais prévios, corresponde à primeira das três fases do fenômeno
mnemônico. Essa é a definição neurobiológica de aprendizagem.
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Antes mesmo de descrever pelo menos cinco conceitos básicos, no que tange à
memória, alguns mitos devem ser de pronto desfeitos.
Segundo Relvas(2008),o mito mais difundido é o de que usamos apenas uma
pequena porção da nossa capacidade cerebral. Não é verdade, pelo menos no que
se refere à memória. Na realidade, para dar conta das atividades do dia-a-dia, e em
especial daquelas relativas ao aprendizado, é necessário que lancemos mão de
toda a nossa capacidade disponível de memória, que precisa ser ocupada até que
se chegue próximo do limite de praticamente todo o espaço mnemônico à
disposição, para o bom desempenho de cada atividade.
Essa informação possivelmente seja pouco difundida. Entretanto, por paradoxal
que pareça, para um bom funcionamento da memória, é importante que
esqueçamos algumas informações, de tal sorte que volte a sobrar espaço na
memória para o registro dos próximos eventos que estão constantemente
chegando.
Para Relvas(2008),o segundo mito certamente está ligado ao primeiro
supracitado, e diz respeito ao medo que todos temos de esquecer as coisas.
Contudo, é saudável que esqueçamos algumas informações, em especial aquelas
que tenham conteúdo traumático ou negativo. Se uma pessoa perdesse a
capacidade de esquecer, poderia entrar em surto psicótico, tal a tormenta crescente
de informações com as quais teria que lidar e conviver diariamente até o final da
vida.
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Para Relvas(2008), está bem claro que diferentes tipos de memória usam
diferentes mecanismos de aquisição, consolidação e evocação. Por exemplo, nas
memórias de curta duração os passos são diferentes dos passos das memórias de
longa duração, o que é bem razoável.
1.3 – Relação entre memória e atenção
Ter atenção não é somente o fato de estar desperto e vigil. Certamente o estado
de vigilância também deve ser acompanhado da plena capacidade em saber
selecionar quais das informações que estão chegando ao SNC são relevantes para
aquele instante.
A atenção dá o suporte neurobiológico para o primeiro passo mnemônico. Sem
atenção não há como haver aquisição adequada da informação. E aquisição de
novas informações é sinônimo de aprendizado. Sem aquisição de memórias não vai
haver a consolidação, nem a possibilidade de evocação de memória alguma.
Dentro do esquema proposto de Luria(1966), a primeira unidade funcional a
amadurecer na criança é justamente aquela que está relacionada com o ciclo
sono-vigília e também com a atenção. Do ponto de vista neuroanatômico, ela
estaria localizada no tronco cerebral, em uma área denominada sistema reticular
ativador ascendente, e teria conexões com as áreas frontais, além de outras. Do
ponto de vista ontogenético, ela completa seu ciclo maturacional aproximadamente
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doze meses após a concepção. Disfunções na primeira unidade funcional de Luria
podem trazer como conseqüência a desatenção.
Portanto, eventos que possam causar disfunção no SNC, tendo ocorrido durante
a janela maturacional na qual consolida a primeira unidade funcional de Luria,
podem resultar em desatenção. De uma forma geral, em termos de respostas aos
insultos orgânicos, o SNC tem um comportamento quase que estereotipado, de tal
sorte que não importa tanto o que aconteceu, mas sim quando aconteceu.
Segundo Luria(1966), todo profissional que se dispõe a trabalhar com crianças
deve dominar toda a seqüência dos marcos maturacionais. Essa ação facilitaria
muito o entendimento da abordagem neuropediátrica dos problemas do
desenvolvimento, bem como os problemas do aprendizado, dentro da visão
ontogenética.
A análise das bases neurobiológicas de um transtorno bastante prevalente nas
crianças em idade escolar, atualmente conhecido como transtorno de déficit de
atenção/hiperatividade (TDAH), pode fornecer algumas pistas sobre a relação entre
a memória e a atenção. Não é surpreendente a associação entre esse transtorno
específico e dificuldades no aprendizado.
Uma das primeiras teorias neurobiológicas para explicar o TDAH era
fundamentada na disfunção de um único sistema atencional. O sistema atencional
anterior ficaria localizado nos lobos frontais e nas suas conexões subcorticais com o
sistema límbico. A visão mais recente admite dois centros atencionais, um anterior,
predominantemente dopaminérgico, e outro posterior, com forte influência dos
neurotransmissores noradrenérgicos.
Uma extrapolação dessas teorias poderia nos levar a considerar que as
disfunções no centro atencional anterior podem estar mais associadas ao sintoma
hiperatividade, pois o "freio inibitório", bem como a modulação do humor e o
planejamento da fala, está no lobo frontal e suas conexões.
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1.4 – Relação entre memória e motivação
Juntamente com a atenção e o nível de ansiedade, a motivação também exerce
forte influência modulatória nos fenômenos mnemônicos. Motivação é algo difícil de
se definir. É o entusiasmo e a vibração em relação e determinado assunto.
Das três operações da memória, a motivação pode atuar com maior intensidade
basicamente nas duas primeiras, ou seja, na aquisição e na consolidação. Muito
provavelmente, a maior influência da motivação seja na fase de consolidação das
memórias, que é o mais importante dos passos mnemônicos.
Segundo Luria(1966), a motivação certamente está ligada ao humor de base. Do
ponto de vista neuroanatômico, o controle do humor está nos lobos frontais e nas
suas conexões com as porções mesiais dos lobos temporais, estas últimas muito
relacionadas com a parte comportamental e das emoções.
Os transtornos do humor trazem consigo um considerável componente genético,
mas obviamente só se externarão se houver algum fator desencadeador durante a
biografia da criança. Se o humor de base estiver desviado para o lado da
depressão, ficam prejudicados os eventos mnemônicos iniciais e também o
aprendizado. Se o transtorno for sustentado, o prejuízo pode estender-se aos
demais eventos mnemônicos. Pode aumentar a ansiedade de base e diminuir a
auto-estima, além de prejudicar a consolidação e a evocação das memórias, em
uma retroalimentação perniciosa para um bom aprendizado.
Para Luria(1966), o diagnóstico de depressão na infância nem sempre é óbvio e
fácil de ser feito. Às vezes ela se manifesta por irritabiidade exagerada, baixo limiar
às frustrações e até certo nível de ansiedade de base. O mais comum é imaginar
uma criança triste e pouco ativa.
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Contudo, às vezes, uma criança deprimida não é hipoativa, pelo contrário.
Pode-se ter o que chamamos de "depressão mascarada" por uma hiperatividade
compensatória. Deve-se prestar atenção para não confundir um caso desta
natureza com um de TDAH. Eventualmente, estas crianças deprimem ainda mais
quando recebem metilfenidato, que age melhor sobre a desatenção do que sobre a
hiperatividade, e só melhoram do humor e da ansiedade quando ocorrer a troca por
fluoxetina.
1.5 – Relação entre memória e ansiedade
A ansiedade da criança que está aprendendo pode ser endógena ou pode advir
do quão ansiogênicos são os seus pais, seus educadores ou até o próprio
ambiente. O grau máximo de ansiedade é chamado de transtorno da ansiedade
generalizada (TAG). Fazem parte desse espectro várias situações
neuropsiquiátricas, tais como as fobias, os medos e até mesmo a chamada
síndrome do pânico nas crianças, por exemplo, pode ser detectada a fobia escolar.
A ansiedade pode interferir em qualquer um dos passos mnemônicos, mas seus
efeitos parecem ser mais deletérios na fase de consolidação, em especial das
memórias de longo prazo.
O conceito de ansiedade parece estar bem próximo do conceito de estresse.
Neste último, o organismo reage de uma forma exagerada aos estímulos externos,
como se todos eles fossem realmente ameaçadores.
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Se a situação estressante, ainda que irreal, for sendo mantida através do tempo,
se estabelecem alterações neuroendócrinas que só fazem perpetuar tal estado. As
glândulas supra-renais liberam os hormônios do estresse que agem no cérebro. A
maioria deles facilita, mas os glicorticóides, quando em excesso, sabidamente
dificultam sobremaneira vários eventos cerebrais, principalmente os mnemônicos.
Nos pré-escolares, quando têm seu primeiro encontro com uma escola, pode
ocorrer um angústia de separação, que até pode se perpetuar, na dependência de
uma série de eventos psicodinâmicos. Nos escolares que têm baixo limiar para
frustrações e para seus próprios erros, pode surgir uma pressão por resultados, em
especial na época das provas.
No consultório neuropediátrico, o usual é a chegada destes casos, a maioria
carregada de ansiedade e premência, na metade do segundo semestre do ano
letivo, com os pais angustiados, querendo uma solução de curto prazo para um
problema que pode ter suas raízes muitos anos antes da sua constatação. Na maior
parte das vezes, a pressão vem dos pais e até da própria escola, e a criança, por ser
imatura, pode não dispor de todos os recursos para lidar com sua ansiedade de
base.
Segundo Izquierdo e Izquierdo (2004), existem basicamente três linhas de
moduladores da memória, do ponto de vista dos neurotransmissores. A primeira e
mais abrangente é a gabaérgica. A segunda usa vários neurotransmissores, tais
como a dopamina, a noradrenalina, a serotonina e as vias colinérgicas. A terceira e
última linha neuromoduladora atua praticamente apenas sobre a consolidação das
memórias de longo prazo.
A relação entre a performance da memória e os níveis de ansiedade é bem
interessante. Este fenômeno ficou bem comprovado na chamada "curva de
Yenkes-Dodson".
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CAPÍTULO 2
TRANSTORNO DA MEMÓRIA E APRENDIZAGEM
Segundo Izquierdo e Izquierdo(2004), a forma mais didática de abordarmos os
transtornos da memória, correlacionando-os com a aprendizagem, é fazendo uso
do conceito de memória. Como foi descrito que memória é um evento que consta de
três fases distintas, poderse-ia então admitir três diferentes tipos de transtornos das
memórias, a saber: transtornos da aquisição, da consolidação ou da evocação das
memórias.
Amnésia corresponde à ausência total de memória. Nos traumatismos
craniencefálicos, por exemplo, pode ocorrer perda de algumas informações que já
estavam consolidadas. Trata-se da chamada amnésia global transitória, causada
pelo edema uni ou bilateral na ponta do lobo temporal. Pode ocorrer o fenômeno
denominado amnésia retrógrada, ou seja, esquecimento dos eventos que
antecederam ao acidente. Por seu turno, amnésia anterógrada corresponde ao
esquecimento dos fatos ocorridos logo após o acidente. Ambos os componentes da
amnésia global transitória vão se reduzindo com o passar do tempo até quase
desaparecerem. Fica algum resíduo de amnésia retrógrada, restrito a minutos ou
horas que antecederam ao trauma craniano, ao passo que a amnésia anterógrada
pode desaparecer totalmente.
Izquierdo e Izquierdo (2004), afirma que dentro desta mesma linha de raciocínio,
e com base em parâmetrose etimológicos, seria lícito denominar os distúrbios da
memória de dismnésias, visto que neles não se tem perda total da informação,
apenas um distúrbio. Até porque, em se tratando dos transtornos da aprendizagem,
o que comumente ocorre é uma perturbação dos mecanismos mnemônicos.
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2.1 – Transtornos da aquisição da memória
Izquierdo e Izquierdo (2004) afirma que a aquisição das memórias inicia-se pela
ativação da memória de trabalho ou de curta duração. Existem várias causas que
podem redundar em transtornos da aquisição da memória, tais como problemas na
atenção, na motivação, nos cinco sentidos ou até na cognição, mas, ainda assim,
antes das experiências se transformarem em memórias, é imprescindível a ação da
memória de trabalho.
Como é ela que gerencia as demais memórias, toda a consolidação posterior das
memórias pode ficar prejudicada, se houver problemas no primeiro dos eventos
mnemônicos. Por exemplo, uma lesão ou disfunção no córtex préfrontal na sua
porção ântero lateral pode prejudicar a memória de trabalho.
Um passeio em um jardim, por exemplo, pode gerar memórias complexas, que até
podem consolidar em um misto de informações, tais como a cor e o contorno das
árvores e das demais plantas, o som do vento e do canto de pássaros, o estado de
espírito naquele dado momento e o cheiro das flores.
As considerações supracitadas valem para as memórias declarativas. Contudo,
no aprendizado inicial do ato de escrever, por exemplo, também entram em jogo as
memórias de procedimentos, cujas vias são totalmente diferentes das anteriores.
Os transtornos da aquisição da memória podem decorrer de várias causas. Eles
podem ser divididos em dois grandes grupos. Os transtornos da aquisição das
memórias declarativas, que têm forte influência dos eventos sensitivos, e os da
aquisição das memórias de procedimento, com um maior contingente de eventos
motores.
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Esta é evidentemente uma divisão arbitrária. Um ato motor é indissociável de uma
informação sensitiva. Os eventos psicomotores sempre serão um misto de
informações sensitivas e motoras. As praxias dependem das gnosias e vice-versa.
Ao analisarmos em detalhes os transtornos da aquisição das memórias
declarativas, do ponto de vista didático, o mais adequado seria seguir a via aferente
dos cinco sentidos. Se houver, por exemplo, uma hipoacusia ou até uma surdez,
ficam prejudicadas as aquisições das memórias auditivas, quer sejam de conteúdo
verbal, quer sejam de conteúdo não-verbal.
Por suposto, o mesmo raciocínio fica válido para qualquer diminuição ou ausência
na performance dos demais sentidos, tais como visão, olfato, paladar e tato.
Qualquer deficiência em um ou mais dos sentidos por certo trará transtorno da
aquisição das memórias declarativas correspondentes.
Segundo Izquierdo e Izquierdo (2004), na primeira consulta neuropediátrica de
uma criança com dificuldade do aprendizado, é importante obter-se a certeza de
que a criança ouça e enxergue adequadamente. Os problemas auditivos podem ser
suspeitados na época da aquisição da linguagem. Os visuais, por seu turno, podem
passar despercebidos. Por isso, devem ser triados em todas as crianças que estão
entrando na primeira série do ensino regular, com ou sem queixas de audição ou
visão.
No processo "formal" de aprendizagem, ou seja, aquele que ocorre nas salas de
aula do ensino regular, possivelmente tenha equivalente importância tanto as
informações visuais quanto as auditivas, com suas respectivas memórias. É
evidente que o tato e os demais sentidos também complementam os aprendizados,
notadamente aqueles mais precoces da criança, que transcorrem na sua primeira
infância e na fase pré-escolar, tais como conhecer texturas e cheiros, por exemplo.
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Não há de se desconsiderar a importância das memórias de procedimentos,
obtidas pelo treinamento motor: os primeiros jogos motores, o manuseio do lápis e
da tesoura, o treinamento da escrita, etc.
Ocorre que quase toda a informação manuseada na escola vem codificada no que
chamamos linguagem. Portanto, passa a ser imprescindível o domínio da arte da
leitura e da escrita; caso contrário, toda a performance acadêmica posterior poderá
ser prejudicada. Na prática diária do consultório neuropediátrico, o que se observa é
um certo grau de pressão para que as crianças aprendam o quanto antes a ler e
escrever, porque só a partir do domínio, ainda que parcial, dessas duas atividades é
que todo o restante da aprendizagem formal poderá se consolidar.
Do ponto de vista neuromaturacional, é mais fácil ouvir do que falar, é mais fácil
falar do que ler, e é mais fácil ler do que escrever. O ato da escrita envolve uma total
coordenação entre músculos agonistas e antagonistas, além de um bom
conhecimento prévio dos grafemas, fonemas e seus sons.
Enquanto na leitura estão mais envolvidas as memórias declarativas, na escrita
estão tanto as declarativas quanto as procedurais. Para escrever, são recrutadas
informações do cerebelo, do córtex e dos núcleos da base do encéfalo.
Alguns transtornos dos sentidos são passíveis de correção por meio de próteses.
Por exemplo, no caso dos visuais, pode-se lançar mão dos óculos ou das lentes
corretivas. No caso dos auditivos, pode-se usar aparelhos para surdez ou até
implantes cocleares.
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Os transtornos visuais podem trazer repercussões mais precoces, visto que a
janela maturacional da visão abre e fecha mais cedo do que a da audição, após o
nascimento. Se há um problema na aquisição da informação visual, tudo o que mais
tarde vier a consolidar em termos visuais pode então começar a ser distorcido.
A via visual completa seu ciclo maturacional aproximadamente aos dois anos de
idade. Contudo, entre os dois e quatro anos, a visão é muito importante para
complementar o equilíbrio e a coordenação dos movimentos. A noção de onde está
cada parte do nosso corpo sem o auxílio da visão, o que é chamado de
propriocepção consciente, só se consolida aos quatro anos de idade. Por isso é que
as crianças dessa faixa etária tem maior facilidade em subir do que em descer
escadas, pois para descer é mais necessária a informação proprioceptiva, originária
dos tendões, músculos e ângulos entre as articulações.
Os problemas visuais podem passar despercebidos por anos. Esses transtornos
às vezes só são descobertos quando a criança está entrando no ensino regular, ou
quando já apresenta dificuldade no aprendizado. Algumas vezes são suspeitados
quando as crianças iniciam a avaliação psicopedagógica.
Não há dúvidas de que a visão é importante não só para a leitura, mas também
para a escrita. A noção de profundidade e a observância dos limites do espaço
disponível para escrever dependem de uma complexa interação entre informações
visuais e proprioceptivas, além da evocação de memórias de procedimento, obtidas
após sucessivos exercícios da escrita.
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O treinamento constante dos movimentos necessários à escrita propricia a
consolidação da memória procedural. Ficam facilitadas as vias para que os
movimentos correspondentes a cada grafema sejam cada vez mais aperfeiçoados.
Esta circuitaria acaba por certo mielinizando pelo uso continuado. É o que ocorre,
por exemplo, com os digitadores, habituados a repetir o uso de teclas durante sua
rotina de trabalho. Quando determinadas palavras começam a ser digitadas, já há
um bom grau de automação nos movimentos que devem se seguir aos iniciais,
graças à memória de procedimentos. Então as palavras podem começar a ser
digitadas de forma voluntária e terminar de forma automática, graças à ação do
sistema extrapiramidal.
Os transtornos auditivos são muito importantes, em especial na linguagem e no
relacionamento. Se a criança ouve mal, pode falar mal. Se fala mal, pode vir a ter
dificuldades na leitura e na escrita mais tarde. Existe um transtorno muito mais
grave que pode decorrer de problemas sensoriais, em especial dos referentes à
linguagem: são os chamados transtornos globais do desenvolvimento, que
englobam várias situações clínicas, das quais a mais conhecida é autismo infantil.
Chegada a informação ao SNC e estando hígidos os cinco sentidos, passa então
a ser importante o nível cognitivo da criança. Parte do potencial intelectual é
herdada, mas parte também depende de uma gestação e primeira infância sem
insultos orgânicos e emocionais ao SNC. Sem cognição não há como haver um bom
aprendizado, nem das memórias declarativas nem das procedurais, por mais que
todos os sentidos funcionem plenamente.
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Assim como a memória, a função cognitiva como um todo também sofre influência
dos mesmos fatores moduladores. Ela também depende do nível de atenção, da
motivação e da quantidade de ansiedade, além da bagagem genética e da biografia
da criança. Testagens formais do potencial cognitivo de crianças deprimidas,
desatentas ou muito ansiosas podem trazer informações incorretas.
Mas a inteligência e os cinco sentidos podem estar bem preservados e mesmo
assim haver transtornos da aquisição das memórias. É o que pode ocorrer, por
exemplo, no caso das epilepsias, em especial nas crises do tipo “ausências”. Nesse
caso, a criança tem uma perturbação transitória da aquisição das informações, fica
com olhar fixo e inexpressivo e pode perder partes do discurso da professora
durante uma aula. Esse tipo de crise é infrequente e sutil, e muitas vezes não é
notado, porque pode durar apenas alguns segundos ou minutos. Para o
neuropediatra, o diagnóstico é muito fácil de ser feito e o tratamento pode gerar uma
melhora significativa no desempenho escolar.
Nos casos de paralisia cerebral, que é um quadro neuropediátrico bem mais
grave, predominantemente motor, ficarão mais evidenciadas as dificuldades da
aquisição da memória de procedimentos, com incoordenação motora moderada a
grave. Como as lesões da paralisia cerebral nem sempre ficam restritas somente à
área motora, obviamente a aquisição das memórias declarativas também pode
sofrer transtornos, tanto em decorrência de eventuais deficiências nos sentidos,
quanto devido aos déficits cognitivos que podem estar associados.
26
Existe uma situação que Rebollo (1991) descreve como “torpeza motora”, na qual
a criança em idade escolar é “desajeitada”. Seria uma forma muito mais branda do
que a descrita no parágrafo anterior. Estas crianças não têm uma lesão, mas sim
uma disfunção, que no caso ocorre no hemisfério cerebral direito. Como este inicia
antes seu processo maturacional, fica mais tempo exposto às eventuais injúrias.
Por isso, as disfunções direitas são mais freqüentes do que as esquerdas.
A torpeza motora é um dos três tipos de disfunção hemisférica direita,
caracterizada pela dificuldade da criança em mover-se no espaço, tanto no corporal
como no gráfico. Ocorrem dificuldades na integração entre as informações que
chegam, que são as gnosias, e as que devem sair após um processamento central,
que são as praxias.
Rebollo(1991) afirma que as crianças ditas “torpes” geralmente não tiveram
nenhum retardo nos marcos iniciais do desenvolvimento neuropsicomotor. Pelo
contrário, podem, por exemplo, ter caminhado antes do esperado. Contudo,
tropeçam com freqüência e derrubam coisas ao se movimentar; quando começam a
manusear instrumentos, o fazem de forma inadequada, tal como talheres, tesouras
e lápis; podem vestir roupas ao contrário e ter dificuldades nos jogos de bola e
também nos de construção.
Na realidade, fica difícil imaginar movimento sem o aporte sensorial, nem a
percepção sem que ocorra um movimento. Ao perceber, o SNC registra o
movimento ou as diferenças entre cada uma das informações que vão se
sucedendo. Se não houver diferenças, pode não haver registro. Por isso, as gnosias
poderiam ser chamadas de gnosopraxias e as praxias de practognosias.
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2.2 - Transtornos da consolidação da memória
Rebollo(1991), explica que a fase de consolidação das memórias possivelmente
seja um dos mais importantes eventos mnemônicos, caso contrário, as informações
iriam sendo todas perdidas. O paciente seria capaz de cuidar de atividades básicas
do dia-a-dia, mas não conseguiria ter memória de longa duração.
Parece que a maior fragilidade, em termos de consolidação, ocorre logo após a
aquisição, nas primeiras horas ou minutos. Quanto mais tempo decorrer da
aquisição, mais duradoura é a consolidação da experiência.
Diferentes tipos de memória consolidam de diferentes modos. As memórias
declarativas usam vários neurotransmissores, tais como GABA, dopamina,
noradrenalina, serotonina e acetilcolina. Com exceção do GABA, os demais
neurotransmissores não têm nenhuma influência na consolidação das memórias de
procedimento.
Memórias de curta duração consolidam de modo diferente, quando comparadas
com memórias de longa duração. Existem pelo menos seis passos para a
consolidação das memórias de curta duração e nove passos para a consolidação
das memórias de longa duração. São vários eventos bioquímicos de razoável
complexidade.
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No caso da consolidação das memórias de longa duração, entram em cena outros
atores, tais como a beta-endorfina cerebral, a vasopressina e os chamados
hormônios do estresse. Estes últimos, quando ocorrem em níveis moderados,
ajudam na consolidação das memórias de longo prazo, mas, quando estão em
doses muito elevadas, como o que ocorre em situações com alto conteúdo
emocional, acabam por prejudicar a consolidação. Por isso é que costumamos
“apagar” aqueles eventos extremamente estressantes de nossos arquivos
mnemônicos.
Rebollo(1991), também afirma que a fase de consolidação geralmente leva
algumas horas. Durante esse tempo, as memórias ficam em um local provisório e
são denominadas memórias de curta duração. A consolidação se dá no hipocampo.
Como a consolidação das memórias declarativas se dá nos lobos temporais, em
uma área denominada hipocampo, lesões ou disfunções nessas regiões podem
prejudicar os eventos que tem a ver com a consolidação. Um exemplo drástico
desse fenômeno é bem conhecido dentro da área médica. Trata-se do caso do
paciente H.M., que foi submetido a uma cirurgia da epilepsia, na qual lhe foram
retiradas as pontas de ambos os lobos temporais. Logo após a cirurgia, ele
conseguia fazer todas aquelas atividades que necessitam apenas da memória de
curta duração. Entretanto, perdeu todas as memórias declarativas consolidadas
antes da cirurgia e se tornou incapaz de consolidar qualquer nova memória. O
paciente dizia: “minha mente é como uma peneira: as coisas ficam por alguns
minutos e depois desaparecem”.
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A memória de curta duração ajuda, por exemplo, durante a leitura. Ler é um
evento muito interessante e o ato da leitura pode ser decomposto para uma análise
mais detalhada. É claro que o ideal seria que pelo menos parte do que é lido
consolidasse como memória de longa duração.
Rebollo (1991), alega que durante a leitura, é como se os olhos “escaneassem”
cada palavra. Cada varredura, palavra por palavra, é feita em milésimos de
segundo. A informação visual de cada palavra de um texto, que no caso é
lingüística, leva em torno de quatrocentos milésimos de segundo para ser
decodificada. Inicialmente, os olhos se fixam na palavra, que chega ao córtex
cerebral occipital como uma informação bruta. É comparada nas áreas da
associação visual, vai ao lobo frontal ( área de Broca), no qual é feito um esquema
mental da sua pronúncia, vai ao lobo temporal ( área de Wernicke ), onde seu som
equivalente é imaginado, e só então é decodificada, antes que se passe a varrer a
palavra seguinte.
Contudo, para que todo o conteúdo de um livro seja consolidado, é necessário
que decorra algum tempo para a “digestão” das informações. Caso contrário, elas
se perdem junto com a memória de curta duração.
Evidentemente, a atenção é um fator essencial para que a leitura transcorra sem
maiores problemas. Além do treinamento, a criança necessita aprender a manter o
foco da atenção naquilo que está lendo.
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CAPÍTULO 3
MUDANÇAS DE ESTRATÉGIAS
Segundo Rebollo (1991), as mudanças de estratégias de ensino podem contribuir
para que todos aprendam. Em alguns casos, as estratégias de ensino não estão de
acordo com a realidade do aluno.
Por que será que às vezes os alunos reagem de maneira diferente diante de
diversas atividades desenvolvidas em sala de aula pelo professor?
O tema de uma aula escolhido pode ser importante para o professor, mas quando
não desperta a atenção ou o interesse da criança, ela não aprende. Às vezes uma
aula ilustrativa, dramatizada que envolve o aluno lhe desperta muito mais e ele
aprende.
3.1 – Importância da prática do professor em sala de aula
Esse talvez seja o momento do professor rever a metodologia utilizada para
ensinar seu aluno, através de outros métodos ou atividades ele poderá detectar
quem realmente está com dificuldade de aprendizagem, evitando os rótulos muitas
vezes colocados erroneamente, que prejudicam a criança trazendo-lhe várias
conseqüências, como a baixa-estima e até mesmo o abandono escolar.
31
Segundo Rebollo (1991), muitas coisas são ensinadas e aprendidas
inconscientemente, tendo mais probabilidade de permanecer em nossa memória.
Um aluno pode esquecer muito das noções que aprendeu com alguns
professores, mas lembrar o tipo de pessoas que eram e as atitudes que tinham em
relação a ele.
O papel do professor é muito importante. Suas atitudes para com os alunos
podem influenciar de maneira decisiva na construção da auto-imagem dos mesmos,
ou na sua maneira de ver a si mesmo.
Cabe ao professor estimular o crescimento emocional de seus alunos todos os
dias, existem diversas maneiras que podem contribuir nesse processo, a maneira
como ensinar, as atitudes, o jeito de relacionar-se com cada aluno, o interesse e o
carinho que demonstram até sem querer influenciam no desenvolvimento afetivo e
no processo de aprendizagem da criança.
A escola tem hoje um duplo papel na sociedade, pois transmite cultura sendo
transformadora de estruturas sociais, seu trabalho é adequar-se às necessidades
do aluno, da família e da comunidade.
Podemos dizer que muitas funções que eram das famílias vêm sendo passadas à
escola, devido às alterações que ocorrem em nossa sociedade. O trabalho da
mulher fora de casa, cada vez mais está deixando a educação de seus filhos à
responsabilidade da escola, sobrecarregando de responsabilidade o professor.
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3.2 – Momento da ação psicopedagógica
Esse é o momento da ação psicopedagógica desempenhar seu papel sobre os
problemas de aprendizagem evitando o fracasso escolar que muitas vezes chegam
à evasão escolar. Crianças que não conseguem realizar o que se espera de um
planejamento, muitas vezes são identificadas como portadoras de distúrbios de
aprendizagem, mas às vezes falta-lhe mecanismos para se expressarem.
Para que a criança se desenvolva, ela precisa de um ambiente afetivamente
equilibrado, onde receba amor, carinho, respeito, que lhe permita o direito de
expressar aos seus pensamentos, opiniões construindo o seu próprio conhecimento
sem ficar preso naquilo que o professor planejou.
Não se pode diagnosticar que uma criança tem dificuldade de aprendizagem só
porque ele não atingiu os objetivos do professor, é preciso que se faça uma
investigação muito cuidadosa procurando saber quais são realmente as causas e
fatores que contribuem para esse problema de aprendizagem, para depois
fazermos uma intervenção diagnóstica do aluno.
Podemos definir que a aprendizagem é o processo que evolui com a estimulação
do ambiente sobre o indivíduo que sofre interferência dos fatores físicos,
psicológicos e afetivos.
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Assim, propiciar um ambiente favorável à aprendizagem em que seja trabalhada a
auto-estima, a confiança, o respeito mútuo, a valorização do aluno sem, contudo
esquecermos da importância de um ambiente desafiador, mas que mantenha um
nível aceitável de tensões e cobranças, são algumas das situações que devem ser
pensadas e avaliadas pelos educadores.
O professor deve ainda ter os meios de construir seu próprio sistema de
observação, interpretação e intervenção em função de sua concepção pessoal de
ensino, dos objetivos, do contrato didático, do trabalho escolar.
A teoria de Gardner, sugere múltiplas maneiras de avaliar os alunos e assegura
que eles devem ser capazes de mostrar competência em uma determinada
habilidade, assunto, área de conteúdo ou domínio utilizando-se de outras formas.
Deve ser favorecida uma aprendizagem integrada e totalizadora, onde a realidade
seja percebida como é: um todo com inter-relação das partes, que é vivenciada ao
mesmo tempo a partir do sensóriomotor, do intelectual, do simbólico e que evoca no
sujeito sentimentos de agrado e desagrado. É indubitável que depois desta
captação global é necessário proceder a sua análise, sem perder de vista a
totalidade, mantendo as relações e aludindo em formas permanentes a elas.
Quanto mais rica for, mais esquemas põe em jogo e melhor mantém a atenção.
Mabel Condemarín (2004) menciona as pesquisas de Jain e Zimmerman sobre
diferentes famílias de crianças com dificuldades de aprendizagem que conseguiram
funcionar como um verdadeiro apoio, diminuindo a possibilidade de problemas
emocionais. São famílias que apresentam as seguintes características: É
mencionado em primeiro lugar a presença de um grupo familiar estável e
consistente, com limites claros. É importante esclarecer que não se trata
necessariamente de que os pais vivam juntos.
34
Há casos de divórcios nos quais os pais conseguem preservar uma boa relação
entre eles, o que por outro lado possibilita um acordo sobre as regras, limites,
deveres,etc. de cada casa.
Em segundo lugar, e não menos importante, são famílias que aceitam as
dificuldades que a criança apresenta. Não se preocupam em negá-las, nem
minimizá-las, nem tampouco maximizá-las. Trata-se de saber, conhecer e aceitar
suas dificuldades tentando sempre não fazer exigências acima das suas
possibilidades nas áreas que apresenta dificuldade.
As famílias devem ser um verdadeiro apoio emocional para a pessoa com
dificuldades. Estas crianças enfrentam frustrações freqüentes, sobretudo na escola;
a família deve ser um apoio constante que a ajude a manejar e superar suas crises.
Sempre deve estar procurando maneiras de ajudá-las a potencializar suas
habilidades, as quais podem de alguma forma compensar suas dificuldades.
Como menciona Sara Paín (1983) o pedagogo preocupa-se principalmente em
construir as situações pedagógicas que tornem possível a aprendizagem;
implementando os meios, as técnicas e as instruções adequadas para favorecer a
correção da dificuldade apresentada pela criança.
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CONCLUSÃO
“ O ato de avaliar, por sua constituição mesma, não se destina a um julgamento
“definitivo” sobre alguma coisa, pessoa ou situação, pois que não é um ato seletivo.
Luckesi (2003), explica que a avaliação se destina ao diagnóstico e, por isso mesmo
a conclusão; destina-se à melhoria do ciclo de vida.
Deste modo, por si, é um ato amoroso. Infelizmente, por nossas experiências
histórico-sociais e pessoais, temos dificuldades em assim compreendê-la e
praticá-la. Mas... fica o convite a todos nós. É uma meta a ser trabalhada, que, com
o tempo, se transformará em realidade, por meio de nossa ação. Somos
responsáveis por esse processo. “ (LUCKESI, 2003, P.180).
A escola é como um espelho, para a vida prática; nos cursos de licenciatura,
formaremos professores, que seguirão seus mestres e como espelhos cometerão
os mesmos acertos e os mesmos erros que eles, isto se torna um círculo vicioso
onde os mesmos erros vêm sendo cometidos ao longo de décadas, por isso a
reflexão sobre a prática avaliativa do docente tem que ser um ato concreto.
A formulação das idéias precedentes, qualquer das formas alternativas de avaliar
a aprendizagem dos alunos que seja utilizada está a serviço, prioritariamente, de
quem aprende. Em nenhum caso, nos leva a pensar que isso significa que basta
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baixar os níveis de exigência para garantir êxitos desvalorizados. Mais que rebaixar
exigências de quem aprende, trata-se de avaliar a qualidade humana e intelectual
de quem ensina, assegurando em cada caso a qualidade da aprendizagem que é
construída.
Um educador, que se preocupa com que a sua prática educacional esteja voltada
de sua ação deverá estar marcado por uma decisão clara e explícita do que está
fazendo e para onde possivelmente está encaminhando os resultados de sua ação.
É importante levar em consideração que é fundamental trabalhar com a criança e
não para ela. Isso significa que na modificação da atitude frente à aprendizagem o
professor pode e deve ser um bom modelo para que a criança utilize como
referência.
Quando uma aprendizagem é bloqueada não se deve insistir nela. É necessário
facilitar novos elementos para que a criança os integre e consiga chegar à solução
por outro caminho.
É indispensável que a criança e seus pais mediante a intervenção inteligente do
professor, recebam uma imagem integradora que conjugue o que sabe e o que não
sabe fazer. O que pode e o que não pode. O que a agrada e o que a desagrada.
Somente a partir da capacidade do docente de pensar no melhor e mais saudável
da criança e sua família e, em segundo plano, nas dificuldades, poderá elaborar um
plano de ajuda que seja efetivo.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
IZQUIERDO, I. Memória. Porto Alegre: Artmed,2002.
IZQUIERDO,I.; IZQUIERDO, L.A. Livro, Neurobiologia da memória. In:
KAPCZINSKI, F.; QUEVEDO, J.; IZQUIERDO,I.(Ed.) Bases
neurológicas dos transtornos psiquiátricos. Porto Alegre: Artmed, 2004.
p. 367 – 378.
LUCKESI, Cipriano Carlos. Para trabalhar a interdisciplinaridade, 1984.
SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO. Núcleo Curricular Básico:
Revista Multieducação v.4. Rio de Janeiro,RJ,1996.
LURIA, A.R. Higher cortical functions in man. New York: Basic Books,
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RELVAS, Marta Pires.Livro, Fundamentos Biológicos da Educação –
Despertando Inteligência e Afetividades no processo de Aprendizagem.
3 ed. Wak editora, Rio de Janeiro, 2008. p.15-76.
REBOLLO, M.A. Dificuldades Del aprendizaje.2.ed. Montevideo:
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ROTTA, Newra Tellechea; OHLWEILER, Lygia; RIESGO, Rudimar dos
Santos. Livro,Transtornos da Aprendizagem, Abordagem
Neurobiológica e Multidisciplinar.2006. p. 269-283.
HAYDT, Regina Cazaux. Livro, Avaliação do Processo
Ensino-Aprendizagem. 6. ed. São Paulo: Ática, 2003.
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ÍNDICE Folha de rosto................................................................................. 1
Resumo........................................................................................... 2
Metodologia......................................................................................3
Sumário.............................................................................................4
INTRODUÇÃO..................................................................................5
CAPÍTULO 1 - Memória....................................................................7
CAPÍTULO 2 - Transtorno da memória e aprendizagem..................19
CAPÍTULO 3- Mudanças de estratégias............................................30
1.1 – Origem da memória ..................................................................10
1.2 – Memória: um fenômeno biológico............................................. 11
39
1.3 – Relação entre memória e atenção............................................14
1.4 – Relação entre memória e motivação.........................................16
1.5 – Relação entre memória e ansiedade..........................................17
2.1 – Transtornos da aquisição da memória........................................20
2.2 – Transtornos da consolidação da memória..................................27
3.1 – Importância da prática do professor em sala de aula..................30
3.2 - MOMENTO DE AÇÃO PSICOPEDAGÓGICA............................32
4 – CONCLUSÃO.................................................................................35
5 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................37
6 - ÍNDICE............................................................................................38
7- FOLHA DE AVALIAÇÃO.................................................................40