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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
PROJETO A VEZ DO MESTRE
A CONSTRUÇÃO DA LEITURA E DA ESCRITA
NA EDUCAÇÃO INFANTIL
Por: Adelina Mercedes Thomaz Cabral Arcângelo
Orientador
Prof. Luiz Cláudio Lopes Alves
Niterói
2004
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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
PROJETO A VEZ DO MESTRE
A CONSTRUÇÃO DA LEITURA E DA ESCRITA
NA EDUCAÇÃO INFANTIL
Apresentação de monografia à Universidade Candido Mendes como condição prévia para a conclusão do Curso de Pós-Graduação “Lato Sensu” em Orientação Educacional
Por: Adelina Mercedes Thomaz Cabral Arcângelo
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AGRADECIMENTOS
Agradeço aos meus pais que sempre, com muito sacrifício e empenho
valorizaram e incentivaram os meus estudos, mostrando-me os caminhos a trilhar
do crescimento profissional, cultural e realização pessoal.
Aos meus irmãos que sempre compartilharam comigo os momentos
difíceis e de conquistas, com o mesmo entusiasmo que eu. Aos tios e tias que me
ajudaram como puderam, a conquistar e vencer obstáculos.
Aos meus sobrinhos e afilhados, a quem quero todo bem do mundo, e
que sirva como exemplo para que se realizem e compreendam a importância
deste momento na vida de cada um deles.
Ao meu marido e filhos, a qual devo mil desculpas, pelos momentos de
ausência ou impaciência pelo cansaço, agradeço pelo companheirismo,
dedicação e força nos momentos árduos da correria, do nervosismo de dar conta
dos compromissos inadiáveis e responsabilidades que exigiam minha ausência
como esposa e mãe. Obrigada por acreditarem em meu potencial e se esforçarem
a cruzar comigo esta jornada que exige tanto dos que nela cruzam.
Aos meus amigos que sentem hoje, o sabor da vitória junto comigo e que
sempre entenderam as horas de ausência ou a necessidade de umas “horinhas”
para repor minhas energias. Meu muito obrigada.
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Aos professores, que contribuíram para o meu desenvolvimento e
conhecimento, a quem reconheço toda competência profissional. Enfim, agradeço
a todos a quem amo e respeito enquanto seres que marcaram a trajetória
histórica e que conviveram e partilharam cada dia desta conquista.
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DEDICATÓRIA
Dedico aos meus pais, irmãos, que sempre
me incentivaram e acreditaram na minha conquista, em
todos os momentos do meu caminhar.
Ao meu marido e filhos, que sempre
estiveram presentes e participaram deste trilhar, com
orgulho e incentivo, acreditando, que é na educação
que me realizo enquanto pessoa e profissional.
Valorizando-me e vibrando comigo, cada dia vencido
com alegria e entusiasmo..
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RESUMO
O Processo de aprendizagem sofre interferência de vários fatores –
intelectual, psicomotor, físico, social -, mas é do fator emocional que depende
grande parte da educação infantil.
Neste contexto educacional, não podemos deixar de analisar as
funções sociais da leitura e da escrita, que coloca o indivíduo, na condição de
necessitar de ambos, como “apelo” de sobrevivência cidadã. Pois recebemos
informações a todo instante e de todos os modos, em todo o cotidiano
necessitamos da leitura e da escrita e do mundo informatizado da sociedade
globalizada, onde quem não acompanha estas mobilidades das exigências sociais
esta fadado ao isolamento e a incomunicabilidade social.
É missão da educação projetar estes indivíduos que passam por
suas escolas com capacidade de se localizar em qualquer movimento e contexto
dentro da sociedade, com recursos e discursos que o levem a modificar e
trensformar as questões de seu momento histórico em prol do bem estar coletivo,
e assim galgarem papéis de respeito e reconhecimento de ser social e humano
que são, e que lhe são por direitos reservados.
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 08
CAPÍTULO I - A Concepção da Escrita pela Criança 11
CAPÍTULO II - A Construção da Escrita 20
CAPÍTULO III – A Função Social da Escrita 35
CAPÍTULO IV – A Língua, Instrumento de Comunicação 38
CAPÍTULO V – O Papel do Orientador no Espaço Escolar 42
CONCLUSÃO 46
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 49
ÍNDICE 50
ANEXOS 52
FOLHA DE AVALIAÇÃO 53
8
INTRODUÇÃO
Aprendizagem é o resultado da estimulação do ambiente sobre o
indivíduo que se expressa, diante de uma situação problema, sob a forma de uma
mudança de comportamento em função da experiência.
É comum as pessoas restringirem o conceito de aprendizagem
somente aos fenômenos que ocorrem na escola, como resultado do Ensino.
Entretanto, o termo tem um sentido muito mais amplo: abrange os hábitos que
formamos os aspectos de nossa vida afetiva e a assimilação de valores culturais.
Enfim a aprendizagem se refere os aspectos funcionais e resulta de toda
estimulação ambiental recebida pelo indivíduo no decorrer na vida.
O Processo de aprendizagem sofre interferência de vários fatores –
intelectual, psicomotor, físico, social -, mas é do fator emocional que depende
grande parte da educação infantil.
Em uma visão do mundo globalizado, se faz necessário refletir a
importância do conhecimento do universo letrado da incomunicabilidade social.
A função social da escrita e da leitura ultrapassa os muros escolares
e se faz presente em todo o momento do cotidiano do cidadão.
Em uma ótica futurista a escrita e leitura não terá somente a função
de acompanhar as transformações aceleradas do mundo, mas de capacitar os
seres que se utilizam “delas” para prepará-los a galgar destaques participativos
dentro da sociedade em que estejam inseridos e que estes se utilizem destes
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conhecimentos com maior complexidade existente na sociedade como
instrumento de sobrevivência cidadã.
Neste contexto complexo de conhecimentos, cognição, afetividade,
anseios e estimulação para aprendizagem. O papel do orientador é de
fundamental valia no intuito de provocar e condicionar um clima de harmonia e de
sintonia do grupo. Atuando no ambiente escolar com o propósito de
transformação e libertação. Direcionando toda a sua prática educativa em um
espaço democrático, onde todos nela envolvidos tenham voz e sejam ouvidos
com consciência de transformação para o caminhar coletivo na construção do
melhor para harmonia educativa.
Ele deve estar consciente de que antes de pedagogo é também
Educador e, portanto, deve estar em constante integração com sala de aula, onde
esta prática pedagógica acontece por excelência. É nela que na verdade se
elabora pesquisas, e fundamenta as teorias aplicativas à pedagogia.
O pedagogo deve ter uma diretriz, um objetivo a atingir, e que este
direcionamento se encontre com os demais envolvidos à práxis pedagógica. Que
ele não se posicione como único dono do saber e que este saber não se
considere estático. Pois assim como a sociedade opina e tem expectativas em
movimentos, ele também deve se atualizar a todo instante e mergulhar-se como
pesquisador atuante dentro deste movimento da sociedade. Portanto todo este
trabalho de orientação à educação, em uma teoria fundamentada em sua ética,
planejamento e rigor de sua postura aplicativa.
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Nesse trabalho serão delineados conceitos sobre a construção e
concepção da escrita, além da sua função social e sobre o processo da aquisição
da linguagem, salientando a importância dessa aquisição para o ensino da Língua
Portuguesa. Onde o orientador deve estar em total harmonia com toda a
comunidade escolar, se colocando como facilitador e estimulador das
comunicações no processo de trocas mútuas. Assim como um dinamizador da
continuidade da Formação da equipe administrativa e educacional. Estando
sempre em constante entrosamento com as salas de aula, no intuito de se
conscientizar dos processos de sucesso e apontar soluções para as dificuldades
existentes neste espaço.
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CAPÍTULO I
A CONCEPÇÃO DA ESCRITA PELA CRIANÇA
1.1. A Aquisição da Linguagem
Por muito tempo os eruditos, consideraram que a aquisição da linguagem
era, em grande parte levada a cabo pela analogia de modelos de sentenças
observadas ocorridas na expressão oral ouvida e entendida pela criança. Por
exemplo, Skinner incorpora os principais aspectos do comportamento lingüístico
dentro de uma estrutura “behaviorista”, relatando um comportamento verbal a
variações tais como estímulos, reforço e privação, como usadas nos
experimentos com animais. Subseqüentemente, um número de lingüistas
acentuou a inerente disposição e competência do cérebro humano para construir
a gramática, que é ativada pela exposição à linguagem durante a infância.
As crianças normais nascem com a habilidade e a tendência para adquirir
a linguagem a qual elas estão expostas desde a infância. No final da infância o
vocabulário básico da língua “ nativa “ foi adquirido, junto com estrutura gramatical
e fonológica.
Os autores não são unânimes sobre como se processa a aquisição da
linguagem, a divisão das fases e o nome dado para cada fase. Entretanto, de
maneira geral, existe uma certa similaridade entre as conclusões.
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Segundo Menyuk ( 1975 :80 ), “ Os choros são os primeiros enunciados
dos infantes.” Esse choro ou “grito”, como prefere Bouton ( 1977 : 118 – 150 ),
desempenha uma papel importante e incontestável: a criança aprende a coordenar a respiração em função da sua intensidade e duração.
Nessa fase, a atividade de sucção é provavelmente o prelúdio necessário
a uma outra atividade sonora do bebê no qual se designa, segundo Bouton ( ibid),
pelo nome de lalação ou de balbucio. Aparece por volta de um mês de idade, na
medida em que a criança adquire uma maior coordenação da respiração, dos
movimentos da boca, o que supõe a participação voluntária de uma organização
cada vez mais hábil dos mecanismos de produção do sistema nervoso central.
Neste comportamento Bouton não considera os sons emitidos como
resposta especializada. Considera respostas não específicas à estímulos
igualmente não específicas.
Em seguida, esse comportamento progressivamente, à maneira de uma
imitação global, a criança responde à fala do adulto com uma espécie de
melopéia vocálica e tem uma linha melódica relativamente homogênea, continua.
Chamada pos Bouton (ibid) de ecolalia traduz a presença de um substrato
sensório – motor já funcional, senão completamente amadurecido.
Segundo este mesmo autor, todas essas fases não têm o estatuto de
linguagem por não demonstrar nenhuma ligação ainda que temporária e acidental
entre o som e o sentido.
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Essa evolução anuncia que a criança já não procura reproduzir sons pelo
simples prazer auditivo que encontra nisso, ao acaso das emissões sonoras que
realiza, mas que se esforça daí em diante para imitar o que apercebe no discurso
dos que a rodeiam.
Nesse esforço, as primeiras unidades dotadas de sentido que são
utilizadas pela criança, no início do estágio da primeira linguagem, diferenciam-se
por traços oposicionais e rendimento pobre, devido ao seu número limitado, mas
fáceis de explorar.
Aos 12 meses uma criança pode ter adquirido de 5 a 10 palavras a que
atribui um sentido pouco preciso, mas sempre global, em função da situação.
Na idade de 2 anos, o vocabulário da primeira linguagem pode atingir 200
palavras. Constatam-se grandes diferenças na idade das aquisições e na sua
rapidez, assim como no aumento numérico, mas a ordem é sensivelmente a
mesma e as etapas da palavra silábica, depois de dissilábica são muito
regularmente atestadas por todos os observadores. ( Bouton,ibid)
Na linguagem da criança, essa “ palavra” é, com efeito, semanticamente
um enunciado muito complexo, que nem sempre se refere a um objeto designado.
Nesse estágio a palavra da criança funciona como uma frase na linguagem do
adulto. Donde o termo “palavra – frase “ freqüentemente utilizado pelos
observadores.
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Por volta dos 18 meses aparece as primeiras combinações de duas
palavras – frases que constituem um enunciado claramente mais complexo e que
demonstra incontestáveis progressos na análise do real.
Nesta fase, segundo Bouton, é possível acrescentar a esta constatação
que o desenvolvimento da linguagem se organiza segundo um plano
multidimensional que atinge simultaneamente a fonologia, sintaxe, o léxico e os
conceitos intelectuais a partir dos quais se organiza a atividade verbal da criança.
A aquisição da linguagem não pode explicar-se pela simples aquisição de
estruturas cada vez mais complexas. Esta aquisição é antes de tudo função de
progresso que a criança realiza na compreensão do seu meio e das relações que
unem os elementos que o constituem.
Entre os 2 e 3 anos as reuniões de palavras duplicam de comprimento. O
acesso a linguagem propriamente dita caracteriza-se por um abandono
progressivo das estruturas elementares da linguagem infantil e do vocabulário que
lhe é específico, os quais se substituem por construções cada vez mais
conformes à linguagem do adulto, graças ao comportamento verbal que este
adota. Esta evolução é suportada por um processo cognitivo geral e, sobretudo
por uma orientação nova do próprio uso da linguagem.
Entre os 3 anos e meio e os 5 anos a criança domina aproximadamente
1500 palavras. Alguns observadores (Bouton, ibid ), admitem como um fato de
experiência que a criança aprende a gramática da sua língua diretamente a partir
da fala do adulto, utilizando como modelo.
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A reprodução infantil é reduzida a elementos que nem sempre são
essenciais, e isso tanto mais longa for a frase pronunciada pelo adulto. A criança
só retém as seqüenciais silábicas que reconhece e que se impõem imediatamente
à sua compreensão, o que dá às suas repetições um caráter telegráfico.
Progressivamente, as crianças deduziram regras a partir da fala ouvida,
passando dos níveis de menor complexidade aos níveis de maior complexidade,
simplesmente porque a “espécie” está “programada” numa certa época da vida do
indivíduo para operar desta maneira, a partir das informações lingüísticas
recebidas.
Segundo este ponto de vista, nenhuma instrução de linguagem formal é
necessária. Nós simplesmente mergulhamos a criança em um meio no qual a
linguagem é falada e a inata habilidade do cérebro humano deduz as estruturas e
regras gramaticais apropriadas que fornecerá à criança a competência lingüística.
Ao examinar o desenvolvimento da linguagem da criança, podemos
encontrar corroboração para cada uma destas visões. Dar nomes aos objetos
com os quais a criança está familiarizada e a associação de “não” com
comportamento desaprovado são exemplos de condicionamento clássico.
Defensores do ponto de vista de Chomsky ressaltaram que a fala
telegráfica usada pelas crianças não é uma simples repetição das sentenças dos
adultos, Portanto, um dos pais diz “Ele vai sair”, mas a criança converterá isto
para “Ele sai”. Em geral os pais parecem nem mesmo prestar atenção a tal
sintaxe ruim; eles nem mesmo parecem estar cientes dela. O estudo de
sentenças complexas produzidas pelas crianças indica que essas crianças
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aplicam suas próprias regras gramaticais (as quais não são imitações diretas da
gramática adulta) de um modo sistemático, e parecem adquirir as regras
convencionais apenas através do tempo e da experiência.
Recentes experimentos com crianças suficientemente jovens, para não
serem afetadas por seu meio lingüístico apóiam a visão de Chomsky de que o
conhecimento inato e as capacidades estão sujeitos ao uso da linguagem.
Estudos da percepção da fala em crianças mostram que as crianças têm
um mecanismo perceptivo inato adaptado às características da linguagem
humana. A pesquisa é baseada no estudo de fonemas, as menores unidades da
fala que afetam o significado. As pesquisas demonstraram é que além do inatismo
genético existe o fator do condicionamento e, mais importante que tudo isso, um
mecanismo interno de regulações que provoca a assimilação, acomodação das
coisas do mundo com base em um a priori que só se observa após a realização
da conquista cognitiva.
1.2. O Desenvolvimento da Linguagem Não Verbal
Para se comunicar com uma pessoa ou máquina, o receptor deve possuir
uma “moldura de referencia” social e conceitual similar a do comunicador. Uma
vez que percebemos que uma pessoa fala nossa língua e partilha nossa moldura
cultural, podemos presumir que compartilhar tal frame é necessário a
comunicação.
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As pessoas comunicam-se não apenas pela linguagem falada e escrita,
mas também pela linguagem do corpo, envolvendo postura corporal, expressão
facial, posição de sentar e outros sinais corporais. Tal comunicação não verbal,
embora muito sutil, pode ser interpretada com grande precisão.
Consideramos com naturalidade a idéia de que a aparência física e os
movimentos do corpo desempenham um papel em nosso relacionamento social.
Eles exprimem uma parte de cada um de nós e, percebidos pelas outras
pessoas, permitem captar certas características do nosso modo de agir. Sem nos
darmos sempre conta, utilizamo-nos desse procedimento na vida cotidiana,
principalmente quando procuramos convencer ou agradar alguém. Já na
Antigüidade, os tratados de retórica cotejavam os méritos respectivos dos gestos
e da palavra. Hoje, políticos buscam, através de treinamento, aprimorar sua
expressão diante das câmaras; executivos fazem estágios visando desenvolver
seu potencial “não verbal”; psicólogos, através de técnicas de “afirmação do eu”,
ensinam aos tímidos como mostrarem mais seguros de si; publicam-se livros que
permitem identificar, na expressão fisionômica e na postura das pessoas, os
sinais da sinceridade e da mentira.
A imagem que nós transmitimos através dos sinais corporais exerce um
efeito sobre as demais pessoas. Esse efeito pode vir a ser importante na vida
cotidiana, na escola, na empresa, etc. Se tomarmos como exemplo a realização
de uma entrevista realizada para seleção pessoal, sabemos que ela pode ser
influenciada por diversos aspectos do comportamento não verbal. A produção de
gestos faz a pessoa parecer motivada e competente. Sendo igual a avaliação nas
demais variáveis, a possibilidade de o candidato ser selecionado pode depender
da freqüência de seus movimentos de assentimento com a cabeça. Os
comportamentos verbais, ou interagem com eles. Os movimentos da cabeça e da
mão feitos enquanto se fala, podem estar ligados ao estilo da fala ou a entonação.
Questões semelhantes se levantam a propósito da influência dos valores não
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verbais na avaliação de desempenho de um empregado. O resultado da avaliação
pode depender de sua aparência física, ou de seus movimentos expressivos.
A idéia de que o ser humano não fala apenas com as palavras, mas
também com o seu corpo suscitaram vários tipos de estudos. A analogia entre os
gestos e a língua repousa em certo tipo de lógica, que começa pela observação
de que os usos corporais variam segundo os povos e as culturas; assim como as
línguas faladas no mundo as práticas gestuais diferem segundo o lugar e a época.
Em seguida, vem a observação de que as regularidades no uso corporal parecem
obedecer a um sistema de regras que podem ser comparadas a uma sintaxe. Os
gestos parecem constituir uma língua, pode-se inferir que os métodos lingüísticos
desenvolvidos para sua análise podem aplicar-se ao estudo dos movimentos
corporais. Além da analogia entre o gesto e a língua, a noção de linguagem do
corpo convida a descrever os gestos e classifica-los, a analisar seu
funcionamento à luz daquilo que sabemos da linguagem oral.
Os indivíduos, à semelhança do que ocorre com a língua falada na
sociedade a que pertencem, aprendem gestos, as mímicas, as expressões
corporais próprias a seu meio de origem. Mesmo que certos movimentos possam
ter um significado universal, como talvez seja o caso de certas expressões das
emoções, e de alguns gestos descritos pelos etnólogos a respeito do ritual de
receber uma pessoa, a cultura pode influenciar os comportamentos regrando as
condições de sua utilização, prescrevendo ou reprimindo.
Segundo Davis (1979, p. 152-157), uma das questões pertinentes ao
aprendizado do código não-verbal pela criança, já está respondida. Segundo a
autora, a criança aprende porque seus pais a recompensam de modo não-verbal
quando realiza movimentos corretos. Um sorriso, ou um movimento sincronizado
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com o da criança, pode ser essa “recompensa”. Ainda segundo a mesma autora,
a maior parte das expressões faciais aprendidas na infância será levada para a
vida adulta.
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CAPÍTULO II
A CONSTRUÇÃO DA ESCRITA
2.1. A Escola e o Processo de Aprendizagem
Por muito tempo acreditou-se nas escolas que escrevendo as palavras
isoladas, sem significado para a vida das crianças, estava sendo feita uma
contribuição significativa para o aprendizado da leitura e da escrita. Atualmente,
em vista do que já se pesquisou, descobriu e discutiu, observou-se que esta
atividade já não encontra tanto valor na prática da sala de aula. O prazer de poder
utilizar a língua como um todo é muito grande e não há sentido em utiliza-la aos
pedaços, trazendo para a criança recortes do mais fácil para o mais difícil e
apresentando textos ‘sem sentido’ e ‘sem profundidade’.
Sabemos que já existem conhecimentos importantes produzidos que
revertem, ou deveriam reverter, uma série de atitudes escolares que não atendem
mais às demandas, necessidades e desejos dos alunos que encontramos em
nossas salas de aula.
As informações fornecidas por Emília Ferreiro e Ana Teberosky, baseadas
nos postulados construtivistas de Jean Piaget, centraram o foco da questão das
formas próprias das crianças aprenderem e construírem conhecimentos a respeito
da língua e, assim, provaram não ser escolha de uma ou outra metodologia ( a
forma de “ensinar” ) a responsável pelo sucesso/insucesso de alfabetizar.
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“ Quando uma criança escreve tal como acredita que poderia ou deveria escrever certo conjunto de palavras, está nos oferecendo um valiosíssimo documento que necessita ser interpretado para poder ser avaliado” (FERREIRO, 1995, p.16-7).
Tanto Ferreiro e Teberosky, quanto Vygotsky,em culturas,lugares e
épocas distintas,coincidiram na critica que fizeram á maneira pela qual a
linguagem escrita vinha sendo entendida – ora como mera transposição da
linguagem oral para o “papel” ou qualquer outro espaço gráfico,ora como uma
“técnica dependente de métodos adequados”,a despeito do caráter simbólico da
escrita, amplamente desconsiderados nas práticas escolares,até bem pouco
tempo atrás.
Nos dias de hoje,não podemos desconhecer a escrita como uma forma
própria de representar onde, durante o seu processo de construção, o professor
precisa trabalhar junto com seus alunos de modo a faze-los entender as hipóteses
que levantam de “como pensam que se escreva”,tal como os sujeitos “letrados o
fazer”.As crianças precisam entender este sistema arbitrário de signos, que já
existe, ainda que em permanente transformação, como todo produto cultural a
histórico, como um sistema que tem regras próprias de organização nem sempre
“lógicas” e, ainda como este sistema de representações opera e para quê.
“ Em vez de nos perguntarmos de ‘devemos ou não devemos ensinar’ temos que nos preocupar em dar às crianças ocasiões de aprender. A língua escrita é muito mais que um conjunto de formas gráficas. É um modo de a língua existir, é um objeto social, é parte de nosso patrimônio cultural.” (FERREIRO).
Não nos interessa mais, apenas, como as crianças alfabetizadas fazem a
Linguagem Escrita, mas, também, em que a Linguagem Escrita causa influência
nas formas próprias dos cidadãos pensarem e se constituírem como sujeito, em
todas suas dimensões.
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É só através de um conjunto de atitudes e procedimentos gerais que
venham orientar, sustentar e dar ao trabalho realizado na sala de aula
consistência suficiente, e que, venha contribuir eficazmente na construção do
conhecimento da criança permita que alfabetizar seja realmente sinônimo de
acesso à leitura e à escrita.
Em um primeiro momento, o professor precisa entender como a criança
constrói o processo de leitura e escrita, que não é um processo mecânico de
decifração de símbolos, mas, ao contrário, é um processo ativo de construção de
hipóteses, e assim, ele terá condições de propiciar a cada uma delas condições
de construir e superar hipóteses até atingir a hipótese alfabética.
“ O professor deve assumir a responsabilidade de refletir sobre a produção de conhecimento do aluno, promovendo “movimento”, favorecendo a iniciativa e a curiosidade no perguntar e no responder, e construir novos saberes junto com os alunos.” (HOFFMAN, 1992).
Redefinido o papel do professor e a dinâmica das relações sociais dentro
e fora de sala de aula – ele não é mais o único que sabe ler e escrever, todos
podem fazê-lo, cada um dentro do seu nível – permitindo e aceitando a escrita
produzida pelas crianças, inclusive daquelas que não estão alfabetizadas, para
que ela contribua com sua escrita não convencional.
“ Assim como a alfabetização é um processo de construção que a criança percorre, a prática pedagógica também deve ser construída pelo professor, no seu dia-a-dia, sempre refletindo sobre a sua própria prática iluminada pelos conhecimentos teóricos e pela realidade interna e externa de seus alunos ” (FRANCO,Sérgio R. Kieling , p.72).
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Hoje sabemos que escrever não é apenas transformar em sinais gráficos
as palavras que usamos oralmente. Escrever, de verdade, também não é copiar.
É sim, um ato criativo capaz de ‘transformar uma corrente de idéias e imaginação
em palavras que possam ser lidas’. O ato de escrever saiu da esfera altamente
mecânica e vazia em que se manteve por um ,longo tempo, e passou a ser
entendido como um processo de natureza conceitual, complexo, que não se dá do
mesmo modo em todas as pessoas, que tem um percurso não linear; mas próprio,
além de ser diferente do processo de ler.
Somente através de uma aproximação de ‘olhares e corpos’ de
professores e alunos, sob o suporte de teorias e práticas, de trocas permanentes
na escola, poderemos modificar esta imagem errônea sobre a língua escrita e a
criança que aprende e assim, será possível a todos sentirem-se livres e seguros
para experimentar, ousar e descobrir quanta coisa já sabem.
2.2 Caminhando para a Alfabetização
Conceber a criança como um ser passivo cujo conhecimento era
adquirido pela absorção do meio. Assim acreditava a teoria do conhecimento,
denominada Teoria Empirista, para ela “ a linguagem é concebida como comportamento
verbal, sendo escrita mera atividade motora que deriva da associação dos estímulos sonoro-
auditivos”. (Oswald, 1996)
Com relação às práticas de escrita, elas se voltaram nesta perspectiva
para o desenvolvimento da prontidão, no caso das crianças que ainda não
escreviam. Essa “prontidão” seria alcançada por meio da exercitação das
habilidades percepto - motoras, atendendo ao pressuposto de que o domínio
prévio dessas habilidades garantiria a aquisição da escrita.
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Para as crianças que já sabiam escrever, os recursos utilizados eram
cópias de letras e palavras isoladas, cujo significados as crianças ignoravam e as
redações, com temas aprisionados, apresentavam grande preocupação com a
gramática e a ortografia.
No que diz respeito às práticas de leitura, as estratégias mais usadas
eram ainda e são as cartilhas e os livros didáticos.” A ênfase, neste caso, recai na
sonorização d a escrita ( sinais gráficos em sonoro) onde a criança vai “ a duras
penas”, identificando cada palavra escrita sem conseguir, no entanto, atribuir-lhes
significados”.
Contrariamente à anterior, a Teoria Interacionista Construtivista, que tem
em Piaget seu principal representante, concebe a criança como um ser ativo,
inteligente, que constrói o seu conhecimento com base na interação com o
ambiente. Por intermédio dos processos mentais de assimilação e acomodação, o
sujeito vai se modificando para se adaptar ao meio.
Ferreiro e Teberosky, com base na psicogênese do conhecimento
elaboram uma psicogênese da escrita. Tomando-a como base e como objeto do
conhecimento, elas observam que, “ na sua interação com esse objeto, a criança
vai se desenvolvendo hipóteses cada vez mais avançadas sobre a escrita”. E,
através de “ práticas de escrita”, libertou-se a criança da “obrigação” de passar
grande parte de seu tempo na escola exercitando suas funções percepto -
neurológicas. Em outras palavras, libertaram-na das tarefas pouco significativas
de “cobrir pontinhos”, “levar o osso para o cachorrinho”, “apontar a cadeira que
está à esquerda da mesa”, “corresponder vogais”, etc.
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A Teoria Sociointeracionista difere das duas anteriores. A Criança, para
Vigotsky, é sujeito social e criador e recriador de cultura. Baseado na construção
e uma epistemologia sócio-genética, ele chega à conclusão de que “ao mesmo
tempo em que a criança é transformada pelos valores culturais do seu ambiente,
ela transforma esse ambiente”.
Para Vigotsky, portanto, “ O conhecimento é fruto das interações sociais
que se estabelecem pela mediação dos signos culturais construídos na
coletividade e a linguagem é, primordialmente, responsável pelas interações
sociais”, nesse sentido ela fonte é fonte de conhecimento.
Segundo Oswald, “ A concepção da linguagem como fonte de
conhecimento traz para a prática a noção de que a produção escrita alienada é
aquela que materializa a consciência o escritor”. Então é necessária palavra
escrita e palavra vivida. E se o que interessa é a palavra vivida, a produção de
texto escrito supõe, necessariamente, deixar a vida vir à tona, permitindo o fluir da
existência.
Para que isto seja permitido e vivido na escola, uma revolução conceitual
tem que acontecer. Torna-se imprescindível fazê-lo a respeito da concepção da
criança, escola e alfabetização. Faz-se urgente re-significar o lugar da infância, da
instituição escolar, da leitura e da escrita na sociedade.
2. 3. O Domínio da Língua Escrita
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Ao entrar na escola o aluno traz no mínimo, seis anos de vivência, nos
quais sem dúvida, ocorreram experiências com textos,. Alguns, possivelmente já
lêem, atribuindo sentido a algumas palavras impressas. Outras distinguem letras,
números ou outros signos – é escrita. Já caminharam muito na exploração da
escrita dos suportes presentes no meio deles ( consideremos suporte qualquer
instrumento de alfabetização que possibilite acesso mais dinâmico ao
aprendizado).
O trabalho com a produção escrita deve levar em conta dois eixos:
• A escrita da linguagem, ou seja, a escrita como um sistema de
representação, através de signos convencionais que permitem
grafar a língua: aspectos fonográficos, ortografia e pontuação.
• A linguagem escrita, ou seja, a escrita e seus aspectos
discursivos, revelando características próprias dos diferentes
tipos de textos que circulam em sociedade.
O domínio da escrita da linguagem se desenvolve de forma processual,
por meio de um longo trabalho interno de construção de hipóteses a respeito do
que é escrita e de como se escreve.
Os trabalhos de Emilia Ferreiro e Ana Teberosky defendem que o
aprendizado da língua escrita se dá por etapas não fixas e não lineares. A
respeito disso, podemos apresentá-las didaticamente, da seguinte maneira:
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NÍVEL 1 – FASE PRÉ-SILÁBICA:
“ Na psicogênese da alfabetização, a aquisição de uma hipótese cognitiva capacita a criança a novos conhecimentos. Por exemplo, a construção da hipótese de que o texto está no lugar do desenho capacita a criança a escrever o que pensa ( a imagem mental), pois nesse caso, a escrita é dentro do processo da alfabetização, permite, à criança escrever, pela primeira vez, o som que ouve e não mais ‘escrever a idéia’ que pensa.” (MATUI,Giron - Construtivismo, p.117-7).
• Produz riscos e/ou rabiscos típicos da escrita;
• É comum que ela não separe letras e números;
• Usa os mesmos sinais gráficos para escrever tudo o que
deseja;
• Exige, de modo geral, um mínimo de três letras para ler;
• Acha que os nomes das pessoas e das coisas têm relação com
seu tamanho ou idade;
• Para ler ou escrever exige caracteres gráficos variados (
variação interna )
• Ao final desta fase, a criança imprime diferenças nas grafias
das palavras ( variação externa : palavras diferentes = escritas
diferentes) e a forma do grafismo é a mais definida, havendo
semelhanças com a letras.
Neste momento inicial, a escrita é, para a criança, algo oposto a tudo o
que não considera um desenho. Ela inicia o caminho da apropriação da escrita
imitando e tentando copiar grafismos (traçados gráficos contínuos como o da
escrita); busca, assim, diferenciá-los de suas anteriores garatujas ou desenhos
(inicialmente sem, e, posteriormente com figuração). Seu repertório de traços
gráficos , no entanto,não permitem diferenciar sua intenção ao desenhar ou
escrever, tornando-se necessária perguntar a criança qual foi seu objetivo. Mais
adiante, a produção da criança começa a distanciar-se de um desenho, e é
28
possível identificar algumas características formais da escrita , como marcas
gráficas organizadas linearmente semelhante ao traço das letras.
À medida que avançam neste nível, as crianças começam a estabelecer
exigências que constituíram dois importantes princípios organizadores na
formalização de suas hipóteses sobre o sistema de escrita: as variações
quantitativas ( é preciso um número mínimo de letras para que alguma palavra
seja escrita – geralmente entre duas e quatro letras) e qualitativas ( é necessário
um número mínimo de variações de caracteres para que se possa ler uma
palavra).
A criança prossegue fazendo suas descobertas através de várias
tentativas para que suas produções se assemelhem formalmente a escrita social.
Quer buscando registrar diferenças entre as palavras por meio de diferentes
quantidades de letras, quer experimentando novas posições ou variações dos
caracteres empregados para a “escrita” de suas palavras.
A descoberta de que a escrita apresenta um valor sonoro, isto é, de que a
escrita apresenta a fala, levará a criança a formular uma hipótese que a
estimulará a prosseguir com suas investigações: a hipótese silábica.
NIVEL II – HIPÓTESE SILÁBICA
A hipótese silábica apresenta um salto qualitativo no processo de
construção da escrita pela criança, já que é a primeira hipótese que de fato
obedece a um critério relacional entre as unidade da escrita e da linguagem oral,
29
a chamada “ correspondência sonora” . É neste nível que a criança começa a
estabelecer os primeiros vínculos de correspondência entre a fala e a escrita, uma
vez que acredita que cada letra representa uma sílaba (a menor unidade de
emissão sonora). Percebemos, nesta fase, a importância de considerar as
contradições e os conflitos pelos quais a criança passa como movimentos
essenciais para a apropriação do sistema de escrita: se até este nível a hipótese
era a da quantidade mínima de caracteres – em outras palavras, uma única letra
não servia para ler – e, agora, para que cada sílaba seja representada por uma
letra e para que o valor sonoro convencional seja considerado a criança
necessitará reformular seus princípios, buscando novas respostas que a
satisfaçam.
Inicialmente a criança não mostrará preocupação no sentido de que a
letra utilizada seja de fato a correspondente à da escritura convencional das
sílabas da palavra; ela pode ser até mesmo uma grafia que não guarde
similaridade com nenhuma letra. Sua preocupação reside, a princípio, nos
aspectos quantitativos; posteriormente, ela formulará novas hipóteses que a
levarão a percepção de que cada sílaba deve apresentar um vínculo com algum
aspecto sonoro da palavra e, conseqüentemente com sua escrita convencional.
A partir deste nível, se o educador conhece o contexto da situação de
escrita, poderá “ler” as produções dos alunos sem necessidade de pedir que eles,
autores contem o que escreveram.
• A criança tenta dar um valor sonoro às letras. Cada letra vale
por uma sílaba.
• Fase constituída por inúmeros conflitos que levarão a novos
avanços. Para resolvê-los a criança acrescenta mais letras às
30
palavras monossílabas ou dissílabas, tentando compô-las ou
intercala letras diferentes, mantendo a forma fixa na primeira e
na última letra.
NIVEL III – HIPÓTESE SILÁBICO - ALFABÉTICA
Este nível caracteriza-se como um período de transição, em que a
criança mantém e que questiona, e simultaneamente, as relações silábicas, e por
isso, seus registros incluem sílabas representadas por uma letra e outra com mais
de uma letra. É uma etapa em que os alunos se esforçam para dar mais sentido
às hipóteses que fazem sobre os enunciados sonoros, procurando encontrar
unidades menores que a sílaba (os fonemas ) que justifiquem a possibilidade de
representá-la com mais de uma letra. É um momento fundamental no
desenvolvimento do processo pessoal do aluno quando as informações que
recebe do meio, as conquista pessoais nos níveis anteriores e a insatisfação por
não conseguir ainda “decifrar” como o sistema de escrita se estrutura acaba
gerando inúmeros conflitos cognitivos que desestabilizarão os princípios
norteadores: ou da quantidade e o da variedade.
Neste nível, a criança se mostra capaz de produzir escritas com maior
correspondência silábica e a correspondência alfabética.
Ao reconhecer que sua escrita ainda não pode ser lida - por exemplo, o
fato de escrever uma palavra dissílaba registrando apenas vogais convencionais (
OA para bola ) – a criança percebe que pode também representar da mesma
forma outras palavras que apresentam as mesma vogais (boca e mola, por
31
exemplo); Isso fará com que a criança se desafiada e orientada pelo educador
consiga refletir e avançar para a escrita alfabética.
• O conflito entre a hipótese silábica e a exigência de o mínimo
de letras leva a criança a abandonar a hipótese silábica e a
fazer uma análise além da sílaba.
• A criança começa a grafar alguma sílabas completas, embora
ainda permaneçam sílabas representadas por uma só letra.
NÍVEL IV – ESCRITA ALFABÉTICA
O nível alfabético representa a conquista definitiva do sistema de escrita
por meio do reconhecimento, pela criança de que cada letra representa um som,
o que estabiliza a hipótese de correspondência de tipo alfabético e garante que a
criança consiga escrever de acordo com ela. Ao reconstruir os sistemas
lingüísticos, compreendendo sua organização, os registros dos alunos, a partir de
então, passam a apresentar quase todas as características do sistema
convencional, ainda que muitas perguntas e respostas sobre outros aspectos
convencionais da escrita precisem ser formuladas e respondidas, como por
exemplo como se dá a separação entre as palavras, quais são as regras de
pontuação e as normas ortográficas.
• A criança compreende que cada um dos caracteres da escrita
corresponde a valores sonoros menores que a sílaba e a realiza,
32
sistematicamente, uma análise sonora dos fonemas das palavras
que vai escrever.
• A partir deste momento, a criança se defrontará com as
dificuldades próprias da ortografia. Através da análise e reflexão
sobre a língua, percebe suas regularidades e irregularidades até
que possa chegar ao domínio da escrita oficial.
Percebendo a complexidade do processo de aquisição do código escrito,
cabe a escola planejar atividades de contato com os mais diferentes materiais
escritos em contextos significativos, permitindo aos alunos vivenciarem suas
hipóteses a respeito da escrita e estimular o pensamento e o confronto com a
escrita oficial.
Favorecendo aos alunos a explorarem a maior variedade e diversidade
possível de materiais escritos, sempre com liberdade e evitando restrições, lendo
à sua maneia, a criança estará construindo a significação de um texto a partir das
responsabilidades que encontra de coordenar múltiplas informações: imagens,
portador, assunto, função, etc. Também escrevendo a sua maneira colocando
sobre o papel o que pensa sobre o sistema de escrita, exercitando-se em
diferentes situações, a criança acaba fazendo com que seus próprios textos
constituam importantes desafios que a impulsionem a avançar.
Os processos de iniciação à leitura e à escrita, dependem de suas
condições centrais e indissociáveis: a construção de um verdadeiro “ambiente
alfabetizador” e a “intervenção” específica do educador de acordo com o nível de
conceitualização em que a criança se encontra. Criar um ambiente alfabetizador é
33
muito mais que apresentar um ambiente estimulador, repleto de livros, jornais,
revistas, etc. Este deve ser, essencialmente, um ambiente constituído de ações:
ações de leitura e escrita que se realizam diante das crianças e com as
crianças.Dessa maneira, os alunos entram em contato com as características dos
textos escritos e antes mesmo de poderem lê-los sozinhos, fato que significará
uma grande ajuda no processo de aproximação com a leitura convencional.
Quanto às intervenções específicas do educador, essas ações podem
consistir em dar uma simples informação, facilmente assimiláveis ou guiar o aluno
para que enfrente situações desafiadoras que desestabilizem certos esquemas
que devem ser superados para que possa avançar.
Dentro da perspectivas socioconstrutivista de aprendizagem, o professor
aprende a trabalhar interferindo e mediando de diferentes maneiras e utilizando
recursos didáticos, mas sempre a partir da relação que estabelece com o grupo
de alunos.
“Tenho utilizado o termo mediador para definir o papel do
professor.Mediador da relação entre o aprendiz e a escrita, entre
o sujeito e o objeto do conhecimento. Mediação nada mais é do
que uma intervenção planejada para favorecer a ação do aprendiz
sobre o objeto da escrita, ação esta que se encontra na origem da
aprendizagem”(WEISZ, Telma, p.43, 1988)
Contando com múltiplos portadores de texto, conhecendo as idéias dos
alunos e os conflitos que enfrentam, validando a importância desses conflitos
cognitivos na passagem de um estado de menor conhecimento para outro maior
conhecimento, estimulando a troca entre os colegas, o professor estará
34
realizando atos de leitura e de escrita, estabelecendo diálogos, e não uma
conversação “ surda” , como costuma ocorrer quando um interlocutor não
consegue ou não deseja “ ouvir” as necessidades do outro.
35
CAPÍTULO III
A FUNÇÃO SOCIAL DA ESCRITA
3. 1. A Prática Social da Leitura e da Escrita
Embora saibamos que todos os alunos detêm saberes sobre a escrita
antes de ingressarem na escola, também sabemos que tais saberes se
diversificam em extensão e qualidade. Poucos alunos, uma minoria privilegiada,
são capazes de atribuir significado aos diversos textos com que terá que lhe dar
agora e no futuro.
Sabe-se que a escola tem produzido analfabetos funcionais, isto é,
pessoas que assinam o nome, traduzem placas de ônibus, soletram pequenos
textos de seu cotidiano, mas tem dificuldade de entender o escrito e não
encontram sentido ou prazer em continuar seu aprendizado. É importante
observar na prática da sala de aula:
• Diversidade de textos;
• Uso de registros diversos;
• Atividades que exigem ação interativa dos usuários e do
professor frente aos textos;
• Insistência no posicionamento do aluno em todas as ações
interativas ou isoladas.
36
E na combinação de tais fatores que o alfabetizado se sentirá estimulado
a explorar e desvendar as pistas que o conduzirão ao fundamental: entender,
distinguir, gostar de escrever e ler vários textos.
Desta maneira estarão apropriando-se das práticas sociais de leitura e
escrita, entendendo esses dois processos na sua natureza distinta. Ler não é o
inverso de escrever, embora as aprendizagens da leitura e da escrita possam
ocorrem paralelamente.
“Vivemos um momento em que a escrita tem uma forte
presença por toda parte no meio urbano, nas paredes, nas
camisetas, na tela do computador, nos rótulos dos produtos, nas
placas de indicação das estradas. Para ser um cidadão que
exerce seus direitos, é preciso estar capacitado para fazer uma
leitura crítica das mensagens escritas – uma leitura compreensiva
que permita comparações, extraía conseqüências dessas
comparações, etc . Portanto, hoje, não se pode considerar que
alguém esteja alfabetizado apenas porque é capaz de ler
instruções simples, ou porque sabe assinar. Não há a menor
dúvida de que temos de ser capazes de formar pessoas que
saibam expressar-se por escrito em diferentes gêneros
discursivos: que saibam redigir uma petição para uma autoridade,
escrever uma carta à um amigo e – porque não? – escrever sua
própria história, se quiserem contá-la a outras pessoas deste
mundo.”(FERREIRO, Emília – Significado da escrita no mundo
atual )
Diante destes aspectos abordados, devemos também,nós professores
percebermos como sujeitos de um processo e que na interlocução com os nossos
alunos realizemos trocas, percepções e linguagens. É necessário e fundamental
que o professor também esteja em processo de “ letrar-se”, ou seja, interagir
37
socialmente com a leitura e a escrita mostrado para os pequenos leitores, a
felicidade de ser leitor e escritor de textos.
Viver é sempre ler o mundo em uma afirmação de autonomia,
manifestação de uma unidade, que todo ser é dotado, e que necessita.
Leitura é como exercício e canal de ligação do indivíduo com o mundo
como prática de redefinições geradoras da própria individualidade da visão
particular, única, subjetiva de mundo.
Nesta sociedade de excluídos, a maioria da população permanece
privada de direitos elementares, as vezes até o direito a vida. Leitura é conquista,
é reverter a exclusão, é rejeitar a manipulação, é imaginar destinos, se apropriar
do presente, é transformação, é mudança, projetar protagonistas em uma
sociedade globalizada e que o conhecimento do mundo letrado lhe permita alçar
vôos à um novo horizonte e projeto de vida.
Sabemos que a meta é ambiciosa, mas é preciso acreditar no possível e
investir nosso talento na base deste objetivo: fazer de nossos alunos,
alfabetizados funcionais.
38
CAPÍTULO IV
A LÍNGUA, INSTRUMENTO DE COMUNICAÇÃO
4. 1. A Aquisição da Linguagem e o Ensino da Língua Portuguesa
A língua se define como sendo um sistema de sinais orais ou escritos que
os indivíduos de uma sociedade utilizam como instrumentos de comunicação,
cada uma a sua maneira. Enquanto código (conjunto de unidades mínimas de
número fixo de níveis diferentes, mas regras combinatórias) a língua é comum a
todos e existe em função da coletividade. A sua utilização, em qualquer ato de
comunicação, é diferente cada vez que se realiza, pois as regras combinatórias
são utilizadas diferentemente. Assim, um indivíduo, ao utilizar a língua, que é
comum aos demais indivíduos da mesma comunidade, o fará de formas
diferentes e, ainda, cada ato de fala desse mesmo indivíduo será diferente aos
demais.
Verifica-se, pois, a existência de uma grande variedade de formas de
expressão em qualquer língua usada para vários propósitos por um grande
número de falantes. O problema da variação remete ao julgamento do que é certo
ou errado em linguagem que, por sua vez, são julgamentos relativos dependentes
do conceito de normas.
Para Travaglia ( 1984, p.18 – 36 ), norma em linguagem pode ser tratada
dentro de duas perspectivas. Tradicionalmente se considera dentro da norma a
linguagem que estiver de acordo com os padrões de língua culta que a gramática
39
preconiza e, numa perspectiva menos tradicional, norma seria o uso comum que
vários indivíduos de um mesmo grupo social fazem da língua.
De acordo com Geraldi ( 1998, p. 38 – 43), do ponto sociointeracionista
da linguagem, a variedade lingüística que a criança domina, em sua modalidade
oral foi aprendida nos processos interlocutivos de que participou. E para participar
de tais processos a criança não aprendeu antes a linguagem par depois interagir:
constitui-se como o sujeito que é ao mesmo tempo em que construiu para a sua
linguagem que não é só sua, mas do seu grupo social. Foram interações em sua
família, em seu grupo de amigos, em seu bairro, etc. Nesses processos
interlocutivos e que a aprendizagem se deu, antes deles não havia uma
linguagem pronta a que tivesse que, não produtivamente, a ceder. Ao contrario,
nas interações de que fez parte seu trabalho foi também constituído desta
linguagem: negociou sentidos, incorporou a seus conhecimentos prévios novos
sentidos, constitui-se como interlocutor, escolhendo estratégias de interação. E
compreendeu a fala dos outros.
Pela escrita, cuja aprendizagem exige mediadores, expande-se nas
escolas a oportunidade de processos interlocutivos. Se no período anterior à
escola a criança foi capaz de extrair, nas situações mais variadas de
conversações de que participou e continuará participando, a forma e
funcionamento da linguagem em uso, na escola abrem-se novas possibilidades
de interações, mas elas mudam em sua natureza.
Dentro da diversidade de usos lingüísticos, o problema das duas
modalidades da língua ( oral e escrita) assume uma importância fundamental para
o professor de língua. Isso por acreditar-se que grande parte dos problemas de
40
alfabetização e da aprendizagem em geral decorre da não observância pelo
professor das diferenças existentes entre esses dois registros de língua. O
professor deve estar atento ao fato de que a língua oral utilizada pelo aluno será
uma referência constante e necessária no aprendizado da língua escrita, portanto
haverá interferências do registro oral no escrito que deve ser observada
atentamente pelo professor, uma vez que neste aprendizado não há uma
transferência pura e simples daquele para este código. A língua oral é, isto sim, a
base em que se fundamenta o ensino da língua escrita.
A aprendizagem da língua escrita não possui o caráter espontâneo como
a aprendizagem da língua oral. A aquisição das habilidades lingüísticas de ler e
escrever se realiza geralmente na escola. Há que se utilizar uma técnica especial
para se ensinar a representação gráfica dos vários aspectos lingüísticos. A
aprendizagem se fará lentamente, principalmente porque nosso sistema
ortográfico se distancia do sistema fonológico da língua.
A gramática de uma língua conforme pretende a lingüística, é o sistema
de regras que especifica a relação associativa entre uma forma fonética ideal e
uma interpretação semântica. É preciso considerar entretanto que o termo
“gramática” é usado de forma ambígua. Pode significar, por exemplo, o
conhecimento que o falante-ouvinte tem da língua ou seja o sistema de regras por
ele interiorizado e que determina conexões de som – sentido ou, ainda, a teoria
construída pelo lingüista como hipótese descritiva a partir da gramática que o
falante ouvinte tem internalizada.
Também consideramos o conceito tradicional de gramática que é um livro
onde se encontram regras do se deve ou não dizer, ao lado de uma análise de
certas estruturas sintáticas de uma língua e uma classificação de suas formas
41
morfológicas e léxicas. Críticas severas aparecem a essa gramática uma vez que
traz, na consideração dos elementos lingüísticos, uma multiplicidade de critérios,
pecando,ainda,pela falta de objetividade de análise, por apresentar juízos de valor
e por trazer, como exemplos de boa linguagem, autores portugueses do século
passado ou, na melhor das hipóteses do começo do século.
É preciso frisar que, de qualquer maneira, o professor deve estar atento
às mudanças da língua e não pretender utilizar uma norma que não mais
represente a realidade do uso culto, atual e corrente.Também é preciso considera
que a escolha de uma língua padrão-culta para se ensinar nas escolas atendem
razões de ordens práticas e científicas.O importante é que o professor tenha uma
visão ampla das estruturas lingüísticas treinadas e, sem dogmatismo, possibilite o
desenvolvimento das habilidades lingüísticas da criança.
42
CAPÍTULO V
O PAPEL DO ORIENTADOR NO ESPAÇO ESCOLAR
LUCK ( 1999 ), escrevendo sobre a integração da equipe técnico-
administrativa, destaca o fracionamento do processo educativo: “ O mesmo
parece constituir-se de uma justaposição de atividades, experiências, unidades,
conteúdos, disciplinas, matérias, áreas de estudo que se unem, mas não somam
e não se integram”.
Segundo a autora, para que haja integração do processo educativo,
compreendendo seus papéis e suas inter-relações, criando-se mecanismos de
comunicação entre os diversos setores da escola.
O trabalho do professor coordenador é imprescindível uma atividade de
formação continuada em exercício, tornando-se um dinamizador da formação
também de sua equipe de educadores, estimulando-os para suas próprias
funções. Um dos propósitos é que a educação continuada aconteça de
preferência, no próprio espaço de trabalho, facilitando o acesso a todos os
educadores, tendo como referencia básica a realidade dos estabelecimentos de
ensino concreta. Criando situações de reflexos sobre suas práticas pedagógicas,
analisando os aspectos e características das necessidades e anseios de toda
comunidade escolar, valorizando seus posicionamentos, despertando assim, um
entrosamento harmônico com a prática e as possibilidades de crescimento,
procurando envolve-los nos momentos de reflexão coletiva, nas reuniões
pedagógicas. Redefinindo democraticamente, os espaços escolares, derrubando
muros e se integrando a esta teia de saberes e fazeres com o propósito de
43
acompanhar a velocidade de produção e disseminação de conhecimentos que a
sociedade hoje esta projetada.
O Orientador deve pautar seu trabalho na busca de compreender o
desenvolvimento do grupo nos vários domínios e nas relações com o meio social
da comunidade escolar. Apontando para o exercício da cidadania, fazendo um
convite à criatividade e inovação no terreno fundamental da docência, onde o
aluno será agente da sua própria aprendizagem e tenha autonomia de rejeitar a
apresentação de conhecimentos prontos, definidos ou estáticos. Assim, as
opções políticas assumidas pelo coordenador educacional, com reflexões sobre
procedimentos que correspondem a ponto de vista das classes oprimidas,
buscando uma orientação na libertação humana.
A questão de como a equipe de Orientação no processo escolar se
engaja na construção de determinadas vertentes para a sociedade, seu
posicionamento frente a consciência de poder de transformação ou a alternativa
que a escola tem para contribuir com outros setores da atividade humana, na
mobilidade social, exige um repensar nos processo, técnicas, instrumentos,
metodologias, conteúdos e principalmente postura, para uma escola que opte
pelo que quer ajudar a transformar. Nesta ótica educacional a educação a
educação se dará como instrumento fundamental para constituir a cidadania
necessária para um novo contrato social. Isso implica em captar o ponto de
mutação originário de uma nova organização da cultura e do conhecimento; em
dar inteligibilidade aos processos educativos constitutivos dos novos sujeitos
sociais; em decifrar o imaginário que institui o novo, na forma de admitir uma
gestão voltada para o bem estar coletivo social.
44
Objetivando um melhor conhecimento da realidade, tanto assim, suas
utopias com relação às suas expectativas de mundo, o planejamento pode se dar
no nível político, pois as informações coletadas permitem planejar pensando no
para quê e no para quem.
“ A orientação para o futuro faz parte da natureza humana e
se constitui, aliás, no próprio sentido da educação o vir-a –ser, o
desenvolvimento são alguns conceitos que representam essa
tendência humana. Ações, vidas e instituições positivas são
aquelas que se orientam por uma visão de futuro que por si só
transforma o presente, dando-lhe um ímpeto de direcionamento,
de construção, de missão.”(LUCK, 1991 – “ Orientação em
Planejamento” – 15ª ed:28)
Uma das principais preocupações do Orientador que coordena o trabalho
pedagógico em uma escola, é a de promover um “clima institucional” favorável às
transformações que se deseja.
As características de participação de grupo se dá na confiança dos
professores, motivação através do compromisso com o processo de
democratização da escola e do conhecimento, processos de comunicação
descendente, ascendente e horizontal, processo de tomada de decisões
disseminado pela organização, pois a eficácia da escola e o sucesso dos alunos
são afetados pelo clima organizacional, numa relação de reciprocidade, em um
ambiente alegre, animado e participativo. Pretendendo integrar os profissionais do
grupo, dando-lhes capacidade de reflexão, capacidade de autonomia intelectual,
capacidade de crítica iniciativa no enfrentamento de diversas situações
educativas. Isso exige uma sólida formação teórica que possa mediar as relações
entre o professor, os alunos, o conhecimento e as múltiplas e complexas
questões sociais, culturais e políticas que envolvem o cotidiano escolar.
45
Colocando-se sempre no lugar do outro, o trabalho do Orientador
permitirá questionamentos de cada um dos membros e o levará a reflexões de
que somos apenas um pontinho, nessa rede de relacionamentos, porém com o
mesmo peso e importância como os demais pontos, que tecem esta rede, que
são educadores. Mantendo sua neutralidade diante de seu trabalho, apesar de
trabalhar com valores e ideais que acredite e pautado em embasamento teórico
sólido, renunciando a singularidade de senso comum.
Esta educação nos permite uma reflexão em toda equipe interdisciplinar
escolar, propiciando rede de saberes, produzindo uma perspectiva de cidadania
nestas trocas mútuas, visando resgatar sua identidade a cumplicidade com as
diferenças, com o olhar no outro, estreitando relações, aproximando-o nas
relações homem/sociedade, libertando-o de seus medos ansiedades, sentimentos
de competições, receios.
46
CONCLUSÃO
O problema das diferentes variações lingüísticas é questão da opção que
o professor terá de fazer, uma vez que não tem condições de trabalhar com todas
as variantes. Sabemos que por razões sociais, econômicas e políticas, a opção
da escola neste aspecto tem sido de certa forma pré-determinada: trabalhará com
a língua padrão e culta do país, aquela consagrada e registrada nas gramáticas
normativas. Todavia é preciso um cuidado muito grande para não perpetuar e
prolongar um fato que tem servido apenas para criar nos estudantes, a ojeriza
pelo estudo da própria língua: é a tendência classitizante de nossas gramáticas
que, tomando exemplos de autores da literatura brasileira e portuguesa,
apresentam uma linguagem muito mais para o literário e com padrões que vão,
em sua maioria , da época clássica à realista. Essa forma de utilização da
linguagem, afastada da realidade atual, cria uma série de problemas para o
ensino-aprendizagem da língua.
Esse método tradicional, desvinculado de uma base lingüística,
pedagógica e psicológica, atua trabalhando a língua de maneira fragmentaria e
focaliza a língua analiticamente, o que dificulta uma visão global da mesma pelo
aluno e tende ao ensino de formas e estruturas que se afastam sensivelmente do
uso corrente.
O método tradicional esquece dois princípios básicos para o início do
ensino-aprendizagem da língua portuguesa: ter como um ponto de partida o
conhecimento da língua oral que o aluno já domina e ter em mente um princípio
de que numa estrutura lingüística, os elementos nunca vêm isolados – tudo
participa de tudo.
47
Essa “nova” forma de se trabalhar o processo de alfabetização impõe
necessariamente uma nova forma de relação de ensino, pautada numa prática de
leitura e escrita discursiva, grande interação verbal, ricos momentos de diálogo,
relação professo-aluno recíproca, etc; onde o professor esteja constantemente
inovando, desde a organização do espaço físico de sala de aula até as
metodologias e dinâmicas utilizadas na mesma. Trabalhando desta forma onde
todos têm vez e voz, a escola não estará excluindo ou marginalizando alunos
provenientes de contextos sócias diferenciados. Estará, ao contrário, legando a
oportunidade de que todos venham a exercer seus direitos e livre arbítrio no
interior de uma escola que se diz democrática, mas que tem se apresentado,
muitas vezes, tradicionalista, e excludente. E, como a alfabetização constitui a
base e o início do processo escolar da vida do aluno, acredita-se que o ensino
democrático deva partir, principalmente daí, de forma a disseminar-se e atingir a
coletividade.
Portanto, é urgente que o(a) educador(a), especialmente das séries
iniciais, reveja sua práxis, de forma a melhor proporcionar as crianças espaços de
discussões, de elaboração de idéias próprias, que venham a favorecer e
fortalecer o processo de crescimento e apreensão da linguagem escrita da
criança, aproveitando o saber pré-existente das mesmas tornando-se – sujeito
que ensina e sujeito que aprende – parceiros de um processo social que levará ao
crescimento de ambos, superando o saber mecânico repassado pela escola
atualmente. É importante ressaltar, contudo, que a obra de Smolka é preciosa no
sentido de indicar caminhos a serem seguidos por aqueles que pretendem
traduzir uma práxis educativa crítica, humanizadora e consciente. Porém, muito
ainda há que se fazer para atingir essa meta, pois sabe-se que o problema da
escola não é apenas de ordem metodológica, é, sobretudo, de ordem político-
social. Muitas transformações hão de ser feitas no contexto social e na escola
como um todo, pois o próprio processo de alfabetização discursivo exige
condições aptas e adequadas para sua implementação, o que é bastante
dificultado, dadas as atuais condições de funcionamento da escola pública
48
brasileira, caracterizada pela superlotação de alunos nas classes, sobrecarga de
horas de trabalho dos professores e formação insuficiente, etc..Então, assumir a
tarefa de proceder o trabalho de alfabetização segundo a metodologia discursiva
proposta por Smolka, implica, necessariamente, assumir uma postura política de
transformação social dentro da escola e fora dela.
49
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
BOUTON, C. P. O Desenvolvimento da Linguagem. São Paulo: Moraes, 1977.
DAVIS, F. A Comunicação Não-Verbal. São Paulo : Summus, 1979.
FERREIRO, Emília & TEBEROSKY, Ana. Psicogênese da Língua Escrita. Porto Alegre. Artes Médicas, 1986.
GERALDI, J. W. Linguagem e Ensino. Campinas : Mercado das Letras, 1998.
HOFFMANN, Jussara M. L. Avaliação Mediadora, uma Prática em construção da Pré-Escola à Universidade. Porto Alegre, Mediação Editora, 1993, 7ª ed.
LÜCK, Heloísa. Ação Integrada: Administração Supervisão e Orientação Educacional. Petrópolis, Vozes, 2003.
MENYUK, P. Aquisição e Desenvolvimento da Linguagem. São Paulo: Pioneira, 1975.
MONTEIRO, Maram. Leitura e Escrita. Uma análise dos problemas de aprendizagem de aprendizagem. Petrópolis : Vozes, 2004.
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TRAVAGLIA, L. C. ; ARAÚJO, M. H. S; PINTO, M. T. DE F. A. A Metodologia e a Prática de Ensino da Língua Portuguesa. Porto Alegre : Mercado Aberto, 1984.
VYGOTSKY, L. S. Pensamento e Linguagem. São Paulo, Martins Fontes, 1991.
WEISZ, Telma. “As Contribuições de psicogênese da Língua Escrita e Algumas Reflexões sobre a prática educativa de alfabetização”, in Cenp. Ciclo básico em jornada única; uma nova concepção de trabalho pedagógico. São Paulo, FDE, 1988: V.1.
50
ÍNDICE
FOLHA DE ROSTO 2
AGRADECIMENTO 3
DEDICATÓRIA 5
RESUMO 6
SUMÁRIO 7
INTRODUÇÃO 8
CAPÍTULO I
A Concepção da Escrita pela Criança 11
1.1. A Aquisição da Linguagem 11
1.2. O Desenvolvimento da Linguagem Não Verbal 16
CAPÍTULO II
A Construção da Escrita 20
2.1. A Escola e o Processo de Aprendizagem 21
2.2 Caminhando para a Alfabetização 23
2. 3. O Domínio da Língua Escrita 25
CAPÍTULO III
A Função Social da Escrita 35
3. 1. A Prática Social da Leitura e da Escrita 35
CAPÍTULO IV
A Língua, Instrumento de Comunicação 38
51
4. 1. A Prática Social da Leitura e da Escrita 38
CAPÍTULO V
O Papel do Orientador no Espaço Escolar 42
CONCLUSÃO 46
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 49
ÍNDICE 50
ANEXOS 52
FOLHA DE AVALIAÇÃO 53
52
ANEXOS
53
FOLHA DE AVALIAÇÃO
Nome da Instituição: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
Título da Monografia: A CONSTRUÇÃO DA LEITURA E DA ESCRITA
NA EDUCAÇÃO INFANTIL
Autor: Adelina Mercedes Thomaz Cabral Arcângelo
Data da entrega: