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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” PROJETO A VEZ DO MESTRE A IMPORTÂNCIA DA ÉTICA NA FORMAÇÃO DO DOCENTE DO ENSINO SUPERIOR Por Denise Moraes de Almeida Orientadora Profª Diva Nereida Marques M. Maranhão Rio de Janeiro setembro/2004

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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

A IMPORTÂNCIA DA ÉTICA NA FORMAÇÃO DO DOCENTE

DO ENSINO SUPERIOR

Por

Denise Moraes de Almeida

Orientadora

Profª Diva Nereida Marques M. Maranhão

Rio de Janeiro

setembro/2004

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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

A IMPORTÂNCIA DA ÉTICA NA FORMAÇÃO DO DOCENTE

DO ENSINO SUPERIOR

Monografia apresentada à Universidade Cândido

Mendes como condição prévia para a conclusão do Curso

de Pós-Graduação “Lato Sensu” em Docência do Ensino

Superior.

Trabalho produzido por:

Denise Moraes de Almeida

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AGRADECIMENTOS

Agradeço ao Professor Carlos Bolonha, da

UCAM, que contribuiu significativamente para a

execução do meu trabalho.

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DEDICATÓRIA

Dedico esta monografia aos meus pais,

primeiros mestres da Ética; aos meus filhos, meus

maiores estímulos para ser ética; a meu avô

Joaquim e a meu marido Alonso, meus exemplos

de ética profissional.

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RESUMO

A Educação deve estar comprometida com os valores éticos. Educar não significa

somente informar ou transmitir conhecimentos, mas também na integração do educando aos

estilos de vida de sua sociedade.

A escola constitui-se em um espaço de excelência para o desenvolvimento das relações

humanas, pois permite a convivência entre as diferenças, a aprendizagem do respeito ao

próximo, a capacidade de compartilhar, a aceitação de derrotas e até a lidar com hierarquias.

Ela tende a refletir os conflitos existentes na sociedade.

O professor pode contribuir para a formação de seus educandos não só através de seu

comportamento, da sua história pessoal de vida, mas principalmente pelas regras de

convivência, explícitas ou não, que é capaz de estabelecer com estes, a partir de sua própria

maneira de ser e pensar.

A Ética não pode deixar de estar presente e permear todo esse processo. Esta não se

constitui apenas em um código de regras, sendo antes de mais nada a aquisição de hábitos e

atitudes que vão se converter em uma forma própria de viver. A Educação e, em especial, o

Ensino Superior, não pode ser neutra com relação a esta Ética, pelo contrário, deve-se cada

vez mais buscá-la e ao desenvolvimento de seus valores dentro da Educação.

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METODOLOGIA

A metodologia utilizada neste projeto de monografia foi o da pesquisa bibliográfica,

através da qual se buscou o embasamento sobre a ética e seus valores.

O primeiro passo foi o levantamento de livros e demais fontes que tratassem do tema

proposto. Após esse levantamento, foi feita uma leitura seletiva de todo o material conseguido.

O conteúdo selecionado através da leitura prévia foi então sistematizado e enriquecido

com a experiência pessoal sobre o tema proposto.

O resultado de todo esse processo de estudo encontra-se desenvolvido nas páginas que

se seguem. Espera-se dessa maneira estar oferecendo uma parcela de contribuição na reflexão

sobre a viabilização de uma Ética na Educação e, sobretudo, na formação do docente do

Ensino Superior.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 8

CAPÍTULO I – A Ética 10

CAPÍTULO II – Moral 14

CAPÍTULO III – A Visão dos Pensadores Clássicos 21

CAPÍTULO IV – A Visão dos Pensadores Modernos 25

CAPÍTULO V – Ética e Profissão 30

CAPÍTULO VI – Virtudes Profissionais 36

CAPÍTULO VII – Ética e Educação 42

CONCLUSÃO 47

BIBLIOGRAFIA 49

ÍNDICE 50

ANEXOS 52

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INTRODUÇÃO

A cultura ocidental do século XX foi organizada de acordo com os valores da ciência e

da tecnologia, e grandes transformações ocorreram na história da humanidade.

Valores herdados das tradições greco-romana, cristã e renascentista, que se

constituíram nos pilares da sociedade ocidental durante séculos, deram lugar a valores de uma

sociedade industrial e posteriormente, altamente tecnicista.

Desta maneira, vivemos um momento em que a civilização contemporânea

praticamente perdeu as esperanças de conseguir uma nova ética social e política. Assim, tanto

o final do século XX quanto o início do XXI foram marcados basicamente pela indiferença e

pela apatia dos indivíduos.

O homem moderno vem sendo “engolido por um vazio” e diante disto estabeleceu-se

uma crise. Muitos, inclusive, encaram este vazio como a própria inexistência de valores aos

quais se possam apegar.

Chegamos então ao século XXI pedindo com urgência uma nova ética, uma política

diferente e o estabelecimento de valores capazes de nos orientar. Estamos, de certa forma,

carentes, sem saber como e onde vamos encontrar esses novos valores.

Como educadores, isso muito nos preocupa e este trabalho, sem ter a pretensão de

esgotar o assunto, tem como objetivo primordial dar a sua contribuição através de subsídios

que levem ao estabelecimento de uma nova ética capaz de suprir a carência do mundo

contemporâneo.

No capítulo I é feita uma breve conceituação de Ética e no capítulo II tratamos da

Moral, para começarmos a nos situar no tema proposto.

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Já nos capítulo III e IV, destacamos as contribuições, respectivamente, dos pensadores

antigos e dos modernos para o desenvolvimento da Ética.

Nos capítulos V e VI tratamos da ética profissional e das virtudes a serem

desenvolvidas no exercício profissional.

No capítulo VII, relacionamos a Ética com a Educação, enfocando a importância

daquela na formação de todos os níveis de educadores, principalmente os do Ensino Superior.

Em seguida, foram feitas algumas considerações finais com as quais fechamos o presente

trabalho.

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CAPÍTULO I

A ÉTICA

“Uma boa teoria ética deveria atender à pretensão de

universalidade, ainda que simultaneamente capaz de explicar as

variações de comportamento, características das diferentes

formações culturais e históricas.” (Álvaro L. M. Valls)

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1.1 – Campo da Ética

De uma maneira geral, as éticas tradicionais partem da idéia de que sua missão no

campo da teoria é dizer aos homens o que devem fazer, determinando-lhes os princípios ou

normas que devem pautar o seu comportamento. O campo da ética, desta maneira, é

transformado em uma espécie de regulador dos comportamentos morais a serem seguidos

pelos indivíduos ou por toda uma comunidade. A função essencial da ética reveste-se do

mesmo caráter de qualquer teoria, isto é, explicar, esclarecer e investigar uma realidade

específica, elaborando os conceitos a ela pertinentes.

1.2 – Definição de ética

De acordo com Adolfo Sánches Vásquez (2001), a ética corresponde a teoria do

comportamento moral dos homens na sua sociedade. Isto significa que ela é uma ciência que

trabalha especificamente com uma forma de comportamento humano.

A ética surgiu no período clássico grego. Os filósofos iniciaram neste período a

discussão das diferentes formas de comportamento nas sociedades, e a defender as mais

diferentes situações como sendo éticas.

O termo ethos, que significa ética em grego, designa a morada humana. O ser humano

destaca uma parte do mundo para moldá-la a sua maneira, e assim construir um abrigo para

protegê-lo permanentemente. A ética, entendida como morada humana, não é algo que já

esteja pronto e construído de uma só vez. O ser humano está em constante busca para tornar

cada vez mais habitável a casa que construiu para si.

Desta maneira, ético significa tudo o que pode ajudar a tornar melhor o ambiente, para

que este seja uma moradia agradável, que se sustente materialmente, que seja

psicologicamente integrada e também espiritualmente fecunda.

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Na Ética existe o permanente e o mutável. O permanente consiste na necessidade do

ser humano de possuir uma moradia, seja esta uma maloca indígena, uma casa no campo ou

um apartamento na zona urbana. Todos os indivíduos encontram-se envolvidos com a Ética,

uma vez que todos estão em busca de uma moradia permanente.

A parte mutável da ética seria o estilo específico como cada grupo constrói sua

morada. Este estilo é sempre diferente, podendo ser rústico, colonial, moderno, de palha, de

pedra, entre inúmeras outras possibilidades. Mas, embora o estilo possa ser diferente e

mutável, está ainda assim a serviço do permanente, que é a necessidade de se ter uma casa. A

casa, embora possa ser possuidora dos mais variados estilos, deverá sempre ser habitável.

Uma ética verdadeiramente humana origina-se da união perfeita entre o mutável e o

permanente.

1.3 – Ética e Filosofia

A concepção tradicional de Ética tinha uma forte tendência a reduzi-la meramente a

um dos capítulos da Filosofia, na maioria das vezes com valor especulativo, não deixando

espaço para o desenvolvimento da autonomia para se tornar uma Ciência e adquirir um caráter

normativo, capaz de dizer aos homens como deve ser o seu comportamento. Tal ética

filosófica preocupava-se mais em procurar a concordância com os princípios filosóficos

universais do que com a própria realidade. Como a Antropologia, a Psicologia e as ciências

sociais oferecem materiais de grande valor para o estudo do fato moral, não existe mais

justificativa para a existência de uma ética de cunho puramente filosófico, especulativo ou

dedutivo, dissociada da ciência e da própria realidade moral humana. O homem, enquanto ser

histórico, social, prático e que transforma de maneira consciente o mundo que o cerca, possui

um comportamento moral específico. Há toda uma série de conceitos com os quais a Ética

trabalha especificamente, como os da liberdade, da necessidade, do valor, da consciência, da

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sociabilidade, entre outros que pressupõem um esclarecimento filosófico próprio. Desta

maneira, trata-se de uma filosofia que se apóia na própria ciência.

1.4 – A Ética e as outras Ciências

A investigação, o estudo e a análise do comportamento de uma determinada sociedade

promove o conhecimento dos princípios e valores nela inseridos. Esse conhecimento vai

possibilitar a ocorrência de transformações. Ao se procurar indicar novos caminhos, são

discutidos basicamente dois propostos da Ética. A científica, que possui caráter investigativo

pelo qual vão sendo procuradas respostas para indagações prévias, e a normativa, onde,

através de normas e leis, vai ser dito aos homens como deve ser o seu comportamento e a sua

ação diante de certas situações. A Ética é uma forma específica de delimitação do

comportamento humano que se relaciona também com as outras ciências que, sob diversos

ângulos, também estudam as relações e o comportamento dos homens e da sociedade e por

isso são capazes de proporcionar dados e conclusões que podem contribuir para esclarecer o

tipo de comportamento humano peculiar que é o moral.

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CAPÍTULO II

A MORAL

“A moral é uma ciência prática, cujo objeto é o estudo e

a direção dos atos humanos em ordem a conseguir o último fim,

ou seja, a perfeição integral do homem, no que consiste a

felicidade. Os atos humanos são particulares, e assim, enquanto

ciência prática, a moral deve atender e descer ao particular.”

(Fraile)

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2.1 – Conceito de Moral

A palavra moral origina-se do latim – mos, mores – e designa os costumes e as

tradições, segundo Adolfo Sánchez Vásquez. Quando um modo de organização de uma casa é

considerado bom e passa a ser uma referência coletiva, sendo reproduzido constantemente, dá-

se origem a uma tradição de um estilo arquitetônico. Quando partimos para o campo dos

comportamentos humanos, isto se traduz pelo surgimento da moral.

A moral entendida nesse sentido estaria ligada aos costumes e tradições específicas de

cada povo, vinculando-se a um sistema de valores, específico de cada cultura e de cada

caminho espiritual.

A moral é sempre pluralista, devido à sua natureza. Desta forma, existem muitas

morais, de acordo com a quantidade de culturas e estilos de casa. A moral dos yanomamis, por

exemplo, é diferente da moral dos garimpeiros. Existem ainda morais diferentes para

diferentes grupos dentro da mesma cultura. Podemos diferenciar claramente a moral do

empresário, que tem como objetivo o lucro, da moral do operário, que busca o aumento de

salário para o atendimento de suas necessidades mais básicas. Trata-se aqui da moral de

classes. Existem morais dentro das diferentes profissões. Os médicos, os advogados, os

comerciantes, os psicanalistas, os padres, os catadores de lixo, e todas as outras áreas de

trabalho humanas possuem sua própria moral, enquanto entidade de classe. Essas morais

deveriam, pelo menos em tese, ajudar a tornar mais habitável a moradia humana, a sociedade

inteira e a casa comum, o próprio planeta Terra.

Alguns sistemas morais permanecem inalterados através dos séculos. São reproduzidos

repetidamente e vividos da mesma forma por determinadas populações ou regiões culturais.

Assim ocorre com a poligamia entre os povos árabes e a monogamia das culturas ocidentais.

De acordo com a sua natureza, a moral é concretizada como um sistema fechado.

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A ética desinstala a moral, impedindo que ela se feche sobre si mesma. Vai obrigá-la à

renovação constante no que concerne à garantia de habitalidade e de sustentabilidade da

moradia humana seja no sentido pessoal, social ou planetário.

Podemos então dizer que a moral representa um conjunto de atos repetidos,

tradicionais, consagrados. A ética dá corpo a um conjunto de atitudes que vão além desses

atos. O ato tem como característica o fato de ser concreto e fechado em si mesmo. A atitude,

pelo contrário, está sempre aberta à vida e suas possibilidades infinitas. A Ética pode nos

proporcionar a coragem para abandonar elementos obsoletos nas várias morais.

A Ética, entendida então como filosofia moral, constitui-se em uma reflexão

sistemática acerca do comportamento humano da moral. Ela vai investigar, analisar e explicar

a moral de uma determinada sociedade. É de competência da ética, por exemplo, o estudo da

origem da moral, da distinção entre o comportamento moral e outras formas de agir, da

liberdade e da responsabilidade e, ainda, de questões como a prática do aborto, da eutanásia e

da pena de morte. A Ética não direciona o que deve ou não ser feito em cada caso concreto.

Essa é a competência da moral. A partir dos fatos morais, a ética tira conclusões e elabora

princípios acerca do comportamento moral.

2.2 – Caráter Histórico e Moral

A moral constitui um fato histórico e, consequentemente, a Ética, enquanto ciência da

moral, não pode concebê-la como um aspecto da realidade humana mutável com o tempo. Ela

enfoca o modo comportamental do homem. A maioria das doutrinas éticas levam ao

estabelecimento de prioridades morais históricas, concretas. Podemos encontrar três campos

de reflexão histórico morais, que seguem direções fundamentais:

♦ Deus como fonte da moral, que tem como enfoque o poder sobrenatural.

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♦ A natureza como fonte da moral, que iguala o homem ao animal, como um fator

biológico da moral e seus sentimentos.

♦ O homem como origem e fonte da moral, onde este é um ser majoritário, possuidor

de uma essência eterna e imutável inerente a outros indivíduos.

Estas três concepções concordam na busca pela origem e a fonte da moral fora do

homem concreto, real, ou seja, do homem enquanto ser histórico e social. Acompanham o

comportamento moral no homem desde os primórdios de sua existência, nas sociedades mais

primitivas, a mudança e o desenvolvimento da moral nas diversas sociedades concretas. O

reconhecimento de tais mudanças ocorridas através da história vai levantar dois problemas.

Primeiramente, o das causas ou fatores que determinam estas mudanças e depois o seu sentido

ou direção.

2.3 – Origens da Moral

A moral só pode surgir de maneira natural, como substituição ou como auto-defesa. A

sua própria fragilidade diante das pressões do mundo que a cerca é determinante para que tais

pressões reunam todo o seu poder para tentar dominá-la, despendendo também todos os

esforços possíveis para tentar multiplicar o seu poder. Em um trabalho de caráter coletivo, a

moral nasceu de uma série de normas, mandamentos ou prescrições não escritas, partindo dos

atos ou qualidades que beneficiavam a comunidade, e adquiriu a finalidade de assegurar a

concordância do comportamento de cada um para buscar interesses coletivos. A necessidade

de ajuste do bom comportamento aos interesses da coletividade gerou a consideração de bom

ou proveitoso tudo aquilo que contribuísse para o reforço da união ou da atividade comum e a

que se considerasse como mau ou perigoso o oposto, aquilo que contribuísse para delimitar ou

minar a união. O estabelecimento do que é bom e do que é mau, dos deveres e das obrigações

era baseado naquilo que fosse considerado bom e útil para a comunidade; uma moral única e

válida para todos, limitada pelo próprio âmbito. O indivíduo existia somente fundido com a

comunidade, onde não podia possuir interesses pessoais, exclusivos, que entrassem em choque

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com os outros membros da coletividade. Esta coletividade se apresentava como um limite para

a moral, tratando-se esta de uma moral pouco desenvolvida, uma vez que a moral mais

elevada baseia-se na responsabilidade pessoal.

2.4 – Mudanças Histórico-Sociais e Mudanças da Moral

Com o desenvolvimento da criação de gado, da agricultura e dos trabalhos manuais,

que levaram a um aumento geral da produtividade, e com o surgimento de novas forças de

trabalho (pioneiros de guerra em escravos), a produção elevou-se, gerando produtos

excedentes, os quais não eram exigidos pelas necessidades imediatas e ocasionaram a

desigualdade de bens entre os chefes de família. Com a decomposição do regime comunal e o

surgimento da propriedade, acentuou-se a divisão entre homens livres e escravos. A

propriedade livrava seu proprietário da necessidade de trabalhar. O trabalho físico acabou

transformando-se em uma ocupação indigna para homens livres. Os escravos não eram

considerados como pessoas mas sim como coisas, sendo comercializados como qualquer outro

objeto. Dividiu-se a sociedade antiga em duas classes antagônicas (divisão de moral).

Passaram a existir duas morais, sendo uma dominante, dos homens livres – considerada como

a verdadeira, e outra dos escravos. A moral dos homens livres, além de ser efetiva, vivida,

também tinha fundamento e justificação teórica nas grandes doutrinas éticas dos filósofos da

antiguidade. Aristóteles afirmava que, por natureza, alguns homens são livres e outros

escravos, e que esta distinção era justa e útil. Os escravos recebiam um tratamento

desapiedado, feroz, o qual não era considerado imoral por nenhum dos grandes filósofos

daquele tempo. Os escravos, totalmente oprimidos, não podiam deixar de fugir da influência

daquela moral servil que os fazia considerar a si mesmos como coisas.

Na teoria e na prática, a moral dominante era a dos homens livres. Embora os traços

dessa moral que se relacionavam mais estreitamente com seu caráter de classe tenham se

extinguido com o desaparecimento da sociedade escravocrata, isso não significa que todos os

seus traços tenham perecido. Dentro desses limites, cresce uma nova relação para a moral dos

indivíduos e da comunidade, uma consciência dos interesses da coletividade e, por outro lado,

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surge ainda uma consciência reflexiva da própria individualidade. O indivíduo se sente

membro da comunidade sem que, por outro lado, se veja totalmente absorvido por ela, como

ocorria nas sociedades primitivas. Com o desaparecimento do mundo antigo, assentado sobre a

instituição da escravidão, nasce uma nova sociedade. Trata-se da sociedade feudal, composta

por senhores feudais e por camponeses servos. Os servos da gleba eram vendidos e comprados

juntamente com as terras às quais pertenciam e não as podiam abandonar. Os homens que

eram considerados livres, como os artesãos, os pequenos industriais e os comerciantes, entre

outros, eram sujeitos à autoridade do senhor feudal. A igreja era o instrumento do senhor

supremo, isto é, de Deus. A moral da sociedade medieval correspondia as suas características

econômicas, sociais e espirituais. Como a igreja exercia um papel preponderante na vida

espiritual da sociedade, a moral da época estava impregnada de conteúdo religioso. Havia uma

pluralidade de códigos morais, dentre os quais o código dos nobres, o código das ordens

religiosas e o código das corporações, mas dentre todos estes códigos destacava-se o da classe

dominante – a aristocracia feudal. A moral cavalheiresca e aristocrata tinha desprezo pelo

trabalho físico e exaltava o ócio e a guerra.

Os nobres tinham o direito de fazer exercícios, os quais não passavam apenas de lazer.

O “direito da pernada” era o que mais chamava a atenção, pois dava ao senhor o direito de

desfrutar da noiva, no dia de núpcias, antes do marido (o servo), podendo inclusive violentá-la.

A moral cavalheiresca partia da premissa que o nobre, por razões de sangue, possuía

qualidades que o diferenciavam dos plebeus e dos servos.

No interior da velha sociedade feudal deu-se a gestação de novas relações sociais às

quais devia corresponder uma nova moral, de modo a regular as relações entre os indivíduos e

entre estes e a comunidade. Nasceu e se fortaleceu assim uma nova classe social – a burguesia.

Seus principais interesses eram o desenvolvimento da produção e a expansão do comércio.

Exigiam mão-de-obra livre e, portanto, a liberação dos escravos. Tinham como fundamental a

lei da produção de mais-valia, que funcionava com eficácia apenas para a garantia dos lucros.

O operário era considerado um homem econômico, um meio de produção sem sofrimento e

desgraças. Tal pensamento gera o fenômeno da alienação ou do trabalho alienado, onde o

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sujeito produz objetos que satisfazem as necessidades humanas, mas que o operário não

reconhece, proporcionando-lhe a miséria. Neste sistema, a boa ou a má vontade individual não

alteram a necessidade objetiva, isto é, o lucro. Cada um confia em suas próprias forças,

desconfia dos demais e busca seu próprio bem-estar, mesmo que tenha que passar por cima do

bem-estar dos outros. Esta é a moral individualista e egoísta que corresponde às relações

sociais burguesas. Nos países mais desenvolvidos, a imagem do capitalismo passa a não

corresponder mais à do capitalismo clássico. A moral é baseada em uma pretensa

humanização ou moralização do trabalho. Aos incentivos materiais se acrescenta agora uma

aparente solicitude para com o homem, inculcando no operário a idéia de que, como ser

humano, faz parte da empresa e deve a ela integrar-se. A moral que é proposta como uma

moral comum, livre de qualquer conteúdo particular, ajuda a justificar e a reforçar os

interesses do sistema regido pela lei de produção de mais-valia, camuflando os seus

verdadeiros interesses humanos e de classe. A moral burquesa procura justificar e regular as

relações, baseando-se na exploração do homem pelo homem, do mesmo modo que se lança

mão da moral para justificar e regular as relações de opressão e de exploração no âmbito de

uma política colonial. Entretanto, a vontade de cobrir essa política com um manto moral é

relativamente recente. Nos tempos modernos recorre-se à moral como justificativa para a

opressão.

A moral vivida realmente na sociedade muda assim historicamente de acordo com as

reviravoltas fundamentais que se verificam no desenvolvimento social, passando, por

exemplo, pelas mudanças decisivas da sociedade escravocrata feudal à sociedade burguesa.

Uma nova moral, verdadeiramente humana, implicará numa mudança de atitude diante

do trabalho, num desenvolvimento do espírito coletivo.

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CAPÍTULO III

A VISÃO DOS PENSADORES CLÁSSICOS

“A maioria das doutrinas gregas colocava, realmente, a

busca da felicidade no centro das preocupações éticas.” (Álvaro

L. M. Valls)

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Após a exposição genérica a respeito da Ética, faz-se necessário a abordagem dos dois

aspectos sob os quais ela tem sido aceita pelos estudiosos em questão, a saber:

1º îComo ciência que estuda a conduta dos seres humanos, analisando os meios que

devem ser empregados para que a referida conduta seja sempre revertida em favor do homem.

Neste aspecto, o homem torna-se o centro da observação, em consonância com o meio que o

cerca.

Vista sob este prisma, a Ética cuida das formas ideais de ação humana e busca a

essência do Ser, em busca de conexões entre o material e o espiritual.

2ºîComo ciência que busca os modelos da conduta conveniente, objetiva, dos seres

humanos.

A correlação, neste aspecto, é objetiva entre o homem e o seu ambiente. Os modelos,

como valores, passam a guiar a estrutura normativa.

Tais critérios de entendimento possuem posicionamentos distintos em seus

desenvolvimentos, embora possam parecer semelhantes a primeira vista.

O primeiro situa-se no campo do ideal e o segundo no das forças determinantes da

conduta, isto é, das causas que levam ao ato comportamental do ser.

Um estuda a essência ou natureza e o outro, os motivos ou relações que influem sobre

a conduta.

Embora seja possível identificar tais posicionamentos buscando um aprofundamento na

obra dos autores, a realidade é que foram e ainda são realizados entrelaçamentos e mesclas

entre suas idéias.

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Em comum entre tais aspectos podemos encontrar, entretanto, a análise do bem como

prática de amor em suas variadas formas. Com igual relevância destaca-se a análise da

conduta respeitosa que evita que se prejudique a terceiros, assim como ao próprio ser.

Existem ainda os que contestam essa forma imprecisa de estudar o bem, ou ainda, de

objetivá-lo como um fenômeno em si mesmo, como de fato o é, ou o que deve ser tomado

como modelo para uma finalidade ideal, o que deve ser objeto de vontade. Mas estes são

apenas detalhes da maneira pela qual se estuda um mesmo objeto, que é o bem.

Os que criticam essa duplicidade de enfoques afirmam que uma coisa é estudar-se o

bem como uma realidade, como algo concreto, e outra é a sua análise como meta a ser atingida

ou vontade de sua prática.

Apesar de serem aspectos de uma só coisa, são competentes para mudar a forma de

tratamento no desenvolvimento de um tema, embora isto seja considerado irrelevante ou

preciosismo por escritores famosos da atualidade.

Quando Aristóteles afirmou não existir para o homem maior felicidade do que a

virtude e a razão, direcionou tal pensamento para o sentido de que a prática do bem,

decorrente do exercício da virtude, é a felicidade e que ela deve ser praticada como ideal e

como ato consciente.

Esta é uma verdade aceita pelo grande pensador e que bem caracteriza o aspecto ético,

sob o prisma de uma realidade aceita como modelo de conduta racional.

Isto é confirmado por uma asserção do mesmo filósofo, quando escreve que a

felicidade é concebida de maneira diferente pelo sábio e pelo leigo e que o bem é o que se

relaciona com o espírito e com a mente, mas não apenas concedida, senão praticada, através da

atividade virtuosa.

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Ao afirmar que os atos que praticamos nas nossas relações com os homens nos tornam

justos ou injustos e que é preciso estar atento porque a diferença da qualidade dos atos que

praticamos pode determinar a intensidade da diferença dos caracteres, Aristóteles deixa claro

que mesmo as situações ideais não alcançam todo o seu valor se não forem materializadas pela

conduta virtuosa.

A Ética das virtudes, que considera como objeto de seu exame essa disposição da alma

é a que foi explorada por Platão, que estudou as funções da alma, desenvolvendo de tal forma

seus estudos, que influenciou os estudos dessa ciência e que ainda prevalece nos dias atuais.

Em todas essas questões, objetos de estudos filosóficos, mesmo diante das mudanças

do ambiente por alterações conceituais, observa-se que a preocupação central é o homem, em

suas formações espiritual e mental, com vistas aos seus procedimentos diante de terceiros, mas

sempre buscando uma prática que não venha a ferir a quem quer que seja, inclusive o

responsável pelo ato.

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CAPÍTULO IV

A VISÃO DOS PENSADORES MODERNOS

“A ética contemporânea aprendeu a preocupar-se, ao

contrário das tendências privativistas da moral, com o

julgamento do sistema econômico como um todo. O bem e o mal

não existem apenas nas consciências individuais, mas também

nas próprias estruturas institucionalizadas de um sistema.”

(Álvaro L. M. Valls)

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De acordo com Sá (2004), os filósofos modernos buscaram inspirações modernas para

seus estudos, embora alguns tenham aplicado certas doses de radicalismo, segundo suas

preferências de atendimento ao ideal do bem e da conduta do ser.

Não faltaram aqueles que analisaram o bem como algo natural, inerente à alma, nem

tampouco os que confundiram a lei e o Estado com a materialização do bem.

Particularizar ou universalizar o bem são tendências que ainda são desenvolvidas no

campo da ciência Ética, assim como as de avaliação dos agentes passivos e ativos.

Entender a ação ética como o desejo de assumir a Deus, sendo este entendido como a

infinitude em virtude constitui-se também em uma posição supremamente ideal a permear os

estudos modernos da Ética.

Existem muitos aspectos da filosofia moderna que seguem uma abordagem que não se

conseguiu desvincular totalmente da relação com os clássicos. Embora se tenha aprimorado e

acrescentado alguma coisa, através dos maiores recursos de que hoje dispomos em virtude das

evoluções tecnológicas e das ciências da mente, ainda merecem o mais profundo respeito os

escritos clássicos, detentores de imensa sabedoria apesar dos séculos históricos de separação.

No pensamento moderno, entretanto, alguns filósofos que se dedicaram ao assunto

também merecem destaque.

4.1 – A Ética de Bergson

Henri Bergson enfocou os estudos morais e éticos sob dois ângulos distintos a que

denominou de moral fechada e moral aberta, como conceitos de suas razões.

Para este filósofo, moral fechada é aquela que deriva do instinto para a preservação das

sociedades nas quais se agrupam os seres.

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Ao comparar o comportamento derivado de uma inspiração religiosa com aquele da

formação do indivíduo, esse filósofo acaba por aceitar uma ética do fim, ou seja, uma

finalidade a ser perseguida.

Admitindo a necessidade ou o ideal de uma renovação moral, ele acabou deduzindo

que existem forças destinadas a promover essa mesma renovação, fazendo a apologia da

intuição. Não foi assim sem razão que em 1910, em Bolonha, novamente afirmou que ”não é

necessário, para chegar à intuição, transportar-se para fora do domínio dos sentidos e da

consciência” e que “A vida cotidiana poderá ser reanimada e iluminada.” (Bergson, apud Sá,

2004, p. 20)

A aproximação do sentimento humano com uma perfeição criada por Deus, para o bom

desempenho de uma conduta, parece ser, daquilo que foi expressado no pensamento de

Bergson, o que pode ser comparado com os estudos de Aristóteles, Espinosa e outros

filósofos, numa tentativa de situação de seus estudos éticos.

Apregoou uma posição de consciência na prática comportamental, com amplitudes de

natureza temporal, ao afirmar que toda consciência consiste na memória, conservação e

acumulação do passado no presente, embora toda a consciência seja a antecipação do futuro.

Bergson explicou ainda a condição futura quando, na mesma ocasião, afirmou:

“Considerando a direção do nosso espírito a qualquer momento, veremos que ele se ocupa do

que ele é, mas sobretudo em vista do que ele vai ser.” (Bergson, apud Sá, 2004, p. 20)

Dotado de um acentuado espírito crítico, esse filósofo, devido à sua ansiedade pelo

comportamento humano voltado para a liberdade e para o comportamento humano virtuoso e

pragmático, criticou os outros filósofos que não pensavam da mesma forma a respeito da

questão ética.

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4.2 – A Ética de Scheler, Hartmann e Wagner

Apesar da fama de Scheler e da expressão de Hartmann como aqueles que

impulsionaram os estudos sobre o valor na Ética, faz-se necessário destacar também Charles

Wagner, autor da importante obra Valor, que recebeu premiação do Ministério da Instrução

Pública da França.

Estes autores desenvolveram estudos de grande expressão acerca do conceito de Valor

que, de acordo com Abbagnano, vieram substituir a noção de bem que predominava nos

domínios da Ética. Entretanto, poucos filósofos desenvolveram seus estudos sobre a virtude

com a clareza e a facilidade de expressão empregada por Wagner em seu trabalho premiado.

Wagner enfocou a conquista de energia, o preço da vida, a obediência, a simplicidade,

a educação heróica, os começos difíceis, o esforço e o trabalho, a fidelidade, a jovialidade, a

honra viril, o medo, o combate, o espírito de defesa, a bondade reparadora, enfim todas as

formas de comportamento que considerou relevantes, ressaltando em tudo isso o valor que

deve ser eleito para a qualidade de vida.

Constituiu-se assim em mais um estímulo para a necessidade do valor que tanto foi

defendida pelos filósofos Scheler e Hartmann.

O valor é a expressão de um aspecto de aferição sobre o que se elege, escolhe ou se

atribui como preferência, em um sentido filosófico que diverge do sentido contábil, onde o

valor é uma expressão de grandeza do patrimônio.

Quando o que se escolhe ou elege transforma-se em um objeto da vontade, quando esta

eleição é transformada em dever, torna-se um valor, de acordo com a concepção que lhe foi

dada filosoficamente no campo da Ética.

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Esta concepção não é totalmente moderna, pois as bases que a erigiram já a possuíam

na acepção dos objetos da escolha moral. Apenas no século XIX, no entanto, é que a noção do

bem foi substituída pela do valor nos estudos da Ética.

Scheler a admitia mesmo sob condições onde não se configurasse em uma aspiração.

Para ele, a Ética não se baseia na noção do bem nem em aspirações desejadas, mas sim na

intuição dos valores observados em suas diferentes hierarquias.

Hartmann segue, por essa linha de pensamento, o que Scheler defendeu como

princípio, concebendo uma esfera ideal ética.

A hierarquia de valores, entretanto, não é apenas defendida por esses grandes

pensadores, tendo sido difundida também por outros estudiosos.

Outras questões sobre o valor da Ética surgiram pelo estudo de seus aspectos, ou seja,

se possui conecção com o homem ou se constitui-se em algo independente, se fundamenta-se

no ressentimento ou no vital, entre outros questionamentos que podem servir como parâmetro

na atribuição do “valor”.

“O valor como algo desejável, como norma e critério de juízo, como possibilidade de

escolha inteligente, é aquele que modernamente é aceito no campo da Ética.” (Sá, 2004, p.

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CAPÍTULO V

ÉTICA E PROFISSÃO

“O exercício de uma profissão demanda a aquisição de

pleno conhecimento, o domínio sobre a tarefa e sobre a forma de

executá-la, além da atualização constante e aperfeiçoamento.”

(Antonio Lopes de Sá)

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O grupamento de profissionais que exercem o mesmo ofício termina por gerar as

distintas classes profissionais e também a conduta a elas pertinentes.

Existem aspectos claros de observação do comportamento, nas diversas esferas em

que ele é processado: diante do conhecimento, diante do cliente, diante do colega, diante da

classe, diante da sociedade, diante da pátria e diante da própria humanidade como conceito

global.

A consideração ética, pela sua relatividade, é também hoje analisada do ponto de vista

da necessidade de uma conduta que tenha efeitos amplos, globais, mesmo frente a povos que

possuam tradições e costumes diferentes.

Quem pratica a profissão é beneficiado por ela, assim como o usuário dos serviços

também desfruta de sua utilidade.

Um empresário que precisa estar informado e orientado acerca de seus negócios e do

que ocorre com o seu capital, por exemplo, precisa de um profissional que seja especializado

em contabilidade. Reciprocamente, aquele diplomado em contabilidade precisa do trabalho e

da oportunidade oferecida pelo empresário. Estas são relações diretas que se estabelecem entre

quem presta serviço e quem deste se beneficia.

Com a oportunidade oferecida, o contabilista possui meios para mostrar todas as suas

capacidades e construir seu conceito profissional como decorrência disto.

O conceito profissional consiste na evidência, diante de terceiros, das capacidades e

virtudes de um ser no exercício de um trabalho habitual conferindo-lhe qualidade superior.

O valor profissional deve ser acompanhado de um valor ético para que a imagem de

qualidade seja integral.

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Quando existe a competência técnica e científica mas não existe uma conduta virtuosa,

a tendência no campo do trabalho é que o conceito profissional possa ser abalado,

especialmente em profissões que lidam com maiores riscos.

Um advogado que, além de defender o réu, sirva também ao autor, por exemplo, estará

quebrando um princípio ético, e certamente sua conceituação como profissional será abalada.

A profissão, da mesma maneira que pode enobrecer através da ação correta e

competente, pode também levar à desmoralização, devido a uma conduta inconveniente, onde

sejam quebrados princípios éticos.

O sentido da utilidade pode existir, mesmo que a ética não seja cumprida. No exemplo

anteriormente citado, o advogado serviu, sendo útil às duas partes, mas teve uma conduta

condenável eticamente.

A ausência de responsabilidade para com o coletivo traz, como conseqüência natural,

uma irresponsabilidade para com a qualidade de trabalho.

Planos econômicos são elaborados para utilização política, sem que se dê a devida

atenção aos danos sociais que causam, sendo os interesses monetários sobrepostos aos

interesses humanos e ao bem-estar da coletividade. Pareceres profissionais são vendidos para

dar credibilidade, certificando a existência de situações estáveis em empresas onde já se

instalou uma completa instabilidade, decadência, além de atos de corrupção.

Podemos nos perguntar até que ponto a vontade do ser, para ser ética, deve seguir os

princípios de uma ciência ou de uma vontade exigível que se ajuste ou amolde a critérios de

conveniências políticas, mascaradas como voltadas para o social, em um determinado

momento histórico. Se a política agride os princípios éticos, estabelecidos pela ciência, o que

for produzido nesse sentido como conduta pode ser de interesse do Estado, mas não o será do

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social, em seu sentido absoluto. Isto significa que o que pode ser bom para o Estado pode não

o ser da mesma maneira para os indivíduos que o compõem.

5.1 – Código de Ética

Antonio Lopes de Sá (2004) afirma que um código de ética constitui um acordo

explícito entre os membros de um grupo social, seja este uma categoria profissional, um

partido político, uma associação cível, ou qualquer outro grupo. Seu objetivo é estabelecer

como aquele grupo social pensa e define sua própria identidade política e social, e de que

maneira tal grupo social assume o compromisso de realizar seus objetivos particulares de uma

maneira compatível com os princípios universais da Ética. Um código de ética começa com a

definição dos princípios que o fundamentam e se articula em torno de dois eixos de normas, os

direitos e os deveres. Ao definir os direitos, o código de ética cumpre a função de delimitação

do perfil do grupo. Ao definir os deveres, abre tal grupo à universalidade. Nisto consiste a

função principal de um código de ética. A definição dos deveres deve ser feita de tal maneira

que o seu cumprimento leve cada membro daquele grupo social a realizar o ideal do ser

humano.

5.2 – A Ética e a Convivência Humana

Falar de ética é falar de convivência humana. Os problemas da ética são gerados pelos

problemas da convivência humana. Existe a necessidade da ética porque os seres humanos não

vivem isolados e não convivem por escolha própria, mas sim por sua constituição vital. Em

resumo, a necessidade da ética resulta da existência de mais de um ser humano.

Mas para a ética, o outro não é apenas alguém imediato, próximo ou com quem nos

deparamos de maneira casual. O outro está presente também no futuro, pela temporalidade, e

também em qualquer lugar, ainda que distante. O princípio fundamental da constituição da

ética baseia-se no fato de que o outro é um sujeito com direitos e sua vida deve ser tão digna

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quanto a minha. A fundamentação dos direitos e da dignidade do outro é a sua própria vida e a

sua liberdade, entendida como possibilidade de viver de maneira plena. As obrigações éticas

da convivência humana devem ser pautadas não apenas por aquilo que já adquirimos, já

realizamos, já somos, mas também por tudo aquilo que ainda poderemos vir a ter, a realizar, a

ser. As nossas possibilidades de ser fazem parte tanto de nossos direitos quanto de nossos

deveres, uma vez que são partes da ética da convivência. A atitude ética constitui-se em uma

atitude de amor pela humanidade.

5.3 – Conduta Humana

A conduta do ser, de acordo com Sá (2004), é a sua resposta a um estímulo mental, isto

é, corresponde a uma ação que responde ao comando do cérebro e que, por sua manifestação

variável, também pode ser observada e avaliada.

Como as respostas aos estímulos não se dão sempre da mesma maneira, sofrendo

variações sob diversas circunstâncias e condições, não se deve confundir tal fenômeno com

um comportamento puro e simples.

5.4 – Aspectos Especiais de Relações Profissionais

Existem muitos aspectos especiais ou condições ambientais que ajudam na observação

da atuação do profissional em seus espaços e relações de trabalho, dentre os quais podemos

destacar os seguintes:

♦ Empregado particular ou público;

♦ Autônomo, individual ou coletivo;

♦ Sócio de uma empresa;

♦ Pertencente a uma empresa multinacional.

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Cada desempenho se dá em um ambiente próprio, com relações definidas e com a

exigência de condutas compatíveis.

Existem muitas variações de ambientes, o que concorre para aumentar a complexidade

da conduta humana, havendo variações notáveis do exercício da vontade do ser humano. A

harmonia necessária à existência de uma sociedade profissional obriga a uma solidariedade.

Esta solidariedade, por conseguinte, obriga a um consenso, incluindo-se até a aceitação de atos

que podem contrariar a vontade de um sócio, mas não contrariam a da maioria que é detentora

do poder de decisão.

Recentemente, criou-se a bioética, para tratar das questões éticas levantadas pelas

experiências no campo das ciências biomédicas e da engenharia genética, tais como

transplante de órgãos, fecundação artificial, manipulação de genes e a clonagem humana.

O termo ética, quando utilizado na expressão “ética profissional”, significa o conjunto

de princípios a serem observados pelos indivíduos ao exercerem a sua profissão. Por isso é que

se fala, por exemplo, da ética dos jornalistas, dos advogados, dos médicos.

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CAPÍTULO VI

VIRTUDES PROFISSIONAIS

“Virtudes básicas profissionais são aquelas

indispensáveis, sem as quais não se consegue a realização de um

exercício ético competente, seja qual for a natureza do serviço

prestado.” (Antonio Lopes de Sá)

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Além dos deveres de um profissional, que são obrigatórios, devemos também levar em

conta as qualidades pessoais que também favorecem o enriquecimento de sua atuação

profissional, algumas das quais até servindo para facilitar o próprio exercício da profissão.

Muitas destas qualidades podem ser adquiridas através de esforço pessoal e boa

vontade, servindo assim para aumentar o mérito do profissional que, durante o decurso de sua

atividade profissional, consegue incorporá-las à sua personalidade, tentando vivenciá-las

juntamente com seus deveres profissionais.

6.1 – Responsabilidade

É o elemento fundamental para a empregabilidade. Sem responsabilidade a pessoa não

pode demonstrar lealdade e nem espírito de iniciativa. Uma pessoa que é capaz de sentir-se

responsável pelos resultados da equipe tenderá a agir de maneira mais favorável aos interesses

da sua equipe e de seus clientes, dentro e fora da organização.

A consciência de que se possui uma influência real constitui-se em uma experiência

pessoal muito importante. É algo que fortalece a auto-estima de qualquer pessoa. Somente

pessoas possuidoras de auto-estima e de um sentimento de amor próprio são capazes de

assumir responsabilidades. Elas encontram um sentido na vida, ao alcançar metas sobre as

quais concordam previamente e pelas quais assumiram uma responsabilidade real, de forma

consciente.

As pessoas que optam por não assumir responsabilidades podem encontrar dificuldades

em encontrar um significado para suas vidas. Seu comportamento é movido por recompensas e

sanções de outras pessoas, sejam elas chefes ou pares. Pessoas sem responsabilidade jamais

serão boas integrantes em qualquer tipo de equipe.

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6.2 – A Lealdade

A lealdade também se constitui em um dos principais elementos que compõem a

empregabilidade. Um funcionário que é leal se alegra quando a organização ou seu

departamento é bem sucedido, além de defender a organização e tomar medidas concretas

quando esta é ameaçada. Um funcionário leal tem orgulho de fazer parte da organização, fala

de maneira positiva dela e a defende de críticas.

A lealdade não significa necessariamente fazer o que a pessoa ou a organização a qual

se pertence quer que se faça. Lealdade não é sinônimo de obediência cega. Lealdade também

significa fazer críticas construtivas, mantendo-as dentro da esfera da organização. Significa

agir com a convicção de que seu comportamento promoverá os legítimos interesses da

organização. Desta forma, ser leal pode significar também a recusa em fazer algo que se acha

que poderá prejudicar a organização ou a equipe de funcionários.

6.3 – Iniciativa

Tomar a iniciativa de fazer algo em benefício da organização é também uma forma de

demonstrar lealdade pela organização. Dentro de um contexto de critério de empregabilidade,

tomar iniciativas não quer dizer apenas iniciar um projeto no interesse da organização ou da

equipe, mas também assumir responsabilidade por sua complementação e implementação.

6.4 – Honestidade

A honestidade relaciona-se com a confiança que nos é depositada, com a

responsabilidade diante do bem de terceiros e da manutenção de seus direitos.

Existem inúmeros exemplos de falta de honestidade no exercício de uma profissão. Um

psicanalista que abuse de sua profissão induzindo um paciente a cometer adultério, por

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exemplo, estará sendo desonesto. Da mesma forma, um contador que retenha os livros de um

comerciante para conseguir aumento de honorários, estará sendo desonesto.

A honestidade é uma virtude primordial no campo profissional. É um princípio onde

não se admite relatividade, tolerância ou interpretações circunstanciais.

6.5 – Sigilo

O respeito aos segredos das pessoas, dos negócios e das empresas deve ser bem

desenvolvido na formação de futuros profissionais, porque trata-se de algo muito importante.

Quando uma informação sigilosa é confiada a alguém, este tem a obrigação de preservar o

silêncio.

Revelar detalhes ou até mesmo ocorrências corriqueiras dos locais de trabalho, além de

não interessar em geral a terceiros, contém o agravante de que planos e projetos de uma

empresa ainda não colocados em prática possam vir a ser copiados e colocados no mercado

pela concorrência antes que a empresa que os concebeu tenha tido tal oportunidade.

Documentos, registros contábeis, estratégias de marketing, pesquisas científicas,

hábitos pessoais, dentre outros, devem ser mantidos em sigilo e sua revelação pode vir a

representar sérios problemas para a empresa ou para os clientes do profissional.

O respeito aos segredos das pessoas, dos negócios e das instituições é protegido pela

lei, por tratar-se de algo muito importante. Eticamente, o sigilo assume o papel de algo que é

confiado e cuja preservação de silêncio é obrigatória.

Nem tudo é objeto de sigilo, mas é sempre preferível que o profissional seja reservado

quanto a tudo o que sabe, lhe é revelado pelo cliente ou ainda que veio a saber por força do

seu trabalho.

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6.6 – Competência

A busca da competência profissional é de extrema importância em qualquer área de

atuação. Recursos humanos devem ser incentivados a buscar sua competência e maestria

através do aprimoramento contínuo de suas habilidades e conhecimentos.

O conhecimento da ciência, da tecnologia e das técnicas e práticas profissionais

constitui-se em um pré-requisito básico para uma prestação de serviços de boa qualidade.

Eticamente, é preciso que se tenha consciência de que a instrução é o caminho para bem

servir. Para evitar causar danos a terceiros na prestação de serviços, é preciso que se procure

estar habilitado para prestá-los.

Nem sempre é possível acumular todo o conhecimento exigido por determinada tarefa,

mas é necessário que se tenha a postura ética de se recusar serviços quando não se está

devidamente capacitado para executá-los.

6.7 – Zelo

O zelo é uma virtude que, assim como as demais, depende muito do próprio ser. Pela

qualidade da execução do serviço se mede a própria qualidade do profissional. Um

profissional precisa perceber, dentro de si mesmo, o que é realmente preciso para

desempenhar sua tarefa da melhor maneira possível e quando isto não ocorre é porque ainda

não está apto para ser um profissional.

6.8 – Coleguismo

Virtude essencial na vida dos seres humanos é atribuir a seus semelhantes o mesmo

amor que atribui a si próprio. No campo da trabalho há ainda uma identificação maior ainda

do que aquela que existe entre os demais seres. O colega de profissão é identificado conosco

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por praticar um mesmo conhecimento, estar sujeito aos mesmos problemas e as mesmas

alegrias decorrentes do êxito, da eficácia do mesmo desempenho.

Faz-se necessário, eticamente, o exercício da virtude do coleguismo, que é

fundamentada na fraternidade profissional, com absoluta solidariedade desde que esta se

desenvolva dentro dos preceitos da moral e do direito. A prática virtuosa do coleguismo deve

guiar-se pela dedicação aos companheiros de profissão e estar fundamentada no respeito e na

identidade de propósitos.

Ninguém possui competência absoluta para condenar atos ou trabalhos de terceiros e

tal atitude deve ser evitada principalmente se estiver relacionada com a execução das tarefas

de um colega. Embora possamos divergir de nossos semelhantes e isto até seja construtivo,

não temos o direito de defender nossas idéias às custas da dilapidação do nome de terceiros.

Eticamente, tudo o que se faz contra um colega que possa prejudicar o seu conceito, o

seu trabalho, é passível de apreciação pelos tribunais competentes dos respectivos conselhos

profissionais.

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CAPÍTULO VII

ÉTICA E EDUCAÇÃO

“Assim como uma andorinha não faz verão, um ato

isolado não faz um homem ético. Somos aquilo que, na prática,

fazemos repetidas vezes. Praticando a ética nos aperfeiçoamos.

Tornamo-nos éticos praticando atos éticos. As normas éticas

não existem para diminuir o homem, mas para fazê-lo crescer.”

(Herbert Lowe Stukart)

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Da mesma maneira que uma árvore deve estar bem enraizada e ter suas raízes bem

regadas para conseguir crescer sadia e dar belos frutos, assim acontece também com o ser

humano: quando praticamos a ação correta colheremos como conseqüência belos frutos, que

se constituirão nos valores básicos do caráter.

É o conjunto de pessoas que forma uma sociedade. Quando as pessoas comportam-se

eticamente, esta sociedade será harmônica, forte e produzirá belos frutos, assim como a

árvore. Os frutos de tal sociedade serão exemplos de virtude.

Embora a sociedade de consumo em que vivemos hoje seja frágil e seu destino se

encaminhe para a auto-destruição, ainda existem homens que trabalham incessantemente para

introduzir as mudanças necessárias para que nossas raízes voltem a ser alimentadas e sejam

restauradas. Mas este é um trabalho que não deve ser feito apenas por alguns poucos, e sim

por todos os cidadãos, porque conforme falamos anteriormente, são as pessoas que formam o

conjunto social.

Isto significa que todos somos igualmente responsáveis pela evolução do ambiente em

que vivemos. E a nós, educadores, cabe estimular esta responsabilidade social e ética. É

importante que cada um de nós, educadores, decida-se por uma linha de ação que esteja

solidamente organizada com base em uma essência, fundamento ou modelo de mundo. Afinal,

lidamos com crianças e adolescentes que necessitam de nós para construírem o seu próprio

julgamento moral e não podemos realizar ações educativas que tenham como base apenas

impulsos, intuições e “achismos”.

7.1 – Formação de Valores

A preocupação com os valores, apesar de ser tão antiga quanto a humanidade, só foi

esquematizada como disciplina escolar no século XIX. A Axiologia ou teoria dos valores, pois

sua etimologia vem do grego (axios=valor), passa a se ocupar das relações estabelecidas entre

as coisas, os seres vivos, e até mesmo das idéias e das pessoas que as apreciam.

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Dentro desses valores, destacamos neste trabalho a Ética, que deve nortear a nossa

ação enquanto educadores.

A Ética foi incorporada como um tema transversal nos Parâmetros Curriculares

Nacionais – os PCNs. Estes temas transversais são eixos que não estão incluídos de maneira

direta em nenhuma área do currículo. Tampouco fazem referência a nenhuma etapa educativa

específica e nem a uma idade concreta. Devem permear assim todos os cursos, a Educação

Infantil, o Ensino fundamental e o Ensino Médio, sendo por isso de caráter transversal.

Destacam-se ainda temas como educação ambiental, educação para a paz, educação do

consumidor, educação de vias públicas, educação para igualdade, educação para a saúde,

entre outros.

De acordo com os PCNs, todos os temas devem ser trabalhados por todas as

disciplinas, tornando necessária uma interdisciplinariedade e trazendo para a sala de aula a

vivência concreta dos alunos.

Existem muitos pontos de vista a respeito de como educar e trabalhar na formação de

valores do educando. Dentre eles, podemos citar alguns:

♦ Os valores podem ser transmitidos através de hábitos que se adquirem inicialmente

de forma repetitiva.

♦ Os valores são assimilados no convívio com os adultos, cujo exemplo vai formar a

consciência do jovem para o bem e para o mal.

♦ É importante que exista um estímulo permanente para que se consiga formar

valores.

♦ Os valores são crenças, premissas de foro íntimo, e o que é possível fazer é deixá-

los crescer, florescer e se desenvolver.

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♦ Colocar uma pessoa em situações de confronto seria, de acordo com alguns, a

melhor maneira de desenvolver valores.

Diante desta ampla gama de opções, fica um pouco difícil escolher uma única forma

para a transmissão de valores. Questionamentos sobre qual seria o melhor caminho e se

seremos capazes de escolhê-lo e de utilizá-lo em nossa própria vida são algumas das

dificuldades éticas que causam tanta aflição aos educadores de hoje.

7.2 – Educação e Dever

Para aqueles que possuem formação educacional de qualidade, o cumprimento dos

deveres éticos constitui-se em um efeito natural, originário de estruturas mentalmente e

espiritualmente sadias.

Os efeitos de uma educação básica de qualidade sobre a comunidade e o próprio ser

tornam a estes beneficiários de raízes fortes para uma vida em comum e para uma cultura

refinada, voltada para o bem e a virtude, tendo a história confirmado que estes são meios

eficazes para a geração de condutas positivas.

Uma educação moral não pode simplesmente deixar que o educando faça apenas o que

lhe convém, pautando-se por uma falsa idéia de liberdade, sem que haja uma orientação

competente para aquilo que é fundamental no campo da moral e da ética.

Da mesma maneira, não se pode conceber uma comunidade profissional, no nosso caso

a dos docentes do Ensino Superior, que não esteja regida por uma norma de conduta ética e

que não esteja constantemente educando para isso o seu grupo.

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A orientação para o cumprimento dos deveres éticos constitui-se em uma tarefa

educacional permanente, seja nas famílias, nas escolas, nas universidades, nas demais

instituições ou no próprio Estado.

Educar para o dever é uma forma de contribuição para a harmonia social e para o êxito

do ser humano enquanto ser social. Sem deixar de considerar os dotes genéticos, espirituais e

naturais que o ser humano possui, é necessário que tal força seja direcionada, aprimorada e

protegida pela Educação.

Levando-se em conta tudo o que já foi abordado até então, podemos perceber que

reveste-se de grande importância uma maior preocupação com a Ética no Ensino Superior,

uma vez que esta poderia não só orientar na vivência da ética os educadores que o buscassem,

mas também serviria para fundamentar a Ética em inúmeros outros profissionais que por ele

também passassem.

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CONCLUSÃO

“Dizem que um sábio procurava encontrar um ser

integral, em relação ao seu trabalho. Entrou, então, em uma

obra e começou a indagar. Ao primeiro operário perguntou o

que fazia e este respondeu que procurava ganhar seu salário; ao

segundo repetiu a pergunta e obteve a resposta de que ele

preenchia seu tempo; finalmente, sempre repetindo a pergunta,

encontrou um que lhe disse: - Estou construindo uma catedral

para a minha cidade.” (autor desconhecido)

O desenvolvimento deste trabalho nos levou a uma reflexão profunda sobre que tipo de

sociedade, que perfil de crianças, adolescentes, jovens e adultos nós, educadores, estamos

querendo formar ou efetivamente formando.

Estamos no início do terceiro milênio e em momentos de transição com este, onde

ocorrem mudanças históricas, é normal que aconteçam crises sociais. A crise social que

estamos vivendo está principalmente relacionada a valores – ou a falta destes – e está nos

sinalizando que, como estamos vivendo em outros tempos, faz-se necessário também o

desenvolvimento de uma nova ética capaz de acompanhar tal evolução.

Apesar das pedras ao longo da estrada, o caminho da virtude é sempre possível.

Enquanto o homem existir, terá ele a possibilidade de modificar a sua conduta e imprimir uma

direção diferente às suas ações.

Entretanto, mudança nenhuma ocorrerá se não formos capazes de nos unir para

construirmos uma nova sociedade, uma nova ética que nos aponte um caminho que ofereça

um sentido mais profundo para nossas vidas.

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Nós, educadores do Ensino Superior, também temos um papel importante na

disseminação de uma nova ética educacional que possa servir para melhorar a qualidade da

Educação em todos os níveis de ensino. Não podemos simplesmente cruzar os braços

esperando que outros façam sozinhos o que deve ser feito por todos. É hora de colocarmos

mãos a obra e buscarmos em conjunto o caminho do sucesso profissional através de uma ética

que possa também integrar os seres humanos e produzir ainda satisfação pessoal.

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BIBLIOGRAFIA

HARMAN, Gilbert. The Nature of Morality. New York: Oxford University, 1977.

OLIVEIRA, Manfredo Araújo de. Ética e Sociabilidade. São Paulo: Loyola, 1993.

SÁ, Antonio Lopes de. Ética Profissional. 3ª ed. São Paulo: Atlas, 2000.

SÁNCHEZ VÁSQUES, Adolfo. Ética. 21ª ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2001.

STUKART, Herbert Lowe. Ética e Corrupção. São Paulo: Nobel, 2003.

TUGENDHAT, Ernest. Lições sobre Ética. 4ª ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2000.

VALLS, Álvaro L. M. O que é Ética. 9ª ed. São Paulo: Brasiliense, 2004

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ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO 2

AGRADECIMENTOS 3

DEDICATÓRIA 4

RESUMO 5

METODOLOGIA 6

SUMÁRIO 7

INTRODUÇÃO 8

CAPÍTULO I 10

A Ética

1.1 – Campo da Ética 11

1.2 – Definição de Ética 11

1.3 – Ética e Filosofia 12

1.4 – Ética e outras Ciências 13

CAPÍTULO II 14

A Moral

2.1 – Conceito de Moral 15

2.2 – Caráter Histórico e Moral 16

2.3 – Origens da Moral 17

2.4 – Mudanças Histórico-Sociais e Mudanças de Moral 18

CAPÍTULO III 21

A Visão dos Pensadores Clássicos

CAPÍTULO IV 25

A Visão dos Pensadores Modernos

4.1 – Ética de Bérgson 26

3.2 – A ética do valor de Scheler, Hartmann e Wagner 28

CAPÍTULO V 30

Ética e Profissão

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5.1 – Código de ética 33

5.2 – Ética e Convivência Humana 33

5.3 – Conduta Humana 34

5.4 – Aspectos Especiais de Relações Profissionais 34

CAPÍTULO VI 36

Virtudes Profissionais

6.1 – Responsabilidade 37

6.2 – Lealdade 38

6.3 – Iniciativa 38

6.4 – Honestidade 38

6.5 – Sigilo 39

6.6 – Competência 40

6.7 – Zelo 40

6.8 – Coleguismo 40

CAPÍTULO VII 42

Ética e Educação

7.1 – Formação de Valores 43

7.2 – Educação e Dever 45

CONCLUSÃO 47

BIBLIOGRAFIA 49

ANEXOS 52

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ANEXOS