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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “ LATO SENSU” PROJETO A VEZ DO MESTRE A GESTÃO ESCOLAR E O DESAFIO DA INDISCIPLINA Por : Cristiane de Sá Machado Orientadora Professora: Maria Esther de Araújo Oliveira Rio de Janeiro 2010

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “ LATO SENSU” PROJETO A VEZ DO MESTRE A GESTÃO ESCOLAR E O DESAFIO DA INDISCIPLINA

Por : Cristiane de Sá Machado

Orientadora Professora: Maria Esther de Araújo Oliveira

Rio de Janeiro 2010

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃP “ LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

A GESTÃO ESCOLAR E O DESAFIO DA INDISCIPLINA

Apresentação de monografia à Universidade Candido Mendes como requisito parcial para obtenção do grau de especialista em Admi- nistração e Supervisão Escolar. Por: Cristiane de Sá Machado

Rio de Janeiro 2010

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RESUMO

O presente estudo trata das relações entre a gestão escolar e os desafios

impostos pela indisciplina nos dias que correm. Buscando amparo no

pensamento de diversos teóricos que se dedicam à questão da indisciplina,

pretendeu-se realizar um trabalho que estabelecesse bases de pensamento e

teoria que fornecessem subsídios para uma ação corretiva por parte dos

gestores.

Desta forma, buscou-se uma contextualização do problema da indisciplina por

meio da investigação dos novos sujeitos da educação , no mudo hodierno: o

alunos contemporâneos. Por último, tratou-se de estudar, brevemente, a

mediação de conflitos como alternativa de ação proposta aos gestores para

lidar com as dificuldades cotidianas.

Palavras-chave :

Indisciplina – gestão escolar – falta de limites – mediação de conflitos- novos

sujeitos

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SUMÁRIO METODOLOGIA............................................................................................................05

INTRODUÇÃO .............................................................................................................07

1. A VIOLÊNCIA CONTEMPORÂNEA E A ESCOLA.............................................09

2. COMPREENDENDO A INDISCIPLINA E A FALTA DE LIMITES E

DISCUTINDO SUAS CAUSAS E EFEITOS..............................................................18

3. OS NOVOS SUJEITOS DA EDUCAÇÃO E O MUNDO DE QUE VIERAM.....28

4. A MEDIAÇÃO DE CONFLITOS COMO ESTRATÉGIA DE AÇÃO DOS

GESTORES EDUCACIONAIS....................................................................................38

CONSIDERAÇÕES FINAIS.......................................................................................42

NOTAS ---------------------------------------------------------------------------------------------

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ----------------------------------------------------------

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METODOLOGIA

A Metodologia utilizada no breve estudo que ora se apresenta teve como

objetivo buscar uma base teórica e de reflexão sobre a grave questão da

indisciplina na escola e os desafios impostos por ela ao gestor escolar. Assim o

trabalho em questão configura-se como uma pesquisa de caráter bibliográfico.

O motivo que levou à escolha do tema e à realização da pesquisa diz

respeito ao destaque que a indisciplina tem alcançado como principal obstáculo

a um efetivo exercício das possibilidades pedagógicas e educacionais do

privado. , por parte das instituições de ensino, tanto do setor público, quanto do

privado.

Primeiramente, buscamos caracterizar um problema grave que afeta as

escolas e parece generalizado na vida escolar, em todos os lugares, bem como

está profundamente implicado com a indisciplina, hoje em dia, a violência. Que

aspectos da violência influenciam as relações que se estabelecem na escola e

como lidar com a questão são os motes do capítulo.

Num segundo momento adentramos mais especificamente na questão da

indisciplina nas escolas, investigando suas possíveis causas e suas

conseqüências.

O terceiro capítulo intenta realizar uma investigação acerca da formação do

mundo contemporâneo e da criação dos novos sujeitos da educação. Para

tanto, buscamos apoio, para a caracterização histórica e social do período em

reflexões de historiadores e cientistas sociais como Hobsbawn e Magnoli. Para

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a caracterização dos efeitos das transformações sociais e políticas sobre as

relações e os indivíduos nos utilizamos das reflexões formuladas por Bauman.

O capítulo de encerramento do estudo trata de uma possível alternativa de

ação e combate aos efeitos nefastos da indisciplina, que pode se utilizada

pelos gestores educacionais, que seria a mediação de conflitos. Não se trata

de propor uma panacéia, mas antes de buscar possíveis opções para lidar com

os problemas causados pela indisciplina no contexto escolar.

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INTRODUÇÃO

Quando pretendemos refletir sobre as graves questões que permeiam a vida escolar

hoje, na sociedade brasileira, não devemos esquecer que a escola, objeto da nossa

atenção , sofre reflexos do meio em que está inserida. Como a proposta do presente

estudo se concentra na questão da ( falta de ) disciplina e limites e a violência no

âmbito do cotidiano escolar, podemos intuir que tais problemas constituem ecos e

repercussões dos conflitos da família e do meio social a que pertencem.

Na escola, a indisciplina está presente nas suas formas mais contemporâneas de

manifestação, mas também, como pretendemos demonstrar, é elemento antigo das

relações que se dão na instituição. Primeiramente há que se definir a que indisciplina

nos referimos, que é aquela produzida nos meandros da relação professor/aluno, hoje

passível de confrontamento físico, agressão e até morte. Buscar compreender em que

momento houve a passagem de uma pretensa dominação a um atrito de tal relevância,

que inclui o perigo físico, é importante no sentido de produzir conhecimentos e

reflexões que embasem ações corretivas. Como os profissionais da educação,

professores, pedagogos,e,principalmente, gestores, devem lidar com as novas

possibilidades de confronto deve se tornar objeto prioritário de atenção.

No trabalho cotidiano em sala de aula é possível presenciar, diariamente, cenas de

indisciplina das crianças e adolescentes e questionamentos às regras da escola. Algumas

escolas aparentam ter como princípio educacional o lema “é proibido proibir” e os

jovens tornam-se verdadeiras “donos”de suas atitudes deixando os professores com

poucos recursos para impor sua autoridade.

A escola enfrenta hoje em dia grandes dificuldades para estabelecer normas e regras

aos jovens, revelando ser uma instituição em crise , gerada pela negação ao diálogo e a

impossibilidade de alcançar uma integração entre jovens e adultos no seio da sociedade.

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Como o gestor escolar atua, no sentido de minorar os efeitos da indisciplina no bom

andamento do cotidiano escolar ? A gestão escolar deve exercer uma liderança capaz de

contribuir para a criação de um ambiente harmônico, mesmo num contexto atual de

conflitos geracionais, violência, novas configurações familiares, drogas e outras graves

questões contemporâneas.

Todos os tópicos apresentados acima serão discutidos nos três capítulos que compõem

o estudo, com auxílio de uma base teórica que sirva de pilar para as nossas reflexões. O

primeiro capítulo versará sobre a apreensão teórica da questão da indisciplina e da falta

de limites. O segundo capítulo tratará das alternativas, das possíveis estratégias para lidar

com o problema, da parte dos profissionais da educação e, finalmente, o terceiro

capítulo, que abordará a visão do tema por alguns pensadores que se dedicam ao assunto.

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PRIMEIRO CAPÍTULO

A VIOLÊNCIA CONTEMPORÂNEA E A ESCOLA

A violência e suas formas contemporâneas de manifestação freqüentam as

paginas dos jornais, as conversas nos corredores, as palavras das autoridades.

Aquela que chama uma considerável atenção, tanto por parte da mídia, quanto

por parte do publico em geral, e a violência dentro da escola. Comum e parece

que aceitável nas escolas públicas, atinge proporções perigosas nas escolas

privadas. Na esfera pública o problema é social, professores mal pagos,

famílias pobres e desestruturadas, escolas de má qualidade, tráfico de drogas,

gravidez na adolescência. Nas escolas particulares o discurso sobre a violência

aponta a crise da autoridade de pais e professores, e a falta de limites impostos

ao jovens como as causas da violência no âmbito escolar.

Se o fenômeno é o mesmo, por que o discurso de pais, professores e

autoridades aponta determinantes diversos para a violência nas esferas publica e

privada Esta é apenas uma das visões estereotipadas ou dos discursos vazios

sobre o tema. O que se verifica, na verdade, é que as relações vigentes dentro

das escolas não seguem mais os padrões estabelecidos na tradição Se o aluno,

alvo da ação educacional, é outro sujeito histórico, por que a escola deveria

estar ainda presa a modelos de ação que já não dão conta das novas realidades?

Poderia se perguntar se os discursos, em geral, dão ênfase tão grande ‘a

transformação do mundo, que é um fato consumado, por que não se pensa na

transformação da escola ?

Cabe também não esquecer do fato que os professores, tão ciosos de seu papel

de intermediários entre o passado e o presente, são, de certa forma,

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conservadores no que diz respeito ao perfil de sua atividade, e estão diante de

um novo aluno, com o qual as abordagens tradicionais não surtem mais efeito.

Há uma série de fatores que determinam essa nova contingência histórica, e a

velocidade com que as mudanças se implementam naturalmente ainda não

chegou a escola. A violência e um elemento bastante presente no mundo

contemporâneo, das mais diversas formas , seja na exposição diária da mídia

sobre as noticias de caráter violento, seja na forma de filmes e jogos eletrônicos

que fascinam os adolescentes, e sem esquecer que vivemos uma era de violência

, com o terrorismo no mundo, e no Brasil, a questão social da criminalidade.

Entretanto não nos devemos deixar iludir, a violência sempre foi parte integrante

do modo humano de viver. A civilização apenas tornou-a menos ritualizada e

mais controlada, mas ela esta lá como sempre esteve e sempre estará.

Ao considerar a violência como algo inerente ao mundo humano, cabe indagar

das suas formas já que nem todas estabelecem o confronto físico. Há a natural

violência das relações humanas, a violência do Estado, a violência das

instituições. Ao atentarmos para isso percebemos que em toda relação em que

uma autoridade se estabeleça , se criam pequenas medidas de forca (violência )

para sujeitar os indivíduos . No caso da relação professor/aluno, ela e

inseparável da possibilidade de violência, dominação e poder. A escola de

modelo tradicional da margem a uma estrutura em que sobressai a autoridade do

professor, da instituição e das normas , logo implica uma certa violência no

trato com os alunos, que devem se submeter.

Como se está pensando a violência , não podemos deixar de relacioná-la com

o poder, pois é muitas vezes através dele que se manifestam as diversas formas

de violência. Para isso Foucault e o melhor guia. Segundo ele, no texto Em

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Defesa da Sociedade, os séculos XVII e XVIII marcam o surgimento de uma

nova mecânica de poder, eivada de novos procedimentos e instrumentos. E um

poder exercido sobre os corpos, dos quais extrai tempo e trabalho. E ainda um

poder que se concretiza por meio por meio da vigilância e cujo principio e tornar

cada vez maior o numero de indivíduos sujeitos a sua influencia e aprimorar a

forca e a eficácia daquilo que os sujeita. Foucault o denominara poder

disciplinar e o considerara uma das maiores invenções da sociedade burguesa.

Prosseguindo nessa linha de pensamento, o filosofo francês aponta a nova forma

de poder como também criadora de uma serie de saberes, as disciplinas.

Não e difícil relacionar o modelo da escola tradicional com a nova forma de

poder disciplinar apontado por Foucault, e como isso certamente se reflete sobre

o indivíduo, que deve se sujeitar as normas. O poder disciplinar implicara a

passagem de uma mentalidade punitiva com base na teoria do direito penal para

uma pratica de penalidade baseada na conduta dos indivíduos e naquilo que

podem vir a fazer. Essa análise de Foucault certamente diz respeito a uma

sociedade já um pouco diversa da nossa, mas que nos serve como modelo para

reflexão . Ao pensar a escola , não podemos deixar de vinculá-la ao esquema

disciplinar proposto por Foucault. Em detrimento de todas as novas

características da escola, ela ainda e muito ligada ao controle dos corpos , do

tempo dos indivíduos. Talvez estes novos indivíduos demandem novas soluções

que a escola ainda não implementou, por estar atrelada, historicamente a

sociedade disciplinar.

Ao refletirmos sobre a escola, sobre a sua própria constituição física , como

um espaço , na maioria das vezes, de constituição panóptica, ( modelo

arquitetônico criado por Bentham que permite uma visualização geral do todo

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por um ponto, favorecendo a vigilância ) verificamos sua profunda vinculação

com a disciplina, com a norma , com a vigilância , que não são realizados

apenas pela própria instituição, mas pelos indivíduos sobre os próprios

indivíduos, como se a professores coubesse o controle sobre os alunos, que pode

ser efetivamente realizado também por alunos sobre professores. E uma

instituição, a escola, profundamente controladora, na sua gênese e nos seus

objetivos. Será a escola contemporânea diversa deste modelo Ousamos afirmar

que a escola ainda vincula-se a um esquema disciplinador e lida com sujeitos

históricos novos , com novas prerrogativas, e certamente não mais tão

docilizados como se espera.

Os alunos que freqüentam as escolas contemporâneas não são mais indivíduos

cujo modo de vida permita uma certa lentidão, uma docilidade ; vivem numa era

de velocidade e estímulos múltiplos a demandar atenção , e tem a disposição

uma facilidade considerável na busca da informação . Os novos alunos detém

um saber que não pode mais ser desconsiderado , pois, em termos gerais, se

atualizam com mais freqüência que a escola e seus professores. Exigem um

deslocamento constante, por parte de professores. A comparação é interessante

quando nos lembramos das antigas salas de aula, com lugares de assento

determinado, todos quietos e silenciosos, enquanto o professor , em posição

dominante , transmite o conhecimento. Essa dinâmica e outra hoje , as posições

não são mais tão fixas , e o movimento constante entre os alunos e o barulho

são novos elementos com os quais os professores devem lidar. As salas de aula,

enquanto espaços físicos destinados a aprendizagem, precisam de uma

reengenharia que busque uma adequação as novas demandas.

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Na sua analise da Microfísica do Poder, Foucault refere-se com freqüência aos

espaços físicos, escolas, hospitais, prisões, fabricas, e como sua constituição foi pensada

a partir de um modelo de sociedade vigente então na sua gênese. Será que a escola hoje

não demanda um novo modelo de constituição física, que estabeleça uma nova dialética

para o processo da aprendizagem. Se os corpos não são mais tão dóceis e ainda

legitimo investir no seu controle no espaço escolar enquanto o espaço público e cada

vez mais controlado pelo marketing, pela lógica do consumo Zygmunt Bauman ( 2005

) , em O corpo do consumidor, parte da obra Modernidade líquida , afirma que

... a sociedade pós-moderna envolve seus membros primariamente em sua condição de consumidores , e não de produtores. A diferença é fundamental. ( ... ) A vida organizada em torno do consumo , por outro lado, deve se bastar sem normas: ela é orientada pela sedução, por desejos sempre crescentes e quereres voláteis - não mais por regulação normativa

(BAUMAN,2005,p.66) .

Na sociedade de consumo, os corpos obedecem a uma nova dinâmica , que não

e a mesma de tempos atrás e impele os indivíduos a uma insatisfação constante,

que lhes faz movimentar-se , continuamente, em busca da saciedade dos

impulsos de consumo. O controle e a vigilância, então, não são mais exercidos

verticalmente pelas instituições ou transversalmente pelos indivíduos sobre os

próprios indivíduos, mas a partir de uma busca incessante pela aptidão, regulada

pelo mercado. Este e o novo indivíduo, que também esta presente nas salas de

aula, e que exige da estrutura educacional um novo posicionamento. Que deve

começar pela postura do professor, que não deve estar alheio a reflexão critica

sobre as novas contingências históricas, políticas e sociais, que engendram os

novos sujeitos, com os quais tem de lidar na sua atividade.

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Voltando ainda a Foucault, poderíamos depreender que para o pensador

francês , qualquer agrupamento humano vai estar sempre permeado por relações

de poder, posto que a existência deste tipo de relação e coexistente a vida

social.

Não devemos pensar, entretanto, que a escola reflita na sua esfera, de modo

imediato, as transformações da sociedade, como nos indica Julio Groppa Aquino

( 1996 ), em seu artigo A violência escolar e a crise da autoridade docente :

Convenhamos, é mais do que evidente que as relações escolares não implicam um espelhamento imediato daquelas extra-escolares. Ou seja, não e possível sustentar categoricamente que a escola tão-somente “reproduz” vetores de forca exógenos a ela .E certo , pois, que algo de novo se produz nos interstícios do cotidiano escola, por meio da (re)apropriação de tais vetores de forca por parte de seus atores constitutivos e seus procedimentos instituídos/instituintes (AQUINO, 1996, p.55)

Atentando para o que diz o autor, devemos pensar se parte do problema da

violência na escola não tem sua gênese e sua solução no contexto da própria

escola. A escola não e ,necessariamente, um espelho da sociedade, mas

certamente espelha algumas de suas questões mais básicas, já que seus atores

são os mesmos. Não se deve imaginar soluções amplas para a sociedade,

esperando que as mesmas sirvam a escola. A solução ou melhor as possíveis

estratégias novas para lidar com o problema da violência na escola, certamente

emergirão da pratica e da reflexão dentro dos “muros” da própria escola. O que

não deve ser visto como um incentivo ao isolacionismo critico e teórico dos

profissionais da educação, antes pelo contrário, pois a análise profunda que

devem empreender não descarta os vínculos com a sociedade.

Há outro fator importante a ser considerado e que foi brevemente citado

anteriormente : a divisão social das escolas e as diferentes perspectivas que

assume a violência nos contextos diferenciados . É curioso perceber que as

causas apontadas são diversas e as soluções mais variadas ainda, para o mesmo

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problema. Quem nos aponta fatos importantes nessa perspectiva é Claudemir

Belintane ( 1998 ), no seu artigo O poder de fogo da relação educativa na mira

de novos e velhos prometeus. No artigo, em que aborda sua experiência pessoal

em duas escolas que atendem extratos sociais distintos, uma, pública, de

primeiro grau, e outra, privada, de caráter confessional, que atende a burguesia,

relata os episódios de violência presenciados.

O autor indica, em seu artigo, a possibilidade de pensar diferentes teorias

explicativas e soluções adequadas a cada caso, quando a violência, que é geral,

atinge escolas direcionadas a públicos de camadas sociais diferentes. É como ele

afirma no seguinte trecho :

Há uma tentação, de imediato, de recortar a “escola do (quase que eu) morro” utilizando a sociologia e a política. Parece até que a situação não pede outra coisa, gangues, crise de autoridade, choques culturais, diferenças sociais, desemprego etc. Dar um tratamento ao indivíduo, as idiossincrasias, seria burguês demais, não ?! A tentação é gritar por políticas educacionais, pugnar por policiamento, por mais pão, por mais verbas etc. Já na “ escola do padre”, para as rusgas, as dificuldades de aprendizagem, alguns desacertos de alguns jovens – antes da expulsão do paraíso - , cabe perfeitamente a psicologia e até mesmo um certa clínica psicanalítica. (BELINTANE, 1998)

A que atribuir visões tão díspares para problemas semelhantes? Talvez os

olhos e ouvidos viciados em discursos psicologizantes ou sociologizantes, que,

em geral, não emergem da reflexão realizada intra-muros na escola. A sensação,

por parte dos professores, passa pela impotência, pelo desespero. Não estão

equipados para lidar com os problemas com que se defrontam.

Há outro aspecto a se considerar e não é de menor relevância, pois diz respeito

à crise da autoridade, que se origina na família e percorre as instituições como

um todo. Cristopher Lasch, no capítulo Autoridade e Família: A Lei e a Ordem

em uma Sociedade Permissiva, do livro Refúgio num mundo sem coração: a

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família, santuário ou instituição sitiada?, referindo-se à sociedade americana,

historia um panorama de decréscimo da autoridade paterna que pode nos servir

de modelo para pensarmos a realidade brasileira. Segundo ele , o decréscimo da

autoridade paterna e a delegação da disciplina a outras instâncias ou instituições

criaria um fosso de grandes proporções entre afeição e disciplina. Apesar disso,

o distanciamento e a corrosão da autoridade dos pais não destroém os conflitos

essenciais entre pais e filhos, apenas os encobrem. Essa mesma decadência da

autoridade paterna levaria a uma nova tolerância a formas de comportamento

distintas da norma. Como segundo Lasch, vive-se numa sociedade permissiva,

esta institui novas formas de repressão como a força, o suborno, a intimidação e

a chantagem, pois como não há respeito pela autoridade, esta se faz valer por

meio da manipulação psicológica e até mesmo da violência aberta. Um

panorama destes poderia se encaixar com perfeição para a escola ? Em que

medida o que se vive hoje na escola é decorrência da ascenção daquilo que

Lasch chama de sociedade permissiva? Certamente, ao levarmos em

consideração os fatos apontados por Lasch, encontramos pontos de contato entre

a realidade indicada por ele e a nossa prática, em que pesem as consideráveis

diferenças culturais entre Brasil e Estados Unidos. Que a nossa sociedade, se

não é permissiva na sua totalidade, é correto afirmar que vivemos um momento

de permissividade e crise da autoridade familiar, cujas evidências vemos

cotidianamente nos jornais. Se a autoridade familiar já não dispõe de suas

antigas prerrogativas, que dizer da autoridade do professor ? Como resgatar uma

possível autoridade de caráter positivo? Talvez já não caiba mais exercer uma

autoridade imposta pelo conhecimento, pela experiência, pela instituição. Talvez

seja o momento de, humildemente, cada professor se despir de sua auto-imagem

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eivada de autoridade e dispor-se a uma possibilidade de negociar, com o fim de

realizar a sua tarefa. Uma negociação dirigida a um objetivo claro: educar.

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SEGUNDO CAPÍTULO

COMPREENDENDO A INDISCIPLINA E A FALTA DE LIMITES E

DISCUTINDO SUAS CAUSAS E EFEITOS

Quando refletimos sobre a vida escolar no Brasil contemporâneo , com todas

as suas vicissitudes , não podemos deixar de pensar sobre os tristes números

revelados pelas pesquisas sobre o universo da educação brasileira, notadamente

em contraste com os indicadores de nações desenvolvidas.

A esse fracasso são relacionados os mais diversos diagnósticos, e as mais

diversas propostas são colocadas em pauta. A bem dizer, nenhuma política

educacional, nos últimos anos, se dedicou a resolver esta questão, no sentido de

incrementar os indicadores qualitativos da educação brasileira, principalmente

por um estímulo a um desempenho mais satisfatório nos testes internacionais.

A este estado de coisas junta-se o grande problema do sistema educacional

brasileiro : ele ainda é incapaz de promover o desenvolvimento social, político,

econômico , cultural e mais que tudo, humano, que a sociedade brasileira

demanda, em tempos tão conturbados.

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Neste contexto, vislumbramos a questão da indisciplina e da falta de limites

como o mais grave problema enfrentado, no cotidiano escolar, pelos

profissionais da educação, notadamente os professores. O

chamado fracasso escolar tem com a indisciplina e a falta de limites uma

profunda vinculação.

Seguindo as indicações de Foucault, considerando a escola como instituição da

sociedade disciplinar em que se estabelecem relações de poder. Há uma outra

profunda relação entre a produção da subjetividade contemporânea e as relações

de poder que circulam na escola, não somente na relação professor-aluno, mas

principalmente colocar em discussão o lugar que a instituição escolar ocupa na

configuração social da atualidade.

Falar em produção da subjetividade significa dizer que esta última não é

entendida como origem, mas como processo, de acordo com a configuração

sócio-histórica em que se localiza . A idéia de produção da subjetividade pode

ser enriquecida através da noção de subjetivação segundo Foucault (1988, 1990)

Pode-se inferir que a subjetividade hoje se produz diversamente do que se

produziu no século XX. Nesse movimento, a escola é um lugar fundamental na

constituição da subjetividade. Desta forma, a engrenagem escolar é atravessada

pela configuração social e também tem o papel de definir o sujeito.

Para discutir a forma pela qual as relações de poder circulam no espaço

escolar e de que maneira a subjetividade se produz através delas, é necessário

lançar mão da concepção de Foucault (1977) sobre a sociedade disciplinar e as

formas de poder.

De acordo com Foucault (1977), as relações de poder estabelecidas no século

XX nas instituições, no âmbito da família, da escola, das prisões ou dos quartéis,

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foram marcadas pela disciplina, cujo objetivo principal era a produção de corpos

dóceis, eficazes economicamente e submissos politicamente . As sociedades

disciplinares distribuíam os indivíduos no espaço através das técnicas de

enclausuramento. As formas de poder exercidas na disciplina podem ser melhor

ilustradas por meio do modelo arquitetônico do Panopticon, de Bentham.

A vigilância sobre os indivíduos possibilita a articulação de um poder

com um saber, que determina a correção ou não da conduta de um indivíduo.

Essa articulação se ordena em torno da norma.

Para Áries (1991), há uma articulação do surgimento da vida escolástica

com a disciplina. A diferença essencial entre a escola da idade Média e a dos

tempos modernos consistiu na introdução da disciplina, que era um método para

isolar e adestrar crianças.

Se nas sociedades disciplinares tinham como projeto vigiar as virtualidades,

docilizar os corpos prendendo- -os a um aparelho de controle e normalização, as

sociedades de controle partem de outros pressupostos. O poder que vige em tais

sociedades é um poder de modulação contínua onde os moldes não chegam

nunca a se constituir totalmente.

Segundo Vaz (1999 ) citado por Prata ( 2005 ) “mudaram as técnicas de poder,

mudou o sentido da vida que nossa cultura nos propõe, mudou o sujeito”.

De acordo com Bauman (2001), o poder hoje pode se mover com a velocidade

do sinal eletrônico e tornou-se verdadeiramente extraterritorial, não mais

limitado pela resistência do espaço.

Num contexto mais geral e político a respeito do poder cabe lembrar de Hardt

e Negri (2001), que refletem sobre uma nova ordenação mundial denominada

“Império” que eles revelam como um regime sem fronteiras.

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Paralelamente,outros modos de subjetivar estão sendo produzidos. Esse

novo modelo de subjetivação marcará presença na escola e também a forma pela

qual as relações entre professores e alunos se constituirão.

Segundo Aquino (1996; 1998), a própria configuração social na qual a escola

está inserida está mudando, e esta modificação está ligada à produção de um

outro sujeito, que vai se apresentar em todas as relações, incluindo a relação

professor-aluno.

Outra vinculação comum, ao pensarmos no assunto, é a entre o fracasso

escolar e a figura do “aluno-problema”, como bem aponta Groppa Aquino

( 2000) :

Pois bem , quando alguém se propõe a investigar as razões do “fantasma” do fracasso que ronda a todos nós, tem despontado ultimamente, dentre as muitas razões alegadas pelos educadores ( desde as ligadas à esfera governamental até aquelas de cunho social ) , uma figura-conceito muito polêmica : o “aluno-problema”. O aluno-problema é tomado, ( ... ), como aquele que padeceria de certos “distúrbios psico/pedagógicos”; distúrbios ( ... ) que podem ser de natureza cognitiva ( os tais “distúrbios da aprendizagem” ) ou de natureza comportamental, ( ... ) . Dessa forma, a indisciplina e o baixo aproveitamento dos alunos tornam-se duas faces de uma mesma moeda, representando ao mesmo tempo os dois grandes males da escola contemporânea bem como os dois principais obstáculos para o trabalho docente ( AQUINO, 2000, p.29).

Essa fala de Groppa Aquino nos remete diretamente a uma reflexão : hoje é

bastante comum o uso de um vocabulário técnico de viés psicologizante no trato

com os problemas disciplinares : são os alunos portadores de transtornos de

déficit de atenção e hiperatividade ( TDAH ) , os alunos portadores de síndrome

de Asperger e Autismo, os alunos portadores de transtornos obsessivos-

compulsivos e outros padecendo de transtornos psicológicos graves, depressões

profundas e outros problemas. Todo este vocabulário tem sido vulgarizado e os

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alunos tem sido , de certa forma, submetidos a um escrutínio que enquadre

aqueles que apresentam problemas disciplinares que a escola não consegue

resolver, numa destas categorias.

Com que propósito isso é realizado ? Uma resposta seria a constatação de que,

ao enquadrar seus alunos numa destas categorias, a escola, por meio de seus

profissionais, transfere um problema do qual não dá conta, para a esfera médica

e psicológica, contribuindo para que se enxergue a questão meramente por um

prisma de saúde mental, desconsiderando outras abordagens.

Uma outra indagação se faz necessária diante do exposto. Se a escola, e o

professor, como seu profissional mais habilitado, transferem a resolução de

problemas disciplinares para a área médico-psicológica, não estariam abrindo

mão de sua área de competência e atuação ? Quem deveria, por formação,

experiência e mesmo, missão, solucionar os problemas no âmbito da escola,

senão os profissionais que nela militam ?

É claro que não desconsideramos, em nossas reflexões, a real existência de

transtornos da área da saúde mental, mas não consideramos que eles constituem

a maior parte dos problemas que envolvam a disciplina. Outro dado interessante

da questão é apontado por Groppa Aquino ( 2000 ) : ( ... ), não é algo estranho e

contraditório para os profissionais da área educacional explicar o sucesso

escolar como produto da ação pedagógica, e o fracasso escolar como produto de

outras instâncias que não a escola e a sala de aula ?5

No trecho destacado, o autor indica uma constatação que também

presenciamos com freqüência : o sucesso escolar é responsabilidade da escola,

de seu método e projeto político-pedagógico, de seus profissionais. O fracasso é

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sempre posto na conta de outros fatores que são sempre externos à escola, os

transtornos psicológicos, a família, a questão social e outros.

Groppa Aquino enxerga, no discurso comum da escola e dos professores, uma

visão do chamado “aluno-problema” , a figura central da indisciplina,

sustentada em três eixos argumentativos : o aluno desrespeitador, o aluno sem

limites e aluno desinteressado. Para o autor são três visões equivocadas da

questão, já que tomam a disciplina como algo inerente ao trabalho pedagógico e

não como um resultado de uma tarefa realizada a contento.

Ainda , na visão do pensador, a indisciplina deveria ser considerada um sinal

de alerta, a indicar que a metodologia e o tema, tratados da maneira que o são,

constituem-se nas causas da indisciplina, já que ela é bem menor , ou não existe,

quando a ação pedagógica é realizada com sucesso.

Groppa Aquino ( 2000 ) divisa, como possível estratégia e até mesmo como

resolução do impasse disciplinar em que os profissionais se encontram hoje, a

reiteração cotidiana do docente com seus cinco compromissos ou regras éticas, a

saber : compreensão do aluno-problema como um porta-voz das relações

estabelecidas em sala de aula ; des-idealização do perfil do aluno ; fidelidade ao

contrato pedagógico ; experimentação de novas estratégias de trabalho e ação

pedagógica que concilie competência e prazer.

Numa outra vertente, Zagury ( 2006 ) , por meio de sua pesquisa, aponta uma

situação preocupante, a dos profissionais da educação que se enxergam reféns

de uma realidade complexa, da qual não encontram saída e são por ela

pressionados até o limite.

A autora inicia sua argumentação colocando em discussão determinados mitos

e visões estereotipadas que circulam livremente quando se comentam as

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dificuldades cotidianas da educação brasileira. Os mitos colocados em xeque

por meio de argumentos lógicos são os seguintes : o afeto e o carinho dos

professores são elementos imprescindíveis para que o aluno aprenda ; com um

bom professor, há aprendizagem sem esforço dos alunos e motivação natural ; a

participação da comunidade é essencial à qualidade do ensino ; se um percentual

expressivo de alunos apresenta maus resultados, significa que o professor

falhou. Zagury discute o caráter axiomático de tais

pensamentos, e como toda reflexão sobre educação termina por repeti-los como

verdades indiscutíveis.

Na visão de Zagury, o desvio das funções precípuas dos educadores são os

motivos pelos quais questões como a indisciplina tomam grande vulto, pois a

energia dos educadores para resolução de problemas está desviada para outras

problemáticas que não lhe diriam respeito. É o que ela revela, a seguir :

Não se pode supervalorizar a relação professor/aluno, ao em detrimento do saber. O professor não é psicólogo, não “trata” alunos. Ele pode e deve sim compreender os problemas, ser afetuoso e ajudar no que for possível em termos humanísticos, mas sua função precípua é ensinar. E ensinar bem, dominando o conteúdo e usando adequadas técnicas de ensino e de avaliação. Mas ensinando, que esta é a sua função. Caso contrário, estará fugindo ao compromisso básico da carreira que elegeu e na qual batalhará ( professor não trabalha, batalha ) por cerca de trinta anos de sua vida . Professor é aquele que ensina ( ZAGURY, 2006,p.73)

Refletindo sobre as palavras de Zagury, mesmo sem concordar inteiramente

com suas conclusões, podemos realmente constatar o quanto a força vital dos

professores tem sido continuamente desviada de seu foco principal que é o

ensino, para uma série de demandas, da escola , da família, dos alunos, e tudo

vinculado a um entendimento da função do profissional do ensino como um

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indivíduo responsável pelo aluno, pelo sucesso escolar, pela disciplina, pelo

bom andamento das tarefas e pelo sucesso ou fracasso escolar..

Pensando mais profundamente neste aspecto da questão levantado por Zagury,

o papel do professor tem sofrido uma ampliação de funções,

quando se trata de cobrar resultados e um desprestígio funcional e social quando

se trata de cobrar direitos e condições de trabalho.

A questão da disciplina é também tratada de modo ambíguo : se situação é

conflituosa e insustentável, a escola parece não dispor de meios para arbitrar a

questão e até proteger os indivíduos envolvidos, e aí surgem as insinuações

sobre a capacidade de gestão e controle de turma, cobrada aos profissionais,

mesmo quando a instituição não oferece os instrumentos.

Essa não é uma questão que possa ser debatida em termos simples porque

envolve uma série de concepções e visões de mundo, tanto de indivíduos,

quanto de grupos, instituições até a própria sociedade. Nesta apreciação não

devem faltar até mesmo reflexões dirigidas à política educacional dos sucessivos

governos brasileiros, que se têm algo em comum, é a disposição de realizar

reformas educacionais, de cima para baixo, de caráter imediato e quase

automático, sem discussão com a sociedade ou com os especialistas.

Deslocando a questão agora para a indisciplina e a falta de limites e

relacionando-as com a violência, tão presente nas relações sociais hoje em dia,

entendemos que a escola, como qualquer outro espaço social contemporâneo,

não está livre das manifestações de violência. Entretanto, Groppa Aquino ( 2000

) aponta o fato de que a escola ainda é uma das instituições da sociedade em que

a violência se faz menos presente.

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Se a escola fosse alvo de manifestações da violência com a freqüência com

que elas ocorrem em outras esferas sociais , qualquer trabalho pedagógico seria

de antemão inviabilizado, e não é , felizmente, o que ocorre.

Ainda assim, não se trata de considerar de menor importância a violência que

ocorre na escola, mas de colocá-la em sua real acepção : de fenômeno com

ocorrência real mas longe de representar uma escalada diária.

Devemos pensar esta violência como ocorrência que se estabelece nas relações

que se dão dentro e fora da escola ; os atores são os alunos e também os

professores, alguns como perpetradores, outros como vítimas. Em estudo na

linha das representações sociais e análise de discurso, citado por Groppa Aquino

( 2000 ), Silva ( 1997 ) , revela que alunos , professores e outros profissionais

envolvidos não se percebem como violentos, e só enxergam a violência no

outro :

Para os educadores, a violência se evidencia, de forma mais clara, na relação entre os alunos. Estes é que são violentos e geralmente os educadores não se percebem promovendo atitudes de violência para com os alunos. É como se professores, diretores e coordenadores pedagógicos fossem isentos de práticas violentas. ( ... ) No entanto, os alunos destacam que a relação entre professor e aluno nem sempre é boa, por falta de compreensão e respeito : “ há professores que não se dão respeito na classe. Em geral, não há muito respeito, por falta de respeito á idéia do outro” (AQUINO, 2000,p.55).

Como se pode ver a própria questão da violência é complexa, porque seus

atores são incapazes de enxergar como suas as manifestações dela, legitimando

apenas quando ela parte do outro, seu contrário, na situação específica em que

ocorre.

No prosseguimento de sua argumentação a respeito da violência no cotidiano

escolar , Groppa Aquino ( 2000 ) conclui que a esta difícil questão, deve

corresponder, na escola, um enfrentamento de cunho propriamente pedagógico,

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tendo como palco privilegiado o interior mesmo da sala de aula e suas relações

constitutivas. Ou seja, no entender do autor, que endossamos, é a própria

instituição escola que deve encontrar, em seus meios e recursos, as estratégias

de resolução do problema, dispensando as instâncias externas.

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TERCEIRO CAPÍTULO

OS NOVOS SUJEITOS DA EDUCAÇÃO E O MUNDO DE QUE VIERAM

Já se tornou um lugar –comum comentar-se a aceleração das transformações no mundo

contemporâneo. O velho adágio “ o que há de permanente no mundo é a mudança” já

foi incorporado como verdade pelo senso comum e até mesmo por aqueles que têm

como função a produção de uma reflexão mais abalizada sobre o mundo, entre eles não

só os intelectuais e os políticos, mas também os líderes empresariais, e obviamente, os

responsáveis pelo marketing das companhias.

O processo de mundialização ( termo preferível ao desgastado vocábulo globalização

) , que não é novo, mas antes um evento que percorre a história humana, (servem como

exemplos as Grandes Navegações e as expansões colonialista e imperialista ), tem hoje

um caráter acentuadamente veloz, certamente devido ao incremento notável que a

tecnologia , principalmente no que diz respeito à informática, à comunicação , teve, ao

longo dos últimos trinta anos. Essas transformações rápidas embaralharam, de modo

geral, as percepções dos consumidores e também dos departamentos de marketing. Há

novas necessidades, que não substituíram as antigas, e novas demandas para todos,

cidadãos, líderes, empresas, governos e instituições.

Esse processo é composto por um conjunto de transformações que ocorrem, em

termos mundiais, na esfera econômica, financeira, comercial, social, cultural e nos

modos de produção, tornando consideravelmente mais intensa a inter-relação dos países,

das comunidades e dos povos. Os mesmos efeitos acometem a informação, os padrões

culturais e o consumo.

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Essas constatações apenas reforçam a necessidade de compreender, mesmo que seja

por meio de um breve panorama histórico, o que mudou, no mundo, no marketing, no

pensamento de consumidores e nas empresas, no período denominado pelos pensadores

como modernidade tardia, ou por pós-modernismo.

As mudanças históricas circunscritas neste período delimitado foram tamanhas e em

tão grande número, e como estamos tão próximos, não é fácil vislumbrar o real

significado destas transformações. Ainda assim , é válido o esforço e o conhecimento

histórico que pode servir de base para a compreensão das características do marketing

hoje.

O “breve século XX” , como o caracteriza Erich Hobsbawn ( 1995 ), foi o mais

violento, o mais cruel, e se caracteriza como o século em que a utopia de uma

civilização única para o universo inteiro se viu destruída pelos mais fortes e

contundentes fatores de divisão e dissociação, e, paradoxalmente, enquanto era dos

extremos, realiza, de forma enviesada a noção de aldeia global, por meio da tecnologia.

Outra característica daquele que o historiador inglês denominará de “breve século

XX”, é o aspecto da destruição do passado, e em sua exposição de argumentos para

prová-lo, Hobsbawm teoriza : “ A destruição do passado – ou melhor, dos mecanismos

sociais que vinculam nossa experiência pessoal à das gerações passadas é um dos

fenômenos mais característicos e lúgubres do final do século XX. Quase todos os jovens

de hoje crescem numa espécie de presente contínuo, sem qualquer relação orgânica com

o passado público da época em que vivem.”

Como período de crise e conflito, o breve século XX também revela, de acordo com

Hobsbawm, o aspecto de crise moral e identitária, como ele apresenta no seguinte

trecho :

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Contudo, a crise moral não dizia respeito apenas aos supostos da civilização moderna, mas também às estruturas históricas das relações humanas que a sociedade moderna herdara de um passado pré-industrial e pré-capitalista e que, agora vemos, haviam possibilitado seu funcionamento. Não era a crise de uma forma de organizar sociedades, mas de todas as formas. Os estranhos apelos em favor de uma “sociedade civil” não especificada, de uma “comunidade”, eram as vozes de gerações perdidas e à deriva. Elas se faziam ouvir numa era em que tais palavras, tendo perdido seus sentidos tradicionais, se haviam tornado frases insípidas. Não restava outra maneira de definir identidade de grupo senão definir os que nele não estavam. ( HOBSBAWN, 1995, p.20, 21 )

A lógica evolucionária do capitalismo industrial, surgido no século XVIII, que

avançaria além das próprias fronteiras, e assumiria as vestes de capitalismo financeiro, é

assim caracterizado por Paul Singer ( 1987 ) :

A característica básica do capitalismo é o dinamismo tecnológico, que ocasiona periodicamente transfor- mações revolucionárias dos processos de trabalho, da organização da produção e das normas de consumo. Um modo de produção que gera mudanças tão amplas quase continuamente não pode deixar de ser flexível no plano institucional. O capitalismo superou crises que pareciam ser “finais” exatamente porque sempre encontrou um novo tipo de regulação de sua dinâmica, que permitiu seu reerguimento.(SINGER,1987,p.85)

É exatamente esse dinamismo tecnológico a que se refere Singer, que gera o paradoxo

fundamental da nossa era : Um mundo cada vez mais dividido em grupos , tribos,

identidades, e cada vez menor, pois tudo é percebido e veiculado mundialmente em

frações de tempo cada vez menores.

Tal dinamismo tecnológico permitiu precisão, rapidez nas informações e facilidades

de comunicação, provocando novas transformações no sistema capitalista. Teria início,

assim, a partir de meados da década de 1970, a chamada Terceira Revolução Industrial,

ou Revolução Informacional. As novas tecnologias de computação e telecomunicação e

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a evolução dos transportes permitiram uma expansão consideravelmente maior das

empresas chamadas transnacionais, permitindo a localização de unidades produtoras em

outros territórios, para usufruir tanto de vantagens fiscais e custos menores, como de

mão-de-obra e matéria prima baratas. Paralelamente, o capital financeiro obtém maior

fluidez e mobilidade com a expansão de uma rede financeira pelo mundo, passando a

controlar mais efetivamente o setor produtivo.

Um momento no tempo é determinante para analisar a dinâmica histórica do processo

de globalização econômica que é uma das faces primordiais de nossa era. O plano

Marshall, implementado em 1947, num esforço de reconstrução capitalista do pós-

guerra. Assim o enxerga Demétrio Magnoli (1996):

Para revitalizar os fluxos comerciais internacionais, o Plano buscava corrigir a defasagem imensa entre a acumulação de dólares no interior dos Estados Unidos e a dramática carência de dólares dos aliados europeus, transferindo moeda a juros simbólicos de um lado para outro do Atlântico Norte. Estratégia econômica de fundo geopolítico, oPlano Marshall tinha como horizonte a constituição de uma área de economia capitalista no Ocidente europeu, integrada à economia americana. Durante duas décadas, a economia capitalista mundial conheceu um boom ininterrupto, marcado por taxas de crescimento inéditas e por uma estabilidade desconhecida nas tumultuadas décadas anteriores. A Europa ocidental e o Japão tornavam-se, depois dos Estados Unidos, verdadeiras “sociedades de consumo”. Entre 1950 e 1970, os países capitalistas desenvolvidos cresceram a uma média anual de 5,3%. ( MAGNOLI, 1996, p. 146 )

A Comunidade Econômica Européia, que teria suas bases fundamentais lançadas pelo

Tratado de Roma, em 1957, e foi regulamentada pelo Tratado de Maastrich, em 1991, é

o bloco econômico herdeiro do legado do Plano Marshall.

Os anos 70 viram surgir um período de crise e recessão na economia mundial,

marcando o esgotamento do modelo de desenvolvimento econômico adotado no pós-

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guerra. Momento que ficou conhecido por “crise do petróleo”. A década de 1980 viu os

preços do petróleo desacelerarem sua tendência crescente em virtude do aumento da

oferta e caracterizou-se da seguinte maneira, no pensamento de Demétrio Magnoli

Um intenso processo de oligopolização acompanhou a abertura de novas fronteiras produtivas. As grandes empresas, favorecidas pelas encomendas do Estado e pelos programas de reconstrução da economia, engoliam os pequenos capitais e expandiam seus negócios além das fronteiras dos países-sede, tornando-se conglomerados transnacionais. ( ... ) A nova organização da base produtiva apoiou-se num esquema parecido com o do pós-guerra, ou seja, na abertura de novos setores de investimentos, direcionados agora para a informática , a biotecnologia, os novos materiais, a pesquisa aeroespacial e a química fina. Como no pós-guerra, esse processo desbravador foi acompanhado e viabilizado por gastos estatais e por estímulos à pesquisa e ao desenvolvimento. (MAGNOLI,1996,p. 151 )

Ainda segundo Demétrio Magnoli, é possível vislumbrar duas tendências antagônicas

na economia mundial contemporânea : uma, que reforça a globalização dos mercados,

intensificando o trânsito de mercadorias e investimento e buscando a extinção de

barreiras à competição no mercado mundial, e outra, de caráter de regionalização, que

busca a constituição de barreiras protecionistas no espaço intermediário entre os grandes

blocos econômicos, visando à manutenção das esferas de influência de cada uma das

zonas econômicas.

Todas as mudanças relatadas, de caráter histórico, político e econômico, refletiram

sobre a vida dos indivíduos, dos grupos, das comunidades e das sociedades.

Obviamente refletiram também sobre o padrões de comportamento. Cabe agora

investigar um pouco dos reflexos que as transformações do período tratado trouxeram

para os indivíduos e a sociedade. Um indicador dessas profundas transformações é a

questão da identidade, ou seja, de como nos identificamos hoje, de como nos

enxergamos como dotados das características típicas de um grupo ou outro. Isso é

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certamente importante, principalmente quando buscamos compreender o papel do

marketing no mundo contemporâneo.

As transformações advindas da intensificação do processo de globalização na

modernidade tardia trouxeram, também, para o indivíduo e para a sociedade, a erosão de

um sistema econômico-político que oferecia uma “segurança” em termos identitários. O

sociólogo polonês Zygmunt Bauman é um dos teóricos contemporâneos que tem como

objeto de estudo a questão da identidade. Ele afirma : “A questão da identidade também

está ligada ao colapso do Estado de bem-estar social e ao posterior crescimento da

sensação de insegurança, com a “corrosão do caráter” que a insegurança e flexibilidade

no local de trabalho têm provocado na sociedade.”12. Bauman enxerga a globalização

como uma espécie de transformação “radical e irreversível” que atingiu “as estruturas

estatais, as condições de trabalho, as relações entre os Estados, a subjetividade coletiva,

a produção cultural, a vida quotidiana e as relações entre o eu e o outro.” Para Bauman

que denomina a globalização de “modernidade líquida”, ela reflete sobre a questão da

identidade, fazendo-nos perceber que a própria não é algo sólido, como a rocha, nem

possui garantia por toda a vida, mas antes, é passível de negociação e revogação, e é

decisivamente influenciada pelos modos de agir, decisões tomadas e caminhos

percorridos pelo indivíduo. É um momento, como afirma o pensador, em que : “As

identidades flutuam no ar, algumas de nossa própria escolha, mas outras infladas e

lançadas pelas pessoas em nossa volta, e é preciso estar em alerta constante para

defender as primeiras em relação às últimas.”

Como podemos perceber é fortemente marcado o caráter de fluidez, no mundo

contemporâneo, daquilo que diz respeito à identidade do indivíduo. Daí, certamente se

origina , no pensamento de Bauman a metáfora da liquidez, de uma modernidade

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líquida, em que tudo é intercambiável e não tem rigidez, até mesmo nossa própria

identidade. O trecho seguinte explicita melhor essa teoria :

O anseio por identidade vem do desejo de segurança, ele próprio um sentimento ambíguo. Embora possa parecer estimulante no curto prazo, cheio de promessas e premonições vagas de uma experiência ainda não vivenciada, flutuar sem apoio num espaço pouco definido, num lugar teimosamente, perturbadoramente, “nem-um-nem-outro”, torna-se a longo prazo uma condição enervante e produtora de ansiedade. Por outro lado, uma posição fixa dentro de uma infinidade de possibilidades também não é uma perspectiva atraente . Em nossa época líquido-moderna, em que o indivíduo livremente flutuante, desimpedido, é o herói popular, “estar fixo” – ser “identificado” de modo inflexível e sem alternativa – é algo cada vez mais malvisto. ( BAUMAN,2005,p.19)

A fluidez das identidades é apenas uma das faces mais visíveis da ambivalência,

característica fundamental do mundo contemporâneo, de acordo com Bauman. Essa

fluidez também se estende aos relacionamentos do indivíduo, no “mundo em que o

aspecto mais importante é acabar depressa, seguir em frente e começar de novo, o

mundo de mercadorias gerando e alardeando sempre novos desejos tentadores a fim de

sufocar e esquecer os desejos de outrora.” É óbvio supor que esses padrões de

comportamento se refletem quanto ao consumo. A visão de Bauman é bastante crítica

em relação a este aspecto, revelando um mundo em que todas as formas de certeza e

permanência foram deixadas de lado. Tudo isso é resultado de uma maturação, como ele

aponta : “A história moderna também foi ( e ainda é ) um esforço contínuo para afastar

os limites do que pode ser mudado à vontade pelos seres humanos e “aperfeiçoado” para

melhor se adequar às necessidades ou desejos destes. Foi também uma busca incessante

por ferramentas e know-how que permitissem que os derradeiros limites fossem

cancelados e abolidos completamente.” Quando Bauman se refere a desejos e vontades

não podemos deixar de pensar em marketing.

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Como afirmamos anteriormente a idéia de Bauman a respeito do mundo

contemporâneo, principalmente quando pensa acerca das relações de consumo, é

bastante pessimista. Em outro texto, “O corpo do consumido”, Bauman aprofunda suas

críticas. Segundo ele, a sociedade hodierna revela seus integrantes como consumidores

antes que produtores ; enquanto que a vida regida pela condição de produção é

normativamente regulada, a vida orientada para o consumo é constituída pela ausência

de normas e guiada pela sedução. Deve-se estar sempre pronto, para aproveitar as

oportunidades, desenvolver novos desejos e buscar novas necessidades. Na sociedade

de consumo a possibilidade de liberdade individual e de liberdade de possuir uma

identidade é dependente da condição de consumidor. Para viver numa sociedade em que

a instabilidade é elemento formador das identidades é necessário estar sempre em alerta.

Estar apto e flexível, capaz de reajustar-se aos padrões continuamente cambiantes do

mundo exterior. A escolha do consumidor é um valor em si mesma, é o ato da escolha

que importa, em detrimento daquilo que foi escolhido e as escolhas são elogiadas ou

censuradas, na proporção da gama de escolhas que oferecem. A mudança de identidade

é uma questão privada,mas, implica romper laços e cancelar determinadas obrigações. O

dinamismo e a flexibilidade da identificação na ida às compras é na verdade a

redistribuição das liberdades e tende a gerar reações incoerentes e quase neuróticas. Na

sociedade de consumo a identificação, interna ou compartilhada com os outros, sempre

induz à competição acirrada , encerrando a possibilidade de cooperação e solidariedade.

Como se pode perceber , a conclusão de Bauman é bastante pessimista, porque não

enxerga no mundo contemporâneo, nas atuais relações de consumo, a possibilidade de

geração de riqueza para todos e de desenvolvimento sustentável. Em que pesem estas

negatividades, a análise profunda de Bauman pode contribuir para uma compreensão da

nova face do consumidor atual.

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Outro teórico contemporâneo que reflete sobre a questão das identidades é Stuart Hall

( 2004 ). E como Bauman, suas reflexões se tecem contextualizadas no processo de

globalização. Isso significa que a questão da identidade não está desvinculada da

problemática maior da vida e das sociedades no mundo contemporâneo. De acordo com

Hall, as “velhas” identidades, que, ao longo da história forneceram uma estabilidade ao

universo social, encontram-se hoje em estágio de franca decadência, sendo substituídas

por novas identidades e conduzindo os indivíduos à fragmentação, destruindo sua

percepção de sujeitos unificados. É o que ele chama de “crise das identidades”, e que

ele classifica como parte de um processo mais amplo de abalo das estruturas e quadros

de referência das sociedades.

Discutindo a visão teórica sobre o tema, partindo da assunção de que as identidades

estão em colapso, ele declara :

Um tipo diferente de mudança estrutural está transformando as sociedades modernas no final do século XX. Isso está fragmentando as paisagens culturais de classe, gênero, sexualidade, etnia, raça e nacionalidade, que, no passado, nos tinham fornecido sólidas localizações como indivíduos sociais. Estas transformações estão também mudando nossas identidades pessoais, abalando a idéia que temos de nós próprios como sujeitos integrados. Esta perda de “um sentido de si” estável é chamada, algumas vezes, de deslocamento ou descentração do sujeito. Esse duplo deslocamento – descentração dos indivíduos tanto de seu lugar no mundo social e cultural quanto de si mesmos – constitui uma “crise de identidade” para o indivíduo.(HALL,2004, p.9 )

Todo esse processo leva , finalmente, à constituição do sujeito pós-moderno, que não

seria, então, dotado de uma identidade constante, essencial ou permanente, e seria da

seguinte maneira, como teoriza Hall :

A identidade torna-se uma “celebração móvel” : formada e transformada continuamente em relação às formas pelas quais somos representados ou interpelados nos sistemas culturais que nos rodeiam (Hall , 1987 ). É definida historicamente, e não biologicamente. O sujeito assume identidades diferentes em diferentes momentos, identidades que não são unificadas ao

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redor de um”eu” coerente. Dentro de nós há identidades contraditórias, empurrando em diferentes direções, de tal modo que nossas identificações estão sendo continuamente deslocadas. Se sentimos que temos uma identidade unificada desde o nascimento até a morte é apenas porque construímos uma cômoda estória sobre nós mesmos ou uma confortadora “narrativa do eu” (veja Hall, 1990 ).( HALL, 2004, p. 12,13 )

Nas considerações finais de Hall, no capítulo intitulado Globalização, ele afirma que na proporção em que a chamada vida social se encontra mediada pelo que denomina de mercado global de estilos, lugares, pelas imagens veiculadas pela mass media, de alcance global, mais acentuada se torna a fragmentação das identidades, desvinculando-as, desligando-as, desalojando-as de origens, tempos específicos, histórias e tradições, levando-as a um estado de “livre flutuação”. Ele assim prossegue :

( ... ). Somos confrontados por uma gama de diferentes identidades ( cada qual nos fazendo apelos, ou melhor, fazendo apelos a diferentes partes de nós ) , dentre as quais parece possível fazer uma escolha. Foi a difusão do consumismo, seja como realidade, seja como sonho, que contribuiu para esse efeito de “supermercado cultural”. No interior do discurso do consumismo global, as diferenças e as distinções culturais, que até então definiam a identidade, ficam reduzidas a uma espécie de língua franca internacional ou de moeda global, em termos das quais todas as tradições específicas e todas as diferentes identidades podem ser traduzidas, Este fenômeno é conhecido como “homogeneização cultural”. ( HALL,2004, p.75)

Em que medida essas reflexões sobre a questão ou a crise das identidades nos

importam ? Todas estas mudanças e transformações, nos indivíduos e nas sociedades

implicam também profundas alterações nos padrões de comportamento. Para lidar com

estas mudanças sociais e dos indivíduos , uma alternativa estratégica de ação para os

gestores escolares é a mediação de conflitos.

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QUARTO CAPÍTULO

A MEDIAÇÃO DE CONFLITOS COMO ESTRATÉGIA DE AÇÃO DOS

GESTORES EDUCACIONAIS

A Mediação de conflitos no contexto da vida escolar pode constituir-se numa

alternativa estratégica de ação, a ser utilizada pelos gestores, com o fim de facilitar as

difíceis lidas cotidianas dos profissionais da educação. De qualquer ângulo por que se

observe a questão, é importante lembra que o conflito não é uma situação nova pois

onde existam indivíduos haverá conflito.

Assim é fundamental compreender a essência do conflito em contexto escolar e buscar

o entendimento de que a mediação pode efetivamente significar em relação ao manejo

dos embates cotidianos.

Alguns pressupostos se fazem necessários ao gestor para que, ao lançar mão das

possibilidades oferecidas pela mediação, possa assegurar-se de que é uma real

possibilidade de trabalho. Pode-se dizer, sem incorrer em risco de erro , que uma boa

escuta e uma postura de assertividade são essenciais ao profissional.

Ao se pensar em conflito, ou numa definição mais precisa do que significa , equivale a

determinada situação em que se constata um desentendimento, um choque de visões e

pensamentos, entre dois ou mais indivíduos. Aqui, no caso presente entendemos

conflito em sua acepção negativa, de confronto que necessita de intervenção e

gerenciamento.

É importante compreender que o conflito pode ser enxergado também como uma clara

oportunidade de colocar às claras questões irresolvidas e prementes , em como a

possibilidade de desenvolvimento de laços mais estreitos e de autonomia nas relações.

Já que o conflito se estabelece a partir do choque das opiniões pode significar a

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possibilidade de conhecer e compartilhar distintos modos de enxergar as questões,

permitindo aos envolvidos a experiência da diversidade.

O gestor, ao agir como mediador de conflitos , deve sempre ter em mente o

“equipamento” necessário para sua ação mediadora e corretiva :a atitude assertiva, a

escuta ativa e empatia. São essas posturas reveladoras aos indivíduos envolvidos de que

há um desejo e uma disposição ativa no sentido de resolver o problema.

É importante, também, conceituar aquilo que denominamos de escuta ativa. É uma

forma de escuta das partes que possibilita a quebra das barreiras de comunicação entre

elas , já que atenta também para os sentimentos e emoções envolvidos, a linguagem

não-verbal e o contexto.

É, a escuta ativa, uma técnica de comunicação que detém uma considerável

importância para a solução de conflitos , já que leva em consideração os aspectos

emocionais das partes envolvidas no conflito.

Como se pode constatar, cotidianamente, a maior parte dos conflitos tem sua gênese

na dificuldade de comunicação e na escuta e aceitação de opiniões divergentes. Assim, a

escuta ativa assume um papel preponderante pois é a partir dela que vislumbramos

entender as necessidades e os interesses dos envolvidos no conflito.

Saber escutar é fundamental já que possibilita a criação de empatia, que é o primeiro

passo para a constituição de um espaço propício à descoberta de soluções para o

conflito.

A não resolução de conflitos estimula a perpetuação de ambientes conturbados,

levando ao desgaste e à desmotivação dos profissionais envolvidos.

Cabe ao gestor, ao escolher a mediação como alternativa estratégica de ação,

estimular a criação de um ambiente em que imperem as possibilidades de diálogo .

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Destarte, cabe também a ele o treinamento e a habilitação de competências

mediadoras para a administração de conflitos para professores e alunos e para todos que

trabalham no contexto escolar.

É uma tendência aferível, no mundo, o crescimento do número de estudos que se

voltam para o estudo e a análise da mediação, entre outros meios pacíficos de resolução

de conflitos. A escola é um campo privilegiado para estes estudos.

O ambiente escolar é um lugar onde convivem, cotidianamente, indivíduos dos mais

diversos espectros sociais, culturais , econômicos assim, é esperado que ocorram

conflitos, das mais diversas espécies. Torna-se essencial, então uma competente gestão

dos problemas para que não interfiram, de modo negativo, sobre o processo de ensino-

aprendizagem. É como afirmam Sales & Alencar ( 2009 ) : Em face dessa diversidade

de comportamentos e da multiplicidade de conflitos que podem surgir, a mediação se

apresenta como importante meio para tentar solucionar e bem administrar quaisquer

divergências que se desenvolvam na instituição de ensino.17

A mediação de conflitos compõe o grupo dos meios pacíficos e amigáveis de resolução

e gestão competente para a resolução de conflitos. Baseia-se no diálogo e na

solidariedade humana. As partes envolvidas tentam resolver por meio do diálogo,

mediado por um terceiro, habilitado e imparcial que visa facilitar o diálogo e

encaminhar a solução.

Assim a mediação permite a superação da cultura do conflito em prol da cultura do

diálogo. É importante lembrar que busca um acordo que beneficie os dois lados

envolvidos no conflito.

A violência, presença tão constante no contexto escolar da atualidade, pode

promover a erosão os vínculos existentes entre as pessoas, cada vez. A mediação

praticada nas escolas permite aos envolvidos o desenvolvimento da tolerância, do

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respeito às diferenças, da solidariedade, estimulando o surgimento da igualdade, da

justiça, do desenvolvimento humano, condições básicas para uma democracia

participativa.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

As técnicas de mediação constituem uma ferramenta , ou melhor, uma abordagem

para a resolução de conflitos nas relações cotidianas das negociações , que é, senão o

ativo mais valioso, é dos mais importantes no padrão de operações de uma escola.

Vivemos um momento histórico em que as mudanças de padrões de comportamento se

dão numa velocidade tal que o que era certeza ontem é dúvida hoje e amanhã já é

certeza de outra ordem. As escolas buscam adaptar-se a essa realidade em constante

transformação, e lutar pela sobrevivência num mercado repleto de concorrentes e

opções.

Além das mudanças nos padrões de comportamento, há também a transformação do

próprio indivíduo. Há muitas opções de escolha, e há facilidade de buscar informações

sobre as escolas, e mudou o pensamento das famílias. Existem hoje grupos de pais

conscientes, exigentes e que demandam das escolas capacidade e habilidades para lidar

com as questões surgidas em contexto escolar e não medem esforços para fazer cumprir

aquilo que consideram justo.

Estas transformações, relatadas de maneira breve na primeira parte deste trabalho, são

responsáveis também pela tomada de consciência, por parte das escolas e das famílias,

de que há um novo jogo para ser jogado, e as regras não estão em nenhum manual.

Diante de um tempo de incertezas, transformações e mudanças contínuas , o mais

importante é contar com a possibilidade de ter à mão, no momento do conflito , o

conhecimento técnico da mediação , como meio pacífico para resolução de conflitos.

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É o que esperam as novas famílias, mais exigentes, conscientes, com maior poder de

escolha e de decisão, a demandar das escolas mais qualidade, mais atendimento e mais

conhecimento para lidar com os conflitos.

A utilização da mediação para lidar com os conflitos se constitui numa ferramenta de

gestão moderna para as escolas, num mundo em constante mudança .

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NOTAS

1- Página 66 in BAUMAN ,Zygmunt Modernidade Líquida . Rio de Janeiro :

Jorge Zahar Ed., 2005

2- Página 55 in AQUINO, Julio Groppa ( org. ) Indisciplina na Escola

São Paulo: Summus, 1996

3- BELINTANE, Claudemir O poder de fogo da relação educativa na mira

de novos e Velhos prometeus. Cadernos CEDES – n. 47 , 1998

4- Página 29 in AQUINO, Julio Groppa Do cotidiano escolar São Paulo :

Summus, 2000

5- Página 30 in AQUINO, Julio Groppa Do cotidiano escolar São Paulo :

Summus, 2000

6- Página 73 in ZAGURY, Tania O professor refém São Paulo: 2006

7- Página 55 in AQUINO, Julio Groppa Do cotidiano escolar São Paulo :

Summus, 2000

8-Páginas 20 e 21 in HOBSBAWN, Eric Era dos Extremos : o breve

século XX : 1914-1991 . São Paulo: Companhia das Letras, 1995

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9- Página 85 in SINGER , Paul O capitalismo – Sua Evolução, Sua

Lógica e Sua Dinâmica . São Paulo : Moderna, 1987

10- Página 146 in MAGNOLI, Demétrio O Mundo Contemporâneo –

Relações Internacionais 1945-2000 . São Paulo : Moderna, 1996

11- Página 151 in MAGNOLI, Demétrio O Mundo Contemporâneo –

Relações Internacionais 1945-2000 . São Paulo : Moderna, 1996

12- Página 11 in BAUMAN ,Zygmunt Identidade : entrevista a

Benedetto Vecchi. Rio de Janeiro : Jorge Zahar Ed., 2005

13- Página 19 in BAUMAN ,Zygmunt Identidade : entrevista a

Benedetto Vecchi. Rio de Janeiro : Jorge Zahar Ed., 2005

14- Página 9 in HALL ,Stuart A identidade cultural na pós-

modernidade. Rio de Janeiro : DP & A,2004

15- Páginas 12 e 13 in HALL ,Stuart A identidade cultural na pós-

modernidade. Rio de Janeiro : DP & A,2004

16- Página 75 in HALL ,Stuart A identidade cultural na pós-

modernidade. Rio de Janeiro : DP & A,2004

17- SALES, Lília Maia de Morais; ALENCAR, Emanuela Cardoso

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