UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · ... o toque, desde o berçário até os...

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” PROJETO A VEZ DO MESTRE <> <> <> <> <> A GESTÃO PARTICIPATIVA NA CRECHE PÚBLICA <> <> <> Por: Adriana Fernandes Gama Basílio <> <> <> Orientador Prof. Ms Diva Maranhão Rio de Janeiro 2009

Transcript of UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · ... o toque, desde o berçário até os...

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

<>

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A GESTÃO PARTICIPATIVA NA CRECHE PÚBLICA

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<>

Por: Adriana Fernandes Gama Basílio

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Orientador

Prof. Ms Diva Maranhão

Rio de Janeiro

2009

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

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A CRECHE PÚBLICA, A CRIANÇA E A FAMÍLIA.

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Apresentação de monografia à Universidade

Candido Mendes como requisito parcial para

obtenção do grau de especialista em Administração

Escolar e Supervisão Educacional.

Por: Diva Maranhão

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AGRADECIMENTOS

.... A família pelo apoio, compreensão,

e carinho dedicados a cada dia ao

longo da minha jornada...

4

DEDICATÓRIA

..... dedico mais uma vitória aos meus

filhos, para que sirva de exemplo em suas

vidas .......

5

RESUMO

Esse estudo foi produzido para estudar uma dificuldade encontrada pelo

gestor de creche pública da cidade do Rio de Janeiro, inserida em comunidade

carente, com relação às diferenças sociais tão marcantes em nossa cidade, e

a necessidade de se ter a família como parceira do desenvolvimento infantil,

da construção da identidade e autonomia da criança.

Partilhar a responsabilidade com a família é estar presente no cotidiano

da vida da criança, ter um olhar pedagógico sobre o seu desenvolvimento, e

dessa forma, contribuir junto com a participação da família, para que a criança

obtenha todas as possibilidades de crescimento nas áreas física e motora,

intelectual e cognitiva, e social, com o objetivo de garantir o pleno

desenvolvimento infantil.

A parceria também visa fortalecer os vínculos familiares através de

ações pedagógicas que permitam a interação da família-criança-creche.

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METODOLOGIA

O estudo dessa monografia foi realizado através da minha prática como

gestora de uma creche pública municipal da Prefeitura da Cidade do Rio de

Janeiro.

Tomarei como base os cinco anos de atuação que possuo e as leituras

indicadas tanto na graduação que fiz em Pedagogia, com habilitação em séries

iniciais, quanto as indicadas no curso de Administração Escolar.

E ainda na legislação vigente como a Lei de Diretrizes e Bases da

Educação Nacional – Lei 9394/96, os Referenciais Curriculares Nacionais para

Educação Infantil – RCNEI.

Farei uma retrospectiva do trabalho que desempenho citando alguns

projetos e formas de atuação e os resultados obtidos durante todo o tempo de

atuação.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 08

CAPÍTULO I - A responsabilidade compartilhada 11

CAPÍTULO II - A interação 33

CONCLUSÃO 38

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 40

ÍNDICE 59

FOLHA DE AVALIAÇÃO 63

8

INTRODUÇÃO

Nossa creche fica situada em uma Comunidade na cidade do Rio de

Janeiro, palco de violência constante para nossas crianças, seja através do

que vêem pelas ruas e vielas da comunidade ou até mesmo dentro da sua

própria casa, tais como drogas e armas, ou ainda, pelo que ouvem como tiros

e bombas. Cria-se então uma infância sofrida, sobressaltada, angustiada, triste

e amedrontada.

Diante dessa realidade, qual é o papel do gestor? Entendo que é

competência do diretor mostrar a essas crianças e suas famílias, que existe

também outra realidade.

Através de uma ação pedagógica voltada para a afetividade, para a

beleza das artes, da música e da dança, procurando encontrar dentro de cada

pequenino coração o que o ser humano tem de melhor para dar.

O espaço da creche a todo o momento e tudo o que acontece nele, é

motivo para a aprendizagem, pois para nossa criança na mais tenra idade tudo

é novo, o olhar, o toque, desde o berçário até os primeiros passos, comer

sozinho, cada momento do cotidiano é descoberta na vida da criança.

Os Referenciais Curriculares Nacionais para a Educação Infantil –

RCNEI traz para a discussão o tema:

“No ato de alimentar ou trocar uma criança pequena não é só o cuidado com a alimentação e higiene que estão em jogo, mas a interação afetiva que envolve a situação. Ser carregado ao colo e, ao mesmo tempo, ter o seio ou mamadeira para mamar é uma experiência fundamental para o ser humano. Na relação estabelecida, por exemplo, no momento de tomar a mamadeira, seja com a mãe ou com o professor de educação infantil, o binômio dar e receber possibilita às crianças aprenderem sobre si mesmas e estabelecerem uma confiança básica no outro e em suas próprias competências. Elas começam a perceber que sabem lidar com a realidade, que conseguem respostas positivas, fato que lhes dá segurança e que contribui para a construção de sua identidade.” (RCNEI, 1998, p. 28)

9

A riqueza de momentos no cotidiano da creche é imensa, para que a

nossa ação seja intencional precisamos nos planejar e utilizar as brincadeiras

e a fantasia como auxiliadores da aprendizagem.

A partir da brincadeira conseguimos estabelecer relações que servirão

para a construção da cidadania da criança, pois é na brincadeira que a criança

aguarda a sua vez para ouvir e falar, ela aprende as regras, o respeito e a

autonomia.

Nos Referencias Curriculares Nacionais o tema brincadeiras é

explicado de seguinte forma:

“As brincadeiras de faz-de-conta, os jogos de construção e aqueles que possuem regras, como os jogos de sociedade (também chamados de jogos de tabuleiro), jogos tradicionais, didáticos, corporais etc., propiciam a ampliação dos conhecimentos infantis por meio da atividade lúdica. É o adulto, na figura do professor, portanto, que, na instituição infantil, ajuda a estruturar o campo das brincadeiras na vida das crianças. Conseqüentemente é ele que organiza sua base estrutural, por meio da oferta de determinados objetos, fantasias, brinquedos ou jogos, da delimitação e arranjo dos espaços e do tempo para brincar. Por meio das brincadeiras os professores podem observar e constituir uma visão dos processos de desenvolvimento das crianças em conjunto e de cada uma em particular, registrando suas capacidades de uso das linguagens, assim como de suas capacidades sociais e dos recursos afetivos e emocionais que dispõem.” (RCNEI, 1998, p. 28)

E a partir da fantasia damos a oportunidade da criança sonhar, amar,

criar e viver momentos diferentes da sua realidade contribuindo para a sua

formação.

A gestão de uma Unidade Escolar necessita ser compartilhada,

participativa. Hoje o gestor precisa dar espaço para o responsável conhecer a

creche e o trabalho desenvolvido nela. Receber os pais na creche e permitir

que eles se envolvam no seu cotidiano, isso dará ao responsável um

sentimento de confiança e pertencimento, e principalmente a segurança de

que seu filho passará bem o dia, pois ele conhece a rotina, o espaço, os

profissionais, enfim ele conhece a creche.

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Portanto é competência do gestor propiciar reuniões e atividades com

a participação dos pais, festas e principalmente oferecer um canal aberto para

que o responsável perceba-se como parte integrante da creche.

11

CAPÍTULO I

A RESPONSABILIDADE COMPARTILHADA

Começo este capitulo citando uma poesia do autor Casemiro de Abreu,

que retrata a infância de outrora, com o intuito de revelar a história da infância

e compreender a situação da infância na atualidade, pois a história traz

consigo lembranças de uma infância sofrida, esquecida, e suas heranças nos

deixaram marcas até os dias de hoje.

INFÂNCIA

Ó anjo da loura trança, que esperança

nos traz a brisa do sul! - Correm brisas das montanhas...

Vê se apanhas A borboleta de azul!...

Ó anjo da loura trança,

És criança, A vida começa a rir.

- Vive e folga descansada. Descuidada

Das tristezas do provir.

Ó anjo da loura trança, Não descansa

A primavera inda em flor; Por isso aproveito a aurora

Pois agora Tudo é riso e tudo amor.

Ó anjo da loura trança,

A dor lança Em nossa alma agro descer. - Que não encontres na vida

Flor querida, Senão contínuo prazer.

Ó anjo da loura trança,

A onda é mansa O céu é lindo dossel;

E sobre o mar tão dormente, Docemente

Deixa correr teu batel.

Ó anjo da loura trança, Que esperança

Nos traz a brisa do sul!

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- Correm brisas das montanhas... Vê se apanhas

A borboleta de azul!...

Ao iniciarmos nosso estudo questionamos qual é o papel do gestor de

uma creche pública inserida em uma comunidade, prefiro não citar o nome da

creche, garantindo o sigilo do estudo realizado, e os comentários que se

seguem. Também falamos da importância do gestor, ter junto da sua

administração, a presença do responsável, pois precisamos da família atuando

em parceria conosco, para conseguirmos os melhores resultados em nosso

trabalho.

Nesse primeiro capítulo tentarei mostrar a importância do gestor

trabalhar contando com a participação dos responsáveis.

“A gestão da relação entre a instiuição educacional e a família varia conforme as situações, os sistemas, as tradições, a representação feita do papel da coletividade em relação à família e à criança. Por sua vez, o poder que os pais podem exercer na creche ou pré-escola depende de suas expectativas, representações sociais e experiência pessoal de escolarização, que, por sua vez, derivam de seu nível social” (OLIVEIRA, 2005, p.177).

A criança na creche tem atendimento das 7 horas até às 17 horas,

somando 10 horas diárias, durante cinco dias úteis da semana. Não existe

parceria ou visitas de médicos, ou unidades de saúde, com a creche. Portanto

são os responsáveis que precisam levar as crianças a médicos para

acompanhamentos e vacinas. Além disso também é necessário estar atento a

possíveis dificuldades que possam vir a aparecer na vida da criança, tais

como: motora, visual, auditiva e mental. Se nós educadores passamos dez

horas com a criança somos responsável pelo seu desenvolvimento, pois será

na creche que a criança vai andar e falar, portanto, sob quaisquer suspeita

chamamos os responsáveis para dividir com eles nossas preocupações, e

também solicitamos sua intervenção, levando o encaminhamento que se fizer

necessário, a uma Unidade de Saúde.

Farei um breve histórico do atendimento das creches, fazendo um

recorte no final do século XIX, logo após a abolição da escravatura na nossa

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sociedade brasileira, com o objetivo de situar as creches, as crianças e as

famílias na sociedade atual.

Segundo o artigo de KUHLMANN JUNIOR, 1991, o inicio das

instituições pré-escolares data de 1899, marcado com a fundação do Instituto

da proteção e Assistência à Infância do Rio de Janeiro, e a inauguração da

creche da Companhia de Fiação e Tecidos Corcovado. Com uma visão

essencialmente assistencialista a pré-escola, ainda para KUHLMANN JUNIOR,

foi fruto de articulações de forças de empresários, médicos, juristas,

pedagogos e religiosos, e a partir desses interesses deram origem às

influências médico-higienista, a jurídico-policial e a religiosa.

Para OLIVEIRA, 2005, a historia da educação infantil em nosso pais,

procura acompanhar o modelo americano e europeu, porém adquire suas

próprias características aqui no Brasil, pois eram raras as creches ou parques

infantis. A população rural dava conta de cuidar da grande quantidade de

crianças órfãs, filhas dos senhores que abusavam das negras escravas ou

índias, ou ainda, na população urbana, os filhos de moças de famílias

abastadas utilizavam as rodas dos expostos, para dar conta da criança

indesejada.

A historia nos mostra que no início, o assistencialismo prevalecia em

face a pedagogia, pois a creche não poderia substituir a família.

Foi, portanto, a partir das grandes mudanças na sociedade brasileira

tais como a abolição da escravatura, a republica, a urbanização e a

industrialização que se percebeu uma mudança na estrutura da família, com

uma participação maior da mão-de-obra feminina. A creche nesse momento

visava atender aos interesses dos empresários, pois precisavam da força de

trabalho da mulher. Porém, ao mesmo tempo criava-se uma contradição, que o

melhor lugar para a criança e mãe era no lar. Até os dias de hoje percebe-se

mulheres que choram por ter que deixar seus filhos nas creches, pois há

inculcado um sentimento de culpa na mulher que precisa trabalhar e necessita

de uma creche para seu filho.

Ao final do século XX a Constituição Federal de 1988 reconheceu a

educação infantil como direito da criança e dever do Estado. Em seguida, 1990

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foi promulgado o Estatuto da Criança e do Adolescente, que tornou concreto

os direitos conquistados com a Constituição. Aumentou o debate sobre

educação infantil, sendo necessária uma nova Lei de Diretrizes e Bases da

Educação Nacional - LDBEN, em 1996. Nessa discussão surgiu o tema Educar

e Cuidar, tornando como centro de toda pedagogia em creche, percebendo-se

que a função destes dois temas é indissociável.

Para a autora BOJES a história muito contribuiu ao longo do tempo:

“Cada época tem sua maneira própria de considerar o que é ser criança e de caracterizar as mudanças que ocorrem com ela ao longo da infância. Nos últimos três ou quatro séculos, a criança passou a ter uma importância como nunca havia ocorrido antes e ela começou a ser descrita, estudada, a ter o seu desenvolvimento previsto, como se ele ocorresse sempre do mesmo jeito e na mesma seqüência (de forma linear e progressiva). Uma série de transformações que estão ocorrendo hoje, nos modos de pensar a experiência humana, nos permite dizer que as descrições feitas pelos psicólogos, por exemplo, de como se dá o desenvolvimento humano, nada mais são do que uma explicação entre muitas outras possíveis este fenômeno. Portanto, a idéia de sujeito em formação e de como é vivida a experiência da infância podem variar de época para época (são históricas) e as escolhas que fazemos para dirigir este processo também.” (BOJES, 2001, p.17).

Hoje nossa escolha em relação ao desenvolvimento humano é

baseada no Projeto Político Pedagógico – PPP que cada Unidade Escolar

deve ter, este prevê a participação de toda a Comunidade Escolar, que são:

corpo docente, discente, demais funcionários e pais ou responsáveis.

Portanto, será a comunidade escolar responsável por pensar que ser

humano quer formar e para qual sociedade. A cidadania será a portanto a idéia

ao se planejar na creche. Ouvir os pais é muito importante, pois será o seu

filho que iremos contribuir na formação, e que precisa ter na família a

continuidade da sua formação.

Para compartilhar com as famílias esta responsabilidade precisamos

estar de comum acordo, e esse ponto de interseção é o Projeto Político

Pedagógico que irá dar suporte ao desenvolvimento de todo o trabalho na

creche.

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Em reunião com a comunidade a direção, funcionários e educadores

estabelece normas de funcionamento para a creche onde estabelece-se

horários, acordos, calendário e a rotina.

Os pais assinam concordando, e esse documento serve de

embasamento para o funcionamento, e partilhado e discutido com toda a

comunidade escolar, por fim é aprovado.

Foi após esse espaço de diálogo com pais e funcionários que a creche

ganhou respeito com a comunidade, através da participação e dessa forma

passaram a cumprir as regras de forma consciente.

A seguir segue um trecho das Normas de funcionamento da creche em

que atuo para servir de exemplo e demonstrar uma forma de relacionamento

da Unidade Escolar com a família.

O Horário de Funcionamento é de 2ª feira à 6ª feira das 7 horas às 17

horas. Para reclamações ou sugestões pedimos aos pais ou responsáveis que

se dirijam a secretaria da Creche, estaremos prontas para ouvi-los. É

responsabilidade dos pais manter a creche sempre informada sobre mudança

de endereços e telefones, da residência ou do trabalho.

O Horário de entrada é às 7 horas (com tolerância de 30 minutos). O

portão será fechado após as 7 horas e 30 minutos. Exceto nos casos de

consultas, exames ou vacinas comprovados com atestados, a entrada será até

às 10 horas.

O Horário de saída é às 17 horas. Na saída a criança será entregue

somente ao responsável ou à pessoa autorizada.

O responsável não deverá se atrasar no horário de saída, pois a criança

se sente abandonada.

A criança perderá a vaga caso venha a ter faltas não justificadas no período de

30 dias.

O uso do uniforme é importante, pois identifica a criança como aluno da

Creche. A criança deve vir diariamente uniformizada e trazer outra roupa para

a troca: camisa da Prefeitura; short Jeans ou azul marinho; tênis , sandálias

ou chinelos.

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A Higiene da criança começa em casa, ela deve estar sempre com os

cabelos tratados e aparados para evitar piolhos, como também as unhas

precisam estar aparadas para evitar arranhões.

A roupa da criança deve estar sempre limpa, inclusive as mochilas

precisam ser verificadas diariamente fazendo a troca das roupas. O

responsável deverá manter sempre um saco plástico para as roupas que

estiverem sujas.

Todo material e objetos da criança de uso pessoal precisam ser

identificados com o nome da criança, tais como o uniforme; a toalha de banho,

o lençol; a mochila; os objetos para higiene da criança como a escova de

dentes e creme dental, pente, saboneteira com sabonete, xampu e creme

para os cabelos, caso seja necessário e chinelos.

A criança não deverá vir para a creche com pulseiras, brincos e cordões.

Evitar de dar moedas a criança pois ela poderá ingeri-la.

Pedimos que não tragam brinquedos de casa.

Não mande a criança para a creche com febre, diarréia ou com qualquer

anormalidade.

A criança com doença infecto-contagiosas só poderá freqüentar a

creche com liberação médica.

Caso a criança apresente alguma anormalidade na saúde, percebida

durante o horário de permanência na creche, entraremos em contato com o

responsável para vir buscá-la e levá-la ao POSTO MÉDICO e somente deverá

retornar com a criança mediante atestado médico, sendo necessário o uso de

medicamentos somente será feito com receituário do médico.

A alimentação da criança na creche foi elaborada pelo Instituto de

Nutrição Annes Dias, com quatro semanas de cardápios diferentes.

Há uma grande variedade de proteínas, cereais, frutas, legumes e

verduras, apresentados as crianças de acordo com a sua idade.

Não se faz necessário trazer nenhuma espécie de alimento de casa,

portanto não será permitida a entrada de crianças com doces, balas, biscoitos,

entre outros.

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1.1 – O Desenvolvimento social, intelectual e emocional

da criança

O desenvolvimento da criança na creche é o ponto fundamental de

observação e avaliação. Ele será o fator determinante das nossas ações,

intenções e objetivos, já que a finalidade da Educação Infantil, segundo a Lei

de diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDBEN/96, é de desenvolver a

criança nos aspectos social, intelectual e emocional, podemos observar no

artigo a seguir:

“Art. 29. A educação infantil, primeira etapa da educação básica, tem como finalidade o desenvolvimento integral da criança até seis anos de idade, em seus aspectos físico, psicológico, intelectual e social, complementando a ação da família e da comunidade.

Art. 30. A educação infantil será oferecida em:

I - creches, ou entidades equivalentes, para crianças de até três anos de idade;

II - pré-escolas, para as crianças de quatro a seis anos de idade.

Art. 31. Na educação infantil a avaliação far-se-á mediante acompanhamento e registro do seu desenvolvimento, sem o objetivo de promoção, mesmo para o acesso ao ensino fundamental.” (LDBEN, 1996).

No cotidiano da creche em que atuamos, situado em uma comunidade

carente de recursos financeiros, como já foi dito no inicio deste estudo,

percebemos que para os pais ou responsáveis, a maior importância é a

alimentação ofertada pela creche e os cuidados de higiene tais como banho e

asseio do corpo, estes são para os pais os pontos primordiais para se querer

uma vaga para seus filhos, eles entendem a alimentação, como garantia de

estar bem para a criança, provavelmente pela dificuldade financeira que os

aflige. Também pela dificuldade de saneamento básico.

Certa vez, em conversa com um responsável, o mesmo me

confidenciou que sua maior alegria era saber que sua filha podia “tomar banho”

– atividade para nós, básica e indispensável – na creche, pois ela morava na

invasão de uma fábrica abandonada, que foi dividida em lotes, porém não

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possuía nenhuma infra-estrutura básica, não havia água e muito menos

banheiro e esgoto.

Por esse motivo precisamos buscar a conscientização dos pais ou

responsáveis quanto à importância de se educar na creche. Tentar através de

reuniões e projetos que prevêem a participação dos pais, para mostrá-los

como a creche atua nos aspectos social, intelectual e emocional do seu filho.

Para isso, tanto a Secretaria Municipal de Educação quanto a gestão

que desempenho na creche, investimos e apostamos na formação continuada

dos profissionais que trabalham diretamente com a criança, e entendo que

todas as pessoas que trabalham na creche, atuando em qualquer atividade,

trabalha para a criança, precisa de ter contato com a criança, portanto precisa

saber por é tão especial trabalhar na creche para bebês e crianças de até três

anos e onze meses.

Como disse a Secretaria Municipal de Educação libera um dia inteiro

de cada mês para a formação continuada. Aproveitamos este precioso tempo e

espaço para dialogar, trocar experiências, fazemos seminários e reuniões com

pais e responsáveis, e ainda estudamos as concepções de educação, onde

privilegiamos os estudos de Vygotsky e Wallon, sem descartar totalmente

Piaget.

Tempo e espaço para a organização do fazer pedagógico na creche,

que precisa sempre ser muito criativo e também dar oportunidades das

crianças criarem. Pensar histórias de livros, de revistas e ainda inventadas,

jogos e brincadeiras, músicas, filmes e desenhos, inventar, inventar e

inventar... Fazer festas, criar projetos, trabalhar com a realidade e a fantasia, e

ainda misturar os dois.

Pensamos que criança nós queremos formar, que atitudes esperar

delas para quando chegarem à Pré-escola. Também pensamos na melhor

forma de avaliação, de registro e na importância do registro para o

acompanhamento do trabalho e do planejamento. E o grupo amadureceu

bastante nesses cinco anos, pois passamos a fazer relatórios e um portifólio

para cada turma. Falo dessa maneira, até com certo orgulho do trabalho do

grupo e da Professora Articuladora, pois o grupo é formado por profissionais

19

moradores da comunidade, que buscaram nesse tempo cursar educação

superior, e que todas cresceram profissionalmente, pois quando aqui cheguei,

para escrever uma frase sobre a criança era uma luta.

Neste ano trabalhamos com um Projeto do Ministério da Educação –

MEC, chamado Família Brasileira Fortalecida (segue em anexo um resumo

do trabalho com fotos da atividade desenvolvida em nossa creche), este

Projeto foi desenvolvido em parceria com o Fundo das Nações Unidas para a

Infância – UNICEF, tem por objetivo melhorar a parceria entre a creche e as

famílias e/ou responsáveis pelas crianças que a freqüentam, e também de

contribuir com as famílias para aumentar os seus conhecimentos sobre a

criança e sobre seus direitos e os deveres como responsável. Nossa creche

recebeu um kit composto por cinco álbuns seriados que falam sobre a atenção,

os cuidados e a educação de crianças de 0 a 6 anos, na perspectiva do direito

da infância, fornecendo informações, orientações e instigando a discussão

sobre questões relacionadas à saúde, higiene, alimentação, segurança,

desenvolvimento e aprendizagem. As ações desenvolvidas junto a estados e

municípios visam em um primeiro momento a formação de equipes municipais

e estaduais para formarem os professores e gestores das instituições de

educação infantil que, por sua vez, trabalharão diretamente com as famílias.

Em nosso Município aconteceu em três níveis: primeiro foi transmitido

à direção, logo em seguida passado a todos os profissionais da creche,

durante o Centro de Estudos mensal, e repassado para os pais e responsáveis

em um sábado com o objetivo de atender a um número maior de pais.

Para OLIVEIRA, 2002, pag.167, o desenvolvimento humano, após

muitos anos de história, está ligado à política e a cultura de um país. Hoje

percebemos que não é só uma condição biológica, mas também uma decisão

social. Ainda segundo OLIVEIRA, a história nos mostra em diferentes épocas,

várias formas de cuidar e educar crianças, como por exemplo, a moralidade

religiosa como principal orientação para dar a infantes, em seguida sendo

substituídas por discursos de médicos que ensinavam praticas sanitárias, para

dar famílias de baixa renda. E por ultimo logo após a Segunda Guerra Mundial,

20

uma formação para desenvolver competências, desde cedo as transformações

da sociedade que estava por vir.

Para LIMA, 2OO1 ocorreu uma redefinição da inserção social da criança

devido às mudanças da visão de infância e a expansão das possibilidades da

educação.

“Considerando os movimentos neste século em relação à criança até os seis anos de idade, constatamos que inicialmente foram caracterizados como de apoio e assistência às crianças das classes trabalhadoras e de educação às crianças em melhores condições econômicas. Esta atuação foi sendo modificada, principalmente nas últimas décadas, com a expansão da noção de democratização da educação pública, que se refletiu, também, na concepção educativa referente às crianças com menos de sete anos. Em vários países, incluindo o Brasil, houve um movimento de ampliação de formas de atendimento a esta faixa etária, paralelamente à discussão da proposta educativa a ser adotada para esta população.” (LIMA, 2001, p.3).

Hoje nós educadores precisamos conhecer as teorias psicológicas na

área do desenvolvimento humano para entender, descrever e explicar o

desenvolvimento infantil, porém as implicações sociais não podem ser

descartadas. Estudar o desenvolvimento infantil para saber como e quando

atuar, e agir com intencionalidade, porém não se devem esquecer os

elementos culturais da criança e do grupo a que ela pertence.

Além disso, o estudo com crianças em tão tenra idade precisa ser

acompanhado de educação, saúde, interação social e cultura. A idéia de que a

criança deve ter um desenvolvimento padrão como para Piaget, com fases pré-

determinadas para acontecer o desenvolvimento sem nenhum contato social e

cultural, foi descartada do nosso Projeto. Tomei como base para nosso projeto

os estudos feitos por Vygosky e Wallon por entender que a perspectiva

interacionista do desenvolvimento infantil vai de acordo com o que acredito e

proponho trabalhar na creche.

LIMA, 2001, explica da seguinte forma:

21

“A natureza do desenvolvimento humano é sempre biológica e cultural. Isto quer dizer, entre outras coisas, que a espécie humana tem determinadas características em seu desenvolvimento físico, eu inclui não só o que percebemos externamente – por exemplo, aumento do peso, da estatura, mudança das feições, das características sexuais, da voz – como também o que é intrno e não podemos observar diretamente, como é o caso do cérebro. O cérebro não só é o órgão onde ficam as experiências dos indivíduos, as aprendizagens, as experiências afetivas, como também é o órgão que controla várias funções físicas, atém de ter como componente o sistema límbico, no qual se originam as emoções. O cérebro coordena a vida do individuo, pois é ele que recebe e processa as informações colhidas do meio ambiente através dos sentidos e é nela que está contida nossa memória.” (LIMA, 2001, p.3).

O desenvolvimento infantil perpassa pela área da cultura e pelo

contato social, o desenvolvimento do pensamento e da subjetividade está

ligado a um processo cultural, farei uso das teorias de Vygotsky e Wallon, que

na área da psicologia fazem parte de uma perspectiva interacionista do

desenvolvimento infantil.

Segundo a teoria de Vygotsky o desenvolvimento infantil acontece

porque somos integrantes de um contexto social, e logo, cultural. São os

signos e instrumentos elaborados durante a formação da humanidade. A

construção do pensamento ocorre no homem diferente dos animais por sermos

dotados de capacidades sensoriais mais elaboradas que os animais somos

capazes de construir no pensamento por intermédio da interação com outros

homens.

Para Vygotsky a criança se apropria dos conhecimentos pré-

estabelecidos pela sua cultura, por se relacionar com indivíduos dotados de

mais experiência, que emprestam suas significações realizadas em tarefas em

conjunto. A criança passa, portanto a imitar o adulto ou criança mais

experiente na fala, na percepção de objetos, na memorização, na solução de

problemas, que primeiramente vividas na coletividade, se convertem em

funções psicológicas do individuo.

Vygotsky analisou esse processo e criou o conceito de zona de

desenvolvimento proximal, que é a capacidade de transformar as informações

que ele aprende nas situações vividas no grupo. A zona de desenvolvimento

proximal corresponde ao percurso do desenvolvimento que o individuo tem

22

agora, e que a partir de uma situação-problema ele seja capaz de utilizar

funções já amadurecidas para resolver a situação presente, se utilizando de

instrumentos externos como conceitos, imagens, habilidades já adquiridas.

Segundo a teoria de Wallon, que pensava como Vygotsky que o

desenvolvimento se dá através de experiências vividas no coletivo. Para

Wallon o desenvolvimento humano é resultado de dois fatores, as condições

em que o individuo se envolve em situações e as tentativas de solucionar os

problemas e suas formas de responder.

Oliveira (2005) explica no trecho a seguir:

“Em sua interação com outros indivíduos, há um processo constante de cada um deles identificar-se com o parceiro, via imitação, e diferenciar-se dele, por oposição. Wallon chama nossa atenção para o fato de cada indivíduo construir seu pensamento e a si mesmo, enquanto sujeito, pelo imergir em uma experiência interpessoal, apagando seus próprios limites e constituindo uma unidade momentaneamente indissociável com o parceiro ou com “o mundo”, onde ele não distingue o que é seu (gestos, reações, opiniões e outros aspectos) daquilo que não é, para a seguir, e por isso mesmo, tentar diferenciar-se desse outro, de seu contexto, eliminando os elementos que julga alheios .” (OLIVEIRA, 2005, p.131).

Dessa forma a aprendizagem para Wallon ocorre por imitação, ou

ainda por contradição, pois assim a criança demonstra capacidade de

memorizar as ações e de utilizá-las em outras situações. Depois de algumas

experiências passa a perceber sua existência no grupo como individuo.

Utilizamos-nos da perspectiva interacionista de Vygotsky e Wallon para

trabalhar na creche, por entender que somente através de experiência

coletivas a criança fará qualquer tipo de aprendizagem.

Por exemplo, o bebe no berçário vai desenvolver melhor sua

linguagem se o ambiente for propicio para isso. Portanto o educador precisa

conversar com o bebe para estimular sua fala. Conversas, músicas, histórias,

durante sua atividades do cotidiano irá colaborar o desenvolvimento do bebe.

Da mesma forma, para engatinhar o bebe precisa ficar solto no chão, o piso do

berçário deve ser apropriado para estimular a criança a sentar, engatinhar, até

começar a levantar e dar os primeiros passos. As educadoras precisam saber

23

também atividades que desenvolvam a criança para desenvolver todas essas

etapas.

1.2 – A saúde da criança

“As crianças pequenas são um grupo etário vulnerável a vários riscos e doenças que podem ser prevenidos e controlados. Há que reconhecer que saúde e doença não são situações meramente biológicas e parte de uma natureporza que se acreditaria inevitável. Cuidados adequados podem prevenir, em grande parte, doenças e riscos à integridade infantil.” (OLIVEIRA, 2005, p.185).

A medicina sanitarista ensina que para que haja um desenvolvimento

infantil satisfatório se faz necessário que uma série de cuidados que começam

antes do nascimento e que dependem das condições de vida dos pais, seu

nível socioeconômico e de seu grau de escolaridade, da facilidade ou não aos

serviços de saúde, e ainda da importância que a criança ocupa na vida dos

pais ou responsáveis. A forma do nascimento e os cuidados que a criança nos

primeiros meses e anos de vida, são fatores importantes a serem considerados

e determinantes na vida da criança.

Portanto a participação da creche na vida da criança é fundamental,

pois se a família não o fizer, a creche tem por dever acionar os pais na forma

da Lei nº 8.069/1990, Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA.

Também será atribuição da creche levar os pais a compreender a

importância de certos cuidados com os seus filhos, que tem como base os

conhecimentos sobre a preservação da saúde e a prevenção de doenças, que

foram internalizados pelos homens ao longo da história da humanidade.

As maneiras de como as culturas compreendem as formas de o corpo

humano e seu funcionamento e os conhecimentos construídos ao longo da

história da humanidade e sobre o processo saúde-doença, e ainda as práticas

e a aquisições desenvolvidos para se preservar a saúde do grupo social a que

se pertence, sofre influência de diferentes culturas e diferentes maneiras de se

cuidar das crianças desde o nascimento até os primeiros anos de vida, fase na

qual estou estudando, pertencente a Educação Infantil - Creche. E apesar de

24

os cuidados com a saúde serem, quase sempre, observados como cuidados

somente com o corpo, existem uma série de significados da cultura, que são

mais abrangentes e que demonstra o olhar sobre o corpo humano e a seu

relacionamento com a saúde e a higiene, e que variam de acordo com

tradições e culturas diferenciadas.

Essa cultura significativa a respeito da saúde e da doença da criança se

refere à visão de mundo, às atitudes do grupo diante da tristeza, e ao

desligamento do homem com as regras da sociedade, ao corpo adoentado

como espaço que representa o sujeito infeliz e alienado na sociedade a que

pertence àquilo que não está solucionado, e que não é compreensível, logo

revela sua insuficiência.

Como por exemplo, os cuidados que devemos ter com a higiene do

nosso corpo, com o ambiente, na guarda e preparo dos alimentos e as formas

que prescrevem o que é entendido, naquela cultura como sujo ou limpo vêm

de acordo com o que é imprescindível em todas as comunidades para

compreenderem a forma e a função, de arrumar o ambiente da casa ou da

creche, e de dar limites a uma certa situação social que é contraria ou

equívoca.

Dessa forma, os cuidados com as crianças, no âmbito da creche ou da

família, são decorrentes da importância que os gestores e responsáveis têm

sobre as formas das práticas de cuidar, e exprimem os sentidos que dão para

a saúde e a higiene da criança.

Como forma de demonstrar esses sentidos podes-se observar quais são

as regras que são passadas aos responsáveis e que dão permissão ou

impedimento da família em entrar no ambiente dos berçários e maternais de

nossa creche. Dar os limites para a entrada dos pais precisa ser justificado por

motivo da prevenção de doenças e da higiene, caso contrário pode vir a ser

mal interpretado, e o gestor não consegue o apoio dos pais e responsáveis,

quando pensamos no contexto e na ordem dos cuidados verificamos que essa

norma da creche pode estar servindo para dar limites a um duplo significado,

ou ainda a uma falta de clareza que estabelece o papel da família e dos

educadores com relação aos bebês.

25

Assim, será através do modo de cuidar que verificamos tanto as práticas

sociais de promoção da saúde quanto de educação das crianças. Dessa forma

não podemos separar o cuidar e do educar, apesar de sermos da área de

educação os procedimentos de cuidado requerem conhecimentos específicos

da área de saúde além também de outras áreas e que dão suporte às ações

pedagógicas.

Segundo Oliveira a pedagogia deve contribuir para a saúde na creche,

vejamos o trecho a seguir:

“Um bom planejamento das atividades de cuidado favorece a formação de competências para um autocuidado e o aprendizado de regras sociais pelas crianças, que podem assim ampliar as possibilidades de controle sobre suas condições de saúde. Com isso creches e pré-escolas garantem o direito da criança a uma educação para a saúde .” (OLIVEIRA, 2005, p.185).

Através das Normas de funcionamento da creche procuramos manter

uma relação com os pais e responsáveis de parceria em relação à saúde da

criança. Na creche a criança não tem condições de ficar para atendimento se

houver algum anormalidade que venha causar algum prejuízo para a saúde da

criança que seriam: febre a partir de trinta e sete graus (37º), vômitos, diarréia,

indisposição aparente – costumo dizer aos pais que a criança algumas vezes

não está como normalmente se apresenta no cotidiano, e este motivo já

significa alerta para a educadoras, entre outras situações.

A saúde da criança é fator determinante de sua permanência na creche,

daí entra o papel do gestor no convencimento aos pais e responsáveis, da

importância de se levar ao pediatra, muitas vezes o responsável se mostra

indiferente a situação, não querendo levar a criança ao Posto de Saúde.

Apesar de todas as reuniões e explicações que procuramos passar sobre a

responsabilidade compartilhada pela creche, e se somos co-responsáveis a

criança somente retornará após os cuidados necessários, determinado pelo

médico pediatra.

Não possuímos nenhuma parceria com Posto de Saúde, ou visita de

médico ou mesmo equipe técnico especializada em nossa creche. Nós

fazemos o acompanhamento através de quadro para identificar quais as

doenças cada uma das crianças tiveram ao longo de sua passagem pela

26

criança. Esse quadro serve também de instrumento para verificarmos se ocorre

muita diarréia, ou febre na mesma criança em curto espaço de tempo. A partir

desses dados nos reunimos em Centros de Estudos e aproveitamos para

verificar de forma leiga e providencia um diálogo com os pais para possíveis

avaliações médicas.

Foi através de dados de quadro de acompanhamento médico que

chamamos o responsável para fazer uma avaliação quanto a tolerância da

criança a lactose, visto que a criança se encontrava sempre com diarréia, e até

mesmo vômitos. Após a avaliação em hospital publico foi identificada a

intolerância da criança a lactose, e a criança passou a freqüentar normalmente

a creche sem ter que chamar a mãe por a criança apresentar diarréia.

Muitos foram os ganhos em matéria de saúde, nesses cinco anos que

estou atuando nesta creche. Porém há situações que precisamos ser mais

enérgicas e exigir dos pais atitudes que lhes compete. Em alguns casos

precisando inclusive recorrer ao Estatuto da Criança e do Adolescente, através

dos Conselhos Tutelares onde possuímos um bom diálogo e parceria.

Para nós a saúde da criança será fator determinante para seu

desenvolvimento e da avaliação que faremos sobre suas habilidades em

pertinência a sua idade. Portanto todo desenvolvimento físico estará ligado ao

desenvolvimento motor, emocional, cognitivo da criança, e irá interferir no seu

desenvolvimento social no grupo.

1.3 – A alimentação da criança na creche

“A organização do almoço para as crianças deve visar tanto a uma alimentação que propicie seu desenvolvimento físico e sua saciedade, em uma atmosfera de prazer, quanto ao aprendizado de modos apropriados de alimentar-se, definidos em uma cultura especifica. Os professores costumam utilizar incentivos e proibições para conduzir esse aprendizado e “canalizar” as ações infantis em tornar-se difícil, se a criança é cobrada, por vezes de forma dura, a “comer bonitinho”, enquanto seu descontrole motor é pouco trabalhado .” (OLIVEIRA, 2005, p.186)

27

Segundo Oliveira a alimentação da criança está diretamente ligada a

nossa cultura. As crianças de creche estarão submetidas às experiências

vividas pelo grupo de educadores.

Existem regras sociais, porém também há diferenças culturais

marcantes, tais como comer sem legumes e verduras, ou comer uma grande

quantidade de comida, misturar toda a comida do prato, soprar quando se está

quente, comer com as mãos, entre outras. Ao chegar na creche uma criança

com dois ou três anos já possui internalizada algumas formas de comer da sua

família, como por exemplo, comer somente se alguém der na boca, ou ainda

jogar no chão qualquer coisa que ela não conhece ou não gosta.

Nossa maior dificuldade com relação às crianças que entram na creche

já no maternal, com dois ou três anos, é exatamente esses exemplos citados

acima, as diferenças culturais. Costumo dizer aos pais que a creche possui a

sua cultura, uma cultura padrão, pois temos horários fixos para comer, dormir,

tomar banho, e atendemos sempre no coletivo, ou seja, a turma. Uma criança

em nossa creche não dorme, come, toma banho, escova os dentes, e até

mesmo brinca, na hora que deseja. Esbarramo-nos na rotina, com horários

rígidos e que normalmente atende somente ao coletivo.

A criança de maternal que entra na creche com a rotina de sua casa já

internalizada, “sofre” com a rotina da creche. Vejo que algumas crianças na

comunidade tem uma vida muito livre, no sentido de ficar na rua, de não ter

horários para nada, ninguém para lhe dizer o que fazer ou não fazer. Quando

entra na creche tudo isso muda, mas a experiência até hoje me mostrou, que

eles gostam da creche, pois tomam banho, dorme e também se alimentam

muito bem. Brincam com brinquedos e brincadeiras diferentes do que brincam

na rua,

Ao mesmo tempo a criança que entra no berçário com poucos meses de

vida, e que continua na creche até o maternal e se depara com as crianças

novas na creche, são verdadeiras educadoras das crianças que estão entrando

na creche. Ensinam tudo aos novos, inclusive acalentam em relação ao choro

nas primeiras semanas, “dizendo a mamãe já vem buscar”, fazem carinho e

companhia.

28

Nesta fase inicial, a criança entra na creche com poucos meses,

percebo tem uma facilidade maior de aceitar aos variados tipos de legumes,

verduras, frutas, proteínas e cereais, em relação as crianças maiores de

maternal, por causa da cultura familiar que já está formada. Além disso,

também percebo uma grande autonomia da criança que já está na creche

desde os berçários, em relação a comer com as próprias mãos, tomar banho

sozinha, etc.

A alimentação da criança na creche pública é toda desenvolvida por um

Instituto de Nutrição, órgão da Secretaria Municipal de Saúde o INAD –

Instituto de Nutrição Annes Dias, que visa atender as necessidades básicas do

desenvolvimento infantil físico e mental. Todo o cardápio é desenvolvido por

nutricionistas que dividem por mesário a apresentação dos alimentos as

crianças.

O Programa de Alimentação destinado às creches tem o objetivo de

garantir às crianças matriculadas nas creches o acesso a uma alimentação

saudável, visando à promoção de saúde e o pleno desenvolvimento infantil.

A execução do Programa de Alimentação destinado às creches públicas

da cidade do Rio de Janeiro passa por variadas esferas de poder, desde o

nível central e coordenadorias, porém terminam nas mãos do gestor da

Unidade Escolar, pois será através da pessoa do diretor, que todo o processo

terá sua operacionalidade concluída. Portanto é de completa responsabilidade

do gestor os pedidos, recebimento, execução da refeição, limpeza das

merendeiras, cozinha e despensa, armazenamento dos alimentos, qualidade

dos produtos recebidos, a integridade dos cardápios serem administrados as

crianças. Qualquer anormalidade nesses pontos citados anteriormente, o

gestor responderá através de inquérito administrativo.

As atribuições do Instituto de Nutrição são: subsidiar o planejamento, a

implementação e a avaliação da política de alimentação e Nutrição do

município; desenvolver programas de alimentação e nutrição; promover

inspeções sanitárias periódicas nas unidades escolares que servem merenda;

promover intercâmbio técnico cientifico com órgão de nutrição de outras

instituições; controlar a qualidade os gêneros alimentícios e manter convênio

29

com laboratórios para a análise dos gêneros alimentícios e das refeições

servidas, visando a qualidade das mesmas.

Os cardápios foram planejados para atender a faixa etária, as

recomendações nutricionais, tempo de permanência na unidade, formação de

hábitos alimentares, safra de hortaliças e frutas, custo beneficio da utilização

de determinados gêneros alimentícios, composição nutricional dos gênero

alimentícios, adequação dos cardápios aos parâmetros propostos para a

alimentação saudável.

Assim o gestor da unidade escolar tem como atribuições básicas para

atender a sua comunidade fazer a observância dos seguintes pontos: oferecer

alimentação nutricional equilibrada, saudável, de forma a promover um

ambiente facilitador de escolhas alimentares mais saudáveis, promovendo e

protegendo a saúde, contribuindo para reduzir os riscos relacionados com a

alimentação inadequada; precisa desenvolver bons hábitos e atitudes, com o

objetivo de construir um ambiente saudável da criança em relação ao alimento,

por isso, a participação de toda a comunidade escolar interna pois dizemos a

criança o que comer, e se nós não comermos, não estaremos contribuindo

para um ambiente saudável, a criança percebe se nós não gostamos do

alimento, e ela precisa comer porquê.

O gestor também deve responsabilizar-se pela garantia do cumprimento

de todas as etapas da execução do serviço de alimentação, seguindo as

orientação estabelecidas no Guia Alimentar e no Manual do Preparador e

Manipulador de Alimentos do Instituto de Nutrição. As refeições oferecidas

devem ser atraentes e saborosas, em temperatura adequada, preparadas de

acordo com as técnicas dietéticas, descritas nas fichas de preparação, de

forma a preserva os nutrientes dos alimentos, em horários e ambiente

adequados as rotinas da creche.

O gestor ainda precisa verificar a qualidade e a quantidade dos

alimentos que serão servidos, evitando o desperdício; e oferecer condições de

trabalho os seus funcionários tendo o quantitativo adequado para não gerar

sobrecarga de mão de obra, e logo, funcionário apresentando lesões por

30

esforço repetitivo – LER, uma cozinha equipada com maquinário e utensílios

para oferecer condições seguras e adequadas de trabalho.

O Instituto também oferece para consulta “Os dez passos da

alimentação saudável para crianças menores de dois anos”, que utilizo com

minhas funcionárias do lactário e educadoras das turmas do berçário e

maternal, e ainda em reuniões de pais e responsáveis, pois oferecer bons

esclarecimentos na área de nutrição infantil e nos dá suporte para repassar as

informações. Afinal não podemos esquecer que nossa área de atuação é a

pedagógica, e que de acordo com a faixa etária que atendemos, visamos o

desenvolvimento completo da primeira infância. Costumo dizer aos nossos

funcionários, pais e responsáveis que a criança que está matriculada na

creche, passa durante nossas mãos durante quatro anos, nossa

responsabilidade é partilha com os pais, mas como possuímos algum

conhecimento técnico, não podemos nos omitir em alguma ocorrência na vida

da criança, mesmo que seja apenas uma ligeira suspeita.

Muitas vezes dividir essa situação com os pais é difícil, pois nos

esbarramos nas culturas diferentes da famílias, e precisamos nos utilizar de

recursos do apoio de Conselheiros Tutelares para garantir o apoio a saúde e

ao desenvolvimento da criança, caso contrário, nos tornamos colaboradores de

uma infância sem os cuidados e a atenção necessários para seu completo

bem-estar.

1.4 – As diferentes culturas e o convívio social

Ao entrar na creche no ano de dois mil e quatro, me deparei com um

mundo muito diferente, dentro e fora da creche, estando apenas a poucos

quilômetros da minha casa. Com exceção da minha pessoa, todos os

funcionários foram contratos por uma ONG, e eram moradores da própria

comunidade. Essas pessoas vivem numa completa falta de infra-estrutura

social, muitas delas nunca haviam trabalhado de carteira assinada, suas

moradias não são dignas de um ser humano, pois em algumas não há água

canalizada ou esgoto.

31

Para essas pessoas moradoras da comunidade a creche é um palácio,

pois possui toda a infra-estrutura de saneamento básico. O que era para mim

significava apenas uma creche nova, simples, e bem equipada para se iniciar

um bom trabalho, significava para os pais tudo o que não podiam oferecer aos

seus filhos, tais como: espaço, segurança, ventilação, claridade, limpeza,

perfeito para deixarem os seus filhos.

Durante alguns anos e até os dias de hoje aprendo com a comunidade

a respeitar as nossas diferenças culturais, e as diferentes composições

familiares. Porém independente das regras sociais existentes, ou ainda da

nossa ideologia social, e precisamos educar nossas crianças e pais para

convivermos a cultura da creche.

Hoje ao iniciar o ano de atendimento na creche, apresento a cultura da

creche para os pais e lhes pergunto se é isso que eles querem para seus filhos

e sua família. Conversamos sobre as diferenças culturais que seus filhos vão

conviver na creche, pois teremos os mais variados tipos de famílias, de

diferentes tipos de regiões do Brasil, que exercem diferentes funções, que

possuem diferentes sonhos – quando sonham, que possuem variadas formas

tratar de recém nascido, de alimentar seu filho, de ouvir músicas, de se

comunicar, entre outras.

Porém quando a criança e a família se deparam com a cultura da

creche, que possui um estrutura de funcionamento, com horários fixos de

rotina, e uma disciplina diária, muitas vezes a criança e a família estranham.

A criança muitas vezes não está habituada a horários para comer,

dormir, tomar banho, que são os cuidados básicos. E ainda de se alimentar

com todos os grupos de alimentos como proteínas, cereais, legumes e ou

verduras e frutas.

A família por sua vez estranha ao encontrar com as regras da creche

em relação a saúde de seu filho, e o que ele procurava resolver em casa como

diarréias, febre,vômitos e doenças da pele, se utilizando de sabedoria popular,

através de chás ou até mesmo remédios administrados sem receituário

médico.

32

Muito se pelejou com os pais para que eles pudessem entender a

importância da creche na vida da criança, e ainda, a responsabilidade

compartilhada com a creche, que irá significar a cobrança dos direitos da

criança, para lhes garantir o desenvolvimento infantil.

A creche precisa respeitar as diferenças das famílias da criança, há

aquelas que vem de cunho religioso, outras sem nenhuma regra, ainda há

algumas com cuidados excessivos e outras em completo abandono. No

momento de juntarmos tudo isso na sala de atividades, encontramos uma

riqueza de momentos de grandes possibilidades de discutir nossas relações.

Muitos acertos foram estabelecidos, alguns projetos desenvolvidos na

trajetória da construção das nossas normas de funcionamento. Criaram-se

uma comissão de pais, funcionários de apoio, de educadores juntamente com

a direção para elaborar as regras básicas da cultura da creche, que precisa ser

aceita por todos para se ter um mínimo de convívio social sem conflitos. A

família e a creche precisam falar a linguagem aproximada , e concordar que

nosso objetivo maior é somente de promover saúde e desenvolvimento físico,

mental e social de seus filhos.

33

CAPÍTULO I I

A INTERAÇÃO ENTRE A CRIANÇA,

A FAMÍLIA E A CRECHE

“Historicamente, a família tem sido considerada o ambiente ideal para o desenvolvimento e a educação de crianças pequenas. Essa é a posição de alguns sistemas educacionais, que sustentam que a responsabilidade da educação dos filhos, particularmente quando pequenos, é da família, e assumem um papel de meros substitutos dela, repetindo as metas embutidas nas práticas familiares. Outros sistemas assumem uma perspectiva diferente e, por defenderem um partilha de responsabilidades entre família e comunidade ou o Estado, tomam para si funções educativas especificas segundo diferentes argumentos: compensação de carências econômicas e/ou culturais, especificidade das aprendizagens escolares, liberação do indivíduo do peso de culturas particulares.” (OLIVEIRA, 2005, p.175).

Oliveira nos recorda o histórico entre Estado e Família e a

responsabilidade da primeira e segunda infância.

Nos dias de hoje, ainda segundo Oliveira, há uma nova forma de pensar

essa relação Infância – Família – Creche, pois não temos mais a família

nuclear do passado, e as concepções de educação também mudaram com o

tempo.

Para que haja uma interação entre a família e a creche, e que esta seja

bem sucedida, muito trabalho em cima da coletividade precisa ser

desenvolvido pelo gestor da creche. Não podemos apenas chegar na

comunidade como donos da verdade e sabedores de toda psicologia e

pedagogia, suficientes para dar conta de todas as dificuldades, e em

contrapartida, jogar fora todos os conhecimentos trazidos pelas famílias.

Será, portanto, através desse viés de relação através de dialogo e

participação da família no cotidiano da criança na creche, que o gestor

conseguirá desenvolver melhor um trabalho inicial de partilhar as

responsabilidades. Nasce então uma nova cultura, a cultura da creche, que

traz consigo enraizada a cultura das diversas famílias que constituem o

universo da creche.

Nenhuma família precisa fazer parte do modelo nuclear da burguesia

para ter garantia de sucesso na educação de seu filho, até por que as famílias

34

não são locais imaculados onde não há sofrimentos, humilhação, abuso

sexual, privações entre outros problemas que a criança e sua infância ficam

expostos. Atualmente tanto professores quanto a família, possuem formações

familiares as mais variadas, e a educação precisa ainda dar conta disso, no

sentido de saber se relacionar com as novas relações.

O calendário da creche prevê um período destinado ao acolhimento na

creche. Esse período a creche funciona em horário especial, para que

crianças, pais e responsáveis se adaptem a rotina da creche. Todos os

procedimentos são explicados aos pais durante a reunião de pais, inclusive a

importância do acolhimento para a criança e a família. É nesse período que a

criança conhece a creche, sua sala de atividade, seus colegas, suas

educadoras, a alimentação, é muita coisa para a criança entender e aceitar em

poucos dias. Primeiro a criança precisa confiar que a família não vai

abandoná-la na creche, o ambiente precisa ser acolhedor. Mas costumo dizer

aos pais que, o que a família passa para a criança, em casa antes de vir para a

creche é fundamental.

Por exemplo, uma criança sai de casa com a mãe dizendo ao seu filho

que a creche é boa para ele, pois ele vai ter colegas e poder brincar com eles,

vai comer a merenda, tem as educadoras que vão cuidar dele, e ainda dirá que

a mãe sentirá a sua falta e virá buscá-lo na hora certa, mas que vai aproveitar

o tempo que ele está na creche para estudar ou trabalhar. Essa criança

chegará à creche se sentindo segura, vai chorar um pouco, mas vai superar o

distanciamento com mais rapidez. Ao contrário de uma família que diz ao seu

filho que vai colocá-lo na creche pois ele perturba sua paciência, ela está

querendo ficar livre dele para poder sair e se divertir pois ele só a atrapalha.

Atrasa na hora de vir buscar. Essa criança terá provavelmente, dificuldade de

se adaptar, se sentirá insegura, e deve demorar em relação a outras crianças

no período de adaptação.

Dessa forma, adaptar aos pais para que a integração da criança e de

toda a família com a creche, é função da gestão da creche e de todos os

funcionários envolvidos no trabalho com a criança, desde a pessoa que fica na

portaria, passando pelos funcionários de apoio, como merendeiras e limpeza,

35

até claro os educadores, que são aqueles que receberão os bebês no colo e

farão o acolhimento no melhor sentido da palavra.

Esse trabalho é cansativo, mas será a partir dele que se inicia toda a

atividade pedagógica na creche. Para mim o acolhimento a criança na tenra

idade precisa ser intensificado no inicio do ano, alunos novos e pais novos,

mas esse acolhimento na realidade precisa ser diário. Entendo que a creche

possui sua especificidade em relação à proximidade com a família que em

nenhuma outra etapa da educação terá. Na creche temos mães que

amamentam e incentivamos no primeiro ano de vida da criança, que a mãe

venha a creche para amamentar seu filho. A creche fica aberta para os pais

que desejarem ver seus filhos brincando, comendo, dormindo, de retirá-los na

hora que desejarem. Precisamos dos pais para acompanhar as vacinas, as

visitas periódicas ao pediatra, as doenças súbitas.

É necessário um estreitamento entre o gestor da creche e a família,

para a compreensão da responsabilidade que é assumida pela creche ao

receber cada uma das crianças na creche, que chega trazendo sua família

junto com seus problemas e dificuldades. Porém ao fazer a matrícula da

criança na creche, essa família será cobrada dos seus deveres, com o objetivo

de garantir a criança todos os seus direitos que são de saúde, carinho, atenção

e cuidados básicos para que haja o desenvolvimento físico, mental e social.

Costumo explicar aos responsáveis quando vão fazer a matricula que o

direito de guarda da criança é do pai e da mãe, portanto os tios, namorados,

ou outros títulos que podem ter a segunda figura paterna, terá que ser

autorizado por escrito pela mãe, para poder retirar a criança da creche em

horário normal, e dentro do horário de atendimento somente com autorização

especial. E ainda se a relação entre a mãe e o “padrasto” mudar, a creche

precisa ser informada. Esse exemplo é apenas um diante das muitas questões

com relação as novas formações familiares, que precisam ser discutidas nas

reuniões, pois a responsabilidade precisa ser partilhada em nome do bem

estar e segurança da criança.

Para Oliveira assim dever ser a relação da creche com a família:

36

“A atitude básica deve ser a de compreensão dos determinantes da ação da família, e não de censura e ela. Há que entender que pesquisas na área têm evidenciado que a carência de oportunidades de convivência social nas cidades leva as famílias a se fechar e viver modelos interpessoais carregados de emoções negativas. Superar isso exige a criação de um ambiente coletivo mais aberto nas creches e pré-escolas, o que requer estreitar as relações entre escola e comunidade e substituir o paternalismo ou o distanciamento, porventura existentes, pelo diálogo e o reconhecimento mútuos.” (OLIVEIRA, 2005, p.175).

Dessa forma, chamar os pais a participarem de ações diferenciadas na

creche, não somente em reuniões e festas, mas também de criar espaços de

conversa sobre assuntos que contribuam para a educação dos filhos, aproxima

a relação entre pais e pais, e pais e creche, em um espaço acolhedor em que

todos possui conhecimentos, e que podem ser ensinados.

Fizemos no ano de 2006, uma experiência com os pais, para

comemorar a Semana da Paternidade Responsável, decreto do prefeito Cesar

Maia, então no governo, essa experiência propunha aos pais da comunidade

que exerciam qualquer atividade, contar aos pais sobre a sua atividade e sua

relação com a família. Fiquei preocupada em ser um fracasso, porém tivemos

a participação de três maravilhosos pais, que vieram para mostrar suas

atividades, e que as realizavam dentro da comunidade. Um fazia parte de um

projeto da prefeitura que traz as atividades físicas voltados para a infância,

como recurso para afastar a criança da ociosidade, e das tentações que

mundo das drogas oferece, tão presente na vida de todos os moradores. Esse

pai trouxe ficha de inscrição para os interessados, e divulgou outras atividades

também relacionadas como aulas de músicas, dança, ginástica para todas as

idades. O outro pai nos mostrou com fotos seu trabalho com o mundo da

moda, a participação do grupo de criança da comunidade em um desfile de

sucesso que acontece no Rio de Janeiro e São Paulo, mostrando a força da

comunidade quando reunida e organizada.

Foi uma experiência bem satisfatória por contribuir com o estreitamento

da relação família creche, e ainda mais a pessoa do pai muitas vezes

discriminada nesta relação. O momento da matrícula nos mostra que a grande

maioria das famílias é formada sem a presença ou até existência de um pai

37

participante, pois existe na ficha de matricula a pergunta se o pai mora com a

criança. Portanto a situação de ter o pai, mais ele não ter nenhuma relação

com o filho, apesar de tê-lo registrado como filho, e ainda há a omissão do

nome do pai na certidão de nascimento da criança.

Porém em contradição temos um pequeno grupo de pais que assumem

essa relação pai – filho, tomando para si todas as responsabilidades, sem a

presença da figura materna presente na família, por abandono pelas drogas,

por outro homem, por estar presa, por ter falecido entre outras situações.

Dessa forma esses pais assumem completamente sua paternidade, e durante

esse evento se sentiram bastante homenageados. É claro que também temos

famílias nucleares em que os pais participaram e também ficaram satisfeitos.

Em nossas reuniões de pais costumo informar que a Lei diz que a

creche é direito da criança, dever do estado e opção da família. Portanto a

família que faz a opção pela matrícula na creche precisa entender que estar

com a criança matriculada na creche não se resume em ficar livre e isenta de

responsabilidade durante as dez horas de atendimento. Muito ao contrário,

deixar a criança na creche é dividir com o estado a responsabilidade, e logo,

será bastante cobrada em relação a tudo que envolver saúde e bem-estar

satisfatório ao desenvolvimento infantil.

Ao final de todo um processo de interação com a família, processo esse

baseado em muita dedicação e na conquista da compreensão e da aceitação

do modelo da creche, consegue-se obter uma boa relação de troca mutua,

respeito pelo trabalho realizado, confiança na prestação de serviço, e

principalmente a parceria tão esperada pelo gestor da creche, pois não existe

trabalho na creche sem a participação efetiva da família.

38

CONCLUSÃO

Ao concluir o estudo teórico e as reflexões bibliográficas que realizei

sobre a gestão participativa e a paternidade responsável, e a partir do meu

desempenho como gestora de uma Unidade Escolar Pública nesses cinco

anos de caminhada, onde sempre tive a preocupação de olhar as diferenças

sociais, para minimizar as relações, buscando um caminho através do diálogo,

da aceitação mútua, percebo primeiramente que fiz uma grande aprendizagem

e que tive também crescimento pessoal e profissional.

Verifiquei, ao longo do estudo que para que haja uma

responsabilidade compartilhada realmente se faz necessário um trabalho

intensificado de dedicação à comunidade, respeito aos pais e responsáveis, e

um atendimento de qualidade e direcionado a família. Na creche precisamos

receber o bebê e a acolher toda a sua família.

Também constatei que para se obter êxito no atendimento, se faz

necessário ter um bom grupo de trabalho, e também um Projeto Político

Pedagógico objetivo, que atenda as necessidades da comunidade interna e

externa.

Valorizar o profissional investindo no seu potencial individual e no

grupo como um todo. Percebendo os dons individuais, oferecendo

capacitações em que se façam discussões sobre as formas de agir para

educar e cuidar.

Como existe uma indissociação entre as duas ações na creche, o

educar e o cuidar precisam estar ligados pelo olhar do educador a todo o

momento, desde as mais simples atividades e as observações a serem feitas,

com o objetivo de verificar o desenvolvimento da criança e a aprendizagem

para a autonomia, possibilitando sua inserção social na família, na comunidade

e logo após sua saída da creche, sua inserção na Pré-escola.

A interação da família com a creche é fator determinante para iniciar

qualquer trabalho na creche. Pela tenra idade das crianças, a creche precisa

manter dialogo e participação constantes com a creche.

39

Para que isso ocorra o gestor necessita ter um ambiente acolhedor,

inspirar confiança, ser um líder positivo para seus funcionários, dar exemplo de

lealdade, sinceridade e honestidade, formar uma equipe fortalecida, que

acredita nos ideais de uma educação libertadora

Conclui que o trabalho com o responsável apesar de difícil é possível,

sendo inclusive prazeroso, que somado ao crescimento do grupo, gera

resultados positivos e benéficos a toda a comunidade escolar.

40

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

BOJES, Maria Isabel Edelweiss. Escola Infantil: Pra que te quero? In:

CRAYDY, Carmem; KAERCHER, Gládis. (Org.). Educação Infantil: Pra que te

quero? Porto Alegre: Artmed, 2001.

BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação

Fundamental. Referencial curricular nacional para a educação infantil /

Ministério da Educação e do Desporto, Secretaria de Educação Fundamental.

— Brasília: MEC/SEF, 1998.3v.: il.

Congresso Nacional. Lei nº 9.394 de 1996, Lei Darcy Ribeiro. Brasília-DF:

1996.

LIMA, Elvira Souza. Como a Criança Pequena se Desenvolve. São Paulo:

Editora Sobradinho, 2001.

OLIVEIRA, Zilma Ramos de. Educação Infantil: fundamentos e métodos. São

Paulo: Cortez, 2005.

41

BIBLIOGRAFIA CITADA

1 - http://www.casimiro.rj.gov.br/poemas.php?op=Infancia.15/01/2009

2 – KUHLMANN JUNIOR, Moysés. Instituições Pré-Escolares Assistencialistas

no Brasil (1899-1922). Cad. Pesq., São Paulo (78): 17-26, agosto 1991.

42

ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO 2

AGRADECIMENTO 3

DEDICATÓRIA 4

RESUMO 5

METODOLOGIA 6

SUMÁRIO 7

INTRODUÇÃO 8

CAPÍTULO I

A RESPONSABILIDADE COMPARTILHADA 11

1.1 – O desenvolvimento social, intelectual e emocional

da criança 17

1.2 – A saúde da criança 23

1.3 – A alimentação da criança na creche 26

1.4 – As diferentes culturas e o convívio social 30

CAPÍTULO II

A INTERAÇÃO ENTRE A CRIANÇA, A FAMÍLIA

E A CRIANÇA 33

CONCLUSÃO 38

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 40

BIBLIOGRAFIA CITADA 41

ÍNDICE 42

43

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