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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
PROJETO A VEZ DO MESTRE
QUESTÕES E PROBLEMAS AMBIENTAIS:
UMA VISÃO EDUCACIONAL
Por: Leyla Regina de Souza
Orientador
Profª. Maria Esther
Niterói
2005
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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
PROJETO A VEZ DO MESTRE
QUESTÕES E PROBLEMAS AMBIENTAIS:
UMA VISÃO EDUCACIONAL
Apresentação de monografia à Universidade Cândido
Mendes como condição prévia para a conclusão do
Curso de Pós-Graduação “Lato Sensu” em
Planejamento e Educação Ambiental.
Por: Leyla Regina de Souza
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Resumo
Em um contexto de crise ambiental, se faz necessário entender com maior clareza
a natureza complexa da Educação Ambiental, como também seus limites em termos
da busca de uma relação equilibrada e sustentável entre o ser humano e o meio. É
bom esclarecer que não pode haver educação que não esteja associada a ambiental,
pois tanto a Educação Ambiental como a Educação Popular, são formas educativas
que desenvolveram pelos espaços deixados pelo sistema educacional clássico;
também não há como negar sua dimensão política, pois tem caráter transformador,
voltados à construção da cidadania na busca de um ambiente mais justo e solidário.
Os movimentos e ações da sociedade em busca da conservação da natureza são
reações à destruição do mundo. O modelo de desenvolvimento gerado a partir da
Revolução Industrial, provoca o aumento qualitativo e quantitativo no processo de
destruição, em paralelo, provoca a organização da sociedade em torno da conservação
da natureza, moldando o movimento ambientalista.
Os desafios que se impõe, são o de reinterpretar o lugar do homem no mundo e
reavaliar as referencias que têm orientado as ações das diferentes sociedades e
culturas diante da natureza. A educação tornou-se fator fundamental para a promoção
do desenvolvimento sustentável e de uma efetiva participação na tomada de decisões.
A Educação Ambiental pretende aproximar a realidade ambiental das pessoas,
para que percebam que cada um tem um papel e responsabilidade sobre o que ocorre
no ambiente, se propões ainda, a dar condições aos educandos buscar caminhos mais
justos e solidários para os desafios do processo de construção, ocupação e
transformação do mundo natural, social, cultural e ético.
No universo da educação que o termo Educação Ambiental foi criado, permitindo,
pela ação democrática e com uma legislação eficiente.
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 05
CAPÍTULO I: Questões e Problemas Ambientais: Considerações Gerais 07
CAPÍTULO II: Educação Ambiental: Desafios e Perspectivas 23
CAPÍTULO III: Reflexão da Prática Docente 41
CONCLUSÃO 58
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 61
ÍNDICE 63
FOLHA DE AVALIAÇÃO 65
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INTRODUÇÃO:
Para tentar modificar o presente estado das coisas, buscando uma saída para a
problemática ambiental, se faz necessário começar um processo de desconstrução e
reconstrução do pensamento, segundo Leff (1999), levando a uma mudança de
pensamento econômico para um pensamento ambiental, mais humano e solidário.
Essa mudança provocará uma alternância de atitudes, hábitos, costumes e valores,
construindo uma nova ética, abandonando nosso conceito histórico de separar o
homem e o meio ambiente e entendendo as relações sociedade-natureza que nele se
processam.
Na história da humanidade, o comportamento predatório não é novo, o que é novo
é a dimensão e extensão dos mecanismos de depredação, onde se inclui o surgimento
das grandes cidades e das imensas lavouras de monoculturas, até chegarmos às armas
nucleares nas cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki (1945).
A cada passo de desenvolvimento histórico - cultural, principalmente no século
XX, houve o apogeu tecnológico, que causou um processo de exploração dos
recursos e de produção de bens de consumo, apenas para uma pequena fração da
população, ficando a maioria, em precária condição de vida. Dentro deste contexto, é
possível perceber que todos nós, de alguma forma, contribuímos muito para que os
problemas ambientais aumentassem; entretanto, ainda há tempo para redirecionarmos
nossas ações, pois as mudanças começam quando nos propormos a fazer alguma
coisa.
Na verdade, durante muito tempo, foi adotado formas de desenvolvimento
assimilado e aceitos pelas sociedades dominantes, promovendo, para Leff (1999), o
mau desenvolvimento que, na prática, tem se mostrado perverso, penoso e injusto. O
progresso, entendido apenas como avanço técnico, material e crescimento
econômico, está sendo obtido dentro de um padrão e produção, de consumo, de
acumulação e de vida insustentável, através de um domínio sobre a natureza,
revelando que assimilamos e fomos dominados pelo pensamento econômico, ou seja,
a maximização de lucros.
A chegada do terceiro milênio tem sido considerada por muitos um momento
especial, ou seja, uma nova fase da história humana. Cada indivíduo deve perceber
esse momento, como sendo necessário para se propor uma reflexão sobre o futuro,
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com base nas lições que foram tiradas do passado, refletindo sobre a qualidade de
vida que levamos, e se o modelo atual de desenvolvimento e de consumo é o
exemplo que se pretende deixar para as gerações futuras. A responsabilidade pela
promoção da melhoria da qualidade de vida de todo o cidadão, deve ser partilhada
entre todos os atores sociais, sejam eles órgãos de governo, empresas, organizações
da sociedade civil, indivíduos, famílias, dentre outros, porém, são os cidadãos, os
principais atores sociais, capazes de revolucionar o atual padrão de desenvolvimento,
de consumo e de degradação ambiental, através de ações de cidadania, que são de
variadas naturezas e essencialmente políticas, como também é preciso ter consciência
de seus direitos e respeitar os direitos sócio-ambientais.
Há condições de darmos uma guinada na maneira de estimular o progresso,
adotando outros padrões de comportamentos em harmonia com a natureza, porém o
grande desafio que se coloca para cidadãos, empresas e governos é buscar
implementar um conjunto de medidas, diretrizes, propostas, projetos, enfim, ações no
sentido de promover o bem estar social. Isso só será possível, através das iniciativas
educacionais, hoje concentradas nas iniciativas da educação ambiental. Deve-se,
portanto, estabelecer e adotar um processo educacional, onde deverá ser revistas às
teorias e os propósitos da Educação, inserindo a Educação Ambiental. Só assim,
entraremos em
“um novo tempo e em um novo momento histórico, em que
um novo homem, com novos valores e com uma nova visão
de mundo, estabeleça uma vivencia amigável e solidária
uns com os outros, com todos os demais seres vivos, com a
natureza e com o planeta Terra, gerando ações concretas
que se traduzam em uma melhor e substancial qualidade de
vida do ser humano, em todos os sentidos” (Andrade,
1996,op.cit. p. 22 ).
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Capítulo I
Questões e Problemas Ambientais:
Considerações Gerais
Antes de iniciar a descrição das questões e problemas ambientais, é interessante
observar aspectos da história das relações gerais da espécie humana com o meio
ambiente, portanto, pode-se afirmar que os problemas ambientais que enfrentamos,
em sua grande maioria, é o resultado no qual a intervenção humana provocou na
natureza.
Segundo o filósofo Jean-Jacques Rousseau (1712-1778), o homem natural não
possuiu as características que normalmente atribuímos a ele e não a consciência de
ser homem. Nem a linguagem, nem a razão, nem a família, nem o trabalho, nem a
propriedade, nem a moral – nada disso é natural ao homem. São criações posteriores,
quando o ser humano começou a se organizar em sociedades. Assim o homem seria
superior ao animal apenas por sua ausência de determinações e pela possibilidade de
adquirir características que lhe são exclusivas.
O aparecimento da desigualdade, segundo Rousseau, é uma seqüência de
progressos no estado da natureza, sujeito a uma evolução histórica. A descoberta da
metalurgia e o desenvolvimento da agricultura, com a divisão do trabalho, estão na
origem da propriedade e da desigualdade.
A crescente abertura dos processos econômicos para o comércio internacional, no
quadro da globalização, tem tornado o Estado cada vez mais impotente diante dos
movimentos de especulação financeira, de concentração de renda e de destruição
ambiental.
1.1 Questão Ambiental: Relação Sociedade-Natureza:
A questão ambiental no Brasil e no mundo, tornou-se um tema amplamente
debatido em todos os meios, em vista a crescente degradação existente atualmente e
pelo fato de que um ambiente em equilíbrio reflete na qualidade de vida da
população. Pela nossa história e cultura, vivemos em uma sociedade que estimula o
consumo e a produção em grande escala, aumentando os problemas de desequilíbrios
ambientais onde acabamos todos nós, seres humanos, sofrendo as conseqüências,
podendo levar a própria extinção da espécie humana.
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Além da água dce, do ar , do solo, que são imprescindíveis à manutenção da vida,
existem outros recursos ambientais que funcionam como base material para
atividades econômicas, como a pesca, turismo, maricultura, cerâmica, artesanato, etc;
por tudo isso, o meio ambiente precisa o trabalho dos seres humanos para ser
construído e reconstruído e, portanto, para ter existência concreta. Neste caso, pode-
se afirmar que meio ambiente e o meio social são indissociáveis.
A chamada questão ambiental diz respeito aos diferentes modos pelos quais a
sociedade, através dos tempos, se relaciona com o meio físico-natural, ou seja, a
relação com os recursos naturais renováveis e não renováveis, que são usados por
seres humanos como base de sustentação de sua existência e as alterações
decorrentes deste uso, desta forma, pode-se afirmar que essas relações são tão antigas
quanto a própria existência do homem no planeta Terra. Ao revermos a história da
humanidade, verifica-se que, os seres humanos apropriaram-se da natureza com a
finalidade de cumprir seu próprio destino como espécie, e ao longo de sua trajetória,
foram ocorrendo importantes transformações sobre o meio ambiente, e desta relação,
em diferentes épocas e lugares, é que, provavelmente, tenha surgido o que se pode
denominar Meio Ambiente.
“Talvez tudo tenha que ser repensado, talvez mesmo
reinventado, mas não refeito. Devemos nos apoiar sobre a
base de saberes e técnicas já acumuladas, bem como numa
identificação numa definição mais precisa possível sobre:
o que entendemos exatamente como meio ambiente?”
(Jollivet & Pavê, 1996, op. cit. p. 225).
O meio ambiente, entendido como sinônimo da natureza, não tem o componente
humano, como se o homem fosse deslocado do mesmo. Dentro deste enfoque, fazem
parte do meio ambiente somente as florestas, matas, animais, rios, solos e ar. Nesta
concepção, todas as complexas intra e inter-relações existentes no trinômio homem-
sociedade-natureza presentes no meio ambiente foram desconsiderados, tendo como
conseqüências, um meio ambiente como alvo das variadas ações humanas, de forma
catastrófica, provocando uma degradação dos recursos naturais e dos ecossistemas.
Diante da crise ambiental, e da necessidade de transformar a degradação
ambiental provocada pelas sociedades, é proposto desde a Conferência de Tbilisi,
1997 (primeira Conferência Intergovernamental sobre Educação Ambiental,
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convocada pela UNESCO, em cooperação com o PNUMA – Programa das Nações
Unidas para o Meio Ambiente, um conceito ampliado de Meio Ambiente como
definiu Mininni-Medina (1994) como sendo o resultado das complexas inter-relações
de intercâmbio entre a Sociedade e a Natureza, em um espaço e tempo concretos. O
ambiente se gera e se constrói ao longo do processo histórico de ocupação e
transformação do espaço por parte de uma sociedade. Surge como a síntese histórica
das relações de intercâmbio entre Sociedade e Natureza.
Só recentemente, com a discussão da vertente ambiental das organizações
empresarias, ISSO 14001 (normas internacionais para o gerenciamento ambiental)
definiu meio ambiente, inserindo o homem na sua conceituação, portanto, define-se
como “os arredores no qual uma organização opera, incluindo ar, água, terra,
recursos naturais, flora, fauna, seres humanos e suas inter-relações” (Reis, 1996,
op.cit.p.45).
1.2 Questões Ambientais no Brasil e no Mundo:
A importância do descobrimento do continente americano, pelos europeus, está
relacionada ao efeito que as descobertas ocasionaram, ou seja, além de garantir e
ampliar novos mercados, foi gerada inquietações com a descoberta do novo mundo,
trazendo conseqüências inesperadas.
Para Elmo Amador (2000) no Brasil, a degradação ambiental iniciou após o
descobrimento com o ciclo do pau-brasil que sofreu uma extração predatória. Em
torno de 1599, com a escassez do pau-brasil, iniciou-s a monocultura da cana-de-
açúcar, juntamente com a pecuária que acentuou muito a instabilidade do solo.
Outros ciclos agrícolas se baseara na exploração predatória em larga escala,
utilizando sempre o trabalho escravo.
A revolução das ciências nos séculos XVI e XVII pode ser associada com a
crescente degradação e alterações ambientais no planeta Terra. Em 1750, com o
avanço da ciência aliada à tecnologia, inicia-se a Revolução Industrial, com todas as
formas negativas de exploração dos recursos naturais e humanos, visíveis atualmente
nos problemas ambientais.
Neste contexto, pode-se considerar que as questões ambientais tiveram início a
partir de dois aspectos básicos:
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1. Revolução Industrial: em 1750, passagem do artesanato e da manufatura a
fábrica, ocasionando uma grane mudança no processo de produção.
2. Organização Urbana: construções de grandes cidades originadas com a
revolução ambiental, sem planejamento e ordenamento.
Destes dois fatos, foram surgindo outra questões ambientais que trouxeram várias
conseqüências para a vida do ser humano no decorrer do século XX, como:
desequilíbrio na relação entre população rural / urbana ( ocasionando super
população nos grandes centros sem políticas públicas adequadas em relação à
alimentação, moradia, implantação e manutenção dos serviços públicos como água,
esgoto,lixo, educação, saúde e transporte); adensamento populacional próximos às
regiões industriais com alto índice de poluição; ocupação urbana desordenada,
crescente acúmulo de lixo urbano, industrial, atômico, poluição do ar, do solo, da
água e dos mananciais; assoreamento de rios e lagoas; grande desperdício de matéria
prima em geral (água, energia); desertificação (perda da fertilidade e erosão dos
solos cultiváveis); uso de agrotóxicos na agricultura (herbicidas, fungicidas,
praguicidas e inseticidas); aceleração do processo de industrialização tecnologias
poluidoras e de baixa eficiência energética); práticas de mineração e de exploração
do carvão vegetal altamente predatórias; buraco na camada de ozônio (contato direto
com a radiação ultravioleta do sol); ampliação do efeito estufa (aquecimento global);
formação de chuva ácida (liberação de gases venenosos na atmosfera que se
misturam com as águas das chuvas); perda da biodiversidade; uso desenfreado da
biotecnologia e da engenharia genética (ex: alimentos transgênicos); ampliação das
redes de usinas nucleares; aumento no mundo da fome, desnutrição, analfabetismo,
guerras, violências, corrupção, armas químicas e biológicas, narcotráfico, doenças
psicológicas depressivas e esquizofrenia, suicídios e criminalidade; adesão à política
de limpeza étnica, exploração do trabalho infantil, exploração do trabalho escravo,
ausência de ética em todas as áreas do comportamento humano, falta de
solidariedade.
Em 1945, Skinner publicou o livro “Uma sociedade para o futuro”, onde a
proposta era organizar a sociedade através de fundamentos comportamentais.
Portanto, o livro só tornaria popular na década de 60, quando o mundo começou a
enfrentar o esgotamento dos recursos naturais, a poluição, a idéia da superpopulação
e a possibilidade da guerra nuclear.
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Em 1980, Ignacy Sachs, publicou “Ecodesenvolvimento: crescer sem destruir”,
enfocando questões ambientais como: prudência ecológica na gesta dos recursos, o
desenvolvimento endógeno, a harmonia dos interesses sócio culturais, econômicos e
ecológicos que teve grandes influências no meio científico de alguns países,
inclusive no Brasil.
Em 1985, devido às preocupações com os problemas ambientais e a saúde
humana, que poderiam surgir com as modificações da camada de ozônio, foi
realizada a Conferência de Viena, onde alguns governos internacionais se
comprometeram a intervir na problemática ambiental, porém, foi no final da década
de 80, que começou a consolidar a necessidade de se adotar um novo estilo de
desenvolvimento mais humano, que tem como síntese, a responsabilidade sócio-
ambiental.
No Brasil, na Primeira República (1889-1930), foi caracterizada pela expansão do
setor agrícola, porém a partir da Revolução de 30, várias mudanças políticas, sociais
e econômicas se iniciaram no país, com grande estímulo no desenvolvimento
industrial. Com a redemocratização do país, em 1946, o Brasil iniciou um processo
nacional de modernização industrial e urbano, tendo como conseqüência, uma
crescente degradação ambiental.
A década de 50 é considerada o marco no processo de poluição e degradação do
ambiente, com o lema “Cinqüenta anos de progresso em cinco de governo”,
Juscelino Kubitschek, investiu como prioridade os setores de energia, transporte,
alimentação, industrias, construiu usinas hidroelétricas, estradas e a industria
automobilística. Em plena Ditadura Militar, o desenvolvimento era caracterizado
pelo crescimento econômico a qualquer custo, mesmo de forma predatória; industrias
poluidoras internacionais se transferiram para o país, pois não havia exigências de
equipamentos antipoluentes, “os possíveis danos ao meio ambiente poderiam ser
resolvidos mais tarde, oportunamente” (Zucca,1991, op.cit.p.49).
Um fato importante veio auxiliar na minimização dos problemas ambientais
brasileiros, foi à adoção de uma nova postura política por parte do Banco Mundial,
que estabeleceu, a partir de setembro de 1988, que a pré-condição para financiar
obras em países em desenvolvimento era a apresentação de estudos de impactos
ambientais, no Brasil, esta exigência foi sentida mais no setor elétrico e na
mineração. No governo Collor, o Brasil passou a ser alvo da pressão internacional
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pela sua perversa política social e por ser um dos grandes responsáveis pelo efeito
estufa, causado pelo aumento do desmatamento e pelas queimadas. Para obter o
apoio internacional, um dos eixos da política externa adotada é o desenvolvimento
sustentável.
No mundo globalizado, surge o neoliberalismo, como uma expressão da economia
política, penetrando profundamente nos países do Terceiro Mundo.
Para Leonardo Boff (1995), sonho de crescimento ilimitado produziu o
subdesenvolvimento de 2/3 da humanidade, a volúpia de utilização optimal dos
recursos da Terra levou à exaustão dos sistemas vitais e à desintegração do equilíbrio
ambiental. Tanto no capitalismo, quanto no socialismo se corroeu a base da riqueza
que é sempre a Terra com seus recursos e o trabalho humano. Hoje a Terra se
encontra em fase avançada de exaustão e o trabalho e a criatividade, por causa da
revolução tecnológica, da informatização e da robotização são dispensados e os
trabalhadores excluídos até como exército de reserva do trabalho explorado. Ambos,
a Terra e trabalhadores estão feridos e sangram perigosamente.
O que se vê hoje, em pleno século XXI, é que os países desenvolvidos continuam
perpetuando os mesmos padrões tecnológicos de produção e de consumo, gerando
uma forte pressão sobre os recursos naturais, enquanto uma grande maioria da
população pobre dos países em desenvolvimento, não possuem suas necessidades
mínimas básicas supridas.
1.3 Problemas Ambientais: Causas e Conseqüências
Sabe-se que o modelo econômico atual favorece o surgimento de impactos
ambientais, conflitos de uso, choques e interesses na utilização dos recursos, além de
propiciar riscos de esgotamento de recursos naturais não renováveis.
O sistema capitalista de produção que, em sua história de acumulação, já havia
passado pelos estágios do mercantilismo e imperialismo, assume agora uma escala
propriamente globalizada. Os Estados se internacionalizam em suas estruturas
internas e funções; os processos de concentração do capital adquirem maior força,
envergadura e alcance, invadindo cidades, nações e continentes; e, além disso, há
uma crescente descaracterização de povos, etnias, histórias, culturas e as
diversidades.
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O desmantelamento dos sistemas naturais apresenta muitos aspectos, mas o que
caracteriza o homem moderno e o distingue das sociedades não industriais é a sua
agressão total ao Meio Ambiente, enquanto o estrago causado pelas culturas
anteriores eram limitadas e localizado, hoje nada escapa. A crise ambiental que abala
o Planeta, penetra em quase todos os setores da atividade humana, presente no
cotidiano das pessoas, ns jogos políticos entre nações, atravessando toda a sociedade,
atingindo desde os cidadãos comuns, partidos políticos, meios de comunicação em
massa, reorientando articulações acadêmicas nas universidades, através de pesquisas,
programas e novos cursos.
Muito mais que modismo, a preocupação com os problemas ambientais, questiona
e propõe formas de desenvolvimento que estejam voltadas para a melhoria da vida
dos seres humanos.
Luiz Philippi (1997), relata que os problemas ambientais atuais, em sua grande
maioria, são resultados de uma organização social onde a intervenção humana sobre
a natureza, nem sempre foi percebida e quantificada, foi negligenciado, tanto pelo
cidadão comum como por detentores de cargos públicos. A explosão populacional, a
pobreza, a mortalidade infantil, a dívida mundial, a perda da biodiversidade, a
escassez de água potável e todos os problemas de poluição do ar e degradação dos
solos têm a mesma causa o modelo de desenvolvimento da sociedade. Porém, está
nesta mesma sociedade, a mudança necessária para resolução dos problemas
ambientais, modificando o conceito atual de desenvolvimento.
A urbanização acelerada e a industrialização, em geral, permitiram a
visualização de problemas ambientais de uma forma muito objetivas, contidas, a
maior parte de práticas e atividades (humanas e econômicas), ainda não são
consideradas como geradoras de problemas ambientais; como também algumas
práticas agrícolas que permite alteração de ambiente em busca d melhorar as
condições de plantio com a necessidade de fertilizantes de síntese química,
provocando um ótimo crescimento das plantas, onde a produtividade sempre foi o
único objetivo, atingindo seu apogeu, com a identificação da estrutura molecular da
natureza, através dos produtos transgênicos (genericamente denominados), que são
comercializados em grande escala como o milho, soja, tomate e algodão.
Dentro de uma visão capitalista de produção, é desconsiderado os danos
ambientais conseqüentes à própria produção. A crescente abertura econômica para o
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comércio internacional no quadro da globalização, tem tomado as nações em
desenvolvimento cada vez mais importantes diante da especulação financeira,
concentração de renda e destruição ambiental. Em troca de financiamentos, o Estado
perde a sua sensibilidade para o bem estar social, perdendo sua capacidade de
equilibrar os objetivos econômicos, sociais e ambientais.
Toda sociedade tem instrumentos capazes, para repensar na sua organização na
direção de seu desenvolvimento, já que nos últimos tempos, ou por incapacidade ou
falta de interesses de algumas nações, a solução dos problemas ambientais, vem
sendo conduzido por uma crescente participação da sociedade civil organizada na
construção de agendas sociais.
1.4 Evolução do pensamento ambiental:
Considera-se que o surgimento e evolução do pensamento ambiental estão
diretamente associados ao desenvolvimento das ciências, ocorrido ao longo da
história da civilização, assim como as degradações e alterações ambientais
processadas no planeta Terra. Surgiram em países diferentes, em épocas diferentes e
foram se formando e sendo construídos, à medida que várias correntes do
pensamento científico, surgindo e amadurecendo, juntamente com o aparecimento de
problemas ambientais que envolviam a opinião pública.
Registros históricos relatam o mau gerenciamento dos recursos naturais desde o
século I; os relatos são que em Roma, começaram a ocorrer às quebras de safras de
culturas e erosão do solo. Em 1306, uma preocupação com o meio ambiente, foi
relatada através da “proclamação real”, sobre o uso de carvão em fornalhas abertas
em Londres, feito pelo Rei Eduardo I, essas fornalhas eram muito comuns, pois
auxiliavam na redução do frio em áreas públicas ao ar livre.
A modernidade que teve seu apogeu no século XVI, com a descoberta do
Novo Mundo e logo após, as resoluções científica e industrial, transformou a cultura
em um processo civilizatório e assim passou a estabelecer uma relação de oposição;
de um lado a cultura / civilização, do outro, a natureza.
A preocupação ambientalista, no século XVIII, tinha uma visão romântica,
arcadiana, idealizada a vida simples rural e criticava o utilitarismo da nova sociedade
industrial que surgia. Uma das características do pensamento ambientalista, desta
época, era, segundo Herculano (1992) a crítica à ciência moderna e a um ser humano
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que, através do conhecimento, se arrogava o direito de domar a natureza, dela
pretendendo ser independente.
Enquanto a expansão territorial prosseguia e o Velho Mundo iniciava a conviver
com elementos das terras descobertas, os homens que detinham o conhecimento e
faziam a ciência; começaram a pensar de acordo com as suas próprias reflexões e
não, apenas, com seus preceitos religiosos. Em 1780, alguns pensadores portugueses,
principalmente da Universidade de Coimbra, foram estimulados a se aproximarem
das concepções em ciências naturais, rompendo com o domínio medieval
influenciada pela Igreja.
A Europa ocidental dividia-se entre destruir a natureza, na busca de energia para
suas máquinas observar novas plantas e animais, para isso, era importante preservar
as áreas para futuros estudos. Essas “sensibilidades”chega ao Brasil em 1797, quando
foi assinada a Carta Régia sobre a Conservação das florestas e madeiras como um
todo e não apenas o pau-brasil, obviamente procurando preservar a mata atlântica
para uso extrativista, resultando na preservação de áreas, onde o ambiente era pouco
ou quase nada alterado.
Isaac Newton completou a revolução científica, ao desenvolver uma formulação
matemática de concepção mecanicista da natureza ao publicar sua obra “Os
Principia”, contendo definições e descrição da natureza, que foram utilizadas por
mais de 200 anos, só no final do século XIX que esse modelo seria superado.
No Brasil, em 1808, D. João VI criava o Jardim Botânico (Rio de Janeiro), onde
além da introdução de plantas importadas, plantas brasileiras começavam a serem
apreciadas, coletadas, catalogadas e estudadas, principalmente por cientistas
portugueses pertencentes a corte portuguesa em seu exílio no Brasil. Embora
representasse um início de interesse maior sobre o ambiente do Brasil, não diminuiu
a destruição desenfreada da Mata Atlântica, seja pela expansão agrícola ou por
diferentes motivo.
José Bonifácio, formado em mineralogia em Coimbra, tinha muita clareza sobre
as questões ambientais, a relação entre a devastação das matas e o ciclo das águas,
em 1823, ao redigir uma representação à Assembléia Constituinte e Legislativa do
Império do Brasil sobre a escravatura, colocou na parte final o seguinte:
“A Natureza fez de tudo a nosso favor, nós, porém pouco ou
nada temos feito a favor da Natureza. Nossas terras estão
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ermas, e as poucas que temos roteado são mal cultivadas,
porque o são por braços indolentes e forçados. Nossas
numerosas minas, por falta de trabalhadores ativos e
instruídos, estão desconhecidas ou mal aproveitadas. Nossas
preciosas matas vão desaparecendo, vítimas do fogo e do
machado destruidor da ignorância e do egoísmo. Nossos
montes e encostas vão-se escalvando diariamente, e com o
andar do tempo faltarão às chuvas fecundantes que favoreçam
a vegetação e alimentem nossas fontes e rios, sem o que o
nosso belo Brasil, em menos de dois séculos, ficará reduzido
aos paramos e deserto áridos da Líbia. Virá então este dia,
terrível e fatal, em que a ultrajada natureza e ache vingada de
tantos erros e crimes cometidos” (Pádua, 1999, p.43).
Já no século XX, o pensamento ambientalista surgia imbuído de uma crítica e
uma recusa ao mundo moderno e sua ciência. Em 1945 os Estados Unidos explodiam
as primeiras bombas atômicas em duas cidades do Japão, foi então, que os habitantes
do planeta deram-se conta de que o conhecimento humano acabava de atingir uma
etapa na qual se tornava capaz de destruir o mundo todo,
“a sensação de estar preso a uma nau de insensatos, causa
um intenso desconforto e o início de movimentos pacifistas
e antinucleares que viriam a se transformar nos primeiros
movimentos ambientalistas” (Herculano, 1992,
op.cit.p.83).
Em 1946, reconhecendo que é do interesse das nações, em proveito das gerações
futuras, salvaguardar as grandes fontes naturais e representada pela espécie baleeira,
a Convenção Internacional para Regulamentação da Pesca da Baleia, orientava ações
no presente para garantir às futuras gerações condições favoráveis às suas
necessidades. Na Declaração Universal dos Direitos do Homem, 1948, Art. 25, foi
feita uma alusão à necessidade de um bom ambiente declarando que “toda a pessoa
tem o direito a um padrão de vida capaz de assegurar a si e a sua família a saúde e o
bem-estar, inclusive alimentação, vestuário, habitação, cuidados médicos e os
serviços sociais indispensáveis”.
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Em 1949, Aldo Leopoldo (natural do EUA, biólogo), escreveu “A Ética da
Terra”, onde foi considerado, por causa de sua obra, o patrono do movimento
ambientalista. Nos anos 60 e 70, cresce a consciência ambiental no mundo, através
de uma série de eventos relacionados com o meio ambiente. O questionamento à
ciência moderna veio à tona com a pesquisa da norte-americana Rachel Carlson, em
1962, ao lançar o livro “Primavera Silenciosa”, que foi considerado um clássico do
movimento ambientalista, pois provava que os pesticidas usados na agricultura eram
responsáveis pela diminuição da qualidade de vida devido ao seu uso excessivo,
contaminando alimentos, deixando resíduos no meio ambiente, causando o
desaparecimento de inúmeras espécies e ameaçando pássaros de extinção.
Durante a década de 60, várias manifestações liberais acontecera em diferentes
partes do mundo, e pela primeira vez, foi feita uma manifestação oficial, em defesa
de uma atuação conjunta global para o enfrentamento dos problemas ambientais,
feita pela delegação da Suécia, na ONU. Foi o início de uma verdadeira revolução da
sociedade, que passou a criticar, não só o modelo de produção, mas, o modo de vida
decorrente dele.
O pacifismo nuclear, somando a critica a ciência moderna, e ao produtivismo e
consumismo, como também, à rebeldia de um Estado (nação) autoritário, veio de
encontro ao movimento hippie e sua anticultura, que voltava a valorizar as filosofias
orientais milenares (que concebem a natureza como sagrada) e enaltecer os estilos de
vida de etnias e culturas não urbanas, como as indianas, índios americanos,
camponeses, ciganos, sendo caracterizado, pela ênfase da vida comunitária e
campestre.
Em 1972, com uma visão neo - malthusiana (centra sua preocupação na
necessidade de se limitar à população humana terrestre, a fim de evitar a degradação
da qualidade de vida), surgiram duas polêmicas contribuições para os debates sobre
as causas e soluções para a deterioração ambiental: “Relatório Meadows” produzido
pelo Clube de Roma e o “Manifesto pela Sobrevivência”.
O movimento que mais influenciou os movimentos ambientalistas na década de
70 foi a Conferência da Organização das Nações Unidas sobre o Ambiente Humano,
realizada em Estocolmo, na Suécia, em 1972, com a participação de 113 países.
Nessa conferência foram formulados a Declaração sobre o Ambiente Humano,
uma lista de Princípios e um Plano de Ação, recomendando que deveria ser
18 -
desenvolvido um programa internacional de educação para o meio ambiente, dando
ênfase à educação como componente fundamental para combater a crise ambiental
planetária.
Nesta conferência, surgiu o termo “ecodesenvolvimento”, em face de necessidade
de se optar por um outro tipo de desenvolvimento menos agressivos à natureza. Em
1973, Ignacy Sachs amadureceu e ampliou esse conceito, tendo como base três
critérios, quais sejam: justiça social, prudência ecológica e eficiência econômica.
Posteriormente, esse conceito foi sendo aprimorado e renomeado como
“Desenvolvimento Sustentável”.
Vários acontecimentos ocorreram a partir da década de 70, influenciando a
construção do pensamento ambientalista; essa nova concepção influenciou vários
adeptos do movimento ambientalista, que começaram a propor uma mudança na
dimensão do pensar e de agir, reforçando uma concepção qualitativa da vida,
desenvolvendo valores de auto sustentabilidade e respeito à vida.
Foi exatamente nesse cenário da década de 70 que os movimentos ambientalistas
realmente se multiplicaram e se expandiram. Houve um considerável aumento de
novas organizações governamentais e não governamentais organizações urbanas –
populares – comunitárias e associações civis, que procuravam espaços de
participação na questão ambiental e se engajaram no movimento ambientalista.
“Os movimentos ambientalistas extrapolaram os limites
de classe, tendo a participação de profissionais
qualificados, estudantes, camponeses, operários,
funcionários públicos, empresários, executivos, gestores
públicos e privados; homens e mulheres, indistintamente;
comunidades indígenas, negras e minorias étnicas;
crianças, jovens, adultos e aposentados, sem limite de
idade (Viola, 1987, p.cit.p.34).
Além disso, “o movimento ambientalista influenciou as
agências internacionais para atuarem, de forma mais
decisiva, na elaboração e a implementação de acordos,
tratados e programas internacionais, responsáveis pelo
equacionamento dos problemas ambientais
transfronteiriços. Sobretudo, o movimento ambientalista
19 -
também se caracterizou por defender não só o equilíbrio
sócio-ecológico, mas, também, valores e interesses
universais, como a paz, a não-violência, a justiça social e a
solidariedade com as gerações futuras” (Viola, 1987,
op.cit.p.35).
O movimento ambientalista se tornou o embrião da ecologia política e de novos
partidos políticos – os chamados partidos verdes. Estes partidos fazem da resistência
à destruição da vida um alicerce para um novo sistema de valores sócio-políticos
pós-materialista, lutando para transformar a cultura política vigente. Estes novos
valores são, entre outros, a busca da realização espiritual, da paz, da qualidade
ambiental e de vida das pessoas.
No final da década de 80 começou-se a consolidar, em amplos setores da
sociedade, a necessidade de se adotar um novo estilo de desenvolvimento, mais
humanizados, que traga em bojo a responsabilidade sócio-ambiental. Assim,
difundiu-se o conceito de desenvolvimento sustentável, principalmente depois da
divulgação, no meio internacional, o relatório Nosso Futuro Comum, da Comissão
Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, em 1987, conhecido também
como Relatório Brundtland.
Em 1992, acontecia no Rio de Janeiro, a maior conferência internacional já
realizada sobre a matéria ambiental, “II Conferência das Nações Unidas sobre Meio
Ambiente e Desenvolvimento”, com a participação de 170 países. Nessa conferência
e no Fórum paralelo das organizações não – governamentais, discutiu-se amplamente
sobre a necessidade de uma urgente mudança de comportamento visando à
preservação da vida na Terra. Uns dos resultados dessa conferência foi à aprovação
da Agenda 21, um abrangente plano de ação a ser implementado pelos governos,
agências de desenvolvimento, organizações e grupos setoriais independentes em cada
área em que a atividade humana possa afetar o meio ambiente.
O movimento ambientalista brasileiro surgiu na década de 70, durante a ditadura
militar. Nessa época, o Brasil apresentava uma das piores distribuições de renda do
mundo e uma das mais drásticas destruições sócio ambiental; vale ressaltar que essa
situação, permanece até os dias atuais.
Um marco histórico dentro do movimento ambientalista brasileiro foi à criação,
em 1971, da “Associação Gaúcha d Proteção ao Ambiente Natural” (AGAPAN), por
20 -
vários militantes ambientalistas coordenados pelo agrônomo José Lutzemberger, em
Porto Alegre. Essa foi à primeira associação brasileira não – governamental surgida
no Brasil e na América Latina. Tendo como objetivos:
“defesa da fauna e da vegetação; combate ao uso
exagerado dos meios mecânicos contra o solo e a poluição
causada pelas indústrias e veículos; combate ao uso
indiscriminado de inseticidas, fungicidas e herbicida;
combate à poluição dos cursos d’água pelos resíduos
industriais e domiciliares não tratados; combate às
destruições desnecessárias de belezas paisagísticas; luta
pela salvação da humanidade da destruição promovendo a
ecologia como ciência da sobrevivência e difundindo uma
nova moral ecológica” (Viola, 1987,op.cit.60).
Mais tarde, em 1978, Lutzemberger escrevia seu livro Fim do futuro? Manifesto
Ecológico Brasileiro, considerado um referencial teórico do movimento
ambientalista brasileiro.
A partir e 1979, com o retorno de lideranças políticas exiladas pela ditadura
militar de 1964, que assimilaram as idéias ambientalistas dos partidos verdes e dos
movimentos sociais do Primeiro Mundo, a vida cultural do Brasil foi crescendo pela
introdução de valores pós-materialistas e por uma discussão mais ampla sobre as
questões sócios ambientais. Ampliou-se o movimento de defesa da Amazônia contra
a sua depredação, que conquistou a simpatia da opinião pública e que teve no Prof.
Aziz Nacib Ab’Saber, geógrafo da USP, um ardente defensor. Desenvolveram-se,
então, campanhas ambientalistas, campanhas contra o Acordo Nuclear (Brasil –
Alemanha), além de outras transformações como a influência dos ambientalistas em
associações de moderações de classe média, a sua penetração no meio universitário
no meio universitário, entre as populações extrativistas da Amazônia e em outros
movimentos sociais. Na década de 80, no Brasil, foi ampliada no espaço da mídia;
sobre a problemática ambiental, estimulando o aumento da conscientização sobre as
questões ambientais, essas manifestações foi influenciadas pela intensidade da
degradação sócio ambiental, como também pelo processo de transição democrática.
O ano de 1986 se caracterizou pela entrada de um setor minoritário do
ambientalismo na política, apoiando candidatos que defendiam a luta ecológica. Em
21 -
todo movimento ambientalista, como em qualquer movimento social, sua forma de
organização e sua própria história de luta geram uma tomada de consciência, abrindo
espaços e condições para a realização de seus propósitos. Um movimento
ambientalista organizado pela classe média de uma população pode, incorporar
demandas populares e estabelecer alianças diferentemente de um outro tipo de
movimento como o rural ou indígena. Portanto, os movimentos ambientalistas
caracterizam-se por uma compulsão pluralista e heterogênea, que vão formando
alianças em torno de objetivos comuns tais como a conservação da natureza, a
sobrevivência do homem na terra, qualidade de vida, participação comunitária na
gestão dos recursos naturais, posições antinucleares, resíduos tóxicos, entre vários
outros.
Pode-se afirmar que os movimentos ambientalistas, em sua forma global, estão
gerando algumas modificações nos valores da sociedade atual.
Com a chegada do século XXI, temos um quadro de internacionalização das
nações em suas estruturas internas e funções; no mundo globalizado, com o
neoliberalismo como uma expressão da economia política, os processos de
concentração e centralização do capital adquiriram maior força e alcance, invadindo
cidades, nações, e continentes, miscigenizando povos, etnias, histórias, culturas e as
diversidades. A maioria da população do mundo; inclusive crianças, continuam
sofrendo por desnutrição, falta de acesso à água potável, ao saneamento básico e com
a saúde precária. A pobreza e a desigualdade ao acesso aos recursos básicos,
continuam impedindo que a maioria da população do mundo desfrute de certas
comodidades, consideradas com naturalidade por poucos privilegiados.
Neste contexto internacional e nacional de uma economia globalizada e atuação
explicita do neoliberalismo, o ser humano no século XXI, está diante de uma crise
sócio-ambiental. Muitos países em desenvolvimento não conseguem satisfazer as
necessidades básicas da maioria da população e enfrentam uma pobreza crescente,
cm o aumento dos despossuídos (sem-terra, sem-teto, sem-escola, sem-saúde, sem-
habitação, sem-lazer, sem-consumir) e subalimentados (sem-alimentos).
Já os países desenvolvidos, embora tenham resolvido seus problemas relacionados
ao bem estar social do seu povo, enfrentam ainda grandes dificuldades com os riscos
gerados pelo próprio desenvolvimento do capitalismo, relacionados com o
desemprego, a degradação ambiental e o uso indiscriminado dos recursos naturais.
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Na atual crise sócio-ambiental, que o mundo está vivendo, necessitamos acelerar
o processo de construção de um novo pensamento social e ambiental, adquirindo
novos valores éticos, transformando e formulando novos conceitos científicos e uma
ampla visão do universo e do meio ambiente; além disso, proporcionar a todos os
seres humanos, uma melhor distribuição de renda e riqueza mais compatível com
todos, mudar o foco dos interesses sociais, políticos e econômicos, obtendo assim,
um desenvolvimento sustentável, envolvendo uma gestão ambiental participativa e
um Educação Ambiental para a sustentabilidade.
23 -
Capítulo II
Educação Ambiental: Desafios e Perspectivas
A Educação voltada para a cidadania é uma das chaves para fortalecer a
democracia, o respeito mútuo, a justiça social e a igualdade de oportunidades.
A questão ambiental, cada vez mais presente no imaginário social, permeia a
noção de cidadania em muitos sentidos, se queremos que os alunos reflitam de forma
crítica, a discussão sobre os problemas ambientais abre um caminho para a mudança
de comportamento e atitudes de tal forma que pode ser a mola propulsora para a
transformação da escola num espaço coletivo de atuação.
A Educação Ambiental é uma prática que só agora começa a ser introduzida de
modo organizado e oficial no sistema escolar brasileiro. Isso não quer dizer que
alguns temas relacionados com o que habituamos designar de questão ambiental já
não estivessem presentes no corpo programático das disciplinas, logrando
sensibilizar parcelas significativas da sociedade e suas respectivas instituições para a
questão ambiental (Michele Sato, 2003, p.25)
A escola está buscando formar cidadãos, conforme as referências dos Parâmetros
Curriculares, publicados pelo MEC, e da Lei de Diretrizes e Bases (LDB) da
Educação Nacional, ou seja, formar indivíduos que olhem e vejam a realidade, que a
compreendam e tenham capacidade para criticá- la, portanto, a Educação Ambiental é
um caminho para a formação de indivíduos em questões essenciais para a qualidade
de vida e para a construção da cidadania, tais como a solidariedade, saúde, ética,
natureza, diversidade cultural e idéias de processo, responsabilidade.
A Educação Ambiental tem como desafio, aproximar a realidade ambiental das
pessoas, para que elas percebam que a dimensão ambiental impregna suas vidas, e
que cada um tem um papel e responsabilidade sobre que ocorre n ambiente. Nesta
perspectiva, a Educação Ambiental é uma proposta de educação para refletir sobre as
formas de relações entre as sociedades e a natureza, sobre a ética e o direito à vida
em todos os aspectos.
2.1 O Sentido Político da Educação:
Segundo R.S. Braga (2002), a educação se realiza como resposta às exigências
sociais, às aspirações e expectativas dos alunos, aos conflitos existentes entre
24 -
diferentes grupos da sociedade. A educação responde ainda, ao desenvolvimento
produtivo cultural de um povo, bem como ao tipo de sua organização econômica.
A forma de pensar educação está intimamente relacionada com a visão do mundo
que se tenha: se é considerado as mudanças sociais decorrentes de acúmulos de fatos
isolados e independentes, sendo essas mudanças lentas e gradativas; a educação visa
a transmitir o saber organizado social e culturalmente de geração a geração
preservando um patrimônio cultural; em dissonância, encontra-se também, o
pensamento que as mudanças sociais são intencionais resultantes da ações dos
homens, que organizam solidária e politicamente, promovendo mudanças rápidas e
incessantes, neste contexto, a educação visa a transmitir o saber organizado social e
culturalmente, de modo que o individuo, de posse deste saber, esteja preparado para
viver politicamente, contribuindo como cidadão, para a transformação social.
Cabe ainda ressaltar que toda e qualquer proposta educacional pretende promover
o homem, ou seja, tornar o homem conhecedor de sua situação social, transformando-
a no sentido de ampliar o espaço de liberdade, de maior comunicação entre os
homens, portanto, pode-se afirmar que há diferenças ideológicas que as determina. A configuração ideológica, então, estabelece a forma como a pedagogia – relação
entre o ato de ensinar e os resultados da aprendizagem – assume diferentes intenções.
Na perspectiva da pedagogia tradicional, educar é formar todos os tipos de
indivíduos necessários à sociedade. Na perspectiva da pedagogia escolanovista,
educar é controlar e filtrar a influencia social sobre o indivíduo. Na perspectiva
tecnicista, educar é o adestramento de habilidades específicas. Na perspectiva
reprodutista, educar é inculcar a ideologia dominante. Na perspectiva não-diretiva,
educar é preparar o indivíduo para a sua auto-realização. Numa perspectiva de
pedagogia transformadora, educar é formar o indivíduo político, apto a intervir na
sociedade.
Todas as práticas educativas contêm, explícita ou implicitamente, teorias ou
tendências pedagógicas vinculadas a uma determinada postura ideológica.
Se por um lado, a prática educativa depende de uma teoria pedagógica que dê
consistência ao ato de educar, por outro, a teoria pedagógica depende da prática,
como forma de explicitá-la; portanto, ao se pesquisar as teorias ou tendências
pedagógicas que fundamentaram a prática educativa brasileira dos últimos cinqüenta
anos, pode-se organizá- las em tendências liberais e tendências progressistas.
25 -
As tendências pedagógicas liberais, segundo o Profº Libâneo (baseado no 1º
Capítulo do seu livro – “Democratização da Escola Pública) relacionam-se à doutrina
liberal – ao liberalismo, portanto a pedagogia liberal tem por base, a preparação dos
indivíduos para o exercício de papéis sociais determinados na sociedade. As
tendências progressistas, ao contrário, são aquelas que entendem a educação como
uma tarefa vinculada ao social, portanto, a pedagogia progressista, tem como
fundamento, a preparação de indivíduos que, usando como instrumento de luta, o
saber do qual se apropriam na escola, concorrem para a democratização da
sociedade.
Neste contexto, tanto a pedagogia liberal quanto a progressista assumem
diferentes formas de manifestação, cada uma delas configurando um tipo de
professor, um modo de pensar o conteúdo e a metodologia.
A concepção atual da educação, já não permite a posição passiva do aluno,
através desta ótica é que se pode perceber a importância da escola como espaço
responsável pela valorização as relações homem / universo, homem / natureza,
homem / energia e homem / saúde, levando em conta que o aluno para construir o
seu saber precisa estar na real posição de sujeito em contato direto e elaborando o
que tem em seu redor; construindo, assimilando e acomodando para então partir
rumo a novas aprendizagens a serem construídas.
A escola precisa estar alerta no sentido de cumprir o seu papel no crescimento e
melhoria da estrutura social do país numa linguagem clara, simples, mas
enriquecedora, que deve nortear a relação professor-aluno, buscando formar um
educando que age, opera, cria e constrói a partir da realidade vivida por ele pela
sociedade, tendo como conseqüência, a formação de um indivíduo crítico da
realidade onde vive, como também solidário com as causas sociais e também cidadão
atuante na sociedade, contribuindo de forma positiva para as diversas relações
sociais.
2.2 Histórico da Educação no Brasil
Com base na leitura de Francisco Alencar (1983), observa-se que quando, em
1530, inicia-se a colonização portuguesa, estrutura-se um modelo econômico agrário
– exportador, que persistira até 1930, variando as monoculturas (açúcar, borracha e
café), mas persistindo o modelo vulnerável e dependente do mercado externo.
26 -
Em uma sociedade aristocrática, latifundiária e escravocrata, a educação
restringia-se aos filhos homens não-primogênitos, que precisavam do diploma
superior, conquistado em Coimbra, para trocá- lo pelo dote de terra trazido pela sua
prometida em casamento (aos primogênitos reservava-se a direção futura dos
negócios paternos).
Como para plantar e colher, o homem da massa não precisava saber ler, escrever e
contar, não havia a educação estatal e as instituições educacionais existiam quase que
exclusivamente no âmbito da sociedade civil, através da Igreja Católica.
A função da educação consistia, na reprodução da ideologia política e religiosa,
que assegurava a função de reprodução das relações de dominação dos portugueses
sobre s indígenas e negros escravos. Assim, os índios e os negros eram
“catequizados” a fim de que se submetessem passivamente à ordem social vigente.
Durante o período colonial e imperial, a educação jesuítica se caracterizaria por
ser literária e por dar brilho à inteligência dos filhos das elites. É percebido então, o
predomínio da tendência “humanista” tradicional. Tal concepção é derivada de uma
determinada compreensão do homem marcada pela visão essencialista. O homem é
encarado como constituído por uma essência imutável, cabendo à educação
conformar-se à essência humana. As mudanças são consideradas acidentais. A
educação partindo desse pressuposto, centra-se no educador, no intelecto, no
conhecimento.
Para não dizer que esses quatrocentos anos (1530-1930) transcorreram sem
quaisquer alterações, em 1759, o Marquês de Pombal, indignado com o nível de
atraso cultural e o fanatismo religioso, expulsa os jesuítas, e assim, o Estado é
obrigado a assumir a organização educacional brasileira, instalando – se o caos, que
obrigou a trazer de volta a educação voltada para a submissão, o respeito à
autoridade e a escravidão.
Com o surgimento de uma nova classe social, a pequena burguesia mineradora, a
educação escolarizada passa a ser vista como meio de ascensão social, a fim de
conseguir ocupações burocráticas, administrativas e intelectuais consideradas mais
dignas do que os trabalhos manuais.
Com a chegada de D. João VI, em 1808, com sua imensa corte, surge a
necessidade de se efetuar mudanças no quadro das instituições brasileiras; surgem
assim cursos profissionalizantes de cunho prático, como o Curso Médico - Cirúrgico,
27 -
Curso de Agricultura, entre outros . A fim de suprir as carências dos eventos
culturais que estavam acostumados na Europa, D. João cria o Jardim Botânico, A
Biblioteca Pública entre outros, estimulando também a presença da Missão Francesa
com a Real Academia de Desenho, Pintura, Escultura que depois se transformaria em
Escola Nacional de Belas Artes.
Apesar de vários cursos surgidos nesta época, o ensino secundário continuava
sendo propedêutico com conteúdo humanístico.
Durante o século XIX e começo do século XX, assistiu-se a inúmeras tentativas
de reformas legais visando oficializar o ensino e estruturar uma política nacional de
educação. Frustraram-se todas.
Na década de 20, ainda sob a inspiração da tendência “humanista” tradicional, é
desencadeado o “entusiasmo pela educação” que traduzido como a fase da “escola
redentora da humanidade”. Através das idéias liberais, é promovido a extensão
universal do processo de escolarização como grande instrumento de participação
política, um meio de implantar a democracia, representava, portanto, os interesses
das classes dominantes como também os interesses das classes dominadas.
No período de transição da sociedade oligárquico-tradicional para o urbano-
industrial (1930), novas forças sociais emergem e redefinem-se as estruturas de
poder; o modelo econômico, de agrário exportador passa a ser substituído, é
orientado então, para o modelo de industrialização e estrutura-se através da produção
capitalista, acarretando importantes transformações, como a ampliação do papel
multinacional e das relações dependentes do capital. Tais mudanças, acarretam
conseqüências diretas sobre a educação.
As classes médias e operarias emergentes viam a educação um instrumento eficaz
de ascensão social, aspiravam ao status de elite e não viam na educação para o
trabalho um objetivo almejável. O não atendimento às reivindicações dessas classes
sociais e às das populações rurais teria como conseqüência um alto nível de
analfabetismo.
Cresce, assim, a preocupação do estado em relação às instituições de ensino e este
expande-se fortemente, por causa do crescimento da demanda social pela educação,
resultante do crescimento demográfico e da intensificação do processo de
urbanização. Porém, a expansão do ensino foi deficiente, pois não correspondia às
28 -
novas necessidades sociais e econômicas da sociedade brasileira, em vias de
industrialização.
Todavia, a sociedade política toma consciência da importância estratégica do
sistema educacional , o Estado, cria, assim, o Ministério da Saúde e Educação, em
1930, marco do processo de construção da Escola Pública de massa, no Brasil.
Em 1934, a Constituição Federal elabora um Plano Nacional de Educação que
implanta a gratuidade e a obrigatoriedade do ensino e regulamenta as formas de
financiamento da rede oficial. O ensino profissionalizante é criado em 937, para as
classes menos privilegiadas e as escolas de aprendizagem nas de especialização das
industrias para os filhos dos empregados.
O sistema educacional transforma-se em Aparelho Ideológico do Estado e a Igreja
tem cada vez menos influência. Em 1942, o Ministro do Estado da Educação, através
da Reforma Capanema, quer formar um exército de trabalho para o bem da nação e
oferece a escola técnica com “prêmio” às classes mais destituídas de bens materiais
e culturais. As condições de exploração são, assim, criadas e financiadas pelo o
Estado, pois o ensino profissionalizante seria, então, um meio de produzir e
reproduzir a força de trabalho para o processo produtivo e garantia de consolidação e
reprodução da sociedade de classes capitalista.
Irá resultar assim, um sistema dual de ensino, ou seja, uma rede de escolas
voltadas para as classes dominantes com um ensino de qualidade e outra, com ensino
profissionalizante para as classes dominadas.
Com a aceleração e diversificação do processo de substituição de importações
(1945-1964), desenvolve-se uma aliança instável entre o empresariado nacional e
setores populares e surgirá um Estado populista – desenvolvimentista.
Com a reabertura democrática (1945), vai se tornando cada vez mais nítido o
predomínio da tendência “humanista” moderna, na educação. Esboça-se uma visão
do homem centrada na existência, na vida, na atividade. A natureza humana é
mutável, determinada pela existência. O adulto não se constitui em modelo, pois o
homem é considerado completo desde o nascimento e inacabado até morrer. A
educação centra-se na criança e é considerada um processo descontínuo.
Sob a proteção desta concepção, nas décadas de 40, 50 e 60 surgem correntes
como o psicologismo, o sociologismo e o economicismo pedagógicos,
respectivamente.
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Na década de 50 e início da década de 60, o Nordeste brasileiro foi o ambiente
histórico-político no qual as idéias de Paulo Freire se formaram e se desenvolveram.
É nesse período que as classes populares entram em cenário político: a Campanha
da Alfabetização se inseria num contexto social em que tinham lugar as Reformas de
base e cresciam as ligas camponesas.
As idéias de Paulo Freire – cujo método tem o diálogo e o princípio da realidade
como categorias centrais – devem ser entendidas no contexto em que surgiram, onde
metade dos trinta milhões de nordestinos eram analfabetos.
Pela luta da camada social por uma escola pública de qualidade, é reeditado, ao
final da década de 50, o conflito escola pública – escola particular, revigorado com a
presença de educadores comprometidos com a Escola Pública democrática. Através
do Manifesto dos Educadores ocorre um protesto contra as implicações do
Substitutivo Lacerda, que propunha financiamento do Estado às instituições
particulares, sem direito a controle ou fiscalização, em nome da liberdade de ensino.
Novas tendências de internacionalização do mercado interno delineiam-se , com
isso, possíveis mudanças se anunciam na organização do poder ao nível da sociedade
política, o que levaria à reformulação da política educacional.
Em 1961, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei 4024/61) propõe
a reestruturação e redefinição da escola como compromisso entre duas tendências: a
de Carlos Lacerda e a dos educadores preocupados com uma escola com bases
socializadoras.
É configurado então, a crise a tendência humanista moderna e começa a surgir a
tendência tecnicista. O golpe militar de 64, revelou-se incapaz de acionar
mecanismos de persuasão que mantivessem a hegemonia. Em conseqüência,
obrigou-se a lançar mão da repressão para garantir o domínio.
Quando, em 68, estudantes, professores e intelectuais reivindicam uma lei
especifica para o ensino superior, foi assistido em meio a passeatas, confusões e
prisões, o presidente Costa e Silva constitui então, uma comissão nos termos de
convênio MEC - USAID, de onde surgirá a Lei 5540/68, adotando medidas tais
como os departamentos de ensino e o sistema de crédito por disciplinas.
Nesta época, o Estado monta um poderoso aparato em meios de comunicação de
massa e em recursos tecnológicos. Configurando a tendência tecnicista que passa a
inspirar a maior parte dos estudos e iniciativas na área da educação.
30 -
A partir da década de 70, os meios educacionais são invadidos pr correntes ou
propostas pedagógicas tais como “enfoque sistêmico”, “operacionalização de
objetivos”, “tecnologias do ensino”, “instrução programada”, “maquinas de
ensinar”, “educação via satélite”, “tele-ensino”, “micro-ensino”, “formação de
recursos humanos”, entre outros.
Em 1971, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação de 1º e 2° graus – Lei 5692/71,
tinha como objetivo, inserir o educando no mercado de trabalho, assegurando- lhe um
lugar na sociedade estratificada através da profissionalização do ensino médio.
Tanto a legislação como o planejamento educacional, expressam a ênfase dada à
educação como capital humano, que promove o desenvolvimento. Entretanto, há
correntes divergentes quanto à utilização da educação como reprodutora da força de
trabalho, como geradora de crescimento econômico, como propulsora de taxa de
retorno individual e social. Portanto, todas elas têm desenvolvido um esforço
contínuo em busca dos interesses das classes menos favorecidas, ou seja, as classes
mas destituídas de poder, de bens materiais e culturais, de qualidade de vida, na
sociedade brasileira.
Em 1996. a nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional - Lei 9394/96,
nomeia o ensino fundamental, juntamente com o ensino infantil e o ensino médio;
como educação básica e tem como finalidade “desenvolver o educando, assegurar-
lhe a formação indispensável para o exercício da cidadania e fornecer- lhe meios para
progredir no trabalho e em estudos posteriores”.
A LDB determina ainda, que a educação dos alunos que apresentam necessidades
especiais deva ocorrer, preferencialmente, na rede regular de ensino. Assim sendo, os
serviços de educação especial se inserem nos diferentes níveis de formação escolar
(educação infantil, ensino fundamental, ensino médio e educação superior) e na
interatividade com as demais modalidades da educação escolar, favorecendo alunos e
professores, dentro dos princípios da escola inclusiva, entendida como aquela que,
além de acolher todas as crianças, garante uma dinâmica curricular que contemple
mudar o caráter discriminatório do fazer pedagógico, a partir das necessidades dos
alunos.
De acordo com a LDB (1996), o ensino fundamental no Brasil tem por objetivo a
formação básica do cidadão mediante:
31 -
“I – o desenvolvimento da capacidade de aprender, tendo como: meios básicos o
pleno domínio da leitura, da escrita e o cálculo;
II – a compreensão do ambiente natural e social, do sistema político, da tecnologia,
das artes e dos valores em que se fundamental sociedade;
III – o desenvolvimento da capacidade de aprendizagem, tendo em vista a aquisição
de conhecimentos e habilidade e a formação de atitudes e valores;
IV – o fortalecimento dos vínculos de família, dos laços de solidariedade humana e
de tolerância recíproca em que se assenta a vida social”.
Para a nova LDB, os estados e municípios incubem-se de definir formas de
colaboração na oferta do ensino fundamental, o que deverá trazer grandes benefícios,
pois as ações conjuntas, bem planejadas, renovadas e reforçadas em seus meios;
poderá permitir uma recuperação em nosso sistema educativo. Assim, através de uma
política educacional que aponte para a realização dos anseios e desejos do povo,
capaz de oportunizar a discussão de idéias e permitir a elaboração de sua própria
visão do mundo, estará compromissada com a democracia e as emancipações sociais.
Os PCN’s, nasceram da necessidade de se construir uma referência curricular
nacional para o ensino fundamental que possa ser discutida e traduzida em propostas
regionais nos diferentes estados e municípios brasileiros, em projetos educativos nas
escolas e nas salas e aula, garantindo a todo aluno de qualquer região do país, do
interior ou do litoral, de uma grande cidade ou da zona rural, que freqüentam cursos
nos períodos diurno ou noturno, que sejam portadores de necessidades especiais, o
direito de ter acesso aos conhecimentos indispensáveis para a construção de sua
cidadania.
Por tanto, é necessário redefinir claramente o papel da escola na sociedade
brasileira como também, refletir sobre como e para que ensinar e aprender,
envolvendo não apenas a escola , mas também pais, governo e sociedade.
Pode-se afirmar, que o quadro educacional brasileiro é ainda bastante
insatisfatório. Alguns indicadores quantitativos e qualitativos mostram o longo
caminho a percorrer em busca da equidade.
Comparações com outros países em estágio de desenvolvimento colocam o Brasil
em desvantagem na área da educação.
Os dados revelam desigualdades regionais, baixo aproveitamento escolar,
defasagem idade / série, índices de evasão e repetência. Esses resultados refletem o
32 -
processo de extrema concentração de renda e de níveis elevados de pobreza ainda
existentes no país.
A profunda segmentação social, decorrente da desigualdade de distribuição de
rendas, tem funcionado como um entrave ara que uma ate considerável da população
passa fazer valer os seus direitos e interesses fundamentais, como direito à educação.
2.3 Desvendando a Educação Ambiental:
Através da análise das diversas abordagens pedagógicas produzidas ao longo da
história como explicações do “fazer pedagógico”, é possível visualizar que a
Educação Ambiental se utiliza dos elementos positivos dos diversos enfoques, para
um “fazer educacional” mais pertinente.
Mininni-Medina (2000,p.70), descreve esses diversos enfoque que se utiliza a
Educação Ambiental da seguinte forma:
P coloca ênfase nos conteúdos, como na pedagogia tradicional faz,
P utiliza-se de uma grande variedade de métodos e técnicas, em função dos objetivos
perseguidos em cada circunstâncias específica,
P prioriza os métodos ativos, preconizados pela Escola Nova, a Educação Ambiental
é uma educação voltada para a compreensão e solução de problemas,
P resgata o papel do planejamento educacional da pedagogia tecnicista dando- lhe
um novo sentido no planejamento coletivo, como instrumento imprescindível do
fazer pedagógico,
P ressalta a importância de desenvolver uma atitude de reflexão crítica
comprometida com uma ação emancipadora,
P assinala a importância e o valor do conhecimento popular e das diferentes praticas
culturais que devem ser legitimadas na escola como postula a abordagem sócio-
cultural de Paulo Freire,
P resgata a ênfase colocada pela abordagem histórico - crítica, na prática social, nos
condicionantes sociais, históricos e econômicos sem os quais se torna impossível
compreender as questões ambientais,
P sustenta a visão da educação como prospectiva e transformadora inserida em seu
tempo e espaço,
P recupera, da abordagem comportamentalista, a importância da especificação dos
objetivos educacionais,
33 -
P considera, da abordagem piagetiana, os fundamentos de uma educação cientifica,
baseada na construção do conhecimento,
P recupera, da abordagem que foi denominada de ecologista – preservacionista, os
elementos em relação ao conhecimento da Ecologia como ciência, imprescindível,
mas não suficiente, para uma formação mais ampla com respeito ao meio ambiente,
P permite uma valorização do saber e não do ter, o que possibilita a crítica da
sociedade de consumo, e do desperdício de recursos,
P a Educação Ambiental na vertente sócio ambiental considera i incorpora os
aspectos positivos da vertente ecológica – preservacionista, acrescentando os
aspectos socioeconômicos e históricos, fazendo uma análise das inter – relações entre
sociedade e natureza, a partir dos conceitos de desenvolvimento sustentável,
qualidade de vida, participação e exercício da cidadania.
O desenvolvimento da consciência ambiental, em nível internacional, pode ser
traçado ao longo das duas últimas décadas, com base em uma série de eventos , como
as Conferencias de Estocolmo e a de Tbilisi que originaram as primeiras
manifestações dentro da Educação Ambiental. Gayford & Dorion (1994) destacaram
também Limites para o Crescimento (1972), o Relatório Brand (1980), e, mais
recentemente, a Agenda 21 (1992), realizada no Brasil. Todavia, a Educação
Ambiental, assim como a própria Educação, ainda continua caminhando lentamente
no processo de efetivar mudanças na atitudes e comportamentos humanos em relação
ao ambiente (Sato, 2003,p. 23). A partir das Conferências de Estocolmo (1972) e
Tbilisi (1977), a literatura tem enfatizado a importância da redefinição da Educação
AmbientaL, conduzindo os diversos profissionais, de diferentes áreas, a interagirem,
centralizando as discussões da mesma dentro de uma perspectiva interdisciplinar.
O ensino / aprendizagem da Educação Ambiental tornou-se obrigatório com a
promulgação da Política Nacional da Educação Ambiental (PNEA), para todos os
níveis e modalidades de ensino, mas as iniciativas de Educação Ambiental no ensino
formal no Brasil, data da década de 50, ainda que muito isoladas.
O Ministério da Educação (MEC), antes mesmo da promulgação da Lei PNEA,
definiu o Meio Ambiente como Tema Transversal nos PCN’s, porém vale lembrar,
que nem o reconhecimento da necessidade nem a obrigatoriedade da lei são
suficientes para garantir a existência da Educação Ambiental na escola, muito menos
sua qualidade.
34 -
A proposta do MEC, para prática da Educação Ambiental na escola, é a inserção
da temática ambiental nos currículos, aliada à adoção de uma postura, de práticas e
atitudes, de toda a Comunidade Escolar, que pode ser exercida em projetos de
Educação Ambiental articulados com o projeto educativo da escola.
A Educação Ambiental, pretende aproximar a realidade ambiental das pessoas,
para que elas percebam que a dimensão ambiental impregna suas vidas, e que cada
um tem um papel e responsabilidade sobre o que ocorre no ambiente. A Educação
Ambiental se propõe ainda, a dar condições aos educandos de se posicionarem e
agirem em busca de caminhos mais justos e solidários para os desafios do processo
de construção e transformação do mundo natural, social, cultural e ético.
O conceito de Educação Ambiental foi mudando ao longo do tempo e ainda esta
em construção. A dimensão da Educação Ambiental e do Meio Ambiente, estava
vinculada ao conceito de natureza e ao modo como esta era percebida, atualmente, se
acentua a necessidade de considerar os diversos aspectos de uma dada situação
ambiental e também o conceito de Educação Ambiental incorpora as dimensões
socioeconômica, política, cultural e histórica.
2.3.1 Interdisciplinaridade:
Pode-se afirmar que, a interdisciplinaridade é a interação de conhecimentos
entre várias disciplinas, gerando um novo saber, diante de um dada problemática.
Historicamente a idéia interdisciplinaridade, tem como fundamento a idéia de
totalidade, a inter-relação de diversas disciplinas para atingir a globalidade do
conhecimento, deve-se lembrar que a interdisciplinaridade, foi uma intenção
educacional defendida primeiramente pelas teorias humanísticas da educação,
atualmente, o conceito vem se identificando com a idéia de integração.
Analisando a ação da interdisciplinaridade na educação, acredita-se que um
projeto interdisciplinar só conseguirá ser operacionalizado com sucesso a nível
educacional, se tiver como objetivo primeiro, a formação de pensamentos aptos à
percepção da unicidade real, em um determinado momento histórico, de um
determinado contexto cultural, numa ótica global de captação dessa realidade, numa
visão crítica quanto à necessidade de modificação contextual exigindo-se, portanto,
mudanças várias, essencialmente no que diz respeito a postura do educador e ao
momento pedagógico atual.
35 -
O Meio Ambiente não pode ser considerado um objeto de cada disciplina,
isolado de outros fatores. Ele deve ser abordado com uma dimensão que sustenta
todas as atividades e impulsiona os aspectos físicos, biológicos, sociais e culturais
dos seres humanos. A Educação tem sido identificada como transdisciplinar, isto é,
deve permear todas as disciplinas do currículo escolar. A diversidade de
acontecimentos ambientais não permitem a criação de uma disciplina de Educação
Ambiental, um profissional de formação polivalente é muito difícil de se encontrar,
pois deverá deter todos os conhecimentos inerentes à várias dimensões associadas à
questão ambiental.
2.3.2 Formas de atuação:
A Educação Ambiental, por suas origens e em função das configurações
diversas que foi assumida, transcede o universo escolar. A Educação Ambiental vem
se desenvolvendo em vários âmbitos sociais, pelas mais diferentes entidades e
organizações que atuam em uma gama incrível de temas associadas à questão
ambiental. Portanto, constitui uma experiência moldada em um contexto extra-
escolar, ou seja, a origem da Educação Ambiental não é semelhante com a das
disciplina tradicionais, que têm raízes nas universidades e na cultura acadêmica, de
um modo geral.
A Educação Ambiental é um caminho para a formação de indivíduos em
questões essenciais para a qualidade de vida e para a construção da cidadania, tais
como, solidariedade, saúde, ética, natureza, diversidade cultural e responsabilidade
seja ela dentro ou fora da escola.
Deve-se ressaltar que existem algumas formas de atuação da Educação
Ambiental, que são elas:
à Educação Ambiental Formal
O princípio básico que deverá nortear as atividades de educação formal é o de
estimular a abordagem interdisciplinar dos conteúdos ambientais, trabalhando os
mesmos de forma transversal ao currículo básico dentro das diferentes disciplinas já
existentes.
A Educação Ambiental formal tem como principal instrumento a escola,
mas para que o tema Meio Ambiente seja incorporado ao cotidiano escolar, por
intermédio das áreas do conhecimento, e não apenas se mantenha como um tema
36 -
excepcional em semanas ou atividades comemorativas, é necessário uma proposta de
ação contínua.
Para contribuir efetivamente na ampliação e no enriquecimento da questão
ambiental na escola, propondo ações não específicas por disciplina, mas abrangendo
as diferentes áreas do conhecimento e servindo como meio estimulador de algumas
ações de Educação Ambiental, é fundamental que a escola desenvolva um programa
ou projeto de Educação Ambiental. As ações devem ocorrer dentro do sistema formal
de ensino, junto à rede escolar pública (estadual e municipal) e privada, com
produção de materiais técnicos específicos, treinamento de professores e estímulo
aos diferentes atores envolvidos na execução do Programa, a partir de uma
abordagem interdisciplinar.
à Educação Ambiental Não-Formal
A Educação Ambiental não-formal é direcionada à comunidade, onde cabe
uma grande diversidade de propostas, como por exemplo, a ação num bairro ou um
conjunto de atividades junto aos trabalhadores, ou ainda uma proposta educativa para
os moradores ou visitantes de uma área de proteção ambiental. Os objetivos maiores
são melhorar a qualidade de vida da comunidade e fortalecer a cidadania. A
implantação de ações de Educação Ambiental junto à comunidade é fundamental,
pois promove a disseminação do conhecimento sobre o ambiente, e é essencial para a
inserção política, social e econômica da população. Deve ser incorporada como parte
do aprendizado, contribuindo decisivamente para ampliar a consciência ambiental e
ética consoantes com o desenvolvimento em bases sustentáveis, favorecendo
inclusive, a participação popular nas tomadas de decisões.
Economia de energia e de água, combate ao desperdício de matérias-
primas, redução da poluição do ar e sonora, coleta seletiva e reciclagem do lixo são
ações simples que podem se tornar hábitos por meio de Educação Ambiental Não-
Formal.
à Educação Ambiental Informal
Constitui os processos destinados a ampliar a conscientização pública sobre
as questões ambientais através dos meios de comunicação de massa (jornais, revistas,
rádios, e televisão) e sistemas de informatização (Internet), bancos de dados
ambientais, além de bibliotecas, videotecas e filmotecas especializadas.
37 -
Incluem-se ainda peças gráficas utilizadas com finalidade didática ou
informativa, como livretos, cartazes, folders, boletins e informativos destinados à
informação e sensibilização da sociedade sobre as questões ambientais.
à Outras formas de atuação
Outras formas de manifestação e de expressão humana também devem ser
contempladas em atividades de EA (canções, poesias, esculturas, pinturas, dentre
outras). Não necessariamente se constituem em objeto da pedagogia ambiental no
seu sentido usual, mas são valiosos enquanto instrumentos de sensibilização por
exprimirem no campo das emoções e dos sentimentos as percepções das pessoas em
relação ao meio ambiente.
2.3.3 Proposta Curricular:
No esquema a seguir, está sintetizado de maneira simples, os diferentes
passos de adequação curricular, que responde às exigências da LDB / 96 e aos PCN’s
para a inclusão da Educação Ambiental na Educação Formal.
Figura 1: Síntese da Proposta Curricular
2.3.4 Conteúdos para a implementação:
Currículo Básico Nacional LDB/96 e Diretrizes Curriculares Nacionais, Lei 9.796 Política Nacional de Educação Ambiental
Proposta Curricular do Estado. Programa Inter-institucional de EA.
Proposta Curricular Municipal. Agenda 21 Local
Educação Ambiental inserida no Projeto Político Pedagógico da UE, como tema transversal.
Estabelece os conhecimentos mínimos comuns e as linhas gerais da educação nacional.
Estabelece as adequações necessárias a realidade sócio ambiental do estado
Sucessivas adequações a realidade local e a cada unidade escolar, incluindo suas características específicas e visando a integração com a comunidade
38 -
Para a implementação da Educação Ambiental, pode-se resumir as
abordagens essências que devem embasar os programas da seguinte forma:
I. Sistemas Naturais
Gerais ambiente, terra e biosfera
Componentes Abióticos energia, atmosfera, água e solo
Componentes Bióticos Monera, Protozoa, Fungi, Metaphyta e Metazoa
Processos ciclos biogeoquímicos, clima, evolução e extinção
Sistema Ecológicos ecossistemas, teias alimentares, comunidades,
populações, habitat e nicho ecológico
II. Recursos
Recursos Naturais distribuição e consumo, desenvolvimento sustentável,
gerenciamento e conservação
Recursos Abióticos energia, minerais, água, solo e ar
Recursos Bióticos biodiversidade
Degradação dos Recursos impactos ambientais
III. Sistemas Humanos:
Sociedade e Ambiente ações antrópicas no ambiente e legislação
Sistemas Tecnológicos agricultura, pasto, industria e manufaturas
Sistemas Sociais sistemas sócio-econômicos e políticos
Sensibilização Ambiental filosofia, valores, ética, moral, educação, religião,
e Gerenciamento cultura, participação e comunicação
Tabela 1: Abordagens essenciais
2.4 Educação Ambiental para a Sustentabilidade:
Paralelamente aos processos do pensar e da evolução conceitual ao longo dos
últimos 500 anos, pode-se considera a própria evolução da Educação Ambiental, se
utiliza dos elementos positivos dos diversos enfoques, para um “fazer educacional”
mais pertinente.
39 -
A Educação Ambiental, desde que começou a sr introduzida mundialmente no
ensino, há cerca de 30 anos, tem falhado algumas vezes, na preparação de indivíduos
adequadamente, capazes de agir nas questões e nos problemas ambientais, pois tem
mostrado uma visão mais conservadora e pouco engajada nas questões primordiais.
A insatisfação com a esse tipo de concepção conservadora, gerou a necessidade da
construção de um campo teórico denominado de “Educação Ambiental para a
Sustentabilidade” (EAS), associando a Educação Ambiental convencional, com o
conceito de desenvolvimento sustentável.
Neste contexto, a educação que recebeu o adjetivo ambiental, assume o
complemento sustentável.
O Desenvolvimento Sustentável, no qual insere-se a Educação Ambiental para a
Sustentabilidade, envolve a discussão e resolução de questões e problemas
ambientais complexas e multifacetadas, tão desiguais como:
“P o indício de rarefação de recursos naturais essenciais à
dinâmica das economias modernas;
P a explosão demográfica em países em desenvolvimento;
P a hiper urbanização;
P a perda mais ou menos irreversível de biodiversidade;
P a alienação consumista;
P as alterações climáticas globais;
P a desertificação crescente de áreas agricultáveis e a
crise civilizatória expressa na continuidade das atuais
assimetrias nas relações norte-sul” (Viola, 1996, p.293).
Os conceitos em EAS, assim como os de sustentabilidade, liberdade, justiça e
democracia, não são simples, nem concordantes. Apresentam conformidades com
diferentes ideologias e programas delineados por conhecimentos, valores e filosofias
distintas. Assim, a função principal da EAS é ajudar o indivíduo à “compreender, a
refletir e agir nesses conceitos, para a adoção de alternativas futuras” (Huckle, 1996,
op.cit, p.19).
A Educação Ambiental para a Sustentabilidade, não deve ser prescrita, mas sim
indicativa, e deve ser alimentada com todas as formas de pensamento, em busca de
um bem comum. Resgatando a compreensão das organizações da sociedade, na
relação homem-natureza, sem visão exclusiva do capitalismo que continua a
40 -
corromper as relações sociais e ambientais. Nesta concepção, a Educação Ambiental
para a Sustentabilidade é um processo educacional que prepara o indivíduo a perceber
que as relações sociais e econômicas, socialmente construída pelo homem, devem ser
justas e considerar a Terra a partir da escassez e não renovação de seus recursos
naturais existentes. É importante salientar que a compreensão a partir da escassez e
não renovação dos recursos naturais inclui desde a percepção da importância da
otimização do fluxo de energia solar, como também, ao comprometimento da atual
geração desenvolvendo uma melhoria da qualidade de vida e favorecendo benefícios
as gerações futuras.
41 -
Capítulo III
Reflexão da Prática Docente
Transformar a prática educativa, adequando-a as exigências das necessidades do
mundo contemporâneo, na procura da qualidade da educação democrática e
inclusiva, atendendo a LDB/96 e as recomendações dos PCN’s; se faz necessário
analisar a prática pedagógica a fim de explicar os diversos enfoques pedagógicos que
a perpassem, com o objetivo de construir sobre ela, as transformações necessárias
para sua melhoria.
Segundo Vitor Paro:“se estamos convencidos de que a maneira de a escola
contribuir para a transformação social é o alcance de seus fins especificamente
educacionais, precisamos adotá- la de racionalidade interna necessária à efetivação
desses fins” (2000,p.136), ou seja, nenhuma escola Poe funcionar sem meios e
recursos, mas estes devem estar subordinados aos fins educacionais buscados pela
escola, os fins determinam a forma de utilização dos meios e recursos.
Ë necessário admitir que há uma inter-relação entre políticas educacionais, a
gestão das escolas, as práticas pedagógicas na sala de aula e o comportamento das
pessoas; neste contexto, as políticas educacionais e diretrizes organizacionais e
curriculares são portadoras de intencionalidade, idéias, valores, atitudes, práticas que
influenciam as escolas e seus profissionais determinando assim, o tipo de sujeito a
ser educado. Deve-se afirmar que, é importante às políticas educacionais e as normas
legais para o ordenamento político, jurídico, institucional e organizacional do sistema
de ensino, porém, elas precisam ser sempre submetidas a uma avaliação crítica do
ponto de vista social e ético. Desse modo, o sistema de ensino e as escolas, deverão
contribuir com grande significado para a construção de um projeto de nação e para a
formação de sujeitos capazes de participarem ativamente desse processo.
A escola contemporânea precisa voltar-se para as novas realidades, ligar-se ao
mundo econômico, político, cultural, para essa escola, deverá ser proposto uma
prática pedagógica centrada a formação geral e continuada de sujeitos pensantes e
críticos, na preparação para uma sociedade técnica, científica e informacional, na
formação para a cidadania crítico-participativa e na formação da ética.
42 -
3.1 Reflexão Pedagógica da Educação Ambiental Formal:
Se faz necessário esclarecer, que a Educação Ambiental será considerada como
uma abordagem da educação formal, com características especificas, não como
teoria pedagógica, dado que a denominada “pedagogia ambiental” está em
construção, existindo porém, em algumas propostas de autores como Maria Novo
(Pedagogia Ambiental, 1989). No entanto, existe referências às primeiras formas em
que a Educação Ambiental foi concebida, ou seja, desde o início das décadas de 60 e
70, como pode ser percebido nos próprios documentos nacionais, como por exemplo;
nos primeiros pareceres do MEC, onde se fala principalmente de educação ecológica.
A ênfase da proposta pedagógica deverá estar nas questões e nos problemas
ambientais, analisados histórica e socialmente, levando em conta as alternativas de
solução. Oportunizar uma educação científica que dê aos alunos instrumentos de
análise para a compreensão e busca de soluções dos problemas ambientais, uma vez
que, deve-se considerar as características estruturadas do nível de desenvolvimento
cognitivo do aluno para a evolução e o alcance das estruturas hipotético-dedutivas.
A exploração da dimensão educativa de práticas culturais, como suporte de ação
pedagógica ambiental pode ajudar a produzir uma conexão entre a Educação
Ambiental e cidadania.
As manifestações Culturais podem ser uma nova alternativa para desenvolver um
processo de sensibilização da sociedade com relação às questões e problemas
ambientais. Algumas dessas expressões, que culminam com a realização de festas
populares, religiosos ou profanos.
Deve-se trabalhar, a Educação Ambiental, com projetos de ação, métodos de
problemas, núcleos temáticos que possibilitem a observação e a compreensão das
inter-relações, tendo a interdisciplinaridade como um objetivo a ser alcançado no
processo educacional e a transversalidade como um método pedagógico a ser
construído pelo conjunto dos professores ao longo da formação do aluno, permitindo
a integração das disciplinas. Deve-se trabalhar de modo a contribuir para repensar a
sociedade em seu conjunto; não se trata, simplesmente, de conservar e proteger a
natureza na perspectiva dos atuais modelos e desenvolvimento, senão de construir
novas realidades e novos estilos de desenvolvimento que permitam a manifestação
do diverso cultural e natural, e o desenvolvimento de potencialidades individuais e
coletivas.
43 -
Pode-se afirmar que a introdução da dimensão ambiental, PCN Meio
Ambiente, desencadeou processos de sensibilização em relação às questões
ambientais, como também, aos problemas ambientais, por meio de atividades
planejadas permitindo uma inserção no meio local, regional, nacional e internacional,
de forma progressiva, respondendo aos interesses e motivações dos alunos,
proporcionando-lhes aquisição de conhecimentos científicos, técnicos e atitudes
éticas, para que possam participar de modo eficaz na gestão dos processos de
desenvolvimento de sua comunidade.
Pode-se afirmar que a proposta pedagógica da Educação Ambiental sintetiza os
elementos positivos de duas abordagens que perpassam a prática real do ensino no
Brasil, ou seja, “vertente ecológica e preservacionista” e “vertente sócio ambiental”,
cabendo a equipe de professores das escolas, identificar os elementos favoráveis ou
desfavoráveis para a Educação Ambiental.
3.2 Temas Transversais:
Os temas transversais referem-se às questões contemporâneas de relevante
interesse social, que atingem, pela sua complexidade, as várias áreas do
conhecimento. Exigem um planejamento coletivo e interdisciplinar, além da
identificação dos eixos centrais, para, em torno deles, elaborar as propostas
educacionais.
Os temas transversais que compõem os PCN’s são: Ética, Saúde, Meio Ambiente,
Pluralidade Cultural, Orientação Social e Trabalho e Consumo, pois são
considerados de grande abrangência nacional e até mesmo mundial, poderá sofrer
adaptações para que correspondam às reais necessidades de cada região ou mesmo de
cada escola.
O tema transversal Ética traz a proposta de que a escola realize um trabalho que
possibilite o desenvolvimento da autonomia moral, o qual depende mais de
experiências de vida favoráveis do que de discursos e repressão. No convívio escolar,
o aluno pode aprender a resolver conflitos em situações de diálogo, pode aprender a
ser solidário ao ajudar e ao ser ajudado, pode aprender a ser democrático quando tem
oportunidade de dizer o que pensa, submeter suas idéias ao juízo dos demais e saber
ouvir idéias dos outros.
44 -
A Saúde como tema transversal eleva a escola ao papel de formadora de
protagonista , e não paciente, capaz de valorizar a saúde, discernir e participar de
decisões relativas à saúde individual e coletiva, portanto, a formação do aluno para o
exercício da cidadania compreende a motivação e a capacitação para o auto cuidado,
assim como a compreensão da saúde como direito e responsabilidade pessoal e
social.
A proposta dos PCN’s para o tema transversal Orientação Sexual, tem por
objetivo transmitir informações e problematizar questões relacionadas à sexualidade,
incluindo posturas, crenças, tabus e valores a ela associada, sem invadir a intimidade
nem direcionar o comportamento dos alunos.
A principal função do trabalho com o tema transversal Meio Ambiente, é
contribuir para a formação de cidadãos conscientes para a atuação na realidade
socioambiental, desenvolvendo comportamentos “ambientalmente corretos”, que
serão aprendidos na prática do dia-a-dia na escola; gestos de solidariedade, hábitos
de higiene pessoal e dos diversos ambientes.
O tema transversal Trabalho e Consumo considera questões centrais que
envolvem direitos já formulados em lei e que são objetos de mobilização social para
s caracterizarem a erradicação do trabalho infantil, a mobilização contra a
discriminação de gênero, de raça e idade nas relações de trabalho, a defesa dos
direitos especiais dos portadores de deficiência e a defesa dos direitos dos
consumidores.
O tema transversal Pluralidade Cultural, se dá, a cada instante, proporcionando
que a escola coopere a formação e consolidação de uma cultura da paz, baseada na
turbulência, no respeito aos diretos humanos universais e de cidadania compartilhada
por todos os brasileiros.
Os temas transversais podem ser trabalhados a partir de eixos temáticos e/ou
projetos escolares, pois permitem o exercício da cidadania, oportunizando o
envolvimento dos alunos com temáticas comunitárias relevantes ao cotidiano da
sociedade em que vive, possibilitando valores como responsabilidade, cooperação,
solidariedade e respeito pela vida, integrando os conteúdos disciplinares e os temas
transversais.
45 -
3.3 Transversalidade do Tema Transversal Meio Ambiente &
Transversalidade da Educação Ambiental:
A idéia chave dos temas transversais, que constitui todo o espírito dos PCN’s, é
reinserir a escola e toda a comunidade escolar no plano da vida real, tratando de
questões que importam e que estão presentes no cotidiano dos alunos. Além de
estimular as disciplinas a envolverem-se mais com as questões candentes do mundo
real, os PCN’s introduzem temas cujos recortes são externos, são sociais. Esse é o
caso do tema Meio Ambiente que emerge, com a força que tem atualmente, como
uma demanda social organizada e que se alimenta de elaborações diversas, inclusive
aquelas vindas das disciplinas acadêmicas clássicas, assim, o tema transversal Meio
Ambiente tem caráter do tipo globalizante e holístico, e contém, por isso mesmo,
grande complexidade.
O texto dos PCN’s trata os transversais da seguinte forma (p. 26 e 27):
“nas várias áreas do currículo escolar, implícita ou
explicitamente, ensinamentos a respeito dos temas
transversais, isto é, todas educam em relação às questões
sociais por meio de suas concepções e dos valores que
veiculam nos conteúdos, no que elegem como critério de
avaliação, na metodologia de trabalho que adotam, nas
situações didáticas que propõem aos alunos. Por outro
lado, sua complexidade faz com que nenhuma das áreas,
isoladamente, seja suficiente para explicá-los; ao
contrário, a problemática dos temas transversais atravessa
os diferentes campos do conhecimento. Por exemplo, ainda
que a programação desenvolvida não se refira diretamente
à questão ambiental e que a escola não tenha nenhum
trabalho nesse sentido, a Literatura, a Geografia, a
História e as Ciências Naturais sempre veiculam alguma
concepção de ambiente, valorizam ou desvalorizam
determinadas idéias e ações, explicitam ou não
determinadas questões, tratam de determinados conteúdos;
e, nesse sentido, efetivam uma “certa”educação ambiental.
A questão ambiental não é compreensível apenas a partir
46 -
das contribuições da Geografia. Necessita de
conhecimentos históricos, das Ciências Naturais, da
Sociologia, da Demografia, da Economia, entre outros”.
Isso significa que a transversalidade do tema Meio Ambiente tem duas expressões.
É algo externo ao universo escolar com recorte próprio, mas ao mesmo tempo já
permeando as disciplinas. Isso é característico dos temas que tem caráter globalizante,
apesar dos recortes que as disciplinas executam para estudá- la, continuam a permear
cada um deles. Essa constatação é chave para o estabelecimento dos meios da
integração orgânica da questão ambiental no universo escolar. Para isso é preciso
elucidar essa presença já existente no interior do universo escolar, e ao mesmo tempo
integrar a forma que a questão toma no âmbito social nas áreas convencionais do
ensino fundamental.
O reconhecimento da existência de uma transversalidade inerente do tema Meio
Ambiente no interior da existência de uma transversalidade do ensino fundamental,
no sentido em que o tema Meio Ambiente está presente nas disciplinas, não dispensa
a necessidade de reafirmar que a decisão de integração desse tema transversal no
currículo e nas práticas escolares tenha se dado por uma escolha externa, em vista da
grande relevância social o tema. E isso que vai reforçar os elos entre a expressão
externa e interna do tema transversal, pois unir a idéia de relevância com o que os
professores já fazem valoriza o saber escolar e o incentiva mais ainda ficar sempre
atento às granes questões sociais.
Todos os textos dos PCN’s chamam a atenção para o fato de que esse instrumento
colabora da várias maneiras para a concepção de um Projeto Educativo para cada
unidade escolar. A filosofia do Projeto Educativo é de criar condições para tornar
consciente e elucidar o trabalho educativo da escola na sua comunidade e na
sociedade em geral.
A transversalidade, de um modo geral, diz respeito à possibilidade de se
estabelecer, na prática educativa, uma relação ente aprender conhecimentos
teoricamente sistematizados (aprender sobre a realidade) e as questões da vida real
de sua transformação (aprender na realidade e da realidade). E isso é exatamente o
que está sendo feito ao trazer a questão ambiental em sua integra e chamando e
valorizando a necessidade de estabelecer relações com as disciplinas e também,
destacando a necessidade de aplicação desses conhecimentos na realidade imediata, a
47 -
saber, o entorno escolar. Quer dizer, inevitavelmente a questão ambiental nos remete
à realidade próxima. Ninguém olha os mesmos olhos seu ambiente após o
envolvimento com essa questão.
A transversalidade com o tema Meio Ambiente, tem a necessidade e a
possibilidade de realizar trabalhos que vão propiciar a integração de aprendizado de
conteúdos, de valores e de atitudes. Isso se dará por meio do Projeto Educativo
através do: diagnóstico, avaliação e gestão ambiental (do ponto de vista do cidadão),
de um recorte do quadro ambiental em que está situada a comunidade escolar, que
além dos seus resultados pedagógicos vão colaborar para criar vínculos permanentes
da escola na comunidade; como assinala os PCN’s do tema Meio Ambiente: “isso
significa trabalhar os vínculos de identidade com o entorno sócio ambiental” (p. 182)
e ainda:
“outro ponto importante a ser considerado é a relação da
escola com o ambiente em que está inserida. Por ser uma
instituição social que exerce intervenção na realidade, ela
deve estar conectada com as questões mais amplas da
sociedade, e com os movimentos amplos de defesa da
qualidade do ambiente, incorporando-as às suas práticas,
relacionando-os aos seus objetivos. É também desejável a
saída dos alunos para passeios e visitas a locais de
interesse dos trabalhos em Educação Ambiental. Assim, é
importante que se faça um levantamento de locais como
parques, empresas, unidades de conservação, serviços
públicos, lugares históricos e centros culturais e se
estabeleça um contato para fins educativos.”(p. 192)
Uma face diferenciadora da questão ambiental, refere-se à sua origem. Ela surgiu e
está em boa medida fora da escola protagonizando experiências únicas, via Educação
Ambiental como pode-se exemplificar, incorporando novos saberes e testemunhos de
resultados importantes. Ela está no ambiente extra-escolar funcionando como
elemento de intervenção modificadora do quadro social em que atua. Bem, ao
introduzir o tema transversal Meio Ambiente oficialmente no ensino formal, no
interior das disciplinas, está se reforçando uma dimensão da presença da Educação
Ambiental na escola. No entanto, isso seria pouco e não faria justiça a importância da
48 -
questão ambiental e o fortalecimento que ela adquiriu como Educação Ambiental no
cotidiano do país, ao ponto de agora, ser oficializada com sua própria legislação.
Portanto, é necessário que o sistema escolar esteja aberto a projetos de Educação
Ambiental que tenham inspiração e iniciativa extra-escolar (nas comunidades, em
órgãos governamentais de todas as instâncias, nas entidades não-governamentais,
etc.), e ao mesmo tempo, a escola deverá ser palco de iniciativas que ultrapassem seus
limites e que sejam irrigadas para as comunidades imediatas ou na efetiva
participação na vida global.
A Educação Ambiental como tema transversal, postula-se dentro de uma
concepção de construção interdisciplinar do conhecimento e visa a consolidação da
cidadania a partir de conteúdos vinculados ao cotidiano e aos interesses da maioria da
população. Pretende ser um dos elementos de construção de um projeto educacional
que almeje o estabelecimento de relações sociais, o respeito aos direitos humanos e ao
meio ambiente.
Os valores gerais propostos nos diferentes temas transversais dos PCN’s se
sustentam com base nos grandes valores da sociedade, e necessitam, para sua
execução concreta na escola, de transformações importantes nas próprias relações
humanas que se dão no seu interior.
No Brasil, é necessário buscar os caminhos metodológicos de construção de uma
realidade escolar coerente com os princípios da transversalidade, sustentada nos
PCN’s, ou seja, a busca da integração das áreas de conhecimento à luz dos problemas
de relevante interesse social. Deve-se considerar que o país possui uma experiência
educacional e uma realidade cultural e natural muito rica, diferenciada nas várias
regiões do país, que precisa ser considerada na hora de implantar os temas
transversais nas escolas.
De acordo com Novo, pode-se considerar, algumas chaves gerais necessárias para
a implementação da Educação Ambiental nas escolas:
“Chaves Éticas: Reconhecimento da unidade do real,
solidariedade sincrônica e diacrônica entre gerações
presentes e futuras, uma ética do conhecimento como uma
ética da responsabilidade, o reconhecimento do ser
humano como ser integrado que age orientado por valores.
49 -
Chaves Conceituais: Uma visa da realidade como sistema
complexo e dinâmico; as relações entre desenvolvimento e
meio ambiente, entre pensamento e ação, teoria e prática.
Chaves Metodológicas: Construção da
interdisciplinaridade, capacidade de resolução de
problemas e de reconhecimento de potencialidades,
utilização da investigação, capacidade de integração de
conteúdos, passagem de uma concepção fragmentada a
uma concepção unitária e sistêmica, superar a dicotomia
entre o ensino e pesquisa, do trabalho coletivo e solidário
baseado no respeito mútuo, na humildade e na
colaboração.” (Novo, 1996, op.cit.p. 83)
Sugeri-se que é possível organizar o conjunto dos temas transversais a partir da
Educação Ambiental, considerando suas relações intrínsecas com o conjunto das
áreas do conhecimento escolar, sem perder d vista a especificidade dos aportes
disciplinares e o cumprimento de seus objetivos particulares.
Após a seleção de um eixo temático abrangente, podendo ser um problema ou
potencialidade ambiental identificada na comunidade que gere motivação para os
participantes do trabalho, alunos e professores, é possível estabelecer unidades
temáticas a partir de diversas formas metodológicas, projetos, unidades didáticas,
núcleos temáticos, etc., possibilitando ao mesmo tempo o trabalho conjunto de
professores, alunos e comunidade, quando necessário, e o trabalho individual e
disciplinar quando for preciso aprofundar determinados aspectos dos temas
selecionados, além de levar novos conhecimentos e conceitos para a compreensão dos
diferentes níveis do problema ambiental selecionado.
Pode-se afirmar que, a temática ambiental e a Educação Ambiental já existia em
nas escolas; através das diversas disciplinas incorporado nos seus currículos muitos
dos temas contemporâneos que tanto preocupa a humanidade. Entretanto, sabe-se
que, não é a falta dos temas ou conceitos e sim sua integração numa visão mais
abrangente, complexa e dinâmica, que permite ao aluno estabelecer e identificar as
profundas relações entre disciplinas e perceber que as análises especificas são,
simplesmente, recortes para facilitar o estudo da realidade.
50 -
Considerando a Educação Ambiental como eixo integrador dos temas transversais,
acredita-se que seja facilitado o processo de incorporação destes n currículo escolar e
possibilite o trabalho integrado das diferentes disciplinas, sem perde suas
especificidades, possibilitando um processo de ensino-aprendizagem integrado e
integrador mais adequado aos desafios das sociedades atuais.
Com a inclusão dos temas transversais, é possibilitada um processo de construção
e compreensão das inter-relações dinâmicas dos fenômenos sócio ambientais
complexos e facilitar o entendimento e a pratica da interdisciplinaridade ao longo do
processo educacional.
3.4 Educação Ambiental: Aspectos da Legislação
A Educação Ambiental tem os seus marcos legais um instrumento
suficientemente eficaz; embora encontre amplo amparo legal, a Educação Ambiental
traz imbuída em si um novo paradigma, que encontra resistências; resistências essas
que serão rompidas a partir da construção coletiva dos novos marcos conceituais.
Deve-se ressaltar, quer seja do ponto de vista da Educação Ambiental no ensino
formal, quer seja no ensino não formal, em ambos os casos, há na legislação amparo à
sua execução.
A Educação Ambiental está em processo de construção; as referências em relação
a: consciência ambiental, processos de desenvolvimento sustentável, novas formas de
produção ambientalmente corretas, além dos novos desafios pedagógicos de aglutinar
todos estes questionamentos e de mudanças qualitativas de atitude frente ao meio
ambiente, tudo isso é mostrado quando se tem que construir, questionar, inserir e
valorizar a relação sociedade-natureza.
Por ser muito ampla e complexa, a Legislação Ambiental será apresentada através
de quadros sintéticos a seguir:
Legislação Federal:
Lei 6.938 de 31/01/1981 Dispõe sobre a Política Nacional do Meio
Ambiente
Lei 4.771 de 15/09/1965 Código Florestal
Lei 6.766 de 19/12/1979 Parcelamento do solo urbano
Lei 7.661 de 16/05/1988 Plano Nacional de Gerenciamento Costeiro
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Lei 9.605 de 12/02/1998 Crimes Ambientais
Lei 7.347 de 24/07/1985 Ação Cívica Pública
Lei 8.171 de 17/0/1991 Política Agrícola
Lei 9.433 de 08/11/1997 Institui a Política de Recursos Hídricos
Lei 6.902 de 27/04/1981 Área de Proteção Ambiental
Lei 5.197 de 03/01/1967 Fauna silvestre
Lei 7.805 de 18/07/1989 Exploração Mineral
Lei 7.735 de 22/02/1989 IBAMA
Lei 7.802 de 11/07/1989 Agrotóxicos
Lei 6.453 de 17/10/1977 Atividades Nucleares
Lei 8.974 de 05/01/1995 Engenharia Genética
Lei 9. 759 de 27/04/1999 Política Nacional de Educação Ambiental
Lei 6.803 de 02/07/1980 Zoneamento industrial na áreas críticas de
poluição
Decretos Federais:
Decreto-lei nº 25 de 30/11/1937 Patrimônio Cultural
Decreto-lei nº 99.274 de 01/06/1990 Regulamenta a Lei 6.938 sobre a PNMA
Resoluções do CONAMA:
Resolução nº 01 EIA/RIMA
Resolução nº 237 EIA/RIMA
A preocupação com os processos educativos no tato das questões e problemas
ambientais, data desde a aprovação de Lei Nacional de Meio Ambiente (PNMA), que
“dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de
formulação e aplicação e dá outras providências”.
No seu artigo 2º estabelece como objetivo a:
“preservação, melhoria e recuperação da qualidade
ambiental propícia à vida, visando assegurar no País
condições ao desenvolvimento sócio econômico, aos
interesses da segurança nacional e à proteção da
dignidade humana”.
52 -
Já no inciso X, estabelece que:
“A Educação Ambiental para todos os níveis de ensino,
inclusive a educação da comunidade, objetivando
capacitá-la, para participação ativa na defesa do meio
ambiente”.
O Decreto nº 99.274/90, que regulamenta a Lei de Política Nacional do Meio
Ambiente estabelece no artigo 1º inciso VII, como competência do Poder Público, em
suas várias esferas de governo:
“orientar a educação, em todos os níveis, para a
participação efetiva do cidadão e da comunidade na defesa
do meio ambiente, cuidando para que os currículos
escolares das diversas matérias contemplem o estudo da
ecologia”.
Embora a Lei faça referências textual à Educação Ambiental, deve-se observar que
o decreto que a regulamenta, faz referências à inserção do estudo da ecologia, de
modo a inserir a preocupação ambiental no currículo escolar. Porém, para entender os
aspectos teóricos – conceituais da ecologia como modo de interpretar os ambientes e
suas inter-relações, para conservá- lo e, se for o caso, preservá-lo, é um dos aspectos
da Educação Ambiental. Entretanto, deve-se entender a ecologia como uma ciência
bem marcada na disciplina de biologia, não sendo portanto uma ciência ambiental, e
sim uma ciência que estuda o ambiente. Entendida desta forma, deixa claro que a
Educação Ambiental vai importar da ecologia uma série de conceitos essenciais ao
entendimento das relações no ambiente, do mesmo modo que vai buscar nas artes, na
filosofia, na sociologia e na economia, só para citar alguns, outros tantos conceitos
para construir esta imensa rede de relações existentes no âmbito sócio ambiental.
É importante porém, ter clareza nestes conceitos, para não confundir a amplitude
da dimensão da Educação Ambiental, seja na educação formal e não formal.
A partir da década de 70, as discussões sobre o meio ambiente gera uma
preocupação geral, e após a Conferência de Tbilisi, o Conselho Federal de Educação,
recebe uma série de demandas e conseqüentemente, começa a elaborar pareceres e
indicações referentes à inclusão da Educação Ambiental nos currículos das escolas de
educação básica e das instituições de ensino superior.
53 -
O documento marco do CFE sobre esta matéria é a indicação CFE 10/86, de
autoria do Conselheiro Arnaldo Niskier, que considera necessária a inclusão da
Educação Ambiental nos currículos de educação básica dos Sistemas de Ensino e
recomenda:
“P a formação de uma equipe interdisciplinar e de um
Centro Ambiental em cada Unidade da Federação;
P a integração escola-comunidade, como estratégia para a
aprendizagem voltada para a realidade próxima;
P a elaboração de diagnósticos locais para a definição da
abordagem relativa às práticas ambientas; e
P a incorporação dos temas compatíveis com o
desenvolvimento social e cognitivo da clientela e com as
necessidades do meio ambiente, considerando-se currículo
como um processo que se expressa em atividades e
experiências educativas e fora da escola.”
Esse documento insere a Educação Ambiental em todos os níveis de ensino, bem
como traz em seu bojo, não mais a inserção dos temas ecológicos, mas amplia esta
abrangência para tratar dos temas ambientais, incorporando a conceituação da
Educação Ambiental. Contudo, faz ainda referência metodológica para a inserção da
Educação Ambiental, devendo ser esta tratada de modo interdisciplinar, ressaltando
ainda a necessidade de criação de equipes interdisciplinares e centros ambientais nos
estados, exatamente como proposto na Conferência de Tbilsi.
Deve-se aqui ressaltar que a Conferência de Tbilsi, foi a primeira Conferência
Intergovernamental sobre Educação Ambiental. Convocada pela UNESCO, em
cooperação com o PNUMA em 1977.
A conferência foi organizada discutindo os seguintes pontos fundamentais:
principais problemas ambientais da sociedade contemporânea; pressupostos da
educação para contribuir na resolução dos problemas ambientais; atividades
implementadas em nível nacional e internacional com vistas ao desenvolvimento da
Educação Ambiental; estratégia de implementação da mesma em nível nacional;
cooperação regional e internacional de môo a promover a Educação Ambiental;
necessidades e modalidades para a implementação das ações.
54 -
O informe final da Conferência de Tbilisi (UNESCO, 1978) reúne orientações
fundamentais a serem incorporadas ao marco teórico da Educação Ambiental,
compreendeu o meio ambiente, não somente como meio físico biótico, mas também,
como meio social e cultural, e relaciona os problemas ambientais com os modelos de
desenvolvimento adotados pelo homem. Como conseqüência, a Conferência de
Tbilisi conclama os Estados-Membros a incluírem em suas políticas de educação,
conteúdos, orientações e atividades ambientais baseadas nos objetivos e
características definidos para a Educação Ambiental.
A Portaria 678/91/MEC, decorrente da indicação CEF 10/86 e do parecer 226/87
(elege o espaço da escola como propício à formação ou reforço da consciência
ambiental através da Educação Ambiental), determina que “a educação escolar deve
contemplar a Educação Ambiental, permeando todos os níveis e modalidades de
ensino”.
A Constituição Federal Brasileira, promulgada em 1988, destaca no seu Capítulo
VI – Do Meio Ambiente – Art. 225:
“Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente
equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à
sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à
coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as
presentes e futuras gerações.”
Assim, o princípio fundamental estabelecido para o desenvolvimento de uma
política ambiental – Educação Ambiental em todos os níveis – é compatível com os
fins, objetivos e organização do sistema educativo, expresso na Carta Magna.
Pode-se observar que a inserção de um capítulo que trata especificamente das
questões ambientais na Constituição Federal é reflexo, de uma série de compromisso
internacionais assumidos pelo Brasil, em decorrência dos problemas ambientais
emergente e das pressões populares, que teve início na década de 70, com a
organização da sociedade civil brasileira.
No entanto, é preciso identifica formas alternativas para seu desenvolvimento no
decorrer do processo educativo e delimitar seu alcance. Para o cumprimento destes
preceitos constitucionais, é que foram criados, posteriormente, os instrumentos legais
como leis, decretos e portarias no âmbito federal, estadual e municipal.
55 -
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação, sancionada em 20 de dezembro de 1996,
traz inovações na amplitude dos processos educativos, tratando não apenas da
aquisição de conhecimentos, mas dos processos formativos do cidadão. Desta forma a
LDB, ao introduzir novos elementos, abre espaço para um processo de formação mais
participativo, levando em consideração as inter-relações decorrentes dos processos
sociais e culturais.
Os valores sociais de solidariedade e tolerância, condições indispensáveis para o
pleno exercício da cidadania, somados aos valores expressos pela sociedade, como as
suas manifestações culturais, a sua religiosidade, são elementos que estão embutidos
nos processos formativos do educando, tomando este processo parte da realidade de
cada um, assim como preconiza a Educação Ambiental.
A formação plena do educando, sob ótica da Educação Ambiental, se dá no espaço
interativo e indissociável do ambiente e das relações político-sociais que aí se
expressam, com a finalidade de formar esta novo cidadão, mais ético e participativo.
A formação de atitudes e valores, explicitamente listadas na nova LDB, suscita uma
prática educativa diferenciada, levando em conta os valores socais, elemento
determinante de uma sociedade, conceito de interferência da Educação Ambiental.
Do mesmo modo que o ensino fundamental, as séries finais do ensino básico,
correspondentes ao ensino médio, também apresentam um tônica formativa do
educando, valorizando a ética, o pensamento crítico, e entendendo os processos
científicos – tecnológicos como aqueles instrumentos de transformação social e
exercício da cidadania. Desta forma, tendo como base os PCN’s, também a Educação
Ambiental se mostra como um bom instrumento para alcançar os objetivos propostos
pela LDB para a educação brasileira.
Em 1993, o Deputado Fábio Feldmann propôs na Câmara dos Deputados o projeto
de Lei 3792/93, que instituía a Política Nacional Ambiental. Esse projeto de lei,
durante a sua tramitação, foi submetida à análise de vários setores da população
diretamente interessada na matéria, que apresentaram várias sugestões;
conseqüentemente, foi apresentado um substitutivo ao Projeto de Lei, que em 1999,
foi aprovado pelo Congresso Nacional, então, a Lei .9795/99 instituindo a Política
Nacional de Educação Ambiental.
Os princípios da Educação Ambiental, incorporando o enfoque humanista,
ampliando a concepção de meio ambiente, incorporando os aspectos sócio ambientais
56 -
e culturas, a indicação do trabalho pedagógico visando a interdisciplinaridade, a
incorporação da ética, a garantia de continuidade, a articulação entre o global e o
local, o respeito à pluralidade cultural, conferem a esta Lê um caráter atual, em
consonância com as discussões internacionais e nacionais sobre o tema.
Além disso, imprime às abordagens da Educação Ambiental o caráter
participativo, democrático e amplo, abrindo espaço para a participação efetiva da
comunidade na construção dos marcos referenciais e na construção de sínteses
inovadoras entre novos conhecimentos e o saber comunitário tradicional.
O Congresso Nacional decretou a Lei 10.172 de 09/01/2001, que aprova o Plano
Nacional de Educação, que tem duração prevista de 10 anos e deverá estar em
sintonia com a Declaração Mundial de Educação Para Todos.
É desejado que a educação como instrumento de inclusão social e a Educação
Ambiental como espaço de interação entre a sociedade e o seu meio, onde se
questiona e se buscam alternativas aos modelos de desenvolvimento sócio ambientais,
podem ser a alavanca para diminuir as desigualdades sociais.
Percebe-se então, que os eixos sobre os quais se apóia o PNE são alguns daqueles
de articulação da Educação Ambiental, deste modo, tem–se claro a indicação legal
que é permitido trabalhar a Educação Ambiental na escola, como instrumento sólido
para promover uma educação cidadã, possibilitando a inserção da Educação
Ambiental temas específicos da história da cultura, dos conhecimentos, das
manifestações artísticas e religiosas do segmento afro-brasileiro, das sociedades
indígenas e dos trabalhadores rurais e sua contribuição na sociedade brasileira.
Para simplificar, será apresentado um quadro síntese da Legislação da Educação
Ambiental:
1981 Lei 6938 – Lei Nacional de Meio Ambiente que dispõe sobre a Política
Nacional de Meio Ambiente.
1986 Indicação CFE 10 – é a primeira indicação para incluir a Educação
Ambiental nos currículos escolares.
1987 Parecer 226 – aprova a indicação 10/86.
1988 Constituição Federal
1990 Decreto 99.270 – regulamenta a Lei 6938/81.
1991 Portaria 678 – MEC – determina a inclusão da Educação Ambiental na
57 -
educação Escolar.
1996 Lei 9394 – Diretrizes e Bases da Educação (LDB)
1999 Lei 9.795 – Política Nacional de Educação Ambiental.
2000 Plano Nacional de Educação (Projeto Lei).
58 -
Conclusão
O ser humano em sua trajetória histórica, estabeleceu a ocupação e o uso espacial
da terra, utilizando os recursos naturais renováveis e não renováveis, basicamente
interessado na sua própria sobrevivência. Ao passar dos tempos, passou a adotar um
comportamento predatório em relação a natureza, legando a humanidade, um mundo
caótico, desarmônico, desequilibrado e ambientalmente doente. Além disso, foi
criado um grande fosso entre ricos e pobres, devido à grande concentração de renda e
de riqueza, agora estimulada, por uma crescente e acelerada globalização econômica,
ampliando as desigualdades sociais.
Deve-se afirmar que atualmente há mudanças profundas nos campos econômico,
político, cultural, educacional e geográfico, essas transformações, que ocorrem em
escala mundial, decorrem da conjugação de um conjunto de acontecimentos e
processos que acabam de caracterizar novas realidades, neste contexto, o modelo
econômico, conhecido por neoliberalismo, tem trazido conseqüências bastante
prejudiciais às políticas sociais dos países e o empobrecimento da população; no
aspecto individual, as pessoas são estimuladas a se preparar para competir por si
mesma, aqueles que não conseguirem, formarão o segmento dos excluídos sociais.
No campo da ética, o mundo contemporâneo convive com uma crise de valores,
predominando um relativismo moral baseado no interesse pessoal, na vantagem, na
eficácia, sem referência a valores humanos como dignidade, a solidariedade, a justiça,
a democracia, o respeito à vida.
Pode-se afirmar, que a crise formada no final do século XX e início do século
XXI, apresenta várias características da realidade contemporânea como estratégia de
recomposição do capitalismo, no plano socioeconômico, o ajustamento das
sociedades à globalização significa a exclusão de dois terços da humanidade dos
direitos básicos de sobrevivência, emprego, saúde e educação. Nesta ótica, a escola
não pode mais ficar isolada de outros contextos, outras culturas, outras mediações; é
preciso a colaboração da escola para a revitalização da ética, das relações entre povos,
etnias, grupos sociais, do reconhecimento das diferenças e da identidades culturais,
além disso, promover a luta contra a exclusão social, a defesa do meio ambiente,
combater a violência, o racismo, etc.
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Esta civilização emergente, que pretende responder à crise civilizatória global, a
partir da construção de novos paradigmas nas ciências, na sociedade, na educação, na
ética, entre outros âmbitos; cria um grande desafio de encontrar novos caminhos para
a apropriação e produção de conhecimentos.
A escola deverá estar aberta as transformações de sua prática tradicional,
permitindo uma ampla participação da comunidade escolar no seu planejamento,
compreender ainda que a educação no mundo contemporâneo não se fecha no interior
do local escolar, pelo contrário, se abre a comunidade, estando a seu serviço e atenta
às suas necessidades. Portanto, atualmente a educação é um processo permanente e
dinâmico que se realiza ao longo da vida do sujeito, e exige competências e
responsabilidades sociais em permanente transformação.
A Educação voltada para a cidadania, é uma das chaves para fortalecer a
democracia, o respeito mútuo, a justiça social e a igualdade de oportunidades. As
questões e os problemas ambientais, cada vez mais presente no imaginário social,
permeia a noção de cidadania em muitos sentidos; as discussões em torno das
questões e do problemas ambientais, abre o caminho possível para refletir sobre a
noção de encadeamento dos fatos e das dimensões espaciais (relação global- local) e
da existência coletiva. Mais do que isso, apela para a mudança de comportamento e
atitudes de tal forma que pose ser a mola propulsora para a transformação num espaço
coletivo de atuação.
A Educação Ambiental é uma prática que só agora começa a ser introduzido de
modo organizado e oficial no sistema escolar brasileiro. Desde os anos 60/70, por
força de um conjunto de movimentos em defesa do meio ambiente que, sem dúvida,
logrou sensibilizar parcelas significativas da sociedade e suas respectivas instituições
para as questões e problemas ambientais, foi a partir desses movimentos que ganhou
forma a idéia de Educação Ambiental e que se estabeleceu que essa prática, alem de
ser empregada em vários âmbitos da vida social, também deveria ser introduzida no
universo escolar formal dos países signatários dos acordos internacionais. Portanto, os
anos 60/70 é considerado um marco contemporâneo de ascensão dos movimentos
sociais em defesa do meio ambiente.
A Educação Ambiental – por suas origens e em função das configurações diversas
que foi assumindo – transcende o universo escolar. Vem se desenvolvendo em vários
âmbitos sociais, pelos mais diferentes entidades e organizações que atuam numa
60 -
gama incrível de temas associados às questões e problemas ambientais. Ou seja, a
origem da Educação Ambiental não coincide com a das disciplinas tradicionais, que
têm raízes nas universidades e na cultura acadêmica, de u modo geral.
Hoje a escola está buscando formar cidadãos, conforme as referências dos PCN’s e
da LDB, ou seja, procura-se formar indivíduos que olhem e vejam a realidade, que a
compreendam e tenham capacidade para criticá- la, que se preocupem com o destino
coletivo e saibam se posicionar diante dos desafios do mundo. Para os cidadãos
conscientes , tratar de meio ambiente tornar-se uma tarefa inerente ao seu cotidiano,
visto que é um tema universal e que dele depende a vida no planeta. A Educação
Ambiental é um caminho para a formação de indivíduos em questões essenciais para
a qualidade de vida e para a construção da cidadania.
É preciso sempre ressaltar que os temas que a Educação Ambiental levantará nas
escolas serão sempre polêmicos e controversos, porque nenhuma questão ou
problema, com a dimensão globalizante, desenrola-se consensualmente, portanto,
formar cidadãos é complexo e trabalhoso. Novos desafios são colocados diariamente
para a escola, o mundo transforma-se a cada dia e é preciso não perder o trem da
história.
Deve-se afirmar que para cumprir com todos os objetivos, propostas e desafios
para a Educação Ambiental, o caminho é longo, complexo e difícil, e sendo
necessários investimentos importantes e orientação para os professores, mas deve-se
reconhecer também, que há necessidade de todos estarem consciente e
compromissados com todos os desafios que o novo milênio proporciona. Ter plena
confiança de que todos são capazes de construir juntos os novos caminhos da
Educação Ambiental no Brasil.
61 -
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
ALENCAR, Francisco. História da Sociedade Brasileira. 2ª edição. Rio de Janeiro:
Ao Livro Técnico, 1983.
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Janeiro: Saraiva Editora, 2003.
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LOUREIRO, Carlos Frederico Bernardo; LAYRARGUES, Philippe Pomier; DE
CASTRO, Ronaldo Souza (orgs). Educação Ambiental: repensando o espaço da
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REGO, T.C. Vygotsky. Uma perspectiva histórico-cultural da educação. Rio de
Janeiro: Vozes, 1996.
62 -
LOUREIRO, Carlos Frederico Bernardo. Trajetória e Fundamentos da Educação
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LUCKESI, Cipriano Carlos. Filosofia da Educação. São Paulo: Cortez Editora, 1991.
MACHADO, Carly; SANCHEZ, Celso; DE CARVALHO, Vilson Sérgio (orgs).
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ROMANELLI, Otaíza de Oliveira. História da educação do Brasil. 6ª edição. Rio de
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www.mma.gov.br
www.senado.gov.br
www.cnpma.embrapo.br
www.lei.advbr
www.ibire.org.br
www.cma.al.gov.br
www.ambientebrasil.com.br
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ÍNDICE
FOLHA DE ROSTO 02
RESUMO 03
SUMÁRIO 04
INTRODUÇÃO 05
CAPÍTULO I
QUESTÕES E PROBLEMAS AMBIENTAIS: CONSIDERAÇÕES GERAIS 07
1.1 Questão Ambiental: Relação Sociedade-Natureza 07
1.2 Questão Ambiental no Brasil e no Mundo 09
1.3 Problemas Ambientais: Causas e Conseqüências 12
1.4 Evolução do pensamento Ambiental 14
CAPÍTULO II
EDUCAÇÃO AMBIENTAL: DESAFIOS E PERSPECTIVAS 23
2.1 O sentido político da Educação 23
2.2 Histórico da Educação no Brasil 25
2.3 Desvendando a Educação Ambiental 32
2.3.1 Interdisciplinaridade 34
2.3.2 Formas de Atuação 35
2.3.3 Proposta Curricular 37
2.3.4 Conteúdos para a Implementação 37
2.4 Educação Ambiental para a Sustentabilidade 38
CAPÍTULO III
REFLEXÃO DA PRÁTICA DOCENTE 41
3.1 Reflexão Pedagógica: Educação Ambiental Formal 42
3.2 Temas Transversais 43
3.3 Transversalidade: do tema Meio Ambiente & da Educação Ambiental 45
3.4 Educação Ambiental: Aspecto da Legislação. 50
64 -
CONCLUSÃO 58
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 61
ÍNDICE 63
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FOLHA DE AVALIAÇÃO
Nome da Instituição: Universidade Cândido Mendes
Título da Monografia: Questões e Problemas Ambientais: Uma Visão Educacional
Autor: Leyla Regina de Souza
Data da entrega: 22 de janeiro de 2005
Avaliado por: Conceito: