UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … RESUMO Os avanços e descobertas na área da...
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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
FACULDADE INTEGRADA AVM
EMOÇÃO, INTELIGÊNCIA E APRENDIZAGEM
Por: Ivana Monteiro
Orientador
Profa.Marta Relvas
Rio de Janeiro
2011
2
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
FACULDADE INTEGRADA AVM
EMOÇÃO, INTELIGÊNCIA E APRENDIZAGEM
Apresentação de monografia à Universidade Candido
Mendes como requisito parcial para obtenção do grau
de especialista em.Neurociência na
educação..Pedagógica.
Por: . Ivana Monteiro
3
AGRADECIMENTOS
.... a minha família, que sempre me apoia
e dá suporte para continuar a caminhada,
sem desistir. A uma professora especial,
Marta Relvas que me encantou com suas
palavras e me fez investir nessa nova
jornada sem medo de ser feliz...
5
RESUMO
Os avanços e descobertas na área da neurociência ligada ao processo de
aprendizagem é sem duvida, uma revolução para o meio educacional. Talvez, daí,
a crescente procura por parte dos educadores para este tipo de formação.
Primeiro, a psicologia tentando decifrar os mistérios do inconsciente, depois a
psicopedagogia e o olhar do afeto na aprendizagem e agora mais um poderoso
aliado, a neurociência.
A Neurociência da aprendizagem, em termos gerais, é o estudo de como o
cérebro aprende. É o entendimento de como as redes neurais são estabelecidas
no momento da aprendizagem, bem como de que maneira os estímulos chegam
ao cérebro, da forma como as memórias se consolidam e de como acontece o
acesso as informações armazenadas.
E o que é aprendizagem? Aprendizagem, nada mais é do que esse
maravilhoso e complexo processo pelo qual o cérebro reage aos estímulos do
ambiente, ativa essas sinapses, tornado-as mais “intensas”. A cada estimulo novo,
a cada repetição de um comportamento que se deseja consolidar, circuitos
processam as informações, para que elas sejam consolidadas.
Através de atividades prazerosas e desafiadoras o “disparo” entre as
células neurais acontece mais facilmente. O educador deve promover uma aula
que viabilize esse disparo neural, as sinapses e o funcionamento desses sistemas,
construindo com seu aluno a aprendizagem, fazendo uso de uma estratégia
assertiva onde conhecimentos neurocientíficos e educação caminhem lado a lado.
6
METODOLOGIA
Este trabalho será baseado no estudo teórico utilizando artigos científicos
publicados, sites científicos e livros de pesquisadores como Damásio, Gardner,
Eslinger, Kandel, Lent, Piaget, Relvas e Wallon,.
7
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 08
CAPÍTULO I - A evolução da inteligência 09
CAPÍTULO II - A evolução da neurociência 20
CAPÍTULO III – As estruturas cerebrais e a formação das emoções 31
CONCLUSÃO 44
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 45
ÍNDICE 49
FOLHA DE AVALIAÇÃO 50
8
INTRODUÇÃO
É impossível falar sobre desenvolvimento da inteligência, sem falar no
desenvolvimento do ser humano e de como inteligência serviu de ferramenta para
que o homem tornar-se o que é atualmente. A busca da origem humana é uma
inquietação dentro da mente de cada um.
Depois de analisar o sentido de inteligência, o que afinal se faz com ela?
Como ela faz o homem transformar seu futuro, buscando novos caminhos e
soluções para problemas antigos e dos que ainda estão por vir? Como o ser
humano transformou esses pensamentos em ações que modificaram estilos de
vida e de articulação do pensamento?
O homem transformou seu tempo ”ocioso” em produção intelectual, de
formar a antever o futuro e passar a tirar vantagem em cima da natureza com seu
poder de previsão. Palmas para o ser pensante que poderia ainda estar
esperando que as coisas acontecessem, mas tomou as rédeas do seu tempo e
buscou tantas teorias e soluções, acabando por estar sempre em constante
adaptações as adversidades do mundo.
Com seus inúmeros estudos e questionamentos, o homem descobre um
forte aliado em seu caminho: a neurociência, capaz de ajudá-lo a entender
mistérios insondáveis e inimagináveis do cérebro humano. Uma nova ferramenta
poderosíssima. Foi fácil descobrir o que o homem fez com sua inteligência, pois
neste século chegou.
9
CAPÍTULO I
A EVOLUÇÃO DA INTELIGÊNCIA HUMANA
O ramo dos primatas humanos começou na África, provavelmente 6 a 8
milhões de anos atrás e chegou até o homem moderno que se espalhou para o
resto do mundo. Eles foram chamados de hominídeos. Os cientistas também
descobriram que o homem não partiu de uma árvore evolucionária única que
continuou ao longo do tempo. Nessa linha, existiram muitos “troncos mortos”, ou
seja, muitas espécies de hominídeos se extinguiram sem deixar descendentes.
Estudos do DNA mitocondrial sugerem que todos os humanos modernos se
originaram de uma pequena população vivendo no Sul da África e como o DNA só
passa de mulher para mulher apelidaram este ancestral de “Eva Africana”.
Estudos realizados a fim de descobrir a diferença entre humanos e outros
animais revelou que a sequência de DNA dos grandes artropóides são 96,4%
similares a dos humanos. Todas as diferenças entre cérebro, inteligência,
linguagem, etc são codificadas em somente 3,6 % de todos os genes que
constituem nossos genomas.
Em se falando de desenvolvimento humano, podem ser citados os
exemplos de várias teorias que tentam explicar como tudo aconteceu. Darwin e
sua teoria de evolução das espécies, ainda que acompanhada por muitas críticas,
é uma das principais referências quando o tema é evolução. Depois dele,
seguiram-se muitas outras.
A teoria de William R. Leonard (1994), por exemplo, é bastante
interessante e vem ao encontro em parte a teoria de Darwin no que se refere a
evolução do ser humano como o resultado de uma seleção natural. Ele ressalta
que a mudança na oferta de alimentos parece ter influenciado fortemente os
ancestrais hominídeos. Sendo assim, em um sentido evolutivo, o homem é o que
10
ele come. A procura pelo alimento, seu consumo e, como ele é usado para
processos biológicos são, todos, aspectos críticos do desenvolvimento de um
organismo. Ao observar a forma como os animais se deslocam para obter a
energia alimentar, é possível compreender melhor como a seleção natural produz
a mudança evolutiva. O bipedalismo desenvolveu-se nos ancestrais humanos,
pelo menos em parte, por ser menos dispendioso energeticamente que o
deslocamento sobre quatro membros, além de permitir que alimentos fossem
carregados a fim de alimentar sua prole. A evolução maior dos primeiros
hominídeos ocorreu em pastos e espaços de terra mais abertos, onde a
sustentação era mais difícil.
Silvia Helena Cardoso, em seu artigo “Transcendendo a mente tribal”
explica que ao longo da evolução, o cérebro humano adquiriu três componentes
que surgiram e foram se superpondo: uma parte inferior, uma parte intermediária e
uma mais externa. A primeira é a mais primitiva e corresponde ao cérebro dos
répteis, onde se encontra estruturas como o tronco cerebral, responsável pelas
ações involuntárias e o controle de certas funções viscerais indispensáveis a
preservação da vida. A segunda, corresponde ao cérebro dos mamíferos antigos
e é formada pelas estruturas que regem as emoções, ou seja, as estruturas do
sistema límbico. A última é conhecida como cérebro superior ou racional,
compreendendo a maior parte dos hemisférios cerebrais (formado por um tipo de
córtex mais recente, denominado neocórtex) e alguns grupos neuronais
subcorticais. Ele é responsável pelas ações voluntárias, percepção, consciência,
aprendizado e linguagem.
É difícil estimar quando aconteceu a evolução da inteligência. Os
paleontólogos conseguem observar a evolução do homem através de ossos ou
dentes. Pelo tamanho dos cérebros podem ser estimados o volume interno de
crânios fósseis. Mas e a inteligência? Essa evolução ainda é matéria de
considerável mistério. Para melhor analisar essa situação, os cientistas analisam
fatores indiretos como o aumento da caixa craniana, os artefatos produzidos como
11
resultado dessa inteligência, a fabricação de ferramentas, a caça cooperativa, a
guerra, o uso do fogo, o cozimento de alimentos e o enterramento dos mortos.
Outra questão de bastante relevância é porque a inteligência e a linguagem
se desenvolveram nos primatas e não em outros gêneros animais. Uma das
teorias é que, provavelmente, isso aconteceu devido a instabilidade dos ambientes
territoriais mais do que os ambientes aquáticos e nas mudanças dramáticas no
clima africano em certos pontos da história geológica. A linguagem e o
desenvolvimento posterior do cérebro, aumentaram a chance de sobrevivência do
ser humano armado com um cérebro capaz de alta flexibilidade, adaptabilidade e
capacidade de aprendizagem. Num período de um a dois milhões de anos essa
evolução neural levou ao que o homem é hoje e ao que será nos próximos
100.000 anos.
A inteligência, porém, não é propriedade unicamente dos seres humanos.
Tanto eles quantos os primatas são capazes de se comunicar através do uso de
símbolos.
A diferença está, então, no desenvolvimento das determinadas
habilidades. Como, por exemplo, a linguagem e a escrita. Ela parece ser
composta de um número de funções neurais correlacionadas e cooperativas,
muitas das quais já estão presentes em outros primatas, tais como a dexteridade
manual, visão colorida estereoscópica altamente sofisticada e acurada,
reconhecimento e uso de símbolos complexos e memória de longo-prazo, por
exemplo.
Devido à linguagem o homem possui inteligência humana, pensamento,
raciocínio, imaginação e planejamento. Esses processos são uma espécie de
"processamento interno da linguagem“ . Ela é fundamental para a capacidade de
pensar, do intelecto e das conquistas humanas e foi fundamental para o sucesso
da humanidade. Com a linguagem, surge a consciência que é uma das mais
12
importantes propriedades da mente humana, pois permite construir a realidade
além de meras sensações físicas e imaginar uma situação com as respectivas
consequências das ações antes que qualquer coisas aconteça.
A visão científica atual é que a inteligência nos mamíferos é composta de
diversos graus de complexidade. Tem sido documentado o uso de ferramentas
para muitos tipos de tarefas entre os antropóides, incluindo como, por exemplo, o
uso de pequenos ramos, pedras, galhos, cordas, ganchos, etc. Porém, eles nunca
foram observados inventando ou construindo ferramentas.
A inteligência humana teve como pré-requisito a existência de uma “massa
crítica” de neurônios que originou a “explosão” evolucionária da inteligência,
levando a primeira espécie verdadeiramente Homo. Segundo os cientistas, abaixo
de um determinado número de neurônios ou do tamanho do cérebro, a inteligência
é altamente limitada e não leva à invenção, imaginação, comunicação social
simbólica e outras coisas que só existem em cérebros humanos.
O que é, então, a inteligência?
O dicionário Michaelis define inteligência como a faculdade de entender,
pensar, raciocinar e interpretar. Uma boa definição é citada na Enciclopédia
Britânica que a define como habilidade de se adaptar efetivamente ao ambiente,
seja fazendo uma mudança no ser humano, no ambiente ou ainda achando um
novo ambiente.
A inteligência envolve diversos fatores como a linguagem, pensamento,
memória, raciocínio, consciência (a percepção de si mesmo), capacidade para
aprendizagem e integração de várias modalidades sensoriais. Ela é a combinação
de diversos processos mentais a fim de adaptar o homem efetivamente ao meio
onde vive.
13
A inteligência é feita de três aspectos integrados e interdependentes: no
mundo interno (cognição), as relações com o mundo externo (percepção e ação) ,
e as experiências que relacionam ao mundo externo e o interno através da
experiência. Um bom exemplo dos processos relacionados aos mundos interno e
externo.seria como os hominídeos desenvolveram suas habilidades através de
estratégias de caça em ambientes diversos, utilizando armas e armadilhas, bem
como sua mudança para áreas onde a oferta de alimentos não era excassa. Mais
tarde, eles foram capazes de coordenar a caça com outros seres humanos
utilizando a cognição, percepção e ação
Bérgson (1907) em seu livro “A Evolução Criadora” coloca que o instinto é,
portanto, o conhecimento inato de uma coisa. Mas a inteligência é a faculdade de
fabricar instrumentos artificiais. Inclusive, ele ressalta que o termo “inteligência” é
o mesmo que “pensamento” usado a tantos anos atrás pelos filósofos.
Já na obra de Wallon (1989), inteligência tem um significado bem
específico, estando diretamente relacionada com duas importantes atividades
cognitivas humanas: o raciocínio simbólico e a linguagem. À medida que a criança
vai aprendendo a pensar nas coisas fora de sua presença, o raciocínio simbólico e
o poder de abstração vão sendo desenvolvidos. Ao mesmo tempo, e
relacionadamente, as habilidades linguísticas vão surgindo no indivíduo,
potencializando sua capacidade de abstração.
Ele ressalta a importância da influência do meio no desenvolvimento do
pensamento, além dos fatores orgânicos. Para ele, o homem seria o resultado de
influências sociais e fisiológicas. Um não se desenvolveria sem o outro. Deste
modo, desenvolver-se torna-se-ia sinônimo de identificar-se em oposição ao
mundo exterior.
Em sua teoria, Wallon (1989) também acredita que o desenvolvimento é um
processo assistemático e contínuo, em que a criança oscila entre a afetividade e a
14
inteligência. Para ele, esse desenvolvimento é movido por conflitos, combinando
acomodação, assimilação e equilibração na teoria piagetiana. Esse processo é
constante, podendo haver regressões, ou seja, “as aquisições de um estágio são
irreversíveis, mas o indivíduo pode retornar a atividades anteriores ao estágio. Um
estágio não suprime os comportamentos anteriores, mas sim os integra,
resultando em um comportamento que é a acumulação das partes.” Ele afirma
que o comportamento aprendido não é extinto, mas sim integrado ao posterior.
Segundo Paul J. Eslinger, em seu artigo “Desenvolvimento do Cérebro e
Aprendizado”, é durante o primeiro ano de vida que o panorama sonoro básico de
nossa linguagem nativa é mapeada no sistema nervoso, fornecendo os elementos
fonêmicos que evoluirão em linguagem. Outras linguagens podem ser adquiridas
ao mesmo tempo, com muito menos esforço que em idades posteriores. Os pais
geralmente exercem um papel dominante de educadores nestes primeiros anos,
que estão sendo reconhecidos como sendo críticos para o desenvolvimento
cognitivo e cerebral subseqüente. Ele analisa:
“O cérebro humano tem uma notável plasticidade: a
habilidade em ser modelado e modificado pelo crescimento
de novas e mais complexas conexões entre células. Alguns
neurônios desenvolvem até 50.000 conexões, um número
espantoso quando consideramos que existam bilhões de
neurônios no cérebro. A propriedade básica do córtex
cerebral (as camadas externas nas circunvoluções cerebrais)
é armazenar informação. Embora não entendemos
exatamente como ocorre tal armazenamento, está claro que
ele ocorre em múltiplas áreas corticais devotadas a
diferentes tipos de memória. Algumas áreas se desenvolvem
em sistemas de conhecimento que surgem das memórias
lingüísticas, viso-espaciais ou motoras. Outras regiões do
cérebro armazenam informações a respeito de experiências
15
emocionais, e, para unidades de memória maiores, tais como
completar um trabalho de casa, ou conseguir um emprego de
professor. Portanto, aprendizado e memória não estão
limitados a um único sistema neural ou processo. Existem
múltiplos sistemas de memória, espalhados por diferentes
áreas cerebrais, com conexões e vias que podem
interconectá-las em distintos meios, variando até mesmo de
individuo para individuo.”
Ele aborda, ainda, a existência de duas novas idéias para o planejamento e
implementação educacional: os Sistemas Múltiplos de Memória e as Funções
Executivas. A primeira analisa que o aprendizado e a memória não estão limitados
a um único sistema neural ou processo., mas sim a múltiplos sistemas de
memória, espalhados por diferentes áreas cerebrais, com conexões e vias que
podem interconectá-las em distintos meios, variando até mesmo de individuo para
individuo. Assim, como as habilidades de aprendizado e memória não estão
geralmente desenvolvidas por completo em todas essas áreas, as abordagens
educacionais que usam o conceito de sistemas de memória múltipla podem levar
a um conhecimento mais profundo e com maior retenção.
Ele cita o exemplo, da utilização de materiais didáticos que utilizam
analogias visuais e pessoais, além de esquemas visuais que se relacionam
espacialmente uns com os outros, a fim de oferecer, a quem demonstra
dificuldade no fluxo de processamento da memória, subsídios facilitadores que
compensem essa deficiência e ajudem no processo de aprendizagem.
Já a função executiva, em estudos neuropsicológicos, têm sido
demonstradas como sendo muito diferentes da inteligência geral e memória. Ele
cita:
16
“As áreas do cérebro que possibilitam funções executivas
são as últimas a amadurecer, usualmente não antes da idade
adulta jovem. Durante o desenvolvimento, as funções
executivas tornam-se progressivamente mais conectadas
aos domínios do conhecimento para fatos, números, palavras
e imagens (os aspectos de "o que" e "onde" do
conhecimento), para o propósito de como, porque e quando
utilizar tal conhecimento em comportamentos dirigidos a
metas (...) Uma parte substancial das funções executivas
consiste em desenvolver modelos mentais destes processos
de "como", "porque" e "quando".
As funções executivas são desenvolvidas por muitas influências
educacionais e compreendem um conjunto de habilidades e de conhecimento. Ela
pode ser treinada, através de atividades desafiadoras. Inicialmente, ela aparece
na interação família-criança, se expande na brincadeira e amadurece nas
atividades acadêmicas, sociais e recreativas mais complexas. Ele ressalta:
“As habilidades de funções executivas foram incorporadas
em cursos de redação, leitura e matemática, enfatizando
estratégias específicas para aprendizagem, implementando
passos de auto-instrução, e promovendo práticas
colaborativas e independentes. Tais abordagens facilitam a
aquisição de habilidades regulatórias ou auto-regulatórias
que auxiliam uma criança a aprender, organizar e atingir
metas, não apenas dentro da escola, mas por toda a vida.
Pais, educadores e neurocientistas podem iniciar um diálogo
sobre como entender mais e utilizar mais os sistemas
múltiplos de memória, e como introduzir cenários sonoros de
linguagem mais cedo no desenvolvimento infantil, bem como
promover o desenvolvimento de funções executivas
17
elementares e avançadas em cada criança. Com tal
colaboração, será possível atingir uma combinação de maior
sucesso na aquisição e utilização do conhecimento. e uma
gama mais ampla de habilidades para a adaptação e
desempenho de cada criança ao longo de sua vida.”
Vários cientistas e filósofos surgiram ao longo do tempo com teorias
referentes à inteligência. Os que mais se destacaram tanto positivamente, quanto
negativamente foram Sócrates e seus discípulos Platão e Aristóteles, Descartes,
Locke, Donders, Helmholtz e Broca, Darwin, Galton e por último Gardner.
Sócrates considerava que as inteligências das pessoas são diferentes e
inerentes a elas, que nascem com conhecimento inato. Descartes separava o
corpo da mente, dizendo que o corpo sendo material podia ser estudado,
enquanto que a mente por ter origem divina somente poderia ser conhecida pela
introspecção. Locke, materialista, argumentava que o homem não nasce com
conhecimentos, mas que os adquire por meio de experiências sensoriais do
mundo e da capacidade de refletir sobre as operações mentais. Ele afirmava que
a mente poderia ser estudada também.
Donders, Helmholtz e Broca exploraram a natureza material do corpo e
descobriram relações entre os sentidos e o sistema nervoso e o relacionamento
entre o cérebro e as habilidades humanas.
Darwin com a sua teoria da evolução teve poderoso impacto sobre o estudo
da inteligência e abriu campo para que Galton, com fundamento em métodos
estatísticos, apregoasse a herança da inteligência e seus aspectos eugênicos.
Howard Gardner (1995) questionou a medição da inteligência por meio de
testes verbais padronizados, defendendo a existência de inteligências múltiplas ou
multifacetárias, com competências intelectuais relativamente autônomas, que
18
podem ser combinadas e modeladas para adaptar-se às pessoas e às culturas
respectivas.
Pesquisas recentes em neurobiologia sugerem que existem áreas no
cérebro correspondentes a diferentes pontos de cognição, com competências
diferentes para processar informações específicas. Apesar de ser muito difícil
dizer claramente quais são essas áreas, existe o consenso de que cada uma
delas expressa uma forma diferente de inteligência.
Na apresentação original da sua teoria, Gardner propôs sete diferentes
inteligências, mas não de forma taxativa, de forma que poderão existir mais de
sete ou menos de sete inteligências diferentes. Ele especulou, ainda, sobre um
oitavo tipo de inteligência, chamada naturalista, associada à habilidade de
reconhecer a flora e a fauna. Essas inteligências múltiplas segundo Gardner são
as seguintes: lingüística e verbal; lógica e matemática; visual e espacial; musical e
rítmica; corporal, inteligência pessoal e interpessoal; inteligência intrapessoal e
inteligência naturalista.
O jornalista Daniel Goleman (1996) também seguiu a trilha do estudo da
inteligência e publicou o livro “Inteligência Emocional”, abordando a capacidade de
pelo menos parcialmente o homem dominar a ansiedade e os impulsos negativos,
como a cólera, a vaidade, o egoísmo e o orgulho desenfreado.
Ainda existem outros tipos de inteligências pouco conhecidas, já referidas por
pesquisadores e cientistas, mas dependentes ainda de mais estudos
especializados e de comprovações, tais como a telepatia, a intuição e outras.
Estudiosos afirmam que há muito a desenvolver no campo da inteligência
humana, ainda muito pouco explorada.
Nos últimos cem mil anos, o cérebro tem permanecido biologicamente
exatamente igual, ou seja, ele não está mais sujeito às forças da evolução pela
19
seleção natural. Portanto, a única esperança de mudança significativa será
através da quarta e próxima revolução: a da biotecnologia. Quem sabe o homem
descobrirá os genes que controlam o comportamento agressivo e conseguirá
desativá-lo. Antes que o homem consiga esse intento, ainda terão que ser
solucionados muitos problemas morais, éticos e políticos. Conclui-se, então, que a
neurociência terá um papel fundamental nessa "evolução artificial" .
20
CAPÍTULO II
A EVOLUÇÃO DA NEUROCIÊNCIA
Não se pode falar da evolução da inteligência, sem também percorrer os
caminhos por onde essa evolução levou o homem. Durante muito tempo, a única
preocupação do homem era sobreviver, criando recursos básicos necessários para
que esse objetivo primordial fosse alcançado. Ao conseguir dominar tais técnicas
e com seu sentido investigativo nato, o homem começou a procurar respostas
para descobrir como seu corpo funcionava e que tipo de possibilidades ele poderia
lhe oferecer.
Embora o encéfalo humano pudesse exercer tal atividade, era muito mais
importante sobreviver em ambientes adversos, criar melhores formas de viver,
cultivando ou domesticando animais, para que assim o homem estabelecesse
moradia, sem se preocupar com a busca frenética de formas de subsistência.
A partir do momento em que esses “limites” passaram a ser transpassados
e o homem não precisou mais investir toda a sua energia em sua sobrevivência,
ele passou a dedicar seu tempo construindo teorias sobre as motivações dos seres
humanos.
Grande parte da evolução humana, pode ser contada através da história da
neurociência. O trabalho dos pioneiros da neurociência produziu conhecimentos
vitais sobre o cérebro e o sistema nervoso.
Gazzaniga em seu artigo “Uma breve História da Neurociência Cognitiva” cita:
“Exemplos de tentativas de compreender o mundo e nosso
lugar nele, incluem Oedipus Rex (Édipo Rei),a antiga peça
21
do teatro grego que lida com a natureza do conflito pai-filho
e as teorias mesopotâmica e egípcia sobre a natureza da
religião e do universo. Os mecanismos cerebrais que
possibilitam a geração de teorias sobre a característica da
natureza humana prosperaram no pensamento dos
ancestrais humanos. Ainda assim, eles tinham um grande
problema: não possuíam a habilidade de explorar a mente
de forma sistemática por meio da experimentação (...) O
pensamento teórico é algo maravilhoso e produziu ciências
fascinantes, como as teorias da física e da matemática.
Contudo, para entender como um sistema biológico
funciona, é necessário um laboratório e, experimentos têm
de ser realizados. Ideias derivadas da introspecção podem
ser eloquentes e fascinantes, mas elas são verdadeiras? A
filosofia pode acrescentar perspectivas, mas estariam
corretas? Somente o método científico pode guiar um tópico
por um caminho seguro. Pense sobre a riqueza de
fenômenos a serem estudados. “
2.1.1. Conhecendo a história da Neurociência
A viagem pela história dos estudos sobre o cérebro começa na Antiguidade.
Rascunhos, desenhos e protótipos dos mais variados tipos são provas da
curiosidade e criatividade humanas. Essas pesquisas seguem em paralelo com a
evolução da tecnologia. No início, eram rascunhos antigos, em que desenhos eram
feitos sobre crânios na tentativa de delimitar a função de cada área do cérebro. A
partir daí, o homem chegou às técnicas de captura de imagens atuais, que
envolvem microscópios eletrônicos capazes de aumentar a imagem milhões de
vezes e proteínas geneticamente modificadas, que brilham em luzes fluorescentes,
revelando os neurônios e vasos cerebrais. Em 1873, a primeira evidência de
crânios neolíticos foi descoberta. Há registros de neurocirurgia na Babilônia e no
22
Egito há três mil anos antes de Cristo, bem como a evidência de cirurgias no
cérebro foram descobertas na Europa, África, Ásia, América do Norte e do Sul.
Os primeiros estudos sobre o cérebro datam de 4.000 a.C. ,onde, na
Suméria, já se analisava o efeito euforizante da papoula. No início, eram
rascunhos antigos, em que desenhos eram feitos sobre crânios na tentativa de
delimitar a função de cada área do cérebro. Sua consistência úmida e seu
formato nada atraente, não inspiravam estudiosos na Antiguidade. Por muito
tempo, ele foi relegado ao segundo plano nos estudos de anatomia.
Um bom exemplo são os antigos egípcios: quando mumificavam uma
pessoa, retiravam o cérebro através das narinas e jogavam-no fora. No entanto, o
coração e outros órgãos internos eram retirados com cuidado e preservados.
Esses órgãos eram colocados em volta do corpo ou em frascos que ficavam ao
lado do corpo.
Os antigos egípcios foram responsáveis pelo registro mais antigo escrito
usando a palavra "cérebro", tendo fornecido os primeiros desenhos da anatomia
do cérebro, como as meninges e do líquido cefalorraquidiano. A palavra "cérebro"
aparece em um documento antigo chamado Papiro Cirúrgico Edwin Smith. Este
documento foi escrito por volta do ano 1700 a.C, mas é baseado em textos que
remontam a cerca de 3000 aC. Ele é considerado o primeiro documento médico
na história da humanidade. É possível que o papiro tenha sido escrito pelo grande
médico egípcio chamado Imhotep. O papiro é uma descrição de 48 casos de um
cirurgião egípcio há milhares de anos atrás. Esses pacientes descritos
provavelmente foram feridos por quedas, talvez por trabalharem em monumentos
ou edifícios ou ainda foram vítimas em batalhas, pois muitas feridas pareciam ser
causadas por lanças ou punhais. Estudiosos da história médica ficaram
impressionados com a abordagem racional e científica para o diagnóstico e
tratamento desses pacientes. Os métodos utilizados são baseados na observação
23
racional e tratamento prático e são na sua maior parte, livre da "magia" e
superstição.
Por muito tempo o cérebro não teve o devido reconhecimento devido a sua
consistência úmida e o formato nada atraente, sendo relegado a segundo plano
nos estudos de anatomia.
O filósofo grego Aristóteles, que morreu aos 62 anos em 322 a.C.,
acreditava que a função da massa cinzenta era auxiliar o coração, que seria o
mais importante órgão humano. Efetivamente iniciado na Renascença, o estudo do
sistema neurológico foi elevado à categoria de protagonista do corpo e prestigiado
pela ciência médica apenas no século 19. Após sua função devidamente creditada,
foi a vez das imagens de intrincadas redes neuronais em fotografias nítidas
provarem a beleza e elegante complexidade cerebral.
A história da neurociência tem sido moldada em três grandes ideias: se a
mente e o cérebro são coisas separadas ou entidades unificadas; se os
neurônios e as áreas do cérebro têm funções específicas ou são bastante
diferenciadas e por fim será a mente totalmente "criada" pelo cérebro.
A visão atual mudou cerca de somente 100 anos e continua a mudar.
Inicialmente, em 427-347 a.C., Platão acreditava que o cérebro era a sede dos
processos mentais. Aristóteles que foi seu aluno mais famoso acreditava que a
mente estava localizada no coração, que continha todas as emoções e
pensamentos. O cérebro era, como um radiador usado somente para resfriar o
coração. Suas experiências foram baseadas em dissecar animais, já que
dissecação humana era proibida.
Kandel, Schwartz e Jessel (2003) citam que no final do século XVIII, antes
da invenção do microscópio, achava-se que o sistema nervoso funcionava como
uma glândula. O médico Galeno acreditava que os nervos conduziam fluídos do
24
sistema nervoso e da medula espinhal para todo o corpo. Galeno, (130-200 d.C.)
foi aclamado como um grande cirurgião. Ele acreditava que o cérebro recebia a
informação sensorial e era responsável pelo controle motor, utilizando o
mecanismo de energias fluidas.
René Descartes (1596-1650) acreditava que os nervos continham líquidos
ou "espíritos animais", que seriam responsáveis pelo fluxo de informações
sensoriais e motoras do corpo. Ele acreditava que a mente e o corpo estariam
separados, se comunicando apenas através da glândula pineal.
Desde o início do século 18, conhecido como a Era do Iluminismo, foi
descoberto que o sistema nervoso seria de natureza elétrica. A teoria de
Descartes foi refutada por meio da técnica de deslocamento de água.
Johannes Müller (1801-1858) apresentou a doutrina das energias nervosas
específicas, ou seja, diferentes sensações seriam causadas por diferentes
energias nos nervos. Hoje sabemos que isso não é verdade, diferentes receptores
interpretam os potenciais de ação do mesmo.
Franz Joseph Gall (1758-1828) foi um dos fundadores da frenologia. Ele
era um anatomista excelente. No entanto, desenvolveu uma teoria onde se podia
discernir os pontos fortes, pontos fracos, tendências, comportamento e as
habilidades de um indivíduo através da medição dos contornos da cabeça de
alguém. Juntamente com Spurzheim, dividiu o cérebro em 35 funções distintas,
que vão desde conceitos concretos, como a linguagem e a cor, e os abstratos,
como a esperança ou a auto-estima.
Gall concentrou sua atenção sobre a configuração detalhada da cabeça
humana. Lentamente, ele aumentou o número de áreas que atribuiu a
localizações específicas de funções cerebrais onde ele pensava que eram
indicativos dos atributos subjacentes da personalidade humana. Gall usou o termo
25
"cranioscopia", mas seu colega mais jovem, Spurzheim, empregou a palavra
"frenologia".
Johann Spurzheim (1776-1832) se tornou o frenologista mais conhecido no
mundo. Tanto ele quanto Gall, acreditavam que era possível determinar traços de
personalidade de uma pessoa através da análise de sua superfície craniana.
Johannes Pukinje (1787-1869) foi o primeiro a descrever uma célula
nervosa. Ele contribuiu fortemente para o campo da psicologia experimental.
Pukinje explorou a experiência sensorial e visual após a estimulação, aplicando
pressão e corrente elétrica no globo ocular. Ele descobriu as células nervosas
("Pukinje Cells) com muitas extensões de ramificação no córtex cerebral.
Pierre Flourens (1794-1867) era um forte opositor da teoria da localização e
praticamente desmentiu a frenologia. Ele defendeu uma visão holística do
cérebro, onde outras partes do cérebro poderiam assumir a função de áreas
danificadas. Em 1824, Flourens escreveu que “todas as sensações, todas as
percepções, e todas as vontades ocupam o mesmo espaço nestas estruturas
(cérebro). As faculdades de sensação, percepção e vontade são, essencialmente,
uma só faculdade.” (GAZZANIGA, 2006, 21)
J. Hughlings Jackson (1835-1911) mostrou como convulsões em pacientes
epilépticos propiciavam o progresso de uma parte do corpo, aparentemente
estimulada a partir de um mapa cerebral. Essa teoria ajudou a organização
topográfica e voltar à atenção para uma visão localizacionista. Para Gazzaniga
(2006), ele também foi o primeiro a observar que lesões do lado direito do
encéfalo afetavam mais as áreas viso-espaciais, que as do lado esquerdo.
A Frenologia tornou-se amplamente aceita e praticada, embora com
diferentes graus de aceitação pelos médicos. Ela poderia ser considerada uma
26
curiosidade sociológica, exceto pelo fato de que mexeu com o pensamento de
alguns médicos, principalmente na França.
A observação mais notável foi de Paul Broca(1824-1880) que defendeu a
localização funcional pela circunvolução cerebral. Alguns momentos históricos
importantes são citados também por Relvas (2009) em uma de suas obras. Em
1861, o neurofisiologista Broca descreveu paciente que entendia a linguagem, mas
não conseguia falar, apesar de emitir palavras isoladas. Ele havia sofrido uma
lesão cerebral devido a um derrame, podia entender a linguagem, mas não
conseguia falar, só podia dizer "tan". Broca demonstrou que o lobo frontal
esquerdo era responsável pela articulação do discurso. Ao longo de sua pesquisa,
ele demonstrou o mesmo fato em vários pacientes. Esta região foi chamada de
“Área de Broca”.
Carl Wernicke (1848-1904), como Broca, mostrou um paciente, que embora
pudesse falar, não havia sentido no que era falado. A área danificada nesse caso,
era ao redor dos lobos temporal e parietal. O resultado de sua pesquisa reafirmou
o ponto de vista localizacionista.
Gustav Fritsch ( 1838-1907) apoiado na visão localizacionista, fazendo
experiências com eletricidade. Junto com Eduard Hitzig ( 1838-1927), ele
mostrou como a corrente elétrica aplicada a regiões cerebrais em cães causam
contrações musculares específicas.
Korbinian Brodmann (1868-1918) categorizou o cérebro em 52 áreas
distintas com base na organização celular do córtex. Ele ajudou a dar suporte à
visão localizacionista, que já era muito forte. Isto foi conseguido através do exame
de manchas de tecidos (histologia), a fim de visualizar os diferentes tipos
celulares.
27
Kandel, Schwartz e Jessel (2003) relatam que Camillo Golgi (1843-1956) no
final do século XIX, fez descrições detalhadas das células nervosas, fazendo com
que o sistema nervoso se tornasse ciência específica. Golgi desenvolveu uma
forma de “tingir” os neurônios e visualizar suas partes (estrutura) em um
microscópio. Ele desenvolveu um corante de prata que permitia a visualização
completa de um único neurônio. Ele acreditava que o cérebro era uma massa
contínua de tecido que compartilhava um único citoplasma. Embora essa teoria
tenha sido desmentida por Cajal, ambos dividiram o Prêmio Nobel em 1906.
Santiago Ramón Y Cajal (1852-1934) descobriu que os neurônios eram
discretas entidades unitárias e que eles realizavam sinais elétricos em uma única
direção. Ele estabeleceu o princípio fundamental de organização e funcionamento
do sistema nervoso, indicando que o neurônio é a unidade anatômica, fisiológica,
genética e metabólica do sistema nervoso. Ele ganhou o Prêmio Nobel em 1906.
KS Lashley (1890-1958) trabalhou extensivamente com ratos para descobrir
onde a memória reside. Ele lesionava diferentes porcentagens dos cérebros
desses animais e, em seguida, testava-os para que percorressem labirintos que já
conheciam bem. Isto resultou em uma gradual, mas constante degradação no
desempenho. Suas experiências tinham uma visão holística.
Wilder Penfield (1891-1976) foi considerado um dos maiores
neurocirurgiões de todos os tempos, além de uma das maiores autoridades em
epilepsia. Enquanto estimulava diferentes seções do córtex de pacientes
epilépticos durante a neurocirurgia, ele descobriu que a ativação de várias células
produzem resultados específicos nas regiões a elas conectadas. Sua visão
localizacionista afetou profundamente a neurologia moderna e outras áreas
científicas.
Hoje, a visão do "conexionismo" sustenta que as funções de baixo nível ou
primárias como as sensoriais e motoras são fortemente localizadas, mas funções
28
de nível superior, como reconhecimento de objetos, memória e linguagem são o
resultado das interligações entre as áreas do cérebro. Além disso, mesmo dentro
das áreas que parecem ser localizados para uma determinada função, a função é
distribuída entre muitos neurônios.
2.1.2. Neurociência e cérebro: cumplicidade e descoberta
O cérebro vem sendo desvendado ao longo do tempo. Ele é um corpo
físico, repleto de substâncias químicas, neurônios e sinapses. Mas e a mente?
Embora a maioria dos neurocientistas cognitivos acreditem que a mente e o
cérebro são relacionados um ao outro de alguma forma, muitos também acreditam
em uma alma. Apesar de toda a pesquisa sobre o cérebro e o avanço da
neurociência, o conceito de mente ainda permanece controverso e difícil de definir.
Silvia Helena Cardoso, PhD Editora-chefe e Fundadora, Cérebro & Mente,
em seu artigo “ O que é a mente?” escreve:
“Desde que a mente e o cérebro passaram a ser vistos como
entidades isoladas, as pesquisas nestas áreas foram, de
maneira geral, sistematicamente separadas. Bioquímicos
têm se preocupado com mecanismos somáticos; psicólogos
têm se esforçado com as propriedades subjetivas da mente;
filósofos e teólogos trazem com eles o espírito e a alma.
Mente é uma definição que tenta resgatar a essência do
homem. A essência de uma pessoa emerge da existência de
funções mentais que permitem a ela pensar e perceber,
amar e odiar, aprender e lembrar, resolver problemas,
comunicar-se através da fala e da escrita, criar e destruir
civilizações. Estas expressões estão estreitamente
relacionadas ao funcionamento cerebral. Assim, sem o
29
cérebro, a mente não pode existir, sem a manifestação
comportamental, a mente não pode ser expressada.”
Enfim, qual será a natureza dos fenômenos mentais? Será o pensamento
um produto do cérebro? Um cérebro poderia ser retirado e aberto, mas de dentro
dele nenhum pensamento surgiria, apenas se encontraria uma massa cinzenta, de
aspecto, inclusive, bastante desagradável, repleto de neurônios. O cérebro tal
qual uma máquina, já é conhecida, com todas as suas sinapses e ligações
químicas. Então, afinal, qual é o grande desafio para a neurociência? João de
Fernandes Teixeira, em seu artigo Mente e cérebro cita:
“Contudo, o grande desafio que a neurociência ainda
enfrenta é a dificuldade (ou será uma impossibilidade?) de
relacionar o que ocorre no cérebro com aquilo que ocorre na
mente, ou seja, de encontrar algum tipo de tradução entre
sinais elétricos das células cerebrais e aquilo que percebo
ou sinto como sendo meus pensamentos. A observação da
atividade elétrica do meu cérebro não permite saber se estou
a pensar em estrelas coloridas ou numa vaca amarela.
Alguém poderia até inferir — de algum tipo de observação
do que ocorre no meu cérebro — que estou a sentir calor,
mas não saberia dizer se o calor que eu sinto é maior ou
menor do que o calor que o cientista, ao observar meu
cérebro, estaria a sentir.
Se ninguém pode observar esses fenômenos que
ocorrem em mim e se ninguém os encontra no meu cérebro,
então posso formular duas perguntas: Onde estarão eles a
ocorrer? E o que serão eles se — pelo menos inicialmente
— não posso supor que sejam objetos como quaisquer
outros que se apresentam diante de mim, como parte da
natureza?”
30
O homem deixou de lutar pela sobrevivência e encontrou tempo para
procurar o sentido de sua existência. Mas até agora, descobriu-se sobre a
“máquina”, mas não sobre a “energia” que fez o animal se transformar no ser
humano.
31
CAPÍTULO III
AS ESTRUTURAS CEREBRAIS E A FORMAÇÃO DAS EMOÇÕES
Durante muito tempo os teóricos estudaram a evolução da inteligência e
todos os agentes internos e externos que contribuíram para tornar o cérebro,
altamente eficaz. Também surgiram inúmeras perguntas relacionadas as causas,
ao processo e a finalidade do aprender, que somadas a outras dúvidas de maior
ou igual valor, demonstram a eterna preocupação relacionada a esse tema, bem
como o que influência nesse processo.
Por influência dos pensamentos filosóficos, a psicologia, por muito tempo,
estudou os processos cognitivos e afetivos de maneira separada. Jean Piaget
(1896-1980) foi um dos primeiros nomes a questionar a separação entre cognição
e afetividade. Através de sua obra, ele afirma que afetividade e cognição são
diferentes em natureza, porém inseparáveis em todas as ações humanas. Toda
ação e pensamento compreendem um aspecto cognitivo, que são as estruturas
mentais, e um aspecto afetivo, que serve como gerador de energia. De forma
geral, a afetividade seria, para Piaget, funcional para a inteligência: ela é a fonte
de energia pela qual cognição funciona.
Lev Vygotsky (1896-1934) também estudou as relações entre afeto e
cognição. Ele afirmava que as emoções fazem parte ativa no funcionamento
mental geral. Através do estudo do desenvolvimento da linguagem (sistema
simbólico usado por todos os humanos), Vygotsky estudou as origens do
psiquismo humano através de uma abordagem unificadora entre cognição e
afetividade.
32
Henri Wallon (1879-1962), unindo também razão e emoção, tentou
compreender as emoções através de suas funções, dando-lhes papel fundamental
na evolução da consciência de si. Para ele, a evolução da afetividade depende
das construções realizadas no plano da inteligência; a evolução intelectual
depende das construções afetivas. Entretanto, para Wallon, existem fases em que
predominam a razão e fases em que predominam a emoção.
Conjugando idéias de Piaget e Vygotsky, Damásio (2000), um médico
neurocientista, afirma que as emoções e a razão não são elementos
completamente dissociados como propôs Descartes. Segundo ele, pessoas que
possuem alguma deficiência na região do cérebro responsável pelas emoções
apresentam dificuldades de aprendizado, o que afirma que as emoções são as
iniciadoras e fundamentais no processo de aprendizagem.
Se as emoções provêem uma resposta imediata para certos desafios e
oportunidades enfrentados por um organismo, o sentimento relacionado a elas,
provê isso com um alerta mental. Sentimentos amplificam o impacto de uma dada
situação, aperfeiçoam o aprendizado e aumentam a probabilidade que situações
similares possam ser antecipadas.
Partindo da hipótese de que as emoções são processos fisiológicos que
dependem de mecanismos anatômicos, as teorias que foram sendo propostas em
direção à fundamentação moderna da expressão emocional na biologia do cérebro
culminaram, na metade do século passado, com a noção de sistema límbico, por
MacLean ( 1998).
O sistema límbico passou a representar uma espécie de revolução no
pensamento científico porque inclui não apenas estruturas subcorticais, como
também áreas do neocórtex. Atualmente compreende-se a expressão e a
modulação das emoções através de interações entre áreas subcorticais e
corticais, atentando-se também a funções relacionadas aos hemisférios cerebrais.
33
De acordo com Achterberg (1996), o hipotálamo, que tem importante papel
regulador na função imunológica, está intimamente conectado às partes do
cérebro envolvidas na emoção, isto é, o sistema límbico. Este, por sua vez, forma
uma rede de conexões com os lobos frontais, a parte mais evoluída do próprio
córtex e que, acredita-se, é primordial para a imaginação e para o planejamento
do futuro.
O cérebro é, na verdade, uma verdadeira malha de circuitos
interconectados, e a atividade que ocorre em determinada parte dele afeta de
certo modo toda a configuração. Teorias contemporâneas da emoção,
desenvolvidas no âmbito das neurociências, consideram o sentimento como sendo
uma sensação consciente do estado corporal que caracteriza a emoção. Verifica-
se uma distinção clara entre emoção, relacionada a aspectos fisiológicos, e
sentimento, relacionado a aspectos cognitivos, envolvendo circuitos neuronais
subcorticais e corticais, respectivamente (Iversen, Kupfermann, & Kandel, 2000).
Damásio (2000) afirmou, até mesmo, que “as emoções não podem ser
conhecidas pelo indivíduo que as está tendo antes de existir consciência”, sendo
que “a reflexão sobre o sentimento situa-se uma etapa adiante”. Tais teorias, na
medida em que apontam a necessidade de integração de estados fisiológicos e
cognitivos para a compreensão das emoções, aproximam-se da proposta analítico
comportamental que ressalta a importância do comportamento verbal para a
discriminação (ou consciência) de emoções pelo indivíduo que as apresenta.
A integração de razão e emoção foi proposta por Damásio (1996) a partir da
observação de que indivíduos com dano no lobo pré-frontal passam a apresentar
deficiências tanto na capacidade de sentir emoções quanto no controle sobre
ações que comumente são tidas como resultantes apenas do uso da razão.
Apesar da capacidade intelectual de tais indivíduos permanecer intacta, seu
raciocínio prático é alterado e suas relações pessoais deterioram-se.
34
Seguindo a idéia de Damásio, Palmini (2004) indicou que o que determina a
direção da tomada de decisões não é o conhecimento teórico de quais
conseqüências poderiam decorrer de uma decisão num ou noutro sentido, mas
sim o que o indivíduo sentiria se, de sua decisão, decorresse tal ou qual
conseqüência.
Damásio (1996) concluiu que “os sentimentos, juntamente com as emoções
que os originam, não são um luxo. Servem de guias internos e ajudam-nos a
comunicar aos outros sinais que também os podem guiar”. Verifica-se, assim, uma
aproximação à seguinte afirmativa de Skinner (1977):
“desde que muitos eventos que devem ser levados em conta
ao se explicar o comportamento estão associados a estados
corporais que podem ser sentidos, o que é sentido pode
servir como uma pista para as contingências” .
Em suma, os enunciados de Damásio (1996) e de Skinner (1977) refletem a
importância do contato com características particulares do ambiente externo e
com ocorrências fisiológicas, independentemente da participação de envolvimento
de comportamento verbal ou conhecimento consciente das relações de
contingência em vigor. Compreende-se, assim, o papel de respostas emocionais
na explicação de respostas operantes, verbais e não-verbais.
3.1.1 – O circuito das emoções.
O homem constrói idéias e é capaz de se comunicar através da simbologia
da fala e da escrita. Esta capacidade de pensar está ligada diretamente a emoção.
A palavra emoção deriva do latim movere, mover, por em movimento. É
essencial compreender que a emoção é um movimento de dentro para fora, um
modo de comunicar os nossos mais importantes estados e necessidades internas.
35
Com base em diferentes resultados, sabe-se que há uma profunda integra-
ção entre os processos emocionais, os cognitivos e os homeostáticos. As áreas
cerebrais envolvidas no controle motivacional, na cognição e na memória fazem
conexões com diversos circuitos neurais, os quais, através de seus neu-
rotransmissores, promovem respostas fisiológicas que relacionam o organismo ao
meio externo e interno, importantes à homeostasia.
Com o desenvolvimento das neurociências, postula-se que, como a
percepção (aferência) e a ação (eferência), a emoção é relacionada a circuitos
cerebrais distintos. Ademais, as emoções estão geralmente acompanhadas por
respostas autonômicas, endócrinas e motoras esqueléticas, que dependem de
áreas subcorticais do Sistema Nervoso, as quais preparam o corpo para a ação.
Já as emoções, são o resultado de múltiplos sistemas do cérebro e do corpo que
estão distribuídos por todo o corpo, sendo impossível separar emoção da
cognição, nem a cognição do corpo. Com efeito, acredita-se que a ciência será
capaz de explicar os aspectos biológicos relacionados à emoção, mas não o que é
a emoção, que permanecerá como uma questão prevalentemente filosófica.
As informações que chegam ao cérebro percorrem um determinado trajeto
ao longo do qual são processadas. Em seguida, direcionam-se para as estruturas
límbicas e paralímbicas, pelo circuito de Papez, ou por outras vias, para
adquirirem significado emocional, dirigindo-se, continuadamente, para regiões
específicas do córtex cerebral, permitindo que sejam tomadas decisões e
desencadeadas ações, processos relacionados à autonomia, função, geralmente
dependente do córtex frontal ou pré-frontal.
Assim, é possível considerar que a tomada de decisões torna-se diretamente
dependente da associação emocional realizada pelo indivíduo ao vivenciar
determinadas situações cotidianas e que vai depender de respostas motoras e
autonômicas. Tais respostas autonômicas são diretamente influenciadas pelo
36
hipotálamo e este, por sua vez, age mediante o processamento de todas as
informações que chegam ao cérebro. Mas, o que acontece se as informações não
conseguem percorrer e chegar corretamente ao seu destino?
3.1.2. Quando a aprendizagem se torna um transtorno
Emoção, inteligência, aprendizagem... Afinal como uma dificuldade no
processo de aprendizagem se encaixa neste contexto? O cérebro é o responsável
pelo raciocínio lógico da condição humana e mediante sua atuação o homem pode
assimilar e processar as informações. O que se pretende, portanto, é buscar a
aproximação e a integração dos estudos realizados pela neurociência; com o
profissional da educação e conseqüentemente com sua prática educativa.
”Distúrbio de aprendizagem é um termo genérico que se
refere a um grupo heterogêneo de alterações manifestas por
dificuldades significativas na aquisição e uso da audição,
fala, leitura, escrita, raciocínio ou habilidades matemáticas.
Estas alterações são intrínsecas ao indivíduo e
presumivelmente devidas à disfunção do sistema nervoso
central. Apesar de um distúrbio de aprendizagem poder
ocorrer concomitantemente com outras condições
desfavoráveis (por exemplo, alteração sensorial, retardo
mental, distúrbio social ou emocional) ou influências
ambientais (por exemplo, diferenças culturais, instrução
insuficiente/inadequada, fatores psicogênicos), não é
resultado direto dessas condições ou influências”.
(COLLARES e MOYSÉS, 1992)
Muitas vezes a literatura a respeito do diagnóstico e tratamento dos
transtornos é divergente, de acordo com a linha de pensamento dos estudiosos.
Por exemplo: os comportamentalistas utilizam o termo distúrbio, os construtivistas
37
utilizam o termo dificuldade, já o termo transtorno é relacionado a doenças e
enfermidades.
Na verdade, os transtornos de aprendizagem são relacionados a uma
disfunção no Sistema Nervoso Central, caracterizado por uma falha no processo
de aquisição e/ou desenvolvimento das habilidades escolares. Além dos
portadores de transtornos de aprendizagem, crianças com Transtorno de Déficit
de Atenção e Hiperatividade (TDAH) também podem apresentar problemas no
aprendizado, pois os sintomas de desatenção e problemas de comportamento
interferem no processo de aprendizagem em sala de aula.
” O transtorno de aprendizagem compreende uma inabilidade
específica, como de leitura, escrita ou matemática, em
indivíduos que apresentam resultados significativamente
abaixo do esperado para seu nível de desenvolvimento,
escolaridade e capacidade intelectual. O transtorno de
aprendizagem pode ser suspeitado na criança que apresenta
algumas características, tais como: inteligência normal,
ausência de alterações motoras ou sensoriais, bom ajuste
emocional, porém camuflado e nível socioeconômico e
cultural aceitável. (RELVAS, 2010)
Segundo Relvas (2010), existem 3 tipos de transtornos de aprendizagem: o
transtorno de leitura, o transtorno da matemática e o transtorno de expressão. O
primeiro está relacionado a dificuldade específica no que ser refere a
compreensão de palavras escritas (Dislexia). O segundo, é relacionado a
aplicação de habilidade matemáticas no cotidiano (Discalculia). Já o terceiro, é
relacionado a ortografia e a caligrafia (Disgrafia/Disortografia), dificultando a
coesão de texto, bem como conceitos gramaticais e respectivas pontuações.
38
Maia Filho (2008) ressalta que a dislexia corresponde a 80% dos TA.
Segundo ele, a dislexia é uma única fraqueza que envolve um mar de
competências tais como: o raciocínio, a compreensão, a resolução de problemas,
o conhecimento geral, o vocabulário, a formação de conceitos e o pensamento
crítico. Ele divide a dislexia em periférica, onde os distúrbios ocorrem na análise
visual das palavras; e central, onde os distúrbios ocorrem em componentes das
rotas de leitura (fonológica e lexical).
Carrol e Snowling (2004) estudaram três grupos de crianças. O primeiro
grupo de crianças que tinham pai ou irmão com diagnóstico de dislexia; o segundo
grupo apresentava distúrbio com atraso no desenvolvimento da fala, mas com
nível médio de desenvolvimento da linguagem e o terceiro grupo que não tinha
dificuldade na fala ou antecedente familiar de dificuldades de leitura. A
comparação dos grupos, após avaliação, indicou um perfil semelhante nos dois
primeiros que apresentaram dificuldades nas habilidades fonológicas. Os
resultados sugerem que os antecedentes familiares e significativas dificuldades de
fala podem ser consideradas como fatores de risco para as dificuldades de leitura
e escrita.
Em outro estudo realizado com 39 crianças com Distúrbio Específico das
habilidades matemáticas (Discalculia) e seus familiares, concluiu-se que 66% das
mães e 40% dos pais também apresentavam tal distúrbio.
Em relação ao sexo, a literatura descreve prevalência de meninos com
dificuldades de aprendizagem quando comparados às meninas, numa proporção
de 6:1. Este predomínio do sexo masculino tem sido explicado por hipóteses
genéticas, anatômicas, de especialização hemisférica e devido a causas sociais,
dependendo da população estudada.
A discalculia, segundo Maia Filho (2008), pode ser dividida em Discalculia
“verdadeira” , Discalculia atencional e Discalculia visuoespacial. A primeira se
39
refere a dificuldade em calcular mentalmente as operações aritméticas e ter noção
de quantidade e seqüenciamento numérico. Na segunda, a criança apresenta
dificuldades com o planejamento e organização do raciocínio matemático e
memória de trabalho (sintomatologia do TDA) e na última, ela tem dificuldade com
a organização espacial para cálculo (sintomatologia de distúrbio percepto-visual).
Segundo os pressupostos neurofuncionais para que o ato de aprender
aconteça é necessário que existam, de forma integra, algumas habilidades como a
memória, considerando suas etapas de aquisição ou decodificação; a
consolidação e a evocação que são responsáveis na capacidade de um sujeito
estabelecer redes de conexões neurológicas capazes de estruturar as
informações apreendidas, que irão sustentar os três tipos memória: memória de
trabalho,memória de curto e de longo prazo. Porém, a habilidade de memória
somente poderá funcionar de forma apropriada se os níveis de motivação,
ansiedade e atenção - seletiva, dividida e sustentada, apresentarem-se
adequadas.
No decorrer do processo de aprendizagem podemos nos deparar com
alguns quadros que apresentam o sintoma do não aprender como Dificuldade de
Aprendizagem primária e secundária, Fracasso Escolar e Transtornos de
Aprendizagem.
O Transtorno de Aprendizagem caracteriza-se por inabilidades específicas
em determinadas áreas do desenvolvimento independente de aspectos orgânicos
como, por exemplo, lesões, uma vez que nesta hipótese estaríamos diante de um
quadro de Dificuldade de Aprendizagem secundária. Estas inabilidades devem ser
vistas dentro dos padrões do desenvolvimento humano, considerando aspectos
cronológicos e escolarização.
O sujeito com a hipótese diagnóstica de Transtorno de Aprendizagem não
apresenta alterações motoras ou sensoriais. Possui um bom ajuste emocional e
40
condições sócio-econômicas sem significativas limitações que o impossibilite de
apresentar um desenvolvimento esperado, bem como uma capacidade intelectual
adequada.
Os sintomas da pessoa com o diagnóstico de Transtorno de Aprendizagem,
devem estar presentes desde os primeiros anos de sua vida, caracterizando um
desempenho pelo menos dois anos abaixo do esperado pela escolarização e
idade cronológica, persistindo ao longo de sua vida.
3. 1.3. – Como a neurociência pode ajudar crianças portadoras de
transtornos
Esta reflexão se preocupou em oferecer subsídios aos educadores para
alimentar um olhar diferenciado diante o aluno, respeitando e reconhecendo suas
singularidades não com o intuito de diagnosticar, mas identificar sintomas e poder
realizar encaminhamentos pontuais e necessários. É importante que se diferencie
no aluno os quadros de Dificuldades de Aprendizagem, primárias ou secundárias,
Fracasso Escolar e Transtornos de Aprendizagem, pois embora todos resultem
em não aprender, apresentam estruturas e intervenções diferenciadas para
garantir o sucesso no ambiente escolar.
Após o diagnóstico do Transtorno de Aprendizagem, como por exemplo, a
dislexia, o professor pode utilizar algumas estratégias que evidenciam uma boa
resposta com este tipo de aluno como: apresentar materiais de leituras curtos,
claros e objetivos de preferência sempre acompanhados com recursos visuais ou
auditivos; auxiliar este aluno a iniciar o uso da organização de esquemas de
conteúdos, principalmente em matérias com muitas informações e conceitos ou
até mesmo diante um texto narrativo ou descritivo.
Quanto à avaliação, elas devem ser objetivas e claras, de preferência orais
ou que seja permitido que o aluno responda através de esquemas, devido a
41
limitações na organização sintática e semântica; permitir a execução das provas
em duas etapas ou tempo extra para sua realização, propiciando um local
tranqüilo para aquelas provas que necessitem de maior atenção dividida e
sustentada, bem como procurar valorizar mais o conteúdo de suas produções e
não somente questões ortográficas, visto que estas, pelo quadro, serão
freqüentes. Isto não significa que o professor não deve apontar e mostrar a forma
ortográfica correta de uma palavra.
Quando o Transtorno diagnosticado se referir a Discalculia, primeiro deve
ser lembrado o que esse tipo de transtorno gera, como por exemplo, erros na
formação dos números associados à inversão gráfica destes signos; inabilidade
em realizar operações simples e em reconhecer sinais operacionais; dificuldades
em transpor números para locais adequados espacialmente nas operações
acarretando em freqüentes erros operacionais; comprometimento na memória
visual de números básicos e memória auditiva de curto prazo, o que acarreta em
limitações em realizar cálculos mentais.
Quando um aluno é diagnosticado com uma hipótese de Discalculia, é
fundamental que sejam oferecidas adaptações que o beneficie, bem como
estimular a habilidade de metacognição, sendo esta a capacidade de pensar sobre
o próprio aprender e como desenvolver ferramentas metacognitivas para
conseguir superar suas dificuldades, potencializando seu desenvolvimento ao
máximo. Uma das técnicas é associação cognitiva simples de conceitos, ou seja,
procurar estruturar legendas associada a cores, pois esta caracteriza uma
construção cognitiva elementar geralmente muito bem aprendida, com os
símbolos matemáticos. Assim o aluno terá mais facilidade e sucesso em recordar
o conceito e os passos a serem seguidos no momento da operação, diminuindo
muito a possibilidade de erro diante as informações lógico-matemáticas. A partir
do momento que se percebe que o aluno construiu os conceitos, por exemplo,
das operações básicas, deve-se possibilitar a utilizar recursos como calculadora,
42
evitando assim erros por limitações da atenção sustentada e organização
espacial.
Já a Disgrafia, caracteriza-se por uma deficiência na qualidade do traçado
gráfico, sem causa intelectual ou neurológica que sustente este sintoma,
evidenciando uma escrita, muitas vezes ilegível, lenta e retocada, apresentando
dificuldade em escrever corretamente a linguagem falada, erros de formas e
proporções das letras, aglutinações ou segmentações inadequadas; dificuldade de
orientação espacial associada, em muitos casos, com uma hipertonia ou hipotonia
do traçado.
Este aluno é rotulado como aquele que sempre apresenta cadernos
incompletos, com muita dificuldade em realizar cópias do quadro devido a suas
limitações quanto a orientação espacial e, principalmente, pelo fato do traçado
gráfico ainda não estar automático não fazendo parte da gama de informações da
memória de longo prazo – procedural, ocupando muito de sua capacidade de
memória de trabalho e atenção.
Uma estratégia de trabalho é a utilização de linhas coloridas para marcação
espacial no quadro-negro, fazendo uso novamente da associação cognitiva
simples de conceitos, permitindo a ativação da atenção seletiva e a capacidade de
transpor informações abstratas ao concreto.
A Disortografia caracteriza-se pela dificuldade no aprendizado e do
desenvolvimento da habilidade da linguagem escrita expressiva, associada ou não
a Dislexia. Seus principais sintomas são: troca de grafemas, devido a inabilidade
de discriminação auditiva; dificuldade em perceber sinalizações gráficas;
limitações em fazer uso coordenado das orações acarretando em produções
textuais extremamente pobres e resumidas, bem como aglutinação e
segmentação indevida de palavras.
43
Em sala de aula, o aluno apresenta inabilidade em sua produção textual,
caracterizada por textos objetivos, curtos, com limitações quanto a pontuação e
seqüência lógica de idéias, desorganização espacial, não utilizando margem,
espaçamento em frases e letras maiúsculas.
Como estratégia, pode-se inserir o uso de cartões de apoio visual para
organizar e sequenciar suas produções. Estes cartões devem conter as etapas
textuais: quem, onde, quando, o quê, como e porquê, facilitando a organização
cognitiva do aluno com Disortografia e conseqüentemente sua produção. Outra
ideia é o uso de folhas compartimentadas de acordo com as etapas que compõe
um texto (introdução, desenvolvimento e conclusão), fazendo com que uma
construção abstrata cognitiva, passe a ter um apoio perceptivo concreto,
facilitando, sua aprendizagem.
O educador para ensinar deve também estar imbuído de conhecimentos
que permita diversificar e criar estratégias de intervenção no ambiente escolar,
garantindo a igualdade de possibilidades do aprender deste aluno, em uma busca
constante de crescimento pessoal e profissional.
44
CONCLUSÃO
Atualmente, a neurociência se constitui em uma grande aliada do professor
para que possa perceber seu aluno como individuo e ser pensante, que possui
uma maneira de aprender única e especial. Desvendando os mistérios que
envolvem o cérebro na hora da aprendizagem, a neurociências disponibiliza, ao
professor, ou melhor, o neuroeducador, sólidos conhecimentos sobre como se
processam a linguagem, a memória, o esquecimento, o humor, o sono, a atenção,
o medo, como incorporamos o conhecimento, o desenvolvimento infantil, as
nuances do desenvolvimento cerebral desta infância e os processos que estão
envolvidos na aprendizagem acadêmica.
Conceitos como neurônios, sinapses, sistemas atencionais, neurônios
espelho, possibilitam que a espécie humana progrida na comunicação, na
compreensão e no aprendizado. O fracasso escolar têm hoje um novo olhar.
Graças a esta nova ferramenta, os transtornos comportamentais e da
aprendizagem passaram a ser mais facilmente compreendidos pelos educadores,
que aliados á neurociência tem subsídios para a elaboração de estratégias mais
adequadas a cada caso.
Um professor qualificado e capacitado que utiliza um método de ensino
adequado e uma família facilitadora dessa aprendizagem são fatores
fundamentais para que todo esse conhecimento que a neurociência nos viabiliza
seja efetivo, interagindo com as características do cérebro do aluno. Esta nova
base de conhecimentos habilita o educador a ampliar ainda mais as suas
atividades educacionais, abrindo uma nova estrada no campo do aprendizado e
da transmissão do saber.
45
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WALLON, H. Origens do pensamento na criança, Manole, São Paulo, 1989
49
ÍNDICE
FOLHA DE ROSTO 2
AGRADECIMENTO 3
DEDICATÓRIA 4
RESUMO 5
METODOLOGIA 6
SUMÁRIO 7
INTRODUÇÃO 8
CAPÍTULO I
A EVOLUÇÃO DA INTELIGÊNCIA 9
CAPÍTULO II
A EVOLUÇÃO DA NEUROCIÊNCIA 20
2.1.1 Conhecendo a história da neurociência 21
2.1.1. Neurociência e cérebro: cumplicidade e descoberta 28
CAPÍTULO III
AS ESTRUTURAS CEREBRAIS E A FORMAÇÃO DAS EMOÇÕES 31
3.1.1 – O circuito das emoções. 34
3.1.2 - Quando a aprendizagem se torna um transtorno 36
3.1.3 – Como a neurociência pode ajudar crianças portadoras desses
transtornos 40
CONCLUSÃO 44
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 45
ÍNDICE 49
FOLHA DE AVALIAÇÃO 50