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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS CURSOS DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU PROJETO "A VEZ DO MESTRE” FORMANDO CRIANÇAS LEITORAS E PRODUTORAS DE TEXTO por ANDRÉIA MARTINS FERREIRA RODRIGUES Professor Orientador: Diva Nereida Marques M. Maranhão RIO DE JANEIRO Fevereiro/2003

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E

DESENVOLVIMENTO DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS

CURSOS DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU PROJETO "A VEZ DO MESTRE”

FORMANDO CRIANÇAS LEITORAS E PRODUTORAS DE TEXTO

por

ANDRÉIA MARTINS FERREIRA RODRIGUES

Professor Orientador: Diva Nereida Marques M. Maranhão

RIO DE JANEIRO Fevereiro/2003

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E

DESENVOLVIMENTO DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS

CURSOS DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU PROJETO "A VEZ DO MESTRE”

FORMANDO CRIANÇAS LEITORAS E PRODUTORAS DE TEXTO

Monografia apresentada como requisito parcial para a conclusão do curso de Pós Graduação Lato Sensu em Pós-graduação - Psicopedagogia para disciplina de metodologia da Pesquisa. Por: Andréia Martins Ferreira Rodrigues Professora Orientadora: Diva Nereida Marques M. Maranhão

RIO DE JANEIRO Fevereiro/2003

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a todos os professores que muito contribuíram para o meu aperfeiçoamento profissional.

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DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho aos meus pais e filhos com todo o meu

carinho.

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EPÍGRAFE

Pegar um livro e abri-lo guarda a possibilidade do fato estético. O que são as palavras dormindo num livro? O que são esses símbolos mortos? Nada, absolutamente. O que é um livro se não o abrirmos? Simplesmente um cubo de papel e couro, com folhas; mas se o lemos acontece algo especial, creio que muda a cada vez.

Jorge Luís Borges

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RESUMO

O tema “Formando Crianças Leitoras e Produtoras de Texto ”foi

escolhido veio a partir da preocupação em oportunizar à criança uma

maior autonomia em suas vivências educacionais, uma maior busca

por seus interesses para o que aprender, transformando a prática

pedagógica docente em um elemento imprescindível de mediação

entre o ser e o objeto de conhecimento.

Hoje em dia, não há mais espaço para a reprodução, e sim para

a criação e para a construção de situações de real aprendizado,

objetivando à formação de sujeitos autônomos. Com a escola, não

poderia ser de outra forma. Novas pesquisas vêm abrindo caminhos,

oportunizando o desenvolvimento de estudos sobre as diferentes

habilidades dos alunos, com significativas colaborações da

Sociolingüística, basicamente, levando a resultados surpreendentes.

Daí o interesse em se tratar sobre o que vem sendo investigado pela

Pedagogia dos Projetos e por tantas outras pesquisas que tratam do

desenvolvimento e da aquisição da leitura e da escrita pelo aluno.

O trabalho em questão vai analisar as estratégias exploradas e

desenvolvidas pelas teóricas, para a formação de crianças leitoras e

produtoras de textos, da primeira fase do Ensino Fundamental, bem

como a própria competência docente para que os alunos possam

construir satisfatoriamente o que é proposto nas práticas pedagógicas,

cujo objetivo primordial é desenvolver plenamente suas

potencialidades para a construção do conhecimento, não só o da

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língua materna, mas também outros que precisem lançar mão das

habilidades da leitura e da escrita.

As práticas docentes deverão ser reformuladas para melhor

atender ao que se espera de um maior e melhor empenho na

formação de crianças leitoras e escritoras e se as situações

exploradas vêm sendo mais válidas e satisfatórias, atingindo seu

objetivo, devido ao fato de acompanharem as mudanças pelas quais

as crianças vêm sofrendo ao longo desse início de século e sua

interação com o meio social e que, cada vez mais, sejam oferecidas

variadas situações a serem vividas pelos alunos.

Os estudo, em nosso país são desenvolvidos, seguindo os

mesmos padrões e, basicamente, as mesmas experiências dos

realizados no exterior e não assumiram, por conseguinte, traços que

revelem apenas as conclusões brasileiras, sendo assim abordaremos

o tema em sentido amplo, sem nos preocuparmos em comprovar as

pesquisas desenvolvidas até então, mas sim mostrar a relevância das

contribuições feitas pelas autoras estudadas.

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SUMÁRIO

CAPÍTULO I - PROBLEMA

1.1 - Introdução

1.2 - Formulação da Situação -Problema

1.3 - Delimitação e Importância do Estado

1.4 - Referencial Teórico

1.5 - Objetivo do Trabalho

1.6 - Hipótese da Pesquisa

1.7 - Justificativa

1.8 - Organização de Estudo

CAPÍTULO II – DESENVOLVIMENTO

2.1 - A função Social da Leitura e da Escrita 2.2 - A Linguagem, a Língua Materna e a Aprendizagem

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2.3 - Princípios Básicos Para a Formação de Crianças Leitoras e Escritoras 2.4 - A Criança e a Leitura 2.5 - A Criança e a Escrita 2.6 - A prática Docente na Formação de Crianças Leitoras e Escritoras 2.7 - Por uma Tipologia de Textos 2.8 - Projetos na Formação de Crianças Leitoras e Escritoras 2.9 - Os Textos Produzidos na e Para a Escola

CAPÍTULO III - CONCLUSÃO

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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CAPÍTULO I – PROBLEMA

1.1 - Introdução

Ao longo da Segunda metade do século vinte, os estudos

sobre como se constrói o conhecimento pelo indivíduo, a relação entre

o meio, o ser e o conhecimento se intensificou, tendo como resultado

inúmero e valiosas contribuições, como as teorias de Piaget (1996) e

Vygotsky (1996), as quais permitiram avanços significativos no campo

da Educação para que outras pesquisas enfocassem como se dá a

aquisição da leitura e da escrita pela criança, começando a reformular,

dessa forma, as práticas pedagógicas, a visão educacional e o

ambiente escolar, sendo prioritário, a partir de então, que se criasse

uma escola mais ativa, engajada no processo de mediação entre o

indivíduo e a construção de seu próprio conhecimento. Chegamos em

um momento no qual a realidade profissional de ensinantes e

aprendentes vem mudando veloz e radicalmente com os novos

conceitos e práticas educacionais. Zabala (1998) e Perrnoud (1999)

destacam-se na década de noventa, apresentando novos estudos

sobre conteúdos procedimentais e competências e habilidades,

respectivamente. Trabalhos realizados em equipes e por projetos,

juntamente a maior autonomia de ação, têm sido a tônica de um novo

olhar pedagógico. O professor atuante, profissional do e para o futuro,

deve saber organizar situações de aprendizagem, envolver alunos em

seu trabalho e utilizar novas tecnologias.

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Muito se tem dito sobre, cada vez mais, haver a preocupação

em se formar crianças que, realmente, possuam as habilidades de ler

e de produzir seus próprios textos. À primeira vista, os termos

“crianças leitoras e escritoras” podem parecer redundantes, uma vez

que se sabe que um dos compromissos básicos da educação é dar

condições para que os processos de leitura e de escrita comecem a

serem construídos. Porém, a realidade apresenta-se diferente do

ideal, no que diz respeito a como isso vem sendo desenvolvido na

escola e o que resulta na criança, principalmente no que concerne ã

construção do processo de criação de textos e de compreensão de

outros, de como tais habilidades vêm sendo trabalhadas nessa

primeira fase escolar.

Em geral, o que vemos na escola são crianças meras

reprodutoras de textos e não criadoras; como se o processo criativo,

inerente a cada uma, não devesse ser explorado, experimentado,

construído, enfim.

Autoras como Ana Maria Kaufman (1995), Maria Elena

Rodriquez (1996), Josette Jolibert (1994) e Gloria Inostroza de Celis

(1998) preocupam-se com a função construtivista da escola e

mostram, através da prática, que a teoria de se formar melhor crianças

leitoras e escritoras é viável e que existe muito a ser feito no campo do

desenvolvimento das potencialidades, sob a ótica de uma perspectiva,

comunicativa e textual, que tem como uma das precursoras Ana

Teberosky (1996).

Cabe, sim, ao professor oferecer ajuda efetiva para que o

aluno tenha resultados profícuos e avanços consideráveis, como

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podemos ver nesse estudo sobre as contribuições que tais autoras

oferecem em diferentes situações de ensino-aprendizagem.

1.2 - Formulação da Situação – Problema

A monografia em questão procurou estudar sobre quais são

as propostas e as estratégias que vêm sendo utilizadas para que

possam ser formadas crianças mais preparadas para o domínio das

habilidades de leitura e de construções de textos e como essas

estratégias são desenvolvidas, ao longo do processo de construção da

leitura e da escrita, iniciado nas séries preliminares.

A preocupação da formação do conhecimento pela criança

visa a levá-las a formarem, aos poucos, o hábito da leitura,

imprescindível para o aprendizado e conseqüente domínio da língua

materna e o aprendizado de disciplinas outras, bem como para que

possam escrever corretamente e com autonomia. Para que as

situações de ensino-aprendizagem possam ocorrer de forma

otimizada, modificando o quadro geral da atualidade, o qual revela

uma crescente dificuldade da criança na produção de textos e na

possibilidade de uma leitura crítica, cada vez mais se faz necessário o

conhecimento de estratégias e propostas pedagógicas que possam

auxiliar nesse processo e que acompanhem as mudanças pelas quais

passam as crianças neste fim de século, aproveitando, também, todos

os recursos multimídia existentes. Mudanças essas as quais visem ã

exploração por parte do professor dos conhecimentos prévios dos

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alunos e de suas diferentes potencialidades a fim de que sejam

programadas efetivas situações para um real aprendizado.

1.3 - Delimitação e Importância do Estudo

O estudo desenvolvido por essa monografia norteou as

propostas e estratégias construtivistas para a formação de situações

de ensino-aprendizagem, que levem à melhor formação de crianças

leitoras e escritoras, surgidas ao longo da década de noventa desse

século. Em geral, os estudos que foram tomados por base discorrem

sobre alunos da primeira fase do Ensino Fundamental, ou equivalente,

uma vez que as autoras de referência são oriundas de várias partes

do mundo. Não foram divulgadas pesquisas eminentemente

brasileiras, sobre o assunto, sendo esses, ainda, resultados de

análises e comparações do que vem sendo feito no país e fora dele. O

que se tem no Brasil são estudos iniciais sob forte influência das

experiências e estudos das teóricas supracitadas e de tantos outros

autores que pesquisam o tema. A monografia em questão abordará o

tema em sentido amplo, sem se preocupar em comprovar as

pesquisas desenvolvidas em determinados lugares, mas sim mostrar a

relevância das contribuições feitas pelas autoras estudadas.

Os estudos, em nosso país desenvolvidos, vêm seguindo os

mesmos padrões e, basicamente, as mesmas experiências dos

realizados no exterior e não assumiram, por seguinte, traços que

revelem apenas as conclusões brasileiras, já os mesmos são recentes

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e ainda passíveis de análises de especialistas que tratam desse tipo

de problemática no campo da Educação no Brasil.

1.4 - Referencial Teórico

Na análise do tema desenvolvido ao longo da monografia,

tomo – se por base os estudos realizados sob organização das

seguintes autoras:

Prof. Ana Maria Kaufman: argentina, especialista em

Educação, contribuiu com significativas investigações sobre a

psicogênese da língua, em especial, de experiências construtivas de

ensino–aprendizagem na primeira fase do Ensino Fundamental.

Acredita que são as iniciativas docentes dentro do campo construtiva

que serão responsáveis pela formação de melhores leitores e

escritores e que é a escola que deve proporcionar a ambiência e a

criação de situações necessárias para tal.

Profª. Maria Elena Rodríguez : argentina, com especialização

em Lingüística, dedica-se fundamentalmente, à investigação de

estratégias e propostas didáticas que proporcionem os “intercâmbios

lingüísticos”na sala de aula, bem como a utilização de textos na e da

sala de aula e outros materiais de leitura, sob a ótica sociolingüística.

Profª Gloria Iniostroza de Celis: educadora argentina,

desenvolveu por meio de uma perspectiva construtivista estudos

específicos sobre uma formação otimizada de crianças leitoras e

escritoras, além de estar engajada na própria transformação da prática

docente para que os profissionais da área estejam instrumentalizados

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a proporcionar situações de ensino-aprendizagem mais ricas e

satisfatórias. Desenvolveu um método de trabalho com textos

escolares, análise e produção, dividido em oficinas de criação” para

um trabalho com diferentes gêneros literários.

Profª Josette Jollibert: educadora francesa vem

desenvolvendo junto com sua equipe de professores colaboradores

hipóteses recentes ligadas a técnicas para a leitura mais crítica do

texto e de produções de textos mais autônomos. Acredita e comprova,

através de suas pesquisas, que a melhor produtividade da leitura e da

escritura de textos dos alunos se deve a situações autênticas de

produção, a uma vida cooperativa em sala e, principalmente, ã

Pedagogia de Projetos.

Profª Ana Teberoski: estudiosa argentina, principal parceira

de estudos de Emília Ferrero (1992), desenvolveu uma teoria

construtivista, com base em contribuições de Piaget e nos

pressupostos de Vygotsky (1996). Não concebe a aquisição da leitura

e da escrita como meros atos dissociados das situações interativas

cotidianas, precisando sempre que tais situações sejam reconhecidas

como oriundas de manifestações que envolvam os conhecimentos

prévios construídos pelas crianças, sejam esses adquiridos de forma

sistemática ou assistemática, isto é, dentro ou fora do espaço escolar.

1.5 - Objetivo do Trabalho

A monografia teve, como objetivo principal, analisar as

estratégias exploradas e desenvolvidas pelas teóricas, para a

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formação de crianças leitoras e produtoras de textos, da primeira fase

do Ensino Fundamental, bem como a própria competência docente

para que os alunos possam construir satisfatoriamente o que é

proposto nas práticas pedagógicas, cujo objetivo primordial é

desenvolver plenamente suas potencialidades para a construção do

conhecimento, não só o da língua materna, mas também outros que

precisem lançar mão das habilidades da leitura e da escrita.

1.6 - Hipótese da Pesquisa

O estudo feito pela monografia partiu do pressuposto, como

hipótese da pesquisa, de se ter, ao analisar as estratégias e situações

de ensino-aprendizagem, a validade de um consistente enfoque

pedagógico que leve em conta o conhecimento lingüístico prévio da

criança. Embricado nesse tema pensa-se também sobre a análise do

enfoque interativo de relações entre textos e leitor ou autor e contexto,

bem como de que forma a Pedagogia de Projetos pode auxiliar essa

nova visão para que as crianças se tornem leitoras e escritoras de

qualidade.

Em poucas palavras, as propostas aqui analisadas, tanto

pelo esforços que exigem das crianças, como pelas atitudes que

demandam dos professores, oferecem a vantagem de fazer com que,

no seu papel de escritores e leitores, os alunos apresentem um

cuidado especial, porque compreendem a importância daquilo que

lêem ou que precisam escrever.

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O ponto de partida foi analisar as premissas de que se as

práticas docentes devem ser reformuladas para melhor atender ao que

se espera de um maior e melhor empenho na formação de crianças

leitoras e escritoras e se as situações exploradas vêm sendo mais

válidas e satisfatórias, atingindo seu objetivo, devido ao fato de

acompanharem as mudanças pelas quais as crianças vêm sofrendo

ao longo desse fim de século e sua interação com o meio social é que,

cada vez mais, sejam oferecidas variadas situações a serem vividas

pelos alunos.

1.7 - Justificativa

O estudo dessa monografia se deveu ao fato de haver, cada

vez mais, a preocupação de oportunizar a criança maior autonomia em

suas vivências educacionais, uma maior busca por seus interesses

para o que aprender, transformando a prática pedagógica docente em

um elemento imprescindível de mediação entre o ser e o objeto de

conhecimento. No mundo de hoje, não há mais espaço para a

reprodução, e sim para a criação e para a construção de situações de

real aprendizado, objetivando a formação de sujeitos autônomos. Com

a escola, não poderia ser de outra forma. Novas pesquisas vêm

abrindo caminhos, oportunizando o desenvolvimento de estudos sobre

as diferentes habilidades dos alunos, com significativas colaborações

da Sociolingüística, basicamente, levando a resultados

surpreendentes. Daí o interesse em se tratar sobre o que vem sendo

investigado pela Pedagogia dos Projetos e por tantas outras pesquisas

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que tratam do desenvolvimento e da aquisição da leitura e da escrita

pelo aluno.

1.8 - Organização de Estudo

A monografia procurou fazer uma análise de algumas

situações de ensino-aprendizagem investidas pelas autoras

pesquisadas. O comprometimento maior do trabalho é explorar as

práticas pedagógicas existentes e também analisar algumas recentes

capazes de transformar a escola em um ambiente cada vez mais

propício à produção e à aprendizagem, levando a criança a se tornar

um ser cada vez mais autônomo, otimizando, dessa forma, a formação

de melhores leitores e escritores. Outrossim, existe o intuito de que,

para que isso aconteça, a própria formação do docente, mediador de

todo o processo, bem como as suas práticas sejam repensadas, assim

como a utilização do espaço escolar como difusor e estimulador da

produção do conhecimento.

Apesar de se ter como base a abordagem pedagógica para

esse estudo monográfico, fica claro que as análises levam em real

consideração a visão interdisciplinar, pois envolvem conteúdos das

mais diferentes áreas que por fim se integram harmoniosamente:

Psicolingüística e Psicopedagogia, a fim de que a compreensão da

realidade escolar e a exploração das situações de aprendizado não

sejam vistas de forma fragmentada.

Pretendeu-se nesse estudo explicitar um compromisso para

um novo olhar, um novo enforque para o trabalho da escola no que

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tange à formação das crianças para serem bons leitores e escritores,

não perdendo de vista também os bons projetos já desenvolvidos que

objetivam tal ação.

CAPÍTULO II – DESENVOLVIMENTO

2.1 - A função Social da Leitura e da Escrita

A leitura é uma atividade permanente da condição humana e

assume um significado importante para a sociabilização do ser. É uma

habilidade a ser adquirida desde cedo e treinada ao longo da vida. Lê-

se para entender e conhecer, para divagar coma imaginação, para

saciar a curiosidade, para arrefecer a ignorância, para aprender, para

informar-se, para ser. Lê-se também para questionar e resolver

problemas. Lê-se, enfim, para transformar.

Sendo uma das habilidades mais gerais, é a boa aquisição

da leitura, e também da escrita, que determina o sucesso ou o

fracasso ao longo da vida escolar. O mau domínio das habilidades da

leitura e da escrita cria dificuldades, não só no desenvolvimento em

Língua Portuguesa, mas na compreensão e na performance de tarefas

em todas as outras disciplinas. Mais ainda: a falta de domínio leva a

uma deficiente habilidade na resolução de problemas do cotidiano, na

formulação de conceitos, na compreensão de enunciados orais e

escritos, no domínio da oralidade. O produto é um indivíduo sem

autonomia e com sua auto-estima comprometida.

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É dever da escola criar situações de ensino, nas quais a

criança possa desenvolver as suas potencialidades. Mesmo em

situação de estímulo, sabe-se que nem todos os jovens serão leitores

e escritores habituais para o resto da vida, porém todos deverão ter

travado contato com oportunidades que os deixem aptos a ingressar

no mundo do trabalho e exercer plenamente a cidadania.

2.2 - A linguagem, a Língua Materna e a Aprendizagem

A aprendizagem da língua materna se inicia na mais tenra

idade e vai se aprimorando ao longo do desenvolvimento do sujeito,

evoluindo por toda a sua existência. Partindo dessa premissa, analisa-

se quais seriam os objetivos do ensino da língua materna nas séries

iniciais e mesmo na pré-escola.

A tomada de consciência por parte do educador, do que se

está fazendo e o porquê, implica uma reflexão constante acerca do

seu posicionamento teórico e prático, e no conhecimento de como se

dá o processo de aprendizagem do aluno.

A linguagem, em seu caráter mais amplo, é específica do ser

humano, o qual é o único capaz de atribuir significados. A língua

falada é uma das formas de linguagem, porém não é a única. Existe,

por exemplo, o choro do bebê, as brincadeiras infantis, o desenho, a

pintura, a música, os sinais e tantas outras formas de comunicação e

expressão do universo humano. O importante é saber que o princípio

básico que rege as linguagens é o da comunicação.

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Dessa forma, é importante entender o que seria,

especificamente, a língua. Ela nada mais é que o sistema de signos

vocais lingüísticos que serve de comunicação aos seres humanos.

Segundo Ferdinand Saussurem (1985), concebe-se como signo

lingüístico a resultante da combinação entre um conceito (significado)

e a imagem acústica desse significado (significante).

A função da língua também é a de comunicar, propiciando

como as demais linguagens, a interação com o outro e com o mundo.

É a partir dessa interação, segundo Vygostsky (1996), que se

possibilita à criança o aprendizado da língua materna, por exemplo,

sem que haja um método específico para que isso possa acontecer.

Essa afirmação corrobora, sobremaneira, para se pensar no

papel da escola no ensino da língua. Num sentido amplo, poderíamos

dizer que a escola dever propiciar e ampliar o desenvolvimento da fala

e a aprendizagem da leitura e da escrita. Assim, no ensino da língua

portuguesa, o professor deve ter, como objetivo, desafiar o aluno a

perceber, relacionar, comparar, analisar, sintetizar, reescrever,

transformar, opinar, criticar, enfim, operar textos, verdadeira unidade

lingüística.

É importante entender que a construção da sua

aprendizagem só será possível através de textos, não

compartimentalizados, mas no todo. As crianças estão em contato

todo o tempo de sua vida com os mais diferentes tipos de textos,

falados ou escritos, sejam esses anúncios de televisão, outdoors,

músicas, placas, rótulos, históricos e tantos outros. Como falante de

uma língua, ela fala textos e não emite, meramente, letras ou sílabas.

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A mesma se utiliza, em sua aprendizagem, de experiências

acumuladas em seu cotidiano e, quando entra para a escola, essas

são fundamentais para a sua relação de construção sistemática de

conhecimento no novo ambiente.

É nesse contato com os mais diversos tipos de textos que a

escola deve apresentar à criança que ela aprenderá a travar diálogo

com os autores, utilizando-se de sua capacidade de inferir, interpretar,

antecipar, argumentar, descobrir, transformar e recriar a obra,

tomando gosto pela leitura, dando um significado a tudo o que

aprende.

Cabe ao professor criar condições que favoreçam à

descoberta de todo esse sentido pelo aluno, oportunizando a troca dos

diferentes pontos de vista formados por eles, uma vez que, enquanto a

criança fala, segundo Paulo Freire (1997), ela organiza seu

pensamento e consegue trazer à tona as suas ações. Já não basta

que o professor apenas conheça o objetivo da aprendizagem, porém

que esteja atento à relação entre o objetivo de conhecimento e o ser

que o constrói. Nessa ação, o aluno consegue definir os graus de

dificuldade desse objeto e o caminho estabelecido para testar as suas

hipóteses. É tarefa do professor que assuma o papel de mediador,

intervindo nessa relação, estimulando a curiosidade e o desejo do

aluno em conhecer mais, avançando no processo de ensino-

aprendizagem.

Daí a prática pedagógica não poder se resumir a métodos,

como se fossem receitas, bulas de como proceder e o que não fazer.

O professor já não é mais o detentor absoluto do conhecimento, mas

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aquele que, junto à criança, avalia, questiona e confronta a todo o

momento o trabalho que vem realizando. Aprendendo, acertando e

errando junto com ela.

Lançando mão, todavia, das várias linguagens como

instrumento do seu fazer pedagógico, o professor estará contribuindo

para formar alunos leitores e escritores com mais qualidade.

Daí se percebe que nos tornamos leitores, lendo praticando

em situações reais de aprendizado e não aprendendo primeiro para

poder ler depois, pois existe grande diferença entre ler e saber ler,

segundo Ana Teberosky (1996), mesmo sabendo que as duas ações

estão intimamente ligadas.

Josette Jollibert (1994) afirma que não se ensina uma criança

a ler; é ela que se ensina a ler com a ajuda e os estímulos do meio

com o qual se relaciona: família, escola, comunidade. Possui seus

próprios mecanismos, processos, etapas e obstáculos. E todo auxílio

possível do meio com o qual interage fará com que a acomodação do

conhecimento seja mais efetiva.

Assim como na escrita, lê-se pelos mais variados motivos.Tal

competência é requerida do ser humano a todo o momento.

2.3 - Princípios Básicos Para a Formação de Crianças Leitoras e

Escritoras

A proposta de se formar criança leitoras e escritoras,

segundo Gloria Inostroza (1998), baseia-se em princípios da

aprendizagem como um processo de auto-sócio-construção que os

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alunos realizam com o auxílio dos demais pares da sala de aula. Diz a

professora: “A idéia de apoio pedagógico surge do que Vygotsky

(1996) chamou ”zona de desenvolvimento proximal”, isto é, a diferença

entre o que uma criança pode fazer por si só em seu atual estágio de

desenvolvimento e o que ela pode alcançar com a ajuda e guia de um

adulto ou em colaboração com seus companheiros de maior

experiência”.

2.3.1- Não há linguagem sem contexto psicossocial: a produção como

a compreensão de tarefas dever ter a sua gênese no âmbito

comunitário. É através dele que os alunos interatuam. As estratégias

usadas serão abordadas em um contexto pluridimensional, o qual dará

ênfase aos seguintes pressupostos de conduta lingüística: quem

expressa o que expressa, a quem expressa, como expressa, por que

expressa e em que situação expressa. Para isso, deve se levar em

conta questões de ordem interdisciplinar, como o desejo, o estímulo, o

vínculo, a habilidade para tal e outros.

O “quem” indica a própria identidade do emissor, o que traz

consigo cultura e emocionalmente.

O “o que“ corresponde ao texto, ao que se propõe como

situação para se usar a comunicação.

O “a quem” ressalta a própria identidade do receptor, sua

função dentro do processo de comunicação.

O “como” indica a modalidade escolhida para a decodificação

da mensagem emitida e os recursos capazes de portar a mensagem.

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O “por que” ressalta os processos usados para selecionar

uma mensagem específica, sendo essa considerada como a melhor

dentre as opções existentes em um determinado momento.

O “em que situação” específica às influências sofridas pelo

próprio contexto que emissores e receptores se inserem. Determina o

código específico utilizado. A autora cita Muma e resume que “todo ato

de linguagem possui um significado, um contexto, uma função social e

se manifesta em textos”.

Partindo dessa idéia, entendemos que só existe

compreensão porque partimos do que já entendemos sobre o que vem

a ser a linguagem. Então, resgatar a história e a bagagem de nossos

alunos deve ser um comprometimento docente.

2.3.2 -Não há aprendizagem significativa sem atividades autênticas: a

criança é capaz de construir seu próprio conhecimento se a ela as

tarefas propostas fizerem sentido e tenham um propósito. Ninguém

aprende pelo simples fato de querer aprender. A razão para se

aprender deve estar fortemente atrelada às situações de ensino-

aprendizagem propostas. A criança pode não entender ainda ao certo

a função do conhecimento adquirido, “para que serve o que vai

aprender”. Existe também uma grande preocupação por parte de

Claudia Lemos em elucidar o que vem a ser essa “aprendizagem

significativa” e sua interrelação com a escrita, quando diz na

introdução do livro Psicopedagogia da Linguagem Escrita, de Ana

Teberoski:

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”É dessa visão da linguagem como atividade significativa que decorre a decisão teórica da autora relativamente à unidade lingüística a partir da qual se dá o aprendizado da escrita: não é a sílaba, nem a palavra, nem mesmo a frase, mas o que ela designa como texto, isto é, a unidade de produção lingüística que, independentemente da sua extensão, corresponde ao discurso que constitui uma determinada situação ou atividade”. (Teberosky,1996, p. 8)

A professora Gloria Inostroza de Celis, Corrobora com a

afirmação sobre a criança e ressalta:

“todavia, deve perceber que o que aprende faz sentido, que poderá utilizar e que, para aprender, lançara mão de seus conhecimentos anteriores. Se ela não reconhecer esses conhecimentos como significativos, dificilmente poderá perceber a sua utilidade e utilizá-los conseqüentemente. Mais ainda do que reconhecer sua utilidade,as situações devem ser autênticas, com significado na cultura da criança”. (Celis, 1998, p.37)

2.3.3 - Aprender é um processo social de construção de significado e

interações com as idéias, com as pessoas e com os acontecimentos:

tanto na leitura, como na própria construção de texto é a própria

criança que aprende a agir por si mesma construindo suas

competências e descobrindo seus caminhos, a partir das interações

que estabelecem com o educador, cm seus companheiros, com a

comunidade e outros. É a partir da qualidade dessas ações e da

“pertinência”, conforme afirma Celis (1998), é que depende a eficácia,

a rapidez e a flexibilidade das aprendizagens. Com esse pressuposto,

considera-se o professor nesse processo como peça importante para

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oferecer condições as quais favoreçam a auto-aprendizagem da leitura

e da construção de textos. Mas, para que isso aconteça de forma

efetiva, é necessário levar em consideração que se deve criar

situações rotineiras de interação entre crianças e textos escritos,

ativando os conflitos cognitivos e confrontações entre os diferentes

tipos de produção das crianças e auxiliando a estruturar a atividade de

meta cognição de cada uma delas. Lemos confirma a afirmação

quando diz que:

“é a diversidade das situações em que os atos de ler e escrever estão integrados, que oferece tanto a possibilidade da criança reconhecer os conflitos que o sistema de representação alfabética inevitavelmente criará por ela, quanto a possibilidade de sua apropriação”. (Lemos, 1995, p. 10)

2.3.4 - Para aprender a ler, é necessário que as crianças possam

construir uma representação dos fins da leitura, assim como da tarefa

de ler: é importante que se dê à criança meios para que ela venha a

aprender a aprender a ler. Para isso, devem ser propostas atividades

que levem os alunos a assumirem uma atitude de leitor e escritor. Isso

pode ser realizado, deixando que as crianças construam índices e

sejam autorizadas a construírem suas hipóteses e, posteriormente,

verificando-as. No caso da escrita, essa é a fase na qual as crianças

testam a legibilidade dos símbolos gráficos, as exigências aos

mesmos, a importância de um destinatário para o que escrevem.

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Lemos (1995), ainda na introdução do livro de Ana Teberoski (1998),

ressalta que:

“a criança dispõe de um saber sobre a escrita ainda antes de entrar para a escola e de que este saber também foi construído, através de sua participação em práticas sociais em que a escrita ganha sentido. E essas práticas vão até o reconhecimento do outro como destinatário da escrita”. (Teberosky,1998, p. 10)

2.3.5 - Para aprender a produzir textos, as crianças precisam sentir a

necessidade de se comunicarem com os outros, de lhes dizerem

alguma coisa: esse intuito pode ser para informação, por lazer, para

registro, para controle e demais funções. Segundo a autora relata, não

se pode mais conceber situações de ensino-aprendizagem que

demandem a produção de textos sobre o que não interessa, sem um

propósito compreendido, o que não se entende e sem identificar um

destinatário. A autora deixa claro que o que resumiria todos esses

princípios básicos seria dizer sempre se escreve para alguém ou para

algo. Isso estabelece que sempre haverá uma intenção e um

destinatário para cada tipo de texto produzido.

A autora acredita que essas idéias básicas só auxiliarão se

forem incorporadas nas práticas cotidianas para a leitura e a

construção de textos, na medida em que o professor assuma uma

“relação horizontal com os alunos, sejam eles universitários ou da pré-

escola”. Ana Maria Kaufman (1995) e Maria Helena Rodriguez (1995)

concordam com a idéia da autora quando dizem que:

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“os professores devem propiciar um encontro adequado entre as crianças e os textos e que é dever da escola criar as oportunidades cabíveis para fazer com que os alunos sejam “pessoas que escrevem”. (Kaufman; Rodriguez, 1995, p. 9)

2.4 –-A Criança e a Leitura

Segundo Josette Jollibert (1994), muitos professores

indagam como podem fazer com que seus alunos leiam melhor, dando

real sentido ao que fazem, sem dar início, meramente, ao

deciframento de códigos escritos (Jollibert, 1994). Segundo ela, jamais

é questionado sobre o que fazer para implementar a vida cooperativa

nas escolas para que o ato da leitura seja também transformado.

Entende-se por vida cooperativa toda a interação estabelecida entre o

meio, o professor, os colegas e seus saberes, para uma situação de

real aprendizagem, já mencionada por Celis (1998) anteriormente.

Abordar a leitura dissociada a outras questões é um risco,

porque podemos obter uma visão falaciosa e truncada da realidade.

Procurar novas práticas para a formação de melhores leitores é mais

que mudar para alguns livros especializados em fazer as crianças

lerem por “questionamento de texto”, conforme Josette Jollibert (1994)

denominou, numa aula em que, por outro lado, nada mudou. A

mudança passa por ver a criança gerenciando os seus saberes. O

aluno precisa entender e dar um sentido a tudo o que aprende e pode

intervir no meio no qual ele aprende. Não basta, então, a

transformação da prática e sim a mudança da visão sobre a educação,

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seus objetivos e fins. Se existe o intuito de se criar um ser mais crítico,

livre, questionador e autônomo, a ele devem ser dadas as condições

de ambiente para que isso ocorra. A escola passa a ser um meio de

vida, no qual é possível agir, questionar, avaliar, realizar.

Josette Jollibert (1994) nos remete ao ato da leitura

propriamente dito. Tal ato é complexo e sua compreensão se situa no

cruzamento de vários eixos, como podemos ver, a seguir: a) o

conhecimento do funcionamento do ato lexical e dos processos de

leitura; b) o conhecimento do funcionamento da língua escrita; c)

amplo conhecimento da teoria utilizada como referência para o

aprendizado; d) o encontro da criança com o escrito, de que forma

atuam as interações adulto/criança/indivíduo/coletividade etc.) e de

que forma atuam as relações de poderes e não-poderes de uns e

outros na escola. , nas aulas, ir em busca de uma vida cooperativa na

qual as atividades e os projetos fazer com que apareçam situações de

leitura “para valer”. (Jolibert, 1994)

Pensando dessa forma, não se trata apenas de formar

melhores leitores, trocar as técnicas condutistas das aulas tradicionais

utilizadas por outras interacionistas. A questão é vem mais global. A

importância desse novo olhar às possíveis técnicas a serem utilizadas

é mostrar que as mesmas funcionam porque fazem com que as

crianças vejam um sentido em tudo que aprendem, no caso, em tudo

que lêem.

Para que se entenda o que vem a ser e a importância do ato

de leitura, Jollibert (1994) apresenta no seu livro Formando Crianças

Leitoras, resultados de pesquisas realizadas na Europa e nos Estados

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Unidos sobre o ato de ler. A conclusão foi a seguinte para essa

habilidade: “ler é atribuir diretamente um sentido a algo escrito,

questionar algo escrito como tal, em uma expectativa real, numa real

situação de vida”. Isso nada tem a ver com a decifração costumeira,

que parte da primeira palavra para chegar à última, porém varia de

leitor, de um texto para um outro, de um objetivo de procura para

outro, pois pode-se mudar a intenção com a qual se lê um texto e

quais diferentes tipos de informações pode-se buscar nele.

A referida autora acredita que ler em situações reais implica

ler desde um nome de rua, um cartaz, um anúncio, um jornal, um

panfleto até chegar ao livro. Para ela, é lendo de verdade, como ela

explicita que as crianças dizem, “para valer”, que alguém vem a se

tornar leitor e não, meramente, aprendendo a ler.

Em relação à preocupação em que consiste o ato de ler as

autoras Gloria Inostroza Celis (1998), Norma Varas (1996) e Josette

Jolibert (1994), elaboraram um pequeno documento de referência, o

qual consta no livro Formando Crianças Leitoras e Escritoras,

sintetizando o que é ler na acepção das autoras. Ler é um processo de

cognição dinâmico, estreitamente ligado ao ato de atuar, implicando aí

as relações do indivíduo com o meio e suas interações com e na

sociedade. Torna-se, então, uma atividade mental extremamente

complexa por exigir que várias informações sejam tratadas por parte

da inteligência. Não é, meramente, um conjunto de mecanismos de

percepção e de memória. O leitor busca situações genuínas para a

leitura, com real uso no seu cotidiano, procurando todo o tempo

encontrar o sentido do mesmo, levando também em conta suas

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necessidades e desejos. Não é um ser passivo que apenas decodifica

e memoriza. A leitura possui uma função social e para isso deve ter o

seu fim traçado. Certamente, a atividade de leitura implica colocar em

jogo diversas estratégias que possibilitam compreender o significo do

texto.

Dessa forma, fica nítido que, para se fazer uma boa leitura,

se saiba que não há uma única maneira de se ler um texto. A ele são

reservadas múltiplas possibilidades. Para uma melhor formação de

crianças leitoras, é necessário que o leitor seja valorizado “pelo que é

e sabe” (Celis, 1998). O leitor ativo busca construir o sentido do texto e

a ele, ou ao que extraiu, dar uma funcionalidade. Também deve estar

cônscio de que o significado do texto é construído, uma vez que a todo

tempo acomodamos informações diferentes e adaptamos o sentido

daquilo que lemos.

Com profunda habilidade, Celis (1998) explicita qual é a

relação entre o texto e o seu leitor:

“Ler é sempre um encontro entre um indivíduo e um texto e a compreensão é considerada como um processo interativo entre leitura e texto. Nesse sentido, o leitor é co-criador do texto”. (Celis,1998, p. 45)

Essa afirmação confirma a premissa do parágrafo anterior

sobre a construção e a descontrução do sentido do texto feitas pelo

leitor em formação. Formar um leitor implica desmistificar o processo

da leitura, levar o leitor em formação a descobrir a funcionalidade do

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texto, lê-se para algum motivo, e tomar consciência das diversas

práticas da leitura e a função à qual se destina o texto escrito.

2.5 - A Criança e a escrita

Podemos dizer que o homem se distingue de outros animais

devido à capacidade de “pensar que está pensando”. Isso o faz ser

inteligente e criativo, capaz de transformar o mundo que o cerca e de

transformar a si mesmo. Paradoxalmente, é devido a essa

característica de pensar que o torna um ser sensível. O homem se

torna ainda mais sensível, devido ao fato de ter consciência dos

sentimentos os quais que pode sentir. A linguagem é que o

instrumentaliza a pensar que está pensando e a demonstrar a noção

dos sentimentos.

Uma das maneiras de manifestação da linguagem é a escrita.

Quando o homem escreve, ele eterniza o que está sentindo ou

pensando, imprime a sua marca. Hermínio Sargentim, professor e

educador da USP, autor de mais de trinta títulos publicados sobre a

Língua Portuguesa, define a escrita da seguinte forma:

“A escrita é um ato de imortalidade. Ao escrever, o ser humano se inscreve na matéria e permanece sendo. Uma parcela dele se adquire, assim, um caráter de perenidade. O homem é hoje o que foi ontem, e será amanhã o que é hoje. Ao escrever o seu hoje, que amanhã será passado, continuará presente”. (Sargentim, 1996, p. 15)

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Na maior parte das vezes, os alunos partem do enganoso

pressuposto de que escrever é um dom, o qual só algumas pessoas

possuem. Isso faz com que neguem uma habilidade que acreditam só

pertencer a alguns. Acredita-se que a escola colabora para essa visão

errada, à medida em que a criança só trava contato com textos

literários nas aulas destinadas ao ensino de nossa língua materna, o

Português. O professor, geralmente, reforça a idéia de que o bom

texto é aquele que se apresenta semelhante ao literário, não levando

em consideração a bagagem que o aluno traz consigo em relação à

língua. Escrever não constitui um dom de alguns, mas uma habilidade

a qual pode e deve ser desenvolvida.

Por muito tempo, pensou-se que seria melhor, primeiramente,

que o aluno dominasse os códigos da escrita para que depois tivesse

acesso à linguagem escrita. Durante esse período, estaria fadado a

entrar em contato apenas com “escritos escolares”, como

Kaufman91995) denomina, também erroneamente chamados de

“textos escolares”, do tipo “Vovó viu a uva”, “Mimi ama Mimi” etc.

Possivelmente,essa falta de realidade do texto, com o qual ele entra

em contato na escola, é motivo de frustração. A autora, com muita

propriedade, cita Teberosky:

“todos os falantes têm uma representação do que se escreve e do que não se escreve, das formas de expressão e da organização que deve ou não ter a linguagem escrita”.(Teberosky, 1996, p.45)

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É devido a isso que a criança se aproxima dos textos para

poder perceber suas especificidades.

Mesmo antes de ingressar na escola, a criança já dispõe de

um saber sobre a escrita. Esse saber também foi construído ao longo

de suas interações com o seu meio nas quais, de alguma forma, a

escrita foi valorizada, tinha um sentido.

Cellis (1998) preconiza que, tradicionalmente, na escola,

atribui-se à escrita os mais variados significados: de grafia, de

produção de texto e da escrita como a construção do sistema da

própria escrita. Nas escolas tradicionais, percebermos também que

não se estimula a produção por meio da escrita enquanto a criança

não se apropria dela como grafia, melhor dizendo, caligrafia. Isso

tende limitar a comunicação escrita, como uma das formas de exprimir

a sua criatividade, e o domínio da redação escrita, não fazendo deste

objeto de interação, perdendo a oportunidade, dessa forma, de

mostrar a funcionalidade da manifestação escrita. Jollibert (1994)

ratifica esse pensamento ao dizer que é fundamental que a criança, ao

longo de sua vida escolar, faça a experiência da utilidade e das

diferentes funções da escrita. Essa sempre deve servir para qualquer

coisa, “subtende as propostas, difere de acordo com as situações,

permite comunicar, contar histórias, conservar traços etc”. Para

Roman Jakobson, um dos maiores ícones da Lingüística do século

XX, “Cada um dos fatores que intervém no circuito da comunicação

determina uma função diferente da linguagem”. Na verdade, a palavra

“comunicação” é extremamente polissêmica, porém, nessa

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monografia, utilizaremos o significado de ser o processo por meio do

qual se transmite uma mensagem elaborada pelo emissor ao receptor.

Na obra de Celis pesquisada, existem registros feitos por

Carla Murillo, uma de suas colaboradoras, sobre a diferença entre o

ato de escrever e de produzir textos:

“O ato de escrever refere-se à escrita alfabética de um texto que, geralmente, é uma cópia. Em troca, o ato de produzir um texto é um processo que inclui o planejamento, a elaboração textual e a revisão. Isso significa colocar em jogo destrezas do pensamento, tais como: determinar a importância do escrever, sintetizar a informação, estabelecer diferenças, dirigir a compreensão etc.”.(Celis,1998), p. 116)

Em síntese, o que se propõe é que as inferências dos

professores devem provocar mudanças no que é visto para a criança

produzir o seu próprio texto. Assim como na leitura, para a criança,

saber como escrever e o que escrever são questões fundamentais

para que ela possa aliar a sua capacidade inventiva com o sistema de

códigos do qual ela se apropria. Dessa forma, haverá aprendizagem

significativa e conseqüentemente, prazer por parte dela em se

comunicar, em produzir. Como dizia Vygotsky,

“A escrita há de ser importante para a vida”. Celis vai mais além quando diz que “produzir um texto é um processo dinâmico de construção cognitiva e psicomotora, ligado à necessidade de agir, na qual intervêem, também, a afetividade e as relações sociais”. (Vygotsky,1996, p. 63)

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Quando as crianças percebem que podem produzir seus

próprios textos, sentem o prazer da produção escrita dirigida “a

destinatários reais”, conforme assim os chama Celis (1998). Jollibert

(1994) trata do prazer da produção,

“do prazer de inventar, de construir um texto, de saber como ele funciona, de vencer as dificuldades encontradas, de encontrar como e o que se quer escrever, de progredir, de poder mostrar um texto bem apresentado”. (Jollibert,1994,p. 75)

Trata-se, então, de criar situações que permitam às crianças

serem impelidas a estabelecerem a comunicação por meio da língua

escrita, de usarem o escrito que produziram como um instrumento a

seu serviço. Tornar esses textos “públicos”, publicá-los pelas paredes

da escola ou em jornais é uma das formas de valorizar e estimular a

criatividade do aluno. Faz-se necessário que produzir um texto para a

criança não seja uma tarefa enfadonha, também sinônimo de bloqueio

e fracasso, que sempre a criança perceba que há algo a descobrir.

É necessário terem mente que, para auxiliar na formação de

uma criança produtora de seu texto, é preciso valorizar em cada

criança, segundo afirma Josette Jollibert (1994) em seu livro

Formando Crianças Produtoras de Texto,

“o que é construído e o que está sendo construído, ou ainda precisa ser completamente construído, entre as competências (saber fazer), comportamentos (saber ser) e conhecimentos (saberes), indispensáveis à produção de texto”. (Jollibert,1994,p. 15)

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2.6 – A Prática Docente na Formação Crianças Leitoras e Escritoras

A participação do professor frente à formação da criança

leitora e escritora pé fundamental. É ele que deverá promover

situações de aprendizagem efetivas para a leitura e a escrita façam

sentido e tenham uma função. Sob a ótica de uma abordagem

psciopedagógica, Teberosky diz que:

“é reconhecendo o saber trazido pela criança que torna o papel de mediador do professor uma tarefa tão diferente do que ensinar a ler e a escrever. Ao invés de partir do que ele sabe sobre escrita, ao professor caberá investigar o que a criança sabe sobre a escrita e, portanto, atuar primeiro como observador e intérprete dos modos de participação da criança nas atividades lingüísticas e não-linguisticas, orais e gráficas que se relacionam com a escrita”. (Teberosky, 1996,p. 89)

É essa observação e interpretação que construirá sua

mediação e sua própria participação no aprender da criança. É

aprendendo sobre o aprender da criança que poderá dar um outro

sentido ao seu ensinar. Isso significa que, se o professor conseguir

oferecer efetivo auxílio para que seu aluno possa construir seu

conhecimento, ele contribuirá, sobremaneira, para que a criança possa

aprender mais a partir das interações com meio, as quais for capaz de

estabelecer.

Muitos estudos foram desenvolvidos nas últimas décadas

desse século acerca do papel da criança em suas construções

intelectuais. A divulgação desses resultados provocou interpretações

equivocadas sobre o papel do professor. O raciocínio tendeu em

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mostrar que outrora o professor era o centro das atenções do

processo de ensino-aprendizagem. A figura do aluno era vista como

elemento passivo de todo esse processo. Daí muitos terem pensado

que a intervenção do professor bloqueava o aprendizado do aluno e,

erroneamente, deixou-se até mesmo de corrigir os erros produzidos

pelos alunos em fase de construção de seus saberes. Atualmente,

percebemos, através do contato com todos os dados já estudados,

que ela é a autêntica construtora de seu aprendizado. Porém, o

professor deve acompanhá-la em todas as etapas desse processo,

deixando de lado a idéia de que deixou de ter importância nesse

processo de construção. Ele passa de detentor absoluto do

conhecimento para mediador entre esse e o aluno, criando situações

reais de ensino-aprendizagem. Deixar de corrigir a criança torna-se

negligência do professor, o qual deveria estar proporcionando

situações que a qualificasse a se tornar melhor leitora e escritora. Não

estamos tratando de corrigir o erro conforme é prática nas escolas

condutistas e sim tratá-lo construtivamente, criando situações aos

alunos de “contato, exploração e reflexão sobre a produção de textos”,

conforme estabelece Kaufman e Rodriguez (1995). As autoras

sintetizam, afirmando que existem três elementos eqüitativamente

importantes na situação de ensino-aprendizagem: a aluno, o professor

e o conteúdo. “Devem, conseqüentemente, ser iluminados por

refletores de idêntica intensidade para que o ato educativo seja mais

rico, mais proveitoso, mais frutífero”.

A situação do professor atualmente é de conhecer bem mais

informações acerca das potencialidades cognitivas da criança do que

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o conteúdo e a maneira adequada a transmiti-lo. Ainda oscila entre a

prática da construção da leitura e da escrita e a transmissão de

conteúdos da gramática de modo desarticulado. As crianças podem

até chegar, dessa forma, a serem leitoras e escritoras de qualidade,

mas isso se dará independente da prática do professor, segundo

Kaufman (1995).

As pesquisas para melhor formar crianças leitoras e

escritoras beneficiam também a própria prática do professor.

Começam a serem levantadas hipóteses de como melhor

instrumentalizá-lo para que esteja apto a mediar a construção do

conhecimento por parte da criança; o que fazer para preparar novos

profissionais com uma visão construtivista para essa formação.Gloria

Inostroza e suas colaboradoras desenvolveram um trabalho com

docentes, cujo marco teórico de referência seriam as teorias sócio-

construtivistas e cognitivistas da aprendizagem, as quais sustentam as

novas propostas para uma melhor formação da criança leitora e

escritora.

Essas mudanças de olhar para as situações de ensino-

aprendizagem por parte do professor fomentam e potencializam a

necessidade do enfoque para um educador que seja pesquisador e

propenso a refletir sobre a sua prática e contribuir com esforços para

auxílio da prática de seus pares. Para que exista esse novo professor,

é necessário o comprometimento e o incentivo para essas mudanças,

tais como o respeito pelo desenvolvimento da criança, principalmente

com as que apresentam mais dificuldades, o respeito pelo próprio

profissional que aceita o desafio de buscar novas perspectivas e não

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permanecer fossilizado. Essa educação emergente, a qual possibilita a

auto-sócio-construção das competências e saberes dos alunos,

implica uma nova postura por parte do docente. Muitas vezes, o

professor se sente acuado perante a realidade de se transformar em

um mediador, na verdade, a partir de objetivos claramente propostos

de estabelecer a construção dos saberes, baseado em situações de

real aprendizado, nas quais os alunos tenham uma aprendizagem

significativa e escrevam e leiam efetivamente, com objetivo e

funcionalidade, facilita a atuação dos alunos em “seres que

gerenciam” (Celis, 1998) e auxilia a estabelecer a interação entre a

criança, seus saberes, os saberes a serem construídos e o meio no

qual se insere. Dessa forma, o mediador está pronto a abraçar novas

propostas, a elaborar projetos que visem à formação de um ser

autônomo, que “o aprender seja a meta e não o meio”, segundo

ressalta Jollibert (1994).

2.7 – Por Uma Tipologia de Textos

As autoras que serviram de referência para essa monografia

comungam da idéia de que, para que haja um aprendizado

consistente, que assegure a formação de crianças leitoras e

escritoras, é necessário uma reformulação no conteúdo a ser

explorado nas práticas pedagógicas. Ainda que essa reformulação

atinja a todas as crianças, a preocupação maior é centrada nas

crianças, cuja situação sócio-cultural é desfavorecida. Crianças que

não possuem a realidade de viver em um meio no qual ela a escrita

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seja elemento fundamental. Teberosky (1996) preconiza que, é por

meio de uma tipologia de texto, que a criança perceberá situações

reais de aprendizagem, lendo e escrevendo “para valer”. Ela divide os

texto em seis categorias, integrando os aspectos técno-gráficos da

escrita e a linguagem que se escreve. Com essa tipologia de texto, se

permite fazer um trabalho de reconhecimento de características de

cada tipo, já que encerram traços próprios para cada um e respectivas

regras de construção. A criança deve começar desde cedo a

reconhecer cada estrutura dessa tipologia, tentando produzi-la e

reproduzi-la, pois percebe que o texto quer dizer algo é para alguém,

serve para algo e tem íntima relação com as funções da escrita. Essa

tipologia de textos, ao ser explorada pelos alunos, permite que sejam

criadas situações as quais despertem o desejo na criança da leitura e

de se comunicar via texto, seja ele oral e escrito, usando o instrumento

a seu serviço.

Todas as autoras acreditam no trabalho desenvolvido por

tipologia de texto e que ele efetiva uma nova abordagem de ação no

campo da pedagogia de projetos e no trabalho cooperativo. A divisão

por tipologia pode mudar a nomenclatura, porém o teor continua o

mesmo. Pode não possuir uma classificação única, uma vez que essa

leva em consideração diversos fatores, tais como intencionalidade,

funções da linguagem, traços lingüísticos e estruturais, em entre

outros.

Na verdade, o próprio uso da tipologia revela nossa intenção

como falante, já que percebemos que podemos agrupá-los por traços

comuns pertencentes a cada um. Classificar um texto quanto ao seu

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tipo significa a intenção de facilitar a produção e a construção dos

mesmos a partir desses traços. Além disso, o trabalho do professor

torna-se mais coerente no ambiente escolar.

O que se propõe com a tipologia é levar textos variados aos

alunos, dando subsídios para que eles percebam as suas estruturas

nos mais diversos níveis e, conseqüentemente, possam produzi-los.

A tipologia adotada por Kaufman (1995) e Rodriguez (1995)

divide-se em algumas classificações que levam em consideração,

primeiramente, as intenções do emissor: se ele pretende seduzir,

convencer, sugerir, entreter, enfim, a classificação é ligada à intenção,

porém também ao seu estado de ânimo ao transmitir a mensagem.

Também categoriza, dependendo da função da linguagem que

predomina: se é a informativa, a apelativa, a expressiva, a literária ou

a informativa. Situamos, então, na categoria de textos informativos as

notícias de jornal, os artigos editoriais, as notas de enciclopédia, os

relatos históricos, as monografias e tantos outros que têm por objetivo

transmitir informações; como textos literários, inserimos contos,

lendas, novelas, obras teatrais, poemas e outros que se enquadrem

em molde estéticos, basicamente; entre os apelativos, temos aqueles

que objetivam mudar o comportamento do leitor, como receitas de

cozinha, manuais de instrução, anúncios de publicidade etc.; como

textos expressivos, temos aqueles que manifestam a subjetividade do

autor, como as cartas, os diários, as declarações e tantos outros.

Não se pretende, ao trabalhar com essa tipologia com os

alunos, obedecer a um caráter reducionista que os impeça observar as

nuances dos textos. Esses não podem ser classificados apenas em

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razão da função da linguagem predominante, pois perderíamos a

noção de que existe diversa variedade em cada um deles. Seria deixar

a desejar, já que se pretende realizar um trabalho que pretende

melhorar a competência comunicativa. Podemos estabelecer classes

dentro dessas categorias já determinadas pela função. Como

disseram Kaufman (1995) e Rodriguez (1995) “os textos se configuram

em diferentes maneiras para manifestar ou as mesmas funções da

linguagem ou os mesmos conteúdos”.

Partindo da etimologia da palavra “texto”, a qual bem do

latim: tecido, trama, as autoras também partem para uma classificação

de ordem da trama do texto que nada mais é que “estruturar os

recursos da língua para veicular as funções da linguagem”. São,

então, as diversas estruturações, configurações do texto. Essas

tramas são a narrativa, a argumentação, a descrição e a conversação.

Aqueles que configuram a trama narrativa preocupam-se com a

seqüência temporal e causal; os de trama argumentativa, comentam e

confrontam idéias, conhecimentos e opiniões; os de trama descritiva

objetivam tratar de especificações e caracterizações de pessoas,

objetos, processos e situações; nos de trama conversional, aparecem

a interações lingüísticas entre os elementos de uma situação

comunicativa.

A tipologia de texto desenvolve a produção, estimula a leitura

e serve de instrumento para o desenvolvimento da Pedagogia de

Projetos, tratada no próximo item.

2.8 – Projetos na Formação de Crianças Leitoras e Escritoras

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Os projetos desenvolvidos com essa nova visão construtivista

no processo da formação de leitores e escritores visam,

primordialmente, a abrir novas frentes de práticas pedagógicas as

quais possibilitem uma aprendizagem significativa e uma melhor

interação da criança com o meio no qual está inserida, levando em

consideração seus prévios e novos saberes, desenvolvendo, assim,

habilidades para se tornar um leitor crítico e um escritor producente,

autônomo na tarefa que encetar, conquistando melhor competência na

comunicação. Segundo Teberosky (1996), não se pode perder de vista

dois eixos para que haja avanço na aprendizagem: o primeiro seria “as

idéias de criança”, conforme ela mesma chamou e o outro seria os

“requisitos do ensino”. Entende-se como “idéia de criança” os

processos mentais e psicológicos por onde a apropriação do

conhecimento perpassa e por “requisitos do ensino”, a própria

mediação do professor nesse processo, fazendo com que a criança

seja estimulada a avançar em uma determinada área particular do

conhecimento. Trabalhar a formação de uma criança leitora e escritora

é refletir sobre situações práticas e reais de ensino-aprendizagem que

a favoreçam no desejo de conhecer e, por meio da diversidade

oferecida, com trabalhos embasados na tipologia de texto, a criança

compreenderia as regras do funcionamento da linguagem. Todas as

autoras de referência para essa monografia estabelecem práticas

pedagógicas atreladas a projetos. Celis (1998) não só trabalhou dessa

forma, como desenvolveu um projeto com professores, a fim de

repensar as práticas pedagógicas e dar subsídios a eles para um novo

olhar do processo educativo. Esse processo foram as “oficinas

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pedagógicas”, descrito em seu livro Formando Crianças Leitoras e

Escritoras.

A Pedagogia de Projeto provoca uma mudança, fundamenta,

na relação educador-educando e permitem uma maior

espontaneidade, maior iniciativa, e respeito pelas dificuldades

encontradas. O trabalho por projeto exige responsabilidade por parte

de todos os envolvidos, sendo o docente o responsável para a

construção de caminhos para uma boa condução do trabalho. Os

projetos provocam mudanças no enfoque de aprender, segundo Celis

(1998), alguns aspectos: a conhecer, a pensar, a ser crítico e

autocrítico, a propor e resolver problemas, a assumir novos papéis, a

comunicar-se e a trabalhar em equipe. Tais projetos também propõem

sempre uma valorização da experiência da linguagem das crianças,

dão lugar a múltiplas aprendizagens, fazem com que as crianças

interatuem em múltiplos eventos, constroem cooperativamente, usam

recursos, tais como o espaço da biblioteca, os instrumentos multimídia

e a própria vida em comunidade. Além disso, orientam as crianças na

auto-avaliação e na evolução e no processo de leitor e de produtor de

texto.

As situações estabelecidas nos projetos são formas reais de

se assegurar à aprendizagem significativa para cada criança, pois

parte das necessidades básicas do aluno.

De acordo com os registros de Jollibert (1994) e Gloria

Inostroza (1998) no livro de Celis,

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“Há razões humanistas evidentes para assumir uma pedagogia de projetos nos estabelecimentos escolares, possibilitando desenvolver personalidade que tenham, ao mesmo tempo, senso de iniciativa, de responsabilidade, de tolerância e de solidariedade. Com efeito, uma pedagogia de projetos não pode ser reduzida apenas a uma técnica educativa ou a um novo método, já que implica uma mudança de papel dos educandos na Escola a partir de uma revisão profunda das inter-relações entre adultos e crianças. Corresponde, portanto, por parte dos adultos, a uma mudança de representações e expectativas das possibilidades e necessidades das crianças: olhar as crianças como sujeitos de sua formação em vez de objetos de ensino. Nesse sentido, trata-se de uma postura tanto filosófica como psicológica”. (Celis, 1998, 106)

A Pedagogia de Projeto não pode ser considerada uma

“moda nova”. Ela foi criada por educadores e que queriam que as

crianças, dentro do próprio ambiente escolar, compartilhassem uma

vida cooperativa, tivessem iniciativa e participassem da organização

da sua vida de estudantes, através de projetos nos quais pudessem

interagir com seus conhecimentos e com o seu meio.

As contribuições construtivistas muito somaram para a

formação de um enfoque mais operatório da aprendizagem com o

apoio de docentes mediadores. As idéias de Piaget, Vygotsky e outros

muito colaboraram para esse novo enfoque. As competências

realmente se constroem na Pedagogia de Projetos e permitem uma

transferência cognitiva.Tais competências e são a percepção da visão

global, a organização das atividades administradas, o confronto entre

as proposições apresentadas, a adaptação das situações

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experinciadas, a avaliação do próprio trabalho e caminhos mentais

percorridos, bem como as próprias competências desenvolvidas.

Kaufman (1995) e Rodriguez (1995) explicam por que

acreditam em projetos que demandam a leitura e a produção de texto.

Elas optam por trabalhar naqueles que contemplam a escrita de textos

por parte das crianças:

“Produzir um texto escrito equivale a decidir o que se vai escrever, qual será a forma adequada de fazê-lo, tentar uma primeira vez lê-lo, corrigi-lo, reescrevê-lo, reorganiza ro conteúdo e a forma etc (...) permite tomar a distância necessária para conectar-se múltiplas vezes com o que se quer dizer... e dizê-lo cada vez melhor e por escrito”. (Kaufman; Rodriquez, 1995, p. 50)

As autoras enfatizam os benefícios dos projetos que contam

com receptores reais dos textos produzidos.Muitas vezes está aí a

falta de incentivo real para melhorar as produções escritas e a leitura.

A escola tradicional, segundo as autoras, ”escreve nada para

ninguém”, escrever para demonstrar apenas que sabe escrever. Fora

dos muros escolares, sempre haverá um destinatário para nossos

escritos, nem que ele seja o próprio que escreveu para não esquecer

algo ou para organizar-se.

No planejamento de projetos, o professor deverá levar em

conta o que os alunos sabem e o que ignoram, quais as

características apresentam os modelos textuais apresentados, que

tipo de trama será privilegiada, qual o real objetivo de estar

construindo aquele determinado caminho e quais as estratégias

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didáticas para favorecer essas aprendizagens. Em nenhum momento

se pensa que os projetos apresentados sejam tomados como

paradigma, apenas que possam ser socializados pela eficácia que

surtiram e por poderem ser desencadeadores de outros os quais

promovam o desenvolvimento da criança.

Kaufman (1995) e Rodriguez (1995) descrevem na obra de

referência para essa monografia diversos tipos de projetos que

explorem a leitura e a escrita. Alguns contemplam a produção de

textos monográficos, de experimentos, de texto literário, de folhetos

explicativos, de elaboração de biblioteca, de construção de jornais,

mural e escrito e tantos outros, sempre levando em conta o trabalho

com os registros da língua, o vocabulário, a “silhueta” do texto,

enfocando, também, sua macro e microestrutura. O material utilizado,

os procedimentos ao longo do trabalho são pormenorizados e

discutidos com o grupo. A culminância sempre se dará por produções,

resultado dos trabalhos das crianças. Todavia, não há, nos estudos

feitos, registros do desenvolvimento dos projetos, com minuciosidade,

para publicação. Porém, para isso, há uma justificativa. Existia a

premência das autoras em divulgar os novos caminhos percorridos

para a construção das competências de leitores e escritores, a partir

do desenvolvimento de projetos que levassem em consideração o

desenrolar de atividades que explorassem atividades importantes para

afirmar competências.

Uma das ricas vivências dos projetos é travar contato como

trabalho cooperativo. Celis (1998) revela que é a partir desse, dentro

de um projeto que estimule a leitura e a escrita, que a criança se sente

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impelida a descobrir, comparar, testar suas hipótese. Nas atividades

lúdicas também os alunos estabeleceram um clima favorável à

aprendizagem pelo fato de interagirem como e enquanto grupo.

Teberosky (1996) acredita que as tarefas em grupo acrescentam muito

às experiências dos alunos. Daí reforçar tanto atividades que ela

mesma denomina como”câmbio de plumas”, que significa “troca de

mãos” entre autores. A escrita coletiva é uma prática muito salutar,

pois desafia os produtores a manter a coesão, controlar o texto escrito,

observando o que foi e o que não foi escrito, a respeitar e a lidar com

idéias diferentes. E vai mais além:

“Antes falávamos das tarefas implicadas nas atividades de produzir coletivamente um texto. E vemos como essas tarefas comportam decisões sobre diferentes aspectos, tanto sobre a linguagem escrita como sobre as convenções e o modo de funcionamento do sistema alfabético de representação da linguagem. Uma das vantagens desse trabalho é que as crianças verbalizam os seus intercâmbios e põem modos de resolução de tarefas que, quando produzidas individualmente, tornam-se confusas para professores e alunos”. Porém, todas as tarefas coletivas merecem atenção, pois são tarefas seriadas e que exigem um grau de complexidade maior, quando realizadas por diferentes sujeitos em situação de interação que contribuem mais que numa situação individual para a aprendizagem”. (Teberosky,1996,72)

Dar vida a uma aula cooperativa é permitir que as crianças

construam o sentido de sua atividade escolar.

Em meio a tantas propostas para auxiliar a construção das

competências, a fim de que se formem melhores leitores e escritores,

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fica a pergunta: “Onde fica o espaço escolar nisso tudo? Ele está

preparado para esse processo? Há de se fazer algumas

considerações a respeito. A escola deve intervir para essa formação.

Teberosky(1996) reúne alguns itens que ajudariam os trabalhos dos

docentes e as crianças nesse aspecto: a) criação de espaços de

publicação para produções de poesia, de canções, dando função

social aos escritos, bem como o estímulo aos recitais de poemas e à

criação de condições formais para esse ato; b) criar espaços para

condições das produções a serem promovidas, como um determinado

espaço na sala, um tablado, uma plataforma, que permita ao autor

fazer-se ver e ser escutado pelo público; c) aproveitar mudanças no

calendário para promover audições de provérbios, festivais, recitais e

outros; d) um espaço reservado para sessões de áudio ou vídeo e um

lugar de publicação dos escritos da comunidade escolar. Gloria

Inostroza acredita que essa ambientação valoriza e estimula a

criatividade, sendo válidas as propostas de implementação de um

periódico escolar, estabelecendo brincadeiras, mostrando as

publicações de desenhos e trovas e deixando o ambiente da biblioteca

sempre atrativa, com uma disposição que permita à criança manusear

os livros, estar a par das novidades e a criação de um espaço de

biblioteca na própria sala de aula. Outra criação importante na escola

é a de um lugar para o correio, onde a correspondência da escola é

colocada, reforçando a comunicabilidade entre os componentes dessa

comunidade. Os projetos desenvolvidos pela escola, bem como seus

passos, também devem estar sempre visíveis e os respectivos

registros desses passos. A autora também reforça que é importante

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que exista um lugar que facilite o trabalho das crianças, no qual exista

uma gama de materiais para a criação: cola, tesoura, canetas, papel,

lápis, clipes e outros. Sintetizando, entendemos que a criação está

intimamente ligada ao objetivo da criação do ambiente escolar. Gloria

(1998 ) também reivindica que as escolas precisam apoiar a formação

de hábitos, com a criação de quadros informativos, e calendários. O

incentivo ao valor estético também não pode ser negligenciado, sendo

premente um espaço de arte. É fundamental que, aliado ao trabalho

com tipologia de texto, à pedagogia de projetos e ao novo olhar para

estimular a formação de leitores e escritores, se reconheça à função

social da sala, da escola como um todo como responsável em dar

sentido aos diversos tipos de texto pelos quais se consolida a

comunicação. A decoração da sala e sua “textualização”, como diz

Gloria (1998), assumem papel importante na construção desse leitor e

escritor mais autônomo. Isso significa que o espaço escolar deve ser

destinado à promoção e publicação do texto, daí a importância de se

“enfeitar” a sala de aula com publicações de textos das crianças ou

daqueles que a elas fazem algum sentido, tem uma funcionalidade.

A maior parte da vida escolar se passa na sala de aula. Não

seria possível deixá-la sem as devidas adaptações para a recepção

desse aluno apto a estabelecer contatos com seu meio, no

desenvolvimento de projetos e novas propostas pedagógicas, para

sua melhor formação. A sala de aula reveste-se com a grande

importância dos elementos pedagógicos de que dispõem e que nela

existem e de quais formas se organizam, com o objetivo de alcançar

um maior sentido pedagógico com essa ambientação.

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2.9 –Os Textos Produzidos na e Para a Escola

De acordo com os recentes estudos, os quais privilegiam

uma diferente abordagem para a construção da leitura e da escrita,

enveredando pelo campo da tipologia de texto, percebemos que tais

textos adotam uma função de comunicabilidade relevante em nosso

contexto social. Muitos desses textos se tornam conhecidos por serem

muito explorados nas práticas docentes e desencadeadores de

atividades de leitura e de produção textual. Kaufman (1995) e

Rodriguez (1995) abordam o tema pertinentemente, daí as

considerações e reflexões feitas nessa monografia. Conforme

afirmam, “ter contato com essa variedade de texto resulta de um maior

trabalho de desenvolvimento da competência da comunicabilidade”.

As autoras não trataram de textos intencionalmente elaborados para a

escola a serem empregados para fins didáticos sistemáticos: os livros

escolares os textos didáticos e afins. Muitos docentes defendem a

utilização desse material, alegando que esses já possuem as

atividades e as estruturas discursivas em diferentes níveis como

elemento facilitador para o aprendizado. Há uma polêmica equivocada

entre os partidários dos textos didáticos exclusivamente com os

partidários de textos exclusivamente autênticos. Com o passar do

tempo, essa polêmica ficou cada vez mais acirrada, sem se saber qual

o lado era o certo. As autoras acreditam que o problema se encerra

em se utilizar tão somente uma das duas partes. Concluem que o que

forma o leitor não é o texto elaborado apenas para fins escolares,

apenas criado para o cumprimento de um programa, mas a

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diversidade de obras e gêneros que sejam apresentadas às crianças

para uma multiplicidade de propósitos, sejam eles para entreter,

argumentar, informar, dentre outros. Isso não significa que se deve

abandonar os “textos escolares”, como elas denominam, mas sim,

dosar o seu uso, o qual pode ser até providencial em um determinado

momento, para atividades de produção e de compreensão. Kaufman

(1995) e Rodriguez (1995) declaram que a tarefa docente não é

somente selecionar os textos para as atividades dos alunos, mas sim

como utilizá-los.

Selecionar textos para atividades é uma das tarefas docentes

das mais difíceis, devido aos variados critérios a serem determinados.

A tarefa é complexa, pois cabe ao professor levar em conta seus

conceitos de funções do texto, de análise do discurso, da

compreensão leitora, do interesse do destinatário etc. Seu papel é de

mediador dos atos de leitura a existirem na sala de aula. Daí resulta a

escolha de materiais de leitura enquanto recursos didáticos.

Na escolha de textos escolares, há de se considerar também

vários critérios, levando em consideração a política educacional

vigente, às normas curriculares, aos enfoques pedagógicos, à

intencionalidade do texto etc. Veementemente, as autoras descartam

a possibilidade do uso de textos escolares que se prendem à

apresentação de letras “de forma progressiva e controlada”. Essa

alternativa didática é resultante de uma visão condutista da educação,

sem levar em conta os aspectos epistemológicos referentes à

aprendizagem. Textos como os utilizados em cartilhas tradicionais não

compactuam com a lógica, muito menos com as situações reais de

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ensino para uma aprendizagem significativa, encerrando seu objetivo

em meros decifradores de sonoridades extravagantes e sem sentido.

Da mesma forma que se pode fazer a mau uso dos textos

escolares, o mesmo pode acontecer com os textos de circulação,

desviando propósitos determinantes da educação, fazendo com que o

mesmo perca a funcionalidade e a intenção de comunicabilidade.

CAPÍTULO III – CONCLUSÃO

Podemos perceber que o assunto sobre como formar

crianças leitoras e escritoras está longe de ser esgotado. Há uma

multiplicidade de fatores a serem analisados, sob os mais diversos

aspectos, a fim de se pensar sobre as práticas adotadas e as que

poderemos adotar para que, assim, as crianças se encaminhem.

Também muito há ainda de ser pesquisado e experimentado no que

concerne à Pedagogia dos Projetos, à Tipologia de Textos, à mudança

de foco da situação de aprendizagem para o aluno, à transformação

da própria ambiência da escola e às expectativas para que isso tudo e

muito mais surta o efeito desejado.

As propostas apresentadas pelas autoras, indubitavelmente,

exigem muito mais da criança e do professor e maior atitude nesse

processo de construção, porém oferece a prazerosa vantagem de

formar leitores mais autônomos e conscientes de sua tarefa porque

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compreendem a importância daquilo que eles disseram ou

escreveram.

As Oficinas de Pesquisa Reflexiva propostas na obra da Profª

Gloria Inostroza de Celis (1998) constitui uma das possíveis respostas

à atualização do enfoque didático frente às mudanças de eixo do

processo que se pretende, bem como a busca de estratégias para a

reformulação das práticas para instrumentalizar essa formação.

O próprio título da monografia já assume um caráter amplo

de reflexão. Buscou-se também, nesse estudo, atingir os docentes das

mais diversas disciplinas e não somente da língua materna, bem como

os demais profissionais ligados à educação formal: supervisores,

orientadores e diretores. Enfim, a todos aqueles que acreditam que

Educação é libertar o ser para uma maior autoria de suas produções

orais e escritas.

O que se vê como resultado das pesquisas analisadas é uma

aula diferente: mesmo os assuntos que devem ser abordados ano

para ano, assumem novas abordagens, devido à pluralidade dos

alunos que interagem com o professor, seus pares e o meio para

construir seu próprio conhecimento, levando sempre a surpresas e

novos caminhos, desenvolvendo a criatividade e a iniciativa.

Sem dúvida, o texto presente não responderá todas as

perguntas sobre as propostas de se transformar as situações de

aprendizagem, levando à construção de crianças leitoras e produtoras

de texto. É importante que todas as considerações abordadas

continuem sendo pesquisadas, já que o processo de ensino-

aprendizagem está em constante mutação.

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Conclui-se, então, que a hipótese inicial da pesquisa sobre se

há maneiras mais efetivas de transformar as crianças em leitoras e

escritoras de qualidade a partir de uma perspectiva construtivista que

leve em consideração os saberes dos mesmos com outros e com o

meio, se confirma. Existem formas de como também transformar a

prática docente para melhor atender a criança nesse processo e de

como preparar o professor para todas essas mudanças. Percebe-se

que toda essa construção para um novo olhar ao processo de ensino-

aprendizagem é pluridimensional, pois aborda várias temáticas,

mexendo e transformando os pilares que sustentam a educação:

aluno, professor e conteúdo. Esse novo olhar privilegia também, como

podemos observar nos trabalhos desenvolvidos pela teóricas, a

questão da premência em se reformular a ambiência escolar e de se

respeitar a interação real do aluno com o meio, a fim de que existam

situações de aprendizagem para que as crianças possam ler

criticamente, não só textos, mas o mundo que as rodeia e que possam

produzir seus próprios textos, formando, então, o que se espera de

uma Educação voltada à transformação do sujeito: que a criança seja

autorizada a crescer, a alçar vôos mais altos, a levar em conta seus

saberes, a acreditar que sempre existirão outros, a respeitar o outro, a

se tornar mais autônomo, a se sentir preparado e disposto a lutar por

um mundo melhor.

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