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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” PROJETO A VEZ DO MESTRE A ARTETERAPIA COMO CANAL CATALIZADOR DA EXPRESSÃO DE RAIVA Por: Sandra Cristina Aceti da Costa Moura Orientadora Profª. Ms. Fátima Alves Rio de Janeiro 2012

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

A ARTETERAPIA COMO CANAL CATALIZADOR

DA EXPRESSÃO DE RAIVA

Por: Sandra Cristina Aceti da Costa Moura

Orientadora

Profª. Ms. Fátima Alves

Rio de Janeiro

2012

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSO

PROJETO A VEZ DO MESTRE

A ARTETERAPIA COMO CANAL CATALIZADOR

DA EXPRESSÃO DE RAIVA

Apresentação de monografia à Universidade Candido Mendes o

condição prévia para a conclusão do Curso de Pós-Graduação “Lato Sensu”

em Docência do Ensino Superior.

Por: Sandra Cristina Aceti da Costa Moura

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AGRADECIMENTOS

A Deus por permitir a conclusão do meu curso, aos meus

professores e colegas com os quais compartilhei e convivi esta estrada e por

fim a minha orientadora que por traz dos bastidores, contribuiu para o termino

deste trabalho.

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DEDICATÓRIA

A Deus acima de tudo, a meus avós e

pais pelos ensinamentos, e as minhas filhas pela

paciência e compreensão das minhas limitações.

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RESUMO

Este trabalho tem como objetivo conceituar e identificar a

expressão de raiva, com intuito de levar o indivíduo a tomar consciência,

elaborar novos valores, bem como aprender a se relacionar com a referida

força, através de processos arteterapêuticos, com uma abordagem junguiana,

visando encaminhamento do sujeito a construção e reflexão de imagens

significantes do seu universo e, consequentemente, dos seus conflitos

subjetivos. Para Jung as imagens e os símbolos concebidos do reino

inconsciente, pessoal ou coletivo podem ser representados na arte através de

desenhos, pinturas, esculturas, literaturas, poesias, danças, músicas, bem

como em diversas outras modalidades de expressões criativas. O uso de

materiais plásticos através de técnicas e vivências específicas tem o objetivo

de catalisar a expressão da raiva transformando-a num potencial criativo,

auxiliando no desenvolvimento do ser humano.

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METODOLOGIA

A metodologia utilizada para este trabalho deriva de uma ampla

pesquisa bibliográfica, em livros, artigos científicos, teses, revistas e jornais,

sempre buscando autores com notável saber cientifico que serviu de base para

a confecção desta monografia.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 08

CAPÍTULO I – EXPRESSÃO DE RAIVA 11

CAPÍTULO II – A ARTETERAPIA 17

CAPITULO III – A ARTETERAPIA NAS INTERVENÇÕES

TERAPEUTICAS 26

CAPITULO IV - TÉCNICAS – LINGUAGENS PLÁSTICAS E

EXPRESSIVAS 31

CONCLUSÃO 42

BIBIOGRAFIA CONSULTADA 44

FOLHA DE AVALIAÇÃO 47

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INTRODUÇÃO

"Só aquilo que somos realmente tem o verdadeiro poder de curar-nos."

C.G.Jung

A raiva é uma emoção normal de protesto, insegurança e frustração

voltado a uma pessoa ou a alguma coisa no momento em que o ser humano se

sente ameaçado. Quando bem canalizada é uma excelente energia para

impedir injustiças, defender seus direitos sendo uma forte aliada que salva e

protege. Entretanto, quando mal canalizada pode ser altamente destrutiva

fazendo com que o indivíduo tenha explosões intempestivas, manifestadas

através de atos violentos tanto verbais como físicos.

O trabalho arteterápico com abordagem junguiana visa levar o

sujeito à elaboração de imagens significantes do seu universo, e

consequentemente, dos seus conflitos subjetivos. Quando se trabalha a

expressão de raiva, os materiais utilizados para este fim deverão ser

específicos e uma vez iniciado o processo, o terapeuta, necessita estar

presente acompanhando a elaboração do mesmo. Portanto o profissional que

irá conduzir um trabalho arteterapêutico tem que conhecer perfeitamente as

ferramentas que irá utilizar tais como: materiais plásticos, instrumentos e

suportes a fim de colocar o paciente numa posição confortável na sua

utilização e elaboração dos trabalhos solicitados.

A raiva foi encarada ao longo dos anos como uma emoção

negativa, feia, e que não deveria ser demonstrada. Esta tremenda força, por

não ter sido trabalhada acabou ficando abandonada, fazendo com que muitas

pessoas tenham dificuldade e até mesmo incapacidade de gerenciá-la. O

processo arteperapêutico se instala gradativamente através de vivências e

técnicas com o intuito de trabalhar novos caminhos e novos olhares levando

com que o paciente consciente ou inconscientemente acabe por elaborar

respostas tanto para as dificuldades que surgem na preparação do trabalho

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como para as dificuldades em se relacionar com a referida emoção, acabando

transmutando a expressão de raiva num potencial criativo.

Quando o ser humano conhece as suas potencialidades torna-se

mais centrado, o mundo se torna mais colorido e menos provocador. Com o

auxilio das técnicas em Arteterapia, o paciente vivenciará como não ser mais

escravo de suas emoções.

O trabalho arteterapêutico com abordagem junguiana implica em

propiciar ao ser humano, novas formas de lidar com a emoção de raiva,

analisando, amplificando e auxiliando, dessa forma, o desenvolvimento integral

do ser.

A contribuição de Jung fundamenta-se na atividade do consciente,

através da utilização dos três verbos. Deixar acontecer na elaboração do

trabalho expressivo, considerar/engravidar, momento em que se admite a

criação, tirando suas conclusões e por último, confrontar-se com, admitindo e

reconhecendo o inconsciente como força autônoma com a qual o indivíduo

precisa entender-se.

A arteterapia é um forte coadjuvante no tratamento das emoções,

no caso em análise, a expressão da raiva, através do uso de materiais

expressivos e de técnicas e vivências que venham a auxiliar no

autoconhecimento a fim de que, cada vez mais, se possa restaurar a nossa

unidade primeira.

As técnicas arterapêuticas levam o individuo a reconhecer e

administrar a emoção da raiva em lugar de expressá-las, de forma agressiva,

bloqueá-las ou reprimi-las.

No primeiro capítulo será desenvolvido tema pertinente a

Expressão de Raiva, conceito, historicidade, maneiras de lidar com a referida

emoção, formas distorcidas, raiva contida, conseqüências e as doenças

causadas pelas formas inapropriadas de lidar com esta emoção.

O segundo capítulo o tema Arteterapia será abordado de diversas

formas, tanto no que diz respeito às dimensões antropológicas das expressões

imagéticas; da subjetividade do fazer artístico, no domínio de técnicas e dos

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materiais utilizados, do papel do arteterapeuta na condução dos processos

terapêuticos entre outros.

Com relação ao terceiro capítulo, serão enfocadas as formas de

como a arteterapia pode ter um papel importante nas intervenções

terapêuticas, tais como: Na psicologia, pedagogia, psiquiatria entre outras.

No quarto capítulo serão catalogadas e demonstradas as diversas

técnicas para elaboração e reconhecimento da raiva, através de linguagens

plásticas e expressivas bem como a maneira de lidar com referida emoção e

transformação da mesma em processo criativo.

Na conclusão será evidenciada a eficácia das vivências e técnicas

com o objetivo de possibilitar a canalização desta força, capacidade a cada ser

humano identificar, trabalhar e transmutar a expressão de raiva.

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CAPÍTULO I

EXPRESSÃO DE RAIVA

“Ficar com raiva é fácil. Mas ficar com raiva com a

pessoa certa, no momento certo, pela razão certa, do jeito

certo – isso não é nada fácil.”

Aristóteles

1.1 . Conceito e historicidade

Trata-se de uma emoção que sempre esteve presente no mundo,

pois tanto os homens quanto animais necessitam desta força para sobreviver.

O ato de se alimentar é uma ação nitidamente agressiva, onde se torna

necessário o destruir para se nutrir, a própria mastigação é por si só uma força

agressiva. Desde as mais remotas épocas, já se ouvia falar da expressão de

raiva. Ela foi muito narrada na mitologia grega. Muitos contos relatam a ira dos

deuses enfurecidos e vingativos. Na Bíblia também há varias passagens que

abordam o tema, desde a raiva de Caim contra Abel (Gn. 4.1-10), a ira de Deus

contra os homens, com relação ao pecado, entre outros.

Esta emoção, apesar de inerente à vida, precisa ser trabalhada,

canalizada e equilibrada para que se torne uma força poderosa a favor do

indivíduo. É através desta expressão que podemos nos tornar mais criativos e

preparados para o mundo. O desvio intencional desta força para áreas criativas

faz com que desperte o potencial de elaboração mais elevado e, desta forma,

inspirações criativas consigam fluir de maneira espontânea.

O ser humano já nasce com a capacidade de sentir raiva. Quando

ela aflora não se pode culpar ninguém pelo ocorrido, pois ela já estava em nós,

apenas circunstâncias externas contribuíram para detonar o gatilho e trazê-la à

tona. Portanto, é de fundamental importância o reconhecimento do seu

surgimento, bem como da forma como ela se expressa.

No corpo, de acordo com várias pesquisas cientificas, a raiva tem

origem no Sistema nervoso Central (SNC). A topografia e a anatomia da

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agressividade se encontram no sistema límbico. De acordo com descobertas

científicas, a localização de cada emoção se dá em determinadas áreas e

região.

A origem biológica neural da raiva e do medo é a mesma – a amígdala – porém, o efeito é diferente, o medo aumenta a atenção; a raiva a reduz e leva a pessoa a focalizar somente o seu sentimento de direito ofendido. (Lipp, 2005, p.29)

1.2. Maneiras de lidar com a raiva e as diversas formas de

expressá-las

Uma das bases do pensamento humano é o livro. A Ética a

Nicômaco, entre outras lições, contém texto relacionado à forma de lidar com a

emoção de raiva, a preocupação sempre presente de Aristóteles no que diz

respeito ao meio-termo, posição intermediária entre escassez e excesso, em

um dos trechos descreve:

Com respeito à cólera também há excesso, falta e meio-termo. Embora praticamente não tenham nomes, visto que chamamos calmo o homem que está na situação intermediária, chamemos calmo o meio-termo; quanto aos que se encontram nos extremos, chamemos irascível o que se excede e irascibilidade o seu vício: e chamemos apáticos ao que fica aquém da justa medida, e sua deficiência de apatia. (Aristóteles, 2011, p. 47)

No que diz respeito ao modo de se relacionar com a raiva, será

sempre aprendendo a lidar com ela, exercitando-a, tal qual acontece com as

artes, como dizia ARISTÓTELES (2011, p. 36 e 37) “(...) tornamo-nos justos

praticando atos justos, moderados agindo moderadamente, e igualmente com a

coragem, etc.”

As crianças demonstram suas expressões de raiva desde muito

cedo através de gritos, chutes, bater de portas etc. Infelizmente, quando isto

acontece, logo vem a censura dos pais e as mesmas são ensinadas a

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esconder a emoção, quando na verdade deveriam ser orientadas a expressar

esta emoção de forma mais saudável e adequada. Desta forma, crescem

distorcendo o significado da emoção, usando de vários subterfúgios para

camuflar e até mesmo ignorar a raiva, numa tentativa quase sempre infrutífera

de esconder a emoção, o que acaba por trazer resultados catastróficos.

A expressão de raiva nem sempre se dá em nível de

comunicação, ela também atua de modo não-verbal através da linguagem

corporal, timbre de voz, expressão facial, espaço pessoal - Aqui temos como

exemplo o fato de manter uma distância relativamente pequena entre duas

pessoas, o que pode evidenciar raiva ou afeição e, através de atos explícitos,

tais como o fato de chorar, que nem sempre significa tristeza, podendo ser

significação de alegria, raiva, etc..

A Inteligência emocional consiste em reconhecer a emoção

interna acolhendo-a, entretanto, sem permitir que a mesma possa ser exercida

de forma descontrolada. A ninguém é dado o direito de agir com violência. Por

outro lado não se pode negar a sua existência. Quando o sentimento de raiva

aflora diante de uma situação injusta, ele deve ser canalizado, do melhor modo

possível, a fim de que a expressão raivosa seja escoada e exercida de maneira

apropriada e equilibrada.

1.3. Algumas formas distorcidas de raiva

Segundo Merge Piercy (apud LEONARD LINDA S. 2003, p.. 276):

“A raiva turbilhona entre mim e as coisas,

transfigurando, transfigurando.

Uma boa raiva posta para fora é bela como um raio é cheia de poder.

Uma boa raiva engolida, Uma boa raiva engolida

talha o sangue”.

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1.3.1. Raiva reprimida

Deriva de um condicionamento E, por agir de forma inconsciente,

talvez seja uma das formas mais prejudiciais de raiva. O paciente se vê como

uma pessoa “boazinha”, enquanto que, por outro lado suas toxinas se

espalham. É comum ouvir deste paciente “... eu nunca tive raiva!” Outra

maneira de reprimir a raiva é quando indivíduo, de forma consciente, sabe que

está com raiva, porém, decide não agir, alegando que tem capacidade de

driblar raiva, através de algumas manobras, tais como: tomando um banho frio,

uma boa academia, um remédio para relaxar de manhã e outro a noite, o que

faria a raiva passar.

1.3.2. Raiva adiada

De forma consciente ou inconsciente, o paciente reprime a

expressão de raiva, achando que com o tempo ela irá passar. Ledo engano,

cada vez mais ela terá maior dificuldade de se relacionar com a referida

emoção, devido à quantidade de toxina que já foi produzida e, talvez, já esteja

doente. É de senso comum que a raiva é uma emoção egoísta e destrutiva e

que não se deve demonstrá-la. Entretanto, em algumas passagens da Bíblia

Jesus usou a expressão de raiva e sua justa indignação. “Mesmo em cólera,

não pequeis. Não se ponha o sol sobre o vosso ressentimento.” Ef. 4:26

Nesta passagem Jesus quer nos ensinar a lidar com a raiva, em

tempo hábil e de forma correta.

1.3.3. Raiva congelada

O congelamento da raiva é muito lesivo ao indivíduo. Ao abafar e

amortecer as expressões raivosas, inevitavelmente, congela-se também, toda

sensibilidade e todo o potencial criativo do ser humano e, com isso, toda

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possibilidade de sentir as emoções. Pode ser considerado como diz DR.

THEODORE I. RUBIN (2005, pag. 35) “... pode ser considerado como a

dimensão total da patologia emocional ou da neurose de um ser humano.”

1.3.4. Raiva Crônica

Os indivíduos dominados pela raiva são capazes de agir com

grande violência. Ninguém nasce com raiva crônica, pois o padrão de

comportamento agressivo depende muito do ambiente onde a criança foi

criada. O abuso constante físico ou emocional, em uma criança, pode

desenvolver mecanismos de defesa que levem à raiva crônica.

O fato de se desenvolver a raiva crônica não faz do ser humano

mais forte nem mais seguro, pelo contrário, cria-se um circulo vicioso em que

quanto mais se age com raiva mais se engendra raiva.

1.4. Consequências

“Há um engano em achar, por não entrar em

contato com os próprios sentimentos, a vida se tornará melhor. Quando não expressamos nossos sentimentos por uma ou outra razão, nos tornamos uma metade que se dissocia da outra metade. Vivemos como se algo que nos pertence não fosse nosso. Ficamos desconectados de uma parte do nosso ser inteiro, que é o lado emocional. Vivemos uma cisão.” (CARRENHO, 2005, pag.42)

Dentro de nós existem sentimentos e emoções sepultados, que

clamam por existência e pelo direito de vir à luz. O desgaste e as

consequências advindas do esforço de mantê-los fora de do nosso alcance são

muito maiores e desastrosos do que a sua integração. Quando se bloqueia

emoção, o fluxo de energia fica estagnado no corpo. A repressão interna causa

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desequilíbrio da harmonia, nos níveis físico, mental e espiritual. Estes

acúmulos de energia podem causar uma pressão nos órgãos internos, que

consequentemente trarão doenças.

Entre as doenças associadas à raiva MARILDA EMMANUEL

NOVAES LIPP (2005, Pag. 17) descreve: ”... desenvolvimento da hipertensão,

as doenças coronarianas, de ulceras e da morte prematura”.

A ansiedade, a depressão a obesidade a culpa, a insônia, entre

outras, também são doenças que podem estar relacionadas à má

administração da raiva.

Outras conseqüências desastrosas se dão a nível familiar:

divórcios, desentendimentos entre pais e filhos, traumas familiares etc. Há

também conflitos no trabalho, com a perda de emprego, bem como nas

amizades, etc., ou seja, a não aprendizagem de uma forma pacífica de lidar

com a expressão de raiva pode acarretar males irremediáveis.

Através da liberação destas emoções estaremos dando vazão a

todo nosso potencial criativo e consequentemente à unificação do ser.

1.5. Do Perdão

Não há como falar em raiva sem falar no perdão. O perdão é a

forma de esquecimento absoluto e incondicional a qualquer acontecimento

injusto que tenha causado danos físicos ou emocionais ao ofendido.

Entretanto, este perdão não esta associado à restauração do relacionamento,

tendo em vista que muitas vezes se torna impossível o status quo.

Dar o perdão desobriga não somente o ofensor, mais também o

ofendido que se libera da raiva e da opressão da vingança. O perdão tem a

capacidade de restabelecer os indivíduos deixando-os livres para seguirem

suas vidas.

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CAPÍTULO II

ARTETERAPIA

O pensamento simbólico não é a área exclusiva da criança, do poeta ou do desequilibrado: ela é consubstancial ao ser humano, precede a linguagem e a razão discursiva. O símbolo revela certos aspectos da realidade – os mais profundos – que desafiam qualquer outro meio de conhecimento. As imagens, os símbolos e os mitos não são criações irresponsáveis da psique; elas respondem a uma necessidade e preenchem uma função: revelar as mais secretas modalidades do ser. Por isso, o seu estudo nos permite melhor conhecer o homem, o homem simplesmente, aquele que ainda não se compôs com as condições da história. (URRUTIGARAY, apud. ELIADE, 1991, p.8,9)

2.1. Dimensões antropológicas das expressões imagéticas

O homem desde as épocas mais primitivas tem a necessidade de

se expressar de maneira imagética, sendo este fato claramente confirmado nas

diversas imagens deixadas nos sítios arqueológicos. Temos como exemplo as

mãos em negativo deixadas nas rochas e os animais pintados nos interiores de

cavernas.

Imagens significativas são encontradas em diversos sítios, em

especial em Lascaux na França e em Altamira na Espanha.

Acredita-se, através de descobertas recentes, que a arte de se

expressar através de imagens viria do período paleolítico, ou seja, há mais de

vinte e cinco mil anos.

Com relação à arte primitiva Fayga Ostrower descreve:

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“Parece existir outras finalidades nesses desenhos. Além

da magia da caça, é a magia da propriação, da conciliação. Pelas

imagens, os homens pedem perdão aos animais por terem que matá-

los. Os desenhos podem ser ligados a ritos para expiação de culpa.

Também pode haver a intenção de se precaverem contra a vingança do

animal, apaziguando seu espírito. Por mais que, aqui a interpretação

do conteúdo de cada cena particular deva permanecer ao nível de

conjeturas, não há como ignorar, nas imagens, os sentimentos afetivos

assim como os atributos de majestade e dignidade com que os artistas

caracterizaram a figura de cada animal.” (1983 p. 308)

O caçador paleolítico acreditava que a imagens reproduzidas nas

rochas e nas cavernas adquiriam poder sobre eles e desta forma elaboravam

imagens significativas que lhe permitissem sair para caçar e ter êxito em suas

investidas. Desta forma, na concepção do homem primitivo, as forças da

natureza eram abrandadas e controladas, fazendo com que os símbolos

cunhados tanto em pedras como em cavernas tivessem um significado

sobrenatural e fossem dotados de poderes mágicos.

Capelier (1980) resume a condição humana em três premissas:

O homem é este ser que se faz imagem, o homem é este ser que se faz das imagens, o homem é este ser que faz as imagens. CAPELIER, Apud PAIN (1996, p.10)

As imagens são criadas pelo homem, que as reconhecem e lhes

atribuem sentido. Razão pela qual se torna possível reconstruir sua historia de

vida, dando uma nova resignificação a essas imagens e cuja elaboração tem o

caráter totalmente regenerador.

O trabalho arteterapêutico tem por finalidade ligar a energia do

inconsciente a um arquétipo e com isto, abrir um canal a nível não verbal de

percepção que conduz o paciente ao processo de individuação. Conforme Jung

(...) tornar consciente as imagens que residem por detrás das emoções. (1963,

p.158)

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Segundo Wolff (2005) a imagem ignora o conceito, mostra

afirmando, a imagem é incapaz de negar... O único modo gramatical da

imagem é o indicativo A imagem ignora as nuances do subjetivo ou do

condicional. E o único tempo o presente.

2.2. A subjetividade do fazer artístico

“Em arte não existe “deve-se”. A arte é eternamente livre. A arte foge diante dos imperativos como o dia da noite.” (Kandinsky, 1998, p.81)

É através do estilo individual, das experiências e vivências

pessoais, junto das projeções do inconsciente, que o fazer artístico torna-se

possível. A arte se constrói a partir de sua originalidade.

Para dar uma significação subjetiva a um trabalho artístico, torna-

se imprescindível saber o momento e o local em que em que o mesmo tenha

sido realizado, bem como é imprescindível a história de vida da pessoa quando

da elaboração da obra. As imagens são dinâmicas e sua estruturação e

configuração estão em constantes transformações, face às tensões da energia

psíquica.

Segundo Jung as expressões plásticas são projeções do

inconsciente, seria um espelho da alma.

Para mim, a verdadeira terapia começa somente após examinarmos a história pessoal do paciente. Esta representa o segredo que o desesperou, ao mesmo tempo que encerra a chave de seu tratamento. É indispensável que o médico possa descobri-la, propondo perguntas que digam respeito ao homem e sua totalidade e não limitar-se apenas aos sintomas. (JUNG, apud GRINBERG, 2003, p.15)

No entender de Kandinsky cada arte possui sua força própria e ao

se aprofundar, fecha-se em si mesma e separe-se.

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Quem quer que mergulhe e nas profundezas de sua arte, em busca de tesouros invisíveis, trabalha para erguer essa pirâmide espiritual e chegar ao céu. (Kandinsky, 1998, p. 59)

Sendo assim, o processo arteterapeutico visa levar o paciente a

interagir com seus conteúdos inconscientes sem, entretanto, se distanciar da

realidade externa. Com isto o paciente elabora e reestrutura a sua realidade

interna, processo este que já o fazia de forma caótica na primeira infância.

Por volta de três ou quatro anos a criança já começa a elaborar

garatujas, ou seja, traços e rabiscos, de forma circular, elíptica, em forma de

oito e até mesmo de forma labiríntica, que aparentemente não tem nenhum

significado.

Através dos desenhos primários da criança, ocorre a

demonstração da sua necessidade interna de estruturação, que ainda não

estaria totalmente desenvolvida, mas que já possui uma organização, apesar

de que incipiente. No entendimento da escritora MARIA HELENA LISBOA DA

CUNHA (1998 pág. 30) “Haveria uma certa ordem no caos.”

Para que a arteterapia propicie a cura do ser é necessário que os

processos criativos se dêem a nível não verbal, onde formas, cores,

criatividade movimento e ritmo se coloquem a serviço do fazer criativo,

possibilitando o sujeito trazer a tona imagens simbólicas do inconsciente.

Desta forma, as imagens seriam assimiladas e confrontadas pela consciência,

ativando e estruturando o seu próprio desenvolvimento.

2.3. Domínios da técnica

A arteterapia possibilita ao indivíduo entrar em contato com

conteúdos internos, através de expressões imagéticas. As linguagens mais

afinadas à natureza de experiências internas do indivíduo vão poder ser

canalizadas e conteúdos internos, ainda não traduzidos por palavras passam a

ser transmitidos através das linguagens plásticas, poéticas, musicais, etc.

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Os referidos conteúdos, que ainda não haviam sido expressados,

como no caso da emoção a raiva, passam a ter maior possibilidade de ser

significada e posteriormente ter a sua ressignificação, retirando assim o caráter

nebuloso, que jazia até então.

O mundo psíquico é um mundo de sensações e percepções, que

congregam simultaneamente o sentido de visão, os pensamentos, as fantasias

e os sonhos. À medida que a expressão da raiva seja processada, através da

elaboração de desenhos, trabalhos com argila, pinturas, esculturas, entre

outros, a drenagem da expressão de raiva comece a fluir o comportamento

violento, gradativamente, começa a diminuir.

Este processo pode se produzido, a princípio, a nível não

consciente, entretanto, à medida que o paciente comece a dialogar com as

imagens produzidas, este processo vai se tornando cada vez mais consciente.

Muitas vezes o paciente encontra certa dificuldade e até mesmo

certa resistência na elaboração de um processo criativo, com auxilio do

arteterapeuta ele acabará por encontrar novas saídas que o levará a finalizar,

com êxito, o seu intento. Da mesma forma aprenderá por analogia a encontrar

saídas a respostas a conflitos internos, geradores de tanta dor e frustração que

o levaram a sentir tanta raiva.. Elaborando estas imagens internas, conclui por

escolher agir de forma menos nociva e que por sua vez não lhe cause tanta

dor.

Como descreve Winnicott:

Um dos objetivos na construção da personalidade é tornar o indivíduo capaz de drenar cada vez mais o instintual. Isso envolve a capacidade crescente para reconhecer a própria crueldade e avidez, que então, e só então, podem ser dominadas e convertidas em atividade sublimada. (2005, p.102)

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Através de processos criativos e posterior reflexão sobre os

trabalhos artísticos executados, o paciente poderá ampliar o seu conhecimento

sobre si mesmo e consequentemente sobre os outros. Passará a encarar os

demais não mais como competidores mais sim como mais um ser no mundo,

passível de alegrias e tristezas como ele próprio. Consequentemente, sua auto-

estima irá aumentar levando-o a lidar melhor com suas experiências

traumáticas conduzindo o paciente a um maior desenvolvendo e uma melhor

capacidade cognitiva e emocional.

2.4. Do material utilizado

No entender da psicóloga e Professora Maria Cristina Urrutigaray,

os materiais tridimensionais são ricos para revelação de experiências

interiores.

Etimologicamente a ação de esculpir significa entalhar, cortar, gravar. Fato que remete à discussão de ser uma ato pelo qual são estampados, impressos sentimentos fortes, como os de raiva, por exemplo, que encontram um campo de manifestação de sua emergia, ou campo de tensão, quando estão associados ao material a ser usado. (2011, pag. 67)

Dentre os matérias que possam ser empregados para este fim, temos

as massas de modelar industrializadas, uma atividade basicamente sensorial, além de

estruturar e organiza a desordem quando da realizados dos trabalhos. Este material

exercita a musculação das mãos levando, gradativamente, ao relaxamento. É um

material indicado para utilização com pessoas rígidas

A massa de modelar produz uma troca de energia entre as mãos e a

massa alternando sensações de quente e frio o que leva o paciente elaborar novas

possibilidades de saídas e novos caminhos. Este material ajuda a ampliar percepções,

bem como possibilita a troca de energia acumulada pelas tensões.

A argila é um material que propicia inúmeras possibilidades criativas

Através dos trabalhos elaborados com a argila os sentimentos e emoções são trazidos

a tona para que possa ser trabalhado e elaborado. .

A argila está ligada a nosso universo quotidiano.

Ela é símbolo de nascimento, de vida, de morte. Por isso, nossos afetos nela se projetam muito mais espontaneamente

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que em qualquer outro material modelável tal como os materiais sintéticos. Precisamente porque a argila é um suporte a nosso afetos, é interessante analisar as diferentes atividades suscetíveis de se desenvolverem frente a ela, assim como os diferentes modos de aproximação que se pode propor em um ateliê terapêutico. (Pain,1996, p.106)

Muitos arteterapeuta consideram a argila um material que rompe

com armaduras e resistências que impede o processo terapêutico. A rigidez

que é facilmente encontrada nos pacientes quando chegam aos ateliês

terapêuticos são abrandadas, as onipotências são abatidas surgindo no lugar a

aceitação e o silencio interior.

Por todas as qualidades acima citadas, além do fato da

historicidade e qualidade da argila, não poderá jamais ser comparada a massa

de modelar que é um material também muito utilizado em arteterapia, porem,

com outro valor terapêutico. Mais empregado por crianças ou mesmo pessoas

com alguma dificuldade ou impossibilidade para manuseio com a argila.

Como relação à utilização dos materiais secos o mais empregado

para o escoamento da expressão de raiva é o giz de cera. Através dos efeitos

de graduação de cor, elaborada pela força utilizada sobre o suporte faz com

que conflitos internos venham a tona surgindo uma nova possibilidade de

elaboração do trabalho e com isto uma nova visão de mundo, portando

provocando transformações significativas.

A quantidade de materiais utilizados para da elaboração do

processo arteterapeutico e imensa, temos com exemplo, a pedra sabão, a

colagem, o papel marche a tinta entre outros. Entretanto a utilização dos

mesmos fica a cargo do arteterapeuta que irá escolher o mais adequado às

necessidades arteterapicas do paciente.

2.5. Do papel do arteterapeuta na condução dos processos

terapêuticos

O Arteterapeuta tem um papel de fomentador de todo o trabalho

arteterápico do paciente. É ele que irá acompanhá-lo, estimulá-lo a criar,

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elaborar e levá-lo a conclusão do trabalho. É imprescindível que o

arteterapeuta tenha um conhecimento do uso e das técnicas que se faz

necessário, caso contrário, a orientação dada ao paciente não terá eficácia.

A escolha do material deve estar relacionada à subjetividade de

cada caso. A técnica utilizada deve estar sempre voltada ao autoconhecimento.

O objetivo da arteterapia será sempre promover o bem estar e

desenvolvimento individual do paciente. A meta será sempre levar o paciente a

vislumbrar outras saídas, outras maneiras de ver e encarar o mundo para que

possa ele mesmo, resolver os seus conflitos subjacentes.

É muito importante salientar que o arteterapeuta não é um

psicólogo e como tal não pode agir. O arteterapeuta é um facilitador da criação

e elaboração dos trabalhos arteterápicos, que venham a promover o

autoconhecimento do paciente, podendo, entretanto, sutilmente oferecer ajuda

do tipo: “... você não acha que existe outra maneira de fazer esta atividade?” ou

ainda “... o que você consegue ver na imagem que você acabou de criar?

O arteterapeuta não esta capacitado a julgamento nem a análise

dos trabalhos executados pelos pacientes. A análise dos trabalhos deve vir do

próprio criador tendo em vista que só ele tem a chave do seu trabalho. Quando

um profissional analisa um trabalho poderá colocar projeções suas que não

teriam significação nenhuma com o paciente, atrapalhando o processo

terapêutico.

Segundo Siddartha Gautama, o Buddha Kalama Sutra (apud.

LACERDA,1997, p.73)

Não acrediteis numa coisa apenas por ouvir dizer. Não acrediteis na fé das tradições só porque foram transmitidas por longas gerações. Não acrediteis numa coisa só porque é dita e repetida por muita gente. Não acrediteis numa coisa só pelo testemunho de um sábio antigo. Não acrediteis numa coisa só porque as probabilidades a favorecem ou porque um longo hábito vos leva a tê-la por verdadeira. Não acrediteis no que imaginastes, pensando que um ser superior o revelou. Não acrediteis em coisa alguma apenas pela autoridade dos mais velhos ou dos vossos instrutores. Mas aquilo que por vós mesmos experimentastes,provastes e reconhecestes verdadeiro, aquilo que corresponde ao vosso

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bem e ao bem dos outros – isso deveis aceitar, e por isso moldar a vossa conduta.

O arteterapeuta intervém nos processos terapêuticos, acolhendo

o ser humano, utilizando os recursos da arte, do simbolismo e das metáforas.

Os sentimentos e as atitudes até então ignorados são promovidos pela

conscientização dos mesmos. Cabendo ao arteterapeuta apoiar e auxiliar

encontrar novos significados que possam transformar o individuo. O paciente

sai do estado de conforto que se encontrava até então e se depara com o si

mesmo vendo-se como um ser cheio de ilusões e de manias de perfeições tão

prejudicial a sua integridade psicológica e a sua criatividade, cabendo a ele a

mudança que o conduzirá como no dizer de Kandinsky ao céu.

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CAPITULO III

A ARTETERAPIA NAS INTERVENÇÕES

TERAPÊUTICAS

A arteterapia pode ser considerada uma forma de tratamento que

trabalha corpo e mente, tendo em vista a influência que exerce no indivíduo,

tanto nos sintomas fisiológicos como nos psicológicos. Desta maneira, pode ser

utilizada por profissionais de diversas áreas, que tenham como objetivo o

tratamento dos referidos sintomas. Tem também, a capacidade de levar os

pacientes a experimentar diversas técnicas criativas que os levam a despertar

emoções, que, ao serem reelaboradas, se transformam em emoções positivas.

Segundo a psicanálise, a agressividade representa um potencial

energético que estaria presente nos impulsos instintivos. Segundo Freud, este

potencial energético seria inato e capacitaria ao homem reagir ao meio

ambiente. Entretanto, esta energia, quando mal canalizada, se converteria em

violência e quando bem canalizada, através de processos de sublimação,

capacitaria ao homem um potencial criador.

Criar não representa um relaxamento ou um esvaziamento pessoal, nem uma substituição imaginativa da realidade; criar representa uma intensificação do viver, um vivenciar-se no fazer; e, em vez de substituir a realidade, é a realidade; é uma realidade nova que adquire dimensões novas pelo fato de nos articularmos, em nós e perante nos mesmos, em níveis de consciência mais elevados e mais complexos. Somos, nós, a realidade nova. Daí o sentimento do essencial e necessário no criar, o sentimento de um crescimento interior, em que nos ampliamos em nossa abertura para a vida. (Ostrower, 1994, p.28)

3.1. As intervenções terapêuticas na área da educação

A arteterapia estimula a criatividade da criança, fazendo com que ela

passe a confiar mais em si e na sua capacidade criadora. Com isto, começa a

deixar de lado as reproduções e passa a elaborar as suas próprias criações. A

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técnica, daí para frente, servirá de instrumento para elaboração de sua

imaginação criativa.

É um erro primário, de determinados profissionais da área da

educação, querer conduzir e direcionar o processo criativo, antes de estimular

a criança ao livre desenvolvimento de sua criação. Assim, acabam

condicionando a criança e bloqueando a sua capacidade criadora.

A educação criadora facilita o desenvolvimento da personalidade e

do caráter da criança. Quanto maior for a capacidade criadora, maior será a

variedade de formas de expressão e, em consequência, de superar as

inúmeras adversidades da vida.

A atividade criadora pode ser desenvolvida através de várias

técnicas, dentre elas: o desenho, os contos, a interpretação, a dramatização, a

escultura entre outros.

Os trabalhos arteterapêuticos têm a capacidade de mobilizar as

pulsões reprimidas das crianças e adolescentes problemáticos, facilitando uma

melhor adaptação ao meio. Neste contexto, como bem destaca Urrutigaray

(2011, p.44):

A aquisição da aprendizagem significativa, como atual preocupação psicopedagógica, encontra na aplicação da Arteterapia um excelente canal de intervenção para a minimização de problemas de aprendizado, ou de tratamento de dificuldades em aprender, assim como atua de modo preventivo nas possíveis questões de aquisição de conhecimento.

Desse modo, através da expressão criadora, a criança consegue

extravasar as tensões psíquicas, minimiza seus problemas de aprendizado,

tornando-se uma criança mais calma e mais centrada. Com isso, se torna mais

hábil para canalizar as expressões de raiva.

3.2. As intervenções terapêuticas na área da saúde

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Curar de vez em quando, ajudar quando possível, confortar e consolar sempre. Anônimo (apud FURTH, 2009, p.29)

Na área da saúde, várias são as possibilidades para a intervenção

arteterapêutica. Têm-se obtido bons resultados em doenças causadas por

diversas sintomatologias decorrentes de transtornos relacionados ao fluxo de

energias estagnadas.

No caso da canalização da expressão de raiva, a arteterapia é uma

forma de elaborar as energias estagnadas que acarretam tantas doenças. Ao

elaborá-las e resignificá-las, as energias que estavam encapsuladas por

conflitos internos são liberadas e voltam a fluir gradativamente. Além de

desobstruir os núcleos energéticos, transformam-se em uma força de proteção

positiva.

O fígado é um órgão harmonizante e sua harmonia deriva do equilíbrio adequado entre seus aspectos Yang (o fluxo do Qi do fígado) e Yin (Sangue e Yin). A irritação mental, proveniente do estresse emocional, agita o Yang do Fígado e prejudica o Yin do Fígado, alternando o equilíbrio. Raiva, ressentimento, inveja, frustração e ódio podem gerar Estagnação do Qi do Fígado, principalmente quando essas emoções não são exteriorizadas. Após um longo período a Estagnação do Qi pode dar origem à Estagnação do Sangue do Fígado, o que poderá causar depressão, oscilação severas de humor, irritabilidade intensa e em casos severos, psicose-maniaco-depressiva. (Lobosco, 2005, p.45)

Quanto o paciente se torna mais consciente e integrado da sombra,

menor será o poder destrutivo da mesma, fazendo com que a energia

armazenada por ela, que acarretam tantas doenças, seja liberada.

Quando se aprende a aceitar a sombra, bem como se deixa de

projetar nos outros aquilo que mais desprezamos em nós mesmos. Ocorre a

eliminação da fonte que geram as doenças.

Conforme SULZBERGER, 1979, p.128):

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Tudo isso desaparece no momento que se depara a própria fraqueza. O evento no nível do ser não é a sua raiva antes de ver. Não é sequer a sua vergonha, mera reação ao que viu. O verdadeiro evento é ver-se. Tudo o mais só existe no nível da psique, isto é, está sob o controle das associações de idéias, imagens do eu e do mundo, que pouco mais são do que fantasias, mas que capturaram toda a energia real de presença dentro do homem.

3.3. As intervenções terapêuticas na área da psiquiatria

Nise da Silveira foi a primeira a se utilizar da arteterapia no Brasil,

na época, com o nome de Terapia Ocupacional. Dentre as atividades

oferecidas, a pintura e a modelagem foram as que mais se destacaram. A

profissional logo constatou que o trabalho com a arte acessava o desconhecido

mundo do esquizofrênico.

A terapia ocupacional contribuiu de forma significativa para

mudanças profundas no pensamento e nas praticas psiquiátricas.

Assim, surge a Arteterapia como um referente transcendente às questões relativas ao desenvolvimento de habilidades, das finalidades artísticas, de instrumentos de diagnóstico e prognóstico. Revestida de um valor técnico, visa, por meio da mediação de instrumentos plásticos, à expressão ou à comunicação de representações como as fantasias e os sentimentos, possibilitando, assim, um espaço para a liberação de energias psíquicas, favorecendo a expressão posterior à criação estabelecida em palavras daquilo que antes não tinha nem nome ou identidade e nem sequer lugar ou espaço para manifestar-se. Tem como finalidade a atualização da imaginação transformadora, pela qual as imagens manifestam-se de forma ativa, conectando o sujeito com novas modalidades vivencias presentes nas imagens criadas. (URRUTIGARAY, 2011, p. 27)

Hoje em dia, muitas instituições psiquiátricas vêm adotando a

arteterapia como um meio que busca possibilitar a associação entre a

psicopatologia e a expressão criadora nos tratamentos que dizem respeito à

loucura.

. Através de gestos, cores e ritmos, o paciente pode vivenciar não

só o sofrimento, as frustrações, e as dores psíquicas, mas também, as

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expressões alegria, que são suas expressões e estilo único e subjetivo que

facilita a integração individual no dia-a-dia, e ainda torna-se mais consciente

das suas fragilidades e potencialidades.

A interpretação de conteúdos simbólicos, bem como as

expressões emergentes vindo a consciência sendo confrontadas por ela, faz

com que o paciente elabore e integre estes conteúdos e expressões com

situações e experiências vividas, possibilitando ao paciente manter o seu

equilíbrio de forma mais saudável.

Através da arteterapia é possível enriquecer a vida de doentes

psiquiátricos, de modo a poder utilizar da expressão criadora para exprimir

suas violentas emoções.

3.4. As intervenções terapêuticas em outras áreas de trabalho.

A cada dia que passa maior tem sido o reconhecimento da

arteterapia como um veículo capaz de transformar o indivíduo fazendo com que

o mesmo possa ser mais integrado, mais saudável, mais harmonizado e

equilibrado para a vida bem como na busca da sua cidadania.

A arte concebida como “substituto da vida”, a arte concebida como o meio de colocar o homem em estado de equilíbrio com o meio circundante – trata-se de uma idéia que contém o reconhecimento parcial da natureza da arte e da sua necessidade. Desde que um permanente equilíbrio entre o homem e o mundo que o circunda não pode ser previsto nem para a mais desenvolvida das sociedades, trata-se de uma idéia que sugere, também, que a arte não só é necessária e tem sido necessária, mas igualmente que a arte continuará sendo sempre necessária.(FISCHER, 1979, p.11)

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CAPÍTULO IV

DAS TÉCNICAS E DAS LINGUAGENS PLÁSTICAS E

EXPRESSIVAS

A obra traz em si a sua própria forma; tudo aquilo que ele gostaria de acrescentar, será recusado; e tudo aquilo que ele não gostaria de aceitar, lhe será imposto. Enquanto o seu consciente está perplexo e vazio diante do fenômeno, ele é inundado por uma torrente de pensamentos e imagens que jamais pensou em criar e que sua própria vontade jamais quis trazer à tona. Mesmo contra a sua vontade tem que reconhecer que nisso tudo é sempre o seu “si - mesmo” que fala, que é a sua natureza mais intima que se revela por si mesma enunciando abertamente aquilo que nunca teria coragem de falar. Ele apenas pode obedecer e seguir este impulso aparentemente estranho; sente que ele nada lhe pode impor. Ele não se identifica com a realização criadora; ele tem consciência de estar submetido à sua obra ou, pelo menos, ao lado, como uma segunda pessoa que tivesse encontrado na esfera de um querer estranho. (JUNG, 2009, p. 62)

As técnicas empregadas na elaboração dos trabalhos arteterápicos

muito se assemelham a análise dos sonhos. A utilização de desenhos, pinturas

e outras modalidades de arte, através da imaginação ativa, ou uma

combinação de uma destas formas de comunicação simbólica amplia a

autocompreensão. Ao dialogar com a imagem por meio da interpretação

analítica o paciente começa a reconhecer suas fragilidades, seus medos e

seus aspectos negativos.

Os insights levarão também a vislumbrar seus potenciais, até então

adormecidos, sua força e consequentemente chegar cada dia mais próximo do

seu verdadeiro eu.

O arteterapeuta terá que vivenciar as etapas que o paciente está

trilhando, a fim de que possa tranquilamente orientá-lo. Conforme Furth, (2009,

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p.49) nunca poderemos ir com os outros além do ponto onde já fomos

sozinhos.

4.1. As diversas etapas da elaboração do processo terapêutico

para conduzir o paciente à imaginação ativa.

A arteterapia é um procedimento terapêutico que se utiliza das

imagens e outras modalidades expressivas para representar e expressar os

níveis mais densos da psique, o arteterapeuta, para melhor conduzir os

trabalhos poderá elaborar diversas etapas até conclusão do processo.

Na primeira etapa, o arteterapeuta deve convidar o paciente a deixar

acontecer, ou seja, conduzir os trabalhos de forma a não intimidar ou até

mesmo constranger a pessoa que acaba de chegar e que necessita de

acolhimento. Desta forma, permitirá que o mesmo supere os primeiros

obstáculos e indecisões que muitas vezes a impedem de elaborar os trabalhos.

Ou até mesmo seguir em frente.

Neste momento, deve-se escolher a técnica que irá iniciar os

trabalhos. Poderá ser de forma espontânea, sem que o arteterapeuta interfira

em nada na utilização dos materiais, deixando a cargo do paciente elaborar o

que lhe venha a mente. Outra maneira de conduzir a terapia seria através de

um pedido direcionado, onde o arteterapeuta poderá solicitar uma determinada

tarefa com objetivos específicos.

Acredito que aqui dependerá muito do feeling do arteterapeuta,

que observará o melhor caminho a ser empregado em cada caso.

De qualquer forma, nesta fase o paciente estará convidando

estruturas do inconsciente a se manifestar para posterior diálogo.

Na segunda etapa o paciente experimentará o conceder

/engravidar, fase do trabalho propriamente dito. Nesta etapa, as imagens e

gestos começam a surgir. A esta altura deve-se abandonar ou já se abandonou

o controle, tornando-se impossível comandar o foco da imaginação. O trabalho

estará concluído quando mais nada lhe seja possível acrescentar.

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As imagens provenientes do inconsciente coletivo são arquetípicas e se manifestam nos sonhos e nas fantasias, no mito e na religião. Quando ela surge, somos “tocados” de alguma forma, como se soubéssemos que elas pertencem a nós, que são verdadeiras e que trazem um sentido que não podemos explicar. Compreender e admitir que os símbolos presentes nos desenhos podem vir da camada coletiva do inconsciente ajuda-nos a responder a questão especificas em relação às figuras e à sua interpretação. FURTH, (2009, p.31)

Na terceira e ultima etapa, haverá o confronto com a imagem onde

começará o diálogo com a mesma. É como se ela dissesse: “Olha para mim!

Eu estou aqui”. Desta forma energias que estavam estagnadas pelos

complexos são trazidas ao consciente, reconhecidas, elaboradas e

consequentemente voltam a fluir.

[...] não usar em si mesmo a violência simbólica, e nem permitir que outra pessoa faça isso em sue nome. Permita em vez disso, que o símbolo de cura surja sozinho em seus sonhos, sintomas e outras vivências espontâneas. Desse modo, poderá ter a certeza de que está usando a ferramenta para o trabalho – um símbolo que tem um significado para você. (LEMESURIER, 1988, p.56)

Quando o paciente traz à tona energias que o levaram a sentir tanta

raiva, como vergonha, frustração e dor, tem a possibilidade de dialogar com

estas imagens e, consequentemente, reelaborá-las e resignificá-las, fazendo

com que as referidas energias, que estavam estagnadas, voltem a circular,

com toda sua abundância.

Ao chegar a este ponto o paciente já tomou consciência das suas

projeções, bem como das ilusões que sentia em virtude do seu olhar falseado,

logo, a culpa e até mesmo a sensação de não pertencimento ao todo, em face

da recriminação da moral coletiva, se extingue e o paciente começa a perceber

que o “inimigo” que até então julgava existir no outro, está na verdade dentro

de si mesmo.

Neste momento, começa o tratamento através da reeducação do

modo de agir e pensar criado por Alfred Adler e posteriormente aceito por Jung

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e Freud. O que importa aqui não é a atitude do ego em relação à produção

inconsciente, como bem salienta Grinberg e sim o que se pode fazer ou até

mesmo deixar de fazer, com as fantasias e os pensamentos.

Jung vai tratar desta etapa com muita clareza:

A confissão ou catarse diz: “finalmente chegamos, tudo veio à tona, o último terror foi vivido, e de agora em diante tudo vai estar bem”. Com igual convicção, a elucidação afirma: “agora nós sabemos de onde provém a neurose, desenterramos as memórias mais antigas, e a transferência nada mais é que um desejo infantil de preencher a fantasia do paraíso perdido; abre-se a porta para uma vida sem ilusões”. Para completar, vem a educação alertando que isso tudo que foi aberto e descoberto só levará ao crescimento com treino acurado. Jung (apud Grinberg,2003, p. 198)

Ao estabelecer um diálogo, com as emoções de raiva, o paciente

começa uma reeducação. É um treino acurado, gradual, de maneira a elaborar

novas formas de agir e pensar para se relacionar com a expressão de raiva. Os

sentimentos e as emoções são incontroláveis, entretanto, as ações podem ser

moldadas para um melhor viver.

As dores e a frustrações que levam o paciente a sentir raiva podem

e devem ser expressas, de forma firme e calma, evitando danos aos demais.

Com uma reeducação terapêutica o paciente encontrará saídas

satisfatórias que não venham acarretar em novas culpas ou doenças.

Com apoio do arteterapeuta o paciente terá maior aptidão para

exercer o seu potencial criador, com isto desenvolvera a sua capacidade de se

comunicar, pois toda criação é uma forma de comunicação, logo, estará

elaborando e reorganizando o seu processo de pensamento.

4.2. Da organização como elemento facilitador

A arteterapia permite uma infinidade de possibilidades de

materiais e linguagens expressivas, que poderiam ser abordadas neste

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trabalho. Entretanto, o enfoque foi baseado, no reconhecimento, elaboração e

resignificação da expressão de raiva pelo paciente, utilizando-se de materiais

mais específicos, bem como, na organização pertinente a todo o

desenvolvimento do processo, evitando ao máximo, expressões de raiva

desnecessárias no desenvolvimento do trabalho.

A condução adequada dos trabalhos é um fator preponderante para

o sucesso do tratamento, pois, ao contrário pode ocasionar interpretações

distorcidas e errôneas, acarretando a desistência por parte do paciente, o que

poderia ser evitado se o processo tivesse sido mais bem conduzido.

É aconselhável que os materiais que serão utilizados na utilização

do processo criativo estejam sempre acompanhados do material de apoio e

que estes sejam de fácil acesso.

Na utilização das tintas os utensílios para a manipulação das

mesmas devem estar próximos, tais como, palheta, bandejas que podem ser

recicláveis como caixa de ovos, potinhos de yogurt.

Recipientes com água também se fazem necessários quando da

utilização das tintas a base d’água, bem como o diluente e solvente para

limpeza dos pincéis, no caso de tinta a óleo.

Os pinceis devem estar a disposição do paciente e deverão ser de

várias espécies, grandes ou pequenos com cerdas duras ou macias, facilitando

assim, a melhor escolha pelo material que melhor se adapte a sua

personalidade.

Com relação aos materiais secos: lápis, lápis de cera, giz pastel

seco ou oleoso, o carvão, hidrocor o lápis conté, etc., também deverão estar a

disposição do paciente para que possa fomentar a sua capacidade criativa.

Os suportes dependem do material utilizado pelo paciente,

podendo ser papéis mais absorventes, com maior gramatura para trabalhos

que exijam maior utilização de líquidos, tais como aquarelas e guache ou de

menor gramatura, tais como papel canson ou quarenta quilos, caso o paciente

prefira trabalhar com os materiais mais secos, tais como giz de cera, lápis

grafite, conté, etc..

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No caso de catarse, como a elaboração de trabalhos pode ser

intensa, o papel manilha ou até mesmo o papel jornal atendem bem a esta

prática.

Com relação aos trabalhos que venham a ser executados em

terceira dimensão, tais como a argila e a massa de modelar, outros cuidados

se tornam necessários. Será necessária uma base para execução da criação,

que poderá ser de madeira ou outro material que suporte bem o peso da peça

a ser executada, tendo em vista que muitas vezes o trabalho não é executado

em uma única sessão precisando ser transportado para outro local.

Ainda em relação à argila (um dos melhores materiais para lidar

com a canalização da expressão de raiva) é importante tomar alguns cuidados,

tais como, o armazenamento adequado do trabalho ainda não finalizado. Após

o término de cada sessão, deve ser colocado alguns panos velhos bem

umedecidos sobre o material, terminando com a sobreposição de um plástico,

evitando o ressecamento do trabalho ou até mesmo sua quebra, o que

ocasionaria uma imensa frustração ao paciente.

A argila pode ser trabalhada sozinha, com o manuseio das mãos,

estimulando um maior contato com o material e favorecendo a troca de energia

mencionada no capítulo II, bem como pode ser trabalhada com utilização de

materiais variados, tais como, diversos tipos de espátulas e fio de nylon para

cortar a argila, possibilitando a elaboração de maiores detalhes. No entanto

não é recomendável, no início do tratamento, o detalhamento da peça, uma

vez, que neste estágio, o paciente encontra-se em uma fase muito crítica sobre

o trabalho terapêutico que está sendo elaborado.

Com relação aos materiais utilizados na elaboração de colagem

torna-se necessário uma boa quantidade de revistas, tecidos e outros materiais

que contenham uma variedade de texturas, bem como: cola e tesoura. É

aconselhável também que se tenha um pano limpo para limpeza das mãos,

bem como forrar o local a ser trabalhado com plástico ou até mesmo jornal. .

Em contrapartida existem procedimentos que influenciam de

forma negativa no curso do trabalho, conforme mencionado por LIEBMANN,

(1994, p. -40):

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Um grupo de arte pode ser muito afetado pelo espaço disponível. Grupos obrigados a ocupar salas pequenas, escuras e apertadas, tem resultados limitados. O mesmo ocorre ao reunir grupos em sala que são passagens para outras, estando sujeitos a interrupções constantes. Ruídos de salas vizinhas falta de mesas adequadas e até mesmo a presença de tapetes inadequados podem inibir mais ainda o grupo. Ao contrário uma sala silenciosa e bem iluminada, com uma área para a “sujeira” das tintas e com espaço confortável para discussões, pode contribuir muito para intensificação de experiência em grupo.

4.3. Metodologias sugeridas nas sessões de Arteterapia

direcionadas a canalização da expressão de raiva

Jesus disse:” Se pões para fora o que está dentro de ti, o que pões para fora te salvará. Se não puseres para fora o que está dentro de ti, o que não pões para fora te destruirá” EVANGELHO SEGUNDO S. TOMÁS, apud LARSEN, 1991, p. 255)

4.3.1. Mandalas

Objetivos: efetuar um convite a psique dos pacientes, com a finalidade de

manter a ordem psíquica e ao mesmo tempo restabelecê-la, caso a tenha

desestruturado. As Mandalas representam a própria totalidade.

Atividade a ser desenvolvida: Trabalhar os quatro elementos da arteterapia

(água, terra, fogo e ar). Para esta série, de acordo com o elemento a ser

trabalhado existem os materiais mais adequados.

Elemento ar - o uso de lápis, ou outro material de elaboração do

desenho.

Elemento água – o uso de materiais de pintura tais como a guache

ou tinta acrílica, sobre a Mandala cujo suporte será no papel canson,

previamente cortado na forma circular e já desenhado;

Elemento terra - o uso de pedras coloridas ou terras que também

poderão ser de diversas cores coladas sobre a Mandala de papel;

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Elemento fogo - o uso de encáustica ou cera derretida sobre a

Mandala exercem um ótimo resultado

Desenvolvimento: Elemento ar – através do desenho foi trabalhada a função

pensamento. Elemento água – através do uso da tinta pode ser possível

trabalhar a função sentimento. Elemento terra – através do uso de pedras e

terras é possível trabalhar a função sensação e por ultimo o elemento fogo –

através do uso da pintura encáustica ou na ausência giz de cera derretido é

possível trabalhar a função intuição.

Comentários sobre o método: Os trabalhos elaborados com a utilização de

Mandalas possibilitam consolidar o ser interior, iluminando aspectos sombrios

que permanecia no interior da psique tais como: frustração, dores, culpas, que

dão origem ao aumento da emoção de raiva. Revitalizando os núcleos

energéticos, gradativamente, bem como, utilizando as quatro funções, ou seja,

pensamento, sensação, intuição e sentimento estaremos contribuindo para o

equilíbrio do ser.

Isso ocorre levando em conta os quatro elementos: a água é o símbolo

da expansão, do relaxamento da fluidez e principalmente da regeneração

purificação; o fogo acelera o contato com a luz por iluminar os aspectos

negativos, além de sua ação purificadora e regeneradora exerce também o

poder transformador; a terra nos aproxima da realidade, tem o poder de

estruturação da psique e por ultimo, o ar que permiti um olhar mais racional

sobre fatos e idéias, contribuindo para organização interna e desenvolvendo a

comunicação e a criatividade.

4.3.2. Máscara

Objetivo: as máscaras desempenham um papel de cura. Possibilita confrontar

a nós mesmos em doses intensas, mágicas, porém de forma suportável. A

máscara revela o que o ego tenta esconder.

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Quando se elabora a própria máscara ocorre a troca entre o ego e

o arquétipo, possibilitando a transformação de energia, conforme afirma

LARSEN:

O espírito convidado a possessão vem de dentro do criador da máscara. Há uma legitimidade e uma adequação nessa relação. Ocorre um diálogo no qual o ego deve, em última análise, encontrar outras forças dentro da psique. O espírito da máscara apresenta (em geral) o mais importante desses confrontos para a pessoa, naquele momento: daí o seu papel curativo. Ela representa uma concentração de energia psíquica, e uma oferta de um diálogo entre o ego e o outro. (1991, p.257)

Atividade a ser desenvolvida: elaborar uma matriz através do material argila,

fase da modelação da máscara. Fazer uma mistura de gesso e água, formando

uma massa pastosa que será colocada por cima da matriz elaborada, formando

o negativo da mesma. Quando a massa estiver seca, retirar a argila do interior

do molde da mascara. Untar a forma com vaselina liquida para que possa

retirar a máscara que será confeccionada no interior da forma. Rasgar uma

quantidade de jornal que seja suficiente para que possa ser colada no interior

da forma, colando com cola branca. Gradativamente cobrir todo o interior da

máscara refazendo estas camadas por cinco vezes. Esperar a cola secar por

pelo menos vinte e quatro horas, retirar a máscara elaborada com pedaços de

jornal cuidadosamente do interior da forma. Em seguida, pintar a mascara com

guache ou tinta acrílica usando a criatividade para sua elaboração.

Comentário sobre o método: Este método trabalha diversas emoções. Ao

elaborar a máscara o elemento ar está ativado através da elaboração do

desenho da mascara, o elemento terra também estava ativado através da

manipulação da argila, possibilitando sentir as diversas sensações e

percepções do material. O rasgar jornal extravasa as energias contidas e

bloqueadas, liberando-as. Quando os pedaços de jornal vão sendo inseridos a

forma da mascara, inicia-se a fase da reestruração das emoções. Quando o

paciente elabora outra utilidade para os pedaços de jornal, anteriormente

rasgados, esta também elaborando e resignificando, por analogia, as suas

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emoções, consciente ou inconscientemente, que vão sendo gradativamente

reorganizadas bem como os seus pensamentos e as suas idéias. Na fase da

pintura da máscara o arteterapeuta trabalha com o paciente os sentimentos,

ampliando, expandindo, regenerando e até mesmo purificando.

Resta ainda, a última fase do trabalho, ou seja, o diálogo com a

mesma. Trabalho este que será exercido entre a máscara e o paciente.

Após todas estas etapas, o paciente já terá se ouvido, face ao

dialogo interno entre consciente e inconsciente, consequentemente, muitas

emoções já terão sido trabalhadas possibilitado uma alquimia em seu ser.

4.3.3. Jogo - Reconhecimento de sua raiva e a forma como ela

se expressa

Objetivo: Este jogo tem como finalidade levar a percepção ao paciente das

suas expressões de raiva, sempre de forma lúdica, porém, com uma finalidade

de levá-lo a auto-observação das suas ações em situações geradoras de raiva.

Este exercício leva o paciente, de forma gradativa a ter controle das suas

emoções, através da conscientização de seu comportamento.

Atividade a ser desenvolvida: Em uma mesa coloca-se uma folha de papel A3,

que deverá ser dividida ao meio no sentido do comprimento. Este jogo e feito

com dois participantes, porém, quando feito só entre arteterapeuta e paciente o

arteterapeuta ocupará o papel de um participante. Cada participante fica de um

lado da mesa. É distribuído um giz de cera de cor diferente a cada um (deverá

conter na mesa giz de cera sobressalente). O jogo começa com os

participantes invadindo o lado do papel que pertence a seu adversário,

tentando preenchê-lo o mais rapidamente possível. Observa-se que a medida

que os participantes percebem que estão sendo invadidos começam a riscar

com mais força e em maior extensão tentando ganhar o jogo. No afã de ganhar

o jogo, os jogadores acabam, por vezes, rasgando a frágil folha de papel. No

final de alguns minutos o terapeuta deve perguntar: “qual foi o sentimento que

eles experimentaram e como eles estão se sentindo.”

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Comentário do método: Este jogo leva a capacitação do paciente para

elaboração da expressão de raiva.

4.3.4. Extravasando a raiva

Objetivo: Este trabalho tem como finalidade extravasar a expressão de raiva.

Trata-se da elaboração de uma pintura que permita expressar todas as dores

frustrações, culpa, e demais ressentimentos que por ventura possam estar

incomodando e doendo no paciente. Possibilita o relaxamento, a fluidez e a

purificação das emoções negativas.

Atividade a ser desenvolvida: pintura feita, de preferência, sobre um pedaço de

pano velho, que se possa jogar fora. Sobre ele o paciente, no momento de uma

crise de raiva deverá pintar o que sentir necessidade, com cores e gestos

fortes que se assemelhe ao sentimento que está experimentando. Ao terminar,

deverá colocar este pano aberto em um local que esteja chovendo sendo

lavado pela mesma. É interessante que o paciente veja a água lavando o pano

e levando toda a expressão de raiva que foi deixada naquele pano.

Comentário sobre o método: Este método permite extravasar as emoções

negativas ao mesmo tempo em que permite limpar, purificar e clarificar as

emoções do paciente, tendo em vista que o simbolismo da chuva permite um

trabalho profundo no seu inconsciente. Ponto negativo do método –

necessidade de estar chovendo o que nem sempre é possível.

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CONCLUSÃO

A arteterapia é um processo através do qual o paciente descortina

o véu de ilusões e ate mesmo o de ignorância que vivia até o momento que

inicia o processo arterapêutico. Utilizando-se das imagens elaboradas nas

diversas etapas do processo terapêutico pode perceber nitidamente o seu

próprio percurso.

Trata-se de uma relação entre paciente e terapeuta, que

caminham, lado a lado, resgatando os conteúdos psíquicos do nível interior

para o nível concreto. Na elaboração de seu trabalho, o paciente tem a

possibilidade de observar a sua obra, dialogar com ela, fazendo com que a

mesma possa interagir na sua psique e vice-versa. Cabe ao arteterapeuta a

condução de todas as etapas do processo, agindo como facilitador e orientador

de todo o desenvolvimento.

No inicio da produção dos trabalhos terapêuticos é comum, ao

paciente, se deparar com o aparecimento da sua própria sombra, o que faz

com que entre em contato com o seu lado obscuro e sombrio. Este encontro

traz, com certeza, dor, frustração e sofrimento, Daí para frente o paciente

consciente ou inconscientemente não será mais o mesmo, as energias de raiva

que canalizou em seus trabalhos o levarão a desejar a morte do velho homem

para renascimento do novo homem. Processo este que se fará de forma

gradual, com muita reeducação e treinamento, como foram descritos nesta

monografia.

A arteterapia é muito rica e de grande valor para a canalização da

expressão de raiva por ser um instrumento que traz o pensamento símbolo

para o concreto, promovendo não só uma abertura da consciência como

possibilita a transformação e amplificação das emoções.

Tendo em vista que a forma de elaboração do inconsciente e pela

via imagética, a arteterapia é uma das formas mais rápida de acessar o

inconsciente, pois capta as expressões de raiva, canaliza em imagens, cores,

ritmos linhas etc. trazendo a nível consciente para que possa ser trabalhada ao

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nível de expressão material, e consequentemente, possibilita a elaboração e

integração à consciência.

A arteterapia trabalha o simbolismo, ou seja, o não verbal,

convidando o paciente a fazer um mergulho no seu inconsciente e trazer

expressões e conteúdos existentes através da imagem de memória ancestral.

Resgata o homem, com todo o seu potencial criativo,

reestruturando e reeducando, bem como desenvolve sua psique de forma

saudável. Os benefícios são inúmeros, tais como: maior autonomia, melhor

ordenamento lógico e temporal da linguagem verbal e inserção amena na vida

em sociedade.

O homem só será verdadeiramente feliz quando se permitir

experimentar todas as suas emoções, tais como alegrias, tristezas, medo, raiva

e até mesmo os seus desesperos, pois através do enfrentamento de nós

mesmos, podemos trazer a luz todos os sentimentos negativos para que

possam ser trabalhados elaborados e ressignificados, e desta forma ser

integrados.

A raiva que outrora devia ser escondida, colocada embaixo do

tapete, por ser considerada feia, agora, tem a chance de ser olhada de frente,

possibilitando a totalidade do ser e o equilíbrio para a psique. Desta forma o

paciente se imbui de um potencial transformador na busca da sua totalidade e

consequentemente da sua individuação.

.

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ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO 02

AGRADECIMENTO 03

DEDICATÓRIA 04

RESUMO 05

METODOLOGIA 06

SUMÁRIO 07

INTRODUÇÃO 08

CAPÍTULO I

EXPRESSÃO DE RAIVA 11

1.1. Conceito e historicidade 11

1.2. Maneiras de lidar com a raiva e as diversas formas de

expressá-las 12

1.3. Algumas formas distorcidas de raiva 13

1.3.1. Raiva reprimida 14

1.3.2. Raiva adiada 14

1.3.3. Raiva congelada 14

1.3.4. Raiva crônica 15

1.4. Consequências 15

1.5. Do perdão 16

CAPÍTULO II

ARTETERAPIA 17

2.1. Dimensões antropológicas das expressões imagéticas 17

2.2. A subjetividade do fazer artístico 19

2.3. Domínios da técnica 20

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2.4. Do material utilizado 22

2.5. Do papel do arteterapeuta 23

CAPÍTULO III

A ARTETERAPIA NAS INTERVENÇÕES TERAPEUTICAS 26

3.1. As intervenções terapêuticas na área da educação 26

3.2. As intervenções terapêuticas na área da saúde 27

3.3. As intervenções terapêuticas na área da psiquiatria 29

3.4. As intervenções terapêuticas em outras áreas de trabalho 30

CAPÍTULO IV

DAS TÉCNICAS E DAS LINGUAGENS PLASTICAS E

EXPRESSIVAS 31

4.1. As diversas etapas da elaboração do processo terapêutico

para conduzir o paciente à imaginação criativa 32

4.2. Da organização como elemento facilitador 34

4.3. Metodologia nas sessões de arteterapia direcionadas a

canalização da expressão de raiva 37

4.3.1. Mandala 37

4.3.2. Máscara 38

4.3.3. Jogo – Reconhecimento de sua raiva e a forma como ela se

expressa 40

4.3.4. Extravasando a raiva 41

CONCLUSÃO 42

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 44

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FOLHA DE AVALIAÇÃO

Nome da Instituição: Universidade Cândido Mendes

Título da Monografia: A arteterapia como canal

canalizador da expressão de raiva

Autor: Sandra Cristina Aceti da Costa Moura

Data da entrega: 2012

Avaliado por: Conceito: