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UNIVERSIDADE CANDINDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
PROJETO A VEZ DO MESTRE
Responsabilidade Social Interna
Por: Daniel Aguete Casado
Orientador: Marco Lorosa
Niterói, 2005
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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
PROJETO A VEZ DO MESTRE
RESPONSABILDIADE SOCIAL INTERNA
Apresentação de monografia à Universidade Candido
Mendes como condição prévia para a conclusão do
Curso de Pós-Graduação “Lato Sensu” em Gestão
estratégica e qualidade.
Por: . Daniel Aguete Casado
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INTRODUÇÃO
A Responsabilidade Social tem sido um tema muito discutido no meio
empresarial, visto que muitas empresas têm se utilizado desta prática através
de diversos programas na área social, procurando demonstrar principalmente
sua função social perante a comunidade em que está inserida, a fm de
aumentar suas margens de lucro com uma nova imagem no mercado.
O termo responsabilidade social tem sido vastamente empregado nos
meios acadêmicos, empresarial, governamental e do terceiro setor no Brasil.
Cabe destacar que o conceito tem sido analisado através de diferentes
abordagens.
Em linhas gerais, considera-se como Responsabilidade Social
Empresarial, o movimento pelo qual as empresas decidem, por motivos
variados, contribuir para uma sociedade mais justa e para um meio ambiente
sustentável, direcionando suas atividades em três dimensões: a dimensão
econômica (Profit), a dimensão social (People) e a dimensão ecológica
(Planet), tendo como perspectiva contribuir para o bem-estar social. A empresa
deve relacionar-se com os diversos grupos de interesses (stakeholders) e
manter com eles um diálogo baseado na transparência.
A diversidade de abordagens da Responsabilidade Social Empresarial
(atuação social, marketing social, ética nos negócios, filantropia empresarial,
investimentos sociais, entre outras) nos levou a verificar algumas das práticas
empresariais que atuam no Brasil. Empenha-se em pesquisar estas práticas e
apresentar um panorama da responsabilidade social das empresas
multinacionais no Brasil, tendo em vista dois aspectos:
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1) o cumprimento da legislação nacional e;
2) as práticas que extrapolam direitos estabelecidos no âmbito nacional - e
internacional para conduta empresarial, tais como, princípios indicados na
OCDE, OIT e ONU.
Nesta pesquisa, a atenção está voltada à atuação social das empresas
na dimensão interna à sua estrutura e organização, na possibilidade de
aumento real produtivo quando da implementação de políticas sociais internas
responsáveis, bem como na motivação alcançada por seus funcionários e
conseqüentemente na mudança do clima organizacional encontrada.
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CAPITULO I
Conceito
O trabalho de buscar uma definição para Responsabilidade Social
solicita inicialmente reflexões acerca do conceito de ética e do
desenvolvimento do processo de cidadania. Etimológicamente a palavra
responsabilidade deriva do latim respondere, responder. Segundo o dicionário
Michaellis responsabilidade é "a qualidade de responsável", que "responde por
atos próprios ou de outrem", que "deve satisfazer os seus compromissos ou de
outrem".
As diferentes significações percebidas para o termo suscitam questões
ligadas à área do dever, da obrigação legal ou moral que, por sua vez, nos faz
adentrar o campo da ética. Falar sobre ética e sua relação com
responsabilidade social remete diretamente ao problema do costume – hábitos
ligados às manifestações de cada coletividade através de suas tradições,
vivências e crenças. Segundo Solano Fleta, costume:
"... é a criação normativa de um grupo com tal competência jurídica que possibilita dar origem a novas regras mediante sua conduta uniforme ." e uso "é esta mesma conduta, porém de um grupo carente de poder normativo. Para que o uso tenha significado jurídico precisa ser recebido de fora, do Estado ou de um grupo capacitado pelo Direito." (2000, p. 47)
Basicamente podemos definir dois tipos: primeiro aquele que, com o
passar do tempo, se transforma em costumes jurídicos (regulamentados), pois
cumprem todas as condições materiais e formais destes. Depois o uso que, por
não satisfazer determinados requisitos, não se caracteriza como costume de
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Direito, isto é, norma exigida, ampliada pelos mecanismos sancionadores
correspondentes.
Seguindo este raciocínio Solano Fleta entende responsabilidade social
como um conjunto de obrigações inerentes à evolução de um estado ou
condição com força, ainda não reconhecidas pelo ordenamento jurídico
positivo ou desconhecidas parcialmente, mas cuja força que se vincula e sua
prévia tipificação procedem da íntima convicção social de que não segui-la
constitui uma transgressão da norma da cultura.
As definições e conceitos de responsabilidade social são complexos,
dinâmicos e variados. Segundo Borger (2001), eles podem estar associados à
idéia de responsabilidade legal; ou podem significar um comportamento
socialmente responsável no sentido ético; ou ainda podem transmitir a idéia de
contribuição social voluntária e associação a uma causa específica.
Já Srour (1998, p.294) diz que “a responsabilidade social deve ser
entendida como orientação para os outros, fruto dos interesses em jogo.
Reflete tanto um sentido de realidade quanto um olhar para o futuro. A
responsabilidade social remete, em síntese, à constituição de uma cidadania
organizacional no âmbito interno da empresa e a implementação de direitos
sociais no âmbito externo”.
Pode-se ainda dizer que a responsabilidade social “é o objetivo social
da empresa somado a sua atuação econômica. É a inserção da organização
na sociedade como agente social e não somente econômico....é ser uma
empresa cidadã que se preocupa com a qualidade de vida do homem na sua
totalidade” (Oliveira,2002, p.205).
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Na visão de Kisil (2002) o conceito de responsabilidade social
compreende que as organizações hoje têm que fazer mais do que a lei
determina. Elas perceberam que podem diferenciar-se e serem mais
valorizadas se cumprirem com seu papel social. Assim contribuem com a
transformação social favorecendo novos consumidores que estarão vendo a
empresa com bons olhos.
Uma análise mais aprofundada sobre o conteúdo dessa definição suscita
algumas reflexões: a íntima convicção social que determina uma norma ou
conjunto de obrigações, ainda não reconhecidas pelo ordenamento jurídico
positivo, pertencente ao campo da ética, ou seja, ligados aos valores morais e
os princípios ideais de conduta humana. Assim sendo, responsabilidade social
é um processo resultante do desenvolvimento de posturas éticas inerentes aos
estágios de evolução de determinados grupos ou organismos sociais.
Entrecruzando-se com o conceito de ética, posto que a ele permanece
estreitamente vinculado, vamos encontrar o conceito de cidadania. Inúmeros
fatos poderiam ser resgatados e analisados numa tentativa de pontuar
historicamente os aspectos econômicos, políticos e sociais que favoreceram o
processar do conceito de cidadania nas diversas sociedades.
Acredita-se, no entanto, que esse resgate oferece conteúdo para um
trabalho à parte. Partindo dessa constatação, limitar-se-á a apontar apenas
alguns fatos na área da cidadania organizacional. Como definição de
Responsabilidade Social da Empresa pode-se dar como exemplo a experiência
de um grupo de empresas européias que assim definiu Responsabilidade
Social: Responsabilidade Social é um processo e como tal, totalmente
integrado na visão estratégica da empresa. Através dele a empresa assume a
Responsabilidade Social por todas as atividades no campo econômico, social e
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ambiental, mantendo permanente diálogo e prestando contas a seus
stakeholders1.
Ao final de todas as reflexões apresentadas chegamos a conclusão que
algumas considerações são necessárias para precisão de um conceito voltado
para responsabilidade social.
• Trata-se de um processo relacionado a questões específicas de tempo e
espaço, de evolução de pensamento e de práticas relacionadas à situações
circunscritas a determinados organismos – sistemas econômicos e políticos
vigentes em determinados países e suas organizações.
• Trata-se de um processo dinâmico, posto que reflete o próprio meio social, no
qual se entrecruzam diversos fatores de ordem econômica, política e cultural.
• Trata-se de um processo que envolve os diversos segmentos da sociedade –
cidadãos, consumidores, organizações públicas ou privadas, comunidades,
etc. Ainda que pesem os fatores acima expostos, numa tentativa de
aplicação racional do termo responsabilidade social desenvolvemos, a título de
uma tímida colaboração, o conceito:
“Responsabilidade Social consiste na
somatória de atitudes assumidas por agentes sociais –
cidadãos, organizações públicas, privadas com ou sem
fins lucrativos –estreitamente vinculadas a ciência do
dever humano (ética) e voltadas para o desenvolvimento
sustentado da sociedade.”
1 Grupo de interesses empresarial
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Neste capitulo podemos observar os mais variados conceitos. Tais
conceitos servem para subsidiar ações integradas a trabalhadores,
comunidades, governo e empresa. Sem a identificação do que é de fato
Responsabilidade Social as ações se perdem no ideal.
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CAPITULO II Histórico – origem e evolução
Surgido na Europa, em paises como França, Alemanha e outros, bem
como nos EUA, na década de 40 e 50, podemos dizer que a responsabilidade
social passou a ser percebida a partir da prática da elaboração e divulgação do
Balanço Social, que não é tão antiga assim.
No Brasil, a prática efetiva da divulgação do Balanço Social passou a
ocorrer a partir do início dos anos 90, mas só deslanchou mesmo nos últimos
quatro anos, mas vamos do inicio.
A chegada ao Brasil por parte das empresas multinacionais, nos idos de
40 e 50, promoveu significativas mudanças no trabalho, nos costumes, na
melhoria do nível de vida dos trabalhadores. Paralelo a esses eventos, o Brasil
assiste às primeiras transmissões televisionadas e o rádio transistor
proporciona às diferentes regiões e classes sociais o acesso a informação. Os
anos 60 são marcados por práticas de anti-cidadania devido ao regime político
vigente que impedia a liberdade de expressão.
Em 1975, o Brasil dá o primeiro passo por meio do decreto no 76.900 é
instituída a Rais (Relação Anual de Informações Sociais), exigida até hoje,
cujas informações podem ser consideradas apenas uma pequena parte de
tudo o que pode ser demonstrado no Balanço Social.
Com a abertura política nos anos 80 deu-se um reaprender sobre
cidadania e foram decisivos nessa caminhada a intervenção dos sindicatos e
dos movimentos sociais que pretenderam, além do modelo Walfare State,
fomentar o debate público em torno dos direitos da figura social denominada
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Consumidor. Um outro fato marcante foi a implementação do Plano de
Comunicação da RHODIA que centrou sua preocupação na qualidade e
sistematização da comunicação com os seus públicos, rompendo com a era do
“ não temos nada a dizer”.
Em 1981, por iniciativa do Betinho, nasce o Ibase (Instituto Brasileiro de
Análises Sociais e Econômicas - www.ibase.org.br), seguramente um dos
mais importantes institutos em prol das causas sociais e incentivador da
elaboração e divulgação do Balanço Social pelas empresas. É do Ibase o
modelo de que mais vem sendo utilizado pelas empresas. Para o idealizador,
Betinho: "Realizar o balanço social significa uma grande contribuição para a
consolidação de uma sociedade verdadeiramente democrática".
Em 1986 nasce a Fides (Fundação Instituto de Desenvolvimento
Empresarial e Social - www.fides.org.br), entidade de caráter educativo e
cultural que visa a humanização das empresas e sua integração com a
sociedade. Faz-se destaque ao papel dos Meios de Comunicação de Massa
no processo de democratização da informação. Carlos Fico, em Reinventando
o Otimismo, comenta da importância dos meios na mediação de eventos
circundantes ao espaço público e ao espaço privado. Particularmente,
identificamos nesse processo um dos pilares da construção da cidadania
empresarial brasileira na medida em que, ao integrar o contexto no qual estão
inseridas, as instituições precisam conjugar o seu aspecto privado com a
preocupação voltada aos públicos. Ou seja, embora uma organização possa
pertencer ao poder privado ela deve responsabilidade e satisfação pública.
Um ponto de pauta que esteve presente de modo muito forte foi a
questão do consumidor, culminando com a instituição do Código de Defesa
Consumidor e a configuração do seu órgão representativo, o PROCON. Mais
recentemente, tivemos a abertura comercial do Brasil que permitiu a entrada de
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empresas e produtos com preços qualidade similares ou superiores aos
nacionais. De certo modo, diz Vera Giangrande, isso reforçou junto ao
empresariado a importância da fidelidade com seu cliente consumidor a ponto
dessas empresa instituírem a figura do Ombudsman como canal de
comunicação com esses clientes.
E sob a mesma orientação conceitual são revisadas as práticas das
organizações públicas que percebem no indivíduo-cidadão o consumidor e
avaliador de suas políticas e serviços. Esse mesmo indivíduo que integra e
ajuda a formar a opinião pública – instrumento de legitimação de poder da
sociedade civil. Em 1998, por iniciativa de Oded Grajew é constituído o
Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social (www.ethos.org.br),
bastante conhecido e com objetivos muito bem definidos.
Ao longo dos anos, várias outras ONG´s, OSCIP´s, foram criadas com
esta finalidade, uma vez que são estas que geralmente implementam a
responsabilidade social, em geral externa. As legislações em níveis federal,
estadual e municipal são ainda muito poucas, embrionárias, sejam as de
caráter interno, ou seja, no relacionamento da entidade com os seus
funcionários, sejam as de caráter externo, portanto no relacionamento com a
comunidade.
A lei nº 10.101/2000 - PLR (Participação dos Empregados nos Lucros e
Resultados) foi um grande avanço, mas ainda é pouco utilizada pelas
empresas dentro do seu melhor espírito. Sem dúvida, uma pena.
Basicamente, os Balanços Sociais contêm informações sobre receitas,
indicadores sociais internos e externos, indicadores ambientais, indicadores do
corpo funcional da empresa e outras informações relevantes quanto ao
exercício da cidadania empresarial.
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Tem se falado e escrito que a contabilidade tem experimentado grandes
avanços no Brasil nestes últimos anos, com uma efetiva valorização. Nunca é
demais lembrarmos os motivos: estabilidade da moeda, globalização,
investimentos estrangeiros e, portanto, reportes externos, a própria
necessidade da divulgação do Balanço, um motivo preponderante.
Felizmente, com o empenho das entidades não governamentais citadas
e de outras, como o PNBE (www.pnbe.org.br), discutiu-se muito os diversos
aspectos positivos, favoráveis, do Balanço Social como instrumento
indispensável para o relacionamento e a prestação de contas das empresas
para com todos os usuários das suas informações contábeis.
A Responsabilidade Social é um conjunto de princípios que direcionam
as ações e relações das empresas com seus funcionários, fornecedores,
consumidores e comunidades em que estão inseridas.
Em 1987, o Council on Economic Priorities Accreditation Agency
(Agência de Certificação do Conselho de Prioridades Econômicas) criou a
norma internacional SA 8000 (Social Accountability), espécie de ISO 9000 da
Responsabilidade Social. Nesses 15 anos, foram certificadas 90 organizações
em todo o mundo, cinco das quais são brasileiras.
No cenário mundial contemporâneo observa-se o processar de inúmeras
transformações de ordem econômica, política, social e cultural que, por sua
vez, ambientam o aparecimento de novos modelos de relações entre
instituições e mercados, organizações e sociedade. No âmbito das atuais
tendências de relacionamento, verifica-se a aproximação dos interesses das
organizações e os da sociedade resultando em esforços múltiplos para o
atendimento de objetivos compartilhados.
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Através da convergência entre metas econômicas e sociais, emergem os
modelos de organizações preocupadas com a elevação do padrão de
qualidade de vida de suas comunidades.
Estas organizações – cidadãs – desenvolvem o processo denominado
Responsabilidade Social. O movimento denominado Responsabilidade Social
vem orientando o aparecimento de novos conceitos e tendências profissionais.
Aqui encontramos a evolução da responsabilidade social no mercado,
nota-se que a evolução tende a continuar aprimorando-se. Entretanto não
estando certo si, diante dos conceitos apresentados, ele atingira as finalidades
propostas.
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CAPITULO III
Responsabilidade Social Interna
Exposto breve comentário sobre a origem da Responsabilidade Social,
conceito e um pequeno apanhado histórico, direcionar-se-á o texto ao foco
central do tema proposto. Hoje as normas dão referência as empresas quanto
a implementação prática do tema. A SA 8000 (a ISO da Responsabilidade
Social), prescreve, como questão básica, o atendimento às convenções da OIT
(Organização Internacional do Trabalho), à Declaração Universal dos Direitos
Humanos e à Declaração Universal dos Direitos da Criança. O Brasil assinou
praticamente todas as convenções da OIT, exceto aquela referente aos direitos
para os trabalhadores como, por exemplo, escolher em qual sindicato quer se
filiar e a das garantias e cumprimentos dos direitos, pois, aqui, cada categoria
tem um único sindicato. Dentro do preceito inicial de atender à legislação, a
norma reforça vários tópicos. Pode-se enumerá-los resumidamente.
O primeiro deles refere-se a não empregar mão-de-obra infantil na
organização, mas empresas que empregam crianças não podem apenas
demiti-las: precisarão remediar o fato, colocá-las na escola, dar-lhes um
salário, etc. Senão, ao esquecer que a criança trabalha por necessidade,
estará criando mais um problema. Ainda é comum encontrarmos jovens entre
16 e 18 anos que trabalham todo o dia e estudam a noite, no entanto, a SA
8000 determina que o jovem não pode gastar mais que 10 horas entre
trabalho, transporte e estudo.
Outro tópico é não ter trabalho forçado de qualquer natureza. A retenção
da carteira de trabalho, comum em áreas rurais, os imigrantes que trabalham
em troca de se manterem na clandestinidade e obrigam o funcionário a fazer
hora extra pela ameaça de demissão são exemplos desse desvio ainda
existente no Brasil.
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O item de saúde e segurança consiste em se preocupar com a vida e a
saúde do trabalhador, bem como da sociedade e do meio ambiente. Nossa
legislação é muito rica no quesito segurança e as NR's são bastante
abrangentes. Para gerenciar essas áreas, a empresa pode usar o PPRA para
levantar os riscos ambientais e criar um sistema de monitoramento da
segurança, o próprio PCMSO para analisar os riscos à saúde e determinar
como irá tratar deles, etc. Por serem uma grande ferramenta para a
identificação dos riscos para o trabalhador, esses dois programas devem ser
utilizados de forma consciente e não apenas para evitar multas. O problema
talvez deva-se ao fato de nossas empresas não serem tão ricas quanto a
nossa legislação sobre o assunto, ou mesmo não darem importância ao
cumprimento das Normas Regulamentadoras (NR´s) expedidas pelo Ministério
do Trabalho.
A norma ainda fala sobre liberdade de sindicalização, que diverge dos
preceitos da OIT e deve ser adaptada aos nossos limites, e direito à
negociação coletiva. Isso implica a empresa incentivar a negociação coletiva e
estar aberta à negociação com os líderes sindicais. Pode-se ainda
acrescentar o cumprimento das normas originadas dos acordos coletivos de
trabalho ou ainda nos benefício que podem ser implementados que não estão
previstos seja porque motivo.
Um dos itens mais difíceis de se implantar é a não discriminação. Dentro
das organizações é muito comum percebermos o racismo, o preconceito contra
homossexuais, contra a religião, contra o deficiente, o assédio sexual e o
moral. Este último, abordaremos mais adiante.
Em situações passíveis de ocorrer discriminação, a norma recomenda
ação preventiva e, se surgir qualquer indício de que isso está acontecendo, é
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preciso investigar e analisar muito bem. É difícil, mas se isso for colocado
como requisito na empresa, as pessoas começam a se preocupar mais com o
assunto.
Temos também a questão de práticas disciplinares abusivas. Nas
organizações mais antigas ainda encontramos aquele chefe autocrático, que
desrespeita ou humilha o funcionário. Isso não cabe mais no mercado atual e,
muito menos, na Responsabilidade Social. O assedio moral tende a ser
punível com ação de danos. A dificuldade estaria na falta de abertura, para
quem o funcionário desrespeitado irá se queixar?
É preciso criar mecanismos de denúncia e de tratamento das não-
conformidades, pois a norma pede que se investigue e corrija a ocorrência de
qualquer uma das situações já citadas. A empresa deverá criar um sistema de
comunicação formal de reclamações. Ao eliminar os abusos de autoridade, o
clima da organização melhora sem que se perca o respeito. A melhora do
clima organizacional influencia diretamente no fator produtivo e na qualidade
do cliente-fornecedor interno.
No sétimo ponto pode-se abordar a questão das horas trabalhadas. Na
CLT consta que a jornada de trabalho é de 44 horas semanais ou outra menor
especificada em convenção coletiva e que as horas extras limitam-se a duas
por dia, sem obrigatoriedade. A norma ainda diz que, em um período de sete
dias, o trabalhador tem direito pelo menos a um dia de descanso. Assim, o
empresário precisará criar um sistema eficaz de gerenciamento de horas. A
simples execução desse controle já causa uma redução de jornadas
extraordinárias. Utilizar-se desse recurso excepcionalmente é uma coisa, mas
têm empresas que se valem dele todos os dias, a ponto de alguns funcionários
contarem com esse "adicional" no final do mês. Isso é uma aberração, não é
essa a finalidade da hora extra.
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O último item aborda remuneração, salários e benefícios. A norma diz
que o salário deve ser suficiente para a pessoa morar, se alimentar e ter
alguma sobra mínima para outras atividades. Ela prescreve uma fórmula de
cálculo que hoje nos leva a um salário de aproximadamente R$ 500,00
(quinhentos reais), quase o dobro do nosso salário mínimo. Esse ainda é um
salário bastante baixo, mas as empresas preocupadas com isso concedem
outros benefícios, como plano de saúde, alimentação, cesta básica, etc. em
complemento ao salário. Esses são os oito princípios descritos pela norma.
Restaria agora identificarmos os mecanismos de controle desses itens.
A empresa precisa criar um sistema de gestão. Existem mais 13 itens
que englobam a definição de uma política, a sua divulgação para os
funcionários, a reunião periódica da alta administração para analisar
criticamente a evolução do sistema, como acontece com a ISO 9000 e a ISO
14000. Nesse sentido, as empresas que já têm um sistema de qualidade
implantado usam a mesma estrutura, só lhe acrescenta alguns itens.
A norma ainda pede a definição de um representante da administração,
alguém com poder gerencial para ser um facilitador da Responsabilidade
Social, e a eleição de um funcionário para ser o representante dos
empregados. Esse funcionário não pode ser gerente e quem tem direito a voto
é todo funcionário não-gerente. Esses dois representantes serão o canal formal
das denúncias ao qual referiu-se anteriormente o texto. Além deles, a norma
pede também a designação de um representante para a área de saúde e
segurança.
Em síntese, a SA 8000 restringe-se a ações internas de
Responsabilidade Social. Com exceção do envolvimento dos fornecedores. O
conceito para implantar um sistema de responsabilidade social está certo ao
começar por arrumar a própria casa.
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Não se pode dizer que, se faz obra social quando o funcionário está
perdendo o dedo em uma prensa. Não invista dinheiro em marketing social,
em ações na comunidade externa, quando os empregados não têm saúde e
moradia adequadas. Fazer ações na comunidade interna e divulgá-las pode
ser o melhor marketing social, pois também serão aplaudidas. Geralmente,
cada funcionário tem mais duas ou três pessoas à sua volta, o que aumenta
sensivelmente a comunidade interna. Assim, se a empresa utilizar parte da
verba que destina para o externo, que é marketing, para tratar, não de toda a
comunidade interna, mas daquela parcela que sabidamente é mais carente, o
quanto não poderá beneficiá-la e obter de retorno.
É possível mensurar esse retorno. Aumento da freqüência, diminuição
dos níveis de acidente, aumento da motivação para o trabalho e aumento de
produtividade. Se, por exemplo, o motorista de uma empresa estiver
insatisfeito, quebra o veículo em três viagens, o que não ocorre se ele estiver
motivado e sentir orgulho da organização em que trabalha. Ou seja, as ações
internas refletem-se até no resultado da companhia. Aí, se essa empresa
estender essa ação também para a comunidade externa, ajuda uma região
carente e divulga esse trabalho, os moradores locais passam a ter muito mais
respeito pela companhia. Isso tudo é um trabalho amarrado que dá resultados
para o empresário e para a comunidade, que é bom para todo mundo.
A SA 8000 também é acessível às micro e pequenas empresas. Por ter
processos mais reduzidos e, geralmente, envolver menos riscos na área de
saúde e segurança, a implantação do sistema de Responsabilidade Social fica
muito mais rápida. Agora, uma coisa é criar a regra e outra é fazer com que ela
seja cumprida. Isso requer um programa de mais longo prazo, pois uma cultura
só se muda com o tempo. Mas é preciso começar pela criação da regra, pela
definição da política, pela elaboração do manual porque, sem isso, fica difícil
cobrar comportamentos. Além disso, esses elementos possibilitam o
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treinamento das pessoas e a implantação de mecanismos corretivos e de
melhoria. Se for executado dessa maneira, o sistema estará funcionando muito
bem em cerca de um ano e o investimento poderá ser feito gradualmente. O
importante, nesse caso, é o exemplo do executivo da empresa: se ele respeitar
o Código de Responsabilidade Social, a companhia inteira vai atrás, caso
contrário, dificilmente qualquer mobilização terá sucesso. Estima-se que, sem a
certificação, cujo custo é um pouco maior, o investimento financeiro para a
implantação e a manutenção do sistema gira em torno de R$ 10 mil, variando
pouco mais, pouco menos conforme o tamanho da organização, segundo
estudo do Ibase.
Pode-se observar as dificuldades de implementação da responsabilidade
social internamente, ou seja, para os funcionários e seus dependentes. Em
analises feitas recentemente percebe-se que o desembolso para políticas
externas de responsabilidade social, em especial de marketing, são
substancialmente maiores quando não são as únicas aplicadas pelas
empresas. Fazendo da sua imagem o melhor negocio e não ampliação da
capacidade produtiva pela satisfação de seus funcionários ou mesmo a
comunidade do entorno.
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CAPITULO IV
Responsabilidade Social - vantagens e desvantagens
A Responsabilidade Social não se restringe apenas à organização, mas
envolve toda a sua área de influência, seus funcionários, consumidores e
comunidades, caracterizando-se como um modo da empresa ser competitiva,
conquistar e ampliar o mercado. Isso porque a Responsabilidade Social não pode
ser destacada como ação caridosa ou como uma filantropia isolada, motivada por
um sentimento de culpa provindo da utilização dos recursos da sociedade, ou por
iniciativa unilateral do empresário, mas, sim, alinhada aos objetivos da empresa,
que devem contemplar a responsabilidade social.
Alguns benefícios da Responsabilidade Social voltada para as empresas
podem ser traduzidos em vantagens como: o fortalecimento da marca e
imagem da organização; a diferenciação perante aos concorrentes; a geração
de mídia espontânea; a fidelização de clientes; a segurança patrimonial e dos
funcionários; a atração e retenção de talentos profissionais; a proteção contra
ação negativa de funcionários; a menor ocorrência de controles e auditorias de
órgãos externos; a atração de investidores e deduções fiscais (MELO NETO e
FROES, 1999).
No sentido de demonstrar algumas vantagens conseguidas por
empresas que investem em ações sociais Ashley et al. (2002) citam uma
pesquisa realizada pela IBM, onde 75% dos profissionais entrevistados
afirmaram que uma empresa com Responsabilidade Social e um plano de
trabalho voluntário atrai e retém talentos. E outra pesquisa feita pela You &
Company com aproximadamente 2000 alunos de MBA, constatou que 83% dos
que procuravam por empregos afirmaram que escolheriam a oferta da empresa
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que demonstrasse maior Responsabilidade Social, e 50% deles mencionaram
preferir trabalhar em companhias éticas mesmo com salários menores.
Segundo Orchis et al. (2002), a prática da Responsabilidade Social de
forma correta pode melhorar o desempenho e a sustentabilidade da empresa a
médio e longo prazo, proporcionando, dentre outros fatores, valor agregado à
imagem corporativa da empresa; motivação do público interno; posição
influente nas decisões de compras; vantagem competitiva; influência positiva
na cadeia produtiva; reconhecimento dos dirigentes como líderes empresarias
e melhoria do clima organizacional.
Porém, Melo Neto e Froes (1999) esclarece que a partir do momento em
que a empresa deixa de cumprir com as suas obrigações sociais em relação
aos seus empregados, comunidade, fornecedores, acionistas, clientes e
parceiros, ela perde o seu capital de Responsabilidade Social, a sua
credibilidade, prejudica sua imagem e ameaça a sua reputação. No âmbito
interno pode ocorrer a deterioração do clima organizacional, a desmotivação
generalizada, o surgimento de conflitos, greves e paralisações, baixa
produtividade e aumento de acidentes de trabalho, como já mencionamos. No
âmbito externo, porém, podem ocorrer prejuízos ainda maiores como:
acusações de injustiça social; boicote de consumidores; reclamações dos
fornecedores e revendedores; queda nas vendas; gastos extras com passivo
ambiental e até mesmo risco de falência.
A Responsabilidade Social Corporativa tem sido disseminada entre
várias empresas, através de instrumentos como selos, certificações e a
divulgação pela mídia das ações sociais de empresas responsáveis. Para a
difusão dessas ações sociais as organizações podem lançar mão do Marketing
Social, que tem um caráter fundamental para a formação da imagem da
instituição.
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CAPITULO V
Marketing Social e Responsabilidade Social
Para um melhor entendimento de Marketing Social é importante definir,
primeiramente, o que é marketing utilizando um enunciado clássico realizado
por Kotler (2000, p. 30):
“é um processo social por meio do qual pessoas e grupos
de pessoas obtêm aquilo de que necessitam e o que
desejam com a criação, oferta e livre negociação de
produtos e serviços de valor com outros”.
Em uma visão mais ampla, Las Casas (1993) afirma que o marketing é
uma área do conhecimento que engloba atividades direcionadas às relações
de trocas, orientadas para a satisfação dos desejos e necessidades dos
clientes, visando alcançar determinados objetivos de empresas ou indivíduos e
considerando sempre o meio ambiente de atuação e o impacto destas relações
com a sociedade.
Neste último conceito pode-se perceber uma preocupação direcionada
para a sociedade. Uma das derivações do marketing chama-se de Marketing
Social, definido por Kotler (1978, p.287) como: (...) o projeto, a implementação
e o controle de programas que procuram aumentar a aceitação de uma idéia
social num grupo-alvo. Utiliza conceitos de segmentação de mercado, de
pesquisa de consumidores, de configuração de idéias, de comunicações, de
facilitação de incentivos e a teoria da troca, a fim de maximizar a reação do
grupo-alvo.
31
Segundo Cobra (1986), o marketing social é conceituado como um
intercâmbio de valores não necessariamente físicos nem econômicos, mas que
podem ser sociais, morais ou políticos, sendo utilizado para vender idéias ou
propósitos que proporcionem bem-estar à comunidade.
A busca da ampliação do conceito de marketing social pode ser
caracterizada pela transposição dos conceitos da área comercial para a social.
Como demonstra Kotler e Roberto (1992), o marketing social é uma estratégia
de mudança de comportamento, combinando os melhores elementos das
abordagens tradicionais de mudança social num esquema integrado de
planejamento e ação aproveitando os avanços na tecnologia das
comunicações e na própria capacidade de marketing.
A expressão marketing para causas sociais, em vez de marketing social,
foi utilizado pela primeira vez por Thompson e Pringle (2000,p. 03), segundo os
quais: o marketing para causas sociais pode ser definido como uma
ferramenta estratégica de marketing e de posicionamento que associa uma
empresa ou marca a uma questão ou causa social relevante, em benefício
mútuo.
Assim, o Marketing Social pode ser entendido como uma estratégia de
mudanças comportamentais e atitudinais, que pode ser utilizada em qualquer
tipo de organização (pública, privada, lucrativa ou sem fins lucrativos), desde
que esta tenha uma meta final de produção e de transformação de impactos
sociais.
Esta subdivisão do marketing vem tomando proporções cada vez
maiores nos últimos anos e trazendo benefícios para as empresas que a
praticam, para as entidades e para a sociedade. A empresa se beneficia, pois
a imagem vinculada a uma causa social traz visibilidade perante seu público e
mercado.
32
(...) o verdadeiro marketing social atua fundamentalmente na comunicação
com os funcionários e seus familiares, com ações que visam aumentar
comprovadamente o seu bem-estar social e o da comunidade. Essas ações de
médio e longo prazos garantem sustentabilidade, cidadania, solidariedade e
coesão social (...) a empresa ganha produtividade, credibilidade, respeito,
visibilidade e, sobretudo, vendas maiores (MELO NETO e FROES, 2001, p. 74).
Segundo Melo Neto e Froes (2001), existem várias formas de se utilizar
marketing social, a saber:
a) marketing de filantropia: fundamentar-se na doação feita pela
empresa a uma entidade que será beneficiada;
b) marketing de campanhas sociais: significa veicular mensagens
de interesse público através de embalagens de produtos,
organizar uma força de vendas para determinado percentual ou
dia de vendas ser destinado a entidades, ou veicular em mídia
televisiva como em novelas;
c) marketing de patrocínio dos projetos sociais: o patrocínio pode
ser a terceiros, com as empresas atuando em parceria com os
governos no financiamento de suas ações sociais, como o
Programa Comunidade Solidária, e também o patrocínio
próprio, em que as empresas, através de seus institutos e
fundações, criam seus projetos e implementam-nos com
recursos próprios;
d) marketing de relacionamento com base em ações sociais utiliza
o pessoal de vendas da empresa para orientar os clientes como
usuários de serviços sociais;
33
e) marketing de promoção social do produto e da marca: a
empresa utiliza o nome de uma entidade ou logotipo de uma
campanha, agregando valor ao seu negócio e gerando aumento
e vendas;
O Marketing Social pode ser aplicado somente pela empresa ou
mediante parceria com uma entidade do terceiro setor que necessite de seu
apoio para que ambas possam em conjunto melhor oferecer uma campanha
em virtude de uma causa que afeta a sociedade ou parte dela.
“Um programa de marketing para causas sociais
pode ser desenvolvido por meio de uma aliança estratégica entre
uma empresa e uma organização voluntária ou beneficente
comprometida com a área de interesse social definida ou
diretamente em benefício da causa em si” (THOMPSON e
PRINGLE, 2000, p. 03).
Assim, as empresas podem aliar-se a uma entidade para apoiá-la no
propósito de realizar, por exemplo, campanhas de ajuda a crianças portadoras
de deficiência, de combate ao fumo, etc. Muitos consumidores apóiam essas
idéias e as vêem como algo bom e que trará benefícios à sociedade, dispondo-
se até mesmo a pagar mais por determinado produto por saber que este
adicional no preço destina-se a uma entidade que defende uma causa social.
Contudo, deve-se analisar criteriosamente qual será a causa de
interesse social mais relevante para seu público, pois caso contrário o
consumidor não se identificará com a campanha e poderá haver uma recusa
do produto. Para uma campanha a empresa deve focar-se nos valores da
marca e os valores que são importantes para o consumidor da marca e em
34
seguida distinguir as causas que melhor representarão os valores entre cliente
e empresa. Portanto, a empresa que utiliza a prática do Marketing Social deve
analisar bem suas ações, pois se a mesma utilizar desta ferramenta
indiscriminadamente poderá sofrer acusações de postura antiética vindo a
sofrer prejuízos em termos de imagem.
Portanto, deve ser avaliada cuidadosamente qual campanha a empresa
irá apoiar, pois esta deve ir ao encontro dos princípios dos consumidores.
Recomenda-se realizar uma segmentação de mercado para analisar qual
público deverá ser atingido, quais são suas características, suas opiniões e seu
modo de vida, fazendo previamente uma pesquisa de mercado. Após estas
etapas devem ser formuladas as estratégias e os objetivos da campanha,
observando o volume financeiro que a empresa tem disponível para a
campanha.
Finalmente, deve-se levar em conta o composto de marketing: produto,
preço, praça e comunicação; o que será oferecido para o público, qual seu
custo financeiro, onde será oferecido e como esta campanha será divulgada,
como o produto social será promovido. Com base nas informações
coletadas, pôde-se perceber que as pessoas apóiam as atitudes das empresas
envolvidas com uma causa social, uma instituição ou algum projeto que a
empresa tenha interesse em desenvolver. Muitas pessoas estão inclusive
dispostas a pagar um preço mais elevado por um determinado produto
vinculado a uma razão social, sendo estes produtos mais convincentes dentre
os concorrentes que não apóiam uma causa social.
Research International, na Inglaterra, que aponta que “64% dos
consumidores estão dispostos a pagar um pouco mais por um produto
associado a uma causa social; 20% da população se dispõe a pagar 10% a
35
mais pela causa certa; 61% dos consumidores mudariam de loja se a outra
fosse associada a uma boa causa”.
Esse tipo de pesquisa motiva muitas empresas a adotarem a prática da
Responsabilidade Social, pois elas podem também organizar um plano de
marketing com base em uma causa social que julguem importante, seja por
sua filosofia, missão ou objetivos internos.
Ashley et. al (2002) divulgam em sua obra alguns dados que
demonstram essa preocupação e citam uma pesquisa realizada pelo Instituto
de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), segundo a qual 90% das empresas
pesquisadas afirmam que começaram a investir em ações sociais por
acreditarem estar melhorando a sua imagem institucional. A ampliação das
relações da empresa com a comunidade foi apontada por 74% das empresas
como um motivo relevante para ações de Responsabilidade Social e 19%
acreditam que ser socialmente responsável incrementa a lucratividade.
Portanto, do ponto de vista organizacional, pode-se inferir que o
Marketing Social é uma conseqüência da Responsabilidade Social. A empresa
deve utiliza-se das estratégias de Marketing Social, observando o modo de
como fazer, por que fazer e quando fazer.
Muitas empresas utilizam o marketing para divulgar suas ações
relacionadas ao social, principalmente se ela é responsável socialmente.
Assim, pode-se dizer que a Responsabilidade Social e o Marketing Social
dependem intrinsecamente um do outro. O Marketing Social inicia-se como
uma verdadeira forma de exercício de Responsabilidade Social, podendo
chegar a construir, a longo prazo, um valor diferencial para a marca, agregação
de valor ao produto, aquisição de clientes, e possibilitando uma vantagem
competitiva para as empresas.
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Conclusão
De uns tempos para cá, a Responsabilidade Social das Empresas tem
se tornado um fator preponderante na definição dos seus rumos a seguir e da
definição do seu espaço dentro da sociedade. Essa mesma sociedade tem
cobrado e estimulado a Responsabilidade Social na forma de preferir
empresas engajadas nesta mentalidade, deixando (nem sempre, é claro) o
fator menor preço de lado e escolhendo produtos ou serviços que gerem
benefícios a terceiros.
Apesar disso, a Responsabilidade Social ainda não é uma idéia em
comum da maioria dos brasileiros, assim como não o é entre a maioria dos
empresários. Neste ponto é fundamental o apoio do Governo sob a forma de
privilégios àqueles que se comprometam com a Responsabilidade Social e
com fiscalização sobre os recursos deslocados para este fim.
Outro fator é: existem empresas que utilizam a Responsabilidade Social
como marketing e não se engajam com o espírito humanitário da
Responsabilidade de forma responsável e politicamente honesta. Não estou
dizendo para que os empresários se tornem futuras Madres Teresas de
Calcutá, mas não se pode confundir algo de cunho social como apenas uma
arma para aumentar vendas.
As empresas devem se tornar responsáveis socialmente, utilizar suas
experiências positivas como marketing para a empresa, mas não se esquecer
de olhar para dentro da empresa. Verificar os motivos de sucesso do projeto
pode ser um ótimo exercício para descobrir talentos que estão escondidos na
empresa e ainda não se revelaram.
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Certa vez li um texto sobre um funcionário de uma empresa do ramo de
cosméticos que trabalhava no Depto. Financeiro e, após um projeto feito em
asilos numa cidade, decidiu mudar de rumo, passou a trabalhar no Depto. de
Recursos Humanos da mesma empresa e já se tornou um Gerente de RH com
sucesso. Era um líder em potencial sendo desperdiçado em outra área.
Outro ponto: empresas investem fortunas em responsabilidade social e
marketing, desenvolvem diversos projetos, muitos deles de excelentes
resultados, e possuem um ambiente interno muito pesado e que não condiz
com a imagem que é passada ao público. Isto é a pior situação que pode
acontecer dentro de uma empresa. Os funcionários não têm um ambiente
profissional que estimule o bom desempenho e o crescimento, e fica difícil se
entregar a projetos que não lhe condizem.
Normalmente nestes casos, as empresas desenvolvem projetos com
empresas terceirizadas e contam com muito pouco de seus próprios
funcionários para a realização destes projetos. Não há o estímulo para o
crescimento do ideal responsável de dentro para fora da empresa. Os
empresários devem pensar: “Quero que meus funcionários trabalhem. O
máximo possível. Já estou dando dinheiro para uma instituição fazer esse tipo
de serviço, não vou liberar funcionários também”.
O ambiente interno de uma empresa deve ser seu primeiro campo para
o trabalho social. A motivação dos funcionários deve partir de suas funções no
dia-a-dia e de suas responsabilidades. Uma pessoa nunca se tornará feliz em
seu trabalho se não tiver condições mínimas de desenvolver suas funções, ser
reconhecido pelo seu esforço e ser respeitado dentro da empresa. Só um
detalhe: a motivação de um funcionário nem sempre significa dinheiro a mais
no final do mês. O reconhecimento pessoal dos envolvidos entre os próprios
funcionários da empresa pode fazer a diferença.
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As empresas que possuem o verdadeiro espírito do engajamento social
criam formas diferentes de atuar na sociedade de acordo com suas
capacidades. Existem empresas que contribuem financeiramente, outras que
disponibilizam parte do tempo de seus funcionários para instituições onde
podem desenvolver um trabalho conforme suas capacidades, e com o que esta
instituição pode estar precisando.
Casos como o de Diretores Financeiros que salvaram instituições que
não estavam conseguindo gerir suas necessidades de acordo com suas
receitas. As receitas de um asilo, por exemplo, variam durante todo o ano por
depender principalmente de doações. Além de resolver um problema financeiro
com novas ações e diretrizes, atuando em um asilo como um profissional que
é, o profissional sai prestigiado por resultados em uma área diferente de seu
foco na empresa e a empresa passa a ter mais confiança no profissional que
tem e na sua capacidade. Neste caso específico acontecido na cidade de
Goiânia, um Diretor Financeiro criou e capacitou uma equipe de funcionários
do asilo para captação de recursos junto a empresas e pessoas físicas e uma
conta para pagamento de fornecedores separado das demais despesas para
não faltar com os compromissos do asilo e manter o fornecimento sempre em
dia.
Por fim, conforme dito acima, a Responsabilidade Social não significa
apenas doações para instituições de caridade e propagandas para a empresa.
As empresas devem se conscientizar que ajudar é preciso. Só desta forma
conseguiremos arrumar o que o nosso País mais precisa-se de uma nova
mentalidade – positiva e determinada – para construirmos uma nação mais
digna e humana, sem tantas diferenças sociais.
Cabe aos empresários a responsabilidade de criar e tornar viáveis
projetos sociais, dentro e fora das empresas, e estimular todos para esse
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conceito. Adequando a realidade de cada empresa (grande, média, pequena,
micro, ou o que for), todos têm sempre algo de bom a fazer à sua maneira.
Desse jeito, um dia chega-se lá.
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