Universidade Católica de Petrópolis – UCP / Instituto de Pesquisa Tecnológica – IPETEC
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Universidade Católica de Petrópolis – UCP / Instituto de Pesquisa Tecnológica – IPETECPós-Graduação lato sensu Cultura Afro-Brasileira e Indígena
Oralidade e Desterritorialização. Indagações sobre os cânones
literários
Prof. Ricardo RisoPseudônimo de Ricardo Silva Ramos de Souza (1974). Mestrando de Relações Etnicorraciais do Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca – CEFET/RJ. Bolsista CAPES. Pesquisador do Estudos cabo-verdianos: literatura e cultura – Universidade de São Paulo (USP); Integrante do grupo de pesquisa GELITE/UEMA; Coorganizador do livro Afro-rizomas na diáspora negra: as literaturas africanas na encruzilhada brasileira (2013). Blog – ricardoriso.blogspot.com – E-mail: [email protected]
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Comerciais da Caixa Econômica Federal com Machado de Assis
https://www.youtube.com/watch?v=2sN2DQX5MNI
Comercial refeito
https://www.youtube.com/watch?v=GczgFMEM6Sg
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CÂNONEO que é?
Para que serve? A quem serve?
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[o] cânone de uma literatura nacional é o conjunto dos seus textos consagrados, considerados clássicos e ensinados em todas as escolas do país. O termo “cânone” tem origem religiosa, e não é empregado por alusão gratuita, mas porque conota a natureza “sagrada” atribuída a certos textos e autores, que assumem caráter paradigmático e são considerados píncaros do “espírito nacional” e recolhidos num “panteão de imortais”. Há uma redução da produção literária de um território a alguns autores, destes a poucos textos, e destes a determinados trechos; essa seleção segue critérios de conveniência estrutural, como se os fragmentos fossem fonemas de uma frase cujo sentido permanece ininteligível para quem os ouve isoladamente. Conjugam significados que formam uma mentalidade, num espectro que permanece inexpresso, mas que é tanto mais eficaz quanto menos for conscientizado.A pretensão implícita em todo cânone é ser indubitável e absoluto: isso pertence à sua natureza, na medida em que ele é o poder em forma de texto. O cânone é formado por textos elevados à categoria de discurso, no sentido de que nele se tem a palavra institucionalizada pelo poder. O cânone não pretende ter uma estrutura, mas ser simplesmente a condensação dos textos selecionados da tradição e pela tradição, por causa de sua qualidade artística superior: o fundamento de sua poética é, no entanto, política. Embora esteja em todos os conteúdos manifestos, a estrutura do cânone não se “mostra”, não é visível a quem está engolfado nela. A estrutura do cânone somente é visível ao olhar distanciado do “herege” (grifos do autor) (KHOTE, 2003, p. 108)
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EXEGESE CANÔNICA – é a interpretação do cânone que se torna canônica: parâmetro para todos os livros didáticos, artigos de revistas e jornais, aulas dos professores de português e de literatura. (...) serve para delimitar um elenco de textos considerados imprescindíveis ao ensino, porque “indubitavelmente consagrados”. Ainda que os autores apresentem algumas divergências menores e erros maiores, constitui aquilo que todos acabam dizendo. Todos repetem o que nelas se diz. São consagradas porque consagram o que o sistema quer que seja consagrado (KHOTE, 2003, p. 111).EXEGESE CANONIZANTE – é formada por milhares e milhares de variações em torno dos ditados da interpretação canônica: cada qual a querer consagrar-se repetindo os consagradores dos já consagrados. Não há maior senso crítico, ainda que se faça crítica. É uma crítica sem suficiente senso crítico, incapaz de questionar os textos em seus fundamentos. Faz parte da ideologia oficial, ainda que seus autores imaginem ser de esquerda ou vendam essa imagem para fora. É o stablishment literário. Tem condições espirituais e materiais para a produção e a divulgação cultural, é capaz de produzir um discurso com certo grau de dignidade, coerência e até profundidade, mas sempre tem um limite, um non plus ultra, um ponto onde é incapaz de pensar, sentir e escrever adiante do seu tapa-olho (KHOTE, 2003, p. 112, grifos do autor).
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LINGUAGEMDominar a linguagem e a sua forma escrita é uma forma de manutenção de poder e de consagração de um saber assim determinado por um grupo social hegemônico, que impõe o seu discurso, pois “o domínio da norma culta serve como fator de exclusão e há quem se beneficie com isso. Aqueles que valorizam a si próprios por saberem usar a norma culta da língua, não têm interesse em desvalorizar essa vantagem, conquistada, às vezes, com muito esforço” (DALCASTAGNÈ, 2012, p. 9)
A literatura consolida a hegemonia das elites letradas, o seu lugar de superioridade e de separação social, por conseguinte, tornando o discurso de sua classe como discurso de toda a sociedade (REIS, 1992, p. 69). Essas elites letradas são responsáveis para escalar pessoas autorizadas a selecionar (logo, excluir) obras literárias de acordo com seus interesses. Dentro dessa perspectiva, o uso correto da norma culta da língua passa a ser um marcador diferencial e obrigatório para que determinada obra seja aceita, desprezando-se assim outras formas de produção textual (REIS, 1992; KHOTE, 2003; DALCASTAGNÈ, 2013).
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AUTOR(IA)A partir dessa autoridade (e autor), não é mera coincidência
o fato da etimologia do latim auctor, “termo que, na Idade
Média, designava o escritor cujas palavras impunham
respeito e credibilidade” (REIS, 1992, p. 73-74). Com isso,
podemos perceber uma gama de exclusões que envolvem
grupos subalternizados por critérios de gênero, raça,
geográficos, etários etc.
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QUESTIONAR O CÂNONE
Homogeneidade do cânoneHierarquia social
Promover ruptura com os códigos de valores e ordens hierárquicas estabelecidas
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A não concordância com as regras implica avançar sobre o campo alheio, o que gera tensão e conflito, quase sempre, muito bem disfarçados. Por isso, a necessidade de refletir sobre como a literatura brasileira contemporânea, e os estudos literários, situam-se dentro desse jogo de forças, observando o modo como se elabora (ou não se elabora, contribuindo para o disfarce) a tensão resultante do embate entre os que não estão dispostos a ficar em seu “devido lugar” e aqueles que querem manter seu espaço descontaminado (DALCASTAGNÈ, 2012, p. 7).
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LITERATURA BRASILEIRA CONTEMPORÂNEA: UM TERRITÓRIO CONTESTADO, Regina Dalcastagnè
Pesquisa com 258 romances publicados de 1990 a 2004 pelas editoras Companhia das Letras, Record e Rocco.
EU QUERO ESCREVER UM LIVRO SOBRE LITERATURA BRASILEIRA, infográfico baseado na pesquisa de Regina Dalcastagnè.
http://pontoeletronico.me/2013/02/18/eu-quero-escrever-um-livro-sobre-literatura-brasileira/
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Literatura Negro-Brasileira como rasura do cânone
Por menos que conte a história Não te esqueço meu povo Se Palmares não vive mais Faremos Palmares de novo(José Carlos Limeira)
“A nossa escrevivência não pode ser lida como histórias para “ninar os da casa grande” e sim para incomodá-los em seus sonos injustos.”(Conceição Evaristo)
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O CONCEITONegro ou Afro não é tanto faz
Literatura Negra
Literatura Afro-Brasileira
Literatura Afrodescendente
Literatura Negro-Brasileira
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Característicassegundo Eduardo de Assis Duarte
A Temática A Autoria O Ponto de Vista A Linguagem O Público
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Silêncio da crítica nacional: brasilianistas que abordam a questão da autoria e da personagens negras na literatura brasileira. são os casos de Roger Bastide (1943) , Raymond Sayers (1958) e Gregory Rabassa (1965), e David Brookshaw (1983)Série Cadernos Negros Coletivos literários NegrosAntologiasLivros de ensaios e Encontro de Escritores Negros
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Livros, Antologias, Ensaios, Coletivos Literários
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A Literatura Negro-Brasileira
legítimos contestadores da palavra insurreta negra
“nasce na e da população negra que se formou fora da África, e
de sua experiência no Brasil. A singularidade é negra e, ao
mesmo tempo, brasileira, pois a palavra “negro” aponta para
um processo de luta participativa nos destinos da nação e não
se presta ao reducionismo contribucionista a uma pretensa
brancura que a englobaria como um todo a receber, daqui e dali,
elementos negros e indígenas para se fortalecer. Por se tratar
de participação na vida nacional, o realce a essa vertente
literária deve estar referenciado à sua gênese social ativa. O
que há de manifestação reivindicatória apoia-se na palavra
‘negra’.” (CUTI, 2010, pp. 44-45)
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CAROLINA MARIA DE JESUS“Eu escrevia peças e apresentava aos diretores de circo. Eles me respondiam: - É pena você ser preta. Esquecendo eles que eu adoro a minha pele negra, e o meu cabelo rústico. Eu até acho o cabelo de negro mais iducado do que o cabelo de branco. Porque o cabelo de preto, onde põe, fica. É obediente. E o cabelo de branco, é só dar um movimento na cabeça ele já sai do lugar. É indisciplinado. Se é que existe reincarnações, eu quero voltar sempre preta.” “... Os políticos sabem que eu sou poetisa. E que o poeta enfrenta a morte quando vê o seu povo oprimido.” (Quarto de Despejo, 1960, p. 40)“Eu prefiro empregar o meu dinheiro em livros do que no alcool. Se você achar que eu estou agindo acertadamente, peço-te para dizer: – Muito bem, Carolina!” (Quarto de Despejo, 1960, p. 73)“O senhor Manuel apareceu dizendo que quer casar-se comigo. Mas eu não quero porque já estou na maturidade. E depois, um homem não há de gostar de uma mulher que não pode passar sem ler. E que levanta para escrever. E que deita com lápis e papel debaixo do travesseiro. Por isso é que eu prefiro viver só para o meu ideal.” (Quarto de Despejo, 1960, p. 50)“... Fui na sapataria retirar os papeis. Um sapateiro perguntou-me se o meu livro é comunista. Respondi que é realista. Êle disse-me que não é aconselhavel escrever a realidade.” (Quarto de Despejo, 1960, p. 105)“[...] na África os negros são classificados assim:- Negro tú.- Negro turututú.- Negro sim senhor!Negro tú é o negro mais ou menos. Negro tutututú, é o que não vale nada. E o negro Sim Senhor é o da alta sociedade.” (Quarto de Despejo, 1960, p. 52)
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Precursores -o cânone enegrecido
Cruz e Sousa
Machado de Assis
Lima Barreto
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"Não! Não! Não! Não transporás os pórticos milenários da vasta edificação do
Mundo, porque atrás de ti e adiante de ti não sei quantas gerações foram
acumulando, acumulando pedra sobre pedra, pedra sobre pedra, que para aí estás
agora o verdadeiro emparedado de uma raça.
Se caminhares para a direita baterás e esbarrarás ansioso, aflito, numa
parede horrendamente incomensurável de Egoísmos e Preconceitos! Se
caminhares para a esquerda, outra parede, de Ciências e Críticas, mais alta do que
a primeira, te mergulhará profundamente no espanto! Se caminhares para a
frente, ainda nova parede, feita de Despeitos e Impotências, tremenda, de
granito, broncamente se elevará ao alto! Se caminhares, enfim, para trás, ah!
ainda, uma derradeira parede, fechando tudo, fechando tudo — horrível! — parede
de Imbecilidade e Ignorância, te deixará num frio espasmo de terror absoluto...
E, mais pedras, mais pedras se sobreporão às pedras já acumuladas, mais pedras,
mais pedras... Pedras destas odiosas, caricatas e fatigantes Civilizações e
Sociedades... Mais pedras, mais pedras! E as estranhas paredes hão de subir, —
longas, negras, terríficas! Hão de subir, subir, subir mudas, silenciosas, até às
Estrelas, deixando-te para sempre perdidamente alucinado e emparedado dentro
do teu Sonho...“
(CRUZ E SOUSA. Emparedado)
![Page 20: Universidade Católica de Petrópolis – UCP / Instituto de Pesquisa Tecnológica – IPETEC](https://reader033.fdocumentos.com/reader033/viewer/2022061614/56812fe0550346895d955673/html5/thumbnails/20.jpg)
HISTÓRIA DE QUINZE DIAS - VIII
De interesse geral é o fundo da emancipação, pelo qual se acham libertados em
alguns municípios 230 escravos. Só em alguns municípios!
Esperemos que o número será grande quando a libertação estiver feita em todo o
império.
A lei de 28 de setembro fez agora cinco anos. Deus lhe dê vida e saúde! Esta lei foi
um grande passo na nossa vida. Se tivesse vindo uns trinta anos antes estávamos
em outras condições.
Mas há 30 anos, não veio a lei, mas vinham ainda escravos, por contrabando, e
vendiam-se às escancaras no Valongo. Além da venda, havia o calabouço. Um
homem do meu conhecimento suspira pelo azorrague.
- Hoje os escravos estão altanados, costuma ele dizer. Se a gente dá uma sova
num, há logo quem intervenha e até chame a polícia. Bons tempos os que lá vão!
Eu ainda me lembro quando a gente via passar um preto escorrendo em sangue, e
dizia: "Anda diabo, não estás assim pelo que eu fiz!" ? Hoje...
E o homem solta um suspiro, tão de dentro, tão do coração... que faz cortar o dito.
Le pauvre homme!
(DUARTE, Eduardo de Assis. Machado afrodescendente. Rio de Janeiro: Pallas, 2007. 2ª ed. p. 31-
32.)
![Page 21: Universidade Católica de Petrópolis – UCP / Instituto de Pesquisa Tecnológica – IPETEC](https://reader033.fdocumentos.com/reader033/viewer/2022061614/56812fe0550346895d955673/html5/thumbnails/21.jpg)
ESCRAVOCRATAS
Oh!. trânsfugas do bem que sob o manto régio Manhosos, agachados - bem como um crocodilo, Viveis sensualmente à luz dum privilégio Na pose bestial dum cágado tranqüilo.
Eu rio-me de vós e cravo-vos as setas Ardentes do olhar - formando uma vergasta Dos raios mil do sol, das iras dos poetas, E vibro-vos à espinha - enquanto o grande basta
O basta gigantesco, imenso, extraordinário - Da branca consciência - o rutilo sacrário No tímpano do ouvido - audaz me não soar.
Eu quero em rude verso altivo adamastórico, Vermelho, colossal, d' estrépito, gongórico, Castrar-vos como um touro - ouvindo-vos urrar!
(CRUZ E SOUSA. O Livro derradeiro. Poesia completa, p. 201)
![Page 22: Universidade Católica de Petrópolis – UCP / Instituto de Pesquisa Tecnológica – IPETEC](https://reader033.fdocumentos.com/reader033/viewer/2022061614/56812fe0550346895d955673/html5/thumbnails/22.jpg)
Os seus protetores tinham sido abastados; eram descendentes de um alferes de milícias que tinha terras, para as bandas de S. Gonçalo, em Cubandê. Pouco depois da maioridade, com a morte do chefe da casa, filhos e filhas se transportaram para a Corte, procurando aqueles empregaram-se nas repartições do governo. Um dos irmãos já habitava a capital do Império e era cirurgião do Exército, tendo chegado a cirurgião-mor, gozando de grande fama. Para a cidade não trouxeram nenhum escravo. Venderam a maioria e os de estimação libertaram. Com eles só vieram os libertos que eram como da família. Pelo tempo de nascimento de Engrácia, havia poucos deles e delas em casa. Só a Babá, sua mãe e um preto estavam sob o teto patriarcal dos Teles de Carvalho. Engrácia foi criada com mimo de filha, como os outros rapazes e raparigas, filhos de antigos escravos, nascidos em casa dos Teles. Por isso, corria, de boca em boca, serem filhos dos varões da casa. O cochicho não era destituído de fundamento, naquela família, compostas de irmãs e irmãos que, ainda bastardos, se compraziam, tanto uns como as outras, em tratar filialmente aquela espécie de ingênuas que viam a luz do dia pela primeira vez, em sua casa. As senhoras então eram de uma meiguice de verdadeiras mães. Engrácia recebeu boa instrução, para a sua condição e sexo; mas, logo que se casou — como em geral acontece com as nossas moças — tratou de esquecer o que tinha estudado. O seu consórcio com Joaquim, ela o efetuara na idade de dezoito anos (LIMA BARRETO, 1949, p. 83-84).
![Page 23: Universidade Católica de Petrópolis – UCP / Instituto de Pesquisa Tecnológica – IPETEC](https://reader033.fdocumentos.com/reader033/viewer/2022061614/56812fe0550346895d955673/html5/thumbnails/23.jpg)
Cadernos Negros
• 1978 – Participam de CN1: Henrique Cunha, Ângela Galvão, Celinha, Jamu Minka, Eduardo de Oliveira, Cuti, Oswaldo de Camargo e Hugo Ferreira.
• 1980 – criação Quilombhoje - Cuti, Oswaldo de Camargo, Paulo Colina, Abelardo Rodrigues e Mário Jorge Lescano.
• 1983 – Quilombhoje – ruptura (Triunvirato) e ampliação (Cuti, Esmeralda Ribeiro, Jamu Minka, José Alberto (até julho de 1984), Márcio Barbosa, Miriam Alves, Oubi Inaê Kibuko, Sonia Fátima Conceição e Vera Lúcia Alves (CUTI, 2010, p. 129). No ano seguinte entra José Abílio Ferreira.
• 1995 – Quilombhoje (Esmeralda Ribeiro, Márcio Barbosa, Sônia Fátima da Conceição); inclusão do subtítulo contos/poemas afro-brasileiros.
• 1999 – Márcio Barbosa e Esmeralda Ribeiro assumem a organização da série até os dias atuais.
![Page 24: Universidade Católica de Petrópolis – UCP / Instituto de Pesquisa Tecnológica – IPETEC](https://reader033.fdocumentos.com/reader033/viewer/2022061614/56812fe0550346895d955673/html5/thumbnails/24.jpg)
A África está se libertando! já dizia Bélsiva, um dos nossos velhos poetas. E nós brasileiros de origem africana, como estamos?Estaremos no limiar de um novo tempo. Tempo de África vida nova, mais justa e mais livre e, inspirados por ela, renascemos arrancando as máscaras brancas, pondo fim à imitação. Descobrimos a lavagem cerebral que nos poluía e estamos assumindo nossa negrura bela e forte. Estamos limpando nosso espírito das idéias que nos enfraquecem e que só querem nos dominar. ‘Cadernos Negros’ marca passos decisivos para nossa valorização e resulta de nossa vigilância contra as idéias que nos confundem, nos enfraquecem e nos sufocam. As diferenças de estilo, concepções de literatura, forma, nada disso pode mais ser muro erguido entre aqueles que encontram na poesia um meio de expressão negra. Aqui se trata da legítima defesa dos valores do povo negro. A poesia como verdade, testemunha do nosso tempo.Neste 1980, 90 anos pós-abolição – esse conto do vigário que nos pregaram – brotaram em nossa comunidade novas iniciativas de conscientização, e ‘Cadernos Negros’ surgecomo mais um sinal desse tempo de África-consciência e ação para uma vida melhor, e nesse sentido, fazemos da negritude, aqui posta em poesia, parte da luta contra a exploração social em todos os níveis, na qual somos atingidos. (...)
25 de novembro de 1978. (ALVES, 2012, p. 222)
CADERNOS NEGROS 1
![Page 25: Universidade Católica de Petrópolis – UCP / Instituto de Pesquisa Tecnológica – IPETEC](https://reader033.fdocumentos.com/reader033/viewer/2022061614/56812fe0550346895d955673/html5/thumbnails/25.jpg)
SER E NÃO SER
(Oliveira Silveira)
O racismo que existe,
o racismo que não existe.
O sim que é não,
o não que é sim.
É assim o Brasil
ou não?
(RIBEIRO, Esmeralda; BARBOSA, Márcio (Orgs.). Cadernos
Negros: Três Décadas – ensaios, poemas, contos. São Paulo:
Quilombhoje; SEPPIR, p. 108)
![Page 26: Universidade Católica de Petrópolis – UCP / Instituto de Pesquisa Tecnológica – IPETEC](https://reader033.fdocumentos.com/reader033/viewer/2022061614/56812fe0550346895d955673/html5/thumbnails/26.jpg)
PONTO HISTÓRICO
(Éle Semog)
Não é que eu
Seja racista...
Mas existem certas
Coisas
Que só os NEGROS
Entendem.
Existe um tipo de amor
Que só os NEGROS
Possuem,
Existe uma marca no
Peito
Que só nos NEGROS
Se vê,
Existe um sol
Cansativo
Que só os NEGROS
Resistem.
Não é que eu
Seja racista...,
Mas existe uma
História
Que só os NEGROS
Sabem contar
... Que poucos podem
Entender.
(Éle Semog e José Carlos Limeira. O
Arco-Íris Negro. 1978, p. 94)
![Page 27: Universidade Católica de Petrópolis – UCP / Instituto de Pesquisa Tecnológica – IPETEC](https://reader033.fdocumentos.com/reader033/viewer/2022061614/56812fe0550346895d955673/html5/thumbnails/27.jpg)
IDENTIDADE (José Carlos Limeira)
Houve um tempo em queconstava de sua carteirao dado corna minha: pardaescuracabeloscarapinhados.
Diante do espelho, me perguntoque faço com estes lábios grossos,este nariz achatado?Que faço com esta memóriade tantos grilhões,destas crenças me lambendo as entranhas?
Será que não é demais ter o direitode ser negro?Causa espanto?Pardaescura é o aspecto que vocês deram à nossa história.
Morra de susto!Sou, vou sempre ser: NEGRO!ENE, É, GÊ, ERRE, Ó.Aqui, Ó!
(In: Atabaques. 1979. p. )
![Page 28: Universidade Católica de Petrópolis – UCP / Instituto de Pesquisa Tecnológica – IPETEC](https://reader033.fdocumentos.com/reader033/viewer/2022061614/56812fe0550346895d955673/html5/thumbnails/28.jpg)
OUTRA NEGA FULÔ
(Oliveira Silveira)
O sinhô foi açoitar
a outra nega Fulô
- ou será que era a mesma?
A nega tirou a saia,
a blusa e se pelou.
O sinhô ficou tarado,
Largou o relho e se engraçou.
A nega em vez de deitar
pegou um pau e sampou
nas guampas doz sinhô.
- Essa nega Fulô!
Esta nossa Fulô!,
dizia intimamente satisfeito
o velho pai João
pra escândalo do bom Jorge de Lima,
seminegro e cristão.
E a mãe-preta chegou bem cretina
Fingindo uma dor no coração.
- Fulô! Fulô! Ó Fulô!!
A sinhá burra e besta perguntou
onde é que tava o sinhô
que o diabo lhe mandou.
- Ah, foi você que matou!
- É sim, fui eu que matou –
disse bem longe a Fulô
pro seu nego, que levou
ela por mato, e com ele
aí sim ela deitou.
Essa nega Fulô!
Esta nossa Fulô!
(RIBEIRO, Esmeralda; BARBOSA, Márcio
(Orgs.). Cadernos Negros: Três Décadas –
ensaios, poemas, contos. São Paulo:
Quilombhoje; SEPPIR, p. 109-110)
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TRADIÇÃO(Cuti)
sob a vasta bigodeira de machadoos lábios da raça escondidos achoa lâmina do riso e o discreto escracho
em cruz fico muito à vontadepara reunir setas de revoltaangústias e cravos
ensaio o arrombamento de portascom o pé-de-cabraque me emprestacom o deboche de sua risadao gama
com o lima afio as facasentro na trama
solano eu abraçono boi-bumbado socialistadonum salto a-rap-iadochego junto com os manonossa vidamuito tato e tutano.
(Negroesia, p. 14)
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QUEBRANTO (Cuti)
às vezes sou o policial que me suspeitome peço documentos e mesmo de posse delesme prendo e me dou porrada
às vezes sou o porteironão me deixando entrar em mim mesmoa não serpela porta de serviço
às vezes sou o meu próprio delitoo corpo de juradosa punição que vem com o veredicto
às vezes sou o amor que me viro o rostoo quebrantoo encostoa solidão primitivaque me envolvo com o vazio
às vezes as migalhas do que sonhei e não comioutras o bem-te-vi com olhos vidradostrinando tristezas
um dia fui abolição que me lancei de supetão no espantodepois um imperador depostoa república de conchavos no coraçãoe em seguida uma constituição que me promulgo a cada instante
também a violência dum impulsoque me ponho do avessocom acessos de cal e gessochego a ser
às vezes faço questão de não me vere entupido com a visão delessinto-me a miséria concebida como um eterno começo
fecho-me o cercosendo o gesto que me negoa pinga que me bebo e me embebedoo dedo que me apontoe denuncioo ponto em que me entrego.
às vezes!...
(In: Negroesia – antologia poética. Belo Horizonte: Mazza Edições, 2007. p. 53-54)
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APARTHEID (Jamu Minka)
humanidade vesga o homem lobo do homem heresia, branquistudo estúpida eurhorrores hipocriazul nos músculos hitlerismo hoje humanidade outra esperançaébanidade heroica azeviche-húmus virando o século
• Lumumba• Nkrumah• Touré Marley• Mondlane Tambo• Cabral Makeba• Biko Nujoma• Mandela e• Moloise Samora• Tutu semente• Neto sempre
(Cadernos Negros 11, p. 42)
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AS VOZES-MULHERES NEGRASvozes insubmissas do inconformismo contra o sexismo e o racismo
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A produção textual das mulheres negras é
relevante, pois põe a descoberto muitos
aspectos de nossa vivência e condição que não
estão presentes nas definições dominantes de
realidade e das pesquisas históricas. Partindo
de um outro olhar, debatendo-se contra as
amarras ideológicas e as imposições históricas,
propicia uma reflexão revelando a face de um
BrasilAfro (destaque no original) feminino,
diferente do que se padronizou, humanizando
esta mulher negra, imprimindo um rosto, um
corpo e um sentir mulher com características
próprias (MIRIAM ALVES, 2010, p. 67).
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“E agora apresento um elemento vital na constituição de uma
literatura afro-brasileira – a autoria. (...) Eu sou uma escritora
brasileira, mas não somente. A minha condição de brasileira agrega
outras identidades que me diferenciam: a de mulher, a de negra, a
de oriunda das classes populares e outras ainda, condições que
marcam, que orientam a minha escrita, consciente e
inconscientemente. Nesse sentido, não tenho receio algum em não só
afirmar a existência de uma literatura afro-brasileira, como ainda me
encaixar no grupo de autores/as que criam um texto afro-brasileiro. E
ainda asseguro a existência de um texto feminino negro, ou afro-
brasileiro, como queiram. (...) E, nesse sentido, afirmo que, quando
escrevo, sou eu, Conceição Evaristo, eu-sujeito a criar um texto e que
não me desvencilho de minha condição de cidadã brasileira, negra,
mulher, viúva, professora, oriunda de classes populares, mãe de uma
especial menina, Ainá etc., condições estas que influenciam na
criação de personagens, enredos ou opções de linguagem a partir de
uma história, de uma experiência pessoal que é intransferível
(EVARISTO, 2011, p. 114-115)
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DE MÃE (Conceição Evaristo)
O cuidado da minha poesiaaprendi foi de mãemulher de pôr reparo nas coisas e de assuntar a vida.
A brandura da minha falana violência dos meus ditosganhei de mãemulher prenhe de dizeresfecundados na boca do mundo.
Foi de mãe todo o meu tesouro,veio dela todo o meu ganho,mulher sapiência, yabá,do fogo tirava águado pranto criava consolo.
Foi de mãe esse meio risodado para esconderalegria inteirae essa fé desconfiada,pois, quando se anda descalçocada dedo olha a estrada.
Foi mãe que me descegoupara os cantos milagreiros da vida,apontando-me o fogo disfarçadoem cinzas e a agulha do tempo movendo no palheiro.
Foi mãe que me fez sentiras flores amassadasdebaixo das pedrasos corpos vaziosrente às calçadase me ensinou, insisto, foi elaa fazer da palavraartifícioarte e ofíciodo meu canto da minha fala.
(RIBEIRO, Esmeralda; BARBOSA, Márcio (Orgs.). Cadernos Negros: Três Décadas – ensaios, poemas, contos. São Paulo: Quilombhoje; SEPPIR, p. 120-121)
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VOZES-MULHERES
(Conceição Evaristo)
A voz de minha bisavó ecoou
criança
nos porões do navio.
Ecoou lamentos
de uma infância perdida.
A voz de minha avó
ecoou obediência
aos brancos-donos de tudo.
A voz de minha mãe
ecoou baixinho revolta
no fundo das cozinhas alheias
debaixo das trouxas
roupagens sujas dos brancos
pelo caminho empoeirado
rumo à favela
A minha voz ainda
ecoa versos perplexos
com rimas de sangue
e
fome.
A voz de minha filha
recolhe todas as nossas vozes
recolhe em si
as vozes mudas caladas
engasgadas nas gargantas.
A voz de minha filha
recolhe em si
a fala e o ato.
O ontem – o hoje – o agora.
Na voz de minha filha
se fará ouvir a ressonância
o eco da vida-liberdade.
(Cadernos negros 13, p. 32-33)
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NÃO VOU MAIS LAVAR OS PRATOS
(CRISTIANE SOBRAL)
Não vou mais lavar os pratos.
Nem vou limpar a poeira dos móveis.
Sinto muito. Comecei a ler. Abri outro
dia um livro
e uma semana depois decidi. (...)
Ah, esqueci de dizer. Não vou mais.
Resolvi ficar um tempo comigo.
Resolvi ler sobre o que se passa
conosco.
Você nem me espere. Você nem me
chame. Não vou.
De tudo o que jamais li, de tudo o que
jamais entendi,
você foi o que passou
Passou do limite, passou da medida,
passou do alfabeto.
Desalfabetizou. (...)
Não lavo mais pratos.
Li a assinatura da minha lei áurea
escrita em negro maiúsculo,
em letras tamanho 18, espaço
duplo.
Aboli.
Não lavo mais os pratos
Quero travessas de prata,
Cozinha de luxo,
e jóias de ouro. Legítimas.
Está decretada a lei áurea.
(Cadernos negros 23: poemas afro-
brasileiros, 2000)
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MAHIN AMANHÃ
(Miriam Alves)
Ouve-se nos cantos a conspiração
vozes baixas sussurram frases
precisas
escorre nos becos a lâmina das
adagas
Multidão tropeça nas pedras
Revolta
há revoada de pássaros
sussurro, sussurro:
“é amanhã, é amanhã.
Mahin falou, é amanha”
A cidade toda se prepara
Malês
Bantus
geges
nagôs
vestes coloridas resguardam
esperanças
aguardam a luta
Arma-se a grande derrubada
branca
a luta é tramada na língua dos
Orixás
“é aminhã, aminhã”
sussuram
Malês
Bantus
geges
nagôs
“é aminhã, Luiza Mahin falô”
(Cadernos Negros: os melhores
poemas, p. 104)
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PARA TODOS OS DIAS(Ana Cruz)
Nasci onde o rio fazia curvaPara descansar,
O fogo, água e mato.A certeza, o tempo passando sem pressa.A voz dos meninos se transformando.Flores nas meninas começando a nascer.
Cigarra acordou cantando uma canção diferentee o céu tá côvado, sinal de chuva pesada.
Milho, manga formiga cabeçuda,todo mundo, tudo vida. (...)
As rezadeiras, benzedeiras, parteiras, milagreiras.Alegres faladeiras. (...)
História de uma famíliaque acompanhou o progressomas não quis levaro patuá de identidade.
Desembestaram atrás do progresso,sem saber que o progresso era aquelee para onde ele estava indo.
Daí, o progresso progrediusó de um lado,progrediu ainda mais
quem era progredido.
E essas pessoas ficaramfeito folha secaao vento...
Arrebatamento...Juízo final...Ressucita, minha avó,para dar jeitonesse meu mundo.
(E... feito de luz, p. 9-10)
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Meu Rosário (CONCEIÇÃO EVARISTO)
Meu rosário é feito de contas negras e mágicas.Nas contas de meu rosário eu canto Mamãe Oxum e falopadres-nossos e ave-marias.Do meu rosário eu ouço os longínquos batuques do meu povoe encontro na memória mal adormecidaas rezas dos meses de maio de minha infância.As coroações da Senhora, em que as meninas negras,apesar do desejo de coroar a Rainha,tinham de se contentar em ficar ao pé do altar lançando flores.As contas do meu rosário fizeram calosem minhas mãos,pois são contas do trabalho na terra, nas fábricas, nas casas, nas escolas, nas ruas, no mundo.As contas do meu rosário são contas vivas.(Alguém disse um dia que a vida é uma oração,eu diria, porém, que há vidas-blasfemas).
Nas contas de meu rosário eu teço intumescidos sonhos de esperanças. Nas contas de meu rosário eu vejo rostos escondidos por visíveis e invisíveis grades e embalo a dor da luta perdida nas contas de meu rosário.Nas contas de meu rosário eu canto, eu grito, eu calo.Do meu rosário eu sinto o borbulhar da fomeno estômago, no coração e nas cabeças vazias.Quando debulho as contas do meu rosário,eu falo de mim mesma um outro nome.E sonho nas contas de meu rosário lugares, pessoas, vidas que pouco a pouco descubro reais.Vou e volto por entre as contas de meu rosário,que são pedras marcando-me o corpo caminho.E neste andar de contas-pedras,o meu rosário se transmuta em tinta,me guia o dedo, me insinua a poesia.E depois de macerar conta por conto do meu rosário, me acho aqui eu mesmae descubro que ainda me chamo Maria.(Poemas da recordação e outros movimentos. p. 16-17)
![Page 41: Universidade Católica de Petrópolis – UCP / Instituto de Pesquisa Tecnológica – IPETEC](https://reader033.fdocumentos.com/reader033/viewer/2022061614/56812fe0550346895d955673/html5/thumbnails/41.jpg)
PIXAIM ELÉTRICO
(Cristiane Sobral)
Naquele dia
Meu pixaim elétrico gritava alto
Provocava sem alisar ninguém.
Meu cabelo estava cheio de si
Naquele dia
Preparei a carapinha para enfrentar
a monotonia da paisagem da
estrada
Soltei os grampos e segui, de cara
pro vento, bem desaforada...
Sem esconder volumes nem negar
raízes.
Pura filosofia
Meu cabelo escuro, crespo, alto e
grave...
Quase um caso de polícia em meio
à pasmaceira da cidade
Incomodou identidades e pariu
novas cabeças
Abaixo a demagogia
Soltei as amarras e recusei
qualquer relaxante
Assumi as minhas raízes ainda que
brincasse com alguns matizes
Confrontando o meu pixaim elétrico
com as cores pálidas do dia.
(In: Não vou mais lavar os pratos,
2011, p. 81)
![Page 42: Universidade Católica de Petrópolis – UCP / Instituto de Pesquisa Tecnológica – IPETEC](https://reader033.fdocumentos.com/reader033/viewer/2022061614/56812fe0550346895d955673/html5/thumbnails/42.jpg)
INVASÃO
(Sonia Fátima Conceição)
Energizemos as cidades
(é o momento)
ressoem os atabaques
santo sacrifício
sacrifique
(um bode)
na Santa Eucaristia
santo sangue
nos cubra
a todos
AXÉ
(Finally Us, p. 218)
![Page 43: Universidade Católica de Petrópolis – UCP / Instituto de Pesquisa Tecnológica – IPETEC](https://reader033.fdocumentos.com/reader033/viewer/2022061614/56812fe0550346895d955673/html5/thumbnails/43.jpg)
PLURALISMO DOS TRANSNEGRESSORESa liberdade inventiva da palavra
Adão Ventura - Arnaldo Xavier
Oliveira Silveira - Paulo Colina
Ronald Augusto - Ricardo Aleixo
Cuti - Edimilson de Almeida Pereira
Henrique Freitas – Ogum´s Toques Negros
TRANSNEGRESSÃO
tenta dar conta – através da justaposição de vocábulos (negro +
transgressão), ao estilo da montagem cinematográfica – de uma proposta
estética interessada em lesar tanto as ideias feitas que orientam nossas
filosofias de vida quanto à imagem de um cânone totalizante, “universal”,
vantajoso (para quem?) a ponto de poder ser aplicado em qualquer tempo-
espaço (AUGUSTO, 2010, p. 434).
![Page 44: Universidade Católica de Petrópolis – UCP / Instituto de Pesquisa Tecnológica – IPETEC](https://reader033.fdocumentos.com/reader033/viewer/2022061614/56812fe0550346895d955673/html5/thumbnails/44.jpg)
Poemas visuais de Arnaldo Xavier
![Page 45: Universidade Católica de Petrópolis – UCP / Instituto de Pesquisa Tecnológica – IPETEC](https://reader033.fdocumentos.com/reader033/viewer/2022061614/56812fe0550346895d955673/html5/thumbnails/45.jpg)
Poemas visuais de Arnaldo Xavier
![Page 46: Universidade Católica de Petrópolis – UCP / Instituto de Pesquisa Tecnológica – IPETEC](https://reader033.fdocumentos.com/reader033/viewer/2022061614/56812fe0550346895d955673/html5/thumbnails/46.jpg)
Poema-visual de Ronald Augusto. In:
AGUSTONI, 2010, p. 483
![Page 47: Universidade Católica de Petrópolis – UCP / Instituto de Pesquisa Tecnológica – IPETEC](https://reader033.fdocumentos.com/reader033/viewer/2022061614/56812fe0550346895d955673/html5/thumbnails/47.jpg)
OLIVEIRA SILVEIRA. “Atabaques”. In: AUGUSTO, Ronald (Org.). Oliveira Silveira – Poesia Reunida. Porto Alegre: Instituto Estadual do Livro; CORAG, 2012, p. 154.
![Page 48: Universidade Católica de Petrópolis – UCP / Instituto de Pesquisa Tecnológica – IPETEC](https://reader033.fdocumentos.com/reader033/viewer/2022061614/56812fe0550346895d955673/html5/thumbnails/48.jpg)
![Page 49: Universidade Católica de Petrópolis – UCP / Instituto de Pesquisa Tecnológica – IPETEC](https://reader033.fdocumentos.com/reader033/viewer/2022061614/56812fe0550346895d955673/html5/thumbnails/49.jpg)
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1. cada uma das mãos o dividiu em viagens.as flores estavam fatigadas com o desconsolo das declarações de amor. não havia relógios nem outras perfurações que os iden-tificassem. lygia enxugou os pra-tos com o último dos envelopes. era expressamente proibida a en-trada de pessoas de cor naquele REIcinto de segurança. vendem-se empregadas domésticas que sai-bam descascar BACH. ou ainda: sensacional liquidação de lilases especializadas em pacto com o amanhecer. tergal também serve para encadernações de corpos hu-manos.
ADÃO VENTURA. Abrir-se um abutre ou mesmo depois de deduzir dele o azul. 1969. s/p.
![Page 51: Universidade Católica de Petrópolis – UCP / Instituto de Pesquisa Tecnológica – IPETEC](https://reader033.fdocumentos.com/reader033/viewer/2022061614/56812fe0550346895d955673/html5/thumbnails/51.jpg)
eles que são brancos e os que não são eles
que são machos e os que não são eles que
são adultos e os que não são eles que são
cristãos e os que não são eles que são
ricos e os que não são todos os que são mas não
acham que são como os outros que se entendam
que se expliquem que se cuidem que se
Ricardo Aleixo. In: AGUSTONI, 2010, p. 483
![Page 52: Universidade Católica de Petrópolis – UCP / Instituto de Pesquisa Tecnológica – IPETEC](https://reader033.fdocumentos.com/reader033/viewer/2022061614/56812fe0550346895d955673/html5/thumbnails/52.jpg)
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LEITURA DOS ARTIGOS BLOCO 1“Preconceito Cultural”, de Ferreira Gullar, http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrada/12790-preconceito-cultural.shtml
“A empáfia do poeta Gullar”, de Cutihttp://www.geledes.org.br/em-debate/colunistas/12190-luiz-silva-cuti-a-empafia-do-poeta-goulart
BLOCO 2Marta diz que critério para levar autor nacional a Frankfurt foi literário, não étnicohttp://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2013/10/1350634-marta-diz-que-criterio-para-levar-autor-brasileiro-a-frankfurt-nao-foi-etnico-mas-literario.shtml
Feira de Frankfurt nega racismo em lista de brasileiroshttp://oglobo.globo.com/cultura/feira-de-frankfurt-nega-racismo-em-lista-de-brasileiros-10206335
Nota de repúdio pela ausência de escritores negros na lista dos 70 autores brasileiros feita pelo Ministério da Cultura do Brasil para a Feira de Frankfurt 2013http://www.sul21.com.br/jornal/escritores-convidados-para-a-feira-de-frankfurt-literatura-e-emapartheidem-naturalizado/
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Leitura complementarALVES, Miriam. Brasilafro autorrevelado: literatura brasileira contemporânea. Belo Horizonte: Nandyala, 2010._____. Cadernos Negros (número 1): estado de alerta no fogo cruzado. In: FIGUEIREDO, Maria do Carmo Lanna; FONSECA, Maria Nazareth Soares (Orgs.). Poéticas afro-brasileiras. 2 ed. Belo Horizonte: Mazza; PUC Minas, 2012. p. 221-240.BERND, Zilá (Org.). Antologia de poesia afro-brasileira: 150 anos de consciência negra. Belo Horizonte: Mazza Edições, 2011._____. Poesia negra brasileira: antologia. Porto Alegre: AGE; IEL; IGEL, 1992. _____. Introdução à literatura negra. São Paulo: Brasiliense, 1988.BROOKSHAW, David. Raça & cor na literatura brasileira. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1983.CAMARGO, Oswaldo de (Org.). A razão da chama – antologia de poetas negros brasileira. São Paulo: Edições GRD, 1986._____. O negro escrito: apontamentos sobre a presença do negro na literatura brasileira. São Paulo: Secretaria do Estado da Cultura, 1987.COLINA, Paulo (Org.). Axé – antologia contemporânea de poesia negra brasileira. São Paulo: Global, 1982.CUTI. Literatura negro-brasileira. São Paulo: Selo Negro, 2010._____. Quem tem medo da palavra negro. Belo Horizonte: Mazza Edições, s/d._____. O leitor e o texto afro-brasileiro. In: FIGUEIREDO, Maria do Carmo Lanna; FONSECA, Maria Nazareth Soares (Orgs.). Poéticas afro-brasileiras. 2 ed. Belo Horizonte: Mazza; PUC Minas, 2012. pp. 19-36.DALCASTAGNÈ, Regina. Entre silêncios e estereótipos: relações raciais na literatura brasileira contemporânea. Disponível em http://www.gelbc.com.br/pdf_revista/3105.pdf______. A personagem do romance brasileiro contemporâneo: 1990-2004. Disponível em http://www.gelbc.com.br/pdf_revista/2602.pdf DUARTE, Eduardo de Assis (Org.). Literatura e afrodescendência no Brasil: antologia crítica. Vol. 1,2 ,3 e 4 . Belo Horizonte: Editora UFMG, 2011. EVARISTO, Conceição. Literatura negra. Rio de Janeiro: CEAP, 2007._____. Literatura negra: uma voz quilombola na literatura brasileira. In: PEREIRA, Edimilson de Almeida. Um tigre na floresta de signos – estudos sobre poesia e demandas sociais no Brasil. Belo Horizonte: Mazza Edições, 2010._____. Literatura negra: uma poética de nossa afro-brasilidade. In: Scripta, Belo Horizonte, v. 13, n. 25, p. 17-31, 2º sem. 2009._____. Da Grafia – Desenho de minha mãe, um dos lugares de nascimento de minha escrita. In: ALEXANDRE, Marco Antônio (Org.). Representações Performáticas Brasileiras: teorias, práticas e suas interfaces. Belo Horizonte: Mazza Edições, 2007, p 16-21.
![Page 55: Universidade Católica de Petrópolis – UCP / Instituto de Pesquisa Tecnológica – IPETEC](https://reader033.fdocumentos.com/reader033/viewer/2022061614/56812fe0550346895d955673/html5/thumbnails/55.jpg)
FANON, Frantz. Pele negra, máscara branca. Salvador: EDUFBA, 2008.FIGUEIREDO, Maria do Carmo Lanna; FONSECA, Maria Nazareth Soares. (Orgs.). Poéticas afro-brasileiras. 2 ed. Belo Horizonte: Mazza; PUC Minas, 2012. pp. 191-220KHOTE, Flávio R. O cânone colonial. Brasília: Editora da UnB, 2003.QUILOMBHOJE. Reflexões sobre a literatura afro-brasileira. São Paulo: Quilombhoje 1985.MUNANGA, Kabenguele. Rediscutindo a mestiçagem no Brasil – identidade nacional versus identidade negra. 3 ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2008.PEREIRA, Edimilson de Almeida. Um tigre na floresta de signos – estudos sobre poesia e demandas sociais no Brasil. Belo Horizonte: Mazza Edições, 2010. p. 425-437.QUILOMBHOJE. Cadernos Negros: os melhores poemas. São Paulo: Quilombhoje, 1998.RABASSA, Gregory. O negro na ficção brasileira. Rio de Janeiro: Edições Tempo Brasileiro, 1965.REIS, Roberto. Cânon. In: JOBIM, José Luis (Org.). Palavras da crítica. Rio de Janeiro: Imago, 1992. RISO, Ricardo. Negras substâncias de conscientização: a literatura negro-brasileira. In: Seminário Internacional Acolhendo As Línguas Africanas – SIALA – Africanias, Imagens e Linguagens, Universidade do Estado da Bahia – UNEB. 2012. Disponível em: < http://www.siala.uneb.br/pdfs/2012/ricardo_silva_ramos_de_souza.pdf > Acesso em 27 de novembro de 2013.SILVA, Jônatas Conceição da. Vozes quilombolas – uma poética brasileira. Salvador: EDUFBA, 2006.SOUZA, Florentina da Silva. Afro-descendência em Cadernos Negros e Jornal do MNU. Belo Horizonte: Autêntica, 2007.