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UNIVERSIDADE CIDADE DE SÃO PAULO VIVIANA VAN DEN BERG DE MENEZES Avaliação funcional da mão ipsilesional de indivíduos pós Acidente Vascular Encefálico SÃO PAULO 2014

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UNIVERSIDADE CIDADE DE SÃO PAULO

VIVIANA VAN DEN BERG DE MENEZES

Avaliação funcional da mão ipsilesional de indivíduos pós Acidente Vascular

Encefálico

SÃO PAULO

2014

i

UNIVERSIDADE CIDADE DE SÃO PAULO

VIVIANA VAN DEN BERG DE MENEZES

Avaliação funcional da mão ipsilesional de indivíduos pós Acidente Vascular

Encefálico

Dissertação apresentada ao Programa

de Mestrado e Doutorado em

Fisioterapia, da Universidade Cidade de

São Paulo, como requisito para

obtenção do título de Mestre, sob

orientação da Profª. Drª. Sandra M. S. F.

Freitas.

SÃO PAULO

2014

ii

DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho à minha mãe, Ana Virgínia, o meu maior

exemplo de fé, dignidade, profissionalismo, inteligência,

dedicação e amor ao próximo! Cada pequeno passo da minha

trajetória só poderia ser completo graças a você, mamãe!

iii

AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus pelo dom da vida! Pela oportunidade de ter uma

família maravilhosa, por gozar de saúde e capacidade para realizar os meus

objetivos e por nunca ter me deixado faltar nada, principalmente a fé!

Aos responsáveis pela minha criação e formação: meus pais, meus avós

Maria Virgínia e Johannes (in memorian) e minha madrinha Alida! Muito

obrigada por me passarem os melhores princípios e pela criação baseada na

fé, no amor e no bom caráter...vocês são a melhor família do mundo e eu os

amo infinitamente!

Cada etapa da minha vida, incluindo esta, só foi possível realizar-se

graças a uma pessoa muito especial: minha MÃE! Palavras são pequenas

perto da imensa gratidão que tenho a Deus por ter o privilégio de ser sua

filha...por ter a melhor pessoa do mundo com sua doce presença, mesmo a 3

mil km de distância! Obrigada pelos melhores conselhos, pelo carinho único e

incomparável, pelo investimento financeiro, por nunca deixar de acreditar no

meu potencial, por me encorajar a seguir em frente, por iluminar meu caminho

quando tudo parece estar na escuridão e por me impulsionar a querer sempre

mais! Todo o melhor de mim é por você e para você! Te amo mais que tudo!

Ao meu paizinho, pelo carinho e pelos conselhos prudentes e amorosos,

dados a mim como pai e melhor amigo, pela sua disponibilidade em ouvir cada

detalhe da minha vida com atenção, em apoiar cada decisão minha, em guiar

os caminhos das minhas dúvidas...pelo seu colo quentinho mesmo à distância,

pelo seu sorriso mais bonito (que dá para sentir até via telefone!) e por dar todo

o melhor de si para mim! Te amo muito!

À minha “família” paulistana: minha “irmã de alma” Michele, minhas

melhores amigas Aline, Cintia, Louise e Amanda! Obrigada pelo colo, pelas

alegrias, por poder dividir minha vida com vocês, pelos momentos em que

mesmo sem entender muito bem sobre a minha dissertação vocês se

ofereceram seja para me ajudar na execução dela seja para me distrair nos

iv

momentos de ansiedade...minha vida aqui é muito menos solitária graças a

vocês!

À equipe do Hospital Sepaco: minhas chefes Karla e Sonia; aos grandes

amigos que fiz aqui: Débora, Laise, Isabel, Natália e Silas e aos demais

colegas que me ajudaram a flexibilizar meus horários, fizeram meus plantões

nos momentos em que eu precisava de concentração máxima para as

atividades do mestrado, ouviram e compreenderam pacientemente os meus

problemas e tornaram meus momentos dentro e fora do ambiente de trabalho

os mais felizes possíveis!

Às minhas amigas do mestrado: Juliana, Mykaella, Naiane, Núbia

Regina, Taiane e Waléria...cada uma com uma linha de pesquisa diferente,

porém sempre dispostas a ajudar! Vocês tornaram as aulas, apresentações,

trabalhos obrigatórios e atividades em geral mais leves e alegres! Obrigada

pela amizade e companheirismo!

Em especial, à minha duplinha Taiane e à minha conterrânea

Waléria...por todas as vezes que estudamos, rimos, nos ajudamos...por todas

as vezes em que chorei, desabafei, pensei em desistir...vocês, com suas

palavras encorajadoras, me ajudaram em todos os sentidos a seguir em frente

e me deram a certeza de que nós não fazemos amigos e sim reconhecemo-os!

À minha grande amiga Bianca, minha “co-co-orientadora”, como eu a

chamava! Minha trajetória na UNICID começou por sua causa e durante todo o

processo de desenvolvimento desse estudo, sua ajuda foi incansável,

fundamental, essencial...obrigada pela ajuda com leituras, coletas, dicas,

broncas, puxões de orelha, conselhos que só uma amiga de verdade e que

quer o sucesso da outra faz...este trabalho não poderia ter sido realizado sem

você e os méritos por ele são tão seus quanto meus!

À minha orientadora Sandra Freitas, pela dedicação, ética,

disponibilidade, zelo, perfeccionismo, atenção...pela ampla sabedoria tão

humildemente e competentemente repassada a mim e aos seus demais

v

alunos, pela paciência frente à tantas falhas minhas...nem que eu tentasse não

conseguiria expressar toda a gratidão e admiração que tenho por você em

poucas linhas...espero poder seguir seu exemplo como pessoa e profissional!

Muito obrigada, San!

Ao professor Paulo de Freitas, pela sua disponibilidade em sanar nossas

dúvidas, pelas sugestões valiosas, por acrescentar à mim e à Sandra seu

amplo conhecimento através das correções e por toda a sua contribuição com

seus ricos conhecimentos.

Aos professores que compõem a banca examinadora, muito obrigada

pela participação fundamental na execução desse estudo.

Ao corpo docente da UNICID, por ter elevado este programa de

mestrado e doutorado ao nível de excelência que possui e pelos ensinamentos

acerca de pesquisa e de vivência repassados com máxima competência!

vi

RESUMO

Indivíduos que sofreram um acidente vascular encefálico (AVE) apresentam

comprometimentos motores e sensoriais que podem levar a alterações na

função manual do membro superior contralesional e ipsilesional. Estes déficits

tornam os indivíduos total ou parcialmente dependentes na execução de

diversas tarefas manipulativas da vida diária. Dessa forma, o objetivo do estudo

foi avaliar a destreza e a força de preensão da mão ipsilesional de indivíduos

pós AVE. Participaram do estudo 15 indivíduos adultos, destros, que sofreram

AVE e 15 indivíduos sadios (grupo controle). Foram avaliadas a força de

preensão palmar e digital através da dinamometria de preensão palmar e de

pinça polpa-a-polpa; e a destreza manual e digital, através de dois testes,

respectivamente: teste de Função Manual Jebsen Taylor (TFMJT) e teste dos

Nove pinos nos buracos (9-PnB). Cada participante realizou três repetições

(exceto para o TFMJT) e os valores da primeira repetição, da média e do

melhor escore das três repetições foram comparados entre grupos. Os

resultados indicaram que o tempo total gasto pelos indivíduos que sofreram um

AVE para realizar o TFMJT foi maior do que o tempo gasto pelo grupo controle,

havendo diferença estatisticamente significante nos tempos para realização em

4 subtestes: levantar objetos pequenos, simular o uso da colher para a

alimentação, empilhar peças de dama e levantar objetos grandes e leves. Para

o teste de destreza digital houve diferença significativa entre os grupos

independente se para a análise foi utilizada a primeira repetição, o melhor

escore (i.e., menor tempo) ou escore médio (i.e., tempo médio) das três

repetições. No entanto, para os dois testes de força não foram encontradas

diferenças estatisticamente significantes entre os grupos. Estes resultados

sugerem que indivíduos que sofreram um AVE apresentam alterações na mão

ipsilesional, melhor identificadas por testes de maior complexidade, como os

que envolvem destreza tanto manual como digital. Ainda, os achados foram

independentes da medida utilizada como desfecho, i.e., a primeira repetição,

melhor escore ou escore médio, sugerindo que apenas uma repetição pode ser

utilizada nas avaliações da função manual. Dessa forma, o uso de testes de

vii

destreza manual e digital são recomendados na avaliação funcional da mão

ipsilesional de indivíduos pós AVE.

Palavras-chave: hemiparesia, membro superior, força de preensão, destreza.

viii

ABSTRACT

Individuals who have suffered a cerebrovascular accident (CVA) present motor

and sensory impairments that can lead to changes in the contralesional and

ipsilesional hand function. These deficits make them totally or partially

dependent individuals in performing several manipulation activities of daily

living. Thus, the aim of this study was to evaluate the dextery and maximum

grip strength of the ipsilesional hand of stroke individuals. The study included 15

adults, right-handed, who suffered a CVA and 15 healthy subjects (control

group). The maximum hand and digital grip strength were assessed with palmar

and pinch dynamometers, respectively, and manual and digital dexterity were

evaluated with two tests, respectively: Jebsen Taylor Hand Function Test (JT-

HF) and Nine Hole Peg Test. Each participant performed three repetitions of

each test (except JT-HF) and the values of the first repetition, the average and

the best score of the three repetitions were compared between groups. The

results indicated that the total time spent by the CVA individuals to perform JT-

HF was greater than the time spent by the control group, with significant

statistically difference in the time to perform the 4 subtests: lifting small objects,

simulating the use of the spoon for feeding, stacking checkers and lifting light

large objects. For the digital dexterity Test, there was no significant difference

between groups regardless if for analysis was used the first repetition, the best

score (i.e., shorter) or mean score (i.e., average time) of three replications.

However, for both tests of strength no statistically significant differences

between groups were found. These results suggest that individuals who have

suffered a stroke have changes in the ipsilesional hand, better identified by

more complex tests, such as those involving both manual and digital dexterity.

Still, the findings were independent of dependent variable used as the outcome,

the first repetition, best score or mean score suggesting that only one repetition

can be used to assess hand function. Therefore, the use of manual and digital

dexterity testes is recommended in the functional evaluation of ipsilesional hand

function of post CVA individuals.

ix

Keywords: hemiparesis, upper limb, grip strength, dexterity.

x

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ............................................................................................ 16

2. OBJETIVO .................................................................................................. 18

2.1 OBJETIVOS ESPECÍFICOS E HIPÓTESES .............................................. 18

3. REVISÃO DA LITERATURA ....................................................................... 19

3.1 Função Manual ........................................................................................... 19

3.2 Testes para avaliação da função manual ................................................... 23

3.3 Acidente Vascular Encefálico ..................................................................... 28

4. MéTODO .................................................................................................... 34

4.1 Tipo de estudo ............................................................................................ 34

4.2 participante ................................................................................................. 34

4.3 Procedimentos Experimentais .................................................................... 35

4.4 TESTES CLÍNICOS PARA ATENDER AOS CRITÉRIOS DE INCLUSÃO . 35

4.5 TESTES QUE AVALIAM A FUNÇÃO MANUAL ......................................... 38

4.6 AnÁlise dos Dados ..................................................................................... 42

5. RESULTADOS ........................................................................................... 44

6. DISCUSSÃO ............................................................................................... 55

7. CONCLUSÃO ............................................................................................. 61

8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................... 62

xi

LISTA DE ABREVIATURAS

ASHT: American Society of Hand Therapists

ANOVA: Análise de variância

AVE: Acidente Vascular Encefálico

C: Comprimento

cm: centímetros

GAVE: Grupo de indivíduos que sofreram AVE

GC: Grupo controle

DP: Desvio padrão

FP: Força de preensão

FPP: Força de preensão palmar

FPD: Força de preensão digital

kgf: quilograma-força

L: Largura

m: metros

MANOVA: Análise de multivariância

MEEM: Mini-exame do estado mental

T1: Tentativa 1

T2: Tentativa 2

xii

T3: Tentativa 3

TCLE: Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

TFMJT: Teste de função manual Jebsen-Taylor

9-PnB: Teste dos nove pinos nos buracos

UNICID: Universidade Cidade de São Paulo

UNICSUL: Universidade Cruzeiro do Sul

xiii

LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Situação experimental da avaliação da sensibilidade cutânea. ........ 36

Figura 2: Quadro de optótipos do teste de Snellen. ......................................... 36

Figura 3: Situação experimental do teste dos Nove pinos nos buracos. .......... 38

Figura 4: Seis subtestes do TFMJT. ................................................................. 41

Figura 5: Situação experimental da utilização do dinamômetro de preensão

palmar Jamar® em A e dinamômetro de preensão digital Saehan Corp em

B. ............................................................................................................... 42

Figura 6: Fluxogramas das amostras do estudo para o GAVE (A) e para o GC

(B). ............................................................................................................ 45

xiv

LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Características dos participantes do GAVE......................................47

Tabela 2: Características dos participantes do GC...........................................48

Tabela 3: Valores médios e desvio padrão do tempo total e de cada subteste

gasto para realizar o TFMJT pelo GAVE...........................................................49

Tabela 4: Valores médios e desvio padrão do tempo total e de cada subteste

gasto para realizar o TFMJT pelo GC................................................................50

Tabela 5: Valores médios e desvio padrão do tempo gasto para completar o

teste 9-PnB pelo GAVE e GC............................................................................51

Tabela 6: Valores médios e desvio padrão da FPD obtidos pelo GAVE e

GC......................................................................................................................53

Tabela 7: Valores médios e desvio padrão de FPP obtidas pelo GAVE e

GC......................................................................................................................54

xv

LISTA DE ANEXOS

Anexo 1: Termo de Consentimento Livre e Esclarecido....................................68

Anexo 2: Aceite do Comitê de Ética em Pesquisa Local...................................70

Anexo 3: Ficha de avaliação clínica..................................................................71

Anexo 4: Mini exame do estado mental.............................................................72

Anexo 5: Inventário de Edinburgh......................................................................73

Anexo 6: Escala de Fugl-Meyer.........................................................................74

16

1. INTRODUÇÃO

As mãos são fundamentais para a realização de múltiplas tarefas do dia-

a-dia. Para que um indivíduo possa comportar-se de forma independente ao

realizar suas atividades de vida diária, comunicar-se e manipular objetos com

êxito, faz-se necessário ter capacidade e habilidade para realizar movimentos

manuais, os quais são determinados pela integridade das estruturas

anatômicas, força muscular, sensibilidade, coordenação e destreza.

A ocorrência de um Acidente Vascular Encefálico (AVE), caracterizado

por um distúrbio focal cerebral, de origem vascular, frequentemente tem como

consequência déficits sensoriais e motores nos membros superiores e

inferiores, o que pode causar perda total (hemiplegia) ou parcial (hemiparesia)

dos movimentos1, 2.

Acometimentos na extremidade superior são amplamente observados

em indivíduos pós AVE tais como alteração no tônus muscular (principalmente

a espasticidade, porém também pode ocorrer distonia e/ou contraturas

musculares), fraqueza muscular3, incoordenação de movimentos, redução da

destreza das mãos e dos dedos, necessidade de um tempo maior para

alcançar um objeto, redução na suavidade das trajetórias da mão, menor

acurácia, menor capacidade de realizar tarefas bimanuais, entre outras4, 5.

Estas alterações podem ainda ser influenciadas por alguns fatores, entre

eles: o tipo de AVE1 e o grau de exercício praticado pelo indivíduo após a

ocorrência do AVE6. A presença destas alterações levam a restrições na

execução e participação em tarefas básicas realizadas, fazendo com que estes

indivíduos percam a capacidade para manter um estilo de vida total ou

parcialmente independente7.

Dessa forma, o membro superior contralateral à lesão encefálica

costuma ser alvo de programas de reabilitação para indivíduos que sofreram

AVE2, 8. Para compensar os déficits apresentados pelo membro contralesional

(membro do hemicorpo oposto ao hemisfério em que o AVE ocorreu), os

indivíduos que sofreram o AVE passam a solicitar em maior frequência o uso

17

do membro superior ipsilesional (membro do hemicorpo do mesmo lado de

ocorrência do AVE) na execução das atividades da vida diária2, 8.

Entretanto, essa mão ispilesional, a qual tem sido considerada referência

de normalidade, também apresenta alterações, mesmo que em menor grau

quando comparada à mão contralesional4, 5, 9. Alterações na função manual, em

particular, na geração de força de preensão e na destreza manuais e digitais,

podem afetar a execução de diversas tarefas manipulativas envolvendo a mão

ipsilesional2.

Sendo assim, a investigação dos déficits encontrados na mão

ipsilesional merecem atenção, pois a literatura ainda apresenta alguns dados

controversos com relação as características da função manual de indivíduos

pós AVE quando comparados a indivíduos sadios, como, por exemplo, no que

diz respeito à força de preensão (FP)2, 4, 10.

Além disso, vale ressaltar que apesar da avaliação da FP ser a mais

utilizada na caracterização da função manual, ela não é suficiente11. Muitas

tarefas da vida diária não requerem o uso de força manual, mas sim de um

controle adequado da força exercida pelos músculos da mão11. Assim, a

destreza manual e digital entre as outras características específicas das mãos

e dedos também deve ser analisada de forma minuciosa, uma vez que esta

exige a capacidade de manipular objetos com o máximo de sucesso, com o

mínimo gasto de energia e o mínimo dispêndio de tempo11.

Apesar das diversas formas já existentes de avaliação da função

manual, não há protocolo estabelecido e não há na literatura uma relação entre

a consistência das alterações na função manual com relação às medidas

utilizadas como desfecho no momento da avaliação.

Portanto, surge o questionamento no presente estudo: se a destreza e

a força de preensão tanto manuais quanto digitais no membro ipsilesional de

indivíduos pós AVE apresentam alterações quando comparadas as de

indivíduos sadios. E ainda, existe uma consistência nas alterações da função

manual observadas em relação à medida utilizada como desfecho ao avaliar

destreza e força de preensão manuais e digitais?

18

2. OBJETIVO

O objetivo geral do estudo foi avaliar a função da mão ipsilesional de

indivíduos pós AVE e identificar se possíveis alterações são consistentes em

diferentes medidas usadas como desfechos da avaliação.

2.1 OBJETIVOS ESPECÍFICOS E HIPÓTESES

Objetivo I: Verificar se há alteração na FP e/ou destreza manual e digital

ipsilesional de indivíduos que sofreram AVE quando comparados a indivíduos

sadios.

Hipótese I: Indivíduos pós AVE apresentam alteração na força de preensão e

destreza manual e digital ipsilesional quando comparados a indivíduos sadios.

Objetivo II: Verificar se há uma consistência nas alterações na força de

preensão e/ou destreza manual e digital ipsilesional de indivíduos que sofreram

AVE quando comparados a indivíduos sadios em relação à medida utilizada

como desfecho.

Hipótese II: As alterações na função manual ipsilesional de indivíduos que

sofreram AVE são mais evidentes quando o escore médio ou melhor escore de

três repetições são analisados.

19

3. REVISÃO DA LITERATURA

3.1 FUNÇÃO MANUAL

A função manual é essencial para a realização de diversas atividades

ligadas à sobrevivência12. Entre essas atividades, encontram-se as de vida

diária, como por exemplo, vestir-se, comunicar-se, alimentar-se; atividades de

vida profissional, como um marceneiro que necessite martelar um prego e

atividades esportivas que exijam o uso das mãos para manuseio de objetos

como uma raquete no tênis.

O sucesso na execução destas tarefas manuais depende de uma

coordenação adequada dos movimentos das articulações do ombro e cotovelo,

a qual permite o correto posicionamento da mão no espaço12. Além disso,

algumas características como sensibilidade, força e destreza adequadas das

mãos são fundamentais para promover aos seres humanos um estilo de vida

independente e melhor qualidade de vida13, 14.

Por exemplo, para que haja a correta manipulação de objetos faz-se

necessário que o indivíduo seja capaz de reconhecer as características do

objeto (e.g., tamanho, forma, textura) e, portanto, possuir sensibilidade das

mãos de forma mais íntegra possível é de grande importância, afim de

controlar e gerar adequadamente a força de preensão (FP) necessária entre os

dedos para manipular o objeto sem que este escorregue ou tenha sua forma

alterada14-16.

Ao observar a textura e peso prováveis do objeto, a aceleração

necessária para alcançá-lo e quantidade de FP para manipulá-lo é

automaticamente calculada pelo indivíduo17. Assim, a FP manual ou digital

pode ser definida como um meio objetivo de prover índices da integridade

funcional da extremidade superior, na qual a mão ou os dedos produzem uma

força perpendicular à superfície do objeto15. A adequada manipulação do objeto

depende dessa força gerada pelas musculaturas extrínseca e intrínseca da

mão, que promove o aumento da força de atrito entre a mão e o objeto,

impedindo o seu escorregamento15.

20

A FP manual, necessária para segurar um objeto entre os dedos

flexionados em oposição à pressão gerada pela palma da mão, pode ser

dividida em 3 tipos18: a) compressão cilíndrica, na qual a superfície da palma

da mão envolve um instrumento cilíndrico; b) compressão em gancho, na qual

dois a cinco dedos das mãos são utilizados como gancho e o polegar

permanece inativo; e, c) compressão esférica, na qual os dedos prendem um

objeto esférico18.

A FP digital, que envolve segurar um objeto entre a face palmar ou

lateral dos dedos e o polegar, também pode ser dividida em18: a) empunhadura

de precisão de ponta, na qual a ponta do polegar é utilizada contra um dos

outros dedos para pegar um objeto; b) empunhadura de preensão lateral, na

qual o polegar segura o objeto entre a face lateral do dedo indicador; e, c)

empunhadura de preensão palmar, onde o polegar se opõe a um ou mais

dedos e o objeto é segurado pelas superfícies das palmas das falanges distais

dos dedos.

Por ser muito utilizada em diversas tarefas manipulativas importantes no

dia-a-dia e permitir não só a avaliação clínica do membro superior, mas

também prover índices acerca da força corporal12, a FP tem sido objeto de

diversos estudos3, 12, 14-16, 19-24. Contudo, não há um consenso exato acerca dos

instrumentos mais adequados e protocolos para a sua avaliação12, 19.

Independente da forma de avaliação da FP, muitos são os que fatores

influenciam na sua magnitude. Variáveis como sexo, idade, massa corporal,

largura e comprimento da mão, estatura, sinceridade do esforço, aquecimento

antes do teste, uso da mão dominante, prejuízo físico e características da

atividade de vida profissional exercida pelo indivíduo avaliado influenciam no

resultado da avaliação de FP manual12, 19, 21, 22.

Alguns estudos sugerem que adultos do sexo masculino tem a FP maior

quando comparados com adultos do sexo feminino mas a razão para isto ainda

não é totalmente explicada19, 22, 25. Desrosiers afirma que as mulheres

apresentam FPmáx de 54% a 68% menor que os homens, dado possivelmente

explicado devido as características antropométricas, como comprimento e

largura da mão, apresentarem-se menores no gênero feminino24. Além disso,

21

independente do sexo, ocorre um declínio na FP manual com o avançar da

idade devido a fatores como: redução na quantidade de fibras musculares do

tipo II; hipotrofia; menor prática de atividades físicas; declínio na atividade dos

diversos sistemas que compõem o corpo humano, entre eles os sistemas

endócrino e vascular24. Todos estes fatores, em conjunto ou não levam a uma

queda redução da amplitude de movimento das fibras musculares e do

potencial muscular máximo24.

Estudos envolvendo a função dos membros superiores também

evidenciaram que em idosos saudáveis há declínio na FP após os 70 anos)23,

26. No entanto, Shechtman e colaboradores avaliaram a força de preensão de

832 indivíduos com mais de 60 anos e observaram que idade e sexo não foram

os únicos determinantes da FP, pois a massa corporal, largura e comprimento

da mão também influenciaram a geração de FP27.

Hanten e colaboradores (1999), ao estudar 1182 indivíduos sadios, de

ambos os sexos, com idades entre 20 e 64 anos, concluíram que massa

corporal e estatura estão diretamente relacionados com FP20, enquanto que no

estudo de Peolsson et al (2000), realizado com 101 participantes saudáveis, de

ambos os sexos, com idades entre 25 a 64 anos, foi encontrada correlação

apenas entre FP e estatura, não apresentando correlação entre a FP com a

massa corporal25.

Dessa forma, parece que ainda não é bem estabelecido na literatura

quais fatores interferem na geração de FP. Além disso, a presença de doenças,

como o Acidente Vascular Encefálico (AVE) que será apresentado

posteriormente em mais detalhes, ou trauma que atinja qualquer estrutura da

mão também afeta a geração de FP28, e, consequentemente, a execução de

tarefas manipulativas.

O outro aspecto que pode interferir no sucesso da execução de tarefas

manuais é a destreza11, 13, 28-40. Destreza tem sido definida de diferentes formas

pelos pesquisadores. Poirier (1987) definiu destreza como a “habilidade manual

que requer rápida coordenação de movimentos voluntários grossos ou finos,

baseados num certo número de capacidades, que são desenvolvidas através

do aprendizado, treinamento e experiência”37.

22

Backman e colaboradores (1992) definiram em seu estudo destreza

como “movimentos finos e voluntários usados para manipular objetos pequenos

durante uma tarefa específica mensurados pelo tempo requerido para

completar a tarefa”28 . No entanto, esta definição é voltada principalmente para

manipulação de objetos pequenos, enquanto que a maioria dos objetos

manipulados cotidianamente são maiores e não requerem movimentos

interdigitais31.

Chan (2000) definiu destreza manual ou dos dedos como “manipulação

controlada e habilidosa de uma ferramenta ou de um objeto pelos dedos”29. De

forma mais completa, recentemente, Lima (2012) definiu destreza manual

como a habilidade em realizar uma tarefa a qual representa a capacidade de

manipular um objeto com o máximo de sucesso, com o mínimo gasto de

energia e o mínimo dispêndio de tempo11. De fato, vários testes tem utilizado a

medida de tempo para avaliar a destreza tanto digital, como o teste dos nove

pinos no buraco (9-PnB)34, 35, que exige a colocação e remoção de pinos no

menor tempo possível e a manual, como o Teste de Função Manual Jebsen-

Taylor (TFMJT)33.

Assim como a FP, a destreza é influenciada por vários fatores como

idade, sexo11, 26, 28, 30, 31, 35, 41, alterações cognitivas, visoespaciais e a presença

de doenças, tais como o AVE5, 8, 9, 13, 29, 32, 36, 42-44. Michaelsen e colaboradores

(2011), realizaram um estudo com 281 participantes, sendo 168 mulheres (65,0

± 10,8 anos) e 113 homens (62,5 ± 11,9 anos), para verificar a influência da

idade e sexo na destreza digital utilizando o teste 9-PnB26. Os autores

concluíram que há um declínio da destreza e da capacidade funcional da mão

com o avanço da idade, o que afeta a independência na realização de

atividades cotidianas26. Porém, não houve, neste estudo, diferença entre o

sexo no desempenho no teste 9-PnB26.

Ao aplicar o teste 9-PnB em 24 indivíduos jovens, sendo 12 homens e

12 mulheres, Lima (2011) também não encontrou diferença entre os sexos14.

De fato, a literatura relata que os testes que envolvem maior destreza

unilateral, como o 9-PnB, não apresentam diferença significativa entre os

sexos30, 35.

23

Com relação à influência da idade sobre a destreza, Hackel et al (1992)

avaliaram a destreza manual através do TFMJT com uma amostra de 121

idosos com faixa etária entre 60-89, divididos em três grupos menores (60-69

anos, 70-79 anos e 80-89 anos)45. Como resultado, encontraram um declínio

na destreza manual com o avanço da idade, i.e., indivíduos com mais idade

precisaram de mais tempo para realizar as tarefas45. Além disso, os autores

concluíram que mais precisa é a função manual quando os dados dos

indivíduos de cada subgrupo são comparados aos dados normativos propostos

por Jebsen e colaboradores (1969), uma vez que neste estudo pioneiro

bembém houve divisão em subgrupos e quanto mais jovem foi o indivíduo,

maior foi sua destreza33.

Um aumento no tempo de execução dos subtestes do TFMJT também

foi observado por indivíduos que sofreram um AVE mesmo estes realizando

com a mão ipsilesional, sugerindo que a destreza manual é prejudicada pela

presença de doenças neurológicas32, 46, 47. No entanto, os achados dos estudos

sobre as alterações na destreza devido especificamente a ocorrência do AVE

serão apresentadas em detalhes posteriormente.

3.2 TESTES PARA AVALIAÇÃO DA FUNÇÃO

MANUAL

Existem vários testes clínicos que podem ser utilizados na avaliação da

função manual. Entre estes testes, os que avaliam a FP, tanto manual quanto

digital22 e, os de destreza manual33 e digital34, como indicativos da função da

mão tem sido muito utilizados, como será apresentado a seguir.

Força de Preensão (FP)

Para avaliar a FP, em geral, o instrumento mais utilizado é o

dinamômetro manual19, 22, 27. A American Society of Hand Therapists (ASHT)

recomenda este instrumento para medir a FP em indivíduos acometidos por

doenças caracterizadas por déficit nos membros superiores, tais como artrite

24

reumatóide, síndrome do túnel do carpo, epicondilite lateral, AVE, lesões

traumáticas e doenças neuromusculares48.

Ainda de acordo com a ASHT, a FP deve ser medida com o

dinamômetro palmar48. O indivíduo avaliado deve sentar-se confortavelmente,

posicionado com o ombro aduzido, o cotovelo fletido a 90º, o antebraço em

posição neutra e, o punho posicionado entre 0 e 30º de extensão, enquanto

segura o dinamômetro48. Segundo a ASHT, a FP máxima deve ser mensurada

três vezes, com períodos de descanso entre as medidas de, em média, 60

segundos48.

Mathiowetz e colaboradores (1984) avaliaram a FP máxima de 27

mulheres universitárias saudáveis utilizando estas recomendações e

observaram que a média entre as repetições era a medida mais confiável na

avaliação da FP em comparação a avaliação aos desfechos definidos pelo

valor da primeira repetição ou da FP mais alta21. Tal achado de que o valor da

média entre as repetições deve ser utilizado como desfecho foi observado tanto

para a FP palmar quanto digital, sendo que estes valores apresentaram

correlação mais alta com os valores obtidos em uma nova avaliação das

mesmas participantes. Por outro lado, a correlação mais baixa foi obtida

quando somente os valores da primeira repetição foram usados21. Assim, para

a FP é recomendado o uso do desfecho definido pela média de três repetições

como um indicativo de função manual21.

No entanto, no estudo de Macdermid et al (1994), dois avaliadores

mediram a FP palmar e digital de 38 indivíduos os quais sofreram traumas em

uma ou em ambas as mãos, seguindo as recomendações da ASHT49. Não foi

encontrada diferença significativa entre os escores entre a FP obtida em uma

medida e àquela definida pela média de três repetições49. Segundo os autores,

em situações em que há restrição de tempo ou limitações devido a condição do

paciente é possível realizar apenas uma avaliação uma vez que seu resultado

apresentou-se similar à média de três repetições49.

Peolsson et al (2001), que analisaram a FP manual e digital de 32

indivíduos saudáveis e de 13 indivíduos afetados por hérnia discal cervical

entre 25 e 64 anos recomendam o uso de uma única medida, com esforço

25

máximo25. Segundo estes autores, existe muita variabilidade entre os valores

quando se usa um protocolo com três medidas, principalmente em indivíduos

com déficit neurológico ou que apresentam dor muscular no membro superior25.

Já ao realizar uma medida, evita-se o agravamento da sensação dolorosa e a

fadiga muscular25.

Figueiredo e colaboradores (2006) realizaram um estudo de revisão

sobre alguns aspectos envolvidos na mensuração da FP utilizando o

dinamômetro para instruir profissionais e cientistas a conduzirem

adequadamente as avaliações19. Suas principais conclusões são que as

normas da ASHT devem ser seguidas, o que inclui a utilização do dinamômetro

Jamar para avaliar a FP – vale ressaltar que a utilização deste aparelho pode

ser influenciada por alguns fatores que afetam a confiabilidade do aparelho no

que diz respeito às suas propriedades mecânicas19. Destaca-se, ainda, que a

FP pode variar de acordo com a posição em que o corpo se encontra no

momento da avaliação, que aquecimento pré-teste pode acarretar em aumento

da FP e que seu valor não tem influência de acordo com o horário do dia em

que é mensurada19. Recomenda-se, também, que a média de três medidas

seja usada, sem que haja a necessidade de estender períodos de descanso

entre as medidas19.

No entanto, é importante ressaltar que para muitas atividades

manipulativas não é necessário aplicar uma grande quantidade de força, como

por exemplo, nas tarefas onde se faz necessário utilizar controle fino dos

dedos, como a escrita14. Com isso, não só a avaliação da capacidade do

indivíduo em gerar FP máxima mostra-se importante, como também a

capacidade de produzir e controlar a magnitude da força na execução de

tarefas manuais as quais exigem níveis submáximos da mesma também14.

Destreza

Vários testes têm sido utilizados para avaliar a destreza manual e digital

tais como o teste de Função Manual Jebsen e Taylor (TFMJT), o teste de

Pesquisa-ação do braço (Action research arm test)50, 51, o teste Perdue

26

Pegboard31, 39, o teste dos Nove pinos no buraco (9-PnB)28, 34, 35 e o teste das

Caixas e blocos (Box and Blocks Test)30.

O teste de pesquisa-ação do braço foi elaborado com o objetivo de

avaliar a destreza manual em indivíduos com hemiparesia pós AVE com

diferentes níveis de comprometimento sensório-motor51. Contém 19 itens

divididos em quatro subescalas, sendo que seis itens avaliam a capacidade de

apertar objetos, quatro itens a capacidade de segurar, seis itens avaliam a

pinça e os 3 itens restantes avaliam a motricidade ampla51. Cada uma das

tarefas é avaliada por uma pontuação, sendo que a soma delas, por sua vez,

pode variar de zero a 57 pontos e quanto maior a pontuação melhor o

desempenho do indivíduo51. Já o teste das Caixas e blocos consiste em

transportar o maior número possível de pequenos cubos de madeira de um

compartimento a outro de uma caixa durante 60 segundos30.

O TFMJT foi um dos pioneiros em avaliação das mãos, o qual é

constituído de uma série de sete subtestes representativos de funções

manuais: (1) escrita, (2) simulação de uma tarefa de virar cartas, (3)

levantamento de objetos pequenos, (4) simulação do uso da colher para a

alimentação, (5) empilhar blocos (peça de dama), (6) levantamento de objetos

grandes e leves e (7) levantamento de objetos grandes e pesados33. Todos os

subtestes devem ser feitos “o mais rápido possível, e quanto menor o tempo

total que o indivíduo precisa para realizar estes testes, melhor é a sua destreza

manual33. Segundo Jebsen e colaboradores (1969), os subtestes deveriam ser

feitos apenas uma vez e com a mão não dominante, primeiramente33. Os

dados normativos para indivíduos saudáveis estabelecidos pelos autores

preconizam que os subtestes devem ser realizados em menos de 10 segundos

(exceto para a escrita)33.

Desrosiers et al (1996) afirmam que o TFMJT é limitado por testar

apenas tarefas unilaterais, focar a função manual sem considerar o movimento

proximal, e utilizar tarefas de natureza artificial e pouco ligadas às atividades de

vida diária8. Por outro lado, Lima (2012), afirma que para avaliar a função

manual como um todo, o TFMJT seria o mais indicado por conter atividades

similares como as realizadas pelas mãos durante as AVDs11.

27

Testes que avaliam a destreza dos dedos, como o teste Perdue

Pegboard13, 31 e o teste dos Nove pinos nos buracos (9-PnB)34, 35, consistem

em vários encaixes onde devem ser inseridos pinos (metálicos ou de plástico)

manipulados pelos indivíduos o mais rápido possível.

Em particular, o teste 9-PnB tem como instrução que a mão dominante

do indivíduo avaliado seja testada primeiramente35. O examinador deve

demonstrar ao participante o procedimento e permitir-lhe uma tentativa de

prática, solicitando que o avaliado estabilize a base de encaixe com a mão não

avaliada enquanto insere um a um cada pino nos buracos até completá-los35.

Após fazer isto, deve-se retirá-los, também, um a um e retorná-los à outra

extremidade da base35. Esta atividade é cronometrada, pois quanto mais rápido

o indivíduo realizá-la, maior será a sua destreza35. Em seu estudo normativo,

Mathiowetz e colaboradores (1985), realizaram apenas uma tentativa com

cada mão em 618 voluntários (310 indivíduos do sexo masculino e 318

indivíduos do sexo feminino), com idades entre 20 a 94 anos, divididos entre 12

grupos com 5 anos de intervalo por idades e sem doenças que afetassem sua

destreza manual35. Os autores encontraram como resultado que o grupo mais

jovem foi mais rápido que o grupo mais idoso, as mulheres apresentaram

tempo menor que os homens, a mão dominante apresentou melhor destreza

que a mão não dominante e, sugeriram que duas ou três repetições fossem

realizadas para aumentar a confiabilidade do teste, sobretudo em populações

que possuam algum distúrbio que afete a função manual35.

Os testes mencionados acima são, em geral, de fácil aplicação e

apresentam baixo custo, sendo considerados como ferramentas adequadas

para detectar alterações na função manual relacionadas à destreza28.

Embora vários estudos têm sido feitos sobre o uso dos testes de função

manual mencionados acima na tentativa de estabelecer o protocolo ideal para

avaliação da força e destreza manual e digital de diversas populações, ainda

existem alguns pontos que precisam ser esclarecidos quanto a aplicação

destes testes. Em particular, quantas repetições são necessárias para se obter

uma avaliação consistente da função manual de indivíduos que sofreram um

AVE? Esta é uma das questões de interesse do presente estudo.

28

3.3 ACIDENTE VASCULAR ENCEFÁLICO

O Acidente Vascular Encefálico (AVE) é uma doença na qual os

indivíduos são acometidos por uma interrupção ou extravasamento do fluxo

sanguíneo cerebral, o que causa distúrbios globais ou focais da função

cerebral1. É a principal causa de incapacidade crônica no Brasil e é

considerada uma das doenças que mais matam no Brasil e no mundo1 .

A Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo afirma que o AVE

acomete cerca de 100 pessoas por dia52. Em 2008, estimava-se que o AVE era

responsável por cerca de 10% do total de óbitos no mundo, com

aproximadamente 6 milhões de óbitos, sobretudo em locais onde concentram-

se populações de baixa renda52. Em 2015 esperam-se 18 milhões de novas

ocorrências e, em 2030, 23 milhões de novos casos.

A incidência de AVE é mais frequente em indivíduos idosos, a qual têm

sido atríbuida às alterações causadas pelo envelhecimento com influência nos

sistemas endócrino e metabólico1. Porém, com o aumento do uso de

medicamentos, má alimentação e uso de drogas tais como álcool e tabaco, já

são encontrados casos de AVE em populações mais jovens, na faixa etária de

40 anos1. Entre os sobreviventes do AVE, a maioria tem sua vida afetada total

ou parcialmente devido algumas limitações funcionais e cognitivas, sendo que

50% dos acometidos são afetados pela hemiparesia/hemiplegia, 26% não

realizam suas AVD´s sem auxílio e 30% são incapazes de andar de forma

independente2.

Diversas alterações são observadas nos indivíduos que sofreram um

AVE, sendo estas não apenas motoras, mas também sensoriais; e ocorrem

tanto no membro superior como inferior, principalmente contralesionais4, 5, 8, 42,

43. A função motora de indivíduos que sofreram AVE é gravemente

comprometida em cerca de 15% desses indivíduos e moderadamente

comprometida em 40%8. Alterações no tônus muscular, perda de massa

muscular e consequentemente fraqueza, incoordenação dos movimentos,

limitação de amplitude de movimento articular, alteração sensorial

(sensibilidade cinestésica), entre outros fatores levam à perda total ou parcial

29

dos movimentos contralesionais2. Tais déficits causam impacto na qualidade de

vida de tais indivíduos, pois estes restringem a capacidade de execução de

tarefas da vida diária de forma independente, principalmente estas que exigem

o uso das mãos7, 53.

Particularmente, a função manual de indivíduos que sofreram AVE

apresenta-se alterada devido a perda total ou parcial da integração sensório-

motora das mãos para explorar o ambiente e manipular objetos42. Além disso, a

informação visual necessária para reconhecer um objeto, interpretá-lo através

dos receptores cutâneos (corpúsculos de Meissner e discos de Merkel) e

utilizar as mãos e os dedos para tocá-lo e/ou manipulá-lo é comumente

afetada, contribuindo então para o déficit na integração músculo-esquelética

manual42. Alterações no córtex sensorial resultam em problemas espaciais, o

que inclui discriminação entre dois pontos, localização da sensação, detecção

e direção do movimento; bem como as alterações no córtex parietal causa

danos em funções motoras das mãos, entre elas a execução de tarefas

exploratórias, capacidade de gerar força de preensão palmar e digital42.

Embora as alterações da mão contralesional sejam mais evidentes, o

que leva a limitações no seu uso em tarefas manipulativas, existem evidências

de que a função da mão ipsilesional também pode apresentar alterações que

interferem na realização correta de tarefas manuais4,5,31.

Tais alterações foram observadas imediatamente após o AVE por

Noskin e colaboradores (2008), que avaliaram a força de preensão palmar

através da dinamometria e a desteza digital através do 9-PnB em 30 indivíduos

hemiparéticos pós AVE unilateral36. Ambas as mãos foram avaliadas 24hs, 48

hs, 1 semana, 3 meses e 1 ano após a ocorrência do AVE e seus resultados

demonstraram que somente a destreza digital apresentou déficit desde o

período agudo, estendendo-se ainda ao sub-agudo e crônico36.

Estes comprometimentos do membro ipsilesional após uma lesão

cerebral unilateral podem ser explicados pelo fato dos movimentos unilaterais

ativarem áreas sensório-motoras nos dois hemisférios cerebrais, o que causa

distúrbio na integração entre os hemisférios17. Além disso, cerca de 10 a 30%

das fibras descendentes ipsilaterais não efetuam seu cruzamento para o lado

30

oposto, portanto, prosseguem desta forma em todo o seu trajeto; ou ainda, por

haver possível destruição das fibras sensoriais ipsilaterais17, 32. Além disso,

uma vez que estes indivíduos apresentam maiores alterações contralesionais,

eles passam a utilizar o membro ipsilesional, considerado “sadio”, com maior

frequência na realização das atividades de vida diária, podendo levá-lo à fadiga

ou ao melhor desempenho possível por efeito de treinamento2.

Assim, é necessário considerar que os comprometimentos motores

também ocorrem no membro ipsilesional, ainda que sejam menores, e que

estes podem também prejudicar a realização de atividades manuais e limitar a

independência nas atividades de vida diária7, 8, 53.

Pouca atenção é destinada ao membro superior ipsilesional, sendo que

a maioria dos estudos tem investigado as alterações ocorridas no membro

superior contralesional por serem mais evidentes enquanto que o membro

ipsilesional é usado apenas como referência de normalidade durante as

avaliações e programas de reabilitação8. Dessa forma, ainda há uma carência

no conhecimento sobre o impacto funcional do AVE no membro ipsilesional,

uma vez que os profissionais da reabilitação observam força de preensão

manual e digital satisfatória para a manipulação de objetos e movimentação

ativa do membro ipsilesional durante as atividades propostas na reabilitação

ambulatorial, o que leva ao interesse de estudos e de programas de

reabilitação serem mais voltados ao membro contralesional8.

Estudos que investigaram as alterações ocorridas no membro

ipsilesional apresentam divergências com relação à magnitude de FP manual e

digital máxima de indivíduos que sofreram AVE2, 4, 10, 16, 54. Jones e

colaboradores (1989) afirmam que não há diferença entre a geração de FP

ipsilesional em comparação a de indivíduos sadios, uma vez que a mão é uma

estrutura complexa que não realiza apenas diversas tarefas motoras como as

que exigem maior aplicação de força, mas também tem a capacidade de

transmitir informações sensoriais que permitem a execução de tarefas mais

complexas54.

Por outro lado, Hermsdorfer et al (2003), afirmam que pode ocorrer um

aumento na FP na mão ipsilesional, pois a informação sensorial para esses

31

indivíduos pode não estar completamente íntegra, o que os leva a adotar uma

estratégia compensatória de forma a reagir rapidamente para não permitir que

o objeto escorregue da sua mão e o faça aumentar a magnitude de sua FP16.

Já no estudo de Colebatch e Gandevia (1989), 14 grupos musculares do

membro superior ipsilesional de indivíduos pós AVE foram comparados aos de

indivíduos sadios e foi demonstrada força diminuída nos indivíduos pós AVE4.

Esta divergência encontrada na literatura pode ocorrer de acordo com o

lado da lesão da população pós AVE estudada, tempo de lesão desde a

ocorrência do AVE, os testes utilizados na avaliação, o grau de independência

dos indivíduos, a ausência de randomização e/ou pareamento adequado dos

indivíduos que sofreram AVE com indivíduos sadios bem como as

propriedades métricas dos testes serem pouco relatadas8.

Além disso, a quantidade de tentativas ao avaliar a FP pode contribuir

para esta divergência. Huang e colaboradores (2011), avaliaram a FP palmar e

digital de 66 indivíduos que sofreram AVE e compararam os valores obtidos na

primeira tentativa e no valor médio de duas ou três tentativas entre duas

sessões de avaliação55. Com base nos achados os autores recomendaram a

realização de mais de uma tentativa, verificando o valor médio entre duas ou

mais tentativas, uma vez que a menor diferença real encontrada em seu estudo

foi mais alta (acima de 39%) do que a medida de erro recomendada, que é de

30% quando se realizou apenas uma tentativa55. Tal recomendação tem como

objetivo aumentar a confiabilidade na avaliação de FP da mão contralesional

dos indivíduos que sofreram AVE55. No entanto, esta recomendação foi feita

com base na mão contralesional.

Um estudo realizado com ambas as mãos, foi o de Smutok et al (1989).

Os autores avaliaram 51 indivíduos hemiplégicos pós AVE e comparam estes

com 70 indivíduos pareados para GC10. A FP tanto digital quanto palmar foi

avaliada através da dinamometria, porém, os autores realizaram apenas uma

repetição e encontraram diminuição de força ipsilesional, principalmente nos

indivíduos com lesão hemisférica à esquerda, os quais apresentaram FP

palmar e digital diminuída10. Os autores sugerem como explicação o fato do

hemisfério esquerdo ser o responsável pelos processos motores bilaterais10.

32

Chen et al. (2009), realizaram um estudo com 62 indivíduos pós AVE,

submetidos a avaliação de ambas as mãos através dos testes de FP manual e

digital e testes de destreza digital (9-PnB e o teste de caixa e blocos), em 2

sessões, com um intervalo de 3 a 7 dias47. Os resultados demonstraram que a

variabilidade das medidas da mão contralesional foi maior do que a da mão

ipsilesional, sendo que a variabilidade no teste 9-PnB foi maior entre todos os

testes utilizados na avaliação. Além disso, 18 participantes não conseguiram

realizar este teste com a mão afetada, o que se deve à necessidade de um

controle motor fino maior para realização desta tarefa do que os outros testes47.

Ainda com relação à destreza digital, Metrot e colaboradores (2013),

avaliaram 19 homens com idades entre 53 a 71 anos, os quais sofreram um

evento de AVE isquêmico ou hemorrágico e estavam em fase aguda (primeiro

mês pós AVE)9. Neste estudo, os participantes foram pareados em sexo e

idade com 7 indivíduos saudáveis e submetidos a avaliações por 6 semanas

utilizando o teste 9-PnB9. O resultado apresentado após 6 semanas foi que o

desempenho dos indivíduos pós AVE se mantinha pior do que o do indivíduos

do GC, ou seja, as alterações ipsilesionais estão presentes pelo menos 3

meses após a ocorrência do AVE9.

Ao realizar testes de destreza manual (teste Perdue Pegboard e TFMJT)

foi observada uma redução na habilidade manual ipsilesional em indivíduos

com hemiplegia e hemiparesia13, 56. Jebsen e colaboradores (1971), ao

realizarem um estudo para avaliar a função manual do membro ipsilesional de

27 indivíduos pós AVE de ambos os gêneros em comparação com o membro

dominante de 150 indivíduos sadios, pareados em idade e sexo, aplicaram o

TFMJT e obtiveram como resultado que a função manual dos indivíduos pós

AVE apresentou-se diminuída em relação à dos indivíduos sadios, pois os

indivíduos pós AVE realizaram todos os sete subtestes propostos em tempo

30% maior do que os indivíduos sadios32.

Croarkin et al. (2004), realizaram uma revisão sobre os testes clínicos

utilizados para avaliar a função manual (teste de Pesquisa-ação do braço

Escala de Fugl-Meyer, teste 9-PnB, Escala de motricidade da extremidade

superior, Escala motora Rivermead, Escala motora de Chart modificada e

33

Escala Chedoke McMaster), de indivíduos que sofreram um AVE e reportaram

que somente o teste de 9 pinos tinha sido validado para esta população57. No

entanto, ainda segundo os autores, tal fato não era suficiente para classificar o

teste 9-PnB como o “melhor” teste, mas sim que outros testes deveriam ter

suporte psicométrico antes de serem utilizados nas avaliações57.

Sunderland e colaboradores (1989), avaliaram a destreza manual

ipsilesional de 30 indivíduos pós AVE utilizando o teste 9-PnB e observaram

um aumento no tempo para completar a tarefa principalmente dos indivíduos

com afasia e apraxia que, segundo os autores, pode ter sido devido a

dificuldade destes indivíduos em entender as tarefas43. Além disso, esses

indivíduos apresentavam déficits em percepção e controle e alteração visual, o

que dificultava ainda mais o seu desempenho43.

Por outro lado, Lin et al. (2010), aplicaram o teste 9-PnB e outros dois

testes que avaliam destreza digital (teste de Pesquisa-ação do braço e teste de

caixa e blocos) numa população de 59 indivíduos que sofreram um episódio de

AVE e recebiam tratamento clínico. Os autores afirmaram que o 9-PnB é o

teste menos indicado para avaliar a destreza, pois apesar de ser um teste

simples, portátil, de baixo custo e realizado em breve espaço de tempo, não é

sensível para detectar impacto funcional severo, sendo assim o autor sugere a

aplicação de um teste que englobe a função manual de forma mais global58.

Com base nos achados dos estudos que avaliaram a força e destreza

manuais e digitais de indivíduos que sofreram AVE é possível concluir que

ainda não existe uma padronização na avaliação da função manual destes

indivíduos, principalmente com relação a destreza, pois os estudos existentes

até aqui não avaliaram a consistência nas alterações com relação à medida

para destreza. Dessa forma, os dois questionamentos no presente estudo são:

a) a destreza e a força de preensão tanto manuais quanto digitais no membro

ipsilesional de indivíduos pós AVE apresentam alterações quando comparadas

as de indivíduos sadios? E b) existe uma consistência nas alterações da função

manual observadas em relação à medida utilizada como desfecho ao avaliar

destreza e força de preensão manuais e digitais?

34

4. MÉTODO

4.1 TIPO DE ESTUDO

O estudo foi transversal caso-controle.

4.2 PARTICIPANTE

Participaram do estudo, indivíduos adultos, destros e de ambos os sexos

entre 40 e 75 anos, divididos em dois grupos: indivíduos que sofreram AVE

(GAVE) e indivíduos sadios para o grupo controle (GC).

Os indivíduos de cada grupo foram pareados em idade, sexo, massa

corporal, estatura, largura e comprimento da mão. Os indivíduos do grupo AVE

foram recrutados junto à Clínica Escola de Fisioterapia da Universidade Cidade

de São Paulo (UNICID) e os indivíduos sadios foram recrutados na

comunidade.

Todos os participantes assinaram o Termo de Consentimento Livre e

Esclarecido (TCLE, ANEXO 1) aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da

UNICID (Protocolo: 13686932, ANEXO 2).

Critérios de inclusão

Fizeram parte do estudo indivíduos que tiveram condições de entender e

seguir as instruções das tarefas. Os participantes do GAVE foram incluídos se

estes sofreram um único evento de AVE do tipo isquêmico e unilateral no

território anterior ocorrido a mais de seis meses antes da participação no

estudo e se apresentaram hemiparesia contralesional. Todos os participantes

tinham visão sem alterações ou corrigida no momento da realização dos testes

e não apresentavam alteração significante da sensibilidade, diagnóstico de

demência e dor antes e/ou após a execução de movimentos com os membros

superiores. Os indivíduos do GC não apresentavam qualquer

35

comprometimento músculo-esquelético dos membros superiores ou

neurológico.

4.3 PROCEDIMENTOS EXPERIMENTAIS

Após assinatura do TCLE, todos os participantes responderam a uma ficha

de avaliação clínica elaborada pelos pesquisadores (ANEXO 3). Em seguida,

os participantes foram submetidos a dois conjuntos de avaliações, um que foi

composto por testes clínicos para verificar se os participantes atendiam aos

critérios de inclusão e outro que avaliou especificamente a função manual.

4.4 TESTES CLÍNICOS PARA ATENDER AOS

CRITÉRIOS DE INCLUSÃO

Para avaliar a sensibilidade cutânea das mãos, foi realizado o Teste dos

Monofilamentos59 (Figura 1) através de um estesiômetro composto por 6

monofilamentos Semmes-Weinstein da marca Sorri (Bauru-SP). Três pontos

nas pontas dos dedos polegar, indicador e mínimo em cada mão foram

testados utilizando a sequência dos filamentos menos espessos para os mais

espessos.

Os participantes permaneceram de olhos fechados e foram instruídos a

responder “SIM” quando sentissem algo em contato com a pele e dizer ou

indicar o local do estímulo aplicado. A ausência de resposta em mais de dois

pontos indicou ausência de sensibilidade ao filamento utilizado para o estímulo

e a cor correspondente à gramagem deste filamento foi anotada.

36

Figura 1: Situação experimental da avaliação da sensibilidade cutânea.

O teste de Snellen (figura 2)60, foi realizado com o objetivo de avaliar a

acuidade visual. O participante permaneceu sentado a uma distância de 3

metros de uma tabela com imagens da letra E em tamanhos e orientações

diferentes. O avaliador apontou 3 letras em cada linha do teste a partir da linha

5 (escore 0,5), evoluindo para as linhas com letras de tamanho menor ou

maior, diante de duas respostas corretas ou erradas em cada uma das linhas

apresentadas.

O avaliador anotou o valor da linha onde o indivíduo acertou as três

indicações. O teste foi realizado com o olho direito e esquerdo individualmente.

Os participantes que utilizavam óculos no dia-a-dia realizaram todos os testes

com o mesmo.

Figura 2: Quadro de optótipos do teste de Snellen.

37

O Mini Exame do Estado Mental (MEEM)61 (ANEXO 4) foi utilizado com

o objetivo de avaliar aspectos cognitivos, através de perguntas específicas

sobre orientação, memória imediata, cálculo, evocação, linguagem, nomeação,

repetição, comando em três estágios, linguagem, escrita e cópia de desenho. O

escore do MEEM variou de zero (sendo esta a pontuação mínima), indicando

maior grau de comprometimento cognitivo, até uma pontuação de 30,

correspondendo à melhor capacidade cognitiva.

Para avaliar a dominância motora manual foi aplicado o Inventário de

Edinburgh62 (ANEXO 5), um questionário composto de 10 itens envolvendo

tarefas realizadas no dia-a-dia. Para cada questão, os participantes

responderam de acordo com a mão que utilizam com maior frequência para

realização das mesmas, tendo como opções de respostas: mão direita, mão

esquerda ou ambas. No final o participante foi classificado como destro,

canhoto ou ambidestro. No caso do GAVE, as respostas foram dadas em

relação à preferência manual antes de sofrer a lesão encefálica.

Para avaliar a função motora do membro superior foi utilizada a Escala

de Fugl-Meyer63 (ANEXO 6), a qual apresenta uma escala de pontuação

numérica acumulativa, englobando seis aspectos: amplitude de movimento,

dor, sensibilidade, função motora da extremidade superior e inferior, equilíbrio,

coordenação e velocidade.

Uma escala ordinal de três pontos é aplicada em cada item: 0- não pode

ser realizado, 1- realizado parcialmente e 2- realizado completamente. A

pontuação máxima para a extremidade superior é 66 pontos, a qual

corresponde à função motora normal. Para o membro superior a pontuação

entre 0 a 20 corresponde ao comprometimento grave; entre 21-55 corresponde

a comprometimento moderado e entre 56-66 compreende comprometimento

leve.

38

4.5 TESTES QUE AVALIAM A FUNÇÃO MANUAL

No presente estudo, foram escolhidos para avaliação da destreza digital

o teste 9-PnB; para a destreza manual, o TFMJT e para a avaliação da força de

preensão palmar e digital foram utilizados dinamômetros específicos para cada

avaliação de força.

Para avaliar a destreza digital foi realizado o teste 9-PnB35 (Figura 3), no

qual o participante permaneceu sentado confortavelmente em uma cadeira e foi

solicitado a encaixar, um a um, na ordem que desejasse, os nove pinos nos

buracos de uma base de plástico após ouvir o comando verbal “Vai” e a retirá-

los o mais rápido possível. O tempo normativo para a realização deste teste é

descrito como de 19 a 22 segundos35.

O teste foi realizado com uma mão de cada vez (mão dominante e não

dominante dos participantes do GC e mão ipsilesional dos participantes do

GAVE) em um total de 3 tentativas para cada mão e a mão que não estava

sendo testada permanecia na base lateral do instrumento utilizado para o teste

para apoiá-lo. O tempo gasto para completar a tarefa em cada tentativa foi

cronometrado e o avaliador só iniciava a contagem do tempo quando o

participante tocava no primeiro pino.

Figura 3: Situação experimental do teste dos Nove pinos nos buracos.

39

Com o objetivo de avaliar a destreza manual foi realizado o TFMJT33

(Figura 4), o qual consiste num conjunto de sete subtestes que buscam

reproduzir atividades manipulativas, semelhantes àquelas realizadas

cotidianamente33. O TFMJT é realizado em uma mesa demarcada para a

realização do mesmo, na qual uma tábua de madeira com demarcações

próprias é posicionada33. No presente estudo o subteste de escrita não foi

aplicado pelo fato dessa tarefa conter frases escritas em inglês que ainda não

foram validadas para o português. Assim, os seguintes seis subtestes foram

aplicados:

(1) Virar cartas: cinco cartas de papel ficaram posicionadas em uma mesa

demarcada previamente, uma ao lado da outra. O participante posicionou sua

mão no centro da mesa e recebeu o comando para virar cada carta, uma por

vez.

(2) Levantar objetos pequenos: uma lata com bocal aberto, dois clipes, duas

tampas de garrafa do tipo KS e duas moedas ficaram dispostas uma ao lado da

outra na mesa própria para a realização do TFMJT. O participante foi instruído

a colocar cada um desses objetos, tendo início do mais distante da lata (clipe)

ao mais próximo (moeda), dentro da lata.

(3) Usar uma colher para simular alimentação: uma lata com bocal aberto e

cinco grãos de feijão ficaram posicionados na mesa do TFMJT. O participante

foi instruído a segurar uma colher da mesma forma com que a utiliza para se

alimentar e juntar com esta colher cada um dos grãos do mais distal ao mais

proximal e colocá-los um a um dentro da lata.

(4) Empilhar blocos (peça de dama): quatro peças de dama foram dispostas

na mesa, lado a lado. O participante foi instruído a empilhá-las, uma em cima

da outra, em cima da tábua do TFMJT, de modo a não deixá-las cair.

(5) Levantar objetos grandes e leves: cinco latas de alumínio vazias foram

dispostas, lado a lado, na mesa do TFMJT. O participante foi instruído a

colocar cada uma das latas em cima da tábua de madeira.

40

(6) Levantar objetos grandes e pesados: cinco latas de alumínio, lacradas e

cheias de líquido foram dispostas, lado a lado, na mesa do TFMJT. O

participante foi instruído a colocar cada uma das latas em cima da tábua de

madeira.

Todos os subtestes foram realizados com as mãos dominante e não

dominante do GC e mão ipsilesional do GAVE. Antes do início de cada tarefa o

participante foi orientado a manter a mão avaliada posicionada no centro da

mesa e somente movê-la após o comando verbal do avaliador. A mão não

avaliada mantinha-se posicionada no colo do participante.

O participante, sentado confortavelmente em uma cadeira sem apoio de

braço, foi instruído a executar todas as tarefas (subtestes) o mais rápido

possível e obedecer as regras explicadas previamente pelo avaliador antes da

execução de cada subteste. O avaliador acionou o cronômetro após falar a

palavra ”Vai”, devendo o participante movimentar a mão avaliada neste

momento.

Como preconizam as instruções do TFMJT, cada subteste foi realizado

uma única vez e poderia ser repetido se algum evento inesperado ocorresse

(e.g., um dos objetos caísse no chão durante o teste ou se o avaliador

percebesse que o participante não tinha entendido as instruções)33.

O tempo normativo para a realização de cada subteste é descrito como

no máximo 10 segundos e o avaliador utilizou um cronômetro para contar em

quanto tempo o participante realizou cada tarefa33. O desempenho dos

participantes foi avaliado por meio da soma dos tempos em cada um dos

subtestes33. Quanto menor a soma dos tempos de todos os subtestes, melhor a

função manual global do indivíduo33.

Os testes de destreza foram realizados antes dos testes de força para

todos os participantes, de forma alternada. O participante que iniciou a

avaliação com o teste de destreza digital (9-PnB) realizou primeiro o teste de

FDP e o participante que iniciou com o teste de destreza manual (TFMJT)

realizou primeiro o teste de FPP.

41

Figura 4: Seis subtestes do TFMJT.

Para avaliar a FPP21, 48, foi utilizado um dinamômetro palmar da marca

Jamar® (Figura 5A) e para avaliar a FPD21, foi utilizado um dinamômetro de

pinça da marca Saehan Corp (Figura 5B). Para ambos os testes de força, o

participante permaneceu sentado confortavelmente em uma cadeira sem apoio

para os antebraços, com as costas apoiadas no encosto e os pés no chão,

mantendo o cotovelo a 90º e o braço posicionado ao lado do corpo48.

Para o teste de FPP o participante foi instruído a posicionar o

dinamômetro entre a palma da mão e os dedos48 (Figura 5A) e para o teste de

FPD o participante foi instruído a posicionar o dinamômetro de pinça entre os

dedos indicador (posicionado na parte superior do instrumento) e polegar

(posicionado na parte inferior do instrumento, Figura 5B)48.

Em ambos os testes o participante foi instruído a exercer máxima força,

ao ouvir o comando verbal “força”48. Os testes foram realizados com a mão

dominante e não dominante de forma alternada (i.e., mão dominante seguida

da não dominante ou vice-versa) para o GC e a ordem de utilização das mãos

foi contrabalanceada entre os participantes para evitar qualquer efeito de

ordem. Somente a mão ipsilateral à lesão do GAVE foi avaliada. Cada

participante realizou três tentativas para cada mão em cada teste.

42

Figura 5: Situação experimental da utilização do dinamômetro de preensão

palmar Jamar® em A e dinamômetro de preensão digital Saehan Corp em B.

4.6 ANÁLISE DOS DADOS

Os valores obtidos dos testes, isto é, o tempo para completar cada

tentativa dos testes de destreza ou valor obtido no dinamômetro para os testes

de força realizados por cada participante em cada tentativa foram tabulados em

planilhas eletrônicas utilizando o programa Excel. As comparações entre

grupos foram feitas com base na primeira tentativa, no escore médio e no

melhor escore.

Para o escore médio, o valor médio das três tentativas (exceto para o

TFMJT) foi calculado e o melhor escore foi definido como o menor tempo na

tarefa de destreza digital ou maior força nas demais tarefas.

Para análise estatística das comparações entre grupos, com relação aos

testes de função manual, os dados dos indivíduos do GC foram selecionados

de acordo com a mão ipsilesional do GAVE. Isto é, dados da mão direita dos

A

B

43

indivíduos do GC foram pareados em sexo, idade, massa corporal, estatura,

comprimento e largura das mãos com os dados dos indivíduos com AVE que

realizaram as tarefas com a mão direita (ipsilesional à lesão destes indivíduos).

Para comparações entre grupos foram utilizadas Análises de Variância

(ANOVA) nas variáveis somatória dos tempos dos seis subtestes do TFMJT e

Multivariância (MANOVA) tendo como variáveis dependentes o valor da

primeira tentativa, do escore médio e do melhor escore obtido nos testes 9-

PnB, FPP e FPD. O valor de significância foi mantido em 0,05.

44

5. RESULTADOS

Os fluxogramas das amostras do estudo (em A, participantes do GAVE e

em B, do GC) são apresentados na Figura 6. Inicialmente foram analisados os

prontuários de pacientes que sofreram AVE na Clínica Escola de Fisioterapia

da UNICID para verificar quais participantes atenderiam aos critérios de

inclusão do presente estudo. Dos 63 prontuários analisados, 20 indivíduos

atenderam aos critérios de inclusão. Os demais 43 indivíduos foram excluídos

do estudo pois 18 não aceitaram participar do estudo; 8 sofreram AVE

hemorrágico; 1 sofreu AVE de tronco encefálico; 8 sofreram mais de um

episódio de AVE; 3 possuíam idade superior a 75 anos; 1 possuía idade inferior

a 40 anos; 1 era obeso; 1 era portador de Diabetes Mellitus e não realizava

tratamento; 1 era canhoto e 1 apresentou dificuldade no entendimento dos

comandos das tarefas. Entre os 20 participantes selecionados e coletados, 15

foram analisados e 5 não foram analisados devido ausência de pareamento

pelo sexo com os participantes do GC.Os participantes do GC foram

selecionados na comunidade como acompanhantes de pacientes atendidos na

Clínica Escola de Fisioterapia da UNICID ou de atividades para terceira idade

da universidade Cruzeiro do Sul (UNICSUL). Dos 22 indivíduos do GC que

realizaram os experimentos, 15 foram analisados e 7 foram excluídos pela

ausência de pareamento por sexo com os participantes do o GAVE.

As características dos 15 indivíduos do GAVE e dos 15 indivíduos do GC

que participaram do estudo são apresentadas nas Tabelas 1 e 2,

respectivamente. Esses dados indicaram que não houve diferença entre o

GAVE e o GC com relação à idade e medidas antropométricas (massa,

estatura, comprimento e largura da mão). Com relação à escala de Fugl-Meyer,

os indivíduos do GC apresentaram média de 36,8 (±7,79), o que indica

comprometimento motor moderado do membro superior contralesional. Dos 15

indivíduos do GAVE, 9 já estavam aposentados e para o GC, esse número foi

menor, apenas 3 indivíduos não realizam mais suas atividades de vida

profissional.

45

(A) GAVE:

(B) GC:

Figura 6: Fluxogramas das amostras do estudo para o GAVE (A) e para o GC

(B).

46

Além disso, os participantes do GAVE foram pareados em sexo com os

do GC. Todos os participantes eram destros como determinado pelo Inventário

de Edinburgh (100% destros) e tinham visão normal ou corrigida, cuja acuidade

visual variou de 0,7 a 1. Os participantes do GC (ambas as mãos) e do GAVE

(mão ipsilesional) apresentaram resposta ao filamento da cor verde ou azul,

isto é, de espessura menor ou igual 0,2g.

Os resultados de cada participante dos dois grupos no TFMJT são

apresentados nas Tabela 3 e 4, para o GAVE e GC, respectivamente.

Comparações entre grupos foram feitas para o escore total e cada subteste do

TFMJT. O tempo total gasto pelo GAVE foi estatisticamente diferente do tempo

gasto pelo GC [F(1,28)=0,0038; p=0,011)]. Para os subtestes 1 e 6, isto é, (1)

simulação de uma tarefa de virar cartas e (6) levantamento de objetos grandes

e pesados, as análises de variância (ANOVA) não revelaram diferença entre

grupos. Para as demais tarefas (2 a 5), ANOVA realizada para cada subteste

indicaram diferenças entre os grupos [F(1,28) > 4,86; p < 0,036]. Para todas

essas tarefas o GAVE precisou de um tempo maior para completá-las em

relação ao GC.

Na Tabela 5, são apresentados os resultados do teste 9-PnB. Para

comparações entre grupos, foram realizadas três análises diferentes utilizando:

a) o tempo gasto na primeira repetição; b) o tempo médio das três repetições

(escore médio) ou c) o menor tempo das três repetições (melhor escore).

MANOVA indicou efeito de grupo [Wilks´ Lambda=0,36; F(3,26)=15,65;

p<0,001]. Análises univariadas revelaram diferenças entre grupos para as três

medidas avaliadas: primeira tentativa [F(1,28)=45,38; p<0,001], tempo médio

[F(1,28)=41,19; p<0,001] e maior tempo [F(1,28)=30,81; p<0,001] entre três

tentativas.

47

48

49

50

51

52

Nas tabelas 6 e 7, são apresentados os resultados da FPD e FPP,

respectivamente. Para estes dois testes, as comparações entre grupos foram

feitas utilizando: a) magnitude da força na primeira repetição; b) força média

das três repetições ou c) força maior das três repetições. Utilizando a força

registrada na primeira repetição, a maior força entre as 3 repetições ou a força

média obtida entre as 3 repetições, não houve diferença estatisticamente

significante entre grupos para a força de preensão palmar como para a força

de preensão digital.

Para as análises da FPD e FPP, a MANOVA indicou efeito de grupo

[Wilks Lambda=0,36; F(3,26)=15,65; p<0,001]. Os resultados da MANOVA

tendo como variáveis dependentes as três medidas de desempenho, tanto para

FPD quanto para FPP não apresentaram diferença estatisticamente significante

[Wilks Lambda>0,86; F(3,26)<1,40; p>0,27].

53

54

55

6. DISCUSSÃO

O presente estudo teve como objetivos a) verificar se há alteração na FP

e/ou destreza manual e digital ipsilesional de indivíduos que sofreram AVE

quando comparados a indivíduos sadios e b) investigar se há uma consistência

nas alterações na FP e/ou destreza manual e digital ipsilesional de indivíduos

que sofreram AVE quando comparados a indivíduos sadios em relação à

medida utilizada como desfecho.

Pelas próprias características da população estudada, uma amostra

composta de idosos, infere-se que há perdas fisiológicas no que tange à

quantidade de neurônios, fibras musculares e declínio da atividade como um

todo do organismo, o que, por este fato, já tornaria esses indivíduos mais

lentos e menos acurados para tarefas que exijam controle fino e adequado das

mãos. Entretanto, os resultados da análise das características da amostra

como idade, estatura, massa corporal, largura e comprimento da mão não

apontaram diferenças entre os grupos e, dessa forma, qualquer alteração nos

testes específicos para a função manual não podem ser justificadas por essas

características.

A hipótese de que os indivíduos pós AVE apresentariam alteração na

força de preensão e destreza manual e digital ipsilesional quando comparados

a indivíduos sadios foi parcialmente comprovada. Enquanto nenhuma alteração

da FP manual e digital foi observada nos indivíduos pós AVE, os tempos

gastos para completar os testes de destreza manual e digital (i.e., TFMJT e 9-

PnB) foram maiores para estes indivíduos. Estes achados foram observados

independente da medida utilizada como desfecho, isto é, a primeira repetição,

o escore médio ou melhor escore das três repetições. Assim, a segunda

hipótese do estudo de que as alterações na função manual ipsilesional de

indivíduos que sofreram AVE são mais evidentes quando o escore médio ou

melhor escore de três repetições são analisados também foi parcialmente

comprovada.

Os achados do presente estudo são contraditórios aos apresentados por

outros estudos que observaram uma diminuição na FP pós a ocorrência de um

56

AVE. Huang e colaboradores (2011), também avaliaram a FP palmar, digital e

lateral da mão contralesional de indivíduos pós AVE, utilizando a menor

diferença real entre a análise da primeira tentativa, das duas primeiras

tentativas, das três primeiras tentativas, a média entre três tentativas e o maior

escore. O resultado de seu estudo revelou que para o teste de FP palmar, os

valores das duas primeiras tentativas e das três primeiras tentativas foram

menores ou iguais aos de realizar apenas uma tentativa. Para os testes de FP

digital, foi encontrada menor diferença nas duas primeiras tentativas para o

teste de FP digital e nas três tentativas para o teste de FP palmar.

No presente estudo, a ausência de diferença entre grupos observada

nos testes de FP palmar e digital sugere que estes indivíduos são capazes de

gerar força muscular similar a indivíduos sem problemas neurológicos. Apesar

de muito utilizada na prática clínica e das recomendações da ASHT, a

mensuração da FP palmar e digital ainda não é feita segundo protocolo

totalmente estabelecido, com padronização de medidas e de instrumentos

utilizados para avaliação12. No presente estudo, todas as recomendações feitas

pela ASHT foram atendidas, ou seja, o instrumento utilizado para avaliação da

FP manual foi o dinamômetro Jamar, o posicionamento dos avaliados e o

protocolo foi estabelecido através da realização de três repetições48. A única

diferença foi que a análise foi realizada de três modos diferentes definidos pela

medida utilizada como desfecho. Os achados de FP similar entre grupos foi

independente da medida utilizada, pode ser pensado que o número de

repetições não tem influência nestes resultados. Embora a ASHT recomende

que a média de três repetições deva ser utilizada, com base nos achados do

presente estudo é possível sugerir que a avaliação de apenas uma repetição

da FP manual ou digital já seria suficiente.

Por outro lado, Blair (2001) afirma que avaliar a FP através de uma

tentativa não seria o método mais indicado, pois essa forma pode não revelar a

capacidade real do indivíduo12. Sua recomendação é que uma tentativa de

prática seja aplicada para que o indivíduo avaliado entenda como deve ser

executada a tarefa solicitada12. O autor, porém, ressalta que sequências de

repetições em excesso devem ser evitadas devido ao risco de fadiga e/ou

57

aprendizagem que influenciariam as medidas dos testes12. Huang et al. (2011),

também afirmam que apenas uma tentativa deve ser evitada na prática clínica

e sugere que ao avaliar a FP, duas tentativas, pelo menos, devam ser

realizadas, haja vista que desta forma, pode-se reduzir os erros da medida e

aumentar a confiabilidade dos testes para avaliar a FP manual55.

Os testes de destreza elegidos para o presente estudo são de baixo

custo, fácil aplicação, fácil entendimento e curto dispêndio de tempo. Além

disso, possuem diferenciais quando comparados a outros testes de destreza,

pois apesar de não serem bimanuais, assemelham-se a atividades exercidas

pelas mãos no cotidiano, por exemplo, instruímos os participantes a segurar a

colher como utilizam ao se alimentar (subteste 3 do TFMJT). Beebe e Lang

(2009) evidenciaram alta correlação entre os testes de destreza e testes de

força, ao utilizarem os mesmos quatro testes aplicados no presente estudo nos

primeiros seis meses após um AVE. Obtiveram como resultado a mais alta

correlação entre o 9-PnB e o TFMJT após 6 meses de avaliação (0,97).

Com relação ao TFMJT, no presente estudo, os indivíduos do GAVE

necessitaram de maior tempo para a realização da maioria dos subtestes do

que os indivíduos do GC, indicando que o membro ipsilesional é menos destro

que o de um indivíduo sadio com as mesmas características. Os subtestes que

apresentaram diferença entre grupos (levantar objetos pequenos, usar uma

colher para simular alimentação, empilhar peças de dama e levantar objetos

grandes e leves) são exatamente aqueles que exigem maior controle fino dos

dedos. Apesar do quinto subteste (levantar objetos grandes e leves) consistir

em uma tarefa realizada que é realizada com a palma da mão e não apenas

com os dedos, como as outras, e, por isso, parecer de mais fácil execução, há

uma característica peculiar nesta tarefa. Parece ser mais fácil ajustar o controle

de um objeto e seguir uma trajetória mais acurada quando este objeto é mais

pesado. Daí a facilidade destes indivíduos realizar uma tarefa que envolva a FP

em um objeto mas a dificuldade em alcançar o objeto e controlar sua trajetória

foram realizados. Essa perda em acurácia aumentou o tempo para a realização

deste subteste e acarretou prejuízo em destreza.

58

Corroborando com este estudo, Wetter et al. (2005), também

observaram tempo de execução maior na mão ipsilesional dos indivíduos pós

AVE quando comparados a indivíduos sadios, independente do hemisfério

cerebral afetado, sobretudo nos subtestes que não envolvem preensão44.

Contudo, os autores discutem de forma mais aprofundada o subteste da

escrita, não utilizado no presente estudo por ainda não ter validação em

português.

O TFMJT, além de ser de fácil utilização e possuir excelente correlação

inter e intra-examinardor64. Assim como citado pelo próprio autor, a tarefa de

empilhar peças de dama talvez seja a menos semelhante a uma atividade de

vida diária entre os seis subtestes33, porém, ainda assim é importante por

representar uma atividade que envolve a coordenação fina dos dedos,

tornando este um teste de destreza manual muito indicado na prática clínica

para a avaliação.

Apesar do TFMJT oferecer diversas vantagens, pois seus subtestes

podem ser facilmente comparados a atividades cotidianas, nem sempre é

possível aplicá-lo a todos os sujeitos pós AVE. Indivíduos com hemiparesia de

moderada a grave podem apresentar dificuldade na realização do TFMJT com

a mão contralesional, sendo essencial ao avaliador não permitir estratégias

compensatórias no momento da avaliação e observar, caso haja

acompanhamento subsequente, se o indivíduo adotará a mesma posição de

realização do teste.

Recomenda-se que novos estudos sejam realizados com um número

maior de repetições para os subtestes TFMJT, sobretudo em diversas fases de

recuperação pós AVE, haja vista que o efeito de prática com esse teste após

um mês em indivíduos em estágio sub-agudo apresentou melhora na qualidade

dos movimentos65.

Com relação ao teste 9-PnB, os indivíduos do GAVE necessitaram de

maior tempo para a realização desse teste do que os indivíduos do GC,

sustentando a nossa hipótese de que os indivíduos pós AVE possuem menor

destreza digital quando comparados a indivíduos sadios. Esse achado também

foi encontrado por Noskin et al (2007), que afirmam déficits em destreza digital

59

na mão ipsilesional ao utilizar o 9-PnB. Estes autores afirmam que os déficits

em destreza perduram mesmo pelo período crônico do AVE, assim como

afirmam Metrot et al. (2013), os quais avaliaram a mão ipsilesional até 3 meses

após a ocorrência do AVE e encontraram déficits. As possíveis explicações

para o prejuízo em destreza manual envolvem as alterações cognitivas, em

percepção e controle, a mudança de preferência em dominância manual para o

lado ipsilesional e os déficits motores contralesionais que afetam o lado

ipsilesional devido as projeções ipsilesionais, podendo levar à apraxia9. No

presente estudo, não houve nenhum sujeito com alterações cognitivas severas,

porém, assim como no de Sunderland e colaboradores (1999), é possível

observar que mesmo déficit cognitivo leve pode interferir nos testes de

destreza.

Vale ressaltar, que não houve diferença na consistência dessa alteração

com relação à medida utilizada como desfecho. Pode-se recomendar, então,

para este teste, a aplicação de apenas uma tentativa na prática clínica,

evitando-se, assim possível efeito de prática.

Os dados alarmantes com relação à ocorrência do AVE, pois, em 2010,

só no estado de São Paulo a internação de indivíduos com idade entre 30 e 49

anos respondeu por 14% do total na rede pública, remete a um indivíduo

dependente para realizar suas atividades domésticas e profissionais.

Entretanto o grau de dependência é variável. O indivíduo que sofre um AVE

adota estratégias compensatórias9, 66 e utiliza o membro ipsilesional de 5 a 6x

mais que o membro contralesional9. Daí a necessidade de um programa de

reabilitação específico, que inclua, de preferência, exercícios bimanuais, a fim

de evitar a progressão dos déficits na mão contralesional pelo pouco uso ou até

desuso e a padronização de protocolo de avaliação padronizado que facilite a

prática clínica.

Limitações

Algumas limitações foram encontradas no presente estudo. A dificuldade

em pareamento pelo sexo entre os indivíduos que sofreram um AVE e estes

60

sadios para compor o GC foi um fator limitante. Sete indivíduos pós AVE foram

excluídos da análise por não terem sido encontrados indivíduos sadios com

características similares principalmente em relação ao sexo. Esta decisão de

exclusão foi tomada uma vez que diferenças na FP tem sido relatada na

literatura.

Outra limitação do estudo é observada com relação ao teste de destreza

manual (TFMJT). Cada subtarefa desse teste é realizada apenas uma vez,

como recomendado pelo protocolo, o que não permite afirmar se o participante

teria desempenho superior ou inferior em alguma(s) subtarefa(s) se houvesse

mais de uma tentativa.

61

7. CONCLUSÃO

Os resultados deste estudo revelaram que o desempenho do GAVE foi

pior do que o dos indivíduos do GC apenas nos testes de destreza, tanto

manual quanto digital. Não houve alteração com relação aos testes de força

entre grupos.

Além disso, com relação à medida utilizada como desfecho, existe

consistência nos resultados das avaliações quando analisadas a primeira

repetição, a média entre três repetições ou o melhor escore tanto para os

testes de força como de destreza.

Uma vez que não há diferença entre realizar uma repetição, três

repetições ou o escore médio entre três repetições, é possível sugerir que a

avaliação da destreza e força manual e digital seja realizada através de uma

repetição, o que promoverá redução no tempo de avaliação, evitará possível

efeito de aprendizagem principalmente para os testes de destreza digital e

possível relato de fadiga para os testes em particular os que envolvem força.

No entanto, com relação ao teste de destreza manual (TFMJT) outros estudos

deveriam investigar essa questão já que apenas uma repetição foi realizada.

62

8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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68

ANEXOS Anexo 1: Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

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Anexo 2: Aceite do Comitê de Ética em Pesquisa Local

71

Anexo 3: Ficha de avaliação clínica

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Anexo 4: Mini exame do estado mental

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Anexo 5: Inventário de Edinburgh

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Anexo 6: Escala de Fugl-Meyer

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