UNIVERSIDADE DA AMAZÔNIA - UNAMA PROGRAMA DE … · Quadro 4 – Responsabilidade dos gestores do...

120
1 UNIVERSIDADE DA AMAZÔNIA - UNAMA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO - PPAD LORENA SILVA DE JESUS A GESTÃO SOCIAL DO PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA EM TERRITORIO QUILOMBOLA: As ações intersetoriais do CRASQ na comunidade São João Médio Itacuruça BELÉM PA 2015

Transcript of UNIVERSIDADE DA AMAZÔNIA - UNAMA PROGRAMA DE … · Quadro 4 – Responsabilidade dos gestores do...

1

UNIVERSIDADE DA AMAZÔNIA - UNAMA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO - PPAD

LORENA SILVA DE JESUS

A GESTÃO SOCIAL DO PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA EM TERRITORIO

QUILOMBOLA: As ações intersetoriais do CRASQ na comunidade São João Médio

Itacuruça

BELÉM – PA

2015

LORENA SILVA DE JESUS

A GESTÃO SOCIAL DO PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA EM TERRITORIO

QUILOMBOLA: As ações intersetoriais do CRASQ na comunidade São João Médio

Itacuruça

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-

graduação em Administração da Universidade da

Amazônia, como requisito à obtenção do título de

Mestre em Administração, sob a orientação da

profª. Drª. Ana Maria de Albuquerque

Vasconcellos.

BELÉM – PA

2015

LORENA SILVA DE JESUS

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-

graduação em Administração da Universidade da

Amazônia, como requisito à obtenção do título de

Mestre em Administração, sob a orientação da

profª. Drª. Ana Maria de Albuquerque

Vasconcellos.

Aprovado em, .......de.........................de 2015

BANCA EXAMINADORA

-------------------------------------------------------------------

Profª.Drª. Ana Maria de Albuquerque Vasconcellos

Universidade da Amazônia – UNAMA

Orientadora

-------------------------------------------------------------------

Profª. Drª. Eugênia Rosa Cabral

Universidade da Amazônia – UNAMA

-------------------------------------------------------------------

Profª. Tânia Guimarães Ribeiro

Universidade Federal do Pará - UFPA

BELÉM – PA

2015

À minha querida mãe Maria de Nazaré que dedico

cada conquista (pequena, média ou grande) é um

presente meu pra ela.

AGRADECIMENTOS

Esse trabalho é produto da minha trajetória e como muitas pessoas fizeram parte dela, dedico

meus agradecimentos de maneira abrangente. Gostaria de agradecer de coração todos aqueles

que mesmo não mencionados contribuíram de alguma forma para que eu alcançasse essa vitória.

À Deus, primeiramente, por mais um sonho realizado. Acredito no Deus bondoso que não

lembra dos meus pecados, nem das minhas transgressões. Segundo a sua misericórdia, lembra

de mim, olha para minha aflição e dor.

Agradeço ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPQ – pela

bolsa concedida, que permitiu ingresso nesse Programa de Pós-Graduação em Administração.

À Prefeitura de Abaetetuba/PA, especialmente aos gestores e técnicos da Assistência Social, da

Secretária de Saúde e da Secretária de Educação, por interromperam sua rotina de trabalho para

me receber, pela disposição em participar da pesquisa e me permitirem o acesso às informações

necessárias.

À minha família, em especial minha mãe, que me ama incondicionalmente e estar ao meu lado

sempre. Por nunca, sequer por um instante, deixar de acreditar em mim e ainda não permitir

que eu mesma o fizesse.

Ás minhas mulheres fortes Shirley, Tia Maria, Tia Odete, Tia Conceição, Tia Valmira e Bianca,

pelo apoio e confiança em momentos que passamos por muitas dificuldades.

Quero agradecer também a minha orientadora professora Ana Maria Vasconcellos, pela

oportunidade de aprender e conviver com a pesquisa e à docência, dando-me a chance de dar

mais esse passo na vida profissional.

Ao professor Dr.Mário Vasconcellos Sobrinho, pela dedicação ao PPAD/UNAMA e por ser

sempre atencioso comigo no que precisei.

Aos meus companheiros de jornada do núcleo de pesquisa Marina, Fabrício, Naiara, Cleberson,

Ynis, Bruno, Jones, Hebert, Yana, Igor, Iury, Marcelo e Keila pelos momentos de alegrias e

dificuldades que compartilhamos.

Ao querido André Franzini e seu filho Vinicius, pelo acolhimento durante a pesquisa de campo.

Aos demais professores, igualmente queridos que buscam fazer a diferença em nossa região e

com os quais eu pude ter a honra de conviver: professor Palácios, professor Amim, professora

Eugênia, professor Sérgio e o professor Milton, meu muito obrigado!

“Não é a falta de alimentos a causa da fome,

mas a insuficiência de renda para comprar

comida.”

Amartya Sem

RESUMO

Esta dissertação objetiva analisar a gestão de um programa de transferência de renda mínima

em municípios conformados por uma grande diversidade territorial (ilhas, áreas de terra firme,

áreas de várzea e terras de quilombos). Em especial, visa analisar a gestão do Programa Bolsa

Família em comunidade remanescente de quilombo no município de Abaetetuba (PA). A

escolha do programa e de sua gestão em comunidades remanescentes de quilombos que ficam

localizadas em diferentes ilhas do município de Abaetetuba se deu em função do cruzamento

de complexidades que apresentam tanto a estrutura de funcionamento do programa que envolve

condicionalidades para acesso ao benefício, quanto ao conjunto de especificidades e demandas

sociais e econômicas das comunidades quilombolas. O problema da pesquisa consiste em

entender como o Programa Bolsa Família em área de zona rural/quilombola implementa suas

ações em função das condicionalidades e especificidades das comunidades? Toma-se como

arcabouço teórico governança e gestão social. Metodologicamente, a pesquisa será realizada

sob dois prismas. O primeiro, no entendimento de como o Secretária de Assistência Social

organiza e gerencia o Programa Bolsa Família em termos de atendimento das condicionalidades

destacando, inclusive, as dificuldades, desafios e resultados. O segundo prisma se dará à luz

das comunidades quilombolas, dentre as quais escolheu-se a comunidade São João onde

realizou-se o levantamento de dados através do CRAS Quilombola sobre o atendimento das

demandas e o acesso aos serviços (educação, saúde), vinculados às condicionalidades e

especificidades do microterritório.

Palavras-chave: Intersetoralidade, Gestão social, Programa Bolsa Família, CRAS quilombola.

ABSTRACT

This dissertation aims to analyze the management of a minimum income transfer program in

municipalities formed by a large territorial diversity (islands, upland areas, meadow areas and

quilombo land). Specifically, it seeks to analyze the management of Bolsa Familia in remaining

quilombo community in the municipality of Abaetetuba (PA). The choice of the program and

its management in remaining quilombo communities that are located in different islands of

Abaetetuba municipality was due to the crossing of complexities that have both the program

operating structure involving conditionalities to lit the benefit, as the set of specific social and

economic demands of the Quilombo communities. The research problem is to understand how

the Family Grant Program in rural area / maroon implements its actions on the basis of

conditionality and specific communities? Take as the theoretical framework governance and

social management. Methodologically, the research will be conducted from two angles. The

first, in understanding how the Secretary of Social Welfare organizes and manages the Bolsa

Família Program in terms of meeting the conditionalities highlighting, including the difficulties,

challenges and results. The second prism will bear the maroon communities, among which

chose to São João community where there was the data collection through the Quilombo CRAS

on meeting the demands and access to services (education, health), linked conditionalities and

specifics of microterritório.

Keywords: Intersetoralidade, Social management, Bolsa Família Program, CRAS maroon

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 – Ações complementares ao Programa Bolsa Família..............................................41

Figura 2 – Ações complementares para enfrentamento da pobreza.........................................41

Figura 3 – A fórmula de cálculo do IGD-M............................................................................47

Figura 4 – Localização do município do Abaetetuba/PA........................................................65

Figura 5 – Imagem da Escola de Ensino Infantil e Fundamental Prof. Manoel Pedro Ferreira,

Abaetetuba/PA..........................................................................................................................77

Figura 6 – Organograma da estrutura setorial e organizacional de implementação do PBF,

Abaetetuba................................................................................................................................79

Figura 7 – Ações complementares “Projeto Caravana da Vontade Popular”..........................82

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – Diferentes modalidades de benefícios do Programa Bolsa Família.....................37

Quadro 2 – Compromissos das famílias nas áreas de saúde, educação e assistência social....38

Quadro 3 – Efeitos por descumprimento de condicionalidades do PBF (crianças, adolescentes

até 15 ano, gestantes/nutrizes)..................................................................................................40

Quadro 4 – Responsabilidade dos gestores do PBF no âmbito da União, Estados e

Municípios................................................................................................................................44

Quadro 5 – Comparativo ente as atribuições do CRAS e órgão gestor municipal..................54

Quadro 6 – Metas quantitativas de implantação e de atendimento dos CRAS.......................56

Quadro 7 – Rede de proteção social municipal da área de assistência social, entidades não-

governamentais.........................................................................................................................61

Quadro 8 – Serviços ofertados pela secretaria municipal de assistência social por níveis de

proteção social...........................................................................................................................63

Quadro 9 – Número de vacinação e desnutrição de crianças de 0 a 23 meses e 29 dias,

Abaetetuba 2010-2011..............................................................................................................68

Quadro 10 – Tipo de atendimento realizados pela SESMAB no município de Abaetetuba

(ref.Nove/2014).........................................................................................................................84

Quadro 11 – Quantitativo de escolas municipais de Abaetetuba, 2012-2014.........................89

Quadro 12 – Tipologia dos motivos de baixa frequência Conselho Tutelar, Abaetetuba, 2012-

2014...........................................................................................................................................91

Quadro 13 – Distribuição dos CRAS nas áreas de cobertura da assistência social, Abaetetuba,

2013...........................................................................................................................................93

Quadro 14 – Quantitativo de famílias com características específicas cadastradas no sistema

CadÚnico e beneficiárias do Programa Bolsa Família.............................................................99].

LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 – Evolução comparativa da taxa do IDH.................................................................66

Gráfico 2 – Taxa comparativa de analfabetismo de crianças de 11 anos até 14 anos..............67

Gráfico 3 – Crianças com até 14 anos em situação de extrema pobreza, Abaetetuba 1991-

2010...........................................................................................................................................69

Gráfico 4 – Crianças com até 14 anos em situação de pobreza, Abaetetuba 1991-2010.........70

Gráfico 5 – Distribuição das famílias inscritas no Cadastro Único por faixa de renda per capita

mensal, Abaetetuba, 2014..........................................................................................................67

Gráfico 6 – Evolução de famílias atendidas pelo Bolsa Família, Abaetetuba, 2008-2014......68

Gráfico 7 – Evolução de valores repassados ao município através do Índice de Gestão

Descentralizada Municipal (IGD-M) PBF, Abaetetuba, 2012-2014........................................72

Gráfico 8 – Evolução do IGD-M do Bolsa Família, Abaetetuba, 2010-2014..........................72

Gráfico 9 – Percentual de cobertura com base nas famílias acompanhadas da saúde referente

1ªvigência/2010 até 2ªvigencia/2014, Abaetetuba....................................................................86

Gráfico 10 –Evolução comparativa da taxa de famílias com acompanhamento da Agenda de

Saúde, Abaetetuba, 2010-2014.................................................................................................87

Gráfico 11 – Percentual de cobertura de equipes da atenção básica, Abaetetuba, 2010-

2010...........................................................................................................................................88

Gráfico 12 – Percentual de alunos de 6 a 17 anos com frequência escolar acompanhadas,

Abaetetuba, 2010-2014.............................................................................................................90

Gráfico 13 – Evolução do Indicador de Desenvolvimento do CRAS Quilombola, Abaetetuba,

2007-2012...............................................................................................................................103

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

AABB Associação Atlética Banco Brasil Abaetetuba

AMIA Associação de Moradores das Ilhas de Abaetetuba

APAE Associação de Pais e Amigos Excepicionais Abaetetuba

ARQUIA Associação dos Remanescentes Quilombolas de Abaetetuba

ACS Agentes Comunitários de Saúde

BPC Benefício de Prestação Continuada

BVJ Benefício Variável Jovem

BVN Benefício Variável Nutriz

BVG Benefício Variável Gestante

BSP Benefício de Superação da Extrema Pobreza

CadÚnico Cadastro Único

CAGROQUIVAIA Conselho do Assentamento Agroextrativista, Várzea, Quilombolas e

Grupos Afins das Ilhas de Várzea de Abaetetuba

CMAS Conselho Municipal de Assistência Social

CRAS Centro de Referência de Assistência Social

CRASQ Centro de Referência de Assistência Social Quilombola

CREAS Centro de Referência Especializado de Assistência Social

CONGEMAS Colegiado Nacional de Gestores da Assistência Social

COOPROABA Cooperativa dos Produtores de Artefatos de Abaetetuba

CREAM Centro de Referência Especializado da Assistência Social de Atendimento à

Mulher

DF Distrito Federal

FHC Fernando Henrique Cardoso

FONSEAS Fórum dos Secretários Estaduais de Assistência Social

FMAS Fundo Municipal de Assistência Social

IGD Índice de Gestão Descentralizada

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IDH Índice de Desenvolvimento Humano

ICS Instâncias de Controle Social

INEP Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira

LA Liberdade Assistida

LOAS Lei Orgânica da Assistência Social

MALUNGU Associação Regional dos Remanescentes Quilombolas do Pará

MDS Ministério do Desenvolvimento Social e Combate a Fome

MS Ministério da Saúde

MST Movimento dos Trabalhadores Sem Terra

MEC Ministério da Educação

MORIVA Movimento Ribeirinhos e Ribeirinhas das Várzeas de Abaetetuba

PBF Programa Bolsa Família

PPA Plano Plurianual

PPAD Programa de Pós-Graduação em Administração

PGRM Programas Brasileiros de Garantia de Renda Mínima

PPP Parcerias Público-Privado

PT Partido dos Trabalhadores

PETI Programa de Erradicação do Trabalho Infantil

PIB Produto Interno Bruto

PAIF Programa de Atenção Integral à Família

PNAS Política Nacional de Assistência Social

PNUD Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento

PSC Prestação de Serviço à Comunidade

SMS Secretaria Municipal de Saúde

SEMAS Secretaria Municipal de Assistência Social

SEMED Secretaria Municipal de Educação

SENARC Secretaria Nacional de Renda e Cidadania

SNAS Secretaria Nacional de Assistência Social

SEAS Secretaria Estadual de Assistência Social

SUAS Sistema Único de Assistência Social

SUS Sistema Único de Saúde

SICON Sistema de Condicionalidades

TAFE Taxa de Acompanhamento de Frequência Escolar

TAAS Taxa de Acompanhamento de Agenda de Saúde

TCQC Taxa de Cobertura Qualificada de Cadastros

TAC Taxa de Atualização Cadastral

UNAMA Universidade da Amazônia

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 15

1. GESTÃO SOCIAL E GOVERNANÇA 23

1.1 GOVERNANÇA E INTERSETORIALIDADE DAS POLÍTICAS SOCIAIS ............................. 25

1.2 POLÍTICA SOCIAL, DESENVOLVIMENTO LOCAL E IDENTIDADE.................................. 27

1.3 A GESTÃO DE POLÍTICAS SOCIAIS EM MICROTERRITÓRIOS: MUNICIPALIZAÇÃO E

DESCENTRALIZAÇÃO PÚBLICA. ................................................................................................... 29

2. CONTEXTO HISTÓRICO DO PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA 34

2.1 O PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA 36

2.1.1 CONDIÇÕES DE ACESSO AO PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA ............................................................ 37

2.1.2 AS CONDICIONALIDADES DO PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA........................................................... 39

2.1.3 A GESTÃO DAS CONDICIONALIDADES .......................................................................................... 43

2.1.4 GESTÃO MUNICIPAL DO PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA: AS ATRIBUIÇÕES E COMPETÊNCIAS DESSA

ESFERA DO GOVERNO ............................................................................................................................. 45

2.1.5 ÍNDICE DE GESTÃO DESCENTRALIZADA – IGD ............................................................................. 47

2.1.6 A INSTÂNCIA DE CONTROLE SOCIAL ............................................................................................ 49

3. A POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL EM TERRITÓRIO QUILOMBOLA 51

3.1O PAPEL DO CENTRO DE REFERÊNCIA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL – CRAS ...................... 53

3.2 O PAPEL DO CRAS QUILOMBOLA NO PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA EM ABAETETUBA

...............................................................................................................................................................57

4. O PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA NO ENFRENTAMENTO À POBREZA EM

ABAETETUBA NO ESTADO DO PARÁ 66

4.1 PERFIL DO MUNICÍPIO DE ABAETETUBA/PARÁ ................................................................ 66

4.2 O MICROTERRITÓRIO: COMUNIDADE SÃO JOÃO DO MÉDIO ITACURUÇÁ ................. 75

5. O PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA NO MUNÍCIPIO ABAETETUBA 80

5.1 O MODELO DE GESTÃO DO PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA .............................................. 80

5.2 AS CONDICIONALIDADES NO MUNICÍPIO DE ABAETETUBA ........................................ 86

5.2.1 SAÚDE 86

5.2.2 EDUCAÇÃO 90

5.2.3 ASSISTÊNCIA SOCIAL 94

6. GESTÃO LOCAL DO PROGRAMA BOLSA FAMILÍA NO MICROTERRITÓRIO 97

CONSIDERAÇÕES FINAIS 110

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 113

INTRODUÇÃO

O Programa Bolsa Família (PBF) vem se constituindo em objeto de estudo de uma

grande quantidade de pesquisas e análises no meio acadêmico e técnico o que vem despertando

também movimentações políticas fora do ambiente acadêmico, provocando discussões e

controvérsia. Atualmente o Bolsa Família é maior programa social de transferência de renda

condicionada em implementação no Brasil desde 2003 (SILVA, 2007).

As pesquisas voltadas para a temática da implementação de políticas públicas sociais

têm dado destaque significativo ao papel dos gestores envolvidos no processo de

implementação, e nas relações verticalizadas de diferentes níveis hierárquicos. Porém, ainda há

uma grande lacuna nos estudos orientados para as relações e dinâmicas de mobilização das

organizações sociais estudadas em relação ao processo de gestão de uma política pública

intersetorial. A ausência de estudos sobre o assunto parece ainda maior quando observados os

estudos empíricos sobre as relações intersetoriais nas políticas públicas, que partir do local e,

que considere as peculiaridades e especificidades das populações tradicional estudadas

indicando um processo interativo entre os grupos sociais com as interações inter e

intracomunidades. Desta forma, este trabalho tem como objetivo cobrir essa lacuna e oferecer

algumas contribuições para discussão acerca da intersetoralidade em microterritórios.

A preocupação inicial que motivou este estudo foi analisar até que ponto as ações

implementadas por uma política pública social com gestão intersetorial no momento da

implementação, leva consideração as especificidades e peculiaridades dos grupos sociais

tradicionais em seus microterritórios. Na tentativa de identificar as características do

funcionamento dessa gestão intersetorial e das relações entre os setores na gestão de uma

política pública, essa dissertação apresenta uma investigação sobre a gestão do Programa Bolsa

Família em um microterritório

A opção pelo município de Abaetetuba como estudo dessa pesquisa é justificada,

primeiramente, por se tratar de um município com disparidades territorial, enquanto espaço

geográfico, e com realidades distintas historicamente marcadas por desigualdades sociais. Por

18

segundo por se tratar de um modelo de gestão diferenciada em relação de variedades de

beneficiários.

A escolha pelo Programa Bolsa Família se justifica a princípio por se tratar do maior

Programa de Combate à Pobreza no Brasil e na América Latina (SILVA; LIMA 2010). Dessa

maneira, o PBF se apresenta como um objeto relevante de pesquisa que desperta a visão que

privilegia uma análise de fora para dentro e de cima para baixo, que se propõe enquanto política

descentralizada, municipalizada e com caráter intersetorial.

Nesse sentido, a questão central desse trabalho está associada às relações entre os

diferentes setores e atores sociais, seus conflitos e acordos, assim como seus arranjos e

articulações políticas e pessoais para conseguir desencadear o processo de implementação no

microterritório levando em conta as especificidades e peculiaridades na localidade.

Ressalta-se que essa dissertação partiu da hipótese de que o processo de

implementação de uma política pública é afetado por diversos fatores políticos, institucionais,

relacionais e territoriais. Nesse sentido, observar a implementação de políticas públicas sociais

em microterritórios a partir dos atores que a implementam e das relações que estabelecem,

significa considerar esse processo como uma interação entre diversos atores que não agem

somente como fiéis executores dos serviços orientados por normas e regras, mas desenvolvem

seus papéis conduzidos também com base em suas experiências, valores, visão de mundo, e

inseridos em um dado contexto político-institucional e social.

Considerada a importância destes fatores para a análise, fora realizado um

levantamento da literatura e uma discussão dos principais pontos que sustentam os argumentos

aqui utilizados. São eles: gestão social e governança, gestão de políticas sociais,

intersetorialidade e identidade.

Utilizou-se o método qualitativo como o mais apropriado para analisar a categorias da

gestão do PBF no município de Abaetetuba, e suas articulações intersetoriais e as ações CRASQ

no microterritório. Através do estudo de caso único, tendo o município de Abaetetuba, como o

mais apropriado para servir de lócus da pesquisa, mais especificamente área quilombola, essa

cultura sendo incorporada à gestão. Quanto aos procedimentos metodológicos utilizados neste

trabalho consistiram na divisão de dois prismas. O primeiro prisma constitui na análise das

ações da gestão municipal envolvidas com o PBF no município de Abaetetuba/PA, onde

levantou-se dados e documentos oficiais publicados como, leis, normativas, decretos, diário

oficial, entre outros. No que se refere aos aspectos sociais foram examinados índices do

19

Programa Bolsa Família, acompanhamentos de condicionalidades, e dados e documentos

oficias publicados pelo MDS.

No segundo prisma, refere-se a análise da gestão no microterritório, no entendimento

de como o CRAS Quilombola organiza e gerencia o PBF em termos de atendimento das

condicionalidades, especificidades e peculiaridades da localidade, destacando-se, inclusive, as

dificuldades, desafios e resultados.

Para a análise dos fatores de gestão do microterritório utilizou-se, duas ferramentas

metodológicas. A primeira delas foram as entrevistas semiestruturadas com os atores

responsáveis pela execução do programa no município de Abaetetuba, nos setores e órgãos das

Secretarias de Assistência Social, Saúde e da Educação. A segunda ferramenta foi a pesquisa

participante e entrevistas semiestruturadas.

O levantamento documental foi, também, útil como ferramenta para respaldar as

informações investigativas. Esses documentos nos esclareceram o conteúdo e as determinadas

questões e serviram de comprovação para outras informações.

Como documentos, elencamos:

1). Registro do Programa, Planos e Leis e Decretos - Documentos relevantes para a

compreensão da caminhada política do Programa Bolsa Família. Sua constituição histórica e

concepção;

2). Documentos de Relatórios de Gestão do Programa Bolsa Família - dados referentes

a estatísticas do Programa no período de 2013. Com esses dados obtivemos o número total de

beneficiários, número total de beneficiários acompanhados pela educação, número total de

beneficiários acompanhados pela saúde, e total de famílias com registro de acompanhamento

familiar e total de repercussões por descumprimento de condicionalidades no município de

Abaetetuba;

3). Documentos complementares: Plano Plurianual, Diagnóstico Social e de outros

documentos tais como: registros cartográficos, mapas, pesquisas aplicadas;

4). As fotografias – Como documentos fundamentais na interpretação e análise. As

imagens fotográficas contribuem como fonte documental para evidenciar o objeto pesquisado,

favorecendo a leitura se apresenta no foco ilustrativo.

As entrevistas semiestruturadas tiveram como foco a análise da gestão do Programa

no acompanhamento de suas condicionalidades no microterritório (gestão do programa,

processo de cadastramento, participação social dos gestores, intersetorialidade, relação com

outros níveis de governo e avaliação do programa) compreendendo que esse instrumento é

20

necessário na pretensão de alcançar os objetivos propostos. Embora organizando um roteiro

“básico”, buscamos dados a partir de diálogos em que as informações puderam ser absorvidas

naturalmente permitindo, assim, que esse instrumento se relacionasse com a teoria e os

conhecimentos bibliográfico e documental. Como nos afirma Minayo (2002, p.63), “uma

entrevista rica é aquela em que o pesquisador consegue um diálogo real com o entrevistado, em

que não predominam as respostas, chavões, que nada acrescentam”.

Deste modo uma interação entre o pesquisador e o sujeito pesquisado com certa fluidez

de diálogo. Este momento fortaleceu a confiabilidade, propiciando imersão relevante de

informações. As abordagens com os entrevistados foram realizadas durante o dia, num intervalo

ou outro da rotina de seus trabalhos, sendo possível gerar os dados que foram transcritos para

posterior análise. Durante a transcrição, foram preservados os direitos de confidencialidade das

informações. Ao todo, foram realizadas entrevistas: com os gestores da Secretaria Municipal

de Assistência Social; da Secretaria Municipal de Saúde; da Secretaria Municipal de Educação,

e os técnicos do Centro de Referência de Assistência Social Quilombola e as representantes do

Conselho Municipal de Assistência Social. Esta etapa foi sendo atualizada durante todo o

período da avaliação, que iniciou em março de 2013 e foi concluído em novembro de 2014.

A entrada de campo na comunidade de São João do Médio Itacuruçá se deu através da

aproximação com os técnicos do CRAS Quilombola e seguidamente com os membros da

comunidade e através de observação participante e debates com os técnicos do CRAS e

educadores e agentes comunitários da localidade. No decorrer da pesquisa ocorreram algumas

dificuldades para levantamento de dados. Primeiramente, a equipe técnica do CRAS

Quilombola foi desfeita, portanto por este motivo precisou-se interromper as visitas do serviço

de Proteção e Atendimento Integral à Família (PAIF), esse que dá subsídio ao Programa Bolsa

Família em nível local para preenchimento do banco de dados CadÚnico e realiza as ações do

Programa com as famílias beneficiarias da área em que atua. Esse fato da equipe do CRASQ

ter sido desfeita, trouxe as impossibilidades de realizar visitas assíduas e de acesso aos dados

da comunidade escolhida e acompanhar a gestão em nível local com olhares cautelosos.

As transcrições das entrevistas foram realizadas pela própria entrevistadora para que

não ocorressem equívocos, omissões e incorreções, já que a entrevista envolve uma

complexidade e uma riqueza de informações sobre a gestão do Programa e as principais

dificuldades para execução no município.

Os dados geraram informações como, tais como: descrição do contexto local da gestão

do Programa Bolsa Família; transcrição das entrevistas dos gestores envolvidos na pesquisa,

21

em que teve destaque, trechos das entrevistas mais significativas da forma como os gestores

entendem e atuam na gestão do Programa Bolsa Família; mapeamento das ações na esfera local

da gestão do Programa Bolsa Família na perspectiva de seus desafios para gestão do Programa

em nível local; mapeamento das observações realizadas durante as visitas técnicas no

município, onde foi possível vivenciar o cotidiano das ações que envolvem a gestão do

Programa em comunidade Quilombola; mapeamento das ações de gestão do município para o

controle social no PBF em comunidade Quilombola/Ribeirinha

Esta dissertação está organizada em 7 capítulos, além desta introdução e considerações

finais. No primeiro capítulo, realizou-se uma discussão bibliográfica sobre gestão social e

governança. Neste mesmo capítulo discutiu-se sobre governança social como novo modelo na

gestão das políticas sociais e intersetoralidade. Posteriormente discutiu-se uma relação entre

política social e desenvolvimento local adoção desse modelo nas Políticas de Combate à

Pobreza no Brasil, mais especificamente do Programa Bolsa Família.

No segundo capítulo, apresenta-se o contexto histórico do Programa Bolsa Família, no

que se refere as suas normativas, leis, instruções operacionais, entre outros documentos que

regulamentam a implementação do Programa. Neste mesmo capítulo, apresenta-se o Programa

Bolsa Família, observando as condições de acesso, as condicionalidades, a gestão das

condicionalidades, a gestão municipal do Programa, o IGD-M e por final a instância de controle

social.

No terceiro capítulo, apresenta-se sobre a Política de Assistência Social em Território

Quilombola, neste mesmo capítulo, apresenta-se o papel do CRAS Quilombola como principal

gestor e organizador do Programa na esfera local;

O quarto e o quinto capítulo, dá início a apresentação do caso estudado, o Bolsa

Família no município de Abaetetuba, observando o contexto político e institucional, que nos

permitiu observar e analisar algumas questões fundamentais relacionadas à prática da

intersetorialidade e as ações locais do programa na cidade

A primeira parte do capítulo é dedicada à apresentação do perfil do município

estudado. Em seguida é apresentado o microterritório esse escolhido a comunidade São João

do Médio Itacuruça, para obtenção de dados como acompanhamento de condicionalidades na

saúde, educação e assistência social.

O quinto capítulo, inicia se com apresentação do modelo de gestão do Programa no

município de Abaetetuba. No primeiro momento, analisa a intersetorialidade de modo geral e,

seqüencialmente na perspectiva de cada um dos setores envolvidos: Saúde, Assistência Social

22

e Educação. A ideia geral deste capítulo é primeiramente levantar os fatores políticos e

institucionais que criaram um contexto específico para o desenvolvimento do Programa e para

o modelo de gestão adotado no município, para então compreendermos como eles influenciam

nas relações interpessoais e entre os setores e, consequentemente como são realizados os

arranjos e as interações para a implementação no microterritório. Por fim, o último capítulo

centra atenção nas ações da gestão local do Programa Bolsa Família no microterritório, com

base na análise das entrevistas e a observação participante.

23

1. GESTÃO SOCIAL E GOVERNANÇA

A pesquisa fundamentou-se nas literaturas sobre políticas sociais a partir de uma nova

lógica de governança para analisar a gestão do Programa Bolsa Família, enquanto política

pública de governo. De tal modo, busca-se compreender as ações do CRAS Quilombola na

gestão do Programa Bolsa Família em comunidades remanescentes de quilombos no município

de Abaetetuba/PA, considerando a sua realidade local, seus aspectos territoriais, econômicos,

socioculturais, e as inter-relações da gestão com os beneficiários locais enquanto protagonistas

dessa política. Nessa perspectiva foram abordadas algumas categorias consideradas importantes

e que fazem relação ao tema proposto como: governança social, gestão de políticas sociais

intersetorialidade, parceria e identidade.

O conceito de gestão social é apresentado na literatura sobre diferentes vieses, no

entanto, a perspectiva aqui adotada vai ao encontro da perspectiva de Cançado, Pereira e

Tenório (2004). A gestão social pode ser apresentada como a tomada de decisão coletiva, sem

coerção, baseada na inteligibilidade da linguagem, na dialogicidade e no entendimento

esclarecido como processo, na transparência como pressuposto e na emancipação enquanto fim

último. Indo na mesma direção, aborda-se o conceito de governança definido por Fischer (2002,

p.19) entende que “governança é um conceito plural, que compreende não apenas a substância

da gestão, mas a relação entre os agentes envolvidos, a construção de espaços de negociação e

os vários papéis desempenhados pelos agentes do processo”.

No contexto da gestão social, a governança é tratada como mecanismo de integração

entre Estado, mercado e/ou sociedade. Os três são protagonistas que precisam criar espaços de

diálogos abertos, definir propostas e argumentações para a construção de processos decisórios

deliberativos na gestão de políticas públicas (VILLELA; COSTA, 2009). Pressupõe-se que a

participação, dialogicidade, transparência, cidadania e democracia são variáveis congruentes

entre gestão social e governança que se intensificam ou se enfraquecem dependendo das

relações estabelecidas entre os três protagonistas que interagem nos espaços públicos.

A gestão social passou a ser discutido no Brasil, pelo menos no meio acadêmico, a

partir das experiências do Programa de Estudos em Gestão Social da Escola Brasileira de

Administração Pública e de Empresas da Fundação Getúlio Vargas – PEGS/EBAPE/FGV,

criado em 1990 (CANÇADO, 2014) originalmente a terminologia estava mais voltada para a

gestão de políticas públicas, mais especificamente as políticas públicas sociais, ou, programas

sociais (CANÇADO; PEREIRA; TENÓRIO, 2004).

24

A gestão social proporciona uma amplitude de perspectivas analíticas, dentre as quais:

a cidadania deliberativa (TENÓRIO, 2005), e a gestão democrática e participativa (CANÇADO

et al, 2011). A gestão social traz como princípio o processo gerencial dialógico entre Estado,

setor privado e sociedade civil (CANÇADO et al, 2011), em busca de equilíbrio entre estes

agentes nos pilares da transparência, diálogo, democracia e cidadania (TENÓRIO, 2011;

CANÇADO et al, 2011).

Tenório (2004), enfatiza que a gestão social se contrapõe à gestão estratégica em sua

proposta de substituição da gestão tecnoburocrática, sem diálogo. A gestão social busca um

gerenciamento mais participativo, dialógico, no qual o processo decisório é um exercício feito

por vários atores sociais. Nesse entendimento, as ações serão frutos de relações dialógicas e não

de relações monológicas, e o consenso é elaborado pelo diálogo entre atores e deve visar o bem

comum de todos. Essa discussão integra à proposta habermasiana da cidadania deliberativa, que

está relacionada ao significado de participação, que por sua vez, deve ser praticada como um

processo intersubjetivo, onde todos têm direito à fala (TENÓRIO, 2004).

Desta forma, Tenório (2005), a compreensão sobre gestão social não deve ser atrelada

às especificidades de políticas públicas direcionadas a questões de carência social, mas como

uma possibilidade de gestão democrática na qual o imperativo categórico não é apenas o eleitor

e/ou contribuinte, mas igualmente o cidadão deliberativo; não é só a economia de mercado, mas

também a economia social; não é o cálculo utilitário, mas o consenso solidário; não é o

assalariado como mercadoria, mas o trabalhador como sujeito; não é somente a produção como

valor de troca, mas igualmente como valor de uso; não é tão somente a responsabilidade técnica,

mas, além disso, a responsabilidade social; não é a responsabilidade privada, mas sim a

responsabilidade pública; não é o monólogo, mas, ao contrário, o diálogo.

A gestão social corresponde às várias formas de administração do sistema público para

que melhor atenda aos anseios da população, resultando assim, em uma gestão participativa

(VASCONCELLOS; VASCONCELLOS, 2010). Portanto, trata-se de um mecanismo de ações

conjuntas entre Estado e Sociedade, por meio de diálogos abertos e levantamento de propostas

e argumentações para a construção dos processos decisórios deliberativos na gestão de políticas

públicas (VILLELA; COSTA, 2012).

Os problemas sociais se tornam cada vez mais complexas no mundo globalizado

requer uma nova governança (social), que se processa com novos arranjos institucionais

baseados na intersetorialidade, e que envolvam a cooperação e a atuação conjunta de atores da

esfera pública e privada (KNOPP; ALCOFORADO, 2010).

25

Enfim, o cerne da questão, ao tratar da gestão social e sua relação com os programas

direcionados à gestão local, como o PBF é analisar os desafios das ações do programa através

do CRAS Quilombola, mais especificamente em zona rural/quilombola, onde existem inúmeras

barreiras para desempenho do programa para o desenvolvimento local.

1.1 GOVERNANÇA E INTERSETORIALIDADE DAS POLÍTICAS SOCIAIS

O processo de gestão de uma política social é reconhecer que ela está inserida em um

contexto, no qual fatores endógenos (normas, regras e estruturas/instituições) e fatores

exógenos (contexto sócio-político, histórico e cultural; multiplicidade de atores envolvidos que

carregam consigo referenciais distintos, entre outros) influem sobre ela e vice-versa

(CAMPANHOLA; SILVA, 2000). Desse modo, compreender o funcionamento das ações da

gestão de uma política social, precisa se tanto considerar os fatores endógenos e exógenos da

realidade local, como também apreciar a dinâmica das interações e ações dos atores envolvidos.

No contexto de mudanças de paradigmas na gestão de políticas sociais, a

administração pública brasileira encontra-se em transformação das estruturas da gestão,

motivada pelas sucessões de crises fiscais e pela perda da capacidade de o Estado ser provedor

do bem-estar social (GUBERMAN; KNOPP, 2009). Como resultado deste processo, houve a

necessidade de reformas do Estado e da sociedade, a partir de um sistema de governança

Criou-se, portanto, um ambiente institucional favorável a uma nova acepção do papel

do Estado e a uma nova maneira de conduzir a gestão pública, que se traduzem na evolução de

um “government” para uma “governance” ou da substituição, ainda que parcial, do “governance

by hierarchies” prevalente na burocracia estatal para novos padrões de governança

(governance), mais aberta à sociedade (FIRMINO, 2008 apud KNOOP; ALCOFORADO,

2010).

Knoop e Alcoforado (2010), entendem que governança é o conceito-chave para

explicar o conjunto de mecanismos, processos, estruturas e instituições por meio dos quais

diversos grupos de interesses se articulam, negociam, exercem influência e poder. O conceito

é demarcador de relações sociais e organizacionais alternativas àquelas baseadas no centralismo

decisório unidirecional, propondo a transição de uma gestão monológica para uma gestão mais

dialógica. Falar em governança é falar em distribuição de poder entre os atores, transparência e

controle (mútuo) sobre decisões e ações.

26

O conceito de governança é polissêmico e interdisciplinar, cabendo esforço para a

compreensão nas áreas de conhecimento da sociologia, política, administração, economia e na

geografia. Desta forma, para Knopp e Alcoforado (2010) adjetivar a governança em função do

contexto no qual ela é praticada é exercício básico para que se possa delimitá-la no plano

teórico.

Entre este processo de adjetivação, estão: governança corporativa (CARVALHO,

2002), governança pública (KISSLER; HEIDEMANN, 2006), governança social (KNOPP;

ALCOFORADO, 2010), governança comunitária (ZELDIN; CAMINO; CALVERT, 2007),

governança metropolitana (LEFÈVRE, 1999) e governança urbana (FREY, 2007).

Knopp e Alcoforado (2010) acreditam que essa abordagem de governança ideal-típica,

no sentido weberiano do termo, requer por meio da inter-relação “em rede” dos atores sociais

organizacionais representativos dos três setores: Estado, mercado e sociedade civil, afim de

novos arranjos institucionais (parcerias, alianças e redes) em uma democracia formam ou

devem formar, pelo menos no plano ideal, um todo indivisível (BRESSER-PEREIRA, 2006).

Portanto, é a utilização dos meios, instrumentos e recursos disponíveis em um dado contexto

social, para se realizar um desenvolvimento local (ALCOFORADO, 2009).

A governança social é, portanto, uma práxis calcada na conciliação entre eficiência,

eficácia e efetividade (desempenho) e novos valores democráticos (KNOPP; ALCOFORADO,

2010). Isto implica dizer que a efetividade de uma política pública, da concepção à

implementação deve ser articulada por vários saberes e experiências no planejamento,

realização e avaliação de ações para o alcance do efeito sinérgico, visando o desenvolvimento

social e superando a exclusão social (JUNQUEIRA; INOJOSA, 1997).

A concepção de governança social está interligada ao conceito de intersetorialidade

(FISCHER et al., 2006; JUNQUEIRA, 2009). Neste apresenta a nova lógica para gestão das

políticas sociais, particularmente em contextos municipais, que busca superar os problemas da

fragmentação das ações e de seus efeitos, a partir da consideração do homem/natureza e

homem/homem que determinam a construção social (JUNQUEIRA; INOJOSA, 1997).

Ressalta-se que a intersetorialidade não é um conceito que engloba apenas as

dimensões das políticas sociais, mas também a sua interface com outras dimensões da cidade,

como sua infraestrutura, ambiente, que também determinam a sua organização e regulam a

maneira como se dão as relações entre os diversos segmentos sociais (JUNQUEIRA, 2009). É

uma maneira de intervenção na realidade social exige articulação de instituições e pessoas, para

integrar e articular saberes e experiências estabelecendo um conjunto de relações entre

27

instituições e pessoas permite pensar na possibilidade de reconstruir a sociedade civil (DABAS,

1995), que se desenvolve a partir de seus integrantes, que se articulam em função do bem-estar

social e da produção, tornando-os produtores ativos.

A intersetorialidade pode ser vista, ao mesmo tempo, como um instrumento de gestão,

mas também como uma nova lógica de governar os problemas sociais (JUNQUEIRA, 2009), e

concepção que deve informar uma nova maneira de planejar, executar e controlar a prestação

de serviços, para garantir um acesso igual dos desiguais.

Junqueira (2000) acredita que para tratar os cidadãos, situados num mesmo território,

e seus problemas, de maneira integrada, exige um planejamento articulado das ações e serviços.

É esse novo fazer envolve mudanças de valores, de cultura, que são percebidas: nas normas

sociais e regras que pautam o agir de grupos e organizações sociais (JUNQUEIRA;

NASCIMENTO, 2012). Em suma, é “a construção de um projeto social que se delineia”

(JUNQUEIRA, 2000, p.28). Contudo, a efetivação do ‘projeto social’ vai depende das

mudanças de práticas e valores organizacionais, que permitirão o discurso intersetorial

ganharem concretude, mediante ao respeito das diferenças e à incorporação das contribuições

de cada política social no entendimento e na superação dos problemas sociais.

1.2 POLÍTICA SOCIAL, DESENVOLVIMENTO LOCAL E IDENTIDADE

A relação entre desenvolvimento e políticas sociais se constitui hoje numa assertiva

evidente, tanto nas reflexões a respeito do desenvolvimento (SACHS, 2005; VEIGA, 2005)

quanto na das políticas sociais (VIEIRA, 2004; BEHRING; BOSCHETTI, 2006).

As novas reflexões sobre o desenvolvimento que se consolidam a partir da década de

1990 trazem um conjunto de contribuições importantes para a construção de um novo papel das

políticas sociais nas dinâmicas de desenvolvimento. Em primeiro lugar, afirmam,

definitivamente, a ideia de que as manifestações da questão social não podem ser tratadas de

forma isolada, mas devem ser vistas na perspectiva da totalidade concreta das relações sociais.

Em segundo lugar, demonstram que os espaços locais são lugares privilegiados para a

construção de alternativas que podem se transformar em referências nacionais e internacionais

(POCHMANN, 2004).

As políticas sociais são entendidas como fruto da dinâmica social, da inter-relação

entre os diversos atores, em seus diferentes espaços e a partir dos diversos interesses e relações

28

de força. Por isso, a ligação com as propostas de desenvolvimento local são essências para a

análise das políticas sociais.

O desenvolvimento local é um processo de transformação econômica, política e social,

através da qual o crescimento do padrão de vida a população tende a tornar-se automático e

autônomo. Trata-se de um processo social global, em que as estruturas econômicas, políticas e

sócias de um país sofrem continuas e profundas transformações (PEREIRA, apud ÁVILA,

2001). É um processo dinamizador da sociedade para melhorar a qualidade de vida sua

comunidade, contribuindo com a emergência de novas formas de produzir e compartilhar.

De acordo com Martin (1999), a ideia de desenvolvimento local é entendida como um

processo de tomada de consciência da população e de mobilização social, que propõe promover,

através de ações concretas, soluções aos problemas e necessidades enfrentadas pelos habitantes

de determinada localidade. Para isso, enfatizar-se a efetiva participação das comunidades nas

decisões sobre as ações a serem promovidas na sua região.

Segundo Claxton (1994), o desenvolvimento só pode prosperar quando está

fundamentado na cultura e nas tradições de um povo ou coletividade, porque é um processo

vinculado aos valores de cada sociedade e que exige ao mesmo tempo uma participação ativa

das pessoas e indivíduos que são os autores e os beneficiários do mesmo.

De acordo com Kliskberg (2001), a cultura pode ser um instrumento formidável de

progresso econômico e social. Portanto, destaca-se a relevância do conceito de identidade para

compreensão do Programa Bolsa Família em comunidades quilombolas. De acordo com

Ministério do Desenvolvimento Social (2013) o Bolsa Família se propõe ser um programa de

apoio e manutenção à permanência das comunidades quilombolas no campo, a fim de buscar a

melhoria na saúde, educação e geração de emprego e renda para essa população.

No estado do Pará convivem diferentes grupos sociais que constroem relações sociais

específicas no território e tais relações definem coletivamente a forma de apropriação dos

espaços sociais por esses grupos (ALMEIDA, 2006). Para Geertz (1989), estudar cultura

implica estudar os códigos e símbolos partilhados pelos membros da comunidade. É uma teia

de significados e regras sobre relações e modos de comportamentos.

A identidade cultural também é constituída por elementos e espaços que de alguma

forma permitem reproduzir as relações sociais da comunidade. Dias (2006) compreende

identidade cultural “é um processo de interações contínuas entre comunidades diferentes que

29

ocupam espaços distintos socialmente construídos” (DIAS, 2006, p.1). É dessa maneira e

constitui como objeto da antropologia cultural1.

Santos (2012) contribui com o objeto da antropologia define que identidade cultural

“é uma forma de comunicação do indivíduo e do grupo com o universo, é uma herança, mas

também um reaprendizado das relações profundas entre o homem e o seu meio. ” (SANTOS,

2012, p.144). A maneira dos grupos sociais se relacionarem com o território implica a afirmação

de uma identidade específica. Nesse sentido, conhecer o território através das representações

sociais que cada grupo constrói sobre ele é identificar também as diversas identidades e

conformações desse território.

No entanto, as afirmações de Hall (2006), leva-se a perceber que o processo de

identificação, através do qual nós projetamos em nossas identidades culturais, tornou-se mais

provisório, variável e problemático. A identidade tornou-se móvel formada e transformada

continuamente em relação às formas pelas quais somos rodeados sendo definidas

historicamente (HALL, 2006). Portanto, os critérios de composição identitária nas sociedades

ditas modernas “são definidas pelas mudanças constantes, rápidas e permanentes” (GIDDENS,

1990, p. 37-38) são preponderantemente, marcados pelo hibridismo de práticas sociais,

constituindo uma identidade cultural híbrida.

Desde modo, cada sistema cultural está sempre em mudança (LARAIA, 2009). Da

mesma forma, os homens também têm a capacidade de questionar os seus próprios hábitos e

modifica-los. Portanto exercer as mudanças. Entender essa dinâmica é importante para atenuar

o choque entre as gerações e evitar comportamentos preconceituosos.

1.3 A GESTÃO DE POLÍTICAS SOCIAIS EM MICROTERRITÓRIOS:

MUNICIPALIZAÇÃO E DESCENTRALIZAÇÃO PÚBLICA.

A gestão das políticas públicas ainda é uma questão ainda pouco explorada nos estudos

que privilegiam a análise no momento das ações da política em nível local, no que se refere a

interação com cultura local.

1 Seja o modelo utilizado, biológico, psicológico (KARDINER, 1970) ou linguístico (SAPIR, 1967), é uma antropologia frequentemente empírica, que se situa do lado da função ou, mais ainda, do sentido, em detrimento da norma e do sistema Mas o que permite essencialmente caracterizar social, mas considerado sob o ângulo dos caracteres distintivas que apresentam os comportamentos individuais dos membros desse grupo, bem como suas produções originais (artesanais, religiosas, artísticas...). Método de análise é comparativo através da etnografia. Cite-se alguns pesquisadores que contribuíram para área Mead (1927); Erny (1972); Roheim (1943); Herskovitz (1979).

30

É particularmente no nível municipal que a conjugação, convergência e integração das

políticas e programas setoriais impõem nova arquitetura institucional e organizacional

(CARVALHO, 1997), na gestão em nível local passa a ser uma etapa de reformulação e

formulação (LINDBLOM, 1980), pois implica em um processo criativo de tomada de decisões,

além de ajustes incrementais de metas, recursos, prazos, entre outros fatores.

As políticas sociais funcionam como filtros de redistribuições de proteção social e

desenvolvimento de seus cidadãos (CARVALHO, 1994). É no desenho e no conteúdo da

política social que se voltam as maiores expectativas por redução de desigualdades,

enfretamento à pobreza e oportunidade efetiva de inclusão social de uma parcela de sua

população.

A Constituição de 1988 introduziu novas diretrizes para a gestão pública:

descentralização, municipalização, autonomia dos serviços e participação deliberativa da

sociedade (CARVALHO, 1997). De acordo com Farah (2006), as novas atribuições às gestões,

de maneira geral, foram consolidadas; no entanto, as novas realidades do século XXI estão

pressionando pela introdução de arranjos de gestão mais complexos.

Carvalho (1997) discute nova estrutura da administração pública fundamentada na

lógica da cidadania promova ações integradoras em torno do cidadão e do território como eixos

de um desenvolvimento local, e requer um enfoque no território e em suas populações como

portadores de identidades, saberes, experiências e nos projetos futuro precisam ser reconhecidos

como cidadãos que querem abertura para sua participação.

As políticas e programas devem ser desenhados pelo prisma da intersetorialidade,

reduzindo a ênfase nos tradicionais recortes setoriais e especializações estanques, afim de,

promover as potencialidades e fortalezas do território, e assim, rompendo com a ênfase nas

vulnerabilidades e carências da população (JUNQUEIRA, 2005; CARVALHO, 1997)

No processo de descentralização, o município assume papel central na implementação

e oferta dos serviços sociais públicos básicos de direito dos cidadãos (saúde básica, ensino

infantil e fundamental, assistência social, etc.). Os municípios adquirem a autonomia política,

através da elaboração de sua própria lei orgânica e demais leis e da escolha do direta de seus

governantes (TEIXEIRA, 2002).

Carvalho (1997) aponta que aos processos de descentralização e municipalização,

estão ancorados nas ideias de democratização dos negócios públicos, compromisso com a maior

equidade no acesso das políticas públicas e, participação da sociedade civil, compondo assim

um novo pacto e condição para governabilidade.

31

Souza (2004) e Arretche (2001) afirmam que descentralização e municipalização no

Brasil está longe de ser abrangente. Na verdade, vem se concentrando apenas no aumento dos

recursos financeiros para os municípios. Ainda que a municipalização tenha sido um dos

objetivos dos constituintes de 1988, marca apenas a consolidação das políticas sociais e não

para o aumento da capacidade de decidir sobre onde e como investir os recursos.

Essas transferências de responsabilidade estão desenhadas estruturalmente para

delegar a implementação de uma dada política a outro nível de governo, dessa forma, a

autonomia de realizar as políticas próprias sem vinculação aos programas federais e estaduais

é mínima (ARRETCHE; 2001).

Teixeira (2002) aponta que apesar do aumento da capacidade financeira, a participação

dos municípios na receita tributária global não supera os 18 ou 20%, no entanto, eles assumem

vários encargos e responsabilidades de outras esferas, o que obriga a negociar os recursos nos

diversos programas federais ou estaduais.

Alguns diagnósticos sugerem a existência de municípios inviáveis que dependem

totalmente de transferências estaduais e federais para sobreviverem enquanto instância

federativa (TEIXEIRA, 2002). Além disso, nessas políticas, o desenho institucional

contemplou os mecanismos de recompensas e sanções caso os municípios não aderissem a elas.

É importante perceber que esse processo de municipalização no Brasil através da ótica

de uma grande heterogeneidade entre os municípios num país de tamanho continental, as

desigualdades regionais, a ausência de competências locais, a presença ainda enraizada de

oligarquias e nepotismos. De todo mundo, a descentralização e a municipalização são

percebidas como ingredientes fundamentais de reorientação substantiva das políticas sociais

(FARAH, 2000).

A vocalização geral em torno da descentralização, municipalização e o fortalecimento

da sociedade civil reforçam o poder local, propicia a participação dos cidadãos e o controle

social pela sociedade civil (FARAH, 2000), ou seja, a capacidade de promover o

desenvolvimento com base nos fatos de sua realidade sócio-territorial e em função de

prioridades por ela mesma definidas.

A concepção aqui adotada, o desenvolvimento é uma práxis calcada em uma lógica

que na literatura recente é contemplada como os adjetivos endógeno, local e integral (KNOPP

E ALCOFORADO, 2010). O local permite reinventar a política pública articulando a redes de

solidariedade microterritórios, sociais e familiares (CARVALHO, 1994). É no território local

32

que se pode fortalecer vínculos de pertencimento e redes sócio-relacionais assegurando apoios

e proteção social.

Embora muito se fale na relação entre território, territorialidade e desenvolvimento, a

articulação entre eles não é simples no campo teórico, pois estes são conceitos de multifaces

(KNOPP; ALCOFORADO, 2010). Quando se faz um recorte analítico do desenvolvimento

para o nível local, entende-se por local o agrupamento das relações sociais em que a cultura e

outros caracteres não transferíveis têm sido sedimentados (CAMPANHOLA; SILVA, 2000).

Em síntese, o desenvolvimento local se trata de um processo contínuo que se expresse

em bem-estar e qualidade de vida de acordo com as especificidades desse espaço agrupado de

relações sociais de preferência em um sistema de “baixo para cima” e a contar com participação

dos atores sociais, afim de, enfrentar as mazelas da desigualdade, da pobreza e a exclusão social

(CAMPANHOLA; SILVA, 2000; VASCONCELLOS; VASCONCELLOS, 2010).

Já realizada essa conceituação, entende-se que uma política, programa ou projeto

público torna-se mais efetivo se ele ser apropriado e incorporado ao cotidiano de seus

destinatários e ter por base, para sua concepção e implementação, a territorialidade do lócus de

ação. De acordo com Cabugueira (2000), as novas perspectivas de desenvolvimento local com

as designações “territorialista”, “endógena” e “a partir da base” tendem na noção desse espaço

como tecido social capaz de incorporar a questão da identidade cultural. Para isso, torna-se

fundamental que os cidadãos daquela localidade sejam agentes desse processo.

Vázquez (2002) adverte deve-se reconhecer que existe uma certa ambiguidade na

política de desenvolvimento local, derivada dos objetivos que se pretendem com ela.

Relativamente à questão de saber se as políticas de desenvolvimento local deverão ser do tipo

top-down ou bottom-up, para que a política seja eficiente é conveniente que se produza uma

sinergia entre as ações “acima-abaixo” que surgem devido à unicidade de cada localidade

(VÁZQUEZ, 2002; CABUGUEIRA, 2000).

De fato, a estratégia de desenvolvimento local pressupõe que ações baseadas nas

condições de cada localidade e que tratam de utilizar eficientemente as potencialidades de

desenvolvimento devem ser combinadas com as políticas setoriais e regionais que propiciam as

administrações centrais com fim de fornecer a reestruturação econômica (CABUGUEIRA,

2000).

Nesse sentido, pretende ser para os microterritórios, portanto, os gestores do seu

desenvolvimento, não ficando presos a políticas governamentais que são concebidas de forma

33

vertical não levando em consideração as relações horizontais e as particularidades locais de

uma comunidade ou grupo cultural (ÁVILA, 2001).

De acordo com Carvalho (1994) assegura-se maior autonomia de gestão às unidades

de prestação de serviços aos cidadãos (escolas, unidades básicas de saúde, CRAS e ect...).

Contudo, essa autonomia implica em reconhecimento e articulação da malha de serviços nos

microterritórios, a fim de que os mesmos não caminhem de forma isolada, mas assegurem um

fluxo permanente de relações ente eles, bem como a participação da população, a sua adesão e

participação no processo implica para o sucesso e insucesso de tal processo (CARVALHO,

2012; ÁVILA, 2001; CABUGUEIRA, 2000).

Ou seja, é preciso pensar o município como uma totalidade formada de território e de

seus habitantes que portam identidades, histórias, relações necessidades e demandas; portam

experiência humano-social, portam projetos. O plano diretor do município e suas prioridades

devem refletir a riqueza contida nestas identidades, demandas e projetos (ÁVILA, 2003).

34

2. CONTEXTO HISTÓRICO DO PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA

No Brasil, a temática dos Programas de Transferência de Renda, denominados,

inicialmente, de Programas de Renda Mínima ou Programa Bolsa Escola e outras

denominações, tem seu desenvolvimento histórico sistematizado em cinco momentos: o

primeiro momento, iniciado em 1991, quando senador Eduardo Suplicy (PT/SP) apresentou o

Projeto Lei n. 80/1991, instituindo o Programa de Garantia de Renda Mínima para todo

brasileiro a partir de 25 anos de idade, o qual foi aprovado no Senado, permanecendo, com

parecer favorável, para aprovação da Câmara Federal (SILVA; LIMA, 2010).

Silva e Lima (2010) destacam o segundo momento, estendendo-se de 1991 a 1993,

quando Camargo (1991; 1993; 1995) propõe uma transferência monetária a famílias que

tivessem crianças de 5 a 16 anos em escolas públicas, introduzindo duas inovações no debate:

a família como beneficiária, no lugar do indivíduo, bem como a articulação da transferência

monetária com a obrigatoriedade de crianças e adolescentes frequentarem a escola. O objetivo

seria articular uma política compensatória a uma estruturante, como condição de enfrentamento

da pobreza.

O terceiro momento, de acordo com Silva e Lima (2010), foi iniciado em 1995, quando

começou a implementação das experiências pioneiras nas cidades de Campinas (SP), Ribeirão

Preto (SP), Santos (SP) e em Brasília (DF), concretizando, então, a possibilidade da adoção de

políticas públicas de transferência de renda no contexto do Sistema de Proteção Social

brasileiro.

Silva e Lima (2010) destacam que o quarto momento foi iniciado em 2001, durante o

segundo mandato de Fernando Henrique Cardoso (1999-2003), foi marcado por significativa

expansão dos programas federais criados em 1996 (Benefício de Prestação Continuada;

Programa de Erradicação do Trabalho Infantil) e criação de outros programas de iniciativa do

governo federal (Bolsa Escola; Bolsa Alimentação, Bolsa Renda, Vale Gás, entre outros). Nesse

quarto momento, registrou-se ainda a ampliação do debate com a introdução da ideia de uma

Renda de Cidadania para todos os brasileiros, conforme preconiza o senador Suplicy

(SUPLICY, 2002), também autor do projeto de Lei n. 266, de 2001, que propõe a instituição de

uma renda básica incondicional ou a renda de cidadania para todos os brasileiros.

O quinto momento, conforme Silva e Lima (2010), foi iniciado em 2003 com o

governo de Luiz Inácio Lula da Silva, foi marcado, desde o início, pelo Fome Zero, principal

estratégia de enfrentamento da fome e da pobreza no Brasil, cujo principal programa é o Bolsa

35

Família, criando em 2003, já implementado em todos os municípios brasileiros e nos Distrito

Federal desde 2006, cuja proposta é a unificação dos inúmeros programas de transferência de

renda criados no Brasil por iniciativa de governos municipais, estaduais e do governo federal.

Nesse momento é também sancionada, pelo Presidente da República, a Renda de Cidadania

proposta pelo senador Suplicy com a indicação de que seria implementada com o atendimento

inicial dos mais pobres. É criado, em janeiro de 2004, o Ministério de Desenvolvimento Social

e Combate à Fome em substituição ao Ministério da Assistência Social e o Ministério

Extraordinário de Segurança Alimentar e Combate à Fome, verificando-se também crescimento

significativo no orçamento anual destinado aos programas de transferência de renda.

Silva e Lima (2010) entendem que as análises e avaliações sobre o PBF precisam

pontuar alguns aspectos conceituais sobre pobreza e transferência de renda. Nesse sentido,

ressaltam a existência de diferentes concepções de pobreza, sob a orientação de diferentes

valores, fundamentando a formulação e o desenvolvimento de políticas, programas e ações para

intervenção social. As autoras consideram a concepção de pobreza enquanto fenômeno

complexo e multidimensional. Assim, a pobreza é concebida para além da insuficiência de

renda; é produto da exploração do trabalho; é desigualdade na distribuição de riqueza

socialmente produzida; significa o não acesso à serviços sociais básicos, à informação, ao

trabalho e à renda digna, é não participação social e política.

Deste modo, a proposta do PBF de articulação transferência monetária direta a

indivíduos ou famílias com políticas e programas estruturantes, afim de interromper o ciclo

vicioso de reprodução da pobreza (SILVA; LIMA, 2010). O caso brasileiro e de várias

experiências da América Latina, são programas focalizados em segmentos pobres da população

e têm sua prestação condicionada a determinadas exigências que devem ser cumpridas pelos

indivíduos ou pela família, principalmente no campo da educação, da saúde e do trabalho. Em

relação à educação, a principal condicionalidade é a exigência de matrícula e frequência escolar

de crianças e adolescentes; no campo da saúde é destacado o cumprimento de medidas básicas,

como vacinação de crianças e pré-natal de mulheres grávidas e no trabalho as condicionalidades

são geralmente relativas à capacitação profissional e à inserção no mercado de trabalho.

Enquanto programa focalizado na pobreza e condicionados ao cumprimento de

determinadas exigências, três pressupostos os orientam: a) a transferência monetária

direcionada a famílias pobres possibilita a complementação de renda dessas famílias permitindo

a retirada de crianças e adolescentes da rua e de trabalhos precoces e penosos, para encaminhá-

los à escola, o que contribui para interromper o ciclo vicioso de reprodução da pobreza; b) a

36

articulação de uma transferência monetária com políticas e programas estruturantes (educação,

saúde e trabalho), direcionados às famílias pobres, constitui-se numa política de enfrentamento

à pobreza e as desigualdades sociais e econômicas; c) as condicionalidades são consideradas

contrapartidas sociais que devem ser cumpridas pelo núcleo familiar, visando certificar o

compromisso e a responsabilidade das famílias atendidas e representando o exercício de direitos

para que as famílias possam alcançar sua autonomia e inclusão social sustentável (SILVA;

LIMA, 2010).

2.1 O PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA

O Programa Bolsa Família (PBF) foi instituído em outubro de 2003, sendo um

programa de transferência direta de renda, destinado a famílias pobres (com renda mensal por

pessoa R$ 70,01 a R$ 140,00) e extremamente pobres (com renda mensal por pessoa R$ 70,00).

O PBF surge a partir da unificação de quatro programas federais de transferência de renda

(Bolsa Escola, Bolsa Alimentação, Cartão Alimentação e Vale Gás), com a finalidade de

melhorar a gestão e minimizar os gastos sociais do governo federal, e assim utilizando como

critério de inclusão a renda per capita familiar (BRASIL, 2007).

De acordo com a descrição feita pelo MDS – Ministério do Desenvolvimento Social e

Combate à Fome, o PBF é um programa de transferência direta de renda com condicionalidades

para os beneficiários de famílias em situação de extrema pobreza, e, também o Programa busca

atuar na promoção do acesso aos serviços básicos de educação e saúde para as famílias

beneficiadas, a fim de contribuir para o rompimento do ciclo intergeracional da pobreza.

O PBF atualmente integra o Plano Brasil Sem Miséria é o foco deste se encontra na

atuação com de 16 milhões de brasileiros com renda familiar per capita inferior a R$70 mensais

e pauta-se na garantia de renda, inclusão produtiva e no acesso aos serviços públicos. De acordo

com MDS2, o PBF pauta-se na articulação de quatro dimensões essenciais à superação da fome

e da pobreza:

1. Promoção do alívio imediato da pobreza, por meio da transferência direta de renda

à família;

2. Rompimento com o ciclo inter-geracional da pobreza;

2Site consultadohttp://www.mds.gov.br/bolsafamilia

37

3. Reforço ao exercício de direitos sociais básicos nas áreas de Saúde e Educação, por

meio do cumprimento das condicionalidades, com vista a que as famílias consigam romper o

ciclo da pobreza entre gerações;

4. Coordenação de programas complementares aqueles quem não conseguem cumprir

as condicionalidades, com o objetivo de alcançar vulnerabilidades que transcendem problemas

de renda. São exemplos de programas complementares: programas de geração de trabalho e

renda, trabalho socioeducativo para crianças e jovens, de alfabetização de adultos, de

fornecimento de registro civil e demais documentos.

O modelo de gestão do PBF opera em três níveis do governo por meio da criação de

uma rede intergovernamental responsável pela idealização/gerenciamento, implementação e a

operacionalização, isto é, viabilizando uma estrutura articulada na participação de todos os

entes federados cuja cada esfera de governo possui atribuições e competências diferenciadas,

de modo a respeitar a autonomia dos entes federados e a interdependência entre eles (LICIO;

MESQUITA; CURRALERO, 2011)

2.1.1 Condições de Acesso ao Programa Bolsa Família

O Programa é de responsabilidade do Ministério de Desenvolvimento Social e

Combate à Fome (MDS) e os pagamentos ocorrem através da Caixa Econômica Federal. O

Governo Federal é o principal financiador e executor do programa, fazendo o pagamento aos

beneficiários, enquanto os municípios têm o papel de efetuar o cadastro com informações

detalhadas das famílias e o controle social.

O Programa prioriza famílias com renda mensal per capita igual ou inferior a R$70,00

para o recebimento da transferência monetária, por meio da sua inclusão na base de dados do

Cadastro Único. De acordo com MDS, existem várias diferentes modalidades de benefícios

para contemplar os níveis de renda per capita dos grupos de beneficiários (quadro 1).

38

Quadro 1. Diferentes modalidades de benefícios do Programa Bolsa Família

BENEFÍCIO VALOR REGRA

Básico R$ 70,00 - Pago às famílias em situação de extrema pobreza mensal por pessoa

menor ou igual a R$70,00.

Variável R$ 32,00

- Pago às famílias em situação de pobreza (renda mensal por pessoa menor

ou igual a R$140,00) e extrema pobreza que tenham gestantes, crianças ou

adolescentes de 0 a 15 anos de idade;

- Limite de cinco benefícios por família.

Benefício

Variável à

Gestante (BVG)

R$32,00

- Pago a todas as famílias beneficiárias do PBF que tenham gestantes em

sua composição;

- Pagamento de nove parcelas consecutivas, a contar da data de concessão

do benefício, desde que a gestação tenha sido identificada no sistema até o

nono mês de gestação;

- A família precisa ser identificada no Sistema Bolsa Família na Saúde e

no Sistema de Condicionalidades (Sicon).

Benefício

Variável à

Nutriz (BVN)

R$ 32,00

- Pago a todas as famílias beneficiárias do PBF que tenham crianças com

idade entre 0 e 6 meses em sua composição;

- Pagamento de seis parcelas consecutivas, a contar da data de concessão

do benefício, desde que a criança tenha sido identificada no CadÚnico até

o sexto mês de vida.

Benefício

Variável

Vinculado ao

Adolescente

(BVJ)

R$38,00

- Pago a todas as famílias beneficiárias do PBF que tenham adolescentes

de 16 e 17 anos de idade e que estejam frequentando a escola;

- Limite de até dois benefícios por família;

- O adolescente beneficiário do BVJ, ao completar 18 anos, continua

recebendo regulamente as parcelas do benefício até dezembro do ano de

seu aniversário.

Benefício

Variável de

Caráter

Extraordinário

(BVCE)

Caso a caso

- Pago às famílias dos Programas Remanescentes (Auxílio-Gás, Bolsa

Escola, Bolsa Alimentação e Cartão Alimentação), cuja migração para o

PBF poderia ocasionar perdas financeiras;

- Tem prazo de prescrição, onde deixa de ser pago;

- Valor calculado caso a caso.

Benefício para

Superação da

Extrema

Pobreza na

Primeira

Infância (BSP)

Caso a caso

- Concedido automaticamente a todas as famílias beneficiários do PBF que

mesmo benefícios do Programa, ainda estejam no perfil de extrema

pobreza (com renda menor ou igual a R$70,00 por pessoa) independente

da presença de crianças e adolescentes entre 0 e 15 anos (ampliação em

Fev/2013);

- Valor calculado caso a caso.

Fonte: MDS3 (2009)

Conforme a composição familiar e respectiva renda per capita, os benefícios podem

variar de R$ 32,00 a R$ 242,00, e em alguns casos, o valor pago pelo Programa pode ser um

pouco maior, como acontece com as famílias que migram de programas remanescentes e

3 Site consultado http://www.mds.gov.br/bolsafamilia/beneficios

39

recebiam um benefício maior nesses outros programas (LICIO; MESQUITA; CURRALERO,

2011).

A seleção das famílias para o Bolsa Família é feita com base nas informações

registradas pelo município no Cadastro Único para Programas Sociais do Governo Federal,

instrumento de coleta de dados que tem como objetivo identificar todas as famílias de baixa

renda existentes no Brasil (BRASIL,2007). É de competência de os gestores acompanharem e

darem condições as famílias pelo cadastramento e atendimentos das famílias que se encaixa

numa das faixas de renda per capita e no perfil definido pelo PBF, com atribuições especificas

para cada nível.

Em nível local é da responsabilidade da esfera municipal, que será responsável pelo

número estimado de famílias no nível de pobreza ser considerado como meta de atendimento

do Programa naquele território específico, essa estimativa é calculada com base numa

metodologia desenvolvida com apoio do IPEA e tem como referência os dados do Censo de

2000 e da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) de 2004, ambos do IBGE.

2.1.2 As condicionalidades do Programa Bolsa Família

Segundo o MDS, a família que ingressar no Programa deve se comprometer a cumprir

as condicionalidades do Programa nas áreas de saúde e educação (quadro 2), sendo facultativo

o cumprimento da condicionalidade da assistência social relacionada ao programa PETI

(Programa de Erradicação do Trabalho Infantil), ou seja, o não cumprimento não implicará no

desligamento da família do programa.

40

Quadro 2. Compromissos das famílias nas áreas de saúde, educação e assistência social

Secretária Condicionalidades Público beneficiário Acompanhamento

Educação

Matrícula e Frequência escolar

mensal mínima de 85 %

Crianças de 6 a15 anos

BIMESTRAL

Matrícula e Frequência escolar

mensal mínima de 75 %

Adolescentes 16 e 17 anos

Saúde

Acompanhamento do crescimento e

desenvolvimento

Crianças de 0 a 7 anos

SEMESTRAL

Cumprimento do calendário de

vacinas

Crianças de 0 a 7 anos

Acompanhamento do Pré-Natal Gestantes

Atividades educativas sobre

aleitamento materno e alimentação

saudável Gestantes e Nutrizes

Assistência

Social

Serviços sócio educativos e serviços

de convivência e fortalecimento de

vínculos (SCFV) do PETI com

frequência mensal mínima de 85%

Famílias com crianças e

adolescentes de até 15 anos em

risco ou retiradas do trabalho

infantil pelo Programa de

Erradicação do Trabalho Infantil

(PETI)

MENSAL

Fonte: MDS4 (2009).

Vale ressaltar que quando não são cumpridas as condicionalidades nas áreas de

educação e saúde, ou ainda quando há a ausência de informações sobre o acompanhamento das

condicionalidades, o programa prevê uma sequência de sanções, até a suspensão do benefício

e exclusão do programa (quadro 3).

4 Site consultado http://www.mds.gov.br/biblioteca/secretaria-nacional-de-renda-de-cidadania-

senarc/cartilhas/acompanhamento-familiar-2013-programa-bolsa-familia/acompanhamento-familiar-2013-

programa-bolsa-familia

41

Quadro 3. Efeitos por descumprimento de condicionalidades do PBF (crianças, adolescentes até

15 anos, gestantes/nutrizes)

Descumprimento Efeito Situação do Benefício

1º Registro Advertência Família passa a ser considerada em situação de

descumprimento, mas continua recendo o

benefício.

2º Registro

Bloqueio 30 dias

Uma parcela do benefício fica retida por 30 dias e

após 30 dias a família volta a receber o benefício

normalmente com o valor acumulado do mês

anterior.

3º e 4º Registros

Suspensão 60 dias

A família fica sem receber o benefício por 60 dias.

Após 60 dias a família volta a receber o benefício

normalmente, mas as duas parcelas relativas ao

período de suspensão não são pagas à família.

5º Registro

Cancelamento

Parcelas do benefício que ainda não foram sacadas

pela família são canceladas; Parcelas do benefício

que seriam pagas à família nos meses

Seguintes são interrompidas e a família é

desligada.

Fonte: MDS5 (2009).

A identificação do não cumprimento, assim como a aplicação das sanções e a

suspensão dos benefícios é realizada exclusivamente pela SENARC (Secretaria Nacional de

Renda e Cidadania), órgão pertencente ao Ministério do Desenvolvimento Social, responsável

pela gestão do programa. O acompanhamento das famílias que não cumprem condicionalidades

faz parte do trabalho de integração de agendas entre o programa Bolsa Família e o SUAS.

Os municípios podem intervir na suspensão e bloqueio do benefício por meio de

registro de recurso no sistema SISCON, do MDS, que aponte: 1) que foram identificadas as

causas do descumprimento e 2) que a família está sendo acompanhada e encaminhada para

outros programas, de modo que dentro de um prazo determinado ela volte a cumprir as

condicionalidades do Bolsa Família.

O poder dado aos municípios possibilita que erros por preenchimento incorreto dos

dados sobre o beneficiário, ou ainda, advertências que decorram da falta de estrutura na oferta

de serviços prestados pelos municípios não recaia sobre os beneficiários do Programa.

Em relação às ações complementares, a fim de alcançar as vulnerabilidades que

transcendem os problemas renda, conforme o MDS (2007) são ações aliadas as

5Site consultado http://www.mds.gov.br/biblioteca/secretaria-nacional-de-renda-de-cidadania-

senarc/cartilhas/acompanhamento-familiar-2013-programa-bolsa-familia/acompanhamento-familiar-2013-

programa-bolsa-familia

42

condicionalidades e articulação de outros programas e políticas setoriais (figura 1), buscando

romper o ciclo intergeracional da pobreza (figura 2)

Figura 1. Ações complementares ao Programa Bolsa Família

Fonte: Autoria própria

Figura 2. Ações complementares para enfrentamento da pobreza

Fonte: Autoria própria

Em respeito as ofertas dos programas complementares para famílias beneficiárias do

PBF, o MDS se propõe realizar estratégias de articulação com diversos órgãos dos três níveis

de governo, para atender necessidades das famílias em áreas como inclusão produtiva,

alfabetização e qualificação profissional (LICIO; MESQUITA; CURRALERO, 2011). Essa

articulação traz em conta o perfil das famílias atendidas, suas vulnerabilidades e

potencialidades, assim como ações já existentes em face das potencialidades econômicas,

culturais e naturais específicas de cada localidade (BRASIL, 2007).

Segundo Licio, Mesquita e Curralero (2011) a despeito da existência de programas

complementares em diferentes áreas governamentais, verifica-se que ainda não está clara uma

real convergência dessas ações para as famílias beneficiarias do PBF, inclusive no nível federal,

carecendo de melhor definição de como e por que ela deva ocorrer.

Ações complementares aliadas às

condicionalidades

Educação

Mais Educação

Brasil Alfabetizado

Saúde

Curso de educação Alimenntar e

nutricional EAD

Ações complementares aliadas ao

combate à pobreza

PRONATEC Brasil

Carinhoso

43

2.1.3 A Gestão das Condicionalidades

Fonseca (2001) e Suplicy (2004) retratam que surgiu no Brasil a partir das

contribuições de economistas às propostas iniciais dos Programas de Garantia de Renda

Mínima (CARMAGO, 1991), cujo formato de utilizar a transferência de renda como forma de

romper a chamada transmissão intergeracional da pobreza. O Estado deveria garantir uma renda

familiar compatível com acréscimo gerado pelo trabalho infantil, de maneira a possibilitar o

incremento da escolaridade das crianças e aumentar suas chances de saírem da pobreza quando

adultas.

Para autor Pires (2013) esse entendimento que condiciona a transferência de renda à

exigência de acesso à educação e saúde como forma de enfrentar a pobreza, presente no desenho

do PBF e em outras políticas de transferência de renda condicionadas, tem sido objeto de várias

discussões. A discussão sobre a gestão das condicionalidades envolve opiniões diferenciadas e,

muitas vezes, contrárias.

Esse debate apresenta duas frentes, uma a favor e a outra contrária a imposição de

condicionalidades para o recebimento do benefício. Os autores que apoiam as

condicionalidades do Programa afirmam que é válida a adoção de condicionalidades quando

elas são implementadas como estratégia de ampliação do acesso aos serviços sociais e políticas

de emprego e renda, isso se em contrapartida o Estado exerce controles rigorosos sobre o

cumprimento das condicionalidades, oferta oportunidade de inserção social aos beneficiários

do Programa, e fiscaliza os municípios quanto à oferta dos serviços básicos relacionados às

condicionalidades (LAVINAS et. al., 2000).

A frente contrária (ZIMMERMAN; LIMA 2008), destaca a incapacidade do Estado

de garantir serviços sociais básicos de qualidade, da mesma forma que enfatiza a contradição

entre a garantia de acesso aos direitos sociais e as contrapartidas do Programa. Para aqueles que

defendem os direitos humanos frente à adoção de condicionalidades, a aplicação dos efeitos da

legislação àqueles que descumprem as condicionalidades, se aproxima muito mais da punição

do que dos objetivos sociais definidos pelo programa (DIAS; SILVA, 2010).

Outro ponto destacado na discussão é a fragilidade e a qualidade dos serviços ofertados

pelos municípios brasileiros. Na literatura (LAVINAS et. al., 2000) existe um consenso sobre

a não capacidade atual dos municípios, de absorver a demanda dos beneficiários na rede pública

44

de serviços de saúde, educação e assistência social, quem dirá garantir a qualidade dos serviços

prestados.

A exigência da gestão das condicionalidades é talvez uma das novidades mais

importantes no Programa para os municípios e, ao mesmo tempo, polêmica central da gestão,

visto que, apresenta muitas requisições para facilitar o acesso de camadas da população que

dificilmente conseguiriam chegar aos serviços, porém, coloca em “cheque” a capacidade dos

municípios de ofertarem o que de mais básico está previsto no elenco de direitos sociais, isto é,

as ações básicas exigidas em contrapartida para os beneficiários do Programa.

Percebe-se, também uma existência de fragilidades no processo de constituição da

seguridade social, é preciso, portanto criar mecanismos que estimulem a inserção das famílias

nos serviços de educação e saúde, tendo em vista a perceptiva de quebra com o ciclo

intergeracional da pobreza (PIRES, 2013). O caso do acompanhamento das condicionalidades,

mais do que um caráter punitivo de suspensão de benefício para as famílias, está relacionado

ao monitoramento do acesso as famílias aos direitos básicos de educação e saúde, bem como a

identificação das causas do seu eventual descumprimento (LAVINAS et. al., 2000). Nesse caso,

identificar os motivos de não cumprimento de condicionalidades é um importante instrumento

de “busca ativa” das famílias que se encontram em maior grau de vulnerabilidade e risco social,

sendo, portanto, podem ser entendidas como um reforço de direitos de cidadania e garantia de

acesso serviços básicos.

A família que encontra dificuldades em cumprir as condicionalidades deve, além de

buscar orientações com o gestor municipal do BF, procurar o Centro de Referência de

Assistência Social (CRAS), o Centro de Referência Especializada de Assistência Social

(CREAS) ou a equipe de assistência social do município. O objetivo é auxiliar a família a

superar as dificuldades enfrentadas. Esgotadas as chances de reverter o descumprimento das

condicionalidades, a família pode ter o benefício do Bolsa Família bloqueado, suspenso ou até

mesmo cancelado (BRASIL, 2007).

A gestão das condicionalidades, segundo o MDS (BRASIL, 2007), refere-se um

conjunto de ações que os municípios devem executar no sentido de acompanhar periodicamente

as famílias beneficiárias do Programa, realizar o registro dessas informações nos sistemas

disponibilizados pelo MDS, MEC, MS e propiciar que as famílias beneficiárias tenham

condições de cumprir as condicionalidades.

Desta forma, o êxito no acompanhamento das condicionalidades depende de uma

gestão compartilhada entre as secretarias envolvidas nos diferentes níveis governamentais

45

(quadro 4). Embora os benefícios do Bolsa Família sejam repassados diretamente pelo Governo

Federal às famílias, o Programa tem a participação de todos os entes federados. Cada esfera de

governo possui atribuições e competências diferenciadas na gestão do PBF.

Essa concepção de condicionalidades, como reforço do direito de acesso das famílias,

só se viabiliza se o acompanhamento das mesmas for compartilhado pelas três esferas do

governo, como uma abordagem intersetorial. (PIRES, 2013). Para tanto, é preciso integrar ações

e equipes das áreas de assistência social, educação, saúde, e outras áreas que, nos municípios e

estados, respondam por serviços que propiciem a proteção social das famílias em situação de

maior vulnerabilidade.

2.1.4 Gestão Municipal do Programa Bolsa Família: As atribuições e competências

dessa esfera do governo

A execução e a gestão do Programa Bolsa Família se dão de forma descentralizada,

por meio da conjugação de esforços entre os entes federados, considerando a intersetorialidade,

a participação comunitária e o controle social.

Nessa dissertação analisamos somente a execução do PBF em âmbito municipal,

levando em conta as diretrizes e responsabilidades dos outros níveis envolvidos, tendo em vista

que tanto o governo federal, quanto o estadual têm responsabilidades na perspectiva

intersetorial adotada pelo município. Segue abaixo (quadro 4) atribuições e competências

diferenciadas na gestão do PBF de cada esfera do governo.

46

Quadro 4 - Responsabilidade dos gestores do PBF no âmbito da União, Estados e Municípios.

Instância

Governamental

Responsabilidades

SENARC

Promover a articulação intersetorial, a fim de assegurar o registro periódico nos

sistemas de informação e estimular o acompanhamento das condicionalidades;

Supervisionar a coleta de informações e de registro nos sistemas de informações;

Gerar e fornecer ao MEC, ao MS e à SNAS a base de dados com informações

sobre as famílias acompanhadas;

SNAS

Realizar o registro periódico das informações referentes à condicionalidade;

Informar e mobilizar os gestores municipais da assistência social sobre os

descumprimentos de condicionalidades, com vistas a garantir a oferta local de

serviços e ações de proteção básica e/ou proteção especial da assistência social,

direcionada às famílias;

Estados

Realizar articulações com os gestores das políticas setoriais específicas para que

seja realizado o registro das condicionalidades previstas no Programa quando o

acesso ao serviço se realizar em estabelecimento estadual;

Atuar em cooperação com os municípios para garantir o registro das informações

sobre as condicionalidades;

Elaborar planejamento anual intersetorial, em parceria com as áreas de assistência

social, saúde e educação, para o desenvolvimento das ações de gestão de

condicionalidades do PBF.

Municípios

Atuar em cooperação com os responsáveis pelo registro do acompanhamento das

condicionalidades nas áreas de saúde, educação e assistência social, para garantir

a coleta das informações de acordo com os calendários definidos;

Notificar formalmente o responsável pela Unidade Familiar nos casos de

descumprimento de condicionalidades;

Analisar as informações sobre não cumprimento de condicionalidades e

encaminhar as famílias beneficiárias do PBF, em situação de descumprimento, às

áreas responsáveis pelo acompanhamento familiar e oferta dos serviços sócia

assistenciais;

Elaborar planejamento anual intersetorial do município, em parceria com as áreas

de assistência social, saúde e educação, para o desenvolvimento das ações de

gestão de condicionalidades do PBF.

Fonte: MDS6 (2010)

6Site consultado http://www.mds.gov.br/biblioteca/secretaria-nacional-de-renda-de-cidadania-

senarc/manuais/guia-do-gestor-municipal-cadastro-unico-para-programas-sociais/guia-do-gestor-municipal-

cadastro-unico-para-programas-sociais

47

A responsabilidade pela gestão do Programa em âmbito municipal está atribuída, na

maioria das vezes, a Secretaria de Assistência Social.

Ao gestor municipal do PBF, no que refere à gestão de condicionalidades e

considerando o acordado nos termos de adesão específicos assinados pelos municípios, caberá:

1. Verificar, periodicamente, se as famílias do PBF e dos Programas

Remanescentes atendem aos critérios de elegibilidade traçados pelos respectivos

programas, utilizando para isso técnicas de amostragem estatística, de modo a adequar os

benefícios financeiros à realidade das famílias;

2. Realizar o credenciamento dos funcionários da prefeitura e dos integrantes da

instância de controle social municipal ao SIBEC, bem como capacitar os usuários;

3. Atender aos pleitos de informações e de esclarecimentos da Rede Pública de

Fiscalização;

4. Divulgar as informações relativas aos benefícios do PBF e dos Programas

Remanescentes aos demais órgãos públicos locais e à sociedade civil organizada;

5. Manter a SENARC informada sobre os casos de deficiências ou irregularidades

identificadas na prestação dos serviços de competência do Agente Operador ou de sua rede

credenciada na localidade (correspondente bancário, agentes lotéricos etc.).

A ênfase dada pelo gestor do Programa, a uma ou outra etapa da implementação

(cadastramento, acompanhamento das condicionalidades, ou acompanhamento dos

beneficiários em descumprimentos com as condicionalidades) pode ser atribuída também às

limitações na capacidade estrutural e de recursos humanos para atender as demandas, ou ainda

em questões específicas que tenham sido identificadas no acompanhamento dos beneficiários.

Essa discussão só será aprofundada nos próximos capítulos, em que serão analisadas

características da gestão do Bolsa Família no município de Abaetetuba/PA.

2.1.5 Índice de Gestão Descentralizada – IGD

O MDS teve intuito de apoiar financeiramente, potencializar e fomentar novas

iniciativas na gestão descentralizada, assim como atuar como instrumento de aferição da

qualidade da gestão do PBF, o governo federal criou o Índice de Gestão Descentralizada do

Programa Bolsa Família - IGD, para utilização em âmbito estadual, distrital e municipal, cujos

48

parâmetros foram regulamentados e incluídos na Lei nº 12.058, de 13 de outubro de 2009

(BRASIL, 2008) desde modo, o Ministério do Desenvolvimento repassa os recursos para os

municípios, por meio do IGD-M, é um indicador que mede a qualidade da gestão do programa

e do cadastramento das famílias de baixa renda.

Quando maior o IGD, maior o repasse mensal de recursos financeiros, que é feito

regularmente aos estados e aos munícipios que cumprirem os requisitos para seu recebimento

(BRASIL, 2008).

O IGD traz como propósito mensurar e eficiência e qualidade da gestão do programa

Bolsa Família. É um índice sintético, criado por meio da Portaria GM/ MDS nº 148, de 2006,

que tem como contrapartida governamental o apoio financeiro aos municípios do Programa

Bolsa Família, em razão do desempenho destes. O índice é composto pela média aritmética do

Indicador do CadÚnico e do Indicador de condicionalidades, conforme destacado na fórmula

(figura 3)

Figura 3 – A fórmula de cálculo do IGD-M

Fonte: MDS7 (2010)

De acordo com o art. 3º da Portaria10 GM/MDS nº 754, de 20 de outubro de 2010, o

IGD-M é calculado pela multiplicação de quatro fatores:

1. TCQC – Taxa de Cobertura Qualificada de Cadastros, objetivo cadastrar

todas as famílias pobres estimadas para o município no Cadastro Único (CadÚnico);

2. TAC – Taxa de Atualização Cadastral, objetivo manter os dados

atualizados dos cadastros de todas as famílias beneficiadas no CadÚnico;

3. TAFE – Taxa de Acompanhamento da Frequência Escolar, objetivo

acompanhar o cumprimento das condicionalidades pelas famílias na área de educação;

crianças e adolescentes devidamente matriculados; e frequência escolar;

7Site consultado http://www.mds.gov.br/biblioteca/secretaria-nacional-de-renda-de-cidadania-

senarc/cadernos/caderno-informativo-sobre-o-indice-de-gestao-descentralizada-do-pbf-igd/caderno-informativo-

sobre-o-indice-de-gestao-descentralizada-do-pbf-igd

IGD-M = Fator I x Fator II x Fator III x Fator IV

4

49

4. TAAS – Taxa de Acompanhamento da Agenda de Saúde, objetivo

acompanhar o cumprimento das condicionalidades pelas famílias na área de saúde;

acompanhamento do crescimento; e perfil de vacinação.

O repasse do recurso está condicionado à pontuação de todos os fatores, ou seja, se um

dos quatro fatores obtiver um 0, o repasse do recurso referente ao mês é suspenso. A apuração

das alterações no IGD-M é realizada mensalmente, considerando as informações atualizadas

dos parâmetros que o compõem, e o valor da remuneração ao município será transferido no mês

subsequente.

A verificação da execução das atividades, assim como o cálculo do IGD dos

municípios, ocorrerá por meio da aferição realizada pela SENARC e outros órgãos vinculados

ao MDS, a partir das informações disponíveis nos sistemas de acompanhamento de

cadastramento e de acompanhamento de condicionalidades (BRASIL, 2007)

Desta forma, a União transfere obrigatoriamente, aos entes federados que aderirem ao

Programa Bolsa Família recursos para apoio financeiro às ações de gestão e execução

descentralizada do Programa, desde que alcancem índices mínimos no IGD, ou seja, de 0,4. Os

recursos do IGD serão repassados Fundo a Fundo (Assistência Social), tendo os Estados,

Distrito Federal e Municípios que submeterem suas prestações de contas às respectivas

instâncias de controle social.

O IGD-M é uma nova medida para incentivar os municípios a melhorarem sua gestão

por meio de gratificação financeira, como por exemplo o acréscimo de até 3% do valor apurado

do IGD-M, proporcional ao acompanhamento de famílias beneficiárias em situação de

descumprimento das condicionalidades que estejam em processo de acompanhamento familiar.

Por outro lado, muitos municípios apresentam condições deficitárias em suas

capacidades estruturais e de recursos humanos. O município pode se posicionar contrário ao

programa ou à forma como é implementado, deliberadamente, o que necessariamente criaria

condicionantes contrários ao que o IGD indicaria como gestão eficiente. (MONTEIRO et al, p.

184-185, 2013).

2.1.6 A Instância de Controle Social

O controle nas ações da administração pública, na fiscalização, no monitoramento e

no acompanhamento das políticas se torna um importante mecanismo de fortalecimento da

50

cidadania, deste modo, o controle social é a participação cidadã na gestão pública (LIMA;

SILVA, 2006).

Kerstenetzky (2009) acredita que o controle social deve ser exercido diretamente pela

sociedade em vistas a fiscalização, principalmente, de órgãos públicos. Assim, o controle social

é a chave para estabelecimento de justiça social nas prestações de contas públicas.

O Controle Social do Programa Bolsa Família é realizado por meio das Instâncias de

Controle Social (ICS), instituídas formalmente pelos municípios no ato de adesão ao Programa,

garantindo aos cidadãos espaço para o seu acompanhamento e buscando assegurar os interesses

da sociedade. É uma parceria entre Estado e sociedade que possibilita compartilhar

responsabilidades e proporciona transparência às ações do poder público, buscando garantir o

acesso das famílias mais pobres à política de transferência de renda (BRASIL, 2007).

MDS (2007) discorre que a composição dessa Instância para o acompanhamento da

gestão local do Programa nos municípios deve ser composta por representantes das áreas de

assistência social, saúde, educação, segurança alimentar, da criança e adolescente, com pelo

menos 50% de representantes da sociedade.

Silva (2002) a instância de controle social pode ser formada por indicações feitas pelo

prefeito ou gestor do programa no município sem qualquer critério pré-definido. Essa crítica

não pode ser generalizada a todos os municípios, tendo em vista que muitos deles criaram

mecanismos próprios, porém legítimos para a eleição dos representantes dos beneficiários.

51

3. A POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL EM TERRITÓRIO QUILOMBOLA

A sociedade brasileira em face à população negra no Brasil mostra ter uma dívida

herdada de anos cunha a trajetória de vida dos negros e negras são marcadas pela exclusão

racial/étnica, social e econômica que tem sido demonstrada por inúmeros indicadores

socioeconômicos, que vem sendo apresentados por órgãos nacionais. As políticas públicas

contra a discriminação racial começam a ser discutidas e implementadas, assim como as

políticas de promoção de oportunidades e de melhoria das condições de vida da população

negra.

Essa nova discussão que as novas configurações da Política Nacional de Assistência

Social (PNAS) ser insere, e assim, podendo ser considerada como ações e atividades de gestão

setoriais voltadas à promoção humana e ao desenvolvimento social, como para garantia de

condições de sobrevivência, em plenitude, a todos os brasileiros em situação de vulnerabilidade

e exclusão social considerando as desigualdades socioterritoriaise seu enfrentamento para

garantia dos direitos sociais. A própria PNAS contempla novas categorias, “além das clássicas

categorias de pobres e portadores de deficiências, incorporando os atingidos por outras formas

de vulnerabilidade” (BRASIL, 2007), como é o caso das populações quilombolas. Como afirma

a PNAS (2004, p.33):

“(...) ao agir nas capilaridades dos territórios e se confrontar com a dinâmica

do real, no campo das informações, essa política inaugura uma outra

perspectiva de análise ao tornar visíveis aqueles setores da sociedade

brasileiros tradicionalmente tidos como invisíveis ou excluídos das estatísticas

– população em situação de rua, adolescentes em conflito com a lei, indígenas,

quilombolas, idosos, pessoas com deficiência. ” (BRASIL, [20--])

De fato, nos últimos anos começa a ocorrer o reconhecimento das comunidades

remanescentes de quilombos que vêm se afirmando como público prioritário das políticas

públicas brasileiras. Nesse processo, as comunidades quilombolas vêm ampliando o

reconhecimento e legitimando seus direitos como usuárias e protagonistas no novo cenário da

PNAS, e a partir do Plano Plurianual (PPA) de 2004-2007, começaram a ser consideradas como

público-alvo de programas e ações da Assistência Social.

A PNAS reconhece as discriminações étnicas e raciais como promotoras de

vulnerabilidades que devem ser enfrentadas pelas ações de Proteção Social Básica. A partir de

2004, a Secretária Nacional de Assistência Social passou a co-financiar serviço de Proteção e

52

Atendimento Integral à Família (PAIF) e Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (PETI)

em municípios que pretendiam atender, prioritariamente, a população quilombola.

Ainda em 2004, foi lançado o Programa Brasil Quilombola (PQB), com o objetivo de

consolidar o marco de políticas de Estado para as áreas quilombolas. O PQB pretende contribuir

para o alcance dos objetivos do Plano Brasil sem Miséria, visto que segundo os dados do

Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS) pelo menos 58 mil famílias

quilombolas situam-se abaixo da linha da extrema pobreza. O programa foi instituído em várias

áreas como: acesso à terra, infraestrutura e qualidade de vida, inclusão e desenvolvimento local

e direito e cidadania.

A grande necessidade de ampliar e fortalecer as ações de promoção da população negra

no Brasil, em 2005, a V Conferência Nacional de Assistência Social organizou, entre as oficinas

desenvolvidas, uma dedicada à discussão sobre “organização da Proteção Social Básica em

comunidades indígenas e quilombolas”. De acordo com o Decreto n° 4887, de 20 de novembro

de 2003, em seu artigo 2°, consideram-se remanescentes das comunidades dos quilombos:

“São os grupos étnico-raciais segundo critérios de auto - atribuição, com

trajetória históricas próprias dotadas de relações territoriais específicos, com

ancestralidade negra relacionada com resistência à opressão histórica sofrida.

” (BRASIL, p. 12, 2007)

Em 2006, surge a criação do GT “comunidades quilombolas” dentro do Conselho

Nacional de Assistência Social (CNAS). Este GT visa dar continuidade às discussões

relacionadas à oferta de serviços de proteção básica aos remanescentes de quilombos, com a

perspectiva de dar maior visibilidade às comunidades usuárias e protagonistas dentro das ações

e atividades realizadas pelas políticas sociais. O CNAS promove a participação dessas

comunidades como portadores de direitos e visando a expressão de suas demandas no próprio

espaço de participação social.

É importante salientar que o Plano Brasil sem Miséria é promovido pelo MDS como

objetivo de executar as políticas que possibilitem a superação de quadros de miséria, por meio

de transferência de renda, assistência social e fomento às atividades produtivas. Isto é, são ações

e atividades voltadas a políticas sociais do Governo Federal correlacionadas em três eixos de

atuação para superação à pobreza: Acesso a serviços; Garantia de renda; Inclusão produtiva.

De acordo com MDS esse conjunto de ações que envolvem a criação de novos programas e a

ampliação de iniciativas já existentes se utiliza de instrumento do Cadastro Único para

53

Programas Sociais do Governo Federal (CadÚnico) que garantia dos direitos para comunidades

quilombolas.

A partir do CadÚnico que possui um campo para identificação de comunidades de

quilombolas possam garantir o beneficiamento e identificação em programas sociais, como o

PBF, Fome Zero, o Programa de Fomento às Atividades Produtivas Rurais e a Assistência

Técnica e Extensão Rural (ATER).

3.1 O PAPEL DO CENTRO DE REFERÊNCIA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL – CRAS

De acordo com Política Nacional de Assistência Social (PNAS) é através do trabalho

executado pelo Centro de Referência de Assistência Social, que poderá ser consolidada as ações

intersetoriais. Diante dessa questão, realizou-se a escolha pelo CRAS Quilombola para

compreender como as ações intersetoriais articuladas pelo CRAS se concretizam no

microterritório, isto será retratado nos próximos capítulos.

A Política Nacional de Assistência Social (PNAS) se se propõe integrada às políticas

setoriais. Assim, levando em consideração as desigualdades sociais e territoriais cujo objetivo

é garantir os direitos mínimos sociais e atender contingências sociais e à universalização dos

direitos sociais (PNAS, 2004, p.18). Para cumprir os seus objetivos e seguindo os princípios e

diretrizes da Lei Orgânica de Assistência Social (LOAS), o Sistema Único de Assistência Social

(SUAS) reorganiza os serviços, programas, projetos e benefícios, de acordo com as funções que

desempenham.

Di Giovanni (apud MIOTTO, 2008) defende que existem três sistemas de proteção

social que são necessariamente excludentes entre si. O primeiro se constituiria das instituições

tradicionais às quais garantem proteção fundamentada nos valores da solidariedade, da

vizinhança, da família e da ajuda mútua. A segunda inclui a relação de troca no campo mercantil

e, finalmente, a terceira acontece através do Estado enquanto gestor e regulador da proteção.

Esta perspectiva Política Nacional de Assistência Social (PNAS, 2004, p.20) se propõe

Assistência Social Básica classificada nessas funções: a proteção social hierarquizada entre

básica e proteção especial, a vigilância social, entendida como produção e sistematização de

informações, indicadores e índices territorialidades das situações de vulnerabilidade e risco

social e a defesa dos direitos socioassistenciais (NOB SUAS, 2005, p.18).

A Proteção Social Básica se propõe de “prevenir situações de riscos por meio do

desenvolvimento de potencialidades e aquisições, e o fortalecimento de vínculos familiares e

54

comunitários” enquanto que a Proteção Social Especial se refere às ações voltadas para o

enfrentamento de situações de risco e violação de direitos (PNAS 2004, p. 27).

Para Carneiro (2009), a Proteção Social Básica prevê o desenvolvimento de serviços,

programas e projetos locais de acolhimento, convivência e socialização das famílias e de

indivíduos. Os serviços sociais prestados, tanto de prestação continuada, como os eventuais,

integram a Proteção Social Básica e devem ser articulados aos demais programas e serviços

ofertados pelas três esferas dentro do SUAS.

Embora a Lei Orgânica venha avançando e definindo novas diretrizes, princípios

competências, gestão e financiamento da Política de Assistência, ressente-se que sua

implementação revelou (MOTA et al.,2009) uma tendência à focalização, seletividade e

fragmentação das ações.

As ações de Proteção Social Básica tendem a ser desenvolvidas com o foco voltado

para a família, tais como os beneficiários de Programa de Transferência de Renda Mínima,

exemplo Bolsa Família, e os eventuais beneficiários de prestação continuado e aos serviços de

outras políticas públicas. Esses serviços são executados pelo Centro de Referência em

Assistência Social (CRAS) e encontra-se designado como uma unidade pública estatal

responsável pela oferta de serviços continuados de proteção social básica de assistência social

às famílias e indivíduos em situação de vulnerabilidade social (MDS, 2004).

Também são conhecidos na literatura como Casa das Famílias (CARNEIRO, 2009) os

CRAS possuem o papel de trabalhar com as famílias que residem em territórios de

vulnerabilidade social. A principal característica deste órgão se dá na oferta do serviço de

Proteção e Atendimento Integral à Família (PAIF) é de caráter continuado que visa fortalecer a

função de proteção das famílias, promovendo o acesso dos direitos básicos, a fim de contribuir

para melhoria da qualidade de vida (MDS, 2009)

Ganev (2012) refere-se que o CRAS por ser uma instituição pública estatal é o

principal responsável por abarcar situações que se destina às famílias que vivem em situação

de vulnerabilidade social decorrentes da “pobreza, privação e, ou, fragilização de vínculos

afetivos-relacionais e de pertencimento social” (MDS, 2004) em seu território de abrangência.

No entanto, as funções dos CRAS não devem ser confundidas com as funções do órgão

gestor da Política de Assistência Social Municipal (quadro 5).

55

Quadro 5. Comparativo entre as atribuições do CRAS e Órgão Gestor Municipal

CRAS Órgão Gestor Municipal

Fornecimento de informações e dados para Órgão

Municipal sobre o território para subsidiar:

- a elaboração do Plano Municipal de Assistência

Social;

- o planejamento, monitoramento e avaliação dos

serviços ofertados no CRAS;

- a alimentação dos Sistemas de Informação do

SUAS;

- os processos de formação e qualificação da

equipe de referência;

Elaboração do Plano Municipal de Assistência Social;

Planejamento, execução físico-financeira,

monitoramento e avaliação dos serviços

socioassistencias do SUAS;

Alimentação dos Sistemas de Informação e

Monitoramento do SUAS;

Constituição das equipes de referência e demais

profissional dos trabalhadores do SUAS;

Oferta do PAIF e serviços de socioassistenciais da

Proteção Social Básica

Supervição, apoio técnico da oferta do PAIF e demais

serviços socioassistenciais ofertados, tanto nas

unidades públicas, quanto nas entidades privadas sem

fins lucrativos prestadoras de serviços;

Gestão territorial da rede socioassistencial da PSB

Gestão da rede socioassistencial do Município;

Gestão do processo de conveniamento das entidades

privadas sem fins lucrativos de assistência social;

Fonte: BRASIL (2009)

O CRAS é apenas uma unidade local que têm por atribuições a organização da rede

socioassistencial e oferta de serviços da proteção social básica em determinado território,

enquanto o órgão gestor municipal tem por funções a organização e gestão do SUAS em todo

o município (MDS, 2009).

A LOAS refere-se que o papel do CRAS é prestar atendimento social e assistencial,

assim articulando os serviços disponíveis da rede de Proteção Social Básica devendo se

responsabilizar por organizar a vigilância social em sua área de abrangência

(NOBSUAS/SUAS, 2006). Como foi mencionado anteriormente, o CRAS é responsável pela

oferta de serviços às famílias em situação de vulnerabilidade social. Portanto, o MDS (2004) o

configura o CRAS como as principais (embora não únicas) “portas de entrada” do sistema que

se propõe garantir acesso dos usuários ao SUAS nos Programas sociais (GANEV, 2012), e

também o responsável por articular em rede as políticas públicas, visando melhores condições

sociais para as famílias.

Para tal, o CRAS deve dispor de uma equipe técnica básica formada por coordenação,

assistente social, sociólogo e psicólogo, os quais trabalham com famílias na perspectiva do

fortalecimento do vínculo familiar e comunitário. É com esse ensejo que o trabalho parte

primeiramente do mapeamento da rede de serviços socioassistenciais no território, da

localidade da qual o CRAS está inserido, e das redes de atendimento das outras políticas e

56

sociais, tendo, em vista facilitar o desenvolvimento de ações intersetoriais que visam à

sustentabilidade, de forma a romper com o ciclo de reprodução intergeracional de pobreza

(MDS, 2004).

A Política Nacional de Assistência Social (PNAS) deve enfrentar os desafios para

democratizar as relações entre poder público e sociedade civil, a fim da otimização do acesso

aos direitos sociais para minimizar as desigualdades socioterritoriais, sem excluir as

singularidades e diversidades locais (CARNEIRO, 2009; COSTA, 2011; GANEV, 2012), já

que Norma Operacional Básica de Assistência Social (NOBSUAS) ainda esteja estipulando as

dimensões territoriais do município para implantação do CRAS em conformidade com o

número de habitantes de cada cidade, e ainda, as metas de referencialmente e de atendimento

anual de famílias por unidade (quadro 6).

Quadro 6: Metas quantitativas de implantação e de atendimento dos CRAS

Porte do Município Nº de Habitantes Nº Mínimo de CRAS Nº de Famílias a

referenciar Atendimentos/Ano

Pequeno Porte I Até 20 mil 1 2.500 500

Pequeno Porte II 20 a 50 mil 1 3.500 750

Médio Porte 50 a 100 mil 2 5.000 1.000

Grande Porte 100 a 900 mil 4 5.000 1.000

Metrópole Mais de 900 mil 8 5.000 1.000

Fonte: MDS (2012)

Sposati (2004) afirma que a implantação do SUAS se estabeleceu, obviamente, como

um caminho sem volta, no qual os municípios tiveram que se adequar. A forma como se deu

esse processo não leva em consideração a estrutura existente e as dificuldades que estes

enfrentaram e/ou ainda enfrentam para sua adequação ao novo sistema que traz uma série de

compromissos que os municípios devem cumprir.

Para alguns municípios, a implantação de CRAS se torna um custo muito alto para

administração da Assistência Social. Por levar algumas dificuldades como a inadequação na

estrutura física dos CRAS, recursos materiais insuficientes e inadequados, para o atendimento

e acompanhamento das famílias (LOPES, 2007), principalmente no que se refere à locomoção

dos técnicos, tem levado ao desenvolvimento de ações emergenciais. No entanto, a

“implantação do SUAS se apresenta como sistema único, o que implica em romper com a

múltipla fragmentação das esferas de governo e o paralelismo de gestão; com a fragmentação

das ações por categorias ou segmentos sociais” (SPOSATI, 2004, p.2). Embora realidade vivida

nos municípios de pequeno e médio porte, é que grande parte da população usuária desconhece

57

a existência do SUAS e não tem clareza do papel do CRAS, como é o caso do município de

Abaetetuba, interior do Estado do Pará, o qual tomamos como exemplo.

Em muitos casos com duplicidade de ações em vários níveis de esfera do governo, o

SUAS atende, em determinados momentos, aos interesses de cada governo, mas não levam em

conta a realidade local e a necessidade da população atendida (LOPES, 2007).

De acordo com Sposati (2004) SUAS é um avanço, porém não se dá de forma pronta

e acabada, que precisa passar por um processo de construção, e que será necessário para seu

aprimoramento contínuo. Cabe a cada município definir dentro do estabelecido pela

PNAS/2004 e a NOB/2005 as ações a serem desenvolvidas, de acordo com a realidade

específica apresentada pela população usuária em sua comunidade e/ou bairro.

3.2 O PAPEL DO CRAS QUILOMBOLA NO PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA EM

ABAETETUBA

A fim de realizar o fortalecimento da Política Nacional de Assistência Social as

diretrizes da Política indicam a necessidade de considerar o território, além de um espaço

geográfico, que guarda características sociais, culturais e identitárias de sua população, mas

também se apresenta como um conjunto de elementos que mostram e revelam a complexidade

da dinâmica social e econômica das cidades que, por vezes, representam as desigualdades

existentes nas regiões brasileiras (SEMAS, 2013).

No território amazônico o desafio se torna mais complexo, seja pela amplitude

territorial, enquanto espaço geográfico, ou pela dificuldade de atuar em um território cuja

realidade é historicamente marcada pela (re) produção das desigualdades sociais, que via de

regra se expressa de forma diferenciada territorialmente. Neste sentido, compreender o

enredamento de tais processos é fundamental na intervenção junto às necessidades sociais da

população usuária. Nesse contexto, o conhecimento da dinâmica do território enquanto espaço

social possibilita a identificação de elementos e informações que poderão facilitar a definição

de investimentos públicos no combate à exclusão. As informações acerca das especificidades

geográficas dos territórios de atuação da Política de Assistência Social também são

fundamentais na definição de estratégias eficazes de intervenção (SEMAS, 2013).

O foco da análise do programa Bolsa Família em um determinado território, como no

caso de Abaetetuba que pode influenciar negativamente ou positivamente no desempenho do

programa.

58

O município de Abaetetuba é geograficamente estruturado em três realidades distintas:

a zona urbana, que possui dezessete bairros, onde há maior cobertura da política (Proteção

Social Básica e Especial de Média e Alta Complexidade) e onde é possível visualizar com mais

intensidade, os bolsões de pobreza. Uma realidade marcada pelo crescimento desordenado

decorrente da migração e do êxodo rural, pela violência e demais formas de expressões das

mazelas sociais, onde reside aproximadamente 58,82% da população do município (IBGE,

2010); a zona rural ribeirinha, constituída por um arquipélago de setenta e duas ilhas,

entrecortadas por rios, furos e igarapés. Portanto, as ruas do município de Abaetetuba são os

rios, e a natureza que determina as atividades dos técnicos dos CRAS Ribeirinhos e CRAS

Quilombola, os dias de trabalho, a localidades e os horários; e, a zona rural estradas, que tem

sua área territorial dividida em quarenta e nove colônias e uma vila. Território entre cortado por

caminhos e ramais, que na época das chuvas se tornam de difícil acesso, recebe a menor

cobertura da Política de Assistência e demais políticas públicas, e recentemente foi ampliado

com a reorganização territorial do Estado, sem um processo de discussão dos impactos sob a

vida da população residente nas localidades envolvida.

De acordo com SEMAS (2013) existem dificuldades em mapear as comunidades

quilombolas que são assistidas pelo Sistema Único. A falta dessa listagem de comunidades

quilombolas dificulta o trabalho de financiamento, acompanhamento e controlo social das ações

do MDS em beneficio dessa população.

A discussão sobre o atendimento e acesso aos serviços do CRAS em áreas quilombolas

se torna relevante (MDS, 2007), visto que algumas comunidades apresentam particularidades

próprias, no que diz respeito às relação e integração dos membros, num contexto social distinto

do apresentado pelo conceito de vulnerabilidade proposto pela NOB-SUAS

Em relação às instalações dos CRAS em territórios quilombolas é uma questão

complexa, dado as características especiais dessas comunidades tradicionais. As comunidades

remanescentes de quilombos são, geralmente, comunidades rurais cujas terras são domínio

particular de famílias e não do domínio público.

Deste modo, foram adotadas algumas alternativas pelo Ministério do

Desenvolvimento para instalação do CRAS Quilombola as quais são: a instalação do

equipamento público em ponto de referência para os beneficiários; e o permanente

deslocamento das equipes e dos serviços, ao invés do deslocamento esperado dos beneficiários.

Um último aspecto considerado que diz respeito à necessidade de uma abordagem territorial

59

para o atendimento do CRAS Quilombola. De fato, algumas comunidades ultrapassam

fronteiras municipais, cobrindo territórios que abarcam mais de um município.

Carneiro (2009) e Costa (2011) apontam que a lógica da referência e contra referência

dos serviços existentes no território dos CRAS passam pela necessidade do conhecimento dos

serviços, como também, de identificar estruturas, propor planos de articulação, com o intuito

de articular ações em rede, como um encaminhamento de demandas no sentido de formar

articulações. No entanto, necessita se estruturar em um planejamento que obedeça a lógica da

referência e da contra referência no sentido de proporcionar uma resolutividade da demanda.

A função de referência se materializa quando a equipe processa, no âmbito do SUAS,

as demandas oriundas das situações de vulnerabilidade detectadas no território, de forma a

garantir ao usuário o acesso aos serviços, programas e projetos, conforme a complexidade da

demanda. Em relação à contra referência é exercida sempre que a equipe do CRAS recebe

encaminhamento do nível de maior complexidade (proteção social especial) e garante a

proteção básica, inserindo o usuário aos serviços, programa e projetos de proteção básica (MDS,

2007).

A gestão da rede socioassistencial se objetiva aos princípios de descentralização do

SUAS que traz como propósito a disponibilização de serviços para as famílias das localidades

próximas, tornando-se, assim, a principal unidade pública de serviços setoriais (MDS,2012).

As ações dessa gestão representam: a) articulação da rede socioassistencial de Proteção Social

Básica referenciado ao CRAS; b) promoção da articulação intersetorial; c) busca ativa e; d)

oferta do Serviço de Proteção e Atendimento Integral à Família (PAIF), como principal serviço

prestado pelo CRAS (MDS, 2009).

A articulação dessa rede sociassistencial no microterritório é importante para o

estabelecimento de conexão entre o CRAS e o responsável pelo Programa Bolsa Família no

município, a fim de contribuir para a gestão integrada de serviços e benefícios, e acesso dos

beneficiários de transferência de renda aos serviços socioassistenciais locais. Para isto, a

formação, interação e integração de redes sociogovernamentais na localidade são questões

essenciais, como esclarecem Goulart et al (2010), para a construção de uma gestão baseada no

desenvolvimento local.

Nesta lógica, as formações de redes de cooperação iniciam de uma nova alternativa

para eficiência da ação estatal, com as articulações em redes entre o poder público, sociedade

civil e iniciativa privada (GOULART et al, 2010) baseadas em novas alianças intersetoriais

60

democráticas, integrativas e sistêmicas, que envolvem cooperação e atuação conjunta entre

atores públicos e privados (KNOPP; ALCOFORADO, 2010).

Os atores envolvidos no Programa se diferenciam em níveis de interação, participando

no (1) âmbito nacional, (2) territorial e (3) microterritorial

Entre os atores do âmbito nacional (1), está o Governo Federal, idealizador do

Programa, tendo sua atuação representada por meio dos seguintes órgãos: Ministério do

Desenvolvimento Social e Combate à Pobreza (MDS), Secretaria Nacional de Assistência

Social (SNAS), Ministério da Educação (MEC) e o Ministério de Saúde (MS). Estes órgãos

têm como função orientar a gestão do Programa, que, por sua vez, regula e fiscaliza os dados

de gestão dos municípios com famílias beneficiadas.

No âmbito territorial (2), os atores são: Prefeitura, Secretaria Municipal de Saúde

(SMS), Secretaria Municipal de Assistência Social (SEMAS) e a Secretaria Municipal de

Educação (SEMED).

Os atores sociais do Programa no âmbito microterritório (3) representam dois setores

da sociedade: Estado (Centro de Referência de Assistência Social – CRAS e o Centro de

Referência Especializado de Assistência Social – CREAS) e a sociedade civil organizada

(AABB, AMIA, APAE, Pastoral da Criança, Pastoral do Menor, Sindicato de Trabalhadores

Rurais de Abaetetuba, Conselho Municipal de Assistência Social), cada um com seu papel

definido para a localidade (quadro 6).

As conexões dessas articulações da Prefeitura com as organizações não-

governamentais do município são de responsabilidade da esfera pública, por meio das

secretarias municipais e prefeitura. No entanto, demonstram basicamente articulações para

ofertadas de serviços assistenciais ao público em situação de vulnerabilidade social, no qual são

observados os atendimentos realizados por faixa e etária e níveis de proteção, compreendendo

as ações da parceria com instituições não governamentais e instituições estaduais.

Para Amato Neto (2000), os desafios inerentes a este tipo de parceria estão na criação

de estratégias conjuntas, uma vez que os envolvidos devem estar cooperando um com o outro

e preparados para a ampliação das relações, bem como a questão da mútua confiança entre os

parceiros.

A articulação entre os setores da Saúde, Educação e Assistência Social poderia

permitir, por exemplo, que as situações de descumprimento de condicionalidades do Bolsa

Família sejam conhecidas e acompanhadas e que os retornos sejam dados ao responsável pelo

Programa. Outro exemplo, e a questão da identificação de famílias com crianças e adolescentes

61

beneficiários do PBF fora da escola. Nesta situação é importante a atuação dos técnicos do

CRAS na sensibilização da família e da escola do território para a garantia do acesso à educação

desses usuários, bem como para o acompanhamento dessas famílias pelo PAIF, de modo a

assegurar os demais direitos dos beneficiários e suas famílias.

O PBF cobre em seu escopo geral atuação em rede da gestão territorial de Proteção

Básica (quadro 7) que se norteia pelos princípios de descentralização do Sistema Único, cujo

objetivo é a disponibilização de serviços para as famílias das localidades próximas, tornando

se, assim, a principal unidade pública de serviços setoriais (MDS, 2012).

As ações dessa gestão representam: a) Articulação da rede socioassistencial de

Proteção Social Básica referenciado ao CRAS; b) Promoção da articulação intersetorial; c).

Busca ativa e; d) Oferta do Serviço de Proteção e Atendimento Integral à Família (PAIF).

62

Quadro 7. Rede de Proteção Social Municipal da Área de Assistência Social, Entidades Não

Governamentais.

Instituição Modalidade de Atendimento Nível de Atendimento

APAE

Criança de 0 a 6 anos

Básico/ Especial

Crianças e adolescentes de 7 a 14 anos

Adolescentes de 15 a 17 anos

Jovem de 18 a 24 anos

Pessoas com deficiência

Adultos de 25 a 59 anos

AMIA Adultos de 25 a 59 anos Básico

PASTORAL DA CRIANÇA Criança de 0 a 6 anos Básico

AABB Crianças e adolescentes de 7 a 14 anos Especial

PASTORAL DO MENOR

Crianças e adolescentes de 7 a 14 anos

Básico

Família

Adolescentes de 15 a 17 anos-Jovem de 18 a

24 anos

Adultos de 25 a 59 anos-Pessoas Idosas (60

ou mais anos)

Família

Adultos de 25 a 59 anos

Pessoas com deficiência

Crianças e adolescentes de 7 a 14 anos

População de rua

Crianças e adolescentes de 7 a 14 anos

Família

Adultos de 25 a 59 anos

Pessoas Idosas (60 ou mais anos)

Pessoas com deficiência

Fonte: Prefeitura Municipal de Abaetetuba (2009).

Destaca-se o CRAS que está diretamente ligado aos serviços de Proteção Básica de

Assistência Social do município, o qual assume o papel de articulador na rede de atendimento,

63

além do que, também é responsável pelo acompanhamento e direcionamento todos serviços,

projetos e ações para as famílias do PBF.

Entende-se que a partir das evidências empíricas o destaque da análise é dado ao CRAS

como o principal responsável pela articulação da rede de atendimento (MDS, 2012), portanto,

analisamos sobre a questão da mútua confiança entre os parceiros levando em consideração,

segundo Ribault et al (apud OLAVE; AMATO NETO, 2001), as redes só existem pela vontade

dos envolvidos e não possuem nenhum caráter jurídico entre si. É necessário ratificar que o

Programa determina em suas diretrizes que sua gestão deve ser feita por todos os atores nele

envolvidos, sendo que estes devem ser organizados para sistematizar e não hierarquizar o

processo de gestão.

Ainda que, as articulações entre os setores e a cooperação das entidades não-

governamentais abram possibilidade para o desenvolvimento de ações intersetoriais capazes de

responder as demandas apresentadas no contexto dos CRAS. Essas ações têm encontrado mais

legitimidade a partir do SUAS que reconhece a necessidade da complementaridade,

multisetorialidade e a interdisciplinaridade entre serviços das várias políticas sociais.

Somente por meio da ação articulada que é possível responder a complexidade das

necessidades e dos problemas trazidos pela situação de pobreza e desigualdade que os

assistentes sociais enfrentam no dia-a-dia dos CRAS. Carneiro (2009) destaca que o trabalho

em rede, reconhecido pelo SUAS como uma nova forma de gestão social, tem a perspectiva de

redimensionar as intervenções específicas, ampliando o padrão de qualidade e a efetividade das

ações desenvolvidas.

Villela e Costa (2012) aproximam o conceito de gestão social e redes por meio do

conceito de governança. Para estes autores, a governança é uma gestão que promove a decisão

coletiva na busca de um consenso no interior da rede, na gestão participativa e deliberativa

proposta no conceito que fundamenta a gestão social.

Apesar desse contexto abrangente de redes e parcerias estabelecidas consistir em expor

por meio de diálogos abertos suas propostas e argumentações para a construção enquanto

protagonistas dos processos decisórios deliberativos em Programas de desenvolvimento local

(VILLELA; COSTA, 2012).

Evidencia-se, portanto, apenas os serviços vinculados a Proteção Básica, os benefícios

com os Serviços de Proteção Integral à Família e o Serviço de Convivência e Fortalecimento

de Vínculos (quadro 8), atendem famílias e grupos de todas as faixas etárias, de forma

preventiva, ambos no apoio ao acompanhamento das famílias nas condicionalidades do PBF.

64

Quadro 8. Serviços Ofertados pela Secretaria Municipal de Assistência Social por níveis de

Proteção Social.

Proteção Social Básica Proteção Social Especial de

Média Complexidade

Proteção Social Especial de Alta

Complexidade

Serviço de Proteção Integral a

Família – PAIF

Centro de Referência

Especializado de Assistência

Social – CREAS

Espaço de Acolhimento

Institucional para Crianças e

Adolescentes

Serviço de Convivência e

Fortalecimento de Vínculos para

Crianças até 06 anos

Serviço de Proteção e

Atendimento Especializado a

Famílias e Indivíduos – PAEFI

Projeto Vida (Atendimento à

Gestante)

Centro de Referência

Especializado – CREAS Vitória

Régia

Serviço de Convivência e

Fortalecimento de Vínculos para

Crianças e Adolescentes de 06 a

15 anos (Programa de Erradicação

do Trabalho Infantil – PETI)

Serviço de Proteção Social à

Adolescentes em Cumprimento de

Medida Socioeducativa de L.A

(Liberdade Assistida) e P.S.C

(Prestação de Serviço à

Comunidade)

Serviço de Convivência e

Fortalecimento de Vínculos para

Adolescentes e Jovens de 15 a 17

anos (Projovem Adolescente)

Centro de Referência

Especializado da Assistência

Social de Atendimento à Mulher –

CREAM

Atendimento à Pessoa Idosa

Programa de Promoção e

Integração ao Mundo do Trabalho

Atendimento no CadÚnico

Programa Bolsa Família

Fonte: SEMAS (2009).

Dentro dessa perspectiva o Ministério do Desenvolvimento Social deu início no

processo de co-financiamento ao serviço de Proteção e Atendimento Integral à Família e o

Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos.

As funções do serviço de Atenção Integral à Família são desenvolver ações e serviços

básicos continuados para as famílias em situação de vulnerabilidade social, tendo em vista que

o conjunto de serviços é destinado principalmente as famílias de população quilombolas. Os

municípios que realizam atendimento prioritário às comunidades remanescentes de quilombos

em territórios demarcados como áreas quilombolas recebem o benefício (MDS, 2007).

65

A publicação da Portaria nº. 137, de 25 de abril, estabelece normas para o co-

financiamento de projetos para a reestruturação da rede de Proteção Social Básica, ao

atendimento de comunidades remanescentes de quilombo para disponibilizar os recursos para

a construção e reforma de CRAS, a aquisição de veículo automotivo, mobiliário e

equipamentos. Os financiamentos dão aos municípios possibilidade de acesso à população

remanescente de quilombo aos CRAS e aos programas sociais, principalmente, o Programa

Bolsa Família, contudo se faz necessário que os dados das famílias dessas comunidades sejam

repassados com eficácia e eficiência para o CadÚnico, afim de sejam inseridos no Sistema

Único (SUAS).

De acordo com MDS (2007), esse tipo de financiamento se torna uma responsabilidade

para o município, visto que, o município que determinara as ações para definir as linhas de

trabalho, e desta forma incluir a população na Política de Assistência Social. Portanto, a

complexidade da gestão do CRA, junto a comunidades tradicionais, exige uma maior integração

entre duas esferas de governo âmbito federal (MDS) e âmbito do microterritório (CRAS

Quilombola) visando à orientação e aprimoramento desse trabalho.

Identificou-se que a solução para os problemas vigentes da gestão organizacional entre

as duas esferas (âmbito federal e âmbito microterritorial) são enfrentar os desafios gerenciais,

destacados como as essenciais da administração pública: planejar, executar, controlar,

monitorar, verificar, reunir, reformular, retroalimentar o processo por meio de feedback se

participação integrada, realizar e divulgar relatórios de acompanhamento, dentre outros.

Em decorrência, dessa falha na gestão no processo se destaca uma incapacidade na

gestão governamental do município, a desorganização local e a capacidade de planejamento.

66

4. O PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA NO ENFRENTAMENTO À POBREZA EM

ABAETETUBA NO ESTADO DO PARÁ

Neste capítulo, apresenta-se o caso selecionado para este estudo, o Programa Bolsa

Família no município de Abaetetuba/PA, que nos permite observar e analisar algumas questões

fundamentais relacionadas à prática da intersetoralidade e a implementação do Programa em

nível microterritorial. O início do capítulo é reservado à apresentação do perfil do município

como: sua localização, características territoriais e demográficas, seus aspectos econômicos, o

cenário da saúde, educação e assistência social. Em seguida apresenta-se o setor responsável

pela implementação do Programa no município, em sequência é realizada uma breve análise

sobre a trajetória do setor de Assistência social da adesão de Abaetetuba ao Bolsa Família em

2004. E, por fim, é analisar a questão da gestão local de modo geral, e sequencialmente na

perspectiva de cada um dos setores envolvidos em microterritório: Conselho Municipal de

Assistência Social, Secretaria Municipal de Assistência Social, Saúde e Educação. Os capítulos

anteriores dão suporte às análises dessa gestão no microterritório, o que possibilitou uma

avaliação crítica acerca dos desafios do Programa no município.

4.1 PERFIL DO MUNICÍPIO DE ABAETETUBA/PARÁ

O município de Abaetetuba é um dos municípios brasileiros pertencentes à região

Norte, está localizado no Estado do Pará, de acordo com a divisão por regiões estabelecidas

pelo IBGE (2010), pertence para a Mesorregião do Nordeste Paraense, como mostra na figura

04.

67

Figura 4. Município de Abaetetuba e Rio Itacuruçá

Fonte: Google Maps

Abaetetuba possui uma área de 1.611 km2, que se divide em três áreas distintas, sendo

zona urbana (sede municipal), ilhas, estradas e ramais (campo). O município se encontra

habitando entre a sede municipal, as 72 ilhas que são bastante povoadas e as 36 comunidades

que vivem à beira da estrada (distrito de Beja, estradas e ramais), estas áreas são cercadas por

rios, igarapés, furos, baías, costas e praias, que constituem um belíssimo cenário natural,

somado com a rica cultura ribeirinha, afirmam as peculiaridades e riquezas socioculturais da

região (IDESP, 2013).

As características territoriais do município citadas acima são fundamental importância

para compreensão das dificuldades e os desafios da gestão municipal de Abaetetuba no

Programa Bolsa Família, programa escolhido para estudo.

A rede hidrográfica é constituída por rios e igarapés que permite o tráfego de

embarcações de diversos portes, se tornando o principal meio de transporte entre os municípios

do Baixo Tocantins e a capital do Estado (IDESP, 2013).

68

Apesar de ser um município bastante novo de apenas 117 anos, possui uma população

de 141.100 habitantes (IBGE, 2010) com uma estimativa de 148.873 habitantes para 2013. A

densidade demográfica do município é de 86,79 habitantes por Km², a taxa de crescimento

demográfico anual situa-se em 2,77% (IDESP, 2013).

Gráfico 1. Evolução comparativa do IDH

Fonte: IBGE. Censo Demográfico (2010)

O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) considera expectativa de vida, educação

e PIB (PPC) per capita para nortear os índices que traz uma análise de situação de questões

estruturantes dos municípios (IBGE,2010). Em Abaetetuba, o IDH é de 0,71 em 2010, enquanto

no Brasil o IDH é de 0,751 em 2010, como mostra no gráfico 01.

Quanto aos aspectos econômicos, entre 2006 e 2010, segundo o IBGE (2010), a

estrutura econômica municipal demonstrava participação expressiva do setor de Serviços, que

responde por 76,3% do PIB municipal. Cabe destacar o setor secundário ou industrial, cuja

participação no PIB era de 10,8% em 2010 contra 11,3% em 2006.

0,6

0,65

0,7

0,75

0,8

0,85

0,9

1991 2000 2010

Brasil

Pará

Abaetetuba

69

Gráfico 2. Taxa de analfabetismo de crianças de 11 anos até 14 anos

Fonte: IBGE. Censo Demográfico (2010)

Em relação à educação, o município no último Censo Demográfico em 2010, apresenta

taxa de analfabetismo das pessoas de 11 a 14 anos de 5,33%, enquanto no Brasil a taxa de

analfabetismo é 3,55% observar-se no gráfico 2.

De acordo com Censo Demográfico, na área urbana essa taxa era de 9,1 e na zona rural

era de 18,1 de analfabetos. Entre adolescentes de 15 a 17 anos, a taxa de analfabetismo era de

2,86. Os dados entre os jovens de 15 a 17 anos na extrema pobreza, 382 estavam fora da escola

sendo 17,5 dos jovens extremamente pobres nessa faixa etária (IBGE, 2010).

O Censo Educacional 2010 detectou 359 escolas em Abaetetuba, das quais 50,4%

destinadas ao Ensino Fundamental; 44,6%, ao Pré-Escolar; e, 5%, ao Médio, 79,7% das escolas

funcionam em prédios compartilhados por dois ou mais etapas de ensino e 29,5% estão na sede

do município; enquanto 43% localizam-se nas ilhas; 26% nas estradas e ramais; e, 1,5% do

Distrito de Vila de Beja. Dentre esse número de estabelecimentos de rede ensino no município

16 são privados; 342 públicos; e, 1 público federal.

No que refere à saúde, no que tange à mortalidade infantil até 1 ano de idade (por mil

nascidos vivos) foi de 19,0 crianças, ao passo que no Estado o número de óbitos infantis foi de

20,3 crianças e a taxa de mortalidade infantil 16,7 por mil nascidos vivos no País. No município,

39,7% dos nascidos vivos em 2011 tiveram suas mães com 7 ou mais consultas de pré-natal

(IBGE, 2010).

16,08 15,85

29,07

6,26 7,16

10,66

3,24 3,555,33

0

5

10

15

20

25

30

35

Brasil Pará Abaetetuba

1991 2000 2010

70

Quadro 9. Número de vacinação e desnutrição de crianças de 0 a 23 meses e 29 dias, Abaetetuba

2010-2011

Fonte: DATASUS/SESMAB (2010)

De acordo com os dados do Ministério da Saúde (2010), se encontra 3338 crianças

com de 0 a 11 meses e 29 dias com carteira de vacinação em dia e o número de 1342 crianças

com de 12 a 23 meses e 29 dias. E um número de apenas 99 crianças desnutridas entre 0 a 11

meses de 29 dias e 100 crianças entre 12 a 23 meses e 29 dias (quadro 9).

Segundo o portal do Ministério da Saúde, Abaetetuba tem 87 estabelecimentos de

saúde cadastrados, 60,9% estão localizados na zona urbana e 39,1% na zona rural; 63,2% são

públicos e 36,8%, particulares. Em 2008, a cobertura de equipes básicas no município cresceu

de 35,5% para 39,9% em 2012.

Que tange na área da assistência social, os dados do Censo IBGE 2010, a população

total do município era de 141.100 residentes, dos quais 27.764 encontravam-se em situação de

extrema pobreza, ou seja, com renda domiciliar per capita abaixo de R$ 70,00 reais. Isto é, que

18,98% da população municipal viva nessa situação pobreza. Os dados do IBGE revelam que

67, 3% viviam no meio rural e 32,7% no meio urbano (IBGE, 2010).

POR IDADE QUANTIDADE

DE 0 A 11 MESES E 29 DIAS

COM VACINAS EM DIAS 3338

PESADAS 3177

DESNUTRIDAS 99

DE 12 A 23 MESES E 29 DIAS

COM VACINA EM DIA 1342

PESADAS 4121

DESNUTRIDAS 100

71

Gráfico 3. Crianças com até 14 anos em situação de extrema pobreza, Abaetetuba 1991-2010

Fonte: IBGE. Censo Demográfico (2010)

Gráfico 4. Crianças com até 14 anos em situação de pobreza, Abaetetuba 1991-2010

Fonte: IBGE. Censo Demográfico (2010)

No município havia 3.013 crianças na extrema pobreza, sendo proporção de 25,65 das

crianças com até 14 anos de idade que têm renda domiciliar per capita igual ou inferior a R$

70,00 mensais, em reais de agosto de 2010. O grupo de crianças com até 14 anos de idade que

têm renda domiciliar per capita igual ou inferior a R$ 140,00 mensais, em reais de agosto de

2010 foi de 51,18 dessa população (gráfico 3 e 4).

Segundo dados do Censo IBGE 2010, 19% da população do município de Abaetetuba

está na faixa etária de 10 a 17 anos, destes 13,7% estavam ocupados na semana em que foram

registrados pelo censo, ou seja, desempenhavam algum tipo de trabalho, sendo que 64,9% eram

homens e 35,1%, mulheres.

35,68

40,24

25,65

1991 2000 2010

89,10

89,10

76,58

1991 2000 2010

72

Vale salientar o índice de trabalho infantil na zona rural com 73,2% dos casos, com

atividades que tem a maior incidência de crianças e adolescentes ocupadas estão justamente

relacionadas a meio rural como agricultura, pecuária, produção florestal, pesca e aquicultura,

somando 59,7% das referências encontradas.

Gráfico 5. Distribuição das famílias inscritas no Cadastro Único por faixa de renda per capital

mensal

Fonte: MDS8 (2014)

Em relação ao acompanhamento do Plano Brasil Sem Miséria, o MDS utiliza-se das

informações do Cadastro Único para os Programas Sociais do Governo Federal. Ele fornece os

dados individualizados permitindo saber quem são, onde moram, o perfil de casa um dos

membros das famílias e as características dos seus domicílios (MDS, 2013).

De acordo com os registros de setembro de 2014 do Cadastro Único o município conta

com 34.202 famílias registradas no Cadastro Único (gráfico 5) e 20.776 famílias beneficiárias

do Programa Bolsa Família (51,28 % da população do município).

8 Site consultado http://aplicacoes.mds.gov.br/sagi/RIv3/geral/relatorio.php

73

Gráfico 6. Evolução de Famílias atendidas pelo Bolsa Família, Abaetetuba

Fonte: MDS9 (2014)

O município de Abaetetuba apresenta um número de cadastros que supera as

estimativas oficiais, de maneira que a gestão municipal deve concentrar esforços em aumentar

a qualidade das informações registradas quando da atualização dos dados familiares (MDS,

2013). Considerando-se a referência média de quatro filhos por família (estimativa de família

de brasileira), constata-se que o Programa atende metade do total da população no município

de Abaetetuba.

Como pode se observar gráfico 6, de 2008 a 2014 teve o registro de 8,02 mil famílias

sendo atendidas pelo Programa. De acordo com MDS (2013) em 2004 a 2013, a soma de

recursos transferidos pelo Programa Bolsa Família teve aumento de 716,23%

A prestação de contas sobre o uso do recurso do IGD-M apesar de ser pública, ainda

não é disponibilizada no site do Ministério do Desenvolvimento.

9 Site consultado http://aplicacoes.mds.gov.br/sagi/ri/carrega_pdf.php?rel=bsm_no_municipio

74

Gráfico 7. Evolução de valores repassados ao município através do Índice de Gestão

Descentralizada Municipal (IGD-M), Abaetetuba, 2012-2013

Fonte: MDS (2014).

Os dados da evolução de valores repassados ao município (gráfico 7) para o apoio à

gestão municipal reflete os altos índices do IGD-M em Abaetetuba, já que se configura como

referência para o estabelecimento dos valores dos recursos repassados aos municípios.

Gráfico 8. Evolução do IGD-M do Bolsa Família, Abaetetuba, 2010-2014

Fonte: MDS (2014)

No gráfico 08 apresenta a evolução dos valores do benefício do IGD-M no município

desde janeiro/2012 até novembro/2013 e o IGD-M do município (abril/2014) corresponde a

0,92 totalizando um repasse de R$ 75.825,75 ao município por mês.

0

0,1

0,2

0,3

0,4

0,5

0,6

0,7

0,8

0,9

1

2006 2010 2011 2012 2013 2014

Índice de GestãoDescentralizada nomês

75

Os dados do gráfico 8 indicam que o Índice de Gestão Descentralizada Municipal do

município por mês sofreu poucas variações ao longo dos últimos 4 anos. O Índice ficou em

torno de 0,81 e 0,92 nos anos de 2010 a 2014. Nos momentos de elevação desse índice se

constata melhoria na gestão da qualidade dos serviços prestados (educação, saúde e assistência

social) no município.

Os valores referidos nos gráficos 7 e 8 estão em concordância com os resultados

apresentados de evolução de famílias atendidas pelo Bolsa Família no gráfico 6, e atualização

cadastral no Cadastro Único. Em outras palavras, significa dizer que os altos índices no repasse

de recursos ao município de Abaetetuba, entre os períodos do segundo semestre de 2010 e

primeiro semestre de 2014 é justificada pelos fatores que definem o montante de recursos a

serem transferidos ao município.

Mais adiante, conjuntamente será apresentada a análise do acompanhamento das

condicionalidades (educação, saúde e assistência social) no município de Abaetetuba. A partir

dessas informações nas áreas de educação, saúde e assistência social é possível compreender

melhor os desafios para gestão local em um microterritório no que se refere ao

acompanhamento das condicionalidades do Bolsa Família em seus respectivos setores. No

entanto, é preciso que ocorra a atuação dos setores de forma conjunta na busca da efetividade

do Programa. É necessário ressaltar a importância da participação e mobilização da rede

socioassistencial do munícipio, assim como os debates e desdobramentos de políticas sociais

no âmbito local, particularmente, os desafios na gestão territorial da Amazônia.

4.2 O MICROTERRITÓRIO: COMUNIDADE SÃO JOÃO DO MÉDIO ITACURUÇÁ

No município de Abaetetuba somam-se 15 comunidades remanescentes de quilombos.

Sendo 08 comunidades reconhecidas pelo ITERPA (2009) essas são: Acaraqui, Tauerá-Açu,

Arapapu, Arapapuzinho, Genipaúba, Alto, Médio e Baixo Itacuruça. Nosso foco de análise

destaca a comunidade São João do Médio Itacuruçá que, como as demais, foi também

reconhecida por titulação.

A comunidade São João do Médio Itacuruçá é considera oficialmente território

quilombola desde 2002 (ITERPA, 2009). Localiza-se no Médio Itacuruça do município de

Abaetetuba. O acesso se dá por transporte fluvial via rio Itacuruça ou via terrestre, com acesso

pela estrada e ramal do município de Igarapé Miri.

A principal ligação da comunidade com município de Abaetetuba, principalmente

pelos rios (baixo e o alto Itacuruçá). Faz parte do espaço, as pequenas embarcações (barcos,

76

canoas, cascos, rabetas e rabudos) que transitam fazendo transporte de pessoas e produtos de

venda vindos da cidade de Abaetetuba.

Quanto aos aspectos econômicos, entre 2009 e 2012, segundo a Secretária Municipal

de Agricultura, o território do Médio Itacuruçá e suas famílias tiveram participação dentro dos

projetos da Secretária (quadro 10) como “Projeto Matapi”, “Projeto de Pesca Artesal” e o

“Projeto Criações Domésticas” que responde no PIB 31,83% do setor agropecuário e 0,51% na

indústria extrativa no município de Abaetetuba (IPEA, 2010).

O “Projeto Matapi” é aumentar a capacidade de produção na agropecuária trazendo

assim um slogan de “Mesa farta”. É relevante destacar o “Projeto Criações domésticas” que é

fomentar a criação de pequenos animais, como exemplo patos, pintos e porcos, os quais são as

principais atividades econômicas das famílias da comunidade do Médio Itacuruçá. No entanto,

as atividades de subsistência, como por exemplo, produção da farinha de mandioca, o manejo

do açaí e a produção artesanal de telhas e tijolos encontrar-se presentes no aspecto cultural e

econômico da comunidade.

O número de famílias beneficiadas pelos projetos da SEMAGRI no território Ilhas em

2012 são 2.668 famílias beneficiadas pelo “Projeto Matapi”; 23 tanques para as 4 localidades,

tendo 30 pescadores no “Projeto Pesca Artesanal”; o “Projeto Criações domésticas” são 2.910

famílias beneficiadas em 86 localidades. A implantação de 18 projetos grupais de criação de

suínos envolveu 65 famílias em 13 localidades, incluindo a comunidade do Médio Itacuruça.

Cabe destacar apesar desses projetos realizados pela SEMAGRI, o Programa Bolsa

Família ainda é a principal fonte de renda da maioria das famílias, e as outras formas de renda

são complementares ao Programa (SEMAGRI, 2013).

A dificuldade está associada ao desafio das famílias beneficiárias do Programa

perceberem que os projetos da SEMAGRI são ações de inclusão produtiva e de renda, na qual,

almeja propiciar o acesso da população em extrema pobreza a oportunidades de ocupação e

renda (SEMAGRI, 2013). Desta forma, o projeto possibilitaria no futuro uma vida autônoma

para os agricultores mais pobres, tornando-os menos dependentes.

A inscrição dos beneficiários do Programa Bolsa Família nos projetos da SEMAGRI

ainda é um desafio. Os gestores da secretária de Agricultura e da Assistência social justificam

que os projetos criam um sentimento de insegurança nas famílias ao se disporem como

beneficiários. Para maioria delas, existe a crença de que ao serem beneficiadas pelos projetos

receberão um tratamento diferenciado, ou ainda, correrão o risco de perderem o benefício. A

visão dos beneficiários sobre os projetos de inclusão produtiva e renda, é de “vilão” e não de

77

um projeto cuja o objetivo é aumentar a sua capacidade produtiva e a entrada de seus produtos

nos mercados consumidores, através de orientação e acompanhamento técnico, oferta de

insumos e de criações.

A organização política da comunidade é constituída por instituições religiosas e as

associações presente em diversas comunidades: ARQUIA (Associação dos Remanescentes

Quilombolas de Abaetetuba), COOPROABA (Cooperativa dos Produtores de Artefatos de

Abaetetuba), MALUNGU (Associação Regional dos Remanescentes Quilombolas do Pará) e

também MORIVA (Movimento Ribeirinhos e Ribeirinhas das Várzeas de Abaetetuba).

Cabe enfatizar que a organização MORIVA representa especialmente para as famílias

moradoras das Ilhas de Abaetê uma organização que buscar lutar pelos direitos sociais dos

ribeirinhos e ribeirinhas.

“Nós criamos o movimento dos ribeirinhos, depois com o movimento dos

ribeirinhos precisava ter alguma coisa pra trabalhar, alguma coisa concreta.

Aí o que nós vimos que era necessário criar o conselho legalizado jurídico,

pra gente poder ter o patrimônio no nome do Conselho, no caso a pessoa

jurídica – Conselho do Assentamento Agroextrativista, Várzea, Quilombolas

e Grupos Afins das Ilhas de Várzea de Abaetetuba – CAGROQUIVAIA.”

(representante do MORIVA, informação verbal)10

“Nós estamos lutando pelos nossos direitos sociais porque nós que moramos

nessa área ribeirinha, a gente sempre viveu dos nossos recursos naturais, quer

dizer o extrativismo. O forte da nossa vida, dos nossos antepassados foi

sempre a caça, a pesca e a coleta de frutos. Então, prá nós nunca teve assim

forte a educação, saúde, limpeza de rua, porque não é rua, é rio, e habitação

vários outros direitos sociais.” (conselheira do MORIVA, informação

verbal)11

“Ribeirinho é a família que nasceu e mora na beira do rio, por isso nós

chamamos de ribeirinho, porque os pais dele já moravam naquela beira, ele

nasceu e se criou. É quem mora na beira do rio nós chamamos de ribeirinho”.

(presidente do MORIVA, informação verbal)12

O MORIVA é uma organização não governamental que através das lutas diárias em

prol dos direitos sociais de ribeirinhos e ribeirinhas se apoderam dos espaços públicos (debates

políticos, conselhos, audiências públicas e organizações) que lhes permitam ter capacidades de

terem acesso e controle do processo pelo qual as decisões são feitas, particularmente decisões

que afetam suas próprias vidas.

10 Entrevista concedida à autora, Abaetetuba, 04 de julho de 2014 11 Entrevista concedida à autora, Abaetetuba, 04 de julho de 2014 12 Entrevista concedida à autora, Abaetetuba, 04 de julho de 2014

78

Ressalta-se ainda, que a comunidade São João do Médio Itacuruçá, é considerada pelos

órgãos como ITERPA, INCRA, SEPPIR e o Ministério do Desenvolvimento como uma

comunidade remanescente de quilombo. Suas características territoriais, sociais, culturais e

econômicas não equivalem ao tipo ideal (WEBER, 2002) de uma população quilombola. Pelo

contrário mostra-se uma identidade marcada pelo hibridismo de práticas sociais que se unificam

uma identidade ribeirinha e quilombola (HALL, 2006; GIDDENS, 1990).

No entanto, os critérios para a definição desses grupos étnicos tiveram mudanças.

Anova definição proposta pela Associação Brasileira de Antropologia (ABA), representou um

avanço conceitual acerca da definição de quilombo o que permitiu a construção de um rol de

políticas públicas voltadas exclusivamente para as necessidades territoriais, sociais, econômicas

e culturais das comunidades quilombolas, estejam elas nos centros urbanos ou no meio rural

(ALMEIDA, 2002). Desde modo, remanescentes de quilombo são “grupos que desenvolveram

práticas cotidianas de resistência na manutenção e reprodução de seus modos de vida

característicos e na consolidação de um território próprio” (O’DWYER, 2002).

Na comunidade São João do Médio Itacuruçá encontra-se a Escola de Ensino Infantil

e Fundamental Professor Manoel Pedro Ferreira, considerada escola do campo na

especificidade quilombola, a qual recebe atendimento da Secretária Municipal de Educação de

Abaetetuba (SEMEC). Esta escola acompanha a educação infantil, ensino fundamental e EJA.

A escola possui estrutura física de alvenaria, iluminação elétrica e água de poço artesanal

(figura 5).

79

Figura 5. Imagem da Escola de Ensino Infantil e Fundamental Prof. Manoel Pedro

Ferreira, Abaetetuba

Fonte: Pesquisa de campo, nov.2013

As características sociais, econômicas, políticas e culturais são fundamentais para

entender os entraves e possibilidades da gestão local na comunidade São João do Médio

Itacuruçá. O conhecimento dessa realidade local é importante para a análise das ações do

Programa no território. Desde modo, mostra-se no quadro 11 os dados da comunidade escolhida

relacionados diretamente com o PBF

A localidade do Médio Itacuruçá possui 56 domicílios particulares com 283 habitantes

residentes, com proporção de 5 pessoas por cada residência. Sendo essas 24 residências sem

energia elétrica; 4 sem sanitário e 56 domicílios sem água encanada (MDS, 2013).

Quanto ao aspecto econômico a população com rendimento per capital de até RS 70

reais são 137 qual responde pela metade da população residente da localidade estudada. Em

relação a educação, apresenta apenas 21 pessoas analfabetas. No que se refere a Assistência

Social, número de crianças de 0 a 6 anos são 46, ao passo que pessoas com 65 anos de idade ou

mais são apenas 12.

80

5. O PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA NO MUNÍCIPIO ABAETETUBA

5.1 O MODELO DE GESTÃO DO PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA

A Gestão do PBF está diretamente relacionada a Ministério do Desenvolvimento

Social e Combate à Fome (MDS). Em nível local se encontra uma coordenação estadual

intersetorial constituída por representantes da Saúde, da Assistência Social, que também assume

a Rede de Proteção Básica e Especial do Estado, da Segurança Alimentar e Nutricional e da

Educação (MDS, 2010).

De acordo com MDS (2010) o Programa encontra-se sob a coordenação, na grande

maioria dos municípios (cerca de 90%), de Secretarias de Assistência Social que, geralmente,

dispõem apenas de uma sala onde são desenvolvidas todas as atividades pertinentes ao

Programa.

O Programa no município de Abaetetuba apresenta em modelo de gestão proposto de

acordo com a Instrução Operacional de nº 09, SENARC/MDS, de 05 de agosto de 2005 com a

indicação do gestor do Bolsa Família deve ser feita pelo Prefeito Municipal de forma autônoma.

No entanto, pelo tipo de atividade que deve ser desenvolvida por esse gestor, o MDS considera

que o melhor seria a indicação do secretário municipal de Assistência Social como gestor do

Bolsa Família (SESMAS, 2013).

No caso de Abaetetuba, a gestão do Programa é de responsabilidade da coordenação

da Secretária de Assistência Social, órgão da Administração direta da Prefeitura Municipal de

Abaetetuba, que foi criada pela Lei 097/97, de 06/03/97 e regulamentada pela Lei 108/1997 de

10/11/1997.

A Secretária de Assistência Social é responsável pela formulação, coordenação e

execução da Política de Assistência Social, a qual é responsável pela elaboração do Plano

Municipal de Assistência Social em sintonia com a Lei Orgânica de Assistência Social – LOAS

(nº 8.742/ 1993), e também compartilhada basicamente com a Secretária Municipal de

Educação – SEMEC; e a Secretária Municipal de Saúde – SESMAB e Conselho do Bolsa

Família.

Isso não significa que seja o único arranjo institucional baseado na intersetorialidade,

outras articulações foram firmadas para o desenvolvimento de políticas complementares com

os setores da Agricultura (SEMAGRI), Meio Ambiente (SEMEIA) e Habitação, de forma

particular, vinculada com a secretária de Assistência social.

81

A justificativa para a escolha da Secretária de Assistência Social como principal

responsável pela implementação do PBF no município, deu-se principalmente pela trajetória a

secretária frente a outros Programas de Transferência de Renda Federal anteriormente ao

Programa como Bolsa Escola e Auxílio Gás, os quais estiveram na responsabilidade deste

órgão. Em pretexto estaria associada ao fato de que a Secretária de Assistência Social pode ser

considerada como um órgão estratégico na estrutura da Prefeitura (PREFEITURA, 2010). E,

por fim, o fato de que este órgão sempre concentrou suas ações em políticas sociais

possibilitando os beneficiários a superação da condição de pobreza.

Para se compreender o funcionamento da gestão do Programa, assim como as relações

e articulação entre os órgãos e setores, apresenta-se a estrutural organizacional do município de

Abaetetuba.

Figura 6. Organograma da estrutura setorial e organizacional de implementação do PBF,

Abaetetuba

Fonte: Elaboração Própria

A figura 6 tem como objetivo apresentar a estrutura organizacional municipal nos

alcances setoriais na gestão do Bolsa Família, nessa separação se fez necessária para analisar a

82

relação entre os órgãos, isto é, antes de analisarmos a relação entre setores, precisamos saber

quem são eles e em que articulações e contribuições realizam para implementação do Programa.

A Secretária de Assistência Social (SEMAS) é a responsável pela infraestrutura do

Programa, sendo reconhecida junto ao MDS como órgão municipal gestor, constitui-se num

espaço onde se desenvolve significativamente a discussão sobre a Política de Transferência de

Renda.

O entrelaçamento das áreas de educação, saúde e assistência social da política do PBF,

SEMAS torna-se fundamental para aplicação dos Formulários de Acompanhamento Familiar

do SUAS.É, também, concomitantemente, SEMAS é gestora pelo Sistema de

Condicionalidades (Sicon) que é uma ferramenta informatizada que armazena as informações

relativas aos resultados de todos os acompanhamentos realizados pelas áreas de educação,

saúde e da assistência social.

A ferramenta Sicon permite que os gestores responsáveis pelo acompanhamento das

condicionalidades, possam visualizar o perfil das famílias (composição familiar, composição

do benefício e endereço da família); e as situações de descumprimento das condicionalidades

nos três setores.

No município de Abaetetuba, a SEMAS, dispõe de 06 Centros de Referência de

Assistência Social – CRAS, onde são realizados e ofertados diversos serviços e ações de nível

básico de Proteção Social, essencialmente ao atendimento dos beneficiários do Bolsa Família e

realização do Cadastro Único. Sendo estes serviços localizados nas áreas: urbana (CRAS

Algodoal e CRAS Angélica); rural/ilhas (CRAS Pólo 4 e CRAS Pólo 7); rural/estrada (CRAS

Beja); e rural/ilhas/estradas (CRAS Quilombola).

Além disso, a SEMAS procura criar estratégias de caráter intersetorial com objetivo

de incluir e acompanhar as demandas com o perfil do Cadastro Único e do Bolsa Família. Por

meio das ações busca-se promover mudanças nas condições de vulnerabilidade da população

abaetetubense. Dentre as ações intersetoriais o desenvolvimento do Projeto Caravana da

Vontade Popular é o mais representativo. De acordo com a SEMAS (2013), a caravana é uma

importante estratégia adotada pela administração municipal, que consiste no deslocamento de

toda equipe de governo para uma localidade que integra um dos territórios dos CRAS

ribeirinhos e rurais, durante os finais de semana.

O Ministério da Educação é responsável pelo acompanhamento da condicionalidade

de educação das famílias beneficiárias do Bolsa Família, bem como pelo Sistema de

Acompanhamento da Frequência Escolar do Programa Bolsa Família (MDS, 2010) .

83

No município de Abaetetuba, a Secretária de Educação (SEMEC) é atribuída para

gerenciar as condicionalidades do Programa, tendo assim uma equipe técnica encarregada para

coletar informações das escolas e realizar os registros no sistema. A SEMEC é o principal

articulador de todo o processo de acompanhamento das escolas municipais, estaduais, federais

e privadas sediadas em Abaetetuba. Cabe, a SEMEC articular com as escolas a pactuação de

regras e prazos no que se refere ao fluxo das informações, bem como cadastrar os operadores

auxiliares e os operadores “Diretor de Escola”, sendo co-responsável pelas informações por

estes registradas.

A SEMEC torna-se fundamental no monitoramento da frequência escolar de crianças

e adolescentes em situação de vulnerabilidade social e, com isso, deverá motivar a permanência

e a progressão escolar, o que significa propiciar melhores condições de acesso à escolarização

para o exercício da cidadania e possível posicionamento no mercado de trabalho.

De acordo com a SEMEC (2013) o Programa é um incentivo para combater à evasão

pelo encaminhamento individual das razões da não-frequência ou da baixa frequência do

educando, bem como a superação dessas razões com vistas a garantir a conclusão do Ensino

Fundamental e a continuidade dos estudos no Ensino Médio, os quais estão em sintonia com os

objetivos do Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE).

Em Abaetetuba, a rede pública responde por 94% das matrículas do Pré-Escolar e o

Ensino Fundamental 93,2% pelas do Ensino Médio (SEMEC, 2103). A rede particular mesmo

com baixo índice de matrículas apresentou aumento em seu percentual se comparados os anos

de 2009 e 2012, sendo significativo o crescimento de alunos do Ensino Médio, 61,1% e no

Fundamental, 34,3%; a Pré-Escola por sua vez teve um modesto 2,3% de elevação nas

instituições privadas (SEMEC, 2013).

Finalmente, em relação à saúde a coordenação de Alimentação e Nutrição do

Ministério da Saúde (CGPAN/DAB/SAS/MS) é o setor responsável pelo acompanhamento das

condicionalidades das famílias beneficiárias do PBF com perfil saúde na esfera federal.

Em Abaetetuba, a Secretária de Saúde (SESMAB) é responsável pelo Sistema de

Gestão do Programa Bolsa Família na Saúde, desde modo, equipe técnica responsável realiza

os registros das informações das famílias beneficiárias do Programa que devem ser

acompanhadas, isto é, famílias com crianças menores de sete anos (em relação à atualização do

calendário vacinal e ao registro do crescimento e do desenvolvimento) e mulheres com idade

entre 14 e 44 anos, possíveis gestantes (quanto à realização do pré-natal).

84

A SESMAB é elementar na cobertura de saúde através do acompanhamento regular

das famílias mais vulneráveis, e traz uma equipe para acompanhamento das famílias e para

realização dos registros das condicionalidades elencadas no Programa. Por meio dos Mapas de

Acompanhamento da Agenda da Saúde das famílias do PBF os técnicos, Agentes Comunitários

de Saúde (ACS) realizam esses registros na Agenda da Saúde para condicionalidades do PBF.

É, também, fundamental na realização de atividades de forma intersetoriais,

considerando os diferentes contextos do acesso aos serviços de saúde enfrentados pelos

beneficiários e garantindo a oferta de ações preventivas visando contribuir para melhorar as

condições de vida desta população. Isto é, SESMAB não somente atua na garantia do direito à

saúde dessas populações, por meio da ampliação da cobertura de atenção básica, ainda promove

ações complementares em parceira com SESMAS, por exemplo, o Projeto Caravana da

Vontade Popular (figura 7) e o Outubro Rosa.

Figura 7. Ações complementares “Projeto Caravana da Vontade Popular”

Fonte: Prefeitura de Abaetetuba (2014)

Apesar da intersetorialidade estar atualmente em voga nas políticas públicas de âmbito

federal e fortemente presente no Programa Bolsa Família, a prática da intersetorialidade já

estava sendo construída e adotada em outras políticas sociais. Sendo assim, já possível

encontrar esse modelo na ação intersetorial presente em vários setores, como os de saúde

articulando principalmente com assistência social; a educação com a saúde, assim com

secretárias como SEMAGRI em articulação com assistência social, por exemplo. Observar-se

que a gestão intersetorial em políticas públicas, embora não significa dizer que exista uma

orientação clara, a partir de um conjunto de estratégias e ações visando o planejamento pré-

definido para o desenvolvimento dessas articulações.

85

A intersetorialidade na gestão do PBF em Abaetetuba, demostra a articulação entre os

setores proporciona uma resolução de conflitos, ou encaminhamento de beneficiários que

necessitam do atendimento de outros setores, sem que essas ações estejam condicionadas a uma

normatização operacional.

A presença desse modelo de gestão aplicado, por exemplo, no “Projeto da Caravana

da Vontade Popular” (figura 7) pode ser explicado por fatores como: complexidades dos

problemas que podem abranger um indivíduo, assim também como sua família; limitações de

recursos públicos; estrutura física; e equipe técnica para o atendimento dessa população;

limitação territorial (Fator Amazônico); interdependência entre os serviços oferecidos para a

população e; transversalidade das políticas públicas.

No caso da gestão do PBF em microterritório em Abaetetuba, a intersetorialidade ainda

é um processo em contínua construção. Atualmente podemos considera-se que possua três

principais estratégias voltadas para o desenvolvimento de uma maior integridade nas ações

entre os setores. A primeira está relacionada ao cadastramento das famílias com o perfil no

Cadastro Único e recadastramento para atualização de dados das famílias beneficiárias do PBF;

a segunda está ligada ao acompanhamento das condicionalidades e ao compartilhamento das

informações das famílias beneficiadas entre os setores direto e indiretamente envolvidos; e, a

terceira, refere-se à identificação, notificação e acompanhamento das famílias em

descumprimento com as condicionalidades do programa.

Sabendo-se do conhecimento da dinâmica do território enquanto espaço social

identifica-se os elementos e informações que poderão facilitar compreensão da implementação

do Programa. Nessa perspectiva, as análises das especificidades geográficas do território de

Abaetetuba significam um desafio complexo, pela amplitude territorial, enquanto espaço

geográfico, seja pela dificuldade de atual em um território cuja realidade é historicamente

marcada pela produção de desigualdades sociais (SESMAS, 2013).

No próximo capítulo apresenta-se analise da forma de gestão na perspectiva de cada

um dos setores envolvidos: Educação, Saúde e Assistência Social. A ideia geral é levantar os

fatores políticos e institucionais que criaram um contexto específico para o desenvolvimento

do Programa e para o modelo de gestão adotado no município, para então compreendermos

como eles influenciam nas relações interpessoais e entre os setores e, consequentemente, no

grau de intersetorialidade obtido para gestão local em microterritório.

86

5.2 AS CONDICIONALIDADES NO MUNICÍPIO DE ABAETETUBA

Este capítulo tem como objetivo identificar as condicionalidades do programa e a e

suas ações intersetoriais em nível local, com ênfase nas possibilidades e desafios. Para isso, foi

necessário inicialmente identificar as características básicas do município como: sua

localização, características territoriais e demográficas, seus aspectos econômicos, o cenário da

saúde, educação e assistência social; além de identificar o modelo de gestão do programa em

nível local, o desempenho no acompanhamento das condicionalidades do programa e as ações

intersetoriais, o que possibilitou uma avaliação crítica acerca dos desafios do programa no

município, principalmente os entraves para gestão do PBF em microterritório da Amazônia.

5.2.1 Saúde

A responsabilidade sobre o acompanhamento do calendário vacinal, do pré-natal em

gestantes e, da questão alimentar em nutrizes, é da Secretaria Municipal de Saúde (SESMAB).

No entanto, em campanhas de vacinação outros setores atuam como agentes parceiros, pois

auxiliam basicamente na divulgação e informação do público-alvo.

Quadro 10. Tipo de Atendimento realizados pela SESMAB no município de Abaetetuba (ref.

nove/2014)

Fonte: DATASUS/SESMAB *ref nov/2014

A estrutura de ação da Secretaria de Saúde no município conta com 55 unidades de

atendimento, sendo apenas 19 Unidades Básicas de Saúde e 27 Postos de Saúde (quadro 10).

Ressalta-se que a distribuição dessas unidades de UBS’s e ausência de Unidade de Saúde da

Família no território do município não compete com o número populacional e com dimensão

territorial da realidade concreta de Abaetetuba. Tal fato causa dificuldades no atendimento dos

beneficiários do Programa para o atendimento da gestão das condicionalidades que se

Tipo de Atendimento Total

Centro de Apoio a Saúde da Família – CASF 0

Centro de Atenção Psicossocial – CAPS 2

Centro de Saúde/Unidade Básica de Saúde 19

Clínica especializada/Ambulatório especializado 1

Hospital Especializado 1

Posto de Saúde 27

Unidade de Saúde da Família 0

Unidade móvel de nível Hosp.Urgência/Emergência 1

Unidade móvel fluvial 1

Unidade móvel terrestre 2

87

fundamentam na intersetorialidade. Entende-se, pois, gestão intersetorial um instrumento

estratégico que implica em uma atuação articulada das áreas de Saúde, Educação e Assistência

Social, cuja concretude deve ser alvo de ações especificas definidas e operacionalizadas em

articulação.

As fragilidades na atuação da SESMAB, referente às condicionalidades, vão desde o

recadastramento das famílias beneficiárias até o acompanhamento dos beneficiários em

descumprimento das condicionalidades.

Destaca-se três dos principais desafios apontados pela gestão do Programa no setor da

Saúde e os pelos Agentes Comunitários de Saúde (ACS). O primeiro relaciona-se com a não

informatização e acesso à internet de todas as Unidades de Saúde, o que implica no

armazenamento e acúmulo de informações em prontuários de papel, ou seja, não acessíveis ao

restante da rede de atendimento.

O segundo desafio está associado à dificuldade do município em realizar uma eficiente

cobertura de atenção básica de saúde, sabendo-se que a efetividade da condicionalidade desse

setor é realizada pelas equipes de atenção básica, principalmente por meio dos ACS que ainda

existem algumas áreas ‘descobertas’ por esses profissionais, isto é, acaba dificultando o total

acompanhamento dos beneficiários, e consequentemente não consegue alcançar a cobertura

esperada. Destaque-se que esse trabalho realizado pelos ACS é feito através dos Mapas de

Acompanhamento da Agenda da Saúde na abertura da vigência, atrás dos mapas que são

retiradas as dúvidas por meio de orientações e conversas em relação ao Programa, em que é

dado um prazo para a devolução do mesmo, para que se possam inserir os dados no sistema.

O terceiro fator está associado à dificuldade na realização de articulação com a

Assistência Social. Isto é, as articulações são consideradas como novos arranjos organizacionais

(FISCHER, 2002) que as ações entre os atores sociais são coletivas com finalidade de conseguir

integrar ações que favorecem a inclusão social. Segundo depoimentos, muitos dos

encaminhamentos realizados para os CRAS do município não são atendidos e assim não

retornam Unidade de Saúde, sob a justificativa de falta de capacidade para o atendimento da

demanda.

Dois dos problemas anteriormente levantados encontram-se respostas vindas da gestão

do setor, são eles o primeiro e o segundo. O primeiro problema está ligado à informatização da

rede de atendimento da saúde. Esta questão não é exclusividade deste setor, a educação e

assistência social convivem com as mesmas dificuldades e cobram constantemente dos

governos providências. A resposta para o segundo desafio destaca que dificuldade da Secretaria

88

Municipal de Saúde é colocar ACS nessas áreas ‘descobertas’, para que todos os beneficiários

do município de Abaetetuba sejam acompanhados, e a cobertura seja completa.

O último desafio é uma questão contraditória por parte da SESMAB e SESMAS

sabendo-se que ambas conseguem desenvolver ações intersetoriais, sendo que não ocorrem

ações sistematizadas entre essa articulação aos assuntos relacionados ao Programa Bolsa

Família. Porém, dentre as ações de articulação ocorrem, por exemplo, “Projeto Caravana da

Vontade Popular” com palestras e orientações voltadas aos beneficiários, no que diz a vários

temas voltados a saúde e em algumas áreas descobertas é feito essas ações para beneficiar

população que está longe desses serviços.

Gráfico 9. Percentual de cobertura com base nas famílias totalmente acompanhadas da saúde ref.

1ªvigência/2010 até 2ªvigência/2014 em Abaetetuba/PA

Fonte: DATASUS/SESMAB (2014)

Perceber-se no gráfico 9 uma desaceleração no ritmo da 1ª vigência de 2013 até 2ª

vigência de 2014 da cobertura das famílias em relação acompanhamento de condicionalidades

pelo setor da saúde. De 2010 até a primeira metade do ano de 2014, é possível verificar um

avanço significativo na taxa de acompanhamento das famílias beneficiárias na área de saúde.

No entanto, a partir do segundo semestre de 2014 os dados nos apresentam regressão

desses avanços. Verifica-se que essa queda da 1ª vigência até 2º vigência retrata um aumento

significativo do número de perfil sendo acompanhados pela área da saúde com uma deficiência

na cobertura estimada para o atendimento de atenção básico no município de Abaetetuba.

2010 2011 2012 2013 2014

1ª Vigência 61,53 65,88 72,25 78,91 82,12

2ª Vigência 60,54 71,27 74,88 79,08 71,07

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

89

Gráfico 10. Evolução comparativa da taxa de famílias com acompanhamento da Agenda de Saúde,

Abaetetuba, 2010-2014

Fonte: MDS (2014)

No gráfico 10 observa-se que a taxa alcançada em 2013 chega a 0,79 das famílias com

perfil, ou seja, aquelas com crianças de até 7 anos e/ou com gestantes. A média nacional é de

0,73, o município de Abaetetuba está acima da média. Em relação com a capital paraense,

demostra uma taxa de regressão no período de 2012 ao período 2014 o município chega a 0,33%

longe da média nacional.

De acordo com dados do Ministério da Saúde, nota-se que no gráfico 11 que acometeu

uma instabilidade no percentual de cobertura estimada pelas equipes de atenção básica no

município. Em 2010, a cobertura era de 45,1% e reduziu no ano seguinte para 21,3%. Em 2012,

a cobertura teve o crescimento de 39,9% e até 2013 para 44,5 %.

A queda em 2011 pode ser associada ao período de descredenciamento das equipes de

saúde pelo Departamento de Regulação da Secretaria Municipal de Saúde do Município de

Abaetetuba, o qual atua junto a um Sistema Nacional de Informação do Ministério da Saúde,

pois este realiza também a atualização de dados de do Sistema Único de Saúde no município.

Porém, considerando a população municipal e as condições geográficas, esse atendimento ainda

pode ser considerado deficitário (BRABO, 2014).

2010 2011 2012 2013 2014

Abaetetuba 0,62 0,65 0,72 0,79 0,8

Belém 0,58 0,62 0,82 0,09 0,33

0

0,1

0,2

0,3

0,4

0,5

0,6

0,7

0,8

0,9

90

Gráfico 11. Percentual de Cobertura de Equipes da Atenção Básica, Abaetetuba, 2010 a 2013

Fonte: DATASUS (2014)

Os problemas apresentados pela gestora do setor da saúde no município de Abaetetuba

não são percebíveis nos dados da taxa do IGD-M e no percentual de cobertura de equipes de

atenção básica, as dificuldades estão ligadas aos encaminhamentos dos beneficiários entre os

setores. É evidente, que há uma cultura organizacional dos serviços públicos, fortemente

marcada pela setorialização, portanto, integrar e articular serviços ainda são desafios ligados ao

compartilhamento de poder, a precariedade nas estruturas de atendimento, recursos humanos

insuficientes frente à demanda do PBF.

5.2.2 Educação

A Secretaria de Educação do município conta atualmente com uma rede de 173

aproximadamente escolas municipais, que se encontra em expansão com a construção de mais

2 unidades estão sendo construídos no município.

Apesar dessa distribuição dessas unidades no território ser realizadas com base na

divisão territorial do Censo (IBGE) em 46 unidades administrativas, coincidindo com a divisão

apresentada nos setores da saúde e da assistência social.

45,1

21,3

39,9

44,5

0

5

10

15

20

25

30

35

40

45

50

2010 2011 2012 2013

%Cob.Básica

91

Quadro 11. Quantitativo de Escolas Municipais de Abaetetuba, 2012-2014

Rede Municipal 2012 2013 2014

Zona Urbana – Sede 40 41 40

Zona Rural – Estradas e Ramais 46 49 51

Zona Rural – Ilhas 83 83 82

Número total 169 173 173

Fonte: Coordenação Estatística/SEMEC

Conforme a quadro 11 observa-se a distribuição geograficamente por três realidades

distintas: zona urbana; zona rural estradas e ramais; zona rural ribeirinha/quilombola.

A responsabilidade sobre o registro, acompanhamento e notificação sobre a frequência

escolar dos beneficiários do PBF no município é da Secretaria de Educação. Contudo, as

informações referentes à porcentagem de frequência que o aluno beneficiário deve ter e ao

acompanhamento da família nas atividades dos filhos em idade escolar, são passadas e

repassadas tanto no momento do cadastramento, quanto no recadastramento.

O acompanhamento da frequência escolar pela Secretaria de Educação sempre foi

intermediado pela Assistência Social, isto é, os diários de frequência escolar eram preparados,

distribuídos e recolhidos nas escolas a cada mês por uma equipe do setor da educação básica,

que também digitava e inseria as informações no SISCON. Em casos específicos de

descumprimento da condicionalidade de frequência escolar CRAS, o responsável pela família

beneficiária aciona o Conselho Tutelar e o Ministério Público, que realizam o encaminhamento

de alerta da importância da frequência escolar para a criança. Desta forma a família continua

recebendo o benefício do Programa.

Em decorrência dos princípios constitucionais da descentralização político

administrativa e da participação popular surgem os órgãos dispostos dentro da política de

atendimento com caráter deliberativos e controladores das ações em todos os níveis. Por

exemplo os Conselhos Municipais, estaduais e nacional dos direitos da criança e do adolescente.

O Conselho Tutelar, no número mínimo de 1 (um) por município, tem responsabilidade de zelar

pelo cumprimento dos direitos da criança e do adolescente definidos no Estatuto13

(KAMINSKI, 2002). No caso do município de Abaetetuba existe 2 (dois) por município, devido

suas especificidades geográficas e características sociais e identitárias de sua população

diferenciadas.

13Arts. 131 e 132 do ECA.

92

Gráfico 12. Percentual de alunos de 6 a 17 anos com frequência escolar acompanhadas,

Abaetetuba, 2010 a 2014

Fonte: Site MDS, 2014

Observa-se no gráfico 12 os efeitos positivos no acompanhamento da frequência

escolar, e a evolução no percentual de crianças de 6 a 17 anos na escola permaneceu estável

desde do período de 2010 até o período de 2014.

De acordo com Secretário de Educação os avanços foram atribuídos em grande medida

à informatização das escolas, além da criação de sistemas para coletar e armazenar as

informações sobre os alunos e seu desempenho escolar.

No município de Abaetetuba, 99,58 % das crianças e jovens de 6 a 17 anos do Bolsa

Família têm acompanhamento de frequência escolar. A média nacional é de 92,03 %. Sendo

assim o município está acima da média, mas ainda assim é importante que as secretárias de

Assistência Social e de Educação continuem trabalhando juntas para aumentar o número de

famílias cujos filhos têm frequência escolar acompanhada.

No que se refere à intersetorialidade com os setores de Educação e Assistência Social,

foi unânime a indicação por parte dos gestores tanto da Secretária de Educação quanto da

Secretária de Assistência Social, sobre o vínculo entre a escola e o restante da rede de prestação

de serviços da prefeitura. A justificativa apontada é que foram criados laços entre os setores

para participação de questões que vai além dos “muros da escola”.

No que se refere aos motivos que resultaram no descumprimento das

condicionalidades do PBF, assim como as consequências desses descumprimentos, identifica-

93

se os efeitos da condicionalidade: Advertência, Bloqueio, 1a Suspensão, 2a Suspensão e

Cancelamento de Benefício

Quadro 12. Tipologias dos motivos de baixa frequência Conselho Tutelar, Abaetetuba, 2012-2014

TIPOLOGIA

2012 2013 2014

Trabalho infantil 28 24 5

Fatos que impedem o deslocamento à escola 53 70 6

Abandono Escolar/Desistência 10 37 4

Desinteresse/desmotivação pelos estudos 23 42 3

Repetência escolar 15 20 4

Dificuldade de aprendizagem 11 29 -

Inexistência de oferta de serviços educacionais 110 89 67

Ausência por questão de saúde do aluno 60 102 9

Mendicância/Trajetória de rua 19 36 7

Gravidez 22 39 12

Exploração/ Abuso sexual/ Violência Doméstica 52 37 -

Suspensão escolar 06 05 11

Negligência dos pais ou responsáveis 08 - -

Violência/Discriminação/Agressividade no

ambiente escolar 32 38 9

Fonte: Conselho Tutelar Urbano de Abaetetuba (2014)

No quadro 12 observa-se as tipologias dos motivos da baixa frequência para

justificativas no acompanhamento da frequência escolar de crianças e jovens em

vulnerabilidade. Nota-se os motivos frequentes informados pela escola da 1ª vigência de 2012

à 1ª vigência de 2014 tais motivos são relacionados ao descumprimento das condicionalidades

do PBF no município estudado, com base nas categorias estabelecidas pelo MEC das quais 68

estariam descumprindo a condicionalidade de frequência escolar (cuja exigência é de no

mínimo 85% para crianças entre 6 e 14 anos e 75% para os adolescentes entre 15 e 17 anos), os

fatos apontados mostra-se o desinteresse ou desmotivação dos alunos pelos estudos (informado

pelo Conselho Tutelar).

Observa-se que os dados do Conselho Tutelar demostram durante período de 2012,

110 pessoas não conseguiram vagas nos serviços educacionais. Em 2013, 70 crianças e

adolescentes tiveram dificuldades para o deslocamento até a escola; e 42 alunos ficaram

desmotivados ou perderam interesses pelo estudo.

A justificativa apresentada pela Secretaria de Educação foi a de que sobraram vagas

nos serviços educacionais, contudo, há dificuldades dessas famílias ter aceitação de algumas

94

escolas. Para a maioria delas, existe a crença de que existe a “escola boa” e a “escola ruim”, ou

ainda, identificam algumas escolas localizadas em bairro que recebem um tratamento

discriminatório.

Os dados de deslocamento das crianças e adolescentes são justificados pelo gestor da

Educação como sendo neste o ponto de ‘guerra’ entre SEMEC e SEDUC. Devido que o

financiamento da Educação na região Norte não leva em conta o ‘fator amazônico’, ou seja,

não considera as peculiaridades da região que afetam o acesso das crianças e adolescentes aos

serviços educacionais. O gestor da Secretária de Educação citou que preciso revisar e adequar

portarias referentes às políticas para população reside de forma dispersa e o deslocamento é

difícil pelas características geográficas e de infraestrutura e que essa meta não é praticável,

principalmente na zona rural.

Essa dificuldade foi apontada não somente pela gestão do programa no setor da

Educação, como também por profissionais da saúde e assistência social. Podemos concluir que

o “fator amazônico” deve ser visto como uma complexidade socioeconômica e política, com

singularidades de que as difere das demais regionais, e que a Amazônia é uma voz que reclama

audiência, é uma paisagem que avoca luz, é um povo que advoga isonomia (BERNARDINO,

2011).

5.2.3 Assistência Social

A responsabilidade sobre o acompanhamento dos programas PETI (Programa de

Erradicação do Trabalho Infantil) e PAIF (Programa de Atenção Integral à Família), assim

como a identificação e análise de algumas famílias em descumprimento com as

condicionalidades, é da Secretaria de Assistência Social do município.

A estrutura de serviços da Secretaria de Assistência Social é formada por 06 CRAS,

01 CREAS, 01 Espaço de Acolhimento e 06 Entidades não-governamentais de Proteção Social.

Para a distribuição dos CRAS no território do município foi feita uma reagrupação destas

unidades administrativas em 4 regiões: 1) CRAS Angélica; 2) CRAS Algodoal 3) CRAS Beja;

4) CRAS Pólo 07; 5) CRAS Pólo 04; e 6) CRAS Quilombola.

95

Quadro 13. Distribuição dos CRAS nas áreas de cobertura da Assistência Social, Abaetetuba, 2013

CRAS

QUILOMBOLA

CRAS

RIBEIRINHO

PÓLO 07

CRAS

RIBEIRINHO

PÓLO 04

CRAS

RURAL

BEJA

CRAS

URBANO

ANGÉLICA

CRAS

URBANO

ALGODOAL

Assacu, Igarapé

Vilar, Genipaúba,

Acaraqui,

Taueraçú,

Arapapuzinho,

Ipanema, Baixo

Itacuruçá, Médio

Itacuruçá, Alto

Itacuruçá, Ilhinha,

Sítio Prego,

Acarajó, Furo

Limão e Piquiarana

Alto Ajuaí,

Baixo Ajuai,

Ajuaizinho,

Bacuri, Costa

Maratuíra,

Jupariquara,

Médio

Tucumanduba,

Baixo

Tucumanduba,

Furo Grande,

Quianduba, Alto

Paruru e Baixo

Paruru

Urubueua

Cabeceira,

Urubueua Fátima,

Tauá, Paramajó,

Rio da Prata, Rio

Doce, Prainha,

Arumanduba,

Xingu, Anequara,

Igarapé São José,

Sapucajuba,

Urucuri,

Caripetuba, Ilha

do Capim,

Marinquara e Ilha

Sirituba.

Rio

Pirocaba,

Guajará de

Beja,

Tauerá de

Beja,

Arapiranga

de Beja, Rio

Jarumã

Maracapucu

Santa Maria,

Mara

capucu São

José, Cariá,

Ipiramanha,

Palmar

Rio

Jacarequara e

Campompema

Fonte: Diretoria de Assistência Social da SEMAS (2013)

A divisão dessa listagem obedeceu à territorialidade e área de cobertura dos CRAS

(quadro 13). No município os CRAS que totalizam 06 unidades de atendimento a família. É

importante ressaltar que não há acompanhamento posterior desses beneficiários pelos CRAS

ou por qualquer outra unidade da Assistência Social. Quando os atores deste setor foram

questionados sobre os motivos que os levam a não dar continuidade no atendimento ao

beneficiário, a resposta foi comum a todos. Dizem que seguem à orientação vinda da

coordenação do MDS que fornece os limites sobre sua atuação. A gestão intersetorial dais quais

depende, em grande parte, o sucesso do Bolsa, vê-se que desenho da gestão do Programa, não

ocorre como pressuposto a integração dos Ministérios e das Secretarias estaduais e municipais

de Educação, Saúde e Assistência Social na gestão do Programa para favorecer o acesso dos

mais vulneráveis a direitos sociais.

O conflito entre os setores da Assistência Social e com Ministério do Desenvolvimento

Social parece claro. Com base na observação do caso estudado, é possível fazer alguns

apontamentos para se chegar ao entendimento, observa-se a relação da gestão local e as tomadas

de decisão dadas pela gestora da secretária de Assistência Social determinam os rumos

previstos, ou até mesmo já antecipados, sobre o uso e o funcionamento deste Programa em

Abaetetuba. O efeito “dinâmico” se dá especificamente devido a prática do planejamento ‘de

cima para baixo’ (top-down) e a política baseada no ‘clientelismo’. Portanto, a gestão local

procura meios específicos para realizar a gestão do PBF respeitando as diversidades da

localidade, mas a inexistência de processos intersetoriais na gestão das condicionalidades como

96

uma estratégia gerencial está retratada nos problemas de contato e integração entre os gestores

do PBF e os responsáveis do MDS.

97

6. GESTÃO LOCAL DO PROGRAMA BOLSA FAMILÍA NO

MICROTERRITÓRIO

O capítulo tem como objetivo analisar gestão local do Programa no microterritório no

município de Abaetetuba, como a gestão e operacionalização do PBF, através da análise de

documentos do Centro de Referência de Assistência Social Quilombola (CRAS Quilombola)

contribui para os desdobramentos do programa social no desenvolvimento local dessa

localidade específica, com dados dos períodos do segundo semestre de 2010 e primeiro

semestre de 2014.

A fim de fortalecer ainda mais essa pesquisa, buscou-se entrevistara assistente social,

psicóloga e técnica do CRAS Quilombola, que auxiliaram de forma ampla a pesquisa. Desta

forma, o objetivo de conhecer as possibilidades e entraves do trabalho do CRAS na

intersetorialidade do Programa em frente às famílias beneficiadas.

Sendo assim, verificou-se por meio de dados fornecidos pela secretária de Assistência

Social e através de pesquisa de campo, a abrangência territorial do CRAS, como por exemplo,

o número de ilhas e comunidades remanescentes de Quilombos cobertas pelo Centro de

Referência em Assistência Social.

Assim, por esses dados percebe-se como foi escolhida a localização para a implantação

do Centro de Referência de Assistência Social, localizado no Rio Ipanema na zona rural/ilhas

do município de Abaetetuba. Esta localidade é composta por 15 ilhas e comunidades

referenciadas que são: Assacu, Igarapé Vilar, Genipaúba, Acaraqui, Taueraçú, Arapapuzinho,

Ipanema, Baixo Itacuruçá, Médio Itacuruçá, Alto Itacuruçá, Ilhinha, sítio Prego, Acarajó, Furo

Limão e Piquiarana.

De acordo com os relatos da Assistente Social, a implantação do CRAS ocorreu em

2006 com o objetivo de contribuir para a inclusão, construção, resgate e fortalecimento de

vínculos familiares, comunitários e sociais da população remanescentes de quilombos e

ribeirinhas.

“Ele foi fundado para justamente para trabalhar com os remanescentes de

quilombos que estão no município nas ilhas e nas estradas, atualmente estamos

principalmente nas ilhas. A gente planeja e trabalha a gente tem o grupo do

PAIF que dentro da própria organização da política. Serve para fortalecer os

vínculos familiares dentro dessas comunidades.” (Assistente social do CRAS

Quilombola, informação verbal)14

14Entrevista concedida à autora, Abaetetuba, 24 de fevereiro de 2014

98

O município de Abaetetuba possui 42 ilhas, sendo que os seus moradores são

pertencentes da cultura identitária ribeirinha e quilombola. Nesse sentido, o autor Castells

(2013) afirma que as identidades são construídas culturalmente, isto é, organizadas em torno de

um conjunto específico de valores cujo significado e usos compartilhados são marcados por

códigos específicos de auto identificação.

Assim sendo, o CRAS possibilitou a comunicação, informação e a mobilização das

comunidades, bem como aproximar serviços, programas, projetos e benefícios básicos das

comunidades referenciadas pelos CRAS.

A equipe do Centro de Referência CRAS Quilombola é composto por 20 funcionários

entre as funções estão assistente social, socióloga, psicóloga, educador (a) social (com formação

em Pedagogia) e entre outros funcionários.

“A gente precisa estar lá no CRAS (referencia-se ao CRAS no Rio Ipanema)

semanalmente pelo menos um trabalho lá com crianças, mulheres,

adolescentes e com as famílias em geral beneficiadas pelas políticas sociais.

Mas gente não consegue está lá diariamente, pois temos outras comunidades

para dá atenção. Sabendo que nossa equipe é pequena, ela não é suficiente. A

gente procura fazer o possível para cumprir as demandas dessas famílias. ”

(Psicóloga do CRAS Quilombola, informação verbal)15

Identificou-se situações de vulnerabilidade e risco que se encontrasse nas famílias, tais

como: drogadição, principalmente entre jovens e mulheres, abandono material16, conflito

familiar e bolsa família.

No que tange aos recursos materiais para o desenvolvimento do trabalho, durante os

anos de 2010 e 2014, o CRAS necessitada de equipamentos essenciais como computadores,

máquina digital, internet, aparelho telefônico, estofado, ventilador, freezer, micro-ondas, e

algumas alterações nas instalações do “barracão” onde está localizado o CRAS. Tais decisões

são necessárias para que permanência das equipes de trabalho na localidade devido as alterações

das mares e rios a infraestrutura se torna precária.

Enquanto espaço físico temos esta sala (referencia-se a sala, na qual, acontece

a entrevista dentro da Secretária de Assistência Social) que consideramos um

espaço administrativo, no caso nosso apoio administrativo. Aqui que acontece

as reuniões, planejamentos do CRAS, e alguns técnicos ficam aqui nesse

espaço urbano. Temos um outro espaço físico que o CRAS da Ilha, localizado

no Rio Ipanema é o espaço ainda de madeira. Precisa de reforma, mas essas

15Entrevista concedida à autora, Abaetetuba, 24 de fevereiro de 2014 16 Art. 244 do CP tipologia citada pelo Conselho Tutelar

99

reformas acontecem de maneira lenta. Mas, é muito importante um CRAS nas

ilhas, afinal lá acontece o primeiro atendimento e acompanhamento especial

e especifico. (Psicóloga e assistente social do CRAS Quilombola, informação

verbal)17

Entretanto, é de grande importância destacar que existem algumas dificuldades na

atuação da equipe do CRAS como, por exemplo, os transportes (rabecas, rabutos e "cascos")

que se utiliza é compartilhado entre o órgão gestor, CREAS e CRAS do município Por isso,

fica agendado um dia específico para realizar visitas, não possibilitando que a equipe atue de

forma mais ampla com as família através desse meio de grande importância na ação de

fortalecer o vínculos e confiança entre as famílias e os profissionais do CRAS.

“Hoje é um dia normal para nós, mas não podemos dizer qual dia certo que

vamos para as ilhas, afinal depende muito das mares e rios. A gente vai de

rabeta que não é um barco muito grande de motor. Depende muito. Você me

perguntar: − Qual o horário que vamos? Vai variar muito de comunidade para

outra, às vezes, em média de 30 min. a 1 hora para chegar em cada

comunidade. É extremamente cansativo porque vamos e voltamos no mesmo

dia.” (Assistente social do CRAS Quilombola, informação verbal)18

Ainda, tratando-se dos entraves no desenvolvimento das ações da equipe do CRAS

Quilombola, o grupo do Centro de Referência relata que as dificuldades de realizar os

atendimentos são pelas disparidades geográficas e culturais no município de Abaetetuba, e

ainda também as dificuldades em romper a ótica da população das ilhas de Abaeté ao que tange

a Política de Assistência Social como ajuda, tutela e o paternalismo.

Dificuldades de liderar a equipe na realização dos planos para as ações do

CRAS Quilombola (3 três meses) e, também não ultrapassar os orçamentos

dentro da Assistência Social para o Centro de Referência. Uma dificuldade

que temos de nos adequar os movimentos das mares e rios. As comunidades

são extremamente dispersas geograficamente e o Rio Itacuruçá é muito

extenso, portanto existe uma hora exata para entrar em certas comunidades.

Imagina? (gerente do CRAS Quilombola, informação verbal)19

Assim, apesar dos avanços e conquistas da Assistência Social no campo das políticas

sociais voltadas direitos básicos da Constituição (KERSTENETZKY, 2009) essas ainda são

relacionadas como ajuda, tutela e paternalismo, desta maneira interfere na práxis profissional.

17 Entrevista concedida à autora, Abaetetuba, 24 de fevereiro de 2014 18 Entrevista concedida à autora, Abaetetuba, 04 de julho de 2014 19Entrevista concedida à autora, Abaetetuba, 04 de julho de 2014

100

Outro fator importante a ser ressaltado seria o espaço físico inadequado para o

desenvolvimento de todas as ações referentes ao Centro com as famílias beneficiadas por

políticas de transferência de renda mínima.

O MDS coloca como meta o atendimento de 3 mil famílias, aqui são apenas 3

técnicas (referencia-se as assistentes sociais e psicóloga do CRAS

Quilombola), então o MDS desenha de que forma deve acontecer o trabalho

do Centro de Referência. Só que antes de desenhar o MDS não vem aqui me

perguntar se isso é possível ser feito no nosso território. A dispersão territorial

dificulta muito nosso trabalho, ela torna humanamente impossível. Impossível

fazer 100% de PAIF no território total da abrangência do Centro. (gerente do

CRAS Quilombola, informação verbal)

Afim de diminuir os entraves e dificuldades da gestão local, o Centro de Referência

em Assistência Social realiza articulações com os atores sociais locais, isto é, demonstra um

esforço de compreensão da gestão da Política por parte da equipe do CRAS Quilombola que se

propõe se articular em nível local para superar os problemas gerenciais.

Desta forma, as articulações sociais representam uma oportunidade dos atores sociais

(liderança locais, agentes de saúde, diretores de escola e pastores) têm de exercitarem os canais

democráticos para o desenvolvimento local. De acordo com Teodósio (2009) as parcerias

influenciam nas ações e interações locais de maneira positiva para o processo de

desenvolvimento local, isto porque, implica na transformação do Estado em direção à oferta de

políticas públicas menos estadocêntricas, o que é uma das virtudes que essa estratégia traz na

gestão social das iniciativas em longo prazo.

“Em 2009 quando o trabalho realmente começou, a gerente teve a iniciativa

de ir visitar todas as lideranças comunitárias dessas comunidades. Que gente

chama de parceiros, e aí começamos a fazer as parcerias com os agentes de

saúde, o líder comunitário, o pastor, o diretor de escola. Justamente para

utilizar os espaços das comunidades para fazer o nosso trabalho e as reuniões.

Sem eles não íamos conseguir fazer o trabalho. Ia se tornar impossível.”

(gerente do CRAS Quilombola, informação verbal)20

“Toda semana as técnicas (psicóloga, assistente social e uma educadora

social) fazem um trabalho com os beneficiários das políticas sociais. Só que

consideramos os parceiros importante para nosso trabalho, que através do

parceiro já sabemos que aconteceu na ilha e os fatos. Os parceiros nos informa

que está acontecendo com as famílias, portanto acontece o atendimento e o

acompanhamento, as vezes, não estava nem previsto para acontecer.” (gerente

do CRAS Quilombola, informação verbal)21

20Entrevista concedida à autora, Abaetetuba, 05 de julho de 2014 21Entrevista concedida à autora, Abaetetuba, 05 de julho de 2014

101

“É a rede. CRAS não pode trabalhar sozinho. Ele precisa da rede, portanto

precisa do CREAS, Conselho Tutelar, Pastoral do Menor, APAE conforme as

demandas chegam você pode fazer um referenciamento ou encaminhamento.

Se for dentro da política você faz um encaminhamento. Se for fora você irá

fazer um referenciamento. Eu sempre digo nas reuniões quando existe

diretores de escola, agentes de saúde e técnicos que nosso usuário é o mesmo,

tanto para assistência, saúde e educação e outros órgãos do governo. Ele

precisa ser atendido. Só que precisamos fazer a rede funcionar para atender as

demandas, por ex. o direito violado encaminha para CREAS; uma criança

precisando de acolhimento faz um referenciamento para APAE.” (gerente e

Assistente Social, informação verbal)22

No CRAS Quilombola do município de Abaetetuba o trabalho em rede encontra alguns

desafios para se constituir em uma estratégia para gestão local. Contudo, o CRAS vem

construindo a rede e mantendo relações com as escolas, associações de moradores, entidades

não-governamentais que são conveniadas com a Prefeitura. É através dessa estratégia do

trabalho em rede que estabelece formas de articulação para maximizar e qualificar serviços que

estão disponíveis no território. Deste modo, visa superar a fragmentação dos serviços e construir

sinergias para que eles atuem em rede (INOJOSA, 1998).

“Eu irei sempre me reportar 2009, quando realmente nós construímos a rede,

indo atrás, chamando os órgãos responsáveis e os representantes

comunitários(...) a gente tem buscado, não tem tido dificuldades com aqueles

que conhecemos (...) Agora o município está com essa discussão de ter essa

intersetorialidade nas políticas públicas. Toda política tem que ter a chamada

intersetorialidade. Já está ocorrendo quinzenalmente uma reunião entre as

secretárias com a participação da Pastoral do Menor e outros sobre Política de

Assistência Social. E aí que possibilita ter um estreitamento, ou seja, uma rede.

Às vezes tem por conhecimento pessoal. Ah! Eu conheço uma pessoa lá.

Procuramos os representantes das entidades para articular, para fazer os

encaminhamentos. Dessa forma, os resultados do trabalho em rede, tem sido

positivo, temos conseguido estabelecer parcerias.” (gestora e Assistente

Social do CRAS Quilombola, informação verbal)23

22Entrevista concedida à autora, Abaetetuba, 05 de julho de 2014 23Entrevista concedida à autora, Abaetetuba, 05 de julho de 2014

102

Quadro 14 - Quantitativo de Famílias com características específicas cadastradas no

sistema CadÚnico e beneficiárias do Programa Bolsa Família.

FAMÍLIAS CADÚNICO PBF

Famílias quilombolas 2.440 1.974

Famílias extrativistas 7 5

Famílias de pescadores artesanais 16 12

Famílias indígenas 13 11

Famílias em situação de rua 1 1

Famílias de catadores de material reciclável 1 0

Famílias pertencentes à comunidades de terreiro 1 1

Famílias ribeirinhas 45 30

Famílias de agricultores familiares 27 17

Fonte: BRASIL (2013)

O quadro 14 destaca o quantitativo de benefícios com características específicas

cadastradas no CadÚnico no município de Abaetetuba até o período de setembro de 2013. Nota-

se que até maio de 2013, dentre as famílias de características específicas, destaca-se as famílias

quilombolas com 2.440 cadastros no CadÚnico, sendo atendidas pelo PBF 1.974.

Considerando-se que um número expressivo no atendimento desta demanda.

Contudo, ainda existe o número maior de famílias quilombolas serem cadastradas no

CadÚnico. O sentimento de insegurança das famílias ao se identificarem como quilombolas é

resultado da compressão deles que o melhor seja o enquadramento como famílias ribeirinhas,

afinal acreditam que os benefícios de políticas destinadas aos ribeirinhos são maiores no

município. Para a maioria delas, também existe a crença de que raça negra foi deixada “boa

sorte” no Brasil e vinculada com um histórico de opressão e preconceito.

“Acontece quando vem se cadastrar não se declaram quilombola. Se declara

ribeirinho. Porque isso acontece? Acontece pois existe algumas políticas para

ribeirinhos, como ex. terras de marinha. Portanto, eles não querem perder

nenhum tipo de benefícios. É claro também, existe a questão do ser negro no

Brasil. A crença de carregar uma história de desfavorecimento. O meu

antepassado veio de outro pais onde lá ele poderia ser rei. Aqui ele foi escravo.

Existe muito preconceito, descriminação, devido ao auto-declaração você ver

que pessoa é negra, mas ele se declara parda. É uma questão de auto

conscientização, né? (gerente do CRAS Quilombola, informação verbal)

103

A questão acerca do caráter do BF (se favor ou obrigação do Estado) é ainda uma das

mais difíceis de compressão das famílias beneficiarias pelo Programa.

“Quando chegou o bolsa foi um grupo de pessoas se inscrever, uns porque

precisa realmente do bolsa, pois essa será sua única renda. Alguns não

precisam até ganha o bolsa. Quem é ribeirinho e quilombola vive de que?

Apenas das safras de açaí, da mandioca, farinha, e outras atividades de roça.

Dependendo do período do ano aquela comunidade vai ter dinheiro no bolso.

Só que o CRAS tem como missão de tornar essas famílias autônomas, mas

acho que essas famílias não querem ser autônomas. Será que estou errada?

(faz pergunta para companheira de equipe). Responde a companheira: − As

famílias se acomodam. (...) existe muitas famílias incluídas no CadÚnico já

ultrapassou os limites para o município do porte de Abaetetuba.” (gerente do

CRAS Quilombola, informação verbal)24

Nota-se que as famílias beneficiarias não conseguem compreender que o objetivo do

Programa articular transferência de renda direita com políticas educacionais, de saúde, e de

trabalho a fim de fortalecer a autonomia o que permitirá interromper o ciclo vicioso da pobreza.

“Olha essa situação, chegou uma moça lá do Itararaçú, ela era

acompanhada pelo CRAS com uma cesta. Ela me perguntou assim:

Dona (...) é possível vocês comprarem peixe para mim vender? Falei

que não, só poderia ajudar apenas com isopor. Ela podia vender a cesta

(que tinha acabado de ganhar) e pegar o dinheiro para comprar o peixe.

Então ela ia vender o peixe, e faturar uma renda. Ela respondeu assim

mesmo: Ah! Não Dona (...) eu prefiro a cesta. Resumindo ela queria a

cesta, o peixe, o isopor e ainda o gelo (a equipe brinca). Isso gente, para

dá ex. que existe acomodação em relação ao bolsa e as cestas.” (gerente

e Assistente Social do CRAS Quilombola, informação verbal)25

Observa-se que o Programa seria apenas um momento em suas vidas para perspectiva

de mudança não de dependência do mesmo. Contudo, o passado sem assistência alguma pelo

Estado parece confirmar a ideia de favor, ajuda e paternalismo em relação ao PB. Essa

concepção por parte das famílias somente será alterada quando existirem políticas de cidadania,

ou seja, políticas culturais integradoras, criação de espaços públicos de encontro, debate e

deliberação, sem suma, tudo o que forma aquela que Sen (2000) capacidades como a liberdade

que um indivíduo possui para escolher que tipo de vida deseja levar, dentre as que são possíveis

para ele.

No que tange ao formato apresentado para a população de Abaetetuba, o BF ainda não

contribui de forma eficaz para a geração da renda, embora outros programas relacionados, como

24 Entrevista concedida à autora, Abaetetuba, 05 de julho de 2014 25 Entrevista concedida à autora, Abaetetuba, 05 de julho de 2014

104

o Programa de Inclusão Produtiva e de Renda da secretária SEMAGRI tenha contribuído para

a inclusão produtiva dessas famílias.

Com isso conclui-se que o Bolsa Família não foi desenhado baseado na moderna

concepção de cidadania, em que se garante o acesso a todos que necessitem de um benefício

(ZIMMERMAN, 2006). A partir do momento em que o número de famílias for preenchido,

“dificultou” a inserção de novas famílias, mesmo que sejam extremamente vulneráveis e,

portanto, sujeitas desse direito.

As ações realizadas pelo CRAS Quilombola nos setores da Saúde, Educação e

Assistência Social, junto à comunidade como apoio a participação desta no Programa, são ações

preventivas e atividades socioeducativas, as quais possibilitam a população do território, maior

informação. Isto tem potencializado a participação e ampliado a consciência dos usuários em

relação à sua cidadania. Na educação, os CRAS organizam ações também de cunho preventivo

e educativo, existindo uma ação sistematizada para o desenvolvimento das atividades de forma

integrada nas escolas, vinculadas em pactuação com o setor da Saúde, atividades como ações

preventivas como orientação nutricional, dentre outros. Sendo, porém, que em algumas áreas

essa articulação é muito mais forte com os ACS no setor da Saúde.

A transversalidade das temáticas tratadas nas políticas públicas de Assistência Social,

por si só já conferiria posição de centralidade ao setor no que se refere às relações intersetoriais

(ZIMMERMAN, 2006). O fato do órgão responsável pela gestão do PBF estar inserido no setor

de Assistência Social, coma função de coordenar as ações de acompanhamento das

condicionalidades nos setores, e estabelecer parcerias com programas complementares, se

configura como fator determinante para a posição de maior centralidade no Programa.

Essas ações podem ser o início de uma proposta de ação que vislumbra a construção

de uma estrutura de governança capaz de proporcionar uma articulação entre gestores e

população no sentido de desvendar as potencialidades do território e, a partir disso, formular

estratégias para o enfrentamento dos problemas local. Com relação a isso Toro (2004) observa

que faz parte da essência do trabalho em rede a natureza dinâmica, não-estática, por isso as

relações precisam ser estruturadas a não suprimir ideias inovadoras, mas ao contrário,

estabelecer interações inovadoras, principalmente disseminar e fomentando novos

conhecimentos para o desenvolvimento da localidade.

A avaliação e o monitoramento do processo de trabalho em relação à equipe são feitos

pelas reuniões mensais e as atividades já são discutidas no projeto de cada atividade. Em relação

ao CRAS a avaliação é feita anualmente pela Ministério do Desenvolvimento Social o

105

monitoramento se realiza pelos relatórios mensais de cada atividade precedidos pelo

circunstanciado.

“Nosso trabalho ganhou muita visibilidade. Eu gosto de usar as palavras que

fomos desbravadoras. Desculpa, as minhas amigas do CRAS urbano, mas

trabalhar nas Ilhas é cansativo equivale mais de 6horas de trabalho no urbano

(...), porém isso não foi um impedimento. É coisa de louco. Eu falo com muita

humildade sobre nosso trabalho. O nosso CRAS Quilombola é referência no

município, e também em nível nacional. Quando o MDS implantou a equipe

volante nos CRAS, nós já trabalhávamos como esse tipo equipe que se destina

ir para campo, nosso caso para Ilhas fazia tempo. Fomos em Fortaleza (refere-

se ao encontro de gestores do MDS) mostrar nossas dificuldades em campo,

contudo ainda precisamos de adequar as amaras das políticas. ” (gerente do

CRAS Quilombola, informação verbal)26

Contudo, o Ministério do Desenvolvimento Social criou um indicador sintético

(IDCRAS), com o objetivo de sistematizar as características de funcionamento dos CRAS,

através da combinação dos seguintes indicadores dimensionais: Atividades realizadas, horário

de funcionamento, recursos humanos, e a estrutura física (BRASIL, 2013). O IDCRAS foi

criado em 2008 pela Secretaria de Avaliação e Gestão da Informação (SAGI), em parceria com

a Secretaria Nacional de Assistência Social (SNAS) com o objetivo de aprimorar o processo de

monitoramento dos CRAS, iniciado em 2007, por meio do atualmente chamado de Censo

SUAS.

Gráfico 13. Indicador de Desenvolvimento do CRAS Quilombola, Abaetetuba, 2012

Fonte: MDS27, 2012

26Entrevista concedida à autora, Abaetetuba, 04 de julho de 2014 27Site consultado

http://aplicacoes.mds.gov.br/sagi/FerramentasSAGI/rdrct.php?http=http://aplicacoes.mds.gov.br/sagi/snas/imp2012/&nome_link=Demonstra%C3%A7%C3%A3o%20de%20implanta%C3%A7%C3%A3o%20dos%20servi%C3%A7os%20executados%20por%20equipes%20volantes

106

No gráfico 13 mostra-se o IDCRAS do CRAS Quilombola de 2012 com índices em

10 estágios de desenvolvimentos (insuficiente, regular, suficiente e superior) das quatro

dimensões citadas.

De acordo com MDS, o IDCRAS avaliou os 10 (dez) estágios de desenvolvimento do

CRAS Quilombola em avaliações que são Insuficiente e Regular. Isto é, a constatação da alta

dependência do microterritório com gestão do Programa. O processo de implementação do PBF

seja efetivo exige que os objetivos do Programa sejam claramente definidos, e os recursos sejam

viabilizados, por fim o sistema seja capaz de controlar os indivíduos e organizações envolvidos

na condução das diferentes tarefas.

A partir dos dados coletados, infere-se que Abaetetuba é o município afetado pelo fator

amazônico. Contudo, ainda estão sendo discutidas as relações do fator amazônico relativas à

dimensão social, diversidade étnica e cultural, com a construção do Sistema Único de

Assistência Social na região Norte.

“Na área da Assistência nós sempre preocupamos com essa história da

realidade amazônica, nós sabemos que o Governo Federal sempre elabora

políticas de maneira geral sem conhecer todas as realidades dos Estados. Que

nos preocupava era levar a política de Assistência as pessoas que estão em

vulnerabilidade social, principalmente aquelas que estão longe da zona

urbana, isto é, estradas e ilhas. Agora como levar isso para lá, se ainda não

existe essa compreensão? Na verdade, só apenas está escrito na nova SUAS

2012, mas não está implementada. No meu entendimento ainda está no

caminho e se encontra em discussão. ” (representante da Assistência Social,

informação verbal)28

A região amazônica impõe um desafio diferente ao princípio da territorialidade. As

particularidades regionais da Amazônia pedem especificidades na leitura da realidade social em

seu território, e pede compreensão das potencialização e especificidades para inclusão do debate

no âmbito do SUAS (TEIXEIRA, 2009).

É forma plural de vias de deslocamento fluviais e terrestres, com implicações de

espaço/tempo (barcos, lanchas, rabetas, rabutos, “cascos”, voadeiras, entre outros) que afetam

o trabalho da Assistência no município de Abaetetuba, e essa dispersão geográfica se torna o

‘universo florestal’ impenetrável no trânsito de muitos dos usuários/cidadãos que necessitam

do SUAS.

“Se você perguntar se cobertura da Assistência Social está como o Governo

Federal coloca dentro da política SUAS? Irei responder que não, até porque

não existe como. Porque temos que nos adequar a realidade das ilhas, por

28Entrevista concedida à autora, Abaetetuba, 04 de julho de 2014

107

exemplo CRAS Quilombola deve ter colocado para vocês que a cultura lá (se

refere à cultura local das zonas ilhas/quilombola) é diferente. Não podemos ir

de frente com essa cultura, temos que respeitar essa cultura. Estou falando

apenas um pouquinho sobre essa complexidade. Começa até levar essa

política para o atendimento, que normalmente só podemos chegar de barcos e

voadeiras. Existe ilhas que não conseguimos nem entrar de voadeiras. Vai de

canoa, vai andando, então, é um leque de dificuldades geográficas que se

encontram que vai sim interferir na implementação lá na ponta.”

(representante da Assistência Social, informação verbal)29

Ao perguntar para a gestora da Assistência Social sobre a cobertura e a existência dos

CRAS itinerantes e equipes volantes dos CREAS em âmbito local?

Compreende-se que:

“Mesmo com CRAS e CREAS a mais do determinado pelo MDS, a secretária

de Assistência Social não cobre todas as áreas do município, principalmente

as áreas das ilhas, por conta das especificidades do território abaetetubense,

que é muito disperso e com formação de 42 ilhas” (representante da

Assistência Social, informação verbal)30

De acordo Campos (2013), os CRAS e os CREAS não podem se instituir como

unidades isoladas, do contrário não darão conta das questões sociais estruturais, deste modo,

pouco poderão fazer se não se constituírem como um conjunto de unidades que se apoiam

mutuamente na região.

A partir dos dados coletados pelo CRAS verificou-se que muitas dificuldades surgem

na operacionalização do Programa e o empenho das ações não é suficiente. Além disso, é

necessário, que Governo Federal e, mais recentemente, os municípios reconheçam as

particularidades da população beneficiada e envolva, efetivamente, nesse processo de

elaboração das ações da política na localidade.

Todos esses componentes estão envolvidos no que pode dificultar, mas também podem

potencializar a gestão e o trabalho da política de Assistência. Contudo isso observa-se que a

Amazônia contém saberes e instrumentalidades absolutamente vitais para esse trabalho, haja

vista que nela vivem quilombolas, ribeirinhos e índios de diferentes etnias (TEIXEIRA, 2009).

Em Abaetetuba existem42 ilhas cujas lideranças acreditam nos programas de

transferência de renda, mas, ao mesmo tempo crítica se a forma padronizada e individualizada,

que viola valores e práticas milenares de coletividade e socialização da produção.

29 Entrevista concedida à autora, Abaetetuba, 04 de julho de 2014 30 Entrevista concedida à autora, Abaetetuba, 04 de julho de 2014

108

“Saiu da escola e foi para outra escola, mas ela tinha que declarar. Assim era direito

daquela família receber os 72 reais. É direito daquela família. A gente procura saber

o porquê daquele benefício ser cortado. Muitos estão dentro do critério, só que são

cortados do Programa. É aí gente procura ajudar. Aí ligamos para Brasília, e Brasília

fala que o município. E o município diz que é Caixa Federal. A Caixa Federal diz

que o problema do município. Temos que resolver esse problema. A gente percebe

que o Cadastro não finalizou, aí prejudica uma pessoa. É isso problema de

acompanhamento ... a gente sabe que sujeito está aí ele precisa, às vezes, cortado

porque o filho não foi para escola. Só que eles não sabem que acontece. Não sabe

porque o menino teve algumas faltas na escola. Não levou porque ele não tinha nem

5 centavos para comprar uma gasolina. Sem dinheiro de passagem, principal nessa

época do defeso. ” (representante do Movimento dos Ribeirinhos as das Ilhas e

Várzeas de Abaetetuba – Moriva, informação verbal)31.

Com bases nas entrevistas sobre o PBF é possível identificar que há relações de forças

no âmbito político alguns anseios relativos à forma de entendimento do Programa ao público

beneficiário e dificuldades da gestão de cunho estratégico e operacional. Tais fatores que podem

impactar e comprometer a governança na esfera local.

No que refere o atendimento das condicionalidades, a secretária de Educação se refere

que os desafios estão nas lacunas intergovernamental do governo do Estado no

acompanhamento da educação.

“O atendimento das condicionalidades da educação por meio da frequência

escolar, o acompanhamento de saúde por meio da carteira de vacinação e

acompanhamento nutricional. A frequência municipal é 100% acompanhada,

já a frequência estadual tem falha, pois quando as crianças saem do município

para a rede estadual essa não realiza acompanhamento de frequência, daí vai

constar que a família não está cumprindo as condicionalidades. ”

(representante da secretária de Educação, informação verbal)32

“A secretaria de saúde tem trabalhado em cumprir as demandas do PBF (...)

existem campanhas de vacinação, mas os beneficiários não cumprem com sua

parte vindo vacinar e trazendo as crianças, por que não existe uma ação

punitiva sobre aqueles que não trazem as crianças para vacinar, como a perda

do bolsa, e aí as famílias não dão importância para agenda de saúde. ”

(representante da secretária de Saúde, informação verbal)33

Observa-se no setor da saúde que as dificuldades estão nas articulações entre os setores

da Assistência e Saúde. A secretária de Saúde precisa trabalhar em rede com a secretária de

Assistência Social para conseguir convergências de interesses e metas entre as

condicionalidades do PBF e das políticas do SUS, tais como Política de Imunização Nacional,

31 Entrevista concedida à autora, Abaetetuba, 04 de julho de 2014 32 Entrevista concedida à autora, Abaetetuba, 04 de julho de 2014 33 Entrevista concedida à autora, Abaetetuba, 04 de julho de 2014

109

Política de Redução da Mortalidade, Acompanhamento de Gestantes e Nutrizes, Programa

Saúde da Família, entre outras.

As estratégias e metas devem estar definidas para conseguir atingir as famílias

beneficiadas pelo Programa e conscientização da população em relação as questões da saúde

apresentadas pelo município. Sabendo-se que se faz necessário a realização das Caravanas para

conseguir alcançar os objetivos e metas do PBF e do SUS.

É importante observar as exigências do PBF no acompanhamento das

condicionalidades, as quais tem contribuído para uma redefinição de metas e estratégias, tal

qual no investimento de recursos municipais na estruturação desses que acabam por fortalecer

os setores de uma forma geral (SILVA, 2002; MONNRAT et al. 2006).

Nota-se que a intersetorialidade é um processo ainda não incorporado à prática de

gestão no município de Abaetetuba. Embora muito citada, tal estratégia gerencial aparece

somente nas Caravanas realizadas pela Prefeitura do município.

Desta forma compreende-se que a pouca experiência dos sujeitos sociais em

estabelecer processos decisórios compartilhados como parte de uma prática de gestão

intersetorial parece depender de variáveis que não estão no campo técnico, isto é, só ocorre

quando são realizados os novos arranjos organizacionais, tais como articulações, parcerias,

redes de sociais a partir da cooperação entre os atores sociais envolvidos.

Nessa direção, identifica-se na literatura sobre reconfiguração de paradigmas de

construção da nova esfera pública (FISCHER, 2002). A criação de novos padrões de

organização (articulações, parcerias interorganizacionais, redes sociais) e modos de regulação

(espaços ampliados de concertação, dinâmicas democrático participativas de planejamento e

gestão). Essa reconfiguração pela ideia da gestão compartilhada e participativa, ligada à

construção de novas ambiências públicas capazes de conduzir e reconduzir os processos de

desenvolvimento local (SILVEIRA; REIS, 2003).

110

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A proposta desta dissertação foi realizar um estudo voltado para gestão do PBF em

nível local, especificamente nas ações intersetoriais do CRAS Quilombola. Além disso,

objetivou-se enfatizar os principais desafios na gestão do programa no município de

Abaetetuba, sendo necessária a abordagem da gestão do programa no seu contexto macro para

o contexto micro, ou seja, para se analisar a forma como esse programa de nível federal interage

e se consolida em nível local, especificamente no microterritório.

O PBF é considerado uma referência para abordagem da gestão intersetorial. Este

programa contém na sua origem, demandas pela intersetorialidade ao propor a unificação de

programas de transferência de renda e ao propor a descentralização nos municípios, o que

demanda uma série de articulação entre os três níveis de governo e destes com a sociedade. O

desenho do Programa propõe articulação de uma transferência monetária com programas

estruturantes no campo da Saúde, Educação e Assistência social desenvolvendo o que denomina

de ações complementares; pela exigência do controle social por parte de um conselho

específico, ou já existente, preferentemente no campo da Assistência Social.

O Programa Bolsa Família foi implantado pelo Governo Federal brasileiro em outubro

de 2003, com a perspectiva de combater a pobreza e a fome no país e promover inovações no

padrão histórico de intervenção pública na área social, e tem sido objeto de análise para muitos

estudiosos que debatem sua gestão nos seus mais diversos aspectos.

As condicionalidades do programa são a essência do mesmo e exige o envolvimento das

políticas setoriais como saúde, educação e assistência social. A literatura sobre o Programa

demonstra inúmeros problemas na gestão do PBF, mais especificamente devido ausência da

participação de forma integrada entre os gestores nos três níveis de governo, conselhos e

beneficiários e outros atores sociais. A gestão integrada tem se mostrado como um entrave na

gestão do PBF, o que põe em risco sua governança principalmente em nível local.

Embora a perspectiva de gestão intersetorial seja uma das mais importantes ações do

BF, as dificuldades são identificadas na busca das ações locais nesse processo, ressaltando-se

as fragilidades de infraestrutura, de equipamentos e de recursos humanos no município de

Abaetetuba, além das fragilidades identificadas pela articulação dos três níveis de governo, na

rede socioassistencial, no desenvolvimento de ações complementares, na frágil organização da

sociedade para controle social efeito do Programa.

111

Observa-se como desafio a necessidade de integração da gestão federal do Programa

com o município de Abaetetuba. A possibilidade de processo de planejamento integrado que

permita a resolução de fragilidades através de ações definidas e operacionalizas em parceria,

utilizando como estratégia a prática de encontros locais, regionais e estaduais envolvendo a

saúde, educação e assistência social, considerando esse processo uma construção e

compartilhamento com os sujeitos envolvidos na gestão do Programa.

No município de Abaetetuba, é possível destacar uma relação ainda tímida entre as

gestões local e gestão Federal do Programa, tornando uma lacuna na integração do Programa,

pois estas que tem o papel de apoiar as ações do mesmo acabam não cumprindo com o seu

papel. Conforme se identificou nesse trabalho, essa lacuna é prejudicial, uma vez que as

políticas locais possuem uma grande necessidade de apoio, numa perspectiva de relação

recíproca, no que tange o desenvolvimento das políticas regionais centradas nas gestões

estaduais de governo.

No que se refere à existência e funcionamento de serviços sócio-assistenciais e formas

de encaminhamento do público do PBF vem sendo atendido no geral pelas ações dos Centro de

Referências de Assistência Social – CRAS. Contudo, considera a possibilidade de as famílias

beneficiárias em situação de extrema pobreza serem incluídas em ações municipais,

principalmente no CRAS Quilombola que vem atuando no município de Abaetetuba através de

encaminhamentos; palestras sócio-educativas; visitas domiciliares para acompanhamento das

condicionalidades do Programa e atividades de geração de renda em parceira com Secretária de

Agricultura.

A adoção do CRAS como espaço privilegiado das famílias beneficiarias do BPF na

gestão do microterritório no município de Abaetetuba, é fundamental. Embora com uma prática

ainda incipiente, o CRASQ pode servir de prática positiva da gestão municipal por possibilitar

a articulação dos três setores, saúde, educação e assistência social, no atendimento e

encaminhamento dos membros das famílias, no sentido de atender melhor suas necessidades.

Todavia, a estrutura montada para o Programa, por meio do Ministério do Desenvolvimento

Social, ainda não oportuniza o cumprimento das condicionalidades em nível local. Por exemplo

as condicionalidades na área da Saúde, sendo as mesmas trabalhadas em conjunto com ações

pontuais pela Prefeitura de Abaetetuba para conseguir suprir as exigências do Programa.

A proposta de descentralização e municipalização, juntamente com novos mecanismos

de participação social foram fomentados pela Constituição Federal de 1988, sendo este um

marco na política social brasileira, no entanto, formas inflexíveis e centralizadoras de gestão

112

ainda são presentes. Os recursos do PBF ficam nas mãos do Governo Federal, o que retira do

município qualquer forma de autonomia, sendo este, incluído em ações macro, mas de maneira

pontual, pois a infraestrutura e todos os aspectos do município como econômicos, sociais,

geográficos, poderão favorecer ou não para um desempenho da gestão do programa em nível

local. E não se pode incorrer no erro de se desconectar essa realidade, pois o PBF não é um fim

em si mesmo, mas deve ser considerado como um momento na vida dos que dele necessita.

Assim, a necessidade de que a condução dos processos de desenvolvimento seja

coprotagonizada pelos vários atores que constroem as relações locais, isto significa a afirmação

de novos modos de relacionamento que tornam possível a articulação entre dos diferentes

setores (governo, sociedade civil, mercado) na construção dos processos de desenvolvimento.

A fim de que através dessas articulações, parcerias e redes sociais possa ocorrer mais do que

um afastamento em relação ao padrão verticalista de construção e implementação de políticas

públicas.

As reflexões desenvolvidas indicam que a efetivação da gestão intersetorial requer

mudanças nos padrões, nas ações e gestão das políticas sociais, com valorização da participação

de todos os segmentos organizados da sociedade. Isso implica em um rompimento com a

fragmentação setorial das políticas sociais, e o estabelecimento de nova institucionalidade

baseada na cooperação e parceira com o desenvolvimento de ações articuladas entre todos os

níveis de governo e a sociedade.

113

Referências Bibliográficas

ÁVILA, V. F. de (Org.). Formação educacional em desenvolvimento local: relato de estudo em

grupo e análise de conceitos. 2.ed. Campo Grande. UCDB, 2001.

AMATO NETO, J. Redes de Cooperação Produtiva e Clusters Regionais: Oportunidade para

as Pequenas e Médias Empresas. São Paulo: Atlas, Fundação Vanzolini, 2000.

ARRETCHE, Marta. “Federalismo e políticas sociais no Brasil: problemas de coordenação e

autonomia”. São Paulo, Perspec., Jun 2004, vol.18, no.2, p.17-26.

ARRETCHE, Marta. Uma contribuição para fazermos políticas sociais menos ingênuas. In:

BARREIRA, M.; CARVALHO, M. (Org.). Tendências e perspectivas na avaliação de políticas

e programas sociais, São Paulo: IEE/PUC, 2001

ALCOFORADO, Flávio. O Instituto de Governança Social: avanços e perspectivas no desenho

de um novo arranjo organizacional. In: II Congresso Consad de Gestão Pública. Brasília, 2009,

pp. 1-20.

ALMEIDA, A. W. B. Identidade, Territórios e Movimentos Sociais na Pan –Amazônia. In:

ACEVEDO MARIN, Rosa Elizabeth. & ALMEIDA. Alfredo Wagner B. de, (org). Populações

Tradicionais: questões de terra na Pan-amazônia. Belém. UNAMAZ, 2006.

BEHRING, E. R.; BOSCHETTI, I. Política social: fundamentos e história. São Paulo: Cortez,

2006.

BRESSER PEREIRA, L. C.; SPINK, P. K. (Orgs.). Reforma do Estado e administração pública

gerencial. 7. ed. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2006. 314 p.

BEHRING, E.; BOSCHETTI, I. Política Social: fundamentos e história. São Paulo: Cortez,

Biblioteca Básica de Serviço Social, 2006.

BRASIL. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Cartilha. Brasília, DF:

MDS, 2007.

______. ______. Portaria GM/MDS Nº 321, de 29 de setembro de 2008. Regulamenta a gestão

das condicionalidades do Programa Bolsa Família,revoga a portaria GM/MDS nº 551, de 9 de

novembro de 2005, e dá outras providências. Disponível em:

<http://www.mds.gov.br/bolsafamilia/legislacao1/portarias/2008/Portaria_GM_MDS_321_20

-09-08-1.pdf>. Acesso em: 20 out. 2014.

______. ______. Organograma. 2011. Disponível em: <http://www.mds.gov.br/acesso-

ainformacao/estrutura/gabinetedaministra/arquivos>. Acesso em: 06 ago. 2014.

______. ______. Secretaria Nacional de Renda e Cidadania. Análise da Pesquisa sobre Gestão

Descentralizada Programa Bolsa Família. [20--]a. Disponível em:

<http://www.mds.gov.br/bolsafamilia/menu_superior/manuais-e-publicacoes-1> Acesso em:

27 dez. 2014.

114

______. ______. Secretaria Nacional de Renda e Cidadania. Bolsa Família. [20--]b. Disponível

em: <http://www.mds.gov.br/bolsafamilia>. Acesso em: 26 nov. 2014.

______. ______. Secretaria Nacional de Renda e Cidadania. Condicionalidades. [20--]c.

Disponível em: < http://www.mds.gov.br/bolsafamilia/condicionalidades>. Acesso em: 26 nov.

2014.

______. ______. Secretaria Nacional de Renda e Cidadania. Cadastro Único. [20--]d.

Disponível em: < http://www.mds.gov.br/bolsafamilia/cadastrounico>. Acesso em: 26 nov.

2014.

______. ______. Secretaria Nacional de Renda e Cidadania. Controle Social. [20--]e.

Disponível em: <http://www.mds.gov.br/bolsafamilia/controlesocial>. Acesso em: 26 nov.

2014.

______. ______. Secretaria Nacional de Renda e Cidadania. Índice de Gestão Descentralizada

(IGD). [20--]f. Disponível em:

<http://www.mds.gov.br/bolsafamilia/gestaodescentralizada/indice-de-gestaodescentralizada-

igd>. Acesso em: 26 nov. 2013.

______. ______. Secretaria Nacional de Renda e Cidadania. Gestão Municipal. [20--]g.

Disponível em: <http://www.mds.gov.br/bolsafamilia/cadastrounico/gestao-

municipal/gestaomunicipal>. Acesso em: 26 nov. 2014.

______. ______. Secretaria Nacional de Renda e Cidadania. Plano Brasil sem miséria. [20-]h.

Disponível em: <http://www.brasilsemmiseria.gov.br/>. Acesso em: 26 nov. 2014.

______. ______. Secretaria Nacional de Renda e Cidadania. Estimativas: relatório. [20--]i.

Disponível em: <http://aplicacoes.mds.gov.br/sagi/RIv3/geral/relatorio.php#Estimativas>.

Acesso: 20 nov. 2014.

______. ______. Secretaria Nacional de Renda e Cidadania. Cadastro Único: relatório. [20-]j.

Disponível em: <http://aplicacoes.mds.gov.br/sagi/RIv3/geral/relatorio.php#Cadastro Único>.

Acesso: 20 nov. 2014.

______. ______. Secretaria Nacional de Renda e Cidadania. Benefícios: relatório. [20--]k.

Disponível em: <http://aplicacoes.mds.gov.br/sagi/RIv3/geral/relatorio.php#Benefícios>.

Acesso: 20 nov. 2014.

______. ______. Secretaria Nacional de Renda e Cidadania. Grupos populacionais tradicionais

e específicos: relatório. [20--]l. Disponível em:

<http://aplicacoes.mds.gov.br/sagi/RIv3/geral/relatorio.php#Grupos Populacionais

Tradicionais e Específicos>. Acesso: 20 nov. 2014.

______. ______. Secretaria Nacional de Renda e Cidadania. Condicionalidades: relatório. [20-

-]m. Disponível em:

<http://aplicacoes.mds.gov.br/sagi/RIv3/geral/relatorio.php#Condicionalidades>. Acesso: 20

nov. 2014.

______. ______. Secretaria Nacional de Renda e Cidadania. Índice de gestão descentralizada:

relatório. [20--]n. Disponível em:

115

<http://aplicacoes.mds.gov.br/sagi/RIv3/geral/relatorio.php#Índice de Gestão

Descentralizada>. Acesso: 20 nov. 2014.

______. ______. Secretaria Nacional de Assistência Social. Política Nacional de Assistência

Social – PNAS / 2004. 2005. Disponível em:

<http://www.mds.gov.br/assistenciasocial/arquivo/Politica%20Nacional%20de%20Assistenci

a%20Social%202013%20PNAS%202004%20e%202013%20NOBSUASsem%20marca.pdf>.

Acesso em: 28 set. 2014.

______. Presidência da República. Lei nº 10.836, de 09 de janeiro de 2004. Cria o Programa

Bolsa Família e dá outras providências. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2004/lei/l10.836.htm>. Acesso em: 20

ago. 2014.

______. Presidência da República. Lei nº 8.742, de 7 de dezembro de 1993. Dispõe sobre a

organização da Assistência Social e dá outras providências. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8742.htm>. Acesso em: 30 set. 2014

.

______. Presidência da República. Decreto 7.493 de 02 de junho de 2011. Aprova a Estrutura

Regimental e o Quadro Demonstrativo dos Cargos em Comissão e das Funções Gratificadas do

Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Disponível em:

<http://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/2011/decreto-7493-2-junho-2011-610734norma-

pe.html>. Acesso em: 21 set. 2014.

CABUGUEIRA, A. C. Do desenvolvimento regional ao desenvolvimento local: análise de

alguns aspectos de política econômica regional. Gestão e Desenvolvimento, v. 1, n. 9, p. 103 -

136, 2000. Disponível em:< http://www4.crb.ucp.

CLAXTON, Mervyn. Cultura y desarrolo. Estúdio Paris: UNESCO, 1994.

CAMARGO, José Márcio. Pobreza e garantia de renda mínima. Folha de S. Paulo, São Paulo,

26 dez.1991.

CAMPOS, Edval; MACIEL, Carlos Alberto Batista. Conselhos Paritários: o enigma da

participação e da construção democrática. Serviço Social e Sociedade, São Paulo:

Cortez, n. 55, p 143-155., 1997.

CANÇADO, Airton Cardoso; TENORIO, Fernando Guilherme; PEREIRA, José Roberto.

Gestão social: reflexões teóricas e conceituais. Cad. EBAPE.BR.vol.9, n.3, p. 681-703, 2011.

CANÇADO, Airton C.; TENÓRIO, Fernando G.; SILVA JR.; Jeová T. (Orgs.). Gestão social:

aspectos teóricos e aplicações. Coleção Enapegs e Coleção Gestão e Desenvolvimento. Ijuí: Ed.

Unijuí, 2012. 456p.)

CARVALHO, M.C.B. A reemergência da Solidariedades Microterritoriais na formatação da

Política Contemporânea. São Paulo em Perspectiva, Revista da Fundação Seade, vol.11, nº4,

out-dez/1997. São Paulo

CARVALHO, M. C. B. A priorização da família na agenda da política social . Família brasileira

a base de tudo. Unicef, Cortez, 1994.

116

CARVALHO, A. G. Governança corporativa no Brasil em perspectiva. Revista de

Administração da USP, V.37, n.3, pp. 19-32, 2002.

CARNEIRO, Mauricéia L.N.da C. A estratégia do trabalho em rede no SUAS/CRAS Teresina-

PI: uma experiência em movimento. Tese (Doutorado em Serviço Social). Programa de Pós-

graduação em Serviço Social. São Paulo: PUC, 2009.

COMPANHOLA, C.; SILVA, J. G. Desenvolvimento local e a democratização dos espaços

rurais. Cadernos de Ciência e Tecnologia, Brasília, DF, v.17, p. 11-40, 2000.

COSTA, E. J. M. da. Planejamento territorial, gestão de políticas públicas e descentralização

regional: a experiência do estado do Pará. Revista DRd – Desenvolvimento Regional em

Debate. n.1, dez. 2011.

DABAS, Eliana. De la desestructuración de lo macro a la estructuración de lo micro: las redes

sociales en la reconstrución de la sociedad civil, In: DABAS, E; NAJMANOVICH, D.(Org.).

Redes el lenguaje de los vínculos: hacia la reconstrucción y el fortalecimiento de la sociedad

civil. Buenos Aires: Paidós, 1995. p. 420-55

DIAS, Reinaldo. Turismo e patrimônio cultural: os recursos que acompanham o crescimento

das cidades. São Paulo: Saraiva, 2006

DIAS, M.A.; SILVA, M. E. O Programa Bolsa Família no município de Bacabal-Maranhão:

avaliação do processo de implementação com o foco nas condicionalidades

(ISBN:9788574632841). In: GUIMARÃES, S. J; FERREIRA, Maria D'alva. (Org.). Caderno

de Políticas Públicas: Estado e Sociedade. 02 ed. Teresina: EDUFPI, 2009, v. 02, p. 03-226.

ENTENDA melhor o IGD e a transferência de recursos aos municípios para apoio à gestão.

Bolsa Família Informa, n. 41. [20--]. Disponível em: <http://www.mds.gov.br/bolsafamilia.

Acesso em: 03 jan. 2015.

FARAH, M. Parcerias, Novos Arranjos Institucionais e Políticas Locais. In: O município no

século XXI – Cenários e perpectivas. São Paulo: edição especial/CEPAM – Fundação Prefeito

Faria Lima/1999

FARAH, M. Temas emergentes em gestão e políticas públicas:tendências gerais. Cadernos

Gestão Pública e Cidadania, n. 48, p. 43-66, 2006.

FRANÇA FILHO. Definido Gestão Social. In: SILVA JR, J. T.; MÂISH, R. T.; CANÇADO,

A. C. Gestão Social: Práticas em debate, teorias em construção. Fortaleza: Imprensa

Universitária, 2008.

FREY, K. Governança Urbana e Participação Pública. RAC- Eletrônica, v. 1, n 1, p.136-150,

jan /abril. 2007. Disponível em: <www.anpad.org.br/rac-e>. Acesso em: 10 jul. 2014.

FISCHER, T. Poderes locais, desenvolvimento e gestão – uma introdução a uma agenda. In:

FISCHER, T. M. D.(Org.). Gestão do desenvolvimento e poderes locais: marcos teóricos e

avaliação. Salvador: Casa da Qualidade, 2002. p.12-32.

117

FISCHER, Tânia et al. Perfis visíveis na gestão social do desenvolvimento. Revista de

Administração Pública [online]. vol. 40, n. 5, 2006. p. 789-808. ISSN 0034-7612. Disponível

em http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-

76122006000500003&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 15 abr. 2014.

GANEV, Eliane . O trabalho social com famílias nos CRAS: desafios e potencialidades para os

próximos anos. In: VI Encontro Nacional de Pesquisadores em Gestão Social - ENAPEGS,

2012, São Paulo. ANAIS do VI ENAPEGS, 2012.

GEERTZ, Clifford. A interpretação das culturas, Rio de Janeiro : LTC Editora, 1989.

GOULART, S. V.; M. F. COSTA; C. F. KNOPP, G DA C. Articulações em rede e

acontecimentos no território: subsídios teóricos para a formação de políticas públicas para o

desenvolvimento. CADERNOS EBAPE. BR, Rio de Janeiro, RJ, v. 8, n. 3, artigo 1, set. 2010.

GOVERNO Federal regulamenta apoio financeiro aos municípios para gestão do Bolsa

Família. Bolsa Família Informa , n.38. [20--]. Disponível em:

<http://www.mds.gov.br/bolsafamilia/menu_superior/informe-pbf/informe-pbf

gestores/paginas/informebolsafamilia_edicao38.htm>. Acesso em: 02 jan. 2014

GIDDENS, Anthony. Modernidade e Identidade. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2002.

GUBERMAN, G.; KNOPP, G. Monitorando e Avaliando Objetivos e Metas em Modernização

da Gestão: o que é praticado avalia? In: XIV Congreso Internacional del CLAD sobre la

Reforma del Estado y de la Administración Pública. Salvador de Bahia, Brasil, 2009, pp.1-29

HALL, Stuart. Identidade Cultural na Pós-Modernidade. Rio de Janeiro: DP&A Editora, 2004.

104p

INOJOSA, R. M. Intersetorialidade e a configuração de um paradigma organizacional. In.:

Revista de Administração (RAP). Rio de Janeiro, nº32(2), 1998

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA – IBGE. Censo 2010.

Brasília, DF: IBGE, 2010.

INSTITUTO DE PESQUISA ECONÔMICA APLICADA – IPEA. Boletim de Políticas Sociais

– Acompanhamento e Análise, Brasília, n. 17, fev. 2010a.

______. Políticas setoriais e transversais da política social brasileira – 2010. Disponível em:

<http://www.idesp.pa.gov.br/paginas/produtos/EstatisticaMunicipal/pdf/Abaetetuba.pdf>.

Acesso em: 14 nov. 2013.

INSTITUTO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS EDUCACIONAIS ANÍSIO

TEIXEIRA – INEP. Taxa de distorção idade-série no Ensino Fundamental e Ensino Médio –

2012. Disponível em: <http://portal.inep.gov.br/indicadores-educacionais/>. Acesso em: 10

nov. 2014.

JUNQUEIRA, L.A. P. et al. Parcerias e redes sociais: A busca pela gestão social eficaz – um

estudo de caso. 2009. Trabalho apresentado ao 3º Encontro Nacional de Pesquisadores em

Gestão Social, Juazeiro/Petrolina, 2009.

118

________,_______. Intersetorialidade, transetorialidade e redes sociais na saúde. In: Revista de

Administração Pública – RAP, Rio de Janeiro 34(6):35-45, Nov. /Dez. 2000.

JUNQUEIRA, L. A. P.; NASCIMENTO, C. M. do. Rede e capital social na gestão da Pastoral

da Criança. In: CANÇADO, A. C; SILVA JUNIOR, J. T.; TENÓRIO, F. G. (orgs.). Gestão

social: aspectos teóricos e aplicações. Ijuí: Ed. Unijuí, 2012. p. 37-56.

JUNQUEIRA, L. A. P; INOJOSA, R. M. Desenvolvimento social e intersetorialidade: a cidade

solidária. São Paulo: FUNDAP, 1997.

KASHIMOTO, E. M.; MARINHO, M.; RUSSEFF, I. Cultura, identidade e desenvolvimento

local: conceitos e perspectivas para regiões em desenvolvimento. Interações -Revista

Internacional de Desenvolvimento Local, Campo Grande, v. 3, n. 4, p. 35-42, 2002.

KERSTENETZKY, C. L. Redistribuição e desenvolvimento?: A Economia Política do

Programa Bolsa Família. Dados: Revista de Ciências Sociais, Rio de Janeiro, v. 52, n. 1 , p. 53-

83. maio 2009.

KISSLER, L.; HEIDEMANN, F. G. Governança pública: novo modelo regulatório para as

relações entre Estado, mercado e sociedade?. Rev. Adm. Pública . 2006, vol.40, n.3, pp. 479-

499.

KLIKSBERG, Bernardo. Falácias e mitos do desenvolvimento local. São Paulo: Cortez, 2001.

KNOPP, Glauco. Cultura e desenvolvimento local: um estudo do Programa Bairro Escola da

Cidade de Nova Iguaçu. Rio de Janeiro: FGV/EBAPE, 2008.

KNOPP, G.; ALCOFORADO, F. Governança Social, intersetorialidade e territoriedade em

políticas públicas: o caso da OSCIP Centro Mineiro de Alianças Intersetoriais (CEMAIS). III

CONGRESSO CONSAD DE GESTÃO PÚBLICA. 2010. Anais... [s.n], 2005. Disponível em:

<http://www2.ufpa.br/enebd/home.htm>. Acesso em: 11 fev. 2011.

MARTIN, José Carpio. Perspectivas de desarrollo local. Campo Grande: UCDB, 1999.

LAVINAS, L. Universalizando direitos. Revista Observatório de cidadania - relatório 2004:

medos e privações - obstáculos à segurança humana. Rio de Janeiro: IBASE, março de 2004.

p. 67-74

______. Pobreza e exclusão: traduções regionais de duas categorias da prática. Revista

Econômica, v.4, n.1, p.25-59, jun. 2002.

______. et al. Combinando o compensatório e o redistributivo: o desafio das políticas sociais

no Brasil. Texto para discussão n. 748. Rio de Janeiro: IPEA, jul. 2000, p.1-29

LEFEVRE, C. Building metropolitan governments in Europe: 1960-2000. From Functional to

Political Legitimacy. Paper presented to the International Forum on Metropolization. Santa

Cruz, Bolivia, March, 1999

119

LICIO, E.C; MESQUITA, C. S; CURRALERO, C. R. Desafios para a Coordenação

Intergovernamental do Programa Bolsa Família. ERA. São Paulo, v. 51. n. 5, p. 458-470,

set/out. 2011.

LINDBLOM, C. The policy making process. Prentice Hall, 1980.

MELO, M. A. B.C. de. Ingovernabilidade: desagregando o argumento. In: VALLADARES, L;

COELHO, M.P. Governabilidade e pobreza no Brasil. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira,

1995. p.30.

MINAYO, Maria Cecília de Souza (Org.). Avaliação por Triangulação de métodos: abordagem

de programas sociais. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2005.

MONNRAT, G.L.; MAIA, M.C; SCHOTTZ, V. As condicionalidades do Programa Bolsa

Família: questões para o debate. Trabalho apresentado no X Encontro Nacional de

Pesquisadores em Serviço Social, Recife, 2006

MONTEIRO, Doraliza Auxiliadora Abranches; FERREIRA, Marco Aurélio Marques;

TEIXEIRA, Karla Maria Damiano. Determinantes da gestão do Programa Bolsa Família:

análise do índice de gestão descentralizada em Minas Gerais. Saude soc. [online]. v.18, n.2, p.

214-226. 2009. Disponível em: <http://dx.doi.org/10.1590/S0104-12902009000200005.>

Acesso em: 10 nov. 2014.

O PAPEL do gestor municipal do Bolsa Família. Bolsa Família Informa, n. 4. [20--].

Disponível em: <http://www.mds.gov.br/bolsafamilia/menu_superior/informe-

pbfgestores/paginas/informebolsafamilia_edicao04.htm>. Acesso em: 03 jan. 2014.

ORTIZ, L. Descentralização e a municipalização da saúde. 2002. Disponível em:

<http://www.comciencia.br/reportagens/ppublicas/pp06.htm>. Acesso em: 25 nov. 2014.

.

PREFEITURA MUNICIPAL DE ABAETETUBA. Secretaria Municipal de Assistência Social.

Plano Plurianual 2010-2013. Abaetetuta, PA: SEMAS, 2009.

______. Secretaria Municipal de Assistência Social. Relatório de Gestão, 2013. Abaetetuta, PA:

SEMAS, 2013.

POCHMANN, Márcio (Org.). Reestruturação produtiva: perspectivas de desenvolvimento

local com inclusão social. Petrópolis: Vozes, 2004

SACHS, Ignacy. Caminhos para o desenvolvimento sustentável. Rio de Janeiro: Garamond,

2000

SANTOS, M. O Espaço do Cidadão. 7ed.,São Paulo: Edusp, 2012

SEM, A. Desenvolvimento como liberdade. São Paulo: Companhia da Letras, 2000

SILVA, D.C. Condicionalidades e Enfrentamento à Pobreza: intersetorialidade gestão de

Política de Assistência Social. Trabalho apresentado no XII Encontro Nacional de

Pesquisadores em Serviço Social, Rio de Janeiro, 2010

120

SILVA, M. O. Os limites da focalização e a transição para uma renda básica de cidadania: o

Bolsa Família no Brasil. In: XIII International BIEN Congress, São Paulo, 2010

________. O Bolsa Família: problematizando questões centrais na política de transferência de

renda no Brasil. Revisa Ciência Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v.12, n.6, nov./dez. 2007.

________. O Bolsa Família: problematizando os limites da focalização e impactos para redução

da pobreza e desigualdade social no Brasil. In: XII Encontro Nacional de Pesquisadores em

Serviço Social - ENPESS, Rio de Janeiro, 2010

SILVA, M. O.S; YAZBEK, M. C.; GIOVANNI, G. Di. A política social brasileira no século

XXI: a prevalência dos programas de transferência de renda. São Paulo: Cortez, 2008.

SILVA, M. O. S.; LIMA, Valéria Ferreira Santos de Almada. Avaliando o Bolsa Família:

unificação, focalização e impactos. São Paulo: Cortez, 2010.

SILVA, Pedro Luiz Barros e MELO, Marcus André Barreto. O processo de implementação de

políticas públicas no Brasil: características e determinantes da avaliação de programas e

projetos. NEPP/UNICAMP, Caderno n° 48, 2000. Disponível em

<http://www.nepp.unicamp.br/>. Acesso em: 10 nov. 2014.

SOUZA, R.G. Da seguridade Social à Intersetorialudade: reflexões sobre a integração das

políticas sociais no Brasil. Revista Katálisys, v.14, n1, 2011, p.41-49

SOUZA, R. P. Avaliação e gestão de políticas públicas: notícias de uma relação muito delicada.

Trabalho apresentado ao XI Congresso Internacional del CLAD sobre la Reforma del Estado y

de la Administración Pública, Ciudad de Guatemala, 2004

SPOSATI, A. Exclusão social abaixo da linha do Equador. In: VÉRAS, M. P. B.; SPOSATI,

A.; KOWARICK, L. (Ed.). O debate com Serge Paugan. Por uma sociologia da exclusão social.

São Paulo: EDUC, 1999, p. 126-138

SUPLICY, Eduardo Matarazzo. Renda de cidadania: a saída é pela porta. São Paulo: Cortez,

2002.

TAVARES, H. M. Políticas de desenvolvimento regional nos países do “centro” e no Brasil.

In: Planejamento e Território, ensaios sobre a desigualdade. Cadernos IPPUR/UFRJ, Rio de

Janeiro, ano 15, n. 2, ago.-dez. 2001; ano 16, n. 1, jan.-jul. 2002, p. 229-248.

TENÓRIO, Fernando G. Gestão Social: uma perspectiva conceitual. Revista de Administração

Pública, Rio de Janeiro: FGV, set./out.1998. ______. Tem razão a Administração? Ensaios de

teoria organizacional e gestão social. Ijuí: Editora da Unijuí, 2004.

________. Cidadania e desenvolvimento local. Rio de Janeiro: FGV; Ijuí: Editora da Unijuí,

2007.

________. (Re) Visitando o Conceito de Gestão Social. Desenvolvimento em questão. Editora

Unijuí, ano 3, n. 5, p. 101-124, jan./jun. 2005. Disponível em:

<http://www.revistas.unijui.edu.br/index.php/desenvolvimentoemquestao/article/download/10

8/65>. Acesso em: 30 jan. 2014.

121

TEÓDOSIO, A.S. Parcerias Tri-Setoriais: Para Além de Simplismo e Dualidades sobre as

Interações entre Atores do Estado, Sociedade Civil e Mercado. In: XXIII ENCONTRO DA

ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA EM

ADMINISTRAÇÃO - ENANPAD, 2009, São Paulo. Anais... São Paulo, 2009a.

TEIXEIRA, Joaquina Barata. O desafio da inclusão social no cenário atual brasileiro e

amazônico. IN: SHERER, Elenise (Org.). Questão social na Amazônia. Manaus: EDUA, 2009

TEIXEIRA, R. Acolhimento num serviço de saúde entendido como uma rede de conversações.

In: PINHEIRO, R; MATTOS, R. (Org.). Construção da Integralidade – cotidiano, saberes e

práticas em saúde. Rio de Janeiro, 2012

TORO, Bernardo J. Mobilização social: um modelo de construir a democracia. Ed

Autêntico.2004.

VASCONCELLOS SOBRINHO, M. VASCONCELLOS, A. M. A. Gestão Participativa,

parceria e conflitos por poder no contexto de programas para o desenvolvimento local na

Amazônia. IN: VI ENCONTRO NACIONAL DE PESQUISADORES EM GESTÃO SOCIAL

– ENAPEGS, Gestão Social e Gestão Pública: Interfaces e Delimitações, 2010, Lavras. Anais...

Minas Gerais, 2010.

VÁZQUEZ, B. A. Desenvolvimento Endógeno em Tempos de Globalização. São Paulo:

UFRGS, 2002.

VEIGA, José Eli da. Desenvolvimento sustentável: o desafio do século XXI. Rio de Janeiro:

Garamond, 2005

VILLELA, L. E.; PINTO, M. C. S. Governança e gestão social em redes empresariais: análise

de três arranjos produtivos locais (APLs) de confecções no estado do Rio de Janeiro.

RAPRevista de Administração Pública, Rio de Janeiro: FGV, p. 1067-89, set./out. 2009.

Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/rap/v43n5/v43n5a05.pdf>. Acesso em: 10 jul. 2014.

VIEIRA, Evaldo. Os direitos e a política social. São Paulo: Cortez, 2004

YIN, Robert K. Estudo de caso: planejamento e métodos. 3. ed. Porto Alegre: Bookman, 2005

WEISSHEIMER, Marco Aurélio. Bolsa Família: Avanços, limites e possibilidades do

programa que está transformando a vida de milhões de famílias no Brasil. São Paulo: Fundação

Perseu Abramo, 2006.

ZELDIN, S.; CAMINO, L.;CALVERT, M. Toward an understanding of youth in community

governance: Policy priorities and research directions . Aná. Psicológica[online]. vol.25, n.1, pp.

77-95, 2007

ZIMMERMAN, Clóvis Roberto. O Programa Bolsa Família sob a ótica dos direitos humanos.

In: Seminário sobre programa de transferência de renda, 2006, São Luís. Anais. São Luís:

EDUFMA, 2006. p.129-138

122

ZIMMERMAN, C. R; LIMA, J.R. Direito Humano à Alimentação e Terra Rural. Curitiba:

Plataforma Dhesca Brasil, 3. Vol, 2008.