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UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA FACULDADE DE TECNOLOGIA DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL E AMBIENTAL ANÁLISE DO COMPORTAMENTO DE SAPATAS ESTAQUEADAS MAURÍCIO MARTINES SALES ORIENTADOR: RENATO PINTO DA CUNHA CO-ORIENTADOR: MARCIO MUNIZ DE FARIAS TESE DE DOUTORADO EM GEOTECNIA PUBLICAÇÃO: G.TD - 002A/00 BRASÍLIA/DF: MAIO/2000

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UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA

FACULDADE DE TECNOLOGIA

DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL E AMBIENTAL

ANÁLISE DO COMPORTAMENTO DE SAPATAS ESTAQUEADAS

MAURÍCIO MARTINES SALES

ORIENTADOR: RENATO PINTO DA CUNHA CO-ORIENTADOR: MARCIO MUNIZ DE FARIAS

TESE DE DOUTORADO EM GEOTECNIA

PUBLICAÇÃO: G.TD - 002A/00

BRASÍLIA/DF: MAIO/2000

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UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA FACULDADE DE TECNOLOGIA

DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL E AMBIENTAL

ANÁLISE DO COMPORTAMENTO DE SAPATAS ESTAQUEADAS

MAURÍCIO MARTINES SALES

TESE DE DOUTORADO SUBMETIDA AO DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL E AMBIENTAL DA FACULDADE DE TECNOLOGIA DA UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA, COMO PARTE DOS REQUISITOS NECESSÁRIOS PARA A OBTENÇÃO DO GRAU DE DOUTOR EM CIÊNCIAS. APROVADA POR : RENATO PINTO DA CUNHA, PhD. (UnB) (ORIENTADOR) MÁRCIO MUNIZ DE FARIAS, PhD. (UnB) (CO-ORIENTADOR) JOSÉ HENRIQUE FEITOSA PEREIRA, PhD. (UnB) (EXAMINADOR INTERNO) PEDRO MURRIETA SANTOS NETO, DSc. (UnB) (EXAMINADOR INTERNO) NELSON AOKI, DSc. (EESC-USP) (EXAMINADOR EXTERNO) FERNANDO SCHNAID, PhD. (UFRGS) (EXAMINADOR EXTERNO) DATA: BRASÍLIA/DF, 25 DE MAIO DE 2000

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FICHA CATALOGRÁFICA SALES, MAURÍCIO MARTINES

Análise do Comportamento de Sapatas Estaqueadas [Distrito Federal] 2000.

xxvii, 229p., 297x210mm (ENC/FT/UnB, Doutor, Geotecnia, 2000).

Tese de Doutorado - Universidade de Brasília. Faculdade de Tecnologia.

Departamento de Engenharia Civil e Ambiental.

1.Sapata Estaqueada 2.Provas de Carga

3.Analise Numérica 4.Fundações Mistas

I.ENC/FT/UnB II.Título (série)

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

SALES, M. M., 2000. Análise do Comportamento de Sapatas Estaqueadas. Tese de

Doutorado, Publicação G.TD/002A, Departamento de Engenharia Civil e Ambiental,

Universidade de Brasília, Brasília, DF, 229p.

CESSÃO DE DIREITOS

NOME DO AUTOR: Maurício Martines Sales

TÍTULO DA TESE DE DOUTORADO: Análise do Comportamento de Sapatas Estaqueadas.

GRAU / ANO: Doutor / 2000

É concedida à Universidade de Brasília permissão para reproduzir cópias desta tese de

doutorado e para emprestar ou vender tais cópias somente para propósitos acadêmicos e

científicos. O autor reserva outros direitos de publicação e nenhuma parte desta tese de

doutorado pode ser reproduzida sem autorização por escrito do autor.

Maurício Martines Sales Rua 25-A, Qd. 61A, Lt. 17/18, Ed. Vienna, apt. 1002 – Setor Aeroporto CEP: 74070-150 - Goiânia/GO - Brasil

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DEDICATÓRIA A Raquel e aos nossos filhos, Caio e Tiago

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AGRADECIMENTOS A Deus; Aos Professores Renato Pinto da Cunha e Márcio Muniz de Farias pela orientação e incentivo durante todo o curso de doutorado; A todos os professores do Programa de Pós-Graduação em Geotecnia da UnB pelos conhecimentos transmitidos, amizade, respeito e constante incentivo durante toda a trajetória desta pesquisa; A todos os colegas de Geotecnia pela convivência e amizade em todos os momentos do curso, e em especial ao amigo Neemias A. Jardim por tão grande colaboração na execução das provas de carga; À Escola de Engenharia Civil – UFG pelo apoio e incentivo para a conclusão deste curso da melhor forma possível; Aos Prof. Harry G. Poulos e John C. Small, da University of Sydney (Australia), por terem me recebido tão bem e me apoiado em todo o tempo despendido naquele país; Ao Laboratório de Materiais da UnB, pelos testes de calibração das células de carga e toda ajuda na preparação do concreto. Uma deferência especial aos amigos Xavier e Severino, que nunca mediram esforços para colaborar; Ao Laboratório de Estruturas da UnB, nas pessoas da Enga Eliane e o Técnico Leonardo, pela cooperação na execução das provas de carga e diversos outros testes; À empresa WRJ (Renato S. Cortopassi) e ao Prof. Dickan Berberian, pela colaboração nos preparativos dos testes e sistema de reação, respectivamente. Ao Prof. Pedricto Rocha Filho, por ter sempre me incentivado a retomar a carreira acadêmica; Ao Engo Wilson Luiz da Costa, por ter me dado a oportunidade de “viver” a Geotecnia tão intensamente; A CAPES pelo auxílio financeiro durante o curso de doutorado, inclusive na etapa da pesquisa desenvolvida em Sydney na Austrália; Ao Prof. Geraldo Faria Campos da UFG, pelas sugestões no texto deste volume. Aos meus pais Geraldo e Antônia pelo apoio e compreensão durante toda a vida; A minha esposa Raquel, pela infinita compreensão e disposição em me acompanhar ao outro lado do mundo em prol de minha pesquisa; A meus filhos, razão maior de todo este esforço.

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RESUMO

A presente tese faz uma revisão crítica do comportamento de uma sapata estaqueada, e

também radier estaqueado, apresentando definições, a motivação de seu estudo, os trabalhos

pioneiros e o desempenho de obras que empregaram sapatas e radier estaqueados. São

apresentados os métodos desenvolvidos para o cálculo deste tipo de fundação, tanto na etapa

de cálculos preliminares, como na fase de um maior detalhamento. Comenta-se a respeito de

diversos programas computacionais desenvolvidos especialmente para estas fundações, e que

combinaram diferentes ferramentas numéricas.

Alguns casos clássicos de radier estaqueados foram re-analisados, empregando-se um

método misto e um programa em elementos finitos (3-D) para avaliar a proximidade dos

resultados destes programas com os valores obtidos pelos autores dos casos considerados.

Além de uma calibração, estas análises apontaram algumas diferenças entre os resultados

obtidos por diferentes ferramentas numéricas, mostrando que se deve ter cuidado ao comparar

os resultados de programas com diferentes bases numéricas para este tipo de fundação.

Nove provas de carga foram realizadas no Campo Experimental da UnB, para avaliar

o desempenho de elementos isolados, bem como associados na forma de grupo ou sapatas

estaqueadas. Os testes foram realizados tanto na condição natural de umidade do solo, como

na situação pré-inundada. Estes resultados são analisados e comparados com as previsões

feitas pelo método híbrido (GARP), a partir da retroanálise dos ensaios de estaca e sapata

isoladas. Este procedimento conseguiu prever bem os resultados de campo em termos de

capacidade de carga, resposta carga x recalque do sistema de fundação e parcela de carga

absorvida por cada elemento de tal sistema, mesmo se tratando de um solo parcialmente

saturado e colapsível.

Finalmente, foi proposta uma nova metodologia para considerar a resposta de estacas

totalmente mobilizadas em situações de “sapatas estaqueadas”. Este novo método foi

implementado no programa GARP, denominando-se esta nova versão por GARP7, bem como

apresentada na forma de equações simples, passíveis de serem usadas na fase preliminar do

projeto de uma sapata estaqueada. Aplicou-se este novo método a dois dos testes realizados

no Campo Experimental da UnB e também a outros dois encontrados na literatura, tendo o

novo método simulado de forma mais satisfatória os resultados experimentais. Ressalta-se,

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ainda, que as equações simplificadas apresentaram uma excelente concordância com os

resultados do GARP7 em todos os exemplos apresentados.

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ABSTRACT

A review of the piled footing behaviour, as well the piled raft response, was carried

out in the present thesis. It also pointed out definitions, the motivation of its study, the pioneer

studies, and case histories where piled rafts/footings were used. The methods developed for

the design of this type of foundations are presented, even to the preliminary stage of design,

as well to the detailed final stage of design. Comments are done in regard to several programs

specially developed for these foundations, in which different numerical tools were mixed.

Some classical cases of piled rafts were re-analysed using an approximated method

and a full 3-D finite element program to compare the proximity between the obtained results

and values presented by the authors of these analysed cases. Besides a calibration, these

analyses pointed out some differences between the results obtained with distinct numerical

tools, showing that everyone must be careful when comparing results of programs based on

different numerical backgroud on the analysis of this kind of foundation.

Nine field loading tests were carried out at the UnB Experimental Field to evaluate the

behaviour of single elements, when associated as a pile group and as piled footings. These

tests were carried out with the soil in both its natural moisture content and in a pre-inundated

condition. The tests results were analysed and crosscompared with the predictions of an

approximated method, GARP, using input parameters backfigured from single pile and

isolated footing tests. This approach was able to predict reasonably well the measured field

values in terms of load capacity, load x settlement system response and the shared load

between each foundation element, even to an unsaturated and collapsible soil.

It was finally proposed a new approach to consider the response of totally mobilized

piles in piled footings. This new method was implemented in a new version of the software

GARP, herein denominated GARP7. The method was also presented in a format of simplified

expressions to allow the use of this idea in preliminary stages of a piled raft/footing design.

This method was tested against two of the field tests carried out at the UnB Experimental site,

as well as against other two literature tests. In all cases the new method presented results with

a better agreement with the measured field behaviour. It was also pointed out the excellent

agreement between the results of the simplified expressions and those numerical values from

GARP7 in all shown examples.

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ÍNDICE

Item Página

1 – INTRODUÇÃO 1

1.1 – OBJETIVOS DA TESE 2

1.2 – ESTRUTURA DA TESE 2

2 – REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 4

2.1 – FUNDAMENTOS TEÓRICOS 5

2.1.1 – Sistema de fundação 5

2.1.2 – Sapata estaqueada e radier estaqueado 5

2.1.3 – Mobilização do atrito lateral nas estacas 6

2.1.4 – Rigidez de uma estaca 8

2.1.5 – Estacas como elementos redutores de recalque 10

2.2 – TRABALHOS PIONEIROS 11

2.3 – OBSERVAÇÕES EXPERIMENTAIS 14

2.3.1 – Testes em laboratório 15

2.3.2 – Testes em centrífuga 17

2.3.3 – Testes de campo 19

2.3.4 – Desempenho de obras 23

2.3.4.1 – Messeturm (Alemanha) 23

2.3.4.2 – Torhaus (Alemanha) 27

2.3.4.3 – Westend St. 1 (Alemanha) 28

2.3.4.4 – Treptowers (Alemanha) 30

2.3.4.5 – QV1 (Austrália) 30

2.3.4.6 – Ed. Akasaka (Brasil) 31

2.3.4.7 – Edifício residencial de cinco pavimentos em Tókio

(Japão) 33

2.4 – MÉTODOS DE ANÁLISE 34

2.4.1 – Métodos simplificados 34

2.4.1.1 – Correlações empíricas 34

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2.4.1.2 – Fundações equivalentes 38

2.4.1.3 – Métodos baseados na teoria da elasticidade 40

2.4.1.4 – Método de “suportes de reação constante” 46

2.4.2 – Métodos detalhados 47

2.4.2.1 – Análise utilizando o Método dos Elementos de Contorno 47

2.4.2.2 – Análise utilizando o Método dos Elementos Finitos 49

2.4.2.3 – Análises combinando mais de um método 52

2.5 – CONCEPÇÕES E ESTRATÉGIAS DE PROJETO 55

2.6 – EFEITO DA PRESENÇA DE SOLOS COLAPSÍVEIS 59

2.6.1 – Processos de inundação 60

2.6.2 – Forma da realização das provas de carga para estudo do colapso 61

2.6.3 – Estaca virgem x reensaio 63

2.6.4 – Trabalhos anteriores em solo colapsível 63

3 – COMPARAÇÃO DO DESEMPENHO DE ALGUNS MÉTODOS 66

3.1 – UM CASO DE UMA ESTACA ISOLADA 67

3.2 – BUTTERFIELD & BANERJEE (1971a) 69

3.3 – OTTAVIANI (1975) 72

3.4 – KUWABARA (1989) 76

3.5 – RADIER SOBRE 16 ESTACAS – TC-18 81

3.6 – RUSSO & VIGGIANI (1997) 85

3.7 – PRINCIPAIS OBSERVAÇÕES DAS ANÁLISES EFETUADAS 88

4 – MATERIAIS, ENSAIOS E MÉTODOS 89

4.1 – DESCRIÇÃO DO SOLO LOCAL 89

4.2 – PREPARAÇÃO DOS ENSAIOS 103

4.2.1 – Estaca metálica 103

4.2.2 – Instrumentação com célula de carga 106

4.2.3 – Escavação e concretagem dos elementos de fundação 111

4.2.4 – Sistema de reação 115

4.2.5 – Aplicação de carga e leituras 117

4.3 – PROVAS DE CARGA REALIZADAS 118

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5 – ANÁLISE DOS RESULTADOS DAS PROVAS DE CARGA 122

5.1 – ENSAIOS EM SOLO COM CONDIÇÃO NATURAL DE UMIDADE 123

5.1.1 – Sapata isolada (teste I) 123

5.1.2 – Estaca isolada (teste II) 129

5.1.3 – Sapata sobre uma estaca (teste III) 133

5.1.4 – Grupo de quatro estacas (teste IV) 136

5.1.5 – Sapata sobre quatro estacas já testadas (teste V) 139

5.1.6 – Sapata sobre quatro estacas virgens (teste VI) 144

5.2 – ENSAIOS EM SOLO PRÉ-INUNDADO 152

5.2.1 – Sapata isolada (teste VII) 152

5.2.2 – Estaca isolada (teste VIII) 154

5.2.3 – Sapata sobre uma estaca (teste IX) 156

5.3 – ANÁLISE DA CAPACIDADE DE CARGA DAS FUNDAÇÕES

ENSAIADAS 159

6 – PROPOSTA DE UM NOVO MÉTODO 161

6.1 – FORMA USUAL DE CONSIDERAR A ESTACA TOTALMENTE

MOBILIZADA EM UMA SAPATA ESTAQUEADA 162

6.1.1 – Exemplo da utilização dos métodos atuais em dois casos 166

6.1.2 – Incoerência na forma de considerar as estacas após

sua completa mobilização 175

6.2 – MÉTODO PROPOSTO 179

6.3 – EQUAÇÕES DO MÉTODO SIMPLIFICADO 182

6.4 – REAVALIAÇÃO DOS ENSAIOS DA UnB COM O NOVO

MÉTODO 188

6.4.1 – Solo com umidade natural 188

6.4.2 – Solo pré-inundado 190

6.5 – ANÁLISE DE ALGUNS CASOS DA LITERATURA 191

7 – CONCLUSÕES E SUGESTÕES 196

7.1 – OBSERVAÇÕES GERAIS 196

7.2 – CONCLUSÕES 202

7.3 – SUGESTÕES PARA PESQUISAS FUTURAS 202

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 204

APÊNDICE A – CONCEPÇÃO DO PROGRAMA GARP 215

A.1 – RADIER 216

A.2 – DESLOCAMENTOS DO SOLO 216

A.3 – MODELAGEM DAS ESTACAS 218

A.4 – INTERAÇÃO ENTRE AS ESTACAS E OS ELEMENTOS DO

RADIER 219

A.5 – COMPATIBILIDADE ENTRE OS DESLOCAMENTOS 219

APÊNDICE B – RESULTADOS BÁSICOS DAS PROVAS DE CARGA 220

B.1 – SAPATA ISOLADA (TESTE - I) 221

B.2 – ESTACA ISOLADA (TESTE - II) 222

B.3 – SAPATA SOBRE UMA ESTACA (TESTE - III) 223

B.4 – GRUPO DE QUATRO ESTACAS (TESTE - IV) 224

B.5 – SAPATA SOBRE QUATRO ESTACAS JÁ TESTADAS (TESTE - V) 225

B.6 – SAPATA SOBRE QUATRO ESTACAS VIRGENS (TESTE - VI) 226

B.7 – SAPATA ISOLADA (TESTE - VII) 227

B.8 – ESTACA ISOLADA (TESTE - VIII) 228

B.9 – SAPATA SOBRE UMA ESTACA (TESTE - IX) 229

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LISTA DE TABELAS

Tabela Página

Tabela 2.1 – Ed. Akasaka – FS x Número de estacas (modificado –

Poulos, 1994b). 32

Tabela 2.2 – Programas recentes para a análise de radier estaqueados. 55

Tabela 2.3 – Influência da inundação dos solos em resultados de provas

de carga, com carregamento vertical. 64

Tabela 3.1 – Recalque normalizado de uma estaca isolada – caso apresentado

por Lee (1973). 67

Tabela 3.2 – Comparação do recalque de uma estaca circular isolada com

aproximações por outras geometrias (H/L = 5), calculado com

o programa ALLFINE 69

Tabela 3.3 – Comportamento do radier sobre 16 estacas, proposto pelo TC-18. 82

Tabela 4.1 – Parâmetros geotécnicos da argila porosa de Brasília (modificado –

Araki, 1997 e Palocci, 1998). 92

Tabela 4.2 – Caracterização geotécnica do Campo Experimental da UnB

(modificado – Perez, 1997). 93

Tabela 4.3 – Ensaios de granulometria por sedimentação (modificado –

Araki, 1997). 96

Tabela 4.4 – Furos de sondagem SPT no Campo Experimental da UnB. 98

Tabela 4.5 – Parâmetros das curvas de calibração das células de carga. 111

Tabela 4.6 – Resultados dos rompimentos dos corpos de prova do concreto

das estacas. 114

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Tabela 5.1 – Parâmetros retroanalisados dos testes de uma estaca isolada. 132

Tabela 5.2 – Valores da carga de ruptura convencional obtidos nas provas de carga 159

Tabela 5.3 – Estimativas de capacidade de carga dos testes realizados 160

Tabela 6.1 – Comparação entre o “método 1”e “método 2” para a estimativa de

recalque de uma sapata sobre quatro estacas. 169

Tabela 6.2 – Valores de rigidez obtidos pelo método 2 e pelo GARP 6 para o

exemplo de sapata sobre quatro estacas. 170

Tabela 6.3 – Radier sobre 16 estacas – Parâmetros básicos obtidos pelo

método 2 e GARP6. 173

Tabela B.1 – Dados da prova de carga de uma sapata isolada em solo com

teor natural de umidade. 221

Tabela B.2 – Dados da prova de carga de uma estaca isolada em solo com teor

natural de umidade. 222

Tabela B.3 – Dados da prova de carga da sapata sobre uma estaca, em solo

com teor natural de umidade. 223

Tabela B.4 – Dados da prova de carga do grupo de quatro estacas, em solo

com teor natural de umidade. 224

Tabela B.5 – Dados da prova de carga da sapata sobre quatro estacas já testadas,

em solo com teor natural de umidade. 225

Tabela B.6 – Dados da prova de carga da sapata sobre quatro estacas virgens,

em solo com teor natural de umidade. 226

Tabela B.7 – Dados da prova de carga da sapata isolada, em solo pré-inundado. 227

Tabela B.8 – Dados da prova de carga da estaca isolada, em solo pré-inundado. 228

Tabela B.9 – Dados da prova de carga da sapata sobre uma estaca, em solo pré-inundado. 229

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xv

LISTA DE FIGURAS

Figura Página

Figura 2.1 – Definição da rigidez de uma estaca na curva carga x recalque 9

Figura 2.2 – Formas de ruptura de uma sapata estaqueada (modificado –

Phung, 1993). 11

Figura 2.3 – Efeito do “cap” no recalque de uma estaca isolada (modificado –

Poulos, 1968b). 12

Figura 2.4 – Fatores de incremento na capacidade de carga das estacas e do bloco

devido à interação bloco/estacas (modificado – Akinmusuru, 1980). 14

Figura 2.5 – Comparação do comportamento de um radier sobre 49 estacas, grupo

de estacas (7x7) e um radier isolado (modificado – Cooke, 1986). 16

Figura 2.6 – Edifício Messeturm e outros em Frankfurt (modificado –

El-Mossalamy & Franke, 1997) 24

Figura 2.7 – Fundação do Ed. Messeturm (modificado – El-Mossalamy &

Franke, 1997). 26

Figura 2.8 – Representação esquemática do Ed. Torhaus (modificado –

O’Neill et al., 1996). 27

Figura 2.9 – Fundação do Ed. Westend St. 1 (modificado – El-Mossalamy &

Franke, 1999). 29

Figura 2.10 – Fundação do Ed. Treptowers (modificado – Reul, 1998). 30

Figura 2.11 – Fundação do QV1, Perth-Austrália (modificado – Randolph &

Clancy, 1994). 31

Figura 2.12 – Fundação do Ed. Akasaka, São Paulo (modificado – Poulos, 1994b). 32

Figura 2.13 – Caso histórico de um edifício residencial em Tókio (modificado –

Yamashita et al., 1994). 33

Figura 2.14 – Radier equivalente. Proposição de Randolph (modificado –

Randolph, 1994). 38

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Figura 2.15 – Método trilinear de Poulos & Davis (modificado – Poulos &

Davis, 1980). 42

Figura 2.16 – Processo de transferência de carga (modificado – Randolph &

Wroth, 1978). 43

Figura 2.17 – Comparação do desempenho de um grupo de estacas “com” e “sem”

o contato do bloco (modificado – Butterfield & Banerjee, 1971a). 48

Figura 2.18 – Simplificação de um radier estaqueado por “círculos concêntricos”

equivalentes (modificado – Presley & Poulos, 1986). 50

Figura 2.19 – Aplicação de uma análise 3-D com o M.E.F. para a fundação do Ed.

Treptowers (modificado – Reul, 1998). 51

Figura 2.20 – Fatores de interação utilizados no método de Hain & Lee

(modificado – Hain & Lee, 1978). 52

Figura 2.21 – Forma de consideração de um radier estaqueado (modificado –

Clancy & Randolph, 1993). 53

Figura 2.22 – Comparação do desempenho de duas fundações similares

(modificado – Hansbo, 1993). 56

Figura 2.23 – Controle do recalque diferencial (modificado – Randolph, 1994). 57

Figura 2.24 – Diversas estratégias de projeto de um radier estaqueado

(modificado – Poulos, 1994b) 58

Figura 2.25 – Gráfico esquemático para avaliar a resposta de um radier estaqueado

(modificado – El-Mossalamy & Franke, 1997). 59

Figura 2.26 – Comparação das distintas formas de prova de carga em solos

colapsíveis (modificado – Cintra et al., 1997). 62

Figura 3.1 – Comparação da resposta carga x recalque de uma estaca isolada com

os resultados de Butterfield & Banerjee (1971a). 70

Figura 3.2 – Comparação da resposta carga x recalque de um radier sobre 4 estacas

com os resultados de Butterfield & Banerjee (1971a). 71

Figura 3.3 – Comparação da resposta de um radier sobre 9 estacas com os

resultados de Butterfield & Banerjee (1971a): (a) resposta carga x

recalque, (b) parcela de carga absorvida pelo radier. 71

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Figura 3.4 – Comparação da resposta de uma estaca isolada com os resultados de

Ottaviani (1975). 73

Figura 3.5 – Comparação da resposta de estacas isoladas com os resultados de

Ottaviani (1975). 73

Figura 3.6 – Distribuição da tensão vertical em uma estaca isolada, ALLFINE x

Ottaviani (1975): (a) L = 20m , (b) L = 40m. 74

Figura 3.7 – Comparação da resposta de um radier sobre 9 estacas com os

resultados de Ottaviani (1975). 75

Figura 3.8 – Distribuição das tensões verticais na estaca do canto em um radier

sobre 9 estacas – ALLFINE x Ottaviani (1975): (a) L = 20 m ,

(b) L = 40 m. 76

Figura 3.9 – Comparação da resposta de uma estaca isolada com os valores de

Kuwabara (1989). 77

Figura 3.10 – Parcela da carga absorvida pelo radier em um radier sobre 9 estacas,

citado por Kuwabara (1989). 78

Figura 3.11 – Resposta carga x recalque do radier sobre 9 estacas analisado por

Kuwabara (1989) com diversos espaçamentos: (a) S/D = 3;

(b) S/D = 5 e (c) S/D = 10. 79

Figura 3.12 – Porcentagem de carga em cada estaca em um radier sobre 9 estacas

citado por Kuwabara (1989) 80

Figura 3.13 – Distribuição de carga com a profundidade para as estacas em um

radier sobre 9 estacas – ALLFINE x Kuwabara (1989) 81

Figura 3.14 – Radier sobre 16 estacas proposto pelo TC-18. 82

Figura 3.15 – Carga absorvida pelas estacas em diferentes posições no radier

sobre 16 estacas proposto pelo TC-18. 84

Figura 3.16 – Distribuição de carga nas estacas – Radier sobre 16 estacas

proposto pelo TC-18. 84

Figura 3.17 – Recalque médio normalizado de um radier sobre 36 estacas,

variando-se a espessura da camada de solo. Comparação com os

resultados de Russo & Viggiani (1997). 85

Figura 3.18 – Recalque diferencial normalizado de um radier sobre 36 estacas,

variando-se a espessura da camada de solo. Comparação com os

resultados de Russo & Viggiani (1997). 86

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Figura 3.19 – Parcela de carga nas estacas de um radier sobre 36 estacas,

variando–se a espessura da camada de solo. Comparação com os

resultados de Russo & Viggiani (1997). 87

Figura 3.20 – Carga relativa nas diferentes posições de estacas de um radier

sobre 36 estacas, H/L=2. Comparação com os resultados de

Russo & Viggiani (1997). 87

Figura 4.1 – Mapa geográfico do Distrito Federal 89

Figura 4.2 – Mapa de solos do Distrito Federal (Mortari, 1994). 90

Figura 4.3 – Relação entre sucção mátrica x grau de saturação (modificado –

Ribeiro, 1999). 92

Figura 4.4 – Descrição das camadas de solo do poço de inspeção no Campo

Experimental da UnB (Pastore, 1996). 93

Figura 4.5 – Comparação entre perfis de umidade em meses anteriores às provas

de carga (modificado – Perez, 1997). 94

Figura 4.6 – Curva característica, sucção mátrica x teor de umidade (Peixoto, 1999) 94

Figura 4.7 – Perfis de umidade antes e após as provas de carga 95

Figura 4.8 – Ensaios edométricos evidenciando comportamento diferenciado

com a profundidade (modificado – Luna, 1997). 96

Figura 4.9 – Sondagem SPT-T realizada no Campo Experimental da UnB

(modificado – Camapum de Carvalho et al., 1998). 99

Figura 4.10 – Índice de Torque da sondagem SPT-T realizada no Campo

Experimental da UnB (modificado – Camapum de Carvalho

et al., 1998). 99

Figura 4.11 – Ensaio Dilatométrico no Campo Experimental (modificado –

Jardim, 1998). 100

Figura 4.12 – Variação do Módulo de Young (E) inferido dos ensaios

pressiométricos (Vecchi et al., 2000). 101

Figura 4.13 – Variação do potencial de colapso utilizando a proposta de Kratz de

Oliveira (1999) (Vecchi, 2000). 102

Figura 4.14 – Resultados de ensaio de cone elétrico (Mota et al., 2000) 103

Figura 4.15 – Vista da estaca–piloto metálica próxima ao sistema de reação. 104

Page 19: universidade de brasília faculdade de tecnologia departamento de ...

xix

Figura 4.16 – Vista da estaca–piloto desmontada, destacando–se as três

células de carga. 105

Figura 4.17 – Prova de carga com a estaca–piloto metálica. 105

Figura 4.18 – Elementos envolvidos na construção da célula de carga. 107

Figura 4.19 – Vista das células de carga empregadas nas estacas-piloto metálicas. 108

Figura 4.20 – Curvas de calibração da célula de carga do topo da estaca-piloto. 109

Figura 4.21 – Célula de carga de ponta, antes e após sua preparação, com o

detalhe da fixação dos pratos à célula de carga. 109

Figura 4.22 – Proteção mecânica em PVC das células de carga. 110

Figura 4.23 – Grupo de quatro estacas após a concretagem. 112

Figura 4.24 – Exumação do grupo de quatro estacas. 112

Figura 4.25 – Detalhe de uma das estacas do grupo de quatro estacas. 113

Figura 4.26 – Preparação do concreto das estacas. 114

Figura 4.27 – Vista da viga de reação e seu travamento às barras tracionadas. 116

Figura 4.28– Sistema de reação composto por vigas e cargueira. 116

Figura 4.29 – Detalhe do sistema de aplicação e registro de carga total. 117

Figura 4.30 – Corte esquemático das provas de carga. 118

Figura 4.31 – Locação esquemática das provas de carga realizadas 119

Figura 4.32 – Alteração do perfil de umidade e saturação com o processo de

inundação. 121

Figura 5.1 – Representação esquemática dos locais de medição dos recalques na sapata. 124

Figura 5.2 – Prova de carga da sapata isolada. 124

Figura 5.3 – Retroanálise da prova de carga da sapata isolada. 126

Figura 5.4 – Ensaio em laboratório da sapata, em um arranjo como “laje biapoiada”

medição dos recalques em vários pontos próximos às bordas

não apoiadas. 126

Figura 5.5 – Retroanálise do módulo elástico do concreto da sapata a partir de

recalques diferenciais em um teste como “laje biapoiada”,

em laboratório. 127

Figura 5.6 – Prova de carga da sapata isolada e o seu comportamento simulado por

retroanálise utilizando o programa GARP6. 129

Page 20: universidade de brasília faculdade de tecnologia departamento de ...

xx

Figura 5.7 – Prova de carga da estaca isolada. 130

Figura 5.8 – Comparação do comportamento de uma estaca isolada na carga

e recarga. 131

Figura 5.9 – Ajuste de curvas para representar os testes com estacas isoladas (teste II) 132

Figura 5.10 – Prova de carga da sapata sobre uma estaca centrada. 133

Figura 5.11 – Comparação da sapata sobre uma estaca com estaca e sapata isoladas. 134

Figura 5.12 – Distribuição da carga entre estaca e sapata e mobilização de carga

na estaca na prova de carga da sapata sobre uma estaca. 135

Figura 5.13 – Previsão do comportamento da sapata sobre uma estaca com GARP6. 136

Figura 5.14 – Prova de carga no grupo de quatro estacas. 137

Figura 5.15 – Comparação das respostas de uma estaca isolada e quando em um

grupo de quatro estacas, incluindo previsões do comportamento do

grupo com diferentes valores de Rs. 138

Figura 5.16 – Prova de carga em uma sapata sobre quatro estacas (previamente

testadas). 140

Figura 5.17 – Distribuição de carga entre os elementos de fundação na sapata

sobre quatro estacas (previamente testadas). 140

Figura 5.18 – Resposta de cada estaca quando no Grupo e na configuração de

uma “Sapata estaqueada”. 142

Figura 5.19 – Comportamento médio de uma estaca quando ensaiada como “grupo”

e como “sapata estaqueada”. 143

Figura 5.20 – Previsão x resultados em uma sapata sobre quatro estacas

(previamente testadas). 143

Figura 5.21 – “Previsão” do comportamento da sapata sobre quatro estacas

(já testadas), alterando–se alguns dados de entrada no programa. 144

Figura 5.22 – Esquema de montagem do ensaio, com a sapata em posição invertida. 145

Figura 5.23 – Prova de carga da sapata sobre quatro estacas virgens. 146

Figura 5.24 – Distribuição de carga entre os elementos de uma sapata sobre

quatro estacas. 146

Figura 5.25 – Previsão do comportamento da sapata sobre quatro estacas virgens. 147

Figura 5.26 – Comportamento da sapata estaqueada alterando-se o módulo

elástico do solo. 148

Figura 5.27 – Comportamento da sapata estaqueada supondo uma placa

mais flexível. 149

Page 21: universidade de brasília faculdade de tecnologia departamento de ...

xxi

Figura 5.28 – Comportamento médio de uma estaca em diferentes provas de carga. 150

Figura 5.29 – Prova de carga de uma sapata isolada em solo pré-inundado. 153

Figura 5.30 – Retroanálise do teste da sapata isolada (solo pré-inundado). 154

Figura 5.31 – Prova de carga da estaca isolada em solo pré-inundado 155

Figura 5.32 – Comportamento de uma estaca isolada quando reensaiada em

solo natural e pré-inundado. 155

Figura 5.33 – Prova de carga na sapata sobre uma estaca – solo pré-inundado. 157

Figura 5.34 – Prova de carga em uma sapata sobre uma estaca – “com” e

“sem” pré-inundação. 158

Figura 5.35 – Previsão do comportamento da sapata sobre uma estaca –

solo pré-inundado. 158

Figura 6.1 – Representação esquemática do método de Poulos & Davis (1980). 162

Figura 6.2 – Modelo para estimar o recalque de radier estaqueado contendo

estacas totalmente mobilizadas (modificado – Poulos, 1998b). 164

Figura 6.3 – Exemplo hipotético de um radier sobre quatro estacas. 166

Figura 6.4 – Sapata sobre quatro estacas – GARP6 x métodos “manuais”. 169

Figura 6.5 – GARP6 x Método 2 (Poulos, 1998b) usando os mesmos dados

de entrada. 171

Figura 6.6 – Radier sobre 16 estacas proposto pelo TC-18. 171

Figura 6.7 – Radier sobre 16 estacas (TC-18) – GARP6 x Equações simplificadas. 174

Figura 6.8 – Radier sobre 16 estacas (TC-18) – GARP6 x Método 2 com mesmos

parâmetros de entrada. 175

Figura 6.9 – Três diferentes metodologias de se retroanalisar o comportamento

carga–recalque de uma estaca isolada. 177

Figura 6.10 – Análise com o GARP6 de uma sapata sobre uma estaca com três

formas distintas de representar o comportamento da estaca. 178

Figura 6.11– Análise da sapata sobre uma estaca com o GARP7, para as três

formas distintas de retroanálise. 180

Figura 6.12 – Exemplo de uma sapata sobre uma estaca, variando–se a rigidez

inicial da estaca. 181

Figura 6.13 – GARP7 x GARP6 – sapata sobre uma estaca com diferentes valores

de rigidez inicial da estaca. 182

Page 22: universidade de brasília faculdade de tecnologia departamento de ...

xxii

Figura 6.14 – Vista esquemática de um radier estaqueado. 182

Figura 6.15 – Sapata sobre quatro estacas – GARP6 x Novo método. 186

Figura 6.16 – Sapata sobre 16 estacas (problema do TC-18) – GARP6 x

Novo método. 187

Figura 6.17 – Radier sobre 16 estacas – Comparação do GARP7 com outros

programas. 188

Figura 6.18 – Sapata sobre uma estaca (UnB) – GARP7 x GARP6. 189

Figura 6.19 – Sapata sobre uma estaca (UnB) em solo natural –

GARP7 x Método Simplificado. 189

Figura 6.20 – Sapata sobre uma estaca (UnB) em solo pré-inundado –

GARP7 x GARP6. 190

Figura 6.21 – Sapata sobre uma estaca (UnB) em solo pré-inundado –

GARP7 x Método Simplificado. 191

Figura 6.22 – Retroanálise da resposta carga–recalque de uma estaca isolada,

em teste realizado por Décourt et al. (1995). 192

Figura 6.23 – Retroanálise da resposta carga–recalque de uma sapata isolada,

em teste realizado por Décourt et al. (1995). 193

Figura 6.24 – Teste x Previsão com GARP7 para uma sapata sobre uma estaca. 193

Figura 6.25 – Teste x Previsão de uma sapata sobre 9 estacas – Ensaio de

Koizumi & Ito (1967). 195

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xxiii

LISTA DE SÍMBOLOS

Ac Área da seção transversal circunscrita à forma da estaca

Ag Área da figura plana circunscrita ao grupo de estacas

Ap Área da seção transversal da estaca

B Largura da fundação

CP Corpo de prova

Cpres Potencial de colapso

D Diâmetro da estaca

Dc Diâmetro do “cap”

ED Módulo dilatométrico no ensaio dilatométrico (DMP)

Eeq Módulo de elasticidade do “material do tubulão equivalente

Ep Módulo de elasticidade da estaca

Es Módulo de elasticidade (Young) do solo

F Nível de mobilização do atrito lateral

Fm Fator de minoração da carga total no grupo de estacas

FS Fator de segurança

F1, F2 Fatores da teoria de Aoki-Velloso

G Densidade relativa dos grãos

GL Módulo cisalhante do solo a uma profundidade z = L

Gb Módulo cisalhante do solo abaixo da ponta da estaca

Gs Módulo cisalhante do solo

Gs , Gb Fatores devido à interação estaca/solo/estaca

H Espessura da camada de solo

I, Ip Momento de inércia da seção transversal

Ic Coeficiente de colapso

ID Índice do material do ensaio dilatométrico (DMP)

IP Índice de plasticidade

K Rigidez relativa de uma estaca

K0 Coeficiente de empuxo no repouso

KD Índice de tensão horizontal no ensaio dilatométrico (DMP)

Kp Rigidez de uma estaca

Kpo Rigidez inicial de uma estaca

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xxiv

Kpg Rigidez do grupo de estacas

Kpr Rigidez do radier estaqueado

Kr Rigidez do radier

L Comprimento da estaca

LL Limite de liquidez

LP Limite de Plasticidade

N Número de estacas

NSPT Número de golpes na sondagem a percussão

P Carga atuante no topo de uma estaca

Pa Carga total do radier estaqueado correspondente ao momento da completa

mobilização de todas as estacas

PG Carga total atuante no radier estaqueado

Ppg Carga absorvida pelo grupo de estacas

Pr Carga absorvida pelo radier

PT Carga no topo da estaca

Pu Carga última de uma estaca

Qc Capacidade de carga da sapata ou radier (individualmente)

Qc Carga de colapso

Qg Capacidade de carga do grupo de estacas

Qpu Carga de ponta última de uma estaca isolada

Qsu Atrito lateral último de uma estaca isolada

Qt Capacidade total de carga da sapata estaqueada

Rc Razão do recalque de uma estaca “com” e “sem” o “cap” superficial

Rf Fator hiperbólico de variação da rigidez da estaca

RG Relação entre o recalque médio da fundação (radier estaqueado) e o recalque

de uma estaca isolada, sem “cap”, sob carga total atuante no grupo

GR Razão entre o recalque médio de uma fundação (radier estaqueado) e o

recalque de uma estaca, com “cap”, sob carga total atuante no grupo.

RG Fator de modificação do recalque da sapata

Rs Fator de recalque

R2 Coeficiente de regressão linear

S Espaçamento entre estacas

S Grau de saturação

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xxv

Ss Recalque de uma estaca isolada sob carga média do conjunto

Spr Recalque médio do radier estaqueado

Sr Recalque médio da sapata

Sr Razão de redução de recalques

c Relação entre espaçamento/diâmetro entre estacas de uma mesma fundação

cnat Coesão do solo em amostra com teor natural de umidade

csat Coesão do solo em amostra saturada

cs , cb Fatores devido à interação radier/solo/estaca

cu Coesão do solo

d Diâmetro da estaca

dc Diâmetro do “cap”

deq Diâmetro do tubulão equivalente

e Índice de vazios

fs Tensão de atrito lateral mobilizado

g Parâmetro que dita a curvatura do comportamento não-linear do solo

k Coeficiente de permeabilidade

n Número de estacas

nr Número de linhas de estacas no grupo

rb Raio da ponta da estaca

rc Raio equivalente da área da parte do radier associado a cada estaca

rf Raio da cavidade, no ensaio pressiométrico, para o solo saturado

ri Raio da cavidade, no ensaio pressiométrico, para o solo sob condição de

umidade natural

rm Máximo raio de influência

ro Raio da estaca

roNAT Raio inicial da cavidade, no ensaio pressiométrico, para a condição de umidade

natural

roSAT Raio inicial da cavidade, no ensaio pressiométrico, para a condição inundada

t Espessura da sapata

w Expoente na previsão do Fator de Recalque (Rs)

w Recalque da fundação

w Teor de umidade natural

wpg Recalque do grupo de estacas

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xxvi

wr Recalque do radier

wt Recalque no topo da estaca

z Profundidade

∆S Recalque diferencial

α Adesão estaca/solo

α Coeficiente angular da reta de regressão linear

α, α’ Fatores de interação na capacidade de carga do grupo de estacas devido à

sapata

αpr, αrp Fatores de interação

β Porcentagem de carga atuante no grupo de estacas

β Fatores de interação na capacidade de carga da sapata devido ao grupo de

estacas

δ Recalque da fundação

δ Deslocamento relativo estaca/solo

δult Deslocamento relativo estaca/solo necessário para a mobilização máxima do

atrito lateral

δ1 Recalque de uma estaca, sem “cap”, sob carga unitária

1δ Recalque de uma estaca, com “cap”, sob carga unitária

φ* Ângulo de atrito estaca/solo

φnat Ângulo de atrito do solo em amostra com teor natural de umidade

φsat Ângulo de atrito do solo em amostra saturada

γnat Peso específico da amostra

η Razão entre o raio da ponta e do fuste da estaca

ηs, η1s, η4s Fatores de influência no atrito lateral devido à interação bloco/solo/estaca

ηb, η1b, η4b Fatores de influência na carga de ponta devido à interação bloco/solo/estaca

η6 Fator de influência na capacidade de carga do radier devido às interações

radier/solo/estaca

λ Razão entre o módulo de Young do material da estaca e o módulo cisalhante

médio do solo

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xxvii

µL Parâmetro definido por Randolph (1978) na previsão do recalque de uma

estaca isolada

νp Coeficiente de Poisson do concreto da estaca

νr Coeficiente de Poisson do concreto do radier

νs Coeficiente de Poisson do solo

ρ Razão entre o módulo cisalhante médio ao longo da estaca e o valor ao nível da

ponta

ρ1 Deformação da estaca isolada sob carga unitária

σmax Tensão máxima a compressão do solo sob o radier

σn Tensão normal à superfície da estaca

τ Tensão cisalhante

ξ Relação entre o módulo cisalhante do solo no nível da ponta da estaca e da

camada abaixo da ponta da estaca (isolada) – rigidez relativa entre camadas

ξ* Valor de “ξ” alterado, quando numa situação de grupo de estacas

ζ Relação entre máximo raio de influência e o raio da estaca

ζ* Valor de “ζ” alterado, quando numa situação de grupo de estacas

ASCE American Society of Civil Engineers.

COBRAMSEG Congresso Brasileiro de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica.

COBRAMSEF Congresso Brasileiro de Mecânica dos Solos e Engenharia de

Fundações

DMT Ensaio dilatométrico de Marchetti

ECSMFE European Conference on Soil Mechanics and Foundation Engineering.

ICSMFE International Conference on Soil Mechanics and Foundation

Engineering

ISSMFE International Society on Soil Mechanics and Foundation Engineering.

M.E.C. Método dos Elementos de Contorno.

M.E.F. Método dos Elementos Finitos.

QML Método de carregamento estático rápido de prova de carga

SML Método de carregamento estático lento de prova de carga

SPT Sondagem a percussão

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1

1 – INTRODUÇÃO

Tradicionalmente as fundações são classificadas em “rasas” ou “profundas” e, de

uma forma geral, os projetistas buscam não associar diferentes tipos de fundações por

possuírem formas distintas de transferência de carga ao solo. Entretanto, fatos como o uso de

algumas estacas sob um radier, que podem melhorar o desempenho desta fundação quanto ao

recalque ou mesmo capacidade de carga, bem como a consideração do contato do bloco com

o solo em um grupo de estacas, chamaram a atenção de pesquisadores para as possíveis

vantagens da associação de mais de um tipo de fundação para compor o elemento de

fundação.

Surgiu, assim, o interesse pelo estudo de fundações denominadas de “radier

estaqueados” ou “sapatas estaqueadas” que vêm tendo um uso crescente nestas duas últimas

décadas. A construção de grandes edifícios na Europa, especialmente na Alemanha, utilizando

este tipo de solução de fundação chamou a atenção de diversos projetistas e pesquisadores,

especialmente por ter propiciado uma grande economia em relação às formas tradicionais de

fundação e ainda com um ótimo desempenho quanto à capacidade de carga e recalques.

Recentemente, o resgate do conceito de estacas como “elementos redutores de

recalque”, e não apenas com a função de suportar carga, vem ganhando espaço entre as

pesquisas na área de fundações. Novos métodos estão sendo criados explorando as vantagens

da associação de um elemento superficial de fundação com um certo número “ótimo” de

estacas.

Extrapolando este conceito de “radier estaqueados” para obras menores, tal tipo de

fundação poderia, perfeitamente, ocupar uma lacuna nos casos, em que a fundação superficial

não contemplasse todos os requisitos técnicos, geralmente por recalque excessivo, e

fundações profundas encareceriam o custo da obra.

Em Brasília, bem como em grande parte do Planalto Central Brasileiro, a ocorrência

de solos superficiais com baixa capacidade de suporte e ainda com uma estrutura bastante

porosa e colapsível, dificulta o uso de fundações rasas. Neste contexto torna-se importante o

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2

estudo do comportamento de todo e qualquer tipo de fundação como alternativa ao uso de

fundações profundas.

A análise de “sapatas estaqueadas”, entretanto, não é feita de uma forma simples e

direta. Trata-se de um problema eminentemente tridimensional, no qual o mecanismo de

transferência de carga e a resposta carga-recalque de uma sapata estaqueada (ou radier

estaqueado) apresentam natureza complexa, por envolver diversos tipos de interação entre as

partes constituintes do elemento de fundação.

1.1 – OBJETIVOS DA TESE

♦ Fazer uma revisão crítica dos diversos métodos existentes para a análise de

fundações na forma de sapatas estaqueadas ou radier estaqueados.

♦ Realizar provas de carga em sapatas estaqueadas, com caráter pioneiro na região

Centro-Oeste do Brasil, e avaliar a capacidade de previsão dos resultados de alguns

métodos propostos em literatura.

♦ Propor melhorias ou adaptações a métodos de análise para que estes possam melhor

se adequar ao caso de fundações de pequeno e médio porte para solos semelhantes ao

do caso em estudo.

♦ Dar prosseguimento à linha de pesquisa “Estudo do Comportamento de Fundações

na Argila Porosa de Brasília”, que vem sendo desenvolvida pelo Programa de Pós-

Graduação em Geotecnia da UnB, para a avaliação da possibilidade do uso de

sapatas estaqueadas neste tipo de solo, dentro do contexto regional.

1.2 – ESTRUTURA DA TESE

Buscando uma melhor distribuição dos assuntos abordados, a tese foi estruturada da

seguinte forma:

i) Capítulo 1 – Introdução : Faz-se uma apresentação do tema a ser abordado e

objetivos almejados no presente trabalho;

ii) Capítulo 2 – Revisão Bibliográfica : Neste capítulo faz-se um resgate

cronológico de vários trabalhos desenvolvidos por autores diversos em todo o

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3

mundo, que culminaram para a construção do atual “estado-da-arte”. Tentou-

se agrupá-los de uma maneira mais didática quanto ao assunto específico

abordado. Aborda-se a conceituação de diferentes formas de fundações

buscando deixar claro diferenças e semelhanças, bem como a definição de

termos utilizados em todo o trabalho. No decorrer das citações são incluídos

comentários e críticas do autor desta tese;

iii) Capítulo 3 – Comparação do Desempenho de Alguns Métodos :

Apresenta-se uma comparação de alguns métodos para exemplos específicos

encontrados na literatura, de forma a comparar os resultados previstos por

cada método, objetivando ressaltar semelhanças, limitações e potencialidades

de cada método abordado;

iv) Capítulo 4 – Materiais, Ensaios e Métodos : Descreve-se neste capítulo a

forma de preparação e execução de todos os ensaios realizados no decorrer

desta pesquisa. Apresenta-se, também, uma caracterização do solo do campo

experimental da UnB, no qual se realizaram as provas de carga de vários

elementos de fundação;

v) Capítulo 5 – Análise dos Resultados das Provas de Carga : Todos os

resultados obtidos nas diversas provas de carga realizadas são apresentados

de uma forma gráfica, buscando-se clareza nas comparações seguintes.

Fazem-se a análise dos resultados obtidos nas provas de carga e a comparação

com a previsão dos resultados de programa numérico, a fim de se avaliar a

adequabilidade do mesmo.

vi) Capítulo 6 – Proposta de um Novo Método : Apresenta-se a proposta de

um novo método para a análise de sapatas e radier estaqueados, em que

algumas estacas ou todas terão sua capacidade de carga totalmente

mobilizadas. Mostra-se a aplicação deste novo método aos ensaios realizados

nesta pesquisa, como também a outros casos de literatura;

vii) Capítulo 7 – Conclusões e Sugestões : Finaliza-se a tese ressaltando as

principais conclusões alcançadas e apontadas durante todo o texto. Sugestões

quanto a novas pesquisas são apresentadas, no sentido de contribuir para o

prosseguimento da investigação do tema.

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4

2 – REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

O emprego de estacas como elemento de fundação remonta a vários séculos,

principalmente em grandes obras como igrejas, torres e castelos. Porém somente a partir da

revolução industrial do século 19, com a necessidade de se baratear o custo das fundações de

grandes prédios para fábricas, iniciou-se a sistematização do conhecimento adquirido

(Terzaghi e Peck, 1967).

Até meados da década de 70, sabia-se que o desempenho e a forma de transferência

de carga de uma estaca eram diferentes do de uma fundação rasa. Buscava-se, portanto, não

envolver elementos com comportamentos distintos numa mesma fundação. Este princípio

ainda prevalece até hoje com a maioria dos projetistas de fundações.

Nas últimas três décadas vários pesquisadores sentiram a necessidade de uma melhor

compreensão de como seria o comportamento de uma fundação que envolvesse estacas e

também uma parte superior horizontal em contato com a camada superficial. O estímulo

inicial deste interesse era saber qual o papel do bloco na resposta carga-recalque de um grupo

de estacas, uma vez que o bloco de ligação das mesmas estava em contato com o solo.

Segundo Butterfield & Banerjee (1971a), até o início da década de 60, a maioria dos estudos

de campo e laboratório sobre estacas concentravam-se apenas no desempenho de estacas

isoladas e grupos de estacas sem o contato do bloco com o solo. As análises teóricas de

grupos de estacas também evitavam o estudo da interação entre o bloco e as estacas, a fim de

simplificar o número de interações envolvidas no problema.

Terzaghi & Peck (1967) acreditavam que o grau de conhecimento adquirido sobre o

comportamento de estacas e grupo de estacas havia atingido um nível satisfatório e

“refinamentos teóricos em problemas de estaqueamentos eram completamente desnecessários

e poderiam ser seguramente ignorados”. Apesar deste desestímulo inicial, o emprego da teoria

da elasticidade na análise de estacas isoladas e grupos de estacas compressíveis (Poulos &

Davis, 1968; Poulos, 1968a; Mattes & Poulos, 1968 e Butterfield & Banerjee, 1971b), que

apresentou resultados considerados muito bons quando comparados com aos valores

experimentais de campo, acabou se constituindo num “divisor de águas” e incentivou diversos

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5

autores a tentarem compreender melhor o processo de interação entre uma fundação rasa

(“cap”, sapata ou radier) e estacas sob o mesma.

A partir deste ponto serão mencionados e comentados diversos trabalhos que fizeram

parte da evolução do estudo de um “radier estaqueado”. Obviamente vários trabalhos

específicos sobre grupos de estacas também contribuíram para esta evolução, mas, devido ao

interesse em particular da presente pesquisa, deixarão de ser citados.

2.1 – FUNDAMENTOS TEÓRICOS

2.1.1 – Sistema de Fundação

Em edificações normalmente se define “fundação” como o conjunto de elementos

estruturais responsáveis por transferir, ao solo natural, o acréscimo de carga oriundo daquela

obra. Alguns autores também denominam "fundação" por “infraestrutura”. Em outras obras,

como barragens, o termo “fundação” é empregado para se referir à camada de solo, ou rocha,

que receberá a sobrecarga que o barramento transferirá ao mesmo.

No contexto da presente pesquisa, será denominado como “sistema de fundação” a

associação do conjunto de elementos estruturais ao solo que os envolve. A interação entre os

elementos da infraestrutura e o solo circunvizinho será de fundamental importância na

compreensão do comportamento observado para aquele “sistema de fundação”. A resposta

carga x recalque do sistema de fundação, portanto, será função não somente dos elementos

estruturais envolvidos, mas também do solo em questão.

Porém, a menos que se explicite o contrário, os termos clássicos como “capacidade

de carga da fundação”, “carga de ruptura da fundação”, “carga última da estaca”, etc. estarão

se referindo aos valores de carga suportados por aquele sistema de fundação, em que o fator

limitante tenha sido o solo, ou seja, se compreenderá como “carga última da estaca” a carga

máxima que a estaca suportará sem haver a ruptura do solo circunvizinho, pressupondo-se que

o material da estaca seja compatível para aquele nível de solicitação.

2.1.2 – Sapata estaqueada e radier estaqueado

Os termos “Sapata Estaqueada”, e também “Radier Estaqueado”, surgiram para

especificar os sistemas de fundação que envolvem a associação de um elemento de fundação

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6

superficial (radier ou sapata) com uma estaca ou grupo de estacas, sendo ambas as partes

responsáveis pelo desempenho da fundação quanto a capacidade de carga e recalques.

Baseado nas definições da norma brasileira de fundação (NBR6122/96), o termo

“sapata estaqueada” será utilizado, neste trabalho, quando o elemento de fundação for

composto por uma sapata ligada a uma ou mais estacas com o intuito de suportar os esforços

de um único pilar. O termo “radier estaqueado” será empregado para definir a fundação

composta por um radier associado a uma ou mais estacas, para suportar os esforços de todos

os pilares de uma obra.

Durante todo o trabalho os métodos analisados se aplicam indistintamente a “sapatas

estaqueadas” e “radiers estaqueados”, ficando a diferenciação dos termos apenas no detalhe

estrutural da aplicação das cargas.

Fisicamente, um “grupo de estacas” ou “bloco de estacas”, que é uma forma

tradicional de fundação, poderia ser considerado como uma “sapata estaqueada” ou “radier

estaqueado” quando o bloco de ligação entre as estacas estiver em contato com o solo,

fazendo assim o papel de elemento superficial da fundação (como uma sapata ou radier).

Entretanto, neste trabalho, será empregado o termo “grupo de estacas”, quando se referir à

forma clássica de fundação, em que somente as estacas são responsáveis por absorver e

transferir ao solo todo o carregamento aplicado às fundações, tendo o bloco apenas o papel

estrutural de ligar as estacas. Basicamente este é o conceito tradicional no projeto de “grupos

de estacas”, onde mesmo que o bloco esteja em contato com o solo, que é o usual, não se

considera que aquele possa transferir qualquer parcela de carga ao solo.

2.1.3 – Mobilização do atrito lateral nas estacas

Uma estaca submetida a um carregamento vertical transmitirá ao solo parte da carga

por atrito lateral ao longo do fuste e parte através da ponta por tensões de compressão sob a

mesma. A porcentagem de carga, a se transferir, via atrito lateral, depende de vários fatores,

como propriedades e estratificação do solo, camada de apoio da ponta, comprimento da

estaca, rigidez relativa estaca/solo, processo construtivo, entre outros (Poulos & Davis, 1980).

A parcela de atrito lateral atuante na estaca é função das tensões cisalhantes

desenvolvidas no contato estaca/solo. Esta tensão cisalhante (τ) pode ser expressa na forma :

)tg(σ aτ *n φ+= (2.1)

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7

onde : a = aderência estaca/solo (= α.c , onde “c” é a coesão do solo e “α” um fator

adimensional que expressa a parcela da coesão considerada como

aderência na superfície da estaca);

σn = tensão normal à superfície da estaca;

φ* = ângulo de atrito estaca/solo.

A parcela devido a “a” é função de fatores como coesão do solo, processo de

instalação e tempo decorrido após instalação. O ângulo de atrito “φ*” basicamente depende do

tipo de solo, material da estaca e da rugosidade da superfície da estaca em contato com o

mesmo. A tensão normal à superfície (σn), por sua vez, está relacionada às tensões geostáticas

laterais do ponto em questão, e à forma de instalação da estaca.

A Eq. (2.1) representa o valor máximo da tensão cisalhante passível de ser

mobilizada na interface estaca/solo. Porém, para que este valor seja mobilizado, é necessário

que haja um certo deslocamento relativo entre a estaca e o solo circundante. Desta forma,

poder-se-ia representar a tensão de atrito lateral mobilizado (fs), na forma :

(z)τ . F(z) (z)f s = (2.2)

onde : z = profundidade em questão;

F(z) = função de nível de mobilização do atrito lateral;

τ(z) = tensão cisalhante máxima na profundidade “z”.

Para solos em que a resistência residual se aproxima à de pico, a função F(z) pode ser

representada por um comportamento bilinear :

⎪⎩

⎪⎨⎧

<=

ult

ultult

δδ se , 1

δδ se , δδ

F(z) (2.3)

onde : δ = deslocamento relativo estaca/solo;

δult = deslocamento relativo estaca/solo necessário para a mobilização

máxima do atrito lateral.

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8

O deslocamento de poucos milímetros, em geral, é suficiente para a mobilização do

atrito lateral máximo.

O atrito lateral mobilizado em uma estaca depende, portanto, não apenas das

propriedades intrínsecas do solo e do material constituinte da estaca, que influenciam “a” e

“φ*”, mas também de “σn” e do nível de mobilização (F(z)) do atrito lateral. Desta forma, o

comportamento de uma estaca, quando na presença de outros elementos de fundação

próximos (quando em um grupo de estacas ou em uma sapata estaqueada), será distinto do de

uma estaca isolada, pois haverá a interação entre os elementos adjacentes, modificando as

tensões normais atuantes na face das estacas, bem como alterando o deslocamento das estacas

e do solo.

Em uma sapata estaqueada, o contato da sapata com a superfície do solo, se por um

lado aumenta as tensões verticais e horizontais na interface estaca/solo (aumentando “σn” e

consequentemente “τ”), por outro, impõe campos de deslocamentos ao solo sob a sapata, o

que reduz os deslocamentos relativos estaca/solo, reduzindo, assim, a mobilização do atrito

lateral. A preponderância de um ou outro fator será função do tipo do solo e o estado do

mesmo.

2.1.4 – Rigidez de uma estaca

Denomina-se “rigidez de uma estaca”, a relação entre a carga atuante em uma estaca

e o seu deslocamento :

δPK p = (2.4)

onde : Kp = rigidez de uma estaca;

P = carga atuante na cabeça da estaca;

δ = recalque da cabeça da estaca para a carga aplicada “P”.

A rigidez da estaca pode ser entendida como a tangente, ou secante, à curva “carga x

recalque” desta estaca, como ilustrado na Figura 2.1:

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9

carga Kp0 Kp1 Kp2 Figura 2.1 – Definição da rigidez de uma estaca na curva carga x recalque.

Na Figura 2.1, o valor inicial da rigidez de uma estaca (Kp0) é representado pela

tangente inicial à curva carga x recalque e corresponde ao comportamento desta estaca para

baixos valores de carga aplicados.

A medida que a carga atuante numa estaca aumenta, também aumenta o recalque e,

em geral, esta relação deixa de ser linear. Nestes casos, pode-se definir a rigidez de uma

estaca através dos valores Kp1, Kp2, etc. (ver Figura 2.1), representados por retas secantes à

curva carga-recalque, que dependem do nível de carregamento desta estaca. Em alguns casos,

busca-se uma equação para representar esta variação. Poulos (1994a) utilizou a seguinte

forma de variação, adaptada de modelos hiperbólicos:

PPR - 1 K Ku

fp0p ⎟⎟⎠

⎞⎜⎜⎝

⎛⎟⎟⎠

⎞⎜⎜⎝

⎛= (2.5)

onde : Kp0 = rigidez inicial da estaca;

P = carga atuante na estaca;

Pu = carga última da estaca;

Rf = fator hiperbólico de variação da rigidez da estaca.

Chama-se a atenção que tal definição reflete o comportamento estaca/solo e não deve

ser confundido com a rigidez estrutural de um material qualquer, geralmente representado

pelo produto do módulo de elasticidade da estaca (Ep) pelo módulo de inércia da seção

transversal (Ip).

recalque

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10

Outro termo, empregado por diversos autores, e que aparecerá algumas vezes no

texto deste trabalho, é a “rigidez relativa de uma estaca” – K (Poulos & Davis, 1980). K é a

relação entre os módulos de Young do material da estaca e do solo (multiplicado por um fator

de área), indicando assim, quão mais rígida é a estaca em relação ao solo em questão :

c

p

s

p

AA

EE

K = (2.6)

onde : Ep = módulo de elasticidade do material da estaca;

Es = módulo de elasticidade médio do solo;

Ap = área da seção transversal da estaca;

Ac = área da seção transversal limitada pelo perímetro externo da estaca.

Para uma estaca de seção regular cheia, Ap = Ac ,e portanto:

s

p

EE

K = (2.7)

2.1.5 – Estacas como elementos redutores de recalque

Burland et al. (1977), num artigo que sintetizava o “estado da arte” de fundações na

conferência internacional, daquele ano, afirmaram que na maioria dos projetos de fundações

em estacas apenas o critério de capacidade de carga era levado em consideração, a despeito do

baixo nível de recalques geralmente atingido. Estes autores sugeriram que seria muito mais

econômico em um projeto procurar o número mínimo de estacas que conduzisse a um

recalque aceitável para a fundação em questão. Introduziram, portanto, o termo “elementos

redutores de recalque” para as estacas, em projetos de grupos de estacas, em que o critério de

recalque aceitável seria o preponderante.

Tal idéia foi resgatada em alguns métodos de análise de radier estaqueado e será

mencionado em algumas partes deste trabalho.

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11

2.2 – TRABALHOS PIONEIROS

Em termos de capacidade de carga de sapatas estaquadas, o trabalho de Kishida &

Meyerhof (1965) parece ter sido um dos primeiros estudos teóricos a considerar a

contribuição do bloco apoiado no solo superficial em um grupo de estacas. A partir da análise

de grupo de estacas em areias, sugeriram duas formas possíveis de ruptura destes grupos.

- para estacas muito espaçadas, a capacidade de carga da fundação seria a

soma da capacidade de carga do radier (ou bloco) com a capacidade de

carga do grupo de estacas, levando-se em conta a sobrecarga ao nível da

ponta das estacas provocada pelo bloco (ver Figura 2.2b);

- para estacas pouco espaçadas haveria uma tendência de ruptura de todas

estacas em conjunto, como se fosse uma grande estaca única (tubulão

equivalente). Neste caso, a capacidade de carga do conjunto seria

calculada como a capacidade deste “tubulão” equivalente, acrescido da

capacidade de carga do bloco superficial, considerando-se, contudo,

apenas a área do bloco externa à projeção do tubulão equivalente (área

considerada = área do bloco subtraindo a área do tubulão equivalente) –

ver Figura 2.2a.

Figura 2.2 – Formas de ruptura de uma sapata estaqueada (modificado – Phung, 1993).

Quanto ao comportamento carga x recalque de uma fundação com a presença de um

elemento superficial associado a uma estaca, o primeiro trabalho teórico pode ser atribuído a

Poulos (1968b), que considerou a interação estaca/bloco para uma estaca isolada com um

“cap”.

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Poulos (1968b) considerou o solo como um semi-espaço elástico e o “cap” da estaca

como rígido. Esse autor apresentou um gráfico (Figura 2.3) comparando os recalques de uma

estaca com e sem “cap”.

Figura 2.3 – Efeito do “cap” no recalque de uma estaca isolada (modificado – Poulos, 1968b).

Denominando-se por “L” o comprimento da estaca, “d” o diâmetro da estaca e “dc” o

diâmetro do “cap”, observa-se na Figura 2.3 que :

- a influência do “cap” é função das relações “dc/d” e “L/d”. Quanto menor o

comprimento da estaca em relação ao seu diâmetro (L/d), maior a

interferência do “cap”, reduzindo-se os recalques;

- quanto maior o coeficiente de Poisson, maior a influência do “cap” (redução

no recalque da estaca);

- somente para estacas muito curtas (L/d < 10) a existência de pequenos

“caps” não poderia ser desprezada.

Um outro trabalho que merece ser lembrado pelo seu valor histórico é a dissertação

de mestrado de Akinmusuru (1973), que realizou uma série de testes em laboratório com

modelos reduzidos de sapatas estaqueadas em areias. Anteriormente a ele alguns autores já

haviam realizado testes com grupo de estacas com e sem o contato do bloco, mas acredita-se

que Akinmusuru (1973) tenha sido o primeiro autor a estudar, no mesmo solo, o

comportamento de uma sapata isolada, estaca isolada e do grupo de estacas com e sem o

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13

contato do bloco na superfície, buscando-se isolar a parcela de contribuição da interação

bloco/estacas.

Mesmo com as críticas normalmente feitas a ensaios com modelos de escala reduzida

em areia, realizados sob a força da gravidade “1-G” e sem aplicação de qualquer sobrepressão

na superfície da areia, os resultados apontaram para a existência de uma sinergia quanto à

capacidade de carga. Akinmusuru (1973) observou uma capacidade de carga de uma sapata

estaqueada superior à soma algébrica da capacidade de carga da sapata e do grupo de estacas,

e expressou os resultados nas seguintes formas :

cgt Q + Q = Q βα (2.8)

ou

cg'

t Q + Q = Q α (2.9)

onde : Qt = capacidade de carga da sapata estaqueada;

Qg = capacidade de carga do grupo de estacas;

Qc = capacidade de carga da sapata (individualmente);

α e α’ = fatores de incremento de capacidade de carga do grupo devido à interação,

sendo geralmente maiores que “1” e função do comprimento relativo das

estacas e tamanho da sapata;

β = fator de incremento de capacidade de carga da sapata devido à presença do

grupo de estacas.

Os testes de Akinmusuru (1973) indicaram que a contribuição do bloco em contato

com o solo é função de seu tamanho e do comprimento das estacas, mas de uma forma geral,

a parcela de capacidade de carga das estacas (Qg) é a mais influenciada (aumentada) ao se

considerar a interação bloco/solo/estacas, ou seja, α >> β conforme mostrado na Figura 2.4.

Daí a sugestão da equação simplificada (Eq. 2.9), onde assume-se β = 1.

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14

Figura 2.4 – Fatores de incremento na capacidade de carga das estacas e do bloco devido à

interação bloco/estacas (modificado – Akinmusuru, 1980).

2.3 – OBSERVAÇÕES EXPERIMENTAIS

A observação do desempenho de fundações, seja em modelos em laboratório ou em

testes no campo, é considerada de fundamental importância para uma melhor compreensão da

resposta de uma fundação, fornecendo também subsídios para modelos e teorias que tentam

explicar o comportamento destas fundações.

Historicamente diversos autores relataram os resultados de testes com estacas

isoladas, grupo de estacas e fundações rasas. Entretanto não há uma grande quantidade de

trabalhos enfocando grupos de estacas com o contato bloco/solo, sapatas estaqueadas ou

radiers estaqueados, principalmente em testes de campo, devido ao grande custo e

dificuldades na construção de reações que suportem altas cargas.

Não menos importante são os relatos do monitoramento do desempenho de obras

reais, onde os fatores intervenientes atuam simultaneamente e em verdadeira grandeza.

Nos itens seguintes, vários trabalhos serão relatados, apresentando observações

experimentais de sapatas estaqueadas ou radiers estaqueados, destacando-se os pontos

principais de cada um.

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15

2.3.1 – Testes em laboratório

Existem dificuldades e limitações associadas a ensaios em pequena escala em

laboratório e sua extrapolação para fundações reais, principalmente devido ao pequeno nível

de tensões imposto (gravidade natural, 1-G), dimensões das amostras, amolgamento, etc. Tais

limitações, contudo, não invalidam estes trabalhos que podem ser considerados

qualitativamente representativos do comportamento de elementos de fundações, e, portanto,

passíveis de serem usados para comprovar a aplicabilidade de estudos teóricos.

Em laboratório, quando não se trata de um estudo para um caso específico, é difícil a

escolha do tipo de solo a ser empregado. As areias permitem a execução de ensaios mais

rápidos, mas geralmente apresentam ângulos de atrito maiores para baixos valores de tensões

confinantes e são mais sujeitas ao efeito escala, em função da dimensão dos grãos. Outro

problema para areias densas é a dilatância a baixos níveis de tensão. Desta forma, seriam

necessários recipientes maiores com a aplicação de pressões superficiais (ou vácuo) para

reduzir os problemas apresentados. Já para argilas, se os fatores destacados para areias não

são tão preocupantes, a dificuldade maior é a forma de preparação da amostra e instalação das

fundações, que consomem um grande tempo de espera para a dissipação do excesso de poro-

pressão (as vezes mais de 50 dias) para a realização de um único teste.

Além do trabalho de Akinmusuru (1973), já comentado no item 2.2, outros autores,

como Whitaker (1961), Ghosh (1975) e Abdrabbo (1976) (citados por Cooke, 1986),

realizaram testes com “fundações estaqueadas”, em que algumas poderiam ser consideradas

como sapatas estaqueadas. A seguir, comentam-se, em maiores detalhes, dois trabalhos

mencionados por diversas fontes da literatura.

Wiesner & Brown (1978) realizaram uma série de ensaios de radier sobre 6 e 9

estacas em uma amostra de argila pré-consolidada. As estacas possuíam diâmetros entre 9,6 a

10,1mm, comprimento de 249mm e espaçamentos na faixa de 5 a 7 diâmetros. A amostra de

argila foi consolidada em um recipiente cilíndrico, com 59cm de diâmetro e 48cm de

profundidade. Tal pesquisa visava comparar os resultados de laboratório com teorias de placas

apoiadas sobre um meio elástico. Os resultados, em geral, mostraram um bom grau de

aproximação entre os valores experimentais e os calculados pela Teoria da Elasticidade, com

uma precisão maior para a previsão de recalques e menor para os momentos gerados.

Cooke (1986) apresentou um importante trabalho, no qual fez uma revisão dos

métodos de projetos de radiers estaqueados, em solos argilosos. Neste artigo, o autor comenta

a realização de ensaios em modelo reduzido de radier sobre 9, 25, 49 e 81 estacas em

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16

amostras reconsolidadas da argila de Londres. As estacas possuíam diâmetro de 3,2mm e

variou-se o comprimento e espaçamentos entre as estacas.

Figura 2.5 – Comparação do comportamento de um radier sobre 49 estacas, grupo de estacas

(7x7) e um radier isolado (modificado – Cooke, 1986).

Dentre os seus comentários, destacam-se :

- em um radier estaqueado, a contribuição do radier é maior quanto menor o

comprimento e número de estacas;

- para qualquer número de estacas, a contribuição do radier, quanto à

capacidade de carga, cresce rapidamente com o aumento do espaçamento

entre as estacas;

- até um espaçamento S/D = 4 (sendo S o espaçamento e D o diâmetro), a

capacidade de carga do radier estaqueado depende diretamente da largura do

radier;

- as estacas apresentam melhor desempenho na redução dos recalques do

radier quando são longas (relação comprimento da estaca/largura do radier

>10);

- o radier estaqueado é mais rígido (razão carga/recalque) do que o grupo de

estacas sem o contato do bloco, mas para a carga de trabalho (FS entre 2 e

3), o acréscimo na rigidez não foi grande, sendo que nos ensaios não

ultrapassou 30% (ver Figura 2.5);

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17

- assim como descrito por Hooper (1979), o autor constatou que uma pequena

quantidade de estacas foi suficiente para reduzir os recalques de um radier;

- uma otimização do projeto de um radier estaqueado, a fim de que este tenha

uma maior contribuição no desempenho da fundação, é conseguido para

maiores espaçamentos entre as estacas (S/D >4);

- em geral os recalques foram um pouco menores do que os previstos pela

Teoria da Elasticidade.

2.3.2 – Testes em centrífuga

O estudo do comportamento de sapatas estaqueadas em laboratório, sob a ação da

gravidade normal (1-G) e através de modelos reduzidos, apresenta algumas limitações e

restrições já mencionadas no item anterior. A opção da realização de ensaios no campo,

principalmente em grandes grupos de estacas, nem sempre é viável devido aos altos custos e

às grandes cargas requeridas para o sistema de reação.

Neste contexto, os ensaios de centrífuga vêm ganhando uma especial atenção no

estudo de sapatas estaqueadas por permitir a avaliação, qualitativa e quantitativa, de certos

aspectos inerentes a este tipo específico de fundação. Dentre alguns trabalhos, destacam-se os

seguintes :

Millan et al. (1987a) e Millan et al. (1987b) realizaram vários ensaios de estacas

isoladas e grupos de 2 e 5 estacas, com e sem o contato do bloco na superfície. O solo em

questão era uma areia, cuja densidade relativa foi variada nos diferentes ensaios. Nesses

trabalhos não se pretendia avaliar o desempenho de uma sapata estaqueada, mas apenas

verificar a importância de se considerar o contato do bloco em projetos típicos de grupos de

estacas, sendo, portanto, utilizado apenas o espaçamento padrão de três diâmetros entre as

estacas. Entretanto os ensaios mostraram alguns resultados interessantes :

- o contato do bloco com a superfície da areia implicou num aumento da

capacidade de suporte de 5 a 7% para os grupos de estacas;

- os autores verificaram que o contato do bloco com o solo aumentou as

tensões laterais na metade superior do fuste das estacas. Esses autores

creditaram o aumento da capacidade de suporte das estacas a esse aumento

das tensões laterais;

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18

- até a carga de trabalho, com um fator de segurança de 2, o contato do bloco

com o solo pouco alterou o a resposta carga x recalque do grupo de estacas,

mas ao se aproximar da ruptura a diferença de comportamentos se acentuou;

- num grupo de 5 estacas, a central absorveu mais carga do que as outras, mas

teve uma menor parcela de carga atingindo a ponta. Os autores atribuíram

este interessante efeito à interação entre as estacas somado ao efeito do

contato bloco/solo;

- quando havia o contato bloco/solo, a parcela de carga atingindo a ponta das

estacas era menor comparado com o grupo de estacas sem o contato

superficial;

- para estacas isoladas, o recalque em ensaios centrifugados foi de 10 a 15

vezes maior do que as previsões elásticas. Já para grupo de estacas, os

recalques medidos ficaram em média três vezes menores do que as

previsões teóricas. Os autores acreditam que nestes últimos ensaios tenha

ocorrido uma melhoria do solo devido à instalação de estacas adjacentes.

Thaher & Jessberger (1991) realizaram alguns testes em centrífuga com radiers

estaqueados sobre uma argila reconsolidada saturada para investigar o comportamento da

fundação do edifício “Fair Tower”, com 256 de altura, na cidade de Frankfurt-Alemanha. Os

resultados de tais testes foram comparados aos valores medidos na obra, destacando-se as

seguintes observações :

- a distribuição de carga entre as estacas e o radier ocorreu de forma bastante

semelhante;

- os recalques previstos no teste de centrífuga, entretanto, foram,

relativamente, várias vezes superiores aos valores medidos na obra.

Horikoshi & Randolph (1996) apresentaram os resultados de 6 ensaios realizados em

centrífuga para um radier flexível sobre 0, 5, 9, 21 e 69 estacas, que representavam a fundação

de um tanque de 15m de altura e 14m de diâmetro assentado sobre uma camada de argila

(Caulim consolidado). Destacam-se os seguintes pontos nesse trabalho :

- a capacidade de carga de uma estaca foi aumentada quando da presença do

“cap” sobre o seu topo, presumivelmente devido ao acréscimo das tensões

horizontais atuando no fuste da mesma;

- a utilização de poucas estacas (9) na região central da fundação, que

suportavam apenas 15 a 25% da carga total, foi suficiente para reduzir os

recalques diferencias em quase 70%, em comparação com o radier não

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19

estaqueado. Os recalques médios ficaram, no entanto, praticamente

inalterados.

2.3.3 – Testes de campo

Os ensaios com protótipos de fundações no mesmo solo em que seria executada a

fundação real, sem dúvida alguma, são a melhor forma para se levar em consideração a

maioria das propriedades dos solos intervenientes na resposta daquele tipo específico de

fundação (Poulos, 1989). Dentre alguns trabalhos, vale a pena mencionar :

Garg (1979) realizou algumas provas de carga em estacas escavadas manualmente,

com base alargada, em areias siltosas de deposição aluvionar na Índia. Foram realizados

ensaios com placas superficiais, estacas isoladas e grupos de estacas com e sem o contato

bloco/solo. As estacas possuíam diâmetro de 15cm no fuste, 37.5cm na base e 3m de

comprimento. Os grupos ensaiados possuíam 2, 4 e 6 estacas, variando-se o espaçamento

entre 1,5; 2 e 2,5 vezes o diâmetro da estaca. Garg (1979) observou os seguintes resultados:

- as provas de carga em placas foram realizadas nas estações seca e chuvosa.

Os resultados, durante a estação chuvosa, apresentaram uma redução de

60% na capacidade de suporte e um comportamento menos rígido;

- o aumento do espaçamento de 1,5 para 2,5 implicou num leve aumento da

capacidade de carga do grupo de estacas sem o contato do bloco, ou seja,

uma melhor eficiência. Chama-se aqui de “eficiência” a razão entre a carga

total do grupo e o número de estacas multiplicado pela capacidade

individual de uma estaca isolada;

- quando o bloco estava em contato com o solo, a carga absorvida pelo grupo

foi maior do que quando o bloco não se apoiava no mesmo. Entretanto, a

porcentagem de carga absorvida pelo bloco não foi fixa e dependia do nível

de carregamento;

- o autor sugere a possibilidade de se estimar a capacidade de carga do grupo

de estacas, com o apoio do bloco no solo, como a soma das cargas últimas

das estacas à capacidade de carga do bloco, considerando, entretanto,

somente a área do bloco externa à projeção das estacas, nos moldes

sugeridos por Kishida & Meyerhof (1965);

- os grupos de estacas sem o contato do bloco na superfície apresentaram

“eficiência” decrescente com o aumento do número de estacas;

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20

- para grupos com o contato com o solo, o fator de eficiência também foi

decrescente com o aumento do número de estacas, mas crescente com o

aumento do espaçamento entre as estacas, o que pode ser explicado pelo

aumento da área de contato, entre as estacas, do bloco com o solo,

similarmente ao observado por Cooke (1986);

- a rigidez de grupos de estacas sem o contato bloco/solo foi menor do que

quando o bloco tocava a superfície do solo.

Vale a pena destacar que os testes, realizados por Garg (1979), foram apenas com

grupos de estacas com pequenos espaçamentos entre as mesmas, típico do projeto tradicional

de um grupo de estacas, e não abordaram situações mais genéricas de um radier estaqueado

com maiores espaçamentos entre as estacas.

Liu et al. (1985) apresentaram os resultados de uma impressionante série de 51

provas de carga de estacas isoladas e grupos de estacas, num total de 330 estacas escavadas

ensaiadas nesta bateria de testes. Esses autores variaram as características dos testes nos

seguintes intervalos :

Diâmetro : 12,5 a 33cm;

Comprimento da estaca : 8D a 23 D (D = diâmetro);

Espaçamento : 2D a 6D;

Número de estacas no grupo : 2 a 16;

Com e sem inundação anterior ao ensaio.

Estes testes foram realizados na China, próximos à uma barragem do Rio Amarelo,

em um depósito de areia siltosa uniforme, com índices de vazios entre 0,85 a 0,95 e grau de

saturação entre 40-50%, com reologia não declarada. Destacam-se, abaixo, algumas

observações citadas pelos autores:

- no teste de um grupo de 9 estacas, espaçamento 3D e o bloco apoiado no

solo, a estaca central absorveu a menor carga dentre as estacas até a

completa mobilização da capacidade de carga das estacas externas.

Entretanto, após este ponto, a estaca central passou a absorver a maior carga

(maior carga última), fato que os autores atribuíram ao maior acréscimo nas

tensões horizontais de confinamento desta estaca;

- o comprimento da estaca (L) em relação ao tamanho do bloco (B)

influenciou na forma de mobilização do atrito lateral. Para valores de

L/B>1,5, o atrito lateral foi maior do que o encontrado para uma estaca

isolada. Quando a relação L/B era inferior a 1 (um), o valor da parcela de

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21

atrito lateral foi menor do que o medido no teste da estaca isolada. Isto

mostra a importância das deformações relativas estaca/solo na região

próxima ao bloco;

- os grupos de estacas, sem o contato bloco/solo, apresentaram um maior

atrito lateral último do que o radier estaqueado similar, para todos os

espaçamentos testados;

- a resistência residual de ponta é aumentada tanto para o grupo de estacas

quanto para o radier estaqueado, em relação a uma estaca isolada.

Entretanto, o aumento é maior para a situação de um radier estaqueado

devido às tensões de compressão do contato bloco/solo. Este aumento na

resistência de ponta foi cada vez menor quanto mais longa a estaca;

- os autores não observaram a ruptura “na forma de bloco”, como sugerido

por Kishida & Meyerhof (1965), mesmo para pequenos espaçamentos

(S/D=2). Desta forma não recomendam a utilização do método “tubulão

equivalente” para representar um radier estaqueado;

Com base nos resultados, os autores propuseram uma expressão para a capacidade de

carga:

( ) Q Q Q N Q cpusu st ++= bηη (2.10)

onde: Qt = capacidade de carga última do radier estaqueado;

Qc = capacidade de carga do bloco isolado;

Qsu = atrito lateral último de uma estaca isolada;

Qpu = carga última de ponta de uma estaca isolada;

N = número de estacas;

ηs = fator de influência no atrito lateral devido à interação bloco/solo/estaca;

ηb = fator de influência na carga da ponta devido à interação

bloco/solo/estaca.

sendo :

sss c G =η (2.11)

bbb c G =η (2.12)

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onde : Gs e Gb = fatores devido à interação estaca/solo/estaca;

cs e cb = fatores devido à interação radier/solo/estaca.

Segundo Liu et al. (1985), os parâmetros “ηs” e “ηb” podem assumir valores tanto

maiores como menores do que “1”, dependendo do número de estacas, espaçamento e

comprimento relativo das estacas (L/B). Nos testes realizados ficaram entre 0,36 e 1,51.

No Brasil, poucos foram os trabalhos em que se realizaram testes de campo em

grupos de estacas instrumentadas, a fim de separar a carga suportada pelas estacas e pelo

bloco. Dentre estes, encontra-se a série de provas de carga realizada no Campo Experimental

da Universidade de São Paulo, situado no campus de São Carlos, com grupos de 2, 3 e 4

estacas, onde se mediu a carga em cada estaca, bem como a pressão em alguns pontos sob o

bloco (geralmente no ponto central). Diversos autores publicaram estes resultados (Senna Jr et

al., 1993; Fernandes, 1995; Rezende, 1995 entre outros). Um dos objetivos dos pesquisadores

da USP de São Carlos era avaliar a contribuição do bloco quando em contato com o solo, mas

em uma configuração típica de “projeto em grupos de estacas” com espaçamento entre as

estacas de 3D e bloco rígido. Verificou-se que a carga absorvida pelo bloco variou entre 9 e

16% da carga total próximo à ruptura do sistema de fundação, porém a carga no bloco era

inferior a 5% do total quando menos de 50% da carga última estava aplicada (solo com teor

de umidade natural).

Vale a pena destacar que o solo em questão é semelhante ao da região de Brasília,

por se tratar de uma camada superficial de argila altamente intemperizada, estruturada, de

baixa capacidade de suporte e comportamento colapsível. Os resultados encontrados estão de

acordo com diversos outros trabalhos, como o de Poulos (1989), que afirmam que grupos de

estacas, com pequeno espaçamento entre as estacas e assentados sobre um solo de baixa

capacidade de suporte, terão apenas uma pequena parcela de carga absorvida pelo bloco e a

sua consideração é perfeitamente desprezível na resposta da fundação.

Décourt et al. (1995) relataram a realização de uma prova de carga de uma sapata

quadrada (2,5 x 2,5 x 1,6m) sobre uma estaca (D= 50cm e L= 10m) em um saprólito de

migmatito, cuja textura era a de uma areia siltosa. A prova de carga foi realizada através do

método de carregamento lento (SML), acompanhado do descarregamento e posterior ensaio

com carregamento rápido (QML). Ambos os resultados foram semelhantes, tendo a estaca

absorvido na faixa de 20 a 35% da carga atuante. Este ensaio foi levado a altos níveis de

carga, suficiente para mobilizar totalmente o valor último de capacidade de carga da estaca.

Uma análise deste ensaio será feita no Capítulo 6.

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23

Décourt (1996) e Campos & Sobrinho (1996) relataram sobre outra prova de carga

de uma sapata de 1,8x1,8x1,6m sobre uma estaca (D = 50cm e 9,6m de comprimento),

devidamente instrumentada. Embora tenha-se chegado a um alto valor de carga atuante no

sistema de fundação (7,2 MN), devido a problemas técnicos não foi possível medir a

porcentagem de carga absorvida em cada elemento.

Nacionalmente, dois termos específicos ficaram conhecidos para caracterizar a

associação de uma sapata com uma estaca. Décourt (1994) empregou o termo "estaca-T" se

referindo a uma sapata apoiada sobre uma estaca centrada. Val (1995) adotou "estapata" para

definir a combinação de uma sapata e uma estaca, mas que não estariam interligados

inicialmente. Um pequeno espaço seria deixado entre as partes a fim de que a sapata

suportasse uma maior parcela inicial de carga. Infelizmente poucos trabalhos comentaram o

desempenho destas configurações.

2.3.4 – Desempenho de obras

Poucos ainda são os relatos de obras cujas fundações foram projetadas em “radier

estaqueado” tirando proveito da interação radier-solo-estaca.

O’Neill et al. (1996) apresentaram ao Comitê Técnico (TC-18) da ISSMFE um

relatório dos principais casos históricos de obras encontrados na literatura, cujas fundações

foram em radier estaqueado. Estes autores colecionaram 15 casos históricos de edifícios

residenciais ou não, nos quais a fundação era composta pela associação de um radier com um

grupo de estacas. Destaca-se, porém, que mais da metade desta relação ainda foi concebida e

projetada para funcionar como “grupo de estacas tradicionais”. Comentam-se, a seguir, 7

casos de obras recentes com a fundação projetada segundo o conceito de “radier estaqueado”.

2.3.4.1 – Messeturm (Alemanha)

Com 256m de altura, este é um dos edifícios mais altos da Europa. A Figura 2.6

mostra uma comparação de seu perfil com outras grandes obras da cidade de Frankfurt-

Alemanha. Construído na segunda metade da década de 80, tal obra já teve o seu desempenho

relatado e analisado por diversos autores (Sommer et al., 1985; Sommer, 1993; Franke, 1991;

Franke et al., 1994; El-Mossalamy & Franke, 1997 entre outros). A Figura 2.7 apresenta a

disposição das estacas, bem como a instrumentação empregada nesta obra.

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24

Figura 2.6 – Edifício Messeturm e outros em Frankfurt (modificado – El-Mossalamy &

Franke, 1997)

O solo local é constituído por uma matriz de argila sedimentar (argila de Frankfurt),

pré-adensada, do período terciário, intercalada por veios de areia, até a profundidade de 70m.

O teor de umidade natural era de 35 ± 10% (próximo ao valor de LP). A resistência não-

drenada desta argila apresentava valores crescentes com a profundidade, partindo de 100 kPa

na cota do radier até valores entre 200 e 300 kPa na profundidade da ponta das estacas. O

lençol freático se encontrava a 7m da superfície.

Uma fundação em radier isolado para esta obra já seria suficiente em termos de

capacidade de carga, pois apresentava um Fator de Segurança (FS) entre 3,4 (com parâmetros

não-drenados) a 5,6 (para parâmetros drenados). Entretanto, a estimativa dos recalques se

aproximava a 40mm, e foi considerada exagerada. Optou-se pela inclusão de algumas estacas

(64) à fundação, de tal forma que estas estacas atingiriam os valores máximos de capacidade

de suporte. A capacidade de carga das 64 estacas representava uma parcela de apenas 7 a 12%

da capacidade do radier isolado, ou seja, as estacas foram utilizadas como verdadeiros

“elementos redutores de recalques”.

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25

Segundo El-Mossalamy & Franke (1997), comparando-se a fundação em radier

estaqueado com a hipótese de um radier isolado, obteve-se :

- redução do recalque máximo em 55%;

- redução do recalque diferencial em 60%;

- redução dos momentos fletores no radier em 35%.

A instrumentação da fundação constatou os seguintes fatos interessantes :

- as estacas realmente atingiram suas capacidades máximas de carga, sendo

que o atrito lateral máximo foi mobilizado de baixo para cima, inversamente

ao comportamento típico de uma estaca isolada;

- as estacas absorveram 60% da carga total, contra os 55% estimados;

- o efeito da interação com os outros elementos aumentou a capacidade de

carga individual das estacas entre 10 a 20%, e tornou o comportamento

destas estacas menos rígido quando comparado à estaca isolada;

- para baixos valores de carga, as estacas externas absorveram maiores cargas.

À medida que se aproximou da mobilização máxima de carga nas estacas,

os valores de carga, suportados por todas as estacas, ficaram bem próximos.

Randolph (1994) criticou a concepção deste projeto por não ter incluído estacas na

região central do radier, o que teria sido responsável pelos recalques diferenciais ainda

observados (distorções angulares na faixa de 1:4000). Esse autor sugeriu que a inclusão de

algumas poucas estacas na região central poderiam praticamente anular este recalque

diferencial do radier estaqueado.

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26

Figura 2.7 – Fundação do Ed. Messeturm (modificado – El-Mossalamy & Franke, 1997).

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27

2.3.4.2 – Torhaus (Alemanha)

A Figura 2.8 apresenta uma representação esquemática da fundação utilizada.

Figura 2.8 – Representação esquemática do Ed. Torhaus (modificado – O’Neill et al., 1996).

Este edifício, também situado na cidade de Frankfurt, possui 130m de altura e seu

perfil está representado pela letra “A” da Figura 2.6. Sommer et al. (1985) apresentaram

maiores detalhes deste edifício. O solo local é constituído basicamente por uma camada de

cascalho com 2,5m de espessura, abaixo da base do radier. Sob esta camada, encontra-se a

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28

argila sedimentar de Frankfurt (com resistência não-drenada variando de 100 a 200 kPa)

intercalada por finas camadas de areia.

A fundação deste edifício foi constituída por dois radier de 15 x 22m, separados por

uma distância de 15m, tendo cada um 42 estacas escavadas, de 90cm de diâmetro e 20m de

comprimento. As estacas foram distribuídas em uma malha retangular com espaçamentos

entre 3 a 3,5 vezes o diâmetro delas.

Embora numa configuração tradicional, as estacas foram projetadas para serem

totalmente mobilizadas sob a carga de trabalho da fundação. Segundo Sommer et al. (1985), a

previsão era de que o grupo de estacas suportaria 75% da carga total, ficando 25% para o

radier, com um recalque médio previsto de 16cm. À época da referida publicação, o edifício

estava com aproximadamente 2/3 da estrutura pronta e apresentava um bom grau de

aproximação das previsões.

2.3.4.3 – Westend St. 1 (Alemanha)

Também situado na cidade de Frankfurt (letra “C” na Figura 2.6), este edifício possui

aproximadamente 208m de altura e teve a fundação da torre principal executada como um

radier estaqueado, e está representado na Figura 2.9. O solo local é a argila de Frankfurt (já

citada nos dois casos anteriores), com parâmetros médios de resistência na ordem de

c' = 20 kPa e φ' = 20°.

O radier, com 47 x 62m, possui uma espessura de 4,5m na região central, sendo

reduzido para 3,0m nas bordas. Foram utilizadas 40 estacas escavadas com diâmetro de 1,3m

e 30m de comprimento. O espaçamento foi aproximadamente uniforme, mas não foram

utilizadas estacas próximas às bordas do radier (ver Figura 2.9). Maiores detalhes sobre este

edifício podem ser encontrados em Franke et al. (1994), El-Mossalamy & Franke (1997) e El-

Mossalamy & Franke (1999).

Segundo esses autores, a previsão do comportamento foi bem próximo das medições,

ficando a distribuição de carga em aproximadamente 50% para o grupo de estacas e 50% para

o radier. A interação radier-solo-estacas reduziu a rigidez das estacas, mas aumentou sua

capacidade de suporte entre 11 e 67% em relação ao comportamento de uma estaca isolada

similar. Assim como no caso do Ed. Messeturm, as estacas mobilizaram a capacidade de

carga máxima tendo a mobilização máxima do atrito lateral ocorrido de baixo para cima. As

medições dos momentos fletores no radier, quando estaqueado, indicaram uma redução

aproximada de 40% comparando-se com a hipótese de um radier não-estaqueado.

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29

Figura 2.9 – Fundação do Ed. Westend St. 1 (modificado – El-Mossalamy & Franke, 1999).

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30

2.3.4.4 – Treptowers (Alemanha)

Este edifício está situado na cidade de Berlim (Alemanha), possuindo 121m de

altura. A fundação foi projetada como um radier estaqueado, tendo o radier uma área de 37,1

x 37,1m e espessura entre 2 a 3m. As 54 estacas escavadas, com diâmetro de 88cm, possuíam

comprimentos entre 12,5 a 16m. O solo no local é constituído por uma camada de areia

média, com compacidade variando de fofa a densa entre as cotas de 3 a 40m (a base do radier

estava na cota 8m). Uma representação esquemática desta fundação pode ser vista na Figura

2.10. Maiores detalhes podem ser obtidos em Katzenbach & Reul (1997) e Reul (1998).

Figura 2.10 – Fundação do Ed. Treptowers (modificado – Reul, 1998).

Segundo Reul (1998), a previsão do comportamento, utilizando um modelo elasto-

plástico (lei de fluxo não-associada) implementado em um programa baseado no M.E.F.,

conseguiu simular bem o desempenho da obra. As estacas suportaram 65% da carga e o radier

35%, sendo que o recalque médio era de 6,3cm após o término da obra. As estacas não

atingiram o seu limite da capacidade de suporte, mas apresentaram uma considerável redução

na rigidez devido à interação radier-solo-estacas.

2.3.4.5 – QV1 (Austrália)

Trata-se de um edifício com 42 andares na cidade de Perth (Austrália), cuja fundação

foi feita com 5 sapatas estaqueadas. Uma representação da fundação pode ser vista na

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31

Figura 2.11 e maiores detalhes obtidos em Smith & Randolph (1990), Randolph & Clancy

(1994) e Randolph (1994).

Figura 2.11 – Fundação do QV1, Perth-Austrália (modificado – Randolph & Clancy, 1994).

O projeto empregou 280 estacas escavadas, de 80cm de diâmetro e 20m de

comprimento, em uma disposição aproximadamente uniforme. As estacas não foram

totalmente mobilizadas, mas ficaram com uma faixa de fator de segurança entre 2,6 a 3,5.

O grupo de estacas suportou aproximadamente 75% da carga e o radier 25%, e os

recalques variaram entre 17 a 40mm.

2.3.4.6 – Ed. Akasaka (Brasil)

Este edifício situa-se na cidade de São Paulo. O projeto estava previsto em sapatas

isoladas sob cada pilar. Para reduzir o recalque do pilar (SP11) com maior carga se avaliou a

possibilidade do uso de uma sapata estaqueada.

Poulos (1994b) comenta que somente a sapata com 7,5 x 5,5m suportaria a carga do

pilar com um fator de seguraça de 1,57 e um recalque previsto superior a 50mm, o que foi

considerado inaceitável. Decidiu-se pela inclusão de algumas estacas de concreto pré-

moldado, com 52cm de diâmetro, 12,5m de comprimento, que possuiriam capacidade de

carga individual de 2,5MN. Esse autor apresentou um estudo paramétrico para a escolha da

quantidade de estacas a ser utilizado sob esta sapata. A Figura 2.12 mostra uma vista da planta

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32

de fundações e a Tabela 2.1 apresenta uma comparação dos Fatores de Segurança possíveis

para as diferentes estratégias de projeto.

Figura 2.12 – Fundação do Ed. Akasaka, São Paulo (modificado – Poulos, 1994b).

Optou-se por um projeto final de uma sapata sobre 6 estacas, que seriam totalmente

mobilizadas, mas garantindo um fator de segurança global (F.S.) da ordem de 2,25 para a

fundação, e ainda limitando-se o recalque desta fundação em 30mm. Nesta condição as

estacas suportariam aproximadamente 65% da carga e o radier os 35% restantes. Infelizmente

nada foi publicado sobre o acompanhamento desta obra até o presente momento.

Tabela 2.1 – Ed. Akasaka – FS x Número de estacas (modificado – Poulos, 1994b).

Estratégia de Fator de Segurança (FS) Número de Estacas

Projeto p/ Estacas Geral requerido Estacas suportando toda a carga 2,5 4,1 23 Estacas com baixo fator de segurança 1,45 3,0 13 Estacas totalmente mobilizadas 1,0 2,5 8 Estacas totalmente mobilizadas e 1,0 2,0 4 Baixo FS global Radier isolado (sem estacas) --- 1,57 0

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33

2.3.4.7 – Edifício residencial de cinco pavimentos em Tókio (Japão)

Yamashita et al. (1994) e Yamashita et al. (1998) descreveram o caso histórico de

um edifício residencial com cinco pavimentos, na cidade de Tókio, cuja fundação foi

projetada em radier estaqueado e teve seu comportamento monitorado por instrumentação sob

o radier e em algumas estacas.

Os autores avaliaram a possibilidade de se utilizar somente o radier (23 x 24m) como

a fundação para esta obra, mas estimaram um grande recalque no centro do mesmo, bem

como elevadas distorções angulares entre os pilares. Face a este problema, optaram por incluir

algumas estacas a fim de atuarem como elementos redutores de recalque. Foram utilizadas 16

estacas mistas (um perfil-H de aço envolto por solo-cimento), com diâmetro de 0,8m e

comprimento aproximado de 16m. A Figura 2.13 mostra uma representação esquemática do

perfil do solo local e também do posicionamento das estacas.

Figura 2.13 – Caso histórico de um edifício residencial em Tókio (modificado – Yamashita et

al., 1994).

Yamashita et al. (1994) relataram que na época da conclusão da obra foram

registrados recalques máximos da ordem de 20mm, e uma parcela de 50% da carga total

atuante teria sido absorvida pelo grupo das estacas.

Cunha et al. (2000a) reavaliaram este caso analisando diversas combinações de

espessura do radier, número, posicionamento e comprimento das estacas. Estes autores

atestaram que uma otimização do projeto ainda seria possível, mesmo respeitando limites

particulares para recalques máximo e diferencial.

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34

2.4 – MÉTODOS DE ANÁLISE

A previsão do comportamento de uma sapata estaqueada ou radier estaqueado é uma

tarefa complexa devido ao grande número de fatores envolvidos na interação sapata-solo-

estacas. Nesta seção apresentam-se, de maneira resumida, alguns dos métodos que tentam

representar o comportamento de um radier estaqueado. Lembra-se, mais uma vez, que foge à

proposta desta pesquisa o enfoque de métodos específicos para estacas isoladas ou grupos de

estacas (sem o contato bloco/solo) e por isto foram omitidos.

Segundo Poulos (1994b), o processo racional do projeto de um radier estaqueado deve

envolver dois estágios:

- “preliminar”, onde se verifica a viabilidade do uso de um radier

estaqueado, bem como e estimativa da dimensão do radier e o número de

estacas a se empregar. Este estágio deve envolver cálculos simples,

normalmente sem o auxílio de um computador.

- “detalhamento do projeto”, segunda etapa onde se busca obter a

otimização do número, posicionamento e dimensões das estacas. A

otimização da espessura do radier também é estudada. Esta etapa deverá

fornecer detalhada distribuição dos recalques, forças e momentos atuantes

no radier e estacas. Certamente, nesta etapa, far-se-á necessário o uso de

computadores e programas específicos.

Neste contexto, os métodos podem ser classificados em duas categorias :

“Simplificados ou Preliminares” e “Detalhados ou Métodos Numéricos”.

2.4.1 – Métodos Simplificados

2.4.1.1 – Correlações empíricas

a) Capacidade de Suporte :

Kishida & Meyerhof (1965), conforme mencionado no item 2.2, sugeriram que a

capacidade de carga de uma “fundação estaqueada” pode ser estimada por :

cgt Q Q Q += (2.13)

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35

onde : Qt = capacidade de carga total da fundação;

Qg = capacidade de carga do grupo de estacas;

Qc = capacidade de carga do radier.

Os valores de Qg e Qc são funções da forma prevista de ruptura, que por sua vez

basicamente é função do espaçamento entre estacas.

Akinmusuru (1973) apresentou a equação:

cgt Q Q α' Q += (2.14)

onde : α’ = fator de aumento da capacidade de carga do grupo de estacas devido à

interação radier-solo-estacas. (ver Figura 2.4).

Liu et al. (1985), com base em ensaios de campo, sugeriram:

cbbsst Q )Q η Q (η N Q ++= (2.15)

onde : N = número de estacas;

Qs = capacidade de carga por atrito lateral de uma estaca isolada;

Qb = capacidade de carga da ponta de uma estaca isolada;

ηs = fator de influência na carga do fuste devido às interações radier-solo-

estaca;

ηb = fator de influência na carga da ponta devido às interações radier-solo-

estaca;

Phung (1993), generalizando a proposta de Liu et al. (1985), propôs:

c6b4b1bs4s1st Qη )Q η η Q η η( N Q ++= (2.16)

onde: η1s = fator de influência no atrito lateral das estacas devido às interações

estaca-solo-estaca;

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36

η4s = fator de influência no atrito lateral das estacas devido às interações radier-

solo-estaca;

η1b = fator de influência na resistência de ponta devido às interações estaca-

solo-estaca;

η4b = fator de influência na resistência de ponta devido às interações radier-

solo-estaca;

η6 = fator de influência na capacidade de carga do radier devido às interações

radier-solo-estaca;

Em todos estes métodos são apresentados ábacos para os diversos valores de “α” e “η”

com base nos ensaios realizados por cada autor. Ressalva-se que estas “calibrações” foram

para perfis específicos de solos, e devem ser aplicados com cautela em condições distintas.

El-Mossalamy & Franke (1997) consideram a proposta de Kishida & Meyerhof (1965)

como um limite inferior e a equação de Phung (1993), Eq. (2.16), como um limite superior.

Entretanto, por simplicidade e conservadorismo, sugerem a adoção da proposta dos primeiros

como uma aproximação inicial. Além do mais, na grande maioria dos casos, a capacidade de

carga não é o fator decisivo da fundação, uma vez que o radier sozinho seria capaz de suportar

quase ou toda carga atuante. O fator decisivo no dimensionamento da fundação é o controle

de recalque total e/ou diferencial.

b) Recalque Médio :

Não existe nenhuma correlação específica para “radier estaqueado”. Geralmente são

mencionadas correlações também utilizadas para grupos de estacas. Este procedimento é

justificado por alguns, baseado no fato de que, na maioria dos casos, é o grupo de estacas que

comanda a fase inicial dos recalques, ou seja, antes da mobilização completa da capacidade de

carga de todo o grupo de estacas, estas suportariam a maior parcela da carga e, portanto,

ditariam o recalque do sistema de fundação. Por simplicidade, as correlações são expressas

em termo do Fator de Recalque (Rs), que é a razão entre o recalque do grupo de estacas e o

recalque de uma estaca isolada. Citam-se, abaixo, algumas correlações mencionadas na

literatura:

Skempton (1953) sugeriu a seguinte equação:

2

12 B9 4B Rs ⎟⎠⎞

⎜⎝⎛

++

= (2.17)

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37

onde: B = largura do grupo de estacas (em metros).

Meyerhof (1959) propôs:

2

rn1 1

3c - 5 c

Rs

⎟⎟⎠

⎞⎜⎜⎝

⎛+

⎟⎠⎞

⎜⎝⎛

= (2.18)

onde : c = S/D = relação espaçamento/diâmetro da estaca;

nr = número de linhas de estacas.

Vésic (1969) sugeriu:

DB Rs = (2.19)

onde: B = largura do grupo de estacas;

D = diâmetro das estacas.

Randolph, em Fleming et al. (1985), propôs:

wn Rs = (2.20)

onde : n = número de estacas;

w = expoente, geralmente entre 0,4 e 0,6 para a maioria dos grupos. O valor

“0,5” vem sendo empregado por diversos autores, como Poulos (1993a).

Poulos & Davis (1980) propuseram uma série de ábacos para a determinação de Rs,

considerando fatores de interação entre estacas. Estes fatores foram calculados, pelo M.E.C.,

supondo válido o princípio da superposição dos campos de deformação para pontos próximos

a várias estacas. Os fatores de interação, além das propriedades elásticas do solo e das estacas,

dependem fundamentalmente do espaçamento entre os elementos envolvidos.

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38

2.4.1.2 – Fundações equivalentes

Buscando uma maior simplificação, diversos autores tentam transformar o radier

estaqueado em outra fundação “equivalente” (um radier, tubulão ou pórtico), a fim de utilizar

outras correlações e teorias já estabelecidas. Obviamente as simplificações terão um melhor

resultado em certos tipos de solos do que em outros, mas conforme lembrado por Poulos

(1993a), “as imprecisões envolvidas no uso de métodos aproximados geralmente são menos

significativas do que as incertezas envolvidas na determinação dos parâmetros geotécnicos”.

Entre as equivalências, vale a pena destacar as descritas abaixo:

a) Radier Equivalente:

Este método é utilizado para prever o recalque de um radier estaqueado. A proposta

básica vem da sugestão feita por Terzaghi (1943), que considerou um grupo de estacas

equivalente a um radier situado acima da ponta das estacas, a uma distância de “1/3” do

comprimento das estacas. A partir desta hipótese seriam calculados os acréscimos de tensões

e o recalque médio da fundação, utilizando-se a teoria da elasticidade ou o método de

espraiamento de tensões na proporção “2:1” (vertical:horizontal). Randolph (1994) sugeriu

uma alteração para incorporar o tamanho do radier (ver Figura 2.14)

Figura 2.14 – Radier equivalente. Proposição de Randolph (modificado – Randolph, 1994).

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39

Thaher & Jessberger (1990) sugeriram um “método radier equivalente modificado”

para calcular o recalque de um radier estaqueado, em que a carga aplicada é transferida para o

solo através de vários radiers, em diversas profundidades, ao invés de uma única posição.

Embora tal método tenha mostrado bom resultado para o caso analisado por esses autores, não

ficou tão simples a sua utilização como seria a idéia básica de um “método simplificado”.

b) Tubulão Equivalente:

Este método foi proposto por Poulos & Davis (1980), e alterado em Poulos (1993a).

Supõe que o grupo de estacas possa ser considerado como um único “tubulão equivalente”,

com diâmetro igual a:

- estacas predominantemente por atrito lateral:

Geq A 1,27 d = (2.21)

- estacas onde predomina a carga na ponta:

Geq A 1,13 d = (2.22)

onde: AG = área da figura plana circunscrita ao grupo de estacas.

O módulo elástico (Eeq) do “material” do tubulão equivalente seria calculado como

uma média ponderada dos módulos de elasticidade do solo (Es) e das estacas (EP):

⎟⎟⎠

⎞⎜⎜⎝

⎛+=

G

ps

G

ppeq A

A - 1 E

AA

E E (2.23)

onde: Ap = é a soma das seções transversais de todas as estacas.

Após se reduzir o grupo de estacas ou radier estaqueado em um tubulão equivalente,

poder-se-ia utilizar alguma solução teórica aplicável a estacas isoladas, como por exemplo

Randolph & Wroth (1978) ou Poulos & Davis (1980).

Poulos (1993a) analisando alguns casos de grupos de estacas sugeriu que a solução

“tubulão equivalente” seria mais aplicável para pequenos grupos de estacas (<16 estacas), e

“radier equivalente” seria mais adequado a grandes grupos (>16 estacas).

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40

Randolph (1994) comparou a solução “tubulão equivalente” com métodos numéricos

para diversos valores de espaçamento, comprimento, e grupos com até 289 estacas, e

considerou bastante razoável a solução estimada pelo método “tubulão equivalente”,

principalmente em termos de análise simplificada e preliminar. Em geral houve uma leve

tendência em superestimar os recalques previstos.

c) Pórtico Equivalente:

Para grupo de estacas existe a proposta de Schiel (1970), que considera o grupo como

um pórtico, desprezando a presença do solo entre as estacas. Para radier estaqueado foi

proposta uma extensão deste método por Desai et al. (1981). Esses autores apresentaram uma

solução onde, além do pórtico representando as estacas e o bloco, o solo é considerado como

um meio de Winkler, substituído por uma série de molas.

Esta hipótese não considera a interação dos diversos elementos, uma vez que o meio

de Winkler não transmite esforços entre os elementos. Cabe ainda lembrar que o módulo de

reação do solo (constante das “molas” de Winkler) depende da geometria do problema,

tornando mais complexa a sua estimativa para cada problema em particular.

El-Mossalamy & Franke (1997) afirmaram que este método pode dar resultados

satisfatórios quanto aos esforços internos no radier, mas usualmente leva a estimativas irreais

de recalque.

Poulos (1999) mostra que o modelo de Winkler, aplicado na análise de um radier,

fornece resultados razoáveis quanto aos esforços internos (momentos fletores e tensões

cisalhantes), quando se trata de uma única carga pontual aplicada. À medida que o número de

pontos de carga aumenta, sendo a carga distribuída um limite extremo, a diferença dos

resultados do modelo de Winkler, em relação a métodos mais precisos, passa a ser muito

representativa, e, portanto, não deveria ser utilizado nestes casos.

2.4.1.3 – Métodos baseados na teoria da elasticidade

a) Método de Poulos & Davis (1980)

Poulos (1968b) apresentou a solução elástica para o recalque de uma estaca com

“cap”. Davis & Poulos (1972) expandiram esta idéia considerando um radier estaqueado

como um conjunto de diversas estacas com “cap” interagindo entre si. Foram apresentados

vários ábacos (reimpressos também em Poulos & Davis, 1980) para estimar o fator de

recalque (RG) de um radier estaqueado, sendo:

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41

1GG P R δδ = (2.24)

GcG R R R = (2.25)

onde: δ = recalque do radier estaqueado;

δ1 = recalque de uma estaca sem “cap” sob carga unitária;

PG = carga total atuante no radier estaqueado;

RG = relação entre o recalque médio da fundação (radier estaqueado) e o

recalque de uma estaca isolada, sem “cap”, sob carga total atuante no

grupo;

Rc = razão entre o recalque de uma estaca com “cap” e outra similar sem o

“cap”;

GR = razão entre o recalque médio de uma fundação (radier estaqueado) e o

recalque de uma estaca, com “cap”, sob carga total atuante no grupo.

Poulos & Davis (1980) apresentaram um método simples para situações onde o

conjunto de estacas seria totalmente mobilizado. A Figura 2.15, apresenta o modelo trilinear

proposto pelos autores. O método consta das seguintes partes:

- no trecho OA, antes da total mobilização das estacas, o recalque seria

estimado pela Eq. (2.24).

- no trecho AB, após a total mobilização de todas as estacas, assumiu-se que

toda a carga excedente ao valor “PA” seria absorvida pelo radier (ou cap), e

portanto o recalque excedente ao valor “δA” seria calculado como o de um

radier isolado sem a presença das estacas. Este acréscimo de recalque (δB -

δA) seria calculado por qualquer equação elástica, dependendo da forma do

radier. Por exemplo, para um radier quadrado de lado “B”, o recalque

poderia ser estimado por:

( ) ( ) E . B

-1 P P 0,947 R P 2

Aw1GAw

ν−+δ=δ (2.26)

Page 69: universidade de brasília faculdade de tecnologia departamento de ...

42

onde: Pw = carga, entre os valores PA e PB, aplicada ao radier estaqueado;

δw = recalque do radier estaqueado, sob a carga Pw;

E e ν são o módulo elástico e coeficiente de Poisson do solo em questão

- o trecho BC corresponderia a ruptura completa do sistema de fundação.

Embora tal método seja simplificado e passível de críticas pela forma de estimar o

acréscimo de recalque no trecho AB da Figura 2.15, foi a primeira tentativa de simular, de

maneira simplificada, situações onde se permite a total mobilização das estacas.

carga B C PB

Pw A PA δA δw δB recalque Figura 2.15 – Método trilinear de Poulos & Davis (modificado – Poulos & Davis, 1980).

b) Método de Randolph

Randolph & Wroth (1978) apresentaram uma solução aproximada para o processo de

transferência de carga ao solo de uma estaca isolada carregada axialmente, com base na

solução de Boussinesq para um semi-espaço elástico, representado na Figura 2.16

Este método permite a variação linear do módulo cisalhante (G) com a profundidade, e

os autores chegaram à seguinte equação para a resposta de uma estaca isolada:

( )( )

( )( )

o

o

tL

T

rL

L Ltgh

141 1

rL

L Ltgh2

14

wr. .G

P

µµ

ξνη

πλ

µµ

ζπρ

ξνη

−+

+−

= (2.27)

Page 70: universidade de brasília faculdade de tecnologia departamento de ...

43

onde : PT = carga no topo da estaca;

wt = recalque no topo da estaca;

GL = módulo cisalhante do solo a uma profundidade Z = L;

L = comprimento da estaca;

ro = raio da estaca;

ob rr =η , rb = raio da ponta da estaca;

bL GG =ξ , Gb = módulo cisalhante abaixo da ponta da estaca;

== G , GG Lρ módulo cisalhante médio do solo no trecho penetrado pela

estaca;

Lp GE =λ , Ep = módulo de Young do material da estaca;

( )om rrln =ζ

( )[ ] 25,0- 1 5,2 0,25 L rm −+= νρξ = máximo raio de influência;

ζλ

µ 2rL Lo

=

Figura 2.16 – Processo de transferência de carga (modificado – Randolph & Wroth, 1978).

Page 71: universidade de brasília faculdade de tecnologia departamento de ...

44

Em termos de rigidez da estaca, a Eq.(2.27) poderia ser reescrita na forma:

( )( )

( )( )

⎥⎥⎥⎥

⎢⎢⎢⎢

−+

+−

==

o

ooL

t

Tp

rL

L Ltgh

141 1

rL

L Ltgh2

14

rG wP

K

µµ

ξνη

πλ

µµ

ζπρ

ξνη

(2.28)

Randolph & Wroth (1979) expandiram este trabalho para um grupo de estacas,

alterando os parâmetros de transferência de carga (ζ) e de rigidez da estaca (ξ), pelas

seguintes expressões:

∑=

⎟⎟⎠

⎞⎜⎜⎝

⎛=

n

2i o

i*

rs

ln - n ζζ (2.29)

⎥⎥⎦

⎢⎢⎣

⎡+= ∑

=

n

2i i

b*

sr2 1

πξξ (2.30)

onde: si = é o espaçamento entre duas estacas;

n = número de estacas no grupo.

De forma semelhante, a rigidez de um grupo de estacas poderia ser estimada utilizando

(ζ*) e (ξ*) na Eq.(2.28).

Para um radier estaqueado, Randolph (1983) propôs o seguinte sistema de equações:

P

P

K1

K

KK1

w

w

r

pg

rpgrp

rpr

pg

r

pg

⎭⎬⎫

⎩⎨⎧

⎥⎥⎥⎥

⎢⎢⎢⎢

=⎭⎬⎫

⎩⎨⎧

α

α

(2.31)

onde : Ppg = carga absorvida pelo grupo de estacas;

Pr = carga absorvida pelo radier;

wpg = recalque do grupo de estacas;

wr = recalque do radier;

Kpg = rigidez do grupo de estacas;

Page 72: universidade de brasília faculdade de tecnologia departamento de ...

45

Kr = rigidez do radier;

αpr , αrp = fatores de interação.

pelo teorema da reciprocidade:

pg

rrppr K

K αα = (2.32)

Impondo a igualdade entre os recalques do radier e do grupo de estacas, a rigidez

global do radier estaqueado (Kpr) pode ser expresso por:

( )

KK - 1

K 2-1 K K

pgr2

rp

rrppgpr

⎟⎠⎞

⎜⎝⎛

+=

α

α (2.33)

e a parcela de carga absorvida pelo radier (Pr) :

( )( ) 2 - 1K K

K -1

PPP

rprpg

rrp

pgr

r

α

α

+=

+ (2.34)

Randolph (1983) sugeriu que “αrp” poderia ser aproximado por :

( )ζ

α ocrp

rrln - 1 = (2.35)

onde : rc = é o raio do círculo de mesma área da parte do radier associado a cada

estaca.

Clancy & Randolph (1993) afirmaram que “αrp” poderia ser aproximado pelo valor

“0,8”, independente do espaçamento, comprimento e rigidez das estacas. Desta forma as

Eq.(2.35) e (2.34) poderiam ser aproximadas por:

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46

pg

pgr

pgr

pr K

KK 0,64 - 1

KK 0,6 - 1

K⎟⎠⎞

⎜⎝⎛

⎟⎠⎞

⎜⎝⎛

= (2.36)

pg

r

pgrpg

rKK

KK 0,8 - 1

0,2 PP

⎟⎠⎞

⎜⎝⎛

= (2.37)

O método acima descrito permite calcular o recalque “médio” do radier estaqueado.

Horikoshi & Randolph (1997) apresentaram gráficos que podem ser utilizados para a

estimativa do recalque diferencial em função do recalque médio calculado anteriormente.

2.4.1.4 – Método de “suportes de reação constante”

Este método, bastante simplificado, destina-se a casos em que poucas estacas são

acrescentadas ao radier apenas para limitar o seu recalque, isto é, “elementos redutores de

recalque” na forma da sugestão de Burland et al. (1977). As etapas são:

- calcular a carga (P0) que o radier suportaria dentro do limite aceitável de

recalque;

- com o restante da carga atuante (Pt – P0), calcula-se o número de estacas

necessárias. Estas estacas devem trabalhar principalmente por atrito lateral e terem suas

cargas totalmente mobilizadas.

Neste método, as estacas são concebidas apenas como suportes independentes, cuja

carga é conhecida, e o recalque do radier é calculado como se fosse apenas um radier isolado

suportando a parcela de carga (P0).

Esta concepção vem sendo aplicada por vários autores devido a sua grande

simplicidade (El-Mossalamy & Franke, 1997), apesar de sérias restrições teóricas, como

desprezar a contribuição das estacas no recalque do conjunto, podendo subestimar em muito o

recalque real. Uma outra simplificação deste método, mas que também é feita na maioria dos

métodos preliminares, é supor que a carga suportada pela estaca no radier estaqueado será a

mesma de uma estaca isolada, o que diversos trabalhos experimentais vêm mostrando não ser

verdade.

Page 74: universidade de brasília faculdade de tecnologia departamento de ...

47

2.4.2 – Métodos detalhados

Nas últimas três décadas houve um grande desenvolvimento das ferramentas

matemáticas e dos equipamentos disponíveis (memória e velocidade). Métodos como

Elementos Finitos, Diferenças Finitas e Elementos de Contorno passaram a ser cada vez mais

utilizados na análise de fundações e, assim, permitiram o emprego de modelos mais

complexos para o comportamento do solo, levando em consideração fatores como a não-

lineariedade, heterogeneidade, influência da superestrutura, carregamentos diversos, etc.

Buscando uma forma didática de exposição, os métodos numéricos disponíveis para a

análise de radiers estaqueados poderiam ser agrupados da seguinte maneira:

- análise com o Método dos Elementos de Contorno (M.E.C.);

- análise com o Método dos Elementos Finitos (M.E.F.);

- análise com métodos mistos ou híbridos.

2.4.2.1 – Análise utilizando o Método dos Elementos de Contorno

O Método dos Elementos de Contorno (M.E.C.) envolve a solução de um conjunto de

equações integrais, onde somente o contorno do problema necessita ser discretizado. A

solução numérica é inicialmente obtida nos contornos e posteriormente são inferidos os

valores nos pontos interiores do domínio em questão. Em geral as soluções disponíveis na

literatura partem da equação de Mindlin (Mindlin, 1936) para uma carga pontual inserida em

um semi-espaço elástico. Como conseqüência deste fato, a heterogeneidade do solo, não-

lineariedade do solo e da interface estaca/solo somente podem ser consideradas de maneira

aproximada. Outro ponto é que quase a totalidade das análises, encontradas na literatura

dentro desta categoria, considera o radier como “rígido”, o que pode não ser a situação real.

Dentre os principais trabalhos, vale destacar:

Butterfield & Banerjee (1971a) analisaram o comportamento de grupos de estacas com

o bloco (rígido) em contato com o solo. A Figura 2.17 mostra a comparação entre os

recalques calculados “com” e “sem” o contato do bloco.

Esses autores afirmaram que o contato do radier com o solo, embora faça o primeiro

absorver uma razoável parcela da carga aplicada (20 a 60%), pouco alterou a rigidez da

fundação, reduzindo os recalques apenas entre 5 a 15%. Outra observação desses autores foi

que, para espaçamentos convencionais de grupos de estacas (3D), a distribuição de cargas nas

estacas foi alterada em função do contato radier/solo.

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48

Figura 2.17 – Comparação do desempenho de um grupo de estacas “com” e “sem” o contato

do bloco (modificado – Butterfield & Banerjee, 1971a).

Por ser um dos primeiros trabalhos numéricos sobre “radiers estaqueados”, esta

referência se tornou um “benchmark” e vem sendo bastante utilizada como ponto de

comparação de cada novo método que surge.

Kuwabara (1989) desenvolveu um programa utilizando o M.E.C. e descreveu a análise

de um radier rígido estaqueado em um meio semi-elástico. Esse autor adotou um caso básico

de um radier sobre 9 estacas, S/D = 5 (espaçamento relativo), L/D = 25 (comprimento

relativo) e K = Ep/Es = 1000 (rigidez relativa estaca/solo), e fez diversas análises paramétricas

chegando a algumas interessantes observações:

- a rigidez da fundação, relação carga/recalque, é levemente maior para um

radier estaqueado quando comparado a um grupo de estacas sem o contato

do bloco. Esta diferença só aumenta para grandes valores de S/D ou para

estacas muito curtas (baixo valor de L/D);

- a parcela de recalque por adensamento (estimado elasticamente) é maior em

um radier estaqueado do que no grupo de estacas;

- para estacas mais compressíveis, ou seja, baixos valores de “K”, o radier

absorve mais carga, entretanto a variação é pequena para valores de K acima

de 1000;

Page 76: universidade de brasília faculdade de tecnologia departamento de ...

49

- estacas com alta compressibilidade, em relação ao solo, implicam na

diminuição da parcela de carga que chega a ponta das estacas;

- a presença do radier reduz consideravelmente a transferência de carga pelo

fuste no terço superior das estacas, mas pouco altera no restante. Isto

justificaria a redução da rigidez da estaca, pois para um mesmo nível de

deslocamento a estaca sob o radier mobiliza menos carga do que quando no

grupo livre;

- as tensões no solo interior ao posicionamento das estacas são baixas e

relativamente homogêneas. Já as tensões no solo exterior às estacas (borda

do radier) são grandes e variam bruscamente.

2.4.2.2 – Análise utilizando o Método dos Elementos Finitos

Reconhecido por muitos (Poulos, 1994a, El-Mossalamy & Franke, 1997, etc.) como a

ferramenta de maior potencialidade para a consideração dos diversos fatores intervenientes na

análise de um radier estaqueado, o M.E.F. não vem sendo muito utilizado no estudo deste tipo

de fundação. Um radier estaqueado se constitui basicamente num problema tridimensional e

quando se deseja incorporar características, como a não-lineariedade do solo, ou um modelo

mais sofisticado, a solução pode demandar um enorme tempo de execução (Poulos, 1998a).

Com a crescente evolução dos equipamentos computacionais esta barreira do tempo de

execução tem sido minimizada continuamente e certamente o M.E.F. passará a ocupar uma

parcela cada vez maior entre as análises numéricas de radiers estaqueados num futuro

próximo.

Atualmente os autores buscam sempre comparar as soluções obtidas com métodos

simplificados às obtidas pelo M.E.F., uma vez que muitos autores (Poulos (1994b), etc.)

consideram o M.E.F. como o melhor “benchmark”.

Buscando simplificar o problema, alguns autores tentaram reduzir o problema

tridimensional do radier estaqueado em uma situação de deformação plana (Desai, 1974) ou

axisimétrica (Naylor & Hooper, 1974). Presley & Poulos (1986) apresentaram uma solução

onde um radier estaqueado quadrado é simplificado por “círculos” concêntricos de estacas

equivalentes (ver Figura 2.18). Esta simplificação, embora possa dar bons resultados em

alguns casos (Hooper, 1979), tem a grande restrição de só funcionar em problemas de

geometria simétrica com carregamentos verticais, e, também, impossibilita a obtenção dos

momentos transversais no radier.

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50

Figura 2.18 – Simplificação de um radier estaqueado por “círculos concêntricos” equivalentes

(modificado – Presley & Poulos, 1986).

Entre as soluções utilizando uma análise completa 3-D com o M.E.F., Ottaviani (1975)

parece ter sido o primeiro a empregá-la para um radier estaqueado. Esse autor utilizou um

modelo elástico-linear para o solo na análise de grupos de 9 e 15 estacas, com e sem o contato

radier/solo.

O autor concluiu que o bloco (ou radier) não somente absorveria parte da carga

aplicada, mas também alteraria o mecanismo de transferência de carga ao solo pelas estacas.

A pressão de contato do bloco na superfície do solo reduz consideravelmente as tensões

cisalhantes próximas à parte superior das estacas, e, ao mesmo tempo, aumenta as tensões

verticais no solo próximo à ponta das estacas.

Recentemente outros autores empregaram análises mais completas com o M.E.F. Por

exemplo, Katzenbach et al. (1994) e Reul (1998) empregaram análises 3-D com modelos

constitutivos elasto-plásticos para o solo na análise do edifício Treptowers na cidade de

Berlim. No modelo usado, o fluxo plástico foi definido por um potencial de fluxo não-

associado na superfície cisalhante e uma lei associada no “cap”. Figura 2.19 exemplifica a

malha e o modelo utilizados nesta análise. Maiores detalhes da análise e do modelo são

encontrados em Reul (1998).

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51

(a) – malha de elementos finitos – 3D

(b) - superfície de plastificação no (c) - superfície de plastificação no

espaço das tensões principais. plano “p – t”.

Figura 2.19 – Aplicação de uma análise 3-D com o M.E.F. para a fundação do Ed. Treptowers

(modificado – Reul, 1998).

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52

2.4.2.3 – Análises combinando mais de um método

Buscando tirar proveito das vantagens e superar as limitações que cada um dos

métodos anteriores oferecem, vários autores propuseram métodos de análise de um radier

estaqueado através da associação de mais de uma “ferramenta matemática”.

Hain & Lee (1978) foram os pioneiros nesta linha de trabalho. Eles apresentaram um

programa que discretiza o radier em elementos de placa, pelo M.E.F., para considerar a

rigidez do mesmo, e o conjunto solo-estacas foi analisado pelo M.E.C., através do método da

superposição dos fatores de interação entre cada elemento da fundação. Para combinar os dois

métodos é imposta a compatibilidade dos deslocamentos na interface radier/solo, mantendo-

se, assim, um único sistema de equações a serem resolvidas.

A Figura 2.20 representa os quatro diferentes tipos de interações consideradas por

Hain & Lee (1978).

Figura 2.20 – Fatores de interação utilizados no método de Hain & Lee (modificado – Hain &

Lee, 1978).

Destacam-se os principais comentários apontados por Hain & Lee (1978):

- a inclusão de poucas estacas sob o radier em geral produz uma importante

redução do recalque do conjunto;

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53

- quanto mais compressível for o grupo de estacas, menor será a carga

absorvida por este grupo;

- para uma dada fundação, maior será a carga absorvida pelo grupo de

estacas quanto mais flexível for o radier;

- quanto mais rígido o radier, maior o momento gerado e maior a

desigualdade de cargas entre as estacas.

Clancy & Randolph (1993) analisaram o problema de um radier estaqueado,

considerando o radier como elementos “finos de placa – 2D” e as estacas foram discretizadas

numa série de cilindros interligados. Todas as quatro formas de interação foram consideradas.

A Figura 2.21 mostra a representação esquemática do problema.

1. Elemento unidimensional da estaca 2. Resistência do solo, em cada nó da estaca, representado por molas T-Z 3. Radier dividido em malha de elementos finitos de placa (2-D) 4. Resistência do solo atuante em cada nó do radier, representada por mola equivalente 5. Efeito de interação estaca-solo-estaca calculada entre 2 nós pela equação de Mindlin 6. Interação estaca-solo-radier 7. Interação radier-solo-radier Figura 2.21 – Forma de consideração de um radier estaqueado (modificado – Clancy &

Randolph, 1993).

Poulos (1994a) apresentou o programa GARP, onde o radier era analisado pelo

método das diferenças finitas e as estacas representadas por molas equivalentes onde todas as

formas de interação, mostradas na Figura 2.20, foram consideradas através do método de

superposição de campos de deformação. Posteriormente Small & Poulos (1998) alteraram

esse programa (GARP6 – versão 6.0 do programa GARP), em que o radier passou a ser

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54

representado por elementos de placa através do M.E.F. Este programa incorpora algumas

técnicas que permitem simular:

- heterogeneidade no perfil do solo;

- limite de pressão (positiva e negativa) no solo sob o radier;

- estacas com resposta não-linear e limite de capacidade de carga na

compressão e tração;

- estacas com diferentes propriedades dentro do sistema de fundação;

- possibilidade de aplicação de carregamentos distribuídos, concentrados

(verticais) e momentos em duas direções;

- imposição de campos de deformação do solo para simular efeitos de

consolidação e/ou expansão.

El- Mossalamy & Franke (1997) apresentaram um programa combinando o M.E.F.

para o radier e a análise completa do solo/estacas pelo M.E.C. A resposta não-linear da

interface estaca/solo é considerada separadamente no fuste e na ponta. É possível, ainda,

simular outras peculiaridades como o escorregamento de trechos das estacas em relação ao

solo após a mobilização total do atrito lateral naquele trecho.

Muitos outros autores vêm adotando esta técnica de “análise mista”, cuja

representação do radier pelo M.E.F possibilita incorporar efeitos da flexibilidade deste, bem

como a determinação mais detalhada de todos os esforços em várias posições do mesmo. Para

a representação do conjunto solo/estacas é buscada uma forma alternativa, geralmente pelo

M.E.C., para corretamente incorporar os efeitos de todas as interações sem o ônus de

gigantescos sistemas de equações. Apresenta-se a seguir a Tabela 2.2, com outros métodos

não citados anteriormente.

Em nível de Brasil, dois trabalhos merecem ser lembrados.

Val & Mello (1986) apresentaram um método expandindo o trabalho de Aoki & Lopes

(1975). Trata-se de um processo iterativo da estimativa do recalque de um grupo de estacas

com a contribuição do bloco no desempenho do conjunto.

Os autores chamaram a atenção que a consideração do bloco como parte atuante da

fundação poderia reduzir os recalques e aumentar a capacidade de carga daquela fundação,

permitindo otimizações nos projetos, o que representaria grande economia em vários casos.

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55

Tabela 2.2 – Programas recentes para a análise de radier estaqueados.

Programa Autor Ano Método HyPR Clancy & 1993 Placa modelada pelo M.E.F. e cada estaca é conside- Randolph rada como uma série de molas interligadas.

GARP Poulos 1994a Placa modelada pelo M.E.F.(versão atual), sobre molas considerando as interações dos elementos.

NAPRA Russo 1995 Placa pelo M.E.F e estacas como molas não-lineares considerando as interações.

PIRAF Ta & Small 1996 Radier modelado pelo M.E.F. e o solo/estacas pelo Método das Camadas Finitas.

GAPR El-Mossalamy & 1997 Método dos Elementos de Contorno, considerando Franke resposta não-linear das estacas.

Não Yamashita et al. 1998 Placa modelada pelo M.E.F. e estacas como molas de disponível comportamento não-linear.

Mendonça (1997) desenvolveu um programa combinando M.E.F. e M.E.C. para a

análise de um radier estaqueado. Este trabalho enfocou mais o lado estrutural do problema,

verificando a influência da compressibilidade das estacas. O solo foi considerado como linear

elástico e os resultados dos exemplos analisados tiveram uma excelente concordância com o

trabalho de Butterfield & Banerjee (1971a).

2.5 – CONCEPÇÕES E ESTRATÉGIAS DE PROJETO

Randolph (1994) classificou as filosofias de projeto de radier estaqueados em três

diferentes categorias:

a) “Convencional” – As fundações são projetadas essencialmente como grupos de

estacas, mas permitindo que o radier suporte parte da carga total. As estacas, em geral, são

dispostas sob toda a área do radier e com espaçamentos próximos aos usualmente utilizados

em grupos de estacas. As estacas suportam a maior parcela da carga e cada uma trabalhará

longe da mobilização total da capacidade de carga (um razoável FS em todas as estacas). Um

exemplo desta forma de projeto foi o caso do ed. QV1, anteriormente relatado no item 2.3.4.5.

b) “Creep Piling” – Esta estratégia foi inicialmente proposta por Hansbo & Källström

(1983) para solos coesivos relativamente moles. Nesta forma de projeto cada estaca deverá

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56

absorver uma carga que corresponde de 70 a 80% de sua capacidade de carga última, onde

portanto alguma deformação plástica, “creep”, deve ocorrer. A quantidade de estacas é

calculada de tal forma que a pressão no solo, sob o radier, não ultrapasse a pressão de pré-

adensamento da argila.

A fundação é dimensionada essencialmente como um radier, mas os recalques são

reduzidos pela inclusão de estacas como “elementos redutores de recalque”, distribuídas

uniformemente e de maneira espaçada sob todo o radier.

A Figura 2.22, retirada de Hansbo (1993), apresenta o desempenho de dois edifícios

similares, onde o primeiro (House 1) apresentou um “projeto convencional”, com 211 estacas

sob o radier, e o segundo (House 2), onde utilizou-se a concepção de “creep piling”, e

somente 104 estacas foram necessárias. Observa-se que a diferença na resposta das duas

fundações, indicada por isolinhas de mesmo recalque, é pequena, comparada à redução em

mais de 50% no número de estacas empregadas.

Figura 2.22 – Comparação do desempenho de duas fundações similares (modificado –

Hansbo, 1993).

c) “Controle do Recalque Diferencial” – As duas concepções anteriores utilizam

estacas uniformemente distribuídas, visando limitar os recalques absolutos a valores

aceitáveis. Nesta nova forma de projeto, busca-se o emprego de poucas estacas na região

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57

central do radier, visando apenas uma redução brusca (ou anular) do recalque diferencial,

mesmo que o recalque total pouco seja alterado em relação ao radier isolado.

Na Figura 2.23, Randolph (1994) apresenta a concepção desta forma de projeto, onde

as estacas são posicionadas no centro de forma que o comportamento de um radier flexível se

aproxime ao de um rígido

Figura 2.23 – Controle do recalque diferencial (modificado – Randolph, 1994).

Em geral os dois últimos métodos são muito mais econômicos do que o primeiro.

Poulos (1998a) afirmou que, em alguns casos, o conceito de “creep piling” poderia ser usado

em uma versão mais extrema na qual algumas ou todas estacas atingiriam suas capacidades

máximas de carga, e mesmo assim seria garantido um fator de segurança contra a ruptura da

fundação como um todo. Esse autor denominou tais fundações como “radier melhorado por

estacas” (Pile-Enhanced Raft).

A idéia seria o emprego do menor número possível de estacas, devidamente

posicionadas, suficientes para garantir ao radier um desempenho adequado quanto à

capacidade de carga e recalque, principalmente o diferencial. Esta concepção não permite

considerar o radier estaqueado como apenas um tipo “diferente” de um grupo de estacas, pois

certamente não atenderia às normas técnicas quanto ao fator de segurança das estacas.

Poulos (1998a) reconhece as vantagens do uso de estacas primariamente como

“elementos redutores de recalque”, enquanto admite que elas também possam contribuir para

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58

a capacidade de carga última do radier estaqueado. Burland (1995) já havia descrito as

vantagens de estacas com esta função principal.

Uma representação esquemática destes conceitos aqui apresentados podem ser

sintetizados na Figura 2.24.

Figura 2.24 – Diversas estratégias de projeto de um radier estaqueado (modificado – Poulos,

1994b)

Da Figura 2.24, pode-se destacar:

- a curva 1 representa o “projeto convencional” de um radier estaqueado onde

baixos valores de recalques seriam atingidos devido ao grande número de

estacas necessárias para que estas trabalhem com um alto fator de

segurança, para a carga atuante, em cada uma das mesmas;

- o outro extremo, a curva 4, representa um radier isolado, que em vários

casos seria suficiente para suportar a carga de trabalho seguramente, mas

com uma previsão de recalques elevados;

- a concepção do uso de estacas como “redutores de recalque” está

representada pelas curvas intermediárias “2” e “3”. A curva “2” poderia ser

considerada como um projeto de “creep piling”, onde as estacas empregadas

não são totalmente mobilizadas, mas trabalham sob um baixo FS em termos

de capacidade de carga individual;

Curva 1 - radier estaqueado com F.S.

convencional para as estacas.

Curva 2 - radier com baixo F.S para

as estacas.

Curva 3 - radier com estacas com

carga totalmente mobilizada.

Curva 4 - radier isolado.

Page 86: universidade de brasília faculdade de tecnologia departamento de ...

59

- a curva “3” representa a idéia de estacas como verdadeiros elementos

redutores de recalque, utilizando toda a capacidade de carga das mesmas,

como sugerido por Burland (1995) ou Poulos (1998a).

A representação gráfica, mostrada na Figura 2.25 e sugerida por El-Mossalamy &

Franke (1997), é uma outra maneira de se comparar a eficiência da quantidade de estacas

incluídas no projeto de um radier estaqueado.

0 0.2 0.4 0.6 0.8 1.0 QP/QT

QP = Total de carga nas estacas

0.5 QT = Carga total na fundação

1.0 Sr = redução de recalques Sr

Radier estaqueado isoladoradier do recalque

estaqueadoradier do recalque Sr =

Radier Grupo de Isolado estacas

Figura 2.25 – Gráfico esquemático para avaliar a resposta de um radier estaqueado

(modificado – El-Mossalamy & Franke, 1997).

Os valores extremos de “Qp/QT” iguais a “0” e “1” representam um radier isolado e

um grupo de estacas respectivamente. Os valores intermediários simbolizam um radier

estaqueado com indicação da porcentagem de carga absorvida pelas estacas.

A forma da curva “Sr x Qp/QT” dará uma indicação do custo/benefício da inclusão de

mais ou menos estacas.

2.6 – EFEITO DA PRESENÇA DE SOLOS COLAPSÍVEIS

A presença de solos colapsíveis superficiais, de uma forma geral, implica em não se

adotar a solução de “radier estaqueado” como fundação, uma vez que a capacidade de carga

do solo sob o radier poderá ser drasticamente reduzida pelo processo de colapso, e, com isto,

seriam minimizadas as vantagens da presença do elemento superficial em contato com o solo.

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60

Poulos (1991) inclui a situação “presença de solo superficial colapsível ou em

adensamento” como não aconselhável ao uso de radier estaqueado, pois o recalque da camada

sob o radier reduziria a parcela de carga transferida ao solo por este radier e a fundação

funcionaria como um mero grupo de estacas, ficando o radier apenas com a função estrutural

de ligação entre as estacas. Esse autor imaginou situações onde as estacas estariam

atravessando a camada superficial “problemática” e atingindo camadas melhores.

Poulos (1993b) simulou numericamente o caso em que o solo superficial sofre um

recalque proveniente de colapso ou adensamento. Os resultados comprovaram a tese

apresentada nos parágrafos anteriores. Esse autor chama a atenção que este possível

acréscimo de carga nas estacas deve ser levado em consideração e não deve suplantar a

capacidade de carga estrutural das mesmas.

Na presente pesquisa o caso em questão é um pouco distinto, pois tanto o elemento

superficial (sapata) quanto as estacas estão inseridos nesta camada colapsível. Nesta

configuração, raros são os trabalhos existentes para o estudo do comportamento de um radier

estaqueado. No entanto, alguns autores realizaram testes de campo em estacas isoladas,

sapatas isoladas e grupos de estacas imersos em solo colapsível. Para avaliar o efeito do

colapso na fundação, tentaram aumentar o grau de saturação do solo através de um processo

de “inundação”. Uma boa coletânea de trabalhos sobre o assunto foi apresentada por

Fernandes (1995).

Os solos colapsíveis são muito porosos e com uma estrutura bastante aberta, o que lhes

confere uma permeabilidade relativamente alta. Por isto o processo de inundação no campo

raramente atinge a “saturação” do material (Reznik, 1993), porém pode perfeitamente simular

longos períodos chuvosos ou mesmo o vazamento de líquido próximo à fundação.

2.6.1 – Processos de inundação

O processo de inundação terá um importante papel na magnitude de alteração dos

resultados e, portanto, deve ser mencionado de uma forma bastante clara, quando se almejar

comparações. Em geral os métodos mais utilizados são:

(1o) - inundação através de uma cava em torno do topo da estaca ou sapata;

(2o) - inundação através de furos verticais próximos às fundações;

(3o) - combinação dos métodos anteriores.

Dentre estes tipos, o terceiro método é o responsável pela maior variação do grau de

saturação do solo e atinge maiores profundidades. Entretanto, o primeiro método se assemelha

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61

mais a fatos corriqueiros em obras reais, como longos períodos chuvosos, acumulação

localizada de águas servidas na superfície do solo, ruptura de tubulações rasas de água,

vazamentos em reservatórios, etc.

Trabalhos como os de Carvalho & Souza (1990), Carneiro (1994), Fernandes (1995),

Camapum de Carvalho et al. (1995) e Ferreira et al. (1990) utilizaram o primeiro método. Já

autores como Lobo (1991), Teixeira (1993) e Carvalho & Albuquerque (1994) optaram pelo

terceiro procedimento.

Associado ao processo de inundação está também o tempo de inundação. Quanto mais

tempo sob a inundação, maior será o volume e profundidade de solo afetado pela variação do

grau de saturação. Portanto, quanto maior a fundação em estudo, maior o tempo requerido na

etapa de inundação. Por outro lado, o exagero deste tempo de espera pode encarecer e

dificultar este tipo de ensaio. A maioria dos trabalhos, encontrados na literatura, utilizou entre

48 e 72 horas para esta fase da prova de carga.

2.6.2 – Forma da realização das provas de carga para estudo do colapso

Outro importante ponto na avaliação da influência da colapsividade do solo é a forma

como são realizadas as provas de carga.

Basicamente, os procedimentos podem ser agrupados em três tipos:

a) Tipo I : Inicialmente faz-se uma prova de carga, sob condições do solo

natural, para a determinação da capacidade de carga última da fundação. Descarrega-se a

fundação e recarrega-se até a carga de trabalho (30 a 50% da carga última). Então inicia-se a

inundação da fundação, por algum dos processos descritos, esperando-se um determinado

número de horas para verificar se ocorrerá ou não o colapso.

b) Tipo II : Nesta forma de ensaio também se determina a carga última da

fundação em questão para o solo em condições naturais. Recarrega-se até a carga de trabalho

(ou um valor baixo previamente escolhido) e procede-se a inundação do solo por um número

predeterminado de horas. Após este tempo de espera, se não ocorrer o colapso, prossegue-se o

carregamento da fundação até que o mesmo aconteça, determinando-se, assim, "Qc" que é a

carga atuante na fundação que provocaria o colapso do solo. Este método é uma variação do

anterior e normalmente é utilizado se o colapso não é observado quando a inundação é feita

na carga de trabalho.

c) Tipo III : Realizam-se duas provas de carga distintas. A primeira sob

condições naturais do solo, e a segunda onde a inundação é feita anteriormente ao início do

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62

ensaio, ou seja, inunda-se o solo e espera-se um certo número de horas estabelecidas e só

então inicia-se o ensaio sob condições de “solo inundado”. Tal procedimento assemelha-se ao

ensaio utilizado em laboratório denominado “duplo edométrico”, para o estudo da

colapsividade de solos.

Cintra et al. (1997) comentaram as três metodologias da realização de provas de carga,

conforme apresentado na Figura 2.26. Estes autores relatam que os dois primeiros métodos

apresentam uma curva carga-recalque descontínua na etapa com inundação. A forma da curva

carga x recalque para o solo inundado é semelhante ao comportamento do solo natural e então

sofre uma mudança brusca ao atingir a carga correspondente ao colapso do solo (Qc). O

terceiro método, entretanto, apresenta uma resposta carga x recalque distinta, sem o patamar

de colapso (ver Figura2.26). Cintra et al. (1997) indicam este último método como o mais

adequado por ser mais fácil de executar e apontar a mesma carga "Qc".

a) colapso sob carga de trabalho b) colapso sob carga superior à de inundação

c) teste em solo pré-inundado Figura 2.26 – Comparação das distintas formas de prova de carga em solos colapsíveis

(modificado – Cintra et al., 1997).

Page 90: universidade de brasília faculdade de tecnologia departamento de ...

63

2.6.3 – Estaca virgem x reensaio

Um problema, que se apresenta na comparação de dois ensaios de estacas semelhantes,

para avaliar a influência da colapsividade do solo, é a decisão de reensaiar a mesma estaca

após a inundação ou a utilização de duas estacas distintas, mas próximas.

A escolha por duas estacas apresenta a vantagem de solicitar o solo em sua condição

original, sem danos à frágil estrutura de um solo colapsível e não tendo comprimido o solo

sob a ponta, que em geral deixa tensões residuais, devido a um ensaio prévio. Por outro lado,

este processo traz a desvantagem da variabilidade natural das propriedades do solo, mesmo

em uma camada tida como homogênea e em locais próximos. Além do mais, o processo de

instalação, o material da estaca, a variação nas dimensões e a inclinação das estacas podem

alterar a resposta carga x recalque de duas estacas tidas como “idênticas”.

Ao se escolher o “reensaio” da mesma estaca, as vantagens e desvantagens anteriores

se invertem. A utilização de uma mesma estaca imersa em solo colapsível pode, quando

reensaiada, apresentar uma menor parcela de atrito lateral devido a possíveis alterações na

estrutura do solo adjacente à mesma, bem como ter sua parcela de carga na ponta aumentada

devido à compressão prévia da camada de apoio. Ficará sempre a dúvida de qual fator é

preponderante.

A despeito das inevitáveis críticas, ao se escolher um dentre os dois métodos, a

maioria dos autores, como Lobo et al. (1991) e Cintra et al. (1997), vem optando por reensaiar

a mesma estaca. Estes últimos autores mencionam que, em ensaios realizados no Campo

Experimental de São Carlos, a escolha aleatória de duas entre três estacas “similares”

ensaiadas levaram a discrepâncias como a estimativa da “carga de colapso” superior à carga

última de um solo não-inundado.

2.6.4 – Trabalhos anteriores em solo colapsível

Faz-se, na Tabela 2.3, uma pequena coletânea de alguns trabalhos que ensaiaram

estacas e placas em solos colapsíveis brasileiros. Quanto às diferenças entre os locais, origem

dos solos, etc., vale lembrar o comentário de Camapum de Carvalho et al. (1995) de que “em

solos tropicais porosos a intensa lixiviação e laterização conduz a uma redução progressiva da

influência da história de tensões propriamente dita na sua estrutura e comportamento”.

Page 91: universidade de brasília faculdade de tecnologia departamento de ...

64

Tabela 2.3 – Influência da inundação dos solos em resultados de provas de carga com carregamento vertical. Autor Tipo de Tipo de P. Processo de Tempo de Reensaio Redução na Fundação de Carga Inundação Inundação Cap. de carga

Agnelli (1992) placa a 1 e 2m II 1o 4 – 9 h não 32 – 46 %

Souza**(1993) placa a 0,7m III 1o não citado não 40 %

Carvalho e estaca escavada I 1o 10 h sim 67 % Souza (1990) L=6m, D=0,25m

Silva (1990) estaca broca III 3o 24 h sim 77 % L=6m, D=0,25m

Silva (1990) estaca broca I 3o 15 h sim 71 % L=6m, D=0,25m

Lobo et al. estaca escavada I 3o 48 h sim 35 - 43 % (1991) L=2-6m, D=0,25

Lobo et al. estaca apiloada I 3o 48 h sim 23 - 35 % (1991) L=2-6m, D=0,25

Camapum de estaca escavada I e III 1o N.I. sim não avaliado Carvalho et al. L= 11 a 14m, (1995) D= 0,25 a 0,30m

Camapum de estaca apiloada I 1o N.I. sim não avaliado Carvalho et al. L= 11 m, (1995) D= 0,25 m

Fernandes estaca broca II 1o > 48 h sim 32 % (1995) L=6m, D=0,25m

Fernandes grupo 2 estacas II 1o > 48 h sim 42 % (1995) L=6m, D=0,25m

Fernandes grupo 3 estacas II 1o > 48 h sim 26 - 30 % (1995) L=6m, D=0,25m

Fernandes grupo 4 estacas II 1o > 48 h sim 25 % (1995) L=6m, D=0,25m

** - citado por Fernandes (1995)

N.I. = Não indicado no artigo. Tipo de prova de carga = especificados no item 2.6.2 Processo de inundação = especificado no item 2.6.1

Page 92: universidade de brasília faculdade de tecnologia departamento de ...

65

Os trabalhos apresentados na Tabela 2.3 enfocaram principalmente a redução da

capacidade de carga, não sendo apresentado nesta tabela a magnitude dos recalques ocorridos

em função do colapso.

A redução na capacidade de carga foi bastante variada (23 – 77%). Com exceção dos

testes de Camapum de Carvalho et al. (1995), todas as estacas estavam totalmente imersas na

camada colapsível.

O processo de inundação parece ser mais “eficaz” em estacas do que em placas ou

sapatas, comparando-se as reduções observadas. Isto poderia ser explicado pelo fato de que o

carregamento de uma estaca mobiliza um menor volume de solo adjacente ao fuste quando

comparado ao do solo abaixo de uma placa, e este volume menor seria mais facilmente

“inundado”. Além disto, a interface estaca-solo cria um caminho preferencial de percolação, o

que facilita a inundação exatamente na região mais crítica, promovendo a lubrificação do

contato estaca-solo.

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66

3 – COMPARAÇÃO DO DESEMPENHO DE ALGUNS MÉTODOS

A análise de uma sapata estaqueada, como citado anteriormente, não é um problema

simples por se tratar de um problema tridimensional; envolver a associação de vários

elementos com diferentes respostas carga x recalque; ocorrer o efeito de interação entre as

partes constituintes; etc. Desta forma não há uma solução fechada para o problema, mesmo

para configurações simples. Análises mais rigorosas são feitas com o Método dos Elementos

de Contorno (MEC) ou Método dos Elementos Finitos (MEF).

Ultimamente vários autores vêm apresentando métodos aproximados, que em geral

combinam mais de um método e adotam hipóteses simples para considerar a interação entre

os elementos. Esses autores, ao publicarem novos métodos, buscam comparar os resultados

obtidos por esses métodos com os de outras soluções consideradas mais rigorosas, numa

forma de validação destes programas. Os trabalhos mais empregados como “benchmark” são

os de Butterfield & Banerjee (1971a) e Kuwabara (1989), que empregaram o MEC em sua

forma completa, e o de Ottaviani (1975) que utilizou o MEF.

Neste capítulo, apresentam-se alguns casos analisados nos trabalhos acima citados,

bem como as previsões feitas por outros autores para o mesmo caso, encontrados na literatura.

Outros exemplos de sapatas estaqueadas, encontradas na literatura mais recente, também

serão analisados Para ilustrar, em todos os exemplos serão adicionadas as previsões obtidas

pelos programas GARP (Poulos, 1994a) e ALLFINE (Farias, 1993). O primeiro, em sua

versão atual, considera o radier como elementos planos de placa, que são analisados pelo

MEF, enquanto as estacas são substituídas por molas, considerando-se todas as formas de

interação entre elementos próximos (maiores detalhes das formulações deste método são

mostrados no Apêndice A). O programa ALLFINE foi desenvolvido baseado no MEF e,

apesar de geral, conta com um enfoque marcante para problemas geotécnicos e suas

singularidades. Ambos os programas já foram devidamente apresentados e validados nos

artigos originais, e foram escolhidos para integrar esta série de análises apenas para se

comparar o desempenho de programas do tipo “aproximado” com um do tipo “rigoroso”, a

fim de se avaliar o custo/benefício de diferentes metodologias.

Page 94: universidade de brasília faculdade de tecnologia departamento de ...

67

Em todos os exemplos deste capítulo será utilizado apenas o modelo elástico-linear

para a resposta do solo, como havia sido feito pelos autores dos artigos originais.

O objetivo primordial desta série de comparações é analisar a concordância ou a

discrepância nos casos considerados, para que se possa inferir um grau de aproximação

esperado entre os programas em questão.

Randolph (1994) havia afirmado que, para fundações com mais de 100 estacas, a

comparação dos valores de recalques, previstos por diversos programas disponíveis à época,

provavelmente não seria melhor do que ± 20%. Este grau de precisão pode ser suficiente para

a maioria dos problemas de engenharia, e mais do que isto, vem encorajando vários autores na

utilização de métodos aproximados.

3.1 – UM CASO DE UMA ESTACA ISOLADA

As comparações serão iniciadas por uma estaca isolada, pois certamente a resposta

carga x recalque das estacas é um dos principais fatores que influenciam o comportamento

global de um radier estaqueado.

Analisando-se o caso apresentado por Lee (1973), apresentado em Poulos & Davis

(1980), que analisou uma estaca isolada pelo MEF em um meio elástico-linear, semi-infinito,

com a rigidez relativa, K, igual a 1000 (razão entre o módulo de elasticidade do material da

estaca, Ep, e o do solo, Es) e um coeficiente νs de 0,4, apresenta-se na Tabela 3.1 a

comparação dos resultados do recalque normalizado (P

E D sδ) para diversos comprimentos

de estacas. “D” é o diâmetro da estaca, “δ” é o recalque do topo da estaca e “P” a carga

aplicada.

Tabela 3.1 – Recalque normalizado de uma estaca isolada – caso apresentado por Lee (1973). Lee Poulos & Davis DEFPIG DEFPIG DEFPIG ALLFINE ALLFINE L/D (1973) (1980) H/L= ∞ H/L=10 H/L=5 H/L=10 H/L=5 3.5 0.267 0.258 0.269 0.254 0.238 0.237 0.225 5 0.211 0.205 0.220 0.210 0.199 0.196 0.186 10.5 0.115 0.112 0.140 0.135 0.130 0.126 0.121 15 0.103 0.100 0.113 0.109 0.106 0.102 0.098 19.5 0.094 0.092 0.096 0.094 0.091 0.089 0.085

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68

Na Tabela 3.1, além da análise original de Lee (1973) e dos valores calculados em

Poulos & Davis (1980), estão os resultados das análises feita pelo programa DEFPIG (Poulos,

1980), que é baseado na utilização da equação de Mindlin (1936) associado à aproximação de

Steinbrenner (1934) para o caso da presença de um extrato inferior indeslocável. O programa

DEFPIG foi utilizado para uma massa semi-infinita (H/L= ∞) e com a presença de um extrato

rígido a uma profundidade (H) de 10 e 5 vezes o comprimento da estaca. Utilizou-se o

programa DEFPIG, pois o mesmo será empregado na determinação da rigidez de estacas

individuais e dos fatores de interação. Estes dados são parâmetros de entrada do programa

GARP, como será visto posteriormente. Ainda constam nesta mesma tabela as análises feitas

pelo programa ALLFINE, com o MEF, para uma situação axissimétrica (2-D, malha com 154

elementos quadrangulares e 180 nós) com H/L igual a 5 e 10.

De uma forma geral, a concordância entre todas as soluções é bastante razoável,

porém cabe destacar os seguintes fatos:

- as soluções obtidas com o DEFPIG tenderam a superestimar o recalque,

comparando-se à solução de Lee (1973) e também à solução do ALLFINE, para

o mesmo domínio considerado;

- os recalques obtidos pelo ALLFINE foram pouco inferiores aos valores de Lee

(1973), porém tal fato pode ser atribuído ao domínio empregado. Nota-se que a

diferença diminui quando se majora a relação H/L de 5 para 10.

A análise de um radier estaqueado pelo MEF traz algumas complicações por ser um

caso em 3-D. Uma delas é a representação de uma estaca circular dentro de uma malha, que

normalmente utiliza elementos cúbicos. Vários autores tentam aproximar a estaca por outras

figuras geométricas, como um octógono. Isto geralmente traz algumas dificuldades para a

geração automática da malha. Ottaviani (1975) questiona a necessidade deste “serviço extra”,

e indica a aproximação do círculo por um quadrado como suficiente tanto em termos de

deformações como de tensões.

Para avaliar este fato, utilizou-se o programa ALLFINE, analisando o exemplo da

estaca isolada do caso anterior. A Tabela 3.2 traz a comparação dos recalques normalizados

(δ.D.Es/P) de uma estaca circular, obtidos em uma análise 2-D axissimétrico, com outros

obtidos em análises 3-D (malha com 1694 elementos prismáticos de 8 nós e 2160 nós),

aproximando-se a geometria da estaca por formas diferentes.

Observa-se na Tabela 3.2 que :

- as aproximações não diferiram muito entre si, com um erro relativo inferior a 6%

em todos os casos. Esta faixa de precisão é melhor do que as diferenças

Page 96: universidade de brasília faculdade de tecnologia departamento de ...

69

encontradas devido aos diferentes métodos ou domínio adotados, conforme visto

na Tabela 3.1;

- a utilização de um octógono não trouxe vantagens em relação a um quadrado

com lado na faixa de 85 a 88,6% do diâmetro da estaca.

Tabela 3.2 – Comparação do recalque de uma estaca circular isolada com aproximações por outras geometrias (H/L = 5), calculado com o programa ALLFINE. Círculo 2-D Quadrado 3-D Octógono 3-D

L/D axissimétrico B=0.786D B=0.85D B=0.886D lado=0.404D 3.5 0.225 0.237 0.227 0.221 0.228 5 0.186 0.198 0.189 0.184 0.189 10.5 0.121 0.127 0.123 0.120 0.123 15 0.098 0.104 0.100 0.098 0.100 19.5 0.085 0.091 0.087 0.085 0.086 onde : B= 0.786 D → quadrado de mesmo perímetro do círculo; B= 0.886 D → quadrado de mesma área do círculo;

lado= 0.404 D → octógono regular de mesma área do círculo;

Com base nestas observações, portanto, as estacas circulares serão doravante

aproximadas por um quadrado de mesma área. Tal detalhe, se não traz grandes diferenças na

resposta da estaca, em muito simplifica o esforço e tempo de geração da malha 3-D, para a

análise pelo MEF.

3.2 – BUTTERFIELD & BANERJEE (1971a)

Estes autores analisaram o comportamento de muitos casos de radiers rígidos

estaqueados, variando-se o número de estacas. As análises foram feitas empregando-se o

MEC para representar todos os elementos do problema, com discretização não citada. Para

efeito de comparação será adotada a situação proposta por esses autores em que λ=6000

(relação entre o módulo elástico do material da estaca, Ep, e o módulo cisalhante do solo, Gs)

e νs = 0,5.

Nos casos abordados a seguir, usou-se:

Estaca : Ep = 18000 MPa Solo : Gs = 3 MPa νp = 0,17 Es = 9 MPa D = 0,2 m

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70

A Figura 3.1 traz a comparação da resposta carga x recalque de uma estaca isolada

para diversos comprimentos de estaca (P= carga na estaca, G= módulo cisalhante do solo, w=

recalque, D= diâmetro da estaca e L= comprimento da estaca).

Nesta figura nota-se uma excelente proximidade entre os resultados do programa

DEFPIG e os de Butterfield & Banerjee (1971a). O programa ALLFINE obteve recalques

pouco menores para L/D de 25 e 50, e quase coincidentes ao dos outros métodos para

L/D=100, com uma malha 3-D de 1694 elementos prismáticos e 2160 nós.

Figura 3.1 – Comparação da resposta carga x recalque de uma estaca isolada com os

resultados de Butterfield & Banerjee (1971a).

A Figura 3.2 mostra a resposta carga (P) x recalque (w) de um radier sobre quatro

estacas, variando-se o comprimento das estacas (L). Observa-se na Figura 3.2 que os

resultados do programa GARP se aproximaram bastante da solução de Butterfield & Banerjee

(1971a), já as soluções pelo MEF, com o programa ALLFINE (malha 3-D de 2940 elementos

prismáticos e 3600 nós), previram uma resposta mais rígida para a fundação.

As Figuras. 3.3a e 3.3b apresentam as previsões de resposta carga x recalque e a

parcela de carga absorvida pelo radier (ou sapata), respectivamente, para um radier sobre 9

estacas no mesmo perfil de solo abordado anteriormente. Neste caso, a resposta foi obtida

variando-se o espaçamento entre estacas.

0

20

40

60

80

0 20 40 60 80 100 120L/D

P/G

wD

B & B

ALLFINE (H/L = 5)

DEFPIG (H/L= oo)

DEFPIG (H/L= 5)

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71

Figura 3.2 – Comparação da resposta carga x recalque de um radier sobre quatro estacas com

os resultados de Butterfield & Banerjee (1971a).

(a) (b)

Figura 3.3 – Comparação da resposta de um radier sobre 9 estacas com os resultados de

Butterfield & Banerjee (1971a): (a) resposta carga x recalque, (b) parcela de carga absorvida

pelo radier.

Mais uma vez as previsões de recalque com o programa GARP foram bastante

semelhantes às dos autores, enquanto o programa ALLFINE (malha 3-D com 3600 nós e

2940 elementos prismáticos de 8 nós) previu um comportamento mais rígido. Quanto à

0

20

40

60

80

100

120

140

0 10 20 30 40 50 60L/DP/

Gw

D

B & B

GARP

ALLFINE

0

100

200

300

400

500

0 2,5 5 7,5 10 12,5S/D

P/G

wD

B & B B & BGARP GARPALLFINE ALLFINE

L/D = 20 L/D = 40

0

20

40

60

80

0 2,5 5 7,5 10 12,5S/D

% c

arga B & B

GARP

ALLFINE

L/D = 40Ep/Gs = 6000

Page 99: universidade de brasília faculdade de tecnologia departamento de ...

72

parcela de carga absorvida pelo radier, cada método previu diferentes valores, embora todos

apresentaram uma tendência de aumento da carga absorvida pelo radier com o aumento do

espaçamento entre estacas, como era esperado. Neste caso, as previsões de porcentagem de

carga no radier, estimadas com o ALLFINE, ficaram entre as dos outros dois programas.

Resumindo, as previsões de recalque com o programa GARP foram bem semelhantes

às de Butterfield & Banerjee (1971a), enquanto que o programa ALLFINE previu uma

resposta mais rígida para a fundação (menores recalques). Quanto à distribuição de carga

entre a sapata e as estacas nenhuma concordância foi observada entre os três métodos.

Dois fatores, que provavelmente contribuíram para as diferenças observadas, podem

ter sido o domínio e a discretização utilizados na análise pelo M.E.F. O domínio “infinito” é

facilmente representado no M.E.C. O fato de se limitar o domínio, tanto vertical como lateral,

no Método dos Elementos Finitos tem grande influência nos deslocamentos, mas pouca

alteração nas tensões (Sales et al., 1998). Com relação à discretização, não é possível fazer

uma correlação entre o M.E.C. e o M.E.F. Uma discretização aparentemente grosseira do

contorno no M.E.C. leva a uma “matriz cheia” na solução do problema, e que equivale, em

termos de tempo de processamento, a uma malha bastante discretizada no M.E.C. O trabalho

de Sales et al. (1998) será expandido futuramente para o caso de um radier estaqueado, em

que outras variáveis também interferem no problema.

3.3 – OTTAVIANI (1975)

Ottaviani (1975) apresentou os resultados de análises de radiers estaqueados através

do MEF, utilizando malhas 3-D. Esse autor comparou a resposta de estacas isoladas com os

resultados de Mattes & Poulos (1968), que haviam utilizado o MEC para a análise do mesmo

problema. Ottaviani (1975) utilizou elementos prismáticos retangulares para representar as

estacas circulares, afirmando que isto pouco alteraria os resultados obtidos.

A Figura 3.4 apresenta o comportamento de uma estaca isolada, com 20m de

comprimento, e diferentes valores de rigidez relativa, K, inserida em uma camada de solo

homogêneo, com profundidade de quatro vezes o comprimento da estaca (H/L = 4). Todas as

soluções foram próximas e, mais uma vez, os métodos baseados no MEC (Mattes & Poulos,

1968 e GARP) previram maiores recalques para a estaca. Os valores previstos pelo programa

ALLFINE foram próximos ao resultados originais de Ottaviani (1975).

Page 100: universidade de brasília faculdade de tecnologia departamento de ...

73

Figura 3.4 – Comparação da resposta de uma estaca isolada com os resultados de Ottaviani

(1975).

A Figura 3.5 apresenta o comportamento carga x recalque de estacas isoladas (L = 20

e 40m) inseridas em uma massa de solo com espessura de 1,5 vezes o comprimento da estaca.

De uma forma geral, as três análises apresentaram resultados próximos para os dois tipos de

estacas. Novamente a solução com GARP previu um comportamento menos rígido para a

estaca, comparando-se com os resultados do ALLFINE. Na análise com o ALLFINE,

empregou-se 1134 elementos cúbicos de 8 nós, com o domínio usado em Ottaviani (1975).

Figura 3.5 – Comparação da resposta de estacas isoladas com os resultados de Ottaviani

(1975).

0

50

100

150

200

0 500 1000 1500 2000K

Ep.w

.D/P Ottaviani

ALLFINEGARPMattes & Poulos (H/L=4)Mattes & Poulos (H/L=oo)

L = 20mH/L = 4

0

50

100

150

0 500 1000 1500 2000K

Ep.w

.D/P

Ottaviani Ottaviani

ALLFINE ALLFINE

GARP GARP

L = 20m L = 40m

H/L = 1,5

Page 101: universidade de brasília faculdade de tecnologia departamento de ...

74

Nas Figuras. 3.6a e 3.6b comparam-se os resultados obtidos com o ALLFINE e os de

Ottaviani (1975), para a distribuição da tensão vertical de duas estacas isoladas (L=20 e 40m),

com dois diferentes valores de rigidez relativa estaca/solo (K=400 e 2000). Nestas figuras σvp

é a tensão vertical ao longo do fuste normalizada pela tensão na cabeça da estaca.

Nota-se que as previsões foram bem semelhantes para todos os casos e praticamente

coincidente para as estacas mais rígidas em relação ao solo (K=2000). Para as estacas mais

compressíveis, K= 400, a análise com o programa ALLFINE encontrou uma maior

transferência de carga nas camadas superiores do que a solução de Ottaviani (1975).

(a) (b)

Figura 3.6 – Distribuição da tensão vertical em uma estaca isolada, ALLFINE x Ottaviani

(1975): (a) L = 20m , (b) L = 40m.

A Figura 3.7 apresenta a comparação da resposta carga x recalque de um radier sobre

9 estacas. Ottaviani (1975) usou uma malha com 3300 nós e 2700 elementos cúbicos com 8

nós. Na análise com o ALLFINE, adotou-se uma discretização com 2535 nós e 2016

elementos do mesmo tipo. Nesta Figura, destacam-se dois aspectos :

- Para o caso de estacas com 20m, o resultado do ALLFINE é muito semelhante ao

de Ottaviani (1975) e ambos diferem um pouco dos resultados obtidos por

GARP, que previu recalques maiores (31-36%);

- Para a estaca com 40m, a solução de GARP encontrou recalques superiores aos

de ALLFINE (+30%). Entretanto, o fato estranho é a previsão de Ottaviani

0

4

8

12

16

20

24

0 0,2 0,4 0,6 0,8 1 1,2σ vp

H (m

)

Ottaviani

ALLFINE

Ottaviani

ALLFINE

L = 20m

K=400

K=2000

0

10

20

30

40

50

0 0,2 0,4 0,6 0,8 1 1,2σ vp

H (m

)

Ottaviani

ALLFINE

Ottaviani

ALLFINE

L = 40m

K=400

K=2000

Page 102: universidade de brasília faculdade de tecnologia departamento de ...

75

(1975) para este caso. Os resultados apresentados por esse autor indicam que o

radier sobre 9 estacas de 40m recalcaria mais do que o mesmo radier sobre 9

estacas de 20m. Tal situação é inconcebível, se na Figura 3.5 ficou demonstrado,

inclusive por ele também, que a estaca isolada de 40m é mais rígida do que a de

20m para o perfil de solo homogêneo em questão. Em seu artigo, Ottaviani

(1975) não se atentou para o equívoco cometido e tentou justificar a “surpresa”

como sendo função das tensões impostas pelo radier no contato radier/solo.

Figura 3.7 – Comparação da resposta de um radier sobre 9 estacas com os resultados de

Ottaviani (1975).

Nas Figuras 3.8a e 3.8b compara-se a distribuição da tensão vertical com a

profundidade para a estaca do canto daqueles radiers sobre 9 estacas de 20 e 40m. No caso em

que as estacas possuíam 20m, nota-se um grau de aproximação muito bom entre as soluções

de Ottaviani (1975) e ALLFINE, ambas empregando o mesmo domínio na análise pelo MEF.

Para a situação em que as estacas possuíam 40m, a concordância não é boa, o que endossa a

suspeita de algum engano cometido e já comentado na Figura 3.7.

Observando todas as comparações com o trabalho de Ottaviani (1975) constata-se

que as análises feitas pelo ALLFINE se aproximaram bastante dos valores originais, o que

pode ser explicado pelo fato de que ambas utilizaram o MEF. Os resultados obtidos com o

GARP, entretanto, apresentaram apenas uma razoável concordância quanto à estimativa de

recalques, já que este programa não fornece a distribuição das tensões verticais nas estacas

para diferentes profundidades.

0

100

200

300

400

0 500 1000 1500 2000K

Ep.w

.D/P

Ottaviani Ottaviani

ALLFINE ALLFINE

GARP GARP

L = 20m L = 40 m

Page 103: universidade de brasília faculdade de tecnologia departamento de ...

76

(a) (b)

Figura 3.8 – Distribuição das tensões verticais na estaca do canto em um radier sobre 9

estacas – ALLFINE x Ottaviani (1975): (a) L = 20 m , (b) L = 40 m.

3.4 – KUWABARA (1989)

Esse autor realizou uma extensa análise pelo MEC de um radier sobre 9 estacas. Sua

análise é considerada “MEC-completo”, pois utilizou a teoria dos elementos de contorno para

representar todos os elementos da fundação envolvidos no processo, e não utilizou associação

alguma com outros métodos, nem simplificações para a análise das interações, sem no entanto

especificar a discretização empregada. Esse trabalho já foi utilizado como termo comparativo

por vários outros autores, como Poulos (1994a), Ta & Small (1996) e Russo(1998).

Apresenta-se, inicialmente, na Figura 3.9 a previsão do comportamento de uma

estaca isolada com uma rigidez relativa estaca/solo (Ep/Es) de 1000 e νs = 0,5 para diversos

comprimentos relativos (L/D). Nesta figura, além dos resultados de Kuwabara (1989), são

apresentadas as previsões obtidas pelos programas GARP, ALLFINE e APPRAF. Este último

programa é de autoria de Small & Zhang (1999), e é baseado no Método das Camadas Finitas

para representar o comportamento do solo. Este programa surgiu da evolução do programa

PIRAF, já mencionado na Tabela 2.2. Nesta comparação, utilizou-se uma malha com 2160

nós e 1694 elementos prismáticos de 8 nós na simulação com o programa ALLFINE. Dois

fatos podem ser destacados nesta figura :

0

5

10

15

20

25

0 0,5 1 1,5σ vpH

(m)

Ottaviani

ALLFINE

Ottaviani

ALLFINE

L = 20 m

K=400

K=2000

0

10

20

30

40

50

0 0,5 1 1,5σ vp

H (m

)

OttavianiALLFINEOttavianiALLFINE

L = 40 m

K=400

K=2000

Page 104: universidade de brasília faculdade de tecnologia departamento de ...

77

- os resultados não diferem muito, em valores absolutos. A solução do GARP e do

ALLFINE são bastante próximas, principalmente para maiores valores de L/D;

- em termos de comportamento, a solução de Kuwabara (1989) difere das outras 3.

Nas previsões de GARP, ALLFINE e APPRAF, o recalque da estaca aumenta

continuamente para estacas curtas, mas tende a uma estabilização a partir de

valores de L/D superiores a 60. Já pela solução de Kuwabara (1989) o recalque

cresce até comprimentos maiores de estacas, só apresentando uma estabilização

do crescimento do recalque normalizado para estacas com comprimento superior

a 100 vezes o diâmetro.

Figura 3.9 – Comparação da resposta de uma estaca isolada com os valores de Kuwabara

(1989).

Na Figura 3.10, apresenta-se a comparação das previsões da porcentagem de carga

absorvida pelo radier, para um radier sobre 9 estacas com espaçamento entre estacas de 5

vezes o diâmetros. Neste caso o radier é rígido e possui uma borda lateral, dimensão que

ultrapassa a projeção das estacas, igual ao diâmetro da estaca. O comportamento do solo é

considerado elástico, com νs = 0,5, e a rigidez relativa estaca/solo assumida em 1000. O

programa ALLFINE (com uma malha de 3600 nós e 2940 elementos prismáticos de 8 nós)

previu que aproximadamente 30% da carga seria suportada pelo radier independentemente do

comprimento. Com o programa GARP, a parcela de carga prevista para ser suportada pelo

radier decresceu de 18% (para L/D=25) até estabilizar em 9% para comprimentos maiores da

0

5

10

15

20

25

0 40 80 120 160 200L/D

P/Es

.w.D

KuwabaraALLFINEGARPAPPRAF

Page 105: universidade de brasília faculdade de tecnologia departamento de ...

78

estaca. Os resultados de Kuwabara (1989), entretanto, não apresentaram a mesma tendência

de estabilização da porcentagem de carga no radier, pelo menos no intervalo de comprimentos

citados. Para estacas mais curtas, L/D = 25, a previsão com o ALLFINE ficou mais próxima à

de Kuwabara (1989), mas para estacas longas, L/D> 100, a solução obtida com GARP foi

mais próxima à do autor em questão.

Figura 3.10 – Parcela da carga absorvida pelo radier em um radier sobre 9 estacas, citado por

Kuwabara (1989).

As Figuras 3.11a, 3.11b e 3.11c apresentam as previsões do comportamento do radier

sobre 9 estacas, utilizado na análise anterior, entretanto variando o espaçamento entre estacas

de 3, 5 e 10 diâmetros, respectivamente. Na Figura 3.11, observa-se que:

- as previsões obtidas com GARP e APPRAF são bastante próximas para todos os

valores de L/D e S/D. Estes valores se aproximam da solução de

Kuwabara (1989) para baixos valores de L/D (<100) para espaçamentos de três

vezes o diâmetro, e quando L/D<75 para espaçamentos maiores.

- A solução obtida com ALLFINE chegou a menores valores de recalque,

diferindo um pouco das outras soluções. Curiosamente os resultados obtidos por

ALLFINE não apresentaram uma tendência de estabilização tão acentuada como

os valores previstos por GARP e APPRAF. Os resultados de Kuwabara (1989)

também não apresentaram a tendência de estabilização dos recalques com o

aumento do comprimento relativo das estacas.

0

10

20

30

40

50

0 20 40 60 80 100 120L/D

% d

e ca

rga

KuwabaraGARPALLFINE

S/D = 5

Page 106: universidade de brasília faculdade de tecnologia departamento de ...

79

Figura 3.11 – Resposta carga x recalque do radier sobre 9 estacas analisado por Kuwabara

(1989) com diversos espaçamentos: (a) S/D = 3, (b) S/D = 5 e (c) S/D = 10.

0

20

40

60

80

0 50 100 150 200 250L/D

P/Es

.w.D

Kuwabara ALLFINEGARPSmall & Zhang

S/D = 3(a)

20

40

60

80

0 50 100 150 200 250L/D

P/Es

.w.D

KuwabaraALLFINEGARPSmall & Zhang

S/D = 5(b)

20

40

60

80

100

0 50 100 150 200 250L/D

P/Es

.w.D

Kuwabara

ALLFINE

GARP

Small & Zhang

S/D = 10

(c)

Page 107: universidade de brasília faculdade de tecnologia departamento de ...

80

Considerando ainda o perfil de solo proposto por Kuwabara (1989), para estacas com

L/D = 25, a Figura 3.12 traz a comparação entre as porcentagens de carga absorvidas pelas

estacas nas três diferentes posições no grupo das 9 estacas sob o radier. Individualmente as

cargas em cada estaca, estimadas pelos três diferentes métodos, podem ser consideradas

próximas. Destaca-se apenas que o programa ALLFINE previu uma distribuição mais

próxima de carga entre as três diferentes posições das estacas, do que os outros dois métodos.

Para um melhor termo de comparação, ressalta-se que Kuwabara (1989) discretizou

o radier com elementos de contorno. No programa ALLFINE, o radier foi discretizado por

elementos prismáticos de 8 nós, enquanto que com o programa GARP, o radier foi

subdividido em elementos planos de placa.

Figura 3.12 – Porcentagem de carga em cada estaca em um radier sobre 9 estacas citado por

Kuwabara (1989)

A Figura 3.13 traz a comparação da distribuição da carga nas estacas com a

profundidade, para um radier sobre 9 estacas com comprimento L/D= 25 e espaçamento de

S/D= 5 (Pi = carga na estaca “i”, Pmed = carga total dividida pelo número de estacas).

Observa-se, na Figura 3.13, uma boa aproximação da previsão obtida com o

programa ALLFINE e da apresentada por Kuwabara (1989), para as três diferentes posições

das estacas dentro do conjunto. Chama-se a atenção que pelo MEF ficou claro a redução da

tensão nas estacas próximo ao contato com o radier. Isto pode ser explicado pelas

deformações impostas pelo contato radier/solo à camada de solo imediatamente inferior ao

radier, o que reduz a parcela de atrito mobilizado neste trecho da estaca e, eventualmente,

0

2

4

6

8

10

12

14

16

0 5 10 15S/D

% d

e ca

rga

KuwabaraGarp

Allfine

canto lado centroL/D = 25

Page 108: universidade de brasília faculdade de tecnologia departamento de ...

81

como na configuração deste exemplo, funcionou como um “pseudo atrito negativo”, onde o

solo recalcou mais que a estaca próximo ao radier e a carga na estaca variou como visto na

Figura 3.13.

Figura 3.13 – Distribuição de carga com a profundidade para as estacas em um radier sobre 9

estacas – ALLFINE x Kuwabara (1989)

Resumindo, considera-se razoável a proximidade entre os valores apresentados por

Kuwabara (1989) e os obtidos pelos programas GARP e ALLFINE. Entretanto, a maior ou

menor concordância foi função de “L/D” e “S/D”. Chama-se a atenção apenas para o fato que

as soluções de Kuwabara (1989) não indicaram uma tendência de estabilização do recalque

normalizado, como era de se esperar, e evidenciado nos outros três programas.

3.5 – RADIER SOBRE 16 ESTACAS – TC-18

Neste item, se abordará o exemplo de um radier sobre 16 estacas, proposto pelo

Comitê Técnico TC-18 da ISSMGE para ser analisado por diversos autores de todo o mundo.

As propriedades do radier, estacas e solo estão resumidamente representadas na Figura 3.14.

Estão transcritos apenas os dados para a realização de uma previsão elástica sob condições

drenadas.

0

0,2

0,4

0,6

0,8

1

0 0,2 0,4 0,6 0,8 1 1,2Pi/Pmed

Z/L

Kuwabara

ALLFINE

canto lado centro

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82

Radier : Er = 35000 MPa , νr = 0.16 11m 11m Estacas: 2m Ep = 35000 MPa , νp = 0.16 d = 1m , Pult = 9.6 MN 11m 3m 30m Solo: Es= 7 + 2.45z (MPa) , νs = 0.1 cu= 110 + 3.93z (kPa) 3m σmax = 833 kPa (considerando z=2B/3) Figura 3.14 – Radier sobre 16 estacas proposto pelo TC-18. Devido às dimensões das estacas, ao perfil do solo bastante resistente, e ao

espaçamento empregado entre as estacas (S/D= 3), o grupo de estacas é muito mais rígido do

que o radier, fazendo com que este pouco interfira no comportamento global da fundação. Em

outras palavras, o radier proposto se comportará mais como um “grupo de estacas” do que um

radier estaqueado propriamente, onde o papel do radier seja relevante. Independente disto,

colecionaram-se os resultados de diversos autores, que analisaram o exemplo em questão. A

Tabela 3.3 traz a previsão do recalque e a parcela de carga absorvida pelas estacas desta

fundação, quando esta estiver submetida a uma carga de 80MN, ou seja, com um alto fator de

segurança (>3) em termos de capacidade de carga do conjunto.

Tabela 3.3 – Comportamento do radier sobre 16 estacas, proposto pelo TC-18. Programa / Método / Autor Recalque (mm) % de carga nas estacas MEF – Yamashita (1998) (H/L= 3) 29 98

Tubulão equivalente – Horikoshi & Randolph (1998) 31 -x-x-

HyPR - Horikoshi & Randolph (1998) 41 - 43 100

KURP – Matsumoto (1998) 42 96

GARP – Método aproximado 42 98

PIRAF – Método das Camadas Finitas 31 98

ALLFINE – MEF (H/L = 5) 27 95

Page 110: universidade de brasília faculdade de tecnologia departamento de ...

83

Observando-se a Tabela 3.3., nota-se que :

- todos os métodos previram que as estacas absorveriam quase toda a carga

(>95%), pelos motivos já comentados. Esta é uma situação típica de fundações

projetadas pelo conceito convencional de “grupo de estacas”;

- os recalques previstos pelos métodos aproximados, HyPR, KURP e GARP,

foram bastante próximos (41 – 43 mm);

- as duas previsões realizadas pelo MEF, encontraram valores próximos (27 – 29

mm);

- a simplificação da fundação por um tubulão equivalente encontrou um recalque

intermediário dentre as diversas soluções;

- as análises com os programas GARP, ALLFINE e PIRAF (Ta & Small, 1998)

foram realizadas pelo autor desta tese;

Matsumoto et al. (1998) avaliaram as previsões feitas pelos membros japoneses do

comitê TC-18, e especularam que o menor valor obtido por Yamashita (1998) utilizando o

MEF, pudesse ser conseqüência do domínio vertical (H/L= 3) empregado.

Utilizando-se o programa ALLFINE para duas diferentes malhas, e alterando-se o

domínio vertical do problema de H/L = 3 para H/L = 5, observou-se apenas um pequeno

acréscimo (1,4%) no recalque do radier (de 26,66 para 27,03mm). Portanto, acredita-se que as

diferenças entre os recalques citados na Tabela 3.3 estejam associadas às simplificações

inerentes a cada método em questão, e não simplesmente ao domínio vertical empregado.

Mais uma vez os métodos híbridos (HyPR, GARP e KURP) apresentaram uma tendência de

um comportamento menos rígido (maior recalque) para a fundação analisada.

A Figura 3.15 mostra a comparação entre as cargas absorvidas pelas estacas nas três

diferentes posições, dentro do grupo das 16 estacas. Observa-se uma ótima concordância entre

os cinco métodos empregados.

Na Figura 3.16 são comparadas as distribuições de carga com a profundidade nas três

diferentes posições de estacas para este radier. Nesta figura, observa-se uma concordância

muito boa entre a previsão do programa ALLFINE com os resultados de Yamashita (1998),

ambos utilizando o MEF. Os valores previstos por Matsumoto (1998), embora com razoável

aproximação na superfície, diferem um pouco das outras duas soluções, apontando uma

transferência de carga ao solo mais intensa nas camadas superficiais.

Page 111: universidade de brasília faculdade de tecnologia departamento de ...

84

Figura 3.15 – Carga absorvida pelas estacas em diferentes posições no radier sobre 16 estacas

proposto pelo TC-18.

Figura 3.16 – Distribuição de carga nas estacas – Radier sobre 16 estacas proposto pelo TC-

18.

Na análise do caso proposto pelo TC-18, de uma maneira sintética, o desempenho do

programa ALLFINE foi muito semelhante aos resultados de Yamashita (1998), que também

empregou uma análise 3-D pelo MEF. O programa GARP mostrou resultados semelhantes ao

dos outros métodos aproximados, KURP e HyPR.

0

2

4

6

8

10

Estaca

carg

a (k

N)

Yamashita (1998)Matsumoto (1998)ALLFINEGARPPIRAF

1 2 3

12

3

0

5

10

15

20

25

30

0 2 4 6 8 10carga (kN)

prof

. (m

)

P1 P1 P1

P2 P2 P2

P3 P3 P3

Matsumoto Yamashita ALLFINE

P1P2P3

12

3

Page 112: universidade de brasília faculdade de tecnologia departamento de ...

85

3.6 – RUSSO & VIGGIANI (1997)

Russo & Viggiani (1997) apresentaram um artigo, onde avaliaram alguns aspectos da

análise numérica de radier estaqueados e mostraram o desempenho de um programa

desenvolvido por Russo (1995), utilizando uma metodologia aproximada, em que as estacas

são substituídas por elementos de mola e as várias formas de interação entre as partes são

consideradas, na mesma concepção básica do programa GARP.

Nesse referido artigo, os autores analisaram a resposta de um radier quadrado de 18m

sobre 36 estacas com diâmetro de 1m. Nas figuras seguintes serão comparados os resultados

de quatro métodos (ALLFINE, GARP, NAPRA (Russo, 1995) e HyPR (Clancy & Randolph,

1993) considerando um radier semi-flexível (1m de espessura) e estacas com 10 e 40m.

Maiores detalhes podem ser obtidos no artigo original dos autores em questão.

A Figura 3.17 compara o recalque médio do radier estaqueado (Spr), normalizado

pelo recalque de uma estaca isolada sob a mesma carga média (Ss), para diversos domínios

verticais adotados (L/H), sendo “L” o comprimento da estaca e “H” a espessura do manto de

solo onde situam-se as estacas. Observa-se que a concordância entre os métodos é apenas

razoável, sendo que os programas NAPRA e HyPR apresentaram respostas semelhantes e

próximas à média entre as previsões de GARP e ALLFINE.

Figura 3.17 – Recalque médio normalizado de um radier sobre 36 estacas, variando-se a

espessura da camada de solo. Comparação com os resultados de Russo & Viggiani (1997).

0

2

4

6

8

0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7L/H

Spr/S

s

Napra Napra

HyPR HyPR

Allfine Allfine

Garp7 Garp7

L=10m L=40m

Page 113: universidade de brasília faculdade de tecnologia departamento de ...

86

A Figura 3.18 traz a comparação do recalque diferencial (∆S), calculado entre o

centro e ponto central da borda do radier, normalizado pelo recalque médio do radier, também

para vários valores de domínio vertical (L/H). Neste caso a concordância entre os quatro

métodos pode ser considerada muito boa.

Figura 3.18 – Recalque diferencial normalizado de um radier sobre 36 estacas, variando-se a

espessura da camada de solo. Comparação com os resultados de Russo & Viggiani (1997).

A Figura 3.19 compara a porcentagem de carga absorvida pelo conjunto de estacas,

para os casos de estacas com 10 e 40m, variando-se o domínio vertical do solo. Observa-se,

nesta figura, que a concordância entre os métodos não passa de regular, mas dois aspectos

podem ser destacados :

- a concordância entre os resultados de GARP e ALLFINE foi boa para a estaca de

10m, mas com resultados bem distantes para a estaca de 40m;

- para menores espessuras do manto de solo (maiores valores de L/H) houve uma

redução na parcela de carga absorvida pelas estacas segundo o programa

NAPRA, enquanto nos outros três a tendência foi inversa. Este fato ficou mais

acentuado para a estaca de 10m. Os resultados obtidos com o NAPRA são

incoerentes, pois a medida que a ponta se aproxima do extrato rígido, maior a

carga a ser transferida ao solo pelas estacas. Na situação extrema de L/H=1,

praticamente toda a carga seria transferida ao extrato rígido por tensões de

compressão na ponta das estacas (como grupo de estacas apoiado em rocha).

0

20

40

60

80

100

0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7L/H

∆S/S

pr NAPRA NAPRA

HyPR HyPR

ALLFINE ALLFINE

GARP GARP

L=10m L=40m

Page 114: universidade de brasília faculdade de tecnologia departamento de ...

87

Figura 3.19 – Parcela de carga nas estacas de um radier sobre 36 estacas, variando-se a

espessura da camada de solo. Comparação com os resultados de Russo & Viggiani (1997).

Concluindo este caso, apresenta-se nas Figuras 3.20a e 3.20b a parcela de carga

absorvida pelas estacas em cinco diferentes posições dentro do grupo para estacas com 10 e

40m, em situação de domínio de H/L = 2 (“Pi” é a carga na estaca e “P” a carga média por

estaca).

Figura 3.20 – Carga relativa nas diferentes posições de estacas de um radier sobre 36 estacas,

H/L=2. Comparação com os resultados de Russo & Viggiani (1997).

0

20

40

60

80

100

0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7L/H

% d

e ca

rga

NAPRA NAPRA

HyPR HyPR

ALLFINE ALLFINE

GARP GARP

L=10m L=40m

0

0,2

0,4

0,6

0,8

1

1,2

1 2 3 4 5Estaca

Pi/P

NAPRAHyPR

ALLFINEGARP

H/L = 2L = 10 m

0

0,2

0,4

0,6

0,8

1

1,2

1,4

1 2 3 4 5Estaca

Pi/P

NAPRAHyPRALLFINEGARP

H/L = 2L = 40 m

1

2

345

Page 115: universidade de brasília faculdade de tecnologia departamento de ...

88

A concordância entre os quatro métodos foi apenas razoável, sendo que a solução

obtida com o ALLFINE não previu grandes variações entre as cargas de todas as estacas da

fundação, mostrando um comportamento médio em relação às outras três formas de análise.

3.7 – PRINCIPAIS OBSERVAÇÕES DAS ANÁLISES EFETUADAS

- os resultados das análises com o programa ALLFINE foram muito semelhantes,

de uma forma geral, aos resultados publicados por Ottaviani (1975) e Yamashita

(1998), que também utilizaram o MEF;

- o desempenho do programa GARP se aproximou, razoavelmente, em termos

médios, aos resultados dos diferentes autores para os diversos casos analisados;

- parece haver uma maior concordância entre as previsões de recalque do que a

estimativa da parcela de carga absorvida pelo radier;

- comparando-se o desempenho do programa ALLFINE, bem como outros

trabalhos que utilizaram o MEF, com soluções provenientes de análises

realizadas pelo MEC, como Butterfield & Banerjee (1971a) e Kuwabara (1989),

nota-se uma tendência da previsão de menores valores de recalque pelo MEF.

Sem querer generalizar tal conclusão, tal fato certamente merecerá maiores

investigações futuras;

- uma melhor ou pior concordância entre diferentes métodos parece ser função de

vários fatores, como a rigidez relativa (K), o comprimento relativo da estaca

(L/D), a espessura do manto de solo (L/H) e o espaçamento entre as estacas

(S/D);

- a observação de Randolph (1994), de que uma margem de ± 20% de discrepância

é obtida entre diferentes formas de análise para fundações com mais de 100

estacas, parece ser perfeitamente extensível a um radier sobre um número

qualquer de estacas, principalmente ao se levar em conta análises provenientes de

métodos com hipóteses básicas distintas, como foi o caso da comparação

ALLFINE x GARP.

Page 116: universidade de brasília faculdade de tecnologia departamento de ...

89

4 – MATERIAIS, ENSAIOS E MÉTODOS

Neste capítulo apresenta-se uma descrição mais detalhada do local onde as provas de

carga foram realizadas, bem como todas as etapas envolvidas na preparação e forma de

execução dos ensaios.

As provas de carga foram realizadas no Campo Experimental da UnB, situado no

Campus Darcy Ribeiro, Asa Norte – Brasília – DF, ao lado do prédio da Sismologia e

próximo ao SG-12, o qual abriga todas as instalações do Programa de Pós-Graduação em

Geotecnia da UnB.

4.1 – DESCRIÇÃO DO SOLO LOCAL

A cidade de Brasília está localizada no centro da unidade federativa do Distrito

Federal, que possui uma área de 5814 km2, delimitada pelas coordenadas longitudinais

47o20’W e 48o15’W e pelas longitudinais 15o30’S e 16o03’S (ver Figura 4.1).

Figura 4.1 – Mapa geográfico do Distrito Federal

Page 117: universidade de brasília faculdade de tecnologia departamento de ...

90

Diversos autores, como Novaes Pinto (1993), Macedo et al. (1994), Blanco (1995) e

Cardoso (1995), entre outros, já descreveram detalhadamente a geologia e geomorfologia

local ressaltando suas peculiaridades.

A geomorfologia do Planalto Central, em que se situa o Distrito Federal, possui

feições próprias devido às características climáticas, geológicas e antrópicas (Blanco, 1995).

Em grande parte do DF são encontradas chapadas, onde predomina um relevo residual e de

aplainamento, com topografia plana a levemente ondulada. O solo de cobertura existente é

composto por lateritas e latossolos. As rochas da região são compostas por ardósias e

metarritmitos, em geral muito intemperizadas na sua parte superior. A Figura 4.2 mostra uma

distribuição dos solos superficiais no Distrito Federal.

Figura 4.2 – Mapa de solos do Distrito Federal (Mortari, 1994).

O clima da região, com regime pluviométrico bem definido, possui duas estações,

uma muito seca e outra chuvosa, favorecendo a lixiviação de sais e outros compostos solúveis

das camadas superiores e sua deposição nos estratos inferiores. Este processo resulta na

formação de espessas camadas de coberturas silto-argilosas, avermelhadas, com alto índice de

vazios e baixo peso específico, sendo localmente denominadas por “argilas porosas”.

Estas argilas apresentam uma estrutura bastante porosa, baixa capacidade de suporte,

baixo nível de saturação e em geral são instáveis quando submetidas a variações no estado de

tensões. Portanto, apresentam um comportamento colapsível, já bastante estudado por

diversos autores, como Camapum de Carvalho et al. (1994), Ortigão (1994), Blanco (1995),

Cardoso (1995), Araki (1997), Luna (1997), Peixoto (1999), entre outros.

Page 118: universidade de brasília faculdade de tecnologia departamento de ...

91

Cardoso (1995), através de ensaios de microscopia eletrônica de varredura, concluiu

que na argila porosa de Brasília a estrutura é composta principalmente por microconcreções

interligadas por pontes de argila.

Araki (1997) afirmou que :

- a sucção capilar não é o principal mecanismo de sustentação da estrutura

porosa do solo de Brasília;

- as pontes de argila e/ou agentes cimentantes existentes entre os

microagregados são estáveis na presença de água de origem

pluviométrica;

- o colapso pode ocorrer pela destruição das pontes e agentes cimentantes

que mantêm a condição de metaestabilidade do solo em condição

geostática, ou pela alteração do estado de tensões atuantes.

A argila porosa de Brasília pode ser classificada como "condicionalmente

colapsível", sendo que para cada valor de sucção há uma carga crítica que provocaria o

colapso. A afirmação de Araki (1997), de que a sucção capilar não é o principal mecanismo

de sustentação da estrutura da argila é válida para o solo não carregado e com os teores de

umidade natural normalmente encontrados na superfície (20-30%). A sucção, mesmo não

sendo a causa principal da estrutura porosa, influencia bastante a resistência ao cisalhamento

da mesma.

A Tabela 4.1 apresenta uma coletânea de faixas de valores encontrados para alguns

parâmetros geotécnicos em ensaios realizados com amostras de diversos locais do Distrito

Federal.

Ribeiro (1999) analisou amostras do solo de Val-Paraíso – GO. Esta cidade é vizinha

a Brasília e já teve o seu solo bastante estudado, apresentando as mesmas características

geomorfológicas da argila porosa de Brasília. Esse autor realizou medidas de sucção neste

solo pelos métodos do “papel filtro” e “panela de pressão”, encontrando a curva característica

apresentada na Figura 4.3. Nesta figura, observa-se que o solo apresenta uma alta capacidade

de drenagem de água, indicado pela desaturação brusca da amostra para pequenos acréscimos

de sucção (de 0 a 10 kPa).

Page 119: universidade de brasília faculdade de tecnologia departamento de ...

92

Tabela 4.1 – Parâmetros geotécnicos da argila porosa de Brasília (modificado – Araki, 1997 e

Palocci, 1998).

Parâmetro Unidade Faixa de Valores Areia % 12-27 Silte % 8-36 Argila % 35-76 Peso específico kN/m3 14-19 Teor de umidade natural (w) % 20-34 Grau de saturação (S) % 50-86 Índice de vazios (e) -- 1.0-2.0 Limite de Liquidez (LL) % 25-78 Limite de Plasticidade (LP) % 20-34 Índice de Plasticidade (IP) % 5-44 Coesão efetiva (c) kPa 10-34 Ângulo de atrito (φ) o 26-34 Módulo de Youg MPa 2-14 Coeficiente de empuxo no repouso (Ko) -- 0.44-0.54 Coeficiente de permeabilidade (k) cm/s 10-6-10-3

Figura 4.3 – Relação entre sucção mátrica x grau de saturação (modificado – Ribeiro, 1999).

Page 120: universidade de brasília faculdade de tecnologia departamento de ...

93

Em termos específicos do Campo Experimental da UnB, uma vasta campanha de

investigação já foi realizada. Pastore (1996) fez a descrição das camadas observadas em um

poço de inspeção, apresentada na Figura 4.4. Perez (1997) apresentou os resultados de

diversos ensaios realizados com amostras de várias profundidades, que estão reproduzidos na

Tabela 4.2. A Figura 4.5 apresenta o perfil de umidade acompanhado nos meses anteriores à

realização das provas de carga, já apresentado em Perez (1997).

Nível do Terreno 0,00 argila arenosa vermelho-escura ----- 5,00 argila pedregulho-arenosa vermelho-escura ----- 8,80 predomínio de solo laterítico ----- 9,80 poucas estruturas reliquiares ----- 10,30 intercalações de quartzo ----- 11,30 silte argiloso vermelho 15,00

Figura 4.4 – Descrição das camadas de solo do poço de inspeção no Campo Experimental da

UnB (Pastore, 1996).

Tabela 4.2 – Caracterização geotécnica do Campo Experimental da UnB ( modificado –

Perez, 1997).

Prof. Argila Silte Areia Pedreg. wL IP γnat G e cnat csat φnat φsat (m) (%) (%) (%) (%) (%) (%) kN/m3 kPa kPa (o) (o) 1 15,0 2 52 36 12 0 53,2 21,8 15,5 2,64 0 10 28 5 3 16,0 2,63 1,20 4 47,9 14,7 16,1 2,67 1,22 5 35 8 27 30 43,2 13,4 16,3 2,71 1,23 22 0 31 5 6 52,4 13,5 1,20 7 50,4 12,8 1,17 8 50,4 12,8 1,08 18 0 40 9 9 37 8 13 42 61,0 18,1 2,72

Horizonte de solo residual laterítico

Horizonte de transição

Horizonte de solo saprolítico de ardósia

Page 121: universidade de brasília faculdade de tecnologia departamento de ...

94

Figura 4.5 – Comparação entre perfis de umidade em meses anteriores às provas de carga

(modificado – Perez, 1997).

A Figura 4.6 apresenta a curva característica, em termos de teor de umidade, para

uma amostra de solo retirada a 3m de profundidade no Campo Experimental da UnB

(Peixoto, 1999), em local muito próximo às provas de carga a serem apresentadas, mais

adiante, neste capítulo. Neste teste foi utilizado a técnica de câmara de Richards. Observa-se

que valores de teor de umidade acima de 30% só foram registrados para baixos valores de

sucção (<10 kPa).

Figura 4.6 – Curva característica, sucção mátrica x teor de umidade (Peixoto, 1999)

0,00

2,00

4,00

6,00

8,00

10,00

10 15 20 25 30 35 40umidade natural (%)

prof

. (m

)

Dez/96

Mai/97

Jun/97

Page 122: universidade de brasília faculdade de tecnologia departamento de ...

95

No presente estudo, durante a escavação das estacas e posteriormente à realização

das provas de carga, foram feitos perfis de umidade e estimativas do grau de saturação (com

valores de “G” e “e” da Tabela 4.2). Esses valores estão apresentados nas Figuras 4.7a e 4.7b.

Observa-se uma boa concordância com as curvas apresentadas na Figura 4.5.

(a) setembro/97 - Antes (b) novembro/97 - Após

Figura 4.7 – Perfis de umidade antes e após as provas de carga.

A série de provas de carga da presente pesquisa foi realizada no período de setembro

a novembro de 1997, correspondente ao final da estação seca e início da chuvosa. Naquele

ano, ocorreram poucas, espaçadas, mas intensas chuvas a partir do mês de outubro, quando as

provas de carga com o solo em sua umidade natural já haviam sido realizadas.

Comparando-se as Figuras 4.7a e 4.7b, nota-se uma grande aproximação entre os

valores medidos de teor de umidade, antes e após os ensaios. Indicando uma alta

permeabilidade das camadas superficiais, o que permite uma rápida infiltração do volume de

água de chuvas. A título de exemplo, após quinze dias chuvosos, observou-se que o teor de

umidade da camada a 1,0m de profundidade sofreu uma pequena elevação, crescendo de

19,4% para a faixa de 23%. Este acréscimo de umidade, entretanto, desapareceu após alguns

dias ensolarados, reduzindo o teor de umidade para valores inferiores a 20%, conforme

constata a Figura 4.7b.

Os resultados de ensaios normatizados de caracterização granulométrica, deste solo,

pouco contribuem para a compreensão de seu comportamento. A granulometria tradicional

0

2

4

6

8

10

12

0 10 20 30 40 50 60 70 80 90

umidade e saturação (%)

prof

. (m

) w (%)

S (%)

0

2

4

6

8

10

12

0 10 20 30 40 50 60 70 80 90

umidade e saturação (%)

prof

. (m

) w1 (%)w2 (%)S1 (%)S2 (%)

Page 123: universidade de brasília faculdade de tecnologia departamento de ...

96

aponta para uma fração de argila igual ou superior a 60%, o que é incoerente com a alta

permeabilidade do solo. A explicação para o fato está na estrutura porosa do solo com um

arranjo das partículas de argila em microagregados, com dimensão de partículas de silte ou

areia fina, interligados por pontes de argila. Araki (1997) realizou ensaios de granulometria

por sedimentação com e sem a utilização de defloculantes e encontrou uma grande

discrepância entre os resultados, conforme apresentado na Tabela 4.3.

Tabela 4.3 – Ensaios de granulometria por sedimentação (modificado – Araki, 1997).

Profundidade com defloculante (% que passa) sem defloculante (% que passa)

(m) areia silte argila areia silte argila 3 15 09 76 51 46 03 5 08 15 77 40 33 27

Luna (1997) realizou alguns ensaios edométricos e triaxiais com amostras do Campo

Experimental da UnB, no sentido de estudar a colapsibilidade deste solo. A Figura 4.8

apresenta os resultados de ensaios duplo-edométricos para amostras com teores de umidade

natural e saturadas, retiradas nas profundidades de 1,8 e 3m (aproximadamente com teores de

umidade natural de 19 e 24%, respectivamente).

(a) profundidade 1,80m (b) profundidade 3,0m

Figura 4.8 – Ensaios edométricos evidenciando comportamento diferenciado com a

profundidade (modificado – Luna, 1997).

0,5

0,7

0,9

1,1

1,3

1,5

1,7

10 100 1000tensão (kPa)

índi

ce d

e va

zios natural

saturado

0,5

0,7

0,9

1,1

1,3

10 100 1000tensão (kPa)

índi

ce d

e va

zios

natural

saturado

Page 124: universidade de brasília faculdade de tecnologia departamento de ...

97

A amostra de 1,8m praticamente não sofreu alteração de seu comportamento com a

saturação prévia, enquanto que a amostra a 3m teve um comportamento diferente e típico de

solos colapsíveis. Luna (1997) cita que fato semelhante já havia sido relatado por outros

autores como Polido & Castello (1991) e Araki (1997) para amostras coletadas em áreas

próximas a Brasília, onde a camada superior não apresenta um comportamento colapsível

apenas com a saturação (seria necessário a aplicação de uma carga para que o colapso

ocorresse), enquanto que as camadas inferiores teriam o seu comportamento alterado com a

simples inundação (saturação, no caso) do solo. Esses autores levantam algumas hipóteses

para explicar o fato, acreditando que a camada superficial sofra um processo de intemperismo

mais intenso, culminando em um aumento da cimentação, ou seja, um estágio mais avançado

do intemperismo deixa as camadas superiores um pouco mais estáveis e não suscetíveis ao

colapso pela simples inundação.

Para amostras das camadas superficiais, Polido & Castello (1991) e Araki (1997)

observaram um forte colapso por saturação em ensaios executados com amostras

desestruturadas (remoldadas). Este resultado foi diferente dos obtidos com amostras não-

perturbadas do mesmo solo, que não apresentaram colapso significativo pela simples

saturação. Isto reforça a tese do importante papel das ligações naturais nas camadas

superficiais, entretanto não esclarece que porcentagem do colapso seria função da sucção e

qual o percentual resultante da quebra de microconcreções.

Continuando a caracterização do perfil de solo existente no Campo Experimental da

UnB, a seguir são apresentados alguns ensaios de campo realizados próximo ao local onde

foram feitas as presentes provas de carga.

A Tabela 4.4 traz os resultados de três furos de sondagem SPT, realizados em duas

datas distintas, dentro do Campo Experimental da UnB.

Comparando os valores de NSPT da Tabela 4.4 com o perfil de solo descrito na Figura

4.4, pode-se ressaltar :

- até 5m, os valores de NSPT são baixos (não superiores a 4);

- a partir de 5m há uma leve alteração no horizonte de solo, com o

aparecimento de pedregulhos lateríticos, elevando um pouco os valores

de NSPT ;

- no horizonte de transição, entre 8,80 e 10,30m conforme Pastore (1996),

os valores de NSPT são mais dispersos;

- ao entrar no horizonte de solo saprolítico, após 10,30m, os resultados de

NSPT crescem para valores próximo ou superiores a 20 golpes.

Page 125: universidade de brasília faculdade de tecnologia departamento de ...

98

Tabela 4.4 – Furos de sondagem SPT no Campo Experimental da UnB. Prof. (m) SPT1 (ago/95) SPT2 (ago/95) SPT3 (nov/97) 1 -- -- -- 2 4 2 4 3 2 2 2 4 4 2 2 5 4 4 4 6 7 9 7 7 8 10 6 8 14 11 5 9 20 15 8 10 23 10 6 11 23 24 19 12 26 24 18 13 23 14 54 P.S. : Nível d’água não encontrado em todos os furos.

Camapum de Carvalho et al. (1998) realizaram sondagens SPT-T com duas formas

distintas de avanço do processo de perfuração (não utilizando o processo de lavagem):

- avanço com trado helicoidal, recomendada pela norma NBR

6484(1980);

- avanço através da cravação das hastes, posicionando-se na extremidade

destas um bico amostrador de parede grossa. Tal procedimento é prática

comum em grande parte das empresas no Centro-Oeste brasileiro.

As Figuras 4.9a e 4.9b apresentam os resultados do valor de NSPT e do Torque

medido, obtidos pelos dois métodos de execução.

Era de se esperar que o ensaio, cuja fase de avanço fosse feita por cravação (com

bico grosso), provocasse a desestruturação do solo circunvizinho e que isto significasse uma

redução sistemática dos resultados dos ensaios feitos desta forma, principalmente para o

número de golpes medidos para a cravação dos primeiros 15cm. Isto não ocorreu e a Figura

4.9 mostra curvas próximas que se alternam, nada indicando além da variabilidade comum a

este tipo de ensaio.

A Figura 4.10 mostra o “Índice de Torque”, relação entre o torque medido e o NSPT,

para as duas formas de ensaios. Também não se nota variação no resultado em função da

forma de execução da sondagem.

Page 126: universidade de brasília faculdade de tecnologia departamento de ...

99

(a) NSPT (b) Torque

Figura 4.9 – Sondagem SPT-T realizada no Campo Experimental da UnB (modificado –

Camapum de Carvalho et al., 1998).

Figura 4.10 – Índice de Torque da sondagem SPT-T realizada no Campo Experimental da

UnB (modificado – Camapum de Carvalho et al., 1998).

A Figura 4.11 apresenta os resultados de ensaios dilatométricos realizados por

Jardim (1998). Observa-se nestes gráficos que tanto o módulo dilatométrico (Ed), como o

Índice de tensão horizontal (Kd) são aproximadamente constantes no horizonte de solo

laterítico (inferior a 7m) e sofrem uma elevação a partir da camada de transição.

0

2

4

6

8

10

12

0 5 10 15 20

No de Golpes (NSPT)pr

of. (

m)

bico grosso

com trado

0

2

4

6

8

10

12

0 5 10 15 20 25 30Torque (kgf.m)

prof

. (m

)

bico grosso

com trado

0

2

4

6

8

10

12

0 0,5 1 1,5 2 2,5 3

Índice de Torque (T/Nspt)

prof

. (m

)

bico grosso

com trado

Page 127: universidade de brasília faculdade de tecnologia departamento de ...

100

Figura 4.11 – Ensaio Dilatométrico no Campo Experimental (modificado – Jardim, 1998).

Cunha et al. (1999) analisaram os dados apresentados na Figura 4.11, estimando

diversos parâmetros geotécnicos e comparando-os a resultados de laboratório, a fim de avaliar

a aplicabilidade das proposições de interpretação deste tipo de ensaio, a um solo “não-

convencional” como a argila porosa de Brasília.

Nas Figuras 4.12, apresentam-se as estimativas do Módulo de Young, a partir da

interpretação de ensaios pressiométricos, comentados em Vecchi et al. (2000). Nesta figura,

comparam-se, ainda, os resultados obtidos em ensaios triaxiais para dois níveis de deformação

(inicial e a 50% do valor de ruptura).

Da Figura 4.12, nota-se que :

- o valor de E é bastante elevado a 1m de profundidade, provavelmente

por interferência da camada superficial de cascalho laterizado;

- na camada de 2 a 7m observam-se valores menores de E, na faixa de

2-8 MPa para solo natural, e inferior a 5 MPa após a inundação do solo;

- a 8m de profundidade, observa-se um crescimento do valor de E,

esperado devido a existência da camada de transição (ver Figura 4.4);

Page 128: universidade de brasília faculdade de tecnologia departamento de ...

101

Figura 4.12 – Variação do Módulo de Young (E) inferido dos ensaios pressiométricos (Vecchi

et al., 2000).

Kratz de Oliveira (1999) propôs uma metodologia para a estimativa do potencial de

colapso de solos a partir dos resultados de ensaios pressiométricos realizados nas condições

natural e inundada. Esse autor propôs a seguinte equação para o cálculo do potencial de

colapso (Cpres) :

2NAT o

2NAT o

2SAT o

2i

2i

2f

pres rr - r

rrrC −

−= (4.1)

onde : rf = raio da cavidade para o solo saturado;

ri = raio da cavidade para o solo sob condição de umidade natural;

ro NAT = raio inicial da cavidade para a condição de umidade natural;

ro SAT = raio inicial da cavidade para a condição inundada.

Vecchi (2000) utilizou a Eq. (4.1) para os seus ensaios pressiométricos, chegando aos

valores apresentados na Figura 4.13. Nesta figura, vale destacar :

- as camadas com maior potencial de colapso se situam entre 2 e 5m;

Page 129: universidade de brasília faculdade de tecnologia departamento de ...

102

- a camada superficial (profundidade < 2m) parece ser bem menos

suscetível ao colapso por inundação. Tal fato reforça os resultados

anteriormente obtidos por Luna (1997) (mostrado na Figura 4.8);

- os resultados de ensaios edométricos de Ortigão (1994), indicados por

círculos na Figura 4.13, são superiores aos pressiométricos. Isto pode ser

justificado pelo fato que estes últimos não conseguem impor a saturação

total ao solo vizinho devido à alta permeabilidade deste.

Figura 4.13 – Variação do potencial de colapso utilizando a proposta de Kratz de Oliveira

(1999) (Vecchi, 2000).

Mota et al. (2000) apresentaram resultados preliminares de um ensaio de cone

elétrico realizado no Campo Experimental da UnB, com o registro da resistência de ponta e

atrito lateral, como mostrados na Figura 4.14. Observa-se que:

- Na camada de 0-1m, o teste apontou um atrito lateral relativamente alto,

coerente com a existência da camada de cascalho laterizado;

- Entre 2 e 8m, tanto o registro da resistência de ponta como o do atrito

lateral apresentaram valores baixos e crescentes com a profundidade

- A 9m de profundidade registrou-se uma elevação dos registros,

apontando a existência de uma camada diferente (zona de transição

mencionada na Figura 4.4.

0

1

2

3

4

5

6

7

8

9

10

0 2 4 6 8 10

Potencial de Colapso (%)

Prof

undi

dade

(m)

pressiômetrooedômetro

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103

Figura 4.14 – Resultados de ensaio de cone elétrico (modificado – Mota et al., 2000)

4.2 – PREPARAÇÃO DOS ENSAIOS

4.2.1 – Estaca metálica

No início do planejamento das provas de carga imaginava-se que a utilização de

estacas metálicas, cilíndricas, de pequeno diâmetro, seria uma boa alternativa em função de

algumas vantagens, como:

- conhecimento exato da seção transversal e comprimento das estacas;

- possibilidade de reaproveitamento das estacas e células de carga;

- facilidade de instalação de instrumentação em três ou mais níveis e, com

isto, melhor definir as curvas de transferência de carga ao solo.

Desta forma preparou-se uma estaca-piloto metálica, cilíndrica, seção transversal

vazada (coroa circular), com diâmetro de 0,1m e 5m de comprimento e uma superfície externa

razoavelmente rugosa. Nesta estaca foram instaladas três células de carga, uma próxima à

ponta, outra no meio e a terceira no topo da mesma. A cravação foi feita com um tripé de

sondagem a percussão SPT. Detalhes desta estaca metálica podem ser vistos nas Figuras 4.15

e 4.16.

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104

Figura 4.15 – Vista da estaca-piloto, metálica, próxima ao sistema de reação.

As estimativas de capacidade de carga para esta estaca, mesmo considerando um solo

com NSPT igual a 2 em toda a extensão da estaca, variavam de 11,03 kN (Aoki-Velloso, 1975,

considerando K1=315 kPa, α = 2,9%, F1= 1,75 e F2= 3,5) a 28,07 (Décourt-Quaresma, 1978,

adotando K= 120 kPa).

Durante a prova de carga estática lenta (SML), entretanto, ocorreu a ruptura do solo

para uma carga aproximada de 7 kN durante o segundo incremento de carga (5kN/estágio),

sendo que a ponta da estaca contribuiu com mais de 60% da carga total.

Apesar da precariedade de pontos, apresentam-se nas Figuras 4.17a e 4.17b o

comportamento carga-recalque da estaca metálica e a parcela de carga absorvida pela ponta e

atrito lateral durante o teste piloto. As cargas no topo da estaca e na ponta foram medidas com

células de carga ali instaladas. A parcela de atrito lateral foi calculada pela subtração da

parcela da ponta da carga total aplicada. Nestas figuras, os recalques mencionados se referem

ao valores medidos no topo.

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105

Figura 4.16 – Vista da estaca-piloto desmontada, destacando-se as três células de carga.

(a) Carga x recalque (b) Distribuição de carga

Figura 4.17 – Prova de carga com a estaca-piloto metálica.

0

1

2

3

4

5

6

7

8

0 10 20 30 40 50recalque (mm)

carg

a (k

N)

total

ponta0

20

40

60

80

100

0 10 20 30 40 50recalque (mm)

% d

e ca

rga

ponta

atrito lateral

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106

Uma capacidade de carga tão baixa para tal estaca pode ser consequência da

desestruturação do solo na interface, bem como um afastamento do solo de contato com a

estaca em função de vibrações durante a cravação. A desestruturação e o afastamento do solo,

próximo ao contato com a estaca, implicariam na redução do atrito e/ou aderência solo-estaca,

reduzindo bastante o parcela de carga lateral da estaca.

Concorrendo para a hipótese da redução do atrito lateral devido ao processo de

cravação, dois fatos devem ser lembrados :

- o impacto do peso do tripé de SPT (0,65 kN) na cabeça da estaca

durante a cravação da mesma provocava considerável vibração. Os

esforços horizontais da estaca no solo vizinho aumentam a possibilidade

de desestruturação do mesmo e, com isto, se reduzem ou se anulam as

tensões no contato estaca-solo em trechos de seu comprimento;

- a estaca ficou levemente inclinada, acusando um desaprumo de

aproximadamente 5% (horizontal/vertical), durante a cravação dos

últimos metros de estaca. Tal fato pode ter implicado na separação da

estaca do solo em alguns trechos de seu comprimento.

Por tudo que foi colocado, optou-se por não se utilizar estacas cravadas, nesta

pesquisa, e sim estacas escavadas a trado, concretadas no próprio local.

4.2.2 – Instrumentação com células de carga

Como um dos principais objetivos desta pesquisa era a determinação da parcela de

carga suportada pela(s) estaca(s) e pela sapata, fez-se necessário mensurar, com exatidão, a

carga em cada elemento do sistema de fundação.

Optou-se por medir, através de instrumentação, a carga atuante no topo das estacas.

Como a carga total era mensurada por outra célula de carga, era possível determinar a carga

na sapata pela subtração destes dois valores medidos.

No início da pesquisa, quando as estacas seriam metálicas, construíram-se três

células de carga elétricas, cilíndricas, em alumínio e seção transversal em forma de coroa

circular. O trecho sensível da célula de carga possuía diâmetro externo de 50mm, interno de

24mm e uma altura de 120mm. A seção transversal vazada, além de trazer mais inércia à

flexão do que um círculo de mesma área, possibilitava a passagem dos cabos elétricos das

células de carga inferiores.

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107

No centro da superfície externa da peça de alumínio foram colados quatro sensores

de deformação, “strain gages”, de 120 Ω, diametralmente opostos, formando uma ponte

completa de Wheatstone. Estes sensores eram alimentados por uma fonte de corrente contínua

de 10 V, e o sinal de resposta lido por uma leitora potenciométrica.

Para garantir que toda a carga da estaca passasse pela célula de carga, seccionaram-

se as estacas nos locais de posicionamento das referidas células de carga (ver Figura 4.16). As

células de carga eram fixadas à cada parte da estaca através de roscas na parede interna da

estaca. O último fio da rosca foi retirado de forma a garantir o contato perfeito do topo e base

da peça de alumínio (célula de carga) com o ressalto deixado internamente à parede da estaca.

Este procedimento visava assegurar que grandes esforços não fossem transmitidos aos fios de

cada rosca da peça de alumínio.

A Figura 4.18 mostra os elementos envolvidos na preparação de uma célula de carga,

enquanto que a Figura 4.19 apresenta uma vista da célula de carga acima descrita.

Figura 4.18 – Elementos envolvidos na construção da célula de carga.

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108

Figura 4.19 – Vista das células de carga empregadas nas estacas-piloto metálicas.

A Figura 4.20 apresenta as curvas de calibrações da célula de carga do topo da estaca

metálica, antes e após a execução da prova de carga piloto, relatada no item anterior. Dois

pontos chamam a atenção neste gráfico :

- as “curvas” de calibração se aproximaram muito de “retas”, mostrando a

linearidade do material empregado na faixa de carga estudada;

- as “retas” de calibração, antes e após a prova de carga piloto, foram

muito semelhantes, mostrando que os esforços dinâmicos da cravação

não danificaram os sensores de deformação.

As outras duas células de carga apresentaram o mesmo comportamento observado na

Figura 4.20.

Com a alteração das estacas, inicialmente planejadas como metálicas, para estacas de

concreto escavadas a trado, reduziu-se a instrumentação de cada estaca para apenas duas

células de carga, sendo uma no topo e outra na ponta.

O projeto das novas células de carga foi alterado de forma a ligar dois “pratos”

metálicos, um em cada extremidade, com 15cm de diâmetro (o mesmo das estacas). Para a

proteção mecânica lateral das células de carga, foram colocadas duas meias-cana de PVC com

150mm de diâmetro, solidarizadas entre si e às placas metálicas por silicone. As Figuras 4.21

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109

e 4.22 apresentam uma vista de uma célula de carga antes e após o fechamento,

respectivamente.

Figura 4.20 – Curvas de calibração da célula de carga do topo da estaca-piloto.

Figura 4.21 – Célula de carga de ponta, antes e após sua preparação, com o detalhe da fixação

dos pratos à célula de carga.

0

5

10

15

20

25

30

35

40

45

0 0,01 0,02 0,03 0,04 0,05 0,06Variação da Leitura (mV)

carg

a (k

N)

jun/97 (antes)

jun/97 (antes)

set/97 (após)

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110

Figura 4.22 – Proteção mecânica em PVC das células de carga.

Na célula de carga que seria colocada na ponta da estaca foi soldada uma luva

metálica de 25mm no centro do prato superior. A esta luva foram conectados tubos flexíveis

de PVC, que permitiam a descida das células de carga até o fundo da escavação das estacas,

bem como a subida dos cabos elétricos provenientes dos sensores de defoermação (ver Figura

4.22). Nas células de carga utilizadas no topo das estacas a saída dos cabos era lateral, através

de um furo na proteção mecânica de PVC.

A Tabela 4.5 traz um resumo das curvas de calibração de todas as dez células de

carga construídas para esta pesquisa. Nesta tabela são apresentados os coeficientes angulares

(α) das “retas” carga aplicada versus variação de voltagem medida, o coeficiente de regressão

linear (R2) para os pontos medidos, a sensibilidade (variação da carga em kN para a menor

unidade lida no sistema de leitura – 0,0001 mV) e o erro médio (média das diferenças entre os

valores lidos e reta de ajuste, em relação a carga máxima atingida na calibração – FSO),

dando uma noção de quão próximo tais pontos estavam da reta média.

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111

Tabela 4.5 – Parâmetros das curvas de calibração das células de carga.

Célula de Carga α (kN/mV) R2 sensibilidade (kN) erro médio (% FSO) Topo 1 826,40 0,9998 0,083 0,41 Topo 2 720,01 0,9998 0,072 0,53 Topo 3 873,20 0,9999 0,087 0,33 Topo 4 778,63 0,9999 0,078 0,32 Ponta 1 1040,68 1,0000 0,104 0,26 Ponta 2 1041,83 1,0000 0,104 0,18 Ponta 3 1027,99 1,0000 0,103 0,34 Ponta 4 1060,54 0,9999 0,106 0,45 Ponta 5 1034,39 1,0000 0,103 0,48 Ponta 6 1073,14 0,9996 0,107 0,70 onde “FSO” é a carga máxima atingida durante cada calibração.

4.2.3 – Escavação e concretagem dos elementos de fundação

As estacas empregadas, comumente conhecidas como “estacas broca” ou “manuais”,

foram escavadas com trado manual tipo concha, de 15cm de diâmetro e concretadas

posteriormente (menos de 24h). As estacas possuíam 5m de comprimento a partir da cota

“-1m”.

O espaçamento entre estacas de um mesmo grupo era de 75cm (5 diâmetros). Os

espaços entre diferentes provas de carga foram definidos em função do sistema de reação, que

já existia previamente à definição da série de ensaios da presente pesquisa. Buscou-se,

entretanto, o maior distanciamento possível entre diferentes provas de carga e de cada prova

de carga com o sistema de reação, conforme será apresentado posteriormente na Figura 4.31.

As estacas foram escavadas sem a utilização de água para não interferir na estrutura

do solo vizinho, e de uma forma cuidadosa para minimizar problemas, como:

- não-linearidade;

- não-verticalidade;

- aumento do diâmetro próximo à superfície.

A Figura 4.23 mostra o grupo de quatro estacas concretadas, sendo que duas foram

instrumentadas com células de carga na ponta.

Após a execução das provas de carga, as estacas foram “exumadas” para a

verificação de sua aparência, seção transversal, verticalidade, etc. As Figuras 4.24 e 4.25

mostram o mesmo grupo apresentado na Figura 4.23, onde se observam uma boa verticalidade

e constância da seção transversal das estacas.

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112

Figura 4.23 – Grupo de quatro estacas após a concretagem.

Figura 4.24 – Exumação do grupo de quatro estacas.

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112

Figura 4.23 – Grupo de quatro estacas após a concretagem.

Figura 4.24 – Exumação do grupo de quatro estacas.

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113

Figura 4.25 – Detalhe de uma das estacas do grupo de quatro estacas.

O concreto das estacas foi preparado no próprio local, com o auxílio de uma pequena

betoneira elétrica, conforme Figura 4.26.

O traço do concreto, em volume, foi de 1 (cimento): 2,5 (areia média e grossa) : 4

(brita #1), sendo que cada traço preparado na betoneira era composto de 8 litros de cimento, 8

de água, 20 de areia e 32 de brita, com um fator água/cimento de 0,5. A concretagem de cada

estaca consumiu aproximadamente 2,25 traços, que eram preparados em um tempo inferior a

20 minutos.

Antes do início da concretagem da estaca, descia-se a célula de carga da ponta com o

auxílio de tubos de PVC, que podem ser vistos na Figura 4.23. Pela forma como as células de

carga desceram, com muito pouca folga, verificou-se que o diâmetro de todas as estacas

devem ter ficado entre 15 e 16 cm em todo o seu comprimento. Isto foi comprovado no trecho

superior das oito estacas exumadas, como pode ser visto na Figura 4.25.

Page 142: universidade de brasília faculdade de tecnologia departamento de ...

114

Figura 4.26 – Preparação do concreto das estacas.

Foram retirados 6 corpos de prova do concreto das estacas. A Tabela 4.6 apresenta o

resultados dos rompimentos destes corpos de prova.

Tabela 4.6 – Resultados dos rompimentos dos corpos de prova do concreto das estacas. Resistência ( MPa)

7 dias 28 dias 1 e 4 8,49 21,79 2 e 5 11,32 16,69 3 e 6 15,56 16,10

C.P.

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115

Na Tabela 4.6 observa-se uma grande variabilidade dos resultados, mas com uma

resistência última acima de 16 MPa, após os 28 dias.

O elemento denominado por “sapata” nas presentes provas de carga era na verdade

uma placa de concreto, pré-moldada, com dimensões de 1,0 x 1,0 x 0,15m. Esta peça foi

concretada e ficou curando, por mais de 30 dias, antes da primeira prova de carga. A armação

utilizada foi uma malha dupla de barras de aço, com diâmetro de 10mm e espaçamento

aproximado de 10cm, tendo cada barra um formato retangular. O concreto, entretanto, foi

preparado com uma mistura manual antes do lançamento. Isto conferiu uma qualidade inferior

ao concreto, em termos de módulo de Young. Tal fato só foi observado durante a realização

das provas de carga, e será comentado em detalhes no capítulo 5.

4.2.4 – Sistema de reação

O sistema de reação utilizado nesta pesquisa já se encontrava pronto antes do

planejamento das provas de carga. Ele era composto por seis tubulões com fuste de 0,60m,

base de 2m e 10m de profundidade, aproximadamente. A distância entre cada dois tubulões

variava entre 4 a 6m. Da cabeça destes tubulões, que trabalharam a tração, saíam duas barras

de 16mm de aço CA-50.

Em cada prova de carga, para interligar os dois tubulões, que se encontravam no

mesmo alinhamento, foi utilizada uma viga metálica de perfil “duplo I”. Para prendê-la aos

tubulões de reação, usou-se uma chapa metálica apoiada na face superior da viga. Esta chapa,

com um furo em cada lateral, era presa às barras de aço através de várias braçadeiras

metálicas, “grampos”, sendo geralmente quatro de cada lado. Uma vista da viga e seu

travamento às barras de aço são mostrados na Figura 4.27.

Para as provas de carga, que continham quatro estacas, o nível de carga ultrapassou

400kN, sendo assim muito superior à capacidade de travamento com grampos, e se

aproximava da carga última das barras tracionadas em algumas posições. Para contornar tal

limitação, foi utilizado uma associação de duas vigas, sendo a superior interligada a dois

tubulões, e a inferior tinha um de seus lados ligado a um tubulão e o outro era sustentado por

uma cargueira. A cargueira era composta por uma série de blocos, com peso individual

aproximado de 6kN. Vê-se uma dessas montagens na Figura 4.28.

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116

Figura 4.27 – Vista da viga de reação e seu travamento às barras tracionadas.

Figura 4.28 – Sistema de reação composto por vigas e cargueira.

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117

Esta solução foi suficiente à execução dos ensaios, mas se mostrou bastante

trabalhosa para ser preparada, consumindo por vezes mais de 5 horas de trabalho de um

“Caminhão-Munck”. Além disto, a estabilidade dos blocos não era perfeita nesta forma de

cargueira, deixando-a um tanto quanto perigosa (relativamente instável). Vale relatar que no

final de uma das provas de carga, no momento, em que ocorreu a ruptura completa do solo

sob a sapata estaqueada, houve uma queda brusca na carga estabilizada no macaco hidráulico,

o que gerou uma movimentação em todo o sistema de reação fazendo com que todos os

blocos tombassem para um lado. Neste felizmente não estavam os equipamentos e pessoal

envolvidos nas medições.

4.2.5 – Aplicação de carga e leituras

A carga total era aplicada aos elementos de fundação através de um macaco

hidráulico com capacidade máxima de 500kN. A carga total era monitorada por uma célula de

carga elétrica com capacidade máxima também de 500kN, precisão de 0,1kN e indicação da

carga em um visor digital. Todo o sistema foi previamente aferido no Laboratório de materiais

da UnB. O sistema de aplicação de carga pode ser visto na Figura 4.29.

Figura 4.29 – Detalhe do sistema de aplicação e registro de carga total.

Page 146: universidade de brasília faculdade de tecnologia departamento de ...

118

Para a medição do sinal, nas diversas células de carga nas estacas, foi utilizada uma

leitora potenciométrica monocanal, modelo “Mentor”. Através das leituras e das curvas de

calibrações, citadas no item 4.2.2, determinava-se a carga em todas as células de carga. Esta

medição era feita para uma de cada vez.

As leituras de recalques foram feitas através de cinco extensômetros mecânicos de

precisão de 0,01mm e curso total de 5mm. Dois destes extensômetros foram posicionados na

base do macaco e os outros três foram colocados próximos a três dos quatro cantos da sapata,

na parte superior da mesma.

A partir das leituras de recalque da placa (sapata) estimava-se o valor do recalque do

quarto canto, supondo que para pontos simétricos a sapata se movimentasse como um corpo

plano e rígido. Definiu-se como recalque diferencial a diferença entre o recalque no centro

(média de duas leituras) e o recalque nos cantos (média de quatro valores, sendo três lidos e

um inferido).

4.3 – PROVAS DE CARGA REALIZADAS

Foram realizadas nove provas de carga, sendo 6 em condições naturais do

teor de umidade do solo local e as outras três provas de carga executadas, após um período de

48h de inundação prévia. Um corte esquemático da montagem destas provas de carga está

representado na Figura 4.30. A locação de todos os testes, bem como dos tubulões utilizados

como estruturas de reação, é mostrada na Figura 4.31. A numeração dos testes, citada nesta

figura, será utilizada, posteriormente, para facilitar a referência a cada teste.

viga de reação célula de carga superfície do solo macaco camada de cascalho laterizado

sapata

argila porosa vermelha célula de carga estacas célula de carga Figura 4.30 – Corte esquemático das provas de carga

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119

solo natural :

(I) sapata isolada;

(II) estaca isolada;

(III) sapata sobre uma estaca já testada;

(IV) grupo de quatro estacas (sem o contato sapata/solo);

(V) sapata sobre quatro estacas já testadas;

(VI) sapata sobre quatro estacas virgens.

solo inundado :

(VII) sapata isolada;

(VIII) estaca isolada;

(IX) sapata sobre uma estaca já testada.

6m 1m VI 1m VII V III II I 6m IV 6m VIII tubulão de reação IX Figura 4.31 – Locação esquemática das provas de carga realizadas

Page 148: universidade de brasília faculdade de tecnologia departamento de ...

120

Nos ensaios de sapatas isoladas e estacas isoladas (testes I,II,VII e VIII), tanto os

elementos de fundação como o solo se encontravam em condições virgens (nunca ensaiados

anteriormente).

Os dois ensaios de “sapata sobre uma estaca” (testes III e IX) foram feitos utilizando

a estaca anteriormente ensaiada como isolada, ou seja, a estaca já havia sido testada, mas o

solo sob a sapata se encontrava em condições originais.

No ensaio de “grupo de quatro estacas” (teste IV), a sapata foi colocada sobre as

estacas para funcionar como um bloco, flexível no caso. Entretanto, foi deixado um espaço

superior a 5cm, entre a face inferior da sapata e a superfície do solo, para garantir que não

haveria o contato entre as partes. Desta forma somente as estacas transferiram carga ao solo.

Na prova de carga “sapata sobre quatro estacas virgens” (teste VI), nem o solo

superficial, nem as estacas haviam sido carregados anteriormente. Já no teste “sapata sobre

quatro estacas já testadas” (teste V), utilizou-se o local do ensaio do “grupo de quatro

estacas”, que já havia sido testado anteriormente, e iniciou-se o ensaio, mas agora com o

contato sapata/solo.

Para os ensaios sob condições de solo pré-inundado (testes VII, VIII e IX), vale o

que foi explicado nos parágrafos anteriores. A única diferença foi a manutenção da cava

cheia, com água tratada, durante a etapa de inundação, por um período aproximado de 48h. A

cava que possuía entre 70 e 80cm de profundidade, ficava preenchida com uma lâmina d’água

não inferior a 50cm e por algumas vezes transbordou, no período noturno, pois não havia um

controle da vazão de entrada.

Ao término da etapa de inundação, fechava-se a entrada de água, esperava-se a

lâmina d’água desaparecer no solo e então se iniciava a montagem da prova de carga. Ao se

concluir a prova de carga, foram retiradas algumas amostras de solo com o auxílio de um

trado de 10cm de diâmetro para se avaliar a variação do teor de umidade do solo, em função

da inundação prévia.

As Figuras 4.32a e 4.32b mostram a comparação dos perfis de umidade e saturação

do solo, antes e depois da inundação. Observa-se que a inundação provocou uma razoável

elevação do teor de umidade, e também do grau de saturação, mas não foi capaz de atingir a

saturação completa do solo face a sua grande permeabilidade. A camada superficial, mesmo

apresentando a maior elevação relativa do teor de umidade não foi a que apresentou maior

grau de saturação final.

O tempo de inundação adotado (48h) foi suficiente para elevar a saturação dos dois

primeiros metros de solo. Além do mais, a inundação só da cava superior simula melhor os

Page 149: universidade de brasília faculdade de tecnologia departamento de ...

121

eventos danosos em obras reais, como temporais de grande intensidade, vazamentos de

tubulações rasas de água, acúmulo de águas servidas ou enxurradas em pontos localizados,

vazamento de reservatórios enterrados, etc.

(a) umidade (b) saturação

Figura 4.32 – Alteração do perfil de umidade e saturação com o processo de inundação.

Todas as provas de carga realizadas foram do tipo “Estática Rápida – QML”, onde a

carga máxima foi atingida após vinte ou mais incrementos de carga. O tempo de espera em

cada estágio foi de 15 minutos, conforme sugestão de Fellenius(1980) e não de apenas 5

minutos. Esta forma de prova de carga foi adotada por se tratar de um solo com alta

permeabilidade e não-saturado, não havendo a possibilidade de geração de um excesso de

poro-pressão que influenciasse os resultados, além do mais, nos testes pré-inundados, um

longo tempo de ensaio certamente alteraria as condições de teor de umidade do solo existentes

no início do teste, o que afetaria o resultado do mesmo.

A fase de descarregamento foi realizada com pelo menos quatro estágios, tentando-se

deixar um pequeno valor de carga a ser retirado do penúltimo para o último estágio, visto que

as maiores recuperações de recalque ocorrem nesta etapa final.

Após todo o descarregamento se esperou por 30 minutos, para avaliar se havia

registro de tensões residuais na ponta das estacas após a retirada de toda a carga atuante na

fundação.

No capítulo seguinte todos os resultados destas provas de carga serão apresentados e

analisados.

0

1

2

3

4

5

6

0 10 20 30 40 50w(%)

prof

. (m

)

antes

após

0

1

2

3

4

5

6

0 20 40 60 80 100S (%)

prof

. (m

) antes

após

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122

5 – ANÁLISE DOS RESULTADOS DAS PROVAS DE CARGA

Neste capítulo, serão apresentados os resultados de todas as provas de carga com

sapatas estaqueadas, realizadas no Campo Experimental da UnB. Cada prova de carga será

analisada individualmente, ressaltando-se os principais fatos observados em cada teste.

Apresenta-se, no Apêndice B, todos os dados básicos medidos em campo, a fim de facilitar

novas interpretações futuras, por outros autores.

Ainda no presente capítulo será feita uma previsão do comportamento das sapatas

estaqueadas e sua comparação com os valores medidos. Para isto os ensaios de sapatas e

estacas isoladas serão retroanalisados, a fim de se obter os parâmetros representativos do solo

e do concreto da sapata. Estes parâmetros obtidos servirão como dados de entrada para o

método de previsão.

O programa escolhido para fazer as previsões foi o GARP (Poulos, 1994a), em

função de vários fatores (maiores detalhes das formulações deste método são mostrados no

Apêndice A) :

- a sua versão atual, GARP6 (Small & Poulos, 1998), associa o M.E.F. na análise

do radier com um processo simplificado para considerar as interações entre os

elementos de fundações, baseados em coeficientes de interação entre dois

elementos, provenientes de análises pelo M.E.C. Este tipo de método – método

misto associando mais de uma ferramenta matemática – vem sendo utilizado pela

maioria dos autores em todo o mundo, segundo Randolph (1994), El-Mossalamy

& Franke (1997) e Poulos (1998a);

- conforme destacado no item 2.4.2.3, o programa GARP6 permite simular a

heterogeneidade do perfil do solo, limitar as pressões máxima e mínima no solo

sob o radier, considerar estacas com resposta não-linear e limite da capacidade de

carga na tração e compressão, entre outras facilidades;

- o mesmo programa foi utilizado, em comparações, por diversos autores (Russo,

1998, Yamashita, 1998, etc.), quando estes propuseram novos método;

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123

- desejava-se observar o desempenho de um método numérico, porém

“simplificado” e de fácil utilização, na análise de provas de carga em um solo

“não-convencional”, como a argila porosa de Brasília;

- por fim, devido à bolsa de “Doutorado Sanduíche”, algumas análises puderam ser

feitas na Universidade de Sydney, na presença dos autores do método, o que

facilitou a compreensão de todas as potencialidades e detalhes do referido

programa.

Apresentam-se, a seguir, todas as provas de carga, conforme seqüência e locação

mostrada na Figura 4.31. Alguns dos resultados, aqui apresentados, já foram publicados e

discutidos em Cunha & Sales (1998) e Sales et al. (1999).

5.1 – ENSAIOS EM SOLO COM CONDIÇÃO NATURAL DE UMIDADE

5.1.1 – Sapata isolada (teste I)

Nesta prova de carga, posicionou-se a sapata (placa de concreto) no fundo de uma

cava quadrada com 80cm de profundidade, e iniciou-se o teste com carregamento centrado. O

ensaio foi interrompido 5 minutos após a aplicação da carga de 140 kN (24o estágio de carga),

quando alguns grampos, que travavam a viga de reação às barras de aço tracionadas, se

soltaram.

A Figura 5.1 mostra uma representação esquemática dos pontos onde se fizeram as

leituras de recalque. Uma delas foi feita na base do macaco, aqui denominada por “centro”, e

se referem aos deslocamentos do perímetro de um cilindro metálico, rígido, de 10cm de raio,

posicionado entre o macaco hidráulico e a sapata. As leituras denominadas por “canto” são os

valores lidos nos extensômetros posicionados, próximo aos cantos, mas distantes

aproximadamente 7,5cm de cada uma das arestas concorrentes.

A Figura 5.2 apresenta as curvas carga x recalque para dois pontos distintos da

sapata, onde se observam alguns fatos:

- as curvas indicaram um comportamento inicial (até 20 kN) de acomodação da

sapata ao solo;

- entre 20 e 100 kN, as curvas foram bastante lineares;

Page 152: universidade de brasília faculdade de tecnologia departamento de ...

124

- a partir de 100 kN acentuaram-se as deformações plásticas, ficando, este fato,

bem evidente nos últimos estágios de carregamento;

- uma previsão de carga última por Van der Veen (1953) indicou 150 kN como a

provável carga de ruptura para esta sapata;

- os descarregamentos intermediário e final indicaram uma pequena recuperação

elástica do solo;

- a distância entre as duas curvas apontam uma razoável diferença de recalques,

para pontos separados por uma distância inferior a 40cm, o que indica uma

grande flexibilidade da sapata em questão.

Extensômetro (“canto”) 7.5 cm Extensômetro (“centro”) 20 cm Sapata

Figura 5.1 – Representação esquemática dos locais de medição dos recalques na sapata.

Figura 5.2 – Prova de carga da sapata isolada.

0

5

10

15

20

25

30

35

0 20 40 60 80 100 120 140 160carga (kN)

reca

lque

(mm

)

centro

canto

Page 153: universidade de brasília faculdade de tecnologia departamento de ...

125

Ao se iniciar o processo de retroanálise, os parâmetros elásticos menos influentes

foram adotados e mantidos constantes, sendo eles:

- módulo elástico do concreto das estacas, Ep = 15 GPa;

- coeficientes de Poisson do concreto das estacas (νp) e sapata (νr), νp = νr = 0,2;

- coeficiente de Poisson do solo , νs = 0,35;

Na simulação dos recalques, o parâmetro preponderante é o módulo elástico do solo

(Es), enquanto que, para melhor representar a diferença entre os recalques (recalque

diferencial), a maior influência passa a ser da inércia da sapata, ou melhor, do produto “Er I”.

Utilizando-se o programa GARP6 para o caso de uma sapata isolada, observou-se

que com o valor da espessura da sapata, de 15cm, e valores convencionais do módulo elástico

do concreto, numa faixa de 20-30 GPa, seria impossível encontrar um valor de “Es” capaz de

reproduzir, ao mesmo tempo, os recalques no centro e canto da sapata. Os valores previstos

para o recalque diferencial, com módulos elásticos para o concreto na faixa supracitada,

ficaram muito aquém dos valores medidos. Isto sugere que a qualidade do concreto da sapata

não era boa. No entanto, ao se reduzir o valor do produto “ErI” foi possível encontrar um

único valor para “Es” capaz de simular simultaneamente os recalques em ambos os pontos

observados.

A Figura 5.3 apresenta a retroanálise do trecho elástico da prova de carga da sapata

isolada. Nesta retroanálise empregou-se o programa GARP6, variando-se alguns parâmetros

elásticos do solo e concreto. Para se conseguir uma boa aproximação entre os resultados

teóricos previstos e os valores experimentais, foi necessário adotar:

Es = 6 MPa

Er I = 0,5057 MPa.m4

No caso da sapata, o produto “Er I” pode ser obtido por várias combinações do

módulo elástico (Er) e da espessura da sapata (t), como por exemplo Er = 8 GPa e t = 9,12cm

ou Er = 1,8 GPa e t = 15cm. Nota-se, portanto, uma rigidez muito abaixo dos valores usuais

para elementos de concreto, e esperada teoricamente para a placa de 15cm de espessura.

Para confirmar a suspeita da baixa qualidade do concreto, fez-se, posteriormente a

todas as provas de carga, um teste em laboratório com tal placa. A Figura 5.4 mostra o arranjo

de um ensaio, onde dois lados opostos foram apoiados e aplicou-se um carregamento

centralizado, medindo-se as deformações próximas às outras duas faces. Nesta ocasião a laje

já havia sido recuperada, com uma argamassa forte, do puncionamento, que a mesma sofrera

no ensaio de um grupo de quatro estacas (teste IV), como será comentado no item 5.1.4.

Page 154: universidade de brasília faculdade de tecnologia departamento de ...

126

Figura 5.3 – Retroanálise da prova de carga da sapata isolada.

Figura 5.4 – Ensaio em laboratório da sapata, em um arranjo como “laje biapoiada” – medição

dos recalque em vários pontos próximo às bordas não apoiadas.

0

5

10

15

20

25

30

35

0 20 40 60 80 100 120 140 160carga (kN)

reca

lque

(mm

)

teste teste

GARP6 GARP6

centro canto

Page 155: universidade de brasília faculdade de tecnologia departamento de ...

127

A Figura 5.5 apresenta a retroanálise do módulo elástico do concreto que permitiria

determinados valores de recalques diferenciais entre os pontos onde foram posicionados os

extensômetros indicados na Figura 5.4. Esta análise foi feita pelo M.E.F., com o programa

GARP6 (elementos planos de placa), discretizando a sapata em 49 elementos, e considerando,

apenas, os apoios sob a sapata. A espessura da sapata foi adotada como constante e igual a

15cm, desprezando-se a hipótese da existência de fissuras e micro-fissuras que diminuiriam a

altura útil da peça.

Figura 5.5 – Retroanálise do módulo elástico do concreto da sapata a partir de recalques

diferenciais em um teste como “laje biapoiada”, em laboratório.

Na Figura 5.5, observa-se que:

- a “face superior”, que no ensaio no campo foi a que sofreu o carregamento,

apresentou um comportamento mais rígido do que quando se fez o carregamento

em laboratório na face oposta (denominada de “inferior”). Seu módulo elástico

variou entre os valores de 3,96 GPa (no início) a 2,52 GPa;

- a “face inferior” apresentou um módulo elástico variável entre 2,52 e 1,98 GPa;

- ambos os testes mostraram curvas de descarregamento similares, mas que não

retornava sobre a curva do carregamento, acusando, assim, um comportamento

0

0,1

0,2

0,3

0,4

0,5

0,6

0 10 20 30 40 50 60 70carga (kN)

∆ re

calq

ue (m

m)

face superiorface inferiorEr = 1,98 GPaEr = 2,52 GPaEr = 3,96 GPa

Page 156: universidade de brasília faculdade de tecnologia departamento de ...

128

não elástico, provavelmente em função dos danos sofridos internamente pelo

puncionamento previamente citado;

- os valores não coincidiram exatamente com o valor estimado a partir do teste no

campo (1,8 GPa), mas comprovam que a rigidez da peça em questão é muitas

vezes inferior aos valores assumidos para qualquer peça “normal” de concreto

(20-30 GPa).

Para simular o comportamento não-linear dos solos, geralmente assume-se um

modelo hiperbólico para representar a variação do módulo elástico (Es). Fahey & Carter

(1993) afirmaram que, para alguns solos, nem sempre seria possível representar a não-

linearidade com uma hipérbole simples. Esses autores sugeriram expressões para o módulo

elástico do solo, na forma:

⎥⎥⎦

⎢⎢⎣

⎡⎟⎟⎠

⎞⎜⎜⎝

⎛=

g

ufos p

pR - 1 E E

onde: Eo = módulo elástico inicial do solo;

p = nível de carga atual;

pu = máxima capacidade de carga da estaca (valor adotado);

Rf = parâmetro que dita a parcela de redução do módulo elástico;

g = parâmetro que dita a curvatura do comportamento não-linear do solo.

Admitindo que a resposta do sistema de fundação em estudo (não a resposta do solo)

possa ser representado por uma equação similar à Eq. (5.1), utilizou-se o programa GARP6

para simular a prova de carga até cargas elevadas, próximo à ruptura, onde as deformações

plásticas são bastantes acentuadas. Neste caso, foi obtido o seguinte conjunto de parâmetros

retroanalisados para se obter um bom ajuste:

a) sapata : Er I = 0,5057 MPa.m4

b) solo : Eo = 6 MPa Rf = 0,375 g = 9.76

c) estaca : pu = 140 kN (adotado)

Nota-se que o valor de “pu” foi adotado como “140 kN” e não “150 kN”, conforme

valor último previsto com a metodologia de Van der Veen (1953). O valor de “pu” na verdade

é apenas um valor final que serve como referência para simular o comportamento não-linear

(5.1)

Page 157: universidade de brasília faculdade de tecnologia departamento de ...

129

da curva, ou mesmo um valor conhecido por onde se pretende que a curva retroanalisada

passe. Daí a escolha de tal valor.

Com estes valores retroanalisados, mostram-se na Figura 5.6 os resultados da prova

de carga e a simulação de seu comportamento. Observa-se que o trecho linear inicial, o não-

linear e os recalques diferencias foram contemplados na retroanálise.

Figura 5.6 – Prova de carga da sapata isolada e o seu comportamento simulado por

retroanálise utilizando o programa GARP6.

5.1.2 – Estaca isolada (teste II)

Nesta prova de carga, uma estaca isolada com 15cm de diâmetro e 5m de

comprimento foi ensaiada. Foram monitoradas as cargas atuantes no topo e na ponta da estaca

com o posicionamento de duas células de carga, além da célula de carga de registro da carga

do macaco hidráulico. A célula de carga do topo serviu, apenas, para aferir, em condições de

campo, a célula de carga do macaco e vice-versa. A concordância entre os valores foi ótima,

indicando diferenças inferiores a 1%. As Figuras 5.7a e 5.7b apresentam os registros de carga

x recalque (recalque medido em cada extensômetro e também a médias dos dois registros) e

parcelas de carga no topo e ponta da estaca desta prova de carga, respectivamente.

0

5

10

15

20

25

30

35

40

0 20 40 60 80 100 120 140 160

carga (kN)

teste - centro

teste - canto

GARP6 - centro

GARP6 - canto

reca

lque

(mm

)

Page 158: universidade de brasília faculdade de tecnologia departamento de ...

130

(a) curva carga x recalque (b) parcela de carga na ponta e topo

Figura 5.7 – Prova de carga da estaca isolada.

Observando-se as figuras acima, os seguintes fatos podem ser ressaltados :

- a ruptura do solo ao redor da estaca ocorreu próximo a 75 kN, onde se observa

(Figura 5.7a) sinais nítidos de deslizamento da estaca em relação ao solo;

- no trecho de descarregamento entre 67 e 0 kN (Figura 5.7a), registrou-se uma

recuperação do recalque muito pequena (1,165mm). Deste valor ainda deve ser

subtraído a compressão elástica da estaca, estimada em 0,632mm (PL/2AE).

Formato semelhante da curva de descarregamento foi registrado no ensaio com a

sapata isolada;

- nos estágios de carga entre 20 e 28 kN parece ter havido alguma acomodação no

sistema, provavelmente nos extensômetros mecânicos, que deve ser corrigida na

etapa de análise dos dados;

- a mobilização de carga na estaca foi quase que exclusivamente por atrito lateral,

com muito pouca carga chegando à ponta, conforme registros da célula de carga

na ponta (Fig 5.7b). Somente para grandes deformações (>35mm), observou-se

um pequeno acréscimo na da carga da ponta. Este valor, entretanto, se dissipou

quase todo na etapa de descarregamento, não havendo indícios de carga residual

após 5 minutos com carregamento nulo.

Esta mesma estaca foi reensaiada e registrou-se uma relação carga x recalque

(rigidez da estaca – Kp) bastante semelhante ao teste com o primeiro carregamento, mesmo se

0

10

20

30

40

50

60

70

80

0 10 20 30 40 50 60 70 80 90carga aplicada (kN)

parc

elas

de

carg

a (k

N)

topo

ponta

0

5

10

15

20

25

30

35

40

45

0 10 20 30 40 50 60 70 80 90

carga (kN)re

calq

ue (m

m) ext.1

ext.2média

Page 159: universidade de brasília faculdade de tecnologia departamento de ...

131

tratando de um solo altamente poroso e estruturado, que já havia sofrido deslocamentos da

ordem de 25% do diâmetro da estaca. Apenas a carga última (início do deslizamento

estaca/solo) sofreu uma redução de 75 kN para 67 kN (-11%), por diminuição da parcela de

atrito lateral, já a contribuição da ponta era quase nula. A Figura 5.8 compara o

comportamento da estaca para o carregamento virgem e a recarga.

Figura 5.8 – Comparação do comportamento de uma estaca isolada na carga e recarga.

Na simulação de sapatas estaqueadas com o programa GARP6, um dos parâmetros

de entrada necessário é a rigidez das estacas (Kp) – ver item 2.1.3. A fim de retroanalisar o

comportamento da estaca ensaiada, será considerado que a resposta carga x recalque pode ser

simulada por uma equação similar à Eq. (5.1), ou seja:

⎥⎥

⎢⎢

⎡⎟⎟⎠

⎞⎜⎜⎝

⎛=

g

ufpop p

pR - 1 K K

onde : Kp = rigidez da estaca (relação carga/recalque);

Kpo = rigidez inicial da estaca;

Rf, p, pu e g já foram definidos na Eq. (5.1).

0

2

4

6

8

10

0 10 20 30 40 50 60 70 80 90carga (kN)

primeiro carregamento

recarga

reca

lque

(mm

)

(5.2)

Page 160: universidade de brasília faculdade de tecnologia departamento de ...

132

Buscando-se encontrar, através de ajuste de curvas, uma equação que melhor se

aproximasse dos resultados experimentais, obteve-se o conjunto de valores mostrados na

Tabela 5.1 e que correspondem às curvas apresentadas na Figura 5.9

Tabela 5.1 – Parâmetros retroanalisados dos testes de uma estaca isolada.

teste Pu Kpo Rf g (kN) (kN.m) primeiro carregamento 74.85 26000 0.440 11.48 recarga 67.00 24000 0.625 30.00

Figura 5.9 – Ajuste de curvas para representar os testes com estacas isoladas (teste II).

Utilizando-se apenas o trecho linear do início das provas de carga (carga e recarga),

fez-se uma retroanálise utilizando-se o programa DEFPIG (Poulos, 1980) e obteve-se o valor

do módulo elástico do solo na faixa de 9,5 a 10,5 MPa para bem representar os registros das

provas de carga (supondo as estacas imersas em uma camada de 10m de solo, apoiada sobre

um extrato rígido). Estes valores são um pouco superior ao valor de 6MPa obtido na

retroanálise da sapata. Tal fato, entretanto, é comum face aos diferentes níveis de deformação

impostos ao solo devido às distintas formas de mobilização de carga em uma estaca e uma

sapata. O resultado obtido do ensaio com a sapata reflete o comportamento médio de uma

massa maior de solo, enquanto que no resultado do ensaio com a estaca, o módulo elástico

obtido reflete a rigidez do contato solo-estaca.

0

2

4

6

8

10

0 10 20 30 40 50 60 70 80 90carga (kN)

reca

lque

(mm

) carga

recarga

GARP6 - carga

GARP6 - recarga

Page 161: universidade de brasília faculdade de tecnologia departamento de ...

133

5.1.3 – Sapata sobre uma estaca (teste III)

Para a realização desta prova de carga, posicionou-se a sapata sobre uma estaca já

ensaiada (a mesma descrita no item anterior - teste II). Procedeu-se o carregamento do sistema

até se observar um contato perfeito da sapata com o solo. Descarregou-se o macaco e, então,

iniciou-se a prova de carga com a sapata apoiada sobre a estaca centrada, e também ao solo,

concomitantemente. Neste ensaio somente foram registrados os recalques no centro da sapata

e por isto nada será comentado sobre os recalques diferenciais.

A Figura 5.10 apresenta o resultado da prova de carga. Neste ensaio ocorreram

problemas com o sistema de reação e o teste teve de ser interrompido, quando a carga total era

de 150 kN. Desta forma não foi possível definir a carga de ruptura completa do solo sob a

fundação.

Figura 5.10 – Prova de carga da sapata sobre uma estaca centrada.

Na Figura 5.11, compara-se a resposta desta fundação com o de uma estaca isolada

(reensaio) e o de uma sapata isolada. Nesta figura, os seguintes fatos podem ser destacados:

- no teste da sapata sobre uma estaca, até a carga de 70 kN, quando a estaca ainda

não estava totalmente mobilizada, o recalque da fundação com a associação dos

dois elementos foi aproximadamente quatro vezes menor do que da sapata

isolada. Ainda neste intervalo de carga, observa-se que o nível de recalque da

0

5

10

15

20

25

30

0 20 40 60 80 100 120 140 160carga (kN)

reca

lque

(mm

)

Page 162: universidade de brasília faculdade de tecnologia departamento de ...

134

sapata estaqueada é praticamente o mesmo de uma estaca isolada, o que indica

que o recalque do sistema é efetivamente controlado pela estaca;

- após a total mobilização de carga da estaca (cargas acima de 70 kN), o recalque

da sapata estaqueada aumenta sensivelmente, vindo a reduzir a diferença em

relação ao da sapata isolada;

- como não foi possível levar o ensaio da sapata sobre uma estaca até próximo à

ruptura do solo sob a fundação, ficou inviabilizada a estimativa da majoração

(evidente na Figura 5.11) da capacidade de carga deste sistema de fundação, em

relação às capacidades individuais da sapata e estaca isolada;

- pode-se concluir que a inclusão da estaca sob a sapata, fez com que a mesma

comandasse a rigidez da fundação até a completa mobilização de sua capacidade

de carga. Após este ponto, os recalques passaram a crescer, mas ainda com uma

situação vantajosa em relação a de uma sapata isolada (estaca funcionando como

"elemento redutor de recalque").

Figura 5.11 – Comparação da sapata sobre uma estaca com estaca e sapata isoladas.

A Figura 5.12a mostra a parcela de carga absorvida pela estaca e sapata

individualmente. Até 70 kN a estaca absorveu a maior parte da carga aplicada (75 a 90%),

quando então coube a sapata passar a suportar o acréscimo de carga e, assim, a parcela de

carga atuante na sapata aumentou.

0

5

10

15

20

25

30

0 20 40 60 80 100 120 140 160carga (kN)

reca

lque

(mm

)

Sapata isoladaEstaca isoladaSapata sobre 1 estaca

Page 163: universidade de brasília faculdade de tecnologia departamento de ...

135

A Figura 5.12b expressa, em forma gráfica, as parcelas de carga na estaca por atrito

lateral e ponta. A primeira parcela foi preponderante durante todo o carregamento até a carga

correspondente a total mobilização da capacidade de carga da estaca. A carga registrada na

ponta foi pequena (< 7%) no trecho inicial do carregamento. Após a mobilização total da

carga da estaca, a carga na ponta praticamente dobrou o seu valor, mas ainda com uma

pequena contribuição (≈ 16%). Quinze minutos após a conclusão do descarregamento, a

célula de carga instalada sob a ponta da estaca ainda acusava uma carga residual de

aproximadamente 26% do valor máximo registrado na ponta.

(a) distribuição de carga entre estaca e sapata (b) mobilização da carga na estaca

Figura 5.12 – Distribuição da carga entre estaca e sapata e mobilização de carga na estaca na

prova de carga da sapata sobre uma estaca.

Utilizando-se os parâmetros elásticos, para o solo e para o concreto, retroanalisados a

partir dos testes de sapata e estaca isolados, nos testes I e II, fez-se a previsão para o

comportamento carga x recalque, e de distribuição de carga entre a estaca e sapata. O

resultado desta análise é mostrado pelas Figuras 5.13a e 5.13b.

A análise elástica com o programa GARP6 foi capaz de prever muito bem o

comportamento carga x recalque no trecho inicial do carregamento, até a completa

mobilização da capacidade de carga da estaca. Após este ponto, o programa previu um

comportamento mais rígido para a fundação, não se aproximando dos valores medidos de

0

20

40

60

80

100

0 20 40 60 80 100 120 140 160carga (kN)

% d

a ca

rga

atua

nte

estacasapata

0

10

20

30

40

50

60

70

80

0 20 40 60 80 100 120 140 160carga total (kN)

carg

a na

est

aca

(kN

)

topo

ponta

Page 164: universidade de brasília faculdade de tecnologia departamento de ...

136

recalque. Em termos de parcela de carga, a previsão do programa pode ser considerada ótima

para todos os estágios de carregamentos.

(a) carga x recalque (b) % de carga na estaca

Figura 5.13 – Previsão do comportamento da sapata sobre uma estaca com GARP6.

5.1.4 – Grupo de quatro estacas (teste IV)

No início deste teste, posicionou-se a sapata sobre quatro estacas virgens, com a

sapata afastada do solo de forma a garantir que a mesma não iria tocar o solo no decorrer do

teste, garantindo, assim, a transferência da carga ao solo somente através das estacas.

Iniciou-se a prova de carga com um cilindro metálico rígido, de diâmetro

aproximado de 20cm, posicionado entre o macaco hidráulico e a sapata. Ao se atingir 175 kN

notou-se o início do puncionamento da sapata pelo referido cilindro. Descarregou-se, então,

todo o sistema e incluiu-se uma placa de aço, centrada, com diâmetro de 75cm e 2,54cm de

espessura, entre a sapata e o cilindro metálico, com o objetivo de melhor distribuir a carga

atuante na sapata.

As Figuras 5.14a e 5.14b apresentam os resultados da prova de carga e as previsões

obtidas pelo programa GARP6, utilizando-se os parâmetros retroanalisados dos testes I e II.

Considerou-se a presença da placa de aço, calculando-se uma espessura equivalente para o

radier que refletisse a nova inércia, resultante da soma da sapata com a placa de aço. O teste

0

5

10

15

20

25

30

0 30 60 90 120 150 180 210carga (kN)

reca

lque

(mm

)

teste

GARP6

20

30

40

50

60

70

80

90

100

0 20 40 60 80 100 120 140 160carga (kN)

% c

arga

na

esta

ca

teste

GARP6

Page 165: universidade de brasília faculdade de tecnologia departamento de ...

137

foi carregado até 150 kN, então se descarregou e se recarregou o grupo de estacas até a

completa ruptura do contato estacas/solo. Nota-se que houve uma acomodação inicial do

sistema para cargas até 75 kN aproximadamente (ver Figura 5.14a). Para efeito de análise se

descontou esta acomodação, considerando-se como início da prova de carga o ponto inicial da

recarga, ou seja, subtraindo-se o valor de 2,335mm de todos os valores medidos a partir da

fase de recarregamento.

(a) prova de carga (b) previsão x valores medidos

Figura 5.14 – Prova de carga no grupo de quatro estacas.

De uma forma geral, as previsões foram muito boas, sendo melhores para a posição

próxima à borda (“canto”). Assim sendo, pode-se considerar que o programa foi capaz, de

forma razoável, de prever :

- o recalque em pontos distintos da sapata;

- o recalque diferencial entre dois pontos da sapata;

- a influência da não-linearidade da resposta carga-recalque de uma estaca isolada

no grupo;

- a carga última do grupo, aproximadamente de 300 kN.

0

10

20

30

40

50

0 50 100 150 200 250 300 350carga (kN)

reca

lque

(mm

)

Centro

Canto

0

2

4

6

8

10

12

14

16

18

0 50 100 150 200 250 300 350

centrocantoGARP6

carga (kN)

reca

lque

(mm

)

Page 166: universidade de brasília faculdade de tecnologia departamento de ...

138

Quanto ao “efeito de grupo”, alguns comentários merecem ser feitos:

♦ a capacidade de carga do grupo foi praticamente quatro vezes a de uma estaca

isolada (ver Figuras 5.8 e 5.13), ou seja, não houve a influência do chamado

“efeito de grupo”. Ressalta-se, porém, que o espaçamento entre as estacas era de

cinco vezes o diâmetro das mesmas, e as estacas trabalharam quase que

exclusivamente por atrito lateral;

♦ a Figura 5.15 mostra a comparação do recalque de uma estaca isolada com o

recalque “médio” de uma estaca dentro do grupo de quatro estacas, ou seja, a

curva da carga média por estaca (1/4 da total aplicada no grupo) contra o

recalque “médio” registrado na cabeça da estaca, durante o teste do grupo sobre

quatro estaca. Observa-se que, sob a formação de grupo, a estaca recalcou mais

do que quando isolada, sendo que a relação entre estes recalques (Rs) variou

entre 1,6 e 1,8, em grande parte do ensaio.

Figura 5.15 – Comparação das respostas de uma estaca isolada e quando em um grupo de

quatro estacas, incluindo previsões do comportamento do grupo com diferentes valores de Rs.

0

2

4

6

8

10

12

14

0 10 20 30 40 50 60 70 80carga (kN)

reca

lque

(mm

)

estaca isolada estaca no grupoRs = 1,6Rs = 1,8

Page 167: universidade de brasília faculdade de tecnologia departamento de ...

139

♦ Estimando-se o valor de Rs através das várias equações mencionadas na seção

2.4.1.1, obteve-se :

• 0,95 (Skempton, 1953)

• 7,41 (Meyerhof, 1953)

• 2,45 (Vésic, 1969)

• 1,74 – 2.30 (Randolph, 1985)

• 1,79 (Poulos & Davis, 1980)

♦ Nota-se que a previsão através dos gráficos apresentados em Poulos & Davis

(1980), chegou-se a um resultado que está inserido na faixa dos valores

observados em campo (das equações simplificadas, a de Randolph (1985) foi a

que mais aproximou). Portanto, pode-se considerar que o emprego da Teoria

elástica de interação (“fatores de interação”) entre estacas similares, e próximas,

mostrou ser aplicável ao caso em questão.

5.1.5 – Sapata sobre quatro estacas já testadas (teste V)

Nesta prova de carga posicionou-se a sapata sobre as quatro estacas já ensaiadas

como “grupo de quatro estacas” (teste IV). No presente caso, no entanto, existiu um contato

perfeito da sapata com o solo do fundo da vala. Também se utilizou a placa de aço entre a

sapata e o sistema de aplicação de carga (macaco hidráulico e complementos), pelos motivos

já mencionados no item anterior.

A Figura 5.16 apresenta as curvas carga x recalque para pontos próximos ao centro e

ao canto da sapata.

As Figuras 5.17a e 5.17b apresentam a distribuição de carga entre a sapata e as

diversas estacas e a parcela relativa de carga entre os elementos, respectivamente. Observa-se

que as estacas absorveram uma grande parte da carga total aplicada (de 85 a 96%) antes da

completa mobilização da capacidade de carga do grupo das estacas. Neste teste, registrou-se

uma pequena variação entre o comportamento individualizado das quatro estacas (ver Figura

5.17a). Pode-se notar que após 300 kN, a sapata passa a receber cada vez mais carga,

indicando a proximidade da completa mobilização das estacas.

A prova de carga foi interrompida com 400 kN de carga aplicados, uma vez que a

fundação já havia sofrido um recalque superior a 30mm (20% do diâmetro das estacas), com

Page 168: universidade de brasília faculdade de tecnologia departamento de ...

140

indícios da proximidade da completa ruptura do solo sob a fundação. Além do mais, o sistema

de reação, que neste teste era composto pela combinação de vigas de reação e cargueira, dava

sinais de instabilidade.

Figura 5.16 – Prova de carga em uma sapata sobre quatro estacas (previamente testadas).

(a) carga nos elementos (b) carga relativa

Figura 5.17 – Distribuição de carga entre os elementos de fundação na sapata sobre quatro

estacas (previamente testadas).

0

5

10

15

20

25

30

35

40

0 50 100 150 200 250 300 350 400 450carga (kN)

reca

lque

(mm

)

centro

canto

0

50

100

150

200

250

300

350

0 100 200 300 400carga no conjunto (kN)

carg

a no

ele

men

to (k

N) estaca 1

estaca 2estaca 3estaca 4estacas (grupo)sapata

0

20

40

60

80

100

0 100 200 300 400carga (kN)

% d

a ca

rga

grupo de estacas

sapata

Page 169: universidade de brasília faculdade de tecnologia departamento de ...

141

As Figuras 5.18a até 5.18d comparam o desempenho individual de cada estaca nas

situações de “grupo de quatro estacas” (teste IV) e “sapata sobre quatro estacas” (teste V).

Nota-se que todas as estacas apresentaram um comportamento mais rígido durante o ensaio

como “sapata estaqueada”. Neste ensaio, a estaca “1” apresentou um ganho na carga última

enquanto a “4” teve uma perda no valor máximo de carga suportada. As estacas “2” e “3”

apresentaram, aproximadamente, a mesma capacidade de carga em ambos os testes.

A Figura 5.19 compara o comportamento médio de uma estaca do grupo de quatro

estacas quando ensaiadas com e sem o contato sapata/solo. Como os recalques foram medidos

na face superior da sapata, e esta se mostrou bastante flexível, portanto, variando muito de

ponto a ponto, estimou-se o “recalque médio das estacas” como sendo a média dos recalques

dos pontos da sapata situados nas projeções dos eixos axial de cada estaca. Estes valores

foram calculados pela interpolação dos valores lidos (canto e centro). Na Figura 5.19, dois

fatos podem ser observados:

- a capacidade de carga média das quatro estacas (≈ 75 kN) não foi alterada pelo

fato delas terem sido testadas mais de uma vez. Isto não ocorreu na prova de

carga da estaca isolada que teve sua capacidade de carga reduzida de 75 kN para

67 kN (-11%);

- no reensaio das estacas (sapata sobre quatro estacas), as estacas apresentaram um

comportamento mais rígido. Este não foi o comportamento observado na prova

de carga de uma sapata sobre uma estaca, mesmo em condições um pouco

distintas, quando o reensaio da estaca não implicou em nenhum enrijecimento,

mantendo praticamente a mesma rigidez da estaca, de quando esta havia sido

testada isoladamente.

Mais uma vez utilizou-se o programa GARP6 para prever o comportamento desta

prova de carga a partir dos parâmetros retroanalisados dos testes com elementos isolados.

Chama-se a atenção que para a estaca foram adotados os valores obtidos na condição de

“reensaio” do teste II (ver Tabela 5.1). A Figura 5.20 traz a previsão e a comparação com os

valores medidos no teste.

Observa-se, na Figura 5.20a, que a previsão destoa bastante dos resultados da prova

de carga, sendo que a primeira previu maiores recalques e uma capacidade de carga menor

para a fundação como um todo. Este fato pode ser explicado pelos motivos já comentados na

Figura 5.19, quando se destacou que as estacas deste teste, durante o reensaio, apresentaram

um comportamento mais rígido. Nas previsões havia sido adotado os parâmetros obtidos no

reensaio da estaca isolada.

Page 170: universidade de brasília faculdade de tecnologia departamento de ...

142

A alteração da inclinação das curvas previstas pelo programa GARP6, na Figura

5.20a, após a completa mobilização das estacas (em 310 kN) está associada à forma de como

o programa considera o comportamento das estacas após este limite. Tal fato será discutido,

em detalhe, no Capítulo 6.

(a) estaca 1 (b) estaca 2

(c) estaca 3 (d) estaca 4

Figura 5.18 – Resposta de cada estaca quando no Grupo e na configuração de uma “Sapata

estaqueada”.

0

20

40

60

80

100

0 5 10 15recalque (mm)

carg

a (k

N)

grupo de estacas

sapata estaqueada

0

20

40

60

80

100

0 5 10 15recalque (mm)

carg

a (k

N)

grupo de estacas

sapata estaqueada

0

20

40

60

80

100

0 5 10 15recalque (mm)

carg

a (k

N)

grupo de estacas

sapata estaqueada

0

20

40

60

80

100

0 5 10 15recalque (mm)

carg

a (k

N)

grupo de estacas

sapata estaqueada

Page 171: universidade de brasília faculdade de tecnologia departamento de ...

143

Figura 5.19 – Comportamento médio de uma estaca quando ensaiada como “grupo” e como

“sapata estaqueada”.

(a) resposta carga x recalque (b) porcentagem de carga nas estacas

Figura 5.20 – Previsão x resultados em uma sapata sobre quatro estacas (previamente

testadas).

A previsão da distribuição de carga entre as estacas e a sapata pode ser considerada

regular, com pouca precisão no trecho acima de 300 kN, quando o programa previu a

completa mobilização da carga das estacas, pois foi assumido a carga última individual de 67

kN, baseado nos resultados de reensaio de uma estaca isolada.

0

24

6

8

1012

14

1618

20

0 10 20 30 40 50 60 70 80 90

carga (kN)re

calq

ue (m

m) grupo de 4 estacas

sapata sobre 4 estacas

0

5

10

15

20

25

30

35

0 100 200 300 400carga (kN)

reca

lque

(mm

)

teste (centro)teste (canto)GARP6 (centro)GARP6 (canto)

20

40

60

80

100

0 100 200 300 400carga (kN)

% c

arga

nas

est

acas

teste

GARP6

Page 172: universidade de brasília faculdade de tecnologia departamento de ...

144

Apenas a título de ilustração, a Figura 5.21 traz uma nova simulação para este ensaio,

alterando-se os seguintes parâmetros na entrada dos dados, estimados a partir da Figura 5.19:

- pu = 75 kN (e não 67 kN, para a carga última das estacas);

- Kpo = 55000 kN/m (e não 24000, para a rigidez da estaca no reensaio).

(a) resposta carga x recalque (b) porcentagem de carga nas estacas

Figura 5.21 – “Previsão” do comportamento da sapata sobre quatro estacas (já testadas),

alterando-se alguns dados de entrada no programa.

Nota-se que as curvas da Figura 5.21 se aproximaram muito mais dos valores

medidos, no teste, do que anteriormente. A previsão da porcentagem de carga absorvida pelas

estacas também foi melhor, indicando, com uma maior precisão, o ponto de completa

mobilização de carga nas estacas. Obviamente isto não pode ser considerado como uma

“previsão”, pois os parâmetros de entrada utilizados foram baseados nos resultados que se

desejava simular, mas ilustra a importância do conhecimento com uma boa precisão dos

parâmetros principais, como a resposta carga x recalque das estacas em questão.

5.1.6 – Sapata sobre quatro estacas virgens (teste VI)

Este teste foi executado com a sapata apoiando-se em quatro estacas virgens e no

solo ao mesmo tempo. Para isto, bastante cuidado foi requerido na fase de escavação da vala,

de forma que quando se descesse a sapata, esta deveria tocar nas quatro estacas e em todo o

fundo da vala concomitantemente.

0

5

10

15

20

25

30

35

0 100 200 300 400carga (kN)

reca

lque

(mm

) teste (centro)teste (canto)GARP6 (centro)GARP6 (canto)

20

40

60

80

100

0 100 200 300 400carga (kN)

% c

arga

nas

est

acas

teste

GARP6

Page 173: universidade de brasília faculdade de tecnologia departamento de ...

145

A sapata que havia sofrido puncionamento parcial, já comentado anteriormente, foi

recuperada com argamassa forte (areia e cimento) em todas as fissuras de ambas as faces,

oriundas do puncionamento. Além disto, na preparação deste teste, optou-se por utilizar a

sapata em um posição invertida em relação aos testes anteriores, ou seja, a antiga face

superior foi colocada para baixo, em contato com o solo. Isto foi feito para que a biela de

compressão no concreto da sapata, e a área de apoio nas estacas, se afastassem da região mais

danificada pelo puncionamento ocorrido anteriormente, conforme representação esquemática

da Figura 5.22. Tal fato permitiu a execução do teste com um bom desempenho do concreto

da sapata próximo às estacas, mas deixou a região central de carregamento um pouco mais

flexível, resultando em maiores recalques registrados no macaco hidráulico (centro),

conforme figuras apresentadas a seguir.

Figura 5.22 – Esquema de montagem do ensaio, com a sapata em posição invertida.

A Figura 5.23 traz os recalques medidos próximos ao centro e canto da sapata. As

Figuras 5.24a e 5.24b mostram a carga absorvida por cada elemento da fundação e a

distribuição relativa de carga, respectivamente.

Com base nas Figuras 5.23 e 5.24, podem ser tecidos os seguintes comentários:

- a diferença entre o recalque do centro e canto da sapata foi grande, em função,

provavelmente, da posição invertida da sapata, fato este já citado anteriormente;

- houve uma pequena variação entre as cargas absorvidas pelas estacas e notou-se

que a estaca menos carregada até 250 kN passou a ser a mais solicitada após

300 kN;

carregamento placa metálica

sapata

estaca

região danificada pelo puncionamento

biela de compressão

antiga face superior

Teste anterior Teste em questão

Page 174: universidade de brasília faculdade de tecnologia departamento de ...

146

- neste teste, a sapata absorveu mais carga do que cada estaca individualmente. Isto

não ocorreu no teste anterior, quando as estacas já haviam sido pré-ensaiadas e

apresentaram um comportamento mais rígido (ver Figura 5.17a).

- a porcentagem de carga absorvida pelo grupo de estacas ficou entre 70-75%. Esta

faixa é inferior àquela observada no teste anterior (ver Figura 5.17b).

Figura 5.23 – Prova de carga da sapata sobre quatro estacas virgens.

(a) parcela de carga nos elementos (b) distribuição relativa de carga

Figura 5.24 – Distribuição de carga entre os elementos de uma sapata sobre quatro estacas.

0

5

10

15

20

25

30

0 50 100 150 200 250 300 350 400 450

carga (kN)

reca

lque

(mm

)

centro

canto

0

50

100

150

200

250

300

0 100 200 300 400carga total aplicada (kN)

carg

a ab

sorv

ida

(kN

) est-1est-2est-3est-4grupo de estacassapata

0

20

40

60

80

100

0 100 200 300 400carga (kN)

% d

a ca

rga

Grupo de estacasSapata

Page 175: universidade de brasília faculdade de tecnologia departamento de ...

147

As Figura 5.25a e 5.25b apresentam a previsão do comportamento de uma sapata

sobre quatro estacas virgens, usando o programa GARP6 e os dados retroanalisados no início

deste capítulo, nos testes I e II, em situação de primeiro carregamento.

Figura 5.25 – Previsão do comportamento da sapata sobre quatro estacas virgens.

Na Figura 5.25, observa-se que:

- a previsão dos recalques até 330 kN foi ótima para o canto da sapata e boa para a

região central;

- o recalque diferencial previsto foi de aproximadamente 70% dos valores

medidos, apontando que na prática a placa de concreto se mostrou mais flexível

do que anteriormente, provavelmente pela posição adotada;

- o programa previu que uma porcentagem aproximada de 87% da carga seria

absorvida pelo grupo das estacas, enquanto que o valor medido girou em torno de

74%;

- a previsão do programa era de que uma maior parcela de carga seria transferida

às estacas. Isto resultou na antecipação da mobilização completa da carga última

nas estacas, em um nível de carga total de 330 kN. N entanto, o teste indicou que

esta mobilização da carga última nas estacas ocorreu para um nível de carga mais

elevado, na faixa dos 400 kN.

0

5

10

15

20

25

30

35

40

0 100 200 300 400 500carga (kN)

reca

lque

(mm

)

teste (centro)

teste (canto)

GARP6 (centro)

GARP6 (canto)

20

40

60

80

100

0 100 200 300 400 500

carga (kN)

% c

arga

nas

est

acas

teste

GARP6

Page 176: universidade de brasília faculdade de tecnologia departamento de ...

148

Baseado nestes comentários, algumas especulações podem ser feitas:

• “a rigidez das estacas foi subestimada ???”

Uma vez que a sapata absorveu mais carga do que o estimado. Duas hipóteses seriam

possíveis. Ou as estacas são menos rígidas (Kp menor), ou o solo sob a sapata é “melhor” do

que o considerado (Es = 6 MPa).

A primeira hipótese parece não corresponder, pois na previsão do trecho inicial, onde

a resposta das estacas comanda o comportamento da fundação, se obteve uma excelente

previsão do recalque no canto, que é muito próximo à posição real das estacas.

Desta forma, a segunda hipótese parece ser mais aceitável. A título de curiosidade

será feita uma nova previsão carga x recalque para a fundação, adotando-se um valor maior

para o módulo elástico do solo sob a sapata. Com isto a sapata deverá absorver mais carga,

diminuindo a parcela suportada pelas estacas. Optou-se por Es = 10,4 MPa, por estar na faixa

obtida da retroanálise de uma estaca isolada no item 5.1.2 (9,5 < Es < 10,5) e também por ter

sido obtido em outra prova de carga a ser comentada no item 5.2.1.

Refazendo-se as previsões com Es = 10,4 MPa, foram obtidas as curvas mostradas na

Figura 5.26. Nesta figura, nota-se que a estimativa dos recalques no trecho inicial pouco se

alterou, mas que a carga absorvida pelas estacas, e o momento em que as estacas seriam

totalmente mobilizadas, ficaram mais próximos dos dados experimentais.

(a) resposta carga x recalque (b) % de carga nas estacas

Figura 5.26 – Comportamento da sapata estaqueada alterando-se o módulo elástico do solo.

0

5

10

15

20

25

30

35

0 100 200 300 400 500

carga (kN)

reca

lque

(mm

)

teste

Eo = 6 MPa

Eo = 10.4 MPa

20

40

60

80

100

0 100 200 300 400 500carga (kN)

% c

arga

nas

est

acas

teste

Eo = 6 MPa

Eo = 10.4 MPa

Page 177: universidade de brasília faculdade de tecnologia departamento de ...

149

• “por que a previsão dos recalques diferenciais não foi boa ???”

Apesar da melhoria na previsão ao se majorar Es (Figura 5.26), as previsões do

recalque diferencial não melhoraram substancialmente, demostrando que, no campo, a sapata

foi mais flexível do que o considerado. A Figura 5.5 comprovou que, em laboratório, a sapata

apresentou diferente rigidez estrutural quando ensaiada em posição invertida. Na posição em

que a sapata foi utilizada no presente teste, ou seja, com a antiga “face inferior” da sapata

voltada para cima, a rigidez da mesma foi de 20 a 50% menor do que a posição inicial, para

cargas acima de 30 kN (ver Figura 5.5). Assim sendo, reduzindo-se o valor do produto “Er I”

da sapata em 30%, foram obtidas as simulações apresentadas na Figura 5.27 (com Es = 10,4

MPa).

(a) resposta carga x recalque (b) % de carga nas estacas

Figura 5.27 – Comportamento da sapata estaqueada supondo uma placa mais flexível.

Com estas alterações no conjunto de parâmetros de entrada, o programa conseguiu

representar muito bem aspectos como:

- recalque no centro;

- recalque no canto;

- recalque diferencial;

- % de carga mobilizada nas estacas e sapata;

- estágio de carregamento total em que seria atingida a máxima capacidade de

carga nas quatro estacas.

Mais uma vez chama-se a atenção para o fato de que estas duas últimas simulações,

embora baseadas em detalhes observado em campo, estão mais para uma retroanálise do que

0

5

10

15

20

25

30

35

0 100 200 300 400 500carga (kN)

reca

lque

(mm

)

teste

Es = 10.4 MPa

Es = 10,4 e Er I = -30% 0

20

40

60

80

100

0 100 200 300 400 500carga (kN)

% c

arga

nas

est

acas

teste

Es = 10.4 MPa

Es = 10,4 e Er I = -30%

Page 178: universidade de brasília faculdade de tecnologia departamento de ...

150

propriamente para uma previsão do tipo “Classe A”. O mérito do programa, entretanto, foi o

de ser capaz de simular o mecanismo de interação solo x fundação observado na prova de

carga real, utilizando-se um único conjunto de entrada de dados (o alterado),

Com base em três diferentes provas de carga, a de uma estaca isolada, a de um grupo

de quatro estacas e a de uma sapata sobre quatro estacas virgens, fez-se a estimativa do

recalque real na cabeça da estaca. Este recalque foi realmente medido na primeira prova de

carga (estaca isolada) e interpolado nas outras duas, pelo mesmo processo já explicado na

Figura 5.19. A Figura 5.28 apresenta a comparação destas curvas “carga média nas estacas x

recalque na estaca” para as três provas de carga referenciadas. Em todos os casos foi

considerado apenas o primeiro carregamento em cada teste (estacas virgens).

Figura 5.28 – Comportamento médio de uma estaca em diferentes provas de carga.

A comparação da resposta de uma estaca quando em um grupo de quatro estacas ou

isolada já foi feita na Figura 5.15, mostrando a influência da interação de estacas próximas. A

Figura 5.28 ilustra a influência da presença da sapata, em contato com o solo, no

comportamento das estacas. Nota-se que, em função da presença da sapata, a estaca passa a

apresentar uma resposta menos rígida (maior recalque para o mesmo nível de carga) e uma

pequena redução (10%) na capacidade de carga máxima da estaca. Esta comparação se refere,

obviamente, ao elemento estaca. Em termos de capacidade de suporte do sistema de fundação,

a associação de uma sapata com algumas estacas terá certamente maior capacidade do que os

0

2

4

6

8

10

12

14

0 20 40 60 80carga (kN)

reca

lque

(mm

)

estaca isolada

estaca no grupo

estaca sob a sapata

Page 179: universidade de brasília faculdade de tecnologia departamento de ...

151

elementos individualizados. Em item posterior será feita uma comparação do efeito da

associação nos ensaios que foram levados até a ruptura.

Vários autores já publicaram resultados onde tanto a rigidez, como a capacidade de

carga, ora foram maiores, ora menores ao se comparar o comportamento de uma estaca

isolada com o comportamento “médio” de uma estaca sob uma sapata. Phung (1993), fazendo

uma revisão de vários trabalhos em areias, mostrou que, geralmente, a capacidade de carga é

maior e a rigidez é menor. El-Mossalamy & Franke (1997), analisando a instrumentação dos

edifícios Messeturn e Westend St1 (Alemanha), com uma fundação em radier estaqueado em

solo argiloso, encontraram que a rigidez média de uma estaca sob o radier foi igual ou inferior

à rigidez do comportamento médio previsto de uma estaca em um grupo de estacas (sem o

contato radier/solo), mas com um ganho razoável da capacidade de carga na estaca em função

da presença do radier.

De uma forma genérica, sabe-se que o comportamento de uma estaca sob uma

sapata, ou radier, sofrerá diferentes formas de influência do processo de interação entre as

partes:

a) no trecho superior, há a tendência do aumento das tensões horizontais na

interface estaca/solo, fazendo com que o atrito lateral seja maior. Por outro lado,

entretanto, a sapata irá impor um campo de deformação ao solo sob esta e isto

implicará na redução dos deslocamentos da interface da estaca em relação ao

solo, uma vez que o solo também estará descendo em função da presença da

sapata. Esta redução dos deslocamentos relativos resultará na diminuição do

atrito lateral na parte superior da estaca;

b) No trecho inferior das estacas haverá o aumento das tensões verticais no solo

próximo à ponta da estaca, em função da presença da sapata em contato com o

solo, resultando no aumento da capacidade de carga da ponta das estacas;

c) Em uma estaca isolada, normalmente os trechos superiores da estaca são os

primeiros a terem sua resistência última totalmente mobilizada. Devido aos

fatores citados nos dois itens anteriores, quando em uma sapata estaqueada, a

mobilização máxima de resistência se inicia pelos trechos inferiores da estaca.

O comportamento final da estaca, face à presença da sapata, será alterado em função

da combinação de diversos fatores. Em sapatas estaqueadas, quando houver o predomínio da

parcela de ponta nas estacas e/ou quando a camada de solo sob a sapata apresentar densidade

relativa (ou compacidade) elevada, deverá ocorrer um aumento da capacidade de carga. Já em

Page 180: universidade de brasília faculdade de tecnologia departamento de ...

152

situações onde a estaca responder principalmente por atrito lateral, e a camada superior não

for muito compacta, deverá predominar o efeito do campo de deformação imposto ao solo

pela sapata. Isto implica em uma menor capacidade de carga e também uma redução na

rigidez da estaca.

Na presente pesquisa, onde a estaca utilizada possuía praticamente apenas atrito

lateral e a camada superficial apresentava baixa capacidade de suporte, com uma estrutura

bastante porosa, o efeito da interação sapata/solo/estaca provocou nas estacas um

comportamento menos rígido e uma pequena redução na capacidade de carga, como mostrado

na Figura 5.28.

Visto que apenas um ensaio de cada um dos tipos, envolvidos nesta comparação, foi

feito, não se pretende extrapolar os valores comparativos. Vale, no entanto, ressaltar que a

rigidez retroanalisada no ensaio de estaca isolada (Kp) foi adequada à previsão do

comportamento dos testes de sapata sobre uma estaca, grupo de quatro estacas e sapata sobre

quatro estacas virgens.

Alguns autores apontam o reensaio da mesma estaca como uma forma de contornar a

possível variabilidade do solo na comparação entre diferentes formas de fundação. Entretanto,

o reensaio, além de não representar o comportamento da maioria dos casos de obras reais,

pode alterar a estrutura do solo na interface estaca/solo e deixar tensões residuais. Por tudo

isto, a melhor forma de incorporar tantas variáveis na comparação de fundações seria a

realização de vários ensaios de cada tipo e utilizar análises estatísticas como ferramenta de

comparação. O custo deste procedimento, porém, nem sempre possibilita a sua adoção.

5.2 – ENSAIOS EM SOLO PRÉ-INUNDADO

Conforme mencionados nos capítulos anteriores, alguns ensaios foram precedidos de

uma fase de inundação de uma cava, com dimensões aproximadas de 1,0x1,0x0,8m, através

do preenchimento dessa com água tratada e manutenção por 48h. Apresentam-se, a seguir, os

resultados destes ensaios.

5.2.1 – Sapata isolada (teste VII)

A Figura 5.29 apresenta o resultado da prova de carga de uma sapata isolada em um

solo pré-inundado e não ensaiado anteriormente. Nesta mesma figura compara-se este

Page 181: universidade de brasília faculdade de tecnologia departamento de ...

153

resultado com o anteriormente obtido para uma sapata isolada (Figura 5.2).assente em solo

com condições naturais de umidade, para os valores de recalque medidos no centro da sapata.

Figura 5.29 – Prova de carga de uma sapata isolada em solo pré-inundado.

Nota-se, na Figura 5.29, que o processo de inundação reduziu em aproximadamente

40% (de 150 para 90 kN) a capacidade de carga estimada para a sapata. Tal ordem de redução

vem ao encontro de diversos resultados citados no item 2.6.4.

Um fato inesperado, entretanto, refere-se à rigidez da sapata (inclinação da curva

carga-recalque). Esperava-se uma redução da rigidez, ao contrário do aumento observado.

Este fato pode ter sido consequência de duas hipóteses:

a) uma possível variabilidade natural do solo, que é comum em solos desta

pedogênese, mas que não foi observada visualmente;

b) A pré-inundação pode ter provocado o colapso, numa certa região sob a

sapata, e isto implicaria na redução dos vazios e aumento do peso

específico do solo (uma forma de pré-compactação), o que poderia

justificar uma resposta mais rígida para a fundação.

Cabe ser lembrado, conforme comentado no item 4.1, que a camada superficial do

solo (até 2m) não apresentou, em laboratório (Luna, 1997), alteração de sua deformabilidade

em situação de saturação prévia, ou seja, era de se esperar que a rigidez não se alterasse nesta

camada. O aumento, no entanto, não era esperado.

A comparação de resultados únicos, mesmo em solos tidos como homogêneos,

sempre estarão sujeitos a diferenças como esta. Cintra (1998) afirma que prefere o reensaio de

0

5

10

15

20

25

30

35

0 20 40 60 80 100 120 140 160carga (kN)

reca

lque

(mm

)

natural

pré-inundado

Page 182: universidade de brasília faculdade de tecnologia departamento de ...

154

provas de carga para anular o efeito da variabilidade natural do solo. Por outro lado, este

procedimento não possibilita analisar a interferência da estrutura do solo, que será rompida no

primeiro teste.

Retroanalisando-se os parâmetros elásticos, com o programa GARP6, a partir da

curva carga-recalque, obteve-se para a simulação linear:

- Es = 10,4 MPa

- pu = 90 kN

Para uma simulação não-linear, ⎥⎥

⎢⎢

⎡⎟⎟⎠

⎞⎜⎜⎝

⎛=

6

us p

p0,514 - 1 10,4 E

A Fig 5.30 mostra a comparação entre o resultado do teste e os obtidos pelo ajuste de

curva com os parâmetros acima do comportamento não linear.

Figura 5.30 – Retroanálise do teste da sapata isolada (solo pré-inundado).

5.2.2 – Estaca isolada (teste VIII)

Ensaiando uma estaca isolada após a pré-inundação, se obteve o comportamento

apresentado na Figura 5.31. Nesta mesma figura compara-se o resultado do carregamento

inicial com o do reensaio em um segundo teste realizado 5h após o primeiro. Nota-se uma boa

concordância da carga última suportada pela estaca (≈ 32,4 kN), bem como valores de rigidez

(MPa)

0

2

4

6

8

10

12

14

0 20 40 60 80 100carga (kN)

reca

lque

(mm

) teste (centro)

teste (canto)

GARP6

Page 183: universidade de brasília faculdade de tecnologia departamento de ...

155

bem próximos. A provável variação no teor de umidade ocorrida no período de 5h não

interferiu nos resultados obtidos. A Figura 5.32 compara o comportamento de uma estaca

reensaiada com e sem a pré-inundação, pois este foi um dos dados de entrada no teste de

sapata sobre uma estaca.

Figura 5.31 – Prova de carga da estaca isolada em solo pré-inundado

Figura 5.32 – Comportamento de uma estaca isolada quando reensaiada em solo natural e pré-

inundado.

0

2

4

6

8

10

12

14

16

0 10 20 30 40carga (kN)

reca

lque

(mm

) primeiro carregamento

reensaio

0

5

10

15

20

0 10 20 30 40 50 60 70 80

carga (kN)

reca

lque

(mm

) pre-inundadoumidade natural

Page 184: universidade de brasília faculdade de tecnologia departamento de ...

156

-

Na Figura 5.32 nota-se que o processo de inundação provocou uma redução na

capacidade de carga da estaca de 52%, embora a rigidez inicial da estaca tenha sido mantida

aproximadamente constante. Como em ambas as situações, de teor de umidade, as estacas

acusaram uma parcela de atrito lateral superior a 95%, em todos os estágios de carga,

concluiu-se que a redução da carga na estaca é oriunda da redução no atrito lateral da estaca.

O decréscimo na capacidade de carga de uma estaca isolada (52%) foi superior ao da

sapata isolada (40%), ou seja, o processo de inundação foi mais “efetivo” no caso de uma

estaca. Este fato provavelmente pode ser explicado por ser mais fácil inundar uma fina

camada de solo próximo à face da estaca, inclusive pelo caminho preferencial de percolação

na interface estaca/solo, do que uma região maior de solo envolvido na zona carregada pela

sapata, interferindo mais no mecanismo de mobilização de carga (Cunha & Sales, 1998).

Retroanalisando-se o comportamento da estaca, via ajuste de curva na forma

proposta da Eq. (5.2), obteve-se:

- Kpo = 16000 kN/m

- pu = 32,4 kN;

⎥⎥⎦

⎢⎢⎣

⎡⎟⎟⎠

⎞⎜⎜⎝

⎛=

2,1

p 4,32P0,4 - 1 16000 K

5.2.3 – Sapata sobre uma estaca (teste IX)

As Figuras 5.33a e 5.33b apresentam as curvas carga-recalque obtidas (no “centro” e

“canto” da sapata) e a distribuição de carga entre a sapata e estaca, respectivamente.

Dois fatos podem ser destacados na Figura 5.33:

- a estaca absorveu, inicialmente, cargas na ordem de 70 a 60% do valor aplicado;

três etapas distintas podem ser visualizadas na Figura 5.33a. Entre 0 - 50 kN a estaca teve

maior influência sobre o comportamento da fundação, resultando em baixos valores de

recalque. No intervalo de 50 – 100 kN a estaca já estava totalmente mobilizada e a sapata

passou a comandar os recalques. Após 100 kN o solo sob a sapata começou a se aproximar de

sua carga limite, com grandes deformações plásticas, sendo possível vislumbrar a ruptura

completa do sistema fundação/solo. As curvas de descarregamento indicaram uma

recuperação muito pequena das deformações, assim como todos os ensaios anteriores.

Próximo às bordas a recuperação dos deslocamentos foi quase nula e no centro registrou-se

um valor um pouco maior devido a flexão estrutural da sapata.

Page 185: universidade de brasília faculdade de tecnologia departamento de ...

157

Figura 5.33 – Prova de carga na sapata sobre uma estaca – solo pré-inundado.

A Figura 5.34 traz a comparação de uma sapata sobre uma estaca, com e sem a pré-

inundação. Nesta figura, observa-se que até 50 kN, para o ensaio inundado, e 70 kN, para o

solo com teor natural de umidade, o comportamento foi ditado pela estaca e, como a rigidez

da estaca pouco foi afetada pela inundação (ver Figura 5.32), os recalques foram muito

semelhantes até 50 kN. Após 50 kN, a estaca no teste pré-inundado, foi totalmente

mobilizada, e com isto a sapata sobre uma estaca, neste caso, passou a recalcar mais. Quanto à

capacidade máxima de carga não cabe comparação, pois infelizmente na situação de “solo

natural” o teste teve de ser interrompido prematuramente no estágio de 150 kN devido a

problemas técnicos no sistema de reação. Observa-se que as curvas de descarregamento foram

semelhantes e com pequena recuperação de deformações.

Utilizando-se o programa GARP6 e os parâmetros retroanalisados nos itens 5.2.1 e

5.2.2 (testes VII e VIII), estimou-se qual seria o comportamento da sapata sobre uma estaca.

A comparação entre a “previsão” e os valores medidos está apresentada nas Figuras 5.35a e

5.34b.

Nota-se que o programa foi capaz de simular muito bem a curva carga-recalque no

trecho inicial, em que a carga na estaca ainda não havia sido totalmente mobilizada, bem

como a distribuição de carga entre a sapata e estaca. Após a completa mobilização de carga na

estaca, o programa não conseguiu representar bem a variação dos recalques, e passou a se

distanciar dos valores medidos.

0

5

10

15

20

25

30

0 20 40 60 80 100 120 140

carga (kN)re

calq

ue (m

m) teste (centro)

teste (canto)

0

20

40

60

80

100

0 20 40 60 80 100 120 140carga (kN)

% d

a ca

rga

tota

l

estacasapata

(a) resposta carga-recalque (b) distribuição de carga

Page 186: universidade de brasília faculdade de tecnologia departamento de ...

158

Figura 5.34 – Prova de carga em uma sapata sobre uma estaca – “com” e “sem” pré-

inundação.

(a) resposta carga-recalque (b) % de carga na estaca

Figura 5.35 – Previsão do comportamento da sapata sobre uma estaca – solo pré-inundado.

0

5

10

15

20

25

30

0 20 40 60 80 100 120 140 160

carga (kN)

reca

lque

(mm

)

solo natural

pré-inundado

0

5

10

15

20

25

30

0 20 40 60 80 100 120 140carga (kN)

reca

lque

(mm

)

teste (centro)

teste (canto)

GARP6 (centro)

GARP6 (canto)

20

40

60

80

100

0 50 100 150carga (kN)

% c

arga

na

esta

ca

teste

GARP6

Page 187: universidade de brasília faculdade de tecnologia departamento de ...

159

5.3 – ANÁLISE DA CAPACIDADE DE CARGA DAS FUNDAÇÕES ENSAIADAS

Na maioria dos casos, em que sapatas estaqueadas ou radier estaqueados vêm sendo

empregados como fundação de obras civis, a capacidade de carga do sistema de fundação não

é o fator preponderante no dimensionamento deste. Entretanto, compara-se, neste item, os

valores da carga de ruptura, alcançada em alguns testes.

Apresenta-se na Tabela 5.2, a comparação dos valores de carga de ruptura

convencional, obtidos claramente pela mudança brusca da curva carga x recalque em alguns

testes, e estimados, por Van der Veen (1953) em outros. Infelizmente, por motivos

executivos, o teste com a sapata sobre uma estaca (teste III), sob condições naturais de

umidade, não foi levado até cargas mais elevadas que permitissem inferir este valor.

Tabela 5.2 – Valores da carga de ruptura convencional obtidos nas provas de carga.

Carga de deformações na Solo Ensaio Teste Ruptura (kN) ruptura (% B ou D)

Sapata isolada I 150 3,0 (B) Estaca isolada – virgem II 75 3,5 (D) Estaca isolada – reensaio II 67 1,9 (D) Natural Grupo de 4 estacas IV 300 12,3 (D) Sapata sobre 4 estaca testadas V 360 0,75 (B) Sapata sobre 4 estacas virgens VI 400 1,2 (B) Sapata isolada VII 90 1,3 (B) Pré - Estaca isolada – virgem VIII 32,4 2,3 (D) Inundado Estaca isolada – reensaio VIII 30 1,5 (D) Sapata sobre 1 estaca testada IX 120 2,2 (B) Obs.: B - largura da sapata (100cm) e D - diâmetro da estaca (15cm) Com base nas considerações feitas, anteriormente neste capítulo, e em função do

estado do solo superficial do Campo Experimental da UnB, era de se esperar que a capacidade

de carga do sistema de fundação, composto pela associação de uma sapata a algumas estacas,

pudesse ser calculada por equações como a de Kishida & Meyerhof (1965), e não com outras,

como as de Liu et al. (1985) ou Phung (1993) – ver item 2.4.1.1.

Desta forma, apresenta-se na Tabela 5.3 a comparação dos valores experimentais

com os obtidos pela Eq. (2.13) (Kishida & Meyerhof, 1965). Estes autores sugeriram a

simples soma das capacidades individuais da sapata e das estacas (Qc + Qg), quando estas

estivesse relativamente espaçadas. Para a capacidade de carga da sapata a sugestão era de se

Page 188: universidade de brasília faculdade de tecnologia departamento de ...

160

considerar toda a área. Para efeito de comparação, inclui-se, ainda, nesta tabela uma variação

desta sugestão original, adotando-se não a área total da sapata, mas a área efetivamente em

contato com o solo, ou seja, descontando-se as área das estacas sob esta sapata (Qc net + Qg).

Tabela 5.3 – Estimativas de capacidade de carga dos testes realizados. Teste Valor Estimativas Experimental Qc + Qg % do medido Qc net + Qg % do medido IV 300 300 100 300 100 V 360 418 116 407 113 VI 400 450 112 439 110 IX 120 120 100 118 98 Da Tabela 5.3, pode-se comentar :

- o teste IV, do grupo de quatro estacas, a capacidade de carga foi

exatamente a prevista, não considerando nenhum “fator de eficiência”,

em função do espaçamento entre as estacas (cinco diâmetros);

- a diferença entre as previsões, considerando a área efetiva de contato da

sapata ou a total, não foi grande, visto que a soma das áreas transversais

das estacas era muito pequena. Entretanto, em termos gerais, a

consideração somente da área efetiva da sapata levou a resultados um

pouco melhores do que a forma original de Kishida & Meyerhof (1965);

- os testes com sapatas sobre quatro estacas obtiveram valores de carga de

ruptura convencional um pouco inferiores aos previstos, mas com

diferenças inferiores a 16%.

Sugere-se, que a estimativa da capacidade de carga do sistema de fundação em

sapata estaqueada, em solos como a argila porosa de Brasília (sem características dilatância

nas camadas superiores), deve ser feita com formulações mais conservadoras, como a de

Kishida & Meyerhof (1965), ou com alguma alteração para se considerar somente a área da

sapata efetivamente em contato com o solo. Neste tipo de solo, as interações entre os

elementos do sistema de fundação não provocam um aumento da capacidade de carga em

cada elemento, como relatado para outros solos.

Page 189: universidade de brasília faculdade de tecnologia departamento de ...

161

6 – PROPOSTA DE UM NOVO MÉTODO

Cresce a cada dia o reconhecimento, por parte dos engenheiros de fundações, de que

o projeto de fundação baseado em conceitos de recalque, na maioria dos casos, conduz a

soluções mais econômicas, sem o comprometimento do fator de segurança quanto à

capacidade de carga (O'Neill et al. 1996, El-Mossalamy & Franke, 1997, Poulos, 1998, Cunha

et al., 2000b).

Os projetos de radier estaqueados ou sapatas estaqueadas, em sua maioria, são

exemplos onde o desempenho da fundação quanto aos recalques é o fator preponderante.

Dentre as filosofias de projeto deste tipo de fundação, já apresentadas no Capítulo 2, a idéia

de utilização de um “Pile-Enhaced Raft” (Poulos, 1998a) é a de buscar uma otimização deste

tipo de fundação, empregando-se o menor número possível de estacas, estrategicamente

posicionadas, a fim de se obter uma fundação com resposta carga-recalque desejada, e

garantindo-se um adequado fator de segurança da fundação como um todo. Neste conceito de

fundação não são raros os casos onde algumas ou todas as estacas sob o radier (ou sapata) irão

trabalhar com suas capacidades de carga totalmente mobilizadas (Cunha et al., 2000a).

Burland et al. (1977) pregaram a idéia de que a economia em projetos de fundações

estaqueadas passava pela utilização de estacas como “elementos redutores de recalque”. Em

1995, Burland chamou a atenção para o uso de estacas totalmente mobilizadas e questionou :

“... se estacas com base alargada em argila podem trabalhar efetivamente e eficazmente com a

resistência ao atrito lateral totalmente mobilizada no fuste, por que não poderiam as estacas

trabalharem, similarmente, sob radier estaqueados ?”.

Com esta preocupação em mente, este capítulo busca analisar a melhor forma de

considerar a presença de estacas totalmente mobilizadas nas fundações do tipo “sapatas ou

radiers estaqueados”, através dos métodos simplificados de análise, numérica ou não. Não se

tem a pretensão de extrapolar os resultados qualitativos e quantitativos encontrados nos testes

de campo para fundações maiores, mas teoricamente o processo de análise de uma sapata

estaqueada ou de um radier estaqueado, levando em consideração as diversas formas de

interação entre as partes, seria similar.

Page 190: universidade de brasília faculdade de tecnologia departamento de ...

162

6.1 – FORMA USUAL DE CONSIDERAR A ESTACA TOTALMENTE

MOBILIZADA EM UMA SAPATA ESTAQUEADA

Para a fase de análise preliminar de uma “sapata estaqueada”, onde geralmente os

cálculos são feitos manualmente ou sem a utilização de programas específicos, somente duas

propostas foram encontradas na literatura, que consideram a fundação trabalhando com a

presença de estacas após a completa mobilização de suas capacidade de carga.

O primeiro método, neste trabalho denominado por “método 1” por facilidade, é o

modelo trilinear originalmente apresentado em Davis & Poulos (1972) e melhor detalhado em

Poulos & Davis (1980). Esses autores consideraram que a resposta carga-recalque de um

radier estaqueado poderia ser representado esquematicamente, conforme Figura 6.1. O

modelo admite que a capacidade máxima de carga de cada estaca, dentro do radier

estaqueado, será a mesma que estas tinham quando isoladas.

C Pw PA Figura 6.1 – Representação esquemática do método de Poulos & Davis (1980).

Na Figura 6.1, os seguintes detalhes podem ser destacados:

- o ponto “A” corresponde à carga de ruptura do grupo de estacas (somente as

estacas);

- o ponto “B” corresponde à carga máxima da fundação como um todo. Se as

estacas forem razoavelmente espaçadas, o valor “PB” é calculado como a soma

da capacidade do conjunto das estacas com a capacidade de carga do radier

isoladamente. Se as estacas estiverem muito próximas, esta capacidade seria

calculada como a ruptura de um bloco único delimitado pela periferia das

estacas;

O

δBδwδA

A

B PB

Page 191: universidade de brasília faculdade de tecnologia departamento de ...

163

- no trecho “OA”, o recalque seria estimado como se a carga estivesse atuando

apenas no grupo de estacas:

1GR P δδ = (6.1)

onde: δ = recalque da fundação;

P = carga total atuante na fundação;

RG = fator de redução do grupo, definido como a relação entre o recalque médio do

grupo de estacas e o recalque que a estaca isolada teria se submetida à carga

total atuante no grupo (ver Poulos & Davis, 1980);

δ1 = recalque de uma estaca isolada submetida à carga unitária.

Poulos & Davis (1980) partiram da análise de um “elemento” isolado, que era

composto por uma estaca com um “cap” solidarizado a sua extremidade superior e em contato

com o solo superficial. Desta análise os autores construíram gráficos correlacionando a

deformabilidade unitária do elemento (δ1 ) com a de uma estaca isolada (δ1 ), através de um

fator de redução (RC), onde :

1C1 R δδ = (6.2)

Entretanto as hipóteses elásticas de superposição conduzem a uma relação entre os

fatores de redução de grupo entre elementos (RG) e estacas (RG), na forma:

C

GG R

R R = (6.3)

Com isto o recalque de um radier estaqueado, considerado como a associação de

“elementos” justapostos, seria:

1G1CC

G1G .R . P .R

RR

P. .RP. δδδδ === (6.4)

Page 192: universidade de brasília faculdade de tecnologia departamento de ...

164

- no trecho “AB”, quando todas as estacas já estiverem totalmente mobilizadas,

para uma carga atuante “Pw” o acréscimo de recalque (δw - δA) seria calculado

supondo que a diferença de carga (Pw – PA) seria suportada somente pela sapata,

como representado na Eq. (6.5):

( )( )s

2Aw

1GAw B.E1PP0,947

..RP ν

δδ−−

+= (6.5)

onde: Pw = carga total atuante (Pw > PA);

PA = carga total que corresponde ao momento de total mobilização do conjunto de

estacas

δw = recalque total médio da fundação;

ν = coeficiente de Poisson do solo;

Es = módulo elástico do solo;

B = largura do radier.

Recentemente, Poulos (1998b) atualizou o modelo anterior, considerando que no

trecho “OA” não somente as estacas suportariam a carga, mas que parte desta carga seria

transferida ao solo pelo radier. Denominando por “Kpr” a rigidez do radier estaqueado e “Kr”

a rigidez do radier isolado, o modelo foi alterado para o esquema representado na Figura 6.2

(neste texto tal modelo será denominado por “modelo 2”).

Figura 6.2 – Modelo para estimar o recalque de radier estaqueado contendo estacas totalmente

mobilizadas (modificado – Poulos, 1998b).

Kr

1

PB

δ

Kpr 1

O

A

B

PA

C

Page 193: universidade de brasília faculdade de tecnologia departamento de ...

165

Na Figura 6.2, “A” é ponto correspondente à aplicação da carga total “PA”, a qual

seria responsável pela total mobilização da capacidade máxima de carga do grupo de estacas.

Desta forma:

se P ≤ PA , prK

P =δ (6.6)

se PA < P < PB , ( )

r

A

pr

AK

P-P KP +=δ (6.7)

No trecho “AB”, da Figura 6.2, a idéia é a mesma do modelo anterior, onde se supõe

que o acréscimo de recalque (δw - δA) seria calculado como se a diferença de carga (Pw – PA)

seria suportada somente pelo radier isolado, considerando a rigidez Kr.

Burland (1995) havia sugerido, de forma similar, que após a completa mobilização

das estacas, o radier estaqueado poderia ser substituído por um radier isolado suportando

apenas o excesso de carga em relação à que ultrapassou a capacidade máxima de todo o grupo

das estacas (PA). Esse autor introduziu um fator de minoração “Fm”, a ser calibrado

localmente (retroanálises na argila de Londres determinaram Fm = 0,9). O acréscimo de

recalque poderia ser calculado por:

r

pumAw K

PF - P - =δδ (6.8)

onde: δw - δA = acréscimo de recalque após a carga PA (ver Figura 6.2);

P = carga total atuante no radier estaqueado;

Ppu = capacidade máxima de carga suportada pelas estacas;

Fm = fator de minoração

Kr = rigidez do radier isolado

Nota-se que, tanto na proposta de Burland (1995) como a de Poulos (1998b), após a

completa mobilização das estacas, caberá ao radier suportar a carga excedente e isto implicará

num acréscimo de carga como se o radier estivesse isolado, sem a presença de qualquer

estaca, uma vez que se adotou como rigidez para a fundação, nesta etapa de carga, o valor de

“Kr” - ver Eqs. (6.7) e (6.8).

Page 194: universidade de brasília faculdade de tecnologia departamento de ...

166

Passando aos métodos numéricos simplificados de análise de radier estaqueados, na

grande maioria dos métodos, como HyPR (Clancy & Randolph), GARP (Poulos, 1994a),

NAPRA (Russo, 1995), PIRAF (Ta & Small, 1998), KURP (Matsumoto, 1998), e outros,

quando uma estaca ultrapassa sua capacidade máxima de carga um limite é imposto à carga a

ser absorvida por esta estaca, ou seja, ao se resolver numericamente o sistema de equações de

compatibilidade de deformações entre o radier e as estacas, se a carga obtida para uma estaca

ultrapassar o seu limite de carga, impõe-se a esta estaca o seu limite máximo, retira-se esta

estaca (cuja carga não é mais uma incógnita) do sistema, e resolve-se tudo novamente,

iterativamente, até se encontrar uma solução que não vá de encontro às hipóteses dos valores

máximos de carga para cada tipo de estaca envolvida na fundação.

A esta forma de limitar a carga máxima na estaca se dá o nome de “load cut-off”, que

será mencionado outras vezes neste capítulo.

6.1.1 – Exemplo da utilização dos métodos atuais em dois casos

Nesta seção serão calculados, manualmente e com o programa GARP6, os recalques

de dois radiers estaqueados hipotéticos para se comparar a previsão dos métodos em questão.

A) Sapata sobre quatro estacas

Supondo a configuração apresentada na Figura 6.3:

1m Sapata : Er = 20000 MPa νr = 0,2 0.15 m t = 0,4 m Estacas : Ep = 20000 MPa νp = 0.2 D = 0.15 m s = 5D = 0.75 m L = 3,75 m Pult = 125 kN Solo : Es = 20 MPa Carga : centrada, numa área de 0,1 x 0,1 m νs = 0.35 prof. camada rígida = 10 m Figura 6.3 – Exemplo hipotético de um radier sobre quatro estacas.

Page 195: universidade de brasília faculdade de tecnologia departamento de ...

167

Neste exemplo a resposta das estacas foi considerada linear-elástica até a ruptura, e

perfeitamente plástica após. Não foi considerado nenhum limite de tensão no solo sob a sapata

(capacidade de carga do solo). Estimando-se os parâmetros envolvidos no cálculo manual:

• “Método 1” (Poulos & Davis, 1980):

( ) m/kN 2,362.10

20000.0,15,948)13x0,882x01(0,075x1,

D.ERRRIP

D.E

P.I 5-

s

νhko

s1 ====ρ (6.9)

( )

4νNN2νNN21

R h7,07h5G =

++=

αα

( ) 0,492 4

x1,0520,337x0,7783x1,0342x0,405x0,1 =++

=

(6.10)

PA = 4x125 = 500 kN (6.11)

• P ≤ PA ⇒ δw = PxRGxρ1 = Px0,492x2,362x10-5 = Px1,1621x10-5 (m) (6.12)

• P > PA ⇒

( ) ( ) ( ) (m) 26739

500-P5,81x101,111

11.20000

0,35-10,947500-P10x1621,1x500 3-2

5w +=+= −δ (6.13)

• “Método 2” (Poulos,1998b):

- sapata isolada:

( ) 26739 111,1 )35,01( 947,0

20000x1 -1 0,947

E B P K

2h2s

sr ≅

−==

∆∆

= Nνδ

(6.14)

onde a primeira parcela vem da teoria da elasticidade e “Nh ” é um fator de correção devido à

presença de uma base rígida (e não um semi-espaço infinito) – ver Poulos (1968c).

Para a estimativa de “Kpr” será utilizado o método de Randolph (1994), que calcula a

rigidez do grupo das estacas (Kpg) e do radier (Kr), e então se determina a rigidez do radier

estaqueado (ver Eq. (2.27) a (2.37) no item 2.4.1.3):

Page 196: universidade de brasília faculdade de tecnologia departamento de ...

168

- estaca isolada:

( )

( )

kN/m 88,37152992,43

0,35-14 x

270011

992,4339753,42

0,35-14

0,075 x 7407,407 K p1 =

⎥⎥⎥⎥

⎢⎢⎢⎢

+

+=

π

π

(6.15)

- grupo de estacas:

( )

( )

kN/m 52,69209992,43

17234,1 0,35-14x

270011

992,433358,102

17234,1x0,35-14

,0757407,407x04x K pg =

⎥⎥⎥⎥

⎢⎢⎢⎢

+

+=

π

π

(6.16)

- radier estaqueado:

kN/m 41,7063052,69209

69209,52267390,64-1

69209,52267390,6-1

K

KK0,64-1

KK0,6-1

K p

pg

r

pg

r

pr =⎟⎠

⎞⎜⎝

⎟⎠

⎞⎜⎝

=

⎟⎟⎠

⎞⎜⎜⎝

⎟⎟⎠

⎞⎜⎜⎝

= (6.17)

( )( ) %94,89

26739x6,052,6920926739 )8,01(1

K 21KK 1

1PP

P

rrp pg

rrp

rp

p =−

−−=

−−=

+=

α

αβ (6.18)

kN 555,930,89944x125n.PP u

A ===β

(6.19)

• P ≤ PA ⇒ (m) 70630,41

Pw =δ (6.20)

• P > PA ⇒ ( ) ( ) (m) 26739555,93-P7,871x10

26739555,93-P

70630,41555,93 3-

w +=+=δ (6.21)

A Tabela 6.1 traz a comparação entre os dois métodos para alguns valores de carga,

utilizando as Eqs. (6.12), (6.13), (6.20) e (6.21).

Page 197: universidade de brasília faculdade de tecnologia departamento de ...

169

Tabela 6.1 – Comparação entre o “método 1”e “método 2” para a estimativa de recalque de

uma sapata sobre quatro estacas.

Carga δ (mm)

(kN) método “1” método “2” 0 0 0 100 1,162 1,416 200 2,324 2,832 300 3,486 4,247 400 4,648 5,663 500 5,810 7,079 550 7,680 7,787 600 9,550 9,519 700 13,290 13,259 800 17,030 16,999 A Figura 6.4 apresenta a comparação dos valores já apresentados na Tabela 6.1 com

os resultados obtidos na análise deste problema utilizando o programa GARP6.

Figura 6.4 – Sapata sobre quatro estacas – GARP6 x métodos “manuais”.

0

2

4

6

8

10

12

14

16

18

0 100 200 300 400 500 600 700 800 900carga (kN)

reca

lque

(mm

) Poulos & Davis (1980)Poulos (1998b)GARP6

Page 198: universidade de brasília faculdade de tecnologia departamento de ...

170

Observa-se na Figura 6.4 que:

- os métodos “1” e “2” diferem no trecho inicial, pois o primeiro supõe que só as

estacas suportarão a carga, enquanto que o segundo permite que parte da carga

seja transferida a sapata. A maior ou menor aproximação neste trecho será função

da porcentagem estimada a ser suportada pelas estacas (β);

- no segundo trecho, após a mobilização total das estacas, tanto o método “1”

quanto o “2” admitem que só a sapata será responsável por suportar o acréscimo

de carga, daí a coincidência das curvas;

- Ambos os métodos se aproximaram razoavelmente dos resultados obtidos pelo

GARP6, para o caso em questão. O método “2” apresentou maior semelhança

com o programa, inclusive na estimativa da carga onde o grupo das estacas seria

totalmente mobilizado. A diferença entre as retas pode ser explicada pelos

valores utilizados ou obtidos para a rigidez de cada elemento envolvido na

fundação.

A Tabela 6.2 mostra uma comparação entre os valores obtidos pelo método “2” e

com o programa GARP6. Neste último, o valor de Kp é um parâmetro de entrada (obtido em

outros programas, como o DEFPIG), Kr é encontrado analisando-se um radier isolado, e os

valores Kpr e β são resultados da análise do radier estaqueado.

Tabela 6.2 – Valores de rigidez obtidos pelo método “2” e pelo GARP6 para o exemplo de

sapata sobre quatro estacas.

Parâmetro Método “2” (Poulos, 1998b) GARP6 Kr (kN/m) 26739,00 27719,51 Kp (kN/m) 37152,88 39824,77 Kpr (kN/m) 70630,41 79702,21 β (%) 89,94 90,93 Para efeito de comparação, o exemplo anterior será reanalisado pelo método 2, mas

agora empregando, como valores de entrada, os mesmos obtidos com o programa GARP6. A

Figura 6.5 mostra esta comparação entre o método “2” e GARP6. Observa-se uma total

concordância entre os valores calculados por ambos os métodos.

Page 199: universidade de brasília faculdade de tecnologia departamento de ...

171

2m

Figura 6.5 – GARP6 x Método “2” (Poulos, 1998b) usando os mesmos dados de entrada.

B) Radier sobre 16 estacas

Considerando o exemplo proposto pelo Comitê Técnico TC-18 do ISSMGE, cujos

dados principais estão esquematizados na Figura 6.6.

11m 11m 11m 3m 30m

3m Sapata : Estacas : Solo : Er = 35000 MPa Ep = 35000 MPa Es= 7 + 2,45z (MPa) νr = 0,16 νp = 0,16 νs = 0.1 d = 1m cu= 110 + 3,93z(kPa) L = 30m σmax = 6 cu = 833 kPa Pu = 9,6 MN (considerando z=2B/3) Figura 6.6 – Radier sobre 16 estacas proposto pelo TC-18.

0

2

4

6

8

10

12

14

16

18

0 100 200 300 400 500 600 700 800 900carga (kN)

reca

lque

(mm

)

Poulos (1998b)

GARP6

Page 200: universidade de brasília faculdade de tecnologia departamento de ...

172

• “Método 1” (Poulos & Davis, 1980):

A partir dos valores apresentados na Figura 6.6, foram estimados a deformação

unitária de uma estaca isolada (ρ1) e o fator de grupo (RG). Nestes cálculos foram utilizados

os módulos elástico equivalente do solo. No caso das estacas adotou-se a prof. z= 2/3 L

(Es1 = 7 + 2,45x2/3x30 = 56MPa) como representativa e para a sapata, z= B/2

(Es2 = 7 + 2,45x11/2 = 20,475MPa). Assim:

ρ1 = 1,2969x10-6 m/kN

RG = 0,44

PA = 16 x 9600 = 153600 kN

• P ≤ PA ⇒ δw = P RG ρ1 = Px0,44x1,2969x10-6 = Px0,570636x10-6 (m) (6.22)

• P > PA ⇒

( ) ( ) ( )(m)

240232153600-P

,08765011.20475

0,1-10,947153600-PRP

2

1GAw +=+= ρδ (6.23)

• “Método 2” (Poulos, 1998b):

- sapata isolada:

( ) kN/m 240232 )1,01( 947,0

20475x11-1 0,947

E B P K 22

s

sr ≅

−==

∆∆

=νδ

(6.24)

- estaca isolada:

Utilizando o método de Tubulão Equivalente para transformar o grupo de 16 estacas

em um tubulão (ou estacão) com:

- diâmetro equivalente:

m 11,28410x102 A2d geq ===ππ

(6.25)

Page 201: universidade de brasília faculdade de tecnologia departamento de ...

173

- módulo elástico equivalente:

MPa 4447,210.10

16.0,785456)-(3500056

A

A)E-(EEE

g

tgspseq =+=+= (6.26)

estes valores foram utilizados nas equações de Randolph (1994) (Eq. (2.27) a (2.37) no item

2.4.1.3) para se obter a rigidez do grupo das estacas (Kpg) e do radier estaqueado (Kpr):

Kpg = 2180 MN/m

Kpr = 2190,34 MN/m

β = 97,64%

PA = 157312,58 kN

• P ≤ PA ⇒ (m) 2190340

Pw =δ (6.27)

• P > PA ⇒ ( )

(m) 240232157312,58-P

2190340157312,58

w +=δ (6.28)

A Figura 6.7 apresenta os valores previstos pelos dois métodos acima e ainda os

resultados obtidos com o programa GARP6 para o problema em questão. Ambos os métodos

se aproximaram razoavelmente dos resultados do GARP6. Embora os parâmetros básicos das

equações (métodos “1” e “2”) tenham sido calculados de forma distinta, os resultados foram

próximos. Após 220 MN, a solução obtida com GARP6 apresentou caráter não-linear pois

considerou o limite de tensão no solo sob o radier, fato este não incorporado nas equações

simplificadas.

A Tabela 6.3 compara os valores de rigidez, obtidos pelas equações aproximadas,

utilizadas no método “2” com os valores obtidos com o programa GARP6, com o mesmo

procedimento já explicado na Tabela 6.2.

Tabela 6.3 – Radier sobre 16 estacas – Parâmetros básicos obtidos pelo método “2” e GARP6.

Parâmetro Método “2” (Poulos, 1998b) GARP6 Kr (MN/m) 240,23 310,89 Kpr (MN/m) 2190,34 1901,06 PA (MN) 157,30 157,30 β (%) 97,64 97,65

Page 202: universidade de brasília faculdade de tecnologia departamento de ...

174

Figura 6.7 – Radier sobre 16 estacas (TC-18) – GARP6 x Equações simplificadas.

Para efeito de uma comparação mais próxima, os parâmetros obtidos com o

programa GARP6 (apresentados na Tabela 6.3) serão utilizados nas equações do método 2.

Os resultados desta comparação estão apresentados na Figura 6.8. Nota-se uma excelente

concordância entre os dois resultados, indicando que as hipóteses básicas assumidas pelos

dois métodos se correspondem. Ressalta-se, novamente, que a diferença entre os dois métodos

após 220 MN foram provenientes do fato de se limitar, no programa GARP6, a tensão

máxima do solo sob o radier.

Com base nestes dois exemplos apresentados, pode-se concluir que:

(i) o “método 1” (Poulos & Davis, 1980) considera que até a mobilização

completa da carga última das estacas, somente estas interferem no recalque

da fundação, e, após esta carga, somente a sapata será responsável por

absorver o excesso de carga. Embora bastante simplificado, o método

apresentou um resultado razoável. Este método será tão mais próximo dos

outros, no trecho inicial, quanto maior for a parcela de carga inicialmente

absorvida pelas estacas (β). Nos dois exemplos apresentados, este valor ficou

acima dos 90%.

(ii) o “método 2” (Poulos, 1998b) já considera a distribuição de carga entre as

estacas e a sapata (ou radier), em todos os estágios de carga. A utilização das

0

100

200

300

400

500

0 50 100 150 200 250 300

carga (MN)re

calq

ue (m

m)

Poulos & Davis (1980)

Poulos (1998b)

GARP6

Page 203: universidade de brasília faculdade de tecnologia departamento de ...

175

equações aproximadas, como as de Randolph (1994) e do método do tubulão

equivalente, produziu resultados bem próximos aos obtidos pelo programa

GARP6.

(iii) Utilizando-se os mesmos parâmetros de entrada para o método “2” e o

programa GARP6, os resultados foram coincidentes, quando a tensão sob a

sapata não foi limitada. Isto significa que a hipótese, adotada no método 2, de

se desprezar a influência da presença das estacas no cálculo dos recalques,

após a completa mobilização das mesmas, equivale ao artifício numérico de

“load cut-off”, onde somente se limita a carga máxima nas estacas sem alterar

os valores da rigidez das mesmas. Este resultado foi observado em diversos

outros testes não apresentados.

Figura 6.8 – Radier sobre 16 estacas (TC-18) – GARP6 x Método “2” com mesmos

parâmetros de entrada.

6.1.2 – Incoerência na forma de considerar as estacas após sua completa mobilização

Nos métodos apresentados anteriormente algumas incoerências podem ser apontadas.

Os métodos “manuais” (Poulos & Davis, 1980 e Poulos, 1998b) admitem que, após a

mobilização total de carga nas estacas, estas ainda continuarão a suportar este valor máximo

0

100

200

300

400

500

0 50 100 150 200 250 300carga (MN)

reca

lque

(mm

)

Poulos (1998b)

GARP6

Page 204: universidade de brasília faculdade de tecnologia departamento de ...

176

de carga, mas a carga excedente será transferida à sapata. Na estimativa do recalque, portanto,

os métodos subtraem a carga suportada pelas estacas, e consideram que o sistema de fundação

passasse a se comportar como uma sapata isolada, sem a presença das estacas. Esta

simplificação reduz os recalques nesta fase de carregamento, uma vez que se desprezam as

interações entre a sapata e as estacas. Estas interações, no entanto, continuarão a existir.

Em fundações projetadas para suportar cargas que venham a causar a completa

mobilização das estacas, a estimativa de um recalque menor que o “real” poderá trazer

complicações inesperadas à estrutura (contra a segurança). Isto é o que acontece com os

métodos “1” e “2”, e também com o GARP6.

Em termos de programas, como o GARP6 (ver maiores detalhes deste programa no

Apêndice A), o procedimento de apenas limitar a carga máxima nas estacas (“load cut-off”),

mas mantendo um valor constante para a sua rigidez, que por sua vez interferirá na matriz de

rigidez global do sistema, não corresponde à realidade. Após a completa mobilização das

estacas, estas ainda são capazes de suportar um valor de carga (carga última), mas não mais

irão se opor ao recalque da fundação, e, portanto, o valor de sua “rigidez” não poderá ser

mantida como constante.

Após a mobilização completa da carga na estaca, o conceito físico de rigidez (carga

por recalque) deixa de existir, pois para um mesmo valor de carga (máxima) não se obterá um

valor único de recalque, uma vez que os recalques aumentarão, continuamente, sob carga

constante, ou seja, a definição da rigidez não é mais uma função matemática.

Para exemplificar o acima exposto, será considerado o caso de uma sapata sobre uma

estaca, onde o comportamento da estaca será representado por três diferentes equações. A

Figura 6.9 apresenta as três diferentes curvas retroanalisadas para simular o comportamento

da estaca. A primeira (caso 1) representa o trecho linear inicial com rigidez constante. O

segundo caso representa, além da fase linear, o início do deslizamento da estaca após a

completa mobilização de sua carga máxima (67 kN). O terceiro caso representa o

comportamento da estaca até grandes deslocamentos da estaca.

As equações das curvas apresentadas na Figura 6.9 são:

Caso 1, K = 24000 p kN/m (6.29)

Caso 2, ⎥⎥⎦

⎢⎢⎣

⎡⎟⎠⎞

⎜⎝⎛

30

p 67P 0,625 - 1 24000 = K kN/m (6.30)

Page 205: universidade de brasília faculdade de tecnologia departamento de ...

177

Caso 3, ⎥⎥⎦

⎢⎢⎣

⎡⎟⎠⎞

⎜⎝⎛

100

p 67P 0,854 - 1 24000 = K kN/m (6.31)

0

5

10

15

20

25

0 20 40 60 80carga (kN)

testeCaso 1

0

5

10

15

20

25

0 20 40 60 80

testeCaso 2

0

5

10

15

20

25

0 20 40 60 80

teste

Caso 3

recalque (mm)

Figura 6.9 – Três diferentes metodologias de se retroanalisar o comportamento carga-recalque

de uma estaca isolada.

A Figura 6.10 apresenta a análise de uma sapata (1x1m, Er=20GPa, espessura de

6,7cm) sobre a estaca com o comportamento representado na Figura 6.9. Foi utilizado o

programa GARP6, com o procedimento de limitar a carga máxima na estaca, no valor de

67 kN.

Page 206: universidade de brasília faculdade de tecnologia departamento de ...

178

0

5

10

15

20

25

0 50 100 150 200carga (kN)

reca

lque

(mm

) Caso 1 Caso 2 Caso 3

Figura 6.10 – Análise com o GARP6 de uma sapata sobre uma estaca com três formas

distintas de representar o comportamento da estaca.

Na Figura 6.10, basicamente observa-se que:

- o “caso 3” pode ser considerado como a resposta mais coerente, pois se utilizou

uma equação hiperbólica para simular o comportamento da estaca até grandes

deformações após sua completa mobilização;

- nos casos “1” e “2”, o processo simples de limitar a carga, não foi capaz de

representar o deslizamento estaca/solo, após a estaca ter alcançado o seu limite

de carga (não alterando-se sua rigidez a partir deste ponto).

- o “caso 2” começou a representar o comportamento não-linear da fundação,

enquanto o programa permitiu a redução de sua rigidez, coincidindo com a curva

3. Após a estaca atingir o seu valor máximo de carga, sua rigidez foi mantida

constante (em 9000 kN/m – ver Eq. (6.30)), resultando numa alteração da

inclinação da curva e impondo uma inaceitável resposta “trilinear” para a

fundação.

Conclui-se, portanto, que o simples fato de se limitar a carga máxima nas estacas,

como no programa GARP6, não representa corretamente o comportamento da fundação após

a mobilização completa de carga nas estacas.

Page 207: universidade de brasília faculdade de tecnologia departamento de ...

179

6.2 – MÉTODO PROPOSTO

A sapata estaqueada pode ser considerada como a associação de duas partes, a sapata

e o grupo de estacas. Quando se carrega esta fundação, a carga total é dividida entre o grupo

de estacas e a sapata, dependendo da rigidez individual de cada parte.

No início do carregamento, o grupo de estacas não somente suporta uma grande

parcela da carga, como também controla o recalque da fundação em função da magnitude de

sua rigidez, que é, em geral, maior do que a da sapata.

No momento em que a primeira estaca do grupo atingir sua capacidade máxima de

carga, ocorrerá uma redistribuição da carga excedente entre as outras estacas e a própria

sapata. Este processo se repetirá à medida que novas estacas sejam totalmente mobilizadas,

até a última estaca atingir o seu limite de carga.

Após todas as estacas serem completamente mobilizadas, o comportamento global da

fundação será alterado. As estacas ainda suportarão uma parcela de carga aproximadamente

constante, geralmente a capacidade de carga máxima do grupo, e todo o acréscimo de carga

será suportado pela sapata, que assim passa a controlar a resposta carga-recalque da fundação.

As estacas totalmente mobilizadas passarão a deslizar em relação ao solo, devido ao

recalque da fundação. Com isto deixa de ter sentido físico a definição de “rigidez” para as

estacas, pois o seu recalque não mais será uma função da carga atuante, que agora será

constante. A relação carga/recalque em cada estaca não mais será conhecida, mas sim a

conseqüência do nível de recalque que a fundação sofrerá como um todo.

Em termos de programação, não mais será possível montar uma “matriz de rigidez

total” para a fundação, em função da rigidez de cada componente da mesma, como se faz,

usualmente, em um estágio de carga onde as estacas estejam atuando abaixo do seu limite de

carga. Anteriormente se conhecia a rigidez de todos os elementos e se determinava a carga

nestes elementos. Após a completa mobilização de todas as estacas, no entanto, o que se

conhecerá será a carga em cada elemento, e não mais sua rigidez.

Em função disto, foi desenvolvida uma nova rotina no programa GARP, doravante

denominado GARP7, onde cada estaca, após ultrapassar sua carga última, não terá mais este

limite de carga imposto à mesma. Permitiu-se uma redução na “rigidez” desta estaca,

iterativamente, até que a mesma recebesse a carga máxima conhecida previamente. A redução

de rigidez da mesma é equivalente a se deixar a estaca recalcar até o ponto onde a mesma,

naturalmente, venha receber uma carga passível de ser suportada (seu limite máximo). O

programa permite que a rigidez de cada estaca seja variada independentemente, até que o

Page 208: universidade de brasília faculdade de tecnologia departamento de ...

180

critério de suportar a carga máxima naturalmente seja plenamente satisfeito para todo o

conjunto de estacas. Em função da flexibilidade do radier e do posicionamento das estacas no

sistema de fundação, apenas uma combinação de “rigidezes reduzidas” será encontrada.

A Figura 6.11 apresenta a análise da sapata sobre uma estaca, descrita na Figura 6.9,

com o programa GARP7, considerando-se as três formas distintas de simulação do

comportamento da estaca isolada, segundo as Eqs. (6.29), (6.30) e (6.31).

0

5

10

15

20

25

0 30 60 90 120 150 180carga (kN)

reca

lque

(mm

)

GARP6 (caso3)caso 1caso 2 caso 3

GARP7

Figura 6.11 – Análise da sapata sobre uma estaca com o GARP7, para as três formas distintas

de retroanálise.

Na Figura 6.11, pode-se observar:

- os resultados da análise com o programa GARP7 para os três “casos” foram

praticamente coincidentes, mostrando que a resposta da estaca na fase do

deslizamento (“slip”) independe do nível de deslocamento que tenha sido

retroanalisado;

- os três “casos”, além da coincidência entre si, foram idênticos ao resultado do

programa GARP6 (no caso 3), onde o comportamento da estaca havia sido

simulado até os elevados níveis de recalque. Este resultado é muito interessante e

reforça a confiança na hipótese adotada no programa GARP7, ou seja, ao se

permitir que a rigidez fosse reduzida iterativamente (GARP7), foi obtido o

Page 209: universidade de brasília faculdade de tecnologia departamento de ...

181

mesmo resultado, anteriormente encontrado, com a simulação do “slip” da estaca

através de uma curva extremamente não linear, utilizando-se o GARP6.

A Figura 6.12 apresenta um outro exemplo de sapata sobre uma estaca, onde se

considerou três valores distintos de rigidez para a estaca, mas com a mesma carga última. As

análises pelo método anterior (GARP6) e com o novo método apresentado (GARP7) são

comparadas na Figura 6.13.

Nota-se que na análise com o GARP6, o valor inicial da rigidez interfere no resultado

do recalque da fundação após a completa mobilização da estaca. Já com o programa GARP7,

após a completa mobilização de carga na estaca (esta recebendo 100 kN), os três casos

produziram respostas iguais. Tal resultado é mais coerente, pois após a mobilização total de

carga na estaca sua rigidez deixa de ter significado físico, e quem passa a controlar o processo

de recalque é a sapata e não mais a estaca. A estaca, por sua vez, estará se deslocando

“livremente” em relação ao solo.

1m 5 m 0,2m 10 m 1 m

Sapata : Er = 20000 MPa t = 0,2 m

νr = 0,2

Solo : Es = 20 MPa νs = 0,35

Estaca :

P (kN) 100 rigidez : Kp1 = 30000 kN/m Kp2 = 25000 kN/m Kp3 = 20000 kN/m recalque (mm) Figura 6.12 – Exemplo de uma sapata sobre uma estaca, variando-se a rigidez inicial da

estaca.

Page 210: universidade de brasília faculdade de tecnologia departamento de ...

182

Figura 6.13 – GARP7 x GARP6 – sapata sobre uma estaca com diferentes valores de rigidez

inicial da estaca.

6.3 – EQUAÇÕES DO MÉTODO SIMPLIFICADO

Tentando representar o raciocínio do novo método através de equações simples e

aproximadas, para que possam ser aplicadas na fase de anteprojeto de uma sapata estaqueada,

imaginou-se este tipo de fundação como a associação de duas partes distintas que interagem

entre si, ou seja, a sapata (ou radier) e o grupo de estacas, conforme Figura 6.14.

P Figura 6.14 – Vista esquemática de um radier estaqueado.

0

2

4

6

8

10

12

14

0 50 100 150 200 250 300 350carga (kN)

reca

lque

(mm

)

GARP6 (Kp1) GARP7 (Kp1)

GARP6 (Kp2) GARP7 (Kp2)

GARP6 (Kp3) GARP7 (Kp3)

Pr

Ppg

Page 211: universidade de brasília faculdade de tecnologia departamento de ...

183

A carga total aplicada ao sistema será dividida entre a sapata e o grupo de estacas

P = Pr + Ppg (6.32)

PP

pg=β

(6.33)

Ppg = β P (6.34)

Pr = (1-β) P (6.35)

onde : P = carga total aplicada;

Pr = parcela de carga suportada pela sapata;

Ppg = parcela de carga atuante no grupo das estacas;

β = proporção de carga atuante nas estacas.

Denominando por “Kpr” a rigidez da sapata estaqueada e “Kr” a rigidez da sapata

isolada, poder-se-ia calcular o recalque destas duas fundações, “Spr” e “Sr” respectivamente,

como:

S = P

K pr

pr (recalque da sapata estaqueada sob carga “P”) (6.36)

S = PK

rr

r (recalque da sapata isolada sob carga “Pr”) (6.37)

Considerando-se a sapata estaqueada como a associação de duas partes (sapata e

grupo de estacas), que por compatibilidade terão o mesmo deslocamento, pode-se imaginar a

sapata estaqueada representada por uma sapata “isolada” que terá o seu comportamento

alterado pela presença do grupo de estacas.

Será definido o fator RG – “fator de modificação do recalque da sapata” – numa

maneira similar ao que se faz para grupos de estacas, de forma a correlacionar o recalque que

a sapata terá como parte integrante da sapata estaqueada, ao que ela teria se isolada.

Page 212: universidade de brasília faculdade de tecnologia departamento de ...

184

SS

=RG r

pr (6.38)

Substituindo as Eq. (6.35) a (6.37) na Eq. (6.38), tem-se:

( ) ( ) K -1

K =

KP -1

KP

=

KP

KP

= SS

=RG pr

r

r

pr

r

r

pr

r

pr

ββ (6.39)

ou de outra forma:

( ) ( ) K -1

PKP

K -1

K = S .RG = S

pr

r

r

r

pr

rrpr ββ

= (6.40)

Desta forma, estimando-se a distribuição de carga (β) e a rigidez da sapata

estaqueada (Kpr), pode-se calcular o recalque desta fundação.

Denominando-se por (Pa) a carga total aplicada a sapata estaqueada que corresponde

ao momento de completa mobilização de todo o grupo de estacas, tem-se:

P =P apu

β (6.41)

onde : Ppu = carga última do grupo de estacas (“n” vezes a carga máxima de cada estaca).

Como a interação do grupo de estacas com a sapata está representada através do fator

RG, a Eq. (6.40) pode ser utilizada antes ou após a total mobilização das estacas, sendo:

(i) se P ≤ Pa , ( )P = P 1-r β :

( )

( ) prprpr K

P=K -1

-1 P=Sβ

β (6.42)

o que é o correto, pela própria definição de “Kpr”.

Page 213: universidade de brasília faculdade de tecnologia departamento de ...

185

(ii) se P > Pa , P = P - F P r m pu :

S = RG P - F P

Kprm pu

r (6.43)

onde Fm é um fator de mobilização de carga máxima no grupo, conforme sugerido por

Burland (1995).

O “método simplificado”, através das Eq. (6.42) e (6.43), fornece uma maneira fácil

de se prever o recalque de um radier estaqueado numa etapa preliminar de projeto, Se nenhum

programa específico estiver disponível, o valor de “Kr” pode ser estimado, usando-se uma das

muitas soluções da Teoria da Elasticidade, enquanto que “Kpr” e “β” podem ser calculados

pela formulação aproximada de Randolph (1994).

Na definição de RG, Eq. (6.39), após a mobilização da carga última do grupo, os

valores de β e Kpr serão reduzidos. Admitindo que a variação de ambos os parâmetros se dará

de maneira proporcional, pode-se considerar o produto “(1-β) Kpr” como constante e igual ao

valor inicial (antes da carga última). Esta simplificação foi testada para inúmeras sapatas

estaqueadas e mostrou-se bastante razoável, como será ilustrado em alguns exemplos a seguir.

Para efeito de uma melhor comparação entre o método simplificado e o programa

GARP7, serão utilizados os mesmos parâmetros básicos (Kr, Kpr e β) obtidos com o programa

GARP6 para o início do carregamento. Vale lembrar que antes da mobilização da primeira

estaca, os programas GARP6 e GARP7 fornecem resultados idênticos.

a) Sapata sobre quatro estacas (ver Figura 6.3):

A Figura 6.15 compara as previsões obtidas com os programas GARP6, GARP7 e do

método simplificado, para o mesmo problema analisado anteriormente. Nestas equações

foram utilizados os seguintes parâmetros: Kr = 27719,51 , Kpr = 79702,21 e β = 90,93%.

Antes da mobilização completa das estacas (carga inferior a 550 kN) era esperada a

coincidência entre os três processos de cálculo, uma vez que os programas GARP6 e GARP7

são idênticos neste fase e, pela própria definição de Kpr, as equações também deveriam dar os

mesmos resultados pois o valor utilizado de Kpr foi o obtido nos programas. Entretanto, o que

chama a atenção é a excelente aproximação entre os resultados obtidos pelo método

Page 214: universidade de brasília faculdade de tecnologia departamento de ...

186

simplificado e o GARP7, supondo ser constante o produto “(1-β).Kpr” no cálculo de RG –

Eq.(6.39). A diferença entre os resultados do GARP6 e GARP7 é bastante grande após as

estacas terem atingido suas cargas últimas.

0

10

20

30

40

50

60

0 200 400 600 800 1000carga (kN)

reca

lque

(mm

) Garp6

Garp7

Método simplificado

Figura 6.15 – Sapata sobre quatro estacas – GARP6 x Novo método.

b) Sapata sobre 16 estacas (ver Figura 6.6):

Para este exemplo, novamente são comparados os resultados obtidos com os programas

GARP6, GARP7 e pelo método simplificado. Nas equações foram utilizados os parâmetros

obtidos com os programas, para baixos valores de carga (com nenhuma estaca totalmente

mobilizada): Kr = 27719,51 , Kpr = 79702,21 e β = 90,93%. A Figura 6.16 apresenta a

comparação entre as três formas de previsão.

Mais uma vez observa-se uma excelente concordância entre GARP7 e os resultados

do método simplificado, após a completa mobilização das estacas. No trecho entre 140 e 160

MN observa-se um pequeno distanciamento entre estes processos de cálculo, pois o programa

trata as estacas individualmente e as equações não. No programa GARP7, após a primeira

estaca atingir sua carga limite, já se observa um acréscimo nos recalques.

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187

0

100

200

300

400

500

600

700

0 50 100 150 200 250carga (MN)

reca

lque

(mm

) Garp6

GARP7

Método simplificado

Figura 6.16 – Sapata sobre 16 estacas (problema do TC-18) – GARP6 x Novo método.

A previsão do recalque obtida com o GARP6 para cargas mais elevadas, neste

exemplo e também no anterior, teve menor magnitude do que a previsão com o GARP7.

Embora não se tenha o resultado da prova de carga para o problema proposto pelo TC-18,

acredita-se que a previsão com o GARP7 seja mais coerente. Devido ao comprimento das

estacas (30m), e ao pequeno espaçamento entre elas, a rigidez calculada por diferentes

métodos para a sapata isolada é apenas 10-17% do valor previsto para o grupo das 16 estacas.

Com isto, após a mobilização completa de todas as estacas, quando o “controle” do recalque

passar a ser competência da sapata, é de se esperar uma alteração brusca do comportamento

da fundação, fato não evidenciado nas previsões com o GARP6.

A Figura 6.17 compara os resultados obtidos pelo GARP7 e GARP6 com o de outros

autores que analisaram o mesmo problema com diferentes programas, como PIRAF (Sales et

al., 2000), HyPR (Horikoshi & Randolph, 1998) e KURP (Matsumoto, 1998). Com exceção

do GARP7, todos os outros programas utilizam o processo de apenas limitar a carga máxima

(“load cut-off”). De uma forma geral nenhum dos programas, exceto o GARP7, foi capaz de

prever uma mudança brusca na curva carga-recalque após a completa mobilização das 16

estacas da fundação em questão.

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188

0

100

200

300

400

500

600

700

0 50 100 150 200 250 300carga (MN)

reca

lque

(mm

)

GARP7GARP6PIRAFHyPRKURP

Figura 6.17 – Radier sobre 16 estacas – Comparação do GARP7 com outros programas.

6.4 – REAVALIAÇÃO DOS ENSAIOS DA UnB COM O NOVO MÉTODO

Dentre todos os testes analisados no Capítulo 5, apenas os testes das sapatas sobre

uma estaca, com solo natural e inundado, possuíram um trecho onde a estaca estava

totalmente mobilizada e a sapata ainda suportava o excesso da carga atuante, com o

comportamento bilinear claramente evidenciado. Nos testes de sapata sobre quatro estacas a

total mobilização de carga nas estacas ocorreu próximo à carga última de todo o sistema

(estacas + sapata), quando os testes tiveram de ser interrompidos, não caracterizando, assim o

segundo trecho do comportamento bilinear. Os dados utilizados nas análises seguintes foram

os mesmos já comentados nos itens 5.1.3 e 5.2.3.

6.4.1 – Solo com umidade natural

A Figura 6.18 apresenta a re-análise do ensaio de uma sapata sobre uma estaca (teste

III), utilizando-se o programa GARP7, e compara com a previsão anteriormente feita com

GARP6, mostrado na Figura 5.13. Nota-se que o resultado com o GARP7 se aproximou mais

dos dados experimentais, conseguindo prever uma mudança mais acentuada da resposta da

fundação após a mobilização completa de carga na estaca, conforme observado no campo.

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189

0

5

10

15

20

25

30

0 30 60 90 120 150 180carga (kN)

reca

lque

(mm

) teste

GARP7

GARP6

Figura 6.18 – Sapata sobre uma estaca (UnB) – GARP7 x GARP6.

Utilizando-se os valores retroanalisados nos ensaios de radier isolado (Kr = 7268

kN/m) e a previsão de Kpr = 24767 kN/m e β = 81,65 %, obtidos com o GARP6 (ou também

GARP7) para o início do carregamento, fez-se a previsão do comportamento da sapata sobre

uma estaca com o método simplificado. A Figura 6.19 mostra a comparação destes resultados,

onde se nota uma excelente aproximação entre os valores obtidos com o GARP7 e com o

método simplificado, e ambos se encontram próximos aos valores experimentais.

0

5

10

15

20

25

30

0 30 60 90 120 150 180carga (kN)

reca

lque

(mm

)

teste

GARP7

Método simplificado

Figura 6.19 – Sapata sobre uma estaca (UnB) em solo natural - GARP7 x Método

simplificado.

Page 218: universidade de brasília faculdade de tecnologia departamento de ...

190

6.4.2 – Solo pré-inundado

As Figuras 6.20a e 6.20b comparam as previsões feitas com GARP6 e GARP7 para o

ensaio com a sapata sobre uma estaca (teste IX) no Campo Experimental da UnB, com os

valores de recalque medidos no centro e canto da sapata, respectivamente.

0

5

10

15

20

25

30

35

0 50 100 150carga (kN)

reca

lque

(mm

)

testeGARP7GARP6

0

5

10

15

20

25

0 50 100 150carga (kN)

reca

lque

(mm

)

testeGARP7GARP6

(a) centro (b) canto

Figura 6.20 – Sapata sobre uma estaca (UnB) em solo pré-inundado - GARP7 x GARP6.

Observa-se que o programa GARP7 conseguiu uma simulação muito melhor do

teste, inclusive ao se incorporar a não-linearidade do solo, sob a sapata, quando este já se

aproximava da ruptura (cargas acima de 100 kN).

A Figura 6.21 mostra o mesmo teste e a comparação entre os resultados do GARP7

com os valores encontrados pelo método simplificado para os recalques medidos no centro da

sapata. Mais uma vez os resultados com o GARP7 e os do método simplificado ficaram muito

próximos, conseguindo prever muito bem o comportamento registrado em campo. A não-

linearidade do solo também pode ser considerada no método simplificado, bastando para isto

alterar o valor do módulo elástico (Es) em função do nível de carga. Isto implica na alteração

do valor de “Kr” para cada estágio de carga. Como a rigidez “Kr” é diretamente proporcional

ao valor de “Es”, basta variar o primeiro proporcionalmente ao segundo.

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191

0

5

10

15

20

25

30

35

0 20 40 60 80 100 120 140carga (kN)

reca

lque

(mm

)

testeGARP7Método simplificado

Figura 6.21 – Sapata sobre uma estaca (UnB) em solo pré-inundado - GARP7 x Método

simplificado.

6.5 – ANÁLISE DE ALGUNS CASOS DA LITERATURA

São raros os casos onde foram realizados testes de campo, em que o conjunto de

estacas tenha sido totalmente mobilizado, e ainda tenha se continuado o teste para se observar

o comportamento da fundação na segunda etapa, na qual a sapata (bloco ou radier) comanda o

comportamento carga-recalque. Os únicos dois casos encontrados foram analisados com o

emprego do programa GARP7.

a) Décourt et al. (1995)

Estes autores apresentaram os resultados de uma prova de carga com uma sapata

sobre uma estaca, denominada naquele artigo por “estaca-T”.

Trata-se de uma sapata quadrada de 2,5x2,5m com altura de 1,6m. A estaca utilizada

e do tipo pré-moldada de concreto, com comprimento de 10m e diâmetro externo de 50cm

(interno de 32cm).

No local em estudo, predomina um solo residual de migmatito, com textura de uma

areia siltosa, com granulometria de fina a média. Os valores de NSPT encontrados pelos

autores cresciam com a profundidade, variando de 5 a 19 entre as cotas de 0 a 10m.

Page 220: universidade de brasília faculdade de tecnologia departamento de ...

192

Além da referida prova de carga, também foram ensaiadas as situações com a sapata

e estaca isoladas. Maiores detalhes podem ser obtidos em Décourt et al. (1995).

O comportamento da estaca isolada, conforme a Figura 6.22, foi retroanalisado,

através de ajuste de curva, determinando-se a rigidez da estaca em função do nível da carga

atuante na mesma. Chegou-se a seguinte expressão para representar a resposta não-linear da

mesma:

⎥⎥⎦

⎢⎢⎣

⎡⎟⎠⎞

⎜⎝⎛=

23

P 2100P0,13-1226000 K (kN/m)

(6.44)

Figura 6.22 – Retroanálise da resposta carga-recalque de uma estaca isolada, em teste

realizado por Decourt et al. (1995).

Para a retroanálise do módulo elástico do solo, utilizou-se o programa GARP7 para

simular os dados experimentais da prova de carga com a sapata isolada. A Figura 6.23 mostra

os valores obtidos no teste e a curva carga-recalque conseguida, variando-se os valores do

módulo elástico médio do solo. A melhor expressão encontrada para representar a variação do

módulo elástico foi a do tipo “potência”, na forma:

-1,255

s P x 734700 E = (kPa) (6.45)

0

5

10

15

20

0 500 1000 1500 2000 2500carga (tf)

reca

lque

(mm

)

teste

retroanálise

Page 221: universidade de brasília faculdade de tecnologia departamento de ...

193

Figura 6.23 – Retroanálise da resposta carga-recalque de uma sapata isolada, em teste

realizado por Décourt et al. (1995).

Com estes parâmetros retroanalisados, fez-se a previsão do comportamento de uma

sapata sobre uma estaca, nas mesmas condições do solo. A Figura 6.24 compara os resultados

obtidos por Décourt et al. (1995) e as previsões com os programas GARP6 (metodologia

antiga) e GARP7 (novo modelo proposto).

Figura 6.24 – Teste x Previsão com GARP7 para uma sapata sobre uma estaca.

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

0 500 1000 1500 2000 2500 3000 3500 4000 4500 5000carga (kN)

reca

lque

(mm

)

teste

GARP7

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

0 1000 2000 3000 4000 5000 6000 7000carga (kN)

reca

lque

(mm

)

teste

GARP7

GARP6

Page 222: universidade de brasília faculdade de tecnologia departamento de ...

194

Observa-se na Figura 6.24, que ambas as previsões podem ser consideradas boas,

mas os resultados do GARP7 foram consideravelmente melhores na segunda etapa do ensaio

(acima de 4000kN), quando a estaca já havia sido totalmente mobilizada. O GARP7

conseguiu representar, com maior precisão, a elevada alteração do comportamento da

fundação.

b) Koizumi & Ito (1967)

Estes autores apresentaram um ensaio com um grupo de 9 estacas, em que o bloco se

apoiava no solo. O nível de carga da referida prova de carga transcendeu a capacidade do

grupo das estacas. Mais recentemente este ensaio foi analisado e apresentado em Chow & Teh

(1991).

A fundação ensaiada era composta por um bloco rígido de 2,7x2,7m, interligando 9

estacas metálicas com espaçamento entre as mesmas de três vezes o diâmetro. As estacas

eram tubos de aço com 300mm de diâmetro, parede de 3,2mm, ponta fechada e comprimento

cravado de 5,55m.

O perfil do solo no local do ensaio era composto por uma camada superior de argila

siltosa, levemente orgânica, com espessura de 13,5m. Sob esta camada, encontravam-se

camadas de cascalho e areia densa até se atingir a rocha alterada (em cota não especificada).

Chow & Teh (1991) sugeriram que, para a camada de argila, poder-se-ia considerar

que a resistência ao cisalhamento variava de 25 a 40 kPa, entre a superfície e a cota da ponta

da estaca. Estes autores consideraram um coeficiente de Poisson de 0,499 e uma variação

crescente e linear para o módulo elástico do solo, segundo a expressão:

(MPa) 1,352.z12,5 E s += (6.46)

Entrando com os dados acima citados no programa DEFPIG (Poulos, 1980), obteve-

se a estimativa da rigidez linear da estaca (Kp = 76452,6 kN/m) e os fatores de interação entre

elementos próximos.

Para a estimativa da carga última da estaca, e do recalque imediato desta, admitiu-se

uma adesão lateral de “0,4” (40% do valor da coesão) e um Fator Nc de capacidade de carga

igual a 9, resultando assim numa carga última de 92,83kN.

Com todos os dados básicos acima descritos, previu-se o comportamento da “sapata

sobre 9 estacas”. A Figura 6.25 compara os resultados do ensaio com as previsões de Chow &

Teh (1991), bem como os resultados encontrados com os programas GARP6 e GARP7.

Page 223: universidade de brasília faculdade de tecnologia departamento de ...

195

Ressalta-se que Chow & Teh (1991 se concentraram somente no trecho elástico sem limitar a

capacidade máxima de carga nas estacas.

Figura 6.25 – Teste x Previsão de uma sapata sobre nove estacas – Ensaio de Koizumi & Ito

(1967).

Nota-se na Figura 6.25, que:

- no trecho inicial, entre 0 e 600 kN, todas as previsões foram muito semelhantes

entre si, e também bastante próximas dos resultados experimentais;

- A previsão de Chow & Teh (1991) se distancia bastante dos valores medidos

após a completa mobilização da carga nas estacas, visto que não limita a

capacidade de carga das estacas;

- O programa GARP6 previu uma alteração do comportamento da fundação após

800 kN, com valores de recalques bem menores do que os medidos;

- O programa GARP7 superestimou os recalques medidos, mas foi o que melhor

representou ar a alteração de comportamento da fundação.

Resumindo, após a análise de quatro casos reais (dois neste item e duas provas de

carga na UnB) e outros teóricos, observa-se que o desempenho das previsões com o programa

GARP7 foi melhor do que com os outros métodos que apenas consideram o limite de carga

máxima (“load cut-off”), sem interferir no comportamento da estaca após sua total

mobilização de carga.

0

5

10

15

20

25

0 200 400 600 800 1000 1200 1400

carga (kN)

reca

lque

(mm

)

TesteChow & Teh (1991)GARP6GARP7

Page 224: universidade de brasília faculdade de tecnologia departamento de ...

196

7 – CONCLUSÕES E SUGESTÕES

A presente pesquisa buscou revisar os métodos de análise de sistemas de fundação

que envolvem a associação de uma sapata, ou radier, com um grupo de estacas, sendo ambas

as partes efetivamente responsáveis pela resposta carga x recalque da fundação.

Foram feitos nove provas de carga com elementos isolados, e também associados, na

argila porosa de Brasília, no Campo Experimental da UnB. Estes testes foram analisados e

comparados com as previsões feitas com um programa híbrido, mostrando uma acurácia

muito boa, na maioria dos casos.

Por fim, analisou-se a forma de se considerar estacas com sua capacidade de carga

totalmente mobilizada, em sistemas de fundação do tipo sapatas estaqueadas. Considerou-se

que o corrente procedimento, usado por diversos programas aproximados, não reflete a

realidade coerentemente. Propôs-se, então, uma nova metodologia, que foi implementada em

um conhecido programa, bem com apresentada sob forma de equações simplificadas para

serem usadas na fase preliminar de projeto deste tipo de fundação. Aplicou-se esta nova

metodologia na análise de quatro provas de carga, encontrando-se uma melhor acurácia na

previsão dos resultados experimentais.

Apresenta-se, a seguir, as principais observações e conclusões apontadas no decorrer

de todo o texto. Os comentários estão organizados segundo os capítulos onde foram citados.

Termina-se este capítulo com algumas sugestões para pesquisas futuras.

7.1 – OBSERVAÇÕES GERAIS

Capítulo 2

♦ Nota-se nos artigos revisados um crescente reconhecimento da vantagem da

utilização de estacas como elementos redutores de recalque;

♦ Com base nos diversos ensaios apresentados, tanto de laboratório quanto de

campo, o comportamento da estaca é modificado devido à presença de um elemento

Page 225: universidade de brasília faculdade de tecnologia departamento de ...

197

superficial em contato com o solo. Entretanto não há uma concordância entre os

resultados. Em alguns casos a capacidade de carga da estaca foi majorada, mas em

outros foi minorada. O mesmo ocorreu com a rigidez da estaca, que, em alguns

casos, foi maior, porém menor em outros;

♦ Poucas ainda são as obras, em todo o mundo, em que se utilizou o conceito de

“radier estaqueado” como a solução para a fundação. Porém, todos os autores, que o

fizeram, apontam diversas vantagens na escolha desta forma de fundação para alguns

tipos particulares de perfis de solo;

♦ Algumas obras citadas, principalmente em Frankfurt na Alemanha,

apresentaram um bom desempenho de suas fundações em radier estaqueado, onde o

conjunto das estacas foi totalmente mobilizado;

♦ Em obras instrumentadas, foi constatado que a mobilização máxima do atrito

lateral, em sapatas estaqueadas, ocorre de baixo para cima, ou seja, o valor máximo é

mobilizado primeiro próximo à ponta. Fato inverso, normalmente, ocorre com uma

estaca isolada, onde a mobilização máxima ocorre inicialmente próximo ao topo da

estacas;

♦ A capacidade de carga de uma sapata estaqueada, conforme os diversos

trabalhos citados, pode ser calculada como a simples soma algébrica das capacidades

individuais da sapata e do conjunto de estacas (limite inferior), ou ainda se

considerar a sinergia proveniente da interação entre as partes (limite superior);

♦ Diversos são os métodos simplificados para a estimativa do recalque de um

radier estaqueado (adaptados da análise de grupos de estacas). Alguns autores

mencionam que, em muitos casos, os métodos “radier equivalente” e “tubulão

equivalente” apresentaram bons resultados na estimativa do recalque médio;

♦ A tendência atual tem sido o desenvolvimento de métodos numéricos

aproximados para a análise específica do comportamento de um radier estaqueado. A

maioria destes métodos aproximados combina o M.E.F., na análise do radier, com o

M.E.C., na análise das estacas, via fatores de interação;

♦ Os métodos de projeto de uma sapata estaqueada podem ser agrupados em

quatro filosofias básicas. A primeira considera o papel da sapata, mas ainda com um

elevado fator de segurança para as estacas. A segunda admite que as estacas

trabalhem com um baixo fator de segurança. A terceira se preocupa principalmente

com o recalque diferencial, mesmo que o recalque médio seja pouco reduzido. A

Page 226: universidade de brasília faculdade de tecnologia departamento de ...

198

mais recente filosofia busca a otimização do número e posição das estacas,

admitindo-se ainda que algumas, ou todas estacas, possam ser totalmente

mobilizadas;

♦ Em solos colapsíveis se revisou a importância do processo de inundação, bem

como a forma de execução das provas de carga, no estudo do desempenho de

fundações neste tipo de solo.

Capítulo 3

♦ Comparou-se o desempenho de um programa “aproximado” (GARP) e outro

baseado no M.E.F. (ALLFINE) com os resultados de vários outros programas na

análise de alguns exemplos de radier estaqueado. De uma forma geral, a

concordância com os outros programas pode ser considerada muito boa;

♦ A comparação de programas baseados no M.E.F. apresentaram uma maior

concordância entre si, do que os métodos aproximados, para os vários casos

analisados;

♦ Nas várias análises feitas, as previsões de recalque foram mais próximas, entre

os diversos métodos, do que a estimativa da parcela de carga absorvida pela sapata;

♦ Comparando os programas que utilizam o M.E.F. com os “aproximados”,

notou-se uma tendência de previsão de menores recalques pelos primeiros;

♦ A melhor concordância entre os métodos depende de vários fatores, como a

rigidez relativa estaca/solo (K), o comprimento relativo da estaca (L/D) e o

espaçamento entre as mesmas (S/D);

♦ A margem de discrepância de ±20% entre diferentes formas de análise de

fundações, conforme sugerida como aceitável por Randolph(1994), para fundações

com mais de 100 estacas, parece ser perfeitamente aplicável para um radier sobre um

número qualquer de estacas;

Capítulo 4

♦ Comparando-se diversos ensaios na caracterização do Campo Experimental da

UnB, nota-se que a camada superficial (<2m) apresenta um menor potencial de

colapso por simples inundação do que o trecho inferior (de 2 a 6m), mesmo com um

alto índice de vazios;

Page 227: universidade de brasília faculdade de tecnologia departamento de ...

199

♦ A cravação de uma estaca metálica de pequeno diâmetro no solo poroso e

colapsível do Campo Experimental da UnB provocou uma grande redução no atrito

lateral, pela perda da adesão, implicando numa baixíssima capacidade de carga para

este tipo de estaca;

♦ O desempenho das células de carga construídas para esta pesquisa foi

excelente, tendo sido construídas com um custo relativamente baixo. As células de

carga suportaram, sem problemas, a energia de cravação da estaca metálica oriunda

do impacto do peso de 65 kgf, caindo de uma altura aproximada de 50cm;

♦ As provas de carga com estacas de concreto puderam ser realizadas de maneira

satisfatória, conforme o planejado. Apenas o sistema de reação apresentou algumas

falhas e por vezes se tornou perigoso para os operadores do teste;

♦ Noventa dias após a concretagem das estacas, todas as células de carga

posicionadas sob a ponta respondiam perfeitamente;

♦ A inundação das valas por 48h provocou um aumento considerável no teor de

umidade nos dois primeiros metros. Esta variação foi muito superior à provocada

pela estação chuvosa.

Capítulo 5

♦ Os ensaios de sapatas e estacas isoladas permitiram a retroanálise dos

parâmetros elásticos do solo. Os valores do módulo de Young, para estes dois testes,

não foram coincidentes, em função do nível de deformação imposto em cada ensaio.

Isto mostra a importância de se ter os ensaios individualizados da sapata e da estaca

para uma melhor previsão;

♦ O emprego do programa GARP se mostrou bastante adequado na previsão do

comportamento dos diversos testes realizados, tanto quanto aos recalques medidos e

à distribuição de carga entre os elementos. A obtenção dos parâmetros do solo por

retroanálise permitiu uma maior proximidade dos valores previstos em relação aos

medidos;

♦ A medição do recalque na sapata em três posições permitiu a estimativa do

módulo elástico do concreto da sapata e, com isto, identificar a baixa resistência

deste material. Este procedimento, ou mesmo a medição em todos os cantos da

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200

sapata, deveria ser empregado sempre que a previsão dos recalques diferenciais fosse

primordial;

♦ Nas análises feita, considerou-se a não-linearidade do solo, tanto na resposta

carga-recalque da estaca como da sapata;

♦ Os valores previstos pelo programa GARP6 foram muito bons na fase em que

as estacas ainda não estavam totalmente mobilizadas. Após este ponto, o programa

não foi capaz de simular a intensa mudança observada no comportamento da

fundação;

♦ Mesmo sendo um solo colapsível, o carregamento da estaca até sua capacidade

máxima de carga não alterou a rigidez da estaca nos recarregamentos seguintes.

Apenas o valor da carga última foi reduzido em 11% nos carregamentos “não-

virgens”;

♦ No grupo de quatro estacas, com S/D=5, ocorreu uma redução da rigidez das

estacas em função da interação entre as mesmas. No entanto, o valor da carga última

não foi alterado (eficiência = 1);

♦ No teste da sapata sobre quatro estacas, a interação entre a sapata e as estacas

deixou estas últimas menos rígidas, menos ainda do que havia ocorrido para o grupo

de quatro estacas. Na situação de sapata estaqueada, as estacas tiveram o seu valor

médio de carga última reduzido;

♦ A pré-inundação reduziu a capacidade da sapata em 40%, e a da estaca em

50%. Quanto à rigidez, não se pôde identificar uma tendência clara.

Capítulo 6

♦ Desenvolveu-se um método para considerar o comportamento das estacas após

sua total mobilização em um sistema de fundação do tipo sapata estaqueada. Esta

metodologia foi implementada no programa GARP, gerando a versão GARP7. Os

resultados obtidos para casos teóricos foram muito mais coerentes;

♦ Estabeleceu-se, ainda, um conjunto de equações simplificadas para a estimativa

dos recalques de forma manual. Este método simplificado pode ser utilizado nas

etapas preliminares do dimensionamento da fundação. A comparação dos resultados

destas equações com os obtidos pelo programa GARP7 foi muito boa em todos os

casos testados;

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201

♦ O artifício empregado no programa GARP6 (“load cut-off”), que é o mesmo de

diversos outros programas, considera que, após a completa mobilização das estacas,

a fundação atua como se apenas a sapata existisse, sem nenhuma interferência do

grupo das estacas. Esta hipótese corresponde aos métodos simplificados de Poulos &

Davis (1980) e Poulos (1998b);

♦ O emprego do programa GARP7 nos testes do Campo Experimental da UnB

forneceram resultados mais realistas do que a versão GARP6, para qualquer estágio

do carregamento;

♦ Dois casos encontrados na literatura, em que o teste atingiu valores de carga

suficientes para ultrapassar a mobilização máxima da capacidade de carga das

estacas, foram analisados com os programas GARP6 e GARP7. Novamente o

desempenho do programa GARP7 foi superior ao do GARP6;

♦ O procedimento de simplesmente se truncar a carga máxima das estacas, após

seus valores últimos serem atingidos, não consegue, em geral, refletir a grande

alteração do comportamento da fundação, ocorrido após este estágio. Isto fez com

que o programa GARP6 subestimasse os recalques, o que, em termos de projeto,

estaria contrário à segurança do dimensionamento;

♦ O emprego de sapatas estaqueadas na argila porosa de Brasília mostrou uma

melhora considerável do desempenho da fundação, quando comparada ao caso de

uma sapata isolada. Isto sem dúvida levará a mais uma alternativa econômica a ser

considerada em situações onde os recalque de fundações rasas sejam elevados;

♦ O fato do solo superficial de grande parte da área do Distrito Federal ser

“colapsível” não inviabiliza o emprego de fundações rasas, ou mistas, em obras de

pequeno e médio porte. Entretanto, faz-se necessário o estudo de seu comportamento

diante de um possível aumento do teor de umidade, o que viria a provocar uma

redução na capacidade de carga desta fundação. A forma “ideal” desta avaliação

ainda não está normatizada, mas a pré-inundação em provas de carga parece ser uma

boa opção, embora deva se definir ainda como fazê-la.

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202

7.2 – CONCLUSÕES

♦ Conclui-se que os projetos de fundação podem, e devem, levar em conta a

mobilização total de carga em algumas, ou todas, estacas, segundo o conceito de

radier e sapata estaqueados, de forma a se obter respostas satisfatórias de ordem

técnica e aliadas a uma grande economia do projeto.

♦ A análise dos testes em sapatas estaqueadas, realizados na argila porosa de

Brasília (Campo Experimental da UnB), mostrou ser possível prever o

comportamento carga x recalque destas fundações, utilizando-se um programa

híbrido com parâmetros retroanalisados de ensaios com sapata e estaca isolados;

♦ Com base nas provas de carga realizadas sob condição natural de umidade e

após uma fase de pré-inundação, conclui-se que pode-se empregar sapatas

estaqueadas no solo poroso de Brasília, desde que a possibilidade de uma eventual

alteração do teor de umidade seja devidamente estudada;

♦ Finalmente, conclui-se que o novo método apresentado para considerar estacas

com sua capacidade de carga totalmente mobilizada, em sistemas de sapatas

estaqueadas, apresentou resultados mais coerentes e próximos dos dados

experimentais nos casos analisados.

7.3 – SUGESTÕES PARA PESQUISAS FUTURAS

Com base nos estudos realizados, propõe-se que :

♦ Novos testes de campo sejam feitos com outras configurações de sapatas

estaqueadas para o mesmo tipo de estaca (escavada), a fim de se ampliar a base de

dados ora iniciada; Torna-se imperativo expandir o banco de dados dos resultados de

campo de sapatas estaqueadas, face a escassez de resultados encontrados na literatura

internacional e brasileira. Sugere-se que nas próximas baterias de provas de carga

seja realizado, na medida do possível, mais de uma prova de carga de cada tipo de

fundação, de forma a se ter uma amostragem mais representativa, e com isto balizar

melhor as conclusões;

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♦ As estacas sejam mais instrumentadas, e não apenas no topo e ponta, para

melhor se compreender o mecanismo de transferência de carga na estaca, em função

da presença da sapata;

♦ Pesquisas semelhantes sejam realizadas com outros tipos de estacas e

condições de carregamento, e eventualmente a outros tipos de solos também, no

sentido de se obter conclusões mais genéricas para distintas aplicações de sapatas

estaqueadas;

♦ Sejam estudados os motivos pelos quais os programas em elementos finitos

tenderam a prever recalques menores do que os demais programas. Novos programas

híbridos, mas menos simplificados, poderão ajudar nestas comparações;

♦ O modelo proposto, e implementado no programa GARP7, seja testado contra

um número maior de testes para que se possa avaliar melhor a sua potencialidade,

visto que os primeiros resultados foram promissores. Seja feita a comparação entre

os resultados do programa GARP7 com previsões de programas com o M.E.F., que

empreguem elementos de junta e/ou modelos mais sofisticados na simulação do

“slip” das estacas, quando estas atingem os seus limites máximos de carga;

♦ Procure-se instrumentar obras reais, desde o seu início, de forma a se ter casos

reais em solos brasileiros, a fim de fornecer maiores subsídios para o estudo do

comportamento real de um sistema de fundação em sapata estaqueada. Isto

possibilitaria uma melhor calibração dos métodos numéricos empregados;

♦ Se avance na compreensão do comportamento de solos não-saturados,

avaliando-se o emprego de modelos constitutivos, apropriados para este tipo de solo,

consegue simular os resultados obtidos em campo.

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215

APÊNDICE A

CONCEPÇÃO DO PROGRAMA GARP

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Apresenta-se, neste item, um resumo das metodologias e formulações adotadas dentro

do programa GARP, a fim de esclarecer as simplificações que tornam este programa híbrido

em um programa do tipo “placa sobre molas”. Maiores detalhes sobre o programa podem ser

encontrados em Poulos (1994a) e Small & Poulos (1998).

A.1 – RADIER

O radier é discretizado em elementos finitos, do tipo “elementos planos de placa”. O

radier pode ter qualquer formato retangular, inclusive com elementos vazados.

Os elementos podem ter espessuras diferentes. Sobre estes se pode aplicar

combinações de esforços verticais (concentrados e distribuídos) e momentos fletores nas duas

direções do plano da placa. No caso de carregamentos distribuídos, estes devem ser constantes

dentro de um certo elemento, mas podem variar entre elementos.

A.2 – DESLOCAMENTOS DO SOLO

Assume-se o solo como um meio elástico contínuo, e os deslocamentos do solo abaixo

dos elementos do radier podem ser provenientes de duas fontes:

- das pressões de contato desenvolvidas entre o radier e o solo;

- dos “campos de deslocamentos” impostos ao solo, para simular ações

externas que impõem deslocamentos ao solo, como adensamento, colapso,

expansão, etc.

Enquanto o solo permanece elástico, o incremento de deslocamento do solo, pode ser

expresso por :

[ ] oss S pI ∆+∆=∆ρ (A.1)

onde : sρ∆ é o vetor do incremento de deslocamento do solo;

[ ]sI é a matriz dos coeficientes de influência de deslocamento do solo;

p∆ é o vetor do incremento das pressões de contato;

oS∆ é o vetor de campos externos de deslocamento.

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Os componentes da matriz [ ]sI podem ser calculados pela Teoria da Elasticidade,

usando as soluções de Boussinesq (radier na superfície) e Mindlin (radier subsuperficial) Por

simplicidade divide-se cada elemento numa série de subelementos (4 ou 16).

O solo é dividido em várias camadas, para melhor representar a heterogeneidade do

solo. Cada camada pode ser subdividida em 5 a 10 camadas. Estima-se a deformação no

centro de cada subcamada em função da séries de carga pontuais consideradas. O

deslocamento em um ponto sob o elemento (j), em função de uma carga aplicada no elemento

(i), é calculado como sendo o somatório das deformações das várias subcamadas abaixo

daquele ponto. Desta forma monta-se a matriz [ ]sI .

Pode-se limitar as tensões máximas e mínimas nos elementos do solo sob o radier, a

fim de simular o limite da capacidade de suporte, elemento por elemento, bem como evitar

tensões de tração nos elementos do solo. Para incorporar estes limites de tensão em alguns

elementos, a equação dos deslocamentos incrementais do solo pode ser escrita da forma:

[ ] [ ] [ ][ ] [ ] [ ] [ ] [ ] [ ] pTutTpcuccoEsEpsE pF - pF pF - pF SF pIF pF F ++∆+∆=∆+∆ρ (A.2)

ou

[ ] [ ] [ ] [ ] [ ] [ ] pTcutTuccoEpsEsE pFF - pF pF SF pF-IF F +++∆+∆=∆ρ (A.3)

onde : ucp é o vetor com os valores limites à compressão da pressão de contato;

utp é o vetor com os valores limites à tração da pressão de contato;

pp é o vetor com as pressões de contato existentes no incremento anterior;

[ ]EF é a matriz de estado elástico;

[ ]pF é a matriz de estado plástico;

[ ]cF é a matriz de estado de ruptura por compressão;

[ ]TF é a matriz de estado de ruptura por tração;

Em todas as matrizes de estado F(I,J), os elementos fora da diagonal principal são

nulos. Na diagonal, os elementos das matrizes têm os seguintes valores:

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218

FE (i,i) = 1,0 , se no momento o elemento “i” é elástico;

FE (i,i) = 0,0 , se no momento o elemento “i” é plástico;

Fp (i,i) = 1,0 , se no momento o elemento “i” é plástico;

Fp (i,i) = 0,0 , se no momento o elemento “i” é elástico;

Fc (i,i) = 1,0 , se no momento o elemento “i” é plástico, por atingir a tensão

limite à compressão;

Fc (i,i) = 0,0 , se no momento o elemento “i” é elástico ou no estado plástico

por tração;

FT (i,i) = 1,0 , se no momento o elemento “i” é plástico, por atingir a tensão

limite à tração;

FT (i,i) = 0,0 , se no momento o elemento “i” é elástico ou no estado plástico

por compressão;

A.3 – MODELAGEM DAS ESTACAS

Com o objetivo de simplificar as análises, cada estaca ou grupo de estacas (sob um

mesmo elemento do radier) é modelado por uma mola de rigidez equivalente. A rigidez da

estaca pode ser fornecida ao programa GARP (após obtidos por outros programas, como o

DEFPIG), ou estimados por equações aproximadas desenvolvidas por Randolph e

apresentadas em Fleming et al. (1985).

A consideração das estacas como uma mola equivalente simplifica bastante a

resolução do sistema. Entretanto, torna-se possível usar este artifício se forem utilizados

fatores de interação representativos da influência da proximidade de duas estacas ou entre

uma estaca e um elemento do radier. Estes fatores de interação podem ser fornecidos ao

programa (calculados em programas como o DEFPIG) ou calculados no programa, usando as

fórmulas aproximadas sugeridas por Randolph & Wroth (1979).

Quando mais de uma estaca se situam sob o mesmo elemento, deve-se fornecer ao

mesmo a rigidez equivalente do grupo, ou o programa a aproximará utilizando o fator de

rigidez do grupo proposto por Randolph (η = nw) – ver Eq. (2.20). Poulos (1989) sugeriu

valores de w=0,5, para argila e entre 0,3-0,4, para areias.

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Considera-se, que quando existir uma estaca, ou um grupo, sob um elemento do radier,

toda a carga atuante naquele elemento será suportado pela estaca. Desta forma o elemento

apropriado da diagonal da matriz [Is] é então substituído pelo coeficiente de flexibilidade da

estaca (ou estacas).

Quando uma estaca atinge o seu limite de carga (por compressão ou tração), esta carga

limite é distribuída uniformemente no elemento do radier sobreposto a estaca.

A.4 – INTERAÇÃO ENTRE AS ESTACAS E OS ELEMENTOS DO RADIER

Como o solo é modelado como “contínuo”, a matriz dos coeficientes de influência dos

deslocamentos do solo, [Is], conterá diversos elementos fora da diagonal (matriz cheia).

Quatro interações devem ser consideradas:

i) a influência de um elemento de radier em outro é calculada via soluções

elásticas (Boussinesq e Mindlin), como mencionado anteriormente;

ii) a interação estaca/estaca é calculada através dos fatores de interação,

fornecidos ou estimados no programa GARP;

iii) a interação estaca/elemento do radier é calculado usando os fatores de

interação estaca/estaca, ou seja, assumi-se que o recalque do elemento do

radier será o mesmo caso houvesse uma estaca naquela posição;

iv) a interação elemento de radier/estaca é calculado como o recalque de um ponto

no solo, a uma profundidade ξL abaixo da superfície, devido a um outro

elemento de radier. O valor de “ξ” é assumido como 0,33, baseado em

calibrações com as soluções de Hain & Lee (1978), que empregaram o M.E.C.

A.5 – COMPATIBILIDADE ENTRE OS DESLOCAMENTOS

Para se obter a solução do comportamento do radier estaqueado, impõe-se a

compatibilidade dos deslocamentos verticais do solo e dos elementos do radier. Desta forma,

ao se resolver o sistema final de equações se encontrará os deslocamentos e tensões que

satisfazem ao equilíbrio do radier e do sistema estacas/solo. Lembra-se que, nesta forma de

equações, caso um elemento do solo tenha sido “rompido” e, eventualmente, venha a sofrer

uma redução nas tensões atuantes, voltará a se comportar elasticamente.

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APÊNDICE B

RESULTADOS BÁSICOS DAS PROVAS DE CARGA

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Apresenta-se, neste item, todos os valores de carga e recalque registrados durante as

diversas provas de carga, e já apresentados no Capítulo 5, sob forma gráfica. Faz-se isto para

facilitar a futuros usuários deste texto, caso queiram fazer novas análises destes testes. Será

utilizada a mesma nomenclatura adotada no texto principal para se referenciar a cada teste.

B.1 – SAPATA ISOLADA (TESTE - I)

Tabela B.1 – Dados da prova de carga de uma sapata isolada em solo com teor natural de

umidade.

Carga (kN) Recalque Centro (mm)

Recalque Canto (mm)

Canto 1 (mm)

Canto 2 (mm)

Canto 3 (mm)

0 0 0 0 0 0 5 0,545 1,14 0,81 0,73 1,47

10 1,925 2,505 2,16 1,48 2,85 15 3,04 3,375 2,91 1,75 3,84 20 4,235 4,03 3,53 2,26 4,53 25 4,96 4,73 4,03 2,92 5,43 30 5,64 5,405 4,51 3,65 6,30 35 6,31 6,075 5,03 4,42 7,12 40 6,98 6,72 5,41 5,10 8,03 45 7,475 7,355 5,83 5,71 8,88 50 8,21 7,89 6,07 6,03 9,71 55 8,835 8,42 6,47 6,84 10,37 60 9,625 8,87 6,81 7,64 10,93 15 8,9 8,495 6,5 6,98 10,49 0 9,015 8,185 6,19 6,44 10,18

30 9,44 8,495 6,49 7,00 10,50 60 9,695 9,025 7,03 7,86 11,02 65 10,185 9,42 7,37 8,59 11,47 70 10,885 9,98 7,81 9,44 12,15 75 11,605 10,54 8,20 10,24 12,88 80 12,29 11,09 8,49 10,97 13,69 85 13,03 11,71 8,81 11,78 14,61 90 13,795 12,33 9,11 12,6 15,55 95 14,525 12,92 9,39 13,4 16,45

100 15,285 13,555 9,71 14,24 17,40 110 17,065 15,04 10,56 16,25 19,52 120 19,325 17,04 11,75 18,75 22,33 130 23,015 20,415 14,30 22,64 26,53 140 28,55 22,36 14,60 23,09 26,94 14 24,1 21,125 15,78 24,39 28,91 0 23,025 21,065 14,44 22,89 27,69

Obs: Recalque no Centro é a média das leituras em 2 extensômetros. Recalque no Canto é o valor calculado a partir da leitura em 3 cantos e da estimativa no 4o canto. Os cantos 1 e 3 são diametralmente opostos.

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B.2 – ESTACA ISOLADA (TESTE - II)

Tabela B.2 – Dados da prova de carga de uma estaca isolada em solo com teor natural de

umidade.

Carga Aplicada

Carga no Topo(kN)

Carga na Ponta(kN)

Recalque ext.1 (mm)

Recalque ext.2 (mm)

Recalque médio (mm)

0 0,00 0 0 0 0,000 1 1,50 0,21 0 0,48 0,240 2 2,46 0,32 0 0,48 0,240 3 3,55 0,21 0 0,51 0,255 4 4,44 0,21 0 0,6 0,300 6 6,36 0,21 0,07 0,61 0,340 8 8,32 0,32 0,24 0,75 0,495

10 10,30 0,32 0,33 0,84 0,585 12 12,15 0,54 0,4 0,87 0,635 14 14,12 0,43 0,42 0,87 0,645 16 16,10 0,43 0,55 0,95 0,750 18 18,15 0,32 0,64 1,06 0,850 20 20,06 0,43 0,71 1,20 0,955 24 24,22 0,75 0,97 1,92 1,445 28 28,66 0,43 1,4 2,55 1,975 32 32,62 0,54 1,45 2,78 2,115 36 36,64 0,43 1,51 2,97 2,240 40 40,60 0,43 1,56 3,26 2,410 44 44,56 0,43 1,61 3,43 2,520 48 48,58 0,43 1,7 3,47 2,585 52 52,47 0,32 1,73 3,56 2,645 56 56,36 0,32 1,79 3,76 2,775 60 60,18 0,43 1,91 3,95 2,93 65 65,03 0,21 2,21 4,47 3,34 70 69,94 0,32 2,89 5,4 4,145 75 74,85 0,43 4,48 7,36 5,920 80 75,52 2,47 17,29 21,73 19,510 67 67,55 5,37 36,44 39,67 38,055 30 30,62 3,54 36,21 39,57 37,890 20 20,77 2,90 36,03 39,40 37,715 10 10,36 2,04 35,72 38,85 37,285 0 0,07 0,64 34,85 38,93 36,890

Obs: Recalque médio é a média dos 2 valores lidos nos extensômetros 1 e 2.

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223

B.3 – SAPATA SOBRE UMA ESTACA (TESTE - III)

Tabela B.3 – Dados da prova de carga da sapata sobre uma estaca, em solo com teor natural

de umidade.

Carga Total (kN) Recalque (mm)

Carga no Topo da

Estaca (kN)

Carga na Ponta da

Estaca (kN)

% de carga na Estaca

% de carga na Sapata

0 0,000 0 0 2 0,095 1,50 0,00 75,06 24,94 5 0,215 3,89 0,21 77,79 22,21

10 0,390 7,92 0,32 79,15 20,85 20 0,835 16,58 0,97 82,90 17,10 30 1,090 25,25 1,61 84,16 15,84 40 1,445 34,32 2,36 85,80 14,20 45 1,610 38,89 2,58 86,43 13,57 50 1,745 43,40 2,79 86,79 13,21 55 1,910 47,97 3,11 87,22 12,78 60 2,080 52,68 3,43 87,79 12,21 65 2,205 57,32 3,86 88,18 11,82 70 2,300 62,02 4,51 88,61 11,39 75 2,895 64,00 5,58 85,34 14,66 85 4,050 65,50 9,34 77,06 22,94 90 5,215 66,39 9,77 73,77 26,23 95 6,420 66,94 10,09 70,46 29,54

100 7,610 67,01 9,98 67,01 32,99 105 8,930 67,21 10,09 64,01 35,99 110 10,220 67,42 10,30 61,29 38,71 120 13,415 67,28 10,41 56,07 43,93 130 16,835 67,14 10,52 51,65 48,35 140 20,355 66,94 10,52 47,81 52,19 150 23,905 67,21 10,73 44,81 55,19 110 23,870 51,11 9,34 46,46 53,54 73 23,655 34,59 7,94 47,39 52,61 60 23,555 28,79 7,30 47,99 52,01 45 23,335 21,49 6,44 47,76 52,24 20 23,075 10,24 4,72 51,18 48,82 0 22,055 0,61 2,68

Obs.: Recalque médio de 2 extensômetros posicionados próximo ao centro da sapata, ou seja,

na projeção da estaca.

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224

B.4 – GRUPO DE QUATRO ESTACAS (TESTE - IV)

Tabela B.4 – Dados da prova de carga do grupo de quatro estacas, em solo com teor natural

de umidade.

Carga no grupo (kN)

Estaca 1 (kN)

Estaca 2 (kN)

Estaca 3 (kN)

Estaca 4 (kN)

Recalque Centro (mm)

Recalque Canto (mm)

0,00 0 0 0 0 0,000 0,000 9,07 3,82 0,72 3,04 1,49 0,705 0,460

30,65 11,40 2,52 9,41 7,33 2,100 1,600 57,87 22,59 6,54 18,81 9,93 3,510 2,550 86,59 32,00 11,28 27,48 15,83 4,470 3,065

115,13 40,19 16,50 35,40 23,03 5,365 3,475 143,27 48,04 21,24 42,07 31,92 6,430 3,945 107,90 38,28 13,08 35,85 20,70 não lido 4,035 90,33 33,16 9,90 30,59 16,68 não lido 3,995 46,02 19,51 3,18 17,03 6,29 não lido 3,620 -0,21 0,48 -0,18 0,07 -0,58 2,340 2,335 9,86 5,39 0,06 4,15 0,26 2,760 2,765

49,30 18,90 3,90 17,48 9,02 4,445 3,615 96,62 32,48 11,34 31,25 21,54 5,745 4,120

143,68 46,06 20,64 42,14 34,84 6,815 4,385 172,30 52,95 28,62 47,84 42,89 7,620 4,640 201,02 58,68 37,92 52,51 51,91 8,490 4,920 220,04 61,68 44,70 55,33 58,33 9,175 5,145 239,68 64,82 51,24 57,70 65,92 10,040 5,495 258,55 67,01 58,38 60,36 72,80 11,120 5,955 277,24 68,71 65,22 63,69 79,61 12,925 7,085 286,74 69,67 68,16 65,47 83,44 14,660 8,480 296,58 70,55 70,74 67,69 87,60 18,445 12,010 305,53 71,92 70,74 70,73 92,14 31,690 25,070 305,53 71,92 70,74 70,73 92,14 45,350 38,500 214,29 49,13 42,66 50,21 72,28 45,050 38,465 116,15 24,84 19,68 23,55 48,08 43,065 38,260

0,03 -1,16 1,38 -2,59 2,40 38,440 36,875

Obs: Recalque no Centro é a média das leituras em 2 extensômetros.

Recalque no Canto é o valor calculado a partir da leitura em 3 cantos e da estimativa

no 4o canto.

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225

B.5 – SAPATA SOBRE QUATRO ESTACAS JÁ TESTADAS (TESTE - V)

Tabela B.5 – Dados da prova de carga da sapata sobre quatro estacas já testadas, em solo com

teor natural de umidade.

Carga (kN) Recalque

(mm) Centro

Recalque (mm) Canto

Carga Estaca 1

Carga Estaca 2

Carga Estaca 3

Carga Estaca 4

Carga na Sapata

0 0,000 0,000 -1,160 1,380 -2,592 2,401 -0,029 50 1,930 0,540 11,122 13,920 7,629 16,027 1,303

100 3,165 0,730 22,790 23,940 18,738 28,420 6,112 150 4,150 0,860 37,256 31,680 25,922 43,279 11,863 200 5,010 0,945 49,265 41,460 34,810 54,245 20,221 250 5,875 1,071 61,206 51,300 43,845 64,367 29,282 300 6,805 1,250 72,806 60,780 53,103 74,294 39,016 320 7,595 1,665 75,740 65,040 57,843 77,084 44,292 340 9,315 2,990 77,446 69,120 62,880 78,512 52,043 360 12,975 6,240 78,265 71,340 64,731 79,355 66,309 380 18,275 11,140 79,015 72,420 65,694 80,004 82,866 400 33,355 24,620 81,608 75,300 68,435 83,443 91,214 311 32,785 25,545 67,825 64,020 54,733 68,974 55,449 207 31,675 25,600 45,853 46,440 38,661 49,183 26,862 102 29,785 25,520 23,609 24,600 18,220 27,641 7,930

0 25,875 24,575 1,569 1,740 -1,703 0,908 -2,514

Obs: Recalque no Centro é a média das leituras em 2 extensômetros.

Recalque no Canto é o valor calculado a partir da leitura em 3 cantos e da estimativa

no 4o canto.

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226

B.6 – SAPATA SOBRE QUATRO ESTACAS VIRGENS (TESTE - VI)

Tabela B.6 – Dados da prova de carga da sapata sobre quatro estacas virgens, em solo com

teor natural de umidade.

Carga (kN)

Recalque Centro (mm)

Recalque Canto (mm)

Estaca 1 carga (kN)

Estaca 2 carga (kN)

Estaca 3 carga (kN)

Estaca 4 carga (kN)

Carga Sapata

0 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 5 0,060 0,290 0,068 0,300 2,445 0,844 1,343

25 0,510 1,410 0,000 4,800 6,112 6,034 8,053 50 0,930 2,820 2,320 10,500 10,653 12,783 13,744 75 1,180 4,230 6,346 14,580 15,805 19,271 18,998

100 1,330 5,640 10,917 18,360 20,869 24,786 25,067 125 1,650 7,050 14,875 22,560 24,974 30,626 31,965 150 1,860 8,425 20,948 26,160 29,689 35,622 37,581 175 2,040 9,690 25,315 31,140 34,666 39,775 44,104 200 2,485 11,085 30,228 35,520 37,024 44,512 52,717 225 2,775 12,505 35,345 38,940 41,390 48,664 60,661 250 3,105 14,025 41,077 42,480 46,367 52,947 67,129 275 3,425 15,510 47,491 46,320 51,344 56,580 73,264 300 3,865 16,925 58,954 50,220 52,479 58,657 79,690 310 3,990 17,740 62,161 51,840 52,654 60,538 82,806 320 4,290 18,335 66,051 52,560 52,741 62,355 86,293 330 4,515 18,950 68,507 53,520 55,186 63,393 89,393 340 4,775 19,600 70,486 54,780 57,631 64,367 92,736 350 5,035 20,285 72,328 55,860 60,076 65,664 96,071 360 5,545 21,335 73,966 57,060 62,434 66,897 99,643 370 6,165 22,365 75,262 58,080 64,355 68,130 104,173380 6,845 23,495 76,354 58,680 66,363 69,493 109,110390 7,995 25,070 76,422 59,220 68,110 70,855 115,393400 10,105 27,660 76,695 59,160 68,983 72,413 122,749

0 0,068 1,500 -2,532 -1,168 2,132

Obs: Recalque no Centro é a média das leituras em 2 extensômetros.

Recalque no Canto é o valor calculado a partir da leitura em 3 cantos e da estimativa

no 4o canto.

Neste teste não foram registrados os estágios de descarregamentos devido falha no

sistema de reação.

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227

B.7 – SAPATA ISOLADA (TESTE - VII)

Tabela B.7 – Dados da prova de carga da sapata isolada, em solo pré-inundado.

Carga (kN) Recalque Centro (mm)

Recalque Canto (mm)

Canto 1 (mm)

Canto 2 (mm)

Canto 3 (mm)

0 0,000 0,000 0 0 0 2,5 0,010 0,000 0 0 0 5 0,125 0,115 0,23 0,12 0

10 0,255 0,235 0,44 0,21 0,03 12,5 0,475 0,430 0,75 0,38 0,11 15 0,765 0,665 1,12 0,56 0,21 20 1,515 1,155 1,88 1,00 0,43 25 2,060 1,490 2,43 1,31 0,55 30 2,485 1,885 2,79 1,65 0,98 35 2,910 2,195 3,12 1,96 1,27 40 3,290 2,500 3,42 2,23 1,58 45 3,685 2,800 3,73 2,46 1,87 50 4,120 3,085 4,03 2,68 2,14 55 4,580 3,395 4,35 2,90 2,44 60 5,050 3,730 4,69 3,10 2,77 65 5,605 4,135 5,10 3,30 3,17 70 6,225 4,590 5,58 3,47 3,60 75 7,080 5,150 6,27 3,70 4,03 80 8,210 6,200 7,21 4,01 5,19 85 10,035 7,830 8,66 4,64 7,00 90 13,185 10,810 11,15 6,17 10,47 37 12,785 10,765 11,12 5,95 10,41 12 12,005 10,545 10,90 5,66 10,19 5 11,535 10,375 10,75 5,54 10,00 0 11,195 9,930 9,68 5,47 9,88

30 12,105 9,980 9,89 5,77 10,07 60 12,860 10,210 10,11 6,09 10,31 90 15,020 11,840 12,10 7,26 11,58 95 19,315 16,085 16,31 10,17 15,86

100 32,53 não lido não lido não lido não lido 0 30,415 não lido não lido não lido não lido

Obs: Recalque no Centro é a média das leituras em 2 extensômetros.

Recalque no Canto é o valor calculado a partir da leitura em 3 cantos e da estimativa

no 4o canto.

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228

B.8 – ESTACA ISOLADA (TESTE - VIII)

Tabela B.8 – Dados da prova de carga da estaca isolada, em solo pré-inundado.

Carga no topo (kN)

Recalque ext.1 (mm)

Recalque ext.2 (mm)

Recalque médio (mm)

0 0 0 0 2,37 0,14 0,11 0,125 4,59 0,31 0,26 0,285 9,18 0,66 0,62 0,640

12,37 1,28 0,72 1,000 15,33 2,04 0,62 1,330 8,74 1,73 0,32 1,025 4,74 1,49 0,06 0,775

0 0,99 -0,57 0,210 4,74 1,50 -0,03 0,735 9,18 1,81 0,30 1,055

13,55 2,00 0,62 1,310 17,70 2,58 0,65 1,615 21,55 3,21 0,78 1,995 25,11 3,90 0,78 2,340 28,96 4,50 0,95 2,725 32,44 5,53 1,71 3,620 31,18 13,16 9,72 11,440 31,18 20,60 17,10 18,850 20,74 20,63 17,11 18,870 13,04 20,32 16,94 18,630 6,37 19,88 16,68 18,280

0 18,52 16,95 17,735

Obs: Recalque médio é a média dos 2 valores lidos nos extensômetros 1 e 2.

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229

B.9 – SAPATA SOBRE UMA ESTACA (TESTE - IX)

Tabela B.9 – Dados da prova de carga da sapata sobre uma estaca, em solo pré-inundado.

Carga (kN) Recalque Centro (mm)

Recalque Canto (mm)

Carga no topo da est.

% carga Estaca % carga Sapata

0 0,000 0,000 0 10 0,495 0,385 6,814 68,138 31,862 20 0,980 0,760 13,183 65,916 34,084 30 1,350 1,020 19,256 64,188 35,812 40 1,670 1,275 24,959 62,398 37,602 50 2,195 1,585 30,218 60,436 39,564 60 3,710 2,900 31,403 52,338 47,662 65 4,500 3,620 31,477 48,426 51,574 70 5,260 4,295 31,625 45,179 54,821 80 6,885 5,595 31,847 39,809 60,191 90 9,060 7,230 32,069 35,633 64,367

100 12,325 9,615 32,588 32,588 67,412 110 17,350 13,770 33,254 30,231 69,769 120 28,645 21,300 35,106 29,255 70,745 70 28,335 23,940 21,997 31,424 68,576 49 28,030 23,830 17,035 34,764 65,236 26 27,400 23,625 10,591 40,735 59,265 7 26,330 23,355 3,703 52,902 47,098 0 25,255 22,920 0

Obs: Recalque no Centro é a média das leituras em 2 extensômetros.

Recalque no Canto é o valor calculado a partir da leitura em 3 cantos e da estimativa

no 4o canto.

Neste teste não foi registrado o valor da carga na ponta da estaca.