UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA UNB FACULDADE UNB...
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UNIVERSIDADE DE BRASIacuteLIA ndash UNB
FACULDADE UNB PLANALTINA ndash FUP
LICENCIATURA EM EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO ndash LEdoC
ESCOLA QUE TEMOS E A ESCOLA QUE QUEREMOS
A Trajetoacuteria de luta por educaccedilatildeo no Assentamento Renascer
PLANALTINA ndash DF
2014
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SUELI DE MARIA XAVIER PEREIRA
A ESCOLA QUE TEMOS E A ESCOLA QUE QUEREMOS
A Trajetoacuteria de luta por educaccedilatildeo no Assentamento Renascer
Monografia apresentada ao Curso de Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo ndash LEdoC da Universidade de Brasiacutelia-UnB como requisito parcial para a obtenccedilatildeo ao tiacutetulo de licenciado em Educaccedilatildeo do Campo
Orientadora Profordf Drordf Eliene Novaes Rocha
PLANALTINA DF
2014
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SUELI DE MARIA XAVIER PEREIRA
A ESCOLA QUE TEMOS E A ESCOLA QUE QUEREMOS
A Trajetoacuteria de luta por educaccedilatildeo no Assentamento Renascer
Monografia apresentada ao Curso de Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo ndash LEdoC da Universidade de Brasiacutelia-UnB como requisito parcial para a obtenccedilatildeo ao tiacutetulo de licenciado em Educaccedilatildeo do Campo
Aprovado em ______ de _______________ de 2014
___________________________________________
Profordf Drordf ELIENE NOVAES ROCHA Professora Orientadora FUPUnB
___________________________________________
JULIANA ROCHET (FUBUNB) Professor Avaliador
UnB
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SILVANETE PEREIRA DOS SANTOS Professor Avaliador Externo
Universidade Catoacutelica de Brasiacutelia
PLANALTINA- DF 2014
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AGRADECIMENTO
Em primeiro lugar ao meu bom Deus porque sem ele eu natildeo sou nada
Ao meus queridos filhos Janaina Pereira Dias e Rodrigo Pereira Dias que me deram muito apoio forccedila e coragem nos momentos difiacutecil no decorrer desses quatro anos de estudo Ao meu esposo Paulo Viniacutecio Alvim Cruz que me deu todo seu amor e apoio nos momentos mais difiacutecil que venho enfrentado nos uacuteltimos anos A minha grande amiga e irmatilde de coraccedilatildeo Mariza do Carmo Azevedo por sempre ter acreditado em mim no decorrer desses 25 anos de amizade sincera A minha matildee Rosalda e meus e meus irmatildeos e irmatildes que me admiram muito por ser a primeira da famiacutelia da minha geraccedilatildeo a concluir um curso superior apesar de todas as dificuldades A minha orientadora professora DrordfEliene Novaes Rocha por ter acreditado que eu sou capaz de realizar esse trabalho mesmo em meio a muitos problemas que vinha enfrentando As professoras Juliana Rochet e Silvanete Pereira dos Santos que me avaliaram e aprovaram na banca examinadora Ao Diretor da FUP Antocircnio Pasquetti por ser um grande lutador em defesa do curso de Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo A coordenadora da LEdoC professora Drordf Eliete Aacutevila Wolff por ser uma grande defensora da Escola do Campo e da Ciranda Ciranda A professora Drordf Roseneide Magalhatildees pelo excelente empenho como coordenadora da LEdoC na gestatildeo anterior e como professora da aacuterea de linguagem com a qual pude aprender muito A todos os meus professores e professoras do curso de Licenciatura em Educaccedilatildeo do campo Rafael Zarref Joatildeo Batista Jair Reck Mocircnica molina Laiacutes mouratildeo Liacutevia Bernardo Tamiel Djiby ana Cristina Sisi Regina Roberta Joelma Joelma e outros colaboladores Ao MATR- Movimento de Apoio aos Trabalhadores Rurais a tudo que aprendi sobre Reforma Agraacuteria e que sem o qual eu natildeo teria ingressado no curso de Licenciatura em Educaccedilatildeo do campo-UnB Aos meus colegas da turma Panteras negras pelo grande desempenho e luta de conivecircncia no coletivo
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ldquo A educaccedilatildeo eacute a arma mais poderosa que vocecirc pode usar para mudar o mundordquo (Nelson Mandela) ldquoEnsinar natildeo eacute transferir conhecimento mas criar as possibilidades para a sua proacutepria produccedilatildeo ou a sua construccedilatildeordquo (Paulo Freire) ldquo Se a educaccedilatildeo sozinha natildeo pode transformar a sociedade tatildeo pouco sem ela a sociedade mudardquo (Paulo Freire)
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RESUMO
Este estudo tem como propoacutesito analisar a trajetoacuteria de luta dos trabalhadores
rurais sem terra pela escola do campo A educaccedilatildeo do campo eacute entendida como um
movimento que busca a concretude de uma educaccedilatildeo ampla diversificada e
enraizada em conceitos de coletividade da participaccedilatildeo da famiacutelia e da comunidade
e focada na transformaccedilatildeo do indiviacuteduo e da sociedade O estudo da escola do
campo constitui tema desafiador na medida em que provoca demandas sociais e
poliacuteticas puacuteblicas para o cumprimento das leis que garantem a criaccedilatildeo e o bom
funcionamento dessas escolas Essa pesquisa analisa tambeacutem a importacircncia da
escola do campo para fixar a comunidade rural agraves suas raiacutezes culturais familiares e
sociais em particular a necessidade de atendimento das reivindicaccedilotildees por escola
do Assentamento Renascer
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ABSTRAT
This study aims to analyze the trajectory of struggle of the landless rural workers by
the school field The rural education is understood as a movement that seeks the
concreteness of a broad education diverse and rooted in community concepts
family participation and community and focused on the transformation of the
individual and society The field school study is challenging topic in that causes social
demands and public policies for compliance with the laws that guarantee the creation
and proper functioning of these schools This research also analyzes the importance
of the field school to secure the rural community to their cultural social and family
roots in particular the need to meet the demands for school Settlement Reborn
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SUMAacuteRIO
Apresentaccedilatildeo 07
Capitulo l As opccedilotildees de pesquisa e os passos metodoloacutegicos
11Pesquisa Qualitativa com Estudos de Caso11
Capiacutetulo ll Da Escola Rural a Escola do Campo histoacuterico das lutas e
concepccedilatildeo da Educaccedilatildeo
21 A escola rural no Brasil16
22Trajetoacuteria de luta pela Educaccedilatildeo21
23Concepccedilatildeo Pedagoacutegica da Educaccedilatildeo do Campo26
24 Princiacutepios da Educaccedilatildeo do Campo28
25 Marcos Normativos da Educaccedilatildeo do Campo29
Capiacutetulo lll A histoacuteria do Assentamento Renascer
31 Trajetoacuteria de criaccedilatildeo do assentamento aos dias atuais34
32A histoacuteria da educaccedilatildeo no assentamento Renasce Renascer34
33 A escola do Campo na vivecircncia do Assentamento Renascer35
34O caminho para a produccedilatildeo do saber no Assentamento Renascer a
brinquedoteca a integraccedilatildeo social a biblioteca comunitaacuteria e as manifestaccedilotildees
culturais 36
Capitulo lV A escola que queremos41
Consideraccedilotildees finais 46
Referecircncias Bibliograacuteficas48
Apecircndice50
Anexo55
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Lista de Siglas
DF - Distrito Federal
EMPRAPA - Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuaacuteria
FUNATURA - Fundaccedilatildeo Proacute-Natureza
GDF- Governo do Distrito Federal
IFB - Instituto Federal de Brasiacutelia
INCRA - Instituto Nacional de Colonizaccedilatildeo e Reforma Agraacuteria
LEdoC - Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo
MEB - Movimento de Educaccedilatildeo de Base
MAT R - Movimento de Apoio ao Trabalhador Rural
MST - Movimento dos Sem Terra
ONGs - Organizaccedilatildeo natildeo Governamental
PRONERA - Programa Nacional de Educaccedilatildeo na Reforma Agraacuteria
PAIS - Produccedilatildeo Agroecoloacutegica Integrada e Sustentaacutevel
PRONAF - Programa Nacional de Fortalecimento na Agricultura Familiar
PAA - Programa de Aquisiccedilatildeo de Alimento
PNAE - Programa Nacional de Alimentaccedilatildeo Escolar
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PAPA-DF -Programa de Aquisiccedilatildeo da Produccedilatildeo da Agricultura
PPP - Projeto Poliacutetico Pedagoacutegico
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APRESENTACcedilAcircO
O presente trabalho de pesquisa eacute resultado da observaccedilatildeo presencial do
assentamento de Reforma Agraacuteria denominado Renascer ao longo de 11 (onze)
anos de convivecircncia Durante 5 (cinco) anos se estabeleceu um acampamento agraves
margens da rodovia DF 330 que liga Sobradinho ao Paranoaacute DF Apoacutes mobilizaccedilatildeo
dos acampados e negociaccedilatildeo com o poder puacuteblico (GDF Coleacutegio Agriacutecola de
Brasiacutelia atualmente Instituto Federal de Brasiacutelia EMBRAPA e intermediaccedilatildeo
puacuteblica) foi liberada uma aacuterea para o acampamento mudar de local e se estabelecer
onde atualmente estaacute situado (entre o Coacuterrego do Arrozal e o Coacuterrego do Meio)
Esta mudanccedila de local foi autorizada pelo governo e se concretizou em maio de
2009 Neste tempo a situaccedilatildeo do acampamento mudou para preacute-assentamento e
atualmente jaacute se encontra em situaccedilatildeo de Assentamento Rural
Durante todos esses anos foram realizados algumas atividades pedagoacutegicas
na comunidade tais como a implantaccedilatildeo de uma brinquedoteca com oficinas de
confecccedilatildeo de brinquedos para as crianccedilas acampadas utilizando materiais
reciclados uma biblioteca com livros e revistas usados obtidos atraveacutes de doaccedilatildeo de
vaacuterias pessoas simpatizantes da causa da Reforma Agraacuteria Aulas de alfabetizaccedilatildeo
de adultos no horaacuterio noturno pelo Programa Nacional de Educaccedilatildeo na Reforma
Agraacuteria (PRONERA) com recursos muito escassos mas eacute a educaccedilatildeo que nos
acompanha ateacute nos dias de hoje Atividades de arte-educaccedilatildeo para incentivos e
melhorias na interaccedilatildeo de crianccedilas e jovens exercitando a praacutetica de teatro projeccedilatildeo
de filmes recreativos e de novos conhecimentos para os moradores produccedilatildeo de
um documentaacuterio sobre a comunidade Renascer e a importacircncia da Reforma
Agraacuteria no Brasil denominado ldquoConquistar a terra Produzir o patildeordquo Com o apoio do
projeto audiovisual ndash UnB Planaltina
Para uma melhor compreensatildeo da pesquisa monograacutefica dividiu-se o texto
em capiacutetulos O Primeiro capiacutetulo aponta as opccedilotildees de pesquisa e os passos
metodoloacutegicos para sua realizaccedilatildeo No segundo capiacutetulo estudamos a transiccedilatildeo
entre a escola rural e a escola do campo O terceiro capiacutetulo relata a histoacuteria do
Assentamento Renascer e o quarto capiacutetulo relatamos o resultado da pesquisa de
campo evidenciando a Escola que temos e a Escola que queremos
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Primeiro Capiacutetulo
As opccedilotildees da pesquisa e os passos metodoloacutegicos
O intuito deste trabalho eacute recuperar a trajetoacuteria de luta dos moradores do
assentamento Renascer pela educaccedilatildeo visando assegurar o direito agrave escola
identificando avanccedilos e limites encontrados nesta trajetoacuteria
Gostaria de manifestar minha satisfaccedilatildeo e agradecer a oportunidade de estar
estudando numa universidade puacuteblica em um curso com muita interfere com a minha
vivecircncia pessoal e de um alcance social muito importante para a transformaccedilatildeo que
nosso paiacutes necessita A desigualdade social ainda eacute muito grande no campo e na
cidade sendo bastante visiacutevel esta realidade
Sou nascida numa comunidade remota e isolada no sul do Maranhatildeo onde
nos meus primeiros anos de vida convivi em uma comunidade indiacutegena com minha
avoacute paterna comunidade de economia essencialmente extrativista principalmente
da quebra do coco babaccedilu o cultivo da mandioca para fazer farinha e da caccedila e
pesca Fiquei sem frequentar agrave escola ateacute os treze(13) anos de idade por natildeo existir
escola na comunidade Quando vim morar em Brasiacutelia e ingressei em uma escola
pela primeira vez sofri muita descriminaccedilatildeo por parte dos outros alunos devido
minha idade e a defasagem escolar Apesar de viver na cidade grande haacute bastante
tempo continuam vivas na minha alma o desejo de viver no campo Estou na luta
por um pedaccedilo de terra atraveacutes da Reforma Agraacuteria no assentamento Renascer
com o apoio do MATR- Movimento de Apoio ao Trabalhador Rural haacute onze(11)
anos atualmente estamos em fase de sermos assentados
Alguns anos atraacutes em 1992 cheguei a fazer um curso de formaccedilatildeo de
professores (Magisteacuterio) e me capacitei para trabalhar da 1ordf a 4ordf seacuterie do Ensino
Fundamental na eacutepoca Realizei alguns trabalhos nessa aacuterea mas natildeo exerci
profissionalmente esta atividade de forma regular
O tema Escola do Campo vem ao encontro a um anseio pessoal de poder
trabalhar com educaccedilatildeo voltada para a realidade vivida pelo cotidiano da populaccedilatildeo
realmente do campo A minha motivaccedilatildeo ao escolher este tema de pesquisa eacute de
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poder de alguma forma contribuir para a troca de experiecircncia e conhecimentos entre
educandos e educadores melhorando minha capacitaccedilatildeo profissional e absorver
conhecimentos e orientaccedilotildees de professores (as) e companheiros (as) de estudo
Conforme o educador Paulo Freire dizia ningueacutem tem o conhecimento de tudo
e sempre eacute capaz de conhecer mais coisas que ainda natildeo conhece se assim o
desejar
O assentamento Renascer hoje conta com um total de 120 famiacutelias satildeo
11 (onze) anos de luta e perseveranccedila tem se manifestado se mobilizado
reivindicando oportunidades de obterem escola do campo para adquirirem
conhecimentos atraveacutes do estudo que lhes permita melhorar sua capacitaccedilatildeo para o
trabalho e consequentemente ampliar seus horizontes soacutecio- econocircmico e
culturalmente ou seja progredir atraveacutes dos seus estudos e trabalho que satildeo
direitos humanos universais
Sem a inclusatildeo do ensino fundamental para trabalhadores rurais a Educaccedilatildeo
de Jovens e Adultos (EJA) para o ensino do 6ordm ao 9ordm ano o que natildeo eacute nem um pouco
acessiacutevel agrave comunidade devido a inuacutemeras dificuldades como horaacuterio disponiacutevel
falta de transporte dentre outros fatores Fica impossiacutevel o acesso dessa
comunidade aos estudos oferecidos pelo Instituto Federal de Brasiacutelia (IFB) que fica
proacuteximo a esse assentamento O IFB oferece diversos cursos que interessam e
atendem agraves necessidades dos trabalhadores do campo Desta maneira a situaccedilatildeo
atual dos moradores do Assentamento Rural Renascer demostra discriminaccedilatildeo e
exclusatildeo social por parte do poder puacuteblico
Alguns cursos e projetos teacutecnico-pedagoacutegicos realizados por parceiros do
Movimento de Apoio ao Trabalhador Rural (MATR) Como a Fundaccedilatildeo Banco do
Brasil Funatura IFB Economia Solidaacuteria Novas Fronteiras da Cooperaccedilatildeo Rio Satildeo
Bartolomeu Vivo e UnB Essas parcerias acrescentaram melhorias agrave qualidade de
vida ao assentamento
A educaccedilatildeo que temos atraveacutes do Programa de Educaccedilatildeo na Reforma
Agraacuteria (PRONERA) revela que a importacircncia do programa na realidade do
assentamento durante determinado periacuteodo satisfez algumas necessidades
educacionais tirando muitas pessoas do analfabetismo
O que ocorre atualmente eacute que o Pronera natildeo estaacute funcionando no
momento por falta da renovaccedilatildeo do contrato estre o INCRA a UnB e o Movimento
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Social MATR que vem atrasando o processo de alfabetizaccedilatildeo e conclusatildeo do
5ordm ano
Um olhar criacutetico sobre a escola que temos revela a necessidade de poliacuteticas
puacuteblicas como a implantaccedilatildeo de espaccedilos fiacutesicos contendo mobiliaacuterio escolar baacutesico
como carteiras quadro de giz e iluminaccedilatildeo adequada A observaccedilatildeo da atuaccedilatildeo do
Pronera na comunidade Renascer resultou nas seguintes observaccedilotildees
- inadequaccedilatildeo do local para realizaccedilatildeo das aulas que ateacute recentemente
funcionava de forma precaacuteria num barraco utilizado pela igreja catoacutelica o que
impossibilitava o funcionamento das aulas pois durante os eventos da igreja natildeo
tinha como realizar as atividades pedagoacutegicas
A reparaccedilatildeo dessa situaccedilatildeo de precariedade especiacutefica do assentamento
Renascer contribui para reverter a condiccedilatildeo de inferioridade dos assentados
As criacuteticas acima relacionadas satildeo positivas pois a uacutenica escola que o
acampamento teve no decorrer desses 11 (onze) anos foi o Pronera que pode
perfeitamente superar as dificuldades apontadas contribuindo com o trabalho do
educador (a) que acaba por acrescentar inuacutemeras responsabilidades que lhe natildeo
satildeo devidas ao ato de ensinar
A perseveranccedila na luta por uma escola do campo na comunidade Renascer
eacute essencial para evitar o que acontece na realidade do campo em niacutevel nacional
onde cerca de 24000 escolas brasileiras foram fechadas no meio rural
Segundo Erivam Hilaacuterio do setor de educaccedilatildeo do MST que afirma que o
fechamento dessas escolas tem sua loacutegica a intenccedilatildeo de pensar num campo sem
escola e consequentemente um campo sem cultura e sem gente
Refletinto sobre a educaccedilatildeo que queremos atraveacutes do Pronera ou outros
programas educacionais de ensino sentimos que eacute necessaacuterio uma concepccedilatildeo da
educaccedilatildeo ampla que propicia alimento intelectual moral artiacutestico e um
posicionamento criacutetico no processo social e poliacutetico tanto em niacutevel regional
nacional e universal Constitui ferramenta essencial para a formaccedilatildeo de nossa
personalidade e para a emancipaccedilatildeo da sociedade em relaccedilatildeo agrave opressatildeo e
injusticcedila
As expectativas e lutas das famiacutelias do assentamento Renascer estatildeo
alicerccediladas em parcerias junto a entidades do poder puacuteblico exemplo INCRA UnB
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e Movimentos Sociais do campo para colocar em praacutetica uma educaccedilatildeo que seja
eficaz para a Comunidade Renascer
Acredito que cada comunidade possui uma realidade um contexto muito
proacuteprio particular diferenciada de outra comunidade qualquer Os anseios as
necessidades os fatores culturais econocircmicos entre outros fatores satildeo diferentes
de lugar para lugar
A pedagogia e os meacutetodos a serem realizados em cada local deveriam ser
colocados em praacutetica somente apoacutes a comunidade local ser mobilizada e participar
ativamente na elaboraccedilatildeo deste plano de trabalho pedagoacutegico contribuindo com
ideias e vivecircncias Desta maneira a educaccedilatildeo estaria a serviccedilo do bem coletivo e
natildeo privilegiaria alguns em prejuiacutezo da coletividade A educaccedilatildeo eacute uma importante
ferramenta para o desenvolvimento de uma economia solidaacuteria e socialmente justa
politicamente livre dos espoliadores que historicamente persistem em oprimir a
maioria dos povos privando-os de seus direitos
Na maioria das escolas existentes no campo que natildeo atendem a todos mas
a uma determinada parcela da populaccedilatildeo regional a pedagogia adotada eacute
planejada formulada empacotada e imposta aos camponeses por ldquopedagogo de
gabineterdquo que vivem nas grandes cidades e natildeo respeitam os valores e realidades
regionais e locais de cada comunidade
Eacute claro que existem exceccedilotildees de trabalhos pedagoacutegicos muito bons Eacute o caso
de quando ocorre uma interaccedilatildeo entre a comunidade local e os educadores que
estatildeo ali para contribuir por uma educaccedilatildeo construiacuteda a partir da participaccedilatildeo
popular e democraacutetica na criaccedilatildeo e produccedilatildeo do processo educativo
A pesquisa seraacute fundamentada pela investigaccedilatildeo teoacuterica sobre o tema de
implantaccedilatildeo de salas de aula de ensino fundamental para trabalhadores rurais
adultos em comunidades que lutam pela reforma agraacuteria Para entender-se o
problema eacute necessaacuterio apontar a fundamentaccedilatildeo teoacuterica
A fundamentaccedilatildeo de diversas correntes de opiniatildeo eacute importante para o nosso
proacuteprio esclarecimento e para a busca conjunta com os interessados sobre qual o
melhor modelo pedagoacutegico a ser implantado na sala de aula da comunidade
A fundamentaccedilatildeo teoacuterica como satildeo vaacuterias as teorias existentes seratildeo
expostas algumas como Territoacuterios Educativos na Educaccedilatildeo do Campordquo ldquopor uma
Educaccedilatildeo do Campordquo ldquoTeoria e Praacutetica Pedagoacutegica da educaccedilatildeo do Campordquo
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rdquoPesquisa Social e accedilatildeo Pedagoacutegicardquo rdquoEtnografia e Praacutetica Escolarrdquo ldquoMetodologia
do tralho Cientiacuteficordquo e trabalhos monograacuteficos de ex-alunos do curso da LEdoC
A metodologia utilizada a pesquisa qualitativa com estudo de caso e estudo
bibliograacutefico
O estudo teve como instrumento de pesquisa a aplicaccedilatildeo de entrevista semi-
estruturada com pessoas da comunidade Renascer quando seraacute identificada sua
participaccedilatildeo e contribuiccedilatildeo para educaccedilatildeo na comunidade e sobre seu entendimento
sobre que tipo de escola do campo que a comunidade requerem relevantes para o
objetivo da pesquisa
O trabalho de campo foi para buscar informaccedilotildees atraveacutes da fala dos sujeitos
que foram ouvidos conforme citado anteriormente bem como de material que
poderaacute contribuir para o trabalho da pesquisa
A pesquisa bibliograacutefica abordou o aprofundamento teoacuterico sobre o tema
para anaacutelise da realidade da educaccedilatildeo do campo para melhor entender a situaccedilatildeo
em que o assentamento se encontra na luta pela escola
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Segundo Capiacutetulo
Da escola rural agrave escola do campo histoacuterico das lutas e
concepccedilotildees da educaccedilatildeo
21 A Escola Rural no Brasil
Conforme Ferreira e Brandatildeo (2011) a trajetoacuteria da escola rural brasileira
deve ser contextualizada historicamente segundo o modelo socioeconocircmico
implantado no paiacutes desde o iniacutecio do processo colonizador ateacute o momento presente
Para os autores desde os primoacuterdios do processo de colonizaccedilatildeo o paiacutes foi
entendido apenas como uma colocircnia de exploraccedilatildeo devendo portanto remeter agrave
metroacutepole suas riquezas naturais do solo do subsolo dando segmento aos ciclos
econocircmicos denominados de colonial ciclo do pau brasil da cana de accediluacutecar do
ouro do cafeacute (FERREIRA amp BRANDAtildeO 2011 p3)
A base social do paiacutes eacute formada pelos nativos (iacutendios ndash expulsos
massacrados e exterminados) os africanos e os imigrantes pobres vindos da
Europa e do oriente Foi segundo os mesmos autores esta mesma base social que
formou a matildeo de obra imprescindiacutevel para a implantaccedilatildeo do projeto colonial e do
periacuteodo imperial
A aboliccedilatildeo da escravatura em 1888 e o consequente abandono da populaccedilatildeo
negra desprovida de qualquer indenizaccedilatildeo ou bens materiais particularmente terra
teve como consequecircncia o ecircxodo rural e o desprezo pela atividade agriacutecola
associada agrave escravatura
Em sua experiecircncia histoacuterica como repuacuteblica o tradicional modelo
socioeconocircmico adotado no Brasil perdurou
Ao longo da histoacuteria do Brasil o processo de exclusatildeo social e tambeacutem poliacutetico econocircmico e cultural sempre estiveram presentes e eram tidos como algo ldquonaturalrdquo Ainda nos dias atuais fazer uma referencia a este processo de exclusatildeo natildeo leva a um debate tranquilo a resistecircncia ainda eacute forte por parte da sociedade neoliberal principalmente por aqueles que ainda se beneficiam com
a exclusatildeo socialrdquo (FERREIRA 2011 pag 3)
Com relaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo o que se percebe eacute conforme Ferreira (2011)
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que o modelo de educaccedilatildeo praticado no Brasil pelos diferentes governos entre o iniacutecio do Impeacuterio (1822) ateacute meados do seacuteculo XX era uma educaccedilatildeo para a elite econocircmica e intelectual em prejuiacutezo direto e indiscriminado dos pobres negros e iacutendios Inclusive a primeira Lei ainda no periacuteodo imperial quando se reporta agrave educaccedilatildeo natildeo se ateve agraves especificidades diretas da zona rural onde a populaccedilatildeo brasileira viviardquo (FERREIRA 2011 p4)
Clauacutedio Santos (2013) afirma que a educaccedilatildeo destinada aos habitantes do
campo no inicio do seacuteculo XX entendia que ldquoa formaccedilatildeo das jovens geraccedilotildees ou dos
adultos no espaccedilo rural era tida como algo menor ou desnecessaacuteriordquo (p 47) Para o
autor a maioria de residentes no campo ( 75) natildeo foi pensado um modelo
educacional que contemplasse as necessidades dos residentes no campo o que a
histoacuteria do Brasil nos ensina eacute que o regime republicano manteve os grandes
latifuacutendios e a oligarquia rural alijando a maior parcela da populaccedilatildeo rural de
qualquer benefiacutecio do sistema poliacutetico-econocircmico
A organizaccedilatildeo escolar rural no Brasil embora tiacutemida pode ser localizada a
partir do primeiro governo republicano o do marechal Deodoro da Fonseca (1889-
1891) estando a cargo do Ministeacuterio da Agricultura Comeacutercio e Induacutestria O ecircxodo
da populaccedilatildeo rural para os incipientes centros urbanos em busca dos empregos
promovidos pela igualmente incipiente industrializaccedilatildeo evidenciava as mazelas dos
sujeitos do campo 75 da populaccedilatildeo brasileira era analfabeta igual nuacutemero da
populaccedilatildeo do campo
Somente a partir de 1920 tem-se efetivamente o primeiro movimento em
defesa da educaccedilatildeo da populaccedilatildeo rural conhecido como Ruralismo Pedagoacutegico
(SANTOS 2013) que foi um movimento dos educadores poliacuteticos e intelectuais
elaborando formas de accedilatildeo pedagoacutegicas adequados agrave dominacircncia poliacutetico-
econocircmica da oligarquia rural
Para o autor o ruralismo pedagoacutegico
defendia uma escola integrada agraves condiccedilotildees locais para promover a fixaccedilatildeo do homem do campo estava ligado agrave modernizaccedilatildeo do campo brasileiro e contava com o apoio dos latifundiaacuterios temerosos de perder sua matildeo de obra bem como de uma elite urbana preocupada com os resultados negativos de uma migraccedilatildeo
camponesa para a cidade (SANTOS2013p48)
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Uma caracteriacutestica do ruralismo pedagoacutegico foi buscar adequar a educaccedilatildeo
rural para fixar o homem no campo para diminuir o processo de urbanizaccedilatildeo e
consequente ecircxodo rural que modificava a estrutura econocircmico e social do paiacutes
Relativo agrave educaccedilatildeo rural da primeira metade do seacuteculo XX nos ensina
Santos (2013 p48) que ldquoem 1933 inicia-se a campanha de alfabetizaccedilatildeo na zona
rural Em 1935 ocorre o I Congresso Nacional do Ensino Regional que contribui
para a fundaccedilatildeo da Sociedade Brasileira de Educaccedilatildeo Rural no ano de 1937rdquo
Nos anos de 1920 foi criado o movimento conhecido como Escola Nova por
intelectuais e pensadores brasileiros que valorizaram a pesquisa educacional e a
inserccedilatildeo da escola como uacutenico meio de se combater as desigualdades sociais num
ambiente de crescente industrializaccedilatildeo e urbanizaccedilatildeo (SANTOS 2013) Estes
educadores como Aniacutesio Teixeira Fernando de Azevedo Lourenccedilo Filho dentre
outros defenderam atraveacutes do Manifesto da Escola Nova (1932) a universalizaccedilatildeo
da escola puacuteblica laica e gratuita
A influecircncia deste movimento sobre a educaccedilatildeo brasileira fez-se sentir nas geraccedilotildees futuras de educadores e pesquisadores como Darcy Ribeiro e Florestan Fernandes A atuaccedilatildeo desses pioneiros se estendeu por deacutecadas muitas vezes criticada pelos defensores da escola particular e religiosa (FERRARI 2014p43)
Poreacutem as propostas do Manifesto natildeo tiveram impactos concretos e natildeo
foram incorporados pela escola Ferraro (2012) esclarece que
A educaccedilatildeo rural no Brasil soacute se tornou objeto de interesse do Estado no momento em que todas as atenccedilotildees e esperanccedilas se voltavam para o urbano e a ecircnfase passava a recair sobre o desenvolvimento industrial Quando os interesses do latifuacutendio dominavam tanto a economia como a poliacutetica a alfabetizaccedilatildeo das massas camponesas era vista como seacuteria ameaccedila agrave ordem vigente Quando o paiacutes jaacute avanccedila no processo de industrializaccedilatildeo e se torna predominantemente urbano eacute a proacutepria cidade que passa a reivindicar a alfabetizaccedilatildeo das populaccedilotildees do campo Passa entatildeo a contrariar os interesses da cidade continua (FERRARO 2012p964)
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A industrializaccedilatildeo ocorreu nas cidades e atraiu grandes levas de
trabalhadores do campo seduzidos pelo ideal de transformaccedilatildeo de vida acesso agrave
escolarizaccedilatildeo empregos bem remunerados ideais que levam ao ecircxodo rural hoje
ou naquele momento histoacuterico A realidade do trabalhador do campo receacutem
chegado agrave cidade era do ponto de vista educacional precariacutessima pois em sua
maioria eram analfabetos ou com baixa escolarizaccedilatildeo Essa condiccedilatildeo impedia o
acesso ao emprego industrial urbano e agrave boa qualidade de vida que uma boa
remuneraccedilatildeo podia proporcionar
As cidades sofreram crescimento raacutepido desgovernado formando periferias
que abrigavam a maioria da populaccedilatildeo egressa do campo O subemprego e o
desemprego desestabilizavam as populaccedilotildees das cidades e geravam desequiliacutebrios
sociais e econocircmicos comprometendo a qualidade de vida de todos os moradores
Eacute o ciacuterculo vicioso da desigualdade da exclusatildeo e da violecircncia que a educaccedilatildeo
pode romper A educaccedilatildeo tem entatildeo o propoacutesito de formar trabalhadores para a
induacutestria urbana
Na Constituiccedilatildeo de 1934 para com a educaccedilatildeo rural destaca-se o Art 156 conforme podemos ver abaixo
A Uniatildeo e os Municiacutepios aplicaratildeo nunca menos de dez por cento e os Estados e o Distrito Federal nunca menos de vinte por cento da renda resultante dos impostos na manutenccedilatildeo e no desenvolvimento dos sistemas educativos Paraacutegrafo uacutenico ndash Para a realizaccedilatildeo do ensino nas zonas rurais a Uniatildeo reservaraacute no miacutenimo vinte por cento das cotas destinadas agrave educaccedilatildeo no respectivo orccedilamento anual
Na constituiccedilatildeo Federal de 1937 a educaccedilatildeo rural natildeo eacute citada A prioridade eacute
a educaccedilatildeo dos moradores urbanos Neste periacuteodo conforme Ferreira (2011) ldquoa
orientaccedilatildeo poliacutetico educacional para o mundo capitalista fica bem expliacutecita
sugerindo a preparaccedilatildeo de um maior contingente de matildeo de obra para as novas
atividades abertas pelo mercado ndash a industrializaccedilatildeordquo ( pg 32)
Ainda segundo o autor este afirma que em 1935 ocorreu o I Congresso
Nacional do Ensino Regional que assume como objetivo propagar a educaccedilatildeo rural
e elaborar os planos de educaccedilatildeo Esses planos recomendavam escolas rurais
ambulantes nas regiotildees de menor densidade geograacutefica
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O periacuteodo conhecido como Estado Novo (1937-1945) tentava implantar uma
poliacutetica educacional de cunho nacionalista tornando a educaccedilatildeo um instrumento do
estado servindo aos seus interesses
Os adultos analfabetos particularmente no meio rural tiveram atenccedilatildeo da
Campanha Nacional de Educaccedilatildeo Rural (CNER) de 1952 a 1963 cujo objetivo era
contribuir para a inserccedilatildeo do homem do campo O CNER atuou atraveacutes de missotildees
internacionais dos Estados Unidos voltadas agrave educaccedilatildeo ao treinamento de
professores e agrave preparaccedilatildeo dos jovens do meio rural pelo ensino profissional
agriacutecola Agrave atividade do CNER podemos agregar a accedilatildeo da Comissatildeo Brasileiro-
Americana de Educaccedilatildeo das Populaccedilotildees Rurais (CBAR) que celebrou acordos entre
esses dois paiacuteses visando a educaccedilatildeo rural orientada para o emprego de teacutecnicas
agriacutecolas (OLIVEIRA 1999 p 133)
A educaccedilatildeo rural eacute chamada para se ajustar agraves poliacuteticas educacionais estabelecidas pelo projeto do estado A educaccedilatildeo rural em primeiro lugar apesar de numerosos programas desenvolvidos sempre representou uma fatia muito pequena e marginal nas preocupaccedilotildees do setor puacuteblico (OLIVEIRA p apud CALAZANS1981p162)
A educaccedilatildeo rural ocupou e ainda ocupa pequeno espaccedilo no universo
educacional brasileiro As escolas apresentam dificuldades para se manterem no
campo Conforme o Jornal Sem Terra nordm 46 jun2011 24000 escolas do campo
foram fechadas no Brasil As instalaccedilotildees o curriacuteculo a carecircncia de professores o
transporte escolar formam muitas vezes uma barreira quase imponiacutevel para uma
ampla gama de alunos particularmente das uacuteltimas seacuteries do ensino fundamental e
do ensino meacutedio
Os programas implantados nos uacuteltimos anos como o PRONERA e o EJA
apresentam soluccedilotildees e alcanccedilam grandes resultados mas podemos questionar os
resultados entre os estados O Rio Grande do Sul (que atendeu alunos do ensino
baacutesico ateacute o ensino superior) em comparaccedilatildeo com outros estados e o Distrito
Federal conseguiu excelentes resultados No DF falta alcanccedilar melhores
resultados Podemos questionar se os resultados satildeo adequados pois por exemplo
no assentamento Renascer o Pronera natildeo vai aleacutem do quinto ano Eacute necessaacuterio
uma poliacutetica educacional que leve em conta a realidade dos alunos do campo
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invista recursos materiais e humanos modernizem as escolas e propiciem o acesso
dos alunos
Conforme nos explica Sousa 2004 em seu artigo lsquodiscursos intolerantes o
lugar da politica na educaccedilatildeo rural e a representaccedilatildeo do camponecircs analfabeto
No Brasil a trajetoacuteria da educaccedilatildeo rural inclui-se na dinacircmica de modernizaccedilatildeo do campo assumindo um papel decisivo no processo de expropriaccedilatildeo proletarizaccedilatildeo e controle dos trabalhadores rurais A modernizaccedilatildeo da produccedilatildeo no nordeste brasileiro por exemplo incentivou o processo de sindicalizaccedilatildeo em massa dos trabalhadores das zonas canavieiras estimulou reivindicaccedilotildees no campo do trabalho ligadas agrave aplicaccedilatildeo do Estatuto do Trabalhador Rural e contraditoriamente fez emergir as manifestaccedilotildees pela distribuiccedilatildeo de terras encampadas pelas Ligas Camponesas ( SOUSA2004 p4)
O projeto de modernizaccedilatildeo do campo ocorreu sem que houvesse a
emancipaccedilatildeo dos trabalhadores rurais Na verdade ocorreu a proletarizaccedilatildeo dos
trabalhadores rurais pela acumulaccedilatildeo de terras em matildeos de apenas poucos
proprietaacuterios (latifundiaacuterios) Esse acontecimento revela que apenas em processo
consciente e contiacutenuo de lutas organizados e unidos os trabalhadores rurais
poderatildeo conquistar terras e meios para sua produccedilatildeo
O estudo da organizaccedilatildeo dos trabalhadores rurais eacute importante porque eacute a
partir dela que outras grandes reivindicaccedilotildees satildeo conquistadas No caso da
presente pesquisa pode-se observar que foi a organizaccedilatildeo dos trabalhadores em
torno de suas causas a reforma agraacuteria que levou agrave luta pelas outras reivindicaccedilotildees
como a educaccedilatildeo no campo
O proacuteximo capiacutetulo deste trabalho monograacutefico aborda a questatildeo das
manifestaccedilotildees e resistecircncias dos camponeses pela educaccedilatildeo e pela reforma
agraacuteria
-16-
22 Trajetoacuteria de luta pela Educaccedilatildeo do Campo
A luta pela educaccedilatildeo do campo esteve sempre associada agrave luta pela reforma
agraacuteria e pela conquista de direitos para os trabalhadores rurais O Movimento das
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Ligas Camponesas lutou pela emancipaccedilatildeo do trabalhador rural e da reforma agraacuteria
e em seu projeto educacional estavam baseados nos ideais de Paulo Freire e do
Movimento de Educaccedilatildeo de Base (MEB)
Para explicar a reaccedilatildeo das classes populares agraves imposiccedilotildees do governo
brasileiro e das classes dominantes Oliveira (1995 apud ARROYO)
A histoacuteria das lutas entre as classes sociais natildeo se limitam agrave luta pelo poder mas se constituem impulsionadoras da histoacuteria da humanidade que natildeo aguardam passivamente seu destino mas ao contraacuterio articulam-se em torno de suas lutas para garantir seus direitos sua dignidade e sua participaccedilatildeo democraacutetica na sociedade( OLIVEIRA apud ARROYO1995p 80)
Neste sentido as Ligas Camponesas lutaram praticamente em todo o
territoacuterio nacional contra a tentativa de expulsatildeo dos trabalhadores rurais das terras
Os conflitos armados particularmente no Nordeste exigiam participaccedilatildeo poliacutetica e
direitos essenciais como a educaccedilatildeo do campo
O meacutetodo de alfabetizaccedilatildeo criado por Paulo Freire foi amplamente utilizado
pelas Ligas Camponesas e em sua concepccedilatildeo ampla de escola serviu de subsidio
para a compreensatildeo do camponecircs acerca de seu papel social (TOLEDO Caio
Navarro 2004 p6)
Neste contexto surge a Pedagogia do Oprimido de Paulo Freire Segundo
SANTOS (2013 apud Paulo Freire 1987) afirma que a pedagogia do oprimido
configura-se como
Aquela que tem de ser forjada com ele (o oprimido) e natildeo para ele enquanto homens ou povos na luta incessante de recuperaccedilatildeo de sua humanidade Pedagogia que faccedila da opressatildeo e de suas causas objeto de reflexatildeo dos oprimidos de que resultaraacute o seu engajamento necessaacuterio na luta por sua libertaccedilatildeo em que esta pedagogia se faraacute e refaraacuterdquo (FREIRE 1987 p32)
A pedagogia do oprimido serve de referecircncia para o trabalhador rural que luta
pela emancipaccedilatildeo de sua condiccedilatildeo de proletaacuterio atraveacutes da reforma agraacuteria A
pedagogia do oprimido leva o homem ao encontro de si mesmo ao reconhecimento
da grandeza de seu trabalho ao potencial de suas accedilotildees cotidianas que fazem a
diferenccedila A capacidade de reflexatildeo e o entendimento de sua potencialidade pode
leva-lo agrave sua plena realizaccedilatildeo como indiviacuteduo e como ser social
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A reaccedilatildeo do governo contra o movimento de educaccedilatildeo popular proposto por
Freire e assumido pelo Movimento das Ligas Camponesas e pelo Movimento de
Educaccedilatildeo de Base (MEB) gerou repressatildeo e resposta da ditadura civil-militar como
o Movimento Brasileiro de Alfabetizaccedilatildeo (MOBRAL)
A luta dos movimentos sociais e sindicais pela educaccedilatildeo do campo parte das
forccedilas internas dos movimentos e alcanccedila a setores sociais religiosos ideoloacutegicos
que passam a contribuir efetivamente para o alcance do direito agrave educaccedilatildeo aos
camponeses
A Comissatildeo Pastoral da Terra (CPT) presente ao lado dos trabalhadores (as)
rurais indiacutegenas ribeirinhos pescadores e quilombolas tambeacutem contribuiu e
contribui para a formaccedilatildeo criacutetica a defesa de formas sustentaacuteveis de utilizaccedilatildeo de
recursos naturais e produccedilatildeo e para a alfabetizaccedilatildeo segundo o meacutetodo de Paulo
Freire (CANUTO 2012 p 131)
Na atualidade estaacute em desenvolvimento um movimento que luta pela educaccedilatildeo do homem do campo organizado por vaacuterias entidades dentre elas o MST Trata-se de um processo que teve inicio em meados dos anos de 1990 impulsionados pela necessidade da educaccedilatildeo de jovens e adultos das aacutereas de assentamentos rurais Foi organizado um Programa Nacional para Educaccedilatildeo na Reforma Agraacuteria composto por atores tais como movimentos sociais universidades e governo federal aleacutem de outros parceiros (Alas da Igreja Sindicatos Organizaccedilatildeo Natildeo-Governamental ONG) existentes nas diferentes regiotildees do Brasil( SOUSA2004 p 32)
A trajetoacuteria de conquista das escolas do campo particularmente as escolas
do campo criadas pelo MST a partir da deacutecada de 1990 foi marcada pela conquista
e implantaccedilatildeo da Educaccedilatildeo Fundamental para crianccedilas e adolescentes dos
acampamentosassentamentos de acordo com o projeto politico-pedagoacutegico fruto do
amadurecimento do movimento
Focou-se a alfabetizaccedilatildeo de jovens e adultos e as lutas pela implantaccedilatildeo do
ensino meacutedio com cursos alternativos para a formaccedilatildeo de professores e teacutecnicos de
niacutevel meacutedio e tambeacutem de cursos superiores
A concepccedilatildeo de escolas de ensino fundamental plantadas em assentamentos
prevecirc a instalaccedilatildeo da escola na proacutepria comunidade evitando com isso o uso de
transporte escolar e a frequecircncia dos alunos Sem Terra em escolas fora do
assentamento
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Esta atitude de resistecircncia foi fundamental para a conquista da escola nas
terras conquistadas e tambeacutem foi fundamental para universalizar o ensino enraizar
o aluno em sua comunidade e criar a consciecircncia do direito agrave educaccedilatildeo
ldquoincomodandordquo o Estado para garantir o cumprimento das poliacuteticas puacuteblicas
Kolling Vargas e Caldart (2012p502) nos ensinam ldquotoda vez que se
conquista uma escola de educaccedilatildeo baacutesica em um assentamento ou acampamento
ela representa menos adolescentes e jovens do campo fora da escola e mais gente
enraizada em seu proacuteprio lugarrdquo (pag 502)
Os movimentos sociais e sindicais pela educaccedilatildeo do campo indicam o grau
de maturidade desses em sua luta pela reforma agraacuteria Agrave essa luta soma-se o
projeto de desenvolvimento do paiacutes baseado na justiccedila social e o combate agraves
tradicionais formas utilizadas pelas elites urbanas ou rurais de alienaccedilatildeo pela
expropriaccedilatildeo do trabalho e pelo controle dos meios que levam agrave emancipaccedilatildeo
sociocultural e agrave verdadeira humanizaccedilatildeo papel destinado agrave educaccedilatildeo
Neste sentido movimentos sociais como o MST inserem a educaccedilatildeo
baseada em princiacutepios pedagoacutegicos que se distinguem da escola tradicional
Numa perspectiva histoacuterica os movimentos sociais do campo como por
exemplo o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) tiveram inicialmente
como bandeira de luta a luta pela terra pela Reforma Agraacuteria natildeo fazendo uma
relaccedilatildeo entre essa luta e a educaccedilatildeo
A formaccedilatildeo de escolas do campo pelo MST natildeo foi resultado da consciecircncia e
importacircncia da escola para a promoccedilatildeo da educaccedilatildeo em seu meio Foi na verdade
a necessidade de oferecer aos filhos dos primeiros lutadores a oportunidade de
uma perspectiva melhor de futuro atraveacutes do direito agrave educaccedilatildeo Foi tambeacutem a
necessidade de ldquotransformar instituiccedilotildees histoacutericas como a escola em lugares que
ajudem a formar os sujeitos destas transformaccedilotildeesrdquo (CALDART2012 p94)
Desse modo houve primeiro a ldquoocupaccedilatildeo da escolardquo pela mobilizaccedilatildeo e pela
accedilatildeo para garantir que em acampamentos ou assentamentos conquistados
houvesse uma escola que ldquofizesse a diferenccedila ou tivesse realmente sentido em sua
vida presente e futura (preocupaccedilatildeo com os filhos)rdquo (CALDART2012 p91)
Num segundo momento da luta observa-se intencionalidade da luta pela
escola mas com proposta pedagoacutegica especiacutefica ldquocombinando processos de
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escolarizaccedilatildeo e de formaccedilatildeo da militacircncia e da base social Sem Terrardquo
(CALDART2012 p92)
As experiecircncias de pensar escolas como polos regionais entre assentamentos e com estudantes de outras comunidades de camponeses aos poucos vatildeo educando o olhar dos trabalhadores Sem Terra para uma realidade mais ampla Foi assim que o MST chegou agrave EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO (KOLLING Vargas e Caldart 2012 p 502)
A escola dentro dessa perspectiva de mudanccedila e envolvimento social eacute
parte da luta pela reforma agraacuteria daacute significado a ela pois proporciona a formaccedilatildeo
integral dos sujeitos que lutam pela terra
Essa escola possibilita a reflexatildeo trava o diaacutelogo com as propostas de
educaccedilatildeo popular de Paulo Freire e busca superar as dificuldades imensas que
assentados e acampados vivem no dia a dia
A escola tambeacutem revela a cultura o orgulho e criaccedilatildeo da identidade na luta
por terra Nesse sentido
A heranccedila que o MST deixaraacute para seus descendentes seraacute bem mais do que a terra que conseguir libertar do latifuacutendio seraacute um jeito de ser humano e de tomar posiccedilatildeo diante das questotildees de seu tempo seratildeo os valores que fortalecem e datildeo identidade aos lutadores do povo de todos os tempos de todos os lugares Eacute enquanto produto humano de uma obra educativa que os Sem Terra podem ser vistos como mais um elo que se forma em uma longa tradiccedilatildeo de lutadores sociais que fazem a histoacuteria da humanidade Enraizamento no passado e projeto de futuro (CALDART 2012 p 96)
A educaccedilatildeo proposta pelo movimento gera o sentimento de pertencimento e
desperta o sentimento de respeito agrave coletividade valoriza o trabalho a gestatildeo
democraacutetica e desburocratizada da escola
SANTOS (2013 p71) esclarece que pelo projeto educacional do MST a
educaccedilatildeo proposta estaacute pautada em ldquovalores socialistas e humanistas tais como o
coletivismo o trabalho socialmente uacutetil a organizaccedilatildeo e auto-organizaccedilatildeo dos
estudantes e professoresrdquo (p71)
-21-
23
221 Concepccedilatildeo Pedagoacutegica da Educaccedilatildeo do Campo
No acircmbito da educaccedilatildeo do homem do campo tornar o homem sujeito e natildeo
objeto do saber leva a entender que o conhecimento do camponecircs pode dialogar
com as praacuteticas baseadas no conhecimento cientiacutefico desde que seja perseguido o
ideal de trabalhadores e educadores do campo comprometidos com as lutas sociais
de formar o homem ldquodordquo campo e ldquono campordquo
Conforme Kolling Cerioli e Caldart (2002 p 264) ldquoo povo tem direito a uma
educaccedilatildeo pensada desde o seu lugar e com sua participaccedilatildeo vinculada agrave sua
cultura e agraves suas necessidades humanas e sociaisrdquo ndash(Caldart Educaccedilatildeo do Campo
2012 p 264
Tal compreensatildeo se ainda hoje causa oposiccedilatildeo ateacute mesmo no ambiente
acadecircmico imagine-se naquele momento histoacuterico de profunda repressatildeo poliacutetica e
ideoloacutegica aos movimentos sociais de camponeses por terra e educaccedilatildeo Como nos
ensina Molina e Saacute (DICIONAacuteRIO da Educaccedilatildeo do Campo p 324)
A concepccedilatildeo de escola do campo nasce e se desenvolve no bojo do movimento da EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO a partir das experiecircncias de formaccedilatildeo humana desenvolvidas no contexto de luta dos movimentos sociais camponeses por terra e educaccedilatildeo Trata-se portanto de uma concepccedilatildeo que emerge das contradiccedilotildees da luta social e das praacuteticas de educaccedilatildeo dos trabalhadores do e no campo (MOLINA e SAacute 2012 pag 324)
A concepccedilatildeo pedagoacutegica da educaccedilatildeo popular e da pedagogia da praacutetica
segundo ARROYO inclui
um caraacuteter de envolvimento totalizante dos movimentos sociais que possibilita ao individuo que participa destes coletivos o acesso a outro tipo de formaccedilatildeo que supera a condiccedilatildeo de aluno de alfabetizando de escolarizando Os integrantes destes organismos emersos na tensa situaccedilatildeo de conflitos aprendem por meio da vivencia das lutas sociais dos momentos de mobilizaccedilatildeo das situaccedilotildees limites de perda de emprego de criacuteticas da sociedade agraves suas accedilotildees de ameaccedilas agraves suas vidas Tudo isso traz ricas liccedilotildees ensinadas na ldquoescola do movimentordquo e que nenhuma teoria pode transmitir ou explicar de forma satisfatoacuteria
No entendimento de Arroyo (2013) os movimentos sociais vivem e
amadurecem sob o conhecimento e o entendimento das contradiccedilotildees sociais e esta
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experiecircncia lhes permite a possibilidade de defender mudanccedilas radicais tanto no
campo como na cidade tanto na ideologia quanto no combate ao latifuacutendio e ao
capitalismo
Tamanho movimento social gera a reflexatildeo sobre as relaccedilotildees
socioeconocircmicas politicas culturais cuidado da natureza relaccedilotildees humanas
destaques de tudo o que interessa ao coletivo agrave sociedade
Eacute por meio do entendimento de que a realidade eacute criaccedilatildeo humana de como se estabelecem os processos de opressatildeo e ainda da noccedilatildeo de que podemos transformar essa realidade dado que a sociedade eacute mutaacutevel que se forma a praacutexis da luta accedilatildeo-conscientizaccedilatildeo-transformaccedilatildeo-libertaccedilatildeo Inserindo-se criticamente na histoacuteria os cidadatildeos tornam-se sujeitos construtores e reconstrutores da realidaderdquo
Molina e Saacute (2012) nos ensinam a partir do conceito de escola do campo sobre a
potencialidade da vivencia de praacuteticas coletivas para a valorizaccedilatildeo integral dos
sujeitos da coletividade do conhecimento cientiacutefico da gestatildeo coletiva da escola
dentre tantos avanccedilos e vitoacuterias dos movimentos sociais
O processo ensino-aprendizagem permite que o conceito de escola extrapole
o cotidiano de dificuldades e desafia agrave reflexatildeo que gera a emancipaccedilatildeo
Este eacute um dos maiores desafios e ao mesmo tempo uma das maiores possibilidades da escola do campo articular os conhecimentos que os educandos tecircm o direito de acessar a partir do trabalho com a realidade da religaccedilatildeo entre educaccedilatildeo cultura e os conhecimentos cientiacuteficos a serem apreendidos em cada ciclo de vida e de diferentes aacutereas do conhecimento(MOLINA MOURAtildeO 2012 p 329) -26-
222 Princiacutepios da Educaccedilatildeo do Campo
Alguns princiacutepios viabilizam o projeto de escola adotado pelos movimentos
sociais e possibilitam a democracia e a integraccedilatildeo de todos lideranccedila assentados e
acampados do movimento
25
O princiacutepio da responsabilidade coletiva sobre o planejamento a gestatildeo a
organizaccedilatildeo e a realizaccedilatildeo de tarefas em todas as esferas de atividades princiacutepios
muito valorizados pelos movimentos sociais do campo foram transferidos para o
projeto de educaccedilatildeo
O projeto eacute de responsabilidade coletiva e insere educadores tanto a niacutevel
local como regional e nacional os ldquoColetivos de educaccedilatildeordquo como satildeo conhecidos
Os coletivos de educaccedilatildeo com tarefas forccedila orgacircnica e discussotildees especiacuteficas que podem variar a cada periacuteodo fortalecem o princiacutepio organizativo de que a questatildeo da educaccedilatildeo bem como outras questotildees da vida social assumidas pelo MST deve ser pensada e implantada de forma coletiva Eacute uma loacutegica que implica tarefas a serem realizadas pelas pessoas mas mediante um planejamento e uma leitura de conjuntura feita por um coletivo (KOLLING1995 et al p503)
Para concretizar o projeto de educaccedilatildeo foi concebida a formaccedilatildeo de
professores pelos proacuteprios movimentos no acircmbito da proacutepria comunidade
(conhecidos como ldquoprofessores leigosrdquo) e tambeacutem pela rede oficial de ensino
A falta de titulaccedilatildeo de muitos educadores formados na comunidade natildeo
impede que os mesmos trabalhem juntos com os professores titulados e com
simpatizantes do movimento no projeto poliacutetico-pedagoacutegico constituindo um
princiacutepio democraacutetico importante para superar as dificuldades e urgecircncias para a
implantaccedilatildeo da educaccedilatildeo do campo
A democracia do processo de formaccedilatildeo de educadores tem reflexos amplos
a formaccedilatildeo de educadores pelos proacuteprios movimentos especiacutefica para atuaccedilatildeo nas
escolas do campo
O movimento eacute responsaacutevel pela universalizaccedilatildeo do ensino no acircmbito dos
territoacuterios conquistados ou por conquistar e permitiu a evoluccedilatildeo do ensino ateacute o niacutevel
de terceiro grau com a realizaccedilatildeo de cursos como a Licenciatura em Educaccedilatildeo do
Campo (LEdoC) do qual somos os privilegiados alunos aqui na Universidade de
Brasiacutelia
Outro reconhecimento e prova de eficiecircncia da formaccedilatildeo de professores eacute o
precircmio ldquoEducaccedilatildeo e Participaccedilatildeordquo recebido em 1995 do Fundo das Naccedilotildees Unidas
para a Infacircncia (Unicef)
26
O somatoacuterio das forccedilas internas e externas do movimento ldquoleigasrdquo ou
tituladas associadas ao princiacutepio fundamental da participaccedilatildeo dos alunos e
comunidades em todos os niacuteveis e localidades eacute ponto fundamental para o sucesso
da concepccedilatildeo do projeto pois permite o estudo a reflexatildeo conjunta sobre
estrateacutegias para o alcance do objetivo de educaccedilatildeo na reforma agraacuteria
-25-
223 Marcos Normativos da Educaccedilatildeo do Campo
Numerosos Marcos Normativos podem ser citados para explicitar qual perfil
de escola destinada ao camponecircs interessava ao governo e aos proprietaacuterios rurais
A Lei 4024 de 1961 em seu art 105 estabelece o
Apoio que poderaacute ser prestado pelo poder puacuteblico agraves iniciativas que mantenham na zona rural instituiccedilotildees educativas orientadas para adaptar o homem ao meio e estimular vocaccedilotildees e atividades profissionais (BRASIL 2012 p 4)
A Lei 5692 de 1971 ao tratar da educaccedilatildeo rural ldquonatildeo observa mais uma vez
a inclusatildeo da populaccedilatildeo na condiccedilatildeo de protagonista de um projeto social globalrdquo
sendo que o trabalho do campo realizado por alunos eacute ateacute mesmo incentivado
adequando-o ao calendaacuterio escolar (MARCOS NORMATIVOSBrasiacutelia2012 p 25)
A Lei 9394 de 1996 (Lei das Diretrizes se Bases da Educaccedilatildeo ndash LDB) em
acordo com Constituiccedilatildeo de 1988 e ldquoinspirada de alguma forma numa concepccedilatildeo
de mundo rural enquanto espaccedilo especifico diferenciado e ao mesmo tempo
integrado no conjunto da sociedaderdquo reconhece
A diversidade soacutecio-cultural e o direito agrave igualdade e agrave diferenccedila possibilitando a definiccedilatildeo de diretrizes operacionais para educaccedilatildeo rural sem no entanto recorrer a uma logica exclusiva e de ruptura com um projeto global de educaccedilatildeo para o paiacutes (idem p 26)
27
Os artigos 208 e 210 da Carta Magna-1988 e inspirada de numa concepccedilatildeo
de mundo rural enquanto espaccedilo especiacutefico diferenciado e ao mesmo tempo
integrado no conjunto da sociedade a Lei 939496- LDB-estabelece que
Art 28 Na oferta da educaccedilatildeo baacutesica para a populaccedilatildeo rural os sistemas de ensino promoveratildeo as adapta necessaacuteria agrave sua adequaccedilatildeo agraves peculiaridades da vida rural e de cada regiatildeo especialmente (MARCOS NORMATIVOS) Brasiacutelia 2012 p 25)
1- Conteuacutedos organizar curriculares e metodologias apropriadas agraves reais
necessidades e interesses dos alunos da zona rural
2-organizaccedilatildeo escolar proacutepria incluindo a adequaccedilatildeo do calendaacuterio escolar as
fases do ciclo agriacutecola e as condiccedilotildees climaacuteticas
3-adequaccedilatildeo agrave natureza do trabalho na zona rural (MARCOS NORMATIVOS)
Brasiacutelia 2012( p 26)
O movimento de educaccedilatildeo do campo luta haacute quinze (15) anos para fazer-se
cumprir esse Decreto da Lei de Diretrizes de base da educaccedilatildeo do campo-LDB
que apesar de ser constitucional ainda natildeo foi colocada totalmente em praacutetica
Agora com as lutas dos movimentos sociais eacute que estaacute comeccedilando a se concretizar
Artigo 26 Os curriacuteculos do ensino fundamental e meacutedio devem ter uma base nacional comum a ser complementada em cada sistema de ensino e estabelecimento escolar por uma parte diversificada exigida pelas caracteriacutesticas regionais e locais da sociedade
da cultura da economia e da clientela (MARCOS NORMATIVOS) Brasiacutelia 2012(p 26)
O Decreto nordm 7352 de 4 de novembro 2010 dispotildee sobre a poliacutetica de educaccedilatildeo do campo ao Programa Nacional de Educaccedilatildeo
na Reforma Agraacuteria-PRONERA decreta
Art1ordm A poliacutetica de educaccedilatildeo do campo destina-
se agrave ampliaccedilatildeo e qualificaccedilatildeo da oferta de educaccedilatildeo baacutesica e superior agraves populaccedilotildees do campo e seraacute desenvolvida pela Uniatildeo em regime de colaboraccedilatildeo com os Estados o
28
Distrito Federal e os Municiacutepios de acordo com as diretrizes e metas estabelecidas no Plano Nacional de Educaccedilatildeo e o disposto neste Decreto
Para os efeitos deste Decreto entende-se por
l-populaccedilatildeo do campo os agricultores familiares os extrativistas os pescadores
artesanais os ribeirinhos os assentados e acampados da reforma agraacuteria os
trabalhadores assalariados rurais os quilombolas os caiccedilaras os povos da floresta
os caboclos e outros que produzam suas condiccedilotildees materiais de existecircncia a partir
do trabalho no meio rural
ll-escola do campo aquela situada em aacuterea rural conforme definida pela Fundaccedilatildeo
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica- IBGE ou aquela situada em aacuterea
urbana desde que atenda predominantemente a populaccedilatildeo do campo (MARCOS
NORMATIVOS) 2012( p 81)
No Decreto 6755 29 de janeiro de 2009 em seu art 2ordm estabelecida pelo Conselho
Nacional de Educaccedilatildeo que se refere as Diretrizes Operacionais da Educaccedilatildeo do
Campo o parecer da alternacircncia
A formaccedilatildeo de professores poderaacute ser feita concomitantemente agrave atuaccedilatildeo profissional de acordo com metodologias adequadas inclusive a pedagogia da alternacircncia e sem prejuiacutezo de outras que atendam agraves especificidades da educaccedilatildeo do campo e por meio de atividades de ensino pesquisa e extensatildeo (MARCOS NORMATIVOS) 2012( p84)
-26-
29
-
231 A educaccedilatildeo do campo e poliacutetica puacuteblica - o PRONERA
O amadurecimento adquirido pela luta sobre o papel da educaccedilatildeo aliado agrave
iniciativa do aproveitamento do trabalho das professoras ldquoleigasrdquo e ainda da
consciecircncia cada vez mais presente do dever do Estado em prover os cidadatildeos da
reforma agraacuteria de poliacuteticas puacuteblicas resultou no campo da educaccedilatildeo na criaccedilatildeo do
Programa Nacional de Educaccedilatildeo na Reforma Agraacuteria (PRONERA)
O PRONERA envolve formalmente jovens e adultos num projeto conjunto
com universidades e institutos federais em prol da formaccedilatildeo de educadores para o
trabalho em escolas dos assentamentos da reforma agraacuteria e seu entorno
O Programa foi criado em 1998 no momento da ascensatildeo dos conflitos pela
reforma agraacuteria o que propiciou que os movimentos sociais trouxessem para a
opiniatildeo puacuteblica suas mazelas
No campo da educaccedilatildeo foi denunciada a falta de escola a precariedade do
ensino a falta de profissionais do ensino a ldquoloacutegica de negaccedilatildeo histoacuterica do direito
aos camponeses de acesso aos niacuteveis mais elevados de escolaridade ( SANTOS
2012 pag 630)
A partir de 2005 o ensino oferecido pelo PRONERA eacute estendido ao niacutevel
meacutedio e superior como a Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo e a Residecircncia
30
Agraacuteria O PRONERA evoluiu para outros patamares tais como ldquopossibilidades de
ressignificaccedilatildeo do conteuacutedo e da metodologia dos processos de educaccedilatildeo formal
por meio dos princiacutepios baacutesicos da participaccedilatildeo e da multiplicaccedilatildeordquo (SANTOS 2012
p 631)
A participaccedilatildeo das comunidades e suas organizaccedilotildees e a multiplicaccedilatildeo de
alfabetizados formados educadores e demais profissionais ligados agraves poliacuteticas
puacuteblicas para a Reforma Agraacuteria gerou ampla participaccedilatildeo dos agentes envolvidos
na dinacircmica do processo ensino-aprendizagem
Essa forma de gestatildeo gerou reaccedilatildeo contraacuteria ldquoagrave gestatildeo colegiada e coletiva
notadamente agrave participaccedilatildeo direta dos movimentos sociais e sindicais do campordquo
considerados ldquoentes estranhos agrave administraccedilatildeo puacuteblicardquo (CLARICE p 634)
O envolvimento dos movimentos sociais e sindicais do campo natildeo
retrocederam em sua luta pelo envolvimento de todos os interessados na educaccedilatildeo
como elemento emancipatoacuterio e continuam formulando princiacutepios concepccedilotildees e
diretrizes para a escola do campo
-31-
31
Terceiro Capiacutetulo
A histoacuteria do Assentamento Renascer
31 Uma breve histoacuteria de luta
A histoacuteria do Assentamento Renascer natildeo parece ser diferente da histoacuteria de
outros assentamentos Brasil afora Partiu da reivindicaccedilatildeo de Trabalhadores Rurais
sem Terra que desde 2004 ocuparam as margens da Rodovia DF 330 que liga
Sobradinho ao Paranoaacute-DF
Tatildeo perto do centro do poder a apenas poucos quilocircmetros do Palaacutecio da
Alvorada ou da Sede do INCRA o Acampamento Renascer esteve ateacute oito (08) de
maio de 2009 tatildeo distante da decisatildeo poliacutetica pela Reforma Agraacuteria
Somente nesta data trezentos sessenta e um( 361) de terras devolutas da
Uniatildeo foram repassadas ao INCRA para assentar as famiacutelias aliacute acampadas Ficou
criado o assentamento Renascer fora da beira da estrada
O Assentamento Renascer ldquorenasceurdquo da dificuldade de vida sob o barraco de
madeira sem aacutegua sem luz sem saneamento baacutesico que fez com que tantos
desistissem ao longo do caminho e ainda hoje se encontra nessa mesma
precariedade um descaso por parte do poder puacuteblico
A luta em vaacuterios momentos da vida dos acampados parecia estar vencida Os
vencedores pareciam ser a burocracia o desrespeito as noites mal dormidas a
inseguranccedila a falta de perspectivas para o acampado e suas famiacutelias
Duzentas (200) famiacutelias viveram aliacute por cinco anos (05) de 2004 ateacute 2009
Atualmente satildeo cento e vinte (120) famiacutelias que moram na aacuterea destinada e estatildeo
em processo de assentamento Muitas delas poreacutem vencidas pelo cansaccedilo e pelas
condiccedilotildees de vida abandonaram a luta mas todas as famiacutelias as que se foram e as
que ficaram sonharam com a terra onde poderiam produzir viam no pedaccedilo de chatildeo
os frutos do pomar da horta o galinheiro o pasto
O Assentamento Renascer eacute o Brasil Eacute um pedacinho da cruel realidade que
como vimos neste trabalho marcou a sociedade brasileira desde a escravidatildeo
desde o primeiro grito de rebeldia do quilombo desde o primeiro que lutou contra os
coroneacuteis por divisatildeo da terra como as Ligas Camponesas contra o latifuacutendio como
os movimentos sociais em sua luta pela reforma agraacuteria desde vaacuterias geraccedilotildees
32
Eacute como todo e qualquer movimento social que surgiu neste paiacutes desde a
deacutecada de 1980 pela reforma agraacuteria Viveu e ainda vive as dificuldades de ser
acampadoassentado mas honra sua luta porque natildeo desiste faacutecil
O Assentamento Renascer eacute tambeacutem fruto do ecircxodo rural da industrializaccedilatildeo
do campo da monocultura e da concentraccedilatildeo de terras Foram expulsos do campo
para a periferia das cidades sem capacitaccedilatildeo sem estudo
A falta de escolarizaccedilatildeo eacute sem duacutevida uma caracteriacutestica de quase todos os
que vieram do campo para a cidade A realidade do Brasil eacute que o campo natildeo eacute
escolarizado as escolas no campo satildeo poucas satildeo despreparadas satildeo
desvalorizadas
-33-
32 As escolas no campo na vivencia do assentado do Assentamento
Renascer
As escolas no campo marcaram profundamente a vida dos poucos que a
frequentaram Quase todos tiveram que trocar o laacutepis pela enxada a carteira pela
roccedila desde muito pequenos Alguns natildeo muito poucos conforme os depoimentos
aqui relatados teriam que abandonar a enxada e a participaccedilatildeo no sustento da
famiacutelia para frequentar a escola Quase sempre abandonaram a escola para ficar no
trabalho com a enxada
Todos teriam que andar vaacuterios quilocircmetros para ir agrave escola Outros nem assim
conseguiriam frequentar a escola no campo ela simplesmente natildeo existia no
campo Teriam entatildeo que ir para a cidade para ter direito a uma escola
Muitos tambeacutem vivenciaram os traumas que uma escola tradicional e
descomprometida com os valores e responsabilidades do projeto educacional
castigos humilhaccedilotildees afastaram a muitos da escola
Alguns apenas sonharam e sonham com a escola ldquoAh a escolardquo Tatildeo longe
inacessiacutevel para tantos no Brasil afora Ao ver de algumas pessoas do
Assentamento Renascer ldquoSe tivesse jeito eu teria ido agrave escola tinha feito pelo
menos o ensino fundamental completo para que eu pudesse ingressar no curso
33
teacutecnico-agriacutecola Mas agora quero que meus filhos e netos vatildeo para a escola
aprender ser algueacutem na vidardquo
-34-
321 A escola no entorno do Assentamento Renascer
A ideia de lutar pela educaccedilatildeo veio antes da ideia de lutar pela escola como
espaccedilo conquistado pelo acampamento Encontrar uma escola perto do
acampamento com transporte escolar com vagas e horaacuterios acessiacuteveis para os que
trabalham o dia todo era entendido como uma necessidade baacutesica e uma grande
vitoacuteria
Ficava-se feliz se apesar das dificuldades fosse possiacutevel matricular pelo
menos as crianccedilas As dificuldades eram e ainda satildeo muitas o transporte escolar
era e eacute precaacuterio a poeira natildeo permite que os alunos cheguem limpos agrave escola os
buracos e as poccedilas daacutegua impedem a chegada do ocircnibus escolar durante as
chuvas No caso do ocircnibus que levam os alunos ateacute a Escola Classe do Coacuterrego do
Arrozal em eacutepoca de muita chuva os ocircnibus ateacute o iniacutecio de 2014 natildeo conseguiam
transitar Isto resulta no fato de que as crianccedilas precisam caminhar debaixo de
chuva ateacute a escola
-35-
322 O caminho para a produccedilatildeo do saber no Assentamento Renascer a
brinquedoteca a integraccedilatildeo social a biblioteca comunitaacuteria as manifestaccedilotildees
culturais
Ao longo dos anos de vivecircncia e convivecircncia no Acampamento Renascer
mediante a dificuldade e necessidade de estudar que sentimos na nossa proacutepria
vida foi despontando a ideia de prover as crianccedilas de atividades luacutedicas e
educativas
34
Logo no iniacutecio do acampamento por volta de 2005 por iniciativa de algumas
pessoas conscientes da necessidade de atividades luacutedicas para as crianccedilas foi
criada uma brinquedoteca
Inicialmente os brinquedos eram de materiais reciclaacuteveis como garrafas pet
telefones sem fio carrinhos bonecas petecas vai e vem cavalinhos tudo era
confeccionado com a participaccedilatildeo das crianccedilas na modalidade de oficina
incentivando-os a fabricar os seus proacuteprios brinquedos Os brinquedos eram
confeccionados a partir de materiais encontrados nos lugares de descarte perto do
acampamento e doaccedilotildees de pessoas que passavam pela estrada
O embriatildeo de um processo educacional que nunca se interrompeu estava
lanccedilado a brinquedoteca proporcionou a criatividade e a participaccedilatildeo de crianccedilas e
adultos marcando as atividades pela conscientizaccedilatildeo do cuidado com a natureza e a
importacircncia da reciclagem A educaccedilatildeo ambiental jaacute era praticada desde o
nascimento do acampamento Renascer
Este primeiro passo foi muito importante porque traduziu para o dia a dia do
acampamento os princiacutepios da escola do campo atuante para mudar a realidade
criar cidadatildeos conscientes e dispostos a mudar a realidade a partir da sua proacutepria
accedilatildeo Este eacute o processo de transformaccedilatildeo social dentro do acampamento Renascer
haacute tanto tempo atraacutes
Aos brinquedos reciclados pela proacutepria comunidade juntaram-se outros
presenteados por instituiccedilotildees como igrejas ONGs a Pastoral da Crianccedila e pessoas
interessadas no bem estar daquelas crianccedilas
Percebe-se em iniciativas como essas a importacircncia da educaccedilatildeo nos
diversos niacuteveis para a sociedade A integraccedilatildeo de pessoas com as atividades
educativas no acampamento nos faz lembrar sobre um grande sonho das escolas
hoje integrar a comunidade de modo a que todos defendam a escola
O sucesso de iniciativas como a brinquedoteca que integravam crianccedilas
adolescentes adultos e sociedade foi importante para outras iniciativas igualmente
importantes
Foi-se criando um projeto educacional para o acampamento sem que se
tivesse consciecircncia disso por faltar informaccedilatildeo que soacute agora se possui graccedilas aos
estudos na Universidade o galpatildeo comunitaacuterio foi utilizado para abrigar a
35
brinquedoteca para desenvolver grupos de teatro de crianccedilas e adultos e para
abrigar a biblioteca
A biblioteca recebeu inuacutemeros exemplares de livros infantis livros didaacuteticos
para os adolescentes e adultos literatura universal revistas dos mais variados
assuntos criando assim um espaccedilo comunitaacuterio de informaccedilatildeo lazer e
entretenimento
Com a criaccedilatildeo da biblioteca ficou evidente a importacircncia da alfabetizaccedilatildeo de
crianccedilas jovens e adultos Muitos acampados relatavam a vontade e a necessidade
de aprender a ler e a escrever Muitos reivindicavam o direito agrave educaccedilatildeo e
frequecircncia agrave escola ainda que o acampamento mudasse de ldquoendereccedilordquo tantas
vezes
Outros poreacutem natildeo acreditavam que seria possiacutevel aprender ou aperfeiccediloar a
leitura e a escrita nas condiccedilotildees de vida de um acampado
Vaacuterias atividades culturais foram desenvolvidas (e ainda satildeo) no
Acampamento Renascer Todas chamavam a atenccedilatildeo da comunidade local de
outras comunidades vizinhas garantindo a simpatia de chacareiros que levavam os
filhos para participarem das atividades
Uma das atividades mais apreciadas foi o Teatro de Fantoches inspirados em
faacutebulas muitas com a autoria da Pastoral da Crianccedila e da Faber Castel A
participaccedilatildeo da comunidade na atividade era intensa e voluntaacuteria todos queriam
manipular os fantoches participar cantando danccedilando ou prestando muita atenccedilatildeo
O teatro de transformaccedilatildeo social produzido pelos adultos e adolescentes
utilizavam tambeacutem materiais reciclaacuteveis demonstrando cuidado com o meio
ambiente e amadurecimento dos conceitos poliacuteticos e pedagoacutegicos gerando reflexatildeo
sobre os temas sociais que nos atingem no cotidiano
A miacutestica adotada pelos movimentos sociais com o objetivo de reflexatildeo satildeo
apresentadas em datas comemorativas e contam com o apoio e participaccedilatildeo de
muitos
Algumas festas fazem parte da tradiccedilatildeo do Acampamento Renascer
traduzindo para a realidade atual as antigas festas a que todos foram acostumados
em seus lugares de origem
Pode-se dizer que a comunidade aprecia muito as festas Mas duas em
particular satildeo muito respeitadas a festa das crianccedilas que ocorre durante o dia (12
36
de outubro) eacute concorrida pois a comunidade se esmera para oferecer os brinquedos
que as crianccedilas amam pula-pula palhaccedilos pintura de rosto piscina de sabatildeo e
muita oferta de comida coisas que as crianccedilas adoram
No mesmo dia ocorre agrave noite a festa da Nossa Senhora Aparecida com
missa e muito forroacute
No mecircs de marccedilo eacute comemorada a Festa da Pamonha em comemoraccedilatildeo agrave
boa colheita do milho Esta festa jaacute se tornou tradicional conhecida em todo o
entorno do assentamento Egrave uma festa importante porque confraterniza a
comunidade Renascer com as comunidades vizinhas e ateacute mesmo as cidades de
Sobradinho Paranoaacute e Planaltina
Os movimentos sociais necessitam ser admirados pela sociedade e festas
como estas chamam a atenccedilatildeo para o problema da reforma agraacuteria demonstrando
que ela eacute viaacutevel e que os assentados tecircm simpatia competecircncia e seus saberes do
campo
A festa ldquojulinardquo eacute outra festa muito apreciada que apresenta as tradiccedilotildees rurais
e religiosas como quadrilhas e bandas de forroacute da comunidade e vizinhanccedila A
danccedila eacute um dos pontos fortes da festa assim como as comidas tradicionais muitas
delas com ingredientes colhidos no acampamento
Vaacuterios grupos de atividades teatrais apresentaram-se na localidade com
participaccedilatildeo de palhaccedilos lembrando um espetaacuteculo circense Alguns desses
grupos inclusive tiveram seus trabalhos premiados
Outras atividades com fundo educativo tiveram participaccedilatildeo animada de
crianccedilas e adultos A exibiccedilatildeo de desenhos animados recentemente apresentados
no cinema eram um grande atrativo para a comunidade que se via socialmente
incluiacuteda Esta inclusatildeo aumentava a autoestima das crianccedilas principalmente pois
assim elas poderiam interagir com os colegas da escola conversando a respeito dos
filmes
A Economia Solidaacuteria eacute uma das formas de inserccedilatildeo dos membros da
comunidade agrave sociedade economicamente ativa Atraveacutes da cooperaccedilatildeo solidaacuteria eacute
possiacutevel o comercio justo agriacutecolas ou artesanais sob conceitos antes
desconhecidos enquanto forma de produccedilatildeo e consumo centrado na valorizaccedilatildeo do
ser humano em contraposiccedilatildeo agraves formas capitalistas de produccedilatildeo e conscientizaccedilatildeo
37
Ao longo dos doze (12) anos de luta pela educaccedilatildeo foram promovidos
diversos cursos que capacitaram multiplicadores que fazem um trabalho importante
para a comunidade
A ideia de autogestatildeo democracia cooperaccedilatildeo auxilia natildeo soacute as formas de
produccedilatildeo e comercio de bens e artesanatos mas tambeacutem auxiliam na formaccedilatildeo
integral de pessoas em que tanto o produtor como o consumidor tem o proposito de
ganhos financeiros segundo um criteacuterio de valorizaccedilatildeo do trabalho
Proposito de formar uma nova consciecircncia a Economia Solidaacuteria promoveu
cursos de Soberania Alimentar em que a comunidade recebeu noccedilotildees praacuteticas
sobre alimentaccedilatildeo a partir da produccedilatildeo local de modo a promover uma nova cultura
alimentar que visa o combate agraves doenccedilas crocircnicas Outro proposito eacute tornar a
comunidade criacutetica em relaccedilatildeo agrave publicidade de produtos alimentiacutecio supeacuterfluo que
induz agraves crianccedilas e adultos alimentarem-se incorretamente
A comunidade participou coletivamente da implantaccedilatildeo de uma unidade da
tecnologia social denominada Produccedilatildeo Agroecoloacutegica Integrada e Sustentaacutevel
(PAIS) em 2012 com o objetivo de produzir alimentos saudaacuteveis e preservar o meio
ambiente trazendo mais alimentos e renda ao campo Esta tecnologia popularmente
conhecida como ldquohorta mandalardquo foi ministrada durante o curso de capacitaccedilatildeo
promovido pela Fundaccedilatildeo Banco do Brasil e teve o meacuterito de proporcionar o debate
e a participaccedilatildeo democraacutetica na definiccedilatildeo das culturas a serem cultivadas na futura
propriedade Vale informar que o assentamento Renascer identificou-se com esse
paradigma agroecoloacutegico
A educaccedilatildeo ambiental faz parte do dia a dia da comunidade hoje preserva-se
conservaccedilatildeo das formas de vida vegetais e animais na regiatildeo do assentamento e
entorno
A produccedilatildeo de mudas no viveiro eacute bastante concorrida contando com a
participaccedilatildeo de todos O viveiro produz cinco mil (5000) mudas de espeacutecies nativa
do cerrado para o reflorestamento das nascentes de aacutegua e nas aacutereas degradadas
da regiatildeo Contam com o apoio da FUNATURA FUNDACcedilAtildeO BANCO DO BRASIL
IFB Rio Satildeo Bartolomeu Vivo e UnB
-36-
38
39
Quarto Capiacutetulo
A escola que queremos expectativas e sonhos dos
acampados do Assentamento Renascer
Pode-se observar pelas falas dos entrevistados que a realidade de todos
converge para os problemas estruturais do Brasil faltam escolas no campo eacute baixa
a escolaridade em Brasiacutelia todos exercem atividades de subemprego
Todos tecircm grandes expectativas com relaccedilatildeo agrave vida futura no assentamento
objetivando melhores condiccedilotildees de vida na esperanccedila de serem beneficiaacuterios
enquanto cidadatildeos assentados das Poliacuteticas Puacuteblicas e financiamentos agriacutecolas
voltadas para a agricultura familiar como PRONAF PAA PNAE e PAPA-DF Vecircem
aiacute a possibilidade de emprego e renda situaccedilatildeo sonhada desde quando foram
pleitear a terra para reforma agraacuteria
Um olhar mais aprofundado sobre a anaacutelise de dados revela que natildeo importa o
fato de hoje residirem no DF pois como em qualquer lugar de origem os moradores
do assentamento Renascer vivenciam os mesmos problemas Percebe-se
claramente as dificuldades da inexistecircncia de escola no campo A distacircncia continua
impedindo o acesso os meios de transportes continuam precaacuterios os filhos
vivenciam a dificuldade de transferecircncia para a cidade na expectativa de
continuidade dos estudos as estradas rurais continuam esburacadas
Satildeo muitos os pontos em comum entre a situaccedilatildeo atual relatada e os problemas
vividos haacute deacutecadas em seus estados de origem o que deixa transparecer a absoluta
falta de interesse por parte do poder puacuteblico em garantir o direito constitucional agrave
educaccedilatildeo do povo do campo o que infelizmente continuaraacute deixando o triste
legado para o futuro do paiacutes
40
Repetimos a pergunta da inicial Cadecirc as escolas do campo Ateacute quando o paiacutes
vai viver essa situaccedilatildeo A anaacutelise de dados responde Natildeo eacute mais possiacutevel
continuar como estaacute
Todos os entrevistados pretendem alcanccedilar conhecimentos atraveacutes da escola do
campo implantada no Assentamento Renascer com objetivos de administrar a
propriedade participar ativamente do coletivo garantir renda fixa atraveacutes dos
programas de desenvolvimento da agricultura familiar
Os entrevistados unanimamente tecircm a preocupaccedilatildeo da manutenccedilatildeo dos laccedilos
familiares e das raiacutezes camponesas
A distacircncia entre a moradia e a escola fato relatado pela quase totalidade dos
entrevistados constitui um grande motivo de evasatildeo escolar de defasagem nas
seacuteries frequentadas de precariedade na aprendizagem em relaccedilatildeo aos demais
alunos A discriminaccedilatildeo alegada por muitos que frequentaram ou frequentam
escolas fora da faixa etaacuteria o vernaacuteculo proacuteprio dos sujeitos do campo as condiccedilotildees
precaacuterias da estrada que denunciam a condiccedilatildeo de assentado o sentimento de
inadequaccedilatildeo constituem fatores que determinam a evasatildeo escolar
Foram treze (13) entrevistados significando aproximadamente dez por cento
(10) dos moradores do Assentamento Renascer Desse total apenas dois (2)
entrevistados natildeo declararam dificuldade de distacircncia entre a moradia e a escola em
seus lugares de origem A maioria absoluta (11) pessoas declararam que a distacircncia
dificultava e impedia o acesso agrave escola Alguns relatos apresentam situaccedilotildees
precaacuterias para o homem do campo o assentado
Para o aluno do campo a distacircncia da escola tem o significado de inexistecircncia de
escola Isto porque as dificuldades de acesso satildeo enormes No caso em estudo
apenas um entrevistado declarou a inexistecircncia de escola em sua regiatildeo de
moradia Este poreacutem vivenciou todas as dificuldades de acesso que outros
assentados apresentaram em razatildeo da distacircncia moradiaescola
A falta de professores na escola rural eacute relatada por 11 dos 13 entrevistados A
distacircncia da escola para os professores dificulta segundo a vivecircncia dos
entrevistados o acesso agrave escola e a assiduidade o que muito desmotivava a
ambos
41
Os entrevistados conforme anaacutelise de dados desejam muito objetivamente a
implantaccedilatildeo imediata de escolas segundo os criteacuterios caracteriacutesticos de escola do
campo
- Trazer a realidade para dentro da escola do campo curriacuteculos voltados para o
cotidiano do aluno do campo onde as teacutecnicas agriacutecolas pecuaacuterias e agroecoloacutegicas
possam fazer parte do processo educativo da comunidade e que a escola tenha
uma gestatildeo coletiva democraacutetica com a participaccedilatildeo da comunidade
- Ter o trabalho como princiacutepio educativo A experiecircncia do aluno deve
harmonizar-se com os princiacutepios pistrakianos significar o trabalho de forma a que
ele apresente benefiacutecios para o proacuteprio indiviacuteduo para a comunidade na qual estaacute
inserido e para a sociedade e natildeo exclusivamente para servir ao capitalismo
-Superar a fragmentaccedilatildeo do conhecimento disciplinar A interdisciplinaridade
deve fazer parte dos objetivos educacionais de modo a promover a formaccedilatildeo
integral dos educandos
- Valorizar os saberes do homem do campo Os entrevistados desejam uma
escola onde possam exercitar sua vivecircncia campesina e a relaccedilatildeo dialoacutegica entre
professor-aluno seguindo a pedagogia de Paulo Freire o educando quer aprender
com o educador mas quer tambeacutem ter a oportunidade de transmitir seus saberes
- Promover espaccedilos de gestatildeo coletiva A proacutepria comunidade deve participar da
gestatildeo a elaboraccedilatildeo do PPP deve gerir o espaccedilo fiacutesico da escola para atividades
de interesse da comunidade ocupar espaccedilos para finalidades culturais esportivas
sociais tornando a escola um espaccedilo democraacutetico
- Garantir a presenccedila da comunidade e dos movimentos sociais que geram
processos que auxiliam a emancipaccedilatildeo social A escola deve tambeacutem ser espaccedilo
que auxilie a sustentabilidade e garanta a alimentaccedilatildeo saudaacutevel e recursos
fitoteraacutepicos em associaccedilatildeo com a comunidade
- Inclusatildeo tecnoloacutegica em todos os aspectos digital inovaccedilatildeo tecnoloacutegica
agropecuaacuteria recursos ambientais alternativos agua potaacutevel energia solar energia
eoacutelica fossa seacuteptica teacutecnicas de compostagem saneamento baacutesico cuidados com
os recursos hiacutedricos
A anaacutelise dos dados quando feita especificamente sobre a escola a ser
implantada pode aparentemente demonstrar uma pequena conexatildeo com as teorias
da escola do campo
42
A concepccedilatildeo da escola do campo natildeo pode ser imposta ela parte do princiacutepio
que os camponeses devem conquista-la Para essa conquista eacute necessaacuteria a
paixatildeo o desejo por algo ainda natildeo experimentado o amadurecimento poliacutetico-
social-pessoal a participaccedilatildeo coletiva na luta e na conquista
A trajetoacuteria de luta por educaccedilatildeo da comunidade Renascer apresenta estes
elementos agraves vezes difusos outras vezes mais claramente A escola bem que
poderia para alguns ser apenas uma escola rural Afinal aprender a ler e a
escrever ldquodireitordquo como alguns dizem ou seja deixar a condiccedilatildeo de analfabeto ou
analfabeto funcional para tornar-se letrado significaria avanccedilos em face das atuais
circunstacircncias Alguns entendem assim expressando-se principalmente nas
conversas informais
Apesar disso quando as respostas informais ou quando as respostas das
entrevistas satildeo analisadas mais profundamente identificamos que embora
difusamente todos desejam o programa educacional da escola do campo
Explicando melhor a participaccedilatildeo de todos da comunidade em todas as atividades
soacutecio-poliacuteticas-culturais (relatadas no terceiro capitulo) indicam que a comunidade
assimilou a postura soacutecio-politica-cultural que caracterizam a escola do campo
A vivecircncia do Assentamento Renascer no cotidiano e nos eventos coletivos
amadureceu o desejo pelo alimento intelectual cultural artiacutestico ambiental social
que a concepccedilatildeo de escola do campo introduz O programa educacional da Escola
do Campo ultrapassou as paredes fiacutesicas da escola e alcanccedilou o cotidiano dos
assentados
Os avanccedilos da conscientizaccedilatildeo e seu reflexo na vida do Assentamento Renascer
satildeo sentidos nos nuacutemeros de matriculados na LEdoC sete (7) alunos
aproximadamente dez (10) assentados prestaratildeo o proacuteximo vestibular trecircs (3)
assentados estatildeo matriculados no IFB dois(2) assentados estatildeo formados em
Teacutecnico Agropecuaacuterio tambeacutem pelo IFB um deles cursa o Tecnoacutelogo de
Agroecologia tambeacutem do IFB
Vale acrescentar que no iniacutecio de 2014 quando o IFB buscou no Assentamento
pessoas interessadas em matricular-se em seus cursos sob a condiccedilatildeo de
estudarem no ensino meacutedio o interesse foi grande e a impossibilidade pelo fato de
natildeo estarem habilitados no ensino fundamental provocou tanta discussatildeo que
estimulou essa pesquisa
43
O legado desses alunos futuros alunos e profissionais para o futuro do
Assentamento apresentaraacute resultados significativos para toda a comunidade O
futuro colheraacute bons frutos plantados agora
A escola que temos natildeo estaacute funcionando falta a renovaccedilatildeo do contrato o que
atrasa a alfabetizaccedilatildeo e conclusatildeo do 5ordm ano Falta a implantaccedilatildeo de poliacuteticas
puacuteblicas para atendimento de questotildees baacutesicas como por exemplo carteiras
quadro de giz iluminaccedilatildeo espaccedilo fiacutesico (dependecircncias para a escola) e mobiliaacuterio
-41-
44
Consideraccedilotildees Finais
A Educaccedilatildeo do campo eacute um movimento em que os trabalhadores do campo e
suas organizaccedilotildees lutam por transformaccedilotildees sociais particularmente a criaccedilatildeo de
escolas dono campo de qualidade a partir de uma perspectiva ampla de reforma
agraacuteria
A construccedilatildeo da educaccedilatildeo do campo eacute resultado do amadurecimento dos
movimentos sociais e das comunidades rurais em sua trajetoacuteria de luta pelo direito
fundamental agrave universalizaccedilatildeo escolar para as populaccedilotildees camponesas segundo
orientaccedilatildeo poliacutetico-pedagoacutegica adequada agrave realidade dos lutadores de
acampamentos e assentamentos em luta pela reforma agraacuteria e justiccedila social
Alguns princiacutepios caracterizam a luta pela escola do campo Dentre eles
podemos citar a criaccedilatildeo da consciecircncia do direito agrave educaccedilatildeo de qualidade plantada
na proacutepria comunidade o que provoca o enraizamento a valorizaccedilatildeo da vida no
campo a promoccedilatildeo da autoestima e a transformaccedilatildeo do ser alienado pela ideologia
e desigualdade social e sujeito de sua proacutepria histoacuteria
Outro princiacutepio eacute a adequaccedilatildeo de curriacuteculos agrave realidade camponesa de modo
a que o processo ensino-aprendizagem favoreccedila o amadurecimento de talentos
naturais o surgimento de oportunidades a niacutevel pessoal e social contribuindo para a
emancipaccedilatildeo poliacutetico-social do indiviacuteduo com reflexos na sociedade
A mudanccedila de paradigmas e o envolvimento social provocam a formaccedilatildeo integral
dos sujeitos que lutam de forma coletiva e solidaacuteria pela terra A escola do campo
que surge dessa mudanccedila eacute tambeacutem transformadora porque eacute fruto da luta
consciente que gera a reflexatildeo e o amadurecimento poliacutetico deixando um legado
positivo de cidadatildeos orgulhosos de sua condiccedilatildeo de lutador pela terra de sua
identidade de sua cultura de sua comunidade e coletividade
A escola do campo propicia aos alunos a reflexatildeo sobre o contexto social e a
problemaacutetica da comunidade em que estatildeo inseridos o respeito agrave individualidade a
ampliaccedilatildeo das potencialidades do aluno para organizar elaborar e atuar
coletivamente Deixam o legado futuro de homens responsaacuteveis mentes
independentes e atuantes que poderatildeo prestar serviccedilos significativos agrave sociedade
45
A comunidade assentada de o Assentamento Renascer pela Reforma
Agraacuteria em Sobradinho DF foi convidada a opinar sobre a escola que deseja a
partir da conquista da terra
O modelo proposto a partir de seu posicionamento possibilita a conclusatildeo
de que a escola do campo plantada na comunidade eacute preferiacutevel ao modelo
adotado atualmente de inserccedilatildeo dos alunos da comunidade agraves escolas urbanas
conter recursos materiais e humanos que propiciem bons resultados
pedagoacutegicos deve servir para fixar o trabalhador ao campo deve cumprir com o
propoacutesito constitucional de universalizaccedilatildeo do ensino para todas as faixas
etaacuterias deve estar identificada com os sonhos de prosperidade material e
realizaccedilatildeo pessoal dos assentados
-46-
46
Referecircncias Bibliograacuteficas
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KOLLING Edgar Jorge Vargas Caldart MST e Educaccedilatildeo in DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia Expressatildeo Popular 2012 (pag 5020
MOLINA Mocircnica SAacute Laiacutes Mouratildeo Escola do Campo in DICIONARIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia Expressatildeo Popular 2012 pg (329)
OLIVEIRA Maria Rita Duarte em sua dissertaccedilatildeo ldquoDos programas oficiais para a educaccedilatildeo rural aos projetos de educaccedilatildeo do campo dos movimentos sociaisrdquo WWWrevistalaborufcbrartigovolume1maria-ritapdf acesso em 08-09-2014
OLIVEIRA Maria Rita Duarte PEDAGOGIA EM MARCHA Apud ARROYO Satildeo Paulo1995( pg 162)
OLIVEIRA Maria Rita Duarte Revistalabor ufcbracesso em 19-10-2014
________ citando CALAZ Maria Rita Duarte Oliveira
47
SANTOS Clarice Aparecida PROGRAMA NACIONAL DE EDUCACcedilAtildeO NA REFORMA AGRAacuteRIA in DICIONARIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia2012(pg630)
________ Clarice Aparecida PROGRAMA NACIONAL DE EDUCACcedilAtildeO NA REFORMA AGRAacuteRIA BRASIacuteLIA 2012 pg 631 in DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO SANTOS Claudio Felix Dos ldquoO aprender a aprender na formaccedilatildeo de professores do campordquo Campinas 2013 Editora Autores Associados ) SOUZA Maria Antocircnia Movimentos Sociais no Brasil Contemporacircneo participaccedilatildeo e possibilidades no contexto das praacuteticas democraacuteticas ndash (wwwcesucptlab2004pdfMariaAntonia Souzapdfaceso em 24-07-2014 -48-
48
Apecircndices
1 Roteiro das Entrevistas
a) Dados dos entrevistados
Qual o seu nome
Masculino ( ) Feminino ( )
Quantos anos vocecirc tecircm
A quanto tempo mora no
assentamento
Onde vocecirc morou antes
de morar no
assentamento
Quantos anos vocecirc tinha
quando foi a escola pela
primeira vez
Estou ateacute qual seacuterieano
Quantos anos vocecirc tinha
quando parou de estudar
Qual motivo motivou vocecirc
a parar de estudar
Se tiver escola no
assentamento vocecirc voltaraacute
a estudar Porque
B) Outras informaccedilotildees dados pelos entrevistadosas (GRAVAR)
a) Em qual escola vocecirc estudou no acampamento ou em outro lugar Qual
b) Como era a escola que estudou Quais as coisas boas e coisas ruins que
tinha nesta escola
c) Conte como eacutefoi a educaccedilatildeo do assentamento o que jaacute existiu de escola
como funcionou e quais eram as boas e as coisas ruins desta escola
d) Jaacute participou de alguma accedilatildeo de mobilizaccedilatildeo para ter escola no
assentamento Se sim explique para que e como foi essa mobilizaccedilatildeo
e) Na sua opiniatildeo no assentamento deve ter escola Por quecirc
f) Como deveraacute ser a escola da comunidadeassentamento Como eacute a escola
que queremos ter
49
b) Entrevistas semi-estruturadas
Entrevistado 01
Moro no assentamento Renascer haacute 11 anos Nasci Carnauacuteba no Rio Grande do
Norte fui criado na roccedila e desde pequeno trabalhava na lavoura para ajudar meu
pai Fui para escola com 9 anos de idade estudei ateacute a 5ordm seacuterie parei de estudar
com 17 anos natildeo continuei os estudos porque era muito longe de onde eu morva
que era na cidade mais proacutexima eu tinha que andar a peacute 8 km ficava muito
cansado Casei e vim morar em Brasiacutelia para trabalhar em uma chaacutecara como
caseiro Morava na chaacutecara Buritis em sobradinho- Df tambeacutem natildeo dei para
continuar os estudos porque ficava longe e tinha que ser a noite e natildeo tinha como ir
Se vier uma escola pra caacute eu ainda vou estudar para ter mais conhecimento para
plantar minha roccedila ir no banco pra ver se assino um empreacutestimo para melhorar
minha produccedilatildeo e saber fazer conta pra administrar minha parcela de terra
Qual o seu nome
Masculino ( X ) Feminino ( )
Quantos anos vocecirc
tecircm
57 anos
A quanto tempo
mora no assentamento
11 anos
Onde vocecirc morou
antes de morar no
assentamento
Carnauacuteba ndash RN
Chaacutecara Buritis nordm 10 Sobradinho DF
Quantos anos vocecirc
tinha quando foi a escola
pela primeira vez
8 anos
Estou ateacute qual
seacuterieano
5ordf seacuterie
Quantos anos vocecirc
tinha quando parou de
estudar
24 anos
Qual motivo
motivou vocecirc a parar de
estudar
Trabalhar para sustento da famiacutelia a
distacircncia entre a casa e a escola
Se tiver escola no
assentamento vocecirc voltaraacute
a estudar Porque
Sim ldquoSe tivesse escola do ensino
fundamental voltaria a estudar para tecirc
mais conhecimento para plantar minha roccedila
50
saber pesar saber contar vendecirc os produto e
comecirc
Entrevistado 02
Moro no assentamento renascer haacute 7 anos tenho 38 vim do interior do Cearaacute
Entrei na escola com 7 anos de idade estudei soacute a 5ordm seacuterie incompleta natildeo
continuei a estudar porque natildeo tinha escola a onde eu morava que era na roccedila e eu
tinha que ficar na casa dozotro (SIC) na cidade e eu natildeo gostava disso natildeo ai parei
com 16 anos de idade Mudamo (SIC) pra Brasiacutelia pra uma chaacutecara perto de Santa
Maria-DF e natildeo dei pra estudar porque casei e tinha que trabalhar muito para
susrentar a famiacutelia A gora moro no assentamento Renascer e sei que um dia vai ter
uma escola aqui e eu vou voltar a estudar porque meu sonho eacute ser veterinaacuterio e vou
der se deus quiser
Entrevistado 03
Tenho 58 anos moro no assentamento Renascer haacute 6 anos vim de Ceres-GO
comecei a estudar quando eu tinha 10 ano de idade estudei ateacute a 4ordf seria primaacuteria
(SIC) parei de estudar quando tinha 16 anos porque eu morava na roccedila e escola
ateacute que natildeo ficava muito longe natildeo era soacute 2 km dava pra ir a peacute a professora eacute que
faltava muito e a gente natildeo tinha como saber se ela tava ou natildeoAiacute quando eu tinha
18 anos casei e vim morar em Brasiacutelia e arranjei(SIC) emprego de caseira em uma
chaacutecara aiacute natildeo pra estudar a noite porque era muito longe pra laacute entatildeo eu natildeo
pensei mais nessas coisas Quando tiver escola no assentamento quero estudar
quiecirc pra mim (SIC) fazer curso de teacutecnico agriacutecolarsquorsquo
Entrevistado 04
Tenho 24 anos moro no assentamento Renascer tem 6 ano vim da Bahia morava
no Condomiacutenio RK entrei na escola com 7 anos de idade e estudei soacute ateacute a 6ordf seacuterie
parei com 18 anos de idade
Porque mudei pra caacute pro assentamento (SIC) e natildeo tem escola e natildeo tem como ir
pra Sobradinho a noite porque eacute muito longe tem que andar 5 km eacute pirigogo (SIC)
tem muita gente mal por aiacute tem ateacute estrupador natildeo posso me arriscar
ldquoSe tivesse escola aqui eu ia terminar meus estudos podia ser no galpatildeo mesmo
pra mim tava bom mas para os meus filhos eu queria uma escola boa com internet
e tudo Eu natildeo gosto que meus filhos estuda(SIC) na cidade soacute aceito porque eacute o
jeito gente de assentamento eacute muito zombado (SIC) porque as vezes chega suja
na escola e os outros acha que eles satildeo porcos que toma banhordquo
Entrevistado 05
51
Tenho 21 anos de idade moro no Renascer haacute trecircs anos vim de satildeo Gabriel-GO
comecei a estudar aos 7 anos parei com 18 anos porque minha matildee mudou
pro(SIC) matildee mudou pro (SIC) assentamento haacute 6 anos e eu natildeo aguento morar
longe dela Quando cheguei aqui natildeo teve como continuar os estudos porque
trabalho durante o dia como manicure em Sobradinho e o uacuteltimo ocircnibus que passa
perto do assentamento eacute as 5 horas da tarde entatildeo natildeo daacute para estudar a noite
Sim porque quero fazer um curso de cabelereiro quando tiver aacutegua e luz aqui eu
quero montar um salatildeo de beleza e para ser uma empresaacuteria precisa ter estudos pra
administrar o negoacutecio
Entrevistado 06
44 anos
6 anos
Formosa-GO
8 anos
5ordf seacuterie
24 anos
Porque a escola mais perto(SIC) era 10km de distacircncia e eu trabalhava na roccedila e
ficava muito cansado aiacute parei natildeo deu mais
Sim quando tiver escola aqui eu vou voltar a estudar Eu tinha um sonho de ser
agroacutenomo mas esse sonho eacute impussive(SIC) entatildeo queria concluir o ensino
fundamental para fazer um curso de teacutecnico agriacutecola no IFB mas tambeacutem eacute longe
se tivesse como estudar aqui no assentamento eu ia(SIC) ficar muito feliz
Entrevistado 07
57 anos
6 anos
Parnaiacuteba-PI- Santa Maria- DF
7 anos
4ordf seacuterie
21 anos
Parei porque era muito difiacutecil ir para escola que ficava muito longe eu tinha que sair
de casa as 4hs da madrugada para chegar na escola as 730 ia montado num
cavalo e muitas vezes natildeo tinha professora pra dar aula Parei porque natildeo aguentei
o rojatildeo tinha que minha matildee na lida a tarde e eu ficava muito cansado Vim pra
52
Brasiacutelia e casei fui trabalhar de chacareiro numa chaacutecara que tambeacutem era longe de
escola depois vim morar aqui no assentamento que natildeo tem escola
Se tivesse escola aqui eu ia voltar estudar soacute pra aprender a cuidar meior (SIC) da
terra e dos meus bichos e que fosse como uma escola agriacutecola
Entrevistado 08
Tenho 29 anos moro no assentamento Renascer haacute 2 anos sou educadora do
Pronera haacute 1 ano e 2 meses O Pronera eacute como um antidepressivo na vida de muita
gente o Pronera melhorou a minha vida e a vida dos meus alunos o desejo de
todos eacute que o Pronera continue crescendo em direccedilatildeo de uma educaccedilatildeo continuada
levando tambeacutem o ensino fundamental para os acampamentos e assentamentos da
Reforma Agraacuteria
-50-
Anexos
53
Acampamento agrave beira da estrada ndash 2004
Construccedilatildeo da Sede do Movimento na atual aacuterea
54
Reuniatildeo semanal
Teatro de fantoches ndash brinquedoteca
55
Accedilatildeo da Pastoral da Crianccedila na brinquedoteca
Oficina de brinquedos reciclaacuteveis
56
Brinquedo confeccionado com materiais reciclaacuteveis na Brinquedoteca
57
58
59
60
Apresentaccedilatildeo teatral
61
Capacitaccedilatildeo em Economia Solidaacuteria
Formaccedilatildeo de multiplicadores da Economia Solidaacuteria
62
Capacitaccedilatildeo de Educadores Ambientais
63
Luta pela Reforma Agraacuteria e Soberania Alimentar
- 1 -
SUELI DE MARIA XAVIER PEREIRA
A ESCOLA QUE TEMOS E A ESCOLA QUE QUEREMOS
A Trajetoacuteria de luta por educaccedilatildeo no Assentamento Renascer
Monografia apresentada ao Curso de Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo ndash LEdoC da Universidade de Brasiacutelia-UnB como requisito parcial para a obtenccedilatildeo ao tiacutetulo de licenciado em Educaccedilatildeo do Campo
Orientadora Profordf Drordf Eliene Novaes Rocha
PLANALTINA DF
2014
- 2 -
SUELI DE MARIA XAVIER PEREIRA
A ESCOLA QUE TEMOS E A ESCOLA QUE QUEREMOS
A Trajetoacuteria de luta por educaccedilatildeo no Assentamento Renascer
Monografia apresentada ao Curso de Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo ndash LEdoC da Universidade de Brasiacutelia-UnB como requisito parcial para a obtenccedilatildeo ao tiacutetulo de licenciado em Educaccedilatildeo do Campo
Aprovado em ______ de _______________ de 2014
___________________________________________
Profordf Drordf ELIENE NOVAES ROCHA Professora Orientadora FUPUnB
___________________________________________
JULIANA ROCHET (FUBUNB) Professor Avaliador
UnB
___________________________________________
SILVANETE PEREIRA DOS SANTOS Professor Avaliador Externo
Universidade Catoacutelica de Brasiacutelia
PLANALTINA- DF 2014
0
AGRADECIMENTO
Em primeiro lugar ao meu bom Deus porque sem ele eu natildeo sou nada
Ao meus queridos filhos Janaina Pereira Dias e Rodrigo Pereira Dias que me deram muito apoio forccedila e coragem nos momentos difiacutecil no decorrer desses quatro anos de estudo Ao meu esposo Paulo Viniacutecio Alvim Cruz que me deu todo seu amor e apoio nos momentos mais difiacutecil que venho enfrentado nos uacuteltimos anos A minha grande amiga e irmatilde de coraccedilatildeo Mariza do Carmo Azevedo por sempre ter acreditado em mim no decorrer desses 25 anos de amizade sincera A minha matildee Rosalda e meus e meus irmatildeos e irmatildes que me admiram muito por ser a primeira da famiacutelia da minha geraccedilatildeo a concluir um curso superior apesar de todas as dificuldades A minha orientadora professora DrordfEliene Novaes Rocha por ter acreditado que eu sou capaz de realizar esse trabalho mesmo em meio a muitos problemas que vinha enfrentando As professoras Juliana Rochet e Silvanete Pereira dos Santos que me avaliaram e aprovaram na banca examinadora Ao Diretor da FUP Antocircnio Pasquetti por ser um grande lutador em defesa do curso de Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo A coordenadora da LEdoC professora Drordf Eliete Aacutevila Wolff por ser uma grande defensora da Escola do Campo e da Ciranda Ciranda A professora Drordf Roseneide Magalhatildees pelo excelente empenho como coordenadora da LEdoC na gestatildeo anterior e como professora da aacuterea de linguagem com a qual pude aprender muito A todos os meus professores e professoras do curso de Licenciatura em Educaccedilatildeo do campo Rafael Zarref Joatildeo Batista Jair Reck Mocircnica molina Laiacutes mouratildeo Liacutevia Bernardo Tamiel Djiby ana Cristina Sisi Regina Roberta Joelma Joelma e outros colaboladores Ao MATR- Movimento de Apoio aos Trabalhadores Rurais a tudo que aprendi sobre Reforma Agraacuteria e que sem o qual eu natildeo teria ingressado no curso de Licenciatura em Educaccedilatildeo do campo-UnB Aos meus colegas da turma Panteras negras pelo grande desempenho e luta de conivecircncia no coletivo
1
ldquo A educaccedilatildeo eacute a arma mais poderosa que vocecirc pode usar para mudar o mundordquo (Nelson Mandela) ldquoEnsinar natildeo eacute transferir conhecimento mas criar as possibilidades para a sua proacutepria produccedilatildeo ou a sua construccedilatildeordquo (Paulo Freire) ldquo Se a educaccedilatildeo sozinha natildeo pode transformar a sociedade tatildeo pouco sem ela a sociedade mudardquo (Paulo Freire)
2
RESUMO
Este estudo tem como propoacutesito analisar a trajetoacuteria de luta dos trabalhadores
rurais sem terra pela escola do campo A educaccedilatildeo do campo eacute entendida como um
movimento que busca a concretude de uma educaccedilatildeo ampla diversificada e
enraizada em conceitos de coletividade da participaccedilatildeo da famiacutelia e da comunidade
e focada na transformaccedilatildeo do indiviacuteduo e da sociedade O estudo da escola do
campo constitui tema desafiador na medida em que provoca demandas sociais e
poliacuteticas puacuteblicas para o cumprimento das leis que garantem a criaccedilatildeo e o bom
funcionamento dessas escolas Essa pesquisa analisa tambeacutem a importacircncia da
escola do campo para fixar a comunidade rural agraves suas raiacutezes culturais familiares e
sociais em particular a necessidade de atendimento das reivindicaccedilotildees por escola
do Assentamento Renascer
3
ABSTRAT
This study aims to analyze the trajectory of struggle of the landless rural workers by
the school field The rural education is understood as a movement that seeks the
concreteness of a broad education diverse and rooted in community concepts
family participation and community and focused on the transformation of the
individual and society The field school study is challenging topic in that causes social
demands and public policies for compliance with the laws that guarantee the creation
and proper functioning of these schools This research also analyzes the importance
of the field school to secure the rural community to their cultural social and family
roots in particular the need to meet the demands for school Settlement Reborn
4
SUMAacuteRIO
Apresentaccedilatildeo 07
Capitulo l As opccedilotildees de pesquisa e os passos metodoloacutegicos
11Pesquisa Qualitativa com Estudos de Caso11
Capiacutetulo ll Da Escola Rural a Escola do Campo histoacuterico das lutas e
concepccedilatildeo da Educaccedilatildeo
21 A escola rural no Brasil16
22Trajetoacuteria de luta pela Educaccedilatildeo21
23Concepccedilatildeo Pedagoacutegica da Educaccedilatildeo do Campo26
24 Princiacutepios da Educaccedilatildeo do Campo28
25 Marcos Normativos da Educaccedilatildeo do Campo29
Capiacutetulo lll A histoacuteria do Assentamento Renascer
31 Trajetoacuteria de criaccedilatildeo do assentamento aos dias atuais34
32A histoacuteria da educaccedilatildeo no assentamento Renasce Renascer34
33 A escola do Campo na vivecircncia do Assentamento Renascer35
34O caminho para a produccedilatildeo do saber no Assentamento Renascer a
brinquedoteca a integraccedilatildeo social a biblioteca comunitaacuteria e as manifestaccedilotildees
culturais 36
Capitulo lV A escola que queremos41
Consideraccedilotildees finais 46
Referecircncias Bibliograacuteficas48
Apecircndice50
Anexo55
5
Lista de Siglas
DF - Distrito Federal
EMPRAPA - Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuaacuteria
FUNATURA - Fundaccedilatildeo Proacute-Natureza
GDF- Governo do Distrito Federal
IFB - Instituto Federal de Brasiacutelia
INCRA - Instituto Nacional de Colonizaccedilatildeo e Reforma Agraacuteria
LEdoC - Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo
MEB - Movimento de Educaccedilatildeo de Base
MAT R - Movimento de Apoio ao Trabalhador Rural
MST - Movimento dos Sem Terra
ONGs - Organizaccedilatildeo natildeo Governamental
PRONERA - Programa Nacional de Educaccedilatildeo na Reforma Agraacuteria
PAIS - Produccedilatildeo Agroecoloacutegica Integrada e Sustentaacutevel
PRONAF - Programa Nacional de Fortalecimento na Agricultura Familiar
PAA - Programa de Aquisiccedilatildeo de Alimento
PNAE - Programa Nacional de Alimentaccedilatildeo Escolar
6
PAPA-DF -Programa de Aquisiccedilatildeo da Produccedilatildeo da Agricultura
PPP - Projeto Poliacutetico Pedagoacutegico
7
APRESENTACcedilAcircO
O presente trabalho de pesquisa eacute resultado da observaccedilatildeo presencial do
assentamento de Reforma Agraacuteria denominado Renascer ao longo de 11 (onze)
anos de convivecircncia Durante 5 (cinco) anos se estabeleceu um acampamento agraves
margens da rodovia DF 330 que liga Sobradinho ao Paranoaacute DF Apoacutes mobilizaccedilatildeo
dos acampados e negociaccedilatildeo com o poder puacuteblico (GDF Coleacutegio Agriacutecola de
Brasiacutelia atualmente Instituto Federal de Brasiacutelia EMBRAPA e intermediaccedilatildeo
puacuteblica) foi liberada uma aacuterea para o acampamento mudar de local e se estabelecer
onde atualmente estaacute situado (entre o Coacuterrego do Arrozal e o Coacuterrego do Meio)
Esta mudanccedila de local foi autorizada pelo governo e se concretizou em maio de
2009 Neste tempo a situaccedilatildeo do acampamento mudou para preacute-assentamento e
atualmente jaacute se encontra em situaccedilatildeo de Assentamento Rural
Durante todos esses anos foram realizados algumas atividades pedagoacutegicas
na comunidade tais como a implantaccedilatildeo de uma brinquedoteca com oficinas de
confecccedilatildeo de brinquedos para as crianccedilas acampadas utilizando materiais
reciclados uma biblioteca com livros e revistas usados obtidos atraveacutes de doaccedilatildeo de
vaacuterias pessoas simpatizantes da causa da Reforma Agraacuteria Aulas de alfabetizaccedilatildeo
de adultos no horaacuterio noturno pelo Programa Nacional de Educaccedilatildeo na Reforma
Agraacuteria (PRONERA) com recursos muito escassos mas eacute a educaccedilatildeo que nos
acompanha ateacute nos dias de hoje Atividades de arte-educaccedilatildeo para incentivos e
melhorias na interaccedilatildeo de crianccedilas e jovens exercitando a praacutetica de teatro projeccedilatildeo
de filmes recreativos e de novos conhecimentos para os moradores produccedilatildeo de
um documentaacuterio sobre a comunidade Renascer e a importacircncia da Reforma
Agraacuteria no Brasil denominado ldquoConquistar a terra Produzir o patildeordquo Com o apoio do
projeto audiovisual ndash UnB Planaltina
Para uma melhor compreensatildeo da pesquisa monograacutefica dividiu-se o texto
em capiacutetulos O Primeiro capiacutetulo aponta as opccedilotildees de pesquisa e os passos
metodoloacutegicos para sua realizaccedilatildeo No segundo capiacutetulo estudamos a transiccedilatildeo
entre a escola rural e a escola do campo O terceiro capiacutetulo relata a histoacuteria do
Assentamento Renascer e o quarto capiacutetulo relatamos o resultado da pesquisa de
campo evidenciando a Escola que temos e a Escola que queremos
8
Primeiro Capiacutetulo
As opccedilotildees da pesquisa e os passos metodoloacutegicos
O intuito deste trabalho eacute recuperar a trajetoacuteria de luta dos moradores do
assentamento Renascer pela educaccedilatildeo visando assegurar o direito agrave escola
identificando avanccedilos e limites encontrados nesta trajetoacuteria
Gostaria de manifestar minha satisfaccedilatildeo e agradecer a oportunidade de estar
estudando numa universidade puacuteblica em um curso com muita interfere com a minha
vivecircncia pessoal e de um alcance social muito importante para a transformaccedilatildeo que
nosso paiacutes necessita A desigualdade social ainda eacute muito grande no campo e na
cidade sendo bastante visiacutevel esta realidade
Sou nascida numa comunidade remota e isolada no sul do Maranhatildeo onde
nos meus primeiros anos de vida convivi em uma comunidade indiacutegena com minha
avoacute paterna comunidade de economia essencialmente extrativista principalmente
da quebra do coco babaccedilu o cultivo da mandioca para fazer farinha e da caccedila e
pesca Fiquei sem frequentar agrave escola ateacute os treze(13) anos de idade por natildeo existir
escola na comunidade Quando vim morar em Brasiacutelia e ingressei em uma escola
pela primeira vez sofri muita descriminaccedilatildeo por parte dos outros alunos devido
minha idade e a defasagem escolar Apesar de viver na cidade grande haacute bastante
tempo continuam vivas na minha alma o desejo de viver no campo Estou na luta
por um pedaccedilo de terra atraveacutes da Reforma Agraacuteria no assentamento Renascer
com o apoio do MATR- Movimento de Apoio ao Trabalhador Rural haacute onze(11)
anos atualmente estamos em fase de sermos assentados
Alguns anos atraacutes em 1992 cheguei a fazer um curso de formaccedilatildeo de
professores (Magisteacuterio) e me capacitei para trabalhar da 1ordf a 4ordf seacuterie do Ensino
Fundamental na eacutepoca Realizei alguns trabalhos nessa aacuterea mas natildeo exerci
profissionalmente esta atividade de forma regular
O tema Escola do Campo vem ao encontro a um anseio pessoal de poder
trabalhar com educaccedilatildeo voltada para a realidade vivida pelo cotidiano da populaccedilatildeo
realmente do campo A minha motivaccedilatildeo ao escolher este tema de pesquisa eacute de
9
poder de alguma forma contribuir para a troca de experiecircncia e conhecimentos entre
educandos e educadores melhorando minha capacitaccedilatildeo profissional e absorver
conhecimentos e orientaccedilotildees de professores (as) e companheiros (as) de estudo
Conforme o educador Paulo Freire dizia ningueacutem tem o conhecimento de tudo
e sempre eacute capaz de conhecer mais coisas que ainda natildeo conhece se assim o
desejar
O assentamento Renascer hoje conta com um total de 120 famiacutelias satildeo
11 (onze) anos de luta e perseveranccedila tem se manifestado se mobilizado
reivindicando oportunidades de obterem escola do campo para adquirirem
conhecimentos atraveacutes do estudo que lhes permita melhorar sua capacitaccedilatildeo para o
trabalho e consequentemente ampliar seus horizontes soacutecio- econocircmico e
culturalmente ou seja progredir atraveacutes dos seus estudos e trabalho que satildeo
direitos humanos universais
Sem a inclusatildeo do ensino fundamental para trabalhadores rurais a Educaccedilatildeo
de Jovens e Adultos (EJA) para o ensino do 6ordm ao 9ordm ano o que natildeo eacute nem um pouco
acessiacutevel agrave comunidade devido a inuacutemeras dificuldades como horaacuterio disponiacutevel
falta de transporte dentre outros fatores Fica impossiacutevel o acesso dessa
comunidade aos estudos oferecidos pelo Instituto Federal de Brasiacutelia (IFB) que fica
proacuteximo a esse assentamento O IFB oferece diversos cursos que interessam e
atendem agraves necessidades dos trabalhadores do campo Desta maneira a situaccedilatildeo
atual dos moradores do Assentamento Rural Renascer demostra discriminaccedilatildeo e
exclusatildeo social por parte do poder puacuteblico
Alguns cursos e projetos teacutecnico-pedagoacutegicos realizados por parceiros do
Movimento de Apoio ao Trabalhador Rural (MATR) Como a Fundaccedilatildeo Banco do
Brasil Funatura IFB Economia Solidaacuteria Novas Fronteiras da Cooperaccedilatildeo Rio Satildeo
Bartolomeu Vivo e UnB Essas parcerias acrescentaram melhorias agrave qualidade de
vida ao assentamento
A educaccedilatildeo que temos atraveacutes do Programa de Educaccedilatildeo na Reforma
Agraacuteria (PRONERA) revela que a importacircncia do programa na realidade do
assentamento durante determinado periacuteodo satisfez algumas necessidades
educacionais tirando muitas pessoas do analfabetismo
O que ocorre atualmente eacute que o Pronera natildeo estaacute funcionando no
momento por falta da renovaccedilatildeo do contrato estre o INCRA a UnB e o Movimento
10
Social MATR que vem atrasando o processo de alfabetizaccedilatildeo e conclusatildeo do
5ordm ano
Um olhar criacutetico sobre a escola que temos revela a necessidade de poliacuteticas
puacuteblicas como a implantaccedilatildeo de espaccedilos fiacutesicos contendo mobiliaacuterio escolar baacutesico
como carteiras quadro de giz e iluminaccedilatildeo adequada A observaccedilatildeo da atuaccedilatildeo do
Pronera na comunidade Renascer resultou nas seguintes observaccedilotildees
- inadequaccedilatildeo do local para realizaccedilatildeo das aulas que ateacute recentemente
funcionava de forma precaacuteria num barraco utilizado pela igreja catoacutelica o que
impossibilitava o funcionamento das aulas pois durante os eventos da igreja natildeo
tinha como realizar as atividades pedagoacutegicas
A reparaccedilatildeo dessa situaccedilatildeo de precariedade especiacutefica do assentamento
Renascer contribui para reverter a condiccedilatildeo de inferioridade dos assentados
As criacuteticas acima relacionadas satildeo positivas pois a uacutenica escola que o
acampamento teve no decorrer desses 11 (onze) anos foi o Pronera que pode
perfeitamente superar as dificuldades apontadas contribuindo com o trabalho do
educador (a) que acaba por acrescentar inuacutemeras responsabilidades que lhe natildeo
satildeo devidas ao ato de ensinar
A perseveranccedila na luta por uma escola do campo na comunidade Renascer
eacute essencial para evitar o que acontece na realidade do campo em niacutevel nacional
onde cerca de 24000 escolas brasileiras foram fechadas no meio rural
Segundo Erivam Hilaacuterio do setor de educaccedilatildeo do MST que afirma que o
fechamento dessas escolas tem sua loacutegica a intenccedilatildeo de pensar num campo sem
escola e consequentemente um campo sem cultura e sem gente
Refletinto sobre a educaccedilatildeo que queremos atraveacutes do Pronera ou outros
programas educacionais de ensino sentimos que eacute necessaacuterio uma concepccedilatildeo da
educaccedilatildeo ampla que propicia alimento intelectual moral artiacutestico e um
posicionamento criacutetico no processo social e poliacutetico tanto em niacutevel regional
nacional e universal Constitui ferramenta essencial para a formaccedilatildeo de nossa
personalidade e para a emancipaccedilatildeo da sociedade em relaccedilatildeo agrave opressatildeo e
injusticcedila
As expectativas e lutas das famiacutelias do assentamento Renascer estatildeo
alicerccediladas em parcerias junto a entidades do poder puacuteblico exemplo INCRA UnB
11
e Movimentos Sociais do campo para colocar em praacutetica uma educaccedilatildeo que seja
eficaz para a Comunidade Renascer
Acredito que cada comunidade possui uma realidade um contexto muito
proacuteprio particular diferenciada de outra comunidade qualquer Os anseios as
necessidades os fatores culturais econocircmicos entre outros fatores satildeo diferentes
de lugar para lugar
A pedagogia e os meacutetodos a serem realizados em cada local deveriam ser
colocados em praacutetica somente apoacutes a comunidade local ser mobilizada e participar
ativamente na elaboraccedilatildeo deste plano de trabalho pedagoacutegico contribuindo com
ideias e vivecircncias Desta maneira a educaccedilatildeo estaria a serviccedilo do bem coletivo e
natildeo privilegiaria alguns em prejuiacutezo da coletividade A educaccedilatildeo eacute uma importante
ferramenta para o desenvolvimento de uma economia solidaacuteria e socialmente justa
politicamente livre dos espoliadores que historicamente persistem em oprimir a
maioria dos povos privando-os de seus direitos
Na maioria das escolas existentes no campo que natildeo atendem a todos mas
a uma determinada parcela da populaccedilatildeo regional a pedagogia adotada eacute
planejada formulada empacotada e imposta aos camponeses por ldquopedagogo de
gabineterdquo que vivem nas grandes cidades e natildeo respeitam os valores e realidades
regionais e locais de cada comunidade
Eacute claro que existem exceccedilotildees de trabalhos pedagoacutegicos muito bons Eacute o caso
de quando ocorre uma interaccedilatildeo entre a comunidade local e os educadores que
estatildeo ali para contribuir por uma educaccedilatildeo construiacuteda a partir da participaccedilatildeo
popular e democraacutetica na criaccedilatildeo e produccedilatildeo do processo educativo
A pesquisa seraacute fundamentada pela investigaccedilatildeo teoacuterica sobre o tema de
implantaccedilatildeo de salas de aula de ensino fundamental para trabalhadores rurais
adultos em comunidades que lutam pela reforma agraacuteria Para entender-se o
problema eacute necessaacuterio apontar a fundamentaccedilatildeo teoacuterica
A fundamentaccedilatildeo de diversas correntes de opiniatildeo eacute importante para o nosso
proacuteprio esclarecimento e para a busca conjunta com os interessados sobre qual o
melhor modelo pedagoacutegico a ser implantado na sala de aula da comunidade
A fundamentaccedilatildeo teoacuterica como satildeo vaacuterias as teorias existentes seratildeo
expostas algumas como Territoacuterios Educativos na Educaccedilatildeo do Campordquo ldquopor uma
Educaccedilatildeo do Campordquo ldquoTeoria e Praacutetica Pedagoacutegica da educaccedilatildeo do Campordquo
12
rdquoPesquisa Social e accedilatildeo Pedagoacutegicardquo rdquoEtnografia e Praacutetica Escolarrdquo ldquoMetodologia
do tralho Cientiacuteficordquo e trabalhos monograacuteficos de ex-alunos do curso da LEdoC
A metodologia utilizada a pesquisa qualitativa com estudo de caso e estudo
bibliograacutefico
O estudo teve como instrumento de pesquisa a aplicaccedilatildeo de entrevista semi-
estruturada com pessoas da comunidade Renascer quando seraacute identificada sua
participaccedilatildeo e contribuiccedilatildeo para educaccedilatildeo na comunidade e sobre seu entendimento
sobre que tipo de escola do campo que a comunidade requerem relevantes para o
objetivo da pesquisa
O trabalho de campo foi para buscar informaccedilotildees atraveacutes da fala dos sujeitos
que foram ouvidos conforme citado anteriormente bem como de material que
poderaacute contribuir para o trabalho da pesquisa
A pesquisa bibliograacutefica abordou o aprofundamento teoacuterico sobre o tema
para anaacutelise da realidade da educaccedilatildeo do campo para melhor entender a situaccedilatildeo
em que o assentamento se encontra na luta pela escola
-11-
13
Segundo Capiacutetulo
Da escola rural agrave escola do campo histoacuterico das lutas e
concepccedilotildees da educaccedilatildeo
21 A Escola Rural no Brasil
Conforme Ferreira e Brandatildeo (2011) a trajetoacuteria da escola rural brasileira
deve ser contextualizada historicamente segundo o modelo socioeconocircmico
implantado no paiacutes desde o iniacutecio do processo colonizador ateacute o momento presente
Para os autores desde os primoacuterdios do processo de colonizaccedilatildeo o paiacutes foi
entendido apenas como uma colocircnia de exploraccedilatildeo devendo portanto remeter agrave
metroacutepole suas riquezas naturais do solo do subsolo dando segmento aos ciclos
econocircmicos denominados de colonial ciclo do pau brasil da cana de accediluacutecar do
ouro do cafeacute (FERREIRA amp BRANDAtildeO 2011 p3)
A base social do paiacutes eacute formada pelos nativos (iacutendios ndash expulsos
massacrados e exterminados) os africanos e os imigrantes pobres vindos da
Europa e do oriente Foi segundo os mesmos autores esta mesma base social que
formou a matildeo de obra imprescindiacutevel para a implantaccedilatildeo do projeto colonial e do
periacuteodo imperial
A aboliccedilatildeo da escravatura em 1888 e o consequente abandono da populaccedilatildeo
negra desprovida de qualquer indenizaccedilatildeo ou bens materiais particularmente terra
teve como consequecircncia o ecircxodo rural e o desprezo pela atividade agriacutecola
associada agrave escravatura
Em sua experiecircncia histoacuterica como repuacuteblica o tradicional modelo
socioeconocircmico adotado no Brasil perdurou
Ao longo da histoacuteria do Brasil o processo de exclusatildeo social e tambeacutem poliacutetico econocircmico e cultural sempre estiveram presentes e eram tidos como algo ldquonaturalrdquo Ainda nos dias atuais fazer uma referencia a este processo de exclusatildeo natildeo leva a um debate tranquilo a resistecircncia ainda eacute forte por parte da sociedade neoliberal principalmente por aqueles que ainda se beneficiam com
a exclusatildeo socialrdquo (FERREIRA 2011 pag 3)
Com relaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo o que se percebe eacute conforme Ferreira (2011)
14
que o modelo de educaccedilatildeo praticado no Brasil pelos diferentes governos entre o iniacutecio do Impeacuterio (1822) ateacute meados do seacuteculo XX era uma educaccedilatildeo para a elite econocircmica e intelectual em prejuiacutezo direto e indiscriminado dos pobres negros e iacutendios Inclusive a primeira Lei ainda no periacuteodo imperial quando se reporta agrave educaccedilatildeo natildeo se ateve agraves especificidades diretas da zona rural onde a populaccedilatildeo brasileira viviardquo (FERREIRA 2011 p4)
Clauacutedio Santos (2013) afirma que a educaccedilatildeo destinada aos habitantes do
campo no inicio do seacuteculo XX entendia que ldquoa formaccedilatildeo das jovens geraccedilotildees ou dos
adultos no espaccedilo rural era tida como algo menor ou desnecessaacuteriordquo (p 47) Para o
autor a maioria de residentes no campo ( 75) natildeo foi pensado um modelo
educacional que contemplasse as necessidades dos residentes no campo o que a
histoacuteria do Brasil nos ensina eacute que o regime republicano manteve os grandes
latifuacutendios e a oligarquia rural alijando a maior parcela da populaccedilatildeo rural de
qualquer benefiacutecio do sistema poliacutetico-econocircmico
A organizaccedilatildeo escolar rural no Brasil embora tiacutemida pode ser localizada a
partir do primeiro governo republicano o do marechal Deodoro da Fonseca (1889-
1891) estando a cargo do Ministeacuterio da Agricultura Comeacutercio e Induacutestria O ecircxodo
da populaccedilatildeo rural para os incipientes centros urbanos em busca dos empregos
promovidos pela igualmente incipiente industrializaccedilatildeo evidenciava as mazelas dos
sujeitos do campo 75 da populaccedilatildeo brasileira era analfabeta igual nuacutemero da
populaccedilatildeo do campo
Somente a partir de 1920 tem-se efetivamente o primeiro movimento em
defesa da educaccedilatildeo da populaccedilatildeo rural conhecido como Ruralismo Pedagoacutegico
(SANTOS 2013) que foi um movimento dos educadores poliacuteticos e intelectuais
elaborando formas de accedilatildeo pedagoacutegicas adequados agrave dominacircncia poliacutetico-
econocircmica da oligarquia rural
Para o autor o ruralismo pedagoacutegico
defendia uma escola integrada agraves condiccedilotildees locais para promover a fixaccedilatildeo do homem do campo estava ligado agrave modernizaccedilatildeo do campo brasileiro e contava com o apoio dos latifundiaacuterios temerosos de perder sua matildeo de obra bem como de uma elite urbana preocupada com os resultados negativos de uma migraccedilatildeo
camponesa para a cidade (SANTOS2013p48)
15
Uma caracteriacutestica do ruralismo pedagoacutegico foi buscar adequar a educaccedilatildeo
rural para fixar o homem no campo para diminuir o processo de urbanizaccedilatildeo e
consequente ecircxodo rural que modificava a estrutura econocircmico e social do paiacutes
Relativo agrave educaccedilatildeo rural da primeira metade do seacuteculo XX nos ensina
Santos (2013 p48) que ldquoem 1933 inicia-se a campanha de alfabetizaccedilatildeo na zona
rural Em 1935 ocorre o I Congresso Nacional do Ensino Regional que contribui
para a fundaccedilatildeo da Sociedade Brasileira de Educaccedilatildeo Rural no ano de 1937rdquo
Nos anos de 1920 foi criado o movimento conhecido como Escola Nova por
intelectuais e pensadores brasileiros que valorizaram a pesquisa educacional e a
inserccedilatildeo da escola como uacutenico meio de se combater as desigualdades sociais num
ambiente de crescente industrializaccedilatildeo e urbanizaccedilatildeo (SANTOS 2013) Estes
educadores como Aniacutesio Teixeira Fernando de Azevedo Lourenccedilo Filho dentre
outros defenderam atraveacutes do Manifesto da Escola Nova (1932) a universalizaccedilatildeo
da escola puacuteblica laica e gratuita
A influecircncia deste movimento sobre a educaccedilatildeo brasileira fez-se sentir nas geraccedilotildees futuras de educadores e pesquisadores como Darcy Ribeiro e Florestan Fernandes A atuaccedilatildeo desses pioneiros se estendeu por deacutecadas muitas vezes criticada pelos defensores da escola particular e religiosa (FERRARI 2014p43)
Poreacutem as propostas do Manifesto natildeo tiveram impactos concretos e natildeo
foram incorporados pela escola Ferraro (2012) esclarece que
A educaccedilatildeo rural no Brasil soacute se tornou objeto de interesse do Estado no momento em que todas as atenccedilotildees e esperanccedilas se voltavam para o urbano e a ecircnfase passava a recair sobre o desenvolvimento industrial Quando os interesses do latifuacutendio dominavam tanto a economia como a poliacutetica a alfabetizaccedilatildeo das massas camponesas era vista como seacuteria ameaccedila agrave ordem vigente Quando o paiacutes jaacute avanccedila no processo de industrializaccedilatildeo e se torna predominantemente urbano eacute a proacutepria cidade que passa a reivindicar a alfabetizaccedilatildeo das populaccedilotildees do campo Passa entatildeo a contrariar os interesses da cidade continua (FERRARO 2012p964)
16
A industrializaccedilatildeo ocorreu nas cidades e atraiu grandes levas de
trabalhadores do campo seduzidos pelo ideal de transformaccedilatildeo de vida acesso agrave
escolarizaccedilatildeo empregos bem remunerados ideais que levam ao ecircxodo rural hoje
ou naquele momento histoacuterico A realidade do trabalhador do campo receacutem
chegado agrave cidade era do ponto de vista educacional precariacutessima pois em sua
maioria eram analfabetos ou com baixa escolarizaccedilatildeo Essa condiccedilatildeo impedia o
acesso ao emprego industrial urbano e agrave boa qualidade de vida que uma boa
remuneraccedilatildeo podia proporcionar
As cidades sofreram crescimento raacutepido desgovernado formando periferias
que abrigavam a maioria da populaccedilatildeo egressa do campo O subemprego e o
desemprego desestabilizavam as populaccedilotildees das cidades e geravam desequiliacutebrios
sociais e econocircmicos comprometendo a qualidade de vida de todos os moradores
Eacute o ciacuterculo vicioso da desigualdade da exclusatildeo e da violecircncia que a educaccedilatildeo
pode romper A educaccedilatildeo tem entatildeo o propoacutesito de formar trabalhadores para a
induacutestria urbana
Na Constituiccedilatildeo de 1934 para com a educaccedilatildeo rural destaca-se o Art 156 conforme podemos ver abaixo
A Uniatildeo e os Municiacutepios aplicaratildeo nunca menos de dez por cento e os Estados e o Distrito Federal nunca menos de vinte por cento da renda resultante dos impostos na manutenccedilatildeo e no desenvolvimento dos sistemas educativos Paraacutegrafo uacutenico ndash Para a realizaccedilatildeo do ensino nas zonas rurais a Uniatildeo reservaraacute no miacutenimo vinte por cento das cotas destinadas agrave educaccedilatildeo no respectivo orccedilamento anual
Na constituiccedilatildeo Federal de 1937 a educaccedilatildeo rural natildeo eacute citada A prioridade eacute
a educaccedilatildeo dos moradores urbanos Neste periacuteodo conforme Ferreira (2011) ldquoa
orientaccedilatildeo poliacutetico educacional para o mundo capitalista fica bem expliacutecita
sugerindo a preparaccedilatildeo de um maior contingente de matildeo de obra para as novas
atividades abertas pelo mercado ndash a industrializaccedilatildeordquo ( pg 32)
Ainda segundo o autor este afirma que em 1935 ocorreu o I Congresso
Nacional do Ensino Regional que assume como objetivo propagar a educaccedilatildeo rural
e elaborar os planos de educaccedilatildeo Esses planos recomendavam escolas rurais
ambulantes nas regiotildees de menor densidade geograacutefica
17
O periacuteodo conhecido como Estado Novo (1937-1945) tentava implantar uma
poliacutetica educacional de cunho nacionalista tornando a educaccedilatildeo um instrumento do
estado servindo aos seus interesses
Os adultos analfabetos particularmente no meio rural tiveram atenccedilatildeo da
Campanha Nacional de Educaccedilatildeo Rural (CNER) de 1952 a 1963 cujo objetivo era
contribuir para a inserccedilatildeo do homem do campo O CNER atuou atraveacutes de missotildees
internacionais dos Estados Unidos voltadas agrave educaccedilatildeo ao treinamento de
professores e agrave preparaccedilatildeo dos jovens do meio rural pelo ensino profissional
agriacutecola Agrave atividade do CNER podemos agregar a accedilatildeo da Comissatildeo Brasileiro-
Americana de Educaccedilatildeo das Populaccedilotildees Rurais (CBAR) que celebrou acordos entre
esses dois paiacuteses visando a educaccedilatildeo rural orientada para o emprego de teacutecnicas
agriacutecolas (OLIVEIRA 1999 p 133)
A educaccedilatildeo rural eacute chamada para se ajustar agraves poliacuteticas educacionais estabelecidas pelo projeto do estado A educaccedilatildeo rural em primeiro lugar apesar de numerosos programas desenvolvidos sempre representou uma fatia muito pequena e marginal nas preocupaccedilotildees do setor puacuteblico (OLIVEIRA p apud CALAZANS1981p162)
A educaccedilatildeo rural ocupou e ainda ocupa pequeno espaccedilo no universo
educacional brasileiro As escolas apresentam dificuldades para se manterem no
campo Conforme o Jornal Sem Terra nordm 46 jun2011 24000 escolas do campo
foram fechadas no Brasil As instalaccedilotildees o curriacuteculo a carecircncia de professores o
transporte escolar formam muitas vezes uma barreira quase imponiacutevel para uma
ampla gama de alunos particularmente das uacuteltimas seacuteries do ensino fundamental e
do ensino meacutedio
Os programas implantados nos uacuteltimos anos como o PRONERA e o EJA
apresentam soluccedilotildees e alcanccedilam grandes resultados mas podemos questionar os
resultados entre os estados O Rio Grande do Sul (que atendeu alunos do ensino
baacutesico ateacute o ensino superior) em comparaccedilatildeo com outros estados e o Distrito
Federal conseguiu excelentes resultados No DF falta alcanccedilar melhores
resultados Podemos questionar se os resultados satildeo adequados pois por exemplo
no assentamento Renascer o Pronera natildeo vai aleacutem do quinto ano Eacute necessaacuterio
uma poliacutetica educacional que leve em conta a realidade dos alunos do campo
18
invista recursos materiais e humanos modernizem as escolas e propiciem o acesso
dos alunos
Conforme nos explica Sousa 2004 em seu artigo lsquodiscursos intolerantes o
lugar da politica na educaccedilatildeo rural e a representaccedilatildeo do camponecircs analfabeto
No Brasil a trajetoacuteria da educaccedilatildeo rural inclui-se na dinacircmica de modernizaccedilatildeo do campo assumindo um papel decisivo no processo de expropriaccedilatildeo proletarizaccedilatildeo e controle dos trabalhadores rurais A modernizaccedilatildeo da produccedilatildeo no nordeste brasileiro por exemplo incentivou o processo de sindicalizaccedilatildeo em massa dos trabalhadores das zonas canavieiras estimulou reivindicaccedilotildees no campo do trabalho ligadas agrave aplicaccedilatildeo do Estatuto do Trabalhador Rural e contraditoriamente fez emergir as manifestaccedilotildees pela distribuiccedilatildeo de terras encampadas pelas Ligas Camponesas ( SOUSA2004 p4)
O projeto de modernizaccedilatildeo do campo ocorreu sem que houvesse a
emancipaccedilatildeo dos trabalhadores rurais Na verdade ocorreu a proletarizaccedilatildeo dos
trabalhadores rurais pela acumulaccedilatildeo de terras em matildeos de apenas poucos
proprietaacuterios (latifundiaacuterios) Esse acontecimento revela que apenas em processo
consciente e contiacutenuo de lutas organizados e unidos os trabalhadores rurais
poderatildeo conquistar terras e meios para sua produccedilatildeo
O estudo da organizaccedilatildeo dos trabalhadores rurais eacute importante porque eacute a
partir dela que outras grandes reivindicaccedilotildees satildeo conquistadas No caso da
presente pesquisa pode-se observar que foi a organizaccedilatildeo dos trabalhadores em
torno de suas causas a reforma agraacuteria que levou agrave luta pelas outras reivindicaccedilotildees
como a educaccedilatildeo no campo
O proacuteximo capiacutetulo deste trabalho monograacutefico aborda a questatildeo das
manifestaccedilotildees e resistecircncias dos camponeses pela educaccedilatildeo e pela reforma
agraacuteria
-16-
22 Trajetoacuteria de luta pela Educaccedilatildeo do Campo
A luta pela educaccedilatildeo do campo esteve sempre associada agrave luta pela reforma
agraacuteria e pela conquista de direitos para os trabalhadores rurais O Movimento das
19
Ligas Camponesas lutou pela emancipaccedilatildeo do trabalhador rural e da reforma agraacuteria
e em seu projeto educacional estavam baseados nos ideais de Paulo Freire e do
Movimento de Educaccedilatildeo de Base (MEB)
Para explicar a reaccedilatildeo das classes populares agraves imposiccedilotildees do governo
brasileiro e das classes dominantes Oliveira (1995 apud ARROYO)
A histoacuteria das lutas entre as classes sociais natildeo se limitam agrave luta pelo poder mas se constituem impulsionadoras da histoacuteria da humanidade que natildeo aguardam passivamente seu destino mas ao contraacuterio articulam-se em torno de suas lutas para garantir seus direitos sua dignidade e sua participaccedilatildeo democraacutetica na sociedade( OLIVEIRA apud ARROYO1995p 80)
Neste sentido as Ligas Camponesas lutaram praticamente em todo o
territoacuterio nacional contra a tentativa de expulsatildeo dos trabalhadores rurais das terras
Os conflitos armados particularmente no Nordeste exigiam participaccedilatildeo poliacutetica e
direitos essenciais como a educaccedilatildeo do campo
O meacutetodo de alfabetizaccedilatildeo criado por Paulo Freire foi amplamente utilizado
pelas Ligas Camponesas e em sua concepccedilatildeo ampla de escola serviu de subsidio
para a compreensatildeo do camponecircs acerca de seu papel social (TOLEDO Caio
Navarro 2004 p6)
Neste contexto surge a Pedagogia do Oprimido de Paulo Freire Segundo
SANTOS (2013 apud Paulo Freire 1987) afirma que a pedagogia do oprimido
configura-se como
Aquela que tem de ser forjada com ele (o oprimido) e natildeo para ele enquanto homens ou povos na luta incessante de recuperaccedilatildeo de sua humanidade Pedagogia que faccedila da opressatildeo e de suas causas objeto de reflexatildeo dos oprimidos de que resultaraacute o seu engajamento necessaacuterio na luta por sua libertaccedilatildeo em que esta pedagogia se faraacute e refaraacuterdquo (FREIRE 1987 p32)
A pedagogia do oprimido serve de referecircncia para o trabalhador rural que luta
pela emancipaccedilatildeo de sua condiccedilatildeo de proletaacuterio atraveacutes da reforma agraacuteria A
pedagogia do oprimido leva o homem ao encontro de si mesmo ao reconhecimento
da grandeza de seu trabalho ao potencial de suas accedilotildees cotidianas que fazem a
diferenccedila A capacidade de reflexatildeo e o entendimento de sua potencialidade pode
leva-lo agrave sua plena realizaccedilatildeo como indiviacuteduo e como ser social
20
A reaccedilatildeo do governo contra o movimento de educaccedilatildeo popular proposto por
Freire e assumido pelo Movimento das Ligas Camponesas e pelo Movimento de
Educaccedilatildeo de Base (MEB) gerou repressatildeo e resposta da ditadura civil-militar como
o Movimento Brasileiro de Alfabetizaccedilatildeo (MOBRAL)
A luta dos movimentos sociais e sindicais pela educaccedilatildeo do campo parte das
forccedilas internas dos movimentos e alcanccedila a setores sociais religiosos ideoloacutegicos
que passam a contribuir efetivamente para o alcance do direito agrave educaccedilatildeo aos
camponeses
A Comissatildeo Pastoral da Terra (CPT) presente ao lado dos trabalhadores (as)
rurais indiacutegenas ribeirinhos pescadores e quilombolas tambeacutem contribuiu e
contribui para a formaccedilatildeo criacutetica a defesa de formas sustentaacuteveis de utilizaccedilatildeo de
recursos naturais e produccedilatildeo e para a alfabetizaccedilatildeo segundo o meacutetodo de Paulo
Freire (CANUTO 2012 p 131)
Na atualidade estaacute em desenvolvimento um movimento que luta pela educaccedilatildeo do homem do campo organizado por vaacuterias entidades dentre elas o MST Trata-se de um processo que teve inicio em meados dos anos de 1990 impulsionados pela necessidade da educaccedilatildeo de jovens e adultos das aacutereas de assentamentos rurais Foi organizado um Programa Nacional para Educaccedilatildeo na Reforma Agraacuteria composto por atores tais como movimentos sociais universidades e governo federal aleacutem de outros parceiros (Alas da Igreja Sindicatos Organizaccedilatildeo Natildeo-Governamental ONG) existentes nas diferentes regiotildees do Brasil( SOUSA2004 p 32)
A trajetoacuteria de conquista das escolas do campo particularmente as escolas
do campo criadas pelo MST a partir da deacutecada de 1990 foi marcada pela conquista
e implantaccedilatildeo da Educaccedilatildeo Fundamental para crianccedilas e adolescentes dos
acampamentosassentamentos de acordo com o projeto politico-pedagoacutegico fruto do
amadurecimento do movimento
Focou-se a alfabetizaccedilatildeo de jovens e adultos e as lutas pela implantaccedilatildeo do
ensino meacutedio com cursos alternativos para a formaccedilatildeo de professores e teacutecnicos de
niacutevel meacutedio e tambeacutem de cursos superiores
A concepccedilatildeo de escolas de ensino fundamental plantadas em assentamentos
prevecirc a instalaccedilatildeo da escola na proacutepria comunidade evitando com isso o uso de
transporte escolar e a frequecircncia dos alunos Sem Terra em escolas fora do
assentamento
21
Esta atitude de resistecircncia foi fundamental para a conquista da escola nas
terras conquistadas e tambeacutem foi fundamental para universalizar o ensino enraizar
o aluno em sua comunidade e criar a consciecircncia do direito agrave educaccedilatildeo
ldquoincomodandordquo o Estado para garantir o cumprimento das poliacuteticas puacuteblicas
Kolling Vargas e Caldart (2012p502) nos ensinam ldquotoda vez que se
conquista uma escola de educaccedilatildeo baacutesica em um assentamento ou acampamento
ela representa menos adolescentes e jovens do campo fora da escola e mais gente
enraizada em seu proacuteprio lugarrdquo (pag 502)
Os movimentos sociais e sindicais pela educaccedilatildeo do campo indicam o grau
de maturidade desses em sua luta pela reforma agraacuteria Agrave essa luta soma-se o
projeto de desenvolvimento do paiacutes baseado na justiccedila social e o combate agraves
tradicionais formas utilizadas pelas elites urbanas ou rurais de alienaccedilatildeo pela
expropriaccedilatildeo do trabalho e pelo controle dos meios que levam agrave emancipaccedilatildeo
sociocultural e agrave verdadeira humanizaccedilatildeo papel destinado agrave educaccedilatildeo
Neste sentido movimentos sociais como o MST inserem a educaccedilatildeo
baseada em princiacutepios pedagoacutegicos que se distinguem da escola tradicional
Numa perspectiva histoacuterica os movimentos sociais do campo como por
exemplo o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) tiveram inicialmente
como bandeira de luta a luta pela terra pela Reforma Agraacuteria natildeo fazendo uma
relaccedilatildeo entre essa luta e a educaccedilatildeo
A formaccedilatildeo de escolas do campo pelo MST natildeo foi resultado da consciecircncia e
importacircncia da escola para a promoccedilatildeo da educaccedilatildeo em seu meio Foi na verdade
a necessidade de oferecer aos filhos dos primeiros lutadores a oportunidade de
uma perspectiva melhor de futuro atraveacutes do direito agrave educaccedilatildeo Foi tambeacutem a
necessidade de ldquotransformar instituiccedilotildees histoacutericas como a escola em lugares que
ajudem a formar os sujeitos destas transformaccedilotildeesrdquo (CALDART2012 p94)
Desse modo houve primeiro a ldquoocupaccedilatildeo da escolardquo pela mobilizaccedilatildeo e pela
accedilatildeo para garantir que em acampamentos ou assentamentos conquistados
houvesse uma escola que ldquofizesse a diferenccedila ou tivesse realmente sentido em sua
vida presente e futura (preocupaccedilatildeo com os filhos)rdquo (CALDART2012 p91)
Num segundo momento da luta observa-se intencionalidade da luta pela
escola mas com proposta pedagoacutegica especiacutefica ldquocombinando processos de
22
escolarizaccedilatildeo e de formaccedilatildeo da militacircncia e da base social Sem Terrardquo
(CALDART2012 p92)
As experiecircncias de pensar escolas como polos regionais entre assentamentos e com estudantes de outras comunidades de camponeses aos poucos vatildeo educando o olhar dos trabalhadores Sem Terra para uma realidade mais ampla Foi assim que o MST chegou agrave EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO (KOLLING Vargas e Caldart 2012 p 502)
A escola dentro dessa perspectiva de mudanccedila e envolvimento social eacute
parte da luta pela reforma agraacuteria daacute significado a ela pois proporciona a formaccedilatildeo
integral dos sujeitos que lutam pela terra
Essa escola possibilita a reflexatildeo trava o diaacutelogo com as propostas de
educaccedilatildeo popular de Paulo Freire e busca superar as dificuldades imensas que
assentados e acampados vivem no dia a dia
A escola tambeacutem revela a cultura o orgulho e criaccedilatildeo da identidade na luta
por terra Nesse sentido
A heranccedila que o MST deixaraacute para seus descendentes seraacute bem mais do que a terra que conseguir libertar do latifuacutendio seraacute um jeito de ser humano e de tomar posiccedilatildeo diante das questotildees de seu tempo seratildeo os valores que fortalecem e datildeo identidade aos lutadores do povo de todos os tempos de todos os lugares Eacute enquanto produto humano de uma obra educativa que os Sem Terra podem ser vistos como mais um elo que se forma em uma longa tradiccedilatildeo de lutadores sociais que fazem a histoacuteria da humanidade Enraizamento no passado e projeto de futuro (CALDART 2012 p 96)
A educaccedilatildeo proposta pelo movimento gera o sentimento de pertencimento e
desperta o sentimento de respeito agrave coletividade valoriza o trabalho a gestatildeo
democraacutetica e desburocratizada da escola
SANTOS (2013 p71) esclarece que pelo projeto educacional do MST a
educaccedilatildeo proposta estaacute pautada em ldquovalores socialistas e humanistas tais como o
coletivismo o trabalho socialmente uacutetil a organizaccedilatildeo e auto-organizaccedilatildeo dos
estudantes e professoresrdquo (p71)
-21-
23
221 Concepccedilatildeo Pedagoacutegica da Educaccedilatildeo do Campo
No acircmbito da educaccedilatildeo do homem do campo tornar o homem sujeito e natildeo
objeto do saber leva a entender que o conhecimento do camponecircs pode dialogar
com as praacuteticas baseadas no conhecimento cientiacutefico desde que seja perseguido o
ideal de trabalhadores e educadores do campo comprometidos com as lutas sociais
de formar o homem ldquodordquo campo e ldquono campordquo
Conforme Kolling Cerioli e Caldart (2002 p 264) ldquoo povo tem direito a uma
educaccedilatildeo pensada desde o seu lugar e com sua participaccedilatildeo vinculada agrave sua
cultura e agraves suas necessidades humanas e sociaisrdquo ndash(Caldart Educaccedilatildeo do Campo
2012 p 264
Tal compreensatildeo se ainda hoje causa oposiccedilatildeo ateacute mesmo no ambiente
acadecircmico imagine-se naquele momento histoacuterico de profunda repressatildeo poliacutetica e
ideoloacutegica aos movimentos sociais de camponeses por terra e educaccedilatildeo Como nos
ensina Molina e Saacute (DICIONAacuteRIO da Educaccedilatildeo do Campo p 324)
A concepccedilatildeo de escola do campo nasce e se desenvolve no bojo do movimento da EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO a partir das experiecircncias de formaccedilatildeo humana desenvolvidas no contexto de luta dos movimentos sociais camponeses por terra e educaccedilatildeo Trata-se portanto de uma concepccedilatildeo que emerge das contradiccedilotildees da luta social e das praacuteticas de educaccedilatildeo dos trabalhadores do e no campo (MOLINA e SAacute 2012 pag 324)
A concepccedilatildeo pedagoacutegica da educaccedilatildeo popular e da pedagogia da praacutetica
segundo ARROYO inclui
um caraacuteter de envolvimento totalizante dos movimentos sociais que possibilita ao individuo que participa destes coletivos o acesso a outro tipo de formaccedilatildeo que supera a condiccedilatildeo de aluno de alfabetizando de escolarizando Os integrantes destes organismos emersos na tensa situaccedilatildeo de conflitos aprendem por meio da vivencia das lutas sociais dos momentos de mobilizaccedilatildeo das situaccedilotildees limites de perda de emprego de criacuteticas da sociedade agraves suas accedilotildees de ameaccedilas agraves suas vidas Tudo isso traz ricas liccedilotildees ensinadas na ldquoescola do movimentordquo e que nenhuma teoria pode transmitir ou explicar de forma satisfatoacuteria
No entendimento de Arroyo (2013) os movimentos sociais vivem e
amadurecem sob o conhecimento e o entendimento das contradiccedilotildees sociais e esta
24
experiecircncia lhes permite a possibilidade de defender mudanccedilas radicais tanto no
campo como na cidade tanto na ideologia quanto no combate ao latifuacutendio e ao
capitalismo
Tamanho movimento social gera a reflexatildeo sobre as relaccedilotildees
socioeconocircmicas politicas culturais cuidado da natureza relaccedilotildees humanas
destaques de tudo o que interessa ao coletivo agrave sociedade
Eacute por meio do entendimento de que a realidade eacute criaccedilatildeo humana de como se estabelecem os processos de opressatildeo e ainda da noccedilatildeo de que podemos transformar essa realidade dado que a sociedade eacute mutaacutevel que se forma a praacutexis da luta accedilatildeo-conscientizaccedilatildeo-transformaccedilatildeo-libertaccedilatildeo Inserindo-se criticamente na histoacuteria os cidadatildeos tornam-se sujeitos construtores e reconstrutores da realidaderdquo
Molina e Saacute (2012) nos ensinam a partir do conceito de escola do campo sobre a
potencialidade da vivencia de praacuteticas coletivas para a valorizaccedilatildeo integral dos
sujeitos da coletividade do conhecimento cientiacutefico da gestatildeo coletiva da escola
dentre tantos avanccedilos e vitoacuterias dos movimentos sociais
O processo ensino-aprendizagem permite que o conceito de escola extrapole
o cotidiano de dificuldades e desafia agrave reflexatildeo que gera a emancipaccedilatildeo
Este eacute um dos maiores desafios e ao mesmo tempo uma das maiores possibilidades da escola do campo articular os conhecimentos que os educandos tecircm o direito de acessar a partir do trabalho com a realidade da religaccedilatildeo entre educaccedilatildeo cultura e os conhecimentos cientiacuteficos a serem apreendidos em cada ciclo de vida e de diferentes aacutereas do conhecimento(MOLINA MOURAtildeO 2012 p 329) -26-
222 Princiacutepios da Educaccedilatildeo do Campo
Alguns princiacutepios viabilizam o projeto de escola adotado pelos movimentos
sociais e possibilitam a democracia e a integraccedilatildeo de todos lideranccedila assentados e
acampados do movimento
25
O princiacutepio da responsabilidade coletiva sobre o planejamento a gestatildeo a
organizaccedilatildeo e a realizaccedilatildeo de tarefas em todas as esferas de atividades princiacutepios
muito valorizados pelos movimentos sociais do campo foram transferidos para o
projeto de educaccedilatildeo
O projeto eacute de responsabilidade coletiva e insere educadores tanto a niacutevel
local como regional e nacional os ldquoColetivos de educaccedilatildeordquo como satildeo conhecidos
Os coletivos de educaccedilatildeo com tarefas forccedila orgacircnica e discussotildees especiacuteficas que podem variar a cada periacuteodo fortalecem o princiacutepio organizativo de que a questatildeo da educaccedilatildeo bem como outras questotildees da vida social assumidas pelo MST deve ser pensada e implantada de forma coletiva Eacute uma loacutegica que implica tarefas a serem realizadas pelas pessoas mas mediante um planejamento e uma leitura de conjuntura feita por um coletivo (KOLLING1995 et al p503)
Para concretizar o projeto de educaccedilatildeo foi concebida a formaccedilatildeo de
professores pelos proacuteprios movimentos no acircmbito da proacutepria comunidade
(conhecidos como ldquoprofessores leigosrdquo) e tambeacutem pela rede oficial de ensino
A falta de titulaccedilatildeo de muitos educadores formados na comunidade natildeo
impede que os mesmos trabalhem juntos com os professores titulados e com
simpatizantes do movimento no projeto poliacutetico-pedagoacutegico constituindo um
princiacutepio democraacutetico importante para superar as dificuldades e urgecircncias para a
implantaccedilatildeo da educaccedilatildeo do campo
A democracia do processo de formaccedilatildeo de educadores tem reflexos amplos
a formaccedilatildeo de educadores pelos proacuteprios movimentos especiacutefica para atuaccedilatildeo nas
escolas do campo
O movimento eacute responsaacutevel pela universalizaccedilatildeo do ensino no acircmbito dos
territoacuterios conquistados ou por conquistar e permitiu a evoluccedilatildeo do ensino ateacute o niacutevel
de terceiro grau com a realizaccedilatildeo de cursos como a Licenciatura em Educaccedilatildeo do
Campo (LEdoC) do qual somos os privilegiados alunos aqui na Universidade de
Brasiacutelia
Outro reconhecimento e prova de eficiecircncia da formaccedilatildeo de professores eacute o
precircmio ldquoEducaccedilatildeo e Participaccedilatildeordquo recebido em 1995 do Fundo das Naccedilotildees Unidas
para a Infacircncia (Unicef)
26
O somatoacuterio das forccedilas internas e externas do movimento ldquoleigasrdquo ou
tituladas associadas ao princiacutepio fundamental da participaccedilatildeo dos alunos e
comunidades em todos os niacuteveis e localidades eacute ponto fundamental para o sucesso
da concepccedilatildeo do projeto pois permite o estudo a reflexatildeo conjunta sobre
estrateacutegias para o alcance do objetivo de educaccedilatildeo na reforma agraacuteria
-25-
223 Marcos Normativos da Educaccedilatildeo do Campo
Numerosos Marcos Normativos podem ser citados para explicitar qual perfil
de escola destinada ao camponecircs interessava ao governo e aos proprietaacuterios rurais
A Lei 4024 de 1961 em seu art 105 estabelece o
Apoio que poderaacute ser prestado pelo poder puacuteblico agraves iniciativas que mantenham na zona rural instituiccedilotildees educativas orientadas para adaptar o homem ao meio e estimular vocaccedilotildees e atividades profissionais (BRASIL 2012 p 4)
A Lei 5692 de 1971 ao tratar da educaccedilatildeo rural ldquonatildeo observa mais uma vez
a inclusatildeo da populaccedilatildeo na condiccedilatildeo de protagonista de um projeto social globalrdquo
sendo que o trabalho do campo realizado por alunos eacute ateacute mesmo incentivado
adequando-o ao calendaacuterio escolar (MARCOS NORMATIVOSBrasiacutelia2012 p 25)
A Lei 9394 de 1996 (Lei das Diretrizes se Bases da Educaccedilatildeo ndash LDB) em
acordo com Constituiccedilatildeo de 1988 e ldquoinspirada de alguma forma numa concepccedilatildeo
de mundo rural enquanto espaccedilo especifico diferenciado e ao mesmo tempo
integrado no conjunto da sociedaderdquo reconhece
A diversidade soacutecio-cultural e o direito agrave igualdade e agrave diferenccedila possibilitando a definiccedilatildeo de diretrizes operacionais para educaccedilatildeo rural sem no entanto recorrer a uma logica exclusiva e de ruptura com um projeto global de educaccedilatildeo para o paiacutes (idem p 26)
27
Os artigos 208 e 210 da Carta Magna-1988 e inspirada de numa concepccedilatildeo
de mundo rural enquanto espaccedilo especiacutefico diferenciado e ao mesmo tempo
integrado no conjunto da sociedade a Lei 939496- LDB-estabelece que
Art 28 Na oferta da educaccedilatildeo baacutesica para a populaccedilatildeo rural os sistemas de ensino promoveratildeo as adapta necessaacuteria agrave sua adequaccedilatildeo agraves peculiaridades da vida rural e de cada regiatildeo especialmente (MARCOS NORMATIVOS) Brasiacutelia 2012 p 25)
1- Conteuacutedos organizar curriculares e metodologias apropriadas agraves reais
necessidades e interesses dos alunos da zona rural
2-organizaccedilatildeo escolar proacutepria incluindo a adequaccedilatildeo do calendaacuterio escolar as
fases do ciclo agriacutecola e as condiccedilotildees climaacuteticas
3-adequaccedilatildeo agrave natureza do trabalho na zona rural (MARCOS NORMATIVOS)
Brasiacutelia 2012( p 26)
O movimento de educaccedilatildeo do campo luta haacute quinze (15) anos para fazer-se
cumprir esse Decreto da Lei de Diretrizes de base da educaccedilatildeo do campo-LDB
que apesar de ser constitucional ainda natildeo foi colocada totalmente em praacutetica
Agora com as lutas dos movimentos sociais eacute que estaacute comeccedilando a se concretizar
Artigo 26 Os curriacuteculos do ensino fundamental e meacutedio devem ter uma base nacional comum a ser complementada em cada sistema de ensino e estabelecimento escolar por uma parte diversificada exigida pelas caracteriacutesticas regionais e locais da sociedade
da cultura da economia e da clientela (MARCOS NORMATIVOS) Brasiacutelia 2012(p 26)
O Decreto nordm 7352 de 4 de novembro 2010 dispotildee sobre a poliacutetica de educaccedilatildeo do campo ao Programa Nacional de Educaccedilatildeo
na Reforma Agraacuteria-PRONERA decreta
Art1ordm A poliacutetica de educaccedilatildeo do campo destina-
se agrave ampliaccedilatildeo e qualificaccedilatildeo da oferta de educaccedilatildeo baacutesica e superior agraves populaccedilotildees do campo e seraacute desenvolvida pela Uniatildeo em regime de colaboraccedilatildeo com os Estados o
28
Distrito Federal e os Municiacutepios de acordo com as diretrizes e metas estabelecidas no Plano Nacional de Educaccedilatildeo e o disposto neste Decreto
Para os efeitos deste Decreto entende-se por
l-populaccedilatildeo do campo os agricultores familiares os extrativistas os pescadores
artesanais os ribeirinhos os assentados e acampados da reforma agraacuteria os
trabalhadores assalariados rurais os quilombolas os caiccedilaras os povos da floresta
os caboclos e outros que produzam suas condiccedilotildees materiais de existecircncia a partir
do trabalho no meio rural
ll-escola do campo aquela situada em aacuterea rural conforme definida pela Fundaccedilatildeo
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica- IBGE ou aquela situada em aacuterea
urbana desde que atenda predominantemente a populaccedilatildeo do campo (MARCOS
NORMATIVOS) 2012( p 81)
No Decreto 6755 29 de janeiro de 2009 em seu art 2ordm estabelecida pelo Conselho
Nacional de Educaccedilatildeo que se refere as Diretrizes Operacionais da Educaccedilatildeo do
Campo o parecer da alternacircncia
A formaccedilatildeo de professores poderaacute ser feita concomitantemente agrave atuaccedilatildeo profissional de acordo com metodologias adequadas inclusive a pedagogia da alternacircncia e sem prejuiacutezo de outras que atendam agraves especificidades da educaccedilatildeo do campo e por meio de atividades de ensino pesquisa e extensatildeo (MARCOS NORMATIVOS) 2012( p84)
-26-
29
-
231 A educaccedilatildeo do campo e poliacutetica puacuteblica - o PRONERA
O amadurecimento adquirido pela luta sobre o papel da educaccedilatildeo aliado agrave
iniciativa do aproveitamento do trabalho das professoras ldquoleigasrdquo e ainda da
consciecircncia cada vez mais presente do dever do Estado em prover os cidadatildeos da
reforma agraacuteria de poliacuteticas puacuteblicas resultou no campo da educaccedilatildeo na criaccedilatildeo do
Programa Nacional de Educaccedilatildeo na Reforma Agraacuteria (PRONERA)
O PRONERA envolve formalmente jovens e adultos num projeto conjunto
com universidades e institutos federais em prol da formaccedilatildeo de educadores para o
trabalho em escolas dos assentamentos da reforma agraacuteria e seu entorno
O Programa foi criado em 1998 no momento da ascensatildeo dos conflitos pela
reforma agraacuteria o que propiciou que os movimentos sociais trouxessem para a
opiniatildeo puacuteblica suas mazelas
No campo da educaccedilatildeo foi denunciada a falta de escola a precariedade do
ensino a falta de profissionais do ensino a ldquoloacutegica de negaccedilatildeo histoacuterica do direito
aos camponeses de acesso aos niacuteveis mais elevados de escolaridade ( SANTOS
2012 pag 630)
A partir de 2005 o ensino oferecido pelo PRONERA eacute estendido ao niacutevel
meacutedio e superior como a Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo e a Residecircncia
30
Agraacuteria O PRONERA evoluiu para outros patamares tais como ldquopossibilidades de
ressignificaccedilatildeo do conteuacutedo e da metodologia dos processos de educaccedilatildeo formal
por meio dos princiacutepios baacutesicos da participaccedilatildeo e da multiplicaccedilatildeordquo (SANTOS 2012
p 631)
A participaccedilatildeo das comunidades e suas organizaccedilotildees e a multiplicaccedilatildeo de
alfabetizados formados educadores e demais profissionais ligados agraves poliacuteticas
puacuteblicas para a Reforma Agraacuteria gerou ampla participaccedilatildeo dos agentes envolvidos
na dinacircmica do processo ensino-aprendizagem
Essa forma de gestatildeo gerou reaccedilatildeo contraacuteria ldquoagrave gestatildeo colegiada e coletiva
notadamente agrave participaccedilatildeo direta dos movimentos sociais e sindicais do campordquo
considerados ldquoentes estranhos agrave administraccedilatildeo puacuteblicardquo (CLARICE p 634)
O envolvimento dos movimentos sociais e sindicais do campo natildeo
retrocederam em sua luta pelo envolvimento de todos os interessados na educaccedilatildeo
como elemento emancipatoacuterio e continuam formulando princiacutepios concepccedilotildees e
diretrizes para a escola do campo
-31-
31
Terceiro Capiacutetulo
A histoacuteria do Assentamento Renascer
31 Uma breve histoacuteria de luta
A histoacuteria do Assentamento Renascer natildeo parece ser diferente da histoacuteria de
outros assentamentos Brasil afora Partiu da reivindicaccedilatildeo de Trabalhadores Rurais
sem Terra que desde 2004 ocuparam as margens da Rodovia DF 330 que liga
Sobradinho ao Paranoaacute-DF
Tatildeo perto do centro do poder a apenas poucos quilocircmetros do Palaacutecio da
Alvorada ou da Sede do INCRA o Acampamento Renascer esteve ateacute oito (08) de
maio de 2009 tatildeo distante da decisatildeo poliacutetica pela Reforma Agraacuteria
Somente nesta data trezentos sessenta e um( 361) de terras devolutas da
Uniatildeo foram repassadas ao INCRA para assentar as famiacutelias aliacute acampadas Ficou
criado o assentamento Renascer fora da beira da estrada
O Assentamento Renascer ldquorenasceurdquo da dificuldade de vida sob o barraco de
madeira sem aacutegua sem luz sem saneamento baacutesico que fez com que tantos
desistissem ao longo do caminho e ainda hoje se encontra nessa mesma
precariedade um descaso por parte do poder puacuteblico
A luta em vaacuterios momentos da vida dos acampados parecia estar vencida Os
vencedores pareciam ser a burocracia o desrespeito as noites mal dormidas a
inseguranccedila a falta de perspectivas para o acampado e suas famiacutelias
Duzentas (200) famiacutelias viveram aliacute por cinco anos (05) de 2004 ateacute 2009
Atualmente satildeo cento e vinte (120) famiacutelias que moram na aacuterea destinada e estatildeo
em processo de assentamento Muitas delas poreacutem vencidas pelo cansaccedilo e pelas
condiccedilotildees de vida abandonaram a luta mas todas as famiacutelias as que se foram e as
que ficaram sonharam com a terra onde poderiam produzir viam no pedaccedilo de chatildeo
os frutos do pomar da horta o galinheiro o pasto
O Assentamento Renascer eacute o Brasil Eacute um pedacinho da cruel realidade que
como vimos neste trabalho marcou a sociedade brasileira desde a escravidatildeo
desde o primeiro grito de rebeldia do quilombo desde o primeiro que lutou contra os
coroneacuteis por divisatildeo da terra como as Ligas Camponesas contra o latifuacutendio como
os movimentos sociais em sua luta pela reforma agraacuteria desde vaacuterias geraccedilotildees
32
Eacute como todo e qualquer movimento social que surgiu neste paiacutes desde a
deacutecada de 1980 pela reforma agraacuteria Viveu e ainda vive as dificuldades de ser
acampadoassentado mas honra sua luta porque natildeo desiste faacutecil
O Assentamento Renascer eacute tambeacutem fruto do ecircxodo rural da industrializaccedilatildeo
do campo da monocultura e da concentraccedilatildeo de terras Foram expulsos do campo
para a periferia das cidades sem capacitaccedilatildeo sem estudo
A falta de escolarizaccedilatildeo eacute sem duacutevida uma caracteriacutestica de quase todos os
que vieram do campo para a cidade A realidade do Brasil eacute que o campo natildeo eacute
escolarizado as escolas no campo satildeo poucas satildeo despreparadas satildeo
desvalorizadas
-33-
32 As escolas no campo na vivencia do assentado do Assentamento
Renascer
As escolas no campo marcaram profundamente a vida dos poucos que a
frequentaram Quase todos tiveram que trocar o laacutepis pela enxada a carteira pela
roccedila desde muito pequenos Alguns natildeo muito poucos conforme os depoimentos
aqui relatados teriam que abandonar a enxada e a participaccedilatildeo no sustento da
famiacutelia para frequentar a escola Quase sempre abandonaram a escola para ficar no
trabalho com a enxada
Todos teriam que andar vaacuterios quilocircmetros para ir agrave escola Outros nem assim
conseguiriam frequentar a escola no campo ela simplesmente natildeo existia no
campo Teriam entatildeo que ir para a cidade para ter direito a uma escola
Muitos tambeacutem vivenciaram os traumas que uma escola tradicional e
descomprometida com os valores e responsabilidades do projeto educacional
castigos humilhaccedilotildees afastaram a muitos da escola
Alguns apenas sonharam e sonham com a escola ldquoAh a escolardquo Tatildeo longe
inacessiacutevel para tantos no Brasil afora Ao ver de algumas pessoas do
Assentamento Renascer ldquoSe tivesse jeito eu teria ido agrave escola tinha feito pelo
menos o ensino fundamental completo para que eu pudesse ingressar no curso
33
teacutecnico-agriacutecola Mas agora quero que meus filhos e netos vatildeo para a escola
aprender ser algueacutem na vidardquo
-34-
321 A escola no entorno do Assentamento Renascer
A ideia de lutar pela educaccedilatildeo veio antes da ideia de lutar pela escola como
espaccedilo conquistado pelo acampamento Encontrar uma escola perto do
acampamento com transporte escolar com vagas e horaacuterios acessiacuteveis para os que
trabalham o dia todo era entendido como uma necessidade baacutesica e uma grande
vitoacuteria
Ficava-se feliz se apesar das dificuldades fosse possiacutevel matricular pelo
menos as crianccedilas As dificuldades eram e ainda satildeo muitas o transporte escolar
era e eacute precaacuterio a poeira natildeo permite que os alunos cheguem limpos agrave escola os
buracos e as poccedilas daacutegua impedem a chegada do ocircnibus escolar durante as
chuvas No caso do ocircnibus que levam os alunos ateacute a Escola Classe do Coacuterrego do
Arrozal em eacutepoca de muita chuva os ocircnibus ateacute o iniacutecio de 2014 natildeo conseguiam
transitar Isto resulta no fato de que as crianccedilas precisam caminhar debaixo de
chuva ateacute a escola
-35-
322 O caminho para a produccedilatildeo do saber no Assentamento Renascer a
brinquedoteca a integraccedilatildeo social a biblioteca comunitaacuteria as manifestaccedilotildees
culturais
Ao longo dos anos de vivecircncia e convivecircncia no Acampamento Renascer
mediante a dificuldade e necessidade de estudar que sentimos na nossa proacutepria
vida foi despontando a ideia de prover as crianccedilas de atividades luacutedicas e
educativas
34
Logo no iniacutecio do acampamento por volta de 2005 por iniciativa de algumas
pessoas conscientes da necessidade de atividades luacutedicas para as crianccedilas foi
criada uma brinquedoteca
Inicialmente os brinquedos eram de materiais reciclaacuteveis como garrafas pet
telefones sem fio carrinhos bonecas petecas vai e vem cavalinhos tudo era
confeccionado com a participaccedilatildeo das crianccedilas na modalidade de oficina
incentivando-os a fabricar os seus proacuteprios brinquedos Os brinquedos eram
confeccionados a partir de materiais encontrados nos lugares de descarte perto do
acampamento e doaccedilotildees de pessoas que passavam pela estrada
O embriatildeo de um processo educacional que nunca se interrompeu estava
lanccedilado a brinquedoteca proporcionou a criatividade e a participaccedilatildeo de crianccedilas e
adultos marcando as atividades pela conscientizaccedilatildeo do cuidado com a natureza e a
importacircncia da reciclagem A educaccedilatildeo ambiental jaacute era praticada desde o
nascimento do acampamento Renascer
Este primeiro passo foi muito importante porque traduziu para o dia a dia do
acampamento os princiacutepios da escola do campo atuante para mudar a realidade
criar cidadatildeos conscientes e dispostos a mudar a realidade a partir da sua proacutepria
accedilatildeo Este eacute o processo de transformaccedilatildeo social dentro do acampamento Renascer
haacute tanto tempo atraacutes
Aos brinquedos reciclados pela proacutepria comunidade juntaram-se outros
presenteados por instituiccedilotildees como igrejas ONGs a Pastoral da Crianccedila e pessoas
interessadas no bem estar daquelas crianccedilas
Percebe-se em iniciativas como essas a importacircncia da educaccedilatildeo nos
diversos niacuteveis para a sociedade A integraccedilatildeo de pessoas com as atividades
educativas no acampamento nos faz lembrar sobre um grande sonho das escolas
hoje integrar a comunidade de modo a que todos defendam a escola
O sucesso de iniciativas como a brinquedoteca que integravam crianccedilas
adolescentes adultos e sociedade foi importante para outras iniciativas igualmente
importantes
Foi-se criando um projeto educacional para o acampamento sem que se
tivesse consciecircncia disso por faltar informaccedilatildeo que soacute agora se possui graccedilas aos
estudos na Universidade o galpatildeo comunitaacuterio foi utilizado para abrigar a
35
brinquedoteca para desenvolver grupos de teatro de crianccedilas e adultos e para
abrigar a biblioteca
A biblioteca recebeu inuacutemeros exemplares de livros infantis livros didaacuteticos
para os adolescentes e adultos literatura universal revistas dos mais variados
assuntos criando assim um espaccedilo comunitaacuterio de informaccedilatildeo lazer e
entretenimento
Com a criaccedilatildeo da biblioteca ficou evidente a importacircncia da alfabetizaccedilatildeo de
crianccedilas jovens e adultos Muitos acampados relatavam a vontade e a necessidade
de aprender a ler e a escrever Muitos reivindicavam o direito agrave educaccedilatildeo e
frequecircncia agrave escola ainda que o acampamento mudasse de ldquoendereccedilordquo tantas
vezes
Outros poreacutem natildeo acreditavam que seria possiacutevel aprender ou aperfeiccediloar a
leitura e a escrita nas condiccedilotildees de vida de um acampado
Vaacuterias atividades culturais foram desenvolvidas (e ainda satildeo) no
Acampamento Renascer Todas chamavam a atenccedilatildeo da comunidade local de
outras comunidades vizinhas garantindo a simpatia de chacareiros que levavam os
filhos para participarem das atividades
Uma das atividades mais apreciadas foi o Teatro de Fantoches inspirados em
faacutebulas muitas com a autoria da Pastoral da Crianccedila e da Faber Castel A
participaccedilatildeo da comunidade na atividade era intensa e voluntaacuteria todos queriam
manipular os fantoches participar cantando danccedilando ou prestando muita atenccedilatildeo
O teatro de transformaccedilatildeo social produzido pelos adultos e adolescentes
utilizavam tambeacutem materiais reciclaacuteveis demonstrando cuidado com o meio
ambiente e amadurecimento dos conceitos poliacuteticos e pedagoacutegicos gerando reflexatildeo
sobre os temas sociais que nos atingem no cotidiano
A miacutestica adotada pelos movimentos sociais com o objetivo de reflexatildeo satildeo
apresentadas em datas comemorativas e contam com o apoio e participaccedilatildeo de
muitos
Algumas festas fazem parte da tradiccedilatildeo do Acampamento Renascer
traduzindo para a realidade atual as antigas festas a que todos foram acostumados
em seus lugares de origem
Pode-se dizer que a comunidade aprecia muito as festas Mas duas em
particular satildeo muito respeitadas a festa das crianccedilas que ocorre durante o dia (12
36
de outubro) eacute concorrida pois a comunidade se esmera para oferecer os brinquedos
que as crianccedilas amam pula-pula palhaccedilos pintura de rosto piscina de sabatildeo e
muita oferta de comida coisas que as crianccedilas adoram
No mesmo dia ocorre agrave noite a festa da Nossa Senhora Aparecida com
missa e muito forroacute
No mecircs de marccedilo eacute comemorada a Festa da Pamonha em comemoraccedilatildeo agrave
boa colheita do milho Esta festa jaacute se tornou tradicional conhecida em todo o
entorno do assentamento Egrave uma festa importante porque confraterniza a
comunidade Renascer com as comunidades vizinhas e ateacute mesmo as cidades de
Sobradinho Paranoaacute e Planaltina
Os movimentos sociais necessitam ser admirados pela sociedade e festas
como estas chamam a atenccedilatildeo para o problema da reforma agraacuteria demonstrando
que ela eacute viaacutevel e que os assentados tecircm simpatia competecircncia e seus saberes do
campo
A festa ldquojulinardquo eacute outra festa muito apreciada que apresenta as tradiccedilotildees rurais
e religiosas como quadrilhas e bandas de forroacute da comunidade e vizinhanccedila A
danccedila eacute um dos pontos fortes da festa assim como as comidas tradicionais muitas
delas com ingredientes colhidos no acampamento
Vaacuterios grupos de atividades teatrais apresentaram-se na localidade com
participaccedilatildeo de palhaccedilos lembrando um espetaacuteculo circense Alguns desses
grupos inclusive tiveram seus trabalhos premiados
Outras atividades com fundo educativo tiveram participaccedilatildeo animada de
crianccedilas e adultos A exibiccedilatildeo de desenhos animados recentemente apresentados
no cinema eram um grande atrativo para a comunidade que se via socialmente
incluiacuteda Esta inclusatildeo aumentava a autoestima das crianccedilas principalmente pois
assim elas poderiam interagir com os colegas da escola conversando a respeito dos
filmes
A Economia Solidaacuteria eacute uma das formas de inserccedilatildeo dos membros da
comunidade agrave sociedade economicamente ativa Atraveacutes da cooperaccedilatildeo solidaacuteria eacute
possiacutevel o comercio justo agriacutecolas ou artesanais sob conceitos antes
desconhecidos enquanto forma de produccedilatildeo e consumo centrado na valorizaccedilatildeo do
ser humano em contraposiccedilatildeo agraves formas capitalistas de produccedilatildeo e conscientizaccedilatildeo
37
Ao longo dos doze (12) anos de luta pela educaccedilatildeo foram promovidos
diversos cursos que capacitaram multiplicadores que fazem um trabalho importante
para a comunidade
A ideia de autogestatildeo democracia cooperaccedilatildeo auxilia natildeo soacute as formas de
produccedilatildeo e comercio de bens e artesanatos mas tambeacutem auxiliam na formaccedilatildeo
integral de pessoas em que tanto o produtor como o consumidor tem o proposito de
ganhos financeiros segundo um criteacuterio de valorizaccedilatildeo do trabalho
Proposito de formar uma nova consciecircncia a Economia Solidaacuteria promoveu
cursos de Soberania Alimentar em que a comunidade recebeu noccedilotildees praacuteticas
sobre alimentaccedilatildeo a partir da produccedilatildeo local de modo a promover uma nova cultura
alimentar que visa o combate agraves doenccedilas crocircnicas Outro proposito eacute tornar a
comunidade criacutetica em relaccedilatildeo agrave publicidade de produtos alimentiacutecio supeacuterfluo que
induz agraves crianccedilas e adultos alimentarem-se incorretamente
A comunidade participou coletivamente da implantaccedilatildeo de uma unidade da
tecnologia social denominada Produccedilatildeo Agroecoloacutegica Integrada e Sustentaacutevel
(PAIS) em 2012 com o objetivo de produzir alimentos saudaacuteveis e preservar o meio
ambiente trazendo mais alimentos e renda ao campo Esta tecnologia popularmente
conhecida como ldquohorta mandalardquo foi ministrada durante o curso de capacitaccedilatildeo
promovido pela Fundaccedilatildeo Banco do Brasil e teve o meacuterito de proporcionar o debate
e a participaccedilatildeo democraacutetica na definiccedilatildeo das culturas a serem cultivadas na futura
propriedade Vale informar que o assentamento Renascer identificou-se com esse
paradigma agroecoloacutegico
A educaccedilatildeo ambiental faz parte do dia a dia da comunidade hoje preserva-se
conservaccedilatildeo das formas de vida vegetais e animais na regiatildeo do assentamento e
entorno
A produccedilatildeo de mudas no viveiro eacute bastante concorrida contando com a
participaccedilatildeo de todos O viveiro produz cinco mil (5000) mudas de espeacutecies nativa
do cerrado para o reflorestamento das nascentes de aacutegua e nas aacutereas degradadas
da regiatildeo Contam com o apoio da FUNATURA FUNDACcedilAtildeO BANCO DO BRASIL
IFB Rio Satildeo Bartolomeu Vivo e UnB
-36-
38
39
Quarto Capiacutetulo
A escola que queremos expectativas e sonhos dos
acampados do Assentamento Renascer
Pode-se observar pelas falas dos entrevistados que a realidade de todos
converge para os problemas estruturais do Brasil faltam escolas no campo eacute baixa
a escolaridade em Brasiacutelia todos exercem atividades de subemprego
Todos tecircm grandes expectativas com relaccedilatildeo agrave vida futura no assentamento
objetivando melhores condiccedilotildees de vida na esperanccedila de serem beneficiaacuterios
enquanto cidadatildeos assentados das Poliacuteticas Puacuteblicas e financiamentos agriacutecolas
voltadas para a agricultura familiar como PRONAF PAA PNAE e PAPA-DF Vecircem
aiacute a possibilidade de emprego e renda situaccedilatildeo sonhada desde quando foram
pleitear a terra para reforma agraacuteria
Um olhar mais aprofundado sobre a anaacutelise de dados revela que natildeo importa o
fato de hoje residirem no DF pois como em qualquer lugar de origem os moradores
do assentamento Renascer vivenciam os mesmos problemas Percebe-se
claramente as dificuldades da inexistecircncia de escola no campo A distacircncia continua
impedindo o acesso os meios de transportes continuam precaacuterios os filhos
vivenciam a dificuldade de transferecircncia para a cidade na expectativa de
continuidade dos estudos as estradas rurais continuam esburacadas
Satildeo muitos os pontos em comum entre a situaccedilatildeo atual relatada e os problemas
vividos haacute deacutecadas em seus estados de origem o que deixa transparecer a absoluta
falta de interesse por parte do poder puacuteblico em garantir o direito constitucional agrave
educaccedilatildeo do povo do campo o que infelizmente continuaraacute deixando o triste
legado para o futuro do paiacutes
40
Repetimos a pergunta da inicial Cadecirc as escolas do campo Ateacute quando o paiacutes
vai viver essa situaccedilatildeo A anaacutelise de dados responde Natildeo eacute mais possiacutevel
continuar como estaacute
Todos os entrevistados pretendem alcanccedilar conhecimentos atraveacutes da escola do
campo implantada no Assentamento Renascer com objetivos de administrar a
propriedade participar ativamente do coletivo garantir renda fixa atraveacutes dos
programas de desenvolvimento da agricultura familiar
Os entrevistados unanimamente tecircm a preocupaccedilatildeo da manutenccedilatildeo dos laccedilos
familiares e das raiacutezes camponesas
A distacircncia entre a moradia e a escola fato relatado pela quase totalidade dos
entrevistados constitui um grande motivo de evasatildeo escolar de defasagem nas
seacuteries frequentadas de precariedade na aprendizagem em relaccedilatildeo aos demais
alunos A discriminaccedilatildeo alegada por muitos que frequentaram ou frequentam
escolas fora da faixa etaacuteria o vernaacuteculo proacuteprio dos sujeitos do campo as condiccedilotildees
precaacuterias da estrada que denunciam a condiccedilatildeo de assentado o sentimento de
inadequaccedilatildeo constituem fatores que determinam a evasatildeo escolar
Foram treze (13) entrevistados significando aproximadamente dez por cento
(10) dos moradores do Assentamento Renascer Desse total apenas dois (2)
entrevistados natildeo declararam dificuldade de distacircncia entre a moradia e a escola em
seus lugares de origem A maioria absoluta (11) pessoas declararam que a distacircncia
dificultava e impedia o acesso agrave escola Alguns relatos apresentam situaccedilotildees
precaacuterias para o homem do campo o assentado
Para o aluno do campo a distacircncia da escola tem o significado de inexistecircncia de
escola Isto porque as dificuldades de acesso satildeo enormes No caso em estudo
apenas um entrevistado declarou a inexistecircncia de escola em sua regiatildeo de
moradia Este poreacutem vivenciou todas as dificuldades de acesso que outros
assentados apresentaram em razatildeo da distacircncia moradiaescola
A falta de professores na escola rural eacute relatada por 11 dos 13 entrevistados A
distacircncia da escola para os professores dificulta segundo a vivecircncia dos
entrevistados o acesso agrave escola e a assiduidade o que muito desmotivava a
ambos
41
Os entrevistados conforme anaacutelise de dados desejam muito objetivamente a
implantaccedilatildeo imediata de escolas segundo os criteacuterios caracteriacutesticos de escola do
campo
- Trazer a realidade para dentro da escola do campo curriacuteculos voltados para o
cotidiano do aluno do campo onde as teacutecnicas agriacutecolas pecuaacuterias e agroecoloacutegicas
possam fazer parte do processo educativo da comunidade e que a escola tenha
uma gestatildeo coletiva democraacutetica com a participaccedilatildeo da comunidade
- Ter o trabalho como princiacutepio educativo A experiecircncia do aluno deve
harmonizar-se com os princiacutepios pistrakianos significar o trabalho de forma a que
ele apresente benefiacutecios para o proacuteprio indiviacuteduo para a comunidade na qual estaacute
inserido e para a sociedade e natildeo exclusivamente para servir ao capitalismo
-Superar a fragmentaccedilatildeo do conhecimento disciplinar A interdisciplinaridade
deve fazer parte dos objetivos educacionais de modo a promover a formaccedilatildeo
integral dos educandos
- Valorizar os saberes do homem do campo Os entrevistados desejam uma
escola onde possam exercitar sua vivecircncia campesina e a relaccedilatildeo dialoacutegica entre
professor-aluno seguindo a pedagogia de Paulo Freire o educando quer aprender
com o educador mas quer tambeacutem ter a oportunidade de transmitir seus saberes
- Promover espaccedilos de gestatildeo coletiva A proacutepria comunidade deve participar da
gestatildeo a elaboraccedilatildeo do PPP deve gerir o espaccedilo fiacutesico da escola para atividades
de interesse da comunidade ocupar espaccedilos para finalidades culturais esportivas
sociais tornando a escola um espaccedilo democraacutetico
- Garantir a presenccedila da comunidade e dos movimentos sociais que geram
processos que auxiliam a emancipaccedilatildeo social A escola deve tambeacutem ser espaccedilo
que auxilie a sustentabilidade e garanta a alimentaccedilatildeo saudaacutevel e recursos
fitoteraacutepicos em associaccedilatildeo com a comunidade
- Inclusatildeo tecnoloacutegica em todos os aspectos digital inovaccedilatildeo tecnoloacutegica
agropecuaacuteria recursos ambientais alternativos agua potaacutevel energia solar energia
eoacutelica fossa seacuteptica teacutecnicas de compostagem saneamento baacutesico cuidados com
os recursos hiacutedricos
A anaacutelise dos dados quando feita especificamente sobre a escola a ser
implantada pode aparentemente demonstrar uma pequena conexatildeo com as teorias
da escola do campo
42
A concepccedilatildeo da escola do campo natildeo pode ser imposta ela parte do princiacutepio
que os camponeses devem conquista-la Para essa conquista eacute necessaacuteria a
paixatildeo o desejo por algo ainda natildeo experimentado o amadurecimento poliacutetico-
social-pessoal a participaccedilatildeo coletiva na luta e na conquista
A trajetoacuteria de luta por educaccedilatildeo da comunidade Renascer apresenta estes
elementos agraves vezes difusos outras vezes mais claramente A escola bem que
poderia para alguns ser apenas uma escola rural Afinal aprender a ler e a
escrever ldquodireitordquo como alguns dizem ou seja deixar a condiccedilatildeo de analfabeto ou
analfabeto funcional para tornar-se letrado significaria avanccedilos em face das atuais
circunstacircncias Alguns entendem assim expressando-se principalmente nas
conversas informais
Apesar disso quando as respostas informais ou quando as respostas das
entrevistas satildeo analisadas mais profundamente identificamos que embora
difusamente todos desejam o programa educacional da escola do campo
Explicando melhor a participaccedilatildeo de todos da comunidade em todas as atividades
soacutecio-poliacuteticas-culturais (relatadas no terceiro capitulo) indicam que a comunidade
assimilou a postura soacutecio-politica-cultural que caracterizam a escola do campo
A vivecircncia do Assentamento Renascer no cotidiano e nos eventos coletivos
amadureceu o desejo pelo alimento intelectual cultural artiacutestico ambiental social
que a concepccedilatildeo de escola do campo introduz O programa educacional da Escola
do Campo ultrapassou as paredes fiacutesicas da escola e alcanccedilou o cotidiano dos
assentados
Os avanccedilos da conscientizaccedilatildeo e seu reflexo na vida do Assentamento Renascer
satildeo sentidos nos nuacutemeros de matriculados na LEdoC sete (7) alunos
aproximadamente dez (10) assentados prestaratildeo o proacuteximo vestibular trecircs (3)
assentados estatildeo matriculados no IFB dois(2) assentados estatildeo formados em
Teacutecnico Agropecuaacuterio tambeacutem pelo IFB um deles cursa o Tecnoacutelogo de
Agroecologia tambeacutem do IFB
Vale acrescentar que no iniacutecio de 2014 quando o IFB buscou no Assentamento
pessoas interessadas em matricular-se em seus cursos sob a condiccedilatildeo de
estudarem no ensino meacutedio o interesse foi grande e a impossibilidade pelo fato de
natildeo estarem habilitados no ensino fundamental provocou tanta discussatildeo que
estimulou essa pesquisa
43
O legado desses alunos futuros alunos e profissionais para o futuro do
Assentamento apresentaraacute resultados significativos para toda a comunidade O
futuro colheraacute bons frutos plantados agora
A escola que temos natildeo estaacute funcionando falta a renovaccedilatildeo do contrato o que
atrasa a alfabetizaccedilatildeo e conclusatildeo do 5ordm ano Falta a implantaccedilatildeo de poliacuteticas
puacuteblicas para atendimento de questotildees baacutesicas como por exemplo carteiras
quadro de giz iluminaccedilatildeo espaccedilo fiacutesico (dependecircncias para a escola) e mobiliaacuterio
-41-
44
Consideraccedilotildees Finais
A Educaccedilatildeo do campo eacute um movimento em que os trabalhadores do campo e
suas organizaccedilotildees lutam por transformaccedilotildees sociais particularmente a criaccedilatildeo de
escolas dono campo de qualidade a partir de uma perspectiva ampla de reforma
agraacuteria
A construccedilatildeo da educaccedilatildeo do campo eacute resultado do amadurecimento dos
movimentos sociais e das comunidades rurais em sua trajetoacuteria de luta pelo direito
fundamental agrave universalizaccedilatildeo escolar para as populaccedilotildees camponesas segundo
orientaccedilatildeo poliacutetico-pedagoacutegica adequada agrave realidade dos lutadores de
acampamentos e assentamentos em luta pela reforma agraacuteria e justiccedila social
Alguns princiacutepios caracterizam a luta pela escola do campo Dentre eles
podemos citar a criaccedilatildeo da consciecircncia do direito agrave educaccedilatildeo de qualidade plantada
na proacutepria comunidade o que provoca o enraizamento a valorizaccedilatildeo da vida no
campo a promoccedilatildeo da autoestima e a transformaccedilatildeo do ser alienado pela ideologia
e desigualdade social e sujeito de sua proacutepria histoacuteria
Outro princiacutepio eacute a adequaccedilatildeo de curriacuteculos agrave realidade camponesa de modo
a que o processo ensino-aprendizagem favoreccedila o amadurecimento de talentos
naturais o surgimento de oportunidades a niacutevel pessoal e social contribuindo para a
emancipaccedilatildeo poliacutetico-social do indiviacuteduo com reflexos na sociedade
A mudanccedila de paradigmas e o envolvimento social provocam a formaccedilatildeo integral
dos sujeitos que lutam de forma coletiva e solidaacuteria pela terra A escola do campo
que surge dessa mudanccedila eacute tambeacutem transformadora porque eacute fruto da luta
consciente que gera a reflexatildeo e o amadurecimento poliacutetico deixando um legado
positivo de cidadatildeos orgulhosos de sua condiccedilatildeo de lutador pela terra de sua
identidade de sua cultura de sua comunidade e coletividade
A escola do campo propicia aos alunos a reflexatildeo sobre o contexto social e a
problemaacutetica da comunidade em que estatildeo inseridos o respeito agrave individualidade a
ampliaccedilatildeo das potencialidades do aluno para organizar elaborar e atuar
coletivamente Deixam o legado futuro de homens responsaacuteveis mentes
independentes e atuantes que poderatildeo prestar serviccedilos significativos agrave sociedade
45
A comunidade assentada de o Assentamento Renascer pela Reforma
Agraacuteria em Sobradinho DF foi convidada a opinar sobre a escola que deseja a
partir da conquista da terra
O modelo proposto a partir de seu posicionamento possibilita a conclusatildeo
de que a escola do campo plantada na comunidade eacute preferiacutevel ao modelo
adotado atualmente de inserccedilatildeo dos alunos da comunidade agraves escolas urbanas
conter recursos materiais e humanos que propiciem bons resultados
pedagoacutegicos deve servir para fixar o trabalhador ao campo deve cumprir com o
propoacutesito constitucional de universalizaccedilatildeo do ensino para todas as faixas
etaacuterias deve estar identificada com os sonhos de prosperidade material e
realizaccedilatildeo pessoal dos assentados
-46-
46
Referecircncias Bibliograacuteficas
CANUTO Antocircnio In Comissatildeo Pastoral da Terra DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO 2012 pag 131) CLAUDIA MORAES DE SOUZA em seu artigo lsquoDiscursos intolerantes O lugar da poliacutetica na educaccedilatildeo rural e a representaccedilatildeo do camponecircs analfabeto (DIVERSITAS FFLCH USPBR)acesso em 03-08-2014 EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO ndash Marcos Normativos Brasilia 2012 MEC FERRARO Alceu Ravanello em seu artigo Alfabetizaccedilatildeo rural no Brasil na perspectiva das relaccedilotildees campo-cidade e de gecircnero (Educ Real ndash WWWSCIELOBRPDFEDREALV37N3PDF acesso 03-10-2014 FERREIRA (2011_ ldquoUm olhar histoacuterico uma realidade concretardquo (WWWUNIFILBR)acesso 20-10-2014
FERRARI Marco ldquoAniacutesio Teixeira o inventor da escola puacuteblica no Brasilrdquo Revista Nova Escola Fundaccedilatildeo Victor Civita Revistaescolaabrilcombr acesso em 14092014 FERREIRA Fabiano de Jesus BRANDAtildeO Elias Canuto ndash Revista Eletrocircnica de Educaccedilatildeo Ano V N 09 juldez 2011p3 ldquoEducaccedilatildeo do campo um olhar histoacuterico uma realidade concreta rdquo (WWWUNIFILBR acesso em 08 de agosto de 2014) GONCcedilALVES Luiz Alberto Oliveira e Pinto Regina Pahim EDUCACcedilAtildeO SEacuteRIE JUSTICcedilA E DESENVOLVIMENTO IFP-FCC FUNDACcedilAtildeO CARLOS CHAGAS 2007 SAtildeO PAULO (pag206)
KOLLING Edgar Jorge Vargas Caldart MST e Educaccedilatildeo in DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia Expressatildeo Popular 2012 (pag 5020
MOLINA Mocircnica SAacute Laiacutes Mouratildeo Escola do Campo in DICIONARIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia Expressatildeo Popular 2012 pg (329)
OLIVEIRA Maria Rita Duarte em sua dissertaccedilatildeo ldquoDos programas oficiais para a educaccedilatildeo rural aos projetos de educaccedilatildeo do campo dos movimentos sociaisrdquo WWWrevistalaborufcbrartigovolume1maria-ritapdf acesso em 08-09-2014
OLIVEIRA Maria Rita Duarte PEDAGOGIA EM MARCHA Apud ARROYO Satildeo Paulo1995( pg 162)
OLIVEIRA Maria Rita Duarte Revistalabor ufcbracesso em 19-10-2014
________ citando CALAZ Maria Rita Duarte Oliveira
47
SANTOS Clarice Aparecida PROGRAMA NACIONAL DE EDUCACcedilAtildeO NA REFORMA AGRAacuteRIA in DICIONARIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia2012(pg630)
________ Clarice Aparecida PROGRAMA NACIONAL DE EDUCACcedilAtildeO NA REFORMA AGRAacuteRIA BRASIacuteLIA 2012 pg 631 in DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO SANTOS Claudio Felix Dos ldquoO aprender a aprender na formaccedilatildeo de professores do campordquo Campinas 2013 Editora Autores Associados ) SOUZA Maria Antocircnia Movimentos Sociais no Brasil Contemporacircneo participaccedilatildeo e possibilidades no contexto das praacuteticas democraacuteticas ndash (wwwcesucptlab2004pdfMariaAntonia Souzapdfaceso em 24-07-2014 -48-
48
Apecircndices
1 Roteiro das Entrevistas
a) Dados dos entrevistados
Qual o seu nome
Masculino ( ) Feminino ( )
Quantos anos vocecirc tecircm
A quanto tempo mora no
assentamento
Onde vocecirc morou antes
de morar no
assentamento
Quantos anos vocecirc tinha
quando foi a escola pela
primeira vez
Estou ateacute qual seacuterieano
Quantos anos vocecirc tinha
quando parou de estudar
Qual motivo motivou vocecirc
a parar de estudar
Se tiver escola no
assentamento vocecirc voltaraacute
a estudar Porque
B) Outras informaccedilotildees dados pelos entrevistadosas (GRAVAR)
a) Em qual escola vocecirc estudou no acampamento ou em outro lugar Qual
b) Como era a escola que estudou Quais as coisas boas e coisas ruins que
tinha nesta escola
c) Conte como eacutefoi a educaccedilatildeo do assentamento o que jaacute existiu de escola
como funcionou e quais eram as boas e as coisas ruins desta escola
d) Jaacute participou de alguma accedilatildeo de mobilizaccedilatildeo para ter escola no
assentamento Se sim explique para que e como foi essa mobilizaccedilatildeo
e) Na sua opiniatildeo no assentamento deve ter escola Por quecirc
f) Como deveraacute ser a escola da comunidadeassentamento Como eacute a escola
que queremos ter
49
b) Entrevistas semi-estruturadas
Entrevistado 01
Moro no assentamento Renascer haacute 11 anos Nasci Carnauacuteba no Rio Grande do
Norte fui criado na roccedila e desde pequeno trabalhava na lavoura para ajudar meu
pai Fui para escola com 9 anos de idade estudei ateacute a 5ordm seacuterie parei de estudar
com 17 anos natildeo continuei os estudos porque era muito longe de onde eu morva
que era na cidade mais proacutexima eu tinha que andar a peacute 8 km ficava muito
cansado Casei e vim morar em Brasiacutelia para trabalhar em uma chaacutecara como
caseiro Morava na chaacutecara Buritis em sobradinho- Df tambeacutem natildeo dei para
continuar os estudos porque ficava longe e tinha que ser a noite e natildeo tinha como ir
Se vier uma escola pra caacute eu ainda vou estudar para ter mais conhecimento para
plantar minha roccedila ir no banco pra ver se assino um empreacutestimo para melhorar
minha produccedilatildeo e saber fazer conta pra administrar minha parcela de terra
Qual o seu nome
Masculino ( X ) Feminino ( )
Quantos anos vocecirc
tecircm
57 anos
A quanto tempo
mora no assentamento
11 anos
Onde vocecirc morou
antes de morar no
assentamento
Carnauacuteba ndash RN
Chaacutecara Buritis nordm 10 Sobradinho DF
Quantos anos vocecirc
tinha quando foi a escola
pela primeira vez
8 anos
Estou ateacute qual
seacuterieano
5ordf seacuterie
Quantos anos vocecirc
tinha quando parou de
estudar
24 anos
Qual motivo
motivou vocecirc a parar de
estudar
Trabalhar para sustento da famiacutelia a
distacircncia entre a casa e a escola
Se tiver escola no
assentamento vocecirc voltaraacute
a estudar Porque
Sim ldquoSe tivesse escola do ensino
fundamental voltaria a estudar para tecirc
mais conhecimento para plantar minha roccedila
50
saber pesar saber contar vendecirc os produto e
comecirc
Entrevistado 02
Moro no assentamento renascer haacute 7 anos tenho 38 vim do interior do Cearaacute
Entrei na escola com 7 anos de idade estudei soacute a 5ordm seacuterie incompleta natildeo
continuei a estudar porque natildeo tinha escola a onde eu morava que era na roccedila e eu
tinha que ficar na casa dozotro (SIC) na cidade e eu natildeo gostava disso natildeo ai parei
com 16 anos de idade Mudamo (SIC) pra Brasiacutelia pra uma chaacutecara perto de Santa
Maria-DF e natildeo dei pra estudar porque casei e tinha que trabalhar muito para
susrentar a famiacutelia A gora moro no assentamento Renascer e sei que um dia vai ter
uma escola aqui e eu vou voltar a estudar porque meu sonho eacute ser veterinaacuterio e vou
der se deus quiser
Entrevistado 03
Tenho 58 anos moro no assentamento Renascer haacute 6 anos vim de Ceres-GO
comecei a estudar quando eu tinha 10 ano de idade estudei ateacute a 4ordf seria primaacuteria
(SIC) parei de estudar quando tinha 16 anos porque eu morava na roccedila e escola
ateacute que natildeo ficava muito longe natildeo era soacute 2 km dava pra ir a peacute a professora eacute que
faltava muito e a gente natildeo tinha como saber se ela tava ou natildeoAiacute quando eu tinha
18 anos casei e vim morar em Brasiacutelia e arranjei(SIC) emprego de caseira em uma
chaacutecara aiacute natildeo pra estudar a noite porque era muito longe pra laacute entatildeo eu natildeo
pensei mais nessas coisas Quando tiver escola no assentamento quero estudar
quiecirc pra mim (SIC) fazer curso de teacutecnico agriacutecolarsquorsquo
Entrevistado 04
Tenho 24 anos moro no assentamento Renascer tem 6 ano vim da Bahia morava
no Condomiacutenio RK entrei na escola com 7 anos de idade e estudei soacute ateacute a 6ordf seacuterie
parei com 18 anos de idade
Porque mudei pra caacute pro assentamento (SIC) e natildeo tem escola e natildeo tem como ir
pra Sobradinho a noite porque eacute muito longe tem que andar 5 km eacute pirigogo (SIC)
tem muita gente mal por aiacute tem ateacute estrupador natildeo posso me arriscar
ldquoSe tivesse escola aqui eu ia terminar meus estudos podia ser no galpatildeo mesmo
pra mim tava bom mas para os meus filhos eu queria uma escola boa com internet
e tudo Eu natildeo gosto que meus filhos estuda(SIC) na cidade soacute aceito porque eacute o
jeito gente de assentamento eacute muito zombado (SIC) porque as vezes chega suja
na escola e os outros acha que eles satildeo porcos que toma banhordquo
Entrevistado 05
51
Tenho 21 anos de idade moro no Renascer haacute trecircs anos vim de satildeo Gabriel-GO
comecei a estudar aos 7 anos parei com 18 anos porque minha matildee mudou
pro(SIC) matildee mudou pro (SIC) assentamento haacute 6 anos e eu natildeo aguento morar
longe dela Quando cheguei aqui natildeo teve como continuar os estudos porque
trabalho durante o dia como manicure em Sobradinho e o uacuteltimo ocircnibus que passa
perto do assentamento eacute as 5 horas da tarde entatildeo natildeo daacute para estudar a noite
Sim porque quero fazer um curso de cabelereiro quando tiver aacutegua e luz aqui eu
quero montar um salatildeo de beleza e para ser uma empresaacuteria precisa ter estudos pra
administrar o negoacutecio
Entrevistado 06
44 anos
6 anos
Formosa-GO
8 anos
5ordf seacuterie
24 anos
Porque a escola mais perto(SIC) era 10km de distacircncia e eu trabalhava na roccedila e
ficava muito cansado aiacute parei natildeo deu mais
Sim quando tiver escola aqui eu vou voltar a estudar Eu tinha um sonho de ser
agroacutenomo mas esse sonho eacute impussive(SIC) entatildeo queria concluir o ensino
fundamental para fazer um curso de teacutecnico agriacutecola no IFB mas tambeacutem eacute longe
se tivesse como estudar aqui no assentamento eu ia(SIC) ficar muito feliz
Entrevistado 07
57 anos
6 anos
Parnaiacuteba-PI- Santa Maria- DF
7 anos
4ordf seacuterie
21 anos
Parei porque era muito difiacutecil ir para escola que ficava muito longe eu tinha que sair
de casa as 4hs da madrugada para chegar na escola as 730 ia montado num
cavalo e muitas vezes natildeo tinha professora pra dar aula Parei porque natildeo aguentei
o rojatildeo tinha que minha matildee na lida a tarde e eu ficava muito cansado Vim pra
52
Brasiacutelia e casei fui trabalhar de chacareiro numa chaacutecara que tambeacutem era longe de
escola depois vim morar aqui no assentamento que natildeo tem escola
Se tivesse escola aqui eu ia voltar estudar soacute pra aprender a cuidar meior (SIC) da
terra e dos meus bichos e que fosse como uma escola agriacutecola
Entrevistado 08
Tenho 29 anos moro no assentamento Renascer haacute 2 anos sou educadora do
Pronera haacute 1 ano e 2 meses O Pronera eacute como um antidepressivo na vida de muita
gente o Pronera melhorou a minha vida e a vida dos meus alunos o desejo de
todos eacute que o Pronera continue crescendo em direccedilatildeo de uma educaccedilatildeo continuada
levando tambeacutem o ensino fundamental para os acampamentos e assentamentos da
Reforma Agraacuteria
-50-
Anexos
53
Acampamento agrave beira da estrada ndash 2004
Construccedilatildeo da Sede do Movimento na atual aacuterea
54
Reuniatildeo semanal
Teatro de fantoches ndash brinquedoteca
55
Accedilatildeo da Pastoral da Crianccedila na brinquedoteca
Oficina de brinquedos reciclaacuteveis
56
Brinquedo confeccionado com materiais reciclaacuteveis na Brinquedoteca
57
58
59
60
Apresentaccedilatildeo teatral
61
Capacitaccedilatildeo em Economia Solidaacuteria
Formaccedilatildeo de multiplicadores da Economia Solidaacuteria
62
Capacitaccedilatildeo de Educadores Ambientais
63
Luta pela Reforma Agraacuteria e Soberania Alimentar
- 2 -
SUELI DE MARIA XAVIER PEREIRA
A ESCOLA QUE TEMOS E A ESCOLA QUE QUEREMOS
A Trajetoacuteria de luta por educaccedilatildeo no Assentamento Renascer
Monografia apresentada ao Curso de Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo ndash LEdoC da Universidade de Brasiacutelia-UnB como requisito parcial para a obtenccedilatildeo ao tiacutetulo de licenciado em Educaccedilatildeo do Campo
Aprovado em ______ de _______________ de 2014
___________________________________________
Profordf Drordf ELIENE NOVAES ROCHA Professora Orientadora FUPUnB
___________________________________________
JULIANA ROCHET (FUBUNB) Professor Avaliador
UnB
___________________________________________
SILVANETE PEREIRA DOS SANTOS Professor Avaliador Externo
Universidade Catoacutelica de Brasiacutelia
PLANALTINA- DF 2014
0
AGRADECIMENTO
Em primeiro lugar ao meu bom Deus porque sem ele eu natildeo sou nada
Ao meus queridos filhos Janaina Pereira Dias e Rodrigo Pereira Dias que me deram muito apoio forccedila e coragem nos momentos difiacutecil no decorrer desses quatro anos de estudo Ao meu esposo Paulo Viniacutecio Alvim Cruz que me deu todo seu amor e apoio nos momentos mais difiacutecil que venho enfrentado nos uacuteltimos anos A minha grande amiga e irmatilde de coraccedilatildeo Mariza do Carmo Azevedo por sempre ter acreditado em mim no decorrer desses 25 anos de amizade sincera A minha matildee Rosalda e meus e meus irmatildeos e irmatildes que me admiram muito por ser a primeira da famiacutelia da minha geraccedilatildeo a concluir um curso superior apesar de todas as dificuldades A minha orientadora professora DrordfEliene Novaes Rocha por ter acreditado que eu sou capaz de realizar esse trabalho mesmo em meio a muitos problemas que vinha enfrentando As professoras Juliana Rochet e Silvanete Pereira dos Santos que me avaliaram e aprovaram na banca examinadora Ao Diretor da FUP Antocircnio Pasquetti por ser um grande lutador em defesa do curso de Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo A coordenadora da LEdoC professora Drordf Eliete Aacutevila Wolff por ser uma grande defensora da Escola do Campo e da Ciranda Ciranda A professora Drordf Roseneide Magalhatildees pelo excelente empenho como coordenadora da LEdoC na gestatildeo anterior e como professora da aacuterea de linguagem com a qual pude aprender muito A todos os meus professores e professoras do curso de Licenciatura em Educaccedilatildeo do campo Rafael Zarref Joatildeo Batista Jair Reck Mocircnica molina Laiacutes mouratildeo Liacutevia Bernardo Tamiel Djiby ana Cristina Sisi Regina Roberta Joelma Joelma e outros colaboladores Ao MATR- Movimento de Apoio aos Trabalhadores Rurais a tudo que aprendi sobre Reforma Agraacuteria e que sem o qual eu natildeo teria ingressado no curso de Licenciatura em Educaccedilatildeo do campo-UnB Aos meus colegas da turma Panteras negras pelo grande desempenho e luta de conivecircncia no coletivo
1
ldquo A educaccedilatildeo eacute a arma mais poderosa que vocecirc pode usar para mudar o mundordquo (Nelson Mandela) ldquoEnsinar natildeo eacute transferir conhecimento mas criar as possibilidades para a sua proacutepria produccedilatildeo ou a sua construccedilatildeordquo (Paulo Freire) ldquo Se a educaccedilatildeo sozinha natildeo pode transformar a sociedade tatildeo pouco sem ela a sociedade mudardquo (Paulo Freire)
2
RESUMO
Este estudo tem como propoacutesito analisar a trajetoacuteria de luta dos trabalhadores
rurais sem terra pela escola do campo A educaccedilatildeo do campo eacute entendida como um
movimento que busca a concretude de uma educaccedilatildeo ampla diversificada e
enraizada em conceitos de coletividade da participaccedilatildeo da famiacutelia e da comunidade
e focada na transformaccedilatildeo do indiviacuteduo e da sociedade O estudo da escola do
campo constitui tema desafiador na medida em que provoca demandas sociais e
poliacuteticas puacuteblicas para o cumprimento das leis que garantem a criaccedilatildeo e o bom
funcionamento dessas escolas Essa pesquisa analisa tambeacutem a importacircncia da
escola do campo para fixar a comunidade rural agraves suas raiacutezes culturais familiares e
sociais em particular a necessidade de atendimento das reivindicaccedilotildees por escola
do Assentamento Renascer
3
ABSTRAT
This study aims to analyze the trajectory of struggle of the landless rural workers by
the school field The rural education is understood as a movement that seeks the
concreteness of a broad education diverse and rooted in community concepts
family participation and community and focused on the transformation of the
individual and society The field school study is challenging topic in that causes social
demands and public policies for compliance with the laws that guarantee the creation
and proper functioning of these schools This research also analyzes the importance
of the field school to secure the rural community to their cultural social and family
roots in particular the need to meet the demands for school Settlement Reborn
4
SUMAacuteRIO
Apresentaccedilatildeo 07
Capitulo l As opccedilotildees de pesquisa e os passos metodoloacutegicos
11Pesquisa Qualitativa com Estudos de Caso11
Capiacutetulo ll Da Escola Rural a Escola do Campo histoacuterico das lutas e
concepccedilatildeo da Educaccedilatildeo
21 A escola rural no Brasil16
22Trajetoacuteria de luta pela Educaccedilatildeo21
23Concepccedilatildeo Pedagoacutegica da Educaccedilatildeo do Campo26
24 Princiacutepios da Educaccedilatildeo do Campo28
25 Marcos Normativos da Educaccedilatildeo do Campo29
Capiacutetulo lll A histoacuteria do Assentamento Renascer
31 Trajetoacuteria de criaccedilatildeo do assentamento aos dias atuais34
32A histoacuteria da educaccedilatildeo no assentamento Renasce Renascer34
33 A escola do Campo na vivecircncia do Assentamento Renascer35
34O caminho para a produccedilatildeo do saber no Assentamento Renascer a
brinquedoteca a integraccedilatildeo social a biblioteca comunitaacuteria e as manifestaccedilotildees
culturais 36
Capitulo lV A escola que queremos41
Consideraccedilotildees finais 46
Referecircncias Bibliograacuteficas48
Apecircndice50
Anexo55
5
Lista de Siglas
DF - Distrito Federal
EMPRAPA - Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuaacuteria
FUNATURA - Fundaccedilatildeo Proacute-Natureza
GDF- Governo do Distrito Federal
IFB - Instituto Federal de Brasiacutelia
INCRA - Instituto Nacional de Colonizaccedilatildeo e Reforma Agraacuteria
LEdoC - Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo
MEB - Movimento de Educaccedilatildeo de Base
MAT R - Movimento de Apoio ao Trabalhador Rural
MST - Movimento dos Sem Terra
ONGs - Organizaccedilatildeo natildeo Governamental
PRONERA - Programa Nacional de Educaccedilatildeo na Reforma Agraacuteria
PAIS - Produccedilatildeo Agroecoloacutegica Integrada e Sustentaacutevel
PRONAF - Programa Nacional de Fortalecimento na Agricultura Familiar
PAA - Programa de Aquisiccedilatildeo de Alimento
PNAE - Programa Nacional de Alimentaccedilatildeo Escolar
6
PAPA-DF -Programa de Aquisiccedilatildeo da Produccedilatildeo da Agricultura
PPP - Projeto Poliacutetico Pedagoacutegico
7
APRESENTACcedilAcircO
O presente trabalho de pesquisa eacute resultado da observaccedilatildeo presencial do
assentamento de Reforma Agraacuteria denominado Renascer ao longo de 11 (onze)
anos de convivecircncia Durante 5 (cinco) anos se estabeleceu um acampamento agraves
margens da rodovia DF 330 que liga Sobradinho ao Paranoaacute DF Apoacutes mobilizaccedilatildeo
dos acampados e negociaccedilatildeo com o poder puacuteblico (GDF Coleacutegio Agriacutecola de
Brasiacutelia atualmente Instituto Federal de Brasiacutelia EMBRAPA e intermediaccedilatildeo
puacuteblica) foi liberada uma aacuterea para o acampamento mudar de local e se estabelecer
onde atualmente estaacute situado (entre o Coacuterrego do Arrozal e o Coacuterrego do Meio)
Esta mudanccedila de local foi autorizada pelo governo e se concretizou em maio de
2009 Neste tempo a situaccedilatildeo do acampamento mudou para preacute-assentamento e
atualmente jaacute se encontra em situaccedilatildeo de Assentamento Rural
Durante todos esses anos foram realizados algumas atividades pedagoacutegicas
na comunidade tais como a implantaccedilatildeo de uma brinquedoteca com oficinas de
confecccedilatildeo de brinquedos para as crianccedilas acampadas utilizando materiais
reciclados uma biblioteca com livros e revistas usados obtidos atraveacutes de doaccedilatildeo de
vaacuterias pessoas simpatizantes da causa da Reforma Agraacuteria Aulas de alfabetizaccedilatildeo
de adultos no horaacuterio noturno pelo Programa Nacional de Educaccedilatildeo na Reforma
Agraacuteria (PRONERA) com recursos muito escassos mas eacute a educaccedilatildeo que nos
acompanha ateacute nos dias de hoje Atividades de arte-educaccedilatildeo para incentivos e
melhorias na interaccedilatildeo de crianccedilas e jovens exercitando a praacutetica de teatro projeccedilatildeo
de filmes recreativos e de novos conhecimentos para os moradores produccedilatildeo de
um documentaacuterio sobre a comunidade Renascer e a importacircncia da Reforma
Agraacuteria no Brasil denominado ldquoConquistar a terra Produzir o patildeordquo Com o apoio do
projeto audiovisual ndash UnB Planaltina
Para uma melhor compreensatildeo da pesquisa monograacutefica dividiu-se o texto
em capiacutetulos O Primeiro capiacutetulo aponta as opccedilotildees de pesquisa e os passos
metodoloacutegicos para sua realizaccedilatildeo No segundo capiacutetulo estudamos a transiccedilatildeo
entre a escola rural e a escola do campo O terceiro capiacutetulo relata a histoacuteria do
Assentamento Renascer e o quarto capiacutetulo relatamos o resultado da pesquisa de
campo evidenciando a Escola que temos e a Escola que queremos
8
Primeiro Capiacutetulo
As opccedilotildees da pesquisa e os passos metodoloacutegicos
O intuito deste trabalho eacute recuperar a trajetoacuteria de luta dos moradores do
assentamento Renascer pela educaccedilatildeo visando assegurar o direito agrave escola
identificando avanccedilos e limites encontrados nesta trajetoacuteria
Gostaria de manifestar minha satisfaccedilatildeo e agradecer a oportunidade de estar
estudando numa universidade puacuteblica em um curso com muita interfere com a minha
vivecircncia pessoal e de um alcance social muito importante para a transformaccedilatildeo que
nosso paiacutes necessita A desigualdade social ainda eacute muito grande no campo e na
cidade sendo bastante visiacutevel esta realidade
Sou nascida numa comunidade remota e isolada no sul do Maranhatildeo onde
nos meus primeiros anos de vida convivi em uma comunidade indiacutegena com minha
avoacute paterna comunidade de economia essencialmente extrativista principalmente
da quebra do coco babaccedilu o cultivo da mandioca para fazer farinha e da caccedila e
pesca Fiquei sem frequentar agrave escola ateacute os treze(13) anos de idade por natildeo existir
escola na comunidade Quando vim morar em Brasiacutelia e ingressei em uma escola
pela primeira vez sofri muita descriminaccedilatildeo por parte dos outros alunos devido
minha idade e a defasagem escolar Apesar de viver na cidade grande haacute bastante
tempo continuam vivas na minha alma o desejo de viver no campo Estou na luta
por um pedaccedilo de terra atraveacutes da Reforma Agraacuteria no assentamento Renascer
com o apoio do MATR- Movimento de Apoio ao Trabalhador Rural haacute onze(11)
anos atualmente estamos em fase de sermos assentados
Alguns anos atraacutes em 1992 cheguei a fazer um curso de formaccedilatildeo de
professores (Magisteacuterio) e me capacitei para trabalhar da 1ordf a 4ordf seacuterie do Ensino
Fundamental na eacutepoca Realizei alguns trabalhos nessa aacuterea mas natildeo exerci
profissionalmente esta atividade de forma regular
O tema Escola do Campo vem ao encontro a um anseio pessoal de poder
trabalhar com educaccedilatildeo voltada para a realidade vivida pelo cotidiano da populaccedilatildeo
realmente do campo A minha motivaccedilatildeo ao escolher este tema de pesquisa eacute de
9
poder de alguma forma contribuir para a troca de experiecircncia e conhecimentos entre
educandos e educadores melhorando minha capacitaccedilatildeo profissional e absorver
conhecimentos e orientaccedilotildees de professores (as) e companheiros (as) de estudo
Conforme o educador Paulo Freire dizia ningueacutem tem o conhecimento de tudo
e sempre eacute capaz de conhecer mais coisas que ainda natildeo conhece se assim o
desejar
O assentamento Renascer hoje conta com um total de 120 famiacutelias satildeo
11 (onze) anos de luta e perseveranccedila tem se manifestado se mobilizado
reivindicando oportunidades de obterem escola do campo para adquirirem
conhecimentos atraveacutes do estudo que lhes permita melhorar sua capacitaccedilatildeo para o
trabalho e consequentemente ampliar seus horizontes soacutecio- econocircmico e
culturalmente ou seja progredir atraveacutes dos seus estudos e trabalho que satildeo
direitos humanos universais
Sem a inclusatildeo do ensino fundamental para trabalhadores rurais a Educaccedilatildeo
de Jovens e Adultos (EJA) para o ensino do 6ordm ao 9ordm ano o que natildeo eacute nem um pouco
acessiacutevel agrave comunidade devido a inuacutemeras dificuldades como horaacuterio disponiacutevel
falta de transporte dentre outros fatores Fica impossiacutevel o acesso dessa
comunidade aos estudos oferecidos pelo Instituto Federal de Brasiacutelia (IFB) que fica
proacuteximo a esse assentamento O IFB oferece diversos cursos que interessam e
atendem agraves necessidades dos trabalhadores do campo Desta maneira a situaccedilatildeo
atual dos moradores do Assentamento Rural Renascer demostra discriminaccedilatildeo e
exclusatildeo social por parte do poder puacuteblico
Alguns cursos e projetos teacutecnico-pedagoacutegicos realizados por parceiros do
Movimento de Apoio ao Trabalhador Rural (MATR) Como a Fundaccedilatildeo Banco do
Brasil Funatura IFB Economia Solidaacuteria Novas Fronteiras da Cooperaccedilatildeo Rio Satildeo
Bartolomeu Vivo e UnB Essas parcerias acrescentaram melhorias agrave qualidade de
vida ao assentamento
A educaccedilatildeo que temos atraveacutes do Programa de Educaccedilatildeo na Reforma
Agraacuteria (PRONERA) revela que a importacircncia do programa na realidade do
assentamento durante determinado periacuteodo satisfez algumas necessidades
educacionais tirando muitas pessoas do analfabetismo
O que ocorre atualmente eacute que o Pronera natildeo estaacute funcionando no
momento por falta da renovaccedilatildeo do contrato estre o INCRA a UnB e o Movimento
10
Social MATR que vem atrasando o processo de alfabetizaccedilatildeo e conclusatildeo do
5ordm ano
Um olhar criacutetico sobre a escola que temos revela a necessidade de poliacuteticas
puacuteblicas como a implantaccedilatildeo de espaccedilos fiacutesicos contendo mobiliaacuterio escolar baacutesico
como carteiras quadro de giz e iluminaccedilatildeo adequada A observaccedilatildeo da atuaccedilatildeo do
Pronera na comunidade Renascer resultou nas seguintes observaccedilotildees
- inadequaccedilatildeo do local para realizaccedilatildeo das aulas que ateacute recentemente
funcionava de forma precaacuteria num barraco utilizado pela igreja catoacutelica o que
impossibilitava o funcionamento das aulas pois durante os eventos da igreja natildeo
tinha como realizar as atividades pedagoacutegicas
A reparaccedilatildeo dessa situaccedilatildeo de precariedade especiacutefica do assentamento
Renascer contribui para reverter a condiccedilatildeo de inferioridade dos assentados
As criacuteticas acima relacionadas satildeo positivas pois a uacutenica escola que o
acampamento teve no decorrer desses 11 (onze) anos foi o Pronera que pode
perfeitamente superar as dificuldades apontadas contribuindo com o trabalho do
educador (a) que acaba por acrescentar inuacutemeras responsabilidades que lhe natildeo
satildeo devidas ao ato de ensinar
A perseveranccedila na luta por uma escola do campo na comunidade Renascer
eacute essencial para evitar o que acontece na realidade do campo em niacutevel nacional
onde cerca de 24000 escolas brasileiras foram fechadas no meio rural
Segundo Erivam Hilaacuterio do setor de educaccedilatildeo do MST que afirma que o
fechamento dessas escolas tem sua loacutegica a intenccedilatildeo de pensar num campo sem
escola e consequentemente um campo sem cultura e sem gente
Refletinto sobre a educaccedilatildeo que queremos atraveacutes do Pronera ou outros
programas educacionais de ensino sentimos que eacute necessaacuterio uma concepccedilatildeo da
educaccedilatildeo ampla que propicia alimento intelectual moral artiacutestico e um
posicionamento criacutetico no processo social e poliacutetico tanto em niacutevel regional
nacional e universal Constitui ferramenta essencial para a formaccedilatildeo de nossa
personalidade e para a emancipaccedilatildeo da sociedade em relaccedilatildeo agrave opressatildeo e
injusticcedila
As expectativas e lutas das famiacutelias do assentamento Renascer estatildeo
alicerccediladas em parcerias junto a entidades do poder puacuteblico exemplo INCRA UnB
11
e Movimentos Sociais do campo para colocar em praacutetica uma educaccedilatildeo que seja
eficaz para a Comunidade Renascer
Acredito que cada comunidade possui uma realidade um contexto muito
proacuteprio particular diferenciada de outra comunidade qualquer Os anseios as
necessidades os fatores culturais econocircmicos entre outros fatores satildeo diferentes
de lugar para lugar
A pedagogia e os meacutetodos a serem realizados em cada local deveriam ser
colocados em praacutetica somente apoacutes a comunidade local ser mobilizada e participar
ativamente na elaboraccedilatildeo deste plano de trabalho pedagoacutegico contribuindo com
ideias e vivecircncias Desta maneira a educaccedilatildeo estaria a serviccedilo do bem coletivo e
natildeo privilegiaria alguns em prejuiacutezo da coletividade A educaccedilatildeo eacute uma importante
ferramenta para o desenvolvimento de uma economia solidaacuteria e socialmente justa
politicamente livre dos espoliadores que historicamente persistem em oprimir a
maioria dos povos privando-os de seus direitos
Na maioria das escolas existentes no campo que natildeo atendem a todos mas
a uma determinada parcela da populaccedilatildeo regional a pedagogia adotada eacute
planejada formulada empacotada e imposta aos camponeses por ldquopedagogo de
gabineterdquo que vivem nas grandes cidades e natildeo respeitam os valores e realidades
regionais e locais de cada comunidade
Eacute claro que existem exceccedilotildees de trabalhos pedagoacutegicos muito bons Eacute o caso
de quando ocorre uma interaccedilatildeo entre a comunidade local e os educadores que
estatildeo ali para contribuir por uma educaccedilatildeo construiacuteda a partir da participaccedilatildeo
popular e democraacutetica na criaccedilatildeo e produccedilatildeo do processo educativo
A pesquisa seraacute fundamentada pela investigaccedilatildeo teoacuterica sobre o tema de
implantaccedilatildeo de salas de aula de ensino fundamental para trabalhadores rurais
adultos em comunidades que lutam pela reforma agraacuteria Para entender-se o
problema eacute necessaacuterio apontar a fundamentaccedilatildeo teoacuterica
A fundamentaccedilatildeo de diversas correntes de opiniatildeo eacute importante para o nosso
proacuteprio esclarecimento e para a busca conjunta com os interessados sobre qual o
melhor modelo pedagoacutegico a ser implantado na sala de aula da comunidade
A fundamentaccedilatildeo teoacuterica como satildeo vaacuterias as teorias existentes seratildeo
expostas algumas como Territoacuterios Educativos na Educaccedilatildeo do Campordquo ldquopor uma
Educaccedilatildeo do Campordquo ldquoTeoria e Praacutetica Pedagoacutegica da educaccedilatildeo do Campordquo
12
rdquoPesquisa Social e accedilatildeo Pedagoacutegicardquo rdquoEtnografia e Praacutetica Escolarrdquo ldquoMetodologia
do tralho Cientiacuteficordquo e trabalhos monograacuteficos de ex-alunos do curso da LEdoC
A metodologia utilizada a pesquisa qualitativa com estudo de caso e estudo
bibliograacutefico
O estudo teve como instrumento de pesquisa a aplicaccedilatildeo de entrevista semi-
estruturada com pessoas da comunidade Renascer quando seraacute identificada sua
participaccedilatildeo e contribuiccedilatildeo para educaccedilatildeo na comunidade e sobre seu entendimento
sobre que tipo de escola do campo que a comunidade requerem relevantes para o
objetivo da pesquisa
O trabalho de campo foi para buscar informaccedilotildees atraveacutes da fala dos sujeitos
que foram ouvidos conforme citado anteriormente bem como de material que
poderaacute contribuir para o trabalho da pesquisa
A pesquisa bibliograacutefica abordou o aprofundamento teoacuterico sobre o tema
para anaacutelise da realidade da educaccedilatildeo do campo para melhor entender a situaccedilatildeo
em que o assentamento se encontra na luta pela escola
-11-
13
Segundo Capiacutetulo
Da escola rural agrave escola do campo histoacuterico das lutas e
concepccedilotildees da educaccedilatildeo
21 A Escola Rural no Brasil
Conforme Ferreira e Brandatildeo (2011) a trajetoacuteria da escola rural brasileira
deve ser contextualizada historicamente segundo o modelo socioeconocircmico
implantado no paiacutes desde o iniacutecio do processo colonizador ateacute o momento presente
Para os autores desde os primoacuterdios do processo de colonizaccedilatildeo o paiacutes foi
entendido apenas como uma colocircnia de exploraccedilatildeo devendo portanto remeter agrave
metroacutepole suas riquezas naturais do solo do subsolo dando segmento aos ciclos
econocircmicos denominados de colonial ciclo do pau brasil da cana de accediluacutecar do
ouro do cafeacute (FERREIRA amp BRANDAtildeO 2011 p3)
A base social do paiacutes eacute formada pelos nativos (iacutendios ndash expulsos
massacrados e exterminados) os africanos e os imigrantes pobres vindos da
Europa e do oriente Foi segundo os mesmos autores esta mesma base social que
formou a matildeo de obra imprescindiacutevel para a implantaccedilatildeo do projeto colonial e do
periacuteodo imperial
A aboliccedilatildeo da escravatura em 1888 e o consequente abandono da populaccedilatildeo
negra desprovida de qualquer indenizaccedilatildeo ou bens materiais particularmente terra
teve como consequecircncia o ecircxodo rural e o desprezo pela atividade agriacutecola
associada agrave escravatura
Em sua experiecircncia histoacuterica como repuacuteblica o tradicional modelo
socioeconocircmico adotado no Brasil perdurou
Ao longo da histoacuteria do Brasil o processo de exclusatildeo social e tambeacutem poliacutetico econocircmico e cultural sempre estiveram presentes e eram tidos como algo ldquonaturalrdquo Ainda nos dias atuais fazer uma referencia a este processo de exclusatildeo natildeo leva a um debate tranquilo a resistecircncia ainda eacute forte por parte da sociedade neoliberal principalmente por aqueles que ainda se beneficiam com
a exclusatildeo socialrdquo (FERREIRA 2011 pag 3)
Com relaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo o que se percebe eacute conforme Ferreira (2011)
14
que o modelo de educaccedilatildeo praticado no Brasil pelos diferentes governos entre o iniacutecio do Impeacuterio (1822) ateacute meados do seacuteculo XX era uma educaccedilatildeo para a elite econocircmica e intelectual em prejuiacutezo direto e indiscriminado dos pobres negros e iacutendios Inclusive a primeira Lei ainda no periacuteodo imperial quando se reporta agrave educaccedilatildeo natildeo se ateve agraves especificidades diretas da zona rural onde a populaccedilatildeo brasileira viviardquo (FERREIRA 2011 p4)
Clauacutedio Santos (2013) afirma que a educaccedilatildeo destinada aos habitantes do
campo no inicio do seacuteculo XX entendia que ldquoa formaccedilatildeo das jovens geraccedilotildees ou dos
adultos no espaccedilo rural era tida como algo menor ou desnecessaacuteriordquo (p 47) Para o
autor a maioria de residentes no campo ( 75) natildeo foi pensado um modelo
educacional que contemplasse as necessidades dos residentes no campo o que a
histoacuteria do Brasil nos ensina eacute que o regime republicano manteve os grandes
latifuacutendios e a oligarquia rural alijando a maior parcela da populaccedilatildeo rural de
qualquer benefiacutecio do sistema poliacutetico-econocircmico
A organizaccedilatildeo escolar rural no Brasil embora tiacutemida pode ser localizada a
partir do primeiro governo republicano o do marechal Deodoro da Fonseca (1889-
1891) estando a cargo do Ministeacuterio da Agricultura Comeacutercio e Induacutestria O ecircxodo
da populaccedilatildeo rural para os incipientes centros urbanos em busca dos empregos
promovidos pela igualmente incipiente industrializaccedilatildeo evidenciava as mazelas dos
sujeitos do campo 75 da populaccedilatildeo brasileira era analfabeta igual nuacutemero da
populaccedilatildeo do campo
Somente a partir de 1920 tem-se efetivamente o primeiro movimento em
defesa da educaccedilatildeo da populaccedilatildeo rural conhecido como Ruralismo Pedagoacutegico
(SANTOS 2013) que foi um movimento dos educadores poliacuteticos e intelectuais
elaborando formas de accedilatildeo pedagoacutegicas adequados agrave dominacircncia poliacutetico-
econocircmica da oligarquia rural
Para o autor o ruralismo pedagoacutegico
defendia uma escola integrada agraves condiccedilotildees locais para promover a fixaccedilatildeo do homem do campo estava ligado agrave modernizaccedilatildeo do campo brasileiro e contava com o apoio dos latifundiaacuterios temerosos de perder sua matildeo de obra bem como de uma elite urbana preocupada com os resultados negativos de uma migraccedilatildeo
camponesa para a cidade (SANTOS2013p48)
15
Uma caracteriacutestica do ruralismo pedagoacutegico foi buscar adequar a educaccedilatildeo
rural para fixar o homem no campo para diminuir o processo de urbanizaccedilatildeo e
consequente ecircxodo rural que modificava a estrutura econocircmico e social do paiacutes
Relativo agrave educaccedilatildeo rural da primeira metade do seacuteculo XX nos ensina
Santos (2013 p48) que ldquoem 1933 inicia-se a campanha de alfabetizaccedilatildeo na zona
rural Em 1935 ocorre o I Congresso Nacional do Ensino Regional que contribui
para a fundaccedilatildeo da Sociedade Brasileira de Educaccedilatildeo Rural no ano de 1937rdquo
Nos anos de 1920 foi criado o movimento conhecido como Escola Nova por
intelectuais e pensadores brasileiros que valorizaram a pesquisa educacional e a
inserccedilatildeo da escola como uacutenico meio de se combater as desigualdades sociais num
ambiente de crescente industrializaccedilatildeo e urbanizaccedilatildeo (SANTOS 2013) Estes
educadores como Aniacutesio Teixeira Fernando de Azevedo Lourenccedilo Filho dentre
outros defenderam atraveacutes do Manifesto da Escola Nova (1932) a universalizaccedilatildeo
da escola puacuteblica laica e gratuita
A influecircncia deste movimento sobre a educaccedilatildeo brasileira fez-se sentir nas geraccedilotildees futuras de educadores e pesquisadores como Darcy Ribeiro e Florestan Fernandes A atuaccedilatildeo desses pioneiros se estendeu por deacutecadas muitas vezes criticada pelos defensores da escola particular e religiosa (FERRARI 2014p43)
Poreacutem as propostas do Manifesto natildeo tiveram impactos concretos e natildeo
foram incorporados pela escola Ferraro (2012) esclarece que
A educaccedilatildeo rural no Brasil soacute se tornou objeto de interesse do Estado no momento em que todas as atenccedilotildees e esperanccedilas se voltavam para o urbano e a ecircnfase passava a recair sobre o desenvolvimento industrial Quando os interesses do latifuacutendio dominavam tanto a economia como a poliacutetica a alfabetizaccedilatildeo das massas camponesas era vista como seacuteria ameaccedila agrave ordem vigente Quando o paiacutes jaacute avanccedila no processo de industrializaccedilatildeo e se torna predominantemente urbano eacute a proacutepria cidade que passa a reivindicar a alfabetizaccedilatildeo das populaccedilotildees do campo Passa entatildeo a contrariar os interesses da cidade continua (FERRARO 2012p964)
16
A industrializaccedilatildeo ocorreu nas cidades e atraiu grandes levas de
trabalhadores do campo seduzidos pelo ideal de transformaccedilatildeo de vida acesso agrave
escolarizaccedilatildeo empregos bem remunerados ideais que levam ao ecircxodo rural hoje
ou naquele momento histoacuterico A realidade do trabalhador do campo receacutem
chegado agrave cidade era do ponto de vista educacional precariacutessima pois em sua
maioria eram analfabetos ou com baixa escolarizaccedilatildeo Essa condiccedilatildeo impedia o
acesso ao emprego industrial urbano e agrave boa qualidade de vida que uma boa
remuneraccedilatildeo podia proporcionar
As cidades sofreram crescimento raacutepido desgovernado formando periferias
que abrigavam a maioria da populaccedilatildeo egressa do campo O subemprego e o
desemprego desestabilizavam as populaccedilotildees das cidades e geravam desequiliacutebrios
sociais e econocircmicos comprometendo a qualidade de vida de todos os moradores
Eacute o ciacuterculo vicioso da desigualdade da exclusatildeo e da violecircncia que a educaccedilatildeo
pode romper A educaccedilatildeo tem entatildeo o propoacutesito de formar trabalhadores para a
induacutestria urbana
Na Constituiccedilatildeo de 1934 para com a educaccedilatildeo rural destaca-se o Art 156 conforme podemos ver abaixo
A Uniatildeo e os Municiacutepios aplicaratildeo nunca menos de dez por cento e os Estados e o Distrito Federal nunca menos de vinte por cento da renda resultante dos impostos na manutenccedilatildeo e no desenvolvimento dos sistemas educativos Paraacutegrafo uacutenico ndash Para a realizaccedilatildeo do ensino nas zonas rurais a Uniatildeo reservaraacute no miacutenimo vinte por cento das cotas destinadas agrave educaccedilatildeo no respectivo orccedilamento anual
Na constituiccedilatildeo Federal de 1937 a educaccedilatildeo rural natildeo eacute citada A prioridade eacute
a educaccedilatildeo dos moradores urbanos Neste periacuteodo conforme Ferreira (2011) ldquoa
orientaccedilatildeo poliacutetico educacional para o mundo capitalista fica bem expliacutecita
sugerindo a preparaccedilatildeo de um maior contingente de matildeo de obra para as novas
atividades abertas pelo mercado ndash a industrializaccedilatildeordquo ( pg 32)
Ainda segundo o autor este afirma que em 1935 ocorreu o I Congresso
Nacional do Ensino Regional que assume como objetivo propagar a educaccedilatildeo rural
e elaborar os planos de educaccedilatildeo Esses planos recomendavam escolas rurais
ambulantes nas regiotildees de menor densidade geograacutefica
17
O periacuteodo conhecido como Estado Novo (1937-1945) tentava implantar uma
poliacutetica educacional de cunho nacionalista tornando a educaccedilatildeo um instrumento do
estado servindo aos seus interesses
Os adultos analfabetos particularmente no meio rural tiveram atenccedilatildeo da
Campanha Nacional de Educaccedilatildeo Rural (CNER) de 1952 a 1963 cujo objetivo era
contribuir para a inserccedilatildeo do homem do campo O CNER atuou atraveacutes de missotildees
internacionais dos Estados Unidos voltadas agrave educaccedilatildeo ao treinamento de
professores e agrave preparaccedilatildeo dos jovens do meio rural pelo ensino profissional
agriacutecola Agrave atividade do CNER podemos agregar a accedilatildeo da Comissatildeo Brasileiro-
Americana de Educaccedilatildeo das Populaccedilotildees Rurais (CBAR) que celebrou acordos entre
esses dois paiacuteses visando a educaccedilatildeo rural orientada para o emprego de teacutecnicas
agriacutecolas (OLIVEIRA 1999 p 133)
A educaccedilatildeo rural eacute chamada para se ajustar agraves poliacuteticas educacionais estabelecidas pelo projeto do estado A educaccedilatildeo rural em primeiro lugar apesar de numerosos programas desenvolvidos sempre representou uma fatia muito pequena e marginal nas preocupaccedilotildees do setor puacuteblico (OLIVEIRA p apud CALAZANS1981p162)
A educaccedilatildeo rural ocupou e ainda ocupa pequeno espaccedilo no universo
educacional brasileiro As escolas apresentam dificuldades para se manterem no
campo Conforme o Jornal Sem Terra nordm 46 jun2011 24000 escolas do campo
foram fechadas no Brasil As instalaccedilotildees o curriacuteculo a carecircncia de professores o
transporte escolar formam muitas vezes uma barreira quase imponiacutevel para uma
ampla gama de alunos particularmente das uacuteltimas seacuteries do ensino fundamental e
do ensino meacutedio
Os programas implantados nos uacuteltimos anos como o PRONERA e o EJA
apresentam soluccedilotildees e alcanccedilam grandes resultados mas podemos questionar os
resultados entre os estados O Rio Grande do Sul (que atendeu alunos do ensino
baacutesico ateacute o ensino superior) em comparaccedilatildeo com outros estados e o Distrito
Federal conseguiu excelentes resultados No DF falta alcanccedilar melhores
resultados Podemos questionar se os resultados satildeo adequados pois por exemplo
no assentamento Renascer o Pronera natildeo vai aleacutem do quinto ano Eacute necessaacuterio
uma poliacutetica educacional que leve em conta a realidade dos alunos do campo
18
invista recursos materiais e humanos modernizem as escolas e propiciem o acesso
dos alunos
Conforme nos explica Sousa 2004 em seu artigo lsquodiscursos intolerantes o
lugar da politica na educaccedilatildeo rural e a representaccedilatildeo do camponecircs analfabeto
No Brasil a trajetoacuteria da educaccedilatildeo rural inclui-se na dinacircmica de modernizaccedilatildeo do campo assumindo um papel decisivo no processo de expropriaccedilatildeo proletarizaccedilatildeo e controle dos trabalhadores rurais A modernizaccedilatildeo da produccedilatildeo no nordeste brasileiro por exemplo incentivou o processo de sindicalizaccedilatildeo em massa dos trabalhadores das zonas canavieiras estimulou reivindicaccedilotildees no campo do trabalho ligadas agrave aplicaccedilatildeo do Estatuto do Trabalhador Rural e contraditoriamente fez emergir as manifestaccedilotildees pela distribuiccedilatildeo de terras encampadas pelas Ligas Camponesas ( SOUSA2004 p4)
O projeto de modernizaccedilatildeo do campo ocorreu sem que houvesse a
emancipaccedilatildeo dos trabalhadores rurais Na verdade ocorreu a proletarizaccedilatildeo dos
trabalhadores rurais pela acumulaccedilatildeo de terras em matildeos de apenas poucos
proprietaacuterios (latifundiaacuterios) Esse acontecimento revela que apenas em processo
consciente e contiacutenuo de lutas organizados e unidos os trabalhadores rurais
poderatildeo conquistar terras e meios para sua produccedilatildeo
O estudo da organizaccedilatildeo dos trabalhadores rurais eacute importante porque eacute a
partir dela que outras grandes reivindicaccedilotildees satildeo conquistadas No caso da
presente pesquisa pode-se observar que foi a organizaccedilatildeo dos trabalhadores em
torno de suas causas a reforma agraacuteria que levou agrave luta pelas outras reivindicaccedilotildees
como a educaccedilatildeo no campo
O proacuteximo capiacutetulo deste trabalho monograacutefico aborda a questatildeo das
manifestaccedilotildees e resistecircncias dos camponeses pela educaccedilatildeo e pela reforma
agraacuteria
-16-
22 Trajetoacuteria de luta pela Educaccedilatildeo do Campo
A luta pela educaccedilatildeo do campo esteve sempre associada agrave luta pela reforma
agraacuteria e pela conquista de direitos para os trabalhadores rurais O Movimento das
19
Ligas Camponesas lutou pela emancipaccedilatildeo do trabalhador rural e da reforma agraacuteria
e em seu projeto educacional estavam baseados nos ideais de Paulo Freire e do
Movimento de Educaccedilatildeo de Base (MEB)
Para explicar a reaccedilatildeo das classes populares agraves imposiccedilotildees do governo
brasileiro e das classes dominantes Oliveira (1995 apud ARROYO)
A histoacuteria das lutas entre as classes sociais natildeo se limitam agrave luta pelo poder mas se constituem impulsionadoras da histoacuteria da humanidade que natildeo aguardam passivamente seu destino mas ao contraacuterio articulam-se em torno de suas lutas para garantir seus direitos sua dignidade e sua participaccedilatildeo democraacutetica na sociedade( OLIVEIRA apud ARROYO1995p 80)
Neste sentido as Ligas Camponesas lutaram praticamente em todo o
territoacuterio nacional contra a tentativa de expulsatildeo dos trabalhadores rurais das terras
Os conflitos armados particularmente no Nordeste exigiam participaccedilatildeo poliacutetica e
direitos essenciais como a educaccedilatildeo do campo
O meacutetodo de alfabetizaccedilatildeo criado por Paulo Freire foi amplamente utilizado
pelas Ligas Camponesas e em sua concepccedilatildeo ampla de escola serviu de subsidio
para a compreensatildeo do camponecircs acerca de seu papel social (TOLEDO Caio
Navarro 2004 p6)
Neste contexto surge a Pedagogia do Oprimido de Paulo Freire Segundo
SANTOS (2013 apud Paulo Freire 1987) afirma que a pedagogia do oprimido
configura-se como
Aquela que tem de ser forjada com ele (o oprimido) e natildeo para ele enquanto homens ou povos na luta incessante de recuperaccedilatildeo de sua humanidade Pedagogia que faccedila da opressatildeo e de suas causas objeto de reflexatildeo dos oprimidos de que resultaraacute o seu engajamento necessaacuterio na luta por sua libertaccedilatildeo em que esta pedagogia se faraacute e refaraacuterdquo (FREIRE 1987 p32)
A pedagogia do oprimido serve de referecircncia para o trabalhador rural que luta
pela emancipaccedilatildeo de sua condiccedilatildeo de proletaacuterio atraveacutes da reforma agraacuteria A
pedagogia do oprimido leva o homem ao encontro de si mesmo ao reconhecimento
da grandeza de seu trabalho ao potencial de suas accedilotildees cotidianas que fazem a
diferenccedila A capacidade de reflexatildeo e o entendimento de sua potencialidade pode
leva-lo agrave sua plena realizaccedilatildeo como indiviacuteduo e como ser social
20
A reaccedilatildeo do governo contra o movimento de educaccedilatildeo popular proposto por
Freire e assumido pelo Movimento das Ligas Camponesas e pelo Movimento de
Educaccedilatildeo de Base (MEB) gerou repressatildeo e resposta da ditadura civil-militar como
o Movimento Brasileiro de Alfabetizaccedilatildeo (MOBRAL)
A luta dos movimentos sociais e sindicais pela educaccedilatildeo do campo parte das
forccedilas internas dos movimentos e alcanccedila a setores sociais religiosos ideoloacutegicos
que passam a contribuir efetivamente para o alcance do direito agrave educaccedilatildeo aos
camponeses
A Comissatildeo Pastoral da Terra (CPT) presente ao lado dos trabalhadores (as)
rurais indiacutegenas ribeirinhos pescadores e quilombolas tambeacutem contribuiu e
contribui para a formaccedilatildeo criacutetica a defesa de formas sustentaacuteveis de utilizaccedilatildeo de
recursos naturais e produccedilatildeo e para a alfabetizaccedilatildeo segundo o meacutetodo de Paulo
Freire (CANUTO 2012 p 131)
Na atualidade estaacute em desenvolvimento um movimento que luta pela educaccedilatildeo do homem do campo organizado por vaacuterias entidades dentre elas o MST Trata-se de um processo que teve inicio em meados dos anos de 1990 impulsionados pela necessidade da educaccedilatildeo de jovens e adultos das aacutereas de assentamentos rurais Foi organizado um Programa Nacional para Educaccedilatildeo na Reforma Agraacuteria composto por atores tais como movimentos sociais universidades e governo federal aleacutem de outros parceiros (Alas da Igreja Sindicatos Organizaccedilatildeo Natildeo-Governamental ONG) existentes nas diferentes regiotildees do Brasil( SOUSA2004 p 32)
A trajetoacuteria de conquista das escolas do campo particularmente as escolas
do campo criadas pelo MST a partir da deacutecada de 1990 foi marcada pela conquista
e implantaccedilatildeo da Educaccedilatildeo Fundamental para crianccedilas e adolescentes dos
acampamentosassentamentos de acordo com o projeto politico-pedagoacutegico fruto do
amadurecimento do movimento
Focou-se a alfabetizaccedilatildeo de jovens e adultos e as lutas pela implantaccedilatildeo do
ensino meacutedio com cursos alternativos para a formaccedilatildeo de professores e teacutecnicos de
niacutevel meacutedio e tambeacutem de cursos superiores
A concepccedilatildeo de escolas de ensino fundamental plantadas em assentamentos
prevecirc a instalaccedilatildeo da escola na proacutepria comunidade evitando com isso o uso de
transporte escolar e a frequecircncia dos alunos Sem Terra em escolas fora do
assentamento
21
Esta atitude de resistecircncia foi fundamental para a conquista da escola nas
terras conquistadas e tambeacutem foi fundamental para universalizar o ensino enraizar
o aluno em sua comunidade e criar a consciecircncia do direito agrave educaccedilatildeo
ldquoincomodandordquo o Estado para garantir o cumprimento das poliacuteticas puacuteblicas
Kolling Vargas e Caldart (2012p502) nos ensinam ldquotoda vez que se
conquista uma escola de educaccedilatildeo baacutesica em um assentamento ou acampamento
ela representa menos adolescentes e jovens do campo fora da escola e mais gente
enraizada em seu proacuteprio lugarrdquo (pag 502)
Os movimentos sociais e sindicais pela educaccedilatildeo do campo indicam o grau
de maturidade desses em sua luta pela reforma agraacuteria Agrave essa luta soma-se o
projeto de desenvolvimento do paiacutes baseado na justiccedila social e o combate agraves
tradicionais formas utilizadas pelas elites urbanas ou rurais de alienaccedilatildeo pela
expropriaccedilatildeo do trabalho e pelo controle dos meios que levam agrave emancipaccedilatildeo
sociocultural e agrave verdadeira humanizaccedilatildeo papel destinado agrave educaccedilatildeo
Neste sentido movimentos sociais como o MST inserem a educaccedilatildeo
baseada em princiacutepios pedagoacutegicos que se distinguem da escola tradicional
Numa perspectiva histoacuterica os movimentos sociais do campo como por
exemplo o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) tiveram inicialmente
como bandeira de luta a luta pela terra pela Reforma Agraacuteria natildeo fazendo uma
relaccedilatildeo entre essa luta e a educaccedilatildeo
A formaccedilatildeo de escolas do campo pelo MST natildeo foi resultado da consciecircncia e
importacircncia da escola para a promoccedilatildeo da educaccedilatildeo em seu meio Foi na verdade
a necessidade de oferecer aos filhos dos primeiros lutadores a oportunidade de
uma perspectiva melhor de futuro atraveacutes do direito agrave educaccedilatildeo Foi tambeacutem a
necessidade de ldquotransformar instituiccedilotildees histoacutericas como a escola em lugares que
ajudem a formar os sujeitos destas transformaccedilotildeesrdquo (CALDART2012 p94)
Desse modo houve primeiro a ldquoocupaccedilatildeo da escolardquo pela mobilizaccedilatildeo e pela
accedilatildeo para garantir que em acampamentos ou assentamentos conquistados
houvesse uma escola que ldquofizesse a diferenccedila ou tivesse realmente sentido em sua
vida presente e futura (preocupaccedilatildeo com os filhos)rdquo (CALDART2012 p91)
Num segundo momento da luta observa-se intencionalidade da luta pela
escola mas com proposta pedagoacutegica especiacutefica ldquocombinando processos de
22
escolarizaccedilatildeo e de formaccedilatildeo da militacircncia e da base social Sem Terrardquo
(CALDART2012 p92)
As experiecircncias de pensar escolas como polos regionais entre assentamentos e com estudantes de outras comunidades de camponeses aos poucos vatildeo educando o olhar dos trabalhadores Sem Terra para uma realidade mais ampla Foi assim que o MST chegou agrave EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO (KOLLING Vargas e Caldart 2012 p 502)
A escola dentro dessa perspectiva de mudanccedila e envolvimento social eacute
parte da luta pela reforma agraacuteria daacute significado a ela pois proporciona a formaccedilatildeo
integral dos sujeitos que lutam pela terra
Essa escola possibilita a reflexatildeo trava o diaacutelogo com as propostas de
educaccedilatildeo popular de Paulo Freire e busca superar as dificuldades imensas que
assentados e acampados vivem no dia a dia
A escola tambeacutem revela a cultura o orgulho e criaccedilatildeo da identidade na luta
por terra Nesse sentido
A heranccedila que o MST deixaraacute para seus descendentes seraacute bem mais do que a terra que conseguir libertar do latifuacutendio seraacute um jeito de ser humano e de tomar posiccedilatildeo diante das questotildees de seu tempo seratildeo os valores que fortalecem e datildeo identidade aos lutadores do povo de todos os tempos de todos os lugares Eacute enquanto produto humano de uma obra educativa que os Sem Terra podem ser vistos como mais um elo que se forma em uma longa tradiccedilatildeo de lutadores sociais que fazem a histoacuteria da humanidade Enraizamento no passado e projeto de futuro (CALDART 2012 p 96)
A educaccedilatildeo proposta pelo movimento gera o sentimento de pertencimento e
desperta o sentimento de respeito agrave coletividade valoriza o trabalho a gestatildeo
democraacutetica e desburocratizada da escola
SANTOS (2013 p71) esclarece que pelo projeto educacional do MST a
educaccedilatildeo proposta estaacute pautada em ldquovalores socialistas e humanistas tais como o
coletivismo o trabalho socialmente uacutetil a organizaccedilatildeo e auto-organizaccedilatildeo dos
estudantes e professoresrdquo (p71)
-21-
23
221 Concepccedilatildeo Pedagoacutegica da Educaccedilatildeo do Campo
No acircmbito da educaccedilatildeo do homem do campo tornar o homem sujeito e natildeo
objeto do saber leva a entender que o conhecimento do camponecircs pode dialogar
com as praacuteticas baseadas no conhecimento cientiacutefico desde que seja perseguido o
ideal de trabalhadores e educadores do campo comprometidos com as lutas sociais
de formar o homem ldquodordquo campo e ldquono campordquo
Conforme Kolling Cerioli e Caldart (2002 p 264) ldquoo povo tem direito a uma
educaccedilatildeo pensada desde o seu lugar e com sua participaccedilatildeo vinculada agrave sua
cultura e agraves suas necessidades humanas e sociaisrdquo ndash(Caldart Educaccedilatildeo do Campo
2012 p 264
Tal compreensatildeo se ainda hoje causa oposiccedilatildeo ateacute mesmo no ambiente
acadecircmico imagine-se naquele momento histoacuterico de profunda repressatildeo poliacutetica e
ideoloacutegica aos movimentos sociais de camponeses por terra e educaccedilatildeo Como nos
ensina Molina e Saacute (DICIONAacuteRIO da Educaccedilatildeo do Campo p 324)
A concepccedilatildeo de escola do campo nasce e se desenvolve no bojo do movimento da EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO a partir das experiecircncias de formaccedilatildeo humana desenvolvidas no contexto de luta dos movimentos sociais camponeses por terra e educaccedilatildeo Trata-se portanto de uma concepccedilatildeo que emerge das contradiccedilotildees da luta social e das praacuteticas de educaccedilatildeo dos trabalhadores do e no campo (MOLINA e SAacute 2012 pag 324)
A concepccedilatildeo pedagoacutegica da educaccedilatildeo popular e da pedagogia da praacutetica
segundo ARROYO inclui
um caraacuteter de envolvimento totalizante dos movimentos sociais que possibilita ao individuo que participa destes coletivos o acesso a outro tipo de formaccedilatildeo que supera a condiccedilatildeo de aluno de alfabetizando de escolarizando Os integrantes destes organismos emersos na tensa situaccedilatildeo de conflitos aprendem por meio da vivencia das lutas sociais dos momentos de mobilizaccedilatildeo das situaccedilotildees limites de perda de emprego de criacuteticas da sociedade agraves suas accedilotildees de ameaccedilas agraves suas vidas Tudo isso traz ricas liccedilotildees ensinadas na ldquoescola do movimentordquo e que nenhuma teoria pode transmitir ou explicar de forma satisfatoacuteria
No entendimento de Arroyo (2013) os movimentos sociais vivem e
amadurecem sob o conhecimento e o entendimento das contradiccedilotildees sociais e esta
24
experiecircncia lhes permite a possibilidade de defender mudanccedilas radicais tanto no
campo como na cidade tanto na ideologia quanto no combate ao latifuacutendio e ao
capitalismo
Tamanho movimento social gera a reflexatildeo sobre as relaccedilotildees
socioeconocircmicas politicas culturais cuidado da natureza relaccedilotildees humanas
destaques de tudo o que interessa ao coletivo agrave sociedade
Eacute por meio do entendimento de que a realidade eacute criaccedilatildeo humana de como se estabelecem os processos de opressatildeo e ainda da noccedilatildeo de que podemos transformar essa realidade dado que a sociedade eacute mutaacutevel que se forma a praacutexis da luta accedilatildeo-conscientizaccedilatildeo-transformaccedilatildeo-libertaccedilatildeo Inserindo-se criticamente na histoacuteria os cidadatildeos tornam-se sujeitos construtores e reconstrutores da realidaderdquo
Molina e Saacute (2012) nos ensinam a partir do conceito de escola do campo sobre a
potencialidade da vivencia de praacuteticas coletivas para a valorizaccedilatildeo integral dos
sujeitos da coletividade do conhecimento cientiacutefico da gestatildeo coletiva da escola
dentre tantos avanccedilos e vitoacuterias dos movimentos sociais
O processo ensino-aprendizagem permite que o conceito de escola extrapole
o cotidiano de dificuldades e desafia agrave reflexatildeo que gera a emancipaccedilatildeo
Este eacute um dos maiores desafios e ao mesmo tempo uma das maiores possibilidades da escola do campo articular os conhecimentos que os educandos tecircm o direito de acessar a partir do trabalho com a realidade da religaccedilatildeo entre educaccedilatildeo cultura e os conhecimentos cientiacuteficos a serem apreendidos em cada ciclo de vida e de diferentes aacutereas do conhecimento(MOLINA MOURAtildeO 2012 p 329) -26-
222 Princiacutepios da Educaccedilatildeo do Campo
Alguns princiacutepios viabilizam o projeto de escola adotado pelos movimentos
sociais e possibilitam a democracia e a integraccedilatildeo de todos lideranccedila assentados e
acampados do movimento
25
O princiacutepio da responsabilidade coletiva sobre o planejamento a gestatildeo a
organizaccedilatildeo e a realizaccedilatildeo de tarefas em todas as esferas de atividades princiacutepios
muito valorizados pelos movimentos sociais do campo foram transferidos para o
projeto de educaccedilatildeo
O projeto eacute de responsabilidade coletiva e insere educadores tanto a niacutevel
local como regional e nacional os ldquoColetivos de educaccedilatildeordquo como satildeo conhecidos
Os coletivos de educaccedilatildeo com tarefas forccedila orgacircnica e discussotildees especiacuteficas que podem variar a cada periacuteodo fortalecem o princiacutepio organizativo de que a questatildeo da educaccedilatildeo bem como outras questotildees da vida social assumidas pelo MST deve ser pensada e implantada de forma coletiva Eacute uma loacutegica que implica tarefas a serem realizadas pelas pessoas mas mediante um planejamento e uma leitura de conjuntura feita por um coletivo (KOLLING1995 et al p503)
Para concretizar o projeto de educaccedilatildeo foi concebida a formaccedilatildeo de
professores pelos proacuteprios movimentos no acircmbito da proacutepria comunidade
(conhecidos como ldquoprofessores leigosrdquo) e tambeacutem pela rede oficial de ensino
A falta de titulaccedilatildeo de muitos educadores formados na comunidade natildeo
impede que os mesmos trabalhem juntos com os professores titulados e com
simpatizantes do movimento no projeto poliacutetico-pedagoacutegico constituindo um
princiacutepio democraacutetico importante para superar as dificuldades e urgecircncias para a
implantaccedilatildeo da educaccedilatildeo do campo
A democracia do processo de formaccedilatildeo de educadores tem reflexos amplos
a formaccedilatildeo de educadores pelos proacuteprios movimentos especiacutefica para atuaccedilatildeo nas
escolas do campo
O movimento eacute responsaacutevel pela universalizaccedilatildeo do ensino no acircmbito dos
territoacuterios conquistados ou por conquistar e permitiu a evoluccedilatildeo do ensino ateacute o niacutevel
de terceiro grau com a realizaccedilatildeo de cursos como a Licenciatura em Educaccedilatildeo do
Campo (LEdoC) do qual somos os privilegiados alunos aqui na Universidade de
Brasiacutelia
Outro reconhecimento e prova de eficiecircncia da formaccedilatildeo de professores eacute o
precircmio ldquoEducaccedilatildeo e Participaccedilatildeordquo recebido em 1995 do Fundo das Naccedilotildees Unidas
para a Infacircncia (Unicef)
26
O somatoacuterio das forccedilas internas e externas do movimento ldquoleigasrdquo ou
tituladas associadas ao princiacutepio fundamental da participaccedilatildeo dos alunos e
comunidades em todos os niacuteveis e localidades eacute ponto fundamental para o sucesso
da concepccedilatildeo do projeto pois permite o estudo a reflexatildeo conjunta sobre
estrateacutegias para o alcance do objetivo de educaccedilatildeo na reforma agraacuteria
-25-
223 Marcos Normativos da Educaccedilatildeo do Campo
Numerosos Marcos Normativos podem ser citados para explicitar qual perfil
de escola destinada ao camponecircs interessava ao governo e aos proprietaacuterios rurais
A Lei 4024 de 1961 em seu art 105 estabelece o
Apoio que poderaacute ser prestado pelo poder puacuteblico agraves iniciativas que mantenham na zona rural instituiccedilotildees educativas orientadas para adaptar o homem ao meio e estimular vocaccedilotildees e atividades profissionais (BRASIL 2012 p 4)
A Lei 5692 de 1971 ao tratar da educaccedilatildeo rural ldquonatildeo observa mais uma vez
a inclusatildeo da populaccedilatildeo na condiccedilatildeo de protagonista de um projeto social globalrdquo
sendo que o trabalho do campo realizado por alunos eacute ateacute mesmo incentivado
adequando-o ao calendaacuterio escolar (MARCOS NORMATIVOSBrasiacutelia2012 p 25)
A Lei 9394 de 1996 (Lei das Diretrizes se Bases da Educaccedilatildeo ndash LDB) em
acordo com Constituiccedilatildeo de 1988 e ldquoinspirada de alguma forma numa concepccedilatildeo
de mundo rural enquanto espaccedilo especifico diferenciado e ao mesmo tempo
integrado no conjunto da sociedaderdquo reconhece
A diversidade soacutecio-cultural e o direito agrave igualdade e agrave diferenccedila possibilitando a definiccedilatildeo de diretrizes operacionais para educaccedilatildeo rural sem no entanto recorrer a uma logica exclusiva e de ruptura com um projeto global de educaccedilatildeo para o paiacutes (idem p 26)
27
Os artigos 208 e 210 da Carta Magna-1988 e inspirada de numa concepccedilatildeo
de mundo rural enquanto espaccedilo especiacutefico diferenciado e ao mesmo tempo
integrado no conjunto da sociedade a Lei 939496- LDB-estabelece que
Art 28 Na oferta da educaccedilatildeo baacutesica para a populaccedilatildeo rural os sistemas de ensino promoveratildeo as adapta necessaacuteria agrave sua adequaccedilatildeo agraves peculiaridades da vida rural e de cada regiatildeo especialmente (MARCOS NORMATIVOS) Brasiacutelia 2012 p 25)
1- Conteuacutedos organizar curriculares e metodologias apropriadas agraves reais
necessidades e interesses dos alunos da zona rural
2-organizaccedilatildeo escolar proacutepria incluindo a adequaccedilatildeo do calendaacuterio escolar as
fases do ciclo agriacutecola e as condiccedilotildees climaacuteticas
3-adequaccedilatildeo agrave natureza do trabalho na zona rural (MARCOS NORMATIVOS)
Brasiacutelia 2012( p 26)
O movimento de educaccedilatildeo do campo luta haacute quinze (15) anos para fazer-se
cumprir esse Decreto da Lei de Diretrizes de base da educaccedilatildeo do campo-LDB
que apesar de ser constitucional ainda natildeo foi colocada totalmente em praacutetica
Agora com as lutas dos movimentos sociais eacute que estaacute comeccedilando a se concretizar
Artigo 26 Os curriacuteculos do ensino fundamental e meacutedio devem ter uma base nacional comum a ser complementada em cada sistema de ensino e estabelecimento escolar por uma parte diversificada exigida pelas caracteriacutesticas regionais e locais da sociedade
da cultura da economia e da clientela (MARCOS NORMATIVOS) Brasiacutelia 2012(p 26)
O Decreto nordm 7352 de 4 de novembro 2010 dispotildee sobre a poliacutetica de educaccedilatildeo do campo ao Programa Nacional de Educaccedilatildeo
na Reforma Agraacuteria-PRONERA decreta
Art1ordm A poliacutetica de educaccedilatildeo do campo destina-
se agrave ampliaccedilatildeo e qualificaccedilatildeo da oferta de educaccedilatildeo baacutesica e superior agraves populaccedilotildees do campo e seraacute desenvolvida pela Uniatildeo em regime de colaboraccedilatildeo com os Estados o
28
Distrito Federal e os Municiacutepios de acordo com as diretrizes e metas estabelecidas no Plano Nacional de Educaccedilatildeo e o disposto neste Decreto
Para os efeitos deste Decreto entende-se por
l-populaccedilatildeo do campo os agricultores familiares os extrativistas os pescadores
artesanais os ribeirinhos os assentados e acampados da reforma agraacuteria os
trabalhadores assalariados rurais os quilombolas os caiccedilaras os povos da floresta
os caboclos e outros que produzam suas condiccedilotildees materiais de existecircncia a partir
do trabalho no meio rural
ll-escola do campo aquela situada em aacuterea rural conforme definida pela Fundaccedilatildeo
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica- IBGE ou aquela situada em aacuterea
urbana desde que atenda predominantemente a populaccedilatildeo do campo (MARCOS
NORMATIVOS) 2012( p 81)
No Decreto 6755 29 de janeiro de 2009 em seu art 2ordm estabelecida pelo Conselho
Nacional de Educaccedilatildeo que se refere as Diretrizes Operacionais da Educaccedilatildeo do
Campo o parecer da alternacircncia
A formaccedilatildeo de professores poderaacute ser feita concomitantemente agrave atuaccedilatildeo profissional de acordo com metodologias adequadas inclusive a pedagogia da alternacircncia e sem prejuiacutezo de outras que atendam agraves especificidades da educaccedilatildeo do campo e por meio de atividades de ensino pesquisa e extensatildeo (MARCOS NORMATIVOS) 2012( p84)
-26-
29
-
231 A educaccedilatildeo do campo e poliacutetica puacuteblica - o PRONERA
O amadurecimento adquirido pela luta sobre o papel da educaccedilatildeo aliado agrave
iniciativa do aproveitamento do trabalho das professoras ldquoleigasrdquo e ainda da
consciecircncia cada vez mais presente do dever do Estado em prover os cidadatildeos da
reforma agraacuteria de poliacuteticas puacuteblicas resultou no campo da educaccedilatildeo na criaccedilatildeo do
Programa Nacional de Educaccedilatildeo na Reforma Agraacuteria (PRONERA)
O PRONERA envolve formalmente jovens e adultos num projeto conjunto
com universidades e institutos federais em prol da formaccedilatildeo de educadores para o
trabalho em escolas dos assentamentos da reforma agraacuteria e seu entorno
O Programa foi criado em 1998 no momento da ascensatildeo dos conflitos pela
reforma agraacuteria o que propiciou que os movimentos sociais trouxessem para a
opiniatildeo puacuteblica suas mazelas
No campo da educaccedilatildeo foi denunciada a falta de escola a precariedade do
ensino a falta de profissionais do ensino a ldquoloacutegica de negaccedilatildeo histoacuterica do direito
aos camponeses de acesso aos niacuteveis mais elevados de escolaridade ( SANTOS
2012 pag 630)
A partir de 2005 o ensino oferecido pelo PRONERA eacute estendido ao niacutevel
meacutedio e superior como a Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo e a Residecircncia
30
Agraacuteria O PRONERA evoluiu para outros patamares tais como ldquopossibilidades de
ressignificaccedilatildeo do conteuacutedo e da metodologia dos processos de educaccedilatildeo formal
por meio dos princiacutepios baacutesicos da participaccedilatildeo e da multiplicaccedilatildeordquo (SANTOS 2012
p 631)
A participaccedilatildeo das comunidades e suas organizaccedilotildees e a multiplicaccedilatildeo de
alfabetizados formados educadores e demais profissionais ligados agraves poliacuteticas
puacuteblicas para a Reforma Agraacuteria gerou ampla participaccedilatildeo dos agentes envolvidos
na dinacircmica do processo ensino-aprendizagem
Essa forma de gestatildeo gerou reaccedilatildeo contraacuteria ldquoagrave gestatildeo colegiada e coletiva
notadamente agrave participaccedilatildeo direta dos movimentos sociais e sindicais do campordquo
considerados ldquoentes estranhos agrave administraccedilatildeo puacuteblicardquo (CLARICE p 634)
O envolvimento dos movimentos sociais e sindicais do campo natildeo
retrocederam em sua luta pelo envolvimento de todos os interessados na educaccedilatildeo
como elemento emancipatoacuterio e continuam formulando princiacutepios concepccedilotildees e
diretrizes para a escola do campo
-31-
31
Terceiro Capiacutetulo
A histoacuteria do Assentamento Renascer
31 Uma breve histoacuteria de luta
A histoacuteria do Assentamento Renascer natildeo parece ser diferente da histoacuteria de
outros assentamentos Brasil afora Partiu da reivindicaccedilatildeo de Trabalhadores Rurais
sem Terra que desde 2004 ocuparam as margens da Rodovia DF 330 que liga
Sobradinho ao Paranoaacute-DF
Tatildeo perto do centro do poder a apenas poucos quilocircmetros do Palaacutecio da
Alvorada ou da Sede do INCRA o Acampamento Renascer esteve ateacute oito (08) de
maio de 2009 tatildeo distante da decisatildeo poliacutetica pela Reforma Agraacuteria
Somente nesta data trezentos sessenta e um( 361) de terras devolutas da
Uniatildeo foram repassadas ao INCRA para assentar as famiacutelias aliacute acampadas Ficou
criado o assentamento Renascer fora da beira da estrada
O Assentamento Renascer ldquorenasceurdquo da dificuldade de vida sob o barraco de
madeira sem aacutegua sem luz sem saneamento baacutesico que fez com que tantos
desistissem ao longo do caminho e ainda hoje se encontra nessa mesma
precariedade um descaso por parte do poder puacuteblico
A luta em vaacuterios momentos da vida dos acampados parecia estar vencida Os
vencedores pareciam ser a burocracia o desrespeito as noites mal dormidas a
inseguranccedila a falta de perspectivas para o acampado e suas famiacutelias
Duzentas (200) famiacutelias viveram aliacute por cinco anos (05) de 2004 ateacute 2009
Atualmente satildeo cento e vinte (120) famiacutelias que moram na aacuterea destinada e estatildeo
em processo de assentamento Muitas delas poreacutem vencidas pelo cansaccedilo e pelas
condiccedilotildees de vida abandonaram a luta mas todas as famiacutelias as que se foram e as
que ficaram sonharam com a terra onde poderiam produzir viam no pedaccedilo de chatildeo
os frutos do pomar da horta o galinheiro o pasto
O Assentamento Renascer eacute o Brasil Eacute um pedacinho da cruel realidade que
como vimos neste trabalho marcou a sociedade brasileira desde a escravidatildeo
desde o primeiro grito de rebeldia do quilombo desde o primeiro que lutou contra os
coroneacuteis por divisatildeo da terra como as Ligas Camponesas contra o latifuacutendio como
os movimentos sociais em sua luta pela reforma agraacuteria desde vaacuterias geraccedilotildees
32
Eacute como todo e qualquer movimento social que surgiu neste paiacutes desde a
deacutecada de 1980 pela reforma agraacuteria Viveu e ainda vive as dificuldades de ser
acampadoassentado mas honra sua luta porque natildeo desiste faacutecil
O Assentamento Renascer eacute tambeacutem fruto do ecircxodo rural da industrializaccedilatildeo
do campo da monocultura e da concentraccedilatildeo de terras Foram expulsos do campo
para a periferia das cidades sem capacitaccedilatildeo sem estudo
A falta de escolarizaccedilatildeo eacute sem duacutevida uma caracteriacutestica de quase todos os
que vieram do campo para a cidade A realidade do Brasil eacute que o campo natildeo eacute
escolarizado as escolas no campo satildeo poucas satildeo despreparadas satildeo
desvalorizadas
-33-
32 As escolas no campo na vivencia do assentado do Assentamento
Renascer
As escolas no campo marcaram profundamente a vida dos poucos que a
frequentaram Quase todos tiveram que trocar o laacutepis pela enxada a carteira pela
roccedila desde muito pequenos Alguns natildeo muito poucos conforme os depoimentos
aqui relatados teriam que abandonar a enxada e a participaccedilatildeo no sustento da
famiacutelia para frequentar a escola Quase sempre abandonaram a escola para ficar no
trabalho com a enxada
Todos teriam que andar vaacuterios quilocircmetros para ir agrave escola Outros nem assim
conseguiriam frequentar a escola no campo ela simplesmente natildeo existia no
campo Teriam entatildeo que ir para a cidade para ter direito a uma escola
Muitos tambeacutem vivenciaram os traumas que uma escola tradicional e
descomprometida com os valores e responsabilidades do projeto educacional
castigos humilhaccedilotildees afastaram a muitos da escola
Alguns apenas sonharam e sonham com a escola ldquoAh a escolardquo Tatildeo longe
inacessiacutevel para tantos no Brasil afora Ao ver de algumas pessoas do
Assentamento Renascer ldquoSe tivesse jeito eu teria ido agrave escola tinha feito pelo
menos o ensino fundamental completo para que eu pudesse ingressar no curso
33
teacutecnico-agriacutecola Mas agora quero que meus filhos e netos vatildeo para a escola
aprender ser algueacutem na vidardquo
-34-
321 A escola no entorno do Assentamento Renascer
A ideia de lutar pela educaccedilatildeo veio antes da ideia de lutar pela escola como
espaccedilo conquistado pelo acampamento Encontrar uma escola perto do
acampamento com transporte escolar com vagas e horaacuterios acessiacuteveis para os que
trabalham o dia todo era entendido como uma necessidade baacutesica e uma grande
vitoacuteria
Ficava-se feliz se apesar das dificuldades fosse possiacutevel matricular pelo
menos as crianccedilas As dificuldades eram e ainda satildeo muitas o transporte escolar
era e eacute precaacuterio a poeira natildeo permite que os alunos cheguem limpos agrave escola os
buracos e as poccedilas daacutegua impedem a chegada do ocircnibus escolar durante as
chuvas No caso do ocircnibus que levam os alunos ateacute a Escola Classe do Coacuterrego do
Arrozal em eacutepoca de muita chuva os ocircnibus ateacute o iniacutecio de 2014 natildeo conseguiam
transitar Isto resulta no fato de que as crianccedilas precisam caminhar debaixo de
chuva ateacute a escola
-35-
322 O caminho para a produccedilatildeo do saber no Assentamento Renascer a
brinquedoteca a integraccedilatildeo social a biblioteca comunitaacuteria as manifestaccedilotildees
culturais
Ao longo dos anos de vivecircncia e convivecircncia no Acampamento Renascer
mediante a dificuldade e necessidade de estudar que sentimos na nossa proacutepria
vida foi despontando a ideia de prover as crianccedilas de atividades luacutedicas e
educativas
34
Logo no iniacutecio do acampamento por volta de 2005 por iniciativa de algumas
pessoas conscientes da necessidade de atividades luacutedicas para as crianccedilas foi
criada uma brinquedoteca
Inicialmente os brinquedos eram de materiais reciclaacuteveis como garrafas pet
telefones sem fio carrinhos bonecas petecas vai e vem cavalinhos tudo era
confeccionado com a participaccedilatildeo das crianccedilas na modalidade de oficina
incentivando-os a fabricar os seus proacuteprios brinquedos Os brinquedos eram
confeccionados a partir de materiais encontrados nos lugares de descarte perto do
acampamento e doaccedilotildees de pessoas que passavam pela estrada
O embriatildeo de um processo educacional que nunca se interrompeu estava
lanccedilado a brinquedoteca proporcionou a criatividade e a participaccedilatildeo de crianccedilas e
adultos marcando as atividades pela conscientizaccedilatildeo do cuidado com a natureza e a
importacircncia da reciclagem A educaccedilatildeo ambiental jaacute era praticada desde o
nascimento do acampamento Renascer
Este primeiro passo foi muito importante porque traduziu para o dia a dia do
acampamento os princiacutepios da escola do campo atuante para mudar a realidade
criar cidadatildeos conscientes e dispostos a mudar a realidade a partir da sua proacutepria
accedilatildeo Este eacute o processo de transformaccedilatildeo social dentro do acampamento Renascer
haacute tanto tempo atraacutes
Aos brinquedos reciclados pela proacutepria comunidade juntaram-se outros
presenteados por instituiccedilotildees como igrejas ONGs a Pastoral da Crianccedila e pessoas
interessadas no bem estar daquelas crianccedilas
Percebe-se em iniciativas como essas a importacircncia da educaccedilatildeo nos
diversos niacuteveis para a sociedade A integraccedilatildeo de pessoas com as atividades
educativas no acampamento nos faz lembrar sobre um grande sonho das escolas
hoje integrar a comunidade de modo a que todos defendam a escola
O sucesso de iniciativas como a brinquedoteca que integravam crianccedilas
adolescentes adultos e sociedade foi importante para outras iniciativas igualmente
importantes
Foi-se criando um projeto educacional para o acampamento sem que se
tivesse consciecircncia disso por faltar informaccedilatildeo que soacute agora se possui graccedilas aos
estudos na Universidade o galpatildeo comunitaacuterio foi utilizado para abrigar a
35
brinquedoteca para desenvolver grupos de teatro de crianccedilas e adultos e para
abrigar a biblioteca
A biblioteca recebeu inuacutemeros exemplares de livros infantis livros didaacuteticos
para os adolescentes e adultos literatura universal revistas dos mais variados
assuntos criando assim um espaccedilo comunitaacuterio de informaccedilatildeo lazer e
entretenimento
Com a criaccedilatildeo da biblioteca ficou evidente a importacircncia da alfabetizaccedilatildeo de
crianccedilas jovens e adultos Muitos acampados relatavam a vontade e a necessidade
de aprender a ler e a escrever Muitos reivindicavam o direito agrave educaccedilatildeo e
frequecircncia agrave escola ainda que o acampamento mudasse de ldquoendereccedilordquo tantas
vezes
Outros poreacutem natildeo acreditavam que seria possiacutevel aprender ou aperfeiccediloar a
leitura e a escrita nas condiccedilotildees de vida de um acampado
Vaacuterias atividades culturais foram desenvolvidas (e ainda satildeo) no
Acampamento Renascer Todas chamavam a atenccedilatildeo da comunidade local de
outras comunidades vizinhas garantindo a simpatia de chacareiros que levavam os
filhos para participarem das atividades
Uma das atividades mais apreciadas foi o Teatro de Fantoches inspirados em
faacutebulas muitas com a autoria da Pastoral da Crianccedila e da Faber Castel A
participaccedilatildeo da comunidade na atividade era intensa e voluntaacuteria todos queriam
manipular os fantoches participar cantando danccedilando ou prestando muita atenccedilatildeo
O teatro de transformaccedilatildeo social produzido pelos adultos e adolescentes
utilizavam tambeacutem materiais reciclaacuteveis demonstrando cuidado com o meio
ambiente e amadurecimento dos conceitos poliacuteticos e pedagoacutegicos gerando reflexatildeo
sobre os temas sociais que nos atingem no cotidiano
A miacutestica adotada pelos movimentos sociais com o objetivo de reflexatildeo satildeo
apresentadas em datas comemorativas e contam com o apoio e participaccedilatildeo de
muitos
Algumas festas fazem parte da tradiccedilatildeo do Acampamento Renascer
traduzindo para a realidade atual as antigas festas a que todos foram acostumados
em seus lugares de origem
Pode-se dizer que a comunidade aprecia muito as festas Mas duas em
particular satildeo muito respeitadas a festa das crianccedilas que ocorre durante o dia (12
36
de outubro) eacute concorrida pois a comunidade se esmera para oferecer os brinquedos
que as crianccedilas amam pula-pula palhaccedilos pintura de rosto piscina de sabatildeo e
muita oferta de comida coisas que as crianccedilas adoram
No mesmo dia ocorre agrave noite a festa da Nossa Senhora Aparecida com
missa e muito forroacute
No mecircs de marccedilo eacute comemorada a Festa da Pamonha em comemoraccedilatildeo agrave
boa colheita do milho Esta festa jaacute se tornou tradicional conhecida em todo o
entorno do assentamento Egrave uma festa importante porque confraterniza a
comunidade Renascer com as comunidades vizinhas e ateacute mesmo as cidades de
Sobradinho Paranoaacute e Planaltina
Os movimentos sociais necessitam ser admirados pela sociedade e festas
como estas chamam a atenccedilatildeo para o problema da reforma agraacuteria demonstrando
que ela eacute viaacutevel e que os assentados tecircm simpatia competecircncia e seus saberes do
campo
A festa ldquojulinardquo eacute outra festa muito apreciada que apresenta as tradiccedilotildees rurais
e religiosas como quadrilhas e bandas de forroacute da comunidade e vizinhanccedila A
danccedila eacute um dos pontos fortes da festa assim como as comidas tradicionais muitas
delas com ingredientes colhidos no acampamento
Vaacuterios grupos de atividades teatrais apresentaram-se na localidade com
participaccedilatildeo de palhaccedilos lembrando um espetaacuteculo circense Alguns desses
grupos inclusive tiveram seus trabalhos premiados
Outras atividades com fundo educativo tiveram participaccedilatildeo animada de
crianccedilas e adultos A exibiccedilatildeo de desenhos animados recentemente apresentados
no cinema eram um grande atrativo para a comunidade que se via socialmente
incluiacuteda Esta inclusatildeo aumentava a autoestima das crianccedilas principalmente pois
assim elas poderiam interagir com os colegas da escola conversando a respeito dos
filmes
A Economia Solidaacuteria eacute uma das formas de inserccedilatildeo dos membros da
comunidade agrave sociedade economicamente ativa Atraveacutes da cooperaccedilatildeo solidaacuteria eacute
possiacutevel o comercio justo agriacutecolas ou artesanais sob conceitos antes
desconhecidos enquanto forma de produccedilatildeo e consumo centrado na valorizaccedilatildeo do
ser humano em contraposiccedilatildeo agraves formas capitalistas de produccedilatildeo e conscientizaccedilatildeo
37
Ao longo dos doze (12) anos de luta pela educaccedilatildeo foram promovidos
diversos cursos que capacitaram multiplicadores que fazem um trabalho importante
para a comunidade
A ideia de autogestatildeo democracia cooperaccedilatildeo auxilia natildeo soacute as formas de
produccedilatildeo e comercio de bens e artesanatos mas tambeacutem auxiliam na formaccedilatildeo
integral de pessoas em que tanto o produtor como o consumidor tem o proposito de
ganhos financeiros segundo um criteacuterio de valorizaccedilatildeo do trabalho
Proposito de formar uma nova consciecircncia a Economia Solidaacuteria promoveu
cursos de Soberania Alimentar em que a comunidade recebeu noccedilotildees praacuteticas
sobre alimentaccedilatildeo a partir da produccedilatildeo local de modo a promover uma nova cultura
alimentar que visa o combate agraves doenccedilas crocircnicas Outro proposito eacute tornar a
comunidade criacutetica em relaccedilatildeo agrave publicidade de produtos alimentiacutecio supeacuterfluo que
induz agraves crianccedilas e adultos alimentarem-se incorretamente
A comunidade participou coletivamente da implantaccedilatildeo de uma unidade da
tecnologia social denominada Produccedilatildeo Agroecoloacutegica Integrada e Sustentaacutevel
(PAIS) em 2012 com o objetivo de produzir alimentos saudaacuteveis e preservar o meio
ambiente trazendo mais alimentos e renda ao campo Esta tecnologia popularmente
conhecida como ldquohorta mandalardquo foi ministrada durante o curso de capacitaccedilatildeo
promovido pela Fundaccedilatildeo Banco do Brasil e teve o meacuterito de proporcionar o debate
e a participaccedilatildeo democraacutetica na definiccedilatildeo das culturas a serem cultivadas na futura
propriedade Vale informar que o assentamento Renascer identificou-se com esse
paradigma agroecoloacutegico
A educaccedilatildeo ambiental faz parte do dia a dia da comunidade hoje preserva-se
conservaccedilatildeo das formas de vida vegetais e animais na regiatildeo do assentamento e
entorno
A produccedilatildeo de mudas no viveiro eacute bastante concorrida contando com a
participaccedilatildeo de todos O viveiro produz cinco mil (5000) mudas de espeacutecies nativa
do cerrado para o reflorestamento das nascentes de aacutegua e nas aacutereas degradadas
da regiatildeo Contam com o apoio da FUNATURA FUNDACcedilAtildeO BANCO DO BRASIL
IFB Rio Satildeo Bartolomeu Vivo e UnB
-36-
38
39
Quarto Capiacutetulo
A escola que queremos expectativas e sonhos dos
acampados do Assentamento Renascer
Pode-se observar pelas falas dos entrevistados que a realidade de todos
converge para os problemas estruturais do Brasil faltam escolas no campo eacute baixa
a escolaridade em Brasiacutelia todos exercem atividades de subemprego
Todos tecircm grandes expectativas com relaccedilatildeo agrave vida futura no assentamento
objetivando melhores condiccedilotildees de vida na esperanccedila de serem beneficiaacuterios
enquanto cidadatildeos assentados das Poliacuteticas Puacuteblicas e financiamentos agriacutecolas
voltadas para a agricultura familiar como PRONAF PAA PNAE e PAPA-DF Vecircem
aiacute a possibilidade de emprego e renda situaccedilatildeo sonhada desde quando foram
pleitear a terra para reforma agraacuteria
Um olhar mais aprofundado sobre a anaacutelise de dados revela que natildeo importa o
fato de hoje residirem no DF pois como em qualquer lugar de origem os moradores
do assentamento Renascer vivenciam os mesmos problemas Percebe-se
claramente as dificuldades da inexistecircncia de escola no campo A distacircncia continua
impedindo o acesso os meios de transportes continuam precaacuterios os filhos
vivenciam a dificuldade de transferecircncia para a cidade na expectativa de
continuidade dos estudos as estradas rurais continuam esburacadas
Satildeo muitos os pontos em comum entre a situaccedilatildeo atual relatada e os problemas
vividos haacute deacutecadas em seus estados de origem o que deixa transparecer a absoluta
falta de interesse por parte do poder puacuteblico em garantir o direito constitucional agrave
educaccedilatildeo do povo do campo o que infelizmente continuaraacute deixando o triste
legado para o futuro do paiacutes
40
Repetimos a pergunta da inicial Cadecirc as escolas do campo Ateacute quando o paiacutes
vai viver essa situaccedilatildeo A anaacutelise de dados responde Natildeo eacute mais possiacutevel
continuar como estaacute
Todos os entrevistados pretendem alcanccedilar conhecimentos atraveacutes da escola do
campo implantada no Assentamento Renascer com objetivos de administrar a
propriedade participar ativamente do coletivo garantir renda fixa atraveacutes dos
programas de desenvolvimento da agricultura familiar
Os entrevistados unanimamente tecircm a preocupaccedilatildeo da manutenccedilatildeo dos laccedilos
familiares e das raiacutezes camponesas
A distacircncia entre a moradia e a escola fato relatado pela quase totalidade dos
entrevistados constitui um grande motivo de evasatildeo escolar de defasagem nas
seacuteries frequentadas de precariedade na aprendizagem em relaccedilatildeo aos demais
alunos A discriminaccedilatildeo alegada por muitos que frequentaram ou frequentam
escolas fora da faixa etaacuteria o vernaacuteculo proacuteprio dos sujeitos do campo as condiccedilotildees
precaacuterias da estrada que denunciam a condiccedilatildeo de assentado o sentimento de
inadequaccedilatildeo constituem fatores que determinam a evasatildeo escolar
Foram treze (13) entrevistados significando aproximadamente dez por cento
(10) dos moradores do Assentamento Renascer Desse total apenas dois (2)
entrevistados natildeo declararam dificuldade de distacircncia entre a moradia e a escola em
seus lugares de origem A maioria absoluta (11) pessoas declararam que a distacircncia
dificultava e impedia o acesso agrave escola Alguns relatos apresentam situaccedilotildees
precaacuterias para o homem do campo o assentado
Para o aluno do campo a distacircncia da escola tem o significado de inexistecircncia de
escola Isto porque as dificuldades de acesso satildeo enormes No caso em estudo
apenas um entrevistado declarou a inexistecircncia de escola em sua regiatildeo de
moradia Este poreacutem vivenciou todas as dificuldades de acesso que outros
assentados apresentaram em razatildeo da distacircncia moradiaescola
A falta de professores na escola rural eacute relatada por 11 dos 13 entrevistados A
distacircncia da escola para os professores dificulta segundo a vivecircncia dos
entrevistados o acesso agrave escola e a assiduidade o que muito desmotivava a
ambos
41
Os entrevistados conforme anaacutelise de dados desejam muito objetivamente a
implantaccedilatildeo imediata de escolas segundo os criteacuterios caracteriacutesticos de escola do
campo
- Trazer a realidade para dentro da escola do campo curriacuteculos voltados para o
cotidiano do aluno do campo onde as teacutecnicas agriacutecolas pecuaacuterias e agroecoloacutegicas
possam fazer parte do processo educativo da comunidade e que a escola tenha
uma gestatildeo coletiva democraacutetica com a participaccedilatildeo da comunidade
- Ter o trabalho como princiacutepio educativo A experiecircncia do aluno deve
harmonizar-se com os princiacutepios pistrakianos significar o trabalho de forma a que
ele apresente benefiacutecios para o proacuteprio indiviacuteduo para a comunidade na qual estaacute
inserido e para a sociedade e natildeo exclusivamente para servir ao capitalismo
-Superar a fragmentaccedilatildeo do conhecimento disciplinar A interdisciplinaridade
deve fazer parte dos objetivos educacionais de modo a promover a formaccedilatildeo
integral dos educandos
- Valorizar os saberes do homem do campo Os entrevistados desejam uma
escola onde possam exercitar sua vivecircncia campesina e a relaccedilatildeo dialoacutegica entre
professor-aluno seguindo a pedagogia de Paulo Freire o educando quer aprender
com o educador mas quer tambeacutem ter a oportunidade de transmitir seus saberes
- Promover espaccedilos de gestatildeo coletiva A proacutepria comunidade deve participar da
gestatildeo a elaboraccedilatildeo do PPP deve gerir o espaccedilo fiacutesico da escola para atividades
de interesse da comunidade ocupar espaccedilos para finalidades culturais esportivas
sociais tornando a escola um espaccedilo democraacutetico
- Garantir a presenccedila da comunidade e dos movimentos sociais que geram
processos que auxiliam a emancipaccedilatildeo social A escola deve tambeacutem ser espaccedilo
que auxilie a sustentabilidade e garanta a alimentaccedilatildeo saudaacutevel e recursos
fitoteraacutepicos em associaccedilatildeo com a comunidade
- Inclusatildeo tecnoloacutegica em todos os aspectos digital inovaccedilatildeo tecnoloacutegica
agropecuaacuteria recursos ambientais alternativos agua potaacutevel energia solar energia
eoacutelica fossa seacuteptica teacutecnicas de compostagem saneamento baacutesico cuidados com
os recursos hiacutedricos
A anaacutelise dos dados quando feita especificamente sobre a escola a ser
implantada pode aparentemente demonstrar uma pequena conexatildeo com as teorias
da escola do campo
42
A concepccedilatildeo da escola do campo natildeo pode ser imposta ela parte do princiacutepio
que os camponeses devem conquista-la Para essa conquista eacute necessaacuteria a
paixatildeo o desejo por algo ainda natildeo experimentado o amadurecimento poliacutetico-
social-pessoal a participaccedilatildeo coletiva na luta e na conquista
A trajetoacuteria de luta por educaccedilatildeo da comunidade Renascer apresenta estes
elementos agraves vezes difusos outras vezes mais claramente A escola bem que
poderia para alguns ser apenas uma escola rural Afinal aprender a ler e a
escrever ldquodireitordquo como alguns dizem ou seja deixar a condiccedilatildeo de analfabeto ou
analfabeto funcional para tornar-se letrado significaria avanccedilos em face das atuais
circunstacircncias Alguns entendem assim expressando-se principalmente nas
conversas informais
Apesar disso quando as respostas informais ou quando as respostas das
entrevistas satildeo analisadas mais profundamente identificamos que embora
difusamente todos desejam o programa educacional da escola do campo
Explicando melhor a participaccedilatildeo de todos da comunidade em todas as atividades
soacutecio-poliacuteticas-culturais (relatadas no terceiro capitulo) indicam que a comunidade
assimilou a postura soacutecio-politica-cultural que caracterizam a escola do campo
A vivecircncia do Assentamento Renascer no cotidiano e nos eventos coletivos
amadureceu o desejo pelo alimento intelectual cultural artiacutestico ambiental social
que a concepccedilatildeo de escola do campo introduz O programa educacional da Escola
do Campo ultrapassou as paredes fiacutesicas da escola e alcanccedilou o cotidiano dos
assentados
Os avanccedilos da conscientizaccedilatildeo e seu reflexo na vida do Assentamento Renascer
satildeo sentidos nos nuacutemeros de matriculados na LEdoC sete (7) alunos
aproximadamente dez (10) assentados prestaratildeo o proacuteximo vestibular trecircs (3)
assentados estatildeo matriculados no IFB dois(2) assentados estatildeo formados em
Teacutecnico Agropecuaacuterio tambeacutem pelo IFB um deles cursa o Tecnoacutelogo de
Agroecologia tambeacutem do IFB
Vale acrescentar que no iniacutecio de 2014 quando o IFB buscou no Assentamento
pessoas interessadas em matricular-se em seus cursos sob a condiccedilatildeo de
estudarem no ensino meacutedio o interesse foi grande e a impossibilidade pelo fato de
natildeo estarem habilitados no ensino fundamental provocou tanta discussatildeo que
estimulou essa pesquisa
43
O legado desses alunos futuros alunos e profissionais para o futuro do
Assentamento apresentaraacute resultados significativos para toda a comunidade O
futuro colheraacute bons frutos plantados agora
A escola que temos natildeo estaacute funcionando falta a renovaccedilatildeo do contrato o que
atrasa a alfabetizaccedilatildeo e conclusatildeo do 5ordm ano Falta a implantaccedilatildeo de poliacuteticas
puacuteblicas para atendimento de questotildees baacutesicas como por exemplo carteiras
quadro de giz iluminaccedilatildeo espaccedilo fiacutesico (dependecircncias para a escola) e mobiliaacuterio
-41-
44
Consideraccedilotildees Finais
A Educaccedilatildeo do campo eacute um movimento em que os trabalhadores do campo e
suas organizaccedilotildees lutam por transformaccedilotildees sociais particularmente a criaccedilatildeo de
escolas dono campo de qualidade a partir de uma perspectiva ampla de reforma
agraacuteria
A construccedilatildeo da educaccedilatildeo do campo eacute resultado do amadurecimento dos
movimentos sociais e das comunidades rurais em sua trajetoacuteria de luta pelo direito
fundamental agrave universalizaccedilatildeo escolar para as populaccedilotildees camponesas segundo
orientaccedilatildeo poliacutetico-pedagoacutegica adequada agrave realidade dos lutadores de
acampamentos e assentamentos em luta pela reforma agraacuteria e justiccedila social
Alguns princiacutepios caracterizam a luta pela escola do campo Dentre eles
podemos citar a criaccedilatildeo da consciecircncia do direito agrave educaccedilatildeo de qualidade plantada
na proacutepria comunidade o que provoca o enraizamento a valorizaccedilatildeo da vida no
campo a promoccedilatildeo da autoestima e a transformaccedilatildeo do ser alienado pela ideologia
e desigualdade social e sujeito de sua proacutepria histoacuteria
Outro princiacutepio eacute a adequaccedilatildeo de curriacuteculos agrave realidade camponesa de modo
a que o processo ensino-aprendizagem favoreccedila o amadurecimento de talentos
naturais o surgimento de oportunidades a niacutevel pessoal e social contribuindo para a
emancipaccedilatildeo poliacutetico-social do indiviacuteduo com reflexos na sociedade
A mudanccedila de paradigmas e o envolvimento social provocam a formaccedilatildeo integral
dos sujeitos que lutam de forma coletiva e solidaacuteria pela terra A escola do campo
que surge dessa mudanccedila eacute tambeacutem transformadora porque eacute fruto da luta
consciente que gera a reflexatildeo e o amadurecimento poliacutetico deixando um legado
positivo de cidadatildeos orgulhosos de sua condiccedilatildeo de lutador pela terra de sua
identidade de sua cultura de sua comunidade e coletividade
A escola do campo propicia aos alunos a reflexatildeo sobre o contexto social e a
problemaacutetica da comunidade em que estatildeo inseridos o respeito agrave individualidade a
ampliaccedilatildeo das potencialidades do aluno para organizar elaborar e atuar
coletivamente Deixam o legado futuro de homens responsaacuteveis mentes
independentes e atuantes que poderatildeo prestar serviccedilos significativos agrave sociedade
45
A comunidade assentada de o Assentamento Renascer pela Reforma
Agraacuteria em Sobradinho DF foi convidada a opinar sobre a escola que deseja a
partir da conquista da terra
O modelo proposto a partir de seu posicionamento possibilita a conclusatildeo
de que a escola do campo plantada na comunidade eacute preferiacutevel ao modelo
adotado atualmente de inserccedilatildeo dos alunos da comunidade agraves escolas urbanas
conter recursos materiais e humanos que propiciem bons resultados
pedagoacutegicos deve servir para fixar o trabalhador ao campo deve cumprir com o
propoacutesito constitucional de universalizaccedilatildeo do ensino para todas as faixas
etaacuterias deve estar identificada com os sonhos de prosperidade material e
realizaccedilatildeo pessoal dos assentados
-46-
46
Referecircncias Bibliograacuteficas
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OLIVEIRA Maria Rita Duarte PEDAGOGIA EM MARCHA Apud ARROYO Satildeo Paulo1995( pg 162)
OLIVEIRA Maria Rita Duarte Revistalabor ufcbracesso em 19-10-2014
________ citando CALAZ Maria Rita Duarte Oliveira
47
SANTOS Clarice Aparecida PROGRAMA NACIONAL DE EDUCACcedilAtildeO NA REFORMA AGRAacuteRIA in DICIONARIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia2012(pg630)
________ Clarice Aparecida PROGRAMA NACIONAL DE EDUCACcedilAtildeO NA REFORMA AGRAacuteRIA BRASIacuteLIA 2012 pg 631 in DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO SANTOS Claudio Felix Dos ldquoO aprender a aprender na formaccedilatildeo de professores do campordquo Campinas 2013 Editora Autores Associados ) SOUZA Maria Antocircnia Movimentos Sociais no Brasil Contemporacircneo participaccedilatildeo e possibilidades no contexto das praacuteticas democraacuteticas ndash (wwwcesucptlab2004pdfMariaAntonia Souzapdfaceso em 24-07-2014 -48-
48
Apecircndices
1 Roteiro das Entrevistas
a) Dados dos entrevistados
Qual o seu nome
Masculino ( ) Feminino ( )
Quantos anos vocecirc tecircm
A quanto tempo mora no
assentamento
Onde vocecirc morou antes
de morar no
assentamento
Quantos anos vocecirc tinha
quando foi a escola pela
primeira vez
Estou ateacute qual seacuterieano
Quantos anos vocecirc tinha
quando parou de estudar
Qual motivo motivou vocecirc
a parar de estudar
Se tiver escola no
assentamento vocecirc voltaraacute
a estudar Porque
B) Outras informaccedilotildees dados pelos entrevistadosas (GRAVAR)
a) Em qual escola vocecirc estudou no acampamento ou em outro lugar Qual
b) Como era a escola que estudou Quais as coisas boas e coisas ruins que
tinha nesta escola
c) Conte como eacutefoi a educaccedilatildeo do assentamento o que jaacute existiu de escola
como funcionou e quais eram as boas e as coisas ruins desta escola
d) Jaacute participou de alguma accedilatildeo de mobilizaccedilatildeo para ter escola no
assentamento Se sim explique para que e como foi essa mobilizaccedilatildeo
e) Na sua opiniatildeo no assentamento deve ter escola Por quecirc
f) Como deveraacute ser a escola da comunidadeassentamento Como eacute a escola
que queremos ter
49
b) Entrevistas semi-estruturadas
Entrevistado 01
Moro no assentamento Renascer haacute 11 anos Nasci Carnauacuteba no Rio Grande do
Norte fui criado na roccedila e desde pequeno trabalhava na lavoura para ajudar meu
pai Fui para escola com 9 anos de idade estudei ateacute a 5ordm seacuterie parei de estudar
com 17 anos natildeo continuei os estudos porque era muito longe de onde eu morva
que era na cidade mais proacutexima eu tinha que andar a peacute 8 km ficava muito
cansado Casei e vim morar em Brasiacutelia para trabalhar em uma chaacutecara como
caseiro Morava na chaacutecara Buritis em sobradinho- Df tambeacutem natildeo dei para
continuar os estudos porque ficava longe e tinha que ser a noite e natildeo tinha como ir
Se vier uma escola pra caacute eu ainda vou estudar para ter mais conhecimento para
plantar minha roccedila ir no banco pra ver se assino um empreacutestimo para melhorar
minha produccedilatildeo e saber fazer conta pra administrar minha parcela de terra
Qual o seu nome
Masculino ( X ) Feminino ( )
Quantos anos vocecirc
tecircm
57 anos
A quanto tempo
mora no assentamento
11 anos
Onde vocecirc morou
antes de morar no
assentamento
Carnauacuteba ndash RN
Chaacutecara Buritis nordm 10 Sobradinho DF
Quantos anos vocecirc
tinha quando foi a escola
pela primeira vez
8 anos
Estou ateacute qual
seacuterieano
5ordf seacuterie
Quantos anos vocecirc
tinha quando parou de
estudar
24 anos
Qual motivo
motivou vocecirc a parar de
estudar
Trabalhar para sustento da famiacutelia a
distacircncia entre a casa e a escola
Se tiver escola no
assentamento vocecirc voltaraacute
a estudar Porque
Sim ldquoSe tivesse escola do ensino
fundamental voltaria a estudar para tecirc
mais conhecimento para plantar minha roccedila
50
saber pesar saber contar vendecirc os produto e
comecirc
Entrevistado 02
Moro no assentamento renascer haacute 7 anos tenho 38 vim do interior do Cearaacute
Entrei na escola com 7 anos de idade estudei soacute a 5ordm seacuterie incompleta natildeo
continuei a estudar porque natildeo tinha escola a onde eu morava que era na roccedila e eu
tinha que ficar na casa dozotro (SIC) na cidade e eu natildeo gostava disso natildeo ai parei
com 16 anos de idade Mudamo (SIC) pra Brasiacutelia pra uma chaacutecara perto de Santa
Maria-DF e natildeo dei pra estudar porque casei e tinha que trabalhar muito para
susrentar a famiacutelia A gora moro no assentamento Renascer e sei que um dia vai ter
uma escola aqui e eu vou voltar a estudar porque meu sonho eacute ser veterinaacuterio e vou
der se deus quiser
Entrevistado 03
Tenho 58 anos moro no assentamento Renascer haacute 6 anos vim de Ceres-GO
comecei a estudar quando eu tinha 10 ano de idade estudei ateacute a 4ordf seria primaacuteria
(SIC) parei de estudar quando tinha 16 anos porque eu morava na roccedila e escola
ateacute que natildeo ficava muito longe natildeo era soacute 2 km dava pra ir a peacute a professora eacute que
faltava muito e a gente natildeo tinha como saber se ela tava ou natildeoAiacute quando eu tinha
18 anos casei e vim morar em Brasiacutelia e arranjei(SIC) emprego de caseira em uma
chaacutecara aiacute natildeo pra estudar a noite porque era muito longe pra laacute entatildeo eu natildeo
pensei mais nessas coisas Quando tiver escola no assentamento quero estudar
quiecirc pra mim (SIC) fazer curso de teacutecnico agriacutecolarsquorsquo
Entrevistado 04
Tenho 24 anos moro no assentamento Renascer tem 6 ano vim da Bahia morava
no Condomiacutenio RK entrei na escola com 7 anos de idade e estudei soacute ateacute a 6ordf seacuterie
parei com 18 anos de idade
Porque mudei pra caacute pro assentamento (SIC) e natildeo tem escola e natildeo tem como ir
pra Sobradinho a noite porque eacute muito longe tem que andar 5 km eacute pirigogo (SIC)
tem muita gente mal por aiacute tem ateacute estrupador natildeo posso me arriscar
ldquoSe tivesse escola aqui eu ia terminar meus estudos podia ser no galpatildeo mesmo
pra mim tava bom mas para os meus filhos eu queria uma escola boa com internet
e tudo Eu natildeo gosto que meus filhos estuda(SIC) na cidade soacute aceito porque eacute o
jeito gente de assentamento eacute muito zombado (SIC) porque as vezes chega suja
na escola e os outros acha que eles satildeo porcos que toma banhordquo
Entrevistado 05
51
Tenho 21 anos de idade moro no Renascer haacute trecircs anos vim de satildeo Gabriel-GO
comecei a estudar aos 7 anos parei com 18 anos porque minha matildee mudou
pro(SIC) matildee mudou pro (SIC) assentamento haacute 6 anos e eu natildeo aguento morar
longe dela Quando cheguei aqui natildeo teve como continuar os estudos porque
trabalho durante o dia como manicure em Sobradinho e o uacuteltimo ocircnibus que passa
perto do assentamento eacute as 5 horas da tarde entatildeo natildeo daacute para estudar a noite
Sim porque quero fazer um curso de cabelereiro quando tiver aacutegua e luz aqui eu
quero montar um salatildeo de beleza e para ser uma empresaacuteria precisa ter estudos pra
administrar o negoacutecio
Entrevistado 06
44 anos
6 anos
Formosa-GO
8 anos
5ordf seacuterie
24 anos
Porque a escola mais perto(SIC) era 10km de distacircncia e eu trabalhava na roccedila e
ficava muito cansado aiacute parei natildeo deu mais
Sim quando tiver escola aqui eu vou voltar a estudar Eu tinha um sonho de ser
agroacutenomo mas esse sonho eacute impussive(SIC) entatildeo queria concluir o ensino
fundamental para fazer um curso de teacutecnico agriacutecola no IFB mas tambeacutem eacute longe
se tivesse como estudar aqui no assentamento eu ia(SIC) ficar muito feliz
Entrevistado 07
57 anos
6 anos
Parnaiacuteba-PI- Santa Maria- DF
7 anos
4ordf seacuterie
21 anos
Parei porque era muito difiacutecil ir para escola que ficava muito longe eu tinha que sair
de casa as 4hs da madrugada para chegar na escola as 730 ia montado num
cavalo e muitas vezes natildeo tinha professora pra dar aula Parei porque natildeo aguentei
o rojatildeo tinha que minha matildee na lida a tarde e eu ficava muito cansado Vim pra
52
Brasiacutelia e casei fui trabalhar de chacareiro numa chaacutecara que tambeacutem era longe de
escola depois vim morar aqui no assentamento que natildeo tem escola
Se tivesse escola aqui eu ia voltar estudar soacute pra aprender a cuidar meior (SIC) da
terra e dos meus bichos e que fosse como uma escola agriacutecola
Entrevistado 08
Tenho 29 anos moro no assentamento Renascer haacute 2 anos sou educadora do
Pronera haacute 1 ano e 2 meses O Pronera eacute como um antidepressivo na vida de muita
gente o Pronera melhorou a minha vida e a vida dos meus alunos o desejo de
todos eacute que o Pronera continue crescendo em direccedilatildeo de uma educaccedilatildeo continuada
levando tambeacutem o ensino fundamental para os acampamentos e assentamentos da
Reforma Agraacuteria
-50-
Anexos
53
Acampamento agrave beira da estrada ndash 2004
Construccedilatildeo da Sede do Movimento na atual aacuterea
54
Reuniatildeo semanal
Teatro de fantoches ndash brinquedoteca
55
Accedilatildeo da Pastoral da Crianccedila na brinquedoteca
Oficina de brinquedos reciclaacuteveis
56
Brinquedo confeccionado com materiais reciclaacuteveis na Brinquedoteca
57
58
59
60
Apresentaccedilatildeo teatral
61
Capacitaccedilatildeo em Economia Solidaacuteria
Formaccedilatildeo de multiplicadores da Economia Solidaacuteria
62
Capacitaccedilatildeo de Educadores Ambientais
63
Luta pela Reforma Agraacuteria e Soberania Alimentar
0
AGRADECIMENTO
Em primeiro lugar ao meu bom Deus porque sem ele eu natildeo sou nada
Ao meus queridos filhos Janaina Pereira Dias e Rodrigo Pereira Dias que me deram muito apoio forccedila e coragem nos momentos difiacutecil no decorrer desses quatro anos de estudo Ao meu esposo Paulo Viniacutecio Alvim Cruz que me deu todo seu amor e apoio nos momentos mais difiacutecil que venho enfrentado nos uacuteltimos anos A minha grande amiga e irmatilde de coraccedilatildeo Mariza do Carmo Azevedo por sempre ter acreditado em mim no decorrer desses 25 anos de amizade sincera A minha matildee Rosalda e meus e meus irmatildeos e irmatildes que me admiram muito por ser a primeira da famiacutelia da minha geraccedilatildeo a concluir um curso superior apesar de todas as dificuldades A minha orientadora professora DrordfEliene Novaes Rocha por ter acreditado que eu sou capaz de realizar esse trabalho mesmo em meio a muitos problemas que vinha enfrentando As professoras Juliana Rochet e Silvanete Pereira dos Santos que me avaliaram e aprovaram na banca examinadora Ao Diretor da FUP Antocircnio Pasquetti por ser um grande lutador em defesa do curso de Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo A coordenadora da LEdoC professora Drordf Eliete Aacutevila Wolff por ser uma grande defensora da Escola do Campo e da Ciranda Ciranda A professora Drordf Roseneide Magalhatildees pelo excelente empenho como coordenadora da LEdoC na gestatildeo anterior e como professora da aacuterea de linguagem com a qual pude aprender muito A todos os meus professores e professoras do curso de Licenciatura em Educaccedilatildeo do campo Rafael Zarref Joatildeo Batista Jair Reck Mocircnica molina Laiacutes mouratildeo Liacutevia Bernardo Tamiel Djiby ana Cristina Sisi Regina Roberta Joelma Joelma e outros colaboladores Ao MATR- Movimento de Apoio aos Trabalhadores Rurais a tudo que aprendi sobre Reforma Agraacuteria e que sem o qual eu natildeo teria ingressado no curso de Licenciatura em Educaccedilatildeo do campo-UnB Aos meus colegas da turma Panteras negras pelo grande desempenho e luta de conivecircncia no coletivo
1
ldquo A educaccedilatildeo eacute a arma mais poderosa que vocecirc pode usar para mudar o mundordquo (Nelson Mandela) ldquoEnsinar natildeo eacute transferir conhecimento mas criar as possibilidades para a sua proacutepria produccedilatildeo ou a sua construccedilatildeordquo (Paulo Freire) ldquo Se a educaccedilatildeo sozinha natildeo pode transformar a sociedade tatildeo pouco sem ela a sociedade mudardquo (Paulo Freire)
2
RESUMO
Este estudo tem como propoacutesito analisar a trajetoacuteria de luta dos trabalhadores
rurais sem terra pela escola do campo A educaccedilatildeo do campo eacute entendida como um
movimento que busca a concretude de uma educaccedilatildeo ampla diversificada e
enraizada em conceitos de coletividade da participaccedilatildeo da famiacutelia e da comunidade
e focada na transformaccedilatildeo do indiviacuteduo e da sociedade O estudo da escola do
campo constitui tema desafiador na medida em que provoca demandas sociais e
poliacuteticas puacuteblicas para o cumprimento das leis que garantem a criaccedilatildeo e o bom
funcionamento dessas escolas Essa pesquisa analisa tambeacutem a importacircncia da
escola do campo para fixar a comunidade rural agraves suas raiacutezes culturais familiares e
sociais em particular a necessidade de atendimento das reivindicaccedilotildees por escola
do Assentamento Renascer
3
ABSTRAT
This study aims to analyze the trajectory of struggle of the landless rural workers by
the school field The rural education is understood as a movement that seeks the
concreteness of a broad education diverse and rooted in community concepts
family participation and community and focused on the transformation of the
individual and society The field school study is challenging topic in that causes social
demands and public policies for compliance with the laws that guarantee the creation
and proper functioning of these schools This research also analyzes the importance
of the field school to secure the rural community to their cultural social and family
roots in particular the need to meet the demands for school Settlement Reborn
4
SUMAacuteRIO
Apresentaccedilatildeo 07
Capitulo l As opccedilotildees de pesquisa e os passos metodoloacutegicos
11Pesquisa Qualitativa com Estudos de Caso11
Capiacutetulo ll Da Escola Rural a Escola do Campo histoacuterico das lutas e
concepccedilatildeo da Educaccedilatildeo
21 A escola rural no Brasil16
22Trajetoacuteria de luta pela Educaccedilatildeo21
23Concepccedilatildeo Pedagoacutegica da Educaccedilatildeo do Campo26
24 Princiacutepios da Educaccedilatildeo do Campo28
25 Marcos Normativos da Educaccedilatildeo do Campo29
Capiacutetulo lll A histoacuteria do Assentamento Renascer
31 Trajetoacuteria de criaccedilatildeo do assentamento aos dias atuais34
32A histoacuteria da educaccedilatildeo no assentamento Renasce Renascer34
33 A escola do Campo na vivecircncia do Assentamento Renascer35
34O caminho para a produccedilatildeo do saber no Assentamento Renascer a
brinquedoteca a integraccedilatildeo social a biblioteca comunitaacuteria e as manifestaccedilotildees
culturais 36
Capitulo lV A escola que queremos41
Consideraccedilotildees finais 46
Referecircncias Bibliograacuteficas48
Apecircndice50
Anexo55
5
Lista de Siglas
DF - Distrito Federal
EMPRAPA - Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuaacuteria
FUNATURA - Fundaccedilatildeo Proacute-Natureza
GDF- Governo do Distrito Federal
IFB - Instituto Federal de Brasiacutelia
INCRA - Instituto Nacional de Colonizaccedilatildeo e Reforma Agraacuteria
LEdoC - Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo
MEB - Movimento de Educaccedilatildeo de Base
MAT R - Movimento de Apoio ao Trabalhador Rural
MST - Movimento dos Sem Terra
ONGs - Organizaccedilatildeo natildeo Governamental
PRONERA - Programa Nacional de Educaccedilatildeo na Reforma Agraacuteria
PAIS - Produccedilatildeo Agroecoloacutegica Integrada e Sustentaacutevel
PRONAF - Programa Nacional de Fortalecimento na Agricultura Familiar
PAA - Programa de Aquisiccedilatildeo de Alimento
PNAE - Programa Nacional de Alimentaccedilatildeo Escolar
6
PAPA-DF -Programa de Aquisiccedilatildeo da Produccedilatildeo da Agricultura
PPP - Projeto Poliacutetico Pedagoacutegico
7
APRESENTACcedilAcircO
O presente trabalho de pesquisa eacute resultado da observaccedilatildeo presencial do
assentamento de Reforma Agraacuteria denominado Renascer ao longo de 11 (onze)
anos de convivecircncia Durante 5 (cinco) anos se estabeleceu um acampamento agraves
margens da rodovia DF 330 que liga Sobradinho ao Paranoaacute DF Apoacutes mobilizaccedilatildeo
dos acampados e negociaccedilatildeo com o poder puacuteblico (GDF Coleacutegio Agriacutecola de
Brasiacutelia atualmente Instituto Federal de Brasiacutelia EMBRAPA e intermediaccedilatildeo
puacuteblica) foi liberada uma aacuterea para o acampamento mudar de local e se estabelecer
onde atualmente estaacute situado (entre o Coacuterrego do Arrozal e o Coacuterrego do Meio)
Esta mudanccedila de local foi autorizada pelo governo e se concretizou em maio de
2009 Neste tempo a situaccedilatildeo do acampamento mudou para preacute-assentamento e
atualmente jaacute se encontra em situaccedilatildeo de Assentamento Rural
Durante todos esses anos foram realizados algumas atividades pedagoacutegicas
na comunidade tais como a implantaccedilatildeo de uma brinquedoteca com oficinas de
confecccedilatildeo de brinquedos para as crianccedilas acampadas utilizando materiais
reciclados uma biblioteca com livros e revistas usados obtidos atraveacutes de doaccedilatildeo de
vaacuterias pessoas simpatizantes da causa da Reforma Agraacuteria Aulas de alfabetizaccedilatildeo
de adultos no horaacuterio noturno pelo Programa Nacional de Educaccedilatildeo na Reforma
Agraacuteria (PRONERA) com recursos muito escassos mas eacute a educaccedilatildeo que nos
acompanha ateacute nos dias de hoje Atividades de arte-educaccedilatildeo para incentivos e
melhorias na interaccedilatildeo de crianccedilas e jovens exercitando a praacutetica de teatro projeccedilatildeo
de filmes recreativos e de novos conhecimentos para os moradores produccedilatildeo de
um documentaacuterio sobre a comunidade Renascer e a importacircncia da Reforma
Agraacuteria no Brasil denominado ldquoConquistar a terra Produzir o patildeordquo Com o apoio do
projeto audiovisual ndash UnB Planaltina
Para uma melhor compreensatildeo da pesquisa monograacutefica dividiu-se o texto
em capiacutetulos O Primeiro capiacutetulo aponta as opccedilotildees de pesquisa e os passos
metodoloacutegicos para sua realizaccedilatildeo No segundo capiacutetulo estudamos a transiccedilatildeo
entre a escola rural e a escola do campo O terceiro capiacutetulo relata a histoacuteria do
Assentamento Renascer e o quarto capiacutetulo relatamos o resultado da pesquisa de
campo evidenciando a Escola que temos e a Escola que queremos
8
Primeiro Capiacutetulo
As opccedilotildees da pesquisa e os passos metodoloacutegicos
O intuito deste trabalho eacute recuperar a trajetoacuteria de luta dos moradores do
assentamento Renascer pela educaccedilatildeo visando assegurar o direito agrave escola
identificando avanccedilos e limites encontrados nesta trajetoacuteria
Gostaria de manifestar minha satisfaccedilatildeo e agradecer a oportunidade de estar
estudando numa universidade puacuteblica em um curso com muita interfere com a minha
vivecircncia pessoal e de um alcance social muito importante para a transformaccedilatildeo que
nosso paiacutes necessita A desigualdade social ainda eacute muito grande no campo e na
cidade sendo bastante visiacutevel esta realidade
Sou nascida numa comunidade remota e isolada no sul do Maranhatildeo onde
nos meus primeiros anos de vida convivi em uma comunidade indiacutegena com minha
avoacute paterna comunidade de economia essencialmente extrativista principalmente
da quebra do coco babaccedilu o cultivo da mandioca para fazer farinha e da caccedila e
pesca Fiquei sem frequentar agrave escola ateacute os treze(13) anos de idade por natildeo existir
escola na comunidade Quando vim morar em Brasiacutelia e ingressei em uma escola
pela primeira vez sofri muita descriminaccedilatildeo por parte dos outros alunos devido
minha idade e a defasagem escolar Apesar de viver na cidade grande haacute bastante
tempo continuam vivas na minha alma o desejo de viver no campo Estou na luta
por um pedaccedilo de terra atraveacutes da Reforma Agraacuteria no assentamento Renascer
com o apoio do MATR- Movimento de Apoio ao Trabalhador Rural haacute onze(11)
anos atualmente estamos em fase de sermos assentados
Alguns anos atraacutes em 1992 cheguei a fazer um curso de formaccedilatildeo de
professores (Magisteacuterio) e me capacitei para trabalhar da 1ordf a 4ordf seacuterie do Ensino
Fundamental na eacutepoca Realizei alguns trabalhos nessa aacuterea mas natildeo exerci
profissionalmente esta atividade de forma regular
O tema Escola do Campo vem ao encontro a um anseio pessoal de poder
trabalhar com educaccedilatildeo voltada para a realidade vivida pelo cotidiano da populaccedilatildeo
realmente do campo A minha motivaccedilatildeo ao escolher este tema de pesquisa eacute de
9
poder de alguma forma contribuir para a troca de experiecircncia e conhecimentos entre
educandos e educadores melhorando minha capacitaccedilatildeo profissional e absorver
conhecimentos e orientaccedilotildees de professores (as) e companheiros (as) de estudo
Conforme o educador Paulo Freire dizia ningueacutem tem o conhecimento de tudo
e sempre eacute capaz de conhecer mais coisas que ainda natildeo conhece se assim o
desejar
O assentamento Renascer hoje conta com um total de 120 famiacutelias satildeo
11 (onze) anos de luta e perseveranccedila tem se manifestado se mobilizado
reivindicando oportunidades de obterem escola do campo para adquirirem
conhecimentos atraveacutes do estudo que lhes permita melhorar sua capacitaccedilatildeo para o
trabalho e consequentemente ampliar seus horizontes soacutecio- econocircmico e
culturalmente ou seja progredir atraveacutes dos seus estudos e trabalho que satildeo
direitos humanos universais
Sem a inclusatildeo do ensino fundamental para trabalhadores rurais a Educaccedilatildeo
de Jovens e Adultos (EJA) para o ensino do 6ordm ao 9ordm ano o que natildeo eacute nem um pouco
acessiacutevel agrave comunidade devido a inuacutemeras dificuldades como horaacuterio disponiacutevel
falta de transporte dentre outros fatores Fica impossiacutevel o acesso dessa
comunidade aos estudos oferecidos pelo Instituto Federal de Brasiacutelia (IFB) que fica
proacuteximo a esse assentamento O IFB oferece diversos cursos que interessam e
atendem agraves necessidades dos trabalhadores do campo Desta maneira a situaccedilatildeo
atual dos moradores do Assentamento Rural Renascer demostra discriminaccedilatildeo e
exclusatildeo social por parte do poder puacuteblico
Alguns cursos e projetos teacutecnico-pedagoacutegicos realizados por parceiros do
Movimento de Apoio ao Trabalhador Rural (MATR) Como a Fundaccedilatildeo Banco do
Brasil Funatura IFB Economia Solidaacuteria Novas Fronteiras da Cooperaccedilatildeo Rio Satildeo
Bartolomeu Vivo e UnB Essas parcerias acrescentaram melhorias agrave qualidade de
vida ao assentamento
A educaccedilatildeo que temos atraveacutes do Programa de Educaccedilatildeo na Reforma
Agraacuteria (PRONERA) revela que a importacircncia do programa na realidade do
assentamento durante determinado periacuteodo satisfez algumas necessidades
educacionais tirando muitas pessoas do analfabetismo
O que ocorre atualmente eacute que o Pronera natildeo estaacute funcionando no
momento por falta da renovaccedilatildeo do contrato estre o INCRA a UnB e o Movimento
10
Social MATR que vem atrasando o processo de alfabetizaccedilatildeo e conclusatildeo do
5ordm ano
Um olhar criacutetico sobre a escola que temos revela a necessidade de poliacuteticas
puacuteblicas como a implantaccedilatildeo de espaccedilos fiacutesicos contendo mobiliaacuterio escolar baacutesico
como carteiras quadro de giz e iluminaccedilatildeo adequada A observaccedilatildeo da atuaccedilatildeo do
Pronera na comunidade Renascer resultou nas seguintes observaccedilotildees
- inadequaccedilatildeo do local para realizaccedilatildeo das aulas que ateacute recentemente
funcionava de forma precaacuteria num barraco utilizado pela igreja catoacutelica o que
impossibilitava o funcionamento das aulas pois durante os eventos da igreja natildeo
tinha como realizar as atividades pedagoacutegicas
A reparaccedilatildeo dessa situaccedilatildeo de precariedade especiacutefica do assentamento
Renascer contribui para reverter a condiccedilatildeo de inferioridade dos assentados
As criacuteticas acima relacionadas satildeo positivas pois a uacutenica escola que o
acampamento teve no decorrer desses 11 (onze) anos foi o Pronera que pode
perfeitamente superar as dificuldades apontadas contribuindo com o trabalho do
educador (a) que acaba por acrescentar inuacutemeras responsabilidades que lhe natildeo
satildeo devidas ao ato de ensinar
A perseveranccedila na luta por uma escola do campo na comunidade Renascer
eacute essencial para evitar o que acontece na realidade do campo em niacutevel nacional
onde cerca de 24000 escolas brasileiras foram fechadas no meio rural
Segundo Erivam Hilaacuterio do setor de educaccedilatildeo do MST que afirma que o
fechamento dessas escolas tem sua loacutegica a intenccedilatildeo de pensar num campo sem
escola e consequentemente um campo sem cultura e sem gente
Refletinto sobre a educaccedilatildeo que queremos atraveacutes do Pronera ou outros
programas educacionais de ensino sentimos que eacute necessaacuterio uma concepccedilatildeo da
educaccedilatildeo ampla que propicia alimento intelectual moral artiacutestico e um
posicionamento criacutetico no processo social e poliacutetico tanto em niacutevel regional
nacional e universal Constitui ferramenta essencial para a formaccedilatildeo de nossa
personalidade e para a emancipaccedilatildeo da sociedade em relaccedilatildeo agrave opressatildeo e
injusticcedila
As expectativas e lutas das famiacutelias do assentamento Renascer estatildeo
alicerccediladas em parcerias junto a entidades do poder puacuteblico exemplo INCRA UnB
11
e Movimentos Sociais do campo para colocar em praacutetica uma educaccedilatildeo que seja
eficaz para a Comunidade Renascer
Acredito que cada comunidade possui uma realidade um contexto muito
proacuteprio particular diferenciada de outra comunidade qualquer Os anseios as
necessidades os fatores culturais econocircmicos entre outros fatores satildeo diferentes
de lugar para lugar
A pedagogia e os meacutetodos a serem realizados em cada local deveriam ser
colocados em praacutetica somente apoacutes a comunidade local ser mobilizada e participar
ativamente na elaboraccedilatildeo deste plano de trabalho pedagoacutegico contribuindo com
ideias e vivecircncias Desta maneira a educaccedilatildeo estaria a serviccedilo do bem coletivo e
natildeo privilegiaria alguns em prejuiacutezo da coletividade A educaccedilatildeo eacute uma importante
ferramenta para o desenvolvimento de uma economia solidaacuteria e socialmente justa
politicamente livre dos espoliadores que historicamente persistem em oprimir a
maioria dos povos privando-os de seus direitos
Na maioria das escolas existentes no campo que natildeo atendem a todos mas
a uma determinada parcela da populaccedilatildeo regional a pedagogia adotada eacute
planejada formulada empacotada e imposta aos camponeses por ldquopedagogo de
gabineterdquo que vivem nas grandes cidades e natildeo respeitam os valores e realidades
regionais e locais de cada comunidade
Eacute claro que existem exceccedilotildees de trabalhos pedagoacutegicos muito bons Eacute o caso
de quando ocorre uma interaccedilatildeo entre a comunidade local e os educadores que
estatildeo ali para contribuir por uma educaccedilatildeo construiacuteda a partir da participaccedilatildeo
popular e democraacutetica na criaccedilatildeo e produccedilatildeo do processo educativo
A pesquisa seraacute fundamentada pela investigaccedilatildeo teoacuterica sobre o tema de
implantaccedilatildeo de salas de aula de ensino fundamental para trabalhadores rurais
adultos em comunidades que lutam pela reforma agraacuteria Para entender-se o
problema eacute necessaacuterio apontar a fundamentaccedilatildeo teoacuterica
A fundamentaccedilatildeo de diversas correntes de opiniatildeo eacute importante para o nosso
proacuteprio esclarecimento e para a busca conjunta com os interessados sobre qual o
melhor modelo pedagoacutegico a ser implantado na sala de aula da comunidade
A fundamentaccedilatildeo teoacuterica como satildeo vaacuterias as teorias existentes seratildeo
expostas algumas como Territoacuterios Educativos na Educaccedilatildeo do Campordquo ldquopor uma
Educaccedilatildeo do Campordquo ldquoTeoria e Praacutetica Pedagoacutegica da educaccedilatildeo do Campordquo
12
rdquoPesquisa Social e accedilatildeo Pedagoacutegicardquo rdquoEtnografia e Praacutetica Escolarrdquo ldquoMetodologia
do tralho Cientiacuteficordquo e trabalhos monograacuteficos de ex-alunos do curso da LEdoC
A metodologia utilizada a pesquisa qualitativa com estudo de caso e estudo
bibliograacutefico
O estudo teve como instrumento de pesquisa a aplicaccedilatildeo de entrevista semi-
estruturada com pessoas da comunidade Renascer quando seraacute identificada sua
participaccedilatildeo e contribuiccedilatildeo para educaccedilatildeo na comunidade e sobre seu entendimento
sobre que tipo de escola do campo que a comunidade requerem relevantes para o
objetivo da pesquisa
O trabalho de campo foi para buscar informaccedilotildees atraveacutes da fala dos sujeitos
que foram ouvidos conforme citado anteriormente bem como de material que
poderaacute contribuir para o trabalho da pesquisa
A pesquisa bibliograacutefica abordou o aprofundamento teoacuterico sobre o tema
para anaacutelise da realidade da educaccedilatildeo do campo para melhor entender a situaccedilatildeo
em que o assentamento se encontra na luta pela escola
-11-
13
Segundo Capiacutetulo
Da escola rural agrave escola do campo histoacuterico das lutas e
concepccedilotildees da educaccedilatildeo
21 A Escola Rural no Brasil
Conforme Ferreira e Brandatildeo (2011) a trajetoacuteria da escola rural brasileira
deve ser contextualizada historicamente segundo o modelo socioeconocircmico
implantado no paiacutes desde o iniacutecio do processo colonizador ateacute o momento presente
Para os autores desde os primoacuterdios do processo de colonizaccedilatildeo o paiacutes foi
entendido apenas como uma colocircnia de exploraccedilatildeo devendo portanto remeter agrave
metroacutepole suas riquezas naturais do solo do subsolo dando segmento aos ciclos
econocircmicos denominados de colonial ciclo do pau brasil da cana de accediluacutecar do
ouro do cafeacute (FERREIRA amp BRANDAtildeO 2011 p3)
A base social do paiacutes eacute formada pelos nativos (iacutendios ndash expulsos
massacrados e exterminados) os africanos e os imigrantes pobres vindos da
Europa e do oriente Foi segundo os mesmos autores esta mesma base social que
formou a matildeo de obra imprescindiacutevel para a implantaccedilatildeo do projeto colonial e do
periacuteodo imperial
A aboliccedilatildeo da escravatura em 1888 e o consequente abandono da populaccedilatildeo
negra desprovida de qualquer indenizaccedilatildeo ou bens materiais particularmente terra
teve como consequecircncia o ecircxodo rural e o desprezo pela atividade agriacutecola
associada agrave escravatura
Em sua experiecircncia histoacuterica como repuacuteblica o tradicional modelo
socioeconocircmico adotado no Brasil perdurou
Ao longo da histoacuteria do Brasil o processo de exclusatildeo social e tambeacutem poliacutetico econocircmico e cultural sempre estiveram presentes e eram tidos como algo ldquonaturalrdquo Ainda nos dias atuais fazer uma referencia a este processo de exclusatildeo natildeo leva a um debate tranquilo a resistecircncia ainda eacute forte por parte da sociedade neoliberal principalmente por aqueles que ainda se beneficiam com
a exclusatildeo socialrdquo (FERREIRA 2011 pag 3)
Com relaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo o que se percebe eacute conforme Ferreira (2011)
14
que o modelo de educaccedilatildeo praticado no Brasil pelos diferentes governos entre o iniacutecio do Impeacuterio (1822) ateacute meados do seacuteculo XX era uma educaccedilatildeo para a elite econocircmica e intelectual em prejuiacutezo direto e indiscriminado dos pobres negros e iacutendios Inclusive a primeira Lei ainda no periacuteodo imperial quando se reporta agrave educaccedilatildeo natildeo se ateve agraves especificidades diretas da zona rural onde a populaccedilatildeo brasileira viviardquo (FERREIRA 2011 p4)
Clauacutedio Santos (2013) afirma que a educaccedilatildeo destinada aos habitantes do
campo no inicio do seacuteculo XX entendia que ldquoa formaccedilatildeo das jovens geraccedilotildees ou dos
adultos no espaccedilo rural era tida como algo menor ou desnecessaacuteriordquo (p 47) Para o
autor a maioria de residentes no campo ( 75) natildeo foi pensado um modelo
educacional que contemplasse as necessidades dos residentes no campo o que a
histoacuteria do Brasil nos ensina eacute que o regime republicano manteve os grandes
latifuacutendios e a oligarquia rural alijando a maior parcela da populaccedilatildeo rural de
qualquer benefiacutecio do sistema poliacutetico-econocircmico
A organizaccedilatildeo escolar rural no Brasil embora tiacutemida pode ser localizada a
partir do primeiro governo republicano o do marechal Deodoro da Fonseca (1889-
1891) estando a cargo do Ministeacuterio da Agricultura Comeacutercio e Induacutestria O ecircxodo
da populaccedilatildeo rural para os incipientes centros urbanos em busca dos empregos
promovidos pela igualmente incipiente industrializaccedilatildeo evidenciava as mazelas dos
sujeitos do campo 75 da populaccedilatildeo brasileira era analfabeta igual nuacutemero da
populaccedilatildeo do campo
Somente a partir de 1920 tem-se efetivamente o primeiro movimento em
defesa da educaccedilatildeo da populaccedilatildeo rural conhecido como Ruralismo Pedagoacutegico
(SANTOS 2013) que foi um movimento dos educadores poliacuteticos e intelectuais
elaborando formas de accedilatildeo pedagoacutegicas adequados agrave dominacircncia poliacutetico-
econocircmica da oligarquia rural
Para o autor o ruralismo pedagoacutegico
defendia uma escola integrada agraves condiccedilotildees locais para promover a fixaccedilatildeo do homem do campo estava ligado agrave modernizaccedilatildeo do campo brasileiro e contava com o apoio dos latifundiaacuterios temerosos de perder sua matildeo de obra bem como de uma elite urbana preocupada com os resultados negativos de uma migraccedilatildeo
camponesa para a cidade (SANTOS2013p48)
15
Uma caracteriacutestica do ruralismo pedagoacutegico foi buscar adequar a educaccedilatildeo
rural para fixar o homem no campo para diminuir o processo de urbanizaccedilatildeo e
consequente ecircxodo rural que modificava a estrutura econocircmico e social do paiacutes
Relativo agrave educaccedilatildeo rural da primeira metade do seacuteculo XX nos ensina
Santos (2013 p48) que ldquoem 1933 inicia-se a campanha de alfabetizaccedilatildeo na zona
rural Em 1935 ocorre o I Congresso Nacional do Ensino Regional que contribui
para a fundaccedilatildeo da Sociedade Brasileira de Educaccedilatildeo Rural no ano de 1937rdquo
Nos anos de 1920 foi criado o movimento conhecido como Escola Nova por
intelectuais e pensadores brasileiros que valorizaram a pesquisa educacional e a
inserccedilatildeo da escola como uacutenico meio de se combater as desigualdades sociais num
ambiente de crescente industrializaccedilatildeo e urbanizaccedilatildeo (SANTOS 2013) Estes
educadores como Aniacutesio Teixeira Fernando de Azevedo Lourenccedilo Filho dentre
outros defenderam atraveacutes do Manifesto da Escola Nova (1932) a universalizaccedilatildeo
da escola puacuteblica laica e gratuita
A influecircncia deste movimento sobre a educaccedilatildeo brasileira fez-se sentir nas geraccedilotildees futuras de educadores e pesquisadores como Darcy Ribeiro e Florestan Fernandes A atuaccedilatildeo desses pioneiros se estendeu por deacutecadas muitas vezes criticada pelos defensores da escola particular e religiosa (FERRARI 2014p43)
Poreacutem as propostas do Manifesto natildeo tiveram impactos concretos e natildeo
foram incorporados pela escola Ferraro (2012) esclarece que
A educaccedilatildeo rural no Brasil soacute se tornou objeto de interesse do Estado no momento em que todas as atenccedilotildees e esperanccedilas se voltavam para o urbano e a ecircnfase passava a recair sobre o desenvolvimento industrial Quando os interesses do latifuacutendio dominavam tanto a economia como a poliacutetica a alfabetizaccedilatildeo das massas camponesas era vista como seacuteria ameaccedila agrave ordem vigente Quando o paiacutes jaacute avanccedila no processo de industrializaccedilatildeo e se torna predominantemente urbano eacute a proacutepria cidade que passa a reivindicar a alfabetizaccedilatildeo das populaccedilotildees do campo Passa entatildeo a contrariar os interesses da cidade continua (FERRARO 2012p964)
16
A industrializaccedilatildeo ocorreu nas cidades e atraiu grandes levas de
trabalhadores do campo seduzidos pelo ideal de transformaccedilatildeo de vida acesso agrave
escolarizaccedilatildeo empregos bem remunerados ideais que levam ao ecircxodo rural hoje
ou naquele momento histoacuterico A realidade do trabalhador do campo receacutem
chegado agrave cidade era do ponto de vista educacional precariacutessima pois em sua
maioria eram analfabetos ou com baixa escolarizaccedilatildeo Essa condiccedilatildeo impedia o
acesso ao emprego industrial urbano e agrave boa qualidade de vida que uma boa
remuneraccedilatildeo podia proporcionar
As cidades sofreram crescimento raacutepido desgovernado formando periferias
que abrigavam a maioria da populaccedilatildeo egressa do campo O subemprego e o
desemprego desestabilizavam as populaccedilotildees das cidades e geravam desequiliacutebrios
sociais e econocircmicos comprometendo a qualidade de vida de todos os moradores
Eacute o ciacuterculo vicioso da desigualdade da exclusatildeo e da violecircncia que a educaccedilatildeo
pode romper A educaccedilatildeo tem entatildeo o propoacutesito de formar trabalhadores para a
induacutestria urbana
Na Constituiccedilatildeo de 1934 para com a educaccedilatildeo rural destaca-se o Art 156 conforme podemos ver abaixo
A Uniatildeo e os Municiacutepios aplicaratildeo nunca menos de dez por cento e os Estados e o Distrito Federal nunca menos de vinte por cento da renda resultante dos impostos na manutenccedilatildeo e no desenvolvimento dos sistemas educativos Paraacutegrafo uacutenico ndash Para a realizaccedilatildeo do ensino nas zonas rurais a Uniatildeo reservaraacute no miacutenimo vinte por cento das cotas destinadas agrave educaccedilatildeo no respectivo orccedilamento anual
Na constituiccedilatildeo Federal de 1937 a educaccedilatildeo rural natildeo eacute citada A prioridade eacute
a educaccedilatildeo dos moradores urbanos Neste periacuteodo conforme Ferreira (2011) ldquoa
orientaccedilatildeo poliacutetico educacional para o mundo capitalista fica bem expliacutecita
sugerindo a preparaccedilatildeo de um maior contingente de matildeo de obra para as novas
atividades abertas pelo mercado ndash a industrializaccedilatildeordquo ( pg 32)
Ainda segundo o autor este afirma que em 1935 ocorreu o I Congresso
Nacional do Ensino Regional que assume como objetivo propagar a educaccedilatildeo rural
e elaborar os planos de educaccedilatildeo Esses planos recomendavam escolas rurais
ambulantes nas regiotildees de menor densidade geograacutefica
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O periacuteodo conhecido como Estado Novo (1937-1945) tentava implantar uma
poliacutetica educacional de cunho nacionalista tornando a educaccedilatildeo um instrumento do
estado servindo aos seus interesses
Os adultos analfabetos particularmente no meio rural tiveram atenccedilatildeo da
Campanha Nacional de Educaccedilatildeo Rural (CNER) de 1952 a 1963 cujo objetivo era
contribuir para a inserccedilatildeo do homem do campo O CNER atuou atraveacutes de missotildees
internacionais dos Estados Unidos voltadas agrave educaccedilatildeo ao treinamento de
professores e agrave preparaccedilatildeo dos jovens do meio rural pelo ensino profissional
agriacutecola Agrave atividade do CNER podemos agregar a accedilatildeo da Comissatildeo Brasileiro-
Americana de Educaccedilatildeo das Populaccedilotildees Rurais (CBAR) que celebrou acordos entre
esses dois paiacuteses visando a educaccedilatildeo rural orientada para o emprego de teacutecnicas
agriacutecolas (OLIVEIRA 1999 p 133)
A educaccedilatildeo rural eacute chamada para se ajustar agraves poliacuteticas educacionais estabelecidas pelo projeto do estado A educaccedilatildeo rural em primeiro lugar apesar de numerosos programas desenvolvidos sempre representou uma fatia muito pequena e marginal nas preocupaccedilotildees do setor puacuteblico (OLIVEIRA p apud CALAZANS1981p162)
A educaccedilatildeo rural ocupou e ainda ocupa pequeno espaccedilo no universo
educacional brasileiro As escolas apresentam dificuldades para se manterem no
campo Conforme o Jornal Sem Terra nordm 46 jun2011 24000 escolas do campo
foram fechadas no Brasil As instalaccedilotildees o curriacuteculo a carecircncia de professores o
transporte escolar formam muitas vezes uma barreira quase imponiacutevel para uma
ampla gama de alunos particularmente das uacuteltimas seacuteries do ensino fundamental e
do ensino meacutedio
Os programas implantados nos uacuteltimos anos como o PRONERA e o EJA
apresentam soluccedilotildees e alcanccedilam grandes resultados mas podemos questionar os
resultados entre os estados O Rio Grande do Sul (que atendeu alunos do ensino
baacutesico ateacute o ensino superior) em comparaccedilatildeo com outros estados e o Distrito
Federal conseguiu excelentes resultados No DF falta alcanccedilar melhores
resultados Podemos questionar se os resultados satildeo adequados pois por exemplo
no assentamento Renascer o Pronera natildeo vai aleacutem do quinto ano Eacute necessaacuterio
uma poliacutetica educacional que leve em conta a realidade dos alunos do campo
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invista recursos materiais e humanos modernizem as escolas e propiciem o acesso
dos alunos
Conforme nos explica Sousa 2004 em seu artigo lsquodiscursos intolerantes o
lugar da politica na educaccedilatildeo rural e a representaccedilatildeo do camponecircs analfabeto
No Brasil a trajetoacuteria da educaccedilatildeo rural inclui-se na dinacircmica de modernizaccedilatildeo do campo assumindo um papel decisivo no processo de expropriaccedilatildeo proletarizaccedilatildeo e controle dos trabalhadores rurais A modernizaccedilatildeo da produccedilatildeo no nordeste brasileiro por exemplo incentivou o processo de sindicalizaccedilatildeo em massa dos trabalhadores das zonas canavieiras estimulou reivindicaccedilotildees no campo do trabalho ligadas agrave aplicaccedilatildeo do Estatuto do Trabalhador Rural e contraditoriamente fez emergir as manifestaccedilotildees pela distribuiccedilatildeo de terras encampadas pelas Ligas Camponesas ( SOUSA2004 p4)
O projeto de modernizaccedilatildeo do campo ocorreu sem que houvesse a
emancipaccedilatildeo dos trabalhadores rurais Na verdade ocorreu a proletarizaccedilatildeo dos
trabalhadores rurais pela acumulaccedilatildeo de terras em matildeos de apenas poucos
proprietaacuterios (latifundiaacuterios) Esse acontecimento revela que apenas em processo
consciente e contiacutenuo de lutas organizados e unidos os trabalhadores rurais
poderatildeo conquistar terras e meios para sua produccedilatildeo
O estudo da organizaccedilatildeo dos trabalhadores rurais eacute importante porque eacute a
partir dela que outras grandes reivindicaccedilotildees satildeo conquistadas No caso da
presente pesquisa pode-se observar que foi a organizaccedilatildeo dos trabalhadores em
torno de suas causas a reforma agraacuteria que levou agrave luta pelas outras reivindicaccedilotildees
como a educaccedilatildeo no campo
O proacuteximo capiacutetulo deste trabalho monograacutefico aborda a questatildeo das
manifestaccedilotildees e resistecircncias dos camponeses pela educaccedilatildeo e pela reforma
agraacuteria
-16-
22 Trajetoacuteria de luta pela Educaccedilatildeo do Campo
A luta pela educaccedilatildeo do campo esteve sempre associada agrave luta pela reforma
agraacuteria e pela conquista de direitos para os trabalhadores rurais O Movimento das
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Ligas Camponesas lutou pela emancipaccedilatildeo do trabalhador rural e da reforma agraacuteria
e em seu projeto educacional estavam baseados nos ideais de Paulo Freire e do
Movimento de Educaccedilatildeo de Base (MEB)
Para explicar a reaccedilatildeo das classes populares agraves imposiccedilotildees do governo
brasileiro e das classes dominantes Oliveira (1995 apud ARROYO)
A histoacuteria das lutas entre as classes sociais natildeo se limitam agrave luta pelo poder mas se constituem impulsionadoras da histoacuteria da humanidade que natildeo aguardam passivamente seu destino mas ao contraacuterio articulam-se em torno de suas lutas para garantir seus direitos sua dignidade e sua participaccedilatildeo democraacutetica na sociedade( OLIVEIRA apud ARROYO1995p 80)
Neste sentido as Ligas Camponesas lutaram praticamente em todo o
territoacuterio nacional contra a tentativa de expulsatildeo dos trabalhadores rurais das terras
Os conflitos armados particularmente no Nordeste exigiam participaccedilatildeo poliacutetica e
direitos essenciais como a educaccedilatildeo do campo
O meacutetodo de alfabetizaccedilatildeo criado por Paulo Freire foi amplamente utilizado
pelas Ligas Camponesas e em sua concepccedilatildeo ampla de escola serviu de subsidio
para a compreensatildeo do camponecircs acerca de seu papel social (TOLEDO Caio
Navarro 2004 p6)
Neste contexto surge a Pedagogia do Oprimido de Paulo Freire Segundo
SANTOS (2013 apud Paulo Freire 1987) afirma que a pedagogia do oprimido
configura-se como
Aquela que tem de ser forjada com ele (o oprimido) e natildeo para ele enquanto homens ou povos na luta incessante de recuperaccedilatildeo de sua humanidade Pedagogia que faccedila da opressatildeo e de suas causas objeto de reflexatildeo dos oprimidos de que resultaraacute o seu engajamento necessaacuterio na luta por sua libertaccedilatildeo em que esta pedagogia se faraacute e refaraacuterdquo (FREIRE 1987 p32)
A pedagogia do oprimido serve de referecircncia para o trabalhador rural que luta
pela emancipaccedilatildeo de sua condiccedilatildeo de proletaacuterio atraveacutes da reforma agraacuteria A
pedagogia do oprimido leva o homem ao encontro de si mesmo ao reconhecimento
da grandeza de seu trabalho ao potencial de suas accedilotildees cotidianas que fazem a
diferenccedila A capacidade de reflexatildeo e o entendimento de sua potencialidade pode
leva-lo agrave sua plena realizaccedilatildeo como indiviacuteduo e como ser social
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A reaccedilatildeo do governo contra o movimento de educaccedilatildeo popular proposto por
Freire e assumido pelo Movimento das Ligas Camponesas e pelo Movimento de
Educaccedilatildeo de Base (MEB) gerou repressatildeo e resposta da ditadura civil-militar como
o Movimento Brasileiro de Alfabetizaccedilatildeo (MOBRAL)
A luta dos movimentos sociais e sindicais pela educaccedilatildeo do campo parte das
forccedilas internas dos movimentos e alcanccedila a setores sociais religiosos ideoloacutegicos
que passam a contribuir efetivamente para o alcance do direito agrave educaccedilatildeo aos
camponeses
A Comissatildeo Pastoral da Terra (CPT) presente ao lado dos trabalhadores (as)
rurais indiacutegenas ribeirinhos pescadores e quilombolas tambeacutem contribuiu e
contribui para a formaccedilatildeo criacutetica a defesa de formas sustentaacuteveis de utilizaccedilatildeo de
recursos naturais e produccedilatildeo e para a alfabetizaccedilatildeo segundo o meacutetodo de Paulo
Freire (CANUTO 2012 p 131)
Na atualidade estaacute em desenvolvimento um movimento que luta pela educaccedilatildeo do homem do campo organizado por vaacuterias entidades dentre elas o MST Trata-se de um processo que teve inicio em meados dos anos de 1990 impulsionados pela necessidade da educaccedilatildeo de jovens e adultos das aacutereas de assentamentos rurais Foi organizado um Programa Nacional para Educaccedilatildeo na Reforma Agraacuteria composto por atores tais como movimentos sociais universidades e governo federal aleacutem de outros parceiros (Alas da Igreja Sindicatos Organizaccedilatildeo Natildeo-Governamental ONG) existentes nas diferentes regiotildees do Brasil( SOUSA2004 p 32)
A trajetoacuteria de conquista das escolas do campo particularmente as escolas
do campo criadas pelo MST a partir da deacutecada de 1990 foi marcada pela conquista
e implantaccedilatildeo da Educaccedilatildeo Fundamental para crianccedilas e adolescentes dos
acampamentosassentamentos de acordo com o projeto politico-pedagoacutegico fruto do
amadurecimento do movimento
Focou-se a alfabetizaccedilatildeo de jovens e adultos e as lutas pela implantaccedilatildeo do
ensino meacutedio com cursos alternativos para a formaccedilatildeo de professores e teacutecnicos de
niacutevel meacutedio e tambeacutem de cursos superiores
A concepccedilatildeo de escolas de ensino fundamental plantadas em assentamentos
prevecirc a instalaccedilatildeo da escola na proacutepria comunidade evitando com isso o uso de
transporte escolar e a frequecircncia dos alunos Sem Terra em escolas fora do
assentamento
21
Esta atitude de resistecircncia foi fundamental para a conquista da escola nas
terras conquistadas e tambeacutem foi fundamental para universalizar o ensino enraizar
o aluno em sua comunidade e criar a consciecircncia do direito agrave educaccedilatildeo
ldquoincomodandordquo o Estado para garantir o cumprimento das poliacuteticas puacuteblicas
Kolling Vargas e Caldart (2012p502) nos ensinam ldquotoda vez que se
conquista uma escola de educaccedilatildeo baacutesica em um assentamento ou acampamento
ela representa menos adolescentes e jovens do campo fora da escola e mais gente
enraizada em seu proacuteprio lugarrdquo (pag 502)
Os movimentos sociais e sindicais pela educaccedilatildeo do campo indicam o grau
de maturidade desses em sua luta pela reforma agraacuteria Agrave essa luta soma-se o
projeto de desenvolvimento do paiacutes baseado na justiccedila social e o combate agraves
tradicionais formas utilizadas pelas elites urbanas ou rurais de alienaccedilatildeo pela
expropriaccedilatildeo do trabalho e pelo controle dos meios que levam agrave emancipaccedilatildeo
sociocultural e agrave verdadeira humanizaccedilatildeo papel destinado agrave educaccedilatildeo
Neste sentido movimentos sociais como o MST inserem a educaccedilatildeo
baseada em princiacutepios pedagoacutegicos que se distinguem da escola tradicional
Numa perspectiva histoacuterica os movimentos sociais do campo como por
exemplo o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) tiveram inicialmente
como bandeira de luta a luta pela terra pela Reforma Agraacuteria natildeo fazendo uma
relaccedilatildeo entre essa luta e a educaccedilatildeo
A formaccedilatildeo de escolas do campo pelo MST natildeo foi resultado da consciecircncia e
importacircncia da escola para a promoccedilatildeo da educaccedilatildeo em seu meio Foi na verdade
a necessidade de oferecer aos filhos dos primeiros lutadores a oportunidade de
uma perspectiva melhor de futuro atraveacutes do direito agrave educaccedilatildeo Foi tambeacutem a
necessidade de ldquotransformar instituiccedilotildees histoacutericas como a escola em lugares que
ajudem a formar os sujeitos destas transformaccedilotildeesrdquo (CALDART2012 p94)
Desse modo houve primeiro a ldquoocupaccedilatildeo da escolardquo pela mobilizaccedilatildeo e pela
accedilatildeo para garantir que em acampamentos ou assentamentos conquistados
houvesse uma escola que ldquofizesse a diferenccedila ou tivesse realmente sentido em sua
vida presente e futura (preocupaccedilatildeo com os filhos)rdquo (CALDART2012 p91)
Num segundo momento da luta observa-se intencionalidade da luta pela
escola mas com proposta pedagoacutegica especiacutefica ldquocombinando processos de
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escolarizaccedilatildeo e de formaccedilatildeo da militacircncia e da base social Sem Terrardquo
(CALDART2012 p92)
As experiecircncias de pensar escolas como polos regionais entre assentamentos e com estudantes de outras comunidades de camponeses aos poucos vatildeo educando o olhar dos trabalhadores Sem Terra para uma realidade mais ampla Foi assim que o MST chegou agrave EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO (KOLLING Vargas e Caldart 2012 p 502)
A escola dentro dessa perspectiva de mudanccedila e envolvimento social eacute
parte da luta pela reforma agraacuteria daacute significado a ela pois proporciona a formaccedilatildeo
integral dos sujeitos que lutam pela terra
Essa escola possibilita a reflexatildeo trava o diaacutelogo com as propostas de
educaccedilatildeo popular de Paulo Freire e busca superar as dificuldades imensas que
assentados e acampados vivem no dia a dia
A escola tambeacutem revela a cultura o orgulho e criaccedilatildeo da identidade na luta
por terra Nesse sentido
A heranccedila que o MST deixaraacute para seus descendentes seraacute bem mais do que a terra que conseguir libertar do latifuacutendio seraacute um jeito de ser humano e de tomar posiccedilatildeo diante das questotildees de seu tempo seratildeo os valores que fortalecem e datildeo identidade aos lutadores do povo de todos os tempos de todos os lugares Eacute enquanto produto humano de uma obra educativa que os Sem Terra podem ser vistos como mais um elo que se forma em uma longa tradiccedilatildeo de lutadores sociais que fazem a histoacuteria da humanidade Enraizamento no passado e projeto de futuro (CALDART 2012 p 96)
A educaccedilatildeo proposta pelo movimento gera o sentimento de pertencimento e
desperta o sentimento de respeito agrave coletividade valoriza o trabalho a gestatildeo
democraacutetica e desburocratizada da escola
SANTOS (2013 p71) esclarece que pelo projeto educacional do MST a
educaccedilatildeo proposta estaacute pautada em ldquovalores socialistas e humanistas tais como o
coletivismo o trabalho socialmente uacutetil a organizaccedilatildeo e auto-organizaccedilatildeo dos
estudantes e professoresrdquo (p71)
-21-
23
221 Concepccedilatildeo Pedagoacutegica da Educaccedilatildeo do Campo
No acircmbito da educaccedilatildeo do homem do campo tornar o homem sujeito e natildeo
objeto do saber leva a entender que o conhecimento do camponecircs pode dialogar
com as praacuteticas baseadas no conhecimento cientiacutefico desde que seja perseguido o
ideal de trabalhadores e educadores do campo comprometidos com as lutas sociais
de formar o homem ldquodordquo campo e ldquono campordquo
Conforme Kolling Cerioli e Caldart (2002 p 264) ldquoo povo tem direito a uma
educaccedilatildeo pensada desde o seu lugar e com sua participaccedilatildeo vinculada agrave sua
cultura e agraves suas necessidades humanas e sociaisrdquo ndash(Caldart Educaccedilatildeo do Campo
2012 p 264
Tal compreensatildeo se ainda hoje causa oposiccedilatildeo ateacute mesmo no ambiente
acadecircmico imagine-se naquele momento histoacuterico de profunda repressatildeo poliacutetica e
ideoloacutegica aos movimentos sociais de camponeses por terra e educaccedilatildeo Como nos
ensina Molina e Saacute (DICIONAacuteRIO da Educaccedilatildeo do Campo p 324)
A concepccedilatildeo de escola do campo nasce e se desenvolve no bojo do movimento da EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO a partir das experiecircncias de formaccedilatildeo humana desenvolvidas no contexto de luta dos movimentos sociais camponeses por terra e educaccedilatildeo Trata-se portanto de uma concepccedilatildeo que emerge das contradiccedilotildees da luta social e das praacuteticas de educaccedilatildeo dos trabalhadores do e no campo (MOLINA e SAacute 2012 pag 324)
A concepccedilatildeo pedagoacutegica da educaccedilatildeo popular e da pedagogia da praacutetica
segundo ARROYO inclui
um caraacuteter de envolvimento totalizante dos movimentos sociais que possibilita ao individuo que participa destes coletivos o acesso a outro tipo de formaccedilatildeo que supera a condiccedilatildeo de aluno de alfabetizando de escolarizando Os integrantes destes organismos emersos na tensa situaccedilatildeo de conflitos aprendem por meio da vivencia das lutas sociais dos momentos de mobilizaccedilatildeo das situaccedilotildees limites de perda de emprego de criacuteticas da sociedade agraves suas accedilotildees de ameaccedilas agraves suas vidas Tudo isso traz ricas liccedilotildees ensinadas na ldquoescola do movimentordquo e que nenhuma teoria pode transmitir ou explicar de forma satisfatoacuteria
No entendimento de Arroyo (2013) os movimentos sociais vivem e
amadurecem sob o conhecimento e o entendimento das contradiccedilotildees sociais e esta
24
experiecircncia lhes permite a possibilidade de defender mudanccedilas radicais tanto no
campo como na cidade tanto na ideologia quanto no combate ao latifuacutendio e ao
capitalismo
Tamanho movimento social gera a reflexatildeo sobre as relaccedilotildees
socioeconocircmicas politicas culturais cuidado da natureza relaccedilotildees humanas
destaques de tudo o que interessa ao coletivo agrave sociedade
Eacute por meio do entendimento de que a realidade eacute criaccedilatildeo humana de como se estabelecem os processos de opressatildeo e ainda da noccedilatildeo de que podemos transformar essa realidade dado que a sociedade eacute mutaacutevel que se forma a praacutexis da luta accedilatildeo-conscientizaccedilatildeo-transformaccedilatildeo-libertaccedilatildeo Inserindo-se criticamente na histoacuteria os cidadatildeos tornam-se sujeitos construtores e reconstrutores da realidaderdquo
Molina e Saacute (2012) nos ensinam a partir do conceito de escola do campo sobre a
potencialidade da vivencia de praacuteticas coletivas para a valorizaccedilatildeo integral dos
sujeitos da coletividade do conhecimento cientiacutefico da gestatildeo coletiva da escola
dentre tantos avanccedilos e vitoacuterias dos movimentos sociais
O processo ensino-aprendizagem permite que o conceito de escola extrapole
o cotidiano de dificuldades e desafia agrave reflexatildeo que gera a emancipaccedilatildeo
Este eacute um dos maiores desafios e ao mesmo tempo uma das maiores possibilidades da escola do campo articular os conhecimentos que os educandos tecircm o direito de acessar a partir do trabalho com a realidade da religaccedilatildeo entre educaccedilatildeo cultura e os conhecimentos cientiacuteficos a serem apreendidos em cada ciclo de vida e de diferentes aacutereas do conhecimento(MOLINA MOURAtildeO 2012 p 329) -26-
222 Princiacutepios da Educaccedilatildeo do Campo
Alguns princiacutepios viabilizam o projeto de escola adotado pelos movimentos
sociais e possibilitam a democracia e a integraccedilatildeo de todos lideranccedila assentados e
acampados do movimento
25
O princiacutepio da responsabilidade coletiva sobre o planejamento a gestatildeo a
organizaccedilatildeo e a realizaccedilatildeo de tarefas em todas as esferas de atividades princiacutepios
muito valorizados pelos movimentos sociais do campo foram transferidos para o
projeto de educaccedilatildeo
O projeto eacute de responsabilidade coletiva e insere educadores tanto a niacutevel
local como regional e nacional os ldquoColetivos de educaccedilatildeordquo como satildeo conhecidos
Os coletivos de educaccedilatildeo com tarefas forccedila orgacircnica e discussotildees especiacuteficas que podem variar a cada periacuteodo fortalecem o princiacutepio organizativo de que a questatildeo da educaccedilatildeo bem como outras questotildees da vida social assumidas pelo MST deve ser pensada e implantada de forma coletiva Eacute uma loacutegica que implica tarefas a serem realizadas pelas pessoas mas mediante um planejamento e uma leitura de conjuntura feita por um coletivo (KOLLING1995 et al p503)
Para concretizar o projeto de educaccedilatildeo foi concebida a formaccedilatildeo de
professores pelos proacuteprios movimentos no acircmbito da proacutepria comunidade
(conhecidos como ldquoprofessores leigosrdquo) e tambeacutem pela rede oficial de ensino
A falta de titulaccedilatildeo de muitos educadores formados na comunidade natildeo
impede que os mesmos trabalhem juntos com os professores titulados e com
simpatizantes do movimento no projeto poliacutetico-pedagoacutegico constituindo um
princiacutepio democraacutetico importante para superar as dificuldades e urgecircncias para a
implantaccedilatildeo da educaccedilatildeo do campo
A democracia do processo de formaccedilatildeo de educadores tem reflexos amplos
a formaccedilatildeo de educadores pelos proacuteprios movimentos especiacutefica para atuaccedilatildeo nas
escolas do campo
O movimento eacute responsaacutevel pela universalizaccedilatildeo do ensino no acircmbito dos
territoacuterios conquistados ou por conquistar e permitiu a evoluccedilatildeo do ensino ateacute o niacutevel
de terceiro grau com a realizaccedilatildeo de cursos como a Licenciatura em Educaccedilatildeo do
Campo (LEdoC) do qual somos os privilegiados alunos aqui na Universidade de
Brasiacutelia
Outro reconhecimento e prova de eficiecircncia da formaccedilatildeo de professores eacute o
precircmio ldquoEducaccedilatildeo e Participaccedilatildeordquo recebido em 1995 do Fundo das Naccedilotildees Unidas
para a Infacircncia (Unicef)
26
O somatoacuterio das forccedilas internas e externas do movimento ldquoleigasrdquo ou
tituladas associadas ao princiacutepio fundamental da participaccedilatildeo dos alunos e
comunidades em todos os niacuteveis e localidades eacute ponto fundamental para o sucesso
da concepccedilatildeo do projeto pois permite o estudo a reflexatildeo conjunta sobre
estrateacutegias para o alcance do objetivo de educaccedilatildeo na reforma agraacuteria
-25-
223 Marcos Normativos da Educaccedilatildeo do Campo
Numerosos Marcos Normativos podem ser citados para explicitar qual perfil
de escola destinada ao camponecircs interessava ao governo e aos proprietaacuterios rurais
A Lei 4024 de 1961 em seu art 105 estabelece o
Apoio que poderaacute ser prestado pelo poder puacuteblico agraves iniciativas que mantenham na zona rural instituiccedilotildees educativas orientadas para adaptar o homem ao meio e estimular vocaccedilotildees e atividades profissionais (BRASIL 2012 p 4)
A Lei 5692 de 1971 ao tratar da educaccedilatildeo rural ldquonatildeo observa mais uma vez
a inclusatildeo da populaccedilatildeo na condiccedilatildeo de protagonista de um projeto social globalrdquo
sendo que o trabalho do campo realizado por alunos eacute ateacute mesmo incentivado
adequando-o ao calendaacuterio escolar (MARCOS NORMATIVOSBrasiacutelia2012 p 25)
A Lei 9394 de 1996 (Lei das Diretrizes se Bases da Educaccedilatildeo ndash LDB) em
acordo com Constituiccedilatildeo de 1988 e ldquoinspirada de alguma forma numa concepccedilatildeo
de mundo rural enquanto espaccedilo especifico diferenciado e ao mesmo tempo
integrado no conjunto da sociedaderdquo reconhece
A diversidade soacutecio-cultural e o direito agrave igualdade e agrave diferenccedila possibilitando a definiccedilatildeo de diretrizes operacionais para educaccedilatildeo rural sem no entanto recorrer a uma logica exclusiva e de ruptura com um projeto global de educaccedilatildeo para o paiacutes (idem p 26)
27
Os artigos 208 e 210 da Carta Magna-1988 e inspirada de numa concepccedilatildeo
de mundo rural enquanto espaccedilo especiacutefico diferenciado e ao mesmo tempo
integrado no conjunto da sociedade a Lei 939496- LDB-estabelece que
Art 28 Na oferta da educaccedilatildeo baacutesica para a populaccedilatildeo rural os sistemas de ensino promoveratildeo as adapta necessaacuteria agrave sua adequaccedilatildeo agraves peculiaridades da vida rural e de cada regiatildeo especialmente (MARCOS NORMATIVOS) Brasiacutelia 2012 p 25)
1- Conteuacutedos organizar curriculares e metodologias apropriadas agraves reais
necessidades e interesses dos alunos da zona rural
2-organizaccedilatildeo escolar proacutepria incluindo a adequaccedilatildeo do calendaacuterio escolar as
fases do ciclo agriacutecola e as condiccedilotildees climaacuteticas
3-adequaccedilatildeo agrave natureza do trabalho na zona rural (MARCOS NORMATIVOS)
Brasiacutelia 2012( p 26)
O movimento de educaccedilatildeo do campo luta haacute quinze (15) anos para fazer-se
cumprir esse Decreto da Lei de Diretrizes de base da educaccedilatildeo do campo-LDB
que apesar de ser constitucional ainda natildeo foi colocada totalmente em praacutetica
Agora com as lutas dos movimentos sociais eacute que estaacute comeccedilando a se concretizar
Artigo 26 Os curriacuteculos do ensino fundamental e meacutedio devem ter uma base nacional comum a ser complementada em cada sistema de ensino e estabelecimento escolar por uma parte diversificada exigida pelas caracteriacutesticas regionais e locais da sociedade
da cultura da economia e da clientela (MARCOS NORMATIVOS) Brasiacutelia 2012(p 26)
O Decreto nordm 7352 de 4 de novembro 2010 dispotildee sobre a poliacutetica de educaccedilatildeo do campo ao Programa Nacional de Educaccedilatildeo
na Reforma Agraacuteria-PRONERA decreta
Art1ordm A poliacutetica de educaccedilatildeo do campo destina-
se agrave ampliaccedilatildeo e qualificaccedilatildeo da oferta de educaccedilatildeo baacutesica e superior agraves populaccedilotildees do campo e seraacute desenvolvida pela Uniatildeo em regime de colaboraccedilatildeo com os Estados o
28
Distrito Federal e os Municiacutepios de acordo com as diretrizes e metas estabelecidas no Plano Nacional de Educaccedilatildeo e o disposto neste Decreto
Para os efeitos deste Decreto entende-se por
l-populaccedilatildeo do campo os agricultores familiares os extrativistas os pescadores
artesanais os ribeirinhos os assentados e acampados da reforma agraacuteria os
trabalhadores assalariados rurais os quilombolas os caiccedilaras os povos da floresta
os caboclos e outros que produzam suas condiccedilotildees materiais de existecircncia a partir
do trabalho no meio rural
ll-escola do campo aquela situada em aacuterea rural conforme definida pela Fundaccedilatildeo
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica- IBGE ou aquela situada em aacuterea
urbana desde que atenda predominantemente a populaccedilatildeo do campo (MARCOS
NORMATIVOS) 2012( p 81)
No Decreto 6755 29 de janeiro de 2009 em seu art 2ordm estabelecida pelo Conselho
Nacional de Educaccedilatildeo que se refere as Diretrizes Operacionais da Educaccedilatildeo do
Campo o parecer da alternacircncia
A formaccedilatildeo de professores poderaacute ser feita concomitantemente agrave atuaccedilatildeo profissional de acordo com metodologias adequadas inclusive a pedagogia da alternacircncia e sem prejuiacutezo de outras que atendam agraves especificidades da educaccedilatildeo do campo e por meio de atividades de ensino pesquisa e extensatildeo (MARCOS NORMATIVOS) 2012( p84)
-26-
29
-
231 A educaccedilatildeo do campo e poliacutetica puacuteblica - o PRONERA
O amadurecimento adquirido pela luta sobre o papel da educaccedilatildeo aliado agrave
iniciativa do aproveitamento do trabalho das professoras ldquoleigasrdquo e ainda da
consciecircncia cada vez mais presente do dever do Estado em prover os cidadatildeos da
reforma agraacuteria de poliacuteticas puacuteblicas resultou no campo da educaccedilatildeo na criaccedilatildeo do
Programa Nacional de Educaccedilatildeo na Reforma Agraacuteria (PRONERA)
O PRONERA envolve formalmente jovens e adultos num projeto conjunto
com universidades e institutos federais em prol da formaccedilatildeo de educadores para o
trabalho em escolas dos assentamentos da reforma agraacuteria e seu entorno
O Programa foi criado em 1998 no momento da ascensatildeo dos conflitos pela
reforma agraacuteria o que propiciou que os movimentos sociais trouxessem para a
opiniatildeo puacuteblica suas mazelas
No campo da educaccedilatildeo foi denunciada a falta de escola a precariedade do
ensino a falta de profissionais do ensino a ldquoloacutegica de negaccedilatildeo histoacuterica do direito
aos camponeses de acesso aos niacuteveis mais elevados de escolaridade ( SANTOS
2012 pag 630)
A partir de 2005 o ensino oferecido pelo PRONERA eacute estendido ao niacutevel
meacutedio e superior como a Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo e a Residecircncia
30
Agraacuteria O PRONERA evoluiu para outros patamares tais como ldquopossibilidades de
ressignificaccedilatildeo do conteuacutedo e da metodologia dos processos de educaccedilatildeo formal
por meio dos princiacutepios baacutesicos da participaccedilatildeo e da multiplicaccedilatildeordquo (SANTOS 2012
p 631)
A participaccedilatildeo das comunidades e suas organizaccedilotildees e a multiplicaccedilatildeo de
alfabetizados formados educadores e demais profissionais ligados agraves poliacuteticas
puacuteblicas para a Reforma Agraacuteria gerou ampla participaccedilatildeo dos agentes envolvidos
na dinacircmica do processo ensino-aprendizagem
Essa forma de gestatildeo gerou reaccedilatildeo contraacuteria ldquoagrave gestatildeo colegiada e coletiva
notadamente agrave participaccedilatildeo direta dos movimentos sociais e sindicais do campordquo
considerados ldquoentes estranhos agrave administraccedilatildeo puacuteblicardquo (CLARICE p 634)
O envolvimento dos movimentos sociais e sindicais do campo natildeo
retrocederam em sua luta pelo envolvimento de todos os interessados na educaccedilatildeo
como elemento emancipatoacuterio e continuam formulando princiacutepios concepccedilotildees e
diretrizes para a escola do campo
-31-
31
Terceiro Capiacutetulo
A histoacuteria do Assentamento Renascer
31 Uma breve histoacuteria de luta
A histoacuteria do Assentamento Renascer natildeo parece ser diferente da histoacuteria de
outros assentamentos Brasil afora Partiu da reivindicaccedilatildeo de Trabalhadores Rurais
sem Terra que desde 2004 ocuparam as margens da Rodovia DF 330 que liga
Sobradinho ao Paranoaacute-DF
Tatildeo perto do centro do poder a apenas poucos quilocircmetros do Palaacutecio da
Alvorada ou da Sede do INCRA o Acampamento Renascer esteve ateacute oito (08) de
maio de 2009 tatildeo distante da decisatildeo poliacutetica pela Reforma Agraacuteria
Somente nesta data trezentos sessenta e um( 361) de terras devolutas da
Uniatildeo foram repassadas ao INCRA para assentar as famiacutelias aliacute acampadas Ficou
criado o assentamento Renascer fora da beira da estrada
O Assentamento Renascer ldquorenasceurdquo da dificuldade de vida sob o barraco de
madeira sem aacutegua sem luz sem saneamento baacutesico que fez com que tantos
desistissem ao longo do caminho e ainda hoje se encontra nessa mesma
precariedade um descaso por parte do poder puacuteblico
A luta em vaacuterios momentos da vida dos acampados parecia estar vencida Os
vencedores pareciam ser a burocracia o desrespeito as noites mal dormidas a
inseguranccedila a falta de perspectivas para o acampado e suas famiacutelias
Duzentas (200) famiacutelias viveram aliacute por cinco anos (05) de 2004 ateacute 2009
Atualmente satildeo cento e vinte (120) famiacutelias que moram na aacuterea destinada e estatildeo
em processo de assentamento Muitas delas poreacutem vencidas pelo cansaccedilo e pelas
condiccedilotildees de vida abandonaram a luta mas todas as famiacutelias as que se foram e as
que ficaram sonharam com a terra onde poderiam produzir viam no pedaccedilo de chatildeo
os frutos do pomar da horta o galinheiro o pasto
O Assentamento Renascer eacute o Brasil Eacute um pedacinho da cruel realidade que
como vimos neste trabalho marcou a sociedade brasileira desde a escravidatildeo
desde o primeiro grito de rebeldia do quilombo desde o primeiro que lutou contra os
coroneacuteis por divisatildeo da terra como as Ligas Camponesas contra o latifuacutendio como
os movimentos sociais em sua luta pela reforma agraacuteria desde vaacuterias geraccedilotildees
32
Eacute como todo e qualquer movimento social que surgiu neste paiacutes desde a
deacutecada de 1980 pela reforma agraacuteria Viveu e ainda vive as dificuldades de ser
acampadoassentado mas honra sua luta porque natildeo desiste faacutecil
O Assentamento Renascer eacute tambeacutem fruto do ecircxodo rural da industrializaccedilatildeo
do campo da monocultura e da concentraccedilatildeo de terras Foram expulsos do campo
para a periferia das cidades sem capacitaccedilatildeo sem estudo
A falta de escolarizaccedilatildeo eacute sem duacutevida uma caracteriacutestica de quase todos os
que vieram do campo para a cidade A realidade do Brasil eacute que o campo natildeo eacute
escolarizado as escolas no campo satildeo poucas satildeo despreparadas satildeo
desvalorizadas
-33-
32 As escolas no campo na vivencia do assentado do Assentamento
Renascer
As escolas no campo marcaram profundamente a vida dos poucos que a
frequentaram Quase todos tiveram que trocar o laacutepis pela enxada a carteira pela
roccedila desde muito pequenos Alguns natildeo muito poucos conforme os depoimentos
aqui relatados teriam que abandonar a enxada e a participaccedilatildeo no sustento da
famiacutelia para frequentar a escola Quase sempre abandonaram a escola para ficar no
trabalho com a enxada
Todos teriam que andar vaacuterios quilocircmetros para ir agrave escola Outros nem assim
conseguiriam frequentar a escola no campo ela simplesmente natildeo existia no
campo Teriam entatildeo que ir para a cidade para ter direito a uma escola
Muitos tambeacutem vivenciaram os traumas que uma escola tradicional e
descomprometida com os valores e responsabilidades do projeto educacional
castigos humilhaccedilotildees afastaram a muitos da escola
Alguns apenas sonharam e sonham com a escola ldquoAh a escolardquo Tatildeo longe
inacessiacutevel para tantos no Brasil afora Ao ver de algumas pessoas do
Assentamento Renascer ldquoSe tivesse jeito eu teria ido agrave escola tinha feito pelo
menos o ensino fundamental completo para que eu pudesse ingressar no curso
33
teacutecnico-agriacutecola Mas agora quero que meus filhos e netos vatildeo para a escola
aprender ser algueacutem na vidardquo
-34-
321 A escola no entorno do Assentamento Renascer
A ideia de lutar pela educaccedilatildeo veio antes da ideia de lutar pela escola como
espaccedilo conquistado pelo acampamento Encontrar uma escola perto do
acampamento com transporte escolar com vagas e horaacuterios acessiacuteveis para os que
trabalham o dia todo era entendido como uma necessidade baacutesica e uma grande
vitoacuteria
Ficava-se feliz se apesar das dificuldades fosse possiacutevel matricular pelo
menos as crianccedilas As dificuldades eram e ainda satildeo muitas o transporte escolar
era e eacute precaacuterio a poeira natildeo permite que os alunos cheguem limpos agrave escola os
buracos e as poccedilas daacutegua impedem a chegada do ocircnibus escolar durante as
chuvas No caso do ocircnibus que levam os alunos ateacute a Escola Classe do Coacuterrego do
Arrozal em eacutepoca de muita chuva os ocircnibus ateacute o iniacutecio de 2014 natildeo conseguiam
transitar Isto resulta no fato de que as crianccedilas precisam caminhar debaixo de
chuva ateacute a escola
-35-
322 O caminho para a produccedilatildeo do saber no Assentamento Renascer a
brinquedoteca a integraccedilatildeo social a biblioteca comunitaacuteria as manifestaccedilotildees
culturais
Ao longo dos anos de vivecircncia e convivecircncia no Acampamento Renascer
mediante a dificuldade e necessidade de estudar que sentimos na nossa proacutepria
vida foi despontando a ideia de prover as crianccedilas de atividades luacutedicas e
educativas
34
Logo no iniacutecio do acampamento por volta de 2005 por iniciativa de algumas
pessoas conscientes da necessidade de atividades luacutedicas para as crianccedilas foi
criada uma brinquedoteca
Inicialmente os brinquedos eram de materiais reciclaacuteveis como garrafas pet
telefones sem fio carrinhos bonecas petecas vai e vem cavalinhos tudo era
confeccionado com a participaccedilatildeo das crianccedilas na modalidade de oficina
incentivando-os a fabricar os seus proacuteprios brinquedos Os brinquedos eram
confeccionados a partir de materiais encontrados nos lugares de descarte perto do
acampamento e doaccedilotildees de pessoas que passavam pela estrada
O embriatildeo de um processo educacional que nunca se interrompeu estava
lanccedilado a brinquedoteca proporcionou a criatividade e a participaccedilatildeo de crianccedilas e
adultos marcando as atividades pela conscientizaccedilatildeo do cuidado com a natureza e a
importacircncia da reciclagem A educaccedilatildeo ambiental jaacute era praticada desde o
nascimento do acampamento Renascer
Este primeiro passo foi muito importante porque traduziu para o dia a dia do
acampamento os princiacutepios da escola do campo atuante para mudar a realidade
criar cidadatildeos conscientes e dispostos a mudar a realidade a partir da sua proacutepria
accedilatildeo Este eacute o processo de transformaccedilatildeo social dentro do acampamento Renascer
haacute tanto tempo atraacutes
Aos brinquedos reciclados pela proacutepria comunidade juntaram-se outros
presenteados por instituiccedilotildees como igrejas ONGs a Pastoral da Crianccedila e pessoas
interessadas no bem estar daquelas crianccedilas
Percebe-se em iniciativas como essas a importacircncia da educaccedilatildeo nos
diversos niacuteveis para a sociedade A integraccedilatildeo de pessoas com as atividades
educativas no acampamento nos faz lembrar sobre um grande sonho das escolas
hoje integrar a comunidade de modo a que todos defendam a escola
O sucesso de iniciativas como a brinquedoteca que integravam crianccedilas
adolescentes adultos e sociedade foi importante para outras iniciativas igualmente
importantes
Foi-se criando um projeto educacional para o acampamento sem que se
tivesse consciecircncia disso por faltar informaccedilatildeo que soacute agora se possui graccedilas aos
estudos na Universidade o galpatildeo comunitaacuterio foi utilizado para abrigar a
35
brinquedoteca para desenvolver grupos de teatro de crianccedilas e adultos e para
abrigar a biblioteca
A biblioteca recebeu inuacutemeros exemplares de livros infantis livros didaacuteticos
para os adolescentes e adultos literatura universal revistas dos mais variados
assuntos criando assim um espaccedilo comunitaacuterio de informaccedilatildeo lazer e
entretenimento
Com a criaccedilatildeo da biblioteca ficou evidente a importacircncia da alfabetizaccedilatildeo de
crianccedilas jovens e adultos Muitos acampados relatavam a vontade e a necessidade
de aprender a ler e a escrever Muitos reivindicavam o direito agrave educaccedilatildeo e
frequecircncia agrave escola ainda que o acampamento mudasse de ldquoendereccedilordquo tantas
vezes
Outros poreacutem natildeo acreditavam que seria possiacutevel aprender ou aperfeiccediloar a
leitura e a escrita nas condiccedilotildees de vida de um acampado
Vaacuterias atividades culturais foram desenvolvidas (e ainda satildeo) no
Acampamento Renascer Todas chamavam a atenccedilatildeo da comunidade local de
outras comunidades vizinhas garantindo a simpatia de chacareiros que levavam os
filhos para participarem das atividades
Uma das atividades mais apreciadas foi o Teatro de Fantoches inspirados em
faacutebulas muitas com a autoria da Pastoral da Crianccedila e da Faber Castel A
participaccedilatildeo da comunidade na atividade era intensa e voluntaacuteria todos queriam
manipular os fantoches participar cantando danccedilando ou prestando muita atenccedilatildeo
O teatro de transformaccedilatildeo social produzido pelos adultos e adolescentes
utilizavam tambeacutem materiais reciclaacuteveis demonstrando cuidado com o meio
ambiente e amadurecimento dos conceitos poliacuteticos e pedagoacutegicos gerando reflexatildeo
sobre os temas sociais que nos atingem no cotidiano
A miacutestica adotada pelos movimentos sociais com o objetivo de reflexatildeo satildeo
apresentadas em datas comemorativas e contam com o apoio e participaccedilatildeo de
muitos
Algumas festas fazem parte da tradiccedilatildeo do Acampamento Renascer
traduzindo para a realidade atual as antigas festas a que todos foram acostumados
em seus lugares de origem
Pode-se dizer que a comunidade aprecia muito as festas Mas duas em
particular satildeo muito respeitadas a festa das crianccedilas que ocorre durante o dia (12
36
de outubro) eacute concorrida pois a comunidade se esmera para oferecer os brinquedos
que as crianccedilas amam pula-pula palhaccedilos pintura de rosto piscina de sabatildeo e
muita oferta de comida coisas que as crianccedilas adoram
No mesmo dia ocorre agrave noite a festa da Nossa Senhora Aparecida com
missa e muito forroacute
No mecircs de marccedilo eacute comemorada a Festa da Pamonha em comemoraccedilatildeo agrave
boa colheita do milho Esta festa jaacute se tornou tradicional conhecida em todo o
entorno do assentamento Egrave uma festa importante porque confraterniza a
comunidade Renascer com as comunidades vizinhas e ateacute mesmo as cidades de
Sobradinho Paranoaacute e Planaltina
Os movimentos sociais necessitam ser admirados pela sociedade e festas
como estas chamam a atenccedilatildeo para o problema da reforma agraacuteria demonstrando
que ela eacute viaacutevel e que os assentados tecircm simpatia competecircncia e seus saberes do
campo
A festa ldquojulinardquo eacute outra festa muito apreciada que apresenta as tradiccedilotildees rurais
e religiosas como quadrilhas e bandas de forroacute da comunidade e vizinhanccedila A
danccedila eacute um dos pontos fortes da festa assim como as comidas tradicionais muitas
delas com ingredientes colhidos no acampamento
Vaacuterios grupos de atividades teatrais apresentaram-se na localidade com
participaccedilatildeo de palhaccedilos lembrando um espetaacuteculo circense Alguns desses
grupos inclusive tiveram seus trabalhos premiados
Outras atividades com fundo educativo tiveram participaccedilatildeo animada de
crianccedilas e adultos A exibiccedilatildeo de desenhos animados recentemente apresentados
no cinema eram um grande atrativo para a comunidade que se via socialmente
incluiacuteda Esta inclusatildeo aumentava a autoestima das crianccedilas principalmente pois
assim elas poderiam interagir com os colegas da escola conversando a respeito dos
filmes
A Economia Solidaacuteria eacute uma das formas de inserccedilatildeo dos membros da
comunidade agrave sociedade economicamente ativa Atraveacutes da cooperaccedilatildeo solidaacuteria eacute
possiacutevel o comercio justo agriacutecolas ou artesanais sob conceitos antes
desconhecidos enquanto forma de produccedilatildeo e consumo centrado na valorizaccedilatildeo do
ser humano em contraposiccedilatildeo agraves formas capitalistas de produccedilatildeo e conscientizaccedilatildeo
37
Ao longo dos doze (12) anos de luta pela educaccedilatildeo foram promovidos
diversos cursos que capacitaram multiplicadores que fazem um trabalho importante
para a comunidade
A ideia de autogestatildeo democracia cooperaccedilatildeo auxilia natildeo soacute as formas de
produccedilatildeo e comercio de bens e artesanatos mas tambeacutem auxiliam na formaccedilatildeo
integral de pessoas em que tanto o produtor como o consumidor tem o proposito de
ganhos financeiros segundo um criteacuterio de valorizaccedilatildeo do trabalho
Proposito de formar uma nova consciecircncia a Economia Solidaacuteria promoveu
cursos de Soberania Alimentar em que a comunidade recebeu noccedilotildees praacuteticas
sobre alimentaccedilatildeo a partir da produccedilatildeo local de modo a promover uma nova cultura
alimentar que visa o combate agraves doenccedilas crocircnicas Outro proposito eacute tornar a
comunidade criacutetica em relaccedilatildeo agrave publicidade de produtos alimentiacutecio supeacuterfluo que
induz agraves crianccedilas e adultos alimentarem-se incorretamente
A comunidade participou coletivamente da implantaccedilatildeo de uma unidade da
tecnologia social denominada Produccedilatildeo Agroecoloacutegica Integrada e Sustentaacutevel
(PAIS) em 2012 com o objetivo de produzir alimentos saudaacuteveis e preservar o meio
ambiente trazendo mais alimentos e renda ao campo Esta tecnologia popularmente
conhecida como ldquohorta mandalardquo foi ministrada durante o curso de capacitaccedilatildeo
promovido pela Fundaccedilatildeo Banco do Brasil e teve o meacuterito de proporcionar o debate
e a participaccedilatildeo democraacutetica na definiccedilatildeo das culturas a serem cultivadas na futura
propriedade Vale informar que o assentamento Renascer identificou-se com esse
paradigma agroecoloacutegico
A educaccedilatildeo ambiental faz parte do dia a dia da comunidade hoje preserva-se
conservaccedilatildeo das formas de vida vegetais e animais na regiatildeo do assentamento e
entorno
A produccedilatildeo de mudas no viveiro eacute bastante concorrida contando com a
participaccedilatildeo de todos O viveiro produz cinco mil (5000) mudas de espeacutecies nativa
do cerrado para o reflorestamento das nascentes de aacutegua e nas aacutereas degradadas
da regiatildeo Contam com o apoio da FUNATURA FUNDACcedilAtildeO BANCO DO BRASIL
IFB Rio Satildeo Bartolomeu Vivo e UnB
-36-
38
39
Quarto Capiacutetulo
A escola que queremos expectativas e sonhos dos
acampados do Assentamento Renascer
Pode-se observar pelas falas dos entrevistados que a realidade de todos
converge para os problemas estruturais do Brasil faltam escolas no campo eacute baixa
a escolaridade em Brasiacutelia todos exercem atividades de subemprego
Todos tecircm grandes expectativas com relaccedilatildeo agrave vida futura no assentamento
objetivando melhores condiccedilotildees de vida na esperanccedila de serem beneficiaacuterios
enquanto cidadatildeos assentados das Poliacuteticas Puacuteblicas e financiamentos agriacutecolas
voltadas para a agricultura familiar como PRONAF PAA PNAE e PAPA-DF Vecircem
aiacute a possibilidade de emprego e renda situaccedilatildeo sonhada desde quando foram
pleitear a terra para reforma agraacuteria
Um olhar mais aprofundado sobre a anaacutelise de dados revela que natildeo importa o
fato de hoje residirem no DF pois como em qualquer lugar de origem os moradores
do assentamento Renascer vivenciam os mesmos problemas Percebe-se
claramente as dificuldades da inexistecircncia de escola no campo A distacircncia continua
impedindo o acesso os meios de transportes continuam precaacuterios os filhos
vivenciam a dificuldade de transferecircncia para a cidade na expectativa de
continuidade dos estudos as estradas rurais continuam esburacadas
Satildeo muitos os pontos em comum entre a situaccedilatildeo atual relatada e os problemas
vividos haacute deacutecadas em seus estados de origem o que deixa transparecer a absoluta
falta de interesse por parte do poder puacuteblico em garantir o direito constitucional agrave
educaccedilatildeo do povo do campo o que infelizmente continuaraacute deixando o triste
legado para o futuro do paiacutes
40
Repetimos a pergunta da inicial Cadecirc as escolas do campo Ateacute quando o paiacutes
vai viver essa situaccedilatildeo A anaacutelise de dados responde Natildeo eacute mais possiacutevel
continuar como estaacute
Todos os entrevistados pretendem alcanccedilar conhecimentos atraveacutes da escola do
campo implantada no Assentamento Renascer com objetivos de administrar a
propriedade participar ativamente do coletivo garantir renda fixa atraveacutes dos
programas de desenvolvimento da agricultura familiar
Os entrevistados unanimamente tecircm a preocupaccedilatildeo da manutenccedilatildeo dos laccedilos
familiares e das raiacutezes camponesas
A distacircncia entre a moradia e a escola fato relatado pela quase totalidade dos
entrevistados constitui um grande motivo de evasatildeo escolar de defasagem nas
seacuteries frequentadas de precariedade na aprendizagem em relaccedilatildeo aos demais
alunos A discriminaccedilatildeo alegada por muitos que frequentaram ou frequentam
escolas fora da faixa etaacuteria o vernaacuteculo proacuteprio dos sujeitos do campo as condiccedilotildees
precaacuterias da estrada que denunciam a condiccedilatildeo de assentado o sentimento de
inadequaccedilatildeo constituem fatores que determinam a evasatildeo escolar
Foram treze (13) entrevistados significando aproximadamente dez por cento
(10) dos moradores do Assentamento Renascer Desse total apenas dois (2)
entrevistados natildeo declararam dificuldade de distacircncia entre a moradia e a escola em
seus lugares de origem A maioria absoluta (11) pessoas declararam que a distacircncia
dificultava e impedia o acesso agrave escola Alguns relatos apresentam situaccedilotildees
precaacuterias para o homem do campo o assentado
Para o aluno do campo a distacircncia da escola tem o significado de inexistecircncia de
escola Isto porque as dificuldades de acesso satildeo enormes No caso em estudo
apenas um entrevistado declarou a inexistecircncia de escola em sua regiatildeo de
moradia Este poreacutem vivenciou todas as dificuldades de acesso que outros
assentados apresentaram em razatildeo da distacircncia moradiaescola
A falta de professores na escola rural eacute relatada por 11 dos 13 entrevistados A
distacircncia da escola para os professores dificulta segundo a vivecircncia dos
entrevistados o acesso agrave escola e a assiduidade o que muito desmotivava a
ambos
41
Os entrevistados conforme anaacutelise de dados desejam muito objetivamente a
implantaccedilatildeo imediata de escolas segundo os criteacuterios caracteriacutesticos de escola do
campo
- Trazer a realidade para dentro da escola do campo curriacuteculos voltados para o
cotidiano do aluno do campo onde as teacutecnicas agriacutecolas pecuaacuterias e agroecoloacutegicas
possam fazer parte do processo educativo da comunidade e que a escola tenha
uma gestatildeo coletiva democraacutetica com a participaccedilatildeo da comunidade
- Ter o trabalho como princiacutepio educativo A experiecircncia do aluno deve
harmonizar-se com os princiacutepios pistrakianos significar o trabalho de forma a que
ele apresente benefiacutecios para o proacuteprio indiviacuteduo para a comunidade na qual estaacute
inserido e para a sociedade e natildeo exclusivamente para servir ao capitalismo
-Superar a fragmentaccedilatildeo do conhecimento disciplinar A interdisciplinaridade
deve fazer parte dos objetivos educacionais de modo a promover a formaccedilatildeo
integral dos educandos
- Valorizar os saberes do homem do campo Os entrevistados desejam uma
escola onde possam exercitar sua vivecircncia campesina e a relaccedilatildeo dialoacutegica entre
professor-aluno seguindo a pedagogia de Paulo Freire o educando quer aprender
com o educador mas quer tambeacutem ter a oportunidade de transmitir seus saberes
- Promover espaccedilos de gestatildeo coletiva A proacutepria comunidade deve participar da
gestatildeo a elaboraccedilatildeo do PPP deve gerir o espaccedilo fiacutesico da escola para atividades
de interesse da comunidade ocupar espaccedilos para finalidades culturais esportivas
sociais tornando a escola um espaccedilo democraacutetico
- Garantir a presenccedila da comunidade e dos movimentos sociais que geram
processos que auxiliam a emancipaccedilatildeo social A escola deve tambeacutem ser espaccedilo
que auxilie a sustentabilidade e garanta a alimentaccedilatildeo saudaacutevel e recursos
fitoteraacutepicos em associaccedilatildeo com a comunidade
- Inclusatildeo tecnoloacutegica em todos os aspectos digital inovaccedilatildeo tecnoloacutegica
agropecuaacuteria recursos ambientais alternativos agua potaacutevel energia solar energia
eoacutelica fossa seacuteptica teacutecnicas de compostagem saneamento baacutesico cuidados com
os recursos hiacutedricos
A anaacutelise dos dados quando feita especificamente sobre a escola a ser
implantada pode aparentemente demonstrar uma pequena conexatildeo com as teorias
da escola do campo
42
A concepccedilatildeo da escola do campo natildeo pode ser imposta ela parte do princiacutepio
que os camponeses devem conquista-la Para essa conquista eacute necessaacuteria a
paixatildeo o desejo por algo ainda natildeo experimentado o amadurecimento poliacutetico-
social-pessoal a participaccedilatildeo coletiva na luta e na conquista
A trajetoacuteria de luta por educaccedilatildeo da comunidade Renascer apresenta estes
elementos agraves vezes difusos outras vezes mais claramente A escola bem que
poderia para alguns ser apenas uma escola rural Afinal aprender a ler e a
escrever ldquodireitordquo como alguns dizem ou seja deixar a condiccedilatildeo de analfabeto ou
analfabeto funcional para tornar-se letrado significaria avanccedilos em face das atuais
circunstacircncias Alguns entendem assim expressando-se principalmente nas
conversas informais
Apesar disso quando as respostas informais ou quando as respostas das
entrevistas satildeo analisadas mais profundamente identificamos que embora
difusamente todos desejam o programa educacional da escola do campo
Explicando melhor a participaccedilatildeo de todos da comunidade em todas as atividades
soacutecio-poliacuteticas-culturais (relatadas no terceiro capitulo) indicam que a comunidade
assimilou a postura soacutecio-politica-cultural que caracterizam a escola do campo
A vivecircncia do Assentamento Renascer no cotidiano e nos eventos coletivos
amadureceu o desejo pelo alimento intelectual cultural artiacutestico ambiental social
que a concepccedilatildeo de escola do campo introduz O programa educacional da Escola
do Campo ultrapassou as paredes fiacutesicas da escola e alcanccedilou o cotidiano dos
assentados
Os avanccedilos da conscientizaccedilatildeo e seu reflexo na vida do Assentamento Renascer
satildeo sentidos nos nuacutemeros de matriculados na LEdoC sete (7) alunos
aproximadamente dez (10) assentados prestaratildeo o proacuteximo vestibular trecircs (3)
assentados estatildeo matriculados no IFB dois(2) assentados estatildeo formados em
Teacutecnico Agropecuaacuterio tambeacutem pelo IFB um deles cursa o Tecnoacutelogo de
Agroecologia tambeacutem do IFB
Vale acrescentar que no iniacutecio de 2014 quando o IFB buscou no Assentamento
pessoas interessadas em matricular-se em seus cursos sob a condiccedilatildeo de
estudarem no ensino meacutedio o interesse foi grande e a impossibilidade pelo fato de
natildeo estarem habilitados no ensino fundamental provocou tanta discussatildeo que
estimulou essa pesquisa
43
O legado desses alunos futuros alunos e profissionais para o futuro do
Assentamento apresentaraacute resultados significativos para toda a comunidade O
futuro colheraacute bons frutos plantados agora
A escola que temos natildeo estaacute funcionando falta a renovaccedilatildeo do contrato o que
atrasa a alfabetizaccedilatildeo e conclusatildeo do 5ordm ano Falta a implantaccedilatildeo de poliacuteticas
puacuteblicas para atendimento de questotildees baacutesicas como por exemplo carteiras
quadro de giz iluminaccedilatildeo espaccedilo fiacutesico (dependecircncias para a escola) e mobiliaacuterio
-41-
44
Consideraccedilotildees Finais
A Educaccedilatildeo do campo eacute um movimento em que os trabalhadores do campo e
suas organizaccedilotildees lutam por transformaccedilotildees sociais particularmente a criaccedilatildeo de
escolas dono campo de qualidade a partir de uma perspectiva ampla de reforma
agraacuteria
A construccedilatildeo da educaccedilatildeo do campo eacute resultado do amadurecimento dos
movimentos sociais e das comunidades rurais em sua trajetoacuteria de luta pelo direito
fundamental agrave universalizaccedilatildeo escolar para as populaccedilotildees camponesas segundo
orientaccedilatildeo poliacutetico-pedagoacutegica adequada agrave realidade dos lutadores de
acampamentos e assentamentos em luta pela reforma agraacuteria e justiccedila social
Alguns princiacutepios caracterizam a luta pela escola do campo Dentre eles
podemos citar a criaccedilatildeo da consciecircncia do direito agrave educaccedilatildeo de qualidade plantada
na proacutepria comunidade o que provoca o enraizamento a valorizaccedilatildeo da vida no
campo a promoccedilatildeo da autoestima e a transformaccedilatildeo do ser alienado pela ideologia
e desigualdade social e sujeito de sua proacutepria histoacuteria
Outro princiacutepio eacute a adequaccedilatildeo de curriacuteculos agrave realidade camponesa de modo
a que o processo ensino-aprendizagem favoreccedila o amadurecimento de talentos
naturais o surgimento de oportunidades a niacutevel pessoal e social contribuindo para a
emancipaccedilatildeo poliacutetico-social do indiviacuteduo com reflexos na sociedade
A mudanccedila de paradigmas e o envolvimento social provocam a formaccedilatildeo integral
dos sujeitos que lutam de forma coletiva e solidaacuteria pela terra A escola do campo
que surge dessa mudanccedila eacute tambeacutem transformadora porque eacute fruto da luta
consciente que gera a reflexatildeo e o amadurecimento poliacutetico deixando um legado
positivo de cidadatildeos orgulhosos de sua condiccedilatildeo de lutador pela terra de sua
identidade de sua cultura de sua comunidade e coletividade
A escola do campo propicia aos alunos a reflexatildeo sobre o contexto social e a
problemaacutetica da comunidade em que estatildeo inseridos o respeito agrave individualidade a
ampliaccedilatildeo das potencialidades do aluno para organizar elaborar e atuar
coletivamente Deixam o legado futuro de homens responsaacuteveis mentes
independentes e atuantes que poderatildeo prestar serviccedilos significativos agrave sociedade
45
A comunidade assentada de o Assentamento Renascer pela Reforma
Agraacuteria em Sobradinho DF foi convidada a opinar sobre a escola que deseja a
partir da conquista da terra
O modelo proposto a partir de seu posicionamento possibilita a conclusatildeo
de que a escola do campo plantada na comunidade eacute preferiacutevel ao modelo
adotado atualmente de inserccedilatildeo dos alunos da comunidade agraves escolas urbanas
conter recursos materiais e humanos que propiciem bons resultados
pedagoacutegicos deve servir para fixar o trabalhador ao campo deve cumprir com o
propoacutesito constitucional de universalizaccedilatildeo do ensino para todas as faixas
etaacuterias deve estar identificada com os sonhos de prosperidade material e
realizaccedilatildeo pessoal dos assentados
-46-
46
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________ citando CALAZ Maria Rita Duarte Oliveira
47
SANTOS Clarice Aparecida PROGRAMA NACIONAL DE EDUCACcedilAtildeO NA REFORMA AGRAacuteRIA in DICIONARIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia2012(pg630)
________ Clarice Aparecida PROGRAMA NACIONAL DE EDUCACcedilAtildeO NA REFORMA AGRAacuteRIA BRASIacuteLIA 2012 pg 631 in DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO SANTOS Claudio Felix Dos ldquoO aprender a aprender na formaccedilatildeo de professores do campordquo Campinas 2013 Editora Autores Associados ) SOUZA Maria Antocircnia Movimentos Sociais no Brasil Contemporacircneo participaccedilatildeo e possibilidades no contexto das praacuteticas democraacuteticas ndash (wwwcesucptlab2004pdfMariaAntonia Souzapdfaceso em 24-07-2014 -48-
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Apecircndices
1 Roteiro das Entrevistas
a) Dados dos entrevistados
Qual o seu nome
Masculino ( ) Feminino ( )
Quantos anos vocecirc tecircm
A quanto tempo mora no
assentamento
Onde vocecirc morou antes
de morar no
assentamento
Quantos anos vocecirc tinha
quando foi a escola pela
primeira vez
Estou ateacute qual seacuterieano
Quantos anos vocecirc tinha
quando parou de estudar
Qual motivo motivou vocecirc
a parar de estudar
Se tiver escola no
assentamento vocecirc voltaraacute
a estudar Porque
B) Outras informaccedilotildees dados pelos entrevistadosas (GRAVAR)
a) Em qual escola vocecirc estudou no acampamento ou em outro lugar Qual
b) Como era a escola que estudou Quais as coisas boas e coisas ruins que
tinha nesta escola
c) Conte como eacutefoi a educaccedilatildeo do assentamento o que jaacute existiu de escola
como funcionou e quais eram as boas e as coisas ruins desta escola
d) Jaacute participou de alguma accedilatildeo de mobilizaccedilatildeo para ter escola no
assentamento Se sim explique para que e como foi essa mobilizaccedilatildeo
e) Na sua opiniatildeo no assentamento deve ter escola Por quecirc
f) Como deveraacute ser a escola da comunidadeassentamento Como eacute a escola
que queremos ter
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b) Entrevistas semi-estruturadas
Entrevistado 01
Moro no assentamento Renascer haacute 11 anos Nasci Carnauacuteba no Rio Grande do
Norte fui criado na roccedila e desde pequeno trabalhava na lavoura para ajudar meu
pai Fui para escola com 9 anos de idade estudei ateacute a 5ordm seacuterie parei de estudar
com 17 anos natildeo continuei os estudos porque era muito longe de onde eu morva
que era na cidade mais proacutexima eu tinha que andar a peacute 8 km ficava muito
cansado Casei e vim morar em Brasiacutelia para trabalhar em uma chaacutecara como
caseiro Morava na chaacutecara Buritis em sobradinho- Df tambeacutem natildeo dei para
continuar os estudos porque ficava longe e tinha que ser a noite e natildeo tinha como ir
Se vier uma escola pra caacute eu ainda vou estudar para ter mais conhecimento para
plantar minha roccedila ir no banco pra ver se assino um empreacutestimo para melhorar
minha produccedilatildeo e saber fazer conta pra administrar minha parcela de terra
Qual o seu nome
Masculino ( X ) Feminino ( )
Quantos anos vocecirc
tecircm
57 anos
A quanto tempo
mora no assentamento
11 anos
Onde vocecirc morou
antes de morar no
assentamento
Carnauacuteba ndash RN
Chaacutecara Buritis nordm 10 Sobradinho DF
Quantos anos vocecirc
tinha quando foi a escola
pela primeira vez
8 anos
Estou ateacute qual
seacuterieano
5ordf seacuterie
Quantos anos vocecirc
tinha quando parou de
estudar
24 anos
Qual motivo
motivou vocecirc a parar de
estudar
Trabalhar para sustento da famiacutelia a
distacircncia entre a casa e a escola
Se tiver escola no
assentamento vocecirc voltaraacute
a estudar Porque
Sim ldquoSe tivesse escola do ensino
fundamental voltaria a estudar para tecirc
mais conhecimento para plantar minha roccedila
50
saber pesar saber contar vendecirc os produto e
comecirc
Entrevistado 02
Moro no assentamento renascer haacute 7 anos tenho 38 vim do interior do Cearaacute
Entrei na escola com 7 anos de idade estudei soacute a 5ordm seacuterie incompleta natildeo
continuei a estudar porque natildeo tinha escola a onde eu morava que era na roccedila e eu
tinha que ficar na casa dozotro (SIC) na cidade e eu natildeo gostava disso natildeo ai parei
com 16 anos de idade Mudamo (SIC) pra Brasiacutelia pra uma chaacutecara perto de Santa
Maria-DF e natildeo dei pra estudar porque casei e tinha que trabalhar muito para
susrentar a famiacutelia A gora moro no assentamento Renascer e sei que um dia vai ter
uma escola aqui e eu vou voltar a estudar porque meu sonho eacute ser veterinaacuterio e vou
der se deus quiser
Entrevistado 03
Tenho 58 anos moro no assentamento Renascer haacute 6 anos vim de Ceres-GO
comecei a estudar quando eu tinha 10 ano de idade estudei ateacute a 4ordf seria primaacuteria
(SIC) parei de estudar quando tinha 16 anos porque eu morava na roccedila e escola
ateacute que natildeo ficava muito longe natildeo era soacute 2 km dava pra ir a peacute a professora eacute que
faltava muito e a gente natildeo tinha como saber se ela tava ou natildeoAiacute quando eu tinha
18 anos casei e vim morar em Brasiacutelia e arranjei(SIC) emprego de caseira em uma
chaacutecara aiacute natildeo pra estudar a noite porque era muito longe pra laacute entatildeo eu natildeo
pensei mais nessas coisas Quando tiver escola no assentamento quero estudar
quiecirc pra mim (SIC) fazer curso de teacutecnico agriacutecolarsquorsquo
Entrevistado 04
Tenho 24 anos moro no assentamento Renascer tem 6 ano vim da Bahia morava
no Condomiacutenio RK entrei na escola com 7 anos de idade e estudei soacute ateacute a 6ordf seacuterie
parei com 18 anos de idade
Porque mudei pra caacute pro assentamento (SIC) e natildeo tem escola e natildeo tem como ir
pra Sobradinho a noite porque eacute muito longe tem que andar 5 km eacute pirigogo (SIC)
tem muita gente mal por aiacute tem ateacute estrupador natildeo posso me arriscar
ldquoSe tivesse escola aqui eu ia terminar meus estudos podia ser no galpatildeo mesmo
pra mim tava bom mas para os meus filhos eu queria uma escola boa com internet
e tudo Eu natildeo gosto que meus filhos estuda(SIC) na cidade soacute aceito porque eacute o
jeito gente de assentamento eacute muito zombado (SIC) porque as vezes chega suja
na escola e os outros acha que eles satildeo porcos que toma banhordquo
Entrevistado 05
51
Tenho 21 anos de idade moro no Renascer haacute trecircs anos vim de satildeo Gabriel-GO
comecei a estudar aos 7 anos parei com 18 anos porque minha matildee mudou
pro(SIC) matildee mudou pro (SIC) assentamento haacute 6 anos e eu natildeo aguento morar
longe dela Quando cheguei aqui natildeo teve como continuar os estudos porque
trabalho durante o dia como manicure em Sobradinho e o uacuteltimo ocircnibus que passa
perto do assentamento eacute as 5 horas da tarde entatildeo natildeo daacute para estudar a noite
Sim porque quero fazer um curso de cabelereiro quando tiver aacutegua e luz aqui eu
quero montar um salatildeo de beleza e para ser uma empresaacuteria precisa ter estudos pra
administrar o negoacutecio
Entrevistado 06
44 anos
6 anos
Formosa-GO
8 anos
5ordf seacuterie
24 anos
Porque a escola mais perto(SIC) era 10km de distacircncia e eu trabalhava na roccedila e
ficava muito cansado aiacute parei natildeo deu mais
Sim quando tiver escola aqui eu vou voltar a estudar Eu tinha um sonho de ser
agroacutenomo mas esse sonho eacute impussive(SIC) entatildeo queria concluir o ensino
fundamental para fazer um curso de teacutecnico agriacutecola no IFB mas tambeacutem eacute longe
se tivesse como estudar aqui no assentamento eu ia(SIC) ficar muito feliz
Entrevistado 07
57 anos
6 anos
Parnaiacuteba-PI- Santa Maria- DF
7 anos
4ordf seacuterie
21 anos
Parei porque era muito difiacutecil ir para escola que ficava muito longe eu tinha que sair
de casa as 4hs da madrugada para chegar na escola as 730 ia montado num
cavalo e muitas vezes natildeo tinha professora pra dar aula Parei porque natildeo aguentei
o rojatildeo tinha que minha matildee na lida a tarde e eu ficava muito cansado Vim pra
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Brasiacutelia e casei fui trabalhar de chacareiro numa chaacutecara que tambeacutem era longe de
escola depois vim morar aqui no assentamento que natildeo tem escola
Se tivesse escola aqui eu ia voltar estudar soacute pra aprender a cuidar meior (SIC) da
terra e dos meus bichos e que fosse como uma escola agriacutecola
Entrevistado 08
Tenho 29 anos moro no assentamento Renascer haacute 2 anos sou educadora do
Pronera haacute 1 ano e 2 meses O Pronera eacute como um antidepressivo na vida de muita
gente o Pronera melhorou a minha vida e a vida dos meus alunos o desejo de
todos eacute que o Pronera continue crescendo em direccedilatildeo de uma educaccedilatildeo continuada
levando tambeacutem o ensino fundamental para os acampamentos e assentamentos da
Reforma Agraacuteria
-50-
Anexos
53
Acampamento agrave beira da estrada ndash 2004
Construccedilatildeo da Sede do Movimento na atual aacuterea
54
Reuniatildeo semanal
Teatro de fantoches ndash brinquedoteca
55
Accedilatildeo da Pastoral da Crianccedila na brinquedoteca
Oficina de brinquedos reciclaacuteveis
56
Brinquedo confeccionado com materiais reciclaacuteveis na Brinquedoteca
57
58
59
60
Apresentaccedilatildeo teatral
61
Capacitaccedilatildeo em Economia Solidaacuteria
Formaccedilatildeo de multiplicadores da Economia Solidaacuteria
62
Capacitaccedilatildeo de Educadores Ambientais
63
Luta pela Reforma Agraacuteria e Soberania Alimentar
1
ldquo A educaccedilatildeo eacute a arma mais poderosa que vocecirc pode usar para mudar o mundordquo (Nelson Mandela) ldquoEnsinar natildeo eacute transferir conhecimento mas criar as possibilidades para a sua proacutepria produccedilatildeo ou a sua construccedilatildeordquo (Paulo Freire) ldquo Se a educaccedilatildeo sozinha natildeo pode transformar a sociedade tatildeo pouco sem ela a sociedade mudardquo (Paulo Freire)
2
RESUMO
Este estudo tem como propoacutesito analisar a trajetoacuteria de luta dos trabalhadores
rurais sem terra pela escola do campo A educaccedilatildeo do campo eacute entendida como um
movimento que busca a concretude de uma educaccedilatildeo ampla diversificada e
enraizada em conceitos de coletividade da participaccedilatildeo da famiacutelia e da comunidade
e focada na transformaccedilatildeo do indiviacuteduo e da sociedade O estudo da escola do
campo constitui tema desafiador na medida em que provoca demandas sociais e
poliacuteticas puacuteblicas para o cumprimento das leis que garantem a criaccedilatildeo e o bom
funcionamento dessas escolas Essa pesquisa analisa tambeacutem a importacircncia da
escola do campo para fixar a comunidade rural agraves suas raiacutezes culturais familiares e
sociais em particular a necessidade de atendimento das reivindicaccedilotildees por escola
do Assentamento Renascer
3
ABSTRAT
This study aims to analyze the trajectory of struggle of the landless rural workers by
the school field The rural education is understood as a movement that seeks the
concreteness of a broad education diverse and rooted in community concepts
family participation and community and focused on the transformation of the
individual and society The field school study is challenging topic in that causes social
demands and public policies for compliance with the laws that guarantee the creation
and proper functioning of these schools This research also analyzes the importance
of the field school to secure the rural community to their cultural social and family
roots in particular the need to meet the demands for school Settlement Reborn
4
SUMAacuteRIO
Apresentaccedilatildeo 07
Capitulo l As opccedilotildees de pesquisa e os passos metodoloacutegicos
11Pesquisa Qualitativa com Estudos de Caso11
Capiacutetulo ll Da Escola Rural a Escola do Campo histoacuterico das lutas e
concepccedilatildeo da Educaccedilatildeo
21 A escola rural no Brasil16
22Trajetoacuteria de luta pela Educaccedilatildeo21
23Concepccedilatildeo Pedagoacutegica da Educaccedilatildeo do Campo26
24 Princiacutepios da Educaccedilatildeo do Campo28
25 Marcos Normativos da Educaccedilatildeo do Campo29
Capiacutetulo lll A histoacuteria do Assentamento Renascer
31 Trajetoacuteria de criaccedilatildeo do assentamento aos dias atuais34
32A histoacuteria da educaccedilatildeo no assentamento Renasce Renascer34
33 A escola do Campo na vivecircncia do Assentamento Renascer35
34O caminho para a produccedilatildeo do saber no Assentamento Renascer a
brinquedoteca a integraccedilatildeo social a biblioteca comunitaacuteria e as manifestaccedilotildees
culturais 36
Capitulo lV A escola que queremos41
Consideraccedilotildees finais 46
Referecircncias Bibliograacuteficas48
Apecircndice50
Anexo55
5
Lista de Siglas
DF - Distrito Federal
EMPRAPA - Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuaacuteria
FUNATURA - Fundaccedilatildeo Proacute-Natureza
GDF- Governo do Distrito Federal
IFB - Instituto Federal de Brasiacutelia
INCRA - Instituto Nacional de Colonizaccedilatildeo e Reforma Agraacuteria
LEdoC - Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo
MEB - Movimento de Educaccedilatildeo de Base
MAT R - Movimento de Apoio ao Trabalhador Rural
MST - Movimento dos Sem Terra
ONGs - Organizaccedilatildeo natildeo Governamental
PRONERA - Programa Nacional de Educaccedilatildeo na Reforma Agraacuteria
PAIS - Produccedilatildeo Agroecoloacutegica Integrada e Sustentaacutevel
PRONAF - Programa Nacional de Fortalecimento na Agricultura Familiar
PAA - Programa de Aquisiccedilatildeo de Alimento
PNAE - Programa Nacional de Alimentaccedilatildeo Escolar
6
PAPA-DF -Programa de Aquisiccedilatildeo da Produccedilatildeo da Agricultura
PPP - Projeto Poliacutetico Pedagoacutegico
7
APRESENTACcedilAcircO
O presente trabalho de pesquisa eacute resultado da observaccedilatildeo presencial do
assentamento de Reforma Agraacuteria denominado Renascer ao longo de 11 (onze)
anos de convivecircncia Durante 5 (cinco) anos se estabeleceu um acampamento agraves
margens da rodovia DF 330 que liga Sobradinho ao Paranoaacute DF Apoacutes mobilizaccedilatildeo
dos acampados e negociaccedilatildeo com o poder puacuteblico (GDF Coleacutegio Agriacutecola de
Brasiacutelia atualmente Instituto Federal de Brasiacutelia EMBRAPA e intermediaccedilatildeo
puacuteblica) foi liberada uma aacuterea para o acampamento mudar de local e se estabelecer
onde atualmente estaacute situado (entre o Coacuterrego do Arrozal e o Coacuterrego do Meio)
Esta mudanccedila de local foi autorizada pelo governo e se concretizou em maio de
2009 Neste tempo a situaccedilatildeo do acampamento mudou para preacute-assentamento e
atualmente jaacute se encontra em situaccedilatildeo de Assentamento Rural
Durante todos esses anos foram realizados algumas atividades pedagoacutegicas
na comunidade tais como a implantaccedilatildeo de uma brinquedoteca com oficinas de
confecccedilatildeo de brinquedos para as crianccedilas acampadas utilizando materiais
reciclados uma biblioteca com livros e revistas usados obtidos atraveacutes de doaccedilatildeo de
vaacuterias pessoas simpatizantes da causa da Reforma Agraacuteria Aulas de alfabetizaccedilatildeo
de adultos no horaacuterio noturno pelo Programa Nacional de Educaccedilatildeo na Reforma
Agraacuteria (PRONERA) com recursos muito escassos mas eacute a educaccedilatildeo que nos
acompanha ateacute nos dias de hoje Atividades de arte-educaccedilatildeo para incentivos e
melhorias na interaccedilatildeo de crianccedilas e jovens exercitando a praacutetica de teatro projeccedilatildeo
de filmes recreativos e de novos conhecimentos para os moradores produccedilatildeo de
um documentaacuterio sobre a comunidade Renascer e a importacircncia da Reforma
Agraacuteria no Brasil denominado ldquoConquistar a terra Produzir o patildeordquo Com o apoio do
projeto audiovisual ndash UnB Planaltina
Para uma melhor compreensatildeo da pesquisa monograacutefica dividiu-se o texto
em capiacutetulos O Primeiro capiacutetulo aponta as opccedilotildees de pesquisa e os passos
metodoloacutegicos para sua realizaccedilatildeo No segundo capiacutetulo estudamos a transiccedilatildeo
entre a escola rural e a escola do campo O terceiro capiacutetulo relata a histoacuteria do
Assentamento Renascer e o quarto capiacutetulo relatamos o resultado da pesquisa de
campo evidenciando a Escola que temos e a Escola que queremos
8
Primeiro Capiacutetulo
As opccedilotildees da pesquisa e os passos metodoloacutegicos
O intuito deste trabalho eacute recuperar a trajetoacuteria de luta dos moradores do
assentamento Renascer pela educaccedilatildeo visando assegurar o direito agrave escola
identificando avanccedilos e limites encontrados nesta trajetoacuteria
Gostaria de manifestar minha satisfaccedilatildeo e agradecer a oportunidade de estar
estudando numa universidade puacuteblica em um curso com muita interfere com a minha
vivecircncia pessoal e de um alcance social muito importante para a transformaccedilatildeo que
nosso paiacutes necessita A desigualdade social ainda eacute muito grande no campo e na
cidade sendo bastante visiacutevel esta realidade
Sou nascida numa comunidade remota e isolada no sul do Maranhatildeo onde
nos meus primeiros anos de vida convivi em uma comunidade indiacutegena com minha
avoacute paterna comunidade de economia essencialmente extrativista principalmente
da quebra do coco babaccedilu o cultivo da mandioca para fazer farinha e da caccedila e
pesca Fiquei sem frequentar agrave escola ateacute os treze(13) anos de idade por natildeo existir
escola na comunidade Quando vim morar em Brasiacutelia e ingressei em uma escola
pela primeira vez sofri muita descriminaccedilatildeo por parte dos outros alunos devido
minha idade e a defasagem escolar Apesar de viver na cidade grande haacute bastante
tempo continuam vivas na minha alma o desejo de viver no campo Estou na luta
por um pedaccedilo de terra atraveacutes da Reforma Agraacuteria no assentamento Renascer
com o apoio do MATR- Movimento de Apoio ao Trabalhador Rural haacute onze(11)
anos atualmente estamos em fase de sermos assentados
Alguns anos atraacutes em 1992 cheguei a fazer um curso de formaccedilatildeo de
professores (Magisteacuterio) e me capacitei para trabalhar da 1ordf a 4ordf seacuterie do Ensino
Fundamental na eacutepoca Realizei alguns trabalhos nessa aacuterea mas natildeo exerci
profissionalmente esta atividade de forma regular
O tema Escola do Campo vem ao encontro a um anseio pessoal de poder
trabalhar com educaccedilatildeo voltada para a realidade vivida pelo cotidiano da populaccedilatildeo
realmente do campo A minha motivaccedilatildeo ao escolher este tema de pesquisa eacute de
9
poder de alguma forma contribuir para a troca de experiecircncia e conhecimentos entre
educandos e educadores melhorando minha capacitaccedilatildeo profissional e absorver
conhecimentos e orientaccedilotildees de professores (as) e companheiros (as) de estudo
Conforme o educador Paulo Freire dizia ningueacutem tem o conhecimento de tudo
e sempre eacute capaz de conhecer mais coisas que ainda natildeo conhece se assim o
desejar
O assentamento Renascer hoje conta com um total de 120 famiacutelias satildeo
11 (onze) anos de luta e perseveranccedila tem se manifestado se mobilizado
reivindicando oportunidades de obterem escola do campo para adquirirem
conhecimentos atraveacutes do estudo que lhes permita melhorar sua capacitaccedilatildeo para o
trabalho e consequentemente ampliar seus horizontes soacutecio- econocircmico e
culturalmente ou seja progredir atraveacutes dos seus estudos e trabalho que satildeo
direitos humanos universais
Sem a inclusatildeo do ensino fundamental para trabalhadores rurais a Educaccedilatildeo
de Jovens e Adultos (EJA) para o ensino do 6ordm ao 9ordm ano o que natildeo eacute nem um pouco
acessiacutevel agrave comunidade devido a inuacutemeras dificuldades como horaacuterio disponiacutevel
falta de transporte dentre outros fatores Fica impossiacutevel o acesso dessa
comunidade aos estudos oferecidos pelo Instituto Federal de Brasiacutelia (IFB) que fica
proacuteximo a esse assentamento O IFB oferece diversos cursos que interessam e
atendem agraves necessidades dos trabalhadores do campo Desta maneira a situaccedilatildeo
atual dos moradores do Assentamento Rural Renascer demostra discriminaccedilatildeo e
exclusatildeo social por parte do poder puacuteblico
Alguns cursos e projetos teacutecnico-pedagoacutegicos realizados por parceiros do
Movimento de Apoio ao Trabalhador Rural (MATR) Como a Fundaccedilatildeo Banco do
Brasil Funatura IFB Economia Solidaacuteria Novas Fronteiras da Cooperaccedilatildeo Rio Satildeo
Bartolomeu Vivo e UnB Essas parcerias acrescentaram melhorias agrave qualidade de
vida ao assentamento
A educaccedilatildeo que temos atraveacutes do Programa de Educaccedilatildeo na Reforma
Agraacuteria (PRONERA) revela que a importacircncia do programa na realidade do
assentamento durante determinado periacuteodo satisfez algumas necessidades
educacionais tirando muitas pessoas do analfabetismo
O que ocorre atualmente eacute que o Pronera natildeo estaacute funcionando no
momento por falta da renovaccedilatildeo do contrato estre o INCRA a UnB e o Movimento
10
Social MATR que vem atrasando o processo de alfabetizaccedilatildeo e conclusatildeo do
5ordm ano
Um olhar criacutetico sobre a escola que temos revela a necessidade de poliacuteticas
puacuteblicas como a implantaccedilatildeo de espaccedilos fiacutesicos contendo mobiliaacuterio escolar baacutesico
como carteiras quadro de giz e iluminaccedilatildeo adequada A observaccedilatildeo da atuaccedilatildeo do
Pronera na comunidade Renascer resultou nas seguintes observaccedilotildees
- inadequaccedilatildeo do local para realizaccedilatildeo das aulas que ateacute recentemente
funcionava de forma precaacuteria num barraco utilizado pela igreja catoacutelica o que
impossibilitava o funcionamento das aulas pois durante os eventos da igreja natildeo
tinha como realizar as atividades pedagoacutegicas
A reparaccedilatildeo dessa situaccedilatildeo de precariedade especiacutefica do assentamento
Renascer contribui para reverter a condiccedilatildeo de inferioridade dos assentados
As criacuteticas acima relacionadas satildeo positivas pois a uacutenica escola que o
acampamento teve no decorrer desses 11 (onze) anos foi o Pronera que pode
perfeitamente superar as dificuldades apontadas contribuindo com o trabalho do
educador (a) que acaba por acrescentar inuacutemeras responsabilidades que lhe natildeo
satildeo devidas ao ato de ensinar
A perseveranccedila na luta por uma escola do campo na comunidade Renascer
eacute essencial para evitar o que acontece na realidade do campo em niacutevel nacional
onde cerca de 24000 escolas brasileiras foram fechadas no meio rural
Segundo Erivam Hilaacuterio do setor de educaccedilatildeo do MST que afirma que o
fechamento dessas escolas tem sua loacutegica a intenccedilatildeo de pensar num campo sem
escola e consequentemente um campo sem cultura e sem gente
Refletinto sobre a educaccedilatildeo que queremos atraveacutes do Pronera ou outros
programas educacionais de ensino sentimos que eacute necessaacuterio uma concepccedilatildeo da
educaccedilatildeo ampla que propicia alimento intelectual moral artiacutestico e um
posicionamento criacutetico no processo social e poliacutetico tanto em niacutevel regional
nacional e universal Constitui ferramenta essencial para a formaccedilatildeo de nossa
personalidade e para a emancipaccedilatildeo da sociedade em relaccedilatildeo agrave opressatildeo e
injusticcedila
As expectativas e lutas das famiacutelias do assentamento Renascer estatildeo
alicerccediladas em parcerias junto a entidades do poder puacuteblico exemplo INCRA UnB
11
e Movimentos Sociais do campo para colocar em praacutetica uma educaccedilatildeo que seja
eficaz para a Comunidade Renascer
Acredito que cada comunidade possui uma realidade um contexto muito
proacuteprio particular diferenciada de outra comunidade qualquer Os anseios as
necessidades os fatores culturais econocircmicos entre outros fatores satildeo diferentes
de lugar para lugar
A pedagogia e os meacutetodos a serem realizados em cada local deveriam ser
colocados em praacutetica somente apoacutes a comunidade local ser mobilizada e participar
ativamente na elaboraccedilatildeo deste plano de trabalho pedagoacutegico contribuindo com
ideias e vivecircncias Desta maneira a educaccedilatildeo estaria a serviccedilo do bem coletivo e
natildeo privilegiaria alguns em prejuiacutezo da coletividade A educaccedilatildeo eacute uma importante
ferramenta para o desenvolvimento de uma economia solidaacuteria e socialmente justa
politicamente livre dos espoliadores que historicamente persistem em oprimir a
maioria dos povos privando-os de seus direitos
Na maioria das escolas existentes no campo que natildeo atendem a todos mas
a uma determinada parcela da populaccedilatildeo regional a pedagogia adotada eacute
planejada formulada empacotada e imposta aos camponeses por ldquopedagogo de
gabineterdquo que vivem nas grandes cidades e natildeo respeitam os valores e realidades
regionais e locais de cada comunidade
Eacute claro que existem exceccedilotildees de trabalhos pedagoacutegicos muito bons Eacute o caso
de quando ocorre uma interaccedilatildeo entre a comunidade local e os educadores que
estatildeo ali para contribuir por uma educaccedilatildeo construiacuteda a partir da participaccedilatildeo
popular e democraacutetica na criaccedilatildeo e produccedilatildeo do processo educativo
A pesquisa seraacute fundamentada pela investigaccedilatildeo teoacuterica sobre o tema de
implantaccedilatildeo de salas de aula de ensino fundamental para trabalhadores rurais
adultos em comunidades que lutam pela reforma agraacuteria Para entender-se o
problema eacute necessaacuterio apontar a fundamentaccedilatildeo teoacuterica
A fundamentaccedilatildeo de diversas correntes de opiniatildeo eacute importante para o nosso
proacuteprio esclarecimento e para a busca conjunta com os interessados sobre qual o
melhor modelo pedagoacutegico a ser implantado na sala de aula da comunidade
A fundamentaccedilatildeo teoacuterica como satildeo vaacuterias as teorias existentes seratildeo
expostas algumas como Territoacuterios Educativos na Educaccedilatildeo do Campordquo ldquopor uma
Educaccedilatildeo do Campordquo ldquoTeoria e Praacutetica Pedagoacutegica da educaccedilatildeo do Campordquo
12
rdquoPesquisa Social e accedilatildeo Pedagoacutegicardquo rdquoEtnografia e Praacutetica Escolarrdquo ldquoMetodologia
do tralho Cientiacuteficordquo e trabalhos monograacuteficos de ex-alunos do curso da LEdoC
A metodologia utilizada a pesquisa qualitativa com estudo de caso e estudo
bibliograacutefico
O estudo teve como instrumento de pesquisa a aplicaccedilatildeo de entrevista semi-
estruturada com pessoas da comunidade Renascer quando seraacute identificada sua
participaccedilatildeo e contribuiccedilatildeo para educaccedilatildeo na comunidade e sobre seu entendimento
sobre que tipo de escola do campo que a comunidade requerem relevantes para o
objetivo da pesquisa
O trabalho de campo foi para buscar informaccedilotildees atraveacutes da fala dos sujeitos
que foram ouvidos conforme citado anteriormente bem como de material que
poderaacute contribuir para o trabalho da pesquisa
A pesquisa bibliograacutefica abordou o aprofundamento teoacuterico sobre o tema
para anaacutelise da realidade da educaccedilatildeo do campo para melhor entender a situaccedilatildeo
em que o assentamento se encontra na luta pela escola
-11-
13
Segundo Capiacutetulo
Da escola rural agrave escola do campo histoacuterico das lutas e
concepccedilotildees da educaccedilatildeo
21 A Escola Rural no Brasil
Conforme Ferreira e Brandatildeo (2011) a trajetoacuteria da escola rural brasileira
deve ser contextualizada historicamente segundo o modelo socioeconocircmico
implantado no paiacutes desde o iniacutecio do processo colonizador ateacute o momento presente
Para os autores desde os primoacuterdios do processo de colonizaccedilatildeo o paiacutes foi
entendido apenas como uma colocircnia de exploraccedilatildeo devendo portanto remeter agrave
metroacutepole suas riquezas naturais do solo do subsolo dando segmento aos ciclos
econocircmicos denominados de colonial ciclo do pau brasil da cana de accediluacutecar do
ouro do cafeacute (FERREIRA amp BRANDAtildeO 2011 p3)
A base social do paiacutes eacute formada pelos nativos (iacutendios ndash expulsos
massacrados e exterminados) os africanos e os imigrantes pobres vindos da
Europa e do oriente Foi segundo os mesmos autores esta mesma base social que
formou a matildeo de obra imprescindiacutevel para a implantaccedilatildeo do projeto colonial e do
periacuteodo imperial
A aboliccedilatildeo da escravatura em 1888 e o consequente abandono da populaccedilatildeo
negra desprovida de qualquer indenizaccedilatildeo ou bens materiais particularmente terra
teve como consequecircncia o ecircxodo rural e o desprezo pela atividade agriacutecola
associada agrave escravatura
Em sua experiecircncia histoacuterica como repuacuteblica o tradicional modelo
socioeconocircmico adotado no Brasil perdurou
Ao longo da histoacuteria do Brasil o processo de exclusatildeo social e tambeacutem poliacutetico econocircmico e cultural sempre estiveram presentes e eram tidos como algo ldquonaturalrdquo Ainda nos dias atuais fazer uma referencia a este processo de exclusatildeo natildeo leva a um debate tranquilo a resistecircncia ainda eacute forte por parte da sociedade neoliberal principalmente por aqueles que ainda se beneficiam com
a exclusatildeo socialrdquo (FERREIRA 2011 pag 3)
Com relaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo o que se percebe eacute conforme Ferreira (2011)
14
que o modelo de educaccedilatildeo praticado no Brasil pelos diferentes governos entre o iniacutecio do Impeacuterio (1822) ateacute meados do seacuteculo XX era uma educaccedilatildeo para a elite econocircmica e intelectual em prejuiacutezo direto e indiscriminado dos pobres negros e iacutendios Inclusive a primeira Lei ainda no periacuteodo imperial quando se reporta agrave educaccedilatildeo natildeo se ateve agraves especificidades diretas da zona rural onde a populaccedilatildeo brasileira viviardquo (FERREIRA 2011 p4)
Clauacutedio Santos (2013) afirma que a educaccedilatildeo destinada aos habitantes do
campo no inicio do seacuteculo XX entendia que ldquoa formaccedilatildeo das jovens geraccedilotildees ou dos
adultos no espaccedilo rural era tida como algo menor ou desnecessaacuteriordquo (p 47) Para o
autor a maioria de residentes no campo ( 75) natildeo foi pensado um modelo
educacional que contemplasse as necessidades dos residentes no campo o que a
histoacuteria do Brasil nos ensina eacute que o regime republicano manteve os grandes
latifuacutendios e a oligarquia rural alijando a maior parcela da populaccedilatildeo rural de
qualquer benefiacutecio do sistema poliacutetico-econocircmico
A organizaccedilatildeo escolar rural no Brasil embora tiacutemida pode ser localizada a
partir do primeiro governo republicano o do marechal Deodoro da Fonseca (1889-
1891) estando a cargo do Ministeacuterio da Agricultura Comeacutercio e Induacutestria O ecircxodo
da populaccedilatildeo rural para os incipientes centros urbanos em busca dos empregos
promovidos pela igualmente incipiente industrializaccedilatildeo evidenciava as mazelas dos
sujeitos do campo 75 da populaccedilatildeo brasileira era analfabeta igual nuacutemero da
populaccedilatildeo do campo
Somente a partir de 1920 tem-se efetivamente o primeiro movimento em
defesa da educaccedilatildeo da populaccedilatildeo rural conhecido como Ruralismo Pedagoacutegico
(SANTOS 2013) que foi um movimento dos educadores poliacuteticos e intelectuais
elaborando formas de accedilatildeo pedagoacutegicas adequados agrave dominacircncia poliacutetico-
econocircmica da oligarquia rural
Para o autor o ruralismo pedagoacutegico
defendia uma escola integrada agraves condiccedilotildees locais para promover a fixaccedilatildeo do homem do campo estava ligado agrave modernizaccedilatildeo do campo brasileiro e contava com o apoio dos latifundiaacuterios temerosos de perder sua matildeo de obra bem como de uma elite urbana preocupada com os resultados negativos de uma migraccedilatildeo
camponesa para a cidade (SANTOS2013p48)
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Uma caracteriacutestica do ruralismo pedagoacutegico foi buscar adequar a educaccedilatildeo
rural para fixar o homem no campo para diminuir o processo de urbanizaccedilatildeo e
consequente ecircxodo rural que modificava a estrutura econocircmico e social do paiacutes
Relativo agrave educaccedilatildeo rural da primeira metade do seacuteculo XX nos ensina
Santos (2013 p48) que ldquoem 1933 inicia-se a campanha de alfabetizaccedilatildeo na zona
rural Em 1935 ocorre o I Congresso Nacional do Ensino Regional que contribui
para a fundaccedilatildeo da Sociedade Brasileira de Educaccedilatildeo Rural no ano de 1937rdquo
Nos anos de 1920 foi criado o movimento conhecido como Escola Nova por
intelectuais e pensadores brasileiros que valorizaram a pesquisa educacional e a
inserccedilatildeo da escola como uacutenico meio de se combater as desigualdades sociais num
ambiente de crescente industrializaccedilatildeo e urbanizaccedilatildeo (SANTOS 2013) Estes
educadores como Aniacutesio Teixeira Fernando de Azevedo Lourenccedilo Filho dentre
outros defenderam atraveacutes do Manifesto da Escola Nova (1932) a universalizaccedilatildeo
da escola puacuteblica laica e gratuita
A influecircncia deste movimento sobre a educaccedilatildeo brasileira fez-se sentir nas geraccedilotildees futuras de educadores e pesquisadores como Darcy Ribeiro e Florestan Fernandes A atuaccedilatildeo desses pioneiros se estendeu por deacutecadas muitas vezes criticada pelos defensores da escola particular e religiosa (FERRARI 2014p43)
Poreacutem as propostas do Manifesto natildeo tiveram impactos concretos e natildeo
foram incorporados pela escola Ferraro (2012) esclarece que
A educaccedilatildeo rural no Brasil soacute se tornou objeto de interesse do Estado no momento em que todas as atenccedilotildees e esperanccedilas se voltavam para o urbano e a ecircnfase passava a recair sobre o desenvolvimento industrial Quando os interesses do latifuacutendio dominavam tanto a economia como a poliacutetica a alfabetizaccedilatildeo das massas camponesas era vista como seacuteria ameaccedila agrave ordem vigente Quando o paiacutes jaacute avanccedila no processo de industrializaccedilatildeo e se torna predominantemente urbano eacute a proacutepria cidade que passa a reivindicar a alfabetizaccedilatildeo das populaccedilotildees do campo Passa entatildeo a contrariar os interesses da cidade continua (FERRARO 2012p964)
16
A industrializaccedilatildeo ocorreu nas cidades e atraiu grandes levas de
trabalhadores do campo seduzidos pelo ideal de transformaccedilatildeo de vida acesso agrave
escolarizaccedilatildeo empregos bem remunerados ideais que levam ao ecircxodo rural hoje
ou naquele momento histoacuterico A realidade do trabalhador do campo receacutem
chegado agrave cidade era do ponto de vista educacional precariacutessima pois em sua
maioria eram analfabetos ou com baixa escolarizaccedilatildeo Essa condiccedilatildeo impedia o
acesso ao emprego industrial urbano e agrave boa qualidade de vida que uma boa
remuneraccedilatildeo podia proporcionar
As cidades sofreram crescimento raacutepido desgovernado formando periferias
que abrigavam a maioria da populaccedilatildeo egressa do campo O subemprego e o
desemprego desestabilizavam as populaccedilotildees das cidades e geravam desequiliacutebrios
sociais e econocircmicos comprometendo a qualidade de vida de todos os moradores
Eacute o ciacuterculo vicioso da desigualdade da exclusatildeo e da violecircncia que a educaccedilatildeo
pode romper A educaccedilatildeo tem entatildeo o propoacutesito de formar trabalhadores para a
induacutestria urbana
Na Constituiccedilatildeo de 1934 para com a educaccedilatildeo rural destaca-se o Art 156 conforme podemos ver abaixo
A Uniatildeo e os Municiacutepios aplicaratildeo nunca menos de dez por cento e os Estados e o Distrito Federal nunca menos de vinte por cento da renda resultante dos impostos na manutenccedilatildeo e no desenvolvimento dos sistemas educativos Paraacutegrafo uacutenico ndash Para a realizaccedilatildeo do ensino nas zonas rurais a Uniatildeo reservaraacute no miacutenimo vinte por cento das cotas destinadas agrave educaccedilatildeo no respectivo orccedilamento anual
Na constituiccedilatildeo Federal de 1937 a educaccedilatildeo rural natildeo eacute citada A prioridade eacute
a educaccedilatildeo dos moradores urbanos Neste periacuteodo conforme Ferreira (2011) ldquoa
orientaccedilatildeo poliacutetico educacional para o mundo capitalista fica bem expliacutecita
sugerindo a preparaccedilatildeo de um maior contingente de matildeo de obra para as novas
atividades abertas pelo mercado ndash a industrializaccedilatildeordquo ( pg 32)
Ainda segundo o autor este afirma que em 1935 ocorreu o I Congresso
Nacional do Ensino Regional que assume como objetivo propagar a educaccedilatildeo rural
e elaborar os planos de educaccedilatildeo Esses planos recomendavam escolas rurais
ambulantes nas regiotildees de menor densidade geograacutefica
17
O periacuteodo conhecido como Estado Novo (1937-1945) tentava implantar uma
poliacutetica educacional de cunho nacionalista tornando a educaccedilatildeo um instrumento do
estado servindo aos seus interesses
Os adultos analfabetos particularmente no meio rural tiveram atenccedilatildeo da
Campanha Nacional de Educaccedilatildeo Rural (CNER) de 1952 a 1963 cujo objetivo era
contribuir para a inserccedilatildeo do homem do campo O CNER atuou atraveacutes de missotildees
internacionais dos Estados Unidos voltadas agrave educaccedilatildeo ao treinamento de
professores e agrave preparaccedilatildeo dos jovens do meio rural pelo ensino profissional
agriacutecola Agrave atividade do CNER podemos agregar a accedilatildeo da Comissatildeo Brasileiro-
Americana de Educaccedilatildeo das Populaccedilotildees Rurais (CBAR) que celebrou acordos entre
esses dois paiacuteses visando a educaccedilatildeo rural orientada para o emprego de teacutecnicas
agriacutecolas (OLIVEIRA 1999 p 133)
A educaccedilatildeo rural eacute chamada para se ajustar agraves poliacuteticas educacionais estabelecidas pelo projeto do estado A educaccedilatildeo rural em primeiro lugar apesar de numerosos programas desenvolvidos sempre representou uma fatia muito pequena e marginal nas preocupaccedilotildees do setor puacuteblico (OLIVEIRA p apud CALAZANS1981p162)
A educaccedilatildeo rural ocupou e ainda ocupa pequeno espaccedilo no universo
educacional brasileiro As escolas apresentam dificuldades para se manterem no
campo Conforme o Jornal Sem Terra nordm 46 jun2011 24000 escolas do campo
foram fechadas no Brasil As instalaccedilotildees o curriacuteculo a carecircncia de professores o
transporte escolar formam muitas vezes uma barreira quase imponiacutevel para uma
ampla gama de alunos particularmente das uacuteltimas seacuteries do ensino fundamental e
do ensino meacutedio
Os programas implantados nos uacuteltimos anos como o PRONERA e o EJA
apresentam soluccedilotildees e alcanccedilam grandes resultados mas podemos questionar os
resultados entre os estados O Rio Grande do Sul (que atendeu alunos do ensino
baacutesico ateacute o ensino superior) em comparaccedilatildeo com outros estados e o Distrito
Federal conseguiu excelentes resultados No DF falta alcanccedilar melhores
resultados Podemos questionar se os resultados satildeo adequados pois por exemplo
no assentamento Renascer o Pronera natildeo vai aleacutem do quinto ano Eacute necessaacuterio
uma poliacutetica educacional que leve em conta a realidade dos alunos do campo
18
invista recursos materiais e humanos modernizem as escolas e propiciem o acesso
dos alunos
Conforme nos explica Sousa 2004 em seu artigo lsquodiscursos intolerantes o
lugar da politica na educaccedilatildeo rural e a representaccedilatildeo do camponecircs analfabeto
No Brasil a trajetoacuteria da educaccedilatildeo rural inclui-se na dinacircmica de modernizaccedilatildeo do campo assumindo um papel decisivo no processo de expropriaccedilatildeo proletarizaccedilatildeo e controle dos trabalhadores rurais A modernizaccedilatildeo da produccedilatildeo no nordeste brasileiro por exemplo incentivou o processo de sindicalizaccedilatildeo em massa dos trabalhadores das zonas canavieiras estimulou reivindicaccedilotildees no campo do trabalho ligadas agrave aplicaccedilatildeo do Estatuto do Trabalhador Rural e contraditoriamente fez emergir as manifestaccedilotildees pela distribuiccedilatildeo de terras encampadas pelas Ligas Camponesas ( SOUSA2004 p4)
O projeto de modernizaccedilatildeo do campo ocorreu sem que houvesse a
emancipaccedilatildeo dos trabalhadores rurais Na verdade ocorreu a proletarizaccedilatildeo dos
trabalhadores rurais pela acumulaccedilatildeo de terras em matildeos de apenas poucos
proprietaacuterios (latifundiaacuterios) Esse acontecimento revela que apenas em processo
consciente e contiacutenuo de lutas organizados e unidos os trabalhadores rurais
poderatildeo conquistar terras e meios para sua produccedilatildeo
O estudo da organizaccedilatildeo dos trabalhadores rurais eacute importante porque eacute a
partir dela que outras grandes reivindicaccedilotildees satildeo conquistadas No caso da
presente pesquisa pode-se observar que foi a organizaccedilatildeo dos trabalhadores em
torno de suas causas a reforma agraacuteria que levou agrave luta pelas outras reivindicaccedilotildees
como a educaccedilatildeo no campo
O proacuteximo capiacutetulo deste trabalho monograacutefico aborda a questatildeo das
manifestaccedilotildees e resistecircncias dos camponeses pela educaccedilatildeo e pela reforma
agraacuteria
-16-
22 Trajetoacuteria de luta pela Educaccedilatildeo do Campo
A luta pela educaccedilatildeo do campo esteve sempre associada agrave luta pela reforma
agraacuteria e pela conquista de direitos para os trabalhadores rurais O Movimento das
19
Ligas Camponesas lutou pela emancipaccedilatildeo do trabalhador rural e da reforma agraacuteria
e em seu projeto educacional estavam baseados nos ideais de Paulo Freire e do
Movimento de Educaccedilatildeo de Base (MEB)
Para explicar a reaccedilatildeo das classes populares agraves imposiccedilotildees do governo
brasileiro e das classes dominantes Oliveira (1995 apud ARROYO)
A histoacuteria das lutas entre as classes sociais natildeo se limitam agrave luta pelo poder mas se constituem impulsionadoras da histoacuteria da humanidade que natildeo aguardam passivamente seu destino mas ao contraacuterio articulam-se em torno de suas lutas para garantir seus direitos sua dignidade e sua participaccedilatildeo democraacutetica na sociedade( OLIVEIRA apud ARROYO1995p 80)
Neste sentido as Ligas Camponesas lutaram praticamente em todo o
territoacuterio nacional contra a tentativa de expulsatildeo dos trabalhadores rurais das terras
Os conflitos armados particularmente no Nordeste exigiam participaccedilatildeo poliacutetica e
direitos essenciais como a educaccedilatildeo do campo
O meacutetodo de alfabetizaccedilatildeo criado por Paulo Freire foi amplamente utilizado
pelas Ligas Camponesas e em sua concepccedilatildeo ampla de escola serviu de subsidio
para a compreensatildeo do camponecircs acerca de seu papel social (TOLEDO Caio
Navarro 2004 p6)
Neste contexto surge a Pedagogia do Oprimido de Paulo Freire Segundo
SANTOS (2013 apud Paulo Freire 1987) afirma que a pedagogia do oprimido
configura-se como
Aquela que tem de ser forjada com ele (o oprimido) e natildeo para ele enquanto homens ou povos na luta incessante de recuperaccedilatildeo de sua humanidade Pedagogia que faccedila da opressatildeo e de suas causas objeto de reflexatildeo dos oprimidos de que resultaraacute o seu engajamento necessaacuterio na luta por sua libertaccedilatildeo em que esta pedagogia se faraacute e refaraacuterdquo (FREIRE 1987 p32)
A pedagogia do oprimido serve de referecircncia para o trabalhador rural que luta
pela emancipaccedilatildeo de sua condiccedilatildeo de proletaacuterio atraveacutes da reforma agraacuteria A
pedagogia do oprimido leva o homem ao encontro de si mesmo ao reconhecimento
da grandeza de seu trabalho ao potencial de suas accedilotildees cotidianas que fazem a
diferenccedila A capacidade de reflexatildeo e o entendimento de sua potencialidade pode
leva-lo agrave sua plena realizaccedilatildeo como indiviacuteduo e como ser social
20
A reaccedilatildeo do governo contra o movimento de educaccedilatildeo popular proposto por
Freire e assumido pelo Movimento das Ligas Camponesas e pelo Movimento de
Educaccedilatildeo de Base (MEB) gerou repressatildeo e resposta da ditadura civil-militar como
o Movimento Brasileiro de Alfabetizaccedilatildeo (MOBRAL)
A luta dos movimentos sociais e sindicais pela educaccedilatildeo do campo parte das
forccedilas internas dos movimentos e alcanccedila a setores sociais religiosos ideoloacutegicos
que passam a contribuir efetivamente para o alcance do direito agrave educaccedilatildeo aos
camponeses
A Comissatildeo Pastoral da Terra (CPT) presente ao lado dos trabalhadores (as)
rurais indiacutegenas ribeirinhos pescadores e quilombolas tambeacutem contribuiu e
contribui para a formaccedilatildeo criacutetica a defesa de formas sustentaacuteveis de utilizaccedilatildeo de
recursos naturais e produccedilatildeo e para a alfabetizaccedilatildeo segundo o meacutetodo de Paulo
Freire (CANUTO 2012 p 131)
Na atualidade estaacute em desenvolvimento um movimento que luta pela educaccedilatildeo do homem do campo organizado por vaacuterias entidades dentre elas o MST Trata-se de um processo que teve inicio em meados dos anos de 1990 impulsionados pela necessidade da educaccedilatildeo de jovens e adultos das aacutereas de assentamentos rurais Foi organizado um Programa Nacional para Educaccedilatildeo na Reforma Agraacuteria composto por atores tais como movimentos sociais universidades e governo federal aleacutem de outros parceiros (Alas da Igreja Sindicatos Organizaccedilatildeo Natildeo-Governamental ONG) existentes nas diferentes regiotildees do Brasil( SOUSA2004 p 32)
A trajetoacuteria de conquista das escolas do campo particularmente as escolas
do campo criadas pelo MST a partir da deacutecada de 1990 foi marcada pela conquista
e implantaccedilatildeo da Educaccedilatildeo Fundamental para crianccedilas e adolescentes dos
acampamentosassentamentos de acordo com o projeto politico-pedagoacutegico fruto do
amadurecimento do movimento
Focou-se a alfabetizaccedilatildeo de jovens e adultos e as lutas pela implantaccedilatildeo do
ensino meacutedio com cursos alternativos para a formaccedilatildeo de professores e teacutecnicos de
niacutevel meacutedio e tambeacutem de cursos superiores
A concepccedilatildeo de escolas de ensino fundamental plantadas em assentamentos
prevecirc a instalaccedilatildeo da escola na proacutepria comunidade evitando com isso o uso de
transporte escolar e a frequecircncia dos alunos Sem Terra em escolas fora do
assentamento
21
Esta atitude de resistecircncia foi fundamental para a conquista da escola nas
terras conquistadas e tambeacutem foi fundamental para universalizar o ensino enraizar
o aluno em sua comunidade e criar a consciecircncia do direito agrave educaccedilatildeo
ldquoincomodandordquo o Estado para garantir o cumprimento das poliacuteticas puacuteblicas
Kolling Vargas e Caldart (2012p502) nos ensinam ldquotoda vez que se
conquista uma escola de educaccedilatildeo baacutesica em um assentamento ou acampamento
ela representa menos adolescentes e jovens do campo fora da escola e mais gente
enraizada em seu proacuteprio lugarrdquo (pag 502)
Os movimentos sociais e sindicais pela educaccedilatildeo do campo indicam o grau
de maturidade desses em sua luta pela reforma agraacuteria Agrave essa luta soma-se o
projeto de desenvolvimento do paiacutes baseado na justiccedila social e o combate agraves
tradicionais formas utilizadas pelas elites urbanas ou rurais de alienaccedilatildeo pela
expropriaccedilatildeo do trabalho e pelo controle dos meios que levam agrave emancipaccedilatildeo
sociocultural e agrave verdadeira humanizaccedilatildeo papel destinado agrave educaccedilatildeo
Neste sentido movimentos sociais como o MST inserem a educaccedilatildeo
baseada em princiacutepios pedagoacutegicos que se distinguem da escola tradicional
Numa perspectiva histoacuterica os movimentos sociais do campo como por
exemplo o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) tiveram inicialmente
como bandeira de luta a luta pela terra pela Reforma Agraacuteria natildeo fazendo uma
relaccedilatildeo entre essa luta e a educaccedilatildeo
A formaccedilatildeo de escolas do campo pelo MST natildeo foi resultado da consciecircncia e
importacircncia da escola para a promoccedilatildeo da educaccedilatildeo em seu meio Foi na verdade
a necessidade de oferecer aos filhos dos primeiros lutadores a oportunidade de
uma perspectiva melhor de futuro atraveacutes do direito agrave educaccedilatildeo Foi tambeacutem a
necessidade de ldquotransformar instituiccedilotildees histoacutericas como a escola em lugares que
ajudem a formar os sujeitos destas transformaccedilotildeesrdquo (CALDART2012 p94)
Desse modo houve primeiro a ldquoocupaccedilatildeo da escolardquo pela mobilizaccedilatildeo e pela
accedilatildeo para garantir que em acampamentos ou assentamentos conquistados
houvesse uma escola que ldquofizesse a diferenccedila ou tivesse realmente sentido em sua
vida presente e futura (preocupaccedilatildeo com os filhos)rdquo (CALDART2012 p91)
Num segundo momento da luta observa-se intencionalidade da luta pela
escola mas com proposta pedagoacutegica especiacutefica ldquocombinando processos de
22
escolarizaccedilatildeo e de formaccedilatildeo da militacircncia e da base social Sem Terrardquo
(CALDART2012 p92)
As experiecircncias de pensar escolas como polos regionais entre assentamentos e com estudantes de outras comunidades de camponeses aos poucos vatildeo educando o olhar dos trabalhadores Sem Terra para uma realidade mais ampla Foi assim que o MST chegou agrave EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO (KOLLING Vargas e Caldart 2012 p 502)
A escola dentro dessa perspectiva de mudanccedila e envolvimento social eacute
parte da luta pela reforma agraacuteria daacute significado a ela pois proporciona a formaccedilatildeo
integral dos sujeitos que lutam pela terra
Essa escola possibilita a reflexatildeo trava o diaacutelogo com as propostas de
educaccedilatildeo popular de Paulo Freire e busca superar as dificuldades imensas que
assentados e acampados vivem no dia a dia
A escola tambeacutem revela a cultura o orgulho e criaccedilatildeo da identidade na luta
por terra Nesse sentido
A heranccedila que o MST deixaraacute para seus descendentes seraacute bem mais do que a terra que conseguir libertar do latifuacutendio seraacute um jeito de ser humano e de tomar posiccedilatildeo diante das questotildees de seu tempo seratildeo os valores que fortalecem e datildeo identidade aos lutadores do povo de todos os tempos de todos os lugares Eacute enquanto produto humano de uma obra educativa que os Sem Terra podem ser vistos como mais um elo que se forma em uma longa tradiccedilatildeo de lutadores sociais que fazem a histoacuteria da humanidade Enraizamento no passado e projeto de futuro (CALDART 2012 p 96)
A educaccedilatildeo proposta pelo movimento gera o sentimento de pertencimento e
desperta o sentimento de respeito agrave coletividade valoriza o trabalho a gestatildeo
democraacutetica e desburocratizada da escola
SANTOS (2013 p71) esclarece que pelo projeto educacional do MST a
educaccedilatildeo proposta estaacute pautada em ldquovalores socialistas e humanistas tais como o
coletivismo o trabalho socialmente uacutetil a organizaccedilatildeo e auto-organizaccedilatildeo dos
estudantes e professoresrdquo (p71)
-21-
23
221 Concepccedilatildeo Pedagoacutegica da Educaccedilatildeo do Campo
No acircmbito da educaccedilatildeo do homem do campo tornar o homem sujeito e natildeo
objeto do saber leva a entender que o conhecimento do camponecircs pode dialogar
com as praacuteticas baseadas no conhecimento cientiacutefico desde que seja perseguido o
ideal de trabalhadores e educadores do campo comprometidos com as lutas sociais
de formar o homem ldquodordquo campo e ldquono campordquo
Conforme Kolling Cerioli e Caldart (2002 p 264) ldquoo povo tem direito a uma
educaccedilatildeo pensada desde o seu lugar e com sua participaccedilatildeo vinculada agrave sua
cultura e agraves suas necessidades humanas e sociaisrdquo ndash(Caldart Educaccedilatildeo do Campo
2012 p 264
Tal compreensatildeo se ainda hoje causa oposiccedilatildeo ateacute mesmo no ambiente
acadecircmico imagine-se naquele momento histoacuterico de profunda repressatildeo poliacutetica e
ideoloacutegica aos movimentos sociais de camponeses por terra e educaccedilatildeo Como nos
ensina Molina e Saacute (DICIONAacuteRIO da Educaccedilatildeo do Campo p 324)
A concepccedilatildeo de escola do campo nasce e se desenvolve no bojo do movimento da EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO a partir das experiecircncias de formaccedilatildeo humana desenvolvidas no contexto de luta dos movimentos sociais camponeses por terra e educaccedilatildeo Trata-se portanto de uma concepccedilatildeo que emerge das contradiccedilotildees da luta social e das praacuteticas de educaccedilatildeo dos trabalhadores do e no campo (MOLINA e SAacute 2012 pag 324)
A concepccedilatildeo pedagoacutegica da educaccedilatildeo popular e da pedagogia da praacutetica
segundo ARROYO inclui
um caraacuteter de envolvimento totalizante dos movimentos sociais que possibilita ao individuo que participa destes coletivos o acesso a outro tipo de formaccedilatildeo que supera a condiccedilatildeo de aluno de alfabetizando de escolarizando Os integrantes destes organismos emersos na tensa situaccedilatildeo de conflitos aprendem por meio da vivencia das lutas sociais dos momentos de mobilizaccedilatildeo das situaccedilotildees limites de perda de emprego de criacuteticas da sociedade agraves suas accedilotildees de ameaccedilas agraves suas vidas Tudo isso traz ricas liccedilotildees ensinadas na ldquoescola do movimentordquo e que nenhuma teoria pode transmitir ou explicar de forma satisfatoacuteria
No entendimento de Arroyo (2013) os movimentos sociais vivem e
amadurecem sob o conhecimento e o entendimento das contradiccedilotildees sociais e esta
24
experiecircncia lhes permite a possibilidade de defender mudanccedilas radicais tanto no
campo como na cidade tanto na ideologia quanto no combate ao latifuacutendio e ao
capitalismo
Tamanho movimento social gera a reflexatildeo sobre as relaccedilotildees
socioeconocircmicas politicas culturais cuidado da natureza relaccedilotildees humanas
destaques de tudo o que interessa ao coletivo agrave sociedade
Eacute por meio do entendimento de que a realidade eacute criaccedilatildeo humana de como se estabelecem os processos de opressatildeo e ainda da noccedilatildeo de que podemos transformar essa realidade dado que a sociedade eacute mutaacutevel que se forma a praacutexis da luta accedilatildeo-conscientizaccedilatildeo-transformaccedilatildeo-libertaccedilatildeo Inserindo-se criticamente na histoacuteria os cidadatildeos tornam-se sujeitos construtores e reconstrutores da realidaderdquo
Molina e Saacute (2012) nos ensinam a partir do conceito de escola do campo sobre a
potencialidade da vivencia de praacuteticas coletivas para a valorizaccedilatildeo integral dos
sujeitos da coletividade do conhecimento cientiacutefico da gestatildeo coletiva da escola
dentre tantos avanccedilos e vitoacuterias dos movimentos sociais
O processo ensino-aprendizagem permite que o conceito de escola extrapole
o cotidiano de dificuldades e desafia agrave reflexatildeo que gera a emancipaccedilatildeo
Este eacute um dos maiores desafios e ao mesmo tempo uma das maiores possibilidades da escola do campo articular os conhecimentos que os educandos tecircm o direito de acessar a partir do trabalho com a realidade da religaccedilatildeo entre educaccedilatildeo cultura e os conhecimentos cientiacuteficos a serem apreendidos em cada ciclo de vida e de diferentes aacutereas do conhecimento(MOLINA MOURAtildeO 2012 p 329) -26-
222 Princiacutepios da Educaccedilatildeo do Campo
Alguns princiacutepios viabilizam o projeto de escola adotado pelos movimentos
sociais e possibilitam a democracia e a integraccedilatildeo de todos lideranccedila assentados e
acampados do movimento
25
O princiacutepio da responsabilidade coletiva sobre o planejamento a gestatildeo a
organizaccedilatildeo e a realizaccedilatildeo de tarefas em todas as esferas de atividades princiacutepios
muito valorizados pelos movimentos sociais do campo foram transferidos para o
projeto de educaccedilatildeo
O projeto eacute de responsabilidade coletiva e insere educadores tanto a niacutevel
local como regional e nacional os ldquoColetivos de educaccedilatildeordquo como satildeo conhecidos
Os coletivos de educaccedilatildeo com tarefas forccedila orgacircnica e discussotildees especiacuteficas que podem variar a cada periacuteodo fortalecem o princiacutepio organizativo de que a questatildeo da educaccedilatildeo bem como outras questotildees da vida social assumidas pelo MST deve ser pensada e implantada de forma coletiva Eacute uma loacutegica que implica tarefas a serem realizadas pelas pessoas mas mediante um planejamento e uma leitura de conjuntura feita por um coletivo (KOLLING1995 et al p503)
Para concretizar o projeto de educaccedilatildeo foi concebida a formaccedilatildeo de
professores pelos proacuteprios movimentos no acircmbito da proacutepria comunidade
(conhecidos como ldquoprofessores leigosrdquo) e tambeacutem pela rede oficial de ensino
A falta de titulaccedilatildeo de muitos educadores formados na comunidade natildeo
impede que os mesmos trabalhem juntos com os professores titulados e com
simpatizantes do movimento no projeto poliacutetico-pedagoacutegico constituindo um
princiacutepio democraacutetico importante para superar as dificuldades e urgecircncias para a
implantaccedilatildeo da educaccedilatildeo do campo
A democracia do processo de formaccedilatildeo de educadores tem reflexos amplos
a formaccedilatildeo de educadores pelos proacuteprios movimentos especiacutefica para atuaccedilatildeo nas
escolas do campo
O movimento eacute responsaacutevel pela universalizaccedilatildeo do ensino no acircmbito dos
territoacuterios conquistados ou por conquistar e permitiu a evoluccedilatildeo do ensino ateacute o niacutevel
de terceiro grau com a realizaccedilatildeo de cursos como a Licenciatura em Educaccedilatildeo do
Campo (LEdoC) do qual somos os privilegiados alunos aqui na Universidade de
Brasiacutelia
Outro reconhecimento e prova de eficiecircncia da formaccedilatildeo de professores eacute o
precircmio ldquoEducaccedilatildeo e Participaccedilatildeordquo recebido em 1995 do Fundo das Naccedilotildees Unidas
para a Infacircncia (Unicef)
26
O somatoacuterio das forccedilas internas e externas do movimento ldquoleigasrdquo ou
tituladas associadas ao princiacutepio fundamental da participaccedilatildeo dos alunos e
comunidades em todos os niacuteveis e localidades eacute ponto fundamental para o sucesso
da concepccedilatildeo do projeto pois permite o estudo a reflexatildeo conjunta sobre
estrateacutegias para o alcance do objetivo de educaccedilatildeo na reforma agraacuteria
-25-
223 Marcos Normativos da Educaccedilatildeo do Campo
Numerosos Marcos Normativos podem ser citados para explicitar qual perfil
de escola destinada ao camponecircs interessava ao governo e aos proprietaacuterios rurais
A Lei 4024 de 1961 em seu art 105 estabelece o
Apoio que poderaacute ser prestado pelo poder puacuteblico agraves iniciativas que mantenham na zona rural instituiccedilotildees educativas orientadas para adaptar o homem ao meio e estimular vocaccedilotildees e atividades profissionais (BRASIL 2012 p 4)
A Lei 5692 de 1971 ao tratar da educaccedilatildeo rural ldquonatildeo observa mais uma vez
a inclusatildeo da populaccedilatildeo na condiccedilatildeo de protagonista de um projeto social globalrdquo
sendo que o trabalho do campo realizado por alunos eacute ateacute mesmo incentivado
adequando-o ao calendaacuterio escolar (MARCOS NORMATIVOSBrasiacutelia2012 p 25)
A Lei 9394 de 1996 (Lei das Diretrizes se Bases da Educaccedilatildeo ndash LDB) em
acordo com Constituiccedilatildeo de 1988 e ldquoinspirada de alguma forma numa concepccedilatildeo
de mundo rural enquanto espaccedilo especifico diferenciado e ao mesmo tempo
integrado no conjunto da sociedaderdquo reconhece
A diversidade soacutecio-cultural e o direito agrave igualdade e agrave diferenccedila possibilitando a definiccedilatildeo de diretrizes operacionais para educaccedilatildeo rural sem no entanto recorrer a uma logica exclusiva e de ruptura com um projeto global de educaccedilatildeo para o paiacutes (idem p 26)
27
Os artigos 208 e 210 da Carta Magna-1988 e inspirada de numa concepccedilatildeo
de mundo rural enquanto espaccedilo especiacutefico diferenciado e ao mesmo tempo
integrado no conjunto da sociedade a Lei 939496- LDB-estabelece que
Art 28 Na oferta da educaccedilatildeo baacutesica para a populaccedilatildeo rural os sistemas de ensino promoveratildeo as adapta necessaacuteria agrave sua adequaccedilatildeo agraves peculiaridades da vida rural e de cada regiatildeo especialmente (MARCOS NORMATIVOS) Brasiacutelia 2012 p 25)
1- Conteuacutedos organizar curriculares e metodologias apropriadas agraves reais
necessidades e interesses dos alunos da zona rural
2-organizaccedilatildeo escolar proacutepria incluindo a adequaccedilatildeo do calendaacuterio escolar as
fases do ciclo agriacutecola e as condiccedilotildees climaacuteticas
3-adequaccedilatildeo agrave natureza do trabalho na zona rural (MARCOS NORMATIVOS)
Brasiacutelia 2012( p 26)
O movimento de educaccedilatildeo do campo luta haacute quinze (15) anos para fazer-se
cumprir esse Decreto da Lei de Diretrizes de base da educaccedilatildeo do campo-LDB
que apesar de ser constitucional ainda natildeo foi colocada totalmente em praacutetica
Agora com as lutas dos movimentos sociais eacute que estaacute comeccedilando a se concretizar
Artigo 26 Os curriacuteculos do ensino fundamental e meacutedio devem ter uma base nacional comum a ser complementada em cada sistema de ensino e estabelecimento escolar por uma parte diversificada exigida pelas caracteriacutesticas regionais e locais da sociedade
da cultura da economia e da clientela (MARCOS NORMATIVOS) Brasiacutelia 2012(p 26)
O Decreto nordm 7352 de 4 de novembro 2010 dispotildee sobre a poliacutetica de educaccedilatildeo do campo ao Programa Nacional de Educaccedilatildeo
na Reforma Agraacuteria-PRONERA decreta
Art1ordm A poliacutetica de educaccedilatildeo do campo destina-
se agrave ampliaccedilatildeo e qualificaccedilatildeo da oferta de educaccedilatildeo baacutesica e superior agraves populaccedilotildees do campo e seraacute desenvolvida pela Uniatildeo em regime de colaboraccedilatildeo com os Estados o
28
Distrito Federal e os Municiacutepios de acordo com as diretrizes e metas estabelecidas no Plano Nacional de Educaccedilatildeo e o disposto neste Decreto
Para os efeitos deste Decreto entende-se por
l-populaccedilatildeo do campo os agricultores familiares os extrativistas os pescadores
artesanais os ribeirinhos os assentados e acampados da reforma agraacuteria os
trabalhadores assalariados rurais os quilombolas os caiccedilaras os povos da floresta
os caboclos e outros que produzam suas condiccedilotildees materiais de existecircncia a partir
do trabalho no meio rural
ll-escola do campo aquela situada em aacuterea rural conforme definida pela Fundaccedilatildeo
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica- IBGE ou aquela situada em aacuterea
urbana desde que atenda predominantemente a populaccedilatildeo do campo (MARCOS
NORMATIVOS) 2012( p 81)
No Decreto 6755 29 de janeiro de 2009 em seu art 2ordm estabelecida pelo Conselho
Nacional de Educaccedilatildeo que se refere as Diretrizes Operacionais da Educaccedilatildeo do
Campo o parecer da alternacircncia
A formaccedilatildeo de professores poderaacute ser feita concomitantemente agrave atuaccedilatildeo profissional de acordo com metodologias adequadas inclusive a pedagogia da alternacircncia e sem prejuiacutezo de outras que atendam agraves especificidades da educaccedilatildeo do campo e por meio de atividades de ensino pesquisa e extensatildeo (MARCOS NORMATIVOS) 2012( p84)
-26-
29
-
231 A educaccedilatildeo do campo e poliacutetica puacuteblica - o PRONERA
O amadurecimento adquirido pela luta sobre o papel da educaccedilatildeo aliado agrave
iniciativa do aproveitamento do trabalho das professoras ldquoleigasrdquo e ainda da
consciecircncia cada vez mais presente do dever do Estado em prover os cidadatildeos da
reforma agraacuteria de poliacuteticas puacuteblicas resultou no campo da educaccedilatildeo na criaccedilatildeo do
Programa Nacional de Educaccedilatildeo na Reforma Agraacuteria (PRONERA)
O PRONERA envolve formalmente jovens e adultos num projeto conjunto
com universidades e institutos federais em prol da formaccedilatildeo de educadores para o
trabalho em escolas dos assentamentos da reforma agraacuteria e seu entorno
O Programa foi criado em 1998 no momento da ascensatildeo dos conflitos pela
reforma agraacuteria o que propiciou que os movimentos sociais trouxessem para a
opiniatildeo puacuteblica suas mazelas
No campo da educaccedilatildeo foi denunciada a falta de escola a precariedade do
ensino a falta de profissionais do ensino a ldquoloacutegica de negaccedilatildeo histoacuterica do direito
aos camponeses de acesso aos niacuteveis mais elevados de escolaridade ( SANTOS
2012 pag 630)
A partir de 2005 o ensino oferecido pelo PRONERA eacute estendido ao niacutevel
meacutedio e superior como a Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo e a Residecircncia
30
Agraacuteria O PRONERA evoluiu para outros patamares tais como ldquopossibilidades de
ressignificaccedilatildeo do conteuacutedo e da metodologia dos processos de educaccedilatildeo formal
por meio dos princiacutepios baacutesicos da participaccedilatildeo e da multiplicaccedilatildeordquo (SANTOS 2012
p 631)
A participaccedilatildeo das comunidades e suas organizaccedilotildees e a multiplicaccedilatildeo de
alfabetizados formados educadores e demais profissionais ligados agraves poliacuteticas
puacuteblicas para a Reforma Agraacuteria gerou ampla participaccedilatildeo dos agentes envolvidos
na dinacircmica do processo ensino-aprendizagem
Essa forma de gestatildeo gerou reaccedilatildeo contraacuteria ldquoagrave gestatildeo colegiada e coletiva
notadamente agrave participaccedilatildeo direta dos movimentos sociais e sindicais do campordquo
considerados ldquoentes estranhos agrave administraccedilatildeo puacuteblicardquo (CLARICE p 634)
O envolvimento dos movimentos sociais e sindicais do campo natildeo
retrocederam em sua luta pelo envolvimento de todos os interessados na educaccedilatildeo
como elemento emancipatoacuterio e continuam formulando princiacutepios concepccedilotildees e
diretrizes para a escola do campo
-31-
31
Terceiro Capiacutetulo
A histoacuteria do Assentamento Renascer
31 Uma breve histoacuteria de luta
A histoacuteria do Assentamento Renascer natildeo parece ser diferente da histoacuteria de
outros assentamentos Brasil afora Partiu da reivindicaccedilatildeo de Trabalhadores Rurais
sem Terra que desde 2004 ocuparam as margens da Rodovia DF 330 que liga
Sobradinho ao Paranoaacute-DF
Tatildeo perto do centro do poder a apenas poucos quilocircmetros do Palaacutecio da
Alvorada ou da Sede do INCRA o Acampamento Renascer esteve ateacute oito (08) de
maio de 2009 tatildeo distante da decisatildeo poliacutetica pela Reforma Agraacuteria
Somente nesta data trezentos sessenta e um( 361) de terras devolutas da
Uniatildeo foram repassadas ao INCRA para assentar as famiacutelias aliacute acampadas Ficou
criado o assentamento Renascer fora da beira da estrada
O Assentamento Renascer ldquorenasceurdquo da dificuldade de vida sob o barraco de
madeira sem aacutegua sem luz sem saneamento baacutesico que fez com que tantos
desistissem ao longo do caminho e ainda hoje se encontra nessa mesma
precariedade um descaso por parte do poder puacuteblico
A luta em vaacuterios momentos da vida dos acampados parecia estar vencida Os
vencedores pareciam ser a burocracia o desrespeito as noites mal dormidas a
inseguranccedila a falta de perspectivas para o acampado e suas famiacutelias
Duzentas (200) famiacutelias viveram aliacute por cinco anos (05) de 2004 ateacute 2009
Atualmente satildeo cento e vinte (120) famiacutelias que moram na aacuterea destinada e estatildeo
em processo de assentamento Muitas delas poreacutem vencidas pelo cansaccedilo e pelas
condiccedilotildees de vida abandonaram a luta mas todas as famiacutelias as que se foram e as
que ficaram sonharam com a terra onde poderiam produzir viam no pedaccedilo de chatildeo
os frutos do pomar da horta o galinheiro o pasto
O Assentamento Renascer eacute o Brasil Eacute um pedacinho da cruel realidade que
como vimos neste trabalho marcou a sociedade brasileira desde a escravidatildeo
desde o primeiro grito de rebeldia do quilombo desde o primeiro que lutou contra os
coroneacuteis por divisatildeo da terra como as Ligas Camponesas contra o latifuacutendio como
os movimentos sociais em sua luta pela reforma agraacuteria desde vaacuterias geraccedilotildees
32
Eacute como todo e qualquer movimento social que surgiu neste paiacutes desde a
deacutecada de 1980 pela reforma agraacuteria Viveu e ainda vive as dificuldades de ser
acampadoassentado mas honra sua luta porque natildeo desiste faacutecil
O Assentamento Renascer eacute tambeacutem fruto do ecircxodo rural da industrializaccedilatildeo
do campo da monocultura e da concentraccedilatildeo de terras Foram expulsos do campo
para a periferia das cidades sem capacitaccedilatildeo sem estudo
A falta de escolarizaccedilatildeo eacute sem duacutevida uma caracteriacutestica de quase todos os
que vieram do campo para a cidade A realidade do Brasil eacute que o campo natildeo eacute
escolarizado as escolas no campo satildeo poucas satildeo despreparadas satildeo
desvalorizadas
-33-
32 As escolas no campo na vivencia do assentado do Assentamento
Renascer
As escolas no campo marcaram profundamente a vida dos poucos que a
frequentaram Quase todos tiveram que trocar o laacutepis pela enxada a carteira pela
roccedila desde muito pequenos Alguns natildeo muito poucos conforme os depoimentos
aqui relatados teriam que abandonar a enxada e a participaccedilatildeo no sustento da
famiacutelia para frequentar a escola Quase sempre abandonaram a escola para ficar no
trabalho com a enxada
Todos teriam que andar vaacuterios quilocircmetros para ir agrave escola Outros nem assim
conseguiriam frequentar a escola no campo ela simplesmente natildeo existia no
campo Teriam entatildeo que ir para a cidade para ter direito a uma escola
Muitos tambeacutem vivenciaram os traumas que uma escola tradicional e
descomprometida com os valores e responsabilidades do projeto educacional
castigos humilhaccedilotildees afastaram a muitos da escola
Alguns apenas sonharam e sonham com a escola ldquoAh a escolardquo Tatildeo longe
inacessiacutevel para tantos no Brasil afora Ao ver de algumas pessoas do
Assentamento Renascer ldquoSe tivesse jeito eu teria ido agrave escola tinha feito pelo
menos o ensino fundamental completo para que eu pudesse ingressar no curso
33
teacutecnico-agriacutecola Mas agora quero que meus filhos e netos vatildeo para a escola
aprender ser algueacutem na vidardquo
-34-
321 A escola no entorno do Assentamento Renascer
A ideia de lutar pela educaccedilatildeo veio antes da ideia de lutar pela escola como
espaccedilo conquistado pelo acampamento Encontrar uma escola perto do
acampamento com transporte escolar com vagas e horaacuterios acessiacuteveis para os que
trabalham o dia todo era entendido como uma necessidade baacutesica e uma grande
vitoacuteria
Ficava-se feliz se apesar das dificuldades fosse possiacutevel matricular pelo
menos as crianccedilas As dificuldades eram e ainda satildeo muitas o transporte escolar
era e eacute precaacuterio a poeira natildeo permite que os alunos cheguem limpos agrave escola os
buracos e as poccedilas daacutegua impedem a chegada do ocircnibus escolar durante as
chuvas No caso do ocircnibus que levam os alunos ateacute a Escola Classe do Coacuterrego do
Arrozal em eacutepoca de muita chuva os ocircnibus ateacute o iniacutecio de 2014 natildeo conseguiam
transitar Isto resulta no fato de que as crianccedilas precisam caminhar debaixo de
chuva ateacute a escola
-35-
322 O caminho para a produccedilatildeo do saber no Assentamento Renascer a
brinquedoteca a integraccedilatildeo social a biblioteca comunitaacuteria as manifestaccedilotildees
culturais
Ao longo dos anos de vivecircncia e convivecircncia no Acampamento Renascer
mediante a dificuldade e necessidade de estudar que sentimos na nossa proacutepria
vida foi despontando a ideia de prover as crianccedilas de atividades luacutedicas e
educativas
34
Logo no iniacutecio do acampamento por volta de 2005 por iniciativa de algumas
pessoas conscientes da necessidade de atividades luacutedicas para as crianccedilas foi
criada uma brinquedoteca
Inicialmente os brinquedos eram de materiais reciclaacuteveis como garrafas pet
telefones sem fio carrinhos bonecas petecas vai e vem cavalinhos tudo era
confeccionado com a participaccedilatildeo das crianccedilas na modalidade de oficina
incentivando-os a fabricar os seus proacuteprios brinquedos Os brinquedos eram
confeccionados a partir de materiais encontrados nos lugares de descarte perto do
acampamento e doaccedilotildees de pessoas que passavam pela estrada
O embriatildeo de um processo educacional que nunca se interrompeu estava
lanccedilado a brinquedoteca proporcionou a criatividade e a participaccedilatildeo de crianccedilas e
adultos marcando as atividades pela conscientizaccedilatildeo do cuidado com a natureza e a
importacircncia da reciclagem A educaccedilatildeo ambiental jaacute era praticada desde o
nascimento do acampamento Renascer
Este primeiro passo foi muito importante porque traduziu para o dia a dia do
acampamento os princiacutepios da escola do campo atuante para mudar a realidade
criar cidadatildeos conscientes e dispostos a mudar a realidade a partir da sua proacutepria
accedilatildeo Este eacute o processo de transformaccedilatildeo social dentro do acampamento Renascer
haacute tanto tempo atraacutes
Aos brinquedos reciclados pela proacutepria comunidade juntaram-se outros
presenteados por instituiccedilotildees como igrejas ONGs a Pastoral da Crianccedila e pessoas
interessadas no bem estar daquelas crianccedilas
Percebe-se em iniciativas como essas a importacircncia da educaccedilatildeo nos
diversos niacuteveis para a sociedade A integraccedilatildeo de pessoas com as atividades
educativas no acampamento nos faz lembrar sobre um grande sonho das escolas
hoje integrar a comunidade de modo a que todos defendam a escola
O sucesso de iniciativas como a brinquedoteca que integravam crianccedilas
adolescentes adultos e sociedade foi importante para outras iniciativas igualmente
importantes
Foi-se criando um projeto educacional para o acampamento sem que se
tivesse consciecircncia disso por faltar informaccedilatildeo que soacute agora se possui graccedilas aos
estudos na Universidade o galpatildeo comunitaacuterio foi utilizado para abrigar a
35
brinquedoteca para desenvolver grupos de teatro de crianccedilas e adultos e para
abrigar a biblioteca
A biblioteca recebeu inuacutemeros exemplares de livros infantis livros didaacuteticos
para os adolescentes e adultos literatura universal revistas dos mais variados
assuntos criando assim um espaccedilo comunitaacuterio de informaccedilatildeo lazer e
entretenimento
Com a criaccedilatildeo da biblioteca ficou evidente a importacircncia da alfabetizaccedilatildeo de
crianccedilas jovens e adultos Muitos acampados relatavam a vontade e a necessidade
de aprender a ler e a escrever Muitos reivindicavam o direito agrave educaccedilatildeo e
frequecircncia agrave escola ainda que o acampamento mudasse de ldquoendereccedilordquo tantas
vezes
Outros poreacutem natildeo acreditavam que seria possiacutevel aprender ou aperfeiccediloar a
leitura e a escrita nas condiccedilotildees de vida de um acampado
Vaacuterias atividades culturais foram desenvolvidas (e ainda satildeo) no
Acampamento Renascer Todas chamavam a atenccedilatildeo da comunidade local de
outras comunidades vizinhas garantindo a simpatia de chacareiros que levavam os
filhos para participarem das atividades
Uma das atividades mais apreciadas foi o Teatro de Fantoches inspirados em
faacutebulas muitas com a autoria da Pastoral da Crianccedila e da Faber Castel A
participaccedilatildeo da comunidade na atividade era intensa e voluntaacuteria todos queriam
manipular os fantoches participar cantando danccedilando ou prestando muita atenccedilatildeo
O teatro de transformaccedilatildeo social produzido pelos adultos e adolescentes
utilizavam tambeacutem materiais reciclaacuteveis demonstrando cuidado com o meio
ambiente e amadurecimento dos conceitos poliacuteticos e pedagoacutegicos gerando reflexatildeo
sobre os temas sociais que nos atingem no cotidiano
A miacutestica adotada pelos movimentos sociais com o objetivo de reflexatildeo satildeo
apresentadas em datas comemorativas e contam com o apoio e participaccedilatildeo de
muitos
Algumas festas fazem parte da tradiccedilatildeo do Acampamento Renascer
traduzindo para a realidade atual as antigas festas a que todos foram acostumados
em seus lugares de origem
Pode-se dizer que a comunidade aprecia muito as festas Mas duas em
particular satildeo muito respeitadas a festa das crianccedilas que ocorre durante o dia (12
36
de outubro) eacute concorrida pois a comunidade se esmera para oferecer os brinquedos
que as crianccedilas amam pula-pula palhaccedilos pintura de rosto piscina de sabatildeo e
muita oferta de comida coisas que as crianccedilas adoram
No mesmo dia ocorre agrave noite a festa da Nossa Senhora Aparecida com
missa e muito forroacute
No mecircs de marccedilo eacute comemorada a Festa da Pamonha em comemoraccedilatildeo agrave
boa colheita do milho Esta festa jaacute se tornou tradicional conhecida em todo o
entorno do assentamento Egrave uma festa importante porque confraterniza a
comunidade Renascer com as comunidades vizinhas e ateacute mesmo as cidades de
Sobradinho Paranoaacute e Planaltina
Os movimentos sociais necessitam ser admirados pela sociedade e festas
como estas chamam a atenccedilatildeo para o problema da reforma agraacuteria demonstrando
que ela eacute viaacutevel e que os assentados tecircm simpatia competecircncia e seus saberes do
campo
A festa ldquojulinardquo eacute outra festa muito apreciada que apresenta as tradiccedilotildees rurais
e religiosas como quadrilhas e bandas de forroacute da comunidade e vizinhanccedila A
danccedila eacute um dos pontos fortes da festa assim como as comidas tradicionais muitas
delas com ingredientes colhidos no acampamento
Vaacuterios grupos de atividades teatrais apresentaram-se na localidade com
participaccedilatildeo de palhaccedilos lembrando um espetaacuteculo circense Alguns desses
grupos inclusive tiveram seus trabalhos premiados
Outras atividades com fundo educativo tiveram participaccedilatildeo animada de
crianccedilas e adultos A exibiccedilatildeo de desenhos animados recentemente apresentados
no cinema eram um grande atrativo para a comunidade que se via socialmente
incluiacuteda Esta inclusatildeo aumentava a autoestima das crianccedilas principalmente pois
assim elas poderiam interagir com os colegas da escola conversando a respeito dos
filmes
A Economia Solidaacuteria eacute uma das formas de inserccedilatildeo dos membros da
comunidade agrave sociedade economicamente ativa Atraveacutes da cooperaccedilatildeo solidaacuteria eacute
possiacutevel o comercio justo agriacutecolas ou artesanais sob conceitos antes
desconhecidos enquanto forma de produccedilatildeo e consumo centrado na valorizaccedilatildeo do
ser humano em contraposiccedilatildeo agraves formas capitalistas de produccedilatildeo e conscientizaccedilatildeo
37
Ao longo dos doze (12) anos de luta pela educaccedilatildeo foram promovidos
diversos cursos que capacitaram multiplicadores que fazem um trabalho importante
para a comunidade
A ideia de autogestatildeo democracia cooperaccedilatildeo auxilia natildeo soacute as formas de
produccedilatildeo e comercio de bens e artesanatos mas tambeacutem auxiliam na formaccedilatildeo
integral de pessoas em que tanto o produtor como o consumidor tem o proposito de
ganhos financeiros segundo um criteacuterio de valorizaccedilatildeo do trabalho
Proposito de formar uma nova consciecircncia a Economia Solidaacuteria promoveu
cursos de Soberania Alimentar em que a comunidade recebeu noccedilotildees praacuteticas
sobre alimentaccedilatildeo a partir da produccedilatildeo local de modo a promover uma nova cultura
alimentar que visa o combate agraves doenccedilas crocircnicas Outro proposito eacute tornar a
comunidade criacutetica em relaccedilatildeo agrave publicidade de produtos alimentiacutecio supeacuterfluo que
induz agraves crianccedilas e adultos alimentarem-se incorretamente
A comunidade participou coletivamente da implantaccedilatildeo de uma unidade da
tecnologia social denominada Produccedilatildeo Agroecoloacutegica Integrada e Sustentaacutevel
(PAIS) em 2012 com o objetivo de produzir alimentos saudaacuteveis e preservar o meio
ambiente trazendo mais alimentos e renda ao campo Esta tecnologia popularmente
conhecida como ldquohorta mandalardquo foi ministrada durante o curso de capacitaccedilatildeo
promovido pela Fundaccedilatildeo Banco do Brasil e teve o meacuterito de proporcionar o debate
e a participaccedilatildeo democraacutetica na definiccedilatildeo das culturas a serem cultivadas na futura
propriedade Vale informar que o assentamento Renascer identificou-se com esse
paradigma agroecoloacutegico
A educaccedilatildeo ambiental faz parte do dia a dia da comunidade hoje preserva-se
conservaccedilatildeo das formas de vida vegetais e animais na regiatildeo do assentamento e
entorno
A produccedilatildeo de mudas no viveiro eacute bastante concorrida contando com a
participaccedilatildeo de todos O viveiro produz cinco mil (5000) mudas de espeacutecies nativa
do cerrado para o reflorestamento das nascentes de aacutegua e nas aacutereas degradadas
da regiatildeo Contam com o apoio da FUNATURA FUNDACcedilAtildeO BANCO DO BRASIL
IFB Rio Satildeo Bartolomeu Vivo e UnB
-36-
38
39
Quarto Capiacutetulo
A escola que queremos expectativas e sonhos dos
acampados do Assentamento Renascer
Pode-se observar pelas falas dos entrevistados que a realidade de todos
converge para os problemas estruturais do Brasil faltam escolas no campo eacute baixa
a escolaridade em Brasiacutelia todos exercem atividades de subemprego
Todos tecircm grandes expectativas com relaccedilatildeo agrave vida futura no assentamento
objetivando melhores condiccedilotildees de vida na esperanccedila de serem beneficiaacuterios
enquanto cidadatildeos assentados das Poliacuteticas Puacuteblicas e financiamentos agriacutecolas
voltadas para a agricultura familiar como PRONAF PAA PNAE e PAPA-DF Vecircem
aiacute a possibilidade de emprego e renda situaccedilatildeo sonhada desde quando foram
pleitear a terra para reforma agraacuteria
Um olhar mais aprofundado sobre a anaacutelise de dados revela que natildeo importa o
fato de hoje residirem no DF pois como em qualquer lugar de origem os moradores
do assentamento Renascer vivenciam os mesmos problemas Percebe-se
claramente as dificuldades da inexistecircncia de escola no campo A distacircncia continua
impedindo o acesso os meios de transportes continuam precaacuterios os filhos
vivenciam a dificuldade de transferecircncia para a cidade na expectativa de
continuidade dos estudos as estradas rurais continuam esburacadas
Satildeo muitos os pontos em comum entre a situaccedilatildeo atual relatada e os problemas
vividos haacute deacutecadas em seus estados de origem o que deixa transparecer a absoluta
falta de interesse por parte do poder puacuteblico em garantir o direito constitucional agrave
educaccedilatildeo do povo do campo o que infelizmente continuaraacute deixando o triste
legado para o futuro do paiacutes
40
Repetimos a pergunta da inicial Cadecirc as escolas do campo Ateacute quando o paiacutes
vai viver essa situaccedilatildeo A anaacutelise de dados responde Natildeo eacute mais possiacutevel
continuar como estaacute
Todos os entrevistados pretendem alcanccedilar conhecimentos atraveacutes da escola do
campo implantada no Assentamento Renascer com objetivos de administrar a
propriedade participar ativamente do coletivo garantir renda fixa atraveacutes dos
programas de desenvolvimento da agricultura familiar
Os entrevistados unanimamente tecircm a preocupaccedilatildeo da manutenccedilatildeo dos laccedilos
familiares e das raiacutezes camponesas
A distacircncia entre a moradia e a escola fato relatado pela quase totalidade dos
entrevistados constitui um grande motivo de evasatildeo escolar de defasagem nas
seacuteries frequentadas de precariedade na aprendizagem em relaccedilatildeo aos demais
alunos A discriminaccedilatildeo alegada por muitos que frequentaram ou frequentam
escolas fora da faixa etaacuteria o vernaacuteculo proacuteprio dos sujeitos do campo as condiccedilotildees
precaacuterias da estrada que denunciam a condiccedilatildeo de assentado o sentimento de
inadequaccedilatildeo constituem fatores que determinam a evasatildeo escolar
Foram treze (13) entrevistados significando aproximadamente dez por cento
(10) dos moradores do Assentamento Renascer Desse total apenas dois (2)
entrevistados natildeo declararam dificuldade de distacircncia entre a moradia e a escola em
seus lugares de origem A maioria absoluta (11) pessoas declararam que a distacircncia
dificultava e impedia o acesso agrave escola Alguns relatos apresentam situaccedilotildees
precaacuterias para o homem do campo o assentado
Para o aluno do campo a distacircncia da escola tem o significado de inexistecircncia de
escola Isto porque as dificuldades de acesso satildeo enormes No caso em estudo
apenas um entrevistado declarou a inexistecircncia de escola em sua regiatildeo de
moradia Este poreacutem vivenciou todas as dificuldades de acesso que outros
assentados apresentaram em razatildeo da distacircncia moradiaescola
A falta de professores na escola rural eacute relatada por 11 dos 13 entrevistados A
distacircncia da escola para os professores dificulta segundo a vivecircncia dos
entrevistados o acesso agrave escola e a assiduidade o que muito desmotivava a
ambos
41
Os entrevistados conforme anaacutelise de dados desejam muito objetivamente a
implantaccedilatildeo imediata de escolas segundo os criteacuterios caracteriacutesticos de escola do
campo
- Trazer a realidade para dentro da escola do campo curriacuteculos voltados para o
cotidiano do aluno do campo onde as teacutecnicas agriacutecolas pecuaacuterias e agroecoloacutegicas
possam fazer parte do processo educativo da comunidade e que a escola tenha
uma gestatildeo coletiva democraacutetica com a participaccedilatildeo da comunidade
- Ter o trabalho como princiacutepio educativo A experiecircncia do aluno deve
harmonizar-se com os princiacutepios pistrakianos significar o trabalho de forma a que
ele apresente benefiacutecios para o proacuteprio indiviacuteduo para a comunidade na qual estaacute
inserido e para a sociedade e natildeo exclusivamente para servir ao capitalismo
-Superar a fragmentaccedilatildeo do conhecimento disciplinar A interdisciplinaridade
deve fazer parte dos objetivos educacionais de modo a promover a formaccedilatildeo
integral dos educandos
- Valorizar os saberes do homem do campo Os entrevistados desejam uma
escola onde possam exercitar sua vivecircncia campesina e a relaccedilatildeo dialoacutegica entre
professor-aluno seguindo a pedagogia de Paulo Freire o educando quer aprender
com o educador mas quer tambeacutem ter a oportunidade de transmitir seus saberes
- Promover espaccedilos de gestatildeo coletiva A proacutepria comunidade deve participar da
gestatildeo a elaboraccedilatildeo do PPP deve gerir o espaccedilo fiacutesico da escola para atividades
de interesse da comunidade ocupar espaccedilos para finalidades culturais esportivas
sociais tornando a escola um espaccedilo democraacutetico
- Garantir a presenccedila da comunidade e dos movimentos sociais que geram
processos que auxiliam a emancipaccedilatildeo social A escola deve tambeacutem ser espaccedilo
que auxilie a sustentabilidade e garanta a alimentaccedilatildeo saudaacutevel e recursos
fitoteraacutepicos em associaccedilatildeo com a comunidade
- Inclusatildeo tecnoloacutegica em todos os aspectos digital inovaccedilatildeo tecnoloacutegica
agropecuaacuteria recursos ambientais alternativos agua potaacutevel energia solar energia
eoacutelica fossa seacuteptica teacutecnicas de compostagem saneamento baacutesico cuidados com
os recursos hiacutedricos
A anaacutelise dos dados quando feita especificamente sobre a escola a ser
implantada pode aparentemente demonstrar uma pequena conexatildeo com as teorias
da escola do campo
42
A concepccedilatildeo da escola do campo natildeo pode ser imposta ela parte do princiacutepio
que os camponeses devem conquista-la Para essa conquista eacute necessaacuteria a
paixatildeo o desejo por algo ainda natildeo experimentado o amadurecimento poliacutetico-
social-pessoal a participaccedilatildeo coletiva na luta e na conquista
A trajetoacuteria de luta por educaccedilatildeo da comunidade Renascer apresenta estes
elementos agraves vezes difusos outras vezes mais claramente A escola bem que
poderia para alguns ser apenas uma escola rural Afinal aprender a ler e a
escrever ldquodireitordquo como alguns dizem ou seja deixar a condiccedilatildeo de analfabeto ou
analfabeto funcional para tornar-se letrado significaria avanccedilos em face das atuais
circunstacircncias Alguns entendem assim expressando-se principalmente nas
conversas informais
Apesar disso quando as respostas informais ou quando as respostas das
entrevistas satildeo analisadas mais profundamente identificamos que embora
difusamente todos desejam o programa educacional da escola do campo
Explicando melhor a participaccedilatildeo de todos da comunidade em todas as atividades
soacutecio-poliacuteticas-culturais (relatadas no terceiro capitulo) indicam que a comunidade
assimilou a postura soacutecio-politica-cultural que caracterizam a escola do campo
A vivecircncia do Assentamento Renascer no cotidiano e nos eventos coletivos
amadureceu o desejo pelo alimento intelectual cultural artiacutestico ambiental social
que a concepccedilatildeo de escola do campo introduz O programa educacional da Escola
do Campo ultrapassou as paredes fiacutesicas da escola e alcanccedilou o cotidiano dos
assentados
Os avanccedilos da conscientizaccedilatildeo e seu reflexo na vida do Assentamento Renascer
satildeo sentidos nos nuacutemeros de matriculados na LEdoC sete (7) alunos
aproximadamente dez (10) assentados prestaratildeo o proacuteximo vestibular trecircs (3)
assentados estatildeo matriculados no IFB dois(2) assentados estatildeo formados em
Teacutecnico Agropecuaacuterio tambeacutem pelo IFB um deles cursa o Tecnoacutelogo de
Agroecologia tambeacutem do IFB
Vale acrescentar que no iniacutecio de 2014 quando o IFB buscou no Assentamento
pessoas interessadas em matricular-se em seus cursos sob a condiccedilatildeo de
estudarem no ensino meacutedio o interesse foi grande e a impossibilidade pelo fato de
natildeo estarem habilitados no ensino fundamental provocou tanta discussatildeo que
estimulou essa pesquisa
43
O legado desses alunos futuros alunos e profissionais para o futuro do
Assentamento apresentaraacute resultados significativos para toda a comunidade O
futuro colheraacute bons frutos plantados agora
A escola que temos natildeo estaacute funcionando falta a renovaccedilatildeo do contrato o que
atrasa a alfabetizaccedilatildeo e conclusatildeo do 5ordm ano Falta a implantaccedilatildeo de poliacuteticas
puacuteblicas para atendimento de questotildees baacutesicas como por exemplo carteiras
quadro de giz iluminaccedilatildeo espaccedilo fiacutesico (dependecircncias para a escola) e mobiliaacuterio
-41-
44
Consideraccedilotildees Finais
A Educaccedilatildeo do campo eacute um movimento em que os trabalhadores do campo e
suas organizaccedilotildees lutam por transformaccedilotildees sociais particularmente a criaccedilatildeo de
escolas dono campo de qualidade a partir de uma perspectiva ampla de reforma
agraacuteria
A construccedilatildeo da educaccedilatildeo do campo eacute resultado do amadurecimento dos
movimentos sociais e das comunidades rurais em sua trajetoacuteria de luta pelo direito
fundamental agrave universalizaccedilatildeo escolar para as populaccedilotildees camponesas segundo
orientaccedilatildeo poliacutetico-pedagoacutegica adequada agrave realidade dos lutadores de
acampamentos e assentamentos em luta pela reforma agraacuteria e justiccedila social
Alguns princiacutepios caracterizam a luta pela escola do campo Dentre eles
podemos citar a criaccedilatildeo da consciecircncia do direito agrave educaccedilatildeo de qualidade plantada
na proacutepria comunidade o que provoca o enraizamento a valorizaccedilatildeo da vida no
campo a promoccedilatildeo da autoestima e a transformaccedilatildeo do ser alienado pela ideologia
e desigualdade social e sujeito de sua proacutepria histoacuteria
Outro princiacutepio eacute a adequaccedilatildeo de curriacuteculos agrave realidade camponesa de modo
a que o processo ensino-aprendizagem favoreccedila o amadurecimento de talentos
naturais o surgimento de oportunidades a niacutevel pessoal e social contribuindo para a
emancipaccedilatildeo poliacutetico-social do indiviacuteduo com reflexos na sociedade
A mudanccedila de paradigmas e o envolvimento social provocam a formaccedilatildeo integral
dos sujeitos que lutam de forma coletiva e solidaacuteria pela terra A escola do campo
que surge dessa mudanccedila eacute tambeacutem transformadora porque eacute fruto da luta
consciente que gera a reflexatildeo e o amadurecimento poliacutetico deixando um legado
positivo de cidadatildeos orgulhosos de sua condiccedilatildeo de lutador pela terra de sua
identidade de sua cultura de sua comunidade e coletividade
A escola do campo propicia aos alunos a reflexatildeo sobre o contexto social e a
problemaacutetica da comunidade em que estatildeo inseridos o respeito agrave individualidade a
ampliaccedilatildeo das potencialidades do aluno para organizar elaborar e atuar
coletivamente Deixam o legado futuro de homens responsaacuteveis mentes
independentes e atuantes que poderatildeo prestar serviccedilos significativos agrave sociedade
45
A comunidade assentada de o Assentamento Renascer pela Reforma
Agraacuteria em Sobradinho DF foi convidada a opinar sobre a escola que deseja a
partir da conquista da terra
O modelo proposto a partir de seu posicionamento possibilita a conclusatildeo
de que a escola do campo plantada na comunidade eacute preferiacutevel ao modelo
adotado atualmente de inserccedilatildeo dos alunos da comunidade agraves escolas urbanas
conter recursos materiais e humanos que propiciem bons resultados
pedagoacutegicos deve servir para fixar o trabalhador ao campo deve cumprir com o
propoacutesito constitucional de universalizaccedilatildeo do ensino para todas as faixas
etaacuterias deve estar identificada com os sonhos de prosperidade material e
realizaccedilatildeo pessoal dos assentados
-46-
46
Referecircncias Bibliograacuteficas
CANUTO Antocircnio In Comissatildeo Pastoral da Terra DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO 2012 pag 131) CLAUDIA MORAES DE SOUZA em seu artigo lsquoDiscursos intolerantes O lugar da poliacutetica na educaccedilatildeo rural e a representaccedilatildeo do camponecircs analfabeto (DIVERSITAS FFLCH USPBR)acesso em 03-08-2014 EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO ndash Marcos Normativos Brasilia 2012 MEC FERRARO Alceu Ravanello em seu artigo Alfabetizaccedilatildeo rural no Brasil na perspectiva das relaccedilotildees campo-cidade e de gecircnero (Educ Real ndash WWWSCIELOBRPDFEDREALV37N3PDF acesso 03-10-2014 FERREIRA (2011_ ldquoUm olhar histoacuterico uma realidade concretardquo (WWWUNIFILBR)acesso 20-10-2014
FERRARI Marco ldquoAniacutesio Teixeira o inventor da escola puacuteblica no Brasilrdquo Revista Nova Escola Fundaccedilatildeo Victor Civita Revistaescolaabrilcombr acesso em 14092014 FERREIRA Fabiano de Jesus BRANDAtildeO Elias Canuto ndash Revista Eletrocircnica de Educaccedilatildeo Ano V N 09 juldez 2011p3 ldquoEducaccedilatildeo do campo um olhar histoacuterico uma realidade concreta rdquo (WWWUNIFILBR acesso em 08 de agosto de 2014) GONCcedilALVES Luiz Alberto Oliveira e Pinto Regina Pahim EDUCACcedilAtildeO SEacuteRIE JUSTICcedilA E DESENVOLVIMENTO IFP-FCC FUNDACcedilAtildeO CARLOS CHAGAS 2007 SAtildeO PAULO (pag206)
KOLLING Edgar Jorge Vargas Caldart MST e Educaccedilatildeo in DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia Expressatildeo Popular 2012 (pag 5020
MOLINA Mocircnica SAacute Laiacutes Mouratildeo Escola do Campo in DICIONARIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia Expressatildeo Popular 2012 pg (329)
OLIVEIRA Maria Rita Duarte em sua dissertaccedilatildeo ldquoDos programas oficiais para a educaccedilatildeo rural aos projetos de educaccedilatildeo do campo dos movimentos sociaisrdquo WWWrevistalaborufcbrartigovolume1maria-ritapdf acesso em 08-09-2014
OLIVEIRA Maria Rita Duarte PEDAGOGIA EM MARCHA Apud ARROYO Satildeo Paulo1995( pg 162)
OLIVEIRA Maria Rita Duarte Revistalabor ufcbracesso em 19-10-2014
________ citando CALAZ Maria Rita Duarte Oliveira
47
SANTOS Clarice Aparecida PROGRAMA NACIONAL DE EDUCACcedilAtildeO NA REFORMA AGRAacuteRIA in DICIONARIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia2012(pg630)
________ Clarice Aparecida PROGRAMA NACIONAL DE EDUCACcedilAtildeO NA REFORMA AGRAacuteRIA BRASIacuteLIA 2012 pg 631 in DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO SANTOS Claudio Felix Dos ldquoO aprender a aprender na formaccedilatildeo de professores do campordquo Campinas 2013 Editora Autores Associados ) SOUZA Maria Antocircnia Movimentos Sociais no Brasil Contemporacircneo participaccedilatildeo e possibilidades no contexto das praacuteticas democraacuteticas ndash (wwwcesucptlab2004pdfMariaAntonia Souzapdfaceso em 24-07-2014 -48-
48
Apecircndices
1 Roteiro das Entrevistas
a) Dados dos entrevistados
Qual o seu nome
Masculino ( ) Feminino ( )
Quantos anos vocecirc tecircm
A quanto tempo mora no
assentamento
Onde vocecirc morou antes
de morar no
assentamento
Quantos anos vocecirc tinha
quando foi a escola pela
primeira vez
Estou ateacute qual seacuterieano
Quantos anos vocecirc tinha
quando parou de estudar
Qual motivo motivou vocecirc
a parar de estudar
Se tiver escola no
assentamento vocecirc voltaraacute
a estudar Porque
B) Outras informaccedilotildees dados pelos entrevistadosas (GRAVAR)
a) Em qual escola vocecirc estudou no acampamento ou em outro lugar Qual
b) Como era a escola que estudou Quais as coisas boas e coisas ruins que
tinha nesta escola
c) Conte como eacutefoi a educaccedilatildeo do assentamento o que jaacute existiu de escola
como funcionou e quais eram as boas e as coisas ruins desta escola
d) Jaacute participou de alguma accedilatildeo de mobilizaccedilatildeo para ter escola no
assentamento Se sim explique para que e como foi essa mobilizaccedilatildeo
e) Na sua opiniatildeo no assentamento deve ter escola Por quecirc
f) Como deveraacute ser a escola da comunidadeassentamento Como eacute a escola
que queremos ter
49
b) Entrevistas semi-estruturadas
Entrevistado 01
Moro no assentamento Renascer haacute 11 anos Nasci Carnauacuteba no Rio Grande do
Norte fui criado na roccedila e desde pequeno trabalhava na lavoura para ajudar meu
pai Fui para escola com 9 anos de idade estudei ateacute a 5ordm seacuterie parei de estudar
com 17 anos natildeo continuei os estudos porque era muito longe de onde eu morva
que era na cidade mais proacutexima eu tinha que andar a peacute 8 km ficava muito
cansado Casei e vim morar em Brasiacutelia para trabalhar em uma chaacutecara como
caseiro Morava na chaacutecara Buritis em sobradinho- Df tambeacutem natildeo dei para
continuar os estudos porque ficava longe e tinha que ser a noite e natildeo tinha como ir
Se vier uma escola pra caacute eu ainda vou estudar para ter mais conhecimento para
plantar minha roccedila ir no banco pra ver se assino um empreacutestimo para melhorar
minha produccedilatildeo e saber fazer conta pra administrar minha parcela de terra
Qual o seu nome
Masculino ( X ) Feminino ( )
Quantos anos vocecirc
tecircm
57 anos
A quanto tempo
mora no assentamento
11 anos
Onde vocecirc morou
antes de morar no
assentamento
Carnauacuteba ndash RN
Chaacutecara Buritis nordm 10 Sobradinho DF
Quantos anos vocecirc
tinha quando foi a escola
pela primeira vez
8 anos
Estou ateacute qual
seacuterieano
5ordf seacuterie
Quantos anos vocecirc
tinha quando parou de
estudar
24 anos
Qual motivo
motivou vocecirc a parar de
estudar
Trabalhar para sustento da famiacutelia a
distacircncia entre a casa e a escola
Se tiver escola no
assentamento vocecirc voltaraacute
a estudar Porque
Sim ldquoSe tivesse escola do ensino
fundamental voltaria a estudar para tecirc
mais conhecimento para plantar minha roccedila
50
saber pesar saber contar vendecirc os produto e
comecirc
Entrevistado 02
Moro no assentamento renascer haacute 7 anos tenho 38 vim do interior do Cearaacute
Entrei na escola com 7 anos de idade estudei soacute a 5ordm seacuterie incompleta natildeo
continuei a estudar porque natildeo tinha escola a onde eu morava que era na roccedila e eu
tinha que ficar na casa dozotro (SIC) na cidade e eu natildeo gostava disso natildeo ai parei
com 16 anos de idade Mudamo (SIC) pra Brasiacutelia pra uma chaacutecara perto de Santa
Maria-DF e natildeo dei pra estudar porque casei e tinha que trabalhar muito para
susrentar a famiacutelia A gora moro no assentamento Renascer e sei que um dia vai ter
uma escola aqui e eu vou voltar a estudar porque meu sonho eacute ser veterinaacuterio e vou
der se deus quiser
Entrevistado 03
Tenho 58 anos moro no assentamento Renascer haacute 6 anos vim de Ceres-GO
comecei a estudar quando eu tinha 10 ano de idade estudei ateacute a 4ordf seria primaacuteria
(SIC) parei de estudar quando tinha 16 anos porque eu morava na roccedila e escola
ateacute que natildeo ficava muito longe natildeo era soacute 2 km dava pra ir a peacute a professora eacute que
faltava muito e a gente natildeo tinha como saber se ela tava ou natildeoAiacute quando eu tinha
18 anos casei e vim morar em Brasiacutelia e arranjei(SIC) emprego de caseira em uma
chaacutecara aiacute natildeo pra estudar a noite porque era muito longe pra laacute entatildeo eu natildeo
pensei mais nessas coisas Quando tiver escola no assentamento quero estudar
quiecirc pra mim (SIC) fazer curso de teacutecnico agriacutecolarsquorsquo
Entrevistado 04
Tenho 24 anos moro no assentamento Renascer tem 6 ano vim da Bahia morava
no Condomiacutenio RK entrei na escola com 7 anos de idade e estudei soacute ateacute a 6ordf seacuterie
parei com 18 anos de idade
Porque mudei pra caacute pro assentamento (SIC) e natildeo tem escola e natildeo tem como ir
pra Sobradinho a noite porque eacute muito longe tem que andar 5 km eacute pirigogo (SIC)
tem muita gente mal por aiacute tem ateacute estrupador natildeo posso me arriscar
ldquoSe tivesse escola aqui eu ia terminar meus estudos podia ser no galpatildeo mesmo
pra mim tava bom mas para os meus filhos eu queria uma escola boa com internet
e tudo Eu natildeo gosto que meus filhos estuda(SIC) na cidade soacute aceito porque eacute o
jeito gente de assentamento eacute muito zombado (SIC) porque as vezes chega suja
na escola e os outros acha que eles satildeo porcos que toma banhordquo
Entrevistado 05
51
Tenho 21 anos de idade moro no Renascer haacute trecircs anos vim de satildeo Gabriel-GO
comecei a estudar aos 7 anos parei com 18 anos porque minha matildee mudou
pro(SIC) matildee mudou pro (SIC) assentamento haacute 6 anos e eu natildeo aguento morar
longe dela Quando cheguei aqui natildeo teve como continuar os estudos porque
trabalho durante o dia como manicure em Sobradinho e o uacuteltimo ocircnibus que passa
perto do assentamento eacute as 5 horas da tarde entatildeo natildeo daacute para estudar a noite
Sim porque quero fazer um curso de cabelereiro quando tiver aacutegua e luz aqui eu
quero montar um salatildeo de beleza e para ser uma empresaacuteria precisa ter estudos pra
administrar o negoacutecio
Entrevistado 06
44 anos
6 anos
Formosa-GO
8 anos
5ordf seacuterie
24 anos
Porque a escola mais perto(SIC) era 10km de distacircncia e eu trabalhava na roccedila e
ficava muito cansado aiacute parei natildeo deu mais
Sim quando tiver escola aqui eu vou voltar a estudar Eu tinha um sonho de ser
agroacutenomo mas esse sonho eacute impussive(SIC) entatildeo queria concluir o ensino
fundamental para fazer um curso de teacutecnico agriacutecola no IFB mas tambeacutem eacute longe
se tivesse como estudar aqui no assentamento eu ia(SIC) ficar muito feliz
Entrevistado 07
57 anos
6 anos
Parnaiacuteba-PI- Santa Maria- DF
7 anos
4ordf seacuterie
21 anos
Parei porque era muito difiacutecil ir para escola que ficava muito longe eu tinha que sair
de casa as 4hs da madrugada para chegar na escola as 730 ia montado num
cavalo e muitas vezes natildeo tinha professora pra dar aula Parei porque natildeo aguentei
o rojatildeo tinha que minha matildee na lida a tarde e eu ficava muito cansado Vim pra
52
Brasiacutelia e casei fui trabalhar de chacareiro numa chaacutecara que tambeacutem era longe de
escola depois vim morar aqui no assentamento que natildeo tem escola
Se tivesse escola aqui eu ia voltar estudar soacute pra aprender a cuidar meior (SIC) da
terra e dos meus bichos e que fosse como uma escola agriacutecola
Entrevistado 08
Tenho 29 anos moro no assentamento Renascer haacute 2 anos sou educadora do
Pronera haacute 1 ano e 2 meses O Pronera eacute como um antidepressivo na vida de muita
gente o Pronera melhorou a minha vida e a vida dos meus alunos o desejo de
todos eacute que o Pronera continue crescendo em direccedilatildeo de uma educaccedilatildeo continuada
levando tambeacutem o ensino fundamental para os acampamentos e assentamentos da
Reforma Agraacuteria
-50-
Anexos
53
Acampamento agrave beira da estrada ndash 2004
Construccedilatildeo da Sede do Movimento na atual aacuterea
54
Reuniatildeo semanal
Teatro de fantoches ndash brinquedoteca
55
Accedilatildeo da Pastoral da Crianccedila na brinquedoteca
Oficina de brinquedos reciclaacuteveis
56
Brinquedo confeccionado com materiais reciclaacuteveis na Brinquedoteca
57
58
59
60
Apresentaccedilatildeo teatral
61
Capacitaccedilatildeo em Economia Solidaacuteria
Formaccedilatildeo de multiplicadores da Economia Solidaacuteria
62
Capacitaccedilatildeo de Educadores Ambientais
63
Luta pela Reforma Agraacuteria e Soberania Alimentar
2
RESUMO
Este estudo tem como propoacutesito analisar a trajetoacuteria de luta dos trabalhadores
rurais sem terra pela escola do campo A educaccedilatildeo do campo eacute entendida como um
movimento que busca a concretude de uma educaccedilatildeo ampla diversificada e
enraizada em conceitos de coletividade da participaccedilatildeo da famiacutelia e da comunidade
e focada na transformaccedilatildeo do indiviacuteduo e da sociedade O estudo da escola do
campo constitui tema desafiador na medida em que provoca demandas sociais e
poliacuteticas puacuteblicas para o cumprimento das leis que garantem a criaccedilatildeo e o bom
funcionamento dessas escolas Essa pesquisa analisa tambeacutem a importacircncia da
escola do campo para fixar a comunidade rural agraves suas raiacutezes culturais familiares e
sociais em particular a necessidade de atendimento das reivindicaccedilotildees por escola
do Assentamento Renascer
3
ABSTRAT
This study aims to analyze the trajectory of struggle of the landless rural workers by
the school field The rural education is understood as a movement that seeks the
concreteness of a broad education diverse and rooted in community concepts
family participation and community and focused on the transformation of the
individual and society The field school study is challenging topic in that causes social
demands and public policies for compliance with the laws that guarantee the creation
and proper functioning of these schools This research also analyzes the importance
of the field school to secure the rural community to their cultural social and family
roots in particular the need to meet the demands for school Settlement Reborn
4
SUMAacuteRIO
Apresentaccedilatildeo 07
Capitulo l As opccedilotildees de pesquisa e os passos metodoloacutegicos
11Pesquisa Qualitativa com Estudos de Caso11
Capiacutetulo ll Da Escola Rural a Escola do Campo histoacuterico das lutas e
concepccedilatildeo da Educaccedilatildeo
21 A escola rural no Brasil16
22Trajetoacuteria de luta pela Educaccedilatildeo21
23Concepccedilatildeo Pedagoacutegica da Educaccedilatildeo do Campo26
24 Princiacutepios da Educaccedilatildeo do Campo28
25 Marcos Normativos da Educaccedilatildeo do Campo29
Capiacutetulo lll A histoacuteria do Assentamento Renascer
31 Trajetoacuteria de criaccedilatildeo do assentamento aos dias atuais34
32A histoacuteria da educaccedilatildeo no assentamento Renasce Renascer34
33 A escola do Campo na vivecircncia do Assentamento Renascer35
34O caminho para a produccedilatildeo do saber no Assentamento Renascer a
brinquedoteca a integraccedilatildeo social a biblioteca comunitaacuteria e as manifestaccedilotildees
culturais 36
Capitulo lV A escola que queremos41
Consideraccedilotildees finais 46
Referecircncias Bibliograacuteficas48
Apecircndice50
Anexo55
5
Lista de Siglas
DF - Distrito Federal
EMPRAPA - Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuaacuteria
FUNATURA - Fundaccedilatildeo Proacute-Natureza
GDF- Governo do Distrito Federal
IFB - Instituto Federal de Brasiacutelia
INCRA - Instituto Nacional de Colonizaccedilatildeo e Reforma Agraacuteria
LEdoC - Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo
MEB - Movimento de Educaccedilatildeo de Base
MAT R - Movimento de Apoio ao Trabalhador Rural
MST - Movimento dos Sem Terra
ONGs - Organizaccedilatildeo natildeo Governamental
PRONERA - Programa Nacional de Educaccedilatildeo na Reforma Agraacuteria
PAIS - Produccedilatildeo Agroecoloacutegica Integrada e Sustentaacutevel
PRONAF - Programa Nacional de Fortalecimento na Agricultura Familiar
PAA - Programa de Aquisiccedilatildeo de Alimento
PNAE - Programa Nacional de Alimentaccedilatildeo Escolar
6
PAPA-DF -Programa de Aquisiccedilatildeo da Produccedilatildeo da Agricultura
PPP - Projeto Poliacutetico Pedagoacutegico
7
APRESENTACcedilAcircO
O presente trabalho de pesquisa eacute resultado da observaccedilatildeo presencial do
assentamento de Reforma Agraacuteria denominado Renascer ao longo de 11 (onze)
anos de convivecircncia Durante 5 (cinco) anos se estabeleceu um acampamento agraves
margens da rodovia DF 330 que liga Sobradinho ao Paranoaacute DF Apoacutes mobilizaccedilatildeo
dos acampados e negociaccedilatildeo com o poder puacuteblico (GDF Coleacutegio Agriacutecola de
Brasiacutelia atualmente Instituto Federal de Brasiacutelia EMBRAPA e intermediaccedilatildeo
puacuteblica) foi liberada uma aacuterea para o acampamento mudar de local e se estabelecer
onde atualmente estaacute situado (entre o Coacuterrego do Arrozal e o Coacuterrego do Meio)
Esta mudanccedila de local foi autorizada pelo governo e se concretizou em maio de
2009 Neste tempo a situaccedilatildeo do acampamento mudou para preacute-assentamento e
atualmente jaacute se encontra em situaccedilatildeo de Assentamento Rural
Durante todos esses anos foram realizados algumas atividades pedagoacutegicas
na comunidade tais como a implantaccedilatildeo de uma brinquedoteca com oficinas de
confecccedilatildeo de brinquedos para as crianccedilas acampadas utilizando materiais
reciclados uma biblioteca com livros e revistas usados obtidos atraveacutes de doaccedilatildeo de
vaacuterias pessoas simpatizantes da causa da Reforma Agraacuteria Aulas de alfabetizaccedilatildeo
de adultos no horaacuterio noturno pelo Programa Nacional de Educaccedilatildeo na Reforma
Agraacuteria (PRONERA) com recursos muito escassos mas eacute a educaccedilatildeo que nos
acompanha ateacute nos dias de hoje Atividades de arte-educaccedilatildeo para incentivos e
melhorias na interaccedilatildeo de crianccedilas e jovens exercitando a praacutetica de teatro projeccedilatildeo
de filmes recreativos e de novos conhecimentos para os moradores produccedilatildeo de
um documentaacuterio sobre a comunidade Renascer e a importacircncia da Reforma
Agraacuteria no Brasil denominado ldquoConquistar a terra Produzir o patildeordquo Com o apoio do
projeto audiovisual ndash UnB Planaltina
Para uma melhor compreensatildeo da pesquisa monograacutefica dividiu-se o texto
em capiacutetulos O Primeiro capiacutetulo aponta as opccedilotildees de pesquisa e os passos
metodoloacutegicos para sua realizaccedilatildeo No segundo capiacutetulo estudamos a transiccedilatildeo
entre a escola rural e a escola do campo O terceiro capiacutetulo relata a histoacuteria do
Assentamento Renascer e o quarto capiacutetulo relatamos o resultado da pesquisa de
campo evidenciando a Escola que temos e a Escola que queremos
8
Primeiro Capiacutetulo
As opccedilotildees da pesquisa e os passos metodoloacutegicos
O intuito deste trabalho eacute recuperar a trajetoacuteria de luta dos moradores do
assentamento Renascer pela educaccedilatildeo visando assegurar o direito agrave escola
identificando avanccedilos e limites encontrados nesta trajetoacuteria
Gostaria de manifestar minha satisfaccedilatildeo e agradecer a oportunidade de estar
estudando numa universidade puacuteblica em um curso com muita interfere com a minha
vivecircncia pessoal e de um alcance social muito importante para a transformaccedilatildeo que
nosso paiacutes necessita A desigualdade social ainda eacute muito grande no campo e na
cidade sendo bastante visiacutevel esta realidade
Sou nascida numa comunidade remota e isolada no sul do Maranhatildeo onde
nos meus primeiros anos de vida convivi em uma comunidade indiacutegena com minha
avoacute paterna comunidade de economia essencialmente extrativista principalmente
da quebra do coco babaccedilu o cultivo da mandioca para fazer farinha e da caccedila e
pesca Fiquei sem frequentar agrave escola ateacute os treze(13) anos de idade por natildeo existir
escola na comunidade Quando vim morar em Brasiacutelia e ingressei em uma escola
pela primeira vez sofri muita descriminaccedilatildeo por parte dos outros alunos devido
minha idade e a defasagem escolar Apesar de viver na cidade grande haacute bastante
tempo continuam vivas na minha alma o desejo de viver no campo Estou na luta
por um pedaccedilo de terra atraveacutes da Reforma Agraacuteria no assentamento Renascer
com o apoio do MATR- Movimento de Apoio ao Trabalhador Rural haacute onze(11)
anos atualmente estamos em fase de sermos assentados
Alguns anos atraacutes em 1992 cheguei a fazer um curso de formaccedilatildeo de
professores (Magisteacuterio) e me capacitei para trabalhar da 1ordf a 4ordf seacuterie do Ensino
Fundamental na eacutepoca Realizei alguns trabalhos nessa aacuterea mas natildeo exerci
profissionalmente esta atividade de forma regular
O tema Escola do Campo vem ao encontro a um anseio pessoal de poder
trabalhar com educaccedilatildeo voltada para a realidade vivida pelo cotidiano da populaccedilatildeo
realmente do campo A minha motivaccedilatildeo ao escolher este tema de pesquisa eacute de
9
poder de alguma forma contribuir para a troca de experiecircncia e conhecimentos entre
educandos e educadores melhorando minha capacitaccedilatildeo profissional e absorver
conhecimentos e orientaccedilotildees de professores (as) e companheiros (as) de estudo
Conforme o educador Paulo Freire dizia ningueacutem tem o conhecimento de tudo
e sempre eacute capaz de conhecer mais coisas que ainda natildeo conhece se assim o
desejar
O assentamento Renascer hoje conta com um total de 120 famiacutelias satildeo
11 (onze) anos de luta e perseveranccedila tem se manifestado se mobilizado
reivindicando oportunidades de obterem escola do campo para adquirirem
conhecimentos atraveacutes do estudo que lhes permita melhorar sua capacitaccedilatildeo para o
trabalho e consequentemente ampliar seus horizontes soacutecio- econocircmico e
culturalmente ou seja progredir atraveacutes dos seus estudos e trabalho que satildeo
direitos humanos universais
Sem a inclusatildeo do ensino fundamental para trabalhadores rurais a Educaccedilatildeo
de Jovens e Adultos (EJA) para o ensino do 6ordm ao 9ordm ano o que natildeo eacute nem um pouco
acessiacutevel agrave comunidade devido a inuacutemeras dificuldades como horaacuterio disponiacutevel
falta de transporte dentre outros fatores Fica impossiacutevel o acesso dessa
comunidade aos estudos oferecidos pelo Instituto Federal de Brasiacutelia (IFB) que fica
proacuteximo a esse assentamento O IFB oferece diversos cursos que interessam e
atendem agraves necessidades dos trabalhadores do campo Desta maneira a situaccedilatildeo
atual dos moradores do Assentamento Rural Renascer demostra discriminaccedilatildeo e
exclusatildeo social por parte do poder puacuteblico
Alguns cursos e projetos teacutecnico-pedagoacutegicos realizados por parceiros do
Movimento de Apoio ao Trabalhador Rural (MATR) Como a Fundaccedilatildeo Banco do
Brasil Funatura IFB Economia Solidaacuteria Novas Fronteiras da Cooperaccedilatildeo Rio Satildeo
Bartolomeu Vivo e UnB Essas parcerias acrescentaram melhorias agrave qualidade de
vida ao assentamento
A educaccedilatildeo que temos atraveacutes do Programa de Educaccedilatildeo na Reforma
Agraacuteria (PRONERA) revela que a importacircncia do programa na realidade do
assentamento durante determinado periacuteodo satisfez algumas necessidades
educacionais tirando muitas pessoas do analfabetismo
O que ocorre atualmente eacute que o Pronera natildeo estaacute funcionando no
momento por falta da renovaccedilatildeo do contrato estre o INCRA a UnB e o Movimento
10
Social MATR que vem atrasando o processo de alfabetizaccedilatildeo e conclusatildeo do
5ordm ano
Um olhar criacutetico sobre a escola que temos revela a necessidade de poliacuteticas
puacuteblicas como a implantaccedilatildeo de espaccedilos fiacutesicos contendo mobiliaacuterio escolar baacutesico
como carteiras quadro de giz e iluminaccedilatildeo adequada A observaccedilatildeo da atuaccedilatildeo do
Pronera na comunidade Renascer resultou nas seguintes observaccedilotildees
- inadequaccedilatildeo do local para realizaccedilatildeo das aulas que ateacute recentemente
funcionava de forma precaacuteria num barraco utilizado pela igreja catoacutelica o que
impossibilitava o funcionamento das aulas pois durante os eventos da igreja natildeo
tinha como realizar as atividades pedagoacutegicas
A reparaccedilatildeo dessa situaccedilatildeo de precariedade especiacutefica do assentamento
Renascer contribui para reverter a condiccedilatildeo de inferioridade dos assentados
As criacuteticas acima relacionadas satildeo positivas pois a uacutenica escola que o
acampamento teve no decorrer desses 11 (onze) anos foi o Pronera que pode
perfeitamente superar as dificuldades apontadas contribuindo com o trabalho do
educador (a) que acaba por acrescentar inuacutemeras responsabilidades que lhe natildeo
satildeo devidas ao ato de ensinar
A perseveranccedila na luta por uma escola do campo na comunidade Renascer
eacute essencial para evitar o que acontece na realidade do campo em niacutevel nacional
onde cerca de 24000 escolas brasileiras foram fechadas no meio rural
Segundo Erivam Hilaacuterio do setor de educaccedilatildeo do MST que afirma que o
fechamento dessas escolas tem sua loacutegica a intenccedilatildeo de pensar num campo sem
escola e consequentemente um campo sem cultura e sem gente
Refletinto sobre a educaccedilatildeo que queremos atraveacutes do Pronera ou outros
programas educacionais de ensino sentimos que eacute necessaacuterio uma concepccedilatildeo da
educaccedilatildeo ampla que propicia alimento intelectual moral artiacutestico e um
posicionamento criacutetico no processo social e poliacutetico tanto em niacutevel regional
nacional e universal Constitui ferramenta essencial para a formaccedilatildeo de nossa
personalidade e para a emancipaccedilatildeo da sociedade em relaccedilatildeo agrave opressatildeo e
injusticcedila
As expectativas e lutas das famiacutelias do assentamento Renascer estatildeo
alicerccediladas em parcerias junto a entidades do poder puacuteblico exemplo INCRA UnB
11
e Movimentos Sociais do campo para colocar em praacutetica uma educaccedilatildeo que seja
eficaz para a Comunidade Renascer
Acredito que cada comunidade possui uma realidade um contexto muito
proacuteprio particular diferenciada de outra comunidade qualquer Os anseios as
necessidades os fatores culturais econocircmicos entre outros fatores satildeo diferentes
de lugar para lugar
A pedagogia e os meacutetodos a serem realizados em cada local deveriam ser
colocados em praacutetica somente apoacutes a comunidade local ser mobilizada e participar
ativamente na elaboraccedilatildeo deste plano de trabalho pedagoacutegico contribuindo com
ideias e vivecircncias Desta maneira a educaccedilatildeo estaria a serviccedilo do bem coletivo e
natildeo privilegiaria alguns em prejuiacutezo da coletividade A educaccedilatildeo eacute uma importante
ferramenta para o desenvolvimento de uma economia solidaacuteria e socialmente justa
politicamente livre dos espoliadores que historicamente persistem em oprimir a
maioria dos povos privando-os de seus direitos
Na maioria das escolas existentes no campo que natildeo atendem a todos mas
a uma determinada parcela da populaccedilatildeo regional a pedagogia adotada eacute
planejada formulada empacotada e imposta aos camponeses por ldquopedagogo de
gabineterdquo que vivem nas grandes cidades e natildeo respeitam os valores e realidades
regionais e locais de cada comunidade
Eacute claro que existem exceccedilotildees de trabalhos pedagoacutegicos muito bons Eacute o caso
de quando ocorre uma interaccedilatildeo entre a comunidade local e os educadores que
estatildeo ali para contribuir por uma educaccedilatildeo construiacuteda a partir da participaccedilatildeo
popular e democraacutetica na criaccedilatildeo e produccedilatildeo do processo educativo
A pesquisa seraacute fundamentada pela investigaccedilatildeo teoacuterica sobre o tema de
implantaccedilatildeo de salas de aula de ensino fundamental para trabalhadores rurais
adultos em comunidades que lutam pela reforma agraacuteria Para entender-se o
problema eacute necessaacuterio apontar a fundamentaccedilatildeo teoacuterica
A fundamentaccedilatildeo de diversas correntes de opiniatildeo eacute importante para o nosso
proacuteprio esclarecimento e para a busca conjunta com os interessados sobre qual o
melhor modelo pedagoacutegico a ser implantado na sala de aula da comunidade
A fundamentaccedilatildeo teoacuterica como satildeo vaacuterias as teorias existentes seratildeo
expostas algumas como Territoacuterios Educativos na Educaccedilatildeo do Campordquo ldquopor uma
Educaccedilatildeo do Campordquo ldquoTeoria e Praacutetica Pedagoacutegica da educaccedilatildeo do Campordquo
12
rdquoPesquisa Social e accedilatildeo Pedagoacutegicardquo rdquoEtnografia e Praacutetica Escolarrdquo ldquoMetodologia
do tralho Cientiacuteficordquo e trabalhos monograacuteficos de ex-alunos do curso da LEdoC
A metodologia utilizada a pesquisa qualitativa com estudo de caso e estudo
bibliograacutefico
O estudo teve como instrumento de pesquisa a aplicaccedilatildeo de entrevista semi-
estruturada com pessoas da comunidade Renascer quando seraacute identificada sua
participaccedilatildeo e contribuiccedilatildeo para educaccedilatildeo na comunidade e sobre seu entendimento
sobre que tipo de escola do campo que a comunidade requerem relevantes para o
objetivo da pesquisa
O trabalho de campo foi para buscar informaccedilotildees atraveacutes da fala dos sujeitos
que foram ouvidos conforme citado anteriormente bem como de material que
poderaacute contribuir para o trabalho da pesquisa
A pesquisa bibliograacutefica abordou o aprofundamento teoacuterico sobre o tema
para anaacutelise da realidade da educaccedilatildeo do campo para melhor entender a situaccedilatildeo
em que o assentamento se encontra na luta pela escola
-11-
13
Segundo Capiacutetulo
Da escola rural agrave escola do campo histoacuterico das lutas e
concepccedilotildees da educaccedilatildeo
21 A Escola Rural no Brasil
Conforme Ferreira e Brandatildeo (2011) a trajetoacuteria da escola rural brasileira
deve ser contextualizada historicamente segundo o modelo socioeconocircmico
implantado no paiacutes desde o iniacutecio do processo colonizador ateacute o momento presente
Para os autores desde os primoacuterdios do processo de colonizaccedilatildeo o paiacutes foi
entendido apenas como uma colocircnia de exploraccedilatildeo devendo portanto remeter agrave
metroacutepole suas riquezas naturais do solo do subsolo dando segmento aos ciclos
econocircmicos denominados de colonial ciclo do pau brasil da cana de accediluacutecar do
ouro do cafeacute (FERREIRA amp BRANDAtildeO 2011 p3)
A base social do paiacutes eacute formada pelos nativos (iacutendios ndash expulsos
massacrados e exterminados) os africanos e os imigrantes pobres vindos da
Europa e do oriente Foi segundo os mesmos autores esta mesma base social que
formou a matildeo de obra imprescindiacutevel para a implantaccedilatildeo do projeto colonial e do
periacuteodo imperial
A aboliccedilatildeo da escravatura em 1888 e o consequente abandono da populaccedilatildeo
negra desprovida de qualquer indenizaccedilatildeo ou bens materiais particularmente terra
teve como consequecircncia o ecircxodo rural e o desprezo pela atividade agriacutecola
associada agrave escravatura
Em sua experiecircncia histoacuterica como repuacuteblica o tradicional modelo
socioeconocircmico adotado no Brasil perdurou
Ao longo da histoacuteria do Brasil o processo de exclusatildeo social e tambeacutem poliacutetico econocircmico e cultural sempre estiveram presentes e eram tidos como algo ldquonaturalrdquo Ainda nos dias atuais fazer uma referencia a este processo de exclusatildeo natildeo leva a um debate tranquilo a resistecircncia ainda eacute forte por parte da sociedade neoliberal principalmente por aqueles que ainda se beneficiam com
a exclusatildeo socialrdquo (FERREIRA 2011 pag 3)
Com relaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo o que se percebe eacute conforme Ferreira (2011)
14
que o modelo de educaccedilatildeo praticado no Brasil pelos diferentes governos entre o iniacutecio do Impeacuterio (1822) ateacute meados do seacuteculo XX era uma educaccedilatildeo para a elite econocircmica e intelectual em prejuiacutezo direto e indiscriminado dos pobres negros e iacutendios Inclusive a primeira Lei ainda no periacuteodo imperial quando se reporta agrave educaccedilatildeo natildeo se ateve agraves especificidades diretas da zona rural onde a populaccedilatildeo brasileira viviardquo (FERREIRA 2011 p4)
Clauacutedio Santos (2013) afirma que a educaccedilatildeo destinada aos habitantes do
campo no inicio do seacuteculo XX entendia que ldquoa formaccedilatildeo das jovens geraccedilotildees ou dos
adultos no espaccedilo rural era tida como algo menor ou desnecessaacuteriordquo (p 47) Para o
autor a maioria de residentes no campo ( 75) natildeo foi pensado um modelo
educacional que contemplasse as necessidades dos residentes no campo o que a
histoacuteria do Brasil nos ensina eacute que o regime republicano manteve os grandes
latifuacutendios e a oligarquia rural alijando a maior parcela da populaccedilatildeo rural de
qualquer benefiacutecio do sistema poliacutetico-econocircmico
A organizaccedilatildeo escolar rural no Brasil embora tiacutemida pode ser localizada a
partir do primeiro governo republicano o do marechal Deodoro da Fonseca (1889-
1891) estando a cargo do Ministeacuterio da Agricultura Comeacutercio e Induacutestria O ecircxodo
da populaccedilatildeo rural para os incipientes centros urbanos em busca dos empregos
promovidos pela igualmente incipiente industrializaccedilatildeo evidenciava as mazelas dos
sujeitos do campo 75 da populaccedilatildeo brasileira era analfabeta igual nuacutemero da
populaccedilatildeo do campo
Somente a partir de 1920 tem-se efetivamente o primeiro movimento em
defesa da educaccedilatildeo da populaccedilatildeo rural conhecido como Ruralismo Pedagoacutegico
(SANTOS 2013) que foi um movimento dos educadores poliacuteticos e intelectuais
elaborando formas de accedilatildeo pedagoacutegicas adequados agrave dominacircncia poliacutetico-
econocircmica da oligarquia rural
Para o autor o ruralismo pedagoacutegico
defendia uma escola integrada agraves condiccedilotildees locais para promover a fixaccedilatildeo do homem do campo estava ligado agrave modernizaccedilatildeo do campo brasileiro e contava com o apoio dos latifundiaacuterios temerosos de perder sua matildeo de obra bem como de uma elite urbana preocupada com os resultados negativos de uma migraccedilatildeo
camponesa para a cidade (SANTOS2013p48)
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Uma caracteriacutestica do ruralismo pedagoacutegico foi buscar adequar a educaccedilatildeo
rural para fixar o homem no campo para diminuir o processo de urbanizaccedilatildeo e
consequente ecircxodo rural que modificava a estrutura econocircmico e social do paiacutes
Relativo agrave educaccedilatildeo rural da primeira metade do seacuteculo XX nos ensina
Santos (2013 p48) que ldquoem 1933 inicia-se a campanha de alfabetizaccedilatildeo na zona
rural Em 1935 ocorre o I Congresso Nacional do Ensino Regional que contribui
para a fundaccedilatildeo da Sociedade Brasileira de Educaccedilatildeo Rural no ano de 1937rdquo
Nos anos de 1920 foi criado o movimento conhecido como Escola Nova por
intelectuais e pensadores brasileiros que valorizaram a pesquisa educacional e a
inserccedilatildeo da escola como uacutenico meio de se combater as desigualdades sociais num
ambiente de crescente industrializaccedilatildeo e urbanizaccedilatildeo (SANTOS 2013) Estes
educadores como Aniacutesio Teixeira Fernando de Azevedo Lourenccedilo Filho dentre
outros defenderam atraveacutes do Manifesto da Escola Nova (1932) a universalizaccedilatildeo
da escola puacuteblica laica e gratuita
A influecircncia deste movimento sobre a educaccedilatildeo brasileira fez-se sentir nas geraccedilotildees futuras de educadores e pesquisadores como Darcy Ribeiro e Florestan Fernandes A atuaccedilatildeo desses pioneiros se estendeu por deacutecadas muitas vezes criticada pelos defensores da escola particular e religiosa (FERRARI 2014p43)
Poreacutem as propostas do Manifesto natildeo tiveram impactos concretos e natildeo
foram incorporados pela escola Ferraro (2012) esclarece que
A educaccedilatildeo rural no Brasil soacute se tornou objeto de interesse do Estado no momento em que todas as atenccedilotildees e esperanccedilas se voltavam para o urbano e a ecircnfase passava a recair sobre o desenvolvimento industrial Quando os interesses do latifuacutendio dominavam tanto a economia como a poliacutetica a alfabetizaccedilatildeo das massas camponesas era vista como seacuteria ameaccedila agrave ordem vigente Quando o paiacutes jaacute avanccedila no processo de industrializaccedilatildeo e se torna predominantemente urbano eacute a proacutepria cidade que passa a reivindicar a alfabetizaccedilatildeo das populaccedilotildees do campo Passa entatildeo a contrariar os interesses da cidade continua (FERRARO 2012p964)
16
A industrializaccedilatildeo ocorreu nas cidades e atraiu grandes levas de
trabalhadores do campo seduzidos pelo ideal de transformaccedilatildeo de vida acesso agrave
escolarizaccedilatildeo empregos bem remunerados ideais que levam ao ecircxodo rural hoje
ou naquele momento histoacuterico A realidade do trabalhador do campo receacutem
chegado agrave cidade era do ponto de vista educacional precariacutessima pois em sua
maioria eram analfabetos ou com baixa escolarizaccedilatildeo Essa condiccedilatildeo impedia o
acesso ao emprego industrial urbano e agrave boa qualidade de vida que uma boa
remuneraccedilatildeo podia proporcionar
As cidades sofreram crescimento raacutepido desgovernado formando periferias
que abrigavam a maioria da populaccedilatildeo egressa do campo O subemprego e o
desemprego desestabilizavam as populaccedilotildees das cidades e geravam desequiliacutebrios
sociais e econocircmicos comprometendo a qualidade de vida de todos os moradores
Eacute o ciacuterculo vicioso da desigualdade da exclusatildeo e da violecircncia que a educaccedilatildeo
pode romper A educaccedilatildeo tem entatildeo o propoacutesito de formar trabalhadores para a
induacutestria urbana
Na Constituiccedilatildeo de 1934 para com a educaccedilatildeo rural destaca-se o Art 156 conforme podemos ver abaixo
A Uniatildeo e os Municiacutepios aplicaratildeo nunca menos de dez por cento e os Estados e o Distrito Federal nunca menos de vinte por cento da renda resultante dos impostos na manutenccedilatildeo e no desenvolvimento dos sistemas educativos Paraacutegrafo uacutenico ndash Para a realizaccedilatildeo do ensino nas zonas rurais a Uniatildeo reservaraacute no miacutenimo vinte por cento das cotas destinadas agrave educaccedilatildeo no respectivo orccedilamento anual
Na constituiccedilatildeo Federal de 1937 a educaccedilatildeo rural natildeo eacute citada A prioridade eacute
a educaccedilatildeo dos moradores urbanos Neste periacuteodo conforme Ferreira (2011) ldquoa
orientaccedilatildeo poliacutetico educacional para o mundo capitalista fica bem expliacutecita
sugerindo a preparaccedilatildeo de um maior contingente de matildeo de obra para as novas
atividades abertas pelo mercado ndash a industrializaccedilatildeordquo ( pg 32)
Ainda segundo o autor este afirma que em 1935 ocorreu o I Congresso
Nacional do Ensino Regional que assume como objetivo propagar a educaccedilatildeo rural
e elaborar os planos de educaccedilatildeo Esses planos recomendavam escolas rurais
ambulantes nas regiotildees de menor densidade geograacutefica
17
O periacuteodo conhecido como Estado Novo (1937-1945) tentava implantar uma
poliacutetica educacional de cunho nacionalista tornando a educaccedilatildeo um instrumento do
estado servindo aos seus interesses
Os adultos analfabetos particularmente no meio rural tiveram atenccedilatildeo da
Campanha Nacional de Educaccedilatildeo Rural (CNER) de 1952 a 1963 cujo objetivo era
contribuir para a inserccedilatildeo do homem do campo O CNER atuou atraveacutes de missotildees
internacionais dos Estados Unidos voltadas agrave educaccedilatildeo ao treinamento de
professores e agrave preparaccedilatildeo dos jovens do meio rural pelo ensino profissional
agriacutecola Agrave atividade do CNER podemos agregar a accedilatildeo da Comissatildeo Brasileiro-
Americana de Educaccedilatildeo das Populaccedilotildees Rurais (CBAR) que celebrou acordos entre
esses dois paiacuteses visando a educaccedilatildeo rural orientada para o emprego de teacutecnicas
agriacutecolas (OLIVEIRA 1999 p 133)
A educaccedilatildeo rural eacute chamada para se ajustar agraves poliacuteticas educacionais estabelecidas pelo projeto do estado A educaccedilatildeo rural em primeiro lugar apesar de numerosos programas desenvolvidos sempre representou uma fatia muito pequena e marginal nas preocupaccedilotildees do setor puacuteblico (OLIVEIRA p apud CALAZANS1981p162)
A educaccedilatildeo rural ocupou e ainda ocupa pequeno espaccedilo no universo
educacional brasileiro As escolas apresentam dificuldades para se manterem no
campo Conforme o Jornal Sem Terra nordm 46 jun2011 24000 escolas do campo
foram fechadas no Brasil As instalaccedilotildees o curriacuteculo a carecircncia de professores o
transporte escolar formam muitas vezes uma barreira quase imponiacutevel para uma
ampla gama de alunos particularmente das uacuteltimas seacuteries do ensino fundamental e
do ensino meacutedio
Os programas implantados nos uacuteltimos anos como o PRONERA e o EJA
apresentam soluccedilotildees e alcanccedilam grandes resultados mas podemos questionar os
resultados entre os estados O Rio Grande do Sul (que atendeu alunos do ensino
baacutesico ateacute o ensino superior) em comparaccedilatildeo com outros estados e o Distrito
Federal conseguiu excelentes resultados No DF falta alcanccedilar melhores
resultados Podemos questionar se os resultados satildeo adequados pois por exemplo
no assentamento Renascer o Pronera natildeo vai aleacutem do quinto ano Eacute necessaacuterio
uma poliacutetica educacional que leve em conta a realidade dos alunos do campo
18
invista recursos materiais e humanos modernizem as escolas e propiciem o acesso
dos alunos
Conforme nos explica Sousa 2004 em seu artigo lsquodiscursos intolerantes o
lugar da politica na educaccedilatildeo rural e a representaccedilatildeo do camponecircs analfabeto
No Brasil a trajetoacuteria da educaccedilatildeo rural inclui-se na dinacircmica de modernizaccedilatildeo do campo assumindo um papel decisivo no processo de expropriaccedilatildeo proletarizaccedilatildeo e controle dos trabalhadores rurais A modernizaccedilatildeo da produccedilatildeo no nordeste brasileiro por exemplo incentivou o processo de sindicalizaccedilatildeo em massa dos trabalhadores das zonas canavieiras estimulou reivindicaccedilotildees no campo do trabalho ligadas agrave aplicaccedilatildeo do Estatuto do Trabalhador Rural e contraditoriamente fez emergir as manifestaccedilotildees pela distribuiccedilatildeo de terras encampadas pelas Ligas Camponesas ( SOUSA2004 p4)
O projeto de modernizaccedilatildeo do campo ocorreu sem que houvesse a
emancipaccedilatildeo dos trabalhadores rurais Na verdade ocorreu a proletarizaccedilatildeo dos
trabalhadores rurais pela acumulaccedilatildeo de terras em matildeos de apenas poucos
proprietaacuterios (latifundiaacuterios) Esse acontecimento revela que apenas em processo
consciente e contiacutenuo de lutas organizados e unidos os trabalhadores rurais
poderatildeo conquistar terras e meios para sua produccedilatildeo
O estudo da organizaccedilatildeo dos trabalhadores rurais eacute importante porque eacute a
partir dela que outras grandes reivindicaccedilotildees satildeo conquistadas No caso da
presente pesquisa pode-se observar que foi a organizaccedilatildeo dos trabalhadores em
torno de suas causas a reforma agraacuteria que levou agrave luta pelas outras reivindicaccedilotildees
como a educaccedilatildeo no campo
O proacuteximo capiacutetulo deste trabalho monograacutefico aborda a questatildeo das
manifestaccedilotildees e resistecircncias dos camponeses pela educaccedilatildeo e pela reforma
agraacuteria
-16-
22 Trajetoacuteria de luta pela Educaccedilatildeo do Campo
A luta pela educaccedilatildeo do campo esteve sempre associada agrave luta pela reforma
agraacuteria e pela conquista de direitos para os trabalhadores rurais O Movimento das
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Ligas Camponesas lutou pela emancipaccedilatildeo do trabalhador rural e da reforma agraacuteria
e em seu projeto educacional estavam baseados nos ideais de Paulo Freire e do
Movimento de Educaccedilatildeo de Base (MEB)
Para explicar a reaccedilatildeo das classes populares agraves imposiccedilotildees do governo
brasileiro e das classes dominantes Oliveira (1995 apud ARROYO)
A histoacuteria das lutas entre as classes sociais natildeo se limitam agrave luta pelo poder mas se constituem impulsionadoras da histoacuteria da humanidade que natildeo aguardam passivamente seu destino mas ao contraacuterio articulam-se em torno de suas lutas para garantir seus direitos sua dignidade e sua participaccedilatildeo democraacutetica na sociedade( OLIVEIRA apud ARROYO1995p 80)
Neste sentido as Ligas Camponesas lutaram praticamente em todo o
territoacuterio nacional contra a tentativa de expulsatildeo dos trabalhadores rurais das terras
Os conflitos armados particularmente no Nordeste exigiam participaccedilatildeo poliacutetica e
direitos essenciais como a educaccedilatildeo do campo
O meacutetodo de alfabetizaccedilatildeo criado por Paulo Freire foi amplamente utilizado
pelas Ligas Camponesas e em sua concepccedilatildeo ampla de escola serviu de subsidio
para a compreensatildeo do camponecircs acerca de seu papel social (TOLEDO Caio
Navarro 2004 p6)
Neste contexto surge a Pedagogia do Oprimido de Paulo Freire Segundo
SANTOS (2013 apud Paulo Freire 1987) afirma que a pedagogia do oprimido
configura-se como
Aquela que tem de ser forjada com ele (o oprimido) e natildeo para ele enquanto homens ou povos na luta incessante de recuperaccedilatildeo de sua humanidade Pedagogia que faccedila da opressatildeo e de suas causas objeto de reflexatildeo dos oprimidos de que resultaraacute o seu engajamento necessaacuterio na luta por sua libertaccedilatildeo em que esta pedagogia se faraacute e refaraacuterdquo (FREIRE 1987 p32)
A pedagogia do oprimido serve de referecircncia para o trabalhador rural que luta
pela emancipaccedilatildeo de sua condiccedilatildeo de proletaacuterio atraveacutes da reforma agraacuteria A
pedagogia do oprimido leva o homem ao encontro de si mesmo ao reconhecimento
da grandeza de seu trabalho ao potencial de suas accedilotildees cotidianas que fazem a
diferenccedila A capacidade de reflexatildeo e o entendimento de sua potencialidade pode
leva-lo agrave sua plena realizaccedilatildeo como indiviacuteduo e como ser social
20
A reaccedilatildeo do governo contra o movimento de educaccedilatildeo popular proposto por
Freire e assumido pelo Movimento das Ligas Camponesas e pelo Movimento de
Educaccedilatildeo de Base (MEB) gerou repressatildeo e resposta da ditadura civil-militar como
o Movimento Brasileiro de Alfabetizaccedilatildeo (MOBRAL)
A luta dos movimentos sociais e sindicais pela educaccedilatildeo do campo parte das
forccedilas internas dos movimentos e alcanccedila a setores sociais religiosos ideoloacutegicos
que passam a contribuir efetivamente para o alcance do direito agrave educaccedilatildeo aos
camponeses
A Comissatildeo Pastoral da Terra (CPT) presente ao lado dos trabalhadores (as)
rurais indiacutegenas ribeirinhos pescadores e quilombolas tambeacutem contribuiu e
contribui para a formaccedilatildeo criacutetica a defesa de formas sustentaacuteveis de utilizaccedilatildeo de
recursos naturais e produccedilatildeo e para a alfabetizaccedilatildeo segundo o meacutetodo de Paulo
Freire (CANUTO 2012 p 131)
Na atualidade estaacute em desenvolvimento um movimento que luta pela educaccedilatildeo do homem do campo organizado por vaacuterias entidades dentre elas o MST Trata-se de um processo que teve inicio em meados dos anos de 1990 impulsionados pela necessidade da educaccedilatildeo de jovens e adultos das aacutereas de assentamentos rurais Foi organizado um Programa Nacional para Educaccedilatildeo na Reforma Agraacuteria composto por atores tais como movimentos sociais universidades e governo federal aleacutem de outros parceiros (Alas da Igreja Sindicatos Organizaccedilatildeo Natildeo-Governamental ONG) existentes nas diferentes regiotildees do Brasil( SOUSA2004 p 32)
A trajetoacuteria de conquista das escolas do campo particularmente as escolas
do campo criadas pelo MST a partir da deacutecada de 1990 foi marcada pela conquista
e implantaccedilatildeo da Educaccedilatildeo Fundamental para crianccedilas e adolescentes dos
acampamentosassentamentos de acordo com o projeto politico-pedagoacutegico fruto do
amadurecimento do movimento
Focou-se a alfabetizaccedilatildeo de jovens e adultos e as lutas pela implantaccedilatildeo do
ensino meacutedio com cursos alternativos para a formaccedilatildeo de professores e teacutecnicos de
niacutevel meacutedio e tambeacutem de cursos superiores
A concepccedilatildeo de escolas de ensino fundamental plantadas em assentamentos
prevecirc a instalaccedilatildeo da escola na proacutepria comunidade evitando com isso o uso de
transporte escolar e a frequecircncia dos alunos Sem Terra em escolas fora do
assentamento
21
Esta atitude de resistecircncia foi fundamental para a conquista da escola nas
terras conquistadas e tambeacutem foi fundamental para universalizar o ensino enraizar
o aluno em sua comunidade e criar a consciecircncia do direito agrave educaccedilatildeo
ldquoincomodandordquo o Estado para garantir o cumprimento das poliacuteticas puacuteblicas
Kolling Vargas e Caldart (2012p502) nos ensinam ldquotoda vez que se
conquista uma escola de educaccedilatildeo baacutesica em um assentamento ou acampamento
ela representa menos adolescentes e jovens do campo fora da escola e mais gente
enraizada em seu proacuteprio lugarrdquo (pag 502)
Os movimentos sociais e sindicais pela educaccedilatildeo do campo indicam o grau
de maturidade desses em sua luta pela reforma agraacuteria Agrave essa luta soma-se o
projeto de desenvolvimento do paiacutes baseado na justiccedila social e o combate agraves
tradicionais formas utilizadas pelas elites urbanas ou rurais de alienaccedilatildeo pela
expropriaccedilatildeo do trabalho e pelo controle dos meios que levam agrave emancipaccedilatildeo
sociocultural e agrave verdadeira humanizaccedilatildeo papel destinado agrave educaccedilatildeo
Neste sentido movimentos sociais como o MST inserem a educaccedilatildeo
baseada em princiacutepios pedagoacutegicos que se distinguem da escola tradicional
Numa perspectiva histoacuterica os movimentos sociais do campo como por
exemplo o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) tiveram inicialmente
como bandeira de luta a luta pela terra pela Reforma Agraacuteria natildeo fazendo uma
relaccedilatildeo entre essa luta e a educaccedilatildeo
A formaccedilatildeo de escolas do campo pelo MST natildeo foi resultado da consciecircncia e
importacircncia da escola para a promoccedilatildeo da educaccedilatildeo em seu meio Foi na verdade
a necessidade de oferecer aos filhos dos primeiros lutadores a oportunidade de
uma perspectiva melhor de futuro atraveacutes do direito agrave educaccedilatildeo Foi tambeacutem a
necessidade de ldquotransformar instituiccedilotildees histoacutericas como a escola em lugares que
ajudem a formar os sujeitos destas transformaccedilotildeesrdquo (CALDART2012 p94)
Desse modo houve primeiro a ldquoocupaccedilatildeo da escolardquo pela mobilizaccedilatildeo e pela
accedilatildeo para garantir que em acampamentos ou assentamentos conquistados
houvesse uma escola que ldquofizesse a diferenccedila ou tivesse realmente sentido em sua
vida presente e futura (preocupaccedilatildeo com os filhos)rdquo (CALDART2012 p91)
Num segundo momento da luta observa-se intencionalidade da luta pela
escola mas com proposta pedagoacutegica especiacutefica ldquocombinando processos de
22
escolarizaccedilatildeo e de formaccedilatildeo da militacircncia e da base social Sem Terrardquo
(CALDART2012 p92)
As experiecircncias de pensar escolas como polos regionais entre assentamentos e com estudantes de outras comunidades de camponeses aos poucos vatildeo educando o olhar dos trabalhadores Sem Terra para uma realidade mais ampla Foi assim que o MST chegou agrave EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO (KOLLING Vargas e Caldart 2012 p 502)
A escola dentro dessa perspectiva de mudanccedila e envolvimento social eacute
parte da luta pela reforma agraacuteria daacute significado a ela pois proporciona a formaccedilatildeo
integral dos sujeitos que lutam pela terra
Essa escola possibilita a reflexatildeo trava o diaacutelogo com as propostas de
educaccedilatildeo popular de Paulo Freire e busca superar as dificuldades imensas que
assentados e acampados vivem no dia a dia
A escola tambeacutem revela a cultura o orgulho e criaccedilatildeo da identidade na luta
por terra Nesse sentido
A heranccedila que o MST deixaraacute para seus descendentes seraacute bem mais do que a terra que conseguir libertar do latifuacutendio seraacute um jeito de ser humano e de tomar posiccedilatildeo diante das questotildees de seu tempo seratildeo os valores que fortalecem e datildeo identidade aos lutadores do povo de todos os tempos de todos os lugares Eacute enquanto produto humano de uma obra educativa que os Sem Terra podem ser vistos como mais um elo que se forma em uma longa tradiccedilatildeo de lutadores sociais que fazem a histoacuteria da humanidade Enraizamento no passado e projeto de futuro (CALDART 2012 p 96)
A educaccedilatildeo proposta pelo movimento gera o sentimento de pertencimento e
desperta o sentimento de respeito agrave coletividade valoriza o trabalho a gestatildeo
democraacutetica e desburocratizada da escola
SANTOS (2013 p71) esclarece que pelo projeto educacional do MST a
educaccedilatildeo proposta estaacute pautada em ldquovalores socialistas e humanistas tais como o
coletivismo o trabalho socialmente uacutetil a organizaccedilatildeo e auto-organizaccedilatildeo dos
estudantes e professoresrdquo (p71)
-21-
23
221 Concepccedilatildeo Pedagoacutegica da Educaccedilatildeo do Campo
No acircmbito da educaccedilatildeo do homem do campo tornar o homem sujeito e natildeo
objeto do saber leva a entender que o conhecimento do camponecircs pode dialogar
com as praacuteticas baseadas no conhecimento cientiacutefico desde que seja perseguido o
ideal de trabalhadores e educadores do campo comprometidos com as lutas sociais
de formar o homem ldquodordquo campo e ldquono campordquo
Conforme Kolling Cerioli e Caldart (2002 p 264) ldquoo povo tem direito a uma
educaccedilatildeo pensada desde o seu lugar e com sua participaccedilatildeo vinculada agrave sua
cultura e agraves suas necessidades humanas e sociaisrdquo ndash(Caldart Educaccedilatildeo do Campo
2012 p 264
Tal compreensatildeo se ainda hoje causa oposiccedilatildeo ateacute mesmo no ambiente
acadecircmico imagine-se naquele momento histoacuterico de profunda repressatildeo poliacutetica e
ideoloacutegica aos movimentos sociais de camponeses por terra e educaccedilatildeo Como nos
ensina Molina e Saacute (DICIONAacuteRIO da Educaccedilatildeo do Campo p 324)
A concepccedilatildeo de escola do campo nasce e se desenvolve no bojo do movimento da EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO a partir das experiecircncias de formaccedilatildeo humana desenvolvidas no contexto de luta dos movimentos sociais camponeses por terra e educaccedilatildeo Trata-se portanto de uma concepccedilatildeo que emerge das contradiccedilotildees da luta social e das praacuteticas de educaccedilatildeo dos trabalhadores do e no campo (MOLINA e SAacute 2012 pag 324)
A concepccedilatildeo pedagoacutegica da educaccedilatildeo popular e da pedagogia da praacutetica
segundo ARROYO inclui
um caraacuteter de envolvimento totalizante dos movimentos sociais que possibilita ao individuo que participa destes coletivos o acesso a outro tipo de formaccedilatildeo que supera a condiccedilatildeo de aluno de alfabetizando de escolarizando Os integrantes destes organismos emersos na tensa situaccedilatildeo de conflitos aprendem por meio da vivencia das lutas sociais dos momentos de mobilizaccedilatildeo das situaccedilotildees limites de perda de emprego de criacuteticas da sociedade agraves suas accedilotildees de ameaccedilas agraves suas vidas Tudo isso traz ricas liccedilotildees ensinadas na ldquoescola do movimentordquo e que nenhuma teoria pode transmitir ou explicar de forma satisfatoacuteria
No entendimento de Arroyo (2013) os movimentos sociais vivem e
amadurecem sob o conhecimento e o entendimento das contradiccedilotildees sociais e esta
24
experiecircncia lhes permite a possibilidade de defender mudanccedilas radicais tanto no
campo como na cidade tanto na ideologia quanto no combate ao latifuacutendio e ao
capitalismo
Tamanho movimento social gera a reflexatildeo sobre as relaccedilotildees
socioeconocircmicas politicas culturais cuidado da natureza relaccedilotildees humanas
destaques de tudo o que interessa ao coletivo agrave sociedade
Eacute por meio do entendimento de que a realidade eacute criaccedilatildeo humana de como se estabelecem os processos de opressatildeo e ainda da noccedilatildeo de que podemos transformar essa realidade dado que a sociedade eacute mutaacutevel que se forma a praacutexis da luta accedilatildeo-conscientizaccedilatildeo-transformaccedilatildeo-libertaccedilatildeo Inserindo-se criticamente na histoacuteria os cidadatildeos tornam-se sujeitos construtores e reconstrutores da realidaderdquo
Molina e Saacute (2012) nos ensinam a partir do conceito de escola do campo sobre a
potencialidade da vivencia de praacuteticas coletivas para a valorizaccedilatildeo integral dos
sujeitos da coletividade do conhecimento cientiacutefico da gestatildeo coletiva da escola
dentre tantos avanccedilos e vitoacuterias dos movimentos sociais
O processo ensino-aprendizagem permite que o conceito de escola extrapole
o cotidiano de dificuldades e desafia agrave reflexatildeo que gera a emancipaccedilatildeo
Este eacute um dos maiores desafios e ao mesmo tempo uma das maiores possibilidades da escola do campo articular os conhecimentos que os educandos tecircm o direito de acessar a partir do trabalho com a realidade da religaccedilatildeo entre educaccedilatildeo cultura e os conhecimentos cientiacuteficos a serem apreendidos em cada ciclo de vida e de diferentes aacutereas do conhecimento(MOLINA MOURAtildeO 2012 p 329) -26-
222 Princiacutepios da Educaccedilatildeo do Campo
Alguns princiacutepios viabilizam o projeto de escola adotado pelos movimentos
sociais e possibilitam a democracia e a integraccedilatildeo de todos lideranccedila assentados e
acampados do movimento
25
O princiacutepio da responsabilidade coletiva sobre o planejamento a gestatildeo a
organizaccedilatildeo e a realizaccedilatildeo de tarefas em todas as esferas de atividades princiacutepios
muito valorizados pelos movimentos sociais do campo foram transferidos para o
projeto de educaccedilatildeo
O projeto eacute de responsabilidade coletiva e insere educadores tanto a niacutevel
local como regional e nacional os ldquoColetivos de educaccedilatildeordquo como satildeo conhecidos
Os coletivos de educaccedilatildeo com tarefas forccedila orgacircnica e discussotildees especiacuteficas que podem variar a cada periacuteodo fortalecem o princiacutepio organizativo de que a questatildeo da educaccedilatildeo bem como outras questotildees da vida social assumidas pelo MST deve ser pensada e implantada de forma coletiva Eacute uma loacutegica que implica tarefas a serem realizadas pelas pessoas mas mediante um planejamento e uma leitura de conjuntura feita por um coletivo (KOLLING1995 et al p503)
Para concretizar o projeto de educaccedilatildeo foi concebida a formaccedilatildeo de
professores pelos proacuteprios movimentos no acircmbito da proacutepria comunidade
(conhecidos como ldquoprofessores leigosrdquo) e tambeacutem pela rede oficial de ensino
A falta de titulaccedilatildeo de muitos educadores formados na comunidade natildeo
impede que os mesmos trabalhem juntos com os professores titulados e com
simpatizantes do movimento no projeto poliacutetico-pedagoacutegico constituindo um
princiacutepio democraacutetico importante para superar as dificuldades e urgecircncias para a
implantaccedilatildeo da educaccedilatildeo do campo
A democracia do processo de formaccedilatildeo de educadores tem reflexos amplos
a formaccedilatildeo de educadores pelos proacuteprios movimentos especiacutefica para atuaccedilatildeo nas
escolas do campo
O movimento eacute responsaacutevel pela universalizaccedilatildeo do ensino no acircmbito dos
territoacuterios conquistados ou por conquistar e permitiu a evoluccedilatildeo do ensino ateacute o niacutevel
de terceiro grau com a realizaccedilatildeo de cursos como a Licenciatura em Educaccedilatildeo do
Campo (LEdoC) do qual somos os privilegiados alunos aqui na Universidade de
Brasiacutelia
Outro reconhecimento e prova de eficiecircncia da formaccedilatildeo de professores eacute o
precircmio ldquoEducaccedilatildeo e Participaccedilatildeordquo recebido em 1995 do Fundo das Naccedilotildees Unidas
para a Infacircncia (Unicef)
26
O somatoacuterio das forccedilas internas e externas do movimento ldquoleigasrdquo ou
tituladas associadas ao princiacutepio fundamental da participaccedilatildeo dos alunos e
comunidades em todos os niacuteveis e localidades eacute ponto fundamental para o sucesso
da concepccedilatildeo do projeto pois permite o estudo a reflexatildeo conjunta sobre
estrateacutegias para o alcance do objetivo de educaccedilatildeo na reforma agraacuteria
-25-
223 Marcos Normativos da Educaccedilatildeo do Campo
Numerosos Marcos Normativos podem ser citados para explicitar qual perfil
de escola destinada ao camponecircs interessava ao governo e aos proprietaacuterios rurais
A Lei 4024 de 1961 em seu art 105 estabelece o
Apoio que poderaacute ser prestado pelo poder puacuteblico agraves iniciativas que mantenham na zona rural instituiccedilotildees educativas orientadas para adaptar o homem ao meio e estimular vocaccedilotildees e atividades profissionais (BRASIL 2012 p 4)
A Lei 5692 de 1971 ao tratar da educaccedilatildeo rural ldquonatildeo observa mais uma vez
a inclusatildeo da populaccedilatildeo na condiccedilatildeo de protagonista de um projeto social globalrdquo
sendo que o trabalho do campo realizado por alunos eacute ateacute mesmo incentivado
adequando-o ao calendaacuterio escolar (MARCOS NORMATIVOSBrasiacutelia2012 p 25)
A Lei 9394 de 1996 (Lei das Diretrizes se Bases da Educaccedilatildeo ndash LDB) em
acordo com Constituiccedilatildeo de 1988 e ldquoinspirada de alguma forma numa concepccedilatildeo
de mundo rural enquanto espaccedilo especifico diferenciado e ao mesmo tempo
integrado no conjunto da sociedaderdquo reconhece
A diversidade soacutecio-cultural e o direito agrave igualdade e agrave diferenccedila possibilitando a definiccedilatildeo de diretrizes operacionais para educaccedilatildeo rural sem no entanto recorrer a uma logica exclusiva e de ruptura com um projeto global de educaccedilatildeo para o paiacutes (idem p 26)
27
Os artigos 208 e 210 da Carta Magna-1988 e inspirada de numa concepccedilatildeo
de mundo rural enquanto espaccedilo especiacutefico diferenciado e ao mesmo tempo
integrado no conjunto da sociedade a Lei 939496- LDB-estabelece que
Art 28 Na oferta da educaccedilatildeo baacutesica para a populaccedilatildeo rural os sistemas de ensino promoveratildeo as adapta necessaacuteria agrave sua adequaccedilatildeo agraves peculiaridades da vida rural e de cada regiatildeo especialmente (MARCOS NORMATIVOS) Brasiacutelia 2012 p 25)
1- Conteuacutedos organizar curriculares e metodologias apropriadas agraves reais
necessidades e interesses dos alunos da zona rural
2-organizaccedilatildeo escolar proacutepria incluindo a adequaccedilatildeo do calendaacuterio escolar as
fases do ciclo agriacutecola e as condiccedilotildees climaacuteticas
3-adequaccedilatildeo agrave natureza do trabalho na zona rural (MARCOS NORMATIVOS)
Brasiacutelia 2012( p 26)
O movimento de educaccedilatildeo do campo luta haacute quinze (15) anos para fazer-se
cumprir esse Decreto da Lei de Diretrizes de base da educaccedilatildeo do campo-LDB
que apesar de ser constitucional ainda natildeo foi colocada totalmente em praacutetica
Agora com as lutas dos movimentos sociais eacute que estaacute comeccedilando a se concretizar
Artigo 26 Os curriacuteculos do ensino fundamental e meacutedio devem ter uma base nacional comum a ser complementada em cada sistema de ensino e estabelecimento escolar por uma parte diversificada exigida pelas caracteriacutesticas regionais e locais da sociedade
da cultura da economia e da clientela (MARCOS NORMATIVOS) Brasiacutelia 2012(p 26)
O Decreto nordm 7352 de 4 de novembro 2010 dispotildee sobre a poliacutetica de educaccedilatildeo do campo ao Programa Nacional de Educaccedilatildeo
na Reforma Agraacuteria-PRONERA decreta
Art1ordm A poliacutetica de educaccedilatildeo do campo destina-
se agrave ampliaccedilatildeo e qualificaccedilatildeo da oferta de educaccedilatildeo baacutesica e superior agraves populaccedilotildees do campo e seraacute desenvolvida pela Uniatildeo em regime de colaboraccedilatildeo com os Estados o
28
Distrito Federal e os Municiacutepios de acordo com as diretrizes e metas estabelecidas no Plano Nacional de Educaccedilatildeo e o disposto neste Decreto
Para os efeitos deste Decreto entende-se por
l-populaccedilatildeo do campo os agricultores familiares os extrativistas os pescadores
artesanais os ribeirinhos os assentados e acampados da reforma agraacuteria os
trabalhadores assalariados rurais os quilombolas os caiccedilaras os povos da floresta
os caboclos e outros que produzam suas condiccedilotildees materiais de existecircncia a partir
do trabalho no meio rural
ll-escola do campo aquela situada em aacuterea rural conforme definida pela Fundaccedilatildeo
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica- IBGE ou aquela situada em aacuterea
urbana desde que atenda predominantemente a populaccedilatildeo do campo (MARCOS
NORMATIVOS) 2012( p 81)
No Decreto 6755 29 de janeiro de 2009 em seu art 2ordm estabelecida pelo Conselho
Nacional de Educaccedilatildeo que se refere as Diretrizes Operacionais da Educaccedilatildeo do
Campo o parecer da alternacircncia
A formaccedilatildeo de professores poderaacute ser feita concomitantemente agrave atuaccedilatildeo profissional de acordo com metodologias adequadas inclusive a pedagogia da alternacircncia e sem prejuiacutezo de outras que atendam agraves especificidades da educaccedilatildeo do campo e por meio de atividades de ensino pesquisa e extensatildeo (MARCOS NORMATIVOS) 2012( p84)
-26-
29
-
231 A educaccedilatildeo do campo e poliacutetica puacuteblica - o PRONERA
O amadurecimento adquirido pela luta sobre o papel da educaccedilatildeo aliado agrave
iniciativa do aproveitamento do trabalho das professoras ldquoleigasrdquo e ainda da
consciecircncia cada vez mais presente do dever do Estado em prover os cidadatildeos da
reforma agraacuteria de poliacuteticas puacuteblicas resultou no campo da educaccedilatildeo na criaccedilatildeo do
Programa Nacional de Educaccedilatildeo na Reforma Agraacuteria (PRONERA)
O PRONERA envolve formalmente jovens e adultos num projeto conjunto
com universidades e institutos federais em prol da formaccedilatildeo de educadores para o
trabalho em escolas dos assentamentos da reforma agraacuteria e seu entorno
O Programa foi criado em 1998 no momento da ascensatildeo dos conflitos pela
reforma agraacuteria o que propiciou que os movimentos sociais trouxessem para a
opiniatildeo puacuteblica suas mazelas
No campo da educaccedilatildeo foi denunciada a falta de escola a precariedade do
ensino a falta de profissionais do ensino a ldquoloacutegica de negaccedilatildeo histoacuterica do direito
aos camponeses de acesso aos niacuteveis mais elevados de escolaridade ( SANTOS
2012 pag 630)
A partir de 2005 o ensino oferecido pelo PRONERA eacute estendido ao niacutevel
meacutedio e superior como a Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo e a Residecircncia
30
Agraacuteria O PRONERA evoluiu para outros patamares tais como ldquopossibilidades de
ressignificaccedilatildeo do conteuacutedo e da metodologia dos processos de educaccedilatildeo formal
por meio dos princiacutepios baacutesicos da participaccedilatildeo e da multiplicaccedilatildeordquo (SANTOS 2012
p 631)
A participaccedilatildeo das comunidades e suas organizaccedilotildees e a multiplicaccedilatildeo de
alfabetizados formados educadores e demais profissionais ligados agraves poliacuteticas
puacuteblicas para a Reforma Agraacuteria gerou ampla participaccedilatildeo dos agentes envolvidos
na dinacircmica do processo ensino-aprendizagem
Essa forma de gestatildeo gerou reaccedilatildeo contraacuteria ldquoagrave gestatildeo colegiada e coletiva
notadamente agrave participaccedilatildeo direta dos movimentos sociais e sindicais do campordquo
considerados ldquoentes estranhos agrave administraccedilatildeo puacuteblicardquo (CLARICE p 634)
O envolvimento dos movimentos sociais e sindicais do campo natildeo
retrocederam em sua luta pelo envolvimento de todos os interessados na educaccedilatildeo
como elemento emancipatoacuterio e continuam formulando princiacutepios concepccedilotildees e
diretrizes para a escola do campo
-31-
31
Terceiro Capiacutetulo
A histoacuteria do Assentamento Renascer
31 Uma breve histoacuteria de luta
A histoacuteria do Assentamento Renascer natildeo parece ser diferente da histoacuteria de
outros assentamentos Brasil afora Partiu da reivindicaccedilatildeo de Trabalhadores Rurais
sem Terra que desde 2004 ocuparam as margens da Rodovia DF 330 que liga
Sobradinho ao Paranoaacute-DF
Tatildeo perto do centro do poder a apenas poucos quilocircmetros do Palaacutecio da
Alvorada ou da Sede do INCRA o Acampamento Renascer esteve ateacute oito (08) de
maio de 2009 tatildeo distante da decisatildeo poliacutetica pela Reforma Agraacuteria
Somente nesta data trezentos sessenta e um( 361) de terras devolutas da
Uniatildeo foram repassadas ao INCRA para assentar as famiacutelias aliacute acampadas Ficou
criado o assentamento Renascer fora da beira da estrada
O Assentamento Renascer ldquorenasceurdquo da dificuldade de vida sob o barraco de
madeira sem aacutegua sem luz sem saneamento baacutesico que fez com que tantos
desistissem ao longo do caminho e ainda hoje se encontra nessa mesma
precariedade um descaso por parte do poder puacuteblico
A luta em vaacuterios momentos da vida dos acampados parecia estar vencida Os
vencedores pareciam ser a burocracia o desrespeito as noites mal dormidas a
inseguranccedila a falta de perspectivas para o acampado e suas famiacutelias
Duzentas (200) famiacutelias viveram aliacute por cinco anos (05) de 2004 ateacute 2009
Atualmente satildeo cento e vinte (120) famiacutelias que moram na aacuterea destinada e estatildeo
em processo de assentamento Muitas delas poreacutem vencidas pelo cansaccedilo e pelas
condiccedilotildees de vida abandonaram a luta mas todas as famiacutelias as que se foram e as
que ficaram sonharam com a terra onde poderiam produzir viam no pedaccedilo de chatildeo
os frutos do pomar da horta o galinheiro o pasto
O Assentamento Renascer eacute o Brasil Eacute um pedacinho da cruel realidade que
como vimos neste trabalho marcou a sociedade brasileira desde a escravidatildeo
desde o primeiro grito de rebeldia do quilombo desde o primeiro que lutou contra os
coroneacuteis por divisatildeo da terra como as Ligas Camponesas contra o latifuacutendio como
os movimentos sociais em sua luta pela reforma agraacuteria desde vaacuterias geraccedilotildees
32
Eacute como todo e qualquer movimento social que surgiu neste paiacutes desde a
deacutecada de 1980 pela reforma agraacuteria Viveu e ainda vive as dificuldades de ser
acampadoassentado mas honra sua luta porque natildeo desiste faacutecil
O Assentamento Renascer eacute tambeacutem fruto do ecircxodo rural da industrializaccedilatildeo
do campo da monocultura e da concentraccedilatildeo de terras Foram expulsos do campo
para a periferia das cidades sem capacitaccedilatildeo sem estudo
A falta de escolarizaccedilatildeo eacute sem duacutevida uma caracteriacutestica de quase todos os
que vieram do campo para a cidade A realidade do Brasil eacute que o campo natildeo eacute
escolarizado as escolas no campo satildeo poucas satildeo despreparadas satildeo
desvalorizadas
-33-
32 As escolas no campo na vivencia do assentado do Assentamento
Renascer
As escolas no campo marcaram profundamente a vida dos poucos que a
frequentaram Quase todos tiveram que trocar o laacutepis pela enxada a carteira pela
roccedila desde muito pequenos Alguns natildeo muito poucos conforme os depoimentos
aqui relatados teriam que abandonar a enxada e a participaccedilatildeo no sustento da
famiacutelia para frequentar a escola Quase sempre abandonaram a escola para ficar no
trabalho com a enxada
Todos teriam que andar vaacuterios quilocircmetros para ir agrave escola Outros nem assim
conseguiriam frequentar a escola no campo ela simplesmente natildeo existia no
campo Teriam entatildeo que ir para a cidade para ter direito a uma escola
Muitos tambeacutem vivenciaram os traumas que uma escola tradicional e
descomprometida com os valores e responsabilidades do projeto educacional
castigos humilhaccedilotildees afastaram a muitos da escola
Alguns apenas sonharam e sonham com a escola ldquoAh a escolardquo Tatildeo longe
inacessiacutevel para tantos no Brasil afora Ao ver de algumas pessoas do
Assentamento Renascer ldquoSe tivesse jeito eu teria ido agrave escola tinha feito pelo
menos o ensino fundamental completo para que eu pudesse ingressar no curso
33
teacutecnico-agriacutecola Mas agora quero que meus filhos e netos vatildeo para a escola
aprender ser algueacutem na vidardquo
-34-
321 A escola no entorno do Assentamento Renascer
A ideia de lutar pela educaccedilatildeo veio antes da ideia de lutar pela escola como
espaccedilo conquistado pelo acampamento Encontrar uma escola perto do
acampamento com transporte escolar com vagas e horaacuterios acessiacuteveis para os que
trabalham o dia todo era entendido como uma necessidade baacutesica e uma grande
vitoacuteria
Ficava-se feliz se apesar das dificuldades fosse possiacutevel matricular pelo
menos as crianccedilas As dificuldades eram e ainda satildeo muitas o transporte escolar
era e eacute precaacuterio a poeira natildeo permite que os alunos cheguem limpos agrave escola os
buracos e as poccedilas daacutegua impedem a chegada do ocircnibus escolar durante as
chuvas No caso do ocircnibus que levam os alunos ateacute a Escola Classe do Coacuterrego do
Arrozal em eacutepoca de muita chuva os ocircnibus ateacute o iniacutecio de 2014 natildeo conseguiam
transitar Isto resulta no fato de que as crianccedilas precisam caminhar debaixo de
chuva ateacute a escola
-35-
322 O caminho para a produccedilatildeo do saber no Assentamento Renascer a
brinquedoteca a integraccedilatildeo social a biblioteca comunitaacuteria as manifestaccedilotildees
culturais
Ao longo dos anos de vivecircncia e convivecircncia no Acampamento Renascer
mediante a dificuldade e necessidade de estudar que sentimos na nossa proacutepria
vida foi despontando a ideia de prover as crianccedilas de atividades luacutedicas e
educativas
34
Logo no iniacutecio do acampamento por volta de 2005 por iniciativa de algumas
pessoas conscientes da necessidade de atividades luacutedicas para as crianccedilas foi
criada uma brinquedoteca
Inicialmente os brinquedos eram de materiais reciclaacuteveis como garrafas pet
telefones sem fio carrinhos bonecas petecas vai e vem cavalinhos tudo era
confeccionado com a participaccedilatildeo das crianccedilas na modalidade de oficina
incentivando-os a fabricar os seus proacuteprios brinquedos Os brinquedos eram
confeccionados a partir de materiais encontrados nos lugares de descarte perto do
acampamento e doaccedilotildees de pessoas que passavam pela estrada
O embriatildeo de um processo educacional que nunca se interrompeu estava
lanccedilado a brinquedoteca proporcionou a criatividade e a participaccedilatildeo de crianccedilas e
adultos marcando as atividades pela conscientizaccedilatildeo do cuidado com a natureza e a
importacircncia da reciclagem A educaccedilatildeo ambiental jaacute era praticada desde o
nascimento do acampamento Renascer
Este primeiro passo foi muito importante porque traduziu para o dia a dia do
acampamento os princiacutepios da escola do campo atuante para mudar a realidade
criar cidadatildeos conscientes e dispostos a mudar a realidade a partir da sua proacutepria
accedilatildeo Este eacute o processo de transformaccedilatildeo social dentro do acampamento Renascer
haacute tanto tempo atraacutes
Aos brinquedos reciclados pela proacutepria comunidade juntaram-se outros
presenteados por instituiccedilotildees como igrejas ONGs a Pastoral da Crianccedila e pessoas
interessadas no bem estar daquelas crianccedilas
Percebe-se em iniciativas como essas a importacircncia da educaccedilatildeo nos
diversos niacuteveis para a sociedade A integraccedilatildeo de pessoas com as atividades
educativas no acampamento nos faz lembrar sobre um grande sonho das escolas
hoje integrar a comunidade de modo a que todos defendam a escola
O sucesso de iniciativas como a brinquedoteca que integravam crianccedilas
adolescentes adultos e sociedade foi importante para outras iniciativas igualmente
importantes
Foi-se criando um projeto educacional para o acampamento sem que se
tivesse consciecircncia disso por faltar informaccedilatildeo que soacute agora se possui graccedilas aos
estudos na Universidade o galpatildeo comunitaacuterio foi utilizado para abrigar a
35
brinquedoteca para desenvolver grupos de teatro de crianccedilas e adultos e para
abrigar a biblioteca
A biblioteca recebeu inuacutemeros exemplares de livros infantis livros didaacuteticos
para os adolescentes e adultos literatura universal revistas dos mais variados
assuntos criando assim um espaccedilo comunitaacuterio de informaccedilatildeo lazer e
entretenimento
Com a criaccedilatildeo da biblioteca ficou evidente a importacircncia da alfabetizaccedilatildeo de
crianccedilas jovens e adultos Muitos acampados relatavam a vontade e a necessidade
de aprender a ler e a escrever Muitos reivindicavam o direito agrave educaccedilatildeo e
frequecircncia agrave escola ainda que o acampamento mudasse de ldquoendereccedilordquo tantas
vezes
Outros poreacutem natildeo acreditavam que seria possiacutevel aprender ou aperfeiccediloar a
leitura e a escrita nas condiccedilotildees de vida de um acampado
Vaacuterias atividades culturais foram desenvolvidas (e ainda satildeo) no
Acampamento Renascer Todas chamavam a atenccedilatildeo da comunidade local de
outras comunidades vizinhas garantindo a simpatia de chacareiros que levavam os
filhos para participarem das atividades
Uma das atividades mais apreciadas foi o Teatro de Fantoches inspirados em
faacutebulas muitas com a autoria da Pastoral da Crianccedila e da Faber Castel A
participaccedilatildeo da comunidade na atividade era intensa e voluntaacuteria todos queriam
manipular os fantoches participar cantando danccedilando ou prestando muita atenccedilatildeo
O teatro de transformaccedilatildeo social produzido pelos adultos e adolescentes
utilizavam tambeacutem materiais reciclaacuteveis demonstrando cuidado com o meio
ambiente e amadurecimento dos conceitos poliacuteticos e pedagoacutegicos gerando reflexatildeo
sobre os temas sociais que nos atingem no cotidiano
A miacutestica adotada pelos movimentos sociais com o objetivo de reflexatildeo satildeo
apresentadas em datas comemorativas e contam com o apoio e participaccedilatildeo de
muitos
Algumas festas fazem parte da tradiccedilatildeo do Acampamento Renascer
traduzindo para a realidade atual as antigas festas a que todos foram acostumados
em seus lugares de origem
Pode-se dizer que a comunidade aprecia muito as festas Mas duas em
particular satildeo muito respeitadas a festa das crianccedilas que ocorre durante o dia (12
36
de outubro) eacute concorrida pois a comunidade se esmera para oferecer os brinquedos
que as crianccedilas amam pula-pula palhaccedilos pintura de rosto piscina de sabatildeo e
muita oferta de comida coisas que as crianccedilas adoram
No mesmo dia ocorre agrave noite a festa da Nossa Senhora Aparecida com
missa e muito forroacute
No mecircs de marccedilo eacute comemorada a Festa da Pamonha em comemoraccedilatildeo agrave
boa colheita do milho Esta festa jaacute se tornou tradicional conhecida em todo o
entorno do assentamento Egrave uma festa importante porque confraterniza a
comunidade Renascer com as comunidades vizinhas e ateacute mesmo as cidades de
Sobradinho Paranoaacute e Planaltina
Os movimentos sociais necessitam ser admirados pela sociedade e festas
como estas chamam a atenccedilatildeo para o problema da reforma agraacuteria demonstrando
que ela eacute viaacutevel e que os assentados tecircm simpatia competecircncia e seus saberes do
campo
A festa ldquojulinardquo eacute outra festa muito apreciada que apresenta as tradiccedilotildees rurais
e religiosas como quadrilhas e bandas de forroacute da comunidade e vizinhanccedila A
danccedila eacute um dos pontos fortes da festa assim como as comidas tradicionais muitas
delas com ingredientes colhidos no acampamento
Vaacuterios grupos de atividades teatrais apresentaram-se na localidade com
participaccedilatildeo de palhaccedilos lembrando um espetaacuteculo circense Alguns desses
grupos inclusive tiveram seus trabalhos premiados
Outras atividades com fundo educativo tiveram participaccedilatildeo animada de
crianccedilas e adultos A exibiccedilatildeo de desenhos animados recentemente apresentados
no cinema eram um grande atrativo para a comunidade que se via socialmente
incluiacuteda Esta inclusatildeo aumentava a autoestima das crianccedilas principalmente pois
assim elas poderiam interagir com os colegas da escola conversando a respeito dos
filmes
A Economia Solidaacuteria eacute uma das formas de inserccedilatildeo dos membros da
comunidade agrave sociedade economicamente ativa Atraveacutes da cooperaccedilatildeo solidaacuteria eacute
possiacutevel o comercio justo agriacutecolas ou artesanais sob conceitos antes
desconhecidos enquanto forma de produccedilatildeo e consumo centrado na valorizaccedilatildeo do
ser humano em contraposiccedilatildeo agraves formas capitalistas de produccedilatildeo e conscientizaccedilatildeo
37
Ao longo dos doze (12) anos de luta pela educaccedilatildeo foram promovidos
diversos cursos que capacitaram multiplicadores que fazem um trabalho importante
para a comunidade
A ideia de autogestatildeo democracia cooperaccedilatildeo auxilia natildeo soacute as formas de
produccedilatildeo e comercio de bens e artesanatos mas tambeacutem auxiliam na formaccedilatildeo
integral de pessoas em que tanto o produtor como o consumidor tem o proposito de
ganhos financeiros segundo um criteacuterio de valorizaccedilatildeo do trabalho
Proposito de formar uma nova consciecircncia a Economia Solidaacuteria promoveu
cursos de Soberania Alimentar em que a comunidade recebeu noccedilotildees praacuteticas
sobre alimentaccedilatildeo a partir da produccedilatildeo local de modo a promover uma nova cultura
alimentar que visa o combate agraves doenccedilas crocircnicas Outro proposito eacute tornar a
comunidade criacutetica em relaccedilatildeo agrave publicidade de produtos alimentiacutecio supeacuterfluo que
induz agraves crianccedilas e adultos alimentarem-se incorretamente
A comunidade participou coletivamente da implantaccedilatildeo de uma unidade da
tecnologia social denominada Produccedilatildeo Agroecoloacutegica Integrada e Sustentaacutevel
(PAIS) em 2012 com o objetivo de produzir alimentos saudaacuteveis e preservar o meio
ambiente trazendo mais alimentos e renda ao campo Esta tecnologia popularmente
conhecida como ldquohorta mandalardquo foi ministrada durante o curso de capacitaccedilatildeo
promovido pela Fundaccedilatildeo Banco do Brasil e teve o meacuterito de proporcionar o debate
e a participaccedilatildeo democraacutetica na definiccedilatildeo das culturas a serem cultivadas na futura
propriedade Vale informar que o assentamento Renascer identificou-se com esse
paradigma agroecoloacutegico
A educaccedilatildeo ambiental faz parte do dia a dia da comunidade hoje preserva-se
conservaccedilatildeo das formas de vida vegetais e animais na regiatildeo do assentamento e
entorno
A produccedilatildeo de mudas no viveiro eacute bastante concorrida contando com a
participaccedilatildeo de todos O viveiro produz cinco mil (5000) mudas de espeacutecies nativa
do cerrado para o reflorestamento das nascentes de aacutegua e nas aacutereas degradadas
da regiatildeo Contam com o apoio da FUNATURA FUNDACcedilAtildeO BANCO DO BRASIL
IFB Rio Satildeo Bartolomeu Vivo e UnB
-36-
38
39
Quarto Capiacutetulo
A escola que queremos expectativas e sonhos dos
acampados do Assentamento Renascer
Pode-se observar pelas falas dos entrevistados que a realidade de todos
converge para os problemas estruturais do Brasil faltam escolas no campo eacute baixa
a escolaridade em Brasiacutelia todos exercem atividades de subemprego
Todos tecircm grandes expectativas com relaccedilatildeo agrave vida futura no assentamento
objetivando melhores condiccedilotildees de vida na esperanccedila de serem beneficiaacuterios
enquanto cidadatildeos assentados das Poliacuteticas Puacuteblicas e financiamentos agriacutecolas
voltadas para a agricultura familiar como PRONAF PAA PNAE e PAPA-DF Vecircem
aiacute a possibilidade de emprego e renda situaccedilatildeo sonhada desde quando foram
pleitear a terra para reforma agraacuteria
Um olhar mais aprofundado sobre a anaacutelise de dados revela que natildeo importa o
fato de hoje residirem no DF pois como em qualquer lugar de origem os moradores
do assentamento Renascer vivenciam os mesmos problemas Percebe-se
claramente as dificuldades da inexistecircncia de escola no campo A distacircncia continua
impedindo o acesso os meios de transportes continuam precaacuterios os filhos
vivenciam a dificuldade de transferecircncia para a cidade na expectativa de
continuidade dos estudos as estradas rurais continuam esburacadas
Satildeo muitos os pontos em comum entre a situaccedilatildeo atual relatada e os problemas
vividos haacute deacutecadas em seus estados de origem o que deixa transparecer a absoluta
falta de interesse por parte do poder puacuteblico em garantir o direito constitucional agrave
educaccedilatildeo do povo do campo o que infelizmente continuaraacute deixando o triste
legado para o futuro do paiacutes
40
Repetimos a pergunta da inicial Cadecirc as escolas do campo Ateacute quando o paiacutes
vai viver essa situaccedilatildeo A anaacutelise de dados responde Natildeo eacute mais possiacutevel
continuar como estaacute
Todos os entrevistados pretendem alcanccedilar conhecimentos atraveacutes da escola do
campo implantada no Assentamento Renascer com objetivos de administrar a
propriedade participar ativamente do coletivo garantir renda fixa atraveacutes dos
programas de desenvolvimento da agricultura familiar
Os entrevistados unanimamente tecircm a preocupaccedilatildeo da manutenccedilatildeo dos laccedilos
familiares e das raiacutezes camponesas
A distacircncia entre a moradia e a escola fato relatado pela quase totalidade dos
entrevistados constitui um grande motivo de evasatildeo escolar de defasagem nas
seacuteries frequentadas de precariedade na aprendizagem em relaccedilatildeo aos demais
alunos A discriminaccedilatildeo alegada por muitos que frequentaram ou frequentam
escolas fora da faixa etaacuteria o vernaacuteculo proacuteprio dos sujeitos do campo as condiccedilotildees
precaacuterias da estrada que denunciam a condiccedilatildeo de assentado o sentimento de
inadequaccedilatildeo constituem fatores que determinam a evasatildeo escolar
Foram treze (13) entrevistados significando aproximadamente dez por cento
(10) dos moradores do Assentamento Renascer Desse total apenas dois (2)
entrevistados natildeo declararam dificuldade de distacircncia entre a moradia e a escola em
seus lugares de origem A maioria absoluta (11) pessoas declararam que a distacircncia
dificultava e impedia o acesso agrave escola Alguns relatos apresentam situaccedilotildees
precaacuterias para o homem do campo o assentado
Para o aluno do campo a distacircncia da escola tem o significado de inexistecircncia de
escola Isto porque as dificuldades de acesso satildeo enormes No caso em estudo
apenas um entrevistado declarou a inexistecircncia de escola em sua regiatildeo de
moradia Este poreacutem vivenciou todas as dificuldades de acesso que outros
assentados apresentaram em razatildeo da distacircncia moradiaescola
A falta de professores na escola rural eacute relatada por 11 dos 13 entrevistados A
distacircncia da escola para os professores dificulta segundo a vivecircncia dos
entrevistados o acesso agrave escola e a assiduidade o que muito desmotivava a
ambos
41
Os entrevistados conforme anaacutelise de dados desejam muito objetivamente a
implantaccedilatildeo imediata de escolas segundo os criteacuterios caracteriacutesticos de escola do
campo
- Trazer a realidade para dentro da escola do campo curriacuteculos voltados para o
cotidiano do aluno do campo onde as teacutecnicas agriacutecolas pecuaacuterias e agroecoloacutegicas
possam fazer parte do processo educativo da comunidade e que a escola tenha
uma gestatildeo coletiva democraacutetica com a participaccedilatildeo da comunidade
- Ter o trabalho como princiacutepio educativo A experiecircncia do aluno deve
harmonizar-se com os princiacutepios pistrakianos significar o trabalho de forma a que
ele apresente benefiacutecios para o proacuteprio indiviacuteduo para a comunidade na qual estaacute
inserido e para a sociedade e natildeo exclusivamente para servir ao capitalismo
-Superar a fragmentaccedilatildeo do conhecimento disciplinar A interdisciplinaridade
deve fazer parte dos objetivos educacionais de modo a promover a formaccedilatildeo
integral dos educandos
- Valorizar os saberes do homem do campo Os entrevistados desejam uma
escola onde possam exercitar sua vivecircncia campesina e a relaccedilatildeo dialoacutegica entre
professor-aluno seguindo a pedagogia de Paulo Freire o educando quer aprender
com o educador mas quer tambeacutem ter a oportunidade de transmitir seus saberes
- Promover espaccedilos de gestatildeo coletiva A proacutepria comunidade deve participar da
gestatildeo a elaboraccedilatildeo do PPP deve gerir o espaccedilo fiacutesico da escola para atividades
de interesse da comunidade ocupar espaccedilos para finalidades culturais esportivas
sociais tornando a escola um espaccedilo democraacutetico
- Garantir a presenccedila da comunidade e dos movimentos sociais que geram
processos que auxiliam a emancipaccedilatildeo social A escola deve tambeacutem ser espaccedilo
que auxilie a sustentabilidade e garanta a alimentaccedilatildeo saudaacutevel e recursos
fitoteraacutepicos em associaccedilatildeo com a comunidade
- Inclusatildeo tecnoloacutegica em todos os aspectos digital inovaccedilatildeo tecnoloacutegica
agropecuaacuteria recursos ambientais alternativos agua potaacutevel energia solar energia
eoacutelica fossa seacuteptica teacutecnicas de compostagem saneamento baacutesico cuidados com
os recursos hiacutedricos
A anaacutelise dos dados quando feita especificamente sobre a escola a ser
implantada pode aparentemente demonstrar uma pequena conexatildeo com as teorias
da escola do campo
42
A concepccedilatildeo da escola do campo natildeo pode ser imposta ela parte do princiacutepio
que os camponeses devem conquista-la Para essa conquista eacute necessaacuteria a
paixatildeo o desejo por algo ainda natildeo experimentado o amadurecimento poliacutetico-
social-pessoal a participaccedilatildeo coletiva na luta e na conquista
A trajetoacuteria de luta por educaccedilatildeo da comunidade Renascer apresenta estes
elementos agraves vezes difusos outras vezes mais claramente A escola bem que
poderia para alguns ser apenas uma escola rural Afinal aprender a ler e a
escrever ldquodireitordquo como alguns dizem ou seja deixar a condiccedilatildeo de analfabeto ou
analfabeto funcional para tornar-se letrado significaria avanccedilos em face das atuais
circunstacircncias Alguns entendem assim expressando-se principalmente nas
conversas informais
Apesar disso quando as respostas informais ou quando as respostas das
entrevistas satildeo analisadas mais profundamente identificamos que embora
difusamente todos desejam o programa educacional da escola do campo
Explicando melhor a participaccedilatildeo de todos da comunidade em todas as atividades
soacutecio-poliacuteticas-culturais (relatadas no terceiro capitulo) indicam que a comunidade
assimilou a postura soacutecio-politica-cultural que caracterizam a escola do campo
A vivecircncia do Assentamento Renascer no cotidiano e nos eventos coletivos
amadureceu o desejo pelo alimento intelectual cultural artiacutestico ambiental social
que a concepccedilatildeo de escola do campo introduz O programa educacional da Escola
do Campo ultrapassou as paredes fiacutesicas da escola e alcanccedilou o cotidiano dos
assentados
Os avanccedilos da conscientizaccedilatildeo e seu reflexo na vida do Assentamento Renascer
satildeo sentidos nos nuacutemeros de matriculados na LEdoC sete (7) alunos
aproximadamente dez (10) assentados prestaratildeo o proacuteximo vestibular trecircs (3)
assentados estatildeo matriculados no IFB dois(2) assentados estatildeo formados em
Teacutecnico Agropecuaacuterio tambeacutem pelo IFB um deles cursa o Tecnoacutelogo de
Agroecologia tambeacutem do IFB
Vale acrescentar que no iniacutecio de 2014 quando o IFB buscou no Assentamento
pessoas interessadas em matricular-se em seus cursos sob a condiccedilatildeo de
estudarem no ensino meacutedio o interesse foi grande e a impossibilidade pelo fato de
natildeo estarem habilitados no ensino fundamental provocou tanta discussatildeo que
estimulou essa pesquisa
43
O legado desses alunos futuros alunos e profissionais para o futuro do
Assentamento apresentaraacute resultados significativos para toda a comunidade O
futuro colheraacute bons frutos plantados agora
A escola que temos natildeo estaacute funcionando falta a renovaccedilatildeo do contrato o que
atrasa a alfabetizaccedilatildeo e conclusatildeo do 5ordm ano Falta a implantaccedilatildeo de poliacuteticas
puacuteblicas para atendimento de questotildees baacutesicas como por exemplo carteiras
quadro de giz iluminaccedilatildeo espaccedilo fiacutesico (dependecircncias para a escola) e mobiliaacuterio
-41-
44
Consideraccedilotildees Finais
A Educaccedilatildeo do campo eacute um movimento em que os trabalhadores do campo e
suas organizaccedilotildees lutam por transformaccedilotildees sociais particularmente a criaccedilatildeo de
escolas dono campo de qualidade a partir de uma perspectiva ampla de reforma
agraacuteria
A construccedilatildeo da educaccedilatildeo do campo eacute resultado do amadurecimento dos
movimentos sociais e das comunidades rurais em sua trajetoacuteria de luta pelo direito
fundamental agrave universalizaccedilatildeo escolar para as populaccedilotildees camponesas segundo
orientaccedilatildeo poliacutetico-pedagoacutegica adequada agrave realidade dos lutadores de
acampamentos e assentamentos em luta pela reforma agraacuteria e justiccedila social
Alguns princiacutepios caracterizam a luta pela escola do campo Dentre eles
podemos citar a criaccedilatildeo da consciecircncia do direito agrave educaccedilatildeo de qualidade plantada
na proacutepria comunidade o que provoca o enraizamento a valorizaccedilatildeo da vida no
campo a promoccedilatildeo da autoestima e a transformaccedilatildeo do ser alienado pela ideologia
e desigualdade social e sujeito de sua proacutepria histoacuteria
Outro princiacutepio eacute a adequaccedilatildeo de curriacuteculos agrave realidade camponesa de modo
a que o processo ensino-aprendizagem favoreccedila o amadurecimento de talentos
naturais o surgimento de oportunidades a niacutevel pessoal e social contribuindo para a
emancipaccedilatildeo poliacutetico-social do indiviacuteduo com reflexos na sociedade
A mudanccedila de paradigmas e o envolvimento social provocam a formaccedilatildeo integral
dos sujeitos que lutam de forma coletiva e solidaacuteria pela terra A escola do campo
que surge dessa mudanccedila eacute tambeacutem transformadora porque eacute fruto da luta
consciente que gera a reflexatildeo e o amadurecimento poliacutetico deixando um legado
positivo de cidadatildeos orgulhosos de sua condiccedilatildeo de lutador pela terra de sua
identidade de sua cultura de sua comunidade e coletividade
A escola do campo propicia aos alunos a reflexatildeo sobre o contexto social e a
problemaacutetica da comunidade em que estatildeo inseridos o respeito agrave individualidade a
ampliaccedilatildeo das potencialidades do aluno para organizar elaborar e atuar
coletivamente Deixam o legado futuro de homens responsaacuteveis mentes
independentes e atuantes que poderatildeo prestar serviccedilos significativos agrave sociedade
45
A comunidade assentada de o Assentamento Renascer pela Reforma
Agraacuteria em Sobradinho DF foi convidada a opinar sobre a escola que deseja a
partir da conquista da terra
O modelo proposto a partir de seu posicionamento possibilita a conclusatildeo
de que a escola do campo plantada na comunidade eacute preferiacutevel ao modelo
adotado atualmente de inserccedilatildeo dos alunos da comunidade agraves escolas urbanas
conter recursos materiais e humanos que propiciem bons resultados
pedagoacutegicos deve servir para fixar o trabalhador ao campo deve cumprir com o
propoacutesito constitucional de universalizaccedilatildeo do ensino para todas as faixas
etaacuterias deve estar identificada com os sonhos de prosperidade material e
realizaccedilatildeo pessoal dos assentados
-46-
46
Referecircncias Bibliograacuteficas
CANUTO Antocircnio In Comissatildeo Pastoral da Terra DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO 2012 pag 131) CLAUDIA MORAES DE SOUZA em seu artigo lsquoDiscursos intolerantes O lugar da poliacutetica na educaccedilatildeo rural e a representaccedilatildeo do camponecircs analfabeto (DIVERSITAS FFLCH USPBR)acesso em 03-08-2014 EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO ndash Marcos Normativos Brasilia 2012 MEC FERRARO Alceu Ravanello em seu artigo Alfabetizaccedilatildeo rural no Brasil na perspectiva das relaccedilotildees campo-cidade e de gecircnero (Educ Real ndash WWWSCIELOBRPDFEDREALV37N3PDF acesso 03-10-2014 FERREIRA (2011_ ldquoUm olhar histoacuterico uma realidade concretardquo (WWWUNIFILBR)acesso 20-10-2014
FERRARI Marco ldquoAniacutesio Teixeira o inventor da escola puacuteblica no Brasilrdquo Revista Nova Escola Fundaccedilatildeo Victor Civita Revistaescolaabrilcombr acesso em 14092014 FERREIRA Fabiano de Jesus BRANDAtildeO Elias Canuto ndash Revista Eletrocircnica de Educaccedilatildeo Ano V N 09 juldez 2011p3 ldquoEducaccedilatildeo do campo um olhar histoacuterico uma realidade concreta rdquo (WWWUNIFILBR acesso em 08 de agosto de 2014) GONCcedilALVES Luiz Alberto Oliveira e Pinto Regina Pahim EDUCACcedilAtildeO SEacuteRIE JUSTICcedilA E DESENVOLVIMENTO IFP-FCC FUNDACcedilAtildeO CARLOS CHAGAS 2007 SAtildeO PAULO (pag206)
KOLLING Edgar Jorge Vargas Caldart MST e Educaccedilatildeo in DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia Expressatildeo Popular 2012 (pag 5020
MOLINA Mocircnica SAacute Laiacutes Mouratildeo Escola do Campo in DICIONARIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia Expressatildeo Popular 2012 pg (329)
OLIVEIRA Maria Rita Duarte em sua dissertaccedilatildeo ldquoDos programas oficiais para a educaccedilatildeo rural aos projetos de educaccedilatildeo do campo dos movimentos sociaisrdquo WWWrevistalaborufcbrartigovolume1maria-ritapdf acesso em 08-09-2014
OLIVEIRA Maria Rita Duarte PEDAGOGIA EM MARCHA Apud ARROYO Satildeo Paulo1995( pg 162)
OLIVEIRA Maria Rita Duarte Revistalabor ufcbracesso em 19-10-2014
________ citando CALAZ Maria Rita Duarte Oliveira
47
SANTOS Clarice Aparecida PROGRAMA NACIONAL DE EDUCACcedilAtildeO NA REFORMA AGRAacuteRIA in DICIONARIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia2012(pg630)
________ Clarice Aparecida PROGRAMA NACIONAL DE EDUCACcedilAtildeO NA REFORMA AGRAacuteRIA BRASIacuteLIA 2012 pg 631 in DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO SANTOS Claudio Felix Dos ldquoO aprender a aprender na formaccedilatildeo de professores do campordquo Campinas 2013 Editora Autores Associados ) SOUZA Maria Antocircnia Movimentos Sociais no Brasil Contemporacircneo participaccedilatildeo e possibilidades no contexto das praacuteticas democraacuteticas ndash (wwwcesucptlab2004pdfMariaAntonia Souzapdfaceso em 24-07-2014 -48-
48
Apecircndices
1 Roteiro das Entrevistas
a) Dados dos entrevistados
Qual o seu nome
Masculino ( ) Feminino ( )
Quantos anos vocecirc tecircm
A quanto tempo mora no
assentamento
Onde vocecirc morou antes
de morar no
assentamento
Quantos anos vocecirc tinha
quando foi a escola pela
primeira vez
Estou ateacute qual seacuterieano
Quantos anos vocecirc tinha
quando parou de estudar
Qual motivo motivou vocecirc
a parar de estudar
Se tiver escola no
assentamento vocecirc voltaraacute
a estudar Porque
B) Outras informaccedilotildees dados pelos entrevistadosas (GRAVAR)
a) Em qual escola vocecirc estudou no acampamento ou em outro lugar Qual
b) Como era a escola que estudou Quais as coisas boas e coisas ruins que
tinha nesta escola
c) Conte como eacutefoi a educaccedilatildeo do assentamento o que jaacute existiu de escola
como funcionou e quais eram as boas e as coisas ruins desta escola
d) Jaacute participou de alguma accedilatildeo de mobilizaccedilatildeo para ter escola no
assentamento Se sim explique para que e como foi essa mobilizaccedilatildeo
e) Na sua opiniatildeo no assentamento deve ter escola Por quecirc
f) Como deveraacute ser a escola da comunidadeassentamento Como eacute a escola
que queremos ter
49
b) Entrevistas semi-estruturadas
Entrevistado 01
Moro no assentamento Renascer haacute 11 anos Nasci Carnauacuteba no Rio Grande do
Norte fui criado na roccedila e desde pequeno trabalhava na lavoura para ajudar meu
pai Fui para escola com 9 anos de idade estudei ateacute a 5ordm seacuterie parei de estudar
com 17 anos natildeo continuei os estudos porque era muito longe de onde eu morva
que era na cidade mais proacutexima eu tinha que andar a peacute 8 km ficava muito
cansado Casei e vim morar em Brasiacutelia para trabalhar em uma chaacutecara como
caseiro Morava na chaacutecara Buritis em sobradinho- Df tambeacutem natildeo dei para
continuar os estudos porque ficava longe e tinha que ser a noite e natildeo tinha como ir
Se vier uma escola pra caacute eu ainda vou estudar para ter mais conhecimento para
plantar minha roccedila ir no banco pra ver se assino um empreacutestimo para melhorar
minha produccedilatildeo e saber fazer conta pra administrar minha parcela de terra
Qual o seu nome
Masculino ( X ) Feminino ( )
Quantos anos vocecirc
tecircm
57 anos
A quanto tempo
mora no assentamento
11 anos
Onde vocecirc morou
antes de morar no
assentamento
Carnauacuteba ndash RN
Chaacutecara Buritis nordm 10 Sobradinho DF
Quantos anos vocecirc
tinha quando foi a escola
pela primeira vez
8 anos
Estou ateacute qual
seacuterieano
5ordf seacuterie
Quantos anos vocecirc
tinha quando parou de
estudar
24 anos
Qual motivo
motivou vocecirc a parar de
estudar
Trabalhar para sustento da famiacutelia a
distacircncia entre a casa e a escola
Se tiver escola no
assentamento vocecirc voltaraacute
a estudar Porque
Sim ldquoSe tivesse escola do ensino
fundamental voltaria a estudar para tecirc
mais conhecimento para plantar minha roccedila
50
saber pesar saber contar vendecirc os produto e
comecirc
Entrevistado 02
Moro no assentamento renascer haacute 7 anos tenho 38 vim do interior do Cearaacute
Entrei na escola com 7 anos de idade estudei soacute a 5ordm seacuterie incompleta natildeo
continuei a estudar porque natildeo tinha escola a onde eu morava que era na roccedila e eu
tinha que ficar na casa dozotro (SIC) na cidade e eu natildeo gostava disso natildeo ai parei
com 16 anos de idade Mudamo (SIC) pra Brasiacutelia pra uma chaacutecara perto de Santa
Maria-DF e natildeo dei pra estudar porque casei e tinha que trabalhar muito para
susrentar a famiacutelia A gora moro no assentamento Renascer e sei que um dia vai ter
uma escola aqui e eu vou voltar a estudar porque meu sonho eacute ser veterinaacuterio e vou
der se deus quiser
Entrevistado 03
Tenho 58 anos moro no assentamento Renascer haacute 6 anos vim de Ceres-GO
comecei a estudar quando eu tinha 10 ano de idade estudei ateacute a 4ordf seria primaacuteria
(SIC) parei de estudar quando tinha 16 anos porque eu morava na roccedila e escola
ateacute que natildeo ficava muito longe natildeo era soacute 2 km dava pra ir a peacute a professora eacute que
faltava muito e a gente natildeo tinha como saber se ela tava ou natildeoAiacute quando eu tinha
18 anos casei e vim morar em Brasiacutelia e arranjei(SIC) emprego de caseira em uma
chaacutecara aiacute natildeo pra estudar a noite porque era muito longe pra laacute entatildeo eu natildeo
pensei mais nessas coisas Quando tiver escola no assentamento quero estudar
quiecirc pra mim (SIC) fazer curso de teacutecnico agriacutecolarsquorsquo
Entrevistado 04
Tenho 24 anos moro no assentamento Renascer tem 6 ano vim da Bahia morava
no Condomiacutenio RK entrei na escola com 7 anos de idade e estudei soacute ateacute a 6ordf seacuterie
parei com 18 anos de idade
Porque mudei pra caacute pro assentamento (SIC) e natildeo tem escola e natildeo tem como ir
pra Sobradinho a noite porque eacute muito longe tem que andar 5 km eacute pirigogo (SIC)
tem muita gente mal por aiacute tem ateacute estrupador natildeo posso me arriscar
ldquoSe tivesse escola aqui eu ia terminar meus estudos podia ser no galpatildeo mesmo
pra mim tava bom mas para os meus filhos eu queria uma escola boa com internet
e tudo Eu natildeo gosto que meus filhos estuda(SIC) na cidade soacute aceito porque eacute o
jeito gente de assentamento eacute muito zombado (SIC) porque as vezes chega suja
na escola e os outros acha que eles satildeo porcos que toma banhordquo
Entrevistado 05
51
Tenho 21 anos de idade moro no Renascer haacute trecircs anos vim de satildeo Gabriel-GO
comecei a estudar aos 7 anos parei com 18 anos porque minha matildee mudou
pro(SIC) matildee mudou pro (SIC) assentamento haacute 6 anos e eu natildeo aguento morar
longe dela Quando cheguei aqui natildeo teve como continuar os estudos porque
trabalho durante o dia como manicure em Sobradinho e o uacuteltimo ocircnibus que passa
perto do assentamento eacute as 5 horas da tarde entatildeo natildeo daacute para estudar a noite
Sim porque quero fazer um curso de cabelereiro quando tiver aacutegua e luz aqui eu
quero montar um salatildeo de beleza e para ser uma empresaacuteria precisa ter estudos pra
administrar o negoacutecio
Entrevistado 06
44 anos
6 anos
Formosa-GO
8 anos
5ordf seacuterie
24 anos
Porque a escola mais perto(SIC) era 10km de distacircncia e eu trabalhava na roccedila e
ficava muito cansado aiacute parei natildeo deu mais
Sim quando tiver escola aqui eu vou voltar a estudar Eu tinha um sonho de ser
agroacutenomo mas esse sonho eacute impussive(SIC) entatildeo queria concluir o ensino
fundamental para fazer um curso de teacutecnico agriacutecola no IFB mas tambeacutem eacute longe
se tivesse como estudar aqui no assentamento eu ia(SIC) ficar muito feliz
Entrevistado 07
57 anos
6 anos
Parnaiacuteba-PI- Santa Maria- DF
7 anos
4ordf seacuterie
21 anos
Parei porque era muito difiacutecil ir para escola que ficava muito longe eu tinha que sair
de casa as 4hs da madrugada para chegar na escola as 730 ia montado num
cavalo e muitas vezes natildeo tinha professora pra dar aula Parei porque natildeo aguentei
o rojatildeo tinha que minha matildee na lida a tarde e eu ficava muito cansado Vim pra
52
Brasiacutelia e casei fui trabalhar de chacareiro numa chaacutecara que tambeacutem era longe de
escola depois vim morar aqui no assentamento que natildeo tem escola
Se tivesse escola aqui eu ia voltar estudar soacute pra aprender a cuidar meior (SIC) da
terra e dos meus bichos e que fosse como uma escola agriacutecola
Entrevistado 08
Tenho 29 anos moro no assentamento Renascer haacute 2 anos sou educadora do
Pronera haacute 1 ano e 2 meses O Pronera eacute como um antidepressivo na vida de muita
gente o Pronera melhorou a minha vida e a vida dos meus alunos o desejo de
todos eacute que o Pronera continue crescendo em direccedilatildeo de uma educaccedilatildeo continuada
levando tambeacutem o ensino fundamental para os acampamentos e assentamentos da
Reforma Agraacuteria
-50-
Anexos
53
Acampamento agrave beira da estrada ndash 2004
Construccedilatildeo da Sede do Movimento na atual aacuterea
54
Reuniatildeo semanal
Teatro de fantoches ndash brinquedoteca
55
Accedilatildeo da Pastoral da Crianccedila na brinquedoteca
Oficina de brinquedos reciclaacuteveis
56
Brinquedo confeccionado com materiais reciclaacuteveis na Brinquedoteca
57
58
59
60
Apresentaccedilatildeo teatral
61
Capacitaccedilatildeo em Economia Solidaacuteria
Formaccedilatildeo de multiplicadores da Economia Solidaacuteria
62
Capacitaccedilatildeo de Educadores Ambientais
63
Luta pela Reforma Agraacuteria e Soberania Alimentar
3
ABSTRAT
This study aims to analyze the trajectory of struggle of the landless rural workers by
the school field The rural education is understood as a movement that seeks the
concreteness of a broad education diverse and rooted in community concepts
family participation and community and focused on the transformation of the
individual and society The field school study is challenging topic in that causes social
demands and public policies for compliance with the laws that guarantee the creation
and proper functioning of these schools This research also analyzes the importance
of the field school to secure the rural community to their cultural social and family
roots in particular the need to meet the demands for school Settlement Reborn
4
SUMAacuteRIO
Apresentaccedilatildeo 07
Capitulo l As opccedilotildees de pesquisa e os passos metodoloacutegicos
11Pesquisa Qualitativa com Estudos de Caso11
Capiacutetulo ll Da Escola Rural a Escola do Campo histoacuterico das lutas e
concepccedilatildeo da Educaccedilatildeo
21 A escola rural no Brasil16
22Trajetoacuteria de luta pela Educaccedilatildeo21
23Concepccedilatildeo Pedagoacutegica da Educaccedilatildeo do Campo26
24 Princiacutepios da Educaccedilatildeo do Campo28
25 Marcos Normativos da Educaccedilatildeo do Campo29
Capiacutetulo lll A histoacuteria do Assentamento Renascer
31 Trajetoacuteria de criaccedilatildeo do assentamento aos dias atuais34
32A histoacuteria da educaccedilatildeo no assentamento Renasce Renascer34
33 A escola do Campo na vivecircncia do Assentamento Renascer35
34O caminho para a produccedilatildeo do saber no Assentamento Renascer a
brinquedoteca a integraccedilatildeo social a biblioteca comunitaacuteria e as manifestaccedilotildees
culturais 36
Capitulo lV A escola que queremos41
Consideraccedilotildees finais 46
Referecircncias Bibliograacuteficas48
Apecircndice50
Anexo55
5
Lista de Siglas
DF - Distrito Federal
EMPRAPA - Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuaacuteria
FUNATURA - Fundaccedilatildeo Proacute-Natureza
GDF- Governo do Distrito Federal
IFB - Instituto Federal de Brasiacutelia
INCRA - Instituto Nacional de Colonizaccedilatildeo e Reforma Agraacuteria
LEdoC - Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo
MEB - Movimento de Educaccedilatildeo de Base
MAT R - Movimento de Apoio ao Trabalhador Rural
MST - Movimento dos Sem Terra
ONGs - Organizaccedilatildeo natildeo Governamental
PRONERA - Programa Nacional de Educaccedilatildeo na Reforma Agraacuteria
PAIS - Produccedilatildeo Agroecoloacutegica Integrada e Sustentaacutevel
PRONAF - Programa Nacional de Fortalecimento na Agricultura Familiar
PAA - Programa de Aquisiccedilatildeo de Alimento
PNAE - Programa Nacional de Alimentaccedilatildeo Escolar
6
PAPA-DF -Programa de Aquisiccedilatildeo da Produccedilatildeo da Agricultura
PPP - Projeto Poliacutetico Pedagoacutegico
7
APRESENTACcedilAcircO
O presente trabalho de pesquisa eacute resultado da observaccedilatildeo presencial do
assentamento de Reforma Agraacuteria denominado Renascer ao longo de 11 (onze)
anos de convivecircncia Durante 5 (cinco) anos se estabeleceu um acampamento agraves
margens da rodovia DF 330 que liga Sobradinho ao Paranoaacute DF Apoacutes mobilizaccedilatildeo
dos acampados e negociaccedilatildeo com o poder puacuteblico (GDF Coleacutegio Agriacutecola de
Brasiacutelia atualmente Instituto Federal de Brasiacutelia EMBRAPA e intermediaccedilatildeo
puacuteblica) foi liberada uma aacuterea para o acampamento mudar de local e se estabelecer
onde atualmente estaacute situado (entre o Coacuterrego do Arrozal e o Coacuterrego do Meio)
Esta mudanccedila de local foi autorizada pelo governo e se concretizou em maio de
2009 Neste tempo a situaccedilatildeo do acampamento mudou para preacute-assentamento e
atualmente jaacute se encontra em situaccedilatildeo de Assentamento Rural
Durante todos esses anos foram realizados algumas atividades pedagoacutegicas
na comunidade tais como a implantaccedilatildeo de uma brinquedoteca com oficinas de
confecccedilatildeo de brinquedos para as crianccedilas acampadas utilizando materiais
reciclados uma biblioteca com livros e revistas usados obtidos atraveacutes de doaccedilatildeo de
vaacuterias pessoas simpatizantes da causa da Reforma Agraacuteria Aulas de alfabetizaccedilatildeo
de adultos no horaacuterio noturno pelo Programa Nacional de Educaccedilatildeo na Reforma
Agraacuteria (PRONERA) com recursos muito escassos mas eacute a educaccedilatildeo que nos
acompanha ateacute nos dias de hoje Atividades de arte-educaccedilatildeo para incentivos e
melhorias na interaccedilatildeo de crianccedilas e jovens exercitando a praacutetica de teatro projeccedilatildeo
de filmes recreativos e de novos conhecimentos para os moradores produccedilatildeo de
um documentaacuterio sobre a comunidade Renascer e a importacircncia da Reforma
Agraacuteria no Brasil denominado ldquoConquistar a terra Produzir o patildeordquo Com o apoio do
projeto audiovisual ndash UnB Planaltina
Para uma melhor compreensatildeo da pesquisa monograacutefica dividiu-se o texto
em capiacutetulos O Primeiro capiacutetulo aponta as opccedilotildees de pesquisa e os passos
metodoloacutegicos para sua realizaccedilatildeo No segundo capiacutetulo estudamos a transiccedilatildeo
entre a escola rural e a escola do campo O terceiro capiacutetulo relata a histoacuteria do
Assentamento Renascer e o quarto capiacutetulo relatamos o resultado da pesquisa de
campo evidenciando a Escola que temos e a Escola que queremos
8
Primeiro Capiacutetulo
As opccedilotildees da pesquisa e os passos metodoloacutegicos
O intuito deste trabalho eacute recuperar a trajetoacuteria de luta dos moradores do
assentamento Renascer pela educaccedilatildeo visando assegurar o direito agrave escola
identificando avanccedilos e limites encontrados nesta trajetoacuteria
Gostaria de manifestar minha satisfaccedilatildeo e agradecer a oportunidade de estar
estudando numa universidade puacuteblica em um curso com muita interfere com a minha
vivecircncia pessoal e de um alcance social muito importante para a transformaccedilatildeo que
nosso paiacutes necessita A desigualdade social ainda eacute muito grande no campo e na
cidade sendo bastante visiacutevel esta realidade
Sou nascida numa comunidade remota e isolada no sul do Maranhatildeo onde
nos meus primeiros anos de vida convivi em uma comunidade indiacutegena com minha
avoacute paterna comunidade de economia essencialmente extrativista principalmente
da quebra do coco babaccedilu o cultivo da mandioca para fazer farinha e da caccedila e
pesca Fiquei sem frequentar agrave escola ateacute os treze(13) anos de idade por natildeo existir
escola na comunidade Quando vim morar em Brasiacutelia e ingressei em uma escola
pela primeira vez sofri muita descriminaccedilatildeo por parte dos outros alunos devido
minha idade e a defasagem escolar Apesar de viver na cidade grande haacute bastante
tempo continuam vivas na minha alma o desejo de viver no campo Estou na luta
por um pedaccedilo de terra atraveacutes da Reforma Agraacuteria no assentamento Renascer
com o apoio do MATR- Movimento de Apoio ao Trabalhador Rural haacute onze(11)
anos atualmente estamos em fase de sermos assentados
Alguns anos atraacutes em 1992 cheguei a fazer um curso de formaccedilatildeo de
professores (Magisteacuterio) e me capacitei para trabalhar da 1ordf a 4ordf seacuterie do Ensino
Fundamental na eacutepoca Realizei alguns trabalhos nessa aacuterea mas natildeo exerci
profissionalmente esta atividade de forma regular
O tema Escola do Campo vem ao encontro a um anseio pessoal de poder
trabalhar com educaccedilatildeo voltada para a realidade vivida pelo cotidiano da populaccedilatildeo
realmente do campo A minha motivaccedilatildeo ao escolher este tema de pesquisa eacute de
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poder de alguma forma contribuir para a troca de experiecircncia e conhecimentos entre
educandos e educadores melhorando minha capacitaccedilatildeo profissional e absorver
conhecimentos e orientaccedilotildees de professores (as) e companheiros (as) de estudo
Conforme o educador Paulo Freire dizia ningueacutem tem o conhecimento de tudo
e sempre eacute capaz de conhecer mais coisas que ainda natildeo conhece se assim o
desejar
O assentamento Renascer hoje conta com um total de 120 famiacutelias satildeo
11 (onze) anos de luta e perseveranccedila tem se manifestado se mobilizado
reivindicando oportunidades de obterem escola do campo para adquirirem
conhecimentos atraveacutes do estudo que lhes permita melhorar sua capacitaccedilatildeo para o
trabalho e consequentemente ampliar seus horizontes soacutecio- econocircmico e
culturalmente ou seja progredir atraveacutes dos seus estudos e trabalho que satildeo
direitos humanos universais
Sem a inclusatildeo do ensino fundamental para trabalhadores rurais a Educaccedilatildeo
de Jovens e Adultos (EJA) para o ensino do 6ordm ao 9ordm ano o que natildeo eacute nem um pouco
acessiacutevel agrave comunidade devido a inuacutemeras dificuldades como horaacuterio disponiacutevel
falta de transporte dentre outros fatores Fica impossiacutevel o acesso dessa
comunidade aos estudos oferecidos pelo Instituto Federal de Brasiacutelia (IFB) que fica
proacuteximo a esse assentamento O IFB oferece diversos cursos que interessam e
atendem agraves necessidades dos trabalhadores do campo Desta maneira a situaccedilatildeo
atual dos moradores do Assentamento Rural Renascer demostra discriminaccedilatildeo e
exclusatildeo social por parte do poder puacuteblico
Alguns cursos e projetos teacutecnico-pedagoacutegicos realizados por parceiros do
Movimento de Apoio ao Trabalhador Rural (MATR) Como a Fundaccedilatildeo Banco do
Brasil Funatura IFB Economia Solidaacuteria Novas Fronteiras da Cooperaccedilatildeo Rio Satildeo
Bartolomeu Vivo e UnB Essas parcerias acrescentaram melhorias agrave qualidade de
vida ao assentamento
A educaccedilatildeo que temos atraveacutes do Programa de Educaccedilatildeo na Reforma
Agraacuteria (PRONERA) revela que a importacircncia do programa na realidade do
assentamento durante determinado periacuteodo satisfez algumas necessidades
educacionais tirando muitas pessoas do analfabetismo
O que ocorre atualmente eacute que o Pronera natildeo estaacute funcionando no
momento por falta da renovaccedilatildeo do contrato estre o INCRA a UnB e o Movimento
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Social MATR que vem atrasando o processo de alfabetizaccedilatildeo e conclusatildeo do
5ordm ano
Um olhar criacutetico sobre a escola que temos revela a necessidade de poliacuteticas
puacuteblicas como a implantaccedilatildeo de espaccedilos fiacutesicos contendo mobiliaacuterio escolar baacutesico
como carteiras quadro de giz e iluminaccedilatildeo adequada A observaccedilatildeo da atuaccedilatildeo do
Pronera na comunidade Renascer resultou nas seguintes observaccedilotildees
- inadequaccedilatildeo do local para realizaccedilatildeo das aulas que ateacute recentemente
funcionava de forma precaacuteria num barraco utilizado pela igreja catoacutelica o que
impossibilitava o funcionamento das aulas pois durante os eventos da igreja natildeo
tinha como realizar as atividades pedagoacutegicas
A reparaccedilatildeo dessa situaccedilatildeo de precariedade especiacutefica do assentamento
Renascer contribui para reverter a condiccedilatildeo de inferioridade dos assentados
As criacuteticas acima relacionadas satildeo positivas pois a uacutenica escola que o
acampamento teve no decorrer desses 11 (onze) anos foi o Pronera que pode
perfeitamente superar as dificuldades apontadas contribuindo com o trabalho do
educador (a) que acaba por acrescentar inuacutemeras responsabilidades que lhe natildeo
satildeo devidas ao ato de ensinar
A perseveranccedila na luta por uma escola do campo na comunidade Renascer
eacute essencial para evitar o que acontece na realidade do campo em niacutevel nacional
onde cerca de 24000 escolas brasileiras foram fechadas no meio rural
Segundo Erivam Hilaacuterio do setor de educaccedilatildeo do MST que afirma que o
fechamento dessas escolas tem sua loacutegica a intenccedilatildeo de pensar num campo sem
escola e consequentemente um campo sem cultura e sem gente
Refletinto sobre a educaccedilatildeo que queremos atraveacutes do Pronera ou outros
programas educacionais de ensino sentimos que eacute necessaacuterio uma concepccedilatildeo da
educaccedilatildeo ampla que propicia alimento intelectual moral artiacutestico e um
posicionamento criacutetico no processo social e poliacutetico tanto em niacutevel regional
nacional e universal Constitui ferramenta essencial para a formaccedilatildeo de nossa
personalidade e para a emancipaccedilatildeo da sociedade em relaccedilatildeo agrave opressatildeo e
injusticcedila
As expectativas e lutas das famiacutelias do assentamento Renascer estatildeo
alicerccediladas em parcerias junto a entidades do poder puacuteblico exemplo INCRA UnB
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e Movimentos Sociais do campo para colocar em praacutetica uma educaccedilatildeo que seja
eficaz para a Comunidade Renascer
Acredito que cada comunidade possui uma realidade um contexto muito
proacuteprio particular diferenciada de outra comunidade qualquer Os anseios as
necessidades os fatores culturais econocircmicos entre outros fatores satildeo diferentes
de lugar para lugar
A pedagogia e os meacutetodos a serem realizados em cada local deveriam ser
colocados em praacutetica somente apoacutes a comunidade local ser mobilizada e participar
ativamente na elaboraccedilatildeo deste plano de trabalho pedagoacutegico contribuindo com
ideias e vivecircncias Desta maneira a educaccedilatildeo estaria a serviccedilo do bem coletivo e
natildeo privilegiaria alguns em prejuiacutezo da coletividade A educaccedilatildeo eacute uma importante
ferramenta para o desenvolvimento de uma economia solidaacuteria e socialmente justa
politicamente livre dos espoliadores que historicamente persistem em oprimir a
maioria dos povos privando-os de seus direitos
Na maioria das escolas existentes no campo que natildeo atendem a todos mas
a uma determinada parcela da populaccedilatildeo regional a pedagogia adotada eacute
planejada formulada empacotada e imposta aos camponeses por ldquopedagogo de
gabineterdquo que vivem nas grandes cidades e natildeo respeitam os valores e realidades
regionais e locais de cada comunidade
Eacute claro que existem exceccedilotildees de trabalhos pedagoacutegicos muito bons Eacute o caso
de quando ocorre uma interaccedilatildeo entre a comunidade local e os educadores que
estatildeo ali para contribuir por uma educaccedilatildeo construiacuteda a partir da participaccedilatildeo
popular e democraacutetica na criaccedilatildeo e produccedilatildeo do processo educativo
A pesquisa seraacute fundamentada pela investigaccedilatildeo teoacuterica sobre o tema de
implantaccedilatildeo de salas de aula de ensino fundamental para trabalhadores rurais
adultos em comunidades que lutam pela reforma agraacuteria Para entender-se o
problema eacute necessaacuterio apontar a fundamentaccedilatildeo teoacuterica
A fundamentaccedilatildeo de diversas correntes de opiniatildeo eacute importante para o nosso
proacuteprio esclarecimento e para a busca conjunta com os interessados sobre qual o
melhor modelo pedagoacutegico a ser implantado na sala de aula da comunidade
A fundamentaccedilatildeo teoacuterica como satildeo vaacuterias as teorias existentes seratildeo
expostas algumas como Territoacuterios Educativos na Educaccedilatildeo do Campordquo ldquopor uma
Educaccedilatildeo do Campordquo ldquoTeoria e Praacutetica Pedagoacutegica da educaccedilatildeo do Campordquo
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rdquoPesquisa Social e accedilatildeo Pedagoacutegicardquo rdquoEtnografia e Praacutetica Escolarrdquo ldquoMetodologia
do tralho Cientiacuteficordquo e trabalhos monograacuteficos de ex-alunos do curso da LEdoC
A metodologia utilizada a pesquisa qualitativa com estudo de caso e estudo
bibliograacutefico
O estudo teve como instrumento de pesquisa a aplicaccedilatildeo de entrevista semi-
estruturada com pessoas da comunidade Renascer quando seraacute identificada sua
participaccedilatildeo e contribuiccedilatildeo para educaccedilatildeo na comunidade e sobre seu entendimento
sobre que tipo de escola do campo que a comunidade requerem relevantes para o
objetivo da pesquisa
O trabalho de campo foi para buscar informaccedilotildees atraveacutes da fala dos sujeitos
que foram ouvidos conforme citado anteriormente bem como de material que
poderaacute contribuir para o trabalho da pesquisa
A pesquisa bibliograacutefica abordou o aprofundamento teoacuterico sobre o tema
para anaacutelise da realidade da educaccedilatildeo do campo para melhor entender a situaccedilatildeo
em que o assentamento se encontra na luta pela escola
-11-
13
Segundo Capiacutetulo
Da escola rural agrave escola do campo histoacuterico das lutas e
concepccedilotildees da educaccedilatildeo
21 A Escola Rural no Brasil
Conforme Ferreira e Brandatildeo (2011) a trajetoacuteria da escola rural brasileira
deve ser contextualizada historicamente segundo o modelo socioeconocircmico
implantado no paiacutes desde o iniacutecio do processo colonizador ateacute o momento presente
Para os autores desde os primoacuterdios do processo de colonizaccedilatildeo o paiacutes foi
entendido apenas como uma colocircnia de exploraccedilatildeo devendo portanto remeter agrave
metroacutepole suas riquezas naturais do solo do subsolo dando segmento aos ciclos
econocircmicos denominados de colonial ciclo do pau brasil da cana de accediluacutecar do
ouro do cafeacute (FERREIRA amp BRANDAtildeO 2011 p3)
A base social do paiacutes eacute formada pelos nativos (iacutendios ndash expulsos
massacrados e exterminados) os africanos e os imigrantes pobres vindos da
Europa e do oriente Foi segundo os mesmos autores esta mesma base social que
formou a matildeo de obra imprescindiacutevel para a implantaccedilatildeo do projeto colonial e do
periacuteodo imperial
A aboliccedilatildeo da escravatura em 1888 e o consequente abandono da populaccedilatildeo
negra desprovida de qualquer indenizaccedilatildeo ou bens materiais particularmente terra
teve como consequecircncia o ecircxodo rural e o desprezo pela atividade agriacutecola
associada agrave escravatura
Em sua experiecircncia histoacuterica como repuacuteblica o tradicional modelo
socioeconocircmico adotado no Brasil perdurou
Ao longo da histoacuteria do Brasil o processo de exclusatildeo social e tambeacutem poliacutetico econocircmico e cultural sempre estiveram presentes e eram tidos como algo ldquonaturalrdquo Ainda nos dias atuais fazer uma referencia a este processo de exclusatildeo natildeo leva a um debate tranquilo a resistecircncia ainda eacute forte por parte da sociedade neoliberal principalmente por aqueles que ainda se beneficiam com
a exclusatildeo socialrdquo (FERREIRA 2011 pag 3)
Com relaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo o que se percebe eacute conforme Ferreira (2011)
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que o modelo de educaccedilatildeo praticado no Brasil pelos diferentes governos entre o iniacutecio do Impeacuterio (1822) ateacute meados do seacuteculo XX era uma educaccedilatildeo para a elite econocircmica e intelectual em prejuiacutezo direto e indiscriminado dos pobres negros e iacutendios Inclusive a primeira Lei ainda no periacuteodo imperial quando se reporta agrave educaccedilatildeo natildeo se ateve agraves especificidades diretas da zona rural onde a populaccedilatildeo brasileira viviardquo (FERREIRA 2011 p4)
Clauacutedio Santos (2013) afirma que a educaccedilatildeo destinada aos habitantes do
campo no inicio do seacuteculo XX entendia que ldquoa formaccedilatildeo das jovens geraccedilotildees ou dos
adultos no espaccedilo rural era tida como algo menor ou desnecessaacuteriordquo (p 47) Para o
autor a maioria de residentes no campo ( 75) natildeo foi pensado um modelo
educacional que contemplasse as necessidades dos residentes no campo o que a
histoacuteria do Brasil nos ensina eacute que o regime republicano manteve os grandes
latifuacutendios e a oligarquia rural alijando a maior parcela da populaccedilatildeo rural de
qualquer benefiacutecio do sistema poliacutetico-econocircmico
A organizaccedilatildeo escolar rural no Brasil embora tiacutemida pode ser localizada a
partir do primeiro governo republicano o do marechal Deodoro da Fonseca (1889-
1891) estando a cargo do Ministeacuterio da Agricultura Comeacutercio e Induacutestria O ecircxodo
da populaccedilatildeo rural para os incipientes centros urbanos em busca dos empregos
promovidos pela igualmente incipiente industrializaccedilatildeo evidenciava as mazelas dos
sujeitos do campo 75 da populaccedilatildeo brasileira era analfabeta igual nuacutemero da
populaccedilatildeo do campo
Somente a partir de 1920 tem-se efetivamente o primeiro movimento em
defesa da educaccedilatildeo da populaccedilatildeo rural conhecido como Ruralismo Pedagoacutegico
(SANTOS 2013) que foi um movimento dos educadores poliacuteticos e intelectuais
elaborando formas de accedilatildeo pedagoacutegicas adequados agrave dominacircncia poliacutetico-
econocircmica da oligarquia rural
Para o autor o ruralismo pedagoacutegico
defendia uma escola integrada agraves condiccedilotildees locais para promover a fixaccedilatildeo do homem do campo estava ligado agrave modernizaccedilatildeo do campo brasileiro e contava com o apoio dos latifundiaacuterios temerosos de perder sua matildeo de obra bem como de uma elite urbana preocupada com os resultados negativos de uma migraccedilatildeo
camponesa para a cidade (SANTOS2013p48)
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Uma caracteriacutestica do ruralismo pedagoacutegico foi buscar adequar a educaccedilatildeo
rural para fixar o homem no campo para diminuir o processo de urbanizaccedilatildeo e
consequente ecircxodo rural que modificava a estrutura econocircmico e social do paiacutes
Relativo agrave educaccedilatildeo rural da primeira metade do seacuteculo XX nos ensina
Santos (2013 p48) que ldquoem 1933 inicia-se a campanha de alfabetizaccedilatildeo na zona
rural Em 1935 ocorre o I Congresso Nacional do Ensino Regional que contribui
para a fundaccedilatildeo da Sociedade Brasileira de Educaccedilatildeo Rural no ano de 1937rdquo
Nos anos de 1920 foi criado o movimento conhecido como Escola Nova por
intelectuais e pensadores brasileiros que valorizaram a pesquisa educacional e a
inserccedilatildeo da escola como uacutenico meio de se combater as desigualdades sociais num
ambiente de crescente industrializaccedilatildeo e urbanizaccedilatildeo (SANTOS 2013) Estes
educadores como Aniacutesio Teixeira Fernando de Azevedo Lourenccedilo Filho dentre
outros defenderam atraveacutes do Manifesto da Escola Nova (1932) a universalizaccedilatildeo
da escola puacuteblica laica e gratuita
A influecircncia deste movimento sobre a educaccedilatildeo brasileira fez-se sentir nas geraccedilotildees futuras de educadores e pesquisadores como Darcy Ribeiro e Florestan Fernandes A atuaccedilatildeo desses pioneiros se estendeu por deacutecadas muitas vezes criticada pelos defensores da escola particular e religiosa (FERRARI 2014p43)
Poreacutem as propostas do Manifesto natildeo tiveram impactos concretos e natildeo
foram incorporados pela escola Ferraro (2012) esclarece que
A educaccedilatildeo rural no Brasil soacute se tornou objeto de interesse do Estado no momento em que todas as atenccedilotildees e esperanccedilas se voltavam para o urbano e a ecircnfase passava a recair sobre o desenvolvimento industrial Quando os interesses do latifuacutendio dominavam tanto a economia como a poliacutetica a alfabetizaccedilatildeo das massas camponesas era vista como seacuteria ameaccedila agrave ordem vigente Quando o paiacutes jaacute avanccedila no processo de industrializaccedilatildeo e se torna predominantemente urbano eacute a proacutepria cidade que passa a reivindicar a alfabetizaccedilatildeo das populaccedilotildees do campo Passa entatildeo a contrariar os interesses da cidade continua (FERRARO 2012p964)
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A industrializaccedilatildeo ocorreu nas cidades e atraiu grandes levas de
trabalhadores do campo seduzidos pelo ideal de transformaccedilatildeo de vida acesso agrave
escolarizaccedilatildeo empregos bem remunerados ideais que levam ao ecircxodo rural hoje
ou naquele momento histoacuterico A realidade do trabalhador do campo receacutem
chegado agrave cidade era do ponto de vista educacional precariacutessima pois em sua
maioria eram analfabetos ou com baixa escolarizaccedilatildeo Essa condiccedilatildeo impedia o
acesso ao emprego industrial urbano e agrave boa qualidade de vida que uma boa
remuneraccedilatildeo podia proporcionar
As cidades sofreram crescimento raacutepido desgovernado formando periferias
que abrigavam a maioria da populaccedilatildeo egressa do campo O subemprego e o
desemprego desestabilizavam as populaccedilotildees das cidades e geravam desequiliacutebrios
sociais e econocircmicos comprometendo a qualidade de vida de todos os moradores
Eacute o ciacuterculo vicioso da desigualdade da exclusatildeo e da violecircncia que a educaccedilatildeo
pode romper A educaccedilatildeo tem entatildeo o propoacutesito de formar trabalhadores para a
induacutestria urbana
Na Constituiccedilatildeo de 1934 para com a educaccedilatildeo rural destaca-se o Art 156 conforme podemos ver abaixo
A Uniatildeo e os Municiacutepios aplicaratildeo nunca menos de dez por cento e os Estados e o Distrito Federal nunca menos de vinte por cento da renda resultante dos impostos na manutenccedilatildeo e no desenvolvimento dos sistemas educativos Paraacutegrafo uacutenico ndash Para a realizaccedilatildeo do ensino nas zonas rurais a Uniatildeo reservaraacute no miacutenimo vinte por cento das cotas destinadas agrave educaccedilatildeo no respectivo orccedilamento anual
Na constituiccedilatildeo Federal de 1937 a educaccedilatildeo rural natildeo eacute citada A prioridade eacute
a educaccedilatildeo dos moradores urbanos Neste periacuteodo conforme Ferreira (2011) ldquoa
orientaccedilatildeo poliacutetico educacional para o mundo capitalista fica bem expliacutecita
sugerindo a preparaccedilatildeo de um maior contingente de matildeo de obra para as novas
atividades abertas pelo mercado ndash a industrializaccedilatildeordquo ( pg 32)
Ainda segundo o autor este afirma que em 1935 ocorreu o I Congresso
Nacional do Ensino Regional que assume como objetivo propagar a educaccedilatildeo rural
e elaborar os planos de educaccedilatildeo Esses planos recomendavam escolas rurais
ambulantes nas regiotildees de menor densidade geograacutefica
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O periacuteodo conhecido como Estado Novo (1937-1945) tentava implantar uma
poliacutetica educacional de cunho nacionalista tornando a educaccedilatildeo um instrumento do
estado servindo aos seus interesses
Os adultos analfabetos particularmente no meio rural tiveram atenccedilatildeo da
Campanha Nacional de Educaccedilatildeo Rural (CNER) de 1952 a 1963 cujo objetivo era
contribuir para a inserccedilatildeo do homem do campo O CNER atuou atraveacutes de missotildees
internacionais dos Estados Unidos voltadas agrave educaccedilatildeo ao treinamento de
professores e agrave preparaccedilatildeo dos jovens do meio rural pelo ensino profissional
agriacutecola Agrave atividade do CNER podemos agregar a accedilatildeo da Comissatildeo Brasileiro-
Americana de Educaccedilatildeo das Populaccedilotildees Rurais (CBAR) que celebrou acordos entre
esses dois paiacuteses visando a educaccedilatildeo rural orientada para o emprego de teacutecnicas
agriacutecolas (OLIVEIRA 1999 p 133)
A educaccedilatildeo rural eacute chamada para se ajustar agraves poliacuteticas educacionais estabelecidas pelo projeto do estado A educaccedilatildeo rural em primeiro lugar apesar de numerosos programas desenvolvidos sempre representou uma fatia muito pequena e marginal nas preocupaccedilotildees do setor puacuteblico (OLIVEIRA p apud CALAZANS1981p162)
A educaccedilatildeo rural ocupou e ainda ocupa pequeno espaccedilo no universo
educacional brasileiro As escolas apresentam dificuldades para se manterem no
campo Conforme o Jornal Sem Terra nordm 46 jun2011 24000 escolas do campo
foram fechadas no Brasil As instalaccedilotildees o curriacuteculo a carecircncia de professores o
transporte escolar formam muitas vezes uma barreira quase imponiacutevel para uma
ampla gama de alunos particularmente das uacuteltimas seacuteries do ensino fundamental e
do ensino meacutedio
Os programas implantados nos uacuteltimos anos como o PRONERA e o EJA
apresentam soluccedilotildees e alcanccedilam grandes resultados mas podemos questionar os
resultados entre os estados O Rio Grande do Sul (que atendeu alunos do ensino
baacutesico ateacute o ensino superior) em comparaccedilatildeo com outros estados e o Distrito
Federal conseguiu excelentes resultados No DF falta alcanccedilar melhores
resultados Podemos questionar se os resultados satildeo adequados pois por exemplo
no assentamento Renascer o Pronera natildeo vai aleacutem do quinto ano Eacute necessaacuterio
uma poliacutetica educacional que leve em conta a realidade dos alunos do campo
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invista recursos materiais e humanos modernizem as escolas e propiciem o acesso
dos alunos
Conforme nos explica Sousa 2004 em seu artigo lsquodiscursos intolerantes o
lugar da politica na educaccedilatildeo rural e a representaccedilatildeo do camponecircs analfabeto
No Brasil a trajetoacuteria da educaccedilatildeo rural inclui-se na dinacircmica de modernizaccedilatildeo do campo assumindo um papel decisivo no processo de expropriaccedilatildeo proletarizaccedilatildeo e controle dos trabalhadores rurais A modernizaccedilatildeo da produccedilatildeo no nordeste brasileiro por exemplo incentivou o processo de sindicalizaccedilatildeo em massa dos trabalhadores das zonas canavieiras estimulou reivindicaccedilotildees no campo do trabalho ligadas agrave aplicaccedilatildeo do Estatuto do Trabalhador Rural e contraditoriamente fez emergir as manifestaccedilotildees pela distribuiccedilatildeo de terras encampadas pelas Ligas Camponesas ( SOUSA2004 p4)
O projeto de modernizaccedilatildeo do campo ocorreu sem que houvesse a
emancipaccedilatildeo dos trabalhadores rurais Na verdade ocorreu a proletarizaccedilatildeo dos
trabalhadores rurais pela acumulaccedilatildeo de terras em matildeos de apenas poucos
proprietaacuterios (latifundiaacuterios) Esse acontecimento revela que apenas em processo
consciente e contiacutenuo de lutas organizados e unidos os trabalhadores rurais
poderatildeo conquistar terras e meios para sua produccedilatildeo
O estudo da organizaccedilatildeo dos trabalhadores rurais eacute importante porque eacute a
partir dela que outras grandes reivindicaccedilotildees satildeo conquistadas No caso da
presente pesquisa pode-se observar que foi a organizaccedilatildeo dos trabalhadores em
torno de suas causas a reforma agraacuteria que levou agrave luta pelas outras reivindicaccedilotildees
como a educaccedilatildeo no campo
O proacuteximo capiacutetulo deste trabalho monograacutefico aborda a questatildeo das
manifestaccedilotildees e resistecircncias dos camponeses pela educaccedilatildeo e pela reforma
agraacuteria
-16-
22 Trajetoacuteria de luta pela Educaccedilatildeo do Campo
A luta pela educaccedilatildeo do campo esteve sempre associada agrave luta pela reforma
agraacuteria e pela conquista de direitos para os trabalhadores rurais O Movimento das
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Ligas Camponesas lutou pela emancipaccedilatildeo do trabalhador rural e da reforma agraacuteria
e em seu projeto educacional estavam baseados nos ideais de Paulo Freire e do
Movimento de Educaccedilatildeo de Base (MEB)
Para explicar a reaccedilatildeo das classes populares agraves imposiccedilotildees do governo
brasileiro e das classes dominantes Oliveira (1995 apud ARROYO)
A histoacuteria das lutas entre as classes sociais natildeo se limitam agrave luta pelo poder mas se constituem impulsionadoras da histoacuteria da humanidade que natildeo aguardam passivamente seu destino mas ao contraacuterio articulam-se em torno de suas lutas para garantir seus direitos sua dignidade e sua participaccedilatildeo democraacutetica na sociedade( OLIVEIRA apud ARROYO1995p 80)
Neste sentido as Ligas Camponesas lutaram praticamente em todo o
territoacuterio nacional contra a tentativa de expulsatildeo dos trabalhadores rurais das terras
Os conflitos armados particularmente no Nordeste exigiam participaccedilatildeo poliacutetica e
direitos essenciais como a educaccedilatildeo do campo
O meacutetodo de alfabetizaccedilatildeo criado por Paulo Freire foi amplamente utilizado
pelas Ligas Camponesas e em sua concepccedilatildeo ampla de escola serviu de subsidio
para a compreensatildeo do camponecircs acerca de seu papel social (TOLEDO Caio
Navarro 2004 p6)
Neste contexto surge a Pedagogia do Oprimido de Paulo Freire Segundo
SANTOS (2013 apud Paulo Freire 1987) afirma que a pedagogia do oprimido
configura-se como
Aquela que tem de ser forjada com ele (o oprimido) e natildeo para ele enquanto homens ou povos na luta incessante de recuperaccedilatildeo de sua humanidade Pedagogia que faccedila da opressatildeo e de suas causas objeto de reflexatildeo dos oprimidos de que resultaraacute o seu engajamento necessaacuterio na luta por sua libertaccedilatildeo em que esta pedagogia se faraacute e refaraacuterdquo (FREIRE 1987 p32)
A pedagogia do oprimido serve de referecircncia para o trabalhador rural que luta
pela emancipaccedilatildeo de sua condiccedilatildeo de proletaacuterio atraveacutes da reforma agraacuteria A
pedagogia do oprimido leva o homem ao encontro de si mesmo ao reconhecimento
da grandeza de seu trabalho ao potencial de suas accedilotildees cotidianas que fazem a
diferenccedila A capacidade de reflexatildeo e o entendimento de sua potencialidade pode
leva-lo agrave sua plena realizaccedilatildeo como indiviacuteduo e como ser social
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A reaccedilatildeo do governo contra o movimento de educaccedilatildeo popular proposto por
Freire e assumido pelo Movimento das Ligas Camponesas e pelo Movimento de
Educaccedilatildeo de Base (MEB) gerou repressatildeo e resposta da ditadura civil-militar como
o Movimento Brasileiro de Alfabetizaccedilatildeo (MOBRAL)
A luta dos movimentos sociais e sindicais pela educaccedilatildeo do campo parte das
forccedilas internas dos movimentos e alcanccedila a setores sociais religiosos ideoloacutegicos
que passam a contribuir efetivamente para o alcance do direito agrave educaccedilatildeo aos
camponeses
A Comissatildeo Pastoral da Terra (CPT) presente ao lado dos trabalhadores (as)
rurais indiacutegenas ribeirinhos pescadores e quilombolas tambeacutem contribuiu e
contribui para a formaccedilatildeo criacutetica a defesa de formas sustentaacuteveis de utilizaccedilatildeo de
recursos naturais e produccedilatildeo e para a alfabetizaccedilatildeo segundo o meacutetodo de Paulo
Freire (CANUTO 2012 p 131)
Na atualidade estaacute em desenvolvimento um movimento que luta pela educaccedilatildeo do homem do campo organizado por vaacuterias entidades dentre elas o MST Trata-se de um processo que teve inicio em meados dos anos de 1990 impulsionados pela necessidade da educaccedilatildeo de jovens e adultos das aacutereas de assentamentos rurais Foi organizado um Programa Nacional para Educaccedilatildeo na Reforma Agraacuteria composto por atores tais como movimentos sociais universidades e governo federal aleacutem de outros parceiros (Alas da Igreja Sindicatos Organizaccedilatildeo Natildeo-Governamental ONG) existentes nas diferentes regiotildees do Brasil( SOUSA2004 p 32)
A trajetoacuteria de conquista das escolas do campo particularmente as escolas
do campo criadas pelo MST a partir da deacutecada de 1990 foi marcada pela conquista
e implantaccedilatildeo da Educaccedilatildeo Fundamental para crianccedilas e adolescentes dos
acampamentosassentamentos de acordo com o projeto politico-pedagoacutegico fruto do
amadurecimento do movimento
Focou-se a alfabetizaccedilatildeo de jovens e adultos e as lutas pela implantaccedilatildeo do
ensino meacutedio com cursos alternativos para a formaccedilatildeo de professores e teacutecnicos de
niacutevel meacutedio e tambeacutem de cursos superiores
A concepccedilatildeo de escolas de ensino fundamental plantadas em assentamentos
prevecirc a instalaccedilatildeo da escola na proacutepria comunidade evitando com isso o uso de
transporte escolar e a frequecircncia dos alunos Sem Terra em escolas fora do
assentamento
21
Esta atitude de resistecircncia foi fundamental para a conquista da escola nas
terras conquistadas e tambeacutem foi fundamental para universalizar o ensino enraizar
o aluno em sua comunidade e criar a consciecircncia do direito agrave educaccedilatildeo
ldquoincomodandordquo o Estado para garantir o cumprimento das poliacuteticas puacuteblicas
Kolling Vargas e Caldart (2012p502) nos ensinam ldquotoda vez que se
conquista uma escola de educaccedilatildeo baacutesica em um assentamento ou acampamento
ela representa menos adolescentes e jovens do campo fora da escola e mais gente
enraizada em seu proacuteprio lugarrdquo (pag 502)
Os movimentos sociais e sindicais pela educaccedilatildeo do campo indicam o grau
de maturidade desses em sua luta pela reforma agraacuteria Agrave essa luta soma-se o
projeto de desenvolvimento do paiacutes baseado na justiccedila social e o combate agraves
tradicionais formas utilizadas pelas elites urbanas ou rurais de alienaccedilatildeo pela
expropriaccedilatildeo do trabalho e pelo controle dos meios que levam agrave emancipaccedilatildeo
sociocultural e agrave verdadeira humanizaccedilatildeo papel destinado agrave educaccedilatildeo
Neste sentido movimentos sociais como o MST inserem a educaccedilatildeo
baseada em princiacutepios pedagoacutegicos que se distinguem da escola tradicional
Numa perspectiva histoacuterica os movimentos sociais do campo como por
exemplo o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) tiveram inicialmente
como bandeira de luta a luta pela terra pela Reforma Agraacuteria natildeo fazendo uma
relaccedilatildeo entre essa luta e a educaccedilatildeo
A formaccedilatildeo de escolas do campo pelo MST natildeo foi resultado da consciecircncia e
importacircncia da escola para a promoccedilatildeo da educaccedilatildeo em seu meio Foi na verdade
a necessidade de oferecer aos filhos dos primeiros lutadores a oportunidade de
uma perspectiva melhor de futuro atraveacutes do direito agrave educaccedilatildeo Foi tambeacutem a
necessidade de ldquotransformar instituiccedilotildees histoacutericas como a escola em lugares que
ajudem a formar os sujeitos destas transformaccedilotildeesrdquo (CALDART2012 p94)
Desse modo houve primeiro a ldquoocupaccedilatildeo da escolardquo pela mobilizaccedilatildeo e pela
accedilatildeo para garantir que em acampamentos ou assentamentos conquistados
houvesse uma escola que ldquofizesse a diferenccedila ou tivesse realmente sentido em sua
vida presente e futura (preocupaccedilatildeo com os filhos)rdquo (CALDART2012 p91)
Num segundo momento da luta observa-se intencionalidade da luta pela
escola mas com proposta pedagoacutegica especiacutefica ldquocombinando processos de
22
escolarizaccedilatildeo e de formaccedilatildeo da militacircncia e da base social Sem Terrardquo
(CALDART2012 p92)
As experiecircncias de pensar escolas como polos regionais entre assentamentos e com estudantes de outras comunidades de camponeses aos poucos vatildeo educando o olhar dos trabalhadores Sem Terra para uma realidade mais ampla Foi assim que o MST chegou agrave EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO (KOLLING Vargas e Caldart 2012 p 502)
A escola dentro dessa perspectiva de mudanccedila e envolvimento social eacute
parte da luta pela reforma agraacuteria daacute significado a ela pois proporciona a formaccedilatildeo
integral dos sujeitos que lutam pela terra
Essa escola possibilita a reflexatildeo trava o diaacutelogo com as propostas de
educaccedilatildeo popular de Paulo Freire e busca superar as dificuldades imensas que
assentados e acampados vivem no dia a dia
A escola tambeacutem revela a cultura o orgulho e criaccedilatildeo da identidade na luta
por terra Nesse sentido
A heranccedila que o MST deixaraacute para seus descendentes seraacute bem mais do que a terra que conseguir libertar do latifuacutendio seraacute um jeito de ser humano e de tomar posiccedilatildeo diante das questotildees de seu tempo seratildeo os valores que fortalecem e datildeo identidade aos lutadores do povo de todos os tempos de todos os lugares Eacute enquanto produto humano de uma obra educativa que os Sem Terra podem ser vistos como mais um elo que se forma em uma longa tradiccedilatildeo de lutadores sociais que fazem a histoacuteria da humanidade Enraizamento no passado e projeto de futuro (CALDART 2012 p 96)
A educaccedilatildeo proposta pelo movimento gera o sentimento de pertencimento e
desperta o sentimento de respeito agrave coletividade valoriza o trabalho a gestatildeo
democraacutetica e desburocratizada da escola
SANTOS (2013 p71) esclarece que pelo projeto educacional do MST a
educaccedilatildeo proposta estaacute pautada em ldquovalores socialistas e humanistas tais como o
coletivismo o trabalho socialmente uacutetil a organizaccedilatildeo e auto-organizaccedilatildeo dos
estudantes e professoresrdquo (p71)
-21-
23
221 Concepccedilatildeo Pedagoacutegica da Educaccedilatildeo do Campo
No acircmbito da educaccedilatildeo do homem do campo tornar o homem sujeito e natildeo
objeto do saber leva a entender que o conhecimento do camponecircs pode dialogar
com as praacuteticas baseadas no conhecimento cientiacutefico desde que seja perseguido o
ideal de trabalhadores e educadores do campo comprometidos com as lutas sociais
de formar o homem ldquodordquo campo e ldquono campordquo
Conforme Kolling Cerioli e Caldart (2002 p 264) ldquoo povo tem direito a uma
educaccedilatildeo pensada desde o seu lugar e com sua participaccedilatildeo vinculada agrave sua
cultura e agraves suas necessidades humanas e sociaisrdquo ndash(Caldart Educaccedilatildeo do Campo
2012 p 264
Tal compreensatildeo se ainda hoje causa oposiccedilatildeo ateacute mesmo no ambiente
acadecircmico imagine-se naquele momento histoacuterico de profunda repressatildeo poliacutetica e
ideoloacutegica aos movimentos sociais de camponeses por terra e educaccedilatildeo Como nos
ensina Molina e Saacute (DICIONAacuteRIO da Educaccedilatildeo do Campo p 324)
A concepccedilatildeo de escola do campo nasce e se desenvolve no bojo do movimento da EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO a partir das experiecircncias de formaccedilatildeo humana desenvolvidas no contexto de luta dos movimentos sociais camponeses por terra e educaccedilatildeo Trata-se portanto de uma concepccedilatildeo que emerge das contradiccedilotildees da luta social e das praacuteticas de educaccedilatildeo dos trabalhadores do e no campo (MOLINA e SAacute 2012 pag 324)
A concepccedilatildeo pedagoacutegica da educaccedilatildeo popular e da pedagogia da praacutetica
segundo ARROYO inclui
um caraacuteter de envolvimento totalizante dos movimentos sociais que possibilita ao individuo que participa destes coletivos o acesso a outro tipo de formaccedilatildeo que supera a condiccedilatildeo de aluno de alfabetizando de escolarizando Os integrantes destes organismos emersos na tensa situaccedilatildeo de conflitos aprendem por meio da vivencia das lutas sociais dos momentos de mobilizaccedilatildeo das situaccedilotildees limites de perda de emprego de criacuteticas da sociedade agraves suas accedilotildees de ameaccedilas agraves suas vidas Tudo isso traz ricas liccedilotildees ensinadas na ldquoescola do movimentordquo e que nenhuma teoria pode transmitir ou explicar de forma satisfatoacuteria
No entendimento de Arroyo (2013) os movimentos sociais vivem e
amadurecem sob o conhecimento e o entendimento das contradiccedilotildees sociais e esta
24
experiecircncia lhes permite a possibilidade de defender mudanccedilas radicais tanto no
campo como na cidade tanto na ideologia quanto no combate ao latifuacutendio e ao
capitalismo
Tamanho movimento social gera a reflexatildeo sobre as relaccedilotildees
socioeconocircmicas politicas culturais cuidado da natureza relaccedilotildees humanas
destaques de tudo o que interessa ao coletivo agrave sociedade
Eacute por meio do entendimento de que a realidade eacute criaccedilatildeo humana de como se estabelecem os processos de opressatildeo e ainda da noccedilatildeo de que podemos transformar essa realidade dado que a sociedade eacute mutaacutevel que se forma a praacutexis da luta accedilatildeo-conscientizaccedilatildeo-transformaccedilatildeo-libertaccedilatildeo Inserindo-se criticamente na histoacuteria os cidadatildeos tornam-se sujeitos construtores e reconstrutores da realidaderdquo
Molina e Saacute (2012) nos ensinam a partir do conceito de escola do campo sobre a
potencialidade da vivencia de praacuteticas coletivas para a valorizaccedilatildeo integral dos
sujeitos da coletividade do conhecimento cientiacutefico da gestatildeo coletiva da escola
dentre tantos avanccedilos e vitoacuterias dos movimentos sociais
O processo ensino-aprendizagem permite que o conceito de escola extrapole
o cotidiano de dificuldades e desafia agrave reflexatildeo que gera a emancipaccedilatildeo
Este eacute um dos maiores desafios e ao mesmo tempo uma das maiores possibilidades da escola do campo articular os conhecimentos que os educandos tecircm o direito de acessar a partir do trabalho com a realidade da religaccedilatildeo entre educaccedilatildeo cultura e os conhecimentos cientiacuteficos a serem apreendidos em cada ciclo de vida e de diferentes aacutereas do conhecimento(MOLINA MOURAtildeO 2012 p 329) -26-
222 Princiacutepios da Educaccedilatildeo do Campo
Alguns princiacutepios viabilizam o projeto de escola adotado pelos movimentos
sociais e possibilitam a democracia e a integraccedilatildeo de todos lideranccedila assentados e
acampados do movimento
25
O princiacutepio da responsabilidade coletiva sobre o planejamento a gestatildeo a
organizaccedilatildeo e a realizaccedilatildeo de tarefas em todas as esferas de atividades princiacutepios
muito valorizados pelos movimentos sociais do campo foram transferidos para o
projeto de educaccedilatildeo
O projeto eacute de responsabilidade coletiva e insere educadores tanto a niacutevel
local como regional e nacional os ldquoColetivos de educaccedilatildeordquo como satildeo conhecidos
Os coletivos de educaccedilatildeo com tarefas forccedila orgacircnica e discussotildees especiacuteficas que podem variar a cada periacuteodo fortalecem o princiacutepio organizativo de que a questatildeo da educaccedilatildeo bem como outras questotildees da vida social assumidas pelo MST deve ser pensada e implantada de forma coletiva Eacute uma loacutegica que implica tarefas a serem realizadas pelas pessoas mas mediante um planejamento e uma leitura de conjuntura feita por um coletivo (KOLLING1995 et al p503)
Para concretizar o projeto de educaccedilatildeo foi concebida a formaccedilatildeo de
professores pelos proacuteprios movimentos no acircmbito da proacutepria comunidade
(conhecidos como ldquoprofessores leigosrdquo) e tambeacutem pela rede oficial de ensino
A falta de titulaccedilatildeo de muitos educadores formados na comunidade natildeo
impede que os mesmos trabalhem juntos com os professores titulados e com
simpatizantes do movimento no projeto poliacutetico-pedagoacutegico constituindo um
princiacutepio democraacutetico importante para superar as dificuldades e urgecircncias para a
implantaccedilatildeo da educaccedilatildeo do campo
A democracia do processo de formaccedilatildeo de educadores tem reflexos amplos
a formaccedilatildeo de educadores pelos proacuteprios movimentos especiacutefica para atuaccedilatildeo nas
escolas do campo
O movimento eacute responsaacutevel pela universalizaccedilatildeo do ensino no acircmbito dos
territoacuterios conquistados ou por conquistar e permitiu a evoluccedilatildeo do ensino ateacute o niacutevel
de terceiro grau com a realizaccedilatildeo de cursos como a Licenciatura em Educaccedilatildeo do
Campo (LEdoC) do qual somos os privilegiados alunos aqui na Universidade de
Brasiacutelia
Outro reconhecimento e prova de eficiecircncia da formaccedilatildeo de professores eacute o
precircmio ldquoEducaccedilatildeo e Participaccedilatildeordquo recebido em 1995 do Fundo das Naccedilotildees Unidas
para a Infacircncia (Unicef)
26
O somatoacuterio das forccedilas internas e externas do movimento ldquoleigasrdquo ou
tituladas associadas ao princiacutepio fundamental da participaccedilatildeo dos alunos e
comunidades em todos os niacuteveis e localidades eacute ponto fundamental para o sucesso
da concepccedilatildeo do projeto pois permite o estudo a reflexatildeo conjunta sobre
estrateacutegias para o alcance do objetivo de educaccedilatildeo na reforma agraacuteria
-25-
223 Marcos Normativos da Educaccedilatildeo do Campo
Numerosos Marcos Normativos podem ser citados para explicitar qual perfil
de escola destinada ao camponecircs interessava ao governo e aos proprietaacuterios rurais
A Lei 4024 de 1961 em seu art 105 estabelece o
Apoio que poderaacute ser prestado pelo poder puacuteblico agraves iniciativas que mantenham na zona rural instituiccedilotildees educativas orientadas para adaptar o homem ao meio e estimular vocaccedilotildees e atividades profissionais (BRASIL 2012 p 4)
A Lei 5692 de 1971 ao tratar da educaccedilatildeo rural ldquonatildeo observa mais uma vez
a inclusatildeo da populaccedilatildeo na condiccedilatildeo de protagonista de um projeto social globalrdquo
sendo que o trabalho do campo realizado por alunos eacute ateacute mesmo incentivado
adequando-o ao calendaacuterio escolar (MARCOS NORMATIVOSBrasiacutelia2012 p 25)
A Lei 9394 de 1996 (Lei das Diretrizes se Bases da Educaccedilatildeo ndash LDB) em
acordo com Constituiccedilatildeo de 1988 e ldquoinspirada de alguma forma numa concepccedilatildeo
de mundo rural enquanto espaccedilo especifico diferenciado e ao mesmo tempo
integrado no conjunto da sociedaderdquo reconhece
A diversidade soacutecio-cultural e o direito agrave igualdade e agrave diferenccedila possibilitando a definiccedilatildeo de diretrizes operacionais para educaccedilatildeo rural sem no entanto recorrer a uma logica exclusiva e de ruptura com um projeto global de educaccedilatildeo para o paiacutes (idem p 26)
27
Os artigos 208 e 210 da Carta Magna-1988 e inspirada de numa concepccedilatildeo
de mundo rural enquanto espaccedilo especiacutefico diferenciado e ao mesmo tempo
integrado no conjunto da sociedade a Lei 939496- LDB-estabelece que
Art 28 Na oferta da educaccedilatildeo baacutesica para a populaccedilatildeo rural os sistemas de ensino promoveratildeo as adapta necessaacuteria agrave sua adequaccedilatildeo agraves peculiaridades da vida rural e de cada regiatildeo especialmente (MARCOS NORMATIVOS) Brasiacutelia 2012 p 25)
1- Conteuacutedos organizar curriculares e metodologias apropriadas agraves reais
necessidades e interesses dos alunos da zona rural
2-organizaccedilatildeo escolar proacutepria incluindo a adequaccedilatildeo do calendaacuterio escolar as
fases do ciclo agriacutecola e as condiccedilotildees climaacuteticas
3-adequaccedilatildeo agrave natureza do trabalho na zona rural (MARCOS NORMATIVOS)
Brasiacutelia 2012( p 26)
O movimento de educaccedilatildeo do campo luta haacute quinze (15) anos para fazer-se
cumprir esse Decreto da Lei de Diretrizes de base da educaccedilatildeo do campo-LDB
que apesar de ser constitucional ainda natildeo foi colocada totalmente em praacutetica
Agora com as lutas dos movimentos sociais eacute que estaacute comeccedilando a se concretizar
Artigo 26 Os curriacuteculos do ensino fundamental e meacutedio devem ter uma base nacional comum a ser complementada em cada sistema de ensino e estabelecimento escolar por uma parte diversificada exigida pelas caracteriacutesticas regionais e locais da sociedade
da cultura da economia e da clientela (MARCOS NORMATIVOS) Brasiacutelia 2012(p 26)
O Decreto nordm 7352 de 4 de novembro 2010 dispotildee sobre a poliacutetica de educaccedilatildeo do campo ao Programa Nacional de Educaccedilatildeo
na Reforma Agraacuteria-PRONERA decreta
Art1ordm A poliacutetica de educaccedilatildeo do campo destina-
se agrave ampliaccedilatildeo e qualificaccedilatildeo da oferta de educaccedilatildeo baacutesica e superior agraves populaccedilotildees do campo e seraacute desenvolvida pela Uniatildeo em regime de colaboraccedilatildeo com os Estados o
28
Distrito Federal e os Municiacutepios de acordo com as diretrizes e metas estabelecidas no Plano Nacional de Educaccedilatildeo e o disposto neste Decreto
Para os efeitos deste Decreto entende-se por
l-populaccedilatildeo do campo os agricultores familiares os extrativistas os pescadores
artesanais os ribeirinhos os assentados e acampados da reforma agraacuteria os
trabalhadores assalariados rurais os quilombolas os caiccedilaras os povos da floresta
os caboclos e outros que produzam suas condiccedilotildees materiais de existecircncia a partir
do trabalho no meio rural
ll-escola do campo aquela situada em aacuterea rural conforme definida pela Fundaccedilatildeo
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica- IBGE ou aquela situada em aacuterea
urbana desde que atenda predominantemente a populaccedilatildeo do campo (MARCOS
NORMATIVOS) 2012( p 81)
No Decreto 6755 29 de janeiro de 2009 em seu art 2ordm estabelecida pelo Conselho
Nacional de Educaccedilatildeo que se refere as Diretrizes Operacionais da Educaccedilatildeo do
Campo o parecer da alternacircncia
A formaccedilatildeo de professores poderaacute ser feita concomitantemente agrave atuaccedilatildeo profissional de acordo com metodologias adequadas inclusive a pedagogia da alternacircncia e sem prejuiacutezo de outras que atendam agraves especificidades da educaccedilatildeo do campo e por meio de atividades de ensino pesquisa e extensatildeo (MARCOS NORMATIVOS) 2012( p84)
-26-
29
-
231 A educaccedilatildeo do campo e poliacutetica puacuteblica - o PRONERA
O amadurecimento adquirido pela luta sobre o papel da educaccedilatildeo aliado agrave
iniciativa do aproveitamento do trabalho das professoras ldquoleigasrdquo e ainda da
consciecircncia cada vez mais presente do dever do Estado em prover os cidadatildeos da
reforma agraacuteria de poliacuteticas puacuteblicas resultou no campo da educaccedilatildeo na criaccedilatildeo do
Programa Nacional de Educaccedilatildeo na Reforma Agraacuteria (PRONERA)
O PRONERA envolve formalmente jovens e adultos num projeto conjunto
com universidades e institutos federais em prol da formaccedilatildeo de educadores para o
trabalho em escolas dos assentamentos da reforma agraacuteria e seu entorno
O Programa foi criado em 1998 no momento da ascensatildeo dos conflitos pela
reforma agraacuteria o que propiciou que os movimentos sociais trouxessem para a
opiniatildeo puacuteblica suas mazelas
No campo da educaccedilatildeo foi denunciada a falta de escola a precariedade do
ensino a falta de profissionais do ensino a ldquoloacutegica de negaccedilatildeo histoacuterica do direito
aos camponeses de acesso aos niacuteveis mais elevados de escolaridade ( SANTOS
2012 pag 630)
A partir de 2005 o ensino oferecido pelo PRONERA eacute estendido ao niacutevel
meacutedio e superior como a Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo e a Residecircncia
30
Agraacuteria O PRONERA evoluiu para outros patamares tais como ldquopossibilidades de
ressignificaccedilatildeo do conteuacutedo e da metodologia dos processos de educaccedilatildeo formal
por meio dos princiacutepios baacutesicos da participaccedilatildeo e da multiplicaccedilatildeordquo (SANTOS 2012
p 631)
A participaccedilatildeo das comunidades e suas organizaccedilotildees e a multiplicaccedilatildeo de
alfabetizados formados educadores e demais profissionais ligados agraves poliacuteticas
puacuteblicas para a Reforma Agraacuteria gerou ampla participaccedilatildeo dos agentes envolvidos
na dinacircmica do processo ensino-aprendizagem
Essa forma de gestatildeo gerou reaccedilatildeo contraacuteria ldquoagrave gestatildeo colegiada e coletiva
notadamente agrave participaccedilatildeo direta dos movimentos sociais e sindicais do campordquo
considerados ldquoentes estranhos agrave administraccedilatildeo puacuteblicardquo (CLARICE p 634)
O envolvimento dos movimentos sociais e sindicais do campo natildeo
retrocederam em sua luta pelo envolvimento de todos os interessados na educaccedilatildeo
como elemento emancipatoacuterio e continuam formulando princiacutepios concepccedilotildees e
diretrizes para a escola do campo
-31-
31
Terceiro Capiacutetulo
A histoacuteria do Assentamento Renascer
31 Uma breve histoacuteria de luta
A histoacuteria do Assentamento Renascer natildeo parece ser diferente da histoacuteria de
outros assentamentos Brasil afora Partiu da reivindicaccedilatildeo de Trabalhadores Rurais
sem Terra que desde 2004 ocuparam as margens da Rodovia DF 330 que liga
Sobradinho ao Paranoaacute-DF
Tatildeo perto do centro do poder a apenas poucos quilocircmetros do Palaacutecio da
Alvorada ou da Sede do INCRA o Acampamento Renascer esteve ateacute oito (08) de
maio de 2009 tatildeo distante da decisatildeo poliacutetica pela Reforma Agraacuteria
Somente nesta data trezentos sessenta e um( 361) de terras devolutas da
Uniatildeo foram repassadas ao INCRA para assentar as famiacutelias aliacute acampadas Ficou
criado o assentamento Renascer fora da beira da estrada
O Assentamento Renascer ldquorenasceurdquo da dificuldade de vida sob o barraco de
madeira sem aacutegua sem luz sem saneamento baacutesico que fez com que tantos
desistissem ao longo do caminho e ainda hoje se encontra nessa mesma
precariedade um descaso por parte do poder puacuteblico
A luta em vaacuterios momentos da vida dos acampados parecia estar vencida Os
vencedores pareciam ser a burocracia o desrespeito as noites mal dormidas a
inseguranccedila a falta de perspectivas para o acampado e suas famiacutelias
Duzentas (200) famiacutelias viveram aliacute por cinco anos (05) de 2004 ateacute 2009
Atualmente satildeo cento e vinte (120) famiacutelias que moram na aacuterea destinada e estatildeo
em processo de assentamento Muitas delas poreacutem vencidas pelo cansaccedilo e pelas
condiccedilotildees de vida abandonaram a luta mas todas as famiacutelias as que se foram e as
que ficaram sonharam com a terra onde poderiam produzir viam no pedaccedilo de chatildeo
os frutos do pomar da horta o galinheiro o pasto
O Assentamento Renascer eacute o Brasil Eacute um pedacinho da cruel realidade que
como vimos neste trabalho marcou a sociedade brasileira desde a escravidatildeo
desde o primeiro grito de rebeldia do quilombo desde o primeiro que lutou contra os
coroneacuteis por divisatildeo da terra como as Ligas Camponesas contra o latifuacutendio como
os movimentos sociais em sua luta pela reforma agraacuteria desde vaacuterias geraccedilotildees
32
Eacute como todo e qualquer movimento social que surgiu neste paiacutes desde a
deacutecada de 1980 pela reforma agraacuteria Viveu e ainda vive as dificuldades de ser
acampadoassentado mas honra sua luta porque natildeo desiste faacutecil
O Assentamento Renascer eacute tambeacutem fruto do ecircxodo rural da industrializaccedilatildeo
do campo da monocultura e da concentraccedilatildeo de terras Foram expulsos do campo
para a periferia das cidades sem capacitaccedilatildeo sem estudo
A falta de escolarizaccedilatildeo eacute sem duacutevida uma caracteriacutestica de quase todos os
que vieram do campo para a cidade A realidade do Brasil eacute que o campo natildeo eacute
escolarizado as escolas no campo satildeo poucas satildeo despreparadas satildeo
desvalorizadas
-33-
32 As escolas no campo na vivencia do assentado do Assentamento
Renascer
As escolas no campo marcaram profundamente a vida dos poucos que a
frequentaram Quase todos tiveram que trocar o laacutepis pela enxada a carteira pela
roccedila desde muito pequenos Alguns natildeo muito poucos conforme os depoimentos
aqui relatados teriam que abandonar a enxada e a participaccedilatildeo no sustento da
famiacutelia para frequentar a escola Quase sempre abandonaram a escola para ficar no
trabalho com a enxada
Todos teriam que andar vaacuterios quilocircmetros para ir agrave escola Outros nem assim
conseguiriam frequentar a escola no campo ela simplesmente natildeo existia no
campo Teriam entatildeo que ir para a cidade para ter direito a uma escola
Muitos tambeacutem vivenciaram os traumas que uma escola tradicional e
descomprometida com os valores e responsabilidades do projeto educacional
castigos humilhaccedilotildees afastaram a muitos da escola
Alguns apenas sonharam e sonham com a escola ldquoAh a escolardquo Tatildeo longe
inacessiacutevel para tantos no Brasil afora Ao ver de algumas pessoas do
Assentamento Renascer ldquoSe tivesse jeito eu teria ido agrave escola tinha feito pelo
menos o ensino fundamental completo para que eu pudesse ingressar no curso
33
teacutecnico-agriacutecola Mas agora quero que meus filhos e netos vatildeo para a escola
aprender ser algueacutem na vidardquo
-34-
321 A escola no entorno do Assentamento Renascer
A ideia de lutar pela educaccedilatildeo veio antes da ideia de lutar pela escola como
espaccedilo conquistado pelo acampamento Encontrar uma escola perto do
acampamento com transporte escolar com vagas e horaacuterios acessiacuteveis para os que
trabalham o dia todo era entendido como uma necessidade baacutesica e uma grande
vitoacuteria
Ficava-se feliz se apesar das dificuldades fosse possiacutevel matricular pelo
menos as crianccedilas As dificuldades eram e ainda satildeo muitas o transporte escolar
era e eacute precaacuterio a poeira natildeo permite que os alunos cheguem limpos agrave escola os
buracos e as poccedilas daacutegua impedem a chegada do ocircnibus escolar durante as
chuvas No caso do ocircnibus que levam os alunos ateacute a Escola Classe do Coacuterrego do
Arrozal em eacutepoca de muita chuva os ocircnibus ateacute o iniacutecio de 2014 natildeo conseguiam
transitar Isto resulta no fato de que as crianccedilas precisam caminhar debaixo de
chuva ateacute a escola
-35-
322 O caminho para a produccedilatildeo do saber no Assentamento Renascer a
brinquedoteca a integraccedilatildeo social a biblioteca comunitaacuteria as manifestaccedilotildees
culturais
Ao longo dos anos de vivecircncia e convivecircncia no Acampamento Renascer
mediante a dificuldade e necessidade de estudar que sentimos na nossa proacutepria
vida foi despontando a ideia de prover as crianccedilas de atividades luacutedicas e
educativas
34
Logo no iniacutecio do acampamento por volta de 2005 por iniciativa de algumas
pessoas conscientes da necessidade de atividades luacutedicas para as crianccedilas foi
criada uma brinquedoteca
Inicialmente os brinquedos eram de materiais reciclaacuteveis como garrafas pet
telefones sem fio carrinhos bonecas petecas vai e vem cavalinhos tudo era
confeccionado com a participaccedilatildeo das crianccedilas na modalidade de oficina
incentivando-os a fabricar os seus proacuteprios brinquedos Os brinquedos eram
confeccionados a partir de materiais encontrados nos lugares de descarte perto do
acampamento e doaccedilotildees de pessoas que passavam pela estrada
O embriatildeo de um processo educacional que nunca se interrompeu estava
lanccedilado a brinquedoteca proporcionou a criatividade e a participaccedilatildeo de crianccedilas e
adultos marcando as atividades pela conscientizaccedilatildeo do cuidado com a natureza e a
importacircncia da reciclagem A educaccedilatildeo ambiental jaacute era praticada desde o
nascimento do acampamento Renascer
Este primeiro passo foi muito importante porque traduziu para o dia a dia do
acampamento os princiacutepios da escola do campo atuante para mudar a realidade
criar cidadatildeos conscientes e dispostos a mudar a realidade a partir da sua proacutepria
accedilatildeo Este eacute o processo de transformaccedilatildeo social dentro do acampamento Renascer
haacute tanto tempo atraacutes
Aos brinquedos reciclados pela proacutepria comunidade juntaram-se outros
presenteados por instituiccedilotildees como igrejas ONGs a Pastoral da Crianccedila e pessoas
interessadas no bem estar daquelas crianccedilas
Percebe-se em iniciativas como essas a importacircncia da educaccedilatildeo nos
diversos niacuteveis para a sociedade A integraccedilatildeo de pessoas com as atividades
educativas no acampamento nos faz lembrar sobre um grande sonho das escolas
hoje integrar a comunidade de modo a que todos defendam a escola
O sucesso de iniciativas como a brinquedoteca que integravam crianccedilas
adolescentes adultos e sociedade foi importante para outras iniciativas igualmente
importantes
Foi-se criando um projeto educacional para o acampamento sem que se
tivesse consciecircncia disso por faltar informaccedilatildeo que soacute agora se possui graccedilas aos
estudos na Universidade o galpatildeo comunitaacuterio foi utilizado para abrigar a
35
brinquedoteca para desenvolver grupos de teatro de crianccedilas e adultos e para
abrigar a biblioteca
A biblioteca recebeu inuacutemeros exemplares de livros infantis livros didaacuteticos
para os adolescentes e adultos literatura universal revistas dos mais variados
assuntos criando assim um espaccedilo comunitaacuterio de informaccedilatildeo lazer e
entretenimento
Com a criaccedilatildeo da biblioteca ficou evidente a importacircncia da alfabetizaccedilatildeo de
crianccedilas jovens e adultos Muitos acampados relatavam a vontade e a necessidade
de aprender a ler e a escrever Muitos reivindicavam o direito agrave educaccedilatildeo e
frequecircncia agrave escola ainda que o acampamento mudasse de ldquoendereccedilordquo tantas
vezes
Outros poreacutem natildeo acreditavam que seria possiacutevel aprender ou aperfeiccediloar a
leitura e a escrita nas condiccedilotildees de vida de um acampado
Vaacuterias atividades culturais foram desenvolvidas (e ainda satildeo) no
Acampamento Renascer Todas chamavam a atenccedilatildeo da comunidade local de
outras comunidades vizinhas garantindo a simpatia de chacareiros que levavam os
filhos para participarem das atividades
Uma das atividades mais apreciadas foi o Teatro de Fantoches inspirados em
faacutebulas muitas com a autoria da Pastoral da Crianccedila e da Faber Castel A
participaccedilatildeo da comunidade na atividade era intensa e voluntaacuteria todos queriam
manipular os fantoches participar cantando danccedilando ou prestando muita atenccedilatildeo
O teatro de transformaccedilatildeo social produzido pelos adultos e adolescentes
utilizavam tambeacutem materiais reciclaacuteveis demonstrando cuidado com o meio
ambiente e amadurecimento dos conceitos poliacuteticos e pedagoacutegicos gerando reflexatildeo
sobre os temas sociais que nos atingem no cotidiano
A miacutestica adotada pelos movimentos sociais com o objetivo de reflexatildeo satildeo
apresentadas em datas comemorativas e contam com o apoio e participaccedilatildeo de
muitos
Algumas festas fazem parte da tradiccedilatildeo do Acampamento Renascer
traduzindo para a realidade atual as antigas festas a que todos foram acostumados
em seus lugares de origem
Pode-se dizer que a comunidade aprecia muito as festas Mas duas em
particular satildeo muito respeitadas a festa das crianccedilas que ocorre durante o dia (12
36
de outubro) eacute concorrida pois a comunidade se esmera para oferecer os brinquedos
que as crianccedilas amam pula-pula palhaccedilos pintura de rosto piscina de sabatildeo e
muita oferta de comida coisas que as crianccedilas adoram
No mesmo dia ocorre agrave noite a festa da Nossa Senhora Aparecida com
missa e muito forroacute
No mecircs de marccedilo eacute comemorada a Festa da Pamonha em comemoraccedilatildeo agrave
boa colheita do milho Esta festa jaacute se tornou tradicional conhecida em todo o
entorno do assentamento Egrave uma festa importante porque confraterniza a
comunidade Renascer com as comunidades vizinhas e ateacute mesmo as cidades de
Sobradinho Paranoaacute e Planaltina
Os movimentos sociais necessitam ser admirados pela sociedade e festas
como estas chamam a atenccedilatildeo para o problema da reforma agraacuteria demonstrando
que ela eacute viaacutevel e que os assentados tecircm simpatia competecircncia e seus saberes do
campo
A festa ldquojulinardquo eacute outra festa muito apreciada que apresenta as tradiccedilotildees rurais
e religiosas como quadrilhas e bandas de forroacute da comunidade e vizinhanccedila A
danccedila eacute um dos pontos fortes da festa assim como as comidas tradicionais muitas
delas com ingredientes colhidos no acampamento
Vaacuterios grupos de atividades teatrais apresentaram-se na localidade com
participaccedilatildeo de palhaccedilos lembrando um espetaacuteculo circense Alguns desses
grupos inclusive tiveram seus trabalhos premiados
Outras atividades com fundo educativo tiveram participaccedilatildeo animada de
crianccedilas e adultos A exibiccedilatildeo de desenhos animados recentemente apresentados
no cinema eram um grande atrativo para a comunidade que se via socialmente
incluiacuteda Esta inclusatildeo aumentava a autoestima das crianccedilas principalmente pois
assim elas poderiam interagir com os colegas da escola conversando a respeito dos
filmes
A Economia Solidaacuteria eacute uma das formas de inserccedilatildeo dos membros da
comunidade agrave sociedade economicamente ativa Atraveacutes da cooperaccedilatildeo solidaacuteria eacute
possiacutevel o comercio justo agriacutecolas ou artesanais sob conceitos antes
desconhecidos enquanto forma de produccedilatildeo e consumo centrado na valorizaccedilatildeo do
ser humano em contraposiccedilatildeo agraves formas capitalistas de produccedilatildeo e conscientizaccedilatildeo
37
Ao longo dos doze (12) anos de luta pela educaccedilatildeo foram promovidos
diversos cursos que capacitaram multiplicadores que fazem um trabalho importante
para a comunidade
A ideia de autogestatildeo democracia cooperaccedilatildeo auxilia natildeo soacute as formas de
produccedilatildeo e comercio de bens e artesanatos mas tambeacutem auxiliam na formaccedilatildeo
integral de pessoas em que tanto o produtor como o consumidor tem o proposito de
ganhos financeiros segundo um criteacuterio de valorizaccedilatildeo do trabalho
Proposito de formar uma nova consciecircncia a Economia Solidaacuteria promoveu
cursos de Soberania Alimentar em que a comunidade recebeu noccedilotildees praacuteticas
sobre alimentaccedilatildeo a partir da produccedilatildeo local de modo a promover uma nova cultura
alimentar que visa o combate agraves doenccedilas crocircnicas Outro proposito eacute tornar a
comunidade criacutetica em relaccedilatildeo agrave publicidade de produtos alimentiacutecio supeacuterfluo que
induz agraves crianccedilas e adultos alimentarem-se incorretamente
A comunidade participou coletivamente da implantaccedilatildeo de uma unidade da
tecnologia social denominada Produccedilatildeo Agroecoloacutegica Integrada e Sustentaacutevel
(PAIS) em 2012 com o objetivo de produzir alimentos saudaacuteveis e preservar o meio
ambiente trazendo mais alimentos e renda ao campo Esta tecnologia popularmente
conhecida como ldquohorta mandalardquo foi ministrada durante o curso de capacitaccedilatildeo
promovido pela Fundaccedilatildeo Banco do Brasil e teve o meacuterito de proporcionar o debate
e a participaccedilatildeo democraacutetica na definiccedilatildeo das culturas a serem cultivadas na futura
propriedade Vale informar que o assentamento Renascer identificou-se com esse
paradigma agroecoloacutegico
A educaccedilatildeo ambiental faz parte do dia a dia da comunidade hoje preserva-se
conservaccedilatildeo das formas de vida vegetais e animais na regiatildeo do assentamento e
entorno
A produccedilatildeo de mudas no viveiro eacute bastante concorrida contando com a
participaccedilatildeo de todos O viveiro produz cinco mil (5000) mudas de espeacutecies nativa
do cerrado para o reflorestamento das nascentes de aacutegua e nas aacutereas degradadas
da regiatildeo Contam com o apoio da FUNATURA FUNDACcedilAtildeO BANCO DO BRASIL
IFB Rio Satildeo Bartolomeu Vivo e UnB
-36-
38
39
Quarto Capiacutetulo
A escola que queremos expectativas e sonhos dos
acampados do Assentamento Renascer
Pode-se observar pelas falas dos entrevistados que a realidade de todos
converge para os problemas estruturais do Brasil faltam escolas no campo eacute baixa
a escolaridade em Brasiacutelia todos exercem atividades de subemprego
Todos tecircm grandes expectativas com relaccedilatildeo agrave vida futura no assentamento
objetivando melhores condiccedilotildees de vida na esperanccedila de serem beneficiaacuterios
enquanto cidadatildeos assentados das Poliacuteticas Puacuteblicas e financiamentos agriacutecolas
voltadas para a agricultura familiar como PRONAF PAA PNAE e PAPA-DF Vecircem
aiacute a possibilidade de emprego e renda situaccedilatildeo sonhada desde quando foram
pleitear a terra para reforma agraacuteria
Um olhar mais aprofundado sobre a anaacutelise de dados revela que natildeo importa o
fato de hoje residirem no DF pois como em qualquer lugar de origem os moradores
do assentamento Renascer vivenciam os mesmos problemas Percebe-se
claramente as dificuldades da inexistecircncia de escola no campo A distacircncia continua
impedindo o acesso os meios de transportes continuam precaacuterios os filhos
vivenciam a dificuldade de transferecircncia para a cidade na expectativa de
continuidade dos estudos as estradas rurais continuam esburacadas
Satildeo muitos os pontos em comum entre a situaccedilatildeo atual relatada e os problemas
vividos haacute deacutecadas em seus estados de origem o que deixa transparecer a absoluta
falta de interesse por parte do poder puacuteblico em garantir o direito constitucional agrave
educaccedilatildeo do povo do campo o que infelizmente continuaraacute deixando o triste
legado para o futuro do paiacutes
40
Repetimos a pergunta da inicial Cadecirc as escolas do campo Ateacute quando o paiacutes
vai viver essa situaccedilatildeo A anaacutelise de dados responde Natildeo eacute mais possiacutevel
continuar como estaacute
Todos os entrevistados pretendem alcanccedilar conhecimentos atraveacutes da escola do
campo implantada no Assentamento Renascer com objetivos de administrar a
propriedade participar ativamente do coletivo garantir renda fixa atraveacutes dos
programas de desenvolvimento da agricultura familiar
Os entrevistados unanimamente tecircm a preocupaccedilatildeo da manutenccedilatildeo dos laccedilos
familiares e das raiacutezes camponesas
A distacircncia entre a moradia e a escola fato relatado pela quase totalidade dos
entrevistados constitui um grande motivo de evasatildeo escolar de defasagem nas
seacuteries frequentadas de precariedade na aprendizagem em relaccedilatildeo aos demais
alunos A discriminaccedilatildeo alegada por muitos que frequentaram ou frequentam
escolas fora da faixa etaacuteria o vernaacuteculo proacuteprio dos sujeitos do campo as condiccedilotildees
precaacuterias da estrada que denunciam a condiccedilatildeo de assentado o sentimento de
inadequaccedilatildeo constituem fatores que determinam a evasatildeo escolar
Foram treze (13) entrevistados significando aproximadamente dez por cento
(10) dos moradores do Assentamento Renascer Desse total apenas dois (2)
entrevistados natildeo declararam dificuldade de distacircncia entre a moradia e a escola em
seus lugares de origem A maioria absoluta (11) pessoas declararam que a distacircncia
dificultava e impedia o acesso agrave escola Alguns relatos apresentam situaccedilotildees
precaacuterias para o homem do campo o assentado
Para o aluno do campo a distacircncia da escola tem o significado de inexistecircncia de
escola Isto porque as dificuldades de acesso satildeo enormes No caso em estudo
apenas um entrevistado declarou a inexistecircncia de escola em sua regiatildeo de
moradia Este poreacutem vivenciou todas as dificuldades de acesso que outros
assentados apresentaram em razatildeo da distacircncia moradiaescola
A falta de professores na escola rural eacute relatada por 11 dos 13 entrevistados A
distacircncia da escola para os professores dificulta segundo a vivecircncia dos
entrevistados o acesso agrave escola e a assiduidade o que muito desmotivava a
ambos
41
Os entrevistados conforme anaacutelise de dados desejam muito objetivamente a
implantaccedilatildeo imediata de escolas segundo os criteacuterios caracteriacutesticos de escola do
campo
- Trazer a realidade para dentro da escola do campo curriacuteculos voltados para o
cotidiano do aluno do campo onde as teacutecnicas agriacutecolas pecuaacuterias e agroecoloacutegicas
possam fazer parte do processo educativo da comunidade e que a escola tenha
uma gestatildeo coletiva democraacutetica com a participaccedilatildeo da comunidade
- Ter o trabalho como princiacutepio educativo A experiecircncia do aluno deve
harmonizar-se com os princiacutepios pistrakianos significar o trabalho de forma a que
ele apresente benefiacutecios para o proacuteprio indiviacuteduo para a comunidade na qual estaacute
inserido e para a sociedade e natildeo exclusivamente para servir ao capitalismo
-Superar a fragmentaccedilatildeo do conhecimento disciplinar A interdisciplinaridade
deve fazer parte dos objetivos educacionais de modo a promover a formaccedilatildeo
integral dos educandos
- Valorizar os saberes do homem do campo Os entrevistados desejam uma
escola onde possam exercitar sua vivecircncia campesina e a relaccedilatildeo dialoacutegica entre
professor-aluno seguindo a pedagogia de Paulo Freire o educando quer aprender
com o educador mas quer tambeacutem ter a oportunidade de transmitir seus saberes
- Promover espaccedilos de gestatildeo coletiva A proacutepria comunidade deve participar da
gestatildeo a elaboraccedilatildeo do PPP deve gerir o espaccedilo fiacutesico da escola para atividades
de interesse da comunidade ocupar espaccedilos para finalidades culturais esportivas
sociais tornando a escola um espaccedilo democraacutetico
- Garantir a presenccedila da comunidade e dos movimentos sociais que geram
processos que auxiliam a emancipaccedilatildeo social A escola deve tambeacutem ser espaccedilo
que auxilie a sustentabilidade e garanta a alimentaccedilatildeo saudaacutevel e recursos
fitoteraacutepicos em associaccedilatildeo com a comunidade
- Inclusatildeo tecnoloacutegica em todos os aspectos digital inovaccedilatildeo tecnoloacutegica
agropecuaacuteria recursos ambientais alternativos agua potaacutevel energia solar energia
eoacutelica fossa seacuteptica teacutecnicas de compostagem saneamento baacutesico cuidados com
os recursos hiacutedricos
A anaacutelise dos dados quando feita especificamente sobre a escola a ser
implantada pode aparentemente demonstrar uma pequena conexatildeo com as teorias
da escola do campo
42
A concepccedilatildeo da escola do campo natildeo pode ser imposta ela parte do princiacutepio
que os camponeses devem conquista-la Para essa conquista eacute necessaacuteria a
paixatildeo o desejo por algo ainda natildeo experimentado o amadurecimento poliacutetico-
social-pessoal a participaccedilatildeo coletiva na luta e na conquista
A trajetoacuteria de luta por educaccedilatildeo da comunidade Renascer apresenta estes
elementos agraves vezes difusos outras vezes mais claramente A escola bem que
poderia para alguns ser apenas uma escola rural Afinal aprender a ler e a
escrever ldquodireitordquo como alguns dizem ou seja deixar a condiccedilatildeo de analfabeto ou
analfabeto funcional para tornar-se letrado significaria avanccedilos em face das atuais
circunstacircncias Alguns entendem assim expressando-se principalmente nas
conversas informais
Apesar disso quando as respostas informais ou quando as respostas das
entrevistas satildeo analisadas mais profundamente identificamos que embora
difusamente todos desejam o programa educacional da escola do campo
Explicando melhor a participaccedilatildeo de todos da comunidade em todas as atividades
soacutecio-poliacuteticas-culturais (relatadas no terceiro capitulo) indicam que a comunidade
assimilou a postura soacutecio-politica-cultural que caracterizam a escola do campo
A vivecircncia do Assentamento Renascer no cotidiano e nos eventos coletivos
amadureceu o desejo pelo alimento intelectual cultural artiacutestico ambiental social
que a concepccedilatildeo de escola do campo introduz O programa educacional da Escola
do Campo ultrapassou as paredes fiacutesicas da escola e alcanccedilou o cotidiano dos
assentados
Os avanccedilos da conscientizaccedilatildeo e seu reflexo na vida do Assentamento Renascer
satildeo sentidos nos nuacutemeros de matriculados na LEdoC sete (7) alunos
aproximadamente dez (10) assentados prestaratildeo o proacuteximo vestibular trecircs (3)
assentados estatildeo matriculados no IFB dois(2) assentados estatildeo formados em
Teacutecnico Agropecuaacuterio tambeacutem pelo IFB um deles cursa o Tecnoacutelogo de
Agroecologia tambeacutem do IFB
Vale acrescentar que no iniacutecio de 2014 quando o IFB buscou no Assentamento
pessoas interessadas em matricular-se em seus cursos sob a condiccedilatildeo de
estudarem no ensino meacutedio o interesse foi grande e a impossibilidade pelo fato de
natildeo estarem habilitados no ensino fundamental provocou tanta discussatildeo que
estimulou essa pesquisa
43
O legado desses alunos futuros alunos e profissionais para o futuro do
Assentamento apresentaraacute resultados significativos para toda a comunidade O
futuro colheraacute bons frutos plantados agora
A escola que temos natildeo estaacute funcionando falta a renovaccedilatildeo do contrato o que
atrasa a alfabetizaccedilatildeo e conclusatildeo do 5ordm ano Falta a implantaccedilatildeo de poliacuteticas
puacuteblicas para atendimento de questotildees baacutesicas como por exemplo carteiras
quadro de giz iluminaccedilatildeo espaccedilo fiacutesico (dependecircncias para a escola) e mobiliaacuterio
-41-
44
Consideraccedilotildees Finais
A Educaccedilatildeo do campo eacute um movimento em que os trabalhadores do campo e
suas organizaccedilotildees lutam por transformaccedilotildees sociais particularmente a criaccedilatildeo de
escolas dono campo de qualidade a partir de uma perspectiva ampla de reforma
agraacuteria
A construccedilatildeo da educaccedilatildeo do campo eacute resultado do amadurecimento dos
movimentos sociais e das comunidades rurais em sua trajetoacuteria de luta pelo direito
fundamental agrave universalizaccedilatildeo escolar para as populaccedilotildees camponesas segundo
orientaccedilatildeo poliacutetico-pedagoacutegica adequada agrave realidade dos lutadores de
acampamentos e assentamentos em luta pela reforma agraacuteria e justiccedila social
Alguns princiacutepios caracterizam a luta pela escola do campo Dentre eles
podemos citar a criaccedilatildeo da consciecircncia do direito agrave educaccedilatildeo de qualidade plantada
na proacutepria comunidade o que provoca o enraizamento a valorizaccedilatildeo da vida no
campo a promoccedilatildeo da autoestima e a transformaccedilatildeo do ser alienado pela ideologia
e desigualdade social e sujeito de sua proacutepria histoacuteria
Outro princiacutepio eacute a adequaccedilatildeo de curriacuteculos agrave realidade camponesa de modo
a que o processo ensino-aprendizagem favoreccedila o amadurecimento de talentos
naturais o surgimento de oportunidades a niacutevel pessoal e social contribuindo para a
emancipaccedilatildeo poliacutetico-social do indiviacuteduo com reflexos na sociedade
A mudanccedila de paradigmas e o envolvimento social provocam a formaccedilatildeo integral
dos sujeitos que lutam de forma coletiva e solidaacuteria pela terra A escola do campo
que surge dessa mudanccedila eacute tambeacutem transformadora porque eacute fruto da luta
consciente que gera a reflexatildeo e o amadurecimento poliacutetico deixando um legado
positivo de cidadatildeos orgulhosos de sua condiccedilatildeo de lutador pela terra de sua
identidade de sua cultura de sua comunidade e coletividade
A escola do campo propicia aos alunos a reflexatildeo sobre o contexto social e a
problemaacutetica da comunidade em que estatildeo inseridos o respeito agrave individualidade a
ampliaccedilatildeo das potencialidades do aluno para organizar elaborar e atuar
coletivamente Deixam o legado futuro de homens responsaacuteveis mentes
independentes e atuantes que poderatildeo prestar serviccedilos significativos agrave sociedade
45
A comunidade assentada de o Assentamento Renascer pela Reforma
Agraacuteria em Sobradinho DF foi convidada a opinar sobre a escola que deseja a
partir da conquista da terra
O modelo proposto a partir de seu posicionamento possibilita a conclusatildeo
de que a escola do campo plantada na comunidade eacute preferiacutevel ao modelo
adotado atualmente de inserccedilatildeo dos alunos da comunidade agraves escolas urbanas
conter recursos materiais e humanos que propiciem bons resultados
pedagoacutegicos deve servir para fixar o trabalhador ao campo deve cumprir com o
propoacutesito constitucional de universalizaccedilatildeo do ensino para todas as faixas
etaacuterias deve estar identificada com os sonhos de prosperidade material e
realizaccedilatildeo pessoal dos assentados
-46-
46
Referecircncias Bibliograacuteficas
CANUTO Antocircnio In Comissatildeo Pastoral da Terra DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO 2012 pag 131) CLAUDIA MORAES DE SOUZA em seu artigo lsquoDiscursos intolerantes O lugar da poliacutetica na educaccedilatildeo rural e a representaccedilatildeo do camponecircs analfabeto (DIVERSITAS FFLCH USPBR)acesso em 03-08-2014 EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO ndash Marcos Normativos Brasilia 2012 MEC FERRARO Alceu Ravanello em seu artigo Alfabetizaccedilatildeo rural no Brasil na perspectiva das relaccedilotildees campo-cidade e de gecircnero (Educ Real ndash WWWSCIELOBRPDFEDREALV37N3PDF acesso 03-10-2014 FERREIRA (2011_ ldquoUm olhar histoacuterico uma realidade concretardquo (WWWUNIFILBR)acesso 20-10-2014
FERRARI Marco ldquoAniacutesio Teixeira o inventor da escola puacuteblica no Brasilrdquo Revista Nova Escola Fundaccedilatildeo Victor Civita Revistaescolaabrilcombr acesso em 14092014 FERREIRA Fabiano de Jesus BRANDAtildeO Elias Canuto ndash Revista Eletrocircnica de Educaccedilatildeo Ano V N 09 juldez 2011p3 ldquoEducaccedilatildeo do campo um olhar histoacuterico uma realidade concreta rdquo (WWWUNIFILBR acesso em 08 de agosto de 2014) GONCcedilALVES Luiz Alberto Oliveira e Pinto Regina Pahim EDUCACcedilAtildeO SEacuteRIE JUSTICcedilA E DESENVOLVIMENTO IFP-FCC FUNDACcedilAtildeO CARLOS CHAGAS 2007 SAtildeO PAULO (pag206)
KOLLING Edgar Jorge Vargas Caldart MST e Educaccedilatildeo in DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia Expressatildeo Popular 2012 (pag 5020
MOLINA Mocircnica SAacute Laiacutes Mouratildeo Escola do Campo in DICIONARIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia Expressatildeo Popular 2012 pg (329)
OLIVEIRA Maria Rita Duarte em sua dissertaccedilatildeo ldquoDos programas oficiais para a educaccedilatildeo rural aos projetos de educaccedilatildeo do campo dos movimentos sociaisrdquo WWWrevistalaborufcbrartigovolume1maria-ritapdf acesso em 08-09-2014
OLIVEIRA Maria Rita Duarte PEDAGOGIA EM MARCHA Apud ARROYO Satildeo Paulo1995( pg 162)
OLIVEIRA Maria Rita Duarte Revistalabor ufcbracesso em 19-10-2014
________ citando CALAZ Maria Rita Duarte Oliveira
47
SANTOS Clarice Aparecida PROGRAMA NACIONAL DE EDUCACcedilAtildeO NA REFORMA AGRAacuteRIA in DICIONARIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia2012(pg630)
________ Clarice Aparecida PROGRAMA NACIONAL DE EDUCACcedilAtildeO NA REFORMA AGRAacuteRIA BRASIacuteLIA 2012 pg 631 in DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO SANTOS Claudio Felix Dos ldquoO aprender a aprender na formaccedilatildeo de professores do campordquo Campinas 2013 Editora Autores Associados ) SOUZA Maria Antocircnia Movimentos Sociais no Brasil Contemporacircneo participaccedilatildeo e possibilidades no contexto das praacuteticas democraacuteticas ndash (wwwcesucptlab2004pdfMariaAntonia Souzapdfaceso em 24-07-2014 -48-
48
Apecircndices
1 Roteiro das Entrevistas
a) Dados dos entrevistados
Qual o seu nome
Masculino ( ) Feminino ( )
Quantos anos vocecirc tecircm
A quanto tempo mora no
assentamento
Onde vocecirc morou antes
de morar no
assentamento
Quantos anos vocecirc tinha
quando foi a escola pela
primeira vez
Estou ateacute qual seacuterieano
Quantos anos vocecirc tinha
quando parou de estudar
Qual motivo motivou vocecirc
a parar de estudar
Se tiver escola no
assentamento vocecirc voltaraacute
a estudar Porque
B) Outras informaccedilotildees dados pelos entrevistadosas (GRAVAR)
a) Em qual escola vocecirc estudou no acampamento ou em outro lugar Qual
b) Como era a escola que estudou Quais as coisas boas e coisas ruins que
tinha nesta escola
c) Conte como eacutefoi a educaccedilatildeo do assentamento o que jaacute existiu de escola
como funcionou e quais eram as boas e as coisas ruins desta escola
d) Jaacute participou de alguma accedilatildeo de mobilizaccedilatildeo para ter escola no
assentamento Se sim explique para que e como foi essa mobilizaccedilatildeo
e) Na sua opiniatildeo no assentamento deve ter escola Por quecirc
f) Como deveraacute ser a escola da comunidadeassentamento Como eacute a escola
que queremos ter
49
b) Entrevistas semi-estruturadas
Entrevistado 01
Moro no assentamento Renascer haacute 11 anos Nasci Carnauacuteba no Rio Grande do
Norte fui criado na roccedila e desde pequeno trabalhava na lavoura para ajudar meu
pai Fui para escola com 9 anos de idade estudei ateacute a 5ordm seacuterie parei de estudar
com 17 anos natildeo continuei os estudos porque era muito longe de onde eu morva
que era na cidade mais proacutexima eu tinha que andar a peacute 8 km ficava muito
cansado Casei e vim morar em Brasiacutelia para trabalhar em uma chaacutecara como
caseiro Morava na chaacutecara Buritis em sobradinho- Df tambeacutem natildeo dei para
continuar os estudos porque ficava longe e tinha que ser a noite e natildeo tinha como ir
Se vier uma escola pra caacute eu ainda vou estudar para ter mais conhecimento para
plantar minha roccedila ir no banco pra ver se assino um empreacutestimo para melhorar
minha produccedilatildeo e saber fazer conta pra administrar minha parcela de terra
Qual o seu nome
Masculino ( X ) Feminino ( )
Quantos anos vocecirc
tecircm
57 anos
A quanto tempo
mora no assentamento
11 anos
Onde vocecirc morou
antes de morar no
assentamento
Carnauacuteba ndash RN
Chaacutecara Buritis nordm 10 Sobradinho DF
Quantos anos vocecirc
tinha quando foi a escola
pela primeira vez
8 anos
Estou ateacute qual
seacuterieano
5ordf seacuterie
Quantos anos vocecirc
tinha quando parou de
estudar
24 anos
Qual motivo
motivou vocecirc a parar de
estudar
Trabalhar para sustento da famiacutelia a
distacircncia entre a casa e a escola
Se tiver escola no
assentamento vocecirc voltaraacute
a estudar Porque
Sim ldquoSe tivesse escola do ensino
fundamental voltaria a estudar para tecirc
mais conhecimento para plantar minha roccedila
50
saber pesar saber contar vendecirc os produto e
comecirc
Entrevistado 02
Moro no assentamento renascer haacute 7 anos tenho 38 vim do interior do Cearaacute
Entrei na escola com 7 anos de idade estudei soacute a 5ordm seacuterie incompleta natildeo
continuei a estudar porque natildeo tinha escola a onde eu morava que era na roccedila e eu
tinha que ficar na casa dozotro (SIC) na cidade e eu natildeo gostava disso natildeo ai parei
com 16 anos de idade Mudamo (SIC) pra Brasiacutelia pra uma chaacutecara perto de Santa
Maria-DF e natildeo dei pra estudar porque casei e tinha que trabalhar muito para
susrentar a famiacutelia A gora moro no assentamento Renascer e sei que um dia vai ter
uma escola aqui e eu vou voltar a estudar porque meu sonho eacute ser veterinaacuterio e vou
der se deus quiser
Entrevistado 03
Tenho 58 anos moro no assentamento Renascer haacute 6 anos vim de Ceres-GO
comecei a estudar quando eu tinha 10 ano de idade estudei ateacute a 4ordf seria primaacuteria
(SIC) parei de estudar quando tinha 16 anos porque eu morava na roccedila e escola
ateacute que natildeo ficava muito longe natildeo era soacute 2 km dava pra ir a peacute a professora eacute que
faltava muito e a gente natildeo tinha como saber se ela tava ou natildeoAiacute quando eu tinha
18 anos casei e vim morar em Brasiacutelia e arranjei(SIC) emprego de caseira em uma
chaacutecara aiacute natildeo pra estudar a noite porque era muito longe pra laacute entatildeo eu natildeo
pensei mais nessas coisas Quando tiver escola no assentamento quero estudar
quiecirc pra mim (SIC) fazer curso de teacutecnico agriacutecolarsquorsquo
Entrevistado 04
Tenho 24 anos moro no assentamento Renascer tem 6 ano vim da Bahia morava
no Condomiacutenio RK entrei na escola com 7 anos de idade e estudei soacute ateacute a 6ordf seacuterie
parei com 18 anos de idade
Porque mudei pra caacute pro assentamento (SIC) e natildeo tem escola e natildeo tem como ir
pra Sobradinho a noite porque eacute muito longe tem que andar 5 km eacute pirigogo (SIC)
tem muita gente mal por aiacute tem ateacute estrupador natildeo posso me arriscar
ldquoSe tivesse escola aqui eu ia terminar meus estudos podia ser no galpatildeo mesmo
pra mim tava bom mas para os meus filhos eu queria uma escola boa com internet
e tudo Eu natildeo gosto que meus filhos estuda(SIC) na cidade soacute aceito porque eacute o
jeito gente de assentamento eacute muito zombado (SIC) porque as vezes chega suja
na escola e os outros acha que eles satildeo porcos que toma banhordquo
Entrevistado 05
51
Tenho 21 anos de idade moro no Renascer haacute trecircs anos vim de satildeo Gabriel-GO
comecei a estudar aos 7 anos parei com 18 anos porque minha matildee mudou
pro(SIC) matildee mudou pro (SIC) assentamento haacute 6 anos e eu natildeo aguento morar
longe dela Quando cheguei aqui natildeo teve como continuar os estudos porque
trabalho durante o dia como manicure em Sobradinho e o uacuteltimo ocircnibus que passa
perto do assentamento eacute as 5 horas da tarde entatildeo natildeo daacute para estudar a noite
Sim porque quero fazer um curso de cabelereiro quando tiver aacutegua e luz aqui eu
quero montar um salatildeo de beleza e para ser uma empresaacuteria precisa ter estudos pra
administrar o negoacutecio
Entrevistado 06
44 anos
6 anos
Formosa-GO
8 anos
5ordf seacuterie
24 anos
Porque a escola mais perto(SIC) era 10km de distacircncia e eu trabalhava na roccedila e
ficava muito cansado aiacute parei natildeo deu mais
Sim quando tiver escola aqui eu vou voltar a estudar Eu tinha um sonho de ser
agroacutenomo mas esse sonho eacute impussive(SIC) entatildeo queria concluir o ensino
fundamental para fazer um curso de teacutecnico agriacutecola no IFB mas tambeacutem eacute longe
se tivesse como estudar aqui no assentamento eu ia(SIC) ficar muito feliz
Entrevistado 07
57 anos
6 anos
Parnaiacuteba-PI- Santa Maria- DF
7 anos
4ordf seacuterie
21 anos
Parei porque era muito difiacutecil ir para escola que ficava muito longe eu tinha que sair
de casa as 4hs da madrugada para chegar na escola as 730 ia montado num
cavalo e muitas vezes natildeo tinha professora pra dar aula Parei porque natildeo aguentei
o rojatildeo tinha que minha matildee na lida a tarde e eu ficava muito cansado Vim pra
52
Brasiacutelia e casei fui trabalhar de chacareiro numa chaacutecara que tambeacutem era longe de
escola depois vim morar aqui no assentamento que natildeo tem escola
Se tivesse escola aqui eu ia voltar estudar soacute pra aprender a cuidar meior (SIC) da
terra e dos meus bichos e que fosse como uma escola agriacutecola
Entrevistado 08
Tenho 29 anos moro no assentamento Renascer haacute 2 anos sou educadora do
Pronera haacute 1 ano e 2 meses O Pronera eacute como um antidepressivo na vida de muita
gente o Pronera melhorou a minha vida e a vida dos meus alunos o desejo de
todos eacute que o Pronera continue crescendo em direccedilatildeo de uma educaccedilatildeo continuada
levando tambeacutem o ensino fundamental para os acampamentos e assentamentos da
Reforma Agraacuteria
-50-
Anexos
53
Acampamento agrave beira da estrada ndash 2004
Construccedilatildeo da Sede do Movimento na atual aacuterea
54
Reuniatildeo semanal
Teatro de fantoches ndash brinquedoteca
55
Accedilatildeo da Pastoral da Crianccedila na brinquedoteca
Oficina de brinquedos reciclaacuteveis
56
Brinquedo confeccionado com materiais reciclaacuteveis na Brinquedoteca
57
58
59
60
Apresentaccedilatildeo teatral
61
Capacitaccedilatildeo em Economia Solidaacuteria
Formaccedilatildeo de multiplicadores da Economia Solidaacuteria
62
Capacitaccedilatildeo de Educadores Ambientais
63
Luta pela Reforma Agraacuteria e Soberania Alimentar
4
SUMAacuteRIO
Apresentaccedilatildeo 07
Capitulo l As opccedilotildees de pesquisa e os passos metodoloacutegicos
11Pesquisa Qualitativa com Estudos de Caso11
Capiacutetulo ll Da Escola Rural a Escola do Campo histoacuterico das lutas e
concepccedilatildeo da Educaccedilatildeo
21 A escola rural no Brasil16
22Trajetoacuteria de luta pela Educaccedilatildeo21
23Concepccedilatildeo Pedagoacutegica da Educaccedilatildeo do Campo26
24 Princiacutepios da Educaccedilatildeo do Campo28
25 Marcos Normativos da Educaccedilatildeo do Campo29
Capiacutetulo lll A histoacuteria do Assentamento Renascer
31 Trajetoacuteria de criaccedilatildeo do assentamento aos dias atuais34
32A histoacuteria da educaccedilatildeo no assentamento Renasce Renascer34
33 A escola do Campo na vivecircncia do Assentamento Renascer35
34O caminho para a produccedilatildeo do saber no Assentamento Renascer a
brinquedoteca a integraccedilatildeo social a biblioteca comunitaacuteria e as manifestaccedilotildees
culturais 36
Capitulo lV A escola que queremos41
Consideraccedilotildees finais 46
Referecircncias Bibliograacuteficas48
Apecircndice50
Anexo55
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Lista de Siglas
DF - Distrito Federal
EMPRAPA - Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuaacuteria
FUNATURA - Fundaccedilatildeo Proacute-Natureza
GDF- Governo do Distrito Federal
IFB - Instituto Federal de Brasiacutelia
INCRA - Instituto Nacional de Colonizaccedilatildeo e Reforma Agraacuteria
LEdoC - Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo
MEB - Movimento de Educaccedilatildeo de Base
MAT R - Movimento de Apoio ao Trabalhador Rural
MST - Movimento dos Sem Terra
ONGs - Organizaccedilatildeo natildeo Governamental
PRONERA - Programa Nacional de Educaccedilatildeo na Reforma Agraacuteria
PAIS - Produccedilatildeo Agroecoloacutegica Integrada e Sustentaacutevel
PRONAF - Programa Nacional de Fortalecimento na Agricultura Familiar
PAA - Programa de Aquisiccedilatildeo de Alimento
PNAE - Programa Nacional de Alimentaccedilatildeo Escolar
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PAPA-DF -Programa de Aquisiccedilatildeo da Produccedilatildeo da Agricultura
PPP - Projeto Poliacutetico Pedagoacutegico
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APRESENTACcedilAcircO
O presente trabalho de pesquisa eacute resultado da observaccedilatildeo presencial do
assentamento de Reforma Agraacuteria denominado Renascer ao longo de 11 (onze)
anos de convivecircncia Durante 5 (cinco) anos se estabeleceu um acampamento agraves
margens da rodovia DF 330 que liga Sobradinho ao Paranoaacute DF Apoacutes mobilizaccedilatildeo
dos acampados e negociaccedilatildeo com o poder puacuteblico (GDF Coleacutegio Agriacutecola de
Brasiacutelia atualmente Instituto Federal de Brasiacutelia EMBRAPA e intermediaccedilatildeo
puacuteblica) foi liberada uma aacuterea para o acampamento mudar de local e se estabelecer
onde atualmente estaacute situado (entre o Coacuterrego do Arrozal e o Coacuterrego do Meio)
Esta mudanccedila de local foi autorizada pelo governo e se concretizou em maio de
2009 Neste tempo a situaccedilatildeo do acampamento mudou para preacute-assentamento e
atualmente jaacute se encontra em situaccedilatildeo de Assentamento Rural
Durante todos esses anos foram realizados algumas atividades pedagoacutegicas
na comunidade tais como a implantaccedilatildeo de uma brinquedoteca com oficinas de
confecccedilatildeo de brinquedos para as crianccedilas acampadas utilizando materiais
reciclados uma biblioteca com livros e revistas usados obtidos atraveacutes de doaccedilatildeo de
vaacuterias pessoas simpatizantes da causa da Reforma Agraacuteria Aulas de alfabetizaccedilatildeo
de adultos no horaacuterio noturno pelo Programa Nacional de Educaccedilatildeo na Reforma
Agraacuteria (PRONERA) com recursos muito escassos mas eacute a educaccedilatildeo que nos
acompanha ateacute nos dias de hoje Atividades de arte-educaccedilatildeo para incentivos e
melhorias na interaccedilatildeo de crianccedilas e jovens exercitando a praacutetica de teatro projeccedilatildeo
de filmes recreativos e de novos conhecimentos para os moradores produccedilatildeo de
um documentaacuterio sobre a comunidade Renascer e a importacircncia da Reforma
Agraacuteria no Brasil denominado ldquoConquistar a terra Produzir o patildeordquo Com o apoio do
projeto audiovisual ndash UnB Planaltina
Para uma melhor compreensatildeo da pesquisa monograacutefica dividiu-se o texto
em capiacutetulos O Primeiro capiacutetulo aponta as opccedilotildees de pesquisa e os passos
metodoloacutegicos para sua realizaccedilatildeo No segundo capiacutetulo estudamos a transiccedilatildeo
entre a escola rural e a escola do campo O terceiro capiacutetulo relata a histoacuteria do
Assentamento Renascer e o quarto capiacutetulo relatamos o resultado da pesquisa de
campo evidenciando a Escola que temos e a Escola que queremos
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Primeiro Capiacutetulo
As opccedilotildees da pesquisa e os passos metodoloacutegicos
O intuito deste trabalho eacute recuperar a trajetoacuteria de luta dos moradores do
assentamento Renascer pela educaccedilatildeo visando assegurar o direito agrave escola
identificando avanccedilos e limites encontrados nesta trajetoacuteria
Gostaria de manifestar minha satisfaccedilatildeo e agradecer a oportunidade de estar
estudando numa universidade puacuteblica em um curso com muita interfere com a minha
vivecircncia pessoal e de um alcance social muito importante para a transformaccedilatildeo que
nosso paiacutes necessita A desigualdade social ainda eacute muito grande no campo e na
cidade sendo bastante visiacutevel esta realidade
Sou nascida numa comunidade remota e isolada no sul do Maranhatildeo onde
nos meus primeiros anos de vida convivi em uma comunidade indiacutegena com minha
avoacute paterna comunidade de economia essencialmente extrativista principalmente
da quebra do coco babaccedilu o cultivo da mandioca para fazer farinha e da caccedila e
pesca Fiquei sem frequentar agrave escola ateacute os treze(13) anos de idade por natildeo existir
escola na comunidade Quando vim morar em Brasiacutelia e ingressei em uma escola
pela primeira vez sofri muita descriminaccedilatildeo por parte dos outros alunos devido
minha idade e a defasagem escolar Apesar de viver na cidade grande haacute bastante
tempo continuam vivas na minha alma o desejo de viver no campo Estou na luta
por um pedaccedilo de terra atraveacutes da Reforma Agraacuteria no assentamento Renascer
com o apoio do MATR- Movimento de Apoio ao Trabalhador Rural haacute onze(11)
anos atualmente estamos em fase de sermos assentados
Alguns anos atraacutes em 1992 cheguei a fazer um curso de formaccedilatildeo de
professores (Magisteacuterio) e me capacitei para trabalhar da 1ordf a 4ordf seacuterie do Ensino
Fundamental na eacutepoca Realizei alguns trabalhos nessa aacuterea mas natildeo exerci
profissionalmente esta atividade de forma regular
O tema Escola do Campo vem ao encontro a um anseio pessoal de poder
trabalhar com educaccedilatildeo voltada para a realidade vivida pelo cotidiano da populaccedilatildeo
realmente do campo A minha motivaccedilatildeo ao escolher este tema de pesquisa eacute de
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poder de alguma forma contribuir para a troca de experiecircncia e conhecimentos entre
educandos e educadores melhorando minha capacitaccedilatildeo profissional e absorver
conhecimentos e orientaccedilotildees de professores (as) e companheiros (as) de estudo
Conforme o educador Paulo Freire dizia ningueacutem tem o conhecimento de tudo
e sempre eacute capaz de conhecer mais coisas que ainda natildeo conhece se assim o
desejar
O assentamento Renascer hoje conta com um total de 120 famiacutelias satildeo
11 (onze) anos de luta e perseveranccedila tem se manifestado se mobilizado
reivindicando oportunidades de obterem escola do campo para adquirirem
conhecimentos atraveacutes do estudo que lhes permita melhorar sua capacitaccedilatildeo para o
trabalho e consequentemente ampliar seus horizontes soacutecio- econocircmico e
culturalmente ou seja progredir atraveacutes dos seus estudos e trabalho que satildeo
direitos humanos universais
Sem a inclusatildeo do ensino fundamental para trabalhadores rurais a Educaccedilatildeo
de Jovens e Adultos (EJA) para o ensino do 6ordm ao 9ordm ano o que natildeo eacute nem um pouco
acessiacutevel agrave comunidade devido a inuacutemeras dificuldades como horaacuterio disponiacutevel
falta de transporte dentre outros fatores Fica impossiacutevel o acesso dessa
comunidade aos estudos oferecidos pelo Instituto Federal de Brasiacutelia (IFB) que fica
proacuteximo a esse assentamento O IFB oferece diversos cursos que interessam e
atendem agraves necessidades dos trabalhadores do campo Desta maneira a situaccedilatildeo
atual dos moradores do Assentamento Rural Renascer demostra discriminaccedilatildeo e
exclusatildeo social por parte do poder puacuteblico
Alguns cursos e projetos teacutecnico-pedagoacutegicos realizados por parceiros do
Movimento de Apoio ao Trabalhador Rural (MATR) Como a Fundaccedilatildeo Banco do
Brasil Funatura IFB Economia Solidaacuteria Novas Fronteiras da Cooperaccedilatildeo Rio Satildeo
Bartolomeu Vivo e UnB Essas parcerias acrescentaram melhorias agrave qualidade de
vida ao assentamento
A educaccedilatildeo que temos atraveacutes do Programa de Educaccedilatildeo na Reforma
Agraacuteria (PRONERA) revela que a importacircncia do programa na realidade do
assentamento durante determinado periacuteodo satisfez algumas necessidades
educacionais tirando muitas pessoas do analfabetismo
O que ocorre atualmente eacute que o Pronera natildeo estaacute funcionando no
momento por falta da renovaccedilatildeo do contrato estre o INCRA a UnB e o Movimento
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Social MATR que vem atrasando o processo de alfabetizaccedilatildeo e conclusatildeo do
5ordm ano
Um olhar criacutetico sobre a escola que temos revela a necessidade de poliacuteticas
puacuteblicas como a implantaccedilatildeo de espaccedilos fiacutesicos contendo mobiliaacuterio escolar baacutesico
como carteiras quadro de giz e iluminaccedilatildeo adequada A observaccedilatildeo da atuaccedilatildeo do
Pronera na comunidade Renascer resultou nas seguintes observaccedilotildees
- inadequaccedilatildeo do local para realizaccedilatildeo das aulas que ateacute recentemente
funcionava de forma precaacuteria num barraco utilizado pela igreja catoacutelica o que
impossibilitava o funcionamento das aulas pois durante os eventos da igreja natildeo
tinha como realizar as atividades pedagoacutegicas
A reparaccedilatildeo dessa situaccedilatildeo de precariedade especiacutefica do assentamento
Renascer contribui para reverter a condiccedilatildeo de inferioridade dos assentados
As criacuteticas acima relacionadas satildeo positivas pois a uacutenica escola que o
acampamento teve no decorrer desses 11 (onze) anos foi o Pronera que pode
perfeitamente superar as dificuldades apontadas contribuindo com o trabalho do
educador (a) que acaba por acrescentar inuacutemeras responsabilidades que lhe natildeo
satildeo devidas ao ato de ensinar
A perseveranccedila na luta por uma escola do campo na comunidade Renascer
eacute essencial para evitar o que acontece na realidade do campo em niacutevel nacional
onde cerca de 24000 escolas brasileiras foram fechadas no meio rural
Segundo Erivam Hilaacuterio do setor de educaccedilatildeo do MST que afirma que o
fechamento dessas escolas tem sua loacutegica a intenccedilatildeo de pensar num campo sem
escola e consequentemente um campo sem cultura e sem gente
Refletinto sobre a educaccedilatildeo que queremos atraveacutes do Pronera ou outros
programas educacionais de ensino sentimos que eacute necessaacuterio uma concepccedilatildeo da
educaccedilatildeo ampla que propicia alimento intelectual moral artiacutestico e um
posicionamento criacutetico no processo social e poliacutetico tanto em niacutevel regional
nacional e universal Constitui ferramenta essencial para a formaccedilatildeo de nossa
personalidade e para a emancipaccedilatildeo da sociedade em relaccedilatildeo agrave opressatildeo e
injusticcedila
As expectativas e lutas das famiacutelias do assentamento Renascer estatildeo
alicerccediladas em parcerias junto a entidades do poder puacuteblico exemplo INCRA UnB
11
e Movimentos Sociais do campo para colocar em praacutetica uma educaccedilatildeo que seja
eficaz para a Comunidade Renascer
Acredito que cada comunidade possui uma realidade um contexto muito
proacuteprio particular diferenciada de outra comunidade qualquer Os anseios as
necessidades os fatores culturais econocircmicos entre outros fatores satildeo diferentes
de lugar para lugar
A pedagogia e os meacutetodos a serem realizados em cada local deveriam ser
colocados em praacutetica somente apoacutes a comunidade local ser mobilizada e participar
ativamente na elaboraccedilatildeo deste plano de trabalho pedagoacutegico contribuindo com
ideias e vivecircncias Desta maneira a educaccedilatildeo estaria a serviccedilo do bem coletivo e
natildeo privilegiaria alguns em prejuiacutezo da coletividade A educaccedilatildeo eacute uma importante
ferramenta para o desenvolvimento de uma economia solidaacuteria e socialmente justa
politicamente livre dos espoliadores que historicamente persistem em oprimir a
maioria dos povos privando-os de seus direitos
Na maioria das escolas existentes no campo que natildeo atendem a todos mas
a uma determinada parcela da populaccedilatildeo regional a pedagogia adotada eacute
planejada formulada empacotada e imposta aos camponeses por ldquopedagogo de
gabineterdquo que vivem nas grandes cidades e natildeo respeitam os valores e realidades
regionais e locais de cada comunidade
Eacute claro que existem exceccedilotildees de trabalhos pedagoacutegicos muito bons Eacute o caso
de quando ocorre uma interaccedilatildeo entre a comunidade local e os educadores que
estatildeo ali para contribuir por uma educaccedilatildeo construiacuteda a partir da participaccedilatildeo
popular e democraacutetica na criaccedilatildeo e produccedilatildeo do processo educativo
A pesquisa seraacute fundamentada pela investigaccedilatildeo teoacuterica sobre o tema de
implantaccedilatildeo de salas de aula de ensino fundamental para trabalhadores rurais
adultos em comunidades que lutam pela reforma agraacuteria Para entender-se o
problema eacute necessaacuterio apontar a fundamentaccedilatildeo teoacuterica
A fundamentaccedilatildeo de diversas correntes de opiniatildeo eacute importante para o nosso
proacuteprio esclarecimento e para a busca conjunta com os interessados sobre qual o
melhor modelo pedagoacutegico a ser implantado na sala de aula da comunidade
A fundamentaccedilatildeo teoacuterica como satildeo vaacuterias as teorias existentes seratildeo
expostas algumas como Territoacuterios Educativos na Educaccedilatildeo do Campordquo ldquopor uma
Educaccedilatildeo do Campordquo ldquoTeoria e Praacutetica Pedagoacutegica da educaccedilatildeo do Campordquo
12
rdquoPesquisa Social e accedilatildeo Pedagoacutegicardquo rdquoEtnografia e Praacutetica Escolarrdquo ldquoMetodologia
do tralho Cientiacuteficordquo e trabalhos monograacuteficos de ex-alunos do curso da LEdoC
A metodologia utilizada a pesquisa qualitativa com estudo de caso e estudo
bibliograacutefico
O estudo teve como instrumento de pesquisa a aplicaccedilatildeo de entrevista semi-
estruturada com pessoas da comunidade Renascer quando seraacute identificada sua
participaccedilatildeo e contribuiccedilatildeo para educaccedilatildeo na comunidade e sobre seu entendimento
sobre que tipo de escola do campo que a comunidade requerem relevantes para o
objetivo da pesquisa
O trabalho de campo foi para buscar informaccedilotildees atraveacutes da fala dos sujeitos
que foram ouvidos conforme citado anteriormente bem como de material que
poderaacute contribuir para o trabalho da pesquisa
A pesquisa bibliograacutefica abordou o aprofundamento teoacuterico sobre o tema
para anaacutelise da realidade da educaccedilatildeo do campo para melhor entender a situaccedilatildeo
em que o assentamento se encontra na luta pela escola
-11-
13
Segundo Capiacutetulo
Da escola rural agrave escola do campo histoacuterico das lutas e
concepccedilotildees da educaccedilatildeo
21 A Escola Rural no Brasil
Conforme Ferreira e Brandatildeo (2011) a trajetoacuteria da escola rural brasileira
deve ser contextualizada historicamente segundo o modelo socioeconocircmico
implantado no paiacutes desde o iniacutecio do processo colonizador ateacute o momento presente
Para os autores desde os primoacuterdios do processo de colonizaccedilatildeo o paiacutes foi
entendido apenas como uma colocircnia de exploraccedilatildeo devendo portanto remeter agrave
metroacutepole suas riquezas naturais do solo do subsolo dando segmento aos ciclos
econocircmicos denominados de colonial ciclo do pau brasil da cana de accediluacutecar do
ouro do cafeacute (FERREIRA amp BRANDAtildeO 2011 p3)
A base social do paiacutes eacute formada pelos nativos (iacutendios ndash expulsos
massacrados e exterminados) os africanos e os imigrantes pobres vindos da
Europa e do oriente Foi segundo os mesmos autores esta mesma base social que
formou a matildeo de obra imprescindiacutevel para a implantaccedilatildeo do projeto colonial e do
periacuteodo imperial
A aboliccedilatildeo da escravatura em 1888 e o consequente abandono da populaccedilatildeo
negra desprovida de qualquer indenizaccedilatildeo ou bens materiais particularmente terra
teve como consequecircncia o ecircxodo rural e o desprezo pela atividade agriacutecola
associada agrave escravatura
Em sua experiecircncia histoacuterica como repuacuteblica o tradicional modelo
socioeconocircmico adotado no Brasil perdurou
Ao longo da histoacuteria do Brasil o processo de exclusatildeo social e tambeacutem poliacutetico econocircmico e cultural sempre estiveram presentes e eram tidos como algo ldquonaturalrdquo Ainda nos dias atuais fazer uma referencia a este processo de exclusatildeo natildeo leva a um debate tranquilo a resistecircncia ainda eacute forte por parte da sociedade neoliberal principalmente por aqueles que ainda se beneficiam com
a exclusatildeo socialrdquo (FERREIRA 2011 pag 3)
Com relaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo o que se percebe eacute conforme Ferreira (2011)
14
que o modelo de educaccedilatildeo praticado no Brasil pelos diferentes governos entre o iniacutecio do Impeacuterio (1822) ateacute meados do seacuteculo XX era uma educaccedilatildeo para a elite econocircmica e intelectual em prejuiacutezo direto e indiscriminado dos pobres negros e iacutendios Inclusive a primeira Lei ainda no periacuteodo imperial quando se reporta agrave educaccedilatildeo natildeo se ateve agraves especificidades diretas da zona rural onde a populaccedilatildeo brasileira viviardquo (FERREIRA 2011 p4)
Clauacutedio Santos (2013) afirma que a educaccedilatildeo destinada aos habitantes do
campo no inicio do seacuteculo XX entendia que ldquoa formaccedilatildeo das jovens geraccedilotildees ou dos
adultos no espaccedilo rural era tida como algo menor ou desnecessaacuteriordquo (p 47) Para o
autor a maioria de residentes no campo ( 75) natildeo foi pensado um modelo
educacional que contemplasse as necessidades dos residentes no campo o que a
histoacuteria do Brasil nos ensina eacute que o regime republicano manteve os grandes
latifuacutendios e a oligarquia rural alijando a maior parcela da populaccedilatildeo rural de
qualquer benefiacutecio do sistema poliacutetico-econocircmico
A organizaccedilatildeo escolar rural no Brasil embora tiacutemida pode ser localizada a
partir do primeiro governo republicano o do marechal Deodoro da Fonseca (1889-
1891) estando a cargo do Ministeacuterio da Agricultura Comeacutercio e Induacutestria O ecircxodo
da populaccedilatildeo rural para os incipientes centros urbanos em busca dos empregos
promovidos pela igualmente incipiente industrializaccedilatildeo evidenciava as mazelas dos
sujeitos do campo 75 da populaccedilatildeo brasileira era analfabeta igual nuacutemero da
populaccedilatildeo do campo
Somente a partir de 1920 tem-se efetivamente o primeiro movimento em
defesa da educaccedilatildeo da populaccedilatildeo rural conhecido como Ruralismo Pedagoacutegico
(SANTOS 2013) que foi um movimento dos educadores poliacuteticos e intelectuais
elaborando formas de accedilatildeo pedagoacutegicas adequados agrave dominacircncia poliacutetico-
econocircmica da oligarquia rural
Para o autor o ruralismo pedagoacutegico
defendia uma escola integrada agraves condiccedilotildees locais para promover a fixaccedilatildeo do homem do campo estava ligado agrave modernizaccedilatildeo do campo brasileiro e contava com o apoio dos latifundiaacuterios temerosos de perder sua matildeo de obra bem como de uma elite urbana preocupada com os resultados negativos de uma migraccedilatildeo
camponesa para a cidade (SANTOS2013p48)
15
Uma caracteriacutestica do ruralismo pedagoacutegico foi buscar adequar a educaccedilatildeo
rural para fixar o homem no campo para diminuir o processo de urbanizaccedilatildeo e
consequente ecircxodo rural que modificava a estrutura econocircmico e social do paiacutes
Relativo agrave educaccedilatildeo rural da primeira metade do seacuteculo XX nos ensina
Santos (2013 p48) que ldquoem 1933 inicia-se a campanha de alfabetizaccedilatildeo na zona
rural Em 1935 ocorre o I Congresso Nacional do Ensino Regional que contribui
para a fundaccedilatildeo da Sociedade Brasileira de Educaccedilatildeo Rural no ano de 1937rdquo
Nos anos de 1920 foi criado o movimento conhecido como Escola Nova por
intelectuais e pensadores brasileiros que valorizaram a pesquisa educacional e a
inserccedilatildeo da escola como uacutenico meio de se combater as desigualdades sociais num
ambiente de crescente industrializaccedilatildeo e urbanizaccedilatildeo (SANTOS 2013) Estes
educadores como Aniacutesio Teixeira Fernando de Azevedo Lourenccedilo Filho dentre
outros defenderam atraveacutes do Manifesto da Escola Nova (1932) a universalizaccedilatildeo
da escola puacuteblica laica e gratuita
A influecircncia deste movimento sobre a educaccedilatildeo brasileira fez-se sentir nas geraccedilotildees futuras de educadores e pesquisadores como Darcy Ribeiro e Florestan Fernandes A atuaccedilatildeo desses pioneiros se estendeu por deacutecadas muitas vezes criticada pelos defensores da escola particular e religiosa (FERRARI 2014p43)
Poreacutem as propostas do Manifesto natildeo tiveram impactos concretos e natildeo
foram incorporados pela escola Ferraro (2012) esclarece que
A educaccedilatildeo rural no Brasil soacute se tornou objeto de interesse do Estado no momento em que todas as atenccedilotildees e esperanccedilas se voltavam para o urbano e a ecircnfase passava a recair sobre o desenvolvimento industrial Quando os interesses do latifuacutendio dominavam tanto a economia como a poliacutetica a alfabetizaccedilatildeo das massas camponesas era vista como seacuteria ameaccedila agrave ordem vigente Quando o paiacutes jaacute avanccedila no processo de industrializaccedilatildeo e se torna predominantemente urbano eacute a proacutepria cidade que passa a reivindicar a alfabetizaccedilatildeo das populaccedilotildees do campo Passa entatildeo a contrariar os interesses da cidade continua (FERRARO 2012p964)
16
A industrializaccedilatildeo ocorreu nas cidades e atraiu grandes levas de
trabalhadores do campo seduzidos pelo ideal de transformaccedilatildeo de vida acesso agrave
escolarizaccedilatildeo empregos bem remunerados ideais que levam ao ecircxodo rural hoje
ou naquele momento histoacuterico A realidade do trabalhador do campo receacutem
chegado agrave cidade era do ponto de vista educacional precariacutessima pois em sua
maioria eram analfabetos ou com baixa escolarizaccedilatildeo Essa condiccedilatildeo impedia o
acesso ao emprego industrial urbano e agrave boa qualidade de vida que uma boa
remuneraccedilatildeo podia proporcionar
As cidades sofreram crescimento raacutepido desgovernado formando periferias
que abrigavam a maioria da populaccedilatildeo egressa do campo O subemprego e o
desemprego desestabilizavam as populaccedilotildees das cidades e geravam desequiliacutebrios
sociais e econocircmicos comprometendo a qualidade de vida de todos os moradores
Eacute o ciacuterculo vicioso da desigualdade da exclusatildeo e da violecircncia que a educaccedilatildeo
pode romper A educaccedilatildeo tem entatildeo o propoacutesito de formar trabalhadores para a
induacutestria urbana
Na Constituiccedilatildeo de 1934 para com a educaccedilatildeo rural destaca-se o Art 156 conforme podemos ver abaixo
A Uniatildeo e os Municiacutepios aplicaratildeo nunca menos de dez por cento e os Estados e o Distrito Federal nunca menos de vinte por cento da renda resultante dos impostos na manutenccedilatildeo e no desenvolvimento dos sistemas educativos Paraacutegrafo uacutenico ndash Para a realizaccedilatildeo do ensino nas zonas rurais a Uniatildeo reservaraacute no miacutenimo vinte por cento das cotas destinadas agrave educaccedilatildeo no respectivo orccedilamento anual
Na constituiccedilatildeo Federal de 1937 a educaccedilatildeo rural natildeo eacute citada A prioridade eacute
a educaccedilatildeo dos moradores urbanos Neste periacuteodo conforme Ferreira (2011) ldquoa
orientaccedilatildeo poliacutetico educacional para o mundo capitalista fica bem expliacutecita
sugerindo a preparaccedilatildeo de um maior contingente de matildeo de obra para as novas
atividades abertas pelo mercado ndash a industrializaccedilatildeordquo ( pg 32)
Ainda segundo o autor este afirma que em 1935 ocorreu o I Congresso
Nacional do Ensino Regional que assume como objetivo propagar a educaccedilatildeo rural
e elaborar os planos de educaccedilatildeo Esses planos recomendavam escolas rurais
ambulantes nas regiotildees de menor densidade geograacutefica
17
O periacuteodo conhecido como Estado Novo (1937-1945) tentava implantar uma
poliacutetica educacional de cunho nacionalista tornando a educaccedilatildeo um instrumento do
estado servindo aos seus interesses
Os adultos analfabetos particularmente no meio rural tiveram atenccedilatildeo da
Campanha Nacional de Educaccedilatildeo Rural (CNER) de 1952 a 1963 cujo objetivo era
contribuir para a inserccedilatildeo do homem do campo O CNER atuou atraveacutes de missotildees
internacionais dos Estados Unidos voltadas agrave educaccedilatildeo ao treinamento de
professores e agrave preparaccedilatildeo dos jovens do meio rural pelo ensino profissional
agriacutecola Agrave atividade do CNER podemos agregar a accedilatildeo da Comissatildeo Brasileiro-
Americana de Educaccedilatildeo das Populaccedilotildees Rurais (CBAR) que celebrou acordos entre
esses dois paiacuteses visando a educaccedilatildeo rural orientada para o emprego de teacutecnicas
agriacutecolas (OLIVEIRA 1999 p 133)
A educaccedilatildeo rural eacute chamada para se ajustar agraves poliacuteticas educacionais estabelecidas pelo projeto do estado A educaccedilatildeo rural em primeiro lugar apesar de numerosos programas desenvolvidos sempre representou uma fatia muito pequena e marginal nas preocupaccedilotildees do setor puacuteblico (OLIVEIRA p apud CALAZANS1981p162)
A educaccedilatildeo rural ocupou e ainda ocupa pequeno espaccedilo no universo
educacional brasileiro As escolas apresentam dificuldades para se manterem no
campo Conforme o Jornal Sem Terra nordm 46 jun2011 24000 escolas do campo
foram fechadas no Brasil As instalaccedilotildees o curriacuteculo a carecircncia de professores o
transporte escolar formam muitas vezes uma barreira quase imponiacutevel para uma
ampla gama de alunos particularmente das uacuteltimas seacuteries do ensino fundamental e
do ensino meacutedio
Os programas implantados nos uacuteltimos anos como o PRONERA e o EJA
apresentam soluccedilotildees e alcanccedilam grandes resultados mas podemos questionar os
resultados entre os estados O Rio Grande do Sul (que atendeu alunos do ensino
baacutesico ateacute o ensino superior) em comparaccedilatildeo com outros estados e o Distrito
Federal conseguiu excelentes resultados No DF falta alcanccedilar melhores
resultados Podemos questionar se os resultados satildeo adequados pois por exemplo
no assentamento Renascer o Pronera natildeo vai aleacutem do quinto ano Eacute necessaacuterio
uma poliacutetica educacional que leve em conta a realidade dos alunos do campo
18
invista recursos materiais e humanos modernizem as escolas e propiciem o acesso
dos alunos
Conforme nos explica Sousa 2004 em seu artigo lsquodiscursos intolerantes o
lugar da politica na educaccedilatildeo rural e a representaccedilatildeo do camponecircs analfabeto
No Brasil a trajetoacuteria da educaccedilatildeo rural inclui-se na dinacircmica de modernizaccedilatildeo do campo assumindo um papel decisivo no processo de expropriaccedilatildeo proletarizaccedilatildeo e controle dos trabalhadores rurais A modernizaccedilatildeo da produccedilatildeo no nordeste brasileiro por exemplo incentivou o processo de sindicalizaccedilatildeo em massa dos trabalhadores das zonas canavieiras estimulou reivindicaccedilotildees no campo do trabalho ligadas agrave aplicaccedilatildeo do Estatuto do Trabalhador Rural e contraditoriamente fez emergir as manifestaccedilotildees pela distribuiccedilatildeo de terras encampadas pelas Ligas Camponesas ( SOUSA2004 p4)
O projeto de modernizaccedilatildeo do campo ocorreu sem que houvesse a
emancipaccedilatildeo dos trabalhadores rurais Na verdade ocorreu a proletarizaccedilatildeo dos
trabalhadores rurais pela acumulaccedilatildeo de terras em matildeos de apenas poucos
proprietaacuterios (latifundiaacuterios) Esse acontecimento revela que apenas em processo
consciente e contiacutenuo de lutas organizados e unidos os trabalhadores rurais
poderatildeo conquistar terras e meios para sua produccedilatildeo
O estudo da organizaccedilatildeo dos trabalhadores rurais eacute importante porque eacute a
partir dela que outras grandes reivindicaccedilotildees satildeo conquistadas No caso da
presente pesquisa pode-se observar que foi a organizaccedilatildeo dos trabalhadores em
torno de suas causas a reforma agraacuteria que levou agrave luta pelas outras reivindicaccedilotildees
como a educaccedilatildeo no campo
O proacuteximo capiacutetulo deste trabalho monograacutefico aborda a questatildeo das
manifestaccedilotildees e resistecircncias dos camponeses pela educaccedilatildeo e pela reforma
agraacuteria
-16-
22 Trajetoacuteria de luta pela Educaccedilatildeo do Campo
A luta pela educaccedilatildeo do campo esteve sempre associada agrave luta pela reforma
agraacuteria e pela conquista de direitos para os trabalhadores rurais O Movimento das
19
Ligas Camponesas lutou pela emancipaccedilatildeo do trabalhador rural e da reforma agraacuteria
e em seu projeto educacional estavam baseados nos ideais de Paulo Freire e do
Movimento de Educaccedilatildeo de Base (MEB)
Para explicar a reaccedilatildeo das classes populares agraves imposiccedilotildees do governo
brasileiro e das classes dominantes Oliveira (1995 apud ARROYO)
A histoacuteria das lutas entre as classes sociais natildeo se limitam agrave luta pelo poder mas se constituem impulsionadoras da histoacuteria da humanidade que natildeo aguardam passivamente seu destino mas ao contraacuterio articulam-se em torno de suas lutas para garantir seus direitos sua dignidade e sua participaccedilatildeo democraacutetica na sociedade( OLIVEIRA apud ARROYO1995p 80)
Neste sentido as Ligas Camponesas lutaram praticamente em todo o
territoacuterio nacional contra a tentativa de expulsatildeo dos trabalhadores rurais das terras
Os conflitos armados particularmente no Nordeste exigiam participaccedilatildeo poliacutetica e
direitos essenciais como a educaccedilatildeo do campo
O meacutetodo de alfabetizaccedilatildeo criado por Paulo Freire foi amplamente utilizado
pelas Ligas Camponesas e em sua concepccedilatildeo ampla de escola serviu de subsidio
para a compreensatildeo do camponecircs acerca de seu papel social (TOLEDO Caio
Navarro 2004 p6)
Neste contexto surge a Pedagogia do Oprimido de Paulo Freire Segundo
SANTOS (2013 apud Paulo Freire 1987) afirma que a pedagogia do oprimido
configura-se como
Aquela que tem de ser forjada com ele (o oprimido) e natildeo para ele enquanto homens ou povos na luta incessante de recuperaccedilatildeo de sua humanidade Pedagogia que faccedila da opressatildeo e de suas causas objeto de reflexatildeo dos oprimidos de que resultaraacute o seu engajamento necessaacuterio na luta por sua libertaccedilatildeo em que esta pedagogia se faraacute e refaraacuterdquo (FREIRE 1987 p32)
A pedagogia do oprimido serve de referecircncia para o trabalhador rural que luta
pela emancipaccedilatildeo de sua condiccedilatildeo de proletaacuterio atraveacutes da reforma agraacuteria A
pedagogia do oprimido leva o homem ao encontro de si mesmo ao reconhecimento
da grandeza de seu trabalho ao potencial de suas accedilotildees cotidianas que fazem a
diferenccedila A capacidade de reflexatildeo e o entendimento de sua potencialidade pode
leva-lo agrave sua plena realizaccedilatildeo como indiviacuteduo e como ser social
20
A reaccedilatildeo do governo contra o movimento de educaccedilatildeo popular proposto por
Freire e assumido pelo Movimento das Ligas Camponesas e pelo Movimento de
Educaccedilatildeo de Base (MEB) gerou repressatildeo e resposta da ditadura civil-militar como
o Movimento Brasileiro de Alfabetizaccedilatildeo (MOBRAL)
A luta dos movimentos sociais e sindicais pela educaccedilatildeo do campo parte das
forccedilas internas dos movimentos e alcanccedila a setores sociais religiosos ideoloacutegicos
que passam a contribuir efetivamente para o alcance do direito agrave educaccedilatildeo aos
camponeses
A Comissatildeo Pastoral da Terra (CPT) presente ao lado dos trabalhadores (as)
rurais indiacutegenas ribeirinhos pescadores e quilombolas tambeacutem contribuiu e
contribui para a formaccedilatildeo criacutetica a defesa de formas sustentaacuteveis de utilizaccedilatildeo de
recursos naturais e produccedilatildeo e para a alfabetizaccedilatildeo segundo o meacutetodo de Paulo
Freire (CANUTO 2012 p 131)
Na atualidade estaacute em desenvolvimento um movimento que luta pela educaccedilatildeo do homem do campo organizado por vaacuterias entidades dentre elas o MST Trata-se de um processo que teve inicio em meados dos anos de 1990 impulsionados pela necessidade da educaccedilatildeo de jovens e adultos das aacutereas de assentamentos rurais Foi organizado um Programa Nacional para Educaccedilatildeo na Reforma Agraacuteria composto por atores tais como movimentos sociais universidades e governo federal aleacutem de outros parceiros (Alas da Igreja Sindicatos Organizaccedilatildeo Natildeo-Governamental ONG) existentes nas diferentes regiotildees do Brasil( SOUSA2004 p 32)
A trajetoacuteria de conquista das escolas do campo particularmente as escolas
do campo criadas pelo MST a partir da deacutecada de 1990 foi marcada pela conquista
e implantaccedilatildeo da Educaccedilatildeo Fundamental para crianccedilas e adolescentes dos
acampamentosassentamentos de acordo com o projeto politico-pedagoacutegico fruto do
amadurecimento do movimento
Focou-se a alfabetizaccedilatildeo de jovens e adultos e as lutas pela implantaccedilatildeo do
ensino meacutedio com cursos alternativos para a formaccedilatildeo de professores e teacutecnicos de
niacutevel meacutedio e tambeacutem de cursos superiores
A concepccedilatildeo de escolas de ensino fundamental plantadas em assentamentos
prevecirc a instalaccedilatildeo da escola na proacutepria comunidade evitando com isso o uso de
transporte escolar e a frequecircncia dos alunos Sem Terra em escolas fora do
assentamento
21
Esta atitude de resistecircncia foi fundamental para a conquista da escola nas
terras conquistadas e tambeacutem foi fundamental para universalizar o ensino enraizar
o aluno em sua comunidade e criar a consciecircncia do direito agrave educaccedilatildeo
ldquoincomodandordquo o Estado para garantir o cumprimento das poliacuteticas puacuteblicas
Kolling Vargas e Caldart (2012p502) nos ensinam ldquotoda vez que se
conquista uma escola de educaccedilatildeo baacutesica em um assentamento ou acampamento
ela representa menos adolescentes e jovens do campo fora da escola e mais gente
enraizada em seu proacuteprio lugarrdquo (pag 502)
Os movimentos sociais e sindicais pela educaccedilatildeo do campo indicam o grau
de maturidade desses em sua luta pela reforma agraacuteria Agrave essa luta soma-se o
projeto de desenvolvimento do paiacutes baseado na justiccedila social e o combate agraves
tradicionais formas utilizadas pelas elites urbanas ou rurais de alienaccedilatildeo pela
expropriaccedilatildeo do trabalho e pelo controle dos meios que levam agrave emancipaccedilatildeo
sociocultural e agrave verdadeira humanizaccedilatildeo papel destinado agrave educaccedilatildeo
Neste sentido movimentos sociais como o MST inserem a educaccedilatildeo
baseada em princiacutepios pedagoacutegicos que se distinguem da escola tradicional
Numa perspectiva histoacuterica os movimentos sociais do campo como por
exemplo o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) tiveram inicialmente
como bandeira de luta a luta pela terra pela Reforma Agraacuteria natildeo fazendo uma
relaccedilatildeo entre essa luta e a educaccedilatildeo
A formaccedilatildeo de escolas do campo pelo MST natildeo foi resultado da consciecircncia e
importacircncia da escola para a promoccedilatildeo da educaccedilatildeo em seu meio Foi na verdade
a necessidade de oferecer aos filhos dos primeiros lutadores a oportunidade de
uma perspectiva melhor de futuro atraveacutes do direito agrave educaccedilatildeo Foi tambeacutem a
necessidade de ldquotransformar instituiccedilotildees histoacutericas como a escola em lugares que
ajudem a formar os sujeitos destas transformaccedilotildeesrdquo (CALDART2012 p94)
Desse modo houve primeiro a ldquoocupaccedilatildeo da escolardquo pela mobilizaccedilatildeo e pela
accedilatildeo para garantir que em acampamentos ou assentamentos conquistados
houvesse uma escola que ldquofizesse a diferenccedila ou tivesse realmente sentido em sua
vida presente e futura (preocupaccedilatildeo com os filhos)rdquo (CALDART2012 p91)
Num segundo momento da luta observa-se intencionalidade da luta pela
escola mas com proposta pedagoacutegica especiacutefica ldquocombinando processos de
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escolarizaccedilatildeo e de formaccedilatildeo da militacircncia e da base social Sem Terrardquo
(CALDART2012 p92)
As experiecircncias de pensar escolas como polos regionais entre assentamentos e com estudantes de outras comunidades de camponeses aos poucos vatildeo educando o olhar dos trabalhadores Sem Terra para uma realidade mais ampla Foi assim que o MST chegou agrave EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO (KOLLING Vargas e Caldart 2012 p 502)
A escola dentro dessa perspectiva de mudanccedila e envolvimento social eacute
parte da luta pela reforma agraacuteria daacute significado a ela pois proporciona a formaccedilatildeo
integral dos sujeitos que lutam pela terra
Essa escola possibilita a reflexatildeo trava o diaacutelogo com as propostas de
educaccedilatildeo popular de Paulo Freire e busca superar as dificuldades imensas que
assentados e acampados vivem no dia a dia
A escola tambeacutem revela a cultura o orgulho e criaccedilatildeo da identidade na luta
por terra Nesse sentido
A heranccedila que o MST deixaraacute para seus descendentes seraacute bem mais do que a terra que conseguir libertar do latifuacutendio seraacute um jeito de ser humano e de tomar posiccedilatildeo diante das questotildees de seu tempo seratildeo os valores que fortalecem e datildeo identidade aos lutadores do povo de todos os tempos de todos os lugares Eacute enquanto produto humano de uma obra educativa que os Sem Terra podem ser vistos como mais um elo que se forma em uma longa tradiccedilatildeo de lutadores sociais que fazem a histoacuteria da humanidade Enraizamento no passado e projeto de futuro (CALDART 2012 p 96)
A educaccedilatildeo proposta pelo movimento gera o sentimento de pertencimento e
desperta o sentimento de respeito agrave coletividade valoriza o trabalho a gestatildeo
democraacutetica e desburocratizada da escola
SANTOS (2013 p71) esclarece que pelo projeto educacional do MST a
educaccedilatildeo proposta estaacute pautada em ldquovalores socialistas e humanistas tais como o
coletivismo o trabalho socialmente uacutetil a organizaccedilatildeo e auto-organizaccedilatildeo dos
estudantes e professoresrdquo (p71)
-21-
23
221 Concepccedilatildeo Pedagoacutegica da Educaccedilatildeo do Campo
No acircmbito da educaccedilatildeo do homem do campo tornar o homem sujeito e natildeo
objeto do saber leva a entender que o conhecimento do camponecircs pode dialogar
com as praacuteticas baseadas no conhecimento cientiacutefico desde que seja perseguido o
ideal de trabalhadores e educadores do campo comprometidos com as lutas sociais
de formar o homem ldquodordquo campo e ldquono campordquo
Conforme Kolling Cerioli e Caldart (2002 p 264) ldquoo povo tem direito a uma
educaccedilatildeo pensada desde o seu lugar e com sua participaccedilatildeo vinculada agrave sua
cultura e agraves suas necessidades humanas e sociaisrdquo ndash(Caldart Educaccedilatildeo do Campo
2012 p 264
Tal compreensatildeo se ainda hoje causa oposiccedilatildeo ateacute mesmo no ambiente
acadecircmico imagine-se naquele momento histoacuterico de profunda repressatildeo poliacutetica e
ideoloacutegica aos movimentos sociais de camponeses por terra e educaccedilatildeo Como nos
ensina Molina e Saacute (DICIONAacuteRIO da Educaccedilatildeo do Campo p 324)
A concepccedilatildeo de escola do campo nasce e se desenvolve no bojo do movimento da EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO a partir das experiecircncias de formaccedilatildeo humana desenvolvidas no contexto de luta dos movimentos sociais camponeses por terra e educaccedilatildeo Trata-se portanto de uma concepccedilatildeo que emerge das contradiccedilotildees da luta social e das praacuteticas de educaccedilatildeo dos trabalhadores do e no campo (MOLINA e SAacute 2012 pag 324)
A concepccedilatildeo pedagoacutegica da educaccedilatildeo popular e da pedagogia da praacutetica
segundo ARROYO inclui
um caraacuteter de envolvimento totalizante dos movimentos sociais que possibilita ao individuo que participa destes coletivos o acesso a outro tipo de formaccedilatildeo que supera a condiccedilatildeo de aluno de alfabetizando de escolarizando Os integrantes destes organismos emersos na tensa situaccedilatildeo de conflitos aprendem por meio da vivencia das lutas sociais dos momentos de mobilizaccedilatildeo das situaccedilotildees limites de perda de emprego de criacuteticas da sociedade agraves suas accedilotildees de ameaccedilas agraves suas vidas Tudo isso traz ricas liccedilotildees ensinadas na ldquoescola do movimentordquo e que nenhuma teoria pode transmitir ou explicar de forma satisfatoacuteria
No entendimento de Arroyo (2013) os movimentos sociais vivem e
amadurecem sob o conhecimento e o entendimento das contradiccedilotildees sociais e esta
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experiecircncia lhes permite a possibilidade de defender mudanccedilas radicais tanto no
campo como na cidade tanto na ideologia quanto no combate ao latifuacutendio e ao
capitalismo
Tamanho movimento social gera a reflexatildeo sobre as relaccedilotildees
socioeconocircmicas politicas culturais cuidado da natureza relaccedilotildees humanas
destaques de tudo o que interessa ao coletivo agrave sociedade
Eacute por meio do entendimento de que a realidade eacute criaccedilatildeo humana de como se estabelecem os processos de opressatildeo e ainda da noccedilatildeo de que podemos transformar essa realidade dado que a sociedade eacute mutaacutevel que se forma a praacutexis da luta accedilatildeo-conscientizaccedilatildeo-transformaccedilatildeo-libertaccedilatildeo Inserindo-se criticamente na histoacuteria os cidadatildeos tornam-se sujeitos construtores e reconstrutores da realidaderdquo
Molina e Saacute (2012) nos ensinam a partir do conceito de escola do campo sobre a
potencialidade da vivencia de praacuteticas coletivas para a valorizaccedilatildeo integral dos
sujeitos da coletividade do conhecimento cientiacutefico da gestatildeo coletiva da escola
dentre tantos avanccedilos e vitoacuterias dos movimentos sociais
O processo ensino-aprendizagem permite que o conceito de escola extrapole
o cotidiano de dificuldades e desafia agrave reflexatildeo que gera a emancipaccedilatildeo
Este eacute um dos maiores desafios e ao mesmo tempo uma das maiores possibilidades da escola do campo articular os conhecimentos que os educandos tecircm o direito de acessar a partir do trabalho com a realidade da religaccedilatildeo entre educaccedilatildeo cultura e os conhecimentos cientiacuteficos a serem apreendidos em cada ciclo de vida e de diferentes aacutereas do conhecimento(MOLINA MOURAtildeO 2012 p 329) -26-
222 Princiacutepios da Educaccedilatildeo do Campo
Alguns princiacutepios viabilizam o projeto de escola adotado pelos movimentos
sociais e possibilitam a democracia e a integraccedilatildeo de todos lideranccedila assentados e
acampados do movimento
25
O princiacutepio da responsabilidade coletiva sobre o planejamento a gestatildeo a
organizaccedilatildeo e a realizaccedilatildeo de tarefas em todas as esferas de atividades princiacutepios
muito valorizados pelos movimentos sociais do campo foram transferidos para o
projeto de educaccedilatildeo
O projeto eacute de responsabilidade coletiva e insere educadores tanto a niacutevel
local como regional e nacional os ldquoColetivos de educaccedilatildeordquo como satildeo conhecidos
Os coletivos de educaccedilatildeo com tarefas forccedila orgacircnica e discussotildees especiacuteficas que podem variar a cada periacuteodo fortalecem o princiacutepio organizativo de que a questatildeo da educaccedilatildeo bem como outras questotildees da vida social assumidas pelo MST deve ser pensada e implantada de forma coletiva Eacute uma loacutegica que implica tarefas a serem realizadas pelas pessoas mas mediante um planejamento e uma leitura de conjuntura feita por um coletivo (KOLLING1995 et al p503)
Para concretizar o projeto de educaccedilatildeo foi concebida a formaccedilatildeo de
professores pelos proacuteprios movimentos no acircmbito da proacutepria comunidade
(conhecidos como ldquoprofessores leigosrdquo) e tambeacutem pela rede oficial de ensino
A falta de titulaccedilatildeo de muitos educadores formados na comunidade natildeo
impede que os mesmos trabalhem juntos com os professores titulados e com
simpatizantes do movimento no projeto poliacutetico-pedagoacutegico constituindo um
princiacutepio democraacutetico importante para superar as dificuldades e urgecircncias para a
implantaccedilatildeo da educaccedilatildeo do campo
A democracia do processo de formaccedilatildeo de educadores tem reflexos amplos
a formaccedilatildeo de educadores pelos proacuteprios movimentos especiacutefica para atuaccedilatildeo nas
escolas do campo
O movimento eacute responsaacutevel pela universalizaccedilatildeo do ensino no acircmbito dos
territoacuterios conquistados ou por conquistar e permitiu a evoluccedilatildeo do ensino ateacute o niacutevel
de terceiro grau com a realizaccedilatildeo de cursos como a Licenciatura em Educaccedilatildeo do
Campo (LEdoC) do qual somos os privilegiados alunos aqui na Universidade de
Brasiacutelia
Outro reconhecimento e prova de eficiecircncia da formaccedilatildeo de professores eacute o
precircmio ldquoEducaccedilatildeo e Participaccedilatildeordquo recebido em 1995 do Fundo das Naccedilotildees Unidas
para a Infacircncia (Unicef)
26
O somatoacuterio das forccedilas internas e externas do movimento ldquoleigasrdquo ou
tituladas associadas ao princiacutepio fundamental da participaccedilatildeo dos alunos e
comunidades em todos os niacuteveis e localidades eacute ponto fundamental para o sucesso
da concepccedilatildeo do projeto pois permite o estudo a reflexatildeo conjunta sobre
estrateacutegias para o alcance do objetivo de educaccedilatildeo na reforma agraacuteria
-25-
223 Marcos Normativos da Educaccedilatildeo do Campo
Numerosos Marcos Normativos podem ser citados para explicitar qual perfil
de escola destinada ao camponecircs interessava ao governo e aos proprietaacuterios rurais
A Lei 4024 de 1961 em seu art 105 estabelece o
Apoio que poderaacute ser prestado pelo poder puacuteblico agraves iniciativas que mantenham na zona rural instituiccedilotildees educativas orientadas para adaptar o homem ao meio e estimular vocaccedilotildees e atividades profissionais (BRASIL 2012 p 4)
A Lei 5692 de 1971 ao tratar da educaccedilatildeo rural ldquonatildeo observa mais uma vez
a inclusatildeo da populaccedilatildeo na condiccedilatildeo de protagonista de um projeto social globalrdquo
sendo que o trabalho do campo realizado por alunos eacute ateacute mesmo incentivado
adequando-o ao calendaacuterio escolar (MARCOS NORMATIVOSBrasiacutelia2012 p 25)
A Lei 9394 de 1996 (Lei das Diretrizes se Bases da Educaccedilatildeo ndash LDB) em
acordo com Constituiccedilatildeo de 1988 e ldquoinspirada de alguma forma numa concepccedilatildeo
de mundo rural enquanto espaccedilo especifico diferenciado e ao mesmo tempo
integrado no conjunto da sociedaderdquo reconhece
A diversidade soacutecio-cultural e o direito agrave igualdade e agrave diferenccedila possibilitando a definiccedilatildeo de diretrizes operacionais para educaccedilatildeo rural sem no entanto recorrer a uma logica exclusiva e de ruptura com um projeto global de educaccedilatildeo para o paiacutes (idem p 26)
27
Os artigos 208 e 210 da Carta Magna-1988 e inspirada de numa concepccedilatildeo
de mundo rural enquanto espaccedilo especiacutefico diferenciado e ao mesmo tempo
integrado no conjunto da sociedade a Lei 939496- LDB-estabelece que
Art 28 Na oferta da educaccedilatildeo baacutesica para a populaccedilatildeo rural os sistemas de ensino promoveratildeo as adapta necessaacuteria agrave sua adequaccedilatildeo agraves peculiaridades da vida rural e de cada regiatildeo especialmente (MARCOS NORMATIVOS) Brasiacutelia 2012 p 25)
1- Conteuacutedos organizar curriculares e metodologias apropriadas agraves reais
necessidades e interesses dos alunos da zona rural
2-organizaccedilatildeo escolar proacutepria incluindo a adequaccedilatildeo do calendaacuterio escolar as
fases do ciclo agriacutecola e as condiccedilotildees climaacuteticas
3-adequaccedilatildeo agrave natureza do trabalho na zona rural (MARCOS NORMATIVOS)
Brasiacutelia 2012( p 26)
O movimento de educaccedilatildeo do campo luta haacute quinze (15) anos para fazer-se
cumprir esse Decreto da Lei de Diretrizes de base da educaccedilatildeo do campo-LDB
que apesar de ser constitucional ainda natildeo foi colocada totalmente em praacutetica
Agora com as lutas dos movimentos sociais eacute que estaacute comeccedilando a se concretizar
Artigo 26 Os curriacuteculos do ensino fundamental e meacutedio devem ter uma base nacional comum a ser complementada em cada sistema de ensino e estabelecimento escolar por uma parte diversificada exigida pelas caracteriacutesticas regionais e locais da sociedade
da cultura da economia e da clientela (MARCOS NORMATIVOS) Brasiacutelia 2012(p 26)
O Decreto nordm 7352 de 4 de novembro 2010 dispotildee sobre a poliacutetica de educaccedilatildeo do campo ao Programa Nacional de Educaccedilatildeo
na Reforma Agraacuteria-PRONERA decreta
Art1ordm A poliacutetica de educaccedilatildeo do campo destina-
se agrave ampliaccedilatildeo e qualificaccedilatildeo da oferta de educaccedilatildeo baacutesica e superior agraves populaccedilotildees do campo e seraacute desenvolvida pela Uniatildeo em regime de colaboraccedilatildeo com os Estados o
28
Distrito Federal e os Municiacutepios de acordo com as diretrizes e metas estabelecidas no Plano Nacional de Educaccedilatildeo e o disposto neste Decreto
Para os efeitos deste Decreto entende-se por
l-populaccedilatildeo do campo os agricultores familiares os extrativistas os pescadores
artesanais os ribeirinhos os assentados e acampados da reforma agraacuteria os
trabalhadores assalariados rurais os quilombolas os caiccedilaras os povos da floresta
os caboclos e outros que produzam suas condiccedilotildees materiais de existecircncia a partir
do trabalho no meio rural
ll-escola do campo aquela situada em aacuterea rural conforme definida pela Fundaccedilatildeo
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica- IBGE ou aquela situada em aacuterea
urbana desde que atenda predominantemente a populaccedilatildeo do campo (MARCOS
NORMATIVOS) 2012( p 81)
No Decreto 6755 29 de janeiro de 2009 em seu art 2ordm estabelecida pelo Conselho
Nacional de Educaccedilatildeo que se refere as Diretrizes Operacionais da Educaccedilatildeo do
Campo o parecer da alternacircncia
A formaccedilatildeo de professores poderaacute ser feita concomitantemente agrave atuaccedilatildeo profissional de acordo com metodologias adequadas inclusive a pedagogia da alternacircncia e sem prejuiacutezo de outras que atendam agraves especificidades da educaccedilatildeo do campo e por meio de atividades de ensino pesquisa e extensatildeo (MARCOS NORMATIVOS) 2012( p84)
-26-
29
-
231 A educaccedilatildeo do campo e poliacutetica puacuteblica - o PRONERA
O amadurecimento adquirido pela luta sobre o papel da educaccedilatildeo aliado agrave
iniciativa do aproveitamento do trabalho das professoras ldquoleigasrdquo e ainda da
consciecircncia cada vez mais presente do dever do Estado em prover os cidadatildeos da
reforma agraacuteria de poliacuteticas puacuteblicas resultou no campo da educaccedilatildeo na criaccedilatildeo do
Programa Nacional de Educaccedilatildeo na Reforma Agraacuteria (PRONERA)
O PRONERA envolve formalmente jovens e adultos num projeto conjunto
com universidades e institutos federais em prol da formaccedilatildeo de educadores para o
trabalho em escolas dos assentamentos da reforma agraacuteria e seu entorno
O Programa foi criado em 1998 no momento da ascensatildeo dos conflitos pela
reforma agraacuteria o que propiciou que os movimentos sociais trouxessem para a
opiniatildeo puacuteblica suas mazelas
No campo da educaccedilatildeo foi denunciada a falta de escola a precariedade do
ensino a falta de profissionais do ensino a ldquoloacutegica de negaccedilatildeo histoacuterica do direito
aos camponeses de acesso aos niacuteveis mais elevados de escolaridade ( SANTOS
2012 pag 630)
A partir de 2005 o ensino oferecido pelo PRONERA eacute estendido ao niacutevel
meacutedio e superior como a Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo e a Residecircncia
30
Agraacuteria O PRONERA evoluiu para outros patamares tais como ldquopossibilidades de
ressignificaccedilatildeo do conteuacutedo e da metodologia dos processos de educaccedilatildeo formal
por meio dos princiacutepios baacutesicos da participaccedilatildeo e da multiplicaccedilatildeordquo (SANTOS 2012
p 631)
A participaccedilatildeo das comunidades e suas organizaccedilotildees e a multiplicaccedilatildeo de
alfabetizados formados educadores e demais profissionais ligados agraves poliacuteticas
puacuteblicas para a Reforma Agraacuteria gerou ampla participaccedilatildeo dos agentes envolvidos
na dinacircmica do processo ensino-aprendizagem
Essa forma de gestatildeo gerou reaccedilatildeo contraacuteria ldquoagrave gestatildeo colegiada e coletiva
notadamente agrave participaccedilatildeo direta dos movimentos sociais e sindicais do campordquo
considerados ldquoentes estranhos agrave administraccedilatildeo puacuteblicardquo (CLARICE p 634)
O envolvimento dos movimentos sociais e sindicais do campo natildeo
retrocederam em sua luta pelo envolvimento de todos os interessados na educaccedilatildeo
como elemento emancipatoacuterio e continuam formulando princiacutepios concepccedilotildees e
diretrizes para a escola do campo
-31-
31
Terceiro Capiacutetulo
A histoacuteria do Assentamento Renascer
31 Uma breve histoacuteria de luta
A histoacuteria do Assentamento Renascer natildeo parece ser diferente da histoacuteria de
outros assentamentos Brasil afora Partiu da reivindicaccedilatildeo de Trabalhadores Rurais
sem Terra que desde 2004 ocuparam as margens da Rodovia DF 330 que liga
Sobradinho ao Paranoaacute-DF
Tatildeo perto do centro do poder a apenas poucos quilocircmetros do Palaacutecio da
Alvorada ou da Sede do INCRA o Acampamento Renascer esteve ateacute oito (08) de
maio de 2009 tatildeo distante da decisatildeo poliacutetica pela Reforma Agraacuteria
Somente nesta data trezentos sessenta e um( 361) de terras devolutas da
Uniatildeo foram repassadas ao INCRA para assentar as famiacutelias aliacute acampadas Ficou
criado o assentamento Renascer fora da beira da estrada
O Assentamento Renascer ldquorenasceurdquo da dificuldade de vida sob o barraco de
madeira sem aacutegua sem luz sem saneamento baacutesico que fez com que tantos
desistissem ao longo do caminho e ainda hoje se encontra nessa mesma
precariedade um descaso por parte do poder puacuteblico
A luta em vaacuterios momentos da vida dos acampados parecia estar vencida Os
vencedores pareciam ser a burocracia o desrespeito as noites mal dormidas a
inseguranccedila a falta de perspectivas para o acampado e suas famiacutelias
Duzentas (200) famiacutelias viveram aliacute por cinco anos (05) de 2004 ateacute 2009
Atualmente satildeo cento e vinte (120) famiacutelias que moram na aacuterea destinada e estatildeo
em processo de assentamento Muitas delas poreacutem vencidas pelo cansaccedilo e pelas
condiccedilotildees de vida abandonaram a luta mas todas as famiacutelias as que se foram e as
que ficaram sonharam com a terra onde poderiam produzir viam no pedaccedilo de chatildeo
os frutos do pomar da horta o galinheiro o pasto
O Assentamento Renascer eacute o Brasil Eacute um pedacinho da cruel realidade que
como vimos neste trabalho marcou a sociedade brasileira desde a escravidatildeo
desde o primeiro grito de rebeldia do quilombo desde o primeiro que lutou contra os
coroneacuteis por divisatildeo da terra como as Ligas Camponesas contra o latifuacutendio como
os movimentos sociais em sua luta pela reforma agraacuteria desde vaacuterias geraccedilotildees
32
Eacute como todo e qualquer movimento social que surgiu neste paiacutes desde a
deacutecada de 1980 pela reforma agraacuteria Viveu e ainda vive as dificuldades de ser
acampadoassentado mas honra sua luta porque natildeo desiste faacutecil
O Assentamento Renascer eacute tambeacutem fruto do ecircxodo rural da industrializaccedilatildeo
do campo da monocultura e da concentraccedilatildeo de terras Foram expulsos do campo
para a periferia das cidades sem capacitaccedilatildeo sem estudo
A falta de escolarizaccedilatildeo eacute sem duacutevida uma caracteriacutestica de quase todos os
que vieram do campo para a cidade A realidade do Brasil eacute que o campo natildeo eacute
escolarizado as escolas no campo satildeo poucas satildeo despreparadas satildeo
desvalorizadas
-33-
32 As escolas no campo na vivencia do assentado do Assentamento
Renascer
As escolas no campo marcaram profundamente a vida dos poucos que a
frequentaram Quase todos tiveram que trocar o laacutepis pela enxada a carteira pela
roccedila desde muito pequenos Alguns natildeo muito poucos conforme os depoimentos
aqui relatados teriam que abandonar a enxada e a participaccedilatildeo no sustento da
famiacutelia para frequentar a escola Quase sempre abandonaram a escola para ficar no
trabalho com a enxada
Todos teriam que andar vaacuterios quilocircmetros para ir agrave escola Outros nem assim
conseguiriam frequentar a escola no campo ela simplesmente natildeo existia no
campo Teriam entatildeo que ir para a cidade para ter direito a uma escola
Muitos tambeacutem vivenciaram os traumas que uma escola tradicional e
descomprometida com os valores e responsabilidades do projeto educacional
castigos humilhaccedilotildees afastaram a muitos da escola
Alguns apenas sonharam e sonham com a escola ldquoAh a escolardquo Tatildeo longe
inacessiacutevel para tantos no Brasil afora Ao ver de algumas pessoas do
Assentamento Renascer ldquoSe tivesse jeito eu teria ido agrave escola tinha feito pelo
menos o ensino fundamental completo para que eu pudesse ingressar no curso
33
teacutecnico-agriacutecola Mas agora quero que meus filhos e netos vatildeo para a escola
aprender ser algueacutem na vidardquo
-34-
321 A escola no entorno do Assentamento Renascer
A ideia de lutar pela educaccedilatildeo veio antes da ideia de lutar pela escola como
espaccedilo conquistado pelo acampamento Encontrar uma escola perto do
acampamento com transporte escolar com vagas e horaacuterios acessiacuteveis para os que
trabalham o dia todo era entendido como uma necessidade baacutesica e uma grande
vitoacuteria
Ficava-se feliz se apesar das dificuldades fosse possiacutevel matricular pelo
menos as crianccedilas As dificuldades eram e ainda satildeo muitas o transporte escolar
era e eacute precaacuterio a poeira natildeo permite que os alunos cheguem limpos agrave escola os
buracos e as poccedilas daacutegua impedem a chegada do ocircnibus escolar durante as
chuvas No caso do ocircnibus que levam os alunos ateacute a Escola Classe do Coacuterrego do
Arrozal em eacutepoca de muita chuva os ocircnibus ateacute o iniacutecio de 2014 natildeo conseguiam
transitar Isto resulta no fato de que as crianccedilas precisam caminhar debaixo de
chuva ateacute a escola
-35-
322 O caminho para a produccedilatildeo do saber no Assentamento Renascer a
brinquedoteca a integraccedilatildeo social a biblioteca comunitaacuteria as manifestaccedilotildees
culturais
Ao longo dos anos de vivecircncia e convivecircncia no Acampamento Renascer
mediante a dificuldade e necessidade de estudar que sentimos na nossa proacutepria
vida foi despontando a ideia de prover as crianccedilas de atividades luacutedicas e
educativas
34
Logo no iniacutecio do acampamento por volta de 2005 por iniciativa de algumas
pessoas conscientes da necessidade de atividades luacutedicas para as crianccedilas foi
criada uma brinquedoteca
Inicialmente os brinquedos eram de materiais reciclaacuteveis como garrafas pet
telefones sem fio carrinhos bonecas petecas vai e vem cavalinhos tudo era
confeccionado com a participaccedilatildeo das crianccedilas na modalidade de oficina
incentivando-os a fabricar os seus proacuteprios brinquedos Os brinquedos eram
confeccionados a partir de materiais encontrados nos lugares de descarte perto do
acampamento e doaccedilotildees de pessoas que passavam pela estrada
O embriatildeo de um processo educacional que nunca se interrompeu estava
lanccedilado a brinquedoteca proporcionou a criatividade e a participaccedilatildeo de crianccedilas e
adultos marcando as atividades pela conscientizaccedilatildeo do cuidado com a natureza e a
importacircncia da reciclagem A educaccedilatildeo ambiental jaacute era praticada desde o
nascimento do acampamento Renascer
Este primeiro passo foi muito importante porque traduziu para o dia a dia do
acampamento os princiacutepios da escola do campo atuante para mudar a realidade
criar cidadatildeos conscientes e dispostos a mudar a realidade a partir da sua proacutepria
accedilatildeo Este eacute o processo de transformaccedilatildeo social dentro do acampamento Renascer
haacute tanto tempo atraacutes
Aos brinquedos reciclados pela proacutepria comunidade juntaram-se outros
presenteados por instituiccedilotildees como igrejas ONGs a Pastoral da Crianccedila e pessoas
interessadas no bem estar daquelas crianccedilas
Percebe-se em iniciativas como essas a importacircncia da educaccedilatildeo nos
diversos niacuteveis para a sociedade A integraccedilatildeo de pessoas com as atividades
educativas no acampamento nos faz lembrar sobre um grande sonho das escolas
hoje integrar a comunidade de modo a que todos defendam a escola
O sucesso de iniciativas como a brinquedoteca que integravam crianccedilas
adolescentes adultos e sociedade foi importante para outras iniciativas igualmente
importantes
Foi-se criando um projeto educacional para o acampamento sem que se
tivesse consciecircncia disso por faltar informaccedilatildeo que soacute agora se possui graccedilas aos
estudos na Universidade o galpatildeo comunitaacuterio foi utilizado para abrigar a
35
brinquedoteca para desenvolver grupos de teatro de crianccedilas e adultos e para
abrigar a biblioteca
A biblioteca recebeu inuacutemeros exemplares de livros infantis livros didaacuteticos
para os adolescentes e adultos literatura universal revistas dos mais variados
assuntos criando assim um espaccedilo comunitaacuterio de informaccedilatildeo lazer e
entretenimento
Com a criaccedilatildeo da biblioteca ficou evidente a importacircncia da alfabetizaccedilatildeo de
crianccedilas jovens e adultos Muitos acampados relatavam a vontade e a necessidade
de aprender a ler e a escrever Muitos reivindicavam o direito agrave educaccedilatildeo e
frequecircncia agrave escola ainda que o acampamento mudasse de ldquoendereccedilordquo tantas
vezes
Outros poreacutem natildeo acreditavam que seria possiacutevel aprender ou aperfeiccediloar a
leitura e a escrita nas condiccedilotildees de vida de um acampado
Vaacuterias atividades culturais foram desenvolvidas (e ainda satildeo) no
Acampamento Renascer Todas chamavam a atenccedilatildeo da comunidade local de
outras comunidades vizinhas garantindo a simpatia de chacareiros que levavam os
filhos para participarem das atividades
Uma das atividades mais apreciadas foi o Teatro de Fantoches inspirados em
faacutebulas muitas com a autoria da Pastoral da Crianccedila e da Faber Castel A
participaccedilatildeo da comunidade na atividade era intensa e voluntaacuteria todos queriam
manipular os fantoches participar cantando danccedilando ou prestando muita atenccedilatildeo
O teatro de transformaccedilatildeo social produzido pelos adultos e adolescentes
utilizavam tambeacutem materiais reciclaacuteveis demonstrando cuidado com o meio
ambiente e amadurecimento dos conceitos poliacuteticos e pedagoacutegicos gerando reflexatildeo
sobre os temas sociais que nos atingem no cotidiano
A miacutestica adotada pelos movimentos sociais com o objetivo de reflexatildeo satildeo
apresentadas em datas comemorativas e contam com o apoio e participaccedilatildeo de
muitos
Algumas festas fazem parte da tradiccedilatildeo do Acampamento Renascer
traduzindo para a realidade atual as antigas festas a que todos foram acostumados
em seus lugares de origem
Pode-se dizer que a comunidade aprecia muito as festas Mas duas em
particular satildeo muito respeitadas a festa das crianccedilas que ocorre durante o dia (12
36
de outubro) eacute concorrida pois a comunidade se esmera para oferecer os brinquedos
que as crianccedilas amam pula-pula palhaccedilos pintura de rosto piscina de sabatildeo e
muita oferta de comida coisas que as crianccedilas adoram
No mesmo dia ocorre agrave noite a festa da Nossa Senhora Aparecida com
missa e muito forroacute
No mecircs de marccedilo eacute comemorada a Festa da Pamonha em comemoraccedilatildeo agrave
boa colheita do milho Esta festa jaacute se tornou tradicional conhecida em todo o
entorno do assentamento Egrave uma festa importante porque confraterniza a
comunidade Renascer com as comunidades vizinhas e ateacute mesmo as cidades de
Sobradinho Paranoaacute e Planaltina
Os movimentos sociais necessitam ser admirados pela sociedade e festas
como estas chamam a atenccedilatildeo para o problema da reforma agraacuteria demonstrando
que ela eacute viaacutevel e que os assentados tecircm simpatia competecircncia e seus saberes do
campo
A festa ldquojulinardquo eacute outra festa muito apreciada que apresenta as tradiccedilotildees rurais
e religiosas como quadrilhas e bandas de forroacute da comunidade e vizinhanccedila A
danccedila eacute um dos pontos fortes da festa assim como as comidas tradicionais muitas
delas com ingredientes colhidos no acampamento
Vaacuterios grupos de atividades teatrais apresentaram-se na localidade com
participaccedilatildeo de palhaccedilos lembrando um espetaacuteculo circense Alguns desses
grupos inclusive tiveram seus trabalhos premiados
Outras atividades com fundo educativo tiveram participaccedilatildeo animada de
crianccedilas e adultos A exibiccedilatildeo de desenhos animados recentemente apresentados
no cinema eram um grande atrativo para a comunidade que se via socialmente
incluiacuteda Esta inclusatildeo aumentava a autoestima das crianccedilas principalmente pois
assim elas poderiam interagir com os colegas da escola conversando a respeito dos
filmes
A Economia Solidaacuteria eacute uma das formas de inserccedilatildeo dos membros da
comunidade agrave sociedade economicamente ativa Atraveacutes da cooperaccedilatildeo solidaacuteria eacute
possiacutevel o comercio justo agriacutecolas ou artesanais sob conceitos antes
desconhecidos enquanto forma de produccedilatildeo e consumo centrado na valorizaccedilatildeo do
ser humano em contraposiccedilatildeo agraves formas capitalistas de produccedilatildeo e conscientizaccedilatildeo
37
Ao longo dos doze (12) anos de luta pela educaccedilatildeo foram promovidos
diversos cursos que capacitaram multiplicadores que fazem um trabalho importante
para a comunidade
A ideia de autogestatildeo democracia cooperaccedilatildeo auxilia natildeo soacute as formas de
produccedilatildeo e comercio de bens e artesanatos mas tambeacutem auxiliam na formaccedilatildeo
integral de pessoas em que tanto o produtor como o consumidor tem o proposito de
ganhos financeiros segundo um criteacuterio de valorizaccedilatildeo do trabalho
Proposito de formar uma nova consciecircncia a Economia Solidaacuteria promoveu
cursos de Soberania Alimentar em que a comunidade recebeu noccedilotildees praacuteticas
sobre alimentaccedilatildeo a partir da produccedilatildeo local de modo a promover uma nova cultura
alimentar que visa o combate agraves doenccedilas crocircnicas Outro proposito eacute tornar a
comunidade criacutetica em relaccedilatildeo agrave publicidade de produtos alimentiacutecio supeacuterfluo que
induz agraves crianccedilas e adultos alimentarem-se incorretamente
A comunidade participou coletivamente da implantaccedilatildeo de uma unidade da
tecnologia social denominada Produccedilatildeo Agroecoloacutegica Integrada e Sustentaacutevel
(PAIS) em 2012 com o objetivo de produzir alimentos saudaacuteveis e preservar o meio
ambiente trazendo mais alimentos e renda ao campo Esta tecnologia popularmente
conhecida como ldquohorta mandalardquo foi ministrada durante o curso de capacitaccedilatildeo
promovido pela Fundaccedilatildeo Banco do Brasil e teve o meacuterito de proporcionar o debate
e a participaccedilatildeo democraacutetica na definiccedilatildeo das culturas a serem cultivadas na futura
propriedade Vale informar que o assentamento Renascer identificou-se com esse
paradigma agroecoloacutegico
A educaccedilatildeo ambiental faz parte do dia a dia da comunidade hoje preserva-se
conservaccedilatildeo das formas de vida vegetais e animais na regiatildeo do assentamento e
entorno
A produccedilatildeo de mudas no viveiro eacute bastante concorrida contando com a
participaccedilatildeo de todos O viveiro produz cinco mil (5000) mudas de espeacutecies nativa
do cerrado para o reflorestamento das nascentes de aacutegua e nas aacutereas degradadas
da regiatildeo Contam com o apoio da FUNATURA FUNDACcedilAtildeO BANCO DO BRASIL
IFB Rio Satildeo Bartolomeu Vivo e UnB
-36-
38
39
Quarto Capiacutetulo
A escola que queremos expectativas e sonhos dos
acampados do Assentamento Renascer
Pode-se observar pelas falas dos entrevistados que a realidade de todos
converge para os problemas estruturais do Brasil faltam escolas no campo eacute baixa
a escolaridade em Brasiacutelia todos exercem atividades de subemprego
Todos tecircm grandes expectativas com relaccedilatildeo agrave vida futura no assentamento
objetivando melhores condiccedilotildees de vida na esperanccedila de serem beneficiaacuterios
enquanto cidadatildeos assentados das Poliacuteticas Puacuteblicas e financiamentos agriacutecolas
voltadas para a agricultura familiar como PRONAF PAA PNAE e PAPA-DF Vecircem
aiacute a possibilidade de emprego e renda situaccedilatildeo sonhada desde quando foram
pleitear a terra para reforma agraacuteria
Um olhar mais aprofundado sobre a anaacutelise de dados revela que natildeo importa o
fato de hoje residirem no DF pois como em qualquer lugar de origem os moradores
do assentamento Renascer vivenciam os mesmos problemas Percebe-se
claramente as dificuldades da inexistecircncia de escola no campo A distacircncia continua
impedindo o acesso os meios de transportes continuam precaacuterios os filhos
vivenciam a dificuldade de transferecircncia para a cidade na expectativa de
continuidade dos estudos as estradas rurais continuam esburacadas
Satildeo muitos os pontos em comum entre a situaccedilatildeo atual relatada e os problemas
vividos haacute deacutecadas em seus estados de origem o que deixa transparecer a absoluta
falta de interesse por parte do poder puacuteblico em garantir o direito constitucional agrave
educaccedilatildeo do povo do campo o que infelizmente continuaraacute deixando o triste
legado para o futuro do paiacutes
40
Repetimos a pergunta da inicial Cadecirc as escolas do campo Ateacute quando o paiacutes
vai viver essa situaccedilatildeo A anaacutelise de dados responde Natildeo eacute mais possiacutevel
continuar como estaacute
Todos os entrevistados pretendem alcanccedilar conhecimentos atraveacutes da escola do
campo implantada no Assentamento Renascer com objetivos de administrar a
propriedade participar ativamente do coletivo garantir renda fixa atraveacutes dos
programas de desenvolvimento da agricultura familiar
Os entrevistados unanimamente tecircm a preocupaccedilatildeo da manutenccedilatildeo dos laccedilos
familiares e das raiacutezes camponesas
A distacircncia entre a moradia e a escola fato relatado pela quase totalidade dos
entrevistados constitui um grande motivo de evasatildeo escolar de defasagem nas
seacuteries frequentadas de precariedade na aprendizagem em relaccedilatildeo aos demais
alunos A discriminaccedilatildeo alegada por muitos que frequentaram ou frequentam
escolas fora da faixa etaacuteria o vernaacuteculo proacuteprio dos sujeitos do campo as condiccedilotildees
precaacuterias da estrada que denunciam a condiccedilatildeo de assentado o sentimento de
inadequaccedilatildeo constituem fatores que determinam a evasatildeo escolar
Foram treze (13) entrevistados significando aproximadamente dez por cento
(10) dos moradores do Assentamento Renascer Desse total apenas dois (2)
entrevistados natildeo declararam dificuldade de distacircncia entre a moradia e a escola em
seus lugares de origem A maioria absoluta (11) pessoas declararam que a distacircncia
dificultava e impedia o acesso agrave escola Alguns relatos apresentam situaccedilotildees
precaacuterias para o homem do campo o assentado
Para o aluno do campo a distacircncia da escola tem o significado de inexistecircncia de
escola Isto porque as dificuldades de acesso satildeo enormes No caso em estudo
apenas um entrevistado declarou a inexistecircncia de escola em sua regiatildeo de
moradia Este poreacutem vivenciou todas as dificuldades de acesso que outros
assentados apresentaram em razatildeo da distacircncia moradiaescola
A falta de professores na escola rural eacute relatada por 11 dos 13 entrevistados A
distacircncia da escola para os professores dificulta segundo a vivecircncia dos
entrevistados o acesso agrave escola e a assiduidade o que muito desmotivava a
ambos
41
Os entrevistados conforme anaacutelise de dados desejam muito objetivamente a
implantaccedilatildeo imediata de escolas segundo os criteacuterios caracteriacutesticos de escola do
campo
- Trazer a realidade para dentro da escola do campo curriacuteculos voltados para o
cotidiano do aluno do campo onde as teacutecnicas agriacutecolas pecuaacuterias e agroecoloacutegicas
possam fazer parte do processo educativo da comunidade e que a escola tenha
uma gestatildeo coletiva democraacutetica com a participaccedilatildeo da comunidade
- Ter o trabalho como princiacutepio educativo A experiecircncia do aluno deve
harmonizar-se com os princiacutepios pistrakianos significar o trabalho de forma a que
ele apresente benefiacutecios para o proacuteprio indiviacuteduo para a comunidade na qual estaacute
inserido e para a sociedade e natildeo exclusivamente para servir ao capitalismo
-Superar a fragmentaccedilatildeo do conhecimento disciplinar A interdisciplinaridade
deve fazer parte dos objetivos educacionais de modo a promover a formaccedilatildeo
integral dos educandos
- Valorizar os saberes do homem do campo Os entrevistados desejam uma
escola onde possam exercitar sua vivecircncia campesina e a relaccedilatildeo dialoacutegica entre
professor-aluno seguindo a pedagogia de Paulo Freire o educando quer aprender
com o educador mas quer tambeacutem ter a oportunidade de transmitir seus saberes
- Promover espaccedilos de gestatildeo coletiva A proacutepria comunidade deve participar da
gestatildeo a elaboraccedilatildeo do PPP deve gerir o espaccedilo fiacutesico da escola para atividades
de interesse da comunidade ocupar espaccedilos para finalidades culturais esportivas
sociais tornando a escola um espaccedilo democraacutetico
- Garantir a presenccedila da comunidade e dos movimentos sociais que geram
processos que auxiliam a emancipaccedilatildeo social A escola deve tambeacutem ser espaccedilo
que auxilie a sustentabilidade e garanta a alimentaccedilatildeo saudaacutevel e recursos
fitoteraacutepicos em associaccedilatildeo com a comunidade
- Inclusatildeo tecnoloacutegica em todos os aspectos digital inovaccedilatildeo tecnoloacutegica
agropecuaacuteria recursos ambientais alternativos agua potaacutevel energia solar energia
eoacutelica fossa seacuteptica teacutecnicas de compostagem saneamento baacutesico cuidados com
os recursos hiacutedricos
A anaacutelise dos dados quando feita especificamente sobre a escola a ser
implantada pode aparentemente demonstrar uma pequena conexatildeo com as teorias
da escola do campo
42
A concepccedilatildeo da escola do campo natildeo pode ser imposta ela parte do princiacutepio
que os camponeses devem conquista-la Para essa conquista eacute necessaacuteria a
paixatildeo o desejo por algo ainda natildeo experimentado o amadurecimento poliacutetico-
social-pessoal a participaccedilatildeo coletiva na luta e na conquista
A trajetoacuteria de luta por educaccedilatildeo da comunidade Renascer apresenta estes
elementos agraves vezes difusos outras vezes mais claramente A escola bem que
poderia para alguns ser apenas uma escola rural Afinal aprender a ler e a
escrever ldquodireitordquo como alguns dizem ou seja deixar a condiccedilatildeo de analfabeto ou
analfabeto funcional para tornar-se letrado significaria avanccedilos em face das atuais
circunstacircncias Alguns entendem assim expressando-se principalmente nas
conversas informais
Apesar disso quando as respostas informais ou quando as respostas das
entrevistas satildeo analisadas mais profundamente identificamos que embora
difusamente todos desejam o programa educacional da escola do campo
Explicando melhor a participaccedilatildeo de todos da comunidade em todas as atividades
soacutecio-poliacuteticas-culturais (relatadas no terceiro capitulo) indicam que a comunidade
assimilou a postura soacutecio-politica-cultural que caracterizam a escola do campo
A vivecircncia do Assentamento Renascer no cotidiano e nos eventos coletivos
amadureceu o desejo pelo alimento intelectual cultural artiacutestico ambiental social
que a concepccedilatildeo de escola do campo introduz O programa educacional da Escola
do Campo ultrapassou as paredes fiacutesicas da escola e alcanccedilou o cotidiano dos
assentados
Os avanccedilos da conscientizaccedilatildeo e seu reflexo na vida do Assentamento Renascer
satildeo sentidos nos nuacutemeros de matriculados na LEdoC sete (7) alunos
aproximadamente dez (10) assentados prestaratildeo o proacuteximo vestibular trecircs (3)
assentados estatildeo matriculados no IFB dois(2) assentados estatildeo formados em
Teacutecnico Agropecuaacuterio tambeacutem pelo IFB um deles cursa o Tecnoacutelogo de
Agroecologia tambeacutem do IFB
Vale acrescentar que no iniacutecio de 2014 quando o IFB buscou no Assentamento
pessoas interessadas em matricular-se em seus cursos sob a condiccedilatildeo de
estudarem no ensino meacutedio o interesse foi grande e a impossibilidade pelo fato de
natildeo estarem habilitados no ensino fundamental provocou tanta discussatildeo que
estimulou essa pesquisa
43
O legado desses alunos futuros alunos e profissionais para o futuro do
Assentamento apresentaraacute resultados significativos para toda a comunidade O
futuro colheraacute bons frutos plantados agora
A escola que temos natildeo estaacute funcionando falta a renovaccedilatildeo do contrato o que
atrasa a alfabetizaccedilatildeo e conclusatildeo do 5ordm ano Falta a implantaccedilatildeo de poliacuteticas
puacuteblicas para atendimento de questotildees baacutesicas como por exemplo carteiras
quadro de giz iluminaccedilatildeo espaccedilo fiacutesico (dependecircncias para a escola) e mobiliaacuterio
-41-
44
Consideraccedilotildees Finais
A Educaccedilatildeo do campo eacute um movimento em que os trabalhadores do campo e
suas organizaccedilotildees lutam por transformaccedilotildees sociais particularmente a criaccedilatildeo de
escolas dono campo de qualidade a partir de uma perspectiva ampla de reforma
agraacuteria
A construccedilatildeo da educaccedilatildeo do campo eacute resultado do amadurecimento dos
movimentos sociais e das comunidades rurais em sua trajetoacuteria de luta pelo direito
fundamental agrave universalizaccedilatildeo escolar para as populaccedilotildees camponesas segundo
orientaccedilatildeo poliacutetico-pedagoacutegica adequada agrave realidade dos lutadores de
acampamentos e assentamentos em luta pela reforma agraacuteria e justiccedila social
Alguns princiacutepios caracterizam a luta pela escola do campo Dentre eles
podemos citar a criaccedilatildeo da consciecircncia do direito agrave educaccedilatildeo de qualidade plantada
na proacutepria comunidade o que provoca o enraizamento a valorizaccedilatildeo da vida no
campo a promoccedilatildeo da autoestima e a transformaccedilatildeo do ser alienado pela ideologia
e desigualdade social e sujeito de sua proacutepria histoacuteria
Outro princiacutepio eacute a adequaccedilatildeo de curriacuteculos agrave realidade camponesa de modo
a que o processo ensino-aprendizagem favoreccedila o amadurecimento de talentos
naturais o surgimento de oportunidades a niacutevel pessoal e social contribuindo para a
emancipaccedilatildeo poliacutetico-social do indiviacuteduo com reflexos na sociedade
A mudanccedila de paradigmas e o envolvimento social provocam a formaccedilatildeo integral
dos sujeitos que lutam de forma coletiva e solidaacuteria pela terra A escola do campo
que surge dessa mudanccedila eacute tambeacutem transformadora porque eacute fruto da luta
consciente que gera a reflexatildeo e o amadurecimento poliacutetico deixando um legado
positivo de cidadatildeos orgulhosos de sua condiccedilatildeo de lutador pela terra de sua
identidade de sua cultura de sua comunidade e coletividade
A escola do campo propicia aos alunos a reflexatildeo sobre o contexto social e a
problemaacutetica da comunidade em que estatildeo inseridos o respeito agrave individualidade a
ampliaccedilatildeo das potencialidades do aluno para organizar elaborar e atuar
coletivamente Deixam o legado futuro de homens responsaacuteveis mentes
independentes e atuantes que poderatildeo prestar serviccedilos significativos agrave sociedade
45
A comunidade assentada de o Assentamento Renascer pela Reforma
Agraacuteria em Sobradinho DF foi convidada a opinar sobre a escola que deseja a
partir da conquista da terra
O modelo proposto a partir de seu posicionamento possibilita a conclusatildeo
de que a escola do campo plantada na comunidade eacute preferiacutevel ao modelo
adotado atualmente de inserccedilatildeo dos alunos da comunidade agraves escolas urbanas
conter recursos materiais e humanos que propiciem bons resultados
pedagoacutegicos deve servir para fixar o trabalhador ao campo deve cumprir com o
propoacutesito constitucional de universalizaccedilatildeo do ensino para todas as faixas
etaacuterias deve estar identificada com os sonhos de prosperidade material e
realizaccedilatildeo pessoal dos assentados
-46-
46
Referecircncias Bibliograacuteficas
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FERRARI Marco ldquoAniacutesio Teixeira o inventor da escola puacuteblica no Brasilrdquo Revista Nova Escola Fundaccedilatildeo Victor Civita Revistaescolaabrilcombr acesso em 14092014 FERREIRA Fabiano de Jesus BRANDAtildeO Elias Canuto ndash Revista Eletrocircnica de Educaccedilatildeo Ano V N 09 juldez 2011p3 ldquoEducaccedilatildeo do campo um olhar histoacuterico uma realidade concreta rdquo (WWWUNIFILBR acesso em 08 de agosto de 2014) GONCcedilALVES Luiz Alberto Oliveira e Pinto Regina Pahim EDUCACcedilAtildeO SEacuteRIE JUSTICcedilA E DESENVOLVIMENTO IFP-FCC FUNDACcedilAtildeO CARLOS CHAGAS 2007 SAtildeO PAULO (pag206)
KOLLING Edgar Jorge Vargas Caldart MST e Educaccedilatildeo in DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia Expressatildeo Popular 2012 (pag 5020
MOLINA Mocircnica SAacute Laiacutes Mouratildeo Escola do Campo in DICIONARIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia Expressatildeo Popular 2012 pg (329)
OLIVEIRA Maria Rita Duarte em sua dissertaccedilatildeo ldquoDos programas oficiais para a educaccedilatildeo rural aos projetos de educaccedilatildeo do campo dos movimentos sociaisrdquo WWWrevistalaborufcbrartigovolume1maria-ritapdf acesso em 08-09-2014
OLIVEIRA Maria Rita Duarte PEDAGOGIA EM MARCHA Apud ARROYO Satildeo Paulo1995( pg 162)
OLIVEIRA Maria Rita Duarte Revistalabor ufcbracesso em 19-10-2014
________ citando CALAZ Maria Rita Duarte Oliveira
47
SANTOS Clarice Aparecida PROGRAMA NACIONAL DE EDUCACcedilAtildeO NA REFORMA AGRAacuteRIA in DICIONARIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia2012(pg630)
________ Clarice Aparecida PROGRAMA NACIONAL DE EDUCACcedilAtildeO NA REFORMA AGRAacuteRIA BRASIacuteLIA 2012 pg 631 in DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO SANTOS Claudio Felix Dos ldquoO aprender a aprender na formaccedilatildeo de professores do campordquo Campinas 2013 Editora Autores Associados ) SOUZA Maria Antocircnia Movimentos Sociais no Brasil Contemporacircneo participaccedilatildeo e possibilidades no contexto das praacuteticas democraacuteticas ndash (wwwcesucptlab2004pdfMariaAntonia Souzapdfaceso em 24-07-2014 -48-
48
Apecircndices
1 Roteiro das Entrevistas
a) Dados dos entrevistados
Qual o seu nome
Masculino ( ) Feminino ( )
Quantos anos vocecirc tecircm
A quanto tempo mora no
assentamento
Onde vocecirc morou antes
de morar no
assentamento
Quantos anos vocecirc tinha
quando foi a escola pela
primeira vez
Estou ateacute qual seacuterieano
Quantos anos vocecirc tinha
quando parou de estudar
Qual motivo motivou vocecirc
a parar de estudar
Se tiver escola no
assentamento vocecirc voltaraacute
a estudar Porque
B) Outras informaccedilotildees dados pelos entrevistadosas (GRAVAR)
a) Em qual escola vocecirc estudou no acampamento ou em outro lugar Qual
b) Como era a escola que estudou Quais as coisas boas e coisas ruins que
tinha nesta escola
c) Conte como eacutefoi a educaccedilatildeo do assentamento o que jaacute existiu de escola
como funcionou e quais eram as boas e as coisas ruins desta escola
d) Jaacute participou de alguma accedilatildeo de mobilizaccedilatildeo para ter escola no
assentamento Se sim explique para que e como foi essa mobilizaccedilatildeo
e) Na sua opiniatildeo no assentamento deve ter escola Por quecirc
f) Como deveraacute ser a escola da comunidadeassentamento Como eacute a escola
que queremos ter
49
b) Entrevistas semi-estruturadas
Entrevistado 01
Moro no assentamento Renascer haacute 11 anos Nasci Carnauacuteba no Rio Grande do
Norte fui criado na roccedila e desde pequeno trabalhava na lavoura para ajudar meu
pai Fui para escola com 9 anos de idade estudei ateacute a 5ordm seacuterie parei de estudar
com 17 anos natildeo continuei os estudos porque era muito longe de onde eu morva
que era na cidade mais proacutexima eu tinha que andar a peacute 8 km ficava muito
cansado Casei e vim morar em Brasiacutelia para trabalhar em uma chaacutecara como
caseiro Morava na chaacutecara Buritis em sobradinho- Df tambeacutem natildeo dei para
continuar os estudos porque ficava longe e tinha que ser a noite e natildeo tinha como ir
Se vier uma escola pra caacute eu ainda vou estudar para ter mais conhecimento para
plantar minha roccedila ir no banco pra ver se assino um empreacutestimo para melhorar
minha produccedilatildeo e saber fazer conta pra administrar minha parcela de terra
Qual o seu nome
Masculino ( X ) Feminino ( )
Quantos anos vocecirc
tecircm
57 anos
A quanto tempo
mora no assentamento
11 anos
Onde vocecirc morou
antes de morar no
assentamento
Carnauacuteba ndash RN
Chaacutecara Buritis nordm 10 Sobradinho DF
Quantos anos vocecirc
tinha quando foi a escola
pela primeira vez
8 anos
Estou ateacute qual
seacuterieano
5ordf seacuterie
Quantos anos vocecirc
tinha quando parou de
estudar
24 anos
Qual motivo
motivou vocecirc a parar de
estudar
Trabalhar para sustento da famiacutelia a
distacircncia entre a casa e a escola
Se tiver escola no
assentamento vocecirc voltaraacute
a estudar Porque
Sim ldquoSe tivesse escola do ensino
fundamental voltaria a estudar para tecirc
mais conhecimento para plantar minha roccedila
50
saber pesar saber contar vendecirc os produto e
comecirc
Entrevistado 02
Moro no assentamento renascer haacute 7 anos tenho 38 vim do interior do Cearaacute
Entrei na escola com 7 anos de idade estudei soacute a 5ordm seacuterie incompleta natildeo
continuei a estudar porque natildeo tinha escola a onde eu morava que era na roccedila e eu
tinha que ficar na casa dozotro (SIC) na cidade e eu natildeo gostava disso natildeo ai parei
com 16 anos de idade Mudamo (SIC) pra Brasiacutelia pra uma chaacutecara perto de Santa
Maria-DF e natildeo dei pra estudar porque casei e tinha que trabalhar muito para
susrentar a famiacutelia A gora moro no assentamento Renascer e sei que um dia vai ter
uma escola aqui e eu vou voltar a estudar porque meu sonho eacute ser veterinaacuterio e vou
der se deus quiser
Entrevistado 03
Tenho 58 anos moro no assentamento Renascer haacute 6 anos vim de Ceres-GO
comecei a estudar quando eu tinha 10 ano de idade estudei ateacute a 4ordf seria primaacuteria
(SIC) parei de estudar quando tinha 16 anos porque eu morava na roccedila e escola
ateacute que natildeo ficava muito longe natildeo era soacute 2 km dava pra ir a peacute a professora eacute que
faltava muito e a gente natildeo tinha como saber se ela tava ou natildeoAiacute quando eu tinha
18 anos casei e vim morar em Brasiacutelia e arranjei(SIC) emprego de caseira em uma
chaacutecara aiacute natildeo pra estudar a noite porque era muito longe pra laacute entatildeo eu natildeo
pensei mais nessas coisas Quando tiver escola no assentamento quero estudar
quiecirc pra mim (SIC) fazer curso de teacutecnico agriacutecolarsquorsquo
Entrevistado 04
Tenho 24 anos moro no assentamento Renascer tem 6 ano vim da Bahia morava
no Condomiacutenio RK entrei na escola com 7 anos de idade e estudei soacute ateacute a 6ordf seacuterie
parei com 18 anos de idade
Porque mudei pra caacute pro assentamento (SIC) e natildeo tem escola e natildeo tem como ir
pra Sobradinho a noite porque eacute muito longe tem que andar 5 km eacute pirigogo (SIC)
tem muita gente mal por aiacute tem ateacute estrupador natildeo posso me arriscar
ldquoSe tivesse escola aqui eu ia terminar meus estudos podia ser no galpatildeo mesmo
pra mim tava bom mas para os meus filhos eu queria uma escola boa com internet
e tudo Eu natildeo gosto que meus filhos estuda(SIC) na cidade soacute aceito porque eacute o
jeito gente de assentamento eacute muito zombado (SIC) porque as vezes chega suja
na escola e os outros acha que eles satildeo porcos que toma banhordquo
Entrevistado 05
51
Tenho 21 anos de idade moro no Renascer haacute trecircs anos vim de satildeo Gabriel-GO
comecei a estudar aos 7 anos parei com 18 anos porque minha matildee mudou
pro(SIC) matildee mudou pro (SIC) assentamento haacute 6 anos e eu natildeo aguento morar
longe dela Quando cheguei aqui natildeo teve como continuar os estudos porque
trabalho durante o dia como manicure em Sobradinho e o uacuteltimo ocircnibus que passa
perto do assentamento eacute as 5 horas da tarde entatildeo natildeo daacute para estudar a noite
Sim porque quero fazer um curso de cabelereiro quando tiver aacutegua e luz aqui eu
quero montar um salatildeo de beleza e para ser uma empresaacuteria precisa ter estudos pra
administrar o negoacutecio
Entrevistado 06
44 anos
6 anos
Formosa-GO
8 anos
5ordf seacuterie
24 anos
Porque a escola mais perto(SIC) era 10km de distacircncia e eu trabalhava na roccedila e
ficava muito cansado aiacute parei natildeo deu mais
Sim quando tiver escola aqui eu vou voltar a estudar Eu tinha um sonho de ser
agroacutenomo mas esse sonho eacute impussive(SIC) entatildeo queria concluir o ensino
fundamental para fazer um curso de teacutecnico agriacutecola no IFB mas tambeacutem eacute longe
se tivesse como estudar aqui no assentamento eu ia(SIC) ficar muito feliz
Entrevistado 07
57 anos
6 anos
Parnaiacuteba-PI- Santa Maria- DF
7 anos
4ordf seacuterie
21 anos
Parei porque era muito difiacutecil ir para escola que ficava muito longe eu tinha que sair
de casa as 4hs da madrugada para chegar na escola as 730 ia montado num
cavalo e muitas vezes natildeo tinha professora pra dar aula Parei porque natildeo aguentei
o rojatildeo tinha que minha matildee na lida a tarde e eu ficava muito cansado Vim pra
52
Brasiacutelia e casei fui trabalhar de chacareiro numa chaacutecara que tambeacutem era longe de
escola depois vim morar aqui no assentamento que natildeo tem escola
Se tivesse escola aqui eu ia voltar estudar soacute pra aprender a cuidar meior (SIC) da
terra e dos meus bichos e que fosse como uma escola agriacutecola
Entrevistado 08
Tenho 29 anos moro no assentamento Renascer haacute 2 anos sou educadora do
Pronera haacute 1 ano e 2 meses O Pronera eacute como um antidepressivo na vida de muita
gente o Pronera melhorou a minha vida e a vida dos meus alunos o desejo de
todos eacute que o Pronera continue crescendo em direccedilatildeo de uma educaccedilatildeo continuada
levando tambeacutem o ensino fundamental para os acampamentos e assentamentos da
Reforma Agraacuteria
-50-
Anexos
53
Acampamento agrave beira da estrada ndash 2004
Construccedilatildeo da Sede do Movimento na atual aacuterea
54
Reuniatildeo semanal
Teatro de fantoches ndash brinquedoteca
55
Accedilatildeo da Pastoral da Crianccedila na brinquedoteca
Oficina de brinquedos reciclaacuteveis
56
Brinquedo confeccionado com materiais reciclaacuteveis na Brinquedoteca
57
58
59
60
Apresentaccedilatildeo teatral
61
Capacitaccedilatildeo em Economia Solidaacuteria
Formaccedilatildeo de multiplicadores da Economia Solidaacuteria
62
Capacitaccedilatildeo de Educadores Ambientais
63
Luta pela Reforma Agraacuteria e Soberania Alimentar
5
Lista de Siglas
DF - Distrito Federal
EMPRAPA - Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuaacuteria
FUNATURA - Fundaccedilatildeo Proacute-Natureza
GDF- Governo do Distrito Federal
IFB - Instituto Federal de Brasiacutelia
INCRA - Instituto Nacional de Colonizaccedilatildeo e Reforma Agraacuteria
LEdoC - Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo
MEB - Movimento de Educaccedilatildeo de Base
MAT R - Movimento de Apoio ao Trabalhador Rural
MST - Movimento dos Sem Terra
ONGs - Organizaccedilatildeo natildeo Governamental
PRONERA - Programa Nacional de Educaccedilatildeo na Reforma Agraacuteria
PAIS - Produccedilatildeo Agroecoloacutegica Integrada e Sustentaacutevel
PRONAF - Programa Nacional de Fortalecimento na Agricultura Familiar
PAA - Programa de Aquisiccedilatildeo de Alimento
PNAE - Programa Nacional de Alimentaccedilatildeo Escolar
6
PAPA-DF -Programa de Aquisiccedilatildeo da Produccedilatildeo da Agricultura
PPP - Projeto Poliacutetico Pedagoacutegico
7
APRESENTACcedilAcircO
O presente trabalho de pesquisa eacute resultado da observaccedilatildeo presencial do
assentamento de Reforma Agraacuteria denominado Renascer ao longo de 11 (onze)
anos de convivecircncia Durante 5 (cinco) anos se estabeleceu um acampamento agraves
margens da rodovia DF 330 que liga Sobradinho ao Paranoaacute DF Apoacutes mobilizaccedilatildeo
dos acampados e negociaccedilatildeo com o poder puacuteblico (GDF Coleacutegio Agriacutecola de
Brasiacutelia atualmente Instituto Federal de Brasiacutelia EMBRAPA e intermediaccedilatildeo
puacuteblica) foi liberada uma aacuterea para o acampamento mudar de local e se estabelecer
onde atualmente estaacute situado (entre o Coacuterrego do Arrozal e o Coacuterrego do Meio)
Esta mudanccedila de local foi autorizada pelo governo e se concretizou em maio de
2009 Neste tempo a situaccedilatildeo do acampamento mudou para preacute-assentamento e
atualmente jaacute se encontra em situaccedilatildeo de Assentamento Rural
Durante todos esses anos foram realizados algumas atividades pedagoacutegicas
na comunidade tais como a implantaccedilatildeo de uma brinquedoteca com oficinas de
confecccedilatildeo de brinquedos para as crianccedilas acampadas utilizando materiais
reciclados uma biblioteca com livros e revistas usados obtidos atraveacutes de doaccedilatildeo de
vaacuterias pessoas simpatizantes da causa da Reforma Agraacuteria Aulas de alfabetizaccedilatildeo
de adultos no horaacuterio noturno pelo Programa Nacional de Educaccedilatildeo na Reforma
Agraacuteria (PRONERA) com recursos muito escassos mas eacute a educaccedilatildeo que nos
acompanha ateacute nos dias de hoje Atividades de arte-educaccedilatildeo para incentivos e
melhorias na interaccedilatildeo de crianccedilas e jovens exercitando a praacutetica de teatro projeccedilatildeo
de filmes recreativos e de novos conhecimentos para os moradores produccedilatildeo de
um documentaacuterio sobre a comunidade Renascer e a importacircncia da Reforma
Agraacuteria no Brasil denominado ldquoConquistar a terra Produzir o patildeordquo Com o apoio do
projeto audiovisual ndash UnB Planaltina
Para uma melhor compreensatildeo da pesquisa monograacutefica dividiu-se o texto
em capiacutetulos O Primeiro capiacutetulo aponta as opccedilotildees de pesquisa e os passos
metodoloacutegicos para sua realizaccedilatildeo No segundo capiacutetulo estudamos a transiccedilatildeo
entre a escola rural e a escola do campo O terceiro capiacutetulo relata a histoacuteria do
Assentamento Renascer e o quarto capiacutetulo relatamos o resultado da pesquisa de
campo evidenciando a Escola que temos e a Escola que queremos
8
Primeiro Capiacutetulo
As opccedilotildees da pesquisa e os passos metodoloacutegicos
O intuito deste trabalho eacute recuperar a trajetoacuteria de luta dos moradores do
assentamento Renascer pela educaccedilatildeo visando assegurar o direito agrave escola
identificando avanccedilos e limites encontrados nesta trajetoacuteria
Gostaria de manifestar minha satisfaccedilatildeo e agradecer a oportunidade de estar
estudando numa universidade puacuteblica em um curso com muita interfere com a minha
vivecircncia pessoal e de um alcance social muito importante para a transformaccedilatildeo que
nosso paiacutes necessita A desigualdade social ainda eacute muito grande no campo e na
cidade sendo bastante visiacutevel esta realidade
Sou nascida numa comunidade remota e isolada no sul do Maranhatildeo onde
nos meus primeiros anos de vida convivi em uma comunidade indiacutegena com minha
avoacute paterna comunidade de economia essencialmente extrativista principalmente
da quebra do coco babaccedilu o cultivo da mandioca para fazer farinha e da caccedila e
pesca Fiquei sem frequentar agrave escola ateacute os treze(13) anos de idade por natildeo existir
escola na comunidade Quando vim morar em Brasiacutelia e ingressei em uma escola
pela primeira vez sofri muita descriminaccedilatildeo por parte dos outros alunos devido
minha idade e a defasagem escolar Apesar de viver na cidade grande haacute bastante
tempo continuam vivas na minha alma o desejo de viver no campo Estou na luta
por um pedaccedilo de terra atraveacutes da Reforma Agraacuteria no assentamento Renascer
com o apoio do MATR- Movimento de Apoio ao Trabalhador Rural haacute onze(11)
anos atualmente estamos em fase de sermos assentados
Alguns anos atraacutes em 1992 cheguei a fazer um curso de formaccedilatildeo de
professores (Magisteacuterio) e me capacitei para trabalhar da 1ordf a 4ordf seacuterie do Ensino
Fundamental na eacutepoca Realizei alguns trabalhos nessa aacuterea mas natildeo exerci
profissionalmente esta atividade de forma regular
O tema Escola do Campo vem ao encontro a um anseio pessoal de poder
trabalhar com educaccedilatildeo voltada para a realidade vivida pelo cotidiano da populaccedilatildeo
realmente do campo A minha motivaccedilatildeo ao escolher este tema de pesquisa eacute de
9
poder de alguma forma contribuir para a troca de experiecircncia e conhecimentos entre
educandos e educadores melhorando minha capacitaccedilatildeo profissional e absorver
conhecimentos e orientaccedilotildees de professores (as) e companheiros (as) de estudo
Conforme o educador Paulo Freire dizia ningueacutem tem o conhecimento de tudo
e sempre eacute capaz de conhecer mais coisas que ainda natildeo conhece se assim o
desejar
O assentamento Renascer hoje conta com um total de 120 famiacutelias satildeo
11 (onze) anos de luta e perseveranccedila tem se manifestado se mobilizado
reivindicando oportunidades de obterem escola do campo para adquirirem
conhecimentos atraveacutes do estudo que lhes permita melhorar sua capacitaccedilatildeo para o
trabalho e consequentemente ampliar seus horizontes soacutecio- econocircmico e
culturalmente ou seja progredir atraveacutes dos seus estudos e trabalho que satildeo
direitos humanos universais
Sem a inclusatildeo do ensino fundamental para trabalhadores rurais a Educaccedilatildeo
de Jovens e Adultos (EJA) para o ensino do 6ordm ao 9ordm ano o que natildeo eacute nem um pouco
acessiacutevel agrave comunidade devido a inuacutemeras dificuldades como horaacuterio disponiacutevel
falta de transporte dentre outros fatores Fica impossiacutevel o acesso dessa
comunidade aos estudos oferecidos pelo Instituto Federal de Brasiacutelia (IFB) que fica
proacuteximo a esse assentamento O IFB oferece diversos cursos que interessam e
atendem agraves necessidades dos trabalhadores do campo Desta maneira a situaccedilatildeo
atual dos moradores do Assentamento Rural Renascer demostra discriminaccedilatildeo e
exclusatildeo social por parte do poder puacuteblico
Alguns cursos e projetos teacutecnico-pedagoacutegicos realizados por parceiros do
Movimento de Apoio ao Trabalhador Rural (MATR) Como a Fundaccedilatildeo Banco do
Brasil Funatura IFB Economia Solidaacuteria Novas Fronteiras da Cooperaccedilatildeo Rio Satildeo
Bartolomeu Vivo e UnB Essas parcerias acrescentaram melhorias agrave qualidade de
vida ao assentamento
A educaccedilatildeo que temos atraveacutes do Programa de Educaccedilatildeo na Reforma
Agraacuteria (PRONERA) revela que a importacircncia do programa na realidade do
assentamento durante determinado periacuteodo satisfez algumas necessidades
educacionais tirando muitas pessoas do analfabetismo
O que ocorre atualmente eacute que o Pronera natildeo estaacute funcionando no
momento por falta da renovaccedilatildeo do contrato estre o INCRA a UnB e o Movimento
10
Social MATR que vem atrasando o processo de alfabetizaccedilatildeo e conclusatildeo do
5ordm ano
Um olhar criacutetico sobre a escola que temos revela a necessidade de poliacuteticas
puacuteblicas como a implantaccedilatildeo de espaccedilos fiacutesicos contendo mobiliaacuterio escolar baacutesico
como carteiras quadro de giz e iluminaccedilatildeo adequada A observaccedilatildeo da atuaccedilatildeo do
Pronera na comunidade Renascer resultou nas seguintes observaccedilotildees
- inadequaccedilatildeo do local para realizaccedilatildeo das aulas que ateacute recentemente
funcionava de forma precaacuteria num barraco utilizado pela igreja catoacutelica o que
impossibilitava o funcionamento das aulas pois durante os eventos da igreja natildeo
tinha como realizar as atividades pedagoacutegicas
A reparaccedilatildeo dessa situaccedilatildeo de precariedade especiacutefica do assentamento
Renascer contribui para reverter a condiccedilatildeo de inferioridade dos assentados
As criacuteticas acima relacionadas satildeo positivas pois a uacutenica escola que o
acampamento teve no decorrer desses 11 (onze) anos foi o Pronera que pode
perfeitamente superar as dificuldades apontadas contribuindo com o trabalho do
educador (a) que acaba por acrescentar inuacutemeras responsabilidades que lhe natildeo
satildeo devidas ao ato de ensinar
A perseveranccedila na luta por uma escola do campo na comunidade Renascer
eacute essencial para evitar o que acontece na realidade do campo em niacutevel nacional
onde cerca de 24000 escolas brasileiras foram fechadas no meio rural
Segundo Erivam Hilaacuterio do setor de educaccedilatildeo do MST que afirma que o
fechamento dessas escolas tem sua loacutegica a intenccedilatildeo de pensar num campo sem
escola e consequentemente um campo sem cultura e sem gente
Refletinto sobre a educaccedilatildeo que queremos atraveacutes do Pronera ou outros
programas educacionais de ensino sentimos que eacute necessaacuterio uma concepccedilatildeo da
educaccedilatildeo ampla que propicia alimento intelectual moral artiacutestico e um
posicionamento criacutetico no processo social e poliacutetico tanto em niacutevel regional
nacional e universal Constitui ferramenta essencial para a formaccedilatildeo de nossa
personalidade e para a emancipaccedilatildeo da sociedade em relaccedilatildeo agrave opressatildeo e
injusticcedila
As expectativas e lutas das famiacutelias do assentamento Renascer estatildeo
alicerccediladas em parcerias junto a entidades do poder puacuteblico exemplo INCRA UnB
11
e Movimentos Sociais do campo para colocar em praacutetica uma educaccedilatildeo que seja
eficaz para a Comunidade Renascer
Acredito que cada comunidade possui uma realidade um contexto muito
proacuteprio particular diferenciada de outra comunidade qualquer Os anseios as
necessidades os fatores culturais econocircmicos entre outros fatores satildeo diferentes
de lugar para lugar
A pedagogia e os meacutetodos a serem realizados em cada local deveriam ser
colocados em praacutetica somente apoacutes a comunidade local ser mobilizada e participar
ativamente na elaboraccedilatildeo deste plano de trabalho pedagoacutegico contribuindo com
ideias e vivecircncias Desta maneira a educaccedilatildeo estaria a serviccedilo do bem coletivo e
natildeo privilegiaria alguns em prejuiacutezo da coletividade A educaccedilatildeo eacute uma importante
ferramenta para o desenvolvimento de uma economia solidaacuteria e socialmente justa
politicamente livre dos espoliadores que historicamente persistem em oprimir a
maioria dos povos privando-os de seus direitos
Na maioria das escolas existentes no campo que natildeo atendem a todos mas
a uma determinada parcela da populaccedilatildeo regional a pedagogia adotada eacute
planejada formulada empacotada e imposta aos camponeses por ldquopedagogo de
gabineterdquo que vivem nas grandes cidades e natildeo respeitam os valores e realidades
regionais e locais de cada comunidade
Eacute claro que existem exceccedilotildees de trabalhos pedagoacutegicos muito bons Eacute o caso
de quando ocorre uma interaccedilatildeo entre a comunidade local e os educadores que
estatildeo ali para contribuir por uma educaccedilatildeo construiacuteda a partir da participaccedilatildeo
popular e democraacutetica na criaccedilatildeo e produccedilatildeo do processo educativo
A pesquisa seraacute fundamentada pela investigaccedilatildeo teoacuterica sobre o tema de
implantaccedilatildeo de salas de aula de ensino fundamental para trabalhadores rurais
adultos em comunidades que lutam pela reforma agraacuteria Para entender-se o
problema eacute necessaacuterio apontar a fundamentaccedilatildeo teoacuterica
A fundamentaccedilatildeo de diversas correntes de opiniatildeo eacute importante para o nosso
proacuteprio esclarecimento e para a busca conjunta com os interessados sobre qual o
melhor modelo pedagoacutegico a ser implantado na sala de aula da comunidade
A fundamentaccedilatildeo teoacuterica como satildeo vaacuterias as teorias existentes seratildeo
expostas algumas como Territoacuterios Educativos na Educaccedilatildeo do Campordquo ldquopor uma
Educaccedilatildeo do Campordquo ldquoTeoria e Praacutetica Pedagoacutegica da educaccedilatildeo do Campordquo
12
rdquoPesquisa Social e accedilatildeo Pedagoacutegicardquo rdquoEtnografia e Praacutetica Escolarrdquo ldquoMetodologia
do tralho Cientiacuteficordquo e trabalhos monograacuteficos de ex-alunos do curso da LEdoC
A metodologia utilizada a pesquisa qualitativa com estudo de caso e estudo
bibliograacutefico
O estudo teve como instrumento de pesquisa a aplicaccedilatildeo de entrevista semi-
estruturada com pessoas da comunidade Renascer quando seraacute identificada sua
participaccedilatildeo e contribuiccedilatildeo para educaccedilatildeo na comunidade e sobre seu entendimento
sobre que tipo de escola do campo que a comunidade requerem relevantes para o
objetivo da pesquisa
O trabalho de campo foi para buscar informaccedilotildees atraveacutes da fala dos sujeitos
que foram ouvidos conforme citado anteriormente bem como de material que
poderaacute contribuir para o trabalho da pesquisa
A pesquisa bibliograacutefica abordou o aprofundamento teoacuterico sobre o tema
para anaacutelise da realidade da educaccedilatildeo do campo para melhor entender a situaccedilatildeo
em que o assentamento se encontra na luta pela escola
-11-
13
Segundo Capiacutetulo
Da escola rural agrave escola do campo histoacuterico das lutas e
concepccedilotildees da educaccedilatildeo
21 A Escola Rural no Brasil
Conforme Ferreira e Brandatildeo (2011) a trajetoacuteria da escola rural brasileira
deve ser contextualizada historicamente segundo o modelo socioeconocircmico
implantado no paiacutes desde o iniacutecio do processo colonizador ateacute o momento presente
Para os autores desde os primoacuterdios do processo de colonizaccedilatildeo o paiacutes foi
entendido apenas como uma colocircnia de exploraccedilatildeo devendo portanto remeter agrave
metroacutepole suas riquezas naturais do solo do subsolo dando segmento aos ciclos
econocircmicos denominados de colonial ciclo do pau brasil da cana de accediluacutecar do
ouro do cafeacute (FERREIRA amp BRANDAtildeO 2011 p3)
A base social do paiacutes eacute formada pelos nativos (iacutendios ndash expulsos
massacrados e exterminados) os africanos e os imigrantes pobres vindos da
Europa e do oriente Foi segundo os mesmos autores esta mesma base social que
formou a matildeo de obra imprescindiacutevel para a implantaccedilatildeo do projeto colonial e do
periacuteodo imperial
A aboliccedilatildeo da escravatura em 1888 e o consequente abandono da populaccedilatildeo
negra desprovida de qualquer indenizaccedilatildeo ou bens materiais particularmente terra
teve como consequecircncia o ecircxodo rural e o desprezo pela atividade agriacutecola
associada agrave escravatura
Em sua experiecircncia histoacuterica como repuacuteblica o tradicional modelo
socioeconocircmico adotado no Brasil perdurou
Ao longo da histoacuteria do Brasil o processo de exclusatildeo social e tambeacutem poliacutetico econocircmico e cultural sempre estiveram presentes e eram tidos como algo ldquonaturalrdquo Ainda nos dias atuais fazer uma referencia a este processo de exclusatildeo natildeo leva a um debate tranquilo a resistecircncia ainda eacute forte por parte da sociedade neoliberal principalmente por aqueles que ainda se beneficiam com
a exclusatildeo socialrdquo (FERREIRA 2011 pag 3)
Com relaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo o que se percebe eacute conforme Ferreira (2011)
14
que o modelo de educaccedilatildeo praticado no Brasil pelos diferentes governos entre o iniacutecio do Impeacuterio (1822) ateacute meados do seacuteculo XX era uma educaccedilatildeo para a elite econocircmica e intelectual em prejuiacutezo direto e indiscriminado dos pobres negros e iacutendios Inclusive a primeira Lei ainda no periacuteodo imperial quando se reporta agrave educaccedilatildeo natildeo se ateve agraves especificidades diretas da zona rural onde a populaccedilatildeo brasileira viviardquo (FERREIRA 2011 p4)
Clauacutedio Santos (2013) afirma que a educaccedilatildeo destinada aos habitantes do
campo no inicio do seacuteculo XX entendia que ldquoa formaccedilatildeo das jovens geraccedilotildees ou dos
adultos no espaccedilo rural era tida como algo menor ou desnecessaacuteriordquo (p 47) Para o
autor a maioria de residentes no campo ( 75) natildeo foi pensado um modelo
educacional que contemplasse as necessidades dos residentes no campo o que a
histoacuteria do Brasil nos ensina eacute que o regime republicano manteve os grandes
latifuacutendios e a oligarquia rural alijando a maior parcela da populaccedilatildeo rural de
qualquer benefiacutecio do sistema poliacutetico-econocircmico
A organizaccedilatildeo escolar rural no Brasil embora tiacutemida pode ser localizada a
partir do primeiro governo republicano o do marechal Deodoro da Fonseca (1889-
1891) estando a cargo do Ministeacuterio da Agricultura Comeacutercio e Induacutestria O ecircxodo
da populaccedilatildeo rural para os incipientes centros urbanos em busca dos empregos
promovidos pela igualmente incipiente industrializaccedilatildeo evidenciava as mazelas dos
sujeitos do campo 75 da populaccedilatildeo brasileira era analfabeta igual nuacutemero da
populaccedilatildeo do campo
Somente a partir de 1920 tem-se efetivamente o primeiro movimento em
defesa da educaccedilatildeo da populaccedilatildeo rural conhecido como Ruralismo Pedagoacutegico
(SANTOS 2013) que foi um movimento dos educadores poliacuteticos e intelectuais
elaborando formas de accedilatildeo pedagoacutegicas adequados agrave dominacircncia poliacutetico-
econocircmica da oligarquia rural
Para o autor o ruralismo pedagoacutegico
defendia uma escola integrada agraves condiccedilotildees locais para promover a fixaccedilatildeo do homem do campo estava ligado agrave modernizaccedilatildeo do campo brasileiro e contava com o apoio dos latifundiaacuterios temerosos de perder sua matildeo de obra bem como de uma elite urbana preocupada com os resultados negativos de uma migraccedilatildeo
camponesa para a cidade (SANTOS2013p48)
15
Uma caracteriacutestica do ruralismo pedagoacutegico foi buscar adequar a educaccedilatildeo
rural para fixar o homem no campo para diminuir o processo de urbanizaccedilatildeo e
consequente ecircxodo rural que modificava a estrutura econocircmico e social do paiacutes
Relativo agrave educaccedilatildeo rural da primeira metade do seacuteculo XX nos ensina
Santos (2013 p48) que ldquoem 1933 inicia-se a campanha de alfabetizaccedilatildeo na zona
rural Em 1935 ocorre o I Congresso Nacional do Ensino Regional que contribui
para a fundaccedilatildeo da Sociedade Brasileira de Educaccedilatildeo Rural no ano de 1937rdquo
Nos anos de 1920 foi criado o movimento conhecido como Escola Nova por
intelectuais e pensadores brasileiros que valorizaram a pesquisa educacional e a
inserccedilatildeo da escola como uacutenico meio de se combater as desigualdades sociais num
ambiente de crescente industrializaccedilatildeo e urbanizaccedilatildeo (SANTOS 2013) Estes
educadores como Aniacutesio Teixeira Fernando de Azevedo Lourenccedilo Filho dentre
outros defenderam atraveacutes do Manifesto da Escola Nova (1932) a universalizaccedilatildeo
da escola puacuteblica laica e gratuita
A influecircncia deste movimento sobre a educaccedilatildeo brasileira fez-se sentir nas geraccedilotildees futuras de educadores e pesquisadores como Darcy Ribeiro e Florestan Fernandes A atuaccedilatildeo desses pioneiros se estendeu por deacutecadas muitas vezes criticada pelos defensores da escola particular e religiosa (FERRARI 2014p43)
Poreacutem as propostas do Manifesto natildeo tiveram impactos concretos e natildeo
foram incorporados pela escola Ferraro (2012) esclarece que
A educaccedilatildeo rural no Brasil soacute se tornou objeto de interesse do Estado no momento em que todas as atenccedilotildees e esperanccedilas se voltavam para o urbano e a ecircnfase passava a recair sobre o desenvolvimento industrial Quando os interesses do latifuacutendio dominavam tanto a economia como a poliacutetica a alfabetizaccedilatildeo das massas camponesas era vista como seacuteria ameaccedila agrave ordem vigente Quando o paiacutes jaacute avanccedila no processo de industrializaccedilatildeo e se torna predominantemente urbano eacute a proacutepria cidade que passa a reivindicar a alfabetizaccedilatildeo das populaccedilotildees do campo Passa entatildeo a contrariar os interesses da cidade continua (FERRARO 2012p964)
16
A industrializaccedilatildeo ocorreu nas cidades e atraiu grandes levas de
trabalhadores do campo seduzidos pelo ideal de transformaccedilatildeo de vida acesso agrave
escolarizaccedilatildeo empregos bem remunerados ideais que levam ao ecircxodo rural hoje
ou naquele momento histoacuterico A realidade do trabalhador do campo receacutem
chegado agrave cidade era do ponto de vista educacional precariacutessima pois em sua
maioria eram analfabetos ou com baixa escolarizaccedilatildeo Essa condiccedilatildeo impedia o
acesso ao emprego industrial urbano e agrave boa qualidade de vida que uma boa
remuneraccedilatildeo podia proporcionar
As cidades sofreram crescimento raacutepido desgovernado formando periferias
que abrigavam a maioria da populaccedilatildeo egressa do campo O subemprego e o
desemprego desestabilizavam as populaccedilotildees das cidades e geravam desequiliacutebrios
sociais e econocircmicos comprometendo a qualidade de vida de todos os moradores
Eacute o ciacuterculo vicioso da desigualdade da exclusatildeo e da violecircncia que a educaccedilatildeo
pode romper A educaccedilatildeo tem entatildeo o propoacutesito de formar trabalhadores para a
induacutestria urbana
Na Constituiccedilatildeo de 1934 para com a educaccedilatildeo rural destaca-se o Art 156 conforme podemos ver abaixo
A Uniatildeo e os Municiacutepios aplicaratildeo nunca menos de dez por cento e os Estados e o Distrito Federal nunca menos de vinte por cento da renda resultante dos impostos na manutenccedilatildeo e no desenvolvimento dos sistemas educativos Paraacutegrafo uacutenico ndash Para a realizaccedilatildeo do ensino nas zonas rurais a Uniatildeo reservaraacute no miacutenimo vinte por cento das cotas destinadas agrave educaccedilatildeo no respectivo orccedilamento anual
Na constituiccedilatildeo Federal de 1937 a educaccedilatildeo rural natildeo eacute citada A prioridade eacute
a educaccedilatildeo dos moradores urbanos Neste periacuteodo conforme Ferreira (2011) ldquoa
orientaccedilatildeo poliacutetico educacional para o mundo capitalista fica bem expliacutecita
sugerindo a preparaccedilatildeo de um maior contingente de matildeo de obra para as novas
atividades abertas pelo mercado ndash a industrializaccedilatildeordquo ( pg 32)
Ainda segundo o autor este afirma que em 1935 ocorreu o I Congresso
Nacional do Ensino Regional que assume como objetivo propagar a educaccedilatildeo rural
e elaborar os planos de educaccedilatildeo Esses planos recomendavam escolas rurais
ambulantes nas regiotildees de menor densidade geograacutefica
17
O periacuteodo conhecido como Estado Novo (1937-1945) tentava implantar uma
poliacutetica educacional de cunho nacionalista tornando a educaccedilatildeo um instrumento do
estado servindo aos seus interesses
Os adultos analfabetos particularmente no meio rural tiveram atenccedilatildeo da
Campanha Nacional de Educaccedilatildeo Rural (CNER) de 1952 a 1963 cujo objetivo era
contribuir para a inserccedilatildeo do homem do campo O CNER atuou atraveacutes de missotildees
internacionais dos Estados Unidos voltadas agrave educaccedilatildeo ao treinamento de
professores e agrave preparaccedilatildeo dos jovens do meio rural pelo ensino profissional
agriacutecola Agrave atividade do CNER podemos agregar a accedilatildeo da Comissatildeo Brasileiro-
Americana de Educaccedilatildeo das Populaccedilotildees Rurais (CBAR) que celebrou acordos entre
esses dois paiacuteses visando a educaccedilatildeo rural orientada para o emprego de teacutecnicas
agriacutecolas (OLIVEIRA 1999 p 133)
A educaccedilatildeo rural eacute chamada para se ajustar agraves poliacuteticas educacionais estabelecidas pelo projeto do estado A educaccedilatildeo rural em primeiro lugar apesar de numerosos programas desenvolvidos sempre representou uma fatia muito pequena e marginal nas preocupaccedilotildees do setor puacuteblico (OLIVEIRA p apud CALAZANS1981p162)
A educaccedilatildeo rural ocupou e ainda ocupa pequeno espaccedilo no universo
educacional brasileiro As escolas apresentam dificuldades para se manterem no
campo Conforme o Jornal Sem Terra nordm 46 jun2011 24000 escolas do campo
foram fechadas no Brasil As instalaccedilotildees o curriacuteculo a carecircncia de professores o
transporte escolar formam muitas vezes uma barreira quase imponiacutevel para uma
ampla gama de alunos particularmente das uacuteltimas seacuteries do ensino fundamental e
do ensino meacutedio
Os programas implantados nos uacuteltimos anos como o PRONERA e o EJA
apresentam soluccedilotildees e alcanccedilam grandes resultados mas podemos questionar os
resultados entre os estados O Rio Grande do Sul (que atendeu alunos do ensino
baacutesico ateacute o ensino superior) em comparaccedilatildeo com outros estados e o Distrito
Federal conseguiu excelentes resultados No DF falta alcanccedilar melhores
resultados Podemos questionar se os resultados satildeo adequados pois por exemplo
no assentamento Renascer o Pronera natildeo vai aleacutem do quinto ano Eacute necessaacuterio
uma poliacutetica educacional que leve em conta a realidade dos alunos do campo
18
invista recursos materiais e humanos modernizem as escolas e propiciem o acesso
dos alunos
Conforme nos explica Sousa 2004 em seu artigo lsquodiscursos intolerantes o
lugar da politica na educaccedilatildeo rural e a representaccedilatildeo do camponecircs analfabeto
No Brasil a trajetoacuteria da educaccedilatildeo rural inclui-se na dinacircmica de modernizaccedilatildeo do campo assumindo um papel decisivo no processo de expropriaccedilatildeo proletarizaccedilatildeo e controle dos trabalhadores rurais A modernizaccedilatildeo da produccedilatildeo no nordeste brasileiro por exemplo incentivou o processo de sindicalizaccedilatildeo em massa dos trabalhadores das zonas canavieiras estimulou reivindicaccedilotildees no campo do trabalho ligadas agrave aplicaccedilatildeo do Estatuto do Trabalhador Rural e contraditoriamente fez emergir as manifestaccedilotildees pela distribuiccedilatildeo de terras encampadas pelas Ligas Camponesas ( SOUSA2004 p4)
O projeto de modernizaccedilatildeo do campo ocorreu sem que houvesse a
emancipaccedilatildeo dos trabalhadores rurais Na verdade ocorreu a proletarizaccedilatildeo dos
trabalhadores rurais pela acumulaccedilatildeo de terras em matildeos de apenas poucos
proprietaacuterios (latifundiaacuterios) Esse acontecimento revela que apenas em processo
consciente e contiacutenuo de lutas organizados e unidos os trabalhadores rurais
poderatildeo conquistar terras e meios para sua produccedilatildeo
O estudo da organizaccedilatildeo dos trabalhadores rurais eacute importante porque eacute a
partir dela que outras grandes reivindicaccedilotildees satildeo conquistadas No caso da
presente pesquisa pode-se observar que foi a organizaccedilatildeo dos trabalhadores em
torno de suas causas a reforma agraacuteria que levou agrave luta pelas outras reivindicaccedilotildees
como a educaccedilatildeo no campo
O proacuteximo capiacutetulo deste trabalho monograacutefico aborda a questatildeo das
manifestaccedilotildees e resistecircncias dos camponeses pela educaccedilatildeo e pela reforma
agraacuteria
-16-
22 Trajetoacuteria de luta pela Educaccedilatildeo do Campo
A luta pela educaccedilatildeo do campo esteve sempre associada agrave luta pela reforma
agraacuteria e pela conquista de direitos para os trabalhadores rurais O Movimento das
19
Ligas Camponesas lutou pela emancipaccedilatildeo do trabalhador rural e da reforma agraacuteria
e em seu projeto educacional estavam baseados nos ideais de Paulo Freire e do
Movimento de Educaccedilatildeo de Base (MEB)
Para explicar a reaccedilatildeo das classes populares agraves imposiccedilotildees do governo
brasileiro e das classes dominantes Oliveira (1995 apud ARROYO)
A histoacuteria das lutas entre as classes sociais natildeo se limitam agrave luta pelo poder mas se constituem impulsionadoras da histoacuteria da humanidade que natildeo aguardam passivamente seu destino mas ao contraacuterio articulam-se em torno de suas lutas para garantir seus direitos sua dignidade e sua participaccedilatildeo democraacutetica na sociedade( OLIVEIRA apud ARROYO1995p 80)
Neste sentido as Ligas Camponesas lutaram praticamente em todo o
territoacuterio nacional contra a tentativa de expulsatildeo dos trabalhadores rurais das terras
Os conflitos armados particularmente no Nordeste exigiam participaccedilatildeo poliacutetica e
direitos essenciais como a educaccedilatildeo do campo
O meacutetodo de alfabetizaccedilatildeo criado por Paulo Freire foi amplamente utilizado
pelas Ligas Camponesas e em sua concepccedilatildeo ampla de escola serviu de subsidio
para a compreensatildeo do camponecircs acerca de seu papel social (TOLEDO Caio
Navarro 2004 p6)
Neste contexto surge a Pedagogia do Oprimido de Paulo Freire Segundo
SANTOS (2013 apud Paulo Freire 1987) afirma que a pedagogia do oprimido
configura-se como
Aquela que tem de ser forjada com ele (o oprimido) e natildeo para ele enquanto homens ou povos na luta incessante de recuperaccedilatildeo de sua humanidade Pedagogia que faccedila da opressatildeo e de suas causas objeto de reflexatildeo dos oprimidos de que resultaraacute o seu engajamento necessaacuterio na luta por sua libertaccedilatildeo em que esta pedagogia se faraacute e refaraacuterdquo (FREIRE 1987 p32)
A pedagogia do oprimido serve de referecircncia para o trabalhador rural que luta
pela emancipaccedilatildeo de sua condiccedilatildeo de proletaacuterio atraveacutes da reforma agraacuteria A
pedagogia do oprimido leva o homem ao encontro de si mesmo ao reconhecimento
da grandeza de seu trabalho ao potencial de suas accedilotildees cotidianas que fazem a
diferenccedila A capacidade de reflexatildeo e o entendimento de sua potencialidade pode
leva-lo agrave sua plena realizaccedilatildeo como indiviacuteduo e como ser social
20
A reaccedilatildeo do governo contra o movimento de educaccedilatildeo popular proposto por
Freire e assumido pelo Movimento das Ligas Camponesas e pelo Movimento de
Educaccedilatildeo de Base (MEB) gerou repressatildeo e resposta da ditadura civil-militar como
o Movimento Brasileiro de Alfabetizaccedilatildeo (MOBRAL)
A luta dos movimentos sociais e sindicais pela educaccedilatildeo do campo parte das
forccedilas internas dos movimentos e alcanccedila a setores sociais religiosos ideoloacutegicos
que passam a contribuir efetivamente para o alcance do direito agrave educaccedilatildeo aos
camponeses
A Comissatildeo Pastoral da Terra (CPT) presente ao lado dos trabalhadores (as)
rurais indiacutegenas ribeirinhos pescadores e quilombolas tambeacutem contribuiu e
contribui para a formaccedilatildeo criacutetica a defesa de formas sustentaacuteveis de utilizaccedilatildeo de
recursos naturais e produccedilatildeo e para a alfabetizaccedilatildeo segundo o meacutetodo de Paulo
Freire (CANUTO 2012 p 131)
Na atualidade estaacute em desenvolvimento um movimento que luta pela educaccedilatildeo do homem do campo organizado por vaacuterias entidades dentre elas o MST Trata-se de um processo que teve inicio em meados dos anos de 1990 impulsionados pela necessidade da educaccedilatildeo de jovens e adultos das aacutereas de assentamentos rurais Foi organizado um Programa Nacional para Educaccedilatildeo na Reforma Agraacuteria composto por atores tais como movimentos sociais universidades e governo federal aleacutem de outros parceiros (Alas da Igreja Sindicatos Organizaccedilatildeo Natildeo-Governamental ONG) existentes nas diferentes regiotildees do Brasil( SOUSA2004 p 32)
A trajetoacuteria de conquista das escolas do campo particularmente as escolas
do campo criadas pelo MST a partir da deacutecada de 1990 foi marcada pela conquista
e implantaccedilatildeo da Educaccedilatildeo Fundamental para crianccedilas e adolescentes dos
acampamentosassentamentos de acordo com o projeto politico-pedagoacutegico fruto do
amadurecimento do movimento
Focou-se a alfabetizaccedilatildeo de jovens e adultos e as lutas pela implantaccedilatildeo do
ensino meacutedio com cursos alternativos para a formaccedilatildeo de professores e teacutecnicos de
niacutevel meacutedio e tambeacutem de cursos superiores
A concepccedilatildeo de escolas de ensino fundamental plantadas em assentamentos
prevecirc a instalaccedilatildeo da escola na proacutepria comunidade evitando com isso o uso de
transporte escolar e a frequecircncia dos alunos Sem Terra em escolas fora do
assentamento
21
Esta atitude de resistecircncia foi fundamental para a conquista da escola nas
terras conquistadas e tambeacutem foi fundamental para universalizar o ensino enraizar
o aluno em sua comunidade e criar a consciecircncia do direito agrave educaccedilatildeo
ldquoincomodandordquo o Estado para garantir o cumprimento das poliacuteticas puacuteblicas
Kolling Vargas e Caldart (2012p502) nos ensinam ldquotoda vez que se
conquista uma escola de educaccedilatildeo baacutesica em um assentamento ou acampamento
ela representa menos adolescentes e jovens do campo fora da escola e mais gente
enraizada em seu proacuteprio lugarrdquo (pag 502)
Os movimentos sociais e sindicais pela educaccedilatildeo do campo indicam o grau
de maturidade desses em sua luta pela reforma agraacuteria Agrave essa luta soma-se o
projeto de desenvolvimento do paiacutes baseado na justiccedila social e o combate agraves
tradicionais formas utilizadas pelas elites urbanas ou rurais de alienaccedilatildeo pela
expropriaccedilatildeo do trabalho e pelo controle dos meios que levam agrave emancipaccedilatildeo
sociocultural e agrave verdadeira humanizaccedilatildeo papel destinado agrave educaccedilatildeo
Neste sentido movimentos sociais como o MST inserem a educaccedilatildeo
baseada em princiacutepios pedagoacutegicos que se distinguem da escola tradicional
Numa perspectiva histoacuterica os movimentos sociais do campo como por
exemplo o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) tiveram inicialmente
como bandeira de luta a luta pela terra pela Reforma Agraacuteria natildeo fazendo uma
relaccedilatildeo entre essa luta e a educaccedilatildeo
A formaccedilatildeo de escolas do campo pelo MST natildeo foi resultado da consciecircncia e
importacircncia da escola para a promoccedilatildeo da educaccedilatildeo em seu meio Foi na verdade
a necessidade de oferecer aos filhos dos primeiros lutadores a oportunidade de
uma perspectiva melhor de futuro atraveacutes do direito agrave educaccedilatildeo Foi tambeacutem a
necessidade de ldquotransformar instituiccedilotildees histoacutericas como a escola em lugares que
ajudem a formar os sujeitos destas transformaccedilotildeesrdquo (CALDART2012 p94)
Desse modo houve primeiro a ldquoocupaccedilatildeo da escolardquo pela mobilizaccedilatildeo e pela
accedilatildeo para garantir que em acampamentos ou assentamentos conquistados
houvesse uma escola que ldquofizesse a diferenccedila ou tivesse realmente sentido em sua
vida presente e futura (preocupaccedilatildeo com os filhos)rdquo (CALDART2012 p91)
Num segundo momento da luta observa-se intencionalidade da luta pela
escola mas com proposta pedagoacutegica especiacutefica ldquocombinando processos de
22
escolarizaccedilatildeo e de formaccedilatildeo da militacircncia e da base social Sem Terrardquo
(CALDART2012 p92)
As experiecircncias de pensar escolas como polos regionais entre assentamentos e com estudantes de outras comunidades de camponeses aos poucos vatildeo educando o olhar dos trabalhadores Sem Terra para uma realidade mais ampla Foi assim que o MST chegou agrave EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO (KOLLING Vargas e Caldart 2012 p 502)
A escola dentro dessa perspectiva de mudanccedila e envolvimento social eacute
parte da luta pela reforma agraacuteria daacute significado a ela pois proporciona a formaccedilatildeo
integral dos sujeitos que lutam pela terra
Essa escola possibilita a reflexatildeo trava o diaacutelogo com as propostas de
educaccedilatildeo popular de Paulo Freire e busca superar as dificuldades imensas que
assentados e acampados vivem no dia a dia
A escola tambeacutem revela a cultura o orgulho e criaccedilatildeo da identidade na luta
por terra Nesse sentido
A heranccedila que o MST deixaraacute para seus descendentes seraacute bem mais do que a terra que conseguir libertar do latifuacutendio seraacute um jeito de ser humano e de tomar posiccedilatildeo diante das questotildees de seu tempo seratildeo os valores que fortalecem e datildeo identidade aos lutadores do povo de todos os tempos de todos os lugares Eacute enquanto produto humano de uma obra educativa que os Sem Terra podem ser vistos como mais um elo que se forma em uma longa tradiccedilatildeo de lutadores sociais que fazem a histoacuteria da humanidade Enraizamento no passado e projeto de futuro (CALDART 2012 p 96)
A educaccedilatildeo proposta pelo movimento gera o sentimento de pertencimento e
desperta o sentimento de respeito agrave coletividade valoriza o trabalho a gestatildeo
democraacutetica e desburocratizada da escola
SANTOS (2013 p71) esclarece que pelo projeto educacional do MST a
educaccedilatildeo proposta estaacute pautada em ldquovalores socialistas e humanistas tais como o
coletivismo o trabalho socialmente uacutetil a organizaccedilatildeo e auto-organizaccedilatildeo dos
estudantes e professoresrdquo (p71)
-21-
23
221 Concepccedilatildeo Pedagoacutegica da Educaccedilatildeo do Campo
No acircmbito da educaccedilatildeo do homem do campo tornar o homem sujeito e natildeo
objeto do saber leva a entender que o conhecimento do camponecircs pode dialogar
com as praacuteticas baseadas no conhecimento cientiacutefico desde que seja perseguido o
ideal de trabalhadores e educadores do campo comprometidos com as lutas sociais
de formar o homem ldquodordquo campo e ldquono campordquo
Conforme Kolling Cerioli e Caldart (2002 p 264) ldquoo povo tem direito a uma
educaccedilatildeo pensada desde o seu lugar e com sua participaccedilatildeo vinculada agrave sua
cultura e agraves suas necessidades humanas e sociaisrdquo ndash(Caldart Educaccedilatildeo do Campo
2012 p 264
Tal compreensatildeo se ainda hoje causa oposiccedilatildeo ateacute mesmo no ambiente
acadecircmico imagine-se naquele momento histoacuterico de profunda repressatildeo poliacutetica e
ideoloacutegica aos movimentos sociais de camponeses por terra e educaccedilatildeo Como nos
ensina Molina e Saacute (DICIONAacuteRIO da Educaccedilatildeo do Campo p 324)
A concepccedilatildeo de escola do campo nasce e se desenvolve no bojo do movimento da EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO a partir das experiecircncias de formaccedilatildeo humana desenvolvidas no contexto de luta dos movimentos sociais camponeses por terra e educaccedilatildeo Trata-se portanto de uma concepccedilatildeo que emerge das contradiccedilotildees da luta social e das praacuteticas de educaccedilatildeo dos trabalhadores do e no campo (MOLINA e SAacute 2012 pag 324)
A concepccedilatildeo pedagoacutegica da educaccedilatildeo popular e da pedagogia da praacutetica
segundo ARROYO inclui
um caraacuteter de envolvimento totalizante dos movimentos sociais que possibilita ao individuo que participa destes coletivos o acesso a outro tipo de formaccedilatildeo que supera a condiccedilatildeo de aluno de alfabetizando de escolarizando Os integrantes destes organismos emersos na tensa situaccedilatildeo de conflitos aprendem por meio da vivencia das lutas sociais dos momentos de mobilizaccedilatildeo das situaccedilotildees limites de perda de emprego de criacuteticas da sociedade agraves suas accedilotildees de ameaccedilas agraves suas vidas Tudo isso traz ricas liccedilotildees ensinadas na ldquoescola do movimentordquo e que nenhuma teoria pode transmitir ou explicar de forma satisfatoacuteria
No entendimento de Arroyo (2013) os movimentos sociais vivem e
amadurecem sob o conhecimento e o entendimento das contradiccedilotildees sociais e esta
24
experiecircncia lhes permite a possibilidade de defender mudanccedilas radicais tanto no
campo como na cidade tanto na ideologia quanto no combate ao latifuacutendio e ao
capitalismo
Tamanho movimento social gera a reflexatildeo sobre as relaccedilotildees
socioeconocircmicas politicas culturais cuidado da natureza relaccedilotildees humanas
destaques de tudo o que interessa ao coletivo agrave sociedade
Eacute por meio do entendimento de que a realidade eacute criaccedilatildeo humana de como se estabelecem os processos de opressatildeo e ainda da noccedilatildeo de que podemos transformar essa realidade dado que a sociedade eacute mutaacutevel que se forma a praacutexis da luta accedilatildeo-conscientizaccedilatildeo-transformaccedilatildeo-libertaccedilatildeo Inserindo-se criticamente na histoacuteria os cidadatildeos tornam-se sujeitos construtores e reconstrutores da realidaderdquo
Molina e Saacute (2012) nos ensinam a partir do conceito de escola do campo sobre a
potencialidade da vivencia de praacuteticas coletivas para a valorizaccedilatildeo integral dos
sujeitos da coletividade do conhecimento cientiacutefico da gestatildeo coletiva da escola
dentre tantos avanccedilos e vitoacuterias dos movimentos sociais
O processo ensino-aprendizagem permite que o conceito de escola extrapole
o cotidiano de dificuldades e desafia agrave reflexatildeo que gera a emancipaccedilatildeo
Este eacute um dos maiores desafios e ao mesmo tempo uma das maiores possibilidades da escola do campo articular os conhecimentos que os educandos tecircm o direito de acessar a partir do trabalho com a realidade da religaccedilatildeo entre educaccedilatildeo cultura e os conhecimentos cientiacuteficos a serem apreendidos em cada ciclo de vida e de diferentes aacutereas do conhecimento(MOLINA MOURAtildeO 2012 p 329) -26-
222 Princiacutepios da Educaccedilatildeo do Campo
Alguns princiacutepios viabilizam o projeto de escola adotado pelos movimentos
sociais e possibilitam a democracia e a integraccedilatildeo de todos lideranccedila assentados e
acampados do movimento
25
O princiacutepio da responsabilidade coletiva sobre o planejamento a gestatildeo a
organizaccedilatildeo e a realizaccedilatildeo de tarefas em todas as esferas de atividades princiacutepios
muito valorizados pelos movimentos sociais do campo foram transferidos para o
projeto de educaccedilatildeo
O projeto eacute de responsabilidade coletiva e insere educadores tanto a niacutevel
local como regional e nacional os ldquoColetivos de educaccedilatildeordquo como satildeo conhecidos
Os coletivos de educaccedilatildeo com tarefas forccedila orgacircnica e discussotildees especiacuteficas que podem variar a cada periacuteodo fortalecem o princiacutepio organizativo de que a questatildeo da educaccedilatildeo bem como outras questotildees da vida social assumidas pelo MST deve ser pensada e implantada de forma coletiva Eacute uma loacutegica que implica tarefas a serem realizadas pelas pessoas mas mediante um planejamento e uma leitura de conjuntura feita por um coletivo (KOLLING1995 et al p503)
Para concretizar o projeto de educaccedilatildeo foi concebida a formaccedilatildeo de
professores pelos proacuteprios movimentos no acircmbito da proacutepria comunidade
(conhecidos como ldquoprofessores leigosrdquo) e tambeacutem pela rede oficial de ensino
A falta de titulaccedilatildeo de muitos educadores formados na comunidade natildeo
impede que os mesmos trabalhem juntos com os professores titulados e com
simpatizantes do movimento no projeto poliacutetico-pedagoacutegico constituindo um
princiacutepio democraacutetico importante para superar as dificuldades e urgecircncias para a
implantaccedilatildeo da educaccedilatildeo do campo
A democracia do processo de formaccedilatildeo de educadores tem reflexos amplos
a formaccedilatildeo de educadores pelos proacuteprios movimentos especiacutefica para atuaccedilatildeo nas
escolas do campo
O movimento eacute responsaacutevel pela universalizaccedilatildeo do ensino no acircmbito dos
territoacuterios conquistados ou por conquistar e permitiu a evoluccedilatildeo do ensino ateacute o niacutevel
de terceiro grau com a realizaccedilatildeo de cursos como a Licenciatura em Educaccedilatildeo do
Campo (LEdoC) do qual somos os privilegiados alunos aqui na Universidade de
Brasiacutelia
Outro reconhecimento e prova de eficiecircncia da formaccedilatildeo de professores eacute o
precircmio ldquoEducaccedilatildeo e Participaccedilatildeordquo recebido em 1995 do Fundo das Naccedilotildees Unidas
para a Infacircncia (Unicef)
26
O somatoacuterio das forccedilas internas e externas do movimento ldquoleigasrdquo ou
tituladas associadas ao princiacutepio fundamental da participaccedilatildeo dos alunos e
comunidades em todos os niacuteveis e localidades eacute ponto fundamental para o sucesso
da concepccedilatildeo do projeto pois permite o estudo a reflexatildeo conjunta sobre
estrateacutegias para o alcance do objetivo de educaccedilatildeo na reforma agraacuteria
-25-
223 Marcos Normativos da Educaccedilatildeo do Campo
Numerosos Marcos Normativos podem ser citados para explicitar qual perfil
de escola destinada ao camponecircs interessava ao governo e aos proprietaacuterios rurais
A Lei 4024 de 1961 em seu art 105 estabelece o
Apoio que poderaacute ser prestado pelo poder puacuteblico agraves iniciativas que mantenham na zona rural instituiccedilotildees educativas orientadas para adaptar o homem ao meio e estimular vocaccedilotildees e atividades profissionais (BRASIL 2012 p 4)
A Lei 5692 de 1971 ao tratar da educaccedilatildeo rural ldquonatildeo observa mais uma vez
a inclusatildeo da populaccedilatildeo na condiccedilatildeo de protagonista de um projeto social globalrdquo
sendo que o trabalho do campo realizado por alunos eacute ateacute mesmo incentivado
adequando-o ao calendaacuterio escolar (MARCOS NORMATIVOSBrasiacutelia2012 p 25)
A Lei 9394 de 1996 (Lei das Diretrizes se Bases da Educaccedilatildeo ndash LDB) em
acordo com Constituiccedilatildeo de 1988 e ldquoinspirada de alguma forma numa concepccedilatildeo
de mundo rural enquanto espaccedilo especifico diferenciado e ao mesmo tempo
integrado no conjunto da sociedaderdquo reconhece
A diversidade soacutecio-cultural e o direito agrave igualdade e agrave diferenccedila possibilitando a definiccedilatildeo de diretrizes operacionais para educaccedilatildeo rural sem no entanto recorrer a uma logica exclusiva e de ruptura com um projeto global de educaccedilatildeo para o paiacutes (idem p 26)
27
Os artigos 208 e 210 da Carta Magna-1988 e inspirada de numa concepccedilatildeo
de mundo rural enquanto espaccedilo especiacutefico diferenciado e ao mesmo tempo
integrado no conjunto da sociedade a Lei 939496- LDB-estabelece que
Art 28 Na oferta da educaccedilatildeo baacutesica para a populaccedilatildeo rural os sistemas de ensino promoveratildeo as adapta necessaacuteria agrave sua adequaccedilatildeo agraves peculiaridades da vida rural e de cada regiatildeo especialmente (MARCOS NORMATIVOS) Brasiacutelia 2012 p 25)
1- Conteuacutedos organizar curriculares e metodologias apropriadas agraves reais
necessidades e interesses dos alunos da zona rural
2-organizaccedilatildeo escolar proacutepria incluindo a adequaccedilatildeo do calendaacuterio escolar as
fases do ciclo agriacutecola e as condiccedilotildees climaacuteticas
3-adequaccedilatildeo agrave natureza do trabalho na zona rural (MARCOS NORMATIVOS)
Brasiacutelia 2012( p 26)
O movimento de educaccedilatildeo do campo luta haacute quinze (15) anos para fazer-se
cumprir esse Decreto da Lei de Diretrizes de base da educaccedilatildeo do campo-LDB
que apesar de ser constitucional ainda natildeo foi colocada totalmente em praacutetica
Agora com as lutas dos movimentos sociais eacute que estaacute comeccedilando a se concretizar
Artigo 26 Os curriacuteculos do ensino fundamental e meacutedio devem ter uma base nacional comum a ser complementada em cada sistema de ensino e estabelecimento escolar por uma parte diversificada exigida pelas caracteriacutesticas regionais e locais da sociedade
da cultura da economia e da clientela (MARCOS NORMATIVOS) Brasiacutelia 2012(p 26)
O Decreto nordm 7352 de 4 de novembro 2010 dispotildee sobre a poliacutetica de educaccedilatildeo do campo ao Programa Nacional de Educaccedilatildeo
na Reforma Agraacuteria-PRONERA decreta
Art1ordm A poliacutetica de educaccedilatildeo do campo destina-
se agrave ampliaccedilatildeo e qualificaccedilatildeo da oferta de educaccedilatildeo baacutesica e superior agraves populaccedilotildees do campo e seraacute desenvolvida pela Uniatildeo em regime de colaboraccedilatildeo com os Estados o
28
Distrito Federal e os Municiacutepios de acordo com as diretrizes e metas estabelecidas no Plano Nacional de Educaccedilatildeo e o disposto neste Decreto
Para os efeitos deste Decreto entende-se por
l-populaccedilatildeo do campo os agricultores familiares os extrativistas os pescadores
artesanais os ribeirinhos os assentados e acampados da reforma agraacuteria os
trabalhadores assalariados rurais os quilombolas os caiccedilaras os povos da floresta
os caboclos e outros que produzam suas condiccedilotildees materiais de existecircncia a partir
do trabalho no meio rural
ll-escola do campo aquela situada em aacuterea rural conforme definida pela Fundaccedilatildeo
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica- IBGE ou aquela situada em aacuterea
urbana desde que atenda predominantemente a populaccedilatildeo do campo (MARCOS
NORMATIVOS) 2012( p 81)
No Decreto 6755 29 de janeiro de 2009 em seu art 2ordm estabelecida pelo Conselho
Nacional de Educaccedilatildeo que se refere as Diretrizes Operacionais da Educaccedilatildeo do
Campo o parecer da alternacircncia
A formaccedilatildeo de professores poderaacute ser feita concomitantemente agrave atuaccedilatildeo profissional de acordo com metodologias adequadas inclusive a pedagogia da alternacircncia e sem prejuiacutezo de outras que atendam agraves especificidades da educaccedilatildeo do campo e por meio de atividades de ensino pesquisa e extensatildeo (MARCOS NORMATIVOS) 2012( p84)
-26-
29
-
231 A educaccedilatildeo do campo e poliacutetica puacuteblica - o PRONERA
O amadurecimento adquirido pela luta sobre o papel da educaccedilatildeo aliado agrave
iniciativa do aproveitamento do trabalho das professoras ldquoleigasrdquo e ainda da
consciecircncia cada vez mais presente do dever do Estado em prover os cidadatildeos da
reforma agraacuteria de poliacuteticas puacuteblicas resultou no campo da educaccedilatildeo na criaccedilatildeo do
Programa Nacional de Educaccedilatildeo na Reforma Agraacuteria (PRONERA)
O PRONERA envolve formalmente jovens e adultos num projeto conjunto
com universidades e institutos federais em prol da formaccedilatildeo de educadores para o
trabalho em escolas dos assentamentos da reforma agraacuteria e seu entorno
O Programa foi criado em 1998 no momento da ascensatildeo dos conflitos pela
reforma agraacuteria o que propiciou que os movimentos sociais trouxessem para a
opiniatildeo puacuteblica suas mazelas
No campo da educaccedilatildeo foi denunciada a falta de escola a precariedade do
ensino a falta de profissionais do ensino a ldquoloacutegica de negaccedilatildeo histoacuterica do direito
aos camponeses de acesso aos niacuteveis mais elevados de escolaridade ( SANTOS
2012 pag 630)
A partir de 2005 o ensino oferecido pelo PRONERA eacute estendido ao niacutevel
meacutedio e superior como a Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo e a Residecircncia
30
Agraacuteria O PRONERA evoluiu para outros patamares tais como ldquopossibilidades de
ressignificaccedilatildeo do conteuacutedo e da metodologia dos processos de educaccedilatildeo formal
por meio dos princiacutepios baacutesicos da participaccedilatildeo e da multiplicaccedilatildeordquo (SANTOS 2012
p 631)
A participaccedilatildeo das comunidades e suas organizaccedilotildees e a multiplicaccedilatildeo de
alfabetizados formados educadores e demais profissionais ligados agraves poliacuteticas
puacuteblicas para a Reforma Agraacuteria gerou ampla participaccedilatildeo dos agentes envolvidos
na dinacircmica do processo ensino-aprendizagem
Essa forma de gestatildeo gerou reaccedilatildeo contraacuteria ldquoagrave gestatildeo colegiada e coletiva
notadamente agrave participaccedilatildeo direta dos movimentos sociais e sindicais do campordquo
considerados ldquoentes estranhos agrave administraccedilatildeo puacuteblicardquo (CLARICE p 634)
O envolvimento dos movimentos sociais e sindicais do campo natildeo
retrocederam em sua luta pelo envolvimento de todos os interessados na educaccedilatildeo
como elemento emancipatoacuterio e continuam formulando princiacutepios concepccedilotildees e
diretrizes para a escola do campo
-31-
31
Terceiro Capiacutetulo
A histoacuteria do Assentamento Renascer
31 Uma breve histoacuteria de luta
A histoacuteria do Assentamento Renascer natildeo parece ser diferente da histoacuteria de
outros assentamentos Brasil afora Partiu da reivindicaccedilatildeo de Trabalhadores Rurais
sem Terra que desde 2004 ocuparam as margens da Rodovia DF 330 que liga
Sobradinho ao Paranoaacute-DF
Tatildeo perto do centro do poder a apenas poucos quilocircmetros do Palaacutecio da
Alvorada ou da Sede do INCRA o Acampamento Renascer esteve ateacute oito (08) de
maio de 2009 tatildeo distante da decisatildeo poliacutetica pela Reforma Agraacuteria
Somente nesta data trezentos sessenta e um( 361) de terras devolutas da
Uniatildeo foram repassadas ao INCRA para assentar as famiacutelias aliacute acampadas Ficou
criado o assentamento Renascer fora da beira da estrada
O Assentamento Renascer ldquorenasceurdquo da dificuldade de vida sob o barraco de
madeira sem aacutegua sem luz sem saneamento baacutesico que fez com que tantos
desistissem ao longo do caminho e ainda hoje se encontra nessa mesma
precariedade um descaso por parte do poder puacuteblico
A luta em vaacuterios momentos da vida dos acampados parecia estar vencida Os
vencedores pareciam ser a burocracia o desrespeito as noites mal dormidas a
inseguranccedila a falta de perspectivas para o acampado e suas famiacutelias
Duzentas (200) famiacutelias viveram aliacute por cinco anos (05) de 2004 ateacute 2009
Atualmente satildeo cento e vinte (120) famiacutelias que moram na aacuterea destinada e estatildeo
em processo de assentamento Muitas delas poreacutem vencidas pelo cansaccedilo e pelas
condiccedilotildees de vida abandonaram a luta mas todas as famiacutelias as que se foram e as
que ficaram sonharam com a terra onde poderiam produzir viam no pedaccedilo de chatildeo
os frutos do pomar da horta o galinheiro o pasto
O Assentamento Renascer eacute o Brasil Eacute um pedacinho da cruel realidade que
como vimos neste trabalho marcou a sociedade brasileira desde a escravidatildeo
desde o primeiro grito de rebeldia do quilombo desde o primeiro que lutou contra os
coroneacuteis por divisatildeo da terra como as Ligas Camponesas contra o latifuacutendio como
os movimentos sociais em sua luta pela reforma agraacuteria desde vaacuterias geraccedilotildees
32
Eacute como todo e qualquer movimento social que surgiu neste paiacutes desde a
deacutecada de 1980 pela reforma agraacuteria Viveu e ainda vive as dificuldades de ser
acampadoassentado mas honra sua luta porque natildeo desiste faacutecil
O Assentamento Renascer eacute tambeacutem fruto do ecircxodo rural da industrializaccedilatildeo
do campo da monocultura e da concentraccedilatildeo de terras Foram expulsos do campo
para a periferia das cidades sem capacitaccedilatildeo sem estudo
A falta de escolarizaccedilatildeo eacute sem duacutevida uma caracteriacutestica de quase todos os
que vieram do campo para a cidade A realidade do Brasil eacute que o campo natildeo eacute
escolarizado as escolas no campo satildeo poucas satildeo despreparadas satildeo
desvalorizadas
-33-
32 As escolas no campo na vivencia do assentado do Assentamento
Renascer
As escolas no campo marcaram profundamente a vida dos poucos que a
frequentaram Quase todos tiveram que trocar o laacutepis pela enxada a carteira pela
roccedila desde muito pequenos Alguns natildeo muito poucos conforme os depoimentos
aqui relatados teriam que abandonar a enxada e a participaccedilatildeo no sustento da
famiacutelia para frequentar a escola Quase sempre abandonaram a escola para ficar no
trabalho com a enxada
Todos teriam que andar vaacuterios quilocircmetros para ir agrave escola Outros nem assim
conseguiriam frequentar a escola no campo ela simplesmente natildeo existia no
campo Teriam entatildeo que ir para a cidade para ter direito a uma escola
Muitos tambeacutem vivenciaram os traumas que uma escola tradicional e
descomprometida com os valores e responsabilidades do projeto educacional
castigos humilhaccedilotildees afastaram a muitos da escola
Alguns apenas sonharam e sonham com a escola ldquoAh a escolardquo Tatildeo longe
inacessiacutevel para tantos no Brasil afora Ao ver de algumas pessoas do
Assentamento Renascer ldquoSe tivesse jeito eu teria ido agrave escola tinha feito pelo
menos o ensino fundamental completo para que eu pudesse ingressar no curso
33
teacutecnico-agriacutecola Mas agora quero que meus filhos e netos vatildeo para a escola
aprender ser algueacutem na vidardquo
-34-
321 A escola no entorno do Assentamento Renascer
A ideia de lutar pela educaccedilatildeo veio antes da ideia de lutar pela escola como
espaccedilo conquistado pelo acampamento Encontrar uma escola perto do
acampamento com transporte escolar com vagas e horaacuterios acessiacuteveis para os que
trabalham o dia todo era entendido como uma necessidade baacutesica e uma grande
vitoacuteria
Ficava-se feliz se apesar das dificuldades fosse possiacutevel matricular pelo
menos as crianccedilas As dificuldades eram e ainda satildeo muitas o transporte escolar
era e eacute precaacuterio a poeira natildeo permite que os alunos cheguem limpos agrave escola os
buracos e as poccedilas daacutegua impedem a chegada do ocircnibus escolar durante as
chuvas No caso do ocircnibus que levam os alunos ateacute a Escola Classe do Coacuterrego do
Arrozal em eacutepoca de muita chuva os ocircnibus ateacute o iniacutecio de 2014 natildeo conseguiam
transitar Isto resulta no fato de que as crianccedilas precisam caminhar debaixo de
chuva ateacute a escola
-35-
322 O caminho para a produccedilatildeo do saber no Assentamento Renascer a
brinquedoteca a integraccedilatildeo social a biblioteca comunitaacuteria as manifestaccedilotildees
culturais
Ao longo dos anos de vivecircncia e convivecircncia no Acampamento Renascer
mediante a dificuldade e necessidade de estudar que sentimos na nossa proacutepria
vida foi despontando a ideia de prover as crianccedilas de atividades luacutedicas e
educativas
34
Logo no iniacutecio do acampamento por volta de 2005 por iniciativa de algumas
pessoas conscientes da necessidade de atividades luacutedicas para as crianccedilas foi
criada uma brinquedoteca
Inicialmente os brinquedos eram de materiais reciclaacuteveis como garrafas pet
telefones sem fio carrinhos bonecas petecas vai e vem cavalinhos tudo era
confeccionado com a participaccedilatildeo das crianccedilas na modalidade de oficina
incentivando-os a fabricar os seus proacuteprios brinquedos Os brinquedos eram
confeccionados a partir de materiais encontrados nos lugares de descarte perto do
acampamento e doaccedilotildees de pessoas que passavam pela estrada
O embriatildeo de um processo educacional que nunca se interrompeu estava
lanccedilado a brinquedoteca proporcionou a criatividade e a participaccedilatildeo de crianccedilas e
adultos marcando as atividades pela conscientizaccedilatildeo do cuidado com a natureza e a
importacircncia da reciclagem A educaccedilatildeo ambiental jaacute era praticada desde o
nascimento do acampamento Renascer
Este primeiro passo foi muito importante porque traduziu para o dia a dia do
acampamento os princiacutepios da escola do campo atuante para mudar a realidade
criar cidadatildeos conscientes e dispostos a mudar a realidade a partir da sua proacutepria
accedilatildeo Este eacute o processo de transformaccedilatildeo social dentro do acampamento Renascer
haacute tanto tempo atraacutes
Aos brinquedos reciclados pela proacutepria comunidade juntaram-se outros
presenteados por instituiccedilotildees como igrejas ONGs a Pastoral da Crianccedila e pessoas
interessadas no bem estar daquelas crianccedilas
Percebe-se em iniciativas como essas a importacircncia da educaccedilatildeo nos
diversos niacuteveis para a sociedade A integraccedilatildeo de pessoas com as atividades
educativas no acampamento nos faz lembrar sobre um grande sonho das escolas
hoje integrar a comunidade de modo a que todos defendam a escola
O sucesso de iniciativas como a brinquedoteca que integravam crianccedilas
adolescentes adultos e sociedade foi importante para outras iniciativas igualmente
importantes
Foi-se criando um projeto educacional para o acampamento sem que se
tivesse consciecircncia disso por faltar informaccedilatildeo que soacute agora se possui graccedilas aos
estudos na Universidade o galpatildeo comunitaacuterio foi utilizado para abrigar a
35
brinquedoteca para desenvolver grupos de teatro de crianccedilas e adultos e para
abrigar a biblioteca
A biblioteca recebeu inuacutemeros exemplares de livros infantis livros didaacuteticos
para os adolescentes e adultos literatura universal revistas dos mais variados
assuntos criando assim um espaccedilo comunitaacuterio de informaccedilatildeo lazer e
entretenimento
Com a criaccedilatildeo da biblioteca ficou evidente a importacircncia da alfabetizaccedilatildeo de
crianccedilas jovens e adultos Muitos acampados relatavam a vontade e a necessidade
de aprender a ler e a escrever Muitos reivindicavam o direito agrave educaccedilatildeo e
frequecircncia agrave escola ainda que o acampamento mudasse de ldquoendereccedilordquo tantas
vezes
Outros poreacutem natildeo acreditavam que seria possiacutevel aprender ou aperfeiccediloar a
leitura e a escrita nas condiccedilotildees de vida de um acampado
Vaacuterias atividades culturais foram desenvolvidas (e ainda satildeo) no
Acampamento Renascer Todas chamavam a atenccedilatildeo da comunidade local de
outras comunidades vizinhas garantindo a simpatia de chacareiros que levavam os
filhos para participarem das atividades
Uma das atividades mais apreciadas foi o Teatro de Fantoches inspirados em
faacutebulas muitas com a autoria da Pastoral da Crianccedila e da Faber Castel A
participaccedilatildeo da comunidade na atividade era intensa e voluntaacuteria todos queriam
manipular os fantoches participar cantando danccedilando ou prestando muita atenccedilatildeo
O teatro de transformaccedilatildeo social produzido pelos adultos e adolescentes
utilizavam tambeacutem materiais reciclaacuteveis demonstrando cuidado com o meio
ambiente e amadurecimento dos conceitos poliacuteticos e pedagoacutegicos gerando reflexatildeo
sobre os temas sociais que nos atingem no cotidiano
A miacutestica adotada pelos movimentos sociais com o objetivo de reflexatildeo satildeo
apresentadas em datas comemorativas e contam com o apoio e participaccedilatildeo de
muitos
Algumas festas fazem parte da tradiccedilatildeo do Acampamento Renascer
traduzindo para a realidade atual as antigas festas a que todos foram acostumados
em seus lugares de origem
Pode-se dizer que a comunidade aprecia muito as festas Mas duas em
particular satildeo muito respeitadas a festa das crianccedilas que ocorre durante o dia (12
36
de outubro) eacute concorrida pois a comunidade se esmera para oferecer os brinquedos
que as crianccedilas amam pula-pula palhaccedilos pintura de rosto piscina de sabatildeo e
muita oferta de comida coisas que as crianccedilas adoram
No mesmo dia ocorre agrave noite a festa da Nossa Senhora Aparecida com
missa e muito forroacute
No mecircs de marccedilo eacute comemorada a Festa da Pamonha em comemoraccedilatildeo agrave
boa colheita do milho Esta festa jaacute se tornou tradicional conhecida em todo o
entorno do assentamento Egrave uma festa importante porque confraterniza a
comunidade Renascer com as comunidades vizinhas e ateacute mesmo as cidades de
Sobradinho Paranoaacute e Planaltina
Os movimentos sociais necessitam ser admirados pela sociedade e festas
como estas chamam a atenccedilatildeo para o problema da reforma agraacuteria demonstrando
que ela eacute viaacutevel e que os assentados tecircm simpatia competecircncia e seus saberes do
campo
A festa ldquojulinardquo eacute outra festa muito apreciada que apresenta as tradiccedilotildees rurais
e religiosas como quadrilhas e bandas de forroacute da comunidade e vizinhanccedila A
danccedila eacute um dos pontos fortes da festa assim como as comidas tradicionais muitas
delas com ingredientes colhidos no acampamento
Vaacuterios grupos de atividades teatrais apresentaram-se na localidade com
participaccedilatildeo de palhaccedilos lembrando um espetaacuteculo circense Alguns desses
grupos inclusive tiveram seus trabalhos premiados
Outras atividades com fundo educativo tiveram participaccedilatildeo animada de
crianccedilas e adultos A exibiccedilatildeo de desenhos animados recentemente apresentados
no cinema eram um grande atrativo para a comunidade que se via socialmente
incluiacuteda Esta inclusatildeo aumentava a autoestima das crianccedilas principalmente pois
assim elas poderiam interagir com os colegas da escola conversando a respeito dos
filmes
A Economia Solidaacuteria eacute uma das formas de inserccedilatildeo dos membros da
comunidade agrave sociedade economicamente ativa Atraveacutes da cooperaccedilatildeo solidaacuteria eacute
possiacutevel o comercio justo agriacutecolas ou artesanais sob conceitos antes
desconhecidos enquanto forma de produccedilatildeo e consumo centrado na valorizaccedilatildeo do
ser humano em contraposiccedilatildeo agraves formas capitalistas de produccedilatildeo e conscientizaccedilatildeo
37
Ao longo dos doze (12) anos de luta pela educaccedilatildeo foram promovidos
diversos cursos que capacitaram multiplicadores que fazem um trabalho importante
para a comunidade
A ideia de autogestatildeo democracia cooperaccedilatildeo auxilia natildeo soacute as formas de
produccedilatildeo e comercio de bens e artesanatos mas tambeacutem auxiliam na formaccedilatildeo
integral de pessoas em que tanto o produtor como o consumidor tem o proposito de
ganhos financeiros segundo um criteacuterio de valorizaccedilatildeo do trabalho
Proposito de formar uma nova consciecircncia a Economia Solidaacuteria promoveu
cursos de Soberania Alimentar em que a comunidade recebeu noccedilotildees praacuteticas
sobre alimentaccedilatildeo a partir da produccedilatildeo local de modo a promover uma nova cultura
alimentar que visa o combate agraves doenccedilas crocircnicas Outro proposito eacute tornar a
comunidade criacutetica em relaccedilatildeo agrave publicidade de produtos alimentiacutecio supeacuterfluo que
induz agraves crianccedilas e adultos alimentarem-se incorretamente
A comunidade participou coletivamente da implantaccedilatildeo de uma unidade da
tecnologia social denominada Produccedilatildeo Agroecoloacutegica Integrada e Sustentaacutevel
(PAIS) em 2012 com o objetivo de produzir alimentos saudaacuteveis e preservar o meio
ambiente trazendo mais alimentos e renda ao campo Esta tecnologia popularmente
conhecida como ldquohorta mandalardquo foi ministrada durante o curso de capacitaccedilatildeo
promovido pela Fundaccedilatildeo Banco do Brasil e teve o meacuterito de proporcionar o debate
e a participaccedilatildeo democraacutetica na definiccedilatildeo das culturas a serem cultivadas na futura
propriedade Vale informar que o assentamento Renascer identificou-se com esse
paradigma agroecoloacutegico
A educaccedilatildeo ambiental faz parte do dia a dia da comunidade hoje preserva-se
conservaccedilatildeo das formas de vida vegetais e animais na regiatildeo do assentamento e
entorno
A produccedilatildeo de mudas no viveiro eacute bastante concorrida contando com a
participaccedilatildeo de todos O viveiro produz cinco mil (5000) mudas de espeacutecies nativa
do cerrado para o reflorestamento das nascentes de aacutegua e nas aacutereas degradadas
da regiatildeo Contam com o apoio da FUNATURA FUNDACcedilAtildeO BANCO DO BRASIL
IFB Rio Satildeo Bartolomeu Vivo e UnB
-36-
38
39
Quarto Capiacutetulo
A escola que queremos expectativas e sonhos dos
acampados do Assentamento Renascer
Pode-se observar pelas falas dos entrevistados que a realidade de todos
converge para os problemas estruturais do Brasil faltam escolas no campo eacute baixa
a escolaridade em Brasiacutelia todos exercem atividades de subemprego
Todos tecircm grandes expectativas com relaccedilatildeo agrave vida futura no assentamento
objetivando melhores condiccedilotildees de vida na esperanccedila de serem beneficiaacuterios
enquanto cidadatildeos assentados das Poliacuteticas Puacuteblicas e financiamentos agriacutecolas
voltadas para a agricultura familiar como PRONAF PAA PNAE e PAPA-DF Vecircem
aiacute a possibilidade de emprego e renda situaccedilatildeo sonhada desde quando foram
pleitear a terra para reforma agraacuteria
Um olhar mais aprofundado sobre a anaacutelise de dados revela que natildeo importa o
fato de hoje residirem no DF pois como em qualquer lugar de origem os moradores
do assentamento Renascer vivenciam os mesmos problemas Percebe-se
claramente as dificuldades da inexistecircncia de escola no campo A distacircncia continua
impedindo o acesso os meios de transportes continuam precaacuterios os filhos
vivenciam a dificuldade de transferecircncia para a cidade na expectativa de
continuidade dos estudos as estradas rurais continuam esburacadas
Satildeo muitos os pontos em comum entre a situaccedilatildeo atual relatada e os problemas
vividos haacute deacutecadas em seus estados de origem o que deixa transparecer a absoluta
falta de interesse por parte do poder puacuteblico em garantir o direito constitucional agrave
educaccedilatildeo do povo do campo o que infelizmente continuaraacute deixando o triste
legado para o futuro do paiacutes
40
Repetimos a pergunta da inicial Cadecirc as escolas do campo Ateacute quando o paiacutes
vai viver essa situaccedilatildeo A anaacutelise de dados responde Natildeo eacute mais possiacutevel
continuar como estaacute
Todos os entrevistados pretendem alcanccedilar conhecimentos atraveacutes da escola do
campo implantada no Assentamento Renascer com objetivos de administrar a
propriedade participar ativamente do coletivo garantir renda fixa atraveacutes dos
programas de desenvolvimento da agricultura familiar
Os entrevistados unanimamente tecircm a preocupaccedilatildeo da manutenccedilatildeo dos laccedilos
familiares e das raiacutezes camponesas
A distacircncia entre a moradia e a escola fato relatado pela quase totalidade dos
entrevistados constitui um grande motivo de evasatildeo escolar de defasagem nas
seacuteries frequentadas de precariedade na aprendizagem em relaccedilatildeo aos demais
alunos A discriminaccedilatildeo alegada por muitos que frequentaram ou frequentam
escolas fora da faixa etaacuteria o vernaacuteculo proacuteprio dos sujeitos do campo as condiccedilotildees
precaacuterias da estrada que denunciam a condiccedilatildeo de assentado o sentimento de
inadequaccedilatildeo constituem fatores que determinam a evasatildeo escolar
Foram treze (13) entrevistados significando aproximadamente dez por cento
(10) dos moradores do Assentamento Renascer Desse total apenas dois (2)
entrevistados natildeo declararam dificuldade de distacircncia entre a moradia e a escola em
seus lugares de origem A maioria absoluta (11) pessoas declararam que a distacircncia
dificultava e impedia o acesso agrave escola Alguns relatos apresentam situaccedilotildees
precaacuterias para o homem do campo o assentado
Para o aluno do campo a distacircncia da escola tem o significado de inexistecircncia de
escola Isto porque as dificuldades de acesso satildeo enormes No caso em estudo
apenas um entrevistado declarou a inexistecircncia de escola em sua regiatildeo de
moradia Este poreacutem vivenciou todas as dificuldades de acesso que outros
assentados apresentaram em razatildeo da distacircncia moradiaescola
A falta de professores na escola rural eacute relatada por 11 dos 13 entrevistados A
distacircncia da escola para os professores dificulta segundo a vivecircncia dos
entrevistados o acesso agrave escola e a assiduidade o que muito desmotivava a
ambos
41
Os entrevistados conforme anaacutelise de dados desejam muito objetivamente a
implantaccedilatildeo imediata de escolas segundo os criteacuterios caracteriacutesticos de escola do
campo
- Trazer a realidade para dentro da escola do campo curriacuteculos voltados para o
cotidiano do aluno do campo onde as teacutecnicas agriacutecolas pecuaacuterias e agroecoloacutegicas
possam fazer parte do processo educativo da comunidade e que a escola tenha
uma gestatildeo coletiva democraacutetica com a participaccedilatildeo da comunidade
- Ter o trabalho como princiacutepio educativo A experiecircncia do aluno deve
harmonizar-se com os princiacutepios pistrakianos significar o trabalho de forma a que
ele apresente benefiacutecios para o proacuteprio indiviacuteduo para a comunidade na qual estaacute
inserido e para a sociedade e natildeo exclusivamente para servir ao capitalismo
-Superar a fragmentaccedilatildeo do conhecimento disciplinar A interdisciplinaridade
deve fazer parte dos objetivos educacionais de modo a promover a formaccedilatildeo
integral dos educandos
- Valorizar os saberes do homem do campo Os entrevistados desejam uma
escola onde possam exercitar sua vivecircncia campesina e a relaccedilatildeo dialoacutegica entre
professor-aluno seguindo a pedagogia de Paulo Freire o educando quer aprender
com o educador mas quer tambeacutem ter a oportunidade de transmitir seus saberes
- Promover espaccedilos de gestatildeo coletiva A proacutepria comunidade deve participar da
gestatildeo a elaboraccedilatildeo do PPP deve gerir o espaccedilo fiacutesico da escola para atividades
de interesse da comunidade ocupar espaccedilos para finalidades culturais esportivas
sociais tornando a escola um espaccedilo democraacutetico
- Garantir a presenccedila da comunidade e dos movimentos sociais que geram
processos que auxiliam a emancipaccedilatildeo social A escola deve tambeacutem ser espaccedilo
que auxilie a sustentabilidade e garanta a alimentaccedilatildeo saudaacutevel e recursos
fitoteraacutepicos em associaccedilatildeo com a comunidade
- Inclusatildeo tecnoloacutegica em todos os aspectos digital inovaccedilatildeo tecnoloacutegica
agropecuaacuteria recursos ambientais alternativos agua potaacutevel energia solar energia
eoacutelica fossa seacuteptica teacutecnicas de compostagem saneamento baacutesico cuidados com
os recursos hiacutedricos
A anaacutelise dos dados quando feita especificamente sobre a escola a ser
implantada pode aparentemente demonstrar uma pequena conexatildeo com as teorias
da escola do campo
42
A concepccedilatildeo da escola do campo natildeo pode ser imposta ela parte do princiacutepio
que os camponeses devem conquista-la Para essa conquista eacute necessaacuteria a
paixatildeo o desejo por algo ainda natildeo experimentado o amadurecimento poliacutetico-
social-pessoal a participaccedilatildeo coletiva na luta e na conquista
A trajetoacuteria de luta por educaccedilatildeo da comunidade Renascer apresenta estes
elementos agraves vezes difusos outras vezes mais claramente A escola bem que
poderia para alguns ser apenas uma escola rural Afinal aprender a ler e a
escrever ldquodireitordquo como alguns dizem ou seja deixar a condiccedilatildeo de analfabeto ou
analfabeto funcional para tornar-se letrado significaria avanccedilos em face das atuais
circunstacircncias Alguns entendem assim expressando-se principalmente nas
conversas informais
Apesar disso quando as respostas informais ou quando as respostas das
entrevistas satildeo analisadas mais profundamente identificamos que embora
difusamente todos desejam o programa educacional da escola do campo
Explicando melhor a participaccedilatildeo de todos da comunidade em todas as atividades
soacutecio-poliacuteticas-culturais (relatadas no terceiro capitulo) indicam que a comunidade
assimilou a postura soacutecio-politica-cultural que caracterizam a escola do campo
A vivecircncia do Assentamento Renascer no cotidiano e nos eventos coletivos
amadureceu o desejo pelo alimento intelectual cultural artiacutestico ambiental social
que a concepccedilatildeo de escola do campo introduz O programa educacional da Escola
do Campo ultrapassou as paredes fiacutesicas da escola e alcanccedilou o cotidiano dos
assentados
Os avanccedilos da conscientizaccedilatildeo e seu reflexo na vida do Assentamento Renascer
satildeo sentidos nos nuacutemeros de matriculados na LEdoC sete (7) alunos
aproximadamente dez (10) assentados prestaratildeo o proacuteximo vestibular trecircs (3)
assentados estatildeo matriculados no IFB dois(2) assentados estatildeo formados em
Teacutecnico Agropecuaacuterio tambeacutem pelo IFB um deles cursa o Tecnoacutelogo de
Agroecologia tambeacutem do IFB
Vale acrescentar que no iniacutecio de 2014 quando o IFB buscou no Assentamento
pessoas interessadas em matricular-se em seus cursos sob a condiccedilatildeo de
estudarem no ensino meacutedio o interesse foi grande e a impossibilidade pelo fato de
natildeo estarem habilitados no ensino fundamental provocou tanta discussatildeo que
estimulou essa pesquisa
43
O legado desses alunos futuros alunos e profissionais para o futuro do
Assentamento apresentaraacute resultados significativos para toda a comunidade O
futuro colheraacute bons frutos plantados agora
A escola que temos natildeo estaacute funcionando falta a renovaccedilatildeo do contrato o que
atrasa a alfabetizaccedilatildeo e conclusatildeo do 5ordm ano Falta a implantaccedilatildeo de poliacuteticas
puacuteblicas para atendimento de questotildees baacutesicas como por exemplo carteiras
quadro de giz iluminaccedilatildeo espaccedilo fiacutesico (dependecircncias para a escola) e mobiliaacuterio
-41-
44
Consideraccedilotildees Finais
A Educaccedilatildeo do campo eacute um movimento em que os trabalhadores do campo e
suas organizaccedilotildees lutam por transformaccedilotildees sociais particularmente a criaccedilatildeo de
escolas dono campo de qualidade a partir de uma perspectiva ampla de reforma
agraacuteria
A construccedilatildeo da educaccedilatildeo do campo eacute resultado do amadurecimento dos
movimentos sociais e das comunidades rurais em sua trajetoacuteria de luta pelo direito
fundamental agrave universalizaccedilatildeo escolar para as populaccedilotildees camponesas segundo
orientaccedilatildeo poliacutetico-pedagoacutegica adequada agrave realidade dos lutadores de
acampamentos e assentamentos em luta pela reforma agraacuteria e justiccedila social
Alguns princiacutepios caracterizam a luta pela escola do campo Dentre eles
podemos citar a criaccedilatildeo da consciecircncia do direito agrave educaccedilatildeo de qualidade plantada
na proacutepria comunidade o que provoca o enraizamento a valorizaccedilatildeo da vida no
campo a promoccedilatildeo da autoestima e a transformaccedilatildeo do ser alienado pela ideologia
e desigualdade social e sujeito de sua proacutepria histoacuteria
Outro princiacutepio eacute a adequaccedilatildeo de curriacuteculos agrave realidade camponesa de modo
a que o processo ensino-aprendizagem favoreccedila o amadurecimento de talentos
naturais o surgimento de oportunidades a niacutevel pessoal e social contribuindo para a
emancipaccedilatildeo poliacutetico-social do indiviacuteduo com reflexos na sociedade
A mudanccedila de paradigmas e o envolvimento social provocam a formaccedilatildeo integral
dos sujeitos que lutam de forma coletiva e solidaacuteria pela terra A escola do campo
que surge dessa mudanccedila eacute tambeacutem transformadora porque eacute fruto da luta
consciente que gera a reflexatildeo e o amadurecimento poliacutetico deixando um legado
positivo de cidadatildeos orgulhosos de sua condiccedilatildeo de lutador pela terra de sua
identidade de sua cultura de sua comunidade e coletividade
A escola do campo propicia aos alunos a reflexatildeo sobre o contexto social e a
problemaacutetica da comunidade em que estatildeo inseridos o respeito agrave individualidade a
ampliaccedilatildeo das potencialidades do aluno para organizar elaborar e atuar
coletivamente Deixam o legado futuro de homens responsaacuteveis mentes
independentes e atuantes que poderatildeo prestar serviccedilos significativos agrave sociedade
45
A comunidade assentada de o Assentamento Renascer pela Reforma
Agraacuteria em Sobradinho DF foi convidada a opinar sobre a escola que deseja a
partir da conquista da terra
O modelo proposto a partir de seu posicionamento possibilita a conclusatildeo
de que a escola do campo plantada na comunidade eacute preferiacutevel ao modelo
adotado atualmente de inserccedilatildeo dos alunos da comunidade agraves escolas urbanas
conter recursos materiais e humanos que propiciem bons resultados
pedagoacutegicos deve servir para fixar o trabalhador ao campo deve cumprir com o
propoacutesito constitucional de universalizaccedilatildeo do ensino para todas as faixas
etaacuterias deve estar identificada com os sonhos de prosperidade material e
realizaccedilatildeo pessoal dos assentados
-46-
46
Referecircncias Bibliograacuteficas
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FERRARI Marco ldquoAniacutesio Teixeira o inventor da escola puacuteblica no Brasilrdquo Revista Nova Escola Fundaccedilatildeo Victor Civita Revistaescolaabrilcombr acesso em 14092014 FERREIRA Fabiano de Jesus BRANDAtildeO Elias Canuto ndash Revista Eletrocircnica de Educaccedilatildeo Ano V N 09 juldez 2011p3 ldquoEducaccedilatildeo do campo um olhar histoacuterico uma realidade concreta rdquo (WWWUNIFILBR acesso em 08 de agosto de 2014) GONCcedilALVES Luiz Alberto Oliveira e Pinto Regina Pahim EDUCACcedilAtildeO SEacuteRIE JUSTICcedilA E DESENVOLVIMENTO IFP-FCC FUNDACcedilAtildeO CARLOS CHAGAS 2007 SAtildeO PAULO (pag206)
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________ citando CALAZ Maria Rita Duarte Oliveira
47
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________ Clarice Aparecida PROGRAMA NACIONAL DE EDUCACcedilAtildeO NA REFORMA AGRAacuteRIA BRASIacuteLIA 2012 pg 631 in DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO SANTOS Claudio Felix Dos ldquoO aprender a aprender na formaccedilatildeo de professores do campordquo Campinas 2013 Editora Autores Associados ) SOUZA Maria Antocircnia Movimentos Sociais no Brasil Contemporacircneo participaccedilatildeo e possibilidades no contexto das praacuteticas democraacuteticas ndash (wwwcesucptlab2004pdfMariaAntonia Souzapdfaceso em 24-07-2014 -48-
48
Apecircndices
1 Roteiro das Entrevistas
a) Dados dos entrevistados
Qual o seu nome
Masculino ( ) Feminino ( )
Quantos anos vocecirc tecircm
A quanto tempo mora no
assentamento
Onde vocecirc morou antes
de morar no
assentamento
Quantos anos vocecirc tinha
quando foi a escola pela
primeira vez
Estou ateacute qual seacuterieano
Quantos anos vocecirc tinha
quando parou de estudar
Qual motivo motivou vocecirc
a parar de estudar
Se tiver escola no
assentamento vocecirc voltaraacute
a estudar Porque
B) Outras informaccedilotildees dados pelos entrevistadosas (GRAVAR)
a) Em qual escola vocecirc estudou no acampamento ou em outro lugar Qual
b) Como era a escola que estudou Quais as coisas boas e coisas ruins que
tinha nesta escola
c) Conte como eacutefoi a educaccedilatildeo do assentamento o que jaacute existiu de escola
como funcionou e quais eram as boas e as coisas ruins desta escola
d) Jaacute participou de alguma accedilatildeo de mobilizaccedilatildeo para ter escola no
assentamento Se sim explique para que e como foi essa mobilizaccedilatildeo
e) Na sua opiniatildeo no assentamento deve ter escola Por quecirc
f) Como deveraacute ser a escola da comunidadeassentamento Como eacute a escola
que queremos ter
49
b) Entrevistas semi-estruturadas
Entrevistado 01
Moro no assentamento Renascer haacute 11 anos Nasci Carnauacuteba no Rio Grande do
Norte fui criado na roccedila e desde pequeno trabalhava na lavoura para ajudar meu
pai Fui para escola com 9 anos de idade estudei ateacute a 5ordm seacuterie parei de estudar
com 17 anos natildeo continuei os estudos porque era muito longe de onde eu morva
que era na cidade mais proacutexima eu tinha que andar a peacute 8 km ficava muito
cansado Casei e vim morar em Brasiacutelia para trabalhar em uma chaacutecara como
caseiro Morava na chaacutecara Buritis em sobradinho- Df tambeacutem natildeo dei para
continuar os estudos porque ficava longe e tinha que ser a noite e natildeo tinha como ir
Se vier uma escola pra caacute eu ainda vou estudar para ter mais conhecimento para
plantar minha roccedila ir no banco pra ver se assino um empreacutestimo para melhorar
minha produccedilatildeo e saber fazer conta pra administrar minha parcela de terra
Qual o seu nome
Masculino ( X ) Feminino ( )
Quantos anos vocecirc
tecircm
57 anos
A quanto tempo
mora no assentamento
11 anos
Onde vocecirc morou
antes de morar no
assentamento
Carnauacuteba ndash RN
Chaacutecara Buritis nordm 10 Sobradinho DF
Quantos anos vocecirc
tinha quando foi a escola
pela primeira vez
8 anos
Estou ateacute qual
seacuterieano
5ordf seacuterie
Quantos anos vocecirc
tinha quando parou de
estudar
24 anos
Qual motivo
motivou vocecirc a parar de
estudar
Trabalhar para sustento da famiacutelia a
distacircncia entre a casa e a escola
Se tiver escola no
assentamento vocecirc voltaraacute
a estudar Porque
Sim ldquoSe tivesse escola do ensino
fundamental voltaria a estudar para tecirc
mais conhecimento para plantar minha roccedila
50
saber pesar saber contar vendecirc os produto e
comecirc
Entrevistado 02
Moro no assentamento renascer haacute 7 anos tenho 38 vim do interior do Cearaacute
Entrei na escola com 7 anos de idade estudei soacute a 5ordm seacuterie incompleta natildeo
continuei a estudar porque natildeo tinha escola a onde eu morava que era na roccedila e eu
tinha que ficar na casa dozotro (SIC) na cidade e eu natildeo gostava disso natildeo ai parei
com 16 anos de idade Mudamo (SIC) pra Brasiacutelia pra uma chaacutecara perto de Santa
Maria-DF e natildeo dei pra estudar porque casei e tinha que trabalhar muito para
susrentar a famiacutelia A gora moro no assentamento Renascer e sei que um dia vai ter
uma escola aqui e eu vou voltar a estudar porque meu sonho eacute ser veterinaacuterio e vou
der se deus quiser
Entrevistado 03
Tenho 58 anos moro no assentamento Renascer haacute 6 anos vim de Ceres-GO
comecei a estudar quando eu tinha 10 ano de idade estudei ateacute a 4ordf seria primaacuteria
(SIC) parei de estudar quando tinha 16 anos porque eu morava na roccedila e escola
ateacute que natildeo ficava muito longe natildeo era soacute 2 km dava pra ir a peacute a professora eacute que
faltava muito e a gente natildeo tinha como saber se ela tava ou natildeoAiacute quando eu tinha
18 anos casei e vim morar em Brasiacutelia e arranjei(SIC) emprego de caseira em uma
chaacutecara aiacute natildeo pra estudar a noite porque era muito longe pra laacute entatildeo eu natildeo
pensei mais nessas coisas Quando tiver escola no assentamento quero estudar
quiecirc pra mim (SIC) fazer curso de teacutecnico agriacutecolarsquorsquo
Entrevistado 04
Tenho 24 anos moro no assentamento Renascer tem 6 ano vim da Bahia morava
no Condomiacutenio RK entrei na escola com 7 anos de idade e estudei soacute ateacute a 6ordf seacuterie
parei com 18 anos de idade
Porque mudei pra caacute pro assentamento (SIC) e natildeo tem escola e natildeo tem como ir
pra Sobradinho a noite porque eacute muito longe tem que andar 5 km eacute pirigogo (SIC)
tem muita gente mal por aiacute tem ateacute estrupador natildeo posso me arriscar
ldquoSe tivesse escola aqui eu ia terminar meus estudos podia ser no galpatildeo mesmo
pra mim tava bom mas para os meus filhos eu queria uma escola boa com internet
e tudo Eu natildeo gosto que meus filhos estuda(SIC) na cidade soacute aceito porque eacute o
jeito gente de assentamento eacute muito zombado (SIC) porque as vezes chega suja
na escola e os outros acha que eles satildeo porcos que toma banhordquo
Entrevistado 05
51
Tenho 21 anos de idade moro no Renascer haacute trecircs anos vim de satildeo Gabriel-GO
comecei a estudar aos 7 anos parei com 18 anos porque minha matildee mudou
pro(SIC) matildee mudou pro (SIC) assentamento haacute 6 anos e eu natildeo aguento morar
longe dela Quando cheguei aqui natildeo teve como continuar os estudos porque
trabalho durante o dia como manicure em Sobradinho e o uacuteltimo ocircnibus que passa
perto do assentamento eacute as 5 horas da tarde entatildeo natildeo daacute para estudar a noite
Sim porque quero fazer um curso de cabelereiro quando tiver aacutegua e luz aqui eu
quero montar um salatildeo de beleza e para ser uma empresaacuteria precisa ter estudos pra
administrar o negoacutecio
Entrevistado 06
44 anos
6 anos
Formosa-GO
8 anos
5ordf seacuterie
24 anos
Porque a escola mais perto(SIC) era 10km de distacircncia e eu trabalhava na roccedila e
ficava muito cansado aiacute parei natildeo deu mais
Sim quando tiver escola aqui eu vou voltar a estudar Eu tinha um sonho de ser
agroacutenomo mas esse sonho eacute impussive(SIC) entatildeo queria concluir o ensino
fundamental para fazer um curso de teacutecnico agriacutecola no IFB mas tambeacutem eacute longe
se tivesse como estudar aqui no assentamento eu ia(SIC) ficar muito feliz
Entrevistado 07
57 anos
6 anos
Parnaiacuteba-PI- Santa Maria- DF
7 anos
4ordf seacuterie
21 anos
Parei porque era muito difiacutecil ir para escola que ficava muito longe eu tinha que sair
de casa as 4hs da madrugada para chegar na escola as 730 ia montado num
cavalo e muitas vezes natildeo tinha professora pra dar aula Parei porque natildeo aguentei
o rojatildeo tinha que minha matildee na lida a tarde e eu ficava muito cansado Vim pra
52
Brasiacutelia e casei fui trabalhar de chacareiro numa chaacutecara que tambeacutem era longe de
escola depois vim morar aqui no assentamento que natildeo tem escola
Se tivesse escola aqui eu ia voltar estudar soacute pra aprender a cuidar meior (SIC) da
terra e dos meus bichos e que fosse como uma escola agriacutecola
Entrevistado 08
Tenho 29 anos moro no assentamento Renascer haacute 2 anos sou educadora do
Pronera haacute 1 ano e 2 meses O Pronera eacute como um antidepressivo na vida de muita
gente o Pronera melhorou a minha vida e a vida dos meus alunos o desejo de
todos eacute que o Pronera continue crescendo em direccedilatildeo de uma educaccedilatildeo continuada
levando tambeacutem o ensino fundamental para os acampamentos e assentamentos da
Reforma Agraacuteria
-50-
Anexos
53
Acampamento agrave beira da estrada ndash 2004
Construccedilatildeo da Sede do Movimento na atual aacuterea
54
Reuniatildeo semanal
Teatro de fantoches ndash brinquedoteca
55
Accedilatildeo da Pastoral da Crianccedila na brinquedoteca
Oficina de brinquedos reciclaacuteveis
56
Brinquedo confeccionado com materiais reciclaacuteveis na Brinquedoteca
57
58
59
60
Apresentaccedilatildeo teatral
61
Capacitaccedilatildeo em Economia Solidaacuteria
Formaccedilatildeo de multiplicadores da Economia Solidaacuteria
62
Capacitaccedilatildeo de Educadores Ambientais
63
Luta pela Reforma Agraacuteria e Soberania Alimentar
6
PAPA-DF -Programa de Aquisiccedilatildeo da Produccedilatildeo da Agricultura
PPP - Projeto Poliacutetico Pedagoacutegico
7
APRESENTACcedilAcircO
O presente trabalho de pesquisa eacute resultado da observaccedilatildeo presencial do
assentamento de Reforma Agraacuteria denominado Renascer ao longo de 11 (onze)
anos de convivecircncia Durante 5 (cinco) anos se estabeleceu um acampamento agraves
margens da rodovia DF 330 que liga Sobradinho ao Paranoaacute DF Apoacutes mobilizaccedilatildeo
dos acampados e negociaccedilatildeo com o poder puacuteblico (GDF Coleacutegio Agriacutecola de
Brasiacutelia atualmente Instituto Federal de Brasiacutelia EMBRAPA e intermediaccedilatildeo
puacuteblica) foi liberada uma aacuterea para o acampamento mudar de local e se estabelecer
onde atualmente estaacute situado (entre o Coacuterrego do Arrozal e o Coacuterrego do Meio)
Esta mudanccedila de local foi autorizada pelo governo e se concretizou em maio de
2009 Neste tempo a situaccedilatildeo do acampamento mudou para preacute-assentamento e
atualmente jaacute se encontra em situaccedilatildeo de Assentamento Rural
Durante todos esses anos foram realizados algumas atividades pedagoacutegicas
na comunidade tais como a implantaccedilatildeo de uma brinquedoteca com oficinas de
confecccedilatildeo de brinquedos para as crianccedilas acampadas utilizando materiais
reciclados uma biblioteca com livros e revistas usados obtidos atraveacutes de doaccedilatildeo de
vaacuterias pessoas simpatizantes da causa da Reforma Agraacuteria Aulas de alfabetizaccedilatildeo
de adultos no horaacuterio noturno pelo Programa Nacional de Educaccedilatildeo na Reforma
Agraacuteria (PRONERA) com recursos muito escassos mas eacute a educaccedilatildeo que nos
acompanha ateacute nos dias de hoje Atividades de arte-educaccedilatildeo para incentivos e
melhorias na interaccedilatildeo de crianccedilas e jovens exercitando a praacutetica de teatro projeccedilatildeo
de filmes recreativos e de novos conhecimentos para os moradores produccedilatildeo de
um documentaacuterio sobre a comunidade Renascer e a importacircncia da Reforma
Agraacuteria no Brasil denominado ldquoConquistar a terra Produzir o patildeordquo Com o apoio do
projeto audiovisual ndash UnB Planaltina
Para uma melhor compreensatildeo da pesquisa monograacutefica dividiu-se o texto
em capiacutetulos O Primeiro capiacutetulo aponta as opccedilotildees de pesquisa e os passos
metodoloacutegicos para sua realizaccedilatildeo No segundo capiacutetulo estudamos a transiccedilatildeo
entre a escola rural e a escola do campo O terceiro capiacutetulo relata a histoacuteria do
Assentamento Renascer e o quarto capiacutetulo relatamos o resultado da pesquisa de
campo evidenciando a Escola que temos e a Escola que queremos
8
Primeiro Capiacutetulo
As opccedilotildees da pesquisa e os passos metodoloacutegicos
O intuito deste trabalho eacute recuperar a trajetoacuteria de luta dos moradores do
assentamento Renascer pela educaccedilatildeo visando assegurar o direito agrave escola
identificando avanccedilos e limites encontrados nesta trajetoacuteria
Gostaria de manifestar minha satisfaccedilatildeo e agradecer a oportunidade de estar
estudando numa universidade puacuteblica em um curso com muita interfere com a minha
vivecircncia pessoal e de um alcance social muito importante para a transformaccedilatildeo que
nosso paiacutes necessita A desigualdade social ainda eacute muito grande no campo e na
cidade sendo bastante visiacutevel esta realidade
Sou nascida numa comunidade remota e isolada no sul do Maranhatildeo onde
nos meus primeiros anos de vida convivi em uma comunidade indiacutegena com minha
avoacute paterna comunidade de economia essencialmente extrativista principalmente
da quebra do coco babaccedilu o cultivo da mandioca para fazer farinha e da caccedila e
pesca Fiquei sem frequentar agrave escola ateacute os treze(13) anos de idade por natildeo existir
escola na comunidade Quando vim morar em Brasiacutelia e ingressei em uma escola
pela primeira vez sofri muita descriminaccedilatildeo por parte dos outros alunos devido
minha idade e a defasagem escolar Apesar de viver na cidade grande haacute bastante
tempo continuam vivas na minha alma o desejo de viver no campo Estou na luta
por um pedaccedilo de terra atraveacutes da Reforma Agraacuteria no assentamento Renascer
com o apoio do MATR- Movimento de Apoio ao Trabalhador Rural haacute onze(11)
anos atualmente estamos em fase de sermos assentados
Alguns anos atraacutes em 1992 cheguei a fazer um curso de formaccedilatildeo de
professores (Magisteacuterio) e me capacitei para trabalhar da 1ordf a 4ordf seacuterie do Ensino
Fundamental na eacutepoca Realizei alguns trabalhos nessa aacuterea mas natildeo exerci
profissionalmente esta atividade de forma regular
O tema Escola do Campo vem ao encontro a um anseio pessoal de poder
trabalhar com educaccedilatildeo voltada para a realidade vivida pelo cotidiano da populaccedilatildeo
realmente do campo A minha motivaccedilatildeo ao escolher este tema de pesquisa eacute de
9
poder de alguma forma contribuir para a troca de experiecircncia e conhecimentos entre
educandos e educadores melhorando minha capacitaccedilatildeo profissional e absorver
conhecimentos e orientaccedilotildees de professores (as) e companheiros (as) de estudo
Conforme o educador Paulo Freire dizia ningueacutem tem o conhecimento de tudo
e sempre eacute capaz de conhecer mais coisas que ainda natildeo conhece se assim o
desejar
O assentamento Renascer hoje conta com um total de 120 famiacutelias satildeo
11 (onze) anos de luta e perseveranccedila tem se manifestado se mobilizado
reivindicando oportunidades de obterem escola do campo para adquirirem
conhecimentos atraveacutes do estudo que lhes permita melhorar sua capacitaccedilatildeo para o
trabalho e consequentemente ampliar seus horizontes soacutecio- econocircmico e
culturalmente ou seja progredir atraveacutes dos seus estudos e trabalho que satildeo
direitos humanos universais
Sem a inclusatildeo do ensino fundamental para trabalhadores rurais a Educaccedilatildeo
de Jovens e Adultos (EJA) para o ensino do 6ordm ao 9ordm ano o que natildeo eacute nem um pouco
acessiacutevel agrave comunidade devido a inuacutemeras dificuldades como horaacuterio disponiacutevel
falta de transporte dentre outros fatores Fica impossiacutevel o acesso dessa
comunidade aos estudos oferecidos pelo Instituto Federal de Brasiacutelia (IFB) que fica
proacuteximo a esse assentamento O IFB oferece diversos cursos que interessam e
atendem agraves necessidades dos trabalhadores do campo Desta maneira a situaccedilatildeo
atual dos moradores do Assentamento Rural Renascer demostra discriminaccedilatildeo e
exclusatildeo social por parte do poder puacuteblico
Alguns cursos e projetos teacutecnico-pedagoacutegicos realizados por parceiros do
Movimento de Apoio ao Trabalhador Rural (MATR) Como a Fundaccedilatildeo Banco do
Brasil Funatura IFB Economia Solidaacuteria Novas Fronteiras da Cooperaccedilatildeo Rio Satildeo
Bartolomeu Vivo e UnB Essas parcerias acrescentaram melhorias agrave qualidade de
vida ao assentamento
A educaccedilatildeo que temos atraveacutes do Programa de Educaccedilatildeo na Reforma
Agraacuteria (PRONERA) revela que a importacircncia do programa na realidade do
assentamento durante determinado periacuteodo satisfez algumas necessidades
educacionais tirando muitas pessoas do analfabetismo
O que ocorre atualmente eacute que o Pronera natildeo estaacute funcionando no
momento por falta da renovaccedilatildeo do contrato estre o INCRA a UnB e o Movimento
10
Social MATR que vem atrasando o processo de alfabetizaccedilatildeo e conclusatildeo do
5ordm ano
Um olhar criacutetico sobre a escola que temos revela a necessidade de poliacuteticas
puacuteblicas como a implantaccedilatildeo de espaccedilos fiacutesicos contendo mobiliaacuterio escolar baacutesico
como carteiras quadro de giz e iluminaccedilatildeo adequada A observaccedilatildeo da atuaccedilatildeo do
Pronera na comunidade Renascer resultou nas seguintes observaccedilotildees
- inadequaccedilatildeo do local para realizaccedilatildeo das aulas que ateacute recentemente
funcionava de forma precaacuteria num barraco utilizado pela igreja catoacutelica o que
impossibilitava o funcionamento das aulas pois durante os eventos da igreja natildeo
tinha como realizar as atividades pedagoacutegicas
A reparaccedilatildeo dessa situaccedilatildeo de precariedade especiacutefica do assentamento
Renascer contribui para reverter a condiccedilatildeo de inferioridade dos assentados
As criacuteticas acima relacionadas satildeo positivas pois a uacutenica escola que o
acampamento teve no decorrer desses 11 (onze) anos foi o Pronera que pode
perfeitamente superar as dificuldades apontadas contribuindo com o trabalho do
educador (a) que acaba por acrescentar inuacutemeras responsabilidades que lhe natildeo
satildeo devidas ao ato de ensinar
A perseveranccedila na luta por uma escola do campo na comunidade Renascer
eacute essencial para evitar o que acontece na realidade do campo em niacutevel nacional
onde cerca de 24000 escolas brasileiras foram fechadas no meio rural
Segundo Erivam Hilaacuterio do setor de educaccedilatildeo do MST que afirma que o
fechamento dessas escolas tem sua loacutegica a intenccedilatildeo de pensar num campo sem
escola e consequentemente um campo sem cultura e sem gente
Refletinto sobre a educaccedilatildeo que queremos atraveacutes do Pronera ou outros
programas educacionais de ensino sentimos que eacute necessaacuterio uma concepccedilatildeo da
educaccedilatildeo ampla que propicia alimento intelectual moral artiacutestico e um
posicionamento criacutetico no processo social e poliacutetico tanto em niacutevel regional
nacional e universal Constitui ferramenta essencial para a formaccedilatildeo de nossa
personalidade e para a emancipaccedilatildeo da sociedade em relaccedilatildeo agrave opressatildeo e
injusticcedila
As expectativas e lutas das famiacutelias do assentamento Renascer estatildeo
alicerccediladas em parcerias junto a entidades do poder puacuteblico exemplo INCRA UnB
11
e Movimentos Sociais do campo para colocar em praacutetica uma educaccedilatildeo que seja
eficaz para a Comunidade Renascer
Acredito que cada comunidade possui uma realidade um contexto muito
proacuteprio particular diferenciada de outra comunidade qualquer Os anseios as
necessidades os fatores culturais econocircmicos entre outros fatores satildeo diferentes
de lugar para lugar
A pedagogia e os meacutetodos a serem realizados em cada local deveriam ser
colocados em praacutetica somente apoacutes a comunidade local ser mobilizada e participar
ativamente na elaboraccedilatildeo deste plano de trabalho pedagoacutegico contribuindo com
ideias e vivecircncias Desta maneira a educaccedilatildeo estaria a serviccedilo do bem coletivo e
natildeo privilegiaria alguns em prejuiacutezo da coletividade A educaccedilatildeo eacute uma importante
ferramenta para o desenvolvimento de uma economia solidaacuteria e socialmente justa
politicamente livre dos espoliadores que historicamente persistem em oprimir a
maioria dos povos privando-os de seus direitos
Na maioria das escolas existentes no campo que natildeo atendem a todos mas
a uma determinada parcela da populaccedilatildeo regional a pedagogia adotada eacute
planejada formulada empacotada e imposta aos camponeses por ldquopedagogo de
gabineterdquo que vivem nas grandes cidades e natildeo respeitam os valores e realidades
regionais e locais de cada comunidade
Eacute claro que existem exceccedilotildees de trabalhos pedagoacutegicos muito bons Eacute o caso
de quando ocorre uma interaccedilatildeo entre a comunidade local e os educadores que
estatildeo ali para contribuir por uma educaccedilatildeo construiacuteda a partir da participaccedilatildeo
popular e democraacutetica na criaccedilatildeo e produccedilatildeo do processo educativo
A pesquisa seraacute fundamentada pela investigaccedilatildeo teoacuterica sobre o tema de
implantaccedilatildeo de salas de aula de ensino fundamental para trabalhadores rurais
adultos em comunidades que lutam pela reforma agraacuteria Para entender-se o
problema eacute necessaacuterio apontar a fundamentaccedilatildeo teoacuterica
A fundamentaccedilatildeo de diversas correntes de opiniatildeo eacute importante para o nosso
proacuteprio esclarecimento e para a busca conjunta com os interessados sobre qual o
melhor modelo pedagoacutegico a ser implantado na sala de aula da comunidade
A fundamentaccedilatildeo teoacuterica como satildeo vaacuterias as teorias existentes seratildeo
expostas algumas como Territoacuterios Educativos na Educaccedilatildeo do Campordquo ldquopor uma
Educaccedilatildeo do Campordquo ldquoTeoria e Praacutetica Pedagoacutegica da educaccedilatildeo do Campordquo
12
rdquoPesquisa Social e accedilatildeo Pedagoacutegicardquo rdquoEtnografia e Praacutetica Escolarrdquo ldquoMetodologia
do tralho Cientiacuteficordquo e trabalhos monograacuteficos de ex-alunos do curso da LEdoC
A metodologia utilizada a pesquisa qualitativa com estudo de caso e estudo
bibliograacutefico
O estudo teve como instrumento de pesquisa a aplicaccedilatildeo de entrevista semi-
estruturada com pessoas da comunidade Renascer quando seraacute identificada sua
participaccedilatildeo e contribuiccedilatildeo para educaccedilatildeo na comunidade e sobre seu entendimento
sobre que tipo de escola do campo que a comunidade requerem relevantes para o
objetivo da pesquisa
O trabalho de campo foi para buscar informaccedilotildees atraveacutes da fala dos sujeitos
que foram ouvidos conforme citado anteriormente bem como de material que
poderaacute contribuir para o trabalho da pesquisa
A pesquisa bibliograacutefica abordou o aprofundamento teoacuterico sobre o tema
para anaacutelise da realidade da educaccedilatildeo do campo para melhor entender a situaccedilatildeo
em que o assentamento se encontra na luta pela escola
-11-
13
Segundo Capiacutetulo
Da escola rural agrave escola do campo histoacuterico das lutas e
concepccedilotildees da educaccedilatildeo
21 A Escola Rural no Brasil
Conforme Ferreira e Brandatildeo (2011) a trajetoacuteria da escola rural brasileira
deve ser contextualizada historicamente segundo o modelo socioeconocircmico
implantado no paiacutes desde o iniacutecio do processo colonizador ateacute o momento presente
Para os autores desde os primoacuterdios do processo de colonizaccedilatildeo o paiacutes foi
entendido apenas como uma colocircnia de exploraccedilatildeo devendo portanto remeter agrave
metroacutepole suas riquezas naturais do solo do subsolo dando segmento aos ciclos
econocircmicos denominados de colonial ciclo do pau brasil da cana de accediluacutecar do
ouro do cafeacute (FERREIRA amp BRANDAtildeO 2011 p3)
A base social do paiacutes eacute formada pelos nativos (iacutendios ndash expulsos
massacrados e exterminados) os africanos e os imigrantes pobres vindos da
Europa e do oriente Foi segundo os mesmos autores esta mesma base social que
formou a matildeo de obra imprescindiacutevel para a implantaccedilatildeo do projeto colonial e do
periacuteodo imperial
A aboliccedilatildeo da escravatura em 1888 e o consequente abandono da populaccedilatildeo
negra desprovida de qualquer indenizaccedilatildeo ou bens materiais particularmente terra
teve como consequecircncia o ecircxodo rural e o desprezo pela atividade agriacutecola
associada agrave escravatura
Em sua experiecircncia histoacuterica como repuacuteblica o tradicional modelo
socioeconocircmico adotado no Brasil perdurou
Ao longo da histoacuteria do Brasil o processo de exclusatildeo social e tambeacutem poliacutetico econocircmico e cultural sempre estiveram presentes e eram tidos como algo ldquonaturalrdquo Ainda nos dias atuais fazer uma referencia a este processo de exclusatildeo natildeo leva a um debate tranquilo a resistecircncia ainda eacute forte por parte da sociedade neoliberal principalmente por aqueles que ainda se beneficiam com
a exclusatildeo socialrdquo (FERREIRA 2011 pag 3)
Com relaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo o que se percebe eacute conforme Ferreira (2011)
14
que o modelo de educaccedilatildeo praticado no Brasil pelos diferentes governos entre o iniacutecio do Impeacuterio (1822) ateacute meados do seacuteculo XX era uma educaccedilatildeo para a elite econocircmica e intelectual em prejuiacutezo direto e indiscriminado dos pobres negros e iacutendios Inclusive a primeira Lei ainda no periacuteodo imperial quando se reporta agrave educaccedilatildeo natildeo se ateve agraves especificidades diretas da zona rural onde a populaccedilatildeo brasileira viviardquo (FERREIRA 2011 p4)
Clauacutedio Santos (2013) afirma que a educaccedilatildeo destinada aos habitantes do
campo no inicio do seacuteculo XX entendia que ldquoa formaccedilatildeo das jovens geraccedilotildees ou dos
adultos no espaccedilo rural era tida como algo menor ou desnecessaacuteriordquo (p 47) Para o
autor a maioria de residentes no campo ( 75) natildeo foi pensado um modelo
educacional que contemplasse as necessidades dos residentes no campo o que a
histoacuteria do Brasil nos ensina eacute que o regime republicano manteve os grandes
latifuacutendios e a oligarquia rural alijando a maior parcela da populaccedilatildeo rural de
qualquer benefiacutecio do sistema poliacutetico-econocircmico
A organizaccedilatildeo escolar rural no Brasil embora tiacutemida pode ser localizada a
partir do primeiro governo republicano o do marechal Deodoro da Fonseca (1889-
1891) estando a cargo do Ministeacuterio da Agricultura Comeacutercio e Induacutestria O ecircxodo
da populaccedilatildeo rural para os incipientes centros urbanos em busca dos empregos
promovidos pela igualmente incipiente industrializaccedilatildeo evidenciava as mazelas dos
sujeitos do campo 75 da populaccedilatildeo brasileira era analfabeta igual nuacutemero da
populaccedilatildeo do campo
Somente a partir de 1920 tem-se efetivamente o primeiro movimento em
defesa da educaccedilatildeo da populaccedilatildeo rural conhecido como Ruralismo Pedagoacutegico
(SANTOS 2013) que foi um movimento dos educadores poliacuteticos e intelectuais
elaborando formas de accedilatildeo pedagoacutegicas adequados agrave dominacircncia poliacutetico-
econocircmica da oligarquia rural
Para o autor o ruralismo pedagoacutegico
defendia uma escola integrada agraves condiccedilotildees locais para promover a fixaccedilatildeo do homem do campo estava ligado agrave modernizaccedilatildeo do campo brasileiro e contava com o apoio dos latifundiaacuterios temerosos de perder sua matildeo de obra bem como de uma elite urbana preocupada com os resultados negativos de uma migraccedilatildeo
camponesa para a cidade (SANTOS2013p48)
15
Uma caracteriacutestica do ruralismo pedagoacutegico foi buscar adequar a educaccedilatildeo
rural para fixar o homem no campo para diminuir o processo de urbanizaccedilatildeo e
consequente ecircxodo rural que modificava a estrutura econocircmico e social do paiacutes
Relativo agrave educaccedilatildeo rural da primeira metade do seacuteculo XX nos ensina
Santos (2013 p48) que ldquoem 1933 inicia-se a campanha de alfabetizaccedilatildeo na zona
rural Em 1935 ocorre o I Congresso Nacional do Ensino Regional que contribui
para a fundaccedilatildeo da Sociedade Brasileira de Educaccedilatildeo Rural no ano de 1937rdquo
Nos anos de 1920 foi criado o movimento conhecido como Escola Nova por
intelectuais e pensadores brasileiros que valorizaram a pesquisa educacional e a
inserccedilatildeo da escola como uacutenico meio de se combater as desigualdades sociais num
ambiente de crescente industrializaccedilatildeo e urbanizaccedilatildeo (SANTOS 2013) Estes
educadores como Aniacutesio Teixeira Fernando de Azevedo Lourenccedilo Filho dentre
outros defenderam atraveacutes do Manifesto da Escola Nova (1932) a universalizaccedilatildeo
da escola puacuteblica laica e gratuita
A influecircncia deste movimento sobre a educaccedilatildeo brasileira fez-se sentir nas geraccedilotildees futuras de educadores e pesquisadores como Darcy Ribeiro e Florestan Fernandes A atuaccedilatildeo desses pioneiros se estendeu por deacutecadas muitas vezes criticada pelos defensores da escola particular e religiosa (FERRARI 2014p43)
Poreacutem as propostas do Manifesto natildeo tiveram impactos concretos e natildeo
foram incorporados pela escola Ferraro (2012) esclarece que
A educaccedilatildeo rural no Brasil soacute se tornou objeto de interesse do Estado no momento em que todas as atenccedilotildees e esperanccedilas se voltavam para o urbano e a ecircnfase passava a recair sobre o desenvolvimento industrial Quando os interesses do latifuacutendio dominavam tanto a economia como a poliacutetica a alfabetizaccedilatildeo das massas camponesas era vista como seacuteria ameaccedila agrave ordem vigente Quando o paiacutes jaacute avanccedila no processo de industrializaccedilatildeo e se torna predominantemente urbano eacute a proacutepria cidade que passa a reivindicar a alfabetizaccedilatildeo das populaccedilotildees do campo Passa entatildeo a contrariar os interesses da cidade continua (FERRARO 2012p964)
16
A industrializaccedilatildeo ocorreu nas cidades e atraiu grandes levas de
trabalhadores do campo seduzidos pelo ideal de transformaccedilatildeo de vida acesso agrave
escolarizaccedilatildeo empregos bem remunerados ideais que levam ao ecircxodo rural hoje
ou naquele momento histoacuterico A realidade do trabalhador do campo receacutem
chegado agrave cidade era do ponto de vista educacional precariacutessima pois em sua
maioria eram analfabetos ou com baixa escolarizaccedilatildeo Essa condiccedilatildeo impedia o
acesso ao emprego industrial urbano e agrave boa qualidade de vida que uma boa
remuneraccedilatildeo podia proporcionar
As cidades sofreram crescimento raacutepido desgovernado formando periferias
que abrigavam a maioria da populaccedilatildeo egressa do campo O subemprego e o
desemprego desestabilizavam as populaccedilotildees das cidades e geravam desequiliacutebrios
sociais e econocircmicos comprometendo a qualidade de vida de todos os moradores
Eacute o ciacuterculo vicioso da desigualdade da exclusatildeo e da violecircncia que a educaccedilatildeo
pode romper A educaccedilatildeo tem entatildeo o propoacutesito de formar trabalhadores para a
induacutestria urbana
Na Constituiccedilatildeo de 1934 para com a educaccedilatildeo rural destaca-se o Art 156 conforme podemos ver abaixo
A Uniatildeo e os Municiacutepios aplicaratildeo nunca menos de dez por cento e os Estados e o Distrito Federal nunca menos de vinte por cento da renda resultante dos impostos na manutenccedilatildeo e no desenvolvimento dos sistemas educativos Paraacutegrafo uacutenico ndash Para a realizaccedilatildeo do ensino nas zonas rurais a Uniatildeo reservaraacute no miacutenimo vinte por cento das cotas destinadas agrave educaccedilatildeo no respectivo orccedilamento anual
Na constituiccedilatildeo Federal de 1937 a educaccedilatildeo rural natildeo eacute citada A prioridade eacute
a educaccedilatildeo dos moradores urbanos Neste periacuteodo conforme Ferreira (2011) ldquoa
orientaccedilatildeo poliacutetico educacional para o mundo capitalista fica bem expliacutecita
sugerindo a preparaccedilatildeo de um maior contingente de matildeo de obra para as novas
atividades abertas pelo mercado ndash a industrializaccedilatildeordquo ( pg 32)
Ainda segundo o autor este afirma que em 1935 ocorreu o I Congresso
Nacional do Ensino Regional que assume como objetivo propagar a educaccedilatildeo rural
e elaborar os planos de educaccedilatildeo Esses planos recomendavam escolas rurais
ambulantes nas regiotildees de menor densidade geograacutefica
17
O periacuteodo conhecido como Estado Novo (1937-1945) tentava implantar uma
poliacutetica educacional de cunho nacionalista tornando a educaccedilatildeo um instrumento do
estado servindo aos seus interesses
Os adultos analfabetos particularmente no meio rural tiveram atenccedilatildeo da
Campanha Nacional de Educaccedilatildeo Rural (CNER) de 1952 a 1963 cujo objetivo era
contribuir para a inserccedilatildeo do homem do campo O CNER atuou atraveacutes de missotildees
internacionais dos Estados Unidos voltadas agrave educaccedilatildeo ao treinamento de
professores e agrave preparaccedilatildeo dos jovens do meio rural pelo ensino profissional
agriacutecola Agrave atividade do CNER podemos agregar a accedilatildeo da Comissatildeo Brasileiro-
Americana de Educaccedilatildeo das Populaccedilotildees Rurais (CBAR) que celebrou acordos entre
esses dois paiacuteses visando a educaccedilatildeo rural orientada para o emprego de teacutecnicas
agriacutecolas (OLIVEIRA 1999 p 133)
A educaccedilatildeo rural eacute chamada para se ajustar agraves poliacuteticas educacionais estabelecidas pelo projeto do estado A educaccedilatildeo rural em primeiro lugar apesar de numerosos programas desenvolvidos sempre representou uma fatia muito pequena e marginal nas preocupaccedilotildees do setor puacuteblico (OLIVEIRA p apud CALAZANS1981p162)
A educaccedilatildeo rural ocupou e ainda ocupa pequeno espaccedilo no universo
educacional brasileiro As escolas apresentam dificuldades para se manterem no
campo Conforme o Jornal Sem Terra nordm 46 jun2011 24000 escolas do campo
foram fechadas no Brasil As instalaccedilotildees o curriacuteculo a carecircncia de professores o
transporte escolar formam muitas vezes uma barreira quase imponiacutevel para uma
ampla gama de alunos particularmente das uacuteltimas seacuteries do ensino fundamental e
do ensino meacutedio
Os programas implantados nos uacuteltimos anos como o PRONERA e o EJA
apresentam soluccedilotildees e alcanccedilam grandes resultados mas podemos questionar os
resultados entre os estados O Rio Grande do Sul (que atendeu alunos do ensino
baacutesico ateacute o ensino superior) em comparaccedilatildeo com outros estados e o Distrito
Federal conseguiu excelentes resultados No DF falta alcanccedilar melhores
resultados Podemos questionar se os resultados satildeo adequados pois por exemplo
no assentamento Renascer o Pronera natildeo vai aleacutem do quinto ano Eacute necessaacuterio
uma poliacutetica educacional que leve em conta a realidade dos alunos do campo
18
invista recursos materiais e humanos modernizem as escolas e propiciem o acesso
dos alunos
Conforme nos explica Sousa 2004 em seu artigo lsquodiscursos intolerantes o
lugar da politica na educaccedilatildeo rural e a representaccedilatildeo do camponecircs analfabeto
No Brasil a trajetoacuteria da educaccedilatildeo rural inclui-se na dinacircmica de modernizaccedilatildeo do campo assumindo um papel decisivo no processo de expropriaccedilatildeo proletarizaccedilatildeo e controle dos trabalhadores rurais A modernizaccedilatildeo da produccedilatildeo no nordeste brasileiro por exemplo incentivou o processo de sindicalizaccedilatildeo em massa dos trabalhadores das zonas canavieiras estimulou reivindicaccedilotildees no campo do trabalho ligadas agrave aplicaccedilatildeo do Estatuto do Trabalhador Rural e contraditoriamente fez emergir as manifestaccedilotildees pela distribuiccedilatildeo de terras encampadas pelas Ligas Camponesas ( SOUSA2004 p4)
O projeto de modernizaccedilatildeo do campo ocorreu sem que houvesse a
emancipaccedilatildeo dos trabalhadores rurais Na verdade ocorreu a proletarizaccedilatildeo dos
trabalhadores rurais pela acumulaccedilatildeo de terras em matildeos de apenas poucos
proprietaacuterios (latifundiaacuterios) Esse acontecimento revela que apenas em processo
consciente e contiacutenuo de lutas organizados e unidos os trabalhadores rurais
poderatildeo conquistar terras e meios para sua produccedilatildeo
O estudo da organizaccedilatildeo dos trabalhadores rurais eacute importante porque eacute a
partir dela que outras grandes reivindicaccedilotildees satildeo conquistadas No caso da
presente pesquisa pode-se observar que foi a organizaccedilatildeo dos trabalhadores em
torno de suas causas a reforma agraacuteria que levou agrave luta pelas outras reivindicaccedilotildees
como a educaccedilatildeo no campo
O proacuteximo capiacutetulo deste trabalho monograacutefico aborda a questatildeo das
manifestaccedilotildees e resistecircncias dos camponeses pela educaccedilatildeo e pela reforma
agraacuteria
-16-
22 Trajetoacuteria de luta pela Educaccedilatildeo do Campo
A luta pela educaccedilatildeo do campo esteve sempre associada agrave luta pela reforma
agraacuteria e pela conquista de direitos para os trabalhadores rurais O Movimento das
19
Ligas Camponesas lutou pela emancipaccedilatildeo do trabalhador rural e da reforma agraacuteria
e em seu projeto educacional estavam baseados nos ideais de Paulo Freire e do
Movimento de Educaccedilatildeo de Base (MEB)
Para explicar a reaccedilatildeo das classes populares agraves imposiccedilotildees do governo
brasileiro e das classes dominantes Oliveira (1995 apud ARROYO)
A histoacuteria das lutas entre as classes sociais natildeo se limitam agrave luta pelo poder mas se constituem impulsionadoras da histoacuteria da humanidade que natildeo aguardam passivamente seu destino mas ao contraacuterio articulam-se em torno de suas lutas para garantir seus direitos sua dignidade e sua participaccedilatildeo democraacutetica na sociedade( OLIVEIRA apud ARROYO1995p 80)
Neste sentido as Ligas Camponesas lutaram praticamente em todo o
territoacuterio nacional contra a tentativa de expulsatildeo dos trabalhadores rurais das terras
Os conflitos armados particularmente no Nordeste exigiam participaccedilatildeo poliacutetica e
direitos essenciais como a educaccedilatildeo do campo
O meacutetodo de alfabetizaccedilatildeo criado por Paulo Freire foi amplamente utilizado
pelas Ligas Camponesas e em sua concepccedilatildeo ampla de escola serviu de subsidio
para a compreensatildeo do camponecircs acerca de seu papel social (TOLEDO Caio
Navarro 2004 p6)
Neste contexto surge a Pedagogia do Oprimido de Paulo Freire Segundo
SANTOS (2013 apud Paulo Freire 1987) afirma que a pedagogia do oprimido
configura-se como
Aquela que tem de ser forjada com ele (o oprimido) e natildeo para ele enquanto homens ou povos na luta incessante de recuperaccedilatildeo de sua humanidade Pedagogia que faccedila da opressatildeo e de suas causas objeto de reflexatildeo dos oprimidos de que resultaraacute o seu engajamento necessaacuterio na luta por sua libertaccedilatildeo em que esta pedagogia se faraacute e refaraacuterdquo (FREIRE 1987 p32)
A pedagogia do oprimido serve de referecircncia para o trabalhador rural que luta
pela emancipaccedilatildeo de sua condiccedilatildeo de proletaacuterio atraveacutes da reforma agraacuteria A
pedagogia do oprimido leva o homem ao encontro de si mesmo ao reconhecimento
da grandeza de seu trabalho ao potencial de suas accedilotildees cotidianas que fazem a
diferenccedila A capacidade de reflexatildeo e o entendimento de sua potencialidade pode
leva-lo agrave sua plena realizaccedilatildeo como indiviacuteduo e como ser social
20
A reaccedilatildeo do governo contra o movimento de educaccedilatildeo popular proposto por
Freire e assumido pelo Movimento das Ligas Camponesas e pelo Movimento de
Educaccedilatildeo de Base (MEB) gerou repressatildeo e resposta da ditadura civil-militar como
o Movimento Brasileiro de Alfabetizaccedilatildeo (MOBRAL)
A luta dos movimentos sociais e sindicais pela educaccedilatildeo do campo parte das
forccedilas internas dos movimentos e alcanccedila a setores sociais religiosos ideoloacutegicos
que passam a contribuir efetivamente para o alcance do direito agrave educaccedilatildeo aos
camponeses
A Comissatildeo Pastoral da Terra (CPT) presente ao lado dos trabalhadores (as)
rurais indiacutegenas ribeirinhos pescadores e quilombolas tambeacutem contribuiu e
contribui para a formaccedilatildeo criacutetica a defesa de formas sustentaacuteveis de utilizaccedilatildeo de
recursos naturais e produccedilatildeo e para a alfabetizaccedilatildeo segundo o meacutetodo de Paulo
Freire (CANUTO 2012 p 131)
Na atualidade estaacute em desenvolvimento um movimento que luta pela educaccedilatildeo do homem do campo organizado por vaacuterias entidades dentre elas o MST Trata-se de um processo que teve inicio em meados dos anos de 1990 impulsionados pela necessidade da educaccedilatildeo de jovens e adultos das aacutereas de assentamentos rurais Foi organizado um Programa Nacional para Educaccedilatildeo na Reforma Agraacuteria composto por atores tais como movimentos sociais universidades e governo federal aleacutem de outros parceiros (Alas da Igreja Sindicatos Organizaccedilatildeo Natildeo-Governamental ONG) existentes nas diferentes regiotildees do Brasil( SOUSA2004 p 32)
A trajetoacuteria de conquista das escolas do campo particularmente as escolas
do campo criadas pelo MST a partir da deacutecada de 1990 foi marcada pela conquista
e implantaccedilatildeo da Educaccedilatildeo Fundamental para crianccedilas e adolescentes dos
acampamentosassentamentos de acordo com o projeto politico-pedagoacutegico fruto do
amadurecimento do movimento
Focou-se a alfabetizaccedilatildeo de jovens e adultos e as lutas pela implantaccedilatildeo do
ensino meacutedio com cursos alternativos para a formaccedilatildeo de professores e teacutecnicos de
niacutevel meacutedio e tambeacutem de cursos superiores
A concepccedilatildeo de escolas de ensino fundamental plantadas em assentamentos
prevecirc a instalaccedilatildeo da escola na proacutepria comunidade evitando com isso o uso de
transporte escolar e a frequecircncia dos alunos Sem Terra em escolas fora do
assentamento
21
Esta atitude de resistecircncia foi fundamental para a conquista da escola nas
terras conquistadas e tambeacutem foi fundamental para universalizar o ensino enraizar
o aluno em sua comunidade e criar a consciecircncia do direito agrave educaccedilatildeo
ldquoincomodandordquo o Estado para garantir o cumprimento das poliacuteticas puacuteblicas
Kolling Vargas e Caldart (2012p502) nos ensinam ldquotoda vez que se
conquista uma escola de educaccedilatildeo baacutesica em um assentamento ou acampamento
ela representa menos adolescentes e jovens do campo fora da escola e mais gente
enraizada em seu proacuteprio lugarrdquo (pag 502)
Os movimentos sociais e sindicais pela educaccedilatildeo do campo indicam o grau
de maturidade desses em sua luta pela reforma agraacuteria Agrave essa luta soma-se o
projeto de desenvolvimento do paiacutes baseado na justiccedila social e o combate agraves
tradicionais formas utilizadas pelas elites urbanas ou rurais de alienaccedilatildeo pela
expropriaccedilatildeo do trabalho e pelo controle dos meios que levam agrave emancipaccedilatildeo
sociocultural e agrave verdadeira humanizaccedilatildeo papel destinado agrave educaccedilatildeo
Neste sentido movimentos sociais como o MST inserem a educaccedilatildeo
baseada em princiacutepios pedagoacutegicos que se distinguem da escola tradicional
Numa perspectiva histoacuterica os movimentos sociais do campo como por
exemplo o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) tiveram inicialmente
como bandeira de luta a luta pela terra pela Reforma Agraacuteria natildeo fazendo uma
relaccedilatildeo entre essa luta e a educaccedilatildeo
A formaccedilatildeo de escolas do campo pelo MST natildeo foi resultado da consciecircncia e
importacircncia da escola para a promoccedilatildeo da educaccedilatildeo em seu meio Foi na verdade
a necessidade de oferecer aos filhos dos primeiros lutadores a oportunidade de
uma perspectiva melhor de futuro atraveacutes do direito agrave educaccedilatildeo Foi tambeacutem a
necessidade de ldquotransformar instituiccedilotildees histoacutericas como a escola em lugares que
ajudem a formar os sujeitos destas transformaccedilotildeesrdquo (CALDART2012 p94)
Desse modo houve primeiro a ldquoocupaccedilatildeo da escolardquo pela mobilizaccedilatildeo e pela
accedilatildeo para garantir que em acampamentos ou assentamentos conquistados
houvesse uma escola que ldquofizesse a diferenccedila ou tivesse realmente sentido em sua
vida presente e futura (preocupaccedilatildeo com os filhos)rdquo (CALDART2012 p91)
Num segundo momento da luta observa-se intencionalidade da luta pela
escola mas com proposta pedagoacutegica especiacutefica ldquocombinando processos de
22
escolarizaccedilatildeo e de formaccedilatildeo da militacircncia e da base social Sem Terrardquo
(CALDART2012 p92)
As experiecircncias de pensar escolas como polos regionais entre assentamentos e com estudantes de outras comunidades de camponeses aos poucos vatildeo educando o olhar dos trabalhadores Sem Terra para uma realidade mais ampla Foi assim que o MST chegou agrave EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO (KOLLING Vargas e Caldart 2012 p 502)
A escola dentro dessa perspectiva de mudanccedila e envolvimento social eacute
parte da luta pela reforma agraacuteria daacute significado a ela pois proporciona a formaccedilatildeo
integral dos sujeitos que lutam pela terra
Essa escola possibilita a reflexatildeo trava o diaacutelogo com as propostas de
educaccedilatildeo popular de Paulo Freire e busca superar as dificuldades imensas que
assentados e acampados vivem no dia a dia
A escola tambeacutem revela a cultura o orgulho e criaccedilatildeo da identidade na luta
por terra Nesse sentido
A heranccedila que o MST deixaraacute para seus descendentes seraacute bem mais do que a terra que conseguir libertar do latifuacutendio seraacute um jeito de ser humano e de tomar posiccedilatildeo diante das questotildees de seu tempo seratildeo os valores que fortalecem e datildeo identidade aos lutadores do povo de todos os tempos de todos os lugares Eacute enquanto produto humano de uma obra educativa que os Sem Terra podem ser vistos como mais um elo que se forma em uma longa tradiccedilatildeo de lutadores sociais que fazem a histoacuteria da humanidade Enraizamento no passado e projeto de futuro (CALDART 2012 p 96)
A educaccedilatildeo proposta pelo movimento gera o sentimento de pertencimento e
desperta o sentimento de respeito agrave coletividade valoriza o trabalho a gestatildeo
democraacutetica e desburocratizada da escola
SANTOS (2013 p71) esclarece que pelo projeto educacional do MST a
educaccedilatildeo proposta estaacute pautada em ldquovalores socialistas e humanistas tais como o
coletivismo o trabalho socialmente uacutetil a organizaccedilatildeo e auto-organizaccedilatildeo dos
estudantes e professoresrdquo (p71)
-21-
23
221 Concepccedilatildeo Pedagoacutegica da Educaccedilatildeo do Campo
No acircmbito da educaccedilatildeo do homem do campo tornar o homem sujeito e natildeo
objeto do saber leva a entender que o conhecimento do camponecircs pode dialogar
com as praacuteticas baseadas no conhecimento cientiacutefico desde que seja perseguido o
ideal de trabalhadores e educadores do campo comprometidos com as lutas sociais
de formar o homem ldquodordquo campo e ldquono campordquo
Conforme Kolling Cerioli e Caldart (2002 p 264) ldquoo povo tem direito a uma
educaccedilatildeo pensada desde o seu lugar e com sua participaccedilatildeo vinculada agrave sua
cultura e agraves suas necessidades humanas e sociaisrdquo ndash(Caldart Educaccedilatildeo do Campo
2012 p 264
Tal compreensatildeo se ainda hoje causa oposiccedilatildeo ateacute mesmo no ambiente
acadecircmico imagine-se naquele momento histoacuterico de profunda repressatildeo poliacutetica e
ideoloacutegica aos movimentos sociais de camponeses por terra e educaccedilatildeo Como nos
ensina Molina e Saacute (DICIONAacuteRIO da Educaccedilatildeo do Campo p 324)
A concepccedilatildeo de escola do campo nasce e se desenvolve no bojo do movimento da EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO a partir das experiecircncias de formaccedilatildeo humana desenvolvidas no contexto de luta dos movimentos sociais camponeses por terra e educaccedilatildeo Trata-se portanto de uma concepccedilatildeo que emerge das contradiccedilotildees da luta social e das praacuteticas de educaccedilatildeo dos trabalhadores do e no campo (MOLINA e SAacute 2012 pag 324)
A concepccedilatildeo pedagoacutegica da educaccedilatildeo popular e da pedagogia da praacutetica
segundo ARROYO inclui
um caraacuteter de envolvimento totalizante dos movimentos sociais que possibilita ao individuo que participa destes coletivos o acesso a outro tipo de formaccedilatildeo que supera a condiccedilatildeo de aluno de alfabetizando de escolarizando Os integrantes destes organismos emersos na tensa situaccedilatildeo de conflitos aprendem por meio da vivencia das lutas sociais dos momentos de mobilizaccedilatildeo das situaccedilotildees limites de perda de emprego de criacuteticas da sociedade agraves suas accedilotildees de ameaccedilas agraves suas vidas Tudo isso traz ricas liccedilotildees ensinadas na ldquoescola do movimentordquo e que nenhuma teoria pode transmitir ou explicar de forma satisfatoacuteria
No entendimento de Arroyo (2013) os movimentos sociais vivem e
amadurecem sob o conhecimento e o entendimento das contradiccedilotildees sociais e esta
24
experiecircncia lhes permite a possibilidade de defender mudanccedilas radicais tanto no
campo como na cidade tanto na ideologia quanto no combate ao latifuacutendio e ao
capitalismo
Tamanho movimento social gera a reflexatildeo sobre as relaccedilotildees
socioeconocircmicas politicas culturais cuidado da natureza relaccedilotildees humanas
destaques de tudo o que interessa ao coletivo agrave sociedade
Eacute por meio do entendimento de que a realidade eacute criaccedilatildeo humana de como se estabelecem os processos de opressatildeo e ainda da noccedilatildeo de que podemos transformar essa realidade dado que a sociedade eacute mutaacutevel que se forma a praacutexis da luta accedilatildeo-conscientizaccedilatildeo-transformaccedilatildeo-libertaccedilatildeo Inserindo-se criticamente na histoacuteria os cidadatildeos tornam-se sujeitos construtores e reconstrutores da realidaderdquo
Molina e Saacute (2012) nos ensinam a partir do conceito de escola do campo sobre a
potencialidade da vivencia de praacuteticas coletivas para a valorizaccedilatildeo integral dos
sujeitos da coletividade do conhecimento cientiacutefico da gestatildeo coletiva da escola
dentre tantos avanccedilos e vitoacuterias dos movimentos sociais
O processo ensino-aprendizagem permite que o conceito de escola extrapole
o cotidiano de dificuldades e desafia agrave reflexatildeo que gera a emancipaccedilatildeo
Este eacute um dos maiores desafios e ao mesmo tempo uma das maiores possibilidades da escola do campo articular os conhecimentos que os educandos tecircm o direito de acessar a partir do trabalho com a realidade da religaccedilatildeo entre educaccedilatildeo cultura e os conhecimentos cientiacuteficos a serem apreendidos em cada ciclo de vida e de diferentes aacutereas do conhecimento(MOLINA MOURAtildeO 2012 p 329) -26-
222 Princiacutepios da Educaccedilatildeo do Campo
Alguns princiacutepios viabilizam o projeto de escola adotado pelos movimentos
sociais e possibilitam a democracia e a integraccedilatildeo de todos lideranccedila assentados e
acampados do movimento
25
O princiacutepio da responsabilidade coletiva sobre o planejamento a gestatildeo a
organizaccedilatildeo e a realizaccedilatildeo de tarefas em todas as esferas de atividades princiacutepios
muito valorizados pelos movimentos sociais do campo foram transferidos para o
projeto de educaccedilatildeo
O projeto eacute de responsabilidade coletiva e insere educadores tanto a niacutevel
local como regional e nacional os ldquoColetivos de educaccedilatildeordquo como satildeo conhecidos
Os coletivos de educaccedilatildeo com tarefas forccedila orgacircnica e discussotildees especiacuteficas que podem variar a cada periacuteodo fortalecem o princiacutepio organizativo de que a questatildeo da educaccedilatildeo bem como outras questotildees da vida social assumidas pelo MST deve ser pensada e implantada de forma coletiva Eacute uma loacutegica que implica tarefas a serem realizadas pelas pessoas mas mediante um planejamento e uma leitura de conjuntura feita por um coletivo (KOLLING1995 et al p503)
Para concretizar o projeto de educaccedilatildeo foi concebida a formaccedilatildeo de
professores pelos proacuteprios movimentos no acircmbito da proacutepria comunidade
(conhecidos como ldquoprofessores leigosrdquo) e tambeacutem pela rede oficial de ensino
A falta de titulaccedilatildeo de muitos educadores formados na comunidade natildeo
impede que os mesmos trabalhem juntos com os professores titulados e com
simpatizantes do movimento no projeto poliacutetico-pedagoacutegico constituindo um
princiacutepio democraacutetico importante para superar as dificuldades e urgecircncias para a
implantaccedilatildeo da educaccedilatildeo do campo
A democracia do processo de formaccedilatildeo de educadores tem reflexos amplos
a formaccedilatildeo de educadores pelos proacuteprios movimentos especiacutefica para atuaccedilatildeo nas
escolas do campo
O movimento eacute responsaacutevel pela universalizaccedilatildeo do ensino no acircmbito dos
territoacuterios conquistados ou por conquistar e permitiu a evoluccedilatildeo do ensino ateacute o niacutevel
de terceiro grau com a realizaccedilatildeo de cursos como a Licenciatura em Educaccedilatildeo do
Campo (LEdoC) do qual somos os privilegiados alunos aqui na Universidade de
Brasiacutelia
Outro reconhecimento e prova de eficiecircncia da formaccedilatildeo de professores eacute o
precircmio ldquoEducaccedilatildeo e Participaccedilatildeordquo recebido em 1995 do Fundo das Naccedilotildees Unidas
para a Infacircncia (Unicef)
26
O somatoacuterio das forccedilas internas e externas do movimento ldquoleigasrdquo ou
tituladas associadas ao princiacutepio fundamental da participaccedilatildeo dos alunos e
comunidades em todos os niacuteveis e localidades eacute ponto fundamental para o sucesso
da concepccedilatildeo do projeto pois permite o estudo a reflexatildeo conjunta sobre
estrateacutegias para o alcance do objetivo de educaccedilatildeo na reforma agraacuteria
-25-
223 Marcos Normativos da Educaccedilatildeo do Campo
Numerosos Marcos Normativos podem ser citados para explicitar qual perfil
de escola destinada ao camponecircs interessava ao governo e aos proprietaacuterios rurais
A Lei 4024 de 1961 em seu art 105 estabelece o
Apoio que poderaacute ser prestado pelo poder puacuteblico agraves iniciativas que mantenham na zona rural instituiccedilotildees educativas orientadas para adaptar o homem ao meio e estimular vocaccedilotildees e atividades profissionais (BRASIL 2012 p 4)
A Lei 5692 de 1971 ao tratar da educaccedilatildeo rural ldquonatildeo observa mais uma vez
a inclusatildeo da populaccedilatildeo na condiccedilatildeo de protagonista de um projeto social globalrdquo
sendo que o trabalho do campo realizado por alunos eacute ateacute mesmo incentivado
adequando-o ao calendaacuterio escolar (MARCOS NORMATIVOSBrasiacutelia2012 p 25)
A Lei 9394 de 1996 (Lei das Diretrizes se Bases da Educaccedilatildeo ndash LDB) em
acordo com Constituiccedilatildeo de 1988 e ldquoinspirada de alguma forma numa concepccedilatildeo
de mundo rural enquanto espaccedilo especifico diferenciado e ao mesmo tempo
integrado no conjunto da sociedaderdquo reconhece
A diversidade soacutecio-cultural e o direito agrave igualdade e agrave diferenccedila possibilitando a definiccedilatildeo de diretrizes operacionais para educaccedilatildeo rural sem no entanto recorrer a uma logica exclusiva e de ruptura com um projeto global de educaccedilatildeo para o paiacutes (idem p 26)
27
Os artigos 208 e 210 da Carta Magna-1988 e inspirada de numa concepccedilatildeo
de mundo rural enquanto espaccedilo especiacutefico diferenciado e ao mesmo tempo
integrado no conjunto da sociedade a Lei 939496- LDB-estabelece que
Art 28 Na oferta da educaccedilatildeo baacutesica para a populaccedilatildeo rural os sistemas de ensino promoveratildeo as adapta necessaacuteria agrave sua adequaccedilatildeo agraves peculiaridades da vida rural e de cada regiatildeo especialmente (MARCOS NORMATIVOS) Brasiacutelia 2012 p 25)
1- Conteuacutedos organizar curriculares e metodologias apropriadas agraves reais
necessidades e interesses dos alunos da zona rural
2-organizaccedilatildeo escolar proacutepria incluindo a adequaccedilatildeo do calendaacuterio escolar as
fases do ciclo agriacutecola e as condiccedilotildees climaacuteticas
3-adequaccedilatildeo agrave natureza do trabalho na zona rural (MARCOS NORMATIVOS)
Brasiacutelia 2012( p 26)
O movimento de educaccedilatildeo do campo luta haacute quinze (15) anos para fazer-se
cumprir esse Decreto da Lei de Diretrizes de base da educaccedilatildeo do campo-LDB
que apesar de ser constitucional ainda natildeo foi colocada totalmente em praacutetica
Agora com as lutas dos movimentos sociais eacute que estaacute comeccedilando a se concretizar
Artigo 26 Os curriacuteculos do ensino fundamental e meacutedio devem ter uma base nacional comum a ser complementada em cada sistema de ensino e estabelecimento escolar por uma parte diversificada exigida pelas caracteriacutesticas regionais e locais da sociedade
da cultura da economia e da clientela (MARCOS NORMATIVOS) Brasiacutelia 2012(p 26)
O Decreto nordm 7352 de 4 de novembro 2010 dispotildee sobre a poliacutetica de educaccedilatildeo do campo ao Programa Nacional de Educaccedilatildeo
na Reforma Agraacuteria-PRONERA decreta
Art1ordm A poliacutetica de educaccedilatildeo do campo destina-
se agrave ampliaccedilatildeo e qualificaccedilatildeo da oferta de educaccedilatildeo baacutesica e superior agraves populaccedilotildees do campo e seraacute desenvolvida pela Uniatildeo em regime de colaboraccedilatildeo com os Estados o
28
Distrito Federal e os Municiacutepios de acordo com as diretrizes e metas estabelecidas no Plano Nacional de Educaccedilatildeo e o disposto neste Decreto
Para os efeitos deste Decreto entende-se por
l-populaccedilatildeo do campo os agricultores familiares os extrativistas os pescadores
artesanais os ribeirinhos os assentados e acampados da reforma agraacuteria os
trabalhadores assalariados rurais os quilombolas os caiccedilaras os povos da floresta
os caboclos e outros que produzam suas condiccedilotildees materiais de existecircncia a partir
do trabalho no meio rural
ll-escola do campo aquela situada em aacuterea rural conforme definida pela Fundaccedilatildeo
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica- IBGE ou aquela situada em aacuterea
urbana desde que atenda predominantemente a populaccedilatildeo do campo (MARCOS
NORMATIVOS) 2012( p 81)
No Decreto 6755 29 de janeiro de 2009 em seu art 2ordm estabelecida pelo Conselho
Nacional de Educaccedilatildeo que se refere as Diretrizes Operacionais da Educaccedilatildeo do
Campo o parecer da alternacircncia
A formaccedilatildeo de professores poderaacute ser feita concomitantemente agrave atuaccedilatildeo profissional de acordo com metodologias adequadas inclusive a pedagogia da alternacircncia e sem prejuiacutezo de outras que atendam agraves especificidades da educaccedilatildeo do campo e por meio de atividades de ensino pesquisa e extensatildeo (MARCOS NORMATIVOS) 2012( p84)
-26-
29
-
231 A educaccedilatildeo do campo e poliacutetica puacuteblica - o PRONERA
O amadurecimento adquirido pela luta sobre o papel da educaccedilatildeo aliado agrave
iniciativa do aproveitamento do trabalho das professoras ldquoleigasrdquo e ainda da
consciecircncia cada vez mais presente do dever do Estado em prover os cidadatildeos da
reforma agraacuteria de poliacuteticas puacuteblicas resultou no campo da educaccedilatildeo na criaccedilatildeo do
Programa Nacional de Educaccedilatildeo na Reforma Agraacuteria (PRONERA)
O PRONERA envolve formalmente jovens e adultos num projeto conjunto
com universidades e institutos federais em prol da formaccedilatildeo de educadores para o
trabalho em escolas dos assentamentos da reforma agraacuteria e seu entorno
O Programa foi criado em 1998 no momento da ascensatildeo dos conflitos pela
reforma agraacuteria o que propiciou que os movimentos sociais trouxessem para a
opiniatildeo puacuteblica suas mazelas
No campo da educaccedilatildeo foi denunciada a falta de escola a precariedade do
ensino a falta de profissionais do ensino a ldquoloacutegica de negaccedilatildeo histoacuterica do direito
aos camponeses de acesso aos niacuteveis mais elevados de escolaridade ( SANTOS
2012 pag 630)
A partir de 2005 o ensino oferecido pelo PRONERA eacute estendido ao niacutevel
meacutedio e superior como a Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo e a Residecircncia
30
Agraacuteria O PRONERA evoluiu para outros patamares tais como ldquopossibilidades de
ressignificaccedilatildeo do conteuacutedo e da metodologia dos processos de educaccedilatildeo formal
por meio dos princiacutepios baacutesicos da participaccedilatildeo e da multiplicaccedilatildeordquo (SANTOS 2012
p 631)
A participaccedilatildeo das comunidades e suas organizaccedilotildees e a multiplicaccedilatildeo de
alfabetizados formados educadores e demais profissionais ligados agraves poliacuteticas
puacuteblicas para a Reforma Agraacuteria gerou ampla participaccedilatildeo dos agentes envolvidos
na dinacircmica do processo ensino-aprendizagem
Essa forma de gestatildeo gerou reaccedilatildeo contraacuteria ldquoagrave gestatildeo colegiada e coletiva
notadamente agrave participaccedilatildeo direta dos movimentos sociais e sindicais do campordquo
considerados ldquoentes estranhos agrave administraccedilatildeo puacuteblicardquo (CLARICE p 634)
O envolvimento dos movimentos sociais e sindicais do campo natildeo
retrocederam em sua luta pelo envolvimento de todos os interessados na educaccedilatildeo
como elemento emancipatoacuterio e continuam formulando princiacutepios concepccedilotildees e
diretrizes para a escola do campo
-31-
31
Terceiro Capiacutetulo
A histoacuteria do Assentamento Renascer
31 Uma breve histoacuteria de luta
A histoacuteria do Assentamento Renascer natildeo parece ser diferente da histoacuteria de
outros assentamentos Brasil afora Partiu da reivindicaccedilatildeo de Trabalhadores Rurais
sem Terra que desde 2004 ocuparam as margens da Rodovia DF 330 que liga
Sobradinho ao Paranoaacute-DF
Tatildeo perto do centro do poder a apenas poucos quilocircmetros do Palaacutecio da
Alvorada ou da Sede do INCRA o Acampamento Renascer esteve ateacute oito (08) de
maio de 2009 tatildeo distante da decisatildeo poliacutetica pela Reforma Agraacuteria
Somente nesta data trezentos sessenta e um( 361) de terras devolutas da
Uniatildeo foram repassadas ao INCRA para assentar as famiacutelias aliacute acampadas Ficou
criado o assentamento Renascer fora da beira da estrada
O Assentamento Renascer ldquorenasceurdquo da dificuldade de vida sob o barraco de
madeira sem aacutegua sem luz sem saneamento baacutesico que fez com que tantos
desistissem ao longo do caminho e ainda hoje se encontra nessa mesma
precariedade um descaso por parte do poder puacuteblico
A luta em vaacuterios momentos da vida dos acampados parecia estar vencida Os
vencedores pareciam ser a burocracia o desrespeito as noites mal dormidas a
inseguranccedila a falta de perspectivas para o acampado e suas famiacutelias
Duzentas (200) famiacutelias viveram aliacute por cinco anos (05) de 2004 ateacute 2009
Atualmente satildeo cento e vinte (120) famiacutelias que moram na aacuterea destinada e estatildeo
em processo de assentamento Muitas delas poreacutem vencidas pelo cansaccedilo e pelas
condiccedilotildees de vida abandonaram a luta mas todas as famiacutelias as que se foram e as
que ficaram sonharam com a terra onde poderiam produzir viam no pedaccedilo de chatildeo
os frutos do pomar da horta o galinheiro o pasto
O Assentamento Renascer eacute o Brasil Eacute um pedacinho da cruel realidade que
como vimos neste trabalho marcou a sociedade brasileira desde a escravidatildeo
desde o primeiro grito de rebeldia do quilombo desde o primeiro que lutou contra os
coroneacuteis por divisatildeo da terra como as Ligas Camponesas contra o latifuacutendio como
os movimentos sociais em sua luta pela reforma agraacuteria desde vaacuterias geraccedilotildees
32
Eacute como todo e qualquer movimento social que surgiu neste paiacutes desde a
deacutecada de 1980 pela reforma agraacuteria Viveu e ainda vive as dificuldades de ser
acampadoassentado mas honra sua luta porque natildeo desiste faacutecil
O Assentamento Renascer eacute tambeacutem fruto do ecircxodo rural da industrializaccedilatildeo
do campo da monocultura e da concentraccedilatildeo de terras Foram expulsos do campo
para a periferia das cidades sem capacitaccedilatildeo sem estudo
A falta de escolarizaccedilatildeo eacute sem duacutevida uma caracteriacutestica de quase todos os
que vieram do campo para a cidade A realidade do Brasil eacute que o campo natildeo eacute
escolarizado as escolas no campo satildeo poucas satildeo despreparadas satildeo
desvalorizadas
-33-
32 As escolas no campo na vivencia do assentado do Assentamento
Renascer
As escolas no campo marcaram profundamente a vida dos poucos que a
frequentaram Quase todos tiveram que trocar o laacutepis pela enxada a carteira pela
roccedila desde muito pequenos Alguns natildeo muito poucos conforme os depoimentos
aqui relatados teriam que abandonar a enxada e a participaccedilatildeo no sustento da
famiacutelia para frequentar a escola Quase sempre abandonaram a escola para ficar no
trabalho com a enxada
Todos teriam que andar vaacuterios quilocircmetros para ir agrave escola Outros nem assim
conseguiriam frequentar a escola no campo ela simplesmente natildeo existia no
campo Teriam entatildeo que ir para a cidade para ter direito a uma escola
Muitos tambeacutem vivenciaram os traumas que uma escola tradicional e
descomprometida com os valores e responsabilidades do projeto educacional
castigos humilhaccedilotildees afastaram a muitos da escola
Alguns apenas sonharam e sonham com a escola ldquoAh a escolardquo Tatildeo longe
inacessiacutevel para tantos no Brasil afora Ao ver de algumas pessoas do
Assentamento Renascer ldquoSe tivesse jeito eu teria ido agrave escola tinha feito pelo
menos o ensino fundamental completo para que eu pudesse ingressar no curso
33
teacutecnico-agriacutecola Mas agora quero que meus filhos e netos vatildeo para a escola
aprender ser algueacutem na vidardquo
-34-
321 A escola no entorno do Assentamento Renascer
A ideia de lutar pela educaccedilatildeo veio antes da ideia de lutar pela escola como
espaccedilo conquistado pelo acampamento Encontrar uma escola perto do
acampamento com transporte escolar com vagas e horaacuterios acessiacuteveis para os que
trabalham o dia todo era entendido como uma necessidade baacutesica e uma grande
vitoacuteria
Ficava-se feliz se apesar das dificuldades fosse possiacutevel matricular pelo
menos as crianccedilas As dificuldades eram e ainda satildeo muitas o transporte escolar
era e eacute precaacuterio a poeira natildeo permite que os alunos cheguem limpos agrave escola os
buracos e as poccedilas daacutegua impedem a chegada do ocircnibus escolar durante as
chuvas No caso do ocircnibus que levam os alunos ateacute a Escola Classe do Coacuterrego do
Arrozal em eacutepoca de muita chuva os ocircnibus ateacute o iniacutecio de 2014 natildeo conseguiam
transitar Isto resulta no fato de que as crianccedilas precisam caminhar debaixo de
chuva ateacute a escola
-35-
322 O caminho para a produccedilatildeo do saber no Assentamento Renascer a
brinquedoteca a integraccedilatildeo social a biblioteca comunitaacuteria as manifestaccedilotildees
culturais
Ao longo dos anos de vivecircncia e convivecircncia no Acampamento Renascer
mediante a dificuldade e necessidade de estudar que sentimos na nossa proacutepria
vida foi despontando a ideia de prover as crianccedilas de atividades luacutedicas e
educativas
34
Logo no iniacutecio do acampamento por volta de 2005 por iniciativa de algumas
pessoas conscientes da necessidade de atividades luacutedicas para as crianccedilas foi
criada uma brinquedoteca
Inicialmente os brinquedos eram de materiais reciclaacuteveis como garrafas pet
telefones sem fio carrinhos bonecas petecas vai e vem cavalinhos tudo era
confeccionado com a participaccedilatildeo das crianccedilas na modalidade de oficina
incentivando-os a fabricar os seus proacuteprios brinquedos Os brinquedos eram
confeccionados a partir de materiais encontrados nos lugares de descarte perto do
acampamento e doaccedilotildees de pessoas que passavam pela estrada
O embriatildeo de um processo educacional que nunca se interrompeu estava
lanccedilado a brinquedoteca proporcionou a criatividade e a participaccedilatildeo de crianccedilas e
adultos marcando as atividades pela conscientizaccedilatildeo do cuidado com a natureza e a
importacircncia da reciclagem A educaccedilatildeo ambiental jaacute era praticada desde o
nascimento do acampamento Renascer
Este primeiro passo foi muito importante porque traduziu para o dia a dia do
acampamento os princiacutepios da escola do campo atuante para mudar a realidade
criar cidadatildeos conscientes e dispostos a mudar a realidade a partir da sua proacutepria
accedilatildeo Este eacute o processo de transformaccedilatildeo social dentro do acampamento Renascer
haacute tanto tempo atraacutes
Aos brinquedos reciclados pela proacutepria comunidade juntaram-se outros
presenteados por instituiccedilotildees como igrejas ONGs a Pastoral da Crianccedila e pessoas
interessadas no bem estar daquelas crianccedilas
Percebe-se em iniciativas como essas a importacircncia da educaccedilatildeo nos
diversos niacuteveis para a sociedade A integraccedilatildeo de pessoas com as atividades
educativas no acampamento nos faz lembrar sobre um grande sonho das escolas
hoje integrar a comunidade de modo a que todos defendam a escola
O sucesso de iniciativas como a brinquedoteca que integravam crianccedilas
adolescentes adultos e sociedade foi importante para outras iniciativas igualmente
importantes
Foi-se criando um projeto educacional para o acampamento sem que se
tivesse consciecircncia disso por faltar informaccedilatildeo que soacute agora se possui graccedilas aos
estudos na Universidade o galpatildeo comunitaacuterio foi utilizado para abrigar a
35
brinquedoteca para desenvolver grupos de teatro de crianccedilas e adultos e para
abrigar a biblioteca
A biblioteca recebeu inuacutemeros exemplares de livros infantis livros didaacuteticos
para os adolescentes e adultos literatura universal revistas dos mais variados
assuntos criando assim um espaccedilo comunitaacuterio de informaccedilatildeo lazer e
entretenimento
Com a criaccedilatildeo da biblioteca ficou evidente a importacircncia da alfabetizaccedilatildeo de
crianccedilas jovens e adultos Muitos acampados relatavam a vontade e a necessidade
de aprender a ler e a escrever Muitos reivindicavam o direito agrave educaccedilatildeo e
frequecircncia agrave escola ainda que o acampamento mudasse de ldquoendereccedilordquo tantas
vezes
Outros poreacutem natildeo acreditavam que seria possiacutevel aprender ou aperfeiccediloar a
leitura e a escrita nas condiccedilotildees de vida de um acampado
Vaacuterias atividades culturais foram desenvolvidas (e ainda satildeo) no
Acampamento Renascer Todas chamavam a atenccedilatildeo da comunidade local de
outras comunidades vizinhas garantindo a simpatia de chacareiros que levavam os
filhos para participarem das atividades
Uma das atividades mais apreciadas foi o Teatro de Fantoches inspirados em
faacutebulas muitas com a autoria da Pastoral da Crianccedila e da Faber Castel A
participaccedilatildeo da comunidade na atividade era intensa e voluntaacuteria todos queriam
manipular os fantoches participar cantando danccedilando ou prestando muita atenccedilatildeo
O teatro de transformaccedilatildeo social produzido pelos adultos e adolescentes
utilizavam tambeacutem materiais reciclaacuteveis demonstrando cuidado com o meio
ambiente e amadurecimento dos conceitos poliacuteticos e pedagoacutegicos gerando reflexatildeo
sobre os temas sociais que nos atingem no cotidiano
A miacutestica adotada pelos movimentos sociais com o objetivo de reflexatildeo satildeo
apresentadas em datas comemorativas e contam com o apoio e participaccedilatildeo de
muitos
Algumas festas fazem parte da tradiccedilatildeo do Acampamento Renascer
traduzindo para a realidade atual as antigas festas a que todos foram acostumados
em seus lugares de origem
Pode-se dizer que a comunidade aprecia muito as festas Mas duas em
particular satildeo muito respeitadas a festa das crianccedilas que ocorre durante o dia (12
36
de outubro) eacute concorrida pois a comunidade se esmera para oferecer os brinquedos
que as crianccedilas amam pula-pula palhaccedilos pintura de rosto piscina de sabatildeo e
muita oferta de comida coisas que as crianccedilas adoram
No mesmo dia ocorre agrave noite a festa da Nossa Senhora Aparecida com
missa e muito forroacute
No mecircs de marccedilo eacute comemorada a Festa da Pamonha em comemoraccedilatildeo agrave
boa colheita do milho Esta festa jaacute se tornou tradicional conhecida em todo o
entorno do assentamento Egrave uma festa importante porque confraterniza a
comunidade Renascer com as comunidades vizinhas e ateacute mesmo as cidades de
Sobradinho Paranoaacute e Planaltina
Os movimentos sociais necessitam ser admirados pela sociedade e festas
como estas chamam a atenccedilatildeo para o problema da reforma agraacuteria demonstrando
que ela eacute viaacutevel e que os assentados tecircm simpatia competecircncia e seus saberes do
campo
A festa ldquojulinardquo eacute outra festa muito apreciada que apresenta as tradiccedilotildees rurais
e religiosas como quadrilhas e bandas de forroacute da comunidade e vizinhanccedila A
danccedila eacute um dos pontos fortes da festa assim como as comidas tradicionais muitas
delas com ingredientes colhidos no acampamento
Vaacuterios grupos de atividades teatrais apresentaram-se na localidade com
participaccedilatildeo de palhaccedilos lembrando um espetaacuteculo circense Alguns desses
grupos inclusive tiveram seus trabalhos premiados
Outras atividades com fundo educativo tiveram participaccedilatildeo animada de
crianccedilas e adultos A exibiccedilatildeo de desenhos animados recentemente apresentados
no cinema eram um grande atrativo para a comunidade que se via socialmente
incluiacuteda Esta inclusatildeo aumentava a autoestima das crianccedilas principalmente pois
assim elas poderiam interagir com os colegas da escola conversando a respeito dos
filmes
A Economia Solidaacuteria eacute uma das formas de inserccedilatildeo dos membros da
comunidade agrave sociedade economicamente ativa Atraveacutes da cooperaccedilatildeo solidaacuteria eacute
possiacutevel o comercio justo agriacutecolas ou artesanais sob conceitos antes
desconhecidos enquanto forma de produccedilatildeo e consumo centrado na valorizaccedilatildeo do
ser humano em contraposiccedilatildeo agraves formas capitalistas de produccedilatildeo e conscientizaccedilatildeo
37
Ao longo dos doze (12) anos de luta pela educaccedilatildeo foram promovidos
diversos cursos que capacitaram multiplicadores que fazem um trabalho importante
para a comunidade
A ideia de autogestatildeo democracia cooperaccedilatildeo auxilia natildeo soacute as formas de
produccedilatildeo e comercio de bens e artesanatos mas tambeacutem auxiliam na formaccedilatildeo
integral de pessoas em que tanto o produtor como o consumidor tem o proposito de
ganhos financeiros segundo um criteacuterio de valorizaccedilatildeo do trabalho
Proposito de formar uma nova consciecircncia a Economia Solidaacuteria promoveu
cursos de Soberania Alimentar em que a comunidade recebeu noccedilotildees praacuteticas
sobre alimentaccedilatildeo a partir da produccedilatildeo local de modo a promover uma nova cultura
alimentar que visa o combate agraves doenccedilas crocircnicas Outro proposito eacute tornar a
comunidade criacutetica em relaccedilatildeo agrave publicidade de produtos alimentiacutecio supeacuterfluo que
induz agraves crianccedilas e adultos alimentarem-se incorretamente
A comunidade participou coletivamente da implantaccedilatildeo de uma unidade da
tecnologia social denominada Produccedilatildeo Agroecoloacutegica Integrada e Sustentaacutevel
(PAIS) em 2012 com o objetivo de produzir alimentos saudaacuteveis e preservar o meio
ambiente trazendo mais alimentos e renda ao campo Esta tecnologia popularmente
conhecida como ldquohorta mandalardquo foi ministrada durante o curso de capacitaccedilatildeo
promovido pela Fundaccedilatildeo Banco do Brasil e teve o meacuterito de proporcionar o debate
e a participaccedilatildeo democraacutetica na definiccedilatildeo das culturas a serem cultivadas na futura
propriedade Vale informar que o assentamento Renascer identificou-se com esse
paradigma agroecoloacutegico
A educaccedilatildeo ambiental faz parte do dia a dia da comunidade hoje preserva-se
conservaccedilatildeo das formas de vida vegetais e animais na regiatildeo do assentamento e
entorno
A produccedilatildeo de mudas no viveiro eacute bastante concorrida contando com a
participaccedilatildeo de todos O viveiro produz cinco mil (5000) mudas de espeacutecies nativa
do cerrado para o reflorestamento das nascentes de aacutegua e nas aacutereas degradadas
da regiatildeo Contam com o apoio da FUNATURA FUNDACcedilAtildeO BANCO DO BRASIL
IFB Rio Satildeo Bartolomeu Vivo e UnB
-36-
38
39
Quarto Capiacutetulo
A escola que queremos expectativas e sonhos dos
acampados do Assentamento Renascer
Pode-se observar pelas falas dos entrevistados que a realidade de todos
converge para os problemas estruturais do Brasil faltam escolas no campo eacute baixa
a escolaridade em Brasiacutelia todos exercem atividades de subemprego
Todos tecircm grandes expectativas com relaccedilatildeo agrave vida futura no assentamento
objetivando melhores condiccedilotildees de vida na esperanccedila de serem beneficiaacuterios
enquanto cidadatildeos assentados das Poliacuteticas Puacuteblicas e financiamentos agriacutecolas
voltadas para a agricultura familiar como PRONAF PAA PNAE e PAPA-DF Vecircem
aiacute a possibilidade de emprego e renda situaccedilatildeo sonhada desde quando foram
pleitear a terra para reforma agraacuteria
Um olhar mais aprofundado sobre a anaacutelise de dados revela que natildeo importa o
fato de hoje residirem no DF pois como em qualquer lugar de origem os moradores
do assentamento Renascer vivenciam os mesmos problemas Percebe-se
claramente as dificuldades da inexistecircncia de escola no campo A distacircncia continua
impedindo o acesso os meios de transportes continuam precaacuterios os filhos
vivenciam a dificuldade de transferecircncia para a cidade na expectativa de
continuidade dos estudos as estradas rurais continuam esburacadas
Satildeo muitos os pontos em comum entre a situaccedilatildeo atual relatada e os problemas
vividos haacute deacutecadas em seus estados de origem o que deixa transparecer a absoluta
falta de interesse por parte do poder puacuteblico em garantir o direito constitucional agrave
educaccedilatildeo do povo do campo o que infelizmente continuaraacute deixando o triste
legado para o futuro do paiacutes
40
Repetimos a pergunta da inicial Cadecirc as escolas do campo Ateacute quando o paiacutes
vai viver essa situaccedilatildeo A anaacutelise de dados responde Natildeo eacute mais possiacutevel
continuar como estaacute
Todos os entrevistados pretendem alcanccedilar conhecimentos atraveacutes da escola do
campo implantada no Assentamento Renascer com objetivos de administrar a
propriedade participar ativamente do coletivo garantir renda fixa atraveacutes dos
programas de desenvolvimento da agricultura familiar
Os entrevistados unanimamente tecircm a preocupaccedilatildeo da manutenccedilatildeo dos laccedilos
familiares e das raiacutezes camponesas
A distacircncia entre a moradia e a escola fato relatado pela quase totalidade dos
entrevistados constitui um grande motivo de evasatildeo escolar de defasagem nas
seacuteries frequentadas de precariedade na aprendizagem em relaccedilatildeo aos demais
alunos A discriminaccedilatildeo alegada por muitos que frequentaram ou frequentam
escolas fora da faixa etaacuteria o vernaacuteculo proacuteprio dos sujeitos do campo as condiccedilotildees
precaacuterias da estrada que denunciam a condiccedilatildeo de assentado o sentimento de
inadequaccedilatildeo constituem fatores que determinam a evasatildeo escolar
Foram treze (13) entrevistados significando aproximadamente dez por cento
(10) dos moradores do Assentamento Renascer Desse total apenas dois (2)
entrevistados natildeo declararam dificuldade de distacircncia entre a moradia e a escola em
seus lugares de origem A maioria absoluta (11) pessoas declararam que a distacircncia
dificultava e impedia o acesso agrave escola Alguns relatos apresentam situaccedilotildees
precaacuterias para o homem do campo o assentado
Para o aluno do campo a distacircncia da escola tem o significado de inexistecircncia de
escola Isto porque as dificuldades de acesso satildeo enormes No caso em estudo
apenas um entrevistado declarou a inexistecircncia de escola em sua regiatildeo de
moradia Este poreacutem vivenciou todas as dificuldades de acesso que outros
assentados apresentaram em razatildeo da distacircncia moradiaescola
A falta de professores na escola rural eacute relatada por 11 dos 13 entrevistados A
distacircncia da escola para os professores dificulta segundo a vivecircncia dos
entrevistados o acesso agrave escola e a assiduidade o que muito desmotivava a
ambos
41
Os entrevistados conforme anaacutelise de dados desejam muito objetivamente a
implantaccedilatildeo imediata de escolas segundo os criteacuterios caracteriacutesticos de escola do
campo
- Trazer a realidade para dentro da escola do campo curriacuteculos voltados para o
cotidiano do aluno do campo onde as teacutecnicas agriacutecolas pecuaacuterias e agroecoloacutegicas
possam fazer parte do processo educativo da comunidade e que a escola tenha
uma gestatildeo coletiva democraacutetica com a participaccedilatildeo da comunidade
- Ter o trabalho como princiacutepio educativo A experiecircncia do aluno deve
harmonizar-se com os princiacutepios pistrakianos significar o trabalho de forma a que
ele apresente benefiacutecios para o proacuteprio indiviacuteduo para a comunidade na qual estaacute
inserido e para a sociedade e natildeo exclusivamente para servir ao capitalismo
-Superar a fragmentaccedilatildeo do conhecimento disciplinar A interdisciplinaridade
deve fazer parte dos objetivos educacionais de modo a promover a formaccedilatildeo
integral dos educandos
- Valorizar os saberes do homem do campo Os entrevistados desejam uma
escola onde possam exercitar sua vivecircncia campesina e a relaccedilatildeo dialoacutegica entre
professor-aluno seguindo a pedagogia de Paulo Freire o educando quer aprender
com o educador mas quer tambeacutem ter a oportunidade de transmitir seus saberes
- Promover espaccedilos de gestatildeo coletiva A proacutepria comunidade deve participar da
gestatildeo a elaboraccedilatildeo do PPP deve gerir o espaccedilo fiacutesico da escola para atividades
de interesse da comunidade ocupar espaccedilos para finalidades culturais esportivas
sociais tornando a escola um espaccedilo democraacutetico
- Garantir a presenccedila da comunidade e dos movimentos sociais que geram
processos que auxiliam a emancipaccedilatildeo social A escola deve tambeacutem ser espaccedilo
que auxilie a sustentabilidade e garanta a alimentaccedilatildeo saudaacutevel e recursos
fitoteraacutepicos em associaccedilatildeo com a comunidade
- Inclusatildeo tecnoloacutegica em todos os aspectos digital inovaccedilatildeo tecnoloacutegica
agropecuaacuteria recursos ambientais alternativos agua potaacutevel energia solar energia
eoacutelica fossa seacuteptica teacutecnicas de compostagem saneamento baacutesico cuidados com
os recursos hiacutedricos
A anaacutelise dos dados quando feita especificamente sobre a escola a ser
implantada pode aparentemente demonstrar uma pequena conexatildeo com as teorias
da escola do campo
42
A concepccedilatildeo da escola do campo natildeo pode ser imposta ela parte do princiacutepio
que os camponeses devem conquista-la Para essa conquista eacute necessaacuteria a
paixatildeo o desejo por algo ainda natildeo experimentado o amadurecimento poliacutetico-
social-pessoal a participaccedilatildeo coletiva na luta e na conquista
A trajetoacuteria de luta por educaccedilatildeo da comunidade Renascer apresenta estes
elementos agraves vezes difusos outras vezes mais claramente A escola bem que
poderia para alguns ser apenas uma escola rural Afinal aprender a ler e a
escrever ldquodireitordquo como alguns dizem ou seja deixar a condiccedilatildeo de analfabeto ou
analfabeto funcional para tornar-se letrado significaria avanccedilos em face das atuais
circunstacircncias Alguns entendem assim expressando-se principalmente nas
conversas informais
Apesar disso quando as respostas informais ou quando as respostas das
entrevistas satildeo analisadas mais profundamente identificamos que embora
difusamente todos desejam o programa educacional da escola do campo
Explicando melhor a participaccedilatildeo de todos da comunidade em todas as atividades
soacutecio-poliacuteticas-culturais (relatadas no terceiro capitulo) indicam que a comunidade
assimilou a postura soacutecio-politica-cultural que caracterizam a escola do campo
A vivecircncia do Assentamento Renascer no cotidiano e nos eventos coletivos
amadureceu o desejo pelo alimento intelectual cultural artiacutestico ambiental social
que a concepccedilatildeo de escola do campo introduz O programa educacional da Escola
do Campo ultrapassou as paredes fiacutesicas da escola e alcanccedilou o cotidiano dos
assentados
Os avanccedilos da conscientizaccedilatildeo e seu reflexo na vida do Assentamento Renascer
satildeo sentidos nos nuacutemeros de matriculados na LEdoC sete (7) alunos
aproximadamente dez (10) assentados prestaratildeo o proacuteximo vestibular trecircs (3)
assentados estatildeo matriculados no IFB dois(2) assentados estatildeo formados em
Teacutecnico Agropecuaacuterio tambeacutem pelo IFB um deles cursa o Tecnoacutelogo de
Agroecologia tambeacutem do IFB
Vale acrescentar que no iniacutecio de 2014 quando o IFB buscou no Assentamento
pessoas interessadas em matricular-se em seus cursos sob a condiccedilatildeo de
estudarem no ensino meacutedio o interesse foi grande e a impossibilidade pelo fato de
natildeo estarem habilitados no ensino fundamental provocou tanta discussatildeo que
estimulou essa pesquisa
43
O legado desses alunos futuros alunos e profissionais para o futuro do
Assentamento apresentaraacute resultados significativos para toda a comunidade O
futuro colheraacute bons frutos plantados agora
A escola que temos natildeo estaacute funcionando falta a renovaccedilatildeo do contrato o que
atrasa a alfabetizaccedilatildeo e conclusatildeo do 5ordm ano Falta a implantaccedilatildeo de poliacuteticas
puacuteblicas para atendimento de questotildees baacutesicas como por exemplo carteiras
quadro de giz iluminaccedilatildeo espaccedilo fiacutesico (dependecircncias para a escola) e mobiliaacuterio
-41-
44
Consideraccedilotildees Finais
A Educaccedilatildeo do campo eacute um movimento em que os trabalhadores do campo e
suas organizaccedilotildees lutam por transformaccedilotildees sociais particularmente a criaccedilatildeo de
escolas dono campo de qualidade a partir de uma perspectiva ampla de reforma
agraacuteria
A construccedilatildeo da educaccedilatildeo do campo eacute resultado do amadurecimento dos
movimentos sociais e das comunidades rurais em sua trajetoacuteria de luta pelo direito
fundamental agrave universalizaccedilatildeo escolar para as populaccedilotildees camponesas segundo
orientaccedilatildeo poliacutetico-pedagoacutegica adequada agrave realidade dos lutadores de
acampamentos e assentamentos em luta pela reforma agraacuteria e justiccedila social
Alguns princiacutepios caracterizam a luta pela escola do campo Dentre eles
podemos citar a criaccedilatildeo da consciecircncia do direito agrave educaccedilatildeo de qualidade plantada
na proacutepria comunidade o que provoca o enraizamento a valorizaccedilatildeo da vida no
campo a promoccedilatildeo da autoestima e a transformaccedilatildeo do ser alienado pela ideologia
e desigualdade social e sujeito de sua proacutepria histoacuteria
Outro princiacutepio eacute a adequaccedilatildeo de curriacuteculos agrave realidade camponesa de modo
a que o processo ensino-aprendizagem favoreccedila o amadurecimento de talentos
naturais o surgimento de oportunidades a niacutevel pessoal e social contribuindo para a
emancipaccedilatildeo poliacutetico-social do indiviacuteduo com reflexos na sociedade
A mudanccedila de paradigmas e o envolvimento social provocam a formaccedilatildeo integral
dos sujeitos que lutam de forma coletiva e solidaacuteria pela terra A escola do campo
que surge dessa mudanccedila eacute tambeacutem transformadora porque eacute fruto da luta
consciente que gera a reflexatildeo e o amadurecimento poliacutetico deixando um legado
positivo de cidadatildeos orgulhosos de sua condiccedilatildeo de lutador pela terra de sua
identidade de sua cultura de sua comunidade e coletividade
A escola do campo propicia aos alunos a reflexatildeo sobre o contexto social e a
problemaacutetica da comunidade em que estatildeo inseridos o respeito agrave individualidade a
ampliaccedilatildeo das potencialidades do aluno para organizar elaborar e atuar
coletivamente Deixam o legado futuro de homens responsaacuteveis mentes
independentes e atuantes que poderatildeo prestar serviccedilos significativos agrave sociedade
45
A comunidade assentada de o Assentamento Renascer pela Reforma
Agraacuteria em Sobradinho DF foi convidada a opinar sobre a escola que deseja a
partir da conquista da terra
O modelo proposto a partir de seu posicionamento possibilita a conclusatildeo
de que a escola do campo plantada na comunidade eacute preferiacutevel ao modelo
adotado atualmente de inserccedilatildeo dos alunos da comunidade agraves escolas urbanas
conter recursos materiais e humanos que propiciem bons resultados
pedagoacutegicos deve servir para fixar o trabalhador ao campo deve cumprir com o
propoacutesito constitucional de universalizaccedilatildeo do ensino para todas as faixas
etaacuterias deve estar identificada com os sonhos de prosperidade material e
realizaccedilatildeo pessoal dos assentados
-46-
46
Referecircncias Bibliograacuteficas
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FERRARI Marco ldquoAniacutesio Teixeira o inventor da escola puacuteblica no Brasilrdquo Revista Nova Escola Fundaccedilatildeo Victor Civita Revistaescolaabrilcombr acesso em 14092014 FERREIRA Fabiano de Jesus BRANDAtildeO Elias Canuto ndash Revista Eletrocircnica de Educaccedilatildeo Ano V N 09 juldez 2011p3 ldquoEducaccedilatildeo do campo um olhar histoacuterico uma realidade concreta rdquo (WWWUNIFILBR acesso em 08 de agosto de 2014) GONCcedilALVES Luiz Alberto Oliveira e Pinto Regina Pahim EDUCACcedilAtildeO SEacuteRIE JUSTICcedilA E DESENVOLVIMENTO IFP-FCC FUNDACcedilAtildeO CARLOS CHAGAS 2007 SAtildeO PAULO (pag206)
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OLIVEIRA Maria Rita Duarte em sua dissertaccedilatildeo ldquoDos programas oficiais para a educaccedilatildeo rural aos projetos de educaccedilatildeo do campo dos movimentos sociaisrdquo WWWrevistalaborufcbrartigovolume1maria-ritapdf acesso em 08-09-2014
OLIVEIRA Maria Rita Duarte PEDAGOGIA EM MARCHA Apud ARROYO Satildeo Paulo1995( pg 162)
OLIVEIRA Maria Rita Duarte Revistalabor ufcbracesso em 19-10-2014
________ citando CALAZ Maria Rita Duarte Oliveira
47
SANTOS Clarice Aparecida PROGRAMA NACIONAL DE EDUCACcedilAtildeO NA REFORMA AGRAacuteRIA in DICIONARIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia2012(pg630)
________ Clarice Aparecida PROGRAMA NACIONAL DE EDUCACcedilAtildeO NA REFORMA AGRAacuteRIA BRASIacuteLIA 2012 pg 631 in DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO SANTOS Claudio Felix Dos ldquoO aprender a aprender na formaccedilatildeo de professores do campordquo Campinas 2013 Editora Autores Associados ) SOUZA Maria Antocircnia Movimentos Sociais no Brasil Contemporacircneo participaccedilatildeo e possibilidades no contexto das praacuteticas democraacuteticas ndash (wwwcesucptlab2004pdfMariaAntonia Souzapdfaceso em 24-07-2014 -48-
48
Apecircndices
1 Roteiro das Entrevistas
a) Dados dos entrevistados
Qual o seu nome
Masculino ( ) Feminino ( )
Quantos anos vocecirc tecircm
A quanto tempo mora no
assentamento
Onde vocecirc morou antes
de morar no
assentamento
Quantos anos vocecirc tinha
quando foi a escola pela
primeira vez
Estou ateacute qual seacuterieano
Quantos anos vocecirc tinha
quando parou de estudar
Qual motivo motivou vocecirc
a parar de estudar
Se tiver escola no
assentamento vocecirc voltaraacute
a estudar Porque
B) Outras informaccedilotildees dados pelos entrevistadosas (GRAVAR)
a) Em qual escola vocecirc estudou no acampamento ou em outro lugar Qual
b) Como era a escola que estudou Quais as coisas boas e coisas ruins que
tinha nesta escola
c) Conte como eacutefoi a educaccedilatildeo do assentamento o que jaacute existiu de escola
como funcionou e quais eram as boas e as coisas ruins desta escola
d) Jaacute participou de alguma accedilatildeo de mobilizaccedilatildeo para ter escola no
assentamento Se sim explique para que e como foi essa mobilizaccedilatildeo
e) Na sua opiniatildeo no assentamento deve ter escola Por quecirc
f) Como deveraacute ser a escola da comunidadeassentamento Como eacute a escola
que queremos ter
49
b) Entrevistas semi-estruturadas
Entrevistado 01
Moro no assentamento Renascer haacute 11 anos Nasci Carnauacuteba no Rio Grande do
Norte fui criado na roccedila e desde pequeno trabalhava na lavoura para ajudar meu
pai Fui para escola com 9 anos de idade estudei ateacute a 5ordm seacuterie parei de estudar
com 17 anos natildeo continuei os estudos porque era muito longe de onde eu morva
que era na cidade mais proacutexima eu tinha que andar a peacute 8 km ficava muito
cansado Casei e vim morar em Brasiacutelia para trabalhar em uma chaacutecara como
caseiro Morava na chaacutecara Buritis em sobradinho- Df tambeacutem natildeo dei para
continuar os estudos porque ficava longe e tinha que ser a noite e natildeo tinha como ir
Se vier uma escola pra caacute eu ainda vou estudar para ter mais conhecimento para
plantar minha roccedila ir no banco pra ver se assino um empreacutestimo para melhorar
minha produccedilatildeo e saber fazer conta pra administrar minha parcela de terra
Qual o seu nome
Masculino ( X ) Feminino ( )
Quantos anos vocecirc
tecircm
57 anos
A quanto tempo
mora no assentamento
11 anos
Onde vocecirc morou
antes de morar no
assentamento
Carnauacuteba ndash RN
Chaacutecara Buritis nordm 10 Sobradinho DF
Quantos anos vocecirc
tinha quando foi a escola
pela primeira vez
8 anos
Estou ateacute qual
seacuterieano
5ordf seacuterie
Quantos anos vocecirc
tinha quando parou de
estudar
24 anos
Qual motivo
motivou vocecirc a parar de
estudar
Trabalhar para sustento da famiacutelia a
distacircncia entre a casa e a escola
Se tiver escola no
assentamento vocecirc voltaraacute
a estudar Porque
Sim ldquoSe tivesse escola do ensino
fundamental voltaria a estudar para tecirc
mais conhecimento para plantar minha roccedila
50
saber pesar saber contar vendecirc os produto e
comecirc
Entrevistado 02
Moro no assentamento renascer haacute 7 anos tenho 38 vim do interior do Cearaacute
Entrei na escola com 7 anos de idade estudei soacute a 5ordm seacuterie incompleta natildeo
continuei a estudar porque natildeo tinha escola a onde eu morava que era na roccedila e eu
tinha que ficar na casa dozotro (SIC) na cidade e eu natildeo gostava disso natildeo ai parei
com 16 anos de idade Mudamo (SIC) pra Brasiacutelia pra uma chaacutecara perto de Santa
Maria-DF e natildeo dei pra estudar porque casei e tinha que trabalhar muito para
susrentar a famiacutelia A gora moro no assentamento Renascer e sei que um dia vai ter
uma escola aqui e eu vou voltar a estudar porque meu sonho eacute ser veterinaacuterio e vou
der se deus quiser
Entrevistado 03
Tenho 58 anos moro no assentamento Renascer haacute 6 anos vim de Ceres-GO
comecei a estudar quando eu tinha 10 ano de idade estudei ateacute a 4ordf seria primaacuteria
(SIC) parei de estudar quando tinha 16 anos porque eu morava na roccedila e escola
ateacute que natildeo ficava muito longe natildeo era soacute 2 km dava pra ir a peacute a professora eacute que
faltava muito e a gente natildeo tinha como saber se ela tava ou natildeoAiacute quando eu tinha
18 anos casei e vim morar em Brasiacutelia e arranjei(SIC) emprego de caseira em uma
chaacutecara aiacute natildeo pra estudar a noite porque era muito longe pra laacute entatildeo eu natildeo
pensei mais nessas coisas Quando tiver escola no assentamento quero estudar
quiecirc pra mim (SIC) fazer curso de teacutecnico agriacutecolarsquorsquo
Entrevistado 04
Tenho 24 anos moro no assentamento Renascer tem 6 ano vim da Bahia morava
no Condomiacutenio RK entrei na escola com 7 anos de idade e estudei soacute ateacute a 6ordf seacuterie
parei com 18 anos de idade
Porque mudei pra caacute pro assentamento (SIC) e natildeo tem escola e natildeo tem como ir
pra Sobradinho a noite porque eacute muito longe tem que andar 5 km eacute pirigogo (SIC)
tem muita gente mal por aiacute tem ateacute estrupador natildeo posso me arriscar
ldquoSe tivesse escola aqui eu ia terminar meus estudos podia ser no galpatildeo mesmo
pra mim tava bom mas para os meus filhos eu queria uma escola boa com internet
e tudo Eu natildeo gosto que meus filhos estuda(SIC) na cidade soacute aceito porque eacute o
jeito gente de assentamento eacute muito zombado (SIC) porque as vezes chega suja
na escola e os outros acha que eles satildeo porcos que toma banhordquo
Entrevistado 05
51
Tenho 21 anos de idade moro no Renascer haacute trecircs anos vim de satildeo Gabriel-GO
comecei a estudar aos 7 anos parei com 18 anos porque minha matildee mudou
pro(SIC) matildee mudou pro (SIC) assentamento haacute 6 anos e eu natildeo aguento morar
longe dela Quando cheguei aqui natildeo teve como continuar os estudos porque
trabalho durante o dia como manicure em Sobradinho e o uacuteltimo ocircnibus que passa
perto do assentamento eacute as 5 horas da tarde entatildeo natildeo daacute para estudar a noite
Sim porque quero fazer um curso de cabelereiro quando tiver aacutegua e luz aqui eu
quero montar um salatildeo de beleza e para ser uma empresaacuteria precisa ter estudos pra
administrar o negoacutecio
Entrevistado 06
44 anos
6 anos
Formosa-GO
8 anos
5ordf seacuterie
24 anos
Porque a escola mais perto(SIC) era 10km de distacircncia e eu trabalhava na roccedila e
ficava muito cansado aiacute parei natildeo deu mais
Sim quando tiver escola aqui eu vou voltar a estudar Eu tinha um sonho de ser
agroacutenomo mas esse sonho eacute impussive(SIC) entatildeo queria concluir o ensino
fundamental para fazer um curso de teacutecnico agriacutecola no IFB mas tambeacutem eacute longe
se tivesse como estudar aqui no assentamento eu ia(SIC) ficar muito feliz
Entrevistado 07
57 anos
6 anos
Parnaiacuteba-PI- Santa Maria- DF
7 anos
4ordf seacuterie
21 anos
Parei porque era muito difiacutecil ir para escola que ficava muito longe eu tinha que sair
de casa as 4hs da madrugada para chegar na escola as 730 ia montado num
cavalo e muitas vezes natildeo tinha professora pra dar aula Parei porque natildeo aguentei
o rojatildeo tinha que minha matildee na lida a tarde e eu ficava muito cansado Vim pra
52
Brasiacutelia e casei fui trabalhar de chacareiro numa chaacutecara que tambeacutem era longe de
escola depois vim morar aqui no assentamento que natildeo tem escola
Se tivesse escola aqui eu ia voltar estudar soacute pra aprender a cuidar meior (SIC) da
terra e dos meus bichos e que fosse como uma escola agriacutecola
Entrevistado 08
Tenho 29 anos moro no assentamento Renascer haacute 2 anos sou educadora do
Pronera haacute 1 ano e 2 meses O Pronera eacute como um antidepressivo na vida de muita
gente o Pronera melhorou a minha vida e a vida dos meus alunos o desejo de
todos eacute que o Pronera continue crescendo em direccedilatildeo de uma educaccedilatildeo continuada
levando tambeacutem o ensino fundamental para os acampamentos e assentamentos da
Reforma Agraacuteria
-50-
Anexos
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Acampamento agrave beira da estrada ndash 2004
Construccedilatildeo da Sede do Movimento na atual aacuterea
54
Reuniatildeo semanal
Teatro de fantoches ndash brinquedoteca
55
Accedilatildeo da Pastoral da Crianccedila na brinquedoteca
Oficina de brinquedos reciclaacuteveis
56
Brinquedo confeccionado com materiais reciclaacuteveis na Brinquedoteca
57
58
59
60
Apresentaccedilatildeo teatral
61
Capacitaccedilatildeo em Economia Solidaacuteria
Formaccedilatildeo de multiplicadores da Economia Solidaacuteria
62
Capacitaccedilatildeo de Educadores Ambientais
63
Luta pela Reforma Agraacuteria e Soberania Alimentar
7
APRESENTACcedilAcircO
O presente trabalho de pesquisa eacute resultado da observaccedilatildeo presencial do
assentamento de Reforma Agraacuteria denominado Renascer ao longo de 11 (onze)
anos de convivecircncia Durante 5 (cinco) anos se estabeleceu um acampamento agraves
margens da rodovia DF 330 que liga Sobradinho ao Paranoaacute DF Apoacutes mobilizaccedilatildeo
dos acampados e negociaccedilatildeo com o poder puacuteblico (GDF Coleacutegio Agriacutecola de
Brasiacutelia atualmente Instituto Federal de Brasiacutelia EMBRAPA e intermediaccedilatildeo
puacuteblica) foi liberada uma aacuterea para o acampamento mudar de local e se estabelecer
onde atualmente estaacute situado (entre o Coacuterrego do Arrozal e o Coacuterrego do Meio)
Esta mudanccedila de local foi autorizada pelo governo e se concretizou em maio de
2009 Neste tempo a situaccedilatildeo do acampamento mudou para preacute-assentamento e
atualmente jaacute se encontra em situaccedilatildeo de Assentamento Rural
Durante todos esses anos foram realizados algumas atividades pedagoacutegicas
na comunidade tais como a implantaccedilatildeo de uma brinquedoteca com oficinas de
confecccedilatildeo de brinquedos para as crianccedilas acampadas utilizando materiais
reciclados uma biblioteca com livros e revistas usados obtidos atraveacutes de doaccedilatildeo de
vaacuterias pessoas simpatizantes da causa da Reforma Agraacuteria Aulas de alfabetizaccedilatildeo
de adultos no horaacuterio noturno pelo Programa Nacional de Educaccedilatildeo na Reforma
Agraacuteria (PRONERA) com recursos muito escassos mas eacute a educaccedilatildeo que nos
acompanha ateacute nos dias de hoje Atividades de arte-educaccedilatildeo para incentivos e
melhorias na interaccedilatildeo de crianccedilas e jovens exercitando a praacutetica de teatro projeccedilatildeo
de filmes recreativos e de novos conhecimentos para os moradores produccedilatildeo de
um documentaacuterio sobre a comunidade Renascer e a importacircncia da Reforma
Agraacuteria no Brasil denominado ldquoConquistar a terra Produzir o patildeordquo Com o apoio do
projeto audiovisual ndash UnB Planaltina
Para uma melhor compreensatildeo da pesquisa monograacutefica dividiu-se o texto
em capiacutetulos O Primeiro capiacutetulo aponta as opccedilotildees de pesquisa e os passos
metodoloacutegicos para sua realizaccedilatildeo No segundo capiacutetulo estudamos a transiccedilatildeo
entre a escola rural e a escola do campo O terceiro capiacutetulo relata a histoacuteria do
Assentamento Renascer e o quarto capiacutetulo relatamos o resultado da pesquisa de
campo evidenciando a Escola que temos e a Escola que queremos
8
Primeiro Capiacutetulo
As opccedilotildees da pesquisa e os passos metodoloacutegicos
O intuito deste trabalho eacute recuperar a trajetoacuteria de luta dos moradores do
assentamento Renascer pela educaccedilatildeo visando assegurar o direito agrave escola
identificando avanccedilos e limites encontrados nesta trajetoacuteria
Gostaria de manifestar minha satisfaccedilatildeo e agradecer a oportunidade de estar
estudando numa universidade puacuteblica em um curso com muita interfere com a minha
vivecircncia pessoal e de um alcance social muito importante para a transformaccedilatildeo que
nosso paiacutes necessita A desigualdade social ainda eacute muito grande no campo e na
cidade sendo bastante visiacutevel esta realidade
Sou nascida numa comunidade remota e isolada no sul do Maranhatildeo onde
nos meus primeiros anos de vida convivi em uma comunidade indiacutegena com minha
avoacute paterna comunidade de economia essencialmente extrativista principalmente
da quebra do coco babaccedilu o cultivo da mandioca para fazer farinha e da caccedila e
pesca Fiquei sem frequentar agrave escola ateacute os treze(13) anos de idade por natildeo existir
escola na comunidade Quando vim morar em Brasiacutelia e ingressei em uma escola
pela primeira vez sofri muita descriminaccedilatildeo por parte dos outros alunos devido
minha idade e a defasagem escolar Apesar de viver na cidade grande haacute bastante
tempo continuam vivas na minha alma o desejo de viver no campo Estou na luta
por um pedaccedilo de terra atraveacutes da Reforma Agraacuteria no assentamento Renascer
com o apoio do MATR- Movimento de Apoio ao Trabalhador Rural haacute onze(11)
anos atualmente estamos em fase de sermos assentados
Alguns anos atraacutes em 1992 cheguei a fazer um curso de formaccedilatildeo de
professores (Magisteacuterio) e me capacitei para trabalhar da 1ordf a 4ordf seacuterie do Ensino
Fundamental na eacutepoca Realizei alguns trabalhos nessa aacuterea mas natildeo exerci
profissionalmente esta atividade de forma regular
O tema Escola do Campo vem ao encontro a um anseio pessoal de poder
trabalhar com educaccedilatildeo voltada para a realidade vivida pelo cotidiano da populaccedilatildeo
realmente do campo A minha motivaccedilatildeo ao escolher este tema de pesquisa eacute de
9
poder de alguma forma contribuir para a troca de experiecircncia e conhecimentos entre
educandos e educadores melhorando minha capacitaccedilatildeo profissional e absorver
conhecimentos e orientaccedilotildees de professores (as) e companheiros (as) de estudo
Conforme o educador Paulo Freire dizia ningueacutem tem o conhecimento de tudo
e sempre eacute capaz de conhecer mais coisas que ainda natildeo conhece se assim o
desejar
O assentamento Renascer hoje conta com um total de 120 famiacutelias satildeo
11 (onze) anos de luta e perseveranccedila tem se manifestado se mobilizado
reivindicando oportunidades de obterem escola do campo para adquirirem
conhecimentos atraveacutes do estudo que lhes permita melhorar sua capacitaccedilatildeo para o
trabalho e consequentemente ampliar seus horizontes soacutecio- econocircmico e
culturalmente ou seja progredir atraveacutes dos seus estudos e trabalho que satildeo
direitos humanos universais
Sem a inclusatildeo do ensino fundamental para trabalhadores rurais a Educaccedilatildeo
de Jovens e Adultos (EJA) para o ensino do 6ordm ao 9ordm ano o que natildeo eacute nem um pouco
acessiacutevel agrave comunidade devido a inuacutemeras dificuldades como horaacuterio disponiacutevel
falta de transporte dentre outros fatores Fica impossiacutevel o acesso dessa
comunidade aos estudos oferecidos pelo Instituto Federal de Brasiacutelia (IFB) que fica
proacuteximo a esse assentamento O IFB oferece diversos cursos que interessam e
atendem agraves necessidades dos trabalhadores do campo Desta maneira a situaccedilatildeo
atual dos moradores do Assentamento Rural Renascer demostra discriminaccedilatildeo e
exclusatildeo social por parte do poder puacuteblico
Alguns cursos e projetos teacutecnico-pedagoacutegicos realizados por parceiros do
Movimento de Apoio ao Trabalhador Rural (MATR) Como a Fundaccedilatildeo Banco do
Brasil Funatura IFB Economia Solidaacuteria Novas Fronteiras da Cooperaccedilatildeo Rio Satildeo
Bartolomeu Vivo e UnB Essas parcerias acrescentaram melhorias agrave qualidade de
vida ao assentamento
A educaccedilatildeo que temos atraveacutes do Programa de Educaccedilatildeo na Reforma
Agraacuteria (PRONERA) revela que a importacircncia do programa na realidade do
assentamento durante determinado periacuteodo satisfez algumas necessidades
educacionais tirando muitas pessoas do analfabetismo
O que ocorre atualmente eacute que o Pronera natildeo estaacute funcionando no
momento por falta da renovaccedilatildeo do contrato estre o INCRA a UnB e o Movimento
10
Social MATR que vem atrasando o processo de alfabetizaccedilatildeo e conclusatildeo do
5ordm ano
Um olhar criacutetico sobre a escola que temos revela a necessidade de poliacuteticas
puacuteblicas como a implantaccedilatildeo de espaccedilos fiacutesicos contendo mobiliaacuterio escolar baacutesico
como carteiras quadro de giz e iluminaccedilatildeo adequada A observaccedilatildeo da atuaccedilatildeo do
Pronera na comunidade Renascer resultou nas seguintes observaccedilotildees
- inadequaccedilatildeo do local para realizaccedilatildeo das aulas que ateacute recentemente
funcionava de forma precaacuteria num barraco utilizado pela igreja catoacutelica o que
impossibilitava o funcionamento das aulas pois durante os eventos da igreja natildeo
tinha como realizar as atividades pedagoacutegicas
A reparaccedilatildeo dessa situaccedilatildeo de precariedade especiacutefica do assentamento
Renascer contribui para reverter a condiccedilatildeo de inferioridade dos assentados
As criacuteticas acima relacionadas satildeo positivas pois a uacutenica escola que o
acampamento teve no decorrer desses 11 (onze) anos foi o Pronera que pode
perfeitamente superar as dificuldades apontadas contribuindo com o trabalho do
educador (a) que acaba por acrescentar inuacutemeras responsabilidades que lhe natildeo
satildeo devidas ao ato de ensinar
A perseveranccedila na luta por uma escola do campo na comunidade Renascer
eacute essencial para evitar o que acontece na realidade do campo em niacutevel nacional
onde cerca de 24000 escolas brasileiras foram fechadas no meio rural
Segundo Erivam Hilaacuterio do setor de educaccedilatildeo do MST que afirma que o
fechamento dessas escolas tem sua loacutegica a intenccedilatildeo de pensar num campo sem
escola e consequentemente um campo sem cultura e sem gente
Refletinto sobre a educaccedilatildeo que queremos atraveacutes do Pronera ou outros
programas educacionais de ensino sentimos que eacute necessaacuterio uma concepccedilatildeo da
educaccedilatildeo ampla que propicia alimento intelectual moral artiacutestico e um
posicionamento criacutetico no processo social e poliacutetico tanto em niacutevel regional
nacional e universal Constitui ferramenta essencial para a formaccedilatildeo de nossa
personalidade e para a emancipaccedilatildeo da sociedade em relaccedilatildeo agrave opressatildeo e
injusticcedila
As expectativas e lutas das famiacutelias do assentamento Renascer estatildeo
alicerccediladas em parcerias junto a entidades do poder puacuteblico exemplo INCRA UnB
11
e Movimentos Sociais do campo para colocar em praacutetica uma educaccedilatildeo que seja
eficaz para a Comunidade Renascer
Acredito que cada comunidade possui uma realidade um contexto muito
proacuteprio particular diferenciada de outra comunidade qualquer Os anseios as
necessidades os fatores culturais econocircmicos entre outros fatores satildeo diferentes
de lugar para lugar
A pedagogia e os meacutetodos a serem realizados em cada local deveriam ser
colocados em praacutetica somente apoacutes a comunidade local ser mobilizada e participar
ativamente na elaboraccedilatildeo deste plano de trabalho pedagoacutegico contribuindo com
ideias e vivecircncias Desta maneira a educaccedilatildeo estaria a serviccedilo do bem coletivo e
natildeo privilegiaria alguns em prejuiacutezo da coletividade A educaccedilatildeo eacute uma importante
ferramenta para o desenvolvimento de uma economia solidaacuteria e socialmente justa
politicamente livre dos espoliadores que historicamente persistem em oprimir a
maioria dos povos privando-os de seus direitos
Na maioria das escolas existentes no campo que natildeo atendem a todos mas
a uma determinada parcela da populaccedilatildeo regional a pedagogia adotada eacute
planejada formulada empacotada e imposta aos camponeses por ldquopedagogo de
gabineterdquo que vivem nas grandes cidades e natildeo respeitam os valores e realidades
regionais e locais de cada comunidade
Eacute claro que existem exceccedilotildees de trabalhos pedagoacutegicos muito bons Eacute o caso
de quando ocorre uma interaccedilatildeo entre a comunidade local e os educadores que
estatildeo ali para contribuir por uma educaccedilatildeo construiacuteda a partir da participaccedilatildeo
popular e democraacutetica na criaccedilatildeo e produccedilatildeo do processo educativo
A pesquisa seraacute fundamentada pela investigaccedilatildeo teoacuterica sobre o tema de
implantaccedilatildeo de salas de aula de ensino fundamental para trabalhadores rurais
adultos em comunidades que lutam pela reforma agraacuteria Para entender-se o
problema eacute necessaacuterio apontar a fundamentaccedilatildeo teoacuterica
A fundamentaccedilatildeo de diversas correntes de opiniatildeo eacute importante para o nosso
proacuteprio esclarecimento e para a busca conjunta com os interessados sobre qual o
melhor modelo pedagoacutegico a ser implantado na sala de aula da comunidade
A fundamentaccedilatildeo teoacuterica como satildeo vaacuterias as teorias existentes seratildeo
expostas algumas como Territoacuterios Educativos na Educaccedilatildeo do Campordquo ldquopor uma
Educaccedilatildeo do Campordquo ldquoTeoria e Praacutetica Pedagoacutegica da educaccedilatildeo do Campordquo
12
rdquoPesquisa Social e accedilatildeo Pedagoacutegicardquo rdquoEtnografia e Praacutetica Escolarrdquo ldquoMetodologia
do tralho Cientiacuteficordquo e trabalhos monograacuteficos de ex-alunos do curso da LEdoC
A metodologia utilizada a pesquisa qualitativa com estudo de caso e estudo
bibliograacutefico
O estudo teve como instrumento de pesquisa a aplicaccedilatildeo de entrevista semi-
estruturada com pessoas da comunidade Renascer quando seraacute identificada sua
participaccedilatildeo e contribuiccedilatildeo para educaccedilatildeo na comunidade e sobre seu entendimento
sobre que tipo de escola do campo que a comunidade requerem relevantes para o
objetivo da pesquisa
O trabalho de campo foi para buscar informaccedilotildees atraveacutes da fala dos sujeitos
que foram ouvidos conforme citado anteriormente bem como de material que
poderaacute contribuir para o trabalho da pesquisa
A pesquisa bibliograacutefica abordou o aprofundamento teoacuterico sobre o tema
para anaacutelise da realidade da educaccedilatildeo do campo para melhor entender a situaccedilatildeo
em que o assentamento se encontra na luta pela escola
-11-
13
Segundo Capiacutetulo
Da escola rural agrave escola do campo histoacuterico das lutas e
concepccedilotildees da educaccedilatildeo
21 A Escola Rural no Brasil
Conforme Ferreira e Brandatildeo (2011) a trajetoacuteria da escola rural brasileira
deve ser contextualizada historicamente segundo o modelo socioeconocircmico
implantado no paiacutes desde o iniacutecio do processo colonizador ateacute o momento presente
Para os autores desde os primoacuterdios do processo de colonizaccedilatildeo o paiacutes foi
entendido apenas como uma colocircnia de exploraccedilatildeo devendo portanto remeter agrave
metroacutepole suas riquezas naturais do solo do subsolo dando segmento aos ciclos
econocircmicos denominados de colonial ciclo do pau brasil da cana de accediluacutecar do
ouro do cafeacute (FERREIRA amp BRANDAtildeO 2011 p3)
A base social do paiacutes eacute formada pelos nativos (iacutendios ndash expulsos
massacrados e exterminados) os africanos e os imigrantes pobres vindos da
Europa e do oriente Foi segundo os mesmos autores esta mesma base social que
formou a matildeo de obra imprescindiacutevel para a implantaccedilatildeo do projeto colonial e do
periacuteodo imperial
A aboliccedilatildeo da escravatura em 1888 e o consequente abandono da populaccedilatildeo
negra desprovida de qualquer indenizaccedilatildeo ou bens materiais particularmente terra
teve como consequecircncia o ecircxodo rural e o desprezo pela atividade agriacutecola
associada agrave escravatura
Em sua experiecircncia histoacuterica como repuacuteblica o tradicional modelo
socioeconocircmico adotado no Brasil perdurou
Ao longo da histoacuteria do Brasil o processo de exclusatildeo social e tambeacutem poliacutetico econocircmico e cultural sempre estiveram presentes e eram tidos como algo ldquonaturalrdquo Ainda nos dias atuais fazer uma referencia a este processo de exclusatildeo natildeo leva a um debate tranquilo a resistecircncia ainda eacute forte por parte da sociedade neoliberal principalmente por aqueles que ainda se beneficiam com
a exclusatildeo socialrdquo (FERREIRA 2011 pag 3)
Com relaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo o que se percebe eacute conforme Ferreira (2011)
14
que o modelo de educaccedilatildeo praticado no Brasil pelos diferentes governos entre o iniacutecio do Impeacuterio (1822) ateacute meados do seacuteculo XX era uma educaccedilatildeo para a elite econocircmica e intelectual em prejuiacutezo direto e indiscriminado dos pobres negros e iacutendios Inclusive a primeira Lei ainda no periacuteodo imperial quando se reporta agrave educaccedilatildeo natildeo se ateve agraves especificidades diretas da zona rural onde a populaccedilatildeo brasileira viviardquo (FERREIRA 2011 p4)
Clauacutedio Santos (2013) afirma que a educaccedilatildeo destinada aos habitantes do
campo no inicio do seacuteculo XX entendia que ldquoa formaccedilatildeo das jovens geraccedilotildees ou dos
adultos no espaccedilo rural era tida como algo menor ou desnecessaacuteriordquo (p 47) Para o
autor a maioria de residentes no campo ( 75) natildeo foi pensado um modelo
educacional que contemplasse as necessidades dos residentes no campo o que a
histoacuteria do Brasil nos ensina eacute que o regime republicano manteve os grandes
latifuacutendios e a oligarquia rural alijando a maior parcela da populaccedilatildeo rural de
qualquer benefiacutecio do sistema poliacutetico-econocircmico
A organizaccedilatildeo escolar rural no Brasil embora tiacutemida pode ser localizada a
partir do primeiro governo republicano o do marechal Deodoro da Fonseca (1889-
1891) estando a cargo do Ministeacuterio da Agricultura Comeacutercio e Induacutestria O ecircxodo
da populaccedilatildeo rural para os incipientes centros urbanos em busca dos empregos
promovidos pela igualmente incipiente industrializaccedilatildeo evidenciava as mazelas dos
sujeitos do campo 75 da populaccedilatildeo brasileira era analfabeta igual nuacutemero da
populaccedilatildeo do campo
Somente a partir de 1920 tem-se efetivamente o primeiro movimento em
defesa da educaccedilatildeo da populaccedilatildeo rural conhecido como Ruralismo Pedagoacutegico
(SANTOS 2013) que foi um movimento dos educadores poliacuteticos e intelectuais
elaborando formas de accedilatildeo pedagoacutegicas adequados agrave dominacircncia poliacutetico-
econocircmica da oligarquia rural
Para o autor o ruralismo pedagoacutegico
defendia uma escola integrada agraves condiccedilotildees locais para promover a fixaccedilatildeo do homem do campo estava ligado agrave modernizaccedilatildeo do campo brasileiro e contava com o apoio dos latifundiaacuterios temerosos de perder sua matildeo de obra bem como de uma elite urbana preocupada com os resultados negativos de uma migraccedilatildeo
camponesa para a cidade (SANTOS2013p48)
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Uma caracteriacutestica do ruralismo pedagoacutegico foi buscar adequar a educaccedilatildeo
rural para fixar o homem no campo para diminuir o processo de urbanizaccedilatildeo e
consequente ecircxodo rural que modificava a estrutura econocircmico e social do paiacutes
Relativo agrave educaccedilatildeo rural da primeira metade do seacuteculo XX nos ensina
Santos (2013 p48) que ldquoem 1933 inicia-se a campanha de alfabetizaccedilatildeo na zona
rural Em 1935 ocorre o I Congresso Nacional do Ensino Regional que contribui
para a fundaccedilatildeo da Sociedade Brasileira de Educaccedilatildeo Rural no ano de 1937rdquo
Nos anos de 1920 foi criado o movimento conhecido como Escola Nova por
intelectuais e pensadores brasileiros que valorizaram a pesquisa educacional e a
inserccedilatildeo da escola como uacutenico meio de se combater as desigualdades sociais num
ambiente de crescente industrializaccedilatildeo e urbanizaccedilatildeo (SANTOS 2013) Estes
educadores como Aniacutesio Teixeira Fernando de Azevedo Lourenccedilo Filho dentre
outros defenderam atraveacutes do Manifesto da Escola Nova (1932) a universalizaccedilatildeo
da escola puacuteblica laica e gratuita
A influecircncia deste movimento sobre a educaccedilatildeo brasileira fez-se sentir nas geraccedilotildees futuras de educadores e pesquisadores como Darcy Ribeiro e Florestan Fernandes A atuaccedilatildeo desses pioneiros se estendeu por deacutecadas muitas vezes criticada pelos defensores da escola particular e religiosa (FERRARI 2014p43)
Poreacutem as propostas do Manifesto natildeo tiveram impactos concretos e natildeo
foram incorporados pela escola Ferraro (2012) esclarece que
A educaccedilatildeo rural no Brasil soacute se tornou objeto de interesse do Estado no momento em que todas as atenccedilotildees e esperanccedilas se voltavam para o urbano e a ecircnfase passava a recair sobre o desenvolvimento industrial Quando os interesses do latifuacutendio dominavam tanto a economia como a poliacutetica a alfabetizaccedilatildeo das massas camponesas era vista como seacuteria ameaccedila agrave ordem vigente Quando o paiacutes jaacute avanccedila no processo de industrializaccedilatildeo e se torna predominantemente urbano eacute a proacutepria cidade que passa a reivindicar a alfabetizaccedilatildeo das populaccedilotildees do campo Passa entatildeo a contrariar os interesses da cidade continua (FERRARO 2012p964)
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A industrializaccedilatildeo ocorreu nas cidades e atraiu grandes levas de
trabalhadores do campo seduzidos pelo ideal de transformaccedilatildeo de vida acesso agrave
escolarizaccedilatildeo empregos bem remunerados ideais que levam ao ecircxodo rural hoje
ou naquele momento histoacuterico A realidade do trabalhador do campo receacutem
chegado agrave cidade era do ponto de vista educacional precariacutessima pois em sua
maioria eram analfabetos ou com baixa escolarizaccedilatildeo Essa condiccedilatildeo impedia o
acesso ao emprego industrial urbano e agrave boa qualidade de vida que uma boa
remuneraccedilatildeo podia proporcionar
As cidades sofreram crescimento raacutepido desgovernado formando periferias
que abrigavam a maioria da populaccedilatildeo egressa do campo O subemprego e o
desemprego desestabilizavam as populaccedilotildees das cidades e geravam desequiliacutebrios
sociais e econocircmicos comprometendo a qualidade de vida de todos os moradores
Eacute o ciacuterculo vicioso da desigualdade da exclusatildeo e da violecircncia que a educaccedilatildeo
pode romper A educaccedilatildeo tem entatildeo o propoacutesito de formar trabalhadores para a
induacutestria urbana
Na Constituiccedilatildeo de 1934 para com a educaccedilatildeo rural destaca-se o Art 156 conforme podemos ver abaixo
A Uniatildeo e os Municiacutepios aplicaratildeo nunca menos de dez por cento e os Estados e o Distrito Federal nunca menos de vinte por cento da renda resultante dos impostos na manutenccedilatildeo e no desenvolvimento dos sistemas educativos Paraacutegrafo uacutenico ndash Para a realizaccedilatildeo do ensino nas zonas rurais a Uniatildeo reservaraacute no miacutenimo vinte por cento das cotas destinadas agrave educaccedilatildeo no respectivo orccedilamento anual
Na constituiccedilatildeo Federal de 1937 a educaccedilatildeo rural natildeo eacute citada A prioridade eacute
a educaccedilatildeo dos moradores urbanos Neste periacuteodo conforme Ferreira (2011) ldquoa
orientaccedilatildeo poliacutetico educacional para o mundo capitalista fica bem expliacutecita
sugerindo a preparaccedilatildeo de um maior contingente de matildeo de obra para as novas
atividades abertas pelo mercado ndash a industrializaccedilatildeordquo ( pg 32)
Ainda segundo o autor este afirma que em 1935 ocorreu o I Congresso
Nacional do Ensino Regional que assume como objetivo propagar a educaccedilatildeo rural
e elaborar os planos de educaccedilatildeo Esses planos recomendavam escolas rurais
ambulantes nas regiotildees de menor densidade geograacutefica
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O periacuteodo conhecido como Estado Novo (1937-1945) tentava implantar uma
poliacutetica educacional de cunho nacionalista tornando a educaccedilatildeo um instrumento do
estado servindo aos seus interesses
Os adultos analfabetos particularmente no meio rural tiveram atenccedilatildeo da
Campanha Nacional de Educaccedilatildeo Rural (CNER) de 1952 a 1963 cujo objetivo era
contribuir para a inserccedilatildeo do homem do campo O CNER atuou atraveacutes de missotildees
internacionais dos Estados Unidos voltadas agrave educaccedilatildeo ao treinamento de
professores e agrave preparaccedilatildeo dos jovens do meio rural pelo ensino profissional
agriacutecola Agrave atividade do CNER podemos agregar a accedilatildeo da Comissatildeo Brasileiro-
Americana de Educaccedilatildeo das Populaccedilotildees Rurais (CBAR) que celebrou acordos entre
esses dois paiacuteses visando a educaccedilatildeo rural orientada para o emprego de teacutecnicas
agriacutecolas (OLIVEIRA 1999 p 133)
A educaccedilatildeo rural eacute chamada para se ajustar agraves poliacuteticas educacionais estabelecidas pelo projeto do estado A educaccedilatildeo rural em primeiro lugar apesar de numerosos programas desenvolvidos sempre representou uma fatia muito pequena e marginal nas preocupaccedilotildees do setor puacuteblico (OLIVEIRA p apud CALAZANS1981p162)
A educaccedilatildeo rural ocupou e ainda ocupa pequeno espaccedilo no universo
educacional brasileiro As escolas apresentam dificuldades para se manterem no
campo Conforme o Jornal Sem Terra nordm 46 jun2011 24000 escolas do campo
foram fechadas no Brasil As instalaccedilotildees o curriacuteculo a carecircncia de professores o
transporte escolar formam muitas vezes uma barreira quase imponiacutevel para uma
ampla gama de alunos particularmente das uacuteltimas seacuteries do ensino fundamental e
do ensino meacutedio
Os programas implantados nos uacuteltimos anos como o PRONERA e o EJA
apresentam soluccedilotildees e alcanccedilam grandes resultados mas podemos questionar os
resultados entre os estados O Rio Grande do Sul (que atendeu alunos do ensino
baacutesico ateacute o ensino superior) em comparaccedilatildeo com outros estados e o Distrito
Federal conseguiu excelentes resultados No DF falta alcanccedilar melhores
resultados Podemos questionar se os resultados satildeo adequados pois por exemplo
no assentamento Renascer o Pronera natildeo vai aleacutem do quinto ano Eacute necessaacuterio
uma poliacutetica educacional que leve em conta a realidade dos alunos do campo
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invista recursos materiais e humanos modernizem as escolas e propiciem o acesso
dos alunos
Conforme nos explica Sousa 2004 em seu artigo lsquodiscursos intolerantes o
lugar da politica na educaccedilatildeo rural e a representaccedilatildeo do camponecircs analfabeto
No Brasil a trajetoacuteria da educaccedilatildeo rural inclui-se na dinacircmica de modernizaccedilatildeo do campo assumindo um papel decisivo no processo de expropriaccedilatildeo proletarizaccedilatildeo e controle dos trabalhadores rurais A modernizaccedilatildeo da produccedilatildeo no nordeste brasileiro por exemplo incentivou o processo de sindicalizaccedilatildeo em massa dos trabalhadores das zonas canavieiras estimulou reivindicaccedilotildees no campo do trabalho ligadas agrave aplicaccedilatildeo do Estatuto do Trabalhador Rural e contraditoriamente fez emergir as manifestaccedilotildees pela distribuiccedilatildeo de terras encampadas pelas Ligas Camponesas ( SOUSA2004 p4)
O projeto de modernizaccedilatildeo do campo ocorreu sem que houvesse a
emancipaccedilatildeo dos trabalhadores rurais Na verdade ocorreu a proletarizaccedilatildeo dos
trabalhadores rurais pela acumulaccedilatildeo de terras em matildeos de apenas poucos
proprietaacuterios (latifundiaacuterios) Esse acontecimento revela que apenas em processo
consciente e contiacutenuo de lutas organizados e unidos os trabalhadores rurais
poderatildeo conquistar terras e meios para sua produccedilatildeo
O estudo da organizaccedilatildeo dos trabalhadores rurais eacute importante porque eacute a
partir dela que outras grandes reivindicaccedilotildees satildeo conquistadas No caso da
presente pesquisa pode-se observar que foi a organizaccedilatildeo dos trabalhadores em
torno de suas causas a reforma agraacuteria que levou agrave luta pelas outras reivindicaccedilotildees
como a educaccedilatildeo no campo
O proacuteximo capiacutetulo deste trabalho monograacutefico aborda a questatildeo das
manifestaccedilotildees e resistecircncias dos camponeses pela educaccedilatildeo e pela reforma
agraacuteria
-16-
22 Trajetoacuteria de luta pela Educaccedilatildeo do Campo
A luta pela educaccedilatildeo do campo esteve sempre associada agrave luta pela reforma
agraacuteria e pela conquista de direitos para os trabalhadores rurais O Movimento das
19
Ligas Camponesas lutou pela emancipaccedilatildeo do trabalhador rural e da reforma agraacuteria
e em seu projeto educacional estavam baseados nos ideais de Paulo Freire e do
Movimento de Educaccedilatildeo de Base (MEB)
Para explicar a reaccedilatildeo das classes populares agraves imposiccedilotildees do governo
brasileiro e das classes dominantes Oliveira (1995 apud ARROYO)
A histoacuteria das lutas entre as classes sociais natildeo se limitam agrave luta pelo poder mas se constituem impulsionadoras da histoacuteria da humanidade que natildeo aguardam passivamente seu destino mas ao contraacuterio articulam-se em torno de suas lutas para garantir seus direitos sua dignidade e sua participaccedilatildeo democraacutetica na sociedade( OLIVEIRA apud ARROYO1995p 80)
Neste sentido as Ligas Camponesas lutaram praticamente em todo o
territoacuterio nacional contra a tentativa de expulsatildeo dos trabalhadores rurais das terras
Os conflitos armados particularmente no Nordeste exigiam participaccedilatildeo poliacutetica e
direitos essenciais como a educaccedilatildeo do campo
O meacutetodo de alfabetizaccedilatildeo criado por Paulo Freire foi amplamente utilizado
pelas Ligas Camponesas e em sua concepccedilatildeo ampla de escola serviu de subsidio
para a compreensatildeo do camponecircs acerca de seu papel social (TOLEDO Caio
Navarro 2004 p6)
Neste contexto surge a Pedagogia do Oprimido de Paulo Freire Segundo
SANTOS (2013 apud Paulo Freire 1987) afirma que a pedagogia do oprimido
configura-se como
Aquela que tem de ser forjada com ele (o oprimido) e natildeo para ele enquanto homens ou povos na luta incessante de recuperaccedilatildeo de sua humanidade Pedagogia que faccedila da opressatildeo e de suas causas objeto de reflexatildeo dos oprimidos de que resultaraacute o seu engajamento necessaacuterio na luta por sua libertaccedilatildeo em que esta pedagogia se faraacute e refaraacuterdquo (FREIRE 1987 p32)
A pedagogia do oprimido serve de referecircncia para o trabalhador rural que luta
pela emancipaccedilatildeo de sua condiccedilatildeo de proletaacuterio atraveacutes da reforma agraacuteria A
pedagogia do oprimido leva o homem ao encontro de si mesmo ao reconhecimento
da grandeza de seu trabalho ao potencial de suas accedilotildees cotidianas que fazem a
diferenccedila A capacidade de reflexatildeo e o entendimento de sua potencialidade pode
leva-lo agrave sua plena realizaccedilatildeo como indiviacuteduo e como ser social
20
A reaccedilatildeo do governo contra o movimento de educaccedilatildeo popular proposto por
Freire e assumido pelo Movimento das Ligas Camponesas e pelo Movimento de
Educaccedilatildeo de Base (MEB) gerou repressatildeo e resposta da ditadura civil-militar como
o Movimento Brasileiro de Alfabetizaccedilatildeo (MOBRAL)
A luta dos movimentos sociais e sindicais pela educaccedilatildeo do campo parte das
forccedilas internas dos movimentos e alcanccedila a setores sociais religiosos ideoloacutegicos
que passam a contribuir efetivamente para o alcance do direito agrave educaccedilatildeo aos
camponeses
A Comissatildeo Pastoral da Terra (CPT) presente ao lado dos trabalhadores (as)
rurais indiacutegenas ribeirinhos pescadores e quilombolas tambeacutem contribuiu e
contribui para a formaccedilatildeo criacutetica a defesa de formas sustentaacuteveis de utilizaccedilatildeo de
recursos naturais e produccedilatildeo e para a alfabetizaccedilatildeo segundo o meacutetodo de Paulo
Freire (CANUTO 2012 p 131)
Na atualidade estaacute em desenvolvimento um movimento que luta pela educaccedilatildeo do homem do campo organizado por vaacuterias entidades dentre elas o MST Trata-se de um processo que teve inicio em meados dos anos de 1990 impulsionados pela necessidade da educaccedilatildeo de jovens e adultos das aacutereas de assentamentos rurais Foi organizado um Programa Nacional para Educaccedilatildeo na Reforma Agraacuteria composto por atores tais como movimentos sociais universidades e governo federal aleacutem de outros parceiros (Alas da Igreja Sindicatos Organizaccedilatildeo Natildeo-Governamental ONG) existentes nas diferentes regiotildees do Brasil( SOUSA2004 p 32)
A trajetoacuteria de conquista das escolas do campo particularmente as escolas
do campo criadas pelo MST a partir da deacutecada de 1990 foi marcada pela conquista
e implantaccedilatildeo da Educaccedilatildeo Fundamental para crianccedilas e adolescentes dos
acampamentosassentamentos de acordo com o projeto politico-pedagoacutegico fruto do
amadurecimento do movimento
Focou-se a alfabetizaccedilatildeo de jovens e adultos e as lutas pela implantaccedilatildeo do
ensino meacutedio com cursos alternativos para a formaccedilatildeo de professores e teacutecnicos de
niacutevel meacutedio e tambeacutem de cursos superiores
A concepccedilatildeo de escolas de ensino fundamental plantadas em assentamentos
prevecirc a instalaccedilatildeo da escola na proacutepria comunidade evitando com isso o uso de
transporte escolar e a frequecircncia dos alunos Sem Terra em escolas fora do
assentamento
21
Esta atitude de resistecircncia foi fundamental para a conquista da escola nas
terras conquistadas e tambeacutem foi fundamental para universalizar o ensino enraizar
o aluno em sua comunidade e criar a consciecircncia do direito agrave educaccedilatildeo
ldquoincomodandordquo o Estado para garantir o cumprimento das poliacuteticas puacuteblicas
Kolling Vargas e Caldart (2012p502) nos ensinam ldquotoda vez que se
conquista uma escola de educaccedilatildeo baacutesica em um assentamento ou acampamento
ela representa menos adolescentes e jovens do campo fora da escola e mais gente
enraizada em seu proacuteprio lugarrdquo (pag 502)
Os movimentos sociais e sindicais pela educaccedilatildeo do campo indicam o grau
de maturidade desses em sua luta pela reforma agraacuteria Agrave essa luta soma-se o
projeto de desenvolvimento do paiacutes baseado na justiccedila social e o combate agraves
tradicionais formas utilizadas pelas elites urbanas ou rurais de alienaccedilatildeo pela
expropriaccedilatildeo do trabalho e pelo controle dos meios que levam agrave emancipaccedilatildeo
sociocultural e agrave verdadeira humanizaccedilatildeo papel destinado agrave educaccedilatildeo
Neste sentido movimentos sociais como o MST inserem a educaccedilatildeo
baseada em princiacutepios pedagoacutegicos que se distinguem da escola tradicional
Numa perspectiva histoacuterica os movimentos sociais do campo como por
exemplo o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) tiveram inicialmente
como bandeira de luta a luta pela terra pela Reforma Agraacuteria natildeo fazendo uma
relaccedilatildeo entre essa luta e a educaccedilatildeo
A formaccedilatildeo de escolas do campo pelo MST natildeo foi resultado da consciecircncia e
importacircncia da escola para a promoccedilatildeo da educaccedilatildeo em seu meio Foi na verdade
a necessidade de oferecer aos filhos dos primeiros lutadores a oportunidade de
uma perspectiva melhor de futuro atraveacutes do direito agrave educaccedilatildeo Foi tambeacutem a
necessidade de ldquotransformar instituiccedilotildees histoacutericas como a escola em lugares que
ajudem a formar os sujeitos destas transformaccedilotildeesrdquo (CALDART2012 p94)
Desse modo houve primeiro a ldquoocupaccedilatildeo da escolardquo pela mobilizaccedilatildeo e pela
accedilatildeo para garantir que em acampamentos ou assentamentos conquistados
houvesse uma escola que ldquofizesse a diferenccedila ou tivesse realmente sentido em sua
vida presente e futura (preocupaccedilatildeo com os filhos)rdquo (CALDART2012 p91)
Num segundo momento da luta observa-se intencionalidade da luta pela
escola mas com proposta pedagoacutegica especiacutefica ldquocombinando processos de
22
escolarizaccedilatildeo e de formaccedilatildeo da militacircncia e da base social Sem Terrardquo
(CALDART2012 p92)
As experiecircncias de pensar escolas como polos regionais entre assentamentos e com estudantes de outras comunidades de camponeses aos poucos vatildeo educando o olhar dos trabalhadores Sem Terra para uma realidade mais ampla Foi assim que o MST chegou agrave EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO (KOLLING Vargas e Caldart 2012 p 502)
A escola dentro dessa perspectiva de mudanccedila e envolvimento social eacute
parte da luta pela reforma agraacuteria daacute significado a ela pois proporciona a formaccedilatildeo
integral dos sujeitos que lutam pela terra
Essa escola possibilita a reflexatildeo trava o diaacutelogo com as propostas de
educaccedilatildeo popular de Paulo Freire e busca superar as dificuldades imensas que
assentados e acampados vivem no dia a dia
A escola tambeacutem revela a cultura o orgulho e criaccedilatildeo da identidade na luta
por terra Nesse sentido
A heranccedila que o MST deixaraacute para seus descendentes seraacute bem mais do que a terra que conseguir libertar do latifuacutendio seraacute um jeito de ser humano e de tomar posiccedilatildeo diante das questotildees de seu tempo seratildeo os valores que fortalecem e datildeo identidade aos lutadores do povo de todos os tempos de todos os lugares Eacute enquanto produto humano de uma obra educativa que os Sem Terra podem ser vistos como mais um elo que se forma em uma longa tradiccedilatildeo de lutadores sociais que fazem a histoacuteria da humanidade Enraizamento no passado e projeto de futuro (CALDART 2012 p 96)
A educaccedilatildeo proposta pelo movimento gera o sentimento de pertencimento e
desperta o sentimento de respeito agrave coletividade valoriza o trabalho a gestatildeo
democraacutetica e desburocratizada da escola
SANTOS (2013 p71) esclarece que pelo projeto educacional do MST a
educaccedilatildeo proposta estaacute pautada em ldquovalores socialistas e humanistas tais como o
coletivismo o trabalho socialmente uacutetil a organizaccedilatildeo e auto-organizaccedilatildeo dos
estudantes e professoresrdquo (p71)
-21-
23
221 Concepccedilatildeo Pedagoacutegica da Educaccedilatildeo do Campo
No acircmbito da educaccedilatildeo do homem do campo tornar o homem sujeito e natildeo
objeto do saber leva a entender que o conhecimento do camponecircs pode dialogar
com as praacuteticas baseadas no conhecimento cientiacutefico desde que seja perseguido o
ideal de trabalhadores e educadores do campo comprometidos com as lutas sociais
de formar o homem ldquodordquo campo e ldquono campordquo
Conforme Kolling Cerioli e Caldart (2002 p 264) ldquoo povo tem direito a uma
educaccedilatildeo pensada desde o seu lugar e com sua participaccedilatildeo vinculada agrave sua
cultura e agraves suas necessidades humanas e sociaisrdquo ndash(Caldart Educaccedilatildeo do Campo
2012 p 264
Tal compreensatildeo se ainda hoje causa oposiccedilatildeo ateacute mesmo no ambiente
acadecircmico imagine-se naquele momento histoacuterico de profunda repressatildeo poliacutetica e
ideoloacutegica aos movimentos sociais de camponeses por terra e educaccedilatildeo Como nos
ensina Molina e Saacute (DICIONAacuteRIO da Educaccedilatildeo do Campo p 324)
A concepccedilatildeo de escola do campo nasce e se desenvolve no bojo do movimento da EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO a partir das experiecircncias de formaccedilatildeo humana desenvolvidas no contexto de luta dos movimentos sociais camponeses por terra e educaccedilatildeo Trata-se portanto de uma concepccedilatildeo que emerge das contradiccedilotildees da luta social e das praacuteticas de educaccedilatildeo dos trabalhadores do e no campo (MOLINA e SAacute 2012 pag 324)
A concepccedilatildeo pedagoacutegica da educaccedilatildeo popular e da pedagogia da praacutetica
segundo ARROYO inclui
um caraacuteter de envolvimento totalizante dos movimentos sociais que possibilita ao individuo que participa destes coletivos o acesso a outro tipo de formaccedilatildeo que supera a condiccedilatildeo de aluno de alfabetizando de escolarizando Os integrantes destes organismos emersos na tensa situaccedilatildeo de conflitos aprendem por meio da vivencia das lutas sociais dos momentos de mobilizaccedilatildeo das situaccedilotildees limites de perda de emprego de criacuteticas da sociedade agraves suas accedilotildees de ameaccedilas agraves suas vidas Tudo isso traz ricas liccedilotildees ensinadas na ldquoescola do movimentordquo e que nenhuma teoria pode transmitir ou explicar de forma satisfatoacuteria
No entendimento de Arroyo (2013) os movimentos sociais vivem e
amadurecem sob o conhecimento e o entendimento das contradiccedilotildees sociais e esta
24
experiecircncia lhes permite a possibilidade de defender mudanccedilas radicais tanto no
campo como na cidade tanto na ideologia quanto no combate ao latifuacutendio e ao
capitalismo
Tamanho movimento social gera a reflexatildeo sobre as relaccedilotildees
socioeconocircmicas politicas culturais cuidado da natureza relaccedilotildees humanas
destaques de tudo o que interessa ao coletivo agrave sociedade
Eacute por meio do entendimento de que a realidade eacute criaccedilatildeo humana de como se estabelecem os processos de opressatildeo e ainda da noccedilatildeo de que podemos transformar essa realidade dado que a sociedade eacute mutaacutevel que se forma a praacutexis da luta accedilatildeo-conscientizaccedilatildeo-transformaccedilatildeo-libertaccedilatildeo Inserindo-se criticamente na histoacuteria os cidadatildeos tornam-se sujeitos construtores e reconstrutores da realidaderdquo
Molina e Saacute (2012) nos ensinam a partir do conceito de escola do campo sobre a
potencialidade da vivencia de praacuteticas coletivas para a valorizaccedilatildeo integral dos
sujeitos da coletividade do conhecimento cientiacutefico da gestatildeo coletiva da escola
dentre tantos avanccedilos e vitoacuterias dos movimentos sociais
O processo ensino-aprendizagem permite que o conceito de escola extrapole
o cotidiano de dificuldades e desafia agrave reflexatildeo que gera a emancipaccedilatildeo
Este eacute um dos maiores desafios e ao mesmo tempo uma das maiores possibilidades da escola do campo articular os conhecimentos que os educandos tecircm o direito de acessar a partir do trabalho com a realidade da religaccedilatildeo entre educaccedilatildeo cultura e os conhecimentos cientiacuteficos a serem apreendidos em cada ciclo de vida e de diferentes aacutereas do conhecimento(MOLINA MOURAtildeO 2012 p 329) -26-
222 Princiacutepios da Educaccedilatildeo do Campo
Alguns princiacutepios viabilizam o projeto de escola adotado pelos movimentos
sociais e possibilitam a democracia e a integraccedilatildeo de todos lideranccedila assentados e
acampados do movimento
25
O princiacutepio da responsabilidade coletiva sobre o planejamento a gestatildeo a
organizaccedilatildeo e a realizaccedilatildeo de tarefas em todas as esferas de atividades princiacutepios
muito valorizados pelos movimentos sociais do campo foram transferidos para o
projeto de educaccedilatildeo
O projeto eacute de responsabilidade coletiva e insere educadores tanto a niacutevel
local como regional e nacional os ldquoColetivos de educaccedilatildeordquo como satildeo conhecidos
Os coletivos de educaccedilatildeo com tarefas forccedila orgacircnica e discussotildees especiacuteficas que podem variar a cada periacuteodo fortalecem o princiacutepio organizativo de que a questatildeo da educaccedilatildeo bem como outras questotildees da vida social assumidas pelo MST deve ser pensada e implantada de forma coletiva Eacute uma loacutegica que implica tarefas a serem realizadas pelas pessoas mas mediante um planejamento e uma leitura de conjuntura feita por um coletivo (KOLLING1995 et al p503)
Para concretizar o projeto de educaccedilatildeo foi concebida a formaccedilatildeo de
professores pelos proacuteprios movimentos no acircmbito da proacutepria comunidade
(conhecidos como ldquoprofessores leigosrdquo) e tambeacutem pela rede oficial de ensino
A falta de titulaccedilatildeo de muitos educadores formados na comunidade natildeo
impede que os mesmos trabalhem juntos com os professores titulados e com
simpatizantes do movimento no projeto poliacutetico-pedagoacutegico constituindo um
princiacutepio democraacutetico importante para superar as dificuldades e urgecircncias para a
implantaccedilatildeo da educaccedilatildeo do campo
A democracia do processo de formaccedilatildeo de educadores tem reflexos amplos
a formaccedilatildeo de educadores pelos proacuteprios movimentos especiacutefica para atuaccedilatildeo nas
escolas do campo
O movimento eacute responsaacutevel pela universalizaccedilatildeo do ensino no acircmbito dos
territoacuterios conquistados ou por conquistar e permitiu a evoluccedilatildeo do ensino ateacute o niacutevel
de terceiro grau com a realizaccedilatildeo de cursos como a Licenciatura em Educaccedilatildeo do
Campo (LEdoC) do qual somos os privilegiados alunos aqui na Universidade de
Brasiacutelia
Outro reconhecimento e prova de eficiecircncia da formaccedilatildeo de professores eacute o
precircmio ldquoEducaccedilatildeo e Participaccedilatildeordquo recebido em 1995 do Fundo das Naccedilotildees Unidas
para a Infacircncia (Unicef)
26
O somatoacuterio das forccedilas internas e externas do movimento ldquoleigasrdquo ou
tituladas associadas ao princiacutepio fundamental da participaccedilatildeo dos alunos e
comunidades em todos os niacuteveis e localidades eacute ponto fundamental para o sucesso
da concepccedilatildeo do projeto pois permite o estudo a reflexatildeo conjunta sobre
estrateacutegias para o alcance do objetivo de educaccedilatildeo na reforma agraacuteria
-25-
223 Marcos Normativos da Educaccedilatildeo do Campo
Numerosos Marcos Normativos podem ser citados para explicitar qual perfil
de escola destinada ao camponecircs interessava ao governo e aos proprietaacuterios rurais
A Lei 4024 de 1961 em seu art 105 estabelece o
Apoio que poderaacute ser prestado pelo poder puacuteblico agraves iniciativas que mantenham na zona rural instituiccedilotildees educativas orientadas para adaptar o homem ao meio e estimular vocaccedilotildees e atividades profissionais (BRASIL 2012 p 4)
A Lei 5692 de 1971 ao tratar da educaccedilatildeo rural ldquonatildeo observa mais uma vez
a inclusatildeo da populaccedilatildeo na condiccedilatildeo de protagonista de um projeto social globalrdquo
sendo que o trabalho do campo realizado por alunos eacute ateacute mesmo incentivado
adequando-o ao calendaacuterio escolar (MARCOS NORMATIVOSBrasiacutelia2012 p 25)
A Lei 9394 de 1996 (Lei das Diretrizes se Bases da Educaccedilatildeo ndash LDB) em
acordo com Constituiccedilatildeo de 1988 e ldquoinspirada de alguma forma numa concepccedilatildeo
de mundo rural enquanto espaccedilo especifico diferenciado e ao mesmo tempo
integrado no conjunto da sociedaderdquo reconhece
A diversidade soacutecio-cultural e o direito agrave igualdade e agrave diferenccedila possibilitando a definiccedilatildeo de diretrizes operacionais para educaccedilatildeo rural sem no entanto recorrer a uma logica exclusiva e de ruptura com um projeto global de educaccedilatildeo para o paiacutes (idem p 26)
27
Os artigos 208 e 210 da Carta Magna-1988 e inspirada de numa concepccedilatildeo
de mundo rural enquanto espaccedilo especiacutefico diferenciado e ao mesmo tempo
integrado no conjunto da sociedade a Lei 939496- LDB-estabelece que
Art 28 Na oferta da educaccedilatildeo baacutesica para a populaccedilatildeo rural os sistemas de ensino promoveratildeo as adapta necessaacuteria agrave sua adequaccedilatildeo agraves peculiaridades da vida rural e de cada regiatildeo especialmente (MARCOS NORMATIVOS) Brasiacutelia 2012 p 25)
1- Conteuacutedos organizar curriculares e metodologias apropriadas agraves reais
necessidades e interesses dos alunos da zona rural
2-organizaccedilatildeo escolar proacutepria incluindo a adequaccedilatildeo do calendaacuterio escolar as
fases do ciclo agriacutecola e as condiccedilotildees climaacuteticas
3-adequaccedilatildeo agrave natureza do trabalho na zona rural (MARCOS NORMATIVOS)
Brasiacutelia 2012( p 26)
O movimento de educaccedilatildeo do campo luta haacute quinze (15) anos para fazer-se
cumprir esse Decreto da Lei de Diretrizes de base da educaccedilatildeo do campo-LDB
que apesar de ser constitucional ainda natildeo foi colocada totalmente em praacutetica
Agora com as lutas dos movimentos sociais eacute que estaacute comeccedilando a se concretizar
Artigo 26 Os curriacuteculos do ensino fundamental e meacutedio devem ter uma base nacional comum a ser complementada em cada sistema de ensino e estabelecimento escolar por uma parte diversificada exigida pelas caracteriacutesticas regionais e locais da sociedade
da cultura da economia e da clientela (MARCOS NORMATIVOS) Brasiacutelia 2012(p 26)
O Decreto nordm 7352 de 4 de novembro 2010 dispotildee sobre a poliacutetica de educaccedilatildeo do campo ao Programa Nacional de Educaccedilatildeo
na Reforma Agraacuteria-PRONERA decreta
Art1ordm A poliacutetica de educaccedilatildeo do campo destina-
se agrave ampliaccedilatildeo e qualificaccedilatildeo da oferta de educaccedilatildeo baacutesica e superior agraves populaccedilotildees do campo e seraacute desenvolvida pela Uniatildeo em regime de colaboraccedilatildeo com os Estados o
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Distrito Federal e os Municiacutepios de acordo com as diretrizes e metas estabelecidas no Plano Nacional de Educaccedilatildeo e o disposto neste Decreto
Para os efeitos deste Decreto entende-se por
l-populaccedilatildeo do campo os agricultores familiares os extrativistas os pescadores
artesanais os ribeirinhos os assentados e acampados da reforma agraacuteria os
trabalhadores assalariados rurais os quilombolas os caiccedilaras os povos da floresta
os caboclos e outros que produzam suas condiccedilotildees materiais de existecircncia a partir
do trabalho no meio rural
ll-escola do campo aquela situada em aacuterea rural conforme definida pela Fundaccedilatildeo
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica- IBGE ou aquela situada em aacuterea
urbana desde que atenda predominantemente a populaccedilatildeo do campo (MARCOS
NORMATIVOS) 2012( p 81)
No Decreto 6755 29 de janeiro de 2009 em seu art 2ordm estabelecida pelo Conselho
Nacional de Educaccedilatildeo que se refere as Diretrizes Operacionais da Educaccedilatildeo do
Campo o parecer da alternacircncia
A formaccedilatildeo de professores poderaacute ser feita concomitantemente agrave atuaccedilatildeo profissional de acordo com metodologias adequadas inclusive a pedagogia da alternacircncia e sem prejuiacutezo de outras que atendam agraves especificidades da educaccedilatildeo do campo e por meio de atividades de ensino pesquisa e extensatildeo (MARCOS NORMATIVOS) 2012( p84)
-26-
29
-
231 A educaccedilatildeo do campo e poliacutetica puacuteblica - o PRONERA
O amadurecimento adquirido pela luta sobre o papel da educaccedilatildeo aliado agrave
iniciativa do aproveitamento do trabalho das professoras ldquoleigasrdquo e ainda da
consciecircncia cada vez mais presente do dever do Estado em prover os cidadatildeos da
reforma agraacuteria de poliacuteticas puacuteblicas resultou no campo da educaccedilatildeo na criaccedilatildeo do
Programa Nacional de Educaccedilatildeo na Reforma Agraacuteria (PRONERA)
O PRONERA envolve formalmente jovens e adultos num projeto conjunto
com universidades e institutos federais em prol da formaccedilatildeo de educadores para o
trabalho em escolas dos assentamentos da reforma agraacuteria e seu entorno
O Programa foi criado em 1998 no momento da ascensatildeo dos conflitos pela
reforma agraacuteria o que propiciou que os movimentos sociais trouxessem para a
opiniatildeo puacuteblica suas mazelas
No campo da educaccedilatildeo foi denunciada a falta de escola a precariedade do
ensino a falta de profissionais do ensino a ldquoloacutegica de negaccedilatildeo histoacuterica do direito
aos camponeses de acesso aos niacuteveis mais elevados de escolaridade ( SANTOS
2012 pag 630)
A partir de 2005 o ensino oferecido pelo PRONERA eacute estendido ao niacutevel
meacutedio e superior como a Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo e a Residecircncia
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Agraacuteria O PRONERA evoluiu para outros patamares tais como ldquopossibilidades de
ressignificaccedilatildeo do conteuacutedo e da metodologia dos processos de educaccedilatildeo formal
por meio dos princiacutepios baacutesicos da participaccedilatildeo e da multiplicaccedilatildeordquo (SANTOS 2012
p 631)
A participaccedilatildeo das comunidades e suas organizaccedilotildees e a multiplicaccedilatildeo de
alfabetizados formados educadores e demais profissionais ligados agraves poliacuteticas
puacuteblicas para a Reforma Agraacuteria gerou ampla participaccedilatildeo dos agentes envolvidos
na dinacircmica do processo ensino-aprendizagem
Essa forma de gestatildeo gerou reaccedilatildeo contraacuteria ldquoagrave gestatildeo colegiada e coletiva
notadamente agrave participaccedilatildeo direta dos movimentos sociais e sindicais do campordquo
considerados ldquoentes estranhos agrave administraccedilatildeo puacuteblicardquo (CLARICE p 634)
O envolvimento dos movimentos sociais e sindicais do campo natildeo
retrocederam em sua luta pelo envolvimento de todos os interessados na educaccedilatildeo
como elemento emancipatoacuterio e continuam formulando princiacutepios concepccedilotildees e
diretrizes para a escola do campo
-31-
31
Terceiro Capiacutetulo
A histoacuteria do Assentamento Renascer
31 Uma breve histoacuteria de luta
A histoacuteria do Assentamento Renascer natildeo parece ser diferente da histoacuteria de
outros assentamentos Brasil afora Partiu da reivindicaccedilatildeo de Trabalhadores Rurais
sem Terra que desde 2004 ocuparam as margens da Rodovia DF 330 que liga
Sobradinho ao Paranoaacute-DF
Tatildeo perto do centro do poder a apenas poucos quilocircmetros do Palaacutecio da
Alvorada ou da Sede do INCRA o Acampamento Renascer esteve ateacute oito (08) de
maio de 2009 tatildeo distante da decisatildeo poliacutetica pela Reforma Agraacuteria
Somente nesta data trezentos sessenta e um( 361) de terras devolutas da
Uniatildeo foram repassadas ao INCRA para assentar as famiacutelias aliacute acampadas Ficou
criado o assentamento Renascer fora da beira da estrada
O Assentamento Renascer ldquorenasceurdquo da dificuldade de vida sob o barraco de
madeira sem aacutegua sem luz sem saneamento baacutesico que fez com que tantos
desistissem ao longo do caminho e ainda hoje se encontra nessa mesma
precariedade um descaso por parte do poder puacuteblico
A luta em vaacuterios momentos da vida dos acampados parecia estar vencida Os
vencedores pareciam ser a burocracia o desrespeito as noites mal dormidas a
inseguranccedila a falta de perspectivas para o acampado e suas famiacutelias
Duzentas (200) famiacutelias viveram aliacute por cinco anos (05) de 2004 ateacute 2009
Atualmente satildeo cento e vinte (120) famiacutelias que moram na aacuterea destinada e estatildeo
em processo de assentamento Muitas delas poreacutem vencidas pelo cansaccedilo e pelas
condiccedilotildees de vida abandonaram a luta mas todas as famiacutelias as que se foram e as
que ficaram sonharam com a terra onde poderiam produzir viam no pedaccedilo de chatildeo
os frutos do pomar da horta o galinheiro o pasto
O Assentamento Renascer eacute o Brasil Eacute um pedacinho da cruel realidade que
como vimos neste trabalho marcou a sociedade brasileira desde a escravidatildeo
desde o primeiro grito de rebeldia do quilombo desde o primeiro que lutou contra os
coroneacuteis por divisatildeo da terra como as Ligas Camponesas contra o latifuacutendio como
os movimentos sociais em sua luta pela reforma agraacuteria desde vaacuterias geraccedilotildees
32
Eacute como todo e qualquer movimento social que surgiu neste paiacutes desde a
deacutecada de 1980 pela reforma agraacuteria Viveu e ainda vive as dificuldades de ser
acampadoassentado mas honra sua luta porque natildeo desiste faacutecil
O Assentamento Renascer eacute tambeacutem fruto do ecircxodo rural da industrializaccedilatildeo
do campo da monocultura e da concentraccedilatildeo de terras Foram expulsos do campo
para a periferia das cidades sem capacitaccedilatildeo sem estudo
A falta de escolarizaccedilatildeo eacute sem duacutevida uma caracteriacutestica de quase todos os
que vieram do campo para a cidade A realidade do Brasil eacute que o campo natildeo eacute
escolarizado as escolas no campo satildeo poucas satildeo despreparadas satildeo
desvalorizadas
-33-
32 As escolas no campo na vivencia do assentado do Assentamento
Renascer
As escolas no campo marcaram profundamente a vida dos poucos que a
frequentaram Quase todos tiveram que trocar o laacutepis pela enxada a carteira pela
roccedila desde muito pequenos Alguns natildeo muito poucos conforme os depoimentos
aqui relatados teriam que abandonar a enxada e a participaccedilatildeo no sustento da
famiacutelia para frequentar a escola Quase sempre abandonaram a escola para ficar no
trabalho com a enxada
Todos teriam que andar vaacuterios quilocircmetros para ir agrave escola Outros nem assim
conseguiriam frequentar a escola no campo ela simplesmente natildeo existia no
campo Teriam entatildeo que ir para a cidade para ter direito a uma escola
Muitos tambeacutem vivenciaram os traumas que uma escola tradicional e
descomprometida com os valores e responsabilidades do projeto educacional
castigos humilhaccedilotildees afastaram a muitos da escola
Alguns apenas sonharam e sonham com a escola ldquoAh a escolardquo Tatildeo longe
inacessiacutevel para tantos no Brasil afora Ao ver de algumas pessoas do
Assentamento Renascer ldquoSe tivesse jeito eu teria ido agrave escola tinha feito pelo
menos o ensino fundamental completo para que eu pudesse ingressar no curso
33
teacutecnico-agriacutecola Mas agora quero que meus filhos e netos vatildeo para a escola
aprender ser algueacutem na vidardquo
-34-
321 A escola no entorno do Assentamento Renascer
A ideia de lutar pela educaccedilatildeo veio antes da ideia de lutar pela escola como
espaccedilo conquistado pelo acampamento Encontrar uma escola perto do
acampamento com transporte escolar com vagas e horaacuterios acessiacuteveis para os que
trabalham o dia todo era entendido como uma necessidade baacutesica e uma grande
vitoacuteria
Ficava-se feliz se apesar das dificuldades fosse possiacutevel matricular pelo
menos as crianccedilas As dificuldades eram e ainda satildeo muitas o transporte escolar
era e eacute precaacuterio a poeira natildeo permite que os alunos cheguem limpos agrave escola os
buracos e as poccedilas daacutegua impedem a chegada do ocircnibus escolar durante as
chuvas No caso do ocircnibus que levam os alunos ateacute a Escola Classe do Coacuterrego do
Arrozal em eacutepoca de muita chuva os ocircnibus ateacute o iniacutecio de 2014 natildeo conseguiam
transitar Isto resulta no fato de que as crianccedilas precisam caminhar debaixo de
chuva ateacute a escola
-35-
322 O caminho para a produccedilatildeo do saber no Assentamento Renascer a
brinquedoteca a integraccedilatildeo social a biblioteca comunitaacuteria as manifestaccedilotildees
culturais
Ao longo dos anos de vivecircncia e convivecircncia no Acampamento Renascer
mediante a dificuldade e necessidade de estudar que sentimos na nossa proacutepria
vida foi despontando a ideia de prover as crianccedilas de atividades luacutedicas e
educativas
34
Logo no iniacutecio do acampamento por volta de 2005 por iniciativa de algumas
pessoas conscientes da necessidade de atividades luacutedicas para as crianccedilas foi
criada uma brinquedoteca
Inicialmente os brinquedos eram de materiais reciclaacuteveis como garrafas pet
telefones sem fio carrinhos bonecas petecas vai e vem cavalinhos tudo era
confeccionado com a participaccedilatildeo das crianccedilas na modalidade de oficina
incentivando-os a fabricar os seus proacuteprios brinquedos Os brinquedos eram
confeccionados a partir de materiais encontrados nos lugares de descarte perto do
acampamento e doaccedilotildees de pessoas que passavam pela estrada
O embriatildeo de um processo educacional que nunca se interrompeu estava
lanccedilado a brinquedoteca proporcionou a criatividade e a participaccedilatildeo de crianccedilas e
adultos marcando as atividades pela conscientizaccedilatildeo do cuidado com a natureza e a
importacircncia da reciclagem A educaccedilatildeo ambiental jaacute era praticada desde o
nascimento do acampamento Renascer
Este primeiro passo foi muito importante porque traduziu para o dia a dia do
acampamento os princiacutepios da escola do campo atuante para mudar a realidade
criar cidadatildeos conscientes e dispostos a mudar a realidade a partir da sua proacutepria
accedilatildeo Este eacute o processo de transformaccedilatildeo social dentro do acampamento Renascer
haacute tanto tempo atraacutes
Aos brinquedos reciclados pela proacutepria comunidade juntaram-se outros
presenteados por instituiccedilotildees como igrejas ONGs a Pastoral da Crianccedila e pessoas
interessadas no bem estar daquelas crianccedilas
Percebe-se em iniciativas como essas a importacircncia da educaccedilatildeo nos
diversos niacuteveis para a sociedade A integraccedilatildeo de pessoas com as atividades
educativas no acampamento nos faz lembrar sobre um grande sonho das escolas
hoje integrar a comunidade de modo a que todos defendam a escola
O sucesso de iniciativas como a brinquedoteca que integravam crianccedilas
adolescentes adultos e sociedade foi importante para outras iniciativas igualmente
importantes
Foi-se criando um projeto educacional para o acampamento sem que se
tivesse consciecircncia disso por faltar informaccedilatildeo que soacute agora se possui graccedilas aos
estudos na Universidade o galpatildeo comunitaacuterio foi utilizado para abrigar a
35
brinquedoteca para desenvolver grupos de teatro de crianccedilas e adultos e para
abrigar a biblioteca
A biblioteca recebeu inuacutemeros exemplares de livros infantis livros didaacuteticos
para os adolescentes e adultos literatura universal revistas dos mais variados
assuntos criando assim um espaccedilo comunitaacuterio de informaccedilatildeo lazer e
entretenimento
Com a criaccedilatildeo da biblioteca ficou evidente a importacircncia da alfabetizaccedilatildeo de
crianccedilas jovens e adultos Muitos acampados relatavam a vontade e a necessidade
de aprender a ler e a escrever Muitos reivindicavam o direito agrave educaccedilatildeo e
frequecircncia agrave escola ainda que o acampamento mudasse de ldquoendereccedilordquo tantas
vezes
Outros poreacutem natildeo acreditavam que seria possiacutevel aprender ou aperfeiccediloar a
leitura e a escrita nas condiccedilotildees de vida de um acampado
Vaacuterias atividades culturais foram desenvolvidas (e ainda satildeo) no
Acampamento Renascer Todas chamavam a atenccedilatildeo da comunidade local de
outras comunidades vizinhas garantindo a simpatia de chacareiros que levavam os
filhos para participarem das atividades
Uma das atividades mais apreciadas foi o Teatro de Fantoches inspirados em
faacutebulas muitas com a autoria da Pastoral da Crianccedila e da Faber Castel A
participaccedilatildeo da comunidade na atividade era intensa e voluntaacuteria todos queriam
manipular os fantoches participar cantando danccedilando ou prestando muita atenccedilatildeo
O teatro de transformaccedilatildeo social produzido pelos adultos e adolescentes
utilizavam tambeacutem materiais reciclaacuteveis demonstrando cuidado com o meio
ambiente e amadurecimento dos conceitos poliacuteticos e pedagoacutegicos gerando reflexatildeo
sobre os temas sociais que nos atingem no cotidiano
A miacutestica adotada pelos movimentos sociais com o objetivo de reflexatildeo satildeo
apresentadas em datas comemorativas e contam com o apoio e participaccedilatildeo de
muitos
Algumas festas fazem parte da tradiccedilatildeo do Acampamento Renascer
traduzindo para a realidade atual as antigas festas a que todos foram acostumados
em seus lugares de origem
Pode-se dizer que a comunidade aprecia muito as festas Mas duas em
particular satildeo muito respeitadas a festa das crianccedilas que ocorre durante o dia (12
36
de outubro) eacute concorrida pois a comunidade se esmera para oferecer os brinquedos
que as crianccedilas amam pula-pula palhaccedilos pintura de rosto piscina de sabatildeo e
muita oferta de comida coisas que as crianccedilas adoram
No mesmo dia ocorre agrave noite a festa da Nossa Senhora Aparecida com
missa e muito forroacute
No mecircs de marccedilo eacute comemorada a Festa da Pamonha em comemoraccedilatildeo agrave
boa colheita do milho Esta festa jaacute se tornou tradicional conhecida em todo o
entorno do assentamento Egrave uma festa importante porque confraterniza a
comunidade Renascer com as comunidades vizinhas e ateacute mesmo as cidades de
Sobradinho Paranoaacute e Planaltina
Os movimentos sociais necessitam ser admirados pela sociedade e festas
como estas chamam a atenccedilatildeo para o problema da reforma agraacuteria demonstrando
que ela eacute viaacutevel e que os assentados tecircm simpatia competecircncia e seus saberes do
campo
A festa ldquojulinardquo eacute outra festa muito apreciada que apresenta as tradiccedilotildees rurais
e religiosas como quadrilhas e bandas de forroacute da comunidade e vizinhanccedila A
danccedila eacute um dos pontos fortes da festa assim como as comidas tradicionais muitas
delas com ingredientes colhidos no acampamento
Vaacuterios grupos de atividades teatrais apresentaram-se na localidade com
participaccedilatildeo de palhaccedilos lembrando um espetaacuteculo circense Alguns desses
grupos inclusive tiveram seus trabalhos premiados
Outras atividades com fundo educativo tiveram participaccedilatildeo animada de
crianccedilas e adultos A exibiccedilatildeo de desenhos animados recentemente apresentados
no cinema eram um grande atrativo para a comunidade que se via socialmente
incluiacuteda Esta inclusatildeo aumentava a autoestima das crianccedilas principalmente pois
assim elas poderiam interagir com os colegas da escola conversando a respeito dos
filmes
A Economia Solidaacuteria eacute uma das formas de inserccedilatildeo dos membros da
comunidade agrave sociedade economicamente ativa Atraveacutes da cooperaccedilatildeo solidaacuteria eacute
possiacutevel o comercio justo agriacutecolas ou artesanais sob conceitos antes
desconhecidos enquanto forma de produccedilatildeo e consumo centrado na valorizaccedilatildeo do
ser humano em contraposiccedilatildeo agraves formas capitalistas de produccedilatildeo e conscientizaccedilatildeo
37
Ao longo dos doze (12) anos de luta pela educaccedilatildeo foram promovidos
diversos cursos que capacitaram multiplicadores que fazem um trabalho importante
para a comunidade
A ideia de autogestatildeo democracia cooperaccedilatildeo auxilia natildeo soacute as formas de
produccedilatildeo e comercio de bens e artesanatos mas tambeacutem auxiliam na formaccedilatildeo
integral de pessoas em que tanto o produtor como o consumidor tem o proposito de
ganhos financeiros segundo um criteacuterio de valorizaccedilatildeo do trabalho
Proposito de formar uma nova consciecircncia a Economia Solidaacuteria promoveu
cursos de Soberania Alimentar em que a comunidade recebeu noccedilotildees praacuteticas
sobre alimentaccedilatildeo a partir da produccedilatildeo local de modo a promover uma nova cultura
alimentar que visa o combate agraves doenccedilas crocircnicas Outro proposito eacute tornar a
comunidade criacutetica em relaccedilatildeo agrave publicidade de produtos alimentiacutecio supeacuterfluo que
induz agraves crianccedilas e adultos alimentarem-se incorretamente
A comunidade participou coletivamente da implantaccedilatildeo de uma unidade da
tecnologia social denominada Produccedilatildeo Agroecoloacutegica Integrada e Sustentaacutevel
(PAIS) em 2012 com o objetivo de produzir alimentos saudaacuteveis e preservar o meio
ambiente trazendo mais alimentos e renda ao campo Esta tecnologia popularmente
conhecida como ldquohorta mandalardquo foi ministrada durante o curso de capacitaccedilatildeo
promovido pela Fundaccedilatildeo Banco do Brasil e teve o meacuterito de proporcionar o debate
e a participaccedilatildeo democraacutetica na definiccedilatildeo das culturas a serem cultivadas na futura
propriedade Vale informar que o assentamento Renascer identificou-se com esse
paradigma agroecoloacutegico
A educaccedilatildeo ambiental faz parte do dia a dia da comunidade hoje preserva-se
conservaccedilatildeo das formas de vida vegetais e animais na regiatildeo do assentamento e
entorno
A produccedilatildeo de mudas no viveiro eacute bastante concorrida contando com a
participaccedilatildeo de todos O viveiro produz cinco mil (5000) mudas de espeacutecies nativa
do cerrado para o reflorestamento das nascentes de aacutegua e nas aacutereas degradadas
da regiatildeo Contam com o apoio da FUNATURA FUNDACcedilAtildeO BANCO DO BRASIL
IFB Rio Satildeo Bartolomeu Vivo e UnB
-36-
38
39
Quarto Capiacutetulo
A escola que queremos expectativas e sonhos dos
acampados do Assentamento Renascer
Pode-se observar pelas falas dos entrevistados que a realidade de todos
converge para os problemas estruturais do Brasil faltam escolas no campo eacute baixa
a escolaridade em Brasiacutelia todos exercem atividades de subemprego
Todos tecircm grandes expectativas com relaccedilatildeo agrave vida futura no assentamento
objetivando melhores condiccedilotildees de vida na esperanccedila de serem beneficiaacuterios
enquanto cidadatildeos assentados das Poliacuteticas Puacuteblicas e financiamentos agriacutecolas
voltadas para a agricultura familiar como PRONAF PAA PNAE e PAPA-DF Vecircem
aiacute a possibilidade de emprego e renda situaccedilatildeo sonhada desde quando foram
pleitear a terra para reforma agraacuteria
Um olhar mais aprofundado sobre a anaacutelise de dados revela que natildeo importa o
fato de hoje residirem no DF pois como em qualquer lugar de origem os moradores
do assentamento Renascer vivenciam os mesmos problemas Percebe-se
claramente as dificuldades da inexistecircncia de escola no campo A distacircncia continua
impedindo o acesso os meios de transportes continuam precaacuterios os filhos
vivenciam a dificuldade de transferecircncia para a cidade na expectativa de
continuidade dos estudos as estradas rurais continuam esburacadas
Satildeo muitos os pontos em comum entre a situaccedilatildeo atual relatada e os problemas
vividos haacute deacutecadas em seus estados de origem o que deixa transparecer a absoluta
falta de interesse por parte do poder puacuteblico em garantir o direito constitucional agrave
educaccedilatildeo do povo do campo o que infelizmente continuaraacute deixando o triste
legado para o futuro do paiacutes
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Repetimos a pergunta da inicial Cadecirc as escolas do campo Ateacute quando o paiacutes
vai viver essa situaccedilatildeo A anaacutelise de dados responde Natildeo eacute mais possiacutevel
continuar como estaacute
Todos os entrevistados pretendem alcanccedilar conhecimentos atraveacutes da escola do
campo implantada no Assentamento Renascer com objetivos de administrar a
propriedade participar ativamente do coletivo garantir renda fixa atraveacutes dos
programas de desenvolvimento da agricultura familiar
Os entrevistados unanimamente tecircm a preocupaccedilatildeo da manutenccedilatildeo dos laccedilos
familiares e das raiacutezes camponesas
A distacircncia entre a moradia e a escola fato relatado pela quase totalidade dos
entrevistados constitui um grande motivo de evasatildeo escolar de defasagem nas
seacuteries frequentadas de precariedade na aprendizagem em relaccedilatildeo aos demais
alunos A discriminaccedilatildeo alegada por muitos que frequentaram ou frequentam
escolas fora da faixa etaacuteria o vernaacuteculo proacuteprio dos sujeitos do campo as condiccedilotildees
precaacuterias da estrada que denunciam a condiccedilatildeo de assentado o sentimento de
inadequaccedilatildeo constituem fatores que determinam a evasatildeo escolar
Foram treze (13) entrevistados significando aproximadamente dez por cento
(10) dos moradores do Assentamento Renascer Desse total apenas dois (2)
entrevistados natildeo declararam dificuldade de distacircncia entre a moradia e a escola em
seus lugares de origem A maioria absoluta (11) pessoas declararam que a distacircncia
dificultava e impedia o acesso agrave escola Alguns relatos apresentam situaccedilotildees
precaacuterias para o homem do campo o assentado
Para o aluno do campo a distacircncia da escola tem o significado de inexistecircncia de
escola Isto porque as dificuldades de acesso satildeo enormes No caso em estudo
apenas um entrevistado declarou a inexistecircncia de escola em sua regiatildeo de
moradia Este poreacutem vivenciou todas as dificuldades de acesso que outros
assentados apresentaram em razatildeo da distacircncia moradiaescola
A falta de professores na escola rural eacute relatada por 11 dos 13 entrevistados A
distacircncia da escola para os professores dificulta segundo a vivecircncia dos
entrevistados o acesso agrave escola e a assiduidade o que muito desmotivava a
ambos
41
Os entrevistados conforme anaacutelise de dados desejam muito objetivamente a
implantaccedilatildeo imediata de escolas segundo os criteacuterios caracteriacutesticos de escola do
campo
- Trazer a realidade para dentro da escola do campo curriacuteculos voltados para o
cotidiano do aluno do campo onde as teacutecnicas agriacutecolas pecuaacuterias e agroecoloacutegicas
possam fazer parte do processo educativo da comunidade e que a escola tenha
uma gestatildeo coletiva democraacutetica com a participaccedilatildeo da comunidade
- Ter o trabalho como princiacutepio educativo A experiecircncia do aluno deve
harmonizar-se com os princiacutepios pistrakianos significar o trabalho de forma a que
ele apresente benefiacutecios para o proacuteprio indiviacuteduo para a comunidade na qual estaacute
inserido e para a sociedade e natildeo exclusivamente para servir ao capitalismo
-Superar a fragmentaccedilatildeo do conhecimento disciplinar A interdisciplinaridade
deve fazer parte dos objetivos educacionais de modo a promover a formaccedilatildeo
integral dos educandos
- Valorizar os saberes do homem do campo Os entrevistados desejam uma
escola onde possam exercitar sua vivecircncia campesina e a relaccedilatildeo dialoacutegica entre
professor-aluno seguindo a pedagogia de Paulo Freire o educando quer aprender
com o educador mas quer tambeacutem ter a oportunidade de transmitir seus saberes
- Promover espaccedilos de gestatildeo coletiva A proacutepria comunidade deve participar da
gestatildeo a elaboraccedilatildeo do PPP deve gerir o espaccedilo fiacutesico da escola para atividades
de interesse da comunidade ocupar espaccedilos para finalidades culturais esportivas
sociais tornando a escola um espaccedilo democraacutetico
- Garantir a presenccedila da comunidade e dos movimentos sociais que geram
processos que auxiliam a emancipaccedilatildeo social A escola deve tambeacutem ser espaccedilo
que auxilie a sustentabilidade e garanta a alimentaccedilatildeo saudaacutevel e recursos
fitoteraacutepicos em associaccedilatildeo com a comunidade
- Inclusatildeo tecnoloacutegica em todos os aspectos digital inovaccedilatildeo tecnoloacutegica
agropecuaacuteria recursos ambientais alternativos agua potaacutevel energia solar energia
eoacutelica fossa seacuteptica teacutecnicas de compostagem saneamento baacutesico cuidados com
os recursos hiacutedricos
A anaacutelise dos dados quando feita especificamente sobre a escola a ser
implantada pode aparentemente demonstrar uma pequena conexatildeo com as teorias
da escola do campo
42
A concepccedilatildeo da escola do campo natildeo pode ser imposta ela parte do princiacutepio
que os camponeses devem conquista-la Para essa conquista eacute necessaacuteria a
paixatildeo o desejo por algo ainda natildeo experimentado o amadurecimento poliacutetico-
social-pessoal a participaccedilatildeo coletiva na luta e na conquista
A trajetoacuteria de luta por educaccedilatildeo da comunidade Renascer apresenta estes
elementos agraves vezes difusos outras vezes mais claramente A escola bem que
poderia para alguns ser apenas uma escola rural Afinal aprender a ler e a
escrever ldquodireitordquo como alguns dizem ou seja deixar a condiccedilatildeo de analfabeto ou
analfabeto funcional para tornar-se letrado significaria avanccedilos em face das atuais
circunstacircncias Alguns entendem assim expressando-se principalmente nas
conversas informais
Apesar disso quando as respostas informais ou quando as respostas das
entrevistas satildeo analisadas mais profundamente identificamos que embora
difusamente todos desejam o programa educacional da escola do campo
Explicando melhor a participaccedilatildeo de todos da comunidade em todas as atividades
soacutecio-poliacuteticas-culturais (relatadas no terceiro capitulo) indicam que a comunidade
assimilou a postura soacutecio-politica-cultural que caracterizam a escola do campo
A vivecircncia do Assentamento Renascer no cotidiano e nos eventos coletivos
amadureceu o desejo pelo alimento intelectual cultural artiacutestico ambiental social
que a concepccedilatildeo de escola do campo introduz O programa educacional da Escola
do Campo ultrapassou as paredes fiacutesicas da escola e alcanccedilou o cotidiano dos
assentados
Os avanccedilos da conscientizaccedilatildeo e seu reflexo na vida do Assentamento Renascer
satildeo sentidos nos nuacutemeros de matriculados na LEdoC sete (7) alunos
aproximadamente dez (10) assentados prestaratildeo o proacuteximo vestibular trecircs (3)
assentados estatildeo matriculados no IFB dois(2) assentados estatildeo formados em
Teacutecnico Agropecuaacuterio tambeacutem pelo IFB um deles cursa o Tecnoacutelogo de
Agroecologia tambeacutem do IFB
Vale acrescentar que no iniacutecio de 2014 quando o IFB buscou no Assentamento
pessoas interessadas em matricular-se em seus cursos sob a condiccedilatildeo de
estudarem no ensino meacutedio o interesse foi grande e a impossibilidade pelo fato de
natildeo estarem habilitados no ensino fundamental provocou tanta discussatildeo que
estimulou essa pesquisa
43
O legado desses alunos futuros alunos e profissionais para o futuro do
Assentamento apresentaraacute resultados significativos para toda a comunidade O
futuro colheraacute bons frutos plantados agora
A escola que temos natildeo estaacute funcionando falta a renovaccedilatildeo do contrato o que
atrasa a alfabetizaccedilatildeo e conclusatildeo do 5ordm ano Falta a implantaccedilatildeo de poliacuteticas
puacuteblicas para atendimento de questotildees baacutesicas como por exemplo carteiras
quadro de giz iluminaccedilatildeo espaccedilo fiacutesico (dependecircncias para a escola) e mobiliaacuterio
-41-
44
Consideraccedilotildees Finais
A Educaccedilatildeo do campo eacute um movimento em que os trabalhadores do campo e
suas organizaccedilotildees lutam por transformaccedilotildees sociais particularmente a criaccedilatildeo de
escolas dono campo de qualidade a partir de uma perspectiva ampla de reforma
agraacuteria
A construccedilatildeo da educaccedilatildeo do campo eacute resultado do amadurecimento dos
movimentos sociais e das comunidades rurais em sua trajetoacuteria de luta pelo direito
fundamental agrave universalizaccedilatildeo escolar para as populaccedilotildees camponesas segundo
orientaccedilatildeo poliacutetico-pedagoacutegica adequada agrave realidade dos lutadores de
acampamentos e assentamentos em luta pela reforma agraacuteria e justiccedila social
Alguns princiacutepios caracterizam a luta pela escola do campo Dentre eles
podemos citar a criaccedilatildeo da consciecircncia do direito agrave educaccedilatildeo de qualidade plantada
na proacutepria comunidade o que provoca o enraizamento a valorizaccedilatildeo da vida no
campo a promoccedilatildeo da autoestima e a transformaccedilatildeo do ser alienado pela ideologia
e desigualdade social e sujeito de sua proacutepria histoacuteria
Outro princiacutepio eacute a adequaccedilatildeo de curriacuteculos agrave realidade camponesa de modo
a que o processo ensino-aprendizagem favoreccedila o amadurecimento de talentos
naturais o surgimento de oportunidades a niacutevel pessoal e social contribuindo para a
emancipaccedilatildeo poliacutetico-social do indiviacuteduo com reflexos na sociedade
A mudanccedila de paradigmas e o envolvimento social provocam a formaccedilatildeo integral
dos sujeitos que lutam de forma coletiva e solidaacuteria pela terra A escola do campo
que surge dessa mudanccedila eacute tambeacutem transformadora porque eacute fruto da luta
consciente que gera a reflexatildeo e o amadurecimento poliacutetico deixando um legado
positivo de cidadatildeos orgulhosos de sua condiccedilatildeo de lutador pela terra de sua
identidade de sua cultura de sua comunidade e coletividade
A escola do campo propicia aos alunos a reflexatildeo sobre o contexto social e a
problemaacutetica da comunidade em que estatildeo inseridos o respeito agrave individualidade a
ampliaccedilatildeo das potencialidades do aluno para organizar elaborar e atuar
coletivamente Deixam o legado futuro de homens responsaacuteveis mentes
independentes e atuantes que poderatildeo prestar serviccedilos significativos agrave sociedade
45
A comunidade assentada de o Assentamento Renascer pela Reforma
Agraacuteria em Sobradinho DF foi convidada a opinar sobre a escola que deseja a
partir da conquista da terra
O modelo proposto a partir de seu posicionamento possibilita a conclusatildeo
de que a escola do campo plantada na comunidade eacute preferiacutevel ao modelo
adotado atualmente de inserccedilatildeo dos alunos da comunidade agraves escolas urbanas
conter recursos materiais e humanos que propiciem bons resultados
pedagoacutegicos deve servir para fixar o trabalhador ao campo deve cumprir com o
propoacutesito constitucional de universalizaccedilatildeo do ensino para todas as faixas
etaacuterias deve estar identificada com os sonhos de prosperidade material e
realizaccedilatildeo pessoal dos assentados
-46-
46
Referecircncias Bibliograacuteficas
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FERRARI Marco ldquoAniacutesio Teixeira o inventor da escola puacuteblica no Brasilrdquo Revista Nova Escola Fundaccedilatildeo Victor Civita Revistaescolaabrilcombr acesso em 14092014 FERREIRA Fabiano de Jesus BRANDAtildeO Elias Canuto ndash Revista Eletrocircnica de Educaccedilatildeo Ano V N 09 juldez 2011p3 ldquoEducaccedilatildeo do campo um olhar histoacuterico uma realidade concreta rdquo (WWWUNIFILBR acesso em 08 de agosto de 2014) GONCcedilALVES Luiz Alberto Oliveira e Pinto Regina Pahim EDUCACcedilAtildeO SEacuteRIE JUSTICcedilA E DESENVOLVIMENTO IFP-FCC FUNDACcedilAtildeO CARLOS CHAGAS 2007 SAtildeO PAULO (pag206)
KOLLING Edgar Jorge Vargas Caldart MST e Educaccedilatildeo in DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia Expressatildeo Popular 2012 (pag 5020
MOLINA Mocircnica SAacute Laiacutes Mouratildeo Escola do Campo in DICIONARIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia Expressatildeo Popular 2012 pg (329)
OLIVEIRA Maria Rita Duarte em sua dissertaccedilatildeo ldquoDos programas oficiais para a educaccedilatildeo rural aos projetos de educaccedilatildeo do campo dos movimentos sociaisrdquo WWWrevistalaborufcbrartigovolume1maria-ritapdf acesso em 08-09-2014
OLIVEIRA Maria Rita Duarte PEDAGOGIA EM MARCHA Apud ARROYO Satildeo Paulo1995( pg 162)
OLIVEIRA Maria Rita Duarte Revistalabor ufcbracesso em 19-10-2014
________ citando CALAZ Maria Rita Duarte Oliveira
47
SANTOS Clarice Aparecida PROGRAMA NACIONAL DE EDUCACcedilAtildeO NA REFORMA AGRAacuteRIA in DICIONARIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia2012(pg630)
________ Clarice Aparecida PROGRAMA NACIONAL DE EDUCACcedilAtildeO NA REFORMA AGRAacuteRIA BRASIacuteLIA 2012 pg 631 in DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO SANTOS Claudio Felix Dos ldquoO aprender a aprender na formaccedilatildeo de professores do campordquo Campinas 2013 Editora Autores Associados ) SOUZA Maria Antocircnia Movimentos Sociais no Brasil Contemporacircneo participaccedilatildeo e possibilidades no contexto das praacuteticas democraacuteticas ndash (wwwcesucptlab2004pdfMariaAntonia Souzapdfaceso em 24-07-2014 -48-
48
Apecircndices
1 Roteiro das Entrevistas
a) Dados dos entrevistados
Qual o seu nome
Masculino ( ) Feminino ( )
Quantos anos vocecirc tecircm
A quanto tempo mora no
assentamento
Onde vocecirc morou antes
de morar no
assentamento
Quantos anos vocecirc tinha
quando foi a escola pela
primeira vez
Estou ateacute qual seacuterieano
Quantos anos vocecirc tinha
quando parou de estudar
Qual motivo motivou vocecirc
a parar de estudar
Se tiver escola no
assentamento vocecirc voltaraacute
a estudar Porque
B) Outras informaccedilotildees dados pelos entrevistadosas (GRAVAR)
a) Em qual escola vocecirc estudou no acampamento ou em outro lugar Qual
b) Como era a escola que estudou Quais as coisas boas e coisas ruins que
tinha nesta escola
c) Conte como eacutefoi a educaccedilatildeo do assentamento o que jaacute existiu de escola
como funcionou e quais eram as boas e as coisas ruins desta escola
d) Jaacute participou de alguma accedilatildeo de mobilizaccedilatildeo para ter escola no
assentamento Se sim explique para que e como foi essa mobilizaccedilatildeo
e) Na sua opiniatildeo no assentamento deve ter escola Por quecirc
f) Como deveraacute ser a escola da comunidadeassentamento Como eacute a escola
que queremos ter
49
b) Entrevistas semi-estruturadas
Entrevistado 01
Moro no assentamento Renascer haacute 11 anos Nasci Carnauacuteba no Rio Grande do
Norte fui criado na roccedila e desde pequeno trabalhava na lavoura para ajudar meu
pai Fui para escola com 9 anos de idade estudei ateacute a 5ordm seacuterie parei de estudar
com 17 anos natildeo continuei os estudos porque era muito longe de onde eu morva
que era na cidade mais proacutexima eu tinha que andar a peacute 8 km ficava muito
cansado Casei e vim morar em Brasiacutelia para trabalhar em uma chaacutecara como
caseiro Morava na chaacutecara Buritis em sobradinho- Df tambeacutem natildeo dei para
continuar os estudos porque ficava longe e tinha que ser a noite e natildeo tinha como ir
Se vier uma escola pra caacute eu ainda vou estudar para ter mais conhecimento para
plantar minha roccedila ir no banco pra ver se assino um empreacutestimo para melhorar
minha produccedilatildeo e saber fazer conta pra administrar minha parcela de terra
Qual o seu nome
Masculino ( X ) Feminino ( )
Quantos anos vocecirc
tecircm
57 anos
A quanto tempo
mora no assentamento
11 anos
Onde vocecirc morou
antes de morar no
assentamento
Carnauacuteba ndash RN
Chaacutecara Buritis nordm 10 Sobradinho DF
Quantos anos vocecirc
tinha quando foi a escola
pela primeira vez
8 anos
Estou ateacute qual
seacuterieano
5ordf seacuterie
Quantos anos vocecirc
tinha quando parou de
estudar
24 anos
Qual motivo
motivou vocecirc a parar de
estudar
Trabalhar para sustento da famiacutelia a
distacircncia entre a casa e a escola
Se tiver escola no
assentamento vocecirc voltaraacute
a estudar Porque
Sim ldquoSe tivesse escola do ensino
fundamental voltaria a estudar para tecirc
mais conhecimento para plantar minha roccedila
50
saber pesar saber contar vendecirc os produto e
comecirc
Entrevistado 02
Moro no assentamento renascer haacute 7 anos tenho 38 vim do interior do Cearaacute
Entrei na escola com 7 anos de idade estudei soacute a 5ordm seacuterie incompleta natildeo
continuei a estudar porque natildeo tinha escola a onde eu morava que era na roccedila e eu
tinha que ficar na casa dozotro (SIC) na cidade e eu natildeo gostava disso natildeo ai parei
com 16 anos de idade Mudamo (SIC) pra Brasiacutelia pra uma chaacutecara perto de Santa
Maria-DF e natildeo dei pra estudar porque casei e tinha que trabalhar muito para
susrentar a famiacutelia A gora moro no assentamento Renascer e sei que um dia vai ter
uma escola aqui e eu vou voltar a estudar porque meu sonho eacute ser veterinaacuterio e vou
der se deus quiser
Entrevistado 03
Tenho 58 anos moro no assentamento Renascer haacute 6 anos vim de Ceres-GO
comecei a estudar quando eu tinha 10 ano de idade estudei ateacute a 4ordf seria primaacuteria
(SIC) parei de estudar quando tinha 16 anos porque eu morava na roccedila e escola
ateacute que natildeo ficava muito longe natildeo era soacute 2 km dava pra ir a peacute a professora eacute que
faltava muito e a gente natildeo tinha como saber se ela tava ou natildeoAiacute quando eu tinha
18 anos casei e vim morar em Brasiacutelia e arranjei(SIC) emprego de caseira em uma
chaacutecara aiacute natildeo pra estudar a noite porque era muito longe pra laacute entatildeo eu natildeo
pensei mais nessas coisas Quando tiver escola no assentamento quero estudar
quiecirc pra mim (SIC) fazer curso de teacutecnico agriacutecolarsquorsquo
Entrevistado 04
Tenho 24 anos moro no assentamento Renascer tem 6 ano vim da Bahia morava
no Condomiacutenio RK entrei na escola com 7 anos de idade e estudei soacute ateacute a 6ordf seacuterie
parei com 18 anos de idade
Porque mudei pra caacute pro assentamento (SIC) e natildeo tem escola e natildeo tem como ir
pra Sobradinho a noite porque eacute muito longe tem que andar 5 km eacute pirigogo (SIC)
tem muita gente mal por aiacute tem ateacute estrupador natildeo posso me arriscar
ldquoSe tivesse escola aqui eu ia terminar meus estudos podia ser no galpatildeo mesmo
pra mim tava bom mas para os meus filhos eu queria uma escola boa com internet
e tudo Eu natildeo gosto que meus filhos estuda(SIC) na cidade soacute aceito porque eacute o
jeito gente de assentamento eacute muito zombado (SIC) porque as vezes chega suja
na escola e os outros acha que eles satildeo porcos que toma banhordquo
Entrevistado 05
51
Tenho 21 anos de idade moro no Renascer haacute trecircs anos vim de satildeo Gabriel-GO
comecei a estudar aos 7 anos parei com 18 anos porque minha matildee mudou
pro(SIC) matildee mudou pro (SIC) assentamento haacute 6 anos e eu natildeo aguento morar
longe dela Quando cheguei aqui natildeo teve como continuar os estudos porque
trabalho durante o dia como manicure em Sobradinho e o uacuteltimo ocircnibus que passa
perto do assentamento eacute as 5 horas da tarde entatildeo natildeo daacute para estudar a noite
Sim porque quero fazer um curso de cabelereiro quando tiver aacutegua e luz aqui eu
quero montar um salatildeo de beleza e para ser uma empresaacuteria precisa ter estudos pra
administrar o negoacutecio
Entrevistado 06
44 anos
6 anos
Formosa-GO
8 anos
5ordf seacuterie
24 anos
Porque a escola mais perto(SIC) era 10km de distacircncia e eu trabalhava na roccedila e
ficava muito cansado aiacute parei natildeo deu mais
Sim quando tiver escola aqui eu vou voltar a estudar Eu tinha um sonho de ser
agroacutenomo mas esse sonho eacute impussive(SIC) entatildeo queria concluir o ensino
fundamental para fazer um curso de teacutecnico agriacutecola no IFB mas tambeacutem eacute longe
se tivesse como estudar aqui no assentamento eu ia(SIC) ficar muito feliz
Entrevistado 07
57 anos
6 anos
Parnaiacuteba-PI- Santa Maria- DF
7 anos
4ordf seacuterie
21 anos
Parei porque era muito difiacutecil ir para escola que ficava muito longe eu tinha que sair
de casa as 4hs da madrugada para chegar na escola as 730 ia montado num
cavalo e muitas vezes natildeo tinha professora pra dar aula Parei porque natildeo aguentei
o rojatildeo tinha que minha matildee na lida a tarde e eu ficava muito cansado Vim pra
52
Brasiacutelia e casei fui trabalhar de chacareiro numa chaacutecara que tambeacutem era longe de
escola depois vim morar aqui no assentamento que natildeo tem escola
Se tivesse escola aqui eu ia voltar estudar soacute pra aprender a cuidar meior (SIC) da
terra e dos meus bichos e que fosse como uma escola agriacutecola
Entrevistado 08
Tenho 29 anos moro no assentamento Renascer haacute 2 anos sou educadora do
Pronera haacute 1 ano e 2 meses O Pronera eacute como um antidepressivo na vida de muita
gente o Pronera melhorou a minha vida e a vida dos meus alunos o desejo de
todos eacute que o Pronera continue crescendo em direccedilatildeo de uma educaccedilatildeo continuada
levando tambeacutem o ensino fundamental para os acampamentos e assentamentos da
Reforma Agraacuteria
-50-
Anexos
53
Acampamento agrave beira da estrada ndash 2004
Construccedilatildeo da Sede do Movimento na atual aacuterea
54
Reuniatildeo semanal
Teatro de fantoches ndash brinquedoteca
55
Accedilatildeo da Pastoral da Crianccedila na brinquedoteca
Oficina de brinquedos reciclaacuteveis
56
Brinquedo confeccionado com materiais reciclaacuteveis na Brinquedoteca
57
58
59
60
Apresentaccedilatildeo teatral
61
Capacitaccedilatildeo em Economia Solidaacuteria
Formaccedilatildeo de multiplicadores da Economia Solidaacuteria
62
Capacitaccedilatildeo de Educadores Ambientais
63
Luta pela Reforma Agraacuteria e Soberania Alimentar
8
Primeiro Capiacutetulo
As opccedilotildees da pesquisa e os passos metodoloacutegicos
O intuito deste trabalho eacute recuperar a trajetoacuteria de luta dos moradores do
assentamento Renascer pela educaccedilatildeo visando assegurar o direito agrave escola
identificando avanccedilos e limites encontrados nesta trajetoacuteria
Gostaria de manifestar minha satisfaccedilatildeo e agradecer a oportunidade de estar
estudando numa universidade puacuteblica em um curso com muita interfere com a minha
vivecircncia pessoal e de um alcance social muito importante para a transformaccedilatildeo que
nosso paiacutes necessita A desigualdade social ainda eacute muito grande no campo e na
cidade sendo bastante visiacutevel esta realidade
Sou nascida numa comunidade remota e isolada no sul do Maranhatildeo onde
nos meus primeiros anos de vida convivi em uma comunidade indiacutegena com minha
avoacute paterna comunidade de economia essencialmente extrativista principalmente
da quebra do coco babaccedilu o cultivo da mandioca para fazer farinha e da caccedila e
pesca Fiquei sem frequentar agrave escola ateacute os treze(13) anos de idade por natildeo existir
escola na comunidade Quando vim morar em Brasiacutelia e ingressei em uma escola
pela primeira vez sofri muita descriminaccedilatildeo por parte dos outros alunos devido
minha idade e a defasagem escolar Apesar de viver na cidade grande haacute bastante
tempo continuam vivas na minha alma o desejo de viver no campo Estou na luta
por um pedaccedilo de terra atraveacutes da Reforma Agraacuteria no assentamento Renascer
com o apoio do MATR- Movimento de Apoio ao Trabalhador Rural haacute onze(11)
anos atualmente estamos em fase de sermos assentados
Alguns anos atraacutes em 1992 cheguei a fazer um curso de formaccedilatildeo de
professores (Magisteacuterio) e me capacitei para trabalhar da 1ordf a 4ordf seacuterie do Ensino
Fundamental na eacutepoca Realizei alguns trabalhos nessa aacuterea mas natildeo exerci
profissionalmente esta atividade de forma regular
O tema Escola do Campo vem ao encontro a um anseio pessoal de poder
trabalhar com educaccedilatildeo voltada para a realidade vivida pelo cotidiano da populaccedilatildeo
realmente do campo A minha motivaccedilatildeo ao escolher este tema de pesquisa eacute de
9
poder de alguma forma contribuir para a troca de experiecircncia e conhecimentos entre
educandos e educadores melhorando minha capacitaccedilatildeo profissional e absorver
conhecimentos e orientaccedilotildees de professores (as) e companheiros (as) de estudo
Conforme o educador Paulo Freire dizia ningueacutem tem o conhecimento de tudo
e sempre eacute capaz de conhecer mais coisas que ainda natildeo conhece se assim o
desejar
O assentamento Renascer hoje conta com um total de 120 famiacutelias satildeo
11 (onze) anos de luta e perseveranccedila tem se manifestado se mobilizado
reivindicando oportunidades de obterem escola do campo para adquirirem
conhecimentos atraveacutes do estudo que lhes permita melhorar sua capacitaccedilatildeo para o
trabalho e consequentemente ampliar seus horizontes soacutecio- econocircmico e
culturalmente ou seja progredir atraveacutes dos seus estudos e trabalho que satildeo
direitos humanos universais
Sem a inclusatildeo do ensino fundamental para trabalhadores rurais a Educaccedilatildeo
de Jovens e Adultos (EJA) para o ensino do 6ordm ao 9ordm ano o que natildeo eacute nem um pouco
acessiacutevel agrave comunidade devido a inuacutemeras dificuldades como horaacuterio disponiacutevel
falta de transporte dentre outros fatores Fica impossiacutevel o acesso dessa
comunidade aos estudos oferecidos pelo Instituto Federal de Brasiacutelia (IFB) que fica
proacuteximo a esse assentamento O IFB oferece diversos cursos que interessam e
atendem agraves necessidades dos trabalhadores do campo Desta maneira a situaccedilatildeo
atual dos moradores do Assentamento Rural Renascer demostra discriminaccedilatildeo e
exclusatildeo social por parte do poder puacuteblico
Alguns cursos e projetos teacutecnico-pedagoacutegicos realizados por parceiros do
Movimento de Apoio ao Trabalhador Rural (MATR) Como a Fundaccedilatildeo Banco do
Brasil Funatura IFB Economia Solidaacuteria Novas Fronteiras da Cooperaccedilatildeo Rio Satildeo
Bartolomeu Vivo e UnB Essas parcerias acrescentaram melhorias agrave qualidade de
vida ao assentamento
A educaccedilatildeo que temos atraveacutes do Programa de Educaccedilatildeo na Reforma
Agraacuteria (PRONERA) revela que a importacircncia do programa na realidade do
assentamento durante determinado periacuteodo satisfez algumas necessidades
educacionais tirando muitas pessoas do analfabetismo
O que ocorre atualmente eacute que o Pronera natildeo estaacute funcionando no
momento por falta da renovaccedilatildeo do contrato estre o INCRA a UnB e o Movimento
10
Social MATR que vem atrasando o processo de alfabetizaccedilatildeo e conclusatildeo do
5ordm ano
Um olhar criacutetico sobre a escola que temos revela a necessidade de poliacuteticas
puacuteblicas como a implantaccedilatildeo de espaccedilos fiacutesicos contendo mobiliaacuterio escolar baacutesico
como carteiras quadro de giz e iluminaccedilatildeo adequada A observaccedilatildeo da atuaccedilatildeo do
Pronera na comunidade Renascer resultou nas seguintes observaccedilotildees
- inadequaccedilatildeo do local para realizaccedilatildeo das aulas que ateacute recentemente
funcionava de forma precaacuteria num barraco utilizado pela igreja catoacutelica o que
impossibilitava o funcionamento das aulas pois durante os eventos da igreja natildeo
tinha como realizar as atividades pedagoacutegicas
A reparaccedilatildeo dessa situaccedilatildeo de precariedade especiacutefica do assentamento
Renascer contribui para reverter a condiccedilatildeo de inferioridade dos assentados
As criacuteticas acima relacionadas satildeo positivas pois a uacutenica escola que o
acampamento teve no decorrer desses 11 (onze) anos foi o Pronera que pode
perfeitamente superar as dificuldades apontadas contribuindo com o trabalho do
educador (a) que acaba por acrescentar inuacutemeras responsabilidades que lhe natildeo
satildeo devidas ao ato de ensinar
A perseveranccedila na luta por uma escola do campo na comunidade Renascer
eacute essencial para evitar o que acontece na realidade do campo em niacutevel nacional
onde cerca de 24000 escolas brasileiras foram fechadas no meio rural
Segundo Erivam Hilaacuterio do setor de educaccedilatildeo do MST que afirma que o
fechamento dessas escolas tem sua loacutegica a intenccedilatildeo de pensar num campo sem
escola e consequentemente um campo sem cultura e sem gente
Refletinto sobre a educaccedilatildeo que queremos atraveacutes do Pronera ou outros
programas educacionais de ensino sentimos que eacute necessaacuterio uma concepccedilatildeo da
educaccedilatildeo ampla que propicia alimento intelectual moral artiacutestico e um
posicionamento criacutetico no processo social e poliacutetico tanto em niacutevel regional
nacional e universal Constitui ferramenta essencial para a formaccedilatildeo de nossa
personalidade e para a emancipaccedilatildeo da sociedade em relaccedilatildeo agrave opressatildeo e
injusticcedila
As expectativas e lutas das famiacutelias do assentamento Renascer estatildeo
alicerccediladas em parcerias junto a entidades do poder puacuteblico exemplo INCRA UnB
11
e Movimentos Sociais do campo para colocar em praacutetica uma educaccedilatildeo que seja
eficaz para a Comunidade Renascer
Acredito que cada comunidade possui uma realidade um contexto muito
proacuteprio particular diferenciada de outra comunidade qualquer Os anseios as
necessidades os fatores culturais econocircmicos entre outros fatores satildeo diferentes
de lugar para lugar
A pedagogia e os meacutetodos a serem realizados em cada local deveriam ser
colocados em praacutetica somente apoacutes a comunidade local ser mobilizada e participar
ativamente na elaboraccedilatildeo deste plano de trabalho pedagoacutegico contribuindo com
ideias e vivecircncias Desta maneira a educaccedilatildeo estaria a serviccedilo do bem coletivo e
natildeo privilegiaria alguns em prejuiacutezo da coletividade A educaccedilatildeo eacute uma importante
ferramenta para o desenvolvimento de uma economia solidaacuteria e socialmente justa
politicamente livre dos espoliadores que historicamente persistem em oprimir a
maioria dos povos privando-os de seus direitos
Na maioria das escolas existentes no campo que natildeo atendem a todos mas
a uma determinada parcela da populaccedilatildeo regional a pedagogia adotada eacute
planejada formulada empacotada e imposta aos camponeses por ldquopedagogo de
gabineterdquo que vivem nas grandes cidades e natildeo respeitam os valores e realidades
regionais e locais de cada comunidade
Eacute claro que existem exceccedilotildees de trabalhos pedagoacutegicos muito bons Eacute o caso
de quando ocorre uma interaccedilatildeo entre a comunidade local e os educadores que
estatildeo ali para contribuir por uma educaccedilatildeo construiacuteda a partir da participaccedilatildeo
popular e democraacutetica na criaccedilatildeo e produccedilatildeo do processo educativo
A pesquisa seraacute fundamentada pela investigaccedilatildeo teoacuterica sobre o tema de
implantaccedilatildeo de salas de aula de ensino fundamental para trabalhadores rurais
adultos em comunidades que lutam pela reforma agraacuteria Para entender-se o
problema eacute necessaacuterio apontar a fundamentaccedilatildeo teoacuterica
A fundamentaccedilatildeo de diversas correntes de opiniatildeo eacute importante para o nosso
proacuteprio esclarecimento e para a busca conjunta com os interessados sobre qual o
melhor modelo pedagoacutegico a ser implantado na sala de aula da comunidade
A fundamentaccedilatildeo teoacuterica como satildeo vaacuterias as teorias existentes seratildeo
expostas algumas como Territoacuterios Educativos na Educaccedilatildeo do Campordquo ldquopor uma
Educaccedilatildeo do Campordquo ldquoTeoria e Praacutetica Pedagoacutegica da educaccedilatildeo do Campordquo
12
rdquoPesquisa Social e accedilatildeo Pedagoacutegicardquo rdquoEtnografia e Praacutetica Escolarrdquo ldquoMetodologia
do tralho Cientiacuteficordquo e trabalhos monograacuteficos de ex-alunos do curso da LEdoC
A metodologia utilizada a pesquisa qualitativa com estudo de caso e estudo
bibliograacutefico
O estudo teve como instrumento de pesquisa a aplicaccedilatildeo de entrevista semi-
estruturada com pessoas da comunidade Renascer quando seraacute identificada sua
participaccedilatildeo e contribuiccedilatildeo para educaccedilatildeo na comunidade e sobre seu entendimento
sobre que tipo de escola do campo que a comunidade requerem relevantes para o
objetivo da pesquisa
O trabalho de campo foi para buscar informaccedilotildees atraveacutes da fala dos sujeitos
que foram ouvidos conforme citado anteriormente bem como de material que
poderaacute contribuir para o trabalho da pesquisa
A pesquisa bibliograacutefica abordou o aprofundamento teoacuterico sobre o tema
para anaacutelise da realidade da educaccedilatildeo do campo para melhor entender a situaccedilatildeo
em que o assentamento se encontra na luta pela escola
-11-
13
Segundo Capiacutetulo
Da escola rural agrave escola do campo histoacuterico das lutas e
concepccedilotildees da educaccedilatildeo
21 A Escola Rural no Brasil
Conforme Ferreira e Brandatildeo (2011) a trajetoacuteria da escola rural brasileira
deve ser contextualizada historicamente segundo o modelo socioeconocircmico
implantado no paiacutes desde o iniacutecio do processo colonizador ateacute o momento presente
Para os autores desde os primoacuterdios do processo de colonizaccedilatildeo o paiacutes foi
entendido apenas como uma colocircnia de exploraccedilatildeo devendo portanto remeter agrave
metroacutepole suas riquezas naturais do solo do subsolo dando segmento aos ciclos
econocircmicos denominados de colonial ciclo do pau brasil da cana de accediluacutecar do
ouro do cafeacute (FERREIRA amp BRANDAtildeO 2011 p3)
A base social do paiacutes eacute formada pelos nativos (iacutendios ndash expulsos
massacrados e exterminados) os africanos e os imigrantes pobres vindos da
Europa e do oriente Foi segundo os mesmos autores esta mesma base social que
formou a matildeo de obra imprescindiacutevel para a implantaccedilatildeo do projeto colonial e do
periacuteodo imperial
A aboliccedilatildeo da escravatura em 1888 e o consequente abandono da populaccedilatildeo
negra desprovida de qualquer indenizaccedilatildeo ou bens materiais particularmente terra
teve como consequecircncia o ecircxodo rural e o desprezo pela atividade agriacutecola
associada agrave escravatura
Em sua experiecircncia histoacuterica como repuacuteblica o tradicional modelo
socioeconocircmico adotado no Brasil perdurou
Ao longo da histoacuteria do Brasil o processo de exclusatildeo social e tambeacutem poliacutetico econocircmico e cultural sempre estiveram presentes e eram tidos como algo ldquonaturalrdquo Ainda nos dias atuais fazer uma referencia a este processo de exclusatildeo natildeo leva a um debate tranquilo a resistecircncia ainda eacute forte por parte da sociedade neoliberal principalmente por aqueles que ainda se beneficiam com
a exclusatildeo socialrdquo (FERREIRA 2011 pag 3)
Com relaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo o que se percebe eacute conforme Ferreira (2011)
14
que o modelo de educaccedilatildeo praticado no Brasil pelos diferentes governos entre o iniacutecio do Impeacuterio (1822) ateacute meados do seacuteculo XX era uma educaccedilatildeo para a elite econocircmica e intelectual em prejuiacutezo direto e indiscriminado dos pobres negros e iacutendios Inclusive a primeira Lei ainda no periacuteodo imperial quando se reporta agrave educaccedilatildeo natildeo se ateve agraves especificidades diretas da zona rural onde a populaccedilatildeo brasileira viviardquo (FERREIRA 2011 p4)
Clauacutedio Santos (2013) afirma que a educaccedilatildeo destinada aos habitantes do
campo no inicio do seacuteculo XX entendia que ldquoa formaccedilatildeo das jovens geraccedilotildees ou dos
adultos no espaccedilo rural era tida como algo menor ou desnecessaacuteriordquo (p 47) Para o
autor a maioria de residentes no campo ( 75) natildeo foi pensado um modelo
educacional que contemplasse as necessidades dos residentes no campo o que a
histoacuteria do Brasil nos ensina eacute que o regime republicano manteve os grandes
latifuacutendios e a oligarquia rural alijando a maior parcela da populaccedilatildeo rural de
qualquer benefiacutecio do sistema poliacutetico-econocircmico
A organizaccedilatildeo escolar rural no Brasil embora tiacutemida pode ser localizada a
partir do primeiro governo republicano o do marechal Deodoro da Fonseca (1889-
1891) estando a cargo do Ministeacuterio da Agricultura Comeacutercio e Induacutestria O ecircxodo
da populaccedilatildeo rural para os incipientes centros urbanos em busca dos empregos
promovidos pela igualmente incipiente industrializaccedilatildeo evidenciava as mazelas dos
sujeitos do campo 75 da populaccedilatildeo brasileira era analfabeta igual nuacutemero da
populaccedilatildeo do campo
Somente a partir de 1920 tem-se efetivamente o primeiro movimento em
defesa da educaccedilatildeo da populaccedilatildeo rural conhecido como Ruralismo Pedagoacutegico
(SANTOS 2013) que foi um movimento dos educadores poliacuteticos e intelectuais
elaborando formas de accedilatildeo pedagoacutegicas adequados agrave dominacircncia poliacutetico-
econocircmica da oligarquia rural
Para o autor o ruralismo pedagoacutegico
defendia uma escola integrada agraves condiccedilotildees locais para promover a fixaccedilatildeo do homem do campo estava ligado agrave modernizaccedilatildeo do campo brasileiro e contava com o apoio dos latifundiaacuterios temerosos de perder sua matildeo de obra bem como de uma elite urbana preocupada com os resultados negativos de uma migraccedilatildeo
camponesa para a cidade (SANTOS2013p48)
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Uma caracteriacutestica do ruralismo pedagoacutegico foi buscar adequar a educaccedilatildeo
rural para fixar o homem no campo para diminuir o processo de urbanizaccedilatildeo e
consequente ecircxodo rural que modificava a estrutura econocircmico e social do paiacutes
Relativo agrave educaccedilatildeo rural da primeira metade do seacuteculo XX nos ensina
Santos (2013 p48) que ldquoem 1933 inicia-se a campanha de alfabetizaccedilatildeo na zona
rural Em 1935 ocorre o I Congresso Nacional do Ensino Regional que contribui
para a fundaccedilatildeo da Sociedade Brasileira de Educaccedilatildeo Rural no ano de 1937rdquo
Nos anos de 1920 foi criado o movimento conhecido como Escola Nova por
intelectuais e pensadores brasileiros que valorizaram a pesquisa educacional e a
inserccedilatildeo da escola como uacutenico meio de se combater as desigualdades sociais num
ambiente de crescente industrializaccedilatildeo e urbanizaccedilatildeo (SANTOS 2013) Estes
educadores como Aniacutesio Teixeira Fernando de Azevedo Lourenccedilo Filho dentre
outros defenderam atraveacutes do Manifesto da Escola Nova (1932) a universalizaccedilatildeo
da escola puacuteblica laica e gratuita
A influecircncia deste movimento sobre a educaccedilatildeo brasileira fez-se sentir nas geraccedilotildees futuras de educadores e pesquisadores como Darcy Ribeiro e Florestan Fernandes A atuaccedilatildeo desses pioneiros se estendeu por deacutecadas muitas vezes criticada pelos defensores da escola particular e religiosa (FERRARI 2014p43)
Poreacutem as propostas do Manifesto natildeo tiveram impactos concretos e natildeo
foram incorporados pela escola Ferraro (2012) esclarece que
A educaccedilatildeo rural no Brasil soacute se tornou objeto de interesse do Estado no momento em que todas as atenccedilotildees e esperanccedilas se voltavam para o urbano e a ecircnfase passava a recair sobre o desenvolvimento industrial Quando os interesses do latifuacutendio dominavam tanto a economia como a poliacutetica a alfabetizaccedilatildeo das massas camponesas era vista como seacuteria ameaccedila agrave ordem vigente Quando o paiacutes jaacute avanccedila no processo de industrializaccedilatildeo e se torna predominantemente urbano eacute a proacutepria cidade que passa a reivindicar a alfabetizaccedilatildeo das populaccedilotildees do campo Passa entatildeo a contrariar os interesses da cidade continua (FERRARO 2012p964)
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A industrializaccedilatildeo ocorreu nas cidades e atraiu grandes levas de
trabalhadores do campo seduzidos pelo ideal de transformaccedilatildeo de vida acesso agrave
escolarizaccedilatildeo empregos bem remunerados ideais que levam ao ecircxodo rural hoje
ou naquele momento histoacuterico A realidade do trabalhador do campo receacutem
chegado agrave cidade era do ponto de vista educacional precariacutessima pois em sua
maioria eram analfabetos ou com baixa escolarizaccedilatildeo Essa condiccedilatildeo impedia o
acesso ao emprego industrial urbano e agrave boa qualidade de vida que uma boa
remuneraccedilatildeo podia proporcionar
As cidades sofreram crescimento raacutepido desgovernado formando periferias
que abrigavam a maioria da populaccedilatildeo egressa do campo O subemprego e o
desemprego desestabilizavam as populaccedilotildees das cidades e geravam desequiliacutebrios
sociais e econocircmicos comprometendo a qualidade de vida de todos os moradores
Eacute o ciacuterculo vicioso da desigualdade da exclusatildeo e da violecircncia que a educaccedilatildeo
pode romper A educaccedilatildeo tem entatildeo o propoacutesito de formar trabalhadores para a
induacutestria urbana
Na Constituiccedilatildeo de 1934 para com a educaccedilatildeo rural destaca-se o Art 156 conforme podemos ver abaixo
A Uniatildeo e os Municiacutepios aplicaratildeo nunca menos de dez por cento e os Estados e o Distrito Federal nunca menos de vinte por cento da renda resultante dos impostos na manutenccedilatildeo e no desenvolvimento dos sistemas educativos Paraacutegrafo uacutenico ndash Para a realizaccedilatildeo do ensino nas zonas rurais a Uniatildeo reservaraacute no miacutenimo vinte por cento das cotas destinadas agrave educaccedilatildeo no respectivo orccedilamento anual
Na constituiccedilatildeo Federal de 1937 a educaccedilatildeo rural natildeo eacute citada A prioridade eacute
a educaccedilatildeo dos moradores urbanos Neste periacuteodo conforme Ferreira (2011) ldquoa
orientaccedilatildeo poliacutetico educacional para o mundo capitalista fica bem expliacutecita
sugerindo a preparaccedilatildeo de um maior contingente de matildeo de obra para as novas
atividades abertas pelo mercado ndash a industrializaccedilatildeordquo ( pg 32)
Ainda segundo o autor este afirma que em 1935 ocorreu o I Congresso
Nacional do Ensino Regional que assume como objetivo propagar a educaccedilatildeo rural
e elaborar os planos de educaccedilatildeo Esses planos recomendavam escolas rurais
ambulantes nas regiotildees de menor densidade geograacutefica
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O periacuteodo conhecido como Estado Novo (1937-1945) tentava implantar uma
poliacutetica educacional de cunho nacionalista tornando a educaccedilatildeo um instrumento do
estado servindo aos seus interesses
Os adultos analfabetos particularmente no meio rural tiveram atenccedilatildeo da
Campanha Nacional de Educaccedilatildeo Rural (CNER) de 1952 a 1963 cujo objetivo era
contribuir para a inserccedilatildeo do homem do campo O CNER atuou atraveacutes de missotildees
internacionais dos Estados Unidos voltadas agrave educaccedilatildeo ao treinamento de
professores e agrave preparaccedilatildeo dos jovens do meio rural pelo ensino profissional
agriacutecola Agrave atividade do CNER podemos agregar a accedilatildeo da Comissatildeo Brasileiro-
Americana de Educaccedilatildeo das Populaccedilotildees Rurais (CBAR) que celebrou acordos entre
esses dois paiacuteses visando a educaccedilatildeo rural orientada para o emprego de teacutecnicas
agriacutecolas (OLIVEIRA 1999 p 133)
A educaccedilatildeo rural eacute chamada para se ajustar agraves poliacuteticas educacionais estabelecidas pelo projeto do estado A educaccedilatildeo rural em primeiro lugar apesar de numerosos programas desenvolvidos sempre representou uma fatia muito pequena e marginal nas preocupaccedilotildees do setor puacuteblico (OLIVEIRA p apud CALAZANS1981p162)
A educaccedilatildeo rural ocupou e ainda ocupa pequeno espaccedilo no universo
educacional brasileiro As escolas apresentam dificuldades para se manterem no
campo Conforme o Jornal Sem Terra nordm 46 jun2011 24000 escolas do campo
foram fechadas no Brasil As instalaccedilotildees o curriacuteculo a carecircncia de professores o
transporte escolar formam muitas vezes uma barreira quase imponiacutevel para uma
ampla gama de alunos particularmente das uacuteltimas seacuteries do ensino fundamental e
do ensino meacutedio
Os programas implantados nos uacuteltimos anos como o PRONERA e o EJA
apresentam soluccedilotildees e alcanccedilam grandes resultados mas podemos questionar os
resultados entre os estados O Rio Grande do Sul (que atendeu alunos do ensino
baacutesico ateacute o ensino superior) em comparaccedilatildeo com outros estados e o Distrito
Federal conseguiu excelentes resultados No DF falta alcanccedilar melhores
resultados Podemos questionar se os resultados satildeo adequados pois por exemplo
no assentamento Renascer o Pronera natildeo vai aleacutem do quinto ano Eacute necessaacuterio
uma poliacutetica educacional que leve em conta a realidade dos alunos do campo
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invista recursos materiais e humanos modernizem as escolas e propiciem o acesso
dos alunos
Conforme nos explica Sousa 2004 em seu artigo lsquodiscursos intolerantes o
lugar da politica na educaccedilatildeo rural e a representaccedilatildeo do camponecircs analfabeto
No Brasil a trajetoacuteria da educaccedilatildeo rural inclui-se na dinacircmica de modernizaccedilatildeo do campo assumindo um papel decisivo no processo de expropriaccedilatildeo proletarizaccedilatildeo e controle dos trabalhadores rurais A modernizaccedilatildeo da produccedilatildeo no nordeste brasileiro por exemplo incentivou o processo de sindicalizaccedilatildeo em massa dos trabalhadores das zonas canavieiras estimulou reivindicaccedilotildees no campo do trabalho ligadas agrave aplicaccedilatildeo do Estatuto do Trabalhador Rural e contraditoriamente fez emergir as manifestaccedilotildees pela distribuiccedilatildeo de terras encampadas pelas Ligas Camponesas ( SOUSA2004 p4)
O projeto de modernizaccedilatildeo do campo ocorreu sem que houvesse a
emancipaccedilatildeo dos trabalhadores rurais Na verdade ocorreu a proletarizaccedilatildeo dos
trabalhadores rurais pela acumulaccedilatildeo de terras em matildeos de apenas poucos
proprietaacuterios (latifundiaacuterios) Esse acontecimento revela que apenas em processo
consciente e contiacutenuo de lutas organizados e unidos os trabalhadores rurais
poderatildeo conquistar terras e meios para sua produccedilatildeo
O estudo da organizaccedilatildeo dos trabalhadores rurais eacute importante porque eacute a
partir dela que outras grandes reivindicaccedilotildees satildeo conquistadas No caso da
presente pesquisa pode-se observar que foi a organizaccedilatildeo dos trabalhadores em
torno de suas causas a reforma agraacuteria que levou agrave luta pelas outras reivindicaccedilotildees
como a educaccedilatildeo no campo
O proacuteximo capiacutetulo deste trabalho monograacutefico aborda a questatildeo das
manifestaccedilotildees e resistecircncias dos camponeses pela educaccedilatildeo e pela reforma
agraacuteria
-16-
22 Trajetoacuteria de luta pela Educaccedilatildeo do Campo
A luta pela educaccedilatildeo do campo esteve sempre associada agrave luta pela reforma
agraacuteria e pela conquista de direitos para os trabalhadores rurais O Movimento das
19
Ligas Camponesas lutou pela emancipaccedilatildeo do trabalhador rural e da reforma agraacuteria
e em seu projeto educacional estavam baseados nos ideais de Paulo Freire e do
Movimento de Educaccedilatildeo de Base (MEB)
Para explicar a reaccedilatildeo das classes populares agraves imposiccedilotildees do governo
brasileiro e das classes dominantes Oliveira (1995 apud ARROYO)
A histoacuteria das lutas entre as classes sociais natildeo se limitam agrave luta pelo poder mas se constituem impulsionadoras da histoacuteria da humanidade que natildeo aguardam passivamente seu destino mas ao contraacuterio articulam-se em torno de suas lutas para garantir seus direitos sua dignidade e sua participaccedilatildeo democraacutetica na sociedade( OLIVEIRA apud ARROYO1995p 80)
Neste sentido as Ligas Camponesas lutaram praticamente em todo o
territoacuterio nacional contra a tentativa de expulsatildeo dos trabalhadores rurais das terras
Os conflitos armados particularmente no Nordeste exigiam participaccedilatildeo poliacutetica e
direitos essenciais como a educaccedilatildeo do campo
O meacutetodo de alfabetizaccedilatildeo criado por Paulo Freire foi amplamente utilizado
pelas Ligas Camponesas e em sua concepccedilatildeo ampla de escola serviu de subsidio
para a compreensatildeo do camponecircs acerca de seu papel social (TOLEDO Caio
Navarro 2004 p6)
Neste contexto surge a Pedagogia do Oprimido de Paulo Freire Segundo
SANTOS (2013 apud Paulo Freire 1987) afirma que a pedagogia do oprimido
configura-se como
Aquela que tem de ser forjada com ele (o oprimido) e natildeo para ele enquanto homens ou povos na luta incessante de recuperaccedilatildeo de sua humanidade Pedagogia que faccedila da opressatildeo e de suas causas objeto de reflexatildeo dos oprimidos de que resultaraacute o seu engajamento necessaacuterio na luta por sua libertaccedilatildeo em que esta pedagogia se faraacute e refaraacuterdquo (FREIRE 1987 p32)
A pedagogia do oprimido serve de referecircncia para o trabalhador rural que luta
pela emancipaccedilatildeo de sua condiccedilatildeo de proletaacuterio atraveacutes da reforma agraacuteria A
pedagogia do oprimido leva o homem ao encontro de si mesmo ao reconhecimento
da grandeza de seu trabalho ao potencial de suas accedilotildees cotidianas que fazem a
diferenccedila A capacidade de reflexatildeo e o entendimento de sua potencialidade pode
leva-lo agrave sua plena realizaccedilatildeo como indiviacuteduo e como ser social
20
A reaccedilatildeo do governo contra o movimento de educaccedilatildeo popular proposto por
Freire e assumido pelo Movimento das Ligas Camponesas e pelo Movimento de
Educaccedilatildeo de Base (MEB) gerou repressatildeo e resposta da ditadura civil-militar como
o Movimento Brasileiro de Alfabetizaccedilatildeo (MOBRAL)
A luta dos movimentos sociais e sindicais pela educaccedilatildeo do campo parte das
forccedilas internas dos movimentos e alcanccedila a setores sociais religiosos ideoloacutegicos
que passam a contribuir efetivamente para o alcance do direito agrave educaccedilatildeo aos
camponeses
A Comissatildeo Pastoral da Terra (CPT) presente ao lado dos trabalhadores (as)
rurais indiacutegenas ribeirinhos pescadores e quilombolas tambeacutem contribuiu e
contribui para a formaccedilatildeo criacutetica a defesa de formas sustentaacuteveis de utilizaccedilatildeo de
recursos naturais e produccedilatildeo e para a alfabetizaccedilatildeo segundo o meacutetodo de Paulo
Freire (CANUTO 2012 p 131)
Na atualidade estaacute em desenvolvimento um movimento que luta pela educaccedilatildeo do homem do campo organizado por vaacuterias entidades dentre elas o MST Trata-se de um processo que teve inicio em meados dos anos de 1990 impulsionados pela necessidade da educaccedilatildeo de jovens e adultos das aacutereas de assentamentos rurais Foi organizado um Programa Nacional para Educaccedilatildeo na Reforma Agraacuteria composto por atores tais como movimentos sociais universidades e governo federal aleacutem de outros parceiros (Alas da Igreja Sindicatos Organizaccedilatildeo Natildeo-Governamental ONG) existentes nas diferentes regiotildees do Brasil( SOUSA2004 p 32)
A trajetoacuteria de conquista das escolas do campo particularmente as escolas
do campo criadas pelo MST a partir da deacutecada de 1990 foi marcada pela conquista
e implantaccedilatildeo da Educaccedilatildeo Fundamental para crianccedilas e adolescentes dos
acampamentosassentamentos de acordo com o projeto politico-pedagoacutegico fruto do
amadurecimento do movimento
Focou-se a alfabetizaccedilatildeo de jovens e adultos e as lutas pela implantaccedilatildeo do
ensino meacutedio com cursos alternativos para a formaccedilatildeo de professores e teacutecnicos de
niacutevel meacutedio e tambeacutem de cursos superiores
A concepccedilatildeo de escolas de ensino fundamental plantadas em assentamentos
prevecirc a instalaccedilatildeo da escola na proacutepria comunidade evitando com isso o uso de
transporte escolar e a frequecircncia dos alunos Sem Terra em escolas fora do
assentamento
21
Esta atitude de resistecircncia foi fundamental para a conquista da escola nas
terras conquistadas e tambeacutem foi fundamental para universalizar o ensino enraizar
o aluno em sua comunidade e criar a consciecircncia do direito agrave educaccedilatildeo
ldquoincomodandordquo o Estado para garantir o cumprimento das poliacuteticas puacuteblicas
Kolling Vargas e Caldart (2012p502) nos ensinam ldquotoda vez que se
conquista uma escola de educaccedilatildeo baacutesica em um assentamento ou acampamento
ela representa menos adolescentes e jovens do campo fora da escola e mais gente
enraizada em seu proacuteprio lugarrdquo (pag 502)
Os movimentos sociais e sindicais pela educaccedilatildeo do campo indicam o grau
de maturidade desses em sua luta pela reforma agraacuteria Agrave essa luta soma-se o
projeto de desenvolvimento do paiacutes baseado na justiccedila social e o combate agraves
tradicionais formas utilizadas pelas elites urbanas ou rurais de alienaccedilatildeo pela
expropriaccedilatildeo do trabalho e pelo controle dos meios que levam agrave emancipaccedilatildeo
sociocultural e agrave verdadeira humanizaccedilatildeo papel destinado agrave educaccedilatildeo
Neste sentido movimentos sociais como o MST inserem a educaccedilatildeo
baseada em princiacutepios pedagoacutegicos que se distinguem da escola tradicional
Numa perspectiva histoacuterica os movimentos sociais do campo como por
exemplo o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) tiveram inicialmente
como bandeira de luta a luta pela terra pela Reforma Agraacuteria natildeo fazendo uma
relaccedilatildeo entre essa luta e a educaccedilatildeo
A formaccedilatildeo de escolas do campo pelo MST natildeo foi resultado da consciecircncia e
importacircncia da escola para a promoccedilatildeo da educaccedilatildeo em seu meio Foi na verdade
a necessidade de oferecer aos filhos dos primeiros lutadores a oportunidade de
uma perspectiva melhor de futuro atraveacutes do direito agrave educaccedilatildeo Foi tambeacutem a
necessidade de ldquotransformar instituiccedilotildees histoacutericas como a escola em lugares que
ajudem a formar os sujeitos destas transformaccedilotildeesrdquo (CALDART2012 p94)
Desse modo houve primeiro a ldquoocupaccedilatildeo da escolardquo pela mobilizaccedilatildeo e pela
accedilatildeo para garantir que em acampamentos ou assentamentos conquistados
houvesse uma escola que ldquofizesse a diferenccedila ou tivesse realmente sentido em sua
vida presente e futura (preocupaccedilatildeo com os filhos)rdquo (CALDART2012 p91)
Num segundo momento da luta observa-se intencionalidade da luta pela
escola mas com proposta pedagoacutegica especiacutefica ldquocombinando processos de
22
escolarizaccedilatildeo e de formaccedilatildeo da militacircncia e da base social Sem Terrardquo
(CALDART2012 p92)
As experiecircncias de pensar escolas como polos regionais entre assentamentos e com estudantes de outras comunidades de camponeses aos poucos vatildeo educando o olhar dos trabalhadores Sem Terra para uma realidade mais ampla Foi assim que o MST chegou agrave EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO (KOLLING Vargas e Caldart 2012 p 502)
A escola dentro dessa perspectiva de mudanccedila e envolvimento social eacute
parte da luta pela reforma agraacuteria daacute significado a ela pois proporciona a formaccedilatildeo
integral dos sujeitos que lutam pela terra
Essa escola possibilita a reflexatildeo trava o diaacutelogo com as propostas de
educaccedilatildeo popular de Paulo Freire e busca superar as dificuldades imensas que
assentados e acampados vivem no dia a dia
A escola tambeacutem revela a cultura o orgulho e criaccedilatildeo da identidade na luta
por terra Nesse sentido
A heranccedila que o MST deixaraacute para seus descendentes seraacute bem mais do que a terra que conseguir libertar do latifuacutendio seraacute um jeito de ser humano e de tomar posiccedilatildeo diante das questotildees de seu tempo seratildeo os valores que fortalecem e datildeo identidade aos lutadores do povo de todos os tempos de todos os lugares Eacute enquanto produto humano de uma obra educativa que os Sem Terra podem ser vistos como mais um elo que se forma em uma longa tradiccedilatildeo de lutadores sociais que fazem a histoacuteria da humanidade Enraizamento no passado e projeto de futuro (CALDART 2012 p 96)
A educaccedilatildeo proposta pelo movimento gera o sentimento de pertencimento e
desperta o sentimento de respeito agrave coletividade valoriza o trabalho a gestatildeo
democraacutetica e desburocratizada da escola
SANTOS (2013 p71) esclarece que pelo projeto educacional do MST a
educaccedilatildeo proposta estaacute pautada em ldquovalores socialistas e humanistas tais como o
coletivismo o trabalho socialmente uacutetil a organizaccedilatildeo e auto-organizaccedilatildeo dos
estudantes e professoresrdquo (p71)
-21-
23
221 Concepccedilatildeo Pedagoacutegica da Educaccedilatildeo do Campo
No acircmbito da educaccedilatildeo do homem do campo tornar o homem sujeito e natildeo
objeto do saber leva a entender que o conhecimento do camponecircs pode dialogar
com as praacuteticas baseadas no conhecimento cientiacutefico desde que seja perseguido o
ideal de trabalhadores e educadores do campo comprometidos com as lutas sociais
de formar o homem ldquodordquo campo e ldquono campordquo
Conforme Kolling Cerioli e Caldart (2002 p 264) ldquoo povo tem direito a uma
educaccedilatildeo pensada desde o seu lugar e com sua participaccedilatildeo vinculada agrave sua
cultura e agraves suas necessidades humanas e sociaisrdquo ndash(Caldart Educaccedilatildeo do Campo
2012 p 264
Tal compreensatildeo se ainda hoje causa oposiccedilatildeo ateacute mesmo no ambiente
acadecircmico imagine-se naquele momento histoacuterico de profunda repressatildeo poliacutetica e
ideoloacutegica aos movimentos sociais de camponeses por terra e educaccedilatildeo Como nos
ensina Molina e Saacute (DICIONAacuteRIO da Educaccedilatildeo do Campo p 324)
A concepccedilatildeo de escola do campo nasce e se desenvolve no bojo do movimento da EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO a partir das experiecircncias de formaccedilatildeo humana desenvolvidas no contexto de luta dos movimentos sociais camponeses por terra e educaccedilatildeo Trata-se portanto de uma concepccedilatildeo que emerge das contradiccedilotildees da luta social e das praacuteticas de educaccedilatildeo dos trabalhadores do e no campo (MOLINA e SAacute 2012 pag 324)
A concepccedilatildeo pedagoacutegica da educaccedilatildeo popular e da pedagogia da praacutetica
segundo ARROYO inclui
um caraacuteter de envolvimento totalizante dos movimentos sociais que possibilita ao individuo que participa destes coletivos o acesso a outro tipo de formaccedilatildeo que supera a condiccedilatildeo de aluno de alfabetizando de escolarizando Os integrantes destes organismos emersos na tensa situaccedilatildeo de conflitos aprendem por meio da vivencia das lutas sociais dos momentos de mobilizaccedilatildeo das situaccedilotildees limites de perda de emprego de criacuteticas da sociedade agraves suas accedilotildees de ameaccedilas agraves suas vidas Tudo isso traz ricas liccedilotildees ensinadas na ldquoescola do movimentordquo e que nenhuma teoria pode transmitir ou explicar de forma satisfatoacuteria
No entendimento de Arroyo (2013) os movimentos sociais vivem e
amadurecem sob o conhecimento e o entendimento das contradiccedilotildees sociais e esta
24
experiecircncia lhes permite a possibilidade de defender mudanccedilas radicais tanto no
campo como na cidade tanto na ideologia quanto no combate ao latifuacutendio e ao
capitalismo
Tamanho movimento social gera a reflexatildeo sobre as relaccedilotildees
socioeconocircmicas politicas culturais cuidado da natureza relaccedilotildees humanas
destaques de tudo o que interessa ao coletivo agrave sociedade
Eacute por meio do entendimento de que a realidade eacute criaccedilatildeo humana de como se estabelecem os processos de opressatildeo e ainda da noccedilatildeo de que podemos transformar essa realidade dado que a sociedade eacute mutaacutevel que se forma a praacutexis da luta accedilatildeo-conscientizaccedilatildeo-transformaccedilatildeo-libertaccedilatildeo Inserindo-se criticamente na histoacuteria os cidadatildeos tornam-se sujeitos construtores e reconstrutores da realidaderdquo
Molina e Saacute (2012) nos ensinam a partir do conceito de escola do campo sobre a
potencialidade da vivencia de praacuteticas coletivas para a valorizaccedilatildeo integral dos
sujeitos da coletividade do conhecimento cientiacutefico da gestatildeo coletiva da escola
dentre tantos avanccedilos e vitoacuterias dos movimentos sociais
O processo ensino-aprendizagem permite que o conceito de escola extrapole
o cotidiano de dificuldades e desafia agrave reflexatildeo que gera a emancipaccedilatildeo
Este eacute um dos maiores desafios e ao mesmo tempo uma das maiores possibilidades da escola do campo articular os conhecimentos que os educandos tecircm o direito de acessar a partir do trabalho com a realidade da religaccedilatildeo entre educaccedilatildeo cultura e os conhecimentos cientiacuteficos a serem apreendidos em cada ciclo de vida e de diferentes aacutereas do conhecimento(MOLINA MOURAtildeO 2012 p 329) -26-
222 Princiacutepios da Educaccedilatildeo do Campo
Alguns princiacutepios viabilizam o projeto de escola adotado pelos movimentos
sociais e possibilitam a democracia e a integraccedilatildeo de todos lideranccedila assentados e
acampados do movimento
25
O princiacutepio da responsabilidade coletiva sobre o planejamento a gestatildeo a
organizaccedilatildeo e a realizaccedilatildeo de tarefas em todas as esferas de atividades princiacutepios
muito valorizados pelos movimentos sociais do campo foram transferidos para o
projeto de educaccedilatildeo
O projeto eacute de responsabilidade coletiva e insere educadores tanto a niacutevel
local como regional e nacional os ldquoColetivos de educaccedilatildeordquo como satildeo conhecidos
Os coletivos de educaccedilatildeo com tarefas forccedila orgacircnica e discussotildees especiacuteficas que podem variar a cada periacuteodo fortalecem o princiacutepio organizativo de que a questatildeo da educaccedilatildeo bem como outras questotildees da vida social assumidas pelo MST deve ser pensada e implantada de forma coletiva Eacute uma loacutegica que implica tarefas a serem realizadas pelas pessoas mas mediante um planejamento e uma leitura de conjuntura feita por um coletivo (KOLLING1995 et al p503)
Para concretizar o projeto de educaccedilatildeo foi concebida a formaccedilatildeo de
professores pelos proacuteprios movimentos no acircmbito da proacutepria comunidade
(conhecidos como ldquoprofessores leigosrdquo) e tambeacutem pela rede oficial de ensino
A falta de titulaccedilatildeo de muitos educadores formados na comunidade natildeo
impede que os mesmos trabalhem juntos com os professores titulados e com
simpatizantes do movimento no projeto poliacutetico-pedagoacutegico constituindo um
princiacutepio democraacutetico importante para superar as dificuldades e urgecircncias para a
implantaccedilatildeo da educaccedilatildeo do campo
A democracia do processo de formaccedilatildeo de educadores tem reflexos amplos
a formaccedilatildeo de educadores pelos proacuteprios movimentos especiacutefica para atuaccedilatildeo nas
escolas do campo
O movimento eacute responsaacutevel pela universalizaccedilatildeo do ensino no acircmbito dos
territoacuterios conquistados ou por conquistar e permitiu a evoluccedilatildeo do ensino ateacute o niacutevel
de terceiro grau com a realizaccedilatildeo de cursos como a Licenciatura em Educaccedilatildeo do
Campo (LEdoC) do qual somos os privilegiados alunos aqui na Universidade de
Brasiacutelia
Outro reconhecimento e prova de eficiecircncia da formaccedilatildeo de professores eacute o
precircmio ldquoEducaccedilatildeo e Participaccedilatildeordquo recebido em 1995 do Fundo das Naccedilotildees Unidas
para a Infacircncia (Unicef)
26
O somatoacuterio das forccedilas internas e externas do movimento ldquoleigasrdquo ou
tituladas associadas ao princiacutepio fundamental da participaccedilatildeo dos alunos e
comunidades em todos os niacuteveis e localidades eacute ponto fundamental para o sucesso
da concepccedilatildeo do projeto pois permite o estudo a reflexatildeo conjunta sobre
estrateacutegias para o alcance do objetivo de educaccedilatildeo na reforma agraacuteria
-25-
223 Marcos Normativos da Educaccedilatildeo do Campo
Numerosos Marcos Normativos podem ser citados para explicitar qual perfil
de escola destinada ao camponecircs interessava ao governo e aos proprietaacuterios rurais
A Lei 4024 de 1961 em seu art 105 estabelece o
Apoio que poderaacute ser prestado pelo poder puacuteblico agraves iniciativas que mantenham na zona rural instituiccedilotildees educativas orientadas para adaptar o homem ao meio e estimular vocaccedilotildees e atividades profissionais (BRASIL 2012 p 4)
A Lei 5692 de 1971 ao tratar da educaccedilatildeo rural ldquonatildeo observa mais uma vez
a inclusatildeo da populaccedilatildeo na condiccedilatildeo de protagonista de um projeto social globalrdquo
sendo que o trabalho do campo realizado por alunos eacute ateacute mesmo incentivado
adequando-o ao calendaacuterio escolar (MARCOS NORMATIVOSBrasiacutelia2012 p 25)
A Lei 9394 de 1996 (Lei das Diretrizes se Bases da Educaccedilatildeo ndash LDB) em
acordo com Constituiccedilatildeo de 1988 e ldquoinspirada de alguma forma numa concepccedilatildeo
de mundo rural enquanto espaccedilo especifico diferenciado e ao mesmo tempo
integrado no conjunto da sociedaderdquo reconhece
A diversidade soacutecio-cultural e o direito agrave igualdade e agrave diferenccedila possibilitando a definiccedilatildeo de diretrizes operacionais para educaccedilatildeo rural sem no entanto recorrer a uma logica exclusiva e de ruptura com um projeto global de educaccedilatildeo para o paiacutes (idem p 26)
27
Os artigos 208 e 210 da Carta Magna-1988 e inspirada de numa concepccedilatildeo
de mundo rural enquanto espaccedilo especiacutefico diferenciado e ao mesmo tempo
integrado no conjunto da sociedade a Lei 939496- LDB-estabelece que
Art 28 Na oferta da educaccedilatildeo baacutesica para a populaccedilatildeo rural os sistemas de ensino promoveratildeo as adapta necessaacuteria agrave sua adequaccedilatildeo agraves peculiaridades da vida rural e de cada regiatildeo especialmente (MARCOS NORMATIVOS) Brasiacutelia 2012 p 25)
1- Conteuacutedos organizar curriculares e metodologias apropriadas agraves reais
necessidades e interesses dos alunos da zona rural
2-organizaccedilatildeo escolar proacutepria incluindo a adequaccedilatildeo do calendaacuterio escolar as
fases do ciclo agriacutecola e as condiccedilotildees climaacuteticas
3-adequaccedilatildeo agrave natureza do trabalho na zona rural (MARCOS NORMATIVOS)
Brasiacutelia 2012( p 26)
O movimento de educaccedilatildeo do campo luta haacute quinze (15) anos para fazer-se
cumprir esse Decreto da Lei de Diretrizes de base da educaccedilatildeo do campo-LDB
que apesar de ser constitucional ainda natildeo foi colocada totalmente em praacutetica
Agora com as lutas dos movimentos sociais eacute que estaacute comeccedilando a se concretizar
Artigo 26 Os curriacuteculos do ensino fundamental e meacutedio devem ter uma base nacional comum a ser complementada em cada sistema de ensino e estabelecimento escolar por uma parte diversificada exigida pelas caracteriacutesticas regionais e locais da sociedade
da cultura da economia e da clientela (MARCOS NORMATIVOS) Brasiacutelia 2012(p 26)
O Decreto nordm 7352 de 4 de novembro 2010 dispotildee sobre a poliacutetica de educaccedilatildeo do campo ao Programa Nacional de Educaccedilatildeo
na Reforma Agraacuteria-PRONERA decreta
Art1ordm A poliacutetica de educaccedilatildeo do campo destina-
se agrave ampliaccedilatildeo e qualificaccedilatildeo da oferta de educaccedilatildeo baacutesica e superior agraves populaccedilotildees do campo e seraacute desenvolvida pela Uniatildeo em regime de colaboraccedilatildeo com os Estados o
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Distrito Federal e os Municiacutepios de acordo com as diretrizes e metas estabelecidas no Plano Nacional de Educaccedilatildeo e o disposto neste Decreto
Para os efeitos deste Decreto entende-se por
l-populaccedilatildeo do campo os agricultores familiares os extrativistas os pescadores
artesanais os ribeirinhos os assentados e acampados da reforma agraacuteria os
trabalhadores assalariados rurais os quilombolas os caiccedilaras os povos da floresta
os caboclos e outros que produzam suas condiccedilotildees materiais de existecircncia a partir
do trabalho no meio rural
ll-escola do campo aquela situada em aacuterea rural conforme definida pela Fundaccedilatildeo
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica- IBGE ou aquela situada em aacuterea
urbana desde que atenda predominantemente a populaccedilatildeo do campo (MARCOS
NORMATIVOS) 2012( p 81)
No Decreto 6755 29 de janeiro de 2009 em seu art 2ordm estabelecida pelo Conselho
Nacional de Educaccedilatildeo que se refere as Diretrizes Operacionais da Educaccedilatildeo do
Campo o parecer da alternacircncia
A formaccedilatildeo de professores poderaacute ser feita concomitantemente agrave atuaccedilatildeo profissional de acordo com metodologias adequadas inclusive a pedagogia da alternacircncia e sem prejuiacutezo de outras que atendam agraves especificidades da educaccedilatildeo do campo e por meio de atividades de ensino pesquisa e extensatildeo (MARCOS NORMATIVOS) 2012( p84)
-26-
29
-
231 A educaccedilatildeo do campo e poliacutetica puacuteblica - o PRONERA
O amadurecimento adquirido pela luta sobre o papel da educaccedilatildeo aliado agrave
iniciativa do aproveitamento do trabalho das professoras ldquoleigasrdquo e ainda da
consciecircncia cada vez mais presente do dever do Estado em prover os cidadatildeos da
reforma agraacuteria de poliacuteticas puacuteblicas resultou no campo da educaccedilatildeo na criaccedilatildeo do
Programa Nacional de Educaccedilatildeo na Reforma Agraacuteria (PRONERA)
O PRONERA envolve formalmente jovens e adultos num projeto conjunto
com universidades e institutos federais em prol da formaccedilatildeo de educadores para o
trabalho em escolas dos assentamentos da reforma agraacuteria e seu entorno
O Programa foi criado em 1998 no momento da ascensatildeo dos conflitos pela
reforma agraacuteria o que propiciou que os movimentos sociais trouxessem para a
opiniatildeo puacuteblica suas mazelas
No campo da educaccedilatildeo foi denunciada a falta de escola a precariedade do
ensino a falta de profissionais do ensino a ldquoloacutegica de negaccedilatildeo histoacuterica do direito
aos camponeses de acesso aos niacuteveis mais elevados de escolaridade ( SANTOS
2012 pag 630)
A partir de 2005 o ensino oferecido pelo PRONERA eacute estendido ao niacutevel
meacutedio e superior como a Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo e a Residecircncia
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Agraacuteria O PRONERA evoluiu para outros patamares tais como ldquopossibilidades de
ressignificaccedilatildeo do conteuacutedo e da metodologia dos processos de educaccedilatildeo formal
por meio dos princiacutepios baacutesicos da participaccedilatildeo e da multiplicaccedilatildeordquo (SANTOS 2012
p 631)
A participaccedilatildeo das comunidades e suas organizaccedilotildees e a multiplicaccedilatildeo de
alfabetizados formados educadores e demais profissionais ligados agraves poliacuteticas
puacuteblicas para a Reforma Agraacuteria gerou ampla participaccedilatildeo dos agentes envolvidos
na dinacircmica do processo ensino-aprendizagem
Essa forma de gestatildeo gerou reaccedilatildeo contraacuteria ldquoagrave gestatildeo colegiada e coletiva
notadamente agrave participaccedilatildeo direta dos movimentos sociais e sindicais do campordquo
considerados ldquoentes estranhos agrave administraccedilatildeo puacuteblicardquo (CLARICE p 634)
O envolvimento dos movimentos sociais e sindicais do campo natildeo
retrocederam em sua luta pelo envolvimento de todos os interessados na educaccedilatildeo
como elemento emancipatoacuterio e continuam formulando princiacutepios concepccedilotildees e
diretrizes para a escola do campo
-31-
31
Terceiro Capiacutetulo
A histoacuteria do Assentamento Renascer
31 Uma breve histoacuteria de luta
A histoacuteria do Assentamento Renascer natildeo parece ser diferente da histoacuteria de
outros assentamentos Brasil afora Partiu da reivindicaccedilatildeo de Trabalhadores Rurais
sem Terra que desde 2004 ocuparam as margens da Rodovia DF 330 que liga
Sobradinho ao Paranoaacute-DF
Tatildeo perto do centro do poder a apenas poucos quilocircmetros do Palaacutecio da
Alvorada ou da Sede do INCRA o Acampamento Renascer esteve ateacute oito (08) de
maio de 2009 tatildeo distante da decisatildeo poliacutetica pela Reforma Agraacuteria
Somente nesta data trezentos sessenta e um( 361) de terras devolutas da
Uniatildeo foram repassadas ao INCRA para assentar as famiacutelias aliacute acampadas Ficou
criado o assentamento Renascer fora da beira da estrada
O Assentamento Renascer ldquorenasceurdquo da dificuldade de vida sob o barraco de
madeira sem aacutegua sem luz sem saneamento baacutesico que fez com que tantos
desistissem ao longo do caminho e ainda hoje se encontra nessa mesma
precariedade um descaso por parte do poder puacuteblico
A luta em vaacuterios momentos da vida dos acampados parecia estar vencida Os
vencedores pareciam ser a burocracia o desrespeito as noites mal dormidas a
inseguranccedila a falta de perspectivas para o acampado e suas famiacutelias
Duzentas (200) famiacutelias viveram aliacute por cinco anos (05) de 2004 ateacute 2009
Atualmente satildeo cento e vinte (120) famiacutelias que moram na aacuterea destinada e estatildeo
em processo de assentamento Muitas delas poreacutem vencidas pelo cansaccedilo e pelas
condiccedilotildees de vida abandonaram a luta mas todas as famiacutelias as que se foram e as
que ficaram sonharam com a terra onde poderiam produzir viam no pedaccedilo de chatildeo
os frutos do pomar da horta o galinheiro o pasto
O Assentamento Renascer eacute o Brasil Eacute um pedacinho da cruel realidade que
como vimos neste trabalho marcou a sociedade brasileira desde a escravidatildeo
desde o primeiro grito de rebeldia do quilombo desde o primeiro que lutou contra os
coroneacuteis por divisatildeo da terra como as Ligas Camponesas contra o latifuacutendio como
os movimentos sociais em sua luta pela reforma agraacuteria desde vaacuterias geraccedilotildees
32
Eacute como todo e qualquer movimento social que surgiu neste paiacutes desde a
deacutecada de 1980 pela reforma agraacuteria Viveu e ainda vive as dificuldades de ser
acampadoassentado mas honra sua luta porque natildeo desiste faacutecil
O Assentamento Renascer eacute tambeacutem fruto do ecircxodo rural da industrializaccedilatildeo
do campo da monocultura e da concentraccedilatildeo de terras Foram expulsos do campo
para a periferia das cidades sem capacitaccedilatildeo sem estudo
A falta de escolarizaccedilatildeo eacute sem duacutevida uma caracteriacutestica de quase todos os
que vieram do campo para a cidade A realidade do Brasil eacute que o campo natildeo eacute
escolarizado as escolas no campo satildeo poucas satildeo despreparadas satildeo
desvalorizadas
-33-
32 As escolas no campo na vivencia do assentado do Assentamento
Renascer
As escolas no campo marcaram profundamente a vida dos poucos que a
frequentaram Quase todos tiveram que trocar o laacutepis pela enxada a carteira pela
roccedila desde muito pequenos Alguns natildeo muito poucos conforme os depoimentos
aqui relatados teriam que abandonar a enxada e a participaccedilatildeo no sustento da
famiacutelia para frequentar a escola Quase sempre abandonaram a escola para ficar no
trabalho com a enxada
Todos teriam que andar vaacuterios quilocircmetros para ir agrave escola Outros nem assim
conseguiriam frequentar a escola no campo ela simplesmente natildeo existia no
campo Teriam entatildeo que ir para a cidade para ter direito a uma escola
Muitos tambeacutem vivenciaram os traumas que uma escola tradicional e
descomprometida com os valores e responsabilidades do projeto educacional
castigos humilhaccedilotildees afastaram a muitos da escola
Alguns apenas sonharam e sonham com a escola ldquoAh a escolardquo Tatildeo longe
inacessiacutevel para tantos no Brasil afora Ao ver de algumas pessoas do
Assentamento Renascer ldquoSe tivesse jeito eu teria ido agrave escola tinha feito pelo
menos o ensino fundamental completo para que eu pudesse ingressar no curso
33
teacutecnico-agriacutecola Mas agora quero que meus filhos e netos vatildeo para a escola
aprender ser algueacutem na vidardquo
-34-
321 A escola no entorno do Assentamento Renascer
A ideia de lutar pela educaccedilatildeo veio antes da ideia de lutar pela escola como
espaccedilo conquistado pelo acampamento Encontrar uma escola perto do
acampamento com transporte escolar com vagas e horaacuterios acessiacuteveis para os que
trabalham o dia todo era entendido como uma necessidade baacutesica e uma grande
vitoacuteria
Ficava-se feliz se apesar das dificuldades fosse possiacutevel matricular pelo
menos as crianccedilas As dificuldades eram e ainda satildeo muitas o transporte escolar
era e eacute precaacuterio a poeira natildeo permite que os alunos cheguem limpos agrave escola os
buracos e as poccedilas daacutegua impedem a chegada do ocircnibus escolar durante as
chuvas No caso do ocircnibus que levam os alunos ateacute a Escola Classe do Coacuterrego do
Arrozal em eacutepoca de muita chuva os ocircnibus ateacute o iniacutecio de 2014 natildeo conseguiam
transitar Isto resulta no fato de que as crianccedilas precisam caminhar debaixo de
chuva ateacute a escola
-35-
322 O caminho para a produccedilatildeo do saber no Assentamento Renascer a
brinquedoteca a integraccedilatildeo social a biblioteca comunitaacuteria as manifestaccedilotildees
culturais
Ao longo dos anos de vivecircncia e convivecircncia no Acampamento Renascer
mediante a dificuldade e necessidade de estudar que sentimos na nossa proacutepria
vida foi despontando a ideia de prover as crianccedilas de atividades luacutedicas e
educativas
34
Logo no iniacutecio do acampamento por volta de 2005 por iniciativa de algumas
pessoas conscientes da necessidade de atividades luacutedicas para as crianccedilas foi
criada uma brinquedoteca
Inicialmente os brinquedos eram de materiais reciclaacuteveis como garrafas pet
telefones sem fio carrinhos bonecas petecas vai e vem cavalinhos tudo era
confeccionado com a participaccedilatildeo das crianccedilas na modalidade de oficina
incentivando-os a fabricar os seus proacuteprios brinquedos Os brinquedos eram
confeccionados a partir de materiais encontrados nos lugares de descarte perto do
acampamento e doaccedilotildees de pessoas que passavam pela estrada
O embriatildeo de um processo educacional que nunca se interrompeu estava
lanccedilado a brinquedoteca proporcionou a criatividade e a participaccedilatildeo de crianccedilas e
adultos marcando as atividades pela conscientizaccedilatildeo do cuidado com a natureza e a
importacircncia da reciclagem A educaccedilatildeo ambiental jaacute era praticada desde o
nascimento do acampamento Renascer
Este primeiro passo foi muito importante porque traduziu para o dia a dia do
acampamento os princiacutepios da escola do campo atuante para mudar a realidade
criar cidadatildeos conscientes e dispostos a mudar a realidade a partir da sua proacutepria
accedilatildeo Este eacute o processo de transformaccedilatildeo social dentro do acampamento Renascer
haacute tanto tempo atraacutes
Aos brinquedos reciclados pela proacutepria comunidade juntaram-se outros
presenteados por instituiccedilotildees como igrejas ONGs a Pastoral da Crianccedila e pessoas
interessadas no bem estar daquelas crianccedilas
Percebe-se em iniciativas como essas a importacircncia da educaccedilatildeo nos
diversos niacuteveis para a sociedade A integraccedilatildeo de pessoas com as atividades
educativas no acampamento nos faz lembrar sobre um grande sonho das escolas
hoje integrar a comunidade de modo a que todos defendam a escola
O sucesso de iniciativas como a brinquedoteca que integravam crianccedilas
adolescentes adultos e sociedade foi importante para outras iniciativas igualmente
importantes
Foi-se criando um projeto educacional para o acampamento sem que se
tivesse consciecircncia disso por faltar informaccedilatildeo que soacute agora se possui graccedilas aos
estudos na Universidade o galpatildeo comunitaacuterio foi utilizado para abrigar a
35
brinquedoteca para desenvolver grupos de teatro de crianccedilas e adultos e para
abrigar a biblioteca
A biblioteca recebeu inuacutemeros exemplares de livros infantis livros didaacuteticos
para os adolescentes e adultos literatura universal revistas dos mais variados
assuntos criando assim um espaccedilo comunitaacuterio de informaccedilatildeo lazer e
entretenimento
Com a criaccedilatildeo da biblioteca ficou evidente a importacircncia da alfabetizaccedilatildeo de
crianccedilas jovens e adultos Muitos acampados relatavam a vontade e a necessidade
de aprender a ler e a escrever Muitos reivindicavam o direito agrave educaccedilatildeo e
frequecircncia agrave escola ainda que o acampamento mudasse de ldquoendereccedilordquo tantas
vezes
Outros poreacutem natildeo acreditavam que seria possiacutevel aprender ou aperfeiccediloar a
leitura e a escrita nas condiccedilotildees de vida de um acampado
Vaacuterias atividades culturais foram desenvolvidas (e ainda satildeo) no
Acampamento Renascer Todas chamavam a atenccedilatildeo da comunidade local de
outras comunidades vizinhas garantindo a simpatia de chacareiros que levavam os
filhos para participarem das atividades
Uma das atividades mais apreciadas foi o Teatro de Fantoches inspirados em
faacutebulas muitas com a autoria da Pastoral da Crianccedila e da Faber Castel A
participaccedilatildeo da comunidade na atividade era intensa e voluntaacuteria todos queriam
manipular os fantoches participar cantando danccedilando ou prestando muita atenccedilatildeo
O teatro de transformaccedilatildeo social produzido pelos adultos e adolescentes
utilizavam tambeacutem materiais reciclaacuteveis demonstrando cuidado com o meio
ambiente e amadurecimento dos conceitos poliacuteticos e pedagoacutegicos gerando reflexatildeo
sobre os temas sociais que nos atingem no cotidiano
A miacutestica adotada pelos movimentos sociais com o objetivo de reflexatildeo satildeo
apresentadas em datas comemorativas e contam com o apoio e participaccedilatildeo de
muitos
Algumas festas fazem parte da tradiccedilatildeo do Acampamento Renascer
traduzindo para a realidade atual as antigas festas a que todos foram acostumados
em seus lugares de origem
Pode-se dizer que a comunidade aprecia muito as festas Mas duas em
particular satildeo muito respeitadas a festa das crianccedilas que ocorre durante o dia (12
36
de outubro) eacute concorrida pois a comunidade se esmera para oferecer os brinquedos
que as crianccedilas amam pula-pula palhaccedilos pintura de rosto piscina de sabatildeo e
muita oferta de comida coisas que as crianccedilas adoram
No mesmo dia ocorre agrave noite a festa da Nossa Senhora Aparecida com
missa e muito forroacute
No mecircs de marccedilo eacute comemorada a Festa da Pamonha em comemoraccedilatildeo agrave
boa colheita do milho Esta festa jaacute se tornou tradicional conhecida em todo o
entorno do assentamento Egrave uma festa importante porque confraterniza a
comunidade Renascer com as comunidades vizinhas e ateacute mesmo as cidades de
Sobradinho Paranoaacute e Planaltina
Os movimentos sociais necessitam ser admirados pela sociedade e festas
como estas chamam a atenccedilatildeo para o problema da reforma agraacuteria demonstrando
que ela eacute viaacutevel e que os assentados tecircm simpatia competecircncia e seus saberes do
campo
A festa ldquojulinardquo eacute outra festa muito apreciada que apresenta as tradiccedilotildees rurais
e religiosas como quadrilhas e bandas de forroacute da comunidade e vizinhanccedila A
danccedila eacute um dos pontos fortes da festa assim como as comidas tradicionais muitas
delas com ingredientes colhidos no acampamento
Vaacuterios grupos de atividades teatrais apresentaram-se na localidade com
participaccedilatildeo de palhaccedilos lembrando um espetaacuteculo circense Alguns desses
grupos inclusive tiveram seus trabalhos premiados
Outras atividades com fundo educativo tiveram participaccedilatildeo animada de
crianccedilas e adultos A exibiccedilatildeo de desenhos animados recentemente apresentados
no cinema eram um grande atrativo para a comunidade que se via socialmente
incluiacuteda Esta inclusatildeo aumentava a autoestima das crianccedilas principalmente pois
assim elas poderiam interagir com os colegas da escola conversando a respeito dos
filmes
A Economia Solidaacuteria eacute uma das formas de inserccedilatildeo dos membros da
comunidade agrave sociedade economicamente ativa Atraveacutes da cooperaccedilatildeo solidaacuteria eacute
possiacutevel o comercio justo agriacutecolas ou artesanais sob conceitos antes
desconhecidos enquanto forma de produccedilatildeo e consumo centrado na valorizaccedilatildeo do
ser humano em contraposiccedilatildeo agraves formas capitalistas de produccedilatildeo e conscientizaccedilatildeo
37
Ao longo dos doze (12) anos de luta pela educaccedilatildeo foram promovidos
diversos cursos que capacitaram multiplicadores que fazem um trabalho importante
para a comunidade
A ideia de autogestatildeo democracia cooperaccedilatildeo auxilia natildeo soacute as formas de
produccedilatildeo e comercio de bens e artesanatos mas tambeacutem auxiliam na formaccedilatildeo
integral de pessoas em que tanto o produtor como o consumidor tem o proposito de
ganhos financeiros segundo um criteacuterio de valorizaccedilatildeo do trabalho
Proposito de formar uma nova consciecircncia a Economia Solidaacuteria promoveu
cursos de Soberania Alimentar em que a comunidade recebeu noccedilotildees praacuteticas
sobre alimentaccedilatildeo a partir da produccedilatildeo local de modo a promover uma nova cultura
alimentar que visa o combate agraves doenccedilas crocircnicas Outro proposito eacute tornar a
comunidade criacutetica em relaccedilatildeo agrave publicidade de produtos alimentiacutecio supeacuterfluo que
induz agraves crianccedilas e adultos alimentarem-se incorretamente
A comunidade participou coletivamente da implantaccedilatildeo de uma unidade da
tecnologia social denominada Produccedilatildeo Agroecoloacutegica Integrada e Sustentaacutevel
(PAIS) em 2012 com o objetivo de produzir alimentos saudaacuteveis e preservar o meio
ambiente trazendo mais alimentos e renda ao campo Esta tecnologia popularmente
conhecida como ldquohorta mandalardquo foi ministrada durante o curso de capacitaccedilatildeo
promovido pela Fundaccedilatildeo Banco do Brasil e teve o meacuterito de proporcionar o debate
e a participaccedilatildeo democraacutetica na definiccedilatildeo das culturas a serem cultivadas na futura
propriedade Vale informar que o assentamento Renascer identificou-se com esse
paradigma agroecoloacutegico
A educaccedilatildeo ambiental faz parte do dia a dia da comunidade hoje preserva-se
conservaccedilatildeo das formas de vida vegetais e animais na regiatildeo do assentamento e
entorno
A produccedilatildeo de mudas no viveiro eacute bastante concorrida contando com a
participaccedilatildeo de todos O viveiro produz cinco mil (5000) mudas de espeacutecies nativa
do cerrado para o reflorestamento das nascentes de aacutegua e nas aacutereas degradadas
da regiatildeo Contam com o apoio da FUNATURA FUNDACcedilAtildeO BANCO DO BRASIL
IFB Rio Satildeo Bartolomeu Vivo e UnB
-36-
38
39
Quarto Capiacutetulo
A escola que queremos expectativas e sonhos dos
acampados do Assentamento Renascer
Pode-se observar pelas falas dos entrevistados que a realidade de todos
converge para os problemas estruturais do Brasil faltam escolas no campo eacute baixa
a escolaridade em Brasiacutelia todos exercem atividades de subemprego
Todos tecircm grandes expectativas com relaccedilatildeo agrave vida futura no assentamento
objetivando melhores condiccedilotildees de vida na esperanccedila de serem beneficiaacuterios
enquanto cidadatildeos assentados das Poliacuteticas Puacuteblicas e financiamentos agriacutecolas
voltadas para a agricultura familiar como PRONAF PAA PNAE e PAPA-DF Vecircem
aiacute a possibilidade de emprego e renda situaccedilatildeo sonhada desde quando foram
pleitear a terra para reforma agraacuteria
Um olhar mais aprofundado sobre a anaacutelise de dados revela que natildeo importa o
fato de hoje residirem no DF pois como em qualquer lugar de origem os moradores
do assentamento Renascer vivenciam os mesmos problemas Percebe-se
claramente as dificuldades da inexistecircncia de escola no campo A distacircncia continua
impedindo o acesso os meios de transportes continuam precaacuterios os filhos
vivenciam a dificuldade de transferecircncia para a cidade na expectativa de
continuidade dos estudos as estradas rurais continuam esburacadas
Satildeo muitos os pontos em comum entre a situaccedilatildeo atual relatada e os problemas
vividos haacute deacutecadas em seus estados de origem o que deixa transparecer a absoluta
falta de interesse por parte do poder puacuteblico em garantir o direito constitucional agrave
educaccedilatildeo do povo do campo o que infelizmente continuaraacute deixando o triste
legado para o futuro do paiacutes
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Repetimos a pergunta da inicial Cadecirc as escolas do campo Ateacute quando o paiacutes
vai viver essa situaccedilatildeo A anaacutelise de dados responde Natildeo eacute mais possiacutevel
continuar como estaacute
Todos os entrevistados pretendem alcanccedilar conhecimentos atraveacutes da escola do
campo implantada no Assentamento Renascer com objetivos de administrar a
propriedade participar ativamente do coletivo garantir renda fixa atraveacutes dos
programas de desenvolvimento da agricultura familiar
Os entrevistados unanimamente tecircm a preocupaccedilatildeo da manutenccedilatildeo dos laccedilos
familiares e das raiacutezes camponesas
A distacircncia entre a moradia e a escola fato relatado pela quase totalidade dos
entrevistados constitui um grande motivo de evasatildeo escolar de defasagem nas
seacuteries frequentadas de precariedade na aprendizagem em relaccedilatildeo aos demais
alunos A discriminaccedilatildeo alegada por muitos que frequentaram ou frequentam
escolas fora da faixa etaacuteria o vernaacuteculo proacuteprio dos sujeitos do campo as condiccedilotildees
precaacuterias da estrada que denunciam a condiccedilatildeo de assentado o sentimento de
inadequaccedilatildeo constituem fatores que determinam a evasatildeo escolar
Foram treze (13) entrevistados significando aproximadamente dez por cento
(10) dos moradores do Assentamento Renascer Desse total apenas dois (2)
entrevistados natildeo declararam dificuldade de distacircncia entre a moradia e a escola em
seus lugares de origem A maioria absoluta (11) pessoas declararam que a distacircncia
dificultava e impedia o acesso agrave escola Alguns relatos apresentam situaccedilotildees
precaacuterias para o homem do campo o assentado
Para o aluno do campo a distacircncia da escola tem o significado de inexistecircncia de
escola Isto porque as dificuldades de acesso satildeo enormes No caso em estudo
apenas um entrevistado declarou a inexistecircncia de escola em sua regiatildeo de
moradia Este poreacutem vivenciou todas as dificuldades de acesso que outros
assentados apresentaram em razatildeo da distacircncia moradiaescola
A falta de professores na escola rural eacute relatada por 11 dos 13 entrevistados A
distacircncia da escola para os professores dificulta segundo a vivecircncia dos
entrevistados o acesso agrave escola e a assiduidade o que muito desmotivava a
ambos
41
Os entrevistados conforme anaacutelise de dados desejam muito objetivamente a
implantaccedilatildeo imediata de escolas segundo os criteacuterios caracteriacutesticos de escola do
campo
- Trazer a realidade para dentro da escola do campo curriacuteculos voltados para o
cotidiano do aluno do campo onde as teacutecnicas agriacutecolas pecuaacuterias e agroecoloacutegicas
possam fazer parte do processo educativo da comunidade e que a escola tenha
uma gestatildeo coletiva democraacutetica com a participaccedilatildeo da comunidade
- Ter o trabalho como princiacutepio educativo A experiecircncia do aluno deve
harmonizar-se com os princiacutepios pistrakianos significar o trabalho de forma a que
ele apresente benefiacutecios para o proacuteprio indiviacuteduo para a comunidade na qual estaacute
inserido e para a sociedade e natildeo exclusivamente para servir ao capitalismo
-Superar a fragmentaccedilatildeo do conhecimento disciplinar A interdisciplinaridade
deve fazer parte dos objetivos educacionais de modo a promover a formaccedilatildeo
integral dos educandos
- Valorizar os saberes do homem do campo Os entrevistados desejam uma
escola onde possam exercitar sua vivecircncia campesina e a relaccedilatildeo dialoacutegica entre
professor-aluno seguindo a pedagogia de Paulo Freire o educando quer aprender
com o educador mas quer tambeacutem ter a oportunidade de transmitir seus saberes
- Promover espaccedilos de gestatildeo coletiva A proacutepria comunidade deve participar da
gestatildeo a elaboraccedilatildeo do PPP deve gerir o espaccedilo fiacutesico da escola para atividades
de interesse da comunidade ocupar espaccedilos para finalidades culturais esportivas
sociais tornando a escola um espaccedilo democraacutetico
- Garantir a presenccedila da comunidade e dos movimentos sociais que geram
processos que auxiliam a emancipaccedilatildeo social A escola deve tambeacutem ser espaccedilo
que auxilie a sustentabilidade e garanta a alimentaccedilatildeo saudaacutevel e recursos
fitoteraacutepicos em associaccedilatildeo com a comunidade
- Inclusatildeo tecnoloacutegica em todos os aspectos digital inovaccedilatildeo tecnoloacutegica
agropecuaacuteria recursos ambientais alternativos agua potaacutevel energia solar energia
eoacutelica fossa seacuteptica teacutecnicas de compostagem saneamento baacutesico cuidados com
os recursos hiacutedricos
A anaacutelise dos dados quando feita especificamente sobre a escola a ser
implantada pode aparentemente demonstrar uma pequena conexatildeo com as teorias
da escola do campo
42
A concepccedilatildeo da escola do campo natildeo pode ser imposta ela parte do princiacutepio
que os camponeses devem conquista-la Para essa conquista eacute necessaacuteria a
paixatildeo o desejo por algo ainda natildeo experimentado o amadurecimento poliacutetico-
social-pessoal a participaccedilatildeo coletiva na luta e na conquista
A trajetoacuteria de luta por educaccedilatildeo da comunidade Renascer apresenta estes
elementos agraves vezes difusos outras vezes mais claramente A escola bem que
poderia para alguns ser apenas uma escola rural Afinal aprender a ler e a
escrever ldquodireitordquo como alguns dizem ou seja deixar a condiccedilatildeo de analfabeto ou
analfabeto funcional para tornar-se letrado significaria avanccedilos em face das atuais
circunstacircncias Alguns entendem assim expressando-se principalmente nas
conversas informais
Apesar disso quando as respostas informais ou quando as respostas das
entrevistas satildeo analisadas mais profundamente identificamos que embora
difusamente todos desejam o programa educacional da escola do campo
Explicando melhor a participaccedilatildeo de todos da comunidade em todas as atividades
soacutecio-poliacuteticas-culturais (relatadas no terceiro capitulo) indicam que a comunidade
assimilou a postura soacutecio-politica-cultural que caracterizam a escola do campo
A vivecircncia do Assentamento Renascer no cotidiano e nos eventos coletivos
amadureceu o desejo pelo alimento intelectual cultural artiacutestico ambiental social
que a concepccedilatildeo de escola do campo introduz O programa educacional da Escola
do Campo ultrapassou as paredes fiacutesicas da escola e alcanccedilou o cotidiano dos
assentados
Os avanccedilos da conscientizaccedilatildeo e seu reflexo na vida do Assentamento Renascer
satildeo sentidos nos nuacutemeros de matriculados na LEdoC sete (7) alunos
aproximadamente dez (10) assentados prestaratildeo o proacuteximo vestibular trecircs (3)
assentados estatildeo matriculados no IFB dois(2) assentados estatildeo formados em
Teacutecnico Agropecuaacuterio tambeacutem pelo IFB um deles cursa o Tecnoacutelogo de
Agroecologia tambeacutem do IFB
Vale acrescentar que no iniacutecio de 2014 quando o IFB buscou no Assentamento
pessoas interessadas em matricular-se em seus cursos sob a condiccedilatildeo de
estudarem no ensino meacutedio o interesse foi grande e a impossibilidade pelo fato de
natildeo estarem habilitados no ensino fundamental provocou tanta discussatildeo que
estimulou essa pesquisa
43
O legado desses alunos futuros alunos e profissionais para o futuro do
Assentamento apresentaraacute resultados significativos para toda a comunidade O
futuro colheraacute bons frutos plantados agora
A escola que temos natildeo estaacute funcionando falta a renovaccedilatildeo do contrato o que
atrasa a alfabetizaccedilatildeo e conclusatildeo do 5ordm ano Falta a implantaccedilatildeo de poliacuteticas
puacuteblicas para atendimento de questotildees baacutesicas como por exemplo carteiras
quadro de giz iluminaccedilatildeo espaccedilo fiacutesico (dependecircncias para a escola) e mobiliaacuterio
-41-
44
Consideraccedilotildees Finais
A Educaccedilatildeo do campo eacute um movimento em que os trabalhadores do campo e
suas organizaccedilotildees lutam por transformaccedilotildees sociais particularmente a criaccedilatildeo de
escolas dono campo de qualidade a partir de uma perspectiva ampla de reforma
agraacuteria
A construccedilatildeo da educaccedilatildeo do campo eacute resultado do amadurecimento dos
movimentos sociais e das comunidades rurais em sua trajetoacuteria de luta pelo direito
fundamental agrave universalizaccedilatildeo escolar para as populaccedilotildees camponesas segundo
orientaccedilatildeo poliacutetico-pedagoacutegica adequada agrave realidade dos lutadores de
acampamentos e assentamentos em luta pela reforma agraacuteria e justiccedila social
Alguns princiacutepios caracterizam a luta pela escola do campo Dentre eles
podemos citar a criaccedilatildeo da consciecircncia do direito agrave educaccedilatildeo de qualidade plantada
na proacutepria comunidade o que provoca o enraizamento a valorizaccedilatildeo da vida no
campo a promoccedilatildeo da autoestima e a transformaccedilatildeo do ser alienado pela ideologia
e desigualdade social e sujeito de sua proacutepria histoacuteria
Outro princiacutepio eacute a adequaccedilatildeo de curriacuteculos agrave realidade camponesa de modo
a que o processo ensino-aprendizagem favoreccedila o amadurecimento de talentos
naturais o surgimento de oportunidades a niacutevel pessoal e social contribuindo para a
emancipaccedilatildeo poliacutetico-social do indiviacuteduo com reflexos na sociedade
A mudanccedila de paradigmas e o envolvimento social provocam a formaccedilatildeo integral
dos sujeitos que lutam de forma coletiva e solidaacuteria pela terra A escola do campo
que surge dessa mudanccedila eacute tambeacutem transformadora porque eacute fruto da luta
consciente que gera a reflexatildeo e o amadurecimento poliacutetico deixando um legado
positivo de cidadatildeos orgulhosos de sua condiccedilatildeo de lutador pela terra de sua
identidade de sua cultura de sua comunidade e coletividade
A escola do campo propicia aos alunos a reflexatildeo sobre o contexto social e a
problemaacutetica da comunidade em que estatildeo inseridos o respeito agrave individualidade a
ampliaccedilatildeo das potencialidades do aluno para organizar elaborar e atuar
coletivamente Deixam o legado futuro de homens responsaacuteveis mentes
independentes e atuantes que poderatildeo prestar serviccedilos significativos agrave sociedade
45
A comunidade assentada de o Assentamento Renascer pela Reforma
Agraacuteria em Sobradinho DF foi convidada a opinar sobre a escola que deseja a
partir da conquista da terra
O modelo proposto a partir de seu posicionamento possibilita a conclusatildeo
de que a escola do campo plantada na comunidade eacute preferiacutevel ao modelo
adotado atualmente de inserccedilatildeo dos alunos da comunidade agraves escolas urbanas
conter recursos materiais e humanos que propiciem bons resultados
pedagoacutegicos deve servir para fixar o trabalhador ao campo deve cumprir com o
propoacutesito constitucional de universalizaccedilatildeo do ensino para todas as faixas
etaacuterias deve estar identificada com os sonhos de prosperidade material e
realizaccedilatildeo pessoal dos assentados
-46-
46
Referecircncias Bibliograacuteficas
CANUTO Antocircnio In Comissatildeo Pastoral da Terra DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO 2012 pag 131) CLAUDIA MORAES DE SOUZA em seu artigo lsquoDiscursos intolerantes O lugar da poliacutetica na educaccedilatildeo rural e a representaccedilatildeo do camponecircs analfabeto (DIVERSITAS FFLCH USPBR)acesso em 03-08-2014 EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO ndash Marcos Normativos Brasilia 2012 MEC FERRARO Alceu Ravanello em seu artigo Alfabetizaccedilatildeo rural no Brasil na perspectiva das relaccedilotildees campo-cidade e de gecircnero (Educ Real ndash WWWSCIELOBRPDFEDREALV37N3PDF acesso 03-10-2014 FERREIRA (2011_ ldquoUm olhar histoacuterico uma realidade concretardquo (WWWUNIFILBR)acesso 20-10-2014
FERRARI Marco ldquoAniacutesio Teixeira o inventor da escola puacuteblica no Brasilrdquo Revista Nova Escola Fundaccedilatildeo Victor Civita Revistaescolaabrilcombr acesso em 14092014 FERREIRA Fabiano de Jesus BRANDAtildeO Elias Canuto ndash Revista Eletrocircnica de Educaccedilatildeo Ano V N 09 juldez 2011p3 ldquoEducaccedilatildeo do campo um olhar histoacuterico uma realidade concreta rdquo (WWWUNIFILBR acesso em 08 de agosto de 2014) GONCcedilALVES Luiz Alberto Oliveira e Pinto Regina Pahim EDUCACcedilAtildeO SEacuteRIE JUSTICcedilA E DESENVOLVIMENTO IFP-FCC FUNDACcedilAtildeO CARLOS CHAGAS 2007 SAtildeO PAULO (pag206)
KOLLING Edgar Jorge Vargas Caldart MST e Educaccedilatildeo in DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia Expressatildeo Popular 2012 (pag 5020
MOLINA Mocircnica SAacute Laiacutes Mouratildeo Escola do Campo in DICIONARIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia Expressatildeo Popular 2012 pg (329)
OLIVEIRA Maria Rita Duarte em sua dissertaccedilatildeo ldquoDos programas oficiais para a educaccedilatildeo rural aos projetos de educaccedilatildeo do campo dos movimentos sociaisrdquo WWWrevistalaborufcbrartigovolume1maria-ritapdf acesso em 08-09-2014
OLIVEIRA Maria Rita Duarte PEDAGOGIA EM MARCHA Apud ARROYO Satildeo Paulo1995( pg 162)
OLIVEIRA Maria Rita Duarte Revistalabor ufcbracesso em 19-10-2014
________ citando CALAZ Maria Rita Duarte Oliveira
47
SANTOS Clarice Aparecida PROGRAMA NACIONAL DE EDUCACcedilAtildeO NA REFORMA AGRAacuteRIA in DICIONARIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia2012(pg630)
________ Clarice Aparecida PROGRAMA NACIONAL DE EDUCACcedilAtildeO NA REFORMA AGRAacuteRIA BRASIacuteLIA 2012 pg 631 in DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO SANTOS Claudio Felix Dos ldquoO aprender a aprender na formaccedilatildeo de professores do campordquo Campinas 2013 Editora Autores Associados ) SOUZA Maria Antocircnia Movimentos Sociais no Brasil Contemporacircneo participaccedilatildeo e possibilidades no contexto das praacuteticas democraacuteticas ndash (wwwcesucptlab2004pdfMariaAntonia Souzapdfaceso em 24-07-2014 -48-
48
Apecircndices
1 Roteiro das Entrevistas
a) Dados dos entrevistados
Qual o seu nome
Masculino ( ) Feminino ( )
Quantos anos vocecirc tecircm
A quanto tempo mora no
assentamento
Onde vocecirc morou antes
de morar no
assentamento
Quantos anos vocecirc tinha
quando foi a escola pela
primeira vez
Estou ateacute qual seacuterieano
Quantos anos vocecirc tinha
quando parou de estudar
Qual motivo motivou vocecirc
a parar de estudar
Se tiver escola no
assentamento vocecirc voltaraacute
a estudar Porque
B) Outras informaccedilotildees dados pelos entrevistadosas (GRAVAR)
a) Em qual escola vocecirc estudou no acampamento ou em outro lugar Qual
b) Como era a escola que estudou Quais as coisas boas e coisas ruins que
tinha nesta escola
c) Conte como eacutefoi a educaccedilatildeo do assentamento o que jaacute existiu de escola
como funcionou e quais eram as boas e as coisas ruins desta escola
d) Jaacute participou de alguma accedilatildeo de mobilizaccedilatildeo para ter escola no
assentamento Se sim explique para que e como foi essa mobilizaccedilatildeo
e) Na sua opiniatildeo no assentamento deve ter escola Por quecirc
f) Como deveraacute ser a escola da comunidadeassentamento Como eacute a escola
que queremos ter
49
b) Entrevistas semi-estruturadas
Entrevistado 01
Moro no assentamento Renascer haacute 11 anos Nasci Carnauacuteba no Rio Grande do
Norte fui criado na roccedila e desde pequeno trabalhava na lavoura para ajudar meu
pai Fui para escola com 9 anos de idade estudei ateacute a 5ordm seacuterie parei de estudar
com 17 anos natildeo continuei os estudos porque era muito longe de onde eu morva
que era na cidade mais proacutexima eu tinha que andar a peacute 8 km ficava muito
cansado Casei e vim morar em Brasiacutelia para trabalhar em uma chaacutecara como
caseiro Morava na chaacutecara Buritis em sobradinho- Df tambeacutem natildeo dei para
continuar os estudos porque ficava longe e tinha que ser a noite e natildeo tinha como ir
Se vier uma escola pra caacute eu ainda vou estudar para ter mais conhecimento para
plantar minha roccedila ir no banco pra ver se assino um empreacutestimo para melhorar
minha produccedilatildeo e saber fazer conta pra administrar minha parcela de terra
Qual o seu nome
Masculino ( X ) Feminino ( )
Quantos anos vocecirc
tecircm
57 anos
A quanto tempo
mora no assentamento
11 anos
Onde vocecirc morou
antes de morar no
assentamento
Carnauacuteba ndash RN
Chaacutecara Buritis nordm 10 Sobradinho DF
Quantos anos vocecirc
tinha quando foi a escola
pela primeira vez
8 anos
Estou ateacute qual
seacuterieano
5ordf seacuterie
Quantos anos vocecirc
tinha quando parou de
estudar
24 anos
Qual motivo
motivou vocecirc a parar de
estudar
Trabalhar para sustento da famiacutelia a
distacircncia entre a casa e a escola
Se tiver escola no
assentamento vocecirc voltaraacute
a estudar Porque
Sim ldquoSe tivesse escola do ensino
fundamental voltaria a estudar para tecirc
mais conhecimento para plantar minha roccedila
50
saber pesar saber contar vendecirc os produto e
comecirc
Entrevistado 02
Moro no assentamento renascer haacute 7 anos tenho 38 vim do interior do Cearaacute
Entrei na escola com 7 anos de idade estudei soacute a 5ordm seacuterie incompleta natildeo
continuei a estudar porque natildeo tinha escola a onde eu morava que era na roccedila e eu
tinha que ficar na casa dozotro (SIC) na cidade e eu natildeo gostava disso natildeo ai parei
com 16 anos de idade Mudamo (SIC) pra Brasiacutelia pra uma chaacutecara perto de Santa
Maria-DF e natildeo dei pra estudar porque casei e tinha que trabalhar muito para
susrentar a famiacutelia A gora moro no assentamento Renascer e sei que um dia vai ter
uma escola aqui e eu vou voltar a estudar porque meu sonho eacute ser veterinaacuterio e vou
der se deus quiser
Entrevistado 03
Tenho 58 anos moro no assentamento Renascer haacute 6 anos vim de Ceres-GO
comecei a estudar quando eu tinha 10 ano de idade estudei ateacute a 4ordf seria primaacuteria
(SIC) parei de estudar quando tinha 16 anos porque eu morava na roccedila e escola
ateacute que natildeo ficava muito longe natildeo era soacute 2 km dava pra ir a peacute a professora eacute que
faltava muito e a gente natildeo tinha como saber se ela tava ou natildeoAiacute quando eu tinha
18 anos casei e vim morar em Brasiacutelia e arranjei(SIC) emprego de caseira em uma
chaacutecara aiacute natildeo pra estudar a noite porque era muito longe pra laacute entatildeo eu natildeo
pensei mais nessas coisas Quando tiver escola no assentamento quero estudar
quiecirc pra mim (SIC) fazer curso de teacutecnico agriacutecolarsquorsquo
Entrevistado 04
Tenho 24 anos moro no assentamento Renascer tem 6 ano vim da Bahia morava
no Condomiacutenio RK entrei na escola com 7 anos de idade e estudei soacute ateacute a 6ordf seacuterie
parei com 18 anos de idade
Porque mudei pra caacute pro assentamento (SIC) e natildeo tem escola e natildeo tem como ir
pra Sobradinho a noite porque eacute muito longe tem que andar 5 km eacute pirigogo (SIC)
tem muita gente mal por aiacute tem ateacute estrupador natildeo posso me arriscar
ldquoSe tivesse escola aqui eu ia terminar meus estudos podia ser no galpatildeo mesmo
pra mim tava bom mas para os meus filhos eu queria uma escola boa com internet
e tudo Eu natildeo gosto que meus filhos estuda(SIC) na cidade soacute aceito porque eacute o
jeito gente de assentamento eacute muito zombado (SIC) porque as vezes chega suja
na escola e os outros acha que eles satildeo porcos que toma banhordquo
Entrevistado 05
51
Tenho 21 anos de idade moro no Renascer haacute trecircs anos vim de satildeo Gabriel-GO
comecei a estudar aos 7 anos parei com 18 anos porque minha matildee mudou
pro(SIC) matildee mudou pro (SIC) assentamento haacute 6 anos e eu natildeo aguento morar
longe dela Quando cheguei aqui natildeo teve como continuar os estudos porque
trabalho durante o dia como manicure em Sobradinho e o uacuteltimo ocircnibus que passa
perto do assentamento eacute as 5 horas da tarde entatildeo natildeo daacute para estudar a noite
Sim porque quero fazer um curso de cabelereiro quando tiver aacutegua e luz aqui eu
quero montar um salatildeo de beleza e para ser uma empresaacuteria precisa ter estudos pra
administrar o negoacutecio
Entrevistado 06
44 anos
6 anos
Formosa-GO
8 anos
5ordf seacuterie
24 anos
Porque a escola mais perto(SIC) era 10km de distacircncia e eu trabalhava na roccedila e
ficava muito cansado aiacute parei natildeo deu mais
Sim quando tiver escola aqui eu vou voltar a estudar Eu tinha um sonho de ser
agroacutenomo mas esse sonho eacute impussive(SIC) entatildeo queria concluir o ensino
fundamental para fazer um curso de teacutecnico agriacutecola no IFB mas tambeacutem eacute longe
se tivesse como estudar aqui no assentamento eu ia(SIC) ficar muito feliz
Entrevistado 07
57 anos
6 anos
Parnaiacuteba-PI- Santa Maria- DF
7 anos
4ordf seacuterie
21 anos
Parei porque era muito difiacutecil ir para escola que ficava muito longe eu tinha que sair
de casa as 4hs da madrugada para chegar na escola as 730 ia montado num
cavalo e muitas vezes natildeo tinha professora pra dar aula Parei porque natildeo aguentei
o rojatildeo tinha que minha matildee na lida a tarde e eu ficava muito cansado Vim pra
52
Brasiacutelia e casei fui trabalhar de chacareiro numa chaacutecara que tambeacutem era longe de
escola depois vim morar aqui no assentamento que natildeo tem escola
Se tivesse escola aqui eu ia voltar estudar soacute pra aprender a cuidar meior (SIC) da
terra e dos meus bichos e que fosse como uma escola agriacutecola
Entrevistado 08
Tenho 29 anos moro no assentamento Renascer haacute 2 anos sou educadora do
Pronera haacute 1 ano e 2 meses O Pronera eacute como um antidepressivo na vida de muita
gente o Pronera melhorou a minha vida e a vida dos meus alunos o desejo de
todos eacute que o Pronera continue crescendo em direccedilatildeo de uma educaccedilatildeo continuada
levando tambeacutem o ensino fundamental para os acampamentos e assentamentos da
Reforma Agraacuteria
-50-
Anexos
53
Acampamento agrave beira da estrada ndash 2004
Construccedilatildeo da Sede do Movimento na atual aacuterea
54
Reuniatildeo semanal
Teatro de fantoches ndash brinquedoteca
55
Accedilatildeo da Pastoral da Crianccedila na brinquedoteca
Oficina de brinquedos reciclaacuteveis
56
Brinquedo confeccionado com materiais reciclaacuteveis na Brinquedoteca
57
58
59
60
Apresentaccedilatildeo teatral
61
Capacitaccedilatildeo em Economia Solidaacuteria
Formaccedilatildeo de multiplicadores da Economia Solidaacuteria
62
Capacitaccedilatildeo de Educadores Ambientais
63
Luta pela Reforma Agraacuteria e Soberania Alimentar
9
poder de alguma forma contribuir para a troca de experiecircncia e conhecimentos entre
educandos e educadores melhorando minha capacitaccedilatildeo profissional e absorver
conhecimentos e orientaccedilotildees de professores (as) e companheiros (as) de estudo
Conforme o educador Paulo Freire dizia ningueacutem tem o conhecimento de tudo
e sempre eacute capaz de conhecer mais coisas que ainda natildeo conhece se assim o
desejar
O assentamento Renascer hoje conta com um total de 120 famiacutelias satildeo
11 (onze) anos de luta e perseveranccedila tem se manifestado se mobilizado
reivindicando oportunidades de obterem escola do campo para adquirirem
conhecimentos atraveacutes do estudo que lhes permita melhorar sua capacitaccedilatildeo para o
trabalho e consequentemente ampliar seus horizontes soacutecio- econocircmico e
culturalmente ou seja progredir atraveacutes dos seus estudos e trabalho que satildeo
direitos humanos universais
Sem a inclusatildeo do ensino fundamental para trabalhadores rurais a Educaccedilatildeo
de Jovens e Adultos (EJA) para o ensino do 6ordm ao 9ordm ano o que natildeo eacute nem um pouco
acessiacutevel agrave comunidade devido a inuacutemeras dificuldades como horaacuterio disponiacutevel
falta de transporte dentre outros fatores Fica impossiacutevel o acesso dessa
comunidade aos estudos oferecidos pelo Instituto Federal de Brasiacutelia (IFB) que fica
proacuteximo a esse assentamento O IFB oferece diversos cursos que interessam e
atendem agraves necessidades dos trabalhadores do campo Desta maneira a situaccedilatildeo
atual dos moradores do Assentamento Rural Renascer demostra discriminaccedilatildeo e
exclusatildeo social por parte do poder puacuteblico
Alguns cursos e projetos teacutecnico-pedagoacutegicos realizados por parceiros do
Movimento de Apoio ao Trabalhador Rural (MATR) Como a Fundaccedilatildeo Banco do
Brasil Funatura IFB Economia Solidaacuteria Novas Fronteiras da Cooperaccedilatildeo Rio Satildeo
Bartolomeu Vivo e UnB Essas parcerias acrescentaram melhorias agrave qualidade de
vida ao assentamento
A educaccedilatildeo que temos atraveacutes do Programa de Educaccedilatildeo na Reforma
Agraacuteria (PRONERA) revela que a importacircncia do programa na realidade do
assentamento durante determinado periacuteodo satisfez algumas necessidades
educacionais tirando muitas pessoas do analfabetismo
O que ocorre atualmente eacute que o Pronera natildeo estaacute funcionando no
momento por falta da renovaccedilatildeo do contrato estre o INCRA a UnB e o Movimento
10
Social MATR que vem atrasando o processo de alfabetizaccedilatildeo e conclusatildeo do
5ordm ano
Um olhar criacutetico sobre a escola que temos revela a necessidade de poliacuteticas
puacuteblicas como a implantaccedilatildeo de espaccedilos fiacutesicos contendo mobiliaacuterio escolar baacutesico
como carteiras quadro de giz e iluminaccedilatildeo adequada A observaccedilatildeo da atuaccedilatildeo do
Pronera na comunidade Renascer resultou nas seguintes observaccedilotildees
- inadequaccedilatildeo do local para realizaccedilatildeo das aulas que ateacute recentemente
funcionava de forma precaacuteria num barraco utilizado pela igreja catoacutelica o que
impossibilitava o funcionamento das aulas pois durante os eventos da igreja natildeo
tinha como realizar as atividades pedagoacutegicas
A reparaccedilatildeo dessa situaccedilatildeo de precariedade especiacutefica do assentamento
Renascer contribui para reverter a condiccedilatildeo de inferioridade dos assentados
As criacuteticas acima relacionadas satildeo positivas pois a uacutenica escola que o
acampamento teve no decorrer desses 11 (onze) anos foi o Pronera que pode
perfeitamente superar as dificuldades apontadas contribuindo com o trabalho do
educador (a) que acaba por acrescentar inuacutemeras responsabilidades que lhe natildeo
satildeo devidas ao ato de ensinar
A perseveranccedila na luta por uma escola do campo na comunidade Renascer
eacute essencial para evitar o que acontece na realidade do campo em niacutevel nacional
onde cerca de 24000 escolas brasileiras foram fechadas no meio rural
Segundo Erivam Hilaacuterio do setor de educaccedilatildeo do MST que afirma que o
fechamento dessas escolas tem sua loacutegica a intenccedilatildeo de pensar num campo sem
escola e consequentemente um campo sem cultura e sem gente
Refletinto sobre a educaccedilatildeo que queremos atraveacutes do Pronera ou outros
programas educacionais de ensino sentimos que eacute necessaacuterio uma concepccedilatildeo da
educaccedilatildeo ampla que propicia alimento intelectual moral artiacutestico e um
posicionamento criacutetico no processo social e poliacutetico tanto em niacutevel regional
nacional e universal Constitui ferramenta essencial para a formaccedilatildeo de nossa
personalidade e para a emancipaccedilatildeo da sociedade em relaccedilatildeo agrave opressatildeo e
injusticcedila
As expectativas e lutas das famiacutelias do assentamento Renascer estatildeo
alicerccediladas em parcerias junto a entidades do poder puacuteblico exemplo INCRA UnB
11
e Movimentos Sociais do campo para colocar em praacutetica uma educaccedilatildeo que seja
eficaz para a Comunidade Renascer
Acredito que cada comunidade possui uma realidade um contexto muito
proacuteprio particular diferenciada de outra comunidade qualquer Os anseios as
necessidades os fatores culturais econocircmicos entre outros fatores satildeo diferentes
de lugar para lugar
A pedagogia e os meacutetodos a serem realizados em cada local deveriam ser
colocados em praacutetica somente apoacutes a comunidade local ser mobilizada e participar
ativamente na elaboraccedilatildeo deste plano de trabalho pedagoacutegico contribuindo com
ideias e vivecircncias Desta maneira a educaccedilatildeo estaria a serviccedilo do bem coletivo e
natildeo privilegiaria alguns em prejuiacutezo da coletividade A educaccedilatildeo eacute uma importante
ferramenta para o desenvolvimento de uma economia solidaacuteria e socialmente justa
politicamente livre dos espoliadores que historicamente persistem em oprimir a
maioria dos povos privando-os de seus direitos
Na maioria das escolas existentes no campo que natildeo atendem a todos mas
a uma determinada parcela da populaccedilatildeo regional a pedagogia adotada eacute
planejada formulada empacotada e imposta aos camponeses por ldquopedagogo de
gabineterdquo que vivem nas grandes cidades e natildeo respeitam os valores e realidades
regionais e locais de cada comunidade
Eacute claro que existem exceccedilotildees de trabalhos pedagoacutegicos muito bons Eacute o caso
de quando ocorre uma interaccedilatildeo entre a comunidade local e os educadores que
estatildeo ali para contribuir por uma educaccedilatildeo construiacuteda a partir da participaccedilatildeo
popular e democraacutetica na criaccedilatildeo e produccedilatildeo do processo educativo
A pesquisa seraacute fundamentada pela investigaccedilatildeo teoacuterica sobre o tema de
implantaccedilatildeo de salas de aula de ensino fundamental para trabalhadores rurais
adultos em comunidades que lutam pela reforma agraacuteria Para entender-se o
problema eacute necessaacuterio apontar a fundamentaccedilatildeo teoacuterica
A fundamentaccedilatildeo de diversas correntes de opiniatildeo eacute importante para o nosso
proacuteprio esclarecimento e para a busca conjunta com os interessados sobre qual o
melhor modelo pedagoacutegico a ser implantado na sala de aula da comunidade
A fundamentaccedilatildeo teoacuterica como satildeo vaacuterias as teorias existentes seratildeo
expostas algumas como Territoacuterios Educativos na Educaccedilatildeo do Campordquo ldquopor uma
Educaccedilatildeo do Campordquo ldquoTeoria e Praacutetica Pedagoacutegica da educaccedilatildeo do Campordquo
12
rdquoPesquisa Social e accedilatildeo Pedagoacutegicardquo rdquoEtnografia e Praacutetica Escolarrdquo ldquoMetodologia
do tralho Cientiacuteficordquo e trabalhos monograacuteficos de ex-alunos do curso da LEdoC
A metodologia utilizada a pesquisa qualitativa com estudo de caso e estudo
bibliograacutefico
O estudo teve como instrumento de pesquisa a aplicaccedilatildeo de entrevista semi-
estruturada com pessoas da comunidade Renascer quando seraacute identificada sua
participaccedilatildeo e contribuiccedilatildeo para educaccedilatildeo na comunidade e sobre seu entendimento
sobre que tipo de escola do campo que a comunidade requerem relevantes para o
objetivo da pesquisa
O trabalho de campo foi para buscar informaccedilotildees atraveacutes da fala dos sujeitos
que foram ouvidos conforme citado anteriormente bem como de material que
poderaacute contribuir para o trabalho da pesquisa
A pesquisa bibliograacutefica abordou o aprofundamento teoacuterico sobre o tema
para anaacutelise da realidade da educaccedilatildeo do campo para melhor entender a situaccedilatildeo
em que o assentamento se encontra na luta pela escola
-11-
13
Segundo Capiacutetulo
Da escola rural agrave escola do campo histoacuterico das lutas e
concepccedilotildees da educaccedilatildeo
21 A Escola Rural no Brasil
Conforme Ferreira e Brandatildeo (2011) a trajetoacuteria da escola rural brasileira
deve ser contextualizada historicamente segundo o modelo socioeconocircmico
implantado no paiacutes desde o iniacutecio do processo colonizador ateacute o momento presente
Para os autores desde os primoacuterdios do processo de colonizaccedilatildeo o paiacutes foi
entendido apenas como uma colocircnia de exploraccedilatildeo devendo portanto remeter agrave
metroacutepole suas riquezas naturais do solo do subsolo dando segmento aos ciclos
econocircmicos denominados de colonial ciclo do pau brasil da cana de accediluacutecar do
ouro do cafeacute (FERREIRA amp BRANDAtildeO 2011 p3)
A base social do paiacutes eacute formada pelos nativos (iacutendios ndash expulsos
massacrados e exterminados) os africanos e os imigrantes pobres vindos da
Europa e do oriente Foi segundo os mesmos autores esta mesma base social que
formou a matildeo de obra imprescindiacutevel para a implantaccedilatildeo do projeto colonial e do
periacuteodo imperial
A aboliccedilatildeo da escravatura em 1888 e o consequente abandono da populaccedilatildeo
negra desprovida de qualquer indenizaccedilatildeo ou bens materiais particularmente terra
teve como consequecircncia o ecircxodo rural e o desprezo pela atividade agriacutecola
associada agrave escravatura
Em sua experiecircncia histoacuterica como repuacuteblica o tradicional modelo
socioeconocircmico adotado no Brasil perdurou
Ao longo da histoacuteria do Brasil o processo de exclusatildeo social e tambeacutem poliacutetico econocircmico e cultural sempre estiveram presentes e eram tidos como algo ldquonaturalrdquo Ainda nos dias atuais fazer uma referencia a este processo de exclusatildeo natildeo leva a um debate tranquilo a resistecircncia ainda eacute forte por parte da sociedade neoliberal principalmente por aqueles que ainda se beneficiam com
a exclusatildeo socialrdquo (FERREIRA 2011 pag 3)
Com relaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo o que se percebe eacute conforme Ferreira (2011)
14
que o modelo de educaccedilatildeo praticado no Brasil pelos diferentes governos entre o iniacutecio do Impeacuterio (1822) ateacute meados do seacuteculo XX era uma educaccedilatildeo para a elite econocircmica e intelectual em prejuiacutezo direto e indiscriminado dos pobres negros e iacutendios Inclusive a primeira Lei ainda no periacuteodo imperial quando se reporta agrave educaccedilatildeo natildeo se ateve agraves especificidades diretas da zona rural onde a populaccedilatildeo brasileira viviardquo (FERREIRA 2011 p4)
Clauacutedio Santos (2013) afirma que a educaccedilatildeo destinada aos habitantes do
campo no inicio do seacuteculo XX entendia que ldquoa formaccedilatildeo das jovens geraccedilotildees ou dos
adultos no espaccedilo rural era tida como algo menor ou desnecessaacuteriordquo (p 47) Para o
autor a maioria de residentes no campo ( 75) natildeo foi pensado um modelo
educacional que contemplasse as necessidades dos residentes no campo o que a
histoacuteria do Brasil nos ensina eacute que o regime republicano manteve os grandes
latifuacutendios e a oligarquia rural alijando a maior parcela da populaccedilatildeo rural de
qualquer benefiacutecio do sistema poliacutetico-econocircmico
A organizaccedilatildeo escolar rural no Brasil embora tiacutemida pode ser localizada a
partir do primeiro governo republicano o do marechal Deodoro da Fonseca (1889-
1891) estando a cargo do Ministeacuterio da Agricultura Comeacutercio e Induacutestria O ecircxodo
da populaccedilatildeo rural para os incipientes centros urbanos em busca dos empregos
promovidos pela igualmente incipiente industrializaccedilatildeo evidenciava as mazelas dos
sujeitos do campo 75 da populaccedilatildeo brasileira era analfabeta igual nuacutemero da
populaccedilatildeo do campo
Somente a partir de 1920 tem-se efetivamente o primeiro movimento em
defesa da educaccedilatildeo da populaccedilatildeo rural conhecido como Ruralismo Pedagoacutegico
(SANTOS 2013) que foi um movimento dos educadores poliacuteticos e intelectuais
elaborando formas de accedilatildeo pedagoacutegicas adequados agrave dominacircncia poliacutetico-
econocircmica da oligarquia rural
Para o autor o ruralismo pedagoacutegico
defendia uma escola integrada agraves condiccedilotildees locais para promover a fixaccedilatildeo do homem do campo estava ligado agrave modernizaccedilatildeo do campo brasileiro e contava com o apoio dos latifundiaacuterios temerosos de perder sua matildeo de obra bem como de uma elite urbana preocupada com os resultados negativos de uma migraccedilatildeo
camponesa para a cidade (SANTOS2013p48)
15
Uma caracteriacutestica do ruralismo pedagoacutegico foi buscar adequar a educaccedilatildeo
rural para fixar o homem no campo para diminuir o processo de urbanizaccedilatildeo e
consequente ecircxodo rural que modificava a estrutura econocircmico e social do paiacutes
Relativo agrave educaccedilatildeo rural da primeira metade do seacuteculo XX nos ensina
Santos (2013 p48) que ldquoem 1933 inicia-se a campanha de alfabetizaccedilatildeo na zona
rural Em 1935 ocorre o I Congresso Nacional do Ensino Regional que contribui
para a fundaccedilatildeo da Sociedade Brasileira de Educaccedilatildeo Rural no ano de 1937rdquo
Nos anos de 1920 foi criado o movimento conhecido como Escola Nova por
intelectuais e pensadores brasileiros que valorizaram a pesquisa educacional e a
inserccedilatildeo da escola como uacutenico meio de se combater as desigualdades sociais num
ambiente de crescente industrializaccedilatildeo e urbanizaccedilatildeo (SANTOS 2013) Estes
educadores como Aniacutesio Teixeira Fernando de Azevedo Lourenccedilo Filho dentre
outros defenderam atraveacutes do Manifesto da Escola Nova (1932) a universalizaccedilatildeo
da escola puacuteblica laica e gratuita
A influecircncia deste movimento sobre a educaccedilatildeo brasileira fez-se sentir nas geraccedilotildees futuras de educadores e pesquisadores como Darcy Ribeiro e Florestan Fernandes A atuaccedilatildeo desses pioneiros se estendeu por deacutecadas muitas vezes criticada pelos defensores da escola particular e religiosa (FERRARI 2014p43)
Poreacutem as propostas do Manifesto natildeo tiveram impactos concretos e natildeo
foram incorporados pela escola Ferraro (2012) esclarece que
A educaccedilatildeo rural no Brasil soacute se tornou objeto de interesse do Estado no momento em que todas as atenccedilotildees e esperanccedilas se voltavam para o urbano e a ecircnfase passava a recair sobre o desenvolvimento industrial Quando os interesses do latifuacutendio dominavam tanto a economia como a poliacutetica a alfabetizaccedilatildeo das massas camponesas era vista como seacuteria ameaccedila agrave ordem vigente Quando o paiacutes jaacute avanccedila no processo de industrializaccedilatildeo e se torna predominantemente urbano eacute a proacutepria cidade que passa a reivindicar a alfabetizaccedilatildeo das populaccedilotildees do campo Passa entatildeo a contrariar os interesses da cidade continua (FERRARO 2012p964)
16
A industrializaccedilatildeo ocorreu nas cidades e atraiu grandes levas de
trabalhadores do campo seduzidos pelo ideal de transformaccedilatildeo de vida acesso agrave
escolarizaccedilatildeo empregos bem remunerados ideais que levam ao ecircxodo rural hoje
ou naquele momento histoacuterico A realidade do trabalhador do campo receacutem
chegado agrave cidade era do ponto de vista educacional precariacutessima pois em sua
maioria eram analfabetos ou com baixa escolarizaccedilatildeo Essa condiccedilatildeo impedia o
acesso ao emprego industrial urbano e agrave boa qualidade de vida que uma boa
remuneraccedilatildeo podia proporcionar
As cidades sofreram crescimento raacutepido desgovernado formando periferias
que abrigavam a maioria da populaccedilatildeo egressa do campo O subemprego e o
desemprego desestabilizavam as populaccedilotildees das cidades e geravam desequiliacutebrios
sociais e econocircmicos comprometendo a qualidade de vida de todos os moradores
Eacute o ciacuterculo vicioso da desigualdade da exclusatildeo e da violecircncia que a educaccedilatildeo
pode romper A educaccedilatildeo tem entatildeo o propoacutesito de formar trabalhadores para a
induacutestria urbana
Na Constituiccedilatildeo de 1934 para com a educaccedilatildeo rural destaca-se o Art 156 conforme podemos ver abaixo
A Uniatildeo e os Municiacutepios aplicaratildeo nunca menos de dez por cento e os Estados e o Distrito Federal nunca menos de vinte por cento da renda resultante dos impostos na manutenccedilatildeo e no desenvolvimento dos sistemas educativos Paraacutegrafo uacutenico ndash Para a realizaccedilatildeo do ensino nas zonas rurais a Uniatildeo reservaraacute no miacutenimo vinte por cento das cotas destinadas agrave educaccedilatildeo no respectivo orccedilamento anual
Na constituiccedilatildeo Federal de 1937 a educaccedilatildeo rural natildeo eacute citada A prioridade eacute
a educaccedilatildeo dos moradores urbanos Neste periacuteodo conforme Ferreira (2011) ldquoa
orientaccedilatildeo poliacutetico educacional para o mundo capitalista fica bem expliacutecita
sugerindo a preparaccedilatildeo de um maior contingente de matildeo de obra para as novas
atividades abertas pelo mercado ndash a industrializaccedilatildeordquo ( pg 32)
Ainda segundo o autor este afirma que em 1935 ocorreu o I Congresso
Nacional do Ensino Regional que assume como objetivo propagar a educaccedilatildeo rural
e elaborar os planos de educaccedilatildeo Esses planos recomendavam escolas rurais
ambulantes nas regiotildees de menor densidade geograacutefica
17
O periacuteodo conhecido como Estado Novo (1937-1945) tentava implantar uma
poliacutetica educacional de cunho nacionalista tornando a educaccedilatildeo um instrumento do
estado servindo aos seus interesses
Os adultos analfabetos particularmente no meio rural tiveram atenccedilatildeo da
Campanha Nacional de Educaccedilatildeo Rural (CNER) de 1952 a 1963 cujo objetivo era
contribuir para a inserccedilatildeo do homem do campo O CNER atuou atraveacutes de missotildees
internacionais dos Estados Unidos voltadas agrave educaccedilatildeo ao treinamento de
professores e agrave preparaccedilatildeo dos jovens do meio rural pelo ensino profissional
agriacutecola Agrave atividade do CNER podemos agregar a accedilatildeo da Comissatildeo Brasileiro-
Americana de Educaccedilatildeo das Populaccedilotildees Rurais (CBAR) que celebrou acordos entre
esses dois paiacuteses visando a educaccedilatildeo rural orientada para o emprego de teacutecnicas
agriacutecolas (OLIVEIRA 1999 p 133)
A educaccedilatildeo rural eacute chamada para se ajustar agraves poliacuteticas educacionais estabelecidas pelo projeto do estado A educaccedilatildeo rural em primeiro lugar apesar de numerosos programas desenvolvidos sempre representou uma fatia muito pequena e marginal nas preocupaccedilotildees do setor puacuteblico (OLIVEIRA p apud CALAZANS1981p162)
A educaccedilatildeo rural ocupou e ainda ocupa pequeno espaccedilo no universo
educacional brasileiro As escolas apresentam dificuldades para se manterem no
campo Conforme o Jornal Sem Terra nordm 46 jun2011 24000 escolas do campo
foram fechadas no Brasil As instalaccedilotildees o curriacuteculo a carecircncia de professores o
transporte escolar formam muitas vezes uma barreira quase imponiacutevel para uma
ampla gama de alunos particularmente das uacuteltimas seacuteries do ensino fundamental e
do ensino meacutedio
Os programas implantados nos uacuteltimos anos como o PRONERA e o EJA
apresentam soluccedilotildees e alcanccedilam grandes resultados mas podemos questionar os
resultados entre os estados O Rio Grande do Sul (que atendeu alunos do ensino
baacutesico ateacute o ensino superior) em comparaccedilatildeo com outros estados e o Distrito
Federal conseguiu excelentes resultados No DF falta alcanccedilar melhores
resultados Podemos questionar se os resultados satildeo adequados pois por exemplo
no assentamento Renascer o Pronera natildeo vai aleacutem do quinto ano Eacute necessaacuterio
uma poliacutetica educacional que leve em conta a realidade dos alunos do campo
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invista recursos materiais e humanos modernizem as escolas e propiciem o acesso
dos alunos
Conforme nos explica Sousa 2004 em seu artigo lsquodiscursos intolerantes o
lugar da politica na educaccedilatildeo rural e a representaccedilatildeo do camponecircs analfabeto
No Brasil a trajetoacuteria da educaccedilatildeo rural inclui-se na dinacircmica de modernizaccedilatildeo do campo assumindo um papel decisivo no processo de expropriaccedilatildeo proletarizaccedilatildeo e controle dos trabalhadores rurais A modernizaccedilatildeo da produccedilatildeo no nordeste brasileiro por exemplo incentivou o processo de sindicalizaccedilatildeo em massa dos trabalhadores das zonas canavieiras estimulou reivindicaccedilotildees no campo do trabalho ligadas agrave aplicaccedilatildeo do Estatuto do Trabalhador Rural e contraditoriamente fez emergir as manifestaccedilotildees pela distribuiccedilatildeo de terras encampadas pelas Ligas Camponesas ( SOUSA2004 p4)
O projeto de modernizaccedilatildeo do campo ocorreu sem que houvesse a
emancipaccedilatildeo dos trabalhadores rurais Na verdade ocorreu a proletarizaccedilatildeo dos
trabalhadores rurais pela acumulaccedilatildeo de terras em matildeos de apenas poucos
proprietaacuterios (latifundiaacuterios) Esse acontecimento revela que apenas em processo
consciente e contiacutenuo de lutas organizados e unidos os trabalhadores rurais
poderatildeo conquistar terras e meios para sua produccedilatildeo
O estudo da organizaccedilatildeo dos trabalhadores rurais eacute importante porque eacute a
partir dela que outras grandes reivindicaccedilotildees satildeo conquistadas No caso da
presente pesquisa pode-se observar que foi a organizaccedilatildeo dos trabalhadores em
torno de suas causas a reforma agraacuteria que levou agrave luta pelas outras reivindicaccedilotildees
como a educaccedilatildeo no campo
O proacuteximo capiacutetulo deste trabalho monograacutefico aborda a questatildeo das
manifestaccedilotildees e resistecircncias dos camponeses pela educaccedilatildeo e pela reforma
agraacuteria
-16-
22 Trajetoacuteria de luta pela Educaccedilatildeo do Campo
A luta pela educaccedilatildeo do campo esteve sempre associada agrave luta pela reforma
agraacuteria e pela conquista de direitos para os trabalhadores rurais O Movimento das
19
Ligas Camponesas lutou pela emancipaccedilatildeo do trabalhador rural e da reforma agraacuteria
e em seu projeto educacional estavam baseados nos ideais de Paulo Freire e do
Movimento de Educaccedilatildeo de Base (MEB)
Para explicar a reaccedilatildeo das classes populares agraves imposiccedilotildees do governo
brasileiro e das classes dominantes Oliveira (1995 apud ARROYO)
A histoacuteria das lutas entre as classes sociais natildeo se limitam agrave luta pelo poder mas se constituem impulsionadoras da histoacuteria da humanidade que natildeo aguardam passivamente seu destino mas ao contraacuterio articulam-se em torno de suas lutas para garantir seus direitos sua dignidade e sua participaccedilatildeo democraacutetica na sociedade( OLIVEIRA apud ARROYO1995p 80)
Neste sentido as Ligas Camponesas lutaram praticamente em todo o
territoacuterio nacional contra a tentativa de expulsatildeo dos trabalhadores rurais das terras
Os conflitos armados particularmente no Nordeste exigiam participaccedilatildeo poliacutetica e
direitos essenciais como a educaccedilatildeo do campo
O meacutetodo de alfabetizaccedilatildeo criado por Paulo Freire foi amplamente utilizado
pelas Ligas Camponesas e em sua concepccedilatildeo ampla de escola serviu de subsidio
para a compreensatildeo do camponecircs acerca de seu papel social (TOLEDO Caio
Navarro 2004 p6)
Neste contexto surge a Pedagogia do Oprimido de Paulo Freire Segundo
SANTOS (2013 apud Paulo Freire 1987) afirma que a pedagogia do oprimido
configura-se como
Aquela que tem de ser forjada com ele (o oprimido) e natildeo para ele enquanto homens ou povos na luta incessante de recuperaccedilatildeo de sua humanidade Pedagogia que faccedila da opressatildeo e de suas causas objeto de reflexatildeo dos oprimidos de que resultaraacute o seu engajamento necessaacuterio na luta por sua libertaccedilatildeo em que esta pedagogia se faraacute e refaraacuterdquo (FREIRE 1987 p32)
A pedagogia do oprimido serve de referecircncia para o trabalhador rural que luta
pela emancipaccedilatildeo de sua condiccedilatildeo de proletaacuterio atraveacutes da reforma agraacuteria A
pedagogia do oprimido leva o homem ao encontro de si mesmo ao reconhecimento
da grandeza de seu trabalho ao potencial de suas accedilotildees cotidianas que fazem a
diferenccedila A capacidade de reflexatildeo e o entendimento de sua potencialidade pode
leva-lo agrave sua plena realizaccedilatildeo como indiviacuteduo e como ser social
20
A reaccedilatildeo do governo contra o movimento de educaccedilatildeo popular proposto por
Freire e assumido pelo Movimento das Ligas Camponesas e pelo Movimento de
Educaccedilatildeo de Base (MEB) gerou repressatildeo e resposta da ditadura civil-militar como
o Movimento Brasileiro de Alfabetizaccedilatildeo (MOBRAL)
A luta dos movimentos sociais e sindicais pela educaccedilatildeo do campo parte das
forccedilas internas dos movimentos e alcanccedila a setores sociais religiosos ideoloacutegicos
que passam a contribuir efetivamente para o alcance do direito agrave educaccedilatildeo aos
camponeses
A Comissatildeo Pastoral da Terra (CPT) presente ao lado dos trabalhadores (as)
rurais indiacutegenas ribeirinhos pescadores e quilombolas tambeacutem contribuiu e
contribui para a formaccedilatildeo criacutetica a defesa de formas sustentaacuteveis de utilizaccedilatildeo de
recursos naturais e produccedilatildeo e para a alfabetizaccedilatildeo segundo o meacutetodo de Paulo
Freire (CANUTO 2012 p 131)
Na atualidade estaacute em desenvolvimento um movimento que luta pela educaccedilatildeo do homem do campo organizado por vaacuterias entidades dentre elas o MST Trata-se de um processo que teve inicio em meados dos anos de 1990 impulsionados pela necessidade da educaccedilatildeo de jovens e adultos das aacutereas de assentamentos rurais Foi organizado um Programa Nacional para Educaccedilatildeo na Reforma Agraacuteria composto por atores tais como movimentos sociais universidades e governo federal aleacutem de outros parceiros (Alas da Igreja Sindicatos Organizaccedilatildeo Natildeo-Governamental ONG) existentes nas diferentes regiotildees do Brasil( SOUSA2004 p 32)
A trajetoacuteria de conquista das escolas do campo particularmente as escolas
do campo criadas pelo MST a partir da deacutecada de 1990 foi marcada pela conquista
e implantaccedilatildeo da Educaccedilatildeo Fundamental para crianccedilas e adolescentes dos
acampamentosassentamentos de acordo com o projeto politico-pedagoacutegico fruto do
amadurecimento do movimento
Focou-se a alfabetizaccedilatildeo de jovens e adultos e as lutas pela implantaccedilatildeo do
ensino meacutedio com cursos alternativos para a formaccedilatildeo de professores e teacutecnicos de
niacutevel meacutedio e tambeacutem de cursos superiores
A concepccedilatildeo de escolas de ensino fundamental plantadas em assentamentos
prevecirc a instalaccedilatildeo da escola na proacutepria comunidade evitando com isso o uso de
transporte escolar e a frequecircncia dos alunos Sem Terra em escolas fora do
assentamento
21
Esta atitude de resistecircncia foi fundamental para a conquista da escola nas
terras conquistadas e tambeacutem foi fundamental para universalizar o ensino enraizar
o aluno em sua comunidade e criar a consciecircncia do direito agrave educaccedilatildeo
ldquoincomodandordquo o Estado para garantir o cumprimento das poliacuteticas puacuteblicas
Kolling Vargas e Caldart (2012p502) nos ensinam ldquotoda vez que se
conquista uma escola de educaccedilatildeo baacutesica em um assentamento ou acampamento
ela representa menos adolescentes e jovens do campo fora da escola e mais gente
enraizada em seu proacuteprio lugarrdquo (pag 502)
Os movimentos sociais e sindicais pela educaccedilatildeo do campo indicam o grau
de maturidade desses em sua luta pela reforma agraacuteria Agrave essa luta soma-se o
projeto de desenvolvimento do paiacutes baseado na justiccedila social e o combate agraves
tradicionais formas utilizadas pelas elites urbanas ou rurais de alienaccedilatildeo pela
expropriaccedilatildeo do trabalho e pelo controle dos meios que levam agrave emancipaccedilatildeo
sociocultural e agrave verdadeira humanizaccedilatildeo papel destinado agrave educaccedilatildeo
Neste sentido movimentos sociais como o MST inserem a educaccedilatildeo
baseada em princiacutepios pedagoacutegicos que se distinguem da escola tradicional
Numa perspectiva histoacuterica os movimentos sociais do campo como por
exemplo o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) tiveram inicialmente
como bandeira de luta a luta pela terra pela Reforma Agraacuteria natildeo fazendo uma
relaccedilatildeo entre essa luta e a educaccedilatildeo
A formaccedilatildeo de escolas do campo pelo MST natildeo foi resultado da consciecircncia e
importacircncia da escola para a promoccedilatildeo da educaccedilatildeo em seu meio Foi na verdade
a necessidade de oferecer aos filhos dos primeiros lutadores a oportunidade de
uma perspectiva melhor de futuro atraveacutes do direito agrave educaccedilatildeo Foi tambeacutem a
necessidade de ldquotransformar instituiccedilotildees histoacutericas como a escola em lugares que
ajudem a formar os sujeitos destas transformaccedilotildeesrdquo (CALDART2012 p94)
Desse modo houve primeiro a ldquoocupaccedilatildeo da escolardquo pela mobilizaccedilatildeo e pela
accedilatildeo para garantir que em acampamentos ou assentamentos conquistados
houvesse uma escola que ldquofizesse a diferenccedila ou tivesse realmente sentido em sua
vida presente e futura (preocupaccedilatildeo com os filhos)rdquo (CALDART2012 p91)
Num segundo momento da luta observa-se intencionalidade da luta pela
escola mas com proposta pedagoacutegica especiacutefica ldquocombinando processos de
22
escolarizaccedilatildeo e de formaccedilatildeo da militacircncia e da base social Sem Terrardquo
(CALDART2012 p92)
As experiecircncias de pensar escolas como polos regionais entre assentamentos e com estudantes de outras comunidades de camponeses aos poucos vatildeo educando o olhar dos trabalhadores Sem Terra para uma realidade mais ampla Foi assim que o MST chegou agrave EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO (KOLLING Vargas e Caldart 2012 p 502)
A escola dentro dessa perspectiva de mudanccedila e envolvimento social eacute
parte da luta pela reforma agraacuteria daacute significado a ela pois proporciona a formaccedilatildeo
integral dos sujeitos que lutam pela terra
Essa escola possibilita a reflexatildeo trava o diaacutelogo com as propostas de
educaccedilatildeo popular de Paulo Freire e busca superar as dificuldades imensas que
assentados e acampados vivem no dia a dia
A escola tambeacutem revela a cultura o orgulho e criaccedilatildeo da identidade na luta
por terra Nesse sentido
A heranccedila que o MST deixaraacute para seus descendentes seraacute bem mais do que a terra que conseguir libertar do latifuacutendio seraacute um jeito de ser humano e de tomar posiccedilatildeo diante das questotildees de seu tempo seratildeo os valores que fortalecem e datildeo identidade aos lutadores do povo de todos os tempos de todos os lugares Eacute enquanto produto humano de uma obra educativa que os Sem Terra podem ser vistos como mais um elo que se forma em uma longa tradiccedilatildeo de lutadores sociais que fazem a histoacuteria da humanidade Enraizamento no passado e projeto de futuro (CALDART 2012 p 96)
A educaccedilatildeo proposta pelo movimento gera o sentimento de pertencimento e
desperta o sentimento de respeito agrave coletividade valoriza o trabalho a gestatildeo
democraacutetica e desburocratizada da escola
SANTOS (2013 p71) esclarece que pelo projeto educacional do MST a
educaccedilatildeo proposta estaacute pautada em ldquovalores socialistas e humanistas tais como o
coletivismo o trabalho socialmente uacutetil a organizaccedilatildeo e auto-organizaccedilatildeo dos
estudantes e professoresrdquo (p71)
-21-
23
221 Concepccedilatildeo Pedagoacutegica da Educaccedilatildeo do Campo
No acircmbito da educaccedilatildeo do homem do campo tornar o homem sujeito e natildeo
objeto do saber leva a entender que o conhecimento do camponecircs pode dialogar
com as praacuteticas baseadas no conhecimento cientiacutefico desde que seja perseguido o
ideal de trabalhadores e educadores do campo comprometidos com as lutas sociais
de formar o homem ldquodordquo campo e ldquono campordquo
Conforme Kolling Cerioli e Caldart (2002 p 264) ldquoo povo tem direito a uma
educaccedilatildeo pensada desde o seu lugar e com sua participaccedilatildeo vinculada agrave sua
cultura e agraves suas necessidades humanas e sociaisrdquo ndash(Caldart Educaccedilatildeo do Campo
2012 p 264
Tal compreensatildeo se ainda hoje causa oposiccedilatildeo ateacute mesmo no ambiente
acadecircmico imagine-se naquele momento histoacuterico de profunda repressatildeo poliacutetica e
ideoloacutegica aos movimentos sociais de camponeses por terra e educaccedilatildeo Como nos
ensina Molina e Saacute (DICIONAacuteRIO da Educaccedilatildeo do Campo p 324)
A concepccedilatildeo de escola do campo nasce e se desenvolve no bojo do movimento da EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO a partir das experiecircncias de formaccedilatildeo humana desenvolvidas no contexto de luta dos movimentos sociais camponeses por terra e educaccedilatildeo Trata-se portanto de uma concepccedilatildeo que emerge das contradiccedilotildees da luta social e das praacuteticas de educaccedilatildeo dos trabalhadores do e no campo (MOLINA e SAacute 2012 pag 324)
A concepccedilatildeo pedagoacutegica da educaccedilatildeo popular e da pedagogia da praacutetica
segundo ARROYO inclui
um caraacuteter de envolvimento totalizante dos movimentos sociais que possibilita ao individuo que participa destes coletivos o acesso a outro tipo de formaccedilatildeo que supera a condiccedilatildeo de aluno de alfabetizando de escolarizando Os integrantes destes organismos emersos na tensa situaccedilatildeo de conflitos aprendem por meio da vivencia das lutas sociais dos momentos de mobilizaccedilatildeo das situaccedilotildees limites de perda de emprego de criacuteticas da sociedade agraves suas accedilotildees de ameaccedilas agraves suas vidas Tudo isso traz ricas liccedilotildees ensinadas na ldquoescola do movimentordquo e que nenhuma teoria pode transmitir ou explicar de forma satisfatoacuteria
No entendimento de Arroyo (2013) os movimentos sociais vivem e
amadurecem sob o conhecimento e o entendimento das contradiccedilotildees sociais e esta
24
experiecircncia lhes permite a possibilidade de defender mudanccedilas radicais tanto no
campo como na cidade tanto na ideologia quanto no combate ao latifuacutendio e ao
capitalismo
Tamanho movimento social gera a reflexatildeo sobre as relaccedilotildees
socioeconocircmicas politicas culturais cuidado da natureza relaccedilotildees humanas
destaques de tudo o que interessa ao coletivo agrave sociedade
Eacute por meio do entendimento de que a realidade eacute criaccedilatildeo humana de como se estabelecem os processos de opressatildeo e ainda da noccedilatildeo de que podemos transformar essa realidade dado que a sociedade eacute mutaacutevel que se forma a praacutexis da luta accedilatildeo-conscientizaccedilatildeo-transformaccedilatildeo-libertaccedilatildeo Inserindo-se criticamente na histoacuteria os cidadatildeos tornam-se sujeitos construtores e reconstrutores da realidaderdquo
Molina e Saacute (2012) nos ensinam a partir do conceito de escola do campo sobre a
potencialidade da vivencia de praacuteticas coletivas para a valorizaccedilatildeo integral dos
sujeitos da coletividade do conhecimento cientiacutefico da gestatildeo coletiva da escola
dentre tantos avanccedilos e vitoacuterias dos movimentos sociais
O processo ensino-aprendizagem permite que o conceito de escola extrapole
o cotidiano de dificuldades e desafia agrave reflexatildeo que gera a emancipaccedilatildeo
Este eacute um dos maiores desafios e ao mesmo tempo uma das maiores possibilidades da escola do campo articular os conhecimentos que os educandos tecircm o direito de acessar a partir do trabalho com a realidade da religaccedilatildeo entre educaccedilatildeo cultura e os conhecimentos cientiacuteficos a serem apreendidos em cada ciclo de vida e de diferentes aacutereas do conhecimento(MOLINA MOURAtildeO 2012 p 329) -26-
222 Princiacutepios da Educaccedilatildeo do Campo
Alguns princiacutepios viabilizam o projeto de escola adotado pelos movimentos
sociais e possibilitam a democracia e a integraccedilatildeo de todos lideranccedila assentados e
acampados do movimento
25
O princiacutepio da responsabilidade coletiva sobre o planejamento a gestatildeo a
organizaccedilatildeo e a realizaccedilatildeo de tarefas em todas as esferas de atividades princiacutepios
muito valorizados pelos movimentos sociais do campo foram transferidos para o
projeto de educaccedilatildeo
O projeto eacute de responsabilidade coletiva e insere educadores tanto a niacutevel
local como regional e nacional os ldquoColetivos de educaccedilatildeordquo como satildeo conhecidos
Os coletivos de educaccedilatildeo com tarefas forccedila orgacircnica e discussotildees especiacuteficas que podem variar a cada periacuteodo fortalecem o princiacutepio organizativo de que a questatildeo da educaccedilatildeo bem como outras questotildees da vida social assumidas pelo MST deve ser pensada e implantada de forma coletiva Eacute uma loacutegica que implica tarefas a serem realizadas pelas pessoas mas mediante um planejamento e uma leitura de conjuntura feita por um coletivo (KOLLING1995 et al p503)
Para concretizar o projeto de educaccedilatildeo foi concebida a formaccedilatildeo de
professores pelos proacuteprios movimentos no acircmbito da proacutepria comunidade
(conhecidos como ldquoprofessores leigosrdquo) e tambeacutem pela rede oficial de ensino
A falta de titulaccedilatildeo de muitos educadores formados na comunidade natildeo
impede que os mesmos trabalhem juntos com os professores titulados e com
simpatizantes do movimento no projeto poliacutetico-pedagoacutegico constituindo um
princiacutepio democraacutetico importante para superar as dificuldades e urgecircncias para a
implantaccedilatildeo da educaccedilatildeo do campo
A democracia do processo de formaccedilatildeo de educadores tem reflexos amplos
a formaccedilatildeo de educadores pelos proacuteprios movimentos especiacutefica para atuaccedilatildeo nas
escolas do campo
O movimento eacute responsaacutevel pela universalizaccedilatildeo do ensino no acircmbito dos
territoacuterios conquistados ou por conquistar e permitiu a evoluccedilatildeo do ensino ateacute o niacutevel
de terceiro grau com a realizaccedilatildeo de cursos como a Licenciatura em Educaccedilatildeo do
Campo (LEdoC) do qual somos os privilegiados alunos aqui na Universidade de
Brasiacutelia
Outro reconhecimento e prova de eficiecircncia da formaccedilatildeo de professores eacute o
precircmio ldquoEducaccedilatildeo e Participaccedilatildeordquo recebido em 1995 do Fundo das Naccedilotildees Unidas
para a Infacircncia (Unicef)
26
O somatoacuterio das forccedilas internas e externas do movimento ldquoleigasrdquo ou
tituladas associadas ao princiacutepio fundamental da participaccedilatildeo dos alunos e
comunidades em todos os niacuteveis e localidades eacute ponto fundamental para o sucesso
da concepccedilatildeo do projeto pois permite o estudo a reflexatildeo conjunta sobre
estrateacutegias para o alcance do objetivo de educaccedilatildeo na reforma agraacuteria
-25-
223 Marcos Normativos da Educaccedilatildeo do Campo
Numerosos Marcos Normativos podem ser citados para explicitar qual perfil
de escola destinada ao camponecircs interessava ao governo e aos proprietaacuterios rurais
A Lei 4024 de 1961 em seu art 105 estabelece o
Apoio que poderaacute ser prestado pelo poder puacuteblico agraves iniciativas que mantenham na zona rural instituiccedilotildees educativas orientadas para adaptar o homem ao meio e estimular vocaccedilotildees e atividades profissionais (BRASIL 2012 p 4)
A Lei 5692 de 1971 ao tratar da educaccedilatildeo rural ldquonatildeo observa mais uma vez
a inclusatildeo da populaccedilatildeo na condiccedilatildeo de protagonista de um projeto social globalrdquo
sendo que o trabalho do campo realizado por alunos eacute ateacute mesmo incentivado
adequando-o ao calendaacuterio escolar (MARCOS NORMATIVOSBrasiacutelia2012 p 25)
A Lei 9394 de 1996 (Lei das Diretrizes se Bases da Educaccedilatildeo ndash LDB) em
acordo com Constituiccedilatildeo de 1988 e ldquoinspirada de alguma forma numa concepccedilatildeo
de mundo rural enquanto espaccedilo especifico diferenciado e ao mesmo tempo
integrado no conjunto da sociedaderdquo reconhece
A diversidade soacutecio-cultural e o direito agrave igualdade e agrave diferenccedila possibilitando a definiccedilatildeo de diretrizes operacionais para educaccedilatildeo rural sem no entanto recorrer a uma logica exclusiva e de ruptura com um projeto global de educaccedilatildeo para o paiacutes (idem p 26)
27
Os artigos 208 e 210 da Carta Magna-1988 e inspirada de numa concepccedilatildeo
de mundo rural enquanto espaccedilo especiacutefico diferenciado e ao mesmo tempo
integrado no conjunto da sociedade a Lei 939496- LDB-estabelece que
Art 28 Na oferta da educaccedilatildeo baacutesica para a populaccedilatildeo rural os sistemas de ensino promoveratildeo as adapta necessaacuteria agrave sua adequaccedilatildeo agraves peculiaridades da vida rural e de cada regiatildeo especialmente (MARCOS NORMATIVOS) Brasiacutelia 2012 p 25)
1- Conteuacutedos organizar curriculares e metodologias apropriadas agraves reais
necessidades e interesses dos alunos da zona rural
2-organizaccedilatildeo escolar proacutepria incluindo a adequaccedilatildeo do calendaacuterio escolar as
fases do ciclo agriacutecola e as condiccedilotildees climaacuteticas
3-adequaccedilatildeo agrave natureza do trabalho na zona rural (MARCOS NORMATIVOS)
Brasiacutelia 2012( p 26)
O movimento de educaccedilatildeo do campo luta haacute quinze (15) anos para fazer-se
cumprir esse Decreto da Lei de Diretrizes de base da educaccedilatildeo do campo-LDB
que apesar de ser constitucional ainda natildeo foi colocada totalmente em praacutetica
Agora com as lutas dos movimentos sociais eacute que estaacute comeccedilando a se concretizar
Artigo 26 Os curriacuteculos do ensino fundamental e meacutedio devem ter uma base nacional comum a ser complementada em cada sistema de ensino e estabelecimento escolar por uma parte diversificada exigida pelas caracteriacutesticas regionais e locais da sociedade
da cultura da economia e da clientela (MARCOS NORMATIVOS) Brasiacutelia 2012(p 26)
O Decreto nordm 7352 de 4 de novembro 2010 dispotildee sobre a poliacutetica de educaccedilatildeo do campo ao Programa Nacional de Educaccedilatildeo
na Reforma Agraacuteria-PRONERA decreta
Art1ordm A poliacutetica de educaccedilatildeo do campo destina-
se agrave ampliaccedilatildeo e qualificaccedilatildeo da oferta de educaccedilatildeo baacutesica e superior agraves populaccedilotildees do campo e seraacute desenvolvida pela Uniatildeo em regime de colaboraccedilatildeo com os Estados o
28
Distrito Federal e os Municiacutepios de acordo com as diretrizes e metas estabelecidas no Plano Nacional de Educaccedilatildeo e o disposto neste Decreto
Para os efeitos deste Decreto entende-se por
l-populaccedilatildeo do campo os agricultores familiares os extrativistas os pescadores
artesanais os ribeirinhos os assentados e acampados da reforma agraacuteria os
trabalhadores assalariados rurais os quilombolas os caiccedilaras os povos da floresta
os caboclos e outros que produzam suas condiccedilotildees materiais de existecircncia a partir
do trabalho no meio rural
ll-escola do campo aquela situada em aacuterea rural conforme definida pela Fundaccedilatildeo
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica- IBGE ou aquela situada em aacuterea
urbana desde que atenda predominantemente a populaccedilatildeo do campo (MARCOS
NORMATIVOS) 2012( p 81)
No Decreto 6755 29 de janeiro de 2009 em seu art 2ordm estabelecida pelo Conselho
Nacional de Educaccedilatildeo que se refere as Diretrizes Operacionais da Educaccedilatildeo do
Campo o parecer da alternacircncia
A formaccedilatildeo de professores poderaacute ser feita concomitantemente agrave atuaccedilatildeo profissional de acordo com metodologias adequadas inclusive a pedagogia da alternacircncia e sem prejuiacutezo de outras que atendam agraves especificidades da educaccedilatildeo do campo e por meio de atividades de ensino pesquisa e extensatildeo (MARCOS NORMATIVOS) 2012( p84)
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29
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231 A educaccedilatildeo do campo e poliacutetica puacuteblica - o PRONERA
O amadurecimento adquirido pela luta sobre o papel da educaccedilatildeo aliado agrave
iniciativa do aproveitamento do trabalho das professoras ldquoleigasrdquo e ainda da
consciecircncia cada vez mais presente do dever do Estado em prover os cidadatildeos da
reforma agraacuteria de poliacuteticas puacuteblicas resultou no campo da educaccedilatildeo na criaccedilatildeo do
Programa Nacional de Educaccedilatildeo na Reforma Agraacuteria (PRONERA)
O PRONERA envolve formalmente jovens e adultos num projeto conjunto
com universidades e institutos federais em prol da formaccedilatildeo de educadores para o
trabalho em escolas dos assentamentos da reforma agraacuteria e seu entorno
O Programa foi criado em 1998 no momento da ascensatildeo dos conflitos pela
reforma agraacuteria o que propiciou que os movimentos sociais trouxessem para a
opiniatildeo puacuteblica suas mazelas
No campo da educaccedilatildeo foi denunciada a falta de escola a precariedade do
ensino a falta de profissionais do ensino a ldquoloacutegica de negaccedilatildeo histoacuterica do direito
aos camponeses de acesso aos niacuteveis mais elevados de escolaridade ( SANTOS
2012 pag 630)
A partir de 2005 o ensino oferecido pelo PRONERA eacute estendido ao niacutevel
meacutedio e superior como a Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo e a Residecircncia
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Agraacuteria O PRONERA evoluiu para outros patamares tais como ldquopossibilidades de
ressignificaccedilatildeo do conteuacutedo e da metodologia dos processos de educaccedilatildeo formal
por meio dos princiacutepios baacutesicos da participaccedilatildeo e da multiplicaccedilatildeordquo (SANTOS 2012
p 631)
A participaccedilatildeo das comunidades e suas organizaccedilotildees e a multiplicaccedilatildeo de
alfabetizados formados educadores e demais profissionais ligados agraves poliacuteticas
puacuteblicas para a Reforma Agraacuteria gerou ampla participaccedilatildeo dos agentes envolvidos
na dinacircmica do processo ensino-aprendizagem
Essa forma de gestatildeo gerou reaccedilatildeo contraacuteria ldquoagrave gestatildeo colegiada e coletiva
notadamente agrave participaccedilatildeo direta dos movimentos sociais e sindicais do campordquo
considerados ldquoentes estranhos agrave administraccedilatildeo puacuteblicardquo (CLARICE p 634)
O envolvimento dos movimentos sociais e sindicais do campo natildeo
retrocederam em sua luta pelo envolvimento de todos os interessados na educaccedilatildeo
como elemento emancipatoacuterio e continuam formulando princiacutepios concepccedilotildees e
diretrizes para a escola do campo
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31
Terceiro Capiacutetulo
A histoacuteria do Assentamento Renascer
31 Uma breve histoacuteria de luta
A histoacuteria do Assentamento Renascer natildeo parece ser diferente da histoacuteria de
outros assentamentos Brasil afora Partiu da reivindicaccedilatildeo de Trabalhadores Rurais
sem Terra que desde 2004 ocuparam as margens da Rodovia DF 330 que liga
Sobradinho ao Paranoaacute-DF
Tatildeo perto do centro do poder a apenas poucos quilocircmetros do Palaacutecio da
Alvorada ou da Sede do INCRA o Acampamento Renascer esteve ateacute oito (08) de
maio de 2009 tatildeo distante da decisatildeo poliacutetica pela Reforma Agraacuteria
Somente nesta data trezentos sessenta e um( 361) de terras devolutas da
Uniatildeo foram repassadas ao INCRA para assentar as famiacutelias aliacute acampadas Ficou
criado o assentamento Renascer fora da beira da estrada
O Assentamento Renascer ldquorenasceurdquo da dificuldade de vida sob o barraco de
madeira sem aacutegua sem luz sem saneamento baacutesico que fez com que tantos
desistissem ao longo do caminho e ainda hoje se encontra nessa mesma
precariedade um descaso por parte do poder puacuteblico
A luta em vaacuterios momentos da vida dos acampados parecia estar vencida Os
vencedores pareciam ser a burocracia o desrespeito as noites mal dormidas a
inseguranccedila a falta de perspectivas para o acampado e suas famiacutelias
Duzentas (200) famiacutelias viveram aliacute por cinco anos (05) de 2004 ateacute 2009
Atualmente satildeo cento e vinte (120) famiacutelias que moram na aacuterea destinada e estatildeo
em processo de assentamento Muitas delas poreacutem vencidas pelo cansaccedilo e pelas
condiccedilotildees de vida abandonaram a luta mas todas as famiacutelias as que se foram e as
que ficaram sonharam com a terra onde poderiam produzir viam no pedaccedilo de chatildeo
os frutos do pomar da horta o galinheiro o pasto
O Assentamento Renascer eacute o Brasil Eacute um pedacinho da cruel realidade que
como vimos neste trabalho marcou a sociedade brasileira desde a escravidatildeo
desde o primeiro grito de rebeldia do quilombo desde o primeiro que lutou contra os
coroneacuteis por divisatildeo da terra como as Ligas Camponesas contra o latifuacutendio como
os movimentos sociais em sua luta pela reforma agraacuteria desde vaacuterias geraccedilotildees
32
Eacute como todo e qualquer movimento social que surgiu neste paiacutes desde a
deacutecada de 1980 pela reforma agraacuteria Viveu e ainda vive as dificuldades de ser
acampadoassentado mas honra sua luta porque natildeo desiste faacutecil
O Assentamento Renascer eacute tambeacutem fruto do ecircxodo rural da industrializaccedilatildeo
do campo da monocultura e da concentraccedilatildeo de terras Foram expulsos do campo
para a periferia das cidades sem capacitaccedilatildeo sem estudo
A falta de escolarizaccedilatildeo eacute sem duacutevida uma caracteriacutestica de quase todos os
que vieram do campo para a cidade A realidade do Brasil eacute que o campo natildeo eacute
escolarizado as escolas no campo satildeo poucas satildeo despreparadas satildeo
desvalorizadas
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32 As escolas no campo na vivencia do assentado do Assentamento
Renascer
As escolas no campo marcaram profundamente a vida dos poucos que a
frequentaram Quase todos tiveram que trocar o laacutepis pela enxada a carteira pela
roccedila desde muito pequenos Alguns natildeo muito poucos conforme os depoimentos
aqui relatados teriam que abandonar a enxada e a participaccedilatildeo no sustento da
famiacutelia para frequentar a escola Quase sempre abandonaram a escola para ficar no
trabalho com a enxada
Todos teriam que andar vaacuterios quilocircmetros para ir agrave escola Outros nem assim
conseguiriam frequentar a escola no campo ela simplesmente natildeo existia no
campo Teriam entatildeo que ir para a cidade para ter direito a uma escola
Muitos tambeacutem vivenciaram os traumas que uma escola tradicional e
descomprometida com os valores e responsabilidades do projeto educacional
castigos humilhaccedilotildees afastaram a muitos da escola
Alguns apenas sonharam e sonham com a escola ldquoAh a escolardquo Tatildeo longe
inacessiacutevel para tantos no Brasil afora Ao ver de algumas pessoas do
Assentamento Renascer ldquoSe tivesse jeito eu teria ido agrave escola tinha feito pelo
menos o ensino fundamental completo para que eu pudesse ingressar no curso
33
teacutecnico-agriacutecola Mas agora quero que meus filhos e netos vatildeo para a escola
aprender ser algueacutem na vidardquo
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321 A escola no entorno do Assentamento Renascer
A ideia de lutar pela educaccedilatildeo veio antes da ideia de lutar pela escola como
espaccedilo conquistado pelo acampamento Encontrar uma escola perto do
acampamento com transporte escolar com vagas e horaacuterios acessiacuteveis para os que
trabalham o dia todo era entendido como uma necessidade baacutesica e uma grande
vitoacuteria
Ficava-se feliz se apesar das dificuldades fosse possiacutevel matricular pelo
menos as crianccedilas As dificuldades eram e ainda satildeo muitas o transporte escolar
era e eacute precaacuterio a poeira natildeo permite que os alunos cheguem limpos agrave escola os
buracos e as poccedilas daacutegua impedem a chegada do ocircnibus escolar durante as
chuvas No caso do ocircnibus que levam os alunos ateacute a Escola Classe do Coacuterrego do
Arrozal em eacutepoca de muita chuva os ocircnibus ateacute o iniacutecio de 2014 natildeo conseguiam
transitar Isto resulta no fato de que as crianccedilas precisam caminhar debaixo de
chuva ateacute a escola
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322 O caminho para a produccedilatildeo do saber no Assentamento Renascer a
brinquedoteca a integraccedilatildeo social a biblioteca comunitaacuteria as manifestaccedilotildees
culturais
Ao longo dos anos de vivecircncia e convivecircncia no Acampamento Renascer
mediante a dificuldade e necessidade de estudar que sentimos na nossa proacutepria
vida foi despontando a ideia de prover as crianccedilas de atividades luacutedicas e
educativas
34
Logo no iniacutecio do acampamento por volta de 2005 por iniciativa de algumas
pessoas conscientes da necessidade de atividades luacutedicas para as crianccedilas foi
criada uma brinquedoteca
Inicialmente os brinquedos eram de materiais reciclaacuteveis como garrafas pet
telefones sem fio carrinhos bonecas petecas vai e vem cavalinhos tudo era
confeccionado com a participaccedilatildeo das crianccedilas na modalidade de oficina
incentivando-os a fabricar os seus proacuteprios brinquedos Os brinquedos eram
confeccionados a partir de materiais encontrados nos lugares de descarte perto do
acampamento e doaccedilotildees de pessoas que passavam pela estrada
O embriatildeo de um processo educacional que nunca se interrompeu estava
lanccedilado a brinquedoteca proporcionou a criatividade e a participaccedilatildeo de crianccedilas e
adultos marcando as atividades pela conscientizaccedilatildeo do cuidado com a natureza e a
importacircncia da reciclagem A educaccedilatildeo ambiental jaacute era praticada desde o
nascimento do acampamento Renascer
Este primeiro passo foi muito importante porque traduziu para o dia a dia do
acampamento os princiacutepios da escola do campo atuante para mudar a realidade
criar cidadatildeos conscientes e dispostos a mudar a realidade a partir da sua proacutepria
accedilatildeo Este eacute o processo de transformaccedilatildeo social dentro do acampamento Renascer
haacute tanto tempo atraacutes
Aos brinquedos reciclados pela proacutepria comunidade juntaram-se outros
presenteados por instituiccedilotildees como igrejas ONGs a Pastoral da Crianccedila e pessoas
interessadas no bem estar daquelas crianccedilas
Percebe-se em iniciativas como essas a importacircncia da educaccedilatildeo nos
diversos niacuteveis para a sociedade A integraccedilatildeo de pessoas com as atividades
educativas no acampamento nos faz lembrar sobre um grande sonho das escolas
hoje integrar a comunidade de modo a que todos defendam a escola
O sucesso de iniciativas como a brinquedoteca que integravam crianccedilas
adolescentes adultos e sociedade foi importante para outras iniciativas igualmente
importantes
Foi-se criando um projeto educacional para o acampamento sem que se
tivesse consciecircncia disso por faltar informaccedilatildeo que soacute agora se possui graccedilas aos
estudos na Universidade o galpatildeo comunitaacuterio foi utilizado para abrigar a
35
brinquedoteca para desenvolver grupos de teatro de crianccedilas e adultos e para
abrigar a biblioteca
A biblioteca recebeu inuacutemeros exemplares de livros infantis livros didaacuteticos
para os adolescentes e adultos literatura universal revistas dos mais variados
assuntos criando assim um espaccedilo comunitaacuterio de informaccedilatildeo lazer e
entretenimento
Com a criaccedilatildeo da biblioteca ficou evidente a importacircncia da alfabetizaccedilatildeo de
crianccedilas jovens e adultos Muitos acampados relatavam a vontade e a necessidade
de aprender a ler e a escrever Muitos reivindicavam o direito agrave educaccedilatildeo e
frequecircncia agrave escola ainda que o acampamento mudasse de ldquoendereccedilordquo tantas
vezes
Outros poreacutem natildeo acreditavam que seria possiacutevel aprender ou aperfeiccediloar a
leitura e a escrita nas condiccedilotildees de vida de um acampado
Vaacuterias atividades culturais foram desenvolvidas (e ainda satildeo) no
Acampamento Renascer Todas chamavam a atenccedilatildeo da comunidade local de
outras comunidades vizinhas garantindo a simpatia de chacareiros que levavam os
filhos para participarem das atividades
Uma das atividades mais apreciadas foi o Teatro de Fantoches inspirados em
faacutebulas muitas com a autoria da Pastoral da Crianccedila e da Faber Castel A
participaccedilatildeo da comunidade na atividade era intensa e voluntaacuteria todos queriam
manipular os fantoches participar cantando danccedilando ou prestando muita atenccedilatildeo
O teatro de transformaccedilatildeo social produzido pelos adultos e adolescentes
utilizavam tambeacutem materiais reciclaacuteveis demonstrando cuidado com o meio
ambiente e amadurecimento dos conceitos poliacuteticos e pedagoacutegicos gerando reflexatildeo
sobre os temas sociais que nos atingem no cotidiano
A miacutestica adotada pelos movimentos sociais com o objetivo de reflexatildeo satildeo
apresentadas em datas comemorativas e contam com o apoio e participaccedilatildeo de
muitos
Algumas festas fazem parte da tradiccedilatildeo do Acampamento Renascer
traduzindo para a realidade atual as antigas festas a que todos foram acostumados
em seus lugares de origem
Pode-se dizer que a comunidade aprecia muito as festas Mas duas em
particular satildeo muito respeitadas a festa das crianccedilas que ocorre durante o dia (12
36
de outubro) eacute concorrida pois a comunidade se esmera para oferecer os brinquedos
que as crianccedilas amam pula-pula palhaccedilos pintura de rosto piscina de sabatildeo e
muita oferta de comida coisas que as crianccedilas adoram
No mesmo dia ocorre agrave noite a festa da Nossa Senhora Aparecida com
missa e muito forroacute
No mecircs de marccedilo eacute comemorada a Festa da Pamonha em comemoraccedilatildeo agrave
boa colheita do milho Esta festa jaacute se tornou tradicional conhecida em todo o
entorno do assentamento Egrave uma festa importante porque confraterniza a
comunidade Renascer com as comunidades vizinhas e ateacute mesmo as cidades de
Sobradinho Paranoaacute e Planaltina
Os movimentos sociais necessitam ser admirados pela sociedade e festas
como estas chamam a atenccedilatildeo para o problema da reforma agraacuteria demonstrando
que ela eacute viaacutevel e que os assentados tecircm simpatia competecircncia e seus saberes do
campo
A festa ldquojulinardquo eacute outra festa muito apreciada que apresenta as tradiccedilotildees rurais
e religiosas como quadrilhas e bandas de forroacute da comunidade e vizinhanccedila A
danccedila eacute um dos pontos fortes da festa assim como as comidas tradicionais muitas
delas com ingredientes colhidos no acampamento
Vaacuterios grupos de atividades teatrais apresentaram-se na localidade com
participaccedilatildeo de palhaccedilos lembrando um espetaacuteculo circense Alguns desses
grupos inclusive tiveram seus trabalhos premiados
Outras atividades com fundo educativo tiveram participaccedilatildeo animada de
crianccedilas e adultos A exibiccedilatildeo de desenhos animados recentemente apresentados
no cinema eram um grande atrativo para a comunidade que se via socialmente
incluiacuteda Esta inclusatildeo aumentava a autoestima das crianccedilas principalmente pois
assim elas poderiam interagir com os colegas da escola conversando a respeito dos
filmes
A Economia Solidaacuteria eacute uma das formas de inserccedilatildeo dos membros da
comunidade agrave sociedade economicamente ativa Atraveacutes da cooperaccedilatildeo solidaacuteria eacute
possiacutevel o comercio justo agriacutecolas ou artesanais sob conceitos antes
desconhecidos enquanto forma de produccedilatildeo e consumo centrado na valorizaccedilatildeo do
ser humano em contraposiccedilatildeo agraves formas capitalistas de produccedilatildeo e conscientizaccedilatildeo
37
Ao longo dos doze (12) anos de luta pela educaccedilatildeo foram promovidos
diversos cursos que capacitaram multiplicadores que fazem um trabalho importante
para a comunidade
A ideia de autogestatildeo democracia cooperaccedilatildeo auxilia natildeo soacute as formas de
produccedilatildeo e comercio de bens e artesanatos mas tambeacutem auxiliam na formaccedilatildeo
integral de pessoas em que tanto o produtor como o consumidor tem o proposito de
ganhos financeiros segundo um criteacuterio de valorizaccedilatildeo do trabalho
Proposito de formar uma nova consciecircncia a Economia Solidaacuteria promoveu
cursos de Soberania Alimentar em que a comunidade recebeu noccedilotildees praacuteticas
sobre alimentaccedilatildeo a partir da produccedilatildeo local de modo a promover uma nova cultura
alimentar que visa o combate agraves doenccedilas crocircnicas Outro proposito eacute tornar a
comunidade criacutetica em relaccedilatildeo agrave publicidade de produtos alimentiacutecio supeacuterfluo que
induz agraves crianccedilas e adultos alimentarem-se incorretamente
A comunidade participou coletivamente da implantaccedilatildeo de uma unidade da
tecnologia social denominada Produccedilatildeo Agroecoloacutegica Integrada e Sustentaacutevel
(PAIS) em 2012 com o objetivo de produzir alimentos saudaacuteveis e preservar o meio
ambiente trazendo mais alimentos e renda ao campo Esta tecnologia popularmente
conhecida como ldquohorta mandalardquo foi ministrada durante o curso de capacitaccedilatildeo
promovido pela Fundaccedilatildeo Banco do Brasil e teve o meacuterito de proporcionar o debate
e a participaccedilatildeo democraacutetica na definiccedilatildeo das culturas a serem cultivadas na futura
propriedade Vale informar que o assentamento Renascer identificou-se com esse
paradigma agroecoloacutegico
A educaccedilatildeo ambiental faz parte do dia a dia da comunidade hoje preserva-se
conservaccedilatildeo das formas de vida vegetais e animais na regiatildeo do assentamento e
entorno
A produccedilatildeo de mudas no viveiro eacute bastante concorrida contando com a
participaccedilatildeo de todos O viveiro produz cinco mil (5000) mudas de espeacutecies nativa
do cerrado para o reflorestamento das nascentes de aacutegua e nas aacutereas degradadas
da regiatildeo Contam com o apoio da FUNATURA FUNDACcedilAtildeO BANCO DO BRASIL
IFB Rio Satildeo Bartolomeu Vivo e UnB
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39
Quarto Capiacutetulo
A escola que queremos expectativas e sonhos dos
acampados do Assentamento Renascer
Pode-se observar pelas falas dos entrevistados que a realidade de todos
converge para os problemas estruturais do Brasil faltam escolas no campo eacute baixa
a escolaridade em Brasiacutelia todos exercem atividades de subemprego
Todos tecircm grandes expectativas com relaccedilatildeo agrave vida futura no assentamento
objetivando melhores condiccedilotildees de vida na esperanccedila de serem beneficiaacuterios
enquanto cidadatildeos assentados das Poliacuteticas Puacuteblicas e financiamentos agriacutecolas
voltadas para a agricultura familiar como PRONAF PAA PNAE e PAPA-DF Vecircem
aiacute a possibilidade de emprego e renda situaccedilatildeo sonhada desde quando foram
pleitear a terra para reforma agraacuteria
Um olhar mais aprofundado sobre a anaacutelise de dados revela que natildeo importa o
fato de hoje residirem no DF pois como em qualquer lugar de origem os moradores
do assentamento Renascer vivenciam os mesmos problemas Percebe-se
claramente as dificuldades da inexistecircncia de escola no campo A distacircncia continua
impedindo o acesso os meios de transportes continuam precaacuterios os filhos
vivenciam a dificuldade de transferecircncia para a cidade na expectativa de
continuidade dos estudos as estradas rurais continuam esburacadas
Satildeo muitos os pontos em comum entre a situaccedilatildeo atual relatada e os problemas
vividos haacute deacutecadas em seus estados de origem o que deixa transparecer a absoluta
falta de interesse por parte do poder puacuteblico em garantir o direito constitucional agrave
educaccedilatildeo do povo do campo o que infelizmente continuaraacute deixando o triste
legado para o futuro do paiacutes
40
Repetimos a pergunta da inicial Cadecirc as escolas do campo Ateacute quando o paiacutes
vai viver essa situaccedilatildeo A anaacutelise de dados responde Natildeo eacute mais possiacutevel
continuar como estaacute
Todos os entrevistados pretendem alcanccedilar conhecimentos atraveacutes da escola do
campo implantada no Assentamento Renascer com objetivos de administrar a
propriedade participar ativamente do coletivo garantir renda fixa atraveacutes dos
programas de desenvolvimento da agricultura familiar
Os entrevistados unanimamente tecircm a preocupaccedilatildeo da manutenccedilatildeo dos laccedilos
familiares e das raiacutezes camponesas
A distacircncia entre a moradia e a escola fato relatado pela quase totalidade dos
entrevistados constitui um grande motivo de evasatildeo escolar de defasagem nas
seacuteries frequentadas de precariedade na aprendizagem em relaccedilatildeo aos demais
alunos A discriminaccedilatildeo alegada por muitos que frequentaram ou frequentam
escolas fora da faixa etaacuteria o vernaacuteculo proacuteprio dos sujeitos do campo as condiccedilotildees
precaacuterias da estrada que denunciam a condiccedilatildeo de assentado o sentimento de
inadequaccedilatildeo constituem fatores que determinam a evasatildeo escolar
Foram treze (13) entrevistados significando aproximadamente dez por cento
(10) dos moradores do Assentamento Renascer Desse total apenas dois (2)
entrevistados natildeo declararam dificuldade de distacircncia entre a moradia e a escola em
seus lugares de origem A maioria absoluta (11) pessoas declararam que a distacircncia
dificultava e impedia o acesso agrave escola Alguns relatos apresentam situaccedilotildees
precaacuterias para o homem do campo o assentado
Para o aluno do campo a distacircncia da escola tem o significado de inexistecircncia de
escola Isto porque as dificuldades de acesso satildeo enormes No caso em estudo
apenas um entrevistado declarou a inexistecircncia de escola em sua regiatildeo de
moradia Este poreacutem vivenciou todas as dificuldades de acesso que outros
assentados apresentaram em razatildeo da distacircncia moradiaescola
A falta de professores na escola rural eacute relatada por 11 dos 13 entrevistados A
distacircncia da escola para os professores dificulta segundo a vivecircncia dos
entrevistados o acesso agrave escola e a assiduidade o que muito desmotivava a
ambos
41
Os entrevistados conforme anaacutelise de dados desejam muito objetivamente a
implantaccedilatildeo imediata de escolas segundo os criteacuterios caracteriacutesticos de escola do
campo
- Trazer a realidade para dentro da escola do campo curriacuteculos voltados para o
cotidiano do aluno do campo onde as teacutecnicas agriacutecolas pecuaacuterias e agroecoloacutegicas
possam fazer parte do processo educativo da comunidade e que a escola tenha
uma gestatildeo coletiva democraacutetica com a participaccedilatildeo da comunidade
- Ter o trabalho como princiacutepio educativo A experiecircncia do aluno deve
harmonizar-se com os princiacutepios pistrakianos significar o trabalho de forma a que
ele apresente benefiacutecios para o proacuteprio indiviacuteduo para a comunidade na qual estaacute
inserido e para a sociedade e natildeo exclusivamente para servir ao capitalismo
-Superar a fragmentaccedilatildeo do conhecimento disciplinar A interdisciplinaridade
deve fazer parte dos objetivos educacionais de modo a promover a formaccedilatildeo
integral dos educandos
- Valorizar os saberes do homem do campo Os entrevistados desejam uma
escola onde possam exercitar sua vivecircncia campesina e a relaccedilatildeo dialoacutegica entre
professor-aluno seguindo a pedagogia de Paulo Freire o educando quer aprender
com o educador mas quer tambeacutem ter a oportunidade de transmitir seus saberes
- Promover espaccedilos de gestatildeo coletiva A proacutepria comunidade deve participar da
gestatildeo a elaboraccedilatildeo do PPP deve gerir o espaccedilo fiacutesico da escola para atividades
de interesse da comunidade ocupar espaccedilos para finalidades culturais esportivas
sociais tornando a escola um espaccedilo democraacutetico
- Garantir a presenccedila da comunidade e dos movimentos sociais que geram
processos que auxiliam a emancipaccedilatildeo social A escola deve tambeacutem ser espaccedilo
que auxilie a sustentabilidade e garanta a alimentaccedilatildeo saudaacutevel e recursos
fitoteraacutepicos em associaccedilatildeo com a comunidade
- Inclusatildeo tecnoloacutegica em todos os aspectos digital inovaccedilatildeo tecnoloacutegica
agropecuaacuteria recursos ambientais alternativos agua potaacutevel energia solar energia
eoacutelica fossa seacuteptica teacutecnicas de compostagem saneamento baacutesico cuidados com
os recursos hiacutedricos
A anaacutelise dos dados quando feita especificamente sobre a escola a ser
implantada pode aparentemente demonstrar uma pequena conexatildeo com as teorias
da escola do campo
42
A concepccedilatildeo da escola do campo natildeo pode ser imposta ela parte do princiacutepio
que os camponeses devem conquista-la Para essa conquista eacute necessaacuteria a
paixatildeo o desejo por algo ainda natildeo experimentado o amadurecimento poliacutetico-
social-pessoal a participaccedilatildeo coletiva na luta e na conquista
A trajetoacuteria de luta por educaccedilatildeo da comunidade Renascer apresenta estes
elementos agraves vezes difusos outras vezes mais claramente A escola bem que
poderia para alguns ser apenas uma escola rural Afinal aprender a ler e a
escrever ldquodireitordquo como alguns dizem ou seja deixar a condiccedilatildeo de analfabeto ou
analfabeto funcional para tornar-se letrado significaria avanccedilos em face das atuais
circunstacircncias Alguns entendem assim expressando-se principalmente nas
conversas informais
Apesar disso quando as respostas informais ou quando as respostas das
entrevistas satildeo analisadas mais profundamente identificamos que embora
difusamente todos desejam o programa educacional da escola do campo
Explicando melhor a participaccedilatildeo de todos da comunidade em todas as atividades
soacutecio-poliacuteticas-culturais (relatadas no terceiro capitulo) indicam que a comunidade
assimilou a postura soacutecio-politica-cultural que caracterizam a escola do campo
A vivecircncia do Assentamento Renascer no cotidiano e nos eventos coletivos
amadureceu o desejo pelo alimento intelectual cultural artiacutestico ambiental social
que a concepccedilatildeo de escola do campo introduz O programa educacional da Escola
do Campo ultrapassou as paredes fiacutesicas da escola e alcanccedilou o cotidiano dos
assentados
Os avanccedilos da conscientizaccedilatildeo e seu reflexo na vida do Assentamento Renascer
satildeo sentidos nos nuacutemeros de matriculados na LEdoC sete (7) alunos
aproximadamente dez (10) assentados prestaratildeo o proacuteximo vestibular trecircs (3)
assentados estatildeo matriculados no IFB dois(2) assentados estatildeo formados em
Teacutecnico Agropecuaacuterio tambeacutem pelo IFB um deles cursa o Tecnoacutelogo de
Agroecologia tambeacutem do IFB
Vale acrescentar que no iniacutecio de 2014 quando o IFB buscou no Assentamento
pessoas interessadas em matricular-se em seus cursos sob a condiccedilatildeo de
estudarem no ensino meacutedio o interesse foi grande e a impossibilidade pelo fato de
natildeo estarem habilitados no ensino fundamental provocou tanta discussatildeo que
estimulou essa pesquisa
43
O legado desses alunos futuros alunos e profissionais para o futuro do
Assentamento apresentaraacute resultados significativos para toda a comunidade O
futuro colheraacute bons frutos plantados agora
A escola que temos natildeo estaacute funcionando falta a renovaccedilatildeo do contrato o que
atrasa a alfabetizaccedilatildeo e conclusatildeo do 5ordm ano Falta a implantaccedilatildeo de poliacuteticas
puacuteblicas para atendimento de questotildees baacutesicas como por exemplo carteiras
quadro de giz iluminaccedilatildeo espaccedilo fiacutesico (dependecircncias para a escola) e mobiliaacuterio
-41-
44
Consideraccedilotildees Finais
A Educaccedilatildeo do campo eacute um movimento em que os trabalhadores do campo e
suas organizaccedilotildees lutam por transformaccedilotildees sociais particularmente a criaccedilatildeo de
escolas dono campo de qualidade a partir de uma perspectiva ampla de reforma
agraacuteria
A construccedilatildeo da educaccedilatildeo do campo eacute resultado do amadurecimento dos
movimentos sociais e das comunidades rurais em sua trajetoacuteria de luta pelo direito
fundamental agrave universalizaccedilatildeo escolar para as populaccedilotildees camponesas segundo
orientaccedilatildeo poliacutetico-pedagoacutegica adequada agrave realidade dos lutadores de
acampamentos e assentamentos em luta pela reforma agraacuteria e justiccedila social
Alguns princiacutepios caracterizam a luta pela escola do campo Dentre eles
podemos citar a criaccedilatildeo da consciecircncia do direito agrave educaccedilatildeo de qualidade plantada
na proacutepria comunidade o que provoca o enraizamento a valorizaccedilatildeo da vida no
campo a promoccedilatildeo da autoestima e a transformaccedilatildeo do ser alienado pela ideologia
e desigualdade social e sujeito de sua proacutepria histoacuteria
Outro princiacutepio eacute a adequaccedilatildeo de curriacuteculos agrave realidade camponesa de modo
a que o processo ensino-aprendizagem favoreccedila o amadurecimento de talentos
naturais o surgimento de oportunidades a niacutevel pessoal e social contribuindo para a
emancipaccedilatildeo poliacutetico-social do indiviacuteduo com reflexos na sociedade
A mudanccedila de paradigmas e o envolvimento social provocam a formaccedilatildeo integral
dos sujeitos que lutam de forma coletiva e solidaacuteria pela terra A escola do campo
que surge dessa mudanccedila eacute tambeacutem transformadora porque eacute fruto da luta
consciente que gera a reflexatildeo e o amadurecimento poliacutetico deixando um legado
positivo de cidadatildeos orgulhosos de sua condiccedilatildeo de lutador pela terra de sua
identidade de sua cultura de sua comunidade e coletividade
A escola do campo propicia aos alunos a reflexatildeo sobre o contexto social e a
problemaacutetica da comunidade em que estatildeo inseridos o respeito agrave individualidade a
ampliaccedilatildeo das potencialidades do aluno para organizar elaborar e atuar
coletivamente Deixam o legado futuro de homens responsaacuteveis mentes
independentes e atuantes que poderatildeo prestar serviccedilos significativos agrave sociedade
45
A comunidade assentada de o Assentamento Renascer pela Reforma
Agraacuteria em Sobradinho DF foi convidada a opinar sobre a escola que deseja a
partir da conquista da terra
O modelo proposto a partir de seu posicionamento possibilita a conclusatildeo
de que a escola do campo plantada na comunidade eacute preferiacutevel ao modelo
adotado atualmente de inserccedilatildeo dos alunos da comunidade agraves escolas urbanas
conter recursos materiais e humanos que propiciem bons resultados
pedagoacutegicos deve servir para fixar o trabalhador ao campo deve cumprir com o
propoacutesito constitucional de universalizaccedilatildeo do ensino para todas as faixas
etaacuterias deve estar identificada com os sonhos de prosperidade material e
realizaccedilatildeo pessoal dos assentados
-46-
46
Referecircncias Bibliograacuteficas
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FERRARI Marco ldquoAniacutesio Teixeira o inventor da escola puacuteblica no Brasilrdquo Revista Nova Escola Fundaccedilatildeo Victor Civita Revistaescolaabrilcombr acesso em 14092014 FERREIRA Fabiano de Jesus BRANDAtildeO Elias Canuto ndash Revista Eletrocircnica de Educaccedilatildeo Ano V N 09 juldez 2011p3 ldquoEducaccedilatildeo do campo um olhar histoacuterico uma realidade concreta rdquo (WWWUNIFILBR acesso em 08 de agosto de 2014) GONCcedilALVES Luiz Alberto Oliveira e Pinto Regina Pahim EDUCACcedilAtildeO SEacuteRIE JUSTICcedilA E DESENVOLVIMENTO IFP-FCC FUNDACcedilAtildeO CARLOS CHAGAS 2007 SAtildeO PAULO (pag206)
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OLIVEIRA Maria Rita Duarte Revistalabor ufcbracesso em 19-10-2014
________ citando CALAZ Maria Rita Duarte Oliveira
47
SANTOS Clarice Aparecida PROGRAMA NACIONAL DE EDUCACcedilAtildeO NA REFORMA AGRAacuteRIA in DICIONARIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia2012(pg630)
________ Clarice Aparecida PROGRAMA NACIONAL DE EDUCACcedilAtildeO NA REFORMA AGRAacuteRIA BRASIacuteLIA 2012 pg 631 in DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO SANTOS Claudio Felix Dos ldquoO aprender a aprender na formaccedilatildeo de professores do campordquo Campinas 2013 Editora Autores Associados ) SOUZA Maria Antocircnia Movimentos Sociais no Brasil Contemporacircneo participaccedilatildeo e possibilidades no contexto das praacuteticas democraacuteticas ndash (wwwcesucptlab2004pdfMariaAntonia Souzapdfaceso em 24-07-2014 -48-
48
Apecircndices
1 Roteiro das Entrevistas
a) Dados dos entrevistados
Qual o seu nome
Masculino ( ) Feminino ( )
Quantos anos vocecirc tecircm
A quanto tempo mora no
assentamento
Onde vocecirc morou antes
de morar no
assentamento
Quantos anos vocecirc tinha
quando foi a escola pela
primeira vez
Estou ateacute qual seacuterieano
Quantos anos vocecirc tinha
quando parou de estudar
Qual motivo motivou vocecirc
a parar de estudar
Se tiver escola no
assentamento vocecirc voltaraacute
a estudar Porque
B) Outras informaccedilotildees dados pelos entrevistadosas (GRAVAR)
a) Em qual escola vocecirc estudou no acampamento ou em outro lugar Qual
b) Como era a escola que estudou Quais as coisas boas e coisas ruins que
tinha nesta escola
c) Conte como eacutefoi a educaccedilatildeo do assentamento o que jaacute existiu de escola
como funcionou e quais eram as boas e as coisas ruins desta escola
d) Jaacute participou de alguma accedilatildeo de mobilizaccedilatildeo para ter escola no
assentamento Se sim explique para que e como foi essa mobilizaccedilatildeo
e) Na sua opiniatildeo no assentamento deve ter escola Por quecirc
f) Como deveraacute ser a escola da comunidadeassentamento Como eacute a escola
que queremos ter
49
b) Entrevistas semi-estruturadas
Entrevistado 01
Moro no assentamento Renascer haacute 11 anos Nasci Carnauacuteba no Rio Grande do
Norte fui criado na roccedila e desde pequeno trabalhava na lavoura para ajudar meu
pai Fui para escola com 9 anos de idade estudei ateacute a 5ordm seacuterie parei de estudar
com 17 anos natildeo continuei os estudos porque era muito longe de onde eu morva
que era na cidade mais proacutexima eu tinha que andar a peacute 8 km ficava muito
cansado Casei e vim morar em Brasiacutelia para trabalhar em uma chaacutecara como
caseiro Morava na chaacutecara Buritis em sobradinho- Df tambeacutem natildeo dei para
continuar os estudos porque ficava longe e tinha que ser a noite e natildeo tinha como ir
Se vier uma escola pra caacute eu ainda vou estudar para ter mais conhecimento para
plantar minha roccedila ir no banco pra ver se assino um empreacutestimo para melhorar
minha produccedilatildeo e saber fazer conta pra administrar minha parcela de terra
Qual o seu nome
Masculino ( X ) Feminino ( )
Quantos anos vocecirc
tecircm
57 anos
A quanto tempo
mora no assentamento
11 anos
Onde vocecirc morou
antes de morar no
assentamento
Carnauacuteba ndash RN
Chaacutecara Buritis nordm 10 Sobradinho DF
Quantos anos vocecirc
tinha quando foi a escola
pela primeira vez
8 anos
Estou ateacute qual
seacuterieano
5ordf seacuterie
Quantos anos vocecirc
tinha quando parou de
estudar
24 anos
Qual motivo
motivou vocecirc a parar de
estudar
Trabalhar para sustento da famiacutelia a
distacircncia entre a casa e a escola
Se tiver escola no
assentamento vocecirc voltaraacute
a estudar Porque
Sim ldquoSe tivesse escola do ensino
fundamental voltaria a estudar para tecirc
mais conhecimento para plantar minha roccedila
50
saber pesar saber contar vendecirc os produto e
comecirc
Entrevistado 02
Moro no assentamento renascer haacute 7 anos tenho 38 vim do interior do Cearaacute
Entrei na escola com 7 anos de idade estudei soacute a 5ordm seacuterie incompleta natildeo
continuei a estudar porque natildeo tinha escola a onde eu morava que era na roccedila e eu
tinha que ficar na casa dozotro (SIC) na cidade e eu natildeo gostava disso natildeo ai parei
com 16 anos de idade Mudamo (SIC) pra Brasiacutelia pra uma chaacutecara perto de Santa
Maria-DF e natildeo dei pra estudar porque casei e tinha que trabalhar muito para
susrentar a famiacutelia A gora moro no assentamento Renascer e sei que um dia vai ter
uma escola aqui e eu vou voltar a estudar porque meu sonho eacute ser veterinaacuterio e vou
der se deus quiser
Entrevistado 03
Tenho 58 anos moro no assentamento Renascer haacute 6 anos vim de Ceres-GO
comecei a estudar quando eu tinha 10 ano de idade estudei ateacute a 4ordf seria primaacuteria
(SIC) parei de estudar quando tinha 16 anos porque eu morava na roccedila e escola
ateacute que natildeo ficava muito longe natildeo era soacute 2 km dava pra ir a peacute a professora eacute que
faltava muito e a gente natildeo tinha como saber se ela tava ou natildeoAiacute quando eu tinha
18 anos casei e vim morar em Brasiacutelia e arranjei(SIC) emprego de caseira em uma
chaacutecara aiacute natildeo pra estudar a noite porque era muito longe pra laacute entatildeo eu natildeo
pensei mais nessas coisas Quando tiver escola no assentamento quero estudar
quiecirc pra mim (SIC) fazer curso de teacutecnico agriacutecolarsquorsquo
Entrevistado 04
Tenho 24 anos moro no assentamento Renascer tem 6 ano vim da Bahia morava
no Condomiacutenio RK entrei na escola com 7 anos de idade e estudei soacute ateacute a 6ordf seacuterie
parei com 18 anos de idade
Porque mudei pra caacute pro assentamento (SIC) e natildeo tem escola e natildeo tem como ir
pra Sobradinho a noite porque eacute muito longe tem que andar 5 km eacute pirigogo (SIC)
tem muita gente mal por aiacute tem ateacute estrupador natildeo posso me arriscar
ldquoSe tivesse escola aqui eu ia terminar meus estudos podia ser no galpatildeo mesmo
pra mim tava bom mas para os meus filhos eu queria uma escola boa com internet
e tudo Eu natildeo gosto que meus filhos estuda(SIC) na cidade soacute aceito porque eacute o
jeito gente de assentamento eacute muito zombado (SIC) porque as vezes chega suja
na escola e os outros acha que eles satildeo porcos que toma banhordquo
Entrevistado 05
51
Tenho 21 anos de idade moro no Renascer haacute trecircs anos vim de satildeo Gabriel-GO
comecei a estudar aos 7 anos parei com 18 anos porque minha matildee mudou
pro(SIC) matildee mudou pro (SIC) assentamento haacute 6 anos e eu natildeo aguento morar
longe dela Quando cheguei aqui natildeo teve como continuar os estudos porque
trabalho durante o dia como manicure em Sobradinho e o uacuteltimo ocircnibus que passa
perto do assentamento eacute as 5 horas da tarde entatildeo natildeo daacute para estudar a noite
Sim porque quero fazer um curso de cabelereiro quando tiver aacutegua e luz aqui eu
quero montar um salatildeo de beleza e para ser uma empresaacuteria precisa ter estudos pra
administrar o negoacutecio
Entrevistado 06
44 anos
6 anos
Formosa-GO
8 anos
5ordf seacuterie
24 anos
Porque a escola mais perto(SIC) era 10km de distacircncia e eu trabalhava na roccedila e
ficava muito cansado aiacute parei natildeo deu mais
Sim quando tiver escola aqui eu vou voltar a estudar Eu tinha um sonho de ser
agroacutenomo mas esse sonho eacute impussive(SIC) entatildeo queria concluir o ensino
fundamental para fazer um curso de teacutecnico agriacutecola no IFB mas tambeacutem eacute longe
se tivesse como estudar aqui no assentamento eu ia(SIC) ficar muito feliz
Entrevistado 07
57 anos
6 anos
Parnaiacuteba-PI- Santa Maria- DF
7 anos
4ordf seacuterie
21 anos
Parei porque era muito difiacutecil ir para escola que ficava muito longe eu tinha que sair
de casa as 4hs da madrugada para chegar na escola as 730 ia montado num
cavalo e muitas vezes natildeo tinha professora pra dar aula Parei porque natildeo aguentei
o rojatildeo tinha que minha matildee na lida a tarde e eu ficava muito cansado Vim pra
52
Brasiacutelia e casei fui trabalhar de chacareiro numa chaacutecara que tambeacutem era longe de
escola depois vim morar aqui no assentamento que natildeo tem escola
Se tivesse escola aqui eu ia voltar estudar soacute pra aprender a cuidar meior (SIC) da
terra e dos meus bichos e que fosse como uma escola agriacutecola
Entrevistado 08
Tenho 29 anos moro no assentamento Renascer haacute 2 anos sou educadora do
Pronera haacute 1 ano e 2 meses O Pronera eacute como um antidepressivo na vida de muita
gente o Pronera melhorou a minha vida e a vida dos meus alunos o desejo de
todos eacute que o Pronera continue crescendo em direccedilatildeo de uma educaccedilatildeo continuada
levando tambeacutem o ensino fundamental para os acampamentos e assentamentos da
Reforma Agraacuteria
-50-
Anexos
53
Acampamento agrave beira da estrada ndash 2004
Construccedilatildeo da Sede do Movimento na atual aacuterea
54
Reuniatildeo semanal
Teatro de fantoches ndash brinquedoteca
55
Accedilatildeo da Pastoral da Crianccedila na brinquedoteca
Oficina de brinquedos reciclaacuteveis
56
Brinquedo confeccionado com materiais reciclaacuteveis na Brinquedoteca
57
58
59
60
Apresentaccedilatildeo teatral
61
Capacitaccedilatildeo em Economia Solidaacuteria
Formaccedilatildeo de multiplicadores da Economia Solidaacuteria
62
Capacitaccedilatildeo de Educadores Ambientais
63
Luta pela Reforma Agraacuteria e Soberania Alimentar
10
Social MATR que vem atrasando o processo de alfabetizaccedilatildeo e conclusatildeo do
5ordm ano
Um olhar criacutetico sobre a escola que temos revela a necessidade de poliacuteticas
puacuteblicas como a implantaccedilatildeo de espaccedilos fiacutesicos contendo mobiliaacuterio escolar baacutesico
como carteiras quadro de giz e iluminaccedilatildeo adequada A observaccedilatildeo da atuaccedilatildeo do
Pronera na comunidade Renascer resultou nas seguintes observaccedilotildees
- inadequaccedilatildeo do local para realizaccedilatildeo das aulas que ateacute recentemente
funcionava de forma precaacuteria num barraco utilizado pela igreja catoacutelica o que
impossibilitava o funcionamento das aulas pois durante os eventos da igreja natildeo
tinha como realizar as atividades pedagoacutegicas
A reparaccedilatildeo dessa situaccedilatildeo de precariedade especiacutefica do assentamento
Renascer contribui para reverter a condiccedilatildeo de inferioridade dos assentados
As criacuteticas acima relacionadas satildeo positivas pois a uacutenica escola que o
acampamento teve no decorrer desses 11 (onze) anos foi o Pronera que pode
perfeitamente superar as dificuldades apontadas contribuindo com o trabalho do
educador (a) que acaba por acrescentar inuacutemeras responsabilidades que lhe natildeo
satildeo devidas ao ato de ensinar
A perseveranccedila na luta por uma escola do campo na comunidade Renascer
eacute essencial para evitar o que acontece na realidade do campo em niacutevel nacional
onde cerca de 24000 escolas brasileiras foram fechadas no meio rural
Segundo Erivam Hilaacuterio do setor de educaccedilatildeo do MST que afirma que o
fechamento dessas escolas tem sua loacutegica a intenccedilatildeo de pensar num campo sem
escola e consequentemente um campo sem cultura e sem gente
Refletinto sobre a educaccedilatildeo que queremos atraveacutes do Pronera ou outros
programas educacionais de ensino sentimos que eacute necessaacuterio uma concepccedilatildeo da
educaccedilatildeo ampla que propicia alimento intelectual moral artiacutestico e um
posicionamento criacutetico no processo social e poliacutetico tanto em niacutevel regional
nacional e universal Constitui ferramenta essencial para a formaccedilatildeo de nossa
personalidade e para a emancipaccedilatildeo da sociedade em relaccedilatildeo agrave opressatildeo e
injusticcedila
As expectativas e lutas das famiacutelias do assentamento Renascer estatildeo
alicerccediladas em parcerias junto a entidades do poder puacuteblico exemplo INCRA UnB
11
e Movimentos Sociais do campo para colocar em praacutetica uma educaccedilatildeo que seja
eficaz para a Comunidade Renascer
Acredito que cada comunidade possui uma realidade um contexto muito
proacuteprio particular diferenciada de outra comunidade qualquer Os anseios as
necessidades os fatores culturais econocircmicos entre outros fatores satildeo diferentes
de lugar para lugar
A pedagogia e os meacutetodos a serem realizados em cada local deveriam ser
colocados em praacutetica somente apoacutes a comunidade local ser mobilizada e participar
ativamente na elaboraccedilatildeo deste plano de trabalho pedagoacutegico contribuindo com
ideias e vivecircncias Desta maneira a educaccedilatildeo estaria a serviccedilo do bem coletivo e
natildeo privilegiaria alguns em prejuiacutezo da coletividade A educaccedilatildeo eacute uma importante
ferramenta para o desenvolvimento de uma economia solidaacuteria e socialmente justa
politicamente livre dos espoliadores que historicamente persistem em oprimir a
maioria dos povos privando-os de seus direitos
Na maioria das escolas existentes no campo que natildeo atendem a todos mas
a uma determinada parcela da populaccedilatildeo regional a pedagogia adotada eacute
planejada formulada empacotada e imposta aos camponeses por ldquopedagogo de
gabineterdquo que vivem nas grandes cidades e natildeo respeitam os valores e realidades
regionais e locais de cada comunidade
Eacute claro que existem exceccedilotildees de trabalhos pedagoacutegicos muito bons Eacute o caso
de quando ocorre uma interaccedilatildeo entre a comunidade local e os educadores que
estatildeo ali para contribuir por uma educaccedilatildeo construiacuteda a partir da participaccedilatildeo
popular e democraacutetica na criaccedilatildeo e produccedilatildeo do processo educativo
A pesquisa seraacute fundamentada pela investigaccedilatildeo teoacuterica sobre o tema de
implantaccedilatildeo de salas de aula de ensino fundamental para trabalhadores rurais
adultos em comunidades que lutam pela reforma agraacuteria Para entender-se o
problema eacute necessaacuterio apontar a fundamentaccedilatildeo teoacuterica
A fundamentaccedilatildeo de diversas correntes de opiniatildeo eacute importante para o nosso
proacuteprio esclarecimento e para a busca conjunta com os interessados sobre qual o
melhor modelo pedagoacutegico a ser implantado na sala de aula da comunidade
A fundamentaccedilatildeo teoacuterica como satildeo vaacuterias as teorias existentes seratildeo
expostas algumas como Territoacuterios Educativos na Educaccedilatildeo do Campordquo ldquopor uma
Educaccedilatildeo do Campordquo ldquoTeoria e Praacutetica Pedagoacutegica da educaccedilatildeo do Campordquo
12
rdquoPesquisa Social e accedilatildeo Pedagoacutegicardquo rdquoEtnografia e Praacutetica Escolarrdquo ldquoMetodologia
do tralho Cientiacuteficordquo e trabalhos monograacuteficos de ex-alunos do curso da LEdoC
A metodologia utilizada a pesquisa qualitativa com estudo de caso e estudo
bibliograacutefico
O estudo teve como instrumento de pesquisa a aplicaccedilatildeo de entrevista semi-
estruturada com pessoas da comunidade Renascer quando seraacute identificada sua
participaccedilatildeo e contribuiccedilatildeo para educaccedilatildeo na comunidade e sobre seu entendimento
sobre que tipo de escola do campo que a comunidade requerem relevantes para o
objetivo da pesquisa
O trabalho de campo foi para buscar informaccedilotildees atraveacutes da fala dos sujeitos
que foram ouvidos conforme citado anteriormente bem como de material que
poderaacute contribuir para o trabalho da pesquisa
A pesquisa bibliograacutefica abordou o aprofundamento teoacuterico sobre o tema
para anaacutelise da realidade da educaccedilatildeo do campo para melhor entender a situaccedilatildeo
em que o assentamento se encontra na luta pela escola
-11-
13
Segundo Capiacutetulo
Da escola rural agrave escola do campo histoacuterico das lutas e
concepccedilotildees da educaccedilatildeo
21 A Escola Rural no Brasil
Conforme Ferreira e Brandatildeo (2011) a trajetoacuteria da escola rural brasileira
deve ser contextualizada historicamente segundo o modelo socioeconocircmico
implantado no paiacutes desde o iniacutecio do processo colonizador ateacute o momento presente
Para os autores desde os primoacuterdios do processo de colonizaccedilatildeo o paiacutes foi
entendido apenas como uma colocircnia de exploraccedilatildeo devendo portanto remeter agrave
metroacutepole suas riquezas naturais do solo do subsolo dando segmento aos ciclos
econocircmicos denominados de colonial ciclo do pau brasil da cana de accediluacutecar do
ouro do cafeacute (FERREIRA amp BRANDAtildeO 2011 p3)
A base social do paiacutes eacute formada pelos nativos (iacutendios ndash expulsos
massacrados e exterminados) os africanos e os imigrantes pobres vindos da
Europa e do oriente Foi segundo os mesmos autores esta mesma base social que
formou a matildeo de obra imprescindiacutevel para a implantaccedilatildeo do projeto colonial e do
periacuteodo imperial
A aboliccedilatildeo da escravatura em 1888 e o consequente abandono da populaccedilatildeo
negra desprovida de qualquer indenizaccedilatildeo ou bens materiais particularmente terra
teve como consequecircncia o ecircxodo rural e o desprezo pela atividade agriacutecola
associada agrave escravatura
Em sua experiecircncia histoacuterica como repuacuteblica o tradicional modelo
socioeconocircmico adotado no Brasil perdurou
Ao longo da histoacuteria do Brasil o processo de exclusatildeo social e tambeacutem poliacutetico econocircmico e cultural sempre estiveram presentes e eram tidos como algo ldquonaturalrdquo Ainda nos dias atuais fazer uma referencia a este processo de exclusatildeo natildeo leva a um debate tranquilo a resistecircncia ainda eacute forte por parte da sociedade neoliberal principalmente por aqueles que ainda se beneficiam com
a exclusatildeo socialrdquo (FERREIRA 2011 pag 3)
Com relaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo o que se percebe eacute conforme Ferreira (2011)
14
que o modelo de educaccedilatildeo praticado no Brasil pelos diferentes governos entre o iniacutecio do Impeacuterio (1822) ateacute meados do seacuteculo XX era uma educaccedilatildeo para a elite econocircmica e intelectual em prejuiacutezo direto e indiscriminado dos pobres negros e iacutendios Inclusive a primeira Lei ainda no periacuteodo imperial quando se reporta agrave educaccedilatildeo natildeo se ateve agraves especificidades diretas da zona rural onde a populaccedilatildeo brasileira viviardquo (FERREIRA 2011 p4)
Clauacutedio Santos (2013) afirma que a educaccedilatildeo destinada aos habitantes do
campo no inicio do seacuteculo XX entendia que ldquoa formaccedilatildeo das jovens geraccedilotildees ou dos
adultos no espaccedilo rural era tida como algo menor ou desnecessaacuteriordquo (p 47) Para o
autor a maioria de residentes no campo ( 75) natildeo foi pensado um modelo
educacional que contemplasse as necessidades dos residentes no campo o que a
histoacuteria do Brasil nos ensina eacute que o regime republicano manteve os grandes
latifuacutendios e a oligarquia rural alijando a maior parcela da populaccedilatildeo rural de
qualquer benefiacutecio do sistema poliacutetico-econocircmico
A organizaccedilatildeo escolar rural no Brasil embora tiacutemida pode ser localizada a
partir do primeiro governo republicano o do marechal Deodoro da Fonseca (1889-
1891) estando a cargo do Ministeacuterio da Agricultura Comeacutercio e Induacutestria O ecircxodo
da populaccedilatildeo rural para os incipientes centros urbanos em busca dos empregos
promovidos pela igualmente incipiente industrializaccedilatildeo evidenciava as mazelas dos
sujeitos do campo 75 da populaccedilatildeo brasileira era analfabeta igual nuacutemero da
populaccedilatildeo do campo
Somente a partir de 1920 tem-se efetivamente o primeiro movimento em
defesa da educaccedilatildeo da populaccedilatildeo rural conhecido como Ruralismo Pedagoacutegico
(SANTOS 2013) que foi um movimento dos educadores poliacuteticos e intelectuais
elaborando formas de accedilatildeo pedagoacutegicas adequados agrave dominacircncia poliacutetico-
econocircmica da oligarquia rural
Para o autor o ruralismo pedagoacutegico
defendia uma escola integrada agraves condiccedilotildees locais para promover a fixaccedilatildeo do homem do campo estava ligado agrave modernizaccedilatildeo do campo brasileiro e contava com o apoio dos latifundiaacuterios temerosos de perder sua matildeo de obra bem como de uma elite urbana preocupada com os resultados negativos de uma migraccedilatildeo
camponesa para a cidade (SANTOS2013p48)
15
Uma caracteriacutestica do ruralismo pedagoacutegico foi buscar adequar a educaccedilatildeo
rural para fixar o homem no campo para diminuir o processo de urbanizaccedilatildeo e
consequente ecircxodo rural que modificava a estrutura econocircmico e social do paiacutes
Relativo agrave educaccedilatildeo rural da primeira metade do seacuteculo XX nos ensina
Santos (2013 p48) que ldquoem 1933 inicia-se a campanha de alfabetizaccedilatildeo na zona
rural Em 1935 ocorre o I Congresso Nacional do Ensino Regional que contribui
para a fundaccedilatildeo da Sociedade Brasileira de Educaccedilatildeo Rural no ano de 1937rdquo
Nos anos de 1920 foi criado o movimento conhecido como Escola Nova por
intelectuais e pensadores brasileiros que valorizaram a pesquisa educacional e a
inserccedilatildeo da escola como uacutenico meio de se combater as desigualdades sociais num
ambiente de crescente industrializaccedilatildeo e urbanizaccedilatildeo (SANTOS 2013) Estes
educadores como Aniacutesio Teixeira Fernando de Azevedo Lourenccedilo Filho dentre
outros defenderam atraveacutes do Manifesto da Escola Nova (1932) a universalizaccedilatildeo
da escola puacuteblica laica e gratuita
A influecircncia deste movimento sobre a educaccedilatildeo brasileira fez-se sentir nas geraccedilotildees futuras de educadores e pesquisadores como Darcy Ribeiro e Florestan Fernandes A atuaccedilatildeo desses pioneiros se estendeu por deacutecadas muitas vezes criticada pelos defensores da escola particular e religiosa (FERRARI 2014p43)
Poreacutem as propostas do Manifesto natildeo tiveram impactos concretos e natildeo
foram incorporados pela escola Ferraro (2012) esclarece que
A educaccedilatildeo rural no Brasil soacute se tornou objeto de interesse do Estado no momento em que todas as atenccedilotildees e esperanccedilas se voltavam para o urbano e a ecircnfase passava a recair sobre o desenvolvimento industrial Quando os interesses do latifuacutendio dominavam tanto a economia como a poliacutetica a alfabetizaccedilatildeo das massas camponesas era vista como seacuteria ameaccedila agrave ordem vigente Quando o paiacutes jaacute avanccedila no processo de industrializaccedilatildeo e se torna predominantemente urbano eacute a proacutepria cidade que passa a reivindicar a alfabetizaccedilatildeo das populaccedilotildees do campo Passa entatildeo a contrariar os interesses da cidade continua (FERRARO 2012p964)
16
A industrializaccedilatildeo ocorreu nas cidades e atraiu grandes levas de
trabalhadores do campo seduzidos pelo ideal de transformaccedilatildeo de vida acesso agrave
escolarizaccedilatildeo empregos bem remunerados ideais que levam ao ecircxodo rural hoje
ou naquele momento histoacuterico A realidade do trabalhador do campo receacutem
chegado agrave cidade era do ponto de vista educacional precariacutessima pois em sua
maioria eram analfabetos ou com baixa escolarizaccedilatildeo Essa condiccedilatildeo impedia o
acesso ao emprego industrial urbano e agrave boa qualidade de vida que uma boa
remuneraccedilatildeo podia proporcionar
As cidades sofreram crescimento raacutepido desgovernado formando periferias
que abrigavam a maioria da populaccedilatildeo egressa do campo O subemprego e o
desemprego desestabilizavam as populaccedilotildees das cidades e geravam desequiliacutebrios
sociais e econocircmicos comprometendo a qualidade de vida de todos os moradores
Eacute o ciacuterculo vicioso da desigualdade da exclusatildeo e da violecircncia que a educaccedilatildeo
pode romper A educaccedilatildeo tem entatildeo o propoacutesito de formar trabalhadores para a
induacutestria urbana
Na Constituiccedilatildeo de 1934 para com a educaccedilatildeo rural destaca-se o Art 156 conforme podemos ver abaixo
A Uniatildeo e os Municiacutepios aplicaratildeo nunca menos de dez por cento e os Estados e o Distrito Federal nunca menos de vinte por cento da renda resultante dos impostos na manutenccedilatildeo e no desenvolvimento dos sistemas educativos Paraacutegrafo uacutenico ndash Para a realizaccedilatildeo do ensino nas zonas rurais a Uniatildeo reservaraacute no miacutenimo vinte por cento das cotas destinadas agrave educaccedilatildeo no respectivo orccedilamento anual
Na constituiccedilatildeo Federal de 1937 a educaccedilatildeo rural natildeo eacute citada A prioridade eacute
a educaccedilatildeo dos moradores urbanos Neste periacuteodo conforme Ferreira (2011) ldquoa
orientaccedilatildeo poliacutetico educacional para o mundo capitalista fica bem expliacutecita
sugerindo a preparaccedilatildeo de um maior contingente de matildeo de obra para as novas
atividades abertas pelo mercado ndash a industrializaccedilatildeordquo ( pg 32)
Ainda segundo o autor este afirma que em 1935 ocorreu o I Congresso
Nacional do Ensino Regional que assume como objetivo propagar a educaccedilatildeo rural
e elaborar os planos de educaccedilatildeo Esses planos recomendavam escolas rurais
ambulantes nas regiotildees de menor densidade geograacutefica
17
O periacuteodo conhecido como Estado Novo (1937-1945) tentava implantar uma
poliacutetica educacional de cunho nacionalista tornando a educaccedilatildeo um instrumento do
estado servindo aos seus interesses
Os adultos analfabetos particularmente no meio rural tiveram atenccedilatildeo da
Campanha Nacional de Educaccedilatildeo Rural (CNER) de 1952 a 1963 cujo objetivo era
contribuir para a inserccedilatildeo do homem do campo O CNER atuou atraveacutes de missotildees
internacionais dos Estados Unidos voltadas agrave educaccedilatildeo ao treinamento de
professores e agrave preparaccedilatildeo dos jovens do meio rural pelo ensino profissional
agriacutecola Agrave atividade do CNER podemos agregar a accedilatildeo da Comissatildeo Brasileiro-
Americana de Educaccedilatildeo das Populaccedilotildees Rurais (CBAR) que celebrou acordos entre
esses dois paiacuteses visando a educaccedilatildeo rural orientada para o emprego de teacutecnicas
agriacutecolas (OLIVEIRA 1999 p 133)
A educaccedilatildeo rural eacute chamada para se ajustar agraves poliacuteticas educacionais estabelecidas pelo projeto do estado A educaccedilatildeo rural em primeiro lugar apesar de numerosos programas desenvolvidos sempre representou uma fatia muito pequena e marginal nas preocupaccedilotildees do setor puacuteblico (OLIVEIRA p apud CALAZANS1981p162)
A educaccedilatildeo rural ocupou e ainda ocupa pequeno espaccedilo no universo
educacional brasileiro As escolas apresentam dificuldades para se manterem no
campo Conforme o Jornal Sem Terra nordm 46 jun2011 24000 escolas do campo
foram fechadas no Brasil As instalaccedilotildees o curriacuteculo a carecircncia de professores o
transporte escolar formam muitas vezes uma barreira quase imponiacutevel para uma
ampla gama de alunos particularmente das uacuteltimas seacuteries do ensino fundamental e
do ensino meacutedio
Os programas implantados nos uacuteltimos anos como o PRONERA e o EJA
apresentam soluccedilotildees e alcanccedilam grandes resultados mas podemos questionar os
resultados entre os estados O Rio Grande do Sul (que atendeu alunos do ensino
baacutesico ateacute o ensino superior) em comparaccedilatildeo com outros estados e o Distrito
Federal conseguiu excelentes resultados No DF falta alcanccedilar melhores
resultados Podemos questionar se os resultados satildeo adequados pois por exemplo
no assentamento Renascer o Pronera natildeo vai aleacutem do quinto ano Eacute necessaacuterio
uma poliacutetica educacional que leve em conta a realidade dos alunos do campo
18
invista recursos materiais e humanos modernizem as escolas e propiciem o acesso
dos alunos
Conforme nos explica Sousa 2004 em seu artigo lsquodiscursos intolerantes o
lugar da politica na educaccedilatildeo rural e a representaccedilatildeo do camponecircs analfabeto
No Brasil a trajetoacuteria da educaccedilatildeo rural inclui-se na dinacircmica de modernizaccedilatildeo do campo assumindo um papel decisivo no processo de expropriaccedilatildeo proletarizaccedilatildeo e controle dos trabalhadores rurais A modernizaccedilatildeo da produccedilatildeo no nordeste brasileiro por exemplo incentivou o processo de sindicalizaccedilatildeo em massa dos trabalhadores das zonas canavieiras estimulou reivindicaccedilotildees no campo do trabalho ligadas agrave aplicaccedilatildeo do Estatuto do Trabalhador Rural e contraditoriamente fez emergir as manifestaccedilotildees pela distribuiccedilatildeo de terras encampadas pelas Ligas Camponesas ( SOUSA2004 p4)
O projeto de modernizaccedilatildeo do campo ocorreu sem que houvesse a
emancipaccedilatildeo dos trabalhadores rurais Na verdade ocorreu a proletarizaccedilatildeo dos
trabalhadores rurais pela acumulaccedilatildeo de terras em matildeos de apenas poucos
proprietaacuterios (latifundiaacuterios) Esse acontecimento revela que apenas em processo
consciente e contiacutenuo de lutas organizados e unidos os trabalhadores rurais
poderatildeo conquistar terras e meios para sua produccedilatildeo
O estudo da organizaccedilatildeo dos trabalhadores rurais eacute importante porque eacute a
partir dela que outras grandes reivindicaccedilotildees satildeo conquistadas No caso da
presente pesquisa pode-se observar que foi a organizaccedilatildeo dos trabalhadores em
torno de suas causas a reforma agraacuteria que levou agrave luta pelas outras reivindicaccedilotildees
como a educaccedilatildeo no campo
O proacuteximo capiacutetulo deste trabalho monograacutefico aborda a questatildeo das
manifestaccedilotildees e resistecircncias dos camponeses pela educaccedilatildeo e pela reforma
agraacuteria
-16-
22 Trajetoacuteria de luta pela Educaccedilatildeo do Campo
A luta pela educaccedilatildeo do campo esteve sempre associada agrave luta pela reforma
agraacuteria e pela conquista de direitos para os trabalhadores rurais O Movimento das
19
Ligas Camponesas lutou pela emancipaccedilatildeo do trabalhador rural e da reforma agraacuteria
e em seu projeto educacional estavam baseados nos ideais de Paulo Freire e do
Movimento de Educaccedilatildeo de Base (MEB)
Para explicar a reaccedilatildeo das classes populares agraves imposiccedilotildees do governo
brasileiro e das classes dominantes Oliveira (1995 apud ARROYO)
A histoacuteria das lutas entre as classes sociais natildeo se limitam agrave luta pelo poder mas se constituem impulsionadoras da histoacuteria da humanidade que natildeo aguardam passivamente seu destino mas ao contraacuterio articulam-se em torno de suas lutas para garantir seus direitos sua dignidade e sua participaccedilatildeo democraacutetica na sociedade( OLIVEIRA apud ARROYO1995p 80)
Neste sentido as Ligas Camponesas lutaram praticamente em todo o
territoacuterio nacional contra a tentativa de expulsatildeo dos trabalhadores rurais das terras
Os conflitos armados particularmente no Nordeste exigiam participaccedilatildeo poliacutetica e
direitos essenciais como a educaccedilatildeo do campo
O meacutetodo de alfabetizaccedilatildeo criado por Paulo Freire foi amplamente utilizado
pelas Ligas Camponesas e em sua concepccedilatildeo ampla de escola serviu de subsidio
para a compreensatildeo do camponecircs acerca de seu papel social (TOLEDO Caio
Navarro 2004 p6)
Neste contexto surge a Pedagogia do Oprimido de Paulo Freire Segundo
SANTOS (2013 apud Paulo Freire 1987) afirma que a pedagogia do oprimido
configura-se como
Aquela que tem de ser forjada com ele (o oprimido) e natildeo para ele enquanto homens ou povos na luta incessante de recuperaccedilatildeo de sua humanidade Pedagogia que faccedila da opressatildeo e de suas causas objeto de reflexatildeo dos oprimidos de que resultaraacute o seu engajamento necessaacuterio na luta por sua libertaccedilatildeo em que esta pedagogia se faraacute e refaraacuterdquo (FREIRE 1987 p32)
A pedagogia do oprimido serve de referecircncia para o trabalhador rural que luta
pela emancipaccedilatildeo de sua condiccedilatildeo de proletaacuterio atraveacutes da reforma agraacuteria A
pedagogia do oprimido leva o homem ao encontro de si mesmo ao reconhecimento
da grandeza de seu trabalho ao potencial de suas accedilotildees cotidianas que fazem a
diferenccedila A capacidade de reflexatildeo e o entendimento de sua potencialidade pode
leva-lo agrave sua plena realizaccedilatildeo como indiviacuteduo e como ser social
20
A reaccedilatildeo do governo contra o movimento de educaccedilatildeo popular proposto por
Freire e assumido pelo Movimento das Ligas Camponesas e pelo Movimento de
Educaccedilatildeo de Base (MEB) gerou repressatildeo e resposta da ditadura civil-militar como
o Movimento Brasileiro de Alfabetizaccedilatildeo (MOBRAL)
A luta dos movimentos sociais e sindicais pela educaccedilatildeo do campo parte das
forccedilas internas dos movimentos e alcanccedila a setores sociais religiosos ideoloacutegicos
que passam a contribuir efetivamente para o alcance do direito agrave educaccedilatildeo aos
camponeses
A Comissatildeo Pastoral da Terra (CPT) presente ao lado dos trabalhadores (as)
rurais indiacutegenas ribeirinhos pescadores e quilombolas tambeacutem contribuiu e
contribui para a formaccedilatildeo criacutetica a defesa de formas sustentaacuteveis de utilizaccedilatildeo de
recursos naturais e produccedilatildeo e para a alfabetizaccedilatildeo segundo o meacutetodo de Paulo
Freire (CANUTO 2012 p 131)
Na atualidade estaacute em desenvolvimento um movimento que luta pela educaccedilatildeo do homem do campo organizado por vaacuterias entidades dentre elas o MST Trata-se de um processo que teve inicio em meados dos anos de 1990 impulsionados pela necessidade da educaccedilatildeo de jovens e adultos das aacutereas de assentamentos rurais Foi organizado um Programa Nacional para Educaccedilatildeo na Reforma Agraacuteria composto por atores tais como movimentos sociais universidades e governo federal aleacutem de outros parceiros (Alas da Igreja Sindicatos Organizaccedilatildeo Natildeo-Governamental ONG) existentes nas diferentes regiotildees do Brasil( SOUSA2004 p 32)
A trajetoacuteria de conquista das escolas do campo particularmente as escolas
do campo criadas pelo MST a partir da deacutecada de 1990 foi marcada pela conquista
e implantaccedilatildeo da Educaccedilatildeo Fundamental para crianccedilas e adolescentes dos
acampamentosassentamentos de acordo com o projeto politico-pedagoacutegico fruto do
amadurecimento do movimento
Focou-se a alfabetizaccedilatildeo de jovens e adultos e as lutas pela implantaccedilatildeo do
ensino meacutedio com cursos alternativos para a formaccedilatildeo de professores e teacutecnicos de
niacutevel meacutedio e tambeacutem de cursos superiores
A concepccedilatildeo de escolas de ensino fundamental plantadas em assentamentos
prevecirc a instalaccedilatildeo da escola na proacutepria comunidade evitando com isso o uso de
transporte escolar e a frequecircncia dos alunos Sem Terra em escolas fora do
assentamento
21
Esta atitude de resistecircncia foi fundamental para a conquista da escola nas
terras conquistadas e tambeacutem foi fundamental para universalizar o ensino enraizar
o aluno em sua comunidade e criar a consciecircncia do direito agrave educaccedilatildeo
ldquoincomodandordquo o Estado para garantir o cumprimento das poliacuteticas puacuteblicas
Kolling Vargas e Caldart (2012p502) nos ensinam ldquotoda vez que se
conquista uma escola de educaccedilatildeo baacutesica em um assentamento ou acampamento
ela representa menos adolescentes e jovens do campo fora da escola e mais gente
enraizada em seu proacuteprio lugarrdquo (pag 502)
Os movimentos sociais e sindicais pela educaccedilatildeo do campo indicam o grau
de maturidade desses em sua luta pela reforma agraacuteria Agrave essa luta soma-se o
projeto de desenvolvimento do paiacutes baseado na justiccedila social e o combate agraves
tradicionais formas utilizadas pelas elites urbanas ou rurais de alienaccedilatildeo pela
expropriaccedilatildeo do trabalho e pelo controle dos meios que levam agrave emancipaccedilatildeo
sociocultural e agrave verdadeira humanizaccedilatildeo papel destinado agrave educaccedilatildeo
Neste sentido movimentos sociais como o MST inserem a educaccedilatildeo
baseada em princiacutepios pedagoacutegicos que se distinguem da escola tradicional
Numa perspectiva histoacuterica os movimentos sociais do campo como por
exemplo o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) tiveram inicialmente
como bandeira de luta a luta pela terra pela Reforma Agraacuteria natildeo fazendo uma
relaccedilatildeo entre essa luta e a educaccedilatildeo
A formaccedilatildeo de escolas do campo pelo MST natildeo foi resultado da consciecircncia e
importacircncia da escola para a promoccedilatildeo da educaccedilatildeo em seu meio Foi na verdade
a necessidade de oferecer aos filhos dos primeiros lutadores a oportunidade de
uma perspectiva melhor de futuro atraveacutes do direito agrave educaccedilatildeo Foi tambeacutem a
necessidade de ldquotransformar instituiccedilotildees histoacutericas como a escola em lugares que
ajudem a formar os sujeitos destas transformaccedilotildeesrdquo (CALDART2012 p94)
Desse modo houve primeiro a ldquoocupaccedilatildeo da escolardquo pela mobilizaccedilatildeo e pela
accedilatildeo para garantir que em acampamentos ou assentamentos conquistados
houvesse uma escola que ldquofizesse a diferenccedila ou tivesse realmente sentido em sua
vida presente e futura (preocupaccedilatildeo com os filhos)rdquo (CALDART2012 p91)
Num segundo momento da luta observa-se intencionalidade da luta pela
escola mas com proposta pedagoacutegica especiacutefica ldquocombinando processos de
22
escolarizaccedilatildeo e de formaccedilatildeo da militacircncia e da base social Sem Terrardquo
(CALDART2012 p92)
As experiecircncias de pensar escolas como polos regionais entre assentamentos e com estudantes de outras comunidades de camponeses aos poucos vatildeo educando o olhar dos trabalhadores Sem Terra para uma realidade mais ampla Foi assim que o MST chegou agrave EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO (KOLLING Vargas e Caldart 2012 p 502)
A escola dentro dessa perspectiva de mudanccedila e envolvimento social eacute
parte da luta pela reforma agraacuteria daacute significado a ela pois proporciona a formaccedilatildeo
integral dos sujeitos que lutam pela terra
Essa escola possibilita a reflexatildeo trava o diaacutelogo com as propostas de
educaccedilatildeo popular de Paulo Freire e busca superar as dificuldades imensas que
assentados e acampados vivem no dia a dia
A escola tambeacutem revela a cultura o orgulho e criaccedilatildeo da identidade na luta
por terra Nesse sentido
A heranccedila que o MST deixaraacute para seus descendentes seraacute bem mais do que a terra que conseguir libertar do latifuacutendio seraacute um jeito de ser humano e de tomar posiccedilatildeo diante das questotildees de seu tempo seratildeo os valores que fortalecem e datildeo identidade aos lutadores do povo de todos os tempos de todos os lugares Eacute enquanto produto humano de uma obra educativa que os Sem Terra podem ser vistos como mais um elo que se forma em uma longa tradiccedilatildeo de lutadores sociais que fazem a histoacuteria da humanidade Enraizamento no passado e projeto de futuro (CALDART 2012 p 96)
A educaccedilatildeo proposta pelo movimento gera o sentimento de pertencimento e
desperta o sentimento de respeito agrave coletividade valoriza o trabalho a gestatildeo
democraacutetica e desburocratizada da escola
SANTOS (2013 p71) esclarece que pelo projeto educacional do MST a
educaccedilatildeo proposta estaacute pautada em ldquovalores socialistas e humanistas tais como o
coletivismo o trabalho socialmente uacutetil a organizaccedilatildeo e auto-organizaccedilatildeo dos
estudantes e professoresrdquo (p71)
-21-
23
221 Concepccedilatildeo Pedagoacutegica da Educaccedilatildeo do Campo
No acircmbito da educaccedilatildeo do homem do campo tornar o homem sujeito e natildeo
objeto do saber leva a entender que o conhecimento do camponecircs pode dialogar
com as praacuteticas baseadas no conhecimento cientiacutefico desde que seja perseguido o
ideal de trabalhadores e educadores do campo comprometidos com as lutas sociais
de formar o homem ldquodordquo campo e ldquono campordquo
Conforme Kolling Cerioli e Caldart (2002 p 264) ldquoo povo tem direito a uma
educaccedilatildeo pensada desde o seu lugar e com sua participaccedilatildeo vinculada agrave sua
cultura e agraves suas necessidades humanas e sociaisrdquo ndash(Caldart Educaccedilatildeo do Campo
2012 p 264
Tal compreensatildeo se ainda hoje causa oposiccedilatildeo ateacute mesmo no ambiente
acadecircmico imagine-se naquele momento histoacuterico de profunda repressatildeo poliacutetica e
ideoloacutegica aos movimentos sociais de camponeses por terra e educaccedilatildeo Como nos
ensina Molina e Saacute (DICIONAacuteRIO da Educaccedilatildeo do Campo p 324)
A concepccedilatildeo de escola do campo nasce e se desenvolve no bojo do movimento da EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO a partir das experiecircncias de formaccedilatildeo humana desenvolvidas no contexto de luta dos movimentos sociais camponeses por terra e educaccedilatildeo Trata-se portanto de uma concepccedilatildeo que emerge das contradiccedilotildees da luta social e das praacuteticas de educaccedilatildeo dos trabalhadores do e no campo (MOLINA e SAacute 2012 pag 324)
A concepccedilatildeo pedagoacutegica da educaccedilatildeo popular e da pedagogia da praacutetica
segundo ARROYO inclui
um caraacuteter de envolvimento totalizante dos movimentos sociais que possibilita ao individuo que participa destes coletivos o acesso a outro tipo de formaccedilatildeo que supera a condiccedilatildeo de aluno de alfabetizando de escolarizando Os integrantes destes organismos emersos na tensa situaccedilatildeo de conflitos aprendem por meio da vivencia das lutas sociais dos momentos de mobilizaccedilatildeo das situaccedilotildees limites de perda de emprego de criacuteticas da sociedade agraves suas accedilotildees de ameaccedilas agraves suas vidas Tudo isso traz ricas liccedilotildees ensinadas na ldquoescola do movimentordquo e que nenhuma teoria pode transmitir ou explicar de forma satisfatoacuteria
No entendimento de Arroyo (2013) os movimentos sociais vivem e
amadurecem sob o conhecimento e o entendimento das contradiccedilotildees sociais e esta
24
experiecircncia lhes permite a possibilidade de defender mudanccedilas radicais tanto no
campo como na cidade tanto na ideologia quanto no combate ao latifuacutendio e ao
capitalismo
Tamanho movimento social gera a reflexatildeo sobre as relaccedilotildees
socioeconocircmicas politicas culturais cuidado da natureza relaccedilotildees humanas
destaques de tudo o que interessa ao coletivo agrave sociedade
Eacute por meio do entendimento de que a realidade eacute criaccedilatildeo humana de como se estabelecem os processos de opressatildeo e ainda da noccedilatildeo de que podemos transformar essa realidade dado que a sociedade eacute mutaacutevel que se forma a praacutexis da luta accedilatildeo-conscientizaccedilatildeo-transformaccedilatildeo-libertaccedilatildeo Inserindo-se criticamente na histoacuteria os cidadatildeos tornam-se sujeitos construtores e reconstrutores da realidaderdquo
Molina e Saacute (2012) nos ensinam a partir do conceito de escola do campo sobre a
potencialidade da vivencia de praacuteticas coletivas para a valorizaccedilatildeo integral dos
sujeitos da coletividade do conhecimento cientiacutefico da gestatildeo coletiva da escola
dentre tantos avanccedilos e vitoacuterias dos movimentos sociais
O processo ensino-aprendizagem permite que o conceito de escola extrapole
o cotidiano de dificuldades e desafia agrave reflexatildeo que gera a emancipaccedilatildeo
Este eacute um dos maiores desafios e ao mesmo tempo uma das maiores possibilidades da escola do campo articular os conhecimentos que os educandos tecircm o direito de acessar a partir do trabalho com a realidade da religaccedilatildeo entre educaccedilatildeo cultura e os conhecimentos cientiacuteficos a serem apreendidos em cada ciclo de vida e de diferentes aacutereas do conhecimento(MOLINA MOURAtildeO 2012 p 329) -26-
222 Princiacutepios da Educaccedilatildeo do Campo
Alguns princiacutepios viabilizam o projeto de escola adotado pelos movimentos
sociais e possibilitam a democracia e a integraccedilatildeo de todos lideranccedila assentados e
acampados do movimento
25
O princiacutepio da responsabilidade coletiva sobre o planejamento a gestatildeo a
organizaccedilatildeo e a realizaccedilatildeo de tarefas em todas as esferas de atividades princiacutepios
muito valorizados pelos movimentos sociais do campo foram transferidos para o
projeto de educaccedilatildeo
O projeto eacute de responsabilidade coletiva e insere educadores tanto a niacutevel
local como regional e nacional os ldquoColetivos de educaccedilatildeordquo como satildeo conhecidos
Os coletivos de educaccedilatildeo com tarefas forccedila orgacircnica e discussotildees especiacuteficas que podem variar a cada periacuteodo fortalecem o princiacutepio organizativo de que a questatildeo da educaccedilatildeo bem como outras questotildees da vida social assumidas pelo MST deve ser pensada e implantada de forma coletiva Eacute uma loacutegica que implica tarefas a serem realizadas pelas pessoas mas mediante um planejamento e uma leitura de conjuntura feita por um coletivo (KOLLING1995 et al p503)
Para concretizar o projeto de educaccedilatildeo foi concebida a formaccedilatildeo de
professores pelos proacuteprios movimentos no acircmbito da proacutepria comunidade
(conhecidos como ldquoprofessores leigosrdquo) e tambeacutem pela rede oficial de ensino
A falta de titulaccedilatildeo de muitos educadores formados na comunidade natildeo
impede que os mesmos trabalhem juntos com os professores titulados e com
simpatizantes do movimento no projeto poliacutetico-pedagoacutegico constituindo um
princiacutepio democraacutetico importante para superar as dificuldades e urgecircncias para a
implantaccedilatildeo da educaccedilatildeo do campo
A democracia do processo de formaccedilatildeo de educadores tem reflexos amplos
a formaccedilatildeo de educadores pelos proacuteprios movimentos especiacutefica para atuaccedilatildeo nas
escolas do campo
O movimento eacute responsaacutevel pela universalizaccedilatildeo do ensino no acircmbito dos
territoacuterios conquistados ou por conquistar e permitiu a evoluccedilatildeo do ensino ateacute o niacutevel
de terceiro grau com a realizaccedilatildeo de cursos como a Licenciatura em Educaccedilatildeo do
Campo (LEdoC) do qual somos os privilegiados alunos aqui na Universidade de
Brasiacutelia
Outro reconhecimento e prova de eficiecircncia da formaccedilatildeo de professores eacute o
precircmio ldquoEducaccedilatildeo e Participaccedilatildeordquo recebido em 1995 do Fundo das Naccedilotildees Unidas
para a Infacircncia (Unicef)
26
O somatoacuterio das forccedilas internas e externas do movimento ldquoleigasrdquo ou
tituladas associadas ao princiacutepio fundamental da participaccedilatildeo dos alunos e
comunidades em todos os niacuteveis e localidades eacute ponto fundamental para o sucesso
da concepccedilatildeo do projeto pois permite o estudo a reflexatildeo conjunta sobre
estrateacutegias para o alcance do objetivo de educaccedilatildeo na reforma agraacuteria
-25-
223 Marcos Normativos da Educaccedilatildeo do Campo
Numerosos Marcos Normativos podem ser citados para explicitar qual perfil
de escola destinada ao camponecircs interessava ao governo e aos proprietaacuterios rurais
A Lei 4024 de 1961 em seu art 105 estabelece o
Apoio que poderaacute ser prestado pelo poder puacuteblico agraves iniciativas que mantenham na zona rural instituiccedilotildees educativas orientadas para adaptar o homem ao meio e estimular vocaccedilotildees e atividades profissionais (BRASIL 2012 p 4)
A Lei 5692 de 1971 ao tratar da educaccedilatildeo rural ldquonatildeo observa mais uma vez
a inclusatildeo da populaccedilatildeo na condiccedilatildeo de protagonista de um projeto social globalrdquo
sendo que o trabalho do campo realizado por alunos eacute ateacute mesmo incentivado
adequando-o ao calendaacuterio escolar (MARCOS NORMATIVOSBrasiacutelia2012 p 25)
A Lei 9394 de 1996 (Lei das Diretrizes se Bases da Educaccedilatildeo ndash LDB) em
acordo com Constituiccedilatildeo de 1988 e ldquoinspirada de alguma forma numa concepccedilatildeo
de mundo rural enquanto espaccedilo especifico diferenciado e ao mesmo tempo
integrado no conjunto da sociedaderdquo reconhece
A diversidade soacutecio-cultural e o direito agrave igualdade e agrave diferenccedila possibilitando a definiccedilatildeo de diretrizes operacionais para educaccedilatildeo rural sem no entanto recorrer a uma logica exclusiva e de ruptura com um projeto global de educaccedilatildeo para o paiacutes (idem p 26)
27
Os artigos 208 e 210 da Carta Magna-1988 e inspirada de numa concepccedilatildeo
de mundo rural enquanto espaccedilo especiacutefico diferenciado e ao mesmo tempo
integrado no conjunto da sociedade a Lei 939496- LDB-estabelece que
Art 28 Na oferta da educaccedilatildeo baacutesica para a populaccedilatildeo rural os sistemas de ensino promoveratildeo as adapta necessaacuteria agrave sua adequaccedilatildeo agraves peculiaridades da vida rural e de cada regiatildeo especialmente (MARCOS NORMATIVOS) Brasiacutelia 2012 p 25)
1- Conteuacutedos organizar curriculares e metodologias apropriadas agraves reais
necessidades e interesses dos alunos da zona rural
2-organizaccedilatildeo escolar proacutepria incluindo a adequaccedilatildeo do calendaacuterio escolar as
fases do ciclo agriacutecola e as condiccedilotildees climaacuteticas
3-adequaccedilatildeo agrave natureza do trabalho na zona rural (MARCOS NORMATIVOS)
Brasiacutelia 2012( p 26)
O movimento de educaccedilatildeo do campo luta haacute quinze (15) anos para fazer-se
cumprir esse Decreto da Lei de Diretrizes de base da educaccedilatildeo do campo-LDB
que apesar de ser constitucional ainda natildeo foi colocada totalmente em praacutetica
Agora com as lutas dos movimentos sociais eacute que estaacute comeccedilando a se concretizar
Artigo 26 Os curriacuteculos do ensino fundamental e meacutedio devem ter uma base nacional comum a ser complementada em cada sistema de ensino e estabelecimento escolar por uma parte diversificada exigida pelas caracteriacutesticas regionais e locais da sociedade
da cultura da economia e da clientela (MARCOS NORMATIVOS) Brasiacutelia 2012(p 26)
O Decreto nordm 7352 de 4 de novembro 2010 dispotildee sobre a poliacutetica de educaccedilatildeo do campo ao Programa Nacional de Educaccedilatildeo
na Reforma Agraacuteria-PRONERA decreta
Art1ordm A poliacutetica de educaccedilatildeo do campo destina-
se agrave ampliaccedilatildeo e qualificaccedilatildeo da oferta de educaccedilatildeo baacutesica e superior agraves populaccedilotildees do campo e seraacute desenvolvida pela Uniatildeo em regime de colaboraccedilatildeo com os Estados o
28
Distrito Federal e os Municiacutepios de acordo com as diretrizes e metas estabelecidas no Plano Nacional de Educaccedilatildeo e o disposto neste Decreto
Para os efeitos deste Decreto entende-se por
l-populaccedilatildeo do campo os agricultores familiares os extrativistas os pescadores
artesanais os ribeirinhos os assentados e acampados da reforma agraacuteria os
trabalhadores assalariados rurais os quilombolas os caiccedilaras os povos da floresta
os caboclos e outros que produzam suas condiccedilotildees materiais de existecircncia a partir
do trabalho no meio rural
ll-escola do campo aquela situada em aacuterea rural conforme definida pela Fundaccedilatildeo
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica- IBGE ou aquela situada em aacuterea
urbana desde que atenda predominantemente a populaccedilatildeo do campo (MARCOS
NORMATIVOS) 2012( p 81)
No Decreto 6755 29 de janeiro de 2009 em seu art 2ordm estabelecida pelo Conselho
Nacional de Educaccedilatildeo que se refere as Diretrizes Operacionais da Educaccedilatildeo do
Campo o parecer da alternacircncia
A formaccedilatildeo de professores poderaacute ser feita concomitantemente agrave atuaccedilatildeo profissional de acordo com metodologias adequadas inclusive a pedagogia da alternacircncia e sem prejuiacutezo de outras que atendam agraves especificidades da educaccedilatildeo do campo e por meio de atividades de ensino pesquisa e extensatildeo (MARCOS NORMATIVOS) 2012( p84)
-26-
29
-
231 A educaccedilatildeo do campo e poliacutetica puacuteblica - o PRONERA
O amadurecimento adquirido pela luta sobre o papel da educaccedilatildeo aliado agrave
iniciativa do aproveitamento do trabalho das professoras ldquoleigasrdquo e ainda da
consciecircncia cada vez mais presente do dever do Estado em prover os cidadatildeos da
reforma agraacuteria de poliacuteticas puacuteblicas resultou no campo da educaccedilatildeo na criaccedilatildeo do
Programa Nacional de Educaccedilatildeo na Reforma Agraacuteria (PRONERA)
O PRONERA envolve formalmente jovens e adultos num projeto conjunto
com universidades e institutos federais em prol da formaccedilatildeo de educadores para o
trabalho em escolas dos assentamentos da reforma agraacuteria e seu entorno
O Programa foi criado em 1998 no momento da ascensatildeo dos conflitos pela
reforma agraacuteria o que propiciou que os movimentos sociais trouxessem para a
opiniatildeo puacuteblica suas mazelas
No campo da educaccedilatildeo foi denunciada a falta de escola a precariedade do
ensino a falta de profissionais do ensino a ldquoloacutegica de negaccedilatildeo histoacuterica do direito
aos camponeses de acesso aos niacuteveis mais elevados de escolaridade ( SANTOS
2012 pag 630)
A partir de 2005 o ensino oferecido pelo PRONERA eacute estendido ao niacutevel
meacutedio e superior como a Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo e a Residecircncia
30
Agraacuteria O PRONERA evoluiu para outros patamares tais como ldquopossibilidades de
ressignificaccedilatildeo do conteuacutedo e da metodologia dos processos de educaccedilatildeo formal
por meio dos princiacutepios baacutesicos da participaccedilatildeo e da multiplicaccedilatildeordquo (SANTOS 2012
p 631)
A participaccedilatildeo das comunidades e suas organizaccedilotildees e a multiplicaccedilatildeo de
alfabetizados formados educadores e demais profissionais ligados agraves poliacuteticas
puacuteblicas para a Reforma Agraacuteria gerou ampla participaccedilatildeo dos agentes envolvidos
na dinacircmica do processo ensino-aprendizagem
Essa forma de gestatildeo gerou reaccedilatildeo contraacuteria ldquoagrave gestatildeo colegiada e coletiva
notadamente agrave participaccedilatildeo direta dos movimentos sociais e sindicais do campordquo
considerados ldquoentes estranhos agrave administraccedilatildeo puacuteblicardquo (CLARICE p 634)
O envolvimento dos movimentos sociais e sindicais do campo natildeo
retrocederam em sua luta pelo envolvimento de todos os interessados na educaccedilatildeo
como elemento emancipatoacuterio e continuam formulando princiacutepios concepccedilotildees e
diretrizes para a escola do campo
-31-
31
Terceiro Capiacutetulo
A histoacuteria do Assentamento Renascer
31 Uma breve histoacuteria de luta
A histoacuteria do Assentamento Renascer natildeo parece ser diferente da histoacuteria de
outros assentamentos Brasil afora Partiu da reivindicaccedilatildeo de Trabalhadores Rurais
sem Terra que desde 2004 ocuparam as margens da Rodovia DF 330 que liga
Sobradinho ao Paranoaacute-DF
Tatildeo perto do centro do poder a apenas poucos quilocircmetros do Palaacutecio da
Alvorada ou da Sede do INCRA o Acampamento Renascer esteve ateacute oito (08) de
maio de 2009 tatildeo distante da decisatildeo poliacutetica pela Reforma Agraacuteria
Somente nesta data trezentos sessenta e um( 361) de terras devolutas da
Uniatildeo foram repassadas ao INCRA para assentar as famiacutelias aliacute acampadas Ficou
criado o assentamento Renascer fora da beira da estrada
O Assentamento Renascer ldquorenasceurdquo da dificuldade de vida sob o barraco de
madeira sem aacutegua sem luz sem saneamento baacutesico que fez com que tantos
desistissem ao longo do caminho e ainda hoje se encontra nessa mesma
precariedade um descaso por parte do poder puacuteblico
A luta em vaacuterios momentos da vida dos acampados parecia estar vencida Os
vencedores pareciam ser a burocracia o desrespeito as noites mal dormidas a
inseguranccedila a falta de perspectivas para o acampado e suas famiacutelias
Duzentas (200) famiacutelias viveram aliacute por cinco anos (05) de 2004 ateacute 2009
Atualmente satildeo cento e vinte (120) famiacutelias que moram na aacuterea destinada e estatildeo
em processo de assentamento Muitas delas poreacutem vencidas pelo cansaccedilo e pelas
condiccedilotildees de vida abandonaram a luta mas todas as famiacutelias as que se foram e as
que ficaram sonharam com a terra onde poderiam produzir viam no pedaccedilo de chatildeo
os frutos do pomar da horta o galinheiro o pasto
O Assentamento Renascer eacute o Brasil Eacute um pedacinho da cruel realidade que
como vimos neste trabalho marcou a sociedade brasileira desde a escravidatildeo
desde o primeiro grito de rebeldia do quilombo desde o primeiro que lutou contra os
coroneacuteis por divisatildeo da terra como as Ligas Camponesas contra o latifuacutendio como
os movimentos sociais em sua luta pela reforma agraacuteria desde vaacuterias geraccedilotildees
32
Eacute como todo e qualquer movimento social que surgiu neste paiacutes desde a
deacutecada de 1980 pela reforma agraacuteria Viveu e ainda vive as dificuldades de ser
acampadoassentado mas honra sua luta porque natildeo desiste faacutecil
O Assentamento Renascer eacute tambeacutem fruto do ecircxodo rural da industrializaccedilatildeo
do campo da monocultura e da concentraccedilatildeo de terras Foram expulsos do campo
para a periferia das cidades sem capacitaccedilatildeo sem estudo
A falta de escolarizaccedilatildeo eacute sem duacutevida uma caracteriacutestica de quase todos os
que vieram do campo para a cidade A realidade do Brasil eacute que o campo natildeo eacute
escolarizado as escolas no campo satildeo poucas satildeo despreparadas satildeo
desvalorizadas
-33-
32 As escolas no campo na vivencia do assentado do Assentamento
Renascer
As escolas no campo marcaram profundamente a vida dos poucos que a
frequentaram Quase todos tiveram que trocar o laacutepis pela enxada a carteira pela
roccedila desde muito pequenos Alguns natildeo muito poucos conforme os depoimentos
aqui relatados teriam que abandonar a enxada e a participaccedilatildeo no sustento da
famiacutelia para frequentar a escola Quase sempre abandonaram a escola para ficar no
trabalho com a enxada
Todos teriam que andar vaacuterios quilocircmetros para ir agrave escola Outros nem assim
conseguiriam frequentar a escola no campo ela simplesmente natildeo existia no
campo Teriam entatildeo que ir para a cidade para ter direito a uma escola
Muitos tambeacutem vivenciaram os traumas que uma escola tradicional e
descomprometida com os valores e responsabilidades do projeto educacional
castigos humilhaccedilotildees afastaram a muitos da escola
Alguns apenas sonharam e sonham com a escola ldquoAh a escolardquo Tatildeo longe
inacessiacutevel para tantos no Brasil afora Ao ver de algumas pessoas do
Assentamento Renascer ldquoSe tivesse jeito eu teria ido agrave escola tinha feito pelo
menos o ensino fundamental completo para que eu pudesse ingressar no curso
33
teacutecnico-agriacutecola Mas agora quero que meus filhos e netos vatildeo para a escola
aprender ser algueacutem na vidardquo
-34-
321 A escola no entorno do Assentamento Renascer
A ideia de lutar pela educaccedilatildeo veio antes da ideia de lutar pela escola como
espaccedilo conquistado pelo acampamento Encontrar uma escola perto do
acampamento com transporte escolar com vagas e horaacuterios acessiacuteveis para os que
trabalham o dia todo era entendido como uma necessidade baacutesica e uma grande
vitoacuteria
Ficava-se feliz se apesar das dificuldades fosse possiacutevel matricular pelo
menos as crianccedilas As dificuldades eram e ainda satildeo muitas o transporte escolar
era e eacute precaacuterio a poeira natildeo permite que os alunos cheguem limpos agrave escola os
buracos e as poccedilas daacutegua impedem a chegada do ocircnibus escolar durante as
chuvas No caso do ocircnibus que levam os alunos ateacute a Escola Classe do Coacuterrego do
Arrozal em eacutepoca de muita chuva os ocircnibus ateacute o iniacutecio de 2014 natildeo conseguiam
transitar Isto resulta no fato de que as crianccedilas precisam caminhar debaixo de
chuva ateacute a escola
-35-
322 O caminho para a produccedilatildeo do saber no Assentamento Renascer a
brinquedoteca a integraccedilatildeo social a biblioteca comunitaacuteria as manifestaccedilotildees
culturais
Ao longo dos anos de vivecircncia e convivecircncia no Acampamento Renascer
mediante a dificuldade e necessidade de estudar que sentimos na nossa proacutepria
vida foi despontando a ideia de prover as crianccedilas de atividades luacutedicas e
educativas
34
Logo no iniacutecio do acampamento por volta de 2005 por iniciativa de algumas
pessoas conscientes da necessidade de atividades luacutedicas para as crianccedilas foi
criada uma brinquedoteca
Inicialmente os brinquedos eram de materiais reciclaacuteveis como garrafas pet
telefones sem fio carrinhos bonecas petecas vai e vem cavalinhos tudo era
confeccionado com a participaccedilatildeo das crianccedilas na modalidade de oficina
incentivando-os a fabricar os seus proacuteprios brinquedos Os brinquedos eram
confeccionados a partir de materiais encontrados nos lugares de descarte perto do
acampamento e doaccedilotildees de pessoas que passavam pela estrada
O embriatildeo de um processo educacional que nunca se interrompeu estava
lanccedilado a brinquedoteca proporcionou a criatividade e a participaccedilatildeo de crianccedilas e
adultos marcando as atividades pela conscientizaccedilatildeo do cuidado com a natureza e a
importacircncia da reciclagem A educaccedilatildeo ambiental jaacute era praticada desde o
nascimento do acampamento Renascer
Este primeiro passo foi muito importante porque traduziu para o dia a dia do
acampamento os princiacutepios da escola do campo atuante para mudar a realidade
criar cidadatildeos conscientes e dispostos a mudar a realidade a partir da sua proacutepria
accedilatildeo Este eacute o processo de transformaccedilatildeo social dentro do acampamento Renascer
haacute tanto tempo atraacutes
Aos brinquedos reciclados pela proacutepria comunidade juntaram-se outros
presenteados por instituiccedilotildees como igrejas ONGs a Pastoral da Crianccedila e pessoas
interessadas no bem estar daquelas crianccedilas
Percebe-se em iniciativas como essas a importacircncia da educaccedilatildeo nos
diversos niacuteveis para a sociedade A integraccedilatildeo de pessoas com as atividades
educativas no acampamento nos faz lembrar sobre um grande sonho das escolas
hoje integrar a comunidade de modo a que todos defendam a escola
O sucesso de iniciativas como a brinquedoteca que integravam crianccedilas
adolescentes adultos e sociedade foi importante para outras iniciativas igualmente
importantes
Foi-se criando um projeto educacional para o acampamento sem que se
tivesse consciecircncia disso por faltar informaccedilatildeo que soacute agora se possui graccedilas aos
estudos na Universidade o galpatildeo comunitaacuterio foi utilizado para abrigar a
35
brinquedoteca para desenvolver grupos de teatro de crianccedilas e adultos e para
abrigar a biblioteca
A biblioteca recebeu inuacutemeros exemplares de livros infantis livros didaacuteticos
para os adolescentes e adultos literatura universal revistas dos mais variados
assuntos criando assim um espaccedilo comunitaacuterio de informaccedilatildeo lazer e
entretenimento
Com a criaccedilatildeo da biblioteca ficou evidente a importacircncia da alfabetizaccedilatildeo de
crianccedilas jovens e adultos Muitos acampados relatavam a vontade e a necessidade
de aprender a ler e a escrever Muitos reivindicavam o direito agrave educaccedilatildeo e
frequecircncia agrave escola ainda que o acampamento mudasse de ldquoendereccedilordquo tantas
vezes
Outros poreacutem natildeo acreditavam que seria possiacutevel aprender ou aperfeiccediloar a
leitura e a escrita nas condiccedilotildees de vida de um acampado
Vaacuterias atividades culturais foram desenvolvidas (e ainda satildeo) no
Acampamento Renascer Todas chamavam a atenccedilatildeo da comunidade local de
outras comunidades vizinhas garantindo a simpatia de chacareiros que levavam os
filhos para participarem das atividades
Uma das atividades mais apreciadas foi o Teatro de Fantoches inspirados em
faacutebulas muitas com a autoria da Pastoral da Crianccedila e da Faber Castel A
participaccedilatildeo da comunidade na atividade era intensa e voluntaacuteria todos queriam
manipular os fantoches participar cantando danccedilando ou prestando muita atenccedilatildeo
O teatro de transformaccedilatildeo social produzido pelos adultos e adolescentes
utilizavam tambeacutem materiais reciclaacuteveis demonstrando cuidado com o meio
ambiente e amadurecimento dos conceitos poliacuteticos e pedagoacutegicos gerando reflexatildeo
sobre os temas sociais que nos atingem no cotidiano
A miacutestica adotada pelos movimentos sociais com o objetivo de reflexatildeo satildeo
apresentadas em datas comemorativas e contam com o apoio e participaccedilatildeo de
muitos
Algumas festas fazem parte da tradiccedilatildeo do Acampamento Renascer
traduzindo para a realidade atual as antigas festas a que todos foram acostumados
em seus lugares de origem
Pode-se dizer que a comunidade aprecia muito as festas Mas duas em
particular satildeo muito respeitadas a festa das crianccedilas que ocorre durante o dia (12
36
de outubro) eacute concorrida pois a comunidade se esmera para oferecer os brinquedos
que as crianccedilas amam pula-pula palhaccedilos pintura de rosto piscina de sabatildeo e
muita oferta de comida coisas que as crianccedilas adoram
No mesmo dia ocorre agrave noite a festa da Nossa Senhora Aparecida com
missa e muito forroacute
No mecircs de marccedilo eacute comemorada a Festa da Pamonha em comemoraccedilatildeo agrave
boa colheita do milho Esta festa jaacute se tornou tradicional conhecida em todo o
entorno do assentamento Egrave uma festa importante porque confraterniza a
comunidade Renascer com as comunidades vizinhas e ateacute mesmo as cidades de
Sobradinho Paranoaacute e Planaltina
Os movimentos sociais necessitam ser admirados pela sociedade e festas
como estas chamam a atenccedilatildeo para o problema da reforma agraacuteria demonstrando
que ela eacute viaacutevel e que os assentados tecircm simpatia competecircncia e seus saberes do
campo
A festa ldquojulinardquo eacute outra festa muito apreciada que apresenta as tradiccedilotildees rurais
e religiosas como quadrilhas e bandas de forroacute da comunidade e vizinhanccedila A
danccedila eacute um dos pontos fortes da festa assim como as comidas tradicionais muitas
delas com ingredientes colhidos no acampamento
Vaacuterios grupos de atividades teatrais apresentaram-se na localidade com
participaccedilatildeo de palhaccedilos lembrando um espetaacuteculo circense Alguns desses
grupos inclusive tiveram seus trabalhos premiados
Outras atividades com fundo educativo tiveram participaccedilatildeo animada de
crianccedilas e adultos A exibiccedilatildeo de desenhos animados recentemente apresentados
no cinema eram um grande atrativo para a comunidade que se via socialmente
incluiacuteda Esta inclusatildeo aumentava a autoestima das crianccedilas principalmente pois
assim elas poderiam interagir com os colegas da escola conversando a respeito dos
filmes
A Economia Solidaacuteria eacute uma das formas de inserccedilatildeo dos membros da
comunidade agrave sociedade economicamente ativa Atraveacutes da cooperaccedilatildeo solidaacuteria eacute
possiacutevel o comercio justo agriacutecolas ou artesanais sob conceitos antes
desconhecidos enquanto forma de produccedilatildeo e consumo centrado na valorizaccedilatildeo do
ser humano em contraposiccedilatildeo agraves formas capitalistas de produccedilatildeo e conscientizaccedilatildeo
37
Ao longo dos doze (12) anos de luta pela educaccedilatildeo foram promovidos
diversos cursos que capacitaram multiplicadores que fazem um trabalho importante
para a comunidade
A ideia de autogestatildeo democracia cooperaccedilatildeo auxilia natildeo soacute as formas de
produccedilatildeo e comercio de bens e artesanatos mas tambeacutem auxiliam na formaccedilatildeo
integral de pessoas em que tanto o produtor como o consumidor tem o proposito de
ganhos financeiros segundo um criteacuterio de valorizaccedilatildeo do trabalho
Proposito de formar uma nova consciecircncia a Economia Solidaacuteria promoveu
cursos de Soberania Alimentar em que a comunidade recebeu noccedilotildees praacuteticas
sobre alimentaccedilatildeo a partir da produccedilatildeo local de modo a promover uma nova cultura
alimentar que visa o combate agraves doenccedilas crocircnicas Outro proposito eacute tornar a
comunidade criacutetica em relaccedilatildeo agrave publicidade de produtos alimentiacutecio supeacuterfluo que
induz agraves crianccedilas e adultos alimentarem-se incorretamente
A comunidade participou coletivamente da implantaccedilatildeo de uma unidade da
tecnologia social denominada Produccedilatildeo Agroecoloacutegica Integrada e Sustentaacutevel
(PAIS) em 2012 com o objetivo de produzir alimentos saudaacuteveis e preservar o meio
ambiente trazendo mais alimentos e renda ao campo Esta tecnologia popularmente
conhecida como ldquohorta mandalardquo foi ministrada durante o curso de capacitaccedilatildeo
promovido pela Fundaccedilatildeo Banco do Brasil e teve o meacuterito de proporcionar o debate
e a participaccedilatildeo democraacutetica na definiccedilatildeo das culturas a serem cultivadas na futura
propriedade Vale informar que o assentamento Renascer identificou-se com esse
paradigma agroecoloacutegico
A educaccedilatildeo ambiental faz parte do dia a dia da comunidade hoje preserva-se
conservaccedilatildeo das formas de vida vegetais e animais na regiatildeo do assentamento e
entorno
A produccedilatildeo de mudas no viveiro eacute bastante concorrida contando com a
participaccedilatildeo de todos O viveiro produz cinco mil (5000) mudas de espeacutecies nativa
do cerrado para o reflorestamento das nascentes de aacutegua e nas aacutereas degradadas
da regiatildeo Contam com o apoio da FUNATURA FUNDACcedilAtildeO BANCO DO BRASIL
IFB Rio Satildeo Bartolomeu Vivo e UnB
-36-
38
39
Quarto Capiacutetulo
A escola que queremos expectativas e sonhos dos
acampados do Assentamento Renascer
Pode-se observar pelas falas dos entrevistados que a realidade de todos
converge para os problemas estruturais do Brasil faltam escolas no campo eacute baixa
a escolaridade em Brasiacutelia todos exercem atividades de subemprego
Todos tecircm grandes expectativas com relaccedilatildeo agrave vida futura no assentamento
objetivando melhores condiccedilotildees de vida na esperanccedila de serem beneficiaacuterios
enquanto cidadatildeos assentados das Poliacuteticas Puacuteblicas e financiamentos agriacutecolas
voltadas para a agricultura familiar como PRONAF PAA PNAE e PAPA-DF Vecircem
aiacute a possibilidade de emprego e renda situaccedilatildeo sonhada desde quando foram
pleitear a terra para reforma agraacuteria
Um olhar mais aprofundado sobre a anaacutelise de dados revela que natildeo importa o
fato de hoje residirem no DF pois como em qualquer lugar de origem os moradores
do assentamento Renascer vivenciam os mesmos problemas Percebe-se
claramente as dificuldades da inexistecircncia de escola no campo A distacircncia continua
impedindo o acesso os meios de transportes continuam precaacuterios os filhos
vivenciam a dificuldade de transferecircncia para a cidade na expectativa de
continuidade dos estudos as estradas rurais continuam esburacadas
Satildeo muitos os pontos em comum entre a situaccedilatildeo atual relatada e os problemas
vividos haacute deacutecadas em seus estados de origem o que deixa transparecer a absoluta
falta de interesse por parte do poder puacuteblico em garantir o direito constitucional agrave
educaccedilatildeo do povo do campo o que infelizmente continuaraacute deixando o triste
legado para o futuro do paiacutes
40
Repetimos a pergunta da inicial Cadecirc as escolas do campo Ateacute quando o paiacutes
vai viver essa situaccedilatildeo A anaacutelise de dados responde Natildeo eacute mais possiacutevel
continuar como estaacute
Todos os entrevistados pretendem alcanccedilar conhecimentos atraveacutes da escola do
campo implantada no Assentamento Renascer com objetivos de administrar a
propriedade participar ativamente do coletivo garantir renda fixa atraveacutes dos
programas de desenvolvimento da agricultura familiar
Os entrevistados unanimamente tecircm a preocupaccedilatildeo da manutenccedilatildeo dos laccedilos
familiares e das raiacutezes camponesas
A distacircncia entre a moradia e a escola fato relatado pela quase totalidade dos
entrevistados constitui um grande motivo de evasatildeo escolar de defasagem nas
seacuteries frequentadas de precariedade na aprendizagem em relaccedilatildeo aos demais
alunos A discriminaccedilatildeo alegada por muitos que frequentaram ou frequentam
escolas fora da faixa etaacuteria o vernaacuteculo proacuteprio dos sujeitos do campo as condiccedilotildees
precaacuterias da estrada que denunciam a condiccedilatildeo de assentado o sentimento de
inadequaccedilatildeo constituem fatores que determinam a evasatildeo escolar
Foram treze (13) entrevistados significando aproximadamente dez por cento
(10) dos moradores do Assentamento Renascer Desse total apenas dois (2)
entrevistados natildeo declararam dificuldade de distacircncia entre a moradia e a escola em
seus lugares de origem A maioria absoluta (11) pessoas declararam que a distacircncia
dificultava e impedia o acesso agrave escola Alguns relatos apresentam situaccedilotildees
precaacuterias para o homem do campo o assentado
Para o aluno do campo a distacircncia da escola tem o significado de inexistecircncia de
escola Isto porque as dificuldades de acesso satildeo enormes No caso em estudo
apenas um entrevistado declarou a inexistecircncia de escola em sua regiatildeo de
moradia Este poreacutem vivenciou todas as dificuldades de acesso que outros
assentados apresentaram em razatildeo da distacircncia moradiaescola
A falta de professores na escola rural eacute relatada por 11 dos 13 entrevistados A
distacircncia da escola para os professores dificulta segundo a vivecircncia dos
entrevistados o acesso agrave escola e a assiduidade o que muito desmotivava a
ambos
41
Os entrevistados conforme anaacutelise de dados desejam muito objetivamente a
implantaccedilatildeo imediata de escolas segundo os criteacuterios caracteriacutesticos de escola do
campo
- Trazer a realidade para dentro da escola do campo curriacuteculos voltados para o
cotidiano do aluno do campo onde as teacutecnicas agriacutecolas pecuaacuterias e agroecoloacutegicas
possam fazer parte do processo educativo da comunidade e que a escola tenha
uma gestatildeo coletiva democraacutetica com a participaccedilatildeo da comunidade
- Ter o trabalho como princiacutepio educativo A experiecircncia do aluno deve
harmonizar-se com os princiacutepios pistrakianos significar o trabalho de forma a que
ele apresente benefiacutecios para o proacuteprio indiviacuteduo para a comunidade na qual estaacute
inserido e para a sociedade e natildeo exclusivamente para servir ao capitalismo
-Superar a fragmentaccedilatildeo do conhecimento disciplinar A interdisciplinaridade
deve fazer parte dos objetivos educacionais de modo a promover a formaccedilatildeo
integral dos educandos
- Valorizar os saberes do homem do campo Os entrevistados desejam uma
escola onde possam exercitar sua vivecircncia campesina e a relaccedilatildeo dialoacutegica entre
professor-aluno seguindo a pedagogia de Paulo Freire o educando quer aprender
com o educador mas quer tambeacutem ter a oportunidade de transmitir seus saberes
- Promover espaccedilos de gestatildeo coletiva A proacutepria comunidade deve participar da
gestatildeo a elaboraccedilatildeo do PPP deve gerir o espaccedilo fiacutesico da escola para atividades
de interesse da comunidade ocupar espaccedilos para finalidades culturais esportivas
sociais tornando a escola um espaccedilo democraacutetico
- Garantir a presenccedila da comunidade e dos movimentos sociais que geram
processos que auxiliam a emancipaccedilatildeo social A escola deve tambeacutem ser espaccedilo
que auxilie a sustentabilidade e garanta a alimentaccedilatildeo saudaacutevel e recursos
fitoteraacutepicos em associaccedilatildeo com a comunidade
- Inclusatildeo tecnoloacutegica em todos os aspectos digital inovaccedilatildeo tecnoloacutegica
agropecuaacuteria recursos ambientais alternativos agua potaacutevel energia solar energia
eoacutelica fossa seacuteptica teacutecnicas de compostagem saneamento baacutesico cuidados com
os recursos hiacutedricos
A anaacutelise dos dados quando feita especificamente sobre a escola a ser
implantada pode aparentemente demonstrar uma pequena conexatildeo com as teorias
da escola do campo
42
A concepccedilatildeo da escola do campo natildeo pode ser imposta ela parte do princiacutepio
que os camponeses devem conquista-la Para essa conquista eacute necessaacuteria a
paixatildeo o desejo por algo ainda natildeo experimentado o amadurecimento poliacutetico-
social-pessoal a participaccedilatildeo coletiva na luta e na conquista
A trajetoacuteria de luta por educaccedilatildeo da comunidade Renascer apresenta estes
elementos agraves vezes difusos outras vezes mais claramente A escola bem que
poderia para alguns ser apenas uma escola rural Afinal aprender a ler e a
escrever ldquodireitordquo como alguns dizem ou seja deixar a condiccedilatildeo de analfabeto ou
analfabeto funcional para tornar-se letrado significaria avanccedilos em face das atuais
circunstacircncias Alguns entendem assim expressando-se principalmente nas
conversas informais
Apesar disso quando as respostas informais ou quando as respostas das
entrevistas satildeo analisadas mais profundamente identificamos que embora
difusamente todos desejam o programa educacional da escola do campo
Explicando melhor a participaccedilatildeo de todos da comunidade em todas as atividades
soacutecio-poliacuteticas-culturais (relatadas no terceiro capitulo) indicam que a comunidade
assimilou a postura soacutecio-politica-cultural que caracterizam a escola do campo
A vivecircncia do Assentamento Renascer no cotidiano e nos eventos coletivos
amadureceu o desejo pelo alimento intelectual cultural artiacutestico ambiental social
que a concepccedilatildeo de escola do campo introduz O programa educacional da Escola
do Campo ultrapassou as paredes fiacutesicas da escola e alcanccedilou o cotidiano dos
assentados
Os avanccedilos da conscientizaccedilatildeo e seu reflexo na vida do Assentamento Renascer
satildeo sentidos nos nuacutemeros de matriculados na LEdoC sete (7) alunos
aproximadamente dez (10) assentados prestaratildeo o proacuteximo vestibular trecircs (3)
assentados estatildeo matriculados no IFB dois(2) assentados estatildeo formados em
Teacutecnico Agropecuaacuterio tambeacutem pelo IFB um deles cursa o Tecnoacutelogo de
Agroecologia tambeacutem do IFB
Vale acrescentar que no iniacutecio de 2014 quando o IFB buscou no Assentamento
pessoas interessadas em matricular-se em seus cursos sob a condiccedilatildeo de
estudarem no ensino meacutedio o interesse foi grande e a impossibilidade pelo fato de
natildeo estarem habilitados no ensino fundamental provocou tanta discussatildeo que
estimulou essa pesquisa
43
O legado desses alunos futuros alunos e profissionais para o futuro do
Assentamento apresentaraacute resultados significativos para toda a comunidade O
futuro colheraacute bons frutos plantados agora
A escola que temos natildeo estaacute funcionando falta a renovaccedilatildeo do contrato o que
atrasa a alfabetizaccedilatildeo e conclusatildeo do 5ordm ano Falta a implantaccedilatildeo de poliacuteticas
puacuteblicas para atendimento de questotildees baacutesicas como por exemplo carteiras
quadro de giz iluminaccedilatildeo espaccedilo fiacutesico (dependecircncias para a escola) e mobiliaacuterio
-41-
44
Consideraccedilotildees Finais
A Educaccedilatildeo do campo eacute um movimento em que os trabalhadores do campo e
suas organizaccedilotildees lutam por transformaccedilotildees sociais particularmente a criaccedilatildeo de
escolas dono campo de qualidade a partir de uma perspectiva ampla de reforma
agraacuteria
A construccedilatildeo da educaccedilatildeo do campo eacute resultado do amadurecimento dos
movimentos sociais e das comunidades rurais em sua trajetoacuteria de luta pelo direito
fundamental agrave universalizaccedilatildeo escolar para as populaccedilotildees camponesas segundo
orientaccedilatildeo poliacutetico-pedagoacutegica adequada agrave realidade dos lutadores de
acampamentos e assentamentos em luta pela reforma agraacuteria e justiccedila social
Alguns princiacutepios caracterizam a luta pela escola do campo Dentre eles
podemos citar a criaccedilatildeo da consciecircncia do direito agrave educaccedilatildeo de qualidade plantada
na proacutepria comunidade o que provoca o enraizamento a valorizaccedilatildeo da vida no
campo a promoccedilatildeo da autoestima e a transformaccedilatildeo do ser alienado pela ideologia
e desigualdade social e sujeito de sua proacutepria histoacuteria
Outro princiacutepio eacute a adequaccedilatildeo de curriacuteculos agrave realidade camponesa de modo
a que o processo ensino-aprendizagem favoreccedila o amadurecimento de talentos
naturais o surgimento de oportunidades a niacutevel pessoal e social contribuindo para a
emancipaccedilatildeo poliacutetico-social do indiviacuteduo com reflexos na sociedade
A mudanccedila de paradigmas e o envolvimento social provocam a formaccedilatildeo integral
dos sujeitos que lutam de forma coletiva e solidaacuteria pela terra A escola do campo
que surge dessa mudanccedila eacute tambeacutem transformadora porque eacute fruto da luta
consciente que gera a reflexatildeo e o amadurecimento poliacutetico deixando um legado
positivo de cidadatildeos orgulhosos de sua condiccedilatildeo de lutador pela terra de sua
identidade de sua cultura de sua comunidade e coletividade
A escola do campo propicia aos alunos a reflexatildeo sobre o contexto social e a
problemaacutetica da comunidade em que estatildeo inseridos o respeito agrave individualidade a
ampliaccedilatildeo das potencialidades do aluno para organizar elaborar e atuar
coletivamente Deixam o legado futuro de homens responsaacuteveis mentes
independentes e atuantes que poderatildeo prestar serviccedilos significativos agrave sociedade
45
A comunidade assentada de o Assentamento Renascer pela Reforma
Agraacuteria em Sobradinho DF foi convidada a opinar sobre a escola que deseja a
partir da conquista da terra
O modelo proposto a partir de seu posicionamento possibilita a conclusatildeo
de que a escola do campo plantada na comunidade eacute preferiacutevel ao modelo
adotado atualmente de inserccedilatildeo dos alunos da comunidade agraves escolas urbanas
conter recursos materiais e humanos que propiciem bons resultados
pedagoacutegicos deve servir para fixar o trabalhador ao campo deve cumprir com o
propoacutesito constitucional de universalizaccedilatildeo do ensino para todas as faixas
etaacuterias deve estar identificada com os sonhos de prosperidade material e
realizaccedilatildeo pessoal dos assentados
-46-
46
Referecircncias Bibliograacuteficas
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________ citando CALAZ Maria Rita Duarte Oliveira
47
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________ Clarice Aparecida PROGRAMA NACIONAL DE EDUCACcedilAtildeO NA REFORMA AGRAacuteRIA BRASIacuteLIA 2012 pg 631 in DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO SANTOS Claudio Felix Dos ldquoO aprender a aprender na formaccedilatildeo de professores do campordquo Campinas 2013 Editora Autores Associados ) SOUZA Maria Antocircnia Movimentos Sociais no Brasil Contemporacircneo participaccedilatildeo e possibilidades no contexto das praacuteticas democraacuteticas ndash (wwwcesucptlab2004pdfMariaAntonia Souzapdfaceso em 24-07-2014 -48-
48
Apecircndices
1 Roteiro das Entrevistas
a) Dados dos entrevistados
Qual o seu nome
Masculino ( ) Feminino ( )
Quantos anos vocecirc tecircm
A quanto tempo mora no
assentamento
Onde vocecirc morou antes
de morar no
assentamento
Quantos anos vocecirc tinha
quando foi a escola pela
primeira vez
Estou ateacute qual seacuterieano
Quantos anos vocecirc tinha
quando parou de estudar
Qual motivo motivou vocecirc
a parar de estudar
Se tiver escola no
assentamento vocecirc voltaraacute
a estudar Porque
B) Outras informaccedilotildees dados pelos entrevistadosas (GRAVAR)
a) Em qual escola vocecirc estudou no acampamento ou em outro lugar Qual
b) Como era a escola que estudou Quais as coisas boas e coisas ruins que
tinha nesta escola
c) Conte como eacutefoi a educaccedilatildeo do assentamento o que jaacute existiu de escola
como funcionou e quais eram as boas e as coisas ruins desta escola
d) Jaacute participou de alguma accedilatildeo de mobilizaccedilatildeo para ter escola no
assentamento Se sim explique para que e como foi essa mobilizaccedilatildeo
e) Na sua opiniatildeo no assentamento deve ter escola Por quecirc
f) Como deveraacute ser a escola da comunidadeassentamento Como eacute a escola
que queremos ter
49
b) Entrevistas semi-estruturadas
Entrevistado 01
Moro no assentamento Renascer haacute 11 anos Nasci Carnauacuteba no Rio Grande do
Norte fui criado na roccedila e desde pequeno trabalhava na lavoura para ajudar meu
pai Fui para escola com 9 anos de idade estudei ateacute a 5ordm seacuterie parei de estudar
com 17 anos natildeo continuei os estudos porque era muito longe de onde eu morva
que era na cidade mais proacutexima eu tinha que andar a peacute 8 km ficava muito
cansado Casei e vim morar em Brasiacutelia para trabalhar em uma chaacutecara como
caseiro Morava na chaacutecara Buritis em sobradinho- Df tambeacutem natildeo dei para
continuar os estudos porque ficava longe e tinha que ser a noite e natildeo tinha como ir
Se vier uma escola pra caacute eu ainda vou estudar para ter mais conhecimento para
plantar minha roccedila ir no banco pra ver se assino um empreacutestimo para melhorar
minha produccedilatildeo e saber fazer conta pra administrar minha parcela de terra
Qual o seu nome
Masculino ( X ) Feminino ( )
Quantos anos vocecirc
tecircm
57 anos
A quanto tempo
mora no assentamento
11 anos
Onde vocecirc morou
antes de morar no
assentamento
Carnauacuteba ndash RN
Chaacutecara Buritis nordm 10 Sobradinho DF
Quantos anos vocecirc
tinha quando foi a escola
pela primeira vez
8 anos
Estou ateacute qual
seacuterieano
5ordf seacuterie
Quantos anos vocecirc
tinha quando parou de
estudar
24 anos
Qual motivo
motivou vocecirc a parar de
estudar
Trabalhar para sustento da famiacutelia a
distacircncia entre a casa e a escola
Se tiver escola no
assentamento vocecirc voltaraacute
a estudar Porque
Sim ldquoSe tivesse escola do ensino
fundamental voltaria a estudar para tecirc
mais conhecimento para plantar minha roccedila
50
saber pesar saber contar vendecirc os produto e
comecirc
Entrevistado 02
Moro no assentamento renascer haacute 7 anos tenho 38 vim do interior do Cearaacute
Entrei na escola com 7 anos de idade estudei soacute a 5ordm seacuterie incompleta natildeo
continuei a estudar porque natildeo tinha escola a onde eu morava que era na roccedila e eu
tinha que ficar na casa dozotro (SIC) na cidade e eu natildeo gostava disso natildeo ai parei
com 16 anos de idade Mudamo (SIC) pra Brasiacutelia pra uma chaacutecara perto de Santa
Maria-DF e natildeo dei pra estudar porque casei e tinha que trabalhar muito para
susrentar a famiacutelia A gora moro no assentamento Renascer e sei que um dia vai ter
uma escola aqui e eu vou voltar a estudar porque meu sonho eacute ser veterinaacuterio e vou
der se deus quiser
Entrevistado 03
Tenho 58 anos moro no assentamento Renascer haacute 6 anos vim de Ceres-GO
comecei a estudar quando eu tinha 10 ano de idade estudei ateacute a 4ordf seria primaacuteria
(SIC) parei de estudar quando tinha 16 anos porque eu morava na roccedila e escola
ateacute que natildeo ficava muito longe natildeo era soacute 2 km dava pra ir a peacute a professora eacute que
faltava muito e a gente natildeo tinha como saber se ela tava ou natildeoAiacute quando eu tinha
18 anos casei e vim morar em Brasiacutelia e arranjei(SIC) emprego de caseira em uma
chaacutecara aiacute natildeo pra estudar a noite porque era muito longe pra laacute entatildeo eu natildeo
pensei mais nessas coisas Quando tiver escola no assentamento quero estudar
quiecirc pra mim (SIC) fazer curso de teacutecnico agriacutecolarsquorsquo
Entrevistado 04
Tenho 24 anos moro no assentamento Renascer tem 6 ano vim da Bahia morava
no Condomiacutenio RK entrei na escola com 7 anos de idade e estudei soacute ateacute a 6ordf seacuterie
parei com 18 anos de idade
Porque mudei pra caacute pro assentamento (SIC) e natildeo tem escola e natildeo tem como ir
pra Sobradinho a noite porque eacute muito longe tem que andar 5 km eacute pirigogo (SIC)
tem muita gente mal por aiacute tem ateacute estrupador natildeo posso me arriscar
ldquoSe tivesse escola aqui eu ia terminar meus estudos podia ser no galpatildeo mesmo
pra mim tava bom mas para os meus filhos eu queria uma escola boa com internet
e tudo Eu natildeo gosto que meus filhos estuda(SIC) na cidade soacute aceito porque eacute o
jeito gente de assentamento eacute muito zombado (SIC) porque as vezes chega suja
na escola e os outros acha que eles satildeo porcos que toma banhordquo
Entrevistado 05
51
Tenho 21 anos de idade moro no Renascer haacute trecircs anos vim de satildeo Gabriel-GO
comecei a estudar aos 7 anos parei com 18 anos porque minha matildee mudou
pro(SIC) matildee mudou pro (SIC) assentamento haacute 6 anos e eu natildeo aguento morar
longe dela Quando cheguei aqui natildeo teve como continuar os estudos porque
trabalho durante o dia como manicure em Sobradinho e o uacuteltimo ocircnibus que passa
perto do assentamento eacute as 5 horas da tarde entatildeo natildeo daacute para estudar a noite
Sim porque quero fazer um curso de cabelereiro quando tiver aacutegua e luz aqui eu
quero montar um salatildeo de beleza e para ser uma empresaacuteria precisa ter estudos pra
administrar o negoacutecio
Entrevistado 06
44 anos
6 anos
Formosa-GO
8 anos
5ordf seacuterie
24 anos
Porque a escola mais perto(SIC) era 10km de distacircncia e eu trabalhava na roccedila e
ficava muito cansado aiacute parei natildeo deu mais
Sim quando tiver escola aqui eu vou voltar a estudar Eu tinha um sonho de ser
agroacutenomo mas esse sonho eacute impussive(SIC) entatildeo queria concluir o ensino
fundamental para fazer um curso de teacutecnico agriacutecola no IFB mas tambeacutem eacute longe
se tivesse como estudar aqui no assentamento eu ia(SIC) ficar muito feliz
Entrevistado 07
57 anos
6 anos
Parnaiacuteba-PI- Santa Maria- DF
7 anos
4ordf seacuterie
21 anos
Parei porque era muito difiacutecil ir para escola que ficava muito longe eu tinha que sair
de casa as 4hs da madrugada para chegar na escola as 730 ia montado num
cavalo e muitas vezes natildeo tinha professora pra dar aula Parei porque natildeo aguentei
o rojatildeo tinha que minha matildee na lida a tarde e eu ficava muito cansado Vim pra
52
Brasiacutelia e casei fui trabalhar de chacareiro numa chaacutecara que tambeacutem era longe de
escola depois vim morar aqui no assentamento que natildeo tem escola
Se tivesse escola aqui eu ia voltar estudar soacute pra aprender a cuidar meior (SIC) da
terra e dos meus bichos e que fosse como uma escola agriacutecola
Entrevistado 08
Tenho 29 anos moro no assentamento Renascer haacute 2 anos sou educadora do
Pronera haacute 1 ano e 2 meses O Pronera eacute como um antidepressivo na vida de muita
gente o Pronera melhorou a minha vida e a vida dos meus alunos o desejo de
todos eacute que o Pronera continue crescendo em direccedilatildeo de uma educaccedilatildeo continuada
levando tambeacutem o ensino fundamental para os acampamentos e assentamentos da
Reforma Agraacuteria
-50-
Anexos
53
Acampamento agrave beira da estrada ndash 2004
Construccedilatildeo da Sede do Movimento na atual aacuterea
54
Reuniatildeo semanal
Teatro de fantoches ndash brinquedoteca
55
Accedilatildeo da Pastoral da Crianccedila na brinquedoteca
Oficina de brinquedos reciclaacuteveis
56
Brinquedo confeccionado com materiais reciclaacuteveis na Brinquedoteca
57
58
59
60
Apresentaccedilatildeo teatral
61
Capacitaccedilatildeo em Economia Solidaacuteria
Formaccedilatildeo de multiplicadores da Economia Solidaacuteria
62
Capacitaccedilatildeo de Educadores Ambientais
63
Luta pela Reforma Agraacuteria e Soberania Alimentar
11
e Movimentos Sociais do campo para colocar em praacutetica uma educaccedilatildeo que seja
eficaz para a Comunidade Renascer
Acredito que cada comunidade possui uma realidade um contexto muito
proacuteprio particular diferenciada de outra comunidade qualquer Os anseios as
necessidades os fatores culturais econocircmicos entre outros fatores satildeo diferentes
de lugar para lugar
A pedagogia e os meacutetodos a serem realizados em cada local deveriam ser
colocados em praacutetica somente apoacutes a comunidade local ser mobilizada e participar
ativamente na elaboraccedilatildeo deste plano de trabalho pedagoacutegico contribuindo com
ideias e vivecircncias Desta maneira a educaccedilatildeo estaria a serviccedilo do bem coletivo e
natildeo privilegiaria alguns em prejuiacutezo da coletividade A educaccedilatildeo eacute uma importante
ferramenta para o desenvolvimento de uma economia solidaacuteria e socialmente justa
politicamente livre dos espoliadores que historicamente persistem em oprimir a
maioria dos povos privando-os de seus direitos
Na maioria das escolas existentes no campo que natildeo atendem a todos mas
a uma determinada parcela da populaccedilatildeo regional a pedagogia adotada eacute
planejada formulada empacotada e imposta aos camponeses por ldquopedagogo de
gabineterdquo que vivem nas grandes cidades e natildeo respeitam os valores e realidades
regionais e locais de cada comunidade
Eacute claro que existem exceccedilotildees de trabalhos pedagoacutegicos muito bons Eacute o caso
de quando ocorre uma interaccedilatildeo entre a comunidade local e os educadores que
estatildeo ali para contribuir por uma educaccedilatildeo construiacuteda a partir da participaccedilatildeo
popular e democraacutetica na criaccedilatildeo e produccedilatildeo do processo educativo
A pesquisa seraacute fundamentada pela investigaccedilatildeo teoacuterica sobre o tema de
implantaccedilatildeo de salas de aula de ensino fundamental para trabalhadores rurais
adultos em comunidades que lutam pela reforma agraacuteria Para entender-se o
problema eacute necessaacuterio apontar a fundamentaccedilatildeo teoacuterica
A fundamentaccedilatildeo de diversas correntes de opiniatildeo eacute importante para o nosso
proacuteprio esclarecimento e para a busca conjunta com os interessados sobre qual o
melhor modelo pedagoacutegico a ser implantado na sala de aula da comunidade
A fundamentaccedilatildeo teoacuterica como satildeo vaacuterias as teorias existentes seratildeo
expostas algumas como Territoacuterios Educativos na Educaccedilatildeo do Campordquo ldquopor uma
Educaccedilatildeo do Campordquo ldquoTeoria e Praacutetica Pedagoacutegica da educaccedilatildeo do Campordquo
12
rdquoPesquisa Social e accedilatildeo Pedagoacutegicardquo rdquoEtnografia e Praacutetica Escolarrdquo ldquoMetodologia
do tralho Cientiacuteficordquo e trabalhos monograacuteficos de ex-alunos do curso da LEdoC
A metodologia utilizada a pesquisa qualitativa com estudo de caso e estudo
bibliograacutefico
O estudo teve como instrumento de pesquisa a aplicaccedilatildeo de entrevista semi-
estruturada com pessoas da comunidade Renascer quando seraacute identificada sua
participaccedilatildeo e contribuiccedilatildeo para educaccedilatildeo na comunidade e sobre seu entendimento
sobre que tipo de escola do campo que a comunidade requerem relevantes para o
objetivo da pesquisa
O trabalho de campo foi para buscar informaccedilotildees atraveacutes da fala dos sujeitos
que foram ouvidos conforme citado anteriormente bem como de material que
poderaacute contribuir para o trabalho da pesquisa
A pesquisa bibliograacutefica abordou o aprofundamento teoacuterico sobre o tema
para anaacutelise da realidade da educaccedilatildeo do campo para melhor entender a situaccedilatildeo
em que o assentamento se encontra na luta pela escola
-11-
13
Segundo Capiacutetulo
Da escola rural agrave escola do campo histoacuterico das lutas e
concepccedilotildees da educaccedilatildeo
21 A Escola Rural no Brasil
Conforme Ferreira e Brandatildeo (2011) a trajetoacuteria da escola rural brasileira
deve ser contextualizada historicamente segundo o modelo socioeconocircmico
implantado no paiacutes desde o iniacutecio do processo colonizador ateacute o momento presente
Para os autores desde os primoacuterdios do processo de colonizaccedilatildeo o paiacutes foi
entendido apenas como uma colocircnia de exploraccedilatildeo devendo portanto remeter agrave
metroacutepole suas riquezas naturais do solo do subsolo dando segmento aos ciclos
econocircmicos denominados de colonial ciclo do pau brasil da cana de accediluacutecar do
ouro do cafeacute (FERREIRA amp BRANDAtildeO 2011 p3)
A base social do paiacutes eacute formada pelos nativos (iacutendios ndash expulsos
massacrados e exterminados) os africanos e os imigrantes pobres vindos da
Europa e do oriente Foi segundo os mesmos autores esta mesma base social que
formou a matildeo de obra imprescindiacutevel para a implantaccedilatildeo do projeto colonial e do
periacuteodo imperial
A aboliccedilatildeo da escravatura em 1888 e o consequente abandono da populaccedilatildeo
negra desprovida de qualquer indenizaccedilatildeo ou bens materiais particularmente terra
teve como consequecircncia o ecircxodo rural e o desprezo pela atividade agriacutecola
associada agrave escravatura
Em sua experiecircncia histoacuterica como repuacuteblica o tradicional modelo
socioeconocircmico adotado no Brasil perdurou
Ao longo da histoacuteria do Brasil o processo de exclusatildeo social e tambeacutem poliacutetico econocircmico e cultural sempre estiveram presentes e eram tidos como algo ldquonaturalrdquo Ainda nos dias atuais fazer uma referencia a este processo de exclusatildeo natildeo leva a um debate tranquilo a resistecircncia ainda eacute forte por parte da sociedade neoliberal principalmente por aqueles que ainda se beneficiam com
a exclusatildeo socialrdquo (FERREIRA 2011 pag 3)
Com relaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo o que se percebe eacute conforme Ferreira (2011)
14
que o modelo de educaccedilatildeo praticado no Brasil pelos diferentes governos entre o iniacutecio do Impeacuterio (1822) ateacute meados do seacuteculo XX era uma educaccedilatildeo para a elite econocircmica e intelectual em prejuiacutezo direto e indiscriminado dos pobres negros e iacutendios Inclusive a primeira Lei ainda no periacuteodo imperial quando se reporta agrave educaccedilatildeo natildeo se ateve agraves especificidades diretas da zona rural onde a populaccedilatildeo brasileira viviardquo (FERREIRA 2011 p4)
Clauacutedio Santos (2013) afirma que a educaccedilatildeo destinada aos habitantes do
campo no inicio do seacuteculo XX entendia que ldquoa formaccedilatildeo das jovens geraccedilotildees ou dos
adultos no espaccedilo rural era tida como algo menor ou desnecessaacuteriordquo (p 47) Para o
autor a maioria de residentes no campo ( 75) natildeo foi pensado um modelo
educacional que contemplasse as necessidades dos residentes no campo o que a
histoacuteria do Brasil nos ensina eacute que o regime republicano manteve os grandes
latifuacutendios e a oligarquia rural alijando a maior parcela da populaccedilatildeo rural de
qualquer benefiacutecio do sistema poliacutetico-econocircmico
A organizaccedilatildeo escolar rural no Brasil embora tiacutemida pode ser localizada a
partir do primeiro governo republicano o do marechal Deodoro da Fonseca (1889-
1891) estando a cargo do Ministeacuterio da Agricultura Comeacutercio e Induacutestria O ecircxodo
da populaccedilatildeo rural para os incipientes centros urbanos em busca dos empregos
promovidos pela igualmente incipiente industrializaccedilatildeo evidenciava as mazelas dos
sujeitos do campo 75 da populaccedilatildeo brasileira era analfabeta igual nuacutemero da
populaccedilatildeo do campo
Somente a partir de 1920 tem-se efetivamente o primeiro movimento em
defesa da educaccedilatildeo da populaccedilatildeo rural conhecido como Ruralismo Pedagoacutegico
(SANTOS 2013) que foi um movimento dos educadores poliacuteticos e intelectuais
elaborando formas de accedilatildeo pedagoacutegicas adequados agrave dominacircncia poliacutetico-
econocircmica da oligarquia rural
Para o autor o ruralismo pedagoacutegico
defendia uma escola integrada agraves condiccedilotildees locais para promover a fixaccedilatildeo do homem do campo estava ligado agrave modernizaccedilatildeo do campo brasileiro e contava com o apoio dos latifundiaacuterios temerosos de perder sua matildeo de obra bem como de uma elite urbana preocupada com os resultados negativos de uma migraccedilatildeo
camponesa para a cidade (SANTOS2013p48)
15
Uma caracteriacutestica do ruralismo pedagoacutegico foi buscar adequar a educaccedilatildeo
rural para fixar o homem no campo para diminuir o processo de urbanizaccedilatildeo e
consequente ecircxodo rural que modificava a estrutura econocircmico e social do paiacutes
Relativo agrave educaccedilatildeo rural da primeira metade do seacuteculo XX nos ensina
Santos (2013 p48) que ldquoem 1933 inicia-se a campanha de alfabetizaccedilatildeo na zona
rural Em 1935 ocorre o I Congresso Nacional do Ensino Regional que contribui
para a fundaccedilatildeo da Sociedade Brasileira de Educaccedilatildeo Rural no ano de 1937rdquo
Nos anos de 1920 foi criado o movimento conhecido como Escola Nova por
intelectuais e pensadores brasileiros que valorizaram a pesquisa educacional e a
inserccedilatildeo da escola como uacutenico meio de se combater as desigualdades sociais num
ambiente de crescente industrializaccedilatildeo e urbanizaccedilatildeo (SANTOS 2013) Estes
educadores como Aniacutesio Teixeira Fernando de Azevedo Lourenccedilo Filho dentre
outros defenderam atraveacutes do Manifesto da Escola Nova (1932) a universalizaccedilatildeo
da escola puacuteblica laica e gratuita
A influecircncia deste movimento sobre a educaccedilatildeo brasileira fez-se sentir nas geraccedilotildees futuras de educadores e pesquisadores como Darcy Ribeiro e Florestan Fernandes A atuaccedilatildeo desses pioneiros se estendeu por deacutecadas muitas vezes criticada pelos defensores da escola particular e religiosa (FERRARI 2014p43)
Poreacutem as propostas do Manifesto natildeo tiveram impactos concretos e natildeo
foram incorporados pela escola Ferraro (2012) esclarece que
A educaccedilatildeo rural no Brasil soacute se tornou objeto de interesse do Estado no momento em que todas as atenccedilotildees e esperanccedilas se voltavam para o urbano e a ecircnfase passava a recair sobre o desenvolvimento industrial Quando os interesses do latifuacutendio dominavam tanto a economia como a poliacutetica a alfabetizaccedilatildeo das massas camponesas era vista como seacuteria ameaccedila agrave ordem vigente Quando o paiacutes jaacute avanccedila no processo de industrializaccedilatildeo e se torna predominantemente urbano eacute a proacutepria cidade que passa a reivindicar a alfabetizaccedilatildeo das populaccedilotildees do campo Passa entatildeo a contrariar os interesses da cidade continua (FERRARO 2012p964)
16
A industrializaccedilatildeo ocorreu nas cidades e atraiu grandes levas de
trabalhadores do campo seduzidos pelo ideal de transformaccedilatildeo de vida acesso agrave
escolarizaccedilatildeo empregos bem remunerados ideais que levam ao ecircxodo rural hoje
ou naquele momento histoacuterico A realidade do trabalhador do campo receacutem
chegado agrave cidade era do ponto de vista educacional precariacutessima pois em sua
maioria eram analfabetos ou com baixa escolarizaccedilatildeo Essa condiccedilatildeo impedia o
acesso ao emprego industrial urbano e agrave boa qualidade de vida que uma boa
remuneraccedilatildeo podia proporcionar
As cidades sofreram crescimento raacutepido desgovernado formando periferias
que abrigavam a maioria da populaccedilatildeo egressa do campo O subemprego e o
desemprego desestabilizavam as populaccedilotildees das cidades e geravam desequiliacutebrios
sociais e econocircmicos comprometendo a qualidade de vida de todos os moradores
Eacute o ciacuterculo vicioso da desigualdade da exclusatildeo e da violecircncia que a educaccedilatildeo
pode romper A educaccedilatildeo tem entatildeo o propoacutesito de formar trabalhadores para a
induacutestria urbana
Na Constituiccedilatildeo de 1934 para com a educaccedilatildeo rural destaca-se o Art 156 conforme podemos ver abaixo
A Uniatildeo e os Municiacutepios aplicaratildeo nunca menos de dez por cento e os Estados e o Distrito Federal nunca menos de vinte por cento da renda resultante dos impostos na manutenccedilatildeo e no desenvolvimento dos sistemas educativos Paraacutegrafo uacutenico ndash Para a realizaccedilatildeo do ensino nas zonas rurais a Uniatildeo reservaraacute no miacutenimo vinte por cento das cotas destinadas agrave educaccedilatildeo no respectivo orccedilamento anual
Na constituiccedilatildeo Federal de 1937 a educaccedilatildeo rural natildeo eacute citada A prioridade eacute
a educaccedilatildeo dos moradores urbanos Neste periacuteodo conforme Ferreira (2011) ldquoa
orientaccedilatildeo poliacutetico educacional para o mundo capitalista fica bem expliacutecita
sugerindo a preparaccedilatildeo de um maior contingente de matildeo de obra para as novas
atividades abertas pelo mercado ndash a industrializaccedilatildeordquo ( pg 32)
Ainda segundo o autor este afirma que em 1935 ocorreu o I Congresso
Nacional do Ensino Regional que assume como objetivo propagar a educaccedilatildeo rural
e elaborar os planos de educaccedilatildeo Esses planos recomendavam escolas rurais
ambulantes nas regiotildees de menor densidade geograacutefica
17
O periacuteodo conhecido como Estado Novo (1937-1945) tentava implantar uma
poliacutetica educacional de cunho nacionalista tornando a educaccedilatildeo um instrumento do
estado servindo aos seus interesses
Os adultos analfabetos particularmente no meio rural tiveram atenccedilatildeo da
Campanha Nacional de Educaccedilatildeo Rural (CNER) de 1952 a 1963 cujo objetivo era
contribuir para a inserccedilatildeo do homem do campo O CNER atuou atraveacutes de missotildees
internacionais dos Estados Unidos voltadas agrave educaccedilatildeo ao treinamento de
professores e agrave preparaccedilatildeo dos jovens do meio rural pelo ensino profissional
agriacutecola Agrave atividade do CNER podemos agregar a accedilatildeo da Comissatildeo Brasileiro-
Americana de Educaccedilatildeo das Populaccedilotildees Rurais (CBAR) que celebrou acordos entre
esses dois paiacuteses visando a educaccedilatildeo rural orientada para o emprego de teacutecnicas
agriacutecolas (OLIVEIRA 1999 p 133)
A educaccedilatildeo rural eacute chamada para se ajustar agraves poliacuteticas educacionais estabelecidas pelo projeto do estado A educaccedilatildeo rural em primeiro lugar apesar de numerosos programas desenvolvidos sempre representou uma fatia muito pequena e marginal nas preocupaccedilotildees do setor puacuteblico (OLIVEIRA p apud CALAZANS1981p162)
A educaccedilatildeo rural ocupou e ainda ocupa pequeno espaccedilo no universo
educacional brasileiro As escolas apresentam dificuldades para se manterem no
campo Conforme o Jornal Sem Terra nordm 46 jun2011 24000 escolas do campo
foram fechadas no Brasil As instalaccedilotildees o curriacuteculo a carecircncia de professores o
transporte escolar formam muitas vezes uma barreira quase imponiacutevel para uma
ampla gama de alunos particularmente das uacuteltimas seacuteries do ensino fundamental e
do ensino meacutedio
Os programas implantados nos uacuteltimos anos como o PRONERA e o EJA
apresentam soluccedilotildees e alcanccedilam grandes resultados mas podemos questionar os
resultados entre os estados O Rio Grande do Sul (que atendeu alunos do ensino
baacutesico ateacute o ensino superior) em comparaccedilatildeo com outros estados e o Distrito
Federal conseguiu excelentes resultados No DF falta alcanccedilar melhores
resultados Podemos questionar se os resultados satildeo adequados pois por exemplo
no assentamento Renascer o Pronera natildeo vai aleacutem do quinto ano Eacute necessaacuterio
uma poliacutetica educacional que leve em conta a realidade dos alunos do campo
18
invista recursos materiais e humanos modernizem as escolas e propiciem o acesso
dos alunos
Conforme nos explica Sousa 2004 em seu artigo lsquodiscursos intolerantes o
lugar da politica na educaccedilatildeo rural e a representaccedilatildeo do camponecircs analfabeto
No Brasil a trajetoacuteria da educaccedilatildeo rural inclui-se na dinacircmica de modernizaccedilatildeo do campo assumindo um papel decisivo no processo de expropriaccedilatildeo proletarizaccedilatildeo e controle dos trabalhadores rurais A modernizaccedilatildeo da produccedilatildeo no nordeste brasileiro por exemplo incentivou o processo de sindicalizaccedilatildeo em massa dos trabalhadores das zonas canavieiras estimulou reivindicaccedilotildees no campo do trabalho ligadas agrave aplicaccedilatildeo do Estatuto do Trabalhador Rural e contraditoriamente fez emergir as manifestaccedilotildees pela distribuiccedilatildeo de terras encampadas pelas Ligas Camponesas ( SOUSA2004 p4)
O projeto de modernizaccedilatildeo do campo ocorreu sem que houvesse a
emancipaccedilatildeo dos trabalhadores rurais Na verdade ocorreu a proletarizaccedilatildeo dos
trabalhadores rurais pela acumulaccedilatildeo de terras em matildeos de apenas poucos
proprietaacuterios (latifundiaacuterios) Esse acontecimento revela que apenas em processo
consciente e contiacutenuo de lutas organizados e unidos os trabalhadores rurais
poderatildeo conquistar terras e meios para sua produccedilatildeo
O estudo da organizaccedilatildeo dos trabalhadores rurais eacute importante porque eacute a
partir dela que outras grandes reivindicaccedilotildees satildeo conquistadas No caso da
presente pesquisa pode-se observar que foi a organizaccedilatildeo dos trabalhadores em
torno de suas causas a reforma agraacuteria que levou agrave luta pelas outras reivindicaccedilotildees
como a educaccedilatildeo no campo
O proacuteximo capiacutetulo deste trabalho monograacutefico aborda a questatildeo das
manifestaccedilotildees e resistecircncias dos camponeses pela educaccedilatildeo e pela reforma
agraacuteria
-16-
22 Trajetoacuteria de luta pela Educaccedilatildeo do Campo
A luta pela educaccedilatildeo do campo esteve sempre associada agrave luta pela reforma
agraacuteria e pela conquista de direitos para os trabalhadores rurais O Movimento das
19
Ligas Camponesas lutou pela emancipaccedilatildeo do trabalhador rural e da reforma agraacuteria
e em seu projeto educacional estavam baseados nos ideais de Paulo Freire e do
Movimento de Educaccedilatildeo de Base (MEB)
Para explicar a reaccedilatildeo das classes populares agraves imposiccedilotildees do governo
brasileiro e das classes dominantes Oliveira (1995 apud ARROYO)
A histoacuteria das lutas entre as classes sociais natildeo se limitam agrave luta pelo poder mas se constituem impulsionadoras da histoacuteria da humanidade que natildeo aguardam passivamente seu destino mas ao contraacuterio articulam-se em torno de suas lutas para garantir seus direitos sua dignidade e sua participaccedilatildeo democraacutetica na sociedade( OLIVEIRA apud ARROYO1995p 80)
Neste sentido as Ligas Camponesas lutaram praticamente em todo o
territoacuterio nacional contra a tentativa de expulsatildeo dos trabalhadores rurais das terras
Os conflitos armados particularmente no Nordeste exigiam participaccedilatildeo poliacutetica e
direitos essenciais como a educaccedilatildeo do campo
O meacutetodo de alfabetizaccedilatildeo criado por Paulo Freire foi amplamente utilizado
pelas Ligas Camponesas e em sua concepccedilatildeo ampla de escola serviu de subsidio
para a compreensatildeo do camponecircs acerca de seu papel social (TOLEDO Caio
Navarro 2004 p6)
Neste contexto surge a Pedagogia do Oprimido de Paulo Freire Segundo
SANTOS (2013 apud Paulo Freire 1987) afirma que a pedagogia do oprimido
configura-se como
Aquela que tem de ser forjada com ele (o oprimido) e natildeo para ele enquanto homens ou povos na luta incessante de recuperaccedilatildeo de sua humanidade Pedagogia que faccedila da opressatildeo e de suas causas objeto de reflexatildeo dos oprimidos de que resultaraacute o seu engajamento necessaacuterio na luta por sua libertaccedilatildeo em que esta pedagogia se faraacute e refaraacuterdquo (FREIRE 1987 p32)
A pedagogia do oprimido serve de referecircncia para o trabalhador rural que luta
pela emancipaccedilatildeo de sua condiccedilatildeo de proletaacuterio atraveacutes da reforma agraacuteria A
pedagogia do oprimido leva o homem ao encontro de si mesmo ao reconhecimento
da grandeza de seu trabalho ao potencial de suas accedilotildees cotidianas que fazem a
diferenccedila A capacidade de reflexatildeo e o entendimento de sua potencialidade pode
leva-lo agrave sua plena realizaccedilatildeo como indiviacuteduo e como ser social
20
A reaccedilatildeo do governo contra o movimento de educaccedilatildeo popular proposto por
Freire e assumido pelo Movimento das Ligas Camponesas e pelo Movimento de
Educaccedilatildeo de Base (MEB) gerou repressatildeo e resposta da ditadura civil-militar como
o Movimento Brasileiro de Alfabetizaccedilatildeo (MOBRAL)
A luta dos movimentos sociais e sindicais pela educaccedilatildeo do campo parte das
forccedilas internas dos movimentos e alcanccedila a setores sociais religiosos ideoloacutegicos
que passam a contribuir efetivamente para o alcance do direito agrave educaccedilatildeo aos
camponeses
A Comissatildeo Pastoral da Terra (CPT) presente ao lado dos trabalhadores (as)
rurais indiacutegenas ribeirinhos pescadores e quilombolas tambeacutem contribuiu e
contribui para a formaccedilatildeo criacutetica a defesa de formas sustentaacuteveis de utilizaccedilatildeo de
recursos naturais e produccedilatildeo e para a alfabetizaccedilatildeo segundo o meacutetodo de Paulo
Freire (CANUTO 2012 p 131)
Na atualidade estaacute em desenvolvimento um movimento que luta pela educaccedilatildeo do homem do campo organizado por vaacuterias entidades dentre elas o MST Trata-se de um processo que teve inicio em meados dos anos de 1990 impulsionados pela necessidade da educaccedilatildeo de jovens e adultos das aacutereas de assentamentos rurais Foi organizado um Programa Nacional para Educaccedilatildeo na Reforma Agraacuteria composto por atores tais como movimentos sociais universidades e governo federal aleacutem de outros parceiros (Alas da Igreja Sindicatos Organizaccedilatildeo Natildeo-Governamental ONG) existentes nas diferentes regiotildees do Brasil( SOUSA2004 p 32)
A trajetoacuteria de conquista das escolas do campo particularmente as escolas
do campo criadas pelo MST a partir da deacutecada de 1990 foi marcada pela conquista
e implantaccedilatildeo da Educaccedilatildeo Fundamental para crianccedilas e adolescentes dos
acampamentosassentamentos de acordo com o projeto politico-pedagoacutegico fruto do
amadurecimento do movimento
Focou-se a alfabetizaccedilatildeo de jovens e adultos e as lutas pela implantaccedilatildeo do
ensino meacutedio com cursos alternativos para a formaccedilatildeo de professores e teacutecnicos de
niacutevel meacutedio e tambeacutem de cursos superiores
A concepccedilatildeo de escolas de ensino fundamental plantadas em assentamentos
prevecirc a instalaccedilatildeo da escola na proacutepria comunidade evitando com isso o uso de
transporte escolar e a frequecircncia dos alunos Sem Terra em escolas fora do
assentamento
21
Esta atitude de resistecircncia foi fundamental para a conquista da escola nas
terras conquistadas e tambeacutem foi fundamental para universalizar o ensino enraizar
o aluno em sua comunidade e criar a consciecircncia do direito agrave educaccedilatildeo
ldquoincomodandordquo o Estado para garantir o cumprimento das poliacuteticas puacuteblicas
Kolling Vargas e Caldart (2012p502) nos ensinam ldquotoda vez que se
conquista uma escola de educaccedilatildeo baacutesica em um assentamento ou acampamento
ela representa menos adolescentes e jovens do campo fora da escola e mais gente
enraizada em seu proacuteprio lugarrdquo (pag 502)
Os movimentos sociais e sindicais pela educaccedilatildeo do campo indicam o grau
de maturidade desses em sua luta pela reforma agraacuteria Agrave essa luta soma-se o
projeto de desenvolvimento do paiacutes baseado na justiccedila social e o combate agraves
tradicionais formas utilizadas pelas elites urbanas ou rurais de alienaccedilatildeo pela
expropriaccedilatildeo do trabalho e pelo controle dos meios que levam agrave emancipaccedilatildeo
sociocultural e agrave verdadeira humanizaccedilatildeo papel destinado agrave educaccedilatildeo
Neste sentido movimentos sociais como o MST inserem a educaccedilatildeo
baseada em princiacutepios pedagoacutegicos que se distinguem da escola tradicional
Numa perspectiva histoacuterica os movimentos sociais do campo como por
exemplo o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) tiveram inicialmente
como bandeira de luta a luta pela terra pela Reforma Agraacuteria natildeo fazendo uma
relaccedilatildeo entre essa luta e a educaccedilatildeo
A formaccedilatildeo de escolas do campo pelo MST natildeo foi resultado da consciecircncia e
importacircncia da escola para a promoccedilatildeo da educaccedilatildeo em seu meio Foi na verdade
a necessidade de oferecer aos filhos dos primeiros lutadores a oportunidade de
uma perspectiva melhor de futuro atraveacutes do direito agrave educaccedilatildeo Foi tambeacutem a
necessidade de ldquotransformar instituiccedilotildees histoacutericas como a escola em lugares que
ajudem a formar os sujeitos destas transformaccedilotildeesrdquo (CALDART2012 p94)
Desse modo houve primeiro a ldquoocupaccedilatildeo da escolardquo pela mobilizaccedilatildeo e pela
accedilatildeo para garantir que em acampamentos ou assentamentos conquistados
houvesse uma escola que ldquofizesse a diferenccedila ou tivesse realmente sentido em sua
vida presente e futura (preocupaccedilatildeo com os filhos)rdquo (CALDART2012 p91)
Num segundo momento da luta observa-se intencionalidade da luta pela
escola mas com proposta pedagoacutegica especiacutefica ldquocombinando processos de
22
escolarizaccedilatildeo e de formaccedilatildeo da militacircncia e da base social Sem Terrardquo
(CALDART2012 p92)
As experiecircncias de pensar escolas como polos regionais entre assentamentos e com estudantes de outras comunidades de camponeses aos poucos vatildeo educando o olhar dos trabalhadores Sem Terra para uma realidade mais ampla Foi assim que o MST chegou agrave EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO (KOLLING Vargas e Caldart 2012 p 502)
A escola dentro dessa perspectiva de mudanccedila e envolvimento social eacute
parte da luta pela reforma agraacuteria daacute significado a ela pois proporciona a formaccedilatildeo
integral dos sujeitos que lutam pela terra
Essa escola possibilita a reflexatildeo trava o diaacutelogo com as propostas de
educaccedilatildeo popular de Paulo Freire e busca superar as dificuldades imensas que
assentados e acampados vivem no dia a dia
A escola tambeacutem revela a cultura o orgulho e criaccedilatildeo da identidade na luta
por terra Nesse sentido
A heranccedila que o MST deixaraacute para seus descendentes seraacute bem mais do que a terra que conseguir libertar do latifuacutendio seraacute um jeito de ser humano e de tomar posiccedilatildeo diante das questotildees de seu tempo seratildeo os valores que fortalecem e datildeo identidade aos lutadores do povo de todos os tempos de todos os lugares Eacute enquanto produto humano de uma obra educativa que os Sem Terra podem ser vistos como mais um elo que se forma em uma longa tradiccedilatildeo de lutadores sociais que fazem a histoacuteria da humanidade Enraizamento no passado e projeto de futuro (CALDART 2012 p 96)
A educaccedilatildeo proposta pelo movimento gera o sentimento de pertencimento e
desperta o sentimento de respeito agrave coletividade valoriza o trabalho a gestatildeo
democraacutetica e desburocratizada da escola
SANTOS (2013 p71) esclarece que pelo projeto educacional do MST a
educaccedilatildeo proposta estaacute pautada em ldquovalores socialistas e humanistas tais como o
coletivismo o trabalho socialmente uacutetil a organizaccedilatildeo e auto-organizaccedilatildeo dos
estudantes e professoresrdquo (p71)
-21-
23
221 Concepccedilatildeo Pedagoacutegica da Educaccedilatildeo do Campo
No acircmbito da educaccedilatildeo do homem do campo tornar o homem sujeito e natildeo
objeto do saber leva a entender que o conhecimento do camponecircs pode dialogar
com as praacuteticas baseadas no conhecimento cientiacutefico desde que seja perseguido o
ideal de trabalhadores e educadores do campo comprometidos com as lutas sociais
de formar o homem ldquodordquo campo e ldquono campordquo
Conforme Kolling Cerioli e Caldart (2002 p 264) ldquoo povo tem direito a uma
educaccedilatildeo pensada desde o seu lugar e com sua participaccedilatildeo vinculada agrave sua
cultura e agraves suas necessidades humanas e sociaisrdquo ndash(Caldart Educaccedilatildeo do Campo
2012 p 264
Tal compreensatildeo se ainda hoje causa oposiccedilatildeo ateacute mesmo no ambiente
acadecircmico imagine-se naquele momento histoacuterico de profunda repressatildeo poliacutetica e
ideoloacutegica aos movimentos sociais de camponeses por terra e educaccedilatildeo Como nos
ensina Molina e Saacute (DICIONAacuteRIO da Educaccedilatildeo do Campo p 324)
A concepccedilatildeo de escola do campo nasce e se desenvolve no bojo do movimento da EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO a partir das experiecircncias de formaccedilatildeo humana desenvolvidas no contexto de luta dos movimentos sociais camponeses por terra e educaccedilatildeo Trata-se portanto de uma concepccedilatildeo que emerge das contradiccedilotildees da luta social e das praacuteticas de educaccedilatildeo dos trabalhadores do e no campo (MOLINA e SAacute 2012 pag 324)
A concepccedilatildeo pedagoacutegica da educaccedilatildeo popular e da pedagogia da praacutetica
segundo ARROYO inclui
um caraacuteter de envolvimento totalizante dos movimentos sociais que possibilita ao individuo que participa destes coletivos o acesso a outro tipo de formaccedilatildeo que supera a condiccedilatildeo de aluno de alfabetizando de escolarizando Os integrantes destes organismos emersos na tensa situaccedilatildeo de conflitos aprendem por meio da vivencia das lutas sociais dos momentos de mobilizaccedilatildeo das situaccedilotildees limites de perda de emprego de criacuteticas da sociedade agraves suas accedilotildees de ameaccedilas agraves suas vidas Tudo isso traz ricas liccedilotildees ensinadas na ldquoescola do movimentordquo e que nenhuma teoria pode transmitir ou explicar de forma satisfatoacuteria
No entendimento de Arroyo (2013) os movimentos sociais vivem e
amadurecem sob o conhecimento e o entendimento das contradiccedilotildees sociais e esta
24
experiecircncia lhes permite a possibilidade de defender mudanccedilas radicais tanto no
campo como na cidade tanto na ideologia quanto no combate ao latifuacutendio e ao
capitalismo
Tamanho movimento social gera a reflexatildeo sobre as relaccedilotildees
socioeconocircmicas politicas culturais cuidado da natureza relaccedilotildees humanas
destaques de tudo o que interessa ao coletivo agrave sociedade
Eacute por meio do entendimento de que a realidade eacute criaccedilatildeo humana de como se estabelecem os processos de opressatildeo e ainda da noccedilatildeo de que podemos transformar essa realidade dado que a sociedade eacute mutaacutevel que se forma a praacutexis da luta accedilatildeo-conscientizaccedilatildeo-transformaccedilatildeo-libertaccedilatildeo Inserindo-se criticamente na histoacuteria os cidadatildeos tornam-se sujeitos construtores e reconstrutores da realidaderdquo
Molina e Saacute (2012) nos ensinam a partir do conceito de escola do campo sobre a
potencialidade da vivencia de praacuteticas coletivas para a valorizaccedilatildeo integral dos
sujeitos da coletividade do conhecimento cientiacutefico da gestatildeo coletiva da escola
dentre tantos avanccedilos e vitoacuterias dos movimentos sociais
O processo ensino-aprendizagem permite que o conceito de escola extrapole
o cotidiano de dificuldades e desafia agrave reflexatildeo que gera a emancipaccedilatildeo
Este eacute um dos maiores desafios e ao mesmo tempo uma das maiores possibilidades da escola do campo articular os conhecimentos que os educandos tecircm o direito de acessar a partir do trabalho com a realidade da religaccedilatildeo entre educaccedilatildeo cultura e os conhecimentos cientiacuteficos a serem apreendidos em cada ciclo de vida e de diferentes aacutereas do conhecimento(MOLINA MOURAtildeO 2012 p 329) -26-
222 Princiacutepios da Educaccedilatildeo do Campo
Alguns princiacutepios viabilizam o projeto de escola adotado pelos movimentos
sociais e possibilitam a democracia e a integraccedilatildeo de todos lideranccedila assentados e
acampados do movimento
25
O princiacutepio da responsabilidade coletiva sobre o planejamento a gestatildeo a
organizaccedilatildeo e a realizaccedilatildeo de tarefas em todas as esferas de atividades princiacutepios
muito valorizados pelos movimentos sociais do campo foram transferidos para o
projeto de educaccedilatildeo
O projeto eacute de responsabilidade coletiva e insere educadores tanto a niacutevel
local como regional e nacional os ldquoColetivos de educaccedilatildeordquo como satildeo conhecidos
Os coletivos de educaccedilatildeo com tarefas forccedila orgacircnica e discussotildees especiacuteficas que podem variar a cada periacuteodo fortalecem o princiacutepio organizativo de que a questatildeo da educaccedilatildeo bem como outras questotildees da vida social assumidas pelo MST deve ser pensada e implantada de forma coletiva Eacute uma loacutegica que implica tarefas a serem realizadas pelas pessoas mas mediante um planejamento e uma leitura de conjuntura feita por um coletivo (KOLLING1995 et al p503)
Para concretizar o projeto de educaccedilatildeo foi concebida a formaccedilatildeo de
professores pelos proacuteprios movimentos no acircmbito da proacutepria comunidade
(conhecidos como ldquoprofessores leigosrdquo) e tambeacutem pela rede oficial de ensino
A falta de titulaccedilatildeo de muitos educadores formados na comunidade natildeo
impede que os mesmos trabalhem juntos com os professores titulados e com
simpatizantes do movimento no projeto poliacutetico-pedagoacutegico constituindo um
princiacutepio democraacutetico importante para superar as dificuldades e urgecircncias para a
implantaccedilatildeo da educaccedilatildeo do campo
A democracia do processo de formaccedilatildeo de educadores tem reflexos amplos
a formaccedilatildeo de educadores pelos proacuteprios movimentos especiacutefica para atuaccedilatildeo nas
escolas do campo
O movimento eacute responsaacutevel pela universalizaccedilatildeo do ensino no acircmbito dos
territoacuterios conquistados ou por conquistar e permitiu a evoluccedilatildeo do ensino ateacute o niacutevel
de terceiro grau com a realizaccedilatildeo de cursos como a Licenciatura em Educaccedilatildeo do
Campo (LEdoC) do qual somos os privilegiados alunos aqui na Universidade de
Brasiacutelia
Outro reconhecimento e prova de eficiecircncia da formaccedilatildeo de professores eacute o
precircmio ldquoEducaccedilatildeo e Participaccedilatildeordquo recebido em 1995 do Fundo das Naccedilotildees Unidas
para a Infacircncia (Unicef)
26
O somatoacuterio das forccedilas internas e externas do movimento ldquoleigasrdquo ou
tituladas associadas ao princiacutepio fundamental da participaccedilatildeo dos alunos e
comunidades em todos os niacuteveis e localidades eacute ponto fundamental para o sucesso
da concepccedilatildeo do projeto pois permite o estudo a reflexatildeo conjunta sobre
estrateacutegias para o alcance do objetivo de educaccedilatildeo na reforma agraacuteria
-25-
223 Marcos Normativos da Educaccedilatildeo do Campo
Numerosos Marcos Normativos podem ser citados para explicitar qual perfil
de escola destinada ao camponecircs interessava ao governo e aos proprietaacuterios rurais
A Lei 4024 de 1961 em seu art 105 estabelece o
Apoio que poderaacute ser prestado pelo poder puacuteblico agraves iniciativas que mantenham na zona rural instituiccedilotildees educativas orientadas para adaptar o homem ao meio e estimular vocaccedilotildees e atividades profissionais (BRASIL 2012 p 4)
A Lei 5692 de 1971 ao tratar da educaccedilatildeo rural ldquonatildeo observa mais uma vez
a inclusatildeo da populaccedilatildeo na condiccedilatildeo de protagonista de um projeto social globalrdquo
sendo que o trabalho do campo realizado por alunos eacute ateacute mesmo incentivado
adequando-o ao calendaacuterio escolar (MARCOS NORMATIVOSBrasiacutelia2012 p 25)
A Lei 9394 de 1996 (Lei das Diretrizes se Bases da Educaccedilatildeo ndash LDB) em
acordo com Constituiccedilatildeo de 1988 e ldquoinspirada de alguma forma numa concepccedilatildeo
de mundo rural enquanto espaccedilo especifico diferenciado e ao mesmo tempo
integrado no conjunto da sociedaderdquo reconhece
A diversidade soacutecio-cultural e o direito agrave igualdade e agrave diferenccedila possibilitando a definiccedilatildeo de diretrizes operacionais para educaccedilatildeo rural sem no entanto recorrer a uma logica exclusiva e de ruptura com um projeto global de educaccedilatildeo para o paiacutes (idem p 26)
27
Os artigos 208 e 210 da Carta Magna-1988 e inspirada de numa concepccedilatildeo
de mundo rural enquanto espaccedilo especiacutefico diferenciado e ao mesmo tempo
integrado no conjunto da sociedade a Lei 939496- LDB-estabelece que
Art 28 Na oferta da educaccedilatildeo baacutesica para a populaccedilatildeo rural os sistemas de ensino promoveratildeo as adapta necessaacuteria agrave sua adequaccedilatildeo agraves peculiaridades da vida rural e de cada regiatildeo especialmente (MARCOS NORMATIVOS) Brasiacutelia 2012 p 25)
1- Conteuacutedos organizar curriculares e metodologias apropriadas agraves reais
necessidades e interesses dos alunos da zona rural
2-organizaccedilatildeo escolar proacutepria incluindo a adequaccedilatildeo do calendaacuterio escolar as
fases do ciclo agriacutecola e as condiccedilotildees climaacuteticas
3-adequaccedilatildeo agrave natureza do trabalho na zona rural (MARCOS NORMATIVOS)
Brasiacutelia 2012( p 26)
O movimento de educaccedilatildeo do campo luta haacute quinze (15) anos para fazer-se
cumprir esse Decreto da Lei de Diretrizes de base da educaccedilatildeo do campo-LDB
que apesar de ser constitucional ainda natildeo foi colocada totalmente em praacutetica
Agora com as lutas dos movimentos sociais eacute que estaacute comeccedilando a se concretizar
Artigo 26 Os curriacuteculos do ensino fundamental e meacutedio devem ter uma base nacional comum a ser complementada em cada sistema de ensino e estabelecimento escolar por uma parte diversificada exigida pelas caracteriacutesticas regionais e locais da sociedade
da cultura da economia e da clientela (MARCOS NORMATIVOS) Brasiacutelia 2012(p 26)
O Decreto nordm 7352 de 4 de novembro 2010 dispotildee sobre a poliacutetica de educaccedilatildeo do campo ao Programa Nacional de Educaccedilatildeo
na Reforma Agraacuteria-PRONERA decreta
Art1ordm A poliacutetica de educaccedilatildeo do campo destina-
se agrave ampliaccedilatildeo e qualificaccedilatildeo da oferta de educaccedilatildeo baacutesica e superior agraves populaccedilotildees do campo e seraacute desenvolvida pela Uniatildeo em regime de colaboraccedilatildeo com os Estados o
28
Distrito Federal e os Municiacutepios de acordo com as diretrizes e metas estabelecidas no Plano Nacional de Educaccedilatildeo e o disposto neste Decreto
Para os efeitos deste Decreto entende-se por
l-populaccedilatildeo do campo os agricultores familiares os extrativistas os pescadores
artesanais os ribeirinhos os assentados e acampados da reforma agraacuteria os
trabalhadores assalariados rurais os quilombolas os caiccedilaras os povos da floresta
os caboclos e outros que produzam suas condiccedilotildees materiais de existecircncia a partir
do trabalho no meio rural
ll-escola do campo aquela situada em aacuterea rural conforme definida pela Fundaccedilatildeo
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica- IBGE ou aquela situada em aacuterea
urbana desde que atenda predominantemente a populaccedilatildeo do campo (MARCOS
NORMATIVOS) 2012( p 81)
No Decreto 6755 29 de janeiro de 2009 em seu art 2ordm estabelecida pelo Conselho
Nacional de Educaccedilatildeo que se refere as Diretrizes Operacionais da Educaccedilatildeo do
Campo o parecer da alternacircncia
A formaccedilatildeo de professores poderaacute ser feita concomitantemente agrave atuaccedilatildeo profissional de acordo com metodologias adequadas inclusive a pedagogia da alternacircncia e sem prejuiacutezo de outras que atendam agraves especificidades da educaccedilatildeo do campo e por meio de atividades de ensino pesquisa e extensatildeo (MARCOS NORMATIVOS) 2012( p84)
-26-
29
-
231 A educaccedilatildeo do campo e poliacutetica puacuteblica - o PRONERA
O amadurecimento adquirido pela luta sobre o papel da educaccedilatildeo aliado agrave
iniciativa do aproveitamento do trabalho das professoras ldquoleigasrdquo e ainda da
consciecircncia cada vez mais presente do dever do Estado em prover os cidadatildeos da
reforma agraacuteria de poliacuteticas puacuteblicas resultou no campo da educaccedilatildeo na criaccedilatildeo do
Programa Nacional de Educaccedilatildeo na Reforma Agraacuteria (PRONERA)
O PRONERA envolve formalmente jovens e adultos num projeto conjunto
com universidades e institutos federais em prol da formaccedilatildeo de educadores para o
trabalho em escolas dos assentamentos da reforma agraacuteria e seu entorno
O Programa foi criado em 1998 no momento da ascensatildeo dos conflitos pela
reforma agraacuteria o que propiciou que os movimentos sociais trouxessem para a
opiniatildeo puacuteblica suas mazelas
No campo da educaccedilatildeo foi denunciada a falta de escola a precariedade do
ensino a falta de profissionais do ensino a ldquoloacutegica de negaccedilatildeo histoacuterica do direito
aos camponeses de acesso aos niacuteveis mais elevados de escolaridade ( SANTOS
2012 pag 630)
A partir de 2005 o ensino oferecido pelo PRONERA eacute estendido ao niacutevel
meacutedio e superior como a Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo e a Residecircncia
30
Agraacuteria O PRONERA evoluiu para outros patamares tais como ldquopossibilidades de
ressignificaccedilatildeo do conteuacutedo e da metodologia dos processos de educaccedilatildeo formal
por meio dos princiacutepios baacutesicos da participaccedilatildeo e da multiplicaccedilatildeordquo (SANTOS 2012
p 631)
A participaccedilatildeo das comunidades e suas organizaccedilotildees e a multiplicaccedilatildeo de
alfabetizados formados educadores e demais profissionais ligados agraves poliacuteticas
puacuteblicas para a Reforma Agraacuteria gerou ampla participaccedilatildeo dos agentes envolvidos
na dinacircmica do processo ensino-aprendizagem
Essa forma de gestatildeo gerou reaccedilatildeo contraacuteria ldquoagrave gestatildeo colegiada e coletiva
notadamente agrave participaccedilatildeo direta dos movimentos sociais e sindicais do campordquo
considerados ldquoentes estranhos agrave administraccedilatildeo puacuteblicardquo (CLARICE p 634)
O envolvimento dos movimentos sociais e sindicais do campo natildeo
retrocederam em sua luta pelo envolvimento de todos os interessados na educaccedilatildeo
como elemento emancipatoacuterio e continuam formulando princiacutepios concepccedilotildees e
diretrizes para a escola do campo
-31-
31
Terceiro Capiacutetulo
A histoacuteria do Assentamento Renascer
31 Uma breve histoacuteria de luta
A histoacuteria do Assentamento Renascer natildeo parece ser diferente da histoacuteria de
outros assentamentos Brasil afora Partiu da reivindicaccedilatildeo de Trabalhadores Rurais
sem Terra que desde 2004 ocuparam as margens da Rodovia DF 330 que liga
Sobradinho ao Paranoaacute-DF
Tatildeo perto do centro do poder a apenas poucos quilocircmetros do Palaacutecio da
Alvorada ou da Sede do INCRA o Acampamento Renascer esteve ateacute oito (08) de
maio de 2009 tatildeo distante da decisatildeo poliacutetica pela Reforma Agraacuteria
Somente nesta data trezentos sessenta e um( 361) de terras devolutas da
Uniatildeo foram repassadas ao INCRA para assentar as famiacutelias aliacute acampadas Ficou
criado o assentamento Renascer fora da beira da estrada
O Assentamento Renascer ldquorenasceurdquo da dificuldade de vida sob o barraco de
madeira sem aacutegua sem luz sem saneamento baacutesico que fez com que tantos
desistissem ao longo do caminho e ainda hoje se encontra nessa mesma
precariedade um descaso por parte do poder puacuteblico
A luta em vaacuterios momentos da vida dos acampados parecia estar vencida Os
vencedores pareciam ser a burocracia o desrespeito as noites mal dormidas a
inseguranccedila a falta de perspectivas para o acampado e suas famiacutelias
Duzentas (200) famiacutelias viveram aliacute por cinco anos (05) de 2004 ateacute 2009
Atualmente satildeo cento e vinte (120) famiacutelias que moram na aacuterea destinada e estatildeo
em processo de assentamento Muitas delas poreacutem vencidas pelo cansaccedilo e pelas
condiccedilotildees de vida abandonaram a luta mas todas as famiacutelias as que se foram e as
que ficaram sonharam com a terra onde poderiam produzir viam no pedaccedilo de chatildeo
os frutos do pomar da horta o galinheiro o pasto
O Assentamento Renascer eacute o Brasil Eacute um pedacinho da cruel realidade que
como vimos neste trabalho marcou a sociedade brasileira desde a escravidatildeo
desde o primeiro grito de rebeldia do quilombo desde o primeiro que lutou contra os
coroneacuteis por divisatildeo da terra como as Ligas Camponesas contra o latifuacutendio como
os movimentos sociais em sua luta pela reforma agraacuteria desde vaacuterias geraccedilotildees
32
Eacute como todo e qualquer movimento social que surgiu neste paiacutes desde a
deacutecada de 1980 pela reforma agraacuteria Viveu e ainda vive as dificuldades de ser
acampadoassentado mas honra sua luta porque natildeo desiste faacutecil
O Assentamento Renascer eacute tambeacutem fruto do ecircxodo rural da industrializaccedilatildeo
do campo da monocultura e da concentraccedilatildeo de terras Foram expulsos do campo
para a periferia das cidades sem capacitaccedilatildeo sem estudo
A falta de escolarizaccedilatildeo eacute sem duacutevida uma caracteriacutestica de quase todos os
que vieram do campo para a cidade A realidade do Brasil eacute que o campo natildeo eacute
escolarizado as escolas no campo satildeo poucas satildeo despreparadas satildeo
desvalorizadas
-33-
32 As escolas no campo na vivencia do assentado do Assentamento
Renascer
As escolas no campo marcaram profundamente a vida dos poucos que a
frequentaram Quase todos tiveram que trocar o laacutepis pela enxada a carteira pela
roccedila desde muito pequenos Alguns natildeo muito poucos conforme os depoimentos
aqui relatados teriam que abandonar a enxada e a participaccedilatildeo no sustento da
famiacutelia para frequentar a escola Quase sempre abandonaram a escola para ficar no
trabalho com a enxada
Todos teriam que andar vaacuterios quilocircmetros para ir agrave escola Outros nem assim
conseguiriam frequentar a escola no campo ela simplesmente natildeo existia no
campo Teriam entatildeo que ir para a cidade para ter direito a uma escola
Muitos tambeacutem vivenciaram os traumas que uma escola tradicional e
descomprometida com os valores e responsabilidades do projeto educacional
castigos humilhaccedilotildees afastaram a muitos da escola
Alguns apenas sonharam e sonham com a escola ldquoAh a escolardquo Tatildeo longe
inacessiacutevel para tantos no Brasil afora Ao ver de algumas pessoas do
Assentamento Renascer ldquoSe tivesse jeito eu teria ido agrave escola tinha feito pelo
menos o ensino fundamental completo para que eu pudesse ingressar no curso
33
teacutecnico-agriacutecola Mas agora quero que meus filhos e netos vatildeo para a escola
aprender ser algueacutem na vidardquo
-34-
321 A escola no entorno do Assentamento Renascer
A ideia de lutar pela educaccedilatildeo veio antes da ideia de lutar pela escola como
espaccedilo conquistado pelo acampamento Encontrar uma escola perto do
acampamento com transporte escolar com vagas e horaacuterios acessiacuteveis para os que
trabalham o dia todo era entendido como uma necessidade baacutesica e uma grande
vitoacuteria
Ficava-se feliz se apesar das dificuldades fosse possiacutevel matricular pelo
menos as crianccedilas As dificuldades eram e ainda satildeo muitas o transporte escolar
era e eacute precaacuterio a poeira natildeo permite que os alunos cheguem limpos agrave escola os
buracos e as poccedilas daacutegua impedem a chegada do ocircnibus escolar durante as
chuvas No caso do ocircnibus que levam os alunos ateacute a Escola Classe do Coacuterrego do
Arrozal em eacutepoca de muita chuva os ocircnibus ateacute o iniacutecio de 2014 natildeo conseguiam
transitar Isto resulta no fato de que as crianccedilas precisam caminhar debaixo de
chuva ateacute a escola
-35-
322 O caminho para a produccedilatildeo do saber no Assentamento Renascer a
brinquedoteca a integraccedilatildeo social a biblioteca comunitaacuteria as manifestaccedilotildees
culturais
Ao longo dos anos de vivecircncia e convivecircncia no Acampamento Renascer
mediante a dificuldade e necessidade de estudar que sentimos na nossa proacutepria
vida foi despontando a ideia de prover as crianccedilas de atividades luacutedicas e
educativas
34
Logo no iniacutecio do acampamento por volta de 2005 por iniciativa de algumas
pessoas conscientes da necessidade de atividades luacutedicas para as crianccedilas foi
criada uma brinquedoteca
Inicialmente os brinquedos eram de materiais reciclaacuteveis como garrafas pet
telefones sem fio carrinhos bonecas petecas vai e vem cavalinhos tudo era
confeccionado com a participaccedilatildeo das crianccedilas na modalidade de oficina
incentivando-os a fabricar os seus proacuteprios brinquedos Os brinquedos eram
confeccionados a partir de materiais encontrados nos lugares de descarte perto do
acampamento e doaccedilotildees de pessoas que passavam pela estrada
O embriatildeo de um processo educacional que nunca se interrompeu estava
lanccedilado a brinquedoteca proporcionou a criatividade e a participaccedilatildeo de crianccedilas e
adultos marcando as atividades pela conscientizaccedilatildeo do cuidado com a natureza e a
importacircncia da reciclagem A educaccedilatildeo ambiental jaacute era praticada desde o
nascimento do acampamento Renascer
Este primeiro passo foi muito importante porque traduziu para o dia a dia do
acampamento os princiacutepios da escola do campo atuante para mudar a realidade
criar cidadatildeos conscientes e dispostos a mudar a realidade a partir da sua proacutepria
accedilatildeo Este eacute o processo de transformaccedilatildeo social dentro do acampamento Renascer
haacute tanto tempo atraacutes
Aos brinquedos reciclados pela proacutepria comunidade juntaram-se outros
presenteados por instituiccedilotildees como igrejas ONGs a Pastoral da Crianccedila e pessoas
interessadas no bem estar daquelas crianccedilas
Percebe-se em iniciativas como essas a importacircncia da educaccedilatildeo nos
diversos niacuteveis para a sociedade A integraccedilatildeo de pessoas com as atividades
educativas no acampamento nos faz lembrar sobre um grande sonho das escolas
hoje integrar a comunidade de modo a que todos defendam a escola
O sucesso de iniciativas como a brinquedoteca que integravam crianccedilas
adolescentes adultos e sociedade foi importante para outras iniciativas igualmente
importantes
Foi-se criando um projeto educacional para o acampamento sem que se
tivesse consciecircncia disso por faltar informaccedilatildeo que soacute agora se possui graccedilas aos
estudos na Universidade o galpatildeo comunitaacuterio foi utilizado para abrigar a
35
brinquedoteca para desenvolver grupos de teatro de crianccedilas e adultos e para
abrigar a biblioteca
A biblioteca recebeu inuacutemeros exemplares de livros infantis livros didaacuteticos
para os adolescentes e adultos literatura universal revistas dos mais variados
assuntos criando assim um espaccedilo comunitaacuterio de informaccedilatildeo lazer e
entretenimento
Com a criaccedilatildeo da biblioteca ficou evidente a importacircncia da alfabetizaccedilatildeo de
crianccedilas jovens e adultos Muitos acampados relatavam a vontade e a necessidade
de aprender a ler e a escrever Muitos reivindicavam o direito agrave educaccedilatildeo e
frequecircncia agrave escola ainda que o acampamento mudasse de ldquoendereccedilordquo tantas
vezes
Outros poreacutem natildeo acreditavam que seria possiacutevel aprender ou aperfeiccediloar a
leitura e a escrita nas condiccedilotildees de vida de um acampado
Vaacuterias atividades culturais foram desenvolvidas (e ainda satildeo) no
Acampamento Renascer Todas chamavam a atenccedilatildeo da comunidade local de
outras comunidades vizinhas garantindo a simpatia de chacareiros que levavam os
filhos para participarem das atividades
Uma das atividades mais apreciadas foi o Teatro de Fantoches inspirados em
faacutebulas muitas com a autoria da Pastoral da Crianccedila e da Faber Castel A
participaccedilatildeo da comunidade na atividade era intensa e voluntaacuteria todos queriam
manipular os fantoches participar cantando danccedilando ou prestando muita atenccedilatildeo
O teatro de transformaccedilatildeo social produzido pelos adultos e adolescentes
utilizavam tambeacutem materiais reciclaacuteveis demonstrando cuidado com o meio
ambiente e amadurecimento dos conceitos poliacuteticos e pedagoacutegicos gerando reflexatildeo
sobre os temas sociais que nos atingem no cotidiano
A miacutestica adotada pelos movimentos sociais com o objetivo de reflexatildeo satildeo
apresentadas em datas comemorativas e contam com o apoio e participaccedilatildeo de
muitos
Algumas festas fazem parte da tradiccedilatildeo do Acampamento Renascer
traduzindo para a realidade atual as antigas festas a que todos foram acostumados
em seus lugares de origem
Pode-se dizer que a comunidade aprecia muito as festas Mas duas em
particular satildeo muito respeitadas a festa das crianccedilas que ocorre durante o dia (12
36
de outubro) eacute concorrida pois a comunidade se esmera para oferecer os brinquedos
que as crianccedilas amam pula-pula palhaccedilos pintura de rosto piscina de sabatildeo e
muita oferta de comida coisas que as crianccedilas adoram
No mesmo dia ocorre agrave noite a festa da Nossa Senhora Aparecida com
missa e muito forroacute
No mecircs de marccedilo eacute comemorada a Festa da Pamonha em comemoraccedilatildeo agrave
boa colheita do milho Esta festa jaacute se tornou tradicional conhecida em todo o
entorno do assentamento Egrave uma festa importante porque confraterniza a
comunidade Renascer com as comunidades vizinhas e ateacute mesmo as cidades de
Sobradinho Paranoaacute e Planaltina
Os movimentos sociais necessitam ser admirados pela sociedade e festas
como estas chamam a atenccedilatildeo para o problema da reforma agraacuteria demonstrando
que ela eacute viaacutevel e que os assentados tecircm simpatia competecircncia e seus saberes do
campo
A festa ldquojulinardquo eacute outra festa muito apreciada que apresenta as tradiccedilotildees rurais
e religiosas como quadrilhas e bandas de forroacute da comunidade e vizinhanccedila A
danccedila eacute um dos pontos fortes da festa assim como as comidas tradicionais muitas
delas com ingredientes colhidos no acampamento
Vaacuterios grupos de atividades teatrais apresentaram-se na localidade com
participaccedilatildeo de palhaccedilos lembrando um espetaacuteculo circense Alguns desses
grupos inclusive tiveram seus trabalhos premiados
Outras atividades com fundo educativo tiveram participaccedilatildeo animada de
crianccedilas e adultos A exibiccedilatildeo de desenhos animados recentemente apresentados
no cinema eram um grande atrativo para a comunidade que se via socialmente
incluiacuteda Esta inclusatildeo aumentava a autoestima das crianccedilas principalmente pois
assim elas poderiam interagir com os colegas da escola conversando a respeito dos
filmes
A Economia Solidaacuteria eacute uma das formas de inserccedilatildeo dos membros da
comunidade agrave sociedade economicamente ativa Atraveacutes da cooperaccedilatildeo solidaacuteria eacute
possiacutevel o comercio justo agriacutecolas ou artesanais sob conceitos antes
desconhecidos enquanto forma de produccedilatildeo e consumo centrado na valorizaccedilatildeo do
ser humano em contraposiccedilatildeo agraves formas capitalistas de produccedilatildeo e conscientizaccedilatildeo
37
Ao longo dos doze (12) anos de luta pela educaccedilatildeo foram promovidos
diversos cursos que capacitaram multiplicadores que fazem um trabalho importante
para a comunidade
A ideia de autogestatildeo democracia cooperaccedilatildeo auxilia natildeo soacute as formas de
produccedilatildeo e comercio de bens e artesanatos mas tambeacutem auxiliam na formaccedilatildeo
integral de pessoas em que tanto o produtor como o consumidor tem o proposito de
ganhos financeiros segundo um criteacuterio de valorizaccedilatildeo do trabalho
Proposito de formar uma nova consciecircncia a Economia Solidaacuteria promoveu
cursos de Soberania Alimentar em que a comunidade recebeu noccedilotildees praacuteticas
sobre alimentaccedilatildeo a partir da produccedilatildeo local de modo a promover uma nova cultura
alimentar que visa o combate agraves doenccedilas crocircnicas Outro proposito eacute tornar a
comunidade criacutetica em relaccedilatildeo agrave publicidade de produtos alimentiacutecio supeacuterfluo que
induz agraves crianccedilas e adultos alimentarem-se incorretamente
A comunidade participou coletivamente da implantaccedilatildeo de uma unidade da
tecnologia social denominada Produccedilatildeo Agroecoloacutegica Integrada e Sustentaacutevel
(PAIS) em 2012 com o objetivo de produzir alimentos saudaacuteveis e preservar o meio
ambiente trazendo mais alimentos e renda ao campo Esta tecnologia popularmente
conhecida como ldquohorta mandalardquo foi ministrada durante o curso de capacitaccedilatildeo
promovido pela Fundaccedilatildeo Banco do Brasil e teve o meacuterito de proporcionar o debate
e a participaccedilatildeo democraacutetica na definiccedilatildeo das culturas a serem cultivadas na futura
propriedade Vale informar que o assentamento Renascer identificou-se com esse
paradigma agroecoloacutegico
A educaccedilatildeo ambiental faz parte do dia a dia da comunidade hoje preserva-se
conservaccedilatildeo das formas de vida vegetais e animais na regiatildeo do assentamento e
entorno
A produccedilatildeo de mudas no viveiro eacute bastante concorrida contando com a
participaccedilatildeo de todos O viveiro produz cinco mil (5000) mudas de espeacutecies nativa
do cerrado para o reflorestamento das nascentes de aacutegua e nas aacutereas degradadas
da regiatildeo Contam com o apoio da FUNATURA FUNDACcedilAtildeO BANCO DO BRASIL
IFB Rio Satildeo Bartolomeu Vivo e UnB
-36-
38
39
Quarto Capiacutetulo
A escola que queremos expectativas e sonhos dos
acampados do Assentamento Renascer
Pode-se observar pelas falas dos entrevistados que a realidade de todos
converge para os problemas estruturais do Brasil faltam escolas no campo eacute baixa
a escolaridade em Brasiacutelia todos exercem atividades de subemprego
Todos tecircm grandes expectativas com relaccedilatildeo agrave vida futura no assentamento
objetivando melhores condiccedilotildees de vida na esperanccedila de serem beneficiaacuterios
enquanto cidadatildeos assentados das Poliacuteticas Puacuteblicas e financiamentos agriacutecolas
voltadas para a agricultura familiar como PRONAF PAA PNAE e PAPA-DF Vecircem
aiacute a possibilidade de emprego e renda situaccedilatildeo sonhada desde quando foram
pleitear a terra para reforma agraacuteria
Um olhar mais aprofundado sobre a anaacutelise de dados revela que natildeo importa o
fato de hoje residirem no DF pois como em qualquer lugar de origem os moradores
do assentamento Renascer vivenciam os mesmos problemas Percebe-se
claramente as dificuldades da inexistecircncia de escola no campo A distacircncia continua
impedindo o acesso os meios de transportes continuam precaacuterios os filhos
vivenciam a dificuldade de transferecircncia para a cidade na expectativa de
continuidade dos estudos as estradas rurais continuam esburacadas
Satildeo muitos os pontos em comum entre a situaccedilatildeo atual relatada e os problemas
vividos haacute deacutecadas em seus estados de origem o que deixa transparecer a absoluta
falta de interesse por parte do poder puacuteblico em garantir o direito constitucional agrave
educaccedilatildeo do povo do campo o que infelizmente continuaraacute deixando o triste
legado para o futuro do paiacutes
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Repetimos a pergunta da inicial Cadecirc as escolas do campo Ateacute quando o paiacutes
vai viver essa situaccedilatildeo A anaacutelise de dados responde Natildeo eacute mais possiacutevel
continuar como estaacute
Todos os entrevistados pretendem alcanccedilar conhecimentos atraveacutes da escola do
campo implantada no Assentamento Renascer com objetivos de administrar a
propriedade participar ativamente do coletivo garantir renda fixa atraveacutes dos
programas de desenvolvimento da agricultura familiar
Os entrevistados unanimamente tecircm a preocupaccedilatildeo da manutenccedilatildeo dos laccedilos
familiares e das raiacutezes camponesas
A distacircncia entre a moradia e a escola fato relatado pela quase totalidade dos
entrevistados constitui um grande motivo de evasatildeo escolar de defasagem nas
seacuteries frequentadas de precariedade na aprendizagem em relaccedilatildeo aos demais
alunos A discriminaccedilatildeo alegada por muitos que frequentaram ou frequentam
escolas fora da faixa etaacuteria o vernaacuteculo proacuteprio dos sujeitos do campo as condiccedilotildees
precaacuterias da estrada que denunciam a condiccedilatildeo de assentado o sentimento de
inadequaccedilatildeo constituem fatores que determinam a evasatildeo escolar
Foram treze (13) entrevistados significando aproximadamente dez por cento
(10) dos moradores do Assentamento Renascer Desse total apenas dois (2)
entrevistados natildeo declararam dificuldade de distacircncia entre a moradia e a escola em
seus lugares de origem A maioria absoluta (11) pessoas declararam que a distacircncia
dificultava e impedia o acesso agrave escola Alguns relatos apresentam situaccedilotildees
precaacuterias para o homem do campo o assentado
Para o aluno do campo a distacircncia da escola tem o significado de inexistecircncia de
escola Isto porque as dificuldades de acesso satildeo enormes No caso em estudo
apenas um entrevistado declarou a inexistecircncia de escola em sua regiatildeo de
moradia Este poreacutem vivenciou todas as dificuldades de acesso que outros
assentados apresentaram em razatildeo da distacircncia moradiaescola
A falta de professores na escola rural eacute relatada por 11 dos 13 entrevistados A
distacircncia da escola para os professores dificulta segundo a vivecircncia dos
entrevistados o acesso agrave escola e a assiduidade o que muito desmotivava a
ambos
41
Os entrevistados conforme anaacutelise de dados desejam muito objetivamente a
implantaccedilatildeo imediata de escolas segundo os criteacuterios caracteriacutesticos de escola do
campo
- Trazer a realidade para dentro da escola do campo curriacuteculos voltados para o
cotidiano do aluno do campo onde as teacutecnicas agriacutecolas pecuaacuterias e agroecoloacutegicas
possam fazer parte do processo educativo da comunidade e que a escola tenha
uma gestatildeo coletiva democraacutetica com a participaccedilatildeo da comunidade
- Ter o trabalho como princiacutepio educativo A experiecircncia do aluno deve
harmonizar-se com os princiacutepios pistrakianos significar o trabalho de forma a que
ele apresente benefiacutecios para o proacuteprio indiviacuteduo para a comunidade na qual estaacute
inserido e para a sociedade e natildeo exclusivamente para servir ao capitalismo
-Superar a fragmentaccedilatildeo do conhecimento disciplinar A interdisciplinaridade
deve fazer parte dos objetivos educacionais de modo a promover a formaccedilatildeo
integral dos educandos
- Valorizar os saberes do homem do campo Os entrevistados desejam uma
escola onde possam exercitar sua vivecircncia campesina e a relaccedilatildeo dialoacutegica entre
professor-aluno seguindo a pedagogia de Paulo Freire o educando quer aprender
com o educador mas quer tambeacutem ter a oportunidade de transmitir seus saberes
- Promover espaccedilos de gestatildeo coletiva A proacutepria comunidade deve participar da
gestatildeo a elaboraccedilatildeo do PPP deve gerir o espaccedilo fiacutesico da escola para atividades
de interesse da comunidade ocupar espaccedilos para finalidades culturais esportivas
sociais tornando a escola um espaccedilo democraacutetico
- Garantir a presenccedila da comunidade e dos movimentos sociais que geram
processos que auxiliam a emancipaccedilatildeo social A escola deve tambeacutem ser espaccedilo
que auxilie a sustentabilidade e garanta a alimentaccedilatildeo saudaacutevel e recursos
fitoteraacutepicos em associaccedilatildeo com a comunidade
- Inclusatildeo tecnoloacutegica em todos os aspectos digital inovaccedilatildeo tecnoloacutegica
agropecuaacuteria recursos ambientais alternativos agua potaacutevel energia solar energia
eoacutelica fossa seacuteptica teacutecnicas de compostagem saneamento baacutesico cuidados com
os recursos hiacutedricos
A anaacutelise dos dados quando feita especificamente sobre a escola a ser
implantada pode aparentemente demonstrar uma pequena conexatildeo com as teorias
da escola do campo
42
A concepccedilatildeo da escola do campo natildeo pode ser imposta ela parte do princiacutepio
que os camponeses devem conquista-la Para essa conquista eacute necessaacuteria a
paixatildeo o desejo por algo ainda natildeo experimentado o amadurecimento poliacutetico-
social-pessoal a participaccedilatildeo coletiva na luta e na conquista
A trajetoacuteria de luta por educaccedilatildeo da comunidade Renascer apresenta estes
elementos agraves vezes difusos outras vezes mais claramente A escola bem que
poderia para alguns ser apenas uma escola rural Afinal aprender a ler e a
escrever ldquodireitordquo como alguns dizem ou seja deixar a condiccedilatildeo de analfabeto ou
analfabeto funcional para tornar-se letrado significaria avanccedilos em face das atuais
circunstacircncias Alguns entendem assim expressando-se principalmente nas
conversas informais
Apesar disso quando as respostas informais ou quando as respostas das
entrevistas satildeo analisadas mais profundamente identificamos que embora
difusamente todos desejam o programa educacional da escola do campo
Explicando melhor a participaccedilatildeo de todos da comunidade em todas as atividades
soacutecio-poliacuteticas-culturais (relatadas no terceiro capitulo) indicam que a comunidade
assimilou a postura soacutecio-politica-cultural que caracterizam a escola do campo
A vivecircncia do Assentamento Renascer no cotidiano e nos eventos coletivos
amadureceu o desejo pelo alimento intelectual cultural artiacutestico ambiental social
que a concepccedilatildeo de escola do campo introduz O programa educacional da Escola
do Campo ultrapassou as paredes fiacutesicas da escola e alcanccedilou o cotidiano dos
assentados
Os avanccedilos da conscientizaccedilatildeo e seu reflexo na vida do Assentamento Renascer
satildeo sentidos nos nuacutemeros de matriculados na LEdoC sete (7) alunos
aproximadamente dez (10) assentados prestaratildeo o proacuteximo vestibular trecircs (3)
assentados estatildeo matriculados no IFB dois(2) assentados estatildeo formados em
Teacutecnico Agropecuaacuterio tambeacutem pelo IFB um deles cursa o Tecnoacutelogo de
Agroecologia tambeacutem do IFB
Vale acrescentar que no iniacutecio de 2014 quando o IFB buscou no Assentamento
pessoas interessadas em matricular-se em seus cursos sob a condiccedilatildeo de
estudarem no ensino meacutedio o interesse foi grande e a impossibilidade pelo fato de
natildeo estarem habilitados no ensino fundamental provocou tanta discussatildeo que
estimulou essa pesquisa
43
O legado desses alunos futuros alunos e profissionais para o futuro do
Assentamento apresentaraacute resultados significativos para toda a comunidade O
futuro colheraacute bons frutos plantados agora
A escola que temos natildeo estaacute funcionando falta a renovaccedilatildeo do contrato o que
atrasa a alfabetizaccedilatildeo e conclusatildeo do 5ordm ano Falta a implantaccedilatildeo de poliacuteticas
puacuteblicas para atendimento de questotildees baacutesicas como por exemplo carteiras
quadro de giz iluminaccedilatildeo espaccedilo fiacutesico (dependecircncias para a escola) e mobiliaacuterio
-41-
44
Consideraccedilotildees Finais
A Educaccedilatildeo do campo eacute um movimento em que os trabalhadores do campo e
suas organizaccedilotildees lutam por transformaccedilotildees sociais particularmente a criaccedilatildeo de
escolas dono campo de qualidade a partir de uma perspectiva ampla de reforma
agraacuteria
A construccedilatildeo da educaccedilatildeo do campo eacute resultado do amadurecimento dos
movimentos sociais e das comunidades rurais em sua trajetoacuteria de luta pelo direito
fundamental agrave universalizaccedilatildeo escolar para as populaccedilotildees camponesas segundo
orientaccedilatildeo poliacutetico-pedagoacutegica adequada agrave realidade dos lutadores de
acampamentos e assentamentos em luta pela reforma agraacuteria e justiccedila social
Alguns princiacutepios caracterizam a luta pela escola do campo Dentre eles
podemos citar a criaccedilatildeo da consciecircncia do direito agrave educaccedilatildeo de qualidade plantada
na proacutepria comunidade o que provoca o enraizamento a valorizaccedilatildeo da vida no
campo a promoccedilatildeo da autoestima e a transformaccedilatildeo do ser alienado pela ideologia
e desigualdade social e sujeito de sua proacutepria histoacuteria
Outro princiacutepio eacute a adequaccedilatildeo de curriacuteculos agrave realidade camponesa de modo
a que o processo ensino-aprendizagem favoreccedila o amadurecimento de talentos
naturais o surgimento de oportunidades a niacutevel pessoal e social contribuindo para a
emancipaccedilatildeo poliacutetico-social do indiviacuteduo com reflexos na sociedade
A mudanccedila de paradigmas e o envolvimento social provocam a formaccedilatildeo integral
dos sujeitos que lutam de forma coletiva e solidaacuteria pela terra A escola do campo
que surge dessa mudanccedila eacute tambeacutem transformadora porque eacute fruto da luta
consciente que gera a reflexatildeo e o amadurecimento poliacutetico deixando um legado
positivo de cidadatildeos orgulhosos de sua condiccedilatildeo de lutador pela terra de sua
identidade de sua cultura de sua comunidade e coletividade
A escola do campo propicia aos alunos a reflexatildeo sobre o contexto social e a
problemaacutetica da comunidade em que estatildeo inseridos o respeito agrave individualidade a
ampliaccedilatildeo das potencialidades do aluno para organizar elaborar e atuar
coletivamente Deixam o legado futuro de homens responsaacuteveis mentes
independentes e atuantes que poderatildeo prestar serviccedilos significativos agrave sociedade
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A comunidade assentada de o Assentamento Renascer pela Reforma
Agraacuteria em Sobradinho DF foi convidada a opinar sobre a escola que deseja a
partir da conquista da terra
O modelo proposto a partir de seu posicionamento possibilita a conclusatildeo
de que a escola do campo plantada na comunidade eacute preferiacutevel ao modelo
adotado atualmente de inserccedilatildeo dos alunos da comunidade agraves escolas urbanas
conter recursos materiais e humanos que propiciem bons resultados
pedagoacutegicos deve servir para fixar o trabalhador ao campo deve cumprir com o
propoacutesito constitucional de universalizaccedilatildeo do ensino para todas as faixas
etaacuterias deve estar identificada com os sonhos de prosperidade material e
realizaccedilatildeo pessoal dos assentados
-46-
46
Referecircncias Bibliograacuteficas
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FERRARI Marco ldquoAniacutesio Teixeira o inventor da escola puacuteblica no Brasilrdquo Revista Nova Escola Fundaccedilatildeo Victor Civita Revistaescolaabrilcombr acesso em 14092014 FERREIRA Fabiano de Jesus BRANDAtildeO Elias Canuto ndash Revista Eletrocircnica de Educaccedilatildeo Ano V N 09 juldez 2011p3 ldquoEducaccedilatildeo do campo um olhar histoacuterico uma realidade concreta rdquo (WWWUNIFILBR acesso em 08 de agosto de 2014) GONCcedilALVES Luiz Alberto Oliveira e Pinto Regina Pahim EDUCACcedilAtildeO SEacuteRIE JUSTICcedilA E DESENVOLVIMENTO IFP-FCC FUNDACcedilAtildeO CARLOS CHAGAS 2007 SAtildeO PAULO (pag206)
KOLLING Edgar Jorge Vargas Caldart MST e Educaccedilatildeo in DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia Expressatildeo Popular 2012 (pag 5020
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OLIVEIRA Maria Rita Duarte PEDAGOGIA EM MARCHA Apud ARROYO Satildeo Paulo1995( pg 162)
OLIVEIRA Maria Rita Duarte Revistalabor ufcbracesso em 19-10-2014
________ citando CALAZ Maria Rita Duarte Oliveira
47
SANTOS Clarice Aparecida PROGRAMA NACIONAL DE EDUCACcedilAtildeO NA REFORMA AGRAacuteRIA in DICIONARIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia2012(pg630)
________ Clarice Aparecida PROGRAMA NACIONAL DE EDUCACcedilAtildeO NA REFORMA AGRAacuteRIA BRASIacuteLIA 2012 pg 631 in DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO SANTOS Claudio Felix Dos ldquoO aprender a aprender na formaccedilatildeo de professores do campordquo Campinas 2013 Editora Autores Associados ) SOUZA Maria Antocircnia Movimentos Sociais no Brasil Contemporacircneo participaccedilatildeo e possibilidades no contexto das praacuteticas democraacuteticas ndash (wwwcesucptlab2004pdfMariaAntonia Souzapdfaceso em 24-07-2014 -48-
48
Apecircndices
1 Roteiro das Entrevistas
a) Dados dos entrevistados
Qual o seu nome
Masculino ( ) Feminino ( )
Quantos anos vocecirc tecircm
A quanto tempo mora no
assentamento
Onde vocecirc morou antes
de morar no
assentamento
Quantos anos vocecirc tinha
quando foi a escola pela
primeira vez
Estou ateacute qual seacuterieano
Quantos anos vocecirc tinha
quando parou de estudar
Qual motivo motivou vocecirc
a parar de estudar
Se tiver escola no
assentamento vocecirc voltaraacute
a estudar Porque
B) Outras informaccedilotildees dados pelos entrevistadosas (GRAVAR)
a) Em qual escola vocecirc estudou no acampamento ou em outro lugar Qual
b) Como era a escola que estudou Quais as coisas boas e coisas ruins que
tinha nesta escola
c) Conte como eacutefoi a educaccedilatildeo do assentamento o que jaacute existiu de escola
como funcionou e quais eram as boas e as coisas ruins desta escola
d) Jaacute participou de alguma accedilatildeo de mobilizaccedilatildeo para ter escola no
assentamento Se sim explique para que e como foi essa mobilizaccedilatildeo
e) Na sua opiniatildeo no assentamento deve ter escola Por quecirc
f) Como deveraacute ser a escola da comunidadeassentamento Como eacute a escola
que queremos ter
49
b) Entrevistas semi-estruturadas
Entrevistado 01
Moro no assentamento Renascer haacute 11 anos Nasci Carnauacuteba no Rio Grande do
Norte fui criado na roccedila e desde pequeno trabalhava na lavoura para ajudar meu
pai Fui para escola com 9 anos de idade estudei ateacute a 5ordm seacuterie parei de estudar
com 17 anos natildeo continuei os estudos porque era muito longe de onde eu morva
que era na cidade mais proacutexima eu tinha que andar a peacute 8 km ficava muito
cansado Casei e vim morar em Brasiacutelia para trabalhar em uma chaacutecara como
caseiro Morava na chaacutecara Buritis em sobradinho- Df tambeacutem natildeo dei para
continuar os estudos porque ficava longe e tinha que ser a noite e natildeo tinha como ir
Se vier uma escola pra caacute eu ainda vou estudar para ter mais conhecimento para
plantar minha roccedila ir no banco pra ver se assino um empreacutestimo para melhorar
minha produccedilatildeo e saber fazer conta pra administrar minha parcela de terra
Qual o seu nome
Masculino ( X ) Feminino ( )
Quantos anos vocecirc
tecircm
57 anos
A quanto tempo
mora no assentamento
11 anos
Onde vocecirc morou
antes de morar no
assentamento
Carnauacuteba ndash RN
Chaacutecara Buritis nordm 10 Sobradinho DF
Quantos anos vocecirc
tinha quando foi a escola
pela primeira vez
8 anos
Estou ateacute qual
seacuterieano
5ordf seacuterie
Quantos anos vocecirc
tinha quando parou de
estudar
24 anos
Qual motivo
motivou vocecirc a parar de
estudar
Trabalhar para sustento da famiacutelia a
distacircncia entre a casa e a escola
Se tiver escola no
assentamento vocecirc voltaraacute
a estudar Porque
Sim ldquoSe tivesse escola do ensino
fundamental voltaria a estudar para tecirc
mais conhecimento para plantar minha roccedila
50
saber pesar saber contar vendecirc os produto e
comecirc
Entrevistado 02
Moro no assentamento renascer haacute 7 anos tenho 38 vim do interior do Cearaacute
Entrei na escola com 7 anos de idade estudei soacute a 5ordm seacuterie incompleta natildeo
continuei a estudar porque natildeo tinha escola a onde eu morava que era na roccedila e eu
tinha que ficar na casa dozotro (SIC) na cidade e eu natildeo gostava disso natildeo ai parei
com 16 anos de idade Mudamo (SIC) pra Brasiacutelia pra uma chaacutecara perto de Santa
Maria-DF e natildeo dei pra estudar porque casei e tinha que trabalhar muito para
susrentar a famiacutelia A gora moro no assentamento Renascer e sei que um dia vai ter
uma escola aqui e eu vou voltar a estudar porque meu sonho eacute ser veterinaacuterio e vou
der se deus quiser
Entrevistado 03
Tenho 58 anos moro no assentamento Renascer haacute 6 anos vim de Ceres-GO
comecei a estudar quando eu tinha 10 ano de idade estudei ateacute a 4ordf seria primaacuteria
(SIC) parei de estudar quando tinha 16 anos porque eu morava na roccedila e escola
ateacute que natildeo ficava muito longe natildeo era soacute 2 km dava pra ir a peacute a professora eacute que
faltava muito e a gente natildeo tinha como saber se ela tava ou natildeoAiacute quando eu tinha
18 anos casei e vim morar em Brasiacutelia e arranjei(SIC) emprego de caseira em uma
chaacutecara aiacute natildeo pra estudar a noite porque era muito longe pra laacute entatildeo eu natildeo
pensei mais nessas coisas Quando tiver escola no assentamento quero estudar
quiecirc pra mim (SIC) fazer curso de teacutecnico agriacutecolarsquorsquo
Entrevistado 04
Tenho 24 anos moro no assentamento Renascer tem 6 ano vim da Bahia morava
no Condomiacutenio RK entrei na escola com 7 anos de idade e estudei soacute ateacute a 6ordf seacuterie
parei com 18 anos de idade
Porque mudei pra caacute pro assentamento (SIC) e natildeo tem escola e natildeo tem como ir
pra Sobradinho a noite porque eacute muito longe tem que andar 5 km eacute pirigogo (SIC)
tem muita gente mal por aiacute tem ateacute estrupador natildeo posso me arriscar
ldquoSe tivesse escola aqui eu ia terminar meus estudos podia ser no galpatildeo mesmo
pra mim tava bom mas para os meus filhos eu queria uma escola boa com internet
e tudo Eu natildeo gosto que meus filhos estuda(SIC) na cidade soacute aceito porque eacute o
jeito gente de assentamento eacute muito zombado (SIC) porque as vezes chega suja
na escola e os outros acha que eles satildeo porcos que toma banhordquo
Entrevistado 05
51
Tenho 21 anos de idade moro no Renascer haacute trecircs anos vim de satildeo Gabriel-GO
comecei a estudar aos 7 anos parei com 18 anos porque minha matildee mudou
pro(SIC) matildee mudou pro (SIC) assentamento haacute 6 anos e eu natildeo aguento morar
longe dela Quando cheguei aqui natildeo teve como continuar os estudos porque
trabalho durante o dia como manicure em Sobradinho e o uacuteltimo ocircnibus que passa
perto do assentamento eacute as 5 horas da tarde entatildeo natildeo daacute para estudar a noite
Sim porque quero fazer um curso de cabelereiro quando tiver aacutegua e luz aqui eu
quero montar um salatildeo de beleza e para ser uma empresaacuteria precisa ter estudos pra
administrar o negoacutecio
Entrevistado 06
44 anos
6 anos
Formosa-GO
8 anos
5ordf seacuterie
24 anos
Porque a escola mais perto(SIC) era 10km de distacircncia e eu trabalhava na roccedila e
ficava muito cansado aiacute parei natildeo deu mais
Sim quando tiver escola aqui eu vou voltar a estudar Eu tinha um sonho de ser
agroacutenomo mas esse sonho eacute impussive(SIC) entatildeo queria concluir o ensino
fundamental para fazer um curso de teacutecnico agriacutecola no IFB mas tambeacutem eacute longe
se tivesse como estudar aqui no assentamento eu ia(SIC) ficar muito feliz
Entrevistado 07
57 anos
6 anos
Parnaiacuteba-PI- Santa Maria- DF
7 anos
4ordf seacuterie
21 anos
Parei porque era muito difiacutecil ir para escola que ficava muito longe eu tinha que sair
de casa as 4hs da madrugada para chegar na escola as 730 ia montado num
cavalo e muitas vezes natildeo tinha professora pra dar aula Parei porque natildeo aguentei
o rojatildeo tinha que minha matildee na lida a tarde e eu ficava muito cansado Vim pra
52
Brasiacutelia e casei fui trabalhar de chacareiro numa chaacutecara que tambeacutem era longe de
escola depois vim morar aqui no assentamento que natildeo tem escola
Se tivesse escola aqui eu ia voltar estudar soacute pra aprender a cuidar meior (SIC) da
terra e dos meus bichos e que fosse como uma escola agriacutecola
Entrevistado 08
Tenho 29 anos moro no assentamento Renascer haacute 2 anos sou educadora do
Pronera haacute 1 ano e 2 meses O Pronera eacute como um antidepressivo na vida de muita
gente o Pronera melhorou a minha vida e a vida dos meus alunos o desejo de
todos eacute que o Pronera continue crescendo em direccedilatildeo de uma educaccedilatildeo continuada
levando tambeacutem o ensino fundamental para os acampamentos e assentamentos da
Reforma Agraacuteria
-50-
Anexos
53
Acampamento agrave beira da estrada ndash 2004
Construccedilatildeo da Sede do Movimento na atual aacuterea
54
Reuniatildeo semanal
Teatro de fantoches ndash brinquedoteca
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Accedilatildeo da Pastoral da Crianccedila na brinquedoteca
Oficina de brinquedos reciclaacuteveis
56
Brinquedo confeccionado com materiais reciclaacuteveis na Brinquedoteca
57
58
59
60
Apresentaccedilatildeo teatral
61
Capacitaccedilatildeo em Economia Solidaacuteria
Formaccedilatildeo de multiplicadores da Economia Solidaacuteria
62
Capacitaccedilatildeo de Educadores Ambientais
63
Luta pela Reforma Agraacuteria e Soberania Alimentar
12
rdquoPesquisa Social e accedilatildeo Pedagoacutegicardquo rdquoEtnografia e Praacutetica Escolarrdquo ldquoMetodologia
do tralho Cientiacuteficordquo e trabalhos monograacuteficos de ex-alunos do curso da LEdoC
A metodologia utilizada a pesquisa qualitativa com estudo de caso e estudo
bibliograacutefico
O estudo teve como instrumento de pesquisa a aplicaccedilatildeo de entrevista semi-
estruturada com pessoas da comunidade Renascer quando seraacute identificada sua
participaccedilatildeo e contribuiccedilatildeo para educaccedilatildeo na comunidade e sobre seu entendimento
sobre que tipo de escola do campo que a comunidade requerem relevantes para o
objetivo da pesquisa
O trabalho de campo foi para buscar informaccedilotildees atraveacutes da fala dos sujeitos
que foram ouvidos conforme citado anteriormente bem como de material que
poderaacute contribuir para o trabalho da pesquisa
A pesquisa bibliograacutefica abordou o aprofundamento teoacuterico sobre o tema
para anaacutelise da realidade da educaccedilatildeo do campo para melhor entender a situaccedilatildeo
em que o assentamento se encontra na luta pela escola
-11-
13
Segundo Capiacutetulo
Da escola rural agrave escola do campo histoacuterico das lutas e
concepccedilotildees da educaccedilatildeo
21 A Escola Rural no Brasil
Conforme Ferreira e Brandatildeo (2011) a trajetoacuteria da escola rural brasileira
deve ser contextualizada historicamente segundo o modelo socioeconocircmico
implantado no paiacutes desde o iniacutecio do processo colonizador ateacute o momento presente
Para os autores desde os primoacuterdios do processo de colonizaccedilatildeo o paiacutes foi
entendido apenas como uma colocircnia de exploraccedilatildeo devendo portanto remeter agrave
metroacutepole suas riquezas naturais do solo do subsolo dando segmento aos ciclos
econocircmicos denominados de colonial ciclo do pau brasil da cana de accediluacutecar do
ouro do cafeacute (FERREIRA amp BRANDAtildeO 2011 p3)
A base social do paiacutes eacute formada pelos nativos (iacutendios ndash expulsos
massacrados e exterminados) os africanos e os imigrantes pobres vindos da
Europa e do oriente Foi segundo os mesmos autores esta mesma base social que
formou a matildeo de obra imprescindiacutevel para a implantaccedilatildeo do projeto colonial e do
periacuteodo imperial
A aboliccedilatildeo da escravatura em 1888 e o consequente abandono da populaccedilatildeo
negra desprovida de qualquer indenizaccedilatildeo ou bens materiais particularmente terra
teve como consequecircncia o ecircxodo rural e o desprezo pela atividade agriacutecola
associada agrave escravatura
Em sua experiecircncia histoacuterica como repuacuteblica o tradicional modelo
socioeconocircmico adotado no Brasil perdurou
Ao longo da histoacuteria do Brasil o processo de exclusatildeo social e tambeacutem poliacutetico econocircmico e cultural sempre estiveram presentes e eram tidos como algo ldquonaturalrdquo Ainda nos dias atuais fazer uma referencia a este processo de exclusatildeo natildeo leva a um debate tranquilo a resistecircncia ainda eacute forte por parte da sociedade neoliberal principalmente por aqueles que ainda se beneficiam com
a exclusatildeo socialrdquo (FERREIRA 2011 pag 3)
Com relaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo o que se percebe eacute conforme Ferreira (2011)
14
que o modelo de educaccedilatildeo praticado no Brasil pelos diferentes governos entre o iniacutecio do Impeacuterio (1822) ateacute meados do seacuteculo XX era uma educaccedilatildeo para a elite econocircmica e intelectual em prejuiacutezo direto e indiscriminado dos pobres negros e iacutendios Inclusive a primeira Lei ainda no periacuteodo imperial quando se reporta agrave educaccedilatildeo natildeo se ateve agraves especificidades diretas da zona rural onde a populaccedilatildeo brasileira viviardquo (FERREIRA 2011 p4)
Clauacutedio Santos (2013) afirma que a educaccedilatildeo destinada aos habitantes do
campo no inicio do seacuteculo XX entendia que ldquoa formaccedilatildeo das jovens geraccedilotildees ou dos
adultos no espaccedilo rural era tida como algo menor ou desnecessaacuteriordquo (p 47) Para o
autor a maioria de residentes no campo ( 75) natildeo foi pensado um modelo
educacional que contemplasse as necessidades dos residentes no campo o que a
histoacuteria do Brasil nos ensina eacute que o regime republicano manteve os grandes
latifuacutendios e a oligarquia rural alijando a maior parcela da populaccedilatildeo rural de
qualquer benefiacutecio do sistema poliacutetico-econocircmico
A organizaccedilatildeo escolar rural no Brasil embora tiacutemida pode ser localizada a
partir do primeiro governo republicano o do marechal Deodoro da Fonseca (1889-
1891) estando a cargo do Ministeacuterio da Agricultura Comeacutercio e Induacutestria O ecircxodo
da populaccedilatildeo rural para os incipientes centros urbanos em busca dos empregos
promovidos pela igualmente incipiente industrializaccedilatildeo evidenciava as mazelas dos
sujeitos do campo 75 da populaccedilatildeo brasileira era analfabeta igual nuacutemero da
populaccedilatildeo do campo
Somente a partir de 1920 tem-se efetivamente o primeiro movimento em
defesa da educaccedilatildeo da populaccedilatildeo rural conhecido como Ruralismo Pedagoacutegico
(SANTOS 2013) que foi um movimento dos educadores poliacuteticos e intelectuais
elaborando formas de accedilatildeo pedagoacutegicas adequados agrave dominacircncia poliacutetico-
econocircmica da oligarquia rural
Para o autor o ruralismo pedagoacutegico
defendia uma escola integrada agraves condiccedilotildees locais para promover a fixaccedilatildeo do homem do campo estava ligado agrave modernizaccedilatildeo do campo brasileiro e contava com o apoio dos latifundiaacuterios temerosos de perder sua matildeo de obra bem como de uma elite urbana preocupada com os resultados negativos de uma migraccedilatildeo
camponesa para a cidade (SANTOS2013p48)
15
Uma caracteriacutestica do ruralismo pedagoacutegico foi buscar adequar a educaccedilatildeo
rural para fixar o homem no campo para diminuir o processo de urbanizaccedilatildeo e
consequente ecircxodo rural que modificava a estrutura econocircmico e social do paiacutes
Relativo agrave educaccedilatildeo rural da primeira metade do seacuteculo XX nos ensina
Santos (2013 p48) que ldquoem 1933 inicia-se a campanha de alfabetizaccedilatildeo na zona
rural Em 1935 ocorre o I Congresso Nacional do Ensino Regional que contribui
para a fundaccedilatildeo da Sociedade Brasileira de Educaccedilatildeo Rural no ano de 1937rdquo
Nos anos de 1920 foi criado o movimento conhecido como Escola Nova por
intelectuais e pensadores brasileiros que valorizaram a pesquisa educacional e a
inserccedilatildeo da escola como uacutenico meio de se combater as desigualdades sociais num
ambiente de crescente industrializaccedilatildeo e urbanizaccedilatildeo (SANTOS 2013) Estes
educadores como Aniacutesio Teixeira Fernando de Azevedo Lourenccedilo Filho dentre
outros defenderam atraveacutes do Manifesto da Escola Nova (1932) a universalizaccedilatildeo
da escola puacuteblica laica e gratuita
A influecircncia deste movimento sobre a educaccedilatildeo brasileira fez-se sentir nas geraccedilotildees futuras de educadores e pesquisadores como Darcy Ribeiro e Florestan Fernandes A atuaccedilatildeo desses pioneiros se estendeu por deacutecadas muitas vezes criticada pelos defensores da escola particular e religiosa (FERRARI 2014p43)
Poreacutem as propostas do Manifesto natildeo tiveram impactos concretos e natildeo
foram incorporados pela escola Ferraro (2012) esclarece que
A educaccedilatildeo rural no Brasil soacute se tornou objeto de interesse do Estado no momento em que todas as atenccedilotildees e esperanccedilas se voltavam para o urbano e a ecircnfase passava a recair sobre o desenvolvimento industrial Quando os interesses do latifuacutendio dominavam tanto a economia como a poliacutetica a alfabetizaccedilatildeo das massas camponesas era vista como seacuteria ameaccedila agrave ordem vigente Quando o paiacutes jaacute avanccedila no processo de industrializaccedilatildeo e se torna predominantemente urbano eacute a proacutepria cidade que passa a reivindicar a alfabetizaccedilatildeo das populaccedilotildees do campo Passa entatildeo a contrariar os interesses da cidade continua (FERRARO 2012p964)
16
A industrializaccedilatildeo ocorreu nas cidades e atraiu grandes levas de
trabalhadores do campo seduzidos pelo ideal de transformaccedilatildeo de vida acesso agrave
escolarizaccedilatildeo empregos bem remunerados ideais que levam ao ecircxodo rural hoje
ou naquele momento histoacuterico A realidade do trabalhador do campo receacutem
chegado agrave cidade era do ponto de vista educacional precariacutessima pois em sua
maioria eram analfabetos ou com baixa escolarizaccedilatildeo Essa condiccedilatildeo impedia o
acesso ao emprego industrial urbano e agrave boa qualidade de vida que uma boa
remuneraccedilatildeo podia proporcionar
As cidades sofreram crescimento raacutepido desgovernado formando periferias
que abrigavam a maioria da populaccedilatildeo egressa do campo O subemprego e o
desemprego desestabilizavam as populaccedilotildees das cidades e geravam desequiliacutebrios
sociais e econocircmicos comprometendo a qualidade de vida de todos os moradores
Eacute o ciacuterculo vicioso da desigualdade da exclusatildeo e da violecircncia que a educaccedilatildeo
pode romper A educaccedilatildeo tem entatildeo o propoacutesito de formar trabalhadores para a
induacutestria urbana
Na Constituiccedilatildeo de 1934 para com a educaccedilatildeo rural destaca-se o Art 156 conforme podemos ver abaixo
A Uniatildeo e os Municiacutepios aplicaratildeo nunca menos de dez por cento e os Estados e o Distrito Federal nunca menos de vinte por cento da renda resultante dos impostos na manutenccedilatildeo e no desenvolvimento dos sistemas educativos Paraacutegrafo uacutenico ndash Para a realizaccedilatildeo do ensino nas zonas rurais a Uniatildeo reservaraacute no miacutenimo vinte por cento das cotas destinadas agrave educaccedilatildeo no respectivo orccedilamento anual
Na constituiccedilatildeo Federal de 1937 a educaccedilatildeo rural natildeo eacute citada A prioridade eacute
a educaccedilatildeo dos moradores urbanos Neste periacuteodo conforme Ferreira (2011) ldquoa
orientaccedilatildeo poliacutetico educacional para o mundo capitalista fica bem expliacutecita
sugerindo a preparaccedilatildeo de um maior contingente de matildeo de obra para as novas
atividades abertas pelo mercado ndash a industrializaccedilatildeordquo ( pg 32)
Ainda segundo o autor este afirma que em 1935 ocorreu o I Congresso
Nacional do Ensino Regional que assume como objetivo propagar a educaccedilatildeo rural
e elaborar os planos de educaccedilatildeo Esses planos recomendavam escolas rurais
ambulantes nas regiotildees de menor densidade geograacutefica
17
O periacuteodo conhecido como Estado Novo (1937-1945) tentava implantar uma
poliacutetica educacional de cunho nacionalista tornando a educaccedilatildeo um instrumento do
estado servindo aos seus interesses
Os adultos analfabetos particularmente no meio rural tiveram atenccedilatildeo da
Campanha Nacional de Educaccedilatildeo Rural (CNER) de 1952 a 1963 cujo objetivo era
contribuir para a inserccedilatildeo do homem do campo O CNER atuou atraveacutes de missotildees
internacionais dos Estados Unidos voltadas agrave educaccedilatildeo ao treinamento de
professores e agrave preparaccedilatildeo dos jovens do meio rural pelo ensino profissional
agriacutecola Agrave atividade do CNER podemos agregar a accedilatildeo da Comissatildeo Brasileiro-
Americana de Educaccedilatildeo das Populaccedilotildees Rurais (CBAR) que celebrou acordos entre
esses dois paiacuteses visando a educaccedilatildeo rural orientada para o emprego de teacutecnicas
agriacutecolas (OLIVEIRA 1999 p 133)
A educaccedilatildeo rural eacute chamada para se ajustar agraves poliacuteticas educacionais estabelecidas pelo projeto do estado A educaccedilatildeo rural em primeiro lugar apesar de numerosos programas desenvolvidos sempre representou uma fatia muito pequena e marginal nas preocupaccedilotildees do setor puacuteblico (OLIVEIRA p apud CALAZANS1981p162)
A educaccedilatildeo rural ocupou e ainda ocupa pequeno espaccedilo no universo
educacional brasileiro As escolas apresentam dificuldades para se manterem no
campo Conforme o Jornal Sem Terra nordm 46 jun2011 24000 escolas do campo
foram fechadas no Brasil As instalaccedilotildees o curriacuteculo a carecircncia de professores o
transporte escolar formam muitas vezes uma barreira quase imponiacutevel para uma
ampla gama de alunos particularmente das uacuteltimas seacuteries do ensino fundamental e
do ensino meacutedio
Os programas implantados nos uacuteltimos anos como o PRONERA e o EJA
apresentam soluccedilotildees e alcanccedilam grandes resultados mas podemos questionar os
resultados entre os estados O Rio Grande do Sul (que atendeu alunos do ensino
baacutesico ateacute o ensino superior) em comparaccedilatildeo com outros estados e o Distrito
Federal conseguiu excelentes resultados No DF falta alcanccedilar melhores
resultados Podemos questionar se os resultados satildeo adequados pois por exemplo
no assentamento Renascer o Pronera natildeo vai aleacutem do quinto ano Eacute necessaacuterio
uma poliacutetica educacional que leve em conta a realidade dos alunos do campo
18
invista recursos materiais e humanos modernizem as escolas e propiciem o acesso
dos alunos
Conforme nos explica Sousa 2004 em seu artigo lsquodiscursos intolerantes o
lugar da politica na educaccedilatildeo rural e a representaccedilatildeo do camponecircs analfabeto
No Brasil a trajetoacuteria da educaccedilatildeo rural inclui-se na dinacircmica de modernizaccedilatildeo do campo assumindo um papel decisivo no processo de expropriaccedilatildeo proletarizaccedilatildeo e controle dos trabalhadores rurais A modernizaccedilatildeo da produccedilatildeo no nordeste brasileiro por exemplo incentivou o processo de sindicalizaccedilatildeo em massa dos trabalhadores das zonas canavieiras estimulou reivindicaccedilotildees no campo do trabalho ligadas agrave aplicaccedilatildeo do Estatuto do Trabalhador Rural e contraditoriamente fez emergir as manifestaccedilotildees pela distribuiccedilatildeo de terras encampadas pelas Ligas Camponesas ( SOUSA2004 p4)
O projeto de modernizaccedilatildeo do campo ocorreu sem que houvesse a
emancipaccedilatildeo dos trabalhadores rurais Na verdade ocorreu a proletarizaccedilatildeo dos
trabalhadores rurais pela acumulaccedilatildeo de terras em matildeos de apenas poucos
proprietaacuterios (latifundiaacuterios) Esse acontecimento revela que apenas em processo
consciente e contiacutenuo de lutas organizados e unidos os trabalhadores rurais
poderatildeo conquistar terras e meios para sua produccedilatildeo
O estudo da organizaccedilatildeo dos trabalhadores rurais eacute importante porque eacute a
partir dela que outras grandes reivindicaccedilotildees satildeo conquistadas No caso da
presente pesquisa pode-se observar que foi a organizaccedilatildeo dos trabalhadores em
torno de suas causas a reforma agraacuteria que levou agrave luta pelas outras reivindicaccedilotildees
como a educaccedilatildeo no campo
O proacuteximo capiacutetulo deste trabalho monograacutefico aborda a questatildeo das
manifestaccedilotildees e resistecircncias dos camponeses pela educaccedilatildeo e pela reforma
agraacuteria
-16-
22 Trajetoacuteria de luta pela Educaccedilatildeo do Campo
A luta pela educaccedilatildeo do campo esteve sempre associada agrave luta pela reforma
agraacuteria e pela conquista de direitos para os trabalhadores rurais O Movimento das
19
Ligas Camponesas lutou pela emancipaccedilatildeo do trabalhador rural e da reforma agraacuteria
e em seu projeto educacional estavam baseados nos ideais de Paulo Freire e do
Movimento de Educaccedilatildeo de Base (MEB)
Para explicar a reaccedilatildeo das classes populares agraves imposiccedilotildees do governo
brasileiro e das classes dominantes Oliveira (1995 apud ARROYO)
A histoacuteria das lutas entre as classes sociais natildeo se limitam agrave luta pelo poder mas se constituem impulsionadoras da histoacuteria da humanidade que natildeo aguardam passivamente seu destino mas ao contraacuterio articulam-se em torno de suas lutas para garantir seus direitos sua dignidade e sua participaccedilatildeo democraacutetica na sociedade( OLIVEIRA apud ARROYO1995p 80)
Neste sentido as Ligas Camponesas lutaram praticamente em todo o
territoacuterio nacional contra a tentativa de expulsatildeo dos trabalhadores rurais das terras
Os conflitos armados particularmente no Nordeste exigiam participaccedilatildeo poliacutetica e
direitos essenciais como a educaccedilatildeo do campo
O meacutetodo de alfabetizaccedilatildeo criado por Paulo Freire foi amplamente utilizado
pelas Ligas Camponesas e em sua concepccedilatildeo ampla de escola serviu de subsidio
para a compreensatildeo do camponecircs acerca de seu papel social (TOLEDO Caio
Navarro 2004 p6)
Neste contexto surge a Pedagogia do Oprimido de Paulo Freire Segundo
SANTOS (2013 apud Paulo Freire 1987) afirma que a pedagogia do oprimido
configura-se como
Aquela que tem de ser forjada com ele (o oprimido) e natildeo para ele enquanto homens ou povos na luta incessante de recuperaccedilatildeo de sua humanidade Pedagogia que faccedila da opressatildeo e de suas causas objeto de reflexatildeo dos oprimidos de que resultaraacute o seu engajamento necessaacuterio na luta por sua libertaccedilatildeo em que esta pedagogia se faraacute e refaraacuterdquo (FREIRE 1987 p32)
A pedagogia do oprimido serve de referecircncia para o trabalhador rural que luta
pela emancipaccedilatildeo de sua condiccedilatildeo de proletaacuterio atraveacutes da reforma agraacuteria A
pedagogia do oprimido leva o homem ao encontro de si mesmo ao reconhecimento
da grandeza de seu trabalho ao potencial de suas accedilotildees cotidianas que fazem a
diferenccedila A capacidade de reflexatildeo e o entendimento de sua potencialidade pode
leva-lo agrave sua plena realizaccedilatildeo como indiviacuteduo e como ser social
20
A reaccedilatildeo do governo contra o movimento de educaccedilatildeo popular proposto por
Freire e assumido pelo Movimento das Ligas Camponesas e pelo Movimento de
Educaccedilatildeo de Base (MEB) gerou repressatildeo e resposta da ditadura civil-militar como
o Movimento Brasileiro de Alfabetizaccedilatildeo (MOBRAL)
A luta dos movimentos sociais e sindicais pela educaccedilatildeo do campo parte das
forccedilas internas dos movimentos e alcanccedila a setores sociais religiosos ideoloacutegicos
que passam a contribuir efetivamente para o alcance do direito agrave educaccedilatildeo aos
camponeses
A Comissatildeo Pastoral da Terra (CPT) presente ao lado dos trabalhadores (as)
rurais indiacutegenas ribeirinhos pescadores e quilombolas tambeacutem contribuiu e
contribui para a formaccedilatildeo criacutetica a defesa de formas sustentaacuteveis de utilizaccedilatildeo de
recursos naturais e produccedilatildeo e para a alfabetizaccedilatildeo segundo o meacutetodo de Paulo
Freire (CANUTO 2012 p 131)
Na atualidade estaacute em desenvolvimento um movimento que luta pela educaccedilatildeo do homem do campo organizado por vaacuterias entidades dentre elas o MST Trata-se de um processo que teve inicio em meados dos anos de 1990 impulsionados pela necessidade da educaccedilatildeo de jovens e adultos das aacutereas de assentamentos rurais Foi organizado um Programa Nacional para Educaccedilatildeo na Reforma Agraacuteria composto por atores tais como movimentos sociais universidades e governo federal aleacutem de outros parceiros (Alas da Igreja Sindicatos Organizaccedilatildeo Natildeo-Governamental ONG) existentes nas diferentes regiotildees do Brasil( SOUSA2004 p 32)
A trajetoacuteria de conquista das escolas do campo particularmente as escolas
do campo criadas pelo MST a partir da deacutecada de 1990 foi marcada pela conquista
e implantaccedilatildeo da Educaccedilatildeo Fundamental para crianccedilas e adolescentes dos
acampamentosassentamentos de acordo com o projeto politico-pedagoacutegico fruto do
amadurecimento do movimento
Focou-se a alfabetizaccedilatildeo de jovens e adultos e as lutas pela implantaccedilatildeo do
ensino meacutedio com cursos alternativos para a formaccedilatildeo de professores e teacutecnicos de
niacutevel meacutedio e tambeacutem de cursos superiores
A concepccedilatildeo de escolas de ensino fundamental plantadas em assentamentos
prevecirc a instalaccedilatildeo da escola na proacutepria comunidade evitando com isso o uso de
transporte escolar e a frequecircncia dos alunos Sem Terra em escolas fora do
assentamento
21
Esta atitude de resistecircncia foi fundamental para a conquista da escola nas
terras conquistadas e tambeacutem foi fundamental para universalizar o ensino enraizar
o aluno em sua comunidade e criar a consciecircncia do direito agrave educaccedilatildeo
ldquoincomodandordquo o Estado para garantir o cumprimento das poliacuteticas puacuteblicas
Kolling Vargas e Caldart (2012p502) nos ensinam ldquotoda vez que se
conquista uma escola de educaccedilatildeo baacutesica em um assentamento ou acampamento
ela representa menos adolescentes e jovens do campo fora da escola e mais gente
enraizada em seu proacuteprio lugarrdquo (pag 502)
Os movimentos sociais e sindicais pela educaccedilatildeo do campo indicam o grau
de maturidade desses em sua luta pela reforma agraacuteria Agrave essa luta soma-se o
projeto de desenvolvimento do paiacutes baseado na justiccedila social e o combate agraves
tradicionais formas utilizadas pelas elites urbanas ou rurais de alienaccedilatildeo pela
expropriaccedilatildeo do trabalho e pelo controle dos meios que levam agrave emancipaccedilatildeo
sociocultural e agrave verdadeira humanizaccedilatildeo papel destinado agrave educaccedilatildeo
Neste sentido movimentos sociais como o MST inserem a educaccedilatildeo
baseada em princiacutepios pedagoacutegicos que se distinguem da escola tradicional
Numa perspectiva histoacuterica os movimentos sociais do campo como por
exemplo o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) tiveram inicialmente
como bandeira de luta a luta pela terra pela Reforma Agraacuteria natildeo fazendo uma
relaccedilatildeo entre essa luta e a educaccedilatildeo
A formaccedilatildeo de escolas do campo pelo MST natildeo foi resultado da consciecircncia e
importacircncia da escola para a promoccedilatildeo da educaccedilatildeo em seu meio Foi na verdade
a necessidade de oferecer aos filhos dos primeiros lutadores a oportunidade de
uma perspectiva melhor de futuro atraveacutes do direito agrave educaccedilatildeo Foi tambeacutem a
necessidade de ldquotransformar instituiccedilotildees histoacutericas como a escola em lugares que
ajudem a formar os sujeitos destas transformaccedilotildeesrdquo (CALDART2012 p94)
Desse modo houve primeiro a ldquoocupaccedilatildeo da escolardquo pela mobilizaccedilatildeo e pela
accedilatildeo para garantir que em acampamentos ou assentamentos conquistados
houvesse uma escola que ldquofizesse a diferenccedila ou tivesse realmente sentido em sua
vida presente e futura (preocupaccedilatildeo com os filhos)rdquo (CALDART2012 p91)
Num segundo momento da luta observa-se intencionalidade da luta pela
escola mas com proposta pedagoacutegica especiacutefica ldquocombinando processos de
22
escolarizaccedilatildeo e de formaccedilatildeo da militacircncia e da base social Sem Terrardquo
(CALDART2012 p92)
As experiecircncias de pensar escolas como polos regionais entre assentamentos e com estudantes de outras comunidades de camponeses aos poucos vatildeo educando o olhar dos trabalhadores Sem Terra para uma realidade mais ampla Foi assim que o MST chegou agrave EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO (KOLLING Vargas e Caldart 2012 p 502)
A escola dentro dessa perspectiva de mudanccedila e envolvimento social eacute
parte da luta pela reforma agraacuteria daacute significado a ela pois proporciona a formaccedilatildeo
integral dos sujeitos que lutam pela terra
Essa escola possibilita a reflexatildeo trava o diaacutelogo com as propostas de
educaccedilatildeo popular de Paulo Freire e busca superar as dificuldades imensas que
assentados e acampados vivem no dia a dia
A escola tambeacutem revela a cultura o orgulho e criaccedilatildeo da identidade na luta
por terra Nesse sentido
A heranccedila que o MST deixaraacute para seus descendentes seraacute bem mais do que a terra que conseguir libertar do latifuacutendio seraacute um jeito de ser humano e de tomar posiccedilatildeo diante das questotildees de seu tempo seratildeo os valores que fortalecem e datildeo identidade aos lutadores do povo de todos os tempos de todos os lugares Eacute enquanto produto humano de uma obra educativa que os Sem Terra podem ser vistos como mais um elo que se forma em uma longa tradiccedilatildeo de lutadores sociais que fazem a histoacuteria da humanidade Enraizamento no passado e projeto de futuro (CALDART 2012 p 96)
A educaccedilatildeo proposta pelo movimento gera o sentimento de pertencimento e
desperta o sentimento de respeito agrave coletividade valoriza o trabalho a gestatildeo
democraacutetica e desburocratizada da escola
SANTOS (2013 p71) esclarece que pelo projeto educacional do MST a
educaccedilatildeo proposta estaacute pautada em ldquovalores socialistas e humanistas tais como o
coletivismo o trabalho socialmente uacutetil a organizaccedilatildeo e auto-organizaccedilatildeo dos
estudantes e professoresrdquo (p71)
-21-
23
221 Concepccedilatildeo Pedagoacutegica da Educaccedilatildeo do Campo
No acircmbito da educaccedilatildeo do homem do campo tornar o homem sujeito e natildeo
objeto do saber leva a entender que o conhecimento do camponecircs pode dialogar
com as praacuteticas baseadas no conhecimento cientiacutefico desde que seja perseguido o
ideal de trabalhadores e educadores do campo comprometidos com as lutas sociais
de formar o homem ldquodordquo campo e ldquono campordquo
Conforme Kolling Cerioli e Caldart (2002 p 264) ldquoo povo tem direito a uma
educaccedilatildeo pensada desde o seu lugar e com sua participaccedilatildeo vinculada agrave sua
cultura e agraves suas necessidades humanas e sociaisrdquo ndash(Caldart Educaccedilatildeo do Campo
2012 p 264
Tal compreensatildeo se ainda hoje causa oposiccedilatildeo ateacute mesmo no ambiente
acadecircmico imagine-se naquele momento histoacuterico de profunda repressatildeo poliacutetica e
ideoloacutegica aos movimentos sociais de camponeses por terra e educaccedilatildeo Como nos
ensina Molina e Saacute (DICIONAacuteRIO da Educaccedilatildeo do Campo p 324)
A concepccedilatildeo de escola do campo nasce e se desenvolve no bojo do movimento da EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO a partir das experiecircncias de formaccedilatildeo humana desenvolvidas no contexto de luta dos movimentos sociais camponeses por terra e educaccedilatildeo Trata-se portanto de uma concepccedilatildeo que emerge das contradiccedilotildees da luta social e das praacuteticas de educaccedilatildeo dos trabalhadores do e no campo (MOLINA e SAacute 2012 pag 324)
A concepccedilatildeo pedagoacutegica da educaccedilatildeo popular e da pedagogia da praacutetica
segundo ARROYO inclui
um caraacuteter de envolvimento totalizante dos movimentos sociais que possibilita ao individuo que participa destes coletivos o acesso a outro tipo de formaccedilatildeo que supera a condiccedilatildeo de aluno de alfabetizando de escolarizando Os integrantes destes organismos emersos na tensa situaccedilatildeo de conflitos aprendem por meio da vivencia das lutas sociais dos momentos de mobilizaccedilatildeo das situaccedilotildees limites de perda de emprego de criacuteticas da sociedade agraves suas accedilotildees de ameaccedilas agraves suas vidas Tudo isso traz ricas liccedilotildees ensinadas na ldquoescola do movimentordquo e que nenhuma teoria pode transmitir ou explicar de forma satisfatoacuteria
No entendimento de Arroyo (2013) os movimentos sociais vivem e
amadurecem sob o conhecimento e o entendimento das contradiccedilotildees sociais e esta
24
experiecircncia lhes permite a possibilidade de defender mudanccedilas radicais tanto no
campo como na cidade tanto na ideologia quanto no combate ao latifuacutendio e ao
capitalismo
Tamanho movimento social gera a reflexatildeo sobre as relaccedilotildees
socioeconocircmicas politicas culturais cuidado da natureza relaccedilotildees humanas
destaques de tudo o que interessa ao coletivo agrave sociedade
Eacute por meio do entendimento de que a realidade eacute criaccedilatildeo humana de como se estabelecem os processos de opressatildeo e ainda da noccedilatildeo de que podemos transformar essa realidade dado que a sociedade eacute mutaacutevel que se forma a praacutexis da luta accedilatildeo-conscientizaccedilatildeo-transformaccedilatildeo-libertaccedilatildeo Inserindo-se criticamente na histoacuteria os cidadatildeos tornam-se sujeitos construtores e reconstrutores da realidaderdquo
Molina e Saacute (2012) nos ensinam a partir do conceito de escola do campo sobre a
potencialidade da vivencia de praacuteticas coletivas para a valorizaccedilatildeo integral dos
sujeitos da coletividade do conhecimento cientiacutefico da gestatildeo coletiva da escola
dentre tantos avanccedilos e vitoacuterias dos movimentos sociais
O processo ensino-aprendizagem permite que o conceito de escola extrapole
o cotidiano de dificuldades e desafia agrave reflexatildeo que gera a emancipaccedilatildeo
Este eacute um dos maiores desafios e ao mesmo tempo uma das maiores possibilidades da escola do campo articular os conhecimentos que os educandos tecircm o direito de acessar a partir do trabalho com a realidade da religaccedilatildeo entre educaccedilatildeo cultura e os conhecimentos cientiacuteficos a serem apreendidos em cada ciclo de vida e de diferentes aacutereas do conhecimento(MOLINA MOURAtildeO 2012 p 329) -26-
222 Princiacutepios da Educaccedilatildeo do Campo
Alguns princiacutepios viabilizam o projeto de escola adotado pelos movimentos
sociais e possibilitam a democracia e a integraccedilatildeo de todos lideranccedila assentados e
acampados do movimento
25
O princiacutepio da responsabilidade coletiva sobre o planejamento a gestatildeo a
organizaccedilatildeo e a realizaccedilatildeo de tarefas em todas as esferas de atividades princiacutepios
muito valorizados pelos movimentos sociais do campo foram transferidos para o
projeto de educaccedilatildeo
O projeto eacute de responsabilidade coletiva e insere educadores tanto a niacutevel
local como regional e nacional os ldquoColetivos de educaccedilatildeordquo como satildeo conhecidos
Os coletivos de educaccedilatildeo com tarefas forccedila orgacircnica e discussotildees especiacuteficas que podem variar a cada periacuteodo fortalecem o princiacutepio organizativo de que a questatildeo da educaccedilatildeo bem como outras questotildees da vida social assumidas pelo MST deve ser pensada e implantada de forma coletiva Eacute uma loacutegica que implica tarefas a serem realizadas pelas pessoas mas mediante um planejamento e uma leitura de conjuntura feita por um coletivo (KOLLING1995 et al p503)
Para concretizar o projeto de educaccedilatildeo foi concebida a formaccedilatildeo de
professores pelos proacuteprios movimentos no acircmbito da proacutepria comunidade
(conhecidos como ldquoprofessores leigosrdquo) e tambeacutem pela rede oficial de ensino
A falta de titulaccedilatildeo de muitos educadores formados na comunidade natildeo
impede que os mesmos trabalhem juntos com os professores titulados e com
simpatizantes do movimento no projeto poliacutetico-pedagoacutegico constituindo um
princiacutepio democraacutetico importante para superar as dificuldades e urgecircncias para a
implantaccedilatildeo da educaccedilatildeo do campo
A democracia do processo de formaccedilatildeo de educadores tem reflexos amplos
a formaccedilatildeo de educadores pelos proacuteprios movimentos especiacutefica para atuaccedilatildeo nas
escolas do campo
O movimento eacute responsaacutevel pela universalizaccedilatildeo do ensino no acircmbito dos
territoacuterios conquistados ou por conquistar e permitiu a evoluccedilatildeo do ensino ateacute o niacutevel
de terceiro grau com a realizaccedilatildeo de cursos como a Licenciatura em Educaccedilatildeo do
Campo (LEdoC) do qual somos os privilegiados alunos aqui na Universidade de
Brasiacutelia
Outro reconhecimento e prova de eficiecircncia da formaccedilatildeo de professores eacute o
precircmio ldquoEducaccedilatildeo e Participaccedilatildeordquo recebido em 1995 do Fundo das Naccedilotildees Unidas
para a Infacircncia (Unicef)
26
O somatoacuterio das forccedilas internas e externas do movimento ldquoleigasrdquo ou
tituladas associadas ao princiacutepio fundamental da participaccedilatildeo dos alunos e
comunidades em todos os niacuteveis e localidades eacute ponto fundamental para o sucesso
da concepccedilatildeo do projeto pois permite o estudo a reflexatildeo conjunta sobre
estrateacutegias para o alcance do objetivo de educaccedilatildeo na reforma agraacuteria
-25-
223 Marcos Normativos da Educaccedilatildeo do Campo
Numerosos Marcos Normativos podem ser citados para explicitar qual perfil
de escola destinada ao camponecircs interessava ao governo e aos proprietaacuterios rurais
A Lei 4024 de 1961 em seu art 105 estabelece o
Apoio que poderaacute ser prestado pelo poder puacuteblico agraves iniciativas que mantenham na zona rural instituiccedilotildees educativas orientadas para adaptar o homem ao meio e estimular vocaccedilotildees e atividades profissionais (BRASIL 2012 p 4)
A Lei 5692 de 1971 ao tratar da educaccedilatildeo rural ldquonatildeo observa mais uma vez
a inclusatildeo da populaccedilatildeo na condiccedilatildeo de protagonista de um projeto social globalrdquo
sendo que o trabalho do campo realizado por alunos eacute ateacute mesmo incentivado
adequando-o ao calendaacuterio escolar (MARCOS NORMATIVOSBrasiacutelia2012 p 25)
A Lei 9394 de 1996 (Lei das Diretrizes se Bases da Educaccedilatildeo ndash LDB) em
acordo com Constituiccedilatildeo de 1988 e ldquoinspirada de alguma forma numa concepccedilatildeo
de mundo rural enquanto espaccedilo especifico diferenciado e ao mesmo tempo
integrado no conjunto da sociedaderdquo reconhece
A diversidade soacutecio-cultural e o direito agrave igualdade e agrave diferenccedila possibilitando a definiccedilatildeo de diretrizes operacionais para educaccedilatildeo rural sem no entanto recorrer a uma logica exclusiva e de ruptura com um projeto global de educaccedilatildeo para o paiacutes (idem p 26)
27
Os artigos 208 e 210 da Carta Magna-1988 e inspirada de numa concepccedilatildeo
de mundo rural enquanto espaccedilo especiacutefico diferenciado e ao mesmo tempo
integrado no conjunto da sociedade a Lei 939496- LDB-estabelece que
Art 28 Na oferta da educaccedilatildeo baacutesica para a populaccedilatildeo rural os sistemas de ensino promoveratildeo as adapta necessaacuteria agrave sua adequaccedilatildeo agraves peculiaridades da vida rural e de cada regiatildeo especialmente (MARCOS NORMATIVOS) Brasiacutelia 2012 p 25)
1- Conteuacutedos organizar curriculares e metodologias apropriadas agraves reais
necessidades e interesses dos alunos da zona rural
2-organizaccedilatildeo escolar proacutepria incluindo a adequaccedilatildeo do calendaacuterio escolar as
fases do ciclo agriacutecola e as condiccedilotildees climaacuteticas
3-adequaccedilatildeo agrave natureza do trabalho na zona rural (MARCOS NORMATIVOS)
Brasiacutelia 2012( p 26)
O movimento de educaccedilatildeo do campo luta haacute quinze (15) anos para fazer-se
cumprir esse Decreto da Lei de Diretrizes de base da educaccedilatildeo do campo-LDB
que apesar de ser constitucional ainda natildeo foi colocada totalmente em praacutetica
Agora com as lutas dos movimentos sociais eacute que estaacute comeccedilando a se concretizar
Artigo 26 Os curriacuteculos do ensino fundamental e meacutedio devem ter uma base nacional comum a ser complementada em cada sistema de ensino e estabelecimento escolar por uma parte diversificada exigida pelas caracteriacutesticas regionais e locais da sociedade
da cultura da economia e da clientela (MARCOS NORMATIVOS) Brasiacutelia 2012(p 26)
O Decreto nordm 7352 de 4 de novembro 2010 dispotildee sobre a poliacutetica de educaccedilatildeo do campo ao Programa Nacional de Educaccedilatildeo
na Reforma Agraacuteria-PRONERA decreta
Art1ordm A poliacutetica de educaccedilatildeo do campo destina-
se agrave ampliaccedilatildeo e qualificaccedilatildeo da oferta de educaccedilatildeo baacutesica e superior agraves populaccedilotildees do campo e seraacute desenvolvida pela Uniatildeo em regime de colaboraccedilatildeo com os Estados o
28
Distrito Federal e os Municiacutepios de acordo com as diretrizes e metas estabelecidas no Plano Nacional de Educaccedilatildeo e o disposto neste Decreto
Para os efeitos deste Decreto entende-se por
l-populaccedilatildeo do campo os agricultores familiares os extrativistas os pescadores
artesanais os ribeirinhos os assentados e acampados da reforma agraacuteria os
trabalhadores assalariados rurais os quilombolas os caiccedilaras os povos da floresta
os caboclos e outros que produzam suas condiccedilotildees materiais de existecircncia a partir
do trabalho no meio rural
ll-escola do campo aquela situada em aacuterea rural conforme definida pela Fundaccedilatildeo
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica- IBGE ou aquela situada em aacuterea
urbana desde que atenda predominantemente a populaccedilatildeo do campo (MARCOS
NORMATIVOS) 2012( p 81)
No Decreto 6755 29 de janeiro de 2009 em seu art 2ordm estabelecida pelo Conselho
Nacional de Educaccedilatildeo que se refere as Diretrizes Operacionais da Educaccedilatildeo do
Campo o parecer da alternacircncia
A formaccedilatildeo de professores poderaacute ser feita concomitantemente agrave atuaccedilatildeo profissional de acordo com metodologias adequadas inclusive a pedagogia da alternacircncia e sem prejuiacutezo de outras que atendam agraves especificidades da educaccedilatildeo do campo e por meio de atividades de ensino pesquisa e extensatildeo (MARCOS NORMATIVOS) 2012( p84)
-26-
29
-
231 A educaccedilatildeo do campo e poliacutetica puacuteblica - o PRONERA
O amadurecimento adquirido pela luta sobre o papel da educaccedilatildeo aliado agrave
iniciativa do aproveitamento do trabalho das professoras ldquoleigasrdquo e ainda da
consciecircncia cada vez mais presente do dever do Estado em prover os cidadatildeos da
reforma agraacuteria de poliacuteticas puacuteblicas resultou no campo da educaccedilatildeo na criaccedilatildeo do
Programa Nacional de Educaccedilatildeo na Reforma Agraacuteria (PRONERA)
O PRONERA envolve formalmente jovens e adultos num projeto conjunto
com universidades e institutos federais em prol da formaccedilatildeo de educadores para o
trabalho em escolas dos assentamentos da reforma agraacuteria e seu entorno
O Programa foi criado em 1998 no momento da ascensatildeo dos conflitos pela
reforma agraacuteria o que propiciou que os movimentos sociais trouxessem para a
opiniatildeo puacuteblica suas mazelas
No campo da educaccedilatildeo foi denunciada a falta de escola a precariedade do
ensino a falta de profissionais do ensino a ldquoloacutegica de negaccedilatildeo histoacuterica do direito
aos camponeses de acesso aos niacuteveis mais elevados de escolaridade ( SANTOS
2012 pag 630)
A partir de 2005 o ensino oferecido pelo PRONERA eacute estendido ao niacutevel
meacutedio e superior como a Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo e a Residecircncia
30
Agraacuteria O PRONERA evoluiu para outros patamares tais como ldquopossibilidades de
ressignificaccedilatildeo do conteuacutedo e da metodologia dos processos de educaccedilatildeo formal
por meio dos princiacutepios baacutesicos da participaccedilatildeo e da multiplicaccedilatildeordquo (SANTOS 2012
p 631)
A participaccedilatildeo das comunidades e suas organizaccedilotildees e a multiplicaccedilatildeo de
alfabetizados formados educadores e demais profissionais ligados agraves poliacuteticas
puacuteblicas para a Reforma Agraacuteria gerou ampla participaccedilatildeo dos agentes envolvidos
na dinacircmica do processo ensino-aprendizagem
Essa forma de gestatildeo gerou reaccedilatildeo contraacuteria ldquoagrave gestatildeo colegiada e coletiva
notadamente agrave participaccedilatildeo direta dos movimentos sociais e sindicais do campordquo
considerados ldquoentes estranhos agrave administraccedilatildeo puacuteblicardquo (CLARICE p 634)
O envolvimento dos movimentos sociais e sindicais do campo natildeo
retrocederam em sua luta pelo envolvimento de todos os interessados na educaccedilatildeo
como elemento emancipatoacuterio e continuam formulando princiacutepios concepccedilotildees e
diretrizes para a escola do campo
-31-
31
Terceiro Capiacutetulo
A histoacuteria do Assentamento Renascer
31 Uma breve histoacuteria de luta
A histoacuteria do Assentamento Renascer natildeo parece ser diferente da histoacuteria de
outros assentamentos Brasil afora Partiu da reivindicaccedilatildeo de Trabalhadores Rurais
sem Terra que desde 2004 ocuparam as margens da Rodovia DF 330 que liga
Sobradinho ao Paranoaacute-DF
Tatildeo perto do centro do poder a apenas poucos quilocircmetros do Palaacutecio da
Alvorada ou da Sede do INCRA o Acampamento Renascer esteve ateacute oito (08) de
maio de 2009 tatildeo distante da decisatildeo poliacutetica pela Reforma Agraacuteria
Somente nesta data trezentos sessenta e um( 361) de terras devolutas da
Uniatildeo foram repassadas ao INCRA para assentar as famiacutelias aliacute acampadas Ficou
criado o assentamento Renascer fora da beira da estrada
O Assentamento Renascer ldquorenasceurdquo da dificuldade de vida sob o barraco de
madeira sem aacutegua sem luz sem saneamento baacutesico que fez com que tantos
desistissem ao longo do caminho e ainda hoje se encontra nessa mesma
precariedade um descaso por parte do poder puacuteblico
A luta em vaacuterios momentos da vida dos acampados parecia estar vencida Os
vencedores pareciam ser a burocracia o desrespeito as noites mal dormidas a
inseguranccedila a falta de perspectivas para o acampado e suas famiacutelias
Duzentas (200) famiacutelias viveram aliacute por cinco anos (05) de 2004 ateacute 2009
Atualmente satildeo cento e vinte (120) famiacutelias que moram na aacuterea destinada e estatildeo
em processo de assentamento Muitas delas poreacutem vencidas pelo cansaccedilo e pelas
condiccedilotildees de vida abandonaram a luta mas todas as famiacutelias as que se foram e as
que ficaram sonharam com a terra onde poderiam produzir viam no pedaccedilo de chatildeo
os frutos do pomar da horta o galinheiro o pasto
O Assentamento Renascer eacute o Brasil Eacute um pedacinho da cruel realidade que
como vimos neste trabalho marcou a sociedade brasileira desde a escravidatildeo
desde o primeiro grito de rebeldia do quilombo desde o primeiro que lutou contra os
coroneacuteis por divisatildeo da terra como as Ligas Camponesas contra o latifuacutendio como
os movimentos sociais em sua luta pela reforma agraacuteria desde vaacuterias geraccedilotildees
32
Eacute como todo e qualquer movimento social que surgiu neste paiacutes desde a
deacutecada de 1980 pela reforma agraacuteria Viveu e ainda vive as dificuldades de ser
acampadoassentado mas honra sua luta porque natildeo desiste faacutecil
O Assentamento Renascer eacute tambeacutem fruto do ecircxodo rural da industrializaccedilatildeo
do campo da monocultura e da concentraccedilatildeo de terras Foram expulsos do campo
para a periferia das cidades sem capacitaccedilatildeo sem estudo
A falta de escolarizaccedilatildeo eacute sem duacutevida uma caracteriacutestica de quase todos os
que vieram do campo para a cidade A realidade do Brasil eacute que o campo natildeo eacute
escolarizado as escolas no campo satildeo poucas satildeo despreparadas satildeo
desvalorizadas
-33-
32 As escolas no campo na vivencia do assentado do Assentamento
Renascer
As escolas no campo marcaram profundamente a vida dos poucos que a
frequentaram Quase todos tiveram que trocar o laacutepis pela enxada a carteira pela
roccedila desde muito pequenos Alguns natildeo muito poucos conforme os depoimentos
aqui relatados teriam que abandonar a enxada e a participaccedilatildeo no sustento da
famiacutelia para frequentar a escola Quase sempre abandonaram a escola para ficar no
trabalho com a enxada
Todos teriam que andar vaacuterios quilocircmetros para ir agrave escola Outros nem assim
conseguiriam frequentar a escola no campo ela simplesmente natildeo existia no
campo Teriam entatildeo que ir para a cidade para ter direito a uma escola
Muitos tambeacutem vivenciaram os traumas que uma escola tradicional e
descomprometida com os valores e responsabilidades do projeto educacional
castigos humilhaccedilotildees afastaram a muitos da escola
Alguns apenas sonharam e sonham com a escola ldquoAh a escolardquo Tatildeo longe
inacessiacutevel para tantos no Brasil afora Ao ver de algumas pessoas do
Assentamento Renascer ldquoSe tivesse jeito eu teria ido agrave escola tinha feito pelo
menos o ensino fundamental completo para que eu pudesse ingressar no curso
33
teacutecnico-agriacutecola Mas agora quero que meus filhos e netos vatildeo para a escola
aprender ser algueacutem na vidardquo
-34-
321 A escola no entorno do Assentamento Renascer
A ideia de lutar pela educaccedilatildeo veio antes da ideia de lutar pela escola como
espaccedilo conquistado pelo acampamento Encontrar uma escola perto do
acampamento com transporte escolar com vagas e horaacuterios acessiacuteveis para os que
trabalham o dia todo era entendido como uma necessidade baacutesica e uma grande
vitoacuteria
Ficava-se feliz se apesar das dificuldades fosse possiacutevel matricular pelo
menos as crianccedilas As dificuldades eram e ainda satildeo muitas o transporte escolar
era e eacute precaacuterio a poeira natildeo permite que os alunos cheguem limpos agrave escola os
buracos e as poccedilas daacutegua impedem a chegada do ocircnibus escolar durante as
chuvas No caso do ocircnibus que levam os alunos ateacute a Escola Classe do Coacuterrego do
Arrozal em eacutepoca de muita chuva os ocircnibus ateacute o iniacutecio de 2014 natildeo conseguiam
transitar Isto resulta no fato de que as crianccedilas precisam caminhar debaixo de
chuva ateacute a escola
-35-
322 O caminho para a produccedilatildeo do saber no Assentamento Renascer a
brinquedoteca a integraccedilatildeo social a biblioteca comunitaacuteria as manifestaccedilotildees
culturais
Ao longo dos anos de vivecircncia e convivecircncia no Acampamento Renascer
mediante a dificuldade e necessidade de estudar que sentimos na nossa proacutepria
vida foi despontando a ideia de prover as crianccedilas de atividades luacutedicas e
educativas
34
Logo no iniacutecio do acampamento por volta de 2005 por iniciativa de algumas
pessoas conscientes da necessidade de atividades luacutedicas para as crianccedilas foi
criada uma brinquedoteca
Inicialmente os brinquedos eram de materiais reciclaacuteveis como garrafas pet
telefones sem fio carrinhos bonecas petecas vai e vem cavalinhos tudo era
confeccionado com a participaccedilatildeo das crianccedilas na modalidade de oficina
incentivando-os a fabricar os seus proacuteprios brinquedos Os brinquedos eram
confeccionados a partir de materiais encontrados nos lugares de descarte perto do
acampamento e doaccedilotildees de pessoas que passavam pela estrada
O embriatildeo de um processo educacional que nunca se interrompeu estava
lanccedilado a brinquedoteca proporcionou a criatividade e a participaccedilatildeo de crianccedilas e
adultos marcando as atividades pela conscientizaccedilatildeo do cuidado com a natureza e a
importacircncia da reciclagem A educaccedilatildeo ambiental jaacute era praticada desde o
nascimento do acampamento Renascer
Este primeiro passo foi muito importante porque traduziu para o dia a dia do
acampamento os princiacutepios da escola do campo atuante para mudar a realidade
criar cidadatildeos conscientes e dispostos a mudar a realidade a partir da sua proacutepria
accedilatildeo Este eacute o processo de transformaccedilatildeo social dentro do acampamento Renascer
haacute tanto tempo atraacutes
Aos brinquedos reciclados pela proacutepria comunidade juntaram-se outros
presenteados por instituiccedilotildees como igrejas ONGs a Pastoral da Crianccedila e pessoas
interessadas no bem estar daquelas crianccedilas
Percebe-se em iniciativas como essas a importacircncia da educaccedilatildeo nos
diversos niacuteveis para a sociedade A integraccedilatildeo de pessoas com as atividades
educativas no acampamento nos faz lembrar sobre um grande sonho das escolas
hoje integrar a comunidade de modo a que todos defendam a escola
O sucesso de iniciativas como a brinquedoteca que integravam crianccedilas
adolescentes adultos e sociedade foi importante para outras iniciativas igualmente
importantes
Foi-se criando um projeto educacional para o acampamento sem que se
tivesse consciecircncia disso por faltar informaccedilatildeo que soacute agora se possui graccedilas aos
estudos na Universidade o galpatildeo comunitaacuterio foi utilizado para abrigar a
35
brinquedoteca para desenvolver grupos de teatro de crianccedilas e adultos e para
abrigar a biblioteca
A biblioteca recebeu inuacutemeros exemplares de livros infantis livros didaacuteticos
para os adolescentes e adultos literatura universal revistas dos mais variados
assuntos criando assim um espaccedilo comunitaacuterio de informaccedilatildeo lazer e
entretenimento
Com a criaccedilatildeo da biblioteca ficou evidente a importacircncia da alfabetizaccedilatildeo de
crianccedilas jovens e adultos Muitos acampados relatavam a vontade e a necessidade
de aprender a ler e a escrever Muitos reivindicavam o direito agrave educaccedilatildeo e
frequecircncia agrave escola ainda que o acampamento mudasse de ldquoendereccedilordquo tantas
vezes
Outros poreacutem natildeo acreditavam que seria possiacutevel aprender ou aperfeiccediloar a
leitura e a escrita nas condiccedilotildees de vida de um acampado
Vaacuterias atividades culturais foram desenvolvidas (e ainda satildeo) no
Acampamento Renascer Todas chamavam a atenccedilatildeo da comunidade local de
outras comunidades vizinhas garantindo a simpatia de chacareiros que levavam os
filhos para participarem das atividades
Uma das atividades mais apreciadas foi o Teatro de Fantoches inspirados em
faacutebulas muitas com a autoria da Pastoral da Crianccedila e da Faber Castel A
participaccedilatildeo da comunidade na atividade era intensa e voluntaacuteria todos queriam
manipular os fantoches participar cantando danccedilando ou prestando muita atenccedilatildeo
O teatro de transformaccedilatildeo social produzido pelos adultos e adolescentes
utilizavam tambeacutem materiais reciclaacuteveis demonstrando cuidado com o meio
ambiente e amadurecimento dos conceitos poliacuteticos e pedagoacutegicos gerando reflexatildeo
sobre os temas sociais que nos atingem no cotidiano
A miacutestica adotada pelos movimentos sociais com o objetivo de reflexatildeo satildeo
apresentadas em datas comemorativas e contam com o apoio e participaccedilatildeo de
muitos
Algumas festas fazem parte da tradiccedilatildeo do Acampamento Renascer
traduzindo para a realidade atual as antigas festas a que todos foram acostumados
em seus lugares de origem
Pode-se dizer que a comunidade aprecia muito as festas Mas duas em
particular satildeo muito respeitadas a festa das crianccedilas que ocorre durante o dia (12
36
de outubro) eacute concorrida pois a comunidade se esmera para oferecer os brinquedos
que as crianccedilas amam pula-pula palhaccedilos pintura de rosto piscina de sabatildeo e
muita oferta de comida coisas que as crianccedilas adoram
No mesmo dia ocorre agrave noite a festa da Nossa Senhora Aparecida com
missa e muito forroacute
No mecircs de marccedilo eacute comemorada a Festa da Pamonha em comemoraccedilatildeo agrave
boa colheita do milho Esta festa jaacute se tornou tradicional conhecida em todo o
entorno do assentamento Egrave uma festa importante porque confraterniza a
comunidade Renascer com as comunidades vizinhas e ateacute mesmo as cidades de
Sobradinho Paranoaacute e Planaltina
Os movimentos sociais necessitam ser admirados pela sociedade e festas
como estas chamam a atenccedilatildeo para o problema da reforma agraacuteria demonstrando
que ela eacute viaacutevel e que os assentados tecircm simpatia competecircncia e seus saberes do
campo
A festa ldquojulinardquo eacute outra festa muito apreciada que apresenta as tradiccedilotildees rurais
e religiosas como quadrilhas e bandas de forroacute da comunidade e vizinhanccedila A
danccedila eacute um dos pontos fortes da festa assim como as comidas tradicionais muitas
delas com ingredientes colhidos no acampamento
Vaacuterios grupos de atividades teatrais apresentaram-se na localidade com
participaccedilatildeo de palhaccedilos lembrando um espetaacuteculo circense Alguns desses
grupos inclusive tiveram seus trabalhos premiados
Outras atividades com fundo educativo tiveram participaccedilatildeo animada de
crianccedilas e adultos A exibiccedilatildeo de desenhos animados recentemente apresentados
no cinema eram um grande atrativo para a comunidade que se via socialmente
incluiacuteda Esta inclusatildeo aumentava a autoestima das crianccedilas principalmente pois
assim elas poderiam interagir com os colegas da escola conversando a respeito dos
filmes
A Economia Solidaacuteria eacute uma das formas de inserccedilatildeo dos membros da
comunidade agrave sociedade economicamente ativa Atraveacutes da cooperaccedilatildeo solidaacuteria eacute
possiacutevel o comercio justo agriacutecolas ou artesanais sob conceitos antes
desconhecidos enquanto forma de produccedilatildeo e consumo centrado na valorizaccedilatildeo do
ser humano em contraposiccedilatildeo agraves formas capitalistas de produccedilatildeo e conscientizaccedilatildeo
37
Ao longo dos doze (12) anos de luta pela educaccedilatildeo foram promovidos
diversos cursos que capacitaram multiplicadores que fazem um trabalho importante
para a comunidade
A ideia de autogestatildeo democracia cooperaccedilatildeo auxilia natildeo soacute as formas de
produccedilatildeo e comercio de bens e artesanatos mas tambeacutem auxiliam na formaccedilatildeo
integral de pessoas em que tanto o produtor como o consumidor tem o proposito de
ganhos financeiros segundo um criteacuterio de valorizaccedilatildeo do trabalho
Proposito de formar uma nova consciecircncia a Economia Solidaacuteria promoveu
cursos de Soberania Alimentar em que a comunidade recebeu noccedilotildees praacuteticas
sobre alimentaccedilatildeo a partir da produccedilatildeo local de modo a promover uma nova cultura
alimentar que visa o combate agraves doenccedilas crocircnicas Outro proposito eacute tornar a
comunidade criacutetica em relaccedilatildeo agrave publicidade de produtos alimentiacutecio supeacuterfluo que
induz agraves crianccedilas e adultos alimentarem-se incorretamente
A comunidade participou coletivamente da implantaccedilatildeo de uma unidade da
tecnologia social denominada Produccedilatildeo Agroecoloacutegica Integrada e Sustentaacutevel
(PAIS) em 2012 com o objetivo de produzir alimentos saudaacuteveis e preservar o meio
ambiente trazendo mais alimentos e renda ao campo Esta tecnologia popularmente
conhecida como ldquohorta mandalardquo foi ministrada durante o curso de capacitaccedilatildeo
promovido pela Fundaccedilatildeo Banco do Brasil e teve o meacuterito de proporcionar o debate
e a participaccedilatildeo democraacutetica na definiccedilatildeo das culturas a serem cultivadas na futura
propriedade Vale informar que o assentamento Renascer identificou-se com esse
paradigma agroecoloacutegico
A educaccedilatildeo ambiental faz parte do dia a dia da comunidade hoje preserva-se
conservaccedilatildeo das formas de vida vegetais e animais na regiatildeo do assentamento e
entorno
A produccedilatildeo de mudas no viveiro eacute bastante concorrida contando com a
participaccedilatildeo de todos O viveiro produz cinco mil (5000) mudas de espeacutecies nativa
do cerrado para o reflorestamento das nascentes de aacutegua e nas aacutereas degradadas
da regiatildeo Contam com o apoio da FUNATURA FUNDACcedilAtildeO BANCO DO BRASIL
IFB Rio Satildeo Bartolomeu Vivo e UnB
-36-
38
39
Quarto Capiacutetulo
A escola que queremos expectativas e sonhos dos
acampados do Assentamento Renascer
Pode-se observar pelas falas dos entrevistados que a realidade de todos
converge para os problemas estruturais do Brasil faltam escolas no campo eacute baixa
a escolaridade em Brasiacutelia todos exercem atividades de subemprego
Todos tecircm grandes expectativas com relaccedilatildeo agrave vida futura no assentamento
objetivando melhores condiccedilotildees de vida na esperanccedila de serem beneficiaacuterios
enquanto cidadatildeos assentados das Poliacuteticas Puacuteblicas e financiamentos agriacutecolas
voltadas para a agricultura familiar como PRONAF PAA PNAE e PAPA-DF Vecircem
aiacute a possibilidade de emprego e renda situaccedilatildeo sonhada desde quando foram
pleitear a terra para reforma agraacuteria
Um olhar mais aprofundado sobre a anaacutelise de dados revela que natildeo importa o
fato de hoje residirem no DF pois como em qualquer lugar de origem os moradores
do assentamento Renascer vivenciam os mesmos problemas Percebe-se
claramente as dificuldades da inexistecircncia de escola no campo A distacircncia continua
impedindo o acesso os meios de transportes continuam precaacuterios os filhos
vivenciam a dificuldade de transferecircncia para a cidade na expectativa de
continuidade dos estudos as estradas rurais continuam esburacadas
Satildeo muitos os pontos em comum entre a situaccedilatildeo atual relatada e os problemas
vividos haacute deacutecadas em seus estados de origem o que deixa transparecer a absoluta
falta de interesse por parte do poder puacuteblico em garantir o direito constitucional agrave
educaccedilatildeo do povo do campo o que infelizmente continuaraacute deixando o triste
legado para o futuro do paiacutes
40
Repetimos a pergunta da inicial Cadecirc as escolas do campo Ateacute quando o paiacutes
vai viver essa situaccedilatildeo A anaacutelise de dados responde Natildeo eacute mais possiacutevel
continuar como estaacute
Todos os entrevistados pretendem alcanccedilar conhecimentos atraveacutes da escola do
campo implantada no Assentamento Renascer com objetivos de administrar a
propriedade participar ativamente do coletivo garantir renda fixa atraveacutes dos
programas de desenvolvimento da agricultura familiar
Os entrevistados unanimamente tecircm a preocupaccedilatildeo da manutenccedilatildeo dos laccedilos
familiares e das raiacutezes camponesas
A distacircncia entre a moradia e a escola fato relatado pela quase totalidade dos
entrevistados constitui um grande motivo de evasatildeo escolar de defasagem nas
seacuteries frequentadas de precariedade na aprendizagem em relaccedilatildeo aos demais
alunos A discriminaccedilatildeo alegada por muitos que frequentaram ou frequentam
escolas fora da faixa etaacuteria o vernaacuteculo proacuteprio dos sujeitos do campo as condiccedilotildees
precaacuterias da estrada que denunciam a condiccedilatildeo de assentado o sentimento de
inadequaccedilatildeo constituem fatores que determinam a evasatildeo escolar
Foram treze (13) entrevistados significando aproximadamente dez por cento
(10) dos moradores do Assentamento Renascer Desse total apenas dois (2)
entrevistados natildeo declararam dificuldade de distacircncia entre a moradia e a escola em
seus lugares de origem A maioria absoluta (11) pessoas declararam que a distacircncia
dificultava e impedia o acesso agrave escola Alguns relatos apresentam situaccedilotildees
precaacuterias para o homem do campo o assentado
Para o aluno do campo a distacircncia da escola tem o significado de inexistecircncia de
escola Isto porque as dificuldades de acesso satildeo enormes No caso em estudo
apenas um entrevistado declarou a inexistecircncia de escola em sua regiatildeo de
moradia Este poreacutem vivenciou todas as dificuldades de acesso que outros
assentados apresentaram em razatildeo da distacircncia moradiaescola
A falta de professores na escola rural eacute relatada por 11 dos 13 entrevistados A
distacircncia da escola para os professores dificulta segundo a vivecircncia dos
entrevistados o acesso agrave escola e a assiduidade o que muito desmotivava a
ambos
41
Os entrevistados conforme anaacutelise de dados desejam muito objetivamente a
implantaccedilatildeo imediata de escolas segundo os criteacuterios caracteriacutesticos de escola do
campo
- Trazer a realidade para dentro da escola do campo curriacuteculos voltados para o
cotidiano do aluno do campo onde as teacutecnicas agriacutecolas pecuaacuterias e agroecoloacutegicas
possam fazer parte do processo educativo da comunidade e que a escola tenha
uma gestatildeo coletiva democraacutetica com a participaccedilatildeo da comunidade
- Ter o trabalho como princiacutepio educativo A experiecircncia do aluno deve
harmonizar-se com os princiacutepios pistrakianos significar o trabalho de forma a que
ele apresente benefiacutecios para o proacuteprio indiviacuteduo para a comunidade na qual estaacute
inserido e para a sociedade e natildeo exclusivamente para servir ao capitalismo
-Superar a fragmentaccedilatildeo do conhecimento disciplinar A interdisciplinaridade
deve fazer parte dos objetivos educacionais de modo a promover a formaccedilatildeo
integral dos educandos
- Valorizar os saberes do homem do campo Os entrevistados desejam uma
escola onde possam exercitar sua vivecircncia campesina e a relaccedilatildeo dialoacutegica entre
professor-aluno seguindo a pedagogia de Paulo Freire o educando quer aprender
com o educador mas quer tambeacutem ter a oportunidade de transmitir seus saberes
- Promover espaccedilos de gestatildeo coletiva A proacutepria comunidade deve participar da
gestatildeo a elaboraccedilatildeo do PPP deve gerir o espaccedilo fiacutesico da escola para atividades
de interesse da comunidade ocupar espaccedilos para finalidades culturais esportivas
sociais tornando a escola um espaccedilo democraacutetico
- Garantir a presenccedila da comunidade e dos movimentos sociais que geram
processos que auxiliam a emancipaccedilatildeo social A escola deve tambeacutem ser espaccedilo
que auxilie a sustentabilidade e garanta a alimentaccedilatildeo saudaacutevel e recursos
fitoteraacutepicos em associaccedilatildeo com a comunidade
- Inclusatildeo tecnoloacutegica em todos os aspectos digital inovaccedilatildeo tecnoloacutegica
agropecuaacuteria recursos ambientais alternativos agua potaacutevel energia solar energia
eoacutelica fossa seacuteptica teacutecnicas de compostagem saneamento baacutesico cuidados com
os recursos hiacutedricos
A anaacutelise dos dados quando feita especificamente sobre a escola a ser
implantada pode aparentemente demonstrar uma pequena conexatildeo com as teorias
da escola do campo
42
A concepccedilatildeo da escola do campo natildeo pode ser imposta ela parte do princiacutepio
que os camponeses devem conquista-la Para essa conquista eacute necessaacuteria a
paixatildeo o desejo por algo ainda natildeo experimentado o amadurecimento poliacutetico-
social-pessoal a participaccedilatildeo coletiva na luta e na conquista
A trajetoacuteria de luta por educaccedilatildeo da comunidade Renascer apresenta estes
elementos agraves vezes difusos outras vezes mais claramente A escola bem que
poderia para alguns ser apenas uma escola rural Afinal aprender a ler e a
escrever ldquodireitordquo como alguns dizem ou seja deixar a condiccedilatildeo de analfabeto ou
analfabeto funcional para tornar-se letrado significaria avanccedilos em face das atuais
circunstacircncias Alguns entendem assim expressando-se principalmente nas
conversas informais
Apesar disso quando as respostas informais ou quando as respostas das
entrevistas satildeo analisadas mais profundamente identificamos que embora
difusamente todos desejam o programa educacional da escola do campo
Explicando melhor a participaccedilatildeo de todos da comunidade em todas as atividades
soacutecio-poliacuteticas-culturais (relatadas no terceiro capitulo) indicam que a comunidade
assimilou a postura soacutecio-politica-cultural que caracterizam a escola do campo
A vivecircncia do Assentamento Renascer no cotidiano e nos eventos coletivos
amadureceu o desejo pelo alimento intelectual cultural artiacutestico ambiental social
que a concepccedilatildeo de escola do campo introduz O programa educacional da Escola
do Campo ultrapassou as paredes fiacutesicas da escola e alcanccedilou o cotidiano dos
assentados
Os avanccedilos da conscientizaccedilatildeo e seu reflexo na vida do Assentamento Renascer
satildeo sentidos nos nuacutemeros de matriculados na LEdoC sete (7) alunos
aproximadamente dez (10) assentados prestaratildeo o proacuteximo vestibular trecircs (3)
assentados estatildeo matriculados no IFB dois(2) assentados estatildeo formados em
Teacutecnico Agropecuaacuterio tambeacutem pelo IFB um deles cursa o Tecnoacutelogo de
Agroecologia tambeacutem do IFB
Vale acrescentar que no iniacutecio de 2014 quando o IFB buscou no Assentamento
pessoas interessadas em matricular-se em seus cursos sob a condiccedilatildeo de
estudarem no ensino meacutedio o interesse foi grande e a impossibilidade pelo fato de
natildeo estarem habilitados no ensino fundamental provocou tanta discussatildeo que
estimulou essa pesquisa
43
O legado desses alunos futuros alunos e profissionais para o futuro do
Assentamento apresentaraacute resultados significativos para toda a comunidade O
futuro colheraacute bons frutos plantados agora
A escola que temos natildeo estaacute funcionando falta a renovaccedilatildeo do contrato o que
atrasa a alfabetizaccedilatildeo e conclusatildeo do 5ordm ano Falta a implantaccedilatildeo de poliacuteticas
puacuteblicas para atendimento de questotildees baacutesicas como por exemplo carteiras
quadro de giz iluminaccedilatildeo espaccedilo fiacutesico (dependecircncias para a escola) e mobiliaacuterio
-41-
44
Consideraccedilotildees Finais
A Educaccedilatildeo do campo eacute um movimento em que os trabalhadores do campo e
suas organizaccedilotildees lutam por transformaccedilotildees sociais particularmente a criaccedilatildeo de
escolas dono campo de qualidade a partir de uma perspectiva ampla de reforma
agraacuteria
A construccedilatildeo da educaccedilatildeo do campo eacute resultado do amadurecimento dos
movimentos sociais e das comunidades rurais em sua trajetoacuteria de luta pelo direito
fundamental agrave universalizaccedilatildeo escolar para as populaccedilotildees camponesas segundo
orientaccedilatildeo poliacutetico-pedagoacutegica adequada agrave realidade dos lutadores de
acampamentos e assentamentos em luta pela reforma agraacuteria e justiccedila social
Alguns princiacutepios caracterizam a luta pela escola do campo Dentre eles
podemos citar a criaccedilatildeo da consciecircncia do direito agrave educaccedilatildeo de qualidade plantada
na proacutepria comunidade o que provoca o enraizamento a valorizaccedilatildeo da vida no
campo a promoccedilatildeo da autoestima e a transformaccedilatildeo do ser alienado pela ideologia
e desigualdade social e sujeito de sua proacutepria histoacuteria
Outro princiacutepio eacute a adequaccedilatildeo de curriacuteculos agrave realidade camponesa de modo
a que o processo ensino-aprendizagem favoreccedila o amadurecimento de talentos
naturais o surgimento de oportunidades a niacutevel pessoal e social contribuindo para a
emancipaccedilatildeo poliacutetico-social do indiviacuteduo com reflexos na sociedade
A mudanccedila de paradigmas e o envolvimento social provocam a formaccedilatildeo integral
dos sujeitos que lutam de forma coletiva e solidaacuteria pela terra A escola do campo
que surge dessa mudanccedila eacute tambeacutem transformadora porque eacute fruto da luta
consciente que gera a reflexatildeo e o amadurecimento poliacutetico deixando um legado
positivo de cidadatildeos orgulhosos de sua condiccedilatildeo de lutador pela terra de sua
identidade de sua cultura de sua comunidade e coletividade
A escola do campo propicia aos alunos a reflexatildeo sobre o contexto social e a
problemaacutetica da comunidade em que estatildeo inseridos o respeito agrave individualidade a
ampliaccedilatildeo das potencialidades do aluno para organizar elaborar e atuar
coletivamente Deixam o legado futuro de homens responsaacuteveis mentes
independentes e atuantes que poderatildeo prestar serviccedilos significativos agrave sociedade
45
A comunidade assentada de o Assentamento Renascer pela Reforma
Agraacuteria em Sobradinho DF foi convidada a opinar sobre a escola que deseja a
partir da conquista da terra
O modelo proposto a partir de seu posicionamento possibilita a conclusatildeo
de que a escola do campo plantada na comunidade eacute preferiacutevel ao modelo
adotado atualmente de inserccedilatildeo dos alunos da comunidade agraves escolas urbanas
conter recursos materiais e humanos que propiciem bons resultados
pedagoacutegicos deve servir para fixar o trabalhador ao campo deve cumprir com o
propoacutesito constitucional de universalizaccedilatildeo do ensino para todas as faixas
etaacuterias deve estar identificada com os sonhos de prosperidade material e
realizaccedilatildeo pessoal dos assentados
-46-
46
Referecircncias Bibliograacuteficas
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OLIVEIRA Maria Rita Duarte Revistalabor ufcbracesso em 19-10-2014
________ citando CALAZ Maria Rita Duarte Oliveira
47
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________ Clarice Aparecida PROGRAMA NACIONAL DE EDUCACcedilAtildeO NA REFORMA AGRAacuteRIA BRASIacuteLIA 2012 pg 631 in DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO SANTOS Claudio Felix Dos ldquoO aprender a aprender na formaccedilatildeo de professores do campordquo Campinas 2013 Editora Autores Associados ) SOUZA Maria Antocircnia Movimentos Sociais no Brasil Contemporacircneo participaccedilatildeo e possibilidades no contexto das praacuteticas democraacuteticas ndash (wwwcesucptlab2004pdfMariaAntonia Souzapdfaceso em 24-07-2014 -48-
48
Apecircndices
1 Roteiro das Entrevistas
a) Dados dos entrevistados
Qual o seu nome
Masculino ( ) Feminino ( )
Quantos anos vocecirc tecircm
A quanto tempo mora no
assentamento
Onde vocecirc morou antes
de morar no
assentamento
Quantos anos vocecirc tinha
quando foi a escola pela
primeira vez
Estou ateacute qual seacuterieano
Quantos anos vocecirc tinha
quando parou de estudar
Qual motivo motivou vocecirc
a parar de estudar
Se tiver escola no
assentamento vocecirc voltaraacute
a estudar Porque
B) Outras informaccedilotildees dados pelos entrevistadosas (GRAVAR)
a) Em qual escola vocecirc estudou no acampamento ou em outro lugar Qual
b) Como era a escola que estudou Quais as coisas boas e coisas ruins que
tinha nesta escola
c) Conte como eacutefoi a educaccedilatildeo do assentamento o que jaacute existiu de escola
como funcionou e quais eram as boas e as coisas ruins desta escola
d) Jaacute participou de alguma accedilatildeo de mobilizaccedilatildeo para ter escola no
assentamento Se sim explique para que e como foi essa mobilizaccedilatildeo
e) Na sua opiniatildeo no assentamento deve ter escola Por quecirc
f) Como deveraacute ser a escola da comunidadeassentamento Como eacute a escola
que queremos ter
49
b) Entrevistas semi-estruturadas
Entrevistado 01
Moro no assentamento Renascer haacute 11 anos Nasci Carnauacuteba no Rio Grande do
Norte fui criado na roccedila e desde pequeno trabalhava na lavoura para ajudar meu
pai Fui para escola com 9 anos de idade estudei ateacute a 5ordm seacuterie parei de estudar
com 17 anos natildeo continuei os estudos porque era muito longe de onde eu morva
que era na cidade mais proacutexima eu tinha que andar a peacute 8 km ficava muito
cansado Casei e vim morar em Brasiacutelia para trabalhar em uma chaacutecara como
caseiro Morava na chaacutecara Buritis em sobradinho- Df tambeacutem natildeo dei para
continuar os estudos porque ficava longe e tinha que ser a noite e natildeo tinha como ir
Se vier uma escola pra caacute eu ainda vou estudar para ter mais conhecimento para
plantar minha roccedila ir no banco pra ver se assino um empreacutestimo para melhorar
minha produccedilatildeo e saber fazer conta pra administrar minha parcela de terra
Qual o seu nome
Masculino ( X ) Feminino ( )
Quantos anos vocecirc
tecircm
57 anos
A quanto tempo
mora no assentamento
11 anos
Onde vocecirc morou
antes de morar no
assentamento
Carnauacuteba ndash RN
Chaacutecara Buritis nordm 10 Sobradinho DF
Quantos anos vocecirc
tinha quando foi a escola
pela primeira vez
8 anos
Estou ateacute qual
seacuterieano
5ordf seacuterie
Quantos anos vocecirc
tinha quando parou de
estudar
24 anos
Qual motivo
motivou vocecirc a parar de
estudar
Trabalhar para sustento da famiacutelia a
distacircncia entre a casa e a escola
Se tiver escola no
assentamento vocecirc voltaraacute
a estudar Porque
Sim ldquoSe tivesse escola do ensino
fundamental voltaria a estudar para tecirc
mais conhecimento para plantar minha roccedila
50
saber pesar saber contar vendecirc os produto e
comecirc
Entrevistado 02
Moro no assentamento renascer haacute 7 anos tenho 38 vim do interior do Cearaacute
Entrei na escola com 7 anos de idade estudei soacute a 5ordm seacuterie incompleta natildeo
continuei a estudar porque natildeo tinha escola a onde eu morava que era na roccedila e eu
tinha que ficar na casa dozotro (SIC) na cidade e eu natildeo gostava disso natildeo ai parei
com 16 anos de idade Mudamo (SIC) pra Brasiacutelia pra uma chaacutecara perto de Santa
Maria-DF e natildeo dei pra estudar porque casei e tinha que trabalhar muito para
susrentar a famiacutelia A gora moro no assentamento Renascer e sei que um dia vai ter
uma escola aqui e eu vou voltar a estudar porque meu sonho eacute ser veterinaacuterio e vou
der se deus quiser
Entrevistado 03
Tenho 58 anos moro no assentamento Renascer haacute 6 anos vim de Ceres-GO
comecei a estudar quando eu tinha 10 ano de idade estudei ateacute a 4ordf seria primaacuteria
(SIC) parei de estudar quando tinha 16 anos porque eu morava na roccedila e escola
ateacute que natildeo ficava muito longe natildeo era soacute 2 km dava pra ir a peacute a professora eacute que
faltava muito e a gente natildeo tinha como saber se ela tava ou natildeoAiacute quando eu tinha
18 anos casei e vim morar em Brasiacutelia e arranjei(SIC) emprego de caseira em uma
chaacutecara aiacute natildeo pra estudar a noite porque era muito longe pra laacute entatildeo eu natildeo
pensei mais nessas coisas Quando tiver escola no assentamento quero estudar
quiecirc pra mim (SIC) fazer curso de teacutecnico agriacutecolarsquorsquo
Entrevistado 04
Tenho 24 anos moro no assentamento Renascer tem 6 ano vim da Bahia morava
no Condomiacutenio RK entrei na escola com 7 anos de idade e estudei soacute ateacute a 6ordf seacuterie
parei com 18 anos de idade
Porque mudei pra caacute pro assentamento (SIC) e natildeo tem escola e natildeo tem como ir
pra Sobradinho a noite porque eacute muito longe tem que andar 5 km eacute pirigogo (SIC)
tem muita gente mal por aiacute tem ateacute estrupador natildeo posso me arriscar
ldquoSe tivesse escola aqui eu ia terminar meus estudos podia ser no galpatildeo mesmo
pra mim tava bom mas para os meus filhos eu queria uma escola boa com internet
e tudo Eu natildeo gosto que meus filhos estuda(SIC) na cidade soacute aceito porque eacute o
jeito gente de assentamento eacute muito zombado (SIC) porque as vezes chega suja
na escola e os outros acha que eles satildeo porcos que toma banhordquo
Entrevistado 05
51
Tenho 21 anos de idade moro no Renascer haacute trecircs anos vim de satildeo Gabriel-GO
comecei a estudar aos 7 anos parei com 18 anos porque minha matildee mudou
pro(SIC) matildee mudou pro (SIC) assentamento haacute 6 anos e eu natildeo aguento morar
longe dela Quando cheguei aqui natildeo teve como continuar os estudos porque
trabalho durante o dia como manicure em Sobradinho e o uacuteltimo ocircnibus que passa
perto do assentamento eacute as 5 horas da tarde entatildeo natildeo daacute para estudar a noite
Sim porque quero fazer um curso de cabelereiro quando tiver aacutegua e luz aqui eu
quero montar um salatildeo de beleza e para ser uma empresaacuteria precisa ter estudos pra
administrar o negoacutecio
Entrevistado 06
44 anos
6 anos
Formosa-GO
8 anos
5ordf seacuterie
24 anos
Porque a escola mais perto(SIC) era 10km de distacircncia e eu trabalhava na roccedila e
ficava muito cansado aiacute parei natildeo deu mais
Sim quando tiver escola aqui eu vou voltar a estudar Eu tinha um sonho de ser
agroacutenomo mas esse sonho eacute impussive(SIC) entatildeo queria concluir o ensino
fundamental para fazer um curso de teacutecnico agriacutecola no IFB mas tambeacutem eacute longe
se tivesse como estudar aqui no assentamento eu ia(SIC) ficar muito feliz
Entrevistado 07
57 anos
6 anos
Parnaiacuteba-PI- Santa Maria- DF
7 anos
4ordf seacuterie
21 anos
Parei porque era muito difiacutecil ir para escola que ficava muito longe eu tinha que sair
de casa as 4hs da madrugada para chegar na escola as 730 ia montado num
cavalo e muitas vezes natildeo tinha professora pra dar aula Parei porque natildeo aguentei
o rojatildeo tinha que minha matildee na lida a tarde e eu ficava muito cansado Vim pra
52
Brasiacutelia e casei fui trabalhar de chacareiro numa chaacutecara que tambeacutem era longe de
escola depois vim morar aqui no assentamento que natildeo tem escola
Se tivesse escola aqui eu ia voltar estudar soacute pra aprender a cuidar meior (SIC) da
terra e dos meus bichos e que fosse como uma escola agriacutecola
Entrevistado 08
Tenho 29 anos moro no assentamento Renascer haacute 2 anos sou educadora do
Pronera haacute 1 ano e 2 meses O Pronera eacute como um antidepressivo na vida de muita
gente o Pronera melhorou a minha vida e a vida dos meus alunos o desejo de
todos eacute que o Pronera continue crescendo em direccedilatildeo de uma educaccedilatildeo continuada
levando tambeacutem o ensino fundamental para os acampamentos e assentamentos da
Reforma Agraacuteria
-50-
Anexos
53
Acampamento agrave beira da estrada ndash 2004
Construccedilatildeo da Sede do Movimento na atual aacuterea
54
Reuniatildeo semanal
Teatro de fantoches ndash brinquedoteca
55
Accedilatildeo da Pastoral da Crianccedila na brinquedoteca
Oficina de brinquedos reciclaacuteveis
56
Brinquedo confeccionado com materiais reciclaacuteveis na Brinquedoteca
57
58
59
60
Apresentaccedilatildeo teatral
61
Capacitaccedilatildeo em Economia Solidaacuteria
Formaccedilatildeo de multiplicadores da Economia Solidaacuteria
62
Capacitaccedilatildeo de Educadores Ambientais
63
Luta pela Reforma Agraacuteria e Soberania Alimentar
13
Segundo Capiacutetulo
Da escola rural agrave escola do campo histoacuterico das lutas e
concepccedilotildees da educaccedilatildeo
21 A Escola Rural no Brasil
Conforme Ferreira e Brandatildeo (2011) a trajetoacuteria da escola rural brasileira
deve ser contextualizada historicamente segundo o modelo socioeconocircmico
implantado no paiacutes desde o iniacutecio do processo colonizador ateacute o momento presente
Para os autores desde os primoacuterdios do processo de colonizaccedilatildeo o paiacutes foi
entendido apenas como uma colocircnia de exploraccedilatildeo devendo portanto remeter agrave
metroacutepole suas riquezas naturais do solo do subsolo dando segmento aos ciclos
econocircmicos denominados de colonial ciclo do pau brasil da cana de accediluacutecar do
ouro do cafeacute (FERREIRA amp BRANDAtildeO 2011 p3)
A base social do paiacutes eacute formada pelos nativos (iacutendios ndash expulsos
massacrados e exterminados) os africanos e os imigrantes pobres vindos da
Europa e do oriente Foi segundo os mesmos autores esta mesma base social que
formou a matildeo de obra imprescindiacutevel para a implantaccedilatildeo do projeto colonial e do
periacuteodo imperial
A aboliccedilatildeo da escravatura em 1888 e o consequente abandono da populaccedilatildeo
negra desprovida de qualquer indenizaccedilatildeo ou bens materiais particularmente terra
teve como consequecircncia o ecircxodo rural e o desprezo pela atividade agriacutecola
associada agrave escravatura
Em sua experiecircncia histoacuterica como repuacuteblica o tradicional modelo
socioeconocircmico adotado no Brasil perdurou
Ao longo da histoacuteria do Brasil o processo de exclusatildeo social e tambeacutem poliacutetico econocircmico e cultural sempre estiveram presentes e eram tidos como algo ldquonaturalrdquo Ainda nos dias atuais fazer uma referencia a este processo de exclusatildeo natildeo leva a um debate tranquilo a resistecircncia ainda eacute forte por parte da sociedade neoliberal principalmente por aqueles que ainda se beneficiam com
a exclusatildeo socialrdquo (FERREIRA 2011 pag 3)
Com relaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo o que se percebe eacute conforme Ferreira (2011)
14
que o modelo de educaccedilatildeo praticado no Brasil pelos diferentes governos entre o iniacutecio do Impeacuterio (1822) ateacute meados do seacuteculo XX era uma educaccedilatildeo para a elite econocircmica e intelectual em prejuiacutezo direto e indiscriminado dos pobres negros e iacutendios Inclusive a primeira Lei ainda no periacuteodo imperial quando se reporta agrave educaccedilatildeo natildeo se ateve agraves especificidades diretas da zona rural onde a populaccedilatildeo brasileira viviardquo (FERREIRA 2011 p4)
Clauacutedio Santos (2013) afirma que a educaccedilatildeo destinada aos habitantes do
campo no inicio do seacuteculo XX entendia que ldquoa formaccedilatildeo das jovens geraccedilotildees ou dos
adultos no espaccedilo rural era tida como algo menor ou desnecessaacuteriordquo (p 47) Para o
autor a maioria de residentes no campo ( 75) natildeo foi pensado um modelo
educacional que contemplasse as necessidades dos residentes no campo o que a
histoacuteria do Brasil nos ensina eacute que o regime republicano manteve os grandes
latifuacutendios e a oligarquia rural alijando a maior parcela da populaccedilatildeo rural de
qualquer benefiacutecio do sistema poliacutetico-econocircmico
A organizaccedilatildeo escolar rural no Brasil embora tiacutemida pode ser localizada a
partir do primeiro governo republicano o do marechal Deodoro da Fonseca (1889-
1891) estando a cargo do Ministeacuterio da Agricultura Comeacutercio e Induacutestria O ecircxodo
da populaccedilatildeo rural para os incipientes centros urbanos em busca dos empregos
promovidos pela igualmente incipiente industrializaccedilatildeo evidenciava as mazelas dos
sujeitos do campo 75 da populaccedilatildeo brasileira era analfabeta igual nuacutemero da
populaccedilatildeo do campo
Somente a partir de 1920 tem-se efetivamente o primeiro movimento em
defesa da educaccedilatildeo da populaccedilatildeo rural conhecido como Ruralismo Pedagoacutegico
(SANTOS 2013) que foi um movimento dos educadores poliacuteticos e intelectuais
elaborando formas de accedilatildeo pedagoacutegicas adequados agrave dominacircncia poliacutetico-
econocircmica da oligarquia rural
Para o autor o ruralismo pedagoacutegico
defendia uma escola integrada agraves condiccedilotildees locais para promover a fixaccedilatildeo do homem do campo estava ligado agrave modernizaccedilatildeo do campo brasileiro e contava com o apoio dos latifundiaacuterios temerosos de perder sua matildeo de obra bem como de uma elite urbana preocupada com os resultados negativos de uma migraccedilatildeo
camponesa para a cidade (SANTOS2013p48)
15
Uma caracteriacutestica do ruralismo pedagoacutegico foi buscar adequar a educaccedilatildeo
rural para fixar o homem no campo para diminuir o processo de urbanizaccedilatildeo e
consequente ecircxodo rural que modificava a estrutura econocircmico e social do paiacutes
Relativo agrave educaccedilatildeo rural da primeira metade do seacuteculo XX nos ensina
Santos (2013 p48) que ldquoem 1933 inicia-se a campanha de alfabetizaccedilatildeo na zona
rural Em 1935 ocorre o I Congresso Nacional do Ensino Regional que contribui
para a fundaccedilatildeo da Sociedade Brasileira de Educaccedilatildeo Rural no ano de 1937rdquo
Nos anos de 1920 foi criado o movimento conhecido como Escola Nova por
intelectuais e pensadores brasileiros que valorizaram a pesquisa educacional e a
inserccedilatildeo da escola como uacutenico meio de se combater as desigualdades sociais num
ambiente de crescente industrializaccedilatildeo e urbanizaccedilatildeo (SANTOS 2013) Estes
educadores como Aniacutesio Teixeira Fernando de Azevedo Lourenccedilo Filho dentre
outros defenderam atraveacutes do Manifesto da Escola Nova (1932) a universalizaccedilatildeo
da escola puacuteblica laica e gratuita
A influecircncia deste movimento sobre a educaccedilatildeo brasileira fez-se sentir nas geraccedilotildees futuras de educadores e pesquisadores como Darcy Ribeiro e Florestan Fernandes A atuaccedilatildeo desses pioneiros se estendeu por deacutecadas muitas vezes criticada pelos defensores da escola particular e religiosa (FERRARI 2014p43)
Poreacutem as propostas do Manifesto natildeo tiveram impactos concretos e natildeo
foram incorporados pela escola Ferraro (2012) esclarece que
A educaccedilatildeo rural no Brasil soacute se tornou objeto de interesse do Estado no momento em que todas as atenccedilotildees e esperanccedilas se voltavam para o urbano e a ecircnfase passava a recair sobre o desenvolvimento industrial Quando os interesses do latifuacutendio dominavam tanto a economia como a poliacutetica a alfabetizaccedilatildeo das massas camponesas era vista como seacuteria ameaccedila agrave ordem vigente Quando o paiacutes jaacute avanccedila no processo de industrializaccedilatildeo e se torna predominantemente urbano eacute a proacutepria cidade que passa a reivindicar a alfabetizaccedilatildeo das populaccedilotildees do campo Passa entatildeo a contrariar os interesses da cidade continua (FERRARO 2012p964)
16
A industrializaccedilatildeo ocorreu nas cidades e atraiu grandes levas de
trabalhadores do campo seduzidos pelo ideal de transformaccedilatildeo de vida acesso agrave
escolarizaccedilatildeo empregos bem remunerados ideais que levam ao ecircxodo rural hoje
ou naquele momento histoacuterico A realidade do trabalhador do campo receacutem
chegado agrave cidade era do ponto de vista educacional precariacutessima pois em sua
maioria eram analfabetos ou com baixa escolarizaccedilatildeo Essa condiccedilatildeo impedia o
acesso ao emprego industrial urbano e agrave boa qualidade de vida que uma boa
remuneraccedilatildeo podia proporcionar
As cidades sofreram crescimento raacutepido desgovernado formando periferias
que abrigavam a maioria da populaccedilatildeo egressa do campo O subemprego e o
desemprego desestabilizavam as populaccedilotildees das cidades e geravam desequiliacutebrios
sociais e econocircmicos comprometendo a qualidade de vida de todos os moradores
Eacute o ciacuterculo vicioso da desigualdade da exclusatildeo e da violecircncia que a educaccedilatildeo
pode romper A educaccedilatildeo tem entatildeo o propoacutesito de formar trabalhadores para a
induacutestria urbana
Na Constituiccedilatildeo de 1934 para com a educaccedilatildeo rural destaca-se o Art 156 conforme podemos ver abaixo
A Uniatildeo e os Municiacutepios aplicaratildeo nunca menos de dez por cento e os Estados e o Distrito Federal nunca menos de vinte por cento da renda resultante dos impostos na manutenccedilatildeo e no desenvolvimento dos sistemas educativos Paraacutegrafo uacutenico ndash Para a realizaccedilatildeo do ensino nas zonas rurais a Uniatildeo reservaraacute no miacutenimo vinte por cento das cotas destinadas agrave educaccedilatildeo no respectivo orccedilamento anual
Na constituiccedilatildeo Federal de 1937 a educaccedilatildeo rural natildeo eacute citada A prioridade eacute
a educaccedilatildeo dos moradores urbanos Neste periacuteodo conforme Ferreira (2011) ldquoa
orientaccedilatildeo poliacutetico educacional para o mundo capitalista fica bem expliacutecita
sugerindo a preparaccedilatildeo de um maior contingente de matildeo de obra para as novas
atividades abertas pelo mercado ndash a industrializaccedilatildeordquo ( pg 32)
Ainda segundo o autor este afirma que em 1935 ocorreu o I Congresso
Nacional do Ensino Regional que assume como objetivo propagar a educaccedilatildeo rural
e elaborar os planos de educaccedilatildeo Esses planos recomendavam escolas rurais
ambulantes nas regiotildees de menor densidade geograacutefica
17
O periacuteodo conhecido como Estado Novo (1937-1945) tentava implantar uma
poliacutetica educacional de cunho nacionalista tornando a educaccedilatildeo um instrumento do
estado servindo aos seus interesses
Os adultos analfabetos particularmente no meio rural tiveram atenccedilatildeo da
Campanha Nacional de Educaccedilatildeo Rural (CNER) de 1952 a 1963 cujo objetivo era
contribuir para a inserccedilatildeo do homem do campo O CNER atuou atraveacutes de missotildees
internacionais dos Estados Unidos voltadas agrave educaccedilatildeo ao treinamento de
professores e agrave preparaccedilatildeo dos jovens do meio rural pelo ensino profissional
agriacutecola Agrave atividade do CNER podemos agregar a accedilatildeo da Comissatildeo Brasileiro-
Americana de Educaccedilatildeo das Populaccedilotildees Rurais (CBAR) que celebrou acordos entre
esses dois paiacuteses visando a educaccedilatildeo rural orientada para o emprego de teacutecnicas
agriacutecolas (OLIVEIRA 1999 p 133)
A educaccedilatildeo rural eacute chamada para se ajustar agraves poliacuteticas educacionais estabelecidas pelo projeto do estado A educaccedilatildeo rural em primeiro lugar apesar de numerosos programas desenvolvidos sempre representou uma fatia muito pequena e marginal nas preocupaccedilotildees do setor puacuteblico (OLIVEIRA p apud CALAZANS1981p162)
A educaccedilatildeo rural ocupou e ainda ocupa pequeno espaccedilo no universo
educacional brasileiro As escolas apresentam dificuldades para se manterem no
campo Conforme o Jornal Sem Terra nordm 46 jun2011 24000 escolas do campo
foram fechadas no Brasil As instalaccedilotildees o curriacuteculo a carecircncia de professores o
transporte escolar formam muitas vezes uma barreira quase imponiacutevel para uma
ampla gama de alunos particularmente das uacuteltimas seacuteries do ensino fundamental e
do ensino meacutedio
Os programas implantados nos uacuteltimos anos como o PRONERA e o EJA
apresentam soluccedilotildees e alcanccedilam grandes resultados mas podemos questionar os
resultados entre os estados O Rio Grande do Sul (que atendeu alunos do ensino
baacutesico ateacute o ensino superior) em comparaccedilatildeo com outros estados e o Distrito
Federal conseguiu excelentes resultados No DF falta alcanccedilar melhores
resultados Podemos questionar se os resultados satildeo adequados pois por exemplo
no assentamento Renascer o Pronera natildeo vai aleacutem do quinto ano Eacute necessaacuterio
uma poliacutetica educacional que leve em conta a realidade dos alunos do campo
18
invista recursos materiais e humanos modernizem as escolas e propiciem o acesso
dos alunos
Conforme nos explica Sousa 2004 em seu artigo lsquodiscursos intolerantes o
lugar da politica na educaccedilatildeo rural e a representaccedilatildeo do camponecircs analfabeto
No Brasil a trajetoacuteria da educaccedilatildeo rural inclui-se na dinacircmica de modernizaccedilatildeo do campo assumindo um papel decisivo no processo de expropriaccedilatildeo proletarizaccedilatildeo e controle dos trabalhadores rurais A modernizaccedilatildeo da produccedilatildeo no nordeste brasileiro por exemplo incentivou o processo de sindicalizaccedilatildeo em massa dos trabalhadores das zonas canavieiras estimulou reivindicaccedilotildees no campo do trabalho ligadas agrave aplicaccedilatildeo do Estatuto do Trabalhador Rural e contraditoriamente fez emergir as manifestaccedilotildees pela distribuiccedilatildeo de terras encampadas pelas Ligas Camponesas ( SOUSA2004 p4)
O projeto de modernizaccedilatildeo do campo ocorreu sem que houvesse a
emancipaccedilatildeo dos trabalhadores rurais Na verdade ocorreu a proletarizaccedilatildeo dos
trabalhadores rurais pela acumulaccedilatildeo de terras em matildeos de apenas poucos
proprietaacuterios (latifundiaacuterios) Esse acontecimento revela que apenas em processo
consciente e contiacutenuo de lutas organizados e unidos os trabalhadores rurais
poderatildeo conquistar terras e meios para sua produccedilatildeo
O estudo da organizaccedilatildeo dos trabalhadores rurais eacute importante porque eacute a
partir dela que outras grandes reivindicaccedilotildees satildeo conquistadas No caso da
presente pesquisa pode-se observar que foi a organizaccedilatildeo dos trabalhadores em
torno de suas causas a reforma agraacuteria que levou agrave luta pelas outras reivindicaccedilotildees
como a educaccedilatildeo no campo
O proacuteximo capiacutetulo deste trabalho monograacutefico aborda a questatildeo das
manifestaccedilotildees e resistecircncias dos camponeses pela educaccedilatildeo e pela reforma
agraacuteria
-16-
22 Trajetoacuteria de luta pela Educaccedilatildeo do Campo
A luta pela educaccedilatildeo do campo esteve sempre associada agrave luta pela reforma
agraacuteria e pela conquista de direitos para os trabalhadores rurais O Movimento das
19
Ligas Camponesas lutou pela emancipaccedilatildeo do trabalhador rural e da reforma agraacuteria
e em seu projeto educacional estavam baseados nos ideais de Paulo Freire e do
Movimento de Educaccedilatildeo de Base (MEB)
Para explicar a reaccedilatildeo das classes populares agraves imposiccedilotildees do governo
brasileiro e das classes dominantes Oliveira (1995 apud ARROYO)
A histoacuteria das lutas entre as classes sociais natildeo se limitam agrave luta pelo poder mas se constituem impulsionadoras da histoacuteria da humanidade que natildeo aguardam passivamente seu destino mas ao contraacuterio articulam-se em torno de suas lutas para garantir seus direitos sua dignidade e sua participaccedilatildeo democraacutetica na sociedade( OLIVEIRA apud ARROYO1995p 80)
Neste sentido as Ligas Camponesas lutaram praticamente em todo o
territoacuterio nacional contra a tentativa de expulsatildeo dos trabalhadores rurais das terras
Os conflitos armados particularmente no Nordeste exigiam participaccedilatildeo poliacutetica e
direitos essenciais como a educaccedilatildeo do campo
O meacutetodo de alfabetizaccedilatildeo criado por Paulo Freire foi amplamente utilizado
pelas Ligas Camponesas e em sua concepccedilatildeo ampla de escola serviu de subsidio
para a compreensatildeo do camponecircs acerca de seu papel social (TOLEDO Caio
Navarro 2004 p6)
Neste contexto surge a Pedagogia do Oprimido de Paulo Freire Segundo
SANTOS (2013 apud Paulo Freire 1987) afirma que a pedagogia do oprimido
configura-se como
Aquela que tem de ser forjada com ele (o oprimido) e natildeo para ele enquanto homens ou povos na luta incessante de recuperaccedilatildeo de sua humanidade Pedagogia que faccedila da opressatildeo e de suas causas objeto de reflexatildeo dos oprimidos de que resultaraacute o seu engajamento necessaacuterio na luta por sua libertaccedilatildeo em que esta pedagogia se faraacute e refaraacuterdquo (FREIRE 1987 p32)
A pedagogia do oprimido serve de referecircncia para o trabalhador rural que luta
pela emancipaccedilatildeo de sua condiccedilatildeo de proletaacuterio atraveacutes da reforma agraacuteria A
pedagogia do oprimido leva o homem ao encontro de si mesmo ao reconhecimento
da grandeza de seu trabalho ao potencial de suas accedilotildees cotidianas que fazem a
diferenccedila A capacidade de reflexatildeo e o entendimento de sua potencialidade pode
leva-lo agrave sua plena realizaccedilatildeo como indiviacuteduo e como ser social
20
A reaccedilatildeo do governo contra o movimento de educaccedilatildeo popular proposto por
Freire e assumido pelo Movimento das Ligas Camponesas e pelo Movimento de
Educaccedilatildeo de Base (MEB) gerou repressatildeo e resposta da ditadura civil-militar como
o Movimento Brasileiro de Alfabetizaccedilatildeo (MOBRAL)
A luta dos movimentos sociais e sindicais pela educaccedilatildeo do campo parte das
forccedilas internas dos movimentos e alcanccedila a setores sociais religiosos ideoloacutegicos
que passam a contribuir efetivamente para o alcance do direito agrave educaccedilatildeo aos
camponeses
A Comissatildeo Pastoral da Terra (CPT) presente ao lado dos trabalhadores (as)
rurais indiacutegenas ribeirinhos pescadores e quilombolas tambeacutem contribuiu e
contribui para a formaccedilatildeo criacutetica a defesa de formas sustentaacuteveis de utilizaccedilatildeo de
recursos naturais e produccedilatildeo e para a alfabetizaccedilatildeo segundo o meacutetodo de Paulo
Freire (CANUTO 2012 p 131)
Na atualidade estaacute em desenvolvimento um movimento que luta pela educaccedilatildeo do homem do campo organizado por vaacuterias entidades dentre elas o MST Trata-se de um processo que teve inicio em meados dos anos de 1990 impulsionados pela necessidade da educaccedilatildeo de jovens e adultos das aacutereas de assentamentos rurais Foi organizado um Programa Nacional para Educaccedilatildeo na Reforma Agraacuteria composto por atores tais como movimentos sociais universidades e governo federal aleacutem de outros parceiros (Alas da Igreja Sindicatos Organizaccedilatildeo Natildeo-Governamental ONG) existentes nas diferentes regiotildees do Brasil( SOUSA2004 p 32)
A trajetoacuteria de conquista das escolas do campo particularmente as escolas
do campo criadas pelo MST a partir da deacutecada de 1990 foi marcada pela conquista
e implantaccedilatildeo da Educaccedilatildeo Fundamental para crianccedilas e adolescentes dos
acampamentosassentamentos de acordo com o projeto politico-pedagoacutegico fruto do
amadurecimento do movimento
Focou-se a alfabetizaccedilatildeo de jovens e adultos e as lutas pela implantaccedilatildeo do
ensino meacutedio com cursos alternativos para a formaccedilatildeo de professores e teacutecnicos de
niacutevel meacutedio e tambeacutem de cursos superiores
A concepccedilatildeo de escolas de ensino fundamental plantadas em assentamentos
prevecirc a instalaccedilatildeo da escola na proacutepria comunidade evitando com isso o uso de
transporte escolar e a frequecircncia dos alunos Sem Terra em escolas fora do
assentamento
21
Esta atitude de resistecircncia foi fundamental para a conquista da escola nas
terras conquistadas e tambeacutem foi fundamental para universalizar o ensino enraizar
o aluno em sua comunidade e criar a consciecircncia do direito agrave educaccedilatildeo
ldquoincomodandordquo o Estado para garantir o cumprimento das poliacuteticas puacuteblicas
Kolling Vargas e Caldart (2012p502) nos ensinam ldquotoda vez que se
conquista uma escola de educaccedilatildeo baacutesica em um assentamento ou acampamento
ela representa menos adolescentes e jovens do campo fora da escola e mais gente
enraizada em seu proacuteprio lugarrdquo (pag 502)
Os movimentos sociais e sindicais pela educaccedilatildeo do campo indicam o grau
de maturidade desses em sua luta pela reforma agraacuteria Agrave essa luta soma-se o
projeto de desenvolvimento do paiacutes baseado na justiccedila social e o combate agraves
tradicionais formas utilizadas pelas elites urbanas ou rurais de alienaccedilatildeo pela
expropriaccedilatildeo do trabalho e pelo controle dos meios que levam agrave emancipaccedilatildeo
sociocultural e agrave verdadeira humanizaccedilatildeo papel destinado agrave educaccedilatildeo
Neste sentido movimentos sociais como o MST inserem a educaccedilatildeo
baseada em princiacutepios pedagoacutegicos que se distinguem da escola tradicional
Numa perspectiva histoacuterica os movimentos sociais do campo como por
exemplo o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) tiveram inicialmente
como bandeira de luta a luta pela terra pela Reforma Agraacuteria natildeo fazendo uma
relaccedilatildeo entre essa luta e a educaccedilatildeo
A formaccedilatildeo de escolas do campo pelo MST natildeo foi resultado da consciecircncia e
importacircncia da escola para a promoccedilatildeo da educaccedilatildeo em seu meio Foi na verdade
a necessidade de oferecer aos filhos dos primeiros lutadores a oportunidade de
uma perspectiva melhor de futuro atraveacutes do direito agrave educaccedilatildeo Foi tambeacutem a
necessidade de ldquotransformar instituiccedilotildees histoacutericas como a escola em lugares que
ajudem a formar os sujeitos destas transformaccedilotildeesrdquo (CALDART2012 p94)
Desse modo houve primeiro a ldquoocupaccedilatildeo da escolardquo pela mobilizaccedilatildeo e pela
accedilatildeo para garantir que em acampamentos ou assentamentos conquistados
houvesse uma escola que ldquofizesse a diferenccedila ou tivesse realmente sentido em sua
vida presente e futura (preocupaccedilatildeo com os filhos)rdquo (CALDART2012 p91)
Num segundo momento da luta observa-se intencionalidade da luta pela
escola mas com proposta pedagoacutegica especiacutefica ldquocombinando processos de
22
escolarizaccedilatildeo e de formaccedilatildeo da militacircncia e da base social Sem Terrardquo
(CALDART2012 p92)
As experiecircncias de pensar escolas como polos regionais entre assentamentos e com estudantes de outras comunidades de camponeses aos poucos vatildeo educando o olhar dos trabalhadores Sem Terra para uma realidade mais ampla Foi assim que o MST chegou agrave EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO (KOLLING Vargas e Caldart 2012 p 502)
A escola dentro dessa perspectiva de mudanccedila e envolvimento social eacute
parte da luta pela reforma agraacuteria daacute significado a ela pois proporciona a formaccedilatildeo
integral dos sujeitos que lutam pela terra
Essa escola possibilita a reflexatildeo trava o diaacutelogo com as propostas de
educaccedilatildeo popular de Paulo Freire e busca superar as dificuldades imensas que
assentados e acampados vivem no dia a dia
A escola tambeacutem revela a cultura o orgulho e criaccedilatildeo da identidade na luta
por terra Nesse sentido
A heranccedila que o MST deixaraacute para seus descendentes seraacute bem mais do que a terra que conseguir libertar do latifuacutendio seraacute um jeito de ser humano e de tomar posiccedilatildeo diante das questotildees de seu tempo seratildeo os valores que fortalecem e datildeo identidade aos lutadores do povo de todos os tempos de todos os lugares Eacute enquanto produto humano de uma obra educativa que os Sem Terra podem ser vistos como mais um elo que se forma em uma longa tradiccedilatildeo de lutadores sociais que fazem a histoacuteria da humanidade Enraizamento no passado e projeto de futuro (CALDART 2012 p 96)
A educaccedilatildeo proposta pelo movimento gera o sentimento de pertencimento e
desperta o sentimento de respeito agrave coletividade valoriza o trabalho a gestatildeo
democraacutetica e desburocratizada da escola
SANTOS (2013 p71) esclarece que pelo projeto educacional do MST a
educaccedilatildeo proposta estaacute pautada em ldquovalores socialistas e humanistas tais como o
coletivismo o trabalho socialmente uacutetil a organizaccedilatildeo e auto-organizaccedilatildeo dos
estudantes e professoresrdquo (p71)
-21-
23
221 Concepccedilatildeo Pedagoacutegica da Educaccedilatildeo do Campo
No acircmbito da educaccedilatildeo do homem do campo tornar o homem sujeito e natildeo
objeto do saber leva a entender que o conhecimento do camponecircs pode dialogar
com as praacuteticas baseadas no conhecimento cientiacutefico desde que seja perseguido o
ideal de trabalhadores e educadores do campo comprometidos com as lutas sociais
de formar o homem ldquodordquo campo e ldquono campordquo
Conforme Kolling Cerioli e Caldart (2002 p 264) ldquoo povo tem direito a uma
educaccedilatildeo pensada desde o seu lugar e com sua participaccedilatildeo vinculada agrave sua
cultura e agraves suas necessidades humanas e sociaisrdquo ndash(Caldart Educaccedilatildeo do Campo
2012 p 264
Tal compreensatildeo se ainda hoje causa oposiccedilatildeo ateacute mesmo no ambiente
acadecircmico imagine-se naquele momento histoacuterico de profunda repressatildeo poliacutetica e
ideoloacutegica aos movimentos sociais de camponeses por terra e educaccedilatildeo Como nos
ensina Molina e Saacute (DICIONAacuteRIO da Educaccedilatildeo do Campo p 324)
A concepccedilatildeo de escola do campo nasce e se desenvolve no bojo do movimento da EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO a partir das experiecircncias de formaccedilatildeo humana desenvolvidas no contexto de luta dos movimentos sociais camponeses por terra e educaccedilatildeo Trata-se portanto de uma concepccedilatildeo que emerge das contradiccedilotildees da luta social e das praacuteticas de educaccedilatildeo dos trabalhadores do e no campo (MOLINA e SAacute 2012 pag 324)
A concepccedilatildeo pedagoacutegica da educaccedilatildeo popular e da pedagogia da praacutetica
segundo ARROYO inclui
um caraacuteter de envolvimento totalizante dos movimentos sociais que possibilita ao individuo que participa destes coletivos o acesso a outro tipo de formaccedilatildeo que supera a condiccedilatildeo de aluno de alfabetizando de escolarizando Os integrantes destes organismos emersos na tensa situaccedilatildeo de conflitos aprendem por meio da vivencia das lutas sociais dos momentos de mobilizaccedilatildeo das situaccedilotildees limites de perda de emprego de criacuteticas da sociedade agraves suas accedilotildees de ameaccedilas agraves suas vidas Tudo isso traz ricas liccedilotildees ensinadas na ldquoescola do movimentordquo e que nenhuma teoria pode transmitir ou explicar de forma satisfatoacuteria
No entendimento de Arroyo (2013) os movimentos sociais vivem e
amadurecem sob o conhecimento e o entendimento das contradiccedilotildees sociais e esta
24
experiecircncia lhes permite a possibilidade de defender mudanccedilas radicais tanto no
campo como na cidade tanto na ideologia quanto no combate ao latifuacutendio e ao
capitalismo
Tamanho movimento social gera a reflexatildeo sobre as relaccedilotildees
socioeconocircmicas politicas culturais cuidado da natureza relaccedilotildees humanas
destaques de tudo o que interessa ao coletivo agrave sociedade
Eacute por meio do entendimento de que a realidade eacute criaccedilatildeo humana de como se estabelecem os processos de opressatildeo e ainda da noccedilatildeo de que podemos transformar essa realidade dado que a sociedade eacute mutaacutevel que se forma a praacutexis da luta accedilatildeo-conscientizaccedilatildeo-transformaccedilatildeo-libertaccedilatildeo Inserindo-se criticamente na histoacuteria os cidadatildeos tornam-se sujeitos construtores e reconstrutores da realidaderdquo
Molina e Saacute (2012) nos ensinam a partir do conceito de escola do campo sobre a
potencialidade da vivencia de praacuteticas coletivas para a valorizaccedilatildeo integral dos
sujeitos da coletividade do conhecimento cientiacutefico da gestatildeo coletiva da escola
dentre tantos avanccedilos e vitoacuterias dos movimentos sociais
O processo ensino-aprendizagem permite que o conceito de escola extrapole
o cotidiano de dificuldades e desafia agrave reflexatildeo que gera a emancipaccedilatildeo
Este eacute um dos maiores desafios e ao mesmo tempo uma das maiores possibilidades da escola do campo articular os conhecimentos que os educandos tecircm o direito de acessar a partir do trabalho com a realidade da religaccedilatildeo entre educaccedilatildeo cultura e os conhecimentos cientiacuteficos a serem apreendidos em cada ciclo de vida e de diferentes aacutereas do conhecimento(MOLINA MOURAtildeO 2012 p 329) -26-
222 Princiacutepios da Educaccedilatildeo do Campo
Alguns princiacutepios viabilizam o projeto de escola adotado pelos movimentos
sociais e possibilitam a democracia e a integraccedilatildeo de todos lideranccedila assentados e
acampados do movimento
25
O princiacutepio da responsabilidade coletiva sobre o planejamento a gestatildeo a
organizaccedilatildeo e a realizaccedilatildeo de tarefas em todas as esferas de atividades princiacutepios
muito valorizados pelos movimentos sociais do campo foram transferidos para o
projeto de educaccedilatildeo
O projeto eacute de responsabilidade coletiva e insere educadores tanto a niacutevel
local como regional e nacional os ldquoColetivos de educaccedilatildeordquo como satildeo conhecidos
Os coletivos de educaccedilatildeo com tarefas forccedila orgacircnica e discussotildees especiacuteficas que podem variar a cada periacuteodo fortalecem o princiacutepio organizativo de que a questatildeo da educaccedilatildeo bem como outras questotildees da vida social assumidas pelo MST deve ser pensada e implantada de forma coletiva Eacute uma loacutegica que implica tarefas a serem realizadas pelas pessoas mas mediante um planejamento e uma leitura de conjuntura feita por um coletivo (KOLLING1995 et al p503)
Para concretizar o projeto de educaccedilatildeo foi concebida a formaccedilatildeo de
professores pelos proacuteprios movimentos no acircmbito da proacutepria comunidade
(conhecidos como ldquoprofessores leigosrdquo) e tambeacutem pela rede oficial de ensino
A falta de titulaccedilatildeo de muitos educadores formados na comunidade natildeo
impede que os mesmos trabalhem juntos com os professores titulados e com
simpatizantes do movimento no projeto poliacutetico-pedagoacutegico constituindo um
princiacutepio democraacutetico importante para superar as dificuldades e urgecircncias para a
implantaccedilatildeo da educaccedilatildeo do campo
A democracia do processo de formaccedilatildeo de educadores tem reflexos amplos
a formaccedilatildeo de educadores pelos proacuteprios movimentos especiacutefica para atuaccedilatildeo nas
escolas do campo
O movimento eacute responsaacutevel pela universalizaccedilatildeo do ensino no acircmbito dos
territoacuterios conquistados ou por conquistar e permitiu a evoluccedilatildeo do ensino ateacute o niacutevel
de terceiro grau com a realizaccedilatildeo de cursos como a Licenciatura em Educaccedilatildeo do
Campo (LEdoC) do qual somos os privilegiados alunos aqui na Universidade de
Brasiacutelia
Outro reconhecimento e prova de eficiecircncia da formaccedilatildeo de professores eacute o
precircmio ldquoEducaccedilatildeo e Participaccedilatildeordquo recebido em 1995 do Fundo das Naccedilotildees Unidas
para a Infacircncia (Unicef)
26
O somatoacuterio das forccedilas internas e externas do movimento ldquoleigasrdquo ou
tituladas associadas ao princiacutepio fundamental da participaccedilatildeo dos alunos e
comunidades em todos os niacuteveis e localidades eacute ponto fundamental para o sucesso
da concepccedilatildeo do projeto pois permite o estudo a reflexatildeo conjunta sobre
estrateacutegias para o alcance do objetivo de educaccedilatildeo na reforma agraacuteria
-25-
223 Marcos Normativos da Educaccedilatildeo do Campo
Numerosos Marcos Normativos podem ser citados para explicitar qual perfil
de escola destinada ao camponecircs interessava ao governo e aos proprietaacuterios rurais
A Lei 4024 de 1961 em seu art 105 estabelece o
Apoio que poderaacute ser prestado pelo poder puacuteblico agraves iniciativas que mantenham na zona rural instituiccedilotildees educativas orientadas para adaptar o homem ao meio e estimular vocaccedilotildees e atividades profissionais (BRASIL 2012 p 4)
A Lei 5692 de 1971 ao tratar da educaccedilatildeo rural ldquonatildeo observa mais uma vez
a inclusatildeo da populaccedilatildeo na condiccedilatildeo de protagonista de um projeto social globalrdquo
sendo que o trabalho do campo realizado por alunos eacute ateacute mesmo incentivado
adequando-o ao calendaacuterio escolar (MARCOS NORMATIVOSBrasiacutelia2012 p 25)
A Lei 9394 de 1996 (Lei das Diretrizes se Bases da Educaccedilatildeo ndash LDB) em
acordo com Constituiccedilatildeo de 1988 e ldquoinspirada de alguma forma numa concepccedilatildeo
de mundo rural enquanto espaccedilo especifico diferenciado e ao mesmo tempo
integrado no conjunto da sociedaderdquo reconhece
A diversidade soacutecio-cultural e o direito agrave igualdade e agrave diferenccedila possibilitando a definiccedilatildeo de diretrizes operacionais para educaccedilatildeo rural sem no entanto recorrer a uma logica exclusiva e de ruptura com um projeto global de educaccedilatildeo para o paiacutes (idem p 26)
27
Os artigos 208 e 210 da Carta Magna-1988 e inspirada de numa concepccedilatildeo
de mundo rural enquanto espaccedilo especiacutefico diferenciado e ao mesmo tempo
integrado no conjunto da sociedade a Lei 939496- LDB-estabelece que
Art 28 Na oferta da educaccedilatildeo baacutesica para a populaccedilatildeo rural os sistemas de ensino promoveratildeo as adapta necessaacuteria agrave sua adequaccedilatildeo agraves peculiaridades da vida rural e de cada regiatildeo especialmente (MARCOS NORMATIVOS) Brasiacutelia 2012 p 25)
1- Conteuacutedos organizar curriculares e metodologias apropriadas agraves reais
necessidades e interesses dos alunos da zona rural
2-organizaccedilatildeo escolar proacutepria incluindo a adequaccedilatildeo do calendaacuterio escolar as
fases do ciclo agriacutecola e as condiccedilotildees climaacuteticas
3-adequaccedilatildeo agrave natureza do trabalho na zona rural (MARCOS NORMATIVOS)
Brasiacutelia 2012( p 26)
O movimento de educaccedilatildeo do campo luta haacute quinze (15) anos para fazer-se
cumprir esse Decreto da Lei de Diretrizes de base da educaccedilatildeo do campo-LDB
que apesar de ser constitucional ainda natildeo foi colocada totalmente em praacutetica
Agora com as lutas dos movimentos sociais eacute que estaacute comeccedilando a se concretizar
Artigo 26 Os curriacuteculos do ensino fundamental e meacutedio devem ter uma base nacional comum a ser complementada em cada sistema de ensino e estabelecimento escolar por uma parte diversificada exigida pelas caracteriacutesticas regionais e locais da sociedade
da cultura da economia e da clientela (MARCOS NORMATIVOS) Brasiacutelia 2012(p 26)
O Decreto nordm 7352 de 4 de novembro 2010 dispotildee sobre a poliacutetica de educaccedilatildeo do campo ao Programa Nacional de Educaccedilatildeo
na Reforma Agraacuteria-PRONERA decreta
Art1ordm A poliacutetica de educaccedilatildeo do campo destina-
se agrave ampliaccedilatildeo e qualificaccedilatildeo da oferta de educaccedilatildeo baacutesica e superior agraves populaccedilotildees do campo e seraacute desenvolvida pela Uniatildeo em regime de colaboraccedilatildeo com os Estados o
28
Distrito Federal e os Municiacutepios de acordo com as diretrizes e metas estabelecidas no Plano Nacional de Educaccedilatildeo e o disposto neste Decreto
Para os efeitos deste Decreto entende-se por
l-populaccedilatildeo do campo os agricultores familiares os extrativistas os pescadores
artesanais os ribeirinhos os assentados e acampados da reforma agraacuteria os
trabalhadores assalariados rurais os quilombolas os caiccedilaras os povos da floresta
os caboclos e outros que produzam suas condiccedilotildees materiais de existecircncia a partir
do trabalho no meio rural
ll-escola do campo aquela situada em aacuterea rural conforme definida pela Fundaccedilatildeo
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica- IBGE ou aquela situada em aacuterea
urbana desde que atenda predominantemente a populaccedilatildeo do campo (MARCOS
NORMATIVOS) 2012( p 81)
No Decreto 6755 29 de janeiro de 2009 em seu art 2ordm estabelecida pelo Conselho
Nacional de Educaccedilatildeo que se refere as Diretrizes Operacionais da Educaccedilatildeo do
Campo o parecer da alternacircncia
A formaccedilatildeo de professores poderaacute ser feita concomitantemente agrave atuaccedilatildeo profissional de acordo com metodologias adequadas inclusive a pedagogia da alternacircncia e sem prejuiacutezo de outras que atendam agraves especificidades da educaccedilatildeo do campo e por meio de atividades de ensino pesquisa e extensatildeo (MARCOS NORMATIVOS) 2012( p84)
-26-
29
-
231 A educaccedilatildeo do campo e poliacutetica puacuteblica - o PRONERA
O amadurecimento adquirido pela luta sobre o papel da educaccedilatildeo aliado agrave
iniciativa do aproveitamento do trabalho das professoras ldquoleigasrdquo e ainda da
consciecircncia cada vez mais presente do dever do Estado em prover os cidadatildeos da
reforma agraacuteria de poliacuteticas puacuteblicas resultou no campo da educaccedilatildeo na criaccedilatildeo do
Programa Nacional de Educaccedilatildeo na Reforma Agraacuteria (PRONERA)
O PRONERA envolve formalmente jovens e adultos num projeto conjunto
com universidades e institutos federais em prol da formaccedilatildeo de educadores para o
trabalho em escolas dos assentamentos da reforma agraacuteria e seu entorno
O Programa foi criado em 1998 no momento da ascensatildeo dos conflitos pela
reforma agraacuteria o que propiciou que os movimentos sociais trouxessem para a
opiniatildeo puacuteblica suas mazelas
No campo da educaccedilatildeo foi denunciada a falta de escola a precariedade do
ensino a falta de profissionais do ensino a ldquoloacutegica de negaccedilatildeo histoacuterica do direito
aos camponeses de acesso aos niacuteveis mais elevados de escolaridade ( SANTOS
2012 pag 630)
A partir de 2005 o ensino oferecido pelo PRONERA eacute estendido ao niacutevel
meacutedio e superior como a Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo e a Residecircncia
30
Agraacuteria O PRONERA evoluiu para outros patamares tais como ldquopossibilidades de
ressignificaccedilatildeo do conteuacutedo e da metodologia dos processos de educaccedilatildeo formal
por meio dos princiacutepios baacutesicos da participaccedilatildeo e da multiplicaccedilatildeordquo (SANTOS 2012
p 631)
A participaccedilatildeo das comunidades e suas organizaccedilotildees e a multiplicaccedilatildeo de
alfabetizados formados educadores e demais profissionais ligados agraves poliacuteticas
puacuteblicas para a Reforma Agraacuteria gerou ampla participaccedilatildeo dos agentes envolvidos
na dinacircmica do processo ensino-aprendizagem
Essa forma de gestatildeo gerou reaccedilatildeo contraacuteria ldquoagrave gestatildeo colegiada e coletiva
notadamente agrave participaccedilatildeo direta dos movimentos sociais e sindicais do campordquo
considerados ldquoentes estranhos agrave administraccedilatildeo puacuteblicardquo (CLARICE p 634)
O envolvimento dos movimentos sociais e sindicais do campo natildeo
retrocederam em sua luta pelo envolvimento de todos os interessados na educaccedilatildeo
como elemento emancipatoacuterio e continuam formulando princiacutepios concepccedilotildees e
diretrizes para a escola do campo
-31-
31
Terceiro Capiacutetulo
A histoacuteria do Assentamento Renascer
31 Uma breve histoacuteria de luta
A histoacuteria do Assentamento Renascer natildeo parece ser diferente da histoacuteria de
outros assentamentos Brasil afora Partiu da reivindicaccedilatildeo de Trabalhadores Rurais
sem Terra que desde 2004 ocuparam as margens da Rodovia DF 330 que liga
Sobradinho ao Paranoaacute-DF
Tatildeo perto do centro do poder a apenas poucos quilocircmetros do Palaacutecio da
Alvorada ou da Sede do INCRA o Acampamento Renascer esteve ateacute oito (08) de
maio de 2009 tatildeo distante da decisatildeo poliacutetica pela Reforma Agraacuteria
Somente nesta data trezentos sessenta e um( 361) de terras devolutas da
Uniatildeo foram repassadas ao INCRA para assentar as famiacutelias aliacute acampadas Ficou
criado o assentamento Renascer fora da beira da estrada
O Assentamento Renascer ldquorenasceurdquo da dificuldade de vida sob o barraco de
madeira sem aacutegua sem luz sem saneamento baacutesico que fez com que tantos
desistissem ao longo do caminho e ainda hoje se encontra nessa mesma
precariedade um descaso por parte do poder puacuteblico
A luta em vaacuterios momentos da vida dos acampados parecia estar vencida Os
vencedores pareciam ser a burocracia o desrespeito as noites mal dormidas a
inseguranccedila a falta de perspectivas para o acampado e suas famiacutelias
Duzentas (200) famiacutelias viveram aliacute por cinco anos (05) de 2004 ateacute 2009
Atualmente satildeo cento e vinte (120) famiacutelias que moram na aacuterea destinada e estatildeo
em processo de assentamento Muitas delas poreacutem vencidas pelo cansaccedilo e pelas
condiccedilotildees de vida abandonaram a luta mas todas as famiacutelias as que se foram e as
que ficaram sonharam com a terra onde poderiam produzir viam no pedaccedilo de chatildeo
os frutos do pomar da horta o galinheiro o pasto
O Assentamento Renascer eacute o Brasil Eacute um pedacinho da cruel realidade que
como vimos neste trabalho marcou a sociedade brasileira desde a escravidatildeo
desde o primeiro grito de rebeldia do quilombo desde o primeiro que lutou contra os
coroneacuteis por divisatildeo da terra como as Ligas Camponesas contra o latifuacutendio como
os movimentos sociais em sua luta pela reforma agraacuteria desde vaacuterias geraccedilotildees
32
Eacute como todo e qualquer movimento social que surgiu neste paiacutes desde a
deacutecada de 1980 pela reforma agraacuteria Viveu e ainda vive as dificuldades de ser
acampadoassentado mas honra sua luta porque natildeo desiste faacutecil
O Assentamento Renascer eacute tambeacutem fruto do ecircxodo rural da industrializaccedilatildeo
do campo da monocultura e da concentraccedilatildeo de terras Foram expulsos do campo
para a periferia das cidades sem capacitaccedilatildeo sem estudo
A falta de escolarizaccedilatildeo eacute sem duacutevida uma caracteriacutestica de quase todos os
que vieram do campo para a cidade A realidade do Brasil eacute que o campo natildeo eacute
escolarizado as escolas no campo satildeo poucas satildeo despreparadas satildeo
desvalorizadas
-33-
32 As escolas no campo na vivencia do assentado do Assentamento
Renascer
As escolas no campo marcaram profundamente a vida dos poucos que a
frequentaram Quase todos tiveram que trocar o laacutepis pela enxada a carteira pela
roccedila desde muito pequenos Alguns natildeo muito poucos conforme os depoimentos
aqui relatados teriam que abandonar a enxada e a participaccedilatildeo no sustento da
famiacutelia para frequentar a escola Quase sempre abandonaram a escola para ficar no
trabalho com a enxada
Todos teriam que andar vaacuterios quilocircmetros para ir agrave escola Outros nem assim
conseguiriam frequentar a escola no campo ela simplesmente natildeo existia no
campo Teriam entatildeo que ir para a cidade para ter direito a uma escola
Muitos tambeacutem vivenciaram os traumas que uma escola tradicional e
descomprometida com os valores e responsabilidades do projeto educacional
castigos humilhaccedilotildees afastaram a muitos da escola
Alguns apenas sonharam e sonham com a escola ldquoAh a escolardquo Tatildeo longe
inacessiacutevel para tantos no Brasil afora Ao ver de algumas pessoas do
Assentamento Renascer ldquoSe tivesse jeito eu teria ido agrave escola tinha feito pelo
menos o ensino fundamental completo para que eu pudesse ingressar no curso
33
teacutecnico-agriacutecola Mas agora quero que meus filhos e netos vatildeo para a escola
aprender ser algueacutem na vidardquo
-34-
321 A escola no entorno do Assentamento Renascer
A ideia de lutar pela educaccedilatildeo veio antes da ideia de lutar pela escola como
espaccedilo conquistado pelo acampamento Encontrar uma escola perto do
acampamento com transporte escolar com vagas e horaacuterios acessiacuteveis para os que
trabalham o dia todo era entendido como uma necessidade baacutesica e uma grande
vitoacuteria
Ficava-se feliz se apesar das dificuldades fosse possiacutevel matricular pelo
menos as crianccedilas As dificuldades eram e ainda satildeo muitas o transporte escolar
era e eacute precaacuterio a poeira natildeo permite que os alunos cheguem limpos agrave escola os
buracos e as poccedilas daacutegua impedem a chegada do ocircnibus escolar durante as
chuvas No caso do ocircnibus que levam os alunos ateacute a Escola Classe do Coacuterrego do
Arrozal em eacutepoca de muita chuva os ocircnibus ateacute o iniacutecio de 2014 natildeo conseguiam
transitar Isto resulta no fato de que as crianccedilas precisam caminhar debaixo de
chuva ateacute a escola
-35-
322 O caminho para a produccedilatildeo do saber no Assentamento Renascer a
brinquedoteca a integraccedilatildeo social a biblioteca comunitaacuteria as manifestaccedilotildees
culturais
Ao longo dos anos de vivecircncia e convivecircncia no Acampamento Renascer
mediante a dificuldade e necessidade de estudar que sentimos na nossa proacutepria
vida foi despontando a ideia de prover as crianccedilas de atividades luacutedicas e
educativas
34
Logo no iniacutecio do acampamento por volta de 2005 por iniciativa de algumas
pessoas conscientes da necessidade de atividades luacutedicas para as crianccedilas foi
criada uma brinquedoteca
Inicialmente os brinquedos eram de materiais reciclaacuteveis como garrafas pet
telefones sem fio carrinhos bonecas petecas vai e vem cavalinhos tudo era
confeccionado com a participaccedilatildeo das crianccedilas na modalidade de oficina
incentivando-os a fabricar os seus proacuteprios brinquedos Os brinquedos eram
confeccionados a partir de materiais encontrados nos lugares de descarte perto do
acampamento e doaccedilotildees de pessoas que passavam pela estrada
O embriatildeo de um processo educacional que nunca se interrompeu estava
lanccedilado a brinquedoteca proporcionou a criatividade e a participaccedilatildeo de crianccedilas e
adultos marcando as atividades pela conscientizaccedilatildeo do cuidado com a natureza e a
importacircncia da reciclagem A educaccedilatildeo ambiental jaacute era praticada desde o
nascimento do acampamento Renascer
Este primeiro passo foi muito importante porque traduziu para o dia a dia do
acampamento os princiacutepios da escola do campo atuante para mudar a realidade
criar cidadatildeos conscientes e dispostos a mudar a realidade a partir da sua proacutepria
accedilatildeo Este eacute o processo de transformaccedilatildeo social dentro do acampamento Renascer
haacute tanto tempo atraacutes
Aos brinquedos reciclados pela proacutepria comunidade juntaram-se outros
presenteados por instituiccedilotildees como igrejas ONGs a Pastoral da Crianccedila e pessoas
interessadas no bem estar daquelas crianccedilas
Percebe-se em iniciativas como essas a importacircncia da educaccedilatildeo nos
diversos niacuteveis para a sociedade A integraccedilatildeo de pessoas com as atividades
educativas no acampamento nos faz lembrar sobre um grande sonho das escolas
hoje integrar a comunidade de modo a que todos defendam a escola
O sucesso de iniciativas como a brinquedoteca que integravam crianccedilas
adolescentes adultos e sociedade foi importante para outras iniciativas igualmente
importantes
Foi-se criando um projeto educacional para o acampamento sem que se
tivesse consciecircncia disso por faltar informaccedilatildeo que soacute agora se possui graccedilas aos
estudos na Universidade o galpatildeo comunitaacuterio foi utilizado para abrigar a
35
brinquedoteca para desenvolver grupos de teatro de crianccedilas e adultos e para
abrigar a biblioteca
A biblioteca recebeu inuacutemeros exemplares de livros infantis livros didaacuteticos
para os adolescentes e adultos literatura universal revistas dos mais variados
assuntos criando assim um espaccedilo comunitaacuterio de informaccedilatildeo lazer e
entretenimento
Com a criaccedilatildeo da biblioteca ficou evidente a importacircncia da alfabetizaccedilatildeo de
crianccedilas jovens e adultos Muitos acampados relatavam a vontade e a necessidade
de aprender a ler e a escrever Muitos reivindicavam o direito agrave educaccedilatildeo e
frequecircncia agrave escola ainda que o acampamento mudasse de ldquoendereccedilordquo tantas
vezes
Outros poreacutem natildeo acreditavam que seria possiacutevel aprender ou aperfeiccediloar a
leitura e a escrita nas condiccedilotildees de vida de um acampado
Vaacuterias atividades culturais foram desenvolvidas (e ainda satildeo) no
Acampamento Renascer Todas chamavam a atenccedilatildeo da comunidade local de
outras comunidades vizinhas garantindo a simpatia de chacareiros que levavam os
filhos para participarem das atividades
Uma das atividades mais apreciadas foi o Teatro de Fantoches inspirados em
faacutebulas muitas com a autoria da Pastoral da Crianccedila e da Faber Castel A
participaccedilatildeo da comunidade na atividade era intensa e voluntaacuteria todos queriam
manipular os fantoches participar cantando danccedilando ou prestando muita atenccedilatildeo
O teatro de transformaccedilatildeo social produzido pelos adultos e adolescentes
utilizavam tambeacutem materiais reciclaacuteveis demonstrando cuidado com o meio
ambiente e amadurecimento dos conceitos poliacuteticos e pedagoacutegicos gerando reflexatildeo
sobre os temas sociais que nos atingem no cotidiano
A miacutestica adotada pelos movimentos sociais com o objetivo de reflexatildeo satildeo
apresentadas em datas comemorativas e contam com o apoio e participaccedilatildeo de
muitos
Algumas festas fazem parte da tradiccedilatildeo do Acampamento Renascer
traduzindo para a realidade atual as antigas festas a que todos foram acostumados
em seus lugares de origem
Pode-se dizer que a comunidade aprecia muito as festas Mas duas em
particular satildeo muito respeitadas a festa das crianccedilas que ocorre durante o dia (12
36
de outubro) eacute concorrida pois a comunidade se esmera para oferecer os brinquedos
que as crianccedilas amam pula-pula palhaccedilos pintura de rosto piscina de sabatildeo e
muita oferta de comida coisas que as crianccedilas adoram
No mesmo dia ocorre agrave noite a festa da Nossa Senhora Aparecida com
missa e muito forroacute
No mecircs de marccedilo eacute comemorada a Festa da Pamonha em comemoraccedilatildeo agrave
boa colheita do milho Esta festa jaacute se tornou tradicional conhecida em todo o
entorno do assentamento Egrave uma festa importante porque confraterniza a
comunidade Renascer com as comunidades vizinhas e ateacute mesmo as cidades de
Sobradinho Paranoaacute e Planaltina
Os movimentos sociais necessitam ser admirados pela sociedade e festas
como estas chamam a atenccedilatildeo para o problema da reforma agraacuteria demonstrando
que ela eacute viaacutevel e que os assentados tecircm simpatia competecircncia e seus saberes do
campo
A festa ldquojulinardquo eacute outra festa muito apreciada que apresenta as tradiccedilotildees rurais
e religiosas como quadrilhas e bandas de forroacute da comunidade e vizinhanccedila A
danccedila eacute um dos pontos fortes da festa assim como as comidas tradicionais muitas
delas com ingredientes colhidos no acampamento
Vaacuterios grupos de atividades teatrais apresentaram-se na localidade com
participaccedilatildeo de palhaccedilos lembrando um espetaacuteculo circense Alguns desses
grupos inclusive tiveram seus trabalhos premiados
Outras atividades com fundo educativo tiveram participaccedilatildeo animada de
crianccedilas e adultos A exibiccedilatildeo de desenhos animados recentemente apresentados
no cinema eram um grande atrativo para a comunidade que se via socialmente
incluiacuteda Esta inclusatildeo aumentava a autoestima das crianccedilas principalmente pois
assim elas poderiam interagir com os colegas da escola conversando a respeito dos
filmes
A Economia Solidaacuteria eacute uma das formas de inserccedilatildeo dos membros da
comunidade agrave sociedade economicamente ativa Atraveacutes da cooperaccedilatildeo solidaacuteria eacute
possiacutevel o comercio justo agriacutecolas ou artesanais sob conceitos antes
desconhecidos enquanto forma de produccedilatildeo e consumo centrado na valorizaccedilatildeo do
ser humano em contraposiccedilatildeo agraves formas capitalistas de produccedilatildeo e conscientizaccedilatildeo
37
Ao longo dos doze (12) anos de luta pela educaccedilatildeo foram promovidos
diversos cursos que capacitaram multiplicadores que fazem um trabalho importante
para a comunidade
A ideia de autogestatildeo democracia cooperaccedilatildeo auxilia natildeo soacute as formas de
produccedilatildeo e comercio de bens e artesanatos mas tambeacutem auxiliam na formaccedilatildeo
integral de pessoas em que tanto o produtor como o consumidor tem o proposito de
ganhos financeiros segundo um criteacuterio de valorizaccedilatildeo do trabalho
Proposito de formar uma nova consciecircncia a Economia Solidaacuteria promoveu
cursos de Soberania Alimentar em que a comunidade recebeu noccedilotildees praacuteticas
sobre alimentaccedilatildeo a partir da produccedilatildeo local de modo a promover uma nova cultura
alimentar que visa o combate agraves doenccedilas crocircnicas Outro proposito eacute tornar a
comunidade criacutetica em relaccedilatildeo agrave publicidade de produtos alimentiacutecio supeacuterfluo que
induz agraves crianccedilas e adultos alimentarem-se incorretamente
A comunidade participou coletivamente da implantaccedilatildeo de uma unidade da
tecnologia social denominada Produccedilatildeo Agroecoloacutegica Integrada e Sustentaacutevel
(PAIS) em 2012 com o objetivo de produzir alimentos saudaacuteveis e preservar o meio
ambiente trazendo mais alimentos e renda ao campo Esta tecnologia popularmente
conhecida como ldquohorta mandalardquo foi ministrada durante o curso de capacitaccedilatildeo
promovido pela Fundaccedilatildeo Banco do Brasil e teve o meacuterito de proporcionar o debate
e a participaccedilatildeo democraacutetica na definiccedilatildeo das culturas a serem cultivadas na futura
propriedade Vale informar que o assentamento Renascer identificou-se com esse
paradigma agroecoloacutegico
A educaccedilatildeo ambiental faz parte do dia a dia da comunidade hoje preserva-se
conservaccedilatildeo das formas de vida vegetais e animais na regiatildeo do assentamento e
entorno
A produccedilatildeo de mudas no viveiro eacute bastante concorrida contando com a
participaccedilatildeo de todos O viveiro produz cinco mil (5000) mudas de espeacutecies nativa
do cerrado para o reflorestamento das nascentes de aacutegua e nas aacutereas degradadas
da regiatildeo Contam com o apoio da FUNATURA FUNDACcedilAtildeO BANCO DO BRASIL
IFB Rio Satildeo Bartolomeu Vivo e UnB
-36-
38
39
Quarto Capiacutetulo
A escola que queremos expectativas e sonhos dos
acampados do Assentamento Renascer
Pode-se observar pelas falas dos entrevistados que a realidade de todos
converge para os problemas estruturais do Brasil faltam escolas no campo eacute baixa
a escolaridade em Brasiacutelia todos exercem atividades de subemprego
Todos tecircm grandes expectativas com relaccedilatildeo agrave vida futura no assentamento
objetivando melhores condiccedilotildees de vida na esperanccedila de serem beneficiaacuterios
enquanto cidadatildeos assentados das Poliacuteticas Puacuteblicas e financiamentos agriacutecolas
voltadas para a agricultura familiar como PRONAF PAA PNAE e PAPA-DF Vecircem
aiacute a possibilidade de emprego e renda situaccedilatildeo sonhada desde quando foram
pleitear a terra para reforma agraacuteria
Um olhar mais aprofundado sobre a anaacutelise de dados revela que natildeo importa o
fato de hoje residirem no DF pois como em qualquer lugar de origem os moradores
do assentamento Renascer vivenciam os mesmos problemas Percebe-se
claramente as dificuldades da inexistecircncia de escola no campo A distacircncia continua
impedindo o acesso os meios de transportes continuam precaacuterios os filhos
vivenciam a dificuldade de transferecircncia para a cidade na expectativa de
continuidade dos estudos as estradas rurais continuam esburacadas
Satildeo muitos os pontos em comum entre a situaccedilatildeo atual relatada e os problemas
vividos haacute deacutecadas em seus estados de origem o que deixa transparecer a absoluta
falta de interesse por parte do poder puacuteblico em garantir o direito constitucional agrave
educaccedilatildeo do povo do campo o que infelizmente continuaraacute deixando o triste
legado para o futuro do paiacutes
40
Repetimos a pergunta da inicial Cadecirc as escolas do campo Ateacute quando o paiacutes
vai viver essa situaccedilatildeo A anaacutelise de dados responde Natildeo eacute mais possiacutevel
continuar como estaacute
Todos os entrevistados pretendem alcanccedilar conhecimentos atraveacutes da escola do
campo implantada no Assentamento Renascer com objetivos de administrar a
propriedade participar ativamente do coletivo garantir renda fixa atraveacutes dos
programas de desenvolvimento da agricultura familiar
Os entrevistados unanimamente tecircm a preocupaccedilatildeo da manutenccedilatildeo dos laccedilos
familiares e das raiacutezes camponesas
A distacircncia entre a moradia e a escola fato relatado pela quase totalidade dos
entrevistados constitui um grande motivo de evasatildeo escolar de defasagem nas
seacuteries frequentadas de precariedade na aprendizagem em relaccedilatildeo aos demais
alunos A discriminaccedilatildeo alegada por muitos que frequentaram ou frequentam
escolas fora da faixa etaacuteria o vernaacuteculo proacuteprio dos sujeitos do campo as condiccedilotildees
precaacuterias da estrada que denunciam a condiccedilatildeo de assentado o sentimento de
inadequaccedilatildeo constituem fatores que determinam a evasatildeo escolar
Foram treze (13) entrevistados significando aproximadamente dez por cento
(10) dos moradores do Assentamento Renascer Desse total apenas dois (2)
entrevistados natildeo declararam dificuldade de distacircncia entre a moradia e a escola em
seus lugares de origem A maioria absoluta (11) pessoas declararam que a distacircncia
dificultava e impedia o acesso agrave escola Alguns relatos apresentam situaccedilotildees
precaacuterias para o homem do campo o assentado
Para o aluno do campo a distacircncia da escola tem o significado de inexistecircncia de
escola Isto porque as dificuldades de acesso satildeo enormes No caso em estudo
apenas um entrevistado declarou a inexistecircncia de escola em sua regiatildeo de
moradia Este poreacutem vivenciou todas as dificuldades de acesso que outros
assentados apresentaram em razatildeo da distacircncia moradiaescola
A falta de professores na escola rural eacute relatada por 11 dos 13 entrevistados A
distacircncia da escola para os professores dificulta segundo a vivecircncia dos
entrevistados o acesso agrave escola e a assiduidade o que muito desmotivava a
ambos
41
Os entrevistados conforme anaacutelise de dados desejam muito objetivamente a
implantaccedilatildeo imediata de escolas segundo os criteacuterios caracteriacutesticos de escola do
campo
- Trazer a realidade para dentro da escola do campo curriacuteculos voltados para o
cotidiano do aluno do campo onde as teacutecnicas agriacutecolas pecuaacuterias e agroecoloacutegicas
possam fazer parte do processo educativo da comunidade e que a escola tenha
uma gestatildeo coletiva democraacutetica com a participaccedilatildeo da comunidade
- Ter o trabalho como princiacutepio educativo A experiecircncia do aluno deve
harmonizar-se com os princiacutepios pistrakianos significar o trabalho de forma a que
ele apresente benefiacutecios para o proacuteprio indiviacuteduo para a comunidade na qual estaacute
inserido e para a sociedade e natildeo exclusivamente para servir ao capitalismo
-Superar a fragmentaccedilatildeo do conhecimento disciplinar A interdisciplinaridade
deve fazer parte dos objetivos educacionais de modo a promover a formaccedilatildeo
integral dos educandos
- Valorizar os saberes do homem do campo Os entrevistados desejam uma
escola onde possam exercitar sua vivecircncia campesina e a relaccedilatildeo dialoacutegica entre
professor-aluno seguindo a pedagogia de Paulo Freire o educando quer aprender
com o educador mas quer tambeacutem ter a oportunidade de transmitir seus saberes
- Promover espaccedilos de gestatildeo coletiva A proacutepria comunidade deve participar da
gestatildeo a elaboraccedilatildeo do PPP deve gerir o espaccedilo fiacutesico da escola para atividades
de interesse da comunidade ocupar espaccedilos para finalidades culturais esportivas
sociais tornando a escola um espaccedilo democraacutetico
- Garantir a presenccedila da comunidade e dos movimentos sociais que geram
processos que auxiliam a emancipaccedilatildeo social A escola deve tambeacutem ser espaccedilo
que auxilie a sustentabilidade e garanta a alimentaccedilatildeo saudaacutevel e recursos
fitoteraacutepicos em associaccedilatildeo com a comunidade
- Inclusatildeo tecnoloacutegica em todos os aspectos digital inovaccedilatildeo tecnoloacutegica
agropecuaacuteria recursos ambientais alternativos agua potaacutevel energia solar energia
eoacutelica fossa seacuteptica teacutecnicas de compostagem saneamento baacutesico cuidados com
os recursos hiacutedricos
A anaacutelise dos dados quando feita especificamente sobre a escola a ser
implantada pode aparentemente demonstrar uma pequena conexatildeo com as teorias
da escola do campo
42
A concepccedilatildeo da escola do campo natildeo pode ser imposta ela parte do princiacutepio
que os camponeses devem conquista-la Para essa conquista eacute necessaacuteria a
paixatildeo o desejo por algo ainda natildeo experimentado o amadurecimento poliacutetico-
social-pessoal a participaccedilatildeo coletiva na luta e na conquista
A trajetoacuteria de luta por educaccedilatildeo da comunidade Renascer apresenta estes
elementos agraves vezes difusos outras vezes mais claramente A escola bem que
poderia para alguns ser apenas uma escola rural Afinal aprender a ler e a
escrever ldquodireitordquo como alguns dizem ou seja deixar a condiccedilatildeo de analfabeto ou
analfabeto funcional para tornar-se letrado significaria avanccedilos em face das atuais
circunstacircncias Alguns entendem assim expressando-se principalmente nas
conversas informais
Apesar disso quando as respostas informais ou quando as respostas das
entrevistas satildeo analisadas mais profundamente identificamos que embora
difusamente todos desejam o programa educacional da escola do campo
Explicando melhor a participaccedilatildeo de todos da comunidade em todas as atividades
soacutecio-poliacuteticas-culturais (relatadas no terceiro capitulo) indicam que a comunidade
assimilou a postura soacutecio-politica-cultural que caracterizam a escola do campo
A vivecircncia do Assentamento Renascer no cotidiano e nos eventos coletivos
amadureceu o desejo pelo alimento intelectual cultural artiacutestico ambiental social
que a concepccedilatildeo de escola do campo introduz O programa educacional da Escola
do Campo ultrapassou as paredes fiacutesicas da escola e alcanccedilou o cotidiano dos
assentados
Os avanccedilos da conscientizaccedilatildeo e seu reflexo na vida do Assentamento Renascer
satildeo sentidos nos nuacutemeros de matriculados na LEdoC sete (7) alunos
aproximadamente dez (10) assentados prestaratildeo o proacuteximo vestibular trecircs (3)
assentados estatildeo matriculados no IFB dois(2) assentados estatildeo formados em
Teacutecnico Agropecuaacuterio tambeacutem pelo IFB um deles cursa o Tecnoacutelogo de
Agroecologia tambeacutem do IFB
Vale acrescentar que no iniacutecio de 2014 quando o IFB buscou no Assentamento
pessoas interessadas em matricular-se em seus cursos sob a condiccedilatildeo de
estudarem no ensino meacutedio o interesse foi grande e a impossibilidade pelo fato de
natildeo estarem habilitados no ensino fundamental provocou tanta discussatildeo que
estimulou essa pesquisa
43
O legado desses alunos futuros alunos e profissionais para o futuro do
Assentamento apresentaraacute resultados significativos para toda a comunidade O
futuro colheraacute bons frutos plantados agora
A escola que temos natildeo estaacute funcionando falta a renovaccedilatildeo do contrato o que
atrasa a alfabetizaccedilatildeo e conclusatildeo do 5ordm ano Falta a implantaccedilatildeo de poliacuteticas
puacuteblicas para atendimento de questotildees baacutesicas como por exemplo carteiras
quadro de giz iluminaccedilatildeo espaccedilo fiacutesico (dependecircncias para a escola) e mobiliaacuterio
-41-
44
Consideraccedilotildees Finais
A Educaccedilatildeo do campo eacute um movimento em que os trabalhadores do campo e
suas organizaccedilotildees lutam por transformaccedilotildees sociais particularmente a criaccedilatildeo de
escolas dono campo de qualidade a partir de uma perspectiva ampla de reforma
agraacuteria
A construccedilatildeo da educaccedilatildeo do campo eacute resultado do amadurecimento dos
movimentos sociais e das comunidades rurais em sua trajetoacuteria de luta pelo direito
fundamental agrave universalizaccedilatildeo escolar para as populaccedilotildees camponesas segundo
orientaccedilatildeo poliacutetico-pedagoacutegica adequada agrave realidade dos lutadores de
acampamentos e assentamentos em luta pela reforma agraacuteria e justiccedila social
Alguns princiacutepios caracterizam a luta pela escola do campo Dentre eles
podemos citar a criaccedilatildeo da consciecircncia do direito agrave educaccedilatildeo de qualidade plantada
na proacutepria comunidade o que provoca o enraizamento a valorizaccedilatildeo da vida no
campo a promoccedilatildeo da autoestima e a transformaccedilatildeo do ser alienado pela ideologia
e desigualdade social e sujeito de sua proacutepria histoacuteria
Outro princiacutepio eacute a adequaccedilatildeo de curriacuteculos agrave realidade camponesa de modo
a que o processo ensino-aprendizagem favoreccedila o amadurecimento de talentos
naturais o surgimento de oportunidades a niacutevel pessoal e social contribuindo para a
emancipaccedilatildeo poliacutetico-social do indiviacuteduo com reflexos na sociedade
A mudanccedila de paradigmas e o envolvimento social provocam a formaccedilatildeo integral
dos sujeitos que lutam de forma coletiva e solidaacuteria pela terra A escola do campo
que surge dessa mudanccedila eacute tambeacutem transformadora porque eacute fruto da luta
consciente que gera a reflexatildeo e o amadurecimento poliacutetico deixando um legado
positivo de cidadatildeos orgulhosos de sua condiccedilatildeo de lutador pela terra de sua
identidade de sua cultura de sua comunidade e coletividade
A escola do campo propicia aos alunos a reflexatildeo sobre o contexto social e a
problemaacutetica da comunidade em que estatildeo inseridos o respeito agrave individualidade a
ampliaccedilatildeo das potencialidades do aluno para organizar elaborar e atuar
coletivamente Deixam o legado futuro de homens responsaacuteveis mentes
independentes e atuantes que poderatildeo prestar serviccedilos significativos agrave sociedade
45
A comunidade assentada de o Assentamento Renascer pela Reforma
Agraacuteria em Sobradinho DF foi convidada a opinar sobre a escola que deseja a
partir da conquista da terra
O modelo proposto a partir de seu posicionamento possibilita a conclusatildeo
de que a escola do campo plantada na comunidade eacute preferiacutevel ao modelo
adotado atualmente de inserccedilatildeo dos alunos da comunidade agraves escolas urbanas
conter recursos materiais e humanos que propiciem bons resultados
pedagoacutegicos deve servir para fixar o trabalhador ao campo deve cumprir com o
propoacutesito constitucional de universalizaccedilatildeo do ensino para todas as faixas
etaacuterias deve estar identificada com os sonhos de prosperidade material e
realizaccedilatildeo pessoal dos assentados
-46-
46
Referecircncias Bibliograacuteficas
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FERRARI Marco ldquoAniacutesio Teixeira o inventor da escola puacuteblica no Brasilrdquo Revista Nova Escola Fundaccedilatildeo Victor Civita Revistaescolaabrilcombr acesso em 14092014 FERREIRA Fabiano de Jesus BRANDAtildeO Elias Canuto ndash Revista Eletrocircnica de Educaccedilatildeo Ano V N 09 juldez 2011p3 ldquoEducaccedilatildeo do campo um olhar histoacuterico uma realidade concreta rdquo (WWWUNIFILBR acesso em 08 de agosto de 2014) GONCcedilALVES Luiz Alberto Oliveira e Pinto Regina Pahim EDUCACcedilAtildeO SEacuteRIE JUSTICcedilA E DESENVOLVIMENTO IFP-FCC FUNDACcedilAtildeO CARLOS CHAGAS 2007 SAtildeO PAULO (pag206)
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OLIVEIRA Maria Rita Duarte em sua dissertaccedilatildeo ldquoDos programas oficiais para a educaccedilatildeo rural aos projetos de educaccedilatildeo do campo dos movimentos sociaisrdquo WWWrevistalaborufcbrartigovolume1maria-ritapdf acesso em 08-09-2014
OLIVEIRA Maria Rita Duarte PEDAGOGIA EM MARCHA Apud ARROYO Satildeo Paulo1995( pg 162)
OLIVEIRA Maria Rita Duarte Revistalabor ufcbracesso em 19-10-2014
________ citando CALAZ Maria Rita Duarte Oliveira
47
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________ Clarice Aparecida PROGRAMA NACIONAL DE EDUCACcedilAtildeO NA REFORMA AGRAacuteRIA BRASIacuteLIA 2012 pg 631 in DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO SANTOS Claudio Felix Dos ldquoO aprender a aprender na formaccedilatildeo de professores do campordquo Campinas 2013 Editora Autores Associados ) SOUZA Maria Antocircnia Movimentos Sociais no Brasil Contemporacircneo participaccedilatildeo e possibilidades no contexto das praacuteticas democraacuteticas ndash (wwwcesucptlab2004pdfMariaAntonia Souzapdfaceso em 24-07-2014 -48-
48
Apecircndices
1 Roteiro das Entrevistas
a) Dados dos entrevistados
Qual o seu nome
Masculino ( ) Feminino ( )
Quantos anos vocecirc tecircm
A quanto tempo mora no
assentamento
Onde vocecirc morou antes
de morar no
assentamento
Quantos anos vocecirc tinha
quando foi a escola pela
primeira vez
Estou ateacute qual seacuterieano
Quantos anos vocecirc tinha
quando parou de estudar
Qual motivo motivou vocecirc
a parar de estudar
Se tiver escola no
assentamento vocecirc voltaraacute
a estudar Porque
B) Outras informaccedilotildees dados pelos entrevistadosas (GRAVAR)
a) Em qual escola vocecirc estudou no acampamento ou em outro lugar Qual
b) Como era a escola que estudou Quais as coisas boas e coisas ruins que
tinha nesta escola
c) Conte como eacutefoi a educaccedilatildeo do assentamento o que jaacute existiu de escola
como funcionou e quais eram as boas e as coisas ruins desta escola
d) Jaacute participou de alguma accedilatildeo de mobilizaccedilatildeo para ter escola no
assentamento Se sim explique para que e como foi essa mobilizaccedilatildeo
e) Na sua opiniatildeo no assentamento deve ter escola Por quecirc
f) Como deveraacute ser a escola da comunidadeassentamento Como eacute a escola
que queremos ter
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b) Entrevistas semi-estruturadas
Entrevistado 01
Moro no assentamento Renascer haacute 11 anos Nasci Carnauacuteba no Rio Grande do
Norte fui criado na roccedila e desde pequeno trabalhava na lavoura para ajudar meu
pai Fui para escola com 9 anos de idade estudei ateacute a 5ordm seacuterie parei de estudar
com 17 anos natildeo continuei os estudos porque era muito longe de onde eu morva
que era na cidade mais proacutexima eu tinha que andar a peacute 8 km ficava muito
cansado Casei e vim morar em Brasiacutelia para trabalhar em uma chaacutecara como
caseiro Morava na chaacutecara Buritis em sobradinho- Df tambeacutem natildeo dei para
continuar os estudos porque ficava longe e tinha que ser a noite e natildeo tinha como ir
Se vier uma escola pra caacute eu ainda vou estudar para ter mais conhecimento para
plantar minha roccedila ir no banco pra ver se assino um empreacutestimo para melhorar
minha produccedilatildeo e saber fazer conta pra administrar minha parcela de terra
Qual o seu nome
Masculino ( X ) Feminino ( )
Quantos anos vocecirc
tecircm
57 anos
A quanto tempo
mora no assentamento
11 anos
Onde vocecirc morou
antes de morar no
assentamento
Carnauacuteba ndash RN
Chaacutecara Buritis nordm 10 Sobradinho DF
Quantos anos vocecirc
tinha quando foi a escola
pela primeira vez
8 anos
Estou ateacute qual
seacuterieano
5ordf seacuterie
Quantos anos vocecirc
tinha quando parou de
estudar
24 anos
Qual motivo
motivou vocecirc a parar de
estudar
Trabalhar para sustento da famiacutelia a
distacircncia entre a casa e a escola
Se tiver escola no
assentamento vocecirc voltaraacute
a estudar Porque
Sim ldquoSe tivesse escola do ensino
fundamental voltaria a estudar para tecirc
mais conhecimento para plantar minha roccedila
50
saber pesar saber contar vendecirc os produto e
comecirc
Entrevistado 02
Moro no assentamento renascer haacute 7 anos tenho 38 vim do interior do Cearaacute
Entrei na escola com 7 anos de idade estudei soacute a 5ordm seacuterie incompleta natildeo
continuei a estudar porque natildeo tinha escola a onde eu morava que era na roccedila e eu
tinha que ficar na casa dozotro (SIC) na cidade e eu natildeo gostava disso natildeo ai parei
com 16 anos de idade Mudamo (SIC) pra Brasiacutelia pra uma chaacutecara perto de Santa
Maria-DF e natildeo dei pra estudar porque casei e tinha que trabalhar muito para
susrentar a famiacutelia A gora moro no assentamento Renascer e sei que um dia vai ter
uma escola aqui e eu vou voltar a estudar porque meu sonho eacute ser veterinaacuterio e vou
der se deus quiser
Entrevistado 03
Tenho 58 anos moro no assentamento Renascer haacute 6 anos vim de Ceres-GO
comecei a estudar quando eu tinha 10 ano de idade estudei ateacute a 4ordf seria primaacuteria
(SIC) parei de estudar quando tinha 16 anos porque eu morava na roccedila e escola
ateacute que natildeo ficava muito longe natildeo era soacute 2 km dava pra ir a peacute a professora eacute que
faltava muito e a gente natildeo tinha como saber se ela tava ou natildeoAiacute quando eu tinha
18 anos casei e vim morar em Brasiacutelia e arranjei(SIC) emprego de caseira em uma
chaacutecara aiacute natildeo pra estudar a noite porque era muito longe pra laacute entatildeo eu natildeo
pensei mais nessas coisas Quando tiver escola no assentamento quero estudar
quiecirc pra mim (SIC) fazer curso de teacutecnico agriacutecolarsquorsquo
Entrevistado 04
Tenho 24 anos moro no assentamento Renascer tem 6 ano vim da Bahia morava
no Condomiacutenio RK entrei na escola com 7 anos de idade e estudei soacute ateacute a 6ordf seacuterie
parei com 18 anos de idade
Porque mudei pra caacute pro assentamento (SIC) e natildeo tem escola e natildeo tem como ir
pra Sobradinho a noite porque eacute muito longe tem que andar 5 km eacute pirigogo (SIC)
tem muita gente mal por aiacute tem ateacute estrupador natildeo posso me arriscar
ldquoSe tivesse escola aqui eu ia terminar meus estudos podia ser no galpatildeo mesmo
pra mim tava bom mas para os meus filhos eu queria uma escola boa com internet
e tudo Eu natildeo gosto que meus filhos estuda(SIC) na cidade soacute aceito porque eacute o
jeito gente de assentamento eacute muito zombado (SIC) porque as vezes chega suja
na escola e os outros acha que eles satildeo porcos que toma banhordquo
Entrevistado 05
51
Tenho 21 anos de idade moro no Renascer haacute trecircs anos vim de satildeo Gabriel-GO
comecei a estudar aos 7 anos parei com 18 anos porque minha matildee mudou
pro(SIC) matildee mudou pro (SIC) assentamento haacute 6 anos e eu natildeo aguento morar
longe dela Quando cheguei aqui natildeo teve como continuar os estudos porque
trabalho durante o dia como manicure em Sobradinho e o uacuteltimo ocircnibus que passa
perto do assentamento eacute as 5 horas da tarde entatildeo natildeo daacute para estudar a noite
Sim porque quero fazer um curso de cabelereiro quando tiver aacutegua e luz aqui eu
quero montar um salatildeo de beleza e para ser uma empresaacuteria precisa ter estudos pra
administrar o negoacutecio
Entrevistado 06
44 anos
6 anos
Formosa-GO
8 anos
5ordf seacuterie
24 anos
Porque a escola mais perto(SIC) era 10km de distacircncia e eu trabalhava na roccedila e
ficava muito cansado aiacute parei natildeo deu mais
Sim quando tiver escola aqui eu vou voltar a estudar Eu tinha um sonho de ser
agroacutenomo mas esse sonho eacute impussive(SIC) entatildeo queria concluir o ensino
fundamental para fazer um curso de teacutecnico agriacutecola no IFB mas tambeacutem eacute longe
se tivesse como estudar aqui no assentamento eu ia(SIC) ficar muito feliz
Entrevistado 07
57 anos
6 anos
Parnaiacuteba-PI- Santa Maria- DF
7 anos
4ordf seacuterie
21 anos
Parei porque era muito difiacutecil ir para escola que ficava muito longe eu tinha que sair
de casa as 4hs da madrugada para chegar na escola as 730 ia montado num
cavalo e muitas vezes natildeo tinha professora pra dar aula Parei porque natildeo aguentei
o rojatildeo tinha que minha matildee na lida a tarde e eu ficava muito cansado Vim pra
52
Brasiacutelia e casei fui trabalhar de chacareiro numa chaacutecara que tambeacutem era longe de
escola depois vim morar aqui no assentamento que natildeo tem escola
Se tivesse escola aqui eu ia voltar estudar soacute pra aprender a cuidar meior (SIC) da
terra e dos meus bichos e que fosse como uma escola agriacutecola
Entrevistado 08
Tenho 29 anos moro no assentamento Renascer haacute 2 anos sou educadora do
Pronera haacute 1 ano e 2 meses O Pronera eacute como um antidepressivo na vida de muita
gente o Pronera melhorou a minha vida e a vida dos meus alunos o desejo de
todos eacute que o Pronera continue crescendo em direccedilatildeo de uma educaccedilatildeo continuada
levando tambeacutem o ensino fundamental para os acampamentos e assentamentos da
Reforma Agraacuteria
-50-
Anexos
53
Acampamento agrave beira da estrada ndash 2004
Construccedilatildeo da Sede do Movimento na atual aacuterea
54
Reuniatildeo semanal
Teatro de fantoches ndash brinquedoteca
55
Accedilatildeo da Pastoral da Crianccedila na brinquedoteca
Oficina de brinquedos reciclaacuteveis
56
Brinquedo confeccionado com materiais reciclaacuteveis na Brinquedoteca
57
58
59
60
Apresentaccedilatildeo teatral
61
Capacitaccedilatildeo em Economia Solidaacuteria
Formaccedilatildeo de multiplicadores da Economia Solidaacuteria
62
Capacitaccedilatildeo de Educadores Ambientais
63
Luta pela Reforma Agraacuteria e Soberania Alimentar
14
que o modelo de educaccedilatildeo praticado no Brasil pelos diferentes governos entre o iniacutecio do Impeacuterio (1822) ateacute meados do seacuteculo XX era uma educaccedilatildeo para a elite econocircmica e intelectual em prejuiacutezo direto e indiscriminado dos pobres negros e iacutendios Inclusive a primeira Lei ainda no periacuteodo imperial quando se reporta agrave educaccedilatildeo natildeo se ateve agraves especificidades diretas da zona rural onde a populaccedilatildeo brasileira viviardquo (FERREIRA 2011 p4)
Clauacutedio Santos (2013) afirma que a educaccedilatildeo destinada aos habitantes do
campo no inicio do seacuteculo XX entendia que ldquoa formaccedilatildeo das jovens geraccedilotildees ou dos
adultos no espaccedilo rural era tida como algo menor ou desnecessaacuteriordquo (p 47) Para o
autor a maioria de residentes no campo ( 75) natildeo foi pensado um modelo
educacional que contemplasse as necessidades dos residentes no campo o que a
histoacuteria do Brasil nos ensina eacute que o regime republicano manteve os grandes
latifuacutendios e a oligarquia rural alijando a maior parcela da populaccedilatildeo rural de
qualquer benefiacutecio do sistema poliacutetico-econocircmico
A organizaccedilatildeo escolar rural no Brasil embora tiacutemida pode ser localizada a
partir do primeiro governo republicano o do marechal Deodoro da Fonseca (1889-
1891) estando a cargo do Ministeacuterio da Agricultura Comeacutercio e Induacutestria O ecircxodo
da populaccedilatildeo rural para os incipientes centros urbanos em busca dos empregos
promovidos pela igualmente incipiente industrializaccedilatildeo evidenciava as mazelas dos
sujeitos do campo 75 da populaccedilatildeo brasileira era analfabeta igual nuacutemero da
populaccedilatildeo do campo
Somente a partir de 1920 tem-se efetivamente o primeiro movimento em
defesa da educaccedilatildeo da populaccedilatildeo rural conhecido como Ruralismo Pedagoacutegico
(SANTOS 2013) que foi um movimento dos educadores poliacuteticos e intelectuais
elaborando formas de accedilatildeo pedagoacutegicas adequados agrave dominacircncia poliacutetico-
econocircmica da oligarquia rural
Para o autor o ruralismo pedagoacutegico
defendia uma escola integrada agraves condiccedilotildees locais para promover a fixaccedilatildeo do homem do campo estava ligado agrave modernizaccedilatildeo do campo brasileiro e contava com o apoio dos latifundiaacuterios temerosos de perder sua matildeo de obra bem como de uma elite urbana preocupada com os resultados negativos de uma migraccedilatildeo
camponesa para a cidade (SANTOS2013p48)
15
Uma caracteriacutestica do ruralismo pedagoacutegico foi buscar adequar a educaccedilatildeo
rural para fixar o homem no campo para diminuir o processo de urbanizaccedilatildeo e
consequente ecircxodo rural que modificava a estrutura econocircmico e social do paiacutes
Relativo agrave educaccedilatildeo rural da primeira metade do seacuteculo XX nos ensina
Santos (2013 p48) que ldquoem 1933 inicia-se a campanha de alfabetizaccedilatildeo na zona
rural Em 1935 ocorre o I Congresso Nacional do Ensino Regional que contribui
para a fundaccedilatildeo da Sociedade Brasileira de Educaccedilatildeo Rural no ano de 1937rdquo
Nos anos de 1920 foi criado o movimento conhecido como Escola Nova por
intelectuais e pensadores brasileiros que valorizaram a pesquisa educacional e a
inserccedilatildeo da escola como uacutenico meio de se combater as desigualdades sociais num
ambiente de crescente industrializaccedilatildeo e urbanizaccedilatildeo (SANTOS 2013) Estes
educadores como Aniacutesio Teixeira Fernando de Azevedo Lourenccedilo Filho dentre
outros defenderam atraveacutes do Manifesto da Escola Nova (1932) a universalizaccedilatildeo
da escola puacuteblica laica e gratuita
A influecircncia deste movimento sobre a educaccedilatildeo brasileira fez-se sentir nas geraccedilotildees futuras de educadores e pesquisadores como Darcy Ribeiro e Florestan Fernandes A atuaccedilatildeo desses pioneiros se estendeu por deacutecadas muitas vezes criticada pelos defensores da escola particular e religiosa (FERRARI 2014p43)
Poreacutem as propostas do Manifesto natildeo tiveram impactos concretos e natildeo
foram incorporados pela escola Ferraro (2012) esclarece que
A educaccedilatildeo rural no Brasil soacute se tornou objeto de interesse do Estado no momento em que todas as atenccedilotildees e esperanccedilas se voltavam para o urbano e a ecircnfase passava a recair sobre o desenvolvimento industrial Quando os interesses do latifuacutendio dominavam tanto a economia como a poliacutetica a alfabetizaccedilatildeo das massas camponesas era vista como seacuteria ameaccedila agrave ordem vigente Quando o paiacutes jaacute avanccedila no processo de industrializaccedilatildeo e se torna predominantemente urbano eacute a proacutepria cidade que passa a reivindicar a alfabetizaccedilatildeo das populaccedilotildees do campo Passa entatildeo a contrariar os interesses da cidade continua (FERRARO 2012p964)
16
A industrializaccedilatildeo ocorreu nas cidades e atraiu grandes levas de
trabalhadores do campo seduzidos pelo ideal de transformaccedilatildeo de vida acesso agrave
escolarizaccedilatildeo empregos bem remunerados ideais que levam ao ecircxodo rural hoje
ou naquele momento histoacuterico A realidade do trabalhador do campo receacutem
chegado agrave cidade era do ponto de vista educacional precariacutessima pois em sua
maioria eram analfabetos ou com baixa escolarizaccedilatildeo Essa condiccedilatildeo impedia o
acesso ao emprego industrial urbano e agrave boa qualidade de vida que uma boa
remuneraccedilatildeo podia proporcionar
As cidades sofreram crescimento raacutepido desgovernado formando periferias
que abrigavam a maioria da populaccedilatildeo egressa do campo O subemprego e o
desemprego desestabilizavam as populaccedilotildees das cidades e geravam desequiliacutebrios
sociais e econocircmicos comprometendo a qualidade de vida de todos os moradores
Eacute o ciacuterculo vicioso da desigualdade da exclusatildeo e da violecircncia que a educaccedilatildeo
pode romper A educaccedilatildeo tem entatildeo o propoacutesito de formar trabalhadores para a
induacutestria urbana
Na Constituiccedilatildeo de 1934 para com a educaccedilatildeo rural destaca-se o Art 156 conforme podemos ver abaixo
A Uniatildeo e os Municiacutepios aplicaratildeo nunca menos de dez por cento e os Estados e o Distrito Federal nunca menos de vinte por cento da renda resultante dos impostos na manutenccedilatildeo e no desenvolvimento dos sistemas educativos Paraacutegrafo uacutenico ndash Para a realizaccedilatildeo do ensino nas zonas rurais a Uniatildeo reservaraacute no miacutenimo vinte por cento das cotas destinadas agrave educaccedilatildeo no respectivo orccedilamento anual
Na constituiccedilatildeo Federal de 1937 a educaccedilatildeo rural natildeo eacute citada A prioridade eacute
a educaccedilatildeo dos moradores urbanos Neste periacuteodo conforme Ferreira (2011) ldquoa
orientaccedilatildeo poliacutetico educacional para o mundo capitalista fica bem expliacutecita
sugerindo a preparaccedilatildeo de um maior contingente de matildeo de obra para as novas
atividades abertas pelo mercado ndash a industrializaccedilatildeordquo ( pg 32)
Ainda segundo o autor este afirma que em 1935 ocorreu o I Congresso
Nacional do Ensino Regional que assume como objetivo propagar a educaccedilatildeo rural
e elaborar os planos de educaccedilatildeo Esses planos recomendavam escolas rurais
ambulantes nas regiotildees de menor densidade geograacutefica
17
O periacuteodo conhecido como Estado Novo (1937-1945) tentava implantar uma
poliacutetica educacional de cunho nacionalista tornando a educaccedilatildeo um instrumento do
estado servindo aos seus interesses
Os adultos analfabetos particularmente no meio rural tiveram atenccedilatildeo da
Campanha Nacional de Educaccedilatildeo Rural (CNER) de 1952 a 1963 cujo objetivo era
contribuir para a inserccedilatildeo do homem do campo O CNER atuou atraveacutes de missotildees
internacionais dos Estados Unidos voltadas agrave educaccedilatildeo ao treinamento de
professores e agrave preparaccedilatildeo dos jovens do meio rural pelo ensino profissional
agriacutecola Agrave atividade do CNER podemos agregar a accedilatildeo da Comissatildeo Brasileiro-
Americana de Educaccedilatildeo das Populaccedilotildees Rurais (CBAR) que celebrou acordos entre
esses dois paiacuteses visando a educaccedilatildeo rural orientada para o emprego de teacutecnicas
agriacutecolas (OLIVEIRA 1999 p 133)
A educaccedilatildeo rural eacute chamada para se ajustar agraves poliacuteticas educacionais estabelecidas pelo projeto do estado A educaccedilatildeo rural em primeiro lugar apesar de numerosos programas desenvolvidos sempre representou uma fatia muito pequena e marginal nas preocupaccedilotildees do setor puacuteblico (OLIVEIRA p apud CALAZANS1981p162)
A educaccedilatildeo rural ocupou e ainda ocupa pequeno espaccedilo no universo
educacional brasileiro As escolas apresentam dificuldades para se manterem no
campo Conforme o Jornal Sem Terra nordm 46 jun2011 24000 escolas do campo
foram fechadas no Brasil As instalaccedilotildees o curriacuteculo a carecircncia de professores o
transporte escolar formam muitas vezes uma barreira quase imponiacutevel para uma
ampla gama de alunos particularmente das uacuteltimas seacuteries do ensino fundamental e
do ensino meacutedio
Os programas implantados nos uacuteltimos anos como o PRONERA e o EJA
apresentam soluccedilotildees e alcanccedilam grandes resultados mas podemos questionar os
resultados entre os estados O Rio Grande do Sul (que atendeu alunos do ensino
baacutesico ateacute o ensino superior) em comparaccedilatildeo com outros estados e o Distrito
Federal conseguiu excelentes resultados No DF falta alcanccedilar melhores
resultados Podemos questionar se os resultados satildeo adequados pois por exemplo
no assentamento Renascer o Pronera natildeo vai aleacutem do quinto ano Eacute necessaacuterio
uma poliacutetica educacional que leve em conta a realidade dos alunos do campo
18
invista recursos materiais e humanos modernizem as escolas e propiciem o acesso
dos alunos
Conforme nos explica Sousa 2004 em seu artigo lsquodiscursos intolerantes o
lugar da politica na educaccedilatildeo rural e a representaccedilatildeo do camponecircs analfabeto
No Brasil a trajetoacuteria da educaccedilatildeo rural inclui-se na dinacircmica de modernizaccedilatildeo do campo assumindo um papel decisivo no processo de expropriaccedilatildeo proletarizaccedilatildeo e controle dos trabalhadores rurais A modernizaccedilatildeo da produccedilatildeo no nordeste brasileiro por exemplo incentivou o processo de sindicalizaccedilatildeo em massa dos trabalhadores das zonas canavieiras estimulou reivindicaccedilotildees no campo do trabalho ligadas agrave aplicaccedilatildeo do Estatuto do Trabalhador Rural e contraditoriamente fez emergir as manifestaccedilotildees pela distribuiccedilatildeo de terras encampadas pelas Ligas Camponesas ( SOUSA2004 p4)
O projeto de modernizaccedilatildeo do campo ocorreu sem que houvesse a
emancipaccedilatildeo dos trabalhadores rurais Na verdade ocorreu a proletarizaccedilatildeo dos
trabalhadores rurais pela acumulaccedilatildeo de terras em matildeos de apenas poucos
proprietaacuterios (latifundiaacuterios) Esse acontecimento revela que apenas em processo
consciente e contiacutenuo de lutas organizados e unidos os trabalhadores rurais
poderatildeo conquistar terras e meios para sua produccedilatildeo
O estudo da organizaccedilatildeo dos trabalhadores rurais eacute importante porque eacute a
partir dela que outras grandes reivindicaccedilotildees satildeo conquistadas No caso da
presente pesquisa pode-se observar que foi a organizaccedilatildeo dos trabalhadores em
torno de suas causas a reforma agraacuteria que levou agrave luta pelas outras reivindicaccedilotildees
como a educaccedilatildeo no campo
O proacuteximo capiacutetulo deste trabalho monograacutefico aborda a questatildeo das
manifestaccedilotildees e resistecircncias dos camponeses pela educaccedilatildeo e pela reforma
agraacuteria
-16-
22 Trajetoacuteria de luta pela Educaccedilatildeo do Campo
A luta pela educaccedilatildeo do campo esteve sempre associada agrave luta pela reforma
agraacuteria e pela conquista de direitos para os trabalhadores rurais O Movimento das
19
Ligas Camponesas lutou pela emancipaccedilatildeo do trabalhador rural e da reforma agraacuteria
e em seu projeto educacional estavam baseados nos ideais de Paulo Freire e do
Movimento de Educaccedilatildeo de Base (MEB)
Para explicar a reaccedilatildeo das classes populares agraves imposiccedilotildees do governo
brasileiro e das classes dominantes Oliveira (1995 apud ARROYO)
A histoacuteria das lutas entre as classes sociais natildeo se limitam agrave luta pelo poder mas se constituem impulsionadoras da histoacuteria da humanidade que natildeo aguardam passivamente seu destino mas ao contraacuterio articulam-se em torno de suas lutas para garantir seus direitos sua dignidade e sua participaccedilatildeo democraacutetica na sociedade( OLIVEIRA apud ARROYO1995p 80)
Neste sentido as Ligas Camponesas lutaram praticamente em todo o
territoacuterio nacional contra a tentativa de expulsatildeo dos trabalhadores rurais das terras
Os conflitos armados particularmente no Nordeste exigiam participaccedilatildeo poliacutetica e
direitos essenciais como a educaccedilatildeo do campo
O meacutetodo de alfabetizaccedilatildeo criado por Paulo Freire foi amplamente utilizado
pelas Ligas Camponesas e em sua concepccedilatildeo ampla de escola serviu de subsidio
para a compreensatildeo do camponecircs acerca de seu papel social (TOLEDO Caio
Navarro 2004 p6)
Neste contexto surge a Pedagogia do Oprimido de Paulo Freire Segundo
SANTOS (2013 apud Paulo Freire 1987) afirma que a pedagogia do oprimido
configura-se como
Aquela que tem de ser forjada com ele (o oprimido) e natildeo para ele enquanto homens ou povos na luta incessante de recuperaccedilatildeo de sua humanidade Pedagogia que faccedila da opressatildeo e de suas causas objeto de reflexatildeo dos oprimidos de que resultaraacute o seu engajamento necessaacuterio na luta por sua libertaccedilatildeo em que esta pedagogia se faraacute e refaraacuterdquo (FREIRE 1987 p32)
A pedagogia do oprimido serve de referecircncia para o trabalhador rural que luta
pela emancipaccedilatildeo de sua condiccedilatildeo de proletaacuterio atraveacutes da reforma agraacuteria A
pedagogia do oprimido leva o homem ao encontro de si mesmo ao reconhecimento
da grandeza de seu trabalho ao potencial de suas accedilotildees cotidianas que fazem a
diferenccedila A capacidade de reflexatildeo e o entendimento de sua potencialidade pode
leva-lo agrave sua plena realizaccedilatildeo como indiviacuteduo e como ser social
20
A reaccedilatildeo do governo contra o movimento de educaccedilatildeo popular proposto por
Freire e assumido pelo Movimento das Ligas Camponesas e pelo Movimento de
Educaccedilatildeo de Base (MEB) gerou repressatildeo e resposta da ditadura civil-militar como
o Movimento Brasileiro de Alfabetizaccedilatildeo (MOBRAL)
A luta dos movimentos sociais e sindicais pela educaccedilatildeo do campo parte das
forccedilas internas dos movimentos e alcanccedila a setores sociais religiosos ideoloacutegicos
que passam a contribuir efetivamente para o alcance do direito agrave educaccedilatildeo aos
camponeses
A Comissatildeo Pastoral da Terra (CPT) presente ao lado dos trabalhadores (as)
rurais indiacutegenas ribeirinhos pescadores e quilombolas tambeacutem contribuiu e
contribui para a formaccedilatildeo criacutetica a defesa de formas sustentaacuteveis de utilizaccedilatildeo de
recursos naturais e produccedilatildeo e para a alfabetizaccedilatildeo segundo o meacutetodo de Paulo
Freire (CANUTO 2012 p 131)
Na atualidade estaacute em desenvolvimento um movimento que luta pela educaccedilatildeo do homem do campo organizado por vaacuterias entidades dentre elas o MST Trata-se de um processo que teve inicio em meados dos anos de 1990 impulsionados pela necessidade da educaccedilatildeo de jovens e adultos das aacutereas de assentamentos rurais Foi organizado um Programa Nacional para Educaccedilatildeo na Reforma Agraacuteria composto por atores tais como movimentos sociais universidades e governo federal aleacutem de outros parceiros (Alas da Igreja Sindicatos Organizaccedilatildeo Natildeo-Governamental ONG) existentes nas diferentes regiotildees do Brasil( SOUSA2004 p 32)
A trajetoacuteria de conquista das escolas do campo particularmente as escolas
do campo criadas pelo MST a partir da deacutecada de 1990 foi marcada pela conquista
e implantaccedilatildeo da Educaccedilatildeo Fundamental para crianccedilas e adolescentes dos
acampamentosassentamentos de acordo com o projeto politico-pedagoacutegico fruto do
amadurecimento do movimento
Focou-se a alfabetizaccedilatildeo de jovens e adultos e as lutas pela implantaccedilatildeo do
ensino meacutedio com cursos alternativos para a formaccedilatildeo de professores e teacutecnicos de
niacutevel meacutedio e tambeacutem de cursos superiores
A concepccedilatildeo de escolas de ensino fundamental plantadas em assentamentos
prevecirc a instalaccedilatildeo da escola na proacutepria comunidade evitando com isso o uso de
transporte escolar e a frequecircncia dos alunos Sem Terra em escolas fora do
assentamento
21
Esta atitude de resistecircncia foi fundamental para a conquista da escola nas
terras conquistadas e tambeacutem foi fundamental para universalizar o ensino enraizar
o aluno em sua comunidade e criar a consciecircncia do direito agrave educaccedilatildeo
ldquoincomodandordquo o Estado para garantir o cumprimento das poliacuteticas puacuteblicas
Kolling Vargas e Caldart (2012p502) nos ensinam ldquotoda vez que se
conquista uma escola de educaccedilatildeo baacutesica em um assentamento ou acampamento
ela representa menos adolescentes e jovens do campo fora da escola e mais gente
enraizada em seu proacuteprio lugarrdquo (pag 502)
Os movimentos sociais e sindicais pela educaccedilatildeo do campo indicam o grau
de maturidade desses em sua luta pela reforma agraacuteria Agrave essa luta soma-se o
projeto de desenvolvimento do paiacutes baseado na justiccedila social e o combate agraves
tradicionais formas utilizadas pelas elites urbanas ou rurais de alienaccedilatildeo pela
expropriaccedilatildeo do trabalho e pelo controle dos meios que levam agrave emancipaccedilatildeo
sociocultural e agrave verdadeira humanizaccedilatildeo papel destinado agrave educaccedilatildeo
Neste sentido movimentos sociais como o MST inserem a educaccedilatildeo
baseada em princiacutepios pedagoacutegicos que se distinguem da escola tradicional
Numa perspectiva histoacuterica os movimentos sociais do campo como por
exemplo o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) tiveram inicialmente
como bandeira de luta a luta pela terra pela Reforma Agraacuteria natildeo fazendo uma
relaccedilatildeo entre essa luta e a educaccedilatildeo
A formaccedilatildeo de escolas do campo pelo MST natildeo foi resultado da consciecircncia e
importacircncia da escola para a promoccedilatildeo da educaccedilatildeo em seu meio Foi na verdade
a necessidade de oferecer aos filhos dos primeiros lutadores a oportunidade de
uma perspectiva melhor de futuro atraveacutes do direito agrave educaccedilatildeo Foi tambeacutem a
necessidade de ldquotransformar instituiccedilotildees histoacutericas como a escola em lugares que
ajudem a formar os sujeitos destas transformaccedilotildeesrdquo (CALDART2012 p94)
Desse modo houve primeiro a ldquoocupaccedilatildeo da escolardquo pela mobilizaccedilatildeo e pela
accedilatildeo para garantir que em acampamentos ou assentamentos conquistados
houvesse uma escola que ldquofizesse a diferenccedila ou tivesse realmente sentido em sua
vida presente e futura (preocupaccedilatildeo com os filhos)rdquo (CALDART2012 p91)
Num segundo momento da luta observa-se intencionalidade da luta pela
escola mas com proposta pedagoacutegica especiacutefica ldquocombinando processos de
22
escolarizaccedilatildeo e de formaccedilatildeo da militacircncia e da base social Sem Terrardquo
(CALDART2012 p92)
As experiecircncias de pensar escolas como polos regionais entre assentamentos e com estudantes de outras comunidades de camponeses aos poucos vatildeo educando o olhar dos trabalhadores Sem Terra para uma realidade mais ampla Foi assim que o MST chegou agrave EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO (KOLLING Vargas e Caldart 2012 p 502)
A escola dentro dessa perspectiva de mudanccedila e envolvimento social eacute
parte da luta pela reforma agraacuteria daacute significado a ela pois proporciona a formaccedilatildeo
integral dos sujeitos que lutam pela terra
Essa escola possibilita a reflexatildeo trava o diaacutelogo com as propostas de
educaccedilatildeo popular de Paulo Freire e busca superar as dificuldades imensas que
assentados e acampados vivem no dia a dia
A escola tambeacutem revela a cultura o orgulho e criaccedilatildeo da identidade na luta
por terra Nesse sentido
A heranccedila que o MST deixaraacute para seus descendentes seraacute bem mais do que a terra que conseguir libertar do latifuacutendio seraacute um jeito de ser humano e de tomar posiccedilatildeo diante das questotildees de seu tempo seratildeo os valores que fortalecem e datildeo identidade aos lutadores do povo de todos os tempos de todos os lugares Eacute enquanto produto humano de uma obra educativa que os Sem Terra podem ser vistos como mais um elo que se forma em uma longa tradiccedilatildeo de lutadores sociais que fazem a histoacuteria da humanidade Enraizamento no passado e projeto de futuro (CALDART 2012 p 96)
A educaccedilatildeo proposta pelo movimento gera o sentimento de pertencimento e
desperta o sentimento de respeito agrave coletividade valoriza o trabalho a gestatildeo
democraacutetica e desburocratizada da escola
SANTOS (2013 p71) esclarece que pelo projeto educacional do MST a
educaccedilatildeo proposta estaacute pautada em ldquovalores socialistas e humanistas tais como o
coletivismo o trabalho socialmente uacutetil a organizaccedilatildeo e auto-organizaccedilatildeo dos
estudantes e professoresrdquo (p71)
-21-
23
221 Concepccedilatildeo Pedagoacutegica da Educaccedilatildeo do Campo
No acircmbito da educaccedilatildeo do homem do campo tornar o homem sujeito e natildeo
objeto do saber leva a entender que o conhecimento do camponecircs pode dialogar
com as praacuteticas baseadas no conhecimento cientiacutefico desde que seja perseguido o
ideal de trabalhadores e educadores do campo comprometidos com as lutas sociais
de formar o homem ldquodordquo campo e ldquono campordquo
Conforme Kolling Cerioli e Caldart (2002 p 264) ldquoo povo tem direito a uma
educaccedilatildeo pensada desde o seu lugar e com sua participaccedilatildeo vinculada agrave sua
cultura e agraves suas necessidades humanas e sociaisrdquo ndash(Caldart Educaccedilatildeo do Campo
2012 p 264
Tal compreensatildeo se ainda hoje causa oposiccedilatildeo ateacute mesmo no ambiente
acadecircmico imagine-se naquele momento histoacuterico de profunda repressatildeo poliacutetica e
ideoloacutegica aos movimentos sociais de camponeses por terra e educaccedilatildeo Como nos
ensina Molina e Saacute (DICIONAacuteRIO da Educaccedilatildeo do Campo p 324)
A concepccedilatildeo de escola do campo nasce e se desenvolve no bojo do movimento da EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO a partir das experiecircncias de formaccedilatildeo humana desenvolvidas no contexto de luta dos movimentos sociais camponeses por terra e educaccedilatildeo Trata-se portanto de uma concepccedilatildeo que emerge das contradiccedilotildees da luta social e das praacuteticas de educaccedilatildeo dos trabalhadores do e no campo (MOLINA e SAacute 2012 pag 324)
A concepccedilatildeo pedagoacutegica da educaccedilatildeo popular e da pedagogia da praacutetica
segundo ARROYO inclui
um caraacuteter de envolvimento totalizante dos movimentos sociais que possibilita ao individuo que participa destes coletivos o acesso a outro tipo de formaccedilatildeo que supera a condiccedilatildeo de aluno de alfabetizando de escolarizando Os integrantes destes organismos emersos na tensa situaccedilatildeo de conflitos aprendem por meio da vivencia das lutas sociais dos momentos de mobilizaccedilatildeo das situaccedilotildees limites de perda de emprego de criacuteticas da sociedade agraves suas accedilotildees de ameaccedilas agraves suas vidas Tudo isso traz ricas liccedilotildees ensinadas na ldquoescola do movimentordquo e que nenhuma teoria pode transmitir ou explicar de forma satisfatoacuteria
No entendimento de Arroyo (2013) os movimentos sociais vivem e
amadurecem sob o conhecimento e o entendimento das contradiccedilotildees sociais e esta
24
experiecircncia lhes permite a possibilidade de defender mudanccedilas radicais tanto no
campo como na cidade tanto na ideologia quanto no combate ao latifuacutendio e ao
capitalismo
Tamanho movimento social gera a reflexatildeo sobre as relaccedilotildees
socioeconocircmicas politicas culturais cuidado da natureza relaccedilotildees humanas
destaques de tudo o que interessa ao coletivo agrave sociedade
Eacute por meio do entendimento de que a realidade eacute criaccedilatildeo humana de como se estabelecem os processos de opressatildeo e ainda da noccedilatildeo de que podemos transformar essa realidade dado que a sociedade eacute mutaacutevel que se forma a praacutexis da luta accedilatildeo-conscientizaccedilatildeo-transformaccedilatildeo-libertaccedilatildeo Inserindo-se criticamente na histoacuteria os cidadatildeos tornam-se sujeitos construtores e reconstrutores da realidaderdquo
Molina e Saacute (2012) nos ensinam a partir do conceito de escola do campo sobre a
potencialidade da vivencia de praacuteticas coletivas para a valorizaccedilatildeo integral dos
sujeitos da coletividade do conhecimento cientiacutefico da gestatildeo coletiva da escola
dentre tantos avanccedilos e vitoacuterias dos movimentos sociais
O processo ensino-aprendizagem permite que o conceito de escola extrapole
o cotidiano de dificuldades e desafia agrave reflexatildeo que gera a emancipaccedilatildeo
Este eacute um dos maiores desafios e ao mesmo tempo uma das maiores possibilidades da escola do campo articular os conhecimentos que os educandos tecircm o direito de acessar a partir do trabalho com a realidade da religaccedilatildeo entre educaccedilatildeo cultura e os conhecimentos cientiacuteficos a serem apreendidos em cada ciclo de vida e de diferentes aacutereas do conhecimento(MOLINA MOURAtildeO 2012 p 329) -26-
222 Princiacutepios da Educaccedilatildeo do Campo
Alguns princiacutepios viabilizam o projeto de escola adotado pelos movimentos
sociais e possibilitam a democracia e a integraccedilatildeo de todos lideranccedila assentados e
acampados do movimento
25
O princiacutepio da responsabilidade coletiva sobre o planejamento a gestatildeo a
organizaccedilatildeo e a realizaccedilatildeo de tarefas em todas as esferas de atividades princiacutepios
muito valorizados pelos movimentos sociais do campo foram transferidos para o
projeto de educaccedilatildeo
O projeto eacute de responsabilidade coletiva e insere educadores tanto a niacutevel
local como regional e nacional os ldquoColetivos de educaccedilatildeordquo como satildeo conhecidos
Os coletivos de educaccedilatildeo com tarefas forccedila orgacircnica e discussotildees especiacuteficas que podem variar a cada periacuteodo fortalecem o princiacutepio organizativo de que a questatildeo da educaccedilatildeo bem como outras questotildees da vida social assumidas pelo MST deve ser pensada e implantada de forma coletiva Eacute uma loacutegica que implica tarefas a serem realizadas pelas pessoas mas mediante um planejamento e uma leitura de conjuntura feita por um coletivo (KOLLING1995 et al p503)
Para concretizar o projeto de educaccedilatildeo foi concebida a formaccedilatildeo de
professores pelos proacuteprios movimentos no acircmbito da proacutepria comunidade
(conhecidos como ldquoprofessores leigosrdquo) e tambeacutem pela rede oficial de ensino
A falta de titulaccedilatildeo de muitos educadores formados na comunidade natildeo
impede que os mesmos trabalhem juntos com os professores titulados e com
simpatizantes do movimento no projeto poliacutetico-pedagoacutegico constituindo um
princiacutepio democraacutetico importante para superar as dificuldades e urgecircncias para a
implantaccedilatildeo da educaccedilatildeo do campo
A democracia do processo de formaccedilatildeo de educadores tem reflexos amplos
a formaccedilatildeo de educadores pelos proacuteprios movimentos especiacutefica para atuaccedilatildeo nas
escolas do campo
O movimento eacute responsaacutevel pela universalizaccedilatildeo do ensino no acircmbito dos
territoacuterios conquistados ou por conquistar e permitiu a evoluccedilatildeo do ensino ateacute o niacutevel
de terceiro grau com a realizaccedilatildeo de cursos como a Licenciatura em Educaccedilatildeo do
Campo (LEdoC) do qual somos os privilegiados alunos aqui na Universidade de
Brasiacutelia
Outro reconhecimento e prova de eficiecircncia da formaccedilatildeo de professores eacute o
precircmio ldquoEducaccedilatildeo e Participaccedilatildeordquo recebido em 1995 do Fundo das Naccedilotildees Unidas
para a Infacircncia (Unicef)
26
O somatoacuterio das forccedilas internas e externas do movimento ldquoleigasrdquo ou
tituladas associadas ao princiacutepio fundamental da participaccedilatildeo dos alunos e
comunidades em todos os niacuteveis e localidades eacute ponto fundamental para o sucesso
da concepccedilatildeo do projeto pois permite o estudo a reflexatildeo conjunta sobre
estrateacutegias para o alcance do objetivo de educaccedilatildeo na reforma agraacuteria
-25-
223 Marcos Normativos da Educaccedilatildeo do Campo
Numerosos Marcos Normativos podem ser citados para explicitar qual perfil
de escola destinada ao camponecircs interessava ao governo e aos proprietaacuterios rurais
A Lei 4024 de 1961 em seu art 105 estabelece o
Apoio que poderaacute ser prestado pelo poder puacuteblico agraves iniciativas que mantenham na zona rural instituiccedilotildees educativas orientadas para adaptar o homem ao meio e estimular vocaccedilotildees e atividades profissionais (BRASIL 2012 p 4)
A Lei 5692 de 1971 ao tratar da educaccedilatildeo rural ldquonatildeo observa mais uma vez
a inclusatildeo da populaccedilatildeo na condiccedilatildeo de protagonista de um projeto social globalrdquo
sendo que o trabalho do campo realizado por alunos eacute ateacute mesmo incentivado
adequando-o ao calendaacuterio escolar (MARCOS NORMATIVOSBrasiacutelia2012 p 25)
A Lei 9394 de 1996 (Lei das Diretrizes se Bases da Educaccedilatildeo ndash LDB) em
acordo com Constituiccedilatildeo de 1988 e ldquoinspirada de alguma forma numa concepccedilatildeo
de mundo rural enquanto espaccedilo especifico diferenciado e ao mesmo tempo
integrado no conjunto da sociedaderdquo reconhece
A diversidade soacutecio-cultural e o direito agrave igualdade e agrave diferenccedila possibilitando a definiccedilatildeo de diretrizes operacionais para educaccedilatildeo rural sem no entanto recorrer a uma logica exclusiva e de ruptura com um projeto global de educaccedilatildeo para o paiacutes (idem p 26)
27
Os artigos 208 e 210 da Carta Magna-1988 e inspirada de numa concepccedilatildeo
de mundo rural enquanto espaccedilo especiacutefico diferenciado e ao mesmo tempo
integrado no conjunto da sociedade a Lei 939496- LDB-estabelece que
Art 28 Na oferta da educaccedilatildeo baacutesica para a populaccedilatildeo rural os sistemas de ensino promoveratildeo as adapta necessaacuteria agrave sua adequaccedilatildeo agraves peculiaridades da vida rural e de cada regiatildeo especialmente (MARCOS NORMATIVOS) Brasiacutelia 2012 p 25)
1- Conteuacutedos organizar curriculares e metodologias apropriadas agraves reais
necessidades e interesses dos alunos da zona rural
2-organizaccedilatildeo escolar proacutepria incluindo a adequaccedilatildeo do calendaacuterio escolar as
fases do ciclo agriacutecola e as condiccedilotildees climaacuteticas
3-adequaccedilatildeo agrave natureza do trabalho na zona rural (MARCOS NORMATIVOS)
Brasiacutelia 2012( p 26)
O movimento de educaccedilatildeo do campo luta haacute quinze (15) anos para fazer-se
cumprir esse Decreto da Lei de Diretrizes de base da educaccedilatildeo do campo-LDB
que apesar de ser constitucional ainda natildeo foi colocada totalmente em praacutetica
Agora com as lutas dos movimentos sociais eacute que estaacute comeccedilando a se concretizar
Artigo 26 Os curriacuteculos do ensino fundamental e meacutedio devem ter uma base nacional comum a ser complementada em cada sistema de ensino e estabelecimento escolar por uma parte diversificada exigida pelas caracteriacutesticas regionais e locais da sociedade
da cultura da economia e da clientela (MARCOS NORMATIVOS) Brasiacutelia 2012(p 26)
O Decreto nordm 7352 de 4 de novembro 2010 dispotildee sobre a poliacutetica de educaccedilatildeo do campo ao Programa Nacional de Educaccedilatildeo
na Reforma Agraacuteria-PRONERA decreta
Art1ordm A poliacutetica de educaccedilatildeo do campo destina-
se agrave ampliaccedilatildeo e qualificaccedilatildeo da oferta de educaccedilatildeo baacutesica e superior agraves populaccedilotildees do campo e seraacute desenvolvida pela Uniatildeo em regime de colaboraccedilatildeo com os Estados o
28
Distrito Federal e os Municiacutepios de acordo com as diretrizes e metas estabelecidas no Plano Nacional de Educaccedilatildeo e o disposto neste Decreto
Para os efeitos deste Decreto entende-se por
l-populaccedilatildeo do campo os agricultores familiares os extrativistas os pescadores
artesanais os ribeirinhos os assentados e acampados da reforma agraacuteria os
trabalhadores assalariados rurais os quilombolas os caiccedilaras os povos da floresta
os caboclos e outros que produzam suas condiccedilotildees materiais de existecircncia a partir
do trabalho no meio rural
ll-escola do campo aquela situada em aacuterea rural conforme definida pela Fundaccedilatildeo
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica- IBGE ou aquela situada em aacuterea
urbana desde que atenda predominantemente a populaccedilatildeo do campo (MARCOS
NORMATIVOS) 2012( p 81)
No Decreto 6755 29 de janeiro de 2009 em seu art 2ordm estabelecida pelo Conselho
Nacional de Educaccedilatildeo que se refere as Diretrizes Operacionais da Educaccedilatildeo do
Campo o parecer da alternacircncia
A formaccedilatildeo de professores poderaacute ser feita concomitantemente agrave atuaccedilatildeo profissional de acordo com metodologias adequadas inclusive a pedagogia da alternacircncia e sem prejuiacutezo de outras que atendam agraves especificidades da educaccedilatildeo do campo e por meio de atividades de ensino pesquisa e extensatildeo (MARCOS NORMATIVOS) 2012( p84)
-26-
29
-
231 A educaccedilatildeo do campo e poliacutetica puacuteblica - o PRONERA
O amadurecimento adquirido pela luta sobre o papel da educaccedilatildeo aliado agrave
iniciativa do aproveitamento do trabalho das professoras ldquoleigasrdquo e ainda da
consciecircncia cada vez mais presente do dever do Estado em prover os cidadatildeos da
reforma agraacuteria de poliacuteticas puacuteblicas resultou no campo da educaccedilatildeo na criaccedilatildeo do
Programa Nacional de Educaccedilatildeo na Reforma Agraacuteria (PRONERA)
O PRONERA envolve formalmente jovens e adultos num projeto conjunto
com universidades e institutos federais em prol da formaccedilatildeo de educadores para o
trabalho em escolas dos assentamentos da reforma agraacuteria e seu entorno
O Programa foi criado em 1998 no momento da ascensatildeo dos conflitos pela
reforma agraacuteria o que propiciou que os movimentos sociais trouxessem para a
opiniatildeo puacuteblica suas mazelas
No campo da educaccedilatildeo foi denunciada a falta de escola a precariedade do
ensino a falta de profissionais do ensino a ldquoloacutegica de negaccedilatildeo histoacuterica do direito
aos camponeses de acesso aos niacuteveis mais elevados de escolaridade ( SANTOS
2012 pag 630)
A partir de 2005 o ensino oferecido pelo PRONERA eacute estendido ao niacutevel
meacutedio e superior como a Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo e a Residecircncia
30
Agraacuteria O PRONERA evoluiu para outros patamares tais como ldquopossibilidades de
ressignificaccedilatildeo do conteuacutedo e da metodologia dos processos de educaccedilatildeo formal
por meio dos princiacutepios baacutesicos da participaccedilatildeo e da multiplicaccedilatildeordquo (SANTOS 2012
p 631)
A participaccedilatildeo das comunidades e suas organizaccedilotildees e a multiplicaccedilatildeo de
alfabetizados formados educadores e demais profissionais ligados agraves poliacuteticas
puacuteblicas para a Reforma Agraacuteria gerou ampla participaccedilatildeo dos agentes envolvidos
na dinacircmica do processo ensino-aprendizagem
Essa forma de gestatildeo gerou reaccedilatildeo contraacuteria ldquoagrave gestatildeo colegiada e coletiva
notadamente agrave participaccedilatildeo direta dos movimentos sociais e sindicais do campordquo
considerados ldquoentes estranhos agrave administraccedilatildeo puacuteblicardquo (CLARICE p 634)
O envolvimento dos movimentos sociais e sindicais do campo natildeo
retrocederam em sua luta pelo envolvimento de todos os interessados na educaccedilatildeo
como elemento emancipatoacuterio e continuam formulando princiacutepios concepccedilotildees e
diretrizes para a escola do campo
-31-
31
Terceiro Capiacutetulo
A histoacuteria do Assentamento Renascer
31 Uma breve histoacuteria de luta
A histoacuteria do Assentamento Renascer natildeo parece ser diferente da histoacuteria de
outros assentamentos Brasil afora Partiu da reivindicaccedilatildeo de Trabalhadores Rurais
sem Terra que desde 2004 ocuparam as margens da Rodovia DF 330 que liga
Sobradinho ao Paranoaacute-DF
Tatildeo perto do centro do poder a apenas poucos quilocircmetros do Palaacutecio da
Alvorada ou da Sede do INCRA o Acampamento Renascer esteve ateacute oito (08) de
maio de 2009 tatildeo distante da decisatildeo poliacutetica pela Reforma Agraacuteria
Somente nesta data trezentos sessenta e um( 361) de terras devolutas da
Uniatildeo foram repassadas ao INCRA para assentar as famiacutelias aliacute acampadas Ficou
criado o assentamento Renascer fora da beira da estrada
O Assentamento Renascer ldquorenasceurdquo da dificuldade de vida sob o barraco de
madeira sem aacutegua sem luz sem saneamento baacutesico que fez com que tantos
desistissem ao longo do caminho e ainda hoje se encontra nessa mesma
precariedade um descaso por parte do poder puacuteblico
A luta em vaacuterios momentos da vida dos acampados parecia estar vencida Os
vencedores pareciam ser a burocracia o desrespeito as noites mal dormidas a
inseguranccedila a falta de perspectivas para o acampado e suas famiacutelias
Duzentas (200) famiacutelias viveram aliacute por cinco anos (05) de 2004 ateacute 2009
Atualmente satildeo cento e vinte (120) famiacutelias que moram na aacuterea destinada e estatildeo
em processo de assentamento Muitas delas poreacutem vencidas pelo cansaccedilo e pelas
condiccedilotildees de vida abandonaram a luta mas todas as famiacutelias as que se foram e as
que ficaram sonharam com a terra onde poderiam produzir viam no pedaccedilo de chatildeo
os frutos do pomar da horta o galinheiro o pasto
O Assentamento Renascer eacute o Brasil Eacute um pedacinho da cruel realidade que
como vimos neste trabalho marcou a sociedade brasileira desde a escravidatildeo
desde o primeiro grito de rebeldia do quilombo desde o primeiro que lutou contra os
coroneacuteis por divisatildeo da terra como as Ligas Camponesas contra o latifuacutendio como
os movimentos sociais em sua luta pela reforma agraacuteria desde vaacuterias geraccedilotildees
32
Eacute como todo e qualquer movimento social que surgiu neste paiacutes desde a
deacutecada de 1980 pela reforma agraacuteria Viveu e ainda vive as dificuldades de ser
acampadoassentado mas honra sua luta porque natildeo desiste faacutecil
O Assentamento Renascer eacute tambeacutem fruto do ecircxodo rural da industrializaccedilatildeo
do campo da monocultura e da concentraccedilatildeo de terras Foram expulsos do campo
para a periferia das cidades sem capacitaccedilatildeo sem estudo
A falta de escolarizaccedilatildeo eacute sem duacutevida uma caracteriacutestica de quase todos os
que vieram do campo para a cidade A realidade do Brasil eacute que o campo natildeo eacute
escolarizado as escolas no campo satildeo poucas satildeo despreparadas satildeo
desvalorizadas
-33-
32 As escolas no campo na vivencia do assentado do Assentamento
Renascer
As escolas no campo marcaram profundamente a vida dos poucos que a
frequentaram Quase todos tiveram que trocar o laacutepis pela enxada a carteira pela
roccedila desde muito pequenos Alguns natildeo muito poucos conforme os depoimentos
aqui relatados teriam que abandonar a enxada e a participaccedilatildeo no sustento da
famiacutelia para frequentar a escola Quase sempre abandonaram a escola para ficar no
trabalho com a enxada
Todos teriam que andar vaacuterios quilocircmetros para ir agrave escola Outros nem assim
conseguiriam frequentar a escola no campo ela simplesmente natildeo existia no
campo Teriam entatildeo que ir para a cidade para ter direito a uma escola
Muitos tambeacutem vivenciaram os traumas que uma escola tradicional e
descomprometida com os valores e responsabilidades do projeto educacional
castigos humilhaccedilotildees afastaram a muitos da escola
Alguns apenas sonharam e sonham com a escola ldquoAh a escolardquo Tatildeo longe
inacessiacutevel para tantos no Brasil afora Ao ver de algumas pessoas do
Assentamento Renascer ldquoSe tivesse jeito eu teria ido agrave escola tinha feito pelo
menos o ensino fundamental completo para que eu pudesse ingressar no curso
33
teacutecnico-agriacutecola Mas agora quero que meus filhos e netos vatildeo para a escola
aprender ser algueacutem na vidardquo
-34-
321 A escola no entorno do Assentamento Renascer
A ideia de lutar pela educaccedilatildeo veio antes da ideia de lutar pela escola como
espaccedilo conquistado pelo acampamento Encontrar uma escola perto do
acampamento com transporte escolar com vagas e horaacuterios acessiacuteveis para os que
trabalham o dia todo era entendido como uma necessidade baacutesica e uma grande
vitoacuteria
Ficava-se feliz se apesar das dificuldades fosse possiacutevel matricular pelo
menos as crianccedilas As dificuldades eram e ainda satildeo muitas o transporte escolar
era e eacute precaacuterio a poeira natildeo permite que os alunos cheguem limpos agrave escola os
buracos e as poccedilas daacutegua impedem a chegada do ocircnibus escolar durante as
chuvas No caso do ocircnibus que levam os alunos ateacute a Escola Classe do Coacuterrego do
Arrozal em eacutepoca de muita chuva os ocircnibus ateacute o iniacutecio de 2014 natildeo conseguiam
transitar Isto resulta no fato de que as crianccedilas precisam caminhar debaixo de
chuva ateacute a escola
-35-
322 O caminho para a produccedilatildeo do saber no Assentamento Renascer a
brinquedoteca a integraccedilatildeo social a biblioteca comunitaacuteria as manifestaccedilotildees
culturais
Ao longo dos anos de vivecircncia e convivecircncia no Acampamento Renascer
mediante a dificuldade e necessidade de estudar que sentimos na nossa proacutepria
vida foi despontando a ideia de prover as crianccedilas de atividades luacutedicas e
educativas
34
Logo no iniacutecio do acampamento por volta de 2005 por iniciativa de algumas
pessoas conscientes da necessidade de atividades luacutedicas para as crianccedilas foi
criada uma brinquedoteca
Inicialmente os brinquedos eram de materiais reciclaacuteveis como garrafas pet
telefones sem fio carrinhos bonecas petecas vai e vem cavalinhos tudo era
confeccionado com a participaccedilatildeo das crianccedilas na modalidade de oficina
incentivando-os a fabricar os seus proacuteprios brinquedos Os brinquedos eram
confeccionados a partir de materiais encontrados nos lugares de descarte perto do
acampamento e doaccedilotildees de pessoas que passavam pela estrada
O embriatildeo de um processo educacional que nunca se interrompeu estava
lanccedilado a brinquedoteca proporcionou a criatividade e a participaccedilatildeo de crianccedilas e
adultos marcando as atividades pela conscientizaccedilatildeo do cuidado com a natureza e a
importacircncia da reciclagem A educaccedilatildeo ambiental jaacute era praticada desde o
nascimento do acampamento Renascer
Este primeiro passo foi muito importante porque traduziu para o dia a dia do
acampamento os princiacutepios da escola do campo atuante para mudar a realidade
criar cidadatildeos conscientes e dispostos a mudar a realidade a partir da sua proacutepria
accedilatildeo Este eacute o processo de transformaccedilatildeo social dentro do acampamento Renascer
haacute tanto tempo atraacutes
Aos brinquedos reciclados pela proacutepria comunidade juntaram-se outros
presenteados por instituiccedilotildees como igrejas ONGs a Pastoral da Crianccedila e pessoas
interessadas no bem estar daquelas crianccedilas
Percebe-se em iniciativas como essas a importacircncia da educaccedilatildeo nos
diversos niacuteveis para a sociedade A integraccedilatildeo de pessoas com as atividades
educativas no acampamento nos faz lembrar sobre um grande sonho das escolas
hoje integrar a comunidade de modo a que todos defendam a escola
O sucesso de iniciativas como a brinquedoteca que integravam crianccedilas
adolescentes adultos e sociedade foi importante para outras iniciativas igualmente
importantes
Foi-se criando um projeto educacional para o acampamento sem que se
tivesse consciecircncia disso por faltar informaccedilatildeo que soacute agora se possui graccedilas aos
estudos na Universidade o galpatildeo comunitaacuterio foi utilizado para abrigar a
35
brinquedoteca para desenvolver grupos de teatro de crianccedilas e adultos e para
abrigar a biblioteca
A biblioteca recebeu inuacutemeros exemplares de livros infantis livros didaacuteticos
para os adolescentes e adultos literatura universal revistas dos mais variados
assuntos criando assim um espaccedilo comunitaacuterio de informaccedilatildeo lazer e
entretenimento
Com a criaccedilatildeo da biblioteca ficou evidente a importacircncia da alfabetizaccedilatildeo de
crianccedilas jovens e adultos Muitos acampados relatavam a vontade e a necessidade
de aprender a ler e a escrever Muitos reivindicavam o direito agrave educaccedilatildeo e
frequecircncia agrave escola ainda que o acampamento mudasse de ldquoendereccedilordquo tantas
vezes
Outros poreacutem natildeo acreditavam que seria possiacutevel aprender ou aperfeiccediloar a
leitura e a escrita nas condiccedilotildees de vida de um acampado
Vaacuterias atividades culturais foram desenvolvidas (e ainda satildeo) no
Acampamento Renascer Todas chamavam a atenccedilatildeo da comunidade local de
outras comunidades vizinhas garantindo a simpatia de chacareiros que levavam os
filhos para participarem das atividades
Uma das atividades mais apreciadas foi o Teatro de Fantoches inspirados em
faacutebulas muitas com a autoria da Pastoral da Crianccedila e da Faber Castel A
participaccedilatildeo da comunidade na atividade era intensa e voluntaacuteria todos queriam
manipular os fantoches participar cantando danccedilando ou prestando muita atenccedilatildeo
O teatro de transformaccedilatildeo social produzido pelos adultos e adolescentes
utilizavam tambeacutem materiais reciclaacuteveis demonstrando cuidado com o meio
ambiente e amadurecimento dos conceitos poliacuteticos e pedagoacutegicos gerando reflexatildeo
sobre os temas sociais que nos atingem no cotidiano
A miacutestica adotada pelos movimentos sociais com o objetivo de reflexatildeo satildeo
apresentadas em datas comemorativas e contam com o apoio e participaccedilatildeo de
muitos
Algumas festas fazem parte da tradiccedilatildeo do Acampamento Renascer
traduzindo para a realidade atual as antigas festas a que todos foram acostumados
em seus lugares de origem
Pode-se dizer que a comunidade aprecia muito as festas Mas duas em
particular satildeo muito respeitadas a festa das crianccedilas que ocorre durante o dia (12
36
de outubro) eacute concorrida pois a comunidade se esmera para oferecer os brinquedos
que as crianccedilas amam pula-pula palhaccedilos pintura de rosto piscina de sabatildeo e
muita oferta de comida coisas que as crianccedilas adoram
No mesmo dia ocorre agrave noite a festa da Nossa Senhora Aparecida com
missa e muito forroacute
No mecircs de marccedilo eacute comemorada a Festa da Pamonha em comemoraccedilatildeo agrave
boa colheita do milho Esta festa jaacute se tornou tradicional conhecida em todo o
entorno do assentamento Egrave uma festa importante porque confraterniza a
comunidade Renascer com as comunidades vizinhas e ateacute mesmo as cidades de
Sobradinho Paranoaacute e Planaltina
Os movimentos sociais necessitam ser admirados pela sociedade e festas
como estas chamam a atenccedilatildeo para o problema da reforma agraacuteria demonstrando
que ela eacute viaacutevel e que os assentados tecircm simpatia competecircncia e seus saberes do
campo
A festa ldquojulinardquo eacute outra festa muito apreciada que apresenta as tradiccedilotildees rurais
e religiosas como quadrilhas e bandas de forroacute da comunidade e vizinhanccedila A
danccedila eacute um dos pontos fortes da festa assim como as comidas tradicionais muitas
delas com ingredientes colhidos no acampamento
Vaacuterios grupos de atividades teatrais apresentaram-se na localidade com
participaccedilatildeo de palhaccedilos lembrando um espetaacuteculo circense Alguns desses
grupos inclusive tiveram seus trabalhos premiados
Outras atividades com fundo educativo tiveram participaccedilatildeo animada de
crianccedilas e adultos A exibiccedilatildeo de desenhos animados recentemente apresentados
no cinema eram um grande atrativo para a comunidade que se via socialmente
incluiacuteda Esta inclusatildeo aumentava a autoestima das crianccedilas principalmente pois
assim elas poderiam interagir com os colegas da escola conversando a respeito dos
filmes
A Economia Solidaacuteria eacute uma das formas de inserccedilatildeo dos membros da
comunidade agrave sociedade economicamente ativa Atraveacutes da cooperaccedilatildeo solidaacuteria eacute
possiacutevel o comercio justo agriacutecolas ou artesanais sob conceitos antes
desconhecidos enquanto forma de produccedilatildeo e consumo centrado na valorizaccedilatildeo do
ser humano em contraposiccedilatildeo agraves formas capitalistas de produccedilatildeo e conscientizaccedilatildeo
37
Ao longo dos doze (12) anos de luta pela educaccedilatildeo foram promovidos
diversos cursos que capacitaram multiplicadores que fazem um trabalho importante
para a comunidade
A ideia de autogestatildeo democracia cooperaccedilatildeo auxilia natildeo soacute as formas de
produccedilatildeo e comercio de bens e artesanatos mas tambeacutem auxiliam na formaccedilatildeo
integral de pessoas em que tanto o produtor como o consumidor tem o proposito de
ganhos financeiros segundo um criteacuterio de valorizaccedilatildeo do trabalho
Proposito de formar uma nova consciecircncia a Economia Solidaacuteria promoveu
cursos de Soberania Alimentar em que a comunidade recebeu noccedilotildees praacuteticas
sobre alimentaccedilatildeo a partir da produccedilatildeo local de modo a promover uma nova cultura
alimentar que visa o combate agraves doenccedilas crocircnicas Outro proposito eacute tornar a
comunidade criacutetica em relaccedilatildeo agrave publicidade de produtos alimentiacutecio supeacuterfluo que
induz agraves crianccedilas e adultos alimentarem-se incorretamente
A comunidade participou coletivamente da implantaccedilatildeo de uma unidade da
tecnologia social denominada Produccedilatildeo Agroecoloacutegica Integrada e Sustentaacutevel
(PAIS) em 2012 com o objetivo de produzir alimentos saudaacuteveis e preservar o meio
ambiente trazendo mais alimentos e renda ao campo Esta tecnologia popularmente
conhecida como ldquohorta mandalardquo foi ministrada durante o curso de capacitaccedilatildeo
promovido pela Fundaccedilatildeo Banco do Brasil e teve o meacuterito de proporcionar o debate
e a participaccedilatildeo democraacutetica na definiccedilatildeo das culturas a serem cultivadas na futura
propriedade Vale informar que o assentamento Renascer identificou-se com esse
paradigma agroecoloacutegico
A educaccedilatildeo ambiental faz parte do dia a dia da comunidade hoje preserva-se
conservaccedilatildeo das formas de vida vegetais e animais na regiatildeo do assentamento e
entorno
A produccedilatildeo de mudas no viveiro eacute bastante concorrida contando com a
participaccedilatildeo de todos O viveiro produz cinco mil (5000) mudas de espeacutecies nativa
do cerrado para o reflorestamento das nascentes de aacutegua e nas aacutereas degradadas
da regiatildeo Contam com o apoio da FUNATURA FUNDACcedilAtildeO BANCO DO BRASIL
IFB Rio Satildeo Bartolomeu Vivo e UnB
-36-
38
39
Quarto Capiacutetulo
A escola que queremos expectativas e sonhos dos
acampados do Assentamento Renascer
Pode-se observar pelas falas dos entrevistados que a realidade de todos
converge para os problemas estruturais do Brasil faltam escolas no campo eacute baixa
a escolaridade em Brasiacutelia todos exercem atividades de subemprego
Todos tecircm grandes expectativas com relaccedilatildeo agrave vida futura no assentamento
objetivando melhores condiccedilotildees de vida na esperanccedila de serem beneficiaacuterios
enquanto cidadatildeos assentados das Poliacuteticas Puacuteblicas e financiamentos agriacutecolas
voltadas para a agricultura familiar como PRONAF PAA PNAE e PAPA-DF Vecircem
aiacute a possibilidade de emprego e renda situaccedilatildeo sonhada desde quando foram
pleitear a terra para reforma agraacuteria
Um olhar mais aprofundado sobre a anaacutelise de dados revela que natildeo importa o
fato de hoje residirem no DF pois como em qualquer lugar de origem os moradores
do assentamento Renascer vivenciam os mesmos problemas Percebe-se
claramente as dificuldades da inexistecircncia de escola no campo A distacircncia continua
impedindo o acesso os meios de transportes continuam precaacuterios os filhos
vivenciam a dificuldade de transferecircncia para a cidade na expectativa de
continuidade dos estudos as estradas rurais continuam esburacadas
Satildeo muitos os pontos em comum entre a situaccedilatildeo atual relatada e os problemas
vividos haacute deacutecadas em seus estados de origem o que deixa transparecer a absoluta
falta de interesse por parte do poder puacuteblico em garantir o direito constitucional agrave
educaccedilatildeo do povo do campo o que infelizmente continuaraacute deixando o triste
legado para o futuro do paiacutes
40
Repetimos a pergunta da inicial Cadecirc as escolas do campo Ateacute quando o paiacutes
vai viver essa situaccedilatildeo A anaacutelise de dados responde Natildeo eacute mais possiacutevel
continuar como estaacute
Todos os entrevistados pretendem alcanccedilar conhecimentos atraveacutes da escola do
campo implantada no Assentamento Renascer com objetivos de administrar a
propriedade participar ativamente do coletivo garantir renda fixa atraveacutes dos
programas de desenvolvimento da agricultura familiar
Os entrevistados unanimamente tecircm a preocupaccedilatildeo da manutenccedilatildeo dos laccedilos
familiares e das raiacutezes camponesas
A distacircncia entre a moradia e a escola fato relatado pela quase totalidade dos
entrevistados constitui um grande motivo de evasatildeo escolar de defasagem nas
seacuteries frequentadas de precariedade na aprendizagem em relaccedilatildeo aos demais
alunos A discriminaccedilatildeo alegada por muitos que frequentaram ou frequentam
escolas fora da faixa etaacuteria o vernaacuteculo proacuteprio dos sujeitos do campo as condiccedilotildees
precaacuterias da estrada que denunciam a condiccedilatildeo de assentado o sentimento de
inadequaccedilatildeo constituem fatores que determinam a evasatildeo escolar
Foram treze (13) entrevistados significando aproximadamente dez por cento
(10) dos moradores do Assentamento Renascer Desse total apenas dois (2)
entrevistados natildeo declararam dificuldade de distacircncia entre a moradia e a escola em
seus lugares de origem A maioria absoluta (11) pessoas declararam que a distacircncia
dificultava e impedia o acesso agrave escola Alguns relatos apresentam situaccedilotildees
precaacuterias para o homem do campo o assentado
Para o aluno do campo a distacircncia da escola tem o significado de inexistecircncia de
escola Isto porque as dificuldades de acesso satildeo enormes No caso em estudo
apenas um entrevistado declarou a inexistecircncia de escola em sua regiatildeo de
moradia Este poreacutem vivenciou todas as dificuldades de acesso que outros
assentados apresentaram em razatildeo da distacircncia moradiaescola
A falta de professores na escola rural eacute relatada por 11 dos 13 entrevistados A
distacircncia da escola para os professores dificulta segundo a vivecircncia dos
entrevistados o acesso agrave escola e a assiduidade o que muito desmotivava a
ambos
41
Os entrevistados conforme anaacutelise de dados desejam muito objetivamente a
implantaccedilatildeo imediata de escolas segundo os criteacuterios caracteriacutesticos de escola do
campo
- Trazer a realidade para dentro da escola do campo curriacuteculos voltados para o
cotidiano do aluno do campo onde as teacutecnicas agriacutecolas pecuaacuterias e agroecoloacutegicas
possam fazer parte do processo educativo da comunidade e que a escola tenha
uma gestatildeo coletiva democraacutetica com a participaccedilatildeo da comunidade
- Ter o trabalho como princiacutepio educativo A experiecircncia do aluno deve
harmonizar-se com os princiacutepios pistrakianos significar o trabalho de forma a que
ele apresente benefiacutecios para o proacuteprio indiviacuteduo para a comunidade na qual estaacute
inserido e para a sociedade e natildeo exclusivamente para servir ao capitalismo
-Superar a fragmentaccedilatildeo do conhecimento disciplinar A interdisciplinaridade
deve fazer parte dos objetivos educacionais de modo a promover a formaccedilatildeo
integral dos educandos
- Valorizar os saberes do homem do campo Os entrevistados desejam uma
escola onde possam exercitar sua vivecircncia campesina e a relaccedilatildeo dialoacutegica entre
professor-aluno seguindo a pedagogia de Paulo Freire o educando quer aprender
com o educador mas quer tambeacutem ter a oportunidade de transmitir seus saberes
- Promover espaccedilos de gestatildeo coletiva A proacutepria comunidade deve participar da
gestatildeo a elaboraccedilatildeo do PPP deve gerir o espaccedilo fiacutesico da escola para atividades
de interesse da comunidade ocupar espaccedilos para finalidades culturais esportivas
sociais tornando a escola um espaccedilo democraacutetico
- Garantir a presenccedila da comunidade e dos movimentos sociais que geram
processos que auxiliam a emancipaccedilatildeo social A escola deve tambeacutem ser espaccedilo
que auxilie a sustentabilidade e garanta a alimentaccedilatildeo saudaacutevel e recursos
fitoteraacutepicos em associaccedilatildeo com a comunidade
- Inclusatildeo tecnoloacutegica em todos os aspectos digital inovaccedilatildeo tecnoloacutegica
agropecuaacuteria recursos ambientais alternativos agua potaacutevel energia solar energia
eoacutelica fossa seacuteptica teacutecnicas de compostagem saneamento baacutesico cuidados com
os recursos hiacutedricos
A anaacutelise dos dados quando feita especificamente sobre a escola a ser
implantada pode aparentemente demonstrar uma pequena conexatildeo com as teorias
da escola do campo
42
A concepccedilatildeo da escola do campo natildeo pode ser imposta ela parte do princiacutepio
que os camponeses devem conquista-la Para essa conquista eacute necessaacuteria a
paixatildeo o desejo por algo ainda natildeo experimentado o amadurecimento poliacutetico-
social-pessoal a participaccedilatildeo coletiva na luta e na conquista
A trajetoacuteria de luta por educaccedilatildeo da comunidade Renascer apresenta estes
elementos agraves vezes difusos outras vezes mais claramente A escola bem que
poderia para alguns ser apenas uma escola rural Afinal aprender a ler e a
escrever ldquodireitordquo como alguns dizem ou seja deixar a condiccedilatildeo de analfabeto ou
analfabeto funcional para tornar-se letrado significaria avanccedilos em face das atuais
circunstacircncias Alguns entendem assim expressando-se principalmente nas
conversas informais
Apesar disso quando as respostas informais ou quando as respostas das
entrevistas satildeo analisadas mais profundamente identificamos que embora
difusamente todos desejam o programa educacional da escola do campo
Explicando melhor a participaccedilatildeo de todos da comunidade em todas as atividades
soacutecio-poliacuteticas-culturais (relatadas no terceiro capitulo) indicam que a comunidade
assimilou a postura soacutecio-politica-cultural que caracterizam a escola do campo
A vivecircncia do Assentamento Renascer no cotidiano e nos eventos coletivos
amadureceu o desejo pelo alimento intelectual cultural artiacutestico ambiental social
que a concepccedilatildeo de escola do campo introduz O programa educacional da Escola
do Campo ultrapassou as paredes fiacutesicas da escola e alcanccedilou o cotidiano dos
assentados
Os avanccedilos da conscientizaccedilatildeo e seu reflexo na vida do Assentamento Renascer
satildeo sentidos nos nuacutemeros de matriculados na LEdoC sete (7) alunos
aproximadamente dez (10) assentados prestaratildeo o proacuteximo vestibular trecircs (3)
assentados estatildeo matriculados no IFB dois(2) assentados estatildeo formados em
Teacutecnico Agropecuaacuterio tambeacutem pelo IFB um deles cursa o Tecnoacutelogo de
Agroecologia tambeacutem do IFB
Vale acrescentar que no iniacutecio de 2014 quando o IFB buscou no Assentamento
pessoas interessadas em matricular-se em seus cursos sob a condiccedilatildeo de
estudarem no ensino meacutedio o interesse foi grande e a impossibilidade pelo fato de
natildeo estarem habilitados no ensino fundamental provocou tanta discussatildeo que
estimulou essa pesquisa
43
O legado desses alunos futuros alunos e profissionais para o futuro do
Assentamento apresentaraacute resultados significativos para toda a comunidade O
futuro colheraacute bons frutos plantados agora
A escola que temos natildeo estaacute funcionando falta a renovaccedilatildeo do contrato o que
atrasa a alfabetizaccedilatildeo e conclusatildeo do 5ordm ano Falta a implantaccedilatildeo de poliacuteticas
puacuteblicas para atendimento de questotildees baacutesicas como por exemplo carteiras
quadro de giz iluminaccedilatildeo espaccedilo fiacutesico (dependecircncias para a escola) e mobiliaacuterio
-41-
44
Consideraccedilotildees Finais
A Educaccedilatildeo do campo eacute um movimento em que os trabalhadores do campo e
suas organizaccedilotildees lutam por transformaccedilotildees sociais particularmente a criaccedilatildeo de
escolas dono campo de qualidade a partir de uma perspectiva ampla de reforma
agraacuteria
A construccedilatildeo da educaccedilatildeo do campo eacute resultado do amadurecimento dos
movimentos sociais e das comunidades rurais em sua trajetoacuteria de luta pelo direito
fundamental agrave universalizaccedilatildeo escolar para as populaccedilotildees camponesas segundo
orientaccedilatildeo poliacutetico-pedagoacutegica adequada agrave realidade dos lutadores de
acampamentos e assentamentos em luta pela reforma agraacuteria e justiccedila social
Alguns princiacutepios caracterizam a luta pela escola do campo Dentre eles
podemos citar a criaccedilatildeo da consciecircncia do direito agrave educaccedilatildeo de qualidade plantada
na proacutepria comunidade o que provoca o enraizamento a valorizaccedilatildeo da vida no
campo a promoccedilatildeo da autoestima e a transformaccedilatildeo do ser alienado pela ideologia
e desigualdade social e sujeito de sua proacutepria histoacuteria
Outro princiacutepio eacute a adequaccedilatildeo de curriacuteculos agrave realidade camponesa de modo
a que o processo ensino-aprendizagem favoreccedila o amadurecimento de talentos
naturais o surgimento de oportunidades a niacutevel pessoal e social contribuindo para a
emancipaccedilatildeo poliacutetico-social do indiviacuteduo com reflexos na sociedade
A mudanccedila de paradigmas e o envolvimento social provocam a formaccedilatildeo integral
dos sujeitos que lutam de forma coletiva e solidaacuteria pela terra A escola do campo
que surge dessa mudanccedila eacute tambeacutem transformadora porque eacute fruto da luta
consciente que gera a reflexatildeo e o amadurecimento poliacutetico deixando um legado
positivo de cidadatildeos orgulhosos de sua condiccedilatildeo de lutador pela terra de sua
identidade de sua cultura de sua comunidade e coletividade
A escola do campo propicia aos alunos a reflexatildeo sobre o contexto social e a
problemaacutetica da comunidade em que estatildeo inseridos o respeito agrave individualidade a
ampliaccedilatildeo das potencialidades do aluno para organizar elaborar e atuar
coletivamente Deixam o legado futuro de homens responsaacuteveis mentes
independentes e atuantes que poderatildeo prestar serviccedilos significativos agrave sociedade
45
A comunidade assentada de o Assentamento Renascer pela Reforma
Agraacuteria em Sobradinho DF foi convidada a opinar sobre a escola que deseja a
partir da conquista da terra
O modelo proposto a partir de seu posicionamento possibilita a conclusatildeo
de que a escola do campo plantada na comunidade eacute preferiacutevel ao modelo
adotado atualmente de inserccedilatildeo dos alunos da comunidade agraves escolas urbanas
conter recursos materiais e humanos que propiciem bons resultados
pedagoacutegicos deve servir para fixar o trabalhador ao campo deve cumprir com o
propoacutesito constitucional de universalizaccedilatildeo do ensino para todas as faixas
etaacuterias deve estar identificada com os sonhos de prosperidade material e
realizaccedilatildeo pessoal dos assentados
-46-
46
Referecircncias Bibliograacuteficas
CANUTO Antocircnio In Comissatildeo Pastoral da Terra DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO 2012 pag 131) CLAUDIA MORAES DE SOUZA em seu artigo lsquoDiscursos intolerantes O lugar da poliacutetica na educaccedilatildeo rural e a representaccedilatildeo do camponecircs analfabeto (DIVERSITAS FFLCH USPBR)acesso em 03-08-2014 EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO ndash Marcos Normativos Brasilia 2012 MEC FERRARO Alceu Ravanello em seu artigo Alfabetizaccedilatildeo rural no Brasil na perspectiva das relaccedilotildees campo-cidade e de gecircnero (Educ Real ndash WWWSCIELOBRPDFEDREALV37N3PDF acesso 03-10-2014 FERREIRA (2011_ ldquoUm olhar histoacuterico uma realidade concretardquo (WWWUNIFILBR)acesso 20-10-2014
FERRARI Marco ldquoAniacutesio Teixeira o inventor da escola puacuteblica no Brasilrdquo Revista Nova Escola Fundaccedilatildeo Victor Civita Revistaescolaabrilcombr acesso em 14092014 FERREIRA Fabiano de Jesus BRANDAtildeO Elias Canuto ndash Revista Eletrocircnica de Educaccedilatildeo Ano V N 09 juldez 2011p3 ldquoEducaccedilatildeo do campo um olhar histoacuterico uma realidade concreta rdquo (WWWUNIFILBR acesso em 08 de agosto de 2014) GONCcedilALVES Luiz Alberto Oliveira e Pinto Regina Pahim EDUCACcedilAtildeO SEacuteRIE JUSTICcedilA E DESENVOLVIMENTO IFP-FCC FUNDACcedilAtildeO CARLOS CHAGAS 2007 SAtildeO PAULO (pag206)
KOLLING Edgar Jorge Vargas Caldart MST e Educaccedilatildeo in DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia Expressatildeo Popular 2012 (pag 5020
MOLINA Mocircnica SAacute Laiacutes Mouratildeo Escola do Campo in DICIONARIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia Expressatildeo Popular 2012 pg (329)
OLIVEIRA Maria Rita Duarte em sua dissertaccedilatildeo ldquoDos programas oficiais para a educaccedilatildeo rural aos projetos de educaccedilatildeo do campo dos movimentos sociaisrdquo WWWrevistalaborufcbrartigovolume1maria-ritapdf acesso em 08-09-2014
OLIVEIRA Maria Rita Duarte PEDAGOGIA EM MARCHA Apud ARROYO Satildeo Paulo1995( pg 162)
OLIVEIRA Maria Rita Duarte Revistalabor ufcbracesso em 19-10-2014
________ citando CALAZ Maria Rita Duarte Oliveira
47
SANTOS Clarice Aparecida PROGRAMA NACIONAL DE EDUCACcedilAtildeO NA REFORMA AGRAacuteRIA in DICIONARIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia2012(pg630)
________ Clarice Aparecida PROGRAMA NACIONAL DE EDUCACcedilAtildeO NA REFORMA AGRAacuteRIA BRASIacuteLIA 2012 pg 631 in DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO SANTOS Claudio Felix Dos ldquoO aprender a aprender na formaccedilatildeo de professores do campordquo Campinas 2013 Editora Autores Associados ) SOUZA Maria Antocircnia Movimentos Sociais no Brasil Contemporacircneo participaccedilatildeo e possibilidades no contexto das praacuteticas democraacuteticas ndash (wwwcesucptlab2004pdfMariaAntonia Souzapdfaceso em 24-07-2014 -48-
48
Apecircndices
1 Roteiro das Entrevistas
a) Dados dos entrevistados
Qual o seu nome
Masculino ( ) Feminino ( )
Quantos anos vocecirc tecircm
A quanto tempo mora no
assentamento
Onde vocecirc morou antes
de morar no
assentamento
Quantos anos vocecirc tinha
quando foi a escola pela
primeira vez
Estou ateacute qual seacuterieano
Quantos anos vocecirc tinha
quando parou de estudar
Qual motivo motivou vocecirc
a parar de estudar
Se tiver escola no
assentamento vocecirc voltaraacute
a estudar Porque
B) Outras informaccedilotildees dados pelos entrevistadosas (GRAVAR)
a) Em qual escola vocecirc estudou no acampamento ou em outro lugar Qual
b) Como era a escola que estudou Quais as coisas boas e coisas ruins que
tinha nesta escola
c) Conte como eacutefoi a educaccedilatildeo do assentamento o que jaacute existiu de escola
como funcionou e quais eram as boas e as coisas ruins desta escola
d) Jaacute participou de alguma accedilatildeo de mobilizaccedilatildeo para ter escola no
assentamento Se sim explique para que e como foi essa mobilizaccedilatildeo
e) Na sua opiniatildeo no assentamento deve ter escola Por quecirc
f) Como deveraacute ser a escola da comunidadeassentamento Como eacute a escola
que queremos ter
49
b) Entrevistas semi-estruturadas
Entrevistado 01
Moro no assentamento Renascer haacute 11 anos Nasci Carnauacuteba no Rio Grande do
Norte fui criado na roccedila e desde pequeno trabalhava na lavoura para ajudar meu
pai Fui para escola com 9 anos de idade estudei ateacute a 5ordm seacuterie parei de estudar
com 17 anos natildeo continuei os estudos porque era muito longe de onde eu morva
que era na cidade mais proacutexima eu tinha que andar a peacute 8 km ficava muito
cansado Casei e vim morar em Brasiacutelia para trabalhar em uma chaacutecara como
caseiro Morava na chaacutecara Buritis em sobradinho- Df tambeacutem natildeo dei para
continuar os estudos porque ficava longe e tinha que ser a noite e natildeo tinha como ir
Se vier uma escola pra caacute eu ainda vou estudar para ter mais conhecimento para
plantar minha roccedila ir no banco pra ver se assino um empreacutestimo para melhorar
minha produccedilatildeo e saber fazer conta pra administrar minha parcela de terra
Qual o seu nome
Masculino ( X ) Feminino ( )
Quantos anos vocecirc
tecircm
57 anos
A quanto tempo
mora no assentamento
11 anos
Onde vocecirc morou
antes de morar no
assentamento
Carnauacuteba ndash RN
Chaacutecara Buritis nordm 10 Sobradinho DF
Quantos anos vocecirc
tinha quando foi a escola
pela primeira vez
8 anos
Estou ateacute qual
seacuterieano
5ordf seacuterie
Quantos anos vocecirc
tinha quando parou de
estudar
24 anos
Qual motivo
motivou vocecirc a parar de
estudar
Trabalhar para sustento da famiacutelia a
distacircncia entre a casa e a escola
Se tiver escola no
assentamento vocecirc voltaraacute
a estudar Porque
Sim ldquoSe tivesse escola do ensino
fundamental voltaria a estudar para tecirc
mais conhecimento para plantar minha roccedila
50
saber pesar saber contar vendecirc os produto e
comecirc
Entrevistado 02
Moro no assentamento renascer haacute 7 anos tenho 38 vim do interior do Cearaacute
Entrei na escola com 7 anos de idade estudei soacute a 5ordm seacuterie incompleta natildeo
continuei a estudar porque natildeo tinha escola a onde eu morava que era na roccedila e eu
tinha que ficar na casa dozotro (SIC) na cidade e eu natildeo gostava disso natildeo ai parei
com 16 anos de idade Mudamo (SIC) pra Brasiacutelia pra uma chaacutecara perto de Santa
Maria-DF e natildeo dei pra estudar porque casei e tinha que trabalhar muito para
susrentar a famiacutelia A gora moro no assentamento Renascer e sei que um dia vai ter
uma escola aqui e eu vou voltar a estudar porque meu sonho eacute ser veterinaacuterio e vou
der se deus quiser
Entrevistado 03
Tenho 58 anos moro no assentamento Renascer haacute 6 anos vim de Ceres-GO
comecei a estudar quando eu tinha 10 ano de idade estudei ateacute a 4ordf seria primaacuteria
(SIC) parei de estudar quando tinha 16 anos porque eu morava na roccedila e escola
ateacute que natildeo ficava muito longe natildeo era soacute 2 km dava pra ir a peacute a professora eacute que
faltava muito e a gente natildeo tinha como saber se ela tava ou natildeoAiacute quando eu tinha
18 anos casei e vim morar em Brasiacutelia e arranjei(SIC) emprego de caseira em uma
chaacutecara aiacute natildeo pra estudar a noite porque era muito longe pra laacute entatildeo eu natildeo
pensei mais nessas coisas Quando tiver escola no assentamento quero estudar
quiecirc pra mim (SIC) fazer curso de teacutecnico agriacutecolarsquorsquo
Entrevistado 04
Tenho 24 anos moro no assentamento Renascer tem 6 ano vim da Bahia morava
no Condomiacutenio RK entrei na escola com 7 anos de idade e estudei soacute ateacute a 6ordf seacuterie
parei com 18 anos de idade
Porque mudei pra caacute pro assentamento (SIC) e natildeo tem escola e natildeo tem como ir
pra Sobradinho a noite porque eacute muito longe tem que andar 5 km eacute pirigogo (SIC)
tem muita gente mal por aiacute tem ateacute estrupador natildeo posso me arriscar
ldquoSe tivesse escola aqui eu ia terminar meus estudos podia ser no galpatildeo mesmo
pra mim tava bom mas para os meus filhos eu queria uma escola boa com internet
e tudo Eu natildeo gosto que meus filhos estuda(SIC) na cidade soacute aceito porque eacute o
jeito gente de assentamento eacute muito zombado (SIC) porque as vezes chega suja
na escola e os outros acha que eles satildeo porcos que toma banhordquo
Entrevistado 05
51
Tenho 21 anos de idade moro no Renascer haacute trecircs anos vim de satildeo Gabriel-GO
comecei a estudar aos 7 anos parei com 18 anos porque minha matildee mudou
pro(SIC) matildee mudou pro (SIC) assentamento haacute 6 anos e eu natildeo aguento morar
longe dela Quando cheguei aqui natildeo teve como continuar os estudos porque
trabalho durante o dia como manicure em Sobradinho e o uacuteltimo ocircnibus que passa
perto do assentamento eacute as 5 horas da tarde entatildeo natildeo daacute para estudar a noite
Sim porque quero fazer um curso de cabelereiro quando tiver aacutegua e luz aqui eu
quero montar um salatildeo de beleza e para ser uma empresaacuteria precisa ter estudos pra
administrar o negoacutecio
Entrevistado 06
44 anos
6 anos
Formosa-GO
8 anos
5ordf seacuterie
24 anos
Porque a escola mais perto(SIC) era 10km de distacircncia e eu trabalhava na roccedila e
ficava muito cansado aiacute parei natildeo deu mais
Sim quando tiver escola aqui eu vou voltar a estudar Eu tinha um sonho de ser
agroacutenomo mas esse sonho eacute impussive(SIC) entatildeo queria concluir o ensino
fundamental para fazer um curso de teacutecnico agriacutecola no IFB mas tambeacutem eacute longe
se tivesse como estudar aqui no assentamento eu ia(SIC) ficar muito feliz
Entrevistado 07
57 anos
6 anos
Parnaiacuteba-PI- Santa Maria- DF
7 anos
4ordf seacuterie
21 anos
Parei porque era muito difiacutecil ir para escola que ficava muito longe eu tinha que sair
de casa as 4hs da madrugada para chegar na escola as 730 ia montado num
cavalo e muitas vezes natildeo tinha professora pra dar aula Parei porque natildeo aguentei
o rojatildeo tinha que minha matildee na lida a tarde e eu ficava muito cansado Vim pra
52
Brasiacutelia e casei fui trabalhar de chacareiro numa chaacutecara que tambeacutem era longe de
escola depois vim morar aqui no assentamento que natildeo tem escola
Se tivesse escola aqui eu ia voltar estudar soacute pra aprender a cuidar meior (SIC) da
terra e dos meus bichos e que fosse como uma escola agriacutecola
Entrevistado 08
Tenho 29 anos moro no assentamento Renascer haacute 2 anos sou educadora do
Pronera haacute 1 ano e 2 meses O Pronera eacute como um antidepressivo na vida de muita
gente o Pronera melhorou a minha vida e a vida dos meus alunos o desejo de
todos eacute que o Pronera continue crescendo em direccedilatildeo de uma educaccedilatildeo continuada
levando tambeacutem o ensino fundamental para os acampamentos e assentamentos da
Reforma Agraacuteria
-50-
Anexos
53
Acampamento agrave beira da estrada ndash 2004
Construccedilatildeo da Sede do Movimento na atual aacuterea
54
Reuniatildeo semanal
Teatro de fantoches ndash brinquedoteca
55
Accedilatildeo da Pastoral da Crianccedila na brinquedoteca
Oficina de brinquedos reciclaacuteveis
56
Brinquedo confeccionado com materiais reciclaacuteveis na Brinquedoteca
57
58
59
60
Apresentaccedilatildeo teatral
61
Capacitaccedilatildeo em Economia Solidaacuteria
Formaccedilatildeo de multiplicadores da Economia Solidaacuteria
62
Capacitaccedilatildeo de Educadores Ambientais
63
Luta pela Reforma Agraacuteria e Soberania Alimentar
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Uma caracteriacutestica do ruralismo pedagoacutegico foi buscar adequar a educaccedilatildeo
rural para fixar o homem no campo para diminuir o processo de urbanizaccedilatildeo e
consequente ecircxodo rural que modificava a estrutura econocircmico e social do paiacutes
Relativo agrave educaccedilatildeo rural da primeira metade do seacuteculo XX nos ensina
Santos (2013 p48) que ldquoem 1933 inicia-se a campanha de alfabetizaccedilatildeo na zona
rural Em 1935 ocorre o I Congresso Nacional do Ensino Regional que contribui
para a fundaccedilatildeo da Sociedade Brasileira de Educaccedilatildeo Rural no ano de 1937rdquo
Nos anos de 1920 foi criado o movimento conhecido como Escola Nova por
intelectuais e pensadores brasileiros que valorizaram a pesquisa educacional e a
inserccedilatildeo da escola como uacutenico meio de se combater as desigualdades sociais num
ambiente de crescente industrializaccedilatildeo e urbanizaccedilatildeo (SANTOS 2013) Estes
educadores como Aniacutesio Teixeira Fernando de Azevedo Lourenccedilo Filho dentre
outros defenderam atraveacutes do Manifesto da Escola Nova (1932) a universalizaccedilatildeo
da escola puacuteblica laica e gratuita
A influecircncia deste movimento sobre a educaccedilatildeo brasileira fez-se sentir nas geraccedilotildees futuras de educadores e pesquisadores como Darcy Ribeiro e Florestan Fernandes A atuaccedilatildeo desses pioneiros se estendeu por deacutecadas muitas vezes criticada pelos defensores da escola particular e religiosa (FERRARI 2014p43)
Poreacutem as propostas do Manifesto natildeo tiveram impactos concretos e natildeo
foram incorporados pela escola Ferraro (2012) esclarece que
A educaccedilatildeo rural no Brasil soacute se tornou objeto de interesse do Estado no momento em que todas as atenccedilotildees e esperanccedilas se voltavam para o urbano e a ecircnfase passava a recair sobre o desenvolvimento industrial Quando os interesses do latifuacutendio dominavam tanto a economia como a poliacutetica a alfabetizaccedilatildeo das massas camponesas era vista como seacuteria ameaccedila agrave ordem vigente Quando o paiacutes jaacute avanccedila no processo de industrializaccedilatildeo e se torna predominantemente urbano eacute a proacutepria cidade que passa a reivindicar a alfabetizaccedilatildeo das populaccedilotildees do campo Passa entatildeo a contrariar os interesses da cidade continua (FERRARO 2012p964)
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A industrializaccedilatildeo ocorreu nas cidades e atraiu grandes levas de
trabalhadores do campo seduzidos pelo ideal de transformaccedilatildeo de vida acesso agrave
escolarizaccedilatildeo empregos bem remunerados ideais que levam ao ecircxodo rural hoje
ou naquele momento histoacuterico A realidade do trabalhador do campo receacutem
chegado agrave cidade era do ponto de vista educacional precariacutessima pois em sua
maioria eram analfabetos ou com baixa escolarizaccedilatildeo Essa condiccedilatildeo impedia o
acesso ao emprego industrial urbano e agrave boa qualidade de vida que uma boa
remuneraccedilatildeo podia proporcionar
As cidades sofreram crescimento raacutepido desgovernado formando periferias
que abrigavam a maioria da populaccedilatildeo egressa do campo O subemprego e o
desemprego desestabilizavam as populaccedilotildees das cidades e geravam desequiliacutebrios
sociais e econocircmicos comprometendo a qualidade de vida de todos os moradores
Eacute o ciacuterculo vicioso da desigualdade da exclusatildeo e da violecircncia que a educaccedilatildeo
pode romper A educaccedilatildeo tem entatildeo o propoacutesito de formar trabalhadores para a
induacutestria urbana
Na Constituiccedilatildeo de 1934 para com a educaccedilatildeo rural destaca-se o Art 156 conforme podemos ver abaixo
A Uniatildeo e os Municiacutepios aplicaratildeo nunca menos de dez por cento e os Estados e o Distrito Federal nunca menos de vinte por cento da renda resultante dos impostos na manutenccedilatildeo e no desenvolvimento dos sistemas educativos Paraacutegrafo uacutenico ndash Para a realizaccedilatildeo do ensino nas zonas rurais a Uniatildeo reservaraacute no miacutenimo vinte por cento das cotas destinadas agrave educaccedilatildeo no respectivo orccedilamento anual
Na constituiccedilatildeo Federal de 1937 a educaccedilatildeo rural natildeo eacute citada A prioridade eacute
a educaccedilatildeo dos moradores urbanos Neste periacuteodo conforme Ferreira (2011) ldquoa
orientaccedilatildeo poliacutetico educacional para o mundo capitalista fica bem expliacutecita
sugerindo a preparaccedilatildeo de um maior contingente de matildeo de obra para as novas
atividades abertas pelo mercado ndash a industrializaccedilatildeordquo ( pg 32)
Ainda segundo o autor este afirma que em 1935 ocorreu o I Congresso
Nacional do Ensino Regional que assume como objetivo propagar a educaccedilatildeo rural
e elaborar os planos de educaccedilatildeo Esses planos recomendavam escolas rurais
ambulantes nas regiotildees de menor densidade geograacutefica
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O periacuteodo conhecido como Estado Novo (1937-1945) tentava implantar uma
poliacutetica educacional de cunho nacionalista tornando a educaccedilatildeo um instrumento do
estado servindo aos seus interesses
Os adultos analfabetos particularmente no meio rural tiveram atenccedilatildeo da
Campanha Nacional de Educaccedilatildeo Rural (CNER) de 1952 a 1963 cujo objetivo era
contribuir para a inserccedilatildeo do homem do campo O CNER atuou atraveacutes de missotildees
internacionais dos Estados Unidos voltadas agrave educaccedilatildeo ao treinamento de
professores e agrave preparaccedilatildeo dos jovens do meio rural pelo ensino profissional
agriacutecola Agrave atividade do CNER podemos agregar a accedilatildeo da Comissatildeo Brasileiro-
Americana de Educaccedilatildeo das Populaccedilotildees Rurais (CBAR) que celebrou acordos entre
esses dois paiacuteses visando a educaccedilatildeo rural orientada para o emprego de teacutecnicas
agriacutecolas (OLIVEIRA 1999 p 133)
A educaccedilatildeo rural eacute chamada para se ajustar agraves poliacuteticas educacionais estabelecidas pelo projeto do estado A educaccedilatildeo rural em primeiro lugar apesar de numerosos programas desenvolvidos sempre representou uma fatia muito pequena e marginal nas preocupaccedilotildees do setor puacuteblico (OLIVEIRA p apud CALAZANS1981p162)
A educaccedilatildeo rural ocupou e ainda ocupa pequeno espaccedilo no universo
educacional brasileiro As escolas apresentam dificuldades para se manterem no
campo Conforme o Jornal Sem Terra nordm 46 jun2011 24000 escolas do campo
foram fechadas no Brasil As instalaccedilotildees o curriacuteculo a carecircncia de professores o
transporte escolar formam muitas vezes uma barreira quase imponiacutevel para uma
ampla gama de alunos particularmente das uacuteltimas seacuteries do ensino fundamental e
do ensino meacutedio
Os programas implantados nos uacuteltimos anos como o PRONERA e o EJA
apresentam soluccedilotildees e alcanccedilam grandes resultados mas podemos questionar os
resultados entre os estados O Rio Grande do Sul (que atendeu alunos do ensino
baacutesico ateacute o ensino superior) em comparaccedilatildeo com outros estados e o Distrito
Federal conseguiu excelentes resultados No DF falta alcanccedilar melhores
resultados Podemos questionar se os resultados satildeo adequados pois por exemplo
no assentamento Renascer o Pronera natildeo vai aleacutem do quinto ano Eacute necessaacuterio
uma poliacutetica educacional que leve em conta a realidade dos alunos do campo
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invista recursos materiais e humanos modernizem as escolas e propiciem o acesso
dos alunos
Conforme nos explica Sousa 2004 em seu artigo lsquodiscursos intolerantes o
lugar da politica na educaccedilatildeo rural e a representaccedilatildeo do camponecircs analfabeto
No Brasil a trajetoacuteria da educaccedilatildeo rural inclui-se na dinacircmica de modernizaccedilatildeo do campo assumindo um papel decisivo no processo de expropriaccedilatildeo proletarizaccedilatildeo e controle dos trabalhadores rurais A modernizaccedilatildeo da produccedilatildeo no nordeste brasileiro por exemplo incentivou o processo de sindicalizaccedilatildeo em massa dos trabalhadores das zonas canavieiras estimulou reivindicaccedilotildees no campo do trabalho ligadas agrave aplicaccedilatildeo do Estatuto do Trabalhador Rural e contraditoriamente fez emergir as manifestaccedilotildees pela distribuiccedilatildeo de terras encampadas pelas Ligas Camponesas ( SOUSA2004 p4)
O projeto de modernizaccedilatildeo do campo ocorreu sem que houvesse a
emancipaccedilatildeo dos trabalhadores rurais Na verdade ocorreu a proletarizaccedilatildeo dos
trabalhadores rurais pela acumulaccedilatildeo de terras em matildeos de apenas poucos
proprietaacuterios (latifundiaacuterios) Esse acontecimento revela que apenas em processo
consciente e contiacutenuo de lutas organizados e unidos os trabalhadores rurais
poderatildeo conquistar terras e meios para sua produccedilatildeo
O estudo da organizaccedilatildeo dos trabalhadores rurais eacute importante porque eacute a
partir dela que outras grandes reivindicaccedilotildees satildeo conquistadas No caso da
presente pesquisa pode-se observar que foi a organizaccedilatildeo dos trabalhadores em
torno de suas causas a reforma agraacuteria que levou agrave luta pelas outras reivindicaccedilotildees
como a educaccedilatildeo no campo
O proacuteximo capiacutetulo deste trabalho monograacutefico aborda a questatildeo das
manifestaccedilotildees e resistecircncias dos camponeses pela educaccedilatildeo e pela reforma
agraacuteria
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22 Trajetoacuteria de luta pela Educaccedilatildeo do Campo
A luta pela educaccedilatildeo do campo esteve sempre associada agrave luta pela reforma
agraacuteria e pela conquista de direitos para os trabalhadores rurais O Movimento das
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Ligas Camponesas lutou pela emancipaccedilatildeo do trabalhador rural e da reforma agraacuteria
e em seu projeto educacional estavam baseados nos ideais de Paulo Freire e do
Movimento de Educaccedilatildeo de Base (MEB)
Para explicar a reaccedilatildeo das classes populares agraves imposiccedilotildees do governo
brasileiro e das classes dominantes Oliveira (1995 apud ARROYO)
A histoacuteria das lutas entre as classes sociais natildeo se limitam agrave luta pelo poder mas se constituem impulsionadoras da histoacuteria da humanidade que natildeo aguardam passivamente seu destino mas ao contraacuterio articulam-se em torno de suas lutas para garantir seus direitos sua dignidade e sua participaccedilatildeo democraacutetica na sociedade( OLIVEIRA apud ARROYO1995p 80)
Neste sentido as Ligas Camponesas lutaram praticamente em todo o
territoacuterio nacional contra a tentativa de expulsatildeo dos trabalhadores rurais das terras
Os conflitos armados particularmente no Nordeste exigiam participaccedilatildeo poliacutetica e
direitos essenciais como a educaccedilatildeo do campo
O meacutetodo de alfabetizaccedilatildeo criado por Paulo Freire foi amplamente utilizado
pelas Ligas Camponesas e em sua concepccedilatildeo ampla de escola serviu de subsidio
para a compreensatildeo do camponecircs acerca de seu papel social (TOLEDO Caio
Navarro 2004 p6)
Neste contexto surge a Pedagogia do Oprimido de Paulo Freire Segundo
SANTOS (2013 apud Paulo Freire 1987) afirma que a pedagogia do oprimido
configura-se como
Aquela que tem de ser forjada com ele (o oprimido) e natildeo para ele enquanto homens ou povos na luta incessante de recuperaccedilatildeo de sua humanidade Pedagogia que faccedila da opressatildeo e de suas causas objeto de reflexatildeo dos oprimidos de que resultaraacute o seu engajamento necessaacuterio na luta por sua libertaccedilatildeo em que esta pedagogia se faraacute e refaraacuterdquo (FREIRE 1987 p32)
A pedagogia do oprimido serve de referecircncia para o trabalhador rural que luta
pela emancipaccedilatildeo de sua condiccedilatildeo de proletaacuterio atraveacutes da reforma agraacuteria A
pedagogia do oprimido leva o homem ao encontro de si mesmo ao reconhecimento
da grandeza de seu trabalho ao potencial de suas accedilotildees cotidianas que fazem a
diferenccedila A capacidade de reflexatildeo e o entendimento de sua potencialidade pode
leva-lo agrave sua plena realizaccedilatildeo como indiviacuteduo e como ser social
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A reaccedilatildeo do governo contra o movimento de educaccedilatildeo popular proposto por
Freire e assumido pelo Movimento das Ligas Camponesas e pelo Movimento de
Educaccedilatildeo de Base (MEB) gerou repressatildeo e resposta da ditadura civil-militar como
o Movimento Brasileiro de Alfabetizaccedilatildeo (MOBRAL)
A luta dos movimentos sociais e sindicais pela educaccedilatildeo do campo parte das
forccedilas internas dos movimentos e alcanccedila a setores sociais religiosos ideoloacutegicos
que passam a contribuir efetivamente para o alcance do direito agrave educaccedilatildeo aos
camponeses
A Comissatildeo Pastoral da Terra (CPT) presente ao lado dos trabalhadores (as)
rurais indiacutegenas ribeirinhos pescadores e quilombolas tambeacutem contribuiu e
contribui para a formaccedilatildeo criacutetica a defesa de formas sustentaacuteveis de utilizaccedilatildeo de
recursos naturais e produccedilatildeo e para a alfabetizaccedilatildeo segundo o meacutetodo de Paulo
Freire (CANUTO 2012 p 131)
Na atualidade estaacute em desenvolvimento um movimento que luta pela educaccedilatildeo do homem do campo organizado por vaacuterias entidades dentre elas o MST Trata-se de um processo que teve inicio em meados dos anos de 1990 impulsionados pela necessidade da educaccedilatildeo de jovens e adultos das aacutereas de assentamentos rurais Foi organizado um Programa Nacional para Educaccedilatildeo na Reforma Agraacuteria composto por atores tais como movimentos sociais universidades e governo federal aleacutem de outros parceiros (Alas da Igreja Sindicatos Organizaccedilatildeo Natildeo-Governamental ONG) existentes nas diferentes regiotildees do Brasil( SOUSA2004 p 32)
A trajetoacuteria de conquista das escolas do campo particularmente as escolas
do campo criadas pelo MST a partir da deacutecada de 1990 foi marcada pela conquista
e implantaccedilatildeo da Educaccedilatildeo Fundamental para crianccedilas e adolescentes dos
acampamentosassentamentos de acordo com o projeto politico-pedagoacutegico fruto do
amadurecimento do movimento
Focou-se a alfabetizaccedilatildeo de jovens e adultos e as lutas pela implantaccedilatildeo do
ensino meacutedio com cursos alternativos para a formaccedilatildeo de professores e teacutecnicos de
niacutevel meacutedio e tambeacutem de cursos superiores
A concepccedilatildeo de escolas de ensino fundamental plantadas em assentamentos
prevecirc a instalaccedilatildeo da escola na proacutepria comunidade evitando com isso o uso de
transporte escolar e a frequecircncia dos alunos Sem Terra em escolas fora do
assentamento
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Esta atitude de resistecircncia foi fundamental para a conquista da escola nas
terras conquistadas e tambeacutem foi fundamental para universalizar o ensino enraizar
o aluno em sua comunidade e criar a consciecircncia do direito agrave educaccedilatildeo
ldquoincomodandordquo o Estado para garantir o cumprimento das poliacuteticas puacuteblicas
Kolling Vargas e Caldart (2012p502) nos ensinam ldquotoda vez que se
conquista uma escola de educaccedilatildeo baacutesica em um assentamento ou acampamento
ela representa menos adolescentes e jovens do campo fora da escola e mais gente
enraizada em seu proacuteprio lugarrdquo (pag 502)
Os movimentos sociais e sindicais pela educaccedilatildeo do campo indicam o grau
de maturidade desses em sua luta pela reforma agraacuteria Agrave essa luta soma-se o
projeto de desenvolvimento do paiacutes baseado na justiccedila social e o combate agraves
tradicionais formas utilizadas pelas elites urbanas ou rurais de alienaccedilatildeo pela
expropriaccedilatildeo do trabalho e pelo controle dos meios que levam agrave emancipaccedilatildeo
sociocultural e agrave verdadeira humanizaccedilatildeo papel destinado agrave educaccedilatildeo
Neste sentido movimentos sociais como o MST inserem a educaccedilatildeo
baseada em princiacutepios pedagoacutegicos que se distinguem da escola tradicional
Numa perspectiva histoacuterica os movimentos sociais do campo como por
exemplo o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) tiveram inicialmente
como bandeira de luta a luta pela terra pela Reforma Agraacuteria natildeo fazendo uma
relaccedilatildeo entre essa luta e a educaccedilatildeo
A formaccedilatildeo de escolas do campo pelo MST natildeo foi resultado da consciecircncia e
importacircncia da escola para a promoccedilatildeo da educaccedilatildeo em seu meio Foi na verdade
a necessidade de oferecer aos filhos dos primeiros lutadores a oportunidade de
uma perspectiva melhor de futuro atraveacutes do direito agrave educaccedilatildeo Foi tambeacutem a
necessidade de ldquotransformar instituiccedilotildees histoacutericas como a escola em lugares que
ajudem a formar os sujeitos destas transformaccedilotildeesrdquo (CALDART2012 p94)
Desse modo houve primeiro a ldquoocupaccedilatildeo da escolardquo pela mobilizaccedilatildeo e pela
accedilatildeo para garantir que em acampamentos ou assentamentos conquistados
houvesse uma escola que ldquofizesse a diferenccedila ou tivesse realmente sentido em sua
vida presente e futura (preocupaccedilatildeo com os filhos)rdquo (CALDART2012 p91)
Num segundo momento da luta observa-se intencionalidade da luta pela
escola mas com proposta pedagoacutegica especiacutefica ldquocombinando processos de
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escolarizaccedilatildeo e de formaccedilatildeo da militacircncia e da base social Sem Terrardquo
(CALDART2012 p92)
As experiecircncias de pensar escolas como polos regionais entre assentamentos e com estudantes de outras comunidades de camponeses aos poucos vatildeo educando o olhar dos trabalhadores Sem Terra para uma realidade mais ampla Foi assim que o MST chegou agrave EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO (KOLLING Vargas e Caldart 2012 p 502)
A escola dentro dessa perspectiva de mudanccedila e envolvimento social eacute
parte da luta pela reforma agraacuteria daacute significado a ela pois proporciona a formaccedilatildeo
integral dos sujeitos que lutam pela terra
Essa escola possibilita a reflexatildeo trava o diaacutelogo com as propostas de
educaccedilatildeo popular de Paulo Freire e busca superar as dificuldades imensas que
assentados e acampados vivem no dia a dia
A escola tambeacutem revela a cultura o orgulho e criaccedilatildeo da identidade na luta
por terra Nesse sentido
A heranccedila que o MST deixaraacute para seus descendentes seraacute bem mais do que a terra que conseguir libertar do latifuacutendio seraacute um jeito de ser humano e de tomar posiccedilatildeo diante das questotildees de seu tempo seratildeo os valores que fortalecem e datildeo identidade aos lutadores do povo de todos os tempos de todos os lugares Eacute enquanto produto humano de uma obra educativa que os Sem Terra podem ser vistos como mais um elo que se forma em uma longa tradiccedilatildeo de lutadores sociais que fazem a histoacuteria da humanidade Enraizamento no passado e projeto de futuro (CALDART 2012 p 96)
A educaccedilatildeo proposta pelo movimento gera o sentimento de pertencimento e
desperta o sentimento de respeito agrave coletividade valoriza o trabalho a gestatildeo
democraacutetica e desburocratizada da escola
SANTOS (2013 p71) esclarece que pelo projeto educacional do MST a
educaccedilatildeo proposta estaacute pautada em ldquovalores socialistas e humanistas tais como o
coletivismo o trabalho socialmente uacutetil a organizaccedilatildeo e auto-organizaccedilatildeo dos
estudantes e professoresrdquo (p71)
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221 Concepccedilatildeo Pedagoacutegica da Educaccedilatildeo do Campo
No acircmbito da educaccedilatildeo do homem do campo tornar o homem sujeito e natildeo
objeto do saber leva a entender que o conhecimento do camponecircs pode dialogar
com as praacuteticas baseadas no conhecimento cientiacutefico desde que seja perseguido o
ideal de trabalhadores e educadores do campo comprometidos com as lutas sociais
de formar o homem ldquodordquo campo e ldquono campordquo
Conforme Kolling Cerioli e Caldart (2002 p 264) ldquoo povo tem direito a uma
educaccedilatildeo pensada desde o seu lugar e com sua participaccedilatildeo vinculada agrave sua
cultura e agraves suas necessidades humanas e sociaisrdquo ndash(Caldart Educaccedilatildeo do Campo
2012 p 264
Tal compreensatildeo se ainda hoje causa oposiccedilatildeo ateacute mesmo no ambiente
acadecircmico imagine-se naquele momento histoacuterico de profunda repressatildeo poliacutetica e
ideoloacutegica aos movimentos sociais de camponeses por terra e educaccedilatildeo Como nos
ensina Molina e Saacute (DICIONAacuteRIO da Educaccedilatildeo do Campo p 324)
A concepccedilatildeo de escola do campo nasce e se desenvolve no bojo do movimento da EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO a partir das experiecircncias de formaccedilatildeo humana desenvolvidas no contexto de luta dos movimentos sociais camponeses por terra e educaccedilatildeo Trata-se portanto de uma concepccedilatildeo que emerge das contradiccedilotildees da luta social e das praacuteticas de educaccedilatildeo dos trabalhadores do e no campo (MOLINA e SAacute 2012 pag 324)
A concepccedilatildeo pedagoacutegica da educaccedilatildeo popular e da pedagogia da praacutetica
segundo ARROYO inclui
um caraacuteter de envolvimento totalizante dos movimentos sociais que possibilita ao individuo que participa destes coletivos o acesso a outro tipo de formaccedilatildeo que supera a condiccedilatildeo de aluno de alfabetizando de escolarizando Os integrantes destes organismos emersos na tensa situaccedilatildeo de conflitos aprendem por meio da vivencia das lutas sociais dos momentos de mobilizaccedilatildeo das situaccedilotildees limites de perda de emprego de criacuteticas da sociedade agraves suas accedilotildees de ameaccedilas agraves suas vidas Tudo isso traz ricas liccedilotildees ensinadas na ldquoescola do movimentordquo e que nenhuma teoria pode transmitir ou explicar de forma satisfatoacuteria
No entendimento de Arroyo (2013) os movimentos sociais vivem e
amadurecem sob o conhecimento e o entendimento das contradiccedilotildees sociais e esta
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experiecircncia lhes permite a possibilidade de defender mudanccedilas radicais tanto no
campo como na cidade tanto na ideologia quanto no combate ao latifuacutendio e ao
capitalismo
Tamanho movimento social gera a reflexatildeo sobre as relaccedilotildees
socioeconocircmicas politicas culturais cuidado da natureza relaccedilotildees humanas
destaques de tudo o que interessa ao coletivo agrave sociedade
Eacute por meio do entendimento de que a realidade eacute criaccedilatildeo humana de como se estabelecem os processos de opressatildeo e ainda da noccedilatildeo de que podemos transformar essa realidade dado que a sociedade eacute mutaacutevel que se forma a praacutexis da luta accedilatildeo-conscientizaccedilatildeo-transformaccedilatildeo-libertaccedilatildeo Inserindo-se criticamente na histoacuteria os cidadatildeos tornam-se sujeitos construtores e reconstrutores da realidaderdquo
Molina e Saacute (2012) nos ensinam a partir do conceito de escola do campo sobre a
potencialidade da vivencia de praacuteticas coletivas para a valorizaccedilatildeo integral dos
sujeitos da coletividade do conhecimento cientiacutefico da gestatildeo coletiva da escola
dentre tantos avanccedilos e vitoacuterias dos movimentos sociais
O processo ensino-aprendizagem permite que o conceito de escola extrapole
o cotidiano de dificuldades e desafia agrave reflexatildeo que gera a emancipaccedilatildeo
Este eacute um dos maiores desafios e ao mesmo tempo uma das maiores possibilidades da escola do campo articular os conhecimentos que os educandos tecircm o direito de acessar a partir do trabalho com a realidade da religaccedilatildeo entre educaccedilatildeo cultura e os conhecimentos cientiacuteficos a serem apreendidos em cada ciclo de vida e de diferentes aacutereas do conhecimento(MOLINA MOURAtildeO 2012 p 329) -26-
222 Princiacutepios da Educaccedilatildeo do Campo
Alguns princiacutepios viabilizam o projeto de escola adotado pelos movimentos
sociais e possibilitam a democracia e a integraccedilatildeo de todos lideranccedila assentados e
acampados do movimento
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O princiacutepio da responsabilidade coletiva sobre o planejamento a gestatildeo a
organizaccedilatildeo e a realizaccedilatildeo de tarefas em todas as esferas de atividades princiacutepios
muito valorizados pelos movimentos sociais do campo foram transferidos para o
projeto de educaccedilatildeo
O projeto eacute de responsabilidade coletiva e insere educadores tanto a niacutevel
local como regional e nacional os ldquoColetivos de educaccedilatildeordquo como satildeo conhecidos
Os coletivos de educaccedilatildeo com tarefas forccedila orgacircnica e discussotildees especiacuteficas que podem variar a cada periacuteodo fortalecem o princiacutepio organizativo de que a questatildeo da educaccedilatildeo bem como outras questotildees da vida social assumidas pelo MST deve ser pensada e implantada de forma coletiva Eacute uma loacutegica que implica tarefas a serem realizadas pelas pessoas mas mediante um planejamento e uma leitura de conjuntura feita por um coletivo (KOLLING1995 et al p503)
Para concretizar o projeto de educaccedilatildeo foi concebida a formaccedilatildeo de
professores pelos proacuteprios movimentos no acircmbito da proacutepria comunidade
(conhecidos como ldquoprofessores leigosrdquo) e tambeacutem pela rede oficial de ensino
A falta de titulaccedilatildeo de muitos educadores formados na comunidade natildeo
impede que os mesmos trabalhem juntos com os professores titulados e com
simpatizantes do movimento no projeto poliacutetico-pedagoacutegico constituindo um
princiacutepio democraacutetico importante para superar as dificuldades e urgecircncias para a
implantaccedilatildeo da educaccedilatildeo do campo
A democracia do processo de formaccedilatildeo de educadores tem reflexos amplos
a formaccedilatildeo de educadores pelos proacuteprios movimentos especiacutefica para atuaccedilatildeo nas
escolas do campo
O movimento eacute responsaacutevel pela universalizaccedilatildeo do ensino no acircmbito dos
territoacuterios conquistados ou por conquistar e permitiu a evoluccedilatildeo do ensino ateacute o niacutevel
de terceiro grau com a realizaccedilatildeo de cursos como a Licenciatura em Educaccedilatildeo do
Campo (LEdoC) do qual somos os privilegiados alunos aqui na Universidade de
Brasiacutelia
Outro reconhecimento e prova de eficiecircncia da formaccedilatildeo de professores eacute o
precircmio ldquoEducaccedilatildeo e Participaccedilatildeordquo recebido em 1995 do Fundo das Naccedilotildees Unidas
para a Infacircncia (Unicef)
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O somatoacuterio das forccedilas internas e externas do movimento ldquoleigasrdquo ou
tituladas associadas ao princiacutepio fundamental da participaccedilatildeo dos alunos e
comunidades em todos os niacuteveis e localidades eacute ponto fundamental para o sucesso
da concepccedilatildeo do projeto pois permite o estudo a reflexatildeo conjunta sobre
estrateacutegias para o alcance do objetivo de educaccedilatildeo na reforma agraacuteria
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223 Marcos Normativos da Educaccedilatildeo do Campo
Numerosos Marcos Normativos podem ser citados para explicitar qual perfil
de escola destinada ao camponecircs interessava ao governo e aos proprietaacuterios rurais
A Lei 4024 de 1961 em seu art 105 estabelece o
Apoio que poderaacute ser prestado pelo poder puacuteblico agraves iniciativas que mantenham na zona rural instituiccedilotildees educativas orientadas para adaptar o homem ao meio e estimular vocaccedilotildees e atividades profissionais (BRASIL 2012 p 4)
A Lei 5692 de 1971 ao tratar da educaccedilatildeo rural ldquonatildeo observa mais uma vez
a inclusatildeo da populaccedilatildeo na condiccedilatildeo de protagonista de um projeto social globalrdquo
sendo que o trabalho do campo realizado por alunos eacute ateacute mesmo incentivado
adequando-o ao calendaacuterio escolar (MARCOS NORMATIVOSBrasiacutelia2012 p 25)
A Lei 9394 de 1996 (Lei das Diretrizes se Bases da Educaccedilatildeo ndash LDB) em
acordo com Constituiccedilatildeo de 1988 e ldquoinspirada de alguma forma numa concepccedilatildeo
de mundo rural enquanto espaccedilo especifico diferenciado e ao mesmo tempo
integrado no conjunto da sociedaderdquo reconhece
A diversidade soacutecio-cultural e o direito agrave igualdade e agrave diferenccedila possibilitando a definiccedilatildeo de diretrizes operacionais para educaccedilatildeo rural sem no entanto recorrer a uma logica exclusiva e de ruptura com um projeto global de educaccedilatildeo para o paiacutes (idem p 26)
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Os artigos 208 e 210 da Carta Magna-1988 e inspirada de numa concepccedilatildeo
de mundo rural enquanto espaccedilo especiacutefico diferenciado e ao mesmo tempo
integrado no conjunto da sociedade a Lei 939496- LDB-estabelece que
Art 28 Na oferta da educaccedilatildeo baacutesica para a populaccedilatildeo rural os sistemas de ensino promoveratildeo as adapta necessaacuteria agrave sua adequaccedilatildeo agraves peculiaridades da vida rural e de cada regiatildeo especialmente (MARCOS NORMATIVOS) Brasiacutelia 2012 p 25)
1- Conteuacutedos organizar curriculares e metodologias apropriadas agraves reais
necessidades e interesses dos alunos da zona rural
2-organizaccedilatildeo escolar proacutepria incluindo a adequaccedilatildeo do calendaacuterio escolar as
fases do ciclo agriacutecola e as condiccedilotildees climaacuteticas
3-adequaccedilatildeo agrave natureza do trabalho na zona rural (MARCOS NORMATIVOS)
Brasiacutelia 2012( p 26)
O movimento de educaccedilatildeo do campo luta haacute quinze (15) anos para fazer-se
cumprir esse Decreto da Lei de Diretrizes de base da educaccedilatildeo do campo-LDB
que apesar de ser constitucional ainda natildeo foi colocada totalmente em praacutetica
Agora com as lutas dos movimentos sociais eacute que estaacute comeccedilando a se concretizar
Artigo 26 Os curriacuteculos do ensino fundamental e meacutedio devem ter uma base nacional comum a ser complementada em cada sistema de ensino e estabelecimento escolar por uma parte diversificada exigida pelas caracteriacutesticas regionais e locais da sociedade
da cultura da economia e da clientela (MARCOS NORMATIVOS) Brasiacutelia 2012(p 26)
O Decreto nordm 7352 de 4 de novembro 2010 dispotildee sobre a poliacutetica de educaccedilatildeo do campo ao Programa Nacional de Educaccedilatildeo
na Reforma Agraacuteria-PRONERA decreta
Art1ordm A poliacutetica de educaccedilatildeo do campo destina-
se agrave ampliaccedilatildeo e qualificaccedilatildeo da oferta de educaccedilatildeo baacutesica e superior agraves populaccedilotildees do campo e seraacute desenvolvida pela Uniatildeo em regime de colaboraccedilatildeo com os Estados o
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Distrito Federal e os Municiacutepios de acordo com as diretrizes e metas estabelecidas no Plano Nacional de Educaccedilatildeo e o disposto neste Decreto
Para os efeitos deste Decreto entende-se por
l-populaccedilatildeo do campo os agricultores familiares os extrativistas os pescadores
artesanais os ribeirinhos os assentados e acampados da reforma agraacuteria os
trabalhadores assalariados rurais os quilombolas os caiccedilaras os povos da floresta
os caboclos e outros que produzam suas condiccedilotildees materiais de existecircncia a partir
do trabalho no meio rural
ll-escola do campo aquela situada em aacuterea rural conforme definida pela Fundaccedilatildeo
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica- IBGE ou aquela situada em aacuterea
urbana desde que atenda predominantemente a populaccedilatildeo do campo (MARCOS
NORMATIVOS) 2012( p 81)
No Decreto 6755 29 de janeiro de 2009 em seu art 2ordm estabelecida pelo Conselho
Nacional de Educaccedilatildeo que se refere as Diretrizes Operacionais da Educaccedilatildeo do
Campo o parecer da alternacircncia
A formaccedilatildeo de professores poderaacute ser feita concomitantemente agrave atuaccedilatildeo profissional de acordo com metodologias adequadas inclusive a pedagogia da alternacircncia e sem prejuiacutezo de outras que atendam agraves especificidades da educaccedilatildeo do campo e por meio de atividades de ensino pesquisa e extensatildeo (MARCOS NORMATIVOS) 2012( p84)
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231 A educaccedilatildeo do campo e poliacutetica puacuteblica - o PRONERA
O amadurecimento adquirido pela luta sobre o papel da educaccedilatildeo aliado agrave
iniciativa do aproveitamento do trabalho das professoras ldquoleigasrdquo e ainda da
consciecircncia cada vez mais presente do dever do Estado em prover os cidadatildeos da
reforma agraacuteria de poliacuteticas puacuteblicas resultou no campo da educaccedilatildeo na criaccedilatildeo do
Programa Nacional de Educaccedilatildeo na Reforma Agraacuteria (PRONERA)
O PRONERA envolve formalmente jovens e adultos num projeto conjunto
com universidades e institutos federais em prol da formaccedilatildeo de educadores para o
trabalho em escolas dos assentamentos da reforma agraacuteria e seu entorno
O Programa foi criado em 1998 no momento da ascensatildeo dos conflitos pela
reforma agraacuteria o que propiciou que os movimentos sociais trouxessem para a
opiniatildeo puacuteblica suas mazelas
No campo da educaccedilatildeo foi denunciada a falta de escola a precariedade do
ensino a falta de profissionais do ensino a ldquoloacutegica de negaccedilatildeo histoacuterica do direito
aos camponeses de acesso aos niacuteveis mais elevados de escolaridade ( SANTOS
2012 pag 630)
A partir de 2005 o ensino oferecido pelo PRONERA eacute estendido ao niacutevel
meacutedio e superior como a Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo e a Residecircncia
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Agraacuteria O PRONERA evoluiu para outros patamares tais como ldquopossibilidades de
ressignificaccedilatildeo do conteuacutedo e da metodologia dos processos de educaccedilatildeo formal
por meio dos princiacutepios baacutesicos da participaccedilatildeo e da multiplicaccedilatildeordquo (SANTOS 2012
p 631)
A participaccedilatildeo das comunidades e suas organizaccedilotildees e a multiplicaccedilatildeo de
alfabetizados formados educadores e demais profissionais ligados agraves poliacuteticas
puacuteblicas para a Reforma Agraacuteria gerou ampla participaccedilatildeo dos agentes envolvidos
na dinacircmica do processo ensino-aprendizagem
Essa forma de gestatildeo gerou reaccedilatildeo contraacuteria ldquoagrave gestatildeo colegiada e coletiva
notadamente agrave participaccedilatildeo direta dos movimentos sociais e sindicais do campordquo
considerados ldquoentes estranhos agrave administraccedilatildeo puacuteblicardquo (CLARICE p 634)
O envolvimento dos movimentos sociais e sindicais do campo natildeo
retrocederam em sua luta pelo envolvimento de todos os interessados na educaccedilatildeo
como elemento emancipatoacuterio e continuam formulando princiacutepios concepccedilotildees e
diretrizes para a escola do campo
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31
Terceiro Capiacutetulo
A histoacuteria do Assentamento Renascer
31 Uma breve histoacuteria de luta
A histoacuteria do Assentamento Renascer natildeo parece ser diferente da histoacuteria de
outros assentamentos Brasil afora Partiu da reivindicaccedilatildeo de Trabalhadores Rurais
sem Terra que desde 2004 ocuparam as margens da Rodovia DF 330 que liga
Sobradinho ao Paranoaacute-DF
Tatildeo perto do centro do poder a apenas poucos quilocircmetros do Palaacutecio da
Alvorada ou da Sede do INCRA o Acampamento Renascer esteve ateacute oito (08) de
maio de 2009 tatildeo distante da decisatildeo poliacutetica pela Reforma Agraacuteria
Somente nesta data trezentos sessenta e um( 361) de terras devolutas da
Uniatildeo foram repassadas ao INCRA para assentar as famiacutelias aliacute acampadas Ficou
criado o assentamento Renascer fora da beira da estrada
O Assentamento Renascer ldquorenasceurdquo da dificuldade de vida sob o barraco de
madeira sem aacutegua sem luz sem saneamento baacutesico que fez com que tantos
desistissem ao longo do caminho e ainda hoje se encontra nessa mesma
precariedade um descaso por parte do poder puacuteblico
A luta em vaacuterios momentos da vida dos acampados parecia estar vencida Os
vencedores pareciam ser a burocracia o desrespeito as noites mal dormidas a
inseguranccedila a falta de perspectivas para o acampado e suas famiacutelias
Duzentas (200) famiacutelias viveram aliacute por cinco anos (05) de 2004 ateacute 2009
Atualmente satildeo cento e vinte (120) famiacutelias que moram na aacuterea destinada e estatildeo
em processo de assentamento Muitas delas poreacutem vencidas pelo cansaccedilo e pelas
condiccedilotildees de vida abandonaram a luta mas todas as famiacutelias as que se foram e as
que ficaram sonharam com a terra onde poderiam produzir viam no pedaccedilo de chatildeo
os frutos do pomar da horta o galinheiro o pasto
O Assentamento Renascer eacute o Brasil Eacute um pedacinho da cruel realidade que
como vimos neste trabalho marcou a sociedade brasileira desde a escravidatildeo
desde o primeiro grito de rebeldia do quilombo desde o primeiro que lutou contra os
coroneacuteis por divisatildeo da terra como as Ligas Camponesas contra o latifuacutendio como
os movimentos sociais em sua luta pela reforma agraacuteria desde vaacuterias geraccedilotildees
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Eacute como todo e qualquer movimento social que surgiu neste paiacutes desde a
deacutecada de 1980 pela reforma agraacuteria Viveu e ainda vive as dificuldades de ser
acampadoassentado mas honra sua luta porque natildeo desiste faacutecil
O Assentamento Renascer eacute tambeacutem fruto do ecircxodo rural da industrializaccedilatildeo
do campo da monocultura e da concentraccedilatildeo de terras Foram expulsos do campo
para a periferia das cidades sem capacitaccedilatildeo sem estudo
A falta de escolarizaccedilatildeo eacute sem duacutevida uma caracteriacutestica de quase todos os
que vieram do campo para a cidade A realidade do Brasil eacute que o campo natildeo eacute
escolarizado as escolas no campo satildeo poucas satildeo despreparadas satildeo
desvalorizadas
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32 As escolas no campo na vivencia do assentado do Assentamento
Renascer
As escolas no campo marcaram profundamente a vida dos poucos que a
frequentaram Quase todos tiveram que trocar o laacutepis pela enxada a carteira pela
roccedila desde muito pequenos Alguns natildeo muito poucos conforme os depoimentos
aqui relatados teriam que abandonar a enxada e a participaccedilatildeo no sustento da
famiacutelia para frequentar a escola Quase sempre abandonaram a escola para ficar no
trabalho com a enxada
Todos teriam que andar vaacuterios quilocircmetros para ir agrave escola Outros nem assim
conseguiriam frequentar a escola no campo ela simplesmente natildeo existia no
campo Teriam entatildeo que ir para a cidade para ter direito a uma escola
Muitos tambeacutem vivenciaram os traumas que uma escola tradicional e
descomprometida com os valores e responsabilidades do projeto educacional
castigos humilhaccedilotildees afastaram a muitos da escola
Alguns apenas sonharam e sonham com a escola ldquoAh a escolardquo Tatildeo longe
inacessiacutevel para tantos no Brasil afora Ao ver de algumas pessoas do
Assentamento Renascer ldquoSe tivesse jeito eu teria ido agrave escola tinha feito pelo
menos o ensino fundamental completo para que eu pudesse ingressar no curso
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teacutecnico-agriacutecola Mas agora quero que meus filhos e netos vatildeo para a escola
aprender ser algueacutem na vidardquo
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321 A escola no entorno do Assentamento Renascer
A ideia de lutar pela educaccedilatildeo veio antes da ideia de lutar pela escola como
espaccedilo conquistado pelo acampamento Encontrar uma escola perto do
acampamento com transporte escolar com vagas e horaacuterios acessiacuteveis para os que
trabalham o dia todo era entendido como uma necessidade baacutesica e uma grande
vitoacuteria
Ficava-se feliz se apesar das dificuldades fosse possiacutevel matricular pelo
menos as crianccedilas As dificuldades eram e ainda satildeo muitas o transporte escolar
era e eacute precaacuterio a poeira natildeo permite que os alunos cheguem limpos agrave escola os
buracos e as poccedilas daacutegua impedem a chegada do ocircnibus escolar durante as
chuvas No caso do ocircnibus que levam os alunos ateacute a Escola Classe do Coacuterrego do
Arrozal em eacutepoca de muita chuva os ocircnibus ateacute o iniacutecio de 2014 natildeo conseguiam
transitar Isto resulta no fato de que as crianccedilas precisam caminhar debaixo de
chuva ateacute a escola
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322 O caminho para a produccedilatildeo do saber no Assentamento Renascer a
brinquedoteca a integraccedilatildeo social a biblioteca comunitaacuteria as manifestaccedilotildees
culturais
Ao longo dos anos de vivecircncia e convivecircncia no Acampamento Renascer
mediante a dificuldade e necessidade de estudar que sentimos na nossa proacutepria
vida foi despontando a ideia de prover as crianccedilas de atividades luacutedicas e
educativas
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Logo no iniacutecio do acampamento por volta de 2005 por iniciativa de algumas
pessoas conscientes da necessidade de atividades luacutedicas para as crianccedilas foi
criada uma brinquedoteca
Inicialmente os brinquedos eram de materiais reciclaacuteveis como garrafas pet
telefones sem fio carrinhos bonecas petecas vai e vem cavalinhos tudo era
confeccionado com a participaccedilatildeo das crianccedilas na modalidade de oficina
incentivando-os a fabricar os seus proacuteprios brinquedos Os brinquedos eram
confeccionados a partir de materiais encontrados nos lugares de descarte perto do
acampamento e doaccedilotildees de pessoas que passavam pela estrada
O embriatildeo de um processo educacional que nunca se interrompeu estava
lanccedilado a brinquedoteca proporcionou a criatividade e a participaccedilatildeo de crianccedilas e
adultos marcando as atividades pela conscientizaccedilatildeo do cuidado com a natureza e a
importacircncia da reciclagem A educaccedilatildeo ambiental jaacute era praticada desde o
nascimento do acampamento Renascer
Este primeiro passo foi muito importante porque traduziu para o dia a dia do
acampamento os princiacutepios da escola do campo atuante para mudar a realidade
criar cidadatildeos conscientes e dispostos a mudar a realidade a partir da sua proacutepria
accedilatildeo Este eacute o processo de transformaccedilatildeo social dentro do acampamento Renascer
haacute tanto tempo atraacutes
Aos brinquedos reciclados pela proacutepria comunidade juntaram-se outros
presenteados por instituiccedilotildees como igrejas ONGs a Pastoral da Crianccedila e pessoas
interessadas no bem estar daquelas crianccedilas
Percebe-se em iniciativas como essas a importacircncia da educaccedilatildeo nos
diversos niacuteveis para a sociedade A integraccedilatildeo de pessoas com as atividades
educativas no acampamento nos faz lembrar sobre um grande sonho das escolas
hoje integrar a comunidade de modo a que todos defendam a escola
O sucesso de iniciativas como a brinquedoteca que integravam crianccedilas
adolescentes adultos e sociedade foi importante para outras iniciativas igualmente
importantes
Foi-se criando um projeto educacional para o acampamento sem que se
tivesse consciecircncia disso por faltar informaccedilatildeo que soacute agora se possui graccedilas aos
estudos na Universidade o galpatildeo comunitaacuterio foi utilizado para abrigar a
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brinquedoteca para desenvolver grupos de teatro de crianccedilas e adultos e para
abrigar a biblioteca
A biblioteca recebeu inuacutemeros exemplares de livros infantis livros didaacuteticos
para os adolescentes e adultos literatura universal revistas dos mais variados
assuntos criando assim um espaccedilo comunitaacuterio de informaccedilatildeo lazer e
entretenimento
Com a criaccedilatildeo da biblioteca ficou evidente a importacircncia da alfabetizaccedilatildeo de
crianccedilas jovens e adultos Muitos acampados relatavam a vontade e a necessidade
de aprender a ler e a escrever Muitos reivindicavam o direito agrave educaccedilatildeo e
frequecircncia agrave escola ainda que o acampamento mudasse de ldquoendereccedilordquo tantas
vezes
Outros poreacutem natildeo acreditavam que seria possiacutevel aprender ou aperfeiccediloar a
leitura e a escrita nas condiccedilotildees de vida de um acampado
Vaacuterias atividades culturais foram desenvolvidas (e ainda satildeo) no
Acampamento Renascer Todas chamavam a atenccedilatildeo da comunidade local de
outras comunidades vizinhas garantindo a simpatia de chacareiros que levavam os
filhos para participarem das atividades
Uma das atividades mais apreciadas foi o Teatro de Fantoches inspirados em
faacutebulas muitas com a autoria da Pastoral da Crianccedila e da Faber Castel A
participaccedilatildeo da comunidade na atividade era intensa e voluntaacuteria todos queriam
manipular os fantoches participar cantando danccedilando ou prestando muita atenccedilatildeo
O teatro de transformaccedilatildeo social produzido pelos adultos e adolescentes
utilizavam tambeacutem materiais reciclaacuteveis demonstrando cuidado com o meio
ambiente e amadurecimento dos conceitos poliacuteticos e pedagoacutegicos gerando reflexatildeo
sobre os temas sociais que nos atingem no cotidiano
A miacutestica adotada pelos movimentos sociais com o objetivo de reflexatildeo satildeo
apresentadas em datas comemorativas e contam com o apoio e participaccedilatildeo de
muitos
Algumas festas fazem parte da tradiccedilatildeo do Acampamento Renascer
traduzindo para a realidade atual as antigas festas a que todos foram acostumados
em seus lugares de origem
Pode-se dizer que a comunidade aprecia muito as festas Mas duas em
particular satildeo muito respeitadas a festa das crianccedilas que ocorre durante o dia (12
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de outubro) eacute concorrida pois a comunidade se esmera para oferecer os brinquedos
que as crianccedilas amam pula-pula palhaccedilos pintura de rosto piscina de sabatildeo e
muita oferta de comida coisas que as crianccedilas adoram
No mesmo dia ocorre agrave noite a festa da Nossa Senhora Aparecida com
missa e muito forroacute
No mecircs de marccedilo eacute comemorada a Festa da Pamonha em comemoraccedilatildeo agrave
boa colheita do milho Esta festa jaacute se tornou tradicional conhecida em todo o
entorno do assentamento Egrave uma festa importante porque confraterniza a
comunidade Renascer com as comunidades vizinhas e ateacute mesmo as cidades de
Sobradinho Paranoaacute e Planaltina
Os movimentos sociais necessitam ser admirados pela sociedade e festas
como estas chamam a atenccedilatildeo para o problema da reforma agraacuteria demonstrando
que ela eacute viaacutevel e que os assentados tecircm simpatia competecircncia e seus saberes do
campo
A festa ldquojulinardquo eacute outra festa muito apreciada que apresenta as tradiccedilotildees rurais
e religiosas como quadrilhas e bandas de forroacute da comunidade e vizinhanccedila A
danccedila eacute um dos pontos fortes da festa assim como as comidas tradicionais muitas
delas com ingredientes colhidos no acampamento
Vaacuterios grupos de atividades teatrais apresentaram-se na localidade com
participaccedilatildeo de palhaccedilos lembrando um espetaacuteculo circense Alguns desses
grupos inclusive tiveram seus trabalhos premiados
Outras atividades com fundo educativo tiveram participaccedilatildeo animada de
crianccedilas e adultos A exibiccedilatildeo de desenhos animados recentemente apresentados
no cinema eram um grande atrativo para a comunidade que se via socialmente
incluiacuteda Esta inclusatildeo aumentava a autoestima das crianccedilas principalmente pois
assim elas poderiam interagir com os colegas da escola conversando a respeito dos
filmes
A Economia Solidaacuteria eacute uma das formas de inserccedilatildeo dos membros da
comunidade agrave sociedade economicamente ativa Atraveacutes da cooperaccedilatildeo solidaacuteria eacute
possiacutevel o comercio justo agriacutecolas ou artesanais sob conceitos antes
desconhecidos enquanto forma de produccedilatildeo e consumo centrado na valorizaccedilatildeo do
ser humano em contraposiccedilatildeo agraves formas capitalistas de produccedilatildeo e conscientizaccedilatildeo
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Ao longo dos doze (12) anos de luta pela educaccedilatildeo foram promovidos
diversos cursos que capacitaram multiplicadores que fazem um trabalho importante
para a comunidade
A ideia de autogestatildeo democracia cooperaccedilatildeo auxilia natildeo soacute as formas de
produccedilatildeo e comercio de bens e artesanatos mas tambeacutem auxiliam na formaccedilatildeo
integral de pessoas em que tanto o produtor como o consumidor tem o proposito de
ganhos financeiros segundo um criteacuterio de valorizaccedilatildeo do trabalho
Proposito de formar uma nova consciecircncia a Economia Solidaacuteria promoveu
cursos de Soberania Alimentar em que a comunidade recebeu noccedilotildees praacuteticas
sobre alimentaccedilatildeo a partir da produccedilatildeo local de modo a promover uma nova cultura
alimentar que visa o combate agraves doenccedilas crocircnicas Outro proposito eacute tornar a
comunidade criacutetica em relaccedilatildeo agrave publicidade de produtos alimentiacutecio supeacuterfluo que
induz agraves crianccedilas e adultos alimentarem-se incorretamente
A comunidade participou coletivamente da implantaccedilatildeo de uma unidade da
tecnologia social denominada Produccedilatildeo Agroecoloacutegica Integrada e Sustentaacutevel
(PAIS) em 2012 com o objetivo de produzir alimentos saudaacuteveis e preservar o meio
ambiente trazendo mais alimentos e renda ao campo Esta tecnologia popularmente
conhecida como ldquohorta mandalardquo foi ministrada durante o curso de capacitaccedilatildeo
promovido pela Fundaccedilatildeo Banco do Brasil e teve o meacuterito de proporcionar o debate
e a participaccedilatildeo democraacutetica na definiccedilatildeo das culturas a serem cultivadas na futura
propriedade Vale informar que o assentamento Renascer identificou-se com esse
paradigma agroecoloacutegico
A educaccedilatildeo ambiental faz parte do dia a dia da comunidade hoje preserva-se
conservaccedilatildeo das formas de vida vegetais e animais na regiatildeo do assentamento e
entorno
A produccedilatildeo de mudas no viveiro eacute bastante concorrida contando com a
participaccedilatildeo de todos O viveiro produz cinco mil (5000) mudas de espeacutecies nativa
do cerrado para o reflorestamento das nascentes de aacutegua e nas aacutereas degradadas
da regiatildeo Contam com o apoio da FUNATURA FUNDACcedilAtildeO BANCO DO BRASIL
IFB Rio Satildeo Bartolomeu Vivo e UnB
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Quarto Capiacutetulo
A escola que queremos expectativas e sonhos dos
acampados do Assentamento Renascer
Pode-se observar pelas falas dos entrevistados que a realidade de todos
converge para os problemas estruturais do Brasil faltam escolas no campo eacute baixa
a escolaridade em Brasiacutelia todos exercem atividades de subemprego
Todos tecircm grandes expectativas com relaccedilatildeo agrave vida futura no assentamento
objetivando melhores condiccedilotildees de vida na esperanccedila de serem beneficiaacuterios
enquanto cidadatildeos assentados das Poliacuteticas Puacuteblicas e financiamentos agriacutecolas
voltadas para a agricultura familiar como PRONAF PAA PNAE e PAPA-DF Vecircem
aiacute a possibilidade de emprego e renda situaccedilatildeo sonhada desde quando foram
pleitear a terra para reforma agraacuteria
Um olhar mais aprofundado sobre a anaacutelise de dados revela que natildeo importa o
fato de hoje residirem no DF pois como em qualquer lugar de origem os moradores
do assentamento Renascer vivenciam os mesmos problemas Percebe-se
claramente as dificuldades da inexistecircncia de escola no campo A distacircncia continua
impedindo o acesso os meios de transportes continuam precaacuterios os filhos
vivenciam a dificuldade de transferecircncia para a cidade na expectativa de
continuidade dos estudos as estradas rurais continuam esburacadas
Satildeo muitos os pontos em comum entre a situaccedilatildeo atual relatada e os problemas
vividos haacute deacutecadas em seus estados de origem o que deixa transparecer a absoluta
falta de interesse por parte do poder puacuteblico em garantir o direito constitucional agrave
educaccedilatildeo do povo do campo o que infelizmente continuaraacute deixando o triste
legado para o futuro do paiacutes
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Repetimos a pergunta da inicial Cadecirc as escolas do campo Ateacute quando o paiacutes
vai viver essa situaccedilatildeo A anaacutelise de dados responde Natildeo eacute mais possiacutevel
continuar como estaacute
Todos os entrevistados pretendem alcanccedilar conhecimentos atraveacutes da escola do
campo implantada no Assentamento Renascer com objetivos de administrar a
propriedade participar ativamente do coletivo garantir renda fixa atraveacutes dos
programas de desenvolvimento da agricultura familiar
Os entrevistados unanimamente tecircm a preocupaccedilatildeo da manutenccedilatildeo dos laccedilos
familiares e das raiacutezes camponesas
A distacircncia entre a moradia e a escola fato relatado pela quase totalidade dos
entrevistados constitui um grande motivo de evasatildeo escolar de defasagem nas
seacuteries frequentadas de precariedade na aprendizagem em relaccedilatildeo aos demais
alunos A discriminaccedilatildeo alegada por muitos que frequentaram ou frequentam
escolas fora da faixa etaacuteria o vernaacuteculo proacuteprio dos sujeitos do campo as condiccedilotildees
precaacuterias da estrada que denunciam a condiccedilatildeo de assentado o sentimento de
inadequaccedilatildeo constituem fatores que determinam a evasatildeo escolar
Foram treze (13) entrevistados significando aproximadamente dez por cento
(10) dos moradores do Assentamento Renascer Desse total apenas dois (2)
entrevistados natildeo declararam dificuldade de distacircncia entre a moradia e a escola em
seus lugares de origem A maioria absoluta (11) pessoas declararam que a distacircncia
dificultava e impedia o acesso agrave escola Alguns relatos apresentam situaccedilotildees
precaacuterias para o homem do campo o assentado
Para o aluno do campo a distacircncia da escola tem o significado de inexistecircncia de
escola Isto porque as dificuldades de acesso satildeo enormes No caso em estudo
apenas um entrevistado declarou a inexistecircncia de escola em sua regiatildeo de
moradia Este poreacutem vivenciou todas as dificuldades de acesso que outros
assentados apresentaram em razatildeo da distacircncia moradiaescola
A falta de professores na escola rural eacute relatada por 11 dos 13 entrevistados A
distacircncia da escola para os professores dificulta segundo a vivecircncia dos
entrevistados o acesso agrave escola e a assiduidade o que muito desmotivava a
ambos
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Os entrevistados conforme anaacutelise de dados desejam muito objetivamente a
implantaccedilatildeo imediata de escolas segundo os criteacuterios caracteriacutesticos de escola do
campo
- Trazer a realidade para dentro da escola do campo curriacuteculos voltados para o
cotidiano do aluno do campo onde as teacutecnicas agriacutecolas pecuaacuterias e agroecoloacutegicas
possam fazer parte do processo educativo da comunidade e que a escola tenha
uma gestatildeo coletiva democraacutetica com a participaccedilatildeo da comunidade
- Ter o trabalho como princiacutepio educativo A experiecircncia do aluno deve
harmonizar-se com os princiacutepios pistrakianos significar o trabalho de forma a que
ele apresente benefiacutecios para o proacuteprio indiviacuteduo para a comunidade na qual estaacute
inserido e para a sociedade e natildeo exclusivamente para servir ao capitalismo
-Superar a fragmentaccedilatildeo do conhecimento disciplinar A interdisciplinaridade
deve fazer parte dos objetivos educacionais de modo a promover a formaccedilatildeo
integral dos educandos
- Valorizar os saberes do homem do campo Os entrevistados desejam uma
escola onde possam exercitar sua vivecircncia campesina e a relaccedilatildeo dialoacutegica entre
professor-aluno seguindo a pedagogia de Paulo Freire o educando quer aprender
com o educador mas quer tambeacutem ter a oportunidade de transmitir seus saberes
- Promover espaccedilos de gestatildeo coletiva A proacutepria comunidade deve participar da
gestatildeo a elaboraccedilatildeo do PPP deve gerir o espaccedilo fiacutesico da escola para atividades
de interesse da comunidade ocupar espaccedilos para finalidades culturais esportivas
sociais tornando a escola um espaccedilo democraacutetico
- Garantir a presenccedila da comunidade e dos movimentos sociais que geram
processos que auxiliam a emancipaccedilatildeo social A escola deve tambeacutem ser espaccedilo
que auxilie a sustentabilidade e garanta a alimentaccedilatildeo saudaacutevel e recursos
fitoteraacutepicos em associaccedilatildeo com a comunidade
- Inclusatildeo tecnoloacutegica em todos os aspectos digital inovaccedilatildeo tecnoloacutegica
agropecuaacuteria recursos ambientais alternativos agua potaacutevel energia solar energia
eoacutelica fossa seacuteptica teacutecnicas de compostagem saneamento baacutesico cuidados com
os recursos hiacutedricos
A anaacutelise dos dados quando feita especificamente sobre a escola a ser
implantada pode aparentemente demonstrar uma pequena conexatildeo com as teorias
da escola do campo
42
A concepccedilatildeo da escola do campo natildeo pode ser imposta ela parte do princiacutepio
que os camponeses devem conquista-la Para essa conquista eacute necessaacuteria a
paixatildeo o desejo por algo ainda natildeo experimentado o amadurecimento poliacutetico-
social-pessoal a participaccedilatildeo coletiva na luta e na conquista
A trajetoacuteria de luta por educaccedilatildeo da comunidade Renascer apresenta estes
elementos agraves vezes difusos outras vezes mais claramente A escola bem que
poderia para alguns ser apenas uma escola rural Afinal aprender a ler e a
escrever ldquodireitordquo como alguns dizem ou seja deixar a condiccedilatildeo de analfabeto ou
analfabeto funcional para tornar-se letrado significaria avanccedilos em face das atuais
circunstacircncias Alguns entendem assim expressando-se principalmente nas
conversas informais
Apesar disso quando as respostas informais ou quando as respostas das
entrevistas satildeo analisadas mais profundamente identificamos que embora
difusamente todos desejam o programa educacional da escola do campo
Explicando melhor a participaccedilatildeo de todos da comunidade em todas as atividades
soacutecio-poliacuteticas-culturais (relatadas no terceiro capitulo) indicam que a comunidade
assimilou a postura soacutecio-politica-cultural que caracterizam a escola do campo
A vivecircncia do Assentamento Renascer no cotidiano e nos eventos coletivos
amadureceu o desejo pelo alimento intelectual cultural artiacutestico ambiental social
que a concepccedilatildeo de escola do campo introduz O programa educacional da Escola
do Campo ultrapassou as paredes fiacutesicas da escola e alcanccedilou o cotidiano dos
assentados
Os avanccedilos da conscientizaccedilatildeo e seu reflexo na vida do Assentamento Renascer
satildeo sentidos nos nuacutemeros de matriculados na LEdoC sete (7) alunos
aproximadamente dez (10) assentados prestaratildeo o proacuteximo vestibular trecircs (3)
assentados estatildeo matriculados no IFB dois(2) assentados estatildeo formados em
Teacutecnico Agropecuaacuterio tambeacutem pelo IFB um deles cursa o Tecnoacutelogo de
Agroecologia tambeacutem do IFB
Vale acrescentar que no iniacutecio de 2014 quando o IFB buscou no Assentamento
pessoas interessadas em matricular-se em seus cursos sob a condiccedilatildeo de
estudarem no ensino meacutedio o interesse foi grande e a impossibilidade pelo fato de
natildeo estarem habilitados no ensino fundamental provocou tanta discussatildeo que
estimulou essa pesquisa
43
O legado desses alunos futuros alunos e profissionais para o futuro do
Assentamento apresentaraacute resultados significativos para toda a comunidade O
futuro colheraacute bons frutos plantados agora
A escola que temos natildeo estaacute funcionando falta a renovaccedilatildeo do contrato o que
atrasa a alfabetizaccedilatildeo e conclusatildeo do 5ordm ano Falta a implantaccedilatildeo de poliacuteticas
puacuteblicas para atendimento de questotildees baacutesicas como por exemplo carteiras
quadro de giz iluminaccedilatildeo espaccedilo fiacutesico (dependecircncias para a escola) e mobiliaacuterio
-41-
44
Consideraccedilotildees Finais
A Educaccedilatildeo do campo eacute um movimento em que os trabalhadores do campo e
suas organizaccedilotildees lutam por transformaccedilotildees sociais particularmente a criaccedilatildeo de
escolas dono campo de qualidade a partir de uma perspectiva ampla de reforma
agraacuteria
A construccedilatildeo da educaccedilatildeo do campo eacute resultado do amadurecimento dos
movimentos sociais e das comunidades rurais em sua trajetoacuteria de luta pelo direito
fundamental agrave universalizaccedilatildeo escolar para as populaccedilotildees camponesas segundo
orientaccedilatildeo poliacutetico-pedagoacutegica adequada agrave realidade dos lutadores de
acampamentos e assentamentos em luta pela reforma agraacuteria e justiccedila social
Alguns princiacutepios caracterizam a luta pela escola do campo Dentre eles
podemos citar a criaccedilatildeo da consciecircncia do direito agrave educaccedilatildeo de qualidade plantada
na proacutepria comunidade o que provoca o enraizamento a valorizaccedilatildeo da vida no
campo a promoccedilatildeo da autoestima e a transformaccedilatildeo do ser alienado pela ideologia
e desigualdade social e sujeito de sua proacutepria histoacuteria
Outro princiacutepio eacute a adequaccedilatildeo de curriacuteculos agrave realidade camponesa de modo
a que o processo ensino-aprendizagem favoreccedila o amadurecimento de talentos
naturais o surgimento de oportunidades a niacutevel pessoal e social contribuindo para a
emancipaccedilatildeo poliacutetico-social do indiviacuteduo com reflexos na sociedade
A mudanccedila de paradigmas e o envolvimento social provocam a formaccedilatildeo integral
dos sujeitos que lutam de forma coletiva e solidaacuteria pela terra A escola do campo
que surge dessa mudanccedila eacute tambeacutem transformadora porque eacute fruto da luta
consciente que gera a reflexatildeo e o amadurecimento poliacutetico deixando um legado
positivo de cidadatildeos orgulhosos de sua condiccedilatildeo de lutador pela terra de sua
identidade de sua cultura de sua comunidade e coletividade
A escola do campo propicia aos alunos a reflexatildeo sobre o contexto social e a
problemaacutetica da comunidade em que estatildeo inseridos o respeito agrave individualidade a
ampliaccedilatildeo das potencialidades do aluno para organizar elaborar e atuar
coletivamente Deixam o legado futuro de homens responsaacuteveis mentes
independentes e atuantes que poderatildeo prestar serviccedilos significativos agrave sociedade
45
A comunidade assentada de o Assentamento Renascer pela Reforma
Agraacuteria em Sobradinho DF foi convidada a opinar sobre a escola que deseja a
partir da conquista da terra
O modelo proposto a partir de seu posicionamento possibilita a conclusatildeo
de que a escola do campo plantada na comunidade eacute preferiacutevel ao modelo
adotado atualmente de inserccedilatildeo dos alunos da comunidade agraves escolas urbanas
conter recursos materiais e humanos que propiciem bons resultados
pedagoacutegicos deve servir para fixar o trabalhador ao campo deve cumprir com o
propoacutesito constitucional de universalizaccedilatildeo do ensino para todas as faixas
etaacuterias deve estar identificada com os sonhos de prosperidade material e
realizaccedilatildeo pessoal dos assentados
-46-
46
Referecircncias Bibliograacuteficas
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FERRARI Marco ldquoAniacutesio Teixeira o inventor da escola puacuteblica no Brasilrdquo Revista Nova Escola Fundaccedilatildeo Victor Civita Revistaescolaabrilcombr acesso em 14092014 FERREIRA Fabiano de Jesus BRANDAtildeO Elias Canuto ndash Revista Eletrocircnica de Educaccedilatildeo Ano V N 09 juldez 2011p3 ldquoEducaccedilatildeo do campo um olhar histoacuterico uma realidade concreta rdquo (WWWUNIFILBR acesso em 08 de agosto de 2014) GONCcedilALVES Luiz Alberto Oliveira e Pinto Regina Pahim EDUCACcedilAtildeO SEacuteRIE JUSTICcedilA E DESENVOLVIMENTO IFP-FCC FUNDACcedilAtildeO CARLOS CHAGAS 2007 SAtildeO PAULO (pag206)
KOLLING Edgar Jorge Vargas Caldart MST e Educaccedilatildeo in DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia Expressatildeo Popular 2012 (pag 5020
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OLIVEIRA Maria Rita Duarte em sua dissertaccedilatildeo ldquoDos programas oficiais para a educaccedilatildeo rural aos projetos de educaccedilatildeo do campo dos movimentos sociaisrdquo WWWrevistalaborufcbrartigovolume1maria-ritapdf acesso em 08-09-2014
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OLIVEIRA Maria Rita Duarte Revistalabor ufcbracesso em 19-10-2014
________ citando CALAZ Maria Rita Duarte Oliveira
47
SANTOS Clarice Aparecida PROGRAMA NACIONAL DE EDUCACcedilAtildeO NA REFORMA AGRAacuteRIA in DICIONARIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia2012(pg630)
________ Clarice Aparecida PROGRAMA NACIONAL DE EDUCACcedilAtildeO NA REFORMA AGRAacuteRIA BRASIacuteLIA 2012 pg 631 in DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO SANTOS Claudio Felix Dos ldquoO aprender a aprender na formaccedilatildeo de professores do campordquo Campinas 2013 Editora Autores Associados ) SOUZA Maria Antocircnia Movimentos Sociais no Brasil Contemporacircneo participaccedilatildeo e possibilidades no contexto das praacuteticas democraacuteticas ndash (wwwcesucptlab2004pdfMariaAntonia Souzapdfaceso em 24-07-2014 -48-
48
Apecircndices
1 Roteiro das Entrevistas
a) Dados dos entrevistados
Qual o seu nome
Masculino ( ) Feminino ( )
Quantos anos vocecirc tecircm
A quanto tempo mora no
assentamento
Onde vocecirc morou antes
de morar no
assentamento
Quantos anos vocecirc tinha
quando foi a escola pela
primeira vez
Estou ateacute qual seacuterieano
Quantos anos vocecirc tinha
quando parou de estudar
Qual motivo motivou vocecirc
a parar de estudar
Se tiver escola no
assentamento vocecirc voltaraacute
a estudar Porque
B) Outras informaccedilotildees dados pelos entrevistadosas (GRAVAR)
a) Em qual escola vocecirc estudou no acampamento ou em outro lugar Qual
b) Como era a escola que estudou Quais as coisas boas e coisas ruins que
tinha nesta escola
c) Conte como eacutefoi a educaccedilatildeo do assentamento o que jaacute existiu de escola
como funcionou e quais eram as boas e as coisas ruins desta escola
d) Jaacute participou de alguma accedilatildeo de mobilizaccedilatildeo para ter escola no
assentamento Se sim explique para que e como foi essa mobilizaccedilatildeo
e) Na sua opiniatildeo no assentamento deve ter escola Por quecirc
f) Como deveraacute ser a escola da comunidadeassentamento Como eacute a escola
que queremos ter
49
b) Entrevistas semi-estruturadas
Entrevistado 01
Moro no assentamento Renascer haacute 11 anos Nasci Carnauacuteba no Rio Grande do
Norte fui criado na roccedila e desde pequeno trabalhava na lavoura para ajudar meu
pai Fui para escola com 9 anos de idade estudei ateacute a 5ordm seacuterie parei de estudar
com 17 anos natildeo continuei os estudos porque era muito longe de onde eu morva
que era na cidade mais proacutexima eu tinha que andar a peacute 8 km ficava muito
cansado Casei e vim morar em Brasiacutelia para trabalhar em uma chaacutecara como
caseiro Morava na chaacutecara Buritis em sobradinho- Df tambeacutem natildeo dei para
continuar os estudos porque ficava longe e tinha que ser a noite e natildeo tinha como ir
Se vier uma escola pra caacute eu ainda vou estudar para ter mais conhecimento para
plantar minha roccedila ir no banco pra ver se assino um empreacutestimo para melhorar
minha produccedilatildeo e saber fazer conta pra administrar minha parcela de terra
Qual o seu nome
Masculino ( X ) Feminino ( )
Quantos anos vocecirc
tecircm
57 anos
A quanto tempo
mora no assentamento
11 anos
Onde vocecirc morou
antes de morar no
assentamento
Carnauacuteba ndash RN
Chaacutecara Buritis nordm 10 Sobradinho DF
Quantos anos vocecirc
tinha quando foi a escola
pela primeira vez
8 anos
Estou ateacute qual
seacuterieano
5ordf seacuterie
Quantos anos vocecirc
tinha quando parou de
estudar
24 anos
Qual motivo
motivou vocecirc a parar de
estudar
Trabalhar para sustento da famiacutelia a
distacircncia entre a casa e a escola
Se tiver escola no
assentamento vocecirc voltaraacute
a estudar Porque
Sim ldquoSe tivesse escola do ensino
fundamental voltaria a estudar para tecirc
mais conhecimento para plantar minha roccedila
50
saber pesar saber contar vendecirc os produto e
comecirc
Entrevistado 02
Moro no assentamento renascer haacute 7 anos tenho 38 vim do interior do Cearaacute
Entrei na escola com 7 anos de idade estudei soacute a 5ordm seacuterie incompleta natildeo
continuei a estudar porque natildeo tinha escola a onde eu morava que era na roccedila e eu
tinha que ficar na casa dozotro (SIC) na cidade e eu natildeo gostava disso natildeo ai parei
com 16 anos de idade Mudamo (SIC) pra Brasiacutelia pra uma chaacutecara perto de Santa
Maria-DF e natildeo dei pra estudar porque casei e tinha que trabalhar muito para
susrentar a famiacutelia A gora moro no assentamento Renascer e sei que um dia vai ter
uma escola aqui e eu vou voltar a estudar porque meu sonho eacute ser veterinaacuterio e vou
der se deus quiser
Entrevistado 03
Tenho 58 anos moro no assentamento Renascer haacute 6 anos vim de Ceres-GO
comecei a estudar quando eu tinha 10 ano de idade estudei ateacute a 4ordf seria primaacuteria
(SIC) parei de estudar quando tinha 16 anos porque eu morava na roccedila e escola
ateacute que natildeo ficava muito longe natildeo era soacute 2 km dava pra ir a peacute a professora eacute que
faltava muito e a gente natildeo tinha como saber se ela tava ou natildeoAiacute quando eu tinha
18 anos casei e vim morar em Brasiacutelia e arranjei(SIC) emprego de caseira em uma
chaacutecara aiacute natildeo pra estudar a noite porque era muito longe pra laacute entatildeo eu natildeo
pensei mais nessas coisas Quando tiver escola no assentamento quero estudar
quiecirc pra mim (SIC) fazer curso de teacutecnico agriacutecolarsquorsquo
Entrevistado 04
Tenho 24 anos moro no assentamento Renascer tem 6 ano vim da Bahia morava
no Condomiacutenio RK entrei na escola com 7 anos de idade e estudei soacute ateacute a 6ordf seacuterie
parei com 18 anos de idade
Porque mudei pra caacute pro assentamento (SIC) e natildeo tem escola e natildeo tem como ir
pra Sobradinho a noite porque eacute muito longe tem que andar 5 km eacute pirigogo (SIC)
tem muita gente mal por aiacute tem ateacute estrupador natildeo posso me arriscar
ldquoSe tivesse escola aqui eu ia terminar meus estudos podia ser no galpatildeo mesmo
pra mim tava bom mas para os meus filhos eu queria uma escola boa com internet
e tudo Eu natildeo gosto que meus filhos estuda(SIC) na cidade soacute aceito porque eacute o
jeito gente de assentamento eacute muito zombado (SIC) porque as vezes chega suja
na escola e os outros acha que eles satildeo porcos que toma banhordquo
Entrevistado 05
51
Tenho 21 anos de idade moro no Renascer haacute trecircs anos vim de satildeo Gabriel-GO
comecei a estudar aos 7 anos parei com 18 anos porque minha matildee mudou
pro(SIC) matildee mudou pro (SIC) assentamento haacute 6 anos e eu natildeo aguento morar
longe dela Quando cheguei aqui natildeo teve como continuar os estudos porque
trabalho durante o dia como manicure em Sobradinho e o uacuteltimo ocircnibus que passa
perto do assentamento eacute as 5 horas da tarde entatildeo natildeo daacute para estudar a noite
Sim porque quero fazer um curso de cabelereiro quando tiver aacutegua e luz aqui eu
quero montar um salatildeo de beleza e para ser uma empresaacuteria precisa ter estudos pra
administrar o negoacutecio
Entrevistado 06
44 anos
6 anos
Formosa-GO
8 anos
5ordf seacuterie
24 anos
Porque a escola mais perto(SIC) era 10km de distacircncia e eu trabalhava na roccedila e
ficava muito cansado aiacute parei natildeo deu mais
Sim quando tiver escola aqui eu vou voltar a estudar Eu tinha um sonho de ser
agroacutenomo mas esse sonho eacute impussive(SIC) entatildeo queria concluir o ensino
fundamental para fazer um curso de teacutecnico agriacutecola no IFB mas tambeacutem eacute longe
se tivesse como estudar aqui no assentamento eu ia(SIC) ficar muito feliz
Entrevistado 07
57 anos
6 anos
Parnaiacuteba-PI- Santa Maria- DF
7 anos
4ordf seacuterie
21 anos
Parei porque era muito difiacutecil ir para escola que ficava muito longe eu tinha que sair
de casa as 4hs da madrugada para chegar na escola as 730 ia montado num
cavalo e muitas vezes natildeo tinha professora pra dar aula Parei porque natildeo aguentei
o rojatildeo tinha que minha matildee na lida a tarde e eu ficava muito cansado Vim pra
52
Brasiacutelia e casei fui trabalhar de chacareiro numa chaacutecara que tambeacutem era longe de
escola depois vim morar aqui no assentamento que natildeo tem escola
Se tivesse escola aqui eu ia voltar estudar soacute pra aprender a cuidar meior (SIC) da
terra e dos meus bichos e que fosse como uma escola agriacutecola
Entrevistado 08
Tenho 29 anos moro no assentamento Renascer haacute 2 anos sou educadora do
Pronera haacute 1 ano e 2 meses O Pronera eacute como um antidepressivo na vida de muita
gente o Pronera melhorou a minha vida e a vida dos meus alunos o desejo de
todos eacute que o Pronera continue crescendo em direccedilatildeo de uma educaccedilatildeo continuada
levando tambeacutem o ensino fundamental para os acampamentos e assentamentos da
Reforma Agraacuteria
-50-
Anexos
53
Acampamento agrave beira da estrada ndash 2004
Construccedilatildeo da Sede do Movimento na atual aacuterea
54
Reuniatildeo semanal
Teatro de fantoches ndash brinquedoteca
55
Accedilatildeo da Pastoral da Crianccedila na brinquedoteca
Oficina de brinquedos reciclaacuteveis
56
Brinquedo confeccionado com materiais reciclaacuteveis na Brinquedoteca
57
58
59
60
Apresentaccedilatildeo teatral
61
Capacitaccedilatildeo em Economia Solidaacuteria
Formaccedilatildeo de multiplicadores da Economia Solidaacuteria
62
Capacitaccedilatildeo de Educadores Ambientais
63
Luta pela Reforma Agraacuteria e Soberania Alimentar
16
A industrializaccedilatildeo ocorreu nas cidades e atraiu grandes levas de
trabalhadores do campo seduzidos pelo ideal de transformaccedilatildeo de vida acesso agrave
escolarizaccedilatildeo empregos bem remunerados ideais que levam ao ecircxodo rural hoje
ou naquele momento histoacuterico A realidade do trabalhador do campo receacutem
chegado agrave cidade era do ponto de vista educacional precariacutessima pois em sua
maioria eram analfabetos ou com baixa escolarizaccedilatildeo Essa condiccedilatildeo impedia o
acesso ao emprego industrial urbano e agrave boa qualidade de vida que uma boa
remuneraccedilatildeo podia proporcionar
As cidades sofreram crescimento raacutepido desgovernado formando periferias
que abrigavam a maioria da populaccedilatildeo egressa do campo O subemprego e o
desemprego desestabilizavam as populaccedilotildees das cidades e geravam desequiliacutebrios
sociais e econocircmicos comprometendo a qualidade de vida de todos os moradores
Eacute o ciacuterculo vicioso da desigualdade da exclusatildeo e da violecircncia que a educaccedilatildeo
pode romper A educaccedilatildeo tem entatildeo o propoacutesito de formar trabalhadores para a
induacutestria urbana
Na Constituiccedilatildeo de 1934 para com a educaccedilatildeo rural destaca-se o Art 156 conforme podemos ver abaixo
A Uniatildeo e os Municiacutepios aplicaratildeo nunca menos de dez por cento e os Estados e o Distrito Federal nunca menos de vinte por cento da renda resultante dos impostos na manutenccedilatildeo e no desenvolvimento dos sistemas educativos Paraacutegrafo uacutenico ndash Para a realizaccedilatildeo do ensino nas zonas rurais a Uniatildeo reservaraacute no miacutenimo vinte por cento das cotas destinadas agrave educaccedilatildeo no respectivo orccedilamento anual
Na constituiccedilatildeo Federal de 1937 a educaccedilatildeo rural natildeo eacute citada A prioridade eacute
a educaccedilatildeo dos moradores urbanos Neste periacuteodo conforme Ferreira (2011) ldquoa
orientaccedilatildeo poliacutetico educacional para o mundo capitalista fica bem expliacutecita
sugerindo a preparaccedilatildeo de um maior contingente de matildeo de obra para as novas
atividades abertas pelo mercado ndash a industrializaccedilatildeordquo ( pg 32)
Ainda segundo o autor este afirma que em 1935 ocorreu o I Congresso
Nacional do Ensino Regional que assume como objetivo propagar a educaccedilatildeo rural
e elaborar os planos de educaccedilatildeo Esses planos recomendavam escolas rurais
ambulantes nas regiotildees de menor densidade geograacutefica
17
O periacuteodo conhecido como Estado Novo (1937-1945) tentava implantar uma
poliacutetica educacional de cunho nacionalista tornando a educaccedilatildeo um instrumento do
estado servindo aos seus interesses
Os adultos analfabetos particularmente no meio rural tiveram atenccedilatildeo da
Campanha Nacional de Educaccedilatildeo Rural (CNER) de 1952 a 1963 cujo objetivo era
contribuir para a inserccedilatildeo do homem do campo O CNER atuou atraveacutes de missotildees
internacionais dos Estados Unidos voltadas agrave educaccedilatildeo ao treinamento de
professores e agrave preparaccedilatildeo dos jovens do meio rural pelo ensino profissional
agriacutecola Agrave atividade do CNER podemos agregar a accedilatildeo da Comissatildeo Brasileiro-
Americana de Educaccedilatildeo das Populaccedilotildees Rurais (CBAR) que celebrou acordos entre
esses dois paiacuteses visando a educaccedilatildeo rural orientada para o emprego de teacutecnicas
agriacutecolas (OLIVEIRA 1999 p 133)
A educaccedilatildeo rural eacute chamada para se ajustar agraves poliacuteticas educacionais estabelecidas pelo projeto do estado A educaccedilatildeo rural em primeiro lugar apesar de numerosos programas desenvolvidos sempre representou uma fatia muito pequena e marginal nas preocupaccedilotildees do setor puacuteblico (OLIVEIRA p apud CALAZANS1981p162)
A educaccedilatildeo rural ocupou e ainda ocupa pequeno espaccedilo no universo
educacional brasileiro As escolas apresentam dificuldades para se manterem no
campo Conforme o Jornal Sem Terra nordm 46 jun2011 24000 escolas do campo
foram fechadas no Brasil As instalaccedilotildees o curriacuteculo a carecircncia de professores o
transporte escolar formam muitas vezes uma barreira quase imponiacutevel para uma
ampla gama de alunos particularmente das uacuteltimas seacuteries do ensino fundamental e
do ensino meacutedio
Os programas implantados nos uacuteltimos anos como o PRONERA e o EJA
apresentam soluccedilotildees e alcanccedilam grandes resultados mas podemos questionar os
resultados entre os estados O Rio Grande do Sul (que atendeu alunos do ensino
baacutesico ateacute o ensino superior) em comparaccedilatildeo com outros estados e o Distrito
Federal conseguiu excelentes resultados No DF falta alcanccedilar melhores
resultados Podemos questionar se os resultados satildeo adequados pois por exemplo
no assentamento Renascer o Pronera natildeo vai aleacutem do quinto ano Eacute necessaacuterio
uma poliacutetica educacional que leve em conta a realidade dos alunos do campo
18
invista recursos materiais e humanos modernizem as escolas e propiciem o acesso
dos alunos
Conforme nos explica Sousa 2004 em seu artigo lsquodiscursos intolerantes o
lugar da politica na educaccedilatildeo rural e a representaccedilatildeo do camponecircs analfabeto
No Brasil a trajetoacuteria da educaccedilatildeo rural inclui-se na dinacircmica de modernizaccedilatildeo do campo assumindo um papel decisivo no processo de expropriaccedilatildeo proletarizaccedilatildeo e controle dos trabalhadores rurais A modernizaccedilatildeo da produccedilatildeo no nordeste brasileiro por exemplo incentivou o processo de sindicalizaccedilatildeo em massa dos trabalhadores das zonas canavieiras estimulou reivindicaccedilotildees no campo do trabalho ligadas agrave aplicaccedilatildeo do Estatuto do Trabalhador Rural e contraditoriamente fez emergir as manifestaccedilotildees pela distribuiccedilatildeo de terras encampadas pelas Ligas Camponesas ( SOUSA2004 p4)
O projeto de modernizaccedilatildeo do campo ocorreu sem que houvesse a
emancipaccedilatildeo dos trabalhadores rurais Na verdade ocorreu a proletarizaccedilatildeo dos
trabalhadores rurais pela acumulaccedilatildeo de terras em matildeos de apenas poucos
proprietaacuterios (latifundiaacuterios) Esse acontecimento revela que apenas em processo
consciente e contiacutenuo de lutas organizados e unidos os trabalhadores rurais
poderatildeo conquistar terras e meios para sua produccedilatildeo
O estudo da organizaccedilatildeo dos trabalhadores rurais eacute importante porque eacute a
partir dela que outras grandes reivindicaccedilotildees satildeo conquistadas No caso da
presente pesquisa pode-se observar que foi a organizaccedilatildeo dos trabalhadores em
torno de suas causas a reforma agraacuteria que levou agrave luta pelas outras reivindicaccedilotildees
como a educaccedilatildeo no campo
O proacuteximo capiacutetulo deste trabalho monograacutefico aborda a questatildeo das
manifestaccedilotildees e resistecircncias dos camponeses pela educaccedilatildeo e pela reforma
agraacuteria
-16-
22 Trajetoacuteria de luta pela Educaccedilatildeo do Campo
A luta pela educaccedilatildeo do campo esteve sempre associada agrave luta pela reforma
agraacuteria e pela conquista de direitos para os trabalhadores rurais O Movimento das
19
Ligas Camponesas lutou pela emancipaccedilatildeo do trabalhador rural e da reforma agraacuteria
e em seu projeto educacional estavam baseados nos ideais de Paulo Freire e do
Movimento de Educaccedilatildeo de Base (MEB)
Para explicar a reaccedilatildeo das classes populares agraves imposiccedilotildees do governo
brasileiro e das classes dominantes Oliveira (1995 apud ARROYO)
A histoacuteria das lutas entre as classes sociais natildeo se limitam agrave luta pelo poder mas se constituem impulsionadoras da histoacuteria da humanidade que natildeo aguardam passivamente seu destino mas ao contraacuterio articulam-se em torno de suas lutas para garantir seus direitos sua dignidade e sua participaccedilatildeo democraacutetica na sociedade( OLIVEIRA apud ARROYO1995p 80)
Neste sentido as Ligas Camponesas lutaram praticamente em todo o
territoacuterio nacional contra a tentativa de expulsatildeo dos trabalhadores rurais das terras
Os conflitos armados particularmente no Nordeste exigiam participaccedilatildeo poliacutetica e
direitos essenciais como a educaccedilatildeo do campo
O meacutetodo de alfabetizaccedilatildeo criado por Paulo Freire foi amplamente utilizado
pelas Ligas Camponesas e em sua concepccedilatildeo ampla de escola serviu de subsidio
para a compreensatildeo do camponecircs acerca de seu papel social (TOLEDO Caio
Navarro 2004 p6)
Neste contexto surge a Pedagogia do Oprimido de Paulo Freire Segundo
SANTOS (2013 apud Paulo Freire 1987) afirma que a pedagogia do oprimido
configura-se como
Aquela que tem de ser forjada com ele (o oprimido) e natildeo para ele enquanto homens ou povos na luta incessante de recuperaccedilatildeo de sua humanidade Pedagogia que faccedila da opressatildeo e de suas causas objeto de reflexatildeo dos oprimidos de que resultaraacute o seu engajamento necessaacuterio na luta por sua libertaccedilatildeo em que esta pedagogia se faraacute e refaraacuterdquo (FREIRE 1987 p32)
A pedagogia do oprimido serve de referecircncia para o trabalhador rural que luta
pela emancipaccedilatildeo de sua condiccedilatildeo de proletaacuterio atraveacutes da reforma agraacuteria A
pedagogia do oprimido leva o homem ao encontro de si mesmo ao reconhecimento
da grandeza de seu trabalho ao potencial de suas accedilotildees cotidianas que fazem a
diferenccedila A capacidade de reflexatildeo e o entendimento de sua potencialidade pode
leva-lo agrave sua plena realizaccedilatildeo como indiviacuteduo e como ser social
20
A reaccedilatildeo do governo contra o movimento de educaccedilatildeo popular proposto por
Freire e assumido pelo Movimento das Ligas Camponesas e pelo Movimento de
Educaccedilatildeo de Base (MEB) gerou repressatildeo e resposta da ditadura civil-militar como
o Movimento Brasileiro de Alfabetizaccedilatildeo (MOBRAL)
A luta dos movimentos sociais e sindicais pela educaccedilatildeo do campo parte das
forccedilas internas dos movimentos e alcanccedila a setores sociais religiosos ideoloacutegicos
que passam a contribuir efetivamente para o alcance do direito agrave educaccedilatildeo aos
camponeses
A Comissatildeo Pastoral da Terra (CPT) presente ao lado dos trabalhadores (as)
rurais indiacutegenas ribeirinhos pescadores e quilombolas tambeacutem contribuiu e
contribui para a formaccedilatildeo criacutetica a defesa de formas sustentaacuteveis de utilizaccedilatildeo de
recursos naturais e produccedilatildeo e para a alfabetizaccedilatildeo segundo o meacutetodo de Paulo
Freire (CANUTO 2012 p 131)
Na atualidade estaacute em desenvolvimento um movimento que luta pela educaccedilatildeo do homem do campo organizado por vaacuterias entidades dentre elas o MST Trata-se de um processo que teve inicio em meados dos anos de 1990 impulsionados pela necessidade da educaccedilatildeo de jovens e adultos das aacutereas de assentamentos rurais Foi organizado um Programa Nacional para Educaccedilatildeo na Reforma Agraacuteria composto por atores tais como movimentos sociais universidades e governo federal aleacutem de outros parceiros (Alas da Igreja Sindicatos Organizaccedilatildeo Natildeo-Governamental ONG) existentes nas diferentes regiotildees do Brasil( SOUSA2004 p 32)
A trajetoacuteria de conquista das escolas do campo particularmente as escolas
do campo criadas pelo MST a partir da deacutecada de 1990 foi marcada pela conquista
e implantaccedilatildeo da Educaccedilatildeo Fundamental para crianccedilas e adolescentes dos
acampamentosassentamentos de acordo com o projeto politico-pedagoacutegico fruto do
amadurecimento do movimento
Focou-se a alfabetizaccedilatildeo de jovens e adultos e as lutas pela implantaccedilatildeo do
ensino meacutedio com cursos alternativos para a formaccedilatildeo de professores e teacutecnicos de
niacutevel meacutedio e tambeacutem de cursos superiores
A concepccedilatildeo de escolas de ensino fundamental plantadas em assentamentos
prevecirc a instalaccedilatildeo da escola na proacutepria comunidade evitando com isso o uso de
transporte escolar e a frequecircncia dos alunos Sem Terra em escolas fora do
assentamento
21
Esta atitude de resistecircncia foi fundamental para a conquista da escola nas
terras conquistadas e tambeacutem foi fundamental para universalizar o ensino enraizar
o aluno em sua comunidade e criar a consciecircncia do direito agrave educaccedilatildeo
ldquoincomodandordquo o Estado para garantir o cumprimento das poliacuteticas puacuteblicas
Kolling Vargas e Caldart (2012p502) nos ensinam ldquotoda vez que se
conquista uma escola de educaccedilatildeo baacutesica em um assentamento ou acampamento
ela representa menos adolescentes e jovens do campo fora da escola e mais gente
enraizada em seu proacuteprio lugarrdquo (pag 502)
Os movimentos sociais e sindicais pela educaccedilatildeo do campo indicam o grau
de maturidade desses em sua luta pela reforma agraacuteria Agrave essa luta soma-se o
projeto de desenvolvimento do paiacutes baseado na justiccedila social e o combate agraves
tradicionais formas utilizadas pelas elites urbanas ou rurais de alienaccedilatildeo pela
expropriaccedilatildeo do trabalho e pelo controle dos meios que levam agrave emancipaccedilatildeo
sociocultural e agrave verdadeira humanizaccedilatildeo papel destinado agrave educaccedilatildeo
Neste sentido movimentos sociais como o MST inserem a educaccedilatildeo
baseada em princiacutepios pedagoacutegicos que se distinguem da escola tradicional
Numa perspectiva histoacuterica os movimentos sociais do campo como por
exemplo o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) tiveram inicialmente
como bandeira de luta a luta pela terra pela Reforma Agraacuteria natildeo fazendo uma
relaccedilatildeo entre essa luta e a educaccedilatildeo
A formaccedilatildeo de escolas do campo pelo MST natildeo foi resultado da consciecircncia e
importacircncia da escola para a promoccedilatildeo da educaccedilatildeo em seu meio Foi na verdade
a necessidade de oferecer aos filhos dos primeiros lutadores a oportunidade de
uma perspectiva melhor de futuro atraveacutes do direito agrave educaccedilatildeo Foi tambeacutem a
necessidade de ldquotransformar instituiccedilotildees histoacutericas como a escola em lugares que
ajudem a formar os sujeitos destas transformaccedilotildeesrdquo (CALDART2012 p94)
Desse modo houve primeiro a ldquoocupaccedilatildeo da escolardquo pela mobilizaccedilatildeo e pela
accedilatildeo para garantir que em acampamentos ou assentamentos conquistados
houvesse uma escola que ldquofizesse a diferenccedila ou tivesse realmente sentido em sua
vida presente e futura (preocupaccedilatildeo com os filhos)rdquo (CALDART2012 p91)
Num segundo momento da luta observa-se intencionalidade da luta pela
escola mas com proposta pedagoacutegica especiacutefica ldquocombinando processos de
22
escolarizaccedilatildeo e de formaccedilatildeo da militacircncia e da base social Sem Terrardquo
(CALDART2012 p92)
As experiecircncias de pensar escolas como polos regionais entre assentamentos e com estudantes de outras comunidades de camponeses aos poucos vatildeo educando o olhar dos trabalhadores Sem Terra para uma realidade mais ampla Foi assim que o MST chegou agrave EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO (KOLLING Vargas e Caldart 2012 p 502)
A escola dentro dessa perspectiva de mudanccedila e envolvimento social eacute
parte da luta pela reforma agraacuteria daacute significado a ela pois proporciona a formaccedilatildeo
integral dos sujeitos que lutam pela terra
Essa escola possibilita a reflexatildeo trava o diaacutelogo com as propostas de
educaccedilatildeo popular de Paulo Freire e busca superar as dificuldades imensas que
assentados e acampados vivem no dia a dia
A escola tambeacutem revela a cultura o orgulho e criaccedilatildeo da identidade na luta
por terra Nesse sentido
A heranccedila que o MST deixaraacute para seus descendentes seraacute bem mais do que a terra que conseguir libertar do latifuacutendio seraacute um jeito de ser humano e de tomar posiccedilatildeo diante das questotildees de seu tempo seratildeo os valores que fortalecem e datildeo identidade aos lutadores do povo de todos os tempos de todos os lugares Eacute enquanto produto humano de uma obra educativa que os Sem Terra podem ser vistos como mais um elo que se forma em uma longa tradiccedilatildeo de lutadores sociais que fazem a histoacuteria da humanidade Enraizamento no passado e projeto de futuro (CALDART 2012 p 96)
A educaccedilatildeo proposta pelo movimento gera o sentimento de pertencimento e
desperta o sentimento de respeito agrave coletividade valoriza o trabalho a gestatildeo
democraacutetica e desburocratizada da escola
SANTOS (2013 p71) esclarece que pelo projeto educacional do MST a
educaccedilatildeo proposta estaacute pautada em ldquovalores socialistas e humanistas tais como o
coletivismo o trabalho socialmente uacutetil a organizaccedilatildeo e auto-organizaccedilatildeo dos
estudantes e professoresrdquo (p71)
-21-
23
221 Concepccedilatildeo Pedagoacutegica da Educaccedilatildeo do Campo
No acircmbito da educaccedilatildeo do homem do campo tornar o homem sujeito e natildeo
objeto do saber leva a entender que o conhecimento do camponecircs pode dialogar
com as praacuteticas baseadas no conhecimento cientiacutefico desde que seja perseguido o
ideal de trabalhadores e educadores do campo comprometidos com as lutas sociais
de formar o homem ldquodordquo campo e ldquono campordquo
Conforme Kolling Cerioli e Caldart (2002 p 264) ldquoo povo tem direito a uma
educaccedilatildeo pensada desde o seu lugar e com sua participaccedilatildeo vinculada agrave sua
cultura e agraves suas necessidades humanas e sociaisrdquo ndash(Caldart Educaccedilatildeo do Campo
2012 p 264
Tal compreensatildeo se ainda hoje causa oposiccedilatildeo ateacute mesmo no ambiente
acadecircmico imagine-se naquele momento histoacuterico de profunda repressatildeo poliacutetica e
ideoloacutegica aos movimentos sociais de camponeses por terra e educaccedilatildeo Como nos
ensina Molina e Saacute (DICIONAacuteRIO da Educaccedilatildeo do Campo p 324)
A concepccedilatildeo de escola do campo nasce e se desenvolve no bojo do movimento da EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO a partir das experiecircncias de formaccedilatildeo humana desenvolvidas no contexto de luta dos movimentos sociais camponeses por terra e educaccedilatildeo Trata-se portanto de uma concepccedilatildeo que emerge das contradiccedilotildees da luta social e das praacuteticas de educaccedilatildeo dos trabalhadores do e no campo (MOLINA e SAacute 2012 pag 324)
A concepccedilatildeo pedagoacutegica da educaccedilatildeo popular e da pedagogia da praacutetica
segundo ARROYO inclui
um caraacuteter de envolvimento totalizante dos movimentos sociais que possibilita ao individuo que participa destes coletivos o acesso a outro tipo de formaccedilatildeo que supera a condiccedilatildeo de aluno de alfabetizando de escolarizando Os integrantes destes organismos emersos na tensa situaccedilatildeo de conflitos aprendem por meio da vivencia das lutas sociais dos momentos de mobilizaccedilatildeo das situaccedilotildees limites de perda de emprego de criacuteticas da sociedade agraves suas accedilotildees de ameaccedilas agraves suas vidas Tudo isso traz ricas liccedilotildees ensinadas na ldquoescola do movimentordquo e que nenhuma teoria pode transmitir ou explicar de forma satisfatoacuteria
No entendimento de Arroyo (2013) os movimentos sociais vivem e
amadurecem sob o conhecimento e o entendimento das contradiccedilotildees sociais e esta
24
experiecircncia lhes permite a possibilidade de defender mudanccedilas radicais tanto no
campo como na cidade tanto na ideologia quanto no combate ao latifuacutendio e ao
capitalismo
Tamanho movimento social gera a reflexatildeo sobre as relaccedilotildees
socioeconocircmicas politicas culturais cuidado da natureza relaccedilotildees humanas
destaques de tudo o que interessa ao coletivo agrave sociedade
Eacute por meio do entendimento de que a realidade eacute criaccedilatildeo humana de como se estabelecem os processos de opressatildeo e ainda da noccedilatildeo de que podemos transformar essa realidade dado que a sociedade eacute mutaacutevel que se forma a praacutexis da luta accedilatildeo-conscientizaccedilatildeo-transformaccedilatildeo-libertaccedilatildeo Inserindo-se criticamente na histoacuteria os cidadatildeos tornam-se sujeitos construtores e reconstrutores da realidaderdquo
Molina e Saacute (2012) nos ensinam a partir do conceito de escola do campo sobre a
potencialidade da vivencia de praacuteticas coletivas para a valorizaccedilatildeo integral dos
sujeitos da coletividade do conhecimento cientiacutefico da gestatildeo coletiva da escola
dentre tantos avanccedilos e vitoacuterias dos movimentos sociais
O processo ensino-aprendizagem permite que o conceito de escola extrapole
o cotidiano de dificuldades e desafia agrave reflexatildeo que gera a emancipaccedilatildeo
Este eacute um dos maiores desafios e ao mesmo tempo uma das maiores possibilidades da escola do campo articular os conhecimentos que os educandos tecircm o direito de acessar a partir do trabalho com a realidade da religaccedilatildeo entre educaccedilatildeo cultura e os conhecimentos cientiacuteficos a serem apreendidos em cada ciclo de vida e de diferentes aacutereas do conhecimento(MOLINA MOURAtildeO 2012 p 329) -26-
222 Princiacutepios da Educaccedilatildeo do Campo
Alguns princiacutepios viabilizam o projeto de escola adotado pelos movimentos
sociais e possibilitam a democracia e a integraccedilatildeo de todos lideranccedila assentados e
acampados do movimento
25
O princiacutepio da responsabilidade coletiva sobre o planejamento a gestatildeo a
organizaccedilatildeo e a realizaccedilatildeo de tarefas em todas as esferas de atividades princiacutepios
muito valorizados pelos movimentos sociais do campo foram transferidos para o
projeto de educaccedilatildeo
O projeto eacute de responsabilidade coletiva e insere educadores tanto a niacutevel
local como regional e nacional os ldquoColetivos de educaccedilatildeordquo como satildeo conhecidos
Os coletivos de educaccedilatildeo com tarefas forccedila orgacircnica e discussotildees especiacuteficas que podem variar a cada periacuteodo fortalecem o princiacutepio organizativo de que a questatildeo da educaccedilatildeo bem como outras questotildees da vida social assumidas pelo MST deve ser pensada e implantada de forma coletiva Eacute uma loacutegica que implica tarefas a serem realizadas pelas pessoas mas mediante um planejamento e uma leitura de conjuntura feita por um coletivo (KOLLING1995 et al p503)
Para concretizar o projeto de educaccedilatildeo foi concebida a formaccedilatildeo de
professores pelos proacuteprios movimentos no acircmbito da proacutepria comunidade
(conhecidos como ldquoprofessores leigosrdquo) e tambeacutem pela rede oficial de ensino
A falta de titulaccedilatildeo de muitos educadores formados na comunidade natildeo
impede que os mesmos trabalhem juntos com os professores titulados e com
simpatizantes do movimento no projeto poliacutetico-pedagoacutegico constituindo um
princiacutepio democraacutetico importante para superar as dificuldades e urgecircncias para a
implantaccedilatildeo da educaccedilatildeo do campo
A democracia do processo de formaccedilatildeo de educadores tem reflexos amplos
a formaccedilatildeo de educadores pelos proacuteprios movimentos especiacutefica para atuaccedilatildeo nas
escolas do campo
O movimento eacute responsaacutevel pela universalizaccedilatildeo do ensino no acircmbito dos
territoacuterios conquistados ou por conquistar e permitiu a evoluccedilatildeo do ensino ateacute o niacutevel
de terceiro grau com a realizaccedilatildeo de cursos como a Licenciatura em Educaccedilatildeo do
Campo (LEdoC) do qual somos os privilegiados alunos aqui na Universidade de
Brasiacutelia
Outro reconhecimento e prova de eficiecircncia da formaccedilatildeo de professores eacute o
precircmio ldquoEducaccedilatildeo e Participaccedilatildeordquo recebido em 1995 do Fundo das Naccedilotildees Unidas
para a Infacircncia (Unicef)
26
O somatoacuterio das forccedilas internas e externas do movimento ldquoleigasrdquo ou
tituladas associadas ao princiacutepio fundamental da participaccedilatildeo dos alunos e
comunidades em todos os niacuteveis e localidades eacute ponto fundamental para o sucesso
da concepccedilatildeo do projeto pois permite o estudo a reflexatildeo conjunta sobre
estrateacutegias para o alcance do objetivo de educaccedilatildeo na reforma agraacuteria
-25-
223 Marcos Normativos da Educaccedilatildeo do Campo
Numerosos Marcos Normativos podem ser citados para explicitar qual perfil
de escola destinada ao camponecircs interessava ao governo e aos proprietaacuterios rurais
A Lei 4024 de 1961 em seu art 105 estabelece o
Apoio que poderaacute ser prestado pelo poder puacuteblico agraves iniciativas que mantenham na zona rural instituiccedilotildees educativas orientadas para adaptar o homem ao meio e estimular vocaccedilotildees e atividades profissionais (BRASIL 2012 p 4)
A Lei 5692 de 1971 ao tratar da educaccedilatildeo rural ldquonatildeo observa mais uma vez
a inclusatildeo da populaccedilatildeo na condiccedilatildeo de protagonista de um projeto social globalrdquo
sendo que o trabalho do campo realizado por alunos eacute ateacute mesmo incentivado
adequando-o ao calendaacuterio escolar (MARCOS NORMATIVOSBrasiacutelia2012 p 25)
A Lei 9394 de 1996 (Lei das Diretrizes se Bases da Educaccedilatildeo ndash LDB) em
acordo com Constituiccedilatildeo de 1988 e ldquoinspirada de alguma forma numa concepccedilatildeo
de mundo rural enquanto espaccedilo especifico diferenciado e ao mesmo tempo
integrado no conjunto da sociedaderdquo reconhece
A diversidade soacutecio-cultural e o direito agrave igualdade e agrave diferenccedila possibilitando a definiccedilatildeo de diretrizes operacionais para educaccedilatildeo rural sem no entanto recorrer a uma logica exclusiva e de ruptura com um projeto global de educaccedilatildeo para o paiacutes (idem p 26)
27
Os artigos 208 e 210 da Carta Magna-1988 e inspirada de numa concepccedilatildeo
de mundo rural enquanto espaccedilo especiacutefico diferenciado e ao mesmo tempo
integrado no conjunto da sociedade a Lei 939496- LDB-estabelece que
Art 28 Na oferta da educaccedilatildeo baacutesica para a populaccedilatildeo rural os sistemas de ensino promoveratildeo as adapta necessaacuteria agrave sua adequaccedilatildeo agraves peculiaridades da vida rural e de cada regiatildeo especialmente (MARCOS NORMATIVOS) Brasiacutelia 2012 p 25)
1- Conteuacutedos organizar curriculares e metodologias apropriadas agraves reais
necessidades e interesses dos alunos da zona rural
2-organizaccedilatildeo escolar proacutepria incluindo a adequaccedilatildeo do calendaacuterio escolar as
fases do ciclo agriacutecola e as condiccedilotildees climaacuteticas
3-adequaccedilatildeo agrave natureza do trabalho na zona rural (MARCOS NORMATIVOS)
Brasiacutelia 2012( p 26)
O movimento de educaccedilatildeo do campo luta haacute quinze (15) anos para fazer-se
cumprir esse Decreto da Lei de Diretrizes de base da educaccedilatildeo do campo-LDB
que apesar de ser constitucional ainda natildeo foi colocada totalmente em praacutetica
Agora com as lutas dos movimentos sociais eacute que estaacute comeccedilando a se concretizar
Artigo 26 Os curriacuteculos do ensino fundamental e meacutedio devem ter uma base nacional comum a ser complementada em cada sistema de ensino e estabelecimento escolar por uma parte diversificada exigida pelas caracteriacutesticas regionais e locais da sociedade
da cultura da economia e da clientela (MARCOS NORMATIVOS) Brasiacutelia 2012(p 26)
O Decreto nordm 7352 de 4 de novembro 2010 dispotildee sobre a poliacutetica de educaccedilatildeo do campo ao Programa Nacional de Educaccedilatildeo
na Reforma Agraacuteria-PRONERA decreta
Art1ordm A poliacutetica de educaccedilatildeo do campo destina-
se agrave ampliaccedilatildeo e qualificaccedilatildeo da oferta de educaccedilatildeo baacutesica e superior agraves populaccedilotildees do campo e seraacute desenvolvida pela Uniatildeo em regime de colaboraccedilatildeo com os Estados o
28
Distrito Federal e os Municiacutepios de acordo com as diretrizes e metas estabelecidas no Plano Nacional de Educaccedilatildeo e o disposto neste Decreto
Para os efeitos deste Decreto entende-se por
l-populaccedilatildeo do campo os agricultores familiares os extrativistas os pescadores
artesanais os ribeirinhos os assentados e acampados da reforma agraacuteria os
trabalhadores assalariados rurais os quilombolas os caiccedilaras os povos da floresta
os caboclos e outros que produzam suas condiccedilotildees materiais de existecircncia a partir
do trabalho no meio rural
ll-escola do campo aquela situada em aacuterea rural conforme definida pela Fundaccedilatildeo
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica- IBGE ou aquela situada em aacuterea
urbana desde que atenda predominantemente a populaccedilatildeo do campo (MARCOS
NORMATIVOS) 2012( p 81)
No Decreto 6755 29 de janeiro de 2009 em seu art 2ordm estabelecida pelo Conselho
Nacional de Educaccedilatildeo que se refere as Diretrizes Operacionais da Educaccedilatildeo do
Campo o parecer da alternacircncia
A formaccedilatildeo de professores poderaacute ser feita concomitantemente agrave atuaccedilatildeo profissional de acordo com metodologias adequadas inclusive a pedagogia da alternacircncia e sem prejuiacutezo de outras que atendam agraves especificidades da educaccedilatildeo do campo e por meio de atividades de ensino pesquisa e extensatildeo (MARCOS NORMATIVOS) 2012( p84)
-26-
29
-
231 A educaccedilatildeo do campo e poliacutetica puacuteblica - o PRONERA
O amadurecimento adquirido pela luta sobre o papel da educaccedilatildeo aliado agrave
iniciativa do aproveitamento do trabalho das professoras ldquoleigasrdquo e ainda da
consciecircncia cada vez mais presente do dever do Estado em prover os cidadatildeos da
reforma agraacuteria de poliacuteticas puacuteblicas resultou no campo da educaccedilatildeo na criaccedilatildeo do
Programa Nacional de Educaccedilatildeo na Reforma Agraacuteria (PRONERA)
O PRONERA envolve formalmente jovens e adultos num projeto conjunto
com universidades e institutos federais em prol da formaccedilatildeo de educadores para o
trabalho em escolas dos assentamentos da reforma agraacuteria e seu entorno
O Programa foi criado em 1998 no momento da ascensatildeo dos conflitos pela
reforma agraacuteria o que propiciou que os movimentos sociais trouxessem para a
opiniatildeo puacuteblica suas mazelas
No campo da educaccedilatildeo foi denunciada a falta de escola a precariedade do
ensino a falta de profissionais do ensino a ldquoloacutegica de negaccedilatildeo histoacuterica do direito
aos camponeses de acesso aos niacuteveis mais elevados de escolaridade ( SANTOS
2012 pag 630)
A partir de 2005 o ensino oferecido pelo PRONERA eacute estendido ao niacutevel
meacutedio e superior como a Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo e a Residecircncia
30
Agraacuteria O PRONERA evoluiu para outros patamares tais como ldquopossibilidades de
ressignificaccedilatildeo do conteuacutedo e da metodologia dos processos de educaccedilatildeo formal
por meio dos princiacutepios baacutesicos da participaccedilatildeo e da multiplicaccedilatildeordquo (SANTOS 2012
p 631)
A participaccedilatildeo das comunidades e suas organizaccedilotildees e a multiplicaccedilatildeo de
alfabetizados formados educadores e demais profissionais ligados agraves poliacuteticas
puacuteblicas para a Reforma Agraacuteria gerou ampla participaccedilatildeo dos agentes envolvidos
na dinacircmica do processo ensino-aprendizagem
Essa forma de gestatildeo gerou reaccedilatildeo contraacuteria ldquoagrave gestatildeo colegiada e coletiva
notadamente agrave participaccedilatildeo direta dos movimentos sociais e sindicais do campordquo
considerados ldquoentes estranhos agrave administraccedilatildeo puacuteblicardquo (CLARICE p 634)
O envolvimento dos movimentos sociais e sindicais do campo natildeo
retrocederam em sua luta pelo envolvimento de todos os interessados na educaccedilatildeo
como elemento emancipatoacuterio e continuam formulando princiacutepios concepccedilotildees e
diretrizes para a escola do campo
-31-
31
Terceiro Capiacutetulo
A histoacuteria do Assentamento Renascer
31 Uma breve histoacuteria de luta
A histoacuteria do Assentamento Renascer natildeo parece ser diferente da histoacuteria de
outros assentamentos Brasil afora Partiu da reivindicaccedilatildeo de Trabalhadores Rurais
sem Terra que desde 2004 ocuparam as margens da Rodovia DF 330 que liga
Sobradinho ao Paranoaacute-DF
Tatildeo perto do centro do poder a apenas poucos quilocircmetros do Palaacutecio da
Alvorada ou da Sede do INCRA o Acampamento Renascer esteve ateacute oito (08) de
maio de 2009 tatildeo distante da decisatildeo poliacutetica pela Reforma Agraacuteria
Somente nesta data trezentos sessenta e um( 361) de terras devolutas da
Uniatildeo foram repassadas ao INCRA para assentar as famiacutelias aliacute acampadas Ficou
criado o assentamento Renascer fora da beira da estrada
O Assentamento Renascer ldquorenasceurdquo da dificuldade de vida sob o barraco de
madeira sem aacutegua sem luz sem saneamento baacutesico que fez com que tantos
desistissem ao longo do caminho e ainda hoje se encontra nessa mesma
precariedade um descaso por parte do poder puacuteblico
A luta em vaacuterios momentos da vida dos acampados parecia estar vencida Os
vencedores pareciam ser a burocracia o desrespeito as noites mal dormidas a
inseguranccedila a falta de perspectivas para o acampado e suas famiacutelias
Duzentas (200) famiacutelias viveram aliacute por cinco anos (05) de 2004 ateacute 2009
Atualmente satildeo cento e vinte (120) famiacutelias que moram na aacuterea destinada e estatildeo
em processo de assentamento Muitas delas poreacutem vencidas pelo cansaccedilo e pelas
condiccedilotildees de vida abandonaram a luta mas todas as famiacutelias as que se foram e as
que ficaram sonharam com a terra onde poderiam produzir viam no pedaccedilo de chatildeo
os frutos do pomar da horta o galinheiro o pasto
O Assentamento Renascer eacute o Brasil Eacute um pedacinho da cruel realidade que
como vimos neste trabalho marcou a sociedade brasileira desde a escravidatildeo
desde o primeiro grito de rebeldia do quilombo desde o primeiro que lutou contra os
coroneacuteis por divisatildeo da terra como as Ligas Camponesas contra o latifuacutendio como
os movimentos sociais em sua luta pela reforma agraacuteria desde vaacuterias geraccedilotildees
32
Eacute como todo e qualquer movimento social que surgiu neste paiacutes desde a
deacutecada de 1980 pela reforma agraacuteria Viveu e ainda vive as dificuldades de ser
acampadoassentado mas honra sua luta porque natildeo desiste faacutecil
O Assentamento Renascer eacute tambeacutem fruto do ecircxodo rural da industrializaccedilatildeo
do campo da monocultura e da concentraccedilatildeo de terras Foram expulsos do campo
para a periferia das cidades sem capacitaccedilatildeo sem estudo
A falta de escolarizaccedilatildeo eacute sem duacutevida uma caracteriacutestica de quase todos os
que vieram do campo para a cidade A realidade do Brasil eacute que o campo natildeo eacute
escolarizado as escolas no campo satildeo poucas satildeo despreparadas satildeo
desvalorizadas
-33-
32 As escolas no campo na vivencia do assentado do Assentamento
Renascer
As escolas no campo marcaram profundamente a vida dos poucos que a
frequentaram Quase todos tiveram que trocar o laacutepis pela enxada a carteira pela
roccedila desde muito pequenos Alguns natildeo muito poucos conforme os depoimentos
aqui relatados teriam que abandonar a enxada e a participaccedilatildeo no sustento da
famiacutelia para frequentar a escola Quase sempre abandonaram a escola para ficar no
trabalho com a enxada
Todos teriam que andar vaacuterios quilocircmetros para ir agrave escola Outros nem assim
conseguiriam frequentar a escola no campo ela simplesmente natildeo existia no
campo Teriam entatildeo que ir para a cidade para ter direito a uma escola
Muitos tambeacutem vivenciaram os traumas que uma escola tradicional e
descomprometida com os valores e responsabilidades do projeto educacional
castigos humilhaccedilotildees afastaram a muitos da escola
Alguns apenas sonharam e sonham com a escola ldquoAh a escolardquo Tatildeo longe
inacessiacutevel para tantos no Brasil afora Ao ver de algumas pessoas do
Assentamento Renascer ldquoSe tivesse jeito eu teria ido agrave escola tinha feito pelo
menos o ensino fundamental completo para que eu pudesse ingressar no curso
33
teacutecnico-agriacutecola Mas agora quero que meus filhos e netos vatildeo para a escola
aprender ser algueacutem na vidardquo
-34-
321 A escola no entorno do Assentamento Renascer
A ideia de lutar pela educaccedilatildeo veio antes da ideia de lutar pela escola como
espaccedilo conquistado pelo acampamento Encontrar uma escola perto do
acampamento com transporte escolar com vagas e horaacuterios acessiacuteveis para os que
trabalham o dia todo era entendido como uma necessidade baacutesica e uma grande
vitoacuteria
Ficava-se feliz se apesar das dificuldades fosse possiacutevel matricular pelo
menos as crianccedilas As dificuldades eram e ainda satildeo muitas o transporte escolar
era e eacute precaacuterio a poeira natildeo permite que os alunos cheguem limpos agrave escola os
buracos e as poccedilas daacutegua impedem a chegada do ocircnibus escolar durante as
chuvas No caso do ocircnibus que levam os alunos ateacute a Escola Classe do Coacuterrego do
Arrozal em eacutepoca de muita chuva os ocircnibus ateacute o iniacutecio de 2014 natildeo conseguiam
transitar Isto resulta no fato de que as crianccedilas precisam caminhar debaixo de
chuva ateacute a escola
-35-
322 O caminho para a produccedilatildeo do saber no Assentamento Renascer a
brinquedoteca a integraccedilatildeo social a biblioteca comunitaacuteria as manifestaccedilotildees
culturais
Ao longo dos anos de vivecircncia e convivecircncia no Acampamento Renascer
mediante a dificuldade e necessidade de estudar que sentimos na nossa proacutepria
vida foi despontando a ideia de prover as crianccedilas de atividades luacutedicas e
educativas
34
Logo no iniacutecio do acampamento por volta de 2005 por iniciativa de algumas
pessoas conscientes da necessidade de atividades luacutedicas para as crianccedilas foi
criada uma brinquedoteca
Inicialmente os brinquedos eram de materiais reciclaacuteveis como garrafas pet
telefones sem fio carrinhos bonecas petecas vai e vem cavalinhos tudo era
confeccionado com a participaccedilatildeo das crianccedilas na modalidade de oficina
incentivando-os a fabricar os seus proacuteprios brinquedos Os brinquedos eram
confeccionados a partir de materiais encontrados nos lugares de descarte perto do
acampamento e doaccedilotildees de pessoas que passavam pela estrada
O embriatildeo de um processo educacional que nunca se interrompeu estava
lanccedilado a brinquedoteca proporcionou a criatividade e a participaccedilatildeo de crianccedilas e
adultos marcando as atividades pela conscientizaccedilatildeo do cuidado com a natureza e a
importacircncia da reciclagem A educaccedilatildeo ambiental jaacute era praticada desde o
nascimento do acampamento Renascer
Este primeiro passo foi muito importante porque traduziu para o dia a dia do
acampamento os princiacutepios da escola do campo atuante para mudar a realidade
criar cidadatildeos conscientes e dispostos a mudar a realidade a partir da sua proacutepria
accedilatildeo Este eacute o processo de transformaccedilatildeo social dentro do acampamento Renascer
haacute tanto tempo atraacutes
Aos brinquedos reciclados pela proacutepria comunidade juntaram-se outros
presenteados por instituiccedilotildees como igrejas ONGs a Pastoral da Crianccedila e pessoas
interessadas no bem estar daquelas crianccedilas
Percebe-se em iniciativas como essas a importacircncia da educaccedilatildeo nos
diversos niacuteveis para a sociedade A integraccedilatildeo de pessoas com as atividades
educativas no acampamento nos faz lembrar sobre um grande sonho das escolas
hoje integrar a comunidade de modo a que todos defendam a escola
O sucesso de iniciativas como a brinquedoteca que integravam crianccedilas
adolescentes adultos e sociedade foi importante para outras iniciativas igualmente
importantes
Foi-se criando um projeto educacional para o acampamento sem que se
tivesse consciecircncia disso por faltar informaccedilatildeo que soacute agora se possui graccedilas aos
estudos na Universidade o galpatildeo comunitaacuterio foi utilizado para abrigar a
35
brinquedoteca para desenvolver grupos de teatro de crianccedilas e adultos e para
abrigar a biblioteca
A biblioteca recebeu inuacutemeros exemplares de livros infantis livros didaacuteticos
para os adolescentes e adultos literatura universal revistas dos mais variados
assuntos criando assim um espaccedilo comunitaacuterio de informaccedilatildeo lazer e
entretenimento
Com a criaccedilatildeo da biblioteca ficou evidente a importacircncia da alfabetizaccedilatildeo de
crianccedilas jovens e adultos Muitos acampados relatavam a vontade e a necessidade
de aprender a ler e a escrever Muitos reivindicavam o direito agrave educaccedilatildeo e
frequecircncia agrave escola ainda que o acampamento mudasse de ldquoendereccedilordquo tantas
vezes
Outros poreacutem natildeo acreditavam que seria possiacutevel aprender ou aperfeiccediloar a
leitura e a escrita nas condiccedilotildees de vida de um acampado
Vaacuterias atividades culturais foram desenvolvidas (e ainda satildeo) no
Acampamento Renascer Todas chamavam a atenccedilatildeo da comunidade local de
outras comunidades vizinhas garantindo a simpatia de chacareiros que levavam os
filhos para participarem das atividades
Uma das atividades mais apreciadas foi o Teatro de Fantoches inspirados em
faacutebulas muitas com a autoria da Pastoral da Crianccedila e da Faber Castel A
participaccedilatildeo da comunidade na atividade era intensa e voluntaacuteria todos queriam
manipular os fantoches participar cantando danccedilando ou prestando muita atenccedilatildeo
O teatro de transformaccedilatildeo social produzido pelos adultos e adolescentes
utilizavam tambeacutem materiais reciclaacuteveis demonstrando cuidado com o meio
ambiente e amadurecimento dos conceitos poliacuteticos e pedagoacutegicos gerando reflexatildeo
sobre os temas sociais que nos atingem no cotidiano
A miacutestica adotada pelos movimentos sociais com o objetivo de reflexatildeo satildeo
apresentadas em datas comemorativas e contam com o apoio e participaccedilatildeo de
muitos
Algumas festas fazem parte da tradiccedilatildeo do Acampamento Renascer
traduzindo para a realidade atual as antigas festas a que todos foram acostumados
em seus lugares de origem
Pode-se dizer que a comunidade aprecia muito as festas Mas duas em
particular satildeo muito respeitadas a festa das crianccedilas que ocorre durante o dia (12
36
de outubro) eacute concorrida pois a comunidade se esmera para oferecer os brinquedos
que as crianccedilas amam pula-pula palhaccedilos pintura de rosto piscina de sabatildeo e
muita oferta de comida coisas que as crianccedilas adoram
No mesmo dia ocorre agrave noite a festa da Nossa Senhora Aparecida com
missa e muito forroacute
No mecircs de marccedilo eacute comemorada a Festa da Pamonha em comemoraccedilatildeo agrave
boa colheita do milho Esta festa jaacute se tornou tradicional conhecida em todo o
entorno do assentamento Egrave uma festa importante porque confraterniza a
comunidade Renascer com as comunidades vizinhas e ateacute mesmo as cidades de
Sobradinho Paranoaacute e Planaltina
Os movimentos sociais necessitam ser admirados pela sociedade e festas
como estas chamam a atenccedilatildeo para o problema da reforma agraacuteria demonstrando
que ela eacute viaacutevel e que os assentados tecircm simpatia competecircncia e seus saberes do
campo
A festa ldquojulinardquo eacute outra festa muito apreciada que apresenta as tradiccedilotildees rurais
e religiosas como quadrilhas e bandas de forroacute da comunidade e vizinhanccedila A
danccedila eacute um dos pontos fortes da festa assim como as comidas tradicionais muitas
delas com ingredientes colhidos no acampamento
Vaacuterios grupos de atividades teatrais apresentaram-se na localidade com
participaccedilatildeo de palhaccedilos lembrando um espetaacuteculo circense Alguns desses
grupos inclusive tiveram seus trabalhos premiados
Outras atividades com fundo educativo tiveram participaccedilatildeo animada de
crianccedilas e adultos A exibiccedilatildeo de desenhos animados recentemente apresentados
no cinema eram um grande atrativo para a comunidade que se via socialmente
incluiacuteda Esta inclusatildeo aumentava a autoestima das crianccedilas principalmente pois
assim elas poderiam interagir com os colegas da escola conversando a respeito dos
filmes
A Economia Solidaacuteria eacute uma das formas de inserccedilatildeo dos membros da
comunidade agrave sociedade economicamente ativa Atraveacutes da cooperaccedilatildeo solidaacuteria eacute
possiacutevel o comercio justo agriacutecolas ou artesanais sob conceitos antes
desconhecidos enquanto forma de produccedilatildeo e consumo centrado na valorizaccedilatildeo do
ser humano em contraposiccedilatildeo agraves formas capitalistas de produccedilatildeo e conscientizaccedilatildeo
37
Ao longo dos doze (12) anos de luta pela educaccedilatildeo foram promovidos
diversos cursos que capacitaram multiplicadores que fazem um trabalho importante
para a comunidade
A ideia de autogestatildeo democracia cooperaccedilatildeo auxilia natildeo soacute as formas de
produccedilatildeo e comercio de bens e artesanatos mas tambeacutem auxiliam na formaccedilatildeo
integral de pessoas em que tanto o produtor como o consumidor tem o proposito de
ganhos financeiros segundo um criteacuterio de valorizaccedilatildeo do trabalho
Proposito de formar uma nova consciecircncia a Economia Solidaacuteria promoveu
cursos de Soberania Alimentar em que a comunidade recebeu noccedilotildees praacuteticas
sobre alimentaccedilatildeo a partir da produccedilatildeo local de modo a promover uma nova cultura
alimentar que visa o combate agraves doenccedilas crocircnicas Outro proposito eacute tornar a
comunidade criacutetica em relaccedilatildeo agrave publicidade de produtos alimentiacutecio supeacuterfluo que
induz agraves crianccedilas e adultos alimentarem-se incorretamente
A comunidade participou coletivamente da implantaccedilatildeo de uma unidade da
tecnologia social denominada Produccedilatildeo Agroecoloacutegica Integrada e Sustentaacutevel
(PAIS) em 2012 com o objetivo de produzir alimentos saudaacuteveis e preservar o meio
ambiente trazendo mais alimentos e renda ao campo Esta tecnologia popularmente
conhecida como ldquohorta mandalardquo foi ministrada durante o curso de capacitaccedilatildeo
promovido pela Fundaccedilatildeo Banco do Brasil e teve o meacuterito de proporcionar o debate
e a participaccedilatildeo democraacutetica na definiccedilatildeo das culturas a serem cultivadas na futura
propriedade Vale informar que o assentamento Renascer identificou-se com esse
paradigma agroecoloacutegico
A educaccedilatildeo ambiental faz parte do dia a dia da comunidade hoje preserva-se
conservaccedilatildeo das formas de vida vegetais e animais na regiatildeo do assentamento e
entorno
A produccedilatildeo de mudas no viveiro eacute bastante concorrida contando com a
participaccedilatildeo de todos O viveiro produz cinco mil (5000) mudas de espeacutecies nativa
do cerrado para o reflorestamento das nascentes de aacutegua e nas aacutereas degradadas
da regiatildeo Contam com o apoio da FUNATURA FUNDACcedilAtildeO BANCO DO BRASIL
IFB Rio Satildeo Bartolomeu Vivo e UnB
-36-
38
39
Quarto Capiacutetulo
A escola que queremos expectativas e sonhos dos
acampados do Assentamento Renascer
Pode-se observar pelas falas dos entrevistados que a realidade de todos
converge para os problemas estruturais do Brasil faltam escolas no campo eacute baixa
a escolaridade em Brasiacutelia todos exercem atividades de subemprego
Todos tecircm grandes expectativas com relaccedilatildeo agrave vida futura no assentamento
objetivando melhores condiccedilotildees de vida na esperanccedila de serem beneficiaacuterios
enquanto cidadatildeos assentados das Poliacuteticas Puacuteblicas e financiamentos agriacutecolas
voltadas para a agricultura familiar como PRONAF PAA PNAE e PAPA-DF Vecircem
aiacute a possibilidade de emprego e renda situaccedilatildeo sonhada desde quando foram
pleitear a terra para reforma agraacuteria
Um olhar mais aprofundado sobre a anaacutelise de dados revela que natildeo importa o
fato de hoje residirem no DF pois como em qualquer lugar de origem os moradores
do assentamento Renascer vivenciam os mesmos problemas Percebe-se
claramente as dificuldades da inexistecircncia de escola no campo A distacircncia continua
impedindo o acesso os meios de transportes continuam precaacuterios os filhos
vivenciam a dificuldade de transferecircncia para a cidade na expectativa de
continuidade dos estudos as estradas rurais continuam esburacadas
Satildeo muitos os pontos em comum entre a situaccedilatildeo atual relatada e os problemas
vividos haacute deacutecadas em seus estados de origem o que deixa transparecer a absoluta
falta de interesse por parte do poder puacuteblico em garantir o direito constitucional agrave
educaccedilatildeo do povo do campo o que infelizmente continuaraacute deixando o triste
legado para o futuro do paiacutes
40
Repetimos a pergunta da inicial Cadecirc as escolas do campo Ateacute quando o paiacutes
vai viver essa situaccedilatildeo A anaacutelise de dados responde Natildeo eacute mais possiacutevel
continuar como estaacute
Todos os entrevistados pretendem alcanccedilar conhecimentos atraveacutes da escola do
campo implantada no Assentamento Renascer com objetivos de administrar a
propriedade participar ativamente do coletivo garantir renda fixa atraveacutes dos
programas de desenvolvimento da agricultura familiar
Os entrevistados unanimamente tecircm a preocupaccedilatildeo da manutenccedilatildeo dos laccedilos
familiares e das raiacutezes camponesas
A distacircncia entre a moradia e a escola fato relatado pela quase totalidade dos
entrevistados constitui um grande motivo de evasatildeo escolar de defasagem nas
seacuteries frequentadas de precariedade na aprendizagem em relaccedilatildeo aos demais
alunos A discriminaccedilatildeo alegada por muitos que frequentaram ou frequentam
escolas fora da faixa etaacuteria o vernaacuteculo proacuteprio dos sujeitos do campo as condiccedilotildees
precaacuterias da estrada que denunciam a condiccedilatildeo de assentado o sentimento de
inadequaccedilatildeo constituem fatores que determinam a evasatildeo escolar
Foram treze (13) entrevistados significando aproximadamente dez por cento
(10) dos moradores do Assentamento Renascer Desse total apenas dois (2)
entrevistados natildeo declararam dificuldade de distacircncia entre a moradia e a escola em
seus lugares de origem A maioria absoluta (11) pessoas declararam que a distacircncia
dificultava e impedia o acesso agrave escola Alguns relatos apresentam situaccedilotildees
precaacuterias para o homem do campo o assentado
Para o aluno do campo a distacircncia da escola tem o significado de inexistecircncia de
escola Isto porque as dificuldades de acesso satildeo enormes No caso em estudo
apenas um entrevistado declarou a inexistecircncia de escola em sua regiatildeo de
moradia Este poreacutem vivenciou todas as dificuldades de acesso que outros
assentados apresentaram em razatildeo da distacircncia moradiaescola
A falta de professores na escola rural eacute relatada por 11 dos 13 entrevistados A
distacircncia da escola para os professores dificulta segundo a vivecircncia dos
entrevistados o acesso agrave escola e a assiduidade o que muito desmotivava a
ambos
41
Os entrevistados conforme anaacutelise de dados desejam muito objetivamente a
implantaccedilatildeo imediata de escolas segundo os criteacuterios caracteriacutesticos de escola do
campo
- Trazer a realidade para dentro da escola do campo curriacuteculos voltados para o
cotidiano do aluno do campo onde as teacutecnicas agriacutecolas pecuaacuterias e agroecoloacutegicas
possam fazer parte do processo educativo da comunidade e que a escola tenha
uma gestatildeo coletiva democraacutetica com a participaccedilatildeo da comunidade
- Ter o trabalho como princiacutepio educativo A experiecircncia do aluno deve
harmonizar-se com os princiacutepios pistrakianos significar o trabalho de forma a que
ele apresente benefiacutecios para o proacuteprio indiviacuteduo para a comunidade na qual estaacute
inserido e para a sociedade e natildeo exclusivamente para servir ao capitalismo
-Superar a fragmentaccedilatildeo do conhecimento disciplinar A interdisciplinaridade
deve fazer parte dos objetivos educacionais de modo a promover a formaccedilatildeo
integral dos educandos
- Valorizar os saberes do homem do campo Os entrevistados desejam uma
escola onde possam exercitar sua vivecircncia campesina e a relaccedilatildeo dialoacutegica entre
professor-aluno seguindo a pedagogia de Paulo Freire o educando quer aprender
com o educador mas quer tambeacutem ter a oportunidade de transmitir seus saberes
- Promover espaccedilos de gestatildeo coletiva A proacutepria comunidade deve participar da
gestatildeo a elaboraccedilatildeo do PPP deve gerir o espaccedilo fiacutesico da escola para atividades
de interesse da comunidade ocupar espaccedilos para finalidades culturais esportivas
sociais tornando a escola um espaccedilo democraacutetico
- Garantir a presenccedila da comunidade e dos movimentos sociais que geram
processos que auxiliam a emancipaccedilatildeo social A escola deve tambeacutem ser espaccedilo
que auxilie a sustentabilidade e garanta a alimentaccedilatildeo saudaacutevel e recursos
fitoteraacutepicos em associaccedilatildeo com a comunidade
- Inclusatildeo tecnoloacutegica em todos os aspectos digital inovaccedilatildeo tecnoloacutegica
agropecuaacuteria recursos ambientais alternativos agua potaacutevel energia solar energia
eoacutelica fossa seacuteptica teacutecnicas de compostagem saneamento baacutesico cuidados com
os recursos hiacutedricos
A anaacutelise dos dados quando feita especificamente sobre a escola a ser
implantada pode aparentemente demonstrar uma pequena conexatildeo com as teorias
da escola do campo
42
A concepccedilatildeo da escola do campo natildeo pode ser imposta ela parte do princiacutepio
que os camponeses devem conquista-la Para essa conquista eacute necessaacuteria a
paixatildeo o desejo por algo ainda natildeo experimentado o amadurecimento poliacutetico-
social-pessoal a participaccedilatildeo coletiva na luta e na conquista
A trajetoacuteria de luta por educaccedilatildeo da comunidade Renascer apresenta estes
elementos agraves vezes difusos outras vezes mais claramente A escola bem que
poderia para alguns ser apenas uma escola rural Afinal aprender a ler e a
escrever ldquodireitordquo como alguns dizem ou seja deixar a condiccedilatildeo de analfabeto ou
analfabeto funcional para tornar-se letrado significaria avanccedilos em face das atuais
circunstacircncias Alguns entendem assim expressando-se principalmente nas
conversas informais
Apesar disso quando as respostas informais ou quando as respostas das
entrevistas satildeo analisadas mais profundamente identificamos que embora
difusamente todos desejam o programa educacional da escola do campo
Explicando melhor a participaccedilatildeo de todos da comunidade em todas as atividades
soacutecio-poliacuteticas-culturais (relatadas no terceiro capitulo) indicam que a comunidade
assimilou a postura soacutecio-politica-cultural que caracterizam a escola do campo
A vivecircncia do Assentamento Renascer no cotidiano e nos eventos coletivos
amadureceu o desejo pelo alimento intelectual cultural artiacutestico ambiental social
que a concepccedilatildeo de escola do campo introduz O programa educacional da Escola
do Campo ultrapassou as paredes fiacutesicas da escola e alcanccedilou o cotidiano dos
assentados
Os avanccedilos da conscientizaccedilatildeo e seu reflexo na vida do Assentamento Renascer
satildeo sentidos nos nuacutemeros de matriculados na LEdoC sete (7) alunos
aproximadamente dez (10) assentados prestaratildeo o proacuteximo vestibular trecircs (3)
assentados estatildeo matriculados no IFB dois(2) assentados estatildeo formados em
Teacutecnico Agropecuaacuterio tambeacutem pelo IFB um deles cursa o Tecnoacutelogo de
Agroecologia tambeacutem do IFB
Vale acrescentar que no iniacutecio de 2014 quando o IFB buscou no Assentamento
pessoas interessadas em matricular-se em seus cursos sob a condiccedilatildeo de
estudarem no ensino meacutedio o interesse foi grande e a impossibilidade pelo fato de
natildeo estarem habilitados no ensino fundamental provocou tanta discussatildeo que
estimulou essa pesquisa
43
O legado desses alunos futuros alunos e profissionais para o futuro do
Assentamento apresentaraacute resultados significativos para toda a comunidade O
futuro colheraacute bons frutos plantados agora
A escola que temos natildeo estaacute funcionando falta a renovaccedilatildeo do contrato o que
atrasa a alfabetizaccedilatildeo e conclusatildeo do 5ordm ano Falta a implantaccedilatildeo de poliacuteticas
puacuteblicas para atendimento de questotildees baacutesicas como por exemplo carteiras
quadro de giz iluminaccedilatildeo espaccedilo fiacutesico (dependecircncias para a escola) e mobiliaacuterio
-41-
44
Consideraccedilotildees Finais
A Educaccedilatildeo do campo eacute um movimento em que os trabalhadores do campo e
suas organizaccedilotildees lutam por transformaccedilotildees sociais particularmente a criaccedilatildeo de
escolas dono campo de qualidade a partir de uma perspectiva ampla de reforma
agraacuteria
A construccedilatildeo da educaccedilatildeo do campo eacute resultado do amadurecimento dos
movimentos sociais e das comunidades rurais em sua trajetoacuteria de luta pelo direito
fundamental agrave universalizaccedilatildeo escolar para as populaccedilotildees camponesas segundo
orientaccedilatildeo poliacutetico-pedagoacutegica adequada agrave realidade dos lutadores de
acampamentos e assentamentos em luta pela reforma agraacuteria e justiccedila social
Alguns princiacutepios caracterizam a luta pela escola do campo Dentre eles
podemos citar a criaccedilatildeo da consciecircncia do direito agrave educaccedilatildeo de qualidade plantada
na proacutepria comunidade o que provoca o enraizamento a valorizaccedilatildeo da vida no
campo a promoccedilatildeo da autoestima e a transformaccedilatildeo do ser alienado pela ideologia
e desigualdade social e sujeito de sua proacutepria histoacuteria
Outro princiacutepio eacute a adequaccedilatildeo de curriacuteculos agrave realidade camponesa de modo
a que o processo ensino-aprendizagem favoreccedila o amadurecimento de talentos
naturais o surgimento de oportunidades a niacutevel pessoal e social contribuindo para a
emancipaccedilatildeo poliacutetico-social do indiviacuteduo com reflexos na sociedade
A mudanccedila de paradigmas e o envolvimento social provocam a formaccedilatildeo integral
dos sujeitos que lutam de forma coletiva e solidaacuteria pela terra A escola do campo
que surge dessa mudanccedila eacute tambeacutem transformadora porque eacute fruto da luta
consciente que gera a reflexatildeo e o amadurecimento poliacutetico deixando um legado
positivo de cidadatildeos orgulhosos de sua condiccedilatildeo de lutador pela terra de sua
identidade de sua cultura de sua comunidade e coletividade
A escola do campo propicia aos alunos a reflexatildeo sobre o contexto social e a
problemaacutetica da comunidade em que estatildeo inseridos o respeito agrave individualidade a
ampliaccedilatildeo das potencialidades do aluno para organizar elaborar e atuar
coletivamente Deixam o legado futuro de homens responsaacuteveis mentes
independentes e atuantes que poderatildeo prestar serviccedilos significativos agrave sociedade
45
A comunidade assentada de o Assentamento Renascer pela Reforma
Agraacuteria em Sobradinho DF foi convidada a opinar sobre a escola que deseja a
partir da conquista da terra
O modelo proposto a partir de seu posicionamento possibilita a conclusatildeo
de que a escola do campo plantada na comunidade eacute preferiacutevel ao modelo
adotado atualmente de inserccedilatildeo dos alunos da comunidade agraves escolas urbanas
conter recursos materiais e humanos que propiciem bons resultados
pedagoacutegicos deve servir para fixar o trabalhador ao campo deve cumprir com o
propoacutesito constitucional de universalizaccedilatildeo do ensino para todas as faixas
etaacuterias deve estar identificada com os sonhos de prosperidade material e
realizaccedilatildeo pessoal dos assentados
-46-
46
Referecircncias Bibliograacuteficas
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OLIVEIRA Maria Rita Duarte em sua dissertaccedilatildeo ldquoDos programas oficiais para a educaccedilatildeo rural aos projetos de educaccedilatildeo do campo dos movimentos sociaisrdquo WWWrevistalaborufcbrartigovolume1maria-ritapdf acesso em 08-09-2014
OLIVEIRA Maria Rita Duarte PEDAGOGIA EM MARCHA Apud ARROYO Satildeo Paulo1995( pg 162)
OLIVEIRA Maria Rita Duarte Revistalabor ufcbracesso em 19-10-2014
________ citando CALAZ Maria Rita Duarte Oliveira
47
SANTOS Clarice Aparecida PROGRAMA NACIONAL DE EDUCACcedilAtildeO NA REFORMA AGRAacuteRIA in DICIONARIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia2012(pg630)
________ Clarice Aparecida PROGRAMA NACIONAL DE EDUCACcedilAtildeO NA REFORMA AGRAacuteRIA BRASIacuteLIA 2012 pg 631 in DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO SANTOS Claudio Felix Dos ldquoO aprender a aprender na formaccedilatildeo de professores do campordquo Campinas 2013 Editora Autores Associados ) SOUZA Maria Antocircnia Movimentos Sociais no Brasil Contemporacircneo participaccedilatildeo e possibilidades no contexto das praacuteticas democraacuteticas ndash (wwwcesucptlab2004pdfMariaAntonia Souzapdfaceso em 24-07-2014 -48-
48
Apecircndices
1 Roteiro das Entrevistas
a) Dados dos entrevistados
Qual o seu nome
Masculino ( ) Feminino ( )
Quantos anos vocecirc tecircm
A quanto tempo mora no
assentamento
Onde vocecirc morou antes
de morar no
assentamento
Quantos anos vocecirc tinha
quando foi a escola pela
primeira vez
Estou ateacute qual seacuterieano
Quantos anos vocecirc tinha
quando parou de estudar
Qual motivo motivou vocecirc
a parar de estudar
Se tiver escola no
assentamento vocecirc voltaraacute
a estudar Porque
B) Outras informaccedilotildees dados pelos entrevistadosas (GRAVAR)
a) Em qual escola vocecirc estudou no acampamento ou em outro lugar Qual
b) Como era a escola que estudou Quais as coisas boas e coisas ruins que
tinha nesta escola
c) Conte como eacutefoi a educaccedilatildeo do assentamento o que jaacute existiu de escola
como funcionou e quais eram as boas e as coisas ruins desta escola
d) Jaacute participou de alguma accedilatildeo de mobilizaccedilatildeo para ter escola no
assentamento Se sim explique para que e como foi essa mobilizaccedilatildeo
e) Na sua opiniatildeo no assentamento deve ter escola Por quecirc
f) Como deveraacute ser a escola da comunidadeassentamento Como eacute a escola
que queremos ter
49
b) Entrevistas semi-estruturadas
Entrevistado 01
Moro no assentamento Renascer haacute 11 anos Nasci Carnauacuteba no Rio Grande do
Norte fui criado na roccedila e desde pequeno trabalhava na lavoura para ajudar meu
pai Fui para escola com 9 anos de idade estudei ateacute a 5ordm seacuterie parei de estudar
com 17 anos natildeo continuei os estudos porque era muito longe de onde eu morva
que era na cidade mais proacutexima eu tinha que andar a peacute 8 km ficava muito
cansado Casei e vim morar em Brasiacutelia para trabalhar em uma chaacutecara como
caseiro Morava na chaacutecara Buritis em sobradinho- Df tambeacutem natildeo dei para
continuar os estudos porque ficava longe e tinha que ser a noite e natildeo tinha como ir
Se vier uma escola pra caacute eu ainda vou estudar para ter mais conhecimento para
plantar minha roccedila ir no banco pra ver se assino um empreacutestimo para melhorar
minha produccedilatildeo e saber fazer conta pra administrar minha parcela de terra
Qual o seu nome
Masculino ( X ) Feminino ( )
Quantos anos vocecirc
tecircm
57 anos
A quanto tempo
mora no assentamento
11 anos
Onde vocecirc morou
antes de morar no
assentamento
Carnauacuteba ndash RN
Chaacutecara Buritis nordm 10 Sobradinho DF
Quantos anos vocecirc
tinha quando foi a escola
pela primeira vez
8 anos
Estou ateacute qual
seacuterieano
5ordf seacuterie
Quantos anos vocecirc
tinha quando parou de
estudar
24 anos
Qual motivo
motivou vocecirc a parar de
estudar
Trabalhar para sustento da famiacutelia a
distacircncia entre a casa e a escola
Se tiver escola no
assentamento vocecirc voltaraacute
a estudar Porque
Sim ldquoSe tivesse escola do ensino
fundamental voltaria a estudar para tecirc
mais conhecimento para plantar minha roccedila
50
saber pesar saber contar vendecirc os produto e
comecirc
Entrevistado 02
Moro no assentamento renascer haacute 7 anos tenho 38 vim do interior do Cearaacute
Entrei na escola com 7 anos de idade estudei soacute a 5ordm seacuterie incompleta natildeo
continuei a estudar porque natildeo tinha escola a onde eu morava que era na roccedila e eu
tinha que ficar na casa dozotro (SIC) na cidade e eu natildeo gostava disso natildeo ai parei
com 16 anos de idade Mudamo (SIC) pra Brasiacutelia pra uma chaacutecara perto de Santa
Maria-DF e natildeo dei pra estudar porque casei e tinha que trabalhar muito para
susrentar a famiacutelia A gora moro no assentamento Renascer e sei que um dia vai ter
uma escola aqui e eu vou voltar a estudar porque meu sonho eacute ser veterinaacuterio e vou
der se deus quiser
Entrevistado 03
Tenho 58 anos moro no assentamento Renascer haacute 6 anos vim de Ceres-GO
comecei a estudar quando eu tinha 10 ano de idade estudei ateacute a 4ordf seria primaacuteria
(SIC) parei de estudar quando tinha 16 anos porque eu morava na roccedila e escola
ateacute que natildeo ficava muito longe natildeo era soacute 2 km dava pra ir a peacute a professora eacute que
faltava muito e a gente natildeo tinha como saber se ela tava ou natildeoAiacute quando eu tinha
18 anos casei e vim morar em Brasiacutelia e arranjei(SIC) emprego de caseira em uma
chaacutecara aiacute natildeo pra estudar a noite porque era muito longe pra laacute entatildeo eu natildeo
pensei mais nessas coisas Quando tiver escola no assentamento quero estudar
quiecirc pra mim (SIC) fazer curso de teacutecnico agriacutecolarsquorsquo
Entrevistado 04
Tenho 24 anos moro no assentamento Renascer tem 6 ano vim da Bahia morava
no Condomiacutenio RK entrei na escola com 7 anos de idade e estudei soacute ateacute a 6ordf seacuterie
parei com 18 anos de idade
Porque mudei pra caacute pro assentamento (SIC) e natildeo tem escola e natildeo tem como ir
pra Sobradinho a noite porque eacute muito longe tem que andar 5 km eacute pirigogo (SIC)
tem muita gente mal por aiacute tem ateacute estrupador natildeo posso me arriscar
ldquoSe tivesse escola aqui eu ia terminar meus estudos podia ser no galpatildeo mesmo
pra mim tava bom mas para os meus filhos eu queria uma escola boa com internet
e tudo Eu natildeo gosto que meus filhos estuda(SIC) na cidade soacute aceito porque eacute o
jeito gente de assentamento eacute muito zombado (SIC) porque as vezes chega suja
na escola e os outros acha que eles satildeo porcos que toma banhordquo
Entrevistado 05
51
Tenho 21 anos de idade moro no Renascer haacute trecircs anos vim de satildeo Gabriel-GO
comecei a estudar aos 7 anos parei com 18 anos porque minha matildee mudou
pro(SIC) matildee mudou pro (SIC) assentamento haacute 6 anos e eu natildeo aguento morar
longe dela Quando cheguei aqui natildeo teve como continuar os estudos porque
trabalho durante o dia como manicure em Sobradinho e o uacuteltimo ocircnibus que passa
perto do assentamento eacute as 5 horas da tarde entatildeo natildeo daacute para estudar a noite
Sim porque quero fazer um curso de cabelereiro quando tiver aacutegua e luz aqui eu
quero montar um salatildeo de beleza e para ser uma empresaacuteria precisa ter estudos pra
administrar o negoacutecio
Entrevistado 06
44 anos
6 anos
Formosa-GO
8 anos
5ordf seacuterie
24 anos
Porque a escola mais perto(SIC) era 10km de distacircncia e eu trabalhava na roccedila e
ficava muito cansado aiacute parei natildeo deu mais
Sim quando tiver escola aqui eu vou voltar a estudar Eu tinha um sonho de ser
agroacutenomo mas esse sonho eacute impussive(SIC) entatildeo queria concluir o ensino
fundamental para fazer um curso de teacutecnico agriacutecola no IFB mas tambeacutem eacute longe
se tivesse como estudar aqui no assentamento eu ia(SIC) ficar muito feliz
Entrevistado 07
57 anos
6 anos
Parnaiacuteba-PI- Santa Maria- DF
7 anos
4ordf seacuterie
21 anos
Parei porque era muito difiacutecil ir para escola que ficava muito longe eu tinha que sair
de casa as 4hs da madrugada para chegar na escola as 730 ia montado num
cavalo e muitas vezes natildeo tinha professora pra dar aula Parei porque natildeo aguentei
o rojatildeo tinha que minha matildee na lida a tarde e eu ficava muito cansado Vim pra
52
Brasiacutelia e casei fui trabalhar de chacareiro numa chaacutecara que tambeacutem era longe de
escola depois vim morar aqui no assentamento que natildeo tem escola
Se tivesse escola aqui eu ia voltar estudar soacute pra aprender a cuidar meior (SIC) da
terra e dos meus bichos e que fosse como uma escola agriacutecola
Entrevistado 08
Tenho 29 anos moro no assentamento Renascer haacute 2 anos sou educadora do
Pronera haacute 1 ano e 2 meses O Pronera eacute como um antidepressivo na vida de muita
gente o Pronera melhorou a minha vida e a vida dos meus alunos o desejo de
todos eacute que o Pronera continue crescendo em direccedilatildeo de uma educaccedilatildeo continuada
levando tambeacutem o ensino fundamental para os acampamentos e assentamentos da
Reforma Agraacuteria
-50-
Anexos
53
Acampamento agrave beira da estrada ndash 2004
Construccedilatildeo da Sede do Movimento na atual aacuterea
54
Reuniatildeo semanal
Teatro de fantoches ndash brinquedoteca
55
Accedilatildeo da Pastoral da Crianccedila na brinquedoteca
Oficina de brinquedos reciclaacuteveis
56
Brinquedo confeccionado com materiais reciclaacuteveis na Brinquedoteca
57
58
59
60
Apresentaccedilatildeo teatral
61
Capacitaccedilatildeo em Economia Solidaacuteria
Formaccedilatildeo de multiplicadores da Economia Solidaacuteria
62
Capacitaccedilatildeo de Educadores Ambientais
63
Luta pela Reforma Agraacuteria e Soberania Alimentar
17
O periacuteodo conhecido como Estado Novo (1937-1945) tentava implantar uma
poliacutetica educacional de cunho nacionalista tornando a educaccedilatildeo um instrumento do
estado servindo aos seus interesses
Os adultos analfabetos particularmente no meio rural tiveram atenccedilatildeo da
Campanha Nacional de Educaccedilatildeo Rural (CNER) de 1952 a 1963 cujo objetivo era
contribuir para a inserccedilatildeo do homem do campo O CNER atuou atraveacutes de missotildees
internacionais dos Estados Unidos voltadas agrave educaccedilatildeo ao treinamento de
professores e agrave preparaccedilatildeo dos jovens do meio rural pelo ensino profissional
agriacutecola Agrave atividade do CNER podemos agregar a accedilatildeo da Comissatildeo Brasileiro-
Americana de Educaccedilatildeo das Populaccedilotildees Rurais (CBAR) que celebrou acordos entre
esses dois paiacuteses visando a educaccedilatildeo rural orientada para o emprego de teacutecnicas
agriacutecolas (OLIVEIRA 1999 p 133)
A educaccedilatildeo rural eacute chamada para se ajustar agraves poliacuteticas educacionais estabelecidas pelo projeto do estado A educaccedilatildeo rural em primeiro lugar apesar de numerosos programas desenvolvidos sempre representou uma fatia muito pequena e marginal nas preocupaccedilotildees do setor puacuteblico (OLIVEIRA p apud CALAZANS1981p162)
A educaccedilatildeo rural ocupou e ainda ocupa pequeno espaccedilo no universo
educacional brasileiro As escolas apresentam dificuldades para se manterem no
campo Conforme o Jornal Sem Terra nordm 46 jun2011 24000 escolas do campo
foram fechadas no Brasil As instalaccedilotildees o curriacuteculo a carecircncia de professores o
transporte escolar formam muitas vezes uma barreira quase imponiacutevel para uma
ampla gama de alunos particularmente das uacuteltimas seacuteries do ensino fundamental e
do ensino meacutedio
Os programas implantados nos uacuteltimos anos como o PRONERA e o EJA
apresentam soluccedilotildees e alcanccedilam grandes resultados mas podemos questionar os
resultados entre os estados O Rio Grande do Sul (que atendeu alunos do ensino
baacutesico ateacute o ensino superior) em comparaccedilatildeo com outros estados e o Distrito
Federal conseguiu excelentes resultados No DF falta alcanccedilar melhores
resultados Podemos questionar se os resultados satildeo adequados pois por exemplo
no assentamento Renascer o Pronera natildeo vai aleacutem do quinto ano Eacute necessaacuterio
uma poliacutetica educacional que leve em conta a realidade dos alunos do campo
18
invista recursos materiais e humanos modernizem as escolas e propiciem o acesso
dos alunos
Conforme nos explica Sousa 2004 em seu artigo lsquodiscursos intolerantes o
lugar da politica na educaccedilatildeo rural e a representaccedilatildeo do camponecircs analfabeto
No Brasil a trajetoacuteria da educaccedilatildeo rural inclui-se na dinacircmica de modernizaccedilatildeo do campo assumindo um papel decisivo no processo de expropriaccedilatildeo proletarizaccedilatildeo e controle dos trabalhadores rurais A modernizaccedilatildeo da produccedilatildeo no nordeste brasileiro por exemplo incentivou o processo de sindicalizaccedilatildeo em massa dos trabalhadores das zonas canavieiras estimulou reivindicaccedilotildees no campo do trabalho ligadas agrave aplicaccedilatildeo do Estatuto do Trabalhador Rural e contraditoriamente fez emergir as manifestaccedilotildees pela distribuiccedilatildeo de terras encampadas pelas Ligas Camponesas ( SOUSA2004 p4)
O projeto de modernizaccedilatildeo do campo ocorreu sem que houvesse a
emancipaccedilatildeo dos trabalhadores rurais Na verdade ocorreu a proletarizaccedilatildeo dos
trabalhadores rurais pela acumulaccedilatildeo de terras em matildeos de apenas poucos
proprietaacuterios (latifundiaacuterios) Esse acontecimento revela que apenas em processo
consciente e contiacutenuo de lutas organizados e unidos os trabalhadores rurais
poderatildeo conquistar terras e meios para sua produccedilatildeo
O estudo da organizaccedilatildeo dos trabalhadores rurais eacute importante porque eacute a
partir dela que outras grandes reivindicaccedilotildees satildeo conquistadas No caso da
presente pesquisa pode-se observar que foi a organizaccedilatildeo dos trabalhadores em
torno de suas causas a reforma agraacuteria que levou agrave luta pelas outras reivindicaccedilotildees
como a educaccedilatildeo no campo
O proacuteximo capiacutetulo deste trabalho monograacutefico aborda a questatildeo das
manifestaccedilotildees e resistecircncias dos camponeses pela educaccedilatildeo e pela reforma
agraacuteria
-16-
22 Trajetoacuteria de luta pela Educaccedilatildeo do Campo
A luta pela educaccedilatildeo do campo esteve sempre associada agrave luta pela reforma
agraacuteria e pela conquista de direitos para os trabalhadores rurais O Movimento das
19
Ligas Camponesas lutou pela emancipaccedilatildeo do trabalhador rural e da reforma agraacuteria
e em seu projeto educacional estavam baseados nos ideais de Paulo Freire e do
Movimento de Educaccedilatildeo de Base (MEB)
Para explicar a reaccedilatildeo das classes populares agraves imposiccedilotildees do governo
brasileiro e das classes dominantes Oliveira (1995 apud ARROYO)
A histoacuteria das lutas entre as classes sociais natildeo se limitam agrave luta pelo poder mas se constituem impulsionadoras da histoacuteria da humanidade que natildeo aguardam passivamente seu destino mas ao contraacuterio articulam-se em torno de suas lutas para garantir seus direitos sua dignidade e sua participaccedilatildeo democraacutetica na sociedade( OLIVEIRA apud ARROYO1995p 80)
Neste sentido as Ligas Camponesas lutaram praticamente em todo o
territoacuterio nacional contra a tentativa de expulsatildeo dos trabalhadores rurais das terras
Os conflitos armados particularmente no Nordeste exigiam participaccedilatildeo poliacutetica e
direitos essenciais como a educaccedilatildeo do campo
O meacutetodo de alfabetizaccedilatildeo criado por Paulo Freire foi amplamente utilizado
pelas Ligas Camponesas e em sua concepccedilatildeo ampla de escola serviu de subsidio
para a compreensatildeo do camponecircs acerca de seu papel social (TOLEDO Caio
Navarro 2004 p6)
Neste contexto surge a Pedagogia do Oprimido de Paulo Freire Segundo
SANTOS (2013 apud Paulo Freire 1987) afirma que a pedagogia do oprimido
configura-se como
Aquela que tem de ser forjada com ele (o oprimido) e natildeo para ele enquanto homens ou povos na luta incessante de recuperaccedilatildeo de sua humanidade Pedagogia que faccedila da opressatildeo e de suas causas objeto de reflexatildeo dos oprimidos de que resultaraacute o seu engajamento necessaacuterio na luta por sua libertaccedilatildeo em que esta pedagogia se faraacute e refaraacuterdquo (FREIRE 1987 p32)
A pedagogia do oprimido serve de referecircncia para o trabalhador rural que luta
pela emancipaccedilatildeo de sua condiccedilatildeo de proletaacuterio atraveacutes da reforma agraacuteria A
pedagogia do oprimido leva o homem ao encontro de si mesmo ao reconhecimento
da grandeza de seu trabalho ao potencial de suas accedilotildees cotidianas que fazem a
diferenccedila A capacidade de reflexatildeo e o entendimento de sua potencialidade pode
leva-lo agrave sua plena realizaccedilatildeo como indiviacuteduo e como ser social
20
A reaccedilatildeo do governo contra o movimento de educaccedilatildeo popular proposto por
Freire e assumido pelo Movimento das Ligas Camponesas e pelo Movimento de
Educaccedilatildeo de Base (MEB) gerou repressatildeo e resposta da ditadura civil-militar como
o Movimento Brasileiro de Alfabetizaccedilatildeo (MOBRAL)
A luta dos movimentos sociais e sindicais pela educaccedilatildeo do campo parte das
forccedilas internas dos movimentos e alcanccedila a setores sociais religiosos ideoloacutegicos
que passam a contribuir efetivamente para o alcance do direito agrave educaccedilatildeo aos
camponeses
A Comissatildeo Pastoral da Terra (CPT) presente ao lado dos trabalhadores (as)
rurais indiacutegenas ribeirinhos pescadores e quilombolas tambeacutem contribuiu e
contribui para a formaccedilatildeo criacutetica a defesa de formas sustentaacuteveis de utilizaccedilatildeo de
recursos naturais e produccedilatildeo e para a alfabetizaccedilatildeo segundo o meacutetodo de Paulo
Freire (CANUTO 2012 p 131)
Na atualidade estaacute em desenvolvimento um movimento que luta pela educaccedilatildeo do homem do campo organizado por vaacuterias entidades dentre elas o MST Trata-se de um processo que teve inicio em meados dos anos de 1990 impulsionados pela necessidade da educaccedilatildeo de jovens e adultos das aacutereas de assentamentos rurais Foi organizado um Programa Nacional para Educaccedilatildeo na Reforma Agraacuteria composto por atores tais como movimentos sociais universidades e governo federal aleacutem de outros parceiros (Alas da Igreja Sindicatos Organizaccedilatildeo Natildeo-Governamental ONG) existentes nas diferentes regiotildees do Brasil( SOUSA2004 p 32)
A trajetoacuteria de conquista das escolas do campo particularmente as escolas
do campo criadas pelo MST a partir da deacutecada de 1990 foi marcada pela conquista
e implantaccedilatildeo da Educaccedilatildeo Fundamental para crianccedilas e adolescentes dos
acampamentosassentamentos de acordo com o projeto politico-pedagoacutegico fruto do
amadurecimento do movimento
Focou-se a alfabetizaccedilatildeo de jovens e adultos e as lutas pela implantaccedilatildeo do
ensino meacutedio com cursos alternativos para a formaccedilatildeo de professores e teacutecnicos de
niacutevel meacutedio e tambeacutem de cursos superiores
A concepccedilatildeo de escolas de ensino fundamental plantadas em assentamentos
prevecirc a instalaccedilatildeo da escola na proacutepria comunidade evitando com isso o uso de
transporte escolar e a frequecircncia dos alunos Sem Terra em escolas fora do
assentamento
21
Esta atitude de resistecircncia foi fundamental para a conquista da escola nas
terras conquistadas e tambeacutem foi fundamental para universalizar o ensino enraizar
o aluno em sua comunidade e criar a consciecircncia do direito agrave educaccedilatildeo
ldquoincomodandordquo o Estado para garantir o cumprimento das poliacuteticas puacuteblicas
Kolling Vargas e Caldart (2012p502) nos ensinam ldquotoda vez que se
conquista uma escola de educaccedilatildeo baacutesica em um assentamento ou acampamento
ela representa menos adolescentes e jovens do campo fora da escola e mais gente
enraizada em seu proacuteprio lugarrdquo (pag 502)
Os movimentos sociais e sindicais pela educaccedilatildeo do campo indicam o grau
de maturidade desses em sua luta pela reforma agraacuteria Agrave essa luta soma-se o
projeto de desenvolvimento do paiacutes baseado na justiccedila social e o combate agraves
tradicionais formas utilizadas pelas elites urbanas ou rurais de alienaccedilatildeo pela
expropriaccedilatildeo do trabalho e pelo controle dos meios que levam agrave emancipaccedilatildeo
sociocultural e agrave verdadeira humanizaccedilatildeo papel destinado agrave educaccedilatildeo
Neste sentido movimentos sociais como o MST inserem a educaccedilatildeo
baseada em princiacutepios pedagoacutegicos que se distinguem da escola tradicional
Numa perspectiva histoacuterica os movimentos sociais do campo como por
exemplo o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) tiveram inicialmente
como bandeira de luta a luta pela terra pela Reforma Agraacuteria natildeo fazendo uma
relaccedilatildeo entre essa luta e a educaccedilatildeo
A formaccedilatildeo de escolas do campo pelo MST natildeo foi resultado da consciecircncia e
importacircncia da escola para a promoccedilatildeo da educaccedilatildeo em seu meio Foi na verdade
a necessidade de oferecer aos filhos dos primeiros lutadores a oportunidade de
uma perspectiva melhor de futuro atraveacutes do direito agrave educaccedilatildeo Foi tambeacutem a
necessidade de ldquotransformar instituiccedilotildees histoacutericas como a escola em lugares que
ajudem a formar os sujeitos destas transformaccedilotildeesrdquo (CALDART2012 p94)
Desse modo houve primeiro a ldquoocupaccedilatildeo da escolardquo pela mobilizaccedilatildeo e pela
accedilatildeo para garantir que em acampamentos ou assentamentos conquistados
houvesse uma escola que ldquofizesse a diferenccedila ou tivesse realmente sentido em sua
vida presente e futura (preocupaccedilatildeo com os filhos)rdquo (CALDART2012 p91)
Num segundo momento da luta observa-se intencionalidade da luta pela
escola mas com proposta pedagoacutegica especiacutefica ldquocombinando processos de
22
escolarizaccedilatildeo e de formaccedilatildeo da militacircncia e da base social Sem Terrardquo
(CALDART2012 p92)
As experiecircncias de pensar escolas como polos regionais entre assentamentos e com estudantes de outras comunidades de camponeses aos poucos vatildeo educando o olhar dos trabalhadores Sem Terra para uma realidade mais ampla Foi assim que o MST chegou agrave EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO (KOLLING Vargas e Caldart 2012 p 502)
A escola dentro dessa perspectiva de mudanccedila e envolvimento social eacute
parte da luta pela reforma agraacuteria daacute significado a ela pois proporciona a formaccedilatildeo
integral dos sujeitos que lutam pela terra
Essa escola possibilita a reflexatildeo trava o diaacutelogo com as propostas de
educaccedilatildeo popular de Paulo Freire e busca superar as dificuldades imensas que
assentados e acampados vivem no dia a dia
A escola tambeacutem revela a cultura o orgulho e criaccedilatildeo da identidade na luta
por terra Nesse sentido
A heranccedila que o MST deixaraacute para seus descendentes seraacute bem mais do que a terra que conseguir libertar do latifuacutendio seraacute um jeito de ser humano e de tomar posiccedilatildeo diante das questotildees de seu tempo seratildeo os valores que fortalecem e datildeo identidade aos lutadores do povo de todos os tempos de todos os lugares Eacute enquanto produto humano de uma obra educativa que os Sem Terra podem ser vistos como mais um elo que se forma em uma longa tradiccedilatildeo de lutadores sociais que fazem a histoacuteria da humanidade Enraizamento no passado e projeto de futuro (CALDART 2012 p 96)
A educaccedilatildeo proposta pelo movimento gera o sentimento de pertencimento e
desperta o sentimento de respeito agrave coletividade valoriza o trabalho a gestatildeo
democraacutetica e desburocratizada da escola
SANTOS (2013 p71) esclarece que pelo projeto educacional do MST a
educaccedilatildeo proposta estaacute pautada em ldquovalores socialistas e humanistas tais como o
coletivismo o trabalho socialmente uacutetil a organizaccedilatildeo e auto-organizaccedilatildeo dos
estudantes e professoresrdquo (p71)
-21-
23
221 Concepccedilatildeo Pedagoacutegica da Educaccedilatildeo do Campo
No acircmbito da educaccedilatildeo do homem do campo tornar o homem sujeito e natildeo
objeto do saber leva a entender que o conhecimento do camponecircs pode dialogar
com as praacuteticas baseadas no conhecimento cientiacutefico desde que seja perseguido o
ideal de trabalhadores e educadores do campo comprometidos com as lutas sociais
de formar o homem ldquodordquo campo e ldquono campordquo
Conforme Kolling Cerioli e Caldart (2002 p 264) ldquoo povo tem direito a uma
educaccedilatildeo pensada desde o seu lugar e com sua participaccedilatildeo vinculada agrave sua
cultura e agraves suas necessidades humanas e sociaisrdquo ndash(Caldart Educaccedilatildeo do Campo
2012 p 264
Tal compreensatildeo se ainda hoje causa oposiccedilatildeo ateacute mesmo no ambiente
acadecircmico imagine-se naquele momento histoacuterico de profunda repressatildeo poliacutetica e
ideoloacutegica aos movimentos sociais de camponeses por terra e educaccedilatildeo Como nos
ensina Molina e Saacute (DICIONAacuteRIO da Educaccedilatildeo do Campo p 324)
A concepccedilatildeo de escola do campo nasce e se desenvolve no bojo do movimento da EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO a partir das experiecircncias de formaccedilatildeo humana desenvolvidas no contexto de luta dos movimentos sociais camponeses por terra e educaccedilatildeo Trata-se portanto de uma concepccedilatildeo que emerge das contradiccedilotildees da luta social e das praacuteticas de educaccedilatildeo dos trabalhadores do e no campo (MOLINA e SAacute 2012 pag 324)
A concepccedilatildeo pedagoacutegica da educaccedilatildeo popular e da pedagogia da praacutetica
segundo ARROYO inclui
um caraacuteter de envolvimento totalizante dos movimentos sociais que possibilita ao individuo que participa destes coletivos o acesso a outro tipo de formaccedilatildeo que supera a condiccedilatildeo de aluno de alfabetizando de escolarizando Os integrantes destes organismos emersos na tensa situaccedilatildeo de conflitos aprendem por meio da vivencia das lutas sociais dos momentos de mobilizaccedilatildeo das situaccedilotildees limites de perda de emprego de criacuteticas da sociedade agraves suas accedilotildees de ameaccedilas agraves suas vidas Tudo isso traz ricas liccedilotildees ensinadas na ldquoescola do movimentordquo e que nenhuma teoria pode transmitir ou explicar de forma satisfatoacuteria
No entendimento de Arroyo (2013) os movimentos sociais vivem e
amadurecem sob o conhecimento e o entendimento das contradiccedilotildees sociais e esta
24
experiecircncia lhes permite a possibilidade de defender mudanccedilas radicais tanto no
campo como na cidade tanto na ideologia quanto no combate ao latifuacutendio e ao
capitalismo
Tamanho movimento social gera a reflexatildeo sobre as relaccedilotildees
socioeconocircmicas politicas culturais cuidado da natureza relaccedilotildees humanas
destaques de tudo o que interessa ao coletivo agrave sociedade
Eacute por meio do entendimento de que a realidade eacute criaccedilatildeo humana de como se estabelecem os processos de opressatildeo e ainda da noccedilatildeo de que podemos transformar essa realidade dado que a sociedade eacute mutaacutevel que se forma a praacutexis da luta accedilatildeo-conscientizaccedilatildeo-transformaccedilatildeo-libertaccedilatildeo Inserindo-se criticamente na histoacuteria os cidadatildeos tornam-se sujeitos construtores e reconstrutores da realidaderdquo
Molina e Saacute (2012) nos ensinam a partir do conceito de escola do campo sobre a
potencialidade da vivencia de praacuteticas coletivas para a valorizaccedilatildeo integral dos
sujeitos da coletividade do conhecimento cientiacutefico da gestatildeo coletiva da escola
dentre tantos avanccedilos e vitoacuterias dos movimentos sociais
O processo ensino-aprendizagem permite que o conceito de escola extrapole
o cotidiano de dificuldades e desafia agrave reflexatildeo que gera a emancipaccedilatildeo
Este eacute um dos maiores desafios e ao mesmo tempo uma das maiores possibilidades da escola do campo articular os conhecimentos que os educandos tecircm o direito de acessar a partir do trabalho com a realidade da religaccedilatildeo entre educaccedilatildeo cultura e os conhecimentos cientiacuteficos a serem apreendidos em cada ciclo de vida e de diferentes aacutereas do conhecimento(MOLINA MOURAtildeO 2012 p 329) -26-
222 Princiacutepios da Educaccedilatildeo do Campo
Alguns princiacutepios viabilizam o projeto de escola adotado pelos movimentos
sociais e possibilitam a democracia e a integraccedilatildeo de todos lideranccedila assentados e
acampados do movimento
25
O princiacutepio da responsabilidade coletiva sobre o planejamento a gestatildeo a
organizaccedilatildeo e a realizaccedilatildeo de tarefas em todas as esferas de atividades princiacutepios
muito valorizados pelos movimentos sociais do campo foram transferidos para o
projeto de educaccedilatildeo
O projeto eacute de responsabilidade coletiva e insere educadores tanto a niacutevel
local como regional e nacional os ldquoColetivos de educaccedilatildeordquo como satildeo conhecidos
Os coletivos de educaccedilatildeo com tarefas forccedila orgacircnica e discussotildees especiacuteficas que podem variar a cada periacuteodo fortalecem o princiacutepio organizativo de que a questatildeo da educaccedilatildeo bem como outras questotildees da vida social assumidas pelo MST deve ser pensada e implantada de forma coletiva Eacute uma loacutegica que implica tarefas a serem realizadas pelas pessoas mas mediante um planejamento e uma leitura de conjuntura feita por um coletivo (KOLLING1995 et al p503)
Para concretizar o projeto de educaccedilatildeo foi concebida a formaccedilatildeo de
professores pelos proacuteprios movimentos no acircmbito da proacutepria comunidade
(conhecidos como ldquoprofessores leigosrdquo) e tambeacutem pela rede oficial de ensino
A falta de titulaccedilatildeo de muitos educadores formados na comunidade natildeo
impede que os mesmos trabalhem juntos com os professores titulados e com
simpatizantes do movimento no projeto poliacutetico-pedagoacutegico constituindo um
princiacutepio democraacutetico importante para superar as dificuldades e urgecircncias para a
implantaccedilatildeo da educaccedilatildeo do campo
A democracia do processo de formaccedilatildeo de educadores tem reflexos amplos
a formaccedilatildeo de educadores pelos proacuteprios movimentos especiacutefica para atuaccedilatildeo nas
escolas do campo
O movimento eacute responsaacutevel pela universalizaccedilatildeo do ensino no acircmbito dos
territoacuterios conquistados ou por conquistar e permitiu a evoluccedilatildeo do ensino ateacute o niacutevel
de terceiro grau com a realizaccedilatildeo de cursos como a Licenciatura em Educaccedilatildeo do
Campo (LEdoC) do qual somos os privilegiados alunos aqui na Universidade de
Brasiacutelia
Outro reconhecimento e prova de eficiecircncia da formaccedilatildeo de professores eacute o
precircmio ldquoEducaccedilatildeo e Participaccedilatildeordquo recebido em 1995 do Fundo das Naccedilotildees Unidas
para a Infacircncia (Unicef)
26
O somatoacuterio das forccedilas internas e externas do movimento ldquoleigasrdquo ou
tituladas associadas ao princiacutepio fundamental da participaccedilatildeo dos alunos e
comunidades em todos os niacuteveis e localidades eacute ponto fundamental para o sucesso
da concepccedilatildeo do projeto pois permite o estudo a reflexatildeo conjunta sobre
estrateacutegias para o alcance do objetivo de educaccedilatildeo na reforma agraacuteria
-25-
223 Marcos Normativos da Educaccedilatildeo do Campo
Numerosos Marcos Normativos podem ser citados para explicitar qual perfil
de escola destinada ao camponecircs interessava ao governo e aos proprietaacuterios rurais
A Lei 4024 de 1961 em seu art 105 estabelece o
Apoio que poderaacute ser prestado pelo poder puacuteblico agraves iniciativas que mantenham na zona rural instituiccedilotildees educativas orientadas para adaptar o homem ao meio e estimular vocaccedilotildees e atividades profissionais (BRASIL 2012 p 4)
A Lei 5692 de 1971 ao tratar da educaccedilatildeo rural ldquonatildeo observa mais uma vez
a inclusatildeo da populaccedilatildeo na condiccedilatildeo de protagonista de um projeto social globalrdquo
sendo que o trabalho do campo realizado por alunos eacute ateacute mesmo incentivado
adequando-o ao calendaacuterio escolar (MARCOS NORMATIVOSBrasiacutelia2012 p 25)
A Lei 9394 de 1996 (Lei das Diretrizes se Bases da Educaccedilatildeo ndash LDB) em
acordo com Constituiccedilatildeo de 1988 e ldquoinspirada de alguma forma numa concepccedilatildeo
de mundo rural enquanto espaccedilo especifico diferenciado e ao mesmo tempo
integrado no conjunto da sociedaderdquo reconhece
A diversidade soacutecio-cultural e o direito agrave igualdade e agrave diferenccedila possibilitando a definiccedilatildeo de diretrizes operacionais para educaccedilatildeo rural sem no entanto recorrer a uma logica exclusiva e de ruptura com um projeto global de educaccedilatildeo para o paiacutes (idem p 26)
27
Os artigos 208 e 210 da Carta Magna-1988 e inspirada de numa concepccedilatildeo
de mundo rural enquanto espaccedilo especiacutefico diferenciado e ao mesmo tempo
integrado no conjunto da sociedade a Lei 939496- LDB-estabelece que
Art 28 Na oferta da educaccedilatildeo baacutesica para a populaccedilatildeo rural os sistemas de ensino promoveratildeo as adapta necessaacuteria agrave sua adequaccedilatildeo agraves peculiaridades da vida rural e de cada regiatildeo especialmente (MARCOS NORMATIVOS) Brasiacutelia 2012 p 25)
1- Conteuacutedos organizar curriculares e metodologias apropriadas agraves reais
necessidades e interesses dos alunos da zona rural
2-organizaccedilatildeo escolar proacutepria incluindo a adequaccedilatildeo do calendaacuterio escolar as
fases do ciclo agriacutecola e as condiccedilotildees climaacuteticas
3-adequaccedilatildeo agrave natureza do trabalho na zona rural (MARCOS NORMATIVOS)
Brasiacutelia 2012( p 26)
O movimento de educaccedilatildeo do campo luta haacute quinze (15) anos para fazer-se
cumprir esse Decreto da Lei de Diretrizes de base da educaccedilatildeo do campo-LDB
que apesar de ser constitucional ainda natildeo foi colocada totalmente em praacutetica
Agora com as lutas dos movimentos sociais eacute que estaacute comeccedilando a se concretizar
Artigo 26 Os curriacuteculos do ensino fundamental e meacutedio devem ter uma base nacional comum a ser complementada em cada sistema de ensino e estabelecimento escolar por uma parte diversificada exigida pelas caracteriacutesticas regionais e locais da sociedade
da cultura da economia e da clientela (MARCOS NORMATIVOS) Brasiacutelia 2012(p 26)
O Decreto nordm 7352 de 4 de novembro 2010 dispotildee sobre a poliacutetica de educaccedilatildeo do campo ao Programa Nacional de Educaccedilatildeo
na Reforma Agraacuteria-PRONERA decreta
Art1ordm A poliacutetica de educaccedilatildeo do campo destina-
se agrave ampliaccedilatildeo e qualificaccedilatildeo da oferta de educaccedilatildeo baacutesica e superior agraves populaccedilotildees do campo e seraacute desenvolvida pela Uniatildeo em regime de colaboraccedilatildeo com os Estados o
28
Distrito Federal e os Municiacutepios de acordo com as diretrizes e metas estabelecidas no Plano Nacional de Educaccedilatildeo e o disposto neste Decreto
Para os efeitos deste Decreto entende-se por
l-populaccedilatildeo do campo os agricultores familiares os extrativistas os pescadores
artesanais os ribeirinhos os assentados e acampados da reforma agraacuteria os
trabalhadores assalariados rurais os quilombolas os caiccedilaras os povos da floresta
os caboclos e outros que produzam suas condiccedilotildees materiais de existecircncia a partir
do trabalho no meio rural
ll-escola do campo aquela situada em aacuterea rural conforme definida pela Fundaccedilatildeo
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica- IBGE ou aquela situada em aacuterea
urbana desde que atenda predominantemente a populaccedilatildeo do campo (MARCOS
NORMATIVOS) 2012( p 81)
No Decreto 6755 29 de janeiro de 2009 em seu art 2ordm estabelecida pelo Conselho
Nacional de Educaccedilatildeo que se refere as Diretrizes Operacionais da Educaccedilatildeo do
Campo o parecer da alternacircncia
A formaccedilatildeo de professores poderaacute ser feita concomitantemente agrave atuaccedilatildeo profissional de acordo com metodologias adequadas inclusive a pedagogia da alternacircncia e sem prejuiacutezo de outras que atendam agraves especificidades da educaccedilatildeo do campo e por meio de atividades de ensino pesquisa e extensatildeo (MARCOS NORMATIVOS) 2012( p84)
-26-
29
-
231 A educaccedilatildeo do campo e poliacutetica puacuteblica - o PRONERA
O amadurecimento adquirido pela luta sobre o papel da educaccedilatildeo aliado agrave
iniciativa do aproveitamento do trabalho das professoras ldquoleigasrdquo e ainda da
consciecircncia cada vez mais presente do dever do Estado em prover os cidadatildeos da
reforma agraacuteria de poliacuteticas puacuteblicas resultou no campo da educaccedilatildeo na criaccedilatildeo do
Programa Nacional de Educaccedilatildeo na Reforma Agraacuteria (PRONERA)
O PRONERA envolve formalmente jovens e adultos num projeto conjunto
com universidades e institutos federais em prol da formaccedilatildeo de educadores para o
trabalho em escolas dos assentamentos da reforma agraacuteria e seu entorno
O Programa foi criado em 1998 no momento da ascensatildeo dos conflitos pela
reforma agraacuteria o que propiciou que os movimentos sociais trouxessem para a
opiniatildeo puacuteblica suas mazelas
No campo da educaccedilatildeo foi denunciada a falta de escola a precariedade do
ensino a falta de profissionais do ensino a ldquoloacutegica de negaccedilatildeo histoacuterica do direito
aos camponeses de acesso aos niacuteveis mais elevados de escolaridade ( SANTOS
2012 pag 630)
A partir de 2005 o ensino oferecido pelo PRONERA eacute estendido ao niacutevel
meacutedio e superior como a Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo e a Residecircncia
30
Agraacuteria O PRONERA evoluiu para outros patamares tais como ldquopossibilidades de
ressignificaccedilatildeo do conteuacutedo e da metodologia dos processos de educaccedilatildeo formal
por meio dos princiacutepios baacutesicos da participaccedilatildeo e da multiplicaccedilatildeordquo (SANTOS 2012
p 631)
A participaccedilatildeo das comunidades e suas organizaccedilotildees e a multiplicaccedilatildeo de
alfabetizados formados educadores e demais profissionais ligados agraves poliacuteticas
puacuteblicas para a Reforma Agraacuteria gerou ampla participaccedilatildeo dos agentes envolvidos
na dinacircmica do processo ensino-aprendizagem
Essa forma de gestatildeo gerou reaccedilatildeo contraacuteria ldquoagrave gestatildeo colegiada e coletiva
notadamente agrave participaccedilatildeo direta dos movimentos sociais e sindicais do campordquo
considerados ldquoentes estranhos agrave administraccedilatildeo puacuteblicardquo (CLARICE p 634)
O envolvimento dos movimentos sociais e sindicais do campo natildeo
retrocederam em sua luta pelo envolvimento de todos os interessados na educaccedilatildeo
como elemento emancipatoacuterio e continuam formulando princiacutepios concepccedilotildees e
diretrizes para a escola do campo
-31-
31
Terceiro Capiacutetulo
A histoacuteria do Assentamento Renascer
31 Uma breve histoacuteria de luta
A histoacuteria do Assentamento Renascer natildeo parece ser diferente da histoacuteria de
outros assentamentos Brasil afora Partiu da reivindicaccedilatildeo de Trabalhadores Rurais
sem Terra que desde 2004 ocuparam as margens da Rodovia DF 330 que liga
Sobradinho ao Paranoaacute-DF
Tatildeo perto do centro do poder a apenas poucos quilocircmetros do Palaacutecio da
Alvorada ou da Sede do INCRA o Acampamento Renascer esteve ateacute oito (08) de
maio de 2009 tatildeo distante da decisatildeo poliacutetica pela Reforma Agraacuteria
Somente nesta data trezentos sessenta e um( 361) de terras devolutas da
Uniatildeo foram repassadas ao INCRA para assentar as famiacutelias aliacute acampadas Ficou
criado o assentamento Renascer fora da beira da estrada
O Assentamento Renascer ldquorenasceurdquo da dificuldade de vida sob o barraco de
madeira sem aacutegua sem luz sem saneamento baacutesico que fez com que tantos
desistissem ao longo do caminho e ainda hoje se encontra nessa mesma
precariedade um descaso por parte do poder puacuteblico
A luta em vaacuterios momentos da vida dos acampados parecia estar vencida Os
vencedores pareciam ser a burocracia o desrespeito as noites mal dormidas a
inseguranccedila a falta de perspectivas para o acampado e suas famiacutelias
Duzentas (200) famiacutelias viveram aliacute por cinco anos (05) de 2004 ateacute 2009
Atualmente satildeo cento e vinte (120) famiacutelias que moram na aacuterea destinada e estatildeo
em processo de assentamento Muitas delas poreacutem vencidas pelo cansaccedilo e pelas
condiccedilotildees de vida abandonaram a luta mas todas as famiacutelias as que se foram e as
que ficaram sonharam com a terra onde poderiam produzir viam no pedaccedilo de chatildeo
os frutos do pomar da horta o galinheiro o pasto
O Assentamento Renascer eacute o Brasil Eacute um pedacinho da cruel realidade que
como vimos neste trabalho marcou a sociedade brasileira desde a escravidatildeo
desde o primeiro grito de rebeldia do quilombo desde o primeiro que lutou contra os
coroneacuteis por divisatildeo da terra como as Ligas Camponesas contra o latifuacutendio como
os movimentos sociais em sua luta pela reforma agraacuteria desde vaacuterias geraccedilotildees
32
Eacute como todo e qualquer movimento social que surgiu neste paiacutes desde a
deacutecada de 1980 pela reforma agraacuteria Viveu e ainda vive as dificuldades de ser
acampadoassentado mas honra sua luta porque natildeo desiste faacutecil
O Assentamento Renascer eacute tambeacutem fruto do ecircxodo rural da industrializaccedilatildeo
do campo da monocultura e da concentraccedilatildeo de terras Foram expulsos do campo
para a periferia das cidades sem capacitaccedilatildeo sem estudo
A falta de escolarizaccedilatildeo eacute sem duacutevida uma caracteriacutestica de quase todos os
que vieram do campo para a cidade A realidade do Brasil eacute que o campo natildeo eacute
escolarizado as escolas no campo satildeo poucas satildeo despreparadas satildeo
desvalorizadas
-33-
32 As escolas no campo na vivencia do assentado do Assentamento
Renascer
As escolas no campo marcaram profundamente a vida dos poucos que a
frequentaram Quase todos tiveram que trocar o laacutepis pela enxada a carteira pela
roccedila desde muito pequenos Alguns natildeo muito poucos conforme os depoimentos
aqui relatados teriam que abandonar a enxada e a participaccedilatildeo no sustento da
famiacutelia para frequentar a escola Quase sempre abandonaram a escola para ficar no
trabalho com a enxada
Todos teriam que andar vaacuterios quilocircmetros para ir agrave escola Outros nem assim
conseguiriam frequentar a escola no campo ela simplesmente natildeo existia no
campo Teriam entatildeo que ir para a cidade para ter direito a uma escola
Muitos tambeacutem vivenciaram os traumas que uma escola tradicional e
descomprometida com os valores e responsabilidades do projeto educacional
castigos humilhaccedilotildees afastaram a muitos da escola
Alguns apenas sonharam e sonham com a escola ldquoAh a escolardquo Tatildeo longe
inacessiacutevel para tantos no Brasil afora Ao ver de algumas pessoas do
Assentamento Renascer ldquoSe tivesse jeito eu teria ido agrave escola tinha feito pelo
menos o ensino fundamental completo para que eu pudesse ingressar no curso
33
teacutecnico-agriacutecola Mas agora quero que meus filhos e netos vatildeo para a escola
aprender ser algueacutem na vidardquo
-34-
321 A escola no entorno do Assentamento Renascer
A ideia de lutar pela educaccedilatildeo veio antes da ideia de lutar pela escola como
espaccedilo conquistado pelo acampamento Encontrar uma escola perto do
acampamento com transporte escolar com vagas e horaacuterios acessiacuteveis para os que
trabalham o dia todo era entendido como uma necessidade baacutesica e uma grande
vitoacuteria
Ficava-se feliz se apesar das dificuldades fosse possiacutevel matricular pelo
menos as crianccedilas As dificuldades eram e ainda satildeo muitas o transporte escolar
era e eacute precaacuterio a poeira natildeo permite que os alunos cheguem limpos agrave escola os
buracos e as poccedilas daacutegua impedem a chegada do ocircnibus escolar durante as
chuvas No caso do ocircnibus que levam os alunos ateacute a Escola Classe do Coacuterrego do
Arrozal em eacutepoca de muita chuva os ocircnibus ateacute o iniacutecio de 2014 natildeo conseguiam
transitar Isto resulta no fato de que as crianccedilas precisam caminhar debaixo de
chuva ateacute a escola
-35-
322 O caminho para a produccedilatildeo do saber no Assentamento Renascer a
brinquedoteca a integraccedilatildeo social a biblioteca comunitaacuteria as manifestaccedilotildees
culturais
Ao longo dos anos de vivecircncia e convivecircncia no Acampamento Renascer
mediante a dificuldade e necessidade de estudar que sentimos na nossa proacutepria
vida foi despontando a ideia de prover as crianccedilas de atividades luacutedicas e
educativas
34
Logo no iniacutecio do acampamento por volta de 2005 por iniciativa de algumas
pessoas conscientes da necessidade de atividades luacutedicas para as crianccedilas foi
criada uma brinquedoteca
Inicialmente os brinquedos eram de materiais reciclaacuteveis como garrafas pet
telefones sem fio carrinhos bonecas petecas vai e vem cavalinhos tudo era
confeccionado com a participaccedilatildeo das crianccedilas na modalidade de oficina
incentivando-os a fabricar os seus proacuteprios brinquedos Os brinquedos eram
confeccionados a partir de materiais encontrados nos lugares de descarte perto do
acampamento e doaccedilotildees de pessoas que passavam pela estrada
O embriatildeo de um processo educacional que nunca se interrompeu estava
lanccedilado a brinquedoteca proporcionou a criatividade e a participaccedilatildeo de crianccedilas e
adultos marcando as atividades pela conscientizaccedilatildeo do cuidado com a natureza e a
importacircncia da reciclagem A educaccedilatildeo ambiental jaacute era praticada desde o
nascimento do acampamento Renascer
Este primeiro passo foi muito importante porque traduziu para o dia a dia do
acampamento os princiacutepios da escola do campo atuante para mudar a realidade
criar cidadatildeos conscientes e dispostos a mudar a realidade a partir da sua proacutepria
accedilatildeo Este eacute o processo de transformaccedilatildeo social dentro do acampamento Renascer
haacute tanto tempo atraacutes
Aos brinquedos reciclados pela proacutepria comunidade juntaram-se outros
presenteados por instituiccedilotildees como igrejas ONGs a Pastoral da Crianccedila e pessoas
interessadas no bem estar daquelas crianccedilas
Percebe-se em iniciativas como essas a importacircncia da educaccedilatildeo nos
diversos niacuteveis para a sociedade A integraccedilatildeo de pessoas com as atividades
educativas no acampamento nos faz lembrar sobre um grande sonho das escolas
hoje integrar a comunidade de modo a que todos defendam a escola
O sucesso de iniciativas como a brinquedoteca que integravam crianccedilas
adolescentes adultos e sociedade foi importante para outras iniciativas igualmente
importantes
Foi-se criando um projeto educacional para o acampamento sem que se
tivesse consciecircncia disso por faltar informaccedilatildeo que soacute agora se possui graccedilas aos
estudos na Universidade o galpatildeo comunitaacuterio foi utilizado para abrigar a
35
brinquedoteca para desenvolver grupos de teatro de crianccedilas e adultos e para
abrigar a biblioteca
A biblioteca recebeu inuacutemeros exemplares de livros infantis livros didaacuteticos
para os adolescentes e adultos literatura universal revistas dos mais variados
assuntos criando assim um espaccedilo comunitaacuterio de informaccedilatildeo lazer e
entretenimento
Com a criaccedilatildeo da biblioteca ficou evidente a importacircncia da alfabetizaccedilatildeo de
crianccedilas jovens e adultos Muitos acampados relatavam a vontade e a necessidade
de aprender a ler e a escrever Muitos reivindicavam o direito agrave educaccedilatildeo e
frequecircncia agrave escola ainda que o acampamento mudasse de ldquoendereccedilordquo tantas
vezes
Outros poreacutem natildeo acreditavam que seria possiacutevel aprender ou aperfeiccediloar a
leitura e a escrita nas condiccedilotildees de vida de um acampado
Vaacuterias atividades culturais foram desenvolvidas (e ainda satildeo) no
Acampamento Renascer Todas chamavam a atenccedilatildeo da comunidade local de
outras comunidades vizinhas garantindo a simpatia de chacareiros que levavam os
filhos para participarem das atividades
Uma das atividades mais apreciadas foi o Teatro de Fantoches inspirados em
faacutebulas muitas com a autoria da Pastoral da Crianccedila e da Faber Castel A
participaccedilatildeo da comunidade na atividade era intensa e voluntaacuteria todos queriam
manipular os fantoches participar cantando danccedilando ou prestando muita atenccedilatildeo
O teatro de transformaccedilatildeo social produzido pelos adultos e adolescentes
utilizavam tambeacutem materiais reciclaacuteveis demonstrando cuidado com o meio
ambiente e amadurecimento dos conceitos poliacuteticos e pedagoacutegicos gerando reflexatildeo
sobre os temas sociais que nos atingem no cotidiano
A miacutestica adotada pelos movimentos sociais com o objetivo de reflexatildeo satildeo
apresentadas em datas comemorativas e contam com o apoio e participaccedilatildeo de
muitos
Algumas festas fazem parte da tradiccedilatildeo do Acampamento Renascer
traduzindo para a realidade atual as antigas festas a que todos foram acostumados
em seus lugares de origem
Pode-se dizer que a comunidade aprecia muito as festas Mas duas em
particular satildeo muito respeitadas a festa das crianccedilas que ocorre durante o dia (12
36
de outubro) eacute concorrida pois a comunidade se esmera para oferecer os brinquedos
que as crianccedilas amam pula-pula palhaccedilos pintura de rosto piscina de sabatildeo e
muita oferta de comida coisas que as crianccedilas adoram
No mesmo dia ocorre agrave noite a festa da Nossa Senhora Aparecida com
missa e muito forroacute
No mecircs de marccedilo eacute comemorada a Festa da Pamonha em comemoraccedilatildeo agrave
boa colheita do milho Esta festa jaacute se tornou tradicional conhecida em todo o
entorno do assentamento Egrave uma festa importante porque confraterniza a
comunidade Renascer com as comunidades vizinhas e ateacute mesmo as cidades de
Sobradinho Paranoaacute e Planaltina
Os movimentos sociais necessitam ser admirados pela sociedade e festas
como estas chamam a atenccedilatildeo para o problema da reforma agraacuteria demonstrando
que ela eacute viaacutevel e que os assentados tecircm simpatia competecircncia e seus saberes do
campo
A festa ldquojulinardquo eacute outra festa muito apreciada que apresenta as tradiccedilotildees rurais
e religiosas como quadrilhas e bandas de forroacute da comunidade e vizinhanccedila A
danccedila eacute um dos pontos fortes da festa assim como as comidas tradicionais muitas
delas com ingredientes colhidos no acampamento
Vaacuterios grupos de atividades teatrais apresentaram-se na localidade com
participaccedilatildeo de palhaccedilos lembrando um espetaacuteculo circense Alguns desses
grupos inclusive tiveram seus trabalhos premiados
Outras atividades com fundo educativo tiveram participaccedilatildeo animada de
crianccedilas e adultos A exibiccedilatildeo de desenhos animados recentemente apresentados
no cinema eram um grande atrativo para a comunidade que se via socialmente
incluiacuteda Esta inclusatildeo aumentava a autoestima das crianccedilas principalmente pois
assim elas poderiam interagir com os colegas da escola conversando a respeito dos
filmes
A Economia Solidaacuteria eacute uma das formas de inserccedilatildeo dos membros da
comunidade agrave sociedade economicamente ativa Atraveacutes da cooperaccedilatildeo solidaacuteria eacute
possiacutevel o comercio justo agriacutecolas ou artesanais sob conceitos antes
desconhecidos enquanto forma de produccedilatildeo e consumo centrado na valorizaccedilatildeo do
ser humano em contraposiccedilatildeo agraves formas capitalistas de produccedilatildeo e conscientizaccedilatildeo
37
Ao longo dos doze (12) anos de luta pela educaccedilatildeo foram promovidos
diversos cursos que capacitaram multiplicadores que fazem um trabalho importante
para a comunidade
A ideia de autogestatildeo democracia cooperaccedilatildeo auxilia natildeo soacute as formas de
produccedilatildeo e comercio de bens e artesanatos mas tambeacutem auxiliam na formaccedilatildeo
integral de pessoas em que tanto o produtor como o consumidor tem o proposito de
ganhos financeiros segundo um criteacuterio de valorizaccedilatildeo do trabalho
Proposito de formar uma nova consciecircncia a Economia Solidaacuteria promoveu
cursos de Soberania Alimentar em que a comunidade recebeu noccedilotildees praacuteticas
sobre alimentaccedilatildeo a partir da produccedilatildeo local de modo a promover uma nova cultura
alimentar que visa o combate agraves doenccedilas crocircnicas Outro proposito eacute tornar a
comunidade criacutetica em relaccedilatildeo agrave publicidade de produtos alimentiacutecio supeacuterfluo que
induz agraves crianccedilas e adultos alimentarem-se incorretamente
A comunidade participou coletivamente da implantaccedilatildeo de uma unidade da
tecnologia social denominada Produccedilatildeo Agroecoloacutegica Integrada e Sustentaacutevel
(PAIS) em 2012 com o objetivo de produzir alimentos saudaacuteveis e preservar o meio
ambiente trazendo mais alimentos e renda ao campo Esta tecnologia popularmente
conhecida como ldquohorta mandalardquo foi ministrada durante o curso de capacitaccedilatildeo
promovido pela Fundaccedilatildeo Banco do Brasil e teve o meacuterito de proporcionar o debate
e a participaccedilatildeo democraacutetica na definiccedilatildeo das culturas a serem cultivadas na futura
propriedade Vale informar que o assentamento Renascer identificou-se com esse
paradigma agroecoloacutegico
A educaccedilatildeo ambiental faz parte do dia a dia da comunidade hoje preserva-se
conservaccedilatildeo das formas de vida vegetais e animais na regiatildeo do assentamento e
entorno
A produccedilatildeo de mudas no viveiro eacute bastante concorrida contando com a
participaccedilatildeo de todos O viveiro produz cinco mil (5000) mudas de espeacutecies nativa
do cerrado para o reflorestamento das nascentes de aacutegua e nas aacutereas degradadas
da regiatildeo Contam com o apoio da FUNATURA FUNDACcedilAtildeO BANCO DO BRASIL
IFB Rio Satildeo Bartolomeu Vivo e UnB
-36-
38
39
Quarto Capiacutetulo
A escola que queremos expectativas e sonhos dos
acampados do Assentamento Renascer
Pode-se observar pelas falas dos entrevistados que a realidade de todos
converge para os problemas estruturais do Brasil faltam escolas no campo eacute baixa
a escolaridade em Brasiacutelia todos exercem atividades de subemprego
Todos tecircm grandes expectativas com relaccedilatildeo agrave vida futura no assentamento
objetivando melhores condiccedilotildees de vida na esperanccedila de serem beneficiaacuterios
enquanto cidadatildeos assentados das Poliacuteticas Puacuteblicas e financiamentos agriacutecolas
voltadas para a agricultura familiar como PRONAF PAA PNAE e PAPA-DF Vecircem
aiacute a possibilidade de emprego e renda situaccedilatildeo sonhada desde quando foram
pleitear a terra para reforma agraacuteria
Um olhar mais aprofundado sobre a anaacutelise de dados revela que natildeo importa o
fato de hoje residirem no DF pois como em qualquer lugar de origem os moradores
do assentamento Renascer vivenciam os mesmos problemas Percebe-se
claramente as dificuldades da inexistecircncia de escola no campo A distacircncia continua
impedindo o acesso os meios de transportes continuam precaacuterios os filhos
vivenciam a dificuldade de transferecircncia para a cidade na expectativa de
continuidade dos estudos as estradas rurais continuam esburacadas
Satildeo muitos os pontos em comum entre a situaccedilatildeo atual relatada e os problemas
vividos haacute deacutecadas em seus estados de origem o que deixa transparecer a absoluta
falta de interesse por parte do poder puacuteblico em garantir o direito constitucional agrave
educaccedilatildeo do povo do campo o que infelizmente continuaraacute deixando o triste
legado para o futuro do paiacutes
40
Repetimos a pergunta da inicial Cadecirc as escolas do campo Ateacute quando o paiacutes
vai viver essa situaccedilatildeo A anaacutelise de dados responde Natildeo eacute mais possiacutevel
continuar como estaacute
Todos os entrevistados pretendem alcanccedilar conhecimentos atraveacutes da escola do
campo implantada no Assentamento Renascer com objetivos de administrar a
propriedade participar ativamente do coletivo garantir renda fixa atraveacutes dos
programas de desenvolvimento da agricultura familiar
Os entrevistados unanimamente tecircm a preocupaccedilatildeo da manutenccedilatildeo dos laccedilos
familiares e das raiacutezes camponesas
A distacircncia entre a moradia e a escola fato relatado pela quase totalidade dos
entrevistados constitui um grande motivo de evasatildeo escolar de defasagem nas
seacuteries frequentadas de precariedade na aprendizagem em relaccedilatildeo aos demais
alunos A discriminaccedilatildeo alegada por muitos que frequentaram ou frequentam
escolas fora da faixa etaacuteria o vernaacuteculo proacuteprio dos sujeitos do campo as condiccedilotildees
precaacuterias da estrada que denunciam a condiccedilatildeo de assentado o sentimento de
inadequaccedilatildeo constituem fatores que determinam a evasatildeo escolar
Foram treze (13) entrevistados significando aproximadamente dez por cento
(10) dos moradores do Assentamento Renascer Desse total apenas dois (2)
entrevistados natildeo declararam dificuldade de distacircncia entre a moradia e a escola em
seus lugares de origem A maioria absoluta (11) pessoas declararam que a distacircncia
dificultava e impedia o acesso agrave escola Alguns relatos apresentam situaccedilotildees
precaacuterias para o homem do campo o assentado
Para o aluno do campo a distacircncia da escola tem o significado de inexistecircncia de
escola Isto porque as dificuldades de acesso satildeo enormes No caso em estudo
apenas um entrevistado declarou a inexistecircncia de escola em sua regiatildeo de
moradia Este poreacutem vivenciou todas as dificuldades de acesso que outros
assentados apresentaram em razatildeo da distacircncia moradiaescola
A falta de professores na escola rural eacute relatada por 11 dos 13 entrevistados A
distacircncia da escola para os professores dificulta segundo a vivecircncia dos
entrevistados o acesso agrave escola e a assiduidade o que muito desmotivava a
ambos
41
Os entrevistados conforme anaacutelise de dados desejam muito objetivamente a
implantaccedilatildeo imediata de escolas segundo os criteacuterios caracteriacutesticos de escola do
campo
- Trazer a realidade para dentro da escola do campo curriacuteculos voltados para o
cotidiano do aluno do campo onde as teacutecnicas agriacutecolas pecuaacuterias e agroecoloacutegicas
possam fazer parte do processo educativo da comunidade e que a escola tenha
uma gestatildeo coletiva democraacutetica com a participaccedilatildeo da comunidade
- Ter o trabalho como princiacutepio educativo A experiecircncia do aluno deve
harmonizar-se com os princiacutepios pistrakianos significar o trabalho de forma a que
ele apresente benefiacutecios para o proacuteprio indiviacuteduo para a comunidade na qual estaacute
inserido e para a sociedade e natildeo exclusivamente para servir ao capitalismo
-Superar a fragmentaccedilatildeo do conhecimento disciplinar A interdisciplinaridade
deve fazer parte dos objetivos educacionais de modo a promover a formaccedilatildeo
integral dos educandos
- Valorizar os saberes do homem do campo Os entrevistados desejam uma
escola onde possam exercitar sua vivecircncia campesina e a relaccedilatildeo dialoacutegica entre
professor-aluno seguindo a pedagogia de Paulo Freire o educando quer aprender
com o educador mas quer tambeacutem ter a oportunidade de transmitir seus saberes
- Promover espaccedilos de gestatildeo coletiva A proacutepria comunidade deve participar da
gestatildeo a elaboraccedilatildeo do PPP deve gerir o espaccedilo fiacutesico da escola para atividades
de interesse da comunidade ocupar espaccedilos para finalidades culturais esportivas
sociais tornando a escola um espaccedilo democraacutetico
- Garantir a presenccedila da comunidade e dos movimentos sociais que geram
processos que auxiliam a emancipaccedilatildeo social A escola deve tambeacutem ser espaccedilo
que auxilie a sustentabilidade e garanta a alimentaccedilatildeo saudaacutevel e recursos
fitoteraacutepicos em associaccedilatildeo com a comunidade
- Inclusatildeo tecnoloacutegica em todos os aspectos digital inovaccedilatildeo tecnoloacutegica
agropecuaacuteria recursos ambientais alternativos agua potaacutevel energia solar energia
eoacutelica fossa seacuteptica teacutecnicas de compostagem saneamento baacutesico cuidados com
os recursos hiacutedricos
A anaacutelise dos dados quando feita especificamente sobre a escola a ser
implantada pode aparentemente demonstrar uma pequena conexatildeo com as teorias
da escola do campo
42
A concepccedilatildeo da escola do campo natildeo pode ser imposta ela parte do princiacutepio
que os camponeses devem conquista-la Para essa conquista eacute necessaacuteria a
paixatildeo o desejo por algo ainda natildeo experimentado o amadurecimento poliacutetico-
social-pessoal a participaccedilatildeo coletiva na luta e na conquista
A trajetoacuteria de luta por educaccedilatildeo da comunidade Renascer apresenta estes
elementos agraves vezes difusos outras vezes mais claramente A escola bem que
poderia para alguns ser apenas uma escola rural Afinal aprender a ler e a
escrever ldquodireitordquo como alguns dizem ou seja deixar a condiccedilatildeo de analfabeto ou
analfabeto funcional para tornar-se letrado significaria avanccedilos em face das atuais
circunstacircncias Alguns entendem assim expressando-se principalmente nas
conversas informais
Apesar disso quando as respostas informais ou quando as respostas das
entrevistas satildeo analisadas mais profundamente identificamos que embora
difusamente todos desejam o programa educacional da escola do campo
Explicando melhor a participaccedilatildeo de todos da comunidade em todas as atividades
soacutecio-poliacuteticas-culturais (relatadas no terceiro capitulo) indicam que a comunidade
assimilou a postura soacutecio-politica-cultural que caracterizam a escola do campo
A vivecircncia do Assentamento Renascer no cotidiano e nos eventos coletivos
amadureceu o desejo pelo alimento intelectual cultural artiacutestico ambiental social
que a concepccedilatildeo de escola do campo introduz O programa educacional da Escola
do Campo ultrapassou as paredes fiacutesicas da escola e alcanccedilou o cotidiano dos
assentados
Os avanccedilos da conscientizaccedilatildeo e seu reflexo na vida do Assentamento Renascer
satildeo sentidos nos nuacutemeros de matriculados na LEdoC sete (7) alunos
aproximadamente dez (10) assentados prestaratildeo o proacuteximo vestibular trecircs (3)
assentados estatildeo matriculados no IFB dois(2) assentados estatildeo formados em
Teacutecnico Agropecuaacuterio tambeacutem pelo IFB um deles cursa o Tecnoacutelogo de
Agroecologia tambeacutem do IFB
Vale acrescentar que no iniacutecio de 2014 quando o IFB buscou no Assentamento
pessoas interessadas em matricular-se em seus cursos sob a condiccedilatildeo de
estudarem no ensino meacutedio o interesse foi grande e a impossibilidade pelo fato de
natildeo estarem habilitados no ensino fundamental provocou tanta discussatildeo que
estimulou essa pesquisa
43
O legado desses alunos futuros alunos e profissionais para o futuro do
Assentamento apresentaraacute resultados significativos para toda a comunidade O
futuro colheraacute bons frutos plantados agora
A escola que temos natildeo estaacute funcionando falta a renovaccedilatildeo do contrato o que
atrasa a alfabetizaccedilatildeo e conclusatildeo do 5ordm ano Falta a implantaccedilatildeo de poliacuteticas
puacuteblicas para atendimento de questotildees baacutesicas como por exemplo carteiras
quadro de giz iluminaccedilatildeo espaccedilo fiacutesico (dependecircncias para a escola) e mobiliaacuterio
-41-
44
Consideraccedilotildees Finais
A Educaccedilatildeo do campo eacute um movimento em que os trabalhadores do campo e
suas organizaccedilotildees lutam por transformaccedilotildees sociais particularmente a criaccedilatildeo de
escolas dono campo de qualidade a partir de uma perspectiva ampla de reforma
agraacuteria
A construccedilatildeo da educaccedilatildeo do campo eacute resultado do amadurecimento dos
movimentos sociais e das comunidades rurais em sua trajetoacuteria de luta pelo direito
fundamental agrave universalizaccedilatildeo escolar para as populaccedilotildees camponesas segundo
orientaccedilatildeo poliacutetico-pedagoacutegica adequada agrave realidade dos lutadores de
acampamentos e assentamentos em luta pela reforma agraacuteria e justiccedila social
Alguns princiacutepios caracterizam a luta pela escola do campo Dentre eles
podemos citar a criaccedilatildeo da consciecircncia do direito agrave educaccedilatildeo de qualidade plantada
na proacutepria comunidade o que provoca o enraizamento a valorizaccedilatildeo da vida no
campo a promoccedilatildeo da autoestima e a transformaccedilatildeo do ser alienado pela ideologia
e desigualdade social e sujeito de sua proacutepria histoacuteria
Outro princiacutepio eacute a adequaccedilatildeo de curriacuteculos agrave realidade camponesa de modo
a que o processo ensino-aprendizagem favoreccedila o amadurecimento de talentos
naturais o surgimento de oportunidades a niacutevel pessoal e social contribuindo para a
emancipaccedilatildeo poliacutetico-social do indiviacuteduo com reflexos na sociedade
A mudanccedila de paradigmas e o envolvimento social provocam a formaccedilatildeo integral
dos sujeitos que lutam de forma coletiva e solidaacuteria pela terra A escola do campo
que surge dessa mudanccedila eacute tambeacutem transformadora porque eacute fruto da luta
consciente que gera a reflexatildeo e o amadurecimento poliacutetico deixando um legado
positivo de cidadatildeos orgulhosos de sua condiccedilatildeo de lutador pela terra de sua
identidade de sua cultura de sua comunidade e coletividade
A escola do campo propicia aos alunos a reflexatildeo sobre o contexto social e a
problemaacutetica da comunidade em que estatildeo inseridos o respeito agrave individualidade a
ampliaccedilatildeo das potencialidades do aluno para organizar elaborar e atuar
coletivamente Deixam o legado futuro de homens responsaacuteveis mentes
independentes e atuantes que poderatildeo prestar serviccedilos significativos agrave sociedade
45
A comunidade assentada de o Assentamento Renascer pela Reforma
Agraacuteria em Sobradinho DF foi convidada a opinar sobre a escola que deseja a
partir da conquista da terra
O modelo proposto a partir de seu posicionamento possibilita a conclusatildeo
de que a escola do campo plantada na comunidade eacute preferiacutevel ao modelo
adotado atualmente de inserccedilatildeo dos alunos da comunidade agraves escolas urbanas
conter recursos materiais e humanos que propiciem bons resultados
pedagoacutegicos deve servir para fixar o trabalhador ao campo deve cumprir com o
propoacutesito constitucional de universalizaccedilatildeo do ensino para todas as faixas
etaacuterias deve estar identificada com os sonhos de prosperidade material e
realizaccedilatildeo pessoal dos assentados
-46-
46
Referecircncias Bibliograacuteficas
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FERRARI Marco ldquoAniacutesio Teixeira o inventor da escola puacuteblica no Brasilrdquo Revista Nova Escola Fundaccedilatildeo Victor Civita Revistaescolaabrilcombr acesso em 14092014 FERREIRA Fabiano de Jesus BRANDAtildeO Elias Canuto ndash Revista Eletrocircnica de Educaccedilatildeo Ano V N 09 juldez 2011p3 ldquoEducaccedilatildeo do campo um olhar histoacuterico uma realidade concreta rdquo (WWWUNIFILBR acesso em 08 de agosto de 2014) GONCcedilALVES Luiz Alberto Oliveira e Pinto Regina Pahim EDUCACcedilAtildeO SEacuteRIE JUSTICcedilA E DESENVOLVIMENTO IFP-FCC FUNDACcedilAtildeO CARLOS CHAGAS 2007 SAtildeO PAULO (pag206)
KOLLING Edgar Jorge Vargas Caldart MST e Educaccedilatildeo in DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia Expressatildeo Popular 2012 (pag 5020
MOLINA Mocircnica SAacute Laiacutes Mouratildeo Escola do Campo in DICIONARIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia Expressatildeo Popular 2012 pg (329)
OLIVEIRA Maria Rita Duarte em sua dissertaccedilatildeo ldquoDos programas oficiais para a educaccedilatildeo rural aos projetos de educaccedilatildeo do campo dos movimentos sociaisrdquo WWWrevistalaborufcbrartigovolume1maria-ritapdf acesso em 08-09-2014
OLIVEIRA Maria Rita Duarte PEDAGOGIA EM MARCHA Apud ARROYO Satildeo Paulo1995( pg 162)
OLIVEIRA Maria Rita Duarte Revistalabor ufcbracesso em 19-10-2014
________ citando CALAZ Maria Rita Duarte Oliveira
47
SANTOS Clarice Aparecida PROGRAMA NACIONAL DE EDUCACcedilAtildeO NA REFORMA AGRAacuteRIA in DICIONARIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia2012(pg630)
________ Clarice Aparecida PROGRAMA NACIONAL DE EDUCACcedilAtildeO NA REFORMA AGRAacuteRIA BRASIacuteLIA 2012 pg 631 in DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO SANTOS Claudio Felix Dos ldquoO aprender a aprender na formaccedilatildeo de professores do campordquo Campinas 2013 Editora Autores Associados ) SOUZA Maria Antocircnia Movimentos Sociais no Brasil Contemporacircneo participaccedilatildeo e possibilidades no contexto das praacuteticas democraacuteticas ndash (wwwcesucptlab2004pdfMariaAntonia Souzapdfaceso em 24-07-2014 -48-
48
Apecircndices
1 Roteiro das Entrevistas
a) Dados dos entrevistados
Qual o seu nome
Masculino ( ) Feminino ( )
Quantos anos vocecirc tecircm
A quanto tempo mora no
assentamento
Onde vocecirc morou antes
de morar no
assentamento
Quantos anos vocecirc tinha
quando foi a escola pela
primeira vez
Estou ateacute qual seacuterieano
Quantos anos vocecirc tinha
quando parou de estudar
Qual motivo motivou vocecirc
a parar de estudar
Se tiver escola no
assentamento vocecirc voltaraacute
a estudar Porque
B) Outras informaccedilotildees dados pelos entrevistadosas (GRAVAR)
a) Em qual escola vocecirc estudou no acampamento ou em outro lugar Qual
b) Como era a escola que estudou Quais as coisas boas e coisas ruins que
tinha nesta escola
c) Conte como eacutefoi a educaccedilatildeo do assentamento o que jaacute existiu de escola
como funcionou e quais eram as boas e as coisas ruins desta escola
d) Jaacute participou de alguma accedilatildeo de mobilizaccedilatildeo para ter escola no
assentamento Se sim explique para que e como foi essa mobilizaccedilatildeo
e) Na sua opiniatildeo no assentamento deve ter escola Por quecirc
f) Como deveraacute ser a escola da comunidadeassentamento Como eacute a escola
que queremos ter
49
b) Entrevistas semi-estruturadas
Entrevistado 01
Moro no assentamento Renascer haacute 11 anos Nasci Carnauacuteba no Rio Grande do
Norte fui criado na roccedila e desde pequeno trabalhava na lavoura para ajudar meu
pai Fui para escola com 9 anos de idade estudei ateacute a 5ordm seacuterie parei de estudar
com 17 anos natildeo continuei os estudos porque era muito longe de onde eu morva
que era na cidade mais proacutexima eu tinha que andar a peacute 8 km ficava muito
cansado Casei e vim morar em Brasiacutelia para trabalhar em uma chaacutecara como
caseiro Morava na chaacutecara Buritis em sobradinho- Df tambeacutem natildeo dei para
continuar os estudos porque ficava longe e tinha que ser a noite e natildeo tinha como ir
Se vier uma escola pra caacute eu ainda vou estudar para ter mais conhecimento para
plantar minha roccedila ir no banco pra ver se assino um empreacutestimo para melhorar
minha produccedilatildeo e saber fazer conta pra administrar minha parcela de terra
Qual o seu nome
Masculino ( X ) Feminino ( )
Quantos anos vocecirc
tecircm
57 anos
A quanto tempo
mora no assentamento
11 anos
Onde vocecirc morou
antes de morar no
assentamento
Carnauacuteba ndash RN
Chaacutecara Buritis nordm 10 Sobradinho DF
Quantos anos vocecirc
tinha quando foi a escola
pela primeira vez
8 anos
Estou ateacute qual
seacuterieano
5ordf seacuterie
Quantos anos vocecirc
tinha quando parou de
estudar
24 anos
Qual motivo
motivou vocecirc a parar de
estudar
Trabalhar para sustento da famiacutelia a
distacircncia entre a casa e a escola
Se tiver escola no
assentamento vocecirc voltaraacute
a estudar Porque
Sim ldquoSe tivesse escola do ensino
fundamental voltaria a estudar para tecirc
mais conhecimento para plantar minha roccedila
50
saber pesar saber contar vendecirc os produto e
comecirc
Entrevistado 02
Moro no assentamento renascer haacute 7 anos tenho 38 vim do interior do Cearaacute
Entrei na escola com 7 anos de idade estudei soacute a 5ordm seacuterie incompleta natildeo
continuei a estudar porque natildeo tinha escola a onde eu morava que era na roccedila e eu
tinha que ficar na casa dozotro (SIC) na cidade e eu natildeo gostava disso natildeo ai parei
com 16 anos de idade Mudamo (SIC) pra Brasiacutelia pra uma chaacutecara perto de Santa
Maria-DF e natildeo dei pra estudar porque casei e tinha que trabalhar muito para
susrentar a famiacutelia A gora moro no assentamento Renascer e sei que um dia vai ter
uma escola aqui e eu vou voltar a estudar porque meu sonho eacute ser veterinaacuterio e vou
der se deus quiser
Entrevistado 03
Tenho 58 anos moro no assentamento Renascer haacute 6 anos vim de Ceres-GO
comecei a estudar quando eu tinha 10 ano de idade estudei ateacute a 4ordf seria primaacuteria
(SIC) parei de estudar quando tinha 16 anos porque eu morava na roccedila e escola
ateacute que natildeo ficava muito longe natildeo era soacute 2 km dava pra ir a peacute a professora eacute que
faltava muito e a gente natildeo tinha como saber se ela tava ou natildeoAiacute quando eu tinha
18 anos casei e vim morar em Brasiacutelia e arranjei(SIC) emprego de caseira em uma
chaacutecara aiacute natildeo pra estudar a noite porque era muito longe pra laacute entatildeo eu natildeo
pensei mais nessas coisas Quando tiver escola no assentamento quero estudar
quiecirc pra mim (SIC) fazer curso de teacutecnico agriacutecolarsquorsquo
Entrevistado 04
Tenho 24 anos moro no assentamento Renascer tem 6 ano vim da Bahia morava
no Condomiacutenio RK entrei na escola com 7 anos de idade e estudei soacute ateacute a 6ordf seacuterie
parei com 18 anos de idade
Porque mudei pra caacute pro assentamento (SIC) e natildeo tem escola e natildeo tem como ir
pra Sobradinho a noite porque eacute muito longe tem que andar 5 km eacute pirigogo (SIC)
tem muita gente mal por aiacute tem ateacute estrupador natildeo posso me arriscar
ldquoSe tivesse escola aqui eu ia terminar meus estudos podia ser no galpatildeo mesmo
pra mim tava bom mas para os meus filhos eu queria uma escola boa com internet
e tudo Eu natildeo gosto que meus filhos estuda(SIC) na cidade soacute aceito porque eacute o
jeito gente de assentamento eacute muito zombado (SIC) porque as vezes chega suja
na escola e os outros acha que eles satildeo porcos que toma banhordquo
Entrevistado 05
51
Tenho 21 anos de idade moro no Renascer haacute trecircs anos vim de satildeo Gabriel-GO
comecei a estudar aos 7 anos parei com 18 anos porque minha matildee mudou
pro(SIC) matildee mudou pro (SIC) assentamento haacute 6 anos e eu natildeo aguento morar
longe dela Quando cheguei aqui natildeo teve como continuar os estudos porque
trabalho durante o dia como manicure em Sobradinho e o uacuteltimo ocircnibus que passa
perto do assentamento eacute as 5 horas da tarde entatildeo natildeo daacute para estudar a noite
Sim porque quero fazer um curso de cabelereiro quando tiver aacutegua e luz aqui eu
quero montar um salatildeo de beleza e para ser uma empresaacuteria precisa ter estudos pra
administrar o negoacutecio
Entrevistado 06
44 anos
6 anos
Formosa-GO
8 anos
5ordf seacuterie
24 anos
Porque a escola mais perto(SIC) era 10km de distacircncia e eu trabalhava na roccedila e
ficava muito cansado aiacute parei natildeo deu mais
Sim quando tiver escola aqui eu vou voltar a estudar Eu tinha um sonho de ser
agroacutenomo mas esse sonho eacute impussive(SIC) entatildeo queria concluir o ensino
fundamental para fazer um curso de teacutecnico agriacutecola no IFB mas tambeacutem eacute longe
se tivesse como estudar aqui no assentamento eu ia(SIC) ficar muito feliz
Entrevistado 07
57 anos
6 anos
Parnaiacuteba-PI- Santa Maria- DF
7 anos
4ordf seacuterie
21 anos
Parei porque era muito difiacutecil ir para escola que ficava muito longe eu tinha que sair
de casa as 4hs da madrugada para chegar na escola as 730 ia montado num
cavalo e muitas vezes natildeo tinha professora pra dar aula Parei porque natildeo aguentei
o rojatildeo tinha que minha matildee na lida a tarde e eu ficava muito cansado Vim pra
52
Brasiacutelia e casei fui trabalhar de chacareiro numa chaacutecara que tambeacutem era longe de
escola depois vim morar aqui no assentamento que natildeo tem escola
Se tivesse escola aqui eu ia voltar estudar soacute pra aprender a cuidar meior (SIC) da
terra e dos meus bichos e que fosse como uma escola agriacutecola
Entrevistado 08
Tenho 29 anos moro no assentamento Renascer haacute 2 anos sou educadora do
Pronera haacute 1 ano e 2 meses O Pronera eacute como um antidepressivo na vida de muita
gente o Pronera melhorou a minha vida e a vida dos meus alunos o desejo de
todos eacute que o Pronera continue crescendo em direccedilatildeo de uma educaccedilatildeo continuada
levando tambeacutem o ensino fundamental para os acampamentos e assentamentos da
Reforma Agraacuteria
-50-
Anexos
53
Acampamento agrave beira da estrada ndash 2004
Construccedilatildeo da Sede do Movimento na atual aacuterea
54
Reuniatildeo semanal
Teatro de fantoches ndash brinquedoteca
55
Accedilatildeo da Pastoral da Crianccedila na brinquedoteca
Oficina de brinquedos reciclaacuteveis
56
Brinquedo confeccionado com materiais reciclaacuteveis na Brinquedoteca
57
58
59
60
Apresentaccedilatildeo teatral
61
Capacitaccedilatildeo em Economia Solidaacuteria
Formaccedilatildeo de multiplicadores da Economia Solidaacuteria
62
Capacitaccedilatildeo de Educadores Ambientais
63
Luta pela Reforma Agraacuteria e Soberania Alimentar
18
invista recursos materiais e humanos modernizem as escolas e propiciem o acesso
dos alunos
Conforme nos explica Sousa 2004 em seu artigo lsquodiscursos intolerantes o
lugar da politica na educaccedilatildeo rural e a representaccedilatildeo do camponecircs analfabeto
No Brasil a trajetoacuteria da educaccedilatildeo rural inclui-se na dinacircmica de modernizaccedilatildeo do campo assumindo um papel decisivo no processo de expropriaccedilatildeo proletarizaccedilatildeo e controle dos trabalhadores rurais A modernizaccedilatildeo da produccedilatildeo no nordeste brasileiro por exemplo incentivou o processo de sindicalizaccedilatildeo em massa dos trabalhadores das zonas canavieiras estimulou reivindicaccedilotildees no campo do trabalho ligadas agrave aplicaccedilatildeo do Estatuto do Trabalhador Rural e contraditoriamente fez emergir as manifestaccedilotildees pela distribuiccedilatildeo de terras encampadas pelas Ligas Camponesas ( SOUSA2004 p4)
O projeto de modernizaccedilatildeo do campo ocorreu sem que houvesse a
emancipaccedilatildeo dos trabalhadores rurais Na verdade ocorreu a proletarizaccedilatildeo dos
trabalhadores rurais pela acumulaccedilatildeo de terras em matildeos de apenas poucos
proprietaacuterios (latifundiaacuterios) Esse acontecimento revela que apenas em processo
consciente e contiacutenuo de lutas organizados e unidos os trabalhadores rurais
poderatildeo conquistar terras e meios para sua produccedilatildeo
O estudo da organizaccedilatildeo dos trabalhadores rurais eacute importante porque eacute a
partir dela que outras grandes reivindicaccedilotildees satildeo conquistadas No caso da
presente pesquisa pode-se observar que foi a organizaccedilatildeo dos trabalhadores em
torno de suas causas a reforma agraacuteria que levou agrave luta pelas outras reivindicaccedilotildees
como a educaccedilatildeo no campo
O proacuteximo capiacutetulo deste trabalho monograacutefico aborda a questatildeo das
manifestaccedilotildees e resistecircncias dos camponeses pela educaccedilatildeo e pela reforma
agraacuteria
-16-
22 Trajetoacuteria de luta pela Educaccedilatildeo do Campo
A luta pela educaccedilatildeo do campo esteve sempre associada agrave luta pela reforma
agraacuteria e pela conquista de direitos para os trabalhadores rurais O Movimento das
19
Ligas Camponesas lutou pela emancipaccedilatildeo do trabalhador rural e da reforma agraacuteria
e em seu projeto educacional estavam baseados nos ideais de Paulo Freire e do
Movimento de Educaccedilatildeo de Base (MEB)
Para explicar a reaccedilatildeo das classes populares agraves imposiccedilotildees do governo
brasileiro e das classes dominantes Oliveira (1995 apud ARROYO)
A histoacuteria das lutas entre as classes sociais natildeo se limitam agrave luta pelo poder mas se constituem impulsionadoras da histoacuteria da humanidade que natildeo aguardam passivamente seu destino mas ao contraacuterio articulam-se em torno de suas lutas para garantir seus direitos sua dignidade e sua participaccedilatildeo democraacutetica na sociedade( OLIVEIRA apud ARROYO1995p 80)
Neste sentido as Ligas Camponesas lutaram praticamente em todo o
territoacuterio nacional contra a tentativa de expulsatildeo dos trabalhadores rurais das terras
Os conflitos armados particularmente no Nordeste exigiam participaccedilatildeo poliacutetica e
direitos essenciais como a educaccedilatildeo do campo
O meacutetodo de alfabetizaccedilatildeo criado por Paulo Freire foi amplamente utilizado
pelas Ligas Camponesas e em sua concepccedilatildeo ampla de escola serviu de subsidio
para a compreensatildeo do camponecircs acerca de seu papel social (TOLEDO Caio
Navarro 2004 p6)
Neste contexto surge a Pedagogia do Oprimido de Paulo Freire Segundo
SANTOS (2013 apud Paulo Freire 1987) afirma que a pedagogia do oprimido
configura-se como
Aquela que tem de ser forjada com ele (o oprimido) e natildeo para ele enquanto homens ou povos na luta incessante de recuperaccedilatildeo de sua humanidade Pedagogia que faccedila da opressatildeo e de suas causas objeto de reflexatildeo dos oprimidos de que resultaraacute o seu engajamento necessaacuterio na luta por sua libertaccedilatildeo em que esta pedagogia se faraacute e refaraacuterdquo (FREIRE 1987 p32)
A pedagogia do oprimido serve de referecircncia para o trabalhador rural que luta
pela emancipaccedilatildeo de sua condiccedilatildeo de proletaacuterio atraveacutes da reforma agraacuteria A
pedagogia do oprimido leva o homem ao encontro de si mesmo ao reconhecimento
da grandeza de seu trabalho ao potencial de suas accedilotildees cotidianas que fazem a
diferenccedila A capacidade de reflexatildeo e o entendimento de sua potencialidade pode
leva-lo agrave sua plena realizaccedilatildeo como indiviacuteduo e como ser social
20
A reaccedilatildeo do governo contra o movimento de educaccedilatildeo popular proposto por
Freire e assumido pelo Movimento das Ligas Camponesas e pelo Movimento de
Educaccedilatildeo de Base (MEB) gerou repressatildeo e resposta da ditadura civil-militar como
o Movimento Brasileiro de Alfabetizaccedilatildeo (MOBRAL)
A luta dos movimentos sociais e sindicais pela educaccedilatildeo do campo parte das
forccedilas internas dos movimentos e alcanccedila a setores sociais religiosos ideoloacutegicos
que passam a contribuir efetivamente para o alcance do direito agrave educaccedilatildeo aos
camponeses
A Comissatildeo Pastoral da Terra (CPT) presente ao lado dos trabalhadores (as)
rurais indiacutegenas ribeirinhos pescadores e quilombolas tambeacutem contribuiu e
contribui para a formaccedilatildeo criacutetica a defesa de formas sustentaacuteveis de utilizaccedilatildeo de
recursos naturais e produccedilatildeo e para a alfabetizaccedilatildeo segundo o meacutetodo de Paulo
Freire (CANUTO 2012 p 131)
Na atualidade estaacute em desenvolvimento um movimento que luta pela educaccedilatildeo do homem do campo organizado por vaacuterias entidades dentre elas o MST Trata-se de um processo que teve inicio em meados dos anos de 1990 impulsionados pela necessidade da educaccedilatildeo de jovens e adultos das aacutereas de assentamentos rurais Foi organizado um Programa Nacional para Educaccedilatildeo na Reforma Agraacuteria composto por atores tais como movimentos sociais universidades e governo federal aleacutem de outros parceiros (Alas da Igreja Sindicatos Organizaccedilatildeo Natildeo-Governamental ONG) existentes nas diferentes regiotildees do Brasil( SOUSA2004 p 32)
A trajetoacuteria de conquista das escolas do campo particularmente as escolas
do campo criadas pelo MST a partir da deacutecada de 1990 foi marcada pela conquista
e implantaccedilatildeo da Educaccedilatildeo Fundamental para crianccedilas e adolescentes dos
acampamentosassentamentos de acordo com o projeto politico-pedagoacutegico fruto do
amadurecimento do movimento
Focou-se a alfabetizaccedilatildeo de jovens e adultos e as lutas pela implantaccedilatildeo do
ensino meacutedio com cursos alternativos para a formaccedilatildeo de professores e teacutecnicos de
niacutevel meacutedio e tambeacutem de cursos superiores
A concepccedilatildeo de escolas de ensino fundamental plantadas em assentamentos
prevecirc a instalaccedilatildeo da escola na proacutepria comunidade evitando com isso o uso de
transporte escolar e a frequecircncia dos alunos Sem Terra em escolas fora do
assentamento
21
Esta atitude de resistecircncia foi fundamental para a conquista da escola nas
terras conquistadas e tambeacutem foi fundamental para universalizar o ensino enraizar
o aluno em sua comunidade e criar a consciecircncia do direito agrave educaccedilatildeo
ldquoincomodandordquo o Estado para garantir o cumprimento das poliacuteticas puacuteblicas
Kolling Vargas e Caldart (2012p502) nos ensinam ldquotoda vez que se
conquista uma escola de educaccedilatildeo baacutesica em um assentamento ou acampamento
ela representa menos adolescentes e jovens do campo fora da escola e mais gente
enraizada em seu proacuteprio lugarrdquo (pag 502)
Os movimentos sociais e sindicais pela educaccedilatildeo do campo indicam o grau
de maturidade desses em sua luta pela reforma agraacuteria Agrave essa luta soma-se o
projeto de desenvolvimento do paiacutes baseado na justiccedila social e o combate agraves
tradicionais formas utilizadas pelas elites urbanas ou rurais de alienaccedilatildeo pela
expropriaccedilatildeo do trabalho e pelo controle dos meios que levam agrave emancipaccedilatildeo
sociocultural e agrave verdadeira humanizaccedilatildeo papel destinado agrave educaccedilatildeo
Neste sentido movimentos sociais como o MST inserem a educaccedilatildeo
baseada em princiacutepios pedagoacutegicos que se distinguem da escola tradicional
Numa perspectiva histoacuterica os movimentos sociais do campo como por
exemplo o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) tiveram inicialmente
como bandeira de luta a luta pela terra pela Reforma Agraacuteria natildeo fazendo uma
relaccedilatildeo entre essa luta e a educaccedilatildeo
A formaccedilatildeo de escolas do campo pelo MST natildeo foi resultado da consciecircncia e
importacircncia da escola para a promoccedilatildeo da educaccedilatildeo em seu meio Foi na verdade
a necessidade de oferecer aos filhos dos primeiros lutadores a oportunidade de
uma perspectiva melhor de futuro atraveacutes do direito agrave educaccedilatildeo Foi tambeacutem a
necessidade de ldquotransformar instituiccedilotildees histoacutericas como a escola em lugares que
ajudem a formar os sujeitos destas transformaccedilotildeesrdquo (CALDART2012 p94)
Desse modo houve primeiro a ldquoocupaccedilatildeo da escolardquo pela mobilizaccedilatildeo e pela
accedilatildeo para garantir que em acampamentos ou assentamentos conquistados
houvesse uma escola que ldquofizesse a diferenccedila ou tivesse realmente sentido em sua
vida presente e futura (preocupaccedilatildeo com os filhos)rdquo (CALDART2012 p91)
Num segundo momento da luta observa-se intencionalidade da luta pela
escola mas com proposta pedagoacutegica especiacutefica ldquocombinando processos de
22
escolarizaccedilatildeo e de formaccedilatildeo da militacircncia e da base social Sem Terrardquo
(CALDART2012 p92)
As experiecircncias de pensar escolas como polos regionais entre assentamentos e com estudantes de outras comunidades de camponeses aos poucos vatildeo educando o olhar dos trabalhadores Sem Terra para uma realidade mais ampla Foi assim que o MST chegou agrave EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO (KOLLING Vargas e Caldart 2012 p 502)
A escola dentro dessa perspectiva de mudanccedila e envolvimento social eacute
parte da luta pela reforma agraacuteria daacute significado a ela pois proporciona a formaccedilatildeo
integral dos sujeitos que lutam pela terra
Essa escola possibilita a reflexatildeo trava o diaacutelogo com as propostas de
educaccedilatildeo popular de Paulo Freire e busca superar as dificuldades imensas que
assentados e acampados vivem no dia a dia
A escola tambeacutem revela a cultura o orgulho e criaccedilatildeo da identidade na luta
por terra Nesse sentido
A heranccedila que o MST deixaraacute para seus descendentes seraacute bem mais do que a terra que conseguir libertar do latifuacutendio seraacute um jeito de ser humano e de tomar posiccedilatildeo diante das questotildees de seu tempo seratildeo os valores que fortalecem e datildeo identidade aos lutadores do povo de todos os tempos de todos os lugares Eacute enquanto produto humano de uma obra educativa que os Sem Terra podem ser vistos como mais um elo que se forma em uma longa tradiccedilatildeo de lutadores sociais que fazem a histoacuteria da humanidade Enraizamento no passado e projeto de futuro (CALDART 2012 p 96)
A educaccedilatildeo proposta pelo movimento gera o sentimento de pertencimento e
desperta o sentimento de respeito agrave coletividade valoriza o trabalho a gestatildeo
democraacutetica e desburocratizada da escola
SANTOS (2013 p71) esclarece que pelo projeto educacional do MST a
educaccedilatildeo proposta estaacute pautada em ldquovalores socialistas e humanistas tais como o
coletivismo o trabalho socialmente uacutetil a organizaccedilatildeo e auto-organizaccedilatildeo dos
estudantes e professoresrdquo (p71)
-21-
23
221 Concepccedilatildeo Pedagoacutegica da Educaccedilatildeo do Campo
No acircmbito da educaccedilatildeo do homem do campo tornar o homem sujeito e natildeo
objeto do saber leva a entender que o conhecimento do camponecircs pode dialogar
com as praacuteticas baseadas no conhecimento cientiacutefico desde que seja perseguido o
ideal de trabalhadores e educadores do campo comprometidos com as lutas sociais
de formar o homem ldquodordquo campo e ldquono campordquo
Conforme Kolling Cerioli e Caldart (2002 p 264) ldquoo povo tem direito a uma
educaccedilatildeo pensada desde o seu lugar e com sua participaccedilatildeo vinculada agrave sua
cultura e agraves suas necessidades humanas e sociaisrdquo ndash(Caldart Educaccedilatildeo do Campo
2012 p 264
Tal compreensatildeo se ainda hoje causa oposiccedilatildeo ateacute mesmo no ambiente
acadecircmico imagine-se naquele momento histoacuterico de profunda repressatildeo poliacutetica e
ideoloacutegica aos movimentos sociais de camponeses por terra e educaccedilatildeo Como nos
ensina Molina e Saacute (DICIONAacuteRIO da Educaccedilatildeo do Campo p 324)
A concepccedilatildeo de escola do campo nasce e se desenvolve no bojo do movimento da EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO a partir das experiecircncias de formaccedilatildeo humana desenvolvidas no contexto de luta dos movimentos sociais camponeses por terra e educaccedilatildeo Trata-se portanto de uma concepccedilatildeo que emerge das contradiccedilotildees da luta social e das praacuteticas de educaccedilatildeo dos trabalhadores do e no campo (MOLINA e SAacute 2012 pag 324)
A concepccedilatildeo pedagoacutegica da educaccedilatildeo popular e da pedagogia da praacutetica
segundo ARROYO inclui
um caraacuteter de envolvimento totalizante dos movimentos sociais que possibilita ao individuo que participa destes coletivos o acesso a outro tipo de formaccedilatildeo que supera a condiccedilatildeo de aluno de alfabetizando de escolarizando Os integrantes destes organismos emersos na tensa situaccedilatildeo de conflitos aprendem por meio da vivencia das lutas sociais dos momentos de mobilizaccedilatildeo das situaccedilotildees limites de perda de emprego de criacuteticas da sociedade agraves suas accedilotildees de ameaccedilas agraves suas vidas Tudo isso traz ricas liccedilotildees ensinadas na ldquoescola do movimentordquo e que nenhuma teoria pode transmitir ou explicar de forma satisfatoacuteria
No entendimento de Arroyo (2013) os movimentos sociais vivem e
amadurecem sob o conhecimento e o entendimento das contradiccedilotildees sociais e esta
24
experiecircncia lhes permite a possibilidade de defender mudanccedilas radicais tanto no
campo como na cidade tanto na ideologia quanto no combate ao latifuacutendio e ao
capitalismo
Tamanho movimento social gera a reflexatildeo sobre as relaccedilotildees
socioeconocircmicas politicas culturais cuidado da natureza relaccedilotildees humanas
destaques de tudo o que interessa ao coletivo agrave sociedade
Eacute por meio do entendimento de que a realidade eacute criaccedilatildeo humana de como se estabelecem os processos de opressatildeo e ainda da noccedilatildeo de que podemos transformar essa realidade dado que a sociedade eacute mutaacutevel que se forma a praacutexis da luta accedilatildeo-conscientizaccedilatildeo-transformaccedilatildeo-libertaccedilatildeo Inserindo-se criticamente na histoacuteria os cidadatildeos tornam-se sujeitos construtores e reconstrutores da realidaderdquo
Molina e Saacute (2012) nos ensinam a partir do conceito de escola do campo sobre a
potencialidade da vivencia de praacuteticas coletivas para a valorizaccedilatildeo integral dos
sujeitos da coletividade do conhecimento cientiacutefico da gestatildeo coletiva da escola
dentre tantos avanccedilos e vitoacuterias dos movimentos sociais
O processo ensino-aprendizagem permite que o conceito de escola extrapole
o cotidiano de dificuldades e desafia agrave reflexatildeo que gera a emancipaccedilatildeo
Este eacute um dos maiores desafios e ao mesmo tempo uma das maiores possibilidades da escola do campo articular os conhecimentos que os educandos tecircm o direito de acessar a partir do trabalho com a realidade da religaccedilatildeo entre educaccedilatildeo cultura e os conhecimentos cientiacuteficos a serem apreendidos em cada ciclo de vida e de diferentes aacutereas do conhecimento(MOLINA MOURAtildeO 2012 p 329) -26-
222 Princiacutepios da Educaccedilatildeo do Campo
Alguns princiacutepios viabilizam o projeto de escola adotado pelos movimentos
sociais e possibilitam a democracia e a integraccedilatildeo de todos lideranccedila assentados e
acampados do movimento
25
O princiacutepio da responsabilidade coletiva sobre o planejamento a gestatildeo a
organizaccedilatildeo e a realizaccedilatildeo de tarefas em todas as esferas de atividades princiacutepios
muito valorizados pelos movimentos sociais do campo foram transferidos para o
projeto de educaccedilatildeo
O projeto eacute de responsabilidade coletiva e insere educadores tanto a niacutevel
local como regional e nacional os ldquoColetivos de educaccedilatildeordquo como satildeo conhecidos
Os coletivos de educaccedilatildeo com tarefas forccedila orgacircnica e discussotildees especiacuteficas que podem variar a cada periacuteodo fortalecem o princiacutepio organizativo de que a questatildeo da educaccedilatildeo bem como outras questotildees da vida social assumidas pelo MST deve ser pensada e implantada de forma coletiva Eacute uma loacutegica que implica tarefas a serem realizadas pelas pessoas mas mediante um planejamento e uma leitura de conjuntura feita por um coletivo (KOLLING1995 et al p503)
Para concretizar o projeto de educaccedilatildeo foi concebida a formaccedilatildeo de
professores pelos proacuteprios movimentos no acircmbito da proacutepria comunidade
(conhecidos como ldquoprofessores leigosrdquo) e tambeacutem pela rede oficial de ensino
A falta de titulaccedilatildeo de muitos educadores formados na comunidade natildeo
impede que os mesmos trabalhem juntos com os professores titulados e com
simpatizantes do movimento no projeto poliacutetico-pedagoacutegico constituindo um
princiacutepio democraacutetico importante para superar as dificuldades e urgecircncias para a
implantaccedilatildeo da educaccedilatildeo do campo
A democracia do processo de formaccedilatildeo de educadores tem reflexos amplos
a formaccedilatildeo de educadores pelos proacuteprios movimentos especiacutefica para atuaccedilatildeo nas
escolas do campo
O movimento eacute responsaacutevel pela universalizaccedilatildeo do ensino no acircmbito dos
territoacuterios conquistados ou por conquistar e permitiu a evoluccedilatildeo do ensino ateacute o niacutevel
de terceiro grau com a realizaccedilatildeo de cursos como a Licenciatura em Educaccedilatildeo do
Campo (LEdoC) do qual somos os privilegiados alunos aqui na Universidade de
Brasiacutelia
Outro reconhecimento e prova de eficiecircncia da formaccedilatildeo de professores eacute o
precircmio ldquoEducaccedilatildeo e Participaccedilatildeordquo recebido em 1995 do Fundo das Naccedilotildees Unidas
para a Infacircncia (Unicef)
26
O somatoacuterio das forccedilas internas e externas do movimento ldquoleigasrdquo ou
tituladas associadas ao princiacutepio fundamental da participaccedilatildeo dos alunos e
comunidades em todos os niacuteveis e localidades eacute ponto fundamental para o sucesso
da concepccedilatildeo do projeto pois permite o estudo a reflexatildeo conjunta sobre
estrateacutegias para o alcance do objetivo de educaccedilatildeo na reforma agraacuteria
-25-
223 Marcos Normativos da Educaccedilatildeo do Campo
Numerosos Marcos Normativos podem ser citados para explicitar qual perfil
de escola destinada ao camponecircs interessava ao governo e aos proprietaacuterios rurais
A Lei 4024 de 1961 em seu art 105 estabelece o
Apoio que poderaacute ser prestado pelo poder puacuteblico agraves iniciativas que mantenham na zona rural instituiccedilotildees educativas orientadas para adaptar o homem ao meio e estimular vocaccedilotildees e atividades profissionais (BRASIL 2012 p 4)
A Lei 5692 de 1971 ao tratar da educaccedilatildeo rural ldquonatildeo observa mais uma vez
a inclusatildeo da populaccedilatildeo na condiccedilatildeo de protagonista de um projeto social globalrdquo
sendo que o trabalho do campo realizado por alunos eacute ateacute mesmo incentivado
adequando-o ao calendaacuterio escolar (MARCOS NORMATIVOSBrasiacutelia2012 p 25)
A Lei 9394 de 1996 (Lei das Diretrizes se Bases da Educaccedilatildeo ndash LDB) em
acordo com Constituiccedilatildeo de 1988 e ldquoinspirada de alguma forma numa concepccedilatildeo
de mundo rural enquanto espaccedilo especifico diferenciado e ao mesmo tempo
integrado no conjunto da sociedaderdquo reconhece
A diversidade soacutecio-cultural e o direito agrave igualdade e agrave diferenccedila possibilitando a definiccedilatildeo de diretrizes operacionais para educaccedilatildeo rural sem no entanto recorrer a uma logica exclusiva e de ruptura com um projeto global de educaccedilatildeo para o paiacutes (idem p 26)
27
Os artigos 208 e 210 da Carta Magna-1988 e inspirada de numa concepccedilatildeo
de mundo rural enquanto espaccedilo especiacutefico diferenciado e ao mesmo tempo
integrado no conjunto da sociedade a Lei 939496- LDB-estabelece que
Art 28 Na oferta da educaccedilatildeo baacutesica para a populaccedilatildeo rural os sistemas de ensino promoveratildeo as adapta necessaacuteria agrave sua adequaccedilatildeo agraves peculiaridades da vida rural e de cada regiatildeo especialmente (MARCOS NORMATIVOS) Brasiacutelia 2012 p 25)
1- Conteuacutedos organizar curriculares e metodologias apropriadas agraves reais
necessidades e interesses dos alunos da zona rural
2-organizaccedilatildeo escolar proacutepria incluindo a adequaccedilatildeo do calendaacuterio escolar as
fases do ciclo agriacutecola e as condiccedilotildees climaacuteticas
3-adequaccedilatildeo agrave natureza do trabalho na zona rural (MARCOS NORMATIVOS)
Brasiacutelia 2012( p 26)
O movimento de educaccedilatildeo do campo luta haacute quinze (15) anos para fazer-se
cumprir esse Decreto da Lei de Diretrizes de base da educaccedilatildeo do campo-LDB
que apesar de ser constitucional ainda natildeo foi colocada totalmente em praacutetica
Agora com as lutas dos movimentos sociais eacute que estaacute comeccedilando a se concretizar
Artigo 26 Os curriacuteculos do ensino fundamental e meacutedio devem ter uma base nacional comum a ser complementada em cada sistema de ensino e estabelecimento escolar por uma parte diversificada exigida pelas caracteriacutesticas regionais e locais da sociedade
da cultura da economia e da clientela (MARCOS NORMATIVOS) Brasiacutelia 2012(p 26)
O Decreto nordm 7352 de 4 de novembro 2010 dispotildee sobre a poliacutetica de educaccedilatildeo do campo ao Programa Nacional de Educaccedilatildeo
na Reforma Agraacuteria-PRONERA decreta
Art1ordm A poliacutetica de educaccedilatildeo do campo destina-
se agrave ampliaccedilatildeo e qualificaccedilatildeo da oferta de educaccedilatildeo baacutesica e superior agraves populaccedilotildees do campo e seraacute desenvolvida pela Uniatildeo em regime de colaboraccedilatildeo com os Estados o
28
Distrito Federal e os Municiacutepios de acordo com as diretrizes e metas estabelecidas no Plano Nacional de Educaccedilatildeo e o disposto neste Decreto
Para os efeitos deste Decreto entende-se por
l-populaccedilatildeo do campo os agricultores familiares os extrativistas os pescadores
artesanais os ribeirinhos os assentados e acampados da reforma agraacuteria os
trabalhadores assalariados rurais os quilombolas os caiccedilaras os povos da floresta
os caboclos e outros que produzam suas condiccedilotildees materiais de existecircncia a partir
do trabalho no meio rural
ll-escola do campo aquela situada em aacuterea rural conforme definida pela Fundaccedilatildeo
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica- IBGE ou aquela situada em aacuterea
urbana desde que atenda predominantemente a populaccedilatildeo do campo (MARCOS
NORMATIVOS) 2012( p 81)
No Decreto 6755 29 de janeiro de 2009 em seu art 2ordm estabelecida pelo Conselho
Nacional de Educaccedilatildeo que se refere as Diretrizes Operacionais da Educaccedilatildeo do
Campo o parecer da alternacircncia
A formaccedilatildeo de professores poderaacute ser feita concomitantemente agrave atuaccedilatildeo profissional de acordo com metodologias adequadas inclusive a pedagogia da alternacircncia e sem prejuiacutezo de outras que atendam agraves especificidades da educaccedilatildeo do campo e por meio de atividades de ensino pesquisa e extensatildeo (MARCOS NORMATIVOS) 2012( p84)
-26-
29
-
231 A educaccedilatildeo do campo e poliacutetica puacuteblica - o PRONERA
O amadurecimento adquirido pela luta sobre o papel da educaccedilatildeo aliado agrave
iniciativa do aproveitamento do trabalho das professoras ldquoleigasrdquo e ainda da
consciecircncia cada vez mais presente do dever do Estado em prover os cidadatildeos da
reforma agraacuteria de poliacuteticas puacuteblicas resultou no campo da educaccedilatildeo na criaccedilatildeo do
Programa Nacional de Educaccedilatildeo na Reforma Agraacuteria (PRONERA)
O PRONERA envolve formalmente jovens e adultos num projeto conjunto
com universidades e institutos federais em prol da formaccedilatildeo de educadores para o
trabalho em escolas dos assentamentos da reforma agraacuteria e seu entorno
O Programa foi criado em 1998 no momento da ascensatildeo dos conflitos pela
reforma agraacuteria o que propiciou que os movimentos sociais trouxessem para a
opiniatildeo puacuteblica suas mazelas
No campo da educaccedilatildeo foi denunciada a falta de escola a precariedade do
ensino a falta de profissionais do ensino a ldquoloacutegica de negaccedilatildeo histoacuterica do direito
aos camponeses de acesso aos niacuteveis mais elevados de escolaridade ( SANTOS
2012 pag 630)
A partir de 2005 o ensino oferecido pelo PRONERA eacute estendido ao niacutevel
meacutedio e superior como a Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo e a Residecircncia
30
Agraacuteria O PRONERA evoluiu para outros patamares tais como ldquopossibilidades de
ressignificaccedilatildeo do conteuacutedo e da metodologia dos processos de educaccedilatildeo formal
por meio dos princiacutepios baacutesicos da participaccedilatildeo e da multiplicaccedilatildeordquo (SANTOS 2012
p 631)
A participaccedilatildeo das comunidades e suas organizaccedilotildees e a multiplicaccedilatildeo de
alfabetizados formados educadores e demais profissionais ligados agraves poliacuteticas
puacuteblicas para a Reforma Agraacuteria gerou ampla participaccedilatildeo dos agentes envolvidos
na dinacircmica do processo ensino-aprendizagem
Essa forma de gestatildeo gerou reaccedilatildeo contraacuteria ldquoagrave gestatildeo colegiada e coletiva
notadamente agrave participaccedilatildeo direta dos movimentos sociais e sindicais do campordquo
considerados ldquoentes estranhos agrave administraccedilatildeo puacuteblicardquo (CLARICE p 634)
O envolvimento dos movimentos sociais e sindicais do campo natildeo
retrocederam em sua luta pelo envolvimento de todos os interessados na educaccedilatildeo
como elemento emancipatoacuterio e continuam formulando princiacutepios concepccedilotildees e
diretrizes para a escola do campo
-31-
31
Terceiro Capiacutetulo
A histoacuteria do Assentamento Renascer
31 Uma breve histoacuteria de luta
A histoacuteria do Assentamento Renascer natildeo parece ser diferente da histoacuteria de
outros assentamentos Brasil afora Partiu da reivindicaccedilatildeo de Trabalhadores Rurais
sem Terra que desde 2004 ocuparam as margens da Rodovia DF 330 que liga
Sobradinho ao Paranoaacute-DF
Tatildeo perto do centro do poder a apenas poucos quilocircmetros do Palaacutecio da
Alvorada ou da Sede do INCRA o Acampamento Renascer esteve ateacute oito (08) de
maio de 2009 tatildeo distante da decisatildeo poliacutetica pela Reforma Agraacuteria
Somente nesta data trezentos sessenta e um( 361) de terras devolutas da
Uniatildeo foram repassadas ao INCRA para assentar as famiacutelias aliacute acampadas Ficou
criado o assentamento Renascer fora da beira da estrada
O Assentamento Renascer ldquorenasceurdquo da dificuldade de vida sob o barraco de
madeira sem aacutegua sem luz sem saneamento baacutesico que fez com que tantos
desistissem ao longo do caminho e ainda hoje se encontra nessa mesma
precariedade um descaso por parte do poder puacuteblico
A luta em vaacuterios momentos da vida dos acampados parecia estar vencida Os
vencedores pareciam ser a burocracia o desrespeito as noites mal dormidas a
inseguranccedila a falta de perspectivas para o acampado e suas famiacutelias
Duzentas (200) famiacutelias viveram aliacute por cinco anos (05) de 2004 ateacute 2009
Atualmente satildeo cento e vinte (120) famiacutelias que moram na aacuterea destinada e estatildeo
em processo de assentamento Muitas delas poreacutem vencidas pelo cansaccedilo e pelas
condiccedilotildees de vida abandonaram a luta mas todas as famiacutelias as que se foram e as
que ficaram sonharam com a terra onde poderiam produzir viam no pedaccedilo de chatildeo
os frutos do pomar da horta o galinheiro o pasto
O Assentamento Renascer eacute o Brasil Eacute um pedacinho da cruel realidade que
como vimos neste trabalho marcou a sociedade brasileira desde a escravidatildeo
desde o primeiro grito de rebeldia do quilombo desde o primeiro que lutou contra os
coroneacuteis por divisatildeo da terra como as Ligas Camponesas contra o latifuacutendio como
os movimentos sociais em sua luta pela reforma agraacuteria desde vaacuterias geraccedilotildees
32
Eacute como todo e qualquer movimento social que surgiu neste paiacutes desde a
deacutecada de 1980 pela reforma agraacuteria Viveu e ainda vive as dificuldades de ser
acampadoassentado mas honra sua luta porque natildeo desiste faacutecil
O Assentamento Renascer eacute tambeacutem fruto do ecircxodo rural da industrializaccedilatildeo
do campo da monocultura e da concentraccedilatildeo de terras Foram expulsos do campo
para a periferia das cidades sem capacitaccedilatildeo sem estudo
A falta de escolarizaccedilatildeo eacute sem duacutevida uma caracteriacutestica de quase todos os
que vieram do campo para a cidade A realidade do Brasil eacute que o campo natildeo eacute
escolarizado as escolas no campo satildeo poucas satildeo despreparadas satildeo
desvalorizadas
-33-
32 As escolas no campo na vivencia do assentado do Assentamento
Renascer
As escolas no campo marcaram profundamente a vida dos poucos que a
frequentaram Quase todos tiveram que trocar o laacutepis pela enxada a carteira pela
roccedila desde muito pequenos Alguns natildeo muito poucos conforme os depoimentos
aqui relatados teriam que abandonar a enxada e a participaccedilatildeo no sustento da
famiacutelia para frequentar a escola Quase sempre abandonaram a escola para ficar no
trabalho com a enxada
Todos teriam que andar vaacuterios quilocircmetros para ir agrave escola Outros nem assim
conseguiriam frequentar a escola no campo ela simplesmente natildeo existia no
campo Teriam entatildeo que ir para a cidade para ter direito a uma escola
Muitos tambeacutem vivenciaram os traumas que uma escola tradicional e
descomprometida com os valores e responsabilidades do projeto educacional
castigos humilhaccedilotildees afastaram a muitos da escola
Alguns apenas sonharam e sonham com a escola ldquoAh a escolardquo Tatildeo longe
inacessiacutevel para tantos no Brasil afora Ao ver de algumas pessoas do
Assentamento Renascer ldquoSe tivesse jeito eu teria ido agrave escola tinha feito pelo
menos o ensino fundamental completo para que eu pudesse ingressar no curso
33
teacutecnico-agriacutecola Mas agora quero que meus filhos e netos vatildeo para a escola
aprender ser algueacutem na vidardquo
-34-
321 A escola no entorno do Assentamento Renascer
A ideia de lutar pela educaccedilatildeo veio antes da ideia de lutar pela escola como
espaccedilo conquistado pelo acampamento Encontrar uma escola perto do
acampamento com transporte escolar com vagas e horaacuterios acessiacuteveis para os que
trabalham o dia todo era entendido como uma necessidade baacutesica e uma grande
vitoacuteria
Ficava-se feliz se apesar das dificuldades fosse possiacutevel matricular pelo
menos as crianccedilas As dificuldades eram e ainda satildeo muitas o transporte escolar
era e eacute precaacuterio a poeira natildeo permite que os alunos cheguem limpos agrave escola os
buracos e as poccedilas daacutegua impedem a chegada do ocircnibus escolar durante as
chuvas No caso do ocircnibus que levam os alunos ateacute a Escola Classe do Coacuterrego do
Arrozal em eacutepoca de muita chuva os ocircnibus ateacute o iniacutecio de 2014 natildeo conseguiam
transitar Isto resulta no fato de que as crianccedilas precisam caminhar debaixo de
chuva ateacute a escola
-35-
322 O caminho para a produccedilatildeo do saber no Assentamento Renascer a
brinquedoteca a integraccedilatildeo social a biblioteca comunitaacuteria as manifestaccedilotildees
culturais
Ao longo dos anos de vivecircncia e convivecircncia no Acampamento Renascer
mediante a dificuldade e necessidade de estudar que sentimos na nossa proacutepria
vida foi despontando a ideia de prover as crianccedilas de atividades luacutedicas e
educativas
34
Logo no iniacutecio do acampamento por volta de 2005 por iniciativa de algumas
pessoas conscientes da necessidade de atividades luacutedicas para as crianccedilas foi
criada uma brinquedoteca
Inicialmente os brinquedos eram de materiais reciclaacuteveis como garrafas pet
telefones sem fio carrinhos bonecas petecas vai e vem cavalinhos tudo era
confeccionado com a participaccedilatildeo das crianccedilas na modalidade de oficina
incentivando-os a fabricar os seus proacuteprios brinquedos Os brinquedos eram
confeccionados a partir de materiais encontrados nos lugares de descarte perto do
acampamento e doaccedilotildees de pessoas que passavam pela estrada
O embriatildeo de um processo educacional que nunca se interrompeu estava
lanccedilado a brinquedoteca proporcionou a criatividade e a participaccedilatildeo de crianccedilas e
adultos marcando as atividades pela conscientizaccedilatildeo do cuidado com a natureza e a
importacircncia da reciclagem A educaccedilatildeo ambiental jaacute era praticada desde o
nascimento do acampamento Renascer
Este primeiro passo foi muito importante porque traduziu para o dia a dia do
acampamento os princiacutepios da escola do campo atuante para mudar a realidade
criar cidadatildeos conscientes e dispostos a mudar a realidade a partir da sua proacutepria
accedilatildeo Este eacute o processo de transformaccedilatildeo social dentro do acampamento Renascer
haacute tanto tempo atraacutes
Aos brinquedos reciclados pela proacutepria comunidade juntaram-se outros
presenteados por instituiccedilotildees como igrejas ONGs a Pastoral da Crianccedila e pessoas
interessadas no bem estar daquelas crianccedilas
Percebe-se em iniciativas como essas a importacircncia da educaccedilatildeo nos
diversos niacuteveis para a sociedade A integraccedilatildeo de pessoas com as atividades
educativas no acampamento nos faz lembrar sobre um grande sonho das escolas
hoje integrar a comunidade de modo a que todos defendam a escola
O sucesso de iniciativas como a brinquedoteca que integravam crianccedilas
adolescentes adultos e sociedade foi importante para outras iniciativas igualmente
importantes
Foi-se criando um projeto educacional para o acampamento sem que se
tivesse consciecircncia disso por faltar informaccedilatildeo que soacute agora se possui graccedilas aos
estudos na Universidade o galpatildeo comunitaacuterio foi utilizado para abrigar a
35
brinquedoteca para desenvolver grupos de teatro de crianccedilas e adultos e para
abrigar a biblioteca
A biblioteca recebeu inuacutemeros exemplares de livros infantis livros didaacuteticos
para os adolescentes e adultos literatura universal revistas dos mais variados
assuntos criando assim um espaccedilo comunitaacuterio de informaccedilatildeo lazer e
entretenimento
Com a criaccedilatildeo da biblioteca ficou evidente a importacircncia da alfabetizaccedilatildeo de
crianccedilas jovens e adultos Muitos acampados relatavam a vontade e a necessidade
de aprender a ler e a escrever Muitos reivindicavam o direito agrave educaccedilatildeo e
frequecircncia agrave escola ainda que o acampamento mudasse de ldquoendereccedilordquo tantas
vezes
Outros poreacutem natildeo acreditavam que seria possiacutevel aprender ou aperfeiccediloar a
leitura e a escrita nas condiccedilotildees de vida de um acampado
Vaacuterias atividades culturais foram desenvolvidas (e ainda satildeo) no
Acampamento Renascer Todas chamavam a atenccedilatildeo da comunidade local de
outras comunidades vizinhas garantindo a simpatia de chacareiros que levavam os
filhos para participarem das atividades
Uma das atividades mais apreciadas foi o Teatro de Fantoches inspirados em
faacutebulas muitas com a autoria da Pastoral da Crianccedila e da Faber Castel A
participaccedilatildeo da comunidade na atividade era intensa e voluntaacuteria todos queriam
manipular os fantoches participar cantando danccedilando ou prestando muita atenccedilatildeo
O teatro de transformaccedilatildeo social produzido pelos adultos e adolescentes
utilizavam tambeacutem materiais reciclaacuteveis demonstrando cuidado com o meio
ambiente e amadurecimento dos conceitos poliacuteticos e pedagoacutegicos gerando reflexatildeo
sobre os temas sociais que nos atingem no cotidiano
A miacutestica adotada pelos movimentos sociais com o objetivo de reflexatildeo satildeo
apresentadas em datas comemorativas e contam com o apoio e participaccedilatildeo de
muitos
Algumas festas fazem parte da tradiccedilatildeo do Acampamento Renascer
traduzindo para a realidade atual as antigas festas a que todos foram acostumados
em seus lugares de origem
Pode-se dizer que a comunidade aprecia muito as festas Mas duas em
particular satildeo muito respeitadas a festa das crianccedilas que ocorre durante o dia (12
36
de outubro) eacute concorrida pois a comunidade se esmera para oferecer os brinquedos
que as crianccedilas amam pula-pula palhaccedilos pintura de rosto piscina de sabatildeo e
muita oferta de comida coisas que as crianccedilas adoram
No mesmo dia ocorre agrave noite a festa da Nossa Senhora Aparecida com
missa e muito forroacute
No mecircs de marccedilo eacute comemorada a Festa da Pamonha em comemoraccedilatildeo agrave
boa colheita do milho Esta festa jaacute se tornou tradicional conhecida em todo o
entorno do assentamento Egrave uma festa importante porque confraterniza a
comunidade Renascer com as comunidades vizinhas e ateacute mesmo as cidades de
Sobradinho Paranoaacute e Planaltina
Os movimentos sociais necessitam ser admirados pela sociedade e festas
como estas chamam a atenccedilatildeo para o problema da reforma agraacuteria demonstrando
que ela eacute viaacutevel e que os assentados tecircm simpatia competecircncia e seus saberes do
campo
A festa ldquojulinardquo eacute outra festa muito apreciada que apresenta as tradiccedilotildees rurais
e religiosas como quadrilhas e bandas de forroacute da comunidade e vizinhanccedila A
danccedila eacute um dos pontos fortes da festa assim como as comidas tradicionais muitas
delas com ingredientes colhidos no acampamento
Vaacuterios grupos de atividades teatrais apresentaram-se na localidade com
participaccedilatildeo de palhaccedilos lembrando um espetaacuteculo circense Alguns desses
grupos inclusive tiveram seus trabalhos premiados
Outras atividades com fundo educativo tiveram participaccedilatildeo animada de
crianccedilas e adultos A exibiccedilatildeo de desenhos animados recentemente apresentados
no cinema eram um grande atrativo para a comunidade que se via socialmente
incluiacuteda Esta inclusatildeo aumentava a autoestima das crianccedilas principalmente pois
assim elas poderiam interagir com os colegas da escola conversando a respeito dos
filmes
A Economia Solidaacuteria eacute uma das formas de inserccedilatildeo dos membros da
comunidade agrave sociedade economicamente ativa Atraveacutes da cooperaccedilatildeo solidaacuteria eacute
possiacutevel o comercio justo agriacutecolas ou artesanais sob conceitos antes
desconhecidos enquanto forma de produccedilatildeo e consumo centrado na valorizaccedilatildeo do
ser humano em contraposiccedilatildeo agraves formas capitalistas de produccedilatildeo e conscientizaccedilatildeo
37
Ao longo dos doze (12) anos de luta pela educaccedilatildeo foram promovidos
diversos cursos que capacitaram multiplicadores que fazem um trabalho importante
para a comunidade
A ideia de autogestatildeo democracia cooperaccedilatildeo auxilia natildeo soacute as formas de
produccedilatildeo e comercio de bens e artesanatos mas tambeacutem auxiliam na formaccedilatildeo
integral de pessoas em que tanto o produtor como o consumidor tem o proposito de
ganhos financeiros segundo um criteacuterio de valorizaccedilatildeo do trabalho
Proposito de formar uma nova consciecircncia a Economia Solidaacuteria promoveu
cursos de Soberania Alimentar em que a comunidade recebeu noccedilotildees praacuteticas
sobre alimentaccedilatildeo a partir da produccedilatildeo local de modo a promover uma nova cultura
alimentar que visa o combate agraves doenccedilas crocircnicas Outro proposito eacute tornar a
comunidade criacutetica em relaccedilatildeo agrave publicidade de produtos alimentiacutecio supeacuterfluo que
induz agraves crianccedilas e adultos alimentarem-se incorretamente
A comunidade participou coletivamente da implantaccedilatildeo de uma unidade da
tecnologia social denominada Produccedilatildeo Agroecoloacutegica Integrada e Sustentaacutevel
(PAIS) em 2012 com o objetivo de produzir alimentos saudaacuteveis e preservar o meio
ambiente trazendo mais alimentos e renda ao campo Esta tecnologia popularmente
conhecida como ldquohorta mandalardquo foi ministrada durante o curso de capacitaccedilatildeo
promovido pela Fundaccedilatildeo Banco do Brasil e teve o meacuterito de proporcionar o debate
e a participaccedilatildeo democraacutetica na definiccedilatildeo das culturas a serem cultivadas na futura
propriedade Vale informar que o assentamento Renascer identificou-se com esse
paradigma agroecoloacutegico
A educaccedilatildeo ambiental faz parte do dia a dia da comunidade hoje preserva-se
conservaccedilatildeo das formas de vida vegetais e animais na regiatildeo do assentamento e
entorno
A produccedilatildeo de mudas no viveiro eacute bastante concorrida contando com a
participaccedilatildeo de todos O viveiro produz cinco mil (5000) mudas de espeacutecies nativa
do cerrado para o reflorestamento das nascentes de aacutegua e nas aacutereas degradadas
da regiatildeo Contam com o apoio da FUNATURA FUNDACcedilAtildeO BANCO DO BRASIL
IFB Rio Satildeo Bartolomeu Vivo e UnB
-36-
38
39
Quarto Capiacutetulo
A escola que queremos expectativas e sonhos dos
acampados do Assentamento Renascer
Pode-se observar pelas falas dos entrevistados que a realidade de todos
converge para os problemas estruturais do Brasil faltam escolas no campo eacute baixa
a escolaridade em Brasiacutelia todos exercem atividades de subemprego
Todos tecircm grandes expectativas com relaccedilatildeo agrave vida futura no assentamento
objetivando melhores condiccedilotildees de vida na esperanccedila de serem beneficiaacuterios
enquanto cidadatildeos assentados das Poliacuteticas Puacuteblicas e financiamentos agriacutecolas
voltadas para a agricultura familiar como PRONAF PAA PNAE e PAPA-DF Vecircem
aiacute a possibilidade de emprego e renda situaccedilatildeo sonhada desde quando foram
pleitear a terra para reforma agraacuteria
Um olhar mais aprofundado sobre a anaacutelise de dados revela que natildeo importa o
fato de hoje residirem no DF pois como em qualquer lugar de origem os moradores
do assentamento Renascer vivenciam os mesmos problemas Percebe-se
claramente as dificuldades da inexistecircncia de escola no campo A distacircncia continua
impedindo o acesso os meios de transportes continuam precaacuterios os filhos
vivenciam a dificuldade de transferecircncia para a cidade na expectativa de
continuidade dos estudos as estradas rurais continuam esburacadas
Satildeo muitos os pontos em comum entre a situaccedilatildeo atual relatada e os problemas
vividos haacute deacutecadas em seus estados de origem o que deixa transparecer a absoluta
falta de interesse por parte do poder puacuteblico em garantir o direito constitucional agrave
educaccedilatildeo do povo do campo o que infelizmente continuaraacute deixando o triste
legado para o futuro do paiacutes
40
Repetimos a pergunta da inicial Cadecirc as escolas do campo Ateacute quando o paiacutes
vai viver essa situaccedilatildeo A anaacutelise de dados responde Natildeo eacute mais possiacutevel
continuar como estaacute
Todos os entrevistados pretendem alcanccedilar conhecimentos atraveacutes da escola do
campo implantada no Assentamento Renascer com objetivos de administrar a
propriedade participar ativamente do coletivo garantir renda fixa atraveacutes dos
programas de desenvolvimento da agricultura familiar
Os entrevistados unanimamente tecircm a preocupaccedilatildeo da manutenccedilatildeo dos laccedilos
familiares e das raiacutezes camponesas
A distacircncia entre a moradia e a escola fato relatado pela quase totalidade dos
entrevistados constitui um grande motivo de evasatildeo escolar de defasagem nas
seacuteries frequentadas de precariedade na aprendizagem em relaccedilatildeo aos demais
alunos A discriminaccedilatildeo alegada por muitos que frequentaram ou frequentam
escolas fora da faixa etaacuteria o vernaacuteculo proacuteprio dos sujeitos do campo as condiccedilotildees
precaacuterias da estrada que denunciam a condiccedilatildeo de assentado o sentimento de
inadequaccedilatildeo constituem fatores que determinam a evasatildeo escolar
Foram treze (13) entrevistados significando aproximadamente dez por cento
(10) dos moradores do Assentamento Renascer Desse total apenas dois (2)
entrevistados natildeo declararam dificuldade de distacircncia entre a moradia e a escola em
seus lugares de origem A maioria absoluta (11) pessoas declararam que a distacircncia
dificultava e impedia o acesso agrave escola Alguns relatos apresentam situaccedilotildees
precaacuterias para o homem do campo o assentado
Para o aluno do campo a distacircncia da escola tem o significado de inexistecircncia de
escola Isto porque as dificuldades de acesso satildeo enormes No caso em estudo
apenas um entrevistado declarou a inexistecircncia de escola em sua regiatildeo de
moradia Este poreacutem vivenciou todas as dificuldades de acesso que outros
assentados apresentaram em razatildeo da distacircncia moradiaescola
A falta de professores na escola rural eacute relatada por 11 dos 13 entrevistados A
distacircncia da escola para os professores dificulta segundo a vivecircncia dos
entrevistados o acesso agrave escola e a assiduidade o que muito desmotivava a
ambos
41
Os entrevistados conforme anaacutelise de dados desejam muito objetivamente a
implantaccedilatildeo imediata de escolas segundo os criteacuterios caracteriacutesticos de escola do
campo
- Trazer a realidade para dentro da escola do campo curriacuteculos voltados para o
cotidiano do aluno do campo onde as teacutecnicas agriacutecolas pecuaacuterias e agroecoloacutegicas
possam fazer parte do processo educativo da comunidade e que a escola tenha
uma gestatildeo coletiva democraacutetica com a participaccedilatildeo da comunidade
- Ter o trabalho como princiacutepio educativo A experiecircncia do aluno deve
harmonizar-se com os princiacutepios pistrakianos significar o trabalho de forma a que
ele apresente benefiacutecios para o proacuteprio indiviacuteduo para a comunidade na qual estaacute
inserido e para a sociedade e natildeo exclusivamente para servir ao capitalismo
-Superar a fragmentaccedilatildeo do conhecimento disciplinar A interdisciplinaridade
deve fazer parte dos objetivos educacionais de modo a promover a formaccedilatildeo
integral dos educandos
- Valorizar os saberes do homem do campo Os entrevistados desejam uma
escola onde possam exercitar sua vivecircncia campesina e a relaccedilatildeo dialoacutegica entre
professor-aluno seguindo a pedagogia de Paulo Freire o educando quer aprender
com o educador mas quer tambeacutem ter a oportunidade de transmitir seus saberes
- Promover espaccedilos de gestatildeo coletiva A proacutepria comunidade deve participar da
gestatildeo a elaboraccedilatildeo do PPP deve gerir o espaccedilo fiacutesico da escola para atividades
de interesse da comunidade ocupar espaccedilos para finalidades culturais esportivas
sociais tornando a escola um espaccedilo democraacutetico
- Garantir a presenccedila da comunidade e dos movimentos sociais que geram
processos que auxiliam a emancipaccedilatildeo social A escola deve tambeacutem ser espaccedilo
que auxilie a sustentabilidade e garanta a alimentaccedilatildeo saudaacutevel e recursos
fitoteraacutepicos em associaccedilatildeo com a comunidade
- Inclusatildeo tecnoloacutegica em todos os aspectos digital inovaccedilatildeo tecnoloacutegica
agropecuaacuteria recursos ambientais alternativos agua potaacutevel energia solar energia
eoacutelica fossa seacuteptica teacutecnicas de compostagem saneamento baacutesico cuidados com
os recursos hiacutedricos
A anaacutelise dos dados quando feita especificamente sobre a escola a ser
implantada pode aparentemente demonstrar uma pequena conexatildeo com as teorias
da escola do campo
42
A concepccedilatildeo da escola do campo natildeo pode ser imposta ela parte do princiacutepio
que os camponeses devem conquista-la Para essa conquista eacute necessaacuteria a
paixatildeo o desejo por algo ainda natildeo experimentado o amadurecimento poliacutetico-
social-pessoal a participaccedilatildeo coletiva na luta e na conquista
A trajetoacuteria de luta por educaccedilatildeo da comunidade Renascer apresenta estes
elementos agraves vezes difusos outras vezes mais claramente A escola bem que
poderia para alguns ser apenas uma escola rural Afinal aprender a ler e a
escrever ldquodireitordquo como alguns dizem ou seja deixar a condiccedilatildeo de analfabeto ou
analfabeto funcional para tornar-se letrado significaria avanccedilos em face das atuais
circunstacircncias Alguns entendem assim expressando-se principalmente nas
conversas informais
Apesar disso quando as respostas informais ou quando as respostas das
entrevistas satildeo analisadas mais profundamente identificamos que embora
difusamente todos desejam o programa educacional da escola do campo
Explicando melhor a participaccedilatildeo de todos da comunidade em todas as atividades
soacutecio-poliacuteticas-culturais (relatadas no terceiro capitulo) indicam que a comunidade
assimilou a postura soacutecio-politica-cultural que caracterizam a escola do campo
A vivecircncia do Assentamento Renascer no cotidiano e nos eventos coletivos
amadureceu o desejo pelo alimento intelectual cultural artiacutestico ambiental social
que a concepccedilatildeo de escola do campo introduz O programa educacional da Escola
do Campo ultrapassou as paredes fiacutesicas da escola e alcanccedilou o cotidiano dos
assentados
Os avanccedilos da conscientizaccedilatildeo e seu reflexo na vida do Assentamento Renascer
satildeo sentidos nos nuacutemeros de matriculados na LEdoC sete (7) alunos
aproximadamente dez (10) assentados prestaratildeo o proacuteximo vestibular trecircs (3)
assentados estatildeo matriculados no IFB dois(2) assentados estatildeo formados em
Teacutecnico Agropecuaacuterio tambeacutem pelo IFB um deles cursa o Tecnoacutelogo de
Agroecologia tambeacutem do IFB
Vale acrescentar que no iniacutecio de 2014 quando o IFB buscou no Assentamento
pessoas interessadas em matricular-se em seus cursos sob a condiccedilatildeo de
estudarem no ensino meacutedio o interesse foi grande e a impossibilidade pelo fato de
natildeo estarem habilitados no ensino fundamental provocou tanta discussatildeo que
estimulou essa pesquisa
43
O legado desses alunos futuros alunos e profissionais para o futuro do
Assentamento apresentaraacute resultados significativos para toda a comunidade O
futuro colheraacute bons frutos plantados agora
A escola que temos natildeo estaacute funcionando falta a renovaccedilatildeo do contrato o que
atrasa a alfabetizaccedilatildeo e conclusatildeo do 5ordm ano Falta a implantaccedilatildeo de poliacuteticas
puacuteblicas para atendimento de questotildees baacutesicas como por exemplo carteiras
quadro de giz iluminaccedilatildeo espaccedilo fiacutesico (dependecircncias para a escola) e mobiliaacuterio
-41-
44
Consideraccedilotildees Finais
A Educaccedilatildeo do campo eacute um movimento em que os trabalhadores do campo e
suas organizaccedilotildees lutam por transformaccedilotildees sociais particularmente a criaccedilatildeo de
escolas dono campo de qualidade a partir de uma perspectiva ampla de reforma
agraacuteria
A construccedilatildeo da educaccedilatildeo do campo eacute resultado do amadurecimento dos
movimentos sociais e das comunidades rurais em sua trajetoacuteria de luta pelo direito
fundamental agrave universalizaccedilatildeo escolar para as populaccedilotildees camponesas segundo
orientaccedilatildeo poliacutetico-pedagoacutegica adequada agrave realidade dos lutadores de
acampamentos e assentamentos em luta pela reforma agraacuteria e justiccedila social
Alguns princiacutepios caracterizam a luta pela escola do campo Dentre eles
podemos citar a criaccedilatildeo da consciecircncia do direito agrave educaccedilatildeo de qualidade plantada
na proacutepria comunidade o que provoca o enraizamento a valorizaccedilatildeo da vida no
campo a promoccedilatildeo da autoestima e a transformaccedilatildeo do ser alienado pela ideologia
e desigualdade social e sujeito de sua proacutepria histoacuteria
Outro princiacutepio eacute a adequaccedilatildeo de curriacuteculos agrave realidade camponesa de modo
a que o processo ensino-aprendizagem favoreccedila o amadurecimento de talentos
naturais o surgimento de oportunidades a niacutevel pessoal e social contribuindo para a
emancipaccedilatildeo poliacutetico-social do indiviacuteduo com reflexos na sociedade
A mudanccedila de paradigmas e o envolvimento social provocam a formaccedilatildeo integral
dos sujeitos que lutam de forma coletiva e solidaacuteria pela terra A escola do campo
que surge dessa mudanccedila eacute tambeacutem transformadora porque eacute fruto da luta
consciente que gera a reflexatildeo e o amadurecimento poliacutetico deixando um legado
positivo de cidadatildeos orgulhosos de sua condiccedilatildeo de lutador pela terra de sua
identidade de sua cultura de sua comunidade e coletividade
A escola do campo propicia aos alunos a reflexatildeo sobre o contexto social e a
problemaacutetica da comunidade em que estatildeo inseridos o respeito agrave individualidade a
ampliaccedilatildeo das potencialidades do aluno para organizar elaborar e atuar
coletivamente Deixam o legado futuro de homens responsaacuteveis mentes
independentes e atuantes que poderatildeo prestar serviccedilos significativos agrave sociedade
45
A comunidade assentada de o Assentamento Renascer pela Reforma
Agraacuteria em Sobradinho DF foi convidada a opinar sobre a escola que deseja a
partir da conquista da terra
O modelo proposto a partir de seu posicionamento possibilita a conclusatildeo
de que a escola do campo plantada na comunidade eacute preferiacutevel ao modelo
adotado atualmente de inserccedilatildeo dos alunos da comunidade agraves escolas urbanas
conter recursos materiais e humanos que propiciem bons resultados
pedagoacutegicos deve servir para fixar o trabalhador ao campo deve cumprir com o
propoacutesito constitucional de universalizaccedilatildeo do ensino para todas as faixas
etaacuterias deve estar identificada com os sonhos de prosperidade material e
realizaccedilatildeo pessoal dos assentados
-46-
46
Referecircncias Bibliograacuteficas
CANUTO Antocircnio In Comissatildeo Pastoral da Terra DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO 2012 pag 131) CLAUDIA MORAES DE SOUZA em seu artigo lsquoDiscursos intolerantes O lugar da poliacutetica na educaccedilatildeo rural e a representaccedilatildeo do camponecircs analfabeto (DIVERSITAS FFLCH USPBR)acesso em 03-08-2014 EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO ndash Marcos Normativos Brasilia 2012 MEC FERRARO Alceu Ravanello em seu artigo Alfabetizaccedilatildeo rural no Brasil na perspectiva das relaccedilotildees campo-cidade e de gecircnero (Educ Real ndash WWWSCIELOBRPDFEDREALV37N3PDF acesso 03-10-2014 FERREIRA (2011_ ldquoUm olhar histoacuterico uma realidade concretardquo (WWWUNIFILBR)acesso 20-10-2014
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OLIVEIRA Maria Rita Duarte em sua dissertaccedilatildeo ldquoDos programas oficiais para a educaccedilatildeo rural aos projetos de educaccedilatildeo do campo dos movimentos sociaisrdquo WWWrevistalaborufcbrartigovolume1maria-ritapdf acesso em 08-09-2014
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OLIVEIRA Maria Rita Duarte Revistalabor ufcbracesso em 19-10-2014
________ citando CALAZ Maria Rita Duarte Oliveira
47
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________ Clarice Aparecida PROGRAMA NACIONAL DE EDUCACcedilAtildeO NA REFORMA AGRAacuteRIA BRASIacuteLIA 2012 pg 631 in DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO SANTOS Claudio Felix Dos ldquoO aprender a aprender na formaccedilatildeo de professores do campordquo Campinas 2013 Editora Autores Associados ) SOUZA Maria Antocircnia Movimentos Sociais no Brasil Contemporacircneo participaccedilatildeo e possibilidades no contexto das praacuteticas democraacuteticas ndash (wwwcesucptlab2004pdfMariaAntonia Souzapdfaceso em 24-07-2014 -48-
48
Apecircndices
1 Roteiro das Entrevistas
a) Dados dos entrevistados
Qual o seu nome
Masculino ( ) Feminino ( )
Quantos anos vocecirc tecircm
A quanto tempo mora no
assentamento
Onde vocecirc morou antes
de morar no
assentamento
Quantos anos vocecirc tinha
quando foi a escola pela
primeira vez
Estou ateacute qual seacuterieano
Quantos anos vocecirc tinha
quando parou de estudar
Qual motivo motivou vocecirc
a parar de estudar
Se tiver escola no
assentamento vocecirc voltaraacute
a estudar Porque
B) Outras informaccedilotildees dados pelos entrevistadosas (GRAVAR)
a) Em qual escola vocecirc estudou no acampamento ou em outro lugar Qual
b) Como era a escola que estudou Quais as coisas boas e coisas ruins que
tinha nesta escola
c) Conte como eacutefoi a educaccedilatildeo do assentamento o que jaacute existiu de escola
como funcionou e quais eram as boas e as coisas ruins desta escola
d) Jaacute participou de alguma accedilatildeo de mobilizaccedilatildeo para ter escola no
assentamento Se sim explique para que e como foi essa mobilizaccedilatildeo
e) Na sua opiniatildeo no assentamento deve ter escola Por quecirc
f) Como deveraacute ser a escola da comunidadeassentamento Como eacute a escola
que queremos ter
49
b) Entrevistas semi-estruturadas
Entrevistado 01
Moro no assentamento Renascer haacute 11 anos Nasci Carnauacuteba no Rio Grande do
Norte fui criado na roccedila e desde pequeno trabalhava na lavoura para ajudar meu
pai Fui para escola com 9 anos de idade estudei ateacute a 5ordm seacuterie parei de estudar
com 17 anos natildeo continuei os estudos porque era muito longe de onde eu morva
que era na cidade mais proacutexima eu tinha que andar a peacute 8 km ficava muito
cansado Casei e vim morar em Brasiacutelia para trabalhar em uma chaacutecara como
caseiro Morava na chaacutecara Buritis em sobradinho- Df tambeacutem natildeo dei para
continuar os estudos porque ficava longe e tinha que ser a noite e natildeo tinha como ir
Se vier uma escola pra caacute eu ainda vou estudar para ter mais conhecimento para
plantar minha roccedila ir no banco pra ver se assino um empreacutestimo para melhorar
minha produccedilatildeo e saber fazer conta pra administrar minha parcela de terra
Qual o seu nome
Masculino ( X ) Feminino ( )
Quantos anos vocecirc
tecircm
57 anos
A quanto tempo
mora no assentamento
11 anos
Onde vocecirc morou
antes de morar no
assentamento
Carnauacuteba ndash RN
Chaacutecara Buritis nordm 10 Sobradinho DF
Quantos anos vocecirc
tinha quando foi a escola
pela primeira vez
8 anos
Estou ateacute qual
seacuterieano
5ordf seacuterie
Quantos anos vocecirc
tinha quando parou de
estudar
24 anos
Qual motivo
motivou vocecirc a parar de
estudar
Trabalhar para sustento da famiacutelia a
distacircncia entre a casa e a escola
Se tiver escola no
assentamento vocecirc voltaraacute
a estudar Porque
Sim ldquoSe tivesse escola do ensino
fundamental voltaria a estudar para tecirc
mais conhecimento para plantar minha roccedila
50
saber pesar saber contar vendecirc os produto e
comecirc
Entrevistado 02
Moro no assentamento renascer haacute 7 anos tenho 38 vim do interior do Cearaacute
Entrei na escola com 7 anos de idade estudei soacute a 5ordm seacuterie incompleta natildeo
continuei a estudar porque natildeo tinha escola a onde eu morava que era na roccedila e eu
tinha que ficar na casa dozotro (SIC) na cidade e eu natildeo gostava disso natildeo ai parei
com 16 anos de idade Mudamo (SIC) pra Brasiacutelia pra uma chaacutecara perto de Santa
Maria-DF e natildeo dei pra estudar porque casei e tinha que trabalhar muito para
susrentar a famiacutelia A gora moro no assentamento Renascer e sei que um dia vai ter
uma escola aqui e eu vou voltar a estudar porque meu sonho eacute ser veterinaacuterio e vou
der se deus quiser
Entrevistado 03
Tenho 58 anos moro no assentamento Renascer haacute 6 anos vim de Ceres-GO
comecei a estudar quando eu tinha 10 ano de idade estudei ateacute a 4ordf seria primaacuteria
(SIC) parei de estudar quando tinha 16 anos porque eu morava na roccedila e escola
ateacute que natildeo ficava muito longe natildeo era soacute 2 km dava pra ir a peacute a professora eacute que
faltava muito e a gente natildeo tinha como saber se ela tava ou natildeoAiacute quando eu tinha
18 anos casei e vim morar em Brasiacutelia e arranjei(SIC) emprego de caseira em uma
chaacutecara aiacute natildeo pra estudar a noite porque era muito longe pra laacute entatildeo eu natildeo
pensei mais nessas coisas Quando tiver escola no assentamento quero estudar
quiecirc pra mim (SIC) fazer curso de teacutecnico agriacutecolarsquorsquo
Entrevistado 04
Tenho 24 anos moro no assentamento Renascer tem 6 ano vim da Bahia morava
no Condomiacutenio RK entrei na escola com 7 anos de idade e estudei soacute ateacute a 6ordf seacuterie
parei com 18 anos de idade
Porque mudei pra caacute pro assentamento (SIC) e natildeo tem escola e natildeo tem como ir
pra Sobradinho a noite porque eacute muito longe tem que andar 5 km eacute pirigogo (SIC)
tem muita gente mal por aiacute tem ateacute estrupador natildeo posso me arriscar
ldquoSe tivesse escola aqui eu ia terminar meus estudos podia ser no galpatildeo mesmo
pra mim tava bom mas para os meus filhos eu queria uma escola boa com internet
e tudo Eu natildeo gosto que meus filhos estuda(SIC) na cidade soacute aceito porque eacute o
jeito gente de assentamento eacute muito zombado (SIC) porque as vezes chega suja
na escola e os outros acha que eles satildeo porcos que toma banhordquo
Entrevistado 05
51
Tenho 21 anos de idade moro no Renascer haacute trecircs anos vim de satildeo Gabriel-GO
comecei a estudar aos 7 anos parei com 18 anos porque minha matildee mudou
pro(SIC) matildee mudou pro (SIC) assentamento haacute 6 anos e eu natildeo aguento morar
longe dela Quando cheguei aqui natildeo teve como continuar os estudos porque
trabalho durante o dia como manicure em Sobradinho e o uacuteltimo ocircnibus que passa
perto do assentamento eacute as 5 horas da tarde entatildeo natildeo daacute para estudar a noite
Sim porque quero fazer um curso de cabelereiro quando tiver aacutegua e luz aqui eu
quero montar um salatildeo de beleza e para ser uma empresaacuteria precisa ter estudos pra
administrar o negoacutecio
Entrevistado 06
44 anos
6 anos
Formosa-GO
8 anos
5ordf seacuterie
24 anos
Porque a escola mais perto(SIC) era 10km de distacircncia e eu trabalhava na roccedila e
ficava muito cansado aiacute parei natildeo deu mais
Sim quando tiver escola aqui eu vou voltar a estudar Eu tinha um sonho de ser
agroacutenomo mas esse sonho eacute impussive(SIC) entatildeo queria concluir o ensino
fundamental para fazer um curso de teacutecnico agriacutecola no IFB mas tambeacutem eacute longe
se tivesse como estudar aqui no assentamento eu ia(SIC) ficar muito feliz
Entrevistado 07
57 anos
6 anos
Parnaiacuteba-PI- Santa Maria- DF
7 anos
4ordf seacuterie
21 anos
Parei porque era muito difiacutecil ir para escola que ficava muito longe eu tinha que sair
de casa as 4hs da madrugada para chegar na escola as 730 ia montado num
cavalo e muitas vezes natildeo tinha professora pra dar aula Parei porque natildeo aguentei
o rojatildeo tinha que minha matildee na lida a tarde e eu ficava muito cansado Vim pra
52
Brasiacutelia e casei fui trabalhar de chacareiro numa chaacutecara que tambeacutem era longe de
escola depois vim morar aqui no assentamento que natildeo tem escola
Se tivesse escola aqui eu ia voltar estudar soacute pra aprender a cuidar meior (SIC) da
terra e dos meus bichos e que fosse como uma escola agriacutecola
Entrevistado 08
Tenho 29 anos moro no assentamento Renascer haacute 2 anos sou educadora do
Pronera haacute 1 ano e 2 meses O Pronera eacute como um antidepressivo na vida de muita
gente o Pronera melhorou a minha vida e a vida dos meus alunos o desejo de
todos eacute que o Pronera continue crescendo em direccedilatildeo de uma educaccedilatildeo continuada
levando tambeacutem o ensino fundamental para os acampamentos e assentamentos da
Reforma Agraacuteria
-50-
Anexos
53
Acampamento agrave beira da estrada ndash 2004
Construccedilatildeo da Sede do Movimento na atual aacuterea
54
Reuniatildeo semanal
Teatro de fantoches ndash brinquedoteca
55
Accedilatildeo da Pastoral da Crianccedila na brinquedoteca
Oficina de brinquedos reciclaacuteveis
56
Brinquedo confeccionado com materiais reciclaacuteveis na Brinquedoteca
57
58
59
60
Apresentaccedilatildeo teatral
61
Capacitaccedilatildeo em Economia Solidaacuteria
Formaccedilatildeo de multiplicadores da Economia Solidaacuteria
62
Capacitaccedilatildeo de Educadores Ambientais
63
Luta pela Reforma Agraacuteria e Soberania Alimentar
19
Ligas Camponesas lutou pela emancipaccedilatildeo do trabalhador rural e da reforma agraacuteria
e em seu projeto educacional estavam baseados nos ideais de Paulo Freire e do
Movimento de Educaccedilatildeo de Base (MEB)
Para explicar a reaccedilatildeo das classes populares agraves imposiccedilotildees do governo
brasileiro e das classes dominantes Oliveira (1995 apud ARROYO)
A histoacuteria das lutas entre as classes sociais natildeo se limitam agrave luta pelo poder mas se constituem impulsionadoras da histoacuteria da humanidade que natildeo aguardam passivamente seu destino mas ao contraacuterio articulam-se em torno de suas lutas para garantir seus direitos sua dignidade e sua participaccedilatildeo democraacutetica na sociedade( OLIVEIRA apud ARROYO1995p 80)
Neste sentido as Ligas Camponesas lutaram praticamente em todo o
territoacuterio nacional contra a tentativa de expulsatildeo dos trabalhadores rurais das terras
Os conflitos armados particularmente no Nordeste exigiam participaccedilatildeo poliacutetica e
direitos essenciais como a educaccedilatildeo do campo
O meacutetodo de alfabetizaccedilatildeo criado por Paulo Freire foi amplamente utilizado
pelas Ligas Camponesas e em sua concepccedilatildeo ampla de escola serviu de subsidio
para a compreensatildeo do camponecircs acerca de seu papel social (TOLEDO Caio
Navarro 2004 p6)
Neste contexto surge a Pedagogia do Oprimido de Paulo Freire Segundo
SANTOS (2013 apud Paulo Freire 1987) afirma que a pedagogia do oprimido
configura-se como
Aquela que tem de ser forjada com ele (o oprimido) e natildeo para ele enquanto homens ou povos na luta incessante de recuperaccedilatildeo de sua humanidade Pedagogia que faccedila da opressatildeo e de suas causas objeto de reflexatildeo dos oprimidos de que resultaraacute o seu engajamento necessaacuterio na luta por sua libertaccedilatildeo em que esta pedagogia se faraacute e refaraacuterdquo (FREIRE 1987 p32)
A pedagogia do oprimido serve de referecircncia para o trabalhador rural que luta
pela emancipaccedilatildeo de sua condiccedilatildeo de proletaacuterio atraveacutes da reforma agraacuteria A
pedagogia do oprimido leva o homem ao encontro de si mesmo ao reconhecimento
da grandeza de seu trabalho ao potencial de suas accedilotildees cotidianas que fazem a
diferenccedila A capacidade de reflexatildeo e o entendimento de sua potencialidade pode
leva-lo agrave sua plena realizaccedilatildeo como indiviacuteduo e como ser social
20
A reaccedilatildeo do governo contra o movimento de educaccedilatildeo popular proposto por
Freire e assumido pelo Movimento das Ligas Camponesas e pelo Movimento de
Educaccedilatildeo de Base (MEB) gerou repressatildeo e resposta da ditadura civil-militar como
o Movimento Brasileiro de Alfabetizaccedilatildeo (MOBRAL)
A luta dos movimentos sociais e sindicais pela educaccedilatildeo do campo parte das
forccedilas internas dos movimentos e alcanccedila a setores sociais religiosos ideoloacutegicos
que passam a contribuir efetivamente para o alcance do direito agrave educaccedilatildeo aos
camponeses
A Comissatildeo Pastoral da Terra (CPT) presente ao lado dos trabalhadores (as)
rurais indiacutegenas ribeirinhos pescadores e quilombolas tambeacutem contribuiu e
contribui para a formaccedilatildeo criacutetica a defesa de formas sustentaacuteveis de utilizaccedilatildeo de
recursos naturais e produccedilatildeo e para a alfabetizaccedilatildeo segundo o meacutetodo de Paulo
Freire (CANUTO 2012 p 131)
Na atualidade estaacute em desenvolvimento um movimento que luta pela educaccedilatildeo do homem do campo organizado por vaacuterias entidades dentre elas o MST Trata-se de um processo que teve inicio em meados dos anos de 1990 impulsionados pela necessidade da educaccedilatildeo de jovens e adultos das aacutereas de assentamentos rurais Foi organizado um Programa Nacional para Educaccedilatildeo na Reforma Agraacuteria composto por atores tais como movimentos sociais universidades e governo federal aleacutem de outros parceiros (Alas da Igreja Sindicatos Organizaccedilatildeo Natildeo-Governamental ONG) existentes nas diferentes regiotildees do Brasil( SOUSA2004 p 32)
A trajetoacuteria de conquista das escolas do campo particularmente as escolas
do campo criadas pelo MST a partir da deacutecada de 1990 foi marcada pela conquista
e implantaccedilatildeo da Educaccedilatildeo Fundamental para crianccedilas e adolescentes dos
acampamentosassentamentos de acordo com o projeto politico-pedagoacutegico fruto do
amadurecimento do movimento
Focou-se a alfabetizaccedilatildeo de jovens e adultos e as lutas pela implantaccedilatildeo do
ensino meacutedio com cursos alternativos para a formaccedilatildeo de professores e teacutecnicos de
niacutevel meacutedio e tambeacutem de cursos superiores
A concepccedilatildeo de escolas de ensino fundamental plantadas em assentamentos
prevecirc a instalaccedilatildeo da escola na proacutepria comunidade evitando com isso o uso de
transporte escolar e a frequecircncia dos alunos Sem Terra em escolas fora do
assentamento
21
Esta atitude de resistecircncia foi fundamental para a conquista da escola nas
terras conquistadas e tambeacutem foi fundamental para universalizar o ensino enraizar
o aluno em sua comunidade e criar a consciecircncia do direito agrave educaccedilatildeo
ldquoincomodandordquo o Estado para garantir o cumprimento das poliacuteticas puacuteblicas
Kolling Vargas e Caldart (2012p502) nos ensinam ldquotoda vez que se
conquista uma escola de educaccedilatildeo baacutesica em um assentamento ou acampamento
ela representa menos adolescentes e jovens do campo fora da escola e mais gente
enraizada em seu proacuteprio lugarrdquo (pag 502)
Os movimentos sociais e sindicais pela educaccedilatildeo do campo indicam o grau
de maturidade desses em sua luta pela reforma agraacuteria Agrave essa luta soma-se o
projeto de desenvolvimento do paiacutes baseado na justiccedila social e o combate agraves
tradicionais formas utilizadas pelas elites urbanas ou rurais de alienaccedilatildeo pela
expropriaccedilatildeo do trabalho e pelo controle dos meios que levam agrave emancipaccedilatildeo
sociocultural e agrave verdadeira humanizaccedilatildeo papel destinado agrave educaccedilatildeo
Neste sentido movimentos sociais como o MST inserem a educaccedilatildeo
baseada em princiacutepios pedagoacutegicos que se distinguem da escola tradicional
Numa perspectiva histoacuterica os movimentos sociais do campo como por
exemplo o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) tiveram inicialmente
como bandeira de luta a luta pela terra pela Reforma Agraacuteria natildeo fazendo uma
relaccedilatildeo entre essa luta e a educaccedilatildeo
A formaccedilatildeo de escolas do campo pelo MST natildeo foi resultado da consciecircncia e
importacircncia da escola para a promoccedilatildeo da educaccedilatildeo em seu meio Foi na verdade
a necessidade de oferecer aos filhos dos primeiros lutadores a oportunidade de
uma perspectiva melhor de futuro atraveacutes do direito agrave educaccedilatildeo Foi tambeacutem a
necessidade de ldquotransformar instituiccedilotildees histoacutericas como a escola em lugares que
ajudem a formar os sujeitos destas transformaccedilotildeesrdquo (CALDART2012 p94)
Desse modo houve primeiro a ldquoocupaccedilatildeo da escolardquo pela mobilizaccedilatildeo e pela
accedilatildeo para garantir que em acampamentos ou assentamentos conquistados
houvesse uma escola que ldquofizesse a diferenccedila ou tivesse realmente sentido em sua
vida presente e futura (preocupaccedilatildeo com os filhos)rdquo (CALDART2012 p91)
Num segundo momento da luta observa-se intencionalidade da luta pela
escola mas com proposta pedagoacutegica especiacutefica ldquocombinando processos de
22
escolarizaccedilatildeo e de formaccedilatildeo da militacircncia e da base social Sem Terrardquo
(CALDART2012 p92)
As experiecircncias de pensar escolas como polos regionais entre assentamentos e com estudantes de outras comunidades de camponeses aos poucos vatildeo educando o olhar dos trabalhadores Sem Terra para uma realidade mais ampla Foi assim que o MST chegou agrave EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO (KOLLING Vargas e Caldart 2012 p 502)
A escola dentro dessa perspectiva de mudanccedila e envolvimento social eacute
parte da luta pela reforma agraacuteria daacute significado a ela pois proporciona a formaccedilatildeo
integral dos sujeitos que lutam pela terra
Essa escola possibilita a reflexatildeo trava o diaacutelogo com as propostas de
educaccedilatildeo popular de Paulo Freire e busca superar as dificuldades imensas que
assentados e acampados vivem no dia a dia
A escola tambeacutem revela a cultura o orgulho e criaccedilatildeo da identidade na luta
por terra Nesse sentido
A heranccedila que o MST deixaraacute para seus descendentes seraacute bem mais do que a terra que conseguir libertar do latifuacutendio seraacute um jeito de ser humano e de tomar posiccedilatildeo diante das questotildees de seu tempo seratildeo os valores que fortalecem e datildeo identidade aos lutadores do povo de todos os tempos de todos os lugares Eacute enquanto produto humano de uma obra educativa que os Sem Terra podem ser vistos como mais um elo que se forma em uma longa tradiccedilatildeo de lutadores sociais que fazem a histoacuteria da humanidade Enraizamento no passado e projeto de futuro (CALDART 2012 p 96)
A educaccedilatildeo proposta pelo movimento gera o sentimento de pertencimento e
desperta o sentimento de respeito agrave coletividade valoriza o trabalho a gestatildeo
democraacutetica e desburocratizada da escola
SANTOS (2013 p71) esclarece que pelo projeto educacional do MST a
educaccedilatildeo proposta estaacute pautada em ldquovalores socialistas e humanistas tais como o
coletivismo o trabalho socialmente uacutetil a organizaccedilatildeo e auto-organizaccedilatildeo dos
estudantes e professoresrdquo (p71)
-21-
23
221 Concepccedilatildeo Pedagoacutegica da Educaccedilatildeo do Campo
No acircmbito da educaccedilatildeo do homem do campo tornar o homem sujeito e natildeo
objeto do saber leva a entender que o conhecimento do camponecircs pode dialogar
com as praacuteticas baseadas no conhecimento cientiacutefico desde que seja perseguido o
ideal de trabalhadores e educadores do campo comprometidos com as lutas sociais
de formar o homem ldquodordquo campo e ldquono campordquo
Conforme Kolling Cerioli e Caldart (2002 p 264) ldquoo povo tem direito a uma
educaccedilatildeo pensada desde o seu lugar e com sua participaccedilatildeo vinculada agrave sua
cultura e agraves suas necessidades humanas e sociaisrdquo ndash(Caldart Educaccedilatildeo do Campo
2012 p 264
Tal compreensatildeo se ainda hoje causa oposiccedilatildeo ateacute mesmo no ambiente
acadecircmico imagine-se naquele momento histoacuterico de profunda repressatildeo poliacutetica e
ideoloacutegica aos movimentos sociais de camponeses por terra e educaccedilatildeo Como nos
ensina Molina e Saacute (DICIONAacuteRIO da Educaccedilatildeo do Campo p 324)
A concepccedilatildeo de escola do campo nasce e se desenvolve no bojo do movimento da EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO a partir das experiecircncias de formaccedilatildeo humana desenvolvidas no contexto de luta dos movimentos sociais camponeses por terra e educaccedilatildeo Trata-se portanto de uma concepccedilatildeo que emerge das contradiccedilotildees da luta social e das praacuteticas de educaccedilatildeo dos trabalhadores do e no campo (MOLINA e SAacute 2012 pag 324)
A concepccedilatildeo pedagoacutegica da educaccedilatildeo popular e da pedagogia da praacutetica
segundo ARROYO inclui
um caraacuteter de envolvimento totalizante dos movimentos sociais que possibilita ao individuo que participa destes coletivos o acesso a outro tipo de formaccedilatildeo que supera a condiccedilatildeo de aluno de alfabetizando de escolarizando Os integrantes destes organismos emersos na tensa situaccedilatildeo de conflitos aprendem por meio da vivencia das lutas sociais dos momentos de mobilizaccedilatildeo das situaccedilotildees limites de perda de emprego de criacuteticas da sociedade agraves suas accedilotildees de ameaccedilas agraves suas vidas Tudo isso traz ricas liccedilotildees ensinadas na ldquoescola do movimentordquo e que nenhuma teoria pode transmitir ou explicar de forma satisfatoacuteria
No entendimento de Arroyo (2013) os movimentos sociais vivem e
amadurecem sob o conhecimento e o entendimento das contradiccedilotildees sociais e esta
24
experiecircncia lhes permite a possibilidade de defender mudanccedilas radicais tanto no
campo como na cidade tanto na ideologia quanto no combate ao latifuacutendio e ao
capitalismo
Tamanho movimento social gera a reflexatildeo sobre as relaccedilotildees
socioeconocircmicas politicas culturais cuidado da natureza relaccedilotildees humanas
destaques de tudo o que interessa ao coletivo agrave sociedade
Eacute por meio do entendimento de que a realidade eacute criaccedilatildeo humana de como se estabelecem os processos de opressatildeo e ainda da noccedilatildeo de que podemos transformar essa realidade dado que a sociedade eacute mutaacutevel que se forma a praacutexis da luta accedilatildeo-conscientizaccedilatildeo-transformaccedilatildeo-libertaccedilatildeo Inserindo-se criticamente na histoacuteria os cidadatildeos tornam-se sujeitos construtores e reconstrutores da realidaderdquo
Molina e Saacute (2012) nos ensinam a partir do conceito de escola do campo sobre a
potencialidade da vivencia de praacuteticas coletivas para a valorizaccedilatildeo integral dos
sujeitos da coletividade do conhecimento cientiacutefico da gestatildeo coletiva da escola
dentre tantos avanccedilos e vitoacuterias dos movimentos sociais
O processo ensino-aprendizagem permite que o conceito de escola extrapole
o cotidiano de dificuldades e desafia agrave reflexatildeo que gera a emancipaccedilatildeo
Este eacute um dos maiores desafios e ao mesmo tempo uma das maiores possibilidades da escola do campo articular os conhecimentos que os educandos tecircm o direito de acessar a partir do trabalho com a realidade da religaccedilatildeo entre educaccedilatildeo cultura e os conhecimentos cientiacuteficos a serem apreendidos em cada ciclo de vida e de diferentes aacutereas do conhecimento(MOLINA MOURAtildeO 2012 p 329) -26-
222 Princiacutepios da Educaccedilatildeo do Campo
Alguns princiacutepios viabilizam o projeto de escola adotado pelos movimentos
sociais e possibilitam a democracia e a integraccedilatildeo de todos lideranccedila assentados e
acampados do movimento
25
O princiacutepio da responsabilidade coletiva sobre o planejamento a gestatildeo a
organizaccedilatildeo e a realizaccedilatildeo de tarefas em todas as esferas de atividades princiacutepios
muito valorizados pelos movimentos sociais do campo foram transferidos para o
projeto de educaccedilatildeo
O projeto eacute de responsabilidade coletiva e insere educadores tanto a niacutevel
local como regional e nacional os ldquoColetivos de educaccedilatildeordquo como satildeo conhecidos
Os coletivos de educaccedilatildeo com tarefas forccedila orgacircnica e discussotildees especiacuteficas que podem variar a cada periacuteodo fortalecem o princiacutepio organizativo de que a questatildeo da educaccedilatildeo bem como outras questotildees da vida social assumidas pelo MST deve ser pensada e implantada de forma coletiva Eacute uma loacutegica que implica tarefas a serem realizadas pelas pessoas mas mediante um planejamento e uma leitura de conjuntura feita por um coletivo (KOLLING1995 et al p503)
Para concretizar o projeto de educaccedilatildeo foi concebida a formaccedilatildeo de
professores pelos proacuteprios movimentos no acircmbito da proacutepria comunidade
(conhecidos como ldquoprofessores leigosrdquo) e tambeacutem pela rede oficial de ensino
A falta de titulaccedilatildeo de muitos educadores formados na comunidade natildeo
impede que os mesmos trabalhem juntos com os professores titulados e com
simpatizantes do movimento no projeto poliacutetico-pedagoacutegico constituindo um
princiacutepio democraacutetico importante para superar as dificuldades e urgecircncias para a
implantaccedilatildeo da educaccedilatildeo do campo
A democracia do processo de formaccedilatildeo de educadores tem reflexos amplos
a formaccedilatildeo de educadores pelos proacuteprios movimentos especiacutefica para atuaccedilatildeo nas
escolas do campo
O movimento eacute responsaacutevel pela universalizaccedilatildeo do ensino no acircmbito dos
territoacuterios conquistados ou por conquistar e permitiu a evoluccedilatildeo do ensino ateacute o niacutevel
de terceiro grau com a realizaccedilatildeo de cursos como a Licenciatura em Educaccedilatildeo do
Campo (LEdoC) do qual somos os privilegiados alunos aqui na Universidade de
Brasiacutelia
Outro reconhecimento e prova de eficiecircncia da formaccedilatildeo de professores eacute o
precircmio ldquoEducaccedilatildeo e Participaccedilatildeordquo recebido em 1995 do Fundo das Naccedilotildees Unidas
para a Infacircncia (Unicef)
26
O somatoacuterio das forccedilas internas e externas do movimento ldquoleigasrdquo ou
tituladas associadas ao princiacutepio fundamental da participaccedilatildeo dos alunos e
comunidades em todos os niacuteveis e localidades eacute ponto fundamental para o sucesso
da concepccedilatildeo do projeto pois permite o estudo a reflexatildeo conjunta sobre
estrateacutegias para o alcance do objetivo de educaccedilatildeo na reforma agraacuteria
-25-
223 Marcos Normativos da Educaccedilatildeo do Campo
Numerosos Marcos Normativos podem ser citados para explicitar qual perfil
de escola destinada ao camponecircs interessava ao governo e aos proprietaacuterios rurais
A Lei 4024 de 1961 em seu art 105 estabelece o
Apoio que poderaacute ser prestado pelo poder puacuteblico agraves iniciativas que mantenham na zona rural instituiccedilotildees educativas orientadas para adaptar o homem ao meio e estimular vocaccedilotildees e atividades profissionais (BRASIL 2012 p 4)
A Lei 5692 de 1971 ao tratar da educaccedilatildeo rural ldquonatildeo observa mais uma vez
a inclusatildeo da populaccedilatildeo na condiccedilatildeo de protagonista de um projeto social globalrdquo
sendo que o trabalho do campo realizado por alunos eacute ateacute mesmo incentivado
adequando-o ao calendaacuterio escolar (MARCOS NORMATIVOSBrasiacutelia2012 p 25)
A Lei 9394 de 1996 (Lei das Diretrizes se Bases da Educaccedilatildeo ndash LDB) em
acordo com Constituiccedilatildeo de 1988 e ldquoinspirada de alguma forma numa concepccedilatildeo
de mundo rural enquanto espaccedilo especifico diferenciado e ao mesmo tempo
integrado no conjunto da sociedaderdquo reconhece
A diversidade soacutecio-cultural e o direito agrave igualdade e agrave diferenccedila possibilitando a definiccedilatildeo de diretrizes operacionais para educaccedilatildeo rural sem no entanto recorrer a uma logica exclusiva e de ruptura com um projeto global de educaccedilatildeo para o paiacutes (idem p 26)
27
Os artigos 208 e 210 da Carta Magna-1988 e inspirada de numa concepccedilatildeo
de mundo rural enquanto espaccedilo especiacutefico diferenciado e ao mesmo tempo
integrado no conjunto da sociedade a Lei 939496- LDB-estabelece que
Art 28 Na oferta da educaccedilatildeo baacutesica para a populaccedilatildeo rural os sistemas de ensino promoveratildeo as adapta necessaacuteria agrave sua adequaccedilatildeo agraves peculiaridades da vida rural e de cada regiatildeo especialmente (MARCOS NORMATIVOS) Brasiacutelia 2012 p 25)
1- Conteuacutedos organizar curriculares e metodologias apropriadas agraves reais
necessidades e interesses dos alunos da zona rural
2-organizaccedilatildeo escolar proacutepria incluindo a adequaccedilatildeo do calendaacuterio escolar as
fases do ciclo agriacutecola e as condiccedilotildees climaacuteticas
3-adequaccedilatildeo agrave natureza do trabalho na zona rural (MARCOS NORMATIVOS)
Brasiacutelia 2012( p 26)
O movimento de educaccedilatildeo do campo luta haacute quinze (15) anos para fazer-se
cumprir esse Decreto da Lei de Diretrizes de base da educaccedilatildeo do campo-LDB
que apesar de ser constitucional ainda natildeo foi colocada totalmente em praacutetica
Agora com as lutas dos movimentos sociais eacute que estaacute comeccedilando a se concretizar
Artigo 26 Os curriacuteculos do ensino fundamental e meacutedio devem ter uma base nacional comum a ser complementada em cada sistema de ensino e estabelecimento escolar por uma parte diversificada exigida pelas caracteriacutesticas regionais e locais da sociedade
da cultura da economia e da clientela (MARCOS NORMATIVOS) Brasiacutelia 2012(p 26)
O Decreto nordm 7352 de 4 de novembro 2010 dispotildee sobre a poliacutetica de educaccedilatildeo do campo ao Programa Nacional de Educaccedilatildeo
na Reforma Agraacuteria-PRONERA decreta
Art1ordm A poliacutetica de educaccedilatildeo do campo destina-
se agrave ampliaccedilatildeo e qualificaccedilatildeo da oferta de educaccedilatildeo baacutesica e superior agraves populaccedilotildees do campo e seraacute desenvolvida pela Uniatildeo em regime de colaboraccedilatildeo com os Estados o
28
Distrito Federal e os Municiacutepios de acordo com as diretrizes e metas estabelecidas no Plano Nacional de Educaccedilatildeo e o disposto neste Decreto
Para os efeitos deste Decreto entende-se por
l-populaccedilatildeo do campo os agricultores familiares os extrativistas os pescadores
artesanais os ribeirinhos os assentados e acampados da reforma agraacuteria os
trabalhadores assalariados rurais os quilombolas os caiccedilaras os povos da floresta
os caboclos e outros que produzam suas condiccedilotildees materiais de existecircncia a partir
do trabalho no meio rural
ll-escola do campo aquela situada em aacuterea rural conforme definida pela Fundaccedilatildeo
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica- IBGE ou aquela situada em aacuterea
urbana desde que atenda predominantemente a populaccedilatildeo do campo (MARCOS
NORMATIVOS) 2012( p 81)
No Decreto 6755 29 de janeiro de 2009 em seu art 2ordm estabelecida pelo Conselho
Nacional de Educaccedilatildeo que se refere as Diretrizes Operacionais da Educaccedilatildeo do
Campo o parecer da alternacircncia
A formaccedilatildeo de professores poderaacute ser feita concomitantemente agrave atuaccedilatildeo profissional de acordo com metodologias adequadas inclusive a pedagogia da alternacircncia e sem prejuiacutezo de outras que atendam agraves especificidades da educaccedilatildeo do campo e por meio de atividades de ensino pesquisa e extensatildeo (MARCOS NORMATIVOS) 2012( p84)
-26-
29
-
231 A educaccedilatildeo do campo e poliacutetica puacuteblica - o PRONERA
O amadurecimento adquirido pela luta sobre o papel da educaccedilatildeo aliado agrave
iniciativa do aproveitamento do trabalho das professoras ldquoleigasrdquo e ainda da
consciecircncia cada vez mais presente do dever do Estado em prover os cidadatildeos da
reforma agraacuteria de poliacuteticas puacuteblicas resultou no campo da educaccedilatildeo na criaccedilatildeo do
Programa Nacional de Educaccedilatildeo na Reforma Agraacuteria (PRONERA)
O PRONERA envolve formalmente jovens e adultos num projeto conjunto
com universidades e institutos federais em prol da formaccedilatildeo de educadores para o
trabalho em escolas dos assentamentos da reforma agraacuteria e seu entorno
O Programa foi criado em 1998 no momento da ascensatildeo dos conflitos pela
reforma agraacuteria o que propiciou que os movimentos sociais trouxessem para a
opiniatildeo puacuteblica suas mazelas
No campo da educaccedilatildeo foi denunciada a falta de escola a precariedade do
ensino a falta de profissionais do ensino a ldquoloacutegica de negaccedilatildeo histoacuterica do direito
aos camponeses de acesso aos niacuteveis mais elevados de escolaridade ( SANTOS
2012 pag 630)
A partir de 2005 o ensino oferecido pelo PRONERA eacute estendido ao niacutevel
meacutedio e superior como a Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo e a Residecircncia
30
Agraacuteria O PRONERA evoluiu para outros patamares tais como ldquopossibilidades de
ressignificaccedilatildeo do conteuacutedo e da metodologia dos processos de educaccedilatildeo formal
por meio dos princiacutepios baacutesicos da participaccedilatildeo e da multiplicaccedilatildeordquo (SANTOS 2012
p 631)
A participaccedilatildeo das comunidades e suas organizaccedilotildees e a multiplicaccedilatildeo de
alfabetizados formados educadores e demais profissionais ligados agraves poliacuteticas
puacuteblicas para a Reforma Agraacuteria gerou ampla participaccedilatildeo dos agentes envolvidos
na dinacircmica do processo ensino-aprendizagem
Essa forma de gestatildeo gerou reaccedilatildeo contraacuteria ldquoagrave gestatildeo colegiada e coletiva
notadamente agrave participaccedilatildeo direta dos movimentos sociais e sindicais do campordquo
considerados ldquoentes estranhos agrave administraccedilatildeo puacuteblicardquo (CLARICE p 634)
O envolvimento dos movimentos sociais e sindicais do campo natildeo
retrocederam em sua luta pelo envolvimento de todos os interessados na educaccedilatildeo
como elemento emancipatoacuterio e continuam formulando princiacutepios concepccedilotildees e
diretrizes para a escola do campo
-31-
31
Terceiro Capiacutetulo
A histoacuteria do Assentamento Renascer
31 Uma breve histoacuteria de luta
A histoacuteria do Assentamento Renascer natildeo parece ser diferente da histoacuteria de
outros assentamentos Brasil afora Partiu da reivindicaccedilatildeo de Trabalhadores Rurais
sem Terra que desde 2004 ocuparam as margens da Rodovia DF 330 que liga
Sobradinho ao Paranoaacute-DF
Tatildeo perto do centro do poder a apenas poucos quilocircmetros do Palaacutecio da
Alvorada ou da Sede do INCRA o Acampamento Renascer esteve ateacute oito (08) de
maio de 2009 tatildeo distante da decisatildeo poliacutetica pela Reforma Agraacuteria
Somente nesta data trezentos sessenta e um( 361) de terras devolutas da
Uniatildeo foram repassadas ao INCRA para assentar as famiacutelias aliacute acampadas Ficou
criado o assentamento Renascer fora da beira da estrada
O Assentamento Renascer ldquorenasceurdquo da dificuldade de vida sob o barraco de
madeira sem aacutegua sem luz sem saneamento baacutesico que fez com que tantos
desistissem ao longo do caminho e ainda hoje se encontra nessa mesma
precariedade um descaso por parte do poder puacuteblico
A luta em vaacuterios momentos da vida dos acampados parecia estar vencida Os
vencedores pareciam ser a burocracia o desrespeito as noites mal dormidas a
inseguranccedila a falta de perspectivas para o acampado e suas famiacutelias
Duzentas (200) famiacutelias viveram aliacute por cinco anos (05) de 2004 ateacute 2009
Atualmente satildeo cento e vinte (120) famiacutelias que moram na aacuterea destinada e estatildeo
em processo de assentamento Muitas delas poreacutem vencidas pelo cansaccedilo e pelas
condiccedilotildees de vida abandonaram a luta mas todas as famiacutelias as que se foram e as
que ficaram sonharam com a terra onde poderiam produzir viam no pedaccedilo de chatildeo
os frutos do pomar da horta o galinheiro o pasto
O Assentamento Renascer eacute o Brasil Eacute um pedacinho da cruel realidade que
como vimos neste trabalho marcou a sociedade brasileira desde a escravidatildeo
desde o primeiro grito de rebeldia do quilombo desde o primeiro que lutou contra os
coroneacuteis por divisatildeo da terra como as Ligas Camponesas contra o latifuacutendio como
os movimentos sociais em sua luta pela reforma agraacuteria desde vaacuterias geraccedilotildees
32
Eacute como todo e qualquer movimento social que surgiu neste paiacutes desde a
deacutecada de 1980 pela reforma agraacuteria Viveu e ainda vive as dificuldades de ser
acampadoassentado mas honra sua luta porque natildeo desiste faacutecil
O Assentamento Renascer eacute tambeacutem fruto do ecircxodo rural da industrializaccedilatildeo
do campo da monocultura e da concentraccedilatildeo de terras Foram expulsos do campo
para a periferia das cidades sem capacitaccedilatildeo sem estudo
A falta de escolarizaccedilatildeo eacute sem duacutevida uma caracteriacutestica de quase todos os
que vieram do campo para a cidade A realidade do Brasil eacute que o campo natildeo eacute
escolarizado as escolas no campo satildeo poucas satildeo despreparadas satildeo
desvalorizadas
-33-
32 As escolas no campo na vivencia do assentado do Assentamento
Renascer
As escolas no campo marcaram profundamente a vida dos poucos que a
frequentaram Quase todos tiveram que trocar o laacutepis pela enxada a carteira pela
roccedila desde muito pequenos Alguns natildeo muito poucos conforme os depoimentos
aqui relatados teriam que abandonar a enxada e a participaccedilatildeo no sustento da
famiacutelia para frequentar a escola Quase sempre abandonaram a escola para ficar no
trabalho com a enxada
Todos teriam que andar vaacuterios quilocircmetros para ir agrave escola Outros nem assim
conseguiriam frequentar a escola no campo ela simplesmente natildeo existia no
campo Teriam entatildeo que ir para a cidade para ter direito a uma escola
Muitos tambeacutem vivenciaram os traumas que uma escola tradicional e
descomprometida com os valores e responsabilidades do projeto educacional
castigos humilhaccedilotildees afastaram a muitos da escola
Alguns apenas sonharam e sonham com a escola ldquoAh a escolardquo Tatildeo longe
inacessiacutevel para tantos no Brasil afora Ao ver de algumas pessoas do
Assentamento Renascer ldquoSe tivesse jeito eu teria ido agrave escola tinha feito pelo
menos o ensino fundamental completo para que eu pudesse ingressar no curso
33
teacutecnico-agriacutecola Mas agora quero que meus filhos e netos vatildeo para a escola
aprender ser algueacutem na vidardquo
-34-
321 A escola no entorno do Assentamento Renascer
A ideia de lutar pela educaccedilatildeo veio antes da ideia de lutar pela escola como
espaccedilo conquistado pelo acampamento Encontrar uma escola perto do
acampamento com transporte escolar com vagas e horaacuterios acessiacuteveis para os que
trabalham o dia todo era entendido como uma necessidade baacutesica e uma grande
vitoacuteria
Ficava-se feliz se apesar das dificuldades fosse possiacutevel matricular pelo
menos as crianccedilas As dificuldades eram e ainda satildeo muitas o transporte escolar
era e eacute precaacuterio a poeira natildeo permite que os alunos cheguem limpos agrave escola os
buracos e as poccedilas daacutegua impedem a chegada do ocircnibus escolar durante as
chuvas No caso do ocircnibus que levam os alunos ateacute a Escola Classe do Coacuterrego do
Arrozal em eacutepoca de muita chuva os ocircnibus ateacute o iniacutecio de 2014 natildeo conseguiam
transitar Isto resulta no fato de que as crianccedilas precisam caminhar debaixo de
chuva ateacute a escola
-35-
322 O caminho para a produccedilatildeo do saber no Assentamento Renascer a
brinquedoteca a integraccedilatildeo social a biblioteca comunitaacuteria as manifestaccedilotildees
culturais
Ao longo dos anos de vivecircncia e convivecircncia no Acampamento Renascer
mediante a dificuldade e necessidade de estudar que sentimos na nossa proacutepria
vida foi despontando a ideia de prover as crianccedilas de atividades luacutedicas e
educativas
34
Logo no iniacutecio do acampamento por volta de 2005 por iniciativa de algumas
pessoas conscientes da necessidade de atividades luacutedicas para as crianccedilas foi
criada uma brinquedoteca
Inicialmente os brinquedos eram de materiais reciclaacuteveis como garrafas pet
telefones sem fio carrinhos bonecas petecas vai e vem cavalinhos tudo era
confeccionado com a participaccedilatildeo das crianccedilas na modalidade de oficina
incentivando-os a fabricar os seus proacuteprios brinquedos Os brinquedos eram
confeccionados a partir de materiais encontrados nos lugares de descarte perto do
acampamento e doaccedilotildees de pessoas que passavam pela estrada
O embriatildeo de um processo educacional que nunca se interrompeu estava
lanccedilado a brinquedoteca proporcionou a criatividade e a participaccedilatildeo de crianccedilas e
adultos marcando as atividades pela conscientizaccedilatildeo do cuidado com a natureza e a
importacircncia da reciclagem A educaccedilatildeo ambiental jaacute era praticada desde o
nascimento do acampamento Renascer
Este primeiro passo foi muito importante porque traduziu para o dia a dia do
acampamento os princiacutepios da escola do campo atuante para mudar a realidade
criar cidadatildeos conscientes e dispostos a mudar a realidade a partir da sua proacutepria
accedilatildeo Este eacute o processo de transformaccedilatildeo social dentro do acampamento Renascer
haacute tanto tempo atraacutes
Aos brinquedos reciclados pela proacutepria comunidade juntaram-se outros
presenteados por instituiccedilotildees como igrejas ONGs a Pastoral da Crianccedila e pessoas
interessadas no bem estar daquelas crianccedilas
Percebe-se em iniciativas como essas a importacircncia da educaccedilatildeo nos
diversos niacuteveis para a sociedade A integraccedilatildeo de pessoas com as atividades
educativas no acampamento nos faz lembrar sobre um grande sonho das escolas
hoje integrar a comunidade de modo a que todos defendam a escola
O sucesso de iniciativas como a brinquedoteca que integravam crianccedilas
adolescentes adultos e sociedade foi importante para outras iniciativas igualmente
importantes
Foi-se criando um projeto educacional para o acampamento sem que se
tivesse consciecircncia disso por faltar informaccedilatildeo que soacute agora se possui graccedilas aos
estudos na Universidade o galpatildeo comunitaacuterio foi utilizado para abrigar a
35
brinquedoteca para desenvolver grupos de teatro de crianccedilas e adultos e para
abrigar a biblioteca
A biblioteca recebeu inuacutemeros exemplares de livros infantis livros didaacuteticos
para os adolescentes e adultos literatura universal revistas dos mais variados
assuntos criando assim um espaccedilo comunitaacuterio de informaccedilatildeo lazer e
entretenimento
Com a criaccedilatildeo da biblioteca ficou evidente a importacircncia da alfabetizaccedilatildeo de
crianccedilas jovens e adultos Muitos acampados relatavam a vontade e a necessidade
de aprender a ler e a escrever Muitos reivindicavam o direito agrave educaccedilatildeo e
frequecircncia agrave escola ainda que o acampamento mudasse de ldquoendereccedilordquo tantas
vezes
Outros poreacutem natildeo acreditavam que seria possiacutevel aprender ou aperfeiccediloar a
leitura e a escrita nas condiccedilotildees de vida de um acampado
Vaacuterias atividades culturais foram desenvolvidas (e ainda satildeo) no
Acampamento Renascer Todas chamavam a atenccedilatildeo da comunidade local de
outras comunidades vizinhas garantindo a simpatia de chacareiros que levavam os
filhos para participarem das atividades
Uma das atividades mais apreciadas foi o Teatro de Fantoches inspirados em
faacutebulas muitas com a autoria da Pastoral da Crianccedila e da Faber Castel A
participaccedilatildeo da comunidade na atividade era intensa e voluntaacuteria todos queriam
manipular os fantoches participar cantando danccedilando ou prestando muita atenccedilatildeo
O teatro de transformaccedilatildeo social produzido pelos adultos e adolescentes
utilizavam tambeacutem materiais reciclaacuteveis demonstrando cuidado com o meio
ambiente e amadurecimento dos conceitos poliacuteticos e pedagoacutegicos gerando reflexatildeo
sobre os temas sociais que nos atingem no cotidiano
A miacutestica adotada pelos movimentos sociais com o objetivo de reflexatildeo satildeo
apresentadas em datas comemorativas e contam com o apoio e participaccedilatildeo de
muitos
Algumas festas fazem parte da tradiccedilatildeo do Acampamento Renascer
traduzindo para a realidade atual as antigas festas a que todos foram acostumados
em seus lugares de origem
Pode-se dizer que a comunidade aprecia muito as festas Mas duas em
particular satildeo muito respeitadas a festa das crianccedilas que ocorre durante o dia (12
36
de outubro) eacute concorrida pois a comunidade se esmera para oferecer os brinquedos
que as crianccedilas amam pula-pula palhaccedilos pintura de rosto piscina de sabatildeo e
muita oferta de comida coisas que as crianccedilas adoram
No mesmo dia ocorre agrave noite a festa da Nossa Senhora Aparecida com
missa e muito forroacute
No mecircs de marccedilo eacute comemorada a Festa da Pamonha em comemoraccedilatildeo agrave
boa colheita do milho Esta festa jaacute se tornou tradicional conhecida em todo o
entorno do assentamento Egrave uma festa importante porque confraterniza a
comunidade Renascer com as comunidades vizinhas e ateacute mesmo as cidades de
Sobradinho Paranoaacute e Planaltina
Os movimentos sociais necessitam ser admirados pela sociedade e festas
como estas chamam a atenccedilatildeo para o problema da reforma agraacuteria demonstrando
que ela eacute viaacutevel e que os assentados tecircm simpatia competecircncia e seus saberes do
campo
A festa ldquojulinardquo eacute outra festa muito apreciada que apresenta as tradiccedilotildees rurais
e religiosas como quadrilhas e bandas de forroacute da comunidade e vizinhanccedila A
danccedila eacute um dos pontos fortes da festa assim como as comidas tradicionais muitas
delas com ingredientes colhidos no acampamento
Vaacuterios grupos de atividades teatrais apresentaram-se na localidade com
participaccedilatildeo de palhaccedilos lembrando um espetaacuteculo circense Alguns desses
grupos inclusive tiveram seus trabalhos premiados
Outras atividades com fundo educativo tiveram participaccedilatildeo animada de
crianccedilas e adultos A exibiccedilatildeo de desenhos animados recentemente apresentados
no cinema eram um grande atrativo para a comunidade que se via socialmente
incluiacuteda Esta inclusatildeo aumentava a autoestima das crianccedilas principalmente pois
assim elas poderiam interagir com os colegas da escola conversando a respeito dos
filmes
A Economia Solidaacuteria eacute uma das formas de inserccedilatildeo dos membros da
comunidade agrave sociedade economicamente ativa Atraveacutes da cooperaccedilatildeo solidaacuteria eacute
possiacutevel o comercio justo agriacutecolas ou artesanais sob conceitos antes
desconhecidos enquanto forma de produccedilatildeo e consumo centrado na valorizaccedilatildeo do
ser humano em contraposiccedilatildeo agraves formas capitalistas de produccedilatildeo e conscientizaccedilatildeo
37
Ao longo dos doze (12) anos de luta pela educaccedilatildeo foram promovidos
diversos cursos que capacitaram multiplicadores que fazem um trabalho importante
para a comunidade
A ideia de autogestatildeo democracia cooperaccedilatildeo auxilia natildeo soacute as formas de
produccedilatildeo e comercio de bens e artesanatos mas tambeacutem auxiliam na formaccedilatildeo
integral de pessoas em que tanto o produtor como o consumidor tem o proposito de
ganhos financeiros segundo um criteacuterio de valorizaccedilatildeo do trabalho
Proposito de formar uma nova consciecircncia a Economia Solidaacuteria promoveu
cursos de Soberania Alimentar em que a comunidade recebeu noccedilotildees praacuteticas
sobre alimentaccedilatildeo a partir da produccedilatildeo local de modo a promover uma nova cultura
alimentar que visa o combate agraves doenccedilas crocircnicas Outro proposito eacute tornar a
comunidade criacutetica em relaccedilatildeo agrave publicidade de produtos alimentiacutecio supeacuterfluo que
induz agraves crianccedilas e adultos alimentarem-se incorretamente
A comunidade participou coletivamente da implantaccedilatildeo de uma unidade da
tecnologia social denominada Produccedilatildeo Agroecoloacutegica Integrada e Sustentaacutevel
(PAIS) em 2012 com o objetivo de produzir alimentos saudaacuteveis e preservar o meio
ambiente trazendo mais alimentos e renda ao campo Esta tecnologia popularmente
conhecida como ldquohorta mandalardquo foi ministrada durante o curso de capacitaccedilatildeo
promovido pela Fundaccedilatildeo Banco do Brasil e teve o meacuterito de proporcionar o debate
e a participaccedilatildeo democraacutetica na definiccedilatildeo das culturas a serem cultivadas na futura
propriedade Vale informar que o assentamento Renascer identificou-se com esse
paradigma agroecoloacutegico
A educaccedilatildeo ambiental faz parte do dia a dia da comunidade hoje preserva-se
conservaccedilatildeo das formas de vida vegetais e animais na regiatildeo do assentamento e
entorno
A produccedilatildeo de mudas no viveiro eacute bastante concorrida contando com a
participaccedilatildeo de todos O viveiro produz cinco mil (5000) mudas de espeacutecies nativa
do cerrado para o reflorestamento das nascentes de aacutegua e nas aacutereas degradadas
da regiatildeo Contam com o apoio da FUNATURA FUNDACcedilAtildeO BANCO DO BRASIL
IFB Rio Satildeo Bartolomeu Vivo e UnB
-36-
38
39
Quarto Capiacutetulo
A escola que queremos expectativas e sonhos dos
acampados do Assentamento Renascer
Pode-se observar pelas falas dos entrevistados que a realidade de todos
converge para os problemas estruturais do Brasil faltam escolas no campo eacute baixa
a escolaridade em Brasiacutelia todos exercem atividades de subemprego
Todos tecircm grandes expectativas com relaccedilatildeo agrave vida futura no assentamento
objetivando melhores condiccedilotildees de vida na esperanccedila de serem beneficiaacuterios
enquanto cidadatildeos assentados das Poliacuteticas Puacuteblicas e financiamentos agriacutecolas
voltadas para a agricultura familiar como PRONAF PAA PNAE e PAPA-DF Vecircem
aiacute a possibilidade de emprego e renda situaccedilatildeo sonhada desde quando foram
pleitear a terra para reforma agraacuteria
Um olhar mais aprofundado sobre a anaacutelise de dados revela que natildeo importa o
fato de hoje residirem no DF pois como em qualquer lugar de origem os moradores
do assentamento Renascer vivenciam os mesmos problemas Percebe-se
claramente as dificuldades da inexistecircncia de escola no campo A distacircncia continua
impedindo o acesso os meios de transportes continuam precaacuterios os filhos
vivenciam a dificuldade de transferecircncia para a cidade na expectativa de
continuidade dos estudos as estradas rurais continuam esburacadas
Satildeo muitos os pontos em comum entre a situaccedilatildeo atual relatada e os problemas
vividos haacute deacutecadas em seus estados de origem o que deixa transparecer a absoluta
falta de interesse por parte do poder puacuteblico em garantir o direito constitucional agrave
educaccedilatildeo do povo do campo o que infelizmente continuaraacute deixando o triste
legado para o futuro do paiacutes
40
Repetimos a pergunta da inicial Cadecirc as escolas do campo Ateacute quando o paiacutes
vai viver essa situaccedilatildeo A anaacutelise de dados responde Natildeo eacute mais possiacutevel
continuar como estaacute
Todos os entrevistados pretendem alcanccedilar conhecimentos atraveacutes da escola do
campo implantada no Assentamento Renascer com objetivos de administrar a
propriedade participar ativamente do coletivo garantir renda fixa atraveacutes dos
programas de desenvolvimento da agricultura familiar
Os entrevistados unanimamente tecircm a preocupaccedilatildeo da manutenccedilatildeo dos laccedilos
familiares e das raiacutezes camponesas
A distacircncia entre a moradia e a escola fato relatado pela quase totalidade dos
entrevistados constitui um grande motivo de evasatildeo escolar de defasagem nas
seacuteries frequentadas de precariedade na aprendizagem em relaccedilatildeo aos demais
alunos A discriminaccedilatildeo alegada por muitos que frequentaram ou frequentam
escolas fora da faixa etaacuteria o vernaacuteculo proacuteprio dos sujeitos do campo as condiccedilotildees
precaacuterias da estrada que denunciam a condiccedilatildeo de assentado o sentimento de
inadequaccedilatildeo constituem fatores que determinam a evasatildeo escolar
Foram treze (13) entrevistados significando aproximadamente dez por cento
(10) dos moradores do Assentamento Renascer Desse total apenas dois (2)
entrevistados natildeo declararam dificuldade de distacircncia entre a moradia e a escola em
seus lugares de origem A maioria absoluta (11) pessoas declararam que a distacircncia
dificultava e impedia o acesso agrave escola Alguns relatos apresentam situaccedilotildees
precaacuterias para o homem do campo o assentado
Para o aluno do campo a distacircncia da escola tem o significado de inexistecircncia de
escola Isto porque as dificuldades de acesso satildeo enormes No caso em estudo
apenas um entrevistado declarou a inexistecircncia de escola em sua regiatildeo de
moradia Este poreacutem vivenciou todas as dificuldades de acesso que outros
assentados apresentaram em razatildeo da distacircncia moradiaescola
A falta de professores na escola rural eacute relatada por 11 dos 13 entrevistados A
distacircncia da escola para os professores dificulta segundo a vivecircncia dos
entrevistados o acesso agrave escola e a assiduidade o que muito desmotivava a
ambos
41
Os entrevistados conforme anaacutelise de dados desejam muito objetivamente a
implantaccedilatildeo imediata de escolas segundo os criteacuterios caracteriacutesticos de escola do
campo
- Trazer a realidade para dentro da escola do campo curriacuteculos voltados para o
cotidiano do aluno do campo onde as teacutecnicas agriacutecolas pecuaacuterias e agroecoloacutegicas
possam fazer parte do processo educativo da comunidade e que a escola tenha
uma gestatildeo coletiva democraacutetica com a participaccedilatildeo da comunidade
- Ter o trabalho como princiacutepio educativo A experiecircncia do aluno deve
harmonizar-se com os princiacutepios pistrakianos significar o trabalho de forma a que
ele apresente benefiacutecios para o proacuteprio indiviacuteduo para a comunidade na qual estaacute
inserido e para a sociedade e natildeo exclusivamente para servir ao capitalismo
-Superar a fragmentaccedilatildeo do conhecimento disciplinar A interdisciplinaridade
deve fazer parte dos objetivos educacionais de modo a promover a formaccedilatildeo
integral dos educandos
- Valorizar os saberes do homem do campo Os entrevistados desejam uma
escola onde possam exercitar sua vivecircncia campesina e a relaccedilatildeo dialoacutegica entre
professor-aluno seguindo a pedagogia de Paulo Freire o educando quer aprender
com o educador mas quer tambeacutem ter a oportunidade de transmitir seus saberes
- Promover espaccedilos de gestatildeo coletiva A proacutepria comunidade deve participar da
gestatildeo a elaboraccedilatildeo do PPP deve gerir o espaccedilo fiacutesico da escola para atividades
de interesse da comunidade ocupar espaccedilos para finalidades culturais esportivas
sociais tornando a escola um espaccedilo democraacutetico
- Garantir a presenccedila da comunidade e dos movimentos sociais que geram
processos que auxiliam a emancipaccedilatildeo social A escola deve tambeacutem ser espaccedilo
que auxilie a sustentabilidade e garanta a alimentaccedilatildeo saudaacutevel e recursos
fitoteraacutepicos em associaccedilatildeo com a comunidade
- Inclusatildeo tecnoloacutegica em todos os aspectos digital inovaccedilatildeo tecnoloacutegica
agropecuaacuteria recursos ambientais alternativos agua potaacutevel energia solar energia
eoacutelica fossa seacuteptica teacutecnicas de compostagem saneamento baacutesico cuidados com
os recursos hiacutedricos
A anaacutelise dos dados quando feita especificamente sobre a escola a ser
implantada pode aparentemente demonstrar uma pequena conexatildeo com as teorias
da escola do campo
42
A concepccedilatildeo da escola do campo natildeo pode ser imposta ela parte do princiacutepio
que os camponeses devem conquista-la Para essa conquista eacute necessaacuteria a
paixatildeo o desejo por algo ainda natildeo experimentado o amadurecimento poliacutetico-
social-pessoal a participaccedilatildeo coletiva na luta e na conquista
A trajetoacuteria de luta por educaccedilatildeo da comunidade Renascer apresenta estes
elementos agraves vezes difusos outras vezes mais claramente A escola bem que
poderia para alguns ser apenas uma escola rural Afinal aprender a ler e a
escrever ldquodireitordquo como alguns dizem ou seja deixar a condiccedilatildeo de analfabeto ou
analfabeto funcional para tornar-se letrado significaria avanccedilos em face das atuais
circunstacircncias Alguns entendem assim expressando-se principalmente nas
conversas informais
Apesar disso quando as respostas informais ou quando as respostas das
entrevistas satildeo analisadas mais profundamente identificamos que embora
difusamente todos desejam o programa educacional da escola do campo
Explicando melhor a participaccedilatildeo de todos da comunidade em todas as atividades
soacutecio-poliacuteticas-culturais (relatadas no terceiro capitulo) indicam que a comunidade
assimilou a postura soacutecio-politica-cultural que caracterizam a escola do campo
A vivecircncia do Assentamento Renascer no cotidiano e nos eventos coletivos
amadureceu o desejo pelo alimento intelectual cultural artiacutestico ambiental social
que a concepccedilatildeo de escola do campo introduz O programa educacional da Escola
do Campo ultrapassou as paredes fiacutesicas da escola e alcanccedilou o cotidiano dos
assentados
Os avanccedilos da conscientizaccedilatildeo e seu reflexo na vida do Assentamento Renascer
satildeo sentidos nos nuacutemeros de matriculados na LEdoC sete (7) alunos
aproximadamente dez (10) assentados prestaratildeo o proacuteximo vestibular trecircs (3)
assentados estatildeo matriculados no IFB dois(2) assentados estatildeo formados em
Teacutecnico Agropecuaacuterio tambeacutem pelo IFB um deles cursa o Tecnoacutelogo de
Agroecologia tambeacutem do IFB
Vale acrescentar que no iniacutecio de 2014 quando o IFB buscou no Assentamento
pessoas interessadas em matricular-se em seus cursos sob a condiccedilatildeo de
estudarem no ensino meacutedio o interesse foi grande e a impossibilidade pelo fato de
natildeo estarem habilitados no ensino fundamental provocou tanta discussatildeo que
estimulou essa pesquisa
43
O legado desses alunos futuros alunos e profissionais para o futuro do
Assentamento apresentaraacute resultados significativos para toda a comunidade O
futuro colheraacute bons frutos plantados agora
A escola que temos natildeo estaacute funcionando falta a renovaccedilatildeo do contrato o que
atrasa a alfabetizaccedilatildeo e conclusatildeo do 5ordm ano Falta a implantaccedilatildeo de poliacuteticas
puacuteblicas para atendimento de questotildees baacutesicas como por exemplo carteiras
quadro de giz iluminaccedilatildeo espaccedilo fiacutesico (dependecircncias para a escola) e mobiliaacuterio
-41-
44
Consideraccedilotildees Finais
A Educaccedilatildeo do campo eacute um movimento em que os trabalhadores do campo e
suas organizaccedilotildees lutam por transformaccedilotildees sociais particularmente a criaccedilatildeo de
escolas dono campo de qualidade a partir de uma perspectiva ampla de reforma
agraacuteria
A construccedilatildeo da educaccedilatildeo do campo eacute resultado do amadurecimento dos
movimentos sociais e das comunidades rurais em sua trajetoacuteria de luta pelo direito
fundamental agrave universalizaccedilatildeo escolar para as populaccedilotildees camponesas segundo
orientaccedilatildeo poliacutetico-pedagoacutegica adequada agrave realidade dos lutadores de
acampamentos e assentamentos em luta pela reforma agraacuteria e justiccedila social
Alguns princiacutepios caracterizam a luta pela escola do campo Dentre eles
podemos citar a criaccedilatildeo da consciecircncia do direito agrave educaccedilatildeo de qualidade plantada
na proacutepria comunidade o que provoca o enraizamento a valorizaccedilatildeo da vida no
campo a promoccedilatildeo da autoestima e a transformaccedilatildeo do ser alienado pela ideologia
e desigualdade social e sujeito de sua proacutepria histoacuteria
Outro princiacutepio eacute a adequaccedilatildeo de curriacuteculos agrave realidade camponesa de modo
a que o processo ensino-aprendizagem favoreccedila o amadurecimento de talentos
naturais o surgimento de oportunidades a niacutevel pessoal e social contribuindo para a
emancipaccedilatildeo poliacutetico-social do indiviacuteduo com reflexos na sociedade
A mudanccedila de paradigmas e o envolvimento social provocam a formaccedilatildeo integral
dos sujeitos que lutam de forma coletiva e solidaacuteria pela terra A escola do campo
que surge dessa mudanccedila eacute tambeacutem transformadora porque eacute fruto da luta
consciente que gera a reflexatildeo e o amadurecimento poliacutetico deixando um legado
positivo de cidadatildeos orgulhosos de sua condiccedilatildeo de lutador pela terra de sua
identidade de sua cultura de sua comunidade e coletividade
A escola do campo propicia aos alunos a reflexatildeo sobre o contexto social e a
problemaacutetica da comunidade em que estatildeo inseridos o respeito agrave individualidade a
ampliaccedilatildeo das potencialidades do aluno para organizar elaborar e atuar
coletivamente Deixam o legado futuro de homens responsaacuteveis mentes
independentes e atuantes que poderatildeo prestar serviccedilos significativos agrave sociedade
45
A comunidade assentada de o Assentamento Renascer pela Reforma
Agraacuteria em Sobradinho DF foi convidada a opinar sobre a escola que deseja a
partir da conquista da terra
O modelo proposto a partir de seu posicionamento possibilita a conclusatildeo
de que a escola do campo plantada na comunidade eacute preferiacutevel ao modelo
adotado atualmente de inserccedilatildeo dos alunos da comunidade agraves escolas urbanas
conter recursos materiais e humanos que propiciem bons resultados
pedagoacutegicos deve servir para fixar o trabalhador ao campo deve cumprir com o
propoacutesito constitucional de universalizaccedilatildeo do ensino para todas as faixas
etaacuterias deve estar identificada com os sonhos de prosperidade material e
realizaccedilatildeo pessoal dos assentados
-46-
46
Referecircncias Bibliograacuteficas
CANUTO Antocircnio In Comissatildeo Pastoral da Terra DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO 2012 pag 131) CLAUDIA MORAES DE SOUZA em seu artigo lsquoDiscursos intolerantes O lugar da poliacutetica na educaccedilatildeo rural e a representaccedilatildeo do camponecircs analfabeto (DIVERSITAS FFLCH USPBR)acesso em 03-08-2014 EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO ndash Marcos Normativos Brasilia 2012 MEC FERRARO Alceu Ravanello em seu artigo Alfabetizaccedilatildeo rural no Brasil na perspectiva das relaccedilotildees campo-cidade e de gecircnero (Educ Real ndash WWWSCIELOBRPDFEDREALV37N3PDF acesso 03-10-2014 FERREIRA (2011_ ldquoUm olhar histoacuterico uma realidade concretardquo (WWWUNIFILBR)acesso 20-10-2014
FERRARI Marco ldquoAniacutesio Teixeira o inventor da escola puacuteblica no Brasilrdquo Revista Nova Escola Fundaccedilatildeo Victor Civita Revistaescolaabrilcombr acesso em 14092014 FERREIRA Fabiano de Jesus BRANDAtildeO Elias Canuto ndash Revista Eletrocircnica de Educaccedilatildeo Ano V N 09 juldez 2011p3 ldquoEducaccedilatildeo do campo um olhar histoacuterico uma realidade concreta rdquo (WWWUNIFILBR acesso em 08 de agosto de 2014) GONCcedilALVES Luiz Alberto Oliveira e Pinto Regina Pahim EDUCACcedilAtildeO SEacuteRIE JUSTICcedilA E DESENVOLVIMENTO IFP-FCC FUNDACcedilAtildeO CARLOS CHAGAS 2007 SAtildeO PAULO (pag206)
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OLIVEIRA Maria Rita Duarte em sua dissertaccedilatildeo ldquoDos programas oficiais para a educaccedilatildeo rural aos projetos de educaccedilatildeo do campo dos movimentos sociaisrdquo WWWrevistalaborufcbrartigovolume1maria-ritapdf acesso em 08-09-2014
OLIVEIRA Maria Rita Duarte PEDAGOGIA EM MARCHA Apud ARROYO Satildeo Paulo1995( pg 162)
OLIVEIRA Maria Rita Duarte Revistalabor ufcbracesso em 19-10-2014
________ citando CALAZ Maria Rita Duarte Oliveira
47
SANTOS Clarice Aparecida PROGRAMA NACIONAL DE EDUCACcedilAtildeO NA REFORMA AGRAacuteRIA in DICIONARIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia2012(pg630)
________ Clarice Aparecida PROGRAMA NACIONAL DE EDUCACcedilAtildeO NA REFORMA AGRAacuteRIA BRASIacuteLIA 2012 pg 631 in DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO SANTOS Claudio Felix Dos ldquoO aprender a aprender na formaccedilatildeo de professores do campordquo Campinas 2013 Editora Autores Associados ) SOUZA Maria Antocircnia Movimentos Sociais no Brasil Contemporacircneo participaccedilatildeo e possibilidades no contexto das praacuteticas democraacuteticas ndash (wwwcesucptlab2004pdfMariaAntonia Souzapdfaceso em 24-07-2014 -48-
48
Apecircndices
1 Roteiro das Entrevistas
a) Dados dos entrevistados
Qual o seu nome
Masculino ( ) Feminino ( )
Quantos anos vocecirc tecircm
A quanto tempo mora no
assentamento
Onde vocecirc morou antes
de morar no
assentamento
Quantos anos vocecirc tinha
quando foi a escola pela
primeira vez
Estou ateacute qual seacuterieano
Quantos anos vocecirc tinha
quando parou de estudar
Qual motivo motivou vocecirc
a parar de estudar
Se tiver escola no
assentamento vocecirc voltaraacute
a estudar Porque
B) Outras informaccedilotildees dados pelos entrevistadosas (GRAVAR)
a) Em qual escola vocecirc estudou no acampamento ou em outro lugar Qual
b) Como era a escola que estudou Quais as coisas boas e coisas ruins que
tinha nesta escola
c) Conte como eacutefoi a educaccedilatildeo do assentamento o que jaacute existiu de escola
como funcionou e quais eram as boas e as coisas ruins desta escola
d) Jaacute participou de alguma accedilatildeo de mobilizaccedilatildeo para ter escola no
assentamento Se sim explique para que e como foi essa mobilizaccedilatildeo
e) Na sua opiniatildeo no assentamento deve ter escola Por quecirc
f) Como deveraacute ser a escola da comunidadeassentamento Como eacute a escola
que queremos ter
49
b) Entrevistas semi-estruturadas
Entrevistado 01
Moro no assentamento Renascer haacute 11 anos Nasci Carnauacuteba no Rio Grande do
Norte fui criado na roccedila e desde pequeno trabalhava na lavoura para ajudar meu
pai Fui para escola com 9 anos de idade estudei ateacute a 5ordm seacuterie parei de estudar
com 17 anos natildeo continuei os estudos porque era muito longe de onde eu morva
que era na cidade mais proacutexima eu tinha que andar a peacute 8 km ficava muito
cansado Casei e vim morar em Brasiacutelia para trabalhar em uma chaacutecara como
caseiro Morava na chaacutecara Buritis em sobradinho- Df tambeacutem natildeo dei para
continuar os estudos porque ficava longe e tinha que ser a noite e natildeo tinha como ir
Se vier uma escola pra caacute eu ainda vou estudar para ter mais conhecimento para
plantar minha roccedila ir no banco pra ver se assino um empreacutestimo para melhorar
minha produccedilatildeo e saber fazer conta pra administrar minha parcela de terra
Qual o seu nome
Masculino ( X ) Feminino ( )
Quantos anos vocecirc
tecircm
57 anos
A quanto tempo
mora no assentamento
11 anos
Onde vocecirc morou
antes de morar no
assentamento
Carnauacuteba ndash RN
Chaacutecara Buritis nordm 10 Sobradinho DF
Quantos anos vocecirc
tinha quando foi a escola
pela primeira vez
8 anos
Estou ateacute qual
seacuterieano
5ordf seacuterie
Quantos anos vocecirc
tinha quando parou de
estudar
24 anos
Qual motivo
motivou vocecirc a parar de
estudar
Trabalhar para sustento da famiacutelia a
distacircncia entre a casa e a escola
Se tiver escola no
assentamento vocecirc voltaraacute
a estudar Porque
Sim ldquoSe tivesse escola do ensino
fundamental voltaria a estudar para tecirc
mais conhecimento para plantar minha roccedila
50
saber pesar saber contar vendecirc os produto e
comecirc
Entrevistado 02
Moro no assentamento renascer haacute 7 anos tenho 38 vim do interior do Cearaacute
Entrei na escola com 7 anos de idade estudei soacute a 5ordm seacuterie incompleta natildeo
continuei a estudar porque natildeo tinha escola a onde eu morava que era na roccedila e eu
tinha que ficar na casa dozotro (SIC) na cidade e eu natildeo gostava disso natildeo ai parei
com 16 anos de idade Mudamo (SIC) pra Brasiacutelia pra uma chaacutecara perto de Santa
Maria-DF e natildeo dei pra estudar porque casei e tinha que trabalhar muito para
susrentar a famiacutelia A gora moro no assentamento Renascer e sei que um dia vai ter
uma escola aqui e eu vou voltar a estudar porque meu sonho eacute ser veterinaacuterio e vou
der se deus quiser
Entrevistado 03
Tenho 58 anos moro no assentamento Renascer haacute 6 anos vim de Ceres-GO
comecei a estudar quando eu tinha 10 ano de idade estudei ateacute a 4ordf seria primaacuteria
(SIC) parei de estudar quando tinha 16 anos porque eu morava na roccedila e escola
ateacute que natildeo ficava muito longe natildeo era soacute 2 km dava pra ir a peacute a professora eacute que
faltava muito e a gente natildeo tinha como saber se ela tava ou natildeoAiacute quando eu tinha
18 anos casei e vim morar em Brasiacutelia e arranjei(SIC) emprego de caseira em uma
chaacutecara aiacute natildeo pra estudar a noite porque era muito longe pra laacute entatildeo eu natildeo
pensei mais nessas coisas Quando tiver escola no assentamento quero estudar
quiecirc pra mim (SIC) fazer curso de teacutecnico agriacutecolarsquorsquo
Entrevistado 04
Tenho 24 anos moro no assentamento Renascer tem 6 ano vim da Bahia morava
no Condomiacutenio RK entrei na escola com 7 anos de idade e estudei soacute ateacute a 6ordf seacuterie
parei com 18 anos de idade
Porque mudei pra caacute pro assentamento (SIC) e natildeo tem escola e natildeo tem como ir
pra Sobradinho a noite porque eacute muito longe tem que andar 5 km eacute pirigogo (SIC)
tem muita gente mal por aiacute tem ateacute estrupador natildeo posso me arriscar
ldquoSe tivesse escola aqui eu ia terminar meus estudos podia ser no galpatildeo mesmo
pra mim tava bom mas para os meus filhos eu queria uma escola boa com internet
e tudo Eu natildeo gosto que meus filhos estuda(SIC) na cidade soacute aceito porque eacute o
jeito gente de assentamento eacute muito zombado (SIC) porque as vezes chega suja
na escola e os outros acha que eles satildeo porcos que toma banhordquo
Entrevistado 05
51
Tenho 21 anos de idade moro no Renascer haacute trecircs anos vim de satildeo Gabriel-GO
comecei a estudar aos 7 anos parei com 18 anos porque minha matildee mudou
pro(SIC) matildee mudou pro (SIC) assentamento haacute 6 anos e eu natildeo aguento morar
longe dela Quando cheguei aqui natildeo teve como continuar os estudos porque
trabalho durante o dia como manicure em Sobradinho e o uacuteltimo ocircnibus que passa
perto do assentamento eacute as 5 horas da tarde entatildeo natildeo daacute para estudar a noite
Sim porque quero fazer um curso de cabelereiro quando tiver aacutegua e luz aqui eu
quero montar um salatildeo de beleza e para ser uma empresaacuteria precisa ter estudos pra
administrar o negoacutecio
Entrevistado 06
44 anos
6 anos
Formosa-GO
8 anos
5ordf seacuterie
24 anos
Porque a escola mais perto(SIC) era 10km de distacircncia e eu trabalhava na roccedila e
ficava muito cansado aiacute parei natildeo deu mais
Sim quando tiver escola aqui eu vou voltar a estudar Eu tinha um sonho de ser
agroacutenomo mas esse sonho eacute impussive(SIC) entatildeo queria concluir o ensino
fundamental para fazer um curso de teacutecnico agriacutecola no IFB mas tambeacutem eacute longe
se tivesse como estudar aqui no assentamento eu ia(SIC) ficar muito feliz
Entrevistado 07
57 anos
6 anos
Parnaiacuteba-PI- Santa Maria- DF
7 anos
4ordf seacuterie
21 anos
Parei porque era muito difiacutecil ir para escola que ficava muito longe eu tinha que sair
de casa as 4hs da madrugada para chegar na escola as 730 ia montado num
cavalo e muitas vezes natildeo tinha professora pra dar aula Parei porque natildeo aguentei
o rojatildeo tinha que minha matildee na lida a tarde e eu ficava muito cansado Vim pra
52
Brasiacutelia e casei fui trabalhar de chacareiro numa chaacutecara que tambeacutem era longe de
escola depois vim morar aqui no assentamento que natildeo tem escola
Se tivesse escola aqui eu ia voltar estudar soacute pra aprender a cuidar meior (SIC) da
terra e dos meus bichos e que fosse como uma escola agriacutecola
Entrevistado 08
Tenho 29 anos moro no assentamento Renascer haacute 2 anos sou educadora do
Pronera haacute 1 ano e 2 meses O Pronera eacute como um antidepressivo na vida de muita
gente o Pronera melhorou a minha vida e a vida dos meus alunos o desejo de
todos eacute que o Pronera continue crescendo em direccedilatildeo de uma educaccedilatildeo continuada
levando tambeacutem o ensino fundamental para os acampamentos e assentamentos da
Reforma Agraacuteria
-50-
Anexos
53
Acampamento agrave beira da estrada ndash 2004
Construccedilatildeo da Sede do Movimento na atual aacuterea
54
Reuniatildeo semanal
Teatro de fantoches ndash brinquedoteca
55
Accedilatildeo da Pastoral da Crianccedila na brinquedoteca
Oficina de brinquedos reciclaacuteveis
56
Brinquedo confeccionado com materiais reciclaacuteveis na Brinquedoteca
57
58
59
60
Apresentaccedilatildeo teatral
61
Capacitaccedilatildeo em Economia Solidaacuteria
Formaccedilatildeo de multiplicadores da Economia Solidaacuteria
62
Capacitaccedilatildeo de Educadores Ambientais
63
Luta pela Reforma Agraacuteria e Soberania Alimentar
20
A reaccedilatildeo do governo contra o movimento de educaccedilatildeo popular proposto por
Freire e assumido pelo Movimento das Ligas Camponesas e pelo Movimento de
Educaccedilatildeo de Base (MEB) gerou repressatildeo e resposta da ditadura civil-militar como
o Movimento Brasileiro de Alfabetizaccedilatildeo (MOBRAL)
A luta dos movimentos sociais e sindicais pela educaccedilatildeo do campo parte das
forccedilas internas dos movimentos e alcanccedila a setores sociais religiosos ideoloacutegicos
que passam a contribuir efetivamente para o alcance do direito agrave educaccedilatildeo aos
camponeses
A Comissatildeo Pastoral da Terra (CPT) presente ao lado dos trabalhadores (as)
rurais indiacutegenas ribeirinhos pescadores e quilombolas tambeacutem contribuiu e
contribui para a formaccedilatildeo criacutetica a defesa de formas sustentaacuteveis de utilizaccedilatildeo de
recursos naturais e produccedilatildeo e para a alfabetizaccedilatildeo segundo o meacutetodo de Paulo
Freire (CANUTO 2012 p 131)
Na atualidade estaacute em desenvolvimento um movimento que luta pela educaccedilatildeo do homem do campo organizado por vaacuterias entidades dentre elas o MST Trata-se de um processo que teve inicio em meados dos anos de 1990 impulsionados pela necessidade da educaccedilatildeo de jovens e adultos das aacutereas de assentamentos rurais Foi organizado um Programa Nacional para Educaccedilatildeo na Reforma Agraacuteria composto por atores tais como movimentos sociais universidades e governo federal aleacutem de outros parceiros (Alas da Igreja Sindicatos Organizaccedilatildeo Natildeo-Governamental ONG) existentes nas diferentes regiotildees do Brasil( SOUSA2004 p 32)
A trajetoacuteria de conquista das escolas do campo particularmente as escolas
do campo criadas pelo MST a partir da deacutecada de 1990 foi marcada pela conquista
e implantaccedilatildeo da Educaccedilatildeo Fundamental para crianccedilas e adolescentes dos
acampamentosassentamentos de acordo com o projeto politico-pedagoacutegico fruto do
amadurecimento do movimento
Focou-se a alfabetizaccedilatildeo de jovens e adultos e as lutas pela implantaccedilatildeo do
ensino meacutedio com cursos alternativos para a formaccedilatildeo de professores e teacutecnicos de
niacutevel meacutedio e tambeacutem de cursos superiores
A concepccedilatildeo de escolas de ensino fundamental plantadas em assentamentos
prevecirc a instalaccedilatildeo da escola na proacutepria comunidade evitando com isso o uso de
transporte escolar e a frequecircncia dos alunos Sem Terra em escolas fora do
assentamento
21
Esta atitude de resistecircncia foi fundamental para a conquista da escola nas
terras conquistadas e tambeacutem foi fundamental para universalizar o ensino enraizar
o aluno em sua comunidade e criar a consciecircncia do direito agrave educaccedilatildeo
ldquoincomodandordquo o Estado para garantir o cumprimento das poliacuteticas puacuteblicas
Kolling Vargas e Caldart (2012p502) nos ensinam ldquotoda vez que se
conquista uma escola de educaccedilatildeo baacutesica em um assentamento ou acampamento
ela representa menos adolescentes e jovens do campo fora da escola e mais gente
enraizada em seu proacuteprio lugarrdquo (pag 502)
Os movimentos sociais e sindicais pela educaccedilatildeo do campo indicam o grau
de maturidade desses em sua luta pela reforma agraacuteria Agrave essa luta soma-se o
projeto de desenvolvimento do paiacutes baseado na justiccedila social e o combate agraves
tradicionais formas utilizadas pelas elites urbanas ou rurais de alienaccedilatildeo pela
expropriaccedilatildeo do trabalho e pelo controle dos meios que levam agrave emancipaccedilatildeo
sociocultural e agrave verdadeira humanizaccedilatildeo papel destinado agrave educaccedilatildeo
Neste sentido movimentos sociais como o MST inserem a educaccedilatildeo
baseada em princiacutepios pedagoacutegicos que se distinguem da escola tradicional
Numa perspectiva histoacuterica os movimentos sociais do campo como por
exemplo o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) tiveram inicialmente
como bandeira de luta a luta pela terra pela Reforma Agraacuteria natildeo fazendo uma
relaccedilatildeo entre essa luta e a educaccedilatildeo
A formaccedilatildeo de escolas do campo pelo MST natildeo foi resultado da consciecircncia e
importacircncia da escola para a promoccedilatildeo da educaccedilatildeo em seu meio Foi na verdade
a necessidade de oferecer aos filhos dos primeiros lutadores a oportunidade de
uma perspectiva melhor de futuro atraveacutes do direito agrave educaccedilatildeo Foi tambeacutem a
necessidade de ldquotransformar instituiccedilotildees histoacutericas como a escola em lugares que
ajudem a formar os sujeitos destas transformaccedilotildeesrdquo (CALDART2012 p94)
Desse modo houve primeiro a ldquoocupaccedilatildeo da escolardquo pela mobilizaccedilatildeo e pela
accedilatildeo para garantir que em acampamentos ou assentamentos conquistados
houvesse uma escola que ldquofizesse a diferenccedila ou tivesse realmente sentido em sua
vida presente e futura (preocupaccedilatildeo com os filhos)rdquo (CALDART2012 p91)
Num segundo momento da luta observa-se intencionalidade da luta pela
escola mas com proposta pedagoacutegica especiacutefica ldquocombinando processos de
22
escolarizaccedilatildeo e de formaccedilatildeo da militacircncia e da base social Sem Terrardquo
(CALDART2012 p92)
As experiecircncias de pensar escolas como polos regionais entre assentamentos e com estudantes de outras comunidades de camponeses aos poucos vatildeo educando o olhar dos trabalhadores Sem Terra para uma realidade mais ampla Foi assim que o MST chegou agrave EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO (KOLLING Vargas e Caldart 2012 p 502)
A escola dentro dessa perspectiva de mudanccedila e envolvimento social eacute
parte da luta pela reforma agraacuteria daacute significado a ela pois proporciona a formaccedilatildeo
integral dos sujeitos que lutam pela terra
Essa escola possibilita a reflexatildeo trava o diaacutelogo com as propostas de
educaccedilatildeo popular de Paulo Freire e busca superar as dificuldades imensas que
assentados e acampados vivem no dia a dia
A escola tambeacutem revela a cultura o orgulho e criaccedilatildeo da identidade na luta
por terra Nesse sentido
A heranccedila que o MST deixaraacute para seus descendentes seraacute bem mais do que a terra que conseguir libertar do latifuacutendio seraacute um jeito de ser humano e de tomar posiccedilatildeo diante das questotildees de seu tempo seratildeo os valores que fortalecem e datildeo identidade aos lutadores do povo de todos os tempos de todos os lugares Eacute enquanto produto humano de uma obra educativa que os Sem Terra podem ser vistos como mais um elo que se forma em uma longa tradiccedilatildeo de lutadores sociais que fazem a histoacuteria da humanidade Enraizamento no passado e projeto de futuro (CALDART 2012 p 96)
A educaccedilatildeo proposta pelo movimento gera o sentimento de pertencimento e
desperta o sentimento de respeito agrave coletividade valoriza o trabalho a gestatildeo
democraacutetica e desburocratizada da escola
SANTOS (2013 p71) esclarece que pelo projeto educacional do MST a
educaccedilatildeo proposta estaacute pautada em ldquovalores socialistas e humanistas tais como o
coletivismo o trabalho socialmente uacutetil a organizaccedilatildeo e auto-organizaccedilatildeo dos
estudantes e professoresrdquo (p71)
-21-
23
221 Concepccedilatildeo Pedagoacutegica da Educaccedilatildeo do Campo
No acircmbito da educaccedilatildeo do homem do campo tornar o homem sujeito e natildeo
objeto do saber leva a entender que o conhecimento do camponecircs pode dialogar
com as praacuteticas baseadas no conhecimento cientiacutefico desde que seja perseguido o
ideal de trabalhadores e educadores do campo comprometidos com as lutas sociais
de formar o homem ldquodordquo campo e ldquono campordquo
Conforme Kolling Cerioli e Caldart (2002 p 264) ldquoo povo tem direito a uma
educaccedilatildeo pensada desde o seu lugar e com sua participaccedilatildeo vinculada agrave sua
cultura e agraves suas necessidades humanas e sociaisrdquo ndash(Caldart Educaccedilatildeo do Campo
2012 p 264
Tal compreensatildeo se ainda hoje causa oposiccedilatildeo ateacute mesmo no ambiente
acadecircmico imagine-se naquele momento histoacuterico de profunda repressatildeo poliacutetica e
ideoloacutegica aos movimentos sociais de camponeses por terra e educaccedilatildeo Como nos
ensina Molina e Saacute (DICIONAacuteRIO da Educaccedilatildeo do Campo p 324)
A concepccedilatildeo de escola do campo nasce e se desenvolve no bojo do movimento da EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO a partir das experiecircncias de formaccedilatildeo humana desenvolvidas no contexto de luta dos movimentos sociais camponeses por terra e educaccedilatildeo Trata-se portanto de uma concepccedilatildeo que emerge das contradiccedilotildees da luta social e das praacuteticas de educaccedilatildeo dos trabalhadores do e no campo (MOLINA e SAacute 2012 pag 324)
A concepccedilatildeo pedagoacutegica da educaccedilatildeo popular e da pedagogia da praacutetica
segundo ARROYO inclui
um caraacuteter de envolvimento totalizante dos movimentos sociais que possibilita ao individuo que participa destes coletivos o acesso a outro tipo de formaccedilatildeo que supera a condiccedilatildeo de aluno de alfabetizando de escolarizando Os integrantes destes organismos emersos na tensa situaccedilatildeo de conflitos aprendem por meio da vivencia das lutas sociais dos momentos de mobilizaccedilatildeo das situaccedilotildees limites de perda de emprego de criacuteticas da sociedade agraves suas accedilotildees de ameaccedilas agraves suas vidas Tudo isso traz ricas liccedilotildees ensinadas na ldquoescola do movimentordquo e que nenhuma teoria pode transmitir ou explicar de forma satisfatoacuteria
No entendimento de Arroyo (2013) os movimentos sociais vivem e
amadurecem sob o conhecimento e o entendimento das contradiccedilotildees sociais e esta
24
experiecircncia lhes permite a possibilidade de defender mudanccedilas radicais tanto no
campo como na cidade tanto na ideologia quanto no combate ao latifuacutendio e ao
capitalismo
Tamanho movimento social gera a reflexatildeo sobre as relaccedilotildees
socioeconocircmicas politicas culturais cuidado da natureza relaccedilotildees humanas
destaques de tudo o que interessa ao coletivo agrave sociedade
Eacute por meio do entendimento de que a realidade eacute criaccedilatildeo humana de como se estabelecem os processos de opressatildeo e ainda da noccedilatildeo de que podemos transformar essa realidade dado que a sociedade eacute mutaacutevel que se forma a praacutexis da luta accedilatildeo-conscientizaccedilatildeo-transformaccedilatildeo-libertaccedilatildeo Inserindo-se criticamente na histoacuteria os cidadatildeos tornam-se sujeitos construtores e reconstrutores da realidaderdquo
Molina e Saacute (2012) nos ensinam a partir do conceito de escola do campo sobre a
potencialidade da vivencia de praacuteticas coletivas para a valorizaccedilatildeo integral dos
sujeitos da coletividade do conhecimento cientiacutefico da gestatildeo coletiva da escola
dentre tantos avanccedilos e vitoacuterias dos movimentos sociais
O processo ensino-aprendizagem permite que o conceito de escola extrapole
o cotidiano de dificuldades e desafia agrave reflexatildeo que gera a emancipaccedilatildeo
Este eacute um dos maiores desafios e ao mesmo tempo uma das maiores possibilidades da escola do campo articular os conhecimentos que os educandos tecircm o direito de acessar a partir do trabalho com a realidade da religaccedilatildeo entre educaccedilatildeo cultura e os conhecimentos cientiacuteficos a serem apreendidos em cada ciclo de vida e de diferentes aacutereas do conhecimento(MOLINA MOURAtildeO 2012 p 329) -26-
222 Princiacutepios da Educaccedilatildeo do Campo
Alguns princiacutepios viabilizam o projeto de escola adotado pelos movimentos
sociais e possibilitam a democracia e a integraccedilatildeo de todos lideranccedila assentados e
acampados do movimento
25
O princiacutepio da responsabilidade coletiva sobre o planejamento a gestatildeo a
organizaccedilatildeo e a realizaccedilatildeo de tarefas em todas as esferas de atividades princiacutepios
muito valorizados pelos movimentos sociais do campo foram transferidos para o
projeto de educaccedilatildeo
O projeto eacute de responsabilidade coletiva e insere educadores tanto a niacutevel
local como regional e nacional os ldquoColetivos de educaccedilatildeordquo como satildeo conhecidos
Os coletivos de educaccedilatildeo com tarefas forccedila orgacircnica e discussotildees especiacuteficas que podem variar a cada periacuteodo fortalecem o princiacutepio organizativo de que a questatildeo da educaccedilatildeo bem como outras questotildees da vida social assumidas pelo MST deve ser pensada e implantada de forma coletiva Eacute uma loacutegica que implica tarefas a serem realizadas pelas pessoas mas mediante um planejamento e uma leitura de conjuntura feita por um coletivo (KOLLING1995 et al p503)
Para concretizar o projeto de educaccedilatildeo foi concebida a formaccedilatildeo de
professores pelos proacuteprios movimentos no acircmbito da proacutepria comunidade
(conhecidos como ldquoprofessores leigosrdquo) e tambeacutem pela rede oficial de ensino
A falta de titulaccedilatildeo de muitos educadores formados na comunidade natildeo
impede que os mesmos trabalhem juntos com os professores titulados e com
simpatizantes do movimento no projeto poliacutetico-pedagoacutegico constituindo um
princiacutepio democraacutetico importante para superar as dificuldades e urgecircncias para a
implantaccedilatildeo da educaccedilatildeo do campo
A democracia do processo de formaccedilatildeo de educadores tem reflexos amplos
a formaccedilatildeo de educadores pelos proacuteprios movimentos especiacutefica para atuaccedilatildeo nas
escolas do campo
O movimento eacute responsaacutevel pela universalizaccedilatildeo do ensino no acircmbito dos
territoacuterios conquistados ou por conquistar e permitiu a evoluccedilatildeo do ensino ateacute o niacutevel
de terceiro grau com a realizaccedilatildeo de cursos como a Licenciatura em Educaccedilatildeo do
Campo (LEdoC) do qual somos os privilegiados alunos aqui na Universidade de
Brasiacutelia
Outro reconhecimento e prova de eficiecircncia da formaccedilatildeo de professores eacute o
precircmio ldquoEducaccedilatildeo e Participaccedilatildeordquo recebido em 1995 do Fundo das Naccedilotildees Unidas
para a Infacircncia (Unicef)
26
O somatoacuterio das forccedilas internas e externas do movimento ldquoleigasrdquo ou
tituladas associadas ao princiacutepio fundamental da participaccedilatildeo dos alunos e
comunidades em todos os niacuteveis e localidades eacute ponto fundamental para o sucesso
da concepccedilatildeo do projeto pois permite o estudo a reflexatildeo conjunta sobre
estrateacutegias para o alcance do objetivo de educaccedilatildeo na reforma agraacuteria
-25-
223 Marcos Normativos da Educaccedilatildeo do Campo
Numerosos Marcos Normativos podem ser citados para explicitar qual perfil
de escola destinada ao camponecircs interessava ao governo e aos proprietaacuterios rurais
A Lei 4024 de 1961 em seu art 105 estabelece o
Apoio que poderaacute ser prestado pelo poder puacuteblico agraves iniciativas que mantenham na zona rural instituiccedilotildees educativas orientadas para adaptar o homem ao meio e estimular vocaccedilotildees e atividades profissionais (BRASIL 2012 p 4)
A Lei 5692 de 1971 ao tratar da educaccedilatildeo rural ldquonatildeo observa mais uma vez
a inclusatildeo da populaccedilatildeo na condiccedilatildeo de protagonista de um projeto social globalrdquo
sendo que o trabalho do campo realizado por alunos eacute ateacute mesmo incentivado
adequando-o ao calendaacuterio escolar (MARCOS NORMATIVOSBrasiacutelia2012 p 25)
A Lei 9394 de 1996 (Lei das Diretrizes se Bases da Educaccedilatildeo ndash LDB) em
acordo com Constituiccedilatildeo de 1988 e ldquoinspirada de alguma forma numa concepccedilatildeo
de mundo rural enquanto espaccedilo especifico diferenciado e ao mesmo tempo
integrado no conjunto da sociedaderdquo reconhece
A diversidade soacutecio-cultural e o direito agrave igualdade e agrave diferenccedila possibilitando a definiccedilatildeo de diretrizes operacionais para educaccedilatildeo rural sem no entanto recorrer a uma logica exclusiva e de ruptura com um projeto global de educaccedilatildeo para o paiacutes (idem p 26)
27
Os artigos 208 e 210 da Carta Magna-1988 e inspirada de numa concepccedilatildeo
de mundo rural enquanto espaccedilo especiacutefico diferenciado e ao mesmo tempo
integrado no conjunto da sociedade a Lei 939496- LDB-estabelece que
Art 28 Na oferta da educaccedilatildeo baacutesica para a populaccedilatildeo rural os sistemas de ensino promoveratildeo as adapta necessaacuteria agrave sua adequaccedilatildeo agraves peculiaridades da vida rural e de cada regiatildeo especialmente (MARCOS NORMATIVOS) Brasiacutelia 2012 p 25)
1- Conteuacutedos organizar curriculares e metodologias apropriadas agraves reais
necessidades e interesses dos alunos da zona rural
2-organizaccedilatildeo escolar proacutepria incluindo a adequaccedilatildeo do calendaacuterio escolar as
fases do ciclo agriacutecola e as condiccedilotildees climaacuteticas
3-adequaccedilatildeo agrave natureza do trabalho na zona rural (MARCOS NORMATIVOS)
Brasiacutelia 2012( p 26)
O movimento de educaccedilatildeo do campo luta haacute quinze (15) anos para fazer-se
cumprir esse Decreto da Lei de Diretrizes de base da educaccedilatildeo do campo-LDB
que apesar de ser constitucional ainda natildeo foi colocada totalmente em praacutetica
Agora com as lutas dos movimentos sociais eacute que estaacute comeccedilando a se concretizar
Artigo 26 Os curriacuteculos do ensino fundamental e meacutedio devem ter uma base nacional comum a ser complementada em cada sistema de ensino e estabelecimento escolar por uma parte diversificada exigida pelas caracteriacutesticas regionais e locais da sociedade
da cultura da economia e da clientela (MARCOS NORMATIVOS) Brasiacutelia 2012(p 26)
O Decreto nordm 7352 de 4 de novembro 2010 dispotildee sobre a poliacutetica de educaccedilatildeo do campo ao Programa Nacional de Educaccedilatildeo
na Reforma Agraacuteria-PRONERA decreta
Art1ordm A poliacutetica de educaccedilatildeo do campo destina-
se agrave ampliaccedilatildeo e qualificaccedilatildeo da oferta de educaccedilatildeo baacutesica e superior agraves populaccedilotildees do campo e seraacute desenvolvida pela Uniatildeo em regime de colaboraccedilatildeo com os Estados o
28
Distrito Federal e os Municiacutepios de acordo com as diretrizes e metas estabelecidas no Plano Nacional de Educaccedilatildeo e o disposto neste Decreto
Para os efeitos deste Decreto entende-se por
l-populaccedilatildeo do campo os agricultores familiares os extrativistas os pescadores
artesanais os ribeirinhos os assentados e acampados da reforma agraacuteria os
trabalhadores assalariados rurais os quilombolas os caiccedilaras os povos da floresta
os caboclos e outros que produzam suas condiccedilotildees materiais de existecircncia a partir
do trabalho no meio rural
ll-escola do campo aquela situada em aacuterea rural conforme definida pela Fundaccedilatildeo
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica- IBGE ou aquela situada em aacuterea
urbana desde que atenda predominantemente a populaccedilatildeo do campo (MARCOS
NORMATIVOS) 2012( p 81)
No Decreto 6755 29 de janeiro de 2009 em seu art 2ordm estabelecida pelo Conselho
Nacional de Educaccedilatildeo que se refere as Diretrizes Operacionais da Educaccedilatildeo do
Campo o parecer da alternacircncia
A formaccedilatildeo de professores poderaacute ser feita concomitantemente agrave atuaccedilatildeo profissional de acordo com metodologias adequadas inclusive a pedagogia da alternacircncia e sem prejuiacutezo de outras que atendam agraves especificidades da educaccedilatildeo do campo e por meio de atividades de ensino pesquisa e extensatildeo (MARCOS NORMATIVOS) 2012( p84)
-26-
29
-
231 A educaccedilatildeo do campo e poliacutetica puacuteblica - o PRONERA
O amadurecimento adquirido pela luta sobre o papel da educaccedilatildeo aliado agrave
iniciativa do aproveitamento do trabalho das professoras ldquoleigasrdquo e ainda da
consciecircncia cada vez mais presente do dever do Estado em prover os cidadatildeos da
reforma agraacuteria de poliacuteticas puacuteblicas resultou no campo da educaccedilatildeo na criaccedilatildeo do
Programa Nacional de Educaccedilatildeo na Reforma Agraacuteria (PRONERA)
O PRONERA envolve formalmente jovens e adultos num projeto conjunto
com universidades e institutos federais em prol da formaccedilatildeo de educadores para o
trabalho em escolas dos assentamentos da reforma agraacuteria e seu entorno
O Programa foi criado em 1998 no momento da ascensatildeo dos conflitos pela
reforma agraacuteria o que propiciou que os movimentos sociais trouxessem para a
opiniatildeo puacuteblica suas mazelas
No campo da educaccedilatildeo foi denunciada a falta de escola a precariedade do
ensino a falta de profissionais do ensino a ldquoloacutegica de negaccedilatildeo histoacuterica do direito
aos camponeses de acesso aos niacuteveis mais elevados de escolaridade ( SANTOS
2012 pag 630)
A partir de 2005 o ensino oferecido pelo PRONERA eacute estendido ao niacutevel
meacutedio e superior como a Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo e a Residecircncia
30
Agraacuteria O PRONERA evoluiu para outros patamares tais como ldquopossibilidades de
ressignificaccedilatildeo do conteuacutedo e da metodologia dos processos de educaccedilatildeo formal
por meio dos princiacutepios baacutesicos da participaccedilatildeo e da multiplicaccedilatildeordquo (SANTOS 2012
p 631)
A participaccedilatildeo das comunidades e suas organizaccedilotildees e a multiplicaccedilatildeo de
alfabetizados formados educadores e demais profissionais ligados agraves poliacuteticas
puacuteblicas para a Reforma Agraacuteria gerou ampla participaccedilatildeo dos agentes envolvidos
na dinacircmica do processo ensino-aprendizagem
Essa forma de gestatildeo gerou reaccedilatildeo contraacuteria ldquoagrave gestatildeo colegiada e coletiva
notadamente agrave participaccedilatildeo direta dos movimentos sociais e sindicais do campordquo
considerados ldquoentes estranhos agrave administraccedilatildeo puacuteblicardquo (CLARICE p 634)
O envolvimento dos movimentos sociais e sindicais do campo natildeo
retrocederam em sua luta pelo envolvimento de todos os interessados na educaccedilatildeo
como elemento emancipatoacuterio e continuam formulando princiacutepios concepccedilotildees e
diretrizes para a escola do campo
-31-
31
Terceiro Capiacutetulo
A histoacuteria do Assentamento Renascer
31 Uma breve histoacuteria de luta
A histoacuteria do Assentamento Renascer natildeo parece ser diferente da histoacuteria de
outros assentamentos Brasil afora Partiu da reivindicaccedilatildeo de Trabalhadores Rurais
sem Terra que desde 2004 ocuparam as margens da Rodovia DF 330 que liga
Sobradinho ao Paranoaacute-DF
Tatildeo perto do centro do poder a apenas poucos quilocircmetros do Palaacutecio da
Alvorada ou da Sede do INCRA o Acampamento Renascer esteve ateacute oito (08) de
maio de 2009 tatildeo distante da decisatildeo poliacutetica pela Reforma Agraacuteria
Somente nesta data trezentos sessenta e um( 361) de terras devolutas da
Uniatildeo foram repassadas ao INCRA para assentar as famiacutelias aliacute acampadas Ficou
criado o assentamento Renascer fora da beira da estrada
O Assentamento Renascer ldquorenasceurdquo da dificuldade de vida sob o barraco de
madeira sem aacutegua sem luz sem saneamento baacutesico que fez com que tantos
desistissem ao longo do caminho e ainda hoje se encontra nessa mesma
precariedade um descaso por parte do poder puacuteblico
A luta em vaacuterios momentos da vida dos acampados parecia estar vencida Os
vencedores pareciam ser a burocracia o desrespeito as noites mal dormidas a
inseguranccedila a falta de perspectivas para o acampado e suas famiacutelias
Duzentas (200) famiacutelias viveram aliacute por cinco anos (05) de 2004 ateacute 2009
Atualmente satildeo cento e vinte (120) famiacutelias que moram na aacuterea destinada e estatildeo
em processo de assentamento Muitas delas poreacutem vencidas pelo cansaccedilo e pelas
condiccedilotildees de vida abandonaram a luta mas todas as famiacutelias as que se foram e as
que ficaram sonharam com a terra onde poderiam produzir viam no pedaccedilo de chatildeo
os frutos do pomar da horta o galinheiro o pasto
O Assentamento Renascer eacute o Brasil Eacute um pedacinho da cruel realidade que
como vimos neste trabalho marcou a sociedade brasileira desde a escravidatildeo
desde o primeiro grito de rebeldia do quilombo desde o primeiro que lutou contra os
coroneacuteis por divisatildeo da terra como as Ligas Camponesas contra o latifuacutendio como
os movimentos sociais em sua luta pela reforma agraacuteria desde vaacuterias geraccedilotildees
32
Eacute como todo e qualquer movimento social que surgiu neste paiacutes desde a
deacutecada de 1980 pela reforma agraacuteria Viveu e ainda vive as dificuldades de ser
acampadoassentado mas honra sua luta porque natildeo desiste faacutecil
O Assentamento Renascer eacute tambeacutem fruto do ecircxodo rural da industrializaccedilatildeo
do campo da monocultura e da concentraccedilatildeo de terras Foram expulsos do campo
para a periferia das cidades sem capacitaccedilatildeo sem estudo
A falta de escolarizaccedilatildeo eacute sem duacutevida uma caracteriacutestica de quase todos os
que vieram do campo para a cidade A realidade do Brasil eacute que o campo natildeo eacute
escolarizado as escolas no campo satildeo poucas satildeo despreparadas satildeo
desvalorizadas
-33-
32 As escolas no campo na vivencia do assentado do Assentamento
Renascer
As escolas no campo marcaram profundamente a vida dos poucos que a
frequentaram Quase todos tiveram que trocar o laacutepis pela enxada a carteira pela
roccedila desde muito pequenos Alguns natildeo muito poucos conforme os depoimentos
aqui relatados teriam que abandonar a enxada e a participaccedilatildeo no sustento da
famiacutelia para frequentar a escola Quase sempre abandonaram a escola para ficar no
trabalho com a enxada
Todos teriam que andar vaacuterios quilocircmetros para ir agrave escola Outros nem assim
conseguiriam frequentar a escola no campo ela simplesmente natildeo existia no
campo Teriam entatildeo que ir para a cidade para ter direito a uma escola
Muitos tambeacutem vivenciaram os traumas que uma escola tradicional e
descomprometida com os valores e responsabilidades do projeto educacional
castigos humilhaccedilotildees afastaram a muitos da escola
Alguns apenas sonharam e sonham com a escola ldquoAh a escolardquo Tatildeo longe
inacessiacutevel para tantos no Brasil afora Ao ver de algumas pessoas do
Assentamento Renascer ldquoSe tivesse jeito eu teria ido agrave escola tinha feito pelo
menos o ensino fundamental completo para que eu pudesse ingressar no curso
33
teacutecnico-agriacutecola Mas agora quero que meus filhos e netos vatildeo para a escola
aprender ser algueacutem na vidardquo
-34-
321 A escola no entorno do Assentamento Renascer
A ideia de lutar pela educaccedilatildeo veio antes da ideia de lutar pela escola como
espaccedilo conquistado pelo acampamento Encontrar uma escola perto do
acampamento com transporte escolar com vagas e horaacuterios acessiacuteveis para os que
trabalham o dia todo era entendido como uma necessidade baacutesica e uma grande
vitoacuteria
Ficava-se feliz se apesar das dificuldades fosse possiacutevel matricular pelo
menos as crianccedilas As dificuldades eram e ainda satildeo muitas o transporte escolar
era e eacute precaacuterio a poeira natildeo permite que os alunos cheguem limpos agrave escola os
buracos e as poccedilas daacutegua impedem a chegada do ocircnibus escolar durante as
chuvas No caso do ocircnibus que levam os alunos ateacute a Escola Classe do Coacuterrego do
Arrozal em eacutepoca de muita chuva os ocircnibus ateacute o iniacutecio de 2014 natildeo conseguiam
transitar Isto resulta no fato de que as crianccedilas precisam caminhar debaixo de
chuva ateacute a escola
-35-
322 O caminho para a produccedilatildeo do saber no Assentamento Renascer a
brinquedoteca a integraccedilatildeo social a biblioteca comunitaacuteria as manifestaccedilotildees
culturais
Ao longo dos anos de vivecircncia e convivecircncia no Acampamento Renascer
mediante a dificuldade e necessidade de estudar que sentimos na nossa proacutepria
vida foi despontando a ideia de prover as crianccedilas de atividades luacutedicas e
educativas
34
Logo no iniacutecio do acampamento por volta de 2005 por iniciativa de algumas
pessoas conscientes da necessidade de atividades luacutedicas para as crianccedilas foi
criada uma brinquedoteca
Inicialmente os brinquedos eram de materiais reciclaacuteveis como garrafas pet
telefones sem fio carrinhos bonecas petecas vai e vem cavalinhos tudo era
confeccionado com a participaccedilatildeo das crianccedilas na modalidade de oficina
incentivando-os a fabricar os seus proacuteprios brinquedos Os brinquedos eram
confeccionados a partir de materiais encontrados nos lugares de descarte perto do
acampamento e doaccedilotildees de pessoas que passavam pela estrada
O embriatildeo de um processo educacional que nunca se interrompeu estava
lanccedilado a brinquedoteca proporcionou a criatividade e a participaccedilatildeo de crianccedilas e
adultos marcando as atividades pela conscientizaccedilatildeo do cuidado com a natureza e a
importacircncia da reciclagem A educaccedilatildeo ambiental jaacute era praticada desde o
nascimento do acampamento Renascer
Este primeiro passo foi muito importante porque traduziu para o dia a dia do
acampamento os princiacutepios da escola do campo atuante para mudar a realidade
criar cidadatildeos conscientes e dispostos a mudar a realidade a partir da sua proacutepria
accedilatildeo Este eacute o processo de transformaccedilatildeo social dentro do acampamento Renascer
haacute tanto tempo atraacutes
Aos brinquedos reciclados pela proacutepria comunidade juntaram-se outros
presenteados por instituiccedilotildees como igrejas ONGs a Pastoral da Crianccedila e pessoas
interessadas no bem estar daquelas crianccedilas
Percebe-se em iniciativas como essas a importacircncia da educaccedilatildeo nos
diversos niacuteveis para a sociedade A integraccedilatildeo de pessoas com as atividades
educativas no acampamento nos faz lembrar sobre um grande sonho das escolas
hoje integrar a comunidade de modo a que todos defendam a escola
O sucesso de iniciativas como a brinquedoteca que integravam crianccedilas
adolescentes adultos e sociedade foi importante para outras iniciativas igualmente
importantes
Foi-se criando um projeto educacional para o acampamento sem que se
tivesse consciecircncia disso por faltar informaccedilatildeo que soacute agora se possui graccedilas aos
estudos na Universidade o galpatildeo comunitaacuterio foi utilizado para abrigar a
35
brinquedoteca para desenvolver grupos de teatro de crianccedilas e adultos e para
abrigar a biblioteca
A biblioteca recebeu inuacutemeros exemplares de livros infantis livros didaacuteticos
para os adolescentes e adultos literatura universal revistas dos mais variados
assuntos criando assim um espaccedilo comunitaacuterio de informaccedilatildeo lazer e
entretenimento
Com a criaccedilatildeo da biblioteca ficou evidente a importacircncia da alfabetizaccedilatildeo de
crianccedilas jovens e adultos Muitos acampados relatavam a vontade e a necessidade
de aprender a ler e a escrever Muitos reivindicavam o direito agrave educaccedilatildeo e
frequecircncia agrave escola ainda que o acampamento mudasse de ldquoendereccedilordquo tantas
vezes
Outros poreacutem natildeo acreditavam que seria possiacutevel aprender ou aperfeiccediloar a
leitura e a escrita nas condiccedilotildees de vida de um acampado
Vaacuterias atividades culturais foram desenvolvidas (e ainda satildeo) no
Acampamento Renascer Todas chamavam a atenccedilatildeo da comunidade local de
outras comunidades vizinhas garantindo a simpatia de chacareiros que levavam os
filhos para participarem das atividades
Uma das atividades mais apreciadas foi o Teatro de Fantoches inspirados em
faacutebulas muitas com a autoria da Pastoral da Crianccedila e da Faber Castel A
participaccedilatildeo da comunidade na atividade era intensa e voluntaacuteria todos queriam
manipular os fantoches participar cantando danccedilando ou prestando muita atenccedilatildeo
O teatro de transformaccedilatildeo social produzido pelos adultos e adolescentes
utilizavam tambeacutem materiais reciclaacuteveis demonstrando cuidado com o meio
ambiente e amadurecimento dos conceitos poliacuteticos e pedagoacutegicos gerando reflexatildeo
sobre os temas sociais que nos atingem no cotidiano
A miacutestica adotada pelos movimentos sociais com o objetivo de reflexatildeo satildeo
apresentadas em datas comemorativas e contam com o apoio e participaccedilatildeo de
muitos
Algumas festas fazem parte da tradiccedilatildeo do Acampamento Renascer
traduzindo para a realidade atual as antigas festas a que todos foram acostumados
em seus lugares de origem
Pode-se dizer que a comunidade aprecia muito as festas Mas duas em
particular satildeo muito respeitadas a festa das crianccedilas que ocorre durante o dia (12
36
de outubro) eacute concorrida pois a comunidade se esmera para oferecer os brinquedos
que as crianccedilas amam pula-pula palhaccedilos pintura de rosto piscina de sabatildeo e
muita oferta de comida coisas que as crianccedilas adoram
No mesmo dia ocorre agrave noite a festa da Nossa Senhora Aparecida com
missa e muito forroacute
No mecircs de marccedilo eacute comemorada a Festa da Pamonha em comemoraccedilatildeo agrave
boa colheita do milho Esta festa jaacute se tornou tradicional conhecida em todo o
entorno do assentamento Egrave uma festa importante porque confraterniza a
comunidade Renascer com as comunidades vizinhas e ateacute mesmo as cidades de
Sobradinho Paranoaacute e Planaltina
Os movimentos sociais necessitam ser admirados pela sociedade e festas
como estas chamam a atenccedilatildeo para o problema da reforma agraacuteria demonstrando
que ela eacute viaacutevel e que os assentados tecircm simpatia competecircncia e seus saberes do
campo
A festa ldquojulinardquo eacute outra festa muito apreciada que apresenta as tradiccedilotildees rurais
e religiosas como quadrilhas e bandas de forroacute da comunidade e vizinhanccedila A
danccedila eacute um dos pontos fortes da festa assim como as comidas tradicionais muitas
delas com ingredientes colhidos no acampamento
Vaacuterios grupos de atividades teatrais apresentaram-se na localidade com
participaccedilatildeo de palhaccedilos lembrando um espetaacuteculo circense Alguns desses
grupos inclusive tiveram seus trabalhos premiados
Outras atividades com fundo educativo tiveram participaccedilatildeo animada de
crianccedilas e adultos A exibiccedilatildeo de desenhos animados recentemente apresentados
no cinema eram um grande atrativo para a comunidade que se via socialmente
incluiacuteda Esta inclusatildeo aumentava a autoestima das crianccedilas principalmente pois
assim elas poderiam interagir com os colegas da escola conversando a respeito dos
filmes
A Economia Solidaacuteria eacute uma das formas de inserccedilatildeo dos membros da
comunidade agrave sociedade economicamente ativa Atraveacutes da cooperaccedilatildeo solidaacuteria eacute
possiacutevel o comercio justo agriacutecolas ou artesanais sob conceitos antes
desconhecidos enquanto forma de produccedilatildeo e consumo centrado na valorizaccedilatildeo do
ser humano em contraposiccedilatildeo agraves formas capitalistas de produccedilatildeo e conscientizaccedilatildeo
37
Ao longo dos doze (12) anos de luta pela educaccedilatildeo foram promovidos
diversos cursos que capacitaram multiplicadores que fazem um trabalho importante
para a comunidade
A ideia de autogestatildeo democracia cooperaccedilatildeo auxilia natildeo soacute as formas de
produccedilatildeo e comercio de bens e artesanatos mas tambeacutem auxiliam na formaccedilatildeo
integral de pessoas em que tanto o produtor como o consumidor tem o proposito de
ganhos financeiros segundo um criteacuterio de valorizaccedilatildeo do trabalho
Proposito de formar uma nova consciecircncia a Economia Solidaacuteria promoveu
cursos de Soberania Alimentar em que a comunidade recebeu noccedilotildees praacuteticas
sobre alimentaccedilatildeo a partir da produccedilatildeo local de modo a promover uma nova cultura
alimentar que visa o combate agraves doenccedilas crocircnicas Outro proposito eacute tornar a
comunidade criacutetica em relaccedilatildeo agrave publicidade de produtos alimentiacutecio supeacuterfluo que
induz agraves crianccedilas e adultos alimentarem-se incorretamente
A comunidade participou coletivamente da implantaccedilatildeo de uma unidade da
tecnologia social denominada Produccedilatildeo Agroecoloacutegica Integrada e Sustentaacutevel
(PAIS) em 2012 com o objetivo de produzir alimentos saudaacuteveis e preservar o meio
ambiente trazendo mais alimentos e renda ao campo Esta tecnologia popularmente
conhecida como ldquohorta mandalardquo foi ministrada durante o curso de capacitaccedilatildeo
promovido pela Fundaccedilatildeo Banco do Brasil e teve o meacuterito de proporcionar o debate
e a participaccedilatildeo democraacutetica na definiccedilatildeo das culturas a serem cultivadas na futura
propriedade Vale informar que o assentamento Renascer identificou-se com esse
paradigma agroecoloacutegico
A educaccedilatildeo ambiental faz parte do dia a dia da comunidade hoje preserva-se
conservaccedilatildeo das formas de vida vegetais e animais na regiatildeo do assentamento e
entorno
A produccedilatildeo de mudas no viveiro eacute bastante concorrida contando com a
participaccedilatildeo de todos O viveiro produz cinco mil (5000) mudas de espeacutecies nativa
do cerrado para o reflorestamento das nascentes de aacutegua e nas aacutereas degradadas
da regiatildeo Contam com o apoio da FUNATURA FUNDACcedilAtildeO BANCO DO BRASIL
IFB Rio Satildeo Bartolomeu Vivo e UnB
-36-
38
39
Quarto Capiacutetulo
A escola que queremos expectativas e sonhos dos
acampados do Assentamento Renascer
Pode-se observar pelas falas dos entrevistados que a realidade de todos
converge para os problemas estruturais do Brasil faltam escolas no campo eacute baixa
a escolaridade em Brasiacutelia todos exercem atividades de subemprego
Todos tecircm grandes expectativas com relaccedilatildeo agrave vida futura no assentamento
objetivando melhores condiccedilotildees de vida na esperanccedila de serem beneficiaacuterios
enquanto cidadatildeos assentados das Poliacuteticas Puacuteblicas e financiamentos agriacutecolas
voltadas para a agricultura familiar como PRONAF PAA PNAE e PAPA-DF Vecircem
aiacute a possibilidade de emprego e renda situaccedilatildeo sonhada desde quando foram
pleitear a terra para reforma agraacuteria
Um olhar mais aprofundado sobre a anaacutelise de dados revela que natildeo importa o
fato de hoje residirem no DF pois como em qualquer lugar de origem os moradores
do assentamento Renascer vivenciam os mesmos problemas Percebe-se
claramente as dificuldades da inexistecircncia de escola no campo A distacircncia continua
impedindo o acesso os meios de transportes continuam precaacuterios os filhos
vivenciam a dificuldade de transferecircncia para a cidade na expectativa de
continuidade dos estudos as estradas rurais continuam esburacadas
Satildeo muitos os pontos em comum entre a situaccedilatildeo atual relatada e os problemas
vividos haacute deacutecadas em seus estados de origem o que deixa transparecer a absoluta
falta de interesse por parte do poder puacuteblico em garantir o direito constitucional agrave
educaccedilatildeo do povo do campo o que infelizmente continuaraacute deixando o triste
legado para o futuro do paiacutes
40
Repetimos a pergunta da inicial Cadecirc as escolas do campo Ateacute quando o paiacutes
vai viver essa situaccedilatildeo A anaacutelise de dados responde Natildeo eacute mais possiacutevel
continuar como estaacute
Todos os entrevistados pretendem alcanccedilar conhecimentos atraveacutes da escola do
campo implantada no Assentamento Renascer com objetivos de administrar a
propriedade participar ativamente do coletivo garantir renda fixa atraveacutes dos
programas de desenvolvimento da agricultura familiar
Os entrevistados unanimamente tecircm a preocupaccedilatildeo da manutenccedilatildeo dos laccedilos
familiares e das raiacutezes camponesas
A distacircncia entre a moradia e a escola fato relatado pela quase totalidade dos
entrevistados constitui um grande motivo de evasatildeo escolar de defasagem nas
seacuteries frequentadas de precariedade na aprendizagem em relaccedilatildeo aos demais
alunos A discriminaccedilatildeo alegada por muitos que frequentaram ou frequentam
escolas fora da faixa etaacuteria o vernaacuteculo proacuteprio dos sujeitos do campo as condiccedilotildees
precaacuterias da estrada que denunciam a condiccedilatildeo de assentado o sentimento de
inadequaccedilatildeo constituem fatores que determinam a evasatildeo escolar
Foram treze (13) entrevistados significando aproximadamente dez por cento
(10) dos moradores do Assentamento Renascer Desse total apenas dois (2)
entrevistados natildeo declararam dificuldade de distacircncia entre a moradia e a escola em
seus lugares de origem A maioria absoluta (11) pessoas declararam que a distacircncia
dificultava e impedia o acesso agrave escola Alguns relatos apresentam situaccedilotildees
precaacuterias para o homem do campo o assentado
Para o aluno do campo a distacircncia da escola tem o significado de inexistecircncia de
escola Isto porque as dificuldades de acesso satildeo enormes No caso em estudo
apenas um entrevistado declarou a inexistecircncia de escola em sua regiatildeo de
moradia Este poreacutem vivenciou todas as dificuldades de acesso que outros
assentados apresentaram em razatildeo da distacircncia moradiaescola
A falta de professores na escola rural eacute relatada por 11 dos 13 entrevistados A
distacircncia da escola para os professores dificulta segundo a vivecircncia dos
entrevistados o acesso agrave escola e a assiduidade o que muito desmotivava a
ambos
41
Os entrevistados conforme anaacutelise de dados desejam muito objetivamente a
implantaccedilatildeo imediata de escolas segundo os criteacuterios caracteriacutesticos de escola do
campo
- Trazer a realidade para dentro da escola do campo curriacuteculos voltados para o
cotidiano do aluno do campo onde as teacutecnicas agriacutecolas pecuaacuterias e agroecoloacutegicas
possam fazer parte do processo educativo da comunidade e que a escola tenha
uma gestatildeo coletiva democraacutetica com a participaccedilatildeo da comunidade
- Ter o trabalho como princiacutepio educativo A experiecircncia do aluno deve
harmonizar-se com os princiacutepios pistrakianos significar o trabalho de forma a que
ele apresente benefiacutecios para o proacuteprio indiviacuteduo para a comunidade na qual estaacute
inserido e para a sociedade e natildeo exclusivamente para servir ao capitalismo
-Superar a fragmentaccedilatildeo do conhecimento disciplinar A interdisciplinaridade
deve fazer parte dos objetivos educacionais de modo a promover a formaccedilatildeo
integral dos educandos
- Valorizar os saberes do homem do campo Os entrevistados desejam uma
escola onde possam exercitar sua vivecircncia campesina e a relaccedilatildeo dialoacutegica entre
professor-aluno seguindo a pedagogia de Paulo Freire o educando quer aprender
com o educador mas quer tambeacutem ter a oportunidade de transmitir seus saberes
- Promover espaccedilos de gestatildeo coletiva A proacutepria comunidade deve participar da
gestatildeo a elaboraccedilatildeo do PPP deve gerir o espaccedilo fiacutesico da escola para atividades
de interesse da comunidade ocupar espaccedilos para finalidades culturais esportivas
sociais tornando a escola um espaccedilo democraacutetico
- Garantir a presenccedila da comunidade e dos movimentos sociais que geram
processos que auxiliam a emancipaccedilatildeo social A escola deve tambeacutem ser espaccedilo
que auxilie a sustentabilidade e garanta a alimentaccedilatildeo saudaacutevel e recursos
fitoteraacutepicos em associaccedilatildeo com a comunidade
- Inclusatildeo tecnoloacutegica em todos os aspectos digital inovaccedilatildeo tecnoloacutegica
agropecuaacuteria recursos ambientais alternativos agua potaacutevel energia solar energia
eoacutelica fossa seacuteptica teacutecnicas de compostagem saneamento baacutesico cuidados com
os recursos hiacutedricos
A anaacutelise dos dados quando feita especificamente sobre a escola a ser
implantada pode aparentemente demonstrar uma pequena conexatildeo com as teorias
da escola do campo
42
A concepccedilatildeo da escola do campo natildeo pode ser imposta ela parte do princiacutepio
que os camponeses devem conquista-la Para essa conquista eacute necessaacuteria a
paixatildeo o desejo por algo ainda natildeo experimentado o amadurecimento poliacutetico-
social-pessoal a participaccedilatildeo coletiva na luta e na conquista
A trajetoacuteria de luta por educaccedilatildeo da comunidade Renascer apresenta estes
elementos agraves vezes difusos outras vezes mais claramente A escola bem que
poderia para alguns ser apenas uma escola rural Afinal aprender a ler e a
escrever ldquodireitordquo como alguns dizem ou seja deixar a condiccedilatildeo de analfabeto ou
analfabeto funcional para tornar-se letrado significaria avanccedilos em face das atuais
circunstacircncias Alguns entendem assim expressando-se principalmente nas
conversas informais
Apesar disso quando as respostas informais ou quando as respostas das
entrevistas satildeo analisadas mais profundamente identificamos que embora
difusamente todos desejam o programa educacional da escola do campo
Explicando melhor a participaccedilatildeo de todos da comunidade em todas as atividades
soacutecio-poliacuteticas-culturais (relatadas no terceiro capitulo) indicam que a comunidade
assimilou a postura soacutecio-politica-cultural que caracterizam a escola do campo
A vivecircncia do Assentamento Renascer no cotidiano e nos eventos coletivos
amadureceu o desejo pelo alimento intelectual cultural artiacutestico ambiental social
que a concepccedilatildeo de escola do campo introduz O programa educacional da Escola
do Campo ultrapassou as paredes fiacutesicas da escola e alcanccedilou o cotidiano dos
assentados
Os avanccedilos da conscientizaccedilatildeo e seu reflexo na vida do Assentamento Renascer
satildeo sentidos nos nuacutemeros de matriculados na LEdoC sete (7) alunos
aproximadamente dez (10) assentados prestaratildeo o proacuteximo vestibular trecircs (3)
assentados estatildeo matriculados no IFB dois(2) assentados estatildeo formados em
Teacutecnico Agropecuaacuterio tambeacutem pelo IFB um deles cursa o Tecnoacutelogo de
Agroecologia tambeacutem do IFB
Vale acrescentar que no iniacutecio de 2014 quando o IFB buscou no Assentamento
pessoas interessadas em matricular-se em seus cursos sob a condiccedilatildeo de
estudarem no ensino meacutedio o interesse foi grande e a impossibilidade pelo fato de
natildeo estarem habilitados no ensino fundamental provocou tanta discussatildeo que
estimulou essa pesquisa
43
O legado desses alunos futuros alunos e profissionais para o futuro do
Assentamento apresentaraacute resultados significativos para toda a comunidade O
futuro colheraacute bons frutos plantados agora
A escola que temos natildeo estaacute funcionando falta a renovaccedilatildeo do contrato o que
atrasa a alfabetizaccedilatildeo e conclusatildeo do 5ordm ano Falta a implantaccedilatildeo de poliacuteticas
puacuteblicas para atendimento de questotildees baacutesicas como por exemplo carteiras
quadro de giz iluminaccedilatildeo espaccedilo fiacutesico (dependecircncias para a escola) e mobiliaacuterio
-41-
44
Consideraccedilotildees Finais
A Educaccedilatildeo do campo eacute um movimento em que os trabalhadores do campo e
suas organizaccedilotildees lutam por transformaccedilotildees sociais particularmente a criaccedilatildeo de
escolas dono campo de qualidade a partir de uma perspectiva ampla de reforma
agraacuteria
A construccedilatildeo da educaccedilatildeo do campo eacute resultado do amadurecimento dos
movimentos sociais e das comunidades rurais em sua trajetoacuteria de luta pelo direito
fundamental agrave universalizaccedilatildeo escolar para as populaccedilotildees camponesas segundo
orientaccedilatildeo poliacutetico-pedagoacutegica adequada agrave realidade dos lutadores de
acampamentos e assentamentos em luta pela reforma agraacuteria e justiccedila social
Alguns princiacutepios caracterizam a luta pela escola do campo Dentre eles
podemos citar a criaccedilatildeo da consciecircncia do direito agrave educaccedilatildeo de qualidade plantada
na proacutepria comunidade o que provoca o enraizamento a valorizaccedilatildeo da vida no
campo a promoccedilatildeo da autoestima e a transformaccedilatildeo do ser alienado pela ideologia
e desigualdade social e sujeito de sua proacutepria histoacuteria
Outro princiacutepio eacute a adequaccedilatildeo de curriacuteculos agrave realidade camponesa de modo
a que o processo ensino-aprendizagem favoreccedila o amadurecimento de talentos
naturais o surgimento de oportunidades a niacutevel pessoal e social contribuindo para a
emancipaccedilatildeo poliacutetico-social do indiviacuteduo com reflexos na sociedade
A mudanccedila de paradigmas e o envolvimento social provocam a formaccedilatildeo integral
dos sujeitos que lutam de forma coletiva e solidaacuteria pela terra A escola do campo
que surge dessa mudanccedila eacute tambeacutem transformadora porque eacute fruto da luta
consciente que gera a reflexatildeo e o amadurecimento poliacutetico deixando um legado
positivo de cidadatildeos orgulhosos de sua condiccedilatildeo de lutador pela terra de sua
identidade de sua cultura de sua comunidade e coletividade
A escola do campo propicia aos alunos a reflexatildeo sobre o contexto social e a
problemaacutetica da comunidade em que estatildeo inseridos o respeito agrave individualidade a
ampliaccedilatildeo das potencialidades do aluno para organizar elaborar e atuar
coletivamente Deixam o legado futuro de homens responsaacuteveis mentes
independentes e atuantes que poderatildeo prestar serviccedilos significativos agrave sociedade
45
A comunidade assentada de o Assentamento Renascer pela Reforma
Agraacuteria em Sobradinho DF foi convidada a opinar sobre a escola que deseja a
partir da conquista da terra
O modelo proposto a partir de seu posicionamento possibilita a conclusatildeo
de que a escola do campo plantada na comunidade eacute preferiacutevel ao modelo
adotado atualmente de inserccedilatildeo dos alunos da comunidade agraves escolas urbanas
conter recursos materiais e humanos que propiciem bons resultados
pedagoacutegicos deve servir para fixar o trabalhador ao campo deve cumprir com o
propoacutesito constitucional de universalizaccedilatildeo do ensino para todas as faixas
etaacuterias deve estar identificada com os sonhos de prosperidade material e
realizaccedilatildeo pessoal dos assentados
-46-
46
Referecircncias Bibliograacuteficas
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OLIVEIRA Maria Rita Duarte Revistalabor ufcbracesso em 19-10-2014
________ citando CALAZ Maria Rita Duarte Oliveira
47
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________ Clarice Aparecida PROGRAMA NACIONAL DE EDUCACcedilAtildeO NA REFORMA AGRAacuteRIA BRASIacuteLIA 2012 pg 631 in DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO SANTOS Claudio Felix Dos ldquoO aprender a aprender na formaccedilatildeo de professores do campordquo Campinas 2013 Editora Autores Associados ) SOUZA Maria Antocircnia Movimentos Sociais no Brasil Contemporacircneo participaccedilatildeo e possibilidades no contexto das praacuteticas democraacuteticas ndash (wwwcesucptlab2004pdfMariaAntonia Souzapdfaceso em 24-07-2014 -48-
48
Apecircndices
1 Roteiro das Entrevistas
a) Dados dos entrevistados
Qual o seu nome
Masculino ( ) Feminino ( )
Quantos anos vocecirc tecircm
A quanto tempo mora no
assentamento
Onde vocecirc morou antes
de morar no
assentamento
Quantos anos vocecirc tinha
quando foi a escola pela
primeira vez
Estou ateacute qual seacuterieano
Quantos anos vocecirc tinha
quando parou de estudar
Qual motivo motivou vocecirc
a parar de estudar
Se tiver escola no
assentamento vocecirc voltaraacute
a estudar Porque
B) Outras informaccedilotildees dados pelos entrevistadosas (GRAVAR)
a) Em qual escola vocecirc estudou no acampamento ou em outro lugar Qual
b) Como era a escola que estudou Quais as coisas boas e coisas ruins que
tinha nesta escola
c) Conte como eacutefoi a educaccedilatildeo do assentamento o que jaacute existiu de escola
como funcionou e quais eram as boas e as coisas ruins desta escola
d) Jaacute participou de alguma accedilatildeo de mobilizaccedilatildeo para ter escola no
assentamento Se sim explique para que e como foi essa mobilizaccedilatildeo
e) Na sua opiniatildeo no assentamento deve ter escola Por quecirc
f) Como deveraacute ser a escola da comunidadeassentamento Como eacute a escola
que queremos ter
49
b) Entrevistas semi-estruturadas
Entrevistado 01
Moro no assentamento Renascer haacute 11 anos Nasci Carnauacuteba no Rio Grande do
Norte fui criado na roccedila e desde pequeno trabalhava na lavoura para ajudar meu
pai Fui para escola com 9 anos de idade estudei ateacute a 5ordm seacuterie parei de estudar
com 17 anos natildeo continuei os estudos porque era muito longe de onde eu morva
que era na cidade mais proacutexima eu tinha que andar a peacute 8 km ficava muito
cansado Casei e vim morar em Brasiacutelia para trabalhar em uma chaacutecara como
caseiro Morava na chaacutecara Buritis em sobradinho- Df tambeacutem natildeo dei para
continuar os estudos porque ficava longe e tinha que ser a noite e natildeo tinha como ir
Se vier uma escola pra caacute eu ainda vou estudar para ter mais conhecimento para
plantar minha roccedila ir no banco pra ver se assino um empreacutestimo para melhorar
minha produccedilatildeo e saber fazer conta pra administrar minha parcela de terra
Qual o seu nome
Masculino ( X ) Feminino ( )
Quantos anos vocecirc
tecircm
57 anos
A quanto tempo
mora no assentamento
11 anos
Onde vocecirc morou
antes de morar no
assentamento
Carnauacuteba ndash RN
Chaacutecara Buritis nordm 10 Sobradinho DF
Quantos anos vocecirc
tinha quando foi a escola
pela primeira vez
8 anos
Estou ateacute qual
seacuterieano
5ordf seacuterie
Quantos anos vocecirc
tinha quando parou de
estudar
24 anos
Qual motivo
motivou vocecirc a parar de
estudar
Trabalhar para sustento da famiacutelia a
distacircncia entre a casa e a escola
Se tiver escola no
assentamento vocecirc voltaraacute
a estudar Porque
Sim ldquoSe tivesse escola do ensino
fundamental voltaria a estudar para tecirc
mais conhecimento para plantar minha roccedila
50
saber pesar saber contar vendecirc os produto e
comecirc
Entrevistado 02
Moro no assentamento renascer haacute 7 anos tenho 38 vim do interior do Cearaacute
Entrei na escola com 7 anos de idade estudei soacute a 5ordm seacuterie incompleta natildeo
continuei a estudar porque natildeo tinha escola a onde eu morava que era na roccedila e eu
tinha que ficar na casa dozotro (SIC) na cidade e eu natildeo gostava disso natildeo ai parei
com 16 anos de idade Mudamo (SIC) pra Brasiacutelia pra uma chaacutecara perto de Santa
Maria-DF e natildeo dei pra estudar porque casei e tinha que trabalhar muito para
susrentar a famiacutelia A gora moro no assentamento Renascer e sei que um dia vai ter
uma escola aqui e eu vou voltar a estudar porque meu sonho eacute ser veterinaacuterio e vou
der se deus quiser
Entrevistado 03
Tenho 58 anos moro no assentamento Renascer haacute 6 anos vim de Ceres-GO
comecei a estudar quando eu tinha 10 ano de idade estudei ateacute a 4ordf seria primaacuteria
(SIC) parei de estudar quando tinha 16 anos porque eu morava na roccedila e escola
ateacute que natildeo ficava muito longe natildeo era soacute 2 km dava pra ir a peacute a professora eacute que
faltava muito e a gente natildeo tinha como saber se ela tava ou natildeoAiacute quando eu tinha
18 anos casei e vim morar em Brasiacutelia e arranjei(SIC) emprego de caseira em uma
chaacutecara aiacute natildeo pra estudar a noite porque era muito longe pra laacute entatildeo eu natildeo
pensei mais nessas coisas Quando tiver escola no assentamento quero estudar
quiecirc pra mim (SIC) fazer curso de teacutecnico agriacutecolarsquorsquo
Entrevistado 04
Tenho 24 anos moro no assentamento Renascer tem 6 ano vim da Bahia morava
no Condomiacutenio RK entrei na escola com 7 anos de idade e estudei soacute ateacute a 6ordf seacuterie
parei com 18 anos de idade
Porque mudei pra caacute pro assentamento (SIC) e natildeo tem escola e natildeo tem como ir
pra Sobradinho a noite porque eacute muito longe tem que andar 5 km eacute pirigogo (SIC)
tem muita gente mal por aiacute tem ateacute estrupador natildeo posso me arriscar
ldquoSe tivesse escola aqui eu ia terminar meus estudos podia ser no galpatildeo mesmo
pra mim tava bom mas para os meus filhos eu queria uma escola boa com internet
e tudo Eu natildeo gosto que meus filhos estuda(SIC) na cidade soacute aceito porque eacute o
jeito gente de assentamento eacute muito zombado (SIC) porque as vezes chega suja
na escola e os outros acha que eles satildeo porcos que toma banhordquo
Entrevistado 05
51
Tenho 21 anos de idade moro no Renascer haacute trecircs anos vim de satildeo Gabriel-GO
comecei a estudar aos 7 anos parei com 18 anos porque minha matildee mudou
pro(SIC) matildee mudou pro (SIC) assentamento haacute 6 anos e eu natildeo aguento morar
longe dela Quando cheguei aqui natildeo teve como continuar os estudos porque
trabalho durante o dia como manicure em Sobradinho e o uacuteltimo ocircnibus que passa
perto do assentamento eacute as 5 horas da tarde entatildeo natildeo daacute para estudar a noite
Sim porque quero fazer um curso de cabelereiro quando tiver aacutegua e luz aqui eu
quero montar um salatildeo de beleza e para ser uma empresaacuteria precisa ter estudos pra
administrar o negoacutecio
Entrevistado 06
44 anos
6 anos
Formosa-GO
8 anos
5ordf seacuterie
24 anos
Porque a escola mais perto(SIC) era 10km de distacircncia e eu trabalhava na roccedila e
ficava muito cansado aiacute parei natildeo deu mais
Sim quando tiver escola aqui eu vou voltar a estudar Eu tinha um sonho de ser
agroacutenomo mas esse sonho eacute impussive(SIC) entatildeo queria concluir o ensino
fundamental para fazer um curso de teacutecnico agriacutecola no IFB mas tambeacutem eacute longe
se tivesse como estudar aqui no assentamento eu ia(SIC) ficar muito feliz
Entrevistado 07
57 anos
6 anos
Parnaiacuteba-PI- Santa Maria- DF
7 anos
4ordf seacuterie
21 anos
Parei porque era muito difiacutecil ir para escola que ficava muito longe eu tinha que sair
de casa as 4hs da madrugada para chegar na escola as 730 ia montado num
cavalo e muitas vezes natildeo tinha professora pra dar aula Parei porque natildeo aguentei
o rojatildeo tinha que minha matildee na lida a tarde e eu ficava muito cansado Vim pra
52
Brasiacutelia e casei fui trabalhar de chacareiro numa chaacutecara que tambeacutem era longe de
escola depois vim morar aqui no assentamento que natildeo tem escola
Se tivesse escola aqui eu ia voltar estudar soacute pra aprender a cuidar meior (SIC) da
terra e dos meus bichos e que fosse como uma escola agriacutecola
Entrevistado 08
Tenho 29 anos moro no assentamento Renascer haacute 2 anos sou educadora do
Pronera haacute 1 ano e 2 meses O Pronera eacute como um antidepressivo na vida de muita
gente o Pronera melhorou a minha vida e a vida dos meus alunos o desejo de
todos eacute que o Pronera continue crescendo em direccedilatildeo de uma educaccedilatildeo continuada
levando tambeacutem o ensino fundamental para os acampamentos e assentamentos da
Reforma Agraacuteria
-50-
Anexos
53
Acampamento agrave beira da estrada ndash 2004
Construccedilatildeo da Sede do Movimento na atual aacuterea
54
Reuniatildeo semanal
Teatro de fantoches ndash brinquedoteca
55
Accedilatildeo da Pastoral da Crianccedila na brinquedoteca
Oficina de brinquedos reciclaacuteveis
56
Brinquedo confeccionado com materiais reciclaacuteveis na Brinquedoteca
57
58
59
60
Apresentaccedilatildeo teatral
61
Capacitaccedilatildeo em Economia Solidaacuteria
Formaccedilatildeo de multiplicadores da Economia Solidaacuteria
62
Capacitaccedilatildeo de Educadores Ambientais
63
Luta pela Reforma Agraacuteria e Soberania Alimentar
21
Esta atitude de resistecircncia foi fundamental para a conquista da escola nas
terras conquistadas e tambeacutem foi fundamental para universalizar o ensino enraizar
o aluno em sua comunidade e criar a consciecircncia do direito agrave educaccedilatildeo
ldquoincomodandordquo o Estado para garantir o cumprimento das poliacuteticas puacuteblicas
Kolling Vargas e Caldart (2012p502) nos ensinam ldquotoda vez que se
conquista uma escola de educaccedilatildeo baacutesica em um assentamento ou acampamento
ela representa menos adolescentes e jovens do campo fora da escola e mais gente
enraizada em seu proacuteprio lugarrdquo (pag 502)
Os movimentos sociais e sindicais pela educaccedilatildeo do campo indicam o grau
de maturidade desses em sua luta pela reforma agraacuteria Agrave essa luta soma-se o
projeto de desenvolvimento do paiacutes baseado na justiccedila social e o combate agraves
tradicionais formas utilizadas pelas elites urbanas ou rurais de alienaccedilatildeo pela
expropriaccedilatildeo do trabalho e pelo controle dos meios que levam agrave emancipaccedilatildeo
sociocultural e agrave verdadeira humanizaccedilatildeo papel destinado agrave educaccedilatildeo
Neste sentido movimentos sociais como o MST inserem a educaccedilatildeo
baseada em princiacutepios pedagoacutegicos que se distinguem da escola tradicional
Numa perspectiva histoacuterica os movimentos sociais do campo como por
exemplo o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) tiveram inicialmente
como bandeira de luta a luta pela terra pela Reforma Agraacuteria natildeo fazendo uma
relaccedilatildeo entre essa luta e a educaccedilatildeo
A formaccedilatildeo de escolas do campo pelo MST natildeo foi resultado da consciecircncia e
importacircncia da escola para a promoccedilatildeo da educaccedilatildeo em seu meio Foi na verdade
a necessidade de oferecer aos filhos dos primeiros lutadores a oportunidade de
uma perspectiva melhor de futuro atraveacutes do direito agrave educaccedilatildeo Foi tambeacutem a
necessidade de ldquotransformar instituiccedilotildees histoacutericas como a escola em lugares que
ajudem a formar os sujeitos destas transformaccedilotildeesrdquo (CALDART2012 p94)
Desse modo houve primeiro a ldquoocupaccedilatildeo da escolardquo pela mobilizaccedilatildeo e pela
accedilatildeo para garantir que em acampamentos ou assentamentos conquistados
houvesse uma escola que ldquofizesse a diferenccedila ou tivesse realmente sentido em sua
vida presente e futura (preocupaccedilatildeo com os filhos)rdquo (CALDART2012 p91)
Num segundo momento da luta observa-se intencionalidade da luta pela
escola mas com proposta pedagoacutegica especiacutefica ldquocombinando processos de
22
escolarizaccedilatildeo e de formaccedilatildeo da militacircncia e da base social Sem Terrardquo
(CALDART2012 p92)
As experiecircncias de pensar escolas como polos regionais entre assentamentos e com estudantes de outras comunidades de camponeses aos poucos vatildeo educando o olhar dos trabalhadores Sem Terra para uma realidade mais ampla Foi assim que o MST chegou agrave EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO (KOLLING Vargas e Caldart 2012 p 502)
A escola dentro dessa perspectiva de mudanccedila e envolvimento social eacute
parte da luta pela reforma agraacuteria daacute significado a ela pois proporciona a formaccedilatildeo
integral dos sujeitos que lutam pela terra
Essa escola possibilita a reflexatildeo trava o diaacutelogo com as propostas de
educaccedilatildeo popular de Paulo Freire e busca superar as dificuldades imensas que
assentados e acampados vivem no dia a dia
A escola tambeacutem revela a cultura o orgulho e criaccedilatildeo da identidade na luta
por terra Nesse sentido
A heranccedila que o MST deixaraacute para seus descendentes seraacute bem mais do que a terra que conseguir libertar do latifuacutendio seraacute um jeito de ser humano e de tomar posiccedilatildeo diante das questotildees de seu tempo seratildeo os valores que fortalecem e datildeo identidade aos lutadores do povo de todos os tempos de todos os lugares Eacute enquanto produto humano de uma obra educativa que os Sem Terra podem ser vistos como mais um elo que se forma em uma longa tradiccedilatildeo de lutadores sociais que fazem a histoacuteria da humanidade Enraizamento no passado e projeto de futuro (CALDART 2012 p 96)
A educaccedilatildeo proposta pelo movimento gera o sentimento de pertencimento e
desperta o sentimento de respeito agrave coletividade valoriza o trabalho a gestatildeo
democraacutetica e desburocratizada da escola
SANTOS (2013 p71) esclarece que pelo projeto educacional do MST a
educaccedilatildeo proposta estaacute pautada em ldquovalores socialistas e humanistas tais como o
coletivismo o trabalho socialmente uacutetil a organizaccedilatildeo e auto-organizaccedilatildeo dos
estudantes e professoresrdquo (p71)
-21-
23
221 Concepccedilatildeo Pedagoacutegica da Educaccedilatildeo do Campo
No acircmbito da educaccedilatildeo do homem do campo tornar o homem sujeito e natildeo
objeto do saber leva a entender que o conhecimento do camponecircs pode dialogar
com as praacuteticas baseadas no conhecimento cientiacutefico desde que seja perseguido o
ideal de trabalhadores e educadores do campo comprometidos com as lutas sociais
de formar o homem ldquodordquo campo e ldquono campordquo
Conforme Kolling Cerioli e Caldart (2002 p 264) ldquoo povo tem direito a uma
educaccedilatildeo pensada desde o seu lugar e com sua participaccedilatildeo vinculada agrave sua
cultura e agraves suas necessidades humanas e sociaisrdquo ndash(Caldart Educaccedilatildeo do Campo
2012 p 264
Tal compreensatildeo se ainda hoje causa oposiccedilatildeo ateacute mesmo no ambiente
acadecircmico imagine-se naquele momento histoacuterico de profunda repressatildeo poliacutetica e
ideoloacutegica aos movimentos sociais de camponeses por terra e educaccedilatildeo Como nos
ensina Molina e Saacute (DICIONAacuteRIO da Educaccedilatildeo do Campo p 324)
A concepccedilatildeo de escola do campo nasce e se desenvolve no bojo do movimento da EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO a partir das experiecircncias de formaccedilatildeo humana desenvolvidas no contexto de luta dos movimentos sociais camponeses por terra e educaccedilatildeo Trata-se portanto de uma concepccedilatildeo que emerge das contradiccedilotildees da luta social e das praacuteticas de educaccedilatildeo dos trabalhadores do e no campo (MOLINA e SAacute 2012 pag 324)
A concepccedilatildeo pedagoacutegica da educaccedilatildeo popular e da pedagogia da praacutetica
segundo ARROYO inclui
um caraacuteter de envolvimento totalizante dos movimentos sociais que possibilita ao individuo que participa destes coletivos o acesso a outro tipo de formaccedilatildeo que supera a condiccedilatildeo de aluno de alfabetizando de escolarizando Os integrantes destes organismos emersos na tensa situaccedilatildeo de conflitos aprendem por meio da vivencia das lutas sociais dos momentos de mobilizaccedilatildeo das situaccedilotildees limites de perda de emprego de criacuteticas da sociedade agraves suas accedilotildees de ameaccedilas agraves suas vidas Tudo isso traz ricas liccedilotildees ensinadas na ldquoescola do movimentordquo e que nenhuma teoria pode transmitir ou explicar de forma satisfatoacuteria
No entendimento de Arroyo (2013) os movimentos sociais vivem e
amadurecem sob o conhecimento e o entendimento das contradiccedilotildees sociais e esta
24
experiecircncia lhes permite a possibilidade de defender mudanccedilas radicais tanto no
campo como na cidade tanto na ideologia quanto no combate ao latifuacutendio e ao
capitalismo
Tamanho movimento social gera a reflexatildeo sobre as relaccedilotildees
socioeconocircmicas politicas culturais cuidado da natureza relaccedilotildees humanas
destaques de tudo o que interessa ao coletivo agrave sociedade
Eacute por meio do entendimento de que a realidade eacute criaccedilatildeo humana de como se estabelecem os processos de opressatildeo e ainda da noccedilatildeo de que podemos transformar essa realidade dado que a sociedade eacute mutaacutevel que se forma a praacutexis da luta accedilatildeo-conscientizaccedilatildeo-transformaccedilatildeo-libertaccedilatildeo Inserindo-se criticamente na histoacuteria os cidadatildeos tornam-se sujeitos construtores e reconstrutores da realidaderdquo
Molina e Saacute (2012) nos ensinam a partir do conceito de escola do campo sobre a
potencialidade da vivencia de praacuteticas coletivas para a valorizaccedilatildeo integral dos
sujeitos da coletividade do conhecimento cientiacutefico da gestatildeo coletiva da escola
dentre tantos avanccedilos e vitoacuterias dos movimentos sociais
O processo ensino-aprendizagem permite que o conceito de escola extrapole
o cotidiano de dificuldades e desafia agrave reflexatildeo que gera a emancipaccedilatildeo
Este eacute um dos maiores desafios e ao mesmo tempo uma das maiores possibilidades da escola do campo articular os conhecimentos que os educandos tecircm o direito de acessar a partir do trabalho com a realidade da religaccedilatildeo entre educaccedilatildeo cultura e os conhecimentos cientiacuteficos a serem apreendidos em cada ciclo de vida e de diferentes aacutereas do conhecimento(MOLINA MOURAtildeO 2012 p 329) -26-
222 Princiacutepios da Educaccedilatildeo do Campo
Alguns princiacutepios viabilizam o projeto de escola adotado pelos movimentos
sociais e possibilitam a democracia e a integraccedilatildeo de todos lideranccedila assentados e
acampados do movimento
25
O princiacutepio da responsabilidade coletiva sobre o planejamento a gestatildeo a
organizaccedilatildeo e a realizaccedilatildeo de tarefas em todas as esferas de atividades princiacutepios
muito valorizados pelos movimentos sociais do campo foram transferidos para o
projeto de educaccedilatildeo
O projeto eacute de responsabilidade coletiva e insere educadores tanto a niacutevel
local como regional e nacional os ldquoColetivos de educaccedilatildeordquo como satildeo conhecidos
Os coletivos de educaccedilatildeo com tarefas forccedila orgacircnica e discussotildees especiacuteficas que podem variar a cada periacuteodo fortalecem o princiacutepio organizativo de que a questatildeo da educaccedilatildeo bem como outras questotildees da vida social assumidas pelo MST deve ser pensada e implantada de forma coletiva Eacute uma loacutegica que implica tarefas a serem realizadas pelas pessoas mas mediante um planejamento e uma leitura de conjuntura feita por um coletivo (KOLLING1995 et al p503)
Para concretizar o projeto de educaccedilatildeo foi concebida a formaccedilatildeo de
professores pelos proacuteprios movimentos no acircmbito da proacutepria comunidade
(conhecidos como ldquoprofessores leigosrdquo) e tambeacutem pela rede oficial de ensino
A falta de titulaccedilatildeo de muitos educadores formados na comunidade natildeo
impede que os mesmos trabalhem juntos com os professores titulados e com
simpatizantes do movimento no projeto poliacutetico-pedagoacutegico constituindo um
princiacutepio democraacutetico importante para superar as dificuldades e urgecircncias para a
implantaccedilatildeo da educaccedilatildeo do campo
A democracia do processo de formaccedilatildeo de educadores tem reflexos amplos
a formaccedilatildeo de educadores pelos proacuteprios movimentos especiacutefica para atuaccedilatildeo nas
escolas do campo
O movimento eacute responsaacutevel pela universalizaccedilatildeo do ensino no acircmbito dos
territoacuterios conquistados ou por conquistar e permitiu a evoluccedilatildeo do ensino ateacute o niacutevel
de terceiro grau com a realizaccedilatildeo de cursos como a Licenciatura em Educaccedilatildeo do
Campo (LEdoC) do qual somos os privilegiados alunos aqui na Universidade de
Brasiacutelia
Outro reconhecimento e prova de eficiecircncia da formaccedilatildeo de professores eacute o
precircmio ldquoEducaccedilatildeo e Participaccedilatildeordquo recebido em 1995 do Fundo das Naccedilotildees Unidas
para a Infacircncia (Unicef)
26
O somatoacuterio das forccedilas internas e externas do movimento ldquoleigasrdquo ou
tituladas associadas ao princiacutepio fundamental da participaccedilatildeo dos alunos e
comunidades em todos os niacuteveis e localidades eacute ponto fundamental para o sucesso
da concepccedilatildeo do projeto pois permite o estudo a reflexatildeo conjunta sobre
estrateacutegias para o alcance do objetivo de educaccedilatildeo na reforma agraacuteria
-25-
223 Marcos Normativos da Educaccedilatildeo do Campo
Numerosos Marcos Normativos podem ser citados para explicitar qual perfil
de escola destinada ao camponecircs interessava ao governo e aos proprietaacuterios rurais
A Lei 4024 de 1961 em seu art 105 estabelece o
Apoio que poderaacute ser prestado pelo poder puacuteblico agraves iniciativas que mantenham na zona rural instituiccedilotildees educativas orientadas para adaptar o homem ao meio e estimular vocaccedilotildees e atividades profissionais (BRASIL 2012 p 4)
A Lei 5692 de 1971 ao tratar da educaccedilatildeo rural ldquonatildeo observa mais uma vez
a inclusatildeo da populaccedilatildeo na condiccedilatildeo de protagonista de um projeto social globalrdquo
sendo que o trabalho do campo realizado por alunos eacute ateacute mesmo incentivado
adequando-o ao calendaacuterio escolar (MARCOS NORMATIVOSBrasiacutelia2012 p 25)
A Lei 9394 de 1996 (Lei das Diretrizes se Bases da Educaccedilatildeo ndash LDB) em
acordo com Constituiccedilatildeo de 1988 e ldquoinspirada de alguma forma numa concepccedilatildeo
de mundo rural enquanto espaccedilo especifico diferenciado e ao mesmo tempo
integrado no conjunto da sociedaderdquo reconhece
A diversidade soacutecio-cultural e o direito agrave igualdade e agrave diferenccedila possibilitando a definiccedilatildeo de diretrizes operacionais para educaccedilatildeo rural sem no entanto recorrer a uma logica exclusiva e de ruptura com um projeto global de educaccedilatildeo para o paiacutes (idem p 26)
27
Os artigos 208 e 210 da Carta Magna-1988 e inspirada de numa concepccedilatildeo
de mundo rural enquanto espaccedilo especiacutefico diferenciado e ao mesmo tempo
integrado no conjunto da sociedade a Lei 939496- LDB-estabelece que
Art 28 Na oferta da educaccedilatildeo baacutesica para a populaccedilatildeo rural os sistemas de ensino promoveratildeo as adapta necessaacuteria agrave sua adequaccedilatildeo agraves peculiaridades da vida rural e de cada regiatildeo especialmente (MARCOS NORMATIVOS) Brasiacutelia 2012 p 25)
1- Conteuacutedos organizar curriculares e metodologias apropriadas agraves reais
necessidades e interesses dos alunos da zona rural
2-organizaccedilatildeo escolar proacutepria incluindo a adequaccedilatildeo do calendaacuterio escolar as
fases do ciclo agriacutecola e as condiccedilotildees climaacuteticas
3-adequaccedilatildeo agrave natureza do trabalho na zona rural (MARCOS NORMATIVOS)
Brasiacutelia 2012( p 26)
O movimento de educaccedilatildeo do campo luta haacute quinze (15) anos para fazer-se
cumprir esse Decreto da Lei de Diretrizes de base da educaccedilatildeo do campo-LDB
que apesar de ser constitucional ainda natildeo foi colocada totalmente em praacutetica
Agora com as lutas dos movimentos sociais eacute que estaacute comeccedilando a se concretizar
Artigo 26 Os curriacuteculos do ensino fundamental e meacutedio devem ter uma base nacional comum a ser complementada em cada sistema de ensino e estabelecimento escolar por uma parte diversificada exigida pelas caracteriacutesticas regionais e locais da sociedade
da cultura da economia e da clientela (MARCOS NORMATIVOS) Brasiacutelia 2012(p 26)
O Decreto nordm 7352 de 4 de novembro 2010 dispotildee sobre a poliacutetica de educaccedilatildeo do campo ao Programa Nacional de Educaccedilatildeo
na Reforma Agraacuteria-PRONERA decreta
Art1ordm A poliacutetica de educaccedilatildeo do campo destina-
se agrave ampliaccedilatildeo e qualificaccedilatildeo da oferta de educaccedilatildeo baacutesica e superior agraves populaccedilotildees do campo e seraacute desenvolvida pela Uniatildeo em regime de colaboraccedilatildeo com os Estados o
28
Distrito Federal e os Municiacutepios de acordo com as diretrizes e metas estabelecidas no Plano Nacional de Educaccedilatildeo e o disposto neste Decreto
Para os efeitos deste Decreto entende-se por
l-populaccedilatildeo do campo os agricultores familiares os extrativistas os pescadores
artesanais os ribeirinhos os assentados e acampados da reforma agraacuteria os
trabalhadores assalariados rurais os quilombolas os caiccedilaras os povos da floresta
os caboclos e outros que produzam suas condiccedilotildees materiais de existecircncia a partir
do trabalho no meio rural
ll-escola do campo aquela situada em aacuterea rural conforme definida pela Fundaccedilatildeo
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica- IBGE ou aquela situada em aacuterea
urbana desde que atenda predominantemente a populaccedilatildeo do campo (MARCOS
NORMATIVOS) 2012( p 81)
No Decreto 6755 29 de janeiro de 2009 em seu art 2ordm estabelecida pelo Conselho
Nacional de Educaccedilatildeo que se refere as Diretrizes Operacionais da Educaccedilatildeo do
Campo o parecer da alternacircncia
A formaccedilatildeo de professores poderaacute ser feita concomitantemente agrave atuaccedilatildeo profissional de acordo com metodologias adequadas inclusive a pedagogia da alternacircncia e sem prejuiacutezo de outras que atendam agraves especificidades da educaccedilatildeo do campo e por meio de atividades de ensino pesquisa e extensatildeo (MARCOS NORMATIVOS) 2012( p84)
-26-
29
-
231 A educaccedilatildeo do campo e poliacutetica puacuteblica - o PRONERA
O amadurecimento adquirido pela luta sobre o papel da educaccedilatildeo aliado agrave
iniciativa do aproveitamento do trabalho das professoras ldquoleigasrdquo e ainda da
consciecircncia cada vez mais presente do dever do Estado em prover os cidadatildeos da
reforma agraacuteria de poliacuteticas puacuteblicas resultou no campo da educaccedilatildeo na criaccedilatildeo do
Programa Nacional de Educaccedilatildeo na Reforma Agraacuteria (PRONERA)
O PRONERA envolve formalmente jovens e adultos num projeto conjunto
com universidades e institutos federais em prol da formaccedilatildeo de educadores para o
trabalho em escolas dos assentamentos da reforma agraacuteria e seu entorno
O Programa foi criado em 1998 no momento da ascensatildeo dos conflitos pela
reforma agraacuteria o que propiciou que os movimentos sociais trouxessem para a
opiniatildeo puacuteblica suas mazelas
No campo da educaccedilatildeo foi denunciada a falta de escola a precariedade do
ensino a falta de profissionais do ensino a ldquoloacutegica de negaccedilatildeo histoacuterica do direito
aos camponeses de acesso aos niacuteveis mais elevados de escolaridade ( SANTOS
2012 pag 630)
A partir de 2005 o ensino oferecido pelo PRONERA eacute estendido ao niacutevel
meacutedio e superior como a Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo e a Residecircncia
30
Agraacuteria O PRONERA evoluiu para outros patamares tais como ldquopossibilidades de
ressignificaccedilatildeo do conteuacutedo e da metodologia dos processos de educaccedilatildeo formal
por meio dos princiacutepios baacutesicos da participaccedilatildeo e da multiplicaccedilatildeordquo (SANTOS 2012
p 631)
A participaccedilatildeo das comunidades e suas organizaccedilotildees e a multiplicaccedilatildeo de
alfabetizados formados educadores e demais profissionais ligados agraves poliacuteticas
puacuteblicas para a Reforma Agraacuteria gerou ampla participaccedilatildeo dos agentes envolvidos
na dinacircmica do processo ensino-aprendizagem
Essa forma de gestatildeo gerou reaccedilatildeo contraacuteria ldquoagrave gestatildeo colegiada e coletiva
notadamente agrave participaccedilatildeo direta dos movimentos sociais e sindicais do campordquo
considerados ldquoentes estranhos agrave administraccedilatildeo puacuteblicardquo (CLARICE p 634)
O envolvimento dos movimentos sociais e sindicais do campo natildeo
retrocederam em sua luta pelo envolvimento de todos os interessados na educaccedilatildeo
como elemento emancipatoacuterio e continuam formulando princiacutepios concepccedilotildees e
diretrizes para a escola do campo
-31-
31
Terceiro Capiacutetulo
A histoacuteria do Assentamento Renascer
31 Uma breve histoacuteria de luta
A histoacuteria do Assentamento Renascer natildeo parece ser diferente da histoacuteria de
outros assentamentos Brasil afora Partiu da reivindicaccedilatildeo de Trabalhadores Rurais
sem Terra que desde 2004 ocuparam as margens da Rodovia DF 330 que liga
Sobradinho ao Paranoaacute-DF
Tatildeo perto do centro do poder a apenas poucos quilocircmetros do Palaacutecio da
Alvorada ou da Sede do INCRA o Acampamento Renascer esteve ateacute oito (08) de
maio de 2009 tatildeo distante da decisatildeo poliacutetica pela Reforma Agraacuteria
Somente nesta data trezentos sessenta e um( 361) de terras devolutas da
Uniatildeo foram repassadas ao INCRA para assentar as famiacutelias aliacute acampadas Ficou
criado o assentamento Renascer fora da beira da estrada
O Assentamento Renascer ldquorenasceurdquo da dificuldade de vida sob o barraco de
madeira sem aacutegua sem luz sem saneamento baacutesico que fez com que tantos
desistissem ao longo do caminho e ainda hoje se encontra nessa mesma
precariedade um descaso por parte do poder puacuteblico
A luta em vaacuterios momentos da vida dos acampados parecia estar vencida Os
vencedores pareciam ser a burocracia o desrespeito as noites mal dormidas a
inseguranccedila a falta de perspectivas para o acampado e suas famiacutelias
Duzentas (200) famiacutelias viveram aliacute por cinco anos (05) de 2004 ateacute 2009
Atualmente satildeo cento e vinte (120) famiacutelias que moram na aacuterea destinada e estatildeo
em processo de assentamento Muitas delas poreacutem vencidas pelo cansaccedilo e pelas
condiccedilotildees de vida abandonaram a luta mas todas as famiacutelias as que se foram e as
que ficaram sonharam com a terra onde poderiam produzir viam no pedaccedilo de chatildeo
os frutos do pomar da horta o galinheiro o pasto
O Assentamento Renascer eacute o Brasil Eacute um pedacinho da cruel realidade que
como vimos neste trabalho marcou a sociedade brasileira desde a escravidatildeo
desde o primeiro grito de rebeldia do quilombo desde o primeiro que lutou contra os
coroneacuteis por divisatildeo da terra como as Ligas Camponesas contra o latifuacutendio como
os movimentos sociais em sua luta pela reforma agraacuteria desde vaacuterias geraccedilotildees
32
Eacute como todo e qualquer movimento social que surgiu neste paiacutes desde a
deacutecada de 1980 pela reforma agraacuteria Viveu e ainda vive as dificuldades de ser
acampadoassentado mas honra sua luta porque natildeo desiste faacutecil
O Assentamento Renascer eacute tambeacutem fruto do ecircxodo rural da industrializaccedilatildeo
do campo da monocultura e da concentraccedilatildeo de terras Foram expulsos do campo
para a periferia das cidades sem capacitaccedilatildeo sem estudo
A falta de escolarizaccedilatildeo eacute sem duacutevida uma caracteriacutestica de quase todos os
que vieram do campo para a cidade A realidade do Brasil eacute que o campo natildeo eacute
escolarizado as escolas no campo satildeo poucas satildeo despreparadas satildeo
desvalorizadas
-33-
32 As escolas no campo na vivencia do assentado do Assentamento
Renascer
As escolas no campo marcaram profundamente a vida dos poucos que a
frequentaram Quase todos tiveram que trocar o laacutepis pela enxada a carteira pela
roccedila desde muito pequenos Alguns natildeo muito poucos conforme os depoimentos
aqui relatados teriam que abandonar a enxada e a participaccedilatildeo no sustento da
famiacutelia para frequentar a escola Quase sempre abandonaram a escola para ficar no
trabalho com a enxada
Todos teriam que andar vaacuterios quilocircmetros para ir agrave escola Outros nem assim
conseguiriam frequentar a escola no campo ela simplesmente natildeo existia no
campo Teriam entatildeo que ir para a cidade para ter direito a uma escola
Muitos tambeacutem vivenciaram os traumas que uma escola tradicional e
descomprometida com os valores e responsabilidades do projeto educacional
castigos humilhaccedilotildees afastaram a muitos da escola
Alguns apenas sonharam e sonham com a escola ldquoAh a escolardquo Tatildeo longe
inacessiacutevel para tantos no Brasil afora Ao ver de algumas pessoas do
Assentamento Renascer ldquoSe tivesse jeito eu teria ido agrave escola tinha feito pelo
menos o ensino fundamental completo para que eu pudesse ingressar no curso
33
teacutecnico-agriacutecola Mas agora quero que meus filhos e netos vatildeo para a escola
aprender ser algueacutem na vidardquo
-34-
321 A escola no entorno do Assentamento Renascer
A ideia de lutar pela educaccedilatildeo veio antes da ideia de lutar pela escola como
espaccedilo conquistado pelo acampamento Encontrar uma escola perto do
acampamento com transporte escolar com vagas e horaacuterios acessiacuteveis para os que
trabalham o dia todo era entendido como uma necessidade baacutesica e uma grande
vitoacuteria
Ficava-se feliz se apesar das dificuldades fosse possiacutevel matricular pelo
menos as crianccedilas As dificuldades eram e ainda satildeo muitas o transporte escolar
era e eacute precaacuterio a poeira natildeo permite que os alunos cheguem limpos agrave escola os
buracos e as poccedilas daacutegua impedem a chegada do ocircnibus escolar durante as
chuvas No caso do ocircnibus que levam os alunos ateacute a Escola Classe do Coacuterrego do
Arrozal em eacutepoca de muita chuva os ocircnibus ateacute o iniacutecio de 2014 natildeo conseguiam
transitar Isto resulta no fato de que as crianccedilas precisam caminhar debaixo de
chuva ateacute a escola
-35-
322 O caminho para a produccedilatildeo do saber no Assentamento Renascer a
brinquedoteca a integraccedilatildeo social a biblioteca comunitaacuteria as manifestaccedilotildees
culturais
Ao longo dos anos de vivecircncia e convivecircncia no Acampamento Renascer
mediante a dificuldade e necessidade de estudar que sentimos na nossa proacutepria
vida foi despontando a ideia de prover as crianccedilas de atividades luacutedicas e
educativas
34
Logo no iniacutecio do acampamento por volta de 2005 por iniciativa de algumas
pessoas conscientes da necessidade de atividades luacutedicas para as crianccedilas foi
criada uma brinquedoteca
Inicialmente os brinquedos eram de materiais reciclaacuteveis como garrafas pet
telefones sem fio carrinhos bonecas petecas vai e vem cavalinhos tudo era
confeccionado com a participaccedilatildeo das crianccedilas na modalidade de oficina
incentivando-os a fabricar os seus proacuteprios brinquedos Os brinquedos eram
confeccionados a partir de materiais encontrados nos lugares de descarte perto do
acampamento e doaccedilotildees de pessoas que passavam pela estrada
O embriatildeo de um processo educacional que nunca se interrompeu estava
lanccedilado a brinquedoteca proporcionou a criatividade e a participaccedilatildeo de crianccedilas e
adultos marcando as atividades pela conscientizaccedilatildeo do cuidado com a natureza e a
importacircncia da reciclagem A educaccedilatildeo ambiental jaacute era praticada desde o
nascimento do acampamento Renascer
Este primeiro passo foi muito importante porque traduziu para o dia a dia do
acampamento os princiacutepios da escola do campo atuante para mudar a realidade
criar cidadatildeos conscientes e dispostos a mudar a realidade a partir da sua proacutepria
accedilatildeo Este eacute o processo de transformaccedilatildeo social dentro do acampamento Renascer
haacute tanto tempo atraacutes
Aos brinquedos reciclados pela proacutepria comunidade juntaram-se outros
presenteados por instituiccedilotildees como igrejas ONGs a Pastoral da Crianccedila e pessoas
interessadas no bem estar daquelas crianccedilas
Percebe-se em iniciativas como essas a importacircncia da educaccedilatildeo nos
diversos niacuteveis para a sociedade A integraccedilatildeo de pessoas com as atividades
educativas no acampamento nos faz lembrar sobre um grande sonho das escolas
hoje integrar a comunidade de modo a que todos defendam a escola
O sucesso de iniciativas como a brinquedoteca que integravam crianccedilas
adolescentes adultos e sociedade foi importante para outras iniciativas igualmente
importantes
Foi-se criando um projeto educacional para o acampamento sem que se
tivesse consciecircncia disso por faltar informaccedilatildeo que soacute agora se possui graccedilas aos
estudos na Universidade o galpatildeo comunitaacuterio foi utilizado para abrigar a
35
brinquedoteca para desenvolver grupos de teatro de crianccedilas e adultos e para
abrigar a biblioteca
A biblioteca recebeu inuacutemeros exemplares de livros infantis livros didaacuteticos
para os adolescentes e adultos literatura universal revistas dos mais variados
assuntos criando assim um espaccedilo comunitaacuterio de informaccedilatildeo lazer e
entretenimento
Com a criaccedilatildeo da biblioteca ficou evidente a importacircncia da alfabetizaccedilatildeo de
crianccedilas jovens e adultos Muitos acampados relatavam a vontade e a necessidade
de aprender a ler e a escrever Muitos reivindicavam o direito agrave educaccedilatildeo e
frequecircncia agrave escola ainda que o acampamento mudasse de ldquoendereccedilordquo tantas
vezes
Outros poreacutem natildeo acreditavam que seria possiacutevel aprender ou aperfeiccediloar a
leitura e a escrita nas condiccedilotildees de vida de um acampado
Vaacuterias atividades culturais foram desenvolvidas (e ainda satildeo) no
Acampamento Renascer Todas chamavam a atenccedilatildeo da comunidade local de
outras comunidades vizinhas garantindo a simpatia de chacareiros que levavam os
filhos para participarem das atividades
Uma das atividades mais apreciadas foi o Teatro de Fantoches inspirados em
faacutebulas muitas com a autoria da Pastoral da Crianccedila e da Faber Castel A
participaccedilatildeo da comunidade na atividade era intensa e voluntaacuteria todos queriam
manipular os fantoches participar cantando danccedilando ou prestando muita atenccedilatildeo
O teatro de transformaccedilatildeo social produzido pelos adultos e adolescentes
utilizavam tambeacutem materiais reciclaacuteveis demonstrando cuidado com o meio
ambiente e amadurecimento dos conceitos poliacuteticos e pedagoacutegicos gerando reflexatildeo
sobre os temas sociais que nos atingem no cotidiano
A miacutestica adotada pelos movimentos sociais com o objetivo de reflexatildeo satildeo
apresentadas em datas comemorativas e contam com o apoio e participaccedilatildeo de
muitos
Algumas festas fazem parte da tradiccedilatildeo do Acampamento Renascer
traduzindo para a realidade atual as antigas festas a que todos foram acostumados
em seus lugares de origem
Pode-se dizer que a comunidade aprecia muito as festas Mas duas em
particular satildeo muito respeitadas a festa das crianccedilas que ocorre durante o dia (12
36
de outubro) eacute concorrida pois a comunidade se esmera para oferecer os brinquedos
que as crianccedilas amam pula-pula palhaccedilos pintura de rosto piscina de sabatildeo e
muita oferta de comida coisas que as crianccedilas adoram
No mesmo dia ocorre agrave noite a festa da Nossa Senhora Aparecida com
missa e muito forroacute
No mecircs de marccedilo eacute comemorada a Festa da Pamonha em comemoraccedilatildeo agrave
boa colheita do milho Esta festa jaacute se tornou tradicional conhecida em todo o
entorno do assentamento Egrave uma festa importante porque confraterniza a
comunidade Renascer com as comunidades vizinhas e ateacute mesmo as cidades de
Sobradinho Paranoaacute e Planaltina
Os movimentos sociais necessitam ser admirados pela sociedade e festas
como estas chamam a atenccedilatildeo para o problema da reforma agraacuteria demonstrando
que ela eacute viaacutevel e que os assentados tecircm simpatia competecircncia e seus saberes do
campo
A festa ldquojulinardquo eacute outra festa muito apreciada que apresenta as tradiccedilotildees rurais
e religiosas como quadrilhas e bandas de forroacute da comunidade e vizinhanccedila A
danccedila eacute um dos pontos fortes da festa assim como as comidas tradicionais muitas
delas com ingredientes colhidos no acampamento
Vaacuterios grupos de atividades teatrais apresentaram-se na localidade com
participaccedilatildeo de palhaccedilos lembrando um espetaacuteculo circense Alguns desses
grupos inclusive tiveram seus trabalhos premiados
Outras atividades com fundo educativo tiveram participaccedilatildeo animada de
crianccedilas e adultos A exibiccedilatildeo de desenhos animados recentemente apresentados
no cinema eram um grande atrativo para a comunidade que se via socialmente
incluiacuteda Esta inclusatildeo aumentava a autoestima das crianccedilas principalmente pois
assim elas poderiam interagir com os colegas da escola conversando a respeito dos
filmes
A Economia Solidaacuteria eacute uma das formas de inserccedilatildeo dos membros da
comunidade agrave sociedade economicamente ativa Atraveacutes da cooperaccedilatildeo solidaacuteria eacute
possiacutevel o comercio justo agriacutecolas ou artesanais sob conceitos antes
desconhecidos enquanto forma de produccedilatildeo e consumo centrado na valorizaccedilatildeo do
ser humano em contraposiccedilatildeo agraves formas capitalistas de produccedilatildeo e conscientizaccedilatildeo
37
Ao longo dos doze (12) anos de luta pela educaccedilatildeo foram promovidos
diversos cursos que capacitaram multiplicadores que fazem um trabalho importante
para a comunidade
A ideia de autogestatildeo democracia cooperaccedilatildeo auxilia natildeo soacute as formas de
produccedilatildeo e comercio de bens e artesanatos mas tambeacutem auxiliam na formaccedilatildeo
integral de pessoas em que tanto o produtor como o consumidor tem o proposito de
ganhos financeiros segundo um criteacuterio de valorizaccedilatildeo do trabalho
Proposito de formar uma nova consciecircncia a Economia Solidaacuteria promoveu
cursos de Soberania Alimentar em que a comunidade recebeu noccedilotildees praacuteticas
sobre alimentaccedilatildeo a partir da produccedilatildeo local de modo a promover uma nova cultura
alimentar que visa o combate agraves doenccedilas crocircnicas Outro proposito eacute tornar a
comunidade criacutetica em relaccedilatildeo agrave publicidade de produtos alimentiacutecio supeacuterfluo que
induz agraves crianccedilas e adultos alimentarem-se incorretamente
A comunidade participou coletivamente da implantaccedilatildeo de uma unidade da
tecnologia social denominada Produccedilatildeo Agroecoloacutegica Integrada e Sustentaacutevel
(PAIS) em 2012 com o objetivo de produzir alimentos saudaacuteveis e preservar o meio
ambiente trazendo mais alimentos e renda ao campo Esta tecnologia popularmente
conhecida como ldquohorta mandalardquo foi ministrada durante o curso de capacitaccedilatildeo
promovido pela Fundaccedilatildeo Banco do Brasil e teve o meacuterito de proporcionar o debate
e a participaccedilatildeo democraacutetica na definiccedilatildeo das culturas a serem cultivadas na futura
propriedade Vale informar que o assentamento Renascer identificou-se com esse
paradigma agroecoloacutegico
A educaccedilatildeo ambiental faz parte do dia a dia da comunidade hoje preserva-se
conservaccedilatildeo das formas de vida vegetais e animais na regiatildeo do assentamento e
entorno
A produccedilatildeo de mudas no viveiro eacute bastante concorrida contando com a
participaccedilatildeo de todos O viveiro produz cinco mil (5000) mudas de espeacutecies nativa
do cerrado para o reflorestamento das nascentes de aacutegua e nas aacutereas degradadas
da regiatildeo Contam com o apoio da FUNATURA FUNDACcedilAtildeO BANCO DO BRASIL
IFB Rio Satildeo Bartolomeu Vivo e UnB
-36-
38
39
Quarto Capiacutetulo
A escola que queremos expectativas e sonhos dos
acampados do Assentamento Renascer
Pode-se observar pelas falas dos entrevistados que a realidade de todos
converge para os problemas estruturais do Brasil faltam escolas no campo eacute baixa
a escolaridade em Brasiacutelia todos exercem atividades de subemprego
Todos tecircm grandes expectativas com relaccedilatildeo agrave vida futura no assentamento
objetivando melhores condiccedilotildees de vida na esperanccedila de serem beneficiaacuterios
enquanto cidadatildeos assentados das Poliacuteticas Puacuteblicas e financiamentos agriacutecolas
voltadas para a agricultura familiar como PRONAF PAA PNAE e PAPA-DF Vecircem
aiacute a possibilidade de emprego e renda situaccedilatildeo sonhada desde quando foram
pleitear a terra para reforma agraacuteria
Um olhar mais aprofundado sobre a anaacutelise de dados revela que natildeo importa o
fato de hoje residirem no DF pois como em qualquer lugar de origem os moradores
do assentamento Renascer vivenciam os mesmos problemas Percebe-se
claramente as dificuldades da inexistecircncia de escola no campo A distacircncia continua
impedindo o acesso os meios de transportes continuam precaacuterios os filhos
vivenciam a dificuldade de transferecircncia para a cidade na expectativa de
continuidade dos estudos as estradas rurais continuam esburacadas
Satildeo muitos os pontos em comum entre a situaccedilatildeo atual relatada e os problemas
vividos haacute deacutecadas em seus estados de origem o que deixa transparecer a absoluta
falta de interesse por parte do poder puacuteblico em garantir o direito constitucional agrave
educaccedilatildeo do povo do campo o que infelizmente continuaraacute deixando o triste
legado para o futuro do paiacutes
40
Repetimos a pergunta da inicial Cadecirc as escolas do campo Ateacute quando o paiacutes
vai viver essa situaccedilatildeo A anaacutelise de dados responde Natildeo eacute mais possiacutevel
continuar como estaacute
Todos os entrevistados pretendem alcanccedilar conhecimentos atraveacutes da escola do
campo implantada no Assentamento Renascer com objetivos de administrar a
propriedade participar ativamente do coletivo garantir renda fixa atraveacutes dos
programas de desenvolvimento da agricultura familiar
Os entrevistados unanimamente tecircm a preocupaccedilatildeo da manutenccedilatildeo dos laccedilos
familiares e das raiacutezes camponesas
A distacircncia entre a moradia e a escola fato relatado pela quase totalidade dos
entrevistados constitui um grande motivo de evasatildeo escolar de defasagem nas
seacuteries frequentadas de precariedade na aprendizagem em relaccedilatildeo aos demais
alunos A discriminaccedilatildeo alegada por muitos que frequentaram ou frequentam
escolas fora da faixa etaacuteria o vernaacuteculo proacuteprio dos sujeitos do campo as condiccedilotildees
precaacuterias da estrada que denunciam a condiccedilatildeo de assentado o sentimento de
inadequaccedilatildeo constituem fatores que determinam a evasatildeo escolar
Foram treze (13) entrevistados significando aproximadamente dez por cento
(10) dos moradores do Assentamento Renascer Desse total apenas dois (2)
entrevistados natildeo declararam dificuldade de distacircncia entre a moradia e a escola em
seus lugares de origem A maioria absoluta (11) pessoas declararam que a distacircncia
dificultava e impedia o acesso agrave escola Alguns relatos apresentam situaccedilotildees
precaacuterias para o homem do campo o assentado
Para o aluno do campo a distacircncia da escola tem o significado de inexistecircncia de
escola Isto porque as dificuldades de acesso satildeo enormes No caso em estudo
apenas um entrevistado declarou a inexistecircncia de escola em sua regiatildeo de
moradia Este poreacutem vivenciou todas as dificuldades de acesso que outros
assentados apresentaram em razatildeo da distacircncia moradiaescola
A falta de professores na escola rural eacute relatada por 11 dos 13 entrevistados A
distacircncia da escola para os professores dificulta segundo a vivecircncia dos
entrevistados o acesso agrave escola e a assiduidade o que muito desmotivava a
ambos
41
Os entrevistados conforme anaacutelise de dados desejam muito objetivamente a
implantaccedilatildeo imediata de escolas segundo os criteacuterios caracteriacutesticos de escola do
campo
- Trazer a realidade para dentro da escola do campo curriacuteculos voltados para o
cotidiano do aluno do campo onde as teacutecnicas agriacutecolas pecuaacuterias e agroecoloacutegicas
possam fazer parte do processo educativo da comunidade e que a escola tenha
uma gestatildeo coletiva democraacutetica com a participaccedilatildeo da comunidade
- Ter o trabalho como princiacutepio educativo A experiecircncia do aluno deve
harmonizar-se com os princiacutepios pistrakianos significar o trabalho de forma a que
ele apresente benefiacutecios para o proacuteprio indiviacuteduo para a comunidade na qual estaacute
inserido e para a sociedade e natildeo exclusivamente para servir ao capitalismo
-Superar a fragmentaccedilatildeo do conhecimento disciplinar A interdisciplinaridade
deve fazer parte dos objetivos educacionais de modo a promover a formaccedilatildeo
integral dos educandos
- Valorizar os saberes do homem do campo Os entrevistados desejam uma
escola onde possam exercitar sua vivecircncia campesina e a relaccedilatildeo dialoacutegica entre
professor-aluno seguindo a pedagogia de Paulo Freire o educando quer aprender
com o educador mas quer tambeacutem ter a oportunidade de transmitir seus saberes
- Promover espaccedilos de gestatildeo coletiva A proacutepria comunidade deve participar da
gestatildeo a elaboraccedilatildeo do PPP deve gerir o espaccedilo fiacutesico da escola para atividades
de interesse da comunidade ocupar espaccedilos para finalidades culturais esportivas
sociais tornando a escola um espaccedilo democraacutetico
- Garantir a presenccedila da comunidade e dos movimentos sociais que geram
processos que auxiliam a emancipaccedilatildeo social A escola deve tambeacutem ser espaccedilo
que auxilie a sustentabilidade e garanta a alimentaccedilatildeo saudaacutevel e recursos
fitoteraacutepicos em associaccedilatildeo com a comunidade
- Inclusatildeo tecnoloacutegica em todos os aspectos digital inovaccedilatildeo tecnoloacutegica
agropecuaacuteria recursos ambientais alternativos agua potaacutevel energia solar energia
eoacutelica fossa seacuteptica teacutecnicas de compostagem saneamento baacutesico cuidados com
os recursos hiacutedricos
A anaacutelise dos dados quando feita especificamente sobre a escola a ser
implantada pode aparentemente demonstrar uma pequena conexatildeo com as teorias
da escola do campo
42
A concepccedilatildeo da escola do campo natildeo pode ser imposta ela parte do princiacutepio
que os camponeses devem conquista-la Para essa conquista eacute necessaacuteria a
paixatildeo o desejo por algo ainda natildeo experimentado o amadurecimento poliacutetico-
social-pessoal a participaccedilatildeo coletiva na luta e na conquista
A trajetoacuteria de luta por educaccedilatildeo da comunidade Renascer apresenta estes
elementos agraves vezes difusos outras vezes mais claramente A escola bem que
poderia para alguns ser apenas uma escola rural Afinal aprender a ler e a
escrever ldquodireitordquo como alguns dizem ou seja deixar a condiccedilatildeo de analfabeto ou
analfabeto funcional para tornar-se letrado significaria avanccedilos em face das atuais
circunstacircncias Alguns entendem assim expressando-se principalmente nas
conversas informais
Apesar disso quando as respostas informais ou quando as respostas das
entrevistas satildeo analisadas mais profundamente identificamos que embora
difusamente todos desejam o programa educacional da escola do campo
Explicando melhor a participaccedilatildeo de todos da comunidade em todas as atividades
soacutecio-poliacuteticas-culturais (relatadas no terceiro capitulo) indicam que a comunidade
assimilou a postura soacutecio-politica-cultural que caracterizam a escola do campo
A vivecircncia do Assentamento Renascer no cotidiano e nos eventos coletivos
amadureceu o desejo pelo alimento intelectual cultural artiacutestico ambiental social
que a concepccedilatildeo de escola do campo introduz O programa educacional da Escola
do Campo ultrapassou as paredes fiacutesicas da escola e alcanccedilou o cotidiano dos
assentados
Os avanccedilos da conscientizaccedilatildeo e seu reflexo na vida do Assentamento Renascer
satildeo sentidos nos nuacutemeros de matriculados na LEdoC sete (7) alunos
aproximadamente dez (10) assentados prestaratildeo o proacuteximo vestibular trecircs (3)
assentados estatildeo matriculados no IFB dois(2) assentados estatildeo formados em
Teacutecnico Agropecuaacuterio tambeacutem pelo IFB um deles cursa o Tecnoacutelogo de
Agroecologia tambeacutem do IFB
Vale acrescentar que no iniacutecio de 2014 quando o IFB buscou no Assentamento
pessoas interessadas em matricular-se em seus cursos sob a condiccedilatildeo de
estudarem no ensino meacutedio o interesse foi grande e a impossibilidade pelo fato de
natildeo estarem habilitados no ensino fundamental provocou tanta discussatildeo que
estimulou essa pesquisa
43
O legado desses alunos futuros alunos e profissionais para o futuro do
Assentamento apresentaraacute resultados significativos para toda a comunidade O
futuro colheraacute bons frutos plantados agora
A escola que temos natildeo estaacute funcionando falta a renovaccedilatildeo do contrato o que
atrasa a alfabetizaccedilatildeo e conclusatildeo do 5ordm ano Falta a implantaccedilatildeo de poliacuteticas
puacuteblicas para atendimento de questotildees baacutesicas como por exemplo carteiras
quadro de giz iluminaccedilatildeo espaccedilo fiacutesico (dependecircncias para a escola) e mobiliaacuterio
-41-
44
Consideraccedilotildees Finais
A Educaccedilatildeo do campo eacute um movimento em que os trabalhadores do campo e
suas organizaccedilotildees lutam por transformaccedilotildees sociais particularmente a criaccedilatildeo de
escolas dono campo de qualidade a partir de uma perspectiva ampla de reforma
agraacuteria
A construccedilatildeo da educaccedilatildeo do campo eacute resultado do amadurecimento dos
movimentos sociais e das comunidades rurais em sua trajetoacuteria de luta pelo direito
fundamental agrave universalizaccedilatildeo escolar para as populaccedilotildees camponesas segundo
orientaccedilatildeo poliacutetico-pedagoacutegica adequada agrave realidade dos lutadores de
acampamentos e assentamentos em luta pela reforma agraacuteria e justiccedila social
Alguns princiacutepios caracterizam a luta pela escola do campo Dentre eles
podemos citar a criaccedilatildeo da consciecircncia do direito agrave educaccedilatildeo de qualidade plantada
na proacutepria comunidade o que provoca o enraizamento a valorizaccedilatildeo da vida no
campo a promoccedilatildeo da autoestima e a transformaccedilatildeo do ser alienado pela ideologia
e desigualdade social e sujeito de sua proacutepria histoacuteria
Outro princiacutepio eacute a adequaccedilatildeo de curriacuteculos agrave realidade camponesa de modo
a que o processo ensino-aprendizagem favoreccedila o amadurecimento de talentos
naturais o surgimento de oportunidades a niacutevel pessoal e social contribuindo para a
emancipaccedilatildeo poliacutetico-social do indiviacuteduo com reflexos na sociedade
A mudanccedila de paradigmas e o envolvimento social provocam a formaccedilatildeo integral
dos sujeitos que lutam de forma coletiva e solidaacuteria pela terra A escola do campo
que surge dessa mudanccedila eacute tambeacutem transformadora porque eacute fruto da luta
consciente que gera a reflexatildeo e o amadurecimento poliacutetico deixando um legado
positivo de cidadatildeos orgulhosos de sua condiccedilatildeo de lutador pela terra de sua
identidade de sua cultura de sua comunidade e coletividade
A escola do campo propicia aos alunos a reflexatildeo sobre o contexto social e a
problemaacutetica da comunidade em que estatildeo inseridos o respeito agrave individualidade a
ampliaccedilatildeo das potencialidades do aluno para organizar elaborar e atuar
coletivamente Deixam o legado futuro de homens responsaacuteveis mentes
independentes e atuantes que poderatildeo prestar serviccedilos significativos agrave sociedade
45
A comunidade assentada de o Assentamento Renascer pela Reforma
Agraacuteria em Sobradinho DF foi convidada a opinar sobre a escola que deseja a
partir da conquista da terra
O modelo proposto a partir de seu posicionamento possibilita a conclusatildeo
de que a escola do campo plantada na comunidade eacute preferiacutevel ao modelo
adotado atualmente de inserccedilatildeo dos alunos da comunidade agraves escolas urbanas
conter recursos materiais e humanos que propiciem bons resultados
pedagoacutegicos deve servir para fixar o trabalhador ao campo deve cumprir com o
propoacutesito constitucional de universalizaccedilatildeo do ensino para todas as faixas
etaacuterias deve estar identificada com os sonhos de prosperidade material e
realizaccedilatildeo pessoal dos assentados
-46-
46
Referecircncias Bibliograacuteficas
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OLIVEIRA Maria Rita Duarte Revistalabor ufcbracesso em 19-10-2014
________ citando CALAZ Maria Rita Duarte Oliveira
47
SANTOS Clarice Aparecida PROGRAMA NACIONAL DE EDUCACcedilAtildeO NA REFORMA AGRAacuteRIA in DICIONARIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia2012(pg630)
________ Clarice Aparecida PROGRAMA NACIONAL DE EDUCACcedilAtildeO NA REFORMA AGRAacuteRIA BRASIacuteLIA 2012 pg 631 in DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO SANTOS Claudio Felix Dos ldquoO aprender a aprender na formaccedilatildeo de professores do campordquo Campinas 2013 Editora Autores Associados ) SOUZA Maria Antocircnia Movimentos Sociais no Brasil Contemporacircneo participaccedilatildeo e possibilidades no contexto das praacuteticas democraacuteticas ndash (wwwcesucptlab2004pdfMariaAntonia Souzapdfaceso em 24-07-2014 -48-
48
Apecircndices
1 Roteiro das Entrevistas
a) Dados dos entrevistados
Qual o seu nome
Masculino ( ) Feminino ( )
Quantos anos vocecirc tecircm
A quanto tempo mora no
assentamento
Onde vocecirc morou antes
de morar no
assentamento
Quantos anos vocecirc tinha
quando foi a escola pela
primeira vez
Estou ateacute qual seacuterieano
Quantos anos vocecirc tinha
quando parou de estudar
Qual motivo motivou vocecirc
a parar de estudar
Se tiver escola no
assentamento vocecirc voltaraacute
a estudar Porque
B) Outras informaccedilotildees dados pelos entrevistadosas (GRAVAR)
a) Em qual escola vocecirc estudou no acampamento ou em outro lugar Qual
b) Como era a escola que estudou Quais as coisas boas e coisas ruins que
tinha nesta escola
c) Conte como eacutefoi a educaccedilatildeo do assentamento o que jaacute existiu de escola
como funcionou e quais eram as boas e as coisas ruins desta escola
d) Jaacute participou de alguma accedilatildeo de mobilizaccedilatildeo para ter escola no
assentamento Se sim explique para que e como foi essa mobilizaccedilatildeo
e) Na sua opiniatildeo no assentamento deve ter escola Por quecirc
f) Como deveraacute ser a escola da comunidadeassentamento Como eacute a escola
que queremos ter
49
b) Entrevistas semi-estruturadas
Entrevistado 01
Moro no assentamento Renascer haacute 11 anos Nasci Carnauacuteba no Rio Grande do
Norte fui criado na roccedila e desde pequeno trabalhava na lavoura para ajudar meu
pai Fui para escola com 9 anos de idade estudei ateacute a 5ordm seacuterie parei de estudar
com 17 anos natildeo continuei os estudos porque era muito longe de onde eu morva
que era na cidade mais proacutexima eu tinha que andar a peacute 8 km ficava muito
cansado Casei e vim morar em Brasiacutelia para trabalhar em uma chaacutecara como
caseiro Morava na chaacutecara Buritis em sobradinho- Df tambeacutem natildeo dei para
continuar os estudos porque ficava longe e tinha que ser a noite e natildeo tinha como ir
Se vier uma escola pra caacute eu ainda vou estudar para ter mais conhecimento para
plantar minha roccedila ir no banco pra ver se assino um empreacutestimo para melhorar
minha produccedilatildeo e saber fazer conta pra administrar minha parcela de terra
Qual o seu nome
Masculino ( X ) Feminino ( )
Quantos anos vocecirc
tecircm
57 anos
A quanto tempo
mora no assentamento
11 anos
Onde vocecirc morou
antes de morar no
assentamento
Carnauacuteba ndash RN
Chaacutecara Buritis nordm 10 Sobradinho DF
Quantos anos vocecirc
tinha quando foi a escola
pela primeira vez
8 anos
Estou ateacute qual
seacuterieano
5ordf seacuterie
Quantos anos vocecirc
tinha quando parou de
estudar
24 anos
Qual motivo
motivou vocecirc a parar de
estudar
Trabalhar para sustento da famiacutelia a
distacircncia entre a casa e a escola
Se tiver escola no
assentamento vocecirc voltaraacute
a estudar Porque
Sim ldquoSe tivesse escola do ensino
fundamental voltaria a estudar para tecirc
mais conhecimento para plantar minha roccedila
50
saber pesar saber contar vendecirc os produto e
comecirc
Entrevistado 02
Moro no assentamento renascer haacute 7 anos tenho 38 vim do interior do Cearaacute
Entrei na escola com 7 anos de idade estudei soacute a 5ordm seacuterie incompleta natildeo
continuei a estudar porque natildeo tinha escola a onde eu morava que era na roccedila e eu
tinha que ficar na casa dozotro (SIC) na cidade e eu natildeo gostava disso natildeo ai parei
com 16 anos de idade Mudamo (SIC) pra Brasiacutelia pra uma chaacutecara perto de Santa
Maria-DF e natildeo dei pra estudar porque casei e tinha que trabalhar muito para
susrentar a famiacutelia A gora moro no assentamento Renascer e sei que um dia vai ter
uma escola aqui e eu vou voltar a estudar porque meu sonho eacute ser veterinaacuterio e vou
der se deus quiser
Entrevistado 03
Tenho 58 anos moro no assentamento Renascer haacute 6 anos vim de Ceres-GO
comecei a estudar quando eu tinha 10 ano de idade estudei ateacute a 4ordf seria primaacuteria
(SIC) parei de estudar quando tinha 16 anos porque eu morava na roccedila e escola
ateacute que natildeo ficava muito longe natildeo era soacute 2 km dava pra ir a peacute a professora eacute que
faltava muito e a gente natildeo tinha como saber se ela tava ou natildeoAiacute quando eu tinha
18 anos casei e vim morar em Brasiacutelia e arranjei(SIC) emprego de caseira em uma
chaacutecara aiacute natildeo pra estudar a noite porque era muito longe pra laacute entatildeo eu natildeo
pensei mais nessas coisas Quando tiver escola no assentamento quero estudar
quiecirc pra mim (SIC) fazer curso de teacutecnico agriacutecolarsquorsquo
Entrevistado 04
Tenho 24 anos moro no assentamento Renascer tem 6 ano vim da Bahia morava
no Condomiacutenio RK entrei na escola com 7 anos de idade e estudei soacute ateacute a 6ordf seacuterie
parei com 18 anos de idade
Porque mudei pra caacute pro assentamento (SIC) e natildeo tem escola e natildeo tem como ir
pra Sobradinho a noite porque eacute muito longe tem que andar 5 km eacute pirigogo (SIC)
tem muita gente mal por aiacute tem ateacute estrupador natildeo posso me arriscar
ldquoSe tivesse escola aqui eu ia terminar meus estudos podia ser no galpatildeo mesmo
pra mim tava bom mas para os meus filhos eu queria uma escola boa com internet
e tudo Eu natildeo gosto que meus filhos estuda(SIC) na cidade soacute aceito porque eacute o
jeito gente de assentamento eacute muito zombado (SIC) porque as vezes chega suja
na escola e os outros acha que eles satildeo porcos que toma banhordquo
Entrevistado 05
51
Tenho 21 anos de idade moro no Renascer haacute trecircs anos vim de satildeo Gabriel-GO
comecei a estudar aos 7 anos parei com 18 anos porque minha matildee mudou
pro(SIC) matildee mudou pro (SIC) assentamento haacute 6 anos e eu natildeo aguento morar
longe dela Quando cheguei aqui natildeo teve como continuar os estudos porque
trabalho durante o dia como manicure em Sobradinho e o uacuteltimo ocircnibus que passa
perto do assentamento eacute as 5 horas da tarde entatildeo natildeo daacute para estudar a noite
Sim porque quero fazer um curso de cabelereiro quando tiver aacutegua e luz aqui eu
quero montar um salatildeo de beleza e para ser uma empresaacuteria precisa ter estudos pra
administrar o negoacutecio
Entrevistado 06
44 anos
6 anos
Formosa-GO
8 anos
5ordf seacuterie
24 anos
Porque a escola mais perto(SIC) era 10km de distacircncia e eu trabalhava na roccedila e
ficava muito cansado aiacute parei natildeo deu mais
Sim quando tiver escola aqui eu vou voltar a estudar Eu tinha um sonho de ser
agroacutenomo mas esse sonho eacute impussive(SIC) entatildeo queria concluir o ensino
fundamental para fazer um curso de teacutecnico agriacutecola no IFB mas tambeacutem eacute longe
se tivesse como estudar aqui no assentamento eu ia(SIC) ficar muito feliz
Entrevistado 07
57 anos
6 anos
Parnaiacuteba-PI- Santa Maria- DF
7 anos
4ordf seacuterie
21 anos
Parei porque era muito difiacutecil ir para escola que ficava muito longe eu tinha que sair
de casa as 4hs da madrugada para chegar na escola as 730 ia montado num
cavalo e muitas vezes natildeo tinha professora pra dar aula Parei porque natildeo aguentei
o rojatildeo tinha que minha matildee na lida a tarde e eu ficava muito cansado Vim pra
52
Brasiacutelia e casei fui trabalhar de chacareiro numa chaacutecara que tambeacutem era longe de
escola depois vim morar aqui no assentamento que natildeo tem escola
Se tivesse escola aqui eu ia voltar estudar soacute pra aprender a cuidar meior (SIC) da
terra e dos meus bichos e que fosse como uma escola agriacutecola
Entrevistado 08
Tenho 29 anos moro no assentamento Renascer haacute 2 anos sou educadora do
Pronera haacute 1 ano e 2 meses O Pronera eacute como um antidepressivo na vida de muita
gente o Pronera melhorou a minha vida e a vida dos meus alunos o desejo de
todos eacute que o Pronera continue crescendo em direccedilatildeo de uma educaccedilatildeo continuada
levando tambeacutem o ensino fundamental para os acampamentos e assentamentos da
Reforma Agraacuteria
-50-
Anexos
53
Acampamento agrave beira da estrada ndash 2004
Construccedilatildeo da Sede do Movimento na atual aacuterea
54
Reuniatildeo semanal
Teatro de fantoches ndash brinquedoteca
55
Accedilatildeo da Pastoral da Crianccedila na brinquedoteca
Oficina de brinquedos reciclaacuteveis
56
Brinquedo confeccionado com materiais reciclaacuteveis na Brinquedoteca
57
58
59
60
Apresentaccedilatildeo teatral
61
Capacitaccedilatildeo em Economia Solidaacuteria
Formaccedilatildeo de multiplicadores da Economia Solidaacuteria
62
Capacitaccedilatildeo de Educadores Ambientais
63
Luta pela Reforma Agraacuteria e Soberania Alimentar
22
escolarizaccedilatildeo e de formaccedilatildeo da militacircncia e da base social Sem Terrardquo
(CALDART2012 p92)
As experiecircncias de pensar escolas como polos regionais entre assentamentos e com estudantes de outras comunidades de camponeses aos poucos vatildeo educando o olhar dos trabalhadores Sem Terra para uma realidade mais ampla Foi assim que o MST chegou agrave EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO (KOLLING Vargas e Caldart 2012 p 502)
A escola dentro dessa perspectiva de mudanccedila e envolvimento social eacute
parte da luta pela reforma agraacuteria daacute significado a ela pois proporciona a formaccedilatildeo
integral dos sujeitos que lutam pela terra
Essa escola possibilita a reflexatildeo trava o diaacutelogo com as propostas de
educaccedilatildeo popular de Paulo Freire e busca superar as dificuldades imensas que
assentados e acampados vivem no dia a dia
A escola tambeacutem revela a cultura o orgulho e criaccedilatildeo da identidade na luta
por terra Nesse sentido
A heranccedila que o MST deixaraacute para seus descendentes seraacute bem mais do que a terra que conseguir libertar do latifuacutendio seraacute um jeito de ser humano e de tomar posiccedilatildeo diante das questotildees de seu tempo seratildeo os valores que fortalecem e datildeo identidade aos lutadores do povo de todos os tempos de todos os lugares Eacute enquanto produto humano de uma obra educativa que os Sem Terra podem ser vistos como mais um elo que se forma em uma longa tradiccedilatildeo de lutadores sociais que fazem a histoacuteria da humanidade Enraizamento no passado e projeto de futuro (CALDART 2012 p 96)
A educaccedilatildeo proposta pelo movimento gera o sentimento de pertencimento e
desperta o sentimento de respeito agrave coletividade valoriza o trabalho a gestatildeo
democraacutetica e desburocratizada da escola
SANTOS (2013 p71) esclarece que pelo projeto educacional do MST a
educaccedilatildeo proposta estaacute pautada em ldquovalores socialistas e humanistas tais como o
coletivismo o trabalho socialmente uacutetil a organizaccedilatildeo e auto-organizaccedilatildeo dos
estudantes e professoresrdquo (p71)
-21-
23
221 Concepccedilatildeo Pedagoacutegica da Educaccedilatildeo do Campo
No acircmbito da educaccedilatildeo do homem do campo tornar o homem sujeito e natildeo
objeto do saber leva a entender que o conhecimento do camponecircs pode dialogar
com as praacuteticas baseadas no conhecimento cientiacutefico desde que seja perseguido o
ideal de trabalhadores e educadores do campo comprometidos com as lutas sociais
de formar o homem ldquodordquo campo e ldquono campordquo
Conforme Kolling Cerioli e Caldart (2002 p 264) ldquoo povo tem direito a uma
educaccedilatildeo pensada desde o seu lugar e com sua participaccedilatildeo vinculada agrave sua
cultura e agraves suas necessidades humanas e sociaisrdquo ndash(Caldart Educaccedilatildeo do Campo
2012 p 264
Tal compreensatildeo se ainda hoje causa oposiccedilatildeo ateacute mesmo no ambiente
acadecircmico imagine-se naquele momento histoacuterico de profunda repressatildeo poliacutetica e
ideoloacutegica aos movimentos sociais de camponeses por terra e educaccedilatildeo Como nos
ensina Molina e Saacute (DICIONAacuteRIO da Educaccedilatildeo do Campo p 324)
A concepccedilatildeo de escola do campo nasce e se desenvolve no bojo do movimento da EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO a partir das experiecircncias de formaccedilatildeo humana desenvolvidas no contexto de luta dos movimentos sociais camponeses por terra e educaccedilatildeo Trata-se portanto de uma concepccedilatildeo que emerge das contradiccedilotildees da luta social e das praacuteticas de educaccedilatildeo dos trabalhadores do e no campo (MOLINA e SAacute 2012 pag 324)
A concepccedilatildeo pedagoacutegica da educaccedilatildeo popular e da pedagogia da praacutetica
segundo ARROYO inclui
um caraacuteter de envolvimento totalizante dos movimentos sociais que possibilita ao individuo que participa destes coletivos o acesso a outro tipo de formaccedilatildeo que supera a condiccedilatildeo de aluno de alfabetizando de escolarizando Os integrantes destes organismos emersos na tensa situaccedilatildeo de conflitos aprendem por meio da vivencia das lutas sociais dos momentos de mobilizaccedilatildeo das situaccedilotildees limites de perda de emprego de criacuteticas da sociedade agraves suas accedilotildees de ameaccedilas agraves suas vidas Tudo isso traz ricas liccedilotildees ensinadas na ldquoescola do movimentordquo e que nenhuma teoria pode transmitir ou explicar de forma satisfatoacuteria
No entendimento de Arroyo (2013) os movimentos sociais vivem e
amadurecem sob o conhecimento e o entendimento das contradiccedilotildees sociais e esta
24
experiecircncia lhes permite a possibilidade de defender mudanccedilas radicais tanto no
campo como na cidade tanto na ideologia quanto no combate ao latifuacutendio e ao
capitalismo
Tamanho movimento social gera a reflexatildeo sobre as relaccedilotildees
socioeconocircmicas politicas culturais cuidado da natureza relaccedilotildees humanas
destaques de tudo o que interessa ao coletivo agrave sociedade
Eacute por meio do entendimento de que a realidade eacute criaccedilatildeo humana de como se estabelecem os processos de opressatildeo e ainda da noccedilatildeo de que podemos transformar essa realidade dado que a sociedade eacute mutaacutevel que se forma a praacutexis da luta accedilatildeo-conscientizaccedilatildeo-transformaccedilatildeo-libertaccedilatildeo Inserindo-se criticamente na histoacuteria os cidadatildeos tornam-se sujeitos construtores e reconstrutores da realidaderdquo
Molina e Saacute (2012) nos ensinam a partir do conceito de escola do campo sobre a
potencialidade da vivencia de praacuteticas coletivas para a valorizaccedilatildeo integral dos
sujeitos da coletividade do conhecimento cientiacutefico da gestatildeo coletiva da escola
dentre tantos avanccedilos e vitoacuterias dos movimentos sociais
O processo ensino-aprendizagem permite que o conceito de escola extrapole
o cotidiano de dificuldades e desafia agrave reflexatildeo que gera a emancipaccedilatildeo
Este eacute um dos maiores desafios e ao mesmo tempo uma das maiores possibilidades da escola do campo articular os conhecimentos que os educandos tecircm o direito de acessar a partir do trabalho com a realidade da religaccedilatildeo entre educaccedilatildeo cultura e os conhecimentos cientiacuteficos a serem apreendidos em cada ciclo de vida e de diferentes aacutereas do conhecimento(MOLINA MOURAtildeO 2012 p 329) -26-
222 Princiacutepios da Educaccedilatildeo do Campo
Alguns princiacutepios viabilizam o projeto de escola adotado pelos movimentos
sociais e possibilitam a democracia e a integraccedilatildeo de todos lideranccedila assentados e
acampados do movimento
25
O princiacutepio da responsabilidade coletiva sobre o planejamento a gestatildeo a
organizaccedilatildeo e a realizaccedilatildeo de tarefas em todas as esferas de atividades princiacutepios
muito valorizados pelos movimentos sociais do campo foram transferidos para o
projeto de educaccedilatildeo
O projeto eacute de responsabilidade coletiva e insere educadores tanto a niacutevel
local como regional e nacional os ldquoColetivos de educaccedilatildeordquo como satildeo conhecidos
Os coletivos de educaccedilatildeo com tarefas forccedila orgacircnica e discussotildees especiacuteficas que podem variar a cada periacuteodo fortalecem o princiacutepio organizativo de que a questatildeo da educaccedilatildeo bem como outras questotildees da vida social assumidas pelo MST deve ser pensada e implantada de forma coletiva Eacute uma loacutegica que implica tarefas a serem realizadas pelas pessoas mas mediante um planejamento e uma leitura de conjuntura feita por um coletivo (KOLLING1995 et al p503)
Para concretizar o projeto de educaccedilatildeo foi concebida a formaccedilatildeo de
professores pelos proacuteprios movimentos no acircmbito da proacutepria comunidade
(conhecidos como ldquoprofessores leigosrdquo) e tambeacutem pela rede oficial de ensino
A falta de titulaccedilatildeo de muitos educadores formados na comunidade natildeo
impede que os mesmos trabalhem juntos com os professores titulados e com
simpatizantes do movimento no projeto poliacutetico-pedagoacutegico constituindo um
princiacutepio democraacutetico importante para superar as dificuldades e urgecircncias para a
implantaccedilatildeo da educaccedilatildeo do campo
A democracia do processo de formaccedilatildeo de educadores tem reflexos amplos
a formaccedilatildeo de educadores pelos proacuteprios movimentos especiacutefica para atuaccedilatildeo nas
escolas do campo
O movimento eacute responsaacutevel pela universalizaccedilatildeo do ensino no acircmbito dos
territoacuterios conquistados ou por conquistar e permitiu a evoluccedilatildeo do ensino ateacute o niacutevel
de terceiro grau com a realizaccedilatildeo de cursos como a Licenciatura em Educaccedilatildeo do
Campo (LEdoC) do qual somos os privilegiados alunos aqui na Universidade de
Brasiacutelia
Outro reconhecimento e prova de eficiecircncia da formaccedilatildeo de professores eacute o
precircmio ldquoEducaccedilatildeo e Participaccedilatildeordquo recebido em 1995 do Fundo das Naccedilotildees Unidas
para a Infacircncia (Unicef)
26
O somatoacuterio das forccedilas internas e externas do movimento ldquoleigasrdquo ou
tituladas associadas ao princiacutepio fundamental da participaccedilatildeo dos alunos e
comunidades em todos os niacuteveis e localidades eacute ponto fundamental para o sucesso
da concepccedilatildeo do projeto pois permite o estudo a reflexatildeo conjunta sobre
estrateacutegias para o alcance do objetivo de educaccedilatildeo na reforma agraacuteria
-25-
223 Marcos Normativos da Educaccedilatildeo do Campo
Numerosos Marcos Normativos podem ser citados para explicitar qual perfil
de escola destinada ao camponecircs interessava ao governo e aos proprietaacuterios rurais
A Lei 4024 de 1961 em seu art 105 estabelece o
Apoio que poderaacute ser prestado pelo poder puacuteblico agraves iniciativas que mantenham na zona rural instituiccedilotildees educativas orientadas para adaptar o homem ao meio e estimular vocaccedilotildees e atividades profissionais (BRASIL 2012 p 4)
A Lei 5692 de 1971 ao tratar da educaccedilatildeo rural ldquonatildeo observa mais uma vez
a inclusatildeo da populaccedilatildeo na condiccedilatildeo de protagonista de um projeto social globalrdquo
sendo que o trabalho do campo realizado por alunos eacute ateacute mesmo incentivado
adequando-o ao calendaacuterio escolar (MARCOS NORMATIVOSBrasiacutelia2012 p 25)
A Lei 9394 de 1996 (Lei das Diretrizes se Bases da Educaccedilatildeo ndash LDB) em
acordo com Constituiccedilatildeo de 1988 e ldquoinspirada de alguma forma numa concepccedilatildeo
de mundo rural enquanto espaccedilo especifico diferenciado e ao mesmo tempo
integrado no conjunto da sociedaderdquo reconhece
A diversidade soacutecio-cultural e o direito agrave igualdade e agrave diferenccedila possibilitando a definiccedilatildeo de diretrizes operacionais para educaccedilatildeo rural sem no entanto recorrer a uma logica exclusiva e de ruptura com um projeto global de educaccedilatildeo para o paiacutes (idem p 26)
27
Os artigos 208 e 210 da Carta Magna-1988 e inspirada de numa concepccedilatildeo
de mundo rural enquanto espaccedilo especiacutefico diferenciado e ao mesmo tempo
integrado no conjunto da sociedade a Lei 939496- LDB-estabelece que
Art 28 Na oferta da educaccedilatildeo baacutesica para a populaccedilatildeo rural os sistemas de ensino promoveratildeo as adapta necessaacuteria agrave sua adequaccedilatildeo agraves peculiaridades da vida rural e de cada regiatildeo especialmente (MARCOS NORMATIVOS) Brasiacutelia 2012 p 25)
1- Conteuacutedos organizar curriculares e metodologias apropriadas agraves reais
necessidades e interesses dos alunos da zona rural
2-organizaccedilatildeo escolar proacutepria incluindo a adequaccedilatildeo do calendaacuterio escolar as
fases do ciclo agriacutecola e as condiccedilotildees climaacuteticas
3-adequaccedilatildeo agrave natureza do trabalho na zona rural (MARCOS NORMATIVOS)
Brasiacutelia 2012( p 26)
O movimento de educaccedilatildeo do campo luta haacute quinze (15) anos para fazer-se
cumprir esse Decreto da Lei de Diretrizes de base da educaccedilatildeo do campo-LDB
que apesar de ser constitucional ainda natildeo foi colocada totalmente em praacutetica
Agora com as lutas dos movimentos sociais eacute que estaacute comeccedilando a se concretizar
Artigo 26 Os curriacuteculos do ensino fundamental e meacutedio devem ter uma base nacional comum a ser complementada em cada sistema de ensino e estabelecimento escolar por uma parte diversificada exigida pelas caracteriacutesticas regionais e locais da sociedade
da cultura da economia e da clientela (MARCOS NORMATIVOS) Brasiacutelia 2012(p 26)
O Decreto nordm 7352 de 4 de novembro 2010 dispotildee sobre a poliacutetica de educaccedilatildeo do campo ao Programa Nacional de Educaccedilatildeo
na Reforma Agraacuteria-PRONERA decreta
Art1ordm A poliacutetica de educaccedilatildeo do campo destina-
se agrave ampliaccedilatildeo e qualificaccedilatildeo da oferta de educaccedilatildeo baacutesica e superior agraves populaccedilotildees do campo e seraacute desenvolvida pela Uniatildeo em regime de colaboraccedilatildeo com os Estados o
28
Distrito Federal e os Municiacutepios de acordo com as diretrizes e metas estabelecidas no Plano Nacional de Educaccedilatildeo e o disposto neste Decreto
Para os efeitos deste Decreto entende-se por
l-populaccedilatildeo do campo os agricultores familiares os extrativistas os pescadores
artesanais os ribeirinhos os assentados e acampados da reforma agraacuteria os
trabalhadores assalariados rurais os quilombolas os caiccedilaras os povos da floresta
os caboclos e outros que produzam suas condiccedilotildees materiais de existecircncia a partir
do trabalho no meio rural
ll-escola do campo aquela situada em aacuterea rural conforme definida pela Fundaccedilatildeo
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica- IBGE ou aquela situada em aacuterea
urbana desde que atenda predominantemente a populaccedilatildeo do campo (MARCOS
NORMATIVOS) 2012( p 81)
No Decreto 6755 29 de janeiro de 2009 em seu art 2ordm estabelecida pelo Conselho
Nacional de Educaccedilatildeo que se refere as Diretrizes Operacionais da Educaccedilatildeo do
Campo o parecer da alternacircncia
A formaccedilatildeo de professores poderaacute ser feita concomitantemente agrave atuaccedilatildeo profissional de acordo com metodologias adequadas inclusive a pedagogia da alternacircncia e sem prejuiacutezo de outras que atendam agraves especificidades da educaccedilatildeo do campo e por meio de atividades de ensino pesquisa e extensatildeo (MARCOS NORMATIVOS) 2012( p84)
-26-
29
-
231 A educaccedilatildeo do campo e poliacutetica puacuteblica - o PRONERA
O amadurecimento adquirido pela luta sobre o papel da educaccedilatildeo aliado agrave
iniciativa do aproveitamento do trabalho das professoras ldquoleigasrdquo e ainda da
consciecircncia cada vez mais presente do dever do Estado em prover os cidadatildeos da
reforma agraacuteria de poliacuteticas puacuteblicas resultou no campo da educaccedilatildeo na criaccedilatildeo do
Programa Nacional de Educaccedilatildeo na Reforma Agraacuteria (PRONERA)
O PRONERA envolve formalmente jovens e adultos num projeto conjunto
com universidades e institutos federais em prol da formaccedilatildeo de educadores para o
trabalho em escolas dos assentamentos da reforma agraacuteria e seu entorno
O Programa foi criado em 1998 no momento da ascensatildeo dos conflitos pela
reforma agraacuteria o que propiciou que os movimentos sociais trouxessem para a
opiniatildeo puacuteblica suas mazelas
No campo da educaccedilatildeo foi denunciada a falta de escola a precariedade do
ensino a falta de profissionais do ensino a ldquoloacutegica de negaccedilatildeo histoacuterica do direito
aos camponeses de acesso aos niacuteveis mais elevados de escolaridade ( SANTOS
2012 pag 630)
A partir de 2005 o ensino oferecido pelo PRONERA eacute estendido ao niacutevel
meacutedio e superior como a Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo e a Residecircncia
30
Agraacuteria O PRONERA evoluiu para outros patamares tais como ldquopossibilidades de
ressignificaccedilatildeo do conteuacutedo e da metodologia dos processos de educaccedilatildeo formal
por meio dos princiacutepios baacutesicos da participaccedilatildeo e da multiplicaccedilatildeordquo (SANTOS 2012
p 631)
A participaccedilatildeo das comunidades e suas organizaccedilotildees e a multiplicaccedilatildeo de
alfabetizados formados educadores e demais profissionais ligados agraves poliacuteticas
puacuteblicas para a Reforma Agraacuteria gerou ampla participaccedilatildeo dos agentes envolvidos
na dinacircmica do processo ensino-aprendizagem
Essa forma de gestatildeo gerou reaccedilatildeo contraacuteria ldquoagrave gestatildeo colegiada e coletiva
notadamente agrave participaccedilatildeo direta dos movimentos sociais e sindicais do campordquo
considerados ldquoentes estranhos agrave administraccedilatildeo puacuteblicardquo (CLARICE p 634)
O envolvimento dos movimentos sociais e sindicais do campo natildeo
retrocederam em sua luta pelo envolvimento de todos os interessados na educaccedilatildeo
como elemento emancipatoacuterio e continuam formulando princiacutepios concepccedilotildees e
diretrizes para a escola do campo
-31-
31
Terceiro Capiacutetulo
A histoacuteria do Assentamento Renascer
31 Uma breve histoacuteria de luta
A histoacuteria do Assentamento Renascer natildeo parece ser diferente da histoacuteria de
outros assentamentos Brasil afora Partiu da reivindicaccedilatildeo de Trabalhadores Rurais
sem Terra que desde 2004 ocuparam as margens da Rodovia DF 330 que liga
Sobradinho ao Paranoaacute-DF
Tatildeo perto do centro do poder a apenas poucos quilocircmetros do Palaacutecio da
Alvorada ou da Sede do INCRA o Acampamento Renascer esteve ateacute oito (08) de
maio de 2009 tatildeo distante da decisatildeo poliacutetica pela Reforma Agraacuteria
Somente nesta data trezentos sessenta e um( 361) de terras devolutas da
Uniatildeo foram repassadas ao INCRA para assentar as famiacutelias aliacute acampadas Ficou
criado o assentamento Renascer fora da beira da estrada
O Assentamento Renascer ldquorenasceurdquo da dificuldade de vida sob o barraco de
madeira sem aacutegua sem luz sem saneamento baacutesico que fez com que tantos
desistissem ao longo do caminho e ainda hoje se encontra nessa mesma
precariedade um descaso por parte do poder puacuteblico
A luta em vaacuterios momentos da vida dos acampados parecia estar vencida Os
vencedores pareciam ser a burocracia o desrespeito as noites mal dormidas a
inseguranccedila a falta de perspectivas para o acampado e suas famiacutelias
Duzentas (200) famiacutelias viveram aliacute por cinco anos (05) de 2004 ateacute 2009
Atualmente satildeo cento e vinte (120) famiacutelias que moram na aacuterea destinada e estatildeo
em processo de assentamento Muitas delas poreacutem vencidas pelo cansaccedilo e pelas
condiccedilotildees de vida abandonaram a luta mas todas as famiacutelias as que se foram e as
que ficaram sonharam com a terra onde poderiam produzir viam no pedaccedilo de chatildeo
os frutos do pomar da horta o galinheiro o pasto
O Assentamento Renascer eacute o Brasil Eacute um pedacinho da cruel realidade que
como vimos neste trabalho marcou a sociedade brasileira desde a escravidatildeo
desde o primeiro grito de rebeldia do quilombo desde o primeiro que lutou contra os
coroneacuteis por divisatildeo da terra como as Ligas Camponesas contra o latifuacutendio como
os movimentos sociais em sua luta pela reforma agraacuteria desde vaacuterias geraccedilotildees
32
Eacute como todo e qualquer movimento social que surgiu neste paiacutes desde a
deacutecada de 1980 pela reforma agraacuteria Viveu e ainda vive as dificuldades de ser
acampadoassentado mas honra sua luta porque natildeo desiste faacutecil
O Assentamento Renascer eacute tambeacutem fruto do ecircxodo rural da industrializaccedilatildeo
do campo da monocultura e da concentraccedilatildeo de terras Foram expulsos do campo
para a periferia das cidades sem capacitaccedilatildeo sem estudo
A falta de escolarizaccedilatildeo eacute sem duacutevida uma caracteriacutestica de quase todos os
que vieram do campo para a cidade A realidade do Brasil eacute que o campo natildeo eacute
escolarizado as escolas no campo satildeo poucas satildeo despreparadas satildeo
desvalorizadas
-33-
32 As escolas no campo na vivencia do assentado do Assentamento
Renascer
As escolas no campo marcaram profundamente a vida dos poucos que a
frequentaram Quase todos tiveram que trocar o laacutepis pela enxada a carteira pela
roccedila desde muito pequenos Alguns natildeo muito poucos conforme os depoimentos
aqui relatados teriam que abandonar a enxada e a participaccedilatildeo no sustento da
famiacutelia para frequentar a escola Quase sempre abandonaram a escola para ficar no
trabalho com a enxada
Todos teriam que andar vaacuterios quilocircmetros para ir agrave escola Outros nem assim
conseguiriam frequentar a escola no campo ela simplesmente natildeo existia no
campo Teriam entatildeo que ir para a cidade para ter direito a uma escola
Muitos tambeacutem vivenciaram os traumas que uma escola tradicional e
descomprometida com os valores e responsabilidades do projeto educacional
castigos humilhaccedilotildees afastaram a muitos da escola
Alguns apenas sonharam e sonham com a escola ldquoAh a escolardquo Tatildeo longe
inacessiacutevel para tantos no Brasil afora Ao ver de algumas pessoas do
Assentamento Renascer ldquoSe tivesse jeito eu teria ido agrave escola tinha feito pelo
menos o ensino fundamental completo para que eu pudesse ingressar no curso
33
teacutecnico-agriacutecola Mas agora quero que meus filhos e netos vatildeo para a escola
aprender ser algueacutem na vidardquo
-34-
321 A escola no entorno do Assentamento Renascer
A ideia de lutar pela educaccedilatildeo veio antes da ideia de lutar pela escola como
espaccedilo conquistado pelo acampamento Encontrar uma escola perto do
acampamento com transporte escolar com vagas e horaacuterios acessiacuteveis para os que
trabalham o dia todo era entendido como uma necessidade baacutesica e uma grande
vitoacuteria
Ficava-se feliz se apesar das dificuldades fosse possiacutevel matricular pelo
menos as crianccedilas As dificuldades eram e ainda satildeo muitas o transporte escolar
era e eacute precaacuterio a poeira natildeo permite que os alunos cheguem limpos agrave escola os
buracos e as poccedilas daacutegua impedem a chegada do ocircnibus escolar durante as
chuvas No caso do ocircnibus que levam os alunos ateacute a Escola Classe do Coacuterrego do
Arrozal em eacutepoca de muita chuva os ocircnibus ateacute o iniacutecio de 2014 natildeo conseguiam
transitar Isto resulta no fato de que as crianccedilas precisam caminhar debaixo de
chuva ateacute a escola
-35-
322 O caminho para a produccedilatildeo do saber no Assentamento Renascer a
brinquedoteca a integraccedilatildeo social a biblioteca comunitaacuteria as manifestaccedilotildees
culturais
Ao longo dos anos de vivecircncia e convivecircncia no Acampamento Renascer
mediante a dificuldade e necessidade de estudar que sentimos na nossa proacutepria
vida foi despontando a ideia de prover as crianccedilas de atividades luacutedicas e
educativas
34
Logo no iniacutecio do acampamento por volta de 2005 por iniciativa de algumas
pessoas conscientes da necessidade de atividades luacutedicas para as crianccedilas foi
criada uma brinquedoteca
Inicialmente os brinquedos eram de materiais reciclaacuteveis como garrafas pet
telefones sem fio carrinhos bonecas petecas vai e vem cavalinhos tudo era
confeccionado com a participaccedilatildeo das crianccedilas na modalidade de oficina
incentivando-os a fabricar os seus proacuteprios brinquedos Os brinquedos eram
confeccionados a partir de materiais encontrados nos lugares de descarte perto do
acampamento e doaccedilotildees de pessoas que passavam pela estrada
O embriatildeo de um processo educacional que nunca se interrompeu estava
lanccedilado a brinquedoteca proporcionou a criatividade e a participaccedilatildeo de crianccedilas e
adultos marcando as atividades pela conscientizaccedilatildeo do cuidado com a natureza e a
importacircncia da reciclagem A educaccedilatildeo ambiental jaacute era praticada desde o
nascimento do acampamento Renascer
Este primeiro passo foi muito importante porque traduziu para o dia a dia do
acampamento os princiacutepios da escola do campo atuante para mudar a realidade
criar cidadatildeos conscientes e dispostos a mudar a realidade a partir da sua proacutepria
accedilatildeo Este eacute o processo de transformaccedilatildeo social dentro do acampamento Renascer
haacute tanto tempo atraacutes
Aos brinquedos reciclados pela proacutepria comunidade juntaram-se outros
presenteados por instituiccedilotildees como igrejas ONGs a Pastoral da Crianccedila e pessoas
interessadas no bem estar daquelas crianccedilas
Percebe-se em iniciativas como essas a importacircncia da educaccedilatildeo nos
diversos niacuteveis para a sociedade A integraccedilatildeo de pessoas com as atividades
educativas no acampamento nos faz lembrar sobre um grande sonho das escolas
hoje integrar a comunidade de modo a que todos defendam a escola
O sucesso de iniciativas como a brinquedoteca que integravam crianccedilas
adolescentes adultos e sociedade foi importante para outras iniciativas igualmente
importantes
Foi-se criando um projeto educacional para o acampamento sem que se
tivesse consciecircncia disso por faltar informaccedilatildeo que soacute agora se possui graccedilas aos
estudos na Universidade o galpatildeo comunitaacuterio foi utilizado para abrigar a
35
brinquedoteca para desenvolver grupos de teatro de crianccedilas e adultos e para
abrigar a biblioteca
A biblioteca recebeu inuacutemeros exemplares de livros infantis livros didaacuteticos
para os adolescentes e adultos literatura universal revistas dos mais variados
assuntos criando assim um espaccedilo comunitaacuterio de informaccedilatildeo lazer e
entretenimento
Com a criaccedilatildeo da biblioteca ficou evidente a importacircncia da alfabetizaccedilatildeo de
crianccedilas jovens e adultos Muitos acampados relatavam a vontade e a necessidade
de aprender a ler e a escrever Muitos reivindicavam o direito agrave educaccedilatildeo e
frequecircncia agrave escola ainda que o acampamento mudasse de ldquoendereccedilordquo tantas
vezes
Outros poreacutem natildeo acreditavam que seria possiacutevel aprender ou aperfeiccediloar a
leitura e a escrita nas condiccedilotildees de vida de um acampado
Vaacuterias atividades culturais foram desenvolvidas (e ainda satildeo) no
Acampamento Renascer Todas chamavam a atenccedilatildeo da comunidade local de
outras comunidades vizinhas garantindo a simpatia de chacareiros que levavam os
filhos para participarem das atividades
Uma das atividades mais apreciadas foi o Teatro de Fantoches inspirados em
faacutebulas muitas com a autoria da Pastoral da Crianccedila e da Faber Castel A
participaccedilatildeo da comunidade na atividade era intensa e voluntaacuteria todos queriam
manipular os fantoches participar cantando danccedilando ou prestando muita atenccedilatildeo
O teatro de transformaccedilatildeo social produzido pelos adultos e adolescentes
utilizavam tambeacutem materiais reciclaacuteveis demonstrando cuidado com o meio
ambiente e amadurecimento dos conceitos poliacuteticos e pedagoacutegicos gerando reflexatildeo
sobre os temas sociais que nos atingem no cotidiano
A miacutestica adotada pelos movimentos sociais com o objetivo de reflexatildeo satildeo
apresentadas em datas comemorativas e contam com o apoio e participaccedilatildeo de
muitos
Algumas festas fazem parte da tradiccedilatildeo do Acampamento Renascer
traduzindo para a realidade atual as antigas festas a que todos foram acostumados
em seus lugares de origem
Pode-se dizer que a comunidade aprecia muito as festas Mas duas em
particular satildeo muito respeitadas a festa das crianccedilas que ocorre durante o dia (12
36
de outubro) eacute concorrida pois a comunidade se esmera para oferecer os brinquedos
que as crianccedilas amam pula-pula palhaccedilos pintura de rosto piscina de sabatildeo e
muita oferta de comida coisas que as crianccedilas adoram
No mesmo dia ocorre agrave noite a festa da Nossa Senhora Aparecida com
missa e muito forroacute
No mecircs de marccedilo eacute comemorada a Festa da Pamonha em comemoraccedilatildeo agrave
boa colheita do milho Esta festa jaacute se tornou tradicional conhecida em todo o
entorno do assentamento Egrave uma festa importante porque confraterniza a
comunidade Renascer com as comunidades vizinhas e ateacute mesmo as cidades de
Sobradinho Paranoaacute e Planaltina
Os movimentos sociais necessitam ser admirados pela sociedade e festas
como estas chamam a atenccedilatildeo para o problema da reforma agraacuteria demonstrando
que ela eacute viaacutevel e que os assentados tecircm simpatia competecircncia e seus saberes do
campo
A festa ldquojulinardquo eacute outra festa muito apreciada que apresenta as tradiccedilotildees rurais
e religiosas como quadrilhas e bandas de forroacute da comunidade e vizinhanccedila A
danccedila eacute um dos pontos fortes da festa assim como as comidas tradicionais muitas
delas com ingredientes colhidos no acampamento
Vaacuterios grupos de atividades teatrais apresentaram-se na localidade com
participaccedilatildeo de palhaccedilos lembrando um espetaacuteculo circense Alguns desses
grupos inclusive tiveram seus trabalhos premiados
Outras atividades com fundo educativo tiveram participaccedilatildeo animada de
crianccedilas e adultos A exibiccedilatildeo de desenhos animados recentemente apresentados
no cinema eram um grande atrativo para a comunidade que se via socialmente
incluiacuteda Esta inclusatildeo aumentava a autoestima das crianccedilas principalmente pois
assim elas poderiam interagir com os colegas da escola conversando a respeito dos
filmes
A Economia Solidaacuteria eacute uma das formas de inserccedilatildeo dos membros da
comunidade agrave sociedade economicamente ativa Atraveacutes da cooperaccedilatildeo solidaacuteria eacute
possiacutevel o comercio justo agriacutecolas ou artesanais sob conceitos antes
desconhecidos enquanto forma de produccedilatildeo e consumo centrado na valorizaccedilatildeo do
ser humano em contraposiccedilatildeo agraves formas capitalistas de produccedilatildeo e conscientizaccedilatildeo
37
Ao longo dos doze (12) anos de luta pela educaccedilatildeo foram promovidos
diversos cursos que capacitaram multiplicadores que fazem um trabalho importante
para a comunidade
A ideia de autogestatildeo democracia cooperaccedilatildeo auxilia natildeo soacute as formas de
produccedilatildeo e comercio de bens e artesanatos mas tambeacutem auxiliam na formaccedilatildeo
integral de pessoas em que tanto o produtor como o consumidor tem o proposito de
ganhos financeiros segundo um criteacuterio de valorizaccedilatildeo do trabalho
Proposito de formar uma nova consciecircncia a Economia Solidaacuteria promoveu
cursos de Soberania Alimentar em que a comunidade recebeu noccedilotildees praacuteticas
sobre alimentaccedilatildeo a partir da produccedilatildeo local de modo a promover uma nova cultura
alimentar que visa o combate agraves doenccedilas crocircnicas Outro proposito eacute tornar a
comunidade criacutetica em relaccedilatildeo agrave publicidade de produtos alimentiacutecio supeacuterfluo que
induz agraves crianccedilas e adultos alimentarem-se incorretamente
A comunidade participou coletivamente da implantaccedilatildeo de uma unidade da
tecnologia social denominada Produccedilatildeo Agroecoloacutegica Integrada e Sustentaacutevel
(PAIS) em 2012 com o objetivo de produzir alimentos saudaacuteveis e preservar o meio
ambiente trazendo mais alimentos e renda ao campo Esta tecnologia popularmente
conhecida como ldquohorta mandalardquo foi ministrada durante o curso de capacitaccedilatildeo
promovido pela Fundaccedilatildeo Banco do Brasil e teve o meacuterito de proporcionar o debate
e a participaccedilatildeo democraacutetica na definiccedilatildeo das culturas a serem cultivadas na futura
propriedade Vale informar que o assentamento Renascer identificou-se com esse
paradigma agroecoloacutegico
A educaccedilatildeo ambiental faz parte do dia a dia da comunidade hoje preserva-se
conservaccedilatildeo das formas de vida vegetais e animais na regiatildeo do assentamento e
entorno
A produccedilatildeo de mudas no viveiro eacute bastante concorrida contando com a
participaccedilatildeo de todos O viveiro produz cinco mil (5000) mudas de espeacutecies nativa
do cerrado para o reflorestamento das nascentes de aacutegua e nas aacutereas degradadas
da regiatildeo Contam com o apoio da FUNATURA FUNDACcedilAtildeO BANCO DO BRASIL
IFB Rio Satildeo Bartolomeu Vivo e UnB
-36-
38
39
Quarto Capiacutetulo
A escola que queremos expectativas e sonhos dos
acampados do Assentamento Renascer
Pode-se observar pelas falas dos entrevistados que a realidade de todos
converge para os problemas estruturais do Brasil faltam escolas no campo eacute baixa
a escolaridade em Brasiacutelia todos exercem atividades de subemprego
Todos tecircm grandes expectativas com relaccedilatildeo agrave vida futura no assentamento
objetivando melhores condiccedilotildees de vida na esperanccedila de serem beneficiaacuterios
enquanto cidadatildeos assentados das Poliacuteticas Puacuteblicas e financiamentos agriacutecolas
voltadas para a agricultura familiar como PRONAF PAA PNAE e PAPA-DF Vecircem
aiacute a possibilidade de emprego e renda situaccedilatildeo sonhada desde quando foram
pleitear a terra para reforma agraacuteria
Um olhar mais aprofundado sobre a anaacutelise de dados revela que natildeo importa o
fato de hoje residirem no DF pois como em qualquer lugar de origem os moradores
do assentamento Renascer vivenciam os mesmos problemas Percebe-se
claramente as dificuldades da inexistecircncia de escola no campo A distacircncia continua
impedindo o acesso os meios de transportes continuam precaacuterios os filhos
vivenciam a dificuldade de transferecircncia para a cidade na expectativa de
continuidade dos estudos as estradas rurais continuam esburacadas
Satildeo muitos os pontos em comum entre a situaccedilatildeo atual relatada e os problemas
vividos haacute deacutecadas em seus estados de origem o que deixa transparecer a absoluta
falta de interesse por parte do poder puacuteblico em garantir o direito constitucional agrave
educaccedilatildeo do povo do campo o que infelizmente continuaraacute deixando o triste
legado para o futuro do paiacutes
40
Repetimos a pergunta da inicial Cadecirc as escolas do campo Ateacute quando o paiacutes
vai viver essa situaccedilatildeo A anaacutelise de dados responde Natildeo eacute mais possiacutevel
continuar como estaacute
Todos os entrevistados pretendem alcanccedilar conhecimentos atraveacutes da escola do
campo implantada no Assentamento Renascer com objetivos de administrar a
propriedade participar ativamente do coletivo garantir renda fixa atraveacutes dos
programas de desenvolvimento da agricultura familiar
Os entrevistados unanimamente tecircm a preocupaccedilatildeo da manutenccedilatildeo dos laccedilos
familiares e das raiacutezes camponesas
A distacircncia entre a moradia e a escola fato relatado pela quase totalidade dos
entrevistados constitui um grande motivo de evasatildeo escolar de defasagem nas
seacuteries frequentadas de precariedade na aprendizagem em relaccedilatildeo aos demais
alunos A discriminaccedilatildeo alegada por muitos que frequentaram ou frequentam
escolas fora da faixa etaacuteria o vernaacuteculo proacuteprio dos sujeitos do campo as condiccedilotildees
precaacuterias da estrada que denunciam a condiccedilatildeo de assentado o sentimento de
inadequaccedilatildeo constituem fatores que determinam a evasatildeo escolar
Foram treze (13) entrevistados significando aproximadamente dez por cento
(10) dos moradores do Assentamento Renascer Desse total apenas dois (2)
entrevistados natildeo declararam dificuldade de distacircncia entre a moradia e a escola em
seus lugares de origem A maioria absoluta (11) pessoas declararam que a distacircncia
dificultava e impedia o acesso agrave escola Alguns relatos apresentam situaccedilotildees
precaacuterias para o homem do campo o assentado
Para o aluno do campo a distacircncia da escola tem o significado de inexistecircncia de
escola Isto porque as dificuldades de acesso satildeo enormes No caso em estudo
apenas um entrevistado declarou a inexistecircncia de escola em sua regiatildeo de
moradia Este poreacutem vivenciou todas as dificuldades de acesso que outros
assentados apresentaram em razatildeo da distacircncia moradiaescola
A falta de professores na escola rural eacute relatada por 11 dos 13 entrevistados A
distacircncia da escola para os professores dificulta segundo a vivecircncia dos
entrevistados o acesso agrave escola e a assiduidade o que muito desmotivava a
ambos
41
Os entrevistados conforme anaacutelise de dados desejam muito objetivamente a
implantaccedilatildeo imediata de escolas segundo os criteacuterios caracteriacutesticos de escola do
campo
- Trazer a realidade para dentro da escola do campo curriacuteculos voltados para o
cotidiano do aluno do campo onde as teacutecnicas agriacutecolas pecuaacuterias e agroecoloacutegicas
possam fazer parte do processo educativo da comunidade e que a escola tenha
uma gestatildeo coletiva democraacutetica com a participaccedilatildeo da comunidade
- Ter o trabalho como princiacutepio educativo A experiecircncia do aluno deve
harmonizar-se com os princiacutepios pistrakianos significar o trabalho de forma a que
ele apresente benefiacutecios para o proacuteprio indiviacuteduo para a comunidade na qual estaacute
inserido e para a sociedade e natildeo exclusivamente para servir ao capitalismo
-Superar a fragmentaccedilatildeo do conhecimento disciplinar A interdisciplinaridade
deve fazer parte dos objetivos educacionais de modo a promover a formaccedilatildeo
integral dos educandos
- Valorizar os saberes do homem do campo Os entrevistados desejam uma
escola onde possam exercitar sua vivecircncia campesina e a relaccedilatildeo dialoacutegica entre
professor-aluno seguindo a pedagogia de Paulo Freire o educando quer aprender
com o educador mas quer tambeacutem ter a oportunidade de transmitir seus saberes
- Promover espaccedilos de gestatildeo coletiva A proacutepria comunidade deve participar da
gestatildeo a elaboraccedilatildeo do PPP deve gerir o espaccedilo fiacutesico da escola para atividades
de interesse da comunidade ocupar espaccedilos para finalidades culturais esportivas
sociais tornando a escola um espaccedilo democraacutetico
- Garantir a presenccedila da comunidade e dos movimentos sociais que geram
processos que auxiliam a emancipaccedilatildeo social A escola deve tambeacutem ser espaccedilo
que auxilie a sustentabilidade e garanta a alimentaccedilatildeo saudaacutevel e recursos
fitoteraacutepicos em associaccedilatildeo com a comunidade
- Inclusatildeo tecnoloacutegica em todos os aspectos digital inovaccedilatildeo tecnoloacutegica
agropecuaacuteria recursos ambientais alternativos agua potaacutevel energia solar energia
eoacutelica fossa seacuteptica teacutecnicas de compostagem saneamento baacutesico cuidados com
os recursos hiacutedricos
A anaacutelise dos dados quando feita especificamente sobre a escola a ser
implantada pode aparentemente demonstrar uma pequena conexatildeo com as teorias
da escola do campo
42
A concepccedilatildeo da escola do campo natildeo pode ser imposta ela parte do princiacutepio
que os camponeses devem conquista-la Para essa conquista eacute necessaacuteria a
paixatildeo o desejo por algo ainda natildeo experimentado o amadurecimento poliacutetico-
social-pessoal a participaccedilatildeo coletiva na luta e na conquista
A trajetoacuteria de luta por educaccedilatildeo da comunidade Renascer apresenta estes
elementos agraves vezes difusos outras vezes mais claramente A escola bem que
poderia para alguns ser apenas uma escola rural Afinal aprender a ler e a
escrever ldquodireitordquo como alguns dizem ou seja deixar a condiccedilatildeo de analfabeto ou
analfabeto funcional para tornar-se letrado significaria avanccedilos em face das atuais
circunstacircncias Alguns entendem assim expressando-se principalmente nas
conversas informais
Apesar disso quando as respostas informais ou quando as respostas das
entrevistas satildeo analisadas mais profundamente identificamos que embora
difusamente todos desejam o programa educacional da escola do campo
Explicando melhor a participaccedilatildeo de todos da comunidade em todas as atividades
soacutecio-poliacuteticas-culturais (relatadas no terceiro capitulo) indicam que a comunidade
assimilou a postura soacutecio-politica-cultural que caracterizam a escola do campo
A vivecircncia do Assentamento Renascer no cotidiano e nos eventos coletivos
amadureceu o desejo pelo alimento intelectual cultural artiacutestico ambiental social
que a concepccedilatildeo de escola do campo introduz O programa educacional da Escola
do Campo ultrapassou as paredes fiacutesicas da escola e alcanccedilou o cotidiano dos
assentados
Os avanccedilos da conscientizaccedilatildeo e seu reflexo na vida do Assentamento Renascer
satildeo sentidos nos nuacutemeros de matriculados na LEdoC sete (7) alunos
aproximadamente dez (10) assentados prestaratildeo o proacuteximo vestibular trecircs (3)
assentados estatildeo matriculados no IFB dois(2) assentados estatildeo formados em
Teacutecnico Agropecuaacuterio tambeacutem pelo IFB um deles cursa o Tecnoacutelogo de
Agroecologia tambeacutem do IFB
Vale acrescentar que no iniacutecio de 2014 quando o IFB buscou no Assentamento
pessoas interessadas em matricular-se em seus cursos sob a condiccedilatildeo de
estudarem no ensino meacutedio o interesse foi grande e a impossibilidade pelo fato de
natildeo estarem habilitados no ensino fundamental provocou tanta discussatildeo que
estimulou essa pesquisa
43
O legado desses alunos futuros alunos e profissionais para o futuro do
Assentamento apresentaraacute resultados significativos para toda a comunidade O
futuro colheraacute bons frutos plantados agora
A escola que temos natildeo estaacute funcionando falta a renovaccedilatildeo do contrato o que
atrasa a alfabetizaccedilatildeo e conclusatildeo do 5ordm ano Falta a implantaccedilatildeo de poliacuteticas
puacuteblicas para atendimento de questotildees baacutesicas como por exemplo carteiras
quadro de giz iluminaccedilatildeo espaccedilo fiacutesico (dependecircncias para a escola) e mobiliaacuterio
-41-
44
Consideraccedilotildees Finais
A Educaccedilatildeo do campo eacute um movimento em que os trabalhadores do campo e
suas organizaccedilotildees lutam por transformaccedilotildees sociais particularmente a criaccedilatildeo de
escolas dono campo de qualidade a partir de uma perspectiva ampla de reforma
agraacuteria
A construccedilatildeo da educaccedilatildeo do campo eacute resultado do amadurecimento dos
movimentos sociais e das comunidades rurais em sua trajetoacuteria de luta pelo direito
fundamental agrave universalizaccedilatildeo escolar para as populaccedilotildees camponesas segundo
orientaccedilatildeo poliacutetico-pedagoacutegica adequada agrave realidade dos lutadores de
acampamentos e assentamentos em luta pela reforma agraacuteria e justiccedila social
Alguns princiacutepios caracterizam a luta pela escola do campo Dentre eles
podemos citar a criaccedilatildeo da consciecircncia do direito agrave educaccedilatildeo de qualidade plantada
na proacutepria comunidade o que provoca o enraizamento a valorizaccedilatildeo da vida no
campo a promoccedilatildeo da autoestima e a transformaccedilatildeo do ser alienado pela ideologia
e desigualdade social e sujeito de sua proacutepria histoacuteria
Outro princiacutepio eacute a adequaccedilatildeo de curriacuteculos agrave realidade camponesa de modo
a que o processo ensino-aprendizagem favoreccedila o amadurecimento de talentos
naturais o surgimento de oportunidades a niacutevel pessoal e social contribuindo para a
emancipaccedilatildeo poliacutetico-social do indiviacuteduo com reflexos na sociedade
A mudanccedila de paradigmas e o envolvimento social provocam a formaccedilatildeo integral
dos sujeitos que lutam de forma coletiva e solidaacuteria pela terra A escola do campo
que surge dessa mudanccedila eacute tambeacutem transformadora porque eacute fruto da luta
consciente que gera a reflexatildeo e o amadurecimento poliacutetico deixando um legado
positivo de cidadatildeos orgulhosos de sua condiccedilatildeo de lutador pela terra de sua
identidade de sua cultura de sua comunidade e coletividade
A escola do campo propicia aos alunos a reflexatildeo sobre o contexto social e a
problemaacutetica da comunidade em que estatildeo inseridos o respeito agrave individualidade a
ampliaccedilatildeo das potencialidades do aluno para organizar elaborar e atuar
coletivamente Deixam o legado futuro de homens responsaacuteveis mentes
independentes e atuantes que poderatildeo prestar serviccedilos significativos agrave sociedade
45
A comunidade assentada de o Assentamento Renascer pela Reforma
Agraacuteria em Sobradinho DF foi convidada a opinar sobre a escola que deseja a
partir da conquista da terra
O modelo proposto a partir de seu posicionamento possibilita a conclusatildeo
de que a escola do campo plantada na comunidade eacute preferiacutevel ao modelo
adotado atualmente de inserccedilatildeo dos alunos da comunidade agraves escolas urbanas
conter recursos materiais e humanos que propiciem bons resultados
pedagoacutegicos deve servir para fixar o trabalhador ao campo deve cumprir com o
propoacutesito constitucional de universalizaccedilatildeo do ensino para todas as faixas
etaacuterias deve estar identificada com os sonhos de prosperidade material e
realizaccedilatildeo pessoal dos assentados
-46-
46
Referecircncias Bibliograacuteficas
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OLIVEIRA Maria Rita Duarte PEDAGOGIA EM MARCHA Apud ARROYO Satildeo Paulo1995( pg 162)
OLIVEIRA Maria Rita Duarte Revistalabor ufcbracesso em 19-10-2014
________ citando CALAZ Maria Rita Duarte Oliveira
47
SANTOS Clarice Aparecida PROGRAMA NACIONAL DE EDUCACcedilAtildeO NA REFORMA AGRAacuteRIA in DICIONARIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia2012(pg630)
________ Clarice Aparecida PROGRAMA NACIONAL DE EDUCACcedilAtildeO NA REFORMA AGRAacuteRIA BRASIacuteLIA 2012 pg 631 in DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO SANTOS Claudio Felix Dos ldquoO aprender a aprender na formaccedilatildeo de professores do campordquo Campinas 2013 Editora Autores Associados ) SOUZA Maria Antocircnia Movimentos Sociais no Brasil Contemporacircneo participaccedilatildeo e possibilidades no contexto das praacuteticas democraacuteticas ndash (wwwcesucptlab2004pdfMariaAntonia Souzapdfaceso em 24-07-2014 -48-
48
Apecircndices
1 Roteiro das Entrevistas
a) Dados dos entrevistados
Qual o seu nome
Masculino ( ) Feminino ( )
Quantos anos vocecirc tecircm
A quanto tempo mora no
assentamento
Onde vocecirc morou antes
de morar no
assentamento
Quantos anos vocecirc tinha
quando foi a escola pela
primeira vez
Estou ateacute qual seacuterieano
Quantos anos vocecirc tinha
quando parou de estudar
Qual motivo motivou vocecirc
a parar de estudar
Se tiver escola no
assentamento vocecirc voltaraacute
a estudar Porque
B) Outras informaccedilotildees dados pelos entrevistadosas (GRAVAR)
a) Em qual escola vocecirc estudou no acampamento ou em outro lugar Qual
b) Como era a escola que estudou Quais as coisas boas e coisas ruins que
tinha nesta escola
c) Conte como eacutefoi a educaccedilatildeo do assentamento o que jaacute existiu de escola
como funcionou e quais eram as boas e as coisas ruins desta escola
d) Jaacute participou de alguma accedilatildeo de mobilizaccedilatildeo para ter escola no
assentamento Se sim explique para que e como foi essa mobilizaccedilatildeo
e) Na sua opiniatildeo no assentamento deve ter escola Por quecirc
f) Como deveraacute ser a escola da comunidadeassentamento Como eacute a escola
que queremos ter
49
b) Entrevistas semi-estruturadas
Entrevistado 01
Moro no assentamento Renascer haacute 11 anos Nasci Carnauacuteba no Rio Grande do
Norte fui criado na roccedila e desde pequeno trabalhava na lavoura para ajudar meu
pai Fui para escola com 9 anos de idade estudei ateacute a 5ordm seacuterie parei de estudar
com 17 anos natildeo continuei os estudos porque era muito longe de onde eu morva
que era na cidade mais proacutexima eu tinha que andar a peacute 8 km ficava muito
cansado Casei e vim morar em Brasiacutelia para trabalhar em uma chaacutecara como
caseiro Morava na chaacutecara Buritis em sobradinho- Df tambeacutem natildeo dei para
continuar os estudos porque ficava longe e tinha que ser a noite e natildeo tinha como ir
Se vier uma escola pra caacute eu ainda vou estudar para ter mais conhecimento para
plantar minha roccedila ir no banco pra ver se assino um empreacutestimo para melhorar
minha produccedilatildeo e saber fazer conta pra administrar minha parcela de terra
Qual o seu nome
Masculino ( X ) Feminino ( )
Quantos anos vocecirc
tecircm
57 anos
A quanto tempo
mora no assentamento
11 anos
Onde vocecirc morou
antes de morar no
assentamento
Carnauacuteba ndash RN
Chaacutecara Buritis nordm 10 Sobradinho DF
Quantos anos vocecirc
tinha quando foi a escola
pela primeira vez
8 anos
Estou ateacute qual
seacuterieano
5ordf seacuterie
Quantos anos vocecirc
tinha quando parou de
estudar
24 anos
Qual motivo
motivou vocecirc a parar de
estudar
Trabalhar para sustento da famiacutelia a
distacircncia entre a casa e a escola
Se tiver escola no
assentamento vocecirc voltaraacute
a estudar Porque
Sim ldquoSe tivesse escola do ensino
fundamental voltaria a estudar para tecirc
mais conhecimento para plantar minha roccedila
50
saber pesar saber contar vendecirc os produto e
comecirc
Entrevistado 02
Moro no assentamento renascer haacute 7 anos tenho 38 vim do interior do Cearaacute
Entrei na escola com 7 anos de idade estudei soacute a 5ordm seacuterie incompleta natildeo
continuei a estudar porque natildeo tinha escola a onde eu morava que era na roccedila e eu
tinha que ficar na casa dozotro (SIC) na cidade e eu natildeo gostava disso natildeo ai parei
com 16 anos de idade Mudamo (SIC) pra Brasiacutelia pra uma chaacutecara perto de Santa
Maria-DF e natildeo dei pra estudar porque casei e tinha que trabalhar muito para
susrentar a famiacutelia A gora moro no assentamento Renascer e sei que um dia vai ter
uma escola aqui e eu vou voltar a estudar porque meu sonho eacute ser veterinaacuterio e vou
der se deus quiser
Entrevistado 03
Tenho 58 anos moro no assentamento Renascer haacute 6 anos vim de Ceres-GO
comecei a estudar quando eu tinha 10 ano de idade estudei ateacute a 4ordf seria primaacuteria
(SIC) parei de estudar quando tinha 16 anos porque eu morava na roccedila e escola
ateacute que natildeo ficava muito longe natildeo era soacute 2 km dava pra ir a peacute a professora eacute que
faltava muito e a gente natildeo tinha como saber se ela tava ou natildeoAiacute quando eu tinha
18 anos casei e vim morar em Brasiacutelia e arranjei(SIC) emprego de caseira em uma
chaacutecara aiacute natildeo pra estudar a noite porque era muito longe pra laacute entatildeo eu natildeo
pensei mais nessas coisas Quando tiver escola no assentamento quero estudar
quiecirc pra mim (SIC) fazer curso de teacutecnico agriacutecolarsquorsquo
Entrevistado 04
Tenho 24 anos moro no assentamento Renascer tem 6 ano vim da Bahia morava
no Condomiacutenio RK entrei na escola com 7 anos de idade e estudei soacute ateacute a 6ordf seacuterie
parei com 18 anos de idade
Porque mudei pra caacute pro assentamento (SIC) e natildeo tem escola e natildeo tem como ir
pra Sobradinho a noite porque eacute muito longe tem que andar 5 km eacute pirigogo (SIC)
tem muita gente mal por aiacute tem ateacute estrupador natildeo posso me arriscar
ldquoSe tivesse escola aqui eu ia terminar meus estudos podia ser no galpatildeo mesmo
pra mim tava bom mas para os meus filhos eu queria uma escola boa com internet
e tudo Eu natildeo gosto que meus filhos estuda(SIC) na cidade soacute aceito porque eacute o
jeito gente de assentamento eacute muito zombado (SIC) porque as vezes chega suja
na escola e os outros acha que eles satildeo porcos que toma banhordquo
Entrevistado 05
51
Tenho 21 anos de idade moro no Renascer haacute trecircs anos vim de satildeo Gabriel-GO
comecei a estudar aos 7 anos parei com 18 anos porque minha matildee mudou
pro(SIC) matildee mudou pro (SIC) assentamento haacute 6 anos e eu natildeo aguento morar
longe dela Quando cheguei aqui natildeo teve como continuar os estudos porque
trabalho durante o dia como manicure em Sobradinho e o uacuteltimo ocircnibus que passa
perto do assentamento eacute as 5 horas da tarde entatildeo natildeo daacute para estudar a noite
Sim porque quero fazer um curso de cabelereiro quando tiver aacutegua e luz aqui eu
quero montar um salatildeo de beleza e para ser uma empresaacuteria precisa ter estudos pra
administrar o negoacutecio
Entrevistado 06
44 anos
6 anos
Formosa-GO
8 anos
5ordf seacuterie
24 anos
Porque a escola mais perto(SIC) era 10km de distacircncia e eu trabalhava na roccedila e
ficava muito cansado aiacute parei natildeo deu mais
Sim quando tiver escola aqui eu vou voltar a estudar Eu tinha um sonho de ser
agroacutenomo mas esse sonho eacute impussive(SIC) entatildeo queria concluir o ensino
fundamental para fazer um curso de teacutecnico agriacutecola no IFB mas tambeacutem eacute longe
se tivesse como estudar aqui no assentamento eu ia(SIC) ficar muito feliz
Entrevistado 07
57 anos
6 anos
Parnaiacuteba-PI- Santa Maria- DF
7 anos
4ordf seacuterie
21 anos
Parei porque era muito difiacutecil ir para escola que ficava muito longe eu tinha que sair
de casa as 4hs da madrugada para chegar na escola as 730 ia montado num
cavalo e muitas vezes natildeo tinha professora pra dar aula Parei porque natildeo aguentei
o rojatildeo tinha que minha matildee na lida a tarde e eu ficava muito cansado Vim pra
52
Brasiacutelia e casei fui trabalhar de chacareiro numa chaacutecara que tambeacutem era longe de
escola depois vim morar aqui no assentamento que natildeo tem escola
Se tivesse escola aqui eu ia voltar estudar soacute pra aprender a cuidar meior (SIC) da
terra e dos meus bichos e que fosse como uma escola agriacutecola
Entrevistado 08
Tenho 29 anos moro no assentamento Renascer haacute 2 anos sou educadora do
Pronera haacute 1 ano e 2 meses O Pronera eacute como um antidepressivo na vida de muita
gente o Pronera melhorou a minha vida e a vida dos meus alunos o desejo de
todos eacute que o Pronera continue crescendo em direccedilatildeo de uma educaccedilatildeo continuada
levando tambeacutem o ensino fundamental para os acampamentos e assentamentos da
Reforma Agraacuteria
-50-
Anexos
53
Acampamento agrave beira da estrada ndash 2004
Construccedilatildeo da Sede do Movimento na atual aacuterea
54
Reuniatildeo semanal
Teatro de fantoches ndash brinquedoteca
55
Accedilatildeo da Pastoral da Crianccedila na brinquedoteca
Oficina de brinquedos reciclaacuteveis
56
Brinquedo confeccionado com materiais reciclaacuteveis na Brinquedoteca
57
58
59
60
Apresentaccedilatildeo teatral
61
Capacitaccedilatildeo em Economia Solidaacuteria
Formaccedilatildeo de multiplicadores da Economia Solidaacuteria
62
Capacitaccedilatildeo de Educadores Ambientais
63
Luta pela Reforma Agraacuteria e Soberania Alimentar
23
221 Concepccedilatildeo Pedagoacutegica da Educaccedilatildeo do Campo
No acircmbito da educaccedilatildeo do homem do campo tornar o homem sujeito e natildeo
objeto do saber leva a entender que o conhecimento do camponecircs pode dialogar
com as praacuteticas baseadas no conhecimento cientiacutefico desde que seja perseguido o
ideal de trabalhadores e educadores do campo comprometidos com as lutas sociais
de formar o homem ldquodordquo campo e ldquono campordquo
Conforme Kolling Cerioli e Caldart (2002 p 264) ldquoo povo tem direito a uma
educaccedilatildeo pensada desde o seu lugar e com sua participaccedilatildeo vinculada agrave sua
cultura e agraves suas necessidades humanas e sociaisrdquo ndash(Caldart Educaccedilatildeo do Campo
2012 p 264
Tal compreensatildeo se ainda hoje causa oposiccedilatildeo ateacute mesmo no ambiente
acadecircmico imagine-se naquele momento histoacuterico de profunda repressatildeo poliacutetica e
ideoloacutegica aos movimentos sociais de camponeses por terra e educaccedilatildeo Como nos
ensina Molina e Saacute (DICIONAacuteRIO da Educaccedilatildeo do Campo p 324)
A concepccedilatildeo de escola do campo nasce e se desenvolve no bojo do movimento da EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO a partir das experiecircncias de formaccedilatildeo humana desenvolvidas no contexto de luta dos movimentos sociais camponeses por terra e educaccedilatildeo Trata-se portanto de uma concepccedilatildeo que emerge das contradiccedilotildees da luta social e das praacuteticas de educaccedilatildeo dos trabalhadores do e no campo (MOLINA e SAacute 2012 pag 324)
A concepccedilatildeo pedagoacutegica da educaccedilatildeo popular e da pedagogia da praacutetica
segundo ARROYO inclui
um caraacuteter de envolvimento totalizante dos movimentos sociais que possibilita ao individuo que participa destes coletivos o acesso a outro tipo de formaccedilatildeo que supera a condiccedilatildeo de aluno de alfabetizando de escolarizando Os integrantes destes organismos emersos na tensa situaccedilatildeo de conflitos aprendem por meio da vivencia das lutas sociais dos momentos de mobilizaccedilatildeo das situaccedilotildees limites de perda de emprego de criacuteticas da sociedade agraves suas accedilotildees de ameaccedilas agraves suas vidas Tudo isso traz ricas liccedilotildees ensinadas na ldquoescola do movimentordquo e que nenhuma teoria pode transmitir ou explicar de forma satisfatoacuteria
No entendimento de Arroyo (2013) os movimentos sociais vivem e
amadurecem sob o conhecimento e o entendimento das contradiccedilotildees sociais e esta
24
experiecircncia lhes permite a possibilidade de defender mudanccedilas radicais tanto no
campo como na cidade tanto na ideologia quanto no combate ao latifuacutendio e ao
capitalismo
Tamanho movimento social gera a reflexatildeo sobre as relaccedilotildees
socioeconocircmicas politicas culturais cuidado da natureza relaccedilotildees humanas
destaques de tudo o que interessa ao coletivo agrave sociedade
Eacute por meio do entendimento de que a realidade eacute criaccedilatildeo humana de como se estabelecem os processos de opressatildeo e ainda da noccedilatildeo de que podemos transformar essa realidade dado que a sociedade eacute mutaacutevel que se forma a praacutexis da luta accedilatildeo-conscientizaccedilatildeo-transformaccedilatildeo-libertaccedilatildeo Inserindo-se criticamente na histoacuteria os cidadatildeos tornam-se sujeitos construtores e reconstrutores da realidaderdquo
Molina e Saacute (2012) nos ensinam a partir do conceito de escola do campo sobre a
potencialidade da vivencia de praacuteticas coletivas para a valorizaccedilatildeo integral dos
sujeitos da coletividade do conhecimento cientiacutefico da gestatildeo coletiva da escola
dentre tantos avanccedilos e vitoacuterias dos movimentos sociais
O processo ensino-aprendizagem permite que o conceito de escola extrapole
o cotidiano de dificuldades e desafia agrave reflexatildeo que gera a emancipaccedilatildeo
Este eacute um dos maiores desafios e ao mesmo tempo uma das maiores possibilidades da escola do campo articular os conhecimentos que os educandos tecircm o direito de acessar a partir do trabalho com a realidade da religaccedilatildeo entre educaccedilatildeo cultura e os conhecimentos cientiacuteficos a serem apreendidos em cada ciclo de vida e de diferentes aacutereas do conhecimento(MOLINA MOURAtildeO 2012 p 329) -26-
222 Princiacutepios da Educaccedilatildeo do Campo
Alguns princiacutepios viabilizam o projeto de escola adotado pelos movimentos
sociais e possibilitam a democracia e a integraccedilatildeo de todos lideranccedila assentados e
acampados do movimento
25
O princiacutepio da responsabilidade coletiva sobre o planejamento a gestatildeo a
organizaccedilatildeo e a realizaccedilatildeo de tarefas em todas as esferas de atividades princiacutepios
muito valorizados pelos movimentos sociais do campo foram transferidos para o
projeto de educaccedilatildeo
O projeto eacute de responsabilidade coletiva e insere educadores tanto a niacutevel
local como regional e nacional os ldquoColetivos de educaccedilatildeordquo como satildeo conhecidos
Os coletivos de educaccedilatildeo com tarefas forccedila orgacircnica e discussotildees especiacuteficas que podem variar a cada periacuteodo fortalecem o princiacutepio organizativo de que a questatildeo da educaccedilatildeo bem como outras questotildees da vida social assumidas pelo MST deve ser pensada e implantada de forma coletiva Eacute uma loacutegica que implica tarefas a serem realizadas pelas pessoas mas mediante um planejamento e uma leitura de conjuntura feita por um coletivo (KOLLING1995 et al p503)
Para concretizar o projeto de educaccedilatildeo foi concebida a formaccedilatildeo de
professores pelos proacuteprios movimentos no acircmbito da proacutepria comunidade
(conhecidos como ldquoprofessores leigosrdquo) e tambeacutem pela rede oficial de ensino
A falta de titulaccedilatildeo de muitos educadores formados na comunidade natildeo
impede que os mesmos trabalhem juntos com os professores titulados e com
simpatizantes do movimento no projeto poliacutetico-pedagoacutegico constituindo um
princiacutepio democraacutetico importante para superar as dificuldades e urgecircncias para a
implantaccedilatildeo da educaccedilatildeo do campo
A democracia do processo de formaccedilatildeo de educadores tem reflexos amplos
a formaccedilatildeo de educadores pelos proacuteprios movimentos especiacutefica para atuaccedilatildeo nas
escolas do campo
O movimento eacute responsaacutevel pela universalizaccedilatildeo do ensino no acircmbito dos
territoacuterios conquistados ou por conquistar e permitiu a evoluccedilatildeo do ensino ateacute o niacutevel
de terceiro grau com a realizaccedilatildeo de cursos como a Licenciatura em Educaccedilatildeo do
Campo (LEdoC) do qual somos os privilegiados alunos aqui na Universidade de
Brasiacutelia
Outro reconhecimento e prova de eficiecircncia da formaccedilatildeo de professores eacute o
precircmio ldquoEducaccedilatildeo e Participaccedilatildeordquo recebido em 1995 do Fundo das Naccedilotildees Unidas
para a Infacircncia (Unicef)
26
O somatoacuterio das forccedilas internas e externas do movimento ldquoleigasrdquo ou
tituladas associadas ao princiacutepio fundamental da participaccedilatildeo dos alunos e
comunidades em todos os niacuteveis e localidades eacute ponto fundamental para o sucesso
da concepccedilatildeo do projeto pois permite o estudo a reflexatildeo conjunta sobre
estrateacutegias para o alcance do objetivo de educaccedilatildeo na reforma agraacuteria
-25-
223 Marcos Normativos da Educaccedilatildeo do Campo
Numerosos Marcos Normativos podem ser citados para explicitar qual perfil
de escola destinada ao camponecircs interessava ao governo e aos proprietaacuterios rurais
A Lei 4024 de 1961 em seu art 105 estabelece o
Apoio que poderaacute ser prestado pelo poder puacuteblico agraves iniciativas que mantenham na zona rural instituiccedilotildees educativas orientadas para adaptar o homem ao meio e estimular vocaccedilotildees e atividades profissionais (BRASIL 2012 p 4)
A Lei 5692 de 1971 ao tratar da educaccedilatildeo rural ldquonatildeo observa mais uma vez
a inclusatildeo da populaccedilatildeo na condiccedilatildeo de protagonista de um projeto social globalrdquo
sendo que o trabalho do campo realizado por alunos eacute ateacute mesmo incentivado
adequando-o ao calendaacuterio escolar (MARCOS NORMATIVOSBrasiacutelia2012 p 25)
A Lei 9394 de 1996 (Lei das Diretrizes se Bases da Educaccedilatildeo ndash LDB) em
acordo com Constituiccedilatildeo de 1988 e ldquoinspirada de alguma forma numa concepccedilatildeo
de mundo rural enquanto espaccedilo especifico diferenciado e ao mesmo tempo
integrado no conjunto da sociedaderdquo reconhece
A diversidade soacutecio-cultural e o direito agrave igualdade e agrave diferenccedila possibilitando a definiccedilatildeo de diretrizes operacionais para educaccedilatildeo rural sem no entanto recorrer a uma logica exclusiva e de ruptura com um projeto global de educaccedilatildeo para o paiacutes (idem p 26)
27
Os artigos 208 e 210 da Carta Magna-1988 e inspirada de numa concepccedilatildeo
de mundo rural enquanto espaccedilo especiacutefico diferenciado e ao mesmo tempo
integrado no conjunto da sociedade a Lei 939496- LDB-estabelece que
Art 28 Na oferta da educaccedilatildeo baacutesica para a populaccedilatildeo rural os sistemas de ensino promoveratildeo as adapta necessaacuteria agrave sua adequaccedilatildeo agraves peculiaridades da vida rural e de cada regiatildeo especialmente (MARCOS NORMATIVOS) Brasiacutelia 2012 p 25)
1- Conteuacutedos organizar curriculares e metodologias apropriadas agraves reais
necessidades e interesses dos alunos da zona rural
2-organizaccedilatildeo escolar proacutepria incluindo a adequaccedilatildeo do calendaacuterio escolar as
fases do ciclo agriacutecola e as condiccedilotildees climaacuteticas
3-adequaccedilatildeo agrave natureza do trabalho na zona rural (MARCOS NORMATIVOS)
Brasiacutelia 2012( p 26)
O movimento de educaccedilatildeo do campo luta haacute quinze (15) anos para fazer-se
cumprir esse Decreto da Lei de Diretrizes de base da educaccedilatildeo do campo-LDB
que apesar de ser constitucional ainda natildeo foi colocada totalmente em praacutetica
Agora com as lutas dos movimentos sociais eacute que estaacute comeccedilando a se concretizar
Artigo 26 Os curriacuteculos do ensino fundamental e meacutedio devem ter uma base nacional comum a ser complementada em cada sistema de ensino e estabelecimento escolar por uma parte diversificada exigida pelas caracteriacutesticas regionais e locais da sociedade
da cultura da economia e da clientela (MARCOS NORMATIVOS) Brasiacutelia 2012(p 26)
O Decreto nordm 7352 de 4 de novembro 2010 dispotildee sobre a poliacutetica de educaccedilatildeo do campo ao Programa Nacional de Educaccedilatildeo
na Reforma Agraacuteria-PRONERA decreta
Art1ordm A poliacutetica de educaccedilatildeo do campo destina-
se agrave ampliaccedilatildeo e qualificaccedilatildeo da oferta de educaccedilatildeo baacutesica e superior agraves populaccedilotildees do campo e seraacute desenvolvida pela Uniatildeo em regime de colaboraccedilatildeo com os Estados o
28
Distrito Federal e os Municiacutepios de acordo com as diretrizes e metas estabelecidas no Plano Nacional de Educaccedilatildeo e o disposto neste Decreto
Para os efeitos deste Decreto entende-se por
l-populaccedilatildeo do campo os agricultores familiares os extrativistas os pescadores
artesanais os ribeirinhos os assentados e acampados da reforma agraacuteria os
trabalhadores assalariados rurais os quilombolas os caiccedilaras os povos da floresta
os caboclos e outros que produzam suas condiccedilotildees materiais de existecircncia a partir
do trabalho no meio rural
ll-escola do campo aquela situada em aacuterea rural conforme definida pela Fundaccedilatildeo
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica- IBGE ou aquela situada em aacuterea
urbana desde que atenda predominantemente a populaccedilatildeo do campo (MARCOS
NORMATIVOS) 2012( p 81)
No Decreto 6755 29 de janeiro de 2009 em seu art 2ordm estabelecida pelo Conselho
Nacional de Educaccedilatildeo que se refere as Diretrizes Operacionais da Educaccedilatildeo do
Campo o parecer da alternacircncia
A formaccedilatildeo de professores poderaacute ser feita concomitantemente agrave atuaccedilatildeo profissional de acordo com metodologias adequadas inclusive a pedagogia da alternacircncia e sem prejuiacutezo de outras que atendam agraves especificidades da educaccedilatildeo do campo e por meio de atividades de ensino pesquisa e extensatildeo (MARCOS NORMATIVOS) 2012( p84)
-26-
29
-
231 A educaccedilatildeo do campo e poliacutetica puacuteblica - o PRONERA
O amadurecimento adquirido pela luta sobre o papel da educaccedilatildeo aliado agrave
iniciativa do aproveitamento do trabalho das professoras ldquoleigasrdquo e ainda da
consciecircncia cada vez mais presente do dever do Estado em prover os cidadatildeos da
reforma agraacuteria de poliacuteticas puacuteblicas resultou no campo da educaccedilatildeo na criaccedilatildeo do
Programa Nacional de Educaccedilatildeo na Reforma Agraacuteria (PRONERA)
O PRONERA envolve formalmente jovens e adultos num projeto conjunto
com universidades e institutos federais em prol da formaccedilatildeo de educadores para o
trabalho em escolas dos assentamentos da reforma agraacuteria e seu entorno
O Programa foi criado em 1998 no momento da ascensatildeo dos conflitos pela
reforma agraacuteria o que propiciou que os movimentos sociais trouxessem para a
opiniatildeo puacuteblica suas mazelas
No campo da educaccedilatildeo foi denunciada a falta de escola a precariedade do
ensino a falta de profissionais do ensino a ldquoloacutegica de negaccedilatildeo histoacuterica do direito
aos camponeses de acesso aos niacuteveis mais elevados de escolaridade ( SANTOS
2012 pag 630)
A partir de 2005 o ensino oferecido pelo PRONERA eacute estendido ao niacutevel
meacutedio e superior como a Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo e a Residecircncia
30
Agraacuteria O PRONERA evoluiu para outros patamares tais como ldquopossibilidades de
ressignificaccedilatildeo do conteuacutedo e da metodologia dos processos de educaccedilatildeo formal
por meio dos princiacutepios baacutesicos da participaccedilatildeo e da multiplicaccedilatildeordquo (SANTOS 2012
p 631)
A participaccedilatildeo das comunidades e suas organizaccedilotildees e a multiplicaccedilatildeo de
alfabetizados formados educadores e demais profissionais ligados agraves poliacuteticas
puacuteblicas para a Reforma Agraacuteria gerou ampla participaccedilatildeo dos agentes envolvidos
na dinacircmica do processo ensino-aprendizagem
Essa forma de gestatildeo gerou reaccedilatildeo contraacuteria ldquoagrave gestatildeo colegiada e coletiva
notadamente agrave participaccedilatildeo direta dos movimentos sociais e sindicais do campordquo
considerados ldquoentes estranhos agrave administraccedilatildeo puacuteblicardquo (CLARICE p 634)
O envolvimento dos movimentos sociais e sindicais do campo natildeo
retrocederam em sua luta pelo envolvimento de todos os interessados na educaccedilatildeo
como elemento emancipatoacuterio e continuam formulando princiacutepios concepccedilotildees e
diretrizes para a escola do campo
-31-
31
Terceiro Capiacutetulo
A histoacuteria do Assentamento Renascer
31 Uma breve histoacuteria de luta
A histoacuteria do Assentamento Renascer natildeo parece ser diferente da histoacuteria de
outros assentamentos Brasil afora Partiu da reivindicaccedilatildeo de Trabalhadores Rurais
sem Terra que desde 2004 ocuparam as margens da Rodovia DF 330 que liga
Sobradinho ao Paranoaacute-DF
Tatildeo perto do centro do poder a apenas poucos quilocircmetros do Palaacutecio da
Alvorada ou da Sede do INCRA o Acampamento Renascer esteve ateacute oito (08) de
maio de 2009 tatildeo distante da decisatildeo poliacutetica pela Reforma Agraacuteria
Somente nesta data trezentos sessenta e um( 361) de terras devolutas da
Uniatildeo foram repassadas ao INCRA para assentar as famiacutelias aliacute acampadas Ficou
criado o assentamento Renascer fora da beira da estrada
O Assentamento Renascer ldquorenasceurdquo da dificuldade de vida sob o barraco de
madeira sem aacutegua sem luz sem saneamento baacutesico que fez com que tantos
desistissem ao longo do caminho e ainda hoje se encontra nessa mesma
precariedade um descaso por parte do poder puacuteblico
A luta em vaacuterios momentos da vida dos acampados parecia estar vencida Os
vencedores pareciam ser a burocracia o desrespeito as noites mal dormidas a
inseguranccedila a falta de perspectivas para o acampado e suas famiacutelias
Duzentas (200) famiacutelias viveram aliacute por cinco anos (05) de 2004 ateacute 2009
Atualmente satildeo cento e vinte (120) famiacutelias que moram na aacuterea destinada e estatildeo
em processo de assentamento Muitas delas poreacutem vencidas pelo cansaccedilo e pelas
condiccedilotildees de vida abandonaram a luta mas todas as famiacutelias as que se foram e as
que ficaram sonharam com a terra onde poderiam produzir viam no pedaccedilo de chatildeo
os frutos do pomar da horta o galinheiro o pasto
O Assentamento Renascer eacute o Brasil Eacute um pedacinho da cruel realidade que
como vimos neste trabalho marcou a sociedade brasileira desde a escravidatildeo
desde o primeiro grito de rebeldia do quilombo desde o primeiro que lutou contra os
coroneacuteis por divisatildeo da terra como as Ligas Camponesas contra o latifuacutendio como
os movimentos sociais em sua luta pela reforma agraacuteria desde vaacuterias geraccedilotildees
32
Eacute como todo e qualquer movimento social que surgiu neste paiacutes desde a
deacutecada de 1980 pela reforma agraacuteria Viveu e ainda vive as dificuldades de ser
acampadoassentado mas honra sua luta porque natildeo desiste faacutecil
O Assentamento Renascer eacute tambeacutem fruto do ecircxodo rural da industrializaccedilatildeo
do campo da monocultura e da concentraccedilatildeo de terras Foram expulsos do campo
para a periferia das cidades sem capacitaccedilatildeo sem estudo
A falta de escolarizaccedilatildeo eacute sem duacutevida uma caracteriacutestica de quase todos os
que vieram do campo para a cidade A realidade do Brasil eacute que o campo natildeo eacute
escolarizado as escolas no campo satildeo poucas satildeo despreparadas satildeo
desvalorizadas
-33-
32 As escolas no campo na vivencia do assentado do Assentamento
Renascer
As escolas no campo marcaram profundamente a vida dos poucos que a
frequentaram Quase todos tiveram que trocar o laacutepis pela enxada a carteira pela
roccedila desde muito pequenos Alguns natildeo muito poucos conforme os depoimentos
aqui relatados teriam que abandonar a enxada e a participaccedilatildeo no sustento da
famiacutelia para frequentar a escola Quase sempre abandonaram a escola para ficar no
trabalho com a enxada
Todos teriam que andar vaacuterios quilocircmetros para ir agrave escola Outros nem assim
conseguiriam frequentar a escola no campo ela simplesmente natildeo existia no
campo Teriam entatildeo que ir para a cidade para ter direito a uma escola
Muitos tambeacutem vivenciaram os traumas que uma escola tradicional e
descomprometida com os valores e responsabilidades do projeto educacional
castigos humilhaccedilotildees afastaram a muitos da escola
Alguns apenas sonharam e sonham com a escola ldquoAh a escolardquo Tatildeo longe
inacessiacutevel para tantos no Brasil afora Ao ver de algumas pessoas do
Assentamento Renascer ldquoSe tivesse jeito eu teria ido agrave escola tinha feito pelo
menos o ensino fundamental completo para que eu pudesse ingressar no curso
33
teacutecnico-agriacutecola Mas agora quero que meus filhos e netos vatildeo para a escola
aprender ser algueacutem na vidardquo
-34-
321 A escola no entorno do Assentamento Renascer
A ideia de lutar pela educaccedilatildeo veio antes da ideia de lutar pela escola como
espaccedilo conquistado pelo acampamento Encontrar uma escola perto do
acampamento com transporte escolar com vagas e horaacuterios acessiacuteveis para os que
trabalham o dia todo era entendido como uma necessidade baacutesica e uma grande
vitoacuteria
Ficava-se feliz se apesar das dificuldades fosse possiacutevel matricular pelo
menos as crianccedilas As dificuldades eram e ainda satildeo muitas o transporte escolar
era e eacute precaacuterio a poeira natildeo permite que os alunos cheguem limpos agrave escola os
buracos e as poccedilas daacutegua impedem a chegada do ocircnibus escolar durante as
chuvas No caso do ocircnibus que levam os alunos ateacute a Escola Classe do Coacuterrego do
Arrozal em eacutepoca de muita chuva os ocircnibus ateacute o iniacutecio de 2014 natildeo conseguiam
transitar Isto resulta no fato de que as crianccedilas precisam caminhar debaixo de
chuva ateacute a escola
-35-
322 O caminho para a produccedilatildeo do saber no Assentamento Renascer a
brinquedoteca a integraccedilatildeo social a biblioteca comunitaacuteria as manifestaccedilotildees
culturais
Ao longo dos anos de vivecircncia e convivecircncia no Acampamento Renascer
mediante a dificuldade e necessidade de estudar que sentimos na nossa proacutepria
vida foi despontando a ideia de prover as crianccedilas de atividades luacutedicas e
educativas
34
Logo no iniacutecio do acampamento por volta de 2005 por iniciativa de algumas
pessoas conscientes da necessidade de atividades luacutedicas para as crianccedilas foi
criada uma brinquedoteca
Inicialmente os brinquedos eram de materiais reciclaacuteveis como garrafas pet
telefones sem fio carrinhos bonecas petecas vai e vem cavalinhos tudo era
confeccionado com a participaccedilatildeo das crianccedilas na modalidade de oficina
incentivando-os a fabricar os seus proacuteprios brinquedos Os brinquedos eram
confeccionados a partir de materiais encontrados nos lugares de descarte perto do
acampamento e doaccedilotildees de pessoas que passavam pela estrada
O embriatildeo de um processo educacional que nunca se interrompeu estava
lanccedilado a brinquedoteca proporcionou a criatividade e a participaccedilatildeo de crianccedilas e
adultos marcando as atividades pela conscientizaccedilatildeo do cuidado com a natureza e a
importacircncia da reciclagem A educaccedilatildeo ambiental jaacute era praticada desde o
nascimento do acampamento Renascer
Este primeiro passo foi muito importante porque traduziu para o dia a dia do
acampamento os princiacutepios da escola do campo atuante para mudar a realidade
criar cidadatildeos conscientes e dispostos a mudar a realidade a partir da sua proacutepria
accedilatildeo Este eacute o processo de transformaccedilatildeo social dentro do acampamento Renascer
haacute tanto tempo atraacutes
Aos brinquedos reciclados pela proacutepria comunidade juntaram-se outros
presenteados por instituiccedilotildees como igrejas ONGs a Pastoral da Crianccedila e pessoas
interessadas no bem estar daquelas crianccedilas
Percebe-se em iniciativas como essas a importacircncia da educaccedilatildeo nos
diversos niacuteveis para a sociedade A integraccedilatildeo de pessoas com as atividades
educativas no acampamento nos faz lembrar sobre um grande sonho das escolas
hoje integrar a comunidade de modo a que todos defendam a escola
O sucesso de iniciativas como a brinquedoteca que integravam crianccedilas
adolescentes adultos e sociedade foi importante para outras iniciativas igualmente
importantes
Foi-se criando um projeto educacional para o acampamento sem que se
tivesse consciecircncia disso por faltar informaccedilatildeo que soacute agora se possui graccedilas aos
estudos na Universidade o galpatildeo comunitaacuterio foi utilizado para abrigar a
35
brinquedoteca para desenvolver grupos de teatro de crianccedilas e adultos e para
abrigar a biblioteca
A biblioteca recebeu inuacutemeros exemplares de livros infantis livros didaacuteticos
para os adolescentes e adultos literatura universal revistas dos mais variados
assuntos criando assim um espaccedilo comunitaacuterio de informaccedilatildeo lazer e
entretenimento
Com a criaccedilatildeo da biblioteca ficou evidente a importacircncia da alfabetizaccedilatildeo de
crianccedilas jovens e adultos Muitos acampados relatavam a vontade e a necessidade
de aprender a ler e a escrever Muitos reivindicavam o direito agrave educaccedilatildeo e
frequecircncia agrave escola ainda que o acampamento mudasse de ldquoendereccedilordquo tantas
vezes
Outros poreacutem natildeo acreditavam que seria possiacutevel aprender ou aperfeiccediloar a
leitura e a escrita nas condiccedilotildees de vida de um acampado
Vaacuterias atividades culturais foram desenvolvidas (e ainda satildeo) no
Acampamento Renascer Todas chamavam a atenccedilatildeo da comunidade local de
outras comunidades vizinhas garantindo a simpatia de chacareiros que levavam os
filhos para participarem das atividades
Uma das atividades mais apreciadas foi o Teatro de Fantoches inspirados em
faacutebulas muitas com a autoria da Pastoral da Crianccedila e da Faber Castel A
participaccedilatildeo da comunidade na atividade era intensa e voluntaacuteria todos queriam
manipular os fantoches participar cantando danccedilando ou prestando muita atenccedilatildeo
O teatro de transformaccedilatildeo social produzido pelos adultos e adolescentes
utilizavam tambeacutem materiais reciclaacuteveis demonstrando cuidado com o meio
ambiente e amadurecimento dos conceitos poliacuteticos e pedagoacutegicos gerando reflexatildeo
sobre os temas sociais que nos atingem no cotidiano
A miacutestica adotada pelos movimentos sociais com o objetivo de reflexatildeo satildeo
apresentadas em datas comemorativas e contam com o apoio e participaccedilatildeo de
muitos
Algumas festas fazem parte da tradiccedilatildeo do Acampamento Renascer
traduzindo para a realidade atual as antigas festas a que todos foram acostumados
em seus lugares de origem
Pode-se dizer que a comunidade aprecia muito as festas Mas duas em
particular satildeo muito respeitadas a festa das crianccedilas que ocorre durante o dia (12
36
de outubro) eacute concorrida pois a comunidade se esmera para oferecer os brinquedos
que as crianccedilas amam pula-pula palhaccedilos pintura de rosto piscina de sabatildeo e
muita oferta de comida coisas que as crianccedilas adoram
No mesmo dia ocorre agrave noite a festa da Nossa Senhora Aparecida com
missa e muito forroacute
No mecircs de marccedilo eacute comemorada a Festa da Pamonha em comemoraccedilatildeo agrave
boa colheita do milho Esta festa jaacute se tornou tradicional conhecida em todo o
entorno do assentamento Egrave uma festa importante porque confraterniza a
comunidade Renascer com as comunidades vizinhas e ateacute mesmo as cidades de
Sobradinho Paranoaacute e Planaltina
Os movimentos sociais necessitam ser admirados pela sociedade e festas
como estas chamam a atenccedilatildeo para o problema da reforma agraacuteria demonstrando
que ela eacute viaacutevel e que os assentados tecircm simpatia competecircncia e seus saberes do
campo
A festa ldquojulinardquo eacute outra festa muito apreciada que apresenta as tradiccedilotildees rurais
e religiosas como quadrilhas e bandas de forroacute da comunidade e vizinhanccedila A
danccedila eacute um dos pontos fortes da festa assim como as comidas tradicionais muitas
delas com ingredientes colhidos no acampamento
Vaacuterios grupos de atividades teatrais apresentaram-se na localidade com
participaccedilatildeo de palhaccedilos lembrando um espetaacuteculo circense Alguns desses
grupos inclusive tiveram seus trabalhos premiados
Outras atividades com fundo educativo tiveram participaccedilatildeo animada de
crianccedilas e adultos A exibiccedilatildeo de desenhos animados recentemente apresentados
no cinema eram um grande atrativo para a comunidade que se via socialmente
incluiacuteda Esta inclusatildeo aumentava a autoestima das crianccedilas principalmente pois
assim elas poderiam interagir com os colegas da escola conversando a respeito dos
filmes
A Economia Solidaacuteria eacute uma das formas de inserccedilatildeo dos membros da
comunidade agrave sociedade economicamente ativa Atraveacutes da cooperaccedilatildeo solidaacuteria eacute
possiacutevel o comercio justo agriacutecolas ou artesanais sob conceitos antes
desconhecidos enquanto forma de produccedilatildeo e consumo centrado na valorizaccedilatildeo do
ser humano em contraposiccedilatildeo agraves formas capitalistas de produccedilatildeo e conscientizaccedilatildeo
37
Ao longo dos doze (12) anos de luta pela educaccedilatildeo foram promovidos
diversos cursos que capacitaram multiplicadores que fazem um trabalho importante
para a comunidade
A ideia de autogestatildeo democracia cooperaccedilatildeo auxilia natildeo soacute as formas de
produccedilatildeo e comercio de bens e artesanatos mas tambeacutem auxiliam na formaccedilatildeo
integral de pessoas em que tanto o produtor como o consumidor tem o proposito de
ganhos financeiros segundo um criteacuterio de valorizaccedilatildeo do trabalho
Proposito de formar uma nova consciecircncia a Economia Solidaacuteria promoveu
cursos de Soberania Alimentar em que a comunidade recebeu noccedilotildees praacuteticas
sobre alimentaccedilatildeo a partir da produccedilatildeo local de modo a promover uma nova cultura
alimentar que visa o combate agraves doenccedilas crocircnicas Outro proposito eacute tornar a
comunidade criacutetica em relaccedilatildeo agrave publicidade de produtos alimentiacutecio supeacuterfluo que
induz agraves crianccedilas e adultos alimentarem-se incorretamente
A comunidade participou coletivamente da implantaccedilatildeo de uma unidade da
tecnologia social denominada Produccedilatildeo Agroecoloacutegica Integrada e Sustentaacutevel
(PAIS) em 2012 com o objetivo de produzir alimentos saudaacuteveis e preservar o meio
ambiente trazendo mais alimentos e renda ao campo Esta tecnologia popularmente
conhecida como ldquohorta mandalardquo foi ministrada durante o curso de capacitaccedilatildeo
promovido pela Fundaccedilatildeo Banco do Brasil e teve o meacuterito de proporcionar o debate
e a participaccedilatildeo democraacutetica na definiccedilatildeo das culturas a serem cultivadas na futura
propriedade Vale informar que o assentamento Renascer identificou-se com esse
paradigma agroecoloacutegico
A educaccedilatildeo ambiental faz parte do dia a dia da comunidade hoje preserva-se
conservaccedilatildeo das formas de vida vegetais e animais na regiatildeo do assentamento e
entorno
A produccedilatildeo de mudas no viveiro eacute bastante concorrida contando com a
participaccedilatildeo de todos O viveiro produz cinco mil (5000) mudas de espeacutecies nativa
do cerrado para o reflorestamento das nascentes de aacutegua e nas aacutereas degradadas
da regiatildeo Contam com o apoio da FUNATURA FUNDACcedilAtildeO BANCO DO BRASIL
IFB Rio Satildeo Bartolomeu Vivo e UnB
-36-
38
39
Quarto Capiacutetulo
A escola que queremos expectativas e sonhos dos
acampados do Assentamento Renascer
Pode-se observar pelas falas dos entrevistados que a realidade de todos
converge para os problemas estruturais do Brasil faltam escolas no campo eacute baixa
a escolaridade em Brasiacutelia todos exercem atividades de subemprego
Todos tecircm grandes expectativas com relaccedilatildeo agrave vida futura no assentamento
objetivando melhores condiccedilotildees de vida na esperanccedila de serem beneficiaacuterios
enquanto cidadatildeos assentados das Poliacuteticas Puacuteblicas e financiamentos agriacutecolas
voltadas para a agricultura familiar como PRONAF PAA PNAE e PAPA-DF Vecircem
aiacute a possibilidade de emprego e renda situaccedilatildeo sonhada desde quando foram
pleitear a terra para reforma agraacuteria
Um olhar mais aprofundado sobre a anaacutelise de dados revela que natildeo importa o
fato de hoje residirem no DF pois como em qualquer lugar de origem os moradores
do assentamento Renascer vivenciam os mesmos problemas Percebe-se
claramente as dificuldades da inexistecircncia de escola no campo A distacircncia continua
impedindo o acesso os meios de transportes continuam precaacuterios os filhos
vivenciam a dificuldade de transferecircncia para a cidade na expectativa de
continuidade dos estudos as estradas rurais continuam esburacadas
Satildeo muitos os pontos em comum entre a situaccedilatildeo atual relatada e os problemas
vividos haacute deacutecadas em seus estados de origem o que deixa transparecer a absoluta
falta de interesse por parte do poder puacuteblico em garantir o direito constitucional agrave
educaccedilatildeo do povo do campo o que infelizmente continuaraacute deixando o triste
legado para o futuro do paiacutes
40
Repetimos a pergunta da inicial Cadecirc as escolas do campo Ateacute quando o paiacutes
vai viver essa situaccedilatildeo A anaacutelise de dados responde Natildeo eacute mais possiacutevel
continuar como estaacute
Todos os entrevistados pretendem alcanccedilar conhecimentos atraveacutes da escola do
campo implantada no Assentamento Renascer com objetivos de administrar a
propriedade participar ativamente do coletivo garantir renda fixa atraveacutes dos
programas de desenvolvimento da agricultura familiar
Os entrevistados unanimamente tecircm a preocupaccedilatildeo da manutenccedilatildeo dos laccedilos
familiares e das raiacutezes camponesas
A distacircncia entre a moradia e a escola fato relatado pela quase totalidade dos
entrevistados constitui um grande motivo de evasatildeo escolar de defasagem nas
seacuteries frequentadas de precariedade na aprendizagem em relaccedilatildeo aos demais
alunos A discriminaccedilatildeo alegada por muitos que frequentaram ou frequentam
escolas fora da faixa etaacuteria o vernaacuteculo proacuteprio dos sujeitos do campo as condiccedilotildees
precaacuterias da estrada que denunciam a condiccedilatildeo de assentado o sentimento de
inadequaccedilatildeo constituem fatores que determinam a evasatildeo escolar
Foram treze (13) entrevistados significando aproximadamente dez por cento
(10) dos moradores do Assentamento Renascer Desse total apenas dois (2)
entrevistados natildeo declararam dificuldade de distacircncia entre a moradia e a escola em
seus lugares de origem A maioria absoluta (11) pessoas declararam que a distacircncia
dificultava e impedia o acesso agrave escola Alguns relatos apresentam situaccedilotildees
precaacuterias para o homem do campo o assentado
Para o aluno do campo a distacircncia da escola tem o significado de inexistecircncia de
escola Isto porque as dificuldades de acesso satildeo enormes No caso em estudo
apenas um entrevistado declarou a inexistecircncia de escola em sua regiatildeo de
moradia Este poreacutem vivenciou todas as dificuldades de acesso que outros
assentados apresentaram em razatildeo da distacircncia moradiaescola
A falta de professores na escola rural eacute relatada por 11 dos 13 entrevistados A
distacircncia da escola para os professores dificulta segundo a vivecircncia dos
entrevistados o acesso agrave escola e a assiduidade o que muito desmotivava a
ambos
41
Os entrevistados conforme anaacutelise de dados desejam muito objetivamente a
implantaccedilatildeo imediata de escolas segundo os criteacuterios caracteriacutesticos de escola do
campo
- Trazer a realidade para dentro da escola do campo curriacuteculos voltados para o
cotidiano do aluno do campo onde as teacutecnicas agriacutecolas pecuaacuterias e agroecoloacutegicas
possam fazer parte do processo educativo da comunidade e que a escola tenha
uma gestatildeo coletiva democraacutetica com a participaccedilatildeo da comunidade
- Ter o trabalho como princiacutepio educativo A experiecircncia do aluno deve
harmonizar-se com os princiacutepios pistrakianos significar o trabalho de forma a que
ele apresente benefiacutecios para o proacuteprio indiviacuteduo para a comunidade na qual estaacute
inserido e para a sociedade e natildeo exclusivamente para servir ao capitalismo
-Superar a fragmentaccedilatildeo do conhecimento disciplinar A interdisciplinaridade
deve fazer parte dos objetivos educacionais de modo a promover a formaccedilatildeo
integral dos educandos
- Valorizar os saberes do homem do campo Os entrevistados desejam uma
escola onde possam exercitar sua vivecircncia campesina e a relaccedilatildeo dialoacutegica entre
professor-aluno seguindo a pedagogia de Paulo Freire o educando quer aprender
com o educador mas quer tambeacutem ter a oportunidade de transmitir seus saberes
- Promover espaccedilos de gestatildeo coletiva A proacutepria comunidade deve participar da
gestatildeo a elaboraccedilatildeo do PPP deve gerir o espaccedilo fiacutesico da escola para atividades
de interesse da comunidade ocupar espaccedilos para finalidades culturais esportivas
sociais tornando a escola um espaccedilo democraacutetico
- Garantir a presenccedila da comunidade e dos movimentos sociais que geram
processos que auxiliam a emancipaccedilatildeo social A escola deve tambeacutem ser espaccedilo
que auxilie a sustentabilidade e garanta a alimentaccedilatildeo saudaacutevel e recursos
fitoteraacutepicos em associaccedilatildeo com a comunidade
- Inclusatildeo tecnoloacutegica em todos os aspectos digital inovaccedilatildeo tecnoloacutegica
agropecuaacuteria recursos ambientais alternativos agua potaacutevel energia solar energia
eoacutelica fossa seacuteptica teacutecnicas de compostagem saneamento baacutesico cuidados com
os recursos hiacutedricos
A anaacutelise dos dados quando feita especificamente sobre a escola a ser
implantada pode aparentemente demonstrar uma pequena conexatildeo com as teorias
da escola do campo
42
A concepccedilatildeo da escola do campo natildeo pode ser imposta ela parte do princiacutepio
que os camponeses devem conquista-la Para essa conquista eacute necessaacuteria a
paixatildeo o desejo por algo ainda natildeo experimentado o amadurecimento poliacutetico-
social-pessoal a participaccedilatildeo coletiva na luta e na conquista
A trajetoacuteria de luta por educaccedilatildeo da comunidade Renascer apresenta estes
elementos agraves vezes difusos outras vezes mais claramente A escola bem que
poderia para alguns ser apenas uma escola rural Afinal aprender a ler e a
escrever ldquodireitordquo como alguns dizem ou seja deixar a condiccedilatildeo de analfabeto ou
analfabeto funcional para tornar-se letrado significaria avanccedilos em face das atuais
circunstacircncias Alguns entendem assim expressando-se principalmente nas
conversas informais
Apesar disso quando as respostas informais ou quando as respostas das
entrevistas satildeo analisadas mais profundamente identificamos que embora
difusamente todos desejam o programa educacional da escola do campo
Explicando melhor a participaccedilatildeo de todos da comunidade em todas as atividades
soacutecio-poliacuteticas-culturais (relatadas no terceiro capitulo) indicam que a comunidade
assimilou a postura soacutecio-politica-cultural que caracterizam a escola do campo
A vivecircncia do Assentamento Renascer no cotidiano e nos eventos coletivos
amadureceu o desejo pelo alimento intelectual cultural artiacutestico ambiental social
que a concepccedilatildeo de escola do campo introduz O programa educacional da Escola
do Campo ultrapassou as paredes fiacutesicas da escola e alcanccedilou o cotidiano dos
assentados
Os avanccedilos da conscientizaccedilatildeo e seu reflexo na vida do Assentamento Renascer
satildeo sentidos nos nuacutemeros de matriculados na LEdoC sete (7) alunos
aproximadamente dez (10) assentados prestaratildeo o proacuteximo vestibular trecircs (3)
assentados estatildeo matriculados no IFB dois(2) assentados estatildeo formados em
Teacutecnico Agropecuaacuterio tambeacutem pelo IFB um deles cursa o Tecnoacutelogo de
Agroecologia tambeacutem do IFB
Vale acrescentar que no iniacutecio de 2014 quando o IFB buscou no Assentamento
pessoas interessadas em matricular-se em seus cursos sob a condiccedilatildeo de
estudarem no ensino meacutedio o interesse foi grande e a impossibilidade pelo fato de
natildeo estarem habilitados no ensino fundamental provocou tanta discussatildeo que
estimulou essa pesquisa
43
O legado desses alunos futuros alunos e profissionais para o futuro do
Assentamento apresentaraacute resultados significativos para toda a comunidade O
futuro colheraacute bons frutos plantados agora
A escola que temos natildeo estaacute funcionando falta a renovaccedilatildeo do contrato o que
atrasa a alfabetizaccedilatildeo e conclusatildeo do 5ordm ano Falta a implantaccedilatildeo de poliacuteticas
puacuteblicas para atendimento de questotildees baacutesicas como por exemplo carteiras
quadro de giz iluminaccedilatildeo espaccedilo fiacutesico (dependecircncias para a escola) e mobiliaacuterio
-41-
44
Consideraccedilotildees Finais
A Educaccedilatildeo do campo eacute um movimento em que os trabalhadores do campo e
suas organizaccedilotildees lutam por transformaccedilotildees sociais particularmente a criaccedilatildeo de
escolas dono campo de qualidade a partir de uma perspectiva ampla de reforma
agraacuteria
A construccedilatildeo da educaccedilatildeo do campo eacute resultado do amadurecimento dos
movimentos sociais e das comunidades rurais em sua trajetoacuteria de luta pelo direito
fundamental agrave universalizaccedilatildeo escolar para as populaccedilotildees camponesas segundo
orientaccedilatildeo poliacutetico-pedagoacutegica adequada agrave realidade dos lutadores de
acampamentos e assentamentos em luta pela reforma agraacuteria e justiccedila social
Alguns princiacutepios caracterizam a luta pela escola do campo Dentre eles
podemos citar a criaccedilatildeo da consciecircncia do direito agrave educaccedilatildeo de qualidade plantada
na proacutepria comunidade o que provoca o enraizamento a valorizaccedilatildeo da vida no
campo a promoccedilatildeo da autoestima e a transformaccedilatildeo do ser alienado pela ideologia
e desigualdade social e sujeito de sua proacutepria histoacuteria
Outro princiacutepio eacute a adequaccedilatildeo de curriacuteculos agrave realidade camponesa de modo
a que o processo ensino-aprendizagem favoreccedila o amadurecimento de talentos
naturais o surgimento de oportunidades a niacutevel pessoal e social contribuindo para a
emancipaccedilatildeo poliacutetico-social do indiviacuteduo com reflexos na sociedade
A mudanccedila de paradigmas e o envolvimento social provocam a formaccedilatildeo integral
dos sujeitos que lutam de forma coletiva e solidaacuteria pela terra A escola do campo
que surge dessa mudanccedila eacute tambeacutem transformadora porque eacute fruto da luta
consciente que gera a reflexatildeo e o amadurecimento poliacutetico deixando um legado
positivo de cidadatildeos orgulhosos de sua condiccedilatildeo de lutador pela terra de sua
identidade de sua cultura de sua comunidade e coletividade
A escola do campo propicia aos alunos a reflexatildeo sobre o contexto social e a
problemaacutetica da comunidade em que estatildeo inseridos o respeito agrave individualidade a
ampliaccedilatildeo das potencialidades do aluno para organizar elaborar e atuar
coletivamente Deixam o legado futuro de homens responsaacuteveis mentes
independentes e atuantes que poderatildeo prestar serviccedilos significativos agrave sociedade
45
A comunidade assentada de o Assentamento Renascer pela Reforma
Agraacuteria em Sobradinho DF foi convidada a opinar sobre a escola que deseja a
partir da conquista da terra
O modelo proposto a partir de seu posicionamento possibilita a conclusatildeo
de que a escola do campo plantada na comunidade eacute preferiacutevel ao modelo
adotado atualmente de inserccedilatildeo dos alunos da comunidade agraves escolas urbanas
conter recursos materiais e humanos que propiciem bons resultados
pedagoacutegicos deve servir para fixar o trabalhador ao campo deve cumprir com o
propoacutesito constitucional de universalizaccedilatildeo do ensino para todas as faixas
etaacuterias deve estar identificada com os sonhos de prosperidade material e
realizaccedilatildeo pessoal dos assentados
-46-
46
Referecircncias Bibliograacuteficas
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FERRARI Marco ldquoAniacutesio Teixeira o inventor da escola puacuteblica no Brasilrdquo Revista Nova Escola Fundaccedilatildeo Victor Civita Revistaescolaabrilcombr acesso em 14092014 FERREIRA Fabiano de Jesus BRANDAtildeO Elias Canuto ndash Revista Eletrocircnica de Educaccedilatildeo Ano V N 09 juldez 2011p3 ldquoEducaccedilatildeo do campo um olhar histoacuterico uma realidade concreta rdquo (WWWUNIFILBR acesso em 08 de agosto de 2014) GONCcedilALVES Luiz Alberto Oliveira e Pinto Regina Pahim EDUCACcedilAtildeO SEacuteRIE JUSTICcedilA E DESENVOLVIMENTO IFP-FCC FUNDACcedilAtildeO CARLOS CHAGAS 2007 SAtildeO PAULO (pag206)
KOLLING Edgar Jorge Vargas Caldart MST e Educaccedilatildeo in DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia Expressatildeo Popular 2012 (pag 5020
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OLIVEIRA Maria Rita Duarte em sua dissertaccedilatildeo ldquoDos programas oficiais para a educaccedilatildeo rural aos projetos de educaccedilatildeo do campo dos movimentos sociaisrdquo WWWrevistalaborufcbrartigovolume1maria-ritapdf acesso em 08-09-2014
OLIVEIRA Maria Rita Duarte PEDAGOGIA EM MARCHA Apud ARROYO Satildeo Paulo1995( pg 162)
OLIVEIRA Maria Rita Duarte Revistalabor ufcbracesso em 19-10-2014
________ citando CALAZ Maria Rita Duarte Oliveira
47
SANTOS Clarice Aparecida PROGRAMA NACIONAL DE EDUCACcedilAtildeO NA REFORMA AGRAacuteRIA in DICIONARIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia2012(pg630)
________ Clarice Aparecida PROGRAMA NACIONAL DE EDUCACcedilAtildeO NA REFORMA AGRAacuteRIA BRASIacuteLIA 2012 pg 631 in DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO SANTOS Claudio Felix Dos ldquoO aprender a aprender na formaccedilatildeo de professores do campordquo Campinas 2013 Editora Autores Associados ) SOUZA Maria Antocircnia Movimentos Sociais no Brasil Contemporacircneo participaccedilatildeo e possibilidades no contexto das praacuteticas democraacuteticas ndash (wwwcesucptlab2004pdfMariaAntonia Souzapdfaceso em 24-07-2014 -48-
48
Apecircndices
1 Roteiro das Entrevistas
a) Dados dos entrevistados
Qual o seu nome
Masculino ( ) Feminino ( )
Quantos anos vocecirc tecircm
A quanto tempo mora no
assentamento
Onde vocecirc morou antes
de morar no
assentamento
Quantos anos vocecirc tinha
quando foi a escola pela
primeira vez
Estou ateacute qual seacuterieano
Quantos anos vocecirc tinha
quando parou de estudar
Qual motivo motivou vocecirc
a parar de estudar
Se tiver escola no
assentamento vocecirc voltaraacute
a estudar Porque
B) Outras informaccedilotildees dados pelos entrevistadosas (GRAVAR)
a) Em qual escola vocecirc estudou no acampamento ou em outro lugar Qual
b) Como era a escola que estudou Quais as coisas boas e coisas ruins que
tinha nesta escola
c) Conte como eacutefoi a educaccedilatildeo do assentamento o que jaacute existiu de escola
como funcionou e quais eram as boas e as coisas ruins desta escola
d) Jaacute participou de alguma accedilatildeo de mobilizaccedilatildeo para ter escola no
assentamento Se sim explique para que e como foi essa mobilizaccedilatildeo
e) Na sua opiniatildeo no assentamento deve ter escola Por quecirc
f) Como deveraacute ser a escola da comunidadeassentamento Como eacute a escola
que queremos ter
49
b) Entrevistas semi-estruturadas
Entrevistado 01
Moro no assentamento Renascer haacute 11 anos Nasci Carnauacuteba no Rio Grande do
Norte fui criado na roccedila e desde pequeno trabalhava na lavoura para ajudar meu
pai Fui para escola com 9 anos de idade estudei ateacute a 5ordm seacuterie parei de estudar
com 17 anos natildeo continuei os estudos porque era muito longe de onde eu morva
que era na cidade mais proacutexima eu tinha que andar a peacute 8 km ficava muito
cansado Casei e vim morar em Brasiacutelia para trabalhar em uma chaacutecara como
caseiro Morava na chaacutecara Buritis em sobradinho- Df tambeacutem natildeo dei para
continuar os estudos porque ficava longe e tinha que ser a noite e natildeo tinha como ir
Se vier uma escola pra caacute eu ainda vou estudar para ter mais conhecimento para
plantar minha roccedila ir no banco pra ver se assino um empreacutestimo para melhorar
minha produccedilatildeo e saber fazer conta pra administrar minha parcela de terra
Qual o seu nome
Masculino ( X ) Feminino ( )
Quantos anos vocecirc
tecircm
57 anos
A quanto tempo
mora no assentamento
11 anos
Onde vocecirc morou
antes de morar no
assentamento
Carnauacuteba ndash RN
Chaacutecara Buritis nordm 10 Sobradinho DF
Quantos anos vocecirc
tinha quando foi a escola
pela primeira vez
8 anos
Estou ateacute qual
seacuterieano
5ordf seacuterie
Quantos anos vocecirc
tinha quando parou de
estudar
24 anos
Qual motivo
motivou vocecirc a parar de
estudar
Trabalhar para sustento da famiacutelia a
distacircncia entre a casa e a escola
Se tiver escola no
assentamento vocecirc voltaraacute
a estudar Porque
Sim ldquoSe tivesse escola do ensino
fundamental voltaria a estudar para tecirc
mais conhecimento para plantar minha roccedila
50
saber pesar saber contar vendecirc os produto e
comecirc
Entrevistado 02
Moro no assentamento renascer haacute 7 anos tenho 38 vim do interior do Cearaacute
Entrei na escola com 7 anos de idade estudei soacute a 5ordm seacuterie incompleta natildeo
continuei a estudar porque natildeo tinha escola a onde eu morava que era na roccedila e eu
tinha que ficar na casa dozotro (SIC) na cidade e eu natildeo gostava disso natildeo ai parei
com 16 anos de idade Mudamo (SIC) pra Brasiacutelia pra uma chaacutecara perto de Santa
Maria-DF e natildeo dei pra estudar porque casei e tinha que trabalhar muito para
susrentar a famiacutelia A gora moro no assentamento Renascer e sei que um dia vai ter
uma escola aqui e eu vou voltar a estudar porque meu sonho eacute ser veterinaacuterio e vou
der se deus quiser
Entrevistado 03
Tenho 58 anos moro no assentamento Renascer haacute 6 anos vim de Ceres-GO
comecei a estudar quando eu tinha 10 ano de idade estudei ateacute a 4ordf seria primaacuteria
(SIC) parei de estudar quando tinha 16 anos porque eu morava na roccedila e escola
ateacute que natildeo ficava muito longe natildeo era soacute 2 km dava pra ir a peacute a professora eacute que
faltava muito e a gente natildeo tinha como saber se ela tava ou natildeoAiacute quando eu tinha
18 anos casei e vim morar em Brasiacutelia e arranjei(SIC) emprego de caseira em uma
chaacutecara aiacute natildeo pra estudar a noite porque era muito longe pra laacute entatildeo eu natildeo
pensei mais nessas coisas Quando tiver escola no assentamento quero estudar
quiecirc pra mim (SIC) fazer curso de teacutecnico agriacutecolarsquorsquo
Entrevistado 04
Tenho 24 anos moro no assentamento Renascer tem 6 ano vim da Bahia morava
no Condomiacutenio RK entrei na escola com 7 anos de idade e estudei soacute ateacute a 6ordf seacuterie
parei com 18 anos de idade
Porque mudei pra caacute pro assentamento (SIC) e natildeo tem escola e natildeo tem como ir
pra Sobradinho a noite porque eacute muito longe tem que andar 5 km eacute pirigogo (SIC)
tem muita gente mal por aiacute tem ateacute estrupador natildeo posso me arriscar
ldquoSe tivesse escola aqui eu ia terminar meus estudos podia ser no galpatildeo mesmo
pra mim tava bom mas para os meus filhos eu queria uma escola boa com internet
e tudo Eu natildeo gosto que meus filhos estuda(SIC) na cidade soacute aceito porque eacute o
jeito gente de assentamento eacute muito zombado (SIC) porque as vezes chega suja
na escola e os outros acha que eles satildeo porcos que toma banhordquo
Entrevistado 05
51
Tenho 21 anos de idade moro no Renascer haacute trecircs anos vim de satildeo Gabriel-GO
comecei a estudar aos 7 anos parei com 18 anos porque minha matildee mudou
pro(SIC) matildee mudou pro (SIC) assentamento haacute 6 anos e eu natildeo aguento morar
longe dela Quando cheguei aqui natildeo teve como continuar os estudos porque
trabalho durante o dia como manicure em Sobradinho e o uacuteltimo ocircnibus que passa
perto do assentamento eacute as 5 horas da tarde entatildeo natildeo daacute para estudar a noite
Sim porque quero fazer um curso de cabelereiro quando tiver aacutegua e luz aqui eu
quero montar um salatildeo de beleza e para ser uma empresaacuteria precisa ter estudos pra
administrar o negoacutecio
Entrevistado 06
44 anos
6 anos
Formosa-GO
8 anos
5ordf seacuterie
24 anos
Porque a escola mais perto(SIC) era 10km de distacircncia e eu trabalhava na roccedila e
ficava muito cansado aiacute parei natildeo deu mais
Sim quando tiver escola aqui eu vou voltar a estudar Eu tinha um sonho de ser
agroacutenomo mas esse sonho eacute impussive(SIC) entatildeo queria concluir o ensino
fundamental para fazer um curso de teacutecnico agriacutecola no IFB mas tambeacutem eacute longe
se tivesse como estudar aqui no assentamento eu ia(SIC) ficar muito feliz
Entrevistado 07
57 anos
6 anos
Parnaiacuteba-PI- Santa Maria- DF
7 anos
4ordf seacuterie
21 anos
Parei porque era muito difiacutecil ir para escola que ficava muito longe eu tinha que sair
de casa as 4hs da madrugada para chegar na escola as 730 ia montado num
cavalo e muitas vezes natildeo tinha professora pra dar aula Parei porque natildeo aguentei
o rojatildeo tinha que minha matildee na lida a tarde e eu ficava muito cansado Vim pra
52
Brasiacutelia e casei fui trabalhar de chacareiro numa chaacutecara que tambeacutem era longe de
escola depois vim morar aqui no assentamento que natildeo tem escola
Se tivesse escola aqui eu ia voltar estudar soacute pra aprender a cuidar meior (SIC) da
terra e dos meus bichos e que fosse como uma escola agriacutecola
Entrevistado 08
Tenho 29 anos moro no assentamento Renascer haacute 2 anos sou educadora do
Pronera haacute 1 ano e 2 meses O Pronera eacute como um antidepressivo na vida de muita
gente o Pronera melhorou a minha vida e a vida dos meus alunos o desejo de
todos eacute que o Pronera continue crescendo em direccedilatildeo de uma educaccedilatildeo continuada
levando tambeacutem o ensino fundamental para os acampamentos e assentamentos da
Reforma Agraacuteria
-50-
Anexos
53
Acampamento agrave beira da estrada ndash 2004
Construccedilatildeo da Sede do Movimento na atual aacuterea
54
Reuniatildeo semanal
Teatro de fantoches ndash brinquedoteca
55
Accedilatildeo da Pastoral da Crianccedila na brinquedoteca
Oficina de brinquedos reciclaacuteveis
56
Brinquedo confeccionado com materiais reciclaacuteveis na Brinquedoteca
57
58
59
60
Apresentaccedilatildeo teatral
61
Capacitaccedilatildeo em Economia Solidaacuteria
Formaccedilatildeo de multiplicadores da Economia Solidaacuteria
62
Capacitaccedilatildeo de Educadores Ambientais
63
Luta pela Reforma Agraacuteria e Soberania Alimentar
24
experiecircncia lhes permite a possibilidade de defender mudanccedilas radicais tanto no
campo como na cidade tanto na ideologia quanto no combate ao latifuacutendio e ao
capitalismo
Tamanho movimento social gera a reflexatildeo sobre as relaccedilotildees
socioeconocircmicas politicas culturais cuidado da natureza relaccedilotildees humanas
destaques de tudo o que interessa ao coletivo agrave sociedade
Eacute por meio do entendimento de que a realidade eacute criaccedilatildeo humana de como se estabelecem os processos de opressatildeo e ainda da noccedilatildeo de que podemos transformar essa realidade dado que a sociedade eacute mutaacutevel que se forma a praacutexis da luta accedilatildeo-conscientizaccedilatildeo-transformaccedilatildeo-libertaccedilatildeo Inserindo-se criticamente na histoacuteria os cidadatildeos tornam-se sujeitos construtores e reconstrutores da realidaderdquo
Molina e Saacute (2012) nos ensinam a partir do conceito de escola do campo sobre a
potencialidade da vivencia de praacuteticas coletivas para a valorizaccedilatildeo integral dos
sujeitos da coletividade do conhecimento cientiacutefico da gestatildeo coletiva da escola
dentre tantos avanccedilos e vitoacuterias dos movimentos sociais
O processo ensino-aprendizagem permite que o conceito de escola extrapole
o cotidiano de dificuldades e desafia agrave reflexatildeo que gera a emancipaccedilatildeo
Este eacute um dos maiores desafios e ao mesmo tempo uma das maiores possibilidades da escola do campo articular os conhecimentos que os educandos tecircm o direito de acessar a partir do trabalho com a realidade da religaccedilatildeo entre educaccedilatildeo cultura e os conhecimentos cientiacuteficos a serem apreendidos em cada ciclo de vida e de diferentes aacutereas do conhecimento(MOLINA MOURAtildeO 2012 p 329) -26-
222 Princiacutepios da Educaccedilatildeo do Campo
Alguns princiacutepios viabilizam o projeto de escola adotado pelos movimentos
sociais e possibilitam a democracia e a integraccedilatildeo de todos lideranccedila assentados e
acampados do movimento
25
O princiacutepio da responsabilidade coletiva sobre o planejamento a gestatildeo a
organizaccedilatildeo e a realizaccedilatildeo de tarefas em todas as esferas de atividades princiacutepios
muito valorizados pelos movimentos sociais do campo foram transferidos para o
projeto de educaccedilatildeo
O projeto eacute de responsabilidade coletiva e insere educadores tanto a niacutevel
local como regional e nacional os ldquoColetivos de educaccedilatildeordquo como satildeo conhecidos
Os coletivos de educaccedilatildeo com tarefas forccedila orgacircnica e discussotildees especiacuteficas que podem variar a cada periacuteodo fortalecem o princiacutepio organizativo de que a questatildeo da educaccedilatildeo bem como outras questotildees da vida social assumidas pelo MST deve ser pensada e implantada de forma coletiva Eacute uma loacutegica que implica tarefas a serem realizadas pelas pessoas mas mediante um planejamento e uma leitura de conjuntura feita por um coletivo (KOLLING1995 et al p503)
Para concretizar o projeto de educaccedilatildeo foi concebida a formaccedilatildeo de
professores pelos proacuteprios movimentos no acircmbito da proacutepria comunidade
(conhecidos como ldquoprofessores leigosrdquo) e tambeacutem pela rede oficial de ensino
A falta de titulaccedilatildeo de muitos educadores formados na comunidade natildeo
impede que os mesmos trabalhem juntos com os professores titulados e com
simpatizantes do movimento no projeto poliacutetico-pedagoacutegico constituindo um
princiacutepio democraacutetico importante para superar as dificuldades e urgecircncias para a
implantaccedilatildeo da educaccedilatildeo do campo
A democracia do processo de formaccedilatildeo de educadores tem reflexos amplos
a formaccedilatildeo de educadores pelos proacuteprios movimentos especiacutefica para atuaccedilatildeo nas
escolas do campo
O movimento eacute responsaacutevel pela universalizaccedilatildeo do ensino no acircmbito dos
territoacuterios conquistados ou por conquistar e permitiu a evoluccedilatildeo do ensino ateacute o niacutevel
de terceiro grau com a realizaccedilatildeo de cursos como a Licenciatura em Educaccedilatildeo do
Campo (LEdoC) do qual somos os privilegiados alunos aqui na Universidade de
Brasiacutelia
Outro reconhecimento e prova de eficiecircncia da formaccedilatildeo de professores eacute o
precircmio ldquoEducaccedilatildeo e Participaccedilatildeordquo recebido em 1995 do Fundo das Naccedilotildees Unidas
para a Infacircncia (Unicef)
26
O somatoacuterio das forccedilas internas e externas do movimento ldquoleigasrdquo ou
tituladas associadas ao princiacutepio fundamental da participaccedilatildeo dos alunos e
comunidades em todos os niacuteveis e localidades eacute ponto fundamental para o sucesso
da concepccedilatildeo do projeto pois permite o estudo a reflexatildeo conjunta sobre
estrateacutegias para o alcance do objetivo de educaccedilatildeo na reforma agraacuteria
-25-
223 Marcos Normativos da Educaccedilatildeo do Campo
Numerosos Marcos Normativos podem ser citados para explicitar qual perfil
de escola destinada ao camponecircs interessava ao governo e aos proprietaacuterios rurais
A Lei 4024 de 1961 em seu art 105 estabelece o
Apoio que poderaacute ser prestado pelo poder puacuteblico agraves iniciativas que mantenham na zona rural instituiccedilotildees educativas orientadas para adaptar o homem ao meio e estimular vocaccedilotildees e atividades profissionais (BRASIL 2012 p 4)
A Lei 5692 de 1971 ao tratar da educaccedilatildeo rural ldquonatildeo observa mais uma vez
a inclusatildeo da populaccedilatildeo na condiccedilatildeo de protagonista de um projeto social globalrdquo
sendo que o trabalho do campo realizado por alunos eacute ateacute mesmo incentivado
adequando-o ao calendaacuterio escolar (MARCOS NORMATIVOSBrasiacutelia2012 p 25)
A Lei 9394 de 1996 (Lei das Diretrizes se Bases da Educaccedilatildeo ndash LDB) em
acordo com Constituiccedilatildeo de 1988 e ldquoinspirada de alguma forma numa concepccedilatildeo
de mundo rural enquanto espaccedilo especifico diferenciado e ao mesmo tempo
integrado no conjunto da sociedaderdquo reconhece
A diversidade soacutecio-cultural e o direito agrave igualdade e agrave diferenccedila possibilitando a definiccedilatildeo de diretrizes operacionais para educaccedilatildeo rural sem no entanto recorrer a uma logica exclusiva e de ruptura com um projeto global de educaccedilatildeo para o paiacutes (idem p 26)
27
Os artigos 208 e 210 da Carta Magna-1988 e inspirada de numa concepccedilatildeo
de mundo rural enquanto espaccedilo especiacutefico diferenciado e ao mesmo tempo
integrado no conjunto da sociedade a Lei 939496- LDB-estabelece que
Art 28 Na oferta da educaccedilatildeo baacutesica para a populaccedilatildeo rural os sistemas de ensino promoveratildeo as adapta necessaacuteria agrave sua adequaccedilatildeo agraves peculiaridades da vida rural e de cada regiatildeo especialmente (MARCOS NORMATIVOS) Brasiacutelia 2012 p 25)
1- Conteuacutedos organizar curriculares e metodologias apropriadas agraves reais
necessidades e interesses dos alunos da zona rural
2-organizaccedilatildeo escolar proacutepria incluindo a adequaccedilatildeo do calendaacuterio escolar as
fases do ciclo agriacutecola e as condiccedilotildees climaacuteticas
3-adequaccedilatildeo agrave natureza do trabalho na zona rural (MARCOS NORMATIVOS)
Brasiacutelia 2012( p 26)
O movimento de educaccedilatildeo do campo luta haacute quinze (15) anos para fazer-se
cumprir esse Decreto da Lei de Diretrizes de base da educaccedilatildeo do campo-LDB
que apesar de ser constitucional ainda natildeo foi colocada totalmente em praacutetica
Agora com as lutas dos movimentos sociais eacute que estaacute comeccedilando a se concretizar
Artigo 26 Os curriacuteculos do ensino fundamental e meacutedio devem ter uma base nacional comum a ser complementada em cada sistema de ensino e estabelecimento escolar por uma parte diversificada exigida pelas caracteriacutesticas regionais e locais da sociedade
da cultura da economia e da clientela (MARCOS NORMATIVOS) Brasiacutelia 2012(p 26)
O Decreto nordm 7352 de 4 de novembro 2010 dispotildee sobre a poliacutetica de educaccedilatildeo do campo ao Programa Nacional de Educaccedilatildeo
na Reforma Agraacuteria-PRONERA decreta
Art1ordm A poliacutetica de educaccedilatildeo do campo destina-
se agrave ampliaccedilatildeo e qualificaccedilatildeo da oferta de educaccedilatildeo baacutesica e superior agraves populaccedilotildees do campo e seraacute desenvolvida pela Uniatildeo em regime de colaboraccedilatildeo com os Estados o
28
Distrito Federal e os Municiacutepios de acordo com as diretrizes e metas estabelecidas no Plano Nacional de Educaccedilatildeo e o disposto neste Decreto
Para os efeitos deste Decreto entende-se por
l-populaccedilatildeo do campo os agricultores familiares os extrativistas os pescadores
artesanais os ribeirinhos os assentados e acampados da reforma agraacuteria os
trabalhadores assalariados rurais os quilombolas os caiccedilaras os povos da floresta
os caboclos e outros que produzam suas condiccedilotildees materiais de existecircncia a partir
do trabalho no meio rural
ll-escola do campo aquela situada em aacuterea rural conforme definida pela Fundaccedilatildeo
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica- IBGE ou aquela situada em aacuterea
urbana desde que atenda predominantemente a populaccedilatildeo do campo (MARCOS
NORMATIVOS) 2012( p 81)
No Decreto 6755 29 de janeiro de 2009 em seu art 2ordm estabelecida pelo Conselho
Nacional de Educaccedilatildeo que se refere as Diretrizes Operacionais da Educaccedilatildeo do
Campo o parecer da alternacircncia
A formaccedilatildeo de professores poderaacute ser feita concomitantemente agrave atuaccedilatildeo profissional de acordo com metodologias adequadas inclusive a pedagogia da alternacircncia e sem prejuiacutezo de outras que atendam agraves especificidades da educaccedilatildeo do campo e por meio de atividades de ensino pesquisa e extensatildeo (MARCOS NORMATIVOS) 2012( p84)
-26-
29
-
231 A educaccedilatildeo do campo e poliacutetica puacuteblica - o PRONERA
O amadurecimento adquirido pela luta sobre o papel da educaccedilatildeo aliado agrave
iniciativa do aproveitamento do trabalho das professoras ldquoleigasrdquo e ainda da
consciecircncia cada vez mais presente do dever do Estado em prover os cidadatildeos da
reforma agraacuteria de poliacuteticas puacuteblicas resultou no campo da educaccedilatildeo na criaccedilatildeo do
Programa Nacional de Educaccedilatildeo na Reforma Agraacuteria (PRONERA)
O PRONERA envolve formalmente jovens e adultos num projeto conjunto
com universidades e institutos federais em prol da formaccedilatildeo de educadores para o
trabalho em escolas dos assentamentos da reforma agraacuteria e seu entorno
O Programa foi criado em 1998 no momento da ascensatildeo dos conflitos pela
reforma agraacuteria o que propiciou que os movimentos sociais trouxessem para a
opiniatildeo puacuteblica suas mazelas
No campo da educaccedilatildeo foi denunciada a falta de escola a precariedade do
ensino a falta de profissionais do ensino a ldquoloacutegica de negaccedilatildeo histoacuterica do direito
aos camponeses de acesso aos niacuteveis mais elevados de escolaridade ( SANTOS
2012 pag 630)
A partir de 2005 o ensino oferecido pelo PRONERA eacute estendido ao niacutevel
meacutedio e superior como a Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo e a Residecircncia
30
Agraacuteria O PRONERA evoluiu para outros patamares tais como ldquopossibilidades de
ressignificaccedilatildeo do conteuacutedo e da metodologia dos processos de educaccedilatildeo formal
por meio dos princiacutepios baacutesicos da participaccedilatildeo e da multiplicaccedilatildeordquo (SANTOS 2012
p 631)
A participaccedilatildeo das comunidades e suas organizaccedilotildees e a multiplicaccedilatildeo de
alfabetizados formados educadores e demais profissionais ligados agraves poliacuteticas
puacuteblicas para a Reforma Agraacuteria gerou ampla participaccedilatildeo dos agentes envolvidos
na dinacircmica do processo ensino-aprendizagem
Essa forma de gestatildeo gerou reaccedilatildeo contraacuteria ldquoagrave gestatildeo colegiada e coletiva
notadamente agrave participaccedilatildeo direta dos movimentos sociais e sindicais do campordquo
considerados ldquoentes estranhos agrave administraccedilatildeo puacuteblicardquo (CLARICE p 634)
O envolvimento dos movimentos sociais e sindicais do campo natildeo
retrocederam em sua luta pelo envolvimento de todos os interessados na educaccedilatildeo
como elemento emancipatoacuterio e continuam formulando princiacutepios concepccedilotildees e
diretrizes para a escola do campo
-31-
31
Terceiro Capiacutetulo
A histoacuteria do Assentamento Renascer
31 Uma breve histoacuteria de luta
A histoacuteria do Assentamento Renascer natildeo parece ser diferente da histoacuteria de
outros assentamentos Brasil afora Partiu da reivindicaccedilatildeo de Trabalhadores Rurais
sem Terra que desde 2004 ocuparam as margens da Rodovia DF 330 que liga
Sobradinho ao Paranoaacute-DF
Tatildeo perto do centro do poder a apenas poucos quilocircmetros do Palaacutecio da
Alvorada ou da Sede do INCRA o Acampamento Renascer esteve ateacute oito (08) de
maio de 2009 tatildeo distante da decisatildeo poliacutetica pela Reforma Agraacuteria
Somente nesta data trezentos sessenta e um( 361) de terras devolutas da
Uniatildeo foram repassadas ao INCRA para assentar as famiacutelias aliacute acampadas Ficou
criado o assentamento Renascer fora da beira da estrada
O Assentamento Renascer ldquorenasceurdquo da dificuldade de vida sob o barraco de
madeira sem aacutegua sem luz sem saneamento baacutesico que fez com que tantos
desistissem ao longo do caminho e ainda hoje se encontra nessa mesma
precariedade um descaso por parte do poder puacuteblico
A luta em vaacuterios momentos da vida dos acampados parecia estar vencida Os
vencedores pareciam ser a burocracia o desrespeito as noites mal dormidas a
inseguranccedila a falta de perspectivas para o acampado e suas famiacutelias
Duzentas (200) famiacutelias viveram aliacute por cinco anos (05) de 2004 ateacute 2009
Atualmente satildeo cento e vinte (120) famiacutelias que moram na aacuterea destinada e estatildeo
em processo de assentamento Muitas delas poreacutem vencidas pelo cansaccedilo e pelas
condiccedilotildees de vida abandonaram a luta mas todas as famiacutelias as que se foram e as
que ficaram sonharam com a terra onde poderiam produzir viam no pedaccedilo de chatildeo
os frutos do pomar da horta o galinheiro o pasto
O Assentamento Renascer eacute o Brasil Eacute um pedacinho da cruel realidade que
como vimos neste trabalho marcou a sociedade brasileira desde a escravidatildeo
desde o primeiro grito de rebeldia do quilombo desde o primeiro que lutou contra os
coroneacuteis por divisatildeo da terra como as Ligas Camponesas contra o latifuacutendio como
os movimentos sociais em sua luta pela reforma agraacuteria desde vaacuterias geraccedilotildees
32
Eacute como todo e qualquer movimento social que surgiu neste paiacutes desde a
deacutecada de 1980 pela reforma agraacuteria Viveu e ainda vive as dificuldades de ser
acampadoassentado mas honra sua luta porque natildeo desiste faacutecil
O Assentamento Renascer eacute tambeacutem fruto do ecircxodo rural da industrializaccedilatildeo
do campo da monocultura e da concentraccedilatildeo de terras Foram expulsos do campo
para a periferia das cidades sem capacitaccedilatildeo sem estudo
A falta de escolarizaccedilatildeo eacute sem duacutevida uma caracteriacutestica de quase todos os
que vieram do campo para a cidade A realidade do Brasil eacute que o campo natildeo eacute
escolarizado as escolas no campo satildeo poucas satildeo despreparadas satildeo
desvalorizadas
-33-
32 As escolas no campo na vivencia do assentado do Assentamento
Renascer
As escolas no campo marcaram profundamente a vida dos poucos que a
frequentaram Quase todos tiveram que trocar o laacutepis pela enxada a carteira pela
roccedila desde muito pequenos Alguns natildeo muito poucos conforme os depoimentos
aqui relatados teriam que abandonar a enxada e a participaccedilatildeo no sustento da
famiacutelia para frequentar a escola Quase sempre abandonaram a escola para ficar no
trabalho com a enxada
Todos teriam que andar vaacuterios quilocircmetros para ir agrave escola Outros nem assim
conseguiriam frequentar a escola no campo ela simplesmente natildeo existia no
campo Teriam entatildeo que ir para a cidade para ter direito a uma escola
Muitos tambeacutem vivenciaram os traumas que uma escola tradicional e
descomprometida com os valores e responsabilidades do projeto educacional
castigos humilhaccedilotildees afastaram a muitos da escola
Alguns apenas sonharam e sonham com a escola ldquoAh a escolardquo Tatildeo longe
inacessiacutevel para tantos no Brasil afora Ao ver de algumas pessoas do
Assentamento Renascer ldquoSe tivesse jeito eu teria ido agrave escola tinha feito pelo
menos o ensino fundamental completo para que eu pudesse ingressar no curso
33
teacutecnico-agriacutecola Mas agora quero que meus filhos e netos vatildeo para a escola
aprender ser algueacutem na vidardquo
-34-
321 A escola no entorno do Assentamento Renascer
A ideia de lutar pela educaccedilatildeo veio antes da ideia de lutar pela escola como
espaccedilo conquistado pelo acampamento Encontrar uma escola perto do
acampamento com transporte escolar com vagas e horaacuterios acessiacuteveis para os que
trabalham o dia todo era entendido como uma necessidade baacutesica e uma grande
vitoacuteria
Ficava-se feliz se apesar das dificuldades fosse possiacutevel matricular pelo
menos as crianccedilas As dificuldades eram e ainda satildeo muitas o transporte escolar
era e eacute precaacuterio a poeira natildeo permite que os alunos cheguem limpos agrave escola os
buracos e as poccedilas daacutegua impedem a chegada do ocircnibus escolar durante as
chuvas No caso do ocircnibus que levam os alunos ateacute a Escola Classe do Coacuterrego do
Arrozal em eacutepoca de muita chuva os ocircnibus ateacute o iniacutecio de 2014 natildeo conseguiam
transitar Isto resulta no fato de que as crianccedilas precisam caminhar debaixo de
chuva ateacute a escola
-35-
322 O caminho para a produccedilatildeo do saber no Assentamento Renascer a
brinquedoteca a integraccedilatildeo social a biblioteca comunitaacuteria as manifestaccedilotildees
culturais
Ao longo dos anos de vivecircncia e convivecircncia no Acampamento Renascer
mediante a dificuldade e necessidade de estudar que sentimos na nossa proacutepria
vida foi despontando a ideia de prover as crianccedilas de atividades luacutedicas e
educativas
34
Logo no iniacutecio do acampamento por volta de 2005 por iniciativa de algumas
pessoas conscientes da necessidade de atividades luacutedicas para as crianccedilas foi
criada uma brinquedoteca
Inicialmente os brinquedos eram de materiais reciclaacuteveis como garrafas pet
telefones sem fio carrinhos bonecas petecas vai e vem cavalinhos tudo era
confeccionado com a participaccedilatildeo das crianccedilas na modalidade de oficina
incentivando-os a fabricar os seus proacuteprios brinquedos Os brinquedos eram
confeccionados a partir de materiais encontrados nos lugares de descarte perto do
acampamento e doaccedilotildees de pessoas que passavam pela estrada
O embriatildeo de um processo educacional que nunca se interrompeu estava
lanccedilado a brinquedoteca proporcionou a criatividade e a participaccedilatildeo de crianccedilas e
adultos marcando as atividades pela conscientizaccedilatildeo do cuidado com a natureza e a
importacircncia da reciclagem A educaccedilatildeo ambiental jaacute era praticada desde o
nascimento do acampamento Renascer
Este primeiro passo foi muito importante porque traduziu para o dia a dia do
acampamento os princiacutepios da escola do campo atuante para mudar a realidade
criar cidadatildeos conscientes e dispostos a mudar a realidade a partir da sua proacutepria
accedilatildeo Este eacute o processo de transformaccedilatildeo social dentro do acampamento Renascer
haacute tanto tempo atraacutes
Aos brinquedos reciclados pela proacutepria comunidade juntaram-se outros
presenteados por instituiccedilotildees como igrejas ONGs a Pastoral da Crianccedila e pessoas
interessadas no bem estar daquelas crianccedilas
Percebe-se em iniciativas como essas a importacircncia da educaccedilatildeo nos
diversos niacuteveis para a sociedade A integraccedilatildeo de pessoas com as atividades
educativas no acampamento nos faz lembrar sobre um grande sonho das escolas
hoje integrar a comunidade de modo a que todos defendam a escola
O sucesso de iniciativas como a brinquedoteca que integravam crianccedilas
adolescentes adultos e sociedade foi importante para outras iniciativas igualmente
importantes
Foi-se criando um projeto educacional para o acampamento sem que se
tivesse consciecircncia disso por faltar informaccedilatildeo que soacute agora se possui graccedilas aos
estudos na Universidade o galpatildeo comunitaacuterio foi utilizado para abrigar a
35
brinquedoteca para desenvolver grupos de teatro de crianccedilas e adultos e para
abrigar a biblioteca
A biblioteca recebeu inuacutemeros exemplares de livros infantis livros didaacuteticos
para os adolescentes e adultos literatura universal revistas dos mais variados
assuntos criando assim um espaccedilo comunitaacuterio de informaccedilatildeo lazer e
entretenimento
Com a criaccedilatildeo da biblioteca ficou evidente a importacircncia da alfabetizaccedilatildeo de
crianccedilas jovens e adultos Muitos acampados relatavam a vontade e a necessidade
de aprender a ler e a escrever Muitos reivindicavam o direito agrave educaccedilatildeo e
frequecircncia agrave escola ainda que o acampamento mudasse de ldquoendereccedilordquo tantas
vezes
Outros poreacutem natildeo acreditavam que seria possiacutevel aprender ou aperfeiccediloar a
leitura e a escrita nas condiccedilotildees de vida de um acampado
Vaacuterias atividades culturais foram desenvolvidas (e ainda satildeo) no
Acampamento Renascer Todas chamavam a atenccedilatildeo da comunidade local de
outras comunidades vizinhas garantindo a simpatia de chacareiros que levavam os
filhos para participarem das atividades
Uma das atividades mais apreciadas foi o Teatro de Fantoches inspirados em
faacutebulas muitas com a autoria da Pastoral da Crianccedila e da Faber Castel A
participaccedilatildeo da comunidade na atividade era intensa e voluntaacuteria todos queriam
manipular os fantoches participar cantando danccedilando ou prestando muita atenccedilatildeo
O teatro de transformaccedilatildeo social produzido pelos adultos e adolescentes
utilizavam tambeacutem materiais reciclaacuteveis demonstrando cuidado com o meio
ambiente e amadurecimento dos conceitos poliacuteticos e pedagoacutegicos gerando reflexatildeo
sobre os temas sociais que nos atingem no cotidiano
A miacutestica adotada pelos movimentos sociais com o objetivo de reflexatildeo satildeo
apresentadas em datas comemorativas e contam com o apoio e participaccedilatildeo de
muitos
Algumas festas fazem parte da tradiccedilatildeo do Acampamento Renascer
traduzindo para a realidade atual as antigas festas a que todos foram acostumados
em seus lugares de origem
Pode-se dizer que a comunidade aprecia muito as festas Mas duas em
particular satildeo muito respeitadas a festa das crianccedilas que ocorre durante o dia (12
36
de outubro) eacute concorrida pois a comunidade se esmera para oferecer os brinquedos
que as crianccedilas amam pula-pula palhaccedilos pintura de rosto piscina de sabatildeo e
muita oferta de comida coisas que as crianccedilas adoram
No mesmo dia ocorre agrave noite a festa da Nossa Senhora Aparecida com
missa e muito forroacute
No mecircs de marccedilo eacute comemorada a Festa da Pamonha em comemoraccedilatildeo agrave
boa colheita do milho Esta festa jaacute se tornou tradicional conhecida em todo o
entorno do assentamento Egrave uma festa importante porque confraterniza a
comunidade Renascer com as comunidades vizinhas e ateacute mesmo as cidades de
Sobradinho Paranoaacute e Planaltina
Os movimentos sociais necessitam ser admirados pela sociedade e festas
como estas chamam a atenccedilatildeo para o problema da reforma agraacuteria demonstrando
que ela eacute viaacutevel e que os assentados tecircm simpatia competecircncia e seus saberes do
campo
A festa ldquojulinardquo eacute outra festa muito apreciada que apresenta as tradiccedilotildees rurais
e religiosas como quadrilhas e bandas de forroacute da comunidade e vizinhanccedila A
danccedila eacute um dos pontos fortes da festa assim como as comidas tradicionais muitas
delas com ingredientes colhidos no acampamento
Vaacuterios grupos de atividades teatrais apresentaram-se na localidade com
participaccedilatildeo de palhaccedilos lembrando um espetaacuteculo circense Alguns desses
grupos inclusive tiveram seus trabalhos premiados
Outras atividades com fundo educativo tiveram participaccedilatildeo animada de
crianccedilas e adultos A exibiccedilatildeo de desenhos animados recentemente apresentados
no cinema eram um grande atrativo para a comunidade que se via socialmente
incluiacuteda Esta inclusatildeo aumentava a autoestima das crianccedilas principalmente pois
assim elas poderiam interagir com os colegas da escola conversando a respeito dos
filmes
A Economia Solidaacuteria eacute uma das formas de inserccedilatildeo dos membros da
comunidade agrave sociedade economicamente ativa Atraveacutes da cooperaccedilatildeo solidaacuteria eacute
possiacutevel o comercio justo agriacutecolas ou artesanais sob conceitos antes
desconhecidos enquanto forma de produccedilatildeo e consumo centrado na valorizaccedilatildeo do
ser humano em contraposiccedilatildeo agraves formas capitalistas de produccedilatildeo e conscientizaccedilatildeo
37
Ao longo dos doze (12) anos de luta pela educaccedilatildeo foram promovidos
diversos cursos que capacitaram multiplicadores que fazem um trabalho importante
para a comunidade
A ideia de autogestatildeo democracia cooperaccedilatildeo auxilia natildeo soacute as formas de
produccedilatildeo e comercio de bens e artesanatos mas tambeacutem auxiliam na formaccedilatildeo
integral de pessoas em que tanto o produtor como o consumidor tem o proposito de
ganhos financeiros segundo um criteacuterio de valorizaccedilatildeo do trabalho
Proposito de formar uma nova consciecircncia a Economia Solidaacuteria promoveu
cursos de Soberania Alimentar em que a comunidade recebeu noccedilotildees praacuteticas
sobre alimentaccedilatildeo a partir da produccedilatildeo local de modo a promover uma nova cultura
alimentar que visa o combate agraves doenccedilas crocircnicas Outro proposito eacute tornar a
comunidade criacutetica em relaccedilatildeo agrave publicidade de produtos alimentiacutecio supeacuterfluo que
induz agraves crianccedilas e adultos alimentarem-se incorretamente
A comunidade participou coletivamente da implantaccedilatildeo de uma unidade da
tecnologia social denominada Produccedilatildeo Agroecoloacutegica Integrada e Sustentaacutevel
(PAIS) em 2012 com o objetivo de produzir alimentos saudaacuteveis e preservar o meio
ambiente trazendo mais alimentos e renda ao campo Esta tecnologia popularmente
conhecida como ldquohorta mandalardquo foi ministrada durante o curso de capacitaccedilatildeo
promovido pela Fundaccedilatildeo Banco do Brasil e teve o meacuterito de proporcionar o debate
e a participaccedilatildeo democraacutetica na definiccedilatildeo das culturas a serem cultivadas na futura
propriedade Vale informar que o assentamento Renascer identificou-se com esse
paradigma agroecoloacutegico
A educaccedilatildeo ambiental faz parte do dia a dia da comunidade hoje preserva-se
conservaccedilatildeo das formas de vida vegetais e animais na regiatildeo do assentamento e
entorno
A produccedilatildeo de mudas no viveiro eacute bastante concorrida contando com a
participaccedilatildeo de todos O viveiro produz cinco mil (5000) mudas de espeacutecies nativa
do cerrado para o reflorestamento das nascentes de aacutegua e nas aacutereas degradadas
da regiatildeo Contam com o apoio da FUNATURA FUNDACcedilAtildeO BANCO DO BRASIL
IFB Rio Satildeo Bartolomeu Vivo e UnB
-36-
38
39
Quarto Capiacutetulo
A escola que queremos expectativas e sonhos dos
acampados do Assentamento Renascer
Pode-se observar pelas falas dos entrevistados que a realidade de todos
converge para os problemas estruturais do Brasil faltam escolas no campo eacute baixa
a escolaridade em Brasiacutelia todos exercem atividades de subemprego
Todos tecircm grandes expectativas com relaccedilatildeo agrave vida futura no assentamento
objetivando melhores condiccedilotildees de vida na esperanccedila de serem beneficiaacuterios
enquanto cidadatildeos assentados das Poliacuteticas Puacuteblicas e financiamentos agriacutecolas
voltadas para a agricultura familiar como PRONAF PAA PNAE e PAPA-DF Vecircem
aiacute a possibilidade de emprego e renda situaccedilatildeo sonhada desde quando foram
pleitear a terra para reforma agraacuteria
Um olhar mais aprofundado sobre a anaacutelise de dados revela que natildeo importa o
fato de hoje residirem no DF pois como em qualquer lugar de origem os moradores
do assentamento Renascer vivenciam os mesmos problemas Percebe-se
claramente as dificuldades da inexistecircncia de escola no campo A distacircncia continua
impedindo o acesso os meios de transportes continuam precaacuterios os filhos
vivenciam a dificuldade de transferecircncia para a cidade na expectativa de
continuidade dos estudos as estradas rurais continuam esburacadas
Satildeo muitos os pontos em comum entre a situaccedilatildeo atual relatada e os problemas
vividos haacute deacutecadas em seus estados de origem o que deixa transparecer a absoluta
falta de interesse por parte do poder puacuteblico em garantir o direito constitucional agrave
educaccedilatildeo do povo do campo o que infelizmente continuaraacute deixando o triste
legado para o futuro do paiacutes
40
Repetimos a pergunta da inicial Cadecirc as escolas do campo Ateacute quando o paiacutes
vai viver essa situaccedilatildeo A anaacutelise de dados responde Natildeo eacute mais possiacutevel
continuar como estaacute
Todos os entrevistados pretendem alcanccedilar conhecimentos atraveacutes da escola do
campo implantada no Assentamento Renascer com objetivos de administrar a
propriedade participar ativamente do coletivo garantir renda fixa atraveacutes dos
programas de desenvolvimento da agricultura familiar
Os entrevistados unanimamente tecircm a preocupaccedilatildeo da manutenccedilatildeo dos laccedilos
familiares e das raiacutezes camponesas
A distacircncia entre a moradia e a escola fato relatado pela quase totalidade dos
entrevistados constitui um grande motivo de evasatildeo escolar de defasagem nas
seacuteries frequentadas de precariedade na aprendizagem em relaccedilatildeo aos demais
alunos A discriminaccedilatildeo alegada por muitos que frequentaram ou frequentam
escolas fora da faixa etaacuteria o vernaacuteculo proacuteprio dos sujeitos do campo as condiccedilotildees
precaacuterias da estrada que denunciam a condiccedilatildeo de assentado o sentimento de
inadequaccedilatildeo constituem fatores que determinam a evasatildeo escolar
Foram treze (13) entrevistados significando aproximadamente dez por cento
(10) dos moradores do Assentamento Renascer Desse total apenas dois (2)
entrevistados natildeo declararam dificuldade de distacircncia entre a moradia e a escola em
seus lugares de origem A maioria absoluta (11) pessoas declararam que a distacircncia
dificultava e impedia o acesso agrave escola Alguns relatos apresentam situaccedilotildees
precaacuterias para o homem do campo o assentado
Para o aluno do campo a distacircncia da escola tem o significado de inexistecircncia de
escola Isto porque as dificuldades de acesso satildeo enormes No caso em estudo
apenas um entrevistado declarou a inexistecircncia de escola em sua regiatildeo de
moradia Este poreacutem vivenciou todas as dificuldades de acesso que outros
assentados apresentaram em razatildeo da distacircncia moradiaescola
A falta de professores na escola rural eacute relatada por 11 dos 13 entrevistados A
distacircncia da escola para os professores dificulta segundo a vivecircncia dos
entrevistados o acesso agrave escola e a assiduidade o que muito desmotivava a
ambos
41
Os entrevistados conforme anaacutelise de dados desejam muito objetivamente a
implantaccedilatildeo imediata de escolas segundo os criteacuterios caracteriacutesticos de escola do
campo
- Trazer a realidade para dentro da escola do campo curriacuteculos voltados para o
cotidiano do aluno do campo onde as teacutecnicas agriacutecolas pecuaacuterias e agroecoloacutegicas
possam fazer parte do processo educativo da comunidade e que a escola tenha
uma gestatildeo coletiva democraacutetica com a participaccedilatildeo da comunidade
- Ter o trabalho como princiacutepio educativo A experiecircncia do aluno deve
harmonizar-se com os princiacutepios pistrakianos significar o trabalho de forma a que
ele apresente benefiacutecios para o proacuteprio indiviacuteduo para a comunidade na qual estaacute
inserido e para a sociedade e natildeo exclusivamente para servir ao capitalismo
-Superar a fragmentaccedilatildeo do conhecimento disciplinar A interdisciplinaridade
deve fazer parte dos objetivos educacionais de modo a promover a formaccedilatildeo
integral dos educandos
- Valorizar os saberes do homem do campo Os entrevistados desejam uma
escola onde possam exercitar sua vivecircncia campesina e a relaccedilatildeo dialoacutegica entre
professor-aluno seguindo a pedagogia de Paulo Freire o educando quer aprender
com o educador mas quer tambeacutem ter a oportunidade de transmitir seus saberes
- Promover espaccedilos de gestatildeo coletiva A proacutepria comunidade deve participar da
gestatildeo a elaboraccedilatildeo do PPP deve gerir o espaccedilo fiacutesico da escola para atividades
de interesse da comunidade ocupar espaccedilos para finalidades culturais esportivas
sociais tornando a escola um espaccedilo democraacutetico
- Garantir a presenccedila da comunidade e dos movimentos sociais que geram
processos que auxiliam a emancipaccedilatildeo social A escola deve tambeacutem ser espaccedilo
que auxilie a sustentabilidade e garanta a alimentaccedilatildeo saudaacutevel e recursos
fitoteraacutepicos em associaccedilatildeo com a comunidade
- Inclusatildeo tecnoloacutegica em todos os aspectos digital inovaccedilatildeo tecnoloacutegica
agropecuaacuteria recursos ambientais alternativos agua potaacutevel energia solar energia
eoacutelica fossa seacuteptica teacutecnicas de compostagem saneamento baacutesico cuidados com
os recursos hiacutedricos
A anaacutelise dos dados quando feita especificamente sobre a escola a ser
implantada pode aparentemente demonstrar uma pequena conexatildeo com as teorias
da escola do campo
42
A concepccedilatildeo da escola do campo natildeo pode ser imposta ela parte do princiacutepio
que os camponeses devem conquista-la Para essa conquista eacute necessaacuteria a
paixatildeo o desejo por algo ainda natildeo experimentado o amadurecimento poliacutetico-
social-pessoal a participaccedilatildeo coletiva na luta e na conquista
A trajetoacuteria de luta por educaccedilatildeo da comunidade Renascer apresenta estes
elementos agraves vezes difusos outras vezes mais claramente A escola bem que
poderia para alguns ser apenas uma escola rural Afinal aprender a ler e a
escrever ldquodireitordquo como alguns dizem ou seja deixar a condiccedilatildeo de analfabeto ou
analfabeto funcional para tornar-se letrado significaria avanccedilos em face das atuais
circunstacircncias Alguns entendem assim expressando-se principalmente nas
conversas informais
Apesar disso quando as respostas informais ou quando as respostas das
entrevistas satildeo analisadas mais profundamente identificamos que embora
difusamente todos desejam o programa educacional da escola do campo
Explicando melhor a participaccedilatildeo de todos da comunidade em todas as atividades
soacutecio-poliacuteticas-culturais (relatadas no terceiro capitulo) indicam que a comunidade
assimilou a postura soacutecio-politica-cultural que caracterizam a escola do campo
A vivecircncia do Assentamento Renascer no cotidiano e nos eventos coletivos
amadureceu o desejo pelo alimento intelectual cultural artiacutestico ambiental social
que a concepccedilatildeo de escola do campo introduz O programa educacional da Escola
do Campo ultrapassou as paredes fiacutesicas da escola e alcanccedilou o cotidiano dos
assentados
Os avanccedilos da conscientizaccedilatildeo e seu reflexo na vida do Assentamento Renascer
satildeo sentidos nos nuacutemeros de matriculados na LEdoC sete (7) alunos
aproximadamente dez (10) assentados prestaratildeo o proacuteximo vestibular trecircs (3)
assentados estatildeo matriculados no IFB dois(2) assentados estatildeo formados em
Teacutecnico Agropecuaacuterio tambeacutem pelo IFB um deles cursa o Tecnoacutelogo de
Agroecologia tambeacutem do IFB
Vale acrescentar que no iniacutecio de 2014 quando o IFB buscou no Assentamento
pessoas interessadas em matricular-se em seus cursos sob a condiccedilatildeo de
estudarem no ensino meacutedio o interesse foi grande e a impossibilidade pelo fato de
natildeo estarem habilitados no ensino fundamental provocou tanta discussatildeo que
estimulou essa pesquisa
43
O legado desses alunos futuros alunos e profissionais para o futuro do
Assentamento apresentaraacute resultados significativos para toda a comunidade O
futuro colheraacute bons frutos plantados agora
A escola que temos natildeo estaacute funcionando falta a renovaccedilatildeo do contrato o que
atrasa a alfabetizaccedilatildeo e conclusatildeo do 5ordm ano Falta a implantaccedilatildeo de poliacuteticas
puacuteblicas para atendimento de questotildees baacutesicas como por exemplo carteiras
quadro de giz iluminaccedilatildeo espaccedilo fiacutesico (dependecircncias para a escola) e mobiliaacuterio
-41-
44
Consideraccedilotildees Finais
A Educaccedilatildeo do campo eacute um movimento em que os trabalhadores do campo e
suas organizaccedilotildees lutam por transformaccedilotildees sociais particularmente a criaccedilatildeo de
escolas dono campo de qualidade a partir de uma perspectiva ampla de reforma
agraacuteria
A construccedilatildeo da educaccedilatildeo do campo eacute resultado do amadurecimento dos
movimentos sociais e das comunidades rurais em sua trajetoacuteria de luta pelo direito
fundamental agrave universalizaccedilatildeo escolar para as populaccedilotildees camponesas segundo
orientaccedilatildeo poliacutetico-pedagoacutegica adequada agrave realidade dos lutadores de
acampamentos e assentamentos em luta pela reforma agraacuteria e justiccedila social
Alguns princiacutepios caracterizam a luta pela escola do campo Dentre eles
podemos citar a criaccedilatildeo da consciecircncia do direito agrave educaccedilatildeo de qualidade plantada
na proacutepria comunidade o que provoca o enraizamento a valorizaccedilatildeo da vida no
campo a promoccedilatildeo da autoestima e a transformaccedilatildeo do ser alienado pela ideologia
e desigualdade social e sujeito de sua proacutepria histoacuteria
Outro princiacutepio eacute a adequaccedilatildeo de curriacuteculos agrave realidade camponesa de modo
a que o processo ensino-aprendizagem favoreccedila o amadurecimento de talentos
naturais o surgimento de oportunidades a niacutevel pessoal e social contribuindo para a
emancipaccedilatildeo poliacutetico-social do indiviacuteduo com reflexos na sociedade
A mudanccedila de paradigmas e o envolvimento social provocam a formaccedilatildeo integral
dos sujeitos que lutam de forma coletiva e solidaacuteria pela terra A escola do campo
que surge dessa mudanccedila eacute tambeacutem transformadora porque eacute fruto da luta
consciente que gera a reflexatildeo e o amadurecimento poliacutetico deixando um legado
positivo de cidadatildeos orgulhosos de sua condiccedilatildeo de lutador pela terra de sua
identidade de sua cultura de sua comunidade e coletividade
A escola do campo propicia aos alunos a reflexatildeo sobre o contexto social e a
problemaacutetica da comunidade em que estatildeo inseridos o respeito agrave individualidade a
ampliaccedilatildeo das potencialidades do aluno para organizar elaborar e atuar
coletivamente Deixam o legado futuro de homens responsaacuteveis mentes
independentes e atuantes que poderatildeo prestar serviccedilos significativos agrave sociedade
45
A comunidade assentada de o Assentamento Renascer pela Reforma
Agraacuteria em Sobradinho DF foi convidada a opinar sobre a escola que deseja a
partir da conquista da terra
O modelo proposto a partir de seu posicionamento possibilita a conclusatildeo
de que a escola do campo plantada na comunidade eacute preferiacutevel ao modelo
adotado atualmente de inserccedilatildeo dos alunos da comunidade agraves escolas urbanas
conter recursos materiais e humanos que propiciem bons resultados
pedagoacutegicos deve servir para fixar o trabalhador ao campo deve cumprir com o
propoacutesito constitucional de universalizaccedilatildeo do ensino para todas as faixas
etaacuterias deve estar identificada com os sonhos de prosperidade material e
realizaccedilatildeo pessoal dos assentados
-46-
46
Referecircncias Bibliograacuteficas
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47
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48
Apecircndices
1 Roteiro das Entrevistas
a) Dados dos entrevistados
Qual o seu nome
Masculino ( ) Feminino ( )
Quantos anos vocecirc tecircm
A quanto tempo mora no
assentamento
Onde vocecirc morou antes
de morar no
assentamento
Quantos anos vocecirc tinha
quando foi a escola pela
primeira vez
Estou ateacute qual seacuterieano
Quantos anos vocecirc tinha
quando parou de estudar
Qual motivo motivou vocecirc
a parar de estudar
Se tiver escola no
assentamento vocecirc voltaraacute
a estudar Porque
B) Outras informaccedilotildees dados pelos entrevistadosas (GRAVAR)
a) Em qual escola vocecirc estudou no acampamento ou em outro lugar Qual
b) Como era a escola que estudou Quais as coisas boas e coisas ruins que
tinha nesta escola
c) Conte como eacutefoi a educaccedilatildeo do assentamento o que jaacute existiu de escola
como funcionou e quais eram as boas e as coisas ruins desta escola
d) Jaacute participou de alguma accedilatildeo de mobilizaccedilatildeo para ter escola no
assentamento Se sim explique para que e como foi essa mobilizaccedilatildeo
e) Na sua opiniatildeo no assentamento deve ter escola Por quecirc
f) Como deveraacute ser a escola da comunidadeassentamento Como eacute a escola
que queremos ter
49
b) Entrevistas semi-estruturadas
Entrevistado 01
Moro no assentamento Renascer haacute 11 anos Nasci Carnauacuteba no Rio Grande do
Norte fui criado na roccedila e desde pequeno trabalhava na lavoura para ajudar meu
pai Fui para escola com 9 anos de idade estudei ateacute a 5ordm seacuterie parei de estudar
com 17 anos natildeo continuei os estudos porque era muito longe de onde eu morva
que era na cidade mais proacutexima eu tinha que andar a peacute 8 km ficava muito
cansado Casei e vim morar em Brasiacutelia para trabalhar em uma chaacutecara como
caseiro Morava na chaacutecara Buritis em sobradinho- Df tambeacutem natildeo dei para
continuar os estudos porque ficava longe e tinha que ser a noite e natildeo tinha como ir
Se vier uma escola pra caacute eu ainda vou estudar para ter mais conhecimento para
plantar minha roccedila ir no banco pra ver se assino um empreacutestimo para melhorar
minha produccedilatildeo e saber fazer conta pra administrar minha parcela de terra
Qual o seu nome
Masculino ( X ) Feminino ( )
Quantos anos vocecirc
tecircm
57 anos
A quanto tempo
mora no assentamento
11 anos
Onde vocecirc morou
antes de morar no
assentamento
Carnauacuteba ndash RN
Chaacutecara Buritis nordm 10 Sobradinho DF
Quantos anos vocecirc
tinha quando foi a escola
pela primeira vez
8 anos
Estou ateacute qual
seacuterieano
5ordf seacuterie
Quantos anos vocecirc
tinha quando parou de
estudar
24 anos
Qual motivo
motivou vocecirc a parar de
estudar
Trabalhar para sustento da famiacutelia a
distacircncia entre a casa e a escola
Se tiver escola no
assentamento vocecirc voltaraacute
a estudar Porque
Sim ldquoSe tivesse escola do ensino
fundamental voltaria a estudar para tecirc
mais conhecimento para plantar minha roccedila
50
saber pesar saber contar vendecirc os produto e
comecirc
Entrevistado 02
Moro no assentamento renascer haacute 7 anos tenho 38 vim do interior do Cearaacute
Entrei na escola com 7 anos de idade estudei soacute a 5ordm seacuterie incompleta natildeo
continuei a estudar porque natildeo tinha escola a onde eu morava que era na roccedila e eu
tinha que ficar na casa dozotro (SIC) na cidade e eu natildeo gostava disso natildeo ai parei
com 16 anos de idade Mudamo (SIC) pra Brasiacutelia pra uma chaacutecara perto de Santa
Maria-DF e natildeo dei pra estudar porque casei e tinha que trabalhar muito para
susrentar a famiacutelia A gora moro no assentamento Renascer e sei que um dia vai ter
uma escola aqui e eu vou voltar a estudar porque meu sonho eacute ser veterinaacuterio e vou
der se deus quiser
Entrevistado 03
Tenho 58 anos moro no assentamento Renascer haacute 6 anos vim de Ceres-GO
comecei a estudar quando eu tinha 10 ano de idade estudei ateacute a 4ordf seria primaacuteria
(SIC) parei de estudar quando tinha 16 anos porque eu morava na roccedila e escola
ateacute que natildeo ficava muito longe natildeo era soacute 2 km dava pra ir a peacute a professora eacute que
faltava muito e a gente natildeo tinha como saber se ela tava ou natildeoAiacute quando eu tinha
18 anos casei e vim morar em Brasiacutelia e arranjei(SIC) emprego de caseira em uma
chaacutecara aiacute natildeo pra estudar a noite porque era muito longe pra laacute entatildeo eu natildeo
pensei mais nessas coisas Quando tiver escola no assentamento quero estudar
quiecirc pra mim (SIC) fazer curso de teacutecnico agriacutecolarsquorsquo
Entrevistado 04
Tenho 24 anos moro no assentamento Renascer tem 6 ano vim da Bahia morava
no Condomiacutenio RK entrei na escola com 7 anos de idade e estudei soacute ateacute a 6ordf seacuterie
parei com 18 anos de idade
Porque mudei pra caacute pro assentamento (SIC) e natildeo tem escola e natildeo tem como ir
pra Sobradinho a noite porque eacute muito longe tem que andar 5 km eacute pirigogo (SIC)
tem muita gente mal por aiacute tem ateacute estrupador natildeo posso me arriscar
ldquoSe tivesse escola aqui eu ia terminar meus estudos podia ser no galpatildeo mesmo
pra mim tava bom mas para os meus filhos eu queria uma escola boa com internet
e tudo Eu natildeo gosto que meus filhos estuda(SIC) na cidade soacute aceito porque eacute o
jeito gente de assentamento eacute muito zombado (SIC) porque as vezes chega suja
na escola e os outros acha que eles satildeo porcos que toma banhordquo
Entrevistado 05
51
Tenho 21 anos de idade moro no Renascer haacute trecircs anos vim de satildeo Gabriel-GO
comecei a estudar aos 7 anos parei com 18 anos porque minha matildee mudou
pro(SIC) matildee mudou pro (SIC) assentamento haacute 6 anos e eu natildeo aguento morar
longe dela Quando cheguei aqui natildeo teve como continuar os estudos porque
trabalho durante o dia como manicure em Sobradinho e o uacuteltimo ocircnibus que passa
perto do assentamento eacute as 5 horas da tarde entatildeo natildeo daacute para estudar a noite
Sim porque quero fazer um curso de cabelereiro quando tiver aacutegua e luz aqui eu
quero montar um salatildeo de beleza e para ser uma empresaacuteria precisa ter estudos pra
administrar o negoacutecio
Entrevistado 06
44 anos
6 anos
Formosa-GO
8 anos
5ordf seacuterie
24 anos
Porque a escola mais perto(SIC) era 10km de distacircncia e eu trabalhava na roccedila e
ficava muito cansado aiacute parei natildeo deu mais
Sim quando tiver escola aqui eu vou voltar a estudar Eu tinha um sonho de ser
agroacutenomo mas esse sonho eacute impussive(SIC) entatildeo queria concluir o ensino
fundamental para fazer um curso de teacutecnico agriacutecola no IFB mas tambeacutem eacute longe
se tivesse como estudar aqui no assentamento eu ia(SIC) ficar muito feliz
Entrevistado 07
57 anos
6 anos
Parnaiacuteba-PI- Santa Maria- DF
7 anos
4ordf seacuterie
21 anos
Parei porque era muito difiacutecil ir para escola que ficava muito longe eu tinha que sair
de casa as 4hs da madrugada para chegar na escola as 730 ia montado num
cavalo e muitas vezes natildeo tinha professora pra dar aula Parei porque natildeo aguentei
o rojatildeo tinha que minha matildee na lida a tarde e eu ficava muito cansado Vim pra
52
Brasiacutelia e casei fui trabalhar de chacareiro numa chaacutecara que tambeacutem era longe de
escola depois vim morar aqui no assentamento que natildeo tem escola
Se tivesse escola aqui eu ia voltar estudar soacute pra aprender a cuidar meior (SIC) da
terra e dos meus bichos e que fosse como uma escola agriacutecola
Entrevistado 08
Tenho 29 anos moro no assentamento Renascer haacute 2 anos sou educadora do
Pronera haacute 1 ano e 2 meses O Pronera eacute como um antidepressivo na vida de muita
gente o Pronera melhorou a minha vida e a vida dos meus alunos o desejo de
todos eacute que o Pronera continue crescendo em direccedilatildeo de uma educaccedilatildeo continuada
levando tambeacutem o ensino fundamental para os acampamentos e assentamentos da
Reforma Agraacuteria
-50-
Anexos
53
Acampamento agrave beira da estrada ndash 2004
Construccedilatildeo da Sede do Movimento na atual aacuterea
54
Reuniatildeo semanal
Teatro de fantoches ndash brinquedoteca
55
Accedilatildeo da Pastoral da Crianccedila na brinquedoteca
Oficina de brinquedos reciclaacuteveis
56
Brinquedo confeccionado com materiais reciclaacuteveis na Brinquedoteca
57
58
59
60
Apresentaccedilatildeo teatral
61
Capacitaccedilatildeo em Economia Solidaacuteria
Formaccedilatildeo de multiplicadores da Economia Solidaacuteria
62
Capacitaccedilatildeo de Educadores Ambientais
63
Luta pela Reforma Agraacuteria e Soberania Alimentar
25
O princiacutepio da responsabilidade coletiva sobre o planejamento a gestatildeo a
organizaccedilatildeo e a realizaccedilatildeo de tarefas em todas as esferas de atividades princiacutepios
muito valorizados pelos movimentos sociais do campo foram transferidos para o
projeto de educaccedilatildeo
O projeto eacute de responsabilidade coletiva e insere educadores tanto a niacutevel
local como regional e nacional os ldquoColetivos de educaccedilatildeordquo como satildeo conhecidos
Os coletivos de educaccedilatildeo com tarefas forccedila orgacircnica e discussotildees especiacuteficas que podem variar a cada periacuteodo fortalecem o princiacutepio organizativo de que a questatildeo da educaccedilatildeo bem como outras questotildees da vida social assumidas pelo MST deve ser pensada e implantada de forma coletiva Eacute uma loacutegica que implica tarefas a serem realizadas pelas pessoas mas mediante um planejamento e uma leitura de conjuntura feita por um coletivo (KOLLING1995 et al p503)
Para concretizar o projeto de educaccedilatildeo foi concebida a formaccedilatildeo de
professores pelos proacuteprios movimentos no acircmbito da proacutepria comunidade
(conhecidos como ldquoprofessores leigosrdquo) e tambeacutem pela rede oficial de ensino
A falta de titulaccedilatildeo de muitos educadores formados na comunidade natildeo
impede que os mesmos trabalhem juntos com os professores titulados e com
simpatizantes do movimento no projeto poliacutetico-pedagoacutegico constituindo um
princiacutepio democraacutetico importante para superar as dificuldades e urgecircncias para a
implantaccedilatildeo da educaccedilatildeo do campo
A democracia do processo de formaccedilatildeo de educadores tem reflexos amplos
a formaccedilatildeo de educadores pelos proacuteprios movimentos especiacutefica para atuaccedilatildeo nas
escolas do campo
O movimento eacute responsaacutevel pela universalizaccedilatildeo do ensino no acircmbito dos
territoacuterios conquistados ou por conquistar e permitiu a evoluccedilatildeo do ensino ateacute o niacutevel
de terceiro grau com a realizaccedilatildeo de cursos como a Licenciatura em Educaccedilatildeo do
Campo (LEdoC) do qual somos os privilegiados alunos aqui na Universidade de
Brasiacutelia
Outro reconhecimento e prova de eficiecircncia da formaccedilatildeo de professores eacute o
precircmio ldquoEducaccedilatildeo e Participaccedilatildeordquo recebido em 1995 do Fundo das Naccedilotildees Unidas
para a Infacircncia (Unicef)
26
O somatoacuterio das forccedilas internas e externas do movimento ldquoleigasrdquo ou
tituladas associadas ao princiacutepio fundamental da participaccedilatildeo dos alunos e
comunidades em todos os niacuteveis e localidades eacute ponto fundamental para o sucesso
da concepccedilatildeo do projeto pois permite o estudo a reflexatildeo conjunta sobre
estrateacutegias para o alcance do objetivo de educaccedilatildeo na reforma agraacuteria
-25-
223 Marcos Normativos da Educaccedilatildeo do Campo
Numerosos Marcos Normativos podem ser citados para explicitar qual perfil
de escola destinada ao camponecircs interessava ao governo e aos proprietaacuterios rurais
A Lei 4024 de 1961 em seu art 105 estabelece o
Apoio que poderaacute ser prestado pelo poder puacuteblico agraves iniciativas que mantenham na zona rural instituiccedilotildees educativas orientadas para adaptar o homem ao meio e estimular vocaccedilotildees e atividades profissionais (BRASIL 2012 p 4)
A Lei 5692 de 1971 ao tratar da educaccedilatildeo rural ldquonatildeo observa mais uma vez
a inclusatildeo da populaccedilatildeo na condiccedilatildeo de protagonista de um projeto social globalrdquo
sendo que o trabalho do campo realizado por alunos eacute ateacute mesmo incentivado
adequando-o ao calendaacuterio escolar (MARCOS NORMATIVOSBrasiacutelia2012 p 25)
A Lei 9394 de 1996 (Lei das Diretrizes se Bases da Educaccedilatildeo ndash LDB) em
acordo com Constituiccedilatildeo de 1988 e ldquoinspirada de alguma forma numa concepccedilatildeo
de mundo rural enquanto espaccedilo especifico diferenciado e ao mesmo tempo
integrado no conjunto da sociedaderdquo reconhece
A diversidade soacutecio-cultural e o direito agrave igualdade e agrave diferenccedila possibilitando a definiccedilatildeo de diretrizes operacionais para educaccedilatildeo rural sem no entanto recorrer a uma logica exclusiva e de ruptura com um projeto global de educaccedilatildeo para o paiacutes (idem p 26)
27
Os artigos 208 e 210 da Carta Magna-1988 e inspirada de numa concepccedilatildeo
de mundo rural enquanto espaccedilo especiacutefico diferenciado e ao mesmo tempo
integrado no conjunto da sociedade a Lei 939496- LDB-estabelece que
Art 28 Na oferta da educaccedilatildeo baacutesica para a populaccedilatildeo rural os sistemas de ensino promoveratildeo as adapta necessaacuteria agrave sua adequaccedilatildeo agraves peculiaridades da vida rural e de cada regiatildeo especialmente (MARCOS NORMATIVOS) Brasiacutelia 2012 p 25)
1- Conteuacutedos organizar curriculares e metodologias apropriadas agraves reais
necessidades e interesses dos alunos da zona rural
2-organizaccedilatildeo escolar proacutepria incluindo a adequaccedilatildeo do calendaacuterio escolar as
fases do ciclo agriacutecola e as condiccedilotildees climaacuteticas
3-adequaccedilatildeo agrave natureza do trabalho na zona rural (MARCOS NORMATIVOS)
Brasiacutelia 2012( p 26)
O movimento de educaccedilatildeo do campo luta haacute quinze (15) anos para fazer-se
cumprir esse Decreto da Lei de Diretrizes de base da educaccedilatildeo do campo-LDB
que apesar de ser constitucional ainda natildeo foi colocada totalmente em praacutetica
Agora com as lutas dos movimentos sociais eacute que estaacute comeccedilando a se concretizar
Artigo 26 Os curriacuteculos do ensino fundamental e meacutedio devem ter uma base nacional comum a ser complementada em cada sistema de ensino e estabelecimento escolar por uma parte diversificada exigida pelas caracteriacutesticas regionais e locais da sociedade
da cultura da economia e da clientela (MARCOS NORMATIVOS) Brasiacutelia 2012(p 26)
O Decreto nordm 7352 de 4 de novembro 2010 dispotildee sobre a poliacutetica de educaccedilatildeo do campo ao Programa Nacional de Educaccedilatildeo
na Reforma Agraacuteria-PRONERA decreta
Art1ordm A poliacutetica de educaccedilatildeo do campo destina-
se agrave ampliaccedilatildeo e qualificaccedilatildeo da oferta de educaccedilatildeo baacutesica e superior agraves populaccedilotildees do campo e seraacute desenvolvida pela Uniatildeo em regime de colaboraccedilatildeo com os Estados o
28
Distrito Federal e os Municiacutepios de acordo com as diretrizes e metas estabelecidas no Plano Nacional de Educaccedilatildeo e o disposto neste Decreto
Para os efeitos deste Decreto entende-se por
l-populaccedilatildeo do campo os agricultores familiares os extrativistas os pescadores
artesanais os ribeirinhos os assentados e acampados da reforma agraacuteria os
trabalhadores assalariados rurais os quilombolas os caiccedilaras os povos da floresta
os caboclos e outros que produzam suas condiccedilotildees materiais de existecircncia a partir
do trabalho no meio rural
ll-escola do campo aquela situada em aacuterea rural conforme definida pela Fundaccedilatildeo
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica- IBGE ou aquela situada em aacuterea
urbana desde que atenda predominantemente a populaccedilatildeo do campo (MARCOS
NORMATIVOS) 2012( p 81)
No Decreto 6755 29 de janeiro de 2009 em seu art 2ordm estabelecida pelo Conselho
Nacional de Educaccedilatildeo que se refere as Diretrizes Operacionais da Educaccedilatildeo do
Campo o parecer da alternacircncia
A formaccedilatildeo de professores poderaacute ser feita concomitantemente agrave atuaccedilatildeo profissional de acordo com metodologias adequadas inclusive a pedagogia da alternacircncia e sem prejuiacutezo de outras que atendam agraves especificidades da educaccedilatildeo do campo e por meio de atividades de ensino pesquisa e extensatildeo (MARCOS NORMATIVOS) 2012( p84)
-26-
29
-
231 A educaccedilatildeo do campo e poliacutetica puacuteblica - o PRONERA
O amadurecimento adquirido pela luta sobre o papel da educaccedilatildeo aliado agrave
iniciativa do aproveitamento do trabalho das professoras ldquoleigasrdquo e ainda da
consciecircncia cada vez mais presente do dever do Estado em prover os cidadatildeos da
reforma agraacuteria de poliacuteticas puacuteblicas resultou no campo da educaccedilatildeo na criaccedilatildeo do
Programa Nacional de Educaccedilatildeo na Reforma Agraacuteria (PRONERA)
O PRONERA envolve formalmente jovens e adultos num projeto conjunto
com universidades e institutos federais em prol da formaccedilatildeo de educadores para o
trabalho em escolas dos assentamentos da reforma agraacuteria e seu entorno
O Programa foi criado em 1998 no momento da ascensatildeo dos conflitos pela
reforma agraacuteria o que propiciou que os movimentos sociais trouxessem para a
opiniatildeo puacuteblica suas mazelas
No campo da educaccedilatildeo foi denunciada a falta de escola a precariedade do
ensino a falta de profissionais do ensino a ldquoloacutegica de negaccedilatildeo histoacuterica do direito
aos camponeses de acesso aos niacuteveis mais elevados de escolaridade ( SANTOS
2012 pag 630)
A partir de 2005 o ensino oferecido pelo PRONERA eacute estendido ao niacutevel
meacutedio e superior como a Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo e a Residecircncia
30
Agraacuteria O PRONERA evoluiu para outros patamares tais como ldquopossibilidades de
ressignificaccedilatildeo do conteuacutedo e da metodologia dos processos de educaccedilatildeo formal
por meio dos princiacutepios baacutesicos da participaccedilatildeo e da multiplicaccedilatildeordquo (SANTOS 2012
p 631)
A participaccedilatildeo das comunidades e suas organizaccedilotildees e a multiplicaccedilatildeo de
alfabetizados formados educadores e demais profissionais ligados agraves poliacuteticas
puacuteblicas para a Reforma Agraacuteria gerou ampla participaccedilatildeo dos agentes envolvidos
na dinacircmica do processo ensino-aprendizagem
Essa forma de gestatildeo gerou reaccedilatildeo contraacuteria ldquoagrave gestatildeo colegiada e coletiva
notadamente agrave participaccedilatildeo direta dos movimentos sociais e sindicais do campordquo
considerados ldquoentes estranhos agrave administraccedilatildeo puacuteblicardquo (CLARICE p 634)
O envolvimento dos movimentos sociais e sindicais do campo natildeo
retrocederam em sua luta pelo envolvimento de todos os interessados na educaccedilatildeo
como elemento emancipatoacuterio e continuam formulando princiacutepios concepccedilotildees e
diretrizes para a escola do campo
-31-
31
Terceiro Capiacutetulo
A histoacuteria do Assentamento Renascer
31 Uma breve histoacuteria de luta
A histoacuteria do Assentamento Renascer natildeo parece ser diferente da histoacuteria de
outros assentamentos Brasil afora Partiu da reivindicaccedilatildeo de Trabalhadores Rurais
sem Terra que desde 2004 ocuparam as margens da Rodovia DF 330 que liga
Sobradinho ao Paranoaacute-DF
Tatildeo perto do centro do poder a apenas poucos quilocircmetros do Palaacutecio da
Alvorada ou da Sede do INCRA o Acampamento Renascer esteve ateacute oito (08) de
maio de 2009 tatildeo distante da decisatildeo poliacutetica pela Reforma Agraacuteria
Somente nesta data trezentos sessenta e um( 361) de terras devolutas da
Uniatildeo foram repassadas ao INCRA para assentar as famiacutelias aliacute acampadas Ficou
criado o assentamento Renascer fora da beira da estrada
O Assentamento Renascer ldquorenasceurdquo da dificuldade de vida sob o barraco de
madeira sem aacutegua sem luz sem saneamento baacutesico que fez com que tantos
desistissem ao longo do caminho e ainda hoje se encontra nessa mesma
precariedade um descaso por parte do poder puacuteblico
A luta em vaacuterios momentos da vida dos acampados parecia estar vencida Os
vencedores pareciam ser a burocracia o desrespeito as noites mal dormidas a
inseguranccedila a falta de perspectivas para o acampado e suas famiacutelias
Duzentas (200) famiacutelias viveram aliacute por cinco anos (05) de 2004 ateacute 2009
Atualmente satildeo cento e vinte (120) famiacutelias que moram na aacuterea destinada e estatildeo
em processo de assentamento Muitas delas poreacutem vencidas pelo cansaccedilo e pelas
condiccedilotildees de vida abandonaram a luta mas todas as famiacutelias as que se foram e as
que ficaram sonharam com a terra onde poderiam produzir viam no pedaccedilo de chatildeo
os frutos do pomar da horta o galinheiro o pasto
O Assentamento Renascer eacute o Brasil Eacute um pedacinho da cruel realidade que
como vimos neste trabalho marcou a sociedade brasileira desde a escravidatildeo
desde o primeiro grito de rebeldia do quilombo desde o primeiro que lutou contra os
coroneacuteis por divisatildeo da terra como as Ligas Camponesas contra o latifuacutendio como
os movimentos sociais em sua luta pela reforma agraacuteria desde vaacuterias geraccedilotildees
32
Eacute como todo e qualquer movimento social que surgiu neste paiacutes desde a
deacutecada de 1980 pela reforma agraacuteria Viveu e ainda vive as dificuldades de ser
acampadoassentado mas honra sua luta porque natildeo desiste faacutecil
O Assentamento Renascer eacute tambeacutem fruto do ecircxodo rural da industrializaccedilatildeo
do campo da monocultura e da concentraccedilatildeo de terras Foram expulsos do campo
para a periferia das cidades sem capacitaccedilatildeo sem estudo
A falta de escolarizaccedilatildeo eacute sem duacutevida uma caracteriacutestica de quase todos os
que vieram do campo para a cidade A realidade do Brasil eacute que o campo natildeo eacute
escolarizado as escolas no campo satildeo poucas satildeo despreparadas satildeo
desvalorizadas
-33-
32 As escolas no campo na vivencia do assentado do Assentamento
Renascer
As escolas no campo marcaram profundamente a vida dos poucos que a
frequentaram Quase todos tiveram que trocar o laacutepis pela enxada a carteira pela
roccedila desde muito pequenos Alguns natildeo muito poucos conforme os depoimentos
aqui relatados teriam que abandonar a enxada e a participaccedilatildeo no sustento da
famiacutelia para frequentar a escola Quase sempre abandonaram a escola para ficar no
trabalho com a enxada
Todos teriam que andar vaacuterios quilocircmetros para ir agrave escola Outros nem assim
conseguiriam frequentar a escola no campo ela simplesmente natildeo existia no
campo Teriam entatildeo que ir para a cidade para ter direito a uma escola
Muitos tambeacutem vivenciaram os traumas que uma escola tradicional e
descomprometida com os valores e responsabilidades do projeto educacional
castigos humilhaccedilotildees afastaram a muitos da escola
Alguns apenas sonharam e sonham com a escola ldquoAh a escolardquo Tatildeo longe
inacessiacutevel para tantos no Brasil afora Ao ver de algumas pessoas do
Assentamento Renascer ldquoSe tivesse jeito eu teria ido agrave escola tinha feito pelo
menos o ensino fundamental completo para que eu pudesse ingressar no curso
33
teacutecnico-agriacutecola Mas agora quero que meus filhos e netos vatildeo para a escola
aprender ser algueacutem na vidardquo
-34-
321 A escola no entorno do Assentamento Renascer
A ideia de lutar pela educaccedilatildeo veio antes da ideia de lutar pela escola como
espaccedilo conquistado pelo acampamento Encontrar uma escola perto do
acampamento com transporte escolar com vagas e horaacuterios acessiacuteveis para os que
trabalham o dia todo era entendido como uma necessidade baacutesica e uma grande
vitoacuteria
Ficava-se feliz se apesar das dificuldades fosse possiacutevel matricular pelo
menos as crianccedilas As dificuldades eram e ainda satildeo muitas o transporte escolar
era e eacute precaacuterio a poeira natildeo permite que os alunos cheguem limpos agrave escola os
buracos e as poccedilas daacutegua impedem a chegada do ocircnibus escolar durante as
chuvas No caso do ocircnibus que levam os alunos ateacute a Escola Classe do Coacuterrego do
Arrozal em eacutepoca de muita chuva os ocircnibus ateacute o iniacutecio de 2014 natildeo conseguiam
transitar Isto resulta no fato de que as crianccedilas precisam caminhar debaixo de
chuva ateacute a escola
-35-
322 O caminho para a produccedilatildeo do saber no Assentamento Renascer a
brinquedoteca a integraccedilatildeo social a biblioteca comunitaacuteria as manifestaccedilotildees
culturais
Ao longo dos anos de vivecircncia e convivecircncia no Acampamento Renascer
mediante a dificuldade e necessidade de estudar que sentimos na nossa proacutepria
vida foi despontando a ideia de prover as crianccedilas de atividades luacutedicas e
educativas
34
Logo no iniacutecio do acampamento por volta de 2005 por iniciativa de algumas
pessoas conscientes da necessidade de atividades luacutedicas para as crianccedilas foi
criada uma brinquedoteca
Inicialmente os brinquedos eram de materiais reciclaacuteveis como garrafas pet
telefones sem fio carrinhos bonecas petecas vai e vem cavalinhos tudo era
confeccionado com a participaccedilatildeo das crianccedilas na modalidade de oficina
incentivando-os a fabricar os seus proacuteprios brinquedos Os brinquedos eram
confeccionados a partir de materiais encontrados nos lugares de descarte perto do
acampamento e doaccedilotildees de pessoas que passavam pela estrada
O embriatildeo de um processo educacional que nunca se interrompeu estava
lanccedilado a brinquedoteca proporcionou a criatividade e a participaccedilatildeo de crianccedilas e
adultos marcando as atividades pela conscientizaccedilatildeo do cuidado com a natureza e a
importacircncia da reciclagem A educaccedilatildeo ambiental jaacute era praticada desde o
nascimento do acampamento Renascer
Este primeiro passo foi muito importante porque traduziu para o dia a dia do
acampamento os princiacutepios da escola do campo atuante para mudar a realidade
criar cidadatildeos conscientes e dispostos a mudar a realidade a partir da sua proacutepria
accedilatildeo Este eacute o processo de transformaccedilatildeo social dentro do acampamento Renascer
haacute tanto tempo atraacutes
Aos brinquedos reciclados pela proacutepria comunidade juntaram-se outros
presenteados por instituiccedilotildees como igrejas ONGs a Pastoral da Crianccedila e pessoas
interessadas no bem estar daquelas crianccedilas
Percebe-se em iniciativas como essas a importacircncia da educaccedilatildeo nos
diversos niacuteveis para a sociedade A integraccedilatildeo de pessoas com as atividades
educativas no acampamento nos faz lembrar sobre um grande sonho das escolas
hoje integrar a comunidade de modo a que todos defendam a escola
O sucesso de iniciativas como a brinquedoteca que integravam crianccedilas
adolescentes adultos e sociedade foi importante para outras iniciativas igualmente
importantes
Foi-se criando um projeto educacional para o acampamento sem que se
tivesse consciecircncia disso por faltar informaccedilatildeo que soacute agora se possui graccedilas aos
estudos na Universidade o galpatildeo comunitaacuterio foi utilizado para abrigar a
35
brinquedoteca para desenvolver grupos de teatro de crianccedilas e adultos e para
abrigar a biblioteca
A biblioteca recebeu inuacutemeros exemplares de livros infantis livros didaacuteticos
para os adolescentes e adultos literatura universal revistas dos mais variados
assuntos criando assim um espaccedilo comunitaacuterio de informaccedilatildeo lazer e
entretenimento
Com a criaccedilatildeo da biblioteca ficou evidente a importacircncia da alfabetizaccedilatildeo de
crianccedilas jovens e adultos Muitos acampados relatavam a vontade e a necessidade
de aprender a ler e a escrever Muitos reivindicavam o direito agrave educaccedilatildeo e
frequecircncia agrave escola ainda que o acampamento mudasse de ldquoendereccedilordquo tantas
vezes
Outros poreacutem natildeo acreditavam que seria possiacutevel aprender ou aperfeiccediloar a
leitura e a escrita nas condiccedilotildees de vida de um acampado
Vaacuterias atividades culturais foram desenvolvidas (e ainda satildeo) no
Acampamento Renascer Todas chamavam a atenccedilatildeo da comunidade local de
outras comunidades vizinhas garantindo a simpatia de chacareiros que levavam os
filhos para participarem das atividades
Uma das atividades mais apreciadas foi o Teatro de Fantoches inspirados em
faacutebulas muitas com a autoria da Pastoral da Crianccedila e da Faber Castel A
participaccedilatildeo da comunidade na atividade era intensa e voluntaacuteria todos queriam
manipular os fantoches participar cantando danccedilando ou prestando muita atenccedilatildeo
O teatro de transformaccedilatildeo social produzido pelos adultos e adolescentes
utilizavam tambeacutem materiais reciclaacuteveis demonstrando cuidado com o meio
ambiente e amadurecimento dos conceitos poliacuteticos e pedagoacutegicos gerando reflexatildeo
sobre os temas sociais que nos atingem no cotidiano
A miacutestica adotada pelos movimentos sociais com o objetivo de reflexatildeo satildeo
apresentadas em datas comemorativas e contam com o apoio e participaccedilatildeo de
muitos
Algumas festas fazem parte da tradiccedilatildeo do Acampamento Renascer
traduzindo para a realidade atual as antigas festas a que todos foram acostumados
em seus lugares de origem
Pode-se dizer que a comunidade aprecia muito as festas Mas duas em
particular satildeo muito respeitadas a festa das crianccedilas que ocorre durante o dia (12
36
de outubro) eacute concorrida pois a comunidade se esmera para oferecer os brinquedos
que as crianccedilas amam pula-pula palhaccedilos pintura de rosto piscina de sabatildeo e
muita oferta de comida coisas que as crianccedilas adoram
No mesmo dia ocorre agrave noite a festa da Nossa Senhora Aparecida com
missa e muito forroacute
No mecircs de marccedilo eacute comemorada a Festa da Pamonha em comemoraccedilatildeo agrave
boa colheita do milho Esta festa jaacute se tornou tradicional conhecida em todo o
entorno do assentamento Egrave uma festa importante porque confraterniza a
comunidade Renascer com as comunidades vizinhas e ateacute mesmo as cidades de
Sobradinho Paranoaacute e Planaltina
Os movimentos sociais necessitam ser admirados pela sociedade e festas
como estas chamam a atenccedilatildeo para o problema da reforma agraacuteria demonstrando
que ela eacute viaacutevel e que os assentados tecircm simpatia competecircncia e seus saberes do
campo
A festa ldquojulinardquo eacute outra festa muito apreciada que apresenta as tradiccedilotildees rurais
e religiosas como quadrilhas e bandas de forroacute da comunidade e vizinhanccedila A
danccedila eacute um dos pontos fortes da festa assim como as comidas tradicionais muitas
delas com ingredientes colhidos no acampamento
Vaacuterios grupos de atividades teatrais apresentaram-se na localidade com
participaccedilatildeo de palhaccedilos lembrando um espetaacuteculo circense Alguns desses
grupos inclusive tiveram seus trabalhos premiados
Outras atividades com fundo educativo tiveram participaccedilatildeo animada de
crianccedilas e adultos A exibiccedilatildeo de desenhos animados recentemente apresentados
no cinema eram um grande atrativo para a comunidade que se via socialmente
incluiacuteda Esta inclusatildeo aumentava a autoestima das crianccedilas principalmente pois
assim elas poderiam interagir com os colegas da escola conversando a respeito dos
filmes
A Economia Solidaacuteria eacute uma das formas de inserccedilatildeo dos membros da
comunidade agrave sociedade economicamente ativa Atraveacutes da cooperaccedilatildeo solidaacuteria eacute
possiacutevel o comercio justo agriacutecolas ou artesanais sob conceitos antes
desconhecidos enquanto forma de produccedilatildeo e consumo centrado na valorizaccedilatildeo do
ser humano em contraposiccedilatildeo agraves formas capitalistas de produccedilatildeo e conscientizaccedilatildeo
37
Ao longo dos doze (12) anos de luta pela educaccedilatildeo foram promovidos
diversos cursos que capacitaram multiplicadores que fazem um trabalho importante
para a comunidade
A ideia de autogestatildeo democracia cooperaccedilatildeo auxilia natildeo soacute as formas de
produccedilatildeo e comercio de bens e artesanatos mas tambeacutem auxiliam na formaccedilatildeo
integral de pessoas em que tanto o produtor como o consumidor tem o proposito de
ganhos financeiros segundo um criteacuterio de valorizaccedilatildeo do trabalho
Proposito de formar uma nova consciecircncia a Economia Solidaacuteria promoveu
cursos de Soberania Alimentar em que a comunidade recebeu noccedilotildees praacuteticas
sobre alimentaccedilatildeo a partir da produccedilatildeo local de modo a promover uma nova cultura
alimentar que visa o combate agraves doenccedilas crocircnicas Outro proposito eacute tornar a
comunidade criacutetica em relaccedilatildeo agrave publicidade de produtos alimentiacutecio supeacuterfluo que
induz agraves crianccedilas e adultos alimentarem-se incorretamente
A comunidade participou coletivamente da implantaccedilatildeo de uma unidade da
tecnologia social denominada Produccedilatildeo Agroecoloacutegica Integrada e Sustentaacutevel
(PAIS) em 2012 com o objetivo de produzir alimentos saudaacuteveis e preservar o meio
ambiente trazendo mais alimentos e renda ao campo Esta tecnologia popularmente
conhecida como ldquohorta mandalardquo foi ministrada durante o curso de capacitaccedilatildeo
promovido pela Fundaccedilatildeo Banco do Brasil e teve o meacuterito de proporcionar o debate
e a participaccedilatildeo democraacutetica na definiccedilatildeo das culturas a serem cultivadas na futura
propriedade Vale informar que o assentamento Renascer identificou-se com esse
paradigma agroecoloacutegico
A educaccedilatildeo ambiental faz parte do dia a dia da comunidade hoje preserva-se
conservaccedilatildeo das formas de vida vegetais e animais na regiatildeo do assentamento e
entorno
A produccedilatildeo de mudas no viveiro eacute bastante concorrida contando com a
participaccedilatildeo de todos O viveiro produz cinco mil (5000) mudas de espeacutecies nativa
do cerrado para o reflorestamento das nascentes de aacutegua e nas aacutereas degradadas
da regiatildeo Contam com o apoio da FUNATURA FUNDACcedilAtildeO BANCO DO BRASIL
IFB Rio Satildeo Bartolomeu Vivo e UnB
-36-
38
39
Quarto Capiacutetulo
A escola que queremos expectativas e sonhos dos
acampados do Assentamento Renascer
Pode-se observar pelas falas dos entrevistados que a realidade de todos
converge para os problemas estruturais do Brasil faltam escolas no campo eacute baixa
a escolaridade em Brasiacutelia todos exercem atividades de subemprego
Todos tecircm grandes expectativas com relaccedilatildeo agrave vida futura no assentamento
objetivando melhores condiccedilotildees de vida na esperanccedila de serem beneficiaacuterios
enquanto cidadatildeos assentados das Poliacuteticas Puacuteblicas e financiamentos agriacutecolas
voltadas para a agricultura familiar como PRONAF PAA PNAE e PAPA-DF Vecircem
aiacute a possibilidade de emprego e renda situaccedilatildeo sonhada desde quando foram
pleitear a terra para reforma agraacuteria
Um olhar mais aprofundado sobre a anaacutelise de dados revela que natildeo importa o
fato de hoje residirem no DF pois como em qualquer lugar de origem os moradores
do assentamento Renascer vivenciam os mesmos problemas Percebe-se
claramente as dificuldades da inexistecircncia de escola no campo A distacircncia continua
impedindo o acesso os meios de transportes continuam precaacuterios os filhos
vivenciam a dificuldade de transferecircncia para a cidade na expectativa de
continuidade dos estudos as estradas rurais continuam esburacadas
Satildeo muitos os pontos em comum entre a situaccedilatildeo atual relatada e os problemas
vividos haacute deacutecadas em seus estados de origem o que deixa transparecer a absoluta
falta de interesse por parte do poder puacuteblico em garantir o direito constitucional agrave
educaccedilatildeo do povo do campo o que infelizmente continuaraacute deixando o triste
legado para o futuro do paiacutes
40
Repetimos a pergunta da inicial Cadecirc as escolas do campo Ateacute quando o paiacutes
vai viver essa situaccedilatildeo A anaacutelise de dados responde Natildeo eacute mais possiacutevel
continuar como estaacute
Todos os entrevistados pretendem alcanccedilar conhecimentos atraveacutes da escola do
campo implantada no Assentamento Renascer com objetivos de administrar a
propriedade participar ativamente do coletivo garantir renda fixa atraveacutes dos
programas de desenvolvimento da agricultura familiar
Os entrevistados unanimamente tecircm a preocupaccedilatildeo da manutenccedilatildeo dos laccedilos
familiares e das raiacutezes camponesas
A distacircncia entre a moradia e a escola fato relatado pela quase totalidade dos
entrevistados constitui um grande motivo de evasatildeo escolar de defasagem nas
seacuteries frequentadas de precariedade na aprendizagem em relaccedilatildeo aos demais
alunos A discriminaccedilatildeo alegada por muitos que frequentaram ou frequentam
escolas fora da faixa etaacuteria o vernaacuteculo proacuteprio dos sujeitos do campo as condiccedilotildees
precaacuterias da estrada que denunciam a condiccedilatildeo de assentado o sentimento de
inadequaccedilatildeo constituem fatores que determinam a evasatildeo escolar
Foram treze (13) entrevistados significando aproximadamente dez por cento
(10) dos moradores do Assentamento Renascer Desse total apenas dois (2)
entrevistados natildeo declararam dificuldade de distacircncia entre a moradia e a escola em
seus lugares de origem A maioria absoluta (11) pessoas declararam que a distacircncia
dificultava e impedia o acesso agrave escola Alguns relatos apresentam situaccedilotildees
precaacuterias para o homem do campo o assentado
Para o aluno do campo a distacircncia da escola tem o significado de inexistecircncia de
escola Isto porque as dificuldades de acesso satildeo enormes No caso em estudo
apenas um entrevistado declarou a inexistecircncia de escola em sua regiatildeo de
moradia Este poreacutem vivenciou todas as dificuldades de acesso que outros
assentados apresentaram em razatildeo da distacircncia moradiaescola
A falta de professores na escola rural eacute relatada por 11 dos 13 entrevistados A
distacircncia da escola para os professores dificulta segundo a vivecircncia dos
entrevistados o acesso agrave escola e a assiduidade o que muito desmotivava a
ambos
41
Os entrevistados conforme anaacutelise de dados desejam muito objetivamente a
implantaccedilatildeo imediata de escolas segundo os criteacuterios caracteriacutesticos de escola do
campo
- Trazer a realidade para dentro da escola do campo curriacuteculos voltados para o
cotidiano do aluno do campo onde as teacutecnicas agriacutecolas pecuaacuterias e agroecoloacutegicas
possam fazer parte do processo educativo da comunidade e que a escola tenha
uma gestatildeo coletiva democraacutetica com a participaccedilatildeo da comunidade
- Ter o trabalho como princiacutepio educativo A experiecircncia do aluno deve
harmonizar-se com os princiacutepios pistrakianos significar o trabalho de forma a que
ele apresente benefiacutecios para o proacuteprio indiviacuteduo para a comunidade na qual estaacute
inserido e para a sociedade e natildeo exclusivamente para servir ao capitalismo
-Superar a fragmentaccedilatildeo do conhecimento disciplinar A interdisciplinaridade
deve fazer parte dos objetivos educacionais de modo a promover a formaccedilatildeo
integral dos educandos
- Valorizar os saberes do homem do campo Os entrevistados desejam uma
escola onde possam exercitar sua vivecircncia campesina e a relaccedilatildeo dialoacutegica entre
professor-aluno seguindo a pedagogia de Paulo Freire o educando quer aprender
com o educador mas quer tambeacutem ter a oportunidade de transmitir seus saberes
- Promover espaccedilos de gestatildeo coletiva A proacutepria comunidade deve participar da
gestatildeo a elaboraccedilatildeo do PPP deve gerir o espaccedilo fiacutesico da escola para atividades
de interesse da comunidade ocupar espaccedilos para finalidades culturais esportivas
sociais tornando a escola um espaccedilo democraacutetico
- Garantir a presenccedila da comunidade e dos movimentos sociais que geram
processos que auxiliam a emancipaccedilatildeo social A escola deve tambeacutem ser espaccedilo
que auxilie a sustentabilidade e garanta a alimentaccedilatildeo saudaacutevel e recursos
fitoteraacutepicos em associaccedilatildeo com a comunidade
- Inclusatildeo tecnoloacutegica em todos os aspectos digital inovaccedilatildeo tecnoloacutegica
agropecuaacuteria recursos ambientais alternativos agua potaacutevel energia solar energia
eoacutelica fossa seacuteptica teacutecnicas de compostagem saneamento baacutesico cuidados com
os recursos hiacutedricos
A anaacutelise dos dados quando feita especificamente sobre a escola a ser
implantada pode aparentemente demonstrar uma pequena conexatildeo com as teorias
da escola do campo
42
A concepccedilatildeo da escola do campo natildeo pode ser imposta ela parte do princiacutepio
que os camponeses devem conquista-la Para essa conquista eacute necessaacuteria a
paixatildeo o desejo por algo ainda natildeo experimentado o amadurecimento poliacutetico-
social-pessoal a participaccedilatildeo coletiva na luta e na conquista
A trajetoacuteria de luta por educaccedilatildeo da comunidade Renascer apresenta estes
elementos agraves vezes difusos outras vezes mais claramente A escola bem que
poderia para alguns ser apenas uma escola rural Afinal aprender a ler e a
escrever ldquodireitordquo como alguns dizem ou seja deixar a condiccedilatildeo de analfabeto ou
analfabeto funcional para tornar-se letrado significaria avanccedilos em face das atuais
circunstacircncias Alguns entendem assim expressando-se principalmente nas
conversas informais
Apesar disso quando as respostas informais ou quando as respostas das
entrevistas satildeo analisadas mais profundamente identificamos que embora
difusamente todos desejam o programa educacional da escola do campo
Explicando melhor a participaccedilatildeo de todos da comunidade em todas as atividades
soacutecio-poliacuteticas-culturais (relatadas no terceiro capitulo) indicam que a comunidade
assimilou a postura soacutecio-politica-cultural que caracterizam a escola do campo
A vivecircncia do Assentamento Renascer no cotidiano e nos eventos coletivos
amadureceu o desejo pelo alimento intelectual cultural artiacutestico ambiental social
que a concepccedilatildeo de escola do campo introduz O programa educacional da Escola
do Campo ultrapassou as paredes fiacutesicas da escola e alcanccedilou o cotidiano dos
assentados
Os avanccedilos da conscientizaccedilatildeo e seu reflexo na vida do Assentamento Renascer
satildeo sentidos nos nuacutemeros de matriculados na LEdoC sete (7) alunos
aproximadamente dez (10) assentados prestaratildeo o proacuteximo vestibular trecircs (3)
assentados estatildeo matriculados no IFB dois(2) assentados estatildeo formados em
Teacutecnico Agropecuaacuterio tambeacutem pelo IFB um deles cursa o Tecnoacutelogo de
Agroecologia tambeacutem do IFB
Vale acrescentar que no iniacutecio de 2014 quando o IFB buscou no Assentamento
pessoas interessadas em matricular-se em seus cursos sob a condiccedilatildeo de
estudarem no ensino meacutedio o interesse foi grande e a impossibilidade pelo fato de
natildeo estarem habilitados no ensino fundamental provocou tanta discussatildeo que
estimulou essa pesquisa
43
O legado desses alunos futuros alunos e profissionais para o futuro do
Assentamento apresentaraacute resultados significativos para toda a comunidade O
futuro colheraacute bons frutos plantados agora
A escola que temos natildeo estaacute funcionando falta a renovaccedilatildeo do contrato o que
atrasa a alfabetizaccedilatildeo e conclusatildeo do 5ordm ano Falta a implantaccedilatildeo de poliacuteticas
puacuteblicas para atendimento de questotildees baacutesicas como por exemplo carteiras
quadro de giz iluminaccedilatildeo espaccedilo fiacutesico (dependecircncias para a escola) e mobiliaacuterio
-41-
44
Consideraccedilotildees Finais
A Educaccedilatildeo do campo eacute um movimento em que os trabalhadores do campo e
suas organizaccedilotildees lutam por transformaccedilotildees sociais particularmente a criaccedilatildeo de
escolas dono campo de qualidade a partir de uma perspectiva ampla de reforma
agraacuteria
A construccedilatildeo da educaccedilatildeo do campo eacute resultado do amadurecimento dos
movimentos sociais e das comunidades rurais em sua trajetoacuteria de luta pelo direito
fundamental agrave universalizaccedilatildeo escolar para as populaccedilotildees camponesas segundo
orientaccedilatildeo poliacutetico-pedagoacutegica adequada agrave realidade dos lutadores de
acampamentos e assentamentos em luta pela reforma agraacuteria e justiccedila social
Alguns princiacutepios caracterizam a luta pela escola do campo Dentre eles
podemos citar a criaccedilatildeo da consciecircncia do direito agrave educaccedilatildeo de qualidade plantada
na proacutepria comunidade o que provoca o enraizamento a valorizaccedilatildeo da vida no
campo a promoccedilatildeo da autoestima e a transformaccedilatildeo do ser alienado pela ideologia
e desigualdade social e sujeito de sua proacutepria histoacuteria
Outro princiacutepio eacute a adequaccedilatildeo de curriacuteculos agrave realidade camponesa de modo
a que o processo ensino-aprendizagem favoreccedila o amadurecimento de talentos
naturais o surgimento de oportunidades a niacutevel pessoal e social contribuindo para a
emancipaccedilatildeo poliacutetico-social do indiviacuteduo com reflexos na sociedade
A mudanccedila de paradigmas e o envolvimento social provocam a formaccedilatildeo integral
dos sujeitos que lutam de forma coletiva e solidaacuteria pela terra A escola do campo
que surge dessa mudanccedila eacute tambeacutem transformadora porque eacute fruto da luta
consciente que gera a reflexatildeo e o amadurecimento poliacutetico deixando um legado
positivo de cidadatildeos orgulhosos de sua condiccedilatildeo de lutador pela terra de sua
identidade de sua cultura de sua comunidade e coletividade
A escola do campo propicia aos alunos a reflexatildeo sobre o contexto social e a
problemaacutetica da comunidade em que estatildeo inseridos o respeito agrave individualidade a
ampliaccedilatildeo das potencialidades do aluno para organizar elaborar e atuar
coletivamente Deixam o legado futuro de homens responsaacuteveis mentes
independentes e atuantes que poderatildeo prestar serviccedilos significativos agrave sociedade
45
A comunidade assentada de o Assentamento Renascer pela Reforma
Agraacuteria em Sobradinho DF foi convidada a opinar sobre a escola que deseja a
partir da conquista da terra
O modelo proposto a partir de seu posicionamento possibilita a conclusatildeo
de que a escola do campo plantada na comunidade eacute preferiacutevel ao modelo
adotado atualmente de inserccedilatildeo dos alunos da comunidade agraves escolas urbanas
conter recursos materiais e humanos que propiciem bons resultados
pedagoacutegicos deve servir para fixar o trabalhador ao campo deve cumprir com o
propoacutesito constitucional de universalizaccedilatildeo do ensino para todas as faixas
etaacuterias deve estar identificada com os sonhos de prosperidade material e
realizaccedilatildeo pessoal dos assentados
-46-
46
Referecircncias Bibliograacuteficas
CANUTO Antocircnio In Comissatildeo Pastoral da Terra DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO 2012 pag 131) CLAUDIA MORAES DE SOUZA em seu artigo lsquoDiscursos intolerantes O lugar da poliacutetica na educaccedilatildeo rural e a representaccedilatildeo do camponecircs analfabeto (DIVERSITAS FFLCH USPBR)acesso em 03-08-2014 EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO ndash Marcos Normativos Brasilia 2012 MEC FERRARO Alceu Ravanello em seu artigo Alfabetizaccedilatildeo rural no Brasil na perspectiva das relaccedilotildees campo-cidade e de gecircnero (Educ Real ndash WWWSCIELOBRPDFEDREALV37N3PDF acesso 03-10-2014 FERREIRA (2011_ ldquoUm olhar histoacuterico uma realidade concretardquo (WWWUNIFILBR)acesso 20-10-2014
FERRARI Marco ldquoAniacutesio Teixeira o inventor da escola puacuteblica no Brasilrdquo Revista Nova Escola Fundaccedilatildeo Victor Civita Revistaescolaabrilcombr acesso em 14092014 FERREIRA Fabiano de Jesus BRANDAtildeO Elias Canuto ndash Revista Eletrocircnica de Educaccedilatildeo Ano V N 09 juldez 2011p3 ldquoEducaccedilatildeo do campo um olhar histoacuterico uma realidade concreta rdquo (WWWUNIFILBR acesso em 08 de agosto de 2014) GONCcedilALVES Luiz Alberto Oliveira e Pinto Regina Pahim EDUCACcedilAtildeO SEacuteRIE JUSTICcedilA E DESENVOLVIMENTO IFP-FCC FUNDACcedilAtildeO CARLOS CHAGAS 2007 SAtildeO PAULO (pag206)
KOLLING Edgar Jorge Vargas Caldart MST e Educaccedilatildeo in DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia Expressatildeo Popular 2012 (pag 5020
MOLINA Mocircnica SAacute Laiacutes Mouratildeo Escola do Campo in DICIONARIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia Expressatildeo Popular 2012 pg (329)
OLIVEIRA Maria Rita Duarte em sua dissertaccedilatildeo ldquoDos programas oficiais para a educaccedilatildeo rural aos projetos de educaccedilatildeo do campo dos movimentos sociaisrdquo WWWrevistalaborufcbrartigovolume1maria-ritapdf acesso em 08-09-2014
OLIVEIRA Maria Rita Duarte PEDAGOGIA EM MARCHA Apud ARROYO Satildeo Paulo1995( pg 162)
OLIVEIRA Maria Rita Duarte Revistalabor ufcbracesso em 19-10-2014
________ citando CALAZ Maria Rita Duarte Oliveira
47
SANTOS Clarice Aparecida PROGRAMA NACIONAL DE EDUCACcedilAtildeO NA REFORMA AGRAacuteRIA in DICIONARIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia2012(pg630)
________ Clarice Aparecida PROGRAMA NACIONAL DE EDUCACcedilAtildeO NA REFORMA AGRAacuteRIA BRASIacuteLIA 2012 pg 631 in DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO SANTOS Claudio Felix Dos ldquoO aprender a aprender na formaccedilatildeo de professores do campordquo Campinas 2013 Editora Autores Associados ) SOUZA Maria Antocircnia Movimentos Sociais no Brasil Contemporacircneo participaccedilatildeo e possibilidades no contexto das praacuteticas democraacuteticas ndash (wwwcesucptlab2004pdfMariaAntonia Souzapdfaceso em 24-07-2014 -48-
48
Apecircndices
1 Roteiro das Entrevistas
a) Dados dos entrevistados
Qual o seu nome
Masculino ( ) Feminino ( )
Quantos anos vocecirc tecircm
A quanto tempo mora no
assentamento
Onde vocecirc morou antes
de morar no
assentamento
Quantos anos vocecirc tinha
quando foi a escola pela
primeira vez
Estou ateacute qual seacuterieano
Quantos anos vocecirc tinha
quando parou de estudar
Qual motivo motivou vocecirc
a parar de estudar
Se tiver escola no
assentamento vocecirc voltaraacute
a estudar Porque
B) Outras informaccedilotildees dados pelos entrevistadosas (GRAVAR)
a) Em qual escola vocecirc estudou no acampamento ou em outro lugar Qual
b) Como era a escola que estudou Quais as coisas boas e coisas ruins que
tinha nesta escola
c) Conte como eacutefoi a educaccedilatildeo do assentamento o que jaacute existiu de escola
como funcionou e quais eram as boas e as coisas ruins desta escola
d) Jaacute participou de alguma accedilatildeo de mobilizaccedilatildeo para ter escola no
assentamento Se sim explique para que e como foi essa mobilizaccedilatildeo
e) Na sua opiniatildeo no assentamento deve ter escola Por quecirc
f) Como deveraacute ser a escola da comunidadeassentamento Como eacute a escola
que queremos ter
49
b) Entrevistas semi-estruturadas
Entrevistado 01
Moro no assentamento Renascer haacute 11 anos Nasci Carnauacuteba no Rio Grande do
Norte fui criado na roccedila e desde pequeno trabalhava na lavoura para ajudar meu
pai Fui para escola com 9 anos de idade estudei ateacute a 5ordm seacuterie parei de estudar
com 17 anos natildeo continuei os estudos porque era muito longe de onde eu morva
que era na cidade mais proacutexima eu tinha que andar a peacute 8 km ficava muito
cansado Casei e vim morar em Brasiacutelia para trabalhar em uma chaacutecara como
caseiro Morava na chaacutecara Buritis em sobradinho- Df tambeacutem natildeo dei para
continuar os estudos porque ficava longe e tinha que ser a noite e natildeo tinha como ir
Se vier uma escola pra caacute eu ainda vou estudar para ter mais conhecimento para
plantar minha roccedila ir no banco pra ver se assino um empreacutestimo para melhorar
minha produccedilatildeo e saber fazer conta pra administrar minha parcela de terra
Qual o seu nome
Masculino ( X ) Feminino ( )
Quantos anos vocecirc
tecircm
57 anos
A quanto tempo
mora no assentamento
11 anos
Onde vocecirc morou
antes de morar no
assentamento
Carnauacuteba ndash RN
Chaacutecara Buritis nordm 10 Sobradinho DF
Quantos anos vocecirc
tinha quando foi a escola
pela primeira vez
8 anos
Estou ateacute qual
seacuterieano
5ordf seacuterie
Quantos anos vocecirc
tinha quando parou de
estudar
24 anos
Qual motivo
motivou vocecirc a parar de
estudar
Trabalhar para sustento da famiacutelia a
distacircncia entre a casa e a escola
Se tiver escola no
assentamento vocecirc voltaraacute
a estudar Porque
Sim ldquoSe tivesse escola do ensino
fundamental voltaria a estudar para tecirc
mais conhecimento para plantar minha roccedila
50
saber pesar saber contar vendecirc os produto e
comecirc
Entrevistado 02
Moro no assentamento renascer haacute 7 anos tenho 38 vim do interior do Cearaacute
Entrei na escola com 7 anos de idade estudei soacute a 5ordm seacuterie incompleta natildeo
continuei a estudar porque natildeo tinha escola a onde eu morava que era na roccedila e eu
tinha que ficar na casa dozotro (SIC) na cidade e eu natildeo gostava disso natildeo ai parei
com 16 anos de idade Mudamo (SIC) pra Brasiacutelia pra uma chaacutecara perto de Santa
Maria-DF e natildeo dei pra estudar porque casei e tinha que trabalhar muito para
susrentar a famiacutelia A gora moro no assentamento Renascer e sei que um dia vai ter
uma escola aqui e eu vou voltar a estudar porque meu sonho eacute ser veterinaacuterio e vou
der se deus quiser
Entrevistado 03
Tenho 58 anos moro no assentamento Renascer haacute 6 anos vim de Ceres-GO
comecei a estudar quando eu tinha 10 ano de idade estudei ateacute a 4ordf seria primaacuteria
(SIC) parei de estudar quando tinha 16 anos porque eu morava na roccedila e escola
ateacute que natildeo ficava muito longe natildeo era soacute 2 km dava pra ir a peacute a professora eacute que
faltava muito e a gente natildeo tinha como saber se ela tava ou natildeoAiacute quando eu tinha
18 anos casei e vim morar em Brasiacutelia e arranjei(SIC) emprego de caseira em uma
chaacutecara aiacute natildeo pra estudar a noite porque era muito longe pra laacute entatildeo eu natildeo
pensei mais nessas coisas Quando tiver escola no assentamento quero estudar
quiecirc pra mim (SIC) fazer curso de teacutecnico agriacutecolarsquorsquo
Entrevistado 04
Tenho 24 anos moro no assentamento Renascer tem 6 ano vim da Bahia morava
no Condomiacutenio RK entrei na escola com 7 anos de idade e estudei soacute ateacute a 6ordf seacuterie
parei com 18 anos de idade
Porque mudei pra caacute pro assentamento (SIC) e natildeo tem escola e natildeo tem como ir
pra Sobradinho a noite porque eacute muito longe tem que andar 5 km eacute pirigogo (SIC)
tem muita gente mal por aiacute tem ateacute estrupador natildeo posso me arriscar
ldquoSe tivesse escola aqui eu ia terminar meus estudos podia ser no galpatildeo mesmo
pra mim tava bom mas para os meus filhos eu queria uma escola boa com internet
e tudo Eu natildeo gosto que meus filhos estuda(SIC) na cidade soacute aceito porque eacute o
jeito gente de assentamento eacute muito zombado (SIC) porque as vezes chega suja
na escola e os outros acha que eles satildeo porcos que toma banhordquo
Entrevistado 05
51
Tenho 21 anos de idade moro no Renascer haacute trecircs anos vim de satildeo Gabriel-GO
comecei a estudar aos 7 anos parei com 18 anos porque minha matildee mudou
pro(SIC) matildee mudou pro (SIC) assentamento haacute 6 anos e eu natildeo aguento morar
longe dela Quando cheguei aqui natildeo teve como continuar os estudos porque
trabalho durante o dia como manicure em Sobradinho e o uacuteltimo ocircnibus que passa
perto do assentamento eacute as 5 horas da tarde entatildeo natildeo daacute para estudar a noite
Sim porque quero fazer um curso de cabelereiro quando tiver aacutegua e luz aqui eu
quero montar um salatildeo de beleza e para ser uma empresaacuteria precisa ter estudos pra
administrar o negoacutecio
Entrevistado 06
44 anos
6 anos
Formosa-GO
8 anos
5ordf seacuterie
24 anos
Porque a escola mais perto(SIC) era 10km de distacircncia e eu trabalhava na roccedila e
ficava muito cansado aiacute parei natildeo deu mais
Sim quando tiver escola aqui eu vou voltar a estudar Eu tinha um sonho de ser
agroacutenomo mas esse sonho eacute impussive(SIC) entatildeo queria concluir o ensino
fundamental para fazer um curso de teacutecnico agriacutecola no IFB mas tambeacutem eacute longe
se tivesse como estudar aqui no assentamento eu ia(SIC) ficar muito feliz
Entrevistado 07
57 anos
6 anos
Parnaiacuteba-PI- Santa Maria- DF
7 anos
4ordf seacuterie
21 anos
Parei porque era muito difiacutecil ir para escola que ficava muito longe eu tinha que sair
de casa as 4hs da madrugada para chegar na escola as 730 ia montado num
cavalo e muitas vezes natildeo tinha professora pra dar aula Parei porque natildeo aguentei
o rojatildeo tinha que minha matildee na lida a tarde e eu ficava muito cansado Vim pra
52
Brasiacutelia e casei fui trabalhar de chacareiro numa chaacutecara que tambeacutem era longe de
escola depois vim morar aqui no assentamento que natildeo tem escola
Se tivesse escola aqui eu ia voltar estudar soacute pra aprender a cuidar meior (SIC) da
terra e dos meus bichos e que fosse como uma escola agriacutecola
Entrevistado 08
Tenho 29 anos moro no assentamento Renascer haacute 2 anos sou educadora do
Pronera haacute 1 ano e 2 meses O Pronera eacute como um antidepressivo na vida de muita
gente o Pronera melhorou a minha vida e a vida dos meus alunos o desejo de
todos eacute que o Pronera continue crescendo em direccedilatildeo de uma educaccedilatildeo continuada
levando tambeacutem o ensino fundamental para os acampamentos e assentamentos da
Reforma Agraacuteria
-50-
Anexos
53
Acampamento agrave beira da estrada ndash 2004
Construccedilatildeo da Sede do Movimento na atual aacuterea
54
Reuniatildeo semanal
Teatro de fantoches ndash brinquedoteca
55
Accedilatildeo da Pastoral da Crianccedila na brinquedoteca
Oficina de brinquedos reciclaacuteveis
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Brinquedo confeccionado com materiais reciclaacuteveis na Brinquedoteca
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Apresentaccedilatildeo teatral
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Capacitaccedilatildeo em Economia Solidaacuteria
Formaccedilatildeo de multiplicadores da Economia Solidaacuteria
62
Capacitaccedilatildeo de Educadores Ambientais
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Luta pela Reforma Agraacuteria e Soberania Alimentar
26
O somatoacuterio das forccedilas internas e externas do movimento ldquoleigasrdquo ou
tituladas associadas ao princiacutepio fundamental da participaccedilatildeo dos alunos e
comunidades em todos os niacuteveis e localidades eacute ponto fundamental para o sucesso
da concepccedilatildeo do projeto pois permite o estudo a reflexatildeo conjunta sobre
estrateacutegias para o alcance do objetivo de educaccedilatildeo na reforma agraacuteria
-25-
223 Marcos Normativos da Educaccedilatildeo do Campo
Numerosos Marcos Normativos podem ser citados para explicitar qual perfil
de escola destinada ao camponecircs interessava ao governo e aos proprietaacuterios rurais
A Lei 4024 de 1961 em seu art 105 estabelece o
Apoio que poderaacute ser prestado pelo poder puacuteblico agraves iniciativas que mantenham na zona rural instituiccedilotildees educativas orientadas para adaptar o homem ao meio e estimular vocaccedilotildees e atividades profissionais (BRASIL 2012 p 4)
A Lei 5692 de 1971 ao tratar da educaccedilatildeo rural ldquonatildeo observa mais uma vez
a inclusatildeo da populaccedilatildeo na condiccedilatildeo de protagonista de um projeto social globalrdquo
sendo que o trabalho do campo realizado por alunos eacute ateacute mesmo incentivado
adequando-o ao calendaacuterio escolar (MARCOS NORMATIVOSBrasiacutelia2012 p 25)
A Lei 9394 de 1996 (Lei das Diretrizes se Bases da Educaccedilatildeo ndash LDB) em
acordo com Constituiccedilatildeo de 1988 e ldquoinspirada de alguma forma numa concepccedilatildeo
de mundo rural enquanto espaccedilo especifico diferenciado e ao mesmo tempo
integrado no conjunto da sociedaderdquo reconhece
A diversidade soacutecio-cultural e o direito agrave igualdade e agrave diferenccedila possibilitando a definiccedilatildeo de diretrizes operacionais para educaccedilatildeo rural sem no entanto recorrer a uma logica exclusiva e de ruptura com um projeto global de educaccedilatildeo para o paiacutes (idem p 26)
27
Os artigos 208 e 210 da Carta Magna-1988 e inspirada de numa concepccedilatildeo
de mundo rural enquanto espaccedilo especiacutefico diferenciado e ao mesmo tempo
integrado no conjunto da sociedade a Lei 939496- LDB-estabelece que
Art 28 Na oferta da educaccedilatildeo baacutesica para a populaccedilatildeo rural os sistemas de ensino promoveratildeo as adapta necessaacuteria agrave sua adequaccedilatildeo agraves peculiaridades da vida rural e de cada regiatildeo especialmente (MARCOS NORMATIVOS) Brasiacutelia 2012 p 25)
1- Conteuacutedos organizar curriculares e metodologias apropriadas agraves reais
necessidades e interesses dos alunos da zona rural
2-organizaccedilatildeo escolar proacutepria incluindo a adequaccedilatildeo do calendaacuterio escolar as
fases do ciclo agriacutecola e as condiccedilotildees climaacuteticas
3-adequaccedilatildeo agrave natureza do trabalho na zona rural (MARCOS NORMATIVOS)
Brasiacutelia 2012( p 26)
O movimento de educaccedilatildeo do campo luta haacute quinze (15) anos para fazer-se
cumprir esse Decreto da Lei de Diretrizes de base da educaccedilatildeo do campo-LDB
que apesar de ser constitucional ainda natildeo foi colocada totalmente em praacutetica
Agora com as lutas dos movimentos sociais eacute que estaacute comeccedilando a se concretizar
Artigo 26 Os curriacuteculos do ensino fundamental e meacutedio devem ter uma base nacional comum a ser complementada em cada sistema de ensino e estabelecimento escolar por uma parte diversificada exigida pelas caracteriacutesticas regionais e locais da sociedade
da cultura da economia e da clientela (MARCOS NORMATIVOS) Brasiacutelia 2012(p 26)
O Decreto nordm 7352 de 4 de novembro 2010 dispotildee sobre a poliacutetica de educaccedilatildeo do campo ao Programa Nacional de Educaccedilatildeo
na Reforma Agraacuteria-PRONERA decreta
Art1ordm A poliacutetica de educaccedilatildeo do campo destina-
se agrave ampliaccedilatildeo e qualificaccedilatildeo da oferta de educaccedilatildeo baacutesica e superior agraves populaccedilotildees do campo e seraacute desenvolvida pela Uniatildeo em regime de colaboraccedilatildeo com os Estados o
28
Distrito Federal e os Municiacutepios de acordo com as diretrizes e metas estabelecidas no Plano Nacional de Educaccedilatildeo e o disposto neste Decreto
Para os efeitos deste Decreto entende-se por
l-populaccedilatildeo do campo os agricultores familiares os extrativistas os pescadores
artesanais os ribeirinhos os assentados e acampados da reforma agraacuteria os
trabalhadores assalariados rurais os quilombolas os caiccedilaras os povos da floresta
os caboclos e outros que produzam suas condiccedilotildees materiais de existecircncia a partir
do trabalho no meio rural
ll-escola do campo aquela situada em aacuterea rural conforme definida pela Fundaccedilatildeo
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica- IBGE ou aquela situada em aacuterea
urbana desde que atenda predominantemente a populaccedilatildeo do campo (MARCOS
NORMATIVOS) 2012( p 81)
No Decreto 6755 29 de janeiro de 2009 em seu art 2ordm estabelecida pelo Conselho
Nacional de Educaccedilatildeo que se refere as Diretrizes Operacionais da Educaccedilatildeo do
Campo o parecer da alternacircncia
A formaccedilatildeo de professores poderaacute ser feita concomitantemente agrave atuaccedilatildeo profissional de acordo com metodologias adequadas inclusive a pedagogia da alternacircncia e sem prejuiacutezo de outras que atendam agraves especificidades da educaccedilatildeo do campo e por meio de atividades de ensino pesquisa e extensatildeo (MARCOS NORMATIVOS) 2012( p84)
-26-
29
-
231 A educaccedilatildeo do campo e poliacutetica puacuteblica - o PRONERA
O amadurecimento adquirido pela luta sobre o papel da educaccedilatildeo aliado agrave
iniciativa do aproveitamento do trabalho das professoras ldquoleigasrdquo e ainda da
consciecircncia cada vez mais presente do dever do Estado em prover os cidadatildeos da
reforma agraacuteria de poliacuteticas puacuteblicas resultou no campo da educaccedilatildeo na criaccedilatildeo do
Programa Nacional de Educaccedilatildeo na Reforma Agraacuteria (PRONERA)
O PRONERA envolve formalmente jovens e adultos num projeto conjunto
com universidades e institutos federais em prol da formaccedilatildeo de educadores para o
trabalho em escolas dos assentamentos da reforma agraacuteria e seu entorno
O Programa foi criado em 1998 no momento da ascensatildeo dos conflitos pela
reforma agraacuteria o que propiciou que os movimentos sociais trouxessem para a
opiniatildeo puacuteblica suas mazelas
No campo da educaccedilatildeo foi denunciada a falta de escola a precariedade do
ensino a falta de profissionais do ensino a ldquoloacutegica de negaccedilatildeo histoacuterica do direito
aos camponeses de acesso aos niacuteveis mais elevados de escolaridade ( SANTOS
2012 pag 630)
A partir de 2005 o ensino oferecido pelo PRONERA eacute estendido ao niacutevel
meacutedio e superior como a Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo e a Residecircncia
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Agraacuteria O PRONERA evoluiu para outros patamares tais como ldquopossibilidades de
ressignificaccedilatildeo do conteuacutedo e da metodologia dos processos de educaccedilatildeo formal
por meio dos princiacutepios baacutesicos da participaccedilatildeo e da multiplicaccedilatildeordquo (SANTOS 2012
p 631)
A participaccedilatildeo das comunidades e suas organizaccedilotildees e a multiplicaccedilatildeo de
alfabetizados formados educadores e demais profissionais ligados agraves poliacuteticas
puacuteblicas para a Reforma Agraacuteria gerou ampla participaccedilatildeo dos agentes envolvidos
na dinacircmica do processo ensino-aprendizagem
Essa forma de gestatildeo gerou reaccedilatildeo contraacuteria ldquoagrave gestatildeo colegiada e coletiva
notadamente agrave participaccedilatildeo direta dos movimentos sociais e sindicais do campordquo
considerados ldquoentes estranhos agrave administraccedilatildeo puacuteblicardquo (CLARICE p 634)
O envolvimento dos movimentos sociais e sindicais do campo natildeo
retrocederam em sua luta pelo envolvimento de todos os interessados na educaccedilatildeo
como elemento emancipatoacuterio e continuam formulando princiacutepios concepccedilotildees e
diretrizes para a escola do campo
-31-
31
Terceiro Capiacutetulo
A histoacuteria do Assentamento Renascer
31 Uma breve histoacuteria de luta
A histoacuteria do Assentamento Renascer natildeo parece ser diferente da histoacuteria de
outros assentamentos Brasil afora Partiu da reivindicaccedilatildeo de Trabalhadores Rurais
sem Terra que desde 2004 ocuparam as margens da Rodovia DF 330 que liga
Sobradinho ao Paranoaacute-DF
Tatildeo perto do centro do poder a apenas poucos quilocircmetros do Palaacutecio da
Alvorada ou da Sede do INCRA o Acampamento Renascer esteve ateacute oito (08) de
maio de 2009 tatildeo distante da decisatildeo poliacutetica pela Reforma Agraacuteria
Somente nesta data trezentos sessenta e um( 361) de terras devolutas da
Uniatildeo foram repassadas ao INCRA para assentar as famiacutelias aliacute acampadas Ficou
criado o assentamento Renascer fora da beira da estrada
O Assentamento Renascer ldquorenasceurdquo da dificuldade de vida sob o barraco de
madeira sem aacutegua sem luz sem saneamento baacutesico que fez com que tantos
desistissem ao longo do caminho e ainda hoje se encontra nessa mesma
precariedade um descaso por parte do poder puacuteblico
A luta em vaacuterios momentos da vida dos acampados parecia estar vencida Os
vencedores pareciam ser a burocracia o desrespeito as noites mal dormidas a
inseguranccedila a falta de perspectivas para o acampado e suas famiacutelias
Duzentas (200) famiacutelias viveram aliacute por cinco anos (05) de 2004 ateacute 2009
Atualmente satildeo cento e vinte (120) famiacutelias que moram na aacuterea destinada e estatildeo
em processo de assentamento Muitas delas poreacutem vencidas pelo cansaccedilo e pelas
condiccedilotildees de vida abandonaram a luta mas todas as famiacutelias as que se foram e as
que ficaram sonharam com a terra onde poderiam produzir viam no pedaccedilo de chatildeo
os frutos do pomar da horta o galinheiro o pasto
O Assentamento Renascer eacute o Brasil Eacute um pedacinho da cruel realidade que
como vimos neste trabalho marcou a sociedade brasileira desde a escravidatildeo
desde o primeiro grito de rebeldia do quilombo desde o primeiro que lutou contra os
coroneacuteis por divisatildeo da terra como as Ligas Camponesas contra o latifuacutendio como
os movimentos sociais em sua luta pela reforma agraacuteria desde vaacuterias geraccedilotildees
32
Eacute como todo e qualquer movimento social que surgiu neste paiacutes desde a
deacutecada de 1980 pela reforma agraacuteria Viveu e ainda vive as dificuldades de ser
acampadoassentado mas honra sua luta porque natildeo desiste faacutecil
O Assentamento Renascer eacute tambeacutem fruto do ecircxodo rural da industrializaccedilatildeo
do campo da monocultura e da concentraccedilatildeo de terras Foram expulsos do campo
para a periferia das cidades sem capacitaccedilatildeo sem estudo
A falta de escolarizaccedilatildeo eacute sem duacutevida uma caracteriacutestica de quase todos os
que vieram do campo para a cidade A realidade do Brasil eacute que o campo natildeo eacute
escolarizado as escolas no campo satildeo poucas satildeo despreparadas satildeo
desvalorizadas
-33-
32 As escolas no campo na vivencia do assentado do Assentamento
Renascer
As escolas no campo marcaram profundamente a vida dos poucos que a
frequentaram Quase todos tiveram que trocar o laacutepis pela enxada a carteira pela
roccedila desde muito pequenos Alguns natildeo muito poucos conforme os depoimentos
aqui relatados teriam que abandonar a enxada e a participaccedilatildeo no sustento da
famiacutelia para frequentar a escola Quase sempre abandonaram a escola para ficar no
trabalho com a enxada
Todos teriam que andar vaacuterios quilocircmetros para ir agrave escola Outros nem assim
conseguiriam frequentar a escola no campo ela simplesmente natildeo existia no
campo Teriam entatildeo que ir para a cidade para ter direito a uma escola
Muitos tambeacutem vivenciaram os traumas que uma escola tradicional e
descomprometida com os valores e responsabilidades do projeto educacional
castigos humilhaccedilotildees afastaram a muitos da escola
Alguns apenas sonharam e sonham com a escola ldquoAh a escolardquo Tatildeo longe
inacessiacutevel para tantos no Brasil afora Ao ver de algumas pessoas do
Assentamento Renascer ldquoSe tivesse jeito eu teria ido agrave escola tinha feito pelo
menos o ensino fundamental completo para que eu pudesse ingressar no curso
33
teacutecnico-agriacutecola Mas agora quero que meus filhos e netos vatildeo para a escola
aprender ser algueacutem na vidardquo
-34-
321 A escola no entorno do Assentamento Renascer
A ideia de lutar pela educaccedilatildeo veio antes da ideia de lutar pela escola como
espaccedilo conquistado pelo acampamento Encontrar uma escola perto do
acampamento com transporte escolar com vagas e horaacuterios acessiacuteveis para os que
trabalham o dia todo era entendido como uma necessidade baacutesica e uma grande
vitoacuteria
Ficava-se feliz se apesar das dificuldades fosse possiacutevel matricular pelo
menos as crianccedilas As dificuldades eram e ainda satildeo muitas o transporte escolar
era e eacute precaacuterio a poeira natildeo permite que os alunos cheguem limpos agrave escola os
buracos e as poccedilas daacutegua impedem a chegada do ocircnibus escolar durante as
chuvas No caso do ocircnibus que levam os alunos ateacute a Escola Classe do Coacuterrego do
Arrozal em eacutepoca de muita chuva os ocircnibus ateacute o iniacutecio de 2014 natildeo conseguiam
transitar Isto resulta no fato de que as crianccedilas precisam caminhar debaixo de
chuva ateacute a escola
-35-
322 O caminho para a produccedilatildeo do saber no Assentamento Renascer a
brinquedoteca a integraccedilatildeo social a biblioteca comunitaacuteria as manifestaccedilotildees
culturais
Ao longo dos anos de vivecircncia e convivecircncia no Acampamento Renascer
mediante a dificuldade e necessidade de estudar que sentimos na nossa proacutepria
vida foi despontando a ideia de prover as crianccedilas de atividades luacutedicas e
educativas
34
Logo no iniacutecio do acampamento por volta de 2005 por iniciativa de algumas
pessoas conscientes da necessidade de atividades luacutedicas para as crianccedilas foi
criada uma brinquedoteca
Inicialmente os brinquedos eram de materiais reciclaacuteveis como garrafas pet
telefones sem fio carrinhos bonecas petecas vai e vem cavalinhos tudo era
confeccionado com a participaccedilatildeo das crianccedilas na modalidade de oficina
incentivando-os a fabricar os seus proacuteprios brinquedos Os brinquedos eram
confeccionados a partir de materiais encontrados nos lugares de descarte perto do
acampamento e doaccedilotildees de pessoas que passavam pela estrada
O embriatildeo de um processo educacional que nunca se interrompeu estava
lanccedilado a brinquedoteca proporcionou a criatividade e a participaccedilatildeo de crianccedilas e
adultos marcando as atividades pela conscientizaccedilatildeo do cuidado com a natureza e a
importacircncia da reciclagem A educaccedilatildeo ambiental jaacute era praticada desde o
nascimento do acampamento Renascer
Este primeiro passo foi muito importante porque traduziu para o dia a dia do
acampamento os princiacutepios da escola do campo atuante para mudar a realidade
criar cidadatildeos conscientes e dispostos a mudar a realidade a partir da sua proacutepria
accedilatildeo Este eacute o processo de transformaccedilatildeo social dentro do acampamento Renascer
haacute tanto tempo atraacutes
Aos brinquedos reciclados pela proacutepria comunidade juntaram-se outros
presenteados por instituiccedilotildees como igrejas ONGs a Pastoral da Crianccedila e pessoas
interessadas no bem estar daquelas crianccedilas
Percebe-se em iniciativas como essas a importacircncia da educaccedilatildeo nos
diversos niacuteveis para a sociedade A integraccedilatildeo de pessoas com as atividades
educativas no acampamento nos faz lembrar sobre um grande sonho das escolas
hoje integrar a comunidade de modo a que todos defendam a escola
O sucesso de iniciativas como a brinquedoteca que integravam crianccedilas
adolescentes adultos e sociedade foi importante para outras iniciativas igualmente
importantes
Foi-se criando um projeto educacional para o acampamento sem que se
tivesse consciecircncia disso por faltar informaccedilatildeo que soacute agora se possui graccedilas aos
estudos na Universidade o galpatildeo comunitaacuterio foi utilizado para abrigar a
35
brinquedoteca para desenvolver grupos de teatro de crianccedilas e adultos e para
abrigar a biblioteca
A biblioteca recebeu inuacutemeros exemplares de livros infantis livros didaacuteticos
para os adolescentes e adultos literatura universal revistas dos mais variados
assuntos criando assim um espaccedilo comunitaacuterio de informaccedilatildeo lazer e
entretenimento
Com a criaccedilatildeo da biblioteca ficou evidente a importacircncia da alfabetizaccedilatildeo de
crianccedilas jovens e adultos Muitos acampados relatavam a vontade e a necessidade
de aprender a ler e a escrever Muitos reivindicavam o direito agrave educaccedilatildeo e
frequecircncia agrave escola ainda que o acampamento mudasse de ldquoendereccedilordquo tantas
vezes
Outros poreacutem natildeo acreditavam que seria possiacutevel aprender ou aperfeiccediloar a
leitura e a escrita nas condiccedilotildees de vida de um acampado
Vaacuterias atividades culturais foram desenvolvidas (e ainda satildeo) no
Acampamento Renascer Todas chamavam a atenccedilatildeo da comunidade local de
outras comunidades vizinhas garantindo a simpatia de chacareiros que levavam os
filhos para participarem das atividades
Uma das atividades mais apreciadas foi o Teatro de Fantoches inspirados em
faacutebulas muitas com a autoria da Pastoral da Crianccedila e da Faber Castel A
participaccedilatildeo da comunidade na atividade era intensa e voluntaacuteria todos queriam
manipular os fantoches participar cantando danccedilando ou prestando muita atenccedilatildeo
O teatro de transformaccedilatildeo social produzido pelos adultos e adolescentes
utilizavam tambeacutem materiais reciclaacuteveis demonstrando cuidado com o meio
ambiente e amadurecimento dos conceitos poliacuteticos e pedagoacutegicos gerando reflexatildeo
sobre os temas sociais que nos atingem no cotidiano
A miacutestica adotada pelos movimentos sociais com o objetivo de reflexatildeo satildeo
apresentadas em datas comemorativas e contam com o apoio e participaccedilatildeo de
muitos
Algumas festas fazem parte da tradiccedilatildeo do Acampamento Renascer
traduzindo para a realidade atual as antigas festas a que todos foram acostumados
em seus lugares de origem
Pode-se dizer que a comunidade aprecia muito as festas Mas duas em
particular satildeo muito respeitadas a festa das crianccedilas que ocorre durante o dia (12
36
de outubro) eacute concorrida pois a comunidade se esmera para oferecer os brinquedos
que as crianccedilas amam pula-pula palhaccedilos pintura de rosto piscina de sabatildeo e
muita oferta de comida coisas que as crianccedilas adoram
No mesmo dia ocorre agrave noite a festa da Nossa Senhora Aparecida com
missa e muito forroacute
No mecircs de marccedilo eacute comemorada a Festa da Pamonha em comemoraccedilatildeo agrave
boa colheita do milho Esta festa jaacute se tornou tradicional conhecida em todo o
entorno do assentamento Egrave uma festa importante porque confraterniza a
comunidade Renascer com as comunidades vizinhas e ateacute mesmo as cidades de
Sobradinho Paranoaacute e Planaltina
Os movimentos sociais necessitam ser admirados pela sociedade e festas
como estas chamam a atenccedilatildeo para o problema da reforma agraacuteria demonstrando
que ela eacute viaacutevel e que os assentados tecircm simpatia competecircncia e seus saberes do
campo
A festa ldquojulinardquo eacute outra festa muito apreciada que apresenta as tradiccedilotildees rurais
e religiosas como quadrilhas e bandas de forroacute da comunidade e vizinhanccedila A
danccedila eacute um dos pontos fortes da festa assim como as comidas tradicionais muitas
delas com ingredientes colhidos no acampamento
Vaacuterios grupos de atividades teatrais apresentaram-se na localidade com
participaccedilatildeo de palhaccedilos lembrando um espetaacuteculo circense Alguns desses
grupos inclusive tiveram seus trabalhos premiados
Outras atividades com fundo educativo tiveram participaccedilatildeo animada de
crianccedilas e adultos A exibiccedilatildeo de desenhos animados recentemente apresentados
no cinema eram um grande atrativo para a comunidade que se via socialmente
incluiacuteda Esta inclusatildeo aumentava a autoestima das crianccedilas principalmente pois
assim elas poderiam interagir com os colegas da escola conversando a respeito dos
filmes
A Economia Solidaacuteria eacute uma das formas de inserccedilatildeo dos membros da
comunidade agrave sociedade economicamente ativa Atraveacutes da cooperaccedilatildeo solidaacuteria eacute
possiacutevel o comercio justo agriacutecolas ou artesanais sob conceitos antes
desconhecidos enquanto forma de produccedilatildeo e consumo centrado na valorizaccedilatildeo do
ser humano em contraposiccedilatildeo agraves formas capitalistas de produccedilatildeo e conscientizaccedilatildeo
37
Ao longo dos doze (12) anos de luta pela educaccedilatildeo foram promovidos
diversos cursos que capacitaram multiplicadores que fazem um trabalho importante
para a comunidade
A ideia de autogestatildeo democracia cooperaccedilatildeo auxilia natildeo soacute as formas de
produccedilatildeo e comercio de bens e artesanatos mas tambeacutem auxiliam na formaccedilatildeo
integral de pessoas em que tanto o produtor como o consumidor tem o proposito de
ganhos financeiros segundo um criteacuterio de valorizaccedilatildeo do trabalho
Proposito de formar uma nova consciecircncia a Economia Solidaacuteria promoveu
cursos de Soberania Alimentar em que a comunidade recebeu noccedilotildees praacuteticas
sobre alimentaccedilatildeo a partir da produccedilatildeo local de modo a promover uma nova cultura
alimentar que visa o combate agraves doenccedilas crocircnicas Outro proposito eacute tornar a
comunidade criacutetica em relaccedilatildeo agrave publicidade de produtos alimentiacutecio supeacuterfluo que
induz agraves crianccedilas e adultos alimentarem-se incorretamente
A comunidade participou coletivamente da implantaccedilatildeo de uma unidade da
tecnologia social denominada Produccedilatildeo Agroecoloacutegica Integrada e Sustentaacutevel
(PAIS) em 2012 com o objetivo de produzir alimentos saudaacuteveis e preservar o meio
ambiente trazendo mais alimentos e renda ao campo Esta tecnologia popularmente
conhecida como ldquohorta mandalardquo foi ministrada durante o curso de capacitaccedilatildeo
promovido pela Fundaccedilatildeo Banco do Brasil e teve o meacuterito de proporcionar o debate
e a participaccedilatildeo democraacutetica na definiccedilatildeo das culturas a serem cultivadas na futura
propriedade Vale informar que o assentamento Renascer identificou-se com esse
paradigma agroecoloacutegico
A educaccedilatildeo ambiental faz parte do dia a dia da comunidade hoje preserva-se
conservaccedilatildeo das formas de vida vegetais e animais na regiatildeo do assentamento e
entorno
A produccedilatildeo de mudas no viveiro eacute bastante concorrida contando com a
participaccedilatildeo de todos O viveiro produz cinco mil (5000) mudas de espeacutecies nativa
do cerrado para o reflorestamento das nascentes de aacutegua e nas aacutereas degradadas
da regiatildeo Contam com o apoio da FUNATURA FUNDACcedilAtildeO BANCO DO BRASIL
IFB Rio Satildeo Bartolomeu Vivo e UnB
-36-
38
39
Quarto Capiacutetulo
A escola que queremos expectativas e sonhos dos
acampados do Assentamento Renascer
Pode-se observar pelas falas dos entrevistados que a realidade de todos
converge para os problemas estruturais do Brasil faltam escolas no campo eacute baixa
a escolaridade em Brasiacutelia todos exercem atividades de subemprego
Todos tecircm grandes expectativas com relaccedilatildeo agrave vida futura no assentamento
objetivando melhores condiccedilotildees de vida na esperanccedila de serem beneficiaacuterios
enquanto cidadatildeos assentados das Poliacuteticas Puacuteblicas e financiamentos agriacutecolas
voltadas para a agricultura familiar como PRONAF PAA PNAE e PAPA-DF Vecircem
aiacute a possibilidade de emprego e renda situaccedilatildeo sonhada desde quando foram
pleitear a terra para reforma agraacuteria
Um olhar mais aprofundado sobre a anaacutelise de dados revela que natildeo importa o
fato de hoje residirem no DF pois como em qualquer lugar de origem os moradores
do assentamento Renascer vivenciam os mesmos problemas Percebe-se
claramente as dificuldades da inexistecircncia de escola no campo A distacircncia continua
impedindo o acesso os meios de transportes continuam precaacuterios os filhos
vivenciam a dificuldade de transferecircncia para a cidade na expectativa de
continuidade dos estudos as estradas rurais continuam esburacadas
Satildeo muitos os pontos em comum entre a situaccedilatildeo atual relatada e os problemas
vividos haacute deacutecadas em seus estados de origem o que deixa transparecer a absoluta
falta de interesse por parte do poder puacuteblico em garantir o direito constitucional agrave
educaccedilatildeo do povo do campo o que infelizmente continuaraacute deixando o triste
legado para o futuro do paiacutes
40
Repetimos a pergunta da inicial Cadecirc as escolas do campo Ateacute quando o paiacutes
vai viver essa situaccedilatildeo A anaacutelise de dados responde Natildeo eacute mais possiacutevel
continuar como estaacute
Todos os entrevistados pretendem alcanccedilar conhecimentos atraveacutes da escola do
campo implantada no Assentamento Renascer com objetivos de administrar a
propriedade participar ativamente do coletivo garantir renda fixa atraveacutes dos
programas de desenvolvimento da agricultura familiar
Os entrevistados unanimamente tecircm a preocupaccedilatildeo da manutenccedilatildeo dos laccedilos
familiares e das raiacutezes camponesas
A distacircncia entre a moradia e a escola fato relatado pela quase totalidade dos
entrevistados constitui um grande motivo de evasatildeo escolar de defasagem nas
seacuteries frequentadas de precariedade na aprendizagem em relaccedilatildeo aos demais
alunos A discriminaccedilatildeo alegada por muitos que frequentaram ou frequentam
escolas fora da faixa etaacuteria o vernaacuteculo proacuteprio dos sujeitos do campo as condiccedilotildees
precaacuterias da estrada que denunciam a condiccedilatildeo de assentado o sentimento de
inadequaccedilatildeo constituem fatores que determinam a evasatildeo escolar
Foram treze (13) entrevistados significando aproximadamente dez por cento
(10) dos moradores do Assentamento Renascer Desse total apenas dois (2)
entrevistados natildeo declararam dificuldade de distacircncia entre a moradia e a escola em
seus lugares de origem A maioria absoluta (11) pessoas declararam que a distacircncia
dificultava e impedia o acesso agrave escola Alguns relatos apresentam situaccedilotildees
precaacuterias para o homem do campo o assentado
Para o aluno do campo a distacircncia da escola tem o significado de inexistecircncia de
escola Isto porque as dificuldades de acesso satildeo enormes No caso em estudo
apenas um entrevistado declarou a inexistecircncia de escola em sua regiatildeo de
moradia Este poreacutem vivenciou todas as dificuldades de acesso que outros
assentados apresentaram em razatildeo da distacircncia moradiaescola
A falta de professores na escola rural eacute relatada por 11 dos 13 entrevistados A
distacircncia da escola para os professores dificulta segundo a vivecircncia dos
entrevistados o acesso agrave escola e a assiduidade o que muito desmotivava a
ambos
41
Os entrevistados conforme anaacutelise de dados desejam muito objetivamente a
implantaccedilatildeo imediata de escolas segundo os criteacuterios caracteriacutesticos de escola do
campo
- Trazer a realidade para dentro da escola do campo curriacuteculos voltados para o
cotidiano do aluno do campo onde as teacutecnicas agriacutecolas pecuaacuterias e agroecoloacutegicas
possam fazer parte do processo educativo da comunidade e que a escola tenha
uma gestatildeo coletiva democraacutetica com a participaccedilatildeo da comunidade
- Ter o trabalho como princiacutepio educativo A experiecircncia do aluno deve
harmonizar-se com os princiacutepios pistrakianos significar o trabalho de forma a que
ele apresente benefiacutecios para o proacuteprio indiviacuteduo para a comunidade na qual estaacute
inserido e para a sociedade e natildeo exclusivamente para servir ao capitalismo
-Superar a fragmentaccedilatildeo do conhecimento disciplinar A interdisciplinaridade
deve fazer parte dos objetivos educacionais de modo a promover a formaccedilatildeo
integral dos educandos
- Valorizar os saberes do homem do campo Os entrevistados desejam uma
escola onde possam exercitar sua vivecircncia campesina e a relaccedilatildeo dialoacutegica entre
professor-aluno seguindo a pedagogia de Paulo Freire o educando quer aprender
com o educador mas quer tambeacutem ter a oportunidade de transmitir seus saberes
- Promover espaccedilos de gestatildeo coletiva A proacutepria comunidade deve participar da
gestatildeo a elaboraccedilatildeo do PPP deve gerir o espaccedilo fiacutesico da escola para atividades
de interesse da comunidade ocupar espaccedilos para finalidades culturais esportivas
sociais tornando a escola um espaccedilo democraacutetico
- Garantir a presenccedila da comunidade e dos movimentos sociais que geram
processos que auxiliam a emancipaccedilatildeo social A escola deve tambeacutem ser espaccedilo
que auxilie a sustentabilidade e garanta a alimentaccedilatildeo saudaacutevel e recursos
fitoteraacutepicos em associaccedilatildeo com a comunidade
- Inclusatildeo tecnoloacutegica em todos os aspectos digital inovaccedilatildeo tecnoloacutegica
agropecuaacuteria recursos ambientais alternativos agua potaacutevel energia solar energia
eoacutelica fossa seacuteptica teacutecnicas de compostagem saneamento baacutesico cuidados com
os recursos hiacutedricos
A anaacutelise dos dados quando feita especificamente sobre a escola a ser
implantada pode aparentemente demonstrar uma pequena conexatildeo com as teorias
da escola do campo
42
A concepccedilatildeo da escola do campo natildeo pode ser imposta ela parte do princiacutepio
que os camponeses devem conquista-la Para essa conquista eacute necessaacuteria a
paixatildeo o desejo por algo ainda natildeo experimentado o amadurecimento poliacutetico-
social-pessoal a participaccedilatildeo coletiva na luta e na conquista
A trajetoacuteria de luta por educaccedilatildeo da comunidade Renascer apresenta estes
elementos agraves vezes difusos outras vezes mais claramente A escola bem que
poderia para alguns ser apenas uma escola rural Afinal aprender a ler e a
escrever ldquodireitordquo como alguns dizem ou seja deixar a condiccedilatildeo de analfabeto ou
analfabeto funcional para tornar-se letrado significaria avanccedilos em face das atuais
circunstacircncias Alguns entendem assim expressando-se principalmente nas
conversas informais
Apesar disso quando as respostas informais ou quando as respostas das
entrevistas satildeo analisadas mais profundamente identificamos que embora
difusamente todos desejam o programa educacional da escola do campo
Explicando melhor a participaccedilatildeo de todos da comunidade em todas as atividades
soacutecio-poliacuteticas-culturais (relatadas no terceiro capitulo) indicam que a comunidade
assimilou a postura soacutecio-politica-cultural que caracterizam a escola do campo
A vivecircncia do Assentamento Renascer no cotidiano e nos eventos coletivos
amadureceu o desejo pelo alimento intelectual cultural artiacutestico ambiental social
que a concepccedilatildeo de escola do campo introduz O programa educacional da Escola
do Campo ultrapassou as paredes fiacutesicas da escola e alcanccedilou o cotidiano dos
assentados
Os avanccedilos da conscientizaccedilatildeo e seu reflexo na vida do Assentamento Renascer
satildeo sentidos nos nuacutemeros de matriculados na LEdoC sete (7) alunos
aproximadamente dez (10) assentados prestaratildeo o proacuteximo vestibular trecircs (3)
assentados estatildeo matriculados no IFB dois(2) assentados estatildeo formados em
Teacutecnico Agropecuaacuterio tambeacutem pelo IFB um deles cursa o Tecnoacutelogo de
Agroecologia tambeacutem do IFB
Vale acrescentar que no iniacutecio de 2014 quando o IFB buscou no Assentamento
pessoas interessadas em matricular-se em seus cursos sob a condiccedilatildeo de
estudarem no ensino meacutedio o interesse foi grande e a impossibilidade pelo fato de
natildeo estarem habilitados no ensino fundamental provocou tanta discussatildeo que
estimulou essa pesquisa
43
O legado desses alunos futuros alunos e profissionais para o futuro do
Assentamento apresentaraacute resultados significativos para toda a comunidade O
futuro colheraacute bons frutos plantados agora
A escola que temos natildeo estaacute funcionando falta a renovaccedilatildeo do contrato o que
atrasa a alfabetizaccedilatildeo e conclusatildeo do 5ordm ano Falta a implantaccedilatildeo de poliacuteticas
puacuteblicas para atendimento de questotildees baacutesicas como por exemplo carteiras
quadro de giz iluminaccedilatildeo espaccedilo fiacutesico (dependecircncias para a escola) e mobiliaacuterio
-41-
44
Consideraccedilotildees Finais
A Educaccedilatildeo do campo eacute um movimento em que os trabalhadores do campo e
suas organizaccedilotildees lutam por transformaccedilotildees sociais particularmente a criaccedilatildeo de
escolas dono campo de qualidade a partir de uma perspectiva ampla de reforma
agraacuteria
A construccedilatildeo da educaccedilatildeo do campo eacute resultado do amadurecimento dos
movimentos sociais e das comunidades rurais em sua trajetoacuteria de luta pelo direito
fundamental agrave universalizaccedilatildeo escolar para as populaccedilotildees camponesas segundo
orientaccedilatildeo poliacutetico-pedagoacutegica adequada agrave realidade dos lutadores de
acampamentos e assentamentos em luta pela reforma agraacuteria e justiccedila social
Alguns princiacutepios caracterizam a luta pela escola do campo Dentre eles
podemos citar a criaccedilatildeo da consciecircncia do direito agrave educaccedilatildeo de qualidade plantada
na proacutepria comunidade o que provoca o enraizamento a valorizaccedilatildeo da vida no
campo a promoccedilatildeo da autoestima e a transformaccedilatildeo do ser alienado pela ideologia
e desigualdade social e sujeito de sua proacutepria histoacuteria
Outro princiacutepio eacute a adequaccedilatildeo de curriacuteculos agrave realidade camponesa de modo
a que o processo ensino-aprendizagem favoreccedila o amadurecimento de talentos
naturais o surgimento de oportunidades a niacutevel pessoal e social contribuindo para a
emancipaccedilatildeo poliacutetico-social do indiviacuteduo com reflexos na sociedade
A mudanccedila de paradigmas e o envolvimento social provocam a formaccedilatildeo integral
dos sujeitos que lutam de forma coletiva e solidaacuteria pela terra A escola do campo
que surge dessa mudanccedila eacute tambeacutem transformadora porque eacute fruto da luta
consciente que gera a reflexatildeo e o amadurecimento poliacutetico deixando um legado
positivo de cidadatildeos orgulhosos de sua condiccedilatildeo de lutador pela terra de sua
identidade de sua cultura de sua comunidade e coletividade
A escola do campo propicia aos alunos a reflexatildeo sobre o contexto social e a
problemaacutetica da comunidade em que estatildeo inseridos o respeito agrave individualidade a
ampliaccedilatildeo das potencialidades do aluno para organizar elaborar e atuar
coletivamente Deixam o legado futuro de homens responsaacuteveis mentes
independentes e atuantes que poderatildeo prestar serviccedilos significativos agrave sociedade
45
A comunidade assentada de o Assentamento Renascer pela Reforma
Agraacuteria em Sobradinho DF foi convidada a opinar sobre a escola que deseja a
partir da conquista da terra
O modelo proposto a partir de seu posicionamento possibilita a conclusatildeo
de que a escola do campo plantada na comunidade eacute preferiacutevel ao modelo
adotado atualmente de inserccedilatildeo dos alunos da comunidade agraves escolas urbanas
conter recursos materiais e humanos que propiciem bons resultados
pedagoacutegicos deve servir para fixar o trabalhador ao campo deve cumprir com o
propoacutesito constitucional de universalizaccedilatildeo do ensino para todas as faixas
etaacuterias deve estar identificada com os sonhos de prosperidade material e
realizaccedilatildeo pessoal dos assentados
-46-
46
Referecircncias Bibliograacuteficas
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FERRARI Marco ldquoAniacutesio Teixeira o inventor da escola puacuteblica no Brasilrdquo Revista Nova Escola Fundaccedilatildeo Victor Civita Revistaescolaabrilcombr acesso em 14092014 FERREIRA Fabiano de Jesus BRANDAtildeO Elias Canuto ndash Revista Eletrocircnica de Educaccedilatildeo Ano V N 09 juldez 2011p3 ldquoEducaccedilatildeo do campo um olhar histoacuterico uma realidade concreta rdquo (WWWUNIFILBR acesso em 08 de agosto de 2014) GONCcedilALVES Luiz Alberto Oliveira e Pinto Regina Pahim EDUCACcedilAtildeO SEacuteRIE JUSTICcedilA E DESENVOLVIMENTO IFP-FCC FUNDACcedilAtildeO CARLOS CHAGAS 2007 SAtildeO PAULO (pag206)
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OLIVEIRA Maria Rita Duarte em sua dissertaccedilatildeo ldquoDos programas oficiais para a educaccedilatildeo rural aos projetos de educaccedilatildeo do campo dos movimentos sociaisrdquo WWWrevistalaborufcbrartigovolume1maria-ritapdf acesso em 08-09-2014
OLIVEIRA Maria Rita Duarte PEDAGOGIA EM MARCHA Apud ARROYO Satildeo Paulo1995( pg 162)
OLIVEIRA Maria Rita Duarte Revistalabor ufcbracesso em 19-10-2014
________ citando CALAZ Maria Rita Duarte Oliveira
47
SANTOS Clarice Aparecida PROGRAMA NACIONAL DE EDUCACcedilAtildeO NA REFORMA AGRAacuteRIA in DICIONARIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia2012(pg630)
________ Clarice Aparecida PROGRAMA NACIONAL DE EDUCACcedilAtildeO NA REFORMA AGRAacuteRIA BRASIacuteLIA 2012 pg 631 in DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO SANTOS Claudio Felix Dos ldquoO aprender a aprender na formaccedilatildeo de professores do campordquo Campinas 2013 Editora Autores Associados ) SOUZA Maria Antocircnia Movimentos Sociais no Brasil Contemporacircneo participaccedilatildeo e possibilidades no contexto das praacuteticas democraacuteticas ndash (wwwcesucptlab2004pdfMariaAntonia Souzapdfaceso em 24-07-2014 -48-
48
Apecircndices
1 Roteiro das Entrevistas
a) Dados dos entrevistados
Qual o seu nome
Masculino ( ) Feminino ( )
Quantos anos vocecirc tecircm
A quanto tempo mora no
assentamento
Onde vocecirc morou antes
de morar no
assentamento
Quantos anos vocecirc tinha
quando foi a escola pela
primeira vez
Estou ateacute qual seacuterieano
Quantos anos vocecirc tinha
quando parou de estudar
Qual motivo motivou vocecirc
a parar de estudar
Se tiver escola no
assentamento vocecirc voltaraacute
a estudar Porque
B) Outras informaccedilotildees dados pelos entrevistadosas (GRAVAR)
a) Em qual escola vocecirc estudou no acampamento ou em outro lugar Qual
b) Como era a escola que estudou Quais as coisas boas e coisas ruins que
tinha nesta escola
c) Conte como eacutefoi a educaccedilatildeo do assentamento o que jaacute existiu de escola
como funcionou e quais eram as boas e as coisas ruins desta escola
d) Jaacute participou de alguma accedilatildeo de mobilizaccedilatildeo para ter escola no
assentamento Se sim explique para que e como foi essa mobilizaccedilatildeo
e) Na sua opiniatildeo no assentamento deve ter escola Por quecirc
f) Como deveraacute ser a escola da comunidadeassentamento Como eacute a escola
que queremos ter
49
b) Entrevistas semi-estruturadas
Entrevistado 01
Moro no assentamento Renascer haacute 11 anos Nasci Carnauacuteba no Rio Grande do
Norte fui criado na roccedila e desde pequeno trabalhava na lavoura para ajudar meu
pai Fui para escola com 9 anos de idade estudei ateacute a 5ordm seacuterie parei de estudar
com 17 anos natildeo continuei os estudos porque era muito longe de onde eu morva
que era na cidade mais proacutexima eu tinha que andar a peacute 8 km ficava muito
cansado Casei e vim morar em Brasiacutelia para trabalhar em uma chaacutecara como
caseiro Morava na chaacutecara Buritis em sobradinho- Df tambeacutem natildeo dei para
continuar os estudos porque ficava longe e tinha que ser a noite e natildeo tinha como ir
Se vier uma escola pra caacute eu ainda vou estudar para ter mais conhecimento para
plantar minha roccedila ir no banco pra ver se assino um empreacutestimo para melhorar
minha produccedilatildeo e saber fazer conta pra administrar minha parcela de terra
Qual o seu nome
Masculino ( X ) Feminino ( )
Quantos anos vocecirc
tecircm
57 anos
A quanto tempo
mora no assentamento
11 anos
Onde vocecirc morou
antes de morar no
assentamento
Carnauacuteba ndash RN
Chaacutecara Buritis nordm 10 Sobradinho DF
Quantos anos vocecirc
tinha quando foi a escola
pela primeira vez
8 anos
Estou ateacute qual
seacuterieano
5ordf seacuterie
Quantos anos vocecirc
tinha quando parou de
estudar
24 anos
Qual motivo
motivou vocecirc a parar de
estudar
Trabalhar para sustento da famiacutelia a
distacircncia entre a casa e a escola
Se tiver escola no
assentamento vocecirc voltaraacute
a estudar Porque
Sim ldquoSe tivesse escola do ensino
fundamental voltaria a estudar para tecirc
mais conhecimento para plantar minha roccedila
50
saber pesar saber contar vendecirc os produto e
comecirc
Entrevistado 02
Moro no assentamento renascer haacute 7 anos tenho 38 vim do interior do Cearaacute
Entrei na escola com 7 anos de idade estudei soacute a 5ordm seacuterie incompleta natildeo
continuei a estudar porque natildeo tinha escola a onde eu morava que era na roccedila e eu
tinha que ficar na casa dozotro (SIC) na cidade e eu natildeo gostava disso natildeo ai parei
com 16 anos de idade Mudamo (SIC) pra Brasiacutelia pra uma chaacutecara perto de Santa
Maria-DF e natildeo dei pra estudar porque casei e tinha que trabalhar muito para
susrentar a famiacutelia A gora moro no assentamento Renascer e sei que um dia vai ter
uma escola aqui e eu vou voltar a estudar porque meu sonho eacute ser veterinaacuterio e vou
der se deus quiser
Entrevistado 03
Tenho 58 anos moro no assentamento Renascer haacute 6 anos vim de Ceres-GO
comecei a estudar quando eu tinha 10 ano de idade estudei ateacute a 4ordf seria primaacuteria
(SIC) parei de estudar quando tinha 16 anos porque eu morava na roccedila e escola
ateacute que natildeo ficava muito longe natildeo era soacute 2 km dava pra ir a peacute a professora eacute que
faltava muito e a gente natildeo tinha como saber se ela tava ou natildeoAiacute quando eu tinha
18 anos casei e vim morar em Brasiacutelia e arranjei(SIC) emprego de caseira em uma
chaacutecara aiacute natildeo pra estudar a noite porque era muito longe pra laacute entatildeo eu natildeo
pensei mais nessas coisas Quando tiver escola no assentamento quero estudar
quiecirc pra mim (SIC) fazer curso de teacutecnico agriacutecolarsquorsquo
Entrevistado 04
Tenho 24 anos moro no assentamento Renascer tem 6 ano vim da Bahia morava
no Condomiacutenio RK entrei na escola com 7 anos de idade e estudei soacute ateacute a 6ordf seacuterie
parei com 18 anos de idade
Porque mudei pra caacute pro assentamento (SIC) e natildeo tem escola e natildeo tem como ir
pra Sobradinho a noite porque eacute muito longe tem que andar 5 km eacute pirigogo (SIC)
tem muita gente mal por aiacute tem ateacute estrupador natildeo posso me arriscar
ldquoSe tivesse escola aqui eu ia terminar meus estudos podia ser no galpatildeo mesmo
pra mim tava bom mas para os meus filhos eu queria uma escola boa com internet
e tudo Eu natildeo gosto que meus filhos estuda(SIC) na cidade soacute aceito porque eacute o
jeito gente de assentamento eacute muito zombado (SIC) porque as vezes chega suja
na escola e os outros acha que eles satildeo porcos que toma banhordquo
Entrevistado 05
51
Tenho 21 anos de idade moro no Renascer haacute trecircs anos vim de satildeo Gabriel-GO
comecei a estudar aos 7 anos parei com 18 anos porque minha matildee mudou
pro(SIC) matildee mudou pro (SIC) assentamento haacute 6 anos e eu natildeo aguento morar
longe dela Quando cheguei aqui natildeo teve como continuar os estudos porque
trabalho durante o dia como manicure em Sobradinho e o uacuteltimo ocircnibus que passa
perto do assentamento eacute as 5 horas da tarde entatildeo natildeo daacute para estudar a noite
Sim porque quero fazer um curso de cabelereiro quando tiver aacutegua e luz aqui eu
quero montar um salatildeo de beleza e para ser uma empresaacuteria precisa ter estudos pra
administrar o negoacutecio
Entrevistado 06
44 anos
6 anos
Formosa-GO
8 anos
5ordf seacuterie
24 anos
Porque a escola mais perto(SIC) era 10km de distacircncia e eu trabalhava na roccedila e
ficava muito cansado aiacute parei natildeo deu mais
Sim quando tiver escola aqui eu vou voltar a estudar Eu tinha um sonho de ser
agroacutenomo mas esse sonho eacute impussive(SIC) entatildeo queria concluir o ensino
fundamental para fazer um curso de teacutecnico agriacutecola no IFB mas tambeacutem eacute longe
se tivesse como estudar aqui no assentamento eu ia(SIC) ficar muito feliz
Entrevistado 07
57 anos
6 anos
Parnaiacuteba-PI- Santa Maria- DF
7 anos
4ordf seacuterie
21 anos
Parei porque era muito difiacutecil ir para escola que ficava muito longe eu tinha que sair
de casa as 4hs da madrugada para chegar na escola as 730 ia montado num
cavalo e muitas vezes natildeo tinha professora pra dar aula Parei porque natildeo aguentei
o rojatildeo tinha que minha matildee na lida a tarde e eu ficava muito cansado Vim pra
52
Brasiacutelia e casei fui trabalhar de chacareiro numa chaacutecara que tambeacutem era longe de
escola depois vim morar aqui no assentamento que natildeo tem escola
Se tivesse escola aqui eu ia voltar estudar soacute pra aprender a cuidar meior (SIC) da
terra e dos meus bichos e que fosse como uma escola agriacutecola
Entrevistado 08
Tenho 29 anos moro no assentamento Renascer haacute 2 anos sou educadora do
Pronera haacute 1 ano e 2 meses O Pronera eacute como um antidepressivo na vida de muita
gente o Pronera melhorou a minha vida e a vida dos meus alunos o desejo de
todos eacute que o Pronera continue crescendo em direccedilatildeo de uma educaccedilatildeo continuada
levando tambeacutem o ensino fundamental para os acampamentos e assentamentos da
Reforma Agraacuteria
-50-
Anexos
53
Acampamento agrave beira da estrada ndash 2004
Construccedilatildeo da Sede do Movimento na atual aacuterea
54
Reuniatildeo semanal
Teatro de fantoches ndash brinquedoteca
55
Accedilatildeo da Pastoral da Crianccedila na brinquedoteca
Oficina de brinquedos reciclaacuteveis
56
Brinquedo confeccionado com materiais reciclaacuteveis na Brinquedoteca
57
58
59
60
Apresentaccedilatildeo teatral
61
Capacitaccedilatildeo em Economia Solidaacuteria
Formaccedilatildeo de multiplicadores da Economia Solidaacuteria
62
Capacitaccedilatildeo de Educadores Ambientais
63
Luta pela Reforma Agraacuteria e Soberania Alimentar
27
Os artigos 208 e 210 da Carta Magna-1988 e inspirada de numa concepccedilatildeo
de mundo rural enquanto espaccedilo especiacutefico diferenciado e ao mesmo tempo
integrado no conjunto da sociedade a Lei 939496- LDB-estabelece que
Art 28 Na oferta da educaccedilatildeo baacutesica para a populaccedilatildeo rural os sistemas de ensino promoveratildeo as adapta necessaacuteria agrave sua adequaccedilatildeo agraves peculiaridades da vida rural e de cada regiatildeo especialmente (MARCOS NORMATIVOS) Brasiacutelia 2012 p 25)
1- Conteuacutedos organizar curriculares e metodologias apropriadas agraves reais
necessidades e interesses dos alunos da zona rural
2-organizaccedilatildeo escolar proacutepria incluindo a adequaccedilatildeo do calendaacuterio escolar as
fases do ciclo agriacutecola e as condiccedilotildees climaacuteticas
3-adequaccedilatildeo agrave natureza do trabalho na zona rural (MARCOS NORMATIVOS)
Brasiacutelia 2012( p 26)
O movimento de educaccedilatildeo do campo luta haacute quinze (15) anos para fazer-se
cumprir esse Decreto da Lei de Diretrizes de base da educaccedilatildeo do campo-LDB
que apesar de ser constitucional ainda natildeo foi colocada totalmente em praacutetica
Agora com as lutas dos movimentos sociais eacute que estaacute comeccedilando a se concretizar
Artigo 26 Os curriacuteculos do ensino fundamental e meacutedio devem ter uma base nacional comum a ser complementada em cada sistema de ensino e estabelecimento escolar por uma parte diversificada exigida pelas caracteriacutesticas regionais e locais da sociedade
da cultura da economia e da clientela (MARCOS NORMATIVOS) Brasiacutelia 2012(p 26)
O Decreto nordm 7352 de 4 de novembro 2010 dispotildee sobre a poliacutetica de educaccedilatildeo do campo ao Programa Nacional de Educaccedilatildeo
na Reforma Agraacuteria-PRONERA decreta
Art1ordm A poliacutetica de educaccedilatildeo do campo destina-
se agrave ampliaccedilatildeo e qualificaccedilatildeo da oferta de educaccedilatildeo baacutesica e superior agraves populaccedilotildees do campo e seraacute desenvolvida pela Uniatildeo em regime de colaboraccedilatildeo com os Estados o
28
Distrito Federal e os Municiacutepios de acordo com as diretrizes e metas estabelecidas no Plano Nacional de Educaccedilatildeo e o disposto neste Decreto
Para os efeitos deste Decreto entende-se por
l-populaccedilatildeo do campo os agricultores familiares os extrativistas os pescadores
artesanais os ribeirinhos os assentados e acampados da reforma agraacuteria os
trabalhadores assalariados rurais os quilombolas os caiccedilaras os povos da floresta
os caboclos e outros que produzam suas condiccedilotildees materiais de existecircncia a partir
do trabalho no meio rural
ll-escola do campo aquela situada em aacuterea rural conforme definida pela Fundaccedilatildeo
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica- IBGE ou aquela situada em aacuterea
urbana desde que atenda predominantemente a populaccedilatildeo do campo (MARCOS
NORMATIVOS) 2012( p 81)
No Decreto 6755 29 de janeiro de 2009 em seu art 2ordm estabelecida pelo Conselho
Nacional de Educaccedilatildeo que se refere as Diretrizes Operacionais da Educaccedilatildeo do
Campo o parecer da alternacircncia
A formaccedilatildeo de professores poderaacute ser feita concomitantemente agrave atuaccedilatildeo profissional de acordo com metodologias adequadas inclusive a pedagogia da alternacircncia e sem prejuiacutezo de outras que atendam agraves especificidades da educaccedilatildeo do campo e por meio de atividades de ensino pesquisa e extensatildeo (MARCOS NORMATIVOS) 2012( p84)
-26-
29
-
231 A educaccedilatildeo do campo e poliacutetica puacuteblica - o PRONERA
O amadurecimento adquirido pela luta sobre o papel da educaccedilatildeo aliado agrave
iniciativa do aproveitamento do trabalho das professoras ldquoleigasrdquo e ainda da
consciecircncia cada vez mais presente do dever do Estado em prover os cidadatildeos da
reforma agraacuteria de poliacuteticas puacuteblicas resultou no campo da educaccedilatildeo na criaccedilatildeo do
Programa Nacional de Educaccedilatildeo na Reforma Agraacuteria (PRONERA)
O PRONERA envolve formalmente jovens e adultos num projeto conjunto
com universidades e institutos federais em prol da formaccedilatildeo de educadores para o
trabalho em escolas dos assentamentos da reforma agraacuteria e seu entorno
O Programa foi criado em 1998 no momento da ascensatildeo dos conflitos pela
reforma agraacuteria o que propiciou que os movimentos sociais trouxessem para a
opiniatildeo puacuteblica suas mazelas
No campo da educaccedilatildeo foi denunciada a falta de escola a precariedade do
ensino a falta de profissionais do ensino a ldquoloacutegica de negaccedilatildeo histoacuterica do direito
aos camponeses de acesso aos niacuteveis mais elevados de escolaridade ( SANTOS
2012 pag 630)
A partir de 2005 o ensino oferecido pelo PRONERA eacute estendido ao niacutevel
meacutedio e superior como a Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo e a Residecircncia
30
Agraacuteria O PRONERA evoluiu para outros patamares tais como ldquopossibilidades de
ressignificaccedilatildeo do conteuacutedo e da metodologia dos processos de educaccedilatildeo formal
por meio dos princiacutepios baacutesicos da participaccedilatildeo e da multiplicaccedilatildeordquo (SANTOS 2012
p 631)
A participaccedilatildeo das comunidades e suas organizaccedilotildees e a multiplicaccedilatildeo de
alfabetizados formados educadores e demais profissionais ligados agraves poliacuteticas
puacuteblicas para a Reforma Agraacuteria gerou ampla participaccedilatildeo dos agentes envolvidos
na dinacircmica do processo ensino-aprendizagem
Essa forma de gestatildeo gerou reaccedilatildeo contraacuteria ldquoagrave gestatildeo colegiada e coletiva
notadamente agrave participaccedilatildeo direta dos movimentos sociais e sindicais do campordquo
considerados ldquoentes estranhos agrave administraccedilatildeo puacuteblicardquo (CLARICE p 634)
O envolvimento dos movimentos sociais e sindicais do campo natildeo
retrocederam em sua luta pelo envolvimento de todos os interessados na educaccedilatildeo
como elemento emancipatoacuterio e continuam formulando princiacutepios concepccedilotildees e
diretrizes para a escola do campo
-31-
31
Terceiro Capiacutetulo
A histoacuteria do Assentamento Renascer
31 Uma breve histoacuteria de luta
A histoacuteria do Assentamento Renascer natildeo parece ser diferente da histoacuteria de
outros assentamentos Brasil afora Partiu da reivindicaccedilatildeo de Trabalhadores Rurais
sem Terra que desde 2004 ocuparam as margens da Rodovia DF 330 que liga
Sobradinho ao Paranoaacute-DF
Tatildeo perto do centro do poder a apenas poucos quilocircmetros do Palaacutecio da
Alvorada ou da Sede do INCRA o Acampamento Renascer esteve ateacute oito (08) de
maio de 2009 tatildeo distante da decisatildeo poliacutetica pela Reforma Agraacuteria
Somente nesta data trezentos sessenta e um( 361) de terras devolutas da
Uniatildeo foram repassadas ao INCRA para assentar as famiacutelias aliacute acampadas Ficou
criado o assentamento Renascer fora da beira da estrada
O Assentamento Renascer ldquorenasceurdquo da dificuldade de vida sob o barraco de
madeira sem aacutegua sem luz sem saneamento baacutesico que fez com que tantos
desistissem ao longo do caminho e ainda hoje se encontra nessa mesma
precariedade um descaso por parte do poder puacuteblico
A luta em vaacuterios momentos da vida dos acampados parecia estar vencida Os
vencedores pareciam ser a burocracia o desrespeito as noites mal dormidas a
inseguranccedila a falta de perspectivas para o acampado e suas famiacutelias
Duzentas (200) famiacutelias viveram aliacute por cinco anos (05) de 2004 ateacute 2009
Atualmente satildeo cento e vinte (120) famiacutelias que moram na aacuterea destinada e estatildeo
em processo de assentamento Muitas delas poreacutem vencidas pelo cansaccedilo e pelas
condiccedilotildees de vida abandonaram a luta mas todas as famiacutelias as que se foram e as
que ficaram sonharam com a terra onde poderiam produzir viam no pedaccedilo de chatildeo
os frutos do pomar da horta o galinheiro o pasto
O Assentamento Renascer eacute o Brasil Eacute um pedacinho da cruel realidade que
como vimos neste trabalho marcou a sociedade brasileira desde a escravidatildeo
desde o primeiro grito de rebeldia do quilombo desde o primeiro que lutou contra os
coroneacuteis por divisatildeo da terra como as Ligas Camponesas contra o latifuacutendio como
os movimentos sociais em sua luta pela reforma agraacuteria desde vaacuterias geraccedilotildees
32
Eacute como todo e qualquer movimento social que surgiu neste paiacutes desde a
deacutecada de 1980 pela reforma agraacuteria Viveu e ainda vive as dificuldades de ser
acampadoassentado mas honra sua luta porque natildeo desiste faacutecil
O Assentamento Renascer eacute tambeacutem fruto do ecircxodo rural da industrializaccedilatildeo
do campo da monocultura e da concentraccedilatildeo de terras Foram expulsos do campo
para a periferia das cidades sem capacitaccedilatildeo sem estudo
A falta de escolarizaccedilatildeo eacute sem duacutevida uma caracteriacutestica de quase todos os
que vieram do campo para a cidade A realidade do Brasil eacute que o campo natildeo eacute
escolarizado as escolas no campo satildeo poucas satildeo despreparadas satildeo
desvalorizadas
-33-
32 As escolas no campo na vivencia do assentado do Assentamento
Renascer
As escolas no campo marcaram profundamente a vida dos poucos que a
frequentaram Quase todos tiveram que trocar o laacutepis pela enxada a carteira pela
roccedila desde muito pequenos Alguns natildeo muito poucos conforme os depoimentos
aqui relatados teriam que abandonar a enxada e a participaccedilatildeo no sustento da
famiacutelia para frequentar a escola Quase sempre abandonaram a escola para ficar no
trabalho com a enxada
Todos teriam que andar vaacuterios quilocircmetros para ir agrave escola Outros nem assim
conseguiriam frequentar a escola no campo ela simplesmente natildeo existia no
campo Teriam entatildeo que ir para a cidade para ter direito a uma escola
Muitos tambeacutem vivenciaram os traumas que uma escola tradicional e
descomprometida com os valores e responsabilidades do projeto educacional
castigos humilhaccedilotildees afastaram a muitos da escola
Alguns apenas sonharam e sonham com a escola ldquoAh a escolardquo Tatildeo longe
inacessiacutevel para tantos no Brasil afora Ao ver de algumas pessoas do
Assentamento Renascer ldquoSe tivesse jeito eu teria ido agrave escola tinha feito pelo
menos o ensino fundamental completo para que eu pudesse ingressar no curso
33
teacutecnico-agriacutecola Mas agora quero que meus filhos e netos vatildeo para a escola
aprender ser algueacutem na vidardquo
-34-
321 A escola no entorno do Assentamento Renascer
A ideia de lutar pela educaccedilatildeo veio antes da ideia de lutar pela escola como
espaccedilo conquistado pelo acampamento Encontrar uma escola perto do
acampamento com transporte escolar com vagas e horaacuterios acessiacuteveis para os que
trabalham o dia todo era entendido como uma necessidade baacutesica e uma grande
vitoacuteria
Ficava-se feliz se apesar das dificuldades fosse possiacutevel matricular pelo
menos as crianccedilas As dificuldades eram e ainda satildeo muitas o transporte escolar
era e eacute precaacuterio a poeira natildeo permite que os alunos cheguem limpos agrave escola os
buracos e as poccedilas daacutegua impedem a chegada do ocircnibus escolar durante as
chuvas No caso do ocircnibus que levam os alunos ateacute a Escola Classe do Coacuterrego do
Arrozal em eacutepoca de muita chuva os ocircnibus ateacute o iniacutecio de 2014 natildeo conseguiam
transitar Isto resulta no fato de que as crianccedilas precisam caminhar debaixo de
chuva ateacute a escola
-35-
322 O caminho para a produccedilatildeo do saber no Assentamento Renascer a
brinquedoteca a integraccedilatildeo social a biblioteca comunitaacuteria as manifestaccedilotildees
culturais
Ao longo dos anos de vivecircncia e convivecircncia no Acampamento Renascer
mediante a dificuldade e necessidade de estudar que sentimos na nossa proacutepria
vida foi despontando a ideia de prover as crianccedilas de atividades luacutedicas e
educativas
34
Logo no iniacutecio do acampamento por volta de 2005 por iniciativa de algumas
pessoas conscientes da necessidade de atividades luacutedicas para as crianccedilas foi
criada uma brinquedoteca
Inicialmente os brinquedos eram de materiais reciclaacuteveis como garrafas pet
telefones sem fio carrinhos bonecas petecas vai e vem cavalinhos tudo era
confeccionado com a participaccedilatildeo das crianccedilas na modalidade de oficina
incentivando-os a fabricar os seus proacuteprios brinquedos Os brinquedos eram
confeccionados a partir de materiais encontrados nos lugares de descarte perto do
acampamento e doaccedilotildees de pessoas que passavam pela estrada
O embriatildeo de um processo educacional que nunca se interrompeu estava
lanccedilado a brinquedoteca proporcionou a criatividade e a participaccedilatildeo de crianccedilas e
adultos marcando as atividades pela conscientizaccedilatildeo do cuidado com a natureza e a
importacircncia da reciclagem A educaccedilatildeo ambiental jaacute era praticada desde o
nascimento do acampamento Renascer
Este primeiro passo foi muito importante porque traduziu para o dia a dia do
acampamento os princiacutepios da escola do campo atuante para mudar a realidade
criar cidadatildeos conscientes e dispostos a mudar a realidade a partir da sua proacutepria
accedilatildeo Este eacute o processo de transformaccedilatildeo social dentro do acampamento Renascer
haacute tanto tempo atraacutes
Aos brinquedos reciclados pela proacutepria comunidade juntaram-se outros
presenteados por instituiccedilotildees como igrejas ONGs a Pastoral da Crianccedila e pessoas
interessadas no bem estar daquelas crianccedilas
Percebe-se em iniciativas como essas a importacircncia da educaccedilatildeo nos
diversos niacuteveis para a sociedade A integraccedilatildeo de pessoas com as atividades
educativas no acampamento nos faz lembrar sobre um grande sonho das escolas
hoje integrar a comunidade de modo a que todos defendam a escola
O sucesso de iniciativas como a brinquedoteca que integravam crianccedilas
adolescentes adultos e sociedade foi importante para outras iniciativas igualmente
importantes
Foi-se criando um projeto educacional para o acampamento sem que se
tivesse consciecircncia disso por faltar informaccedilatildeo que soacute agora se possui graccedilas aos
estudos na Universidade o galpatildeo comunitaacuterio foi utilizado para abrigar a
35
brinquedoteca para desenvolver grupos de teatro de crianccedilas e adultos e para
abrigar a biblioteca
A biblioteca recebeu inuacutemeros exemplares de livros infantis livros didaacuteticos
para os adolescentes e adultos literatura universal revistas dos mais variados
assuntos criando assim um espaccedilo comunitaacuterio de informaccedilatildeo lazer e
entretenimento
Com a criaccedilatildeo da biblioteca ficou evidente a importacircncia da alfabetizaccedilatildeo de
crianccedilas jovens e adultos Muitos acampados relatavam a vontade e a necessidade
de aprender a ler e a escrever Muitos reivindicavam o direito agrave educaccedilatildeo e
frequecircncia agrave escola ainda que o acampamento mudasse de ldquoendereccedilordquo tantas
vezes
Outros poreacutem natildeo acreditavam que seria possiacutevel aprender ou aperfeiccediloar a
leitura e a escrita nas condiccedilotildees de vida de um acampado
Vaacuterias atividades culturais foram desenvolvidas (e ainda satildeo) no
Acampamento Renascer Todas chamavam a atenccedilatildeo da comunidade local de
outras comunidades vizinhas garantindo a simpatia de chacareiros que levavam os
filhos para participarem das atividades
Uma das atividades mais apreciadas foi o Teatro de Fantoches inspirados em
faacutebulas muitas com a autoria da Pastoral da Crianccedila e da Faber Castel A
participaccedilatildeo da comunidade na atividade era intensa e voluntaacuteria todos queriam
manipular os fantoches participar cantando danccedilando ou prestando muita atenccedilatildeo
O teatro de transformaccedilatildeo social produzido pelos adultos e adolescentes
utilizavam tambeacutem materiais reciclaacuteveis demonstrando cuidado com o meio
ambiente e amadurecimento dos conceitos poliacuteticos e pedagoacutegicos gerando reflexatildeo
sobre os temas sociais que nos atingem no cotidiano
A miacutestica adotada pelos movimentos sociais com o objetivo de reflexatildeo satildeo
apresentadas em datas comemorativas e contam com o apoio e participaccedilatildeo de
muitos
Algumas festas fazem parte da tradiccedilatildeo do Acampamento Renascer
traduzindo para a realidade atual as antigas festas a que todos foram acostumados
em seus lugares de origem
Pode-se dizer que a comunidade aprecia muito as festas Mas duas em
particular satildeo muito respeitadas a festa das crianccedilas que ocorre durante o dia (12
36
de outubro) eacute concorrida pois a comunidade se esmera para oferecer os brinquedos
que as crianccedilas amam pula-pula palhaccedilos pintura de rosto piscina de sabatildeo e
muita oferta de comida coisas que as crianccedilas adoram
No mesmo dia ocorre agrave noite a festa da Nossa Senhora Aparecida com
missa e muito forroacute
No mecircs de marccedilo eacute comemorada a Festa da Pamonha em comemoraccedilatildeo agrave
boa colheita do milho Esta festa jaacute se tornou tradicional conhecida em todo o
entorno do assentamento Egrave uma festa importante porque confraterniza a
comunidade Renascer com as comunidades vizinhas e ateacute mesmo as cidades de
Sobradinho Paranoaacute e Planaltina
Os movimentos sociais necessitam ser admirados pela sociedade e festas
como estas chamam a atenccedilatildeo para o problema da reforma agraacuteria demonstrando
que ela eacute viaacutevel e que os assentados tecircm simpatia competecircncia e seus saberes do
campo
A festa ldquojulinardquo eacute outra festa muito apreciada que apresenta as tradiccedilotildees rurais
e religiosas como quadrilhas e bandas de forroacute da comunidade e vizinhanccedila A
danccedila eacute um dos pontos fortes da festa assim como as comidas tradicionais muitas
delas com ingredientes colhidos no acampamento
Vaacuterios grupos de atividades teatrais apresentaram-se na localidade com
participaccedilatildeo de palhaccedilos lembrando um espetaacuteculo circense Alguns desses
grupos inclusive tiveram seus trabalhos premiados
Outras atividades com fundo educativo tiveram participaccedilatildeo animada de
crianccedilas e adultos A exibiccedilatildeo de desenhos animados recentemente apresentados
no cinema eram um grande atrativo para a comunidade que se via socialmente
incluiacuteda Esta inclusatildeo aumentava a autoestima das crianccedilas principalmente pois
assim elas poderiam interagir com os colegas da escola conversando a respeito dos
filmes
A Economia Solidaacuteria eacute uma das formas de inserccedilatildeo dos membros da
comunidade agrave sociedade economicamente ativa Atraveacutes da cooperaccedilatildeo solidaacuteria eacute
possiacutevel o comercio justo agriacutecolas ou artesanais sob conceitos antes
desconhecidos enquanto forma de produccedilatildeo e consumo centrado na valorizaccedilatildeo do
ser humano em contraposiccedilatildeo agraves formas capitalistas de produccedilatildeo e conscientizaccedilatildeo
37
Ao longo dos doze (12) anos de luta pela educaccedilatildeo foram promovidos
diversos cursos que capacitaram multiplicadores que fazem um trabalho importante
para a comunidade
A ideia de autogestatildeo democracia cooperaccedilatildeo auxilia natildeo soacute as formas de
produccedilatildeo e comercio de bens e artesanatos mas tambeacutem auxiliam na formaccedilatildeo
integral de pessoas em que tanto o produtor como o consumidor tem o proposito de
ganhos financeiros segundo um criteacuterio de valorizaccedilatildeo do trabalho
Proposito de formar uma nova consciecircncia a Economia Solidaacuteria promoveu
cursos de Soberania Alimentar em que a comunidade recebeu noccedilotildees praacuteticas
sobre alimentaccedilatildeo a partir da produccedilatildeo local de modo a promover uma nova cultura
alimentar que visa o combate agraves doenccedilas crocircnicas Outro proposito eacute tornar a
comunidade criacutetica em relaccedilatildeo agrave publicidade de produtos alimentiacutecio supeacuterfluo que
induz agraves crianccedilas e adultos alimentarem-se incorretamente
A comunidade participou coletivamente da implantaccedilatildeo de uma unidade da
tecnologia social denominada Produccedilatildeo Agroecoloacutegica Integrada e Sustentaacutevel
(PAIS) em 2012 com o objetivo de produzir alimentos saudaacuteveis e preservar o meio
ambiente trazendo mais alimentos e renda ao campo Esta tecnologia popularmente
conhecida como ldquohorta mandalardquo foi ministrada durante o curso de capacitaccedilatildeo
promovido pela Fundaccedilatildeo Banco do Brasil e teve o meacuterito de proporcionar o debate
e a participaccedilatildeo democraacutetica na definiccedilatildeo das culturas a serem cultivadas na futura
propriedade Vale informar que o assentamento Renascer identificou-se com esse
paradigma agroecoloacutegico
A educaccedilatildeo ambiental faz parte do dia a dia da comunidade hoje preserva-se
conservaccedilatildeo das formas de vida vegetais e animais na regiatildeo do assentamento e
entorno
A produccedilatildeo de mudas no viveiro eacute bastante concorrida contando com a
participaccedilatildeo de todos O viveiro produz cinco mil (5000) mudas de espeacutecies nativa
do cerrado para o reflorestamento das nascentes de aacutegua e nas aacutereas degradadas
da regiatildeo Contam com o apoio da FUNATURA FUNDACcedilAtildeO BANCO DO BRASIL
IFB Rio Satildeo Bartolomeu Vivo e UnB
-36-
38
39
Quarto Capiacutetulo
A escola que queremos expectativas e sonhos dos
acampados do Assentamento Renascer
Pode-se observar pelas falas dos entrevistados que a realidade de todos
converge para os problemas estruturais do Brasil faltam escolas no campo eacute baixa
a escolaridade em Brasiacutelia todos exercem atividades de subemprego
Todos tecircm grandes expectativas com relaccedilatildeo agrave vida futura no assentamento
objetivando melhores condiccedilotildees de vida na esperanccedila de serem beneficiaacuterios
enquanto cidadatildeos assentados das Poliacuteticas Puacuteblicas e financiamentos agriacutecolas
voltadas para a agricultura familiar como PRONAF PAA PNAE e PAPA-DF Vecircem
aiacute a possibilidade de emprego e renda situaccedilatildeo sonhada desde quando foram
pleitear a terra para reforma agraacuteria
Um olhar mais aprofundado sobre a anaacutelise de dados revela que natildeo importa o
fato de hoje residirem no DF pois como em qualquer lugar de origem os moradores
do assentamento Renascer vivenciam os mesmos problemas Percebe-se
claramente as dificuldades da inexistecircncia de escola no campo A distacircncia continua
impedindo o acesso os meios de transportes continuam precaacuterios os filhos
vivenciam a dificuldade de transferecircncia para a cidade na expectativa de
continuidade dos estudos as estradas rurais continuam esburacadas
Satildeo muitos os pontos em comum entre a situaccedilatildeo atual relatada e os problemas
vividos haacute deacutecadas em seus estados de origem o que deixa transparecer a absoluta
falta de interesse por parte do poder puacuteblico em garantir o direito constitucional agrave
educaccedilatildeo do povo do campo o que infelizmente continuaraacute deixando o triste
legado para o futuro do paiacutes
40
Repetimos a pergunta da inicial Cadecirc as escolas do campo Ateacute quando o paiacutes
vai viver essa situaccedilatildeo A anaacutelise de dados responde Natildeo eacute mais possiacutevel
continuar como estaacute
Todos os entrevistados pretendem alcanccedilar conhecimentos atraveacutes da escola do
campo implantada no Assentamento Renascer com objetivos de administrar a
propriedade participar ativamente do coletivo garantir renda fixa atraveacutes dos
programas de desenvolvimento da agricultura familiar
Os entrevistados unanimamente tecircm a preocupaccedilatildeo da manutenccedilatildeo dos laccedilos
familiares e das raiacutezes camponesas
A distacircncia entre a moradia e a escola fato relatado pela quase totalidade dos
entrevistados constitui um grande motivo de evasatildeo escolar de defasagem nas
seacuteries frequentadas de precariedade na aprendizagem em relaccedilatildeo aos demais
alunos A discriminaccedilatildeo alegada por muitos que frequentaram ou frequentam
escolas fora da faixa etaacuteria o vernaacuteculo proacuteprio dos sujeitos do campo as condiccedilotildees
precaacuterias da estrada que denunciam a condiccedilatildeo de assentado o sentimento de
inadequaccedilatildeo constituem fatores que determinam a evasatildeo escolar
Foram treze (13) entrevistados significando aproximadamente dez por cento
(10) dos moradores do Assentamento Renascer Desse total apenas dois (2)
entrevistados natildeo declararam dificuldade de distacircncia entre a moradia e a escola em
seus lugares de origem A maioria absoluta (11) pessoas declararam que a distacircncia
dificultava e impedia o acesso agrave escola Alguns relatos apresentam situaccedilotildees
precaacuterias para o homem do campo o assentado
Para o aluno do campo a distacircncia da escola tem o significado de inexistecircncia de
escola Isto porque as dificuldades de acesso satildeo enormes No caso em estudo
apenas um entrevistado declarou a inexistecircncia de escola em sua regiatildeo de
moradia Este poreacutem vivenciou todas as dificuldades de acesso que outros
assentados apresentaram em razatildeo da distacircncia moradiaescola
A falta de professores na escola rural eacute relatada por 11 dos 13 entrevistados A
distacircncia da escola para os professores dificulta segundo a vivecircncia dos
entrevistados o acesso agrave escola e a assiduidade o que muito desmotivava a
ambos
41
Os entrevistados conforme anaacutelise de dados desejam muito objetivamente a
implantaccedilatildeo imediata de escolas segundo os criteacuterios caracteriacutesticos de escola do
campo
- Trazer a realidade para dentro da escola do campo curriacuteculos voltados para o
cotidiano do aluno do campo onde as teacutecnicas agriacutecolas pecuaacuterias e agroecoloacutegicas
possam fazer parte do processo educativo da comunidade e que a escola tenha
uma gestatildeo coletiva democraacutetica com a participaccedilatildeo da comunidade
- Ter o trabalho como princiacutepio educativo A experiecircncia do aluno deve
harmonizar-se com os princiacutepios pistrakianos significar o trabalho de forma a que
ele apresente benefiacutecios para o proacuteprio indiviacuteduo para a comunidade na qual estaacute
inserido e para a sociedade e natildeo exclusivamente para servir ao capitalismo
-Superar a fragmentaccedilatildeo do conhecimento disciplinar A interdisciplinaridade
deve fazer parte dos objetivos educacionais de modo a promover a formaccedilatildeo
integral dos educandos
- Valorizar os saberes do homem do campo Os entrevistados desejam uma
escola onde possam exercitar sua vivecircncia campesina e a relaccedilatildeo dialoacutegica entre
professor-aluno seguindo a pedagogia de Paulo Freire o educando quer aprender
com o educador mas quer tambeacutem ter a oportunidade de transmitir seus saberes
- Promover espaccedilos de gestatildeo coletiva A proacutepria comunidade deve participar da
gestatildeo a elaboraccedilatildeo do PPP deve gerir o espaccedilo fiacutesico da escola para atividades
de interesse da comunidade ocupar espaccedilos para finalidades culturais esportivas
sociais tornando a escola um espaccedilo democraacutetico
- Garantir a presenccedila da comunidade e dos movimentos sociais que geram
processos que auxiliam a emancipaccedilatildeo social A escola deve tambeacutem ser espaccedilo
que auxilie a sustentabilidade e garanta a alimentaccedilatildeo saudaacutevel e recursos
fitoteraacutepicos em associaccedilatildeo com a comunidade
- Inclusatildeo tecnoloacutegica em todos os aspectos digital inovaccedilatildeo tecnoloacutegica
agropecuaacuteria recursos ambientais alternativos agua potaacutevel energia solar energia
eoacutelica fossa seacuteptica teacutecnicas de compostagem saneamento baacutesico cuidados com
os recursos hiacutedricos
A anaacutelise dos dados quando feita especificamente sobre a escola a ser
implantada pode aparentemente demonstrar uma pequena conexatildeo com as teorias
da escola do campo
42
A concepccedilatildeo da escola do campo natildeo pode ser imposta ela parte do princiacutepio
que os camponeses devem conquista-la Para essa conquista eacute necessaacuteria a
paixatildeo o desejo por algo ainda natildeo experimentado o amadurecimento poliacutetico-
social-pessoal a participaccedilatildeo coletiva na luta e na conquista
A trajetoacuteria de luta por educaccedilatildeo da comunidade Renascer apresenta estes
elementos agraves vezes difusos outras vezes mais claramente A escola bem que
poderia para alguns ser apenas uma escola rural Afinal aprender a ler e a
escrever ldquodireitordquo como alguns dizem ou seja deixar a condiccedilatildeo de analfabeto ou
analfabeto funcional para tornar-se letrado significaria avanccedilos em face das atuais
circunstacircncias Alguns entendem assim expressando-se principalmente nas
conversas informais
Apesar disso quando as respostas informais ou quando as respostas das
entrevistas satildeo analisadas mais profundamente identificamos que embora
difusamente todos desejam o programa educacional da escola do campo
Explicando melhor a participaccedilatildeo de todos da comunidade em todas as atividades
soacutecio-poliacuteticas-culturais (relatadas no terceiro capitulo) indicam que a comunidade
assimilou a postura soacutecio-politica-cultural que caracterizam a escola do campo
A vivecircncia do Assentamento Renascer no cotidiano e nos eventos coletivos
amadureceu o desejo pelo alimento intelectual cultural artiacutestico ambiental social
que a concepccedilatildeo de escola do campo introduz O programa educacional da Escola
do Campo ultrapassou as paredes fiacutesicas da escola e alcanccedilou o cotidiano dos
assentados
Os avanccedilos da conscientizaccedilatildeo e seu reflexo na vida do Assentamento Renascer
satildeo sentidos nos nuacutemeros de matriculados na LEdoC sete (7) alunos
aproximadamente dez (10) assentados prestaratildeo o proacuteximo vestibular trecircs (3)
assentados estatildeo matriculados no IFB dois(2) assentados estatildeo formados em
Teacutecnico Agropecuaacuterio tambeacutem pelo IFB um deles cursa o Tecnoacutelogo de
Agroecologia tambeacutem do IFB
Vale acrescentar que no iniacutecio de 2014 quando o IFB buscou no Assentamento
pessoas interessadas em matricular-se em seus cursos sob a condiccedilatildeo de
estudarem no ensino meacutedio o interesse foi grande e a impossibilidade pelo fato de
natildeo estarem habilitados no ensino fundamental provocou tanta discussatildeo que
estimulou essa pesquisa
43
O legado desses alunos futuros alunos e profissionais para o futuro do
Assentamento apresentaraacute resultados significativos para toda a comunidade O
futuro colheraacute bons frutos plantados agora
A escola que temos natildeo estaacute funcionando falta a renovaccedilatildeo do contrato o que
atrasa a alfabetizaccedilatildeo e conclusatildeo do 5ordm ano Falta a implantaccedilatildeo de poliacuteticas
puacuteblicas para atendimento de questotildees baacutesicas como por exemplo carteiras
quadro de giz iluminaccedilatildeo espaccedilo fiacutesico (dependecircncias para a escola) e mobiliaacuterio
-41-
44
Consideraccedilotildees Finais
A Educaccedilatildeo do campo eacute um movimento em que os trabalhadores do campo e
suas organizaccedilotildees lutam por transformaccedilotildees sociais particularmente a criaccedilatildeo de
escolas dono campo de qualidade a partir de uma perspectiva ampla de reforma
agraacuteria
A construccedilatildeo da educaccedilatildeo do campo eacute resultado do amadurecimento dos
movimentos sociais e das comunidades rurais em sua trajetoacuteria de luta pelo direito
fundamental agrave universalizaccedilatildeo escolar para as populaccedilotildees camponesas segundo
orientaccedilatildeo poliacutetico-pedagoacutegica adequada agrave realidade dos lutadores de
acampamentos e assentamentos em luta pela reforma agraacuteria e justiccedila social
Alguns princiacutepios caracterizam a luta pela escola do campo Dentre eles
podemos citar a criaccedilatildeo da consciecircncia do direito agrave educaccedilatildeo de qualidade plantada
na proacutepria comunidade o que provoca o enraizamento a valorizaccedilatildeo da vida no
campo a promoccedilatildeo da autoestima e a transformaccedilatildeo do ser alienado pela ideologia
e desigualdade social e sujeito de sua proacutepria histoacuteria
Outro princiacutepio eacute a adequaccedilatildeo de curriacuteculos agrave realidade camponesa de modo
a que o processo ensino-aprendizagem favoreccedila o amadurecimento de talentos
naturais o surgimento de oportunidades a niacutevel pessoal e social contribuindo para a
emancipaccedilatildeo poliacutetico-social do indiviacuteduo com reflexos na sociedade
A mudanccedila de paradigmas e o envolvimento social provocam a formaccedilatildeo integral
dos sujeitos que lutam de forma coletiva e solidaacuteria pela terra A escola do campo
que surge dessa mudanccedila eacute tambeacutem transformadora porque eacute fruto da luta
consciente que gera a reflexatildeo e o amadurecimento poliacutetico deixando um legado
positivo de cidadatildeos orgulhosos de sua condiccedilatildeo de lutador pela terra de sua
identidade de sua cultura de sua comunidade e coletividade
A escola do campo propicia aos alunos a reflexatildeo sobre o contexto social e a
problemaacutetica da comunidade em que estatildeo inseridos o respeito agrave individualidade a
ampliaccedilatildeo das potencialidades do aluno para organizar elaborar e atuar
coletivamente Deixam o legado futuro de homens responsaacuteveis mentes
independentes e atuantes que poderatildeo prestar serviccedilos significativos agrave sociedade
45
A comunidade assentada de o Assentamento Renascer pela Reforma
Agraacuteria em Sobradinho DF foi convidada a opinar sobre a escola que deseja a
partir da conquista da terra
O modelo proposto a partir de seu posicionamento possibilita a conclusatildeo
de que a escola do campo plantada na comunidade eacute preferiacutevel ao modelo
adotado atualmente de inserccedilatildeo dos alunos da comunidade agraves escolas urbanas
conter recursos materiais e humanos que propiciem bons resultados
pedagoacutegicos deve servir para fixar o trabalhador ao campo deve cumprir com o
propoacutesito constitucional de universalizaccedilatildeo do ensino para todas as faixas
etaacuterias deve estar identificada com os sonhos de prosperidade material e
realizaccedilatildeo pessoal dos assentados
-46-
46
Referecircncias Bibliograacuteficas
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FERRARI Marco ldquoAniacutesio Teixeira o inventor da escola puacuteblica no Brasilrdquo Revista Nova Escola Fundaccedilatildeo Victor Civita Revistaescolaabrilcombr acesso em 14092014 FERREIRA Fabiano de Jesus BRANDAtildeO Elias Canuto ndash Revista Eletrocircnica de Educaccedilatildeo Ano V N 09 juldez 2011p3 ldquoEducaccedilatildeo do campo um olhar histoacuterico uma realidade concreta rdquo (WWWUNIFILBR acesso em 08 de agosto de 2014) GONCcedilALVES Luiz Alberto Oliveira e Pinto Regina Pahim EDUCACcedilAtildeO SEacuteRIE JUSTICcedilA E DESENVOLVIMENTO IFP-FCC FUNDACcedilAtildeO CARLOS CHAGAS 2007 SAtildeO PAULO (pag206)
KOLLING Edgar Jorge Vargas Caldart MST e Educaccedilatildeo in DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia Expressatildeo Popular 2012 (pag 5020
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OLIVEIRA Maria Rita Duarte em sua dissertaccedilatildeo ldquoDos programas oficiais para a educaccedilatildeo rural aos projetos de educaccedilatildeo do campo dos movimentos sociaisrdquo WWWrevistalaborufcbrartigovolume1maria-ritapdf acesso em 08-09-2014
OLIVEIRA Maria Rita Duarte PEDAGOGIA EM MARCHA Apud ARROYO Satildeo Paulo1995( pg 162)
OLIVEIRA Maria Rita Duarte Revistalabor ufcbracesso em 19-10-2014
________ citando CALAZ Maria Rita Duarte Oliveira
47
SANTOS Clarice Aparecida PROGRAMA NACIONAL DE EDUCACcedilAtildeO NA REFORMA AGRAacuteRIA in DICIONARIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia2012(pg630)
________ Clarice Aparecida PROGRAMA NACIONAL DE EDUCACcedilAtildeO NA REFORMA AGRAacuteRIA BRASIacuteLIA 2012 pg 631 in DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO SANTOS Claudio Felix Dos ldquoO aprender a aprender na formaccedilatildeo de professores do campordquo Campinas 2013 Editora Autores Associados ) SOUZA Maria Antocircnia Movimentos Sociais no Brasil Contemporacircneo participaccedilatildeo e possibilidades no contexto das praacuteticas democraacuteticas ndash (wwwcesucptlab2004pdfMariaAntonia Souzapdfaceso em 24-07-2014 -48-
48
Apecircndices
1 Roteiro das Entrevistas
a) Dados dos entrevistados
Qual o seu nome
Masculino ( ) Feminino ( )
Quantos anos vocecirc tecircm
A quanto tempo mora no
assentamento
Onde vocecirc morou antes
de morar no
assentamento
Quantos anos vocecirc tinha
quando foi a escola pela
primeira vez
Estou ateacute qual seacuterieano
Quantos anos vocecirc tinha
quando parou de estudar
Qual motivo motivou vocecirc
a parar de estudar
Se tiver escola no
assentamento vocecirc voltaraacute
a estudar Porque
B) Outras informaccedilotildees dados pelos entrevistadosas (GRAVAR)
a) Em qual escola vocecirc estudou no acampamento ou em outro lugar Qual
b) Como era a escola que estudou Quais as coisas boas e coisas ruins que
tinha nesta escola
c) Conte como eacutefoi a educaccedilatildeo do assentamento o que jaacute existiu de escola
como funcionou e quais eram as boas e as coisas ruins desta escola
d) Jaacute participou de alguma accedilatildeo de mobilizaccedilatildeo para ter escola no
assentamento Se sim explique para que e como foi essa mobilizaccedilatildeo
e) Na sua opiniatildeo no assentamento deve ter escola Por quecirc
f) Como deveraacute ser a escola da comunidadeassentamento Como eacute a escola
que queremos ter
49
b) Entrevistas semi-estruturadas
Entrevistado 01
Moro no assentamento Renascer haacute 11 anos Nasci Carnauacuteba no Rio Grande do
Norte fui criado na roccedila e desde pequeno trabalhava na lavoura para ajudar meu
pai Fui para escola com 9 anos de idade estudei ateacute a 5ordm seacuterie parei de estudar
com 17 anos natildeo continuei os estudos porque era muito longe de onde eu morva
que era na cidade mais proacutexima eu tinha que andar a peacute 8 km ficava muito
cansado Casei e vim morar em Brasiacutelia para trabalhar em uma chaacutecara como
caseiro Morava na chaacutecara Buritis em sobradinho- Df tambeacutem natildeo dei para
continuar os estudos porque ficava longe e tinha que ser a noite e natildeo tinha como ir
Se vier uma escola pra caacute eu ainda vou estudar para ter mais conhecimento para
plantar minha roccedila ir no banco pra ver se assino um empreacutestimo para melhorar
minha produccedilatildeo e saber fazer conta pra administrar minha parcela de terra
Qual o seu nome
Masculino ( X ) Feminino ( )
Quantos anos vocecirc
tecircm
57 anos
A quanto tempo
mora no assentamento
11 anos
Onde vocecirc morou
antes de morar no
assentamento
Carnauacuteba ndash RN
Chaacutecara Buritis nordm 10 Sobradinho DF
Quantos anos vocecirc
tinha quando foi a escola
pela primeira vez
8 anos
Estou ateacute qual
seacuterieano
5ordf seacuterie
Quantos anos vocecirc
tinha quando parou de
estudar
24 anos
Qual motivo
motivou vocecirc a parar de
estudar
Trabalhar para sustento da famiacutelia a
distacircncia entre a casa e a escola
Se tiver escola no
assentamento vocecirc voltaraacute
a estudar Porque
Sim ldquoSe tivesse escola do ensino
fundamental voltaria a estudar para tecirc
mais conhecimento para plantar minha roccedila
50
saber pesar saber contar vendecirc os produto e
comecirc
Entrevistado 02
Moro no assentamento renascer haacute 7 anos tenho 38 vim do interior do Cearaacute
Entrei na escola com 7 anos de idade estudei soacute a 5ordm seacuterie incompleta natildeo
continuei a estudar porque natildeo tinha escola a onde eu morava que era na roccedila e eu
tinha que ficar na casa dozotro (SIC) na cidade e eu natildeo gostava disso natildeo ai parei
com 16 anos de idade Mudamo (SIC) pra Brasiacutelia pra uma chaacutecara perto de Santa
Maria-DF e natildeo dei pra estudar porque casei e tinha que trabalhar muito para
susrentar a famiacutelia A gora moro no assentamento Renascer e sei que um dia vai ter
uma escola aqui e eu vou voltar a estudar porque meu sonho eacute ser veterinaacuterio e vou
der se deus quiser
Entrevistado 03
Tenho 58 anos moro no assentamento Renascer haacute 6 anos vim de Ceres-GO
comecei a estudar quando eu tinha 10 ano de idade estudei ateacute a 4ordf seria primaacuteria
(SIC) parei de estudar quando tinha 16 anos porque eu morava na roccedila e escola
ateacute que natildeo ficava muito longe natildeo era soacute 2 km dava pra ir a peacute a professora eacute que
faltava muito e a gente natildeo tinha como saber se ela tava ou natildeoAiacute quando eu tinha
18 anos casei e vim morar em Brasiacutelia e arranjei(SIC) emprego de caseira em uma
chaacutecara aiacute natildeo pra estudar a noite porque era muito longe pra laacute entatildeo eu natildeo
pensei mais nessas coisas Quando tiver escola no assentamento quero estudar
quiecirc pra mim (SIC) fazer curso de teacutecnico agriacutecolarsquorsquo
Entrevistado 04
Tenho 24 anos moro no assentamento Renascer tem 6 ano vim da Bahia morava
no Condomiacutenio RK entrei na escola com 7 anos de idade e estudei soacute ateacute a 6ordf seacuterie
parei com 18 anos de idade
Porque mudei pra caacute pro assentamento (SIC) e natildeo tem escola e natildeo tem como ir
pra Sobradinho a noite porque eacute muito longe tem que andar 5 km eacute pirigogo (SIC)
tem muita gente mal por aiacute tem ateacute estrupador natildeo posso me arriscar
ldquoSe tivesse escola aqui eu ia terminar meus estudos podia ser no galpatildeo mesmo
pra mim tava bom mas para os meus filhos eu queria uma escola boa com internet
e tudo Eu natildeo gosto que meus filhos estuda(SIC) na cidade soacute aceito porque eacute o
jeito gente de assentamento eacute muito zombado (SIC) porque as vezes chega suja
na escola e os outros acha que eles satildeo porcos que toma banhordquo
Entrevistado 05
51
Tenho 21 anos de idade moro no Renascer haacute trecircs anos vim de satildeo Gabriel-GO
comecei a estudar aos 7 anos parei com 18 anos porque minha matildee mudou
pro(SIC) matildee mudou pro (SIC) assentamento haacute 6 anos e eu natildeo aguento morar
longe dela Quando cheguei aqui natildeo teve como continuar os estudos porque
trabalho durante o dia como manicure em Sobradinho e o uacuteltimo ocircnibus que passa
perto do assentamento eacute as 5 horas da tarde entatildeo natildeo daacute para estudar a noite
Sim porque quero fazer um curso de cabelereiro quando tiver aacutegua e luz aqui eu
quero montar um salatildeo de beleza e para ser uma empresaacuteria precisa ter estudos pra
administrar o negoacutecio
Entrevistado 06
44 anos
6 anos
Formosa-GO
8 anos
5ordf seacuterie
24 anos
Porque a escola mais perto(SIC) era 10km de distacircncia e eu trabalhava na roccedila e
ficava muito cansado aiacute parei natildeo deu mais
Sim quando tiver escola aqui eu vou voltar a estudar Eu tinha um sonho de ser
agroacutenomo mas esse sonho eacute impussive(SIC) entatildeo queria concluir o ensino
fundamental para fazer um curso de teacutecnico agriacutecola no IFB mas tambeacutem eacute longe
se tivesse como estudar aqui no assentamento eu ia(SIC) ficar muito feliz
Entrevistado 07
57 anos
6 anos
Parnaiacuteba-PI- Santa Maria- DF
7 anos
4ordf seacuterie
21 anos
Parei porque era muito difiacutecil ir para escola que ficava muito longe eu tinha que sair
de casa as 4hs da madrugada para chegar na escola as 730 ia montado num
cavalo e muitas vezes natildeo tinha professora pra dar aula Parei porque natildeo aguentei
o rojatildeo tinha que minha matildee na lida a tarde e eu ficava muito cansado Vim pra
52
Brasiacutelia e casei fui trabalhar de chacareiro numa chaacutecara que tambeacutem era longe de
escola depois vim morar aqui no assentamento que natildeo tem escola
Se tivesse escola aqui eu ia voltar estudar soacute pra aprender a cuidar meior (SIC) da
terra e dos meus bichos e que fosse como uma escola agriacutecola
Entrevistado 08
Tenho 29 anos moro no assentamento Renascer haacute 2 anos sou educadora do
Pronera haacute 1 ano e 2 meses O Pronera eacute como um antidepressivo na vida de muita
gente o Pronera melhorou a minha vida e a vida dos meus alunos o desejo de
todos eacute que o Pronera continue crescendo em direccedilatildeo de uma educaccedilatildeo continuada
levando tambeacutem o ensino fundamental para os acampamentos e assentamentos da
Reforma Agraacuteria
-50-
Anexos
53
Acampamento agrave beira da estrada ndash 2004
Construccedilatildeo da Sede do Movimento na atual aacuterea
54
Reuniatildeo semanal
Teatro de fantoches ndash brinquedoteca
55
Accedilatildeo da Pastoral da Crianccedila na brinquedoteca
Oficina de brinquedos reciclaacuteveis
56
Brinquedo confeccionado com materiais reciclaacuteveis na Brinquedoteca
57
58
59
60
Apresentaccedilatildeo teatral
61
Capacitaccedilatildeo em Economia Solidaacuteria
Formaccedilatildeo de multiplicadores da Economia Solidaacuteria
62
Capacitaccedilatildeo de Educadores Ambientais
63
Luta pela Reforma Agraacuteria e Soberania Alimentar
28
Distrito Federal e os Municiacutepios de acordo com as diretrizes e metas estabelecidas no Plano Nacional de Educaccedilatildeo e o disposto neste Decreto
Para os efeitos deste Decreto entende-se por
l-populaccedilatildeo do campo os agricultores familiares os extrativistas os pescadores
artesanais os ribeirinhos os assentados e acampados da reforma agraacuteria os
trabalhadores assalariados rurais os quilombolas os caiccedilaras os povos da floresta
os caboclos e outros que produzam suas condiccedilotildees materiais de existecircncia a partir
do trabalho no meio rural
ll-escola do campo aquela situada em aacuterea rural conforme definida pela Fundaccedilatildeo
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica- IBGE ou aquela situada em aacuterea
urbana desde que atenda predominantemente a populaccedilatildeo do campo (MARCOS
NORMATIVOS) 2012( p 81)
No Decreto 6755 29 de janeiro de 2009 em seu art 2ordm estabelecida pelo Conselho
Nacional de Educaccedilatildeo que se refere as Diretrizes Operacionais da Educaccedilatildeo do
Campo o parecer da alternacircncia
A formaccedilatildeo de professores poderaacute ser feita concomitantemente agrave atuaccedilatildeo profissional de acordo com metodologias adequadas inclusive a pedagogia da alternacircncia e sem prejuiacutezo de outras que atendam agraves especificidades da educaccedilatildeo do campo e por meio de atividades de ensino pesquisa e extensatildeo (MARCOS NORMATIVOS) 2012( p84)
-26-
29
-
231 A educaccedilatildeo do campo e poliacutetica puacuteblica - o PRONERA
O amadurecimento adquirido pela luta sobre o papel da educaccedilatildeo aliado agrave
iniciativa do aproveitamento do trabalho das professoras ldquoleigasrdquo e ainda da
consciecircncia cada vez mais presente do dever do Estado em prover os cidadatildeos da
reforma agraacuteria de poliacuteticas puacuteblicas resultou no campo da educaccedilatildeo na criaccedilatildeo do
Programa Nacional de Educaccedilatildeo na Reforma Agraacuteria (PRONERA)
O PRONERA envolve formalmente jovens e adultos num projeto conjunto
com universidades e institutos federais em prol da formaccedilatildeo de educadores para o
trabalho em escolas dos assentamentos da reforma agraacuteria e seu entorno
O Programa foi criado em 1998 no momento da ascensatildeo dos conflitos pela
reforma agraacuteria o que propiciou que os movimentos sociais trouxessem para a
opiniatildeo puacuteblica suas mazelas
No campo da educaccedilatildeo foi denunciada a falta de escola a precariedade do
ensino a falta de profissionais do ensino a ldquoloacutegica de negaccedilatildeo histoacuterica do direito
aos camponeses de acesso aos niacuteveis mais elevados de escolaridade ( SANTOS
2012 pag 630)
A partir de 2005 o ensino oferecido pelo PRONERA eacute estendido ao niacutevel
meacutedio e superior como a Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo e a Residecircncia
30
Agraacuteria O PRONERA evoluiu para outros patamares tais como ldquopossibilidades de
ressignificaccedilatildeo do conteuacutedo e da metodologia dos processos de educaccedilatildeo formal
por meio dos princiacutepios baacutesicos da participaccedilatildeo e da multiplicaccedilatildeordquo (SANTOS 2012
p 631)
A participaccedilatildeo das comunidades e suas organizaccedilotildees e a multiplicaccedilatildeo de
alfabetizados formados educadores e demais profissionais ligados agraves poliacuteticas
puacuteblicas para a Reforma Agraacuteria gerou ampla participaccedilatildeo dos agentes envolvidos
na dinacircmica do processo ensino-aprendizagem
Essa forma de gestatildeo gerou reaccedilatildeo contraacuteria ldquoagrave gestatildeo colegiada e coletiva
notadamente agrave participaccedilatildeo direta dos movimentos sociais e sindicais do campordquo
considerados ldquoentes estranhos agrave administraccedilatildeo puacuteblicardquo (CLARICE p 634)
O envolvimento dos movimentos sociais e sindicais do campo natildeo
retrocederam em sua luta pelo envolvimento de todos os interessados na educaccedilatildeo
como elemento emancipatoacuterio e continuam formulando princiacutepios concepccedilotildees e
diretrizes para a escola do campo
-31-
31
Terceiro Capiacutetulo
A histoacuteria do Assentamento Renascer
31 Uma breve histoacuteria de luta
A histoacuteria do Assentamento Renascer natildeo parece ser diferente da histoacuteria de
outros assentamentos Brasil afora Partiu da reivindicaccedilatildeo de Trabalhadores Rurais
sem Terra que desde 2004 ocuparam as margens da Rodovia DF 330 que liga
Sobradinho ao Paranoaacute-DF
Tatildeo perto do centro do poder a apenas poucos quilocircmetros do Palaacutecio da
Alvorada ou da Sede do INCRA o Acampamento Renascer esteve ateacute oito (08) de
maio de 2009 tatildeo distante da decisatildeo poliacutetica pela Reforma Agraacuteria
Somente nesta data trezentos sessenta e um( 361) de terras devolutas da
Uniatildeo foram repassadas ao INCRA para assentar as famiacutelias aliacute acampadas Ficou
criado o assentamento Renascer fora da beira da estrada
O Assentamento Renascer ldquorenasceurdquo da dificuldade de vida sob o barraco de
madeira sem aacutegua sem luz sem saneamento baacutesico que fez com que tantos
desistissem ao longo do caminho e ainda hoje se encontra nessa mesma
precariedade um descaso por parte do poder puacuteblico
A luta em vaacuterios momentos da vida dos acampados parecia estar vencida Os
vencedores pareciam ser a burocracia o desrespeito as noites mal dormidas a
inseguranccedila a falta de perspectivas para o acampado e suas famiacutelias
Duzentas (200) famiacutelias viveram aliacute por cinco anos (05) de 2004 ateacute 2009
Atualmente satildeo cento e vinte (120) famiacutelias que moram na aacuterea destinada e estatildeo
em processo de assentamento Muitas delas poreacutem vencidas pelo cansaccedilo e pelas
condiccedilotildees de vida abandonaram a luta mas todas as famiacutelias as que se foram e as
que ficaram sonharam com a terra onde poderiam produzir viam no pedaccedilo de chatildeo
os frutos do pomar da horta o galinheiro o pasto
O Assentamento Renascer eacute o Brasil Eacute um pedacinho da cruel realidade que
como vimos neste trabalho marcou a sociedade brasileira desde a escravidatildeo
desde o primeiro grito de rebeldia do quilombo desde o primeiro que lutou contra os
coroneacuteis por divisatildeo da terra como as Ligas Camponesas contra o latifuacutendio como
os movimentos sociais em sua luta pela reforma agraacuteria desde vaacuterias geraccedilotildees
32
Eacute como todo e qualquer movimento social que surgiu neste paiacutes desde a
deacutecada de 1980 pela reforma agraacuteria Viveu e ainda vive as dificuldades de ser
acampadoassentado mas honra sua luta porque natildeo desiste faacutecil
O Assentamento Renascer eacute tambeacutem fruto do ecircxodo rural da industrializaccedilatildeo
do campo da monocultura e da concentraccedilatildeo de terras Foram expulsos do campo
para a periferia das cidades sem capacitaccedilatildeo sem estudo
A falta de escolarizaccedilatildeo eacute sem duacutevida uma caracteriacutestica de quase todos os
que vieram do campo para a cidade A realidade do Brasil eacute que o campo natildeo eacute
escolarizado as escolas no campo satildeo poucas satildeo despreparadas satildeo
desvalorizadas
-33-
32 As escolas no campo na vivencia do assentado do Assentamento
Renascer
As escolas no campo marcaram profundamente a vida dos poucos que a
frequentaram Quase todos tiveram que trocar o laacutepis pela enxada a carteira pela
roccedila desde muito pequenos Alguns natildeo muito poucos conforme os depoimentos
aqui relatados teriam que abandonar a enxada e a participaccedilatildeo no sustento da
famiacutelia para frequentar a escola Quase sempre abandonaram a escola para ficar no
trabalho com a enxada
Todos teriam que andar vaacuterios quilocircmetros para ir agrave escola Outros nem assim
conseguiriam frequentar a escola no campo ela simplesmente natildeo existia no
campo Teriam entatildeo que ir para a cidade para ter direito a uma escola
Muitos tambeacutem vivenciaram os traumas que uma escola tradicional e
descomprometida com os valores e responsabilidades do projeto educacional
castigos humilhaccedilotildees afastaram a muitos da escola
Alguns apenas sonharam e sonham com a escola ldquoAh a escolardquo Tatildeo longe
inacessiacutevel para tantos no Brasil afora Ao ver de algumas pessoas do
Assentamento Renascer ldquoSe tivesse jeito eu teria ido agrave escola tinha feito pelo
menos o ensino fundamental completo para que eu pudesse ingressar no curso
33
teacutecnico-agriacutecola Mas agora quero que meus filhos e netos vatildeo para a escola
aprender ser algueacutem na vidardquo
-34-
321 A escola no entorno do Assentamento Renascer
A ideia de lutar pela educaccedilatildeo veio antes da ideia de lutar pela escola como
espaccedilo conquistado pelo acampamento Encontrar uma escola perto do
acampamento com transporte escolar com vagas e horaacuterios acessiacuteveis para os que
trabalham o dia todo era entendido como uma necessidade baacutesica e uma grande
vitoacuteria
Ficava-se feliz se apesar das dificuldades fosse possiacutevel matricular pelo
menos as crianccedilas As dificuldades eram e ainda satildeo muitas o transporte escolar
era e eacute precaacuterio a poeira natildeo permite que os alunos cheguem limpos agrave escola os
buracos e as poccedilas daacutegua impedem a chegada do ocircnibus escolar durante as
chuvas No caso do ocircnibus que levam os alunos ateacute a Escola Classe do Coacuterrego do
Arrozal em eacutepoca de muita chuva os ocircnibus ateacute o iniacutecio de 2014 natildeo conseguiam
transitar Isto resulta no fato de que as crianccedilas precisam caminhar debaixo de
chuva ateacute a escola
-35-
322 O caminho para a produccedilatildeo do saber no Assentamento Renascer a
brinquedoteca a integraccedilatildeo social a biblioteca comunitaacuteria as manifestaccedilotildees
culturais
Ao longo dos anos de vivecircncia e convivecircncia no Acampamento Renascer
mediante a dificuldade e necessidade de estudar que sentimos na nossa proacutepria
vida foi despontando a ideia de prover as crianccedilas de atividades luacutedicas e
educativas
34
Logo no iniacutecio do acampamento por volta de 2005 por iniciativa de algumas
pessoas conscientes da necessidade de atividades luacutedicas para as crianccedilas foi
criada uma brinquedoteca
Inicialmente os brinquedos eram de materiais reciclaacuteveis como garrafas pet
telefones sem fio carrinhos bonecas petecas vai e vem cavalinhos tudo era
confeccionado com a participaccedilatildeo das crianccedilas na modalidade de oficina
incentivando-os a fabricar os seus proacuteprios brinquedos Os brinquedos eram
confeccionados a partir de materiais encontrados nos lugares de descarte perto do
acampamento e doaccedilotildees de pessoas que passavam pela estrada
O embriatildeo de um processo educacional que nunca se interrompeu estava
lanccedilado a brinquedoteca proporcionou a criatividade e a participaccedilatildeo de crianccedilas e
adultos marcando as atividades pela conscientizaccedilatildeo do cuidado com a natureza e a
importacircncia da reciclagem A educaccedilatildeo ambiental jaacute era praticada desde o
nascimento do acampamento Renascer
Este primeiro passo foi muito importante porque traduziu para o dia a dia do
acampamento os princiacutepios da escola do campo atuante para mudar a realidade
criar cidadatildeos conscientes e dispostos a mudar a realidade a partir da sua proacutepria
accedilatildeo Este eacute o processo de transformaccedilatildeo social dentro do acampamento Renascer
haacute tanto tempo atraacutes
Aos brinquedos reciclados pela proacutepria comunidade juntaram-se outros
presenteados por instituiccedilotildees como igrejas ONGs a Pastoral da Crianccedila e pessoas
interessadas no bem estar daquelas crianccedilas
Percebe-se em iniciativas como essas a importacircncia da educaccedilatildeo nos
diversos niacuteveis para a sociedade A integraccedilatildeo de pessoas com as atividades
educativas no acampamento nos faz lembrar sobre um grande sonho das escolas
hoje integrar a comunidade de modo a que todos defendam a escola
O sucesso de iniciativas como a brinquedoteca que integravam crianccedilas
adolescentes adultos e sociedade foi importante para outras iniciativas igualmente
importantes
Foi-se criando um projeto educacional para o acampamento sem que se
tivesse consciecircncia disso por faltar informaccedilatildeo que soacute agora se possui graccedilas aos
estudos na Universidade o galpatildeo comunitaacuterio foi utilizado para abrigar a
35
brinquedoteca para desenvolver grupos de teatro de crianccedilas e adultos e para
abrigar a biblioteca
A biblioteca recebeu inuacutemeros exemplares de livros infantis livros didaacuteticos
para os adolescentes e adultos literatura universal revistas dos mais variados
assuntos criando assim um espaccedilo comunitaacuterio de informaccedilatildeo lazer e
entretenimento
Com a criaccedilatildeo da biblioteca ficou evidente a importacircncia da alfabetizaccedilatildeo de
crianccedilas jovens e adultos Muitos acampados relatavam a vontade e a necessidade
de aprender a ler e a escrever Muitos reivindicavam o direito agrave educaccedilatildeo e
frequecircncia agrave escola ainda que o acampamento mudasse de ldquoendereccedilordquo tantas
vezes
Outros poreacutem natildeo acreditavam que seria possiacutevel aprender ou aperfeiccediloar a
leitura e a escrita nas condiccedilotildees de vida de um acampado
Vaacuterias atividades culturais foram desenvolvidas (e ainda satildeo) no
Acampamento Renascer Todas chamavam a atenccedilatildeo da comunidade local de
outras comunidades vizinhas garantindo a simpatia de chacareiros que levavam os
filhos para participarem das atividades
Uma das atividades mais apreciadas foi o Teatro de Fantoches inspirados em
faacutebulas muitas com a autoria da Pastoral da Crianccedila e da Faber Castel A
participaccedilatildeo da comunidade na atividade era intensa e voluntaacuteria todos queriam
manipular os fantoches participar cantando danccedilando ou prestando muita atenccedilatildeo
O teatro de transformaccedilatildeo social produzido pelos adultos e adolescentes
utilizavam tambeacutem materiais reciclaacuteveis demonstrando cuidado com o meio
ambiente e amadurecimento dos conceitos poliacuteticos e pedagoacutegicos gerando reflexatildeo
sobre os temas sociais que nos atingem no cotidiano
A miacutestica adotada pelos movimentos sociais com o objetivo de reflexatildeo satildeo
apresentadas em datas comemorativas e contam com o apoio e participaccedilatildeo de
muitos
Algumas festas fazem parte da tradiccedilatildeo do Acampamento Renascer
traduzindo para a realidade atual as antigas festas a que todos foram acostumados
em seus lugares de origem
Pode-se dizer que a comunidade aprecia muito as festas Mas duas em
particular satildeo muito respeitadas a festa das crianccedilas que ocorre durante o dia (12
36
de outubro) eacute concorrida pois a comunidade se esmera para oferecer os brinquedos
que as crianccedilas amam pula-pula palhaccedilos pintura de rosto piscina de sabatildeo e
muita oferta de comida coisas que as crianccedilas adoram
No mesmo dia ocorre agrave noite a festa da Nossa Senhora Aparecida com
missa e muito forroacute
No mecircs de marccedilo eacute comemorada a Festa da Pamonha em comemoraccedilatildeo agrave
boa colheita do milho Esta festa jaacute se tornou tradicional conhecida em todo o
entorno do assentamento Egrave uma festa importante porque confraterniza a
comunidade Renascer com as comunidades vizinhas e ateacute mesmo as cidades de
Sobradinho Paranoaacute e Planaltina
Os movimentos sociais necessitam ser admirados pela sociedade e festas
como estas chamam a atenccedilatildeo para o problema da reforma agraacuteria demonstrando
que ela eacute viaacutevel e que os assentados tecircm simpatia competecircncia e seus saberes do
campo
A festa ldquojulinardquo eacute outra festa muito apreciada que apresenta as tradiccedilotildees rurais
e religiosas como quadrilhas e bandas de forroacute da comunidade e vizinhanccedila A
danccedila eacute um dos pontos fortes da festa assim como as comidas tradicionais muitas
delas com ingredientes colhidos no acampamento
Vaacuterios grupos de atividades teatrais apresentaram-se na localidade com
participaccedilatildeo de palhaccedilos lembrando um espetaacuteculo circense Alguns desses
grupos inclusive tiveram seus trabalhos premiados
Outras atividades com fundo educativo tiveram participaccedilatildeo animada de
crianccedilas e adultos A exibiccedilatildeo de desenhos animados recentemente apresentados
no cinema eram um grande atrativo para a comunidade que se via socialmente
incluiacuteda Esta inclusatildeo aumentava a autoestima das crianccedilas principalmente pois
assim elas poderiam interagir com os colegas da escola conversando a respeito dos
filmes
A Economia Solidaacuteria eacute uma das formas de inserccedilatildeo dos membros da
comunidade agrave sociedade economicamente ativa Atraveacutes da cooperaccedilatildeo solidaacuteria eacute
possiacutevel o comercio justo agriacutecolas ou artesanais sob conceitos antes
desconhecidos enquanto forma de produccedilatildeo e consumo centrado na valorizaccedilatildeo do
ser humano em contraposiccedilatildeo agraves formas capitalistas de produccedilatildeo e conscientizaccedilatildeo
37
Ao longo dos doze (12) anos de luta pela educaccedilatildeo foram promovidos
diversos cursos que capacitaram multiplicadores que fazem um trabalho importante
para a comunidade
A ideia de autogestatildeo democracia cooperaccedilatildeo auxilia natildeo soacute as formas de
produccedilatildeo e comercio de bens e artesanatos mas tambeacutem auxiliam na formaccedilatildeo
integral de pessoas em que tanto o produtor como o consumidor tem o proposito de
ganhos financeiros segundo um criteacuterio de valorizaccedilatildeo do trabalho
Proposito de formar uma nova consciecircncia a Economia Solidaacuteria promoveu
cursos de Soberania Alimentar em que a comunidade recebeu noccedilotildees praacuteticas
sobre alimentaccedilatildeo a partir da produccedilatildeo local de modo a promover uma nova cultura
alimentar que visa o combate agraves doenccedilas crocircnicas Outro proposito eacute tornar a
comunidade criacutetica em relaccedilatildeo agrave publicidade de produtos alimentiacutecio supeacuterfluo que
induz agraves crianccedilas e adultos alimentarem-se incorretamente
A comunidade participou coletivamente da implantaccedilatildeo de uma unidade da
tecnologia social denominada Produccedilatildeo Agroecoloacutegica Integrada e Sustentaacutevel
(PAIS) em 2012 com o objetivo de produzir alimentos saudaacuteveis e preservar o meio
ambiente trazendo mais alimentos e renda ao campo Esta tecnologia popularmente
conhecida como ldquohorta mandalardquo foi ministrada durante o curso de capacitaccedilatildeo
promovido pela Fundaccedilatildeo Banco do Brasil e teve o meacuterito de proporcionar o debate
e a participaccedilatildeo democraacutetica na definiccedilatildeo das culturas a serem cultivadas na futura
propriedade Vale informar que o assentamento Renascer identificou-se com esse
paradigma agroecoloacutegico
A educaccedilatildeo ambiental faz parte do dia a dia da comunidade hoje preserva-se
conservaccedilatildeo das formas de vida vegetais e animais na regiatildeo do assentamento e
entorno
A produccedilatildeo de mudas no viveiro eacute bastante concorrida contando com a
participaccedilatildeo de todos O viveiro produz cinco mil (5000) mudas de espeacutecies nativa
do cerrado para o reflorestamento das nascentes de aacutegua e nas aacutereas degradadas
da regiatildeo Contam com o apoio da FUNATURA FUNDACcedilAtildeO BANCO DO BRASIL
IFB Rio Satildeo Bartolomeu Vivo e UnB
-36-
38
39
Quarto Capiacutetulo
A escola que queremos expectativas e sonhos dos
acampados do Assentamento Renascer
Pode-se observar pelas falas dos entrevistados que a realidade de todos
converge para os problemas estruturais do Brasil faltam escolas no campo eacute baixa
a escolaridade em Brasiacutelia todos exercem atividades de subemprego
Todos tecircm grandes expectativas com relaccedilatildeo agrave vida futura no assentamento
objetivando melhores condiccedilotildees de vida na esperanccedila de serem beneficiaacuterios
enquanto cidadatildeos assentados das Poliacuteticas Puacuteblicas e financiamentos agriacutecolas
voltadas para a agricultura familiar como PRONAF PAA PNAE e PAPA-DF Vecircem
aiacute a possibilidade de emprego e renda situaccedilatildeo sonhada desde quando foram
pleitear a terra para reforma agraacuteria
Um olhar mais aprofundado sobre a anaacutelise de dados revela que natildeo importa o
fato de hoje residirem no DF pois como em qualquer lugar de origem os moradores
do assentamento Renascer vivenciam os mesmos problemas Percebe-se
claramente as dificuldades da inexistecircncia de escola no campo A distacircncia continua
impedindo o acesso os meios de transportes continuam precaacuterios os filhos
vivenciam a dificuldade de transferecircncia para a cidade na expectativa de
continuidade dos estudos as estradas rurais continuam esburacadas
Satildeo muitos os pontos em comum entre a situaccedilatildeo atual relatada e os problemas
vividos haacute deacutecadas em seus estados de origem o que deixa transparecer a absoluta
falta de interesse por parte do poder puacuteblico em garantir o direito constitucional agrave
educaccedilatildeo do povo do campo o que infelizmente continuaraacute deixando o triste
legado para o futuro do paiacutes
40
Repetimos a pergunta da inicial Cadecirc as escolas do campo Ateacute quando o paiacutes
vai viver essa situaccedilatildeo A anaacutelise de dados responde Natildeo eacute mais possiacutevel
continuar como estaacute
Todos os entrevistados pretendem alcanccedilar conhecimentos atraveacutes da escola do
campo implantada no Assentamento Renascer com objetivos de administrar a
propriedade participar ativamente do coletivo garantir renda fixa atraveacutes dos
programas de desenvolvimento da agricultura familiar
Os entrevistados unanimamente tecircm a preocupaccedilatildeo da manutenccedilatildeo dos laccedilos
familiares e das raiacutezes camponesas
A distacircncia entre a moradia e a escola fato relatado pela quase totalidade dos
entrevistados constitui um grande motivo de evasatildeo escolar de defasagem nas
seacuteries frequentadas de precariedade na aprendizagem em relaccedilatildeo aos demais
alunos A discriminaccedilatildeo alegada por muitos que frequentaram ou frequentam
escolas fora da faixa etaacuteria o vernaacuteculo proacuteprio dos sujeitos do campo as condiccedilotildees
precaacuterias da estrada que denunciam a condiccedilatildeo de assentado o sentimento de
inadequaccedilatildeo constituem fatores que determinam a evasatildeo escolar
Foram treze (13) entrevistados significando aproximadamente dez por cento
(10) dos moradores do Assentamento Renascer Desse total apenas dois (2)
entrevistados natildeo declararam dificuldade de distacircncia entre a moradia e a escola em
seus lugares de origem A maioria absoluta (11) pessoas declararam que a distacircncia
dificultava e impedia o acesso agrave escola Alguns relatos apresentam situaccedilotildees
precaacuterias para o homem do campo o assentado
Para o aluno do campo a distacircncia da escola tem o significado de inexistecircncia de
escola Isto porque as dificuldades de acesso satildeo enormes No caso em estudo
apenas um entrevistado declarou a inexistecircncia de escola em sua regiatildeo de
moradia Este poreacutem vivenciou todas as dificuldades de acesso que outros
assentados apresentaram em razatildeo da distacircncia moradiaescola
A falta de professores na escola rural eacute relatada por 11 dos 13 entrevistados A
distacircncia da escola para os professores dificulta segundo a vivecircncia dos
entrevistados o acesso agrave escola e a assiduidade o que muito desmotivava a
ambos
41
Os entrevistados conforme anaacutelise de dados desejam muito objetivamente a
implantaccedilatildeo imediata de escolas segundo os criteacuterios caracteriacutesticos de escola do
campo
- Trazer a realidade para dentro da escola do campo curriacuteculos voltados para o
cotidiano do aluno do campo onde as teacutecnicas agriacutecolas pecuaacuterias e agroecoloacutegicas
possam fazer parte do processo educativo da comunidade e que a escola tenha
uma gestatildeo coletiva democraacutetica com a participaccedilatildeo da comunidade
- Ter o trabalho como princiacutepio educativo A experiecircncia do aluno deve
harmonizar-se com os princiacutepios pistrakianos significar o trabalho de forma a que
ele apresente benefiacutecios para o proacuteprio indiviacuteduo para a comunidade na qual estaacute
inserido e para a sociedade e natildeo exclusivamente para servir ao capitalismo
-Superar a fragmentaccedilatildeo do conhecimento disciplinar A interdisciplinaridade
deve fazer parte dos objetivos educacionais de modo a promover a formaccedilatildeo
integral dos educandos
- Valorizar os saberes do homem do campo Os entrevistados desejam uma
escola onde possam exercitar sua vivecircncia campesina e a relaccedilatildeo dialoacutegica entre
professor-aluno seguindo a pedagogia de Paulo Freire o educando quer aprender
com o educador mas quer tambeacutem ter a oportunidade de transmitir seus saberes
- Promover espaccedilos de gestatildeo coletiva A proacutepria comunidade deve participar da
gestatildeo a elaboraccedilatildeo do PPP deve gerir o espaccedilo fiacutesico da escola para atividades
de interesse da comunidade ocupar espaccedilos para finalidades culturais esportivas
sociais tornando a escola um espaccedilo democraacutetico
- Garantir a presenccedila da comunidade e dos movimentos sociais que geram
processos que auxiliam a emancipaccedilatildeo social A escola deve tambeacutem ser espaccedilo
que auxilie a sustentabilidade e garanta a alimentaccedilatildeo saudaacutevel e recursos
fitoteraacutepicos em associaccedilatildeo com a comunidade
- Inclusatildeo tecnoloacutegica em todos os aspectos digital inovaccedilatildeo tecnoloacutegica
agropecuaacuteria recursos ambientais alternativos agua potaacutevel energia solar energia
eoacutelica fossa seacuteptica teacutecnicas de compostagem saneamento baacutesico cuidados com
os recursos hiacutedricos
A anaacutelise dos dados quando feita especificamente sobre a escola a ser
implantada pode aparentemente demonstrar uma pequena conexatildeo com as teorias
da escola do campo
42
A concepccedilatildeo da escola do campo natildeo pode ser imposta ela parte do princiacutepio
que os camponeses devem conquista-la Para essa conquista eacute necessaacuteria a
paixatildeo o desejo por algo ainda natildeo experimentado o amadurecimento poliacutetico-
social-pessoal a participaccedilatildeo coletiva na luta e na conquista
A trajetoacuteria de luta por educaccedilatildeo da comunidade Renascer apresenta estes
elementos agraves vezes difusos outras vezes mais claramente A escola bem que
poderia para alguns ser apenas uma escola rural Afinal aprender a ler e a
escrever ldquodireitordquo como alguns dizem ou seja deixar a condiccedilatildeo de analfabeto ou
analfabeto funcional para tornar-se letrado significaria avanccedilos em face das atuais
circunstacircncias Alguns entendem assim expressando-se principalmente nas
conversas informais
Apesar disso quando as respostas informais ou quando as respostas das
entrevistas satildeo analisadas mais profundamente identificamos que embora
difusamente todos desejam o programa educacional da escola do campo
Explicando melhor a participaccedilatildeo de todos da comunidade em todas as atividades
soacutecio-poliacuteticas-culturais (relatadas no terceiro capitulo) indicam que a comunidade
assimilou a postura soacutecio-politica-cultural que caracterizam a escola do campo
A vivecircncia do Assentamento Renascer no cotidiano e nos eventos coletivos
amadureceu o desejo pelo alimento intelectual cultural artiacutestico ambiental social
que a concepccedilatildeo de escola do campo introduz O programa educacional da Escola
do Campo ultrapassou as paredes fiacutesicas da escola e alcanccedilou o cotidiano dos
assentados
Os avanccedilos da conscientizaccedilatildeo e seu reflexo na vida do Assentamento Renascer
satildeo sentidos nos nuacutemeros de matriculados na LEdoC sete (7) alunos
aproximadamente dez (10) assentados prestaratildeo o proacuteximo vestibular trecircs (3)
assentados estatildeo matriculados no IFB dois(2) assentados estatildeo formados em
Teacutecnico Agropecuaacuterio tambeacutem pelo IFB um deles cursa o Tecnoacutelogo de
Agroecologia tambeacutem do IFB
Vale acrescentar que no iniacutecio de 2014 quando o IFB buscou no Assentamento
pessoas interessadas em matricular-se em seus cursos sob a condiccedilatildeo de
estudarem no ensino meacutedio o interesse foi grande e a impossibilidade pelo fato de
natildeo estarem habilitados no ensino fundamental provocou tanta discussatildeo que
estimulou essa pesquisa
43
O legado desses alunos futuros alunos e profissionais para o futuro do
Assentamento apresentaraacute resultados significativos para toda a comunidade O
futuro colheraacute bons frutos plantados agora
A escola que temos natildeo estaacute funcionando falta a renovaccedilatildeo do contrato o que
atrasa a alfabetizaccedilatildeo e conclusatildeo do 5ordm ano Falta a implantaccedilatildeo de poliacuteticas
puacuteblicas para atendimento de questotildees baacutesicas como por exemplo carteiras
quadro de giz iluminaccedilatildeo espaccedilo fiacutesico (dependecircncias para a escola) e mobiliaacuterio
-41-
44
Consideraccedilotildees Finais
A Educaccedilatildeo do campo eacute um movimento em que os trabalhadores do campo e
suas organizaccedilotildees lutam por transformaccedilotildees sociais particularmente a criaccedilatildeo de
escolas dono campo de qualidade a partir de uma perspectiva ampla de reforma
agraacuteria
A construccedilatildeo da educaccedilatildeo do campo eacute resultado do amadurecimento dos
movimentos sociais e das comunidades rurais em sua trajetoacuteria de luta pelo direito
fundamental agrave universalizaccedilatildeo escolar para as populaccedilotildees camponesas segundo
orientaccedilatildeo poliacutetico-pedagoacutegica adequada agrave realidade dos lutadores de
acampamentos e assentamentos em luta pela reforma agraacuteria e justiccedila social
Alguns princiacutepios caracterizam a luta pela escola do campo Dentre eles
podemos citar a criaccedilatildeo da consciecircncia do direito agrave educaccedilatildeo de qualidade plantada
na proacutepria comunidade o que provoca o enraizamento a valorizaccedilatildeo da vida no
campo a promoccedilatildeo da autoestima e a transformaccedilatildeo do ser alienado pela ideologia
e desigualdade social e sujeito de sua proacutepria histoacuteria
Outro princiacutepio eacute a adequaccedilatildeo de curriacuteculos agrave realidade camponesa de modo
a que o processo ensino-aprendizagem favoreccedila o amadurecimento de talentos
naturais o surgimento de oportunidades a niacutevel pessoal e social contribuindo para a
emancipaccedilatildeo poliacutetico-social do indiviacuteduo com reflexos na sociedade
A mudanccedila de paradigmas e o envolvimento social provocam a formaccedilatildeo integral
dos sujeitos que lutam de forma coletiva e solidaacuteria pela terra A escola do campo
que surge dessa mudanccedila eacute tambeacutem transformadora porque eacute fruto da luta
consciente que gera a reflexatildeo e o amadurecimento poliacutetico deixando um legado
positivo de cidadatildeos orgulhosos de sua condiccedilatildeo de lutador pela terra de sua
identidade de sua cultura de sua comunidade e coletividade
A escola do campo propicia aos alunos a reflexatildeo sobre o contexto social e a
problemaacutetica da comunidade em que estatildeo inseridos o respeito agrave individualidade a
ampliaccedilatildeo das potencialidades do aluno para organizar elaborar e atuar
coletivamente Deixam o legado futuro de homens responsaacuteveis mentes
independentes e atuantes que poderatildeo prestar serviccedilos significativos agrave sociedade
45
A comunidade assentada de o Assentamento Renascer pela Reforma
Agraacuteria em Sobradinho DF foi convidada a opinar sobre a escola que deseja a
partir da conquista da terra
O modelo proposto a partir de seu posicionamento possibilita a conclusatildeo
de que a escola do campo plantada na comunidade eacute preferiacutevel ao modelo
adotado atualmente de inserccedilatildeo dos alunos da comunidade agraves escolas urbanas
conter recursos materiais e humanos que propiciem bons resultados
pedagoacutegicos deve servir para fixar o trabalhador ao campo deve cumprir com o
propoacutesito constitucional de universalizaccedilatildeo do ensino para todas as faixas
etaacuterias deve estar identificada com os sonhos de prosperidade material e
realizaccedilatildeo pessoal dos assentados
-46-
46
Referecircncias Bibliograacuteficas
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OLIVEIRA Maria Rita Duarte em sua dissertaccedilatildeo ldquoDos programas oficiais para a educaccedilatildeo rural aos projetos de educaccedilatildeo do campo dos movimentos sociaisrdquo WWWrevistalaborufcbrartigovolume1maria-ritapdf acesso em 08-09-2014
OLIVEIRA Maria Rita Duarte PEDAGOGIA EM MARCHA Apud ARROYO Satildeo Paulo1995( pg 162)
OLIVEIRA Maria Rita Duarte Revistalabor ufcbracesso em 19-10-2014
________ citando CALAZ Maria Rita Duarte Oliveira
47
SANTOS Clarice Aparecida PROGRAMA NACIONAL DE EDUCACcedilAtildeO NA REFORMA AGRAacuteRIA in DICIONARIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia2012(pg630)
________ Clarice Aparecida PROGRAMA NACIONAL DE EDUCACcedilAtildeO NA REFORMA AGRAacuteRIA BRASIacuteLIA 2012 pg 631 in DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO SANTOS Claudio Felix Dos ldquoO aprender a aprender na formaccedilatildeo de professores do campordquo Campinas 2013 Editora Autores Associados ) SOUZA Maria Antocircnia Movimentos Sociais no Brasil Contemporacircneo participaccedilatildeo e possibilidades no contexto das praacuteticas democraacuteticas ndash (wwwcesucptlab2004pdfMariaAntonia Souzapdfaceso em 24-07-2014 -48-
48
Apecircndices
1 Roteiro das Entrevistas
a) Dados dos entrevistados
Qual o seu nome
Masculino ( ) Feminino ( )
Quantos anos vocecirc tecircm
A quanto tempo mora no
assentamento
Onde vocecirc morou antes
de morar no
assentamento
Quantos anos vocecirc tinha
quando foi a escola pela
primeira vez
Estou ateacute qual seacuterieano
Quantos anos vocecirc tinha
quando parou de estudar
Qual motivo motivou vocecirc
a parar de estudar
Se tiver escola no
assentamento vocecirc voltaraacute
a estudar Porque
B) Outras informaccedilotildees dados pelos entrevistadosas (GRAVAR)
a) Em qual escola vocecirc estudou no acampamento ou em outro lugar Qual
b) Como era a escola que estudou Quais as coisas boas e coisas ruins que
tinha nesta escola
c) Conte como eacutefoi a educaccedilatildeo do assentamento o que jaacute existiu de escola
como funcionou e quais eram as boas e as coisas ruins desta escola
d) Jaacute participou de alguma accedilatildeo de mobilizaccedilatildeo para ter escola no
assentamento Se sim explique para que e como foi essa mobilizaccedilatildeo
e) Na sua opiniatildeo no assentamento deve ter escola Por quecirc
f) Como deveraacute ser a escola da comunidadeassentamento Como eacute a escola
que queremos ter
49
b) Entrevistas semi-estruturadas
Entrevistado 01
Moro no assentamento Renascer haacute 11 anos Nasci Carnauacuteba no Rio Grande do
Norte fui criado na roccedila e desde pequeno trabalhava na lavoura para ajudar meu
pai Fui para escola com 9 anos de idade estudei ateacute a 5ordm seacuterie parei de estudar
com 17 anos natildeo continuei os estudos porque era muito longe de onde eu morva
que era na cidade mais proacutexima eu tinha que andar a peacute 8 km ficava muito
cansado Casei e vim morar em Brasiacutelia para trabalhar em uma chaacutecara como
caseiro Morava na chaacutecara Buritis em sobradinho- Df tambeacutem natildeo dei para
continuar os estudos porque ficava longe e tinha que ser a noite e natildeo tinha como ir
Se vier uma escola pra caacute eu ainda vou estudar para ter mais conhecimento para
plantar minha roccedila ir no banco pra ver se assino um empreacutestimo para melhorar
minha produccedilatildeo e saber fazer conta pra administrar minha parcela de terra
Qual o seu nome
Masculino ( X ) Feminino ( )
Quantos anos vocecirc
tecircm
57 anos
A quanto tempo
mora no assentamento
11 anos
Onde vocecirc morou
antes de morar no
assentamento
Carnauacuteba ndash RN
Chaacutecara Buritis nordm 10 Sobradinho DF
Quantos anos vocecirc
tinha quando foi a escola
pela primeira vez
8 anos
Estou ateacute qual
seacuterieano
5ordf seacuterie
Quantos anos vocecirc
tinha quando parou de
estudar
24 anos
Qual motivo
motivou vocecirc a parar de
estudar
Trabalhar para sustento da famiacutelia a
distacircncia entre a casa e a escola
Se tiver escola no
assentamento vocecirc voltaraacute
a estudar Porque
Sim ldquoSe tivesse escola do ensino
fundamental voltaria a estudar para tecirc
mais conhecimento para plantar minha roccedila
50
saber pesar saber contar vendecirc os produto e
comecirc
Entrevistado 02
Moro no assentamento renascer haacute 7 anos tenho 38 vim do interior do Cearaacute
Entrei na escola com 7 anos de idade estudei soacute a 5ordm seacuterie incompleta natildeo
continuei a estudar porque natildeo tinha escola a onde eu morava que era na roccedila e eu
tinha que ficar na casa dozotro (SIC) na cidade e eu natildeo gostava disso natildeo ai parei
com 16 anos de idade Mudamo (SIC) pra Brasiacutelia pra uma chaacutecara perto de Santa
Maria-DF e natildeo dei pra estudar porque casei e tinha que trabalhar muito para
susrentar a famiacutelia A gora moro no assentamento Renascer e sei que um dia vai ter
uma escola aqui e eu vou voltar a estudar porque meu sonho eacute ser veterinaacuterio e vou
der se deus quiser
Entrevistado 03
Tenho 58 anos moro no assentamento Renascer haacute 6 anos vim de Ceres-GO
comecei a estudar quando eu tinha 10 ano de idade estudei ateacute a 4ordf seria primaacuteria
(SIC) parei de estudar quando tinha 16 anos porque eu morava na roccedila e escola
ateacute que natildeo ficava muito longe natildeo era soacute 2 km dava pra ir a peacute a professora eacute que
faltava muito e a gente natildeo tinha como saber se ela tava ou natildeoAiacute quando eu tinha
18 anos casei e vim morar em Brasiacutelia e arranjei(SIC) emprego de caseira em uma
chaacutecara aiacute natildeo pra estudar a noite porque era muito longe pra laacute entatildeo eu natildeo
pensei mais nessas coisas Quando tiver escola no assentamento quero estudar
quiecirc pra mim (SIC) fazer curso de teacutecnico agriacutecolarsquorsquo
Entrevistado 04
Tenho 24 anos moro no assentamento Renascer tem 6 ano vim da Bahia morava
no Condomiacutenio RK entrei na escola com 7 anos de idade e estudei soacute ateacute a 6ordf seacuterie
parei com 18 anos de idade
Porque mudei pra caacute pro assentamento (SIC) e natildeo tem escola e natildeo tem como ir
pra Sobradinho a noite porque eacute muito longe tem que andar 5 km eacute pirigogo (SIC)
tem muita gente mal por aiacute tem ateacute estrupador natildeo posso me arriscar
ldquoSe tivesse escola aqui eu ia terminar meus estudos podia ser no galpatildeo mesmo
pra mim tava bom mas para os meus filhos eu queria uma escola boa com internet
e tudo Eu natildeo gosto que meus filhos estuda(SIC) na cidade soacute aceito porque eacute o
jeito gente de assentamento eacute muito zombado (SIC) porque as vezes chega suja
na escola e os outros acha que eles satildeo porcos que toma banhordquo
Entrevistado 05
51
Tenho 21 anos de idade moro no Renascer haacute trecircs anos vim de satildeo Gabriel-GO
comecei a estudar aos 7 anos parei com 18 anos porque minha matildee mudou
pro(SIC) matildee mudou pro (SIC) assentamento haacute 6 anos e eu natildeo aguento morar
longe dela Quando cheguei aqui natildeo teve como continuar os estudos porque
trabalho durante o dia como manicure em Sobradinho e o uacuteltimo ocircnibus que passa
perto do assentamento eacute as 5 horas da tarde entatildeo natildeo daacute para estudar a noite
Sim porque quero fazer um curso de cabelereiro quando tiver aacutegua e luz aqui eu
quero montar um salatildeo de beleza e para ser uma empresaacuteria precisa ter estudos pra
administrar o negoacutecio
Entrevistado 06
44 anos
6 anos
Formosa-GO
8 anos
5ordf seacuterie
24 anos
Porque a escola mais perto(SIC) era 10km de distacircncia e eu trabalhava na roccedila e
ficava muito cansado aiacute parei natildeo deu mais
Sim quando tiver escola aqui eu vou voltar a estudar Eu tinha um sonho de ser
agroacutenomo mas esse sonho eacute impussive(SIC) entatildeo queria concluir o ensino
fundamental para fazer um curso de teacutecnico agriacutecola no IFB mas tambeacutem eacute longe
se tivesse como estudar aqui no assentamento eu ia(SIC) ficar muito feliz
Entrevistado 07
57 anos
6 anos
Parnaiacuteba-PI- Santa Maria- DF
7 anos
4ordf seacuterie
21 anos
Parei porque era muito difiacutecil ir para escola que ficava muito longe eu tinha que sair
de casa as 4hs da madrugada para chegar na escola as 730 ia montado num
cavalo e muitas vezes natildeo tinha professora pra dar aula Parei porque natildeo aguentei
o rojatildeo tinha que minha matildee na lida a tarde e eu ficava muito cansado Vim pra
52
Brasiacutelia e casei fui trabalhar de chacareiro numa chaacutecara que tambeacutem era longe de
escola depois vim morar aqui no assentamento que natildeo tem escola
Se tivesse escola aqui eu ia voltar estudar soacute pra aprender a cuidar meior (SIC) da
terra e dos meus bichos e que fosse como uma escola agriacutecola
Entrevistado 08
Tenho 29 anos moro no assentamento Renascer haacute 2 anos sou educadora do
Pronera haacute 1 ano e 2 meses O Pronera eacute como um antidepressivo na vida de muita
gente o Pronera melhorou a minha vida e a vida dos meus alunos o desejo de
todos eacute que o Pronera continue crescendo em direccedilatildeo de uma educaccedilatildeo continuada
levando tambeacutem o ensino fundamental para os acampamentos e assentamentos da
Reforma Agraacuteria
-50-
Anexos
53
Acampamento agrave beira da estrada ndash 2004
Construccedilatildeo da Sede do Movimento na atual aacuterea
54
Reuniatildeo semanal
Teatro de fantoches ndash brinquedoteca
55
Accedilatildeo da Pastoral da Crianccedila na brinquedoteca
Oficina de brinquedos reciclaacuteveis
56
Brinquedo confeccionado com materiais reciclaacuteveis na Brinquedoteca
57
58
59
60
Apresentaccedilatildeo teatral
61
Capacitaccedilatildeo em Economia Solidaacuteria
Formaccedilatildeo de multiplicadores da Economia Solidaacuteria
62
Capacitaccedilatildeo de Educadores Ambientais
63
Luta pela Reforma Agraacuteria e Soberania Alimentar
29
-
231 A educaccedilatildeo do campo e poliacutetica puacuteblica - o PRONERA
O amadurecimento adquirido pela luta sobre o papel da educaccedilatildeo aliado agrave
iniciativa do aproveitamento do trabalho das professoras ldquoleigasrdquo e ainda da
consciecircncia cada vez mais presente do dever do Estado em prover os cidadatildeos da
reforma agraacuteria de poliacuteticas puacuteblicas resultou no campo da educaccedilatildeo na criaccedilatildeo do
Programa Nacional de Educaccedilatildeo na Reforma Agraacuteria (PRONERA)
O PRONERA envolve formalmente jovens e adultos num projeto conjunto
com universidades e institutos federais em prol da formaccedilatildeo de educadores para o
trabalho em escolas dos assentamentos da reforma agraacuteria e seu entorno
O Programa foi criado em 1998 no momento da ascensatildeo dos conflitos pela
reforma agraacuteria o que propiciou que os movimentos sociais trouxessem para a
opiniatildeo puacuteblica suas mazelas
No campo da educaccedilatildeo foi denunciada a falta de escola a precariedade do
ensino a falta de profissionais do ensino a ldquoloacutegica de negaccedilatildeo histoacuterica do direito
aos camponeses de acesso aos niacuteveis mais elevados de escolaridade ( SANTOS
2012 pag 630)
A partir de 2005 o ensino oferecido pelo PRONERA eacute estendido ao niacutevel
meacutedio e superior como a Licenciatura em Educaccedilatildeo do Campo e a Residecircncia
30
Agraacuteria O PRONERA evoluiu para outros patamares tais como ldquopossibilidades de
ressignificaccedilatildeo do conteuacutedo e da metodologia dos processos de educaccedilatildeo formal
por meio dos princiacutepios baacutesicos da participaccedilatildeo e da multiplicaccedilatildeordquo (SANTOS 2012
p 631)
A participaccedilatildeo das comunidades e suas organizaccedilotildees e a multiplicaccedilatildeo de
alfabetizados formados educadores e demais profissionais ligados agraves poliacuteticas
puacuteblicas para a Reforma Agraacuteria gerou ampla participaccedilatildeo dos agentes envolvidos
na dinacircmica do processo ensino-aprendizagem
Essa forma de gestatildeo gerou reaccedilatildeo contraacuteria ldquoagrave gestatildeo colegiada e coletiva
notadamente agrave participaccedilatildeo direta dos movimentos sociais e sindicais do campordquo
considerados ldquoentes estranhos agrave administraccedilatildeo puacuteblicardquo (CLARICE p 634)
O envolvimento dos movimentos sociais e sindicais do campo natildeo
retrocederam em sua luta pelo envolvimento de todos os interessados na educaccedilatildeo
como elemento emancipatoacuterio e continuam formulando princiacutepios concepccedilotildees e
diretrizes para a escola do campo
-31-
31
Terceiro Capiacutetulo
A histoacuteria do Assentamento Renascer
31 Uma breve histoacuteria de luta
A histoacuteria do Assentamento Renascer natildeo parece ser diferente da histoacuteria de
outros assentamentos Brasil afora Partiu da reivindicaccedilatildeo de Trabalhadores Rurais
sem Terra que desde 2004 ocuparam as margens da Rodovia DF 330 que liga
Sobradinho ao Paranoaacute-DF
Tatildeo perto do centro do poder a apenas poucos quilocircmetros do Palaacutecio da
Alvorada ou da Sede do INCRA o Acampamento Renascer esteve ateacute oito (08) de
maio de 2009 tatildeo distante da decisatildeo poliacutetica pela Reforma Agraacuteria
Somente nesta data trezentos sessenta e um( 361) de terras devolutas da
Uniatildeo foram repassadas ao INCRA para assentar as famiacutelias aliacute acampadas Ficou
criado o assentamento Renascer fora da beira da estrada
O Assentamento Renascer ldquorenasceurdquo da dificuldade de vida sob o barraco de
madeira sem aacutegua sem luz sem saneamento baacutesico que fez com que tantos
desistissem ao longo do caminho e ainda hoje se encontra nessa mesma
precariedade um descaso por parte do poder puacuteblico
A luta em vaacuterios momentos da vida dos acampados parecia estar vencida Os
vencedores pareciam ser a burocracia o desrespeito as noites mal dormidas a
inseguranccedila a falta de perspectivas para o acampado e suas famiacutelias
Duzentas (200) famiacutelias viveram aliacute por cinco anos (05) de 2004 ateacute 2009
Atualmente satildeo cento e vinte (120) famiacutelias que moram na aacuterea destinada e estatildeo
em processo de assentamento Muitas delas poreacutem vencidas pelo cansaccedilo e pelas
condiccedilotildees de vida abandonaram a luta mas todas as famiacutelias as que se foram e as
que ficaram sonharam com a terra onde poderiam produzir viam no pedaccedilo de chatildeo
os frutos do pomar da horta o galinheiro o pasto
O Assentamento Renascer eacute o Brasil Eacute um pedacinho da cruel realidade que
como vimos neste trabalho marcou a sociedade brasileira desde a escravidatildeo
desde o primeiro grito de rebeldia do quilombo desde o primeiro que lutou contra os
coroneacuteis por divisatildeo da terra como as Ligas Camponesas contra o latifuacutendio como
os movimentos sociais em sua luta pela reforma agraacuteria desde vaacuterias geraccedilotildees
32
Eacute como todo e qualquer movimento social que surgiu neste paiacutes desde a
deacutecada de 1980 pela reforma agraacuteria Viveu e ainda vive as dificuldades de ser
acampadoassentado mas honra sua luta porque natildeo desiste faacutecil
O Assentamento Renascer eacute tambeacutem fruto do ecircxodo rural da industrializaccedilatildeo
do campo da monocultura e da concentraccedilatildeo de terras Foram expulsos do campo
para a periferia das cidades sem capacitaccedilatildeo sem estudo
A falta de escolarizaccedilatildeo eacute sem duacutevida uma caracteriacutestica de quase todos os
que vieram do campo para a cidade A realidade do Brasil eacute que o campo natildeo eacute
escolarizado as escolas no campo satildeo poucas satildeo despreparadas satildeo
desvalorizadas
-33-
32 As escolas no campo na vivencia do assentado do Assentamento
Renascer
As escolas no campo marcaram profundamente a vida dos poucos que a
frequentaram Quase todos tiveram que trocar o laacutepis pela enxada a carteira pela
roccedila desde muito pequenos Alguns natildeo muito poucos conforme os depoimentos
aqui relatados teriam que abandonar a enxada e a participaccedilatildeo no sustento da
famiacutelia para frequentar a escola Quase sempre abandonaram a escola para ficar no
trabalho com a enxada
Todos teriam que andar vaacuterios quilocircmetros para ir agrave escola Outros nem assim
conseguiriam frequentar a escola no campo ela simplesmente natildeo existia no
campo Teriam entatildeo que ir para a cidade para ter direito a uma escola
Muitos tambeacutem vivenciaram os traumas que uma escola tradicional e
descomprometida com os valores e responsabilidades do projeto educacional
castigos humilhaccedilotildees afastaram a muitos da escola
Alguns apenas sonharam e sonham com a escola ldquoAh a escolardquo Tatildeo longe
inacessiacutevel para tantos no Brasil afora Ao ver de algumas pessoas do
Assentamento Renascer ldquoSe tivesse jeito eu teria ido agrave escola tinha feito pelo
menos o ensino fundamental completo para que eu pudesse ingressar no curso
33
teacutecnico-agriacutecola Mas agora quero que meus filhos e netos vatildeo para a escola
aprender ser algueacutem na vidardquo
-34-
321 A escola no entorno do Assentamento Renascer
A ideia de lutar pela educaccedilatildeo veio antes da ideia de lutar pela escola como
espaccedilo conquistado pelo acampamento Encontrar uma escola perto do
acampamento com transporte escolar com vagas e horaacuterios acessiacuteveis para os que
trabalham o dia todo era entendido como uma necessidade baacutesica e uma grande
vitoacuteria
Ficava-se feliz se apesar das dificuldades fosse possiacutevel matricular pelo
menos as crianccedilas As dificuldades eram e ainda satildeo muitas o transporte escolar
era e eacute precaacuterio a poeira natildeo permite que os alunos cheguem limpos agrave escola os
buracos e as poccedilas daacutegua impedem a chegada do ocircnibus escolar durante as
chuvas No caso do ocircnibus que levam os alunos ateacute a Escola Classe do Coacuterrego do
Arrozal em eacutepoca de muita chuva os ocircnibus ateacute o iniacutecio de 2014 natildeo conseguiam
transitar Isto resulta no fato de que as crianccedilas precisam caminhar debaixo de
chuva ateacute a escola
-35-
322 O caminho para a produccedilatildeo do saber no Assentamento Renascer a
brinquedoteca a integraccedilatildeo social a biblioteca comunitaacuteria as manifestaccedilotildees
culturais
Ao longo dos anos de vivecircncia e convivecircncia no Acampamento Renascer
mediante a dificuldade e necessidade de estudar que sentimos na nossa proacutepria
vida foi despontando a ideia de prover as crianccedilas de atividades luacutedicas e
educativas
34
Logo no iniacutecio do acampamento por volta de 2005 por iniciativa de algumas
pessoas conscientes da necessidade de atividades luacutedicas para as crianccedilas foi
criada uma brinquedoteca
Inicialmente os brinquedos eram de materiais reciclaacuteveis como garrafas pet
telefones sem fio carrinhos bonecas petecas vai e vem cavalinhos tudo era
confeccionado com a participaccedilatildeo das crianccedilas na modalidade de oficina
incentivando-os a fabricar os seus proacuteprios brinquedos Os brinquedos eram
confeccionados a partir de materiais encontrados nos lugares de descarte perto do
acampamento e doaccedilotildees de pessoas que passavam pela estrada
O embriatildeo de um processo educacional que nunca se interrompeu estava
lanccedilado a brinquedoteca proporcionou a criatividade e a participaccedilatildeo de crianccedilas e
adultos marcando as atividades pela conscientizaccedilatildeo do cuidado com a natureza e a
importacircncia da reciclagem A educaccedilatildeo ambiental jaacute era praticada desde o
nascimento do acampamento Renascer
Este primeiro passo foi muito importante porque traduziu para o dia a dia do
acampamento os princiacutepios da escola do campo atuante para mudar a realidade
criar cidadatildeos conscientes e dispostos a mudar a realidade a partir da sua proacutepria
accedilatildeo Este eacute o processo de transformaccedilatildeo social dentro do acampamento Renascer
haacute tanto tempo atraacutes
Aos brinquedos reciclados pela proacutepria comunidade juntaram-se outros
presenteados por instituiccedilotildees como igrejas ONGs a Pastoral da Crianccedila e pessoas
interessadas no bem estar daquelas crianccedilas
Percebe-se em iniciativas como essas a importacircncia da educaccedilatildeo nos
diversos niacuteveis para a sociedade A integraccedilatildeo de pessoas com as atividades
educativas no acampamento nos faz lembrar sobre um grande sonho das escolas
hoje integrar a comunidade de modo a que todos defendam a escola
O sucesso de iniciativas como a brinquedoteca que integravam crianccedilas
adolescentes adultos e sociedade foi importante para outras iniciativas igualmente
importantes
Foi-se criando um projeto educacional para o acampamento sem que se
tivesse consciecircncia disso por faltar informaccedilatildeo que soacute agora se possui graccedilas aos
estudos na Universidade o galpatildeo comunitaacuterio foi utilizado para abrigar a
35
brinquedoteca para desenvolver grupos de teatro de crianccedilas e adultos e para
abrigar a biblioteca
A biblioteca recebeu inuacutemeros exemplares de livros infantis livros didaacuteticos
para os adolescentes e adultos literatura universal revistas dos mais variados
assuntos criando assim um espaccedilo comunitaacuterio de informaccedilatildeo lazer e
entretenimento
Com a criaccedilatildeo da biblioteca ficou evidente a importacircncia da alfabetizaccedilatildeo de
crianccedilas jovens e adultos Muitos acampados relatavam a vontade e a necessidade
de aprender a ler e a escrever Muitos reivindicavam o direito agrave educaccedilatildeo e
frequecircncia agrave escola ainda que o acampamento mudasse de ldquoendereccedilordquo tantas
vezes
Outros poreacutem natildeo acreditavam que seria possiacutevel aprender ou aperfeiccediloar a
leitura e a escrita nas condiccedilotildees de vida de um acampado
Vaacuterias atividades culturais foram desenvolvidas (e ainda satildeo) no
Acampamento Renascer Todas chamavam a atenccedilatildeo da comunidade local de
outras comunidades vizinhas garantindo a simpatia de chacareiros que levavam os
filhos para participarem das atividades
Uma das atividades mais apreciadas foi o Teatro de Fantoches inspirados em
faacutebulas muitas com a autoria da Pastoral da Crianccedila e da Faber Castel A
participaccedilatildeo da comunidade na atividade era intensa e voluntaacuteria todos queriam
manipular os fantoches participar cantando danccedilando ou prestando muita atenccedilatildeo
O teatro de transformaccedilatildeo social produzido pelos adultos e adolescentes
utilizavam tambeacutem materiais reciclaacuteveis demonstrando cuidado com o meio
ambiente e amadurecimento dos conceitos poliacuteticos e pedagoacutegicos gerando reflexatildeo
sobre os temas sociais que nos atingem no cotidiano
A miacutestica adotada pelos movimentos sociais com o objetivo de reflexatildeo satildeo
apresentadas em datas comemorativas e contam com o apoio e participaccedilatildeo de
muitos
Algumas festas fazem parte da tradiccedilatildeo do Acampamento Renascer
traduzindo para a realidade atual as antigas festas a que todos foram acostumados
em seus lugares de origem
Pode-se dizer que a comunidade aprecia muito as festas Mas duas em
particular satildeo muito respeitadas a festa das crianccedilas que ocorre durante o dia (12
36
de outubro) eacute concorrida pois a comunidade se esmera para oferecer os brinquedos
que as crianccedilas amam pula-pula palhaccedilos pintura de rosto piscina de sabatildeo e
muita oferta de comida coisas que as crianccedilas adoram
No mesmo dia ocorre agrave noite a festa da Nossa Senhora Aparecida com
missa e muito forroacute
No mecircs de marccedilo eacute comemorada a Festa da Pamonha em comemoraccedilatildeo agrave
boa colheita do milho Esta festa jaacute se tornou tradicional conhecida em todo o
entorno do assentamento Egrave uma festa importante porque confraterniza a
comunidade Renascer com as comunidades vizinhas e ateacute mesmo as cidades de
Sobradinho Paranoaacute e Planaltina
Os movimentos sociais necessitam ser admirados pela sociedade e festas
como estas chamam a atenccedilatildeo para o problema da reforma agraacuteria demonstrando
que ela eacute viaacutevel e que os assentados tecircm simpatia competecircncia e seus saberes do
campo
A festa ldquojulinardquo eacute outra festa muito apreciada que apresenta as tradiccedilotildees rurais
e religiosas como quadrilhas e bandas de forroacute da comunidade e vizinhanccedila A
danccedila eacute um dos pontos fortes da festa assim como as comidas tradicionais muitas
delas com ingredientes colhidos no acampamento
Vaacuterios grupos de atividades teatrais apresentaram-se na localidade com
participaccedilatildeo de palhaccedilos lembrando um espetaacuteculo circense Alguns desses
grupos inclusive tiveram seus trabalhos premiados
Outras atividades com fundo educativo tiveram participaccedilatildeo animada de
crianccedilas e adultos A exibiccedilatildeo de desenhos animados recentemente apresentados
no cinema eram um grande atrativo para a comunidade que se via socialmente
incluiacuteda Esta inclusatildeo aumentava a autoestima das crianccedilas principalmente pois
assim elas poderiam interagir com os colegas da escola conversando a respeito dos
filmes
A Economia Solidaacuteria eacute uma das formas de inserccedilatildeo dos membros da
comunidade agrave sociedade economicamente ativa Atraveacutes da cooperaccedilatildeo solidaacuteria eacute
possiacutevel o comercio justo agriacutecolas ou artesanais sob conceitos antes
desconhecidos enquanto forma de produccedilatildeo e consumo centrado na valorizaccedilatildeo do
ser humano em contraposiccedilatildeo agraves formas capitalistas de produccedilatildeo e conscientizaccedilatildeo
37
Ao longo dos doze (12) anos de luta pela educaccedilatildeo foram promovidos
diversos cursos que capacitaram multiplicadores que fazem um trabalho importante
para a comunidade
A ideia de autogestatildeo democracia cooperaccedilatildeo auxilia natildeo soacute as formas de
produccedilatildeo e comercio de bens e artesanatos mas tambeacutem auxiliam na formaccedilatildeo
integral de pessoas em que tanto o produtor como o consumidor tem o proposito de
ganhos financeiros segundo um criteacuterio de valorizaccedilatildeo do trabalho
Proposito de formar uma nova consciecircncia a Economia Solidaacuteria promoveu
cursos de Soberania Alimentar em que a comunidade recebeu noccedilotildees praacuteticas
sobre alimentaccedilatildeo a partir da produccedilatildeo local de modo a promover uma nova cultura
alimentar que visa o combate agraves doenccedilas crocircnicas Outro proposito eacute tornar a
comunidade criacutetica em relaccedilatildeo agrave publicidade de produtos alimentiacutecio supeacuterfluo que
induz agraves crianccedilas e adultos alimentarem-se incorretamente
A comunidade participou coletivamente da implantaccedilatildeo de uma unidade da
tecnologia social denominada Produccedilatildeo Agroecoloacutegica Integrada e Sustentaacutevel
(PAIS) em 2012 com o objetivo de produzir alimentos saudaacuteveis e preservar o meio
ambiente trazendo mais alimentos e renda ao campo Esta tecnologia popularmente
conhecida como ldquohorta mandalardquo foi ministrada durante o curso de capacitaccedilatildeo
promovido pela Fundaccedilatildeo Banco do Brasil e teve o meacuterito de proporcionar o debate
e a participaccedilatildeo democraacutetica na definiccedilatildeo das culturas a serem cultivadas na futura
propriedade Vale informar que o assentamento Renascer identificou-se com esse
paradigma agroecoloacutegico
A educaccedilatildeo ambiental faz parte do dia a dia da comunidade hoje preserva-se
conservaccedilatildeo das formas de vida vegetais e animais na regiatildeo do assentamento e
entorno
A produccedilatildeo de mudas no viveiro eacute bastante concorrida contando com a
participaccedilatildeo de todos O viveiro produz cinco mil (5000) mudas de espeacutecies nativa
do cerrado para o reflorestamento das nascentes de aacutegua e nas aacutereas degradadas
da regiatildeo Contam com o apoio da FUNATURA FUNDACcedilAtildeO BANCO DO BRASIL
IFB Rio Satildeo Bartolomeu Vivo e UnB
-36-
38
39
Quarto Capiacutetulo
A escola que queremos expectativas e sonhos dos
acampados do Assentamento Renascer
Pode-se observar pelas falas dos entrevistados que a realidade de todos
converge para os problemas estruturais do Brasil faltam escolas no campo eacute baixa
a escolaridade em Brasiacutelia todos exercem atividades de subemprego
Todos tecircm grandes expectativas com relaccedilatildeo agrave vida futura no assentamento
objetivando melhores condiccedilotildees de vida na esperanccedila de serem beneficiaacuterios
enquanto cidadatildeos assentados das Poliacuteticas Puacuteblicas e financiamentos agriacutecolas
voltadas para a agricultura familiar como PRONAF PAA PNAE e PAPA-DF Vecircem
aiacute a possibilidade de emprego e renda situaccedilatildeo sonhada desde quando foram
pleitear a terra para reforma agraacuteria
Um olhar mais aprofundado sobre a anaacutelise de dados revela que natildeo importa o
fato de hoje residirem no DF pois como em qualquer lugar de origem os moradores
do assentamento Renascer vivenciam os mesmos problemas Percebe-se
claramente as dificuldades da inexistecircncia de escola no campo A distacircncia continua
impedindo o acesso os meios de transportes continuam precaacuterios os filhos
vivenciam a dificuldade de transferecircncia para a cidade na expectativa de
continuidade dos estudos as estradas rurais continuam esburacadas
Satildeo muitos os pontos em comum entre a situaccedilatildeo atual relatada e os problemas
vividos haacute deacutecadas em seus estados de origem o que deixa transparecer a absoluta
falta de interesse por parte do poder puacuteblico em garantir o direito constitucional agrave
educaccedilatildeo do povo do campo o que infelizmente continuaraacute deixando o triste
legado para o futuro do paiacutes
40
Repetimos a pergunta da inicial Cadecirc as escolas do campo Ateacute quando o paiacutes
vai viver essa situaccedilatildeo A anaacutelise de dados responde Natildeo eacute mais possiacutevel
continuar como estaacute
Todos os entrevistados pretendem alcanccedilar conhecimentos atraveacutes da escola do
campo implantada no Assentamento Renascer com objetivos de administrar a
propriedade participar ativamente do coletivo garantir renda fixa atraveacutes dos
programas de desenvolvimento da agricultura familiar
Os entrevistados unanimamente tecircm a preocupaccedilatildeo da manutenccedilatildeo dos laccedilos
familiares e das raiacutezes camponesas
A distacircncia entre a moradia e a escola fato relatado pela quase totalidade dos
entrevistados constitui um grande motivo de evasatildeo escolar de defasagem nas
seacuteries frequentadas de precariedade na aprendizagem em relaccedilatildeo aos demais
alunos A discriminaccedilatildeo alegada por muitos que frequentaram ou frequentam
escolas fora da faixa etaacuteria o vernaacuteculo proacuteprio dos sujeitos do campo as condiccedilotildees
precaacuterias da estrada que denunciam a condiccedilatildeo de assentado o sentimento de
inadequaccedilatildeo constituem fatores que determinam a evasatildeo escolar
Foram treze (13) entrevistados significando aproximadamente dez por cento
(10) dos moradores do Assentamento Renascer Desse total apenas dois (2)
entrevistados natildeo declararam dificuldade de distacircncia entre a moradia e a escola em
seus lugares de origem A maioria absoluta (11) pessoas declararam que a distacircncia
dificultava e impedia o acesso agrave escola Alguns relatos apresentam situaccedilotildees
precaacuterias para o homem do campo o assentado
Para o aluno do campo a distacircncia da escola tem o significado de inexistecircncia de
escola Isto porque as dificuldades de acesso satildeo enormes No caso em estudo
apenas um entrevistado declarou a inexistecircncia de escola em sua regiatildeo de
moradia Este poreacutem vivenciou todas as dificuldades de acesso que outros
assentados apresentaram em razatildeo da distacircncia moradiaescola
A falta de professores na escola rural eacute relatada por 11 dos 13 entrevistados A
distacircncia da escola para os professores dificulta segundo a vivecircncia dos
entrevistados o acesso agrave escola e a assiduidade o que muito desmotivava a
ambos
41
Os entrevistados conforme anaacutelise de dados desejam muito objetivamente a
implantaccedilatildeo imediata de escolas segundo os criteacuterios caracteriacutesticos de escola do
campo
- Trazer a realidade para dentro da escola do campo curriacuteculos voltados para o
cotidiano do aluno do campo onde as teacutecnicas agriacutecolas pecuaacuterias e agroecoloacutegicas
possam fazer parte do processo educativo da comunidade e que a escola tenha
uma gestatildeo coletiva democraacutetica com a participaccedilatildeo da comunidade
- Ter o trabalho como princiacutepio educativo A experiecircncia do aluno deve
harmonizar-se com os princiacutepios pistrakianos significar o trabalho de forma a que
ele apresente benefiacutecios para o proacuteprio indiviacuteduo para a comunidade na qual estaacute
inserido e para a sociedade e natildeo exclusivamente para servir ao capitalismo
-Superar a fragmentaccedilatildeo do conhecimento disciplinar A interdisciplinaridade
deve fazer parte dos objetivos educacionais de modo a promover a formaccedilatildeo
integral dos educandos
- Valorizar os saberes do homem do campo Os entrevistados desejam uma
escola onde possam exercitar sua vivecircncia campesina e a relaccedilatildeo dialoacutegica entre
professor-aluno seguindo a pedagogia de Paulo Freire o educando quer aprender
com o educador mas quer tambeacutem ter a oportunidade de transmitir seus saberes
- Promover espaccedilos de gestatildeo coletiva A proacutepria comunidade deve participar da
gestatildeo a elaboraccedilatildeo do PPP deve gerir o espaccedilo fiacutesico da escola para atividades
de interesse da comunidade ocupar espaccedilos para finalidades culturais esportivas
sociais tornando a escola um espaccedilo democraacutetico
- Garantir a presenccedila da comunidade e dos movimentos sociais que geram
processos que auxiliam a emancipaccedilatildeo social A escola deve tambeacutem ser espaccedilo
que auxilie a sustentabilidade e garanta a alimentaccedilatildeo saudaacutevel e recursos
fitoteraacutepicos em associaccedilatildeo com a comunidade
- Inclusatildeo tecnoloacutegica em todos os aspectos digital inovaccedilatildeo tecnoloacutegica
agropecuaacuteria recursos ambientais alternativos agua potaacutevel energia solar energia
eoacutelica fossa seacuteptica teacutecnicas de compostagem saneamento baacutesico cuidados com
os recursos hiacutedricos
A anaacutelise dos dados quando feita especificamente sobre a escola a ser
implantada pode aparentemente demonstrar uma pequena conexatildeo com as teorias
da escola do campo
42
A concepccedilatildeo da escola do campo natildeo pode ser imposta ela parte do princiacutepio
que os camponeses devem conquista-la Para essa conquista eacute necessaacuteria a
paixatildeo o desejo por algo ainda natildeo experimentado o amadurecimento poliacutetico-
social-pessoal a participaccedilatildeo coletiva na luta e na conquista
A trajetoacuteria de luta por educaccedilatildeo da comunidade Renascer apresenta estes
elementos agraves vezes difusos outras vezes mais claramente A escola bem que
poderia para alguns ser apenas uma escola rural Afinal aprender a ler e a
escrever ldquodireitordquo como alguns dizem ou seja deixar a condiccedilatildeo de analfabeto ou
analfabeto funcional para tornar-se letrado significaria avanccedilos em face das atuais
circunstacircncias Alguns entendem assim expressando-se principalmente nas
conversas informais
Apesar disso quando as respostas informais ou quando as respostas das
entrevistas satildeo analisadas mais profundamente identificamos que embora
difusamente todos desejam o programa educacional da escola do campo
Explicando melhor a participaccedilatildeo de todos da comunidade em todas as atividades
soacutecio-poliacuteticas-culturais (relatadas no terceiro capitulo) indicam que a comunidade
assimilou a postura soacutecio-politica-cultural que caracterizam a escola do campo
A vivecircncia do Assentamento Renascer no cotidiano e nos eventos coletivos
amadureceu o desejo pelo alimento intelectual cultural artiacutestico ambiental social
que a concepccedilatildeo de escola do campo introduz O programa educacional da Escola
do Campo ultrapassou as paredes fiacutesicas da escola e alcanccedilou o cotidiano dos
assentados
Os avanccedilos da conscientizaccedilatildeo e seu reflexo na vida do Assentamento Renascer
satildeo sentidos nos nuacutemeros de matriculados na LEdoC sete (7) alunos
aproximadamente dez (10) assentados prestaratildeo o proacuteximo vestibular trecircs (3)
assentados estatildeo matriculados no IFB dois(2) assentados estatildeo formados em
Teacutecnico Agropecuaacuterio tambeacutem pelo IFB um deles cursa o Tecnoacutelogo de
Agroecologia tambeacutem do IFB
Vale acrescentar que no iniacutecio de 2014 quando o IFB buscou no Assentamento
pessoas interessadas em matricular-se em seus cursos sob a condiccedilatildeo de
estudarem no ensino meacutedio o interesse foi grande e a impossibilidade pelo fato de
natildeo estarem habilitados no ensino fundamental provocou tanta discussatildeo que
estimulou essa pesquisa
43
O legado desses alunos futuros alunos e profissionais para o futuro do
Assentamento apresentaraacute resultados significativos para toda a comunidade O
futuro colheraacute bons frutos plantados agora
A escola que temos natildeo estaacute funcionando falta a renovaccedilatildeo do contrato o que
atrasa a alfabetizaccedilatildeo e conclusatildeo do 5ordm ano Falta a implantaccedilatildeo de poliacuteticas
puacuteblicas para atendimento de questotildees baacutesicas como por exemplo carteiras
quadro de giz iluminaccedilatildeo espaccedilo fiacutesico (dependecircncias para a escola) e mobiliaacuterio
-41-
44
Consideraccedilotildees Finais
A Educaccedilatildeo do campo eacute um movimento em que os trabalhadores do campo e
suas organizaccedilotildees lutam por transformaccedilotildees sociais particularmente a criaccedilatildeo de
escolas dono campo de qualidade a partir de uma perspectiva ampla de reforma
agraacuteria
A construccedilatildeo da educaccedilatildeo do campo eacute resultado do amadurecimento dos
movimentos sociais e das comunidades rurais em sua trajetoacuteria de luta pelo direito
fundamental agrave universalizaccedilatildeo escolar para as populaccedilotildees camponesas segundo
orientaccedilatildeo poliacutetico-pedagoacutegica adequada agrave realidade dos lutadores de
acampamentos e assentamentos em luta pela reforma agraacuteria e justiccedila social
Alguns princiacutepios caracterizam a luta pela escola do campo Dentre eles
podemos citar a criaccedilatildeo da consciecircncia do direito agrave educaccedilatildeo de qualidade plantada
na proacutepria comunidade o que provoca o enraizamento a valorizaccedilatildeo da vida no
campo a promoccedilatildeo da autoestima e a transformaccedilatildeo do ser alienado pela ideologia
e desigualdade social e sujeito de sua proacutepria histoacuteria
Outro princiacutepio eacute a adequaccedilatildeo de curriacuteculos agrave realidade camponesa de modo
a que o processo ensino-aprendizagem favoreccedila o amadurecimento de talentos
naturais o surgimento de oportunidades a niacutevel pessoal e social contribuindo para a
emancipaccedilatildeo poliacutetico-social do indiviacuteduo com reflexos na sociedade
A mudanccedila de paradigmas e o envolvimento social provocam a formaccedilatildeo integral
dos sujeitos que lutam de forma coletiva e solidaacuteria pela terra A escola do campo
que surge dessa mudanccedila eacute tambeacutem transformadora porque eacute fruto da luta
consciente que gera a reflexatildeo e o amadurecimento poliacutetico deixando um legado
positivo de cidadatildeos orgulhosos de sua condiccedilatildeo de lutador pela terra de sua
identidade de sua cultura de sua comunidade e coletividade
A escola do campo propicia aos alunos a reflexatildeo sobre o contexto social e a
problemaacutetica da comunidade em que estatildeo inseridos o respeito agrave individualidade a
ampliaccedilatildeo das potencialidades do aluno para organizar elaborar e atuar
coletivamente Deixam o legado futuro de homens responsaacuteveis mentes
independentes e atuantes que poderatildeo prestar serviccedilos significativos agrave sociedade
45
A comunidade assentada de o Assentamento Renascer pela Reforma
Agraacuteria em Sobradinho DF foi convidada a opinar sobre a escola que deseja a
partir da conquista da terra
O modelo proposto a partir de seu posicionamento possibilita a conclusatildeo
de que a escola do campo plantada na comunidade eacute preferiacutevel ao modelo
adotado atualmente de inserccedilatildeo dos alunos da comunidade agraves escolas urbanas
conter recursos materiais e humanos que propiciem bons resultados
pedagoacutegicos deve servir para fixar o trabalhador ao campo deve cumprir com o
propoacutesito constitucional de universalizaccedilatildeo do ensino para todas as faixas
etaacuterias deve estar identificada com os sonhos de prosperidade material e
realizaccedilatildeo pessoal dos assentados
-46-
46
Referecircncias Bibliograacuteficas
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FERRARI Marco ldquoAniacutesio Teixeira o inventor da escola puacuteblica no Brasilrdquo Revista Nova Escola Fundaccedilatildeo Victor Civita Revistaescolaabrilcombr acesso em 14092014 FERREIRA Fabiano de Jesus BRANDAtildeO Elias Canuto ndash Revista Eletrocircnica de Educaccedilatildeo Ano V N 09 juldez 2011p3 ldquoEducaccedilatildeo do campo um olhar histoacuterico uma realidade concreta rdquo (WWWUNIFILBR acesso em 08 de agosto de 2014) GONCcedilALVES Luiz Alberto Oliveira e Pinto Regina Pahim EDUCACcedilAtildeO SEacuteRIE JUSTICcedilA E DESENVOLVIMENTO IFP-FCC FUNDACcedilAtildeO CARLOS CHAGAS 2007 SAtildeO PAULO (pag206)
KOLLING Edgar Jorge Vargas Caldart MST e Educaccedilatildeo in DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia Expressatildeo Popular 2012 (pag 5020
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OLIVEIRA Maria Rita Duarte em sua dissertaccedilatildeo ldquoDos programas oficiais para a educaccedilatildeo rural aos projetos de educaccedilatildeo do campo dos movimentos sociaisrdquo WWWrevistalaborufcbrartigovolume1maria-ritapdf acesso em 08-09-2014
OLIVEIRA Maria Rita Duarte PEDAGOGIA EM MARCHA Apud ARROYO Satildeo Paulo1995( pg 162)
OLIVEIRA Maria Rita Duarte Revistalabor ufcbracesso em 19-10-2014
________ citando CALAZ Maria Rita Duarte Oliveira
47
SANTOS Clarice Aparecida PROGRAMA NACIONAL DE EDUCACcedilAtildeO NA REFORMA AGRAacuteRIA in DICIONARIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia2012(pg630)
________ Clarice Aparecida PROGRAMA NACIONAL DE EDUCACcedilAtildeO NA REFORMA AGRAacuteRIA BRASIacuteLIA 2012 pg 631 in DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO SANTOS Claudio Felix Dos ldquoO aprender a aprender na formaccedilatildeo de professores do campordquo Campinas 2013 Editora Autores Associados ) SOUZA Maria Antocircnia Movimentos Sociais no Brasil Contemporacircneo participaccedilatildeo e possibilidades no contexto das praacuteticas democraacuteticas ndash (wwwcesucptlab2004pdfMariaAntonia Souzapdfaceso em 24-07-2014 -48-
48
Apecircndices
1 Roteiro das Entrevistas
a) Dados dos entrevistados
Qual o seu nome
Masculino ( ) Feminino ( )
Quantos anos vocecirc tecircm
A quanto tempo mora no
assentamento
Onde vocecirc morou antes
de morar no
assentamento
Quantos anos vocecirc tinha
quando foi a escola pela
primeira vez
Estou ateacute qual seacuterieano
Quantos anos vocecirc tinha
quando parou de estudar
Qual motivo motivou vocecirc
a parar de estudar
Se tiver escola no
assentamento vocecirc voltaraacute
a estudar Porque
B) Outras informaccedilotildees dados pelos entrevistadosas (GRAVAR)
a) Em qual escola vocecirc estudou no acampamento ou em outro lugar Qual
b) Como era a escola que estudou Quais as coisas boas e coisas ruins que
tinha nesta escola
c) Conte como eacutefoi a educaccedilatildeo do assentamento o que jaacute existiu de escola
como funcionou e quais eram as boas e as coisas ruins desta escola
d) Jaacute participou de alguma accedilatildeo de mobilizaccedilatildeo para ter escola no
assentamento Se sim explique para que e como foi essa mobilizaccedilatildeo
e) Na sua opiniatildeo no assentamento deve ter escola Por quecirc
f) Como deveraacute ser a escola da comunidadeassentamento Como eacute a escola
que queremos ter
49
b) Entrevistas semi-estruturadas
Entrevistado 01
Moro no assentamento Renascer haacute 11 anos Nasci Carnauacuteba no Rio Grande do
Norte fui criado na roccedila e desde pequeno trabalhava na lavoura para ajudar meu
pai Fui para escola com 9 anos de idade estudei ateacute a 5ordm seacuterie parei de estudar
com 17 anos natildeo continuei os estudos porque era muito longe de onde eu morva
que era na cidade mais proacutexima eu tinha que andar a peacute 8 km ficava muito
cansado Casei e vim morar em Brasiacutelia para trabalhar em uma chaacutecara como
caseiro Morava na chaacutecara Buritis em sobradinho- Df tambeacutem natildeo dei para
continuar os estudos porque ficava longe e tinha que ser a noite e natildeo tinha como ir
Se vier uma escola pra caacute eu ainda vou estudar para ter mais conhecimento para
plantar minha roccedila ir no banco pra ver se assino um empreacutestimo para melhorar
minha produccedilatildeo e saber fazer conta pra administrar minha parcela de terra
Qual o seu nome
Masculino ( X ) Feminino ( )
Quantos anos vocecirc
tecircm
57 anos
A quanto tempo
mora no assentamento
11 anos
Onde vocecirc morou
antes de morar no
assentamento
Carnauacuteba ndash RN
Chaacutecara Buritis nordm 10 Sobradinho DF
Quantos anos vocecirc
tinha quando foi a escola
pela primeira vez
8 anos
Estou ateacute qual
seacuterieano
5ordf seacuterie
Quantos anos vocecirc
tinha quando parou de
estudar
24 anos
Qual motivo
motivou vocecirc a parar de
estudar
Trabalhar para sustento da famiacutelia a
distacircncia entre a casa e a escola
Se tiver escola no
assentamento vocecirc voltaraacute
a estudar Porque
Sim ldquoSe tivesse escola do ensino
fundamental voltaria a estudar para tecirc
mais conhecimento para plantar minha roccedila
50
saber pesar saber contar vendecirc os produto e
comecirc
Entrevistado 02
Moro no assentamento renascer haacute 7 anos tenho 38 vim do interior do Cearaacute
Entrei na escola com 7 anos de idade estudei soacute a 5ordm seacuterie incompleta natildeo
continuei a estudar porque natildeo tinha escola a onde eu morava que era na roccedila e eu
tinha que ficar na casa dozotro (SIC) na cidade e eu natildeo gostava disso natildeo ai parei
com 16 anos de idade Mudamo (SIC) pra Brasiacutelia pra uma chaacutecara perto de Santa
Maria-DF e natildeo dei pra estudar porque casei e tinha que trabalhar muito para
susrentar a famiacutelia A gora moro no assentamento Renascer e sei que um dia vai ter
uma escola aqui e eu vou voltar a estudar porque meu sonho eacute ser veterinaacuterio e vou
der se deus quiser
Entrevistado 03
Tenho 58 anos moro no assentamento Renascer haacute 6 anos vim de Ceres-GO
comecei a estudar quando eu tinha 10 ano de idade estudei ateacute a 4ordf seria primaacuteria
(SIC) parei de estudar quando tinha 16 anos porque eu morava na roccedila e escola
ateacute que natildeo ficava muito longe natildeo era soacute 2 km dava pra ir a peacute a professora eacute que
faltava muito e a gente natildeo tinha como saber se ela tava ou natildeoAiacute quando eu tinha
18 anos casei e vim morar em Brasiacutelia e arranjei(SIC) emprego de caseira em uma
chaacutecara aiacute natildeo pra estudar a noite porque era muito longe pra laacute entatildeo eu natildeo
pensei mais nessas coisas Quando tiver escola no assentamento quero estudar
quiecirc pra mim (SIC) fazer curso de teacutecnico agriacutecolarsquorsquo
Entrevistado 04
Tenho 24 anos moro no assentamento Renascer tem 6 ano vim da Bahia morava
no Condomiacutenio RK entrei na escola com 7 anos de idade e estudei soacute ateacute a 6ordf seacuterie
parei com 18 anos de idade
Porque mudei pra caacute pro assentamento (SIC) e natildeo tem escola e natildeo tem como ir
pra Sobradinho a noite porque eacute muito longe tem que andar 5 km eacute pirigogo (SIC)
tem muita gente mal por aiacute tem ateacute estrupador natildeo posso me arriscar
ldquoSe tivesse escola aqui eu ia terminar meus estudos podia ser no galpatildeo mesmo
pra mim tava bom mas para os meus filhos eu queria uma escola boa com internet
e tudo Eu natildeo gosto que meus filhos estuda(SIC) na cidade soacute aceito porque eacute o
jeito gente de assentamento eacute muito zombado (SIC) porque as vezes chega suja
na escola e os outros acha que eles satildeo porcos que toma banhordquo
Entrevistado 05
51
Tenho 21 anos de idade moro no Renascer haacute trecircs anos vim de satildeo Gabriel-GO
comecei a estudar aos 7 anos parei com 18 anos porque minha matildee mudou
pro(SIC) matildee mudou pro (SIC) assentamento haacute 6 anos e eu natildeo aguento morar
longe dela Quando cheguei aqui natildeo teve como continuar os estudos porque
trabalho durante o dia como manicure em Sobradinho e o uacuteltimo ocircnibus que passa
perto do assentamento eacute as 5 horas da tarde entatildeo natildeo daacute para estudar a noite
Sim porque quero fazer um curso de cabelereiro quando tiver aacutegua e luz aqui eu
quero montar um salatildeo de beleza e para ser uma empresaacuteria precisa ter estudos pra
administrar o negoacutecio
Entrevistado 06
44 anos
6 anos
Formosa-GO
8 anos
5ordf seacuterie
24 anos
Porque a escola mais perto(SIC) era 10km de distacircncia e eu trabalhava na roccedila e
ficava muito cansado aiacute parei natildeo deu mais
Sim quando tiver escola aqui eu vou voltar a estudar Eu tinha um sonho de ser
agroacutenomo mas esse sonho eacute impussive(SIC) entatildeo queria concluir o ensino
fundamental para fazer um curso de teacutecnico agriacutecola no IFB mas tambeacutem eacute longe
se tivesse como estudar aqui no assentamento eu ia(SIC) ficar muito feliz
Entrevistado 07
57 anos
6 anos
Parnaiacuteba-PI- Santa Maria- DF
7 anos
4ordf seacuterie
21 anos
Parei porque era muito difiacutecil ir para escola que ficava muito longe eu tinha que sair
de casa as 4hs da madrugada para chegar na escola as 730 ia montado num
cavalo e muitas vezes natildeo tinha professora pra dar aula Parei porque natildeo aguentei
o rojatildeo tinha que minha matildee na lida a tarde e eu ficava muito cansado Vim pra
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Brasiacutelia e casei fui trabalhar de chacareiro numa chaacutecara que tambeacutem era longe de
escola depois vim morar aqui no assentamento que natildeo tem escola
Se tivesse escola aqui eu ia voltar estudar soacute pra aprender a cuidar meior (SIC) da
terra e dos meus bichos e que fosse como uma escola agriacutecola
Entrevistado 08
Tenho 29 anos moro no assentamento Renascer haacute 2 anos sou educadora do
Pronera haacute 1 ano e 2 meses O Pronera eacute como um antidepressivo na vida de muita
gente o Pronera melhorou a minha vida e a vida dos meus alunos o desejo de
todos eacute que o Pronera continue crescendo em direccedilatildeo de uma educaccedilatildeo continuada
levando tambeacutem o ensino fundamental para os acampamentos e assentamentos da
Reforma Agraacuteria
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Anexos
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Acampamento agrave beira da estrada ndash 2004
Construccedilatildeo da Sede do Movimento na atual aacuterea
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Reuniatildeo semanal
Teatro de fantoches ndash brinquedoteca
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Accedilatildeo da Pastoral da Crianccedila na brinquedoteca
Oficina de brinquedos reciclaacuteveis
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Brinquedo confeccionado com materiais reciclaacuteveis na Brinquedoteca
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58
59
60
Apresentaccedilatildeo teatral
61
Capacitaccedilatildeo em Economia Solidaacuteria
Formaccedilatildeo de multiplicadores da Economia Solidaacuteria
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Capacitaccedilatildeo de Educadores Ambientais
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Luta pela Reforma Agraacuteria e Soberania Alimentar
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Agraacuteria O PRONERA evoluiu para outros patamares tais como ldquopossibilidades de
ressignificaccedilatildeo do conteuacutedo e da metodologia dos processos de educaccedilatildeo formal
por meio dos princiacutepios baacutesicos da participaccedilatildeo e da multiplicaccedilatildeordquo (SANTOS 2012
p 631)
A participaccedilatildeo das comunidades e suas organizaccedilotildees e a multiplicaccedilatildeo de
alfabetizados formados educadores e demais profissionais ligados agraves poliacuteticas
puacuteblicas para a Reforma Agraacuteria gerou ampla participaccedilatildeo dos agentes envolvidos
na dinacircmica do processo ensino-aprendizagem
Essa forma de gestatildeo gerou reaccedilatildeo contraacuteria ldquoagrave gestatildeo colegiada e coletiva
notadamente agrave participaccedilatildeo direta dos movimentos sociais e sindicais do campordquo
considerados ldquoentes estranhos agrave administraccedilatildeo puacuteblicardquo (CLARICE p 634)
O envolvimento dos movimentos sociais e sindicais do campo natildeo
retrocederam em sua luta pelo envolvimento de todos os interessados na educaccedilatildeo
como elemento emancipatoacuterio e continuam formulando princiacutepios concepccedilotildees e
diretrizes para a escola do campo
-31-
31
Terceiro Capiacutetulo
A histoacuteria do Assentamento Renascer
31 Uma breve histoacuteria de luta
A histoacuteria do Assentamento Renascer natildeo parece ser diferente da histoacuteria de
outros assentamentos Brasil afora Partiu da reivindicaccedilatildeo de Trabalhadores Rurais
sem Terra que desde 2004 ocuparam as margens da Rodovia DF 330 que liga
Sobradinho ao Paranoaacute-DF
Tatildeo perto do centro do poder a apenas poucos quilocircmetros do Palaacutecio da
Alvorada ou da Sede do INCRA o Acampamento Renascer esteve ateacute oito (08) de
maio de 2009 tatildeo distante da decisatildeo poliacutetica pela Reforma Agraacuteria
Somente nesta data trezentos sessenta e um( 361) de terras devolutas da
Uniatildeo foram repassadas ao INCRA para assentar as famiacutelias aliacute acampadas Ficou
criado o assentamento Renascer fora da beira da estrada
O Assentamento Renascer ldquorenasceurdquo da dificuldade de vida sob o barraco de
madeira sem aacutegua sem luz sem saneamento baacutesico que fez com que tantos
desistissem ao longo do caminho e ainda hoje se encontra nessa mesma
precariedade um descaso por parte do poder puacuteblico
A luta em vaacuterios momentos da vida dos acampados parecia estar vencida Os
vencedores pareciam ser a burocracia o desrespeito as noites mal dormidas a
inseguranccedila a falta de perspectivas para o acampado e suas famiacutelias
Duzentas (200) famiacutelias viveram aliacute por cinco anos (05) de 2004 ateacute 2009
Atualmente satildeo cento e vinte (120) famiacutelias que moram na aacuterea destinada e estatildeo
em processo de assentamento Muitas delas poreacutem vencidas pelo cansaccedilo e pelas
condiccedilotildees de vida abandonaram a luta mas todas as famiacutelias as que se foram e as
que ficaram sonharam com a terra onde poderiam produzir viam no pedaccedilo de chatildeo
os frutos do pomar da horta o galinheiro o pasto
O Assentamento Renascer eacute o Brasil Eacute um pedacinho da cruel realidade que
como vimos neste trabalho marcou a sociedade brasileira desde a escravidatildeo
desde o primeiro grito de rebeldia do quilombo desde o primeiro que lutou contra os
coroneacuteis por divisatildeo da terra como as Ligas Camponesas contra o latifuacutendio como
os movimentos sociais em sua luta pela reforma agraacuteria desde vaacuterias geraccedilotildees
32
Eacute como todo e qualquer movimento social que surgiu neste paiacutes desde a
deacutecada de 1980 pela reforma agraacuteria Viveu e ainda vive as dificuldades de ser
acampadoassentado mas honra sua luta porque natildeo desiste faacutecil
O Assentamento Renascer eacute tambeacutem fruto do ecircxodo rural da industrializaccedilatildeo
do campo da monocultura e da concentraccedilatildeo de terras Foram expulsos do campo
para a periferia das cidades sem capacitaccedilatildeo sem estudo
A falta de escolarizaccedilatildeo eacute sem duacutevida uma caracteriacutestica de quase todos os
que vieram do campo para a cidade A realidade do Brasil eacute que o campo natildeo eacute
escolarizado as escolas no campo satildeo poucas satildeo despreparadas satildeo
desvalorizadas
-33-
32 As escolas no campo na vivencia do assentado do Assentamento
Renascer
As escolas no campo marcaram profundamente a vida dos poucos que a
frequentaram Quase todos tiveram que trocar o laacutepis pela enxada a carteira pela
roccedila desde muito pequenos Alguns natildeo muito poucos conforme os depoimentos
aqui relatados teriam que abandonar a enxada e a participaccedilatildeo no sustento da
famiacutelia para frequentar a escola Quase sempre abandonaram a escola para ficar no
trabalho com a enxada
Todos teriam que andar vaacuterios quilocircmetros para ir agrave escola Outros nem assim
conseguiriam frequentar a escola no campo ela simplesmente natildeo existia no
campo Teriam entatildeo que ir para a cidade para ter direito a uma escola
Muitos tambeacutem vivenciaram os traumas que uma escola tradicional e
descomprometida com os valores e responsabilidades do projeto educacional
castigos humilhaccedilotildees afastaram a muitos da escola
Alguns apenas sonharam e sonham com a escola ldquoAh a escolardquo Tatildeo longe
inacessiacutevel para tantos no Brasil afora Ao ver de algumas pessoas do
Assentamento Renascer ldquoSe tivesse jeito eu teria ido agrave escola tinha feito pelo
menos o ensino fundamental completo para que eu pudesse ingressar no curso
33
teacutecnico-agriacutecola Mas agora quero que meus filhos e netos vatildeo para a escola
aprender ser algueacutem na vidardquo
-34-
321 A escola no entorno do Assentamento Renascer
A ideia de lutar pela educaccedilatildeo veio antes da ideia de lutar pela escola como
espaccedilo conquistado pelo acampamento Encontrar uma escola perto do
acampamento com transporte escolar com vagas e horaacuterios acessiacuteveis para os que
trabalham o dia todo era entendido como uma necessidade baacutesica e uma grande
vitoacuteria
Ficava-se feliz se apesar das dificuldades fosse possiacutevel matricular pelo
menos as crianccedilas As dificuldades eram e ainda satildeo muitas o transporte escolar
era e eacute precaacuterio a poeira natildeo permite que os alunos cheguem limpos agrave escola os
buracos e as poccedilas daacutegua impedem a chegada do ocircnibus escolar durante as
chuvas No caso do ocircnibus que levam os alunos ateacute a Escola Classe do Coacuterrego do
Arrozal em eacutepoca de muita chuva os ocircnibus ateacute o iniacutecio de 2014 natildeo conseguiam
transitar Isto resulta no fato de que as crianccedilas precisam caminhar debaixo de
chuva ateacute a escola
-35-
322 O caminho para a produccedilatildeo do saber no Assentamento Renascer a
brinquedoteca a integraccedilatildeo social a biblioteca comunitaacuteria as manifestaccedilotildees
culturais
Ao longo dos anos de vivecircncia e convivecircncia no Acampamento Renascer
mediante a dificuldade e necessidade de estudar que sentimos na nossa proacutepria
vida foi despontando a ideia de prover as crianccedilas de atividades luacutedicas e
educativas
34
Logo no iniacutecio do acampamento por volta de 2005 por iniciativa de algumas
pessoas conscientes da necessidade de atividades luacutedicas para as crianccedilas foi
criada uma brinquedoteca
Inicialmente os brinquedos eram de materiais reciclaacuteveis como garrafas pet
telefones sem fio carrinhos bonecas petecas vai e vem cavalinhos tudo era
confeccionado com a participaccedilatildeo das crianccedilas na modalidade de oficina
incentivando-os a fabricar os seus proacuteprios brinquedos Os brinquedos eram
confeccionados a partir de materiais encontrados nos lugares de descarte perto do
acampamento e doaccedilotildees de pessoas que passavam pela estrada
O embriatildeo de um processo educacional que nunca se interrompeu estava
lanccedilado a brinquedoteca proporcionou a criatividade e a participaccedilatildeo de crianccedilas e
adultos marcando as atividades pela conscientizaccedilatildeo do cuidado com a natureza e a
importacircncia da reciclagem A educaccedilatildeo ambiental jaacute era praticada desde o
nascimento do acampamento Renascer
Este primeiro passo foi muito importante porque traduziu para o dia a dia do
acampamento os princiacutepios da escola do campo atuante para mudar a realidade
criar cidadatildeos conscientes e dispostos a mudar a realidade a partir da sua proacutepria
accedilatildeo Este eacute o processo de transformaccedilatildeo social dentro do acampamento Renascer
haacute tanto tempo atraacutes
Aos brinquedos reciclados pela proacutepria comunidade juntaram-se outros
presenteados por instituiccedilotildees como igrejas ONGs a Pastoral da Crianccedila e pessoas
interessadas no bem estar daquelas crianccedilas
Percebe-se em iniciativas como essas a importacircncia da educaccedilatildeo nos
diversos niacuteveis para a sociedade A integraccedilatildeo de pessoas com as atividades
educativas no acampamento nos faz lembrar sobre um grande sonho das escolas
hoje integrar a comunidade de modo a que todos defendam a escola
O sucesso de iniciativas como a brinquedoteca que integravam crianccedilas
adolescentes adultos e sociedade foi importante para outras iniciativas igualmente
importantes
Foi-se criando um projeto educacional para o acampamento sem que se
tivesse consciecircncia disso por faltar informaccedilatildeo que soacute agora se possui graccedilas aos
estudos na Universidade o galpatildeo comunitaacuterio foi utilizado para abrigar a
35
brinquedoteca para desenvolver grupos de teatro de crianccedilas e adultos e para
abrigar a biblioteca
A biblioteca recebeu inuacutemeros exemplares de livros infantis livros didaacuteticos
para os adolescentes e adultos literatura universal revistas dos mais variados
assuntos criando assim um espaccedilo comunitaacuterio de informaccedilatildeo lazer e
entretenimento
Com a criaccedilatildeo da biblioteca ficou evidente a importacircncia da alfabetizaccedilatildeo de
crianccedilas jovens e adultos Muitos acampados relatavam a vontade e a necessidade
de aprender a ler e a escrever Muitos reivindicavam o direito agrave educaccedilatildeo e
frequecircncia agrave escola ainda que o acampamento mudasse de ldquoendereccedilordquo tantas
vezes
Outros poreacutem natildeo acreditavam que seria possiacutevel aprender ou aperfeiccediloar a
leitura e a escrita nas condiccedilotildees de vida de um acampado
Vaacuterias atividades culturais foram desenvolvidas (e ainda satildeo) no
Acampamento Renascer Todas chamavam a atenccedilatildeo da comunidade local de
outras comunidades vizinhas garantindo a simpatia de chacareiros que levavam os
filhos para participarem das atividades
Uma das atividades mais apreciadas foi o Teatro de Fantoches inspirados em
faacutebulas muitas com a autoria da Pastoral da Crianccedila e da Faber Castel A
participaccedilatildeo da comunidade na atividade era intensa e voluntaacuteria todos queriam
manipular os fantoches participar cantando danccedilando ou prestando muita atenccedilatildeo
O teatro de transformaccedilatildeo social produzido pelos adultos e adolescentes
utilizavam tambeacutem materiais reciclaacuteveis demonstrando cuidado com o meio
ambiente e amadurecimento dos conceitos poliacuteticos e pedagoacutegicos gerando reflexatildeo
sobre os temas sociais que nos atingem no cotidiano
A miacutestica adotada pelos movimentos sociais com o objetivo de reflexatildeo satildeo
apresentadas em datas comemorativas e contam com o apoio e participaccedilatildeo de
muitos
Algumas festas fazem parte da tradiccedilatildeo do Acampamento Renascer
traduzindo para a realidade atual as antigas festas a que todos foram acostumados
em seus lugares de origem
Pode-se dizer que a comunidade aprecia muito as festas Mas duas em
particular satildeo muito respeitadas a festa das crianccedilas que ocorre durante o dia (12
36
de outubro) eacute concorrida pois a comunidade se esmera para oferecer os brinquedos
que as crianccedilas amam pula-pula palhaccedilos pintura de rosto piscina de sabatildeo e
muita oferta de comida coisas que as crianccedilas adoram
No mesmo dia ocorre agrave noite a festa da Nossa Senhora Aparecida com
missa e muito forroacute
No mecircs de marccedilo eacute comemorada a Festa da Pamonha em comemoraccedilatildeo agrave
boa colheita do milho Esta festa jaacute se tornou tradicional conhecida em todo o
entorno do assentamento Egrave uma festa importante porque confraterniza a
comunidade Renascer com as comunidades vizinhas e ateacute mesmo as cidades de
Sobradinho Paranoaacute e Planaltina
Os movimentos sociais necessitam ser admirados pela sociedade e festas
como estas chamam a atenccedilatildeo para o problema da reforma agraacuteria demonstrando
que ela eacute viaacutevel e que os assentados tecircm simpatia competecircncia e seus saberes do
campo
A festa ldquojulinardquo eacute outra festa muito apreciada que apresenta as tradiccedilotildees rurais
e religiosas como quadrilhas e bandas de forroacute da comunidade e vizinhanccedila A
danccedila eacute um dos pontos fortes da festa assim como as comidas tradicionais muitas
delas com ingredientes colhidos no acampamento
Vaacuterios grupos de atividades teatrais apresentaram-se na localidade com
participaccedilatildeo de palhaccedilos lembrando um espetaacuteculo circense Alguns desses
grupos inclusive tiveram seus trabalhos premiados
Outras atividades com fundo educativo tiveram participaccedilatildeo animada de
crianccedilas e adultos A exibiccedilatildeo de desenhos animados recentemente apresentados
no cinema eram um grande atrativo para a comunidade que se via socialmente
incluiacuteda Esta inclusatildeo aumentava a autoestima das crianccedilas principalmente pois
assim elas poderiam interagir com os colegas da escola conversando a respeito dos
filmes
A Economia Solidaacuteria eacute uma das formas de inserccedilatildeo dos membros da
comunidade agrave sociedade economicamente ativa Atraveacutes da cooperaccedilatildeo solidaacuteria eacute
possiacutevel o comercio justo agriacutecolas ou artesanais sob conceitos antes
desconhecidos enquanto forma de produccedilatildeo e consumo centrado na valorizaccedilatildeo do
ser humano em contraposiccedilatildeo agraves formas capitalistas de produccedilatildeo e conscientizaccedilatildeo
37
Ao longo dos doze (12) anos de luta pela educaccedilatildeo foram promovidos
diversos cursos que capacitaram multiplicadores que fazem um trabalho importante
para a comunidade
A ideia de autogestatildeo democracia cooperaccedilatildeo auxilia natildeo soacute as formas de
produccedilatildeo e comercio de bens e artesanatos mas tambeacutem auxiliam na formaccedilatildeo
integral de pessoas em que tanto o produtor como o consumidor tem o proposito de
ganhos financeiros segundo um criteacuterio de valorizaccedilatildeo do trabalho
Proposito de formar uma nova consciecircncia a Economia Solidaacuteria promoveu
cursos de Soberania Alimentar em que a comunidade recebeu noccedilotildees praacuteticas
sobre alimentaccedilatildeo a partir da produccedilatildeo local de modo a promover uma nova cultura
alimentar que visa o combate agraves doenccedilas crocircnicas Outro proposito eacute tornar a
comunidade criacutetica em relaccedilatildeo agrave publicidade de produtos alimentiacutecio supeacuterfluo que
induz agraves crianccedilas e adultos alimentarem-se incorretamente
A comunidade participou coletivamente da implantaccedilatildeo de uma unidade da
tecnologia social denominada Produccedilatildeo Agroecoloacutegica Integrada e Sustentaacutevel
(PAIS) em 2012 com o objetivo de produzir alimentos saudaacuteveis e preservar o meio
ambiente trazendo mais alimentos e renda ao campo Esta tecnologia popularmente
conhecida como ldquohorta mandalardquo foi ministrada durante o curso de capacitaccedilatildeo
promovido pela Fundaccedilatildeo Banco do Brasil e teve o meacuterito de proporcionar o debate
e a participaccedilatildeo democraacutetica na definiccedilatildeo das culturas a serem cultivadas na futura
propriedade Vale informar que o assentamento Renascer identificou-se com esse
paradigma agroecoloacutegico
A educaccedilatildeo ambiental faz parte do dia a dia da comunidade hoje preserva-se
conservaccedilatildeo das formas de vida vegetais e animais na regiatildeo do assentamento e
entorno
A produccedilatildeo de mudas no viveiro eacute bastante concorrida contando com a
participaccedilatildeo de todos O viveiro produz cinco mil (5000) mudas de espeacutecies nativa
do cerrado para o reflorestamento das nascentes de aacutegua e nas aacutereas degradadas
da regiatildeo Contam com o apoio da FUNATURA FUNDACcedilAtildeO BANCO DO BRASIL
IFB Rio Satildeo Bartolomeu Vivo e UnB
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38
39
Quarto Capiacutetulo
A escola que queremos expectativas e sonhos dos
acampados do Assentamento Renascer
Pode-se observar pelas falas dos entrevistados que a realidade de todos
converge para os problemas estruturais do Brasil faltam escolas no campo eacute baixa
a escolaridade em Brasiacutelia todos exercem atividades de subemprego
Todos tecircm grandes expectativas com relaccedilatildeo agrave vida futura no assentamento
objetivando melhores condiccedilotildees de vida na esperanccedila de serem beneficiaacuterios
enquanto cidadatildeos assentados das Poliacuteticas Puacuteblicas e financiamentos agriacutecolas
voltadas para a agricultura familiar como PRONAF PAA PNAE e PAPA-DF Vecircem
aiacute a possibilidade de emprego e renda situaccedilatildeo sonhada desde quando foram
pleitear a terra para reforma agraacuteria
Um olhar mais aprofundado sobre a anaacutelise de dados revela que natildeo importa o
fato de hoje residirem no DF pois como em qualquer lugar de origem os moradores
do assentamento Renascer vivenciam os mesmos problemas Percebe-se
claramente as dificuldades da inexistecircncia de escola no campo A distacircncia continua
impedindo o acesso os meios de transportes continuam precaacuterios os filhos
vivenciam a dificuldade de transferecircncia para a cidade na expectativa de
continuidade dos estudos as estradas rurais continuam esburacadas
Satildeo muitos os pontos em comum entre a situaccedilatildeo atual relatada e os problemas
vividos haacute deacutecadas em seus estados de origem o que deixa transparecer a absoluta
falta de interesse por parte do poder puacuteblico em garantir o direito constitucional agrave
educaccedilatildeo do povo do campo o que infelizmente continuaraacute deixando o triste
legado para o futuro do paiacutes
40
Repetimos a pergunta da inicial Cadecirc as escolas do campo Ateacute quando o paiacutes
vai viver essa situaccedilatildeo A anaacutelise de dados responde Natildeo eacute mais possiacutevel
continuar como estaacute
Todos os entrevistados pretendem alcanccedilar conhecimentos atraveacutes da escola do
campo implantada no Assentamento Renascer com objetivos de administrar a
propriedade participar ativamente do coletivo garantir renda fixa atraveacutes dos
programas de desenvolvimento da agricultura familiar
Os entrevistados unanimamente tecircm a preocupaccedilatildeo da manutenccedilatildeo dos laccedilos
familiares e das raiacutezes camponesas
A distacircncia entre a moradia e a escola fato relatado pela quase totalidade dos
entrevistados constitui um grande motivo de evasatildeo escolar de defasagem nas
seacuteries frequentadas de precariedade na aprendizagem em relaccedilatildeo aos demais
alunos A discriminaccedilatildeo alegada por muitos que frequentaram ou frequentam
escolas fora da faixa etaacuteria o vernaacuteculo proacuteprio dos sujeitos do campo as condiccedilotildees
precaacuterias da estrada que denunciam a condiccedilatildeo de assentado o sentimento de
inadequaccedilatildeo constituem fatores que determinam a evasatildeo escolar
Foram treze (13) entrevistados significando aproximadamente dez por cento
(10) dos moradores do Assentamento Renascer Desse total apenas dois (2)
entrevistados natildeo declararam dificuldade de distacircncia entre a moradia e a escola em
seus lugares de origem A maioria absoluta (11) pessoas declararam que a distacircncia
dificultava e impedia o acesso agrave escola Alguns relatos apresentam situaccedilotildees
precaacuterias para o homem do campo o assentado
Para o aluno do campo a distacircncia da escola tem o significado de inexistecircncia de
escola Isto porque as dificuldades de acesso satildeo enormes No caso em estudo
apenas um entrevistado declarou a inexistecircncia de escola em sua regiatildeo de
moradia Este poreacutem vivenciou todas as dificuldades de acesso que outros
assentados apresentaram em razatildeo da distacircncia moradiaescola
A falta de professores na escola rural eacute relatada por 11 dos 13 entrevistados A
distacircncia da escola para os professores dificulta segundo a vivecircncia dos
entrevistados o acesso agrave escola e a assiduidade o que muito desmotivava a
ambos
41
Os entrevistados conforme anaacutelise de dados desejam muito objetivamente a
implantaccedilatildeo imediata de escolas segundo os criteacuterios caracteriacutesticos de escola do
campo
- Trazer a realidade para dentro da escola do campo curriacuteculos voltados para o
cotidiano do aluno do campo onde as teacutecnicas agriacutecolas pecuaacuterias e agroecoloacutegicas
possam fazer parte do processo educativo da comunidade e que a escola tenha
uma gestatildeo coletiva democraacutetica com a participaccedilatildeo da comunidade
- Ter o trabalho como princiacutepio educativo A experiecircncia do aluno deve
harmonizar-se com os princiacutepios pistrakianos significar o trabalho de forma a que
ele apresente benefiacutecios para o proacuteprio indiviacuteduo para a comunidade na qual estaacute
inserido e para a sociedade e natildeo exclusivamente para servir ao capitalismo
-Superar a fragmentaccedilatildeo do conhecimento disciplinar A interdisciplinaridade
deve fazer parte dos objetivos educacionais de modo a promover a formaccedilatildeo
integral dos educandos
- Valorizar os saberes do homem do campo Os entrevistados desejam uma
escola onde possam exercitar sua vivecircncia campesina e a relaccedilatildeo dialoacutegica entre
professor-aluno seguindo a pedagogia de Paulo Freire o educando quer aprender
com o educador mas quer tambeacutem ter a oportunidade de transmitir seus saberes
- Promover espaccedilos de gestatildeo coletiva A proacutepria comunidade deve participar da
gestatildeo a elaboraccedilatildeo do PPP deve gerir o espaccedilo fiacutesico da escola para atividades
de interesse da comunidade ocupar espaccedilos para finalidades culturais esportivas
sociais tornando a escola um espaccedilo democraacutetico
- Garantir a presenccedila da comunidade e dos movimentos sociais que geram
processos que auxiliam a emancipaccedilatildeo social A escola deve tambeacutem ser espaccedilo
que auxilie a sustentabilidade e garanta a alimentaccedilatildeo saudaacutevel e recursos
fitoteraacutepicos em associaccedilatildeo com a comunidade
- Inclusatildeo tecnoloacutegica em todos os aspectos digital inovaccedilatildeo tecnoloacutegica
agropecuaacuteria recursos ambientais alternativos agua potaacutevel energia solar energia
eoacutelica fossa seacuteptica teacutecnicas de compostagem saneamento baacutesico cuidados com
os recursos hiacutedricos
A anaacutelise dos dados quando feita especificamente sobre a escola a ser
implantada pode aparentemente demonstrar uma pequena conexatildeo com as teorias
da escola do campo
42
A concepccedilatildeo da escola do campo natildeo pode ser imposta ela parte do princiacutepio
que os camponeses devem conquista-la Para essa conquista eacute necessaacuteria a
paixatildeo o desejo por algo ainda natildeo experimentado o amadurecimento poliacutetico-
social-pessoal a participaccedilatildeo coletiva na luta e na conquista
A trajetoacuteria de luta por educaccedilatildeo da comunidade Renascer apresenta estes
elementos agraves vezes difusos outras vezes mais claramente A escola bem que
poderia para alguns ser apenas uma escola rural Afinal aprender a ler e a
escrever ldquodireitordquo como alguns dizem ou seja deixar a condiccedilatildeo de analfabeto ou
analfabeto funcional para tornar-se letrado significaria avanccedilos em face das atuais
circunstacircncias Alguns entendem assim expressando-se principalmente nas
conversas informais
Apesar disso quando as respostas informais ou quando as respostas das
entrevistas satildeo analisadas mais profundamente identificamos que embora
difusamente todos desejam o programa educacional da escola do campo
Explicando melhor a participaccedilatildeo de todos da comunidade em todas as atividades
soacutecio-poliacuteticas-culturais (relatadas no terceiro capitulo) indicam que a comunidade
assimilou a postura soacutecio-politica-cultural que caracterizam a escola do campo
A vivecircncia do Assentamento Renascer no cotidiano e nos eventos coletivos
amadureceu o desejo pelo alimento intelectual cultural artiacutestico ambiental social
que a concepccedilatildeo de escola do campo introduz O programa educacional da Escola
do Campo ultrapassou as paredes fiacutesicas da escola e alcanccedilou o cotidiano dos
assentados
Os avanccedilos da conscientizaccedilatildeo e seu reflexo na vida do Assentamento Renascer
satildeo sentidos nos nuacutemeros de matriculados na LEdoC sete (7) alunos
aproximadamente dez (10) assentados prestaratildeo o proacuteximo vestibular trecircs (3)
assentados estatildeo matriculados no IFB dois(2) assentados estatildeo formados em
Teacutecnico Agropecuaacuterio tambeacutem pelo IFB um deles cursa o Tecnoacutelogo de
Agroecologia tambeacutem do IFB
Vale acrescentar que no iniacutecio de 2014 quando o IFB buscou no Assentamento
pessoas interessadas em matricular-se em seus cursos sob a condiccedilatildeo de
estudarem no ensino meacutedio o interesse foi grande e a impossibilidade pelo fato de
natildeo estarem habilitados no ensino fundamental provocou tanta discussatildeo que
estimulou essa pesquisa
43
O legado desses alunos futuros alunos e profissionais para o futuro do
Assentamento apresentaraacute resultados significativos para toda a comunidade O
futuro colheraacute bons frutos plantados agora
A escola que temos natildeo estaacute funcionando falta a renovaccedilatildeo do contrato o que
atrasa a alfabetizaccedilatildeo e conclusatildeo do 5ordm ano Falta a implantaccedilatildeo de poliacuteticas
puacuteblicas para atendimento de questotildees baacutesicas como por exemplo carteiras
quadro de giz iluminaccedilatildeo espaccedilo fiacutesico (dependecircncias para a escola) e mobiliaacuterio
-41-
44
Consideraccedilotildees Finais
A Educaccedilatildeo do campo eacute um movimento em que os trabalhadores do campo e
suas organizaccedilotildees lutam por transformaccedilotildees sociais particularmente a criaccedilatildeo de
escolas dono campo de qualidade a partir de uma perspectiva ampla de reforma
agraacuteria
A construccedilatildeo da educaccedilatildeo do campo eacute resultado do amadurecimento dos
movimentos sociais e das comunidades rurais em sua trajetoacuteria de luta pelo direito
fundamental agrave universalizaccedilatildeo escolar para as populaccedilotildees camponesas segundo
orientaccedilatildeo poliacutetico-pedagoacutegica adequada agrave realidade dos lutadores de
acampamentos e assentamentos em luta pela reforma agraacuteria e justiccedila social
Alguns princiacutepios caracterizam a luta pela escola do campo Dentre eles
podemos citar a criaccedilatildeo da consciecircncia do direito agrave educaccedilatildeo de qualidade plantada
na proacutepria comunidade o que provoca o enraizamento a valorizaccedilatildeo da vida no
campo a promoccedilatildeo da autoestima e a transformaccedilatildeo do ser alienado pela ideologia
e desigualdade social e sujeito de sua proacutepria histoacuteria
Outro princiacutepio eacute a adequaccedilatildeo de curriacuteculos agrave realidade camponesa de modo
a que o processo ensino-aprendizagem favoreccedila o amadurecimento de talentos
naturais o surgimento de oportunidades a niacutevel pessoal e social contribuindo para a
emancipaccedilatildeo poliacutetico-social do indiviacuteduo com reflexos na sociedade
A mudanccedila de paradigmas e o envolvimento social provocam a formaccedilatildeo integral
dos sujeitos que lutam de forma coletiva e solidaacuteria pela terra A escola do campo
que surge dessa mudanccedila eacute tambeacutem transformadora porque eacute fruto da luta
consciente que gera a reflexatildeo e o amadurecimento poliacutetico deixando um legado
positivo de cidadatildeos orgulhosos de sua condiccedilatildeo de lutador pela terra de sua
identidade de sua cultura de sua comunidade e coletividade
A escola do campo propicia aos alunos a reflexatildeo sobre o contexto social e a
problemaacutetica da comunidade em que estatildeo inseridos o respeito agrave individualidade a
ampliaccedilatildeo das potencialidades do aluno para organizar elaborar e atuar
coletivamente Deixam o legado futuro de homens responsaacuteveis mentes
independentes e atuantes que poderatildeo prestar serviccedilos significativos agrave sociedade
45
A comunidade assentada de o Assentamento Renascer pela Reforma
Agraacuteria em Sobradinho DF foi convidada a opinar sobre a escola que deseja a
partir da conquista da terra
O modelo proposto a partir de seu posicionamento possibilita a conclusatildeo
de que a escola do campo plantada na comunidade eacute preferiacutevel ao modelo
adotado atualmente de inserccedilatildeo dos alunos da comunidade agraves escolas urbanas
conter recursos materiais e humanos que propiciem bons resultados
pedagoacutegicos deve servir para fixar o trabalhador ao campo deve cumprir com o
propoacutesito constitucional de universalizaccedilatildeo do ensino para todas as faixas
etaacuterias deve estar identificada com os sonhos de prosperidade material e
realizaccedilatildeo pessoal dos assentados
-46-
46
Referecircncias Bibliograacuteficas
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FERRARI Marco ldquoAniacutesio Teixeira o inventor da escola puacuteblica no Brasilrdquo Revista Nova Escola Fundaccedilatildeo Victor Civita Revistaescolaabrilcombr acesso em 14092014 FERREIRA Fabiano de Jesus BRANDAtildeO Elias Canuto ndash Revista Eletrocircnica de Educaccedilatildeo Ano V N 09 juldez 2011p3 ldquoEducaccedilatildeo do campo um olhar histoacuterico uma realidade concreta rdquo (WWWUNIFILBR acesso em 08 de agosto de 2014) GONCcedilALVES Luiz Alberto Oliveira e Pinto Regina Pahim EDUCACcedilAtildeO SEacuteRIE JUSTICcedilA E DESENVOLVIMENTO IFP-FCC FUNDACcedilAtildeO CARLOS CHAGAS 2007 SAtildeO PAULO (pag206)
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OLIVEIRA Maria Rita Duarte em sua dissertaccedilatildeo ldquoDos programas oficiais para a educaccedilatildeo rural aos projetos de educaccedilatildeo do campo dos movimentos sociaisrdquo WWWrevistalaborufcbrartigovolume1maria-ritapdf acesso em 08-09-2014
OLIVEIRA Maria Rita Duarte PEDAGOGIA EM MARCHA Apud ARROYO Satildeo Paulo1995( pg 162)
OLIVEIRA Maria Rita Duarte Revistalabor ufcbracesso em 19-10-2014
________ citando CALAZ Maria Rita Duarte Oliveira
47
SANTOS Clarice Aparecida PROGRAMA NACIONAL DE EDUCACcedilAtildeO NA REFORMA AGRAacuteRIA in DICIONARIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia2012(pg630)
________ Clarice Aparecida PROGRAMA NACIONAL DE EDUCACcedilAtildeO NA REFORMA AGRAacuteRIA BRASIacuteLIA 2012 pg 631 in DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO SANTOS Claudio Felix Dos ldquoO aprender a aprender na formaccedilatildeo de professores do campordquo Campinas 2013 Editora Autores Associados ) SOUZA Maria Antocircnia Movimentos Sociais no Brasil Contemporacircneo participaccedilatildeo e possibilidades no contexto das praacuteticas democraacuteticas ndash (wwwcesucptlab2004pdfMariaAntonia Souzapdfaceso em 24-07-2014 -48-
48
Apecircndices
1 Roteiro das Entrevistas
a) Dados dos entrevistados
Qual o seu nome
Masculino ( ) Feminino ( )
Quantos anos vocecirc tecircm
A quanto tempo mora no
assentamento
Onde vocecirc morou antes
de morar no
assentamento
Quantos anos vocecirc tinha
quando foi a escola pela
primeira vez
Estou ateacute qual seacuterieano
Quantos anos vocecirc tinha
quando parou de estudar
Qual motivo motivou vocecirc
a parar de estudar
Se tiver escola no
assentamento vocecirc voltaraacute
a estudar Porque
B) Outras informaccedilotildees dados pelos entrevistadosas (GRAVAR)
a) Em qual escola vocecirc estudou no acampamento ou em outro lugar Qual
b) Como era a escola que estudou Quais as coisas boas e coisas ruins que
tinha nesta escola
c) Conte como eacutefoi a educaccedilatildeo do assentamento o que jaacute existiu de escola
como funcionou e quais eram as boas e as coisas ruins desta escola
d) Jaacute participou de alguma accedilatildeo de mobilizaccedilatildeo para ter escola no
assentamento Se sim explique para que e como foi essa mobilizaccedilatildeo
e) Na sua opiniatildeo no assentamento deve ter escola Por quecirc
f) Como deveraacute ser a escola da comunidadeassentamento Como eacute a escola
que queremos ter
49
b) Entrevistas semi-estruturadas
Entrevistado 01
Moro no assentamento Renascer haacute 11 anos Nasci Carnauacuteba no Rio Grande do
Norte fui criado na roccedila e desde pequeno trabalhava na lavoura para ajudar meu
pai Fui para escola com 9 anos de idade estudei ateacute a 5ordm seacuterie parei de estudar
com 17 anos natildeo continuei os estudos porque era muito longe de onde eu morva
que era na cidade mais proacutexima eu tinha que andar a peacute 8 km ficava muito
cansado Casei e vim morar em Brasiacutelia para trabalhar em uma chaacutecara como
caseiro Morava na chaacutecara Buritis em sobradinho- Df tambeacutem natildeo dei para
continuar os estudos porque ficava longe e tinha que ser a noite e natildeo tinha como ir
Se vier uma escola pra caacute eu ainda vou estudar para ter mais conhecimento para
plantar minha roccedila ir no banco pra ver se assino um empreacutestimo para melhorar
minha produccedilatildeo e saber fazer conta pra administrar minha parcela de terra
Qual o seu nome
Masculino ( X ) Feminino ( )
Quantos anos vocecirc
tecircm
57 anos
A quanto tempo
mora no assentamento
11 anos
Onde vocecirc morou
antes de morar no
assentamento
Carnauacuteba ndash RN
Chaacutecara Buritis nordm 10 Sobradinho DF
Quantos anos vocecirc
tinha quando foi a escola
pela primeira vez
8 anos
Estou ateacute qual
seacuterieano
5ordf seacuterie
Quantos anos vocecirc
tinha quando parou de
estudar
24 anos
Qual motivo
motivou vocecirc a parar de
estudar
Trabalhar para sustento da famiacutelia a
distacircncia entre a casa e a escola
Se tiver escola no
assentamento vocecirc voltaraacute
a estudar Porque
Sim ldquoSe tivesse escola do ensino
fundamental voltaria a estudar para tecirc
mais conhecimento para plantar minha roccedila
50
saber pesar saber contar vendecirc os produto e
comecirc
Entrevistado 02
Moro no assentamento renascer haacute 7 anos tenho 38 vim do interior do Cearaacute
Entrei na escola com 7 anos de idade estudei soacute a 5ordm seacuterie incompleta natildeo
continuei a estudar porque natildeo tinha escola a onde eu morava que era na roccedila e eu
tinha que ficar na casa dozotro (SIC) na cidade e eu natildeo gostava disso natildeo ai parei
com 16 anos de idade Mudamo (SIC) pra Brasiacutelia pra uma chaacutecara perto de Santa
Maria-DF e natildeo dei pra estudar porque casei e tinha que trabalhar muito para
susrentar a famiacutelia A gora moro no assentamento Renascer e sei que um dia vai ter
uma escola aqui e eu vou voltar a estudar porque meu sonho eacute ser veterinaacuterio e vou
der se deus quiser
Entrevistado 03
Tenho 58 anos moro no assentamento Renascer haacute 6 anos vim de Ceres-GO
comecei a estudar quando eu tinha 10 ano de idade estudei ateacute a 4ordf seria primaacuteria
(SIC) parei de estudar quando tinha 16 anos porque eu morava na roccedila e escola
ateacute que natildeo ficava muito longe natildeo era soacute 2 km dava pra ir a peacute a professora eacute que
faltava muito e a gente natildeo tinha como saber se ela tava ou natildeoAiacute quando eu tinha
18 anos casei e vim morar em Brasiacutelia e arranjei(SIC) emprego de caseira em uma
chaacutecara aiacute natildeo pra estudar a noite porque era muito longe pra laacute entatildeo eu natildeo
pensei mais nessas coisas Quando tiver escola no assentamento quero estudar
quiecirc pra mim (SIC) fazer curso de teacutecnico agriacutecolarsquorsquo
Entrevistado 04
Tenho 24 anos moro no assentamento Renascer tem 6 ano vim da Bahia morava
no Condomiacutenio RK entrei na escola com 7 anos de idade e estudei soacute ateacute a 6ordf seacuterie
parei com 18 anos de idade
Porque mudei pra caacute pro assentamento (SIC) e natildeo tem escola e natildeo tem como ir
pra Sobradinho a noite porque eacute muito longe tem que andar 5 km eacute pirigogo (SIC)
tem muita gente mal por aiacute tem ateacute estrupador natildeo posso me arriscar
ldquoSe tivesse escola aqui eu ia terminar meus estudos podia ser no galpatildeo mesmo
pra mim tava bom mas para os meus filhos eu queria uma escola boa com internet
e tudo Eu natildeo gosto que meus filhos estuda(SIC) na cidade soacute aceito porque eacute o
jeito gente de assentamento eacute muito zombado (SIC) porque as vezes chega suja
na escola e os outros acha que eles satildeo porcos que toma banhordquo
Entrevistado 05
51
Tenho 21 anos de idade moro no Renascer haacute trecircs anos vim de satildeo Gabriel-GO
comecei a estudar aos 7 anos parei com 18 anos porque minha matildee mudou
pro(SIC) matildee mudou pro (SIC) assentamento haacute 6 anos e eu natildeo aguento morar
longe dela Quando cheguei aqui natildeo teve como continuar os estudos porque
trabalho durante o dia como manicure em Sobradinho e o uacuteltimo ocircnibus que passa
perto do assentamento eacute as 5 horas da tarde entatildeo natildeo daacute para estudar a noite
Sim porque quero fazer um curso de cabelereiro quando tiver aacutegua e luz aqui eu
quero montar um salatildeo de beleza e para ser uma empresaacuteria precisa ter estudos pra
administrar o negoacutecio
Entrevistado 06
44 anos
6 anos
Formosa-GO
8 anos
5ordf seacuterie
24 anos
Porque a escola mais perto(SIC) era 10km de distacircncia e eu trabalhava na roccedila e
ficava muito cansado aiacute parei natildeo deu mais
Sim quando tiver escola aqui eu vou voltar a estudar Eu tinha um sonho de ser
agroacutenomo mas esse sonho eacute impussive(SIC) entatildeo queria concluir o ensino
fundamental para fazer um curso de teacutecnico agriacutecola no IFB mas tambeacutem eacute longe
se tivesse como estudar aqui no assentamento eu ia(SIC) ficar muito feliz
Entrevistado 07
57 anos
6 anos
Parnaiacuteba-PI- Santa Maria- DF
7 anos
4ordf seacuterie
21 anos
Parei porque era muito difiacutecil ir para escola que ficava muito longe eu tinha que sair
de casa as 4hs da madrugada para chegar na escola as 730 ia montado num
cavalo e muitas vezes natildeo tinha professora pra dar aula Parei porque natildeo aguentei
o rojatildeo tinha que minha matildee na lida a tarde e eu ficava muito cansado Vim pra
52
Brasiacutelia e casei fui trabalhar de chacareiro numa chaacutecara que tambeacutem era longe de
escola depois vim morar aqui no assentamento que natildeo tem escola
Se tivesse escola aqui eu ia voltar estudar soacute pra aprender a cuidar meior (SIC) da
terra e dos meus bichos e que fosse como uma escola agriacutecola
Entrevistado 08
Tenho 29 anos moro no assentamento Renascer haacute 2 anos sou educadora do
Pronera haacute 1 ano e 2 meses O Pronera eacute como um antidepressivo na vida de muita
gente o Pronera melhorou a minha vida e a vida dos meus alunos o desejo de
todos eacute que o Pronera continue crescendo em direccedilatildeo de uma educaccedilatildeo continuada
levando tambeacutem o ensino fundamental para os acampamentos e assentamentos da
Reforma Agraacuteria
-50-
Anexos
53
Acampamento agrave beira da estrada ndash 2004
Construccedilatildeo da Sede do Movimento na atual aacuterea
54
Reuniatildeo semanal
Teatro de fantoches ndash brinquedoteca
55
Accedilatildeo da Pastoral da Crianccedila na brinquedoteca
Oficina de brinquedos reciclaacuteveis
56
Brinquedo confeccionado com materiais reciclaacuteveis na Brinquedoteca
57
58
59
60
Apresentaccedilatildeo teatral
61
Capacitaccedilatildeo em Economia Solidaacuteria
Formaccedilatildeo de multiplicadores da Economia Solidaacuteria
62
Capacitaccedilatildeo de Educadores Ambientais
63
Luta pela Reforma Agraacuteria e Soberania Alimentar
31
Terceiro Capiacutetulo
A histoacuteria do Assentamento Renascer
31 Uma breve histoacuteria de luta
A histoacuteria do Assentamento Renascer natildeo parece ser diferente da histoacuteria de
outros assentamentos Brasil afora Partiu da reivindicaccedilatildeo de Trabalhadores Rurais
sem Terra que desde 2004 ocuparam as margens da Rodovia DF 330 que liga
Sobradinho ao Paranoaacute-DF
Tatildeo perto do centro do poder a apenas poucos quilocircmetros do Palaacutecio da
Alvorada ou da Sede do INCRA o Acampamento Renascer esteve ateacute oito (08) de
maio de 2009 tatildeo distante da decisatildeo poliacutetica pela Reforma Agraacuteria
Somente nesta data trezentos sessenta e um( 361) de terras devolutas da
Uniatildeo foram repassadas ao INCRA para assentar as famiacutelias aliacute acampadas Ficou
criado o assentamento Renascer fora da beira da estrada
O Assentamento Renascer ldquorenasceurdquo da dificuldade de vida sob o barraco de
madeira sem aacutegua sem luz sem saneamento baacutesico que fez com que tantos
desistissem ao longo do caminho e ainda hoje se encontra nessa mesma
precariedade um descaso por parte do poder puacuteblico
A luta em vaacuterios momentos da vida dos acampados parecia estar vencida Os
vencedores pareciam ser a burocracia o desrespeito as noites mal dormidas a
inseguranccedila a falta de perspectivas para o acampado e suas famiacutelias
Duzentas (200) famiacutelias viveram aliacute por cinco anos (05) de 2004 ateacute 2009
Atualmente satildeo cento e vinte (120) famiacutelias que moram na aacuterea destinada e estatildeo
em processo de assentamento Muitas delas poreacutem vencidas pelo cansaccedilo e pelas
condiccedilotildees de vida abandonaram a luta mas todas as famiacutelias as que se foram e as
que ficaram sonharam com a terra onde poderiam produzir viam no pedaccedilo de chatildeo
os frutos do pomar da horta o galinheiro o pasto
O Assentamento Renascer eacute o Brasil Eacute um pedacinho da cruel realidade que
como vimos neste trabalho marcou a sociedade brasileira desde a escravidatildeo
desde o primeiro grito de rebeldia do quilombo desde o primeiro que lutou contra os
coroneacuteis por divisatildeo da terra como as Ligas Camponesas contra o latifuacutendio como
os movimentos sociais em sua luta pela reforma agraacuteria desde vaacuterias geraccedilotildees
32
Eacute como todo e qualquer movimento social que surgiu neste paiacutes desde a
deacutecada de 1980 pela reforma agraacuteria Viveu e ainda vive as dificuldades de ser
acampadoassentado mas honra sua luta porque natildeo desiste faacutecil
O Assentamento Renascer eacute tambeacutem fruto do ecircxodo rural da industrializaccedilatildeo
do campo da monocultura e da concentraccedilatildeo de terras Foram expulsos do campo
para a periferia das cidades sem capacitaccedilatildeo sem estudo
A falta de escolarizaccedilatildeo eacute sem duacutevida uma caracteriacutestica de quase todos os
que vieram do campo para a cidade A realidade do Brasil eacute que o campo natildeo eacute
escolarizado as escolas no campo satildeo poucas satildeo despreparadas satildeo
desvalorizadas
-33-
32 As escolas no campo na vivencia do assentado do Assentamento
Renascer
As escolas no campo marcaram profundamente a vida dos poucos que a
frequentaram Quase todos tiveram que trocar o laacutepis pela enxada a carteira pela
roccedila desde muito pequenos Alguns natildeo muito poucos conforme os depoimentos
aqui relatados teriam que abandonar a enxada e a participaccedilatildeo no sustento da
famiacutelia para frequentar a escola Quase sempre abandonaram a escola para ficar no
trabalho com a enxada
Todos teriam que andar vaacuterios quilocircmetros para ir agrave escola Outros nem assim
conseguiriam frequentar a escola no campo ela simplesmente natildeo existia no
campo Teriam entatildeo que ir para a cidade para ter direito a uma escola
Muitos tambeacutem vivenciaram os traumas que uma escola tradicional e
descomprometida com os valores e responsabilidades do projeto educacional
castigos humilhaccedilotildees afastaram a muitos da escola
Alguns apenas sonharam e sonham com a escola ldquoAh a escolardquo Tatildeo longe
inacessiacutevel para tantos no Brasil afora Ao ver de algumas pessoas do
Assentamento Renascer ldquoSe tivesse jeito eu teria ido agrave escola tinha feito pelo
menos o ensino fundamental completo para que eu pudesse ingressar no curso
33
teacutecnico-agriacutecola Mas agora quero que meus filhos e netos vatildeo para a escola
aprender ser algueacutem na vidardquo
-34-
321 A escola no entorno do Assentamento Renascer
A ideia de lutar pela educaccedilatildeo veio antes da ideia de lutar pela escola como
espaccedilo conquistado pelo acampamento Encontrar uma escola perto do
acampamento com transporte escolar com vagas e horaacuterios acessiacuteveis para os que
trabalham o dia todo era entendido como uma necessidade baacutesica e uma grande
vitoacuteria
Ficava-se feliz se apesar das dificuldades fosse possiacutevel matricular pelo
menos as crianccedilas As dificuldades eram e ainda satildeo muitas o transporte escolar
era e eacute precaacuterio a poeira natildeo permite que os alunos cheguem limpos agrave escola os
buracos e as poccedilas daacutegua impedem a chegada do ocircnibus escolar durante as
chuvas No caso do ocircnibus que levam os alunos ateacute a Escola Classe do Coacuterrego do
Arrozal em eacutepoca de muita chuva os ocircnibus ateacute o iniacutecio de 2014 natildeo conseguiam
transitar Isto resulta no fato de que as crianccedilas precisam caminhar debaixo de
chuva ateacute a escola
-35-
322 O caminho para a produccedilatildeo do saber no Assentamento Renascer a
brinquedoteca a integraccedilatildeo social a biblioteca comunitaacuteria as manifestaccedilotildees
culturais
Ao longo dos anos de vivecircncia e convivecircncia no Acampamento Renascer
mediante a dificuldade e necessidade de estudar que sentimos na nossa proacutepria
vida foi despontando a ideia de prover as crianccedilas de atividades luacutedicas e
educativas
34
Logo no iniacutecio do acampamento por volta de 2005 por iniciativa de algumas
pessoas conscientes da necessidade de atividades luacutedicas para as crianccedilas foi
criada uma brinquedoteca
Inicialmente os brinquedos eram de materiais reciclaacuteveis como garrafas pet
telefones sem fio carrinhos bonecas petecas vai e vem cavalinhos tudo era
confeccionado com a participaccedilatildeo das crianccedilas na modalidade de oficina
incentivando-os a fabricar os seus proacuteprios brinquedos Os brinquedos eram
confeccionados a partir de materiais encontrados nos lugares de descarte perto do
acampamento e doaccedilotildees de pessoas que passavam pela estrada
O embriatildeo de um processo educacional que nunca se interrompeu estava
lanccedilado a brinquedoteca proporcionou a criatividade e a participaccedilatildeo de crianccedilas e
adultos marcando as atividades pela conscientizaccedilatildeo do cuidado com a natureza e a
importacircncia da reciclagem A educaccedilatildeo ambiental jaacute era praticada desde o
nascimento do acampamento Renascer
Este primeiro passo foi muito importante porque traduziu para o dia a dia do
acampamento os princiacutepios da escola do campo atuante para mudar a realidade
criar cidadatildeos conscientes e dispostos a mudar a realidade a partir da sua proacutepria
accedilatildeo Este eacute o processo de transformaccedilatildeo social dentro do acampamento Renascer
haacute tanto tempo atraacutes
Aos brinquedos reciclados pela proacutepria comunidade juntaram-se outros
presenteados por instituiccedilotildees como igrejas ONGs a Pastoral da Crianccedila e pessoas
interessadas no bem estar daquelas crianccedilas
Percebe-se em iniciativas como essas a importacircncia da educaccedilatildeo nos
diversos niacuteveis para a sociedade A integraccedilatildeo de pessoas com as atividades
educativas no acampamento nos faz lembrar sobre um grande sonho das escolas
hoje integrar a comunidade de modo a que todos defendam a escola
O sucesso de iniciativas como a brinquedoteca que integravam crianccedilas
adolescentes adultos e sociedade foi importante para outras iniciativas igualmente
importantes
Foi-se criando um projeto educacional para o acampamento sem que se
tivesse consciecircncia disso por faltar informaccedilatildeo que soacute agora se possui graccedilas aos
estudos na Universidade o galpatildeo comunitaacuterio foi utilizado para abrigar a
35
brinquedoteca para desenvolver grupos de teatro de crianccedilas e adultos e para
abrigar a biblioteca
A biblioteca recebeu inuacutemeros exemplares de livros infantis livros didaacuteticos
para os adolescentes e adultos literatura universal revistas dos mais variados
assuntos criando assim um espaccedilo comunitaacuterio de informaccedilatildeo lazer e
entretenimento
Com a criaccedilatildeo da biblioteca ficou evidente a importacircncia da alfabetizaccedilatildeo de
crianccedilas jovens e adultos Muitos acampados relatavam a vontade e a necessidade
de aprender a ler e a escrever Muitos reivindicavam o direito agrave educaccedilatildeo e
frequecircncia agrave escola ainda que o acampamento mudasse de ldquoendereccedilordquo tantas
vezes
Outros poreacutem natildeo acreditavam que seria possiacutevel aprender ou aperfeiccediloar a
leitura e a escrita nas condiccedilotildees de vida de um acampado
Vaacuterias atividades culturais foram desenvolvidas (e ainda satildeo) no
Acampamento Renascer Todas chamavam a atenccedilatildeo da comunidade local de
outras comunidades vizinhas garantindo a simpatia de chacareiros que levavam os
filhos para participarem das atividades
Uma das atividades mais apreciadas foi o Teatro de Fantoches inspirados em
faacutebulas muitas com a autoria da Pastoral da Crianccedila e da Faber Castel A
participaccedilatildeo da comunidade na atividade era intensa e voluntaacuteria todos queriam
manipular os fantoches participar cantando danccedilando ou prestando muita atenccedilatildeo
O teatro de transformaccedilatildeo social produzido pelos adultos e adolescentes
utilizavam tambeacutem materiais reciclaacuteveis demonstrando cuidado com o meio
ambiente e amadurecimento dos conceitos poliacuteticos e pedagoacutegicos gerando reflexatildeo
sobre os temas sociais que nos atingem no cotidiano
A miacutestica adotada pelos movimentos sociais com o objetivo de reflexatildeo satildeo
apresentadas em datas comemorativas e contam com o apoio e participaccedilatildeo de
muitos
Algumas festas fazem parte da tradiccedilatildeo do Acampamento Renascer
traduzindo para a realidade atual as antigas festas a que todos foram acostumados
em seus lugares de origem
Pode-se dizer que a comunidade aprecia muito as festas Mas duas em
particular satildeo muito respeitadas a festa das crianccedilas que ocorre durante o dia (12
36
de outubro) eacute concorrida pois a comunidade se esmera para oferecer os brinquedos
que as crianccedilas amam pula-pula palhaccedilos pintura de rosto piscina de sabatildeo e
muita oferta de comida coisas que as crianccedilas adoram
No mesmo dia ocorre agrave noite a festa da Nossa Senhora Aparecida com
missa e muito forroacute
No mecircs de marccedilo eacute comemorada a Festa da Pamonha em comemoraccedilatildeo agrave
boa colheita do milho Esta festa jaacute se tornou tradicional conhecida em todo o
entorno do assentamento Egrave uma festa importante porque confraterniza a
comunidade Renascer com as comunidades vizinhas e ateacute mesmo as cidades de
Sobradinho Paranoaacute e Planaltina
Os movimentos sociais necessitam ser admirados pela sociedade e festas
como estas chamam a atenccedilatildeo para o problema da reforma agraacuteria demonstrando
que ela eacute viaacutevel e que os assentados tecircm simpatia competecircncia e seus saberes do
campo
A festa ldquojulinardquo eacute outra festa muito apreciada que apresenta as tradiccedilotildees rurais
e religiosas como quadrilhas e bandas de forroacute da comunidade e vizinhanccedila A
danccedila eacute um dos pontos fortes da festa assim como as comidas tradicionais muitas
delas com ingredientes colhidos no acampamento
Vaacuterios grupos de atividades teatrais apresentaram-se na localidade com
participaccedilatildeo de palhaccedilos lembrando um espetaacuteculo circense Alguns desses
grupos inclusive tiveram seus trabalhos premiados
Outras atividades com fundo educativo tiveram participaccedilatildeo animada de
crianccedilas e adultos A exibiccedilatildeo de desenhos animados recentemente apresentados
no cinema eram um grande atrativo para a comunidade que se via socialmente
incluiacuteda Esta inclusatildeo aumentava a autoestima das crianccedilas principalmente pois
assim elas poderiam interagir com os colegas da escola conversando a respeito dos
filmes
A Economia Solidaacuteria eacute uma das formas de inserccedilatildeo dos membros da
comunidade agrave sociedade economicamente ativa Atraveacutes da cooperaccedilatildeo solidaacuteria eacute
possiacutevel o comercio justo agriacutecolas ou artesanais sob conceitos antes
desconhecidos enquanto forma de produccedilatildeo e consumo centrado na valorizaccedilatildeo do
ser humano em contraposiccedilatildeo agraves formas capitalistas de produccedilatildeo e conscientizaccedilatildeo
37
Ao longo dos doze (12) anos de luta pela educaccedilatildeo foram promovidos
diversos cursos que capacitaram multiplicadores que fazem um trabalho importante
para a comunidade
A ideia de autogestatildeo democracia cooperaccedilatildeo auxilia natildeo soacute as formas de
produccedilatildeo e comercio de bens e artesanatos mas tambeacutem auxiliam na formaccedilatildeo
integral de pessoas em que tanto o produtor como o consumidor tem o proposito de
ganhos financeiros segundo um criteacuterio de valorizaccedilatildeo do trabalho
Proposito de formar uma nova consciecircncia a Economia Solidaacuteria promoveu
cursos de Soberania Alimentar em que a comunidade recebeu noccedilotildees praacuteticas
sobre alimentaccedilatildeo a partir da produccedilatildeo local de modo a promover uma nova cultura
alimentar que visa o combate agraves doenccedilas crocircnicas Outro proposito eacute tornar a
comunidade criacutetica em relaccedilatildeo agrave publicidade de produtos alimentiacutecio supeacuterfluo que
induz agraves crianccedilas e adultos alimentarem-se incorretamente
A comunidade participou coletivamente da implantaccedilatildeo de uma unidade da
tecnologia social denominada Produccedilatildeo Agroecoloacutegica Integrada e Sustentaacutevel
(PAIS) em 2012 com o objetivo de produzir alimentos saudaacuteveis e preservar o meio
ambiente trazendo mais alimentos e renda ao campo Esta tecnologia popularmente
conhecida como ldquohorta mandalardquo foi ministrada durante o curso de capacitaccedilatildeo
promovido pela Fundaccedilatildeo Banco do Brasil e teve o meacuterito de proporcionar o debate
e a participaccedilatildeo democraacutetica na definiccedilatildeo das culturas a serem cultivadas na futura
propriedade Vale informar que o assentamento Renascer identificou-se com esse
paradigma agroecoloacutegico
A educaccedilatildeo ambiental faz parte do dia a dia da comunidade hoje preserva-se
conservaccedilatildeo das formas de vida vegetais e animais na regiatildeo do assentamento e
entorno
A produccedilatildeo de mudas no viveiro eacute bastante concorrida contando com a
participaccedilatildeo de todos O viveiro produz cinco mil (5000) mudas de espeacutecies nativa
do cerrado para o reflorestamento das nascentes de aacutegua e nas aacutereas degradadas
da regiatildeo Contam com o apoio da FUNATURA FUNDACcedilAtildeO BANCO DO BRASIL
IFB Rio Satildeo Bartolomeu Vivo e UnB
-36-
38
39
Quarto Capiacutetulo
A escola que queremos expectativas e sonhos dos
acampados do Assentamento Renascer
Pode-se observar pelas falas dos entrevistados que a realidade de todos
converge para os problemas estruturais do Brasil faltam escolas no campo eacute baixa
a escolaridade em Brasiacutelia todos exercem atividades de subemprego
Todos tecircm grandes expectativas com relaccedilatildeo agrave vida futura no assentamento
objetivando melhores condiccedilotildees de vida na esperanccedila de serem beneficiaacuterios
enquanto cidadatildeos assentados das Poliacuteticas Puacuteblicas e financiamentos agriacutecolas
voltadas para a agricultura familiar como PRONAF PAA PNAE e PAPA-DF Vecircem
aiacute a possibilidade de emprego e renda situaccedilatildeo sonhada desde quando foram
pleitear a terra para reforma agraacuteria
Um olhar mais aprofundado sobre a anaacutelise de dados revela que natildeo importa o
fato de hoje residirem no DF pois como em qualquer lugar de origem os moradores
do assentamento Renascer vivenciam os mesmos problemas Percebe-se
claramente as dificuldades da inexistecircncia de escola no campo A distacircncia continua
impedindo o acesso os meios de transportes continuam precaacuterios os filhos
vivenciam a dificuldade de transferecircncia para a cidade na expectativa de
continuidade dos estudos as estradas rurais continuam esburacadas
Satildeo muitos os pontos em comum entre a situaccedilatildeo atual relatada e os problemas
vividos haacute deacutecadas em seus estados de origem o que deixa transparecer a absoluta
falta de interesse por parte do poder puacuteblico em garantir o direito constitucional agrave
educaccedilatildeo do povo do campo o que infelizmente continuaraacute deixando o triste
legado para o futuro do paiacutes
40
Repetimos a pergunta da inicial Cadecirc as escolas do campo Ateacute quando o paiacutes
vai viver essa situaccedilatildeo A anaacutelise de dados responde Natildeo eacute mais possiacutevel
continuar como estaacute
Todos os entrevistados pretendem alcanccedilar conhecimentos atraveacutes da escola do
campo implantada no Assentamento Renascer com objetivos de administrar a
propriedade participar ativamente do coletivo garantir renda fixa atraveacutes dos
programas de desenvolvimento da agricultura familiar
Os entrevistados unanimamente tecircm a preocupaccedilatildeo da manutenccedilatildeo dos laccedilos
familiares e das raiacutezes camponesas
A distacircncia entre a moradia e a escola fato relatado pela quase totalidade dos
entrevistados constitui um grande motivo de evasatildeo escolar de defasagem nas
seacuteries frequentadas de precariedade na aprendizagem em relaccedilatildeo aos demais
alunos A discriminaccedilatildeo alegada por muitos que frequentaram ou frequentam
escolas fora da faixa etaacuteria o vernaacuteculo proacuteprio dos sujeitos do campo as condiccedilotildees
precaacuterias da estrada que denunciam a condiccedilatildeo de assentado o sentimento de
inadequaccedilatildeo constituem fatores que determinam a evasatildeo escolar
Foram treze (13) entrevistados significando aproximadamente dez por cento
(10) dos moradores do Assentamento Renascer Desse total apenas dois (2)
entrevistados natildeo declararam dificuldade de distacircncia entre a moradia e a escola em
seus lugares de origem A maioria absoluta (11) pessoas declararam que a distacircncia
dificultava e impedia o acesso agrave escola Alguns relatos apresentam situaccedilotildees
precaacuterias para o homem do campo o assentado
Para o aluno do campo a distacircncia da escola tem o significado de inexistecircncia de
escola Isto porque as dificuldades de acesso satildeo enormes No caso em estudo
apenas um entrevistado declarou a inexistecircncia de escola em sua regiatildeo de
moradia Este poreacutem vivenciou todas as dificuldades de acesso que outros
assentados apresentaram em razatildeo da distacircncia moradiaescola
A falta de professores na escola rural eacute relatada por 11 dos 13 entrevistados A
distacircncia da escola para os professores dificulta segundo a vivecircncia dos
entrevistados o acesso agrave escola e a assiduidade o que muito desmotivava a
ambos
41
Os entrevistados conforme anaacutelise de dados desejam muito objetivamente a
implantaccedilatildeo imediata de escolas segundo os criteacuterios caracteriacutesticos de escola do
campo
- Trazer a realidade para dentro da escola do campo curriacuteculos voltados para o
cotidiano do aluno do campo onde as teacutecnicas agriacutecolas pecuaacuterias e agroecoloacutegicas
possam fazer parte do processo educativo da comunidade e que a escola tenha
uma gestatildeo coletiva democraacutetica com a participaccedilatildeo da comunidade
- Ter o trabalho como princiacutepio educativo A experiecircncia do aluno deve
harmonizar-se com os princiacutepios pistrakianos significar o trabalho de forma a que
ele apresente benefiacutecios para o proacuteprio indiviacuteduo para a comunidade na qual estaacute
inserido e para a sociedade e natildeo exclusivamente para servir ao capitalismo
-Superar a fragmentaccedilatildeo do conhecimento disciplinar A interdisciplinaridade
deve fazer parte dos objetivos educacionais de modo a promover a formaccedilatildeo
integral dos educandos
- Valorizar os saberes do homem do campo Os entrevistados desejam uma
escola onde possam exercitar sua vivecircncia campesina e a relaccedilatildeo dialoacutegica entre
professor-aluno seguindo a pedagogia de Paulo Freire o educando quer aprender
com o educador mas quer tambeacutem ter a oportunidade de transmitir seus saberes
- Promover espaccedilos de gestatildeo coletiva A proacutepria comunidade deve participar da
gestatildeo a elaboraccedilatildeo do PPP deve gerir o espaccedilo fiacutesico da escola para atividades
de interesse da comunidade ocupar espaccedilos para finalidades culturais esportivas
sociais tornando a escola um espaccedilo democraacutetico
- Garantir a presenccedila da comunidade e dos movimentos sociais que geram
processos que auxiliam a emancipaccedilatildeo social A escola deve tambeacutem ser espaccedilo
que auxilie a sustentabilidade e garanta a alimentaccedilatildeo saudaacutevel e recursos
fitoteraacutepicos em associaccedilatildeo com a comunidade
- Inclusatildeo tecnoloacutegica em todos os aspectos digital inovaccedilatildeo tecnoloacutegica
agropecuaacuteria recursos ambientais alternativos agua potaacutevel energia solar energia
eoacutelica fossa seacuteptica teacutecnicas de compostagem saneamento baacutesico cuidados com
os recursos hiacutedricos
A anaacutelise dos dados quando feita especificamente sobre a escola a ser
implantada pode aparentemente demonstrar uma pequena conexatildeo com as teorias
da escola do campo
42
A concepccedilatildeo da escola do campo natildeo pode ser imposta ela parte do princiacutepio
que os camponeses devem conquista-la Para essa conquista eacute necessaacuteria a
paixatildeo o desejo por algo ainda natildeo experimentado o amadurecimento poliacutetico-
social-pessoal a participaccedilatildeo coletiva na luta e na conquista
A trajetoacuteria de luta por educaccedilatildeo da comunidade Renascer apresenta estes
elementos agraves vezes difusos outras vezes mais claramente A escola bem que
poderia para alguns ser apenas uma escola rural Afinal aprender a ler e a
escrever ldquodireitordquo como alguns dizem ou seja deixar a condiccedilatildeo de analfabeto ou
analfabeto funcional para tornar-se letrado significaria avanccedilos em face das atuais
circunstacircncias Alguns entendem assim expressando-se principalmente nas
conversas informais
Apesar disso quando as respostas informais ou quando as respostas das
entrevistas satildeo analisadas mais profundamente identificamos que embora
difusamente todos desejam o programa educacional da escola do campo
Explicando melhor a participaccedilatildeo de todos da comunidade em todas as atividades
soacutecio-poliacuteticas-culturais (relatadas no terceiro capitulo) indicam que a comunidade
assimilou a postura soacutecio-politica-cultural que caracterizam a escola do campo
A vivecircncia do Assentamento Renascer no cotidiano e nos eventos coletivos
amadureceu o desejo pelo alimento intelectual cultural artiacutestico ambiental social
que a concepccedilatildeo de escola do campo introduz O programa educacional da Escola
do Campo ultrapassou as paredes fiacutesicas da escola e alcanccedilou o cotidiano dos
assentados
Os avanccedilos da conscientizaccedilatildeo e seu reflexo na vida do Assentamento Renascer
satildeo sentidos nos nuacutemeros de matriculados na LEdoC sete (7) alunos
aproximadamente dez (10) assentados prestaratildeo o proacuteximo vestibular trecircs (3)
assentados estatildeo matriculados no IFB dois(2) assentados estatildeo formados em
Teacutecnico Agropecuaacuterio tambeacutem pelo IFB um deles cursa o Tecnoacutelogo de
Agroecologia tambeacutem do IFB
Vale acrescentar que no iniacutecio de 2014 quando o IFB buscou no Assentamento
pessoas interessadas em matricular-se em seus cursos sob a condiccedilatildeo de
estudarem no ensino meacutedio o interesse foi grande e a impossibilidade pelo fato de
natildeo estarem habilitados no ensino fundamental provocou tanta discussatildeo que
estimulou essa pesquisa
43
O legado desses alunos futuros alunos e profissionais para o futuro do
Assentamento apresentaraacute resultados significativos para toda a comunidade O
futuro colheraacute bons frutos plantados agora
A escola que temos natildeo estaacute funcionando falta a renovaccedilatildeo do contrato o que
atrasa a alfabetizaccedilatildeo e conclusatildeo do 5ordm ano Falta a implantaccedilatildeo de poliacuteticas
puacuteblicas para atendimento de questotildees baacutesicas como por exemplo carteiras
quadro de giz iluminaccedilatildeo espaccedilo fiacutesico (dependecircncias para a escola) e mobiliaacuterio
-41-
44
Consideraccedilotildees Finais
A Educaccedilatildeo do campo eacute um movimento em que os trabalhadores do campo e
suas organizaccedilotildees lutam por transformaccedilotildees sociais particularmente a criaccedilatildeo de
escolas dono campo de qualidade a partir de uma perspectiva ampla de reforma
agraacuteria
A construccedilatildeo da educaccedilatildeo do campo eacute resultado do amadurecimento dos
movimentos sociais e das comunidades rurais em sua trajetoacuteria de luta pelo direito
fundamental agrave universalizaccedilatildeo escolar para as populaccedilotildees camponesas segundo
orientaccedilatildeo poliacutetico-pedagoacutegica adequada agrave realidade dos lutadores de
acampamentos e assentamentos em luta pela reforma agraacuteria e justiccedila social
Alguns princiacutepios caracterizam a luta pela escola do campo Dentre eles
podemos citar a criaccedilatildeo da consciecircncia do direito agrave educaccedilatildeo de qualidade plantada
na proacutepria comunidade o que provoca o enraizamento a valorizaccedilatildeo da vida no
campo a promoccedilatildeo da autoestima e a transformaccedilatildeo do ser alienado pela ideologia
e desigualdade social e sujeito de sua proacutepria histoacuteria
Outro princiacutepio eacute a adequaccedilatildeo de curriacuteculos agrave realidade camponesa de modo
a que o processo ensino-aprendizagem favoreccedila o amadurecimento de talentos
naturais o surgimento de oportunidades a niacutevel pessoal e social contribuindo para a
emancipaccedilatildeo poliacutetico-social do indiviacuteduo com reflexos na sociedade
A mudanccedila de paradigmas e o envolvimento social provocam a formaccedilatildeo integral
dos sujeitos que lutam de forma coletiva e solidaacuteria pela terra A escola do campo
que surge dessa mudanccedila eacute tambeacutem transformadora porque eacute fruto da luta
consciente que gera a reflexatildeo e o amadurecimento poliacutetico deixando um legado
positivo de cidadatildeos orgulhosos de sua condiccedilatildeo de lutador pela terra de sua
identidade de sua cultura de sua comunidade e coletividade
A escola do campo propicia aos alunos a reflexatildeo sobre o contexto social e a
problemaacutetica da comunidade em que estatildeo inseridos o respeito agrave individualidade a
ampliaccedilatildeo das potencialidades do aluno para organizar elaborar e atuar
coletivamente Deixam o legado futuro de homens responsaacuteveis mentes
independentes e atuantes que poderatildeo prestar serviccedilos significativos agrave sociedade
45
A comunidade assentada de o Assentamento Renascer pela Reforma
Agraacuteria em Sobradinho DF foi convidada a opinar sobre a escola que deseja a
partir da conquista da terra
O modelo proposto a partir de seu posicionamento possibilita a conclusatildeo
de que a escola do campo plantada na comunidade eacute preferiacutevel ao modelo
adotado atualmente de inserccedilatildeo dos alunos da comunidade agraves escolas urbanas
conter recursos materiais e humanos que propiciem bons resultados
pedagoacutegicos deve servir para fixar o trabalhador ao campo deve cumprir com o
propoacutesito constitucional de universalizaccedilatildeo do ensino para todas as faixas
etaacuterias deve estar identificada com os sonhos de prosperidade material e
realizaccedilatildeo pessoal dos assentados
-46-
46
Referecircncias Bibliograacuteficas
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OLIVEIRA Maria Rita Duarte Revistalabor ufcbracesso em 19-10-2014
________ citando CALAZ Maria Rita Duarte Oliveira
47
SANTOS Clarice Aparecida PROGRAMA NACIONAL DE EDUCACcedilAtildeO NA REFORMA AGRAacuteRIA in DICIONARIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia2012(pg630)
________ Clarice Aparecida PROGRAMA NACIONAL DE EDUCACcedilAtildeO NA REFORMA AGRAacuteRIA BRASIacuteLIA 2012 pg 631 in DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO SANTOS Claudio Felix Dos ldquoO aprender a aprender na formaccedilatildeo de professores do campordquo Campinas 2013 Editora Autores Associados ) SOUZA Maria Antocircnia Movimentos Sociais no Brasil Contemporacircneo participaccedilatildeo e possibilidades no contexto das praacuteticas democraacuteticas ndash (wwwcesucptlab2004pdfMariaAntonia Souzapdfaceso em 24-07-2014 -48-
48
Apecircndices
1 Roteiro das Entrevistas
a) Dados dos entrevistados
Qual o seu nome
Masculino ( ) Feminino ( )
Quantos anos vocecirc tecircm
A quanto tempo mora no
assentamento
Onde vocecirc morou antes
de morar no
assentamento
Quantos anos vocecirc tinha
quando foi a escola pela
primeira vez
Estou ateacute qual seacuterieano
Quantos anos vocecirc tinha
quando parou de estudar
Qual motivo motivou vocecirc
a parar de estudar
Se tiver escola no
assentamento vocecirc voltaraacute
a estudar Porque
B) Outras informaccedilotildees dados pelos entrevistadosas (GRAVAR)
a) Em qual escola vocecirc estudou no acampamento ou em outro lugar Qual
b) Como era a escola que estudou Quais as coisas boas e coisas ruins que
tinha nesta escola
c) Conte como eacutefoi a educaccedilatildeo do assentamento o que jaacute existiu de escola
como funcionou e quais eram as boas e as coisas ruins desta escola
d) Jaacute participou de alguma accedilatildeo de mobilizaccedilatildeo para ter escola no
assentamento Se sim explique para que e como foi essa mobilizaccedilatildeo
e) Na sua opiniatildeo no assentamento deve ter escola Por quecirc
f) Como deveraacute ser a escola da comunidadeassentamento Como eacute a escola
que queremos ter
49
b) Entrevistas semi-estruturadas
Entrevistado 01
Moro no assentamento Renascer haacute 11 anos Nasci Carnauacuteba no Rio Grande do
Norte fui criado na roccedila e desde pequeno trabalhava na lavoura para ajudar meu
pai Fui para escola com 9 anos de idade estudei ateacute a 5ordm seacuterie parei de estudar
com 17 anos natildeo continuei os estudos porque era muito longe de onde eu morva
que era na cidade mais proacutexima eu tinha que andar a peacute 8 km ficava muito
cansado Casei e vim morar em Brasiacutelia para trabalhar em uma chaacutecara como
caseiro Morava na chaacutecara Buritis em sobradinho- Df tambeacutem natildeo dei para
continuar os estudos porque ficava longe e tinha que ser a noite e natildeo tinha como ir
Se vier uma escola pra caacute eu ainda vou estudar para ter mais conhecimento para
plantar minha roccedila ir no banco pra ver se assino um empreacutestimo para melhorar
minha produccedilatildeo e saber fazer conta pra administrar minha parcela de terra
Qual o seu nome
Masculino ( X ) Feminino ( )
Quantos anos vocecirc
tecircm
57 anos
A quanto tempo
mora no assentamento
11 anos
Onde vocecirc morou
antes de morar no
assentamento
Carnauacuteba ndash RN
Chaacutecara Buritis nordm 10 Sobradinho DF
Quantos anos vocecirc
tinha quando foi a escola
pela primeira vez
8 anos
Estou ateacute qual
seacuterieano
5ordf seacuterie
Quantos anos vocecirc
tinha quando parou de
estudar
24 anos
Qual motivo
motivou vocecirc a parar de
estudar
Trabalhar para sustento da famiacutelia a
distacircncia entre a casa e a escola
Se tiver escola no
assentamento vocecirc voltaraacute
a estudar Porque
Sim ldquoSe tivesse escola do ensino
fundamental voltaria a estudar para tecirc
mais conhecimento para plantar minha roccedila
50
saber pesar saber contar vendecirc os produto e
comecirc
Entrevistado 02
Moro no assentamento renascer haacute 7 anos tenho 38 vim do interior do Cearaacute
Entrei na escola com 7 anos de idade estudei soacute a 5ordm seacuterie incompleta natildeo
continuei a estudar porque natildeo tinha escola a onde eu morava que era na roccedila e eu
tinha que ficar na casa dozotro (SIC) na cidade e eu natildeo gostava disso natildeo ai parei
com 16 anos de idade Mudamo (SIC) pra Brasiacutelia pra uma chaacutecara perto de Santa
Maria-DF e natildeo dei pra estudar porque casei e tinha que trabalhar muito para
susrentar a famiacutelia A gora moro no assentamento Renascer e sei que um dia vai ter
uma escola aqui e eu vou voltar a estudar porque meu sonho eacute ser veterinaacuterio e vou
der se deus quiser
Entrevistado 03
Tenho 58 anos moro no assentamento Renascer haacute 6 anos vim de Ceres-GO
comecei a estudar quando eu tinha 10 ano de idade estudei ateacute a 4ordf seria primaacuteria
(SIC) parei de estudar quando tinha 16 anos porque eu morava na roccedila e escola
ateacute que natildeo ficava muito longe natildeo era soacute 2 km dava pra ir a peacute a professora eacute que
faltava muito e a gente natildeo tinha como saber se ela tava ou natildeoAiacute quando eu tinha
18 anos casei e vim morar em Brasiacutelia e arranjei(SIC) emprego de caseira em uma
chaacutecara aiacute natildeo pra estudar a noite porque era muito longe pra laacute entatildeo eu natildeo
pensei mais nessas coisas Quando tiver escola no assentamento quero estudar
quiecirc pra mim (SIC) fazer curso de teacutecnico agriacutecolarsquorsquo
Entrevistado 04
Tenho 24 anos moro no assentamento Renascer tem 6 ano vim da Bahia morava
no Condomiacutenio RK entrei na escola com 7 anos de idade e estudei soacute ateacute a 6ordf seacuterie
parei com 18 anos de idade
Porque mudei pra caacute pro assentamento (SIC) e natildeo tem escola e natildeo tem como ir
pra Sobradinho a noite porque eacute muito longe tem que andar 5 km eacute pirigogo (SIC)
tem muita gente mal por aiacute tem ateacute estrupador natildeo posso me arriscar
ldquoSe tivesse escola aqui eu ia terminar meus estudos podia ser no galpatildeo mesmo
pra mim tava bom mas para os meus filhos eu queria uma escola boa com internet
e tudo Eu natildeo gosto que meus filhos estuda(SIC) na cidade soacute aceito porque eacute o
jeito gente de assentamento eacute muito zombado (SIC) porque as vezes chega suja
na escola e os outros acha que eles satildeo porcos que toma banhordquo
Entrevistado 05
51
Tenho 21 anos de idade moro no Renascer haacute trecircs anos vim de satildeo Gabriel-GO
comecei a estudar aos 7 anos parei com 18 anos porque minha matildee mudou
pro(SIC) matildee mudou pro (SIC) assentamento haacute 6 anos e eu natildeo aguento morar
longe dela Quando cheguei aqui natildeo teve como continuar os estudos porque
trabalho durante o dia como manicure em Sobradinho e o uacuteltimo ocircnibus que passa
perto do assentamento eacute as 5 horas da tarde entatildeo natildeo daacute para estudar a noite
Sim porque quero fazer um curso de cabelereiro quando tiver aacutegua e luz aqui eu
quero montar um salatildeo de beleza e para ser uma empresaacuteria precisa ter estudos pra
administrar o negoacutecio
Entrevistado 06
44 anos
6 anos
Formosa-GO
8 anos
5ordf seacuterie
24 anos
Porque a escola mais perto(SIC) era 10km de distacircncia e eu trabalhava na roccedila e
ficava muito cansado aiacute parei natildeo deu mais
Sim quando tiver escola aqui eu vou voltar a estudar Eu tinha um sonho de ser
agroacutenomo mas esse sonho eacute impussive(SIC) entatildeo queria concluir o ensino
fundamental para fazer um curso de teacutecnico agriacutecola no IFB mas tambeacutem eacute longe
se tivesse como estudar aqui no assentamento eu ia(SIC) ficar muito feliz
Entrevistado 07
57 anos
6 anos
Parnaiacuteba-PI- Santa Maria- DF
7 anos
4ordf seacuterie
21 anos
Parei porque era muito difiacutecil ir para escola que ficava muito longe eu tinha que sair
de casa as 4hs da madrugada para chegar na escola as 730 ia montado num
cavalo e muitas vezes natildeo tinha professora pra dar aula Parei porque natildeo aguentei
o rojatildeo tinha que minha matildee na lida a tarde e eu ficava muito cansado Vim pra
52
Brasiacutelia e casei fui trabalhar de chacareiro numa chaacutecara que tambeacutem era longe de
escola depois vim morar aqui no assentamento que natildeo tem escola
Se tivesse escola aqui eu ia voltar estudar soacute pra aprender a cuidar meior (SIC) da
terra e dos meus bichos e que fosse como uma escola agriacutecola
Entrevistado 08
Tenho 29 anos moro no assentamento Renascer haacute 2 anos sou educadora do
Pronera haacute 1 ano e 2 meses O Pronera eacute como um antidepressivo na vida de muita
gente o Pronera melhorou a minha vida e a vida dos meus alunos o desejo de
todos eacute que o Pronera continue crescendo em direccedilatildeo de uma educaccedilatildeo continuada
levando tambeacutem o ensino fundamental para os acampamentos e assentamentos da
Reforma Agraacuteria
-50-
Anexos
53
Acampamento agrave beira da estrada ndash 2004
Construccedilatildeo da Sede do Movimento na atual aacuterea
54
Reuniatildeo semanal
Teatro de fantoches ndash brinquedoteca
55
Accedilatildeo da Pastoral da Crianccedila na brinquedoteca
Oficina de brinquedos reciclaacuteveis
56
Brinquedo confeccionado com materiais reciclaacuteveis na Brinquedoteca
57
58
59
60
Apresentaccedilatildeo teatral
61
Capacitaccedilatildeo em Economia Solidaacuteria
Formaccedilatildeo de multiplicadores da Economia Solidaacuteria
62
Capacitaccedilatildeo de Educadores Ambientais
63
Luta pela Reforma Agraacuteria e Soberania Alimentar
32
Eacute como todo e qualquer movimento social que surgiu neste paiacutes desde a
deacutecada de 1980 pela reforma agraacuteria Viveu e ainda vive as dificuldades de ser
acampadoassentado mas honra sua luta porque natildeo desiste faacutecil
O Assentamento Renascer eacute tambeacutem fruto do ecircxodo rural da industrializaccedilatildeo
do campo da monocultura e da concentraccedilatildeo de terras Foram expulsos do campo
para a periferia das cidades sem capacitaccedilatildeo sem estudo
A falta de escolarizaccedilatildeo eacute sem duacutevida uma caracteriacutestica de quase todos os
que vieram do campo para a cidade A realidade do Brasil eacute que o campo natildeo eacute
escolarizado as escolas no campo satildeo poucas satildeo despreparadas satildeo
desvalorizadas
-33-
32 As escolas no campo na vivencia do assentado do Assentamento
Renascer
As escolas no campo marcaram profundamente a vida dos poucos que a
frequentaram Quase todos tiveram que trocar o laacutepis pela enxada a carteira pela
roccedila desde muito pequenos Alguns natildeo muito poucos conforme os depoimentos
aqui relatados teriam que abandonar a enxada e a participaccedilatildeo no sustento da
famiacutelia para frequentar a escola Quase sempre abandonaram a escola para ficar no
trabalho com a enxada
Todos teriam que andar vaacuterios quilocircmetros para ir agrave escola Outros nem assim
conseguiriam frequentar a escola no campo ela simplesmente natildeo existia no
campo Teriam entatildeo que ir para a cidade para ter direito a uma escola
Muitos tambeacutem vivenciaram os traumas que uma escola tradicional e
descomprometida com os valores e responsabilidades do projeto educacional
castigos humilhaccedilotildees afastaram a muitos da escola
Alguns apenas sonharam e sonham com a escola ldquoAh a escolardquo Tatildeo longe
inacessiacutevel para tantos no Brasil afora Ao ver de algumas pessoas do
Assentamento Renascer ldquoSe tivesse jeito eu teria ido agrave escola tinha feito pelo
menos o ensino fundamental completo para que eu pudesse ingressar no curso
33
teacutecnico-agriacutecola Mas agora quero que meus filhos e netos vatildeo para a escola
aprender ser algueacutem na vidardquo
-34-
321 A escola no entorno do Assentamento Renascer
A ideia de lutar pela educaccedilatildeo veio antes da ideia de lutar pela escola como
espaccedilo conquistado pelo acampamento Encontrar uma escola perto do
acampamento com transporte escolar com vagas e horaacuterios acessiacuteveis para os que
trabalham o dia todo era entendido como uma necessidade baacutesica e uma grande
vitoacuteria
Ficava-se feliz se apesar das dificuldades fosse possiacutevel matricular pelo
menos as crianccedilas As dificuldades eram e ainda satildeo muitas o transporte escolar
era e eacute precaacuterio a poeira natildeo permite que os alunos cheguem limpos agrave escola os
buracos e as poccedilas daacutegua impedem a chegada do ocircnibus escolar durante as
chuvas No caso do ocircnibus que levam os alunos ateacute a Escola Classe do Coacuterrego do
Arrozal em eacutepoca de muita chuva os ocircnibus ateacute o iniacutecio de 2014 natildeo conseguiam
transitar Isto resulta no fato de que as crianccedilas precisam caminhar debaixo de
chuva ateacute a escola
-35-
322 O caminho para a produccedilatildeo do saber no Assentamento Renascer a
brinquedoteca a integraccedilatildeo social a biblioteca comunitaacuteria as manifestaccedilotildees
culturais
Ao longo dos anos de vivecircncia e convivecircncia no Acampamento Renascer
mediante a dificuldade e necessidade de estudar que sentimos na nossa proacutepria
vida foi despontando a ideia de prover as crianccedilas de atividades luacutedicas e
educativas
34
Logo no iniacutecio do acampamento por volta de 2005 por iniciativa de algumas
pessoas conscientes da necessidade de atividades luacutedicas para as crianccedilas foi
criada uma brinquedoteca
Inicialmente os brinquedos eram de materiais reciclaacuteveis como garrafas pet
telefones sem fio carrinhos bonecas petecas vai e vem cavalinhos tudo era
confeccionado com a participaccedilatildeo das crianccedilas na modalidade de oficina
incentivando-os a fabricar os seus proacuteprios brinquedos Os brinquedos eram
confeccionados a partir de materiais encontrados nos lugares de descarte perto do
acampamento e doaccedilotildees de pessoas que passavam pela estrada
O embriatildeo de um processo educacional que nunca se interrompeu estava
lanccedilado a brinquedoteca proporcionou a criatividade e a participaccedilatildeo de crianccedilas e
adultos marcando as atividades pela conscientizaccedilatildeo do cuidado com a natureza e a
importacircncia da reciclagem A educaccedilatildeo ambiental jaacute era praticada desde o
nascimento do acampamento Renascer
Este primeiro passo foi muito importante porque traduziu para o dia a dia do
acampamento os princiacutepios da escola do campo atuante para mudar a realidade
criar cidadatildeos conscientes e dispostos a mudar a realidade a partir da sua proacutepria
accedilatildeo Este eacute o processo de transformaccedilatildeo social dentro do acampamento Renascer
haacute tanto tempo atraacutes
Aos brinquedos reciclados pela proacutepria comunidade juntaram-se outros
presenteados por instituiccedilotildees como igrejas ONGs a Pastoral da Crianccedila e pessoas
interessadas no bem estar daquelas crianccedilas
Percebe-se em iniciativas como essas a importacircncia da educaccedilatildeo nos
diversos niacuteveis para a sociedade A integraccedilatildeo de pessoas com as atividades
educativas no acampamento nos faz lembrar sobre um grande sonho das escolas
hoje integrar a comunidade de modo a que todos defendam a escola
O sucesso de iniciativas como a brinquedoteca que integravam crianccedilas
adolescentes adultos e sociedade foi importante para outras iniciativas igualmente
importantes
Foi-se criando um projeto educacional para o acampamento sem que se
tivesse consciecircncia disso por faltar informaccedilatildeo que soacute agora se possui graccedilas aos
estudos na Universidade o galpatildeo comunitaacuterio foi utilizado para abrigar a
35
brinquedoteca para desenvolver grupos de teatro de crianccedilas e adultos e para
abrigar a biblioteca
A biblioteca recebeu inuacutemeros exemplares de livros infantis livros didaacuteticos
para os adolescentes e adultos literatura universal revistas dos mais variados
assuntos criando assim um espaccedilo comunitaacuterio de informaccedilatildeo lazer e
entretenimento
Com a criaccedilatildeo da biblioteca ficou evidente a importacircncia da alfabetizaccedilatildeo de
crianccedilas jovens e adultos Muitos acampados relatavam a vontade e a necessidade
de aprender a ler e a escrever Muitos reivindicavam o direito agrave educaccedilatildeo e
frequecircncia agrave escola ainda que o acampamento mudasse de ldquoendereccedilordquo tantas
vezes
Outros poreacutem natildeo acreditavam que seria possiacutevel aprender ou aperfeiccediloar a
leitura e a escrita nas condiccedilotildees de vida de um acampado
Vaacuterias atividades culturais foram desenvolvidas (e ainda satildeo) no
Acampamento Renascer Todas chamavam a atenccedilatildeo da comunidade local de
outras comunidades vizinhas garantindo a simpatia de chacareiros que levavam os
filhos para participarem das atividades
Uma das atividades mais apreciadas foi o Teatro de Fantoches inspirados em
faacutebulas muitas com a autoria da Pastoral da Crianccedila e da Faber Castel A
participaccedilatildeo da comunidade na atividade era intensa e voluntaacuteria todos queriam
manipular os fantoches participar cantando danccedilando ou prestando muita atenccedilatildeo
O teatro de transformaccedilatildeo social produzido pelos adultos e adolescentes
utilizavam tambeacutem materiais reciclaacuteveis demonstrando cuidado com o meio
ambiente e amadurecimento dos conceitos poliacuteticos e pedagoacutegicos gerando reflexatildeo
sobre os temas sociais que nos atingem no cotidiano
A miacutestica adotada pelos movimentos sociais com o objetivo de reflexatildeo satildeo
apresentadas em datas comemorativas e contam com o apoio e participaccedilatildeo de
muitos
Algumas festas fazem parte da tradiccedilatildeo do Acampamento Renascer
traduzindo para a realidade atual as antigas festas a que todos foram acostumados
em seus lugares de origem
Pode-se dizer que a comunidade aprecia muito as festas Mas duas em
particular satildeo muito respeitadas a festa das crianccedilas que ocorre durante o dia (12
36
de outubro) eacute concorrida pois a comunidade se esmera para oferecer os brinquedos
que as crianccedilas amam pula-pula palhaccedilos pintura de rosto piscina de sabatildeo e
muita oferta de comida coisas que as crianccedilas adoram
No mesmo dia ocorre agrave noite a festa da Nossa Senhora Aparecida com
missa e muito forroacute
No mecircs de marccedilo eacute comemorada a Festa da Pamonha em comemoraccedilatildeo agrave
boa colheita do milho Esta festa jaacute se tornou tradicional conhecida em todo o
entorno do assentamento Egrave uma festa importante porque confraterniza a
comunidade Renascer com as comunidades vizinhas e ateacute mesmo as cidades de
Sobradinho Paranoaacute e Planaltina
Os movimentos sociais necessitam ser admirados pela sociedade e festas
como estas chamam a atenccedilatildeo para o problema da reforma agraacuteria demonstrando
que ela eacute viaacutevel e que os assentados tecircm simpatia competecircncia e seus saberes do
campo
A festa ldquojulinardquo eacute outra festa muito apreciada que apresenta as tradiccedilotildees rurais
e religiosas como quadrilhas e bandas de forroacute da comunidade e vizinhanccedila A
danccedila eacute um dos pontos fortes da festa assim como as comidas tradicionais muitas
delas com ingredientes colhidos no acampamento
Vaacuterios grupos de atividades teatrais apresentaram-se na localidade com
participaccedilatildeo de palhaccedilos lembrando um espetaacuteculo circense Alguns desses
grupos inclusive tiveram seus trabalhos premiados
Outras atividades com fundo educativo tiveram participaccedilatildeo animada de
crianccedilas e adultos A exibiccedilatildeo de desenhos animados recentemente apresentados
no cinema eram um grande atrativo para a comunidade que se via socialmente
incluiacuteda Esta inclusatildeo aumentava a autoestima das crianccedilas principalmente pois
assim elas poderiam interagir com os colegas da escola conversando a respeito dos
filmes
A Economia Solidaacuteria eacute uma das formas de inserccedilatildeo dos membros da
comunidade agrave sociedade economicamente ativa Atraveacutes da cooperaccedilatildeo solidaacuteria eacute
possiacutevel o comercio justo agriacutecolas ou artesanais sob conceitos antes
desconhecidos enquanto forma de produccedilatildeo e consumo centrado na valorizaccedilatildeo do
ser humano em contraposiccedilatildeo agraves formas capitalistas de produccedilatildeo e conscientizaccedilatildeo
37
Ao longo dos doze (12) anos de luta pela educaccedilatildeo foram promovidos
diversos cursos que capacitaram multiplicadores que fazem um trabalho importante
para a comunidade
A ideia de autogestatildeo democracia cooperaccedilatildeo auxilia natildeo soacute as formas de
produccedilatildeo e comercio de bens e artesanatos mas tambeacutem auxiliam na formaccedilatildeo
integral de pessoas em que tanto o produtor como o consumidor tem o proposito de
ganhos financeiros segundo um criteacuterio de valorizaccedilatildeo do trabalho
Proposito de formar uma nova consciecircncia a Economia Solidaacuteria promoveu
cursos de Soberania Alimentar em que a comunidade recebeu noccedilotildees praacuteticas
sobre alimentaccedilatildeo a partir da produccedilatildeo local de modo a promover uma nova cultura
alimentar que visa o combate agraves doenccedilas crocircnicas Outro proposito eacute tornar a
comunidade criacutetica em relaccedilatildeo agrave publicidade de produtos alimentiacutecio supeacuterfluo que
induz agraves crianccedilas e adultos alimentarem-se incorretamente
A comunidade participou coletivamente da implantaccedilatildeo de uma unidade da
tecnologia social denominada Produccedilatildeo Agroecoloacutegica Integrada e Sustentaacutevel
(PAIS) em 2012 com o objetivo de produzir alimentos saudaacuteveis e preservar o meio
ambiente trazendo mais alimentos e renda ao campo Esta tecnologia popularmente
conhecida como ldquohorta mandalardquo foi ministrada durante o curso de capacitaccedilatildeo
promovido pela Fundaccedilatildeo Banco do Brasil e teve o meacuterito de proporcionar o debate
e a participaccedilatildeo democraacutetica na definiccedilatildeo das culturas a serem cultivadas na futura
propriedade Vale informar que o assentamento Renascer identificou-se com esse
paradigma agroecoloacutegico
A educaccedilatildeo ambiental faz parte do dia a dia da comunidade hoje preserva-se
conservaccedilatildeo das formas de vida vegetais e animais na regiatildeo do assentamento e
entorno
A produccedilatildeo de mudas no viveiro eacute bastante concorrida contando com a
participaccedilatildeo de todos O viveiro produz cinco mil (5000) mudas de espeacutecies nativa
do cerrado para o reflorestamento das nascentes de aacutegua e nas aacutereas degradadas
da regiatildeo Contam com o apoio da FUNATURA FUNDACcedilAtildeO BANCO DO BRASIL
IFB Rio Satildeo Bartolomeu Vivo e UnB
-36-
38
39
Quarto Capiacutetulo
A escola que queremos expectativas e sonhos dos
acampados do Assentamento Renascer
Pode-se observar pelas falas dos entrevistados que a realidade de todos
converge para os problemas estruturais do Brasil faltam escolas no campo eacute baixa
a escolaridade em Brasiacutelia todos exercem atividades de subemprego
Todos tecircm grandes expectativas com relaccedilatildeo agrave vida futura no assentamento
objetivando melhores condiccedilotildees de vida na esperanccedila de serem beneficiaacuterios
enquanto cidadatildeos assentados das Poliacuteticas Puacuteblicas e financiamentos agriacutecolas
voltadas para a agricultura familiar como PRONAF PAA PNAE e PAPA-DF Vecircem
aiacute a possibilidade de emprego e renda situaccedilatildeo sonhada desde quando foram
pleitear a terra para reforma agraacuteria
Um olhar mais aprofundado sobre a anaacutelise de dados revela que natildeo importa o
fato de hoje residirem no DF pois como em qualquer lugar de origem os moradores
do assentamento Renascer vivenciam os mesmos problemas Percebe-se
claramente as dificuldades da inexistecircncia de escola no campo A distacircncia continua
impedindo o acesso os meios de transportes continuam precaacuterios os filhos
vivenciam a dificuldade de transferecircncia para a cidade na expectativa de
continuidade dos estudos as estradas rurais continuam esburacadas
Satildeo muitos os pontos em comum entre a situaccedilatildeo atual relatada e os problemas
vividos haacute deacutecadas em seus estados de origem o que deixa transparecer a absoluta
falta de interesse por parte do poder puacuteblico em garantir o direito constitucional agrave
educaccedilatildeo do povo do campo o que infelizmente continuaraacute deixando o triste
legado para o futuro do paiacutes
40
Repetimos a pergunta da inicial Cadecirc as escolas do campo Ateacute quando o paiacutes
vai viver essa situaccedilatildeo A anaacutelise de dados responde Natildeo eacute mais possiacutevel
continuar como estaacute
Todos os entrevistados pretendem alcanccedilar conhecimentos atraveacutes da escola do
campo implantada no Assentamento Renascer com objetivos de administrar a
propriedade participar ativamente do coletivo garantir renda fixa atraveacutes dos
programas de desenvolvimento da agricultura familiar
Os entrevistados unanimamente tecircm a preocupaccedilatildeo da manutenccedilatildeo dos laccedilos
familiares e das raiacutezes camponesas
A distacircncia entre a moradia e a escola fato relatado pela quase totalidade dos
entrevistados constitui um grande motivo de evasatildeo escolar de defasagem nas
seacuteries frequentadas de precariedade na aprendizagem em relaccedilatildeo aos demais
alunos A discriminaccedilatildeo alegada por muitos que frequentaram ou frequentam
escolas fora da faixa etaacuteria o vernaacuteculo proacuteprio dos sujeitos do campo as condiccedilotildees
precaacuterias da estrada que denunciam a condiccedilatildeo de assentado o sentimento de
inadequaccedilatildeo constituem fatores que determinam a evasatildeo escolar
Foram treze (13) entrevistados significando aproximadamente dez por cento
(10) dos moradores do Assentamento Renascer Desse total apenas dois (2)
entrevistados natildeo declararam dificuldade de distacircncia entre a moradia e a escola em
seus lugares de origem A maioria absoluta (11) pessoas declararam que a distacircncia
dificultava e impedia o acesso agrave escola Alguns relatos apresentam situaccedilotildees
precaacuterias para o homem do campo o assentado
Para o aluno do campo a distacircncia da escola tem o significado de inexistecircncia de
escola Isto porque as dificuldades de acesso satildeo enormes No caso em estudo
apenas um entrevistado declarou a inexistecircncia de escola em sua regiatildeo de
moradia Este poreacutem vivenciou todas as dificuldades de acesso que outros
assentados apresentaram em razatildeo da distacircncia moradiaescola
A falta de professores na escola rural eacute relatada por 11 dos 13 entrevistados A
distacircncia da escola para os professores dificulta segundo a vivecircncia dos
entrevistados o acesso agrave escola e a assiduidade o que muito desmotivava a
ambos
41
Os entrevistados conforme anaacutelise de dados desejam muito objetivamente a
implantaccedilatildeo imediata de escolas segundo os criteacuterios caracteriacutesticos de escola do
campo
- Trazer a realidade para dentro da escola do campo curriacuteculos voltados para o
cotidiano do aluno do campo onde as teacutecnicas agriacutecolas pecuaacuterias e agroecoloacutegicas
possam fazer parte do processo educativo da comunidade e que a escola tenha
uma gestatildeo coletiva democraacutetica com a participaccedilatildeo da comunidade
- Ter o trabalho como princiacutepio educativo A experiecircncia do aluno deve
harmonizar-se com os princiacutepios pistrakianos significar o trabalho de forma a que
ele apresente benefiacutecios para o proacuteprio indiviacuteduo para a comunidade na qual estaacute
inserido e para a sociedade e natildeo exclusivamente para servir ao capitalismo
-Superar a fragmentaccedilatildeo do conhecimento disciplinar A interdisciplinaridade
deve fazer parte dos objetivos educacionais de modo a promover a formaccedilatildeo
integral dos educandos
- Valorizar os saberes do homem do campo Os entrevistados desejam uma
escola onde possam exercitar sua vivecircncia campesina e a relaccedilatildeo dialoacutegica entre
professor-aluno seguindo a pedagogia de Paulo Freire o educando quer aprender
com o educador mas quer tambeacutem ter a oportunidade de transmitir seus saberes
- Promover espaccedilos de gestatildeo coletiva A proacutepria comunidade deve participar da
gestatildeo a elaboraccedilatildeo do PPP deve gerir o espaccedilo fiacutesico da escola para atividades
de interesse da comunidade ocupar espaccedilos para finalidades culturais esportivas
sociais tornando a escola um espaccedilo democraacutetico
- Garantir a presenccedila da comunidade e dos movimentos sociais que geram
processos que auxiliam a emancipaccedilatildeo social A escola deve tambeacutem ser espaccedilo
que auxilie a sustentabilidade e garanta a alimentaccedilatildeo saudaacutevel e recursos
fitoteraacutepicos em associaccedilatildeo com a comunidade
- Inclusatildeo tecnoloacutegica em todos os aspectos digital inovaccedilatildeo tecnoloacutegica
agropecuaacuteria recursos ambientais alternativos agua potaacutevel energia solar energia
eoacutelica fossa seacuteptica teacutecnicas de compostagem saneamento baacutesico cuidados com
os recursos hiacutedricos
A anaacutelise dos dados quando feita especificamente sobre a escola a ser
implantada pode aparentemente demonstrar uma pequena conexatildeo com as teorias
da escola do campo
42
A concepccedilatildeo da escola do campo natildeo pode ser imposta ela parte do princiacutepio
que os camponeses devem conquista-la Para essa conquista eacute necessaacuteria a
paixatildeo o desejo por algo ainda natildeo experimentado o amadurecimento poliacutetico-
social-pessoal a participaccedilatildeo coletiva na luta e na conquista
A trajetoacuteria de luta por educaccedilatildeo da comunidade Renascer apresenta estes
elementos agraves vezes difusos outras vezes mais claramente A escola bem que
poderia para alguns ser apenas uma escola rural Afinal aprender a ler e a
escrever ldquodireitordquo como alguns dizem ou seja deixar a condiccedilatildeo de analfabeto ou
analfabeto funcional para tornar-se letrado significaria avanccedilos em face das atuais
circunstacircncias Alguns entendem assim expressando-se principalmente nas
conversas informais
Apesar disso quando as respostas informais ou quando as respostas das
entrevistas satildeo analisadas mais profundamente identificamos que embora
difusamente todos desejam o programa educacional da escola do campo
Explicando melhor a participaccedilatildeo de todos da comunidade em todas as atividades
soacutecio-poliacuteticas-culturais (relatadas no terceiro capitulo) indicam que a comunidade
assimilou a postura soacutecio-politica-cultural que caracterizam a escola do campo
A vivecircncia do Assentamento Renascer no cotidiano e nos eventos coletivos
amadureceu o desejo pelo alimento intelectual cultural artiacutestico ambiental social
que a concepccedilatildeo de escola do campo introduz O programa educacional da Escola
do Campo ultrapassou as paredes fiacutesicas da escola e alcanccedilou o cotidiano dos
assentados
Os avanccedilos da conscientizaccedilatildeo e seu reflexo na vida do Assentamento Renascer
satildeo sentidos nos nuacutemeros de matriculados na LEdoC sete (7) alunos
aproximadamente dez (10) assentados prestaratildeo o proacuteximo vestibular trecircs (3)
assentados estatildeo matriculados no IFB dois(2) assentados estatildeo formados em
Teacutecnico Agropecuaacuterio tambeacutem pelo IFB um deles cursa o Tecnoacutelogo de
Agroecologia tambeacutem do IFB
Vale acrescentar que no iniacutecio de 2014 quando o IFB buscou no Assentamento
pessoas interessadas em matricular-se em seus cursos sob a condiccedilatildeo de
estudarem no ensino meacutedio o interesse foi grande e a impossibilidade pelo fato de
natildeo estarem habilitados no ensino fundamental provocou tanta discussatildeo que
estimulou essa pesquisa
43
O legado desses alunos futuros alunos e profissionais para o futuro do
Assentamento apresentaraacute resultados significativos para toda a comunidade O
futuro colheraacute bons frutos plantados agora
A escola que temos natildeo estaacute funcionando falta a renovaccedilatildeo do contrato o que
atrasa a alfabetizaccedilatildeo e conclusatildeo do 5ordm ano Falta a implantaccedilatildeo de poliacuteticas
puacuteblicas para atendimento de questotildees baacutesicas como por exemplo carteiras
quadro de giz iluminaccedilatildeo espaccedilo fiacutesico (dependecircncias para a escola) e mobiliaacuterio
-41-
44
Consideraccedilotildees Finais
A Educaccedilatildeo do campo eacute um movimento em que os trabalhadores do campo e
suas organizaccedilotildees lutam por transformaccedilotildees sociais particularmente a criaccedilatildeo de
escolas dono campo de qualidade a partir de uma perspectiva ampla de reforma
agraacuteria
A construccedilatildeo da educaccedilatildeo do campo eacute resultado do amadurecimento dos
movimentos sociais e das comunidades rurais em sua trajetoacuteria de luta pelo direito
fundamental agrave universalizaccedilatildeo escolar para as populaccedilotildees camponesas segundo
orientaccedilatildeo poliacutetico-pedagoacutegica adequada agrave realidade dos lutadores de
acampamentos e assentamentos em luta pela reforma agraacuteria e justiccedila social
Alguns princiacutepios caracterizam a luta pela escola do campo Dentre eles
podemos citar a criaccedilatildeo da consciecircncia do direito agrave educaccedilatildeo de qualidade plantada
na proacutepria comunidade o que provoca o enraizamento a valorizaccedilatildeo da vida no
campo a promoccedilatildeo da autoestima e a transformaccedilatildeo do ser alienado pela ideologia
e desigualdade social e sujeito de sua proacutepria histoacuteria
Outro princiacutepio eacute a adequaccedilatildeo de curriacuteculos agrave realidade camponesa de modo
a que o processo ensino-aprendizagem favoreccedila o amadurecimento de talentos
naturais o surgimento de oportunidades a niacutevel pessoal e social contribuindo para a
emancipaccedilatildeo poliacutetico-social do indiviacuteduo com reflexos na sociedade
A mudanccedila de paradigmas e o envolvimento social provocam a formaccedilatildeo integral
dos sujeitos que lutam de forma coletiva e solidaacuteria pela terra A escola do campo
que surge dessa mudanccedila eacute tambeacutem transformadora porque eacute fruto da luta
consciente que gera a reflexatildeo e o amadurecimento poliacutetico deixando um legado
positivo de cidadatildeos orgulhosos de sua condiccedilatildeo de lutador pela terra de sua
identidade de sua cultura de sua comunidade e coletividade
A escola do campo propicia aos alunos a reflexatildeo sobre o contexto social e a
problemaacutetica da comunidade em que estatildeo inseridos o respeito agrave individualidade a
ampliaccedilatildeo das potencialidades do aluno para organizar elaborar e atuar
coletivamente Deixam o legado futuro de homens responsaacuteveis mentes
independentes e atuantes que poderatildeo prestar serviccedilos significativos agrave sociedade
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A comunidade assentada de o Assentamento Renascer pela Reforma
Agraacuteria em Sobradinho DF foi convidada a opinar sobre a escola que deseja a
partir da conquista da terra
O modelo proposto a partir de seu posicionamento possibilita a conclusatildeo
de que a escola do campo plantada na comunidade eacute preferiacutevel ao modelo
adotado atualmente de inserccedilatildeo dos alunos da comunidade agraves escolas urbanas
conter recursos materiais e humanos que propiciem bons resultados
pedagoacutegicos deve servir para fixar o trabalhador ao campo deve cumprir com o
propoacutesito constitucional de universalizaccedilatildeo do ensino para todas as faixas
etaacuterias deve estar identificada com os sonhos de prosperidade material e
realizaccedilatildeo pessoal dos assentados
-46-
46
Referecircncias Bibliograacuteficas
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FERRARI Marco ldquoAniacutesio Teixeira o inventor da escola puacuteblica no Brasilrdquo Revista Nova Escola Fundaccedilatildeo Victor Civita Revistaescolaabrilcombr acesso em 14092014 FERREIRA Fabiano de Jesus BRANDAtildeO Elias Canuto ndash Revista Eletrocircnica de Educaccedilatildeo Ano V N 09 juldez 2011p3 ldquoEducaccedilatildeo do campo um olhar histoacuterico uma realidade concreta rdquo (WWWUNIFILBR acesso em 08 de agosto de 2014) GONCcedilALVES Luiz Alberto Oliveira e Pinto Regina Pahim EDUCACcedilAtildeO SEacuteRIE JUSTICcedilA E DESENVOLVIMENTO IFP-FCC FUNDACcedilAtildeO CARLOS CHAGAS 2007 SAtildeO PAULO (pag206)
KOLLING Edgar Jorge Vargas Caldart MST e Educaccedilatildeo in DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia Expressatildeo Popular 2012 (pag 5020
MOLINA Mocircnica SAacute Laiacutes Mouratildeo Escola do Campo in DICIONARIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia Expressatildeo Popular 2012 pg (329)
OLIVEIRA Maria Rita Duarte em sua dissertaccedilatildeo ldquoDos programas oficiais para a educaccedilatildeo rural aos projetos de educaccedilatildeo do campo dos movimentos sociaisrdquo WWWrevistalaborufcbrartigovolume1maria-ritapdf acesso em 08-09-2014
OLIVEIRA Maria Rita Duarte PEDAGOGIA EM MARCHA Apud ARROYO Satildeo Paulo1995( pg 162)
OLIVEIRA Maria Rita Duarte Revistalabor ufcbracesso em 19-10-2014
________ citando CALAZ Maria Rita Duarte Oliveira
47
SANTOS Clarice Aparecida PROGRAMA NACIONAL DE EDUCACcedilAtildeO NA REFORMA AGRAacuteRIA in DICIONARIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia2012(pg630)
________ Clarice Aparecida PROGRAMA NACIONAL DE EDUCACcedilAtildeO NA REFORMA AGRAacuteRIA BRASIacuteLIA 2012 pg 631 in DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO SANTOS Claudio Felix Dos ldquoO aprender a aprender na formaccedilatildeo de professores do campordquo Campinas 2013 Editora Autores Associados ) SOUZA Maria Antocircnia Movimentos Sociais no Brasil Contemporacircneo participaccedilatildeo e possibilidades no contexto das praacuteticas democraacuteticas ndash (wwwcesucptlab2004pdfMariaAntonia Souzapdfaceso em 24-07-2014 -48-
48
Apecircndices
1 Roteiro das Entrevistas
a) Dados dos entrevistados
Qual o seu nome
Masculino ( ) Feminino ( )
Quantos anos vocecirc tecircm
A quanto tempo mora no
assentamento
Onde vocecirc morou antes
de morar no
assentamento
Quantos anos vocecirc tinha
quando foi a escola pela
primeira vez
Estou ateacute qual seacuterieano
Quantos anos vocecirc tinha
quando parou de estudar
Qual motivo motivou vocecirc
a parar de estudar
Se tiver escola no
assentamento vocecirc voltaraacute
a estudar Porque
B) Outras informaccedilotildees dados pelos entrevistadosas (GRAVAR)
a) Em qual escola vocecirc estudou no acampamento ou em outro lugar Qual
b) Como era a escola que estudou Quais as coisas boas e coisas ruins que
tinha nesta escola
c) Conte como eacutefoi a educaccedilatildeo do assentamento o que jaacute existiu de escola
como funcionou e quais eram as boas e as coisas ruins desta escola
d) Jaacute participou de alguma accedilatildeo de mobilizaccedilatildeo para ter escola no
assentamento Se sim explique para que e como foi essa mobilizaccedilatildeo
e) Na sua opiniatildeo no assentamento deve ter escola Por quecirc
f) Como deveraacute ser a escola da comunidadeassentamento Como eacute a escola
que queremos ter
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b) Entrevistas semi-estruturadas
Entrevistado 01
Moro no assentamento Renascer haacute 11 anos Nasci Carnauacuteba no Rio Grande do
Norte fui criado na roccedila e desde pequeno trabalhava na lavoura para ajudar meu
pai Fui para escola com 9 anos de idade estudei ateacute a 5ordm seacuterie parei de estudar
com 17 anos natildeo continuei os estudos porque era muito longe de onde eu morva
que era na cidade mais proacutexima eu tinha que andar a peacute 8 km ficava muito
cansado Casei e vim morar em Brasiacutelia para trabalhar em uma chaacutecara como
caseiro Morava na chaacutecara Buritis em sobradinho- Df tambeacutem natildeo dei para
continuar os estudos porque ficava longe e tinha que ser a noite e natildeo tinha como ir
Se vier uma escola pra caacute eu ainda vou estudar para ter mais conhecimento para
plantar minha roccedila ir no banco pra ver se assino um empreacutestimo para melhorar
minha produccedilatildeo e saber fazer conta pra administrar minha parcela de terra
Qual o seu nome
Masculino ( X ) Feminino ( )
Quantos anos vocecirc
tecircm
57 anos
A quanto tempo
mora no assentamento
11 anos
Onde vocecirc morou
antes de morar no
assentamento
Carnauacuteba ndash RN
Chaacutecara Buritis nordm 10 Sobradinho DF
Quantos anos vocecirc
tinha quando foi a escola
pela primeira vez
8 anos
Estou ateacute qual
seacuterieano
5ordf seacuterie
Quantos anos vocecirc
tinha quando parou de
estudar
24 anos
Qual motivo
motivou vocecirc a parar de
estudar
Trabalhar para sustento da famiacutelia a
distacircncia entre a casa e a escola
Se tiver escola no
assentamento vocecirc voltaraacute
a estudar Porque
Sim ldquoSe tivesse escola do ensino
fundamental voltaria a estudar para tecirc
mais conhecimento para plantar minha roccedila
50
saber pesar saber contar vendecirc os produto e
comecirc
Entrevistado 02
Moro no assentamento renascer haacute 7 anos tenho 38 vim do interior do Cearaacute
Entrei na escola com 7 anos de idade estudei soacute a 5ordm seacuterie incompleta natildeo
continuei a estudar porque natildeo tinha escola a onde eu morava que era na roccedila e eu
tinha que ficar na casa dozotro (SIC) na cidade e eu natildeo gostava disso natildeo ai parei
com 16 anos de idade Mudamo (SIC) pra Brasiacutelia pra uma chaacutecara perto de Santa
Maria-DF e natildeo dei pra estudar porque casei e tinha que trabalhar muito para
susrentar a famiacutelia A gora moro no assentamento Renascer e sei que um dia vai ter
uma escola aqui e eu vou voltar a estudar porque meu sonho eacute ser veterinaacuterio e vou
der se deus quiser
Entrevistado 03
Tenho 58 anos moro no assentamento Renascer haacute 6 anos vim de Ceres-GO
comecei a estudar quando eu tinha 10 ano de idade estudei ateacute a 4ordf seria primaacuteria
(SIC) parei de estudar quando tinha 16 anos porque eu morava na roccedila e escola
ateacute que natildeo ficava muito longe natildeo era soacute 2 km dava pra ir a peacute a professora eacute que
faltava muito e a gente natildeo tinha como saber se ela tava ou natildeoAiacute quando eu tinha
18 anos casei e vim morar em Brasiacutelia e arranjei(SIC) emprego de caseira em uma
chaacutecara aiacute natildeo pra estudar a noite porque era muito longe pra laacute entatildeo eu natildeo
pensei mais nessas coisas Quando tiver escola no assentamento quero estudar
quiecirc pra mim (SIC) fazer curso de teacutecnico agriacutecolarsquorsquo
Entrevistado 04
Tenho 24 anos moro no assentamento Renascer tem 6 ano vim da Bahia morava
no Condomiacutenio RK entrei na escola com 7 anos de idade e estudei soacute ateacute a 6ordf seacuterie
parei com 18 anos de idade
Porque mudei pra caacute pro assentamento (SIC) e natildeo tem escola e natildeo tem como ir
pra Sobradinho a noite porque eacute muito longe tem que andar 5 km eacute pirigogo (SIC)
tem muita gente mal por aiacute tem ateacute estrupador natildeo posso me arriscar
ldquoSe tivesse escola aqui eu ia terminar meus estudos podia ser no galpatildeo mesmo
pra mim tava bom mas para os meus filhos eu queria uma escola boa com internet
e tudo Eu natildeo gosto que meus filhos estuda(SIC) na cidade soacute aceito porque eacute o
jeito gente de assentamento eacute muito zombado (SIC) porque as vezes chega suja
na escola e os outros acha que eles satildeo porcos que toma banhordquo
Entrevistado 05
51
Tenho 21 anos de idade moro no Renascer haacute trecircs anos vim de satildeo Gabriel-GO
comecei a estudar aos 7 anos parei com 18 anos porque minha matildee mudou
pro(SIC) matildee mudou pro (SIC) assentamento haacute 6 anos e eu natildeo aguento morar
longe dela Quando cheguei aqui natildeo teve como continuar os estudos porque
trabalho durante o dia como manicure em Sobradinho e o uacuteltimo ocircnibus que passa
perto do assentamento eacute as 5 horas da tarde entatildeo natildeo daacute para estudar a noite
Sim porque quero fazer um curso de cabelereiro quando tiver aacutegua e luz aqui eu
quero montar um salatildeo de beleza e para ser uma empresaacuteria precisa ter estudos pra
administrar o negoacutecio
Entrevistado 06
44 anos
6 anos
Formosa-GO
8 anos
5ordf seacuterie
24 anos
Porque a escola mais perto(SIC) era 10km de distacircncia e eu trabalhava na roccedila e
ficava muito cansado aiacute parei natildeo deu mais
Sim quando tiver escola aqui eu vou voltar a estudar Eu tinha um sonho de ser
agroacutenomo mas esse sonho eacute impussive(SIC) entatildeo queria concluir o ensino
fundamental para fazer um curso de teacutecnico agriacutecola no IFB mas tambeacutem eacute longe
se tivesse como estudar aqui no assentamento eu ia(SIC) ficar muito feliz
Entrevistado 07
57 anos
6 anos
Parnaiacuteba-PI- Santa Maria- DF
7 anos
4ordf seacuterie
21 anos
Parei porque era muito difiacutecil ir para escola que ficava muito longe eu tinha que sair
de casa as 4hs da madrugada para chegar na escola as 730 ia montado num
cavalo e muitas vezes natildeo tinha professora pra dar aula Parei porque natildeo aguentei
o rojatildeo tinha que minha matildee na lida a tarde e eu ficava muito cansado Vim pra
52
Brasiacutelia e casei fui trabalhar de chacareiro numa chaacutecara que tambeacutem era longe de
escola depois vim morar aqui no assentamento que natildeo tem escola
Se tivesse escola aqui eu ia voltar estudar soacute pra aprender a cuidar meior (SIC) da
terra e dos meus bichos e que fosse como uma escola agriacutecola
Entrevistado 08
Tenho 29 anos moro no assentamento Renascer haacute 2 anos sou educadora do
Pronera haacute 1 ano e 2 meses O Pronera eacute como um antidepressivo na vida de muita
gente o Pronera melhorou a minha vida e a vida dos meus alunos o desejo de
todos eacute que o Pronera continue crescendo em direccedilatildeo de uma educaccedilatildeo continuada
levando tambeacutem o ensino fundamental para os acampamentos e assentamentos da
Reforma Agraacuteria
-50-
Anexos
53
Acampamento agrave beira da estrada ndash 2004
Construccedilatildeo da Sede do Movimento na atual aacuterea
54
Reuniatildeo semanal
Teatro de fantoches ndash brinquedoteca
55
Accedilatildeo da Pastoral da Crianccedila na brinquedoteca
Oficina de brinquedos reciclaacuteveis
56
Brinquedo confeccionado com materiais reciclaacuteveis na Brinquedoteca
57
58
59
60
Apresentaccedilatildeo teatral
61
Capacitaccedilatildeo em Economia Solidaacuteria
Formaccedilatildeo de multiplicadores da Economia Solidaacuteria
62
Capacitaccedilatildeo de Educadores Ambientais
63
Luta pela Reforma Agraacuteria e Soberania Alimentar
33
teacutecnico-agriacutecola Mas agora quero que meus filhos e netos vatildeo para a escola
aprender ser algueacutem na vidardquo
-34-
321 A escola no entorno do Assentamento Renascer
A ideia de lutar pela educaccedilatildeo veio antes da ideia de lutar pela escola como
espaccedilo conquistado pelo acampamento Encontrar uma escola perto do
acampamento com transporte escolar com vagas e horaacuterios acessiacuteveis para os que
trabalham o dia todo era entendido como uma necessidade baacutesica e uma grande
vitoacuteria
Ficava-se feliz se apesar das dificuldades fosse possiacutevel matricular pelo
menos as crianccedilas As dificuldades eram e ainda satildeo muitas o transporte escolar
era e eacute precaacuterio a poeira natildeo permite que os alunos cheguem limpos agrave escola os
buracos e as poccedilas daacutegua impedem a chegada do ocircnibus escolar durante as
chuvas No caso do ocircnibus que levam os alunos ateacute a Escola Classe do Coacuterrego do
Arrozal em eacutepoca de muita chuva os ocircnibus ateacute o iniacutecio de 2014 natildeo conseguiam
transitar Isto resulta no fato de que as crianccedilas precisam caminhar debaixo de
chuva ateacute a escola
-35-
322 O caminho para a produccedilatildeo do saber no Assentamento Renascer a
brinquedoteca a integraccedilatildeo social a biblioteca comunitaacuteria as manifestaccedilotildees
culturais
Ao longo dos anos de vivecircncia e convivecircncia no Acampamento Renascer
mediante a dificuldade e necessidade de estudar que sentimos na nossa proacutepria
vida foi despontando a ideia de prover as crianccedilas de atividades luacutedicas e
educativas
34
Logo no iniacutecio do acampamento por volta de 2005 por iniciativa de algumas
pessoas conscientes da necessidade de atividades luacutedicas para as crianccedilas foi
criada uma brinquedoteca
Inicialmente os brinquedos eram de materiais reciclaacuteveis como garrafas pet
telefones sem fio carrinhos bonecas petecas vai e vem cavalinhos tudo era
confeccionado com a participaccedilatildeo das crianccedilas na modalidade de oficina
incentivando-os a fabricar os seus proacuteprios brinquedos Os brinquedos eram
confeccionados a partir de materiais encontrados nos lugares de descarte perto do
acampamento e doaccedilotildees de pessoas que passavam pela estrada
O embriatildeo de um processo educacional que nunca se interrompeu estava
lanccedilado a brinquedoteca proporcionou a criatividade e a participaccedilatildeo de crianccedilas e
adultos marcando as atividades pela conscientizaccedilatildeo do cuidado com a natureza e a
importacircncia da reciclagem A educaccedilatildeo ambiental jaacute era praticada desde o
nascimento do acampamento Renascer
Este primeiro passo foi muito importante porque traduziu para o dia a dia do
acampamento os princiacutepios da escola do campo atuante para mudar a realidade
criar cidadatildeos conscientes e dispostos a mudar a realidade a partir da sua proacutepria
accedilatildeo Este eacute o processo de transformaccedilatildeo social dentro do acampamento Renascer
haacute tanto tempo atraacutes
Aos brinquedos reciclados pela proacutepria comunidade juntaram-se outros
presenteados por instituiccedilotildees como igrejas ONGs a Pastoral da Crianccedila e pessoas
interessadas no bem estar daquelas crianccedilas
Percebe-se em iniciativas como essas a importacircncia da educaccedilatildeo nos
diversos niacuteveis para a sociedade A integraccedilatildeo de pessoas com as atividades
educativas no acampamento nos faz lembrar sobre um grande sonho das escolas
hoje integrar a comunidade de modo a que todos defendam a escola
O sucesso de iniciativas como a brinquedoteca que integravam crianccedilas
adolescentes adultos e sociedade foi importante para outras iniciativas igualmente
importantes
Foi-se criando um projeto educacional para o acampamento sem que se
tivesse consciecircncia disso por faltar informaccedilatildeo que soacute agora se possui graccedilas aos
estudos na Universidade o galpatildeo comunitaacuterio foi utilizado para abrigar a
35
brinquedoteca para desenvolver grupos de teatro de crianccedilas e adultos e para
abrigar a biblioteca
A biblioteca recebeu inuacutemeros exemplares de livros infantis livros didaacuteticos
para os adolescentes e adultos literatura universal revistas dos mais variados
assuntos criando assim um espaccedilo comunitaacuterio de informaccedilatildeo lazer e
entretenimento
Com a criaccedilatildeo da biblioteca ficou evidente a importacircncia da alfabetizaccedilatildeo de
crianccedilas jovens e adultos Muitos acampados relatavam a vontade e a necessidade
de aprender a ler e a escrever Muitos reivindicavam o direito agrave educaccedilatildeo e
frequecircncia agrave escola ainda que o acampamento mudasse de ldquoendereccedilordquo tantas
vezes
Outros poreacutem natildeo acreditavam que seria possiacutevel aprender ou aperfeiccediloar a
leitura e a escrita nas condiccedilotildees de vida de um acampado
Vaacuterias atividades culturais foram desenvolvidas (e ainda satildeo) no
Acampamento Renascer Todas chamavam a atenccedilatildeo da comunidade local de
outras comunidades vizinhas garantindo a simpatia de chacareiros que levavam os
filhos para participarem das atividades
Uma das atividades mais apreciadas foi o Teatro de Fantoches inspirados em
faacutebulas muitas com a autoria da Pastoral da Crianccedila e da Faber Castel A
participaccedilatildeo da comunidade na atividade era intensa e voluntaacuteria todos queriam
manipular os fantoches participar cantando danccedilando ou prestando muita atenccedilatildeo
O teatro de transformaccedilatildeo social produzido pelos adultos e adolescentes
utilizavam tambeacutem materiais reciclaacuteveis demonstrando cuidado com o meio
ambiente e amadurecimento dos conceitos poliacuteticos e pedagoacutegicos gerando reflexatildeo
sobre os temas sociais que nos atingem no cotidiano
A miacutestica adotada pelos movimentos sociais com o objetivo de reflexatildeo satildeo
apresentadas em datas comemorativas e contam com o apoio e participaccedilatildeo de
muitos
Algumas festas fazem parte da tradiccedilatildeo do Acampamento Renascer
traduzindo para a realidade atual as antigas festas a que todos foram acostumados
em seus lugares de origem
Pode-se dizer que a comunidade aprecia muito as festas Mas duas em
particular satildeo muito respeitadas a festa das crianccedilas que ocorre durante o dia (12
36
de outubro) eacute concorrida pois a comunidade se esmera para oferecer os brinquedos
que as crianccedilas amam pula-pula palhaccedilos pintura de rosto piscina de sabatildeo e
muita oferta de comida coisas que as crianccedilas adoram
No mesmo dia ocorre agrave noite a festa da Nossa Senhora Aparecida com
missa e muito forroacute
No mecircs de marccedilo eacute comemorada a Festa da Pamonha em comemoraccedilatildeo agrave
boa colheita do milho Esta festa jaacute se tornou tradicional conhecida em todo o
entorno do assentamento Egrave uma festa importante porque confraterniza a
comunidade Renascer com as comunidades vizinhas e ateacute mesmo as cidades de
Sobradinho Paranoaacute e Planaltina
Os movimentos sociais necessitam ser admirados pela sociedade e festas
como estas chamam a atenccedilatildeo para o problema da reforma agraacuteria demonstrando
que ela eacute viaacutevel e que os assentados tecircm simpatia competecircncia e seus saberes do
campo
A festa ldquojulinardquo eacute outra festa muito apreciada que apresenta as tradiccedilotildees rurais
e religiosas como quadrilhas e bandas de forroacute da comunidade e vizinhanccedila A
danccedila eacute um dos pontos fortes da festa assim como as comidas tradicionais muitas
delas com ingredientes colhidos no acampamento
Vaacuterios grupos de atividades teatrais apresentaram-se na localidade com
participaccedilatildeo de palhaccedilos lembrando um espetaacuteculo circense Alguns desses
grupos inclusive tiveram seus trabalhos premiados
Outras atividades com fundo educativo tiveram participaccedilatildeo animada de
crianccedilas e adultos A exibiccedilatildeo de desenhos animados recentemente apresentados
no cinema eram um grande atrativo para a comunidade que se via socialmente
incluiacuteda Esta inclusatildeo aumentava a autoestima das crianccedilas principalmente pois
assim elas poderiam interagir com os colegas da escola conversando a respeito dos
filmes
A Economia Solidaacuteria eacute uma das formas de inserccedilatildeo dos membros da
comunidade agrave sociedade economicamente ativa Atraveacutes da cooperaccedilatildeo solidaacuteria eacute
possiacutevel o comercio justo agriacutecolas ou artesanais sob conceitos antes
desconhecidos enquanto forma de produccedilatildeo e consumo centrado na valorizaccedilatildeo do
ser humano em contraposiccedilatildeo agraves formas capitalistas de produccedilatildeo e conscientizaccedilatildeo
37
Ao longo dos doze (12) anos de luta pela educaccedilatildeo foram promovidos
diversos cursos que capacitaram multiplicadores que fazem um trabalho importante
para a comunidade
A ideia de autogestatildeo democracia cooperaccedilatildeo auxilia natildeo soacute as formas de
produccedilatildeo e comercio de bens e artesanatos mas tambeacutem auxiliam na formaccedilatildeo
integral de pessoas em que tanto o produtor como o consumidor tem o proposito de
ganhos financeiros segundo um criteacuterio de valorizaccedilatildeo do trabalho
Proposito de formar uma nova consciecircncia a Economia Solidaacuteria promoveu
cursos de Soberania Alimentar em que a comunidade recebeu noccedilotildees praacuteticas
sobre alimentaccedilatildeo a partir da produccedilatildeo local de modo a promover uma nova cultura
alimentar que visa o combate agraves doenccedilas crocircnicas Outro proposito eacute tornar a
comunidade criacutetica em relaccedilatildeo agrave publicidade de produtos alimentiacutecio supeacuterfluo que
induz agraves crianccedilas e adultos alimentarem-se incorretamente
A comunidade participou coletivamente da implantaccedilatildeo de uma unidade da
tecnologia social denominada Produccedilatildeo Agroecoloacutegica Integrada e Sustentaacutevel
(PAIS) em 2012 com o objetivo de produzir alimentos saudaacuteveis e preservar o meio
ambiente trazendo mais alimentos e renda ao campo Esta tecnologia popularmente
conhecida como ldquohorta mandalardquo foi ministrada durante o curso de capacitaccedilatildeo
promovido pela Fundaccedilatildeo Banco do Brasil e teve o meacuterito de proporcionar o debate
e a participaccedilatildeo democraacutetica na definiccedilatildeo das culturas a serem cultivadas na futura
propriedade Vale informar que o assentamento Renascer identificou-se com esse
paradigma agroecoloacutegico
A educaccedilatildeo ambiental faz parte do dia a dia da comunidade hoje preserva-se
conservaccedilatildeo das formas de vida vegetais e animais na regiatildeo do assentamento e
entorno
A produccedilatildeo de mudas no viveiro eacute bastante concorrida contando com a
participaccedilatildeo de todos O viveiro produz cinco mil (5000) mudas de espeacutecies nativa
do cerrado para o reflorestamento das nascentes de aacutegua e nas aacutereas degradadas
da regiatildeo Contam com o apoio da FUNATURA FUNDACcedilAtildeO BANCO DO BRASIL
IFB Rio Satildeo Bartolomeu Vivo e UnB
-36-
38
39
Quarto Capiacutetulo
A escola que queremos expectativas e sonhos dos
acampados do Assentamento Renascer
Pode-se observar pelas falas dos entrevistados que a realidade de todos
converge para os problemas estruturais do Brasil faltam escolas no campo eacute baixa
a escolaridade em Brasiacutelia todos exercem atividades de subemprego
Todos tecircm grandes expectativas com relaccedilatildeo agrave vida futura no assentamento
objetivando melhores condiccedilotildees de vida na esperanccedila de serem beneficiaacuterios
enquanto cidadatildeos assentados das Poliacuteticas Puacuteblicas e financiamentos agriacutecolas
voltadas para a agricultura familiar como PRONAF PAA PNAE e PAPA-DF Vecircem
aiacute a possibilidade de emprego e renda situaccedilatildeo sonhada desde quando foram
pleitear a terra para reforma agraacuteria
Um olhar mais aprofundado sobre a anaacutelise de dados revela que natildeo importa o
fato de hoje residirem no DF pois como em qualquer lugar de origem os moradores
do assentamento Renascer vivenciam os mesmos problemas Percebe-se
claramente as dificuldades da inexistecircncia de escola no campo A distacircncia continua
impedindo o acesso os meios de transportes continuam precaacuterios os filhos
vivenciam a dificuldade de transferecircncia para a cidade na expectativa de
continuidade dos estudos as estradas rurais continuam esburacadas
Satildeo muitos os pontos em comum entre a situaccedilatildeo atual relatada e os problemas
vividos haacute deacutecadas em seus estados de origem o que deixa transparecer a absoluta
falta de interesse por parte do poder puacuteblico em garantir o direito constitucional agrave
educaccedilatildeo do povo do campo o que infelizmente continuaraacute deixando o triste
legado para o futuro do paiacutes
40
Repetimos a pergunta da inicial Cadecirc as escolas do campo Ateacute quando o paiacutes
vai viver essa situaccedilatildeo A anaacutelise de dados responde Natildeo eacute mais possiacutevel
continuar como estaacute
Todos os entrevistados pretendem alcanccedilar conhecimentos atraveacutes da escola do
campo implantada no Assentamento Renascer com objetivos de administrar a
propriedade participar ativamente do coletivo garantir renda fixa atraveacutes dos
programas de desenvolvimento da agricultura familiar
Os entrevistados unanimamente tecircm a preocupaccedilatildeo da manutenccedilatildeo dos laccedilos
familiares e das raiacutezes camponesas
A distacircncia entre a moradia e a escola fato relatado pela quase totalidade dos
entrevistados constitui um grande motivo de evasatildeo escolar de defasagem nas
seacuteries frequentadas de precariedade na aprendizagem em relaccedilatildeo aos demais
alunos A discriminaccedilatildeo alegada por muitos que frequentaram ou frequentam
escolas fora da faixa etaacuteria o vernaacuteculo proacuteprio dos sujeitos do campo as condiccedilotildees
precaacuterias da estrada que denunciam a condiccedilatildeo de assentado o sentimento de
inadequaccedilatildeo constituem fatores que determinam a evasatildeo escolar
Foram treze (13) entrevistados significando aproximadamente dez por cento
(10) dos moradores do Assentamento Renascer Desse total apenas dois (2)
entrevistados natildeo declararam dificuldade de distacircncia entre a moradia e a escola em
seus lugares de origem A maioria absoluta (11) pessoas declararam que a distacircncia
dificultava e impedia o acesso agrave escola Alguns relatos apresentam situaccedilotildees
precaacuterias para o homem do campo o assentado
Para o aluno do campo a distacircncia da escola tem o significado de inexistecircncia de
escola Isto porque as dificuldades de acesso satildeo enormes No caso em estudo
apenas um entrevistado declarou a inexistecircncia de escola em sua regiatildeo de
moradia Este poreacutem vivenciou todas as dificuldades de acesso que outros
assentados apresentaram em razatildeo da distacircncia moradiaescola
A falta de professores na escola rural eacute relatada por 11 dos 13 entrevistados A
distacircncia da escola para os professores dificulta segundo a vivecircncia dos
entrevistados o acesso agrave escola e a assiduidade o que muito desmotivava a
ambos
41
Os entrevistados conforme anaacutelise de dados desejam muito objetivamente a
implantaccedilatildeo imediata de escolas segundo os criteacuterios caracteriacutesticos de escola do
campo
- Trazer a realidade para dentro da escola do campo curriacuteculos voltados para o
cotidiano do aluno do campo onde as teacutecnicas agriacutecolas pecuaacuterias e agroecoloacutegicas
possam fazer parte do processo educativo da comunidade e que a escola tenha
uma gestatildeo coletiva democraacutetica com a participaccedilatildeo da comunidade
- Ter o trabalho como princiacutepio educativo A experiecircncia do aluno deve
harmonizar-se com os princiacutepios pistrakianos significar o trabalho de forma a que
ele apresente benefiacutecios para o proacuteprio indiviacuteduo para a comunidade na qual estaacute
inserido e para a sociedade e natildeo exclusivamente para servir ao capitalismo
-Superar a fragmentaccedilatildeo do conhecimento disciplinar A interdisciplinaridade
deve fazer parte dos objetivos educacionais de modo a promover a formaccedilatildeo
integral dos educandos
- Valorizar os saberes do homem do campo Os entrevistados desejam uma
escola onde possam exercitar sua vivecircncia campesina e a relaccedilatildeo dialoacutegica entre
professor-aluno seguindo a pedagogia de Paulo Freire o educando quer aprender
com o educador mas quer tambeacutem ter a oportunidade de transmitir seus saberes
- Promover espaccedilos de gestatildeo coletiva A proacutepria comunidade deve participar da
gestatildeo a elaboraccedilatildeo do PPP deve gerir o espaccedilo fiacutesico da escola para atividades
de interesse da comunidade ocupar espaccedilos para finalidades culturais esportivas
sociais tornando a escola um espaccedilo democraacutetico
- Garantir a presenccedila da comunidade e dos movimentos sociais que geram
processos que auxiliam a emancipaccedilatildeo social A escola deve tambeacutem ser espaccedilo
que auxilie a sustentabilidade e garanta a alimentaccedilatildeo saudaacutevel e recursos
fitoteraacutepicos em associaccedilatildeo com a comunidade
- Inclusatildeo tecnoloacutegica em todos os aspectos digital inovaccedilatildeo tecnoloacutegica
agropecuaacuteria recursos ambientais alternativos agua potaacutevel energia solar energia
eoacutelica fossa seacuteptica teacutecnicas de compostagem saneamento baacutesico cuidados com
os recursos hiacutedricos
A anaacutelise dos dados quando feita especificamente sobre a escola a ser
implantada pode aparentemente demonstrar uma pequena conexatildeo com as teorias
da escola do campo
42
A concepccedilatildeo da escola do campo natildeo pode ser imposta ela parte do princiacutepio
que os camponeses devem conquista-la Para essa conquista eacute necessaacuteria a
paixatildeo o desejo por algo ainda natildeo experimentado o amadurecimento poliacutetico-
social-pessoal a participaccedilatildeo coletiva na luta e na conquista
A trajetoacuteria de luta por educaccedilatildeo da comunidade Renascer apresenta estes
elementos agraves vezes difusos outras vezes mais claramente A escola bem que
poderia para alguns ser apenas uma escola rural Afinal aprender a ler e a
escrever ldquodireitordquo como alguns dizem ou seja deixar a condiccedilatildeo de analfabeto ou
analfabeto funcional para tornar-se letrado significaria avanccedilos em face das atuais
circunstacircncias Alguns entendem assim expressando-se principalmente nas
conversas informais
Apesar disso quando as respostas informais ou quando as respostas das
entrevistas satildeo analisadas mais profundamente identificamos que embora
difusamente todos desejam o programa educacional da escola do campo
Explicando melhor a participaccedilatildeo de todos da comunidade em todas as atividades
soacutecio-poliacuteticas-culturais (relatadas no terceiro capitulo) indicam que a comunidade
assimilou a postura soacutecio-politica-cultural que caracterizam a escola do campo
A vivecircncia do Assentamento Renascer no cotidiano e nos eventos coletivos
amadureceu o desejo pelo alimento intelectual cultural artiacutestico ambiental social
que a concepccedilatildeo de escola do campo introduz O programa educacional da Escola
do Campo ultrapassou as paredes fiacutesicas da escola e alcanccedilou o cotidiano dos
assentados
Os avanccedilos da conscientizaccedilatildeo e seu reflexo na vida do Assentamento Renascer
satildeo sentidos nos nuacutemeros de matriculados na LEdoC sete (7) alunos
aproximadamente dez (10) assentados prestaratildeo o proacuteximo vestibular trecircs (3)
assentados estatildeo matriculados no IFB dois(2) assentados estatildeo formados em
Teacutecnico Agropecuaacuterio tambeacutem pelo IFB um deles cursa o Tecnoacutelogo de
Agroecologia tambeacutem do IFB
Vale acrescentar que no iniacutecio de 2014 quando o IFB buscou no Assentamento
pessoas interessadas em matricular-se em seus cursos sob a condiccedilatildeo de
estudarem no ensino meacutedio o interesse foi grande e a impossibilidade pelo fato de
natildeo estarem habilitados no ensino fundamental provocou tanta discussatildeo que
estimulou essa pesquisa
43
O legado desses alunos futuros alunos e profissionais para o futuro do
Assentamento apresentaraacute resultados significativos para toda a comunidade O
futuro colheraacute bons frutos plantados agora
A escola que temos natildeo estaacute funcionando falta a renovaccedilatildeo do contrato o que
atrasa a alfabetizaccedilatildeo e conclusatildeo do 5ordm ano Falta a implantaccedilatildeo de poliacuteticas
puacuteblicas para atendimento de questotildees baacutesicas como por exemplo carteiras
quadro de giz iluminaccedilatildeo espaccedilo fiacutesico (dependecircncias para a escola) e mobiliaacuterio
-41-
44
Consideraccedilotildees Finais
A Educaccedilatildeo do campo eacute um movimento em que os trabalhadores do campo e
suas organizaccedilotildees lutam por transformaccedilotildees sociais particularmente a criaccedilatildeo de
escolas dono campo de qualidade a partir de uma perspectiva ampla de reforma
agraacuteria
A construccedilatildeo da educaccedilatildeo do campo eacute resultado do amadurecimento dos
movimentos sociais e das comunidades rurais em sua trajetoacuteria de luta pelo direito
fundamental agrave universalizaccedilatildeo escolar para as populaccedilotildees camponesas segundo
orientaccedilatildeo poliacutetico-pedagoacutegica adequada agrave realidade dos lutadores de
acampamentos e assentamentos em luta pela reforma agraacuteria e justiccedila social
Alguns princiacutepios caracterizam a luta pela escola do campo Dentre eles
podemos citar a criaccedilatildeo da consciecircncia do direito agrave educaccedilatildeo de qualidade plantada
na proacutepria comunidade o que provoca o enraizamento a valorizaccedilatildeo da vida no
campo a promoccedilatildeo da autoestima e a transformaccedilatildeo do ser alienado pela ideologia
e desigualdade social e sujeito de sua proacutepria histoacuteria
Outro princiacutepio eacute a adequaccedilatildeo de curriacuteculos agrave realidade camponesa de modo
a que o processo ensino-aprendizagem favoreccedila o amadurecimento de talentos
naturais o surgimento de oportunidades a niacutevel pessoal e social contribuindo para a
emancipaccedilatildeo poliacutetico-social do indiviacuteduo com reflexos na sociedade
A mudanccedila de paradigmas e o envolvimento social provocam a formaccedilatildeo integral
dos sujeitos que lutam de forma coletiva e solidaacuteria pela terra A escola do campo
que surge dessa mudanccedila eacute tambeacutem transformadora porque eacute fruto da luta
consciente que gera a reflexatildeo e o amadurecimento poliacutetico deixando um legado
positivo de cidadatildeos orgulhosos de sua condiccedilatildeo de lutador pela terra de sua
identidade de sua cultura de sua comunidade e coletividade
A escola do campo propicia aos alunos a reflexatildeo sobre o contexto social e a
problemaacutetica da comunidade em que estatildeo inseridos o respeito agrave individualidade a
ampliaccedilatildeo das potencialidades do aluno para organizar elaborar e atuar
coletivamente Deixam o legado futuro de homens responsaacuteveis mentes
independentes e atuantes que poderatildeo prestar serviccedilos significativos agrave sociedade
45
A comunidade assentada de o Assentamento Renascer pela Reforma
Agraacuteria em Sobradinho DF foi convidada a opinar sobre a escola que deseja a
partir da conquista da terra
O modelo proposto a partir de seu posicionamento possibilita a conclusatildeo
de que a escola do campo plantada na comunidade eacute preferiacutevel ao modelo
adotado atualmente de inserccedilatildeo dos alunos da comunidade agraves escolas urbanas
conter recursos materiais e humanos que propiciem bons resultados
pedagoacutegicos deve servir para fixar o trabalhador ao campo deve cumprir com o
propoacutesito constitucional de universalizaccedilatildeo do ensino para todas as faixas
etaacuterias deve estar identificada com os sonhos de prosperidade material e
realizaccedilatildeo pessoal dos assentados
-46-
46
Referecircncias Bibliograacuteficas
CANUTO Antocircnio In Comissatildeo Pastoral da Terra DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO 2012 pag 131) CLAUDIA MORAES DE SOUZA em seu artigo lsquoDiscursos intolerantes O lugar da poliacutetica na educaccedilatildeo rural e a representaccedilatildeo do camponecircs analfabeto (DIVERSITAS FFLCH USPBR)acesso em 03-08-2014 EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO ndash Marcos Normativos Brasilia 2012 MEC FERRARO Alceu Ravanello em seu artigo Alfabetizaccedilatildeo rural no Brasil na perspectiva das relaccedilotildees campo-cidade e de gecircnero (Educ Real ndash WWWSCIELOBRPDFEDREALV37N3PDF acesso 03-10-2014 FERREIRA (2011_ ldquoUm olhar histoacuterico uma realidade concretardquo (WWWUNIFILBR)acesso 20-10-2014
FERRARI Marco ldquoAniacutesio Teixeira o inventor da escola puacuteblica no Brasilrdquo Revista Nova Escola Fundaccedilatildeo Victor Civita Revistaescolaabrilcombr acesso em 14092014 FERREIRA Fabiano de Jesus BRANDAtildeO Elias Canuto ndash Revista Eletrocircnica de Educaccedilatildeo Ano V N 09 juldez 2011p3 ldquoEducaccedilatildeo do campo um olhar histoacuterico uma realidade concreta rdquo (WWWUNIFILBR acesso em 08 de agosto de 2014) GONCcedilALVES Luiz Alberto Oliveira e Pinto Regina Pahim EDUCACcedilAtildeO SEacuteRIE JUSTICcedilA E DESENVOLVIMENTO IFP-FCC FUNDACcedilAtildeO CARLOS CHAGAS 2007 SAtildeO PAULO (pag206)
KOLLING Edgar Jorge Vargas Caldart MST e Educaccedilatildeo in DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia Expressatildeo Popular 2012 (pag 5020
MOLINA Mocircnica SAacute Laiacutes Mouratildeo Escola do Campo in DICIONARIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia Expressatildeo Popular 2012 pg (329)
OLIVEIRA Maria Rita Duarte em sua dissertaccedilatildeo ldquoDos programas oficiais para a educaccedilatildeo rural aos projetos de educaccedilatildeo do campo dos movimentos sociaisrdquo WWWrevistalaborufcbrartigovolume1maria-ritapdf acesso em 08-09-2014
OLIVEIRA Maria Rita Duarte PEDAGOGIA EM MARCHA Apud ARROYO Satildeo Paulo1995( pg 162)
OLIVEIRA Maria Rita Duarte Revistalabor ufcbracesso em 19-10-2014
________ citando CALAZ Maria Rita Duarte Oliveira
47
SANTOS Clarice Aparecida PROGRAMA NACIONAL DE EDUCACcedilAtildeO NA REFORMA AGRAacuteRIA in DICIONARIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia2012(pg630)
________ Clarice Aparecida PROGRAMA NACIONAL DE EDUCACcedilAtildeO NA REFORMA AGRAacuteRIA BRASIacuteLIA 2012 pg 631 in DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO SANTOS Claudio Felix Dos ldquoO aprender a aprender na formaccedilatildeo de professores do campordquo Campinas 2013 Editora Autores Associados ) SOUZA Maria Antocircnia Movimentos Sociais no Brasil Contemporacircneo participaccedilatildeo e possibilidades no contexto das praacuteticas democraacuteticas ndash (wwwcesucptlab2004pdfMariaAntonia Souzapdfaceso em 24-07-2014 -48-
48
Apecircndices
1 Roteiro das Entrevistas
a) Dados dos entrevistados
Qual o seu nome
Masculino ( ) Feminino ( )
Quantos anos vocecirc tecircm
A quanto tempo mora no
assentamento
Onde vocecirc morou antes
de morar no
assentamento
Quantos anos vocecirc tinha
quando foi a escola pela
primeira vez
Estou ateacute qual seacuterieano
Quantos anos vocecirc tinha
quando parou de estudar
Qual motivo motivou vocecirc
a parar de estudar
Se tiver escola no
assentamento vocecirc voltaraacute
a estudar Porque
B) Outras informaccedilotildees dados pelos entrevistadosas (GRAVAR)
a) Em qual escola vocecirc estudou no acampamento ou em outro lugar Qual
b) Como era a escola que estudou Quais as coisas boas e coisas ruins que
tinha nesta escola
c) Conte como eacutefoi a educaccedilatildeo do assentamento o que jaacute existiu de escola
como funcionou e quais eram as boas e as coisas ruins desta escola
d) Jaacute participou de alguma accedilatildeo de mobilizaccedilatildeo para ter escola no
assentamento Se sim explique para que e como foi essa mobilizaccedilatildeo
e) Na sua opiniatildeo no assentamento deve ter escola Por quecirc
f) Como deveraacute ser a escola da comunidadeassentamento Como eacute a escola
que queremos ter
49
b) Entrevistas semi-estruturadas
Entrevistado 01
Moro no assentamento Renascer haacute 11 anos Nasci Carnauacuteba no Rio Grande do
Norte fui criado na roccedila e desde pequeno trabalhava na lavoura para ajudar meu
pai Fui para escola com 9 anos de idade estudei ateacute a 5ordm seacuterie parei de estudar
com 17 anos natildeo continuei os estudos porque era muito longe de onde eu morva
que era na cidade mais proacutexima eu tinha que andar a peacute 8 km ficava muito
cansado Casei e vim morar em Brasiacutelia para trabalhar em uma chaacutecara como
caseiro Morava na chaacutecara Buritis em sobradinho- Df tambeacutem natildeo dei para
continuar os estudos porque ficava longe e tinha que ser a noite e natildeo tinha como ir
Se vier uma escola pra caacute eu ainda vou estudar para ter mais conhecimento para
plantar minha roccedila ir no banco pra ver se assino um empreacutestimo para melhorar
minha produccedilatildeo e saber fazer conta pra administrar minha parcela de terra
Qual o seu nome
Masculino ( X ) Feminino ( )
Quantos anos vocecirc
tecircm
57 anos
A quanto tempo
mora no assentamento
11 anos
Onde vocecirc morou
antes de morar no
assentamento
Carnauacuteba ndash RN
Chaacutecara Buritis nordm 10 Sobradinho DF
Quantos anos vocecirc
tinha quando foi a escola
pela primeira vez
8 anos
Estou ateacute qual
seacuterieano
5ordf seacuterie
Quantos anos vocecirc
tinha quando parou de
estudar
24 anos
Qual motivo
motivou vocecirc a parar de
estudar
Trabalhar para sustento da famiacutelia a
distacircncia entre a casa e a escola
Se tiver escola no
assentamento vocecirc voltaraacute
a estudar Porque
Sim ldquoSe tivesse escola do ensino
fundamental voltaria a estudar para tecirc
mais conhecimento para plantar minha roccedila
50
saber pesar saber contar vendecirc os produto e
comecirc
Entrevistado 02
Moro no assentamento renascer haacute 7 anos tenho 38 vim do interior do Cearaacute
Entrei na escola com 7 anos de idade estudei soacute a 5ordm seacuterie incompleta natildeo
continuei a estudar porque natildeo tinha escola a onde eu morava que era na roccedila e eu
tinha que ficar na casa dozotro (SIC) na cidade e eu natildeo gostava disso natildeo ai parei
com 16 anos de idade Mudamo (SIC) pra Brasiacutelia pra uma chaacutecara perto de Santa
Maria-DF e natildeo dei pra estudar porque casei e tinha que trabalhar muito para
susrentar a famiacutelia A gora moro no assentamento Renascer e sei que um dia vai ter
uma escola aqui e eu vou voltar a estudar porque meu sonho eacute ser veterinaacuterio e vou
der se deus quiser
Entrevistado 03
Tenho 58 anos moro no assentamento Renascer haacute 6 anos vim de Ceres-GO
comecei a estudar quando eu tinha 10 ano de idade estudei ateacute a 4ordf seria primaacuteria
(SIC) parei de estudar quando tinha 16 anos porque eu morava na roccedila e escola
ateacute que natildeo ficava muito longe natildeo era soacute 2 km dava pra ir a peacute a professora eacute que
faltava muito e a gente natildeo tinha como saber se ela tava ou natildeoAiacute quando eu tinha
18 anos casei e vim morar em Brasiacutelia e arranjei(SIC) emprego de caseira em uma
chaacutecara aiacute natildeo pra estudar a noite porque era muito longe pra laacute entatildeo eu natildeo
pensei mais nessas coisas Quando tiver escola no assentamento quero estudar
quiecirc pra mim (SIC) fazer curso de teacutecnico agriacutecolarsquorsquo
Entrevistado 04
Tenho 24 anos moro no assentamento Renascer tem 6 ano vim da Bahia morava
no Condomiacutenio RK entrei na escola com 7 anos de idade e estudei soacute ateacute a 6ordf seacuterie
parei com 18 anos de idade
Porque mudei pra caacute pro assentamento (SIC) e natildeo tem escola e natildeo tem como ir
pra Sobradinho a noite porque eacute muito longe tem que andar 5 km eacute pirigogo (SIC)
tem muita gente mal por aiacute tem ateacute estrupador natildeo posso me arriscar
ldquoSe tivesse escola aqui eu ia terminar meus estudos podia ser no galpatildeo mesmo
pra mim tava bom mas para os meus filhos eu queria uma escola boa com internet
e tudo Eu natildeo gosto que meus filhos estuda(SIC) na cidade soacute aceito porque eacute o
jeito gente de assentamento eacute muito zombado (SIC) porque as vezes chega suja
na escola e os outros acha que eles satildeo porcos que toma banhordquo
Entrevistado 05
51
Tenho 21 anos de idade moro no Renascer haacute trecircs anos vim de satildeo Gabriel-GO
comecei a estudar aos 7 anos parei com 18 anos porque minha matildee mudou
pro(SIC) matildee mudou pro (SIC) assentamento haacute 6 anos e eu natildeo aguento morar
longe dela Quando cheguei aqui natildeo teve como continuar os estudos porque
trabalho durante o dia como manicure em Sobradinho e o uacuteltimo ocircnibus que passa
perto do assentamento eacute as 5 horas da tarde entatildeo natildeo daacute para estudar a noite
Sim porque quero fazer um curso de cabelereiro quando tiver aacutegua e luz aqui eu
quero montar um salatildeo de beleza e para ser uma empresaacuteria precisa ter estudos pra
administrar o negoacutecio
Entrevistado 06
44 anos
6 anos
Formosa-GO
8 anos
5ordf seacuterie
24 anos
Porque a escola mais perto(SIC) era 10km de distacircncia e eu trabalhava na roccedila e
ficava muito cansado aiacute parei natildeo deu mais
Sim quando tiver escola aqui eu vou voltar a estudar Eu tinha um sonho de ser
agroacutenomo mas esse sonho eacute impussive(SIC) entatildeo queria concluir o ensino
fundamental para fazer um curso de teacutecnico agriacutecola no IFB mas tambeacutem eacute longe
se tivesse como estudar aqui no assentamento eu ia(SIC) ficar muito feliz
Entrevistado 07
57 anos
6 anos
Parnaiacuteba-PI- Santa Maria- DF
7 anos
4ordf seacuterie
21 anos
Parei porque era muito difiacutecil ir para escola que ficava muito longe eu tinha que sair
de casa as 4hs da madrugada para chegar na escola as 730 ia montado num
cavalo e muitas vezes natildeo tinha professora pra dar aula Parei porque natildeo aguentei
o rojatildeo tinha que minha matildee na lida a tarde e eu ficava muito cansado Vim pra
52
Brasiacutelia e casei fui trabalhar de chacareiro numa chaacutecara que tambeacutem era longe de
escola depois vim morar aqui no assentamento que natildeo tem escola
Se tivesse escola aqui eu ia voltar estudar soacute pra aprender a cuidar meior (SIC) da
terra e dos meus bichos e que fosse como uma escola agriacutecola
Entrevistado 08
Tenho 29 anos moro no assentamento Renascer haacute 2 anos sou educadora do
Pronera haacute 1 ano e 2 meses O Pronera eacute como um antidepressivo na vida de muita
gente o Pronera melhorou a minha vida e a vida dos meus alunos o desejo de
todos eacute que o Pronera continue crescendo em direccedilatildeo de uma educaccedilatildeo continuada
levando tambeacutem o ensino fundamental para os acampamentos e assentamentos da
Reforma Agraacuteria
-50-
Anexos
53
Acampamento agrave beira da estrada ndash 2004
Construccedilatildeo da Sede do Movimento na atual aacuterea
54
Reuniatildeo semanal
Teatro de fantoches ndash brinquedoteca
55
Accedilatildeo da Pastoral da Crianccedila na brinquedoteca
Oficina de brinquedos reciclaacuteveis
56
Brinquedo confeccionado com materiais reciclaacuteveis na Brinquedoteca
57
58
59
60
Apresentaccedilatildeo teatral
61
Capacitaccedilatildeo em Economia Solidaacuteria
Formaccedilatildeo de multiplicadores da Economia Solidaacuteria
62
Capacitaccedilatildeo de Educadores Ambientais
63
Luta pela Reforma Agraacuteria e Soberania Alimentar
34
Logo no iniacutecio do acampamento por volta de 2005 por iniciativa de algumas
pessoas conscientes da necessidade de atividades luacutedicas para as crianccedilas foi
criada uma brinquedoteca
Inicialmente os brinquedos eram de materiais reciclaacuteveis como garrafas pet
telefones sem fio carrinhos bonecas petecas vai e vem cavalinhos tudo era
confeccionado com a participaccedilatildeo das crianccedilas na modalidade de oficina
incentivando-os a fabricar os seus proacuteprios brinquedos Os brinquedos eram
confeccionados a partir de materiais encontrados nos lugares de descarte perto do
acampamento e doaccedilotildees de pessoas que passavam pela estrada
O embriatildeo de um processo educacional que nunca se interrompeu estava
lanccedilado a brinquedoteca proporcionou a criatividade e a participaccedilatildeo de crianccedilas e
adultos marcando as atividades pela conscientizaccedilatildeo do cuidado com a natureza e a
importacircncia da reciclagem A educaccedilatildeo ambiental jaacute era praticada desde o
nascimento do acampamento Renascer
Este primeiro passo foi muito importante porque traduziu para o dia a dia do
acampamento os princiacutepios da escola do campo atuante para mudar a realidade
criar cidadatildeos conscientes e dispostos a mudar a realidade a partir da sua proacutepria
accedilatildeo Este eacute o processo de transformaccedilatildeo social dentro do acampamento Renascer
haacute tanto tempo atraacutes
Aos brinquedos reciclados pela proacutepria comunidade juntaram-se outros
presenteados por instituiccedilotildees como igrejas ONGs a Pastoral da Crianccedila e pessoas
interessadas no bem estar daquelas crianccedilas
Percebe-se em iniciativas como essas a importacircncia da educaccedilatildeo nos
diversos niacuteveis para a sociedade A integraccedilatildeo de pessoas com as atividades
educativas no acampamento nos faz lembrar sobre um grande sonho das escolas
hoje integrar a comunidade de modo a que todos defendam a escola
O sucesso de iniciativas como a brinquedoteca que integravam crianccedilas
adolescentes adultos e sociedade foi importante para outras iniciativas igualmente
importantes
Foi-se criando um projeto educacional para o acampamento sem que se
tivesse consciecircncia disso por faltar informaccedilatildeo que soacute agora se possui graccedilas aos
estudos na Universidade o galpatildeo comunitaacuterio foi utilizado para abrigar a
35
brinquedoteca para desenvolver grupos de teatro de crianccedilas e adultos e para
abrigar a biblioteca
A biblioteca recebeu inuacutemeros exemplares de livros infantis livros didaacuteticos
para os adolescentes e adultos literatura universal revistas dos mais variados
assuntos criando assim um espaccedilo comunitaacuterio de informaccedilatildeo lazer e
entretenimento
Com a criaccedilatildeo da biblioteca ficou evidente a importacircncia da alfabetizaccedilatildeo de
crianccedilas jovens e adultos Muitos acampados relatavam a vontade e a necessidade
de aprender a ler e a escrever Muitos reivindicavam o direito agrave educaccedilatildeo e
frequecircncia agrave escola ainda que o acampamento mudasse de ldquoendereccedilordquo tantas
vezes
Outros poreacutem natildeo acreditavam que seria possiacutevel aprender ou aperfeiccediloar a
leitura e a escrita nas condiccedilotildees de vida de um acampado
Vaacuterias atividades culturais foram desenvolvidas (e ainda satildeo) no
Acampamento Renascer Todas chamavam a atenccedilatildeo da comunidade local de
outras comunidades vizinhas garantindo a simpatia de chacareiros que levavam os
filhos para participarem das atividades
Uma das atividades mais apreciadas foi o Teatro de Fantoches inspirados em
faacutebulas muitas com a autoria da Pastoral da Crianccedila e da Faber Castel A
participaccedilatildeo da comunidade na atividade era intensa e voluntaacuteria todos queriam
manipular os fantoches participar cantando danccedilando ou prestando muita atenccedilatildeo
O teatro de transformaccedilatildeo social produzido pelos adultos e adolescentes
utilizavam tambeacutem materiais reciclaacuteveis demonstrando cuidado com o meio
ambiente e amadurecimento dos conceitos poliacuteticos e pedagoacutegicos gerando reflexatildeo
sobre os temas sociais que nos atingem no cotidiano
A miacutestica adotada pelos movimentos sociais com o objetivo de reflexatildeo satildeo
apresentadas em datas comemorativas e contam com o apoio e participaccedilatildeo de
muitos
Algumas festas fazem parte da tradiccedilatildeo do Acampamento Renascer
traduzindo para a realidade atual as antigas festas a que todos foram acostumados
em seus lugares de origem
Pode-se dizer que a comunidade aprecia muito as festas Mas duas em
particular satildeo muito respeitadas a festa das crianccedilas que ocorre durante o dia (12
36
de outubro) eacute concorrida pois a comunidade se esmera para oferecer os brinquedos
que as crianccedilas amam pula-pula palhaccedilos pintura de rosto piscina de sabatildeo e
muita oferta de comida coisas que as crianccedilas adoram
No mesmo dia ocorre agrave noite a festa da Nossa Senhora Aparecida com
missa e muito forroacute
No mecircs de marccedilo eacute comemorada a Festa da Pamonha em comemoraccedilatildeo agrave
boa colheita do milho Esta festa jaacute se tornou tradicional conhecida em todo o
entorno do assentamento Egrave uma festa importante porque confraterniza a
comunidade Renascer com as comunidades vizinhas e ateacute mesmo as cidades de
Sobradinho Paranoaacute e Planaltina
Os movimentos sociais necessitam ser admirados pela sociedade e festas
como estas chamam a atenccedilatildeo para o problema da reforma agraacuteria demonstrando
que ela eacute viaacutevel e que os assentados tecircm simpatia competecircncia e seus saberes do
campo
A festa ldquojulinardquo eacute outra festa muito apreciada que apresenta as tradiccedilotildees rurais
e religiosas como quadrilhas e bandas de forroacute da comunidade e vizinhanccedila A
danccedila eacute um dos pontos fortes da festa assim como as comidas tradicionais muitas
delas com ingredientes colhidos no acampamento
Vaacuterios grupos de atividades teatrais apresentaram-se na localidade com
participaccedilatildeo de palhaccedilos lembrando um espetaacuteculo circense Alguns desses
grupos inclusive tiveram seus trabalhos premiados
Outras atividades com fundo educativo tiveram participaccedilatildeo animada de
crianccedilas e adultos A exibiccedilatildeo de desenhos animados recentemente apresentados
no cinema eram um grande atrativo para a comunidade que se via socialmente
incluiacuteda Esta inclusatildeo aumentava a autoestima das crianccedilas principalmente pois
assim elas poderiam interagir com os colegas da escola conversando a respeito dos
filmes
A Economia Solidaacuteria eacute uma das formas de inserccedilatildeo dos membros da
comunidade agrave sociedade economicamente ativa Atraveacutes da cooperaccedilatildeo solidaacuteria eacute
possiacutevel o comercio justo agriacutecolas ou artesanais sob conceitos antes
desconhecidos enquanto forma de produccedilatildeo e consumo centrado na valorizaccedilatildeo do
ser humano em contraposiccedilatildeo agraves formas capitalistas de produccedilatildeo e conscientizaccedilatildeo
37
Ao longo dos doze (12) anos de luta pela educaccedilatildeo foram promovidos
diversos cursos que capacitaram multiplicadores que fazem um trabalho importante
para a comunidade
A ideia de autogestatildeo democracia cooperaccedilatildeo auxilia natildeo soacute as formas de
produccedilatildeo e comercio de bens e artesanatos mas tambeacutem auxiliam na formaccedilatildeo
integral de pessoas em que tanto o produtor como o consumidor tem o proposito de
ganhos financeiros segundo um criteacuterio de valorizaccedilatildeo do trabalho
Proposito de formar uma nova consciecircncia a Economia Solidaacuteria promoveu
cursos de Soberania Alimentar em que a comunidade recebeu noccedilotildees praacuteticas
sobre alimentaccedilatildeo a partir da produccedilatildeo local de modo a promover uma nova cultura
alimentar que visa o combate agraves doenccedilas crocircnicas Outro proposito eacute tornar a
comunidade criacutetica em relaccedilatildeo agrave publicidade de produtos alimentiacutecio supeacuterfluo que
induz agraves crianccedilas e adultos alimentarem-se incorretamente
A comunidade participou coletivamente da implantaccedilatildeo de uma unidade da
tecnologia social denominada Produccedilatildeo Agroecoloacutegica Integrada e Sustentaacutevel
(PAIS) em 2012 com o objetivo de produzir alimentos saudaacuteveis e preservar o meio
ambiente trazendo mais alimentos e renda ao campo Esta tecnologia popularmente
conhecida como ldquohorta mandalardquo foi ministrada durante o curso de capacitaccedilatildeo
promovido pela Fundaccedilatildeo Banco do Brasil e teve o meacuterito de proporcionar o debate
e a participaccedilatildeo democraacutetica na definiccedilatildeo das culturas a serem cultivadas na futura
propriedade Vale informar que o assentamento Renascer identificou-se com esse
paradigma agroecoloacutegico
A educaccedilatildeo ambiental faz parte do dia a dia da comunidade hoje preserva-se
conservaccedilatildeo das formas de vida vegetais e animais na regiatildeo do assentamento e
entorno
A produccedilatildeo de mudas no viveiro eacute bastante concorrida contando com a
participaccedilatildeo de todos O viveiro produz cinco mil (5000) mudas de espeacutecies nativa
do cerrado para o reflorestamento das nascentes de aacutegua e nas aacutereas degradadas
da regiatildeo Contam com o apoio da FUNATURA FUNDACcedilAtildeO BANCO DO BRASIL
IFB Rio Satildeo Bartolomeu Vivo e UnB
-36-
38
39
Quarto Capiacutetulo
A escola que queremos expectativas e sonhos dos
acampados do Assentamento Renascer
Pode-se observar pelas falas dos entrevistados que a realidade de todos
converge para os problemas estruturais do Brasil faltam escolas no campo eacute baixa
a escolaridade em Brasiacutelia todos exercem atividades de subemprego
Todos tecircm grandes expectativas com relaccedilatildeo agrave vida futura no assentamento
objetivando melhores condiccedilotildees de vida na esperanccedila de serem beneficiaacuterios
enquanto cidadatildeos assentados das Poliacuteticas Puacuteblicas e financiamentos agriacutecolas
voltadas para a agricultura familiar como PRONAF PAA PNAE e PAPA-DF Vecircem
aiacute a possibilidade de emprego e renda situaccedilatildeo sonhada desde quando foram
pleitear a terra para reforma agraacuteria
Um olhar mais aprofundado sobre a anaacutelise de dados revela que natildeo importa o
fato de hoje residirem no DF pois como em qualquer lugar de origem os moradores
do assentamento Renascer vivenciam os mesmos problemas Percebe-se
claramente as dificuldades da inexistecircncia de escola no campo A distacircncia continua
impedindo o acesso os meios de transportes continuam precaacuterios os filhos
vivenciam a dificuldade de transferecircncia para a cidade na expectativa de
continuidade dos estudos as estradas rurais continuam esburacadas
Satildeo muitos os pontos em comum entre a situaccedilatildeo atual relatada e os problemas
vividos haacute deacutecadas em seus estados de origem o que deixa transparecer a absoluta
falta de interesse por parte do poder puacuteblico em garantir o direito constitucional agrave
educaccedilatildeo do povo do campo o que infelizmente continuaraacute deixando o triste
legado para o futuro do paiacutes
40
Repetimos a pergunta da inicial Cadecirc as escolas do campo Ateacute quando o paiacutes
vai viver essa situaccedilatildeo A anaacutelise de dados responde Natildeo eacute mais possiacutevel
continuar como estaacute
Todos os entrevistados pretendem alcanccedilar conhecimentos atraveacutes da escola do
campo implantada no Assentamento Renascer com objetivos de administrar a
propriedade participar ativamente do coletivo garantir renda fixa atraveacutes dos
programas de desenvolvimento da agricultura familiar
Os entrevistados unanimamente tecircm a preocupaccedilatildeo da manutenccedilatildeo dos laccedilos
familiares e das raiacutezes camponesas
A distacircncia entre a moradia e a escola fato relatado pela quase totalidade dos
entrevistados constitui um grande motivo de evasatildeo escolar de defasagem nas
seacuteries frequentadas de precariedade na aprendizagem em relaccedilatildeo aos demais
alunos A discriminaccedilatildeo alegada por muitos que frequentaram ou frequentam
escolas fora da faixa etaacuteria o vernaacuteculo proacuteprio dos sujeitos do campo as condiccedilotildees
precaacuterias da estrada que denunciam a condiccedilatildeo de assentado o sentimento de
inadequaccedilatildeo constituem fatores que determinam a evasatildeo escolar
Foram treze (13) entrevistados significando aproximadamente dez por cento
(10) dos moradores do Assentamento Renascer Desse total apenas dois (2)
entrevistados natildeo declararam dificuldade de distacircncia entre a moradia e a escola em
seus lugares de origem A maioria absoluta (11) pessoas declararam que a distacircncia
dificultava e impedia o acesso agrave escola Alguns relatos apresentam situaccedilotildees
precaacuterias para o homem do campo o assentado
Para o aluno do campo a distacircncia da escola tem o significado de inexistecircncia de
escola Isto porque as dificuldades de acesso satildeo enormes No caso em estudo
apenas um entrevistado declarou a inexistecircncia de escola em sua regiatildeo de
moradia Este poreacutem vivenciou todas as dificuldades de acesso que outros
assentados apresentaram em razatildeo da distacircncia moradiaescola
A falta de professores na escola rural eacute relatada por 11 dos 13 entrevistados A
distacircncia da escola para os professores dificulta segundo a vivecircncia dos
entrevistados o acesso agrave escola e a assiduidade o que muito desmotivava a
ambos
41
Os entrevistados conforme anaacutelise de dados desejam muito objetivamente a
implantaccedilatildeo imediata de escolas segundo os criteacuterios caracteriacutesticos de escola do
campo
- Trazer a realidade para dentro da escola do campo curriacuteculos voltados para o
cotidiano do aluno do campo onde as teacutecnicas agriacutecolas pecuaacuterias e agroecoloacutegicas
possam fazer parte do processo educativo da comunidade e que a escola tenha
uma gestatildeo coletiva democraacutetica com a participaccedilatildeo da comunidade
- Ter o trabalho como princiacutepio educativo A experiecircncia do aluno deve
harmonizar-se com os princiacutepios pistrakianos significar o trabalho de forma a que
ele apresente benefiacutecios para o proacuteprio indiviacuteduo para a comunidade na qual estaacute
inserido e para a sociedade e natildeo exclusivamente para servir ao capitalismo
-Superar a fragmentaccedilatildeo do conhecimento disciplinar A interdisciplinaridade
deve fazer parte dos objetivos educacionais de modo a promover a formaccedilatildeo
integral dos educandos
- Valorizar os saberes do homem do campo Os entrevistados desejam uma
escola onde possam exercitar sua vivecircncia campesina e a relaccedilatildeo dialoacutegica entre
professor-aluno seguindo a pedagogia de Paulo Freire o educando quer aprender
com o educador mas quer tambeacutem ter a oportunidade de transmitir seus saberes
- Promover espaccedilos de gestatildeo coletiva A proacutepria comunidade deve participar da
gestatildeo a elaboraccedilatildeo do PPP deve gerir o espaccedilo fiacutesico da escola para atividades
de interesse da comunidade ocupar espaccedilos para finalidades culturais esportivas
sociais tornando a escola um espaccedilo democraacutetico
- Garantir a presenccedila da comunidade e dos movimentos sociais que geram
processos que auxiliam a emancipaccedilatildeo social A escola deve tambeacutem ser espaccedilo
que auxilie a sustentabilidade e garanta a alimentaccedilatildeo saudaacutevel e recursos
fitoteraacutepicos em associaccedilatildeo com a comunidade
- Inclusatildeo tecnoloacutegica em todos os aspectos digital inovaccedilatildeo tecnoloacutegica
agropecuaacuteria recursos ambientais alternativos agua potaacutevel energia solar energia
eoacutelica fossa seacuteptica teacutecnicas de compostagem saneamento baacutesico cuidados com
os recursos hiacutedricos
A anaacutelise dos dados quando feita especificamente sobre a escola a ser
implantada pode aparentemente demonstrar uma pequena conexatildeo com as teorias
da escola do campo
42
A concepccedilatildeo da escola do campo natildeo pode ser imposta ela parte do princiacutepio
que os camponeses devem conquista-la Para essa conquista eacute necessaacuteria a
paixatildeo o desejo por algo ainda natildeo experimentado o amadurecimento poliacutetico-
social-pessoal a participaccedilatildeo coletiva na luta e na conquista
A trajetoacuteria de luta por educaccedilatildeo da comunidade Renascer apresenta estes
elementos agraves vezes difusos outras vezes mais claramente A escola bem que
poderia para alguns ser apenas uma escola rural Afinal aprender a ler e a
escrever ldquodireitordquo como alguns dizem ou seja deixar a condiccedilatildeo de analfabeto ou
analfabeto funcional para tornar-se letrado significaria avanccedilos em face das atuais
circunstacircncias Alguns entendem assim expressando-se principalmente nas
conversas informais
Apesar disso quando as respostas informais ou quando as respostas das
entrevistas satildeo analisadas mais profundamente identificamos que embora
difusamente todos desejam o programa educacional da escola do campo
Explicando melhor a participaccedilatildeo de todos da comunidade em todas as atividades
soacutecio-poliacuteticas-culturais (relatadas no terceiro capitulo) indicam que a comunidade
assimilou a postura soacutecio-politica-cultural que caracterizam a escola do campo
A vivecircncia do Assentamento Renascer no cotidiano e nos eventos coletivos
amadureceu o desejo pelo alimento intelectual cultural artiacutestico ambiental social
que a concepccedilatildeo de escola do campo introduz O programa educacional da Escola
do Campo ultrapassou as paredes fiacutesicas da escola e alcanccedilou o cotidiano dos
assentados
Os avanccedilos da conscientizaccedilatildeo e seu reflexo na vida do Assentamento Renascer
satildeo sentidos nos nuacutemeros de matriculados na LEdoC sete (7) alunos
aproximadamente dez (10) assentados prestaratildeo o proacuteximo vestibular trecircs (3)
assentados estatildeo matriculados no IFB dois(2) assentados estatildeo formados em
Teacutecnico Agropecuaacuterio tambeacutem pelo IFB um deles cursa o Tecnoacutelogo de
Agroecologia tambeacutem do IFB
Vale acrescentar que no iniacutecio de 2014 quando o IFB buscou no Assentamento
pessoas interessadas em matricular-se em seus cursos sob a condiccedilatildeo de
estudarem no ensino meacutedio o interesse foi grande e a impossibilidade pelo fato de
natildeo estarem habilitados no ensino fundamental provocou tanta discussatildeo que
estimulou essa pesquisa
43
O legado desses alunos futuros alunos e profissionais para o futuro do
Assentamento apresentaraacute resultados significativos para toda a comunidade O
futuro colheraacute bons frutos plantados agora
A escola que temos natildeo estaacute funcionando falta a renovaccedilatildeo do contrato o que
atrasa a alfabetizaccedilatildeo e conclusatildeo do 5ordm ano Falta a implantaccedilatildeo de poliacuteticas
puacuteblicas para atendimento de questotildees baacutesicas como por exemplo carteiras
quadro de giz iluminaccedilatildeo espaccedilo fiacutesico (dependecircncias para a escola) e mobiliaacuterio
-41-
44
Consideraccedilotildees Finais
A Educaccedilatildeo do campo eacute um movimento em que os trabalhadores do campo e
suas organizaccedilotildees lutam por transformaccedilotildees sociais particularmente a criaccedilatildeo de
escolas dono campo de qualidade a partir de uma perspectiva ampla de reforma
agraacuteria
A construccedilatildeo da educaccedilatildeo do campo eacute resultado do amadurecimento dos
movimentos sociais e das comunidades rurais em sua trajetoacuteria de luta pelo direito
fundamental agrave universalizaccedilatildeo escolar para as populaccedilotildees camponesas segundo
orientaccedilatildeo poliacutetico-pedagoacutegica adequada agrave realidade dos lutadores de
acampamentos e assentamentos em luta pela reforma agraacuteria e justiccedila social
Alguns princiacutepios caracterizam a luta pela escola do campo Dentre eles
podemos citar a criaccedilatildeo da consciecircncia do direito agrave educaccedilatildeo de qualidade plantada
na proacutepria comunidade o que provoca o enraizamento a valorizaccedilatildeo da vida no
campo a promoccedilatildeo da autoestima e a transformaccedilatildeo do ser alienado pela ideologia
e desigualdade social e sujeito de sua proacutepria histoacuteria
Outro princiacutepio eacute a adequaccedilatildeo de curriacuteculos agrave realidade camponesa de modo
a que o processo ensino-aprendizagem favoreccedila o amadurecimento de talentos
naturais o surgimento de oportunidades a niacutevel pessoal e social contribuindo para a
emancipaccedilatildeo poliacutetico-social do indiviacuteduo com reflexos na sociedade
A mudanccedila de paradigmas e o envolvimento social provocam a formaccedilatildeo integral
dos sujeitos que lutam de forma coletiva e solidaacuteria pela terra A escola do campo
que surge dessa mudanccedila eacute tambeacutem transformadora porque eacute fruto da luta
consciente que gera a reflexatildeo e o amadurecimento poliacutetico deixando um legado
positivo de cidadatildeos orgulhosos de sua condiccedilatildeo de lutador pela terra de sua
identidade de sua cultura de sua comunidade e coletividade
A escola do campo propicia aos alunos a reflexatildeo sobre o contexto social e a
problemaacutetica da comunidade em que estatildeo inseridos o respeito agrave individualidade a
ampliaccedilatildeo das potencialidades do aluno para organizar elaborar e atuar
coletivamente Deixam o legado futuro de homens responsaacuteveis mentes
independentes e atuantes que poderatildeo prestar serviccedilos significativos agrave sociedade
45
A comunidade assentada de o Assentamento Renascer pela Reforma
Agraacuteria em Sobradinho DF foi convidada a opinar sobre a escola que deseja a
partir da conquista da terra
O modelo proposto a partir de seu posicionamento possibilita a conclusatildeo
de que a escola do campo plantada na comunidade eacute preferiacutevel ao modelo
adotado atualmente de inserccedilatildeo dos alunos da comunidade agraves escolas urbanas
conter recursos materiais e humanos que propiciem bons resultados
pedagoacutegicos deve servir para fixar o trabalhador ao campo deve cumprir com o
propoacutesito constitucional de universalizaccedilatildeo do ensino para todas as faixas
etaacuterias deve estar identificada com os sonhos de prosperidade material e
realizaccedilatildeo pessoal dos assentados
-46-
46
Referecircncias Bibliograacuteficas
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FERRARI Marco ldquoAniacutesio Teixeira o inventor da escola puacuteblica no Brasilrdquo Revista Nova Escola Fundaccedilatildeo Victor Civita Revistaescolaabrilcombr acesso em 14092014 FERREIRA Fabiano de Jesus BRANDAtildeO Elias Canuto ndash Revista Eletrocircnica de Educaccedilatildeo Ano V N 09 juldez 2011p3 ldquoEducaccedilatildeo do campo um olhar histoacuterico uma realidade concreta rdquo (WWWUNIFILBR acesso em 08 de agosto de 2014) GONCcedilALVES Luiz Alberto Oliveira e Pinto Regina Pahim EDUCACcedilAtildeO SEacuteRIE JUSTICcedilA E DESENVOLVIMENTO IFP-FCC FUNDACcedilAtildeO CARLOS CHAGAS 2007 SAtildeO PAULO (pag206)
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47
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________ Clarice Aparecida PROGRAMA NACIONAL DE EDUCACcedilAtildeO NA REFORMA AGRAacuteRIA BRASIacuteLIA 2012 pg 631 in DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO SANTOS Claudio Felix Dos ldquoO aprender a aprender na formaccedilatildeo de professores do campordquo Campinas 2013 Editora Autores Associados ) SOUZA Maria Antocircnia Movimentos Sociais no Brasil Contemporacircneo participaccedilatildeo e possibilidades no contexto das praacuteticas democraacuteticas ndash (wwwcesucptlab2004pdfMariaAntonia Souzapdfaceso em 24-07-2014 -48-
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Apecircndices
1 Roteiro das Entrevistas
a) Dados dos entrevistados
Qual o seu nome
Masculino ( ) Feminino ( )
Quantos anos vocecirc tecircm
A quanto tempo mora no
assentamento
Onde vocecirc morou antes
de morar no
assentamento
Quantos anos vocecirc tinha
quando foi a escola pela
primeira vez
Estou ateacute qual seacuterieano
Quantos anos vocecirc tinha
quando parou de estudar
Qual motivo motivou vocecirc
a parar de estudar
Se tiver escola no
assentamento vocecirc voltaraacute
a estudar Porque
B) Outras informaccedilotildees dados pelos entrevistadosas (GRAVAR)
a) Em qual escola vocecirc estudou no acampamento ou em outro lugar Qual
b) Como era a escola que estudou Quais as coisas boas e coisas ruins que
tinha nesta escola
c) Conte como eacutefoi a educaccedilatildeo do assentamento o que jaacute existiu de escola
como funcionou e quais eram as boas e as coisas ruins desta escola
d) Jaacute participou de alguma accedilatildeo de mobilizaccedilatildeo para ter escola no
assentamento Se sim explique para que e como foi essa mobilizaccedilatildeo
e) Na sua opiniatildeo no assentamento deve ter escola Por quecirc
f) Como deveraacute ser a escola da comunidadeassentamento Como eacute a escola
que queremos ter
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b) Entrevistas semi-estruturadas
Entrevistado 01
Moro no assentamento Renascer haacute 11 anos Nasci Carnauacuteba no Rio Grande do
Norte fui criado na roccedila e desde pequeno trabalhava na lavoura para ajudar meu
pai Fui para escola com 9 anos de idade estudei ateacute a 5ordm seacuterie parei de estudar
com 17 anos natildeo continuei os estudos porque era muito longe de onde eu morva
que era na cidade mais proacutexima eu tinha que andar a peacute 8 km ficava muito
cansado Casei e vim morar em Brasiacutelia para trabalhar em uma chaacutecara como
caseiro Morava na chaacutecara Buritis em sobradinho- Df tambeacutem natildeo dei para
continuar os estudos porque ficava longe e tinha que ser a noite e natildeo tinha como ir
Se vier uma escola pra caacute eu ainda vou estudar para ter mais conhecimento para
plantar minha roccedila ir no banco pra ver se assino um empreacutestimo para melhorar
minha produccedilatildeo e saber fazer conta pra administrar minha parcela de terra
Qual o seu nome
Masculino ( X ) Feminino ( )
Quantos anos vocecirc
tecircm
57 anos
A quanto tempo
mora no assentamento
11 anos
Onde vocecirc morou
antes de morar no
assentamento
Carnauacuteba ndash RN
Chaacutecara Buritis nordm 10 Sobradinho DF
Quantos anos vocecirc
tinha quando foi a escola
pela primeira vez
8 anos
Estou ateacute qual
seacuterieano
5ordf seacuterie
Quantos anos vocecirc
tinha quando parou de
estudar
24 anos
Qual motivo
motivou vocecirc a parar de
estudar
Trabalhar para sustento da famiacutelia a
distacircncia entre a casa e a escola
Se tiver escola no
assentamento vocecirc voltaraacute
a estudar Porque
Sim ldquoSe tivesse escola do ensino
fundamental voltaria a estudar para tecirc
mais conhecimento para plantar minha roccedila
50
saber pesar saber contar vendecirc os produto e
comecirc
Entrevistado 02
Moro no assentamento renascer haacute 7 anos tenho 38 vim do interior do Cearaacute
Entrei na escola com 7 anos de idade estudei soacute a 5ordm seacuterie incompleta natildeo
continuei a estudar porque natildeo tinha escola a onde eu morava que era na roccedila e eu
tinha que ficar na casa dozotro (SIC) na cidade e eu natildeo gostava disso natildeo ai parei
com 16 anos de idade Mudamo (SIC) pra Brasiacutelia pra uma chaacutecara perto de Santa
Maria-DF e natildeo dei pra estudar porque casei e tinha que trabalhar muito para
susrentar a famiacutelia A gora moro no assentamento Renascer e sei que um dia vai ter
uma escola aqui e eu vou voltar a estudar porque meu sonho eacute ser veterinaacuterio e vou
der se deus quiser
Entrevistado 03
Tenho 58 anos moro no assentamento Renascer haacute 6 anos vim de Ceres-GO
comecei a estudar quando eu tinha 10 ano de idade estudei ateacute a 4ordf seria primaacuteria
(SIC) parei de estudar quando tinha 16 anos porque eu morava na roccedila e escola
ateacute que natildeo ficava muito longe natildeo era soacute 2 km dava pra ir a peacute a professora eacute que
faltava muito e a gente natildeo tinha como saber se ela tava ou natildeoAiacute quando eu tinha
18 anos casei e vim morar em Brasiacutelia e arranjei(SIC) emprego de caseira em uma
chaacutecara aiacute natildeo pra estudar a noite porque era muito longe pra laacute entatildeo eu natildeo
pensei mais nessas coisas Quando tiver escola no assentamento quero estudar
quiecirc pra mim (SIC) fazer curso de teacutecnico agriacutecolarsquorsquo
Entrevistado 04
Tenho 24 anos moro no assentamento Renascer tem 6 ano vim da Bahia morava
no Condomiacutenio RK entrei na escola com 7 anos de idade e estudei soacute ateacute a 6ordf seacuterie
parei com 18 anos de idade
Porque mudei pra caacute pro assentamento (SIC) e natildeo tem escola e natildeo tem como ir
pra Sobradinho a noite porque eacute muito longe tem que andar 5 km eacute pirigogo (SIC)
tem muita gente mal por aiacute tem ateacute estrupador natildeo posso me arriscar
ldquoSe tivesse escola aqui eu ia terminar meus estudos podia ser no galpatildeo mesmo
pra mim tava bom mas para os meus filhos eu queria uma escola boa com internet
e tudo Eu natildeo gosto que meus filhos estuda(SIC) na cidade soacute aceito porque eacute o
jeito gente de assentamento eacute muito zombado (SIC) porque as vezes chega suja
na escola e os outros acha que eles satildeo porcos que toma banhordquo
Entrevistado 05
51
Tenho 21 anos de idade moro no Renascer haacute trecircs anos vim de satildeo Gabriel-GO
comecei a estudar aos 7 anos parei com 18 anos porque minha matildee mudou
pro(SIC) matildee mudou pro (SIC) assentamento haacute 6 anos e eu natildeo aguento morar
longe dela Quando cheguei aqui natildeo teve como continuar os estudos porque
trabalho durante o dia como manicure em Sobradinho e o uacuteltimo ocircnibus que passa
perto do assentamento eacute as 5 horas da tarde entatildeo natildeo daacute para estudar a noite
Sim porque quero fazer um curso de cabelereiro quando tiver aacutegua e luz aqui eu
quero montar um salatildeo de beleza e para ser uma empresaacuteria precisa ter estudos pra
administrar o negoacutecio
Entrevistado 06
44 anos
6 anos
Formosa-GO
8 anos
5ordf seacuterie
24 anos
Porque a escola mais perto(SIC) era 10km de distacircncia e eu trabalhava na roccedila e
ficava muito cansado aiacute parei natildeo deu mais
Sim quando tiver escola aqui eu vou voltar a estudar Eu tinha um sonho de ser
agroacutenomo mas esse sonho eacute impussive(SIC) entatildeo queria concluir o ensino
fundamental para fazer um curso de teacutecnico agriacutecola no IFB mas tambeacutem eacute longe
se tivesse como estudar aqui no assentamento eu ia(SIC) ficar muito feliz
Entrevistado 07
57 anos
6 anos
Parnaiacuteba-PI- Santa Maria- DF
7 anos
4ordf seacuterie
21 anos
Parei porque era muito difiacutecil ir para escola que ficava muito longe eu tinha que sair
de casa as 4hs da madrugada para chegar na escola as 730 ia montado num
cavalo e muitas vezes natildeo tinha professora pra dar aula Parei porque natildeo aguentei
o rojatildeo tinha que minha matildee na lida a tarde e eu ficava muito cansado Vim pra
52
Brasiacutelia e casei fui trabalhar de chacareiro numa chaacutecara que tambeacutem era longe de
escola depois vim morar aqui no assentamento que natildeo tem escola
Se tivesse escola aqui eu ia voltar estudar soacute pra aprender a cuidar meior (SIC) da
terra e dos meus bichos e que fosse como uma escola agriacutecola
Entrevistado 08
Tenho 29 anos moro no assentamento Renascer haacute 2 anos sou educadora do
Pronera haacute 1 ano e 2 meses O Pronera eacute como um antidepressivo na vida de muita
gente o Pronera melhorou a minha vida e a vida dos meus alunos o desejo de
todos eacute que o Pronera continue crescendo em direccedilatildeo de uma educaccedilatildeo continuada
levando tambeacutem o ensino fundamental para os acampamentos e assentamentos da
Reforma Agraacuteria
-50-
Anexos
53
Acampamento agrave beira da estrada ndash 2004
Construccedilatildeo da Sede do Movimento na atual aacuterea
54
Reuniatildeo semanal
Teatro de fantoches ndash brinquedoteca
55
Accedilatildeo da Pastoral da Crianccedila na brinquedoteca
Oficina de brinquedos reciclaacuteveis
56
Brinquedo confeccionado com materiais reciclaacuteveis na Brinquedoteca
57
58
59
60
Apresentaccedilatildeo teatral
61
Capacitaccedilatildeo em Economia Solidaacuteria
Formaccedilatildeo de multiplicadores da Economia Solidaacuteria
62
Capacitaccedilatildeo de Educadores Ambientais
63
Luta pela Reforma Agraacuteria e Soberania Alimentar
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brinquedoteca para desenvolver grupos de teatro de crianccedilas e adultos e para
abrigar a biblioteca
A biblioteca recebeu inuacutemeros exemplares de livros infantis livros didaacuteticos
para os adolescentes e adultos literatura universal revistas dos mais variados
assuntos criando assim um espaccedilo comunitaacuterio de informaccedilatildeo lazer e
entretenimento
Com a criaccedilatildeo da biblioteca ficou evidente a importacircncia da alfabetizaccedilatildeo de
crianccedilas jovens e adultos Muitos acampados relatavam a vontade e a necessidade
de aprender a ler e a escrever Muitos reivindicavam o direito agrave educaccedilatildeo e
frequecircncia agrave escola ainda que o acampamento mudasse de ldquoendereccedilordquo tantas
vezes
Outros poreacutem natildeo acreditavam que seria possiacutevel aprender ou aperfeiccediloar a
leitura e a escrita nas condiccedilotildees de vida de um acampado
Vaacuterias atividades culturais foram desenvolvidas (e ainda satildeo) no
Acampamento Renascer Todas chamavam a atenccedilatildeo da comunidade local de
outras comunidades vizinhas garantindo a simpatia de chacareiros que levavam os
filhos para participarem das atividades
Uma das atividades mais apreciadas foi o Teatro de Fantoches inspirados em
faacutebulas muitas com a autoria da Pastoral da Crianccedila e da Faber Castel A
participaccedilatildeo da comunidade na atividade era intensa e voluntaacuteria todos queriam
manipular os fantoches participar cantando danccedilando ou prestando muita atenccedilatildeo
O teatro de transformaccedilatildeo social produzido pelos adultos e adolescentes
utilizavam tambeacutem materiais reciclaacuteveis demonstrando cuidado com o meio
ambiente e amadurecimento dos conceitos poliacuteticos e pedagoacutegicos gerando reflexatildeo
sobre os temas sociais que nos atingem no cotidiano
A miacutestica adotada pelos movimentos sociais com o objetivo de reflexatildeo satildeo
apresentadas em datas comemorativas e contam com o apoio e participaccedilatildeo de
muitos
Algumas festas fazem parte da tradiccedilatildeo do Acampamento Renascer
traduzindo para a realidade atual as antigas festas a que todos foram acostumados
em seus lugares de origem
Pode-se dizer que a comunidade aprecia muito as festas Mas duas em
particular satildeo muito respeitadas a festa das crianccedilas que ocorre durante o dia (12
36
de outubro) eacute concorrida pois a comunidade se esmera para oferecer os brinquedos
que as crianccedilas amam pula-pula palhaccedilos pintura de rosto piscina de sabatildeo e
muita oferta de comida coisas que as crianccedilas adoram
No mesmo dia ocorre agrave noite a festa da Nossa Senhora Aparecida com
missa e muito forroacute
No mecircs de marccedilo eacute comemorada a Festa da Pamonha em comemoraccedilatildeo agrave
boa colheita do milho Esta festa jaacute se tornou tradicional conhecida em todo o
entorno do assentamento Egrave uma festa importante porque confraterniza a
comunidade Renascer com as comunidades vizinhas e ateacute mesmo as cidades de
Sobradinho Paranoaacute e Planaltina
Os movimentos sociais necessitam ser admirados pela sociedade e festas
como estas chamam a atenccedilatildeo para o problema da reforma agraacuteria demonstrando
que ela eacute viaacutevel e que os assentados tecircm simpatia competecircncia e seus saberes do
campo
A festa ldquojulinardquo eacute outra festa muito apreciada que apresenta as tradiccedilotildees rurais
e religiosas como quadrilhas e bandas de forroacute da comunidade e vizinhanccedila A
danccedila eacute um dos pontos fortes da festa assim como as comidas tradicionais muitas
delas com ingredientes colhidos no acampamento
Vaacuterios grupos de atividades teatrais apresentaram-se na localidade com
participaccedilatildeo de palhaccedilos lembrando um espetaacuteculo circense Alguns desses
grupos inclusive tiveram seus trabalhos premiados
Outras atividades com fundo educativo tiveram participaccedilatildeo animada de
crianccedilas e adultos A exibiccedilatildeo de desenhos animados recentemente apresentados
no cinema eram um grande atrativo para a comunidade que se via socialmente
incluiacuteda Esta inclusatildeo aumentava a autoestima das crianccedilas principalmente pois
assim elas poderiam interagir com os colegas da escola conversando a respeito dos
filmes
A Economia Solidaacuteria eacute uma das formas de inserccedilatildeo dos membros da
comunidade agrave sociedade economicamente ativa Atraveacutes da cooperaccedilatildeo solidaacuteria eacute
possiacutevel o comercio justo agriacutecolas ou artesanais sob conceitos antes
desconhecidos enquanto forma de produccedilatildeo e consumo centrado na valorizaccedilatildeo do
ser humano em contraposiccedilatildeo agraves formas capitalistas de produccedilatildeo e conscientizaccedilatildeo
37
Ao longo dos doze (12) anos de luta pela educaccedilatildeo foram promovidos
diversos cursos que capacitaram multiplicadores que fazem um trabalho importante
para a comunidade
A ideia de autogestatildeo democracia cooperaccedilatildeo auxilia natildeo soacute as formas de
produccedilatildeo e comercio de bens e artesanatos mas tambeacutem auxiliam na formaccedilatildeo
integral de pessoas em que tanto o produtor como o consumidor tem o proposito de
ganhos financeiros segundo um criteacuterio de valorizaccedilatildeo do trabalho
Proposito de formar uma nova consciecircncia a Economia Solidaacuteria promoveu
cursos de Soberania Alimentar em que a comunidade recebeu noccedilotildees praacuteticas
sobre alimentaccedilatildeo a partir da produccedilatildeo local de modo a promover uma nova cultura
alimentar que visa o combate agraves doenccedilas crocircnicas Outro proposito eacute tornar a
comunidade criacutetica em relaccedilatildeo agrave publicidade de produtos alimentiacutecio supeacuterfluo que
induz agraves crianccedilas e adultos alimentarem-se incorretamente
A comunidade participou coletivamente da implantaccedilatildeo de uma unidade da
tecnologia social denominada Produccedilatildeo Agroecoloacutegica Integrada e Sustentaacutevel
(PAIS) em 2012 com o objetivo de produzir alimentos saudaacuteveis e preservar o meio
ambiente trazendo mais alimentos e renda ao campo Esta tecnologia popularmente
conhecida como ldquohorta mandalardquo foi ministrada durante o curso de capacitaccedilatildeo
promovido pela Fundaccedilatildeo Banco do Brasil e teve o meacuterito de proporcionar o debate
e a participaccedilatildeo democraacutetica na definiccedilatildeo das culturas a serem cultivadas na futura
propriedade Vale informar que o assentamento Renascer identificou-se com esse
paradigma agroecoloacutegico
A educaccedilatildeo ambiental faz parte do dia a dia da comunidade hoje preserva-se
conservaccedilatildeo das formas de vida vegetais e animais na regiatildeo do assentamento e
entorno
A produccedilatildeo de mudas no viveiro eacute bastante concorrida contando com a
participaccedilatildeo de todos O viveiro produz cinco mil (5000) mudas de espeacutecies nativa
do cerrado para o reflorestamento das nascentes de aacutegua e nas aacutereas degradadas
da regiatildeo Contam com o apoio da FUNATURA FUNDACcedilAtildeO BANCO DO BRASIL
IFB Rio Satildeo Bartolomeu Vivo e UnB
-36-
38
39
Quarto Capiacutetulo
A escola que queremos expectativas e sonhos dos
acampados do Assentamento Renascer
Pode-se observar pelas falas dos entrevistados que a realidade de todos
converge para os problemas estruturais do Brasil faltam escolas no campo eacute baixa
a escolaridade em Brasiacutelia todos exercem atividades de subemprego
Todos tecircm grandes expectativas com relaccedilatildeo agrave vida futura no assentamento
objetivando melhores condiccedilotildees de vida na esperanccedila de serem beneficiaacuterios
enquanto cidadatildeos assentados das Poliacuteticas Puacuteblicas e financiamentos agriacutecolas
voltadas para a agricultura familiar como PRONAF PAA PNAE e PAPA-DF Vecircem
aiacute a possibilidade de emprego e renda situaccedilatildeo sonhada desde quando foram
pleitear a terra para reforma agraacuteria
Um olhar mais aprofundado sobre a anaacutelise de dados revela que natildeo importa o
fato de hoje residirem no DF pois como em qualquer lugar de origem os moradores
do assentamento Renascer vivenciam os mesmos problemas Percebe-se
claramente as dificuldades da inexistecircncia de escola no campo A distacircncia continua
impedindo o acesso os meios de transportes continuam precaacuterios os filhos
vivenciam a dificuldade de transferecircncia para a cidade na expectativa de
continuidade dos estudos as estradas rurais continuam esburacadas
Satildeo muitos os pontos em comum entre a situaccedilatildeo atual relatada e os problemas
vividos haacute deacutecadas em seus estados de origem o que deixa transparecer a absoluta
falta de interesse por parte do poder puacuteblico em garantir o direito constitucional agrave
educaccedilatildeo do povo do campo o que infelizmente continuaraacute deixando o triste
legado para o futuro do paiacutes
40
Repetimos a pergunta da inicial Cadecirc as escolas do campo Ateacute quando o paiacutes
vai viver essa situaccedilatildeo A anaacutelise de dados responde Natildeo eacute mais possiacutevel
continuar como estaacute
Todos os entrevistados pretendem alcanccedilar conhecimentos atraveacutes da escola do
campo implantada no Assentamento Renascer com objetivos de administrar a
propriedade participar ativamente do coletivo garantir renda fixa atraveacutes dos
programas de desenvolvimento da agricultura familiar
Os entrevistados unanimamente tecircm a preocupaccedilatildeo da manutenccedilatildeo dos laccedilos
familiares e das raiacutezes camponesas
A distacircncia entre a moradia e a escola fato relatado pela quase totalidade dos
entrevistados constitui um grande motivo de evasatildeo escolar de defasagem nas
seacuteries frequentadas de precariedade na aprendizagem em relaccedilatildeo aos demais
alunos A discriminaccedilatildeo alegada por muitos que frequentaram ou frequentam
escolas fora da faixa etaacuteria o vernaacuteculo proacuteprio dos sujeitos do campo as condiccedilotildees
precaacuterias da estrada que denunciam a condiccedilatildeo de assentado o sentimento de
inadequaccedilatildeo constituem fatores que determinam a evasatildeo escolar
Foram treze (13) entrevistados significando aproximadamente dez por cento
(10) dos moradores do Assentamento Renascer Desse total apenas dois (2)
entrevistados natildeo declararam dificuldade de distacircncia entre a moradia e a escola em
seus lugares de origem A maioria absoluta (11) pessoas declararam que a distacircncia
dificultava e impedia o acesso agrave escola Alguns relatos apresentam situaccedilotildees
precaacuterias para o homem do campo o assentado
Para o aluno do campo a distacircncia da escola tem o significado de inexistecircncia de
escola Isto porque as dificuldades de acesso satildeo enormes No caso em estudo
apenas um entrevistado declarou a inexistecircncia de escola em sua regiatildeo de
moradia Este poreacutem vivenciou todas as dificuldades de acesso que outros
assentados apresentaram em razatildeo da distacircncia moradiaescola
A falta de professores na escola rural eacute relatada por 11 dos 13 entrevistados A
distacircncia da escola para os professores dificulta segundo a vivecircncia dos
entrevistados o acesso agrave escola e a assiduidade o que muito desmotivava a
ambos
41
Os entrevistados conforme anaacutelise de dados desejam muito objetivamente a
implantaccedilatildeo imediata de escolas segundo os criteacuterios caracteriacutesticos de escola do
campo
- Trazer a realidade para dentro da escola do campo curriacuteculos voltados para o
cotidiano do aluno do campo onde as teacutecnicas agriacutecolas pecuaacuterias e agroecoloacutegicas
possam fazer parte do processo educativo da comunidade e que a escola tenha
uma gestatildeo coletiva democraacutetica com a participaccedilatildeo da comunidade
- Ter o trabalho como princiacutepio educativo A experiecircncia do aluno deve
harmonizar-se com os princiacutepios pistrakianos significar o trabalho de forma a que
ele apresente benefiacutecios para o proacuteprio indiviacuteduo para a comunidade na qual estaacute
inserido e para a sociedade e natildeo exclusivamente para servir ao capitalismo
-Superar a fragmentaccedilatildeo do conhecimento disciplinar A interdisciplinaridade
deve fazer parte dos objetivos educacionais de modo a promover a formaccedilatildeo
integral dos educandos
- Valorizar os saberes do homem do campo Os entrevistados desejam uma
escola onde possam exercitar sua vivecircncia campesina e a relaccedilatildeo dialoacutegica entre
professor-aluno seguindo a pedagogia de Paulo Freire o educando quer aprender
com o educador mas quer tambeacutem ter a oportunidade de transmitir seus saberes
- Promover espaccedilos de gestatildeo coletiva A proacutepria comunidade deve participar da
gestatildeo a elaboraccedilatildeo do PPP deve gerir o espaccedilo fiacutesico da escola para atividades
de interesse da comunidade ocupar espaccedilos para finalidades culturais esportivas
sociais tornando a escola um espaccedilo democraacutetico
- Garantir a presenccedila da comunidade e dos movimentos sociais que geram
processos que auxiliam a emancipaccedilatildeo social A escola deve tambeacutem ser espaccedilo
que auxilie a sustentabilidade e garanta a alimentaccedilatildeo saudaacutevel e recursos
fitoteraacutepicos em associaccedilatildeo com a comunidade
- Inclusatildeo tecnoloacutegica em todos os aspectos digital inovaccedilatildeo tecnoloacutegica
agropecuaacuteria recursos ambientais alternativos agua potaacutevel energia solar energia
eoacutelica fossa seacuteptica teacutecnicas de compostagem saneamento baacutesico cuidados com
os recursos hiacutedricos
A anaacutelise dos dados quando feita especificamente sobre a escola a ser
implantada pode aparentemente demonstrar uma pequena conexatildeo com as teorias
da escola do campo
42
A concepccedilatildeo da escola do campo natildeo pode ser imposta ela parte do princiacutepio
que os camponeses devem conquista-la Para essa conquista eacute necessaacuteria a
paixatildeo o desejo por algo ainda natildeo experimentado o amadurecimento poliacutetico-
social-pessoal a participaccedilatildeo coletiva na luta e na conquista
A trajetoacuteria de luta por educaccedilatildeo da comunidade Renascer apresenta estes
elementos agraves vezes difusos outras vezes mais claramente A escola bem que
poderia para alguns ser apenas uma escola rural Afinal aprender a ler e a
escrever ldquodireitordquo como alguns dizem ou seja deixar a condiccedilatildeo de analfabeto ou
analfabeto funcional para tornar-se letrado significaria avanccedilos em face das atuais
circunstacircncias Alguns entendem assim expressando-se principalmente nas
conversas informais
Apesar disso quando as respostas informais ou quando as respostas das
entrevistas satildeo analisadas mais profundamente identificamos que embora
difusamente todos desejam o programa educacional da escola do campo
Explicando melhor a participaccedilatildeo de todos da comunidade em todas as atividades
soacutecio-poliacuteticas-culturais (relatadas no terceiro capitulo) indicam que a comunidade
assimilou a postura soacutecio-politica-cultural que caracterizam a escola do campo
A vivecircncia do Assentamento Renascer no cotidiano e nos eventos coletivos
amadureceu o desejo pelo alimento intelectual cultural artiacutestico ambiental social
que a concepccedilatildeo de escola do campo introduz O programa educacional da Escola
do Campo ultrapassou as paredes fiacutesicas da escola e alcanccedilou o cotidiano dos
assentados
Os avanccedilos da conscientizaccedilatildeo e seu reflexo na vida do Assentamento Renascer
satildeo sentidos nos nuacutemeros de matriculados na LEdoC sete (7) alunos
aproximadamente dez (10) assentados prestaratildeo o proacuteximo vestibular trecircs (3)
assentados estatildeo matriculados no IFB dois(2) assentados estatildeo formados em
Teacutecnico Agropecuaacuterio tambeacutem pelo IFB um deles cursa o Tecnoacutelogo de
Agroecologia tambeacutem do IFB
Vale acrescentar que no iniacutecio de 2014 quando o IFB buscou no Assentamento
pessoas interessadas em matricular-se em seus cursos sob a condiccedilatildeo de
estudarem no ensino meacutedio o interesse foi grande e a impossibilidade pelo fato de
natildeo estarem habilitados no ensino fundamental provocou tanta discussatildeo que
estimulou essa pesquisa
43
O legado desses alunos futuros alunos e profissionais para o futuro do
Assentamento apresentaraacute resultados significativos para toda a comunidade O
futuro colheraacute bons frutos plantados agora
A escola que temos natildeo estaacute funcionando falta a renovaccedilatildeo do contrato o que
atrasa a alfabetizaccedilatildeo e conclusatildeo do 5ordm ano Falta a implantaccedilatildeo de poliacuteticas
puacuteblicas para atendimento de questotildees baacutesicas como por exemplo carteiras
quadro de giz iluminaccedilatildeo espaccedilo fiacutesico (dependecircncias para a escola) e mobiliaacuterio
-41-
44
Consideraccedilotildees Finais
A Educaccedilatildeo do campo eacute um movimento em que os trabalhadores do campo e
suas organizaccedilotildees lutam por transformaccedilotildees sociais particularmente a criaccedilatildeo de
escolas dono campo de qualidade a partir de uma perspectiva ampla de reforma
agraacuteria
A construccedilatildeo da educaccedilatildeo do campo eacute resultado do amadurecimento dos
movimentos sociais e das comunidades rurais em sua trajetoacuteria de luta pelo direito
fundamental agrave universalizaccedilatildeo escolar para as populaccedilotildees camponesas segundo
orientaccedilatildeo poliacutetico-pedagoacutegica adequada agrave realidade dos lutadores de
acampamentos e assentamentos em luta pela reforma agraacuteria e justiccedila social
Alguns princiacutepios caracterizam a luta pela escola do campo Dentre eles
podemos citar a criaccedilatildeo da consciecircncia do direito agrave educaccedilatildeo de qualidade plantada
na proacutepria comunidade o que provoca o enraizamento a valorizaccedilatildeo da vida no
campo a promoccedilatildeo da autoestima e a transformaccedilatildeo do ser alienado pela ideologia
e desigualdade social e sujeito de sua proacutepria histoacuteria
Outro princiacutepio eacute a adequaccedilatildeo de curriacuteculos agrave realidade camponesa de modo
a que o processo ensino-aprendizagem favoreccedila o amadurecimento de talentos
naturais o surgimento de oportunidades a niacutevel pessoal e social contribuindo para a
emancipaccedilatildeo poliacutetico-social do indiviacuteduo com reflexos na sociedade
A mudanccedila de paradigmas e o envolvimento social provocam a formaccedilatildeo integral
dos sujeitos que lutam de forma coletiva e solidaacuteria pela terra A escola do campo
que surge dessa mudanccedila eacute tambeacutem transformadora porque eacute fruto da luta
consciente que gera a reflexatildeo e o amadurecimento poliacutetico deixando um legado
positivo de cidadatildeos orgulhosos de sua condiccedilatildeo de lutador pela terra de sua
identidade de sua cultura de sua comunidade e coletividade
A escola do campo propicia aos alunos a reflexatildeo sobre o contexto social e a
problemaacutetica da comunidade em que estatildeo inseridos o respeito agrave individualidade a
ampliaccedilatildeo das potencialidades do aluno para organizar elaborar e atuar
coletivamente Deixam o legado futuro de homens responsaacuteveis mentes
independentes e atuantes que poderatildeo prestar serviccedilos significativos agrave sociedade
45
A comunidade assentada de o Assentamento Renascer pela Reforma
Agraacuteria em Sobradinho DF foi convidada a opinar sobre a escola que deseja a
partir da conquista da terra
O modelo proposto a partir de seu posicionamento possibilita a conclusatildeo
de que a escola do campo plantada na comunidade eacute preferiacutevel ao modelo
adotado atualmente de inserccedilatildeo dos alunos da comunidade agraves escolas urbanas
conter recursos materiais e humanos que propiciem bons resultados
pedagoacutegicos deve servir para fixar o trabalhador ao campo deve cumprir com o
propoacutesito constitucional de universalizaccedilatildeo do ensino para todas as faixas
etaacuterias deve estar identificada com os sonhos de prosperidade material e
realizaccedilatildeo pessoal dos assentados
-46-
46
Referecircncias Bibliograacuteficas
CANUTO Antocircnio In Comissatildeo Pastoral da Terra DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO 2012 pag 131) CLAUDIA MORAES DE SOUZA em seu artigo lsquoDiscursos intolerantes O lugar da poliacutetica na educaccedilatildeo rural e a representaccedilatildeo do camponecircs analfabeto (DIVERSITAS FFLCH USPBR)acesso em 03-08-2014 EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO ndash Marcos Normativos Brasilia 2012 MEC FERRARO Alceu Ravanello em seu artigo Alfabetizaccedilatildeo rural no Brasil na perspectiva das relaccedilotildees campo-cidade e de gecircnero (Educ Real ndash WWWSCIELOBRPDFEDREALV37N3PDF acesso 03-10-2014 FERREIRA (2011_ ldquoUm olhar histoacuterico uma realidade concretardquo (WWWUNIFILBR)acesso 20-10-2014
FERRARI Marco ldquoAniacutesio Teixeira o inventor da escola puacuteblica no Brasilrdquo Revista Nova Escola Fundaccedilatildeo Victor Civita Revistaescolaabrilcombr acesso em 14092014 FERREIRA Fabiano de Jesus BRANDAtildeO Elias Canuto ndash Revista Eletrocircnica de Educaccedilatildeo Ano V N 09 juldez 2011p3 ldquoEducaccedilatildeo do campo um olhar histoacuterico uma realidade concreta rdquo (WWWUNIFILBR acesso em 08 de agosto de 2014) GONCcedilALVES Luiz Alberto Oliveira e Pinto Regina Pahim EDUCACcedilAtildeO SEacuteRIE JUSTICcedilA E DESENVOLVIMENTO IFP-FCC FUNDACcedilAtildeO CARLOS CHAGAS 2007 SAtildeO PAULO (pag206)
KOLLING Edgar Jorge Vargas Caldart MST e Educaccedilatildeo in DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia Expressatildeo Popular 2012 (pag 5020
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OLIVEIRA Maria Rita Duarte em sua dissertaccedilatildeo ldquoDos programas oficiais para a educaccedilatildeo rural aos projetos de educaccedilatildeo do campo dos movimentos sociaisrdquo WWWrevistalaborufcbrartigovolume1maria-ritapdf acesso em 08-09-2014
OLIVEIRA Maria Rita Duarte PEDAGOGIA EM MARCHA Apud ARROYO Satildeo Paulo1995( pg 162)
OLIVEIRA Maria Rita Duarte Revistalabor ufcbracesso em 19-10-2014
________ citando CALAZ Maria Rita Duarte Oliveira
47
SANTOS Clarice Aparecida PROGRAMA NACIONAL DE EDUCACcedilAtildeO NA REFORMA AGRAacuteRIA in DICIONARIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia2012(pg630)
________ Clarice Aparecida PROGRAMA NACIONAL DE EDUCACcedilAtildeO NA REFORMA AGRAacuteRIA BRASIacuteLIA 2012 pg 631 in DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO SANTOS Claudio Felix Dos ldquoO aprender a aprender na formaccedilatildeo de professores do campordquo Campinas 2013 Editora Autores Associados ) SOUZA Maria Antocircnia Movimentos Sociais no Brasil Contemporacircneo participaccedilatildeo e possibilidades no contexto das praacuteticas democraacuteticas ndash (wwwcesucptlab2004pdfMariaAntonia Souzapdfaceso em 24-07-2014 -48-
48
Apecircndices
1 Roteiro das Entrevistas
a) Dados dos entrevistados
Qual o seu nome
Masculino ( ) Feminino ( )
Quantos anos vocecirc tecircm
A quanto tempo mora no
assentamento
Onde vocecirc morou antes
de morar no
assentamento
Quantos anos vocecirc tinha
quando foi a escola pela
primeira vez
Estou ateacute qual seacuterieano
Quantos anos vocecirc tinha
quando parou de estudar
Qual motivo motivou vocecirc
a parar de estudar
Se tiver escola no
assentamento vocecirc voltaraacute
a estudar Porque
B) Outras informaccedilotildees dados pelos entrevistadosas (GRAVAR)
a) Em qual escola vocecirc estudou no acampamento ou em outro lugar Qual
b) Como era a escola que estudou Quais as coisas boas e coisas ruins que
tinha nesta escola
c) Conte como eacutefoi a educaccedilatildeo do assentamento o que jaacute existiu de escola
como funcionou e quais eram as boas e as coisas ruins desta escola
d) Jaacute participou de alguma accedilatildeo de mobilizaccedilatildeo para ter escola no
assentamento Se sim explique para que e como foi essa mobilizaccedilatildeo
e) Na sua opiniatildeo no assentamento deve ter escola Por quecirc
f) Como deveraacute ser a escola da comunidadeassentamento Como eacute a escola
que queremos ter
49
b) Entrevistas semi-estruturadas
Entrevistado 01
Moro no assentamento Renascer haacute 11 anos Nasci Carnauacuteba no Rio Grande do
Norte fui criado na roccedila e desde pequeno trabalhava na lavoura para ajudar meu
pai Fui para escola com 9 anos de idade estudei ateacute a 5ordm seacuterie parei de estudar
com 17 anos natildeo continuei os estudos porque era muito longe de onde eu morva
que era na cidade mais proacutexima eu tinha que andar a peacute 8 km ficava muito
cansado Casei e vim morar em Brasiacutelia para trabalhar em uma chaacutecara como
caseiro Morava na chaacutecara Buritis em sobradinho- Df tambeacutem natildeo dei para
continuar os estudos porque ficava longe e tinha que ser a noite e natildeo tinha como ir
Se vier uma escola pra caacute eu ainda vou estudar para ter mais conhecimento para
plantar minha roccedila ir no banco pra ver se assino um empreacutestimo para melhorar
minha produccedilatildeo e saber fazer conta pra administrar minha parcela de terra
Qual o seu nome
Masculino ( X ) Feminino ( )
Quantos anos vocecirc
tecircm
57 anos
A quanto tempo
mora no assentamento
11 anos
Onde vocecirc morou
antes de morar no
assentamento
Carnauacuteba ndash RN
Chaacutecara Buritis nordm 10 Sobradinho DF
Quantos anos vocecirc
tinha quando foi a escola
pela primeira vez
8 anos
Estou ateacute qual
seacuterieano
5ordf seacuterie
Quantos anos vocecirc
tinha quando parou de
estudar
24 anos
Qual motivo
motivou vocecirc a parar de
estudar
Trabalhar para sustento da famiacutelia a
distacircncia entre a casa e a escola
Se tiver escola no
assentamento vocecirc voltaraacute
a estudar Porque
Sim ldquoSe tivesse escola do ensino
fundamental voltaria a estudar para tecirc
mais conhecimento para plantar minha roccedila
50
saber pesar saber contar vendecirc os produto e
comecirc
Entrevistado 02
Moro no assentamento renascer haacute 7 anos tenho 38 vim do interior do Cearaacute
Entrei na escola com 7 anos de idade estudei soacute a 5ordm seacuterie incompleta natildeo
continuei a estudar porque natildeo tinha escola a onde eu morava que era na roccedila e eu
tinha que ficar na casa dozotro (SIC) na cidade e eu natildeo gostava disso natildeo ai parei
com 16 anos de idade Mudamo (SIC) pra Brasiacutelia pra uma chaacutecara perto de Santa
Maria-DF e natildeo dei pra estudar porque casei e tinha que trabalhar muito para
susrentar a famiacutelia A gora moro no assentamento Renascer e sei que um dia vai ter
uma escola aqui e eu vou voltar a estudar porque meu sonho eacute ser veterinaacuterio e vou
der se deus quiser
Entrevistado 03
Tenho 58 anos moro no assentamento Renascer haacute 6 anos vim de Ceres-GO
comecei a estudar quando eu tinha 10 ano de idade estudei ateacute a 4ordf seria primaacuteria
(SIC) parei de estudar quando tinha 16 anos porque eu morava na roccedila e escola
ateacute que natildeo ficava muito longe natildeo era soacute 2 km dava pra ir a peacute a professora eacute que
faltava muito e a gente natildeo tinha como saber se ela tava ou natildeoAiacute quando eu tinha
18 anos casei e vim morar em Brasiacutelia e arranjei(SIC) emprego de caseira em uma
chaacutecara aiacute natildeo pra estudar a noite porque era muito longe pra laacute entatildeo eu natildeo
pensei mais nessas coisas Quando tiver escola no assentamento quero estudar
quiecirc pra mim (SIC) fazer curso de teacutecnico agriacutecolarsquorsquo
Entrevistado 04
Tenho 24 anos moro no assentamento Renascer tem 6 ano vim da Bahia morava
no Condomiacutenio RK entrei na escola com 7 anos de idade e estudei soacute ateacute a 6ordf seacuterie
parei com 18 anos de idade
Porque mudei pra caacute pro assentamento (SIC) e natildeo tem escola e natildeo tem como ir
pra Sobradinho a noite porque eacute muito longe tem que andar 5 km eacute pirigogo (SIC)
tem muita gente mal por aiacute tem ateacute estrupador natildeo posso me arriscar
ldquoSe tivesse escola aqui eu ia terminar meus estudos podia ser no galpatildeo mesmo
pra mim tava bom mas para os meus filhos eu queria uma escola boa com internet
e tudo Eu natildeo gosto que meus filhos estuda(SIC) na cidade soacute aceito porque eacute o
jeito gente de assentamento eacute muito zombado (SIC) porque as vezes chega suja
na escola e os outros acha que eles satildeo porcos que toma banhordquo
Entrevistado 05
51
Tenho 21 anos de idade moro no Renascer haacute trecircs anos vim de satildeo Gabriel-GO
comecei a estudar aos 7 anos parei com 18 anos porque minha matildee mudou
pro(SIC) matildee mudou pro (SIC) assentamento haacute 6 anos e eu natildeo aguento morar
longe dela Quando cheguei aqui natildeo teve como continuar os estudos porque
trabalho durante o dia como manicure em Sobradinho e o uacuteltimo ocircnibus que passa
perto do assentamento eacute as 5 horas da tarde entatildeo natildeo daacute para estudar a noite
Sim porque quero fazer um curso de cabelereiro quando tiver aacutegua e luz aqui eu
quero montar um salatildeo de beleza e para ser uma empresaacuteria precisa ter estudos pra
administrar o negoacutecio
Entrevistado 06
44 anos
6 anos
Formosa-GO
8 anos
5ordf seacuterie
24 anos
Porque a escola mais perto(SIC) era 10km de distacircncia e eu trabalhava na roccedila e
ficava muito cansado aiacute parei natildeo deu mais
Sim quando tiver escola aqui eu vou voltar a estudar Eu tinha um sonho de ser
agroacutenomo mas esse sonho eacute impussive(SIC) entatildeo queria concluir o ensino
fundamental para fazer um curso de teacutecnico agriacutecola no IFB mas tambeacutem eacute longe
se tivesse como estudar aqui no assentamento eu ia(SIC) ficar muito feliz
Entrevistado 07
57 anos
6 anos
Parnaiacuteba-PI- Santa Maria- DF
7 anos
4ordf seacuterie
21 anos
Parei porque era muito difiacutecil ir para escola que ficava muito longe eu tinha que sair
de casa as 4hs da madrugada para chegar na escola as 730 ia montado num
cavalo e muitas vezes natildeo tinha professora pra dar aula Parei porque natildeo aguentei
o rojatildeo tinha que minha matildee na lida a tarde e eu ficava muito cansado Vim pra
52
Brasiacutelia e casei fui trabalhar de chacareiro numa chaacutecara que tambeacutem era longe de
escola depois vim morar aqui no assentamento que natildeo tem escola
Se tivesse escola aqui eu ia voltar estudar soacute pra aprender a cuidar meior (SIC) da
terra e dos meus bichos e que fosse como uma escola agriacutecola
Entrevistado 08
Tenho 29 anos moro no assentamento Renascer haacute 2 anos sou educadora do
Pronera haacute 1 ano e 2 meses O Pronera eacute como um antidepressivo na vida de muita
gente o Pronera melhorou a minha vida e a vida dos meus alunos o desejo de
todos eacute que o Pronera continue crescendo em direccedilatildeo de uma educaccedilatildeo continuada
levando tambeacutem o ensino fundamental para os acampamentos e assentamentos da
Reforma Agraacuteria
-50-
Anexos
53
Acampamento agrave beira da estrada ndash 2004
Construccedilatildeo da Sede do Movimento na atual aacuterea
54
Reuniatildeo semanal
Teatro de fantoches ndash brinquedoteca
55
Accedilatildeo da Pastoral da Crianccedila na brinquedoteca
Oficina de brinquedos reciclaacuteveis
56
Brinquedo confeccionado com materiais reciclaacuteveis na Brinquedoteca
57
58
59
60
Apresentaccedilatildeo teatral
61
Capacitaccedilatildeo em Economia Solidaacuteria
Formaccedilatildeo de multiplicadores da Economia Solidaacuteria
62
Capacitaccedilatildeo de Educadores Ambientais
63
Luta pela Reforma Agraacuteria e Soberania Alimentar
36
de outubro) eacute concorrida pois a comunidade se esmera para oferecer os brinquedos
que as crianccedilas amam pula-pula palhaccedilos pintura de rosto piscina de sabatildeo e
muita oferta de comida coisas que as crianccedilas adoram
No mesmo dia ocorre agrave noite a festa da Nossa Senhora Aparecida com
missa e muito forroacute
No mecircs de marccedilo eacute comemorada a Festa da Pamonha em comemoraccedilatildeo agrave
boa colheita do milho Esta festa jaacute se tornou tradicional conhecida em todo o
entorno do assentamento Egrave uma festa importante porque confraterniza a
comunidade Renascer com as comunidades vizinhas e ateacute mesmo as cidades de
Sobradinho Paranoaacute e Planaltina
Os movimentos sociais necessitam ser admirados pela sociedade e festas
como estas chamam a atenccedilatildeo para o problema da reforma agraacuteria demonstrando
que ela eacute viaacutevel e que os assentados tecircm simpatia competecircncia e seus saberes do
campo
A festa ldquojulinardquo eacute outra festa muito apreciada que apresenta as tradiccedilotildees rurais
e religiosas como quadrilhas e bandas de forroacute da comunidade e vizinhanccedila A
danccedila eacute um dos pontos fortes da festa assim como as comidas tradicionais muitas
delas com ingredientes colhidos no acampamento
Vaacuterios grupos de atividades teatrais apresentaram-se na localidade com
participaccedilatildeo de palhaccedilos lembrando um espetaacuteculo circense Alguns desses
grupos inclusive tiveram seus trabalhos premiados
Outras atividades com fundo educativo tiveram participaccedilatildeo animada de
crianccedilas e adultos A exibiccedilatildeo de desenhos animados recentemente apresentados
no cinema eram um grande atrativo para a comunidade que se via socialmente
incluiacuteda Esta inclusatildeo aumentava a autoestima das crianccedilas principalmente pois
assim elas poderiam interagir com os colegas da escola conversando a respeito dos
filmes
A Economia Solidaacuteria eacute uma das formas de inserccedilatildeo dos membros da
comunidade agrave sociedade economicamente ativa Atraveacutes da cooperaccedilatildeo solidaacuteria eacute
possiacutevel o comercio justo agriacutecolas ou artesanais sob conceitos antes
desconhecidos enquanto forma de produccedilatildeo e consumo centrado na valorizaccedilatildeo do
ser humano em contraposiccedilatildeo agraves formas capitalistas de produccedilatildeo e conscientizaccedilatildeo
37
Ao longo dos doze (12) anos de luta pela educaccedilatildeo foram promovidos
diversos cursos que capacitaram multiplicadores que fazem um trabalho importante
para a comunidade
A ideia de autogestatildeo democracia cooperaccedilatildeo auxilia natildeo soacute as formas de
produccedilatildeo e comercio de bens e artesanatos mas tambeacutem auxiliam na formaccedilatildeo
integral de pessoas em que tanto o produtor como o consumidor tem o proposito de
ganhos financeiros segundo um criteacuterio de valorizaccedilatildeo do trabalho
Proposito de formar uma nova consciecircncia a Economia Solidaacuteria promoveu
cursos de Soberania Alimentar em que a comunidade recebeu noccedilotildees praacuteticas
sobre alimentaccedilatildeo a partir da produccedilatildeo local de modo a promover uma nova cultura
alimentar que visa o combate agraves doenccedilas crocircnicas Outro proposito eacute tornar a
comunidade criacutetica em relaccedilatildeo agrave publicidade de produtos alimentiacutecio supeacuterfluo que
induz agraves crianccedilas e adultos alimentarem-se incorretamente
A comunidade participou coletivamente da implantaccedilatildeo de uma unidade da
tecnologia social denominada Produccedilatildeo Agroecoloacutegica Integrada e Sustentaacutevel
(PAIS) em 2012 com o objetivo de produzir alimentos saudaacuteveis e preservar o meio
ambiente trazendo mais alimentos e renda ao campo Esta tecnologia popularmente
conhecida como ldquohorta mandalardquo foi ministrada durante o curso de capacitaccedilatildeo
promovido pela Fundaccedilatildeo Banco do Brasil e teve o meacuterito de proporcionar o debate
e a participaccedilatildeo democraacutetica na definiccedilatildeo das culturas a serem cultivadas na futura
propriedade Vale informar que o assentamento Renascer identificou-se com esse
paradigma agroecoloacutegico
A educaccedilatildeo ambiental faz parte do dia a dia da comunidade hoje preserva-se
conservaccedilatildeo das formas de vida vegetais e animais na regiatildeo do assentamento e
entorno
A produccedilatildeo de mudas no viveiro eacute bastante concorrida contando com a
participaccedilatildeo de todos O viveiro produz cinco mil (5000) mudas de espeacutecies nativa
do cerrado para o reflorestamento das nascentes de aacutegua e nas aacutereas degradadas
da regiatildeo Contam com o apoio da FUNATURA FUNDACcedilAtildeO BANCO DO BRASIL
IFB Rio Satildeo Bartolomeu Vivo e UnB
-36-
38
39
Quarto Capiacutetulo
A escola que queremos expectativas e sonhos dos
acampados do Assentamento Renascer
Pode-se observar pelas falas dos entrevistados que a realidade de todos
converge para os problemas estruturais do Brasil faltam escolas no campo eacute baixa
a escolaridade em Brasiacutelia todos exercem atividades de subemprego
Todos tecircm grandes expectativas com relaccedilatildeo agrave vida futura no assentamento
objetivando melhores condiccedilotildees de vida na esperanccedila de serem beneficiaacuterios
enquanto cidadatildeos assentados das Poliacuteticas Puacuteblicas e financiamentos agriacutecolas
voltadas para a agricultura familiar como PRONAF PAA PNAE e PAPA-DF Vecircem
aiacute a possibilidade de emprego e renda situaccedilatildeo sonhada desde quando foram
pleitear a terra para reforma agraacuteria
Um olhar mais aprofundado sobre a anaacutelise de dados revela que natildeo importa o
fato de hoje residirem no DF pois como em qualquer lugar de origem os moradores
do assentamento Renascer vivenciam os mesmos problemas Percebe-se
claramente as dificuldades da inexistecircncia de escola no campo A distacircncia continua
impedindo o acesso os meios de transportes continuam precaacuterios os filhos
vivenciam a dificuldade de transferecircncia para a cidade na expectativa de
continuidade dos estudos as estradas rurais continuam esburacadas
Satildeo muitos os pontos em comum entre a situaccedilatildeo atual relatada e os problemas
vividos haacute deacutecadas em seus estados de origem o que deixa transparecer a absoluta
falta de interesse por parte do poder puacuteblico em garantir o direito constitucional agrave
educaccedilatildeo do povo do campo o que infelizmente continuaraacute deixando o triste
legado para o futuro do paiacutes
40
Repetimos a pergunta da inicial Cadecirc as escolas do campo Ateacute quando o paiacutes
vai viver essa situaccedilatildeo A anaacutelise de dados responde Natildeo eacute mais possiacutevel
continuar como estaacute
Todos os entrevistados pretendem alcanccedilar conhecimentos atraveacutes da escola do
campo implantada no Assentamento Renascer com objetivos de administrar a
propriedade participar ativamente do coletivo garantir renda fixa atraveacutes dos
programas de desenvolvimento da agricultura familiar
Os entrevistados unanimamente tecircm a preocupaccedilatildeo da manutenccedilatildeo dos laccedilos
familiares e das raiacutezes camponesas
A distacircncia entre a moradia e a escola fato relatado pela quase totalidade dos
entrevistados constitui um grande motivo de evasatildeo escolar de defasagem nas
seacuteries frequentadas de precariedade na aprendizagem em relaccedilatildeo aos demais
alunos A discriminaccedilatildeo alegada por muitos que frequentaram ou frequentam
escolas fora da faixa etaacuteria o vernaacuteculo proacuteprio dos sujeitos do campo as condiccedilotildees
precaacuterias da estrada que denunciam a condiccedilatildeo de assentado o sentimento de
inadequaccedilatildeo constituem fatores que determinam a evasatildeo escolar
Foram treze (13) entrevistados significando aproximadamente dez por cento
(10) dos moradores do Assentamento Renascer Desse total apenas dois (2)
entrevistados natildeo declararam dificuldade de distacircncia entre a moradia e a escola em
seus lugares de origem A maioria absoluta (11) pessoas declararam que a distacircncia
dificultava e impedia o acesso agrave escola Alguns relatos apresentam situaccedilotildees
precaacuterias para o homem do campo o assentado
Para o aluno do campo a distacircncia da escola tem o significado de inexistecircncia de
escola Isto porque as dificuldades de acesso satildeo enormes No caso em estudo
apenas um entrevistado declarou a inexistecircncia de escola em sua regiatildeo de
moradia Este poreacutem vivenciou todas as dificuldades de acesso que outros
assentados apresentaram em razatildeo da distacircncia moradiaescola
A falta de professores na escola rural eacute relatada por 11 dos 13 entrevistados A
distacircncia da escola para os professores dificulta segundo a vivecircncia dos
entrevistados o acesso agrave escola e a assiduidade o que muito desmotivava a
ambos
41
Os entrevistados conforme anaacutelise de dados desejam muito objetivamente a
implantaccedilatildeo imediata de escolas segundo os criteacuterios caracteriacutesticos de escola do
campo
- Trazer a realidade para dentro da escola do campo curriacuteculos voltados para o
cotidiano do aluno do campo onde as teacutecnicas agriacutecolas pecuaacuterias e agroecoloacutegicas
possam fazer parte do processo educativo da comunidade e que a escola tenha
uma gestatildeo coletiva democraacutetica com a participaccedilatildeo da comunidade
- Ter o trabalho como princiacutepio educativo A experiecircncia do aluno deve
harmonizar-se com os princiacutepios pistrakianos significar o trabalho de forma a que
ele apresente benefiacutecios para o proacuteprio indiviacuteduo para a comunidade na qual estaacute
inserido e para a sociedade e natildeo exclusivamente para servir ao capitalismo
-Superar a fragmentaccedilatildeo do conhecimento disciplinar A interdisciplinaridade
deve fazer parte dos objetivos educacionais de modo a promover a formaccedilatildeo
integral dos educandos
- Valorizar os saberes do homem do campo Os entrevistados desejam uma
escola onde possam exercitar sua vivecircncia campesina e a relaccedilatildeo dialoacutegica entre
professor-aluno seguindo a pedagogia de Paulo Freire o educando quer aprender
com o educador mas quer tambeacutem ter a oportunidade de transmitir seus saberes
- Promover espaccedilos de gestatildeo coletiva A proacutepria comunidade deve participar da
gestatildeo a elaboraccedilatildeo do PPP deve gerir o espaccedilo fiacutesico da escola para atividades
de interesse da comunidade ocupar espaccedilos para finalidades culturais esportivas
sociais tornando a escola um espaccedilo democraacutetico
- Garantir a presenccedila da comunidade e dos movimentos sociais que geram
processos que auxiliam a emancipaccedilatildeo social A escola deve tambeacutem ser espaccedilo
que auxilie a sustentabilidade e garanta a alimentaccedilatildeo saudaacutevel e recursos
fitoteraacutepicos em associaccedilatildeo com a comunidade
- Inclusatildeo tecnoloacutegica em todos os aspectos digital inovaccedilatildeo tecnoloacutegica
agropecuaacuteria recursos ambientais alternativos agua potaacutevel energia solar energia
eoacutelica fossa seacuteptica teacutecnicas de compostagem saneamento baacutesico cuidados com
os recursos hiacutedricos
A anaacutelise dos dados quando feita especificamente sobre a escola a ser
implantada pode aparentemente demonstrar uma pequena conexatildeo com as teorias
da escola do campo
42
A concepccedilatildeo da escola do campo natildeo pode ser imposta ela parte do princiacutepio
que os camponeses devem conquista-la Para essa conquista eacute necessaacuteria a
paixatildeo o desejo por algo ainda natildeo experimentado o amadurecimento poliacutetico-
social-pessoal a participaccedilatildeo coletiva na luta e na conquista
A trajetoacuteria de luta por educaccedilatildeo da comunidade Renascer apresenta estes
elementos agraves vezes difusos outras vezes mais claramente A escola bem que
poderia para alguns ser apenas uma escola rural Afinal aprender a ler e a
escrever ldquodireitordquo como alguns dizem ou seja deixar a condiccedilatildeo de analfabeto ou
analfabeto funcional para tornar-se letrado significaria avanccedilos em face das atuais
circunstacircncias Alguns entendem assim expressando-se principalmente nas
conversas informais
Apesar disso quando as respostas informais ou quando as respostas das
entrevistas satildeo analisadas mais profundamente identificamos que embora
difusamente todos desejam o programa educacional da escola do campo
Explicando melhor a participaccedilatildeo de todos da comunidade em todas as atividades
soacutecio-poliacuteticas-culturais (relatadas no terceiro capitulo) indicam que a comunidade
assimilou a postura soacutecio-politica-cultural que caracterizam a escola do campo
A vivecircncia do Assentamento Renascer no cotidiano e nos eventos coletivos
amadureceu o desejo pelo alimento intelectual cultural artiacutestico ambiental social
que a concepccedilatildeo de escola do campo introduz O programa educacional da Escola
do Campo ultrapassou as paredes fiacutesicas da escola e alcanccedilou o cotidiano dos
assentados
Os avanccedilos da conscientizaccedilatildeo e seu reflexo na vida do Assentamento Renascer
satildeo sentidos nos nuacutemeros de matriculados na LEdoC sete (7) alunos
aproximadamente dez (10) assentados prestaratildeo o proacuteximo vestibular trecircs (3)
assentados estatildeo matriculados no IFB dois(2) assentados estatildeo formados em
Teacutecnico Agropecuaacuterio tambeacutem pelo IFB um deles cursa o Tecnoacutelogo de
Agroecologia tambeacutem do IFB
Vale acrescentar que no iniacutecio de 2014 quando o IFB buscou no Assentamento
pessoas interessadas em matricular-se em seus cursos sob a condiccedilatildeo de
estudarem no ensino meacutedio o interesse foi grande e a impossibilidade pelo fato de
natildeo estarem habilitados no ensino fundamental provocou tanta discussatildeo que
estimulou essa pesquisa
43
O legado desses alunos futuros alunos e profissionais para o futuro do
Assentamento apresentaraacute resultados significativos para toda a comunidade O
futuro colheraacute bons frutos plantados agora
A escola que temos natildeo estaacute funcionando falta a renovaccedilatildeo do contrato o que
atrasa a alfabetizaccedilatildeo e conclusatildeo do 5ordm ano Falta a implantaccedilatildeo de poliacuteticas
puacuteblicas para atendimento de questotildees baacutesicas como por exemplo carteiras
quadro de giz iluminaccedilatildeo espaccedilo fiacutesico (dependecircncias para a escola) e mobiliaacuterio
-41-
44
Consideraccedilotildees Finais
A Educaccedilatildeo do campo eacute um movimento em que os trabalhadores do campo e
suas organizaccedilotildees lutam por transformaccedilotildees sociais particularmente a criaccedilatildeo de
escolas dono campo de qualidade a partir de uma perspectiva ampla de reforma
agraacuteria
A construccedilatildeo da educaccedilatildeo do campo eacute resultado do amadurecimento dos
movimentos sociais e das comunidades rurais em sua trajetoacuteria de luta pelo direito
fundamental agrave universalizaccedilatildeo escolar para as populaccedilotildees camponesas segundo
orientaccedilatildeo poliacutetico-pedagoacutegica adequada agrave realidade dos lutadores de
acampamentos e assentamentos em luta pela reforma agraacuteria e justiccedila social
Alguns princiacutepios caracterizam a luta pela escola do campo Dentre eles
podemos citar a criaccedilatildeo da consciecircncia do direito agrave educaccedilatildeo de qualidade plantada
na proacutepria comunidade o que provoca o enraizamento a valorizaccedilatildeo da vida no
campo a promoccedilatildeo da autoestima e a transformaccedilatildeo do ser alienado pela ideologia
e desigualdade social e sujeito de sua proacutepria histoacuteria
Outro princiacutepio eacute a adequaccedilatildeo de curriacuteculos agrave realidade camponesa de modo
a que o processo ensino-aprendizagem favoreccedila o amadurecimento de talentos
naturais o surgimento de oportunidades a niacutevel pessoal e social contribuindo para a
emancipaccedilatildeo poliacutetico-social do indiviacuteduo com reflexos na sociedade
A mudanccedila de paradigmas e o envolvimento social provocam a formaccedilatildeo integral
dos sujeitos que lutam de forma coletiva e solidaacuteria pela terra A escola do campo
que surge dessa mudanccedila eacute tambeacutem transformadora porque eacute fruto da luta
consciente que gera a reflexatildeo e o amadurecimento poliacutetico deixando um legado
positivo de cidadatildeos orgulhosos de sua condiccedilatildeo de lutador pela terra de sua
identidade de sua cultura de sua comunidade e coletividade
A escola do campo propicia aos alunos a reflexatildeo sobre o contexto social e a
problemaacutetica da comunidade em que estatildeo inseridos o respeito agrave individualidade a
ampliaccedilatildeo das potencialidades do aluno para organizar elaborar e atuar
coletivamente Deixam o legado futuro de homens responsaacuteveis mentes
independentes e atuantes que poderatildeo prestar serviccedilos significativos agrave sociedade
45
A comunidade assentada de o Assentamento Renascer pela Reforma
Agraacuteria em Sobradinho DF foi convidada a opinar sobre a escola que deseja a
partir da conquista da terra
O modelo proposto a partir de seu posicionamento possibilita a conclusatildeo
de que a escola do campo plantada na comunidade eacute preferiacutevel ao modelo
adotado atualmente de inserccedilatildeo dos alunos da comunidade agraves escolas urbanas
conter recursos materiais e humanos que propiciem bons resultados
pedagoacutegicos deve servir para fixar o trabalhador ao campo deve cumprir com o
propoacutesito constitucional de universalizaccedilatildeo do ensino para todas as faixas
etaacuterias deve estar identificada com os sonhos de prosperidade material e
realizaccedilatildeo pessoal dos assentados
-46-
46
Referecircncias Bibliograacuteficas
CANUTO Antocircnio In Comissatildeo Pastoral da Terra DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO 2012 pag 131) CLAUDIA MORAES DE SOUZA em seu artigo lsquoDiscursos intolerantes O lugar da poliacutetica na educaccedilatildeo rural e a representaccedilatildeo do camponecircs analfabeto (DIVERSITAS FFLCH USPBR)acesso em 03-08-2014 EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO ndash Marcos Normativos Brasilia 2012 MEC FERRARO Alceu Ravanello em seu artigo Alfabetizaccedilatildeo rural no Brasil na perspectiva das relaccedilotildees campo-cidade e de gecircnero (Educ Real ndash WWWSCIELOBRPDFEDREALV37N3PDF acesso 03-10-2014 FERREIRA (2011_ ldquoUm olhar histoacuterico uma realidade concretardquo (WWWUNIFILBR)acesso 20-10-2014
FERRARI Marco ldquoAniacutesio Teixeira o inventor da escola puacuteblica no Brasilrdquo Revista Nova Escola Fundaccedilatildeo Victor Civita Revistaescolaabrilcombr acesso em 14092014 FERREIRA Fabiano de Jesus BRANDAtildeO Elias Canuto ndash Revista Eletrocircnica de Educaccedilatildeo Ano V N 09 juldez 2011p3 ldquoEducaccedilatildeo do campo um olhar histoacuterico uma realidade concreta rdquo (WWWUNIFILBR acesso em 08 de agosto de 2014) GONCcedilALVES Luiz Alberto Oliveira e Pinto Regina Pahim EDUCACcedilAtildeO SEacuteRIE JUSTICcedilA E DESENVOLVIMENTO IFP-FCC FUNDACcedilAtildeO CARLOS CHAGAS 2007 SAtildeO PAULO (pag206)
KOLLING Edgar Jorge Vargas Caldart MST e Educaccedilatildeo in DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia Expressatildeo Popular 2012 (pag 5020
MOLINA Mocircnica SAacute Laiacutes Mouratildeo Escola do Campo in DICIONARIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia Expressatildeo Popular 2012 pg (329)
OLIVEIRA Maria Rita Duarte em sua dissertaccedilatildeo ldquoDos programas oficiais para a educaccedilatildeo rural aos projetos de educaccedilatildeo do campo dos movimentos sociaisrdquo WWWrevistalaborufcbrartigovolume1maria-ritapdf acesso em 08-09-2014
OLIVEIRA Maria Rita Duarte PEDAGOGIA EM MARCHA Apud ARROYO Satildeo Paulo1995( pg 162)
OLIVEIRA Maria Rita Duarte Revistalabor ufcbracesso em 19-10-2014
________ citando CALAZ Maria Rita Duarte Oliveira
47
SANTOS Clarice Aparecida PROGRAMA NACIONAL DE EDUCACcedilAtildeO NA REFORMA AGRAacuteRIA in DICIONARIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia2012(pg630)
________ Clarice Aparecida PROGRAMA NACIONAL DE EDUCACcedilAtildeO NA REFORMA AGRAacuteRIA BRASIacuteLIA 2012 pg 631 in DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO SANTOS Claudio Felix Dos ldquoO aprender a aprender na formaccedilatildeo de professores do campordquo Campinas 2013 Editora Autores Associados ) SOUZA Maria Antocircnia Movimentos Sociais no Brasil Contemporacircneo participaccedilatildeo e possibilidades no contexto das praacuteticas democraacuteticas ndash (wwwcesucptlab2004pdfMariaAntonia Souzapdfaceso em 24-07-2014 -48-
48
Apecircndices
1 Roteiro das Entrevistas
a) Dados dos entrevistados
Qual o seu nome
Masculino ( ) Feminino ( )
Quantos anos vocecirc tecircm
A quanto tempo mora no
assentamento
Onde vocecirc morou antes
de morar no
assentamento
Quantos anos vocecirc tinha
quando foi a escola pela
primeira vez
Estou ateacute qual seacuterieano
Quantos anos vocecirc tinha
quando parou de estudar
Qual motivo motivou vocecirc
a parar de estudar
Se tiver escola no
assentamento vocecirc voltaraacute
a estudar Porque
B) Outras informaccedilotildees dados pelos entrevistadosas (GRAVAR)
a) Em qual escola vocecirc estudou no acampamento ou em outro lugar Qual
b) Como era a escola que estudou Quais as coisas boas e coisas ruins que
tinha nesta escola
c) Conte como eacutefoi a educaccedilatildeo do assentamento o que jaacute existiu de escola
como funcionou e quais eram as boas e as coisas ruins desta escola
d) Jaacute participou de alguma accedilatildeo de mobilizaccedilatildeo para ter escola no
assentamento Se sim explique para que e como foi essa mobilizaccedilatildeo
e) Na sua opiniatildeo no assentamento deve ter escola Por quecirc
f) Como deveraacute ser a escola da comunidadeassentamento Como eacute a escola
que queremos ter
49
b) Entrevistas semi-estruturadas
Entrevistado 01
Moro no assentamento Renascer haacute 11 anos Nasci Carnauacuteba no Rio Grande do
Norte fui criado na roccedila e desde pequeno trabalhava na lavoura para ajudar meu
pai Fui para escola com 9 anos de idade estudei ateacute a 5ordm seacuterie parei de estudar
com 17 anos natildeo continuei os estudos porque era muito longe de onde eu morva
que era na cidade mais proacutexima eu tinha que andar a peacute 8 km ficava muito
cansado Casei e vim morar em Brasiacutelia para trabalhar em uma chaacutecara como
caseiro Morava na chaacutecara Buritis em sobradinho- Df tambeacutem natildeo dei para
continuar os estudos porque ficava longe e tinha que ser a noite e natildeo tinha como ir
Se vier uma escola pra caacute eu ainda vou estudar para ter mais conhecimento para
plantar minha roccedila ir no banco pra ver se assino um empreacutestimo para melhorar
minha produccedilatildeo e saber fazer conta pra administrar minha parcela de terra
Qual o seu nome
Masculino ( X ) Feminino ( )
Quantos anos vocecirc
tecircm
57 anos
A quanto tempo
mora no assentamento
11 anos
Onde vocecirc morou
antes de morar no
assentamento
Carnauacuteba ndash RN
Chaacutecara Buritis nordm 10 Sobradinho DF
Quantos anos vocecirc
tinha quando foi a escola
pela primeira vez
8 anos
Estou ateacute qual
seacuterieano
5ordf seacuterie
Quantos anos vocecirc
tinha quando parou de
estudar
24 anos
Qual motivo
motivou vocecirc a parar de
estudar
Trabalhar para sustento da famiacutelia a
distacircncia entre a casa e a escola
Se tiver escola no
assentamento vocecirc voltaraacute
a estudar Porque
Sim ldquoSe tivesse escola do ensino
fundamental voltaria a estudar para tecirc
mais conhecimento para plantar minha roccedila
50
saber pesar saber contar vendecirc os produto e
comecirc
Entrevistado 02
Moro no assentamento renascer haacute 7 anos tenho 38 vim do interior do Cearaacute
Entrei na escola com 7 anos de idade estudei soacute a 5ordm seacuterie incompleta natildeo
continuei a estudar porque natildeo tinha escola a onde eu morava que era na roccedila e eu
tinha que ficar na casa dozotro (SIC) na cidade e eu natildeo gostava disso natildeo ai parei
com 16 anos de idade Mudamo (SIC) pra Brasiacutelia pra uma chaacutecara perto de Santa
Maria-DF e natildeo dei pra estudar porque casei e tinha que trabalhar muito para
susrentar a famiacutelia A gora moro no assentamento Renascer e sei que um dia vai ter
uma escola aqui e eu vou voltar a estudar porque meu sonho eacute ser veterinaacuterio e vou
der se deus quiser
Entrevistado 03
Tenho 58 anos moro no assentamento Renascer haacute 6 anos vim de Ceres-GO
comecei a estudar quando eu tinha 10 ano de idade estudei ateacute a 4ordf seria primaacuteria
(SIC) parei de estudar quando tinha 16 anos porque eu morava na roccedila e escola
ateacute que natildeo ficava muito longe natildeo era soacute 2 km dava pra ir a peacute a professora eacute que
faltava muito e a gente natildeo tinha como saber se ela tava ou natildeoAiacute quando eu tinha
18 anos casei e vim morar em Brasiacutelia e arranjei(SIC) emprego de caseira em uma
chaacutecara aiacute natildeo pra estudar a noite porque era muito longe pra laacute entatildeo eu natildeo
pensei mais nessas coisas Quando tiver escola no assentamento quero estudar
quiecirc pra mim (SIC) fazer curso de teacutecnico agriacutecolarsquorsquo
Entrevistado 04
Tenho 24 anos moro no assentamento Renascer tem 6 ano vim da Bahia morava
no Condomiacutenio RK entrei na escola com 7 anos de idade e estudei soacute ateacute a 6ordf seacuterie
parei com 18 anos de idade
Porque mudei pra caacute pro assentamento (SIC) e natildeo tem escola e natildeo tem como ir
pra Sobradinho a noite porque eacute muito longe tem que andar 5 km eacute pirigogo (SIC)
tem muita gente mal por aiacute tem ateacute estrupador natildeo posso me arriscar
ldquoSe tivesse escola aqui eu ia terminar meus estudos podia ser no galpatildeo mesmo
pra mim tava bom mas para os meus filhos eu queria uma escola boa com internet
e tudo Eu natildeo gosto que meus filhos estuda(SIC) na cidade soacute aceito porque eacute o
jeito gente de assentamento eacute muito zombado (SIC) porque as vezes chega suja
na escola e os outros acha que eles satildeo porcos que toma banhordquo
Entrevistado 05
51
Tenho 21 anos de idade moro no Renascer haacute trecircs anos vim de satildeo Gabriel-GO
comecei a estudar aos 7 anos parei com 18 anos porque minha matildee mudou
pro(SIC) matildee mudou pro (SIC) assentamento haacute 6 anos e eu natildeo aguento morar
longe dela Quando cheguei aqui natildeo teve como continuar os estudos porque
trabalho durante o dia como manicure em Sobradinho e o uacuteltimo ocircnibus que passa
perto do assentamento eacute as 5 horas da tarde entatildeo natildeo daacute para estudar a noite
Sim porque quero fazer um curso de cabelereiro quando tiver aacutegua e luz aqui eu
quero montar um salatildeo de beleza e para ser uma empresaacuteria precisa ter estudos pra
administrar o negoacutecio
Entrevistado 06
44 anos
6 anos
Formosa-GO
8 anos
5ordf seacuterie
24 anos
Porque a escola mais perto(SIC) era 10km de distacircncia e eu trabalhava na roccedila e
ficava muito cansado aiacute parei natildeo deu mais
Sim quando tiver escola aqui eu vou voltar a estudar Eu tinha um sonho de ser
agroacutenomo mas esse sonho eacute impussive(SIC) entatildeo queria concluir o ensino
fundamental para fazer um curso de teacutecnico agriacutecola no IFB mas tambeacutem eacute longe
se tivesse como estudar aqui no assentamento eu ia(SIC) ficar muito feliz
Entrevistado 07
57 anos
6 anos
Parnaiacuteba-PI- Santa Maria- DF
7 anos
4ordf seacuterie
21 anos
Parei porque era muito difiacutecil ir para escola que ficava muito longe eu tinha que sair
de casa as 4hs da madrugada para chegar na escola as 730 ia montado num
cavalo e muitas vezes natildeo tinha professora pra dar aula Parei porque natildeo aguentei
o rojatildeo tinha que minha matildee na lida a tarde e eu ficava muito cansado Vim pra
52
Brasiacutelia e casei fui trabalhar de chacareiro numa chaacutecara que tambeacutem era longe de
escola depois vim morar aqui no assentamento que natildeo tem escola
Se tivesse escola aqui eu ia voltar estudar soacute pra aprender a cuidar meior (SIC) da
terra e dos meus bichos e que fosse como uma escola agriacutecola
Entrevistado 08
Tenho 29 anos moro no assentamento Renascer haacute 2 anos sou educadora do
Pronera haacute 1 ano e 2 meses O Pronera eacute como um antidepressivo na vida de muita
gente o Pronera melhorou a minha vida e a vida dos meus alunos o desejo de
todos eacute que o Pronera continue crescendo em direccedilatildeo de uma educaccedilatildeo continuada
levando tambeacutem o ensino fundamental para os acampamentos e assentamentos da
Reforma Agraacuteria
-50-
Anexos
53
Acampamento agrave beira da estrada ndash 2004
Construccedilatildeo da Sede do Movimento na atual aacuterea
54
Reuniatildeo semanal
Teatro de fantoches ndash brinquedoteca
55
Accedilatildeo da Pastoral da Crianccedila na brinquedoteca
Oficina de brinquedos reciclaacuteveis
56
Brinquedo confeccionado com materiais reciclaacuteveis na Brinquedoteca
57
58
59
60
Apresentaccedilatildeo teatral
61
Capacitaccedilatildeo em Economia Solidaacuteria
Formaccedilatildeo de multiplicadores da Economia Solidaacuteria
62
Capacitaccedilatildeo de Educadores Ambientais
63
Luta pela Reforma Agraacuteria e Soberania Alimentar
37
Ao longo dos doze (12) anos de luta pela educaccedilatildeo foram promovidos
diversos cursos que capacitaram multiplicadores que fazem um trabalho importante
para a comunidade
A ideia de autogestatildeo democracia cooperaccedilatildeo auxilia natildeo soacute as formas de
produccedilatildeo e comercio de bens e artesanatos mas tambeacutem auxiliam na formaccedilatildeo
integral de pessoas em que tanto o produtor como o consumidor tem o proposito de
ganhos financeiros segundo um criteacuterio de valorizaccedilatildeo do trabalho
Proposito de formar uma nova consciecircncia a Economia Solidaacuteria promoveu
cursos de Soberania Alimentar em que a comunidade recebeu noccedilotildees praacuteticas
sobre alimentaccedilatildeo a partir da produccedilatildeo local de modo a promover uma nova cultura
alimentar que visa o combate agraves doenccedilas crocircnicas Outro proposito eacute tornar a
comunidade criacutetica em relaccedilatildeo agrave publicidade de produtos alimentiacutecio supeacuterfluo que
induz agraves crianccedilas e adultos alimentarem-se incorretamente
A comunidade participou coletivamente da implantaccedilatildeo de uma unidade da
tecnologia social denominada Produccedilatildeo Agroecoloacutegica Integrada e Sustentaacutevel
(PAIS) em 2012 com o objetivo de produzir alimentos saudaacuteveis e preservar o meio
ambiente trazendo mais alimentos e renda ao campo Esta tecnologia popularmente
conhecida como ldquohorta mandalardquo foi ministrada durante o curso de capacitaccedilatildeo
promovido pela Fundaccedilatildeo Banco do Brasil e teve o meacuterito de proporcionar o debate
e a participaccedilatildeo democraacutetica na definiccedilatildeo das culturas a serem cultivadas na futura
propriedade Vale informar que o assentamento Renascer identificou-se com esse
paradigma agroecoloacutegico
A educaccedilatildeo ambiental faz parte do dia a dia da comunidade hoje preserva-se
conservaccedilatildeo das formas de vida vegetais e animais na regiatildeo do assentamento e
entorno
A produccedilatildeo de mudas no viveiro eacute bastante concorrida contando com a
participaccedilatildeo de todos O viveiro produz cinco mil (5000) mudas de espeacutecies nativa
do cerrado para o reflorestamento das nascentes de aacutegua e nas aacutereas degradadas
da regiatildeo Contam com o apoio da FUNATURA FUNDACcedilAtildeO BANCO DO BRASIL
IFB Rio Satildeo Bartolomeu Vivo e UnB
-36-
38
39
Quarto Capiacutetulo
A escola que queremos expectativas e sonhos dos
acampados do Assentamento Renascer
Pode-se observar pelas falas dos entrevistados que a realidade de todos
converge para os problemas estruturais do Brasil faltam escolas no campo eacute baixa
a escolaridade em Brasiacutelia todos exercem atividades de subemprego
Todos tecircm grandes expectativas com relaccedilatildeo agrave vida futura no assentamento
objetivando melhores condiccedilotildees de vida na esperanccedila de serem beneficiaacuterios
enquanto cidadatildeos assentados das Poliacuteticas Puacuteblicas e financiamentos agriacutecolas
voltadas para a agricultura familiar como PRONAF PAA PNAE e PAPA-DF Vecircem
aiacute a possibilidade de emprego e renda situaccedilatildeo sonhada desde quando foram
pleitear a terra para reforma agraacuteria
Um olhar mais aprofundado sobre a anaacutelise de dados revela que natildeo importa o
fato de hoje residirem no DF pois como em qualquer lugar de origem os moradores
do assentamento Renascer vivenciam os mesmos problemas Percebe-se
claramente as dificuldades da inexistecircncia de escola no campo A distacircncia continua
impedindo o acesso os meios de transportes continuam precaacuterios os filhos
vivenciam a dificuldade de transferecircncia para a cidade na expectativa de
continuidade dos estudos as estradas rurais continuam esburacadas
Satildeo muitos os pontos em comum entre a situaccedilatildeo atual relatada e os problemas
vividos haacute deacutecadas em seus estados de origem o que deixa transparecer a absoluta
falta de interesse por parte do poder puacuteblico em garantir o direito constitucional agrave
educaccedilatildeo do povo do campo o que infelizmente continuaraacute deixando o triste
legado para o futuro do paiacutes
40
Repetimos a pergunta da inicial Cadecirc as escolas do campo Ateacute quando o paiacutes
vai viver essa situaccedilatildeo A anaacutelise de dados responde Natildeo eacute mais possiacutevel
continuar como estaacute
Todos os entrevistados pretendem alcanccedilar conhecimentos atraveacutes da escola do
campo implantada no Assentamento Renascer com objetivos de administrar a
propriedade participar ativamente do coletivo garantir renda fixa atraveacutes dos
programas de desenvolvimento da agricultura familiar
Os entrevistados unanimamente tecircm a preocupaccedilatildeo da manutenccedilatildeo dos laccedilos
familiares e das raiacutezes camponesas
A distacircncia entre a moradia e a escola fato relatado pela quase totalidade dos
entrevistados constitui um grande motivo de evasatildeo escolar de defasagem nas
seacuteries frequentadas de precariedade na aprendizagem em relaccedilatildeo aos demais
alunos A discriminaccedilatildeo alegada por muitos que frequentaram ou frequentam
escolas fora da faixa etaacuteria o vernaacuteculo proacuteprio dos sujeitos do campo as condiccedilotildees
precaacuterias da estrada que denunciam a condiccedilatildeo de assentado o sentimento de
inadequaccedilatildeo constituem fatores que determinam a evasatildeo escolar
Foram treze (13) entrevistados significando aproximadamente dez por cento
(10) dos moradores do Assentamento Renascer Desse total apenas dois (2)
entrevistados natildeo declararam dificuldade de distacircncia entre a moradia e a escola em
seus lugares de origem A maioria absoluta (11) pessoas declararam que a distacircncia
dificultava e impedia o acesso agrave escola Alguns relatos apresentam situaccedilotildees
precaacuterias para o homem do campo o assentado
Para o aluno do campo a distacircncia da escola tem o significado de inexistecircncia de
escola Isto porque as dificuldades de acesso satildeo enormes No caso em estudo
apenas um entrevistado declarou a inexistecircncia de escola em sua regiatildeo de
moradia Este poreacutem vivenciou todas as dificuldades de acesso que outros
assentados apresentaram em razatildeo da distacircncia moradiaescola
A falta de professores na escola rural eacute relatada por 11 dos 13 entrevistados A
distacircncia da escola para os professores dificulta segundo a vivecircncia dos
entrevistados o acesso agrave escola e a assiduidade o que muito desmotivava a
ambos
41
Os entrevistados conforme anaacutelise de dados desejam muito objetivamente a
implantaccedilatildeo imediata de escolas segundo os criteacuterios caracteriacutesticos de escola do
campo
- Trazer a realidade para dentro da escola do campo curriacuteculos voltados para o
cotidiano do aluno do campo onde as teacutecnicas agriacutecolas pecuaacuterias e agroecoloacutegicas
possam fazer parte do processo educativo da comunidade e que a escola tenha
uma gestatildeo coletiva democraacutetica com a participaccedilatildeo da comunidade
- Ter o trabalho como princiacutepio educativo A experiecircncia do aluno deve
harmonizar-se com os princiacutepios pistrakianos significar o trabalho de forma a que
ele apresente benefiacutecios para o proacuteprio indiviacuteduo para a comunidade na qual estaacute
inserido e para a sociedade e natildeo exclusivamente para servir ao capitalismo
-Superar a fragmentaccedilatildeo do conhecimento disciplinar A interdisciplinaridade
deve fazer parte dos objetivos educacionais de modo a promover a formaccedilatildeo
integral dos educandos
- Valorizar os saberes do homem do campo Os entrevistados desejam uma
escola onde possam exercitar sua vivecircncia campesina e a relaccedilatildeo dialoacutegica entre
professor-aluno seguindo a pedagogia de Paulo Freire o educando quer aprender
com o educador mas quer tambeacutem ter a oportunidade de transmitir seus saberes
- Promover espaccedilos de gestatildeo coletiva A proacutepria comunidade deve participar da
gestatildeo a elaboraccedilatildeo do PPP deve gerir o espaccedilo fiacutesico da escola para atividades
de interesse da comunidade ocupar espaccedilos para finalidades culturais esportivas
sociais tornando a escola um espaccedilo democraacutetico
- Garantir a presenccedila da comunidade e dos movimentos sociais que geram
processos que auxiliam a emancipaccedilatildeo social A escola deve tambeacutem ser espaccedilo
que auxilie a sustentabilidade e garanta a alimentaccedilatildeo saudaacutevel e recursos
fitoteraacutepicos em associaccedilatildeo com a comunidade
- Inclusatildeo tecnoloacutegica em todos os aspectos digital inovaccedilatildeo tecnoloacutegica
agropecuaacuteria recursos ambientais alternativos agua potaacutevel energia solar energia
eoacutelica fossa seacuteptica teacutecnicas de compostagem saneamento baacutesico cuidados com
os recursos hiacutedricos
A anaacutelise dos dados quando feita especificamente sobre a escola a ser
implantada pode aparentemente demonstrar uma pequena conexatildeo com as teorias
da escola do campo
42
A concepccedilatildeo da escola do campo natildeo pode ser imposta ela parte do princiacutepio
que os camponeses devem conquista-la Para essa conquista eacute necessaacuteria a
paixatildeo o desejo por algo ainda natildeo experimentado o amadurecimento poliacutetico-
social-pessoal a participaccedilatildeo coletiva na luta e na conquista
A trajetoacuteria de luta por educaccedilatildeo da comunidade Renascer apresenta estes
elementos agraves vezes difusos outras vezes mais claramente A escola bem que
poderia para alguns ser apenas uma escola rural Afinal aprender a ler e a
escrever ldquodireitordquo como alguns dizem ou seja deixar a condiccedilatildeo de analfabeto ou
analfabeto funcional para tornar-se letrado significaria avanccedilos em face das atuais
circunstacircncias Alguns entendem assim expressando-se principalmente nas
conversas informais
Apesar disso quando as respostas informais ou quando as respostas das
entrevistas satildeo analisadas mais profundamente identificamos que embora
difusamente todos desejam o programa educacional da escola do campo
Explicando melhor a participaccedilatildeo de todos da comunidade em todas as atividades
soacutecio-poliacuteticas-culturais (relatadas no terceiro capitulo) indicam que a comunidade
assimilou a postura soacutecio-politica-cultural que caracterizam a escola do campo
A vivecircncia do Assentamento Renascer no cotidiano e nos eventos coletivos
amadureceu o desejo pelo alimento intelectual cultural artiacutestico ambiental social
que a concepccedilatildeo de escola do campo introduz O programa educacional da Escola
do Campo ultrapassou as paredes fiacutesicas da escola e alcanccedilou o cotidiano dos
assentados
Os avanccedilos da conscientizaccedilatildeo e seu reflexo na vida do Assentamento Renascer
satildeo sentidos nos nuacutemeros de matriculados na LEdoC sete (7) alunos
aproximadamente dez (10) assentados prestaratildeo o proacuteximo vestibular trecircs (3)
assentados estatildeo matriculados no IFB dois(2) assentados estatildeo formados em
Teacutecnico Agropecuaacuterio tambeacutem pelo IFB um deles cursa o Tecnoacutelogo de
Agroecologia tambeacutem do IFB
Vale acrescentar que no iniacutecio de 2014 quando o IFB buscou no Assentamento
pessoas interessadas em matricular-se em seus cursos sob a condiccedilatildeo de
estudarem no ensino meacutedio o interesse foi grande e a impossibilidade pelo fato de
natildeo estarem habilitados no ensino fundamental provocou tanta discussatildeo que
estimulou essa pesquisa
43
O legado desses alunos futuros alunos e profissionais para o futuro do
Assentamento apresentaraacute resultados significativos para toda a comunidade O
futuro colheraacute bons frutos plantados agora
A escola que temos natildeo estaacute funcionando falta a renovaccedilatildeo do contrato o que
atrasa a alfabetizaccedilatildeo e conclusatildeo do 5ordm ano Falta a implantaccedilatildeo de poliacuteticas
puacuteblicas para atendimento de questotildees baacutesicas como por exemplo carteiras
quadro de giz iluminaccedilatildeo espaccedilo fiacutesico (dependecircncias para a escola) e mobiliaacuterio
-41-
44
Consideraccedilotildees Finais
A Educaccedilatildeo do campo eacute um movimento em que os trabalhadores do campo e
suas organizaccedilotildees lutam por transformaccedilotildees sociais particularmente a criaccedilatildeo de
escolas dono campo de qualidade a partir de uma perspectiva ampla de reforma
agraacuteria
A construccedilatildeo da educaccedilatildeo do campo eacute resultado do amadurecimento dos
movimentos sociais e das comunidades rurais em sua trajetoacuteria de luta pelo direito
fundamental agrave universalizaccedilatildeo escolar para as populaccedilotildees camponesas segundo
orientaccedilatildeo poliacutetico-pedagoacutegica adequada agrave realidade dos lutadores de
acampamentos e assentamentos em luta pela reforma agraacuteria e justiccedila social
Alguns princiacutepios caracterizam a luta pela escola do campo Dentre eles
podemos citar a criaccedilatildeo da consciecircncia do direito agrave educaccedilatildeo de qualidade plantada
na proacutepria comunidade o que provoca o enraizamento a valorizaccedilatildeo da vida no
campo a promoccedilatildeo da autoestima e a transformaccedilatildeo do ser alienado pela ideologia
e desigualdade social e sujeito de sua proacutepria histoacuteria
Outro princiacutepio eacute a adequaccedilatildeo de curriacuteculos agrave realidade camponesa de modo
a que o processo ensino-aprendizagem favoreccedila o amadurecimento de talentos
naturais o surgimento de oportunidades a niacutevel pessoal e social contribuindo para a
emancipaccedilatildeo poliacutetico-social do indiviacuteduo com reflexos na sociedade
A mudanccedila de paradigmas e o envolvimento social provocam a formaccedilatildeo integral
dos sujeitos que lutam de forma coletiva e solidaacuteria pela terra A escola do campo
que surge dessa mudanccedila eacute tambeacutem transformadora porque eacute fruto da luta
consciente que gera a reflexatildeo e o amadurecimento poliacutetico deixando um legado
positivo de cidadatildeos orgulhosos de sua condiccedilatildeo de lutador pela terra de sua
identidade de sua cultura de sua comunidade e coletividade
A escola do campo propicia aos alunos a reflexatildeo sobre o contexto social e a
problemaacutetica da comunidade em que estatildeo inseridos o respeito agrave individualidade a
ampliaccedilatildeo das potencialidades do aluno para organizar elaborar e atuar
coletivamente Deixam o legado futuro de homens responsaacuteveis mentes
independentes e atuantes que poderatildeo prestar serviccedilos significativos agrave sociedade
45
A comunidade assentada de o Assentamento Renascer pela Reforma
Agraacuteria em Sobradinho DF foi convidada a opinar sobre a escola que deseja a
partir da conquista da terra
O modelo proposto a partir de seu posicionamento possibilita a conclusatildeo
de que a escola do campo plantada na comunidade eacute preferiacutevel ao modelo
adotado atualmente de inserccedilatildeo dos alunos da comunidade agraves escolas urbanas
conter recursos materiais e humanos que propiciem bons resultados
pedagoacutegicos deve servir para fixar o trabalhador ao campo deve cumprir com o
propoacutesito constitucional de universalizaccedilatildeo do ensino para todas as faixas
etaacuterias deve estar identificada com os sonhos de prosperidade material e
realizaccedilatildeo pessoal dos assentados
-46-
46
Referecircncias Bibliograacuteficas
CANUTO Antocircnio In Comissatildeo Pastoral da Terra DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO 2012 pag 131) CLAUDIA MORAES DE SOUZA em seu artigo lsquoDiscursos intolerantes O lugar da poliacutetica na educaccedilatildeo rural e a representaccedilatildeo do camponecircs analfabeto (DIVERSITAS FFLCH USPBR)acesso em 03-08-2014 EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO ndash Marcos Normativos Brasilia 2012 MEC FERRARO Alceu Ravanello em seu artigo Alfabetizaccedilatildeo rural no Brasil na perspectiva das relaccedilotildees campo-cidade e de gecircnero (Educ Real ndash WWWSCIELOBRPDFEDREALV37N3PDF acesso 03-10-2014 FERREIRA (2011_ ldquoUm olhar histoacuterico uma realidade concretardquo (WWWUNIFILBR)acesso 20-10-2014
FERRARI Marco ldquoAniacutesio Teixeira o inventor da escola puacuteblica no Brasilrdquo Revista Nova Escola Fundaccedilatildeo Victor Civita Revistaescolaabrilcombr acesso em 14092014 FERREIRA Fabiano de Jesus BRANDAtildeO Elias Canuto ndash Revista Eletrocircnica de Educaccedilatildeo Ano V N 09 juldez 2011p3 ldquoEducaccedilatildeo do campo um olhar histoacuterico uma realidade concreta rdquo (WWWUNIFILBR acesso em 08 de agosto de 2014) GONCcedilALVES Luiz Alberto Oliveira e Pinto Regina Pahim EDUCACcedilAtildeO SEacuteRIE JUSTICcedilA E DESENVOLVIMENTO IFP-FCC FUNDACcedilAtildeO CARLOS CHAGAS 2007 SAtildeO PAULO (pag206)
KOLLING Edgar Jorge Vargas Caldart MST e Educaccedilatildeo in DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia Expressatildeo Popular 2012 (pag 5020
MOLINA Mocircnica SAacute Laiacutes Mouratildeo Escola do Campo in DICIONARIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia Expressatildeo Popular 2012 pg (329)
OLIVEIRA Maria Rita Duarte em sua dissertaccedilatildeo ldquoDos programas oficiais para a educaccedilatildeo rural aos projetos de educaccedilatildeo do campo dos movimentos sociaisrdquo WWWrevistalaborufcbrartigovolume1maria-ritapdf acesso em 08-09-2014
OLIVEIRA Maria Rita Duarte PEDAGOGIA EM MARCHA Apud ARROYO Satildeo Paulo1995( pg 162)
OLIVEIRA Maria Rita Duarte Revistalabor ufcbracesso em 19-10-2014
________ citando CALAZ Maria Rita Duarte Oliveira
47
SANTOS Clarice Aparecida PROGRAMA NACIONAL DE EDUCACcedilAtildeO NA REFORMA AGRAacuteRIA in DICIONARIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia2012(pg630)
________ Clarice Aparecida PROGRAMA NACIONAL DE EDUCACcedilAtildeO NA REFORMA AGRAacuteRIA BRASIacuteLIA 2012 pg 631 in DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO SANTOS Claudio Felix Dos ldquoO aprender a aprender na formaccedilatildeo de professores do campordquo Campinas 2013 Editora Autores Associados ) SOUZA Maria Antocircnia Movimentos Sociais no Brasil Contemporacircneo participaccedilatildeo e possibilidades no contexto das praacuteticas democraacuteticas ndash (wwwcesucptlab2004pdfMariaAntonia Souzapdfaceso em 24-07-2014 -48-
48
Apecircndices
1 Roteiro das Entrevistas
a) Dados dos entrevistados
Qual o seu nome
Masculino ( ) Feminino ( )
Quantos anos vocecirc tecircm
A quanto tempo mora no
assentamento
Onde vocecirc morou antes
de morar no
assentamento
Quantos anos vocecirc tinha
quando foi a escola pela
primeira vez
Estou ateacute qual seacuterieano
Quantos anos vocecirc tinha
quando parou de estudar
Qual motivo motivou vocecirc
a parar de estudar
Se tiver escola no
assentamento vocecirc voltaraacute
a estudar Porque
B) Outras informaccedilotildees dados pelos entrevistadosas (GRAVAR)
a) Em qual escola vocecirc estudou no acampamento ou em outro lugar Qual
b) Como era a escola que estudou Quais as coisas boas e coisas ruins que
tinha nesta escola
c) Conte como eacutefoi a educaccedilatildeo do assentamento o que jaacute existiu de escola
como funcionou e quais eram as boas e as coisas ruins desta escola
d) Jaacute participou de alguma accedilatildeo de mobilizaccedilatildeo para ter escola no
assentamento Se sim explique para que e como foi essa mobilizaccedilatildeo
e) Na sua opiniatildeo no assentamento deve ter escola Por quecirc
f) Como deveraacute ser a escola da comunidadeassentamento Como eacute a escola
que queremos ter
49
b) Entrevistas semi-estruturadas
Entrevistado 01
Moro no assentamento Renascer haacute 11 anos Nasci Carnauacuteba no Rio Grande do
Norte fui criado na roccedila e desde pequeno trabalhava na lavoura para ajudar meu
pai Fui para escola com 9 anos de idade estudei ateacute a 5ordm seacuterie parei de estudar
com 17 anos natildeo continuei os estudos porque era muito longe de onde eu morva
que era na cidade mais proacutexima eu tinha que andar a peacute 8 km ficava muito
cansado Casei e vim morar em Brasiacutelia para trabalhar em uma chaacutecara como
caseiro Morava na chaacutecara Buritis em sobradinho- Df tambeacutem natildeo dei para
continuar os estudos porque ficava longe e tinha que ser a noite e natildeo tinha como ir
Se vier uma escola pra caacute eu ainda vou estudar para ter mais conhecimento para
plantar minha roccedila ir no banco pra ver se assino um empreacutestimo para melhorar
minha produccedilatildeo e saber fazer conta pra administrar minha parcela de terra
Qual o seu nome
Masculino ( X ) Feminino ( )
Quantos anos vocecirc
tecircm
57 anos
A quanto tempo
mora no assentamento
11 anos
Onde vocecirc morou
antes de morar no
assentamento
Carnauacuteba ndash RN
Chaacutecara Buritis nordm 10 Sobradinho DF
Quantos anos vocecirc
tinha quando foi a escola
pela primeira vez
8 anos
Estou ateacute qual
seacuterieano
5ordf seacuterie
Quantos anos vocecirc
tinha quando parou de
estudar
24 anos
Qual motivo
motivou vocecirc a parar de
estudar
Trabalhar para sustento da famiacutelia a
distacircncia entre a casa e a escola
Se tiver escola no
assentamento vocecirc voltaraacute
a estudar Porque
Sim ldquoSe tivesse escola do ensino
fundamental voltaria a estudar para tecirc
mais conhecimento para plantar minha roccedila
50
saber pesar saber contar vendecirc os produto e
comecirc
Entrevistado 02
Moro no assentamento renascer haacute 7 anos tenho 38 vim do interior do Cearaacute
Entrei na escola com 7 anos de idade estudei soacute a 5ordm seacuterie incompleta natildeo
continuei a estudar porque natildeo tinha escola a onde eu morava que era na roccedila e eu
tinha que ficar na casa dozotro (SIC) na cidade e eu natildeo gostava disso natildeo ai parei
com 16 anos de idade Mudamo (SIC) pra Brasiacutelia pra uma chaacutecara perto de Santa
Maria-DF e natildeo dei pra estudar porque casei e tinha que trabalhar muito para
susrentar a famiacutelia A gora moro no assentamento Renascer e sei que um dia vai ter
uma escola aqui e eu vou voltar a estudar porque meu sonho eacute ser veterinaacuterio e vou
der se deus quiser
Entrevistado 03
Tenho 58 anos moro no assentamento Renascer haacute 6 anos vim de Ceres-GO
comecei a estudar quando eu tinha 10 ano de idade estudei ateacute a 4ordf seria primaacuteria
(SIC) parei de estudar quando tinha 16 anos porque eu morava na roccedila e escola
ateacute que natildeo ficava muito longe natildeo era soacute 2 km dava pra ir a peacute a professora eacute que
faltava muito e a gente natildeo tinha como saber se ela tava ou natildeoAiacute quando eu tinha
18 anos casei e vim morar em Brasiacutelia e arranjei(SIC) emprego de caseira em uma
chaacutecara aiacute natildeo pra estudar a noite porque era muito longe pra laacute entatildeo eu natildeo
pensei mais nessas coisas Quando tiver escola no assentamento quero estudar
quiecirc pra mim (SIC) fazer curso de teacutecnico agriacutecolarsquorsquo
Entrevistado 04
Tenho 24 anos moro no assentamento Renascer tem 6 ano vim da Bahia morava
no Condomiacutenio RK entrei na escola com 7 anos de idade e estudei soacute ateacute a 6ordf seacuterie
parei com 18 anos de idade
Porque mudei pra caacute pro assentamento (SIC) e natildeo tem escola e natildeo tem como ir
pra Sobradinho a noite porque eacute muito longe tem que andar 5 km eacute pirigogo (SIC)
tem muita gente mal por aiacute tem ateacute estrupador natildeo posso me arriscar
ldquoSe tivesse escola aqui eu ia terminar meus estudos podia ser no galpatildeo mesmo
pra mim tava bom mas para os meus filhos eu queria uma escola boa com internet
e tudo Eu natildeo gosto que meus filhos estuda(SIC) na cidade soacute aceito porque eacute o
jeito gente de assentamento eacute muito zombado (SIC) porque as vezes chega suja
na escola e os outros acha que eles satildeo porcos que toma banhordquo
Entrevistado 05
51
Tenho 21 anos de idade moro no Renascer haacute trecircs anos vim de satildeo Gabriel-GO
comecei a estudar aos 7 anos parei com 18 anos porque minha matildee mudou
pro(SIC) matildee mudou pro (SIC) assentamento haacute 6 anos e eu natildeo aguento morar
longe dela Quando cheguei aqui natildeo teve como continuar os estudos porque
trabalho durante o dia como manicure em Sobradinho e o uacuteltimo ocircnibus que passa
perto do assentamento eacute as 5 horas da tarde entatildeo natildeo daacute para estudar a noite
Sim porque quero fazer um curso de cabelereiro quando tiver aacutegua e luz aqui eu
quero montar um salatildeo de beleza e para ser uma empresaacuteria precisa ter estudos pra
administrar o negoacutecio
Entrevistado 06
44 anos
6 anos
Formosa-GO
8 anos
5ordf seacuterie
24 anos
Porque a escola mais perto(SIC) era 10km de distacircncia e eu trabalhava na roccedila e
ficava muito cansado aiacute parei natildeo deu mais
Sim quando tiver escola aqui eu vou voltar a estudar Eu tinha um sonho de ser
agroacutenomo mas esse sonho eacute impussive(SIC) entatildeo queria concluir o ensino
fundamental para fazer um curso de teacutecnico agriacutecola no IFB mas tambeacutem eacute longe
se tivesse como estudar aqui no assentamento eu ia(SIC) ficar muito feliz
Entrevistado 07
57 anos
6 anos
Parnaiacuteba-PI- Santa Maria- DF
7 anos
4ordf seacuterie
21 anos
Parei porque era muito difiacutecil ir para escola que ficava muito longe eu tinha que sair
de casa as 4hs da madrugada para chegar na escola as 730 ia montado num
cavalo e muitas vezes natildeo tinha professora pra dar aula Parei porque natildeo aguentei
o rojatildeo tinha que minha matildee na lida a tarde e eu ficava muito cansado Vim pra
52
Brasiacutelia e casei fui trabalhar de chacareiro numa chaacutecara que tambeacutem era longe de
escola depois vim morar aqui no assentamento que natildeo tem escola
Se tivesse escola aqui eu ia voltar estudar soacute pra aprender a cuidar meior (SIC) da
terra e dos meus bichos e que fosse como uma escola agriacutecola
Entrevistado 08
Tenho 29 anos moro no assentamento Renascer haacute 2 anos sou educadora do
Pronera haacute 1 ano e 2 meses O Pronera eacute como um antidepressivo na vida de muita
gente o Pronera melhorou a minha vida e a vida dos meus alunos o desejo de
todos eacute que o Pronera continue crescendo em direccedilatildeo de uma educaccedilatildeo continuada
levando tambeacutem o ensino fundamental para os acampamentos e assentamentos da
Reforma Agraacuteria
-50-
Anexos
53
Acampamento agrave beira da estrada ndash 2004
Construccedilatildeo da Sede do Movimento na atual aacuterea
54
Reuniatildeo semanal
Teatro de fantoches ndash brinquedoteca
55
Accedilatildeo da Pastoral da Crianccedila na brinquedoteca
Oficina de brinquedos reciclaacuteveis
56
Brinquedo confeccionado com materiais reciclaacuteveis na Brinquedoteca
57
58
59
60
Apresentaccedilatildeo teatral
61
Capacitaccedilatildeo em Economia Solidaacuteria
Formaccedilatildeo de multiplicadores da Economia Solidaacuteria
62
Capacitaccedilatildeo de Educadores Ambientais
63
Luta pela Reforma Agraacuteria e Soberania Alimentar
38
39
Quarto Capiacutetulo
A escola que queremos expectativas e sonhos dos
acampados do Assentamento Renascer
Pode-se observar pelas falas dos entrevistados que a realidade de todos
converge para os problemas estruturais do Brasil faltam escolas no campo eacute baixa
a escolaridade em Brasiacutelia todos exercem atividades de subemprego
Todos tecircm grandes expectativas com relaccedilatildeo agrave vida futura no assentamento
objetivando melhores condiccedilotildees de vida na esperanccedila de serem beneficiaacuterios
enquanto cidadatildeos assentados das Poliacuteticas Puacuteblicas e financiamentos agriacutecolas
voltadas para a agricultura familiar como PRONAF PAA PNAE e PAPA-DF Vecircem
aiacute a possibilidade de emprego e renda situaccedilatildeo sonhada desde quando foram
pleitear a terra para reforma agraacuteria
Um olhar mais aprofundado sobre a anaacutelise de dados revela que natildeo importa o
fato de hoje residirem no DF pois como em qualquer lugar de origem os moradores
do assentamento Renascer vivenciam os mesmos problemas Percebe-se
claramente as dificuldades da inexistecircncia de escola no campo A distacircncia continua
impedindo o acesso os meios de transportes continuam precaacuterios os filhos
vivenciam a dificuldade de transferecircncia para a cidade na expectativa de
continuidade dos estudos as estradas rurais continuam esburacadas
Satildeo muitos os pontos em comum entre a situaccedilatildeo atual relatada e os problemas
vividos haacute deacutecadas em seus estados de origem o que deixa transparecer a absoluta
falta de interesse por parte do poder puacuteblico em garantir o direito constitucional agrave
educaccedilatildeo do povo do campo o que infelizmente continuaraacute deixando o triste
legado para o futuro do paiacutes
40
Repetimos a pergunta da inicial Cadecirc as escolas do campo Ateacute quando o paiacutes
vai viver essa situaccedilatildeo A anaacutelise de dados responde Natildeo eacute mais possiacutevel
continuar como estaacute
Todos os entrevistados pretendem alcanccedilar conhecimentos atraveacutes da escola do
campo implantada no Assentamento Renascer com objetivos de administrar a
propriedade participar ativamente do coletivo garantir renda fixa atraveacutes dos
programas de desenvolvimento da agricultura familiar
Os entrevistados unanimamente tecircm a preocupaccedilatildeo da manutenccedilatildeo dos laccedilos
familiares e das raiacutezes camponesas
A distacircncia entre a moradia e a escola fato relatado pela quase totalidade dos
entrevistados constitui um grande motivo de evasatildeo escolar de defasagem nas
seacuteries frequentadas de precariedade na aprendizagem em relaccedilatildeo aos demais
alunos A discriminaccedilatildeo alegada por muitos que frequentaram ou frequentam
escolas fora da faixa etaacuteria o vernaacuteculo proacuteprio dos sujeitos do campo as condiccedilotildees
precaacuterias da estrada que denunciam a condiccedilatildeo de assentado o sentimento de
inadequaccedilatildeo constituem fatores que determinam a evasatildeo escolar
Foram treze (13) entrevistados significando aproximadamente dez por cento
(10) dos moradores do Assentamento Renascer Desse total apenas dois (2)
entrevistados natildeo declararam dificuldade de distacircncia entre a moradia e a escola em
seus lugares de origem A maioria absoluta (11) pessoas declararam que a distacircncia
dificultava e impedia o acesso agrave escola Alguns relatos apresentam situaccedilotildees
precaacuterias para o homem do campo o assentado
Para o aluno do campo a distacircncia da escola tem o significado de inexistecircncia de
escola Isto porque as dificuldades de acesso satildeo enormes No caso em estudo
apenas um entrevistado declarou a inexistecircncia de escola em sua regiatildeo de
moradia Este poreacutem vivenciou todas as dificuldades de acesso que outros
assentados apresentaram em razatildeo da distacircncia moradiaescola
A falta de professores na escola rural eacute relatada por 11 dos 13 entrevistados A
distacircncia da escola para os professores dificulta segundo a vivecircncia dos
entrevistados o acesso agrave escola e a assiduidade o que muito desmotivava a
ambos
41
Os entrevistados conforme anaacutelise de dados desejam muito objetivamente a
implantaccedilatildeo imediata de escolas segundo os criteacuterios caracteriacutesticos de escola do
campo
- Trazer a realidade para dentro da escola do campo curriacuteculos voltados para o
cotidiano do aluno do campo onde as teacutecnicas agriacutecolas pecuaacuterias e agroecoloacutegicas
possam fazer parte do processo educativo da comunidade e que a escola tenha
uma gestatildeo coletiva democraacutetica com a participaccedilatildeo da comunidade
- Ter o trabalho como princiacutepio educativo A experiecircncia do aluno deve
harmonizar-se com os princiacutepios pistrakianos significar o trabalho de forma a que
ele apresente benefiacutecios para o proacuteprio indiviacuteduo para a comunidade na qual estaacute
inserido e para a sociedade e natildeo exclusivamente para servir ao capitalismo
-Superar a fragmentaccedilatildeo do conhecimento disciplinar A interdisciplinaridade
deve fazer parte dos objetivos educacionais de modo a promover a formaccedilatildeo
integral dos educandos
- Valorizar os saberes do homem do campo Os entrevistados desejam uma
escola onde possam exercitar sua vivecircncia campesina e a relaccedilatildeo dialoacutegica entre
professor-aluno seguindo a pedagogia de Paulo Freire o educando quer aprender
com o educador mas quer tambeacutem ter a oportunidade de transmitir seus saberes
- Promover espaccedilos de gestatildeo coletiva A proacutepria comunidade deve participar da
gestatildeo a elaboraccedilatildeo do PPP deve gerir o espaccedilo fiacutesico da escola para atividades
de interesse da comunidade ocupar espaccedilos para finalidades culturais esportivas
sociais tornando a escola um espaccedilo democraacutetico
- Garantir a presenccedila da comunidade e dos movimentos sociais que geram
processos que auxiliam a emancipaccedilatildeo social A escola deve tambeacutem ser espaccedilo
que auxilie a sustentabilidade e garanta a alimentaccedilatildeo saudaacutevel e recursos
fitoteraacutepicos em associaccedilatildeo com a comunidade
- Inclusatildeo tecnoloacutegica em todos os aspectos digital inovaccedilatildeo tecnoloacutegica
agropecuaacuteria recursos ambientais alternativos agua potaacutevel energia solar energia
eoacutelica fossa seacuteptica teacutecnicas de compostagem saneamento baacutesico cuidados com
os recursos hiacutedricos
A anaacutelise dos dados quando feita especificamente sobre a escola a ser
implantada pode aparentemente demonstrar uma pequena conexatildeo com as teorias
da escola do campo
42
A concepccedilatildeo da escola do campo natildeo pode ser imposta ela parte do princiacutepio
que os camponeses devem conquista-la Para essa conquista eacute necessaacuteria a
paixatildeo o desejo por algo ainda natildeo experimentado o amadurecimento poliacutetico-
social-pessoal a participaccedilatildeo coletiva na luta e na conquista
A trajetoacuteria de luta por educaccedilatildeo da comunidade Renascer apresenta estes
elementos agraves vezes difusos outras vezes mais claramente A escola bem que
poderia para alguns ser apenas uma escola rural Afinal aprender a ler e a
escrever ldquodireitordquo como alguns dizem ou seja deixar a condiccedilatildeo de analfabeto ou
analfabeto funcional para tornar-se letrado significaria avanccedilos em face das atuais
circunstacircncias Alguns entendem assim expressando-se principalmente nas
conversas informais
Apesar disso quando as respostas informais ou quando as respostas das
entrevistas satildeo analisadas mais profundamente identificamos que embora
difusamente todos desejam o programa educacional da escola do campo
Explicando melhor a participaccedilatildeo de todos da comunidade em todas as atividades
soacutecio-poliacuteticas-culturais (relatadas no terceiro capitulo) indicam que a comunidade
assimilou a postura soacutecio-politica-cultural que caracterizam a escola do campo
A vivecircncia do Assentamento Renascer no cotidiano e nos eventos coletivos
amadureceu o desejo pelo alimento intelectual cultural artiacutestico ambiental social
que a concepccedilatildeo de escola do campo introduz O programa educacional da Escola
do Campo ultrapassou as paredes fiacutesicas da escola e alcanccedilou o cotidiano dos
assentados
Os avanccedilos da conscientizaccedilatildeo e seu reflexo na vida do Assentamento Renascer
satildeo sentidos nos nuacutemeros de matriculados na LEdoC sete (7) alunos
aproximadamente dez (10) assentados prestaratildeo o proacuteximo vestibular trecircs (3)
assentados estatildeo matriculados no IFB dois(2) assentados estatildeo formados em
Teacutecnico Agropecuaacuterio tambeacutem pelo IFB um deles cursa o Tecnoacutelogo de
Agroecologia tambeacutem do IFB
Vale acrescentar que no iniacutecio de 2014 quando o IFB buscou no Assentamento
pessoas interessadas em matricular-se em seus cursos sob a condiccedilatildeo de
estudarem no ensino meacutedio o interesse foi grande e a impossibilidade pelo fato de
natildeo estarem habilitados no ensino fundamental provocou tanta discussatildeo que
estimulou essa pesquisa
43
O legado desses alunos futuros alunos e profissionais para o futuro do
Assentamento apresentaraacute resultados significativos para toda a comunidade O
futuro colheraacute bons frutos plantados agora
A escola que temos natildeo estaacute funcionando falta a renovaccedilatildeo do contrato o que
atrasa a alfabetizaccedilatildeo e conclusatildeo do 5ordm ano Falta a implantaccedilatildeo de poliacuteticas
puacuteblicas para atendimento de questotildees baacutesicas como por exemplo carteiras
quadro de giz iluminaccedilatildeo espaccedilo fiacutesico (dependecircncias para a escola) e mobiliaacuterio
-41-
44
Consideraccedilotildees Finais
A Educaccedilatildeo do campo eacute um movimento em que os trabalhadores do campo e
suas organizaccedilotildees lutam por transformaccedilotildees sociais particularmente a criaccedilatildeo de
escolas dono campo de qualidade a partir de uma perspectiva ampla de reforma
agraacuteria
A construccedilatildeo da educaccedilatildeo do campo eacute resultado do amadurecimento dos
movimentos sociais e das comunidades rurais em sua trajetoacuteria de luta pelo direito
fundamental agrave universalizaccedilatildeo escolar para as populaccedilotildees camponesas segundo
orientaccedilatildeo poliacutetico-pedagoacutegica adequada agrave realidade dos lutadores de
acampamentos e assentamentos em luta pela reforma agraacuteria e justiccedila social
Alguns princiacutepios caracterizam a luta pela escola do campo Dentre eles
podemos citar a criaccedilatildeo da consciecircncia do direito agrave educaccedilatildeo de qualidade plantada
na proacutepria comunidade o que provoca o enraizamento a valorizaccedilatildeo da vida no
campo a promoccedilatildeo da autoestima e a transformaccedilatildeo do ser alienado pela ideologia
e desigualdade social e sujeito de sua proacutepria histoacuteria
Outro princiacutepio eacute a adequaccedilatildeo de curriacuteculos agrave realidade camponesa de modo
a que o processo ensino-aprendizagem favoreccedila o amadurecimento de talentos
naturais o surgimento de oportunidades a niacutevel pessoal e social contribuindo para a
emancipaccedilatildeo poliacutetico-social do indiviacuteduo com reflexos na sociedade
A mudanccedila de paradigmas e o envolvimento social provocam a formaccedilatildeo integral
dos sujeitos que lutam de forma coletiva e solidaacuteria pela terra A escola do campo
que surge dessa mudanccedila eacute tambeacutem transformadora porque eacute fruto da luta
consciente que gera a reflexatildeo e o amadurecimento poliacutetico deixando um legado
positivo de cidadatildeos orgulhosos de sua condiccedilatildeo de lutador pela terra de sua
identidade de sua cultura de sua comunidade e coletividade
A escola do campo propicia aos alunos a reflexatildeo sobre o contexto social e a
problemaacutetica da comunidade em que estatildeo inseridos o respeito agrave individualidade a
ampliaccedilatildeo das potencialidades do aluno para organizar elaborar e atuar
coletivamente Deixam o legado futuro de homens responsaacuteveis mentes
independentes e atuantes que poderatildeo prestar serviccedilos significativos agrave sociedade
45
A comunidade assentada de o Assentamento Renascer pela Reforma
Agraacuteria em Sobradinho DF foi convidada a opinar sobre a escola que deseja a
partir da conquista da terra
O modelo proposto a partir de seu posicionamento possibilita a conclusatildeo
de que a escola do campo plantada na comunidade eacute preferiacutevel ao modelo
adotado atualmente de inserccedilatildeo dos alunos da comunidade agraves escolas urbanas
conter recursos materiais e humanos que propiciem bons resultados
pedagoacutegicos deve servir para fixar o trabalhador ao campo deve cumprir com o
propoacutesito constitucional de universalizaccedilatildeo do ensino para todas as faixas
etaacuterias deve estar identificada com os sonhos de prosperidade material e
realizaccedilatildeo pessoal dos assentados
-46-
46
Referecircncias Bibliograacuteficas
CANUTO Antocircnio In Comissatildeo Pastoral da Terra DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO 2012 pag 131) CLAUDIA MORAES DE SOUZA em seu artigo lsquoDiscursos intolerantes O lugar da poliacutetica na educaccedilatildeo rural e a representaccedilatildeo do camponecircs analfabeto (DIVERSITAS FFLCH USPBR)acesso em 03-08-2014 EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO ndash Marcos Normativos Brasilia 2012 MEC FERRARO Alceu Ravanello em seu artigo Alfabetizaccedilatildeo rural no Brasil na perspectiva das relaccedilotildees campo-cidade e de gecircnero (Educ Real ndash WWWSCIELOBRPDFEDREALV37N3PDF acesso 03-10-2014 FERREIRA (2011_ ldquoUm olhar histoacuterico uma realidade concretardquo (WWWUNIFILBR)acesso 20-10-2014
FERRARI Marco ldquoAniacutesio Teixeira o inventor da escola puacuteblica no Brasilrdquo Revista Nova Escola Fundaccedilatildeo Victor Civita Revistaescolaabrilcombr acesso em 14092014 FERREIRA Fabiano de Jesus BRANDAtildeO Elias Canuto ndash Revista Eletrocircnica de Educaccedilatildeo Ano V N 09 juldez 2011p3 ldquoEducaccedilatildeo do campo um olhar histoacuterico uma realidade concreta rdquo (WWWUNIFILBR acesso em 08 de agosto de 2014) GONCcedilALVES Luiz Alberto Oliveira e Pinto Regina Pahim EDUCACcedilAtildeO SEacuteRIE JUSTICcedilA E DESENVOLVIMENTO IFP-FCC FUNDACcedilAtildeO CARLOS CHAGAS 2007 SAtildeO PAULO (pag206)
KOLLING Edgar Jorge Vargas Caldart MST e Educaccedilatildeo in DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia Expressatildeo Popular 2012 (pag 5020
MOLINA Mocircnica SAacute Laiacutes Mouratildeo Escola do Campo in DICIONARIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia Expressatildeo Popular 2012 pg (329)
OLIVEIRA Maria Rita Duarte em sua dissertaccedilatildeo ldquoDos programas oficiais para a educaccedilatildeo rural aos projetos de educaccedilatildeo do campo dos movimentos sociaisrdquo WWWrevistalaborufcbrartigovolume1maria-ritapdf acesso em 08-09-2014
OLIVEIRA Maria Rita Duarte PEDAGOGIA EM MARCHA Apud ARROYO Satildeo Paulo1995( pg 162)
OLIVEIRA Maria Rita Duarte Revistalabor ufcbracesso em 19-10-2014
________ citando CALAZ Maria Rita Duarte Oliveira
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SANTOS Clarice Aparecida PROGRAMA NACIONAL DE EDUCACcedilAtildeO NA REFORMA AGRAacuteRIA in DICIONARIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia2012(pg630)
________ Clarice Aparecida PROGRAMA NACIONAL DE EDUCACcedilAtildeO NA REFORMA AGRAacuteRIA BRASIacuteLIA 2012 pg 631 in DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO SANTOS Claudio Felix Dos ldquoO aprender a aprender na formaccedilatildeo de professores do campordquo Campinas 2013 Editora Autores Associados ) SOUZA Maria Antocircnia Movimentos Sociais no Brasil Contemporacircneo participaccedilatildeo e possibilidades no contexto das praacuteticas democraacuteticas ndash (wwwcesucptlab2004pdfMariaAntonia Souzapdfaceso em 24-07-2014 -48-
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Apecircndices
1 Roteiro das Entrevistas
a) Dados dos entrevistados
Qual o seu nome
Masculino ( ) Feminino ( )
Quantos anos vocecirc tecircm
A quanto tempo mora no
assentamento
Onde vocecirc morou antes
de morar no
assentamento
Quantos anos vocecirc tinha
quando foi a escola pela
primeira vez
Estou ateacute qual seacuterieano
Quantos anos vocecirc tinha
quando parou de estudar
Qual motivo motivou vocecirc
a parar de estudar
Se tiver escola no
assentamento vocecirc voltaraacute
a estudar Porque
B) Outras informaccedilotildees dados pelos entrevistadosas (GRAVAR)
a) Em qual escola vocecirc estudou no acampamento ou em outro lugar Qual
b) Como era a escola que estudou Quais as coisas boas e coisas ruins que
tinha nesta escola
c) Conte como eacutefoi a educaccedilatildeo do assentamento o que jaacute existiu de escola
como funcionou e quais eram as boas e as coisas ruins desta escola
d) Jaacute participou de alguma accedilatildeo de mobilizaccedilatildeo para ter escola no
assentamento Se sim explique para que e como foi essa mobilizaccedilatildeo
e) Na sua opiniatildeo no assentamento deve ter escola Por quecirc
f) Como deveraacute ser a escola da comunidadeassentamento Como eacute a escola
que queremos ter
49
b) Entrevistas semi-estruturadas
Entrevistado 01
Moro no assentamento Renascer haacute 11 anos Nasci Carnauacuteba no Rio Grande do
Norte fui criado na roccedila e desde pequeno trabalhava na lavoura para ajudar meu
pai Fui para escola com 9 anos de idade estudei ateacute a 5ordm seacuterie parei de estudar
com 17 anos natildeo continuei os estudos porque era muito longe de onde eu morva
que era na cidade mais proacutexima eu tinha que andar a peacute 8 km ficava muito
cansado Casei e vim morar em Brasiacutelia para trabalhar em uma chaacutecara como
caseiro Morava na chaacutecara Buritis em sobradinho- Df tambeacutem natildeo dei para
continuar os estudos porque ficava longe e tinha que ser a noite e natildeo tinha como ir
Se vier uma escola pra caacute eu ainda vou estudar para ter mais conhecimento para
plantar minha roccedila ir no banco pra ver se assino um empreacutestimo para melhorar
minha produccedilatildeo e saber fazer conta pra administrar minha parcela de terra
Qual o seu nome
Masculino ( X ) Feminino ( )
Quantos anos vocecirc
tecircm
57 anos
A quanto tempo
mora no assentamento
11 anos
Onde vocecirc morou
antes de morar no
assentamento
Carnauacuteba ndash RN
Chaacutecara Buritis nordm 10 Sobradinho DF
Quantos anos vocecirc
tinha quando foi a escola
pela primeira vez
8 anos
Estou ateacute qual
seacuterieano
5ordf seacuterie
Quantos anos vocecirc
tinha quando parou de
estudar
24 anos
Qual motivo
motivou vocecirc a parar de
estudar
Trabalhar para sustento da famiacutelia a
distacircncia entre a casa e a escola
Se tiver escola no
assentamento vocecirc voltaraacute
a estudar Porque
Sim ldquoSe tivesse escola do ensino
fundamental voltaria a estudar para tecirc
mais conhecimento para plantar minha roccedila
50
saber pesar saber contar vendecirc os produto e
comecirc
Entrevistado 02
Moro no assentamento renascer haacute 7 anos tenho 38 vim do interior do Cearaacute
Entrei na escola com 7 anos de idade estudei soacute a 5ordm seacuterie incompleta natildeo
continuei a estudar porque natildeo tinha escola a onde eu morava que era na roccedila e eu
tinha que ficar na casa dozotro (SIC) na cidade e eu natildeo gostava disso natildeo ai parei
com 16 anos de idade Mudamo (SIC) pra Brasiacutelia pra uma chaacutecara perto de Santa
Maria-DF e natildeo dei pra estudar porque casei e tinha que trabalhar muito para
susrentar a famiacutelia A gora moro no assentamento Renascer e sei que um dia vai ter
uma escola aqui e eu vou voltar a estudar porque meu sonho eacute ser veterinaacuterio e vou
der se deus quiser
Entrevistado 03
Tenho 58 anos moro no assentamento Renascer haacute 6 anos vim de Ceres-GO
comecei a estudar quando eu tinha 10 ano de idade estudei ateacute a 4ordf seria primaacuteria
(SIC) parei de estudar quando tinha 16 anos porque eu morava na roccedila e escola
ateacute que natildeo ficava muito longe natildeo era soacute 2 km dava pra ir a peacute a professora eacute que
faltava muito e a gente natildeo tinha como saber se ela tava ou natildeoAiacute quando eu tinha
18 anos casei e vim morar em Brasiacutelia e arranjei(SIC) emprego de caseira em uma
chaacutecara aiacute natildeo pra estudar a noite porque era muito longe pra laacute entatildeo eu natildeo
pensei mais nessas coisas Quando tiver escola no assentamento quero estudar
quiecirc pra mim (SIC) fazer curso de teacutecnico agriacutecolarsquorsquo
Entrevistado 04
Tenho 24 anos moro no assentamento Renascer tem 6 ano vim da Bahia morava
no Condomiacutenio RK entrei na escola com 7 anos de idade e estudei soacute ateacute a 6ordf seacuterie
parei com 18 anos de idade
Porque mudei pra caacute pro assentamento (SIC) e natildeo tem escola e natildeo tem como ir
pra Sobradinho a noite porque eacute muito longe tem que andar 5 km eacute pirigogo (SIC)
tem muita gente mal por aiacute tem ateacute estrupador natildeo posso me arriscar
ldquoSe tivesse escola aqui eu ia terminar meus estudos podia ser no galpatildeo mesmo
pra mim tava bom mas para os meus filhos eu queria uma escola boa com internet
e tudo Eu natildeo gosto que meus filhos estuda(SIC) na cidade soacute aceito porque eacute o
jeito gente de assentamento eacute muito zombado (SIC) porque as vezes chega suja
na escola e os outros acha que eles satildeo porcos que toma banhordquo
Entrevistado 05
51
Tenho 21 anos de idade moro no Renascer haacute trecircs anos vim de satildeo Gabriel-GO
comecei a estudar aos 7 anos parei com 18 anos porque minha matildee mudou
pro(SIC) matildee mudou pro (SIC) assentamento haacute 6 anos e eu natildeo aguento morar
longe dela Quando cheguei aqui natildeo teve como continuar os estudos porque
trabalho durante o dia como manicure em Sobradinho e o uacuteltimo ocircnibus que passa
perto do assentamento eacute as 5 horas da tarde entatildeo natildeo daacute para estudar a noite
Sim porque quero fazer um curso de cabelereiro quando tiver aacutegua e luz aqui eu
quero montar um salatildeo de beleza e para ser uma empresaacuteria precisa ter estudos pra
administrar o negoacutecio
Entrevistado 06
44 anos
6 anos
Formosa-GO
8 anos
5ordf seacuterie
24 anos
Porque a escola mais perto(SIC) era 10km de distacircncia e eu trabalhava na roccedila e
ficava muito cansado aiacute parei natildeo deu mais
Sim quando tiver escola aqui eu vou voltar a estudar Eu tinha um sonho de ser
agroacutenomo mas esse sonho eacute impussive(SIC) entatildeo queria concluir o ensino
fundamental para fazer um curso de teacutecnico agriacutecola no IFB mas tambeacutem eacute longe
se tivesse como estudar aqui no assentamento eu ia(SIC) ficar muito feliz
Entrevistado 07
57 anos
6 anos
Parnaiacuteba-PI- Santa Maria- DF
7 anos
4ordf seacuterie
21 anos
Parei porque era muito difiacutecil ir para escola que ficava muito longe eu tinha que sair
de casa as 4hs da madrugada para chegar na escola as 730 ia montado num
cavalo e muitas vezes natildeo tinha professora pra dar aula Parei porque natildeo aguentei
o rojatildeo tinha que minha matildee na lida a tarde e eu ficava muito cansado Vim pra
52
Brasiacutelia e casei fui trabalhar de chacareiro numa chaacutecara que tambeacutem era longe de
escola depois vim morar aqui no assentamento que natildeo tem escola
Se tivesse escola aqui eu ia voltar estudar soacute pra aprender a cuidar meior (SIC) da
terra e dos meus bichos e que fosse como uma escola agriacutecola
Entrevistado 08
Tenho 29 anos moro no assentamento Renascer haacute 2 anos sou educadora do
Pronera haacute 1 ano e 2 meses O Pronera eacute como um antidepressivo na vida de muita
gente o Pronera melhorou a minha vida e a vida dos meus alunos o desejo de
todos eacute que o Pronera continue crescendo em direccedilatildeo de uma educaccedilatildeo continuada
levando tambeacutem o ensino fundamental para os acampamentos e assentamentos da
Reforma Agraacuteria
-50-
Anexos
53
Acampamento agrave beira da estrada ndash 2004
Construccedilatildeo da Sede do Movimento na atual aacuterea
54
Reuniatildeo semanal
Teatro de fantoches ndash brinquedoteca
55
Accedilatildeo da Pastoral da Crianccedila na brinquedoteca
Oficina de brinquedos reciclaacuteveis
56
Brinquedo confeccionado com materiais reciclaacuteveis na Brinquedoteca
57
58
59
60
Apresentaccedilatildeo teatral
61
Capacitaccedilatildeo em Economia Solidaacuteria
Formaccedilatildeo de multiplicadores da Economia Solidaacuteria
62
Capacitaccedilatildeo de Educadores Ambientais
63
Luta pela Reforma Agraacuteria e Soberania Alimentar
39
Quarto Capiacutetulo
A escola que queremos expectativas e sonhos dos
acampados do Assentamento Renascer
Pode-se observar pelas falas dos entrevistados que a realidade de todos
converge para os problemas estruturais do Brasil faltam escolas no campo eacute baixa
a escolaridade em Brasiacutelia todos exercem atividades de subemprego
Todos tecircm grandes expectativas com relaccedilatildeo agrave vida futura no assentamento
objetivando melhores condiccedilotildees de vida na esperanccedila de serem beneficiaacuterios
enquanto cidadatildeos assentados das Poliacuteticas Puacuteblicas e financiamentos agriacutecolas
voltadas para a agricultura familiar como PRONAF PAA PNAE e PAPA-DF Vecircem
aiacute a possibilidade de emprego e renda situaccedilatildeo sonhada desde quando foram
pleitear a terra para reforma agraacuteria
Um olhar mais aprofundado sobre a anaacutelise de dados revela que natildeo importa o
fato de hoje residirem no DF pois como em qualquer lugar de origem os moradores
do assentamento Renascer vivenciam os mesmos problemas Percebe-se
claramente as dificuldades da inexistecircncia de escola no campo A distacircncia continua
impedindo o acesso os meios de transportes continuam precaacuterios os filhos
vivenciam a dificuldade de transferecircncia para a cidade na expectativa de
continuidade dos estudos as estradas rurais continuam esburacadas
Satildeo muitos os pontos em comum entre a situaccedilatildeo atual relatada e os problemas
vividos haacute deacutecadas em seus estados de origem o que deixa transparecer a absoluta
falta de interesse por parte do poder puacuteblico em garantir o direito constitucional agrave
educaccedilatildeo do povo do campo o que infelizmente continuaraacute deixando o triste
legado para o futuro do paiacutes
40
Repetimos a pergunta da inicial Cadecirc as escolas do campo Ateacute quando o paiacutes
vai viver essa situaccedilatildeo A anaacutelise de dados responde Natildeo eacute mais possiacutevel
continuar como estaacute
Todos os entrevistados pretendem alcanccedilar conhecimentos atraveacutes da escola do
campo implantada no Assentamento Renascer com objetivos de administrar a
propriedade participar ativamente do coletivo garantir renda fixa atraveacutes dos
programas de desenvolvimento da agricultura familiar
Os entrevistados unanimamente tecircm a preocupaccedilatildeo da manutenccedilatildeo dos laccedilos
familiares e das raiacutezes camponesas
A distacircncia entre a moradia e a escola fato relatado pela quase totalidade dos
entrevistados constitui um grande motivo de evasatildeo escolar de defasagem nas
seacuteries frequentadas de precariedade na aprendizagem em relaccedilatildeo aos demais
alunos A discriminaccedilatildeo alegada por muitos que frequentaram ou frequentam
escolas fora da faixa etaacuteria o vernaacuteculo proacuteprio dos sujeitos do campo as condiccedilotildees
precaacuterias da estrada que denunciam a condiccedilatildeo de assentado o sentimento de
inadequaccedilatildeo constituem fatores que determinam a evasatildeo escolar
Foram treze (13) entrevistados significando aproximadamente dez por cento
(10) dos moradores do Assentamento Renascer Desse total apenas dois (2)
entrevistados natildeo declararam dificuldade de distacircncia entre a moradia e a escola em
seus lugares de origem A maioria absoluta (11) pessoas declararam que a distacircncia
dificultava e impedia o acesso agrave escola Alguns relatos apresentam situaccedilotildees
precaacuterias para o homem do campo o assentado
Para o aluno do campo a distacircncia da escola tem o significado de inexistecircncia de
escola Isto porque as dificuldades de acesso satildeo enormes No caso em estudo
apenas um entrevistado declarou a inexistecircncia de escola em sua regiatildeo de
moradia Este poreacutem vivenciou todas as dificuldades de acesso que outros
assentados apresentaram em razatildeo da distacircncia moradiaescola
A falta de professores na escola rural eacute relatada por 11 dos 13 entrevistados A
distacircncia da escola para os professores dificulta segundo a vivecircncia dos
entrevistados o acesso agrave escola e a assiduidade o que muito desmotivava a
ambos
41
Os entrevistados conforme anaacutelise de dados desejam muito objetivamente a
implantaccedilatildeo imediata de escolas segundo os criteacuterios caracteriacutesticos de escola do
campo
- Trazer a realidade para dentro da escola do campo curriacuteculos voltados para o
cotidiano do aluno do campo onde as teacutecnicas agriacutecolas pecuaacuterias e agroecoloacutegicas
possam fazer parte do processo educativo da comunidade e que a escola tenha
uma gestatildeo coletiva democraacutetica com a participaccedilatildeo da comunidade
- Ter o trabalho como princiacutepio educativo A experiecircncia do aluno deve
harmonizar-se com os princiacutepios pistrakianos significar o trabalho de forma a que
ele apresente benefiacutecios para o proacuteprio indiviacuteduo para a comunidade na qual estaacute
inserido e para a sociedade e natildeo exclusivamente para servir ao capitalismo
-Superar a fragmentaccedilatildeo do conhecimento disciplinar A interdisciplinaridade
deve fazer parte dos objetivos educacionais de modo a promover a formaccedilatildeo
integral dos educandos
- Valorizar os saberes do homem do campo Os entrevistados desejam uma
escola onde possam exercitar sua vivecircncia campesina e a relaccedilatildeo dialoacutegica entre
professor-aluno seguindo a pedagogia de Paulo Freire o educando quer aprender
com o educador mas quer tambeacutem ter a oportunidade de transmitir seus saberes
- Promover espaccedilos de gestatildeo coletiva A proacutepria comunidade deve participar da
gestatildeo a elaboraccedilatildeo do PPP deve gerir o espaccedilo fiacutesico da escola para atividades
de interesse da comunidade ocupar espaccedilos para finalidades culturais esportivas
sociais tornando a escola um espaccedilo democraacutetico
- Garantir a presenccedila da comunidade e dos movimentos sociais que geram
processos que auxiliam a emancipaccedilatildeo social A escola deve tambeacutem ser espaccedilo
que auxilie a sustentabilidade e garanta a alimentaccedilatildeo saudaacutevel e recursos
fitoteraacutepicos em associaccedilatildeo com a comunidade
- Inclusatildeo tecnoloacutegica em todos os aspectos digital inovaccedilatildeo tecnoloacutegica
agropecuaacuteria recursos ambientais alternativos agua potaacutevel energia solar energia
eoacutelica fossa seacuteptica teacutecnicas de compostagem saneamento baacutesico cuidados com
os recursos hiacutedricos
A anaacutelise dos dados quando feita especificamente sobre a escola a ser
implantada pode aparentemente demonstrar uma pequena conexatildeo com as teorias
da escola do campo
42
A concepccedilatildeo da escola do campo natildeo pode ser imposta ela parte do princiacutepio
que os camponeses devem conquista-la Para essa conquista eacute necessaacuteria a
paixatildeo o desejo por algo ainda natildeo experimentado o amadurecimento poliacutetico-
social-pessoal a participaccedilatildeo coletiva na luta e na conquista
A trajetoacuteria de luta por educaccedilatildeo da comunidade Renascer apresenta estes
elementos agraves vezes difusos outras vezes mais claramente A escola bem que
poderia para alguns ser apenas uma escola rural Afinal aprender a ler e a
escrever ldquodireitordquo como alguns dizem ou seja deixar a condiccedilatildeo de analfabeto ou
analfabeto funcional para tornar-se letrado significaria avanccedilos em face das atuais
circunstacircncias Alguns entendem assim expressando-se principalmente nas
conversas informais
Apesar disso quando as respostas informais ou quando as respostas das
entrevistas satildeo analisadas mais profundamente identificamos que embora
difusamente todos desejam o programa educacional da escola do campo
Explicando melhor a participaccedilatildeo de todos da comunidade em todas as atividades
soacutecio-poliacuteticas-culturais (relatadas no terceiro capitulo) indicam que a comunidade
assimilou a postura soacutecio-politica-cultural que caracterizam a escola do campo
A vivecircncia do Assentamento Renascer no cotidiano e nos eventos coletivos
amadureceu o desejo pelo alimento intelectual cultural artiacutestico ambiental social
que a concepccedilatildeo de escola do campo introduz O programa educacional da Escola
do Campo ultrapassou as paredes fiacutesicas da escola e alcanccedilou o cotidiano dos
assentados
Os avanccedilos da conscientizaccedilatildeo e seu reflexo na vida do Assentamento Renascer
satildeo sentidos nos nuacutemeros de matriculados na LEdoC sete (7) alunos
aproximadamente dez (10) assentados prestaratildeo o proacuteximo vestibular trecircs (3)
assentados estatildeo matriculados no IFB dois(2) assentados estatildeo formados em
Teacutecnico Agropecuaacuterio tambeacutem pelo IFB um deles cursa o Tecnoacutelogo de
Agroecologia tambeacutem do IFB
Vale acrescentar que no iniacutecio de 2014 quando o IFB buscou no Assentamento
pessoas interessadas em matricular-se em seus cursos sob a condiccedilatildeo de
estudarem no ensino meacutedio o interesse foi grande e a impossibilidade pelo fato de
natildeo estarem habilitados no ensino fundamental provocou tanta discussatildeo que
estimulou essa pesquisa
43
O legado desses alunos futuros alunos e profissionais para o futuro do
Assentamento apresentaraacute resultados significativos para toda a comunidade O
futuro colheraacute bons frutos plantados agora
A escola que temos natildeo estaacute funcionando falta a renovaccedilatildeo do contrato o que
atrasa a alfabetizaccedilatildeo e conclusatildeo do 5ordm ano Falta a implantaccedilatildeo de poliacuteticas
puacuteblicas para atendimento de questotildees baacutesicas como por exemplo carteiras
quadro de giz iluminaccedilatildeo espaccedilo fiacutesico (dependecircncias para a escola) e mobiliaacuterio
-41-
44
Consideraccedilotildees Finais
A Educaccedilatildeo do campo eacute um movimento em que os trabalhadores do campo e
suas organizaccedilotildees lutam por transformaccedilotildees sociais particularmente a criaccedilatildeo de
escolas dono campo de qualidade a partir de uma perspectiva ampla de reforma
agraacuteria
A construccedilatildeo da educaccedilatildeo do campo eacute resultado do amadurecimento dos
movimentos sociais e das comunidades rurais em sua trajetoacuteria de luta pelo direito
fundamental agrave universalizaccedilatildeo escolar para as populaccedilotildees camponesas segundo
orientaccedilatildeo poliacutetico-pedagoacutegica adequada agrave realidade dos lutadores de
acampamentos e assentamentos em luta pela reforma agraacuteria e justiccedila social
Alguns princiacutepios caracterizam a luta pela escola do campo Dentre eles
podemos citar a criaccedilatildeo da consciecircncia do direito agrave educaccedilatildeo de qualidade plantada
na proacutepria comunidade o que provoca o enraizamento a valorizaccedilatildeo da vida no
campo a promoccedilatildeo da autoestima e a transformaccedilatildeo do ser alienado pela ideologia
e desigualdade social e sujeito de sua proacutepria histoacuteria
Outro princiacutepio eacute a adequaccedilatildeo de curriacuteculos agrave realidade camponesa de modo
a que o processo ensino-aprendizagem favoreccedila o amadurecimento de talentos
naturais o surgimento de oportunidades a niacutevel pessoal e social contribuindo para a
emancipaccedilatildeo poliacutetico-social do indiviacuteduo com reflexos na sociedade
A mudanccedila de paradigmas e o envolvimento social provocam a formaccedilatildeo integral
dos sujeitos que lutam de forma coletiva e solidaacuteria pela terra A escola do campo
que surge dessa mudanccedila eacute tambeacutem transformadora porque eacute fruto da luta
consciente que gera a reflexatildeo e o amadurecimento poliacutetico deixando um legado
positivo de cidadatildeos orgulhosos de sua condiccedilatildeo de lutador pela terra de sua
identidade de sua cultura de sua comunidade e coletividade
A escola do campo propicia aos alunos a reflexatildeo sobre o contexto social e a
problemaacutetica da comunidade em que estatildeo inseridos o respeito agrave individualidade a
ampliaccedilatildeo das potencialidades do aluno para organizar elaborar e atuar
coletivamente Deixam o legado futuro de homens responsaacuteveis mentes
independentes e atuantes que poderatildeo prestar serviccedilos significativos agrave sociedade
45
A comunidade assentada de o Assentamento Renascer pela Reforma
Agraacuteria em Sobradinho DF foi convidada a opinar sobre a escola que deseja a
partir da conquista da terra
O modelo proposto a partir de seu posicionamento possibilita a conclusatildeo
de que a escola do campo plantada na comunidade eacute preferiacutevel ao modelo
adotado atualmente de inserccedilatildeo dos alunos da comunidade agraves escolas urbanas
conter recursos materiais e humanos que propiciem bons resultados
pedagoacutegicos deve servir para fixar o trabalhador ao campo deve cumprir com o
propoacutesito constitucional de universalizaccedilatildeo do ensino para todas as faixas
etaacuterias deve estar identificada com os sonhos de prosperidade material e
realizaccedilatildeo pessoal dos assentados
-46-
46
Referecircncias Bibliograacuteficas
CANUTO Antocircnio In Comissatildeo Pastoral da Terra DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO 2012 pag 131) CLAUDIA MORAES DE SOUZA em seu artigo lsquoDiscursos intolerantes O lugar da poliacutetica na educaccedilatildeo rural e a representaccedilatildeo do camponecircs analfabeto (DIVERSITAS FFLCH USPBR)acesso em 03-08-2014 EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO ndash Marcos Normativos Brasilia 2012 MEC FERRARO Alceu Ravanello em seu artigo Alfabetizaccedilatildeo rural no Brasil na perspectiva das relaccedilotildees campo-cidade e de gecircnero (Educ Real ndash WWWSCIELOBRPDFEDREALV37N3PDF acesso 03-10-2014 FERREIRA (2011_ ldquoUm olhar histoacuterico uma realidade concretardquo (WWWUNIFILBR)acesso 20-10-2014
FERRARI Marco ldquoAniacutesio Teixeira o inventor da escola puacuteblica no Brasilrdquo Revista Nova Escola Fundaccedilatildeo Victor Civita Revistaescolaabrilcombr acesso em 14092014 FERREIRA Fabiano de Jesus BRANDAtildeO Elias Canuto ndash Revista Eletrocircnica de Educaccedilatildeo Ano V N 09 juldez 2011p3 ldquoEducaccedilatildeo do campo um olhar histoacuterico uma realidade concreta rdquo (WWWUNIFILBR acesso em 08 de agosto de 2014) GONCcedilALVES Luiz Alberto Oliveira e Pinto Regina Pahim EDUCACcedilAtildeO SEacuteRIE JUSTICcedilA E DESENVOLVIMENTO IFP-FCC FUNDACcedilAtildeO CARLOS CHAGAS 2007 SAtildeO PAULO (pag206)
KOLLING Edgar Jorge Vargas Caldart MST e Educaccedilatildeo in DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia Expressatildeo Popular 2012 (pag 5020
MOLINA Mocircnica SAacute Laiacutes Mouratildeo Escola do Campo in DICIONARIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia Expressatildeo Popular 2012 pg (329)
OLIVEIRA Maria Rita Duarte em sua dissertaccedilatildeo ldquoDos programas oficiais para a educaccedilatildeo rural aos projetos de educaccedilatildeo do campo dos movimentos sociaisrdquo WWWrevistalaborufcbrartigovolume1maria-ritapdf acesso em 08-09-2014
OLIVEIRA Maria Rita Duarte PEDAGOGIA EM MARCHA Apud ARROYO Satildeo Paulo1995( pg 162)
OLIVEIRA Maria Rita Duarte Revistalabor ufcbracesso em 19-10-2014
________ citando CALAZ Maria Rita Duarte Oliveira
47
SANTOS Clarice Aparecida PROGRAMA NACIONAL DE EDUCACcedilAtildeO NA REFORMA AGRAacuteRIA in DICIONARIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia2012(pg630)
________ Clarice Aparecida PROGRAMA NACIONAL DE EDUCACcedilAtildeO NA REFORMA AGRAacuteRIA BRASIacuteLIA 2012 pg 631 in DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO SANTOS Claudio Felix Dos ldquoO aprender a aprender na formaccedilatildeo de professores do campordquo Campinas 2013 Editora Autores Associados ) SOUZA Maria Antocircnia Movimentos Sociais no Brasil Contemporacircneo participaccedilatildeo e possibilidades no contexto das praacuteticas democraacuteticas ndash (wwwcesucptlab2004pdfMariaAntonia Souzapdfaceso em 24-07-2014 -48-
48
Apecircndices
1 Roteiro das Entrevistas
a) Dados dos entrevistados
Qual o seu nome
Masculino ( ) Feminino ( )
Quantos anos vocecirc tecircm
A quanto tempo mora no
assentamento
Onde vocecirc morou antes
de morar no
assentamento
Quantos anos vocecirc tinha
quando foi a escola pela
primeira vez
Estou ateacute qual seacuterieano
Quantos anos vocecirc tinha
quando parou de estudar
Qual motivo motivou vocecirc
a parar de estudar
Se tiver escola no
assentamento vocecirc voltaraacute
a estudar Porque
B) Outras informaccedilotildees dados pelos entrevistadosas (GRAVAR)
a) Em qual escola vocecirc estudou no acampamento ou em outro lugar Qual
b) Como era a escola que estudou Quais as coisas boas e coisas ruins que
tinha nesta escola
c) Conte como eacutefoi a educaccedilatildeo do assentamento o que jaacute existiu de escola
como funcionou e quais eram as boas e as coisas ruins desta escola
d) Jaacute participou de alguma accedilatildeo de mobilizaccedilatildeo para ter escola no
assentamento Se sim explique para que e como foi essa mobilizaccedilatildeo
e) Na sua opiniatildeo no assentamento deve ter escola Por quecirc
f) Como deveraacute ser a escola da comunidadeassentamento Como eacute a escola
que queremos ter
49
b) Entrevistas semi-estruturadas
Entrevistado 01
Moro no assentamento Renascer haacute 11 anos Nasci Carnauacuteba no Rio Grande do
Norte fui criado na roccedila e desde pequeno trabalhava na lavoura para ajudar meu
pai Fui para escola com 9 anos de idade estudei ateacute a 5ordm seacuterie parei de estudar
com 17 anos natildeo continuei os estudos porque era muito longe de onde eu morva
que era na cidade mais proacutexima eu tinha que andar a peacute 8 km ficava muito
cansado Casei e vim morar em Brasiacutelia para trabalhar em uma chaacutecara como
caseiro Morava na chaacutecara Buritis em sobradinho- Df tambeacutem natildeo dei para
continuar os estudos porque ficava longe e tinha que ser a noite e natildeo tinha como ir
Se vier uma escola pra caacute eu ainda vou estudar para ter mais conhecimento para
plantar minha roccedila ir no banco pra ver se assino um empreacutestimo para melhorar
minha produccedilatildeo e saber fazer conta pra administrar minha parcela de terra
Qual o seu nome
Masculino ( X ) Feminino ( )
Quantos anos vocecirc
tecircm
57 anos
A quanto tempo
mora no assentamento
11 anos
Onde vocecirc morou
antes de morar no
assentamento
Carnauacuteba ndash RN
Chaacutecara Buritis nordm 10 Sobradinho DF
Quantos anos vocecirc
tinha quando foi a escola
pela primeira vez
8 anos
Estou ateacute qual
seacuterieano
5ordf seacuterie
Quantos anos vocecirc
tinha quando parou de
estudar
24 anos
Qual motivo
motivou vocecirc a parar de
estudar
Trabalhar para sustento da famiacutelia a
distacircncia entre a casa e a escola
Se tiver escola no
assentamento vocecirc voltaraacute
a estudar Porque
Sim ldquoSe tivesse escola do ensino
fundamental voltaria a estudar para tecirc
mais conhecimento para plantar minha roccedila
50
saber pesar saber contar vendecirc os produto e
comecirc
Entrevistado 02
Moro no assentamento renascer haacute 7 anos tenho 38 vim do interior do Cearaacute
Entrei na escola com 7 anos de idade estudei soacute a 5ordm seacuterie incompleta natildeo
continuei a estudar porque natildeo tinha escola a onde eu morava que era na roccedila e eu
tinha que ficar na casa dozotro (SIC) na cidade e eu natildeo gostava disso natildeo ai parei
com 16 anos de idade Mudamo (SIC) pra Brasiacutelia pra uma chaacutecara perto de Santa
Maria-DF e natildeo dei pra estudar porque casei e tinha que trabalhar muito para
susrentar a famiacutelia A gora moro no assentamento Renascer e sei que um dia vai ter
uma escola aqui e eu vou voltar a estudar porque meu sonho eacute ser veterinaacuterio e vou
der se deus quiser
Entrevistado 03
Tenho 58 anos moro no assentamento Renascer haacute 6 anos vim de Ceres-GO
comecei a estudar quando eu tinha 10 ano de idade estudei ateacute a 4ordf seria primaacuteria
(SIC) parei de estudar quando tinha 16 anos porque eu morava na roccedila e escola
ateacute que natildeo ficava muito longe natildeo era soacute 2 km dava pra ir a peacute a professora eacute que
faltava muito e a gente natildeo tinha como saber se ela tava ou natildeoAiacute quando eu tinha
18 anos casei e vim morar em Brasiacutelia e arranjei(SIC) emprego de caseira em uma
chaacutecara aiacute natildeo pra estudar a noite porque era muito longe pra laacute entatildeo eu natildeo
pensei mais nessas coisas Quando tiver escola no assentamento quero estudar
quiecirc pra mim (SIC) fazer curso de teacutecnico agriacutecolarsquorsquo
Entrevistado 04
Tenho 24 anos moro no assentamento Renascer tem 6 ano vim da Bahia morava
no Condomiacutenio RK entrei na escola com 7 anos de idade e estudei soacute ateacute a 6ordf seacuterie
parei com 18 anos de idade
Porque mudei pra caacute pro assentamento (SIC) e natildeo tem escola e natildeo tem como ir
pra Sobradinho a noite porque eacute muito longe tem que andar 5 km eacute pirigogo (SIC)
tem muita gente mal por aiacute tem ateacute estrupador natildeo posso me arriscar
ldquoSe tivesse escola aqui eu ia terminar meus estudos podia ser no galpatildeo mesmo
pra mim tava bom mas para os meus filhos eu queria uma escola boa com internet
e tudo Eu natildeo gosto que meus filhos estuda(SIC) na cidade soacute aceito porque eacute o
jeito gente de assentamento eacute muito zombado (SIC) porque as vezes chega suja
na escola e os outros acha que eles satildeo porcos que toma banhordquo
Entrevistado 05
51
Tenho 21 anos de idade moro no Renascer haacute trecircs anos vim de satildeo Gabriel-GO
comecei a estudar aos 7 anos parei com 18 anos porque minha matildee mudou
pro(SIC) matildee mudou pro (SIC) assentamento haacute 6 anos e eu natildeo aguento morar
longe dela Quando cheguei aqui natildeo teve como continuar os estudos porque
trabalho durante o dia como manicure em Sobradinho e o uacuteltimo ocircnibus que passa
perto do assentamento eacute as 5 horas da tarde entatildeo natildeo daacute para estudar a noite
Sim porque quero fazer um curso de cabelereiro quando tiver aacutegua e luz aqui eu
quero montar um salatildeo de beleza e para ser uma empresaacuteria precisa ter estudos pra
administrar o negoacutecio
Entrevistado 06
44 anos
6 anos
Formosa-GO
8 anos
5ordf seacuterie
24 anos
Porque a escola mais perto(SIC) era 10km de distacircncia e eu trabalhava na roccedila e
ficava muito cansado aiacute parei natildeo deu mais
Sim quando tiver escola aqui eu vou voltar a estudar Eu tinha um sonho de ser
agroacutenomo mas esse sonho eacute impussive(SIC) entatildeo queria concluir o ensino
fundamental para fazer um curso de teacutecnico agriacutecola no IFB mas tambeacutem eacute longe
se tivesse como estudar aqui no assentamento eu ia(SIC) ficar muito feliz
Entrevistado 07
57 anos
6 anos
Parnaiacuteba-PI- Santa Maria- DF
7 anos
4ordf seacuterie
21 anos
Parei porque era muito difiacutecil ir para escola que ficava muito longe eu tinha que sair
de casa as 4hs da madrugada para chegar na escola as 730 ia montado num
cavalo e muitas vezes natildeo tinha professora pra dar aula Parei porque natildeo aguentei
o rojatildeo tinha que minha matildee na lida a tarde e eu ficava muito cansado Vim pra
52
Brasiacutelia e casei fui trabalhar de chacareiro numa chaacutecara que tambeacutem era longe de
escola depois vim morar aqui no assentamento que natildeo tem escola
Se tivesse escola aqui eu ia voltar estudar soacute pra aprender a cuidar meior (SIC) da
terra e dos meus bichos e que fosse como uma escola agriacutecola
Entrevistado 08
Tenho 29 anos moro no assentamento Renascer haacute 2 anos sou educadora do
Pronera haacute 1 ano e 2 meses O Pronera eacute como um antidepressivo na vida de muita
gente o Pronera melhorou a minha vida e a vida dos meus alunos o desejo de
todos eacute que o Pronera continue crescendo em direccedilatildeo de uma educaccedilatildeo continuada
levando tambeacutem o ensino fundamental para os acampamentos e assentamentos da
Reforma Agraacuteria
-50-
Anexos
53
Acampamento agrave beira da estrada ndash 2004
Construccedilatildeo da Sede do Movimento na atual aacuterea
54
Reuniatildeo semanal
Teatro de fantoches ndash brinquedoteca
55
Accedilatildeo da Pastoral da Crianccedila na brinquedoteca
Oficina de brinquedos reciclaacuteveis
56
Brinquedo confeccionado com materiais reciclaacuteveis na Brinquedoteca
57
58
59
60
Apresentaccedilatildeo teatral
61
Capacitaccedilatildeo em Economia Solidaacuteria
Formaccedilatildeo de multiplicadores da Economia Solidaacuteria
62
Capacitaccedilatildeo de Educadores Ambientais
63
Luta pela Reforma Agraacuteria e Soberania Alimentar
40
Repetimos a pergunta da inicial Cadecirc as escolas do campo Ateacute quando o paiacutes
vai viver essa situaccedilatildeo A anaacutelise de dados responde Natildeo eacute mais possiacutevel
continuar como estaacute
Todos os entrevistados pretendem alcanccedilar conhecimentos atraveacutes da escola do
campo implantada no Assentamento Renascer com objetivos de administrar a
propriedade participar ativamente do coletivo garantir renda fixa atraveacutes dos
programas de desenvolvimento da agricultura familiar
Os entrevistados unanimamente tecircm a preocupaccedilatildeo da manutenccedilatildeo dos laccedilos
familiares e das raiacutezes camponesas
A distacircncia entre a moradia e a escola fato relatado pela quase totalidade dos
entrevistados constitui um grande motivo de evasatildeo escolar de defasagem nas
seacuteries frequentadas de precariedade na aprendizagem em relaccedilatildeo aos demais
alunos A discriminaccedilatildeo alegada por muitos que frequentaram ou frequentam
escolas fora da faixa etaacuteria o vernaacuteculo proacuteprio dos sujeitos do campo as condiccedilotildees
precaacuterias da estrada que denunciam a condiccedilatildeo de assentado o sentimento de
inadequaccedilatildeo constituem fatores que determinam a evasatildeo escolar
Foram treze (13) entrevistados significando aproximadamente dez por cento
(10) dos moradores do Assentamento Renascer Desse total apenas dois (2)
entrevistados natildeo declararam dificuldade de distacircncia entre a moradia e a escola em
seus lugares de origem A maioria absoluta (11) pessoas declararam que a distacircncia
dificultava e impedia o acesso agrave escola Alguns relatos apresentam situaccedilotildees
precaacuterias para o homem do campo o assentado
Para o aluno do campo a distacircncia da escola tem o significado de inexistecircncia de
escola Isto porque as dificuldades de acesso satildeo enormes No caso em estudo
apenas um entrevistado declarou a inexistecircncia de escola em sua regiatildeo de
moradia Este poreacutem vivenciou todas as dificuldades de acesso que outros
assentados apresentaram em razatildeo da distacircncia moradiaescola
A falta de professores na escola rural eacute relatada por 11 dos 13 entrevistados A
distacircncia da escola para os professores dificulta segundo a vivecircncia dos
entrevistados o acesso agrave escola e a assiduidade o que muito desmotivava a
ambos
41
Os entrevistados conforme anaacutelise de dados desejam muito objetivamente a
implantaccedilatildeo imediata de escolas segundo os criteacuterios caracteriacutesticos de escola do
campo
- Trazer a realidade para dentro da escola do campo curriacuteculos voltados para o
cotidiano do aluno do campo onde as teacutecnicas agriacutecolas pecuaacuterias e agroecoloacutegicas
possam fazer parte do processo educativo da comunidade e que a escola tenha
uma gestatildeo coletiva democraacutetica com a participaccedilatildeo da comunidade
- Ter o trabalho como princiacutepio educativo A experiecircncia do aluno deve
harmonizar-se com os princiacutepios pistrakianos significar o trabalho de forma a que
ele apresente benefiacutecios para o proacuteprio indiviacuteduo para a comunidade na qual estaacute
inserido e para a sociedade e natildeo exclusivamente para servir ao capitalismo
-Superar a fragmentaccedilatildeo do conhecimento disciplinar A interdisciplinaridade
deve fazer parte dos objetivos educacionais de modo a promover a formaccedilatildeo
integral dos educandos
- Valorizar os saberes do homem do campo Os entrevistados desejam uma
escola onde possam exercitar sua vivecircncia campesina e a relaccedilatildeo dialoacutegica entre
professor-aluno seguindo a pedagogia de Paulo Freire o educando quer aprender
com o educador mas quer tambeacutem ter a oportunidade de transmitir seus saberes
- Promover espaccedilos de gestatildeo coletiva A proacutepria comunidade deve participar da
gestatildeo a elaboraccedilatildeo do PPP deve gerir o espaccedilo fiacutesico da escola para atividades
de interesse da comunidade ocupar espaccedilos para finalidades culturais esportivas
sociais tornando a escola um espaccedilo democraacutetico
- Garantir a presenccedila da comunidade e dos movimentos sociais que geram
processos que auxiliam a emancipaccedilatildeo social A escola deve tambeacutem ser espaccedilo
que auxilie a sustentabilidade e garanta a alimentaccedilatildeo saudaacutevel e recursos
fitoteraacutepicos em associaccedilatildeo com a comunidade
- Inclusatildeo tecnoloacutegica em todos os aspectos digital inovaccedilatildeo tecnoloacutegica
agropecuaacuteria recursos ambientais alternativos agua potaacutevel energia solar energia
eoacutelica fossa seacuteptica teacutecnicas de compostagem saneamento baacutesico cuidados com
os recursos hiacutedricos
A anaacutelise dos dados quando feita especificamente sobre a escola a ser
implantada pode aparentemente demonstrar uma pequena conexatildeo com as teorias
da escola do campo
42
A concepccedilatildeo da escola do campo natildeo pode ser imposta ela parte do princiacutepio
que os camponeses devem conquista-la Para essa conquista eacute necessaacuteria a
paixatildeo o desejo por algo ainda natildeo experimentado o amadurecimento poliacutetico-
social-pessoal a participaccedilatildeo coletiva na luta e na conquista
A trajetoacuteria de luta por educaccedilatildeo da comunidade Renascer apresenta estes
elementos agraves vezes difusos outras vezes mais claramente A escola bem que
poderia para alguns ser apenas uma escola rural Afinal aprender a ler e a
escrever ldquodireitordquo como alguns dizem ou seja deixar a condiccedilatildeo de analfabeto ou
analfabeto funcional para tornar-se letrado significaria avanccedilos em face das atuais
circunstacircncias Alguns entendem assim expressando-se principalmente nas
conversas informais
Apesar disso quando as respostas informais ou quando as respostas das
entrevistas satildeo analisadas mais profundamente identificamos que embora
difusamente todos desejam o programa educacional da escola do campo
Explicando melhor a participaccedilatildeo de todos da comunidade em todas as atividades
soacutecio-poliacuteticas-culturais (relatadas no terceiro capitulo) indicam que a comunidade
assimilou a postura soacutecio-politica-cultural que caracterizam a escola do campo
A vivecircncia do Assentamento Renascer no cotidiano e nos eventos coletivos
amadureceu o desejo pelo alimento intelectual cultural artiacutestico ambiental social
que a concepccedilatildeo de escola do campo introduz O programa educacional da Escola
do Campo ultrapassou as paredes fiacutesicas da escola e alcanccedilou o cotidiano dos
assentados
Os avanccedilos da conscientizaccedilatildeo e seu reflexo na vida do Assentamento Renascer
satildeo sentidos nos nuacutemeros de matriculados na LEdoC sete (7) alunos
aproximadamente dez (10) assentados prestaratildeo o proacuteximo vestibular trecircs (3)
assentados estatildeo matriculados no IFB dois(2) assentados estatildeo formados em
Teacutecnico Agropecuaacuterio tambeacutem pelo IFB um deles cursa o Tecnoacutelogo de
Agroecologia tambeacutem do IFB
Vale acrescentar que no iniacutecio de 2014 quando o IFB buscou no Assentamento
pessoas interessadas em matricular-se em seus cursos sob a condiccedilatildeo de
estudarem no ensino meacutedio o interesse foi grande e a impossibilidade pelo fato de
natildeo estarem habilitados no ensino fundamental provocou tanta discussatildeo que
estimulou essa pesquisa
43
O legado desses alunos futuros alunos e profissionais para o futuro do
Assentamento apresentaraacute resultados significativos para toda a comunidade O
futuro colheraacute bons frutos plantados agora
A escola que temos natildeo estaacute funcionando falta a renovaccedilatildeo do contrato o que
atrasa a alfabetizaccedilatildeo e conclusatildeo do 5ordm ano Falta a implantaccedilatildeo de poliacuteticas
puacuteblicas para atendimento de questotildees baacutesicas como por exemplo carteiras
quadro de giz iluminaccedilatildeo espaccedilo fiacutesico (dependecircncias para a escola) e mobiliaacuterio
-41-
44
Consideraccedilotildees Finais
A Educaccedilatildeo do campo eacute um movimento em que os trabalhadores do campo e
suas organizaccedilotildees lutam por transformaccedilotildees sociais particularmente a criaccedilatildeo de
escolas dono campo de qualidade a partir de uma perspectiva ampla de reforma
agraacuteria
A construccedilatildeo da educaccedilatildeo do campo eacute resultado do amadurecimento dos
movimentos sociais e das comunidades rurais em sua trajetoacuteria de luta pelo direito
fundamental agrave universalizaccedilatildeo escolar para as populaccedilotildees camponesas segundo
orientaccedilatildeo poliacutetico-pedagoacutegica adequada agrave realidade dos lutadores de
acampamentos e assentamentos em luta pela reforma agraacuteria e justiccedila social
Alguns princiacutepios caracterizam a luta pela escola do campo Dentre eles
podemos citar a criaccedilatildeo da consciecircncia do direito agrave educaccedilatildeo de qualidade plantada
na proacutepria comunidade o que provoca o enraizamento a valorizaccedilatildeo da vida no
campo a promoccedilatildeo da autoestima e a transformaccedilatildeo do ser alienado pela ideologia
e desigualdade social e sujeito de sua proacutepria histoacuteria
Outro princiacutepio eacute a adequaccedilatildeo de curriacuteculos agrave realidade camponesa de modo
a que o processo ensino-aprendizagem favoreccedila o amadurecimento de talentos
naturais o surgimento de oportunidades a niacutevel pessoal e social contribuindo para a
emancipaccedilatildeo poliacutetico-social do indiviacuteduo com reflexos na sociedade
A mudanccedila de paradigmas e o envolvimento social provocam a formaccedilatildeo integral
dos sujeitos que lutam de forma coletiva e solidaacuteria pela terra A escola do campo
que surge dessa mudanccedila eacute tambeacutem transformadora porque eacute fruto da luta
consciente que gera a reflexatildeo e o amadurecimento poliacutetico deixando um legado
positivo de cidadatildeos orgulhosos de sua condiccedilatildeo de lutador pela terra de sua
identidade de sua cultura de sua comunidade e coletividade
A escola do campo propicia aos alunos a reflexatildeo sobre o contexto social e a
problemaacutetica da comunidade em que estatildeo inseridos o respeito agrave individualidade a
ampliaccedilatildeo das potencialidades do aluno para organizar elaborar e atuar
coletivamente Deixam o legado futuro de homens responsaacuteveis mentes
independentes e atuantes que poderatildeo prestar serviccedilos significativos agrave sociedade
45
A comunidade assentada de o Assentamento Renascer pela Reforma
Agraacuteria em Sobradinho DF foi convidada a opinar sobre a escola que deseja a
partir da conquista da terra
O modelo proposto a partir de seu posicionamento possibilita a conclusatildeo
de que a escola do campo plantada na comunidade eacute preferiacutevel ao modelo
adotado atualmente de inserccedilatildeo dos alunos da comunidade agraves escolas urbanas
conter recursos materiais e humanos que propiciem bons resultados
pedagoacutegicos deve servir para fixar o trabalhador ao campo deve cumprir com o
propoacutesito constitucional de universalizaccedilatildeo do ensino para todas as faixas
etaacuterias deve estar identificada com os sonhos de prosperidade material e
realizaccedilatildeo pessoal dos assentados
-46-
46
Referecircncias Bibliograacuteficas
CANUTO Antocircnio In Comissatildeo Pastoral da Terra DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO 2012 pag 131) CLAUDIA MORAES DE SOUZA em seu artigo lsquoDiscursos intolerantes O lugar da poliacutetica na educaccedilatildeo rural e a representaccedilatildeo do camponecircs analfabeto (DIVERSITAS FFLCH USPBR)acesso em 03-08-2014 EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO ndash Marcos Normativos Brasilia 2012 MEC FERRARO Alceu Ravanello em seu artigo Alfabetizaccedilatildeo rural no Brasil na perspectiva das relaccedilotildees campo-cidade e de gecircnero (Educ Real ndash WWWSCIELOBRPDFEDREALV37N3PDF acesso 03-10-2014 FERREIRA (2011_ ldquoUm olhar histoacuterico uma realidade concretardquo (WWWUNIFILBR)acesso 20-10-2014
FERRARI Marco ldquoAniacutesio Teixeira o inventor da escola puacuteblica no Brasilrdquo Revista Nova Escola Fundaccedilatildeo Victor Civita Revistaescolaabrilcombr acesso em 14092014 FERREIRA Fabiano de Jesus BRANDAtildeO Elias Canuto ndash Revista Eletrocircnica de Educaccedilatildeo Ano V N 09 juldez 2011p3 ldquoEducaccedilatildeo do campo um olhar histoacuterico uma realidade concreta rdquo (WWWUNIFILBR acesso em 08 de agosto de 2014) GONCcedilALVES Luiz Alberto Oliveira e Pinto Regina Pahim EDUCACcedilAtildeO SEacuteRIE JUSTICcedilA E DESENVOLVIMENTO IFP-FCC FUNDACcedilAtildeO CARLOS CHAGAS 2007 SAtildeO PAULO (pag206)
KOLLING Edgar Jorge Vargas Caldart MST e Educaccedilatildeo in DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia Expressatildeo Popular 2012 (pag 5020
MOLINA Mocircnica SAacute Laiacutes Mouratildeo Escola do Campo in DICIONARIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia Expressatildeo Popular 2012 pg (329)
OLIVEIRA Maria Rita Duarte em sua dissertaccedilatildeo ldquoDos programas oficiais para a educaccedilatildeo rural aos projetos de educaccedilatildeo do campo dos movimentos sociaisrdquo WWWrevistalaborufcbrartigovolume1maria-ritapdf acesso em 08-09-2014
OLIVEIRA Maria Rita Duarte PEDAGOGIA EM MARCHA Apud ARROYO Satildeo Paulo1995( pg 162)
OLIVEIRA Maria Rita Duarte Revistalabor ufcbracesso em 19-10-2014
________ citando CALAZ Maria Rita Duarte Oliveira
47
SANTOS Clarice Aparecida PROGRAMA NACIONAL DE EDUCACcedilAtildeO NA REFORMA AGRAacuteRIA in DICIONARIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia2012(pg630)
________ Clarice Aparecida PROGRAMA NACIONAL DE EDUCACcedilAtildeO NA REFORMA AGRAacuteRIA BRASIacuteLIA 2012 pg 631 in DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO SANTOS Claudio Felix Dos ldquoO aprender a aprender na formaccedilatildeo de professores do campordquo Campinas 2013 Editora Autores Associados ) SOUZA Maria Antocircnia Movimentos Sociais no Brasil Contemporacircneo participaccedilatildeo e possibilidades no contexto das praacuteticas democraacuteticas ndash (wwwcesucptlab2004pdfMariaAntonia Souzapdfaceso em 24-07-2014 -48-
48
Apecircndices
1 Roteiro das Entrevistas
a) Dados dos entrevistados
Qual o seu nome
Masculino ( ) Feminino ( )
Quantos anos vocecirc tecircm
A quanto tempo mora no
assentamento
Onde vocecirc morou antes
de morar no
assentamento
Quantos anos vocecirc tinha
quando foi a escola pela
primeira vez
Estou ateacute qual seacuterieano
Quantos anos vocecirc tinha
quando parou de estudar
Qual motivo motivou vocecirc
a parar de estudar
Se tiver escola no
assentamento vocecirc voltaraacute
a estudar Porque
B) Outras informaccedilotildees dados pelos entrevistadosas (GRAVAR)
a) Em qual escola vocecirc estudou no acampamento ou em outro lugar Qual
b) Como era a escola que estudou Quais as coisas boas e coisas ruins que
tinha nesta escola
c) Conte como eacutefoi a educaccedilatildeo do assentamento o que jaacute existiu de escola
como funcionou e quais eram as boas e as coisas ruins desta escola
d) Jaacute participou de alguma accedilatildeo de mobilizaccedilatildeo para ter escola no
assentamento Se sim explique para que e como foi essa mobilizaccedilatildeo
e) Na sua opiniatildeo no assentamento deve ter escola Por quecirc
f) Como deveraacute ser a escola da comunidadeassentamento Como eacute a escola
que queremos ter
49
b) Entrevistas semi-estruturadas
Entrevistado 01
Moro no assentamento Renascer haacute 11 anos Nasci Carnauacuteba no Rio Grande do
Norte fui criado na roccedila e desde pequeno trabalhava na lavoura para ajudar meu
pai Fui para escola com 9 anos de idade estudei ateacute a 5ordm seacuterie parei de estudar
com 17 anos natildeo continuei os estudos porque era muito longe de onde eu morva
que era na cidade mais proacutexima eu tinha que andar a peacute 8 km ficava muito
cansado Casei e vim morar em Brasiacutelia para trabalhar em uma chaacutecara como
caseiro Morava na chaacutecara Buritis em sobradinho- Df tambeacutem natildeo dei para
continuar os estudos porque ficava longe e tinha que ser a noite e natildeo tinha como ir
Se vier uma escola pra caacute eu ainda vou estudar para ter mais conhecimento para
plantar minha roccedila ir no banco pra ver se assino um empreacutestimo para melhorar
minha produccedilatildeo e saber fazer conta pra administrar minha parcela de terra
Qual o seu nome
Masculino ( X ) Feminino ( )
Quantos anos vocecirc
tecircm
57 anos
A quanto tempo
mora no assentamento
11 anos
Onde vocecirc morou
antes de morar no
assentamento
Carnauacuteba ndash RN
Chaacutecara Buritis nordm 10 Sobradinho DF
Quantos anos vocecirc
tinha quando foi a escola
pela primeira vez
8 anos
Estou ateacute qual
seacuterieano
5ordf seacuterie
Quantos anos vocecirc
tinha quando parou de
estudar
24 anos
Qual motivo
motivou vocecirc a parar de
estudar
Trabalhar para sustento da famiacutelia a
distacircncia entre a casa e a escola
Se tiver escola no
assentamento vocecirc voltaraacute
a estudar Porque
Sim ldquoSe tivesse escola do ensino
fundamental voltaria a estudar para tecirc
mais conhecimento para plantar minha roccedila
50
saber pesar saber contar vendecirc os produto e
comecirc
Entrevistado 02
Moro no assentamento renascer haacute 7 anos tenho 38 vim do interior do Cearaacute
Entrei na escola com 7 anos de idade estudei soacute a 5ordm seacuterie incompleta natildeo
continuei a estudar porque natildeo tinha escola a onde eu morava que era na roccedila e eu
tinha que ficar na casa dozotro (SIC) na cidade e eu natildeo gostava disso natildeo ai parei
com 16 anos de idade Mudamo (SIC) pra Brasiacutelia pra uma chaacutecara perto de Santa
Maria-DF e natildeo dei pra estudar porque casei e tinha que trabalhar muito para
susrentar a famiacutelia A gora moro no assentamento Renascer e sei que um dia vai ter
uma escola aqui e eu vou voltar a estudar porque meu sonho eacute ser veterinaacuterio e vou
der se deus quiser
Entrevistado 03
Tenho 58 anos moro no assentamento Renascer haacute 6 anos vim de Ceres-GO
comecei a estudar quando eu tinha 10 ano de idade estudei ateacute a 4ordf seria primaacuteria
(SIC) parei de estudar quando tinha 16 anos porque eu morava na roccedila e escola
ateacute que natildeo ficava muito longe natildeo era soacute 2 km dava pra ir a peacute a professora eacute que
faltava muito e a gente natildeo tinha como saber se ela tava ou natildeoAiacute quando eu tinha
18 anos casei e vim morar em Brasiacutelia e arranjei(SIC) emprego de caseira em uma
chaacutecara aiacute natildeo pra estudar a noite porque era muito longe pra laacute entatildeo eu natildeo
pensei mais nessas coisas Quando tiver escola no assentamento quero estudar
quiecirc pra mim (SIC) fazer curso de teacutecnico agriacutecolarsquorsquo
Entrevistado 04
Tenho 24 anos moro no assentamento Renascer tem 6 ano vim da Bahia morava
no Condomiacutenio RK entrei na escola com 7 anos de idade e estudei soacute ateacute a 6ordf seacuterie
parei com 18 anos de idade
Porque mudei pra caacute pro assentamento (SIC) e natildeo tem escola e natildeo tem como ir
pra Sobradinho a noite porque eacute muito longe tem que andar 5 km eacute pirigogo (SIC)
tem muita gente mal por aiacute tem ateacute estrupador natildeo posso me arriscar
ldquoSe tivesse escola aqui eu ia terminar meus estudos podia ser no galpatildeo mesmo
pra mim tava bom mas para os meus filhos eu queria uma escola boa com internet
e tudo Eu natildeo gosto que meus filhos estuda(SIC) na cidade soacute aceito porque eacute o
jeito gente de assentamento eacute muito zombado (SIC) porque as vezes chega suja
na escola e os outros acha que eles satildeo porcos que toma banhordquo
Entrevistado 05
51
Tenho 21 anos de idade moro no Renascer haacute trecircs anos vim de satildeo Gabriel-GO
comecei a estudar aos 7 anos parei com 18 anos porque minha matildee mudou
pro(SIC) matildee mudou pro (SIC) assentamento haacute 6 anos e eu natildeo aguento morar
longe dela Quando cheguei aqui natildeo teve como continuar os estudos porque
trabalho durante o dia como manicure em Sobradinho e o uacuteltimo ocircnibus que passa
perto do assentamento eacute as 5 horas da tarde entatildeo natildeo daacute para estudar a noite
Sim porque quero fazer um curso de cabelereiro quando tiver aacutegua e luz aqui eu
quero montar um salatildeo de beleza e para ser uma empresaacuteria precisa ter estudos pra
administrar o negoacutecio
Entrevistado 06
44 anos
6 anos
Formosa-GO
8 anos
5ordf seacuterie
24 anos
Porque a escola mais perto(SIC) era 10km de distacircncia e eu trabalhava na roccedila e
ficava muito cansado aiacute parei natildeo deu mais
Sim quando tiver escola aqui eu vou voltar a estudar Eu tinha um sonho de ser
agroacutenomo mas esse sonho eacute impussive(SIC) entatildeo queria concluir o ensino
fundamental para fazer um curso de teacutecnico agriacutecola no IFB mas tambeacutem eacute longe
se tivesse como estudar aqui no assentamento eu ia(SIC) ficar muito feliz
Entrevistado 07
57 anos
6 anos
Parnaiacuteba-PI- Santa Maria- DF
7 anos
4ordf seacuterie
21 anos
Parei porque era muito difiacutecil ir para escola que ficava muito longe eu tinha que sair
de casa as 4hs da madrugada para chegar na escola as 730 ia montado num
cavalo e muitas vezes natildeo tinha professora pra dar aula Parei porque natildeo aguentei
o rojatildeo tinha que minha matildee na lida a tarde e eu ficava muito cansado Vim pra
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Brasiacutelia e casei fui trabalhar de chacareiro numa chaacutecara que tambeacutem era longe de
escola depois vim morar aqui no assentamento que natildeo tem escola
Se tivesse escola aqui eu ia voltar estudar soacute pra aprender a cuidar meior (SIC) da
terra e dos meus bichos e que fosse como uma escola agriacutecola
Entrevistado 08
Tenho 29 anos moro no assentamento Renascer haacute 2 anos sou educadora do
Pronera haacute 1 ano e 2 meses O Pronera eacute como um antidepressivo na vida de muita
gente o Pronera melhorou a minha vida e a vida dos meus alunos o desejo de
todos eacute que o Pronera continue crescendo em direccedilatildeo de uma educaccedilatildeo continuada
levando tambeacutem o ensino fundamental para os acampamentos e assentamentos da
Reforma Agraacuteria
-50-
Anexos
53
Acampamento agrave beira da estrada ndash 2004
Construccedilatildeo da Sede do Movimento na atual aacuterea
54
Reuniatildeo semanal
Teatro de fantoches ndash brinquedoteca
55
Accedilatildeo da Pastoral da Crianccedila na brinquedoteca
Oficina de brinquedos reciclaacuteveis
56
Brinquedo confeccionado com materiais reciclaacuteveis na Brinquedoteca
57
58
59
60
Apresentaccedilatildeo teatral
61
Capacitaccedilatildeo em Economia Solidaacuteria
Formaccedilatildeo de multiplicadores da Economia Solidaacuteria
62
Capacitaccedilatildeo de Educadores Ambientais
63
Luta pela Reforma Agraacuteria e Soberania Alimentar
41
Os entrevistados conforme anaacutelise de dados desejam muito objetivamente a
implantaccedilatildeo imediata de escolas segundo os criteacuterios caracteriacutesticos de escola do
campo
- Trazer a realidade para dentro da escola do campo curriacuteculos voltados para o
cotidiano do aluno do campo onde as teacutecnicas agriacutecolas pecuaacuterias e agroecoloacutegicas
possam fazer parte do processo educativo da comunidade e que a escola tenha
uma gestatildeo coletiva democraacutetica com a participaccedilatildeo da comunidade
- Ter o trabalho como princiacutepio educativo A experiecircncia do aluno deve
harmonizar-se com os princiacutepios pistrakianos significar o trabalho de forma a que
ele apresente benefiacutecios para o proacuteprio indiviacuteduo para a comunidade na qual estaacute
inserido e para a sociedade e natildeo exclusivamente para servir ao capitalismo
-Superar a fragmentaccedilatildeo do conhecimento disciplinar A interdisciplinaridade
deve fazer parte dos objetivos educacionais de modo a promover a formaccedilatildeo
integral dos educandos
- Valorizar os saberes do homem do campo Os entrevistados desejam uma
escola onde possam exercitar sua vivecircncia campesina e a relaccedilatildeo dialoacutegica entre
professor-aluno seguindo a pedagogia de Paulo Freire o educando quer aprender
com o educador mas quer tambeacutem ter a oportunidade de transmitir seus saberes
- Promover espaccedilos de gestatildeo coletiva A proacutepria comunidade deve participar da
gestatildeo a elaboraccedilatildeo do PPP deve gerir o espaccedilo fiacutesico da escola para atividades
de interesse da comunidade ocupar espaccedilos para finalidades culturais esportivas
sociais tornando a escola um espaccedilo democraacutetico
- Garantir a presenccedila da comunidade e dos movimentos sociais que geram
processos que auxiliam a emancipaccedilatildeo social A escola deve tambeacutem ser espaccedilo
que auxilie a sustentabilidade e garanta a alimentaccedilatildeo saudaacutevel e recursos
fitoteraacutepicos em associaccedilatildeo com a comunidade
- Inclusatildeo tecnoloacutegica em todos os aspectos digital inovaccedilatildeo tecnoloacutegica
agropecuaacuteria recursos ambientais alternativos agua potaacutevel energia solar energia
eoacutelica fossa seacuteptica teacutecnicas de compostagem saneamento baacutesico cuidados com
os recursos hiacutedricos
A anaacutelise dos dados quando feita especificamente sobre a escola a ser
implantada pode aparentemente demonstrar uma pequena conexatildeo com as teorias
da escola do campo
42
A concepccedilatildeo da escola do campo natildeo pode ser imposta ela parte do princiacutepio
que os camponeses devem conquista-la Para essa conquista eacute necessaacuteria a
paixatildeo o desejo por algo ainda natildeo experimentado o amadurecimento poliacutetico-
social-pessoal a participaccedilatildeo coletiva na luta e na conquista
A trajetoacuteria de luta por educaccedilatildeo da comunidade Renascer apresenta estes
elementos agraves vezes difusos outras vezes mais claramente A escola bem que
poderia para alguns ser apenas uma escola rural Afinal aprender a ler e a
escrever ldquodireitordquo como alguns dizem ou seja deixar a condiccedilatildeo de analfabeto ou
analfabeto funcional para tornar-se letrado significaria avanccedilos em face das atuais
circunstacircncias Alguns entendem assim expressando-se principalmente nas
conversas informais
Apesar disso quando as respostas informais ou quando as respostas das
entrevistas satildeo analisadas mais profundamente identificamos que embora
difusamente todos desejam o programa educacional da escola do campo
Explicando melhor a participaccedilatildeo de todos da comunidade em todas as atividades
soacutecio-poliacuteticas-culturais (relatadas no terceiro capitulo) indicam que a comunidade
assimilou a postura soacutecio-politica-cultural que caracterizam a escola do campo
A vivecircncia do Assentamento Renascer no cotidiano e nos eventos coletivos
amadureceu o desejo pelo alimento intelectual cultural artiacutestico ambiental social
que a concepccedilatildeo de escola do campo introduz O programa educacional da Escola
do Campo ultrapassou as paredes fiacutesicas da escola e alcanccedilou o cotidiano dos
assentados
Os avanccedilos da conscientizaccedilatildeo e seu reflexo na vida do Assentamento Renascer
satildeo sentidos nos nuacutemeros de matriculados na LEdoC sete (7) alunos
aproximadamente dez (10) assentados prestaratildeo o proacuteximo vestibular trecircs (3)
assentados estatildeo matriculados no IFB dois(2) assentados estatildeo formados em
Teacutecnico Agropecuaacuterio tambeacutem pelo IFB um deles cursa o Tecnoacutelogo de
Agroecologia tambeacutem do IFB
Vale acrescentar que no iniacutecio de 2014 quando o IFB buscou no Assentamento
pessoas interessadas em matricular-se em seus cursos sob a condiccedilatildeo de
estudarem no ensino meacutedio o interesse foi grande e a impossibilidade pelo fato de
natildeo estarem habilitados no ensino fundamental provocou tanta discussatildeo que
estimulou essa pesquisa
43
O legado desses alunos futuros alunos e profissionais para o futuro do
Assentamento apresentaraacute resultados significativos para toda a comunidade O
futuro colheraacute bons frutos plantados agora
A escola que temos natildeo estaacute funcionando falta a renovaccedilatildeo do contrato o que
atrasa a alfabetizaccedilatildeo e conclusatildeo do 5ordm ano Falta a implantaccedilatildeo de poliacuteticas
puacuteblicas para atendimento de questotildees baacutesicas como por exemplo carteiras
quadro de giz iluminaccedilatildeo espaccedilo fiacutesico (dependecircncias para a escola) e mobiliaacuterio
-41-
44
Consideraccedilotildees Finais
A Educaccedilatildeo do campo eacute um movimento em que os trabalhadores do campo e
suas organizaccedilotildees lutam por transformaccedilotildees sociais particularmente a criaccedilatildeo de
escolas dono campo de qualidade a partir de uma perspectiva ampla de reforma
agraacuteria
A construccedilatildeo da educaccedilatildeo do campo eacute resultado do amadurecimento dos
movimentos sociais e das comunidades rurais em sua trajetoacuteria de luta pelo direito
fundamental agrave universalizaccedilatildeo escolar para as populaccedilotildees camponesas segundo
orientaccedilatildeo poliacutetico-pedagoacutegica adequada agrave realidade dos lutadores de
acampamentos e assentamentos em luta pela reforma agraacuteria e justiccedila social
Alguns princiacutepios caracterizam a luta pela escola do campo Dentre eles
podemos citar a criaccedilatildeo da consciecircncia do direito agrave educaccedilatildeo de qualidade plantada
na proacutepria comunidade o que provoca o enraizamento a valorizaccedilatildeo da vida no
campo a promoccedilatildeo da autoestima e a transformaccedilatildeo do ser alienado pela ideologia
e desigualdade social e sujeito de sua proacutepria histoacuteria
Outro princiacutepio eacute a adequaccedilatildeo de curriacuteculos agrave realidade camponesa de modo
a que o processo ensino-aprendizagem favoreccedila o amadurecimento de talentos
naturais o surgimento de oportunidades a niacutevel pessoal e social contribuindo para a
emancipaccedilatildeo poliacutetico-social do indiviacuteduo com reflexos na sociedade
A mudanccedila de paradigmas e o envolvimento social provocam a formaccedilatildeo integral
dos sujeitos que lutam de forma coletiva e solidaacuteria pela terra A escola do campo
que surge dessa mudanccedila eacute tambeacutem transformadora porque eacute fruto da luta
consciente que gera a reflexatildeo e o amadurecimento poliacutetico deixando um legado
positivo de cidadatildeos orgulhosos de sua condiccedilatildeo de lutador pela terra de sua
identidade de sua cultura de sua comunidade e coletividade
A escola do campo propicia aos alunos a reflexatildeo sobre o contexto social e a
problemaacutetica da comunidade em que estatildeo inseridos o respeito agrave individualidade a
ampliaccedilatildeo das potencialidades do aluno para organizar elaborar e atuar
coletivamente Deixam o legado futuro de homens responsaacuteveis mentes
independentes e atuantes que poderatildeo prestar serviccedilos significativos agrave sociedade
45
A comunidade assentada de o Assentamento Renascer pela Reforma
Agraacuteria em Sobradinho DF foi convidada a opinar sobre a escola que deseja a
partir da conquista da terra
O modelo proposto a partir de seu posicionamento possibilita a conclusatildeo
de que a escola do campo plantada na comunidade eacute preferiacutevel ao modelo
adotado atualmente de inserccedilatildeo dos alunos da comunidade agraves escolas urbanas
conter recursos materiais e humanos que propiciem bons resultados
pedagoacutegicos deve servir para fixar o trabalhador ao campo deve cumprir com o
propoacutesito constitucional de universalizaccedilatildeo do ensino para todas as faixas
etaacuterias deve estar identificada com os sonhos de prosperidade material e
realizaccedilatildeo pessoal dos assentados
-46-
46
Referecircncias Bibliograacuteficas
CANUTO Antocircnio In Comissatildeo Pastoral da Terra DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO 2012 pag 131) CLAUDIA MORAES DE SOUZA em seu artigo lsquoDiscursos intolerantes O lugar da poliacutetica na educaccedilatildeo rural e a representaccedilatildeo do camponecircs analfabeto (DIVERSITAS FFLCH USPBR)acesso em 03-08-2014 EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO ndash Marcos Normativos Brasilia 2012 MEC FERRARO Alceu Ravanello em seu artigo Alfabetizaccedilatildeo rural no Brasil na perspectiva das relaccedilotildees campo-cidade e de gecircnero (Educ Real ndash WWWSCIELOBRPDFEDREALV37N3PDF acesso 03-10-2014 FERREIRA (2011_ ldquoUm olhar histoacuterico uma realidade concretardquo (WWWUNIFILBR)acesso 20-10-2014
FERRARI Marco ldquoAniacutesio Teixeira o inventor da escola puacuteblica no Brasilrdquo Revista Nova Escola Fundaccedilatildeo Victor Civita Revistaescolaabrilcombr acesso em 14092014 FERREIRA Fabiano de Jesus BRANDAtildeO Elias Canuto ndash Revista Eletrocircnica de Educaccedilatildeo Ano V N 09 juldez 2011p3 ldquoEducaccedilatildeo do campo um olhar histoacuterico uma realidade concreta rdquo (WWWUNIFILBR acesso em 08 de agosto de 2014) GONCcedilALVES Luiz Alberto Oliveira e Pinto Regina Pahim EDUCACcedilAtildeO SEacuteRIE JUSTICcedilA E DESENVOLVIMENTO IFP-FCC FUNDACcedilAtildeO CARLOS CHAGAS 2007 SAtildeO PAULO (pag206)
KOLLING Edgar Jorge Vargas Caldart MST e Educaccedilatildeo in DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia Expressatildeo Popular 2012 (pag 5020
MOLINA Mocircnica SAacute Laiacutes Mouratildeo Escola do Campo in DICIONARIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia Expressatildeo Popular 2012 pg (329)
OLIVEIRA Maria Rita Duarte em sua dissertaccedilatildeo ldquoDos programas oficiais para a educaccedilatildeo rural aos projetos de educaccedilatildeo do campo dos movimentos sociaisrdquo WWWrevistalaborufcbrartigovolume1maria-ritapdf acesso em 08-09-2014
OLIVEIRA Maria Rita Duarte PEDAGOGIA EM MARCHA Apud ARROYO Satildeo Paulo1995( pg 162)
OLIVEIRA Maria Rita Duarte Revistalabor ufcbracesso em 19-10-2014
________ citando CALAZ Maria Rita Duarte Oliveira
47
SANTOS Clarice Aparecida PROGRAMA NACIONAL DE EDUCACcedilAtildeO NA REFORMA AGRAacuteRIA in DICIONARIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia2012(pg630)
________ Clarice Aparecida PROGRAMA NACIONAL DE EDUCACcedilAtildeO NA REFORMA AGRAacuteRIA BRASIacuteLIA 2012 pg 631 in DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO SANTOS Claudio Felix Dos ldquoO aprender a aprender na formaccedilatildeo de professores do campordquo Campinas 2013 Editora Autores Associados ) SOUZA Maria Antocircnia Movimentos Sociais no Brasil Contemporacircneo participaccedilatildeo e possibilidades no contexto das praacuteticas democraacuteticas ndash (wwwcesucptlab2004pdfMariaAntonia Souzapdfaceso em 24-07-2014 -48-
48
Apecircndices
1 Roteiro das Entrevistas
a) Dados dos entrevistados
Qual o seu nome
Masculino ( ) Feminino ( )
Quantos anos vocecirc tecircm
A quanto tempo mora no
assentamento
Onde vocecirc morou antes
de morar no
assentamento
Quantos anos vocecirc tinha
quando foi a escola pela
primeira vez
Estou ateacute qual seacuterieano
Quantos anos vocecirc tinha
quando parou de estudar
Qual motivo motivou vocecirc
a parar de estudar
Se tiver escola no
assentamento vocecirc voltaraacute
a estudar Porque
B) Outras informaccedilotildees dados pelos entrevistadosas (GRAVAR)
a) Em qual escola vocecirc estudou no acampamento ou em outro lugar Qual
b) Como era a escola que estudou Quais as coisas boas e coisas ruins que
tinha nesta escola
c) Conte como eacutefoi a educaccedilatildeo do assentamento o que jaacute existiu de escola
como funcionou e quais eram as boas e as coisas ruins desta escola
d) Jaacute participou de alguma accedilatildeo de mobilizaccedilatildeo para ter escola no
assentamento Se sim explique para que e como foi essa mobilizaccedilatildeo
e) Na sua opiniatildeo no assentamento deve ter escola Por quecirc
f) Como deveraacute ser a escola da comunidadeassentamento Como eacute a escola
que queremos ter
49
b) Entrevistas semi-estruturadas
Entrevistado 01
Moro no assentamento Renascer haacute 11 anos Nasci Carnauacuteba no Rio Grande do
Norte fui criado na roccedila e desde pequeno trabalhava na lavoura para ajudar meu
pai Fui para escola com 9 anos de idade estudei ateacute a 5ordm seacuterie parei de estudar
com 17 anos natildeo continuei os estudos porque era muito longe de onde eu morva
que era na cidade mais proacutexima eu tinha que andar a peacute 8 km ficava muito
cansado Casei e vim morar em Brasiacutelia para trabalhar em uma chaacutecara como
caseiro Morava na chaacutecara Buritis em sobradinho- Df tambeacutem natildeo dei para
continuar os estudos porque ficava longe e tinha que ser a noite e natildeo tinha como ir
Se vier uma escola pra caacute eu ainda vou estudar para ter mais conhecimento para
plantar minha roccedila ir no banco pra ver se assino um empreacutestimo para melhorar
minha produccedilatildeo e saber fazer conta pra administrar minha parcela de terra
Qual o seu nome
Masculino ( X ) Feminino ( )
Quantos anos vocecirc
tecircm
57 anos
A quanto tempo
mora no assentamento
11 anos
Onde vocecirc morou
antes de morar no
assentamento
Carnauacuteba ndash RN
Chaacutecara Buritis nordm 10 Sobradinho DF
Quantos anos vocecirc
tinha quando foi a escola
pela primeira vez
8 anos
Estou ateacute qual
seacuterieano
5ordf seacuterie
Quantos anos vocecirc
tinha quando parou de
estudar
24 anos
Qual motivo
motivou vocecirc a parar de
estudar
Trabalhar para sustento da famiacutelia a
distacircncia entre a casa e a escola
Se tiver escola no
assentamento vocecirc voltaraacute
a estudar Porque
Sim ldquoSe tivesse escola do ensino
fundamental voltaria a estudar para tecirc
mais conhecimento para plantar minha roccedila
50
saber pesar saber contar vendecirc os produto e
comecirc
Entrevistado 02
Moro no assentamento renascer haacute 7 anos tenho 38 vim do interior do Cearaacute
Entrei na escola com 7 anos de idade estudei soacute a 5ordm seacuterie incompleta natildeo
continuei a estudar porque natildeo tinha escola a onde eu morava que era na roccedila e eu
tinha que ficar na casa dozotro (SIC) na cidade e eu natildeo gostava disso natildeo ai parei
com 16 anos de idade Mudamo (SIC) pra Brasiacutelia pra uma chaacutecara perto de Santa
Maria-DF e natildeo dei pra estudar porque casei e tinha que trabalhar muito para
susrentar a famiacutelia A gora moro no assentamento Renascer e sei que um dia vai ter
uma escola aqui e eu vou voltar a estudar porque meu sonho eacute ser veterinaacuterio e vou
der se deus quiser
Entrevistado 03
Tenho 58 anos moro no assentamento Renascer haacute 6 anos vim de Ceres-GO
comecei a estudar quando eu tinha 10 ano de idade estudei ateacute a 4ordf seria primaacuteria
(SIC) parei de estudar quando tinha 16 anos porque eu morava na roccedila e escola
ateacute que natildeo ficava muito longe natildeo era soacute 2 km dava pra ir a peacute a professora eacute que
faltava muito e a gente natildeo tinha como saber se ela tava ou natildeoAiacute quando eu tinha
18 anos casei e vim morar em Brasiacutelia e arranjei(SIC) emprego de caseira em uma
chaacutecara aiacute natildeo pra estudar a noite porque era muito longe pra laacute entatildeo eu natildeo
pensei mais nessas coisas Quando tiver escola no assentamento quero estudar
quiecirc pra mim (SIC) fazer curso de teacutecnico agriacutecolarsquorsquo
Entrevistado 04
Tenho 24 anos moro no assentamento Renascer tem 6 ano vim da Bahia morava
no Condomiacutenio RK entrei na escola com 7 anos de idade e estudei soacute ateacute a 6ordf seacuterie
parei com 18 anos de idade
Porque mudei pra caacute pro assentamento (SIC) e natildeo tem escola e natildeo tem como ir
pra Sobradinho a noite porque eacute muito longe tem que andar 5 km eacute pirigogo (SIC)
tem muita gente mal por aiacute tem ateacute estrupador natildeo posso me arriscar
ldquoSe tivesse escola aqui eu ia terminar meus estudos podia ser no galpatildeo mesmo
pra mim tava bom mas para os meus filhos eu queria uma escola boa com internet
e tudo Eu natildeo gosto que meus filhos estuda(SIC) na cidade soacute aceito porque eacute o
jeito gente de assentamento eacute muito zombado (SIC) porque as vezes chega suja
na escola e os outros acha que eles satildeo porcos que toma banhordquo
Entrevistado 05
51
Tenho 21 anos de idade moro no Renascer haacute trecircs anos vim de satildeo Gabriel-GO
comecei a estudar aos 7 anos parei com 18 anos porque minha matildee mudou
pro(SIC) matildee mudou pro (SIC) assentamento haacute 6 anos e eu natildeo aguento morar
longe dela Quando cheguei aqui natildeo teve como continuar os estudos porque
trabalho durante o dia como manicure em Sobradinho e o uacuteltimo ocircnibus que passa
perto do assentamento eacute as 5 horas da tarde entatildeo natildeo daacute para estudar a noite
Sim porque quero fazer um curso de cabelereiro quando tiver aacutegua e luz aqui eu
quero montar um salatildeo de beleza e para ser uma empresaacuteria precisa ter estudos pra
administrar o negoacutecio
Entrevistado 06
44 anos
6 anos
Formosa-GO
8 anos
5ordf seacuterie
24 anos
Porque a escola mais perto(SIC) era 10km de distacircncia e eu trabalhava na roccedila e
ficava muito cansado aiacute parei natildeo deu mais
Sim quando tiver escola aqui eu vou voltar a estudar Eu tinha um sonho de ser
agroacutenomo mas esse sonho eacute impussive(SIC) entatildeo queria concluir o ensino
fundamental para fazer um curso de teacutecnico agriacutecola no IFB mas tambeacutem eacute longe
se tivesse como estudar aqui no assentamento eu ia(SIC) ficar muito feliz
Entrevistado 07
57 anos
6 anos
Parnaiacuteba-PI- Santa Maria- DF
7 anos
4ordf seacuterie
21 anos
Parei porque era muito difiacutecil ir para escola que ficava muito longe eu tinha que sair
de casa as 4hs da madrugada para chegar na escola as 730 ia montado num
cavalo e muitas vezes natildeo tinha professora pra dar aula Parei porque natildeo aguentei
o rojatildeo tinha que minha matildee na lida a tarde e eu ficava muito cansado Vim pra
52
Brasiacutelia e casei fui trabalhar de chacareiro numa chaacutecara que tambeacutem era longe de
escola depois vim morar aqui no assentamento que natildeo tem escola
Se tivesse escola aqui eu ia voltar estudar soacute pra aprender a cuidar meior (SIC) da
terra e dos meus bichos e que fosse como uma escola agriacutecola
Entrevistado 08
Tenho 29 anos moro no assentamento Renascer haacute 2 anos sou educadora do
Pronera haacute 1 ano e 2 meses O Pronera eacute como um antidepressivo na vida de muita
gente o Pronera melhorou a minha vida e a vida dos meus alunos o desejo de
todos eacute que o Pronera continue crescendo em direccedilatildeo de uma educaccedilatildeo continuada
levando tambeacutem o ensino fundamental para os acampamentos e assentamentos da
Reforma Agraacuteria
-50-
Anexos
53
Acampamento agrave beira da estrada ndash 2004
Construccedilatildeo da Sede do Movimento na atual aacuterea
54
Reuniatildeo semanal
Teatro de fantoches ndash brinquedoteca
55
Accedilatildeo da Pastoral da Crianccedila na brinquedoteca
Oficina de brinquedos reciclaacuteveis
56
Brinquedo confeccionado com materiais reciclaacuteveis na Brinquedoteca
57
58
59
60
Apresentaccedilatildeo teatral
61
Capacitaccedilatildeo em Economia Solidaacuteria
Formaccedilatildeo de multiplicadores da Economia Solidaacuteria
62
Capacitaccedilatildeo de Educadores Ambientais
63
Luta pela Reforma Agraacuteria e Soberania Alimentar
42
A concepccedilatildeo da escola do campo natildeo pode ser imposta ela parte do princiacutepio
que os camponeses devem conquista-la Para essa conquista eacute necessaacuteria a
paixatildeo o desejo por algo ainda natildeo experimentado o amadurecimento poliacutetico-
social-pessoal a participaccedilatildeo coletiva na luta e na conquista
A trajetoacuteria de luta por educaccedilatildeo da comunidade Renascer apresenta estes
elementos agraves vezes difusos outras vezes mais claramente A escola bem que
poderia para alguns ser apenas uma escola rural Afinal aprender a ler e a
escrever ldquodireitordquo como alguns dizem ou seja deixar a condiccedilatildeo de analfabeto ou
analfabeto funcional para tornar-se letrado significaria avanccedilos em face das atuais
circunstacircncias Alguns entendem assim expressando-se principalmente nas
conversas informais
Apesar disso quando as respostas informais ou quando as respostas das
entrevistas satildeo analisadas mais profundamente identificamos que embora
difusamente todos desejam o programa educacional da escola do campo
Explicando melhor a participaccedilatildeo de todos da comunidade em todas as atividades
soacutecio-poliacuteticas-culturais (relatadas no terceiro capitulo) indicam que a comunidade
assimilou a postura soacutecio-politica-cultural que caracterizam a escola do campo
A vivecircncia do Assentamento Renascer no cotidiano e nos eventos coletivos
amadureceu o desejo pelo alimento intelectual cultural artiacutestico ambiental social
que a concepccedilatildeo de escola do campo introduz O programa educacional da Escola
do Campo ultrapassou as paredes fiacutesicas da escola e alcanccedilou o cotidiano dos
assentados
Os avanccedilos da conscientizaccedilatildeo e seu reflexo na vida do Assentamento Renascer
satildeo sentidos nos nuacutemeros de matriculados na LEdoC sete (7) alunos
aproximadamente dez (10) assentados prestaratildeo o proacuteximo vestibular trecircs (3)
assentados estatildeo matriculados no IFB dois(2) assentados estatildeo formados em
Teacutecnico Agropecuaacuterio tambeacutem pelo IFB um deles cursa o Tecnoacutelogo de
Agroecologia tambeacutem do IFB
Vale acrescentar que no iniacutecio de 2014 quando o IFB buscou no Assentamento
pessoas interessadas em matricular-se em seus cursos sob a condiccedilatildeo de
estudarem no ensino meacutedio o interesse foi grande e a impossibilidade pelo fato de
natildeo estarem habilitados no ensino fundamental provocou tanta discussatildeo que
estimulou essa pesquisa
43
O legado desses alunos futuros alunos e profissionais para o futuro do
Assentamento apresentaraacute resultados significativos para toda a comunidade O
futuro colheraacute bons frutos plantados agora
A escola que temos natildeo estaacute funcionando falta a renovaccedilatildeo do contrato o que
atrasa a alfabetizaccedilatildeo e conclusatildeo do 5ordm ano Falta a implantaccedilatildeo de poliacuteticas
puacuteblicas para atendimento de questotildees baacutesicas como por exemplo carteiras
quadro de giz iluminaccedilatildeo espaccedilo fiacutesico (dependecircncias para a escola) e mobiliaacuterio
-41-
44
Consideraccedilotildees Finais
A Educaccedilatildeo do campo eacute um movimento em que os trabalhadores do campo e
suas organizaccedilotildees lutam por transformaccedilotildees sociais particularmente a criaccedilatildeo de
escolas dono campo de qualidade a partir de uma perspectiva ampla de reforma
agraacuteria
A construccedilatildeo da educaccedilatildeo do campo eacute resultado do amadurecimento dos
movimentos sociais e das comunidades rurais em sua trajetoacuteria de luta pelo direito
fundamental agrave universalizaccedilatildeo escolar para as populaccedilotildees camponesas segundo
orientaccedilatildeo poliacutetico-pedagoacutegica adequada agrave realidade dos lutadores de
acampamentos e assentamentos em luta pela reforma agraacuteria e justiccedila social
Alguns princiacutepios caracterizam a luta pela escola do campo Dentre eles
podemos citar a criaccedilatildeo da consciecircncia do direito agrave educaccedilatildeo de qualidade plantada
na proacutepria comunidade o que provoca o enraizamento a valorizaccedilatildeo da vida no
campo a promoccedilatildeo da autoestima e a transformaccedilatildeo do ser alienado pela ideologia
e desigualdade social e sujeito de sua proacutepria histoacuteria
Outro princiacutepio eacute a adequaccedilatildeo de curriacuteculos agrave realidade camponesa de modo
a que o processo ensino-aprendizagem favoreccedila o amadurecimento de talentos
naturais o surgimento de oportunidades a niacutevel pessoal e social contribuindo para a
emancipaccedilatildeo poliacutetico-social do indiviacuteduo com reflexos na sociedade
A mudanccedila de paradigmas e o envolvimento social provocam a formaccedilatildeo integral
dos sujeitos que lutam de forma coletiva e solidaacuteria pela terra A escola do campo
que surge dessa mudanccedila eacute tambeacutem transformadora porque eacute fruto da luta
consciente que gera a reflexatildeo e o amadurecimento poliacutetico deixando um legado
positivo de cidadatildeos orgulhosos de sua condiccedilatildeo de lutador pela terra de sua
identidade de sua cultura de sua comunidade e coletividade
A escola do campo propicia aos alunos a reflexatildeo sobre o contexto social e a
problemaacutetica da comunidade em que estatildeo inseridos o respeito agrave individualidade a
ampliaccedilatildeo das potencialidades do aluno para organizar elaborar e atuar
coletivamente Deixam o legado futuro de homens responsaacuteveis mentes
independentes e atuantes que poderatildeo prestar serviccedilos significativos agrave sociedade
45
A comunidade assentada de o Assentamento Renascer pela Reforma
Agraacuteria em Sobradinho DF foi convidada a opinar sobre a escola que deseja a
partir da conquista da terra
O modelo proposto a partir de seu posicionamento possibilita a conclusatildeo
de que a escola do campo plantada na comunidade eacute preferiacutevel ao modelo
adotado atualmente de inserccedilatildeo dos alunos da comunidade agraves escolas urbanas
conter recursos materiais e humanos que propiciem bons resultados
pedagoacutegicos deve servir para fixar o trabalhador ao campo deve cumprir com o
propoacutesito constitucional de universalizaccedilatildeo do ensino para todas as faixas
etaacuterias deve estar identificada com os sonhos de prosperidade material e
realizaccedilatildeo pessoal dos assentados
-46-
46
Referecircncias Bibliograacuteficas
CANUTO Antocircnio In Comissatildeo Pastoral da Terra DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO 2012 pag 131) CLAUDIA MORAES DE SOUZA em seu artigo lsquoDiscursos intolerantes O lugar da poliacutetica na educaccedilatildeo rural e a representaccedilatildeo do camponecircs analfabeto (DIVERSITAS FFLCH USPBR)acesso em 03-08-2014 EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO ndash Marcos Normativos Brasilia 2012 MEC FERRARO Alceu Ravanello em seu artigo Alfabetizaccedilatildeo rural no Brasil na perspectiva das relaccedilotildees campo-cidade e de gecircnero (Educ Real ndash WWWSCIELOBRPDFEDREALV37N3PDF acesso 03-10-2014 FERREIRA (2011_ ldquoUm olhar histoacuterico uma realidade concretardquo (WWWUNIFILBR)acesso 20-10-2014
FERRARI Marco ldquoAniacutesio Teixeira o inventor da escola puacuteblica no Brasilrdquo Revista Nova Escola Fundaccedilatildeo Victor Civita Revistaescolaabrilcombr acesso em 14092014 FERREIRA Fabiano de Jesus BRANDAtildeO Elias Canuto ndash Revista Eletrocircnica de Educaccedilatildeo Ano V N 09 juldez 2011p3 ldquoEducaccedilatildeo do campo um olhar histoacuterico uma realidade concreta rdquo (WWWUNIFILBR acesso em 08 de agosto de 2014) GONCcedilALVES Luiz Alberto Oliveira e Pinto Regina Pahim EDUCACcedilAtildeO SEacuteRIE JUSTICcedilA E DESENVOLVIMENTO IFP-FCC FUNDACcedilAtildeO CARLOS CHAGAS 2007 SAtildeO PAULO (pag206)
KOLLING Edgar Jorge Vargas Caldart MST e Educaccedilatildeo in DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia Expressatildeo Popular 2012 (pag 5020
MOLINA Mocircnica SAacute Laiacutes Mouratildeo Escola do Campo in DICIONARIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia Expressatildeo Popular 2012 pg (329)
OLIVEIRA Maria Rita Duarte em sua dissertaccedilatildeo ldquoDos programas oficiais para a educaccedilatildeo rural aos projetos de educaccedilatildeo do campo dos movimentos sociaisrdquo WWWrevistalaborufcbrartigovolume1maria-ritapdf acesso em 08-09-2014
OLIVEIRA Maria Rita Duarte PEDAGOGIA EM MARCHA Apud ARROYO Satildeo Paulo1995( pg 162)
OLIVEIRA Maria Rita Duarte Revistalabor ufcbracesso em 19-10-2014
________ citando CALAZ Maria Rita Duarte Oliveira
47
SANTOS Clarice Aparecida PROGRAMA NACIONAL DE EDUCACcedilAtildeO NA REFORMA AGRAacuteRIA in DICIONARIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia2012(pg630)
________ Clarice Aparecida PROGRAMA NACIONAL DE EDUCACcedilAtildeO NA REFORMA AGRAacuteRIA BRASIacuteLIA 2012 pg 631 in DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO SANTOS Claudio Felix Dos ldquoO aprender a aprender na formaccedilatildeo de professores do campordquo Campinas 2013 Editora Autores Associados ) SOUZA Maria Antocircnia Movimentos Sociais no Brasil Contemporacircneo participaccedilatildeo e possibilidades no contexto das praacuteticas democraacuteticas ndash (wwwcesucptlab2004pdfMariaAntonia Souzapdfaceso em 24-07-2014 -48-
48
Apecircndices
1 Roteiro das Entrevistas
a) Dados dos entrevistados
Qual o seu nome
Masculino ( ) Feminino ( )
Quantos anos vocecirc tecircm
A quanto tempo mora no
assentamento
Onde vocecirc morou antes
de morar no
assentamento
Quantos anos vocecirc tinha
quando foi a escola pela
primeira vez
Estou ateacute qual seacuterieano
Quantos anos vocecirc tinha
quando parou de estudar
Qual motivo motivou vocecirc
a parar de estudar
Se tiver escola no
assentamento vocecirc voltaraacute
a estudar Porque
B) Outras informaccedilotildees dados pelos entrevistadosas (GRAVAR)
a) Em qual escola vocecirc estudou no acampamento ou em outro lugar Qual
b) Como era a escola que estudou Quais as coisas boas e coisas ruins que
tinha nesta escola
c) Conte como eacutefoi a educaccedilatildeo do assentamento o que jaacute existiu de escola
como funcionou e quais eram as boas e as coisas ruins desta escola
d) Jaacute participou de alguma accedilatildeo de mobilizaccedilatildeo para ter escola no
assentamento Se sim explique para que e como foi essa mobilizaccedilatildeo
e) Na sua opiniatildeo no assentamento deve ter escola Por quecirc
f) Como deveraacute ser a escola da comunidadeassentamento Como eacute a escola
que queremos ter
49
b) Entrevistas semi-estruturadas
Entrevistado 01
Moro no assentamento Renascer haacute 11 anos Nasci Carnauacuteba no Rio Grande do
Norte fui criado na roccedila e desde pequeno trabalhava na lavoura para ajudar meu
pai Fui para escola com 9 anos de idade estudei ateacute a 5ordm seacuterie parei de estudar
com 17 anos natildeo continuei os estudos porque era muito longe de onde eu morva
que era na cidade mais proacutexima eu tinha que andar a peacute 8 km ficava muito
cansado Casei e vim morar em Brasiacutelia para trabalhar em uma chaacutecara como
caseiro Morava na chaacutecara Buritis em sobradinho- Df tambeacutem natildeo dei para
continuar os estudos porque ficava longe e tinha que ser a noite e natildeo tinha como ir
Se vier uma escola pra caacute eu ainda vou estudar para ter mais conhecimento para
plantar minha roccedila ir no banco pra ver se assino um empreacutestimo para melhorar
minha produccedilatildeo e saber fazer conta pra administrar minha parcela de terra
Qual o seu nome
Masculino ( X ) Feminino ( )
Quantos anos vocecirc
tecircm
57 anos
A quanto tempo
mora no assentamento
11 anos
Onde vocecirc morou
antes de morar no
assentamento
Carnauacuteba ndash RN
Chaacutecara Buritis nordm 10 Sobradinho DF
Quantos anos vocecirc
tinha quando foi a escola
pela primeira vez
8 anos
Estou ateacute qual
seacuterieano
5ordf seacuterie
Quantos anos vocecirc
tinha quando parou de
estudar
24 anos
Qual motivo
motivou vocecirc a parar de
estudar
Trabalhar para sustento da famiacutelia a
distacircncia entre a casa e a escola
Se tiver escola no
assentamento vocecirc voltaraacute
a estudar Porque
Sim ldquoSe tivesse escola do ensino
fundamental voltaria a estudar para tecirc
mais conhecimento para plantar minha roccedila
50
saber pesar saber contar vendecirc os produto e
comecirc
Entrevistado 02
Moro no assentamento renascer haacute 7 anos tenho 38 vim do interior do Cearaacute
Entrei na escola com 7 anos de idade estudei soacute a 5ordm seacuterie incompleta natildeo
continuei a estudar porque natildeo tinha escola a onde eu morava que era na roccedila e eu
tinha que ficar na casa dozotro (SIC) na cidade e eu natildeo gostava disso natildeo ai parei
com 16 anos de idade Mudamo (SIC) pra Brasiacutelia pra uma chaacutecara perto de Santa
Maria-DF e natildeo dei pra estudar porque casei e tinha que trabalhar muito para
susrentar a famiacutelia A gora moro no assentamento Renascer e sei que um dia vai ter
uma escola aqui e eu vou voltar a estudar porque meu sonho eacute ser veterinaacuterio e vou
der se deus quiser
Entrevistado 03
Tenho 58 anos moro no assentamento Renascer haacute 6 anos vim de Ceres-GO
comecei a estudar quando eu tinha 10 ano de idade estudei ateacute a 4ordf seria primaacuteria
(SIC) parei de estudar quando tinha 16 anos porque eu morava na roccedila e escola
ateacute que natildeo ficava muito longe natildeo era soacute 2 km dava pra ir a peacute a professora eacute que
faltava muito e a gente natildeo tinha como saber se ela tava ou natildeoAiacute quando eu tinha
18 anos casei e vim morar em Brasiacutelia e arranjei(SIC) emprego de caseira em uma
chaacutecara aiacute natildeo pra estudar a noite porque era muito longe pra laacute entatildeo eu natildeo
pensei mais nessas coisas Quando tiver escola no assentamento quero estudar
quiecirc pra mim (SIC) fazer curso de teacutecnico agriacutecolarsquorsquo
Entrevistado 04
Tenho 24 anos moro no assentamento Renascer tem 6 ano vim da Bahia morava
no Condomiacutenio RK entrei na escola com 7 anos de idade e estudei soacute ateacute a 6ordf seacuterie
parei com 18 anos de idade
Porque mudei pra caacute pro assentamento (SIC) e natildeo tem escola e natildeo tem como ir
pra Sobradinho a noite porque eacute muito longe tem que andar 5 km eacute pirigogo (SIC)
tem muita gente mal por aiacute tem ateacute estrupador natildeo posso me arriscar
ldquoSe tivesse escola aqui eu ia terminar meus estudos podia ser no galpatildeo mesmo
pra mim tava bom mas para os meus filhos eu queria uma escola boa com internet
e tudo Eu natildeo gosto que meus filhos estuda(SIC) na cidade soacute aceito porque eacute o
jeito gente de assentamento eacute muito zombado (SIC) porque as vezes chega suja
na escola e os outros acha que eles satildeo porcos que toma banhordquo
Entrevistado 05
51
Tenho 21 anos de idade moro no Renascer haacute trecircs anos vim de satildeo Gabriel-GO
comecei a estudar aos 7 anos parei com 18 anos porque minha matildee mudou
pro(SIC) matildee mudou pro (SIC) assentamento haacute 6 anos e eu natildeo aguento morar
longe dela Quando cheguei aqui natildeo teve como continuar os estudos porque
trabalho durante o dia como manicure em Sobradinho e o uacuteltimo ocircnibus que passa
perto do assentamento eacute as 5 horas da tarde entatildeo natildeo daacute para estudar a noite
Sim porque quero fazer um curso de cabelereiro quando tiver aacutegua e luz aqui eu
quero montar um salatildeo de beleza e para ser uma empresaacuteria precisa ter estudos pra
administrar o negoacutecio
Entrevistado 06
44 anos
6 anos
Formosa-GO
8 anos
5ordf seacuterie
24 anos
Porque a escola mais perto(SIC) era 10km de distacircncia e eu trabalhava na roccedila e
ficava muito cansado aiacute parei natildeo deu mais
Sim quando tiver escola aqui eu vou voltar a estudar Eu tinha um sonho de ser
agroacutenomo mas esse sonho eacute impussive(SIC) entatildeo queria concluir o ensino
fundamental para fazer um curso de teacutecnico agriacutecola no IFB mas tambeacutem eacute longe
se tivesse como estudar aqui no assentamento eu ia(SIC) ficar muito feliz
Entrevistado 07
57 anos
6 anos
Parnaiacuteba-PI- Santa Maria- DF
7 anos
4ordf seacuterie
21 anos
Parei porque era muito difiacutecil ir para escola que ficava muito longe eu tinha que sair
de casa as 4hs da madrugada para chegar na escola as 730 ia montado num
cavalo e muitas vezes natildeo tinha professora pra dar aula Parei porque natildeo aguentei
o rojatildeo tinha que minha matildee na lida a tarde e eu ficava muito cansado Vim pra
52
Brasiacutelia e casei fui trabalhar de chacareiro numa chaacutecara que tambeacutem era longe de
escola depois vim morar aqui no assentamento que natildeo tem escola
Se tivesse escola aqui eu ia voltar estudar soacute pra aprender a cuidar meior (SIC) da
terra e dos meus bichos e que fosse como uma escola agriacutecola
Entrevistado 08
Tenho 29 anos moro no assentamento Renascer haacute 2 anos sou educadora do
Pronera haacute 1 ano e 2 meses O Pronera eacute como um antidepressivo na vida de muita
gente o Pronera melhorou a minha vida e a vida dos meus alunos o desejo de
todos eacute que o Pronera continue crescendo em direccedilatildeo de uma educaccedilatildeo continuada
levando tambeacutem o ensino fundamental para os acampamentos e assentamentos da
Reforma Agraacuteria
-50-
Anexos
53
Acampamento agrave beira da estrada ndash 2004
Construccedilatildeo da Sede do Movimento na atual aacuterea
54
Reuniatildeo semanal
Teatro de fantoches ndash brinquedoteca
55
Accedilatildeo da Pastoral da Crianccedila na brinquedoteca
Oficina de brinquedos reciclaacuteveis
56
Brinquedo confeccionado com materiais reciclaacuteveis na Brinquedoteca
57
58
59
60
Apresentaccedilatildeo teatral
61
Capacitaccedilatildeo em Economia Solidaacuteria
Formaccedilatildeo de multiplicadores da Economia Solidaacuteria
62
Capacitaccedilatildeo de Educadores Ambientais
63
Luta pela Reforma Agraacuteria e Soberania Alimentar
43
O legado desses alunos futuros alunos e profissionais para o futuro do
Assentamento apresentaraacute resultados significativos para toda a comunidade O
futuro colheraacute bons frutos plantados agora
A escola que temos natildeo estaacute funcionando falta a renovaccedilatildeo do contrato o que
atrasa a alfabetizaccedilatildeo e conclusatildeo do 5ordm ano Falta a implantaccedilatildeo de poliacuteticas
puacuteblicas para atendimento de questotildees baacutesicas como por exemplo carteiras
quadro de giz iluminaccedilatildeo espaccedilo fiacutesico (dependecircncias para a escola) e mobiliaacuterio
-41-
44
Consideraccedilotildees Finais
A Educaccedilatildeo do campo eacute um movimento em que os trabalhadores do campo e
suas organizaccedilotildees lutam por transformaccedilotildees sociais particularmente a criaccedilatildeo de
escolas dono campo de qualidade a partir de uma perspectiva ampla de reforma
agraacuteria
A construccedilatildeo da educaccedilatildeo do campo eacute resultado do amadurecimento dos
movimentos sociais e das comunidades rurais em sua trajetoacuteria de luta pelo direito
fundamental agrave universalizaccedilatildeo escolar para as populaccedilotildees camponesas segundo
orientaccedilatildeo poliacutetico-pedagoacutegica adequada agrave realidade dos lutadores de
acampamentos e assentamentos em luta pela reforma agraacuteria e justiccedila social
Alguns princiacutepios caracterizam a luta pela escola do campo Dentre eles
podemos citar a criaccedilatildeo da consciecircncia do direito agrave educaccedilatildeo de qualidade plantada
na proacutepria comunidade o que provoca o enraizamento a valorizaccedilatildeo da vida no
campo a promoccedilatildeo da autoestima e a transformaccedilatildeo do ser alienado pela ideologia
e desigualdade social e sujeito de sua proacutepria histoacuteria
Outro princiacutepio eacute a adequaccedilatildeo de curriacuteculos agrave realidade camponesa de modo
a que o processo ensino-aprendizagem favoreccedila o amadurecimento de talentos
naturais o surgimento de oportunidades a niacutevel pessoal e social contribuindo para a
emancipaccedilatildeo poliacutetico-social do indiviacuteduo com reflexos na sociedade
A mudanccedila de paradigmas e o envolvimento social provocam a formaccedilatildeo integral
dos sujeitos que lutam de forma coletiva e solidaacuteria pela terra A escola do campo
que surge dessa mudanccedila eacute tambeacutem transformadora porque eacute fruto da luta
consciente que gera a reflexatildeo e o amadurecimento poliacutetico deixando um legado
positivo de cidadatildeos orgulhosos de sua condiccedilatildeo de lutador pela terra de sua
identidade de sua cultura de sua comunidade e coletividade
A escola do campo propicia aos alunos a reflexatildeo sobre o contexto social e a
problemaacutetica da comunidade em que estatildeo inseridos o respeito agrave individualidade a
ampliaccedilatildeo das potencialidades do aluno para organizar elaborar e atuar
coletivamente Deixam o legado futuro de homens responsaacuteveis mentes
independentes e atuantes que poderatildeo prestar serviccedilos significativos agrave sociedade
45
A comunidade assentada de o Assentamento Renascer pela Reforma
Agraacuteria em Sobradinho DF foi convidada a opinar sobre a escola que deseja a
partir da conquista da terra
O modelo proposto a partir de seu posicionamento possibilita a conclusatildeo
de que a escola do campo plantada na comunidade eacute preferiacutevel ao modelo
adotado atualmente de inserccedilatildeo dos alunos da comunidade agraves escolas urbanas
conter recursos materiais e humanos que propiciem bons resultados
pedagoacutegicos deve servir para fixar o trabalhador ao campo deve cumprir com o
propoacutesito constitucional de universalizaccedilatildeo do ensino para todas as faixas
etaacuterias deve estar identificada com os sonhos de prosperidade material e
realizaccedilatildeo pessoal dos assentados
-46-
46
Referecircncias Bibliograacuteficas
CANUTO Antocircnio In Comissatildeo Pastoral da Terra DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO 2012 pag 131) CLAUDIA MORAES DE SOUZA em seu artigo lsquoDiscursos intolerantes O lugar da poliacutetica na educaccedilatildeo rural e a representaccedilatildeo do camponecircs analfabeto (DIVERSITAS FFLCH USPBR)acesso em 03-08-2014 EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO ndash Marcos Normativos Brasilia 2012 MEC FERRARO Alceu Ravanello em seu artigo Alfabetizaccedilatildeo rural no Brasil na perspectiva das relaccedilotildees campo-cidade e de gecircnero (Educ Real ndash WWWSCIELOBRPDFEDREALV37N3PDF acesso 03-10-2014 FERREIRA (2011_ ldquoUm olhar histoacuterico uma realidade concretardquo (WWWUNIFILBR)acesso 20-10-2014
FERRARI Marco ldquoAniacutesio Teixeira o inventor da escola puacuteblica no Brasilrdquo Revista Nova Escola Fundaccedilatildeo Victor Civita Revistaescolaabrilcombr acesso em 14092014 FERREIRA Fabiano de Jesus BRANDAtildeO Elias Canuto ndash Revista Eletrocircnica de Educaccedilatildeo Ano V N 09 juldez 2011p3 ldquoEducaccedilatildeo do campo um olhar histoacuterico uma realidade concreta rdquo (WWWUNIFILBR acesso em 08 de agosto de 2014) GONCcedilALVES Luiz Alberto Oliveira e Pinto Regina Pahim EDUCACcedilAtildeO SEacuteRIE JUSTICcedilA E DESENVOLVIMENTO IFP-FCC FUNDACcedilAtildeO CARLOS CHAGAS 2007 SAtildeO PAULO (pag206)
KOLLING Edgar Jorge Vargas Caldart MST e Educaccedilatildeo in DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia Expressatildeo Popular 2012 (pag 5020
MOLINA Mocircnica SAacute Laiacutes Mouratildeo Escola do Campo in DICIONARIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia Expressatildeo Popular 2012 pg (329)
OLIVEIRA Maria Rita Duarte em sua dissertaccedilatildeo ldquoDos programas oficiais para a educaccedilatildeo rural aos projetos de educaccedilatildeo do campo dos movimentos sociaisrdquo WWWrevistalaborufcbrartigovolume1maria-ritapdf acesso em 08-09-2014
OLIVEIRA Maria Rita Duarte PEDAGOGIA EM MARCHA Apud ARROYO Satildeo Paulo1995( pg 162)
OLIVEIRA Maria Rita Duarte Revistalabor ufcbracesso em 19-10-2014
________ citando CALAZ Maria Rita Duarte Oliveira
47
SANTOS Clarice Aparecida PROGRAMA NACIONAL DE EDUCACcedilAtildeO NA REFORMA AGRAacuteRIA in DICIONARIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia2012(pg630)
________ Clarice Aparecida PROGRAMA NACIONAL DE EDUCACcedilAtildeO NA REFORMA AGRAacuteRIA BRASIacuteLIA 2012 pg 631 in DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO SANTOS Claudio Felix Dos ldquoO aprender a aprender na formaccedilatildeo de professores do campordquo Campinas 2013 Editora Autores Associados ) SOUZA Maria Antocircnia Movimentos Sociais no Brasil Contemporacircneo participaccedilatildeo e possibilidades no contexto das praacuteticas democraacuteticas ndash (wwwcesucptlab2004pdfMariaAntonia Souzapdfaceso em 24-07-2014 -48-
48
Apecircndices
1 Roteiro das Entrevistas
a) Dados dos entrevistados
Qual o seu nome
Masculino ( ) Feminino ( )
Quantos anos vocecirc tecircm
A quanto tempo mora no
assentamento
Onde vocecirc morou antes
de morar no
assentamento
Quantos anos vocecirc tinha
quando foi a escola pela
primeira vez
Estou ateacute qual seacuterieano
Quantos anos vocecirc tinha
quando parou de estudar
Qual motivo motivou vocecirc
a parar de estudar
Se tiver escola no
assentamento vocecirc voltaraacute
a estudar Porque
B) Outras informaccedilotildees dados pelos entrevistadosas (GRAVAR)
a) Em qual escola vocecirc estudou no acampamento ou em outro lugar Qual
b) Como era a escola que estudou Quais as coisas boas e coisas ruins que
tinha nesta escola
c) Conte como eacutefoi a educaccedilatildeo do assentamento o que jaacute existiu de escola
como funcionou e quais eram as boas e as coisas ruins desta escola
d) Jaacute participou de alguma accedilatildeo de mobilizaccedilatildeo para ter escola no
assentamento Se sim explique para que e como foi essa mobilizaccedilatildeo
e) Na sua opiniatildeo no assentamento deve ter escola Por quecirc
f) Como deveraacute ser a escola da comunidadeassentamento Como eacute a escola
que queremos ter
49
b) Entrevistas semi-estruturadas
Entrevistado 01
Moro no assentamento Renascer haacute 11 anos Nasci Carnauacuteba no Rio Grande do
Norte fui criado na roccedila e desde pequeno trabalhava na lavoura para ajudar meu
pai Fui para escola com 9 anos de idade estudei ateacute a 5ordm seacuterie parei de estudar
com 17 anos natildeo continuei os estudos porque era muito longe de onde eu morva
que era na cidade mais proacutexima eu tinha que andar a peacute 8 km ficava muito
cansado Casei e vim morar em Brasiacutelia para trabalhar em uma chaacutecara como
caseiro Morava na chaacutecara Buritis em sobradinho- Df tambeacutem natildeo dei para
continuar os estudos porque ficava longe e tinha que ser a noite e natildeo tinha como ir
Se vier uma escola pra caacute eu ainda vou estudar para ter mais conhecimento para
plantar minha roccedila ir no banco pra ver se assino um empreacutestimo para melhorar
minha produccedilatildeo e saber fazer conta pra administrar minha parcela de terra
Qual o seu nome
Masculino ( X ) Feminino ( )
Quantos anos vocecirc
tecircm
57 anos
A quanto tempo
mora no assentamento
11 anos
Onde vocecirc morou
antes de morar no
assentamento
Carnauacuteba ndash RN
Chaacutecara Buritis nordm 10 Sobradinho DF
Quantos anos vocecirc
tinha quando foi a escola
pela primeira vez
8 anos
Estou ateacute qual
seacuterieano
5ordf seacuterie
Quantos anos vocecirc
tinha quando parou de
estudar
24 anos
Qual motivo
motivou vocecirc a parar de
estudar
Trabalhar para sustento da famiacutelia a
distacircncia entre a casa e a escola
Se tiver escola no
assentamento vocecirc voltaraacute
a estudar Porque
Sim ldquoSe tivesse escola do ensino
fundamental voltaria a estudar para tecirc
mais conhecimento para plantar minha roccedila
50
saber pesar saber contar vendecirc os produto e
comecirc
Entrevistado 02
Moro no assentamento renascer haacute 7 anos tenho 38 vim do interior do Cearaacute
Entrei na escola com 7 anos de idade estudei soacute a 5ordm seacuterie incompleta natildeo
continuei a estudar porque natildeo tinha escola a onde eu morava que era na roccedila e eu
tinha que ficar na casa dozotro (SIC) na cidade e eu natildeo gostava disso natildeo ai parei
com 16 anos de idade Mudamo (SIC) pra Brasiacutelia pra uma chaacutecara perto de Santa
Maria-DF e natildeo dei pra estudar porque casei e tinha que trabalhar muito para
susrentar a famiacutelia A gora moro no assentamento Renascer e sei que um dia vai ter
uma escola aqui e eu vou voltar a estudar porque meu sonho eacute ser veterinaacuterio e vou
der se deus quiser
Entrevistado 03
Tenho 58 anos moro no assentamento Renascer haacute 6 anos vim de Ceres-GO
comecei a estudar quando eu tinha 10 ano de idade estudei ateacute a 4ordf seria primaacuteria
(SIC) parei de estudar quando tinha 16 anos porque eu morava na roccedila e escola
ateacute que natildeo ficava muito longe natildeo era soacute 2 km dava pra ir a peacute a professora eacute que
faltava muito e a gente natildeo tinha como saber se ela tava ou natildeoAiacute quando eu tinha
18 anos casei e vim morar em Brasiacutelia e arranjei(SIC) emprego de caseira em uma
chaacutecara aiacute natildeo pra estudar a noite porque era muito longe pra laacute entatildeo eu natildeo
pensei mais nessas coisas Quando tiver escola no assentamento quero estudar
quiecirc pra mim (SIC) fazer curso de teacutecnico agriacutecolarsquorsquo
Entrevistado 04
Tenho 24 anos moro no assentamento Renascer tem 6 ano vim da Bahia morava
no Condomiacutenio RK entrei na escola com 7 anos de idade e estudei soacute ateacute a 6ordf seacuterie
parei com 18 anos de idade
Porque mudei pra caacute pro assentamento (SIC) e natildeo tem escola e natildeo tem como ir
pra Sobradinho a noite porque eacute muito longe tem que andar 5 km eacute pirigogo (SIC)
tem muita gente mal por aiacute tem ateacute estrupador natildeo posso me arriscar
ldquoSe tivesse escola aqui eu ia terminar meus estudos podia ser no galpatildeo mesmo
pra mim tava bom mas para os meus filhos eu queria uma escola boa com internet
e tudo Eu natildeo gosto que meus filhos estuda(SIC) na cidade soacute aceito porque eacute o
jeito gente de assentamento eacute muito zombado (SIC) porque as vezes chega suja
na escola e os outros acha que eles satildeo porcos que toma banhordquo
Entrevistado 05
51
Tenho 21 anos de idade moro no Renascer haacute trecircs anos vim de satildeo Gabriel-GO
comecei a estudar aos 7 anos parei com 18 anos porque minha matildee mudou
pro(SIC) matildee mudou pro (SIC) assentamento haacute 6 anos e eu natildeo aguento morar
longe dela Quando cheguei aqui natildeo teve como continuar os estudos porque
trabalho durante o dia como manicure em Sobradinho e o uacuteltimo ocircnibus que passa
perto do assentamento eacute as 5 horas da tarde entatildeo natildeo daacute para estudar a noite
Sim porque quero fazer um curso de cabelereiro quando tiver aacutegua e luz aqui eu
quero montar um salatildeo de beleza e para ser uma empresaacuteria precisa ter estudos pra
administrar o negoacutecio
Entrevistado 06
44 anos
6 anos
Formosa-GO
8 anos
5ordf seacuterie
24 anos
Porque a escola mais perto(SIC) era 10km de distacircncia e eu trabalhava na roccedila e
ficava muito cansado aiacute parei natildeo deu mais
Sim quando tiver escola aqui eu vou voltar a estudar Eu tinha um sonho de ser
agroacutenomo mas esse sonho eacute impussive(SIC) entatildeo queria concluir o ensino
fundamental para fazer um curso de teacutecnico agriacutecola no IFB mas tambeacutem eacute longe
se tivesse como estudar aqui no assentamento eu ia(SIC) ficar muito feliz
Entrevistado 07
57 anos
6 anos
Parnaiacuteba-PI- Santa Maria- DF
7 anos
4ordf seacuterie
21 anos
Parei porque era muito difiacutecil ir para escola que ficava muito longe eu tinha que sair
de casa as 4hs da madrugada para chegar na escola as 730 ia montado num
cavalo e muitas vezes natildeo tinha professora pra dar aula Parei porque natildeo aguentei
o rojatildeo tinha que minha matildee na lida a tarde e eu ficava muito cansado Vim pra
52
Brasiacutelia e casei fui trabalhar de chacareiro numa chaacutecara que tambeacutem era longe de
escola depois vim morar aqui no assentamento que natildeo tem escola
Se tivesse escola aqui eu ia voltar estudar soacute pra aprender a cuidar meior (SIC) da
terra e dos meus bichos e que fosse como uma escola agriacutecola
Entrevistado 08
Tenho 29 anos moro no assentamento Renascer haacute 2 anos sou educadora do
Pronera haacute 1 ano e 2 meses O Pronera eacute como um antidepressivo na vida de muita
gente o Pronera melhorou a minha vida e a vida dos meus alunos o desejo de
todos eacute que o Pronera continue crescendo em direccedilatildeo de uma educaccedilatildeo continuada
levando tambeacutem o ensino fundamental para os acampamentos e assentamentos da
Reforma Agraacuteria
-50-
Anexos
53
Acampamento agrave beira da estrada ndash 2004
Construccedilatildeo da Sede do Movimento na atual aacuterea
54
Reuniatildeo semanal
Teatro de fantoches ndash brinquedoteca
55
Accedilatildeo da Pastoral da Crianccedila na brinquedoteca
Oficina de brinquedos reciclaacuteveis
56
Brinquedo confeccionado com materiais reciclaacuteveis na Brinquedoteca
57
58
59
60
Apresentaccedilatildeo teatral
61
Capacitaccedilatildeo em Economia Solidaacuteria
Formaccedilatildeo de multiplicadores da Economia Solidaacuteria
62
Capacitaccedilatildeo de Educadores Ambientais
63
Luta pela Reforma Agraacuteria e Soberania Alimentar
44
Consideraccedilotildees Finais
A Educaccedilatildeo do campo eacute um movimento em que os trabalhadores do campo e
suas organizaccedilotildees lutam por transformaccedilotildees sociais particularmente a criaccedilatildeo de
escolas dono campo de qualidade a partir de uma perspectiva ampla de reforma
agraacuteria
A construccedilatildeo da educaccedilatildeo do campo eacute resultado do amadurecimento dos
movimentos sociais e das comunidades rurais em sua trajetoacuteria de luta pelo direito
fundamental agrave universalizaccedilatildeo escolar para as populaccedilotildees camponesas segundo
orientaccedilatildeo poliacutetico-pedagoacutegica adequada agrave realidade dos lutadores de
acampamentos e assentamentos em luta pela reforma agraacuteria e justiccedila social
Alguns princiacutepios caracterizam a luta pela escola do campo Dentre eles
podemos citar a criaccedilatildeo da consciecircncia do direito agrave educaccedilatildeo de qualidade plantada
na proacutepria comunidade o que provoca o enraizamento a valorizaccedilatildeo da vida no
campo a promoccedilatildeo da autoestima e a transformaccedilatildeo do ser alienado pela ideologia
e desigualdade social e sujeito de sua proacutepria histoacuteria
Outro princiacutepio eacute a adequaccedilatildeo de curriacuteculos agrave realidade camponesa de modo
a que o processo ensino-aprendizagem favoreccedila o amadurecimento de talentos
naturais o surgimento de oportunidades a niacutevel pessoal e social contribuindo para a
emancipaccedilatildeo poliacutetico-social do indiviacuteduo com reflexos na sociedade
A mudanccedila de paradigmas e o envolvimento social provocam a formaccedilatildeo integral
dos sujeitos que lutam de forma coletiva e solidaacuteria pela terra A escola do campo
que surge dessa mudanccedila eacute tambeacutem transformadora porque eacute fruto da luta
consciente que gera a reflexatildeo e o amadurecimento poliacutetico deixando um legado
positivo de cidadatildeos orgulhosos de sua condiccedilatildeo de lutador pela terra de sua
identidade de sua cultura de sua comunidade e coletividade
A escola do campo propicia aos alunos a reflexatildeo sobre o contexto social e a
problemaacutetica da comunidade em que estatildeo inseridos o respeito agrave individualidade a
ampliaccedilatildeo das potencialidades do aluno para organizar elaborar e atuar
coletivamente Deixam o legado futuro de homens responsaacuteveis mentes
independentes e atuantes que poderatildeo prestar serviccedilos significativos agrave sociedade
45
A comunidade assentada de o Assentamento Renascer pela Reforma
Agraacuteria em Sobradinho DF foi convidada a opinar sobre a escola que deseja a
partir da conquista da terra
O modelo proposto a partir de seu posicionamento possibilita a conclusatildeo
de que a escola do campo plantada na comunidade eacute preferiacutevel ao modelo
adotado atualmente de inserccedilatildeo dos alunos da comunidade agraves escolas urbanas
conter recursos materiais e humanos que propiciem bons resultados
pedagoacutegicos deve servir para fixar o trabalhador ao campo deve cumprir com o
propoacutesito constitucional de universalizaccedilatildeo do ensino para todas as faixas
etaacuterias deve estar identificada com os sonhos de prosperidade material e
realizaccedilatildeo pessoal dos assentados
-46-
46
Referecircncias Bibliograacuteficas
CANUTO Antocircnio In Comissatildeo Pastoral da Terra DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO 2012 pag 131) CLAUDIA MORAES DE SOUZA em seu artigo lsquoDiscursos intolerantes O lugar da poliacutetica na educaccedilatildeo rural e a representaccedilatildeo do camponecircs analfabeto (DIVERSITAS FFLCH USPBR)acesso em 03-08-2014 EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO ndash Marcos Normativos Brasilia 2012 MEC FERRARO Alceu Ravanello em seu artigo Alfabetizaccedilatildeo rural no Brasil na perspectiva das relaccedilotildees campo-cidade e de gecircnero (Educ Real ndash WWWSCIELOBRPDFEDREALV37N3PDF acesso 03-10-2014 FERREIRA (2011_ ldquoUm olhar histoacuterico uma realidade concretardquo (WWWUNIFILBR)acesso 20-10-2014
FERRARI Marco ldquoAniacutesio Teixeira o inventor da escola puacuteblica no Brasilrdquo Revista Nova Escola Fundaccedilatildeo Victor Civita Revistaescolaabrilcombr acesso em 14092014 FERREIRA Fabiano de Jesus BRANDAtildeO Elias Canuto ndash Revista Eletrocircnica de Educaccedilatildeo Ano V N 09 juldez 2011p3 ldquoEducaccedilatildeo do campo um olhar histoacuterico uma realidade concreta rdquo (WWWUNIFILBR acesso em 08 de agosto de 2014) GONCcedilALVES Luiz Alberto Oliveira e Pinto Regina Pahim EDUCACcedilAtildeO SEacuteRIE JUSTICcedilA E DESENVOLVIMENTO IFP-FCC FUNDACcedilAtildeO CARLOS CHAGAS 2007 SAtildeO PAULO (pag206)
KOLLING Edgar Jorge Vargas Caldart MST e Educaccedilatildeo in DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia Expressatildeo Popular 2012 (pag 5020
MOLINA Mocircnica SAacute Laiacutes Mouratildeo Escola do Campo in DICIONARIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia Expressatildeo Popular 2012 pg (329)
OLIVEIRA Maria Rita Duarte em sua dissertaccedilatildeo ldquoDos programas oficiais para a educaccedilatildeo rural aos projetos de educaccedilatildeo do campo dos movimentos sociaisrdquo WWWrevistalaborufcbrartigovolume1maria-ritapdf acesso em 08-09-2014
OLIVEIRA Maria Rita Duarte PEDAGOGIA EM MARCHA Apud ARROYO Satildeo Paulo1995( pg 162)
OLIVEIRA Maria Rita Duarte Revistalabor ufcbracesso em 19-10-2014
________ citando CALAZ Maria Rita Duarte Oliveira
47
SANTOS Clarice Aparecida PROGRAMA NACIONAL DE EDUCACcedilAtildeO NA REFORMA AGRAacuteRIA in DICIONARIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia2012(pg630)
________ Clarice Aparecida PROGRAMA NACIONAL DE EDUCACcedilAtildeO NA REFORMA AGRAacuteRIA BRASIacuteLIA 2012 pg 631 in DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO SANTOS Claudio Felix Dos ldquoO aprender a aprender na formaccedilatildeo de professores do campordquo Campinas 2013 Editora Autores Associados ) SOUZA Maria Antocircnia Movimentos Sociais no Brasil Contemporacircneo participaccedilatildeo e possibilidades no contexto das praacuteticas democraacuteticas ndash (wwwcesucptlab2004pdfMariaAntonia Souzapdfaceso em 24-07-2014 -48-
48
Apecircndices
1 Roteiro das Entrevistas
a) Dados dos entrevistados
Qual o seu nome
Masculino ( ) Feminino ( )
Quantos anos vocecirc tecircm
A quanto tempo mora no
assentamento
Onde vocecirc morou antes
de morar no
assentamento
Quantos anos vocecirc tinha
quando foi a escola pela
primeira vez
Estou ateacute qual seacuterieano
Quantos anos vocecirc tinha
quando parou de estudar
Qual motivo motivou vocecirc
a parar de estudar
Se tiver escola no
assentamento vocecirc voltaraacute
a estudar Porque
B) Outras informaccedilotildees dados pelos entrevistadosas (GRAVAR)
a) Em qual escola vocecirc estudou no acampamento ou em outro lugar Qual
b) Como era a escola que estudou Quais as coisas boas e coisas ruins que
tinha nesta escola
c) Conte como eacutefoi a educaccedilatildeo do assentamento o que jaacute existiu de escola
como funcionou e quais eram as boas e as coisas ruins desta escola
d) Jaacute participou de alguma accedilatildeo de mobilizaccedilatildeo para ter escola no
assentamento Se sim explique para que e como foi essa mobilizaccedilatildeo
e) Na sua opiniatildeo no assentamento deve ter escola Por quecirc
f) Como deveraacute ser a escola da comunidadeassentamento Como eacute a escola
que queremos ter
49
b) Entrevistas semi-estruturadas
Entrevistado 01
Moro no assentamento Renascer haacute 11 anos Nasci Carnauacuteba no Rio Grande do
Norte fui criado na roccedila e desde pequeno trabalhava na lavoura para ajudar meu
pai Fui para escola com 9 anos de idade estudei ateacute a 5ordm seacuterie parei de estudar
com 17 anos natildeo continuei os estudos porque era muito longe de onde eu morva
que era na cidade mais proacutexima eu tinha que andar a peacute 8 km ficava muito
cansado Casei e vim morar em Brasiacutelia para trabalhar em uma chaacutecara como
caseiro Morava na chaacutecara Buritis em sobradinho- Df tambeacutem natildeo dei para
continuar os estudos porque ficava longe e tinha que ser a noite e natildeo tinha como ir
Se vier uma escola pra caacute eu ainda vou estudar para ter mais conhecimento para
plantar minha roccedila ir no banco pra ver se assino um empreacutestimo para melhorar
minha produccedilatildeo e saber fazer conta pra administrar minha parcela de terra
Qual o seu nome
Masculino ( X ) Feminino ( )
Quantos anos vocecirc
tecircm
57 anos
A quanto tempo
mora no assentamento
11 anos
Onde vocecirc morou
antes de morar no
assentamento
Carnauacuteba ndash RN
Chaacutecara Buritis nordm 10 Sobradinho DF
Quantos anos vocecirc
tinha quando foi a escola
pela primeira vez
8 anos
Estou ateacute qual
seacuterieano
5ordf seacuterie
Quantos anos vocecirc
tinha quando parou de
estudar
24 anos
Qual motivo
motivou vocecirc a parar de
estudar
Trabalhar para sustento da famiacutelia a
distacircncia entre a casa e a escola
Se tiver escola no
assentamento vocecirc voltaraacute
a estudar Porque
Sim ldquoSe tivesse escola do ensino
fundamental voltaria a estudar para tecirc
mais conhecimento para plantar minha roccedila
50
saber pesar saber contar vendecirc os produto e
comecirc
Entrevistado 02
Moro no assentamento renascer haacute 7 anos tenho 38 vim do interior do Cearaacute
Entrei na escola com 7 anos de idade estudei soacute a 5ordm seacuterie incompleta natildeo
continuei a estudar porque natildeo tinha escola a onde eu morava que era na roccedila e eu
tinha que ficar na casa dozotro (SIC) na cidade e eu natildeo gostava disso natildeo ai parei
com 16 anos de idade Mudamo (SIC) pra Brasiacutelia pra uma chaacutecara perto de Santa
Maria-DF e natildeo dei pra estudar porque casei e tinha que trabalhar muito para
susrentar a famiacutelia A gora moro no assentamento Renascer e sei que um dia vai ter
uma escola aqui e eu vou voltar a estudar porque meu sonho eacute ser veterinaacuterio e vou
der se deus quiser
Entrevistado 03
Tenho 58 anos moro no assentamento Renascer haacute 6 anos vim de Ceres-GO
comecei a estudar quando eu tinha 10 ano de idade estudei ateacute a 4ordf seria primaacuteria
(SIC) parei de estudar quando tinha 16 anos porque eu morava na roccedila e escola
ateacute que natildeo ficava muito longe natildeo era soacute 2 km dava pra ir a peacute a professora eacute que
faltava muito e a gente natildeo tinha como saber se ela tava ou natildeoAiacute quando eu tinha
18 anos casei e vim morar em Brasiacutelia e arranjei(SIC) emprego de caseira em uma
chaacutecara aiacute natildeo pra estudar a noite porque era muito longe pra laacute entatildeo eu natildeo
pensei mais nessas coisas Quando tiver escola no assentamento quero estudar
quiecirc pra mim (SIC) fazer curso de teacutecnico agriacutecolarsquorsquo
Entrevistado 04
Tenho 24 anos moro no assentamento Renascer tem 6 ano vim da Bahia morava
no Condomiacutenio RK entrei na escola com 7 anos de idade e estudei soacute ateacute a 6ordf seacuterie
parei com 18 anos de idade
Porque mudei pra caacute pro assentamento (SIC) e natildeo tem escola e natildeo tem como ir
pra Sobradinho a noite porque eacute muito longe tem que andar 5 km eacute pirigogo (SIC)
tem muita gente mal por aiacute tem ateacute estrupador natildeo posso me arriscar
ldquoSe tivesse escola aqui eu ia terminar meus estudos podia ser no galpatildeo mesmo
pra mim tava bom mas para os meus filhos eu queria uma escola boa com internet
e tudo Eu natildeo gosto que meus filhos estuda(SIC) na cidade soacute aceito porque eacute o
jeito gente de assentamento eacute muito zombado (SIC) porque as vezes chega suja
na escola e os outros acha que eles satildeo porcos que toma banhordquo
Entrevistado 05
51
Tenho 21 anos de idade moro no Renascer haacute trecircs anos vim de satildeo Gabriel-GO
comecei a estudar aos 7 anos parei com 18 anos porque minha matildee mudou
pro(SIC) matildee mudou pro (SIC) assentamento haacute 6 anos e eu natildeo aguento morar
longe dela Quando cheguei aqui natildeo teve como continuar os estudos porque
trabalho durante o dia como manicure em Sobradinho e o uacuteltimo ocircnibus que passa
perto do assentamento eacute as 5 horas da tarde entatildeo natildeo daacute para estudar a noite
Sim porque quero fazer um curso de cabelereiro quando tiver aacutegua e luz aqui eu
quero montar um salatildeo de beleza e para ser uma empresaacuteria precisa ter estudos pra
administrar o negoacutecio
Entrevistado 06
44 anos
6 anos
Formosa-GO
8 anos
5ordf seacuterie
24 anos
Porque a escola mais perto(SIC) era 10km de distacircncia e eu trabalhava na roccedila e
ficava muito cansado aiacute parei natildeo deu mais
Sim quando tiver escola aqui eu vou voltar a estudar Eu tinha um sonho de ser
agroacutenomo mas esse sonho eacute impussive(SIC) entatildeo queria concluir o ensino
fundamental para fazer um curso de teacutecnico agriacutecola no IFB mas tambeacutem eacute longe
se tivesse como estudar aqui no assentamento eu ia(SIC) ficar muito feliz
Entrevistado 07
57 anos
6 anos
Parnaiacuteba-PI- Santa Maria- DF
7 anos
4ordf seacuterie
21 anos
Parei porque era muito difiacutecil ir para escola que ficava muito longe eu tinha que sair
de casa as 4hs da madrugada para chegar na escola as 730 ia montado num
cavalo e muitas vezes natildeo tinha professora pra dar aula Parei porque natildeo aguentei
o rojatildeo tinha que minha matildee na lida a tarde e eu ficava muito cansado Vim pra
52
Brasiacutelia e casei fui trabalhar de chacareiro numa chaacutecara que tambeacutem era longe de
escola depois vim morar aqui no assentamento que natildeo tem escola
Se tivesse escola aqui eu ia voltar estudar soacute pra aprender a cuidar meior (SIC) da
terra e dos meus bichos e que fosse como uma escola agriacutecola
Entrevistado 08
Tenho 29 anos moro no assentamento Renascer haacute 2 anos sou educadora do
Pronera haacute 1 ano e 2 meses O Pronera eacute como um antidepressivo na vida de muita
gente o Pronera melhorou a minha vida e a vida dos meus alunos o desejo de
todos eacute que o Pronera continue crescendo em direccedilatildeo de uma educaccedilatildeo continuada
levando tambeacutem o ensino fundamental para os acampamentos e assentamentos da
Reforma Agraacuteria
-50-
Anexos
53
Acampamento agrave beira da estrada ndash 2004
Construccedilatildeo da Sede do Movimento na atual aacuterea
54
Reuniatildeo semanal
Teatro de fantoches ndash brinquedoteca
55
Accedilatildeo da Pastoral da Crianccedila na brinquedoteca
Oficina de brinquedos reciclaacuteveis
56
Brinquedo confeccionado com materiais reciclaacuteveis na Brinquedoteca
57
58
59
60
Apresentaccedilatildeo teatral
61
Capacitaccedilatildeo em Economia Solidaacuteria
Formaccedilatildeo de multiplicadores da Economia Solidaacuteria
62
Capacitaccedilatildeo de Educadores Ambientais
63
Luta pela Reforma Agraacuteria e Soberania Alimentar
45
A comunidade assentada de o Assentamento Renascer pela Reforma
Agraacuteria em Sobradinho DF foi convidada a opinar sobre a escola que deseja a
partir da conquista da terra
O modelo proposto a partir de seu posicionamento possibilita a conclusatildeo
de que a escola do campo plantada na comunidade eacute preferiacutevel ao modelo
adotado atualmente de inserccedilatildeo dos alunos da comunidade agraves escolas urbanas
conter recursos materiais e humanos que propiciem bons resultados
pedagoacutegicos deve servir para fixar o trabalhador ao campo deve cumprir com o
propoacutesito constitucional de universalizaccedilatildeo do ensino para todas as faixas
etaacuterias deve estar identificada com os sonhos de prosperidade material e
realizaccedilatildeo pessoal dos assentados
-46-
46
Referecircncias Bibliograacuteficas
CANUTO Antocircnio In Comissatildeo Pastoral da Terra DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO 2012 pag 131) CLAUDIA MORAES DE SOUZA em seu artigo lsquoDiscursos intolerantes O lugar da poliacutetica na educaccedilatildeo rural e a representaccedilatildeo do camponecircs analfabeto (DIVERSITAS FFLCH USPBR)acesso em 03-08-2014 EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO ndash Marcos Normativos Brasilia 2012 MEC FERRARO Alceu Ravanello em seu artigo Alfabetizaccedilatildeo rural no Brasil na perspectiva das relaccedilotildees campo-cidade e de gecircnero (Educ Real ndash WWWSCIELOBRPDFEDREALV37N3PDF acesso 03-10-2014 FERREIRA (2011_ ldquoUm olhar histoacuterico uma realidade concretardquo (WWWUNIFILBR)acesso 20-10-2014
FERRARI Marco ldquoAniacutesio Teixeira o inventor da escola puacuteblica no Brasilrdquo Revista Nova Escola Fundaccedilatildeo Victor Civita Revistaescolaabrilcombr acesso em 14092014 FERREIRA Fabiano de Jesus BRANDAtildeO Elias Canuto ndash Revista Eletrocircnica de Educaccedilatildeo Ano V N 09 juldez 2011p3 ldquoEducaccedilatildeo do campo um olhar histoacuterico uma realidade concreta rdquo (WWWUNIFILBR acesso em 08 de agosto de 2014) GONCcedilALVES Luiz Alberto Oliveira e Pinto Regina Pahim EDUCACcedilAtildeO SEacuteRIE JUSTICcedilA E DESENVOLVIMENTO IFP-FCC FUNDACcedilAtildeO CARLOS CHAGAS 2007 SAtildeO PAULO (pag206)
KOLLING Edgar Jorge Vargas Caldart MST e Educaccedilatildeo in DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia Expressatildeo Popular 2012 (pag 5020
MOLINA Mocircnica SAacute Laiacutes Mouratildeo Escola do Campo in DICIONARIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia Expressatildeo Popular 2012 pg (329)
OLIVEIRA Maria Rita Duarte em sua dissertaccedilatildeo ldquoDos programas oficiais para a educaccedilatildeo rural aos projetos de educaccedilatildeo do campo dos movimentos sociaisrdquo WWWrevistalaborufcbrartigovolume1maria-ritapdf acesso em 08-09-2014
OLIVEIRA Maria Rita Duarte PEDAGOGIA EM MARCHA Apud ARROYO Satildeo Paulo1995( pg 162)
OLIVEIRA Maria Rita Duarte Revistalabor ufcbracesso em 19-10-2014
________ citando CALAZ Maria Rita Duarte Oliveira
47
SANTOS Clarice Aparecida PROGRAMA NACIONAL DE EDUCACcedilAtildeO NA REFORMA AGRAacuteRIA in DICIONARIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia2012(pg630)
________ Clarice Aparecida PROGRAMA NACIONAL DE EDUCACcedilAtildeO NA REFORMA AGRAacuteRIA BRASIacuteLIA 2012 pg 631 in DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO SANTOS Claudio Felix Dos ldquoO aprender a aprender na formaccedilatildeo de professores do campordquo Campinas 2013 Editora Autores Associados ) SOUZA Maria Antocircnia Movimentos Sociais no Brasil Contemporacircneo participaccedilatildeo e possibilidades no contexto das praacuteticas democraacuteticas ndash (wwwcesucptlab2004pdfMariaAntonia Souzapdfaceso em 24-07-2014 -48-
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Apecircndices
1 Roteiro das Entrevistas
a) Dados dos entrevistados
Qual o seu nome
Masculino ( ) Feminino ( )
Quantos anos vocecirc tecircm
A quanto tempo mora no
assentamento
Onde vocecirc morou antes
de morar no
assentamento
Quantos anos vocecirc tinha
quando foi a escola pela
primeira vez
Estou ateacute qual seacuterieano
Quantos anos vocecirc tinha
quando parou de estudar
Qual motivo motivou vocecirc
a parar de estudar
Se tiver escola no
assentamento vocecirc voltaraacute
a estudar Porque
B) Outras informaccedilotildees dados pelos entrevistadosas (GRAVAR)
a) Em qual escola vocecirc estudou no acampamento ou em outro lugar Qual
b) Como era a escola que estudou Quais as coisas boas e coisas ruins que
tinha nesta escola
c) Conte como eacutefoi a educaccedilatildeo do assentamento o que jaacute existiu de escola
como funcionou e quais eram as boas e as coisas ruins desta escola
d) Jaacute participou de alguma accedilatildeo de mobilizaccedilatildeo para ter escola no
assentamento Se sim explique para que e como foi essa mobilizaccedilatildeo
e) Na sua opiniatildeo no assentamento deve ter escola Por quecirc
f) Como deveraacute ser a escola da comunidadeassentamento Como eacute a escola
que queremos ter
49
b) Entrevistas semi-estruturadas
Entrevistado 01
Moro no assentamento Renascer haacute 11 anos Nasci Carnauacuteba no Rio Grande do
Norte fui criado na roccedila e desde pequeno trabalhava na lavoura para ajudar meu
pai Fui para escola com 9 anos de idade estudei ateacute a 5ordm seacuterie parei de estudar
com 17 anos natildeo continuei os estudos porque era muito longe de onde eu morva
que era na cidade mais proacutexima eu tinha que andar a peacute 8 km ficava muito
cansado Casei e vim morar em Brasiacutelia para trabalhar em uma chaacutecara como
caseiro Morava na chaacutecara Buritis em sobradinho- Df tambeacutem natildeo dei para
continuar os estudos porque ficava longe e tinha que ser a noite e natildeo tinha como ir
Se vier uma escola pra caacute eu ainda vou estudar para ter mais conhecimento para
plantar minha roccedila ir no banco pra ver se assino um empreacutestimo para melhorar
minha produccedilatildeo e saber fazer conta pra administrar minha parcela de terra
Qual o seu nome
Masculino ( X ) Feminino ( )
Quantos anos vocecirc
tecircm
57 anos
A quanto tempo
mora no assentamento
11 anos
Onde vocecirc morou
antes de morar no
assentamento
Carnauacuteba ndash RN
Chaacutecara Buritis nordm 10 Sobradinho DF
Quantos anos vocecirc
tinha quando foi a escola
pela primeira vez
8 anos
Estou ateacute qual
seacuterieano
5ordf seacuterie
Quantos anos vocecirc
tinha quando parou de
estudar
24 anos
Qual motivo
motivou vocecirc a parar de
estudar
Trabalhar para sustento da famiacutelia a
distacircncia entre a casa e a escola
Se tiver escola no
assentamento vocecirc voltaraacute
a estudar Porque
Sim ldquoSe tivesse escola do ensino
fundamental voltaria a estudar para tecirc
mais conhecimento para plantar minha roccedila
50
saber pesar saber contar vendecirc os produto e
comecirc
Entrevistado 02
Moro no assentamento renascer haacute 7 anos tenho 38 vim do interior do Cearaacute
Entrei na escola com 7 anos de idade estudei soacute a 5ordm seacuterie incompleta natildeo
continuei a estudar porque natildeo tinha escola a onde eu morava que era na roccedila e eu
tinha que ficar na casa dozotro (SIC) na cidade e eu natildeo gostava disso natildeo ai parei
com 16 anos de idade Mudamo (SIC) pra Brasiacutelia pra uma chaacutecara perto de Santa
Maria-DF e natildeo dei pra estudar porque casei e tinha que trabalhar muito para
susrentar a famiacutelia A gora moro no assentamento Renascer e sei que um dia vai ter
uma escola aqui e eu vou voltar a estudar porque meu sonho eacute ser veterinaacuterio e vou
der se deus quiser
Entrevistado 03
Tenho 58 anos moro no assentamento Renascer haacute 6 anos vim de Ceres-GO
comecei a estudar quando eu tinha 10 ano de idade estudei ateacute a 4ordf seria primaacuteria
(SIC) parei de estudar quando tinha 16 anos porque eu morava na roccedila e escola
ateacute que natildeo ficava muito longe natildeo era soacute 2 km dava pra ir a peacute a professora eacute que
faltava muito e a gente natildeo tinha como saber se ela tava ou natildeoAiacute quando eu tinha
18 anos casei e vim morar em Brasiacutelia e arranjei(SIC) emprego de caseira em uma
chaacutecara aiacute natildeo pra estudar a noite porque era muito longe pra laacute entatildeo eu natildeo
pensei mais nessas coisas Quando tiver escola no assentamento quero estudar
quiecirc pra mim (SIC) fazer curso de teacutecnico agriacutecolarsquorsquo
Entrevistado 04
Tenho 24 anos moro no assentamento Renascer tem 6 ano vim da Bahia morava
no Condomiacutenio RK entrei na escola com 7 anos de idade e estudei soacute ateacute a 6ordf seacuterie
parei com 18 anos de idade
Porque mudei pra caacute pro assentamento (SIC) e natildeo tem escola e natildeo tem como ir
pra Sobradinho a noite porque eacute muito longe tem que andar 5 km eacute pirigogo (SIC)
tem muita gente mal por aiacute tem ateacute estrupador natildeo posso me arriscar
ldquoSe tivesse escola aqui eu ia terminar meus estudos podia ser no galpatildeo mesmo
pra mim tava bom mas para os meus filhos eu queria uma escola boa com internet
e tudo Eu natildeo gosto que meus filhos estuda(SIC) na cidade soacute aceito porque eacute o
jeito gente de assentamento eacute muito zombado (SIC) porque as vezes chega suja
na escola e os outros acha que eles satildeo porcos que toma banhordquo
Entrevistado 05
51
Tenho 21 anos de idade moro no Renascer haacute trecircs anos vim de satildeo Gabriel-GO
comecei a estudar aos 7 anos parei com 18 anos porque minha matildee mudou
pro(SIC) matildee mudou pro (SIC) assentamento haacute 6 anos e eu natildeo aguento morar
longe dela Quando cheguei aqui natildeo teve como continuar os estudos porque
trabalho durante o dia como manicure em Sobradinho e o uacuteltimo ocircnibus que passa
perto do assentamento eacute as 5 horas da tarde entatildeo natildeo daacute para estudar a noite
Sim porque quero fazer um curso de cabelereiro quando tiver aacutegua e luz aqui eu
quero montar um salatildeo de beleza e para ser uma empresaacuteria precisa ter estudos pra
administrar o negoacutecio
Entrevistado 06
44 anos
6 anos
Formosa-GO
8 anos
5ordf seacuterie
24 anos
Porque a escola mais perto(SIC) era 10km de distacircncia e eu trabalhava na roccedila e
ficava muito cansado aiacute parei natildeo deu mais
Sim quando tiver escola aqui eu vou voltar a estudar Eu tinha um sonho de ser
agroacutenomo mas esse sonho eacute impussive(SIC) entatildeo queria concluir o ensino
fundamental para fazer um curso de teacutecnico agriacutecola no IFB mas tambeacutem eacute longe
se tivesse como estudar aqui no assentamento eu ia(SIC) ficar muito feliz
Entrevistado 07
57 anos
6 anos
Parnaiacuteba-PI- Santa Maria- DF
7 anos
4ordf seacuterie
21 anos
Parei porque era muito difiacutecil ir para escola que ficava muito longe eu tinha que sair
de casa as 4hs da madrugada para chegar na escola as 730 ia montado num
cavalo e muitas vezes natildeo tinha professora pra dar aula Parei porque natildeo aguentei
o rojatildeo tinha que minha matildee na lida a tarde e eu ficava muito cansado Vim pra
52
Brasiacutelia e casei fui trabalhar de chacareiro numa chaacutecara que tambeacutem era longe de
escola depois vim morar aqui no assentamento que natildeo tem escola
Se tivesse escola aqui eu ia voltar estudar soacute pra aprender a cuidar meior (SIC) da
terra e dos meus bichos e que fosse como uma escola agriacutecola
Entrevistado 08
Tenho 29 anos moro no assentamento Renascer haacute 2 anos sou educadora do
Pronera haacute 1 ano e 2 meses O Pronera eacute como um antidepressivo na vida de muita
gente o Pronera melhorou a minha vida e a vida dos meus alunos o desejo de
todos eacute que o Pronera continue crescendo em direccedilatildeo de uma educaccedilatildeo continuada
levando tambeacutem o ensino fundamental para os acampamentos e assentamentos da
Reforma Agraacuteria
-50-
Anexos
53
Acampamento agrave beira da estrada ndash 2004
Construccedilatildeo da Sede do Movimento na atual aacuterea
54
Reuniatildeo semanal
Teatro de fantoches ndash brinquedoteca
55
Accedilatildeo da Pastoral da Crianccedila na brinquedoteca
Oficina de brinquedos reciclaacuteveis
56
Brinquedo confeccionado com materiais reciclaacuteveis na Brinquedoteca
57
58
59
60
Apresentaccedilatildeo teatral
61
Capacitaccedilatildeo em Economia Solidaacuteria
Formaccedilatildeo de multiplicadores da Economia Solidaacuteria
62
Capacitaccedilatildeo de Educadores Ambientais
63
Luta pela Reforma Agraacuteria e Soberania Alimentar
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Referecircncias Bibliograacuteficas
CANUTO Antocircnio In Comissatildeo Pastoral da Terra DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO 2012 pag 131) CLAUDIA MORAES DE SOUZA em seu artigo lsquoDiscursos intolerantes O lugar da poliacutetica na educaccedilatildeo rural e a representaccedilatildeo do camponecircs analfabeto (DIVERSITAS FFLCH USPBR)acesso em 03-08-2014 EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO ndash Marcos Normativos Brasilia 2012 MEC FERRARO Alceu Ravanello em seu artigo Alfabetizaccedilatildeo rural no Brasil na perspectiva das relaccedilotildees campo-cidade e de gecircnero (Educ Real ndash WWWSCIELOBRPDFEDREALV37N3PDF acesso 03-10-2014 FERREIRA (2011_ ldquoUm olhar histoacuterico uma realidade concretardquo (WWWUNIFILBR)acesso 20-10-2014
FERRARI Marco ldquoAniacutesio Teixeira o inventor da escola puacuteblica no Brasilrdquo Revista Nova Escola Fundaccedilatildeo Victor Civita Revistaescolaabrilcombr acesso em 14092014 FERREIRA Fabiano de Jesus BRANDAtildeO Elias Canuto ndash Revista Eletrocircnica de Educaccedilatildeo Ano V N 09 juldez 2011p3 ldquoEducaccedilatildeo do campo um olhar histoacuterico uma realidade concreta rdquo (WWWUNIFILBR acesso em 08 de agosto de 2014) GONCcedilALVES Luiz Alberto Oliveira e Pinto Regina Pahim EDUCACcedilAtildeO SEacuteRIE JUSTICcedilA E DESENVOLVIMENTO IFP-FCC FUNDACcedilAtildeO CARLOS CHAGAS 2007 SAtildeO PAULO (pag206)
KOLLING Edgar Jorge Vargas Caldart MST e Educaccedilatildeo in DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia Expressatildeo Popular 2012 (pag 5020
MOLINA Mocircnica SAacute Laiacutes Mouratildeo Escola do Campo in DICIONARIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia Expressatildeo Popular 2012 pg (329)
OLIVEIRA Maria Rita Duarte em sua dissertaccedilatildeo ldquoDos programas oficiais para a educaccedilatildeo rural aos projetos de educaccedilatildeo do campo dos movimentos sociaisrdquo WWWrevistalaborufcbrartigovolume1maria-ritapdf acesso em 08-09-2014
OLIVEIRA Maria Rita Duarte PEDAGOGIA EM MARCHA Apud ARROYO Satildeo Paulo1995( pg 162)
OLIVEIRA Maria Rita Duarte Revistalabor ufcbracesso em 19-10-2014
________ citando CALAZ Maria Rita Duarte Oliveira
47
SANTOS Clarice Aparecida PROGRAMA NACIONAL DE EDUCACcedilAtildeO NA REFORMA AGRAacuteRIA in DICIONARIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia2012(pg630)
________ Clarice Aparecida PROGRAMA NACIONAL DE EDUCACcedilAtildeO NA REFORMA AGRAacuteRIA BRASIacuteLIA 2012 pg 631 in DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO SANTOS Claudio Felix Dos ldquoO aprender a aprender na formaccedilatildeo de professores do campordquo Campinas 2013 Editora Autores Associados ) SOUZA Maria Antocircnia Movimentos Sociais no Brasil Contemporacircneo participaccedilatildeo e possibilidades no contexto das praacuteticas democraacuteticas ndash (wwwcesucptlab2004pdfMariaAntonia Souzapdfaceso em 24-07-2014 -48-
48
Apecircndices
1 Roteiro das Entrevistas
a) Dados dos entrevistados
Qual o seu nome
Masculino ( ) Feminino ( )
Quantos anos vocecirc tecircm
A quanto tempo mora no
assentamento
Onde vocecirc morou antes
de morar no
assentamento
Quantos anos vocecirc tinha
quando foi a escola pela
primeira vez
Estou ateacute qual seacuterieano
Quantos anos vocecirc tinha
quando parou de estudar
Qual motivo motivou vocecirc
a parar de estudar
Se tiver escola no
assentamento vocecirc voltaraacute
a estudar Porque
B) Outras informaccedilotildees dados pelos entrevistadosas (GRAVAR)
a) Em qual escola vocecirc estudou no acampamento ou em outro lugar Qual
b) Como era a escola que estudou Quais as coisas boas e coisas ruins que
tinha nesta escola
c) Conte como eacutefoi a educaccedilatildeo do assentamento o que jaacute existiu de escola
como funcionou e quais eram as boas e as coisas ruins desta escola
d) Jaacute participou de alguma accedilatildeo de mobilizaccedilatildeo para ter escola no
assentamento Se sim explique para que e como foi essa mobilizaccedilatildeo
e) Na sua opiniatildeo no assentamento deve ter escola Por quecirc
f) Como deveraacute ser a escola da comunidadeassentamento Como eacute a escola
que queremos ter
49
b) Entrevistas semi-estruturadas
Entrevistado 01
Moro no assentamento Renascer haacute 11 anos Nasci Carnauacuteba no Rio Grande do
Norte fui criado na roccedila e desde pequeno trabalhava na lavoura para ajudar meu
pai Fui para escola com 9 anos de idade estudei ateacute a 5ordm seacuterie parei de estudar
com 17 anos natildeo continuei os estudos porque era muito longe de onde eu morva
que era na cidade mais proacutexima eu tinha que andar a peacute 8 km ficava muito
cansado Casei e vim morar em Brasiacutelia para trabalhar em uma chaacutecara como
caseiro Morava na chaacutecara Buritis em sobradinho- Df tambeacutem natildeo dei para
continuar os estudos porque ficava longe e tinha que ser a noite e natildeo tinha como ir
Se vier uma escola pra caacute eu ainda vou estudar para ter mais conhecimento para
plantar minha roccedila ir no banco pra ver se assino um empreacutestimo para melhorar
minha produccedilatildeo e saber fazer conta pra administrar minha parcela de terra
Qual o seu nome
Masculino ( X ) Feminino ( )
Quantos anos vocecirc
tecircm
57 anos
A quanto tempo
mora no assentamento
11 anos
Onde vocecirc morou
antes de morar no
assentamento
Carnauacuteba ndash RN
Chaacutecara Buritis nordm 10 Sobradinho DF
Quantos anos vocecirc
tinha quando foi a escola
pela primeira vez
8 anos
Estou ateacute qual
seacuterieano
5ordf seacuterie
Quantos anos vocecirc
tinha quando parou de
estudar
24 anos
Qual motivo
motivou vocecirc a parar de
estudar
Trabalhar para sustento da famiacutelia a
distacircncia entre a casa e a escola
Se tiver escola no
assentamento vocecirc voltaraacute
a estudar Porque
Sim ldquoSe tivesse escola do ensino
fundamental voltaria a estudar para tecirc
mais conhecimento para plantar minha roccedila
50
saber pesar saber contar vendecirc os produto e
comecirc
Entrevistado 02
Moro no assentamento renascer haacute 7 anos tenho 38 vim do interior do Cearaacute
Entrei na escola com 7 anos de idade estudei soacute a 5ordm seacuterie incompleta natildeo
continuei a estudar porque natildeo tinha escola a onde eu morava que era na roccedila e eu
tinha que ficar na casa dozotro (SIC) na cidade e eu natildeo gostava disso natildeo ai parei
com 16 anos de idade Mudamo (SIC) pra Brasiacutelia pra uma chaacutecara perto de Santa
Maria-DF e natildeo dei pra estudar porque casei e tinha que trabalhar muito para
susrentar a famiacutelia A gora moro no assentamento Renascer e sei que um dia vai ter
uma escola aqui e eu vou voltar a estudar porque meu sonho eacute ser veterinaacuterio e vou
der se deus quiser
Entrevistado 03
Tenho 58 anos moro no assentamento Renascer haacute 6 anos vim de Ceres-GO
comecei a estudar quando eu tinha 10 ano de idade estudei ateacute a 4ordf seria primaacuteria
(SIC) parei de estudar quando tinha 16 anos porque eu morava na roccedila e escola
ateacute que natildeo ficava muito longe natildeo era soacute 2 km dava pra ir a peacute a professora eacute que
faltava muito e a gente natildeo tinha como saber se ela tava ou natildeoAiacute quando eu tinha
18 anos casei e vim morar em Brasiacutelia e arranjei(SIC) emprego de caseira em uma
chaacutecara aiacute natildeo pra estudar a noite porque era muito longe pra laacute entatildeo eu natildeo
pensei mais nessas coisas Quando tiver escola no assentamento quero estudar
quiecirc pra mim (SIC) fazer curso de teacutecnico agriacutecolarsquorsquo
Entrevistado 04
Tenho 24 anos moro no assentamento Renascer tem 6 ano vim da Bahia morava
no Condomiacutenio RK entrei na escola com 7 anos de idade e estudei soacute ateacute a 6ordf seacuterie
parei com 18 anos de idade
Porque mudei pra caacute pro assentamento (SIC) e natildeo tem escola e natildeo tem como ir
pra Sobradinho a noite porque eacute muito longe tem que andar 5 km eacute pirigogo (SIC)
tem muita gente mal por aiacute tem ateacute estrupador natildeo posso me arriscar
ldquoSe tivesse escola aqui eu ia terminar meus estudos podia ser no galpatildeo mesmo
pra mim tava bom mas para os meus filhos eu queria uma escola boa com internet
e tudo Eu natildeo gosto que meus filhos estuda(SIC) na cidade soacute aceito porque eacute o
jeito gente de assentamento eacute muito zombado (SIC) porque as vezes chega suja
na escola e os outros acha que eles satildeo porcos que toma banhordquo
Entrevistado 05
51
Tenho 21 anos de idade moro no Renascer haacute trecircs anos vim de satildeo Gabriel-GO
comecei a estudar aos 7 anos parei com 18 anos porque minha matildee mudou
pro(SIC) matildee mudou pro (SIC) assentamento haacute 6 anos e eu natildeo aguento morar
longe dela Quando cheguei aqui natildeo teve como continuar os estudos porque
trabalho durante o dia como manicure em Sobradinho e o uacuteltimo ocircnibus que passa
perto do assentamento eacute as 5 horas da tarde entatildeo natildeo daacute para estudar a noite
Sim porque quero fazer um curso de cabelereiro quando tiver aacutegua e luz aqui eu
quero montar um salatildeo de beleza e para ser uma empresaacuteria precisa ter estudos pra
administrar o negoacutecio
Entrevistado 06
44 anos
6 anos
Formosa-GO
8 anos
5ordf seacuterie
24 anos
Porque a escola mais perto(SIC) era 10km de distacircncia e eu trabalhava na roccedila e
ficava muito cansado aiacute parei natildeo deu mais
Sim quando tiver escola aqui eu vou voltar a estudar Eu tinha um sonho de ser
agroacutenomo mas esse sonho eacute impussive(SIC) entatildeo queria concluir o ensino
fundamental para fazer um curso de teacutecnico agriacutecola no IFB mas tambeacutem eacute longe
se tivesse como estudar aqui no assentamento eu ia(SIC) ficar muito feliz
Entrevistado 07
57 anos
6 anos
Parnaiacuteba-PI- Santa Maria- DF
7 anos
4ordf seacuterie
21 anos
Parei porque era muito difiacutecil ir para escola que ficava muito longe eu tinha que sair
de casa as 4hs da madrugada para chegar na escola as 730 ia montado num
cavalo e muitas vezes natildeo tinha professora pra dar aula Parei porque natildeo aguentei
o rojatildeo tinha que minha matildee na lida a tarde e eu ficava muito cansado Vim pra
52
Brasiacutelia e casei fui trabalhar de chacareiro numa chaacutecara que tambeacutem era longe de
escola depois vim morar aqui no assentamento que natildeo tem escola
Se tivesse escola aqui eu ia voltar estudar soacute pra aprender a cuidar meior (SIC) da
terra e dos meus bichos e que fosse como uma escola agriacutecola
Entrevistado 08
Tenho 29 anos moro no assentamento Renascer haacute 2 anos sou educadora do
Pronera haacute 1 ano e 2 meses O Pronera eacute como um antidepressivo na vida de muita
gente o Pronera melhorou a minha vida e a vida dos meus alunos o desejo de
todos eacute que o Pronera continue crescendo em direccedilatildeo de uma educaccedilatildeo continuada
levando tambeacutem o ensino fundamental para os acampamentos e assentamentos da
Reforma Agraacuteria
-50-
Anexos
53
Acampamento agrave beira da estrada ndash 2004
Construccedilatildeo da Sede do Movimento na atual aacuterea
54
Reuniatildeo semanal
Teatro de fantoches ndash brinquedoteca
55
Accedilatildeo da Pastoral da Crianccedila na brinquedoteca
Oficina de brinquedos reciclaacuteveis
56
Brinquedo confeccionado com materiais reciclaacuteveis na Brinquedoteca
57
58
59
60
Apresentaccedilatildeo teatral
61
Capacitaccedilatildeo em Economia Solidaacuteria
Formaccedilatildeo de multiplicadores da Economia Solidaacuteria
62
Capacitaccedilatildeo de Educadores Ambientais
63
Luta pela Reforma Agraacuteria e Soberania Alimentar
47
SANTOS Clarice Aparecida PROGRAMA NACIONAL DE EDUCACcedilAtildeO NA REFORMA AGRAacuteRIA in DICIONARIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO Brasiacutelia2012(pg630)
________ Clarice Aparecida PROGRAMA NACIONAL DE EDUCACcedilAtildeO NA REFORMA AGRAacuteRIA BRASIacuteLIA 2012 pg 631 in DICIONAacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO DO CAMPO SANTOS Claudio Felix Dos ldquoO aprender a aprender na formaccedilatildeo de professores do campordquo Campinas 2013 Editora Autores Associados ) SOUZA Maria Antocircnia Movimentos Sociais no Brasil Contemporacircneo participaccedilatildeo e possibilidades no contexto das praacuteticas democraacuteticas ndash (wwwcesucptlab2004pdfMariaAntonia Souzapdfaceso em 24-07-2014 -48-
48
Apecircndices
1 Roteiro das Entrevistas
a) Dados dos entrevistados
Qual o seu nome
Masculino ( ) Feminino ( )
Quantos anos vocecirc tecircm
A quanto tempo mora no
assentamento
Onde vocecirc morou antes
de morar no
assentamento
Quantos anos vocecirc tinha
quando foi a escola pela
primeira vez
Estou ateacute qual seacuterieano
Quantos anos vocecirc tinha
quando parou de estudar
Qual motivo motivou vocecirc
a parar de estudar
Se tiver escola no
assentamento vocecirc voltaraacute
a estudar Porque
B) Outras informaccedilotildees dados pelos entrevistadosas (GRAVAR)
a) Em qual escola vocecirc estudou no acampamento ou em outro lugar Qual
b) Como era a escola que estudou Quais as coisas boas e coisas ruins que
tinha nesta escola
c) Conte como eacutefoi a educaccedilatildeo do assentamento o que jaacute existiu de escola
como funcionou e quais eram as boas e as coisas ruins desta escola
d) Jaacute participou de alguma accedilatildeo de mobilizaccedilatildeo para ter escola no
assentamento Se sim explique para que e como foi essa mobilizaccedilatildeo
e) Na sua opiniatildeo no assentamento deve ter escola Por quecirc
f) Como deveraacute ser a escola da comunidadeassentamento Como eacute a escola
que queremos ter
49
b) Entrevistas semi-estruturadas
Entrevistado 01
Moro no assentamento Renascer haacute 11 anos Nasci Carnauacuteba no Rio Grande do
Norte fui criado na roccedila e desde pequeno trabalhava na lavoura para ajudar meu
pai Fui para escola com 9 anos de idade estudei ateacute a 5ordm seacuterie parei de estudar
com 17 anos natildeo continuei os estudos porque era muito longe de onde eu morva
que era na cidade mais proacutexima eu tinha que andar a peacute 8 km ficava muito
cansado Casei e vim morar em Brasiacutelia para trabalhar em uma chaacutecara como
caseiro Morava na chaacutecara Buritis em sobradinho- Df tambeacutem natildeo dei para
continuar os estudos porque ficava longe e tinha que ser a noite e natildeo tinha como ir
Se vier uma escola pra caacute eu ainda vou estudar para ter mais conhecimento para
plantar minha roccedila ir no banco pra ver se assino um empreacutestimo para melhorar
minha produccedilatildeo e saber fazer conta pra administrar minha parcela de terra
Qual o seu nome
Masculino ( X ) Feminino ( )
Quantos anos vocecirc
tecircm
57 anos
A quanto tempo
mora no assentamento
11 anos
Onde vocecirc morou
antes de morar no
assentamento
Carnauacuteba ndash RN
Chaacutecara Buritis nordm 10 Sobradinho DF
Quantos anos vocecirc
tinha quando foi a escola
pela primeira vez
8 anos
Estou ateacute qual
seacuterieano
5ordf seacuterie
Quantos anos vocecirc
tinha quando parou de
estudar
24 anos
Qual motivo
motivou vocecirc a parar de
estudar
Trabalhar para sustento da famiacutelia a
distacircncia entre a casa e a escola
Se tiver escola no
assentamento vocecirc voltaraacute
a estudar Porque
Sim ldquoSe tivesse escola do ensino
fundamental voltaria a estudar para tecirc
mais conhecimento para plantar minha roccedila
50
saber pesar saber contar vendecirc os produto e
comecirc
Entrevistado 02
Moro no assentamento renascer haacute 7 anos tenho 38 vim do interior do Cearaacute
Entrei na escola com 7 anos de idade estudei soacute a 5ordm seacuterie incompleta natildeo
continuei a estudar porque natildeo tinha escola a onde eu morava que era na roccedila e eu
tinha que ficar na casa dozotro (SIC) na cidade e eu natildeo gostava disso natildeo ai parei
com 16 anos de idade Mudamo (SIC) pra Brasiacutelia pra uma chaacutecara perto de Santa
Maria-DF e natildeo dei pra estudar porque casei e tinha que trabalhar muito para
susrentar a famiacutelia A gora moro no assentamento Renascer e sei que um dia vai ter
uma escola aqui e eu vou voltar a estudar porque meu sonho eacute ser veterinaacuterio e vou
der se deus quiser
Entrevistado 03
Tenho 58 anos moro no assentamento Renascer haacute 6 anos vim de Ceres-GO
comecei a estudar quando eu tinha 10 ano de idade estudei ateacute a 4ordf seria primaacuteria
(SIC) parei de estudar quando tinha 16 anos porque eu morava na roccedila e escola
ateacute que natildeo ficava muito longe natildeo era soacute 2 km dava pra ir a peacute a professora eacute que
faltava muito e a gente natildeo tinha como saber se ela tava ou natildeoAiacute quando eu tinha
18 anos casei e vim morar em Brasiacutelia e arranjei(SIC) emprego de caseira em uma
chaacutecara aiacute natildeo pra estudar a noite porque era muito longe pra laacute entatildeo eu natildeo
pensei mais nessas coisas Quando tiver escola no assentamento quero estudar
quiecirc pra mim (SIC) fazer curso de teacutecnico agriacutecolarsquorsquo
Entrevistado 04
Tenho 24 anos moro no assentamento Renascer tem 6 ano vim da Bahia morava
no Condomiacutenio RK entrei na escola com 7 anos de idade e estudei soacute ateacute a 6ordf seacuterie
parei com 18 anos de idade
Porque mudei pra caacute pro assentamento (SIC) e natildeo tem escola e natildeo tem como ir
pra Sobradinho a noite porque eacute muito longe tem que andar 5 km eacute pirigogo (SIC)
tem muita gente mal por aiacute tem ateacute estrupador natildeo posso me arriscar
ldquoSe tivesse escola aqui eu ia terminar meus estudos podia ser no galpatildeo mesmo
pra mim tava bom mas para os meus filhos eu queria uma escola boa com internet
e tudo Eu natildeo gosto que meus filhos estuda(SIC) na cidade soacute aceito porque eacute o
jeito gente de assentamento eacute muito zombado (SIC) porque as vezes chega suja
na escola e os outros acha que eles satildeo porcos que toma banhordquo
Entrevistado 05
51
Tenho 21 anos de idade moro no Renascer haacute trecircs anos vim de satildeo Gabriel-GO
comecei a estudar aos 7 anos parei com 18 anos porque minha matildee mudou
pro(SIC) matildee mudou pro (SIC) assentamento haacute 6 anos e eu natildeo aguento morar
longe dela Quando cheguei aqui natildeo teve como continuar os estudos porque
trabalho durante o dia como manicure em Sobradinho e o uacuteltimo ocircnibus que passa
perto do assentamento eacute as 5 horas da tarde entatildeo natildeo daacute para estudar a noite
Sim porque quero fazer um curso de cabelereiro quando tiver aacutegua e luz aqui eu
quero montar um salatildeo de beleza e para ser uma empresaacuteria precisa ter estudos pra
administrar o negoacutecio
Entrevistado 06
44 anos
6 anos
Formosa-GO
8 anos
5ordf seacuterie
24 anos
Porque a escola mais perto(SIC) era 10km de distacircncia e eu trabalhava na roccedila e
ficava muito cansado aiacute parei natildeo deu mais
Sim quando tiver escola aqui eu vou voltar a estudar Eu tinha um sonho de ser
agroacutenomo mas esse sonho eacute impussive(SIC) entatildeo queria concluir o ensino
fundamental para fazer um curso de teacutecnico agriacutecola no IFB mas tambeacutem eacute longe
se tivesse como estudar aqui no assentamento eu ia(SIC) ficar muito feliz
Entrevistado 07
57 anos
6 anos
Parnaiacuteba-PI- Santa Maria- DF
7 anos
4ordf seacuterie
21 anos
Parei porque era muito difiacutecil ir para escola que ficava muito longe eu tinha que sair
de casa as 4hs da madrugada para chegar na escola as 730 ia montado num
cavalo e muitas vezes natildeo tinha professora pra dar aula Parei porque natildeo aguentei
o rojatildeo tinha que minha matildee na lida a tarde e eu ficava muito cansado Vim pra
52
Brasiacutelia e casei fui trabalhar de chacareiro numa chaacutecara que tambeacutem era longe de
escola depois vim morar aqui no assentamento que natildeo tem escola
Se tivesse escola aqui eu ia voltar estudar soacute pra aprender a cuidar meior (SIC) da
terra e dos meus bichos e que fosse como uma escola agriacutecola
Entrevistado 08
Tenho 29 anos moro no assentamento Renascer haacute 2 anos sou educadora do
Pronera haacute 1 ano e 2 meses O Pronera eacute como um antidepressivo na vida de muita
gente o Pronera melhorou a minha vida e a vida dos meus alunos o desejo de
todos eacute que o Pronera continue crescendo em direccedilatildeo de uma educaccedilatildeo continuada
levando tambeacutem o ensino fundamental para os acampamentos e assentamentos da
Reforma Agraacuteria
-50-
Anexos
53
Acampamento agrave beira da estrada ndash 2004
Construccedilatildeo da Sede do Movimento na atual aacuterea
54
Reuniatildeo semanal
Teatro de fantoches ndash brinquedoteca
55
Accedilatildeo da Pastoral da Crianccedila na brinquedoteca
Oficina de brinquedos reciclaacuteveis
56
Brinquedo confeccionado com materiais reciclaacuteveis na Brinquedoteca
57
58
59
60
Apresentaccedilatildeo teatral
61
Capacitaccedilatildeo em Economia Solidaacuteria
Formaccedilatildeo de multiplicadores da Economia Solidaacuteria
62
Capacitaccedilatildeo de Educadores Ambientais
63
Luta pela Reforma Agraacuteria e Soberania Alimentar
48
Apecircndices
1 Roteiro das Entrevistas
a) Dados dos entrevistados
Qual o seu nome
Masculino ( ) Feminino ( )
Quantos anos vocecirc tecircm
A quanto tempo mora no
assentamento
Onde vocecirc morou antes
de morar no
assentamento
Quantos anos vocecirc tinha
quando foi a escola pela
primeira vez
Estou ateacute qual seacuterieano
Quantos anos vocecirc tinha
quando parou de estudar
Qual motivo motivou vocecirc
a parar de estudar
Se tiver escola no
assentamento vocecirc voltaraacute
a estudar Porque
B) Outras informaccedilotildees dados pelos entrevistadosas (GRAVAR)
a) Em qual escola vocecirc estudou no acampamento ou em outro lugar Qual
b) Como era a escola que estudou Quais as coisas boas e coisas ruins que
tinha nesta escola
c) Conte como eacutefoi a educaccedilatildeo do assentamento o que jaacute existiu de escola
como funcionou e quais eram as boas e as coisas ruins desta escola
d) Jaacute participou de alguma accedilatildeo de mobilizaccedilatildeo para ter escola no
assentamento Se sim explique para que e como foi essa mobilizaccedilatildeo
e) Na sua opiniatildeo no assentamento deve ter escola Por quecirc
f) Como deveraacute ser a escola da comunidadeassentamento Como eacute a escola
que queremos ter
49
b) Entrevistas semi-estruturadas
Entrevistado 01
Moro no assentamento Renascer haacute 11 anos Nasci Carnauacuteba no Rio Grande do
Norte fui criado na roccedila e desde pequeno trabalhava na lavoura para ajudar meu
pai Fui para escola com 9 anos de idade estudei ateacute a 5ordm seacuterie parei de estudar
com 17 anos natildeo continuei os estudos porque era muito longe de onde eu morva
que era na cidade mais proacutexima eu tinha que andar a peacute 8 km ficava muito
cansado Casei e vim morar em Brasiacutelia para trabalhar em uma chaacutecara como
caseiro Morava na chaacutecara Buritis em sobradinho- Df tambeacutem natildeo dei para
continuar os estudos porque ficava longe e tinha que ser a noite e natildeo tinha como ir
Se vier uma escola pra caacute eu ainda vou estudar para ter mais conhecimento para
plantar minha roccedila ir no banco pra ver se assino um empreacutestimo para melhorar
minha produccedilatildeo e saber fazer conta pra administrar minha parcela de terra
Qual o seu nome
Masculino ( X ) Feminino ( )
Quantos anos vocecirc
tecircm
57 anos
A quanto tempo
mora no assentamento
11 anos
Onde vocecirc morou
antes de morar no
assentamento
Carnauacuteba ndash RN
Chaacutecara Buritis nordm 10 Sobradinho DF
Quantos anos vocecirc
tinha quando foi a escola
pela primeira vez
8 anos
Estou ateacute qual
seacuterieano
5ordf seacuterie
Quantos anos vocecirc
tinha quando parou de
estudar
24 anos
Qual motivo
motivou vocecirc a parar de
estudar
Trabalhar para sustento da famiacutelia a
distacircncia entre a casa e a escola
Se tiver escola no
assentamento vocecirc voltaraacute
a estudar Porque
Sim ldquoSe tivesse escola do ensino
fundamental voltaria a estudar para tecirc
mais conhecimento para plantar minha roccedila
50
saber pesar saber contar vendecirc os produto e
comecirc
Entrevistado 02
Moro no assentamento renascer haacute 7 anos tenho 38 vim do interior do Cearaacute
Entrei na escola com 7 anos de idade estudei soacute a 5ordm seacuterie incompleta natildeo
continuei a estudar porque natildeo tinha escola a onde eu morava que era na roccedila e eu
tinha que ficar na casa dozotro (SIC) na cidade e eu natildeo gostava disso natildeo ai parei
com 16 anos de idade Mudamo (SIC) pra Brasiacutelia pra uma chaacutecara perto de Santa
Maria-DF e natildeo dei pra estudar porque casei e tinha que trabalhar muito para
susrentar a famiacutelia A gora moro no assentamento Renascer e sei que um dia vai ter
uma escola aqui e eu vou voltar a estudar porque meu sonho eacute ser veterinaacuterio e vou
der se deus quiser
Entrevistado 03
Tenho 58 anos moro no assentamento Renascer haacute 6 anos vim de Ceres-GO
comecei a estudar quando eu tinha 10 ano de idade estudei ateacute a 4ordf seria primaacuteria
(SIC) parei de estudar quando tinha 16 anos porque eu morava na roccedila e escola
ateacute que natildeo ficava muito longe natildeo era soacute 2 km dava pra ir a peacute a professora eacute que
faltava muito e a gente natildeo tinha como saber se ela tava ou natildeoAiacute quando eu tinha
18 anos casei e vim morar em Brasiacutelia e arranjei(SIC) emprego de caseira em uma
chaacutecara aiacute natildeo pra estudar a noite porque era muito longe pra laacute entatildeo eu natildeo
pensei mais nessas coisas Quando tiver escola no assentamento quero estudar
quiecirc pra mim (SIC) fazer curso de teacutecnico agriacutecolarsquorsquo
Entrevistado 04
Tenho 24 anos moro no assentamento Renascer tem 6 ano vim da Bahia morava
no Condomiacutenio RK entrei na escola com 7 anos de idade e estudei soacute ateacute a 6ordf seacuterie
parei com 18 anos de idade
Porque mudei pra caacute pro assentamento (SIC) e natildeo tem escola e natildeo tem como ir
pra Sobradinho a noite porque eacute muito longe tem que andar 5 km eacute pirigogo (SIC)
tem muita gente mal por aiacute tem ateacute estrupador natildeo posso me arriscar
ldquoSe tivesse escola aqui eu ia terminar meus estudos podia ser no galpatildeo mesmo
pra mim tava bom mas para os meus filhos eu queria uma escola boa com internet
e tudo Eu natildeo gosto que meus filhos estuda(SIC) na cidade soacute aceito porque eacute o
jeito gente de assentamento eacute muito zombado (SIC) porque as vezes chega suja
na escola e os outros acha que eles satildeo porcos que toma banhordquo
Entrevistado 05
51
Tenho 21 anos de idade moro no Renascer haacute trecircs anos vim de satildeo Gabriel-GO
comecei a estudar aos 7 anos parei com 18 anos porque minha matildee mudou
pro(SIC) matildee mudou pro (SIC) assentamento haacute 6 anos e eu natildeo aguento morar
longe dela Quando cheguei aqui natildeo teve como continuar os estudos porque
trabalho durante o dia como manicure em Sobradinho e o uacuteltimo ocircnibus que passa
perto do assentamento eacute as 5 horas da tarde entatildeo natildeo daacute para estudar a noite
Sim porque quero fazer um curso de cabelereiro quando tiver aacutegua e luz aqui eu
quero montar um salatildeo de beleza e para ser uma empresaacuteria precisa ter estudos pra
administrar o negoacutecio
Entrevistado 06
44 anos
6 anos
Formosa-GO
8 anos
5ordf seacuterie
24 anos
Porque a escola mais perto(SIC) era 10km de distacircncia e eu trabalhava na roccedila e
ficava muito cansado aiacute parei natildeo deu mais
Sim quando tiver escola aqui eu vou voltar a estudar Eu tinha um sonho de ser
agroacutenomo mas esse sonho eacute impussive(SIC) entatildeo queria concluir o ensino
fundamental para fazer um curso de teacutecnico agriacutecola no IFB mas tambeacutem eacute longe
se tivesse como estudar aqui no assentamento eu ia(SIC) ficar muito feliz
Entrevistado 07
57 anos
6 anos
Parnaiacuteba-PI- Santa Maria- DF
7 anos
4ordf seacuterie
21 anos
Parei porque era muito difiacutecil ir para escola que ficava muito longe eu tinha que sair
de casa as 4hs da madrugada para chegar na escola as 730 ia montado num
cavalo e muitas vezes natildeo tinha professora pra dar aula Parei porque natildeo aguentei
o rojatildeo tinha que minha matildee na lida a tarde e eu ficava muito cansado Vim pra
52
Brasiacutelia e casei fui trabalhar de chacareiro numa chaacutecara que tambeacutem era longe de
escola depois vim morar aqui no assentamento que natildeo tem escola
Se tivesse escola aqui eu ia voltar estudar soacute pra aprender a cuidar meior (SIC) da
terra e dos meus bichos e que fosse como uma escola agriacutecola
Entrevistado 08
Tenho 29 anos moro no assentamento Renascer haacute 2 anos sou educadora do
Pronera haacute 1 ano e 2 meses O Pronera eacute como um antidepressivo na vida de muita
gente o Pronera melhorou a minha vida e a vida dos meus alunos o desejo de
todos eacute que o Pronera continue crescendo em direccedilatildeo de uma educaccedilatildeo continuada
levando tambeacutem o ensino fundamental para os acampamentos e assentamentos da
Reforma Agraacuteria
-50-
Anexos
53
Acampamento agrave beira da estrada ndash 2004
Construccedilatildeo da Sede do Movimento na atual aacuterea
54
Reuniatildeo semanal
Teatro de fantoches ndash brinquedoteca
55
Accedilatildeo da Pastoral da Crianccedila na brinquedoteca
Oficina de brinquedos reciclaacuteveis
56
Brinquedo confeccionado com materiais reciclaacuteveis na Brinquedoteca
57
58
59
60
Apresentaccedilatildeo teatral
61
Capacitaccedilatildeo em Economia Solidaacuteria
Formaccedilatildeo de multiplicadores da Economia Solidaacuteria
62
Capacitaccedilatildeo de Educadores Ambientais
63
Luta pela Reforma Agraacuteria e Soberania Alimentar
49
b) Entrevistas semi-estruturadas
Entrevistado 01
Moro no assentamento Renascer haacute 11 anos Nasci Carnauacuteba no Rio Grande do
Norte fui criado na roccedila e desde pequeno trabalhava na lavoura para ajudar meu
pai Fui para escola com 9 anos de idade estudei ateacute a 5ordm seacuterie parei de estudar
com 17 anos natildeo continuei os estudos porque era muito longe de onde eu morva
que era na cidade mais proacutexima eu tinha que andar a peacute 8 km ficava muito
cansado Casei e vim morar em Brasiacutelia para trabalhar em uma chaacutecara como
caseiro Morava na chaacutecara Buritis em sobradinho- Df tambeacutem natildeo dei para
continuar os estudos porque ficava longe e tinha que ser a noite e natildeo tinha como ir
Se vier uma escola pra caacute eu ainda vou estudar para ter mais conhecimento para
plantar minha roccedila ir no banco pra ver se assino um empreacutestimo para melhorar
minha produccedilatildeo e saber fazer conta pra administrar minha parcela de terra
Qual o seu nome
Masculino ( X ) Feminino ( )
Quantos anos vocecirc
tecircm
57 anos
A quanto tempo
mora no assentamento
11 anos
Onde vocecirc morou
antes de morar no
assentamento
Carnauacuteba ndash RN
Chaacutecara Buritis nordm 10 Sobradinho DF
Quantos anos vocecirc
tinha quando foi a escola
pela primeira vez
8 anos
Estou ateacute qual
seacuterieano
5ordf seacuterie
Quantos anos vocecirc
tinha quando parou de
estudar
24 anos
Qual motivo
motivou vocecirc a parar de
estudar
Trabalhar para sustento da famiacutelia a
distacircncia entre a casa e a escola
Se tiver escola no
assentamento vocecirc voltaraacute
a estudar Porque
Sim ldquoSe tivesse escola do ensino
fundamental voltaria a estudar para tecirc
mais conhecimento para plantar minha roccedila
50
saber pesar saber contar vendecirc os produto e
comecirc
Entrevistado 02
Moro no assentamento renascer haacute 7 anos tenho 38 vim do interior do Cearaacute
Entrei na escola com 7 anos de idade estudei soacute a 5ordm seacuterie incompleta natildeo
continuei a estudar porque natildeo tinha escola a onde eu morava que era na roccedila e eu
tinha que ficar na casa dozotro (SIC) na cidade e eu natildeo gostava disso natildeo ai parei
com 16 anos de idade Mudamo (SIC) pra Brasiacutelia pra uma chaacutecara perto de Santa
Maria-DF e natildeo dei pra estudar porque casei e tinha que trabalhar muito para
susrentar a famiacutelia A gora moro no assentamento Renascer e sei que um dia vai ter
uma escola aqui e eu vou voltar a estudar porque meu sonho eacute ser veterinaacuterio e vou
der se deus quiser
Entrevistado 03
Tenho 58 anos moro no assentamento Renascer haacute 6 anos vim de Ceres-GO
comecei a estudar quando eu tinha 10 ano de idade estudei ateacute a 4ordf seria primaacuteria
(SIC) parei de estudar quando tinha 16 anos porque eu morava na roccedila e escola
ateacute que natildeo ficava muito longe natildeo era soacute 2 km dava pra ir a peacute a professora eacute que
faltava muito e a gente natildeo tinha como saber se ela tava ou natildeoAiacute quando eu tinha
18 anos casei e vim morar em Brasiacutelia e arranjei(SIC) emprego de caseira em uma
chaacutecara aiacute natildeo pra estudar a noite porque era muito longe pra laacute entatildeo eu natildeo
pensei mais nessas coisas Quando tiver escola no assentamento quero estudar
quiecirc pra mim (SIC) fazer curso de teacutecnico agriacutecolarsquorsquo
Entrevistado 04
Tenho 24 anos moro no assentamento Renascer tem 6 ano vim da Bahia morava
no Condomiacutenio RK entrei na escola com 7 anos de idade e estudei soacute ateacute a 6ordf seacuterie
parei com 18 anos de idade
Porque mudei pra caacute pro assentamento (SIC) e natildeo tem escola e natildeo tem como ir
pra Sobradinho a noite porque eacute muito longe tem que andar 5 km eacute pirigogo (SIC)
tem muita gente mal por aiacute tem ateacute estrupador natildeo posso me arriscar
ldquoSe tivesse escola aqui eu ia terminar meus estudos podia ser no galpatildeo mesmo
pra mim tava bom mas para os meus filhos eu queria uma escola boa com internet
e tudo Eu natildeo gosto que meus filhos estuda(SIC) na cidade soacute aceito porque eacute o
jeito gente de assentamento eacute muito zombado (SIC) porque as vezes chega suja
na escola e os outros acha que eles satildeo porcos que toma banhordquo
Entrevistado 05
51
Tenho 21 anos de idade moro no Renascer haacute trecircs anos vim de satildeo Gabriel-GO
comecei a estudar aos 7 anos parei com 18 anos porque minha matildee mudou
pro(SIC) matildee mudou pro (SIC) assentamento haacute 6 anos e eu natildeo aguento morar
longe dela Quando cheguei aqui natildeo teve como continuar os estudos porque
trabalho durante o dia como manicure em Sobradinho e o uacuteltimo ocircnibus que passa
perto do assentamento eacute as 5 horas da tarde entatildeo natildeo daacute para estudar a noite
Sim porque quero fazer um curso de cabelereiro quando tiver aacutegua e luz aqui eu
quero montar um salatildeo de beleza e para ser uma empresaacuteria precisa ter estudos pra
administrar o negoacutecio
Entrevistado 06
44 anos
6 anos
Formosa-GO
8 anos
5ordf seacuterie
24 anos
Porque a escola mais perto(SIC) era 10km de distacircncia e eu trabalhava na roccedila e
ficava muito cansado aiacute parei natildeo deu mais
Sim quando tiver escola aqui eu vou voltar a estudar Eu tinha um sonho de ser
agroacutenomo mas esse sonho eacute impussive(SIC) entatildeo queria concluir o ensino
fundamental para fazer um curso de teacutecnico agriacutecola no IFB mas tambeacutem eacute longe
se tivesse como estudar aqui no assentamento eu ia(SIC) ficar muito feliz
Entrevistado 07
57 anos
6 anos
Parnaiacuteba-PI- Santa Maria- DF
7 anos
4ordf seacuterie
21 anos
Parei porque era muito difiacutecil ir para escola que ficava muito longe eu tinha que sair
de casa as 4hs da madrugada para chegar na escola as 730 ia montado num
cavalo e muitas vezes natildeo tinha professora pra dar aula Parei porque natildeo aguentei
o rojatildeo tinha que minha matildee na lida a tarde e eu ficava muito cansado Vim pra
52
Brasiacutelia e casei fui trabalhar de chacareiro numa chaacutecara que tambeacutem era longe de
escola depois vim morar aqui no assentamento que natildeo tem escola
Se tivesse escola aqui eu ia voltar estudar soacute pra aprender a cuidar meior (SIC) da
terra e dos meus bichos e que fosse como uma escola agriacutecola
Entrevistado 08
Tenho 29 anos moro no assentamento Renascer haacute 2 anos sou educadora do
Pronera haacute 1 ano e 2 meses O Pronera eacute como um antidepressivo na vida de muita
gente o Pronera melhorou a minha vida e a vida dos meus alunos o desejo de
todos eacute que o Pronera continue crescendo em direccedilatildeo de uma educaccedilatildeo continuada
levando tambeacutem o ensino fundamental para os acampamentos e assentamentos da
Reforma Agraacuteria
-50-
Anexos
53
Acampamento agrave beira da estrada ndash 2004
Construccedilatildeo da Sede do Movimento na atual aacuterea
54
Reuniatildeo semanal
Teatro de fantoches ndash brinquedoteca
55
Accedilatildeo da Pastoral da Crianccedila na brinquedoteca
Oficina de brinquedos reciclaacuteveis
56
Brinquedo confeccionado com materiais reciclaacuteveis na Brinquedoteca
57
58
59
60
Apresentaccedilatildeo teatral
61
Capacitaccedilatildeo em Economia Solidaacuteria
Formaccedilatildeo de multiplicadores da Economia Solidaacuteria
62
Capacitaccedilatildeo de Educadores Ambientais
63
Luta pela Reforma Agraacuteria e Soberania Alimentar
50
saber pesar saber contar vendecirc os produto e
comecirc
Entrevistado 02
Moro no assentamento renascer haacute 7 anos tenho 38 vim do interior do Cearaacute
Entrei na escola com 7 anos de idade estudei soacute a 5ordm seacuterie incompleta natildeo
continuei a estudar porque natildeo tinha escola a onde eu morava que era na roccedila e eu
tinha que ficar na casa dozotro (SIC) na cidade e eu natildeo gostava disso natildeo ai parei
com 16 anos de idade Mudamo (SIC) pra Brasiacutelia pra uma chaacutecara perto de Santa
Maria-DF e natildeo dei pra estudar porque casei e tinha que trabalhar muito para
susrentar a famiacutelia A gora moro no assentamento Renascer e sei que um dia vai ter
uma escola aqui e eu vou voltar a estudar porque meu sonho eacute ser veterinaacuterio e vou
der se deus quiser
Entrevistado 03
Tenho 58 anos moro no assentamento Renascer haacute 6 anos vim de Ceres-GO
comecei a estudar quando eu tinha 10 ano de idade estudei ateacute a 4ordf seria primaacuteria
(SIC) parei de estudar quando tinha 16 anos porque eu morava na roccedila e escola
ateacute que natildeo ficava muito longe natildeo era soacute 2 km dava pra ir a peacute a professora eacute que
faltava muito e a gente natildeo tinha como saber se ela tava ou natildeoAiacute quando eu tinha
18 anos casei e vim morar em Brasiacutelia e arranjei(SIC) emprego de caseira em uma
chaacutecara aiacute natildeo pra estudar a noite porque era muito longe pra laacute entatildeo eu natildeo
pensei mais nessas coisas Quando tiver escola no assentamento quero estudar
quiecirc pra mim (SIC) fazer curso de teacutecnico agriacutecolarsquorsquo
Entrevistado 04
Tenho 24 anos moro no assentamento Renascer tem 6 ano vim da Bahia morava
no Condomiacutenio RK entrei na escola com 7 anos de idade e estudei soacute ateacute a 6ordf seacuterie
parei com 18 anos de idade
Porque mudei pra caacute pro assentamento (SIC) e natildeo tem escola e natildeo tem como ir
pra Sobradinho a noite porque eacute muito longe tem que andar 5 km eacute pirigogo (SIC)
tem muita gente mal por aiacute tem ateacute estrupador natildeo posso me arriscar
ldquoSe tivesse escola aqui eu ia terminar meus estudos podia ser no galpatildeo mesmo
pra mim tava bom mas para os meus filhos eu queria uma escola boa com internet
e tudo Eu natildeo gosto que meus filhos estuda(SIC) na cidade soacute aceito porque eacute o
jeito gente de assentamento eacute muito zombado (SIC) porque as vezes chega suja
na escola e os outros acha que eles satildeo porcos que toma banhordquo
Entrevistado 05
51
Tenho 21 anos de idade moro no Renascer haacute trecircs anos vim de satildeo Gabriel-GO
comecei a estudar aos 7 anos parei com 18 anos porque minha matildee mudou
pro(SIC) matildee mudou pro (SIC) assentamento haacute 6 anos e eu natildeo aguento morar
longe dela Quando cheguei aqui natildeo teve como continuar os estudos porque
trabalho durante o dia como manicure em Sobradinho e o uacuteltimo ocircnibus que passa
perto do assentamento eacute as 5 horas da tarde entatildeo natildeo daacute para estudar a noite
Sim porque quero fazer um curso de cabelereiro quando tiver aacutegua e luz aqui eu
quero montar um salatildeo de beleza e para ser uma empresaacuteria precisa ter estudos pra
administrar o negoacutecio
Entrevistado 06
44 anos
6 anos
Formosa-GO
8 anos
5ordf seacuterie
24 anos
Porque a escola mais perto(SIC) era 10km de distacircncia e eu trabalhava na roccedila e
ficava muito cansado aiacute parei natildeo deu mais
Sim quando tiver escola aqui eu vou voltar a estudar Eu tinha um sonho de ser
agroacutenomo mas esse sonho eacute impussive(SIC) entatildeo queria concluir o ensino
fundamental para fazer um curso de teacutecnico agriacutecola no IFB mas tambeacutem eacute longe
se tivesse como estudar aqui no assentamento eu ia(SIC) ficar muito feliz
Entrevistado 07
57 anos
6 anos
Parnaiacuteba-PI- Santa Maria- DF
7 anos
4ordf seacuterie
21 anos
Parei porque era muito difiacutecil ir para escola que ficava muito longe eu tinha que sair
de casa as 4hs da madrugada para chegar na escola as 730 ia montado num
cavalo e muitas vezes natildeo tinha professora pra dar aula Parei porque natildeo aguentei
o rojatildeo tinha que minha matildee na lida a tarde e eu ficava muito cansado Vim pra
52
Brasiacutelia e casei fui trabalhar de chacareiro numa chaacutecara que tambeacutem era longe de
escola depois vim morar aqui no assentamento que natildeo tem escola
Se tivesse escola aqui eu ia voltar estudar soacute pra aprender a cuidar meior (SIC) da
terra e dos meus bichos e que fosse como uma escola agriacutecola
Entrevistado 08
Tenho 29 anos moro no assentamento Renascer haacute 2 anos sou educadora do
Pronera haacute 1 ano e 2 meses O Pronera eacute como um antidepressivo na vida de muita
gente o Pronera melhorou a minha vida e a vida dos meus alunos o desejo de
todos eacute que o Pronera continue crescendo em direccedilatildeo de uma educaccedilatildeo continuada
levando tambeacutem o ensino fundamental para os acampamentos e assentamentos da
Reforma Agraacuteria
-50-
Anexos
53
Acampamento agrave beira da estrada ndash 2004
Construccedilatildeo da Sede do Movimento na atual aacuterea
54
Reuniatildeo semanal
Teatro de fantoches ndash brinquedoteca
55
Accedilatildeo da Pastoral da Crianccedila na brinquedoteca
Oficina de brinquedos reciclaacuteveis
56
Brinquedo confeccionado com materiais reciclaacuteveis na Brinquedoteca
57
58
59
60
Apresentaccedilatildeo teatral
61
Capacitaccedilatildeo em Economia Solidaacuteria
Formaccedilatildeo de multiplicadores da Economia Solidaacuteria
62
Capacitaccedilatildeo de Educadores Ambientais
63
Luta pela Reforma Agraacuteria e Soberania Alimentar
51
Tenho 21 anos de idade moro no Renascer haacute trecircs anos vim de satildeo Gabriel-GO
comecei a estudar aos 7 anos parei com 18 anos porque minha matildee mudou
pro(SIC) matildee mudou pro (SIC) assentamento haacute 6 anos e eu natildeo aguento morar
longe dela Quando cheguei aqui natildeo teve como continuar os estudos porque
trabalho durante o dia como manicure em Sobradinho e o uacuteltimo ocircnibus que passa
perto do assentamento eacute as 5 horas da tarde entatildeo natildeo daacute para estudar a noite
Sim porque quero fazer um curso de cabelereiro quando tiver aacutegua e luz aqui eu
quero montar um salatildeo de beleza e para ser uma empresaacuteria precisa ter estudos pra
administrar o negoacutecio
Entrevistado 06
44 anos
6 anos
Formosa-GO
8 anos
5ordf seacuterie
24 anos
Porque a escola mais perto(SIC) era 10km de distacircncia e eu trabalhava na roccedila e
ficava muito cansado aiacute parei natildeo deu mais
Sim quando tiver escola aqui eu vou voltar a estudar Eu tinha um sonho de ser
agroacutenomo mas esse sonho eacute impussive(SIC) entatildeo queria concluir o ensino
fundamental para fazer um curso de teacutecnico agriacutecola no IFB mas tambeacutem eacute longe
se tivesse como estudar aqui no assentamento eu ia(SIC) ficar muito feliz
Entrevistado 07
57 anos
6 anos
Parnaiacuteba-PI- Santa Maria- DF
7 anos
4ordf seacuterie
21 anos
Parei porque era muito difiacutecil ir para escola que ficava muito longe eu tinha que sair
de casa as 4hs da madrugada para chegar na escola as 730 ia montado num
cavalo e muitas vezes natildeo tinha professora pra dar aula Parei porque natildeo aguentei
o rojatildeo tinha que minha matildee na lida a tarde e eu ficava muito cansado Vim pra
52
Brasiacutelia e casei fui trabalhar de chacareiro numa chaacutecara que tambeacutem era longe de
escola depois vim morar aqui no assentamento que natildeo tem escola
Se tivesse escola aqui eu ia voltar estudar soacute pra aprender a cuidar meior (SIC) da
terra e dos meus bichos e que fosse como uma escola agriacutecola
Entrevistado 08
Tenho 29 anos moro no assentamento Renascer haacute 2 anos sou educadora do
Pronera haacute 1 ano e 2 meses O Pronera eacute como um antidepressivo na vida de muita
gente o Pronera melhorou a minha vida e a vida dos meus alunos o desejo de
todos eacute que o Pronera continue crescendo em direccedilatildeo de uma educaccedilatildeo continuada
levando tambeacutem o ensino fundamental para os acampamentos e assentamentos da
Reforma Agraacuteria
-50-
Anexos
53
Acampamento agrave beira da estrada ndash 2004
Construccedilatildeo da Sede do Movimento na atual aacuterea
54
Reuniatildeo semanal
Teatro de fantoches ndash brinquedoteca
55
Accedilatildeo da Pastoral da Crianccedila na brinquedoteca
Oficina de brinquedos reciclaacuteveis
56
Brinquedo confeccionado com materiais reciclaacuteveis na Brinquedoteca
57
58
59
60
Apresentaccedilatildeo teatral
61
Capacitaccedilatildeo em Economia Solidaacuteria
Formaccedilatildeo de multiplicadores da Economia Solidaacuteria
62
Capacitaccedilatildeo de Educadores Ambientais
63
Luta pela Reforma Agraacuteria e Soberania Alimentar
52
Brasiacutelia e casei fui trabalhar de chacareiro numa chaacutecara que tambeacutem era longe de
escola depois vim morar aqui no assentamento que natildeo tem escola
Se tivesse escola aqui eu ia voltar estudar soacute pra aprender a cuidar meior (SIC) da
terra e dos meus bichos e que fosse como uma escola agriacutecola
Entrevistado 08
Tenho 29 anos moro no assentamento Renascer haacute 2 anos sou educadora do
Pronera haacute 1 ano e 2 meses O Pronera eacute como um antidepressivo na vida de muita
gente o Pronera melhorou a minha vida e a vida dos meus alunos o desejo de
todos eacute que o Pronera continue crescendo em direccedilatildeo de uma educaccedilatildeo continuada
levando tambeacutem o ensino fundamental para os acampamentos e assentamentos da
Reforma Agraacuteria
-50-
Anexos
53
Acampamento agrave beira da estrada ndash 2004
Construccedilatildeo da Sede do Movimento na atual aacuterea
54
Reuniatildeo semanal
Teatro de fantoches ndash brinquedoteca
55
Accedilatildeo da Pastoral da Crianccedila na brinquedoteca
Oficina de brinquedos reciclaacuteveis
56
Brinquedo confeccionado com materiais reciclaacuteveis na Brinquedoteca
57
58
59
60
Apresentaccedilatildeo teatral
61
Capacitaccedilatildeo em Economia Solidaacuteria
Formaccedilatildeo de multiplicadores da Economia Solidaacuteria
62
Capacitaccedilatildeo de Educadores Ambientais
63
Luta pela Reforma Agraacuteria e Soberania Alimentar
53
Acampamento agrave beira da estrada ndash 2004
Construccedilatildeo da Sede do Movimento na atual aacuterea
54
Reuniatildeo semanal
Teatro de fantoches ndash brinquedoteca
55
Accedilatildeo da Pastoral da Crianccedila na brinquedoteca
Oficina de brinquedos reciclaacuteveis
56
Brinquedo confeccionado com materiais reciclaacuteveis na Brinquedoteca
57
58
59
60
Apresentaccedilatildeo teatral
61
Capacitaccedilatildeo em Economia Solidaacuteria
Formaccedilatildeo de multiplicadores da Economia Solidaacuteria
62
Capacitaccedilatildeo de Educadores Ambientais
63
Luta pela Reforma Agraacuteria e Soberania Alimentar
54
Reuniatildeo semanal
Teatro de fantoches ndash brinquedoteca
55
Accedilatildeo da Pastoral da Crianccedila na brinquedoteca
Oficina de brinquedos reciclaacuteveis
56
Brinquedo confeccionado com materiais reciclaacuteveis na Brinquedoteca
57
58
59
60
Apresentaccedilatildeo teatral
61
Capacitaccedilatildeo em Economia Solidaacuteria
Formaccedilatildeo de multiplicadores da Economia Solidaacuteria
62
Capacitaccedilatildeo de Educadores Ambientais
63
Luta pela Reforma Agraacuteria e Soberania Alimentar
55
Accedilatildeo da Pastoral da Crianccedila na brinquedoteca
Oficina de brinquedos reciclaacuteveis
56
Brinquedo confeccionado com materiais reciclaacuteveis na Brinquedoteca
57
58
59
60
Apresentaccedilatildeo teatral
61
Capacitaccedilatildeo em Economia Solidaacuteria
Formaccedilatildeo de multiplicadores da Economia Solidaacuteria
62
Capacitaccedilatildeo de Educadores Ambientais
63
Luta pela Reforma Agraacuteria e Soberania Alimentar
56
Brinquedo confeccionado com materiais reciclaacuteveis na Brinquedoteca
57
58
59
60
Apresentaccedilatildeo teatral
61
Capacitaccedilatildeo em Economia Solidaacuteria
Formaccedilatildeo de multiplicadores da Economia Solidaacuteria
62
Capacitaccedilatildeo de Educadores Ambientais
63
Luta pela Reforma Agraacuteria e Soberania Alimentar
57
58
59
60
Apresentaccedilatildeo teatral
61
Capacitaccedilatildeo em Economia Solidaacuteria
Formaccedilatildeo de multiplicadores da Economia Solidaacuteria
62
Capacitaccedilatildeo de Educadores Ambientais
63
Luta pela Reforma Agraacuteria e Soberania Alimentar
58
59
60
Apresentaccedilatildeo teatral
61
Capacitaccedilatildeo em Economia Solidaacuteria
Formaccedilatildeo de multiplicadores da Economia Solidaacuteria
62
Capacitaccedilatildeo de Educadores Ambientais
63
Luta pela Reforma Agraacuteria e Soberania Alimentar
59
60
Apresentaccedilatildeo teatral
61
Capacitaccedilatildeo em Economia Solidaacuteria
Formaccedilatildeo de multiplicadores da Economia Solidaacuteria
62
Capacitaccedilatildeo de Educadores Ambientais
63
Luta pela Reforma Agraacuteria e Soberania Alimentar
60
Apresentaccedilatildeo teatral
61
Capacitaccedilatildeo em Economia Solidaacuteria
Formaccedilatildeo de multiplicadores da Economia Solidaacuteria
62
Capacitaccedilatildeo de Educadores Ambientais
63
Luta pela Reforma Agraacuteria e Soberania Alimentar
61
Capacitaccedilatildeo em Economia Solidaacuteria
Formaccedilatildeo de multiplicadores da Economia Solidaacuteria
62
Capacitaccedilatildeo de Educadores Ambientais
63
Luta pela Reforma Agraacuteria e Soberania Alimentar
62
Capacitaccedilatildeo de Educadores Ambientais
63
Luta pela Reforma Agraacuteria e Soberania Alimentar
63
Luta pela Reforma Agraacuteria e Soberania Alimentar