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UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL
CENTRO DE CIÊNCIAS DA COMUNICAÇÃO
CURSO FOTOGRAFIA – TECNOLOGIA
TRABALHO DE CONCLUSÃO II
DANIELA SCHIAVO
PROJETO FANTÁSTICO MUNDO
Fotografia de crianças.
Caxias do Sul,
junho de 2014
2
DANIELA SCHIAVO
PROJETO FANTÁSTICO MUNDO
Fotografia de crianças.
Trabalho de Conclusão – TCC do Curso
Fotografia – Tecnologia da Universidade de
Caxias do Sul – UCS, apresentado como
requisito básico para obtenção de Grau de
Tecnólogo em Fotografia.
Orientador Profª. Ms. Myra Adam de Oliveira
Gonçalves
Caxias do Sul,
junho de 2014
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PROJETO FANTÁSTICO MUNDO
Fotografia de crianças.
Trabalho de conclusão do Curso de Fotografia – Tecnologia. Universidade de Caxias
do Sul, apresentado como requisito parcial para obtenção de diploma.
Aprovado pela banca examinadora em __ de julho de 2014.
BANCA EXAMINADORA:
________________________________________________
Profª. Ms. Myra Adam de Oliveira Gonçalves
(Orientadora/UCS)
________________________________________________
Profª. Jussara Moreira de Azevedo
(UCS)
4
Para Noemi e David.
5
AGRADECIMENTOS
Agradeço principalmente as crianças da Escola Renan Falcão de Azevedo,
pelo carinho e confiança, a coordenadora Jaqueline e a professora Carina por
entender e abraçar o projeto;
A minha mãe Noemi, por seu amor incondicional e por acreditar em mim;
Ao meu amor, David, pelo carinho e apoio que foram fundamentais;
A minha amiga e fotógrafa Mariana que embarcou comigo nesse fantástico
mundo.
A minha orientadora Myra, pela paciência e auxilio na realização desse
trabalho.
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RESUMO
Este trabalho aplicado tem como objetivo produzir um livro com fotografias de crianças. Por acreditar que a fotografia pode estimular a memória e a imaginação das crianças e transformar a relação delas com a própria representação e com o meio em que vivem, optamos pelo trabalho nesta perspectiva. Nossa metodologia iniciou com a revisão da bibliografia pertinente ao tema proposto. Também se explorou conceitos como memória e imaginário, para poder estabelecer relações entre estes e o processo criativo implicado na construção imagética para a produção do livro proposto. Para tanto, nos utilizamos de metodologia própria para pesquisa em artes, onde o objeto de estudo está calcado no processo criativo do autor. O presente estudo permitiu compreender que a fotografia pode estar intimamente ligada com a construção de memórias, e que este vasto universo simbólico enraizado em nossas mentes expressa muito do que somos e o que produzimos enquanto integrantes de uma sociedade. Também, foi possível identificar a possibilidade de utilizar a fotografia com crianças, por ser essa uma linguagem universal, como forma de reinterpretar e valorizar o mundo e a si próprio.
O processo de produção do livro possibilitou um pensar mais amplo sobre minha fotografia, na tomada de decisões como o formato que o livro seria impresso, o tamanho, quais e quantas fotografias dialogariam entre si para construir a narrativa visual. E também me permitiu revisitar obras pelas quais tenho profunda admiração e que são minhas referencias visuais e englobar novos conceitos as minhas ideias.
Palavras chaves: Fotografia, memória, imaginário, fantástico mundo.
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ABSTRACT
This work applied aims to produce a book with photographs of children. Believing that the photo can stimulate the memory and imagination of children and transform their relationship with the representation itself and the environment they live in, we decided to work in this perspective. Our methodology began with a review of relevant literature to the proposed topic. Also explored concepts such as memory and imagination in order to establish relationships between them and the creative process involved in building imagery for the production of the proposed book. Therefore, we use in the appropriate methodology for research in the arts, where the object of study is trampled in the creative process of the author. This study allowed us to understand that photography can be closely linked with the construction of memories, and that this vast symbolic universe rooted in our minds expresses much of what we are and what we produce as members of a society. Also, it was possible to identify the possibility of using the photograph with children, since this is a universal language, as a way to reinterpret and enhance the world and himself.
The production process of the book enabled a broader thinking about my photography, in making decisions as the format that the book would be printed, the size, which and how many photographs would talk to each other to build the visual narrative. It also allowed me to revisit works for which I have deep admiration and who are my visual reference, new concepts encompass my ideas.
Key words: Photography, memory, imagination, fantastic world.
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SUMÁRIO
1 PROJETO FANTÁSTICO MUNDO ............................................................. 9
2 DIÁRIO DE CAMPO ...................................................................................21
CONSIDERAÇÕES FINAIS ..............................................................................51
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................52
ANEXOS
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1 PROJETO FANTÁSTICO MUNDO
O presente estudo configura-se como um trabalho aplicado que visou à
produção imagética para composição de um livro com imagens de crianças. No
processo de criação imagética do trabalho adotamos também a redação de um
diário de campo sobre as atividades realizadas como forma de evidenciar o caminho
trilhado durante o semestre.
Da produção imagética, algumas imagens fazem parte somente do diário de
campo, para ilustrá-lo, e as demais foram selecionadas para compor um livro. A
escolha de fazer um projeto aplicado no final do curso de Fotografia está em
explorar meu processo criativo e é uma possibilidade de agregar conhecimento e
experiência dentro do que no decorrer do curso aprendi a amar, e escolhi como meu
foco profissional, a fotografia de criança. O trabalho de conclusão de curso
possibilitou me lançar a campo e poderá agregar fundamentos mais sólidos para um
futuro projeto profissional. Ostrower (1987) nos fala sobre o fazer,
Intuindo, procura-se estabelecer relacionamentos significativos – significativos para uma matéria e para nós. Seja qual for a área de atuação, a criatividade se elabora em nossa capacidade de selecionar, relacionar e integrar os dados do mundo externo e interno, de transformá-los com o propósito de encaminhá-los para um sentido mais completo. [...] Ao transformarmos as matérias, agimos, fazemos. São experiências existenciais – processos de criação – que nos envolvem na globalidade, em nosso ser sensível, no ser pensante, no ser atuante. Formar
1 é mesmo
fazer. É experimentar. É lidar com alguma materialidade e, ao experimentá-la, é configurá-la. [...] Enquanto o fazer existe apenas numa intenção, ele ainda não se tornou forma. Nada poderia ser dito a respeito de conteúdos significativos nem mesmo sobre a proposta real. Sem a configuração dos meios não se realiza o conteúdo significativo. (OSTROWER, 1987, pag.69).
Parece-me muito importante colocar as ideias e projeções no papel e vê-las
tomando vida fora dele, elucidando e reforçando meus valores e intenções dentro da
fotografia.
No nosso mundo contemporâneo, o domínio dos meios de comunicação é
inegável, como também é notório o uso desses meios pelas culturas hegemônicas,
muitas vezes sufocando os grupos mais vulneráveis. De acordo com Fayga,
As disposições, imagens da percepção, compõem-se, a rigor, em grande parte de valores culturais. Constituem-se em ordenações “características” e
1 Forma: A forma é o modo por que se relacionam os fenômenos, é o modo como se configuram certas relações
dentro de um contexto. (OSTROWER, 198, pag. 79).
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passam a ser normativas, qualificando a maneira por que novas situações serão vivenciadas pelo indivíduo. Formam imagens referenciais que funcionam ao mesmo tempo como uma espécie de prisma para enfocar os fenômenos e como medida de avaliação. (OSTROWER, 1987, pag. 58).
A cultura dominante muitas vezes acaba por impor valores, comportamentos,
reprimindo aquilo que é puro, legítimo de cada pessoa e seu meio social. Essa
imagem imposta como uma historia única pode ser interiorizada pelas crianças
trazendo consequências negativas para o seu crescimento. A fotografia pode ser um
instrumento de enfrentamento, a partir do individual para o coletivo, na busca pela
essência do ser e no reconhecimento de si, Kossoy nos fala sobre a fotografia:
A fotografia no início do século XX já havia cumprido o papel revolucionário em termos de disseminação maciça de imagens do mundo. Imagens, todavia, de realidades fragmentárias, selecionadas segundo a visão de mundo de seus autores e editores. Registros de realidades parciais, não raro deformantes em relação ao contexto mais amplo, e que em função disto estabeleceram conceitos e preconceitos no imaginário coletivo. (KOSSOY, 2001, pag.136).
A fotografia permite várias formas de ver, de dialogar, entre elas a fotografia
documental. A arte de contar histórias através de pequenos recortes da realidade.
Conhecer, vivenciar e fotografar pode influenciar na criação da memória visual das
crianças e também, de (re) descoberta para o fotógrafo.
Em 2010, essas percepções sobre a imagem e seu uso começaram a ser
discutidas com uma colega do curso de Fotografia na UCS, a colega Mariana
Hoffmann. Juntas, idealizamos um projeto de levar a fotografia até as crianças que
não tem acesso a essa ferramenta e desde então, viemos amadurecemos essa
ideia.
A primeira experiência, em julho de 2011, de fotografar e disponibilizar as
fotografias para um grupo de crianças foi no interior do município de Caxias do Sul.
A atividade deu-se de forma simples por um lado, mas serviu de base para tudo o
que projetamos hoje.
A entrada nessa comunidade de trabalhadores rurais foi inicialmente de forma
instável devido à falta de comunicação e clareza de propósitos de nossa parte aos
responsáveis pelas crianças. Os adultos, pais e mães, trabalham o dia todo em
plantações de morangos, ficando as crianças aos cuidados dos irmãos mais velhos
ou de uma única mulher que não trabalha fora de casa, e antes de fotografar
pedimos autorização para essa senhora que ficava responsável de “olhar” as
crianças durante o dia enquanto o restante das famílias sai para trabalhar,
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entretanto, deveríamos ter feito uma reunião com os pais e com o proprietário das
plantações, explicando exatamente o que pretendíamos desenvolver. Pela ausência
de um contar prévio nos deparamos com alguns obstáculos, por não saber nossas
intenções claramente, esse proprietário não permitiu que desenvolvêssemos um
trabalho com as crianças e quando tentamos explicar, já não nos permitiram mais.
Felizmente, conseguimos fotografá-los uma vez, passar uma tarde com eles,
e depois entregar uma imagem ampliada do grupo reunido (FIG.1 e 2). No dia que
retornamos para entrega das fotos, fomos avisadas por duas mães que vieram ao
nosso encontro, que não queriam que fotografássemos seus filhos, isso apontado de
forma bem definitiva. A real motivação para essa negativa talvez nunca saibamos.
Mas a felicidade e o olhar de agradecimento das crianças não têm preço, e
sim um valor imensurável e nos deu ainda mais certeza e vontade de incentivar e
participar dessa construção visual, dando as crianças o acesso à própria imagem.
Essa experiência culminou no fortalecimento da nossa ideia, no
amadurecimento das tomadas de decisões e a certeza de querer ajudar um
pouquinho na construção da representação e da memoria de famílias como essas
dos trabalhadores rurais. E principalmente, nos deu discernimento e aprendizado
para colocá-las novamente em prática.
Jorge Quintão, fotógrafo, coordenador e idealizador do projeto “Imaginário
Coletivo 2 ” que ensina fotografia as crianças do Morro do Papagaio em Belo
Horizonte, nos elucida sobre a relevância de uma educação visual, na busca por um
conhecimento maior sobre o espaço onde o individuo está inserido e acima de tudo
um conhecimento maior de si mesmo:
Sempre questionamos aos jovens o que eles acham de bonito e de feio na comunidade. No início do projeto sempre temos os elementos que incomodam a sociedade como um todo: a violência, o tráfico, o lixo, as condições precárias e etc. Ao fim do projeto, as percepções se alteram e se voltam para os elementos esteticamente mais interessantes, como a paisagem, os personagens e as relações. Se observarmos melhor, nada foi alterado na comunidade, exceto a percepção do jovem. (Entrevista
3por e-
mail, concedida para a autora do trabalho).
2 O Imaginário Coletivo é um projeto com o objetivo de desenvolver ações que utilizam a imagem
como vetor para promoção da inclusão social, através da fotografia e das artes visuais, na formação de crianças e adolescentes em aglomerados de Belo Horizonte. 3 A entrevista pode ser lida na íntegra no Anexo A, deste trabalho.
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FIGURA 1 – Crianças, filhos de trabalhadores rurais no interior do município de Caxias do Sul, Santa Justina. Julho de 2011.
Foto: Mariana Hoffmann.
FIGURA 2 – Entrega das fotografias ampliadas. Foto: Daniela Schiavo.
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A partir dessa construção de ideias e vivências, que evidenciou e fortaleceu a
inspiração para fotografar crianças, no final de 2013 foi criado o Fantástico Mundo,
que atua no mercado na área de fotografia infantil com o objetivo de registrar o
mundo das crianças de forma natural, evitando cenários montados, conhecendo seu
universo e acreditando que é possível construir memórias de forma genuína a partir
das vivências de cada criança. Compreendendo memória como todas as
experiências que guardamos em nossa mente ao longo da vida, apoiada nas ideias
do historiador francês Jacques Le Goff:
Memória é o fenômeno individual e psicológico, a memória liga-se também a vida social. Esta varia em função da presença ou da ausência de escrita e é objeto da atenção do Estado que, para conservar os traços de qualquer acontecimento do passado (passado/presente), produz diversos tipos de documentos/momentos; que escreve a história e acumula objetos. (LE GOFF, 2003, p. 419).
Em Le Goff, ainda podemos encontrar relativo às conexões possíveis entre
fotografia e memória:
A fotografia (...) revoluciona a memória: multiplica-a e democratiza-a, dá-lhe uma precisão e uma verdade visuais nunca antes atingidas, permitindo assim guardar a memória do tempo e da evolução cronológica. (LE GOFF
4
apud KOSSOY, 1984, p.152).
A proposta do Fantástico Mundo é buscar nos detalhes do cotidiano da
própria criança encontrar as histórias, registrar as miudezas mágicas que a infância
traz consigo, sua liberdade imaginária, para que no futuro ela possa desmembrar o
seu significado, e continuar fazendo com que aquela fotografia e as memórias ali
fragmentadas exista e (re) exista para ela e para os outros.
Para Samain:
O aparente da vida registrado na imagem fotográfica pode assim, de quando em quando, deixar de ser unicamente a referencia e reassumir a sua condição anterior de existência. O princípio de uma viagem no tempo em que a história particular de cada um é restaurada e revivida na solidão da mente e dos sentimentos. São em geral viagens de curta duração e de marcada emoção; muitas vezes, nos flagramos nessas viagens imaginárias. (SAMAIN, 1998, P.45).
Por outro lado, a pergunta recorrente era como nossa fotografia poderia
alcançar e englobar crianças de famílias que não tinham acesso à imagem, por
algum motivo, de ordem econômica ou não. Para tornar possível em termos
financeiros, decidimos utilizar uma porcentagem dos lucros obtidos com nossos
4 Jacques Le Goff, “Memória”, em Enciclopédia Einaudi, Lisboa, Imprensa Nacional/Casa da Moeda,
1985, vol.I (Memória-historia), p.39.
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trabalhos comerciais (5%), revertendo para pagamento de ampliações,
deslocamento até as crianças e o que mais fosse necessário para desenvolver o
trabalho, e o chamamos de “Projeto Fantástico Mundo”. Não se trata de um trabalho
de cunho social, não há essa pretensão e nem a experiência necessária em um
primeiro momento. A ideia se constitui em conhecer grupos de crianças, que podem
ser de escolas do Município de Caxias do Sul ou de comunidades interessadas e
fotografá-los exatamente como acontece com os trabalhos contratados e pagos. Por
acreditar ser a fotografia um importante elemento na construção do universo
simbólico na trajetória humana e da representação de si,
[...] o ato objetivo/de recordar os processos vividos que cada um de nós organiza e reinvoca no passado, do ponto de observação do presente, possui a capacidade de estruturar a experiência num patrimônio utilizável para si e comunicável aos outros. Porém entendemos não ser essa a única dimensão da memória, aquela pode ser entendida como estrutura de interiorização e exteriorização de fatos, circunstâncias e vividos organizados, especial e temporalmente, para transmitir ao externo a representação pessoal e/ou coletiva da própria história ou da de outrem. (TEDESCO, 2004, p. 38).
Entretanto para conhecer esses grupos de crianças é necessária uma
inserção em um pedaço de suas vidas, significa que precisamos que nos deixem
entrar, que as famílias e as crianças queiram esse contato. A permissão que é dada
ao fotógrafo de fazer parte de algo, de construir memórias e imaginação, se torna a
própria construção, o caminho de autoconhecimento, uma evolução de pensamento
para todas as partes. É possível reconhecer-se nas fotografias, essa comunhão
entre fotógrafo e fotografado é que gera unidade e pode construir narrativas
fantásticas. De acordo com Kubrusly, (1984), “Escolhemos o que nos parece mais
interessante, mais significativo ou mais desejável e emocional, na miríade de
componentes de um tema, e quando se escolhe o quê e como mostrar, o escolhido
passa a ter, também, um pouco de quem escolheu.” (KUBRUSLY, 1984, pag. 71).
A partir desse encontro entre fotógrafo e fotografado, as imagens das
crianças são realizadas durante suas atividades diárias, seja na escola ou em outro
ambiente, oferecendo a linguagem fotográfica como meio de descoberta e
percepção do mundo e de si mesmo, na tentativa de buscar uma valorização cultural
e especialmente uma valorização do humano, incentivando e dando possibilidades
para as crianças de se verem retratadas, se reconhecerem e criarem suas próprias
histórias. Uma possibilidade de pensarem sobre si e o meio social que estão
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inseridas, suas belezas e diversidades, com liberdade para interpretar essas
fotografias segundo suas vivências e experiências de criança. Segundo Samain:
Estamos constantemente nos valendo de imagens instantâneas da nossa vida, registradas em papel fotográfico, para retornar o processo de rememorar e assim construir a nossa versão sobre os acontecimentos já vividos. (SAMAIN, 1998, p. 22).
Para o fotógrafo Pedro Vasquez5, a fotografia é uma mensagem que permite
ser interpretada: “Toda imagem é magia, e nosso olhar é a varinha de condão, o
abracadabra, o abre-te sésamo que descongela o instante aprisionado nas geleiras
eternas do tempo fotográfico.” (VASQUEZ, 2011, p. 162).
Através da fotografia é possível eternizar a passagem do tempo, por meio
desses pequenos recortes da realidade permeados pelo olhar do fotografo. Através
dessa inclusão visual é possível construir um novo imaginário6, como forma de
reinterpretar o mundo e a si próprio, produzindo um conteúdo diferente do que
habitualmente é mostrado pelos meios de comunicação e informação,
desencadeando uma nova rede de significações baseadas nas próprias experiências
do olhar. Fortalecendo a confiança das crianças na construção do imaginário e no
processo identitário. Como cita GURAN,
A fotografia em especial, aparece como um instrumento multiplicador da representação de si, tanto no plano pessoal como social, com profundas raízes no imaginário ocidental. Além disso, se a fotografia é hoje um atestado de cidadania, pela vida dos diferentes registros de controle do estado capitalista, ela pode ser muito mais se associada às politicas de democratização e aos processos de inclusão social. O direito à informação, o direito à representação, o direito à educação visual, enfim, o direito à imagem, estão necessariamente relacionados às políticas de identidades
próprias, à redefinição dos sujeitos em termos planetários [...] (GURAN,
2008, p.107).
Como um dos exemplos de representação fora do que geralmente somos
informados pela grande mídia, há o trabalho do fotógrafo carioca João Roberto
Ripper e sua busca por documentar as belezas dos lugares e das pessoas (FIG. 3 e
4). As favelas do Rio de Janeiro comumente são apresentadas por disputas
selvagens entre traficantes, ocupações policiais, enfim pela ausência de quase tudo
e por uma violência extrema, mas existem muitas vidas além do caos, são muitas as
5 Pedro Vasquez já publicou vinte e três livros sobre temas diversos, incluindo três para crianças.
6 No campo da Comunicação, o imaginário começa a se tornar noção-chave para um entendimento
que conecte as dimensões política, social, histórica e cultural dos fenômenos. Afinal, é o imaginário o lugar dos entre-saberes, o tecido conjuntivo que liga as disciplinas entre si. Ana Taís Martins Portanova Barros, Comunicação e imaginário – uma proposta metodológica. Intercom – Revista Brasileira de Ciências da Comunicação. São Paulo, v.33, n.2, p. 125-143, jul./dez. 2010.
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belezas nessas comunidades. Ver sua imagem apresentada várias vezes sempre de
forma negativa não parece ser a maneira mais coerente de educar e dar esperanças
a um povo.
FIGURA 3 – Projeto da bailarina Rita Serpa no Complexo do Alemão, Rio de Janeiro. Foto: João Roberto Ripper – Fonte: Livro Imagens Humanas, pág. 224.
FIGURA 4 – Crianças fantasiadas de bate-bola na Favela Nova Holanda, Maré, Rio de Janeiro. Foto: João Roberto Ripper – Fonte: Livro Imagens Humanas, pág. 212.
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Sobre seu trabalho de informar e educar com a fotografia, Ripper nos diz que:
Esse imaginário que é trabalhado pela ausência de informação é tão grave, que alguém tem que trabalhar na contrainformação. E hoje, acredito que uma das ações mais transformadoras, mais revolucionárias, é a da contrainformação que mostra a beleza e os valores entendidos como valores universais pela minoria dominante, presentes nas maiorias pobres. (RIPPER, 2009, pag. 26).
Salgado nos fala que “A fotografia é uma escrita tão forte porque pode ser lida
em todo o mundo sem tradução.” (2013, p.58). Essa frase nos ajuda a entender a
possibilidade de usar a fotografia como ferramenta para transformação a partir da
infância, por se tratar de uma linguagem universal. A fotografia liberta e permite uma
redescoberta dos valores positivos de suas vivências e de si. Não existe o errado ao
contemplar uma imagem, existe um contexto individual que se exterioriza para se
identificar ou não com o que se vê. Existem escolhas que são feitas ao vermos uma
imagem e darmos sentido a ela, escolhas pessoais. O indivíduo ao se colocar como
espectador de si desencadeia essa exteriorização, por isso a importância de se
construir memórias positivas, que reforcem e estimulem a sua formação como
indivíduo único parte de um todo maior, que está dentro de outro todo maior e assim
sucessivamente, mas sempre partindo do mesmo ponto - ele mesmo.
Isso significa estender a todos o direito à sua própria imagem que, aliás, veio com a invenção da própria fotografia, a qual permitiu àqueles que não tinham rosto na representação da vida social pela pintura, até meados do século XIX, se transformarem em sujeitos da representação da sua própria história. (GURAN, 2008, p. 99).
Kubrusly, nos fala sobre as possibilidades de leitura e interpretação das
imagens, viabilizadas pela democratização da fotografia:
A imagem da vida, na fotografia, e posteriormente no cinema e na televisão, torna mais fácil, para o homem comum, assumir a posição de espectador, levando-o a reconsiderar muitos dos valores estabelecidos. Trazendo-lhe em forma facilmente assimilável uma visão muito mais ampla de seu universo, distribuindo mais democraticamente o conhecimento e o pensamento da humanidade. A imagem não está limitada pela barreira dos idiomas ou da alfabetização. (KUBRUSLY, 1984, p.12).
Ou seja, ela também é uma forma de inclusão. Acreditamos no poder
libertador da imagem, na sua capacidade de transformar vidas, através de uma
sucessão de (re) descobertas, um encontro com o humano e seus contextos cheios
de possibilidades, cores, contrastes, luzes e sombras, e a essa experiência coloca
em comunhão quem é fotografado e quem fotografa, contando histórias.
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A linguagem fotográfica também materializa a memória, o passado
imaginário. Dando ao homem a permissão de contemplar a própria existência, como
individuo, e como um ser social que faz parte de algo maior. Estimula nossa mente
em busca de recordações, reconstituições. A imagem alimenta nossa imaginação.
É por ser irreversível que a fotografia pode ao mesmo tempo ter tal força emocional e chegar ao trágico, a arte em geral e ao poético em particular. De fato, ela joga com esse irreversível, que se torna o irremediável, ou o vestígio do passado perdido, ou a pista do passado a ser buscado: confronta-se então com a lembrança. Com a memória e com o esquecimento, com o pré-consciente e com o inconsciente, com o passado de que se conservam vestígios e com aquele que nem mesmo é mais indicado em algum lugar, com o presente que se tornou passado, em resumo, com o tempo, com o eu e com o mundo que passam irreversivelmente. (SOULAGES, 2010, p.145).
São essas memórias fixadas que dizem muito do que somos e o que
produzimos enquanto integrante de uma sociedade, e continuam dizendo com o
passar dos anos. A própria vida, o relacionamento em família, os amigos, os
amores, as viagens, os ritos de passagem, os cenários e contextos que se alteram,
as pessoas que vão e vem. Essas são nossas memórias, figuras cheias de
conteúdos simbólicos que povoam nosso imaginário com lembranças. São as
relações que nossa mente faz ao buscar um tempo que já não existe mais, e são
essas impermanências que podem ser eternizadas pela imagem fotográfica e
somente através dela é possível esse resgate tão fantasticamente palpável. Kossoy
nos fala sobre essa relação,
Fotografia é memória e com ela se confunde. Fonte inesgotável de informação e emoção. Memória visual do mundo físico e natural, da vida individual e social. Registro que cristaliza, enquanto dura, a imagem – escolhida e refletida – de uma ínfima porção de espaço do mundo exterior. É também a paralisação súbita do incontestável avanço dos ponteiros do relógio: é, pois o documento que retém a imagem fugidia de um instante da vida que flui ininterruptamente. (KOSSOY, 1984.p.156).
A fotografia pode despertar a imaginação e ajudar de forma positiva na
construção da identidade e memórias. O objetivo é construir um imaginário coletivo a
partir da bagagem individual das crianças, utilizando a fotografia como meio. Aguçar
a imaginação e a percepção do espaço e de si mesmo.
Incentivar a quebra de estereótipos baseados em histórias únicas e eternizar
a passagem do tempo, contribuindo na construção das memórias através dos
pequenos recortes da realidade permeados pelo olhar do fotografo.
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Inserir a fotografia que é uma linguagem universal na vida das crianças, a
partir da própria representação, fazendo da linguagem fotográfica um gerador de
novos sentidos através da observação das pessoas, da natureza, da luz e da
sombra que se projetam em todos os lugares, as cores que se perdem no cotidiano,
do conjunto de formas multifacetadas.
Para que o trabalho pudesse se realizar a escolha das ferramentas
metodológicas apresentou-se vital em todas as etapas da pesquisa. A pesquisa
bibliográfica que “É um conjunto de procedimentos que visa identificar informações
bibliográficas, selecionar os documentos pertinentes ao tema estudado e [...]
posteriormente utilizados na redação de um trabalho acadêmico.” (STUMPF in
DUARTE, 2005, p. 51) foi escolhida como ponto de partida para a revisão de
conteúdos pertinentes. O uso da internet como fonte de dados e informações
também é um aspecto importante da metodologia elegida.
A primeira etapa do trabalho possibilitou um crescimento significativo no
conhecimento relacionado ao tema escolhido. A seleção de entrevistas e livros
relacionados ao tema do TCC, principalmente aqueles relacionados a João Roberto
Ripper (2009), através de sua obra fotográfica e, sobretudo pela maneira poética e
humana que conquista suas imagens, Milton Guran (2008) e Jorge Quintão (2014)
que acreditam no poder transformador da fotografia, influenciaram diretamente no
amadurecimento do texto, na forma de um diário, e em como o livro foi escolhido
para ser o produto final do estudo.
Nesta perspectiva, a partir de certo momento, meu próprio processo criativo
tornou-se central para o avanço do trabalho, através da produção de imagens
fotográficas. Utilizando meu potencial sensível e intuitivo para dar forma as minhas
ideias. De acordo com Fayga Ostrower (1987) “O homem cria, não apenas porque
quer, ou porque gosta, e sim porque precisa; ele só pode crescer, enquanto ser
humano, coerentemente, ordenando, dando forma, criando.” (OSTROWER, 1987,
pag. 10).
A mesma autora ainda nos diz que os processos de criação são intuitivos, e
que esses processos se tornam conscientes na medida em que são expressos,
conforme lhe damos uma forma.
Criar é, basicamente, formar. É poder dar uma forma a algo novo. Em qualquer que seja o campo de atividade, trata-se, nesse “novo”, de novas coerências que se estabelecem para a mente humana, fenômenos relacionados de modo novo e compreendidos em termos novos. O ato
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criador abrange, portanto, a capacidade de compreender; e esta, por sua vez, a de relacionar, ordenar, configurar, significar. (OSTROWER, 1987, pag. 9).
Ao fotografar são nossas escolhas, referências, experiências que dão forma a
algo, elaboram novos conceitos. Observamos, relacionamos e produzimos novos
sentidos. Novamente segundo Ostrower, “Movido por necessidades concretas
sempre novas, o potencial criador do homem surge na história como um fator de
realização e constante transformação. Ele afeta o mundo físico, a própria condição
humana e os contextos culturais.” (OSTROWER, 1987, pag. 10).
Jean Lancri (2002) sugere que a cada novo investimento no campo da
pesquisa, o modelo adotado para o trabalho deveria ser reinventado, e que o
mergulho no lugar de investigação deve acontecer pelo meio: seguindo o “passo
tanto do sábio quanto do poeta”, dos “donos da razão” e dos “profissionais do sonho”
para realizar “um objeto material que é ao mesmo tempo objeto de conhecimento”.
Neste sentido, a natural mediação, própria do aparato fotográfico, pode indicar o
lugar por onde a reflexão toma corpo, a obra se faz, em duas instancias, através do
fazer. (LANCRI, 2002, pag. 18-23).
A forma escolhida para estruturar o trabalho resultou em um texto dividido
entre uma apresentação com o título de Projeto Fantástico Mundo, que nos permitiu
explorar aspectos importantes do trabalho e um diário de atividades com um passo-
a-passo descritivo, que nos permitiu fortalecer questões metodológicas.
Aspectos da pesquisa em arte nos ofereceram a possibilidade de criação do
diário de campo, que exemplifica diretamente as etapas da criação artística. Por isso
optamos por esta estratégia, sendo ela uma ferramenta que permite sistematizar as
experiências vividas, como um tipo de relatório técnico. Por tanto o método utilizado
para a obtenção das fotografias e produção do livro, foi registrado na forma do diário
em todas as suas fases.
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2 DIÁRIO DE CAMPO
O POETA
Vão dizer que não existo propriamente dito.
Que sou um ente de sílabas.
Vão dizer que eu tenho vocação pra ninguém.
Meu pai costumava me alertar:
Quem acha bonito e pode passar a vida a ouvir o som das palavras
Ou é ninguém ou zoró.
Eu teria treze anos.
De tarde fui olhar a Cordilheira dos Andes que
se perdia nos longes da Bolívia
E veio uma iluminura em mim.
Foi a primeira iluminura.
Daí botei meu primeiro verso:
Aquele morro bem que entorta a bunda da paisagem.
Mostrei a obra pra minha mãe.
A mãe falou:
Agora você vai ter que assumir as suas
irresponsabilidades.
Eu assumi: entrei no mundo das imagens.
Manoel de Barros
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Como foi dito anteriormente, em uma parte importante de nossa metodologia,
decidimos criar um diário de campo, como forma de explorar ao máximo o processo
de construção imagética deste trabalho.
29 de abril de 2014 – Terça-feira.
Solicitado protocolo junto a Secretaria Municipal de Educação de Caxias do
Sul 7 – SMED, setor de Coordenadoria Pedagógica, para poder desenvolver as
atividades de fotografia junto às escolas do município citado acima.
30 de abril de 2014 – Quarta-feira.
Há uns quinze dias, no inicio do mês de abril, entrei em contato com a Escola
Osvaldo Aranha, me apresentando como fotografa e estudante, explicando
previamente a intenção do trabalho por telefone mesmo, na tentativa de agendar
uma visita e receber a autorização para levar à fotografia as crianças dessa
instituição. A coordenadora Ivete me solicitou retornar a ligação nos próximos dias,
assim haveria tempo de conversar com os pais. A escola fica em um caminho no
interior de Caxias do Sul, Santa Justina que é considerada rota turística da cidade, e
em uma das muitas vezes que passei por ali observei a plaquinha de madeira
colorida sinalizando a entrada.
E hoje, ainda pela manhã entrei em contato com a Ivete, para marcar uma
conversa. A intenção era nos apresentar e explicar melhor o que pretendemos
desenvolver, conhecer as crianças e a escola. Mas recebi uma negativa já no
telefone. Segundo a coordenadora, a comunidade não teria aceitado a ideia e não
poderíamos fotografar na escola.
Foi então que me dei por conta de quantas negativas receberemos mesmo
antes de apresentar o projeto. Isso também fará parte de nossa trajetória. Agradeci
pela atenção e não pude deixar de ficar triste.
A todo o momento me refiro a “nós” nesses relatos de experiência. Tenho
uma cumplice nesse ideal de tornar a fotografia acessível a um numero maior de
crianças de diferentes grupos sociais, como exemplifico melhor na apresentação,
por isso é impossível dissociar a Mariana de todo esse contexto. No entanto, o
processo de escrita e argumentação para o projeto aplicado que culmina na
7 Solicitação enviada a SMED, Anexo B.
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produção de um livro com imagens para concluir o curso de Fotografia, é um ato só
meu.
Na mesma noite, decidimos ligar para um contato, uma professora que
trabalha na rede municipal de escolas há treze anos, com a qual já havíamos feito
uma parceria de fotografar um aniversário de irmãos gêmeos que não tinham como
dispender valores com a fotografia. Professora Carina, que trabalha junto a uma
escola de educação infantil no bairro Reolon em Caxias do Sul.
Foi uma ótima ideia! A escola estava precisando muito de alguém para
fotografar as crianças individualmente para utilizar as imagens na decoração em
homenagem ao dia das mães, na semana seguinte. Rapidamente tudo se resolveu,
a professora entrou em contato com a coordenadora da escola e já deixamos um
horário agendado para conversar segunda-feira às 11horas.
05 de maio de 2014 – Segunda-feira.
Chegou o dia, a primeira reunião para apresentar nossa ideia. Conversamos
com a coordenadora Jaqueline, na Escola de Educação Infantil Doutor Renan
Falcão de Azevedo, situada na Avenida Angelo Scola, 153. Bairro Reolon.
Na entrada do bairro já é possível ver a escola de um andar de alvenaria, toda
colorida em amarelo, vermelho e azul com um pátio na entrada, cercada por um
portão de ferro azul e por uma cerca de madeira antiga e desbotada na lateral
direita. A escola atende em torno de 120 crianças no momento, de 0 a 6 anos.
Chegamos quase na hora do almoço das crianças, por volta de onze horas da
manhã, o cheiro da comida sendo preparada se espalhava no ar e as crianças
faziam barulho ocupando seus lugares às pequenas mesas de fórmica. Mas
divertido mesmo é aquele momento em que elas percebem as duas figuras
estranhas com sorrisos nos rostos meio sem saber o que fazer, ou dizer. Por alguns
segundos, sua mente vaga pelo lugar sem muita certeza, não sabe se acena para as
crianças, se sorri, se conversa, se faz tudo isso junto. Mas ai a magia de trabalhar
com os pequenos começa, de longe uma criança faz sinal, outra manda beijinho, e
em volta alguns olhares curiosos e duvidosos e de repente, uma delas faz uma
pergunta ou conta algo tão simples e tão ingênuo que quebra qualquer barreira ou
medo que pudesse estar sentindo. A beleza de fotografar crianças reside nesses
pequenos gestos de entrega.
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Apenas o Miguel, uma das crianças mais novinhas da escola, que demora a
se acostumar com estranhos, chorou assim que olhei para ele. Me olhava com
aqueles olhinhos pretos como se dissesse: vai embora, não chega mais perto não!
Me afastei e ele parou.
Fomos extremamente bem recebidas por todos, professoras, equipe que
trabalha com a alimentação e a higiene da escola e pela jovem coordenadora e
psicóloga Jaqueline. Primeiramente explicamos a proposta do Projeto Fantástico
Mundo, de fotografar as crianças e entregar as imagens ampliadas para elas,
exatamente como fazemos quando contratadas para um ensaio, a forma como
captamos as fotografias também é feita como acreditamos que realmente perpetue a
memoria de alguém, de maneira espontânea no momento de uma atividade
cotidiana da escola, aproveitei para colocar que todo esse processo inicial e as
imagens que eu produzir farão parte deste trabalho de conclusão de curso.
Ideia aprovadíssima! As autorizações para uso das imagens serão solicitadas
aos responsáveis legais das crianças através do intermédio da escola, somente das
fotografias que serão utilizadas no livro, as demais serão mesmo para as crianças e
não para nosso uso.
E finalmente, a Jaqueline nos explicou sobre a homenagem do dia das mães.
O plano era para montar um painel com fotografias individuais das crianças para
receber as mães na escola, quinta e sexta-feira dessa mesma semana. Nas salas de
aula seriam desenvolvidas atividades para aproximar mães e filhos. Em relação às
fotografias, a ideia das professoras e da coordenação foi fotografá-los com alguma
peça de roupa ou acessório da mãe. Topamos fazer parte da ideia que planejaram,
deixando claro que nossa proposta não é essa, e sim criar uma narrativa visual dos
momentos espontâneos e cotidianos das crianças, mas que adoraríamos fazer as
fotos e ajudar. As atividades propostas pela escola para o dia das mães foram
divididas em dois dias pelo grande numero de crianças, e decidimos fotografar
também o inicio da homenagem na quinta-feira à noite.
Agendamos as fotos individuais para o dia seguinte, terça-feira de manhã,
elas precisavam estar prontas e ampliadas para quinta-feira. Então o tempo era
curto. A coordenadora nos questionou sobre pagamento, que a escola teria uma
verba para pagar as ampliações e o fotógrafo. Combinamos que pagariam somente
as ampliações, de nossa parte não haveria custo.
Nos despedimos de todos para voltar no dia seguinte.
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No caminho de volta para casa, a Secretaria de Educação de Caxias do Sul
ligou informando que nossa solicitação estava pronta e autorizada. A mesma diz que
a SMED8 não se opõe ao trabalho, que este deve ser discutido e aprovado junto à
coordenação de cada escola participante, que diante dessa afirmativa da escola o
trabalho pode ser desenvolvido, atentando sempre para o controle do uso dessas
imagens. Maravilha! Esse documento da secretaria de educação dizendo que não se
opõe ao projeto facilita muito nosso contato e possibilita o desenvolvimento das
ideias planejadas.
06 de maio de 2014 – Terça-feira.
A terça-feira começou com um lindo dia de sol, o que deixaria a maioria dos
fotógrafos animados, pois o plano era montar o estúdio móvel na parte externa da
escola. Equipamentos, materiais, ansiedade e alegria tudo dentro do carro e lá
fomos Mariana e eu. Chegamos um pouco depois das 8 horas, escolhemos um
cantinho da escola onde a luz estivesse a nosso favor e já começamos a montar
nosso fundo branco auxiliado por dois tripés e iluminado por um flash remoto
colocado no chão em direção ao fundo. Estávamos um pouco receosas com o
tempo, pois eram muitas crianças e talvez tivéssemos que voltar á tarde para
finalizar o trabalho.
Aguardamos as crianças tomarem café e começamos a brincadeira. A
Jaqueline resolveu a ordem que as crianças sairiam das salas, as mais novinhas
primeiro: berçário e maternal. As professoras foram trazendo suas turminhas, uma
de cada vez, para serem fotografadas. Mesmo não sendo a proposta do projeto foi
uma experiência ótima de estar com as crianças e ver como se comportam diante da
câmera e principalmente da alegria delas com uma atividade nova e constatação da
própria imagem.
Nossa primeira abordagem foi de fotografarmos ao mesmo tempo, uma
cuidaria do “making-of” e a outra das fotografias individuais, não demorou muito para
perceber que essa dinâmica não funcionaria tão bem. A opção mais adequada
pareceu nós duas envolvidas no mesmo processo, ajudar as crianças a se
colocarem diante da câmera, no lugar certo e com seus acessórios, anotar o nome
certinho de cada uma e finalmente fazer o clique.
8 Autorização da SMED, Anexo C.
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O trabalho em equipe funcionou perfeitamente bem e as crianças foram
incríveis! Algumas ficaram um pouco tímidas e sérias, mas a maioria se divertiu e
não economizou em sorrisos para a câmera e para a mamãe, ideia que
reforçávamos sempre, o porquê de estarmos todos trabalhando para essas
fotografias. Uma homenagem deles, os filhos, para suas mamães, e que elas teriam
uma grande surpresa ao chegar à escola e vê-los nas imagens.
Pouco mais de duas horas se passaram enquanto fotografamos as crianças,
noventa e cinco estavam na escola. Nem todas as crianças tinham os objetos
enviados de casa, nem todas tinham um brilho no olhar ou empolgação para o que
planejaram para elas. Mas a maioria ficou a vontade e curtiu o “presente surpresa”
para as mães. Não buscamos frisar o que é ruim, não mandaram nada de casa,
vamos fazer uma foto dessa criança linda assim, incentivando que ela goste do
momento e de si mesma. Questionados se gostariam de se ver na câmera, como
tinha ficado na foto, à maioria disse: SIM! E após olharem as fotografias o que
percebemos, era um brilho encantador nos seus olhos. Uma das crianças franziu a
testa e questionou se realmente era ele. “Sou eu?”
Conseguimos um ou dois cliques do Miguel, com carinha de quase choro e
pronto para fugir, mas deu certo.
A sensação que fica desse encontro é inexplicável em palavras, são vivências
que talvez possamos discorrer sobre elas lá na frente de todo esse processo,
aprendizado para uma vida toda. Respeitar o que há de bom no ser humano, a partir
da infância, enaltecer a confiança deles para que sejam capazes de sonhar e
construir suas próprias redes de significados.
Muitos acenos e obrigadas e tchauzinhos guiados pelas professoras. As
mesmas duas figuras do primeiro dia estavam lá paradas de novo com aquela cara
de boba, mas agora muito feliz com um projeto iniciado.
Na mesma tarde nos dedicamos às imagens para que ficassem prontas no
prazo. Foram feitos os cortes e alguns ajustes necessários de luz e nitidez, e
enviadas para ampliação em um laboratório profissional e de preço mais baixo da
cidade (através do sistema de ampliação da empresa Goimage, antiga Photo Virtual
em Caxias do Sul). Avisamos por mensagem a coordenadora Jaqueline que na
manhã seguinte, quarta-feira, já poderia retirar as fotos na Goimage e efetuar o
pagamento das mesmas no laboratório. Como nos comprometemos em registrar a
homenagem às mães na primeira noite, teremos o prazer de ver o painel montado.
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FIGURA 5 – Fotografias para montar o painel em homenagem às mães. Crianças: Lucas, Rian, Luis, Arthur, Elis, Anahe, Alexia e Nathally, Davi, Maitê, Maria Eduarda e
Miguel. Fotos: Daniela Schiavo e Mariana Hoffmann.
08 de maio de 2014 – Quinta-feira.
Uma hora antes do inicio do evento para as mamães já estávamos na escola,
em torno de dezoito horas. Muitos preparativos, decoração, organização das mesas
e das salas. Tudo ficando muito lindo e colorido, os enfeites das mesas e os
biscoitos que seriam servidos foram feitos pelas crianças e professoras. É incrível o
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que a boa vontade e dedicação podem fazer mesmo quando os recursos são
poucos.
Existe uma cortina que isola o salão maior da escola, onde normalmente é o
refeitório das crianças, de uma saída pelos fundos. Essa cortina de um vermelho e
amarelo bem saturado foi fechada e as mães esperaram com os filhos nessa salinha
improvisada que ganhou alguns bancos junto às paredes. E ali foi montado o varal
com as fotografias das crianças que ajudamos a fazer, foi emocionante ver nosso
trabalho naquele momento, a importância e o valor que ele ganhava com aquelas
molduras de papel colorido. A fotografia se tornando representação e memória para
as crianças e para as famílias delas.
FIGURA 6 – Montagem do varal realizada pelas professoras da escola. Foto: Daniela Schiavo
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FIGURA 7 – Varal com fotografias para homenagear as mães. Foto: Daniela Schiavo.
FIGURA 8 – A recepção das famílias na sala com o varal de fotografias. Foto: Daniela Schiavo.
Como se não bastasse sentir o trabalho valorizado, através dos elogios das
pessoas que estiveram envolvidas na construção do varal e no cuidado na sua
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apresentação, poder vê-lo dentro de um objetivo maior, que é levar carinho e
incentivo às mães. Ainda foi possível ver a reação das mães e das crianças quando
chegaram à recepção montada para eles, perceberam as imagens e começaram a
procurar pela própria foto, o momento de encontro com essa representação foi
adorável, as crianças apontavam as imagens sem parar e os adultos sorriam e
faziam comentários bem positivos. – Olha, eu ali! Foi uma das exclamações que
ouvimos atrás da cortina.
Em cada sala de aula foi montada uma atividade, uma sala com colchonetes
para massagem, o cinema (projetor), onde exibiram um vídeo feito pela escola e a
sala de maquiagem e beleza. Acompanhamos em salas separadas as atividades,
fiquei na sala da maquiagem e a Mariana ficou na sala de massagem. Durante uma
hora registrei o carinho entre mães e filhos e as crianças lambuzarem as unhas, os
dedos, as mãos e as mesas com esmaltes e maquiagens coloridas. As mães e
algumas avós que estavam presentes parecem ter gostado de serem fotografadas e
até posaram com as crianças.
Ficou combinado que na próxima semana passaríamos um dia para fotografar
na escola e já entregaríamos um CD com as fotos da homenagem feitas naquela
noite.
14 de maio de 2014 – Quarta-feira.
Mesmo sem saber o final, já me sinto orgulhosa sobre os últimos avanços, a
forma linda e fluida como tudo tem acontecido. Conversei com a Mariana sobre
nossas sensações e aprendizados com a escola, com as crianças e com a
fotografia. Também decidimos sobre o próximo dia de fotografar na escola, vamos
dar prioridade em trabalhar com uma turma de cada vez, ficar com o mesmo grupo
de crianças, fotografá-los em vários momentos em dias diferentes, ampliar as
imagens para cada criança individualmente e algumas para fazer um mural na
escola, finalizando com uma conversa sobre fotografia, o que acharam da
experiência. Para só depois englobar outras crianças. O que não quer dizer que não
acompanharemos atividades que sejam comuns a todas as crianças da escola.
15 de maio de 2014 – Quinta-feira.
Quase nove horas e todos estavam no refeitório, finalizando o café. Falamos
com a Jaqueline sobre a forma que gostaríamos de trabalhar, somente com uma
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turma de cada vez, para desenvolver melhor e com mais qualidade o trabalho, e se
possível nas atividades externas, principalmente pela luz e pela “descontração” das
crianças.
Um ponto difícil desses projetos é a própria relação com o resultado
fotográfico, principalmente de quem trabalha a luz natural. Talvez você não possa
escolher a hora de fotografar, nem mesmo o melhor lugar ou fundo, tampouco tem
controle sobre quando e como as atividades acontecem. Por isso, é bom sempre ter
em mente, que fotografar exige paciência e que o mais importante nesse trabalho é
o encontro do fotógrafo com o fotografado e a construção de um pedacinho de
historia e memória para quem se envolve nesse processo, essa construção se torna
muito mais significativa do que o próprio resultado estético.
Fomos avisadas então, que as crianças ficariam pouco tempo na área externa
da escola, devido a alguns fatos violentos que aconteceram no final de semana no
bairro. Então a ideia era não deixa-los expostos. Tudo certo, tentaremos nos adaptar
ao que for necessário. Falamos novamente com a professora Carina, nossa fiel
escudeira nesse processo, que nesse primeiro momento trabalharíamos somente
com a turma dela. O Jardim II A, crianças de 5 e 6 anos.
Essas são as crianças do Jardim II A: Agatha, Bruna, Davi, Emanuelly,
Fabyele, Leonardo, Lucas, Maitê, Maria Eduarda, Maria, Pedro, Ricardo, Stéfani e
Talysson.
Já na sala de aula sentamos no chão e imediatamente fomos rodeadas de
crianças falando de tudo e ao mesmo tempo. Sobre nos, sobre eles, sobre a
câmera, meu tênis, um machucado, um colega arteiro, uma prima, eu gosto disso,
eu não gosto daquilo, moro aqui pertinho e você? Tem filhos? Uma loucura
deliciosamente apaixonante. É impossível não ficar encantada, mas o difícil mesmo
vai ser impor limites, precisaremos aprender muito em relação a trabalhar com eles
e sempre recorrer á professora em casos de dúvidas.
Depois das atividades da sala, que não fotografamos e sim ficamos
conversando com os pequenos, saímos para o pátio por um curto período. A
proposta da professora era pintar com pincel e água direto na calçada. Genial!
Baixíssimo custo e eles adoraram. As nuvens encobriam o sol, mas quando ele
emanava seu forte calor, os desenhos feitos com agua iam desaparecendo
lentamente e dá para imaginar as carinhas. “Profe! Profe! O meu tá sumindo!”
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Um pincel devia estar sujo com alguma tinta anterior que deixou purpurina na
água, isso foi à sensação! “Água com brilhos”.
Com o convívio é possível perceber as crianças que se isolam, as que
precisam desesperadamente de atenção, as que se entediam facilmente. As que se
colocam diante da câmera ou fogem dela. A partir dessa observação o fotografo
começa a fazer escolhas significativas para construir sua mensagem visual.
Foi um momento mais observando do que fotografando, conversando com a
Carina, sobre suas percepções das crianças. Olhando e cheirando dentro do copo
com “brilhos”. Eles ficaram bem à vontade conosco e com nossa câmera, acredito
que não fomos um problema e não interferimos de forma negativa.
FIGURA 9 – Leonardo pintando com água e pincel no pátio em frente à escola. Foto: Daniela Schiavo.
Depois da pintura com água voltamos para a sala de aula, onde a atividade
era brincadeiras livres. Fiz mais alguns cliques, alguns inclusive a pedidos das
crianças. Faz uma foto minha com esse chapéu? E com meu amigo? Confesso que
fiquei impressionada com o carinho e com a frequência que transmitem esse carinho
um pelo outro.
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FIGURA 10 – Leonardo, Lucas e Talysson “dividindo o chapéu”. Foto: Daniela Schiavo
FIGURA 11 – Davi divertindo-se em sala de aula. Fotos: Daniela Schiavo.
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Ganhei muitos beijos e abraços nesse dia, me senti querida e a vontade para
voltar e desenvolver as ações planejadas.
No mesmo dia, descarregamos os dois cartões de memoria e fizemos a
seleção do que seria ampliado para entregar para a professora e o que seria
entregue para as crianças. Uma fotinho para cada um dessa vez.
17 de maio de 2014 – Sábado.
Editei as fotos que serão ampliadas, cortes, exposição, balanço de branco,
contraste, claridade, pretos e brancos, e olhei repetidas vezes para as crianças, os
olhos, os gestos, o contexto que as envolve. Quantas histórias podem guardar uma
fotografia?
19 de maio de 2014 – Segunda-feira.
Vinte e três imagens selecionadas e enviadas para ampliação na Goimage.
Todas no tamanho 10 x 15 foscas com borda, a um custo de R$ 0,58 cada, pagas
com o dinheiro que já temos em caixa dos nossos trabalhos comerciais.
Solicitei a professora Carina, por mensagem, que nos enviasse a grade com
as atividades dessa semana que inicia para que pudéssemos agendar os horários.
Ela me encaminhou logo em seguida, e a semana será toda de atividades que
trabalhem de forma positiva a autoestima dos pequenos.
23 de maio de 2014 – Sexta-feira.
O dia amanheceu gelado em Caxias do Sul, a próxima longa estação já
começa a mostrar suas características, frio e umidade. Chegamos ao finalzinho do
café, passava das oito e meia e dentro da escola estava bem quentinho.
Da porta já observei os bebes felizes sentadinhos à esquerda, nos seus
“cadeirotes” improvisados que se parecem com um balcão de cozinha que foi
transformado para aninhar os bebes na hora das refeições. O jardim II A na última
mesinha também à esquerda e todas as outas crianças distribuídas nas mesas
terminando suas refeições. Comi um pedaço de bolo e seguimos a professora
Carina para a sala de aula.
Cada sala, geralmente é dividida com duas turmas, o espaço é pouco para a
quantidade de alunos que a escola atende então, as professoras fazem o possível
para administrar essas situações e fluir com o dia de atividades.
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Só a turminha Jardim 2 A entrou na sala primeiro, porque a mãe do Pedro
havia mandado uma bacia com bolo de chocolate para seus colegas. Então eles
entraram para comer enquanto a outra turma, jardim 2 B, que também ficaria nessa
sala terminava o café no refeitório. Depois do bolo a professora anunciou que
tínhamos uma surpresa para eles. Assim que terminassem de comer. Segundos
depois, já tinha uma baixinha me olhando com aqueles olhões redondos
perguntando qual era a surpresa.
Todos sentados para comer e receber a surpresa. Fomos colocando as
fotografias devagar de forma aleatória em cima da mesa, e as reações foram ótimas!
Olhos colados na mesa esperando encontrar sua imagem e uma rapidez incrível ao
pegar a fotografia assim que se identificavam naquele retângulo de papel.
FIGURA 12 – Maria Eduarda posando orgulhosa com suas fotografias. Foto: Daniela Schiavo.
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O retorno foi gratificante sem dúvida, as crianças se mostraram alegres com
as fotografias, perguntaram se podiam levar as imagens para casa, uma das
crianças, a Maria Eduarda, veio com três fotos nas mãos e me disse: “Minha mãe
queria quatro fotos”. E muitos me pediram para fazer uma fotografia deles
segurando as imagens. Agradeceram inúmeras vezes, olharam as imagens e
conversaram sobre elas. As crianças são incríveis, tão vulneráveis e ao mesmo
tempo possuem dentro delas uma energia e uma força que se respeitada é capaz de
alterar todo um ambiente e até mesmo quem se aproxima delas.
A professora esta trabalhando em um mural devido à semana da autoestima,
e decidiu colocar as fotografias nesse mural na entrada da escola, as imagens
ficaram emoldurando desenhos feitos pela turma e no final da semana serão
entregues para que a garotada leve para casa.
Gratidão, esse é o sentimento que fica. À fotografia por entrar na minha vida
em algum momento, por me permitir fazer redescobertas espetaculares sobre o
homem e tudo que o cerca e as pessoas que permitem que através dessa
ferramenta eu possa me aproximar e aprender com eles, desencadeando um
crescimento profissional, mas principalmente de autoconhecimento.
FIGURA 13 – Davi, Lucas, Talysson e Agatha.
Fotos: Daniela Schiavo.
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27 de maio de 2014 – Terça-feira.
Vendi minha Canon 60D no inicio do ano e então precisei solicitar novamente
ao coordenador do curso uma câmera emprestada, é muito difícil trabalhar sem o
equipamento próprio, mas felizmente é possível conseguir junto ao laboratório de
fotografia da universidade.
Na mochila equipamento fotográfico, ambas as câmeras Nikon D90, objetivas
50mm e 18-105mm e na escola “Semana do Brincar”, todas as tardes dessa semana
as crianças junto às professoras farão atividades divertidas e em conjunto, e hoje foi
o dia da Festa a Fantasia. Teve muita música, de Balão Mágico a “Psy”, cantor
coreano que bateu recordes de visualização no Youtube, e pelo visto agrada
bastante o publico infantil. E a maioria das crianças se divertiu muito, dançaram e
cantaram em coro músicas sertanejas.
As fantasias eram simples e as crianças ganharam bigodes, coraçõezinhos e
outros desenhos no rosto para entrar no clima da festa. Estavam todos reunidos no
refeitório da escola.
FIGURA 14 – Semana do brincar. Festa a Fantasia da Escola. Foto: Daniela Schiavo.
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FIGURA 15 – Crianças caracterizadas para festa. Foto: Daniela Schiavo.
FIGURA 16 – Uma tarde de festa. As crianças aproveitaram, e muito. Fotos: Daniela Schiavo.
Algumas crianças realmente entram no clima, o Davi (FIG. 16), por exemplo,
dançou e cantou muito. Que delicia essa entrega.
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Fotografei tudo que senti vontade e também quando as crianças pediam, mas
o resultado não me deixa completamente feliz, o salão possui uma altura
significativa e mesmo as paredes claras não ajudam a iluminar o ambiente, gostaria
que as fotos tivessem melhores resultados, principalmente no diz respeito à luz.
Tenho uma 50mm a minha disposição com ótima abertura f 1.4, mas sinto falta de
amplitude, poder colocar mais contexto na imagem do que a 50mm e o espaço físico
permitem. Uma 24 ou 35 fixas com abertura de até f 2.8 seria incrível. Mas a festa foi
registrada, as crianças e o pessoal da escola sempre terão essa lembrança
eternizada pela fotografia, só realmente não vejo essas imagens no livro que será
produzido.
No finalzinho da tarde, por volta de dezessete horas, os pequenos voltaram
para suas salas e a Mariana e eu decidimos ir embora. Chegando a minha casa é
sempre o mesmo processo, baixar as imagens logo no computador. E surpresa!
Expus todas as imagens em “jpeg”, pois era assim que a câmera estava e
simplesmente me descuidei e não alterei para “raw”, o formato profissional que me
permite trabalhar as fotografias na pós-produção com maior liberdade e menor perda
de qualidade, sem falar que todas as imagens que estou produzindo poderão fazer
parte do livro resultante desse trabalho aplicado, e isso pede a maior resolução
possível. Mesmo que não tenha considerado essas imagens para o livro em um
primeiro momento, isso só é possível saber depois. E tem mais, o foco estava
horrível e duvidoso em varias capturas, uma soma de diafragma aberto e mão nada
firme. Resultado: belos retratos que foram direto para a lixeira.
O que posso concluir é que fui negligente nesse momento, não investi
cuidado e atenção necessários para que o resultado fosse positivo, independente do
destino das imagens, se para o livro ou para o arquivo da escola. Se valer como
alento, embora meu tempo seja muito curto para produzir o projeto aplicado, nas
próximas com certeza haverá um cuidado muito maior.
29 de maio de 2014 – Quinta-feira.
Tenho consciência que este trabalho deu algumas voltas, inclusive se
distanciando do cronograma inicial estabelecido por mim, mas todo inicio de um
projeto parece ser cauteloso e cheio de surpresas, principalmente quando se
trabalha em comunhão com outras pessoas. Entramos num mundo subjetivo
segurando uma planilha que não fazia muito sentido, a ideia mais adequada pareceu
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deixar as situações fluírem, fomos fotografando de acordo com as necessidades da
escola e das crianças, dia das mães, festa a fantasia dentro da escola, um pouco
distante das imagens que pensava produzir para o livro, e sim com toda energia
voltada para fixar os momentos das crianças. Tinha certeza que o momento de
produzir as fotos para o livro chegaria.
Hoje ao chegar à escola senti a oportunidade de produzir as imagens para o
livro, me distanciar um pouco das conversas e brincadeiras e focar no resultado
fotográfico, isso porque estavam todos, crianças e professores, no pátio da escola
desenvolvendo diferentes atividades recreativas e a luz estava ótima. As crianças
faziam bolhas de sabão, corriam por todos os lados, sorriam, gritavam e se
abraçavam iluminados por lindo sol no céu azul de maio.
Como é possível imaginar depois da ultima captura em “jpeg”, conferi todas
as configurações da câmera pela segunda ou terceira vez antes de começar e optei
por não usar “Parasol” deixando os raios entrarem pela objetiva produzindo muitos
“Flare”9 nas imagens, o que trouxe uma estética interessante às imagens, esses
raios de sol, dialogaram perfeitamente com as bolhas de sabão.
Busquei o brilho de uma luz de contorno, que em minha opinião transmite
uma magia nas imagens, uma ludicidade que tem tudo haver com o mundo cintilante
das crianças. Fotografar é permitir que todos os sentidos conversem através do visor
da câmera, colocar uma infinidade de sensações na escolha do recorte de
determinado momento. O grande magia acontece quando conseguimos colocar
qualquer ansiedade de lado e curtir cada alternativa, de luz e sombra, de fundo,
profundidade de campo, composição, enfim, curtir e se apropriar desse emaranhado
de alternativas que a fotografia possibilita.
As crianças passaram pelo parquinho no fundo da escola, subiam e desciam
escadas, escorregavam, voavam nos balanços e a tarde foi se esvanecendo e os
pequenos com suas professoras foram voltando para suas salas. Hora de voltar para
casa e ver o resultado imagético.
Particularmente fiquei satisfeita com as imagens, pude me utilizar da luz
natural com o equipamento disponível, não utilizei a lente 50 mm, mantive a 18 –
105 f 3.5 – 5.6 a tarde toda. Acredito que as imagens contem e perpetuem uma
ínfima parte da vida dessa escola e dessas crianças, que essas fotografias são
9 “Flare” é um efeito ótico causado quando a luz entra diretamente através das extremidades da lente,
causando certas manchas de luz, em formas circulares ou hexagonais.
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capazes de dizer aquilo que meus recortes gostariam, de que criança é criança em
qualquer lugar, que o belo tem muito significados e que o importante são as
historias, as varias historias contadas por olhares diferentes e positivos.
FIGURA 17 – Semana do Brincar. Dia da bolha de sabão. Foto: Daniela Schiavo.
Antes mesmo de chegar à escola, decidimos que está na hora de conversar
com as crianças sobre o que estamos fazendo. Isso só não foi feito essa semana
porque ainda não estava satisfeita com as fotografias que produzi, não via conexão
entre elas para montar o livro.
Nosso planejamento é preparar uma apresentação com todas as fotografias
feitas até agora, inclusive aquelas solicitadas pela escola, e exibir para as crianças,
explicando melhor até coisas que já falamos com eles, que somos fotógrafas com a
intenção de levar a fotografia como ferramenta de memória e autoestima e que
neste momento, estou desenvolvendo um trabalho de aula. Vamos montar algumas
questões para perguntar a turma, sobre o que acharam do processo, explicar que
essas imagens contam um pouquinho de quem são eles e claro esperar por suas
reações e perguntas espontâneas.
A Mariana conversou com a Carina ainda na escola e eu, enviei uma
mensagem para a Jaqueline que não estava presente neste dia, explicando nossos
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planos e pedindo sua aprovação. Ficou pré-agendado com a professora para quarta-
feira, 04 de junho pela manhã e a noite a coordenadora me respondeu dizendo que
achava a ideia ótima. Maravilha, agora trabalhar na apresentação.
30 de maio de 2014 – Sexta-feira.
Passei algumas horas desta noite de sexta-feira sentada no chão rodeada por
meus livros preferidos de fotografia, chegou a hora de tomar decisões relacionadas
à produção do livro com as fotografias deste trabalho. Qual formato, tamanho, quais
fotografias melhor irão compor a mensagem. Nesse processo “(re) visitei” obras
pelas quais tenho profunda admiração, como o livro Imagens Humanas de João
Roberto Ripper e Pierre Verger 50 anos de Fotografia, belíssimas publicações em
grande formato com grandiosas narrativas visuais. Mas também busquei
publicações mais simples como compilações, como é o caso do livro Sorrisos de
Pierre Verger, este me deu uma ótima ideia de como um livro editado no tamanho 20
x 20 ficaria, dentro da proposta que estou desenvolvendo me pareceu um tamanho
ótimo, uma publicação agradável de manusear e que condiz com o tempo de
produção e quantidade de fotografias que serão utilizadas. A primeira seleção das
imagens também já está finalizada, em torno de trinta fotografias, mas ate o
processo de edição realmente começar a se desenvolver isso pode ser alterado.
Quanto a usar cor ou preto e branco nas imagens ainda é uma duvida latente,
penso na alegria da cor quando as imagens referem-se a crianças, mas também
tenho convicção na intensidade de significados que só o preto e branco é capaz de
transmitir desconectando o colorido das imagens deixando a mente agir na
reconstrução dessas historias.
Há uma grande magia nessa parte do processo, olhar os catálogos com os
diferentes tipos de papéis para impressões, folhear livros atrás de referencias de
design, há uma sensação palpável de aproximação com a fotografia, como se essa
experiência fosse fundamental para o aprendizado dentro de uma construção visual,
como se fosse imprescindível para um aluno de fotografia passar por essas
escolhas.
03 de junho de 2014 – Terça-feira.
Tarde de total dedicação ao projeto. Selecionamos e organizamos todas as
imagens feitas na escola até agora e gravamos em disco para entregar à
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coordenadora, exceto as que possivelmente estarão no livro. Em relação às
fotografias selecionadas, optei por não enviar em digital, até entrega deste trabalho,
mas enviar para casa das crianças junto com o pedido de autorização do uso de
imagem uma ampliação no tamanho 10x15, assim a escola e os responsáveis tem
uma visão mais clara de que maneira as crianças estão sendo representadas sem
comprometer a apresentação do meu projeto à universidade.
Discutimos sobre o que e como abordaríamos todo esse processo e
montamos uma apresentação em PowerPoint para exibir todas as imagens para as
crianças. Os retratos escolhidos para a apresentação, exceto os com fundo branco,
também foram enviados para ampliação, vamos entregar essas impressões ao final
da conversa e exibição das fotos, novamente no tamanho 10x15 fosco com borda.
Enviei a solicitação de ampliação pelo sistema da Goimage e liguei em
seguida solicitando que as cópias estivessem prontas no horário que abre a loja no
dia seguinte, quarta-feira as 8h30min da manhã. O planejamento é pegar as
fotografias e seguir direto para escola e desenvolver a programação.
Última conferida: apresentação pronta, ampliações solicitadas, nervosismo e
alegria por ter ido tão longe também confere.
FIGURAS 18, 19 e 20 – Apresentação montada com todas as fotografias realizadas na escola para ser exibida a Turma Jardim 2 A.
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FIGURAS 19 – Apresentação com imagens realizadas na escola.
FIGURAS 20 – Apresentação com imagens realizadas na escola.
04 de junho de 2014 – Quarta-feira.
Hoje seria o dia de encerramento desse primeiro ciclo com a Turma Jardim 2
A, mas foi necessário adiá-lo. Chegando a escola, descobrimos que a professora
responsável pelo Jardim 2 B estava de atestado, isso significa que a professora
Carina assume duas turmas no mesmo dia. O que planejamos não poderia ser
realizado hoje, devido principalmente a termos nos focado em uma turma só.
Na sala de aula estavam vinte e sete crianças, sentadinhas umas no chão e
outras em cadeirinhas assistindo uma animação da “Disney”, a professora Carina e
a coordenadora Jaqueline também estavam na sala. Entreguei uma cópia da
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autorização da SMED para a escola e achamos melhor retornar na sexta-feira para
desenvolver nosso encerramento.
Mesmo quando nossa programação vai por agua abaixo não fica nenhuma
sensação ruim, tudo tem sido gratificante e de um crescimento pessoal tão
significativo que se sobrepõe a esses pequenos imprevistos.
Com a mudança de planos, decidi aproveitar o tempo e me lançar no mundo
solitário e distante da edição de livro, mesmo sem ter tratado as imagens
selecionadas. A montagem e edição será realizada através do sistema da Goimage
especifico para álbuns, “Goimage Web Creator”. Nos primeiros quinze minutos
pensei em desistir umas trinta vezes, nada ficava visualmente agradável e onde vai
o que mesmo? Foi então, que achei uma referência incrível, o livro “Imagens do
Povo”. As fotografias dessa publicação são de autoria dos alunos de fotografia do
mestre João Roberto Ripper, na escola Imagens do Povo que é um projeto do
Observatório de Favelas. As cores utilizadas no livro, a disposição das imagens, os
textos iniciais, tudo dialoga perfeitamente bem e me ajudou consideravelmente para
visualizar o inicio do meu projeto. Já posicionei algumas imagens, depois é só alterar
pelas fotografias tratadas, decidi onde ficará os textos, o título.
Por falar em textos. Solicitei a Mariana que faça um texto de apresentação,
por estar totalmente envolvida na pratica desse processo, e estou pensando em
pedir para a coordenadora da escola, Jaqueline, para escrever alguma coisa sobre
sua percepção do que desenvolvemos e o que iniciativas como essa agregam na
vida das crianças.
Por enquanto é isso, vamos lá que a quinta-feira pede atualização do
Memorial Descritivo e tratamento de imagens.
05 de junho de 2014 – Quinta-feira.
Quinta-feira de chuva e frio. Perfeito para ficar em casa e produzir meu
projeto aplicado. Atualizei a parte textual e passei boa parte do dia em companhia do
“Lightroom”, programa do Adobe para pós-processamento de imagens.
As fotografias serão coloridas e foram tratadas em relação à luz, correção de
claros e escuros em excesso, suavizei a saturação nas imagens e adicionei um
pouco de claridade para dar mais volume as formas. Também, me utilizei dessa
ferramenta, claridade, para dar ênfase em alguns detalhes, como os olhos, as
bolhas de sabão, gosto da possibilidade de usar vinhetas nas imagens, e essas
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permitiram esse recurso, escurecer as bordas te leva direto para o centro da
imagem. E fiz ajustes específicos que cada imagem exigiu mais ou menos branco,
preto, sombras, e os cortes foram mínimos. Uma ótima ferramenta do “Lightroom” é
o filtro graduado, com ele é possível fazer ajustes em áreas especificas da imagem
de forma gradual. Fiz uma cópia virtual de todas as imagens e apliquei filtro
graduado com um toque de cor – na palheta H 30 com intensidade da cor variável
entre 10 e 20. O ideal para usar esses filtros com cor é deixar o balanço de branco
mais próximo do real, da luz existente no momento da captura da imagem, mas não
é regra.
FIGURA 21 – Programa Adobe Photoshop Lightroom 5 – Revelação. Exemplo de uso de filtros graduados.
Cópia do programa em execução.
Vinte e cinco fotos selecionadas e tratadas. Fiz um copião com todas as
imagens lado a lado, normal e com filtro colorido e enviei para impressão tamanho
20 x 30. Analisando o copião, gostei bastante do resultado estético das imagens
com filtro e cor.
Fotografias prontas para montagem do livro. Próximo passo.
06 de junho de 2014 – Sexta-feira.
Finalizando o trabalho com a turma Jardim 2 A. A professora pediu silêncio
para a turma e disse a eles que hoje a aula era com as fotógrafas. Quanta honra e
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responsabilidade! Certamente não foi uma aula, mas uma conversa simples e rápida
com as crianças que nos receberam com tanto carinho.
A Mari explicou que nosso trabalho é fotografar crianças e que neste
momento eu estava desenvolvendo um trabalho de aula, pois ainda sou estudante
como eles e questionou-os sobre o que acharam dos dias que estivemos registrando
suas atividades. As respostas foram bem tímidas, legal e bonito foram os adjetivos
encontrados pelas crianças.
Foi difícil procurar por palavras simples para falar sobre a fotografia como
memória e reconhecimento. Segurei uma imagem e pedi se sabiam quanto
importante era aquele pedacinho de papel e para o que servia, decidi continuar
falando já que não obtive muitas respostas, percebi nas suas expressões que não
sabiam o que dizer, provavelmente por não terem pensado e feito relações sobre o
assunto ainda. Então, dei sequência dizendo que aquelas imagens além de permitir
que eles se vejam hoje, no futuro poderão lembrar como eram quando crianças,
rever os muitos amigos, lembrar-se da professora, da escola e reviver aqueles
momentos. Também perguntei se já observaram a escola, como ela é bonita, a
cerca de madeira, o colorido das paredes. Que através das imagens isso é possível,
ver as belezas do lugar e se reconhecer.
Depois dessa conversa, exibimos a apresentação com todas as fotos.
Acredito que as crianças tenham gostado bastante de se ver, a cada foto diziam o
nome de quem estava retratado, riam e exemplificavam o que cada um estava
fazendo naquele momento. Pareciam mesmo esperar pelo surgimento de sua
fisionomia na tela do computador. Para encerrar sentamos no chão em circulo e
espalhamos as fotos impressas no centro, e deixamos os pequenos livres para
escolherem as imagens de que gostaram mais. A Stéfani me disse com uma foto na
mão em que apareço fotografando ao fundo do parquinho: “Aqui é você!”.
Nos despedimos das crianças com muitos, muitos abraços e ganhamos um
presente da escola com lindos dizeres de agradecimento. Não esperávamos por
isso, até porque o presente foi a permissão de nos deixar desenvolver o trabalho na
escola, mas ficamos realmente felizes. Deixamos a sala de aula, mas antes de sair
da escola à professora nos entregou desenhos feitos pela turma. Fomos retratadas
pelas crianças! Adoramos muitíssimo.
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FIGURA 22 – Mariana, eu e a câmera. Desenho: Pedro.
FIGURA 23 – Manu e eu num dia lindo de sol, e a câmera é claro. Desenho: Emanuelly.
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Vou sentir uma saudade imensa de todas as crianças de quem tive a chance
de me aproximar. A Maria e a Manu abraçando e falando sem parar, o humor
fantástico do Davi e do Thalysson, a delicadeza da Maitê de da Maria Eduarda, dos
arroubos do Pedro e do Ricardo. Do Lucas, da Àghata e da Stéfani que já interagiam
com nós e sorriam muito mais nos últimos encontros. E ouvir a Bruna dizendo:
“sabia que eu te amo?!”.
Antes de deixar a escola, no dia que fizemos a apresentação final das
fotografias para a turma Jardim 2 A, um aluno de outra turma me perguntou: “Vocês
vão fotografar na minha turma também?”
07 de junho de 2014 – Sábado.
Em companhia do Goimage Web Creator, programa de edição de livros da
Goimage. Observando todas as imagens impressas e meu livro referencial “Imagens
do Povo”, consegui encontrar uma conexão entre as fotografias, procurei manter a
ordem de como os fatos se desdobraram diante de minha objetiva e encontrar um
diálogo entre as imagens. Substitui as fotografias de teste que estavam no sistema
pelas imagens aprovadas.
Imagem da capa, imagem da capa... Queria muito a imagem contraluz de
uma criança no balanço, mas o formato quadrado 20 x 20 está dificultando um
pouco essa ideia. Deixei a capa de lado por enquanto. Escolhi um tom de amarelo
para abrir e fechar o livro, amarelo é sol, vida, alegria e riquezas.
Depois de umas cinco horas de trabalho no sistema de edição as imagens
estavam posicionadas, e o livro começa a contar uma história.
Agora falta a parte textual que será inserida no livro, a intenção é inserir um
texto meu, um texto da Mariana e um texto da professora Carina e da coordenadora
Jaqueline escrito pelas duas juntas.
11 de junho de 2014 – Terça-feira.
Todos os dias um pouquinho. O livro começa a ganhar forma e estamos
dentro do prazo, dia 16 ele estará indo para impressão, mas todos os dias algumas
horas são dedicadas ao memorial e a edição do livro, o dia poderia ter mais horas
facilitaria e muito.
Encontro dificuldades em dispor as páginas do livro, e sempre volto a minha
referencia que é o livro Imagens do Povo. Mas agora falta pouquíssimo.
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13 de junho de 2014 – Sexta-feira.
Uma super orientação de duas horas com a Myra para fazer os ajustes
necessários, conferimos a parte textual e o livro, sinalizando o que precisa de
alterações.
Esse final de semana vai ser longo e definitivo já que a data de entrega
chegou. A respeito do livro tenho reunião agendada com o Luciano, proprietário da
Goimage segunda-feira às 10 horas para finalmente enviar o trabalho para
impressão.
14 de junho de 2014 – Sábado.
Livro finalizado com os três textos, fotos, ficha catalográfica, identificação das
crianças pelo primeiro nome, assim como foi estipulado no diário de campo, e capa
escolhida. Um dos lindos desenhos feito pelas crianças, o “retrato” da capa é de
autoria da Fabyele.
Encerro meu diário de campo com as palavras do Ripper (2009) sobre essa
ferramenta fantástica que é a fotografia,
Enfim, a fotografia permite uma pitada de loucura, daquela loucura juvenil que nos impulsiona a fazer as coisas. Nesse tipo de trabalho, em que você pode conhecer tanta gente, existe uma magia que lhe dá a possibilidade de romper com os estereótipos, uma liberdade de fazer aquilo em que você acredita. Se você viajar nesse ideal, seu voo será ainda maior e se esse voo for na direção das pessoas, sua viagem será ainda mais mágica, transformadora. (RIPPER, 2009, p.33).
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Todo o caminho trilhado para desenvolver o projeto aplicado foi de superação,
tempo curto, equipamento emprestado, internet na casa dos amigos. Mas
principalmente foi de amadurecimento e autoconhecimento, contribuiu de forma
impar para meu futuro pessoal e para minha fotografia. Sinto-me realizada com as
decisões tomadas e com toda experiência vivida. A fotografia tornou meu mundo
muito maior, infinito de escolhas a partir do visor da câmera. A capacidade de me
relacionar se alterou, pude perceber um processo de sensibilização através das
imagens e de toda a história dessa arte cheia de ramificações capaz de eternizar
pequenos fragmentos da vida e te posicionar diante do mundo e dos outros. Através
do conhecimento adquirido, tornei-me um ser que reflete sobre o que consome,
formula opiniões e amplia imensamente sua rede de significados e que deseja
disseminar esse aprendizado.
Também me foi dada a oportunidade de testemunhar que crianças são seres
especiais. Presença de vida e luz. Criança precisa ter a chance de brincar, imaginar
o imaginável e o inimaginável, crescer brincando de imaginar, para ser um adulto
capaz de sonhar e realizar. Aprender a ver o lado bom da grande aventura que é
viver, e povoar a mente com experiências agradáveis. Crianças possuem a mente
aberta e geralmente aprendem tudo com muita facilidade, são ingênuos e se
entregam por completo. Diante disso, merecem respeito, carinho, dignidade e
principalmente incentivo, pois eles são capazes de tudo, basta terem possibilidades
e pessoas dispostas a guia-los por caminhos positivos, e essa esperança pode vir
de todos nós, da família, da escola, da comunidade como nos diz o Artigo 4º do
Estatuto da criança e do adolescente, da Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990.
Art.4º É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder
público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes á
vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização,
à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e
comunitária.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BARROS, Manoel de. Ensaios Fotográficos. Rio de Janeiro: Record, 2000.
DUARTE, Jorge, BARROS, Antonio – organizadores – Métodos e técnicas de pesquisa em comunicação. São Paulo: Atlas, 2005. Estatuto da criança e do adolescente. – 7. ed. – Brasília : Câmara dos Deputados, Edições Câmara, 2010. FURASTÉ, Pedro Augusto. Normas técnicas para o trabalho científico: explicitação das normas da ABNT. – 15. ed. - Porto Alegre: s.n., 2009. GURAN, Milton. O Olhar engajado: inclusão visual e cidadania. Revista Studium 27. p. 99-114. 2008. KOSSOY, Boris. Fotografia e História. 2. ed. Rev. São Paulo: Ateliê Editorial, 2001. KUBRUSLY, Cláudio Araújo. O que é fotografia. 2. ed. São Paulo: editora brasiliense s.a., 1984. LANCRI, Jean. “Colóquio sobre a metodologia da pesquisa em artes plásticas na universidade”. In: BLANCA, Brites; TESSLER, Elida (Orgs). O meio como ponto zero: metodologia da pesquisa em artes plásticas. Porto Alegre, Ed.Universidade/UFRGS, 2002. (Coleção Visualidade, 4). LE GOFF, Jacques. História e memória. 5. ed. Campinas: Editora da UNICAMP, 2003. OSTROWER, Fayga. Criatividade e processos de criação. Petrópolis: Vozes, 1987. QUINTÃO, Jorge. Contato site Imaginário Coletivo. Mensagem pessoal. Mensagem recebida por <[email protected]> em 18 de abril de 2014. RIPPER. João Roberto. Imagens Humanas. Rio de Janeiro: Dona Rosa Produções Artísticas, 2009. SALGADO, Sebastião. Da minha Terra a Terra. 1ª ed. – São Paulo: Paralela, 2014. SAMAIN, Etienne. O fotográfico. São Paulo: Hucitec, 1998. SCHWARCZ, Lilia Moritz e NOGUEIRA, Thyago/organização. Por trás daquela foto: contos e ensaios a partir de imagens. São Paulo: Companhia das Letras, 2011. SOULAGES, François. Estética da Fotografia: perda e permanência. São Paulo. Editora Senac São Paulo, 2010.
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TEDESCO, João Carlos. Nas cercanias da memória: temporalidade, experiência e narração. Passo Fundo: UPF; Caxias do Sul: EDUCS, 2004. SITES E BLOGS: Disponível:http://bd.camara.gov.br/bd/bitstream/handle/bdcamara/785/estatuto_crianca_adolescente_7ed.pdf?sequence=10 Acesso em maio de 2014. Disponível: http://www.imagensdopovo.org.br/ Acesso em abril de 2014. Disponível: http://imaginariocoletivo.org/ Acesso em abril de 2014. Disponível: http://www.studium.iar.unicamp.br/27/06.html Acesso em abril de 2014.
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ANEXO A – Entrevista com Jorge Quintão – Imaginário Coletivo.
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ANEXO B – Solicitação encaminhada para Secretaria Municipal de Educação –
SMED.
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ANEXO C – Autorização concedida pela Secretaria Municipal de Educação de
Caxias do Sul – SMED.