UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL TATIANA MÉLO CARDOSO
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UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL
TATIANA MEacuteLO CARDOSO
SAtildeO FRANCISCO DE PAULA
O ENSINO DE HISTOacuteRIA E A IDENTIDADE LOCAL
CAXIAS DO SUL
2019
TATIANA MEacuteLO CARDOSO
SAtildeO FRANCISCO DE PAULA
O ENSINO DE HISTOacuteRIA E A IDENTIDADE LOCAL
Dissertaccedilatildeo de mestrado apresentada ao Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Histoacuteria da Universidade de Caxias do Sul para a obtenccedilatildeo do tiacutetulo de Mestre em Histoacuteria
Orientadora Profordf Drordf Cristine Fortes Lia
CAXIAS DO SUL
2019
SAtildeO FRANCISCO DE PAULA
O ENSINO DE HISTOacuteRIA E A IDENTIDADE LOCAL
Tatiana Meacutelo Cardoso
Trabalho de Conclusatildeo de Mestrado submetido agrave Banca Examinadora designada pelo Colegiado do Programa de Poacutes - Graduaccedilatildeo em Histoacuteria da Universidade de Caxias do Sul como parte dos requisitos necessaacuterios para a
obtenccedilatildeo do tiacutetulo de Mestre em Histoacuteria Aacuterea de Concentraccedilatildeo Ensino de Histoacuteria Fontes e Linguagens Linha de Pesquisa Fontes e Acervos na Pesquisa e
Docecircncia em Histoacuteria
Caxias do Sul 5 de junho de 2019
Banca Examinadora
Dra Cristine Fortes Lia Universidade de Caxias do Sul
Dra Eliane Gasparini Xerri Universidade de Caxias do Sul
Dr Jorge Luiz da Cunha Universidade Federal de Santa Maria
Dedico esse estudo a todos que fizeram
parte desta caminhada
AGRADECIMENTOS
Agradeccedilo a Deus em primeiro lugar por ter me dado forccedila para me manter
firme no propoacutesito de concluir o mestrado
Aos meus pais Rivan e Benta que sempre estiveram ao meu lado me
apoiando minha eterna gratidatildeo Amo muito vocecircs
Ao meu esposo Norli que esteve presente em todos os momentos com
paciecircncia e muitas vezes me acompanhando durante as pesquisas para que natildeo
fosse soacute Te amo muito
Ao meu filho Bento Manoel pela compreensatildeo de ver sua matildee mergulhada
em livros em frente ao computador sem poder lhe dar muita atenccedilatildeo Minha razatildeo
de viver
Ao meu irmatildeo Tarciano que sempre me incentivou para que fizesse o
mestrado Muito obrigada por suas palavras
Agrave minha orientadora Professora Dra Cristine pelos ensinamentos prestados
por ter me oportunizado vivecircncias tatildeo ricas que com certeza muito colaboraram
para o sucesso desta pesquisa Minha eterna gratidatildeo
Aos professores do Mestrado pelos ensinamentos prestados com certeza
muito agregaram em minha vida profissional A vocecircs meu carinho
Aos entrevistados Sr Dr Moacir Sr Orides Sr Jaures Sr Blair Sr Nauro
Sr Darci Sr Reinaldo e a Sra Susana Sra Luciana Sra Deotildes Sra Ceacutelia Sra
Amaacutelia Celuderes e Sra Maria Madalena pelo apoio recebendo-me em suas
residecircncias e colaborando com esta pesquisa Sem a colaboraccedilatildeo de vocecircs esse
trabalho seria mais difiacutecil A vocecircs meu muito obrigado
Agrave minha amiga Lisandra que sempre me apoiou com suas palavras de
carinho dando-me coragem para prosseguir Agradeccedilo pela sua amizade
E por fim aos meus alunos que compartilharam muitas vezes as minhas
anguacutestias meu cansaccedilo mas sempre me apoiaram Em especial aqueles que
testaram o produto por suas doces palavras Meu eterno agradecimento
RESUMO
A presente dissertaccedilatildeo aborda o ensino de Histoacuteria em Satildeo Francisco de Paula Rio Grande do Sul tendo como princiacutepio que o ensino de Histoacuteria partindo do local se torna mais significativo aos estudantes da educaccedilatildeo baacutesica Para a construccedilatildeo dessa pesquisa se utilizaram diferentes abordagens metodoloacutegicas tais como documentos da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul jornais fontes bibliograacuteficas imagens e depoimentos orais O estudo procurou abordar a construccedilatildeo do municiacutepio bem como o que identifica os sete distritos pertencentes a Satildeo Francisco Paula Como resultado se cria um paradidaacutetico fiacutesico com textos imagens curiosidades sugestotildees de atividades e leituras complementares que serviraacute de apoio pedagoacutegico aos professores e estudantes da educaccedilatildeo baacutesica Espera-se que este material possa servir de pesquisa a todos os interessados
Palavras-chave Ensino de Histoacuteria Satildeo Francisco de Paula Identidade
ABSTRACT
This dissertation deals with History teaching in Satildeo Francisco de Paula Rio Grande do Sul with the principle that History Teaching from the place becomes more meaningful to students of basic education For the construction of this research different methodological approaches are used such as documents of the Legislative Assembly of Rio Grande do Sul newspapers bibliographic sources images and oral testimony The study sought to address the construction of the municipality as well which identifies the seven districts belonging to San Francisco Paula As a result a physical paradidaacutetico is created with texts images curiosities suggestions of activities and complementary readings that will serve as pedagogical support to teachers and students of basic education It is hoped that this material can serve as a research to all interested parties
Keywords Teaching History Satildeo Francisco de Paula Identity
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 ndash Mapa de Identificaccedilatildeo das Sesmarias Serranas 26
Figura 2 ndash Divisatildeo Municipal em 1809 ndash Proviacutencia Satildeo Pedro do Rio Grande do Sul
28
Figura 3 ndash Vista da vila de Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra (1901) 29
Figura 4 ndash Vista Avenida Juacutelio de Castilhos (1923) 30
Figura 5 ndash Abertura da estrada ERS-020 Taquara ndash Satildeo Francisco de Paula de
Cima da Serra 31
Figura 6 ndash Accedilougue Central 33
Figura 7 ndash Igreja Matriz em 1931 34
Figura 8 ndash Igreja Matriz 34
Figura 9 ndash Mapa de localizaccedilatildeo de Satildeo Francisco de Paula 36
Figura 10 ndash Patroa Neuza Reis e sua Comissatildeo 39
Figura 11 ndash Gonzaga dos Reis 48
Figura 12 ndash Outdoor entrada da cidade na ERS-020 50
Figura 13 ndash Praccedila Central de Cazuza Ferreira 52
Figura 14 ndash Hotel do Campo 54
Figura 15 ndash Flacircmula de comemoraccedilatildeo aos 50 anos da entidade 57
Figura 16 ndash Barragem do Salto 58
Figura 17 ndash Igreja Santo Antocircnio ndash Distrito de Eletra 61
Figura 18 ndash Peacute com a fruta conhecido como Juaacute 63
Figura 19 ndash Praccedila Vila do Distrito Juaacute ao fundo cancha de laccedilo 65
Figura 20 ndash Imagem da Igreja Satildeo Roque em dia de festa no Rincatildeo dos Kroeff 69
Figura 21 ndash Imagem do Casaratildeo pouco antes de ser desmanchado 71
Figura 22 ndash Capa do livro 75
Figura 23 ndash Iacutendice do livro 76
Figura 24 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 1) 77
Figura 25 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 1) 78
Figura 26 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 2) 79
Figura 27 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 3) 80
Figura 28 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 4) 81
Figura 29 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 6) 82
Figura 30 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 8) 83
Figura 31 ndash Atividade do livro (Sugestatildeo de Leituras Complementares) 84
Figura 32 ndash Alunos do Ensino Meacutedio 85
SUMAacuteRIO
1 INTRODUCcedilAtildeO 11
2 HISTOacuteRIA LOCAL E O ENSINO DE HISTOacuteRIA NA SALA DE AULA 17
3 SAtildeO FRANCISCO DE PAULA CONSTRUCcedilAtildeO DO MUNICIacutePIO 24
31 CONVERSA COM MEMORIALISTAS 25
32 AMPLIANDO O DIAacuteLOGO COM OS MEMORIALISTAS 28
4 SAtildeO FRANCISCO DE PAULA DISTRITOS EM FOCO 41
41 DISTRITO SEDE 42
42 DISTRITO DE CAZUZA FERREIRA 51
43 DISTRITO DE TAINHAS 55
44 DISTRITO DE ELETRA 58
45 DISTRITO DO JUAacute 62
46 DISTRITO DO RINCAtildeO DOS KROEFF 66
47 DISTRITO DE LAJEADO GRANDE 70
5 DESCRICcedilAtildeO DO PRODUTO 74
6 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 86
REFEREcircNCIAS 90
FONTES CONSULTADAS 94
APEcircNDICES 96
APEcircNDICE A ndash ENTREVISTA COM MORADORES LOCAIS DOS DISTRITOS DE
SAtildeO FRANCISCO DE PAULA 97
APEcircNDICE B ndash TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO 98
11
1 INTRODUCcedilAtildeO
Os meacutetodos de ensino de Histoacuteria no Brasil vem sendo discutidos desde sua
criaccedilatildeo como disciplina Segundo Nadai (1992-1993 p 144) a introduccedilatildeo de
Histoacuteria no curriacuteculo ocorre na terceira metade do seacuteculo XIX no Brasil sendo que
desde entatildeo passa por diversas modificaccedilotildees Segundo Schmidt e Cainelli (2009)
os meacutetodos foram se adequando ao momento histoacuterico brasileiro em um primeiro
momento ensinou-se a histoacuteria da Europa Ocidental como a verdadeira histoacuteria da
civilizaccedilatildeo uma histoacuteria abstrata sem relaccedilatildeo com a vida do aluno Nadai (1992-
1993 p 146) acrescenta que ldquoa histoacuteria da paacutetria surgia como seu apecircndice sem
corpo autocircnomo e ocupando um papel extremamente secundaacuterio consistia num
repositoacuterio de biografias de homens ilustres de datas e batalhasrdquo
Poreacutem a partir de 1860 segundo Schmidt e Cainelli (2009 p 12-13) ldquono
periacuteodo republicano a incorporaccedilatildeo da concepccedilatildeo de que a disciplina Histoacuteria tinha
a responsabilidade de formar cidadatildeos ganha forccedilardquo sendo assim as escolas
primaacuterias e secundaacuterias comeccedilaram incluir em seus programas a histoacuteria nacional
com o intuito da formaccedilatildeo da nacionalidade sendo a paacutetria com seus heroacuteis o
principal foco Desta forma a criaccedilatildeo das diretrizes da Lei de Educaccedilatildeo nordm 569271
reforccedila o modelo jaacute instaurado
Foi oficializado o ensino de Estudos Sociais nas escolas brasileiras ficando os conteuacutedos especiacuteficos da Histoacuteria destinados somente aos alunos do antigo segundo grau A concepccedilatildeo e os conteuacutedos da Histoacuteria continuavam atrelados agraves concepccedilotildees tradicionais (SCHMIDT CAINELLI 2009 p 13)
Com a redemocratizaccedilatildeo na deacutecada de 1980 houve inuacutemeras discussotildees
que elencaram inuacutemeras abordagens e temaacuteticas para o ensino da Histoacuteria na
atualidade as novas tendecircncias se preocupam com a transposiccedilatildeo didaacutetica
valorizando documentos histoacutericos e incorporando novas linguagens e tecnologias
que permitem discussotildees e autonomia de pensamento Neste sentido as novas
concepccedilotildees de ensino de Histoacuteria ao final do seacuteculo XX abrem a possibilidade de
uma nova praacutetica didaacutetica que segundo Azevedo e Stamatto (2010 p 709) ldquobusca
problematizar a relaccedilatildeo passado-presente e em geral tomam a realidade do aluno
como ponto de partidardquo
Por se acreditar em um ensino de Histoacuteria onde a aprendizagem natildeo ocorre
em periacuteodos estanques de forma abstrata e sem relaccedilatildeo com o presente ou seja
12
apresentando de forma linear sem que haja contextualizaccedilatildeo sendo apresentada
atraveacutes de leitura de textos eou resumos permeando com atividades que muitas
vezes natildeo permitem um desenvolvimento de raciociacutenio histoacuterico que contribua para
a construccedilatildeo da cidadania Torna-se urgente pensar em um ensino voltado para a
inclusatildeo de novas contribuiccedilotildees historiograacuteficas como a histoacuteria cultural econocircmica
e social buscando na realidade local subsiacutedios para a aprendizagem Por isso a
presente dissertaccedilatildeo traz a didatizaccedilatildeo da histoacuteria de Satildeo Francisco de Paula visto
que a questatildeo-problema estaacute vinculada ao natildeo uso da histoacuteria local no ensino de
Histoacuteria deste municiacutepio e o pouco material disponiacutevel para o uso dos professores
Parte-se do pressuposto que ao abranger a histoacuteria local os sujeitos se veem como
partiacutecipes desta histoacuteria estudada significando e ressignificando conceitos
histoacutericos
Corroborando com este estudo Cunha (2016) traz consideraccedilotildees importantes
relacionadas ao uso da histoacuteria local O autor aborda como algo essencial para
compreensatildeo da histoacuteria geral na educaccedilatildeo baacutesica o uso da histoacuteria local o que
proporcionaria aos estudantes o reconhecimento como cidadatildeo e a percepccedilatildeo e
identificaccedilatildeo dos lugares de memoacuteria por parte dos alunos bem como o sentimento
de pertencimento do local Desta forma despertaria no aluno o interesse por um
passado aparentemente desligado de sua realidade estabelecendo relaccedilotildees com o
seu cotidiano
Desta maneira acredita-se que os estudantes da educaccedilatildeo baacutesica
compreenderatildeo a histoacuteria como algo que faz parte de suas vidas tornando-se assim
sujeitos da histoacuteria pois se haacute reconhecimento haveraacute tambeacutem o sentimento de
pertencimento que poderaacute ajudaacute-los a manter ou modificar a realidade que os cerca
Assim descrevem Schmidt e Cainelli
Esse sentido do ensinar Histoacuteria natildeo significaria natildeo ter conteuacutedos para serem ensinados mas olhar para estes conteuacutedos a partir da possibilidade de construir com os alunos novas questotildees diante de conteuacutedos e temas propostos pela historiografia Aprender histoacuteria eacute discutir evidecircncias levantar hipoacuteteses dialogar com os sujeitos os tempos e os espaccedilos histoacutericos Eacute olhar para o outro em tempos e espaccedilos diversos (SCHMIDT CAINELLI 2009 p 20)
Dentro desta perspectiva o reconhecimento da memoacuteria social se faz
importante visto que se necessita invocaacute-la para que um determinado grupo ou local
reconheccedila sua identidade social Atraveacutes de entrevistas com moradores de Satildeo
13
Francisco de Paula se invoca a memoacuteria coletiva na busca da identidade dos sete
distritos deste municiacutepio Visto que a histoacuteria de Satildeo Francisco de Paula se inicia por
volta do seacuteculo XVIII quando se datam as primeiras sesmarias1 concedidas ao
capitatildeo Pedro da Silva Chaves Posteriormente o capitatildeo doa parte de suas terras
para a construccedilatildeo do povoado que recebe o nome de Satildeo Francisco de Paula de
Cima da Serra por este ser devoto do Santo Satildeo Francisco Reza no testamento do
capitatildeo Pedro da Silva Chaves que um de seus filhos foi o primeiro paacuteroco a rezar
missa no povoado Satildeo Francisco de Paula pertenceu a Santo Antocircnio da Patrulha
e mais tarde a Taquara emancipando-se em 1902
Haacute pouca bibliografia sobre a histoacuteria de Satildeo Francisco de Paula o que existe
satildeo livros escritos por memorialistas onde se percebe a prioridade pela histoacuteria do
fundador ou seja do Capitatildeo Pedro da Silva Chaves dos iacutendios Caaguaraacutes que
habitavam a regiatildeo assim como os aspectos poliacuteticos administrativos Alguns destes
livros apresentam uma siacutentese cronoloacutegica de fatos importantes e descrevem
superficialmente o jeito de viver do povo serrano2 Mas a histoacuteria de Satildeo Francisco
de Paula estaacute repleta de diferentes identidades que identificam a Sede3 e o Interior4
deste municiacutepio e formam o jeito de viver do seu povo A natildeo exploraccedilatildeo de
elementos culturais que se fazem importantes para a construccedilatildeo de identidade
destes lugares minimiza as memoacuterias e as tradiccedilotildees que ali se apresentam visto
que
as constantes novidades em diferentes campos do saber os avanccedilos da tecnologia as infinitas possibilidades de comunicaccedilatildeo simultacircnea tecircm provocado sobretudo nas novas geraccedilotildees uma sensaccedilatildeo de que o mundo em que se vive eacute dotado de um temporalidade constituiacuteda por um tempo presente contiacutenuo (FIGUEIRA MIRANDA 2012 p 46)
Neste sentido fez-se uso de diferentes fontes para a construccedilatildeo do produto
desta dissertaccedilatildeo que consiste de um paradidaacutetico que possa servir como um
1 Sesmaria Terreno sem culturas ou abandonado que a antiga legislaccedilatildeo portuguesa com base em
praacuteticas medievais determinava que fosse entregue a quem se comprometesse a cultivaacute-lo 2 Serrano gentiacutelico de quem nasce em Satildeo Francisco de Paula 3 Sede distrito criado em 07 de janeiro de 1903 na mesma data da instalaccedilatildeo oficial do Municiacutepio Eacute
o distrito onde se localiza a Prefeitura Municipal Foacuterum agecircncias bancaacuterias loteacutericas hospital casas comerciais e residecircncias particulares Normalmente os moradores do interior quando vatildeo ao distrito se referem como ldquovou a Satildeo Chicordquo e natildeo como ldquovou a Sederdquo
4 Interior Cazuza Ferreira Juaacute Eletra Rincatildeo dos Kroeff Tainhas e Lajeado Grande satildeo distritos que ficam na zona rural apesar de todos terem uma pequena vila que possui pouca infraestrutura Alguns destes distritos ainda usam aacutegua de vertentes sem nenhuma rede de esgoto pois natildeo possuem aacutegua fornecida pela Companhia de Aacutegua e Saneamento (CORSAN)
14
material disponiacutevel a alunos e professores no ensino de Histoacuteria de Satildeo Francisco
de Paula Segundo Munakata entendem-se como paradidaacuteticos
Livros que sem apresentar caracteriacutesticas proacuteprias dos didaacuteticos satildeo adotados no processo de ensino e aprendizagem nas escolas seja como material de consulta do professor seja como material de pesquisa e de apoio agraves atividades do educando (MUNAKATA 1997 p 103)
Para a construccedilatildeo do paradidaacutetico fez-se uso de bibliografias jaacute existentes
jornais e documentos da Assembleia da Legislativa bem como o uso da histoacuteria
oral sendo as entrevistas a fonte primordial para escrever sobre as semelhanccedilas e
diferenccedilas existentes no modo de vida da populaccedilatildeo de Satildeo Francisco de Paula
visto que os depoimentos satildeo importantes na preservaccedilatildeo das memoacuterias tradiccedilotildees
bem como das heranccedilas identitaacuterias Neste sentido Delgado (2003 p 23) discorre
ldquonarrativas memoacuterias histoacuterias e identidades satildeo a humanidade em movimento
Satildeo o olhar que permeiam tempos heterogecircnicos Satildeo a histoacuteria em construccedilatildeo Satildeo
memoacuterias que falamrdquo
Portanto a histoacuteria oral busca registrar as vivecircncias e lembranccedilas de um
determinado grupo Alberti (2008 p 29) assim define ldquohistoacuteria oral natildeo eacute um fim em
si mesma e sim um meio de conhecimentordquo Quando se trabalha com a histoacuteria
oral se faz necessaacuterio valorizar a memoacuteria as identidades e tradiccedilotildees pois estas
formam a histoacuteria local ou seja a histoacuteria dos indiviacuteduos que ali vivem Halbwachs
(2004) afirma que com a perda da memoacuteria coletiva tambeacutem se perdem as
tradiccedilotildees locais tradiccedilotildees essas que identificam o modo de viver de um determinado
local Hobsbawn e Ranger entendem que as tradiccedilotildees podem ou natildeo ser
inventadas
Tradiccedilatildeo inventada entende-se um conjunto de praacuteticas normalmente reguladas por regras taacutecitas ou abertamente aceitas tais praacuteticas de natureza ritual ou simboacutelica visam inculcar certos valores e normas de comportamento atraveacutes da repeticcedilatildeo o que implica automaticamente uma continuidade com relaccedilatildeo ao passado (HOBSBAWN RANGER 2015 p 8)
Hobsbawn e Ranger (2015) ainda acrescem que a criaccedilatildeo de uma tradiccedilatildeo
independe da imposiccedilatildeo de uma nova tradiccedilatildeo o que normalmente ocorre eacute uma
rebeliatildeo cultural que precede da elaboraccedilatildeo de novas tradiccedilotildees que satildeo adotadas
pela populaccedilatildeo e com o tempo passam a se tornar tradiccedilotildees daquele local
formando a identidade local
15
Neste sentido Hall (2011 p 39) discorre que ldquoas identidades satildeo fabricadas
por meio da marcaccedilatildeo da diferenccedilardquo O autor ainda acresce que ldquoa diferenccedila eacute aquilo
que separa uma identidade da outrardquo (HALL 2011 p 41) Dentro desta perspectiva
a memoacuteria que se apresenta atraveacutes de siacutembolos ou tradiccedilotildees respalda a
construccedilatildeo da identidade do povo de Satildeo Francisco de Paula visto que a memoacuteria eacute
a construccedilatildeo do passado de maneira atualizada e renovada no tempo presente
Assim Halbwachs (2004 p 64) descreve que ldquonatildeo eacute na histoacuteria aprendida eacute na
histoacuteria vivida que se apoia nossa memoacuteriardquo Nessa loacutegica o autor ainda descreve
que ldquoo mundo histoacuterico eacute como um oceano onde afluem todas as histoacuterias parciaisrdquo
(p 90)
O municiacutepio de Satildeo Francisco de Paula eacute repleto de tradiccedilotildees que perpassam
o tempo que estatildeo enraizadas no jeito serrano de ser formando a sua identidade
Portanto a histoacuteria de Satildeo Francisco de Paula descrita nesta dissertaccedilatildeo seraacute
apresentada em quatro capiacutetulos
O capiacutetulo dois apresenta a discussatildeo teoacuterica metodoloacutegica sobre a
importacircncia do ensino da Histoacuteria local na sala de aula Tambeacutem conceitos como
memoacuteria e identidade e a importacircncia de se abordar o local em prol do global
No capiacutetulo trecircs aborda-se a construccedilatildeo histoacuterica do municiacutepio de Satildeo
Francisco de Paula que vai desde a chegada do colonizador nesta terra ateacute as
instituiccedilotildees que se formam ao longo do tempo Para isso se faz uso de bibliografias
jaacute existentes como Lucena (1971) Oliveira (1996) Teixeira (2002) Ribeiro (2003)
Alves (2007) e Fonseca (2012) sendo todas essas obras importantes para Satildeo
Francisco de Paula visto que cada uma traz consigo um pouco da histoacuteria deste
municiacutepio poreacutem sente-se falta da identidade e da memoacuteria na construccedilatildeo histoacuterica
As obras satildeo apresentadas sob o mesmo prisma apresentando os iacutendios Caaguaraacutes
e o Capitatildeo Pedro da Silva Chaves os fundadores desta terra dando bastante
ecircnfase aos sobrenomes que ali se desenvolveram Tambeacutem se fez uso de
documentos da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul aleacutem de jornais
encontrados no Arquivo Histoacuterico de Satildeo Francisco de Paula
No capiacutetulo quatro utiliza-se da fonte oral para que sejam identificadas as
diferentes tradiccedilotildees e versotildees da histoacuteria local ou seja a identidade de cada distrito
constituindo assim as particularidades que constroem o municiacutepio de Satildeo Francisco
de Paula Para tanto buscaram-se depoentes nas vilas dos distritos sendo que a
escolha se deu por duas pessoas por distrito sendo um homem e uma mulher
16
totalizando treze depoentes todos da terceira idade pois segundo Bosi (1994 p
82) ldquoum mundo social que possui uma riqueza e uma diversidade que natildeo
conhecemos pode chegar-nos pela memoacuteria dos velhosrdquo memoacuterias estas
construiacutedas por suas vivecircncias neste local o que justifica a relevacircncia dos
depoimentos para a construccedilatildeo do trabalho
O capiacutetulo cinco apresenta uma descriccedilatildeo do produto que consiste em um
paradidaacutetico em forma fiacutesica abordando a histoacuteria de Satildeo Francisco de Paula A
escolha pelo formato fiacutesico acontece pelas dificuldades encontradas no interior dos
distritos com o acesso agrave internet assim se pensa que o formato fiacutesico abrangeraacute um
nuacutemero maior de alunos e professores
Para tanto utiliza-se a metodologia da Histoacuteria oral para escrever a memoacuteria
e as percepccedilotildees das pessoas que habitam este local Hobsbawn e Ranger (1995 p
103) escrevem que ldquoessa proximidade entre o periacuteodo analisado e sua histoacuteria
pessoal eacute o pano de fundo para a discussatildeo de alguns problemas que qualquer
historiador enfrenta ao escrever sobre seu proacuteprio tempordquo pois a sensibilidade do
historiador vai escrever sua narrativa Em outras palavras Hobsbawn e Ranger
(1995 p 104) explicam que ldquocada historiador tem sua proacutepria vida um lugar privado
a partir do qual inspeciona o mundordquo Tambeacutem afirmam
Para aqueles que querem escrever a histoacuteria do seacuteculo XX uma das mais importantes reside no simples fato de saber sem nenhum esforccedilo especial o quanto as coisas se modificaram Os uacuteltimos trinta ou quarenta anos foram os mais revolucionaacuterios da histoacuteria O mundo ou seja a vida dos homens e mulheres que vivem na Terra nunca foi transformada de maneira tatildeo profunda dramaacutetica e extraordinaacuteria dentro de um periacuteodo tatildeo curto As geraccedilotildees que natildeo viram como o mundo era antes tecircm dificuldade em perceber isso intuitivamente (HOBSBAWN RANGER 1995 p 107)
Portanto se faz importante perceber que o mundo vem se transformando de
maneira raacutepida modificando a vida das pessoas e por conseguinte as tradiccedilotildees e
identidades locais pois estas comunidades natildeo vivem de forma isolada e sofreram
influecircncias jaacute que a cultura natildeo eacute estagnada estaacute sempre em constante movimento
juntamente com as pessoas
17
2 HISTOacuteRIA LOCAL E O ENSINO DE HISTOacuteRIA NA SALA DE AULA
Discutir o ensino de Histoacuteria na educaccedilatildeo baacutesica e a relaccedilatildeo do mesmo com a
histoacuteria local se faz bastante importante para que a cada dia se possa melhorar as
praacuteticas pedagoacutegicas Neste sentido se busca respaldo em diferentes bibliografias
que possam embasar novos afazeres dentro do espaccedilo da sala de aula e
proporcionar ao estudante um novo olhar sobre a histoacuteria um olhar de sujeito ativo
dentro desse processo de ensino aprendizagem
Pois quando a Histoacuteria eacute ensinada como algo certo e imutaacutevel de maneira
fragmentada voltada para linearidade e memorizaccedilatildeo de fatos e datas reforccedila o
que Mendes (1935) e Schmidt e Cainelli (2009) defendem que realmente eacute odiosa a
histoacuteria ensinada por este vieacutes Percebe-se que o ensino de histoacuteria linear nos
moldes europeus positivistas jaacute natildeo daacute mais conta da importacircncia da histoacuteria para a
sociedade atual porque eacute apresentada aos alunos atraveacutes de datas e fatos escrita
pelo vieacutes de uma elite que normalmente eacute branca e deteacutem o poder poliacutetico eou
econocircmico Eacute inconcebiacutevel que se permaneccedila com um ensino de Histoacuteria que natildeo
serve natildeo motiva e segundo Ruumlsen (2001 p 25) ainda ldquoirracionalizardquo sendo esse
modelo muito frequente nas escolas de educaccedilatildeo baacutesica brasileiras
Natildeo eacute por outro motivo que observamos ainda nas uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo XX que para a maior parte dos estudantes brasileiros o estudo de histoacuteria carece de sentido ou utilidade natildeo se tem a visatildeo de ciecircncia e sim de uma mateacuteria decorativa estudo do passado que soacute exige como vimos a prontidatildeo em declinar nomes datas e fatos Natildeo eacute de se estranhar que assim seja porque ocorre a enorme distacircncia entre a realidade vivenciada pela comunidade e o tratamento dado ao ensino de Histoacuteria jaacute que o aluno se torna mero espectador de fatos natildeo necessitando esforccedilos no sentido de qualquer reflexatildeo ou elaboraccedilatildeo (BARBOSA 2006 p 58)
O ensinar da histoacuteria de forma abstrata fragmentada dificulta a compreensatildeo
do processo histoacuterico no sentido que se estuda os fatos isolados ao seu tempo
como se um fato precisasse terminar para iniciar outro Em outras palavras este
meacutetodo de ensino natildeo daacute a noccedilatildeo de continuidade ou seja a histoacuteria perdeu seu
sentido baacutesico que eacute a compreensatildeo do contexto global dos fatos considerando que
o ensino de Histoacuteria por muitas vezes eacute estanque sem uma relaccedilatildeo ldquopresente x
passadordquo sendo de suma importacircncia o despertar de uma consciecircncia criacutetica por
parte do estudante Por isso ao longo do tempo o ensino sofre influecircncia por parte
do ldquopoderrdquo segundo Laville (1999 p 128) ldquoa Histoacuteria eacute certamente a uacutenica disciplina
18
escolar que recebe intervenccedilotildees diretas dos altos dirigentes e a consideraccedilatildeo ativa
dos parlamentos Isso mostra quatildeo importante eacute ela para o poderrdquo Nesta linha o
autor ainda acrescenta que ldquoa narrativa histoacuterica pode tambeacutem ser vista como uma
tomada de poder por grupos sem poderrdquo (LAVILLE 1999 p 129)
Na busca de modificar esse modelo surgem novos meacutetodos que valorizam o
uso do documento histoacuterico e a incorporaccedilatildeo de novas tecnologias de acordo com
Azevedo e Stamatto (2010 p 720) ldquotem o desafio de responder a inquietaccedilotildees do
hojerdquo Partindo deste pressuposto haacute possibilidade de se modificar o ensino da
Histoacuteria que ateacute entatildeo estava voltado agrave memorizaccedilatildeo para um modelo onde o
sujeito seja agente deste processo
Ensinar Histoacuteria como algo pronto e acabado [] sem levar em conta o contexto e os sujeitos envolvidos no processo de ensino aprendizagem pode levar a um ensino que natildeo desenvolve o que eacute mais importante como funccedilatildeo do ensinar histoacuteria que orientar os problemas da vida praacutetica (SCHMIDT CAINELLI 2009 p 20)
Assim Seffner (2013 p 51) acrescenta que ldquoo ensino de Histoacuteria eacute um ensino
de situaccedilotildees histoacutericas Mais do que nomes datas e acontecimentos o professor
deve propiciar ao aluno a compreensatildeo de como se estrutura uma dada situaccedilatildeordquo
Para que o ensino de Histoacuteria seja ressignificado existe a necessidade de anaacutelise
do processo histoacuterico problematizando os fatos no vai e vem do presentepassado
Os estudantes da educaccedilatildeo baacutesica necessitam compreender a histoacuteria como
um processo em constante transformaccedilatildeo que eacute movimentada por sujeitos que a
compotildeem com permanecircncias e rupturas ao longo dos tempos Segundo Bittencourt
(2004 p 168) ldquoa histoacuteria local tem sido indicada como necessaacuteria para o ensino por
possibilitar a compreensatildeo do alunordquo
Corroborando Seffner (2013) Souza (2015) e Brum (2015) evidenciam a
importacircncia de se trabalhar a histoacuteria global partindo de uma histoacuteria local
problematizando levando hipoacuteteses e analisando os fatos histoacutericos o que gera
significado para o educando e torna o docente natildeo mais um mero transmissor mas
um mediador deste conhecimento Neves (1997 p 22) reforccedila que ldquoo local fora do
contexto geral eacute apenas um fragmento e o geral sem o respaldo das realidades
locais eacute apenas uma abstraccedilatildeordquo Com esta nova abordagem o estudar Histoacuteria tem
sentido para o discente que se sente sujeito de sua proacutepria histoacuteria visto que
19
identificar-se com o local onde se vive ajuda a compreender o sentimento de
pertencimento e suas relaccedilotildees com o meio social e cultural no qual estaacute inserido
Nesta perspectiva faz-se necessaacuterio que os professores busquem novas
alternativas de ensino que proporcionem ao estudante a habilidade de ressignificar o
fato histoacuterico estudado
Ensinar Histoacuteria requer do professor a habilidade de buscar sentido e significado para o conhecimento que ministra e isso significa superar a mera transmissatildeo de informaccedilotildees jaacute que essa natildeo tem por finalidade o desenvolvimento intelectual mas ao contraacuterio deforma a capacidade de pensamento histoacuterico do aluno e a possibilidade de consolidar habilidades de anaacutelise da proacutepria realidade social (SILVA PORTO 2012 p 67)
Goubert assim define a histoacuteria local
Denominaremos histoacuteria local como aquela que diga respeito a uma ou poucas aldeias a uma cidade pequena ou meacutedia (um grande porto ou uma capital estatildeo aleacutem do acircmbito local) ou a uma aacuterea geograacutefica que natildeo seja maior do que a unidade provincial comum (como um county inglecircs um contado italiano uma Land alematilde uma bailiwick ou pays francecircs) Praticada haacute tempos atraacutes com cuidado zelo e ateacute orgulho a histoacuteria local foi mais tarde desprezada mdash principalmente nos seacuteculos XIX e primeira metade do XX mdash pelos partidaacuterios da histoacuteria geral A partir poreacutem da metade desse seacuteculo a histoacuteria local ressurgiu e adquiriu novo significado na verdade alguns chegam a afirmar que somente a histoacuteria local pode ser autecircntica e fundamentada (GOUBERT 1992 p 70)
Neste sentido fica evidente a importacircncia de se partir de uma histoacuteria local
para uma global Atraveacutes da histoacuteria local os estudantes teratildeo contato com sua
histoacuteria e poderatildeo se sentir parte integrante deste espaccedilo que muitas vezes por
falta de conhecimento acabam renegando sua proacutepria identidade Figueira e Miranda
(2012 p 113) afirmam que ldquoum dos efeitos mais danosos da globalizaccedilatildeo eacute a
universalizaccedilatildeo dos gostosrdquo isto implica diretamente na perda da identidade local
que muitas vezes estaacute sendo afetada pelas muacuteltiplas identidades existentes Neste
sentido Silva e Porto descrevem
A globalizaccedilatildeo entretanto produz diferentes resultados em termos de identidade A homogeneidade cultural promovida pelo mercado global pode levar ao distanciamento da identidade relativamente agrave comunidade e agrave cultura local (SILVA PORTO 2012 p 21)
Neste sentido Canclini acrescenta
Las comunidades de consumidores se organiza cada vez menos seguacuten diferencias nacionales y sobre todo en las generaciones joacutevenes definen sus praacutecticas culturales de acuerdo con informacioacuten y estilos homogeneizados (CANCLINI 1997 p 42)
20
Globalizaccedilatildeo que impotildee atraveacutes dos meios de comunicaccedilatildeo e social uma
identidade geral que regra a sociedade seus haacutebitos e costumes Devido ao grande
movimento das pessoas pelo mundo perceber e manter uma identidade com
caracteriacutesticas locais fica a cada dia mais difiacutecil ainda mais em se tratando da
populaccedilatildeo jovem que natildeo reconhece ao seu redor o que representa a sua
identidade local
Valorar as experiecircncias locais proporcionaraacute aos estudantes uma nova
metodologia de abordar a histoacuteria
Do ponto de vista metodoloacutegico destaca-se nessa forma de abordagem a preocupaccedilatildeo com os conhecimentos preacutevios dos alunos com a problematizaccedilatildeo dos conteuacutedos de ensino selecionados para trabalho em sala de aula estabelecendo relaccedilotildees com o cotidiano dos alunos e com o cotidiano de outras pessoas em outros tempos e em outros lugares Enfatiza-se tambeacutem a busca de articulaccedilatildeo entre histoacuteria local e a histoacuteria universal (SCHMIDT 2007 p 193)
O ensino de histoacuteria partindo do local para o global possibilita segundo
Bittencourt (2004 p 168) ldquoa compreensatildeo do entorno do alunordquo sendo que um dos
aspectos relevantes para este ensino eacute a escolha de fontes que levem os estudantes
a se reconhecerem nesse processo histoacuterico O autor ainda acresce
Eacute pela memoacuteria que se chega agrave histoacuteria local Aleacutem da memoacuteria das pessoas escrita ou recuperada pela oralidade existem os lsquolugares de memoacuteriarsquo (grifo da autora) expressos por monumentos praccedilas edifiacutecios puacuteblicos ou privados mas preservados como patrimocircnio histoacuterico (BITTENCOURT 2004 p 169)
Esta memoacuteria vai contribuir para legitimaccedilatildeo da identidade local Sabe-se que
a identidade eacute algo mutaacutevel e segundo Silva e Porto (2012 p 38) ldquoas identidades
satildeo produzidas em momentos particulares no tempordquo O pesquisador ainda
acrescenta que ldquoas identidades satildeo contingentes emergindo em momentos
histoacutericos particularesrdquo Estas identidades precisam ser reconhecidas quando se fala
de histoacuteria local
Na mesma linha Ruumlsen descreve a identidade histoacuterica
Consiste na ampliaccedilatildeo do horizonte nas experiecircncias do tempo e nas intenccedilotildees acerca do tempo no qual os sujeitos agentes se asseguram da permanecircncia de si mesmos na evoluccedilatildeo do tempo O ponto extremo dessa consolidaccedilatildeo de identidade eacute a lsquohumanidadersquo como suprassumo dos pontos comuns em sociedade com respeito a diversos sujeitos agentes no processo de determinaccedilatildeo de suas proacuteprias identidades determinam as dos outros de forma tal que estes se reconhecem nelas Esse criteacuterio de sentido lsquohumanidadersquo fornece o paracircmetro para se constatar a consolidaccedilatildeo da
21
identidade em que desembocam o progresso contiacutenuo do conhecimento mediante a pesquisa histoacuterica e a ampliaccedilatildeo contiacutenua das perspectivas mediante a reflexatildeo histoacuterica sobre referenciais (RUumlSEN 2001 p 126)
A histoacuteria local eacute constituiacuteda por diferentes identidades que satildeo geradas pelos
grupos que compotildeem este espaccedilo A este respeito Silva e Porto (2011 p 41)
apresentam que ldquoa diferenccedila eacute aquilo que separa uma identidade da outrardquo Tambeacutem
eacute notaacutevel que para que haja a representaccedilatildeo de suas identidades locais faz-se
necessaacuterio o reconhecimento destas e a percepccedilatildeo que existem diferentes fatores
que diferenciam os grupos sociais
Portanto a identidade eacute constituiacuteda pelas posiccedilotildees eou escolhas feitas
sendo que muitas vezes elas satildeo racionais ou ateacute mesmo irracionais A identidade
eacute baseada na memoacuteria que pode ser individual ou coletiva Segundo Candau (2011
p 16) ldquoos laccedilos fundamentais entre memoacuteria e identidade eacute sobre o fato de que eacute a
memoacuteria faculdade primeira que alimenta a identidaderdquo
Se a memoacuteria gera a identidade natildeo se pode pesquisar e escrever sobre
histoacuteria local sem levar em conta estes dois conceitos primordiais pois a histoacuteria
local soacute teraacute valia se escrita pelo vieacutes do todo ou seja natildeo priorize um grupo ou
classe social todos os quadros sociais devem estar representados dentro deste
processo Nessa linha Schmidt e Cainelli descrevem
O estudo da localidade ou da histoacuteria regional contribui para uma compreensatildeo muacuteltipla da Histoacuteria pelo menos em dois sentidos na possibilidade de se ver mais de um eixo histoacuterico na histoacuteria local e na possibilidade da anaacutelise de micro histoacuterias pertencentes a alguma outra histoacuteria que as englobe e ao mesmo tempo reconheccedila suas particularidades (SCHMIDT CAINELLI 2009 p 139)
Uma histoacuteria que faz sentido que esteja englobada a outra histoacuteria A
memoacuteria coletiva entra na construccedilatildeo desta histoacuteria local e eacute primordial pois esta vai
dar elementos que constroem a identidade deste local sendo que a memoacuteria do
passado influencia na representaccedilatildeo da identidade Neste sentido conforme
Figueira e Miranda (2012 p 47) eacute necessaacuterio compreender a memoacuteria ldquocomo a
capacidade de conservar e de preservar dados refere-se a um conjunto de funccedilotildees
cerebrais que nos permite reter informaccedilotildees adquiridas e impressotildees vividasrdquo
Podendo ser ela individual ou coletiva sendo que a memoacuteria individual existe a partir
de uma memoacuteria coletiva jaacute que as lembranccedilas que ajudam a reconstruir o passado
partem do interior de um grupo
22
Para as Ciecircncias Humanas o conceito de memoacuteria estaacute ligado agrave memoacuteria
social e coletiva definida por Le Goff (2003 p 422) como ldquoo estudo da memoacuteria
social eacute um dos elementos fundamentais de abordar os problemas do tempo e da
histoacuteriardquo O autor ainda acrescenta que ldquoa memoacuteria coletiva eacute natildeo somente uma
conquista eacute tambeacutem um instrumento e um objeto de poderrdquo (LE GOFF 2003 p
410) Neste sentido Halbwachs (2004 p 90) ressalta que ldquotoda memoacuteria coletiva
tem por suporte um grupo limitado no espaccedilo e no tempo e o mundo histoacuterico eacute
como um oceano onde afluem todas as histoacuterias parciaisrdquo
Quando se abordam conceitos de memoacuteria e identidade no ensino de
histoacuteria estaacute se trazendo para o estudo os sujeitos que compotildeem aquele local com
suas vivecircncias que podem ser coletivas ou natildeo A transmissatildeo de saberes entre as
geraccedilotildees forma a identidade coletiva sendo o ser humano um agente ativo no
quadro social da memoacuteria
Halbwachs assim define os quadros coletivos da memoacuteria
Os quadros coletivos da memoacuteria natildeo se resumem em datas nomes e foacutermulas que eles representam correntes de pensamento e de experiecircncia onde reencontramos nosso passado porque este foi atravessado por isso tudo (HALBWACHS 2004 p 71)
Nesta direccedilatildeo Le Goff (2003 p 4) acrescenta que ldquoa memoacuteria social eacute um
dos meios fundamentais para se abordar os problemas do tempo e da histoacuteria A
memoacuteria estaacute nos proacuteprios alicerces da histoacuteriardquo Catroga (2001) reforccedila que a
memoacuteria eacute moldada a partir das vivecircncias e na sua narrativa vai haver uma
coerecircncia que se mistura passado e presente
Quando se escreve sobre histoacuteria local eacute importante considerar que ela estaacute
pautada em documentos assim como em memoacuterias escritas visuais ou orais Neste
sentido eacute perceptiacutevel que o uso dos diferentes tipos de memoacuteria satildeo alicerces que
conduzem o trabalho do historiador para que ele possa interpretar suas fontes e
validar seu trabalho Memoacuterias estas que podem ser apresentadas com documentos
oficiais ou atraveacutes de uma cultura material ou imaterial
A escrita de histoacuterias locais vem como um novo modelo de resguardar
identidades e memoacuterias que se natildeo preservadas iratildeo desaparecer pela influecircncia
da globalizaccedilatildeo e falta de conhecimento de futuras geraccedilotildees Barros assim
descreve
23
Os novos tempos comeccedilavam a trazer um novo padratildeo historiograacutefico novas aberturas retornos e possibilidades e tambeacutem incertezas para os historiadores no que se refere agrave natureza do conhecimento que produzem e ao papel do conhecimento histoacuterico na sociedade [] Entre as novidades postula-se a possibilidade de examinar a histoacuteria de acordo com uma nova escala de observaccedilatildeo ndash atenta para o detalhe para as micro realidades para aquilo que habitualmente escapa ao olhar panoracircmico da macro histoacuteria tradicional ndash e eacute esta nova postura que se passou a chamar de micro histoacuteria (BARROS 2012 p 306)
Diante deste contexto o ensino de Histoacuteria pode buscar na histoacuteria local a
problematizaccedilatildeo necessaacuteria para que os estudantes da educaccedilatildeo baacutesica
reconheccedilam a identidade local que vem sofrendo com a uniformizaccedilatildeo da
sociedade que impotildee uma conjuntura global do local
24
3 SAtildeO FRANCISCO DE PAULA CONSTRUCcedilAtildeO DO MUNICIacutePIO
A apresentaccedilatildeo do municiacutepio Satildeo Francisco de Paula acontece atraveacutes do
uso da narrativa Esta se apresenta atraveacutes do diaacutelogo com obras jaacute produzidas por
memorialistas eou genealogistas que contribuem para a construccedilatildeo histoacuterica deste
local bem como se usa como fonte de enriquecimento documentos da Assembleia
Legislativa do Rio Grande do Sul e jornais locais
Para tanto se apresenta a revisatildeo historiograacutefica das obras escritas pelos
memorialistas eou genealogistas sendo que Lucena (1971) em sua obra ldquoSatildeo
Francisco de Paula Monografiardquo que abrange aspectos histoacutericos da formaccedilatildeo do
municiacutepio bem como pontos turiacutesticos e demograacuteficos O proacuteprio autor intitula a sua
obra como informativa a riqueza de detalhes eacute interessante poreacutem natildeo haacute nenhuma
referecircncia quanto aos dados escritos nem mesmo um referencial bibliograacutefico ao
final
No texto intitulado ldquoOs Fundadores de Satildeo Francisco de Paulardquo Alves (2007)
escreve sobre a fundaccedilatildeo de Satildeo Francisco de Paula Em seu livro haacute documentos
que validam o que se refere agrave genealogia jaacute que boa parte da obra apresenta os
troncos familiares que compunham o iniacutecio deste municiacutepio Na mesma linha da
genealogia Oliveira (1996) no livro ldquoAurorescer das Sesmarias Serranas histoacuteria e
genealogiardquo traz a histoacuteria das primeiras sesmarias da regiatildeo mas o foco principal
se daacute aos proprietaacuterios e seus descendentes Haacute um mapa bastante interessante
localizando as sesmarias e o nome por elas recebidos
Em ldquoSatildeo Francisco de Paula nossa terra nossa genterdquo Teixeira (2002)
apresenta dados gerais e histoacutericos do municiacutepio Esta obra apresenta dados
geograacuteficos como clima relevo e vegetaccedilatildeo A autora escreve sobre diversos
aspectos eventos personalidades e lendas Aleacutem disso apresenta Satildeo Francisco
de Paula com uma linha cronoloacutegica A obra abrange vaacuterios aspectos mas todos
suscintamente No final a autora apresenta a bibliografia consultada dentre os
autores estaacute Lucena (1971)
O texto ldquoSatildeo Francisco de Paula Rio Grande do Sul histoacuteria encantos e
misteacuteriosrdquo eacute uma obra de Fonseca (2012) que traz diversidade de assunto muitas
vezes estes estatildeo desconexos ou seja sua leitura se torna ldquotruncadardquo No final do
texto haacute um vasto referencial bibliograacutefico dentre os autores citam-se Lucena
(1971) e Teixeira (2002)
25
Ribeiro (2003) eacute compositor e poeta Em ldquoFestival do Ronco do Bugiordquo
escreve sobre Satildeo Francisco de Paula apresentando a histoacuteria dos quinze anos do
festival no municiacutepio No iniacutecio contextualiza a origem do festival e do ritmo bugio
Depois apresenta a capa do disco de cada festival especificando as muacutesicas e os
compositores vencedores
Todas essas obras satildeo importantes para Satildeo Francisco de Paula cada uma
traz consigo um pouco da histoacuteria deste municiacutepio poreacutem sente-se falta da
identidade e da memoacuteria na construccedilatildeo histoacuterica As obras satildeo apresentadas o
mesmo prisma apresentando os iacutendios Caaguaraacutes e o Capitatildeo Pedro da Silva
Chaves os fundadores desta terra dando bastante ecircnfase aos sobrenomes que ali
se desenvolveram
31 CONVERSA COM MEMORIALISTAS
As terras onde hoje fica Satildeo Francisco de Paula eram habitadas por iacutendios da
tribo Caaguaraacutes que faziam parte dos Coroados Estes viviam livremente nos
campos de cima da serra e seus domiacutenios estendiam-se entre a Serra Geral e a
Serra do Mar Os iacutendios Caaguaraacutes tinham como haacutebitos alimentares a caccedila a
pesca e a coleta de sementes e frutos dentre os frutos o pinhatildeo e a goiaba-do-
mato segundo Teixeira (2002) e Alves (2007) Estes iacutendios tiveram seu habitat
invadido por incursotildees de desbravadores que comeccedilaram a trafegar pela regiatildeo em
busca de mulas e novas terras visto que as terras onde hoje se encontra Satildeo
Francisco de Paula de Cima da Serra foram rota de tropeiros5 pois estes trafegavam
pelos Campos de Cima da Serra indo na direccedilatildeo de Lages-SC ateacute alcanccedilarem
Sorocaba-SP6 Ao passarem por esta regiatildeo foram se formando pequenos vilarejos
e construindo um jeito peculiar de viver
Neste cenaacuterio aparece o municiacutepio de Satildeo Francisco de Paula de Cima da
Serra que recebe este nome para se diferenciar de Satildeo Francisco de Paula
denominaccedilatildeo recebida ateacute meados de 1830 pelo municiacutepio de Pelotas Poreacutem na
metade do seacuteculo XVIII Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra possuiacutea
5 Tropeiros homens que conduziam suas tropascomitivas de muares ou cavalos entre as regiotildees 6 Sugere-se a leitura FLORES Moacyr Troperismo no Brasil Porto Alegre Nova Dimensatildeo 1998
SAVARIS Manoelito Tropas e tropeiros o Rio Grande toma forma Disponiacutevel em ltwwwrogeriobastoscombr201104trpas-e-tropeiros-o-rio-grande-tomahtmlgt Acesso em 12 mar 2016
26
proprietaacuterios de terras sendo que um dos pioneiros foi Pedro da Silva Chaves um
portuguecircs casado com Gertrudes de Godoy uma paulista Pedro da Silva Chaves
declara em 1742 ser possuidor de terras neste municiacutepio Segundo Oliveira (1996)
em seu testamento Pedro da Silva Chaves rege que possui trecircs fazendas na regiatildeo
uma chamada Satildeo Joatildeo que se localiza desde o Arroio Santa Cruz ateacute o Rio
Tainhas concedida em 1752 por sesmaria a Fazenda da Cria que foi comprada de
Francisco Pinto Bandeira e confirmada como sesmaria em 1754 e a Fazenda
denominada Cerrito comprada do Capitatildeo Antocircnio Gonccedilalves dos Reis Nestas
fazendas havia criaccedilatildeo de cavalos gado vacum mulas e burros As fazendas
tambeacutem apresentavam em torno de 77 escravos sendo que alguns satildeo casados o
que se faz pensar que estes constituiacuteam famiacutelia aumentando assim o nuacutemero de
escravos da regiatildeo No mapa da Figura 1 verifica-se a localizaccedilatildeo das fazendas do
capitatildeo Pedro da Silva Chaves bem como sua extensatildeo territorial
Figura 1 ndash Mapa de Identificaccedilatildeo das Sesmarias Serranas
Fonte Oliveira (1996 p 236)
27
No mapa apresentado na Figura 1 ainda eacute possiacutevel observar a localizaccedilatildeo
onde inicia o povoado de Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra segundo
Lucena (1971 p 1) ldquoiniciou-se com o Capitatildeo Pedro da Silva Chaves que doou
uma gleba de terra para que fosse iniciado o povoadordquo Tambeacutem segundo Lucena
(1971 p 1) ldquodoou cinquenta vacas para construir o primeiro patrimocircnio da Igreja
cuja construccedilatildeo foi iniciada por sua conta e lhe deu o nome de Satildeo Francisco por
este ser devoto do Santordquo O que demonstra que Pedro da Silva Chaves era
Catoacutelico
Neste periacuteodo compreendido como seacuteculo XIX segundo Teixeira (2002) e
Alves (2007) o atual municiacutepio de Satildeo Francisco de Paula pertencia ao municiacutepio de
Santo Antocircnio da Patrulha municiacutepio este que formava juntamente com Porto
Alegre Rio Pardo e Rio Grande a proviacutencia de Satildeo Pedro do Rio Grande do Sul
atual Rio Grande do Sul Eacute possiacutevel observar a grande extensatildeo territorial de cada
municiacutepio no mapa apresentado na Figura 2 segundo Silva (2000) Santo Antocircnio
da Patrulha anexava as freguesias de N Sra Conceiccedilatildeo do Arroio e N Sra da
Oliveira da Vacaria a capela de Satildeo Domingos das Torres e os povoados de Santa
Cristina do Pinhal e Cima da Serra
Analisando o mapa da Figura 2 eacute possiacutevel perceber que o municiacutepio de Santo
Antocircnio da Patrulha tinha um vasto e extenso territoacuterio que atualmente compreende
os municiacutepios de Vacaria Antocircnio Prado Nova Roma do Sul Lagoa Vermelha
Veranoacutepolis Nova Prata Nova Araccedilaacute Nova Bassano Paraiacute Guabiju Satildeo Jorge
Vista Alegre do Prata Protaacutesio Alves Cotiporatilde Fagundes Varela Vila Flores
Caseiros Birajaras Andre da Rocha Capatildeo Bonito do Sul Muitos Capotildees Bom
Jesus Satildeo Joseacute dos Ausentes Esmeralda Ipecirc Campestre da Serra Monte Alegre
dos Campos Taquara Satildeo Francisco de Paula Cambaraacute do Sul e Jaquirana
28
Figura 2 ndash Divisatildeo Municipal em 1809 ndash Proviacutencia Satildeo Pedro do Rio Grande do Sul
Fonte Evoluccedilatildeo Administrativa (2013)7
32 AMPLIANDO O DIAacuteLOGO COM OS MEMORIALISTAS
Segundo documentos da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul8
disponiacuteveis no Arquivo Histoacuterico de Satildeo Francisco de Paula9 em 1852 atraveacutes da
Lei nordm 266 de 30 de novembro de 1852 eleva-se agrave categoria de freguesia a entatildeo
capela Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra pelo entatildeo vice-governador da
proviacutencia de Satildeo Pedro do Rio Grande do Sul o senhor Luiz Alves Leite de Oliveira
Bello Estes documentos ainda retratam que no ano de 1886 houve distribuiccedilatildeo de
lotes devolutos para pessoas pobres que comprovassem residecircncia haacute pelo menos
trecircs anos e se comprometessem a ldquofundar moradiardquo em um prazo de um ano sendo
assim passados trecircs anos seriam donos definitivos destes lotes dando o iniacutecio ao
povoamento da vila No mesmo periacuteodo acontece a criaccedilatildeo do cemiteacuterio municipal
7 Disponiacutevel em ltwwwatlassocioeconomicorsgovbrevolucao-administrativa-1809-a-2013gt Acesso
em 18 mar 2017 8 O diaacutelogo com memorialista se amplia a partir de agora com contribuiccedilotildees de documentos
pesquisados que corroboram para a compreensatildeo do tema 9 BARBOSA Eni GONCcedilALVES Jorge Joseacute Xavier (Orgs) Documentos histoacutericos da Assembleia
Legislativa do Rio Grande do Sul Arquivo Histoacuterico de Satildeo Francisco de Paula 1992
29
que ocorre em 1891 segundo documentos da Assembleia Legislativa disponiacuteveis
no Arquivo Histoacuterico de Satildeo Francisco de Paula Estes documentos informam que
primeiramente somente moradores que comprovassem residecircncia haacute mais de trecircs
anos e pudessem manter os jazigos de seus entes poderiam fazer uso deste
espaccedilo Atraveacutes desta documentaccedilatildeo se percebe que havia toda uma organizaccedilatildeo
para que ldquoestrangeirosrdquo natildeo se estabelecessem em Satildeo Francisco de Paula de Cima
da Serra
Em 1889 Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra passa a categoria de vila
e deixa de pertencer a Santo Antocircnio da Patrulha passando a ser distrito do
municiacutepio de Taquara do Mundo Novo (hoje Taquara) o que traz mudanccedilas
significativas para a vila
Mesmo havendo distribuiccedilatildeo de lotes apoacutes quinze anos percebe-se na
Figura 3 que o povoado ainda era pequeno cercado de campos que constituiacuteam
fazendas com criaccedilatildeo de gado vacum tendo como principal economia a pecuaacuteria
extensiva Ao alto pode-se visualizar a Igreja Matriz construiacuteda pelo capitatildeo Pedro
da Silva Chaves
Figura 3 ndash Vista da vila de Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra (1901)
Fonte Portal Satildeo Chico (2018)10
10 PORTAL SAtildeO CHICO Fotos antigas de Satildeo Francisco de Paula 2018 Disponiacutevel em
ltwwwsaochicocombrantigasgt Acesso em 12 abr 2019
30
Ainda eacute possiacutevel observar atraveacutes da Figura 3 que neste periacuteodo natildeo havia
nenhuma preocupaccedilatildeo com a organizaccedilatildeo urbana ou seja ruas quadras as
construccedilotildees se apresentam de maneira desordenada Poreacutem passados vinte e dois
anos na Figura 4 jaacute eacute possiacutevel visualizar uma estrutura urbanizada com possiacutevel
organizaccedilatildeo de ruas e quadras mas a vila ainda eacute rodeada de campos
Figura 4 ndash Vista Avenida Juacutelio de Castilhos (1923)
Fonte Lucena (1971 p 67)
O desenvolvimento da Sede de Satildeo Francisco de Paula acontece segundo
Lucena (1971 p 27) ldquonos primeiros anos de vida isto eacute de 1910 a 1924 mais ou
menos devido agrave extraccedilatildeo da erva-mate que era abundante em nossos matos nas
zonas da serrardquo O autor ainda acrescenta
O pioneiro na extraccedilatildeo da erva-mate em nossa Comuna foi o proprietaacuterio Carlos Miguel Kroeff dono da fazenda Potreirinho praticamente arrabalde de nossa cidade No barba-quaacute11 se iniciava todo processo de industrializaccedilatildeo da erva-mate sendo que Satildeo Francisco de Paula chegou a ter quinhentos barbaacute-quas (LUCENA 1971 p 28)
11 Barba-quaacute um valo de cerca de oito metros de comprimento amis ou menos por um metro de
profundidade e oitenta centiacutemetros de largura coberto de xaxim e terra em uma das extremidades colocava-se um gradeado e acima deste em uma parte tambeacutem coberta e mais alta tinha apenas uma saiacuteda sob o gradeado colocava-se as folhas de erva extraiacuteda da aacutervore no iniacutecio do valo fazia-se um fogo e a fumaccedila que pela pouca ventilaccedilatildeo existente formava bastante fumaccedila e esta atingia as folhas secando-as (LUCENA 1971 p 28)
31
A produccedilatildeo de erva-mate contribuiu para o povoamento da vila visto que
muitas pessoas vieram trabalhar e acabaram se instalando no municiacutepio Apoacutes a
extraccedilatildeo da erva-mate surge a extraccedilatildeo de madeira que tambeacutem contribui para o
desenvolvimento
Nesta documentaccedilatildeo ainda se encontra no artigo nordm 251 de 08 de abril de
1891 a liberaccedilatildeo da verba para abrir a estrada de rodagem que liga as vilas de
Taquara do Mundo Novo e Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra em 1889
Atraveacutes da Figura 5 pode-se perceber o quatildeo difiacutecil era abrir uma nova estrada de
rodagem Tudo era manual com o uso de animais e muares para transportar pedras
e terras poreacutem a abertura desta estrada traz mudanccedilas significativas para a
populaccedilatildeo de Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra
Figura 5 ndash Abertura da estrada ERS-020 Taquara ndash Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra
Fonte Jornal Folha da Serra (1968 n 89 p 8)12
12 Folha da Serra jornal criado em 1932 pelo Dr Siacutelvio Rabelo sendo o uacutenico jornal que existia na
regiatildeo serrana Este trazia notiacutecias sociais poliacuteticas etc com uma tiragem em torno de 500 exemplares por semana Encontram-se no Arquivo Histoacuterico de Satildeo Francisco de Paula alguns exemplares ateacute a deacutecada de 70 seacuteculo XX
32
A estrada visava facilitar o acesso da populaccedilatildeo de Satildeo Francisco de Paula
de Cima da Serra que ia ateacute Taquara para buscar gecircneros de primeira necessidade
Em tempos idos os serranos se abasteciam de gecircneros de primeira necessidade quase que totalmente em Taquara e o transporte era feito em cargueiros que compunham uma tropa com cerca de quinze a vinte cargueiros Os animais usados para esse transporte eram geralmente muares mais resistentes para o transporte de carga Os serranos levavam daqui queijo (o queijo ateacute hoje chamado queijo serrano) charque couros e alguns levavam maccedilatilde ou pinhatildeo em suas eacutepocas de colheita trocados por mantimentos de que necessitavam Natildeo existiam ainda estradas e o trajeto era feito por picadas existentes (LUCENA 1971 p 23)
O mesmo autor ainda acrescenta
Para atingir a capital do Estado a viagem era cheia de peripeacutecias O transporte era feito a cavalo ou em diligecircncias ateacute Taquara As diligecircncias carros de quatro de rodas puxados por quatro animais ndash cavalos ndash eram de propriedade de Bertolo Casara mais conhecido por lsquoJoatildeo Gringorsquo Essa viagem se fazia normalmente em um dia e agraves vezes em dia e meio O ponto de parada era ali no Rodeio Bonito onde existia uma casa agrave esquerda bem defronte a estrada que desce para Trecircs Coroas [] De Taquara a Porto Alegre por via ferroviaacuteria ndash de trem (LUCENA 1971 p 16)
A construccedilatildeo desta estrada traz um novo desenvolvimento para a entatildeo vila
de Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra pois apoacutes a abertura da estrada de
rodagem Taquara ndash Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra modifica o transporte
de mercadorias entre as localidades
O transporte de mercadorias era feito em carretotildees de quatro rodas puxados uns por cinco animais outros por sete as maiores que geralmente eram muares Eram atrelados em duas fileiras Na fileira junto agrave carreta que era de duas ou trecircs mulas na da esquerda montava o carreteiro Este toda vez que se verificava um declive na estrada apeava de sua montaria a fim de brecar a carreta sem que esta entretanto parasse (LUCENA 1971 p 24)
Este modelo de comeacutercio vai desaparecer com o surgimento das primeiras
casas de comeacutercios na vila de Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra De acordo
com Lucena (1971 p 38) ldquoos primeiros comerciantes foram Manoel Vicente
Ferreira Abel Pacheco Luis Carlos de Andrade e Jacob Bossle Sobrinhordquo Na
imagem da Figura 6 temos o Accedilougue Central onde nota-se que os animais
convivem soltos na rua juntamente com as pessoas mesmo se tratando de local
urbano
33
Figura 6 ndash Accedilougue Central
Fonte Portal Satildeo Chico (2018)13
Nesta mesma documentaccedilatildeo haacute decretos que definem a construccedilatildeo de uma
nova Igreja Matriz isto eacute uma Igreja de Pedra substituindo a antiga que era de
madeira ainda construiacuteda pelo capitatildeo Pedro da Silva Chaves esta construccedilatildeo data
do ano de 1922 Segundo Teixeira (2002 p 30) a Igreja de Pedra permanece ateacute
1960 quando daacute lugar ao atual preacutedio da Igreja Matriz que foi inaugurada em 14 de
junho de 1964 Na sequecircncia teremos duas imagens demonstrando a Igreja de
Pedra e a atual edificaccedilatildeo da Igreja Matriz Natildeo foi encontrada nenhuma foto da
Igreja de Madeira nos arquivos do Arquivo Histoacuterico do Municiacutepio somente em um
site de fotos antigas onde encontra-se registro apresentado na Figura 7
13 PORTAL SAtildeO CHICO Fotos antigas de Satildeo Francisco de Paula 2018 Disponiacutevel em
ltwwwsaochicocombrantigasgt Acesso em 12 abr 2019
34
Figura 7 ndash Igreja Matriz em 1931
Fonte Portal Satildeo Chico (2018)14
Figura 8 ndash Igreja Matriz
Fonte acervo da autora (2015)
14 PORTAL SAtildeO CHICO Fotos antigas de Satildeo Francisco de Paula 2018 Disponiacutevel em
ltwwwsaochicocombrantigasgt Acesso em 12 abr 2019
35
Entre os anos de 1892 a 1902 por duas vezes Satildeo Francisco de Paula de
Cima da Serra eacute desanexado e reanexado ao entatildeo municiacutepio de Taquara do Mundo
Novo Somente em 23 de dezembro de 1902 foi reestabelecido definitivamente o
municiacutepio de Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra cuja instalaccedilatildeo se verificou
em 07 de janeiro de 1903 A partir de 01 de janeiro de 1938 perde ldquoCima da Serrardquo
de sua nomenclatura permanecendo somente Satildeo Francisco de Paula Apesar
disso se manteacutem o gentiliacutecio ldquoSerranordquo de acordo com Silva (2000 p 23) e dados
do Arquivo Histoacuterico de Satildeo Francisco de Paula sendo que este gentiliacutecio eacute usado
ateacute os dias de hoje
No iniacutecio o municiacutepio de Satildeo Francisco de Paula foi um dos maiores do Rio
Grande do Sul em territoacuterio mas ao longo do tempo foi diminuindo seu territoacuterio
com a anexaccedilatildeo de parte dele ao entatildeo municiacutepio de Caxias do Sul e de Torres e a
criaccedilatildeo dos municiacutepios de Cambaraacute do Sul em 1963 e Jaquirana em 1988
Foi uma das maiores Comunas do Estado pois de seu territoacuterio faziam parte os atuais municiacutepios de Satildeo Marcos Cambaraacute do Sul e Jaquirana e os distritos de Vila Oliva Criuacuteva Fazenda Souza e Vila Seca hoje integrantes de Caxias do Sul De nosso territoacuterio foi tambeacutem desanexada uma gleba de terra ndash Josafaacute ndash e anexada ao municiacutepio de Torres (LUCENA 1971 p 10)
Mesmo perdendo parte de seu territoacuterio ao longo dos anos atualmente
segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (2016) ldquoSatildeo Chicordquo como
costumeiramente eacute chamado pelo seu povo estaacute situado na Encosta Inferior do
Nordeste do Estado do Rio Grande do Sul na zona denominada de Campos de
Cima da Serra Fica distante 112 quilocircmetros da capital do Estado Porto Alegre Os
municiacutepios limiacutetrofes satildeo Monte Alegre dos Campos Bom Jesus Jaquirana
Cambaraacute do Sul Praia Grande-SC Trecircs Forquilhas Itati Maquineacute Riozinho
Rolante Taquara Trecircs Coroas Canela e Caxias do Sul Possui uma aacuterea territorial
de 3264490 quilocircmetros quadrados com uma estimativa populacional de 21617
habitantes distribuiacutedos na zona urbana e rural O municiacutepio se divide em sete
distritos Sede Cazuza Ferreira Tainhas Juaacute Eletra e Lajeado Grande Atraveacutes do
conjunto de mapas apresentado na Figura 9 eacute possiacutevel visualizar a localizaccedilatildeo de
Satildeo Francisco de Paula dentro do Rio Grande do Sul e por conseguinte no Brasil
Tambeacutem se verifica a localizaccedilatildeo dos distritos de Satildeo Francisco de Paula
36
Figura 9 ndash Mapa de localizaccedilatildeo de Satildeo Francisco de Paula
Subdivisatildeo de Satildeo Francisco de Paula em distritos
Fonte montagem da autora (2019)
Desta forma se constitui o espaccedilo fiacutesico do municiacutepio de Satildeo Francisco de
Paula cuja populaccedilatildeo natildeo forma uma colocircnia pois seu povo adveacutem de diferentes
lugares a grande maioria com descendecircncia lusa sendo que os primeiros
colonizadores foram bandeirantes paulistas
A populaccedilatildeo de Satildeo Francisco de Paula eacute composta de brancos africanos e indiacutegenas Os brancos compreendendo portugueses (principalmente
37
accedilorianos) alematildees e italianos os africanos pertenciam ao grupo dos bantos e foram trazidos pelos portugueses (TEIXEIRA 2002 p 147)
A diversidade de pessoas que se estabeleceram em Satildeo Francisco de Paula
pode ser percebida pelos sobrenomes das famiacutelias precursoras do municiacutepio
Para Satildeo Francisco de Paula afluiacuteram famiacutelias de diversas nacionalidades que atraveacutes de seus descendentes ainda hoje aqui satildeo representadas como Famiacutelias Ferreira Soares Pinto Castilhos Asmuz Santos Martins Lopes Comin Feijoacute Silva Canani Peixoto Andrade Teixeira Valin Lucena Alves Cardoso Gomes Borges Marques Tedesco Medeiros Paglioacuteli Costa Fogaccedila Casara em outras (LUCENA 1971 p 11-12)
Os moradores deste municiacutepio introduziram um jeito singular de viver tendo
em seu cotidiano as tradiccedilotildees gauacutechas15 muito presentes Teixeira (2002 p 83)
assim descreve que ldquoas raiacutezes gauacutechas estatildeo fortemente marcadas na comunidade
seja pelo modo de vestir bombacha botas cinturotildees chapeacuteus e no inverno com o
pala ou pela preferecircncia por comidas campeiras churrasco carreteiro feijatildeo
mexidordquo A autora acrescenta que ldquoas casas com lareira e o tradicional fogatildeo agrave
lenha para aquececirc-las durante o inverno rigoroso satildeo um convite para uma
conversa ao peacute do fogo e o saboreio de um gostoso chimarratildeordquo (TEIXEIRA 2002 p
83)
O enraizamento deste modo de vida adveacutem do homem do campo o
pecuarista que no passado necessitava enviar seus filhos a cidade para estudar
contribuindo para este modelo de vida
Antigamente a pecuaacuteria era a atividade econocircmica muito forte em nosso municiacutepio Assim sendo havia muitos fazendeiros E como as fazendas ficavam muito longe da Sede do municiacutepio as senhoras tinham seus filhos em casa com parteiras Tambeacutem os estudos iniciavam nas fazendas porque as escolas ficavam longe Assim muitas vezes os fazendeiros contratavam professoras para se hospedarem nas suas casas e darem aulas aos seus filhos Em muitos casos ateacute mesmo os proacuteprios pais e avoacutes ensinavam alguma coisa Alguns fazendeiros quando seus filhos ficavam maiores os mandavam continuarem seus estudos na vila (assim lsquoSatildeo Chicorsquo era chamada) (TEIXEIRA 2002 p 77)
Com a vinda dos filhos para a vila trouxeram consigo o jeito do homem do
campo sendo que um dos maiores clubes em funcionamento de Satildeo Francisco de
Paula eacute o atual Centro de Tradiccedilotildees Gauacutechas Rodeio Serrano fundado em maio de
15 Tradiccedilotildees gauacutechas segundo Fagundes (1997 p 38) eacute um movimento ciacutevico-cultural [] eacute a
tradiccedilatildeo em marcha resgatando valores que satildeo vaacutelidos natildeo por serem antigos mas por serem eternos exatamente os valores que trouxeram o Rio Grande e o gauacutecho do passado para o presente projetando-se para o futuro
38
1955 Segundo o Jornal Folha da Serra (1968 n 11 p 12) a entidade
tradicionalista receacutem-formada recebe o nome de CTG Coronel Alziro Torres Filho
Fonseca (2012 p 223) menciona que a iniciativa partiu de ldquoDavenir Peixoto Gomes
um homem ruralista e serranordquo Esta entidade tradicionalista teve como primeiro
Patratildeo Oscar Teixeira O CTG Alziro Torres Filho segundo o jornal Folha da Serra
(1957) muda sua nomenclatura em uma reuniatildeo onde o posteiro da invernada
artiacutestica Alaor Valim propotildee a troca do nome para Rodeio Serrano nome que
permanece ateacute a atualidade
A entidade tradicionalista traz como lema ldquoRepontando a Tradiccedilatildeo com o Rio
Grande na Garupardquo Fonseca (2012 p 224) relata que o lema foi ldquocriado pelo
primeiro instrutor de danccedilas Dr Alaor de Almeida Valimrdquo O mesmo autor acrescenta
que ldquoa primeira prenda foi a professora Maria Asmuz Valimrdquo Poreacutem sua sede
somente foi construiacuteda em 1968 sob a patronagem de Dante Santos O Jornal Folha
da Serra (1968 n 11 p 12) indica que ldquoa construccedilatildeo da sede era uma aspiraccedilatildeo de
longos anos que somente agora se concretizardquo Anteriormente ldquoos bailes eram
realizados em sua maioria no Salatildeo Paroquial sendo que alguns foram feitos no
primeiro andar da Associaccedilatildeo Rural e ateacute mesmo na Sociedade Cruzeirordquo
(FONSECA 2012 p 225) Este fato justifica a vontade de Dante Santos de construir
uma sede proacutepria
Apoacutes a construccedilatildeo de sua nova sede o CTG Rodeio Serrano localiza-se na
Rua Benjamim Constant nordm 582 constituindo um espaccedilo importante para a
comunidade de Satildeo Francisco de Paula Dentre as atividades desenvolvidas pelo
CTG estaacute o Rodeio Interestadual que ocorre todos os anos no primeiro final de
semana de dezembro sendo que se encontra na 33ordf ediccedilatildeo A manutenccedilatildeo das
invernadas artiacutesticas em todas as categorias mascote mirim juvenil e adulta A
organizaccedilatildeo da Ronda Crioula na Semana Farroupilha bem como a Cavalgada de
Prendas que ocorre durante a Semana Farroupilha todos os anos Realiza-se o
baile da Prenda Jovem aleacutem de shows e bailes tipicamente gauchescos Aleacutem
disso nos uacuteltimos anos a organizaccedilatildeo do Festival Ronco do Bugio que ocorre em
Satildeo Francisco de Paula ldquofestival este lanccedilado em 16 de abril 1986rdquo segundo o
Jornal Satildeo Chico Tchecirc (1986 n 4 p 5)16
16 Satildeo Chico Tchecirc jornal de circulaccedilatildeo quinzenal fundado em 08 de janeiro de 1986 e que circulou
ateacute 1989 O jornal trazia informaccedilotildees culturais sociais econocircmicas e poliacuteticas da Sede e do
39
Durante os seus sessenta e dois anos de existecircncia muitos patrotildees
passaram por esta entidade tradicionalista mas em 2017 pela primeira vez na
histoacuteria o CTG Rodeio Serrano teve uma patronagem feminina Aleacutem da Patroa
Neuza Reis foram empossadas a Capataz Elenita Amaral a Sota-capataz Fernanda
Kirsch Damasceno o Agregado das Pilchas Antocircnio Garcia de Souza e no
Conselho de Vaqueanos Neiva Santos Valim
Figura 10 ndash Patroa Neuza Reis e sua Comissatildeo
Fonte Jornal Pioneiro (2017)17
Satildeo Francisco de Paula hoje conta com vinte e oito entidades
tradicionalistas18 espalhadas pelos seus distritos demonstrando que homem do
campo se faz muito presente em todo o municiacutepio sendo assim a cultura
interior Os exemplares encontram-se encadernados no arquivo histoacuterico de Satildeo Francisco de Paula
17 Jornal Pioneiro conhecido como o jornal que estaacute ldquoao teu ladordquo o Pioneiro circula desde 1948 e estaacute presente hoje em 64 municiacutepios da regiatildeo de Caxias do Sul Desde 1993 integra a rede de jornais do Grupo RBS sendo filiado ao Instituto Verificador de Circulaccedilatildeo (IVC) Conta com uma equipe de Redaccedilatildeo com mais de 40 jornalistas aleacutem de colunistas internos e externos Em 2008 o jornal ganhou o site pioneirocom Disponiacutevel em lthttpwwwgruporbscombratuacaopioneirogt acesso em 10 de fevereiro de 2019
18 Informaccedilatildeo cedida pelo Coordenador da 27ordf Regiatildeo Tradicionalista Gauacutecha
40
tradicionalista se apresenta de maneira forte e consistente segundo vaacuterios
depoimentos de moradores de todos os distritos de Satildeo Francisco de Paula
41
4 SAtildeO FRANCISCO DE PAULA DISTRITOS EM FOCO
Quanto aos distritos de Satildeo Francisco de Paula surgem diversas
inquietaccedilotildees com relaccedilatildeo agrave identidade destes locais pois estes mesmo fazendo
parte de um mesmo municiacutepio apresentam singularidades que derivam de sua
colonizaccedilatildeo basicamente lusa portuguesa e da recepccedilatildeo de imigrantes de diversas
etnias como italianos e alematildees ao longo destes cento quinze anos de
emancipaccedilatildeo Percebe-se que alguns distritos manteacutem sua identidade e tradiccedilotildees
resguardadas enquanto em outros jaacute ocorreu agrave miscigenaccedilatildeo de diferentes haacutebitos
e culturas o que dificulta identificar traccedilos que identifiquem estes distritos
Neste capiacutetulo busca-se responder a estas inquietaccedilotildees fazendo uso dos
depoimentos de moradores locais Segundo Delgado (2003 p 21) ldquoessas
narrativas tal qual os lugares da memoacuteria satildeo instrumentos importantes de
preservaccedilatildeo e transmissatildeo das heranccedilas identitaacuterias e das tradiccedilotildeesrdquo Neste sentido
se optou por dois moradores por distrito totalizando treze entrevistados um homem
e uma mulher da terceira idade que sempre morou no distrito o que enriquece os
detalhes repassados pelos entrevistados
Toda entrevista tem por base a memoacuteria individual que se referencia na coletiva profundamente relacionada agraves vivecircncias individuais A utilizaccedilatildeo do depoimento de pessoas idosas como fonte para a histoacuteria oral eacute uma forma de justificar a entrevista como histoacuterica referindo-se ao passado jaacute que aos idosos se pretende atribuir a guarda de memoacuterias do passado pelo proacuteprio tempo de vida do depoente Isto retoma e ajuda a fortalecer a ideia de que a histoacuteria mesmo tratando do tempo presente ainda se reporta a um periacuteodo anterior ao da vida do pesquisador (ALMEIDA 2012 p 10)
A entrevista somente ocorreu quando o entrevistado concordou em assinar o
termo de consentimento As entrevistas ocorreram nas residecircncias dos
entrevistados foram preacute-agendadas sendo que o meacutetodo utilizado foi entrevista
guiada atraveacutes de questionaacuterio previamente organizado pela autora as entrevistas
foram filmadas e gravadas onde somente uma entrevistada natildeo autorizou a
filmagem de seus relatos justificando a idade avanccedilada e por morar sozinha
A escolha pela histoacuteria oral hibrida ocorreu no sentido de que a fonte oral eacute o
principal recurso utilizado para colher informaccedilotildees sobre os distritos visto que em
sua grande maioria natildeo haacute publicaccedilotildees Poreacutem em determinados momentos se
utilizam fontes documentais como complemento do que vem sendo apresentado
Com relaccedilatildeo agrave abordagem adotada nas entrevistas se optou pela temaacutetica visto
42
que se leva um roteiro preacute-organizado com temas que deveratildeo ser explorados
durante as entrevistas o que proporciona uma riqueza de informaccedilotildees para a
autora
41 DISTRITO SEDE
O distrito Sede se constitui no local onde se inicia o povoado do municiacutepio na
antiga Fazenda da Cria terras doadas pelo capitatildeo Pedro da Silva Chaves Neste
distrito concentram-se os serviccedilos puacuteblicos e privados que os moradores
necessitam em seu dia-a-dia visto que ali existem bancos casas loteacutericas
farmaacutecias hospital supermercados lojas papelarias livraria inspetoria veterinaacuteria
secretaacuterias municipais escolas puacuteblicas e privadas creches induacutestrias de madeiras
e calccedilados
Poreacutem o distrito Sede ou cidade de Satildeo Chico como popularmente
conhecida pelo seu povo jaacute foi uma cidade de interior ou seja uma cidade pequena
com moradores que vinham das fazendas em busca de estudo Visto que a
implementaccedilatildeo de uma rede regular de ensino ocorre tardiamente devido agrave
dificuldade de se locomover pelas distantes localidades entatildeo normalmente os
fazendeiros contratavam professores para que seus filhos obtivessem estudo sendo
que estes moravam na proacutepria residecircncia da famiacutelia Em entrevista com essa autora
relata Albuquerque19 que ldquopara aprimorar os estudos aqueles que tinham mais
condiccedilotildees iam para Porto Alegre Santa Maria ou Passo Fundo mas para isto
ficavam laacute em internatos e soacute retornavam nas feacuterias devido agrave dificuldade e o custo
da viagemrdquo
Na deacutecada de 40 foi criada a Escola Catoacutelica de Satildeo Francisco de Paula
cujo funcionamento acontece ateacute 1973 quando foram encerradas suas atividades
Esta escola iniciou com o curso primaacuterio e posteriormente instalou o curso ginasial
Normalmente estes moradores permaneciam de segunda-feira a sexta-feira na
cidade e nos finais de semana retornavam para as fazendas como recorda uma
moradora local
Noacutes eacuteramos uma cidade de fazendeiros a gente tinha uma casa no campo e uma na cidade a gente vivia de laacute pra caacute de caacute pra laacute fim de semana ia
19 ALBUQUERQUE Moacir Castello Branco de Entrevista concedida agrave autora no dia 06 de abril de
2018
43
pra fora20 dia de semana vinha pra caacute normalmente uma irmatilde mais velha voacute ficava com a gente aqui na cidade e a famiacutelia mesmo ficava no campo21
Percebe-se que hoje ainda existem na Sede moradores que manteacutem suas
casas na cidade e durante o dia ou nos finais de semana vatildeo ateacute suas fazendas
para fazer as lides com o gado o que caracteriza uma pequena parte da populaccedilatildeo
que foram os filhos dos antigos fazendeiros que mais tarde acabam se instalando
definitivamente na cidade trazendo com sigo a essecircncia do homem do campo e
afirmando uma identidade genuinamente gauacutecha definiccedilatildeo esta concedida por uma
moradora local
Gauacutecho natildeo eacute o morador do Rio Grande do Sul o morador do Rio Grande do Sul eacute o sul-rio-grandense ou rio-grandense do sul o gauacutecho eacute apenas o homem que vem da pecuaacuteria extensiva essa que existe laacute no pampa e aqui nos campos de cima da serra o gauacutecho serrano com caracteriacutesticas muito proacuteprias grandes gaiteiros poetas aliaacutes o maior gaiteiro do mundo eacute daqui natildeo abro matildeo de dizer isto soacute que todos noacutes viacutenhamos da lida do campo em decorrecircncia disso eacuteramos gauacutechos de verdade22
Em sua fala apresenta o gauacutecho serrano como um tipo singular que ama a
pilcha gauacutecha o seu pingo e suas criaccedilotildees bem como reafirma a importacircncia dos
Irmatildeos Bertussi Honeide e Adelar sendo Adelar Bertussi um dos maiores gaiteiros
deste municiacutepio Exaltam-se tambeacutem os poetas que com suas poesias e letras de
muacutesicas escrevem o jeito do seu povo viver
Mesmo a cidade sendo ldquolocal de paradardquo durante a semana para a maioria
de seus habitantes no passado era cheia de atrativos que o campo natildeo possuiacutea
como o cinema cuja instalaccedilatildeo natildeo se encontra documentada mas sabe-se que
iniciou onde hoje eacute o preacutedio da Prefeitura Municipal sendo proprietaacuterio Francisco
Ferraz (Chico Ferraz como era conhecido) Observa-se em alguns exemplares do
Jornal Folha da Serra23 os filmes e os horaacuterios do funcionamento do cinema
Entende-se que o jornal era uma maneira de divulgar os filmes por ser o uacutenico meio
de comunicaccedilatildeo da eacutepoca Pelos folhetins se percebe que as sessotildees
apresentavam diversos gecircneros natildeo se sabe quando o cinema finalmente fechou
20 Fora refere-se ir para a fazenda 21 SOARES Luciana Olga Entrevista concedida agrave autora no dia 01 de marccedilo de 2018 22 SOARES Luciana Olga Entrevista concedida agrave autora no dia 01 de marccedilo de 2018 23 Folha da Serra jornal local criado em 1932 pelo Dr Siacutelvio Rabelo passando posteriormente a
propriedade da Prefeitura Municipal Sua impressatildeo era na ordem de 500 exemplares natildeo se tem a informaccedilatildeo do periacuteodo que parou de circular mas pelos exemplares encontrados no Arquivo Histoacuterico de Satildeo Francisco de Paula os uacuteltimos datam de 1978 O Arquivo Histoacuterico de Satildeo Francisco de Paula fica em um preacutedio anexo agrave Biblioteca Puacuteblica do municiacutepio
44
poreacutem o jornal Folha da Serra traz uma reportagem que retrata como estava difiacutecil
manter o cinema em funcionamento em meados de 1968 ldquoo nosso cinema na
maneira que vai indo natildeo tem mais condiccedilotildees de funcionar natildeo temos apoio da
populaccedilatildeo com uma frequecircncia de mais ou menos 150 pessoas por final de
semanardquo O jornal acrescenta ldquosalienta-se que mais ou menos de 3 de nossa
CULTA populaccedilatildeo natildeo frequenta o cinemardquo Pode-se associar o fechamento do
cinema a dois fatores a natildeo cultura de assistir filmes e pelas sessotildees ocorrerem nos
finais de semana onde boa parte da populaccedilatildeo da cidade se deslocava para as
fazendas ou pela crise que os cinemas passaram na deacutecada de 80 quando em
muitas cidades foram fechados
A vida da populaccedilatildeo local vai se modificando cada vez mais as pessoas vatildeo
se instalando definitivamente na Sede onde se perde o viacutenculo com o campo
Devido agrave venda ou arrendamento das fazendas24 que por render pouco a pecuaacuteria
extensiva e com a criaccedilatildeo de novas legislaccedilotildees que proiacutebem praacuteticas centenaacuterias
seus proprietaacuterios buscaram novas possibilidades econocircmicas que modificaram a
Sede e tambeacutem boa parte do interior Em entrevista a moradora Soares relata
Exatamente porque a produccedilatildeo era pequena isso natildeo serve para o mundo de hoje a uns quarenta anos chega em nossos campos as primeiras plantaccedilotildees de pinus interessante que ningueacutem reclamou da destruiccedilatildeo desse campo de milhotildees de anos e de todo o ecossistema mas mesmo com essa nova cultura continuamos realizando a sapeca do campo no mecircs de agosto mas de repente chega a notiacutecia que estaacute proibida a queima do campo dizendo que noacutes estragaacutevamos a terra poluiacuteamos o ar que mataacutevamos animais e tudo aquilo natildeo era verdade Na verdade alguns anos depois da lei proibindo a queima do campo chegam as multas gigantescas agraves vezes maior que o valor da terra e aiacute inviabilizou a pecuaacuteria e muitos fazendeiros venderam suas terras e foram embora Quem ficou no campo na busca por renda a qualquer preccedilo arrenda seus campos para os batateiros que vieram acredito que a grande maioria de Santa Catarina e do Paranaacute estes lavram o campo nunca mais o campo nem com reza braba taacute tudo perdido para sempre e isso reflete na nossa cidade25
Essas mudanccedilas no campo refletem na Sede onde o homem serrano convive
passivamente com novas identidades que embora sejam presentes eacute minoria pois
esta parcela de novos moradores traz consigo um novo jeito de viver que ainda natildeo
se percebe influenciar na identidade cultural da Sede
24 Propriedades rurais cuja atividade principal eacute a praacutetica da pecuaacuteria extensiva e a produccedilatildeo do
queijo artesanal serrano 25 SOARES Luciana Olga Entrevista concedida agrave autora no dia 01 de marccedilo de 2018
45
Na Sede desde o iniacutecio se observam quatro clubes sociais a Sociedade
Cruzeiro a Sociedade 9 de Julho a Sociedade Esperanccedila e o Centro de Tradiccedilotildees
Gauacutechas Cada clube social tem sua importacircncia histoacuterica poreacutem alguns natildeo se
manteacutem ativos
A Sociedade 9 de Julho foi fundada em 27 de setembro de 1961 estando
localizada no bairro Rincatildeo Segundo o jornal Folha da Serra (1968 n 96 p 5)
apoacutes sete anos de sua fundaccedilatildeo ldquoseu presidente Galego promete uma nova e
confortaacutevel sede para a sociedaderdquo Sociedade que se apresenta por sua
versatilidade nos eventos ateacute os dias atuais
O jornal Folha da Serra (1968 n 96 p 5) traz a seguinte mateacuteria ldquoas quatro
noites foram repletas de alegria naquela sociedade onde os foliotildees divertiram-se e
quando se anunciou o final da quarta noite houve quem lamentasse o final da festa
do Momordquo A reportagem refere-se ao carnaval que se desenvolve de forma
popular nesta sociedade Neste espaccedilo na deacutecada de 1990 ocorria um baile na
sexta-feira que antecedia ao Festival do Ronco do Bugio um espaccedilo onde jovens se
encontravam para iniciar as festividades do grande festival da cidade poreacutem na
atualidade este evento natildeo ocorre mais Pelos cartazes de divulgaccedilatildeo de eventos
atuais a Sociedade 9 de Julho se torna um espaccedilo bastante versaacutetil e segundo
dados obtidos no site da proacutepria sociedade o local apresenta shows bailes
tradicionalistas domingueiras e festas temaacuteticas
Sabe-se da existecircncia da Sociedade Esperanccedila devido a uma reportagem a
respeito do carnaval escrita no jornal Folha da Serra (1968 n 11 p 25) ldquoos
escurinhos tambeacutem natildeo ficaram para traacutes e demonstraram que satildeo bons no samba
porque soacute quem assistiu pode ver como brincaram e que maravilha de ritmo
marcaram durante as quatro noitesrdquo A reportagem daacute a entender de se tratar de
uma sociedade frequentada por negros e pode-se entender que ao usar o termo
escurinho na reportagem haacute preconceito racial perpassando a ideia de que por
serem negros natildeo poderiam se divertir da mesma maneira que os brancos
Atualmente se encontra no local um espaccedilo residencial e comercial
A Sociedade Cruzeiro foi fundada em 9 de maio de 1925 pela elite da
sociedade serrana Segundo Teixeira (2002) e Fonseca (2012) sua sede social era
na Avenida Juacutelio de Castilhos onde hoje se situa a agecircncia do Banrisul e teve como
primeiro presidente o Sr Antocircnio Mario Kroeff e o secretaacuterio Sr Joatildeo Parobeacute de
Lucena Sua nova sede foi inaugurada de acordo com Fonseca (2012 p 236) ldquono
46
dia 11 de dezembro de 1965 e esta permanece no mesmo endereccedilo ateacute a
atualidade Situa-se na Rua Dr Frederico Tedesco nordm 1261rdquo
Atualmente este espaccedilo eacute usado para convenccedilotildees ou festas particulares
onde as pessoas locam o espaccedilo para realizarem seu evento Neste espaccedilo natildeo
mais ocorrem grandes eventos sociais como Fonseca (2012 p 232) descreve ldquoos
bailes mais elegantes e vistosos desta sociedade ocorrem aquirdquo Fonseca (2012 p
233) ainda complementa que ldquoa primeira Miss Sociedade Cruzeiro foi eleita em 1937
e a vencedora foi a jovem Zilah Teixeirardquo
A Sociedade Cruzeiro tambeacutem foi palco de bailes de carnaval O Jornal Folha
da Serra (1968 n 11 p 25) descreve ldquocomo sempre a Sociedade Cruzeiro ponteou
o nosso carnaval com blocos fantasiados magnificamente fazendo acrobacias ao
som de excelente muacutesica local onde os turistas afluiacuteramrdquo Contrapondo a este
tempo a moradora local Soares26 discorre de maneira saudosa ldquoque saudades do
carnaval hoje eacute bebedeira perdeu o encanto perdeu tudo Na rua o pessoal
gritando sem nenhuma infraestrutura nem os bailes na sociedade natildeo ocorrem
maisrdquo
O distrito Sede jaacute foi palco de inuacutemeros clubes sociais que ao longo do tempo
foram perdendo seu encanto e ateacute mesmo fechando-se para atividades sociais O
que permanece em pleno funcionamento eacute o Centro de Tradiccedilotildees Gauacutechas Rodeio
Serrano o que justifica uma cultura tradicionalista presente neste distrito Dentre as
atividades desenvolvidas por esta entidade estatildeo o Rodeio Interestadual com
atividades campeiras e artiacutesticas que ocorrem todos os anos no primeiro final de
semana de dezembro a manutenccedilatildeo das invernadas artiacutesticas em todas as
categorias mascote mirim juvenil e adulta
A organizaccedilatildeo da Ronda Crioula na Semana Farroupilha com a participaccedilatildeo
das escolas da Sede e do interior que trazem seus grupos de danccedilas bem como
organizam gincanas Outra atividade tambeacutem desenvolvida por esta entidade eacute a
Cavalgada de Prendas que ocorre durante a Semana Farroupilha desde 1992
sendo Satildeo Francisco de Paula pioneira nesta ideia onde somente mulheres
participam da cavalgada que culmina com o desfile na Avenida Juacutelio de Castilhos
Realiza-se tambeacutem o Baile da Prenda Jovem que eacute o baile de debutante gauacutecho
onde as prendas entre 13 e 15 anos satildeo apresentadas agrave sociedade Aleacutem disso nos
26 SOARES Luciana Olga Entrevista concedida agrave autora no dia 01 de marccedilo de 2018
47
uacuteltimos anos a organizaccedilatildeo e apresentaccedilatildeo do Festival Ronco do Bugio que ocorre
em Satildeo Francisco de Paula faz parte da programaccedilatildeo desta entidade Este festival
apresenta exclusivamente o gecircnero musical bugio Haacute pelo menos duas hipoacuteteses
sobre a origem deste gecircnero musical
A primeira eacute de berccedilo serrano e teria mais fiel escudeiro o inesqueciacutevel acordeonista de Satildeo Francisco de Paula Honeyde Bertussi Siqueira Segundo ele o ritmo teria sido originaacuterio pelas matildeos do gaiteiro Vergiacutelio Leitatildeo que no jogo-de-foles e nos baixos de sua gaita de botatildeo teria imitado o ronco do bicho nos caponetes de cima da serra [] teria difundido pelas bodegas do Juaacute interior de Satildeo Chico (SOUZA 2003 p 15)
A segunda hipoacutetese eacute apresentada por Souza (2003 p 15) que apresenta a
versatildeo dada pelo povo de Satildeo Francisco de Assis que diz que ldquoa origem do ritmo e
oriunda desta localidade que por sinal realizava um festival nativista chamado
Querecircncia do Bugiordquo
Desconhece-se a verdadeira origem do gecircnero musical bugio mas Souza
(2003 p 23) afirma que ldquoJoatildeo Cincinato Terra muacutesico atuante sentiu a
necessidade de nosso municiacutepio acompanhar o movimento jaacute que neste periacuteodo se
expande por todo o estado do Rio Grande do Sul os festivais nativistasrdquo O
lanccedilamento do primeiro festival do Ronco do Bugio acontece em 1986 no CTG
Rodeio Serrano com a participaccedilatildeo de vaacuterios representantes da muacutesica nativista e
da comunidade serrana Seu lanccedilamento oficial ocorre em 16 de abril de 1986
O jornal Satildeo Chico Tchecirc (1986 n 11 p 6) noticiou que o primeiro Festival do
Ronco do Bugio contou com 98 muacutesicas escritas sendo 24 as selecionadas O
festival ocorreu entre os dias 13 e 15 de maio e Souza (2003 p 42) descreve que foi
apresentado ldquosob uma lona de circo estaqueada num gramado amador mas de
tantas gloacuterias futeboliacutesticas o campo do Clube Atleacutetico Serranordquo
A muacutesica vencedora do primeiro Ronco do Bugio foi ldquoLevanta Bugiordquo
defendida pelo cantor e compositor gauacutecho Leonardo Observando fotos percebe-se
que o Ronco do Bugio se deu em uma noite fria de inverno
O Festival Ronco do Bugio desde o seu iniacutecio premia melhor arranjo
conjunto instrumental instrumentista inteacuterprete e a muacutesica mais popular Fatima
Gimenez foi a melhor inteacuterprete do primeiro festival defendendo a muacutesica ldquoPinheiro
Gringordquo composiccedilatildeo de Erian Fogaccedila e Laerte Fortes Novamente a roupa dos
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muacutesicos reforccedila que na noite da entrega da premiaccedilatildeo fazia muito frio A cantora
tambeacutem se apresenta vestindo um chiripa coberto por um pala27
Na Figura 11 observamos a fotografia de Gonzaga dos Reis muacutesico local
sentado com sua gaita instrumento que lhe deu o precircmio de melhor instrumentista
do primeiro Ronco do Bugio Nesta oportunidade o cantor instrumentista e
compositor defendeu a muacutesica ldquoBugio da Minha Terrardquo
Figura 11 ndash Gonzaga dos Reis
Fonte Jornal Satildeo Chico Tchecirc n 4 p 8 (1986)
A composiccedilatildeo ldquoBugio Tiranordquo que foi defendida pelo conjunto Os Tiranos de
Satildeo Francisco de Paula ganhou o precircmio mais popular
Para o Jornal Satildeo Chico Tchecirc (1986 n 11 p 7) o Festival Ronco do Bugio eacute
ldquoum festival autecircntico e original que aconteceu com grande sucesso em Satildeo
Francisco de Paulardquo No encerramento deste grande evento Joatildeo Chagas Leite se
27 Chiripa e pala satildeo trajes tipicamente gauacutechos Sendo que o chiripa atualmente eacute uma veste de
preferecircncia feminina este fica enrolado na cintura e vai ateacute os joelhos ldquoEacute um pano inteiro passado entre as pernas primeiro de traacutes para frente e depois de frente para traacutes pode ser de latilde ou lisordquo (ABREU 2003 p 67) O pala eacute uma peccedila retangular com franjas nos quatro lados e listras no sentido do comprimento
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apresenta segundo o Jornal Satildeo Chico Tchecirc (1986 n 11 p 8) ldquocom composiccedilotildees
como Corda de Espinho Orelhano Pampa Campo e Querecircncia Coraccedilatildeo de
Estudante e Afiosrdquo
O Festival Ronco do Bugio perpassa o tempo segundo o site da Prefeitura
Municipal
O Festival Ronco do Bugio eacute um evento musical nativista que acontece anualmente na Cidade de Satildeo Francisco de Paula com o intuito de preservar e difundir o uacutenico ritmo originaacuterio do Rio Grande do Sul ou seja o lsquobugiorsquo compasso criado justamente no interior deste municiacutepio Tal criaccedilatildeo se deu a partir da criatividade dos gaiteiros serranos que buscaram imitar com seu instrumento musical o ronco do primata nos matos da serra A festividade agora em sua 26ordf ediccedilatildeo eacute genuiacutena pois eacute o uacutenico da Ameacuterica onde obrigatoriamente os participantes devem utilizar um ritmo somente isto eacute o citado lsquobugiorsquo embora a temaacutetica seja abrangente Por este motivo eacute chamado de lsquoO Festival Mais Autecircntico do Rio Grandersquo Aleacutem do forte enfoque cultural que envolve toda a comunidade musical do Estado o Festival tem seu apelo ecoloacutegico pois chama a atenccedilatildeo para a preservaccedilatildeo da espeacutecie hoje quase em extinccedilatildeo O Ronco do Bugio por sua importacircncia no cenaacuterio cultural rio-grandense criou uma identidade ao povo de Satildeo Francisco de Paula pois junto ao evento estaacute intriacutenseco e vem agrave tona o histoacuterico da criaccedilatildeo do municiacutepio caracterizado pela forte influecircncia dos antigos tropeiros desbravadores e povoadores desta parte do paiacutes (PREFEITURA MUNICIPAL DE SAtildeO FRANCISCO DE PAULA 2017)
No mesmo documento disponibilizado pela Prefeitura Municipal de Satildeo
Francisco de Paula observam-se algumas informaccedilotildees a respeito da realizaccedilatildeo do
festival no ano de 2017
Art 1ordm - O 26ordm Ronco do Bugio realizar-se-aacute no municiacutepio de Satildeo Francisco de Paula nos dias 01 e 02 de setembro de 2017 Art 2ordm - a festividade agora em sua 26ordf ediccedilatildeo eacute genuiacutena pois eacute a uacutenica na Ameacuterica Latina com promoccedilatildeo da Prefeitura Municipal de Satildeo Francisco de Paula e do CTG Rodeio Serrano com apoio de oacutergatildeos puacuteblicos e iniciativa privada Art 3ordm - Satildeo objetivos do 26ordm Ronco do Bugio a) valorizar a tradiccedilatildeo arte cultura e a autecircntica muacutesica regionalista
gauacutecha atraveacutes do seu ritmo mais original b) prestigiar autores compositores inteacuterpretes e conjuntos regionalistas e
incentivar o surgimento de novos valores c) divulgar a muacutesica regional gauacutecha d) valorizar a relevante posiccedilatildeo na formaccedilatildeo de usos e costumes
caracteres e valores espirituais e morais do gauacutecho e) promover e incentivar a cultura gauacutecha projetando Satildeo Francisco de
Paula na maneira mais autecircntica no cenaacuterio do turismo (PREFEITURA MUNICIPAL DE SAtildeO FRANCISCO DE PAULA 2017)
Como eacute possiacutevel observar no artigo 4ordm ldquoA organizaccedilatildeo do 26ordm Ronco do Bugio
ficaraacute a cargo da Comissatildeo Organizadora composta por membros da Prefeitura
Municipal e do CTG Rodeio Serranordquo (PREFEITURA MUNICIPAL DE SAtildeO
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FRANCISCO DE PAULA 2017) Devido agrave importacircncia identitaacuteria do festival para o
municiacutepio ao se chegar agrave cidade na deacutecada de 90 se encontrava o seguinte
outdoor
Figura 12 ndash Outdoor entrada da cidade na ERS-020
Fonte Souza (2003 p 17)
Assim como o tiacutetulo de ldquoCapital Mundial do Bugiordquo Satildeo Francisco de Paula ldquojaacute
obteve vaacuterios slogans dentre eles o de Satildeo Chico eacute terra boardquo (TEIXEIRA 2002 p
149-150)
Mesmo ocorrendo inferecircncias externas advindas com pessoas que trouxeram
consigo uma identidade diferente Soares28 em entrevista afirma ldquoSatildeo Chico eacute
identificada pela cultura tradicionalista gauacutecha a cuia em frente ao antigo preacutedio da
prefeitura demonstra o siacutembolo da hospitalidade de nosso povordquo A permanecircncia
ativa do CTG Rodeio Serrano na sede eacute outro indicativo forte da presente
identidade ligada as atividades do homem do campo Outro fato observado eacute a
constante praacutetica do laccedilo de vaca parada29 por jovens e crianccedilas nos paacutetios de suas
residecircncias bem como cavalarianos (homens mulheres jovens e crianccedilas) na
28 SOARES Luciana Olga Entrevista concedida agrave autora no dia 01 de marccedilo de 2018 29 Vaca parada uma espeacutecie de cavalete de madeira com aspectos de uma vaca usada por crianccedilas
que estatildeo iniciando neste esporte bem como usado como forma de entretenimento para jovens e adultos
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avenida principal cavalgando entre os carros Ainda se percebe o respeito entre
motoristas de automotivos bicicletas e os cavalarianos todos ocupando o mesmo
espaccedilo
42 DISTRITO DE CAZUZA FERREIRA
O distrito de Cazuza Ferreira foi criado em 07 de janeiro de 1903 estando
situado a 85 quilocircmetros da Sede Andrade comenta em entrevista30 ldquoateacute acho que
Cazuza se desenvolveu primeiro que Satildeo Chicordquo31 visto que a criaccedilatildeo do distrito
acontece dias depois da emancipaccedilatildeo enquanto a criaccedilatildeo da vila do distrito de
Cazuza Ferreira se desenvolve segundo a entrevistada
A parte da Histoacuteria que eu sei eacute que houve a chegada de um Sr Chico Mestre eacute como eles chamavam Esse Sr veio as casas eram distantes umas das outras e ele comeccedilou a fazer oraccedilatildeo nas casas e reunir as pessoas e fundou o cemiteacuterio Entatildeo o Joseacute Ferreira de Castilhos que era dono daqui naquela eacutepoca um dos moradores que tinha bastante terra doou a terra para fazer a vila aiacute o que aconteceu segundo as histoacuterias era para ser ali onde eacute a cancha de laccedilo hoje do outro lado da estrada soacute que o terreno natildeo era apropriado entatildeo houve uma permuta com o Sr que era dono deste terreno aqui era Bossle aqui era bem mais alto e mais plano Entatildeo se construiu a Igreja e iniciou o povoamento da vila32
A moradora Basso ainda acrescenta que ldquoa vila foi sempre mais ou menos o
que ela eacute hojerdquo Ao observar o local pode-se perceber uma grande praccedila ao centro
rodeada de casas de comeacutercio posto de combustiacutevel posto de sauacutede o hotel a
Igreja Matriz juntamente com o salatildeo paroquial e casas residecircncias cujo aspecto
impressiona por a grande maioria das casas apresentam uma arquitetura que
perpassa o tempo A Figura 13 apresenta uma imagem da praccedila central tirada das
escadarias da Igreja Matriz
30 ANDRADE Nauro Bossle de Entrevista concedida agrave autora no dia 04 de marccedilo de 2018 31 Primeiro que Satildeo Chico eacute um termo comum usado pelos moradores do interior do municiacutepio de
Satildeo Francisco de Paula que ao se referir a Sede do municiacutepio usam o termo Satildeo Chico ou Satildeo Francisco de Paula pois seus moradores natildeo costumam na atualidade dizer lsquovou a Sedersquo e sim lsquovou a Satildeo Chicorsquo como se eles natildeo morassem no municiacutepio
32 BASSO Ceacutelia Pacheco Terres Entrevista concedida agrave autora no dia 04 de agosto de 2018
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Figura 13 ndash Praccedila Central de Cazuza Ferreira
Fonte acervo pessoal da autora (2018)
Apesar de ter a preservaccedilatildeo arquitetocircnica a moradora Basso declara
O pai contava e outras pessoas contam que teve uma eacutepoca que tinha faacutebrica de tamanca33 jaacute teve faacutebrica de guaranaacute de queijo bastante coisa no sentido de selaria mas tudo foi se extinguindo as pessoas as famiacutelias natildeo deram continuidade e se sumiram natildeo existe mais nada disso mas estas faacutebricas natildeo davam renda ou seja trabalho para pessoas de fora pois elas eram administradas e cuidadas pelas famiacutelias Daiacute houve o periacuteodo das serrarias enquanto pode extrair madeira era o forte a vila movimentada enriqueceram alguns comerciantes locais o momento que extinguiu aquele trabalho eles foram embora e o povo daqui acomodou entatildeo hoje a vila tem bastante pessoas que foram embora trabalhar assim na juventude e hoje aposentados voltaram pois aqui para jovem natildeo tem sobrevivecircncia o uacutenico trabalho eacute na escola tem nove professores e uma funcionaacuteria em alguns funcionaacuterios da prefeitura acho que satildeo seis que cuidam do plantel de maacutequinas a enfermeira e o pessoal que cuida do posto do correio tambeacutem tem a ferraria mas ali eacute soacute os da proacutepria famiacutelia entatildeo o jovem acaba tendo que ir embora34
Os entrevistados Basso e Andrade relatam que apesar das adversidades o
povo de Cazuza Ferreira tem um amor pelas suas tradiccedilotildees mantendo vivos trecircs
aspectos que ambos consideram a marca identitaacuteria de seu povo e afirmam com
33 Tamanca calccedilado comum na regiatildeo solado de madeira com uma proteccedilatildeo sobre as pontas dos
dedos indo ateacute o peito do peacute em couro 34 BASSO Ceacutelia Pacheco Terres Entrevista concedida agrave autora no dia 04 de agosto de 2018
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convicccedilatildeo ldquofalar de Cazuza eacute cavalhada hotel e rodeiordquo enquanto Basso acrescenta
que ldquoas cavalhadas satildeo heranccedila dos portugueses e estatildeo espalhadiacutessimas ateacute
nacionalmente atraveacutes da miacutedia porque natildeo pesquisei mas ateacute onde sei no Rio
Grande do Sul soacute tem aquirdquo
Na comunidade ainda segundo Basso ldquoa apresentaccedilatildeo das cavalhadas se
iniciou por volta de 1890 e permanece ativa ateacute hoje no passado existiam trecircs
cavalhadas as dos brancos dos amarelos e dos negrosrdquo acrescentando ldquomas hoje
natildeo haacute mas essa diferenciaccedilatildeordquo Em poliacutegrafo organizado por uma moradora local a
mesma explica que a cavalhada ldquoeacute uma luta simulada em que haacute vinte e quatro
participantes sendo doze de cada equiperdquo35 por meio da evoluccedilatildeo equestre e
movimentos de espada lanccedila e garrucha representando a batalha entre mouros e
cristatildeos Segundo esta moradora ldquoa batalha sempre termina sendo vencida pelos
cristatildeos demonstrando a submissatildeo dos mouros e a supremacia da religiatildeo cristatilderdquo
Atualmente o grupo depende da boa vontade de seus participantes conforme
explica
Hoje se tornou caro eacute exame dos cavalos transporte depende do querer das pessoas da boa vontade e tem pessoas engajadas que natildeo largam a famiacutelia do Renau que ele eacute o presidente do grupo ele tem um amor tatildeo grande pelas cavalhadas porque ele jaacute recebeu do pai dele do teu avocirc e do seu Ivo Cardoso e a vida dele agraves vezes me desgosto de alguma coisa pois faccedilo a narrativa do que estaacute sendo apresentado mas daiacute eu penso natildeo posso abandonar (sorri) Eacute uma tradiccedilatildeo que natildeo pode morrer mas os filhos do Renau o Marcos e o Marcelo daratildeo continuidade faz parte da famiacutelia tu sabe eacute da mesma famiacutelia Eacute uma grande tradiccedilatildeo que natildeo pode desaparecer temos que continuar peleando36
As cavalhadas satildeo apresentadas na praccedila central sempre durantes as festas
religiosas que acontecem na comunidade sendo assim organizadas
No primeiro ou segundo final de semana de fevereiro tem a festa da Nossa Senhora do Belo Horizonte que eacute a padroeira daqui Agora devido agrave comissatildeo e o padre um ano tem a festa dos morenos e no outro tem a dos agricultores que eram chamados de amarelos antigamente cuja devoccedilatildeo se daacute agrave Nossa Senhora do Rosaacuterio e Nossa Senhora da Penha Antigamente cada um tinha seu espaccedilo social para realizar a festa atualmente soacute se manteve a tradiccedilatildeo de comemorar os santos este ano eacute festa dos morenos ela seraacute dia 13 e 14 de outubro Todas as festas
35 Sendo que doze cavaleiros que representam os cristatildeos vestem tuacutenicas de veludo azul escuro e
os doze cavaleiros mouros vestem tuacutenicas vermelhas Sobre os ombros da tuacutenica haacute uma capinha esta capinha traz enfeites prateados bordados com lantejoulas e bototildees dourados e franjas de seda branca Todos os participantes usam bombacha branca de brim botas campeiras pretas chapeacuteu de palha de aba larga virada para cima com laccedilo de fita e barbicacho de acordo com a cor da tuacutenica
36 BASSO Ceacutelia Pacheco Terres Entrevista concedida agrave autora no dia 04 de agosto de 2018
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religiosas ocorrem em dois dias saacutebado apresentaccedilatildeo das cavalhadas novena janta e baile no domingo tem a missa na Igreja Matriz logo apoacutes almoccedilo e reuniatildeo danccedilante Atualmente resgataram em dezembro a festa a Satildeo Cristoacutevatildeo sempre no primeiro final de semana de dezembro eacute uma missa com benccedilatildeo aos carros durante a procissatildeo e um almoccedilo ao meio-dia esta se daacute somente em um dia E tambeacutem temos de dois em dois anos a festa organizada pelo grupo das Cavalhadas esta ocorre em maio daiacute37
Os moradores explicam que a separaccedilatildeo racial desapareceu com o tempo
poreacutem se manteacutem a cultura de festejar todos os santos o que demonstra que o povo
de Cazuza eacute bastante devoto e cristatildeo E acrescenta em tempos idos que durante
as festas religiosas as pessoas se hospedavam no hotel segundo Basso que ldquoele
recebia tinha mercado junto teve ateacute cinema o pessoal gostava da comida da
Dona Vilma que era minha sogrardquo Este hotel eacute outro marco que identifica Cazuza
Ferreira poreacutem os moradores explicam que atualmente o Hotel do Campo manteacutem a
arquitetura mas funciona em uma modalidade diferenciada pois natildeo haacute como
sobreviver Entatildeo ele recebe hospeda sob reserva antecipada poreacutem natildeo serve
almoccedilo e janta as refeiccedilotildees satildeo feitas no Cantinho do Aconchego com quem
manteacutem uma parceria
Figura 14 ndash Hotel do Campo
Fonte acervo pessoal da autora (2018)
37 BASSO Ceacutelia Pacheco Terres Entrevista concedida agrave autora no dia 04 de agosto de 2018
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Nesta comunidade tambeacutem eacute muito forte segundo os entrevistados38 a
tradiccedilatildeo gauacutecha que adveacutem do homem do campo o amante dos rodeios que nos
finais de semana saem de suas propriedades e se deslocam a outras comunidades
para participar dos eventos campeiros como o tiro de laccedilo Tambeacutem explanam que
existe o CTG Adatildeo Castilhos que estaacute interditado jaacute faz quase seis anos desde
que comeccedilaram a ser exigidos os PPCIs A partir deste momento eles natildeo puderam
mais fazer eventos ali eles realizam os rodeios ou festas campeiras mas laacute dentro
natildeo conseguiram mais fazer nada e taacute difiacutecil vai muito dinheiro para cumprir todas
as exigecircncias Sendo que este espaccedilo na deacutecada de 80 do seacuteculo XX foi palco de
grandes rodeios com apresentaccedilotildees campeiras artiacutesticas e grandes bailes A
moradora explica39 ldquoA Claudiana esposa do Paulo Cesar atual presidente se
inscreveu no projeto Meu Galpatildeo de Cara Nova do Galpatildeo Crioulo da RBS TV
tomara que ela seja classificadardquo Este projeto ajuda na reconstruccedilatildeo dos CTGs pelo
Rio Grande do Sul
Ao pesquisar sobre Cazuza Ferreira percebe-se o quatildeo forte eacute o culto agraves
tradiccedilotildees e o esforccedilo de seus moradores para elas permaneccedilam para futuras
geraccedilotildees visto que o tempo passou e a tradiccedilatildeo local natildeo sofreu alteraccedilotildees
43 DISTRITO DE TAINHAS
O distrito de Tainhas foi criado em 18 de outubro de 1922 estando situado a
33 quilocircmetros da Sede Se desenvolveu no entroncamento de duas rodovias a RS-
020 e a RS-453 cujas rodovias cortavam a vila do distrito Com o advento da
construccedilatildeo da Rota do Sol importante rodovia que hoje que liga Caxias do Sul agraves
praias aleacutem da construccedilatildeo do asfalto da RS-020 que vai a Satildeo Francisco de Paula
tudo mudou O morador Fagundes relata em entrevista40 ldquoaqui era mais habitado
por criadores fazendeiros e agora depois que saiu essa Rota do Sol o movimento
cresceu muito neacute mais por fora da vila entatildeo natildeo trouxe benefiacutecio para noacutesrdquo
Percebe-se que moradores entendem a importacircncia da construccedilatildeo das
rodovias poreacutem as mesmas natildeo trouxeram benefiacutecios econocircmicos para os
moradores locais
38 ANDRADE Nauro Bossle de BASSO Ceacutelia Pacheco Terres Entrevistas concedidas agrave autora no
dia 04 de agosto de 2018 39 BASSO Ceacutelia Pacheco Terres Entrevista concedida agrave autora dia 04 de agosto de 2018 40 FAGUNDES Darci da Silva Entrevista concedida agrave autora no dia 24 de fevereiro de 2018
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Ainda conforme o morador Fagundes41 ldquoo iniacutecio da vila se deu devido agrave
necessidade de parada dos caminhoneiros que transportavam madeira como era
tudo estrada de chatildeo Tainhas ficava em local centralizado se construiu um hotel
que era do seu Pedro Pinhatildeo e da Dona Luisardquo A partir de entatildeo comeccedilou a
construccedilatildeo de casas e se formou a vila onde antes eram terras dos Pinto os
primeiros moradores de Tainhas tanto que o morador ressalta na entrevista42 ldquoo
nome da escola eacute Oliacutempio Soares Pinto que era o proprietaacuterio dessa terra e uma
das professoras mais antigas era Guilherma Pintordquo
Tainhas estaacute rodeada por campos matos de pinnus ilhote e lavouras
atualmente e explica
Hoje aqui eacute pinus e granjeiro plantando batata soja milho e a maioria veio de fora os moradores antigos desapareceram arrendaram ou venderam suas terras para esse pessoal que veio de Ibiraiara e de Maquineacute Itati Trecircs Forquilhas43
Percebe-se que a criaccedilatildeo de gado ou seja a pecuaacuteria extensiva deu lugar a
outras culturas com a chegada de novas pessoas ao distrito Mas segundo os
moradores o culto ao tradicionalismo gauacutecho permanece visto que no distrito
existe
O parque de rodeios do Rodeio Crioulo eacute o mais antigo que noacutes temos aqui natildeo sei se natildeo o primeiro piquete registrado de Satildeo Chico tem uns sessenta anos a nossa tradiccedilatildeo eacute o laccedilo O nosso rodeio acontece sempre no iniacutecio de janeiro hoje eu natildeo laccedilo mais mas o meu neto continua a minha tradiccedilatildeo A escola daqui faz a semana farroupilha com ronda eacute tudo muito lindo e assim se mantem a cultura44
A imagem apresentada na Figura 15 reforccedila a fala e a importacircncia do Piquete
de Laccediladores Rodeio Crioulo que atualmente mesmo estando nas terras de Satildeo
Francisco de Paula divisa com o municiacutepio de Cambaraacute do Sul por opccedilatildeo essa
entidade tradicionalista pertence ao entatildeo municiacutepio de Cambaraacute do Sul Poreacutem sua
fundaccedilatildeo acontece em 20 de janeiro de 1961 quando o entatildeo hoje municiacutepio de
Cambaraacute do Sul ainda era distrito de Satildeo Francisco de Paula
41 FAGUNDES Darci da Silva Entrevista concedida agrave autora no dia 24 de fevereiro de 2018 42 FAGUNDES Darci da Silva Entrevista concedida agrave autora no dia 24 de fevereiro de 2018 43 FAGUNDES Darci da Silva Entrevista concedida agrave autora no dia 24 de fevereiro de 2018 44 FAGUNDES Darci da Silva Entrevista concedida agrave autora no dia 24 de fevereiro de 2018
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Figura 15 ndash Flacircmula de comemoraccedilatildeo aos 50 anos da entidade
Fonte acervo pessoal da autora (2018)
Outro evento importante no distrito eacute realizado pela Escola Estadual de
Ensino Fundamental Oliacutempio Soares Pinto que satildeo atividades ligadas as tradiccedilotildees
gauacutechas na Semana Farroupilha como cavalgadas e gincanas com a participaccedilatildeo
de toda comunidade nesta semana principalmente a comunidade de Tainhas
ldquorespira tradicionalismordquo
O distrito de Tainhas atualmente conta com um posto de sauacutede e o correio
satildeo os serviccedilos puacuteblicos que funcionam no distrito visto que o cartoacuterio fechou O
entrevistado Fagundes relata45 ldquoeu era o juiz de paz desse Cartoacuterio minha funccedilatildeo
era julgar os casamentos mas daiacute fechou hoje o pessoal tem que ir a Satildeo Chicordquo O
morador ainda acrescenta ldquoateacute a rodoviaacuteria fechou os ocircnibus passam aqui Satildeo
Marcos que vem de Caxias e vatildeo a Torres desce de manhatilde e sobe de tarde Citral
de Satildeo Chico a Ouro Verde e agora Transneves da Pedra Lisa para Satildeo Chicordquo
Com uma certa tristeza relata46 ldquoaqui em Tainhas soacute tem o Cafeacute Tainhas do
Mauro eacute o brilho de Tainhas seraacute ponto histoacuterico daqui um tempo todo mundo fala
bem do Cafeacute Tainhasrdquo
Notoriamente a chegada do asfalto modificou a vida das pessoas neste
distrito visto que que os campos foram em boa parte transformados em lavoura se
45 FAGUNDES Darci da Silva Entrevista concedida agrave autora no dia 24 de fevereiro de 2018 46 FAGUNDES Darci da Silva Entrevista concedida agrave autora no dia 24 de fevereiro de 2018
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percebe uma vila pacata jaacute que todo o movimento foi desviado por fora da vila e a
mesma natildeo proporciona lazer para as pessoas que ao terminarem o ensino
fundamental para continuar seus estudos precisam fazer uso do transporte escolar
e se deslocar ateacute a Sede ou ir ao municiacutepio de Cambaraacute do Sul
44 DISTRITO DE ELETRA
O distrito de Eletra foi criado em 31 de dezembro de 1932 estando situado a
19 quilocircmetros da Sede do municiacutepio Poreacutem a populaccedilatildeo local chama de Salto e
seu nome vem das barragens do Salto Blang e Divisa construiacutedas sobre o Rio do
Salto que atravessa o distrito Segundo a moradora local47 Soares ldquoas barragens
que fornecem aacutegua para as usinas no municiacutepio de Satildeo Francisco de Paula e nos
municiacutepios vizinhos de Canela Gramado e Cambaraacute do Sulrdquo A Figura 16 apresenta
uma imagem da Barragem do Salto barragem esta que se situa proacutexima da vila do
distrito
Figura 16 ndash Barragem do Salto
Fonte acervo pessoal da autora (2018)
Ao observarmos a Figura 16 percebe-se que o acesso da vila para o interior
do distrito acontece por uma ponte de concreto estreita com piso bastante irregular
47 SOARES Susana Marques Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018
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e que em periacuteodos de fortes chuvas o acesso fica interrompido devido agrave altura
Poreacutem ao lado direito percebe-se uma estrutura pequena que segundo o morador
Gomes
Foi uma tentativa de uma empresa japonese construir uma ponte soacute que quando estavam construindo deu uma enchente e levou tudo a aacutegua abaixo a empresa foi embora e nunca mais voltou Jaacute foram feitos estudos que a ponte tem que ser construiacuteda mais para baixo e em forma de arco se natildeo a chuva leva de novo poreacutem natildeo acredito que saia algum dia48
Entende-se que a construccedilatildeo desta nova ponte melhoraria o acesso dos
proprietaacuterios rurais que para saiacuterem de suas propriedades em eacutepocas de chuva
intensa necessitam fazer um longo caminho por estradas de chatildeo batido para terem
acesso ao municiacutepio de Canela bem como a Sede de Satildeo Francisco de Paula
Contudo a moradora explica que a vila do distrito se forma muito antes da
construccedilatildeo da barragem
Em 1915 era uma fazenda chamada Fazenda do Salto e esta pertencia a Francisco Soares de Oliveira Neste local havia sua casa de moradia um galpatildeo e mangueiras onde realizava as suas atividades poreacutem em 1916 o Chico resolveu transferir a casa da Fazendo do Cerro para o Salto tambeacutem sendo construiacuteda aiacute a segunda casa a partir de entatildeo se iniciou o povoado com a construccedilatildeo de novas residecircncias para seus empregados e posteriormente se instalou uma serraria dos irmatildeos Delavechia esta sendo movida a aacutegua dando definitivamente o iniacutecio do povoamento da vila49
Ao analisar a fala da moradora local se percebe que onde hoje se encontra a
vila do distrito de Eletra jaacute foi uma fazenda identificando-se com a mesma formaccedilatildeo
do distrito Sede que tambeacutem surge de terras doadas por um fazendeiro Segundo a
entrevistada Soares50 ldquoa sua casa eacute uma das mais antigas tem 102 anos foi
construiacuteda de pinheiro serrada aqui mesmo na serrariardquo pode-se observar o oacutetimo
estado de conversaccedilatildeo da casa que traz traccedilos arquitetocircnicos europeus na sua
construccedilatildeo natildeo se tem imagem da casa visto que a entrevistada natildeo permitiu
nenhuma imagem de sua residecircncia
Outro fator importante do povoamento da vila segundo o morador local
Gomes51 ldquofoi o iniacutecio da construccedilatildeo da Barragem do Salto no ano de 1925rdquo onde
48 GOMES Jaures Feijoacute Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018 49 SOARES Susana Marques Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018 50 SOARES Susana Marques Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018 51 GOMES Jaures Feijoacute Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018
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vieram muitos funcionaacuterios de vaacuterios lugares tendo como mestre da obra segundo
os moradores locais52 o ldquoAcircngelo Goubertrdquo
Devido agrave necessidade que se formou no distrito neste periacuteodo se abriu um
hotel farmaacutecia cartoacuterio rodoviaacuteria e cinema a moradora local Soares saudosa
diz53 ldquotudo fechou aqui natildeo tem mais nadardquo referindo-se a atual situaccedilatildeo que a vila
se encontra
Os moradores ainda declaram sobre o distrito54 ldquoestaacute abandonado pelo poder
puacuteblico ateacute o calccedilamento das ruas foi arrancadordquo poreacutem outrora foi um local de
muita alegria
A vida era uma festa permanente o tio Chico era casado com a tia Lisoca ela foi para Porto Alegre para os filhos estudar quando vinham nas feacuterias traziam os amigos O tio Chico pagava um gaiteiro por mecircs para ele toca toda noite entatildeo era aquele divertimento55
Atualmente na vila existe a Escola Estadual de Ensino Fundamental Cristino
Ramos com menos de cem alunos e a festa cristatilde cuja celebraccedilatildeo ocorre em
fevereiro sendo Santo Antocircnio o padroeiro local A moradora explica sobre a
construccedilatildeo da capela
A primeira capela a tempestade derrubou em 1957 se construiu outra O santo padroeiro eacute Santo Antocircnio a imagem foi trazida por quarenta cavaleiros Daiacute o padre pediu para que a imagem de Nossa Senhora Catarina tambeacutem fosse acolhida hoje temos dois padroeiros mas para mim Santo Antocircnio eacute o principal56
Percebe-se na fala dos moradores a sua devoccedilatildeo e sua preocupaccedilatildeo com o
futuro da vila visto que ateacute a questatildeo do cemiteacuterio jaacute foi palco de discussatildeo pois o
cemiteacuterio da vila iniciou pela famiacutelia dos Soares sendo este particular Poreacutem a
moradora explica com certa indignaccedilatildeo
O cemiteacuterio era particular da famiacutelia Soares teve um tempo que resolveram abrir veio gente ateacute de Passo Fundo ser enterrada aqui natildeo pediam para ningueacutem tomaram conta Daiacute organizamos uma comissatildeo responsaacutevel decidimos que tinha que ter uma contribuiccedilatildeo e natildeo podia trazer gente de fora para enterrar soacute gente daqui Ningueacutem pagou Aiacute mandei fazer cerca nova a parte dos Soares sempre limpei mas [] hoje acabo limpando tudo
52 GOMES Jaures Feijoacute SOARES Susana Marques Entrevistas concedidas agrave autora no dia 15 de
fevereiro de 2018 53 SOARES Susana Marques Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018 54 GOMES Jaures Feijoacute SOARES Susana Marques Entrevistas concedidas agrave autora no dia 15 de
fevereiro de 2018 55 SOARES Susana Marques Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018 56 SOARES Susana Marques Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018
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porque ningueacutem limpa Enquanto eu for viva vou fazer depois vatildeo entregar para a prefeitura igreja natildeo sei57
A Figura 17 apresenta uma foto da igreja atual tendo em sua lateral direita a
capela mortuaacuteria e ao fundo o Salatildeo Paroquial da comunidade onde ocorre a festa
do Santo Padroeiro
Figura 17 ndash Igreja Santo Antocircnio ndash Distrito de Eletra
Fonte acervo pessoal da autora (2018)
Ao conversar com os moradores locais pode-se observar a feacute cristatilde poreacutem
ambos relatam que a festa de fevereiro atualmente eacute pouco divulgada motivo pelo
qual acreditam que natildeo haja um nuacutemero expressivo de pessoas Ambos sentem um
apreccedilo pelo local onde nasceram e vivem poreacutem ambos relatam
Aqui eacute lugar de dormir as pessoas trabalham em Canela e vem dormir aqui a grande maioria natildeo eacute daqui vieram de fora haacute muitas casas de veraneio tudo gente de Porto Alegre que vem passar feacuterias natildeo rende nada para aqui o que precisam trazem tudo de fora A maioria de quem mora aqui soacute dorme passa o dia fora O ocircnibus das 7 horas sai lotado a gente natildeo conhece mais ningueacutem daqui mesmo soacute noacutes Susana e eu58
Mesmo a vila sendo um local de parada estaacute rodeada de lindos campos e
fazendas cuja a atividade principal eacute a pecuaacuteria extensiva natildeo proporciona
57 SOARES Susana Marques Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018 58 GOMES Jaures Feijoacute Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018
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trabalho no local motivo pelo qual seus moradores buscam sua subsistecircncia em
outro municiacutepio poreacutem possui uma exuberante natureza relata cheia de esperanccedila
a moradora local59 ldquoeu tenho esperanccedila que algueacutem olhe para caacute e veja as belezas
que tem aqui que o lugar volte a se desenvolverrdquo desenvolvimento este que
poderia vir atraveacutes da exploraccedilatildeo do turismo rural ldquoSe vocecirc quiser comer alguma
coisa agora natildeo vai encontrar nada aqui soacute tem lsquobutecorsquo60 mas eles natildeo vendem
nada nem sanduiacuteche pastel eacute uma vergonhardquo fala indignado o morador Gomes61
A populaccedilatildeo que vive nas fazendas aleacutem de ter as lides campeiras no seu
dia-a-dia nos finais de semana segundo o morador Gomes62 ldquolaccedila em torneio vai
nos rodeiosrdquo o que marca a presenccedila do tradicionalismo gauacutecho em uma parte da
populaccedilatildeo do distrito poreacutem com relaccedilatildeo aos moradores da vila natildeo haacute algo que
os identifique visto a miscigenaccedilatildeo que ocorreu e por haver muitas casas de
veraneio no local
45 DISTRITO DO JUAacute
O distrito do Juaacute foi criado em 10 de maio de 1950 e fica distante 65
quilocircmetros da Sede O distrito recebe esse nome devido a um espinho que havia
em abundacircncia no local nome este dado por tropeiros
Os accedilorianos que vinham de Santo Antocircnio da Patrulha e iam para Vacaria com cargueiros eles vinham fazer repouso laacute em cima no reduto e ali tinha muita frutinha do juaacute entatildeo os tropeiros saiam de Santo Antocircnio e diziam vamos posa laacute nos juaacute daiacute o nome do lugar que permanece ateacute hoje63
Juaacute eacute o nome dado a um espinho muito comum na regiatildeo dos campos de
cima da serra que daacute uma fruta amarela em formato redondo que segundo os
moradores locais eacute uma fruta venenosa conforme se observa na Figura 18
59 SOARES Susana Marques Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018 60 Buteco pequeno comeacutercio que normalmente vende bebidas alcooacutelicas e possui mesa de sinuca 61 GOMES Jaures Feijoacute Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018 62 GOMES Jaures Feijoacute Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018 63 REIS Orides Entrevista concedida agrave autora no dia 12 de maio de 2018
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Figura 18 ndash Peacute com a fruta conhecido como Juaacute
Fonte acervo de Clessandra Palhano (moradora local) (2018)
O reduto citado pelo morador local ficava em uma fazenda local onde hoje se
encontra a vila do distrito conforme o entrevistado Reis explica
O primeiro morador eu natildeo lembro soacute sei que o Juaacute era de pouca gente famiacutelia Pedroso e Castilhos daiacute foram morrendo inventariando e vendendo e aos poucos se formou a vila importante o dono de tudo isso aiacute tinha dois escravos no iniacutecio teve escravidatildeo claro na eacutepoca de mil oitocentos e pouco eu acho mas teve E hoje deve ter descendente destes escravos por aiacute64
Escravidatildeo que vai dar origem ao preconceito racial e a um modelo particular
da localidade que sem precisar data explica o morador
Aqui tinha dois salatildeo trecircs com o da Igreja mas era dois salatildeo social Era um clube de brancos que era dos ricos neacute fazendeiros o Salatildeo Vera Cruz e depois fundaram o Satildeo Valentim que era dos morenos que na eacutepoca ateacute eu fui presidente Cada um no seu salatildeo agora quando dava a festa cristatilde em homenagem ao Satildeo Joatildeo de Deus todo o povo reunia-se quando chegava de noite no saacutebado no baile entatildeo cada um ia pro seu salatildeo A muacutesica ficava no salatildeo dos brancos daiacute colocava umas caixas de som laacute pros morenos com um fio pra eles danccedila Um natildeo podia entra no baile do outro tinha o presidente para cuida Cada um no seu tudo se respeitava e obedecia aquela ordem65
Ainda acrescenta a moradora local Santos
64 REIS Orides Entrevista concedida agrave autora no dia 12 de maio de 2018 65 REIS Orides Entrevista concedida agrave autora no dia 12 de maio de 2018
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O nosso eu natildeo me lembro o nome tem tanto papel mas natildeo sei onde estaacute o nosso dos pretos neacute ningueacutem implicava eles natildeo deixavam noacutes entra no salatildeo Vera Cruz eu entrava de cozinheira empregada porque ali era lugar dos ricaccedilos eles podiam se associar mas o nosso tambeacutem enchia mas eles iam no nosso baile de nego soacute olhavam As festas duravam dias Tinha aquele foguetoacuterio era tatildeo bonito66
Percebe-se na fala dos moradores como esta divisatildeo racial se fazia presente
que havia por parte dos negros um profundo respeito pelos brancos mesmo eles
tendo acesso ao salatildeo Vera Cruz somente para servi-los em nenhum momento se
percebeu que eles se sentissem diminuiacutedos pela situaccedilatildeo ateacute pela cultura que
advinha desde os primeiros moradores locais
Esta divisatildeo social permanece por longo tempo e somente vai desaparecer
nos anos 80 do seacuteculo XX com a contribuiccedilatildeo do Frei Abiacutelio que veio da Vacaria
durante Missotildees convocadas pelo paacuteroco local padre Afonso que conseguiu
modificar esta organizaccedilatildeo implantando a ideia de igualdade e ignorando tudo
aquilo a partir de entatildeo os negros comeccedilaram a frequentar a sociedade Vera Cruz
contribuiccedilatildeo dos entrevistados67 que ao abordar o assunto demonstraram repulsa
pelo passado mas ao mesmo tempo reconhecem que o racismo ainda eacute presente
na comunidade poreacutem devido agraves leis existe um cuidado maior
Atualmente negros e brancos convivem em harmonia participam da festa
cristatilde cujo padroeiro eacute Satildeo Joatildeo de Deus e dos torneios de laccedilo mas geralmente
quem laccedila satildeo os fazendeiros Saudoso o morador68 afirma que ldquouma vez tinha as
carreradas tinha trecircs canchas passava o domingo nas canchas brincando nas
corridas de cavalos tudo terminourdquo Acrescenta69 ainda que ldquoem 70 80 tinha o
futebol o campo era na baixada acho que tem ainda trofeacuteu ai mas daiacute a gurizada
foi embora para a cidade terminou o timerdquo
A vila se construiu de maneira simples tendo a Igreja Catoacutelica com o Salatildeo
Paroquial agrave direita o antigo Centro de Tradiccedilotildees Gauacutechas Laccedilo Velho do Juaacute onde
resta apenas o preacutedio de madeira corroiacuteda pelo tempo ao fundo a cancha de laccedilo
do Piquete de Laccediladores Velho do Juaacute entidade tradicionalista que se manteacutem ativa
desde o iniacutecio da deacutecada de 1960 ao redor haacute casas de moradias que formam ao
centro uma grande praccedila sem nenhuma infraestrutura em frente a esta praccedila
66 SANTOS Deotildes Palhano dos Entrevista concedida agrave autora no dia 12 de maio de 2018 67 REIS Orides SANTOS Deotildes Palhano Entrevistas concedida agrave autora no dia 12 de maio de
2018 68 REIS Orides Entrevista concedida agrave autora no dia 12 de maio de 2018 69 REIS Orides Entrevista concedida agrave autora no dia 12 de maio de 2018
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perpassa uma rua de chatildeo batido sendo que a escola da comunidade fica do outro
lado a escola eacute municipal se chama Bento Eziacutedio Rodrigues atende
aproximadamente vinte alunos que estatildeo matriculados nas seacuteries iniciais do ensino
fundamental tendo duas professoras e um funcionaacuterio para fazer merenda e limpar
o paacutetio como se pode observar na Figura 19
Figura 19 ndash Praccedila Vila do Distrito Juaacute ao fundo cancha de laccedilo
Fonte acervo pessoal da autora (2018)
Ambos os entrevistados70 explicam que o Juaacute atualmente eacute um lugar de
idosos aposentados que outrora as pessoas viviam das roccedilas e da pecuaacuteria
extensiva na deacutecada de 1980 com o advento da induacutestria em Caxias do Sul os
jovens abandonaram seu modo de vida e foram buscar novas oportunidades poreacutem
estes jovens que foram embora retornam com frequecircncia natildeo perdendo a sua
essecircncia Relataram que a uacutenica fonte de trabalho eacute ser peatildeo de fazenda fazendas
estas que produzem o queijo serrano ou vendem leite para a Piaacute71 sendo que a
lavoura eacute para subsistecircncia Outra fonte de renda eacute ser funcionaacuterio da serraria cujo
proprietaacuterio e Joatildeo Egiacutedio que funciona proacuteximo da vila Outro fator importante eacute a
venda de pequenas chaacutecaras para moradores de Caxias do Sul que vem aos finais
70 REIS Orides SANTOS Deotildes Palhano Entrevistas concedidas agrave autora no dia 12 de maio de
2018 71 Piaacute Cooperativa Agropecuaacuteria Petroacutepolis Ltda Empresa que faz a coleta do leite nas fazendas da
regiatildeo
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de semana descansar na localidade poreacutem se percebe que estes novos moradores
muitas vezes natildeo interagem com os moradores locais
Segundo o morador Reis72 ldquoapesar da vinda de pessoas de outros lugares o
Juaacute natildeo perdeu sua identidade fala em Juaacute lembra pinhatildeo colheita do pinhatildeo ateacute
haacute uma criacutetica que diz na eacutepoca do pinhatildeo o juazeiro fala grossordquo Ditado que o
entrevistado73 reafirma sorrindo ldquona eacutepoca do pinhatildeo o juazeiro fala grosso claro
que eacute apenas um dito popular uma maneira de se referir mas sempre eacute dito haacute
aqueles que natildeo gostamrdquo
Nota-se que a vida na comunidade do Juaacute se passa de forma tranquila com
poucos moradores que sua identidade estaacute relacionada agrave pecuaacuteria extensiva com
as lides com o gado bem como ao pinhatildeo uma fruta tiacutepica que se desenvolve na
Araucaacuteria ou pinheiro nativo como eacute conhecido na regiatildeo O pinhatildeo seja ele
assado cozido ou paccediloca74 eacute muito consumido pelos moradores do interior de Satildeo
Francisco de Paula durante o inverno inclusive como mistura do cafeacute da manhatilde
46 DISTRITO DO RINCAtildeO DOS KROEFF
O distrito de Rincatildeo dos Kroeff foi criado em 10 de maio de 1950 Fica a 35
quilocircmetros distante da Sede poreacutem muito antes de se institucionalizar oficialmente
este espaccedilo moradores locais contam como tudo se iniciou
Meu avocirc foi um dos primeiros a vim para caacute ele se chamava Guilherme Faciole ele nasceu no navio vindo da Itaacutelia Ele contava que teve uma desavenccedila em Caxias e fincou o peacute pra caacute pra natildeo acharem ele que aqui era soacute mato e na revoluccedilatildeo de 35 ele fugia de casa para natildeo ser levado pelas tropas os piquetes levavam para combater entatildeo ele sempre dizia que pousou vaacuterias noites embaixo dos peraus da serra do Umbu para natildeo ser levado O falecido vovocirc vivia da caccedila do porco do mato tateti ele fazia charque de porco para ter a carne ele viveu 106 anos e dizia se natildeo tivesse fumado viveria mais uns dez isso faz parte da histoacuteria do Rincatildeo dos Kroeff Junto teve o falecido Acircngelo Menegaacutes que entro aqui na mesma eacutepoca Eles satildeo os fundadores do distrito75
O acesso ao distrito Rincatildeo dos Kroeff permanece totalmente pela estrada de
chatildeo batido sendo possiacutevel ir ao municiacutepio de Maquineacute descendo pela serra do
Umbu Poreacutem muito antes da estrada a busca de mantimentos e o escoamento da
72 REIS Orides Entrevista concedida agrave autora no dia 12 de maio de 2018 73 REIS Orides Entrevista concedida agrave autora no dia 12 de maio de 2018 74 Paccediloca carne de porco moiacuteda e frita no azeite ou banha a qual se acrescenta o pinhatildeo jaacute cozido
e moiacutedo 75 FACIOLE Reinaldo Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de marccedilo de 2018
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produccedilatildeo se dava pelos carreiros visto que natildeo havia abertura de estrada e nem
viatura76 como os moradores relatam
Tudo era na tropeada as tropas que ia para Rolante Na tropeada saia um tropeiro na frente e um recircs com um cincerro que era a madrinheira da tropa saia laacute pelo Chuvisqueiro e saia laacute em Rolante perdia boi na estrada ficava semanas boi perdido agraves vezes nem se achava mais tambeacutem tinha tropa de porco e tinha as tropeadas de mula puxando milho feijatildeo trigo tudo produzido aqui e levado de cargueiro carreta era muito pouco porque natildeo tinha estrada para anda era soacute os trilhos pelo meio dos matos e campos e se produzia milho era o inverno inteiro saia tropas e mais tropas com trinta quarenta mulas burros transportando mantimentos da produccedilatildeo do gratildeo haacute tambeacutem tinha a flor de Pireto que era lucro ningueacutem conhece isso aiacute hoje essa flor era levada para Taquara e fazia veneno para formiga tudo que era tipo de veneno era uma flor muito toacutexica Acredita tropear galinha pois eacute a gente criava bastante saia com os cargueiros como era a vida eles faziam um girau no cesto naqueles balaios para fazer duas camas uma mais em cima e outra em baixo daiacute quando era veratildeo era muito quente tinha que no meio da viagem tirar de dentro do cesto botar na aacutegua na sanga para natildeo morrer ateacute chegar no mercado dali para praia a eacutepoca que mais vendia era novembro e dezembro daiacute tinha preccedilo bom tudo criada solta aviaacuterio nem se falava77
Ao ouvir os moradores se percebe que a construccedilatildeo do distrito aconteceu
devido ao esforccedilo e trabalho de muitas pessoas visto que o local era de mata nativa
densa e precisou ser desmatado para ser ocupado pelas pessoas Explica o
entrevistado Faciole78 ldquopara fazer uma lavoura tambeacutem precisava derrubar o
pinheiro seu Onorino Buffon me contou que faziam fogo ao redor do pinheiro eles
eram muito grosso para derrubar a machado entatildeo faziam fogo secavam para
depois fazer a roccedilardquo E a moradora79 local acrescenta ldquoaqui tambeacutem tinha os
barbacuazeiros produziam erva mais aqui eles soacute tiravam a erva e sapecavam e
depois ia para outro lugar industrializa tudo era diferenterdquo
Poreacutem segundo os moradores este modelo de vida rudimentar se modifica
com a chegada das serrarias sendo que a dos Kroeff foi a primeira juntamente com
a serraria se viu a necessidade da construccedilatildeo de novas casas para os
trabalhadores surgindo ali a vila do distrito Rincatildeo dos Kroeff no iniacutecio a serraria era
tudo manual relata Faciole80 ldquoa uacutenica forma de tira a madeira era com um enfieira
76 Viatura se refere a carro de passeio caminhotildees 77 FACIOLE Reinaldo FACIOLE Maria Madalena Scalco Entrevistas concedidas agrave autora no dia 18
de marccedilo de 2018 78 FACIOLE Reinaldo Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de marccedilo de 2018 79 FACIOLE Maria Madalena Scalco Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de marccedilo de 2018 80 FACIOLE Reinaldo Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de marccedilo de 2018
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de boi eu cheguei a ver cinco ternos de boi carreiro81 emendado puxando um
pinheiro eacute uma bicheira de boi natildeo tinha outra formardquo
Rincatildeo dos Kroeff eacute o menor distrito de Satildeo Francisco de Paula poreacutem em
suas terras se desenvolveu a cultura dos hortifrutigranjeiros desde muito cedo jaacute
que sua colonizaccedilatildeo eacute basicamente italiana e alematilde e os italianos tecircm a cultura do
plantio visando lucro A moradora Faciole82 afirma ldquotudo comeccedilou por aqui depois
se expandiu para o municiacutepio comeccedilamos com moranga branca depois repolho
couve broacutecolis alface e daiacute veio beterraba e tudo o restordquo Acrescenta ainda83 que
ldquodaqui saiacuteram os primeiros caminhotildees de hortifruacuteti do municiacutepio para a Ceasa teve
eacutepoca de sair quarenta caminhotildees por dia do Rincatildeo hoje natildeo sai mais porque
muitos foram buscar novos lugares para plantarrdquo E juntamente com a mudanccedila dos
proprietaacuterios em busca de novas terras muitos de seus funcionaacuterios foram embora
junto afirma em entrevista o morador local84 ldquomuita gente do Rincatildeo foi embora
muitas gurias foram embora para estudar para achar emprego e natildeo voltaram maisrdquo
Atraveacutes da fala da moradora pode-se observar que apesar do distrito ser
produtivo enfrenta algumas dificuldades com relaccedilatildeo ao estudo de seus moradores
que para continuarem seus estudos se assim o desejarem necessitam abandonar
seus pais e ir em busca na Sede ou arredores visto que no distrito existe uma uacutenica
escola Gastatilde Henth Esta eacute municipal e atende dos quatro anos ao nono ano do
ensino fundamental A moradora Faciole explica
O coleacutegio hoje tem 99 alunos ao total quando eles terminam o nono ano alguns vatildeo estudar mas satildeo pouquiacutessimos os outros ficam por aiacute mesmo natildeo tem um transporte que leve eles para fazer o ensino meacutedio na Sede que seria a escola de ensino meacutedio mais proacuteximo se quiser estudar vai ter que ir embora reforccedila quem e trabalhador fica trabalhando com os pais quem natildeo eacute [] As pessoas na sua grande maioria soacute tem o ensino fundamental aqui85
Este eacute um dos grandes problemas enfrentados pelos moradores do Rincatildeo
dos Kroeff a possibilidade de continuar estudando A escola que laacute existe os
moradores locais natildeo sabem precisar a data mas sabem que foi durante o mandato
81 Ternos de boi carreiro significam vaacuterias duplas de bois cangados e ligados por um pedaccedilo de
madeira que vatildeo na canga entre a dupla de bois Esse pau roliccedilo na regiatildeo se chama de cambatildeo 82 FACIOLE Maria Madalena Scalco Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de marccedilo de 2018 83 FACIOLE Maria Madalena Scalco Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de marccedilo de 2018 84 FACIOLE Reinaldo Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de marccedilo de 2018 85 FACIOLE Maria Madalena Scalco Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de maio de 2018
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do prefeito Escobar (1977-1982) que ela foi construiacuteda Neste contexto aparece
tambeacutem a dificuldade de se locomover fazendo uso do transporte puacuteblico
Haacute sete anos atraacutes o Rincatildeo estava bom mesmo tinha ocircnibus da praia agraves vezes passava quatro a cinco ocircnibus da praia tudo pela serra do Umbu Agora soacute tem um trecircs dias por semana As empresas deixaram de trafegar por aqui elas natildeo vatildeo descer numa serra de chatildeo batido sendo que tem a outra86 com asfalto87
Os moradores se orgulham da festa religiosa que acontece todos os anos em
agosto sendo que o santo padroeiro eacute Satildeo Roque A festa da comunidade
apresenta uma tradiccedilatildeo local muito interessante na segunda-feira apoacutes a festa ela
continua para os moradores locais que vatildeo ao salatildeo paroquial para se divertir entre
si e esta eacute uma tradiccedilatildeo que eacute comentada em todo o municiacutepio Faciole88 saudoso
afirma ldquopara ti ter uma ideia nessa festa chegava dar vinte poucos ocircnibus lotado que
vinham de outros municiacutepios como Igrejinha Taquara Porto Alegre Novo
Hamburgo o espaccedilo ficava pequenordquo Acrescenta89 ainda ldquoaqui noacutes tinha o Clube
Serrano que dava baile janta italiana dava um movimento louco mas terminou ateacute
o baile das rainhas cada ano era uma era tatildeo lindo mas tudo se acabourdquo
Figura 20 ndash Imagem da Igreja Satildeo Roque em dia de festa no Rincatildeo dos Kroeff
Fonte acervo pessoal da autora (2018)
86 A outra se refere a rodovia RS-453 conhecida como Rota do Sol 87 FACIOLE Reinaldo Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de marccedilo de 2018 88 FACIOLE Reinaldo Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de marccedilo de 2018 89 FACIOLE Reinaldo Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de marccedilo de 2018
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Percebe-se que o distrito Rincatildeo dos Kroeff eacute o uacutenico que obteve em seu
iniacutecio uma colonizaccedilatildeo por descentes de italianos dentro do municiacutepio de Satildeo
Francisco de Paula o que demonstra o quatildeo forte se daacute a tradiccedilatildeo ldquoitalianardquo neste
local permanecendo intriacutenseca na vida cotidiana de seu povo com a cultura do
plantio de hortifrutigranjeiros que permanece apesar do tempo como sendo a sua
maior identidade local
47 DISTRITO DE LAJEADO GRANDE
Lajeado Grande em tempos idos pertenceu ao distrito de Cazuza Ferreira e
somente em 12 de dezembro de 1968 se tornou um distrito independente segundo
a Lei nordm 655 encontrada nos autos da Prefeitura Municipal de Satildeo Francisco de
Paula A vila do distrito Lajeado Grande fica distante 63 quilocircmetros da Sede e se
situa na confluecircncia do Arroio Porco Morto e o Rio Bururi Seu surgimento acontece
segundo o morador Fogaccedila90 ldquopor volta de 1940 com a abertura da estrada Canela
ndash Bom Jesus a atual RS-476 que corta a vila do Distritordquo Essa estrada segundo o
morador facilitou a locomoccedilatildeo que anteriormente era feita totalmente pelas trilhas e
picadas por onde somente se passava a cavalo ou de carreta E o entrevistado
explica como acontece o desenvolvimento inicial da vila
Tu sabe aqui tem o nome de Lajeado Grande por causa do rio que eacute cheio de lajes grandes o que facilitava a travessia e as terras aqui por roda era tudo do falecido Pequeno Cardoso ele doou parte para a construccedilatildeo da vila onde o falecido Leopoldino Cardoso irmatildeo do Pequeno tinha uma lsquobudega velharsquo91 por aqui sendo o primeiro comeacutercio da vila92
A abertura da estrada possibilitou o desenvolvimento da vila juntamente com
o Casaratildeo um hotel pensatildeo que foi construiacutedo as margens do Arroio Porco Morto
este Casaratildeo passou por diversos proprietaacuterios
Leopoldino Cardoso foi o idealizador do Casaratildeo juntamente com os seus soacutecios Heraacuteclito Andrade de Cardoso lsquoJoanitorsquo Joseacute Osoacuterio de Lima lsquoZecarsquo e Pequeno Cardoso sendo que o Casaratildeo era uma casa de negoacutecio compravam queijo couro era um comeacutercio forte vendia secos e molhados inclusive a primeira rodoviaacuteria foi instalada neste espaccedilo poreacutem em 1948 Joatildeo Pacheco Cardoso assume e amplia o estabelecimento construindo o segundo piso da casa de madeira e alugando para outros dois moradores
90 FOGACcedilA Blair dos Santos Entrevista concedida agrave autora no dia 06 de abril de 2018 91 Budega velha referindo-se a uma antiga casa de comeacutercio de secos e molhados localizada onde
hoje se encontra o armazeacutem Celeiro 92 FOGACcedilA Blair dos Santos Entrevista concedida agrave autora no dia 06 de abril de 2018
71
Eremi Terres e Claunir Lucena Com a reforma o Casaratildeo passa a ter treze quartos para aluguel uma loja onde encontrava-se tudo o que se necessitava de alfinete tecido alimentos e raccedilotildees aleacutem da ala que servia de moradia para os proprietaacuterios Em 1962 o estabelecimento eacute alugado para Eraldo Bento de Oliveira que aleacutem de gerenciar o estabelecimento colocou junto um bar local de encontro dos homens da redondeza para tomar um lsquotragorsquo93 (CERUTTI SILVA CARDOSO 2002 p 19)
Figura 21 ndash Imagem do Casaratildeo pouco antes de ser desmanchado
Fonte acervo pessoal de Fernando Oliveira (conhecido como Guego) (2018)
O Casaratildeo foi desmanchado na deacutecada de 1980 pelo entatildeo proprietaacuterio Reno
Pacheco Poreacutem percebe-se na vila que seus antigos moradores falam com certo
saudosismo deste estabelecimento que fez parte de suas vidas e chegam a
lamentar o seu fim morador Fogaccedila94 afirma ldquoali se fez o pastel mais famoso do
Lajeado Grande o pastel da Odila mas tudo se acabou quando eles entregaram e
construiacuteram laacute na esquinardquo95
Poreacutem a vila Lajeado Grande foi lentamente se desenvolvendo Devido agrave
necessidade da conservaccedilatildeo da nova estrada foi construiacuteda agraves margens do Rio
Bururi uma capatazia do DAER Segundo Cerutti Silva e Cardoso (2002 p 18) ldquoo
primeiro capataz foi Capitulino Prudecircncio de Oliveira vindo de Santa Catarina sua
funccedilatildeo era manter as estradas e chegou a ter vinte funcionaacuteriosrdquo Percebe-se que a
93 Trago expressatildeo local que significa beber uma cachaccedila 94 FOGACcedilA Blair dos Santos Entrevista concedida agrave autora no dia 06 de abril de 2018 95 Esquina eacute o nome dado a parte da vila do Lajeado Grande onde se daacute o entroncamento das
rodovias RS-453 e ERS-476
72
partir deste momento se inserem neste distrito pessoas advindas de outros estados
e locais visto que ateacute o presente momento o distrito era habitado por fazendeiros
naturais do proacuteprio municiacutepio e que tinham suas vidas ligadas diretamente agrave
pecuaacuteria extensiva e agrave produccedilatildeo do queijo serrano Importante destacar que a
esposa de Capitulino segundo Cerutti Silva e Cardoso (2002 p 18) ldquoa Celicina
Guilherme da Silva se torna uma figura conhecida por realizar partos sendo
chamada como parteira de campanhardquo Na atualidade filhos netos e bisnetos do
casal ainda residem na vila
A vila do Lajeado Grande tambeacutem recebe novos moradores com a praacutetica do
corte do pinheiro nativo sendo que na deacutecada de 1950 havia uma faacutebrica de
beneficiamento de madeira ateacute se transformar em pasta este material era levado
para Esteio onde funcionava agrave matriz A partir dos anos 1950 ocorre a instalaccedilatildeo de
serrarias sendo que a Madeireira Albeflor de propriedade de Valter Sguaizer se
instala em 1964 Novamente busca-se matildeo de obra em localidades proacuteximas como
Lagoa Vermelha Vacaria e Bom Jesus poreacutem com a proibiccedilatildeo da extraccedilatildeo de
madeira de lei a serraria deixou de funcionar
Percebe-se que no distrito natildeo houve uma homogeneizaccedilatildeo identitaacuteria visto a
influecircncia advinda de muitas culturas no passado atraveacutes da extraccedilatildeo de madeira
e na atualidade com o advento das lavouras de hortifrutigranjeiros e pomares
frutiacuteferos que ocupam boa parte do distrito substituindo a pecuaacuteria extensiva que jaacute
natildeo proporciona um lucro efetivo Entatildeo os proprietaacuterios na sua grande maioria
venderam ou arrendaram suas terras para novas culturas o que modifica o modo de
vida local pois grande parte dos trabalhadores adveacutem de outros estados como o
Paranaacute e tambeacutem se observa o uso da matildeo de obra indiacutegena
Essa miscigenaccedilatildeo se observa nas escolas locais visto que na vila funciona a
Escola Municipal D Pedro I que segundo Cerutti Silva e Cardoso (2002 p 35)
ldquoinicia em 1965 poreacutem a professora e o preacutedio eram mantidos pela Serraria mas na
deacutecada de 70 a prefeitura assumiu a escola sendo que Eloci Martim foi a primeira
professora da Serrariardquo Escola da Serraria como ainda eacute conhecida por boa parte
dos moradores locais apesar de a escola natildeo se encontrar mais onde havia a antiga
serraria Atualmente a Escola Dom Pedro I funciona em um preacutedio obtido atraveacutes da
Associaccedilatildeo de Moradores atendendo alunos da preacute-escola ateacute o sexto ano das
seacuteries finais tendo em seu quadro seis professores e duas funcionaacuterias Sendo que
73
a obra para um novo preacutedio teve iniacutecio neste ano mas percebe-se que a obra parou
por volta do mecircs de maio Poreacutem na vila tambeacutem se encontra uma escola estadual
A documentaccedilatildeo necessaacuteria para a criaccedilatildeo de uma nova escola na localidade foi elaborada por Manoel Cardoso de Andrade juntamente com a professora Odazilda Cardoso Demori e encaminhada agrave Secretaria da Educaccedilatildeo sendo que em 11 de fevereiro de 1953 foi criada a Escola Isolada de Lajeado Grande sendo os professores estaduais mas o preacutedio sob responsabilidade comunitaacuteria iniciou o seu funcionamento nas dependecircncias do DAER e somente em 1957 foi construiacutedo um preacutedio de madeira em terras doadas por Pequeno Cardoso local onde hoje ainda se encontra a escola poreacutem passou por muitas reformas sendo que em 2000 recebeu um novo preacutedio de alvenaria o que possibilitou a realizaccedilatildeo de um grande sonho dos professores e comunidade a implantaccedilatildeo do Ensino Meacutedio que concretizou-se em 200296
Atualmente a escola atende em torno de trezentos alunos da Educaccedilatildeo
Baacutesica poreacutem percebe-se que devido agraves safras de hortifrutigranjeiros o nuacutemero de
alunos se alterna durante o ano O que tambeacutem se percebe eacute o comportamento dos
alunos com relaccedilatildeo agrave diversidade cultural por exemplo usam bombacha laccedilam boi
de pau no recreio e escutam funk uma cultura totalmente diferente da tradicionalista
gauacutecha o que compreende-se como algo advindo da globalizaccedilatildeo cultural que
vivemos no mundo atual reforccedilando novamente o natildeo reconhecimento de uma
identidade forte na localidade
Poreacutem as famiacutelias tradicionais do local manteacutem fortemente arraigada a
cultura tradicionalista que adveacutem do homem do campo tendo no distrito festas
campeiras torneios de laccedilo e a festa religiosa uma vez por ano em homenagem ao
Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus padroeiro da vila
Na atualidade natildeo se percebe uma identidade forte e marcada no distrito e
sim uma miscigenaccedilatildeo de diferentes culturas e etnias que convivem e se integram
harmonicamente
96 CARDOSO Amaacutelia Celuderes Entrevista concedida agrave autora no dia 08 de marccedilo de 2018
74
5 DESCRICcedilAtildeO DO PRODUTO
O produto consiste em um livro paradidaacutetico sobre a histoacuteria de Satildeo Francisco
de Paula Apresenta de maneira didaacutetica a histoacuteria de Satildeo Francisco de Paula bem
como balotildees explicativos imagens sugestotildees de atividades e leituras
complementares Poderaacute servir de apoio pedagoacutegico a professores e alunos do
municiacutepio visto que existe pouco material sobre a histoacuteria deste municiacutepio e se faz
importante trabalhar a histoacuteria local percepccedilatildeo que a autora obteve ao longo da sua
caminhada como professora de histoacuteria que atua nas seacuteries finais do ensino
fundamental e meacutedio haacute dezessete anos na rede estadual do municiacutepio
Partir do local natildeo eacute abandonar o conhecimento histoacuterico eacute dar outro valor
sentido para este conhecimento Segundo Caimi
Levar em conta o universo da crianccedila ou do adolescente natildeo eacute pois abdicar do rigor intelectual [] mas garantir que a apropriaccedilatildeo deste conhecimento ocorra permeada de sentido e significado resultando em soacutelidas aprendizagens (CAIMI 2006 p 24)
Seguindo esta perspectiva a implantaccedilatildeo do Referencial Curricular Gauacutecho
embasado na Base Nacional Comum Curricular reforccedila a ideia jaacute discutida nos
paraacutegrafos anteriores
No que se refere especificamente ao componente Histoacuteria a base rompe tanto com a cronologia quanto agrave visatildeo eurocecircntrica da histoacuteria tradicional Entram em cena novos atores novas sociedades novos caminhos que sempre tiveram na histoacuteria mas nem sempre receberam a devida importacircncia Acompanhando a Base Nacional Comum Curricular o Referencial Curricular Gauacutecho no que se refere especificamente agrave disciplina de Histoacuteria manteacutem seu foco na aprendizagem dos alunos nos diferentes espaccedilos e tempos tendo a preocupaccedilatildeo de integrar o curriacuteculo com a diversidade regional de nosso Estado Tambeacutem eacute importante contemplar os temas integradores como eacutetica cidadania cultura e valorizaccedilatildeo das diversidades assegurando a multiplicidade de olhares sobre o mundo (RIO GRANDE DO SUL 2018 p 118)
Portanto o paradidaacutetico seraacute mais um material disponiacutevel aos professores e
estudantes da educaccedilatildeo baacutesica de Satildeo Francisco de Paula na construccedilatildeo do
conhecimento da histoacuteria do municiacutepio bem como o reconhecimento de sua
identidade neste material visto que se almeja que os estudantes percebam
vestiacutegios de sua identidade e se percebam como parte deste municiacutepio atraveacutes do
conhecimento de sua histoacuteria
75
O paradidaacutetico vem com o tiacutetulo rdquoTropeando histoacuterias em Satildeo Francisco de
Paulardquo sendo que a capa traz a foto do Monumento aos Carreteiros monumento
que se encontra na Avenida Juacutelio de Castilhos em frente ao preacutedio da Prefeitura
Municipal
Figura 22 ndash Capa do livro
Fonte Livro Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula
Na sequecircncia se apresenta o iacutendice que possibilita ao leitor localizar os
diversos temas abordados visto que existem nove capiacutetulos
76
Figura 23 ndash Iacutendice do livro
Fonte Livro Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula
77
O capiacutetulo um apresenta a localizaccedilatildeo de Satildeo Francisco de Paula com uma
seacuterie de mapas que facilitam a compreensatildeo espacial dos alunos assim como um
mapa da subdivisatildeo do municiacutepio em distrito Ao final satildeo sugeridas duas atividades
que podem ser desenvolvidas de maneira interdisciplinar com o apoio da professora
de arte geografia e portuguecircs
Figura 24 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 1)
Fonte Livro Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula
78
Figura 25 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 1)
Fonte Livro Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula
O capiacutetulo dois aborda a existecircncia indiacutegena em Satildeo Francisco de Paula
antes da chegada dos desbravadores vindos de Satildeo Paulo Como sugestatildeo de
atividades apresenta-se uma pesquisa sobre as diferentes tribos indiacutegenas que
habitavam a Proviacutencia de Satildeo Pedro aleacutem da criaccedilatildeo de um painel infograacutefico
79
Figura 26 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 2)
Fonte Livro Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula
No capiacutetulo trecircs se apresentam os primeiros donataacuterios colonizadores de Satildeo
Francisco de Paula com trecho de um testamento deixado por Pedro da Silva
Chaves o fundador de Satildeo Francisco de Paula bem como o mapa que localiza as
primeiras sesmarias que corresponde ao territoacuterio onde hoje eacute a Sede do municiacutepio
80
Figura 27 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 3)
Fonte Livro Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula
Nos capiacutetulos quatro e cinco eacute apresentado o desenvolvimento de Satildeo
Francisco de Paula ainda no seacuteculo XIX quando pertencia ao municiacutepio de Santo
Antocircnio da Patrulha e no final do seacuteculo XIX quando passa a pertencer ao entatildeo
81
municiacutepio de Taquara do Mundo Novo Existe tambeacutem um mapa que demonstra a
extensatildeo territorial de Santo Antocircnio da Patrulha e quais satildeo os municiacutepios hoje que
pertenceram a este bem como a importacircncia da abertura da estrada que liga Satildeo
Francisco de Paula a Taquara
Figura 28 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 4)
Fonte Livro Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula
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Os capiacutetulos seis e sete apontam a construccedilatildeo do Municiacutepio a partir de sua
emancipaccedilatildeo em 1903 sua extensatildeo territorial e a diminuiccedilatildeo do seu territoacuterio ao
longo do tempo e a histoacuteria da Igreja Matriz Como sugestatildeo de atividade pesquisar
a diversidade religiosa existente na comunidade escolar e criar graacuteficos com essas
informaccedilotildees podendo a partir de entatildeo trabalhar com as questotildees religiosas ontem
e hoje no mundo
Figura 29 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 6)
Fonte Livro Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula
83
No capiacutetulo oito se apresenta o que difere os sete distritos de Satildeo Francisco
de Paula Este capiacutetulo se apresenta subdividido em sete subtiacutetulos onde cada um
corresponde a um distrito do municiacutepio Tendo como fonte principal as entrevistas
realizadas com moradores locais mesclado com fontes documentais e bibliograacuteficas
que corroboram para se perceber que haacute alguns distritos que manteacutem suas tradiccedilotildees
ao longo do tempo e eacute possiacutevel perceber que existe uma identidade que aproxima
aquela populaccedilatildeo
Figura 30 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 8)
Fonte Livro Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula
84
No uacuteltimo capiacutetulo o nove se exibe uma lista de sugestotildees de leituras
complementares a fim de se aprofundarem sobre determinados temas E por fim
as referecircncias utilizadas para a construccedilatildeo do paradidaacutetico Tropeando Histoacuterias em
Satildeo Francisco de Paula
Figura 31 ndash Atividade do livro (Sugestatildeo de Leituras Complementares)
Fonte Livro Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula
85
O produto foi testado em duas turmas da Educaccedilatildeo Baacutesica na Escola
Estadual de Ensino Meacutedio Lajeado Grande com o propoacutesito de avaliar qual seria a
reaccedilatildeo dos estudantes diante do material e por ele ter sido produzido por algueacutem
que convive com eles semanalmente A receptividade foi bastante gratificante como
se pode observar na Figura 32
Figura 32 ndash Alunos do Ensino Meacutedio
Fonte acervo pessoal da autora (2019)
A receptividade foi muito interessante visto que os estudantes
acompanharam a trajetoacuteria para chegar ao produto final algo que os deixava
ansiosos para manusear pois muitas vezes foram parceiros A autora foi
compartilhando com os estudantes as informaccedilotildees obtidas durante a pesquisa e as
descobertas encontradas usando em suas aulas a histoacuteria local para abordar os
diferentes temas e conceitos histoacutericos
Quando a autora apresenta o produto os estudantes do ensino meacutedio estes
formam grupos por distritos e buscam logo reconhecer no material sua identidade
apoacutes comentam sobre as peculiaridades de cada distrito Poreacutem os alunos do
ensino fundamental manuseiam o produto mas natildeo se deteacutem ao distrito em que
pertence e sim as imagens e as explicaccedilotildees apresentadas no vocecirc sabia
O que enriquece o trabalho realizado foi o envolvimento dos estudantes com
o produto solicitando quando poderatildeo ler calmamente todo o trabalho
86
6 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
A partir de experiecircncias pessoais em sala de aula se percebeu que o ensino
de Histoacuteria quando se partia da histoacuteria local havia maior interesse dos estudantes
da educaccedilatildeo baacutesica motivo pelo qual se deu a questatildeo-problema desta dissertaccedilatildeo
que estaacute relacionada diretamente com o natildeo uso desta histoacuteria pelos professores da
educaccedilatildeo baacutesica
Em conversas informais com professores da educaccedilatildeo baacutesica que atuam no
municiacutepio de Satildeo Francisco de Paula em sua grande maioria alegam que o grande
empecilho para se trabalhar a histoacuteria local eacute o pouco material disponiacutevel sobre a
histoacuteria de Satildeo Francisco de Paula aleacutem do rigor dos curriacuteculos que impotildeem o
ensino de Histoacuteria de maneira linear sem contextualizaccedilatildeo com a realidade vivida
pelos estudantes pois desta forma natildeo estatildeo preparando os estudantes para as
avaliaccedilotildees do Ministeacuterio da Educaccedilatildeo bem como para o vestibular Poreacutem natildeo se
estaacute afirmando que deveraacute estudar somente a histoacuteria local e sim partir dela como
incentivo para estudos dos conceitos e temaacuteticas da histoacuteria por muitas vezes
totalmente abstrato e de difiacutecil compreensatildeo pela grande maioria dos estudantes
A partir de entatildeo se realizaram inuacutemeros questionamentos como qual a
necessidade de se ensinar Histoacuteria de forma abstrata sem nenhuma relaccedilatildeo com
as vivecircncias dos estudantes Por que natildeo usar a fonte oral como metodologia de
pesquisa no ensino de Histoacuteria em Satildeo Francisco de Paula jaacute que natildeo existem
muitos materiais escritos a respeito desta histoacuteria principalmente no que tange os
distritos do interior Poreacutem estes questionamentos natildeo foram aprofundados na
dissertaccedilatildeo por natildeo ser o objetivo direto da pesquisa mas posteriormente poderaacute
se tornar um novo projeto de pesquisa
Nesta incessante busca por resposta se constroacutei todo o estudo desta
dissertaccedilatildeo que em um primeiro momento busca embasamento em diferentes
autores que comprovam que o ensino de Histoacuteria voltado para o local faz maior
sentido para os estudantes da educaccedilatildeo baacutesica e que isto natildeo significa abandonar
os conceitos histoacutericos e sim questionar analisar a trajetoacuteria humana no tempo e
no espaccedilo sob uma nova metodologia Apenas se sugere uma nova abordagem
que torne o ensino de Histoacuteria menos abstrato algo mais presente na vida do
estudante e que possibilite a ele a habilidade de perceber que o mundo estaacute em
constante mudanccedila poreacutem os fatos natildeo ocorrem de forma isolada no espaccedilo Algo
87
que foi reforccedilado apoacutes a construccedilatildeo da Base Nacional Curricular e o Referencial
Curricular Gauacutecho que vem de encontro com esta proposta de se estudar a histoacuteria
sobre novos olhares natildeo esquecendo das especificidades regionais do estado do
Rio Grande do Sul para o reconhecimento da identidade local e regional
A identidade local nesta pesquisa se buscou atraveacutes de relatos de
moradores locais que gentilmente colaboraram para o sucesso deste trabalho pois
a memoacuteria se tornou a fonte primordial para se escrever o que identifica os sete
distritos que constituem Satildeo Francisco de Paula Certamente a temaacutetica natildeo se
esgotou ainda haacute muito que se pesquisar e escrever sobre a histoacuteria de Satildeo
Francisco de Paula possibilitando a criaccedilatildeo de novos materiais que possam ser
usados em sala de aula pelos professores e alunos deste municiacutepio
Mas ao mesmo tempo haacute uma preocupaccedilatildeo por parte da autora nada
adianta criar produtos sinalizar novos meacutetodos ao ensino de Histoacuteria se o
profissional professor natildeo estiver preparado para trabalhar com novas fontes
histoacutericas novas metodologias de ensino proporcionando aos estudantes a
oportunidade de construir seu proacuteprio conhecimento histoacuterico embasado em sua
realidade e suas vivecircncias
Vivecircncias que se tornaram aliadas na pesquisa pois a autora nasceu e
sempre viveu no municiacutepio de Satildeo Francisco de Paula poreacutem a maior dificuldade
encontrada nesta caminhada foi percorrer grandes distacircncias por estradas de
rodagem em peacutessimas condiccedilotildees de trafegabilidade para gravar os relatos que
servem de base para a construccedilatildeo desta pesquisa O municiacutepio de Satildeo Francisco de
Paula eacute territorialmente extenso e essas distacircncias percorridas deram o nome ao
produto Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula como uma homenagem
aos antigos tropeiros deste municiacutepio que passavam boa parte de sua vida ao
lombo de mulas levando e buscando mercadorias pelos campos de cima da serra
Visto que desde o processo seletivo do mestrado em agosto de 2016
quando se apresentou o projeto de pesquisa jaacute se pensava no produto um livro
paradidaacutetico no formato fiacutesico A autora por diversas vezes foi questionada por que
natildeo um blog ou site Porque na forma fiacutesica este material seria de faacutecil manuseio
pelos estudantes e professores pois principalmente no interior uso da internet ainda
eacute um problema visto que em muitos locais natildeo existe sinal de telefonia diraacute
internet
88
O paradidaacutetico foi se moldando ao longo do tempo ateacute se chegar a versatildeo
final com uma ampla gama de informaccedilotildees e curiosidades sobre os sete distritos de
Satildeo Francisco de Paula onde se pretende que os alunos e professores possam
fazer uso deste material em sala de aula para tanto a autora pretende
posteriormente lanccedilar o produto para que possa ser lido e manuseado por todos
inclusive por aqueles que gostam de histoacuteria e sentem curiosidade sobre a formaccedilatildeo
do seu distrito e por conseguinte do municiacutepio de Satildeo Francisco de Paula
O paradidaacutetico foi testado em duas turmas da Escola Estadual de Ensino
Meacutedio Lajeado Grande sendo uma de Ensino Meacutedio e a outra das seacuteries finais do
Ensino Fundamental Os alunos jaacute detinham o conhecimento que a autora estava
cursando o Mestrado e que para sua conclusatildeo deveria apresentar um produto Era
de conhecimento de todos os estudantes que a autora estava produzindo um
paradidaacutetico sobre a histoacuteria de Satildeo Francisco de Paula pois a mesma eacute professora
destes estudantes nesta escola
Em um primeiro momento se explica que eacute apenas um protoacutetipo que
somente a capa estaacute colorida e o restante estaacute todo em preto e branco e que a
versatildeo final teraacute as imagens e as curiosidades coloridas o que com certeza
chamaraacute mais atenccedilatildeo Ao entregar o paradidaacutetico Tropeando Histoacuterias em Satildeo
Francisco de Paula para que possam manuseaacute-lo veio a primeira grande surpresa
os estudantes ficaram muito contentes por a turma ter sido escolhida pela autora
escolha essa que se justifica por ter trabalhado todo o ano de 2017 com estes
alunos partindo da histoacuteria local
A turma do oitavo ano do Ensino Fundamental manuseou sendo que os
alunos acharam interessante poreacutem se deteram mais nas imagens e balotildees do
ldquovocecirc sabiardquo Mas de maneira ampla e geral acharam muito interessante a foto de
capa com o Monumento aos Carreteiros situado na Avenida Juacutelio de Castilhos em
frente ao preacutedio da Prefeitura Municipal pois alguns natildeo conhecem a Sede do
municiacutepio
Os alunos do segundo ano do Ensino Meacutedio se surpreenderam e foram direto
ler sobre o distrito no qual residem Interessados questionaram sobre curiosidades
de como o material foi construiacutedo quais as maiores dificuldades encontradas
elogiaram o leiaute as imagens de fundo ao lado de cada curiosidade relatando que
chama a atenccedilatildeo aleacutem de considerarem relevantes as sugestotildees de atividades e
ao final solicitaram quando o material estaraacute disponiacutevel para que possam ler
89
integralmente visto que um periacuteodo de cinquenta minutos natildeo foi suficiente para que
todos manuseassem se fazendo necessaacuterio levar novamente na proacutexima aula
A autora se sentiu motivada pela recepccedilatildeo do produto por seus alunos o que
a incentiva continuar pesquisando sobre outras temaacuteticas a respeito da histoacuteria de
Satildeo Francisco de Paula trazendo para seu fazer pedagoacutegico novas fontes que
proporcionem um estudo da Histoacuteria de maneira ampla e contextualizada com a
realidade local que os cerca
90
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Jornal Satildeo Chico Tchecirc n 12 do dia 28 de maio de 1986
Jornal Pioneiro versatildeo digital do dia 02 de junho de 2017
Entrevistas
Amaacutelia Celuderes Cardoso residente no distrito de Lajeado Grande Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 08 de marccedilo de 2018
Blair dos Santos Fogaccedila residente no distrito de Lajeado Grande Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 06 de abril de 2018
Ceacutelia Pacheco Terres Basso residente no distrito de Cazuza Ferreira Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 04 de agosto de 2018
Darci da Silva Fagundes residente no distrito de Tainhas Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 24 de fevereiro de 2018
Deotildes Palhano dos Santos residente no distrito do Juaacute Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 12 de maio de 2018
Jaures Feijoacute Gomes residente no distrito de Eletra Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 15 de fevereiro de 2018
Luciana Olga Soares residente no distrito Sede Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 01 de marccedilo de 2018
Maria Madalena Scalco Faciole residente no distrito do Rincatildeo dos Kroeff Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 18 de marccedilo de 2018
Moacir Castello Branco de Albuquerque residente no distrito Sede Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 06 abril de 2018
95
Nauro Bossle de Andrade residente no distrito de Cazuza Ferreira Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 04 de marccedilo de 2018
Orides Reis residente no distrito do Juaacute Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 12 de maio de 2018
Reinaldo Faciole residente no distrito do Rincatildeo dos Kroeff Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 18 de marccedilo de 2018
Susana Marques Soares residente no distrito de Eletra Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 15 de fevereiro de 2018
96
APEcircNDICES
97
APEcircNDICE A ndash ENTREVISTA COM MORADORES LOCAIS DOS DISTRITOS DE
SAtildeO FRANCISCO DE PAULA
UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL
PROGRAMA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO EM HISTOacuteRIA ndash MESTRADO EM HISTOacuteRIA PROFISSIONAL
PESQUISA DE CAMPO ndash TATIANA MEacuteLO CARDOSO
1 Nome completo
2 Idade
3 Quantos anos reside neste distrito
4 Como se formou este distrito
5 Por que ele tem esse nome
6 Quem foram os primeiros moradores
7 Como era a vida aqui haacute tempos atraacutes
8 O que mudou aqui com o passar dos anos
9 O que identifica este lugar
10 As pessoas hoje que moram aqui na grande maioria satildeo naturais daqui ou vieram
de onde
11 A(o) Sra(Sr) acredita que as futuras geraccedilotildees valorizaram eou conheceram a
histoacuteria local ou vai se perder no tempo
12 Como funcionava a questatildeo do ensino em meados do seacuteculo XX havia escola na
localidade
13 Qual a primeira escola deste distrito data de fundaccedilatildeo local de funcionamento e a
primeira professora
14 Achas importante trabalhar nas escolas a histoacuteria do lugar
15 O que eacute tradiccedilatildeo deste distrito
16 Qual eacute a fonte de renda das pessoas no que elas trabalham
17 Qual eacute o lazer das pessoas aqui
98
APEcircNDICE B ndash TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Declaro por meio deste termo que concordei em ser entrevistado(a) eou participar na
pesquisa de campo referente ao projetopesquisa Ensino de Histoacuteria Local e o Paradidaacutetico
caso Satildeo Francisco de Paula desenvolvida pela aluna Tatiana Meacutelo Cardoso do Programa de
Poacutes-Graduaccedilatildeo em Histoacuteria ndash Mestrado Profissional da Universidade de Caxias de Sul Fui
informado(a) que poderei consultaacute-la a qualquer momento que julgar necessaacuterio atraveacutes do e-
mail t_ati_mhotmailcom
Afirmo que aceitei participar por minha proacutepria vontade sem receber qualquer
incentivo financeiro ou ter qualquer ocircnus e com a finalidade exclusiva de colaborar para o
sucesso da pesquisa Fui informado(a) dos objetivos estritamente acadecircmicos de estudo
Minha colaboraccedilatildeo natildeo ficaraacute anocircnima e foi realizada por meio de entrevista
semiestruturada A anaacutelise dos dados obtidos seratildeo divulgados natildeo permanecendo restritas
apenas a pesquisadora eou seu(s) orientador(es) coordenador(es)
Fui ainda informado(a) de que posso me retirar desse(a) estudopesquisa programa a
qualquer momento sem prejuiacutezo para meu acompanhamento ou sofrer quaisquer sanccedilotildees ou
constrangimentos Atesto recebimento de uma coacutepia assinada deste Termo de Consentimento
Livre e Esclarecido
Satildeo Francisco de Paula ___ de _____________ de ____
Assinatura do(a) participante
Assinatura do responsaacutevel
TATIANA MEacuteLO CARDOSO
SAtildeO FRANCISCO DE PAULA
O ENSINO DE HISTOacuteRIA E A IDENTIDADE LOCAL
Dissertaccedilatildeo de mestrado apresentada ao Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Histoacuteria da Universidade de Caxias do Sul para a obtenccedilatildeo do tiacutetulo de Mestre em Histoacuteria
Orientadora Profordf Drordf Cristine Fortes Lia
CAXIAS DO SUL
2019
SAtildeO FRANCISCO DE PAULA
O ENSINO DE HISTOacuteRIA E A IDENTIDADE LOCAL
Tatiana Meacutelo Cardoso
Trabalho de Conclusatildeo de Mestrado submetido agrave Banca Examinadora designada pelo Colegiado do Programa de Poacutes - Graduaccedilatildeo em Histoacuteria da Universidade de Caxias do Sul como parte dos requisitos necessaacuterios para a
obtenccedilatildeo do tiacutetulo de Mestre em Histoacuteria Aacuterea de Concentraccedilatildeo Ensino de Histoacuteria Fontes e Linguagens Linha de Pesquisa Fontes e Acervos na Pesquisa e
Docecircncia em Histoacuteria
Caxias do Sul 5 de junho de 2019
Banca Examinadora
Dra Cristine Fortes Lia Universidade de Caxias do Sul
Dra Eliane Gasparini Xerri Universidade de Caxias do Sul
Dr Jorge Luiz da Cunha Universidade Federal de Santa Maria
Dedico esse estudo a todos que fizeram
parte desta caminhada
AGRADECIMENTOS
Agradeccedilo a Deus em primeiro lugar por ter me dado forccedila para me manter
firme no propoacutesito de concluir o mestrado
Aos meus pais Rivan e Benta que sempre estiveram ao meu lado me
apoiando minha eterna gratidatildeo Amo muito vocecircs
Ao meu esposo Norli que esteve presente em todos os momentos com
paciecircncia e muitas vezes me acompanhando durante as pesquisas para que natildeo
fosse soacute Te amo muito
Ao meu filho Bento Manoel pela compreensatildeo de ver sua matildee mergulhada
em livros em frente ao computador sem poder lhe dar muita atenccedilatildeo Minha razatildeo
de viver
Ao meu irmatildeo Tarciano que sempre me incentivou para que fizesse o
mestrado Muito obrigada por suas palavras
Agrave minha orientadora Professora Dra Cristine pelos ensinamentos prestados
por ter me oportunizado vivecircncias tatildeo ricas que com certeza muito colaboraram
para o sucesso desta pesquisa Minha eterna gratidatildeo
Aos professores do Mestrado pelos ensinamentos prestados com certeza
muito agregaram em minha vida profissional A vocecircs meu carinho
Aos entrevistados Sr Dr Moacir Sr Orides Sr Jaures Sr Blair Sr Nauro
Sr Darci Sr Reinaldo e a Sra Susana Sra Luciana Sra Deotildes Sra Ceacutelia Sra
Amaacutelia Celuderes e Sra Maria Madalena pelo apoio recebendo-me em suas
residecircncias e colaborando com esta pesquisa Sem a colaboraccedilatildeo de vocecircs esse
trabalho seria mais difiacutecil A vocecircs meu muito obrigado
Agrave minha amiga Lisandra que sempre me apoiou com suas palavras de
carinho dando-me coragem para prosseguir Agradeccedilo pela sua amizade
E por fim aos meus alunos que compartilharam muitas vezes as minhas
anguacutestias meu cansaccedilo mas sempre me apoiaram Em especial aqueles que
testaram o produto por suas doces palavras Meu eterno agradecimento
RESUMO
A presente dissertaccedilatildeo aborda o ensino de Histoacuteria em Satildeo Francisco de Paula Rio Grande do Sul tendo como princiacutepio que o ensino de Histoacuteria partindo do local se torna mais significativo aos estudantes da educaccedilatildeo baacutesica Para a construccedilatildeo dessa pesquisa se utilizaram diferentes abordagens metodoloacutegicas tais como documentos da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul jornais fontes bibliograacuteficas imagens e depoimentos orais O estudo procurou abordar a construccedilatildeo do municiacutepio bem como o que identifica os sete distritos pertencentes a Satildeo Francisco Paula Como resultado se cria um paradidaacutetico fiacutesico com textos imagens curiosidades sugestotildees de atividades e leituras complementares que serviraacute de apoio pedagoacutegico aos professores e estudantes da educaccedilatildeo baacutesica Espera-se que este material possa servir de pesquisa a todos os interessados
Palavras-chave Ensino de Histoacuteria Satildeo Francisco de Paula Identidade
ABSTRACT
This dissertation deals with History teaching in Satildeo Francisco de Paula Rio Grande do Sul with the principle that History Teaching from the place becomes more meaningful to students of basic education For the construction of this research different methodological approaches are used such as documents of the Legislative Assembly of Rio Grande do Sul newspapers bibliographic sources images and oral testimony The study sought to address the construction of the municipality as well which identifies the seven districts belonging to San Francisco Paula As a result a physical paradidaacutetico is created with texts images curiosities suggestions of activities and complementary readings that will serve as pedagogical support to teachers and students of basic education It is hoped that this material can serve as a research to all interested parties
Keywords Teaching History Satildeo Francisco de Paula Identity
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 ndash Mapa de Identificaccedilatildeo das Sesmarias Serranas 26
Figura 2 ndash Divisatildeo Municipal em 1809 ndash Proviacutencia Satildeo Pedro do Rio Grande do Sul
28
Figura 3 ndash Vista da vila de Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra (1901) 29
Figura 4 ndash Vista Avenida Juacutelio de Castilhos (1923) 30
Figura 5 ndash Abertura da estrada ERS-020 Taquara ndash Satildeo Francisco de Paula de
Cima da Serra 31
Figura 6 ndash Accedilougue Central 33
Figura 7 ndash Igreja Matriz em 1931 34
Figura 8 ndash Igreja Matriz 34
Figura 9 ndash Mapa de localizaccedilatildeo de Satildeo Francisco de Paula 36
Figura 10 ndash Patroa Neuza Reis e sua Comissatildeo 39
Figura 11 ndash Gonzaga dos Reis 48
Figura 12 ndash Outdoor entrada da cidade na ERS-020 50
Figura 13 ndash Praccedila Central de Cazuza Ferreira 52
Figura 14 ndash Hotel do Campo 54
Figura 15 ndash Flacircmula de comemoraccedilatildeo aos 50 anos da entidade 57
Figura 16 ndash Barragem do Salto 58
Figura 17 ndash Igreja Santo Antocircnio ndash Distrito de Eletra 61
Figura 18 ndash Peacute com a fruta conhecido como Juaacute 63
Figura 19 ndash Praccedila Vila do Distrito Juaacute ao fundo cancha de laccedilo 65
Figura 20 ndash Imagem da Igreja Satildeo Roque em dia de festa no Rincatildeo dos Kroeff 69
Figura 21 ndash Imagem do Casaratildeo pouco antes de ser desmanchado 71
Figura 22 ndash Capa do livro 75
Figura 23 ndash Iacutendice do livro 76
Figura 24 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 1) 77
Figura 25 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 1) 78
Figura 26 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 2) 79
Figura 27 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 3) 80
Figura 28 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 4) 81
Figura 29 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 6) 82
Figura 30 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 8) 83
Figura 31 ndash Atividade do livro (Sugestatildeo de Leituras Complementares) 84
Figura 32 ndash Alunos do Ensino Meacutedio 85
SUMAacuteRIO
1 INTRODUCcedilAtildeO 11
2 HISTOacuteRIA LOCAL E O ENSINO DE HISTOacuteRIA NA SALA DE AULA 17
3 SAtildeO FRANCISCO DE PAULA CONSTRUCcedilAtildeO DO MUNICIacutePIO 24
31 CONVERSA COM MEMORIALISTAS 25
32 AMPLIANDO O DIAacuteLOGO COM OS MEMORIALISTAS 28
4 SAtildeO FRANCISCO DE PAULA DISTRITOS EM FOCO 41
41 DISTRITO SEDE 42
42 DISTRITO DE CAZUZA FERREIRA 51
43 DISTRITO DE TAINHAS 55
44 DISTRITO DE ELETRA 58
45 DISTRITO DO JUAacute 62
46 DISTRITO DO RINCAtildeO DOS KROEFF 66
47 DISTRITO DE LAJEADO GRANDE 70
5 DESCRICcedilAtildeO DO PRODUTO 74
6 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 86
REFEREcircNCIAS 90
FONTES CONSULTADAS 94
APEcircNDICES 96
APEcircNDICE A ndash ENTREVISTA COM MORADORES LOCAIS DOS DISTRITOS DE
SAtildeO FRANCISCO DE PAULA 97
APEcircNDICE B ndash TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO 98
11
1 INTRODUCcedilAtildeO
Os meacutetodos de ensino de Histoacuteria no Brasil vem sendo discutidos desde sua
criaccedilatildeo como disciplina Segundo Nadai (1992-1993 p 144) a introduccedilatildeo de
Histoacuteria no curriacuteculo ocorre na terceira metade do seacuteculo XIX no Brasil sendo que
desde entatildeo passa por diversas modificaccedilotildees Segundo Schmidt e Cainelli (2009)
os meacutetodos foram se adequando ao momento histoacuterico brasileiro em um primeiro
momento ensinou-se a histoacuteria da Europa Ocidental como a verdadeira histoacuteria da
civilizaccedilatildeo uma histoacuteria abstrata sem relaccedilatildeo com a vida do aluno Nadai (1992-
1993 p 146) acrescenta que ldquoa histoacuteria da paacutetria surgia como seu apecircndice sem
corpo autocircnomo e ocupando um papel extremamente secundaacuterio consistia num
repositoacuterio de biografias de homens ilustres de datas e batalhasrdquo
Poreacutem a partir de 1860 segundo Schmidt e Cainelli (2009 p 12-13) ldquono
periacuteodo republicano a incorporaccedilatildeo da concepccedilatildeo de que a disciplina Histoacuteria tinha
a responsabilidade de formar cidadatildeos ganha forccedilardquo sendo assim as escolas
primaacuterias e secundaacuterias comeccedilaram incluir em seus programas a histoacuteria nacional
com o intuito da formaccedilatildeo da nacionalidade sendo a paacutetria com seus heroacuteis o
principal foco Desta forma a criaccedilatildeo das diretrizes da Lei de Educaccedilatildeo nordm 569271
reforccedila o modelo jaacute instaurado
Foi oficializado o ensino de Estudos Sociais nas escolas brasileiras ficando os conteuacutedos especiacuteficos da Histoacuteria destinados somente aos alunos do antigo segundo grau A concepccedilatildeo e os conteuacutedos da Histoacuteria continuavam atrelados agraves concepccedilotildees tradicionais (SCHMIDT CAINELLI 2009 p 13)
Com a redemocratizaccedilatildeo na deacutecada de 1980 houve inuacutemeras discussotildees
que elencaram inuacutemeras abordagens e temaacuteticas para o ensino da Histoacuteria na
atualidade as novas tendecircncias se preocupam com a transposiccedilatildeo didaacutetica
valorizando documentos histoacutericos e incorporando novas linguagens e tecnologias
que permitem discussotildees e autonomia de pensamento Neste sentido as novas
concepccedilotildees de ensino de Histoacuteria ao final do seacuteculo XX abrem a possibilidade de
uma nova praacutetica didaacutetica que segundo Azevedo e Stamatto (2010 p 709) ldquobusca
problematizar a relaccedilatildeo passado-presente e em geral tomam a realidade do aluno
como ponto de partidardquo
Por se acreditar em um ensino de Histoacuteria onde a aprendizagem natildeo ocorre
em periacuteodos estanques de forma abstrata e sem relaccedilatildeo com o presente ou seja
12
apresentando de forma linear sem que haja contextualizaccedilatildeo sendo apresentada
atraveacutes de leitura de textos eou resumos permeando com atividades que muitas
vezes natildeo permitem um desenvolvimento de raciociacutenio histoacuterico que contribua para
a construccedilatildeo da cidadania Torna-se urgente pensar em um ensino voltado para a
inclusatildeo de novas contribuiccedilotildees historiograacuteficas como a histoacuteria cultural econocircmica
e social buscando na realidade local subsiacutedios para a aprendizagem Por isso a
presente dissertaccedilatildeo traz a didatizaccedilatildeo da histoacuteria de Satildeo Francisco de Paula visto
que a questatildeo-problema estaacute vinculada ao natildeo uso da histoacuteria local no ensino de
Histoacuteria deste municiacutepio e o pouco material disponiacutevel para o uso dos professores
Parte-se do pressuposto que ao abranger a histoacuteria local os sujeitos se veem como
partiacutecipes desta histoacuteria estudada significando e ressignificando conceitos
histoacutericos
Corroborando com este estudo Cunha (2016) traz consideraccedilotildees importantes
relacionadas ao uso da histoacuteria local O autor aborda como algo essencial para
compreensatildeo da histoacuteria geral na educaccedilatildeo baacutesica o uso da histoacuteria local o que
proporcionaria aos estudantes o reconhecimento como cidadatildeo e a percepccedilatildeo e
identificaccedilatildeo dos lugares de memoacuteria por parte dos alunos bem como o sentimento
de pertencimento do local Desta forma despertaria no aluno o interesse por um
passado aparentemente desligado de sua realidade estabelecendo relaccedilotildees com o
seu cotidiano
Desta maneira acredita-se que os estudantes da educaccedilatildeo baacutesica
compreenderatildeo a histoacuteria como algo que faz parte de suas vidas tornando-se assim
sujeitos da histoacuteria pois se haacute reconhecimento haveraacute tambeacutem o sentimento de
pertencimento que poderaacute ajudaacute-los a manter ou modificar a realidade que os cerca
Assim descrevem Schmidt e Cainelli
Esse sentido do ensinar Histoacuteria natildeo significaria natildeo ter conteuacutedos para serem ensinados mas olhar para estes conteuacutedos a partir da possibilidade de construir com os alunos novas questotildees diante de conteuacutedos e temas propostos pela historiografia Aprender histoacuteria eacute discutir evidecircncias levantar hipoacuteteses dialogar com os sujeitos os tempos e os espaccedilos histoacutericos Eacute olhar para o outro em tempos e espaccedilos diversos (SCHMIDT CAINELLI 2009 p 20)
Dentro desta perspectiva o reconhecimento da memoacuteria social se faz
importante visto que se necessita invocaacute-la para que um determinado grupo ou local
reconheccedila sua identidade social Atraveacutes de entrevistas com moradores de Satildeo
13
Francisco de Paula se invoca a memoacuteria coletiva na busca da identidade dos sete
distritos deste municiacutepio Visto que a histoacuteria de Satildeo Francisco de Paula se inicia por
volta do seacuteculo XVIII quando se datam as primeiras sesmarias1 concedidas ao
capitatildeo Pedro da Silva Chaves Posteriormente o capitatildeo doa parte de suas terras
para a construccedilatildeo do povoado que recebe o nome de Satildeo Francisco de Paula de
Cima da Serra por este ser devoto do Santo Satildeo Francisco Reza no testamento do
capitatildeo Pedro da Silva Chaves que um de seus filhos foi o primeiro paacuteroco a rezar
missa no povoado Satildeo Francisco de Paula pertenceu a Santo Antocircnio da Patrulha
e mais tarde a Taquara emancipando-se em 1902
Haacute pouca bibliografia sobre a histoacuteria de Satildeo Francisco de Paula o que existe
satildeo livros escritos por memorialistas onde se percebe a prioridade pela histoacuteria do
fundador ou seja do Capitatildeo Pedro da Silva Chaves dos iacutendios Caaguaraacutes que
habitavam a regiatildeo assim como os aspectos poliacuteticos administrativos Alguns destes
livros apresentam uma siacutentese cronoloacutegica de fatos importantes e descrevem
superficialmente o jeito de viver do povo serrano2 Mas a histoacuteria de Satildeo Francisco
de Paula estaacute repleta de diferentes identidades que identificam a Sede3 e o Interior4
deste municiacutepio e formam o jeito de viver do seu povo A natildeo exploraccedilatildeo de
elementos culturais que se fazem importantes para a construccedilatildeo de identidade
destes lugares minimiza as memoacuterias e as tradiccedilotildees que ali se apresentam visto
que
as constantes novidades em diferentes campos do saber os avanccedilos da tecnologia as infinitas possibilidades de comunicaccedilatildeo simultacircnea tecircm provocado sobretudo nas novas geraccedilotildees uma sensaccedilatildeo de que o mundo em que se vive eacute dotado de um temporalidade constituiacuteda por um tempo presente contiacutenuo (FIGUEIRA MIRANDA 2012 p 46)
Neste sentido fez-se uso de diferentes fontes para a construccedilatildeo do produto
desta dissertaccedilatildeo que consiste de um paradidaacutetico que possa servir como um
1 Sesmaria Terreno sem culturas ou abandonado que a antiga legislaccedilatildeo portuguesa com base em
praacuteticas medievais determinava que fosse entregue a quem se comprometesse a cultivaacute-lo 2 Serrano gentiacutelico de quem nasce em Satildeo Francisco de Paula 3 Sede distrito criado em 07 de janeiro de 1903 na mesma data da instalaccedilatildeo oficial do Municiacutepio Eacute
o distrito onde se localiza a Prefeitura Municipal Foacuterum agecircncias bancaacuterias loteacutericas hospital casas comerciais e residecircncias particulares Normalmente os moradores do interior quando vatildeo ao distrito se referem como ldquovou a Satildeo Chicordquo e natildeo como ldquovou a Sederdquo
4 Interior Cazuza Ferreira Juaacute Eletra Rincatildeo dos Kroeff Tainhas e Lajeado Grande satildeo distritos que ficam na zona rural apesar de todos terem uma pequena vila que possui pouca infraestrutura Alguns destes distritos ainda usam aacutegua de vertentes sem nenhuma rede de esgoto pois natildeo possuem aacutegua fornecida pela Companhia de Aacutegua e Saneamento (CORSAN)
14
material disponiacutevel a alunos e professores no ensino de Histoacuteria de Satildeo Francisco
de Paula Segundo Munakata entendem-se como paradidaacuteticos
Livros que sem apresentar caracteriacutesticas proacuteprias dos didaacuteticos satildeo adotados no processo de ensino e aprendizagem nas escolas seja como material de consulta do professor seja como material de pesquisa e de apoio agraves atividades do educando (MUNAKATA 1997 p 103)
Para a construccedilatildeo do paradidaacutetico fez-se uso de bibliografias jaacute existentes
jornais e documentos da Assembleia da Legislativa bem como o uso da histoacuteria
oral sendo as entrevistas a fonte primordial para escrever sobre as semelhanccedilas e
diferenccedilas existentes no modo de vida da populaccedilatildeo de Satildeo Francisco de Paula
visto que os depoimentos satildeo importantes na preservaccedilatildeo das memoacuterias tradiccedilotildees
bem como das heranccedilas identitaacuterias Neste sentido Delgado (2003 p 23) discorre
ldquonarrativas memoacuterias histoacuterias e identidades satildeo a humanidade em movimento
Satildeo o olhar que permeiam tempos heterogecircnicos Satildeo a histoacuteria em construccedilatildeo Satildeo
memoacuterias que falamrdquo
Portanto a histoacuteria oral busca registrar as vivecircncias e lembranccedilas de um
determinado grupo Alberti (2008 p 29) assim define ldquohistoacuteria oral natildeo eacute um fim em
si mesma e sim um meio de conhecimentordquo Quando se trabalha com a histoacuteria
oral se faz necessaacuterio valorizar a memoacuteria as identidades e tradiccedilotildees pois estas
formam a histoacuteria local ou seja a histoacuteria dos indiviacuteduos que ali vivem Halbwachs
(2004) afirma que com a perda da memoacuteria coletiva tambeacutem se perdem as
tradiccedilotildees locais tradiccedilotildees essas que identificam o modo de viver de um determinado
local Hobsbawn e Ranger entendem que as tradiccedilotildees podem ou natildeo ser
inventadas
Tradiccedilatildeo inventada entende-se um conjunto de praacuteticas normalmente reguladas por regras taacutecitas ou abertamente aceitas tais praacuteticas de natureza ritual ou simboacutelica visam inculcar certos valores e normas de comportamento atraveacutes da repeticcedilatildeo o que implica automaticamente uma continuidade com relaccedilatildeo ao passado (HOBSBAWN RANGER 2015 p 8)
Hobsbawn e Ranger (2015) ainda acrescem que a criaccedilatildeo de uma tradiccedilatildeo
independe da imposiccedilatildeo de uma nova tradiccedilatildeo o que normalmente ocorre eacute uma
rebeliatildeo cultural que precede da elaboraccedilatildeo de novas tradiccedilotildees que satildeo adotadas
pela populaccedilatildeo e com o tempo passam a se tornar tradiccedilotildees daquele local
formando a identidade local
15
Neste sentido Hall (2011 p 39) discorre que ldquoas identidades satildeo fabricadas
por meio da marcaccedilatildeo da diferenccedilardquo O autor ainda acresce que ldquoa diferenccedila eacute aquilo
que separa uma identidade da outrardquo (HALL 2011 p 41) Dentro desta perspectiva
a memoacuteria que se apresenta atraveacutes de siacutembolos ou tradiccedilotildees respalda a
construccedilatildeo da identidade do povo de Satildeo Francisco de Paula visto que a memoacuteria eacute
a construccedilatildeo do passado de maneira atualizada e renovada no tempo presente
Assim Halbwachs (2004 p 64) descreve que ldquonatildeo eacute na histoacuteria aprendida eacute na
histoacuteria vivida que se apoia nossa memoacuteriardquo Nessa loacutegica o autor ainda descreve
que ldquoo mundo histoacuterico eacute como um oceano onde afluem todas as histoacuterias parciaisrdquo
(p 90)
O municiacutepio de Satildeo Francisco de Paula eacute repleto de tradiccedilotildees que perpassam
o tempo que estatildeo enraizadas no jeito serrano de ser formando a sua identidade
Portanto a histoacuteria de Satildeo Francisco de Paula descrita nesta dissertaccedilatildeo seraacute
apresentada em quatro capiacutetulos
O capiacutetulo dois apresenta a discussatildeo teoacuterica metodoloacutegica sobre a
importacircncia do ensino da Histoacuteria local na sala de aula Tambeacutem conceitos como
memoacuteria e identidade e a importacircncia de se abordar o local em prol do global
No capiacutetulo trecircs aborda-se a construccedilatildeo histoacuterica do municiacutepio de Satildeo
Francisco de Paula que vai desde a chegada do colonizador nesta terra ateacute as
instituiccedilotildees que se formam ao longo do tempo Para isso se faz uso de bibliografias
jaacute existentes como Lucena (1971) Oliveira (1996) Teixeira (2002) Ribeiro (2003)
Alves (2007) e Fonseca (2012) sendo todas essas obras importantes para Satildeo
Francisco de Paula visto que cada uma traz consigo um pouco da histoacuteria deste
municiacutepio poreacutem sente-se falta da identidade e da memoacuteria na construccedilatildeo histoacuterica
As obras satildeo apresentadas sob o mesmo prisma apresentando os iacutendios Caaguaraacutes
e o Capitatildeo Pedro da Silva Chaves os fundadores desta terra dando bastante
ecircnfase aos sobrenomes que ali se desenvolveram Tambeacutem se fez uso de
documentos da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul aleacutem de jornais
encontrados no Arquivo Histoacuterico de Satildeo Francisco de Paula
No capiacutetulo quatro utiliza-se da fonte oral para que sejam identificadas as
diferentes tradiccedilotildees e versotildees da histoacuteria local ou seja a identidade de cada distrito
constituindo assim as particularidades que constroem o municiacutepio de Satildeo Francisco
de Paula Para tanto buscaram-se depoentes nas vilas dos distritos sendo que a
escolha se deu por duas pessoas por distrito sendo um homem e uma mulher
16
totalizando treze depoentes todos da terceira idade pois segundo Bosi (1994 p
82) ldquoum mundo social que possui uma riqueza e uma diversidade que natildeo
conhecemos pode chegar-nos pela memoacuteria dos velhosrdquo memoacuterias estas
construiacutedas por suas vivecircncias neste local o que justifica a relevacircncia dos
depoimentos para a construccedilatildeo do trabalho
O capiacutetulo cinco apresenta uma descriccedilatildeo do produto que consiste em um
paradidaacutetico em forma fiacutesica abordando a histoacuteria de Satildeo Francisco de Paula A
escolha pelo formato fiacutesico acontece pelas dificuldades encontradas no interior dos
distritos com o acesso agrave internet assim se pensa que o formato fiacutesico abrangeraacute um
nuacutemero maior de alunos e professores
Para tanto utiliza-se a metodologia da Histoacuteria oral para escrever a memoacuteria
e as percepccedilotildees das pessoas que habitam este local Hobsbawn e Ranger (1995 p
103) escrevem que ldquoessa proximidade entre o periacuteodo analisado e sua histoacuteria
pessoal eacute o pano de fundo para a discussatildeo de alguns problemas que qualquer
historiador enfrenta ao escrever sobre seu proacuteprio tempordquo pois a sensibilidade do
historiador vai escrever sua narrativa Em outras palavras Hobsbawn e Ranger
(1995 p 104) explicam que ldquocada historiador tem sua proacutepria vida um lugar privado
a partir do qual inspeciona o mundordquo Tambeacutem afirmam
Para aqueles que querem escrever a histoacuteria do seacuteculo XX uma das mais importantes reside no simples fato de saber sem nenhum esforccedilo especial o quanto as coisas se modificaram Os uacuteltimos trinta ou quarenta anos foram os mais revolucionaacuterios da histoacuteria O mundo ou seja a vida dos homens e mulheres que vivem na Terra nunca foi transformada de maneira tatildeo profunda dramaacutetica e extraordinaacuteria dentro de um periacuteodo tatildeo curto As geraccedilotildees que natildeo viram como o mundo era antes tecircm dificuldade em perceber isso intuitivamente (HOBSBAWN RANGER 1995 p 107)
Portanto se faz importante perceber que o mundo vem se transformando de
maneira raacutepida modificando a vida das pessoas e por conseguinte as tradiccedilotildees e
identidades locais pois estas comunidades natildeo vivem de forma isolada e sofreram
influecircncias jaacute que a cultura natildeo eacute estagnada estaacute sempre em constante movimento
juntamente com as pessoas
17
2 HISTOacuteRIA LOCAL E O ENSINO DE HISTOacuteRIA NA SALA DE AULA
Discutir o ensino de Histoacuteria na educaccedilatildeo baacutesica e a relaccedilatildeo do mesmo com a
histoacuteria local se faz bastante importante para que a cada dia se possa melhorar as
praacuteticas pedagoacutegicas Neste sentido se busca respaldo em diferentes bibliografias
que possam embasar novos afazeres dentro do espaccedilo da sala de aula e
proporcionar ao estudante um novo olhar sobre a histoacuteria um olhar de sujeito ativo
dentro desse processo de ensino aprendizagem
Pois quando a Histoacuteria eacute ensinada como algo certo e imutaacutevel de maneira
fragmentada voltada para linearidade e memorizaccedilatildeo de fatos e datas reforccedila o
que Mendes (1935) e Schmidt e Cainelli (2009) defendem que realmente eacute odiosa a
histoacuteria ensinada por este vieacutes Percebe-se que o ensino de histoacuteria linear nos
moldes europeus positivistas jaacute natildeo daacute mais conta da importacircncia da histoacuteria para a
sociedade atual porque eacute apresentada aos alunos atraveacutes de datas e fatos escrita
pelo vieacutes de uma elite que normalmente eacute branca e deteacutem o poder poliacutetico eou
econocircmico Eacute inconcebiacutevel que se permaneccedila com um ensino de Histoacuteria que natildeo
serve natildeo motiva e segundo Ruumlsen (2001 p 25) ainda ldquoirracionalizardquo sendo esse
modelo muito frequente nas escolas de educaccedilatildeo baacutesica brasileiras
Natildeo eacute por outro motivo que observamos ainda nas uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo XX que para a maior parte dos estudantes brasileiros o estudo de histoacuteria carece de sentido ou utilidade natildeo se tem a visatildeo de ciecircncia e sim de uma mateacuteria decorativa estudo do passado que soacute exige como vimos a prontidatildeo em declinar nomes datas e fatos Natildeo eacute de se estranhar que assim seja porque ocorre a enorme distacircncia entre a realidade vivenciada pela comunidade e o tratamento dado ao ensino de Histoacuteria jaacute que o aluno se torna mero espectador de fatos natildeo necessitando esforccedilos no sentido de qualquer reflexatildeo ou elaboraccedilatildeo (BARBOSA 2006 p 58)
O ensinar da histoacuteria de forma abstrata fragmentada dificulta a compreensatildeo
do processo histoacuterico no sentido que se estuda os fatos isolados ao seu tempo
como se um fato precisasse terminar para iniciar outro Em outras palavras este
meacutetodo de ensino natildeo daacute a noccedilatildeo de continuidade ou seja a histoacuteria perdeu seu
sentido baacutesico que eacute a compreensatildeo do contexto global dos fatos considerando que
o ensino de Histoacuteria por muitas vezes eacute estanque sem uma relaccedilatildeo ldquopresente x
passadordquo sendo de suma importacircncia o despertar de uma consciecircncia criacutetica por
parte do estudante Por isso ao longo do tempo o ensino sofre influecircncia por parte
do ldquopoderrdquo segundo Laville (1999 p 128) ldquoa Histoacuteria eacute certamente a uacutenica disciplina
18
escolar que recebe intervenccedilotildees diretas dos altos dirigentes e a consideraccedilatildeo ativa
dos parlamentos Isso mostra quatildeo importante eacute ela para o poderrdquo Nesta linha o
autor ainda acrescenta que ldquoa narrativa histoacuterica pode tambeacutem ser vista como uma
tomada de poder por grupos sem poderrdquo (LAVILLE 1999 p 129)
Na busca de modificar esse modelo surgem novos meacutetodos que valorizam o
uso do documento histoacuterico e a incorporaccedilatildeo de novas tecnologias de acordo com
Azevedo e Stamatto (2010 p 720) ldquotem o desafio de responder a inquietaccedilotildees do
hojerdquo Partindo deste pressuposto haacute possibilidade de se modificar o ensino da
Histoacuteria que ateacute entatildeo estava voltado agrave memorizaccedilatildeo para um modelo onde o
sujeito seja agente deste processo
Ensinar Histoacuteria como algo pronto e acabado [] sem levar em conta o contexto e os sujeitos envolvidos no processo de ensino aprendizagem pode levar a um ensino que natildeo desenvolve o que eacute mais importante como funccedilatildeo do ensinar histoacuteria que orientar os problemas da vida praacutetica (SCHMIDT CAINELLI 2009 p 20)
Assim Seffner (2013 p 51) acrescenta que ldquoo ensino de Histoacuteria eacute um ensino
de situaccedilotildees histoacutericas Mais do que nomes datas e acontecimentos o professor
deve propiciar ao aluno a compreensatildeo de como se estrutura uma dada situaccedilatildeordquo
Para que o ensino de Histoacuteria seja ressignificado existe a necessidade de anaacutelise
do processo histoacuterico problematizando os fatos no vai e vem do presentepassado
Os estudantes da educaccedilatildeo baacutesica necessitam compreender a histoacuteria como
um processo em constante transformaccedilatildeo que eacute movimentada por sujeitos que a
compotildeem com permanecircncias e rupturas ao longo dos tempos Segundo Bittencourt
(2004 p 168) ldquoa histoacuteria local tem sido indicada como necessaacuteria para o ensino por
possibilitar a compreensatildeo do alunordquo
Corroborando Seffner (2013) Souza (2015) e Brum (2015) evidenciam a
importacircncia de se trabalhar a histoacuteria global partindo de uma histoacuteria local
problematizando levando hipoacuteteses e analisando os fatos histoacutericos o que gera
significado para o educando e torna o docente natildeo mais um mero transmissor mas
um mediador deste conhecimento Neves (1997 p 22) reforccedila que ldquoo local fora do
contexto geral eacute apenas um fragmento e o geral sem o respaldo das realidades
locais eacute apenas uma abstraccedilatildeordquo Com esta nova abordagem o estudar Histoacuteria tem
sentido para o discente que se sente sujeito de sua proacutepria histoacuteria visto que
19
identificar-se com o local onde se vive ajuda a compreender o sentimento de
pertencimento e suas relaccedilotildees com o meio social e cultural no qual estaacute inserido
Nesta perspectiva faz-se necessaacuterio que os professores busquem novas
alternativas de ensino que proporcionem ao estudante a habilidade de ressignificar o
fato histoacuterico estudado
Ensinar Histoacuteria requer do professor a habilidade de buscar sentido e significado para o conhecimento que ministra e isso significa superar a mera transmissatildeo de informaccedilotildees jaacute que essa natildeo tem por finalidade o desenvolvimento intelectual mas ao contraacuterio deforma a capacidade de pensamento histoacuterico do aluno e a possibilidade de consolidar habilidades de anaacutelise da proacutepria realidade social (SILVA PORTO 2012 p 67)
Goubert assim define a histoacuteria local
Denominaremos histoacuteria local como aquela que diga respeito a uma ou poucas aldeias a uma cidade pequena ou meacutedia (um grande porto ou uma capital estatildeo aleacutem do acircmbito local) ou a uma aacuterea geograacutefica que natildeo seja maior do que a unidade provincial comum (como um county inglecircs um contado italiano uma Land alematilde uma bailiwick ou pays francecircs) Praticada haacute tempos atraacutes com cuidado zelo e ateacute orgulho a histoacuteria local foi mais tarde desprezada mdash principalmente nos seacuteculos XIX e primeira metade do XX mdash pelos partidaacuterios da histoacuteria geral A partir poreacutem da metade desse seacuteculo a histoacuteria local ressurgiu e adquiriu novo significado na verdade alguns chegam a afirmar que somente a histoacuteria local pode ser autecircntica e fundamentada (GOUBERT 1992 p 70)
Neste sentido fica evidente a importacircncia de se partir de uma histoacuteria local
para uma global Atraveacutes da histoacuteria local os estudantes teratildeo contato com sua
histoacuteria e poderatildeo se sentir parte integrante deste espaccedilo que muitas vezes por
falta de conhecimento acabam renegando sua proacutepria identidade Figueira e Miranda
(2012 p 113) afirmam que ldquoum dos efeitos mais danosos da globalizaccedilatildeo eacute a
universalizaccedilatildeo dos gostosrdquo isto implica diretamente na perda da identidade local
que muitas vezes estaacute sendo afetada pelas muacuteltiplas identidades existentes Neste
sentido Silva e Porto descrevem
A globalizaccedilatildeo entretanto produz diferentes resultados em termos de identidade A homogeneidade cultural promovida pelo mercado global pode levar ao distanciamento da identidade relativamente agrave comunidade e agrave cultura local (SILVA PORTO 2012 p 21)
Neste sentido Canclini acrescenta
Las comunidades de consumidores se organiza cada vez menos seguacuten diferencias nacionales y sobre todo en las generaciones joacutevenes definen sus praacutecticas culturales de acuerdo con informacioacuten y estilos homogeneizados (CANCLINI 1997 p 42)
20
Globalizaccedilatildeo que impotildee atraveacutes dos meios de comunicaccedilatildeo e social uma
identidade geral que regra a sociedade seus haacutebitos e costumes Devido ao grande
movimento das pessoas pelo mundo perceber e manter uma identidade com
caracteriacutesticas locais fica a cada dia mais difiacutecil ainda mais em se tratando da
populaccedilatildeo jovem que natildeo reconhece ao seu redor o que representa a sua
identidade local
Valorar as experiecircncias locais proporcionaraacute aos estudantes uma nova
metodologia de abordar a histoacuteria
Do ponto de vista metodoloacutegico destaca-se nessa forma de abordagem a preocupaccedilatildeo com os conhecimentos preacutevios dos alunos com a problematizaccedilatildeo dos conteuacutedos de ensino selecionados para trabalho em sala de aula estabelecendo relaccedilotildees com o cotidiano dos alunos e com o cotidiano de outras pessoas em outros tempos e em outros lugares Enfatiza-se tambeacutem a busca de articulaccedilatildeo entre histoacuteria local e a histoacuteria universal (SCHMIDT 2007 p 193)
O ensino de histoacuteria partindo do local para o global possibilita segundo
Bittencourt (2004 p 168) ldquoa compreensatildeo do entorno do alunordquo sendo que um dos
aspectos relevantes para este ensino eacute a escolha de fontes que levem os estudantes
a se reconhecerem nesse processo histoacuterico O autor ainda acresce
Eacute pela memoacuteria que se chega agrave histoacuteria local Aleacutem da memoacuteria das pessoas escrita ou recuperada pela oralidade existem os lsquolugares de memoacuteriarsquo (grifo da autora) expressos por monumentos praccedilas edifiacutecios puacuteblicos ou privados mas preservados como patrimocircnio histoacuterico (BITTENCOURT 2004 p 169)
Esta memoacuteria vai contribuir para legitimaccedilatildeo da identidade local Sabe-se que
a identidade eacute algo mutaacutevel e segundo Silva e Porto (2012 p 38) ldquoas identidades
satildeo produzidas em momentos particulares no tempordquo O pesquisador ainda
acrescenta que ldquoas identidades satildeo contingentes emergindo em momentos
histoacutericos particularesrdquo Estas identidades precisam ser reconhecidas quando se fala
de histoacuteria local
Na mesma linha Ruumlsen descreve a identidade histoacuterica
Consiste na ampliaccedilatildeo do horizonte nas experiecircncias do tempo e nas intenccedilotildees acerca do tempo no qual os sujeitos agentes se asseguram da permanecircncia de si mesmos na evoluccedilatildeo do tempo O ponto extremo dessa consolidaccedilatildeo de identidade eacute a lsquohumanidadersquo como suprassumo dos pontos comuns em sociedade com respeito a diversos sujeitos agentes no processo de determinaccedilatildeo de suas proacuteprias identidades determinam as dos outros de forma tal que estes se reconhecem nelas Esse criteacuterio de sentido lsquohumanidadersquo fornece o paracircmetro para se constatar a consolidaccedilatildeo da
21
identidade em que desembocam o progresso contiacutenuo do conhecimento mediante a pesquisa histoacuterica e a ampliaccedilatildeo contiacutenua das perspectivas mediante a reflexatildeo histoacuterica sobre referenciais (RUumlSEN 2001 p 126)
A histoacuteria local eacute constituiacuteda por diferentes identidades que satildeo geradas pelos
grupos que compotildeem este espaccedilo A este respeito Silva e Porto (2011 p 41)
apresentam que ldquoa diferenccedila eacute aquilo que separa uma identidade da outrardquo Tambeacutem
eacute notaacutevel que para que haja a representaccedilatildeo de suas identidades locais faz-se
necessaacuterio o reconhecimento destas e a percepccedilatildeo que existem diferentes fatores
que diferenciam os grupos sociais
Portanto a identidade eacute constituiacuteda pelas posiccedilotildees eou escolhas feitas
sendo que muitas vezes elas satildeo racionais ou ateacute mesmo irracionais A identidade
eacute baseada na memoacuteria que pode ser individual ou coletiva Segundo Candau (2011
p 16) ldquoos laccedilos fundamentais entre memoacuteria e identidade eacute sobre o fato de que eacute a
memoacuteria faculdade primeira que alimenta a identidaderdquo
Se a memoacuteria gera a identidade natildeo se pode pesquisar e escrever sobre
histoacuteria local sem levar em conta estes dois conceitos primordiais pois a histoacuteria
local soacute teraacute valia se escrita pelo vieacutes do todo ou seja natildeo priorize um grupo ou
classe social todos os quadros sociais devem estar representados dentro deste
processo Nessa linha Schmidt e Cainelli descrevem
O estudo da localidade ou da histoacuteria regional contribui para uma compreensatildeo muacuteltipla da Histoacuteria pelo menos em dois sentidos na possibilidade de se ver mais de um eixo histoacuterico na histoacuteria local e na possibilidade da anaacutelise de micro histoacuterias pertencentes a alguma outra histoacuteria que as englobe e ao mesmo tempo reconheccedila suas particularidades (SCHMIDT CAINELLI 2009 p 139)
Uma histoacuteria que faz sentido que esteja englobada a outra histoacuteria A
memoacuteria coletiva entra na construccedilatildeo desta histoacuteria local e eacute primordial pois esta vai
dar elementos que constroem a identidade deste local sendo que a memoacuteria do
passado influencia na representaccedilatildeo da identidade Neste sentido conforme
Figueira e Miranda (2012 p 47) eacute necessaacuterio compreender a memoacuteria ldquocomo a
capacidade de conservar e de preservar dados refere-se a um conjunto de funccedilotildees
cerebrais que nos permite reter informaccedilotildees adquiridas e impressotildees vividasrdquo
Podendo ser ela individual ou coletiva sendo que a memoacuteria individual existe a partir
de uma memoacuteria coletiva jaacute que as lembranccedilas que ajudam a reconstruir o passado
partem do interior de um grupo
22
Para as Ciecircncias Humanas o conceito de memoacuteria estaacute ligado agrave memoacuteria
social e coletiva definida por Le Goff (2003 p 422) como ldquoo estudo da memoacuteria
social eacute um dos elementos fundamentais de abordar os problemas do tempo e da
histoacuteriardquo O autor ainda acrescenta que ldquoa memoacuteria coletiva eacute natildeo somente uma
conquista eacute tambeacutem um instrumento e um objeto de poderrdquo (LE GOFF 2003 p
410) Neste sentido Halbwachs (2004 p 90) ressalta que ldquotoda memoacuteria coletiva
tem por suporte um grupo limitado no espaccedilo e no tempo e o mundo histoacuterico eacute
como um oceano onde afluem todas as histoacuterias parciaisrdquo
Quando se abordam conceitos de memoacuteria e identidade no ensino de
histoacuteria estaacute se trazendo para o estudo os sujeitos que compotildeem aquele local com
suas vivecircncias que podem ser coletivas ou natildeo A transmissatildeo de saberes entre as
geraccedilotildees forma a identidade coletiva sendo o ser humano um agente ativo no
quadro social da memoacuteria
Halbwachs assim define os quadros coletivos da memoacuteria
Os quadros coletivos da memoacuteria natildeo se resumem em datas nomes e foacutermulas que eles representam correntes de pensamento e de experiecircncia onde reencontramos nosso passado porque este foi atravessado por isso tudo (HALBWACHS 2004 p 71)
Nesta direccedilatildeo Le Goff (2003 p 4) acrescenta que ldquoa memoacuteria social eacute um
dos meios fundamentais para se abordar os problemas do tempo e da histoacuteria A
memoacuteria estaacute nos proacuteprios alicerces da histoacuteriardquo Catroga (2001) reforccedila que a
memoacuteria eacute moldada a partir das vivecircncias e na sua narrativa vai haver uma
coerecircncia que se mistura passado e presente
Quando se escreve sobre histoacuteria local eacute importante considerar que ela estaacute
pautada em documentos assim como em memoacuterias escritas visuais ou orais Neste
sentido eacute perceptiacutevel que o uso dos diferentes tipos de memoacuteria satildeo alicerces que
conduzem o trabalho do historiador para que ele possa interpretar suas fontes e
validar seu trabalho Memoacuterias estas que podem ser apresentadas com documentos
oficiais ou atraveacutes de uma cultura material ou imaterial
A escrita de histoacuterias locais vem como um novo modelo de resguardar
identidades e memoacuterias que se natildeo preservadas iratildeo desaparecer pela influecircncia
da globalizaccedilatildeo e falta de conhecimento de futuras geraccedilotildees Barros assim
descreve
23
Os novos tempos comeccedilavam a trazer um novo padratildeo historiograacutefico novas aberturas retornos e possibilidades e tambeacutem incertezas para os historiadores no que se refere agrave natureza do conhecimento que produzem e ao papel do conhecimento histoacuterico na sociedade [] Entre as novidades postula-se a possibilidade de examinar a histoacuteria de acordo com uma nova escala de observaccedilatildeo ndash atenta para o detalhe para as micro realidades para aquilo que habitualmente escapa ao olhar panoracircmico da macro histoacuteria tradicional ndash e eacute esta nova postura que se passou a chamar de micro histoacuteria (BARROS 2012 p 306)
Diante deste contexto o ensino de Histoacuteria pode buscar na histoacuteria local a
problematizaccedilatildeo necessaacuteria para que os estudantes da educaccedilatildeo baacutesica
reconheccedilam a identidade local que vem sofrendo com a uniformizaccedilatildeo da
sociedade que impotildee uma conjuntura global do local
24
3 SAtildeO FRANCISCO DE PAULA CONSTRUCcedilAtildeO DO MUNICIacutePIO
A apresentaccedilatildeo do municiacutepio Satildeo Francisco de Paula acontece atraveacutes do
uso da narrativa Esta se apresenta atraveacutes do diaacutelogo com obras jaacute produzidas por
memorialistas eou genealogistas que contribuem para a construccedilatildeo histoacuterica deste
local bem como se usa como fonte de enriquecimento documentos da Assembleia
Legislativa do Rio Grande do Sul e jornais locais
Para tanto se apresenta a revisatildeo historiograacutefica das obras escritas pelos
memorialistas eou genealogistas sendo que Lucena (1971) em sua obra ldquoSatildeo
Francisco de Paula Monografiardquo que abrange aspectos histoacutericos da formaccedilatildeo do
municiacutepio bem como pontos turiacutesticos e demograacuteficos O proacuteprio autor intitula a sua
obra como informativa a riqueza de detalhes eacute interessante poreacutem natildeo haacute nenhuma
referecircncia quanto aos dados escritos nem mesmo um referencial bibliograacutefico ao
final
No texto intitulado ldquoOs Fundadores de Satildeo Francisco de Paulardquo Alves (2007)
escreve sobre a fundaccedilatildeo de Satildeo Francisco de Paula Em seu livro haacute documentos
que validam o que se refere agrave genealogia jaacute que boa parte da obra apresenta os
troncos familiares que compunham o iniacutecio deste municiacutepio Na mesma linha da
genealogia Oliveira (1996) no livro ldquoAurorescer das Sesmarias Serranas histoacuteria e
genealogiardquo traz a histoacuteria das primeiras sesmarias da regiatildeo mas o foco principal
se daacute aos proprietaacuterios e seus descendentes Haacute um mapa bastante interessante
localizando as sesmarias e o nome por elas recebidos
Em ldquoSatildeo Francisco de Paula nossa terra nossa genterdquo Teixeira (2002)
apresenta dados gerais e histoacutericos do municiacutepio Esta obra apresenta dados
geograacuteficos como clima relevo e vegetaccedilatildeo A autora escreve sobre diversos
aspectos eventos personalidades e lendas Aleacutem disso apresenta Satildeo Francisco
de Paula com uma linha cronoloacutegica A obra abrange vaacuterios aspectos mas todos
suscintamente No final a autora apresenta a bibliografia consultada dentre os
autores estaacute Lucena (1971)
O texto ldquoSatildeo Francisco de Paula Rio Grande do Sul histoacuteria encantos e
misteacuteriosrdquo eacute uma obra de Fonseca (2012) que traz diversidade de assunto muitas
vezes estes estatildeo desconexos ou seja sua leitura se torna ldquotruncadardquo No final do
texto haacute um vasto referencial bibliograacutefico dentre os autores citam-se Lucena
(1971) e Teixeira (2002)
25
Ribeiro (2003) eacute compositor e poeta Em ldquoFestival do Ronco do Bugiordquo
escreve sobre Satildeo Francisco de Paula apresentando a histoacuteria dos quinze anos do
festival no municiacutepio No iniacutecio contextualiza a origem do festival e do ritmo bugio
Depois apresenta a capa do disco de cada festival especificando as muacutesicas e os
compositores vencedores
Todas essas obras satildeo importantes para Satildeo Francisco de Paula cada uma
traz consigo um pouco da histoacuteria deste municiacutepio poreacutem sente-se falta da
identidade e da memoacuteria na construccedilatildeo histoacuterica As obras satildeo apresentadas o
mesmo prisma apresentando os iacutendios Caaguaraacutes e o Capitatildeo Pedro da Silva
Chaves os fundadores desta terra dando bastante ecircnfase aos sobrenomes que ali
se desenvolveram
31 CONVERSA COM MEMORIALISTAS
As terras onde hoje fica Satildeo Francisco de Paula eram habitadas por iacutendios da
tribo Caaguaraacutes que faziam parte dos Coroados Estes viviam livremente nos
campos de cima da serra e seus domiacutenios estendiam-se entre a Serra Geral e a
Serra do Mar Os iacutendios Caaguaraacutes tinham como haacutebitos alimentares a caccedila a
pesca e a coleta de sementes e frutos dentre os frutos o pinhatildeo e a goiaba-do-
mato segundo Teixeira (2002) e Alves (2007) Estes iacutendios tiveram seu habitat
invadido por incursotildees de desbravadores que comeccedilaram a trafegar pela regiatildeo em
busca de mulas e novas terras visto que as terras onde hoje se encontra Satildeo
Francisco de Paula de Cima da Serra foram rota de tropeiros5 pois estes trafegavam
pelos Campos de Cima da Serra indo na direccedilatildeo de Lages-SC ateacute alcanccedilarem
Sorocaba-SP6 Ao passarem por esta regiatildeo foram se formando pequenos vilarejos
e construindo um jeito peculiar de viver
Neste cenaacuterio aparece o municiacutepio de Satildeo Francisco de Paula de Cima da
Serra que recebe este nome para se diferenciar de Satildeo Francisco de Paula
denominaccedilatildeo recebida ateacute meados de 1830 pelo municiacutepio de Pelotas Poreacutem na
metade do seacuteculo XVIII Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra possuiacutea
5 Tropeiros homens que conduziam suas tropascomitivas de muares ou cavalos entre as regiotildees 6 Sugere-se a leitura FLORES Moacyr Troperismo no Brasil Porto Alegre Nova Dimensatildeo 1998
SAVARIS Manoelito Tropas e tropeiros o Rio Grande toma forma Disponiacutevel em ltwwwrogeriobastoscombr201104trpas-e-tropeiros-o-rio-grande-tomahtmlgt Acesso em 12 mar 2016
26
proprietaacuterios de terras sendo que um dos pioneiros foi Pedro da Silva Chaves um
portuguecircs casado com Gertrudes de Godoy uma paulista Pedro da Silva Chaves
declara em 1742 ser possuidor de terras neste municiacutepio Segundo Oliveira (1996)
em seu testamento Pedro da Silva Chaves rege que possui trecircs fazendas na regiatildeo
uma chamada Satildeo Joatildeo que se localiza desde o Arroio Santa Cruz ateacute o Rio
Tainhas concedida em 1752 por sesmaria a Fazenda da Cria que foi comprada de
Francisco Pinto Bandeira e confirmada como sesmaria em 1754 e a Fazenda
denominada Cerrito comprada do Capitatildeo Antocircnio Gonccedilalves dos Reis Nestas
fazendas havia criaccedilatildeo de cavalos gado vacum mulas e burros As fazendas
tambeacutem apresentavam em torno de 77 escravos sendo que alguns satildeo casados o
que se faz pensar que estes constituiacuteam famiacutelia aumentando assim o nuacutemero de
escravos da regiatildeo No mapa da Figura 1 verifica-se a localizaccedilatildeo das fazendas do
capitatildeo Pedro da Silva Chaves bem como sua extensatildeo territorial
Figura 1 ndash Mapa de Identificaccedilatildeo das Sesmarias Serranas
Fonte Oliveira (1996 p 236)
27
No mapa apresentado na Figura 1 ainda eacute possiacutevel observar a localizaccedilatildeo
onde inicia o povoado de Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra segundo
Lucena (1971 p 1) ldquoiniciou-se com o Capitatildeo Pedro da Silva Chaves que doou
uma gleba de terra para que fosse iniciado o povoadordquo Tambeacutem segundo Lucena
(1971 p 1) ldquodoou cinquenta vacas para construir o primeiro patrimocircnio da Igreja
cuja construccedilatildeo foi iniciada por sua conta e lhe deu o nome de Satildeo Francisco por
este ser devoto do Santordquo O que demonstra que Pedro da Silva Chaves era
Catoacutelico
Neste periacuteodo compreendido como seacuteculo XIX segundo Teixeira (2002) e
Alves (2007) o atual municiacutepio de Satildeo Francisco de Paula pertencia ao municiacutepio de
Santo Antocircnio da Patrulha municiacutepio este que formava juntamente com Porto
Alegre Rio Pardo e Rio Grande a proviacutencia de Satildeo Pedro do Rio Grande do Sul
atual Rio Grande do Sul Eacute possiacutevel observar a grande extensatildeo territorial de cada
municiacutepio no mapa apresentado na Figura 2 segundo Silva (2000) Santo Antocircnio
da Patrulha anexava as freguesias de N Sra Conceiccedilatildeo do Arroio e N Sra da
Oliveira da Vacaria a capela de Satildeo Domingos das Torres e os povoados de Santa
Cristina do Pinhal e Cima da Serra
Analisando o mapa da Figura 2 eacute possiacutevel perceber que o municiacutepio de Santo
Antocircnio da Patrulha tinha um vasto e extenso territoacuterio que atualmente compreende
os municiacutepios de Vacaria Antocircnio Prado Nova Roma do Sul Lagoa Vermelha
Veranoacutepolis Nova Prata Nova Araccedilaacute Nova Bassano Paraiacute Guabiju Satildeo Jorge
Vista Alegre do Prata Protaacutesio Alves Cotiporatilde Fagundes Varela Vila Flores
Caseiros Birajaras Andre da Rocha Capatildeo Bonito do Sul Muitos Capotildees Bom
Jesus Satildeo Joseacute dos Ausentes Esmeralda Ipecirc Campestre da Serra Monte Alegre
dos Campos Taquara Satildeo Francisco de Paula Cambaraacute do Sul e Jaquirana
28
Figura 2 ndash Divisatildeo Municipal em 1809 ndash Proviacutencia Satildeo Pedro do Rio Grande do Sul
Fonte Evoluccedilatildeo Administrativa (2013)7
32 AMPLIANDO O DIAacuteLOGO COM OS MEMORIALISTAS
Segundo documentos da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul8
disponiacuteveis no Arquivo Histoacuterico de Satildeo Francisco de Paula9 em 1852 atraveacutes da
Lei nordm 266 de 30 de novembro de 1852 eleva-se agrave categoria de freguesia a entatildeo
capela Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra pelo entatildeo vice-governador da
proviacutencia de Satildeo Pedro do Rio Grande do Sul o senhor Luiz Alves Leite de Oliveira
Bello Estes documentos ainda retratam que no ano de 1886 houve distribuiccedilatildeo de
lotes devolutos para pessoas pobres que comprovassem residecircncia haacute pelo menos
trecircs anos e se comprometessem a ldquofundar moradiardquo em um prazo de um ano sendo
assim passados trecircs anos seriam donos definitivos destes lotes dando o iniacutecio ao
povoamento da vila No mesmo periacuteodo acontece a criaccedilatildeo do cemiteacuterio municipal
7 Disponiacutevel em ltwwwatlassocioeconomicorsgovbrevolucao-administrativa-1809-a-2013gt Acesso
em 18 mar 2017 8 O diaacutelogo com memorialista se amplia a partir de agora com contribuiccedilotildees de documentos
pesquisados que corroboram para a compreensatildeo do tema 9 BARBOSA Eni GONCcedilALVES Jorge Joseacute Xavier (Orgs) Documentos histoacutericos da Assembleia
Legislativa do Rio Grande do Sul Arquivo Histoacuterico de Satildeo Francisco de Paula 1992
29
que ocorre em 1891 segundo documentos da Assembleia Legislativa disponiacuteveis
no Arquivo Histoacuterico de Satildeo Francisco de Paula Estes documentos informam que
primeiramente somente moradores que comprovassem residecircncia haacute mais de trecircs
anos e pudessem manter os jazigos de seus entes poderiam fazer uso deste
espaccedilo Atraveacutes desta documentaccedilatildeo se percebe que havia toda uma organizaccedilatildeo
para que ldquoestrangeirosrdquo natildeo se estabelecessem em Satildeo Francisco de Paula de Cima
da Serra
Em 1889 Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra passa a categoria de vila
e deixa de pertencer a Santo Antocircnio da Patrulha passando a ser distrito do
municiacutepio de Taquara do Mundo Novo (hoje Taquara) o que traz mudanccedilas
significativas para a vila
Mesmo havendo distribuiccedilatildeo de lotes apoacutes quinze anos percebe-se na
Figura 3 que o povoado ainda era pequeno cercado de campos que constituiacuteam
fazendas com criaccedilatildeo de gado vacum tendo como principal economia a pecuaacuteria
extensiva Ao alto pode-se visualizar a Igreja Matriz construiacuteda pelo capitatildeo Pedro
da Silva Chaves
Figura 3 ndash Vista da vila de Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra (1901)
Fonte Portal Satildeo Chico (2018)10
10 PORTAL SAtildeO CHICO Fotos antigas de Satildeo Francisco de Paula 2018 Disponiacutevel em
ltwwwsaochicocombrantigasgt Acesso em 12 abr 2019
30
Ainda eacute possiacutevel observar atraveacutes da Figura 3 que neste periacuteodo natildeo havia
nenhuma preocupaccedilatildeo com a organizaccedilatildeo urbana ou seja ruas quadras as
construccedilotildees se apresentam de maneira desordenada Poreacutem passados vinte e dois
anos na Figura 4 jaacute eacute possiacutevel visualizar uma estrutura urbanizada com possiacutevel
organizaccedilatildeo de ruas e quadras mas a vila ainda eacute rodeada de campos
Figura 4 ndash Vista Avenida Juacutelio de Castilhos (1923)
Fonte Lucena (1971 p 67)
O desenvolvimento da Sede de Satildeo Francisco de Paula acontece segundo
Lucena (1971 p 27) ldquonos primeiros anos de vida isto eacute de 1910 a 1924 mais ou
menos devido agrave extraccedilatildeo da erva-mate que era abundante em nossos matos nas
zonas da serrardquo O autor ainda acrescenta
O pioneiro na extraccedilatildeo da erva-mate em nossa Comuna foi o proprietaacuterio Carlos Miguel Kroeff dono da fazenda Potreirinho praticamente arrabalde de nossa cidade No barba-quaacute11 se iniciava todo processo de industrializaccedilatildeo da erva-mate sendo que Satildeo Francisco de Paula chegou a ter quinhentos barbaacute-quas (LUCENA 1971 p 28)
11 Barba-quaacute um valo de cerca de oito metros de comprimento amis ou menos por um metro de
profundidade e oitenta centiacutemetros de largura coberto de xaxim e terra em uma das extremidades colocava-se um gradeado e acima deste em uma parte tambeacutem coberta e mais alta tinha apenas uma saiacuteda sob o gradeado colocava-se as folhas de erva extraiacuteda da aacutervore no iniacutecio do valo fazia-se um fogo e a fumaccedila que pela pouca ventilaccedilatildeo existente formava bastante fumaccedila e esta atingia as folhas secando-as (LUCENA 1971 p 28)
31
A produccedilatildeo de erva-mate contribuiu para o povoamento da vila visto que
muitas pessoas vieram trabalhar e acabaram se instalando no municiacutepio Apoacutes a
extraccedilatildeo da erva-mate surge a extraccedilatildeo de madeira que tambeacutem contribui para o
desenvolvimento
Nesta documentaccedilatildeo ainda se encontra no artigo nordm 251 de 08 de abril de
1891 a liberaccedilatildeo da verba para abrir a estrada de rodagem que liga as vilas de
Taquara do Mundo Novo e Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra em 1889
Atraveacutes da Figura 5 pode-se perceber o quatildeo difiacutecil era abrir uma nova estrada de
rodagem Tudo era manual com o uso de animais e muares para transportar pedras
e terras poreacutem a abertura desta estrada traz mudanccedilas significativas para a
populaccedilatildeo de Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra
Figura 5 ndash Abertura da estrada ERS-020 Taquara ndash Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra
Fonte Jornal Folha da Serra (1968 n 89 p 8)12
12 Folha da Serra jornal criado em 1932 pelo Dr Siacutelvio Rabelo sendo o uacutenico jornal que existia na
regiatildeo serrana Este trazia notiacutecias sociais poliacuteticas etc com uma tiragem em torno de 500 exemplares por semana Encontram-se no Arquivo Histoacuterico de Satildeo Francisco de Paula alguns exemplares ateacute a deacutecada de 70 seacuteculo XX
32
A estrada visava facilitar o acesso da populaccedilatildeo de Satildeo Francisco de Paula
de Cima da Serra que ia ateacute Taquara para buscar gecircneros de primeira necessidade
Em tempos idos os serranos se abasteciam de gecircneros de primeira necessidade quase que totalmente em Taquara e o transporte era feito em cargueiros que compunham uma tropa com cerca de quinze a vinte cargueiros Os animais usados para esse transporte eram geralmente muares mais resistentes para o transporte de carga Os serranos levavam daqui queijo (o queijo ateacute hoje chamado queijo serrano) charque couros e alguns levavam maccedilatilde ou pinhatildeo em suas eacutepocas de colheita trocados por mantimentos de que necessitavam Natildeo existiam ainda estradas e o trajeto era feito por picadas existentes (LUCENA 1971 p 23)
O mesmo autor ainda acrescenta
Para atingir a capital do Estado a viagem era cheia de peripeacutecias O transporte era feito a cavalo ou em diligecircncias ateacute Taquara As diligecircncias carros de quatro de rodas puxados por quatro animais ndash cavalos ndash eram de propriedade de Bertolo Casara mais conhecido por lsquoJoatildeo Gringorsquo Essa viagem se fazia normalmente em um dia e agraves vezes em dia e meio O ponto de parada era ali no Rodeio Bonito onde existia uma casa agrave esquerda bem defronte a estrada que desce para Trecircs Coroas [] De Taquara a Porto Alegre por via ferroviaacuteria ndash de trem (LUCENA 1971 p 16)
A construccedilatildeo desta estrada traz um novo desenvolvimento para a entatildeo vila
de Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra pois apoacutes a abertura da estrada de
rodagem Taquara ndash Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra modifica o transporte
de mercadorias entre as localidades
O transporte de mercadorias era feito em carretotildees de quatro rodas puxados uns por cinco animais outros por sete as maiores que geralmente eram muares Eram atrelados em duas fileiras Na fileira junto agrave carreta que era de duas ou trecircs mulas na da esquerda montava o carreteiro Este toda vez que se verificava um declive na estrada apeava de sua montaria a fim de brecar a carreta sem que esta entretanto parasse (LUCENA 1971 p 24)
Este modelo de comeacutercio vai desaparecer com o surgimento das primeiras
casas de comeacutercios na vila de Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra De acordo
com Lucena (1971 p 38) ldquoos primeiros comerciantes foram Manoel Vicente
Ferreira Abel Pacheco Luis Carlos de Andrade e Jacob Bossle Sobrinhordquo Na
imagem da Figura 6 temos o Accedilougue Central onde nota-se que os animais
convivem soltos na rua juntamente com as pessoas mesmo se tratando de local
urbano
33
Figura 6 ndash Accedilougue Central
Fonte Portal Satildeo Chico (2018)13
Nesta mesma documentaccedilatildeo haacute decretos que definem a construccedilatildeo de uma
nova Igreja Matriz isto eacute uma Igreja de Pedra substituindo a antiga que era de
madeira ainda construiacuteda pelo capitatildeo Pedro da Silva Chaves esta construccedilatildeo data
do ano de 1922 Segundo Teixeira (2002 p 30) a Igreja de Pedra permanece ateacute
1960 quando daacute lugar ao atual preacutedio da Igreja Matriz que foi inaugurada em 14 de
junho de 1964 Na sequecircncia teremos duas imagens demonstrando a Igreja de
Pedra e a atual edificaccedilatildeo da Igreja Matriz Natildeo foi encontrada nenhuma foto da
Igreja de Madeira nos arquivos do Arquivo Histoacuterico do Municiacutepio somente em um
site de fotos antigas onde encontra-se registro apresentado na Figura 7
13 PORTAL SAtildeO CHICO Fotos antigas de Satildeo Francisco de Paula 2018 Disponiacutevel em
ltwwwsaochicocombrantigasgt Acesso em 12 abr 2019
34
Figura 7 ndash Igreja Matriz em 1931
Fonte Portal Satildeo Chico (2018)14
Figura 8 ndash Igreja Matriz
Fonte acervo da autora (2015)
14 PORTAL SAtildeO CHICO Fotos antigas de Satildeo Francisco de Paula 2018 Disponiacutevel em
ltwwwsaochicocombrantigasgt Acesso em 12 abr 2019
35
Entre os anos de 1892 a 1902 por duas vezes Satildeo Francisco de Paula de
Cima da Serra eacute desanexado e reanexado ao entatildeo municiacutepio de Taquara do Mundo
Novo Somente em 23 de dezembro de 1902 foi reestabelecido definitivamente o
municiacutepio de Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra cuja instalaccedilatildeo se verificou
em 07 de janeiro de 1903 A partir de 01 de janeiro de 1938 perde ldquoCima da Serrardquo
de sua nomenclatura permanecendo somente Satildeo Francisco de Paula Apesar
disso se manteacutem o gentiliacutecio ldquoSerranordquo de acordo com Silva (2000 p 23) e dados
do Arquivo Histoacuterico de Satildeo Francisco de Paula sendo que este gentiliacutecio eacute usado
ateacute os dias de hoje
No iniacutecio o municiacutepio de Satildeo Francisco de Paula foi um dos maiores do Rio
Grande do Sul em territoacuterio mas ao longo do tempo foi diminuindo seu territoacuterio
com a anexaccedilatildeo de parte dele ao entatildeo municiacutepio de Caxias do Sul e de Torres e a
criaccedilatildeo dos municiacutepios de Cambaraacute do Sul em 1963 e Jaquirana em 1988
Foi uma das maiores Comunas do Estado pois de seu territoacuterio faziam parte os atuais municiacutepios de Satildeo Marcos Cambaraacute do Sul e Jaquirana e os distritos de Vila Oliva Criuacuteva Fazenda Souza e Vila Seca hoje integrantes de Caxias do Sul De nosso territoacuterio foi tambeacutem desanexada uma gleba de terra ndash Josafaacute ndash e anexada ao municiacutepio de Torres (LUCENA 1971 p 10)
Mesmo perdendo parte de seu territoacuterio ao longo dos anos atualmente
segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (2016) ldquoSatildeo Chicordquo como
costumeiramente eacute chamado pelo seu povo estaacute situado na Encosta Inferior do
Nordeste do Estado do Rio Grande do Sul na zona denominada de Campos de
Cima da Serra Fica distante 112 quilocircmetros da capital do Estado Porto Alegre Os
municiacutepios limiacutetrofes satildeo Monte Alegre dos Campos Bom Jesus Jaquirana
Cambaraacute do Sul Praia Grande-SC Trecircs Forquilhas Itati Maquineacute Riozinho
Rolante Taquara Trecircs Coroas Canela e Caxias do Sul Possui uma aacuterea territorial
de 3264490 quilocircmetros quadrados com uma estimativa populacional de 21617
habitantes distribuiacutedos na zona urbana e rural O municiacutepio se divide em sete
distritos Sede Cazuza Ferreira Tainhas Juaacute Eletra e Lajeado Grande Atraveacutes do
conjunto de mapas apresentado na Figura 9 eacute possiacutevel visualizar a localizaccedilatildeo de
Satildeo Francisco de Paula dentro do Rio Grande do Sul e por conseguinte no Brasil
Tambeacutem se verifica a localizaccedilatildeo dos distritos de Satildeo Francisco de Paula
36
Figura 9 ndash Mapa de localizaccedilatildeo de Satildeo Francisco de Paula
Subdivisatildeo de Satildeo Francisco de Paula em distritos
Fonte montagem da autora (2019)
Desta forma se constitui o espaccedilo fiacutesico do municiacutepio de Satildeo Francisco de
Paula cuja populaccedilatildeo natildeo forma uma colocircnia pois seu povo adveacutem de diferentes
lugares a grande maioria com descendecircncia lusa sendo que os primeiros
colonizadores foram bandeirantes paulistas
A populaccedilatildeo de Satildeo Francisco de Paula eacute composta de brancos africanos e indiacutegenas Os brancos compreendendo portugueses (principalmente
37
accedilorianos) alematildees e italianos os africanos pertenciam ao grupo dos bantos e foram trazidos pelos portugueses (TEIXEIRA 2002 p 147)
A diversidade de pessoas que se estabeleceram em Satildeo Francisco de Paula
pode ser percebida pelos sobrenomes das famiacutelias precursoras do municiacutepio
Para Satildeo Francisco de Paula afluiacuteram famiacutelias de diversas nacionalidades que atraveacutes de seus descendentes ainda hoje aqui satildeo representadas como Famiacutelias Ferreira Soares Pinto Castilhos Asmuz Santos Martins Lopes Comin Feijoacute Silva Canani Peixoto Andrade Teixeira Valin Lucena Alves Cardoso Gomes Borges Marques Tedesco Medeiros Paglioacuteli Costa Fogaccedila Casara em outras (LUCENA 1971 p 11-12)
Os moradores deste municiacutepio introduziram um jeito singular de viver tendo
em seu cotidiano as tradiccedilotildees gauacutechas15 muito presentes Teixeira (2002 p 83)
assim descreve que ldquoas raiacutezes gauacutechas estatildeo fortemente marcadas na comunidade
seja pelo modo de vestir bombacha botas cinturotildees chapeacuteus e no inverno com o
pala ou pela preferecircncia por comidas campeiras churrasco carreteiro feijatildeo
mexidordquo A autora acrescenta que ldquoas casas com lareira e o tradicional fogatildeo agrave
lenha para aquececirc-las durante o inverno rigoroso satildeo um convite para uma
conversa ao peacute do fogo e o saboreio de um gostoso chimarratildeordquo (TEIXEIRA 2002 p
83)
O enraizamento deste modo de vida adveacutem do homem do campo o
pecuarista que no passado necessitava enviar seus filhos a cidade para estudar
contribuindo para este modelo de vida
Antigamente a pecuaacuteria era a atividade econocircmica muito forte em nosso municiacutepio Assim sendo havia muitos fazendeiros E como as fazendas ficavam muito longe da Sede do municiacutepio as senhoras tinham seus filhos em casa com parteiras Tambeacutem os estudos iniciavam nas fazendas porque as escolas ficavam longe Assim muitas vezes os fazendeiros contratavam professoras para se hospedarem nas suas casas e darem aulas aos seus filhos Em muitos casos ateacute mesmo os proacuteprios pais e avoacutes ensinavam alguma coisa Alguns fazendeiros quando seus filhos ficavam maiores os mandavam continuarem seus estudos na vila (assim lsquoSatildeo Chicorsquo era chamada) (TEIXEIRA 2002 p 77)
Com a vinda dos filhos para a vila trouxeram consigo o jeito do homem do
campo sendo que um dos maiores clubes em funcionamento de Satildeo Francisco de
Paula eacute o atual Centro de Tradiccedilotildees Gauacutechas Rodeio Serrano fundado em maio de
15 Tradiccedilotildees gauacutechas segundo Fagundes (1997 p 38) eacute um movimento ciacutevico-cultural [] eacute a
tradiccedilatildeo em marcha resgatando valores que satildeo vaacutelidos natildeo por serem antigos mas por serem eternos exatamente os valores que trouxeram o Rio Grande e o gauacutecho do passado para o presente projetando-se para o futuro
38
1955 Segundo o Jornal Folha da Serra (1968 n 11 p 12) a entidade
tradicionalista receacutem-formada recebe o nome de CTG Coronel Alziro Torres Filho
Fonseca (2012 p 223) menciona que a iniciativa partiu de ldquoDavenir Peixoto Gomes
um homem ruralista e serranordquo Esta entidade tradicionalista teve como primeiro
Patratildeo Oscar Teixeira O CTG Alziro Torres Filho segundo o jornal Folha da Serra
(1957) muda sua nomenclatura em uma reuniatildeo onde o posteiro da invernada
artiacutestica Alaor Valim propotildee a troca do nome para Rodeio Serrano nome que
permanece ateacute a atualidade
A entidade tradicionalista traz como lema ldquoRepontando a Tradiccedilatildeo com o Rio
Grande na Garupardquo Fonseca (2012 p 224) relata que o lema foi ldquocriado pelo
primeiro instrutor de danccedilas Dr Alaor de Almeida Valimrdquo O mesmo autor acrescenta
que ldquoa primeira prenda foi a professora Maria Asmuz Valimrdquo Poreacutem sua sede
somente foi construiacuteda em 1968 sob a patronagem de Dante Santos O Jornal Folha
da Serra (1968 n 11 p 12) indica que ldquoa construccedilatildeo da sede era uma aspiraccedilatildeo de
longos anos que somente agora se concretizardquo Anteriormente ldquoos bailes eram
realizados em sua maioria no Salatildeo Paroquial sendo que alguns foram feitos no
primeiro andar da Associaccedilatildeo Rural e ateacute mesmo na Sociedade Cruzeirordquo
(FONSECA 2012 p 225) Este fato justifica a vontade de Dante Santos de construir
uma sede proacutepria
Apoacutes a construccedilatildeo de sua nova sede o CTG Rodeio Serrano localiza-se na
Rua Benjamim Constant nordm 582 constituindo um espaccedilo importante para a
comunidade de Satildeo Francisco de Paula Dentre as atividades desenvolvidas pelo
CTG estaacute o Rodeio Interestadual que ocorre todos os anos no primeiro final de
semana de dezembro sendo que se encontra na 33ordf ediccedilatildeo A manutenccedilatildeo das
invernadas artiacutesticas em todas as categorias mascote mirim juvenil e adulta A
organizaccedilatildeo da Ronda Crioula na Semana Farroupilha bem como a Cavalgada de
Prendas que ocorre durante a Semana Farroupilha todos os anos Realiza-se o
baile da Prenda Jovem aleacutem de shows e bailes tipicamente gauchescos Aleacutem
disso nos uacuteltimos anos a organizaccedilatildeo do Festival Ronco do Bugio que ocorre em
Satildeo Francisco de Paula ldquofestival este lanccedilado em 16 de abril 1986rdquo segundo o
Jornal Satildeo Chico Tchecirc (1986 n 4 p 5)16
16 Satildeo Chico Tchecirc jornal de circulaccedilatildeo quinzenal fundado em 08 de janeiro de 1986 e que circulou
ateacute 1989 O jornal trazia informaccedilotildees culturais sociais econocircmicas e poliacuteticas da Sede e do
39
Durante os seus sessenta e dois anos de existecircncia muitos patrotildees
passaram por esta entidade tradicionalista mas em 2017 pela primeira vez na
histoacuteria o CTG Rodeio Serrano teve uma patronagem feminina Aleacutem da Patroa
Neuza Reis foram empossadas a Capataz Elenita Amaral a Sota-capataz Fernanda
Kirsch Damasceno o Agregado das Pilchas Antocircnio Garcia de Souza e no
Conselho de Vaqueanos Neiva Santos Valim
Figura 10 ndash Patroa Neuza Reis e sua Comissatildeo
Fonte Jornal Pioneiro (2017)17
Satildeo Francisco de Paula hoje conta com vinte e oito entidades
tradicionalistas18 espalhadas pelos seus distritos demonstrando que homem do
campo se faz muito presente em todo o municiacutepio sendo assim a cultura
interior Os exemplares encontram-se encadernados no arquivo histoacuterico de Satildeo Francisco de Paula
17 Jornal Pioneiro conhecido como o jornal que estaacute ldquoao teu ladordquo o Pioneiro circula desde 1948 e estaacute presente hoje em 64 municiacutepios da regiatildeo de Caxias do Sul Desde 1993 integra a rede de jornais do Grupo RBS sendo filiado ao Instituto Verificador de Circulaccedilatildeo (IVC) Conta com uma equipe de Redaccedilatildeo com mais de 40 jornalistas aleacutem de colunistas internos e externos Em 2008 o jornal ganhou o site pioneirocom Disponiacutevel em lthttpwwwgruporbscombratuacaopioneirogt acesso em 10 de fevereiro de 2019
18 Informaccedilatildeo cedida pelo Coordenador da 27ordf Regiatildeo Tradicionalista Gauacutecha
40
tradicionalista se apresenta de maneira forte e consistente segundo vaacuterios
depoimentos de moradores de todos os distritos de Satildeo Francisco de Paula
41
4 SAtildeO FRANCISCO DE PAULA DISTRITOS EM FOCO
Quanto aos distritos de Satildeo Francisco de Paula surgem diversas
inquietaccedilotildees com relaccedilatildeo agrave identidade destes locais pois estes mesmo fazendo
parte de um mesmo municiacutepio apresentam singularidades que derivam de sua
colonizaccedilatildeo basicamente lusa portuguesa e da recepccedilatildeo de imigrantes de diversas
etnias como italianos e alematildees ao longo destes cento quinze anos de
emancipaccedilatildeo Percebe-se que alguns distritos manteacutem sua identidade e tradiccedilotildees
resguardadas enquanto em outros jaacute ocorreu agrave miscigenaccedilatildeo de diferentes haacutebitos
e culturas o que dificulta identificar traccedilos que identifiquem estes distritos
Neste capiacutetulo busca-se responder a estas inquietaccedilotildees fazendo uso dos
depoimentos de moradores locais Segundo Delgado (2003 p 21) ldquoessas
narrativas tal qual os lugares da memoacuteria satildeo instrumentos importantes de
preservaccedilatildeo e transmissatildeo das heranccedilas identitaacuterias e das tradiccedilotildeesrdquo Neste sentido
se optou por dois moradores por distrito totalizando treze entrevistados um homem
e uma mulher da terceira idade que sempre morou no distrito o que enriquece os
detalhes repassados pelos entrevistados
Toda entrevista tem por base a memoacuteria individual que se referencia na coletiva profundamente relacionada agraves vivecircncias individuais A utilizaccedilatildeo do depoimento de pessoas idosas como fonte para a histoacuteria oral eacute uma forma de justificar a entrevista como histoacuterica referindo-se ao passado jaacute que aos idosos se pretende atribuir a guarda de memoacuterias do passado pelo proacuteprio tempo de vida do depoente Isto retoma e ajuda a fortalecer a ideia de que a histoacuteria mesmo tratando do tempo presente ainda se reporta a um periacuteodo anterior ao da vida do pesquisador (ALMEIDA 2012 p 10)
A entrevista somente ocorreu quando o entrevistado concordou em assinar o
termo de consentimento As entrevistas ocorreram nas residecircncias dos
entrevistados foram preacute-agendadas sendo que o meacutetodo utilizado foi entrevista
guiada atraveacutes de questionaacuterio previamente organizado pela autora as entrevistas
foram filmadas e gravadas onde somente uma entrevistada natildeo autorizou a
filmagem de seus relatos justificando a idade avanccedilada e por morar sozinha
A escolha pela histoacuteria oral hibrida ocorreu no sentido de que a fonte oral eacute o
principal recurso utilizado para colher informaccedilotildees sobre os distritos visto que em
sua grande maioria natildeo haacute publicaccedilotildees Poreacutem em determinados momentos se
utilizam fontes documentais como complemento do que vem sendo apresentado
Com relaccedilatildeo agrave abordagem adotada nas entrevistas se optou pela temaacutetica visto
42
que se leva um roteiro preacute-organizado com temas que deveratildeo ser explorados
durante as entrevistas o que proporciona uma riqueza de informaccedilotildees para a
autora
41 DISTRITO SEDE
O distrito Sede se constitui no local onde se inicia o povoado do municiacutepio na
antiga Fazenda da Cria terras doadas pelo capitatildeo Pedro da Silva Chaves Neste
distrito concentram-se os serviccedilos puacuteblicos e privados que os moradores
necessitam em seu dia-a-dia visto que ali existem bancos casas loteacutericas
farmaacutecias hospital supermercados lojas papelarias livraria inspetoria veterinaacuteria
secretaacuterias municipais escolas puacuteblicas e privadas creches induacutestrias de madeiras
e calccedilados
Poreacutem o distrito Sede ou cidade de Satildeo Chico como popularmente
conhecida pelo seu povo jaacute foi uma cidade de interior ou seja uma cidade pequena
com moradores que vinham das fazendas em busca de estudo Visto que a
implementaccedilatildeo de uma rede regular de ensino ocorre tardiamente devido agrave
dificuldade de se locomover pelas distantes localidades entatildeo normalmente os
fazendeiros contratavam professores para que seus filhos obtivessem estudo sendo
que estes moravam na proacutepria residecircncia da famiacutelia Em entrevista com essa autora
relata Albuquerque19 que ldquopara aprimorar os estudos aqueles que tinham mais
condiccedilotildees iam para Porto Alegre Santa Maria ou Passo Fundo mas para isto
ficavam laacute em internatos e soacute retornavam nas feacuterias devido agrave dificuldade e o custo
da viagemrdquo
Na deacutecada de 40 foi criada a Escola Catoacutelica de Satildeo Francisco de Paula
cujo funcionamento acontece ateacute 1973 quando foram encerradas suas atividades
Esta escola iniciou com o curso primaacuterio e posteriormente instalou o curso ginasial
Normalmente estes moradores permaneciam de segunda-feira a sexta-feira na
cidade e nos finais de semana retornavam para as fazendas como recorda uma
moradora local
Noacutes eacuteramos uma cidade de fazendeiros a gente tinha uma casa no campo e uma na cidade a gente vivia de laacute pra caacute de caacute pra laacute fim de semana ia
19 ALBUQUERQUE Moacir Castello Branco de Entrevista concedida agrave autora no dia 06 de abril de
2018
43
pra fora20 dia de semana vinha pra caacute normalmente uma irmatilde mais velha voacute ficava com a gente aqui na cidade e a famiacutelia mesmo ficava no campo21
Percebe-se que hoje ainda existem na Sede moradores que manteacutem suas
casas na cidade e durante o dia ou nos finais de semana vatildeo ateacute suas fazendas
para fazer as lides com o gado o que caracteriza uma pequena parte da populaccedilatildeo
que foram os filhos dos antigos fazendeiros que mais tarde acabam se instalando
definitivamente na cidade trazendo com sigo a essecircncia do homem do campo e
afirmando uma identidade genuinamente gauacutecha definiccedilatildeo esta concedida por uma
moradora local
Gauacutecho natildeo eacute o morador do Rio Grande do Sul o morador do Rio Grande do Sul eacute o sul-rio-grandense ou rio-grandense do sul o gauacutecho eacute apenas o homem que vem da pecuaacuteria extensiva essa que existe laacute no pampa e aqui nos campos de cima da serra o gauacutecho serrano com caracteriacutesticas muito proacuteprias grandes gaiteiros poetas aliaacutes o maior gaiteiro do mundo eacute daqui natildeo abro matildeo de dizer isto soacute que todos noacutes viacutenhamos da lida do campo em decorrecircncia disso eacuteramos gauacutechos de verdade22
Em sua fala apresenta o gauacutecho serrano como um tipo singular que ama a
pilcha gauacutecha o seu pingo e suas criaccedilotildees bem como reafirma a importacircncia dos
Irmatildeos Bertussi Honeide e Adelar sendo Adelar Bertussi um dos maiores gaiteiros
deste municiacutepio Exaltam-se tambeacutem os poetas que com suas poesias e letras de
muacutesicas escrevem o jeito do seu povo viver
Mesmo a cidade sendo ldquolocal de paradardquo durante a semana para a maioria
de seus habitantes no passado era cheia de atrativos que o campo natildeo possuiacutea
como o cinema cuja instalaccedilatildeo natildeo se encontra documentada mas sabe-se que
iniciou onde hoje eacute o preacutedio da Prefeitura Municipal sendo proprietaacuterio Francisco
Ferraz (Chico Ferraz como era conhecido) Observa-se em alguns exemplares do
Jornal Folha da Serra23 os filmes e os horaacuterios do funcionamento do cinema
Entende-se que o jornal era uma maneira de divulgar os filmes por ser o uacutenico meio
de comunicaccedilatildeo da eacutepoca Pelos folhetins se percebe que as sessotildees
apresentavam diversos gecircneros natildeo se sabe quando o cinema finalmente fechou
20 Fora refere-se ir para a fazenda 21 SOARES Luciana Olga Entrevista concedida agrave autora no dia 01 de marccedilo de 2018 22 SOARES Luciana Olga Entrevista concedida agrave autora no dia 01 de marccedilo de 2018 23 Folha da Serra jornal local criado em 1932 pelo Dr Siacutelvio Rabelo passando posteriormente a
propriedade da Prefeitura Municipal Sua impressatildeo era na ordem de 500 exemplares natildeo se tem a informaccedilatildeo do periacuteodo que parou de circular mas pelos exemplares encontrados no Arquivo Histoacuterico de Satildeo Francisco de Paula os uacuteltimos datam de 1978 O Arquivo Histoacuterico de Satildeo Francisco de Paula fica em um preacutedio anexo agrave Biblioteca Puacuteblica do municiacutepio
44
poreacutem o jornal Folha da Serra traz uma reportagem que retrata como estava difiacutecil
manter o cinema em funcionamento em meados de 1968 ldquoo nosso cinema na
maneira que vai indo natildeo tem mais condiccedilotildees de funcionar natildeo temos apoio da
populaccedilatildeo com uma frequecircncia de mais ou menos 150 pessoas por final de
semanardquo O jornal acrescenta ldquosalienta-se que mais ou menos de 3 de nossa
CULTA populaccedilatildeo natildeo frequenta o cinemardquo Pode-se associar o fechamento do
cinema a dois fatores a natildeo cultura de assistir filmes e pelas sessotildees ocorrerem nos
finais de semana onde boa parte da populaccedilatildeo da cidade se deslocava para as
fazendas ou pela crise que os cinemas passaram na deacutecada de 80 quando em
muitas cidades foram fechados
A vida da populaccedilatildeo local vai se modificando cada vez mais as pessoas vatildeo
se instalando definitivamente na Sede onde se perde o viacutenculo com o campo
Devido agrave venda ou arrendamento das fazendas24 que por render pouco a pecuaacuteria
extensiva e com a criaccedilatildeo de novas legislaccedilotildees que proiacutebem praacuteticas centenaacuterias
seus proprietaacuterios buscaram novas possibilidades econocircmicas que modificaram a
Sede e tambeacutem boa parte do interior Em entrevista a moradora Soares relata
Exatamente porque a produccedilatildeo era pequena isso natildeo serve para o mundo de hoje a uns quarenta anos chega em nossos campos as primeiras plantaccedilotildees de pinus interessante que ningueacutem reclamou da destruiccedilatildeo desse campo de milhotildees de anos e de todo o ecossistema mas mesmo com essa nova cultura continuamos realizando a sapeca do campo no mecircs de agosto mas de repente chega a notiacutecia que estaacute proibida a queima do campo dizendo que noacutes estragaacutevamos a terra poluiacuteamos o ar que mataacutevamos animais e tudo aquilo natildeo era verdade Na verdade alguns anos depois da lei proibindo a queima do campo chegam as multas gigantescas agraves vezes maior que o valor da terra e aiacute inviabilizou a pecuaacuteria e muitos fazendeiros venderam suas terras e foram embora Quem ficou no campo na busca por renda a qualquer preccedilo arrenda seus campos para os batateiros que vieram acredito que a grande maioria de Santa Catarina e do Paranaacute estes lavram o campo nunca mais o campo nem com reza braba taacute tudo perdido para sempre e isso reflete na nossa cidade25
Essas mudanccedilas no campo refletem na Sede onde o homem serrano convive
passivamente com novas identidades que embora sejam presentes eacute minoria pois
esta parcela de novos moradores traz consigo um novo jeito de viver que ainda natildeo
se percebe influenciar na identidade cultural da Sede
24 Propriedades rurais cuja atividade principal eacute a praacutetica da pecuaacuteria extensiva e a produccedilatildeo do
queijo artesanal serrano 25 SOARES Luciana Olga Entrevista concedida agrave autora no dia 01 de marccedilo de 2018
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Na Sede desde o iniacutecio se observam quatro clubes sociais a Sociedade
Cruzeiro a Sociedade 9 de Julho a Sociedade Esperanccedila e o Centro de Tradiccedilotildees
Gauacutechas Cada clube social tem sua importacircncia histoacuterica poreacutem alguns natildeo se
manteacutem ativos
A Sociedade 9 de Julho foi fundada em 27 de setembro de 1961 estando
localizada no bairro Rincatildeo Segundo o jornal Folha da Serra (1968 n 96 p 5)
apoacutes sete anos de sua fundaccedilatildeo ldquoseu presidente Galego promete uma nova e
confortaacutevel sede para a sociedaderdquo Sociedade que se apresenta por sua
versatilidade nos eventos ateacute os dias atuais
O jornal Folha da Serra (1968 n 96 p 5) traz a seguinte mateacuteria ldquoas quatro
noites foram repletas de alegria naquela sociedade onde os foliotildees divertiram-se e
quando se anunciou o final da quarta noite houve quem lamentasse o final da festa
do Momordquo A reportagem refere-se ao carnaval que se desenvolve de forma
popular nesta sociedade Neste espaccedilo na deacutecada de 1990 ocorria um baile na
sexta-feira que antecedia ao Festival do Ronco do Bugio um espaccedilo onde jovens se
encontravam para iniciar as festividades do grande festival da cidade poreacutem na
atualidade este evento natildeo ocorre mais Pelos cartazes de divulgaccedilatildeo de eventos
atuais a Sociedade 9 de Julho se torna um espaccedilo bastante versaacutetil e segundo
dados obtidos no site da proacutepria sociedade o local apresenta shows bailes
tradicionalistas domingueiras e festas temaacuteticas
Sabe-se da existecircncia da Sociedade Esperanccedila devido a uma reportagem a
respeito do carnaval escrita no jornal Folha da Serra (1968 n 11 p 25) ldquoos
escurinhos tambeacutem natildeo ficaram para traacutes e demonstraram que satildeo bons no samba
porque soacute quem assistiu pode ver como brincaram e que maravilha de ritmo
marcaram durante as quatro noitesrdquo A reportagem daacute a entender de se tratar de
uma sociedade frequentada por negros e pode-se entender que ao usar o termo
escurinho na reportagem haacute preconceito racial perpassando a ideia de que por
serem negros natildeo poderiam se divertir da mesma maneira que os brancos
Atualmente se encontra no local um espaccedilo residencial e comercial
A Sociedade Cruzeiro foi fundada em 9 de maio de 1925 pela elite da
sociedade serrana Segundo Teixeira (2002) e Fonseca (2012) sua sede social era
na Avenida Juacutelio de Castilhos onde hoje se situa a agecircncia do Banrisul e teve como
primeiro presidente o Sr Antocircnio Mario Kroeff e o secretaacuterio Sr Joatildeo Parobeacute de
Lucena Sua nova sede foi inaugurada de acordo com Fonseca (2012 p 236) ldquono
46
dia 11 de dezembro de 1965 e esta permanece no mesmo endereccedilo ateacute a
atualidade Situa-se na Rua Dr Frederico Tedesco nordm 1261rdquo
Atualmente este espaccedilo eacute usado para convenccedilotildees ou festas particulares
onde as pessoas locam o espaccedilo para realizarem seu evento Neste espaccedilo natildeo
mais ocorrem grandes eventos sociais como Fonseca (2012 p 232) descreve ldquoos
bailes mais elegantes e vistosos desta sociedade ocorrem aquirdquo Fonseca (2012 p
233) ainda complementa que ldquoa primeira Miss Sociedade Cruzeiro foi eleita em 1937
e a vencedora foi a jovem Zilah Teixeirardquo
A Sociedade Cruzeiro tambeacutem foi palco de bailes de carnaval O Jornal Folha
da Serra (1968 n 11 p 25) descreve ldquocomo sempre a Sociedade Cruzeiro ponteou
o nosso carnaval com blocos fantasiados magnificamente fazendo acrobacias ao
som de excelente muacutesica local onde os turistas afluiacuteramrdquo Contrapondo a este
tempo a moradora local Soares26 discorre de maneira saudosa ldquoque saudades do
carnaval hoje eacute bebedeira perdeu o encanto perdeu tudo Na rua o pessoal
gritando sem nenhuma infraestrutura nem os bailes na sociedade natildeo ocorrem
maisrdquo
O distrito Sede jaacute foi palco de inuacutemeros clubes sociais que ao longo do tempo
foram perdendo seu encanto e ateacute mesmo fechando-se para atividades sociais O
que permanece em pleno funcionamento eacute o Centro de Tradiccedilotildees Gauacutechas Rodeio
Serrano o que justifica uma cultura tradicionalista presente neste distrito Dentre as
atividades desenvolvidas por esta entidade estatildeo o Rodeio Interestadual com
atividades campeiras e artiacutesticas que ocorrem todos os anos no primeiro final de
semana de dezembro a manutenccedilatildeo das invernadas artiacutesticas em todas as
categorias mascote mirim juvenil e adulta
A organizaccedilatildeo da Ronda Crioula na Semana Farroupilha com a participaccedilatildeo
das escolas da Sede e do interior que trazem seus grupos de danccedilas bem como
organizam gincanas Outra atividade tambeacutem desenvolvida por esta entidade eacute a
Cavalgada de Prendas que ocorre durante a Semana Farroupilha desde 1992
sendo Satildeo Francisco de Paula pioneira nesta ideia onde somente mulheres
participam da cavalgada que culmina com o desfile na Avenida Juacutelio de Castilhos
Realiza-se tambeacutem o Baile da Prenda Jovem que eacute o baile de debutante gauacutecho
onde as prendas entre 13 e 15 anos satildeo apresentadas agrave sociedade Aleacutem disso nos
26 SOARES Luciana Olga Entrevista concedida agrave autora no dia 01 de marccedilo de 2018
47
uacuteltimos anos a organizaccedilatildeo e apresentaccedilatildeo do Festival Ronco do Bugio que ocorre
em Satildeo Francisco de Paula faz parte da programaccedilatildeo desta entidade Este festival
apresenta exclusivamente o gecircnero musical bugio Haacute pelo menos duas hipoacuteteses
sobre a origem deste gecircnero musical
A primeira eacute de berccedilo serrano e teria mais fiel escudeiro o inesqueciacutevel acordeonista de Satildeo Francisco de Paula Honeyde Bertussi Siqueira Segundo ele o ritmo teria sido originaacuterio pelas matildeos do gaiteiro Vergiacutelio Leitatildeo que no jogo-de-foles e nos baixos de sua gaita de botatildeo teria imitado o ronco do bicho nos caponetes de cima da serra [] teria difundido pelas bodegas do Juaacute interior de Satildeo Chico (SOUZA 2003 p 15)
A segunda hipoacutetese eacute apresentada por Souza (2003 p 15) que apresenta a
versatildeo dada pelo povo de Satildeo Francisco de Assis que diz que ldquoa origem do ritmo e
oriunda desta localidade que por sinal realizava um festival nativista chamado
Querecircncia do Bugiordquo
Desconhece-se a verdadeira origem do gecircnero musical bugio mas Souza
(2003 p 23) afirma que ldquoJoatildeo Cincinato Terra muacutesico atuante sentiu a
necessidade de nosso municiacutepio acompanhar o movimento jaacute que neste periacuteodo se
expande por todo o estado do Rio Grande do Sul os festivais nativistasrdquo O
lanccedilamento do primeiro festival do Ronco do Bugio acontece em 1986 no CTG
Rodeio Serrano com a participaccedilatildeo de vaacuterios representantes da muacutesica nativista e
da comunidade serrana Seu lanccedilamento oficial ocorre em 16 de abril de 1986
O jornal Satildeo Chico Tchecirc (1986 n 11 p 6) noticiou que o primeiro Festival do
Ronco do Bugio contou com 98 muacutesicas escritas sendo 24 as selecionadas O
festival ocorreu entre os dias 13 e 15 de maio e Souza (2003 p 42) descreve que foi
apresentado ldquosob uma lona de circo estaqueada num gramado amador mas de
tantas gloacuterias futeboliacutesticas o campo do Clube Atleacutetico Serranordquo
A muacutesica vencedora do primeiro Ronco do Bugio foi ldquoLevanta Bugiordquo
defendida pelo cantor e compositor gauacutecho Leonardo Observando fotos percebe-se
que o Ronco do Bugio se deu em uma noite fria de inverno
O Festival Ronco do Bugio desde o seu iniacutecio premia melhor arranjo
conjunto instrumental instrumentista inteacuterprete e a muacutesica mais popular Fatima
Gimenez foi a melhor inteacuterprete do primeiro festival defendendo a muacutesica ldquoPinheiro
Gringordquo composiccedilatildeo de Erian Fogaccedila e Laerte Fortes Novamente a roupa dos
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muacutesicos reforccedila que na noite da entrega da premiaccedilatildeo fazia muito frio A cantora
tambeacutem se apresenta vestindo um chiripa coberto por um pala27
Na Figura 11 observamos a fotografia de Gonzaga dos Reis muacutesico local
sentado com sua gaita instrumento que lhe deu o precircmio de melhor instrumentista
do primeiro Ronco do Bugio Nesta oportunidade o cantor instrumentista e
compositor defendeu a muacutesica ldquoBugio da Minha Terrardquo
Figura 11 ndash Gonzaga dos Reis
Fonte Jornal Satildeo Chico Tchecirc n 4 p 8 (1986)
A composiccedilatildeo ldquoBugio Tiranordquo que foi defendida pelo conjunto Os Tiranos de
Satildeo Francisco de Paula ganhou o precircmio mais popular
Para o Jornal Satildeo Chico Tchecirc (1986 n 11 p 7) o Festival Ronco do Bugio eacute
ldquoum festival autecircntico e original que aconteceu com grande sucesso em Satildeo
Francisco de Paulardquo No encerramento deste grande evento Joatildeo Chagas Leite se
27 Chiripa e pala satildeo trajes tipicamente gauacutechos Sendo que o chiripa atualmente eacute uma veste de
preferecircncia feminina este fica enrolado na cintura e vai ateacute os joelhos ldquoEacute um pano inteiro passado entre as pernas primeiro de traacutes para frente e depois de frente para traacutes pode ser de latilde ou lisordquo (ABREU 2003 p 67) O pala eacute uma peccedila retangular com franjas nos quatro lados e listras no sentido do comprimento
49
apresenta segundo o Jornal Satildeo Chico Tchecirc (1986 n 11 p 8) ldquocom composiccedilotildees
como Corda de Espinho Orelhano Pampa Campo e Querecircncia Coraccedilatildeo de
Estudante e Afiosrdquo
O Festival Ronco do Bugio perpassa o tempo segundo o site da Prefeitura
Municipal
O Festival Ronco do Bugio eacute um evento musical nativista que acontece anualmente na Cidade de Satildeo Francisco de Paula com o intuito de preservar e difundir o uacutenico ritmo originaacuterio do Rio Grande do Sul ou seja o lsquobugiorsquo compasso criado justamente no interior deste municiacutepio Tal criaccedilatildeo se deu a partir da criatividade dos gaiteiros serranos que buscaram imitar com seu instrumento musical o ronco do primata nos matos da serra A festividade agora em sua 26ordf ediccedilatildeo eacute genuiacutena pois eacute o uacutenico da Ameacuterica onde obrigatoriamente os participantes devem utilizar um ritmo somente isto eacute o citado lsquobugiorsquo embora a temaacutetica seja abrangente Por este motivo eacute chamado de lsquoO Festival Mais Autecircntico do Rio Grandersquo Aleacutem do forte enfoque cultural que envolve toda a comunidade musical do Estado o Festival tem seu apelo ecoloacutegico pois chama a atenccedilatildeo para a preservaccedilatildeo da espeacutecie hoje quase em extinccedilatildeo O Ronco do Bugio por sua importacircncia no cenaacuterio cultural rio-grandense criou uma identidade ao povo de Satildeo Francisco de Paula pois junto ao evento estaacute intriacutenseco e vem agrave tona o histoacuterico da criaccedilatildeo do municiacutepio caracterizado pela forte influecircncia dos antigos tropeiros desbravadores e povoadores desta parte do paiacutes (PREFEITURA MUNICIPAL DE SAtildeO FRANCISCO DE PAULA 2017)
No mesmo documento disponibilizado pela Prefeitura Municipal de Satildeo
Francisco de Paula observam-se algumas informaccedilotildees a respeito da realizaccedilatildeo do
festival no ano de 2017
Art 1ordm - O 26ordm Ronco do Bugio realizar-se-aacute no municiacutepio de Satildeo Francisco de Paula nos dias 01 e 02 de setembro de 2017 Art 2ordm - a festividade agora em sua 26ordf ediccedilatildeo eacute genuiacutena pois eacute a uacutenica na Ameacuterica Latina com promoccedilatildeo da Prefeitura Municipal de Satildeo Francisco de Paula e do CTG Rodeio Serrano com apoio de oacutergatildeos puacuteblicos e iniciativa privada Art 3ordm - Satildeo objetivos do 26ordm Ronco do Bugio a) valorizar a tradiccedilatildeo arte cultura e a autecircntica muacutesica regionalista
gauacutecha atraveacutes do seu ritmo mais original b) prestigiar autores compositores inteacuterpretes e conjuntos regionalistas e
incentivar o surgimento de novos valores c) divulgar a muacutesica regional gauacutecha d) valorizar a relevante posiccedilatildeo na formaccedilatildeo de usos e costumes
caracteres e valores espirituais e morais do gauacutecho e) promover e incentivar a cultura gauacutecha projetando Satildeo Francisco de
Paula na maneira mais autecircntica no cenaacuterio do turismo (PREFEITURA MUNICIPAL DE SAtildeO FRANCISCO DE PAULA 2017)
Como eacute possiacutevel observar no artigo 4ordm ldquoA organizaccedilatildeo do 26ordm Ronco do Bugio
ficaraacute a cargo da Comissatildeo Organizadora composta por membros da Prefeitura
Municipal e do CTG Rodeio Serranordquo (PREFEITURA MUNICIPAL DE SAtildeO
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FRANCISCO DE PAULA 2017) Devido agrave importacircncia identitaacuteria do festival para o
municiacutepio ao se chegar agrave cidade na deacutecada de 90 se encontrava o seguinte
outdoor
Figura 12 ndash Outdoor entrada da cidade na ERS-020
Fonte Souza (2003 p 17)
Assim como o tiacutetulo de ldquoCapital Mundial do Bugiordquo Satildeo Francisco de Paula ldquojaacute
obteve vaacuterios slogans dentre eles o de Satildeo Chico eacute terra boardquo (TEIXEIRA 2002 p
149-150)
Mesmo ocorrendo inferecircncias externas advindas com pessoas que trouxeram
consigo uma identidade diferente Soares28 em entrevista afirma ldquoSatildeo Chico eacute
identificada pela cultura tradicionalista gauacutecha a cuia em frente ao antigo preacutedio da
prefeitura demonstra o siacutembolo da hospitalidade de nosso povordquo A permanecircncia
ativa do CTG Rodeio Serrano na sede eacute outro indicativo forte da presente
identidade ligada as atividades do homem do campo Outro fato observado eacute a
constante praacutetica do laccedilo de vaca parada29 por jovens e crianccedilas nos paacutetios de suas
residecircncias bem como cavalarianos (homens mulheres jovens e crianccedilas) na
28 SOARES Luciana Olga Entrevista concedida agrave autora no dia 01 de marccedilo de 2018 29 Vaca parada uma espeacutecie de cavalete de madeira com aspectos de uma vaca usada por crianccedilas
que estatildeo iniciando neste esporte bem como usado como forma de entretenimento para jovens e adultos
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avenida principal cavalgando entre os carros Ainda se percebe o respeito entre
motoristas de automotivos bicicletas e os cavalarianos todos ocupando o mesmo
espaccedilo
42 DISTRITO DE CAZUZA FERREIRA
O distrito de Cazuza Ferreira foi criado em 07 de janeiro de 1903 estando
situado a 85 quilocircmetros da Sede Andrade comenta em entrevista30 ldquoateacute acho que
Cazuza se desenvolveu primeiro que Satildeo Chicordquo31 visto que a criaccedilatildeo do distrito
acontece dias depois da emancipaccedilatildeo enquanto a criaccedilatildeo da vila do distrito de
Cazuza Ferreira se desenvolve segundo a entrevistada
A parte da Histoacuteria que eu sei eacute que houve a chegada de um Sr Chico Mestre eacute como eles chamavam Esse Sr veio as casas eram distantes umas das outras e ele comeccedilou a fazer oraccedilatildeo nas casas e reunir as pessoas e fundou o cemiteacuterio Entatildeo o Joseacute Ferreira de Castilhos que era dono daqui naquela eacutepoca um dos moradores que tinha bastante terra doou a terra para fazer a vila aiacute o que aconteceu segundo as histoacuterias era para ser ali onde eacute a cancha de laccedilo hoje do outro lado da estrada soacute que o terreno natildeo era apropriado entatildeo houve uma permuta com o Sr que era dono deste terreno aqui era Bossle aqui era bem mais alto e mais plano Entatildeo se construiu a Igreja e iniciou o povoamento da vila32
A moradora Basso ainda acrescenta que ldquoa vila foi sempre mais ou menos o
que ela eacute hojerdquo Ao observar o local pode-se perceber uma grande praccedila ao centro
rodeada de casas de comeacutercio posto de combustiacutevel posto de sauacutede o hotel a
Igreja Matriz juntamente com o salatildeo paroquial e casas residecircncias cujo aspecto
impressiona por a grande maioria das casas apresentam uma arquitetura que
perpassa o tempo A Figura 13 apresenta uma imagem da praccedila central tirada das
escadarias da Igreja Matriz
30 ANDRADE Nauro Bossle de Entrevista concedida agrave autora no dia 04 de marccedilo de 2018 31 Primeiro que Satildeo Chico eacute um termo comum usado pelos moradores do interior do municiacutepio de
Satildeo Francisco de Paula que ao se referir a Sede do municiacutepio usam o termo Satildeo Chico ou Satildeo Francisco de Paula pois seus moradores natildeo costumam na atualidade dizer lsquovou a Sedersquo e sim lsquovou a Satildeo Chicorsquo como se eles natildeo morassem no municiacutepio
32 BASSO Ceacutelia Pacheco Terres Entrevista concedida agrave autora no dia 04 de agosto de 2018
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Figura 13 ndash Praccedila Central de Cazuza Ferreira
Fonte acervo pessoal da autora (2018)
Apesar de ter a preservaccedilatildeo arquitetocircnica a moradora Basso declara
O pai contava e outras pessoas contam que teve uma eacutepoca que tinha faacutebrica de tamanca33 jaacute teve faacutebrica de guaranaacute de queijo bastante coisa no sentido de selaria mas tudo foi se extinguindo as pessoas as famiacutelias natildeo deram continuidade e se sumiram natildeo existe mais nada disso mas estas faacutebricas natildeo davam renda ou seja trabalho para pessoas de fora pois elas eram administradas e cuidadas pelas famiacutelias Daiacute houve o periacuteodo das serrarias enquanto pode extrair madeira era o forte a vila movimentada enriqueceram alguns comerciantes locais o momento que extinguiu aquele trabalho eles foram embora e o povo daqui acomodou entatildeo hoje a vila tem bastante pessoas que foram embora trabalhar assim na juventude e hoje aposentados voltaram pois aqui para jovem natildeo tem sobrevivecircncia o uacutenico trabalho eacute na escola tem nove professores e uma funcionaacuteria em alguns funcionaacuterios da prefeitura acho que satildeo seis que cuidam do plantel de maacutequinas a enfermeira e o pessoal que cuida do posto do correio tambeacutem tem a ferraria mas ali eacute soacute os da proacutepria famiacutelia entatildeo o jovem acaba tendo que ir embora34
Os entrevistados Basso e Andrade relatam que apesar das adversidades o
povo de Cazuza Ferreira tem um amor pelas suas tradiccedilotildees mantendo vivos trecircs
aspectos que ambos consideram a marca identitaacuteria de seu povo e afirmam com
33 Tamanca calccedilado comum na regiatildeo solado de madeira com uma proteccedilatildeo sobre as pontas dos
dedos indo ateacute o peito do peacute em couro 34 BASSO Ceacutelia Pacheco Terres Entrevista concedida agrave autora no dia 04 de agosto de 2018
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convicccedilatildeo ldquofalar de Cazuza eacute cavalhada hotel e rodeiordquo enquanto Basso acrescenta
que ldquoas cavalhadas satildeo heranccedila dos portugueses e estatildeo espalhadiacutessimas ateacute
nacionalmente atraveacutes da miacutedia porque natildeo pesquisei mas ateacute onde sei no Rio
Grande do Sul soacute tem aquirdquo
Na comunidade ainda segundo Basso ldquoa apresentaccedilatildeo das cavalhadas se
iniciou por volta de 1890 e permanece ativa ateacute hoje no passado existiam trecircs
cavalhadas as dos brancos dos amarelos e dos negrosrdquo acrescentando ldquomas hoje
natildeo haacute mas essa diferenciaccedilatildeordquo Em poliacutegrafo organizado por uma moradora local a
mesma explica que a cavalhada ldquoeacute uma luta simulada em que haacute vinte e quatro
participantes sendo doze de cada equiperdquo35 por meio da evoluccedilatildeo equestre e
movimentos de espada lanccedila e garrucha representando a batalha entre mouros e
cristatildeos Segundo esta moradora ldquoa batalha sempre termina sendo vencida pelos
cristatildeos demonstrando a submissatildeo dos mouros e a supremacia da religiatildeo cristatilderdquo
Atualmente o grupo depende da boa vontade de seus participantes conforme
explica
Hoje se tornou caro eacute exame dos cavalos transporte depende do querer das pessoas da boa vontade e tem pessoas engajadas que natildeo largam a famiacutelia do Renau que ele eacute o presidente do grupo ele tem um amor tatildeo grande pelas cavalhadas porque ele jaacute recebeu do pai dele do teu avocirc e do seu Ivo Cardoso e a vida dele agraves vezes me desgosto de alguma coisa pois faccedilo a narrativa do que estaacute sendo apresentado mas daiacute eu penso natildeo posso abandonar (sorri) Eacute uma tradiccedilatildeo que natildeo pode morrer mas os filhos do Renau o Marcos e o Marcelo daratildeo continuidade faz parte da famiacutelia tu sabe eacute da mesma famiacutelia Eacute uma grande tradiccedilatildeo que natildeo pode desaparecer temos que continuar peleando36
As cavalhadas satildeo apresentadas na praccedila central sempre durantes as festas
religiosas que acontecem na comunidade sendo assim organizadas
No primeiro ou segundo final de semana de fevereiro tem a festa da Nossa Senhora do Belo Horizonte que eacute a padroeira daqui Agora devido agrave comissatildeo e o padre um ano tem a festa dos morenos e no outro tem a dos agricultores que eram chamados de amarelos antigamente cuja devoccedilatildeo se daacute agrave Nossa Senhora do Rosaacuterio e Nossa Senhora da Penha Antigamente cada um tinha seu espaccedilo social para realizar a festa atualmente soacute se manteve a tradiccedilatildeo de comemorar os santos este ano eacute festa dos morenos ela seraacute dia 13 e 14 de outubro Todas as festas
35 Sendo que doze cavaleiros que representam os cristatildeos vestem tuacutenicas de veludo azul escuro e
os doze cavaleiros mouros vestem tuacutenicas vermelhas Sobre os ombros da tuacutenica haacute uma capinha esta capinha traz enfeites prateados bordados com lantejoulas e bototildees dourados e franjas de seda branca Todos os participantes usam bombacha branca de brim botas campeiras pretas chapeacuteu de palha de aba larga virada para cima com laccedilo de fita e barbicacho de acordo com a cor da tuacutenica
36 BASSO Ceacutelia Pacheco Terres Entrevista concedida agrave autora no dia 04 de agosto de 2018
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religiosas ocorrem em dois dias saacutebado apresentaccedilatildeo das cavalhadas novena janta e baile no domingo tem a missa na Igreja Matriz logo apoacutes almoccedilo e reuniatildeo danccedilante Atualmente resgataram em dezembro a festa a Satildeo Cristoacutevatildeo sempre no primeiro final de semana de dezembro eacute uma missa com benccedilatildeo aos carros durante a procissatildeo e um almoccedilo ao meio-dia esta se daacute somente em um dia E tambeacutem temos de dois em dois anos a festa organizada pelo grupo das Cavalhadas esta ocorre em maio daiacute37
Os moradores explicam que a separaccedilatildeo racial desapareceu com o tempo
poreacutem se manteacutem a cultura de festejar todos os santos o que demonstra que o povo
de Cazuza eacute bastante devoto e cristatildeo E acrescenta em tempos idos que durante
as festas religiosas as pessoas se hospedavam no hotel segundo Basso que ldquoele
recebia tinha mercado junto teve ateacute cinema o pessoal gostava da comida da
Dona Vilma que era minha sogrardquo Este hotel eacute outro marco que identifica Cazuza
Ferreira poreacutem os moradores explicam que atualmente o Hotel do Campo manteacutem a
arquitetura mas funciona em uma modalidade diferenciada pois natildeo haacute como
sobreviver Entatildeo ele recebe hospeda sob reserva antecipada poreacutem natildeo serve
almoccedilo e janta as refeiccedilotildees satildeo feitas no Cantinho do Aconchego com quem
manteacutem uma parceria
Figura 14 ndash Hotel do Campo
Fonte acervo pessoal da autora (2018)
37 BASSO Ceacutelia Pacheco Terres Entrevista concedida agrave autora no dia 04 de agosto de 2018
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Nesta comunidade tambeacutem eacute muito forte segundo os entrevistados38 a
tradiccedilatildeo gauacutecha que adveacutem do homem do campo o amante dos rodeios que nos
finais de semana saem de suas propriedades e se deslocam a outras comunidades
para participar dos eventos campeiros como o tiro de laccedilo Tambeacutem explanam que
existe o CTG Adatildeo Castilhos que estaacute interditado jaacute faz quase seis anos desde
que comeccedilaram a ser exigidos os PPCIs A partir deste momento eles natildeo puderam
mais fazer eventos ali eles realizam os rodeios ou festas campeiras mas laacute dentro
natildeo conseguiram mais fazer nada e taacute difiacutecil vai muito dinheiro para cumprir todas
as exigecircncias Sendo que este espaccedilo na deacutecada de 80 do seacuteculo XX foi palco de
grandes rodeios com apresentaccedilotildees campeiras artiacutesticas e grandes bailes A
moradora explica39 ldquoA Claudiana esposa do Paulo Cesar atual presidente se
inscreveu no projeto Meu Galpatildeo de Cara Nova do Galpatildeo Crioulo da RBS TV
tomara que ela seja classificadardquo Este projeto ajuda na reconstruccedilatildeo dos CTGs pelo
Rio Grande do Sul
Ao pesquisar sobre Cazuza Ferreira percebe-se o quatildeo forte eacute o culto agraves
tradiccedilotildees e o esforccedilo de seus moradores para elas permaneccedilam para futuras
geraccedilotildees visto que o tempo passou e a tradiccedilatildeo local natildeo sofreu alteraccedilotildees
43 DISTRITO DE TAINHAS
O distrito de Tainhas foi criado em 18 de outubro de 1922 estando situado a
33 quilocircmetros da Sede Se desenvolveu no entroncamento de duas rodovias a RS-
020 e a RS-453 cujas rodovias cortavam a vila do distrito Com o advento da
construccedilatildeo da Rota do Sol importante rodovia que hoje que liga Caxias do Sul agraves
praias aleacutem da construccedilatildeo do asfalto da RS-020 que vai a Satildeo Francisco de Paula
tudo mudou O morador Fagundes relata em entrevista40 ldquoaqui era mais habitado
por criadores fazendeiros e agora depois que saiu essa Rota do Sol o movimento
cresceu muito neacute mais por fora da vila entatildeo natildeo trouxe benefiacutecio para noacutesrdquo
Percebe-se que moradores entendem a importacircncia da construccedilatildeo das
rodovias poreacutem as mesmas natildeo trouxeram benefiacutecios econocircmicos para os
moradores locais
38 ANDRADE Nauro Bossle de BASSO Ceacutelia Pacheco Terres Entrevistas concedidas agrave autora no
dia 04 de agosto de 2018 39 BASSO Ceacutelia Pacheco Terres Entrevista concedida agrave autora dia 04 de agosto de 2018 40 FAGUNDES Darci da Silva Entrevista concedida agrave autora no dia 24 de fevereiro de 2018
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Ainda conforme o morador Fagundes41 ldquoo iniacutecio da vila se deu devido agrave
necessidade de parada dos caminhoneiros que transportavam madeira como era
tudo estrada de chatildeo Tainhas ficava em local centralizado se construiu um hotel
que era do seu Pedro Pinhatildeo e da Dona Luisardquo A partir de entatildeo comeccedilou a
construccedilatildeo de casas e se formou a vila onde antes eram terras dos Pinto os
primeiros moradores de Tainhas tanto que o morador ressalta na entrevista42 ldquoo
nome da escola eacute Oliacutempio Soares Pinto que era o proprietaacuterio dessa terra e uma
das professoras mais antigas era Guilherma Pintordquo
Tainhas estaacute rodeada por campos matos de pinnus ilhote e lavouras
atualmente e explica
Hoje aqui eacute pinus e granjeiro plantando batata soja milho e a maioria veio de fora os moradores antigos desapareceram arrendaram ou venderam suas terras para esse pessoal que veio de Ibiraiara e de Maquineacute Itati Trecircs Forquilhas43
Percebe-se que a criaccedilatildeo de gado ou seja a pecuaacuteria extensiva deu lugar a
outras culturas com a chegada de novas pessoas ao distrito Mas segundo os
moradores o culto ao tradicionalismo gauacutecho permanece visto que no distrito
existe
O parque de rodeios do Rodeio Crioulo eacute o mais antigo que noacutes temos aqui natildeo sei se natildeo o primeiro piquete registrado de Satildeo Chico tem uns sessenta anos a nossa tradiccedilatildeo eacute o laccedilo O nosso rodeio acontece sempre no iniacutecio de janeiro hoje eu natildeo laccedilo mais mas o meu neto continua a minha tradiccedilatildeo A escola daqui faz a semana farroupilha com ronda eacute tudo muito lindo e assim se mantem a cultura44
A imagem apresentada na Figura 15 reforccedila a fala e a importacircncia do Piquete
de Laccediladores Rodeio Crioulo que atualmente mesmo estando nas terras de Satildeo
Francisco de Paula divisa com o municiacutepio de Cambaraacute do Sul por opccedilatildeo essa
entidade tradicionalista pertence ao entatildeo municiacutepio de Cambaraacute do Sul Poreacutem sua
fundaccedilatildeo acontece em 20 de janeiro de 1961 quando o entatildeo hoje municiacutepio de
Cambaraacute do Sul ainda era distrito de Satildeo Francisco de Paula
41 FAGUNDES Darci da Silva Entrevista concedida agrave autora no dia 24 de fevereiro de 2018 42 FAGUNDES Darci da Silva Entrevista concedida agrave autora no dia 24 de fevereiro de 2018 43 FAGUNDES Darci da Silva Entrevista concedida agrave autora no dia 24 de fevereiro de 2018 44 FAGUNDES Darci da Silva Entrevista concedida agrave autora no dia 24 de fevereiro de 2018
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Figura 15 ndash Flacircmula de comemoraccedilatildeo aos 50 anos da entidade
Fonte acervo pessoal da autora (2018)
Outro evento importante no distrito eacute realizado pela Escola Estadual de
Ensino Fundamental Oliacutempio Soares Pinto que satildeo atividades ligadas as tradiccedilotildees
gauacutechas na Semana Farroupilha como cavalgadas e gincanas com a participaccedilatildeo
de toda comunidade nesta semana principalmente a comunidade de Tainhas
ldquorespira tradicionalismordquo
O distrito de Tainhas atualmente conta com um posto de sauacutede e o correio
satildeo os serviccedilos puacuteblicos que funcionam no distrito visto que o cartoacuterio fechou O
entrevistado Fagundes relata45 ldquoeu era o juiz de paz desse Cartoacuterio minha funccedilatildeo
era julgar os casamentos mas daiacute fechou hoje o pessoal tem que ir a Satildeo Chicordquo O
morador ainda acrescenta ldquoateacute a rodoviaacuteria fechou os ocircnibus passam aqui Satildeo
Marcos que vem de Caxias e vatildeo a Torres desce de manhatilde e sobe de tarde Citral
de Satildeo Chico a Ouro Verde e agora Transneves da Pedra Lisa para Satildeo Chicordquo
Com uma certa tristeza relata46 ldquoaqui em Tainhas soacute tem o Cafeacute Tainhas do
Mauro eacute o brilho de Tainhas seraacute ponto histoacuterico daqui um tempo todo mundo fala
bem do Cafeacute Tainhasrdquo
Notoriamente a chegada do asfalto modificou a vida das pessoas neste
distrito visto que que os campos foram em boa parte transformados em lavoura se
45 FAGUNDES Darci da Silva Entrevista concedida agrave autora no dia 24 de fevereiro de 2018 46 FAGUNDES Darci da Silva Entrevista concedida agrave autora no dia 24 de fevereiro de 2018
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percebe uma vila pacata jaacute que todo o movimento foi desviado por fora da vila e a
mesma natildeo proporciona lazer para as pessoas que ao terminarem o ensino
fundamental para continuar seus estudos precisam fazer uso do transporte escolar
e se deslocar ateacute a Sede ou ir ao municiacutepio de Cambaraacute do Sul
44 DISTRITO DE ELETRA
O distrito de Eletra foi criado em 31 de dezembro de 1932 estando situado a
19 quilocircmetros da Sede do municiacutepio Poreacutem a populaccedilatildeo local chama de Salto e
seu nome vem das barragens do Salto Blang e Divisa construiacutedas sobre o Rio do
Salto que atravessa o distrito Segundo a moradora local47 Soares ldquoas barragens
que fornecem aacutegua para as usinas no municiacutepio de Satildeo Francisco de Paula e nos
municiacutepios vizinhos de Canela Gramado e Cambaraacute do Sulrdquo A Figura 16 apresenta
uma imagem da Barragem do Salto barragem esta que se situa proacutexima da vila do
distrito
Figura 16 ndash Barragem do Salto
Fonte acervo pessoal da autora (2018)
Ao observarmos a Figura 16 percebe-se que o acesso da vila para o interior
do distrito acontece por uma ponte de concreto estreita com piso bastante irregular
47 SOARES Susana Marques Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018
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e que em periacuteodos de fortes chuvas o acesso fica interrompido devido agrave altura
Poreacutem ao lado direito percebe-se uma estrutura pequena que segundo o morador
Gomes
Foi uma tentativa de uma empresa japonese construir uma ponte soacute que quando estavam construindo deu uma enchente e levou tudo a aacutegua abaixo a empresa foi embora e nunca mais voltou Jaacute foram feitos estudos que a ponte tem que ser construiacuteda mais para baixo e em forma de arco se natildeo a chuva leva de novo poreacutem natildeo acredito que saia algum dia48
Entende-se que a construccedilatildeo desta nova ponte melhoraria o acesso dos
proprietaacuterios rurais que para saiacuterem de suas propriedades em eacutepocas de chuva
intensa necessitam fazer um longo caminho por estradas de chatildeo batido para terem
acesso ao municiacutepio de Canela bem como a Sede de Satildeo Francisco de Paula
Contudo a moradora explica que a vila do distrito se forma muito antes da
construccedilatildeo da barragem
Em 1915 era uma fazenda chamada Fazenda do Salto e esta pertencia a Francisco Soares de Oliveira Neste local havia sua casa de moradia um galpatildeo e mangueiras onde realizava as suas atividades poreacutem em 1916 o Chico resolveu transferir a casa da Fazendo do Cerro para o Salto tambeacutem sendo construiacuteda aiacute a segunda casa a partir de entatildeo se iniciou o povoado com a construccedilatildeo de novas residecircncias para seus empregados e posteriormente se instalou uma serraria dos irmatildeos Delavechia esta sendo movida a aacutegua dando definitivamente o iniacutecio do povoamento da vila49
Ao analisar a fala da moradora local se percebe que onde hoje se encontra a
vila do distrito de Eletra jaacute foi uma fazenda identificando-se com a mesma formaccedilatildeo
do distrito Sede que tambeacutem surge de terras doadas por um fazendeiro Segundo a
entrevistada Soares50 ldquoa sua casa eacute uma das mais antigas tem 102 anos foi
construiacuteda de pinheiro serrada aqui mesmo na serrariardquo pode-se observar o oacutetimo
estado de conversaccedilatildeo da casa que traz traccedilos arquitetocircnicos europeus na sua
construccedilatildeo natildeo se tem imagem da casa visto que a entrevistada natildeo permitiu
nenhuma imagem de sua residecircncia
Outro fator importante do povoamento da vila segundo o morador local
Gomes51 ldquofoi o iniacutecio da construccedilatildeo da Barragem do Salto no ano de 1925rdquo onde
48 GOMES Jaures Feijoacute Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018 49 SOARES Susana Marques Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018 50 SOARES Susana Marques Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018 51 GOMES Jaures Feijoacute Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018
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vieram muitos funcionaacuterios de vaacuterios lugares tendo como mestre da obra segundo
os moradores locais52 o ldquoAcircngelo Goubertrdquo
Devido agrave necessidade que se formou no distrito neste periacuteodo se abriu um
hotel farmaacutecia cartoacuterio rodoviaacuteria e cinema a moradora local Soares saudosa
diz53 ldquotudo fechou aqui natildeo tem mais nadardquo referindo-se a atual situaccedilatildeo que a vila
se encontra
Os moradores ainda declaram sobre o distrito54 ldquoestaacute abandonado pelo poder
puacuteblico ateacute o calccedilamento das ruas foi arrancadordquo poreacutem outrora foi um local de
muita alegria
A vida era uma festa permanente o tio Chico era casado com a tia Lisoca ela foi para Porto Alegre para os filhos estudar quando vinham nas feacuterias traziam os amigos O tio Chico pagava um gaiteiro por mecircs para ele toca toda noite entatildeo era aquele divertimento55
Atualmente na vila existe a Escola Estadual de Ensino Fundamental Cristino
Ramos com menos de cem alunos e a festa cristatilde cuja celebraccedilatildeo ocorre em
fevereiro sendo Santo Antocircnio o padroeiro local A moradora explica sobre a
construccedilatildeo da capela
A primeira capela a tempestade derrubou em 1957 se construiu outra O santo padroeiro eacute Santo Antocircnio a imagem foi trazida por quarenta cavaleiros Daiacute o padre pediu para que a imagem de Nossa Senhora Catarina tambeacutem fosse acolhida hoje temos dois padroeiros mas para mim Santo Antocircnio eacute o principal56
Percebe-se na fala dos moradores a sua devoccedilatildeo e sua preocupaccedilatildeo com o
futuro da vila visto que ateacute a questatildeo do cemiteacuterio jaacute foi palco de discussatildeo pois o
cemiteacuterio da vila iniciou pela famiacutelia dos Soares sendo este particular Poreacutem a
moradora explica com certa indignaccedilatildeo
O cemiteacuterio era particular da famiacutelia Soares teve um tempo que resolveram abrir veio gente ateacute de Passo Fundo ser enterrada aqui natildeo pediam para ningueacutem tomaram conta Daiacute organizamos uma comissatildeo responsaacutevel decidimos que tinha que ter uma contribuiccedilatildeo e natildeo podia trazer gente de fora para enterrar soacute gente daqui Ningueacutem pagou Aiacute mandei fazer cerca nova a parte dos Soares sempre limpei mas [] hoje acabo limpando tudo
52 GOMES Jaures Feijoacute SOARES Susana Marques Entrevistas concedidas agrave autora no dia 15 de
fevereiro de 2018 53 SOARES Susana Marques Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018 54 GOMES Jaures Feijoacute SOARES Susana Marques Entrevistas concedidas agrave autora no dia 15 de
fevereiro de 2018 55 SOARES Susana Marques Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018 56 SOARES Susana Marques Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018
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porque ningueacutem limpa Enquanto eu for viva vou fazer depois vatildeo entregar para a prefeitura igreja natildeo sei57
A Figura 17 apresenta uma foto da igreja atual tendo em sua lateral direita a
capela mortuaacuteria e ao fundo o Salatildeo Paroquial da comunidade onde ocorre a festa
do Santo Padroeiro
Figura 17 ndash Igreja Santo Antocircnio ndash Distrito de Eletra
Fonte acervo pessoal da autora (2018)
Ao conversar com os moradores locais pode-se observar a feacute cristatilde poreacutem
ambos relatam que a festa de fevereiro atualmente eacute pouco divulgada motivo pelo
qual acreditam que natildeo haja um nuacutemero expressivo de pessoas Ambos sentem um
apreccedilo pelo local onde nasceram e vivem poreacutem ambos relatam
Aqui eacute lugar de dormir as pessoas trabalham em Canela e vem dormir aqui a grande maioria natildeo eacute daqui vieram de fora haacute muitas casas de veraneio tudo gente de Porto Alegre que vem passar feacuterias natildeo rende nada para aqui o que precisam trazem tudo de fora A maioria de quem mora aqui soacute dorme passa o dia fora O ocircnibus das 7 horas sai lotado a gente natildeo conhece mais ningueacutem daqui mesmo soacute noacutes Susana e eu58
Mesmo a vila sendo um local de parada estaacute rodeada de lindos campos e
fazendas cuja a atividade principal eacute a pecuaacuteria extensiva natildeo proporciona
57 SOARES Susana Marques Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018 58 GOMES Jaures Feijoacute Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018
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trabalho no local motivo pelo qual seus moradores buscam sua subsistecircncia em
outro municiacutepio poreacutem possui uma exuberante natureza relata cheia de esperanccedila
a moradora local59 ldquoeu tenho esperanccedila que algueacutem olhe para caacute e veja as belezas
que tem aqui que o lugar volte a se desenvolverrdquo desenvolvimento este que
poderia vir atraveacutes da exploraccedilatildeo do turismo rural ldquoSe vocecirc quiser comer alguma
coisa agora natildeo vai encontrar nada aqui soacute tem lsquobutecorsquo60 mas eles natildeo vendem
nada nem sanduiacuteche pastel eacute uma vergonhardquo fala indignado o morador Gomes61
A populaccedilatildeo que vive nas fazendas aleacutem de ter as lides campeiras no seu
dia-a-dia nos finais de semana segundo o morador Gomes62 ldquolaccedila em torneio vai
nos rodeiosrdquo o que marca a presenccedila do tradicionalismo gauacutecho em uma parte da
populaccedilatildeo do distrito poreacutem com relaccedilatildeo aos moradores da vila natildeo haacute algo que
os identifique visto a miscigenaccedilatildeo que ocorreu e por haver muitas casas de
veraneio no local
45 DISTRITO DO JUAacute
O distrito do Juaacute foi criado em 10 de maio de 1950 e fica distante 65
quilocircmetros da Sede O distrito recebe esse nome devido a um espinho que havia
em abundacircncia no local nome este dado por tropeiros
Os accedilorianos que vinham de Santo Antocircnio da Patrulha e iam para Vacaria com cargueiros eles vinham fazer repouso laacute em cima no reduto e ali tinha muita frutinha do juaacute entatildeo os tropeiros saiam de Santo Antocircnio e diziam vamos posa laacute nos juaacute daiacute o nome do lugar que permanece ateacute hoje63
Juaacute eacute o nome dado a um espinho muito comum na regiatildeo dos campos de
cima da serra que daacute uma fruta amarela em formato redondo que segundo os
moradores locais eacute uma fruta venenosa conforme se observa na Figura 18
59 SOARES Susana Marques Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018 60 Buteco pequeno comeacutercio que normalmente vende bebidas alcooacutelicas e possui mesa de sinuca 61 GOMES Jaures Feijoacute Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018 62 GOMES Jaures Feijoacute Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018 63 REIS Orides Entrevista concedida agrave autora no dia 12 de maio de 2018
63
Figura 18 ndash Peacute com a fruta conhecido como Juaacute
Fonte acervo de Clessandra Palhano (moradora local) (2018)
O reduto citado pelo morador local ficava em uma fazenda local onde hoje se
encontra a vila do distrito conforme o entrevistado Reis explica
O primeiro morador eu natildeo lembro soacute sei que o Juaacute era de pouca gente famiacutelia Pedroso e Castilhos daiacute foram morrendo inventariando e vendendo e aos poucos se formou a vila importante o dono de tudo isso aiacute tinha dois escravos no iniacutecio teve escravidatildeo claro na eacutepoca de mil oitocentos e pouco eu acho mas teve E hoje deve ter descendente destes escravos por aiacute64
Escravidatildeo que vai dar origem ao preconceito racial e a um modelo particular
da localidade que sem precisar data explica o morador
Aqui tinha dois salatildeo trecircs com o da Igreja mas era dois salatildeo social Era um clube de brancos que era dos ricos neacute fazendeiros o Salatildeo Vera Cruz e depois fundaram o Satildeo Valentim que era dos morenos que na eacutepoca ateacute eu fui presidente Cada um no seu salatildeo agora quando dava a festa cristatilde em homenagem ao Satildeo Joatildeo de Deus todo o povo reunia-se quando chegava de noite no saacutebado no baile entatildeo cada um ia pro seu salatildeo A muacutesica ficava no salatildeo dos brancos daiacute colocava umas caixas de som laacute pros morenos com um fio pra eles danccedila Um natildeo podia entra no baile do outro tinha o presidente para cuida Cada um no seu tudo se respeitava e obedecia aquela ordem65
Ainda acrescenta a moradora local Santos
64 REIS Orides Entrevista concedida agrave autora no dia 12 de maio de 2018 65 REIS Orides Entrevista concedida agrave autora no dia 12 de maio de 2018
64
O nosso eu natildeo me lembro o nome tem tanto papel mas natildeo sei onde estaacute o nosso dos pretos neacute ningueacutem implicava eles natildeo deixavam noacutes entra no salatildeo Vera Cruz eu entrava de cozinheira empregada porque ali era lugar dos ricaccedilos eles podiam se associar mas o nosso tambeacutem enchia mas eles iam no nosso baile de nego soacute olhavam As festas duravam dias Tinha aquele foguetoacuterio era tatildeo bonito66
Percebe-se na fala dos moradores como esta divisatildeo racial se fazia presente
que havia por parte dos negros um profundo respeito pelos brancos mesmo eles
tendo acesso ao salatildeo Vera Cruz somente para servi-los em nenhum momento se
percebeu que eles se sentissem diminuiacutedos pela situaccedilatildeo ateacute pela cultura que
advinha desde os primeiros moradores locais
Esta divisatildeo social permanece por longo tempo e somente vai desaparecer
nos anos 80 do seacuteculo XX com a contribuiccedilatildeo do Frei Abiacutelio que veio da Vacaria
durante Missotildees convocadas pelo paacuteroco local padre Afonso que conseguiu
modificar esta organizaccedilatildeo implantando a ideia de igualdade e ignorando tudo
aquilo a partir de entatildeo os negros comeccedilaram a frequentar a sociedade Vera Cruz
contribuiccedilatildeo dos entrevistados67 que ao abordar o assunto demonstraram repulsa
pelo passado mas ao mesmo tempo reconhecem que o racismo ainda eacute presente
na comunidade poreacutem devido agraves leis existe um cuidado maior
Atualmente negros e brancos convivem em harmonia participam da festa
cristatilde cujo padroeiro eacute Satildeo Joatildeo de Deus e dos torneios de laccedilo mas geralmente
quem laccedila satildeo os fazendeiros Saudoso o morador68 afirma que ldquouma vez tinha as
carreradas tinha trecircs canchas passava o domingo nas canchas brincando nas
corridas de cavalos tudo terminourdquo Acrescenta69 ainda que ldquoem 70 80 tinha o
futebol o campo era na baixada acho que tem ainda trofeacuteu ai mas daiacute a gurizada
foi embora para a cidade terminou o timerdquo
A vila se construiu de maneira simples tendo a Igreja Catoacutelica com o Salatildeo
Paroquial agrave direita o antigo Centro de Tradiccedilotildees Gauacutechas Laccedilo Velho do Juaacute onde
resta apenas o preacutedio de madeira corroiacuteda pelo tempo ao fundo a cancha de laccedilo
do Piquete de Laccediladores Velho do Juaacute entidade tradicionalista que se manteacutem ativa
desde o iniacutecio da deacutecada de 1960 ao redor haacute casas de moradias que formam ao
centro uma grande praccedila sem nenhuma infraestrutura em frente a esta praccedila
66 SANTOS Deotildes Palhano dos Entrevista concedida agrave autora no dia 12 de maio de 2018 67 REIS Orides SANTOS Deotildes Palhano Entrevistas concedida agrave autora no dia 12 de maio de
2018 68 REIS Orides Entrevista concedida agrave autora no dia 12 de maio de 2018 69 REIS Orides Entrevista concedida agrave autora no dia 12 de maio de 2018
65
perpassa uma rua de chatildeo batido sendo que a escola da comunidade fica do outro
lado a escola eacute municipal se chama Bento Eziacutedio Rodrigues atende
aproximadamente vinte alunos que estatildeo matriculados nas seacuteries iniciais do ensino
fundamental tendo duas professoras e um funcionaacuterio para fazer merenda e limpar
o paacutetio como se pode observar na Figura 19
Figura 19 ndash Praccedila Vila do Distrito Juaacute ao fundo cancha de laccedilo
Fonte acervo pessoal da autora (2018)
Ambos os entrevistados70 explicam que o Juaacute atualmente eacute um lugar de
idosos aposentados que outrora as pessoas viviam das roccedilas e da pecuaacuteria
extensiva na deacutecada de 1980 com o advento da induacutestria em Caxias do Sul os
jovens abandonaram seu modo de vida e foram buscar novas oportunidades poreacutem
estes jovens que foram embora retornam com frequecircncia natildeo perdendo a sua
essecircncia Relataram que a uacutenica fonte de trabalho eacute ser peatildeo de fazenda fazendas
estas que produzem o queijo serrano ou vendem leite para a Piaacute71 sendo que a
lavoura eacute para subsistecircncia Outra fonte de renda eacute ser funcionaacuterio da serraria cujo
proprietaacuterio e Joatildeo Egiacutedio que funciona proacuteximo da vila Outro fator importante eacute a
venda de pequenas chaacutecaras para moradores de Caxias do Sul que vem aos finais
70 REIS Orides SANTOS Deotildes Palhano Entrevistas concedidas agrave autora no dia 12 de maio de
2018 71 Piaacute Cooperativa Agropecuaacuteria Petroacutepolis Ltda Empresa que faz a coleta do leite nas fazendas da
regiatildeo
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de semana descansar na localidade poreacutem se percebe que estes novos moradores
muitas vezes natildeo interagem com os moradores locais
Segundo o morador Reis72 ldquoapesar da vinda de pessoas de outros lugares o
Juaacute natildeo perdeu sua identidade fala em Juaacute lembra pinhatildeo colheita do pinhatildeo ateacute
haacute uma criacutetica que diz na eacutepoca do pinhatildeo o juazeiro fala grossordquo Ditado que o
entrevistado73 reafirma sorrindo ldquona eacutepoca do pinhatildeo o juazeiro fala grosso claro
que eacute apenas um dito popular uma maneira de se referir mas sempre eacute dito haacute
aqueles que natildeo gostamrdquo
Nota-se que a vida na comunidade do Juaacute se passa de forma tranquila com
poucos moradores que sua identidade estaacute relacionada agrave pecuaacuteria extensiva com
as lides com o gado bem como ao pinhatildeo uma fruta tiacutepica que se desenvolve na
Araucaacuteria ou pinheiro nativo como eacute conhecido na regiatildeo O pinhatildeo seja ele
assado cozido ou paccediloca74 eacute muito consumido pelos moradores do interior de Satildeo
Francisco de Paula durante o inverno inclusive como mistura do cafeacute da manhatilde
46 DISTRITO DO RINCAtildeO DOS KROEFF
O distrito de Rincatildeo dos Kroeff foi criado em 10 de maio de 1950 Fica a 35
quilocircmetros distante da Sede poreacutem muito antes de se institucionalizar oficialmente
este espaccedilo moradores locais contam como tudo se iniciou
Meu avocirc foi um dos primeiros a vim para caacute ele se chamava Guilherme Faciole ele nasceu no navio vindo da Itaacutelia Ele contava que teve uma desavenccedila em Caxias e fincou o peacute pra caacute pra natildeo acharem ele que aqui era soacute mato e na revoluccedilatildeo de 35 ele fugia de casa para natildeo ser levado pelas tropas os piquetes levavam para combater entatildeo ele sempre dizia que pousou vaacuterias noites embaixo dos peraus da serra do Umbu para natildeo ser levado O falecido vovocirc vivia da caccedila do porco do mato tateti ele fazia charque de porco para ter a carne ele viveu 106 anos e dizia se natildeo tivesse fumado viveria mais uns dez isso faz parte da histoacuteria do Rincatildeo dos Kroeff Junto teve o falecido Acircngelo Menegaacutes que entro aqui na mesma eacutepoca Eles satildeo os fundadores do distrito75
O acesso ao distrito Rincatildeo dos Kroeff permanece totalmente pela estrada de
chatildeo batido sendo possiacutevel ir ao municiacutepio de Maquineacute descendo pela serra do
Umbu Poreacutem muito antes da estrada a busca de mantimentos e o escoamento da
72 REIS Orides Entrevista concedida agrave autora no dia 12 de maio de 2018 73 REIS Orides Entrevista concedida agrave autora no dia 12 de maio de 2018 74 Paccediloca carne de porco moiacuteda e frita no azeite ou banha a qual se acrescenta o pinhatildeo jaacute cozido
e moiacutedo 75 FACIOLE Reinaldo Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de marccedilo de 2018
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produccedilatildeo se dava pelos carreiros visto que natildeo havia abertura de estrada e nem
viatura76 como os moradores relatam
Tudo era na tropeada as tropas que ia para Rolante Na tropeada saia um tropeiro na frente e um recircs com um cincerro que era a madrinheira da tropa saia laacute pelo Chuvisqueiro e saia laacute em Rolante perdia boi na estrada ficava semanas boi perdido agraves vezes nem se achava mais tambeacutem tinha tropa de porco e tinha as tropeadas de mula puxando milho feijatildeo trigo tudo produzido aqui e levado de cargueiro carreta era muito pouco porque natildeo tinha estrada para anda era soacute os trilhos pelo meio dos matos e campos e se produzia milho era o inverno inteiro saia tropas e mais tropas com trinta quarenta mulas burros transportando mantimentos da produccedilatildeo do gratildeo haacute tambeacutem tinha a flor de Pireto que era lucro ningueacutem conhece isso aiacute hoje essa flor era levada para Taquara e fazia veneno para formiga tudo que era tipo de veneno era uma flor muito toacutexica Acredita tropear galinha pois eacute a gente criava bastante saia com os cargueiros como era a vida eles faziam um girau no cesto naqueles balaios para fazer duas camas uma mais em cima e outra em baixo daiacute quando era veratildeo era muito quente tinha que no meio da viagem tirar de dentro do cesto botar na aacutegua na sanga para natildeo morrer ateacute chegar no mercado dali para praia a eacutepoca que mais vendia era novembro e dezembro daiacute tinha preccedilo bom tudo criada solta aviaacuterio nem se falava77
Ao ouvir os moradores se percebe que a construccedilatildeo do distrito aconteceu
devido ao esforccedilo e trabalho de muitas pessoas visto que o local era de mata nativa
densa e precisou ser desmatado para ser ocupado pelas pessoas Explica o
entrevistado Faciole78 ldquopara fazer uma lavoura tambeacutem precisava derrubar o
pinheiro seu Onorino Buffon me contou que faziam fogo ao redor do pinheiro eles
eram muito grosso para derrubar a machado entatildeo faziam fogo secavam para
depois fazer a roccedilardquo E a moradora79 local acrescenta ldquoaqui tambeacutem tinha os
barbacuazeiros produziam erva mais aqui eles soacute tiravam a erva e sapecavam e
depois ia para outro lugar industrializa tudo era diferenterdquo
Poreacutem segundo os moradores este modelo de vida rudimentar se modifica
com a chegada das serrarias sendo que a dos Kroeff foi a primeira juntamente com
a serraria se viu a necessidade da construccedilatildeo de novas casas para os
trabalhadores surgindo ali a vila do distrito Rincatildeo dos Kroeff no iniacutecio a serraria era
tudo manual relata Faciole80 ldquoa uacutenica forma de tira a madeira era com um enfieira
76 Viatura se refere a carro de passeio caminhotildees 77 FACIOLE Reinaldo FACIOLE Maria Madalena Scalco Entrevistas concedidas agrave autora no dia 18
de marccedilo de 2018 78 FACIOLE Reinaldo Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de marccedilo de 2018 79 FACIOLE Maria Madalena Scalco Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de marccedilo de 2018 80 FACIOLE Reinaldo Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de marccedilo de 2018
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de boi eu cheguei a ver cinco ternos de boi carreiro81 emendado puxando um
pinheiro eacute uma bicheira de boi natildeo tinha outra formardquo
Rincatildeo dos Kroeff eacute o menor distrito de Satildeo Francisco de Paula poreacutem em
suas terras se desenvolveu a cultura dos hortifrutigranjeiros desde muito cedo jaacute
que sua colonizaccedilatildeo eacute basicamente italiana e alematilde e os italianos tecircm a cultura do
plantio visando lucro A moradora Faciole82 afirma ldquotudo comeccedilou por aqui depois
se expandiu para o municiacutepio comeccedilamos com moranga branca depois repolho
couve broacutecolis alface e daiacute veio beterraba e tudo o restordquo Acrescenta ainda83 que
ldquodaqui saiacuteram os primeiros caminhotildees de hortifruacuteti do municiacutepio para a Ceasa teve
eacutepoca de sair quarenta caminhotildees por dia do Rincatildeo hoje natildeo sai mais porque
muitos foram buscar novos lugares para plantarrdquo E juntamente com a mudanccedila dos
proprietaacuterios em busca de novas terras muitos de seus funcionaacuterios foram embora
junto afirma em entrevista o morador local84 ldquomuita gente do Rincatildeo foi embora
muitas gurias foram embora para estudar para achar emprego e natildeo voltaram maisrdquo
Atraveacutes da fala da moradora pode-se observar que apesar do distrito ser
produtivo enfrenta algumas dificuldades com relaccedilatildeo ao estudo de seus moradores
que para continuarem seus estudos se assim o desejarem necessitam abandonar
seus pais e ir em busca na Sede ou arredores visto que no distrito existe uma uacutenica
escola Gastatilde Henth Esta eacute municipal e atende dos quatro anos ao nono ano do
ensino fundamental A moradora Faciole explica
O coleacutegio hoje tem 99 alunos ao total quando eles terminam o nono ano alguns vatildeo estudar mas satildeo pouquiacutessimos os outros ficam por aiacute mesmo natildeo tem um transporte que leve eles para fazer o ensino meacutedio na Sede que seria a escola de ensino meacutedio mais proacuteximo se quiser estudar vai ter que ir embora reforccedila quem e trabalhador fica trabalhando com os pais quem natildeo eacute [] As pessoas na sua grande maioria soacute tem o ensino fundamental aqui85
Este eacute um dos grandes problemas enfrentados pelos moradores do Rincatildeo
dos Kroeff a possibilidade de continuar estudando A escola que laacute existe os
moradores locais natildeo sabem precisar a data mas sabem que foi durante o mandato
81 Ternos de boi carreiro significam vaacuterias duplas de bois cangados e ligados por um pedaccedilo de
madeira que vatildeo na canga entre a dupla de bois Esse pau roliccedilo na regiatildeo se chama de cambatildeo 82 FACIOLE Maria Madalena Scalco Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de marccedilo de 2018 83 FACIOLE Maria Madalena Scalco Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de marccedilo de 2018 84 FACIOLE Reinaldo Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de marccedilo de 2018 85 FACIOLE Maria Madalena Scalco Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de maio de 2018
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do prefeito Escobar (1977-1982) que ela foi construiacuteda Neste contexto aparece
tambeacutem a dificuldade de se locomover fazendo uso do transporte puacuteblico
Haacute sete anos atraacutes o Rincatildeo estava bom mesmo tinha ocircnibus da praia agraves vezes passava quatro a cinco ocircnibus da praia tudo pela serra do Umbu Agora soacute tem um trecircs dias por semana As empresas deixaram de trafegar por aqui elas natildeo vatildeo descer numa serra de chatildeo batido sendo que tem a outra86 com asfalto87
Os moradores se orgulham da festa religiosa que acontece todos os anos em
agosto sendo que o santo padroeiro eacute Satildeo Roque A festa da comunidade
apresenta uma tradiccedilatildeo local muito interessante na segunda-feira apoacutes a festa ela
continua para os moradores locais que vatildeo ao salatildeo paroquial para se divertir entre
si e esta eacute uma tradiccedilatildeo que eacute comentada em todo o municiacutepio Faciole88 saudoso
afirma ldquopara ti ter uma ideia nessa festa chegava dar vinte poucos ocircnibus lotado que
vinham de outros municiacutepios como Igrejinha Taquara Porto Alegre Novo
Hamburgo o espaccedilo ficava pequenordquo Acrescenta89 ainda ldquoaqui noacutes tinha o Clube
Serrano que dava baile janta italiana dava um movimento louco mas terminou ateacute
o baile das rainhas cada ano era uma era tatildeo lindo mas tudo se acabourdquo
Figura 20 ndash Imagem da Igreja Satildeo Roque em dia de festa no Rincatildeo dos Kroeff
Fonte acervo pessoal da autora (2018)
86 A outra se refere a rodovia RS-453 conhecida como Rota do Sol 87 FACIOLE Reinaldo Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de marccedilo de 2018 88 FACIOLE Reinaldo Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de marccedilo de 2018 89 FACIOLE Reinaldo Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de marccedilo de 2018
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Percebe-se que o distrito Rincatildeo dos Kroeff eacute o uacutenico que obteve em seu
iniacutecio uma colonizaccedilatildeo por descentes de italianos dentro do municiacutepio de Satildeo
Francisco de Paula o que demonstra o quatildeo forte se daacute a tradiccedilatildeo ldquoitalianardquo neste
local permanecendo intriacutenseca na vida cotidiana de seu povo com a cultura do
plantio de hortifrutigranjeiros que permanece apesar do tempo como sendo a sua
maior identidade local
47 DISTRITO DE LAJEADO GRANDE
Lajeado Grande em tempos idos pertenceu ao distrito de Cazuza Ferreira e
somente em 12 de dezembro de 1968 se tornou um distrito independente segundo
a Lei nordm 655 encontrada nos autos da Prefeitura Municipal de Satildeo Francisco de
Paula A vila do distrito Lajeado Grande fica distante 63 quilocircmetros da Sede e se
situa na confluecircncia do Arroio Porco Morto e o Rio Bururi Seu surgimento acontece
segundo o morador Fogaccedila90 ldquopor volta de 1940 com a abertura da estrada Canela
ndash Bom Jesus a atual RS-476 que corta a vila do Distritordquo Essa estrada segundo o
morador facilitou a locomoccedilatildeo que anteriormente era feita totalmente pelas trilhas e
picadas por onde somente se passava a cavalo ou de carreta E o entrevistado
explica como acontece o desenvolvimento inicial da vila
Tu sabe aqui tem o nome de Lajeado Grande por causa do rio que eacute cheio de lajes grandes o que facilitava a travessia e as terras aqui por roda era tudo do falecido Pequeno Cardoso ele doou parte para a construccedilatildeo da vila onde o falecido Leopoldino Cardoso irmatildeo do Pequeno tinha uma lsquobudega velharsquo91 por aqui sendo o primeiro comeacutercio da vila92
A abertura da estrada possibilitou o desenvolvimento da vila juntamente com
o Casaratildeo um hotel pensatildeo que foi construiacutedo as margens do Arroio Porco Morto
este Casaratildeo passou por diversos proprietaacuterios
Leopoldino Cardoso foi o idealizador do Casaratildeo juntamente com os seus soacutecios Heraacuteclito Andrade de Cardoso lsquoJoanitorsquo Joseacute Osoacuterio de Lima lsquoZecarsquo e Pequeno Cardoso sendo que o Casaratildeo era uma casa de negoacutecio compravam queijo couro era um comeacutercio forte vendia secos e molhados inclusive a primeira rodoviaacuteria foi instalada neste espaccedilo poreacutem em 1948 Joatildeo Pacheco Cardoso assume e amplia o estabelecimento construindo o segundo piso da casa de madeira e alugando para outros dois moradores
90 FOGACcedilA Blair dos Santos Entrevista concedida agrave autora no dia 06 de abril de 2018 91 Budega velha referindo-se a uma antiga casa de comeacutercio de secos e molhados localizada onde
hoje se encontra o armazeacutem Celeiro 92 FOGACcedilA Blair dos Santos Entrevista concedida agrave autora no dia 06 de abril de 2018
71
Eremi Terres e Claunir Lucena Com a reforma o Casaratildeo passa a ter treze quartos para aluguel uma loja onde encontrava-se tudo o que se necessitava de alfinete tecido alimentos e raccedilotildees aleacutem da ala que servia de moradia para os proprietaacuterios Em 1962 o estabelecimento eacute alugado para Eraldo Bento de Oliveira que aleacutem de gerenciar o estabelecimento colocou junto um bar local de encontro dos homens da redondeza para tomar um lsquotragorsquo93 (CERUTTI SILVA CARDOSO 2002 p 19)
Figura 21 ndash Imagem do Casaratildeo pouco antes de ser desmanchado
Fonte acervo pessoal de Fernando Oliveira (conhecido como Guego) (2018)
O Casaratildeo foi desmanchado na deacutecada de 1980 pelo entatildeo proprietaacuterio Reno
Pacheco Poreacutem percebe-se na vila que seus antigos moradores falam com certo
saudosismo deste estabelecimento que fez parte de suas vidas e chegam a
lamentar o seu fim morador Fogaccedila94 afirma ldquoali se fez o pastel mais famoso do
Lajeado Grande o pastel da Odila mas tudo se acabou quando eles entregaram e
construiacuteram laacute na esquinardquo95
Poreacutem a vila Lajeado Grande foi lentamente se desenvolvendo Devido agrave
necessidade da conservaccedilatildeo da nova estrada foi construiacuteda agraves margens do Rio
Bururi uma capatazia do DAER Segundo Cerutti Silva e Cardoso (2002 p 18) ldquoo
primeiro capataz foi Capitulino Prudecircncio de Oliveira vindo de Santa Catarina sua
funccedilatildeo era manter as estradas e chegou a ter vinte funcionaacuteriosrdquo Percebe-se que a
93 Trago expressatildeo local que significa beber uma cachaccedila 94 FOGACcedilA Blair dos Santos Entrevista concedida agrave autora no dia 06 de abril de 2018 95 Esquina eacute o nome dado a parte da vila do Lajeado Grande onde se daacute o entroncamento das
rodovias RS-453 e ERS-476
72
partir deste momento se inserem neste distrito pessoas advindas de outros estados
e locais visto que ateacute o presente momento o distrito era habitado por fazendeiros
naturais do proacuteprio municiacutepio e que tinham suas vidas ligadas diretamente agrave
pecuaacuteria extensiva e agrave produccedilatildeo do queijo serrano Importante destacar que a
esposa de Capitulino segundo Cerutti Silva e Cardoso (2002 p 18) ldquoa Celicina
Guilherme da Silva se torna uma figura conhecida por realizar partos sendo
chamada como parteira de campanhardquo Na atualidade filhos netos e bisnetos do
casal ainda residem na vila
A vila do Lajeado Grande tambeacutem recebe novos moradores com a praacutetica do
corte do pinheiro nativo sendo que na deacutecada de 1950 havia uma faacutebrica de
beneficiamento de madeira ateacute se transformar em pasta este material era levado
para Esteio onde funcionava agrave matriz A partir dos anos 1950 ocorre a instalaccedilatildeo de
serrarias sendo que a Madeireira Albeflor de propriedade de Valter Sguaizer se
instala em 1964 Novamente busca-se matildeo de obra em localidades proacuteximas como
Lagoa Vermelha Vacaria e Bom Jesus poreacutem com a proibiccedilatildeo da extraccedilatildeo de
madeira de lei a serraria deixou de funcionar
Percebe-se que no distrito natildeo houve uma homogeneizaccedilatildeo identitaacuteria visto a
influecircncia advinda de muitas culturas no passado atraveacutes da extraccedilatildeo de madeira
e na atualidade com o advento das lavouras de hortifrutigranjeiros e pomares
frutiacuteferos que ocupam boa parte do distrito substituindo a pecuaacuteria extensiva que jaacute
natildeo proporciona um lucro efetivo Entatildeo os proprietaacuterios na sua grande maioria
venderam ou arrendaram suas terras para novas culturas o que modifica o modo de
vida local pois grande parte dos trabalhadores adveacutem de outros estados como o
Paranaacute e tambeacutem se observa o uso da matildeo de obra indiacutegena
Essa miscigenaccedilatildeo se observa nas escolas locais visto que na vila funciona a
Escola Municipal D Pedro I que segundo Cerutti Silva e Cardoso (2002 p 35)
ldquoinicia em 1965 poreacutem a professora e o preacutedio eram mantidos pela Serraria mas na
deacutecada de 70 a prefeitura assumiu a escola sendo que Eloci Martim foi a primeira
professora da Serrariardquo Escola da Serraria como ainda eacute conhecida por boa parte
dos moradores locais apesar de a escola natildeo se encontrar mais onde havia a antiga
serraria Atualmente a Escola Dom Pedro I funciona em um preacutedio obtido atraveacutes da
Associaccedilatildeo de Moradores atendendo alunos da preacute-escola ateacute o sexto ano das
seacuteries finais tendo em seu quadro seis professores e duas funcionaacuterias Sendo que
73
a obra para um novo preacutedio teve iniacutecio neste ano mas percebe-se que a obra parou
por volta do mecircs de maio Poreacutem na vila tambeacutem se encontra uma escola estadual
A documentaccedilatildeo necessaacuteria para a criaccedilatildeo de uma nova escola na localidade foi elaborada por Manoel Cardoso de Andrade juntamente com a professora Odazilda Cardoso Demori e encaminhada agrave Secretaria da Educaccedilatildeo sendo que em 11 de fevereiro de 1953 foi criada a Escola Isolada de Lajeado Grande sendo os professores estaduais mas o preacutedio sob responsabilidade comunitaacuteria iniciou o seu funcionamento nas dependecircncias do DAER e somente em 1957 foi construiacutedo um preacutedio de madeira em terras doadas por Pequeno Cardoso local onde hoje ainda se encontra a escola poreacutem passou por muitas reformas sendo que em 2000 recebeu um novo preacutedio de alvenaria o que possibilitou a realizaccedilatildeo de um grande sonho dos professores e comunidade a implantaccedilatildeo do Ensino Meacutedio que concretizou-se em 200296
Atualmente a escola atende em torno de trezentos alunos da Educaccedilatildeo
Baacutesica poreacutem percebe-se que devido agraves safras de hortifrutigranjeiros o nuacutemero de
alunos se alterna durante o ano O que tambeacutem se percebe eacute o comportamento dos
alunos com relaccedilatildeo agrave diversidade cultural por exemplo usam bombacha laccedilam boi
de pau no recreio e escutam funk uma cultura totalmente diferente da tradicionalista
gauacutecha o que compreende-se como algo advindo da globalizaccedilatildeo cultural que
vivemos no mundo atual reforccedilando novamente o natildeo reconhecimento de uma
identidade forte na localidade
Poreacutem as famiacutelias tradicionais do local manteacutem fortemente arraigada a
cultura tradicionalista que adveacutem do homem do campo tendo no distrito festas
campeiras torneios de laccedilo e a festa religiosa uma vez por ano em homenagem ao
Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus padroeiro da vila
Na atualidade natildeo se percebe uma identidade forte e marcada no distrito e
sim uma miscigenaccedilatildeo de diferentes culturas e etnias que convivem e se integram
harmonicamente
96 CARDOSO Amaacutelia Celuderes Entrevista concedida agrave autora no dia 08 de marccedilo de 2018
74
5 DESCRICcedilAtildeO DO PRODUTO
O produto consiste em um livro paradidaacutetico sobre a histoacuteria de Satildeo Francisco
de Paula Apresenta de maneira didaacutetica a histoacuteria de Satildeo Francisco de Paula bem
como balotildees explicativos imagens sugestotildees de atividades e leituras
complementares Poderaacute servir de apoio pedagoacutegico a professores e alunos do
municiacutepio visto que existe pouco material sobre a histoacuteria deste municiacutepio e se faz
importante trabalhar a histoacuteria local percepccedilatildeo que a autora obteve ao longo da sua
caminhada como professora de histoacuteria que atua nas seacuteries finais do ensino
fundamental e meacutedio haacute dezessete anos na rede estadual do municiacutepio
Partir do local natildeo eacute abandonar o conhecimento histoacuterico eacute dar outro valor
sentido para este conhecimento Segundo Caimi
Levar em conta o universo da crianccedila ou do adolescente natildeo eacute pois abdicar do rigor intelectual [] mas garantir que a apropriaccedilatildeo deste conhecimento ocorra permeada de sentido e significado resultando em soacutelidas aprendizagens (CAIMI 2006 p 24)
Seguindo esta perspectiva a implantaccedilatildeo do Referencial Curricular Gauacutecho
embasado na Base Nacional Comum Curricular reforccedila a ideia jaacute discutida nos
paraacutegrafos anteriores
No que se refere especificamente ao componente Histoacuteria a base rompe tanto com a cronologia quanto agrave visatildeo eurocecircntrica da histoacuteria tradicional Entram em cena novos atores novas sociedades novos caminhos que sempre tiveram na histoacuteria mas nem sempre receberam a devida importacircncia Acompanhando a Base Nacional Comum Curricular o Referencial Curricular Gauacutecho no que se refere especificamente agrave disciplina de Histoacuteria manteacutem seu foco na aprendizagem dos alunos nos diferentes espaccedilos e tempos tendo a preocupaccedilatildeo de integrar o curriacuteculo com a diversidade regional de nosso Estado Tambeacutem eacute importante contemplar os temas integradores como eacutetica cidadania cultura e valorizaccedilatildeo das diversidades assegurando a multiplicidade de olhares sobre o mundo (RIO GRANDE DO SUL 2018 p 118)
Portanto o paradidaacutetico seraacute mais um material disponiacutevel aos professores e
estudantes da educaccedilatildeo baacutesica de Satildeo Francisco de Paula na construccedilatildeo do
conhecimento da histoacuteria do municiacutepio bem como o reconhecimento de sua
identidade neste material visto que se almeja que os estudantes percebam
vestiacutegios de sua identidade e se percebam como parte deste municiacutepio atraveacutes do
conhecimento de sua histoacuteria
75
O paradidaacutetico vem com o tiacutetulo rdquoTropeando histoacuterias em Satildeo Francisco de
Paulardquo sendo que a capa traz a foto do Monumento aos Carreteiros monumento
que se encontra na Avenida Juacutelio de Castilhos em frente ao preacutedio da Prefeitura
Municipal
Figura 22 ndash Capa do livro
Fonte Livro Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula
Na sequecircncia se apresenta o iacutendice que possibilita ao leitor localizar os
diversos temas abordados visto que existem nove capiacutetulos
76
Figura 23 ndash Iacutendice do livro
Fonte Livro Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula
77
O capiacutetulo um apresenta a localizaccedilatildeo de Satildeo Francisco de Paula com uma
seacuterie de mapas que facilitam a compreensatildeo espacial dos alunos assim como um
mapa da subdivisatildeo do municiacutepio em distrito Ao final satildeo sugeridas duas atividades
que podem ser desenvolvidas de maneira interdisciplinar com o apoio da professora
de arte geografia e portuguecircs
Figura 24 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 1)
Fonte Livro Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula
78
Figura 25 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 1)
Fonte Livro Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula
O capiacutetulo dois aborda a existecircncia indiacutegena em Satildeo Francisco de Paula
antes da chegada dos desbravadores vindos de Satildeo Paulo Como sugestatildeo de
atividades apresenta-se uma pesquisa sobre as diferentes tribos indiacutegenas que
habitavam a Proviacutencia de Satildeo Pedro aleacutem da criaccedilatildeo de um painel infograacutefico
79
Figura 26 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 2)
Fonte Livro Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula
No capiacutetulo trecircs se apresentam os primeiros donataacuterios colonizadores de Satildeo
Francisco de Paula com trecho de um testamento deixado por Pedro da Silva
Chaves o fundador de Satildeo Francisco de Paula bem como o mapa que localiza as
primeiras sesmarias que corresponde ao territoacuterio onde hoje eacute a Sede do municiacutepio
80
Figura 27 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 3)
Fonte Livro Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula
Nos capiacutetulos quatro e cinco eacute apresentado o desenvolvimento de Satildeo
Francisco de Paula ainda no seacuteculo XIX quando pertencia ao municiacutepio de Santo
Antocircnio da Patrulha e no final do seacuteculo XIX quando passa a pertencer ao entatildeo
81
municiacutepio de Taquara do Mundo Novo Existe tambeacutem um mapa que demonstra a
extensatildeo territorial de Santo Antocircnio da Patrulha e quais satildeo os municiacutepios hoje que
pertenceram a este bem como a importacircncia da abertura da estrada que liga Satildeo
Francisco de Paula a Taquara
Figura 28 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 4)
Fonte Livro Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula
82
Os capiacutetulos seis e sete apontam a construccedilatildeo do Municiacutepio a partir de sua
emancipaccedilatildeo em 1903 sua extensatildeo territorial e a diminuiccedilatildeo do seu territoacuterio ao
longo do tempo e a histoacuteria da Igreja Matriz Como sugestatildeo de atividade pesquisar
a diversidade religiosa existente na comunidade escolar e criar graacuteficos com essas
informaccedilotildees podendo a partir de entatildeo trabalhar com as questotildees religiosas ontem
e hoje no mundo
Figura 29 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 6)
Fonte Livro Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula
83
No capiacutetulo oito se apresenta o que difere os sete distritos de Satildeo Francisco
de Paula Este capiacutetulo se apresenta subdividido em sete subtiacutetulos onde cada um
corresponde a um distrito do municiacutepio Tendo como fonte principal as entrevistas
realizadas com moradores locais mesclado com fontes documentais e bibliograacuteficas
que corroboram para se perceber que haacute alguns distritos que manteacutem suas tradiccedilotildees
ao longo do tempo e eacute possiacutevel perceber que existe uma identidade que aproxima
aquela populaccedilatildeo
Figura 30 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 8)
Fonte Livro Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula
84
No uacuteltimo capiacutetulo o nove se exibe uma lista de sugestotildees de leituras
complementares a fim de se aprofundarem sobre determinados temas E por fim
as referecircncias utilizadas para a construccedilatildeo do paradidaacutetico Tropeando Histoacuterias em
Satildeo Francisco de Paula
Figura 31 ndash Atividade do livro (Sugestatildeo de Leituras Complementares)
Fonte Livro Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula
85
O produto foi testado em duas turmas da Educaccedilatildeo Baacutesica na Escola
Estadual de Ensino Meacutedio Lajeado Grande com o propoacutesito de avaliar qual seria a
reaccedilatildeo dos estudantes diante do material e por ele ter sido produzido por algueacutem
que convive com eles semanalmente A receptividade foi bastante gratificante como
se pode observar na Figura 32
Figura 32 ndash Alunos do Ensino Meacutedio
Fonte acervo pessoal da autora (2019)
A receptividade foi muito interessante visto que os estudantes
acompanharam a trajetoacuteria para chegar ao produto final algo que os deixava
ansiosos para manusear pois muitas vezes foram parceiros A autora foi
compartilhando com os estudantes as informaccedilotildees obtidas durante a pesquisa e as
descobertas encontradas usando em suas aulas a histoacuteria local para abordar os
diferentes temas e conceitos histoacutericos
Quando a autora apresenta o produto os estudantes do ensino meacutedio estes
formam grupos por distritos e buscam logo reconhecer no material sua identidade
apoacutes comentam sobre as peculiaridades de cada distrito Poreacutem os alunos do
ensino fundamental manuseiam o produto mas natildeo se deteacutem ao distrito em que
pertence e sim as imagens e as explicaccedilotildees apresentadas no vocecirc sabia
O que enriquece o trabalho realizado foi o envolvimento dos estudantes com
o produto solicitando quando poderatildeo ler calmamente todo o trabalho
86
6 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
A partir de experiecircncias pessoais em sala de aula se percebeu que o ensino
de Histoacuteria quando se partia da histoacuteria local havia maior interesse dos estudantes
da educaccedilatildeo baacutesica motivo pelo qual se deu a questatildeo-problema desta dissertaccedilatildeo
que estaacute relacionada diretamente com o natildeo uso desta histoacuteria pelos professores da
educaccedilatildeo baacutesica
Em conversas informais com professores da educaccedilatildeo baacutesica que atuam no
municiacutepio de Satildeo Francisco de Paula em sua grande maioria alegam que o grande
empecilho para se trabalhar a histoacuteria local eacute o pouco material disponiacutevel sobre a
histoacuteria de Satildeo Francisco de Paula aleacutem do rigor dos curriacuteculos que impotildeem o
ensino de Histoacuteria de maneira linear sem contextualizaccedilatildeo com a realidade vivida
pelos estudantes pois desta forma natildeo estatildeo preparando os estudantes para as
avaliaccedilotildees do Ministeacuterio da Educaccedilatildeo bem como para o vestibular Poreacutem natildeo se
estaacute afirmando que deveraacute estudar somente a histoacuteria local e sim partir dela como
incentivo para estudos dos conceitos e temaacuteticas da histoacuteria por muitas vezes
totalmente abstrato e de difiacutecil compreensatildeo pela grande maioria dos estudantes
A partir de entatildeo se realizaram inuacutemeros questionamentos como qual a
necessidade de se ensinar Histoacuteria de forma abstrata sem nenhuma relaccedilatildeo com
as vivecircncias dos estudantes Por que natildeo usar a fonte oral como metodologia de
pesquisa no ensino de Histoacuteria em Satildeo Francisco de Paula jaacute que natildeo existem
muitos materiais escritos a respeito desta histoacuteria principalmente no que tange os
distritos do interior Poreacutem estes questionamentos natildeo foram aprofundados na
dissertaccedilatildeo por natildeo ser o objetivo direto da pesquisa mas posteriormente poderaacute
se tornar um novo projeto de pesquisa
Nesta incessante busca por resposta se constroacutei todo o estudo desta
dissertaccedilatildeo que em um primeiro momento busca embasamento em diferentes
autores que comprovam que o ensino de Histoacuteria voltado para o local faz maior
sentido para os estudantes da educaccedilatildeo baacutesica e que isto natildeo significa abandonar
os conceitos histoacutericos e sim questionar analisar a trajetoacuteria humana no tempo e
no espaccedilo sob uma nova metodologia Apenas se sugere uma nova abordagem
que torne o ensino de Histoacuteria menos abstrato algo mais presente na vida do
estudante e que possibilite a ele a habilidade de perceber que o mundo estaacute em
constante mudanccedila poreacutem os fatos natildeo ocorrem de forma isolada no espaccedilo Algo
87
que foi reforccedilado apoacutes a construccedilatildeo da Base Nacional Curricular e o Referencial
Curricular Gauacutecho que vem de encontro com esta proposta de se estudar a histoacuteria
sobre novos olhares natildeo esquecendo das especificidades regionais do estado do
Rio Grande do Sul para o reconhecimento da identidade local e regional
A identidade local nesta pesquisa se buscou atraveacutes de relatos de
moradores locais que gentilmente colaboraram para o sucesso deste trabalho pois
a memoacuteria se tornou a fonte primordial para se escrever o que identifica os sete
distritos que constituem Satildeo Francisco de Paula Certamente a temaacutetica natildeo se
esgotou ainda haacute muito que se pesquisar e escrever sobre a histoacuteria de Satildeo
Francisco de Paula possibilitando a criaccedilatildeo de novos materiais que possam ser
usados em sala de aula pelos professores e alunos deste municiacutepio
Mas ao mesmo tempo haacute uma preocupaccedilatildeo por parte da autora nada
adianta criar produtos sinalizar novos meacutetodos ao ensino de Histoacuteria se o
profissional professor natildeo estiver preparado para trabalhar com novas fontes
histoacutericas novas metodologias de ensino proporcionando aos estudantes a
oportunidade de construir seu proacuteprio conhecimento histoacuterico embasado em sua
realidade e suas vivecircncias
Vivecircncias que se tornaram aliadas na pesquisa pois a autora nasceu e
sempre viveu no municiacutepio de Satildeo Francisco de Paula poreacutem a maior dificuldade
encontrada nesta caminhada foi percorrer grandes distacircncias por estradas de
rodagem em peacutessimas condiccedilotildees de trafegabilidade para gravar os relatos que
servem de base para a construccedilatildeo desta pesquisa O municiacutepio de Satildeo Francisco de
Paula eacute territorialmente extenso e essas distacircncias percorridas deram o nome ao
produto Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula como uma homenagem
aos antigos tropeiros deste municiacutepio que passavam boa parte de sua vida ao
lombo de mulas levando e buscando mercadorias pelos campos de cima da serra
Visto que desde o processo seletivo do mestrado em agosto de 2016
quando se apresentou o projeto de pesquisa jaacute se pensava no produto um livro
paradidaacutetico no formato fiacutesico A autora por diversas vezes foi questionada por que
natildeo um blog ou site Porque na forma fiacutesica este material seria de faacutecil manuseio
pelos estudantes e professores pois principalmente no interior uso da internet ainda
eacute um problema visto que em muitos locais natildeo existe sinal de telefonia diraacute
internet
88
O paradidaacutetico foi se moldando ao longo do tempo ateacute se chegar a versatildeo
final com uma ampla gama de informaccedilotildees e curiosidades sobre os sete distritos de
Satildeo Francisco de Paula onde se pretende que os alunos e professores possam
fazer uso deste material em sala de aula para tanto a autora pretende
posteriormente lanccedilar o produto para que possa ser lido e manuseado por todos
inclusive por aqueles que gostam de histoacuteria e sentem curiosidade sobre a formaccedilatildeo
do seu distrito e por conseguinte do municiacutepio de Satildeo Francisco de Paula
O paradidaacutetico foi testado em duas turmas da Escola Estadual de Ensino
Meacutedio Lajeado Grande sendo uma de Ensino Meacutedio e a outra das seacuteries finais do
Ensino Fundamental Os alunos jaacute detinham o conhecimento que a autora estava
cursando o Mestrado e que para sua conclusatildeo deveria apresentar um produto Era
de conhecimento de todos os estudantes que a autora estava produzindo um
paradidaacutetico sobre a histoacuteria de Satildeo Francisco de Paula pois a mesma eacute professora
destes estudantes nesta escola
Em um primeiro momento se explica que eacute apenas um protoacutetipo que
somente a capa estaacute colorida e o restante estaacute todo em preto e branco e que a
versatildeo final teraacute as imagens e as curiosidades coloridas o que com certeza
chamaraacute mais atenccedilatildeo Ao entregar o paradidaacutetico Tropeando Histoacuterias em Satildeo
Francisco de Paula para que possam manuseaacute-lo veio a primeira grande surpresa
os estudantes ficaram muito contentes por a turma ter sido escolhida pela autora
escolha essa que se justifica por ter trabalhado todo o ano de 2017 com estes
alunos partindo da histoacuteria local
A turma do oitavo ano do Ensino Fundamental manuseou sendo que os
alunos acharam interessante poreacutem se deteram mais nas imagens e balotildees do
ldquovocecirc sabiardquo Mas de maneira ampla e geral acharam muito interessante a foto de
capa com o Monumento aos Carreteiros situado na Avenida Juacutelio de Castilhos em
frente ao preacutedio da Prefeitura Municipal pois alguns natildeo conhecem a Sede do
municiacutepio
Os alunos do segundo ano do Ensino Meacutedio se surpreenderam e foram direto
ler sobre o distrito no qual residem Interessados questionaram sobre curiosidades
de como o material foi construiacutedo quais as maiores dificuldades encontradas
elogiaram o leiaute as imagens de fundo ao lado de cada curiosidade relatando que
chama a atenccedilatildeo aleacutem de considerarem relevantes as sugestotildees de atividades e
ao final solicitaram quando o material estaraacute disponiacutevel para que possam ler
89
integralmente visto que um periacuteodo de cinquenta minutos natildeo foi suficiente para que
todos manuseassem se fazendo necessaacuterio levar novamente na proacutexima aula
A autora se sentiu motivada pela recepccedilatildeo do produto por seus alunos o que
a incentiva continuar pesquisando sobre outras temaacuteticas a respeito da histoacuteria de
Satildeo Francisco de Paula trazendo para seu fazer pedagoacutegico novas fontes que
proporcionem um estudo da Histoacuteria de maneira ampla e contextualizada com a
realidade local que os cerca
90
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SCHMIDT Maria Auxiliadora BARCA Isabel MARTINS Estevatildeo de Rezende (Orgs) Joumlrn Ruumlsen e o ensino de histoacuteria Curitiba Ed UFPR 2011
SCHMIDT Maria Auxiliadora CAINELLI Marlene Ensinar Histoacuteria Satildeo Paulo Scipione 2009
SEFFNER Fernando Aprender e ensinar como jogar com isso In GIACOMONI Marcelo Paniz PEREIRA Nilton Mullet (Orgs) Jogos e ensino de Histoacuteria 1 ed Porto Alegre Evangraf 2013
SILVA Kalina Vanderlei SILVA Maciel Hernrique Memoacuteria In Dicionaacuterio de conceitos histoacutericos Satildeo Paulo Contexto 2006
93
SILVA Marco PORTO Ameacutelia Nas trilhas do ensino de Histoacuteria teoria e praacutetica 1 ed Belo Horizonte Rona 2012
SOUZA Israel Soares de Educaccedilatildeo popular e ensino de histoacuteria local cruzando conceitos e praacuteticas 2015 238f Tese (Doutorado em educaccedilatildeo) ndash Universidade Federal da Paraiacuteba Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Educaccedilatildeo Joatildeo Pessoa 2015
SOUZA Leacuteo Ribeiro Festival Ronco do Bugio Satildeo Francisco de Paula Porto Alegre Evangraf 2003
SOUZA Magda Vianna de Reinvenccedilatildeo das tradiccedilotildees e promoccedilatildeo do turismo estrateacutegias diferenciadas de mercantilizaccedilatildeo da identidade cultural os casos de Nova Petroacutepolis e Satildeo Francisco de Paula no Rio Grande do Sul 2005 230f Tese (Doutorado) ndash Instituto de Filosofia e Ciecircncias Humanas Universidade Federal do Rio Grande do Sul Porto Alegre 2005
TEIXEIRA Maria Lucia da Silva Satildeo Francisco de Paula nossa terra nossa gente Porto Alegre Evangraf 2002
94
FONTES CONSULTADAS
Arquivo Histoacuterico de Satildeo Francisco de Paula
Jornal Folha da Serra n 8 do dia 02 de marccedilo de 1958
Jornal Folha da Serra n 11 do dia 29 de setembro de 1968
Jornal Folha da Serra n 25 do dia 31 de dezembro de 1968
Jornal Folha da Serra n 89 do dia 07 de setembro de 1969
Jornal Satildeo Chico Tchecirc n 4 do dia 30 de abril de 1986
Jornal Satildeo Chico Tchecirc n 11 do dia 25 de maio de 1986
Jornal Satildeo Chico Tchecirc n 12 do dia 28 de maio de 1986
Jornal Pioneiro versatildeo digital do dia 02 de junho de 2017
Entrevistas
Amaacutelia Celuderes Cardoso residente no distrito de Lajeado Grande Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 08 de marccedilo de 2018
Blair dos Santos Fogaccedila residente no distrito de Lajeado Grande Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 06 de abril de 2018
Ceacutelia Pacheco Terres Basso residente no distrito de Cazuza Ferreira Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 04 de agosto de 2018
Darci da Silva Fagundes residente no distrito de Tainhas Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 24 de fevereiro de 2018
Deotildes Palhano dos Santos residente no distrito do Juaacute Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 12 de maio de 2018
Jaures Feijoacute Gomes residente no distrito de Eletra Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 15 de fevereiro de 2018
Luciana Olga Soares residente no distrito Sede Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 01 de marccedilo de 2018
Maria Madalena Scalco Faciole residente no distrito do Rincatildeo dos Kroeff Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 18 de marccedilo de 2018
Moacir Castello Branco de Albuquerque residente no distrito Sede Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 06 abril de 2018
95
Nauro Bossle de Andrade residente no distrito de Cazuza Ferreira Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 04 de marccedilo de 2018
Orides Reis residente no distrito do Juaacute Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 12 de maio de 2018
Reinaldo Faciole residente no distrito do Rincatildeo dos Kroeff Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 18 de marccedilo de 2018
Susana Marques Soares residente no distrito de Eletra Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 15 de fevereiro de 2018
96
APEcircNDICES
97
APEcircNDICE A ndash ENTREVISTA COM MORADORES LOCAIS DOS DISTRITOS DE
SAtildeO FRANCISCO DE PAULA
UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL
PROGRAMA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO EM HISTOacuteRIA ndash MESTRADO EM HISTOacuteRIA PROFISSIONAL
PESQUISA DE CAMPO ndash TATIANA MEacuteLO CARDOSO
1 Nome completo
2 Idade
3 Quantos anos reside neste distrito
4 Como se formou este distrito
5 Por que ele tem esse nome
6 Quem foram os primeiros moradores
7 Como era a vida aqui haacute tempos atraacutes
8 O que mudou aqui com o passar dos anos
9 O que identifica este lugar
10 As pessoas hoje que moram aqui na grande maioria satildeo naturais daqui ou vieram
de onde
11 A(o) Sra(Sr) acredita que as futuras geraccedilotildees valorizaram eou conheceram a
histoacuteria local ou vai se perder no tempo
12 Como funcionava a questatildeo do ensino em meados do seacuteculo XX havia escola na
localidade
13 Qual a primeira escola deste distrito data de fundaccedilatildeo local de funcionamento e a
primeira professora
14 Achas importante trabalhar nas escolas a histoacuteria do lugar
15 O que eacute tradiccedilatildeo deste distrito
16 Qual eacute a fonte de renda das pessoas no que elas trabalham
17 Qual eacute o lazer das pessoas aqui
98
APEcircNDICE B ndash TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Declaro por meio deste termo que concordei em ser entrevistado(a) eou participar na
pesquisa de campo referente ao projetopesquisa Ensino de Histoacuteria Local e o Paradidaacutetico
caso Satildeo Francisco de Paula desenvolvida pela aluna Tatiana Meacutelo Cardoso do Programa de
Poacutes-Graduaccedilatildeo em Histoacuteria ndash Mestrado Profissional da Universidade de Caxias de Sul Fui
informado(a) que poderei consultaacute-la a qualquer momento que julgar necessaacuterio atraveacutes do e-
mail t_ati_mhotmailcom
Afirmo que aceitei participar por minha proacutepria vontade sem receber qualquer
incentivo financeiro ou ter qualquer ocircnus e com a finalidade exclusiva de colaborar para o
sucesso da pesquisa Fui informado(a) dos objetivos estritamente acadecircmicos de estudo
Minha colaboraccedilatildeo natildeo ficaraacute anocircnima e foi realizada por meio de entrevista
semiestruturada A anaacutelise dos dados obtidos seratildeo divulgados natildeo permanecendo restritas
apenas a pesquisadora eou seu(s) orientador(es) coordenador(es)
Fui ainda informado(a) de que posso me retirar desse(a) estudopesquisa programa a
qualquer momento sem prejuiacutezo para meu acompanhamento ou sofrer quaisquer sanccedilotildees ou
constrangimentos Atesto recebimento de uma coacutepia assinada deste Termo de Consentimento
Livre e Esclarecido
Satildeo Francisco de Paula ___ de _____________ de ____
Assinatura do(a) participante
Assinatura do responsaacutevel
SAtildeO FRANCISCO DE PAULA
O ENSINO DE HISTOacuteRIA E A IDENTIDADE LOCAL
Tatiana Meacutelo Cardoso
Trabalho de Conclusatildeo de Mestrado submetido agrave Banca Examinadora designada pelo Colegiado do Programa de Poacutes - Graduaccedilatildeo em Histoacuteria da Universidade de Caxias do Sul como parte dos requisitos necessaacuterios para a
obtenccedilatildeo do tiacutetulo de Mestre em Histoacuteria Aacuterea de Concentraccedilatildeo Ensino de Histoacuteria Fontes e Linguagens Linha de Pesquisa Fontes e Acervos na Pesquisa e
Docecircncia em Histoacuteria
Caxias do Sul 5 de junho de 2019
Banca Examinadora
Dra Cristine Fortes Lia Universidade de Caxias do Sul
Dra Eliane Gasparini Xerri Universidade de Caxias do Sul
Dr Jorge Luiz da Cunha Universidade Federal de Santa Maria
Dedico esse estudo a todos que fizeram
parte desta caminhada
AGRADECIMENTOS
Agradeccedilo a Deus em primeiro lugar por ter me dado forccedila para me manter
firme no propoacutesito de concluir o mestrado
Aos meus pais Rivan e Benta que sempre estiveram ao meu lado me
apoiando minha eterna gratidatildeo Amo muito vocecircs
Ao meu esposo Norli que esteve presente em todos os momentos com
paciecircncia e muitas vezes me acompanhando durante as pesquisas para que natildeo
fosse soacute Te amo muito
Ao meu filho Bento Manoel pela compreensatildeo de ver sua matildee mergulhada
em livros em frente ao computador sem poder lhe dar muita atenccedilatildeo Minha razatildeo
de viver
Ao meu irmatildeo Tarciano que sempre me incentivou para que fizesse o
mestrado Muito obrigada por suas palavras
Agrave minha orientadora Professora Dra Cristine pelos ensinamentos prestados
por ter me oportunizado vivecircncias tatildeo ricas que com certeza muito colaboraram
para o sucesso desta pesquisa Minha eterna gratidatildeo
Aos professores do Mestrado pelos ensinamentos prestados com certeza
muito agregaram em minha vida profissional A vocecircs meu carinho
Aos entrevistados Sr Dr Moacir Sr Orides Sr Jaures Sr Blair Sr Nauro
Sr Darci Sr Reinaldo e a Sra Susana Sra Luciana Sra Deotildes Sra Ceacutelia Sra
Amaacutelia Celuderes e Sra Maria Madalena pelo apoio recebendo-me em suas
residecircncias e colaborando com esta pesquisa Sem a colaboraccedilatildeo de vocecircs esse
trabalho seria mais difiacutecil A vocecircs meu muito obrigado
Agrave minha amiga Lisandra que sempre me apoiou com suas palavras de
carinho dando-me coragem para prosseguir Agradeccedilo pela sua amizade
E por fim aos meus alunos que compartilharam muitas vezes as minhas
anguacutestias meu cansaccedilo mas sempre me apoiaram Em especial aqueles que
testaram o produto por suas doces palavras Meu eterno agradecimento
RESUMO
A presente dissertaccedilatildeo aborda o ensino de Histoacuteria em Satildeo Francisco de Paula Rio Grande do Sul tendo como princiacutepio que o ensino de Histoacuteria partindo do local se torna mais significativo aos estudantes da educaccedilatildeo baacutesica Para a construccedilatildeo dessa pesquisa se utilizaram diferentes abordagens metodoloacutegicas tais como documentos da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul jornais fontes bibliograacuteficas imagens e depoimentos orais O estudo procurou abordar a construccedilatildeo do municiacutepio bem como o que identifica os sete distritos pertencentes a Satildeo Francisco Paula Como resultado se cria um paradidaacutetico fiacutesico com textos imagens curiosidades sugestotildees de atividades e leituras complementares que serviraacute de apoio pedagoacutegico aos professores e estudantes da educaccedilatildeo baacutesica Espera-se que este material possa servir de pesquisa a todos os interessados
Palavras-chave Ensino de Histoacuteria Satildeo Francisco de Paula Identidade
ABSTRACT
This dissertation deals with History teaching in Satildeo Francisco de Paula Rio Grande do Sul with the principle that History Teaching from the place becomes more meaningful to students of basic education For the construction of this research different methodological approaches are used such as documents of the Legislative Assembly of Rio Grande do Sul newspapers bibliographic sources images and oral testimony The study sought to address the construction of the municipality as well which identifies the seven districts belonging to San Francisco Paula As a result a physical paradidaacutetico is created with texts images curiosities suggestions of activities and complementary readings that will serve as pedagogical support to teachers and students of basic education It is hoped that this material can serve as a research to all interested parties
Keywords Teaching History Satildeo Francisco de Paula Identity
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 ndash Mapa de Identificaccedilatildeo das Sesmarias Serranas 26
Figura 2 ndash Divisatildeo Municipal em 1809 ndash Proviacutencia Satildeo Pedro do Rio Grande do Sul
28
Figura 3 ndash Vista da vila de Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra (1901) 29
Figura 4 ndash Vista Avenida Juacutelio de Castilhos (1923) 30
Figura 5 ndash Abertura da estrada ERS-020 Taquara ndash Satildeo Francisco de Paula de
Cima da Serra 31
Figura 6 ndash Accedilougue Central 33
Figura 7 ndash Igreja Matriz em 1931 34
Figura 8 ndash Igreja Matriz 34
Figura 9 ndash Mapa de localizaccedilatildeo de Satildeo Francisco de Paula 36
Figura 10 ndash Patroa Neuza Reis e sua Comissatildeo 39
Figura 11 ndash Gonzaga dos Reis 48
Figura 12 ndash Outdoor entrada da cidade na ERS-020 50
Figura 13 ndash Praccedila Central de Cazuza Ferreira 52
Figura 14 ndash Hotel do Campo 54
Figura 15 ndash Flacircmula de comemoraccedilatildeo aos 50 anos da entidade 57
Figura 16 ndash Barragem do Salto 58
Figura 17 ndash Igreja Santo Antocircnio ndash Distrito de Eletra 61
Figura 18 ndash Peacute com a fruta conhecido como Juaacute 63
Figura 19 ndash Praccedila Vila do Distrito Juaacute ao fundo cancha de laccedilo 65
Figura 20 ndash Imagem da Igreja Satildeo Roque em dia de festa no Rincatildeo dos Kroeff 69
Figura 21 ndash Imagem do Casaratildeo pouco antes de ser desmanchado 71
Figura 22 ndash Capa do livro 75
Figura 23 ndash Iacutendice do livro 76
Figura 24 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 1) 77
Figura 25 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 1) 78
Figura 26 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 2) 79
Figura 27 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 3) 80
Figura 28 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 4) 81
Figura 29 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 6) 82
Figura 30 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 8) 83
Figura 31 ndash Atividade do livro (Sugestatildeo de Leituras Complementares) 84
Figura 32 ndash Alunos do Ensino Meacutedio 85
SUMAacuteRIO
1 INTRODUCcedilAtildeO 11
2 HISTOacuteRIA LOCAL E O ENSINO DE HISTOacuteRIA NA SALA DE AULA 17
3 SAtildeO FRANCISCO DE PAULA CONSTRUCcedilAtildeO DO MUNICIacutePIO 24
31 CONVERSA COM MEMORIALISTAS 25
32 AMPLIANDO O DIAacuteLOGO COM OS MEMORIALISTAS 28
4 SAtildeO FRANCISCO DE PAULA DISTRITOS EM FOCO 41
41 DISTRITO SEDE 42
42 DISTRITO DE CAZUZA FERREIRA 51
43 DISTRITO DE TAINHAS 55
44 DISTRITO DE ELETRA 58
45 DISTRITO DO JUAacute 62
46 DISTRITO DO RINCAtildeO DOS KROEFF 66
47 DISTRITO DE LAJEADO GRANDE 70
5 DESCRICcedilAtildeO DO PRODUTO 74
6 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 86
REFEREcircNCIAS 90
FONTES CONSULTADAS 94
APEcircNDICES 96
APEcircNDICE A ndash ENTREVISTA COM MORADORES LOCAIS DOS DISTRITOS DE
SAtildeO FRANCISCO DE PAULA 97
APEcircNDICE B ndash TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO 98
11
1 INTRODUCcedilAtildeO
Os meacutetodos de ensino de Histoacuteria no Brasil vem sendo discutidos desde sua
criaccedilatildeo como disciplina Segundo Nadai (1992-1993 p 144) a introduccedilatildeo de
Histoacuteria no curriacuteculo ocorre na terceira metade do seacuteculo XIX no Brasil sendo que
desde entatildeo passa por diversas modificaccedilotildees Segundo Schmidt e Cainelli (2009)
os meacutetodos foram se adequando ao momento histoacuterico brasileiro em um primeiro
momento ensinou-se a histoacuteria da Europa Ocidental como a verdadeira histoacuteria da
civilizaccedilatildeo uma histoacuteria abstrata sem relaccedilatildeo com a vida do aluno Nadai (1992-
1993 p 146) acrescenta que ldquoa histoacuteria da paacutetria surgia como seu apecircndice sem
corpo autocircnomo e ocupando um papel extremamente secundaacuterio consistia num
repositoacuterio de biografias de homens ilustres de datas e batalhasrdquo
Poreacutem a partir de 1860 segundo Schmidt e Cainelli (2009 p 12-13) ldquono
periacuteodo republicano a incorporaccedilatildeo da concepccedilatildeo de que a disciplina Histoacuteria tinha
a responsabilidade de formar cidadatildeos ganha forccedilardquo sendo assim as escolas
primaacuterias e secundaacuterias comeccedilaram incluir em seus programas a histoacuteria nacional
com o intuito da formaccedilatildeo da nacionalidade sendo a paacutetria com seus heroacuteis o
principal foco Desta forma a criaccedilatildeo das diretrizes da Lei de Educaccedilatildeo nordm 569271
reforccedila o modelo jaacute instaurado
Foi oficializado o ensino de Estudos Sociais nas escolas brasileiras ficando os conteuacutedos especiacuteficos da Histoacuteria destinados somente aos alunos do antigo segundo grau A concepccedilatildeo e os conteuacutedos da Histoacuteria continuavam atrelados agraves concepccedilotildees tradicionais (SCHMIDT CAINELLI 2009 p 13)
Com a redemocratizaccedilatildeo na deacutecada de 1980 houve inuacutemeras discussotildees
que elencaram inuacutemeras abordagens e temaacuteticas para o ensino da Histoacuteria na
atualidade as novas tendecircncias se preocupam com a transposiccedilatildeo didaacutetica
valorizando documentos histoacutericos e incorporando novas linguagens e tecnologias
que permitem discussotildees e autonomia de pensamento Neste sentido as novas
concepccedilotildees de ensino de Histoacuteria ao final do seacuteculo XX abrem a possibilidade de
uma nova praacutetica didaacutetica que segundo Azevedo e Stamatto (2010 p 709) ldquobusca
problematizar a relaccedilatildeo passado-presente e em geral tomam a realidade do aluno
como ponto de partidardquo
Por se acreditar em um ensino de Histoacuteria onde a aprendizagem natildeo ocorre
em periacuteodos estanques de forma abstrata e sem relaccedilatildeo com o presente ou seja
12
apresentando de forma linear sem que haja contextualizaccedilatildeo sendo apresentada
atraveacutes de leitura de textos eou resumos permeando com atividades que muitas
vezes natildeo permitem um desenvolvimento de raciociacutenio histoacuterico que contribua para
a construccedilatildeo da cidadania Torna-se urgente pensar em um ensino voltado para a
inclusatildeo de novas contribuiccedilotildees historiograacuteficas como a histoacuteria cultural econocircmica
e social buscando na realidade local subsiacutedios para a aprendizagem Por isso a
presente dissertaccedilatildeo traz a didatizaccedilatildeo da histoacuteria de Satildeo Francisco de Paula visto
que a questatildeo-problema estaacute vinculada ao natildeo uso da histoacuteria local no ensino de
Histoacuteria deste municiacutepio e o pouco material disponiacutevel para o uso dos professores
Parte-se do pressuposto que ao abranger a histoacuteria local os sujeitos se veem como
partiacutecipes desta histoacuteria estudada significando e ressignificando conceitos
histoacutericos
Corroborando com este estudo Cunha (2016) traz consideraccedilotildees importantes
relacionadas ao uso da histoacuteria local O autor aborda como algo essencial para
compreensatildeo da histoacuteria geral na educaccedilatildeo baacutesica o uso da histoacuteria local o que
proporcionaria aos estudantes o reconhecimento como cidadatildeo e a percepccedilatildeo e
identificaccedilatildeo dos lugares de memoacuteria por parte dos alunos bem como o sentimento
de pertencimento do local Desta forma despertaria no aluno o interesse por um
passado aparentemente desligado de sua realidade estabelecendo relaccedilotildees com o
seu cotidiano
Desta maneira acredita-se que os estudantes da educaccedilatildeo baacutesica
compreenderatildeo a histoacuteria como algo que faz parte de suas vidas tornando-se assim
sujeitos da histoacuteria pois se haacute reconhecimento haveraacute tambeacutem o sentimento de
pertencimento que poderaacute ajudaacute-los a manter ou modificar a realidade que os cerca
Assim descrevem Schmidt e Cainelli
Esse sentido do ensinar Histoacuteria natildeo significaria natildeo ter conteuacutedos para serem ensinados mas olhar para estes conteuacutedos a partir da possibilidade de construir com os alunos novas questotildees diante de conteuacutedos e temas propostos pela historiografia Aprender histoacuteria eacute discutir evidecircncias levantar hipoacuteteses dialogar com os sujeitos os tempos e os espaccedilos histoacutericos Eacute olhar para o outro em tempos e espaccedilos diversos (SCHMIDT CAINELLI 2009 p 20)
Dentro desta perspectiva o reconhecimento da memoacuteria social se faz
importante visto que se necessita invocaacute-la para que um determinado grupo ou local
reconheccedila sua identidade social Atraveacutes de entrevistas com moradores de Satildeo
13
Francisco de Paula se invoca a memoacuteria coletiva na busca da identidade dos sete
distritos deste municiacutepio Visto que a histoacuteria de Satildeo Francisco de Paula se inicia por
volta do seacuteculo XVIII quando se datam as primeiras sesmarias1 concedidas ao
capitatildeo Pedro da Silva Chaves Posteriormente o capitatildeo doa parte de suas terras
para a construccedilatildeo do povoado que recebe o nome de Satildeo Francisco de Paula de
Cima da Serra por este ser devoto do Santo Satildeo Francisco Reza no testamento do
capitatildeo Pedro da Silva Chaves que um de seus filhos foi o primeiro paacuteroco a rezar
missa no povoado Satildeo Francisco de Paula pertenceu a Santo Antocircnio da Patrulha
e mais tarde a Taquara emancipando-se em 1902
Haacute pouca bibliografia sobre a histoacuteria de Satildeo Francisco de Paula o que existe
satildeo livros escritos por memorialistas onde se percebe a prioridade pela histoacuteria do
fundador ou seja do Capitatildeo Pedro da Silva Chaves dos iacutendios Caaguaraacutes que
habitavam a regiatildeo assim como os aspectos poliacuteticos administrativos Alguns destes
livros apresentam uma siacutentese cronoloacutegica de fatos importantes e descrevem
superficialmente o jeito de viver do povo serrano2 Mas a histoacuteria de Satildeo Francisco
de Paula estaacute repleta de diferentes identidades que identificam a Sede3 e o Interior4
deste municiacutepio e formam o jeito de viver do seu povo A natildeo exploraccedilatildeo de
elementos culturais que se fazem importantes para a construccedilatildeo de identidade
destes lugares minimiza as memoacuterias e as tradiccedilotildees que ali se apresentam visto
que
as constantes novidades em diferentes campos do saber os avanccedilos da tecnologia as infinitas possibilidades de comunicaccedilatildeo simultacircnea tecircm provocado sobretudo nas novas geraccedilotildees uma sensaccedilatildeo de que o mundo em que se vive eacute dotado de um temporalidade constituiacuteda por um tempo presente contiacutenuo (FIGUEIRA MIRANDA 2012 p 46)
Neste sentido fez-se uso de diferentes fontes para a construccedilatildeo do produto
desta dissertaccedilatildeo que consiste de um paradidaacutetico que possa servir como um
1 Sesmaria Terreno sem culturas ou abandonado que a antiga legislaccedilatildeo portuguesa com base em
praacuteticas medievais determinava que fosse entregue a quem se comprometesse a cultivaacute-lo 2 Serrano gentiacutelico de quem nasce em Satildeo Francisco de Paula 3 Sede distrito criado em 07 de janeiro de 1903 na mesma data da instalaccedilatildeo oficial do Municiacutepio Eacute
o distrito onde se localiza a Prefeitura Municipal Foacuterum agecircncias bancaacuterias loteacutericas hospital casas comerciais e residecircncias particulares Normalmente os moradores do interior quando vatildeo ao distrito se referem como ldquovou a Satildeo Chicordquo e natildeo como ldquovou a Sederdquo
4 Interior Cazuza Ferreira Juaacute Eletra Rincatildeo dos Kroeff Tainhas e Lajeado Grande satildeo distritos que ficam na zona rural apesar de todos terem uma pequena vila que possui pouca infraestrutura Alguns destes distritos ainda usam aacutegua de vertentes sem nenhuma rede de esgoto pois natildeo possuem aacutegua fornecida pela Companhia de Aacutegua e Saneamento (CORSAN)
14
material disponiacutevel a alunos e professores no ensino de Histoacuteria de Satildeo Francisco
de Paula Segundo Munakata entendem-se como paradidaacuteticos
Livros que sem apresentar caracteriacutesticas proacuteprias dos didaacuteticos satildeo adotados no processo de ensino e aprendizagem nas escolas seja como material de consulta do professor seja como material de pesquisa e de apoio agraves atividades do educando (MUNAKATA 1997 p 103)
Para a construccedilatildeo do paradidaacutetico fez-se uso de bibliografias jaacute existentes
jornais e documentos da Assembleia da Legislativa bem como o uso da histoacuteria
oral sendo as entrevistas a fonte primordial para escrever sobre as semelhanccedilas e
diferenccedilas existentes no modo de vida da populaccedilatildeo de Satildeo Francisco de Paula
visto que os depoimentos satildeo importantes na preservaccedilatildeo das memoacuterias tradiccedilotildees
bem como das heranccedilas identitaacuterias Neste sentido Delgado (2003 p 23) discorre
ldquonarrativas memoacuterias histoacuterias e identidades satildeo a humanidade em movimento
Satildeo o olhar que permeiam tempos heterogecircnicos Satildeo a histoacuteria em construccedilatildeo Satildeo
memoacuterias que falamrdquo
Portanto a histoacuteria oral busca registrar as vivecircncias e lembranccedilas de um
determinado grupo Alberti (2008 p 29) assim define ldquohistoacuteria oral natildeo eacute um fim em
si mesma e sim um meio de conhecimentordquo Quando se trabalha com a histoacuteria
oral se faz necessaacuterio valorizar a memoacuteria as identidades e tradiccedilotildees pois estas
formam a histoacuteria local ou seja a histoacuteria dos indiviacuteduos que ali vivem Halbwachs
(2004) afirma que com a perda da memoacuteria coletiva tambeacutem se perdem as
tradiccedilotildees locais tradiccedilotildees essas que identificam o modo de viver de um determinado
local Hobsbawn e Ranger entendem que as tradiccedilotildees podem ou natildeo ser
inventadas
Tradiccedilatildeo inventada entende-se um conjunto de praacuteticas normalmente reguladas por regras taacutecitas ou abertamente aceitas tais praacuteticas de natureza ritual ou simboacutelica visam inculcar certos valores e normas de comportamento atraveacutes da repeticcedilatildeo o que implica automaticamente uma continuidade com relaccedilatildeo ao passado (HOBSBAWN RANGER 2015 p 8)
Hobsbawn e Ranger (2015) ainda acrescem que a criaccedilatildeo de uma tradiccedilatildeo
independe da imposiccedilatildeo de uma nova tradiccedilatildeo o que normalmente ocorre eacute uma
rebeliatildeo cultural que precede da elaboraccedilatildeo de novas tradiccedilotildees que satildeo adotadas
pela populaccedilatildeo e com o tempo passam a se tornar tradiccedilotildees daquele local
formando a identidade local
15
Neste sentido Hall (2011 p 39) discorre que ldquoas identidades satildeo fabricadas
por meio da marcaccedilatildeo da diferenccedilardquo O autor ainda acresce que ldquoa diferenccedila eacute aquilo
que separa uma identidade da outrardquo (HALL 2011 p 41) Dentro desta perspectiva
a memoacuteria que se apresenta atraveacutes de siacutembolos ou tradiccedilotildees respalda a
construccedilatildeo da identidade do povo de Satildeo Francisco de Paula visto que a memoacuteria eacute
a construccedilatildeo do passado de maneira atualizada e renovada no tempo presente
Assim Halbwachs (2004 p 64) descreve que ldquonatildeo eacute na histoacuteria aprendida eacute na
histoacuteria vivida que se apoia nossa memoacuteriardquo Nessa loacutegica o autor ainda descreve
que ldquoo mundo histoacuterico eacute como um oceano onde afluem todas as histoacuterias parciaisrdquo
(p 90)
O municiacutepio de Satildeo Francisco de Paula eacute repleto de tradiccedilotildees que perpassam
o tempo que estatildeo enraizadas no jeito serrano de ser formando a sua identidade
Portanto a histoacuteria de Satildeo Francisco de Paula descrita nesta dissertaccedilatildeo seraacute
apresentada em quatro capiacutetulos
O capiacutetulo dois apresenta a discussatildeo teoacuterica metodoloacutegica sobre a
importacircncia do ensino da Histoacuteria local na sala de aula Tambeacutem conceitos como
memoacuteria e identidade e a importacircncia de se abordar o local em prol do global
No capiacutetulo trecircs aborda-se a construccedilatildeo histoacuterica do municiacutepio de Satildeo
Francisco de Paula que vai desde a chegada do colonizador nesta terra ateacute as
instituiccedilotildees que se formam ao longo do tempo Para isso se faz uso de bibliografias
jaacute existentes como Lucena (1971) Oliveira (1996) Teixeira (2002) Ribeiro (2003)
Alves (2007) e Fonseca (2012) sendo todas essas obras importantes para Satildeo
Francisco de Paula visto que cada uma traz consigo um pouco da histoacuteria deste
municiacutepio poreacutem sente-se falta da identidade e da memoacuteria na construccedilatildeo histoacuterica
As obras satildeo apresentadas sob o mesmo prisma apresentando os iacutendios Caaguaraacutes
e o Capitatildeo Pedro da Silva Chaves os fundadores desta terra dando bastante
ecircnfase aos sobrenomes que ali se desenvolveram Tambeacutem se fez uso de
documentos da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul aleacutem de jornais
encontrados no Arquivo Histoacuterico de Satildeo Francisco de Paula
No capiacutetulo quatro utiliza-se da fonte oral para que sejam identificadas as
diferentes tradiccedilotildees e versotildees da histoacuteria local ou seja a identidade de cada distrito
constituindo assim as particularidades que constroem o municiacutepio de Satildeo Francisco
de Paula Para tanto buscaram-se depoentes nas vilas dos distritos sendo que a
escolha se deu por duas pessoas por distrito sendo um homem e uma mulher
16
totalizando treze depoentes todos da terceira idade pois segundo Bosi (1994 p
82) ldquoum mundo social que possui uma riqueza e uma diversidade que natildeo
conhecemos pode chegar-nos pela memoacuteria dos velhosrdquo memoacuterias estas
construiacutedas por suas vivecircncias neste local o que justifica a relevacircncia dos
depoimentos para a construccedilatildeo do trabalho
O capiacutetulo cinco apresenta uma descriccedilatildeo do produto que consiste em um
paradidaacutetico em forma fiacutesica abordando a histoacuteria de Satildeo Francisco de Paula A
escolha pelo formato fiacutesico acontece pelas dificuldades encontradas no interior dos
distritos com o acesso agrave internet assim se pensa que o formato fiacutesico abrangeraacute um
nuacutemero maior de alunos e professores
Para tanto utiliza-se a metodologia da Histoacuteria oral para escrever a memoacuteria
e as percepccedilotildees das pessoas que habitam este local Hobsbawn e Ranger (1995 p
103) escrevem que ldquoessa proximidade entre o periacuteodo analisado e sua histoacuteria
pessoal eacute o pano de fundo para a discussatildeo de alguns problemas que qualquer
historiador enfrenta ao escrever sobre seu proacuteprio tempordquo pois a sensibilidade do
historiador vai escrever sua narrativa Em outras palavras Hobsbawn e Ranger
(1995 p 104) explicam que ldquocada historiador tem sua proacutepria vida um lugar privado
a partir do qual inspeciona o mundordquo Tambeacutem afirmam
Para aqueles que querem escrever a histoacuteria do seacuteculo XX uma das mais importantes reside no simples fato de saber sem nenhum esforccedilo especial o quanto as coisas se modificaram Os uacuteltimos trinta ou quarenta anos foram os mais revolucionaacuterios da histoacuteria O mundo ou seja a vida dos homens e mulheres que vivem na Terra nunca foi transformada de maneira tatildeo profunda dramaacutetica e extraordinaacuteria dentro de um periacuteodo tatildeo curto As geraccedilotildees que natildeo viram como o mundo era antes tecircm dificuldade em perceber isso intuitivamente (HOBSBAWN RANGER 1995 p 107)
Portanto se faz importante perceber que o mundo vem se transformando de
maneira raacutepida modificando a vida das pessoas e por conseguinte as tradiccedilotildees e
identidades locais pois estas comunidades natildeo vivem de forma isolada e sofreram
influecircncias jaacute que a cultura natildeo eacute estagnada estaacute sempre em constante movimento
juntamente com as pessoas
17
2 HISTOacuteRIA LOCAL E O ENSINO DE HISTOacuteRIA NA SALA DE AULA
Discutir o ensino de Histoacuteria na educaccedilatildeo baacutesica e a relaccedilatildeo do mesmo com a
histoacuteria local se faz bastante importante para que a cada dia se possa melhorar as
praacuteticas pedagoacutegicas Neste sentido se busca respaldo em diferentes bibliografias
que possam embasar novos afazeres dentro do espaccedilo da sala de aula e
proporcionar ao estudante um novo olhar sobre a histoacuteria um olhar de sujeito ativo
dentro desse processo de ensino aprendizagem
Pois quando a Histoacuteria eacute ensinada como algo certo e imutaacutevel de maneira
fragmentada voltada para linearidade e memorizaccedilatildeo de fatos e datas reforccedila o
que Mendes (1935) e Schmidt e Cainelli (2009) defendem que realmente eacute odiosa a
histoacuteria ensinada por este vieacutes Percebe-se que o ensino de histoacuteria linear nos
moldes europeus positivistas jaacute natildeo daacute mais conta da importacircncia da histoacuteria para a
sociedade atual porque eacute apresentada aos alunos atraveacutes de datas e fatos escrita
pelo vieacutes de uma elite que normalmente eacute branca e deteacutem o poder poliacutetico eou
econocircmico Eacute inconcebiacutevel que se permaneccedila com um ensino de Histoacuteria que natildeo
serve natildeo motiva e segundo Ruumlsen (2001 p 25) ainda ldquoirracionalizardquo sendo esse
modelo muito frequente nas escolas de educaccedilatildeo baacutesica brasileiras
Natildeo eacute por outro motivo que observamos ainda nas uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo XX que para a maior parte dos estudantes brasileiros o estudo de histoacuteria carece de sentido ou utilidade natildeo se tem a visatildeo de ciecircncia e sim de uma mateacuteria decorativa estudo do passado que soacute exige como vimos a prontidatildeo em declinar nomes datas e fatos Natildeo eacute de se estranhar que assim seja porque ocorre a enorme distacircncia entre a realidade vivenciada pela comunidade e o tratamento dado ao ensino de Histoacuteria jaacute que o aluno se torna mero espectador de fatos natildeo necessitando esforccedilos no sentido de qualquer reflexatildeo ou elaboraccedilatildeo (BARBOSA 2006 p 58)
O ensinar da histoacuteria de forma abstrata fragmentada dificulta a compreensatildeo
do processo histoacuterico no sentido que se estuda os fatos isolados ao seu tempo
como se um fato precisasse terminar para iniciar outro Em outras palavras este
meacutetodo de ensino natildeo daacute a noccedilatildeo de continuidade ou seja a histoacuteria perdeu seu
sentido baacutesico que eacute a compreensatildeo do contexto global dos fatos considerando que
o ensino de Histoacuteria por muitas vezes eacute estanque sem uma relaccedilatildeo ldquopresente x
passadordquo sendo de suma importacircncia o despertar de uma consciecircncia criacutetica por
parte do estudante Por isso ao longo do tempo o ensino sofre influecircncia por parte
do ldquopoderrdquo segundo Laville (1999 p 128) ldquoa Histoacuteria eacute certamente a uacutenica disciplina
18
escolar que recebe intervenccedilotildees diretas dos altos dirigentes e a consideraccedilatildeo ativa
dos parlamentos Isso mostra quatildeo importante eacute ela para o poderrdquo Nesta linha o
autor ainda acrescenta que ldquoa narrativa histoacuterica pode tambeacutem ser vista como uma
tomada de poder por grupos sem poderrdquo (LAVILLE 1999 p 129)
Na busca de modificar esse modelo surgem novos meacutetodos que valorizam o
uso do documento histoacuterico e a incorporaccedilatildeo de novas tecnologias de acordo com
Azevedo e Stamatto (2010 p 720) ldquotem o desafio de responder a inquietaccedilotildees do
hojerdquo Partindo deste pressuposto haacute possibilidade de se modificar o ensino da
Histoacuteria que ateacute entatildeo estava voltado agrave memorizaccedilatildeo para um modelo onde o
sujeito seja agente deste processo
Ensinar Histoacuteria como algo pronto e acabado [] sem levar em conta o contexto e os sujeitos envolvidos no processo de ensino aprendizagem pode levar a um ensino que natildeo desenvolve o que eacute mais importante como funccedilatildeo do ensinar histoacuteria que orientar os problemas da vida praacutetica (SCHMIDT CAINELLI 2009 p 20)
Assim Seffner (2013 p 51) acrescenta que ldquoo ensino de Histoacuteria eacute um ensino
de situaccedilotildees histoacutericas Mais do que nomes datas e acontecimentos o professor
deve propiciar ao aluno a compreensatildeo de como se estrutura uma dada situaccedilatildeordquo
Para que o ensino de Histoacuteria seja ressignificado existe a necessidade de anaacutelise
do processo histoacuterico problematizando os fatos no vai e vem do presentepassado
Os estudantes da educaccedilatildeo baacutesica necessitam compreender a histoacuteria como
um processo em constante transformaccedilatildeo que eacute movimentada por sujeitos que a
compotildeem com permanecircncias e rupturas ao longo dos tempos Segundo Bittencourt
(2004 p 168) ldquoa histoacuteria local tem sido indicada como necessaacuteria para o ensino por
possibilitar a compreensatildeo do alunordquo
Corroborando Seffner (2013) Souza (2015) e Brum (2015) evidenciam a
importacircncia de se trabalhar a histoacuteria global partindo de uma histoacuteria local
problematizando levando hipoacuteteses e analisando os fatos histoacutericos o que gera
significado para o educando e torna o docente natildeo mais um mero transmissor mas
um mediador deste conhecimento Neves (1997 p 22) reforccedila que ldquoo local fora do
contexto geral eacute apenas um fragmento e o geral sem o respaldo das realidades
locais eacute apenas uma abstraccedilatildeordquo Com esta nova abordagem o estudar Histoacuteria tem
sentido para o discente que se sente sujeito de sua proacutepria histoacuteria visto que
19
identificar-se com o local onde se vive ajuda a compreender o sentimento de
pertencimento e suas relaccedilotildees com o meio social e cultural no qual estaacute inserido
Nesta perspectiva faz-se necessaacuterio que os professores busquem novas
alternativas de ensino que proporcionem ao estudante a habilidade de ressignificar o
fato histoacuterico estudado
Ensinar Histoacuteria requer do professor a habilidade de buscar sentido e significado para o conhecimento que ministra e isso significa superar a mera transmissatildeo de informaccedilotildees jaacute que essa natildeo tem por finalidade o desenvolvimento intelectual mas ao contraacuterio deforma a capacidade de pensamento histoacuterico do aluno e a possibilidade de consolidar habilidades de anaacutelise da proacutepria realidade social (SILVA PORTO 2012 p 67)
Goubert assim define a histoacuteria local
Denominaremos histoacuteria local como aquela que diga respeito a uma ou poucas aldeias a uma cidade pequena ou meacutedia (um grande porto ou uma capital estatildeo aleacutem do acircmbito local) ou a uma aacuterea geograacutefica que natildeo seja maior do que a unidade provincial comum (como um county inglecircs um contado italiano uma Land alematilde uma bailiwick ou pays francecircs) Praticada haacute tempos atraacutes com cuidado zelo e ateacute orgulho a histoacuteria local foi mais tarde desprezada mdash principalmente nos seacuteculos XIX e primeira metade do XX mdash pelos partidaacuterios da histoacuteria geral A partir poreacutem da metade desse seacuteculo a histoacuteria local ressurgiu e adquiriu novo significado na verdade alguns chegam a afirmar que somente a histoacuteria local pode ser autecircntica e fundamentada (GOUBERT 1992 p 70)
Neste sentido fica evidente a importacircncia de se partir de uma histoacuteria local
para uma global Atraveacutes da histoacuteria local os estudantes teratildeo contato com sua
histoacuteria e poderatildeo se sentir parte integrante deste espaccedilo que muitas vezes por
falta de conhecimento acabam renegando sua proacutepria identidade Figueira e Miranda
(2012 p 113) afirmam que ldquoum dos efeitos mais danosos da globalizaccedilatildeo eacute a
universalizaccedilatildeo dos gostosrdquo isto implica diretamente na perda da identidade local
que muitas vezes estaacute sendo afetada pelas muacuteltiplas identidades existentes Neste
sentido Silva e Porto descrevem
A globalizaccedilatildeo entretanto produz diferentes resultados em termos de identidade A homogeneidade cultural promovida pelo mercado global pode levar ao distanciamento da identidade relativamente agrave comunidade e agrave cultura local (SILVA PORTO 2012 p 21)
Neste sentido Canclini acrescenta
Las comunidades de consumidores se organiza cada vez menos seguacuten diferencias nacionales y sobre todo en las generaciones joacutevenes definen sus praacutecticas culturales de acuerdo con informacioacuten y estilos homogeneizados (CANCLINI 1997 p 42)
20
Globalizaccedilatildeo que impotildee atraveacutes dos meios de comunicaccedilatildeo e social uma
identidade geral que regra a sociedade seus haacutebitos e costumes Devido ao grande
movimento das pessoas pelo mundo perceber e manter uma identidade com
caracteriacutesticas locais fica a cada dia mais difiacutecil ainda mais em se tratando da
populaccedilatildeo jovem que natildeo reconhece ao seu redor o que representa a sua
identidade local
Valorar as experiecircncias locais proporcionaraacute aos estudantes uma nova
metodologia de abordar a histoacuteria
Do ponto de vista metodoloacutegico destaca-se nessa forma de abordagem a preocupaccedilatildeo com os conhecimentos preacutevios dos alunos com a problematizaccedilatildeo dos conteuacutedos de ensino selecionados para trabalho em sala de aula estabelecendo relaccedilotildees com o cotidiano dos alunos e com o cotidiano de outras pessoas em outros tempos e em outros lugares Enfatiza-se tambeacutem a busca de articulaccedilatildeo entre histoacuteria local e a histoacuteria universal (SCHMIDT 2007 p 193)
O ensino de histoacuteria partindo do local para o global possibilita segundo
Bittencourt (2004 p 168) ldquoa compreensatildeo do entorno do alunordquo sendo que um dos
aspectos relevantes para este ensino eacute a escolha de fontes que levem os estudantes
a se reconhecerem nesse processo histoacuterico O autor ainda acresce
Eacute pela memoacuteria que se chega agrave histoacuteria local Aleacutem da memoacuteria das pessoas escrita ou recuperada pela oralidade existem os lsquolugares de memoacuteriarsquo (grifo da autora) expressos por monumentos praccedilas edifiacutecios puacuteblicos ou privados mas preservados como patrimocircnio histoacuterico (BITTENCOURT 2004 p 169)
Esta memoacuteria vai contribuir para legitimaccedilatildeo da identidade local Sabe-se que
a identidade eacute algo mutaacutevel e segundo Silva e Porto (2012 p 38) ldquoas identidades
satildeo produzidas em momentos particulares no tempordquo O pesquisador ainda
acrescenta que ldquoas identidades satildeo contingentes emergindo em momentos
histoacutericos particularesrdquo Estas identidades precisam ser reconhecidas quando se fala
de histoacuteria local
Na mesma linha Ruumlsen descreve a identidade histoacuterica
Consiste na ampliaccedilatildeo do horizonte nas experiecircncias do tempo e nas intenccedilotildees acerca do tempo no qual os sujeitos agentes se asseguram da permanecircncia de si mesmos na evoluccedilatildeo do tempo O ponto extremo dessa consolidaccedilatildeo de identidade eacute a lsquohumanidadersquo como suprassumo dos pontos comuns em sociedade com respeito a diversos sujeitos agentes no processo de determinaccedilatildeo de suas proacuteprias identidades determinam as dos outros de forma tal que estes se reconhecem nelas Esse criteacuterio de sentido lsquohumanidadersquo fornece o paracircmetro para se constatar a consolidaccedilatildeo da
21
identidade em que desembocam o progresso contiacutenuo do conhecimento mediante a pesquisa histoacuterica e a ampliaccedilatildeo contiacutenua das perspectivas mediante a reflexatildeo histoacuterica sobre referenciais (RUumlSEN 2001 p 126)
A histoacuteria local eacute constituiacuteda por diferentes identidades que satildeo geradas pelos
grupos que compotildeem este espaccedilo A este respeito Silva e Porto (2011 p 41)
apresentam que ldquoa diferenccedila eacute aquilo que separa uma identidade da outrardquo Tambeacutem
eacute notaacutevel que para que haja a representaccedilatildeo de suas identidades locais faz-se
necessaacuterio o reconhecimento destas e a percepccedilatildeo que existem diferentes fatores
que diferenciam os grupos sociais
Portanto a identidade eacute constituiacuteda pelas posiccedilotildees eou escolhas feitas
sendo que muitas vezes elas satildeo racionais ou ateacute mesmo irracionais A identidade
eacute baseada na memoacuteria que pode ser individual ou coletiva Segundo Candau (2011
p 16) ldquoos laccedilos fundamentais entre memoacuteria e identidade eacute sobre o fato de que eacute a
memoacuteria faculdade primeira que alimenta a identidaderdquo
Se a memoacuteria gera a identidade natildeo se pode pesquisar e escrever sobre
histoacuteria local sem levar em conta estes dois conceitos primordiais pois a histoacuteria
local soacute teraacute valia se escrita pelo vieacutes do todo ou seja natildeo priorize um grupo ou
classe social todos os quadros sociais devem estar representados dentro deste
processo Nessa linha Schmidt e Cainelli descrevem
O estudo da localidade ou da histoacuteria regional contribui para uma compreensatildeo muacuteltipla da Histoacuteria pelo menos em dois sentidos na possibilidade de se ver mais de um eixo histoacuterico na histoacuteria local e na possibilidade da anaacutelise de micro histoacuterias pertencentes a alguma outra histoacuteria que as englobe e ao mesmo tempo reconheccedila suas particularidades (SCHMIDT CAINELLI 2009 p 139)
Uma histoacuteria que faz sentido que esteja englobada a outra histoacuteria A
memoacuteria coletiva entra na construccedilatildeo desta histoacuteria local e eacute primordial pois esta vai
dar elementos que constroem a identidade deste local sendo que a memoacuteria do
passado influencia na representaccedilatildeo da identidade Neste sentido conforme
Figueira e Miranda (2012 p 47) eacute necessaacuterio compreender a memoacuteria ldquocomo a
capacidade de conservar e de preservar dados refere-se a um conjunto de funccedilotildees
cerebrais que nos permite reter informaccedilotildees adquiridas e impressotildees vividasrdquo
Podendo ser ela individual ou coletiva sendo que a memoacuteria individual existe a partir
de uma memoacuteria coletiva jaacute que as lembranccedilas que ajudam a reconstruir o passado
partem do interior de um grupo
22
Para as Ciecircncias Humanas o conceito de memoacuteria estaacute ligado agrave memoacuteria
social e coletiva definida por Le Goff (2003 p 422) como ldquoo estudo da memoacuteria
social eacute um dos elementos fundamentais de abordar os problemas do tempo e da
histoacuteriardquo O autor ainda acrescenta que ldquoa memoacuteria coletiva eacute natildeo somente uma
conquista eacute tambeacutem um instrumento e um objeto de poderrdquo (LE GOFF 2003 p
410) Neste sentido Halbwachs (2004 p 90) ressalta que ldquotoda memoacuteria coletiva
tem por suporte um grupo limitado no espaccedilo e no tempo e o mundo histoacuterico eacute
como um oceano onde afluem todas as histoacuterias parciaisrdquo
Quando se abordam conceitos de memoacuteria e identidade no ensino de
histoacuteria estaacute se trazendo para o estudo os sujeitos que compotildeem aquele local com
suas vivecircncias que podem ser coletivas ou natildeo A transmissatildeo de saberes entre as
geraccedilotildees forma a identidade coletiva sendo o ser humano um agente ativo no
quadro social da memoacuteria
Halbwachs assim define os quadros coletivos da memoacuteria
Os quadros coletivos da memoacuteria natildeo se resumem em datas nomes e foacutermulas que eles representam correntes de pensamento e de experiecircncia onde reencontramos nosso passado porque este foi atravessado por isso tudo (HALBWACHS 2004 p 71)
Nesta direccedilatildeo Le Goff (2003 p 4) acrescenta que ldquoa memoacuteria social eacute um
dos meios fundamentais para se abordar os problemas do tempo e da histoacuteria A
memoacuteria estaacute nos proacuteprios alicerces da histoacuteriardquo Catroga (2001) reforccedila que a
memoacuteria eacute moldada a partir das vivecircncias e na sua narrativa vai haver uma
coerecircncia que se mistura passado e presente
Quando se escreve sobre histoacuteria local eacute importante considerar que ela estaacute
pautada em documentos assim como em memoacuterias escritas visuais ou orais Neste
sentido eacute perceptiacutevel que o uso dos diferentes tipos de memoacuteria satildeo alicerces que
conduzem o trabalho do historiador para que ele possa interpretar suas fontes e
validar seu trabalho Memoacuterias estas que podem ser apresentadas com documentos
oficiais ou atraveacutes de uma cultura material ou imaterial
A escrita de histoacuterias locais vem como um novo modelo de resguardar
identidades e memoacuterias que se natildeo preservadas iratildeo desaparecer pela influecircncia
da globalizaccedilatildeo e falta de conhecimento de futuras geraccedilotildees Barros assim
descreve
23
Os novos tempos comeccedilavam a trazer um novo padratildeo historiograacutefico novas aberturas retornos e possibilidades e tambeacutem incertezas para os historiadores no que se refere agrave natureza do conhecimento que produzem e ao papel do conhecimento histoacuterico na sociedade [] Entre as novidades postula-se a possibilidade de examinar a histoacuteria de acordo com uma nova escala de observaccedilatildeo ndash atenta para o detalhe para as micro realidades para aquilo que habitualmente escapa ao olhar panoracircmico da macro histoacuteria tradicional ndash e eacute esta nova postura que se passou a chamar de micro histoacuteria (BARROS 2012 p 306)
Diante deste contexto o ensino de Histoacuteria pode buscar na histoacuteria local a
problematizaccedilatildeo necessaacuteria para que os estudantes da educaccedilatildeo baacutesica
reconheccedilam a identidade local que vem sofrendo com a uniformizaccedilatildeo da
sociedade que impotildee uma conjuntura global do local
24
3 SAtildeO FRANCISCO DE PAULA CONSTRUCcedilAtildeO DO MUNICIacutePIO
A apresentaccedilatildeo do municiacutepio Satildeo Francisco de Paula acontece atraveacutes do
uso da narrativa Esta se apresenta atraveacutes do diaacutelogo com obras jaacute produzidas por
memorialistas eou genealogistas que contribuem para a construccedilatildeo histoacuterica deste
local bem como se usa como fonte de enriquecimento documentos da Assembleia
Legislativa do Rio Grande do Sul e jornais locais
Para tanto se apresenta a revisatildeo historiograacutefica das obras escritas pelos
memorialistas eou genealogistas sendo que Lucena (1971) em sua obra ldquoSatildeo
Francisco de Paula Monografiardquo que abrange aspectos histoacutericos da formaccedilatildeo do
municiacutepio bem como pontos turiacutesticos e demograacuteficos O proacuteprio autor intitula a sua
obra como informativa a riqueza de detalhes eacute interessante poreacutem natildeo haacute nenhuma
referecircncia quanto aos dados escritos nem mesmo um referencial bibliograacutefico ao
final
No texto intitulado ldquoOs Fundadores de Satildeo Francisco de Paulardquo Alves (2007)
escreve sobre a fundaccedilatildeo de Satildeo Francisco de Paula Em seu livro haacute documentos
que validam o que se refere agrave genealogia jaacute que boa parte da obra apresenta os
troncos familiares que compunham o iniacutecio deste municiacutepio Na mesma linha da
genealogia Oliveira (1996) no livro ldquoAurorescer das Sesmarias Serranas histoacuteria e
genealogiardquo traz a histoacuteria das primeiras sesmarias da regiatildeo mas o foco principal
se daacute aos proprietaacuterios e seus descendentes Haacute um mapa bastante interessante
localizando as sesmarias e o nome por elas recebidos
Em ldquoSatildeo Francisco de Paula nossa terra nossa genterdquo Teixeira (2002)
apresenta dados gerais e histoacutericos do municiacutepio Esta obra apresenta dados
geograacuteficos como clima relevo e vegetaccedilatildeo A autora escreve sobre diversos
aspectos eventos personalidades e lendas Aleacutem disso apresenta Satildeo Francisco
de Paula com uma linha cronoloacutegica A obra abrange vaacuterios aspectos mas todos
suscintamente No final a autora apresenta a bibliografia consultada dentre os
autores estaacute Lucena (1971)
O texto ldquoSatildeo Francisco de Paula Rio Grande do Sul histoacuteria encantos e
misteacuteriosrdquo eacute uma obra de Fonseca (2012) que traz diversidade de assunto muitas
vezes estes estatildeo desconexos ou seja sua leitura se torna ldquotruncadardquo No final do
texto haacute um vasto referencial bibliograacutefico dentre os autores citam-se Lucena
(1971) e Teixeira (2002)
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Ribeiro (2003) eacute compositor e poeta Em ldquoFestival do Ronco do Bugiordquo
escreve sobre Satildeo Francisco de Paula apresentando a histoacuteria dos quinze anos do
festival no municiacutepio No iniacutecio contextualiza a origem do festival e do ritmo bugio
Depois apresenta a capa do disco de cada festival especificando as muacutesicas e os
compositores vencedores
Todas essas obras satildeo importantes para Satildeo Francisco de Paula cada uma
traz consigo um pouco da histoacuteria deste municiacutepio poreacutem sente-se falta da
identidade e da memoacuteria na construccedilatildeo histoacuterica As obras satildeo apresentadas o
mesmo prisma apresentando os iacutendios Caaguaraacutes e o Capitatildeo Pedro da Silva
Chaves os fundadores desta terra dando bastante ecircnfase aos sobrenomes que ali
se desenvolveram
31 CONVERSA COM MEMORIALISTAS
As terras onde hoje fica Satildeo Francisco de Paula eram habitadas por iacutendios da
tribo Caaguaraacutes que faziam parte dos Coroados Estes viviam livremente nos
campos de cima da serra e seus domiacutenios estendiam-se entre a Serra Geral e a
Serra do Mar Os iacutendios Caaguaraacutes tinham como haacutebitos alimentares a caccedila a
pesca e a coleta de sementes e frutos dentre os frutos o pinhatildeo e a goiaba-do-
mato segundo Teixeira (2002) e Alves (2007) Estes iacutendios tiveram seu habitat
invadido por incursotildees de desbravadores que comeccedilaram a trafegar pela regiatildeo em
busca de mulas e novas terras visto que as terras onde hoje se encontra Satildeo
Francisco de Paula de Cima da Serra foram rota de tropeiros5 pois estes trafegavam
pelos Campos de Cima da Serra indo na direccedilatildeo de Lages-SC ateacute alcanccedilarem
Sorocaba-SP6 Ao passarem por esta regiatildeo foram se formando pequenos vilarejos
e construindo um jeito peculiar de viver
Neste cenaacuterio aparece o municiacutepio de Satildeo Francisco de Paula de Cima da
Serra que recebe este nome para se diferenciar de Satildeo Francisco de Paula
denominaccedilatildeo recebida ateacute meados de 1830 pelo municiacutepio de Pelotas Poreacutem na
metade do seacuteculo XVIII Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra possuiacutea
5 Tropeiros homens que conduziam suas tropascomitivas de muares ou cavalos entre as regiotildees 6 Sugere-se a leitura FLORES Moacyr Troperismo no Brasil Porto Alegre Nova Dimensatildeo 1998
SAVARIS Manoelito Tropas e tropeiros o Rio Grande toma forma Disponiacutevel em ltwwwrogeriobastoscombr201104trpas-e-tropeiros-o-rio-grande-tomahtmlgt Acesso em 12 mar 2016
26
proprietaacuterios de terras sendo que um dos pioneiros foi Pedro da Silva Chaves um
portuguecircs casado com Gertrudes de Godoy uma paulista Pedro da Silva Chaves
declara em 1742 ser possuidor de terras neste municiacutepio Segundo Oliveira (1996)
em seu testamento Pedro da Silva Chaves rege que possui trecircs fazendas na regiatildeo
uma chamada Satildeo Joatildeo que se localiza desde o Arroio Santa Cruz ateacute o Rio
Tainhas concedida em 1752 por sesmaria a Fazenda da Cria que foi comprada de
Francisco Pinto Bandeira e confirmada como sesmaria em 1754 e a Fazenda
denominada Cerrito comprada do Capitatildeo Antocircnio Gonccedilalves dos Reis Nestas
fazendas havia criaccedilatildeo de cavalos gado vacum mulas e burros As fazendas
tambeacutem apresentavam em torno de 77 escravos sendo que alguns satildeo casados o
que se faz pensar que estes constituiacuteam famiacutelia aumentando assim o nuacutemero de
escravos da regiatildeo No mapa da Figura 1 verifica-se a localizaccedilatildeo das fazendas do
capitatildeo Pedro da Silva Chaves bem como sua extensatildeo territorial
Figura 1 ndash Mapa de Identificaccedilatildeo das Sesmarias Serranas
Fonte Oliveira (1996 p 236)
27
No mapa apresentado na Figura 1 ainda eacute possiacutevel observar a localizaccedilatildeo
onde inicia o povoado de Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra segundo
Lucena (1971 p 1) ldquoiniciou-se com o Capitatildeo Pedro da Silva Chaves que doou
uma gleba de terra para que fosse iniciado o povoadordquo Tambeacutem segundo Lucena
(1971 p 1) ldquodoou cinquenta vacas para construir o primeiro patrimocircnio da Igreja
cuja construccedilatildeo foi iniciada por sua conta e lhe deu o nome de Satildeo Francisco por
este ser devoto do Santordquo O que demonstra que Pedro da Silva Chaves era
Catoacutelico
Neste periacuteodo compreendido como seacuteculo XIX segundo Teixeira (2002) e
Alves (2007) o atual municiacutepio de Satildeo Francisco de Paula pertencia ao municiacutepio de
Santo Antocircnio da Patrulha municiacutepio este que formava juntamente com Porto
Alegre Rio Pardo e Rio Grande a proviacutencia de Satildeo Pedro do Rio Grande do Sul
atual Rio Grande do Sul Eacute possiacutevel observar a grande extensatildeo territorial de cada
municiacutepio no mapa apresentado na Figura 2 segundo Silva (2000) Santo Antocircnio
da Patrulha anexava as freguesias de N Sra Conceiccedilatildeo do Arroio e N Sra da
Oliveira da Vacaria a capela de Satildeo Domingos das Torres e os povoados de Santa
Cristina do Pinhal e Cima da Serra
Analisando o mapa da Figura 2 eacute possiacutevel perceber que o municiacutepio de Santo
Antocircnio da Patrulha tinha um vasto e extenso territoacuterio que atualmente compreende
os municiacutepios de Vacaria Antocircnio Prado Nova Roma do Sul Lagoa Vermelha
Veranoacutepolis Nova Prata Nova Araccedilaacute Nova Bassano Paraiacute Guabiju Satildeo Jorge
Vista Alegre do Prata Protaacutesio Alves Cotiporatilde Fagundes Varela Vila Flores
Caseiros Birajaras Andre da Rocha Capatildeo Bonito do Sul Muitos Capotildees Bom
Jesus Satildeo Joseacute dos Ausentes Esmeralda Ipecirc Campestre da Serra Monte Alegre
dos Campos Taquara Satildeo Francisco de Paula Cambaraacute do Sul e Jaquirana
28
Figura 2 ndash Divisatildeo Municipal em 1809 ndash Proviacutencia Satildeo Pedro do Rio Grande do Sul
Fonte Evoluccedilatildeo Administrativa (2013)7
32 AMPLIANDO O DIAacuteLOGO COM OS MEMORIALISTAS
Segundo documentos da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul8
disponiacuteveis no Arquivo Histoacuterico de Satildeo Francisco de Paula9 em 1852 atraveacutes da
Lei nordm 266 de 30 de novembro de 1852 eleva-se agrave categoria de freguesia a entatildeo
capela Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra pelo entatildeo vice-governador da
proviacutencia de Satildeo Pedro do Rio Grande do Sul o senhor Luiz Alves Leite de Oliveira
Bello Estes documentos ainda retratam que no ano de 1886 houve distribuiccedilatildeo de
lotes devolutos para pessoas pobres que comprovassem residecircncia haacute pelo menos
trecircs anos e se comprometessem a ldquofundar moradiardquo em um prazo de um ano sendo
assim passados trecircs anos seriam donos definitivos destes lotes dando o iniacutecio ao
povoamento da vila No mesmo periacuteodo acontece a criaccedilatildeo do cemiteacuterio municipal
7 Disponiacutevel em ltwwwatlassocioeconomicorsgovbrevolucao-administrativa-1809-a-2013gt Acesso
em 18 mar 2017 8 O diaacutelogo com memorialista se amplia a partir de agora com contribuiccedilotildees de documentos
pesquisados que corroboram para a compreensatildeo do tema 9 BARBOSA Eni GONCcedilALVES Jorge Joseacute Xavier (Orgs) Documentos histoacutericos da Assembleia
Legislativa do Rio Grande do Sul Arquivo Histoacuterico de Satildeo Francisco de Paula 1992
29
que ocorre em 1891 segundo documentos da Assembleia Legislativa disponiacuteveis
no Arquivo Histoacuterico de Satildeo Francisco de Paula Estes documentos informam que
primeiramente somente moradores que comprovassem residecircncia haacute mais de trecircs
anos e pudessem manter os jazigos de seus entes poderiam fazer uso deste
espaccedilo Atraveacutes desta documentaccedilatildeo se percebe que havia toda uma organizaccedilatildeo
para que ldquoestrangeirosrdquo natildeo se estabelecessem em Satildeo Francisco de Paula de Cima
da Serra
Em 1889 Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra passa a categoria de vila
e deixa de pertencer a Santo Antocircnio da Patrulha passando a ser distrito do
municiacutepio de Taquara do Mundo Novo (hoje Taquara) o que traz mudanccedilas
significativas para a vila
Mesmo havendo distribuiccedilatildeo de lotes apoacutes quinze anos percebe-se na
Figura 3 que o povoado ainda era pequeno cercado de campos que constituiacuteam
fazendas com criaccedilatildeo de gado vacum tendo como principal economia a pecuaacuteria
extensiva Ao alto pode-se visualizar a Igreja Matriz construiacuteda pelo capitatildeo Pedro
da Silva Chaves
Figura 3 ndash Vista da vila de Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra (1901)
Fonte Portal Satildeo Chico (2018)10
10 PORTAL SAtildeO CHICO Fotos antigas de Satildeo Francisco de Paula 2018 Disponiacutevel em
ltwwwsaochicocombrantigasgt Acesso em 12 abr 2019
30
Ainda eacute possiacutevel observar atraveacutes da Figura 3 que neste periacuteodo natildeo havia
nenhuma preocupaccedilatildeo com a organizaccedilatildeo urbana ou seja ruas quadras as
construccedilotildees se apresentam de maneira desordenada Poreacutem passados vinte e dois
anos na Figura 4 jaacute eacute possiacutevel visualizar uma estrutura urbanizada com possiacutevel
organizaccedilatildeo de ruas e quadras mas a vila ainda eacute rodeada de campos
Figura 4 ndash Vista Avenida Juacutelio de Castilhos (1923)
Fonte Lucena (1971 p 67)
O desenvolvimento da Sede de Satildeo Francisco de Paula acontece segundo
Lucena (1971 p 27) ldquonos primeiros anos de vida isto eacute de 1910 a 1924 mais ou
menos devido agrave extraccedilatildeo da erva-mate que era abundante em nossos matos nas
zonas da serrardquo O autor ainda acrescenta
O pioneiro na extraccedilatildeo da erva-mate em nossa Comuna foi o proprietaacuterio Carlos Miguel Kroeff dono da fazenda Potreirinho praticamente arrabalde de nossa cidade No barba-quaacute11 se iniciava todo processo de industrializaccedilatildeo da erva-mate sendo que Satildeo Francisco de Paula chegou a ter quinhentos barbaacute-quas (LUCENA 1971 p 28)
11 Barba-quaacute um valo de cerca de oito metros de comprimento amis ou menos por um metro de
profundidade e oitenta centiacutemetros de largura coberto de xaxim e terra em uma das extremidades colocava-se um gradeado e acima deste em uma parte tambeacutem coberta e mais alta tinha apenas uma saiacuteda sob o gradeado colocava-se as folhas de erva extraiacuteda da aacutervore no iniacutecio do valo fazia-se um fogo e a fumaccedila que pela pouca ventilaccedilatildeo existente formava bastante fumaccedila e esta atingia as folhas secando-as (LUCENA 1971 p 28)
31
A produccedilatildeo de erva-mate contribuiu para o povoamento da vila visto que
muitas pessoas vieram trabalhar e acabaram se instalando no municiacutepio Apoacutes a
extraccedilatildeo da erva-mate surge a extraccedilatildeo de madeira que tambeacutem contribui para o
desenvolvimento
Nesta documentaccedilatildeo ainda se encontra no artigo nordm 251 de 08 de abril de
1891 a liberaccedilatildeo da verba para abrir a estrada de rodagem que liga as vilas de
Taquara do Mundo Novo e Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra em 1889
Atraveacutes da Figura 5 pode-se perceber o quatildeo difiacutecil era abrir uma nova estrada de
rodagem Tudo era manual com o uso de animais e muares para transportar pedras
e terras poreacutem a abertura desta estrada traz mudanccedilas significativas para a
populaccedilatildeo de Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra
Figura 5 ndash Abertura da estrada ERS-020 Taquara ndash Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra
Fonte Jornal Folha da Serra (1968 n 89 p 8)12
12 Folha da Serra jornal criado em 1932 pelo Dr Siacutelvio Rabelo sendo o uacutenico jornal que existia na
regiatildeo serrana Este trazia notiacutecias sociais poliacuteticas etc com uma tiragem em torno de 500 exemplares por semana Encontram-se no Arquivo Histoacuterico de Satildeo Francisco de Paula alguns exemplares ateacute a deacutecada de 70 seacuteculo XX
32
A estrada visava facilitar o acesso da populaccedilatildeo de Satildeo Francisco de Paula
de Cima da Serra que ia ateacute Taquara para buscar gecircneros de primeira necessidade
Em tempos idos os serranos se abasteciam de gecircneros de primeira necessidade quase que totalmente em Taquara e o transporte era feito em cargueiros que compunham uma tropa com cerca de quinze a vinte cargueiros Os animais usados para esse transporte eram geralmente muares mais resistentes para o transporte de carga Os serranos levavam daqui queijo (o queijo ateacute hoje chamado queijo serrano) charque couros e alguns levavam maccedilatilde ou pinhatildeo em suas eacutepocas de colheita trocados por mantimentos de que necessitavam Natildeo existiam ainda estradas e o trajeto era feito por picadas existentes (LUCENA 1971 p 23)
O mesmo autor ainda acrescenta
Para atingir a capital do Estado a viagem era cheia de peripeacutecias O transporte era feito a cavalo ou em diligecircncias ateacute Taquara As diligecircncias carros de quatro de rodas puxados por quatro animais ndash cavalos ndash eram de propriedade de Bertolo Casara mais conhecido por lsquoJoatildeo Gringorsquo Essa viagem se fazia normalmente em um dia e agraves vezes em dia e meio O ponto de parada era ali no Rodeio Bonito onde existia uma casa agrave esquerda bem defronte a estrada que desce para Trecircs Coroas [] De Taquara a Porto Alegre por via ferroviaacuteria ndash de trem (LUCENA 1971 p 16)
A construccedilatildeo desta estrada traz um novo desenvolvimento para a entatildeo vila
de Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra pois apoacutes a abertura da estrada de
rodagem Taquara ndash Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra modifica o transporte
de mercadorias entre as localidades
O transporte de mercadorias era feito em carretotildees de quatro rodas puxados uns por cinco animais outros por sete as maiores que geralmente eram muares Eram atrelados em duas fileiras Na fileira junto agrave carreta que era de duas ou trecircs mulas na da esquerda montava o carreteiro Este toda vez que se verificava um declive na estrada apeava de sua montaria a fim de brecar a carreta sem que esta entretanto parasse (LUCENA 1971 p 24)
Este modelo de comeacutercio vai desaparecer com o surgimento das primeiras
casas de comeacutercios na vila de Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra De acordo
com Lucena (1971 p 38) ldquoos primeiros comerciantes foram Manoel Vicente
Ferreira Abel Pacheco Luis Carlos de Andrade e Jacob Bossle Sobrinhordquo Na
imagem da Figura 6 temos o Accedilougue Central onde nota-se que os animais
convivem soltos na rua juntamente com as pessoas mesmo se tratando de local
urbano
33
Figura 6 ndash Accedilougue Central
Fonte Portal Satildeo Chico (2018)13
Nesta mesma documentaccedilatildeo haacute decretos que definem a construccedilatildeo de uma
nova Igreja Matriz isto eacute uma Igreja de Pedra substituindo a antiga que era de
madeira ainda construiacuteda pelo capitatildeo Pedro da Silva Chaves esta construccedilatildeo data
do ano de 1922 Segundo Teixeira (2002 p 30) a Igreja de Pedra permanece ateacute
1960 quando daacute lugar ao atual preacutedio da Igreja Matriz que foi inaugurada em 14 de
junho de 1964 Na sequecircncia teremos duas imagens demonstrando a Igreja de
Pedra e a atual edificaccedilatildeo da Igreja Matriz Natildeo foi encontrada nenhuma foto da
Igreja de Madeira nos arquivos do Arquivo Histoacuterico do Municiacutepio somente em um
site de fotos antigas onde encontra-se registro apresentado na Figura 7
13 PORTAL SAtildeO CHICO Fotos antigas de Satildeo Francisco de Paula 2018 Disponiacutevel em
ltwwwsaochicocombrantigasgt Acesso em 12 abr 2019
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Figura 7 ndash Igreja Matriz em 1931
Fonte Portal Satildeo Chico (2018)14
Figura 8 ndash Igreja Matriz
Fonte acervo da autora (2015)
14 PORTAL SAtildeO CHICO Fotos antigas de Satildeo Francisco de Paula 2018 Disponiacutevel em
ltwwwsaochicocombrantigasgt Acesso em 12 abr 2019
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Entre os anos de 1892 a 1902 por duas vezes Satildeo Francisco de Paula de
Cima da Serra eacute desanexado e reanexado ao entatildeo municiacutepio de Taquara do Mundo
Novo Somente em 23 de dezembro de 1902 foi reestabelecido definitivamente o
municiacutepio de Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra cuja instalaccedilatildeo se verificou
em 07 de janeiro de 1903 A partir de 01 de janeiro de 1938 perde ldquoCima da Serrardquo
de sua nomenclatura permanecendo somente Satildeo Francisco de Paula Apesar
disso se manteacutem o gentiliacutecio ldquoSerranordquo de acordo com Silva (2000 p 23) e dados
do Arquivo Histoacuterico de Satildeo Francisco de Paula sendo que este gentiliacutecio eacute usado
ateacute os dias de hoje
No iniacutecio o municiacutepio de Satildeo Francisco de Paula foi um dos maiores do Rio
Grande do Sul em territoacuterio mas ao longo do tempo foi diminuindo seu territoacuterio
com a anexaccedilatildeo de parte dele ao entatildeo municiacutepio de Caxias do Sul e de Torres e a
criaccedilatildeo dos municiacutepios de Cambaraacute do Sul em 1963 e Jaquirana em 1988
Foi uma das maiores Comunas do Estado pois de seu territoacuterio faziam parte os atuais municiacutepios de Satildeo Marcos Cambaraacute do Sul e Jaquirana e os distritos de Vila Oliva Criuacuteva Fazenda Souza e Vila Seca hoje integrantes de Caxias do Sul De nosso territoacuterio foi tambeacutem desanexada uma gleba de terra ndash Josafaacute ndash e anexada ao municiacutepio de Torres (LUCENA 1971 p 10)
Mesmo perdendo parte de seu territoacuterio ao longo dos anos atualmente
segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (2016) ldquoSatildeo Chicordquo como
costumeiramente eacute chamado pelo seu povo estaacute situado na Encosta Inferior do
Nordeste do Estado do Rio Grande do Sul na zona denominada de Campos de
Cima da Serra Fica distante 112 quilocircmetros da capital do Estado Porto Alegre Os
municiacutepios limiacutetrofes satildeo Monte Alegre dos Campos Bom Jesus Jaquirana
Cambaraacute do Sul Praia Grande-SC Trecircs Forquilhas Itati Maquineacute Riozinho
Rolante Taquara Trecircs Coroas Canela e Caxias do Sul Possui uma aacuterea territorial
de 3264490 quilocircmetros quadrados com uma estimativa populacional de 21617
habitantes distribuiacutedos na zona urbana e rural O municiacutepio se divide em sete
distritos Sede Cazuza Ferreira Tainhas Juaacute Eletra e Lajeado Grande Atraveacutes do
conjunto de mapas apresentado na Figura 9 eacute possiacutevel visualizar a localizaccedilatildeo de
Satildeo Francisco de Paula dentro do Rio Grande do Sul e por conseguinte no Brasil
Tambeacutem se verifica a localizaccedilatildeo dos distritos de Satildeo Francisco de Paula
36
Figura 9 ndash Mapa de localizaccedilatildeo de Satildeo Francisco de Paula
Subdivisatildeo de Satildeo Francisco de Paula em distritos
Fonte montagem da autora (2019)
Desta forma se constitui o espaccedilo fiacutesico do municiacutepio de Satildeo Francisco de
Paula cuja populaccedilatildeo natildeo forma uma colocircnia pois seu povo adveacutem de diferentes
lugares a grande maioria com descendecircncia lusa sendo que os primeiros
colonizadores foram bandeirantes paulistas
A populaccedilatildeo de Satildeo Francisco de Paula eacute composta de brancos africanos e indiacutegenas Os brancos compreendendo portugueses (principalmente
37
accedilorianos) alematildees e italianos os africanos pertenciam ao grupo dos bantos e foram trazidos pelos portugueses (TEIXEIRA 2002 p 147)
A diversidade de pessoas que se estabeleceram em Satildeo Francisco de Paula
pode ser percebida pelos sobrenomes das famiacutelias precursoras do municiacutepio
Para Satildeo Francisco de Paula afluiacuteram famiacutelias de diversas nacionalidades que atraveacutes de seus descendentes ainda hoje aqui satildeo representadas como Famiacutelias Ferreira Soares Pinto Castilhos Asmuz Santos Martins Lopes Comin Feijoacute Silva Canani Peixoto Andrade Teixeira Valin Lucena Alves Cardoso Gomes Borges Marques Tedesco Medeiros Paglioacuteli Costa Fogaccedila Casara em outras (LUCENA 1971 p 11-12)
Os moradores deste municiacutepio introduziram um jeito singular de viver tendo
em seu cotidiano as tradiccedilotildees gauacutechas15 muito presentes Teixeira (2002 p 83)
assim descreve que ldquoas raiacutezes gauacutechas estatildeo fortemente marcadas na comunidade
seja pelo modo de vestir bombacha botas cinturotildees chapeacuteus e no inverno com o
pala ou pela preferecircncia por comidas campeiras churrasco carreteiro feijatildeo
mexidordquo A autora acrescenta que ldquoas casas com lareira e o tradicional fogatildeo agrave
lenha para aquececirc-las durante o inverno rigoroso satildeo um convite para uma
conversa ao peacute do fogo e o saboreio de um gostoso chimarratildeordquo (TEIXEIRA 2002 p
83)
O enraizamento deste modo de vida adveacutem do homem do campo o
pecuarista que no passado necessitava enviar seus filhos a cidade para estudar
contribuindo para este modelo de vida
Antigamente a pecuaacuteria era a atividade econocircmica muito forte em nosso municiacutepio Assim sendo havia muitos fazendeiros E como as fazendas ficavam muito longe da Sede do municiacutepio as senhoras tinham seus filhos em casa com parteiras Tambeacutem os estudos iniciavam nas fazendas porque as escolas ficavam longe Assim muitas vezes os fazendeiros contratavam professoras para se hospedarem nas suas casas e darem aulas aos seus filhos Em muitos casos ateacute mesmo os proacuteprios pais e avoacutes ensinavam alguma coisa Alguns fazendeiros quando seus filhos ficavam maiores os mandavam continuarem seus estudos na vila (assim lsquoSatildeo Chicorsquo era chamada) (TEIXEIRA 2002 p 77)
Com a vinda dos filhos para a vila trouxeram consigo o jeito do homem do
campo sendo que um dos maiores clubes em funcionamento de Satildeo Francisco de
Paula eacute o atual Centro de Tradiccedilotildees Gauacutechas Rodeio Serrano fundado em maio de
15 Tradiccedilotildees gauacutechas segundo Fagundes (1997 p 38) eacute um movimento ciacutevico-cultural [] eacute a
tradiccedilatildeo em marcha resgatando valores que satildeo vaacutelidos natildeo por serem antigos mas por serem eternos exatamente os valores que trouxeram o Rio Grande e o gauacutecho do passado para o presente projetando-se para o futuro
38
1955 Segundo o Jornal Folha da Serra (1968 n 11 p 12) a entidade
tradicionalista receacutem-formada recebe o nome de CTG Coronel Alziro Torres Filho
Fonseca (2012 p 223) menciona que a iniciativa partiu de ldquoDavenir Peixoto Gomes
um homem ruralista e serranordquo Esta entidade tradicionalista teve como primeiro
Patratildeo Oscar Teixeira O CTG Alziro Torres Filho segundo o jornal Folha da Serra
(1957) muda sua nomenclatura em uma reuniatildeo onde o posteiro da invernada
artiacutestica Alaor Valim propotildee a troca do nome para Rodeio Serrano nome que
permanece ateacute a atualidade
A entidade tradicionalista traz como lema ldquoRepontando a Tradiccedilatildeo com o Rio
Grande na Garupardquo Fonseca (2012 p 224) relata que o lema foi ldquocriado pelo
primeiro instrutor de danccedilas Dr Alaor de Almeida Valimrdquo O mesmo autor acrescenta
que ldquoa primeira prenda foi a professora Maria Asmuz Valimrdquo Poreacutem sua sede
somente foi construiacuteda em 1968 sob a patronagem de Dante Santos O Jornal Folha
da Serra (1968 n 11 p 12) indica que ldquoa construccedilatildeo da sede era uma aspiraccedilatildeo de
longos anos que somente agora se concretizardquo Anteriormente ldquoos bailes eram
realizados em sua maioria no Salatildeo Paroquial sendo que alguns foram feitos no
primeiro andar da Associaccedilatildeo Rural e ateacute mesmo na Sociedade Cruzeirordquo
(FONSECA 2012 p 225) Este fato justifica a vontade de Dante Santos de construir
uma sede proacutepria
Apoacutes a construccedilatildeo de sua nova sede o CTG Rodeio Serrano localiza-se na
Rua Benjamim Constant nordm 582 constituindo um espaccedilo importante para a
comunidade de Satildeo Francisco de Paula Dentre as atividades desenvolvidas pelo
CTG estaacute o Rodeio Interestadual que ocorre todos os anos no primeiro final de
semana de dezembro sendo que se encontra na 33ordf ediccedilatildeo A manutenccedilatildeo das
invernadas artiacutesticas em todas as categorias mascote mirim juvenil e adulta A
organizaccedilatildeo da Ronda Crioula na Semana Farroupilha bem como a Cavalgada de
Prendas que ocorre durante a Semana Farroupilha todos os anos Realiza-se o
baile da Prenda Jovem aleacutem de shows e bailes tipicamente gauchescos Aleacutem
disso nos uacuteltimos anos a organizaccedilatildeo do Festival Ronco do Bugio que ocorre em
Satildeo Francisco de Paula ldquofestival este lanccedilado em 16 de abril 1986rdquo segundo o
Jornal Satildeo Chico Tchecirc (1986 n 4 p 5)16
16 Satildeo Chico Tchecirc jornal de circulaccedilatildeo quinzenal fundado em 08 de janeiro de 1986 e que circulou
ateacute 1989 O jornal trazia informaccedilotildees culturais sociais econocircmicas e poliacuteticas da Sede e do
39
Durante os seus sessenta e dois anos de existecircncia muitos patrotildees
passaram por esta entidade tradicionalista mas em 2017 pela primeira vez na
histoacuteria o CTG Rodeio Serrano teve uma patronagem feminina Aleacutem da Patroa
Neuza Reis foram empossadas a Capataz Elenita Amaral a Sota-capataz Fernanda
Kirsch Damasceno o Agregado das Pilchas Antocircnio Garcia de Souza e no
Conselho de Vaqueanos Neiva Santos Valim
Figura 10 ndash Patroa Neuza Reis e sua Comissatildeo
Fonte Jornal Pioneiro (2017)17
Satildeo Francisco de Paula hoje conta com vinte e oito entidades
tradicionalistas18 espalhadas pelos seus distritos demonstrando que homem do
campo se faz muito presente em todo o municiacutepio sendo assim a cultura
interior Os exemplares encontram-se encadernados no arquivo histoacuterico de Satildeo Francisco de Paula
17 Jornal Pioneiro conhecido como o jornal que estaacute ldquoao teu ladordquo o Pioneiro circula desde 1948 e estaacute presente hoje em 64 municiacutepios da regiatildeo de Caxias do Sul Desde 1993 integra a rede de jornais do Grupo RBS sendo filiado ao Instituto Verificador de Circulaccedilatildeo (IVC) Conta com uma equipe de Redaccedilatildeo com mais de 40 jornalistas aleacutem de colunistas internos e externos Em 2008 o jornal ganhou o site pioneirocom Disponiacutevel em lthttpwwwgruporbscombratuacaopioneirogt acesso em 10 de fevereiro de 2019
18 Informaccedilatildeo cedida pelo Coordenador da 27ordf Regiatildeo Tradicionalista Gauacutecha
40
tradicionalista se apresenta de maneira forte e consistente segundo vaacuterios
depoimentos de moradores de todos os distritos de Satildeo Francisco de Paula
41
4 SAtildeO FRANCISCO DE PAULA DISTRITOS EM FOCO
Quanto aos distritos de Satildeo Francisco de Paula surgem diversas
inquietaccedilotildees com relaccedilatildeo agrave identidade destes locais pois estes mesmo fazendo
parte de um mesmo municiacutepio apresentam singularidades que derivam de sua
colonizaccedilatildeo basicamente lusa portuguesa e da recepccedilatildeo de imigrantes de diversas
etnias como italianos e alematildees ao longo destes cento quinze anos de
emancipaccedilatildeo Percebe-se que alguns distritos manteacutem sua identidade e tradiccedilotildees
resguardadas enquanto em outros jaacute ocorreu agrave miscigenaccedilatildeo de diferentes haacutebitos
e culturas o que dificulta identificar traccedilos que identifiquem estes distritos
Neste capiacutetulo busca-se responder a estas inquietaccedilotildees fazendo uso dos
depoimentos de moradores locais Segundo Delgado (2003 p 21) ldquoessas
narrativas tal qual os lugares da memoacuteria satildeo instrumentos importantes de
preservaccedilatildeo e transmissatildeo das heranccedilas identitaacuterias e das tradiccedilotildeesrdquo Neste sentido
se optou por dois moradores por distrito totalizando treze entrevistados um homem
e uma mulher da terceira idade que sempre morou no distrito o que enriquece os
detalhes repassados pelos entrevistados
Toda entrevista tem por base a memoacuteria individual que se referencia na coletiva profundamente relacionada agraves vivecircncias individuais A utilizaccedilatildeo do depoimento de pessoas idosas como fonte para a histoacuteria oral eacute uma forma de justificar a entrevista como histoacuterica referindo-se ao passado jaacute que aos idosos se pretende atribuir a guarda de memoacuterias do passado pelo proacuteprio tempo de vida do depoente Isto retoma e ajuda a fortalecer a ideia de que a histoacuteria mesmo tratando do tempo presente ainda se reporta a um periacuteodo anterior ao da vida do pesquisador (ALMEIDA 2012 p 10)
A entrevista somente ocorreu quando o entrevistado concordou em assinar o
termo de consentimento As entrevistas ocorreram nas residecircncias dos
entrevistados foram preacute-agendadas sendo que o meacutetodo utilizado foi entrevista
guiada atraveacutes de questionaacuterio previamente organizado pela autora as entrevistas
foram filmadas e gravadas onde somente uma entrevistada natildeo autorizou a
filmagem de seus relatos justificando a idade avanccedilada e por morar sozinha
A escolha pela histoacuteria oral hibrida ocorreu no sentido de que a fonte oral eacute o
principal recurso utilizado para colher informaccedilotildees sobre os distritos visto que em
sua grande maioria natildeo haacute publicaccedilotildees Poreacutem em determinados momentos se
utilizam fontes documentais como complemento do que vem sendo apresentado
Com relaccedilatildeo agrave abordagem adotada nas entrevistas se optou pela temaacutetica visto
42
que se leva um roteiro preacute-organizado com temas que deveratildeo ser explorados
durante as entrevistas o que proporciona uma riqueza de informaccedilotildees para a
autora
41 DISTRITO SEDE
O distrito Sede se constitui no local onde se inicia o povoado do municiacutepio na
antiga Fazenda da Cria terras doadas pelo capitatildeo Pedro da Silva Chaves Neste
distrito concentram-se os serviccedilos puacuteblicos e privados que os moradores
necessitam em seu dia-a-dia visto que ali existem bancos casas loteacutericas
farmaacutecias hospital supermercados lojas papelarias livraria inspetoria veterinaacuteria
secretaacuterias municipais escolas puacuteblicas e privadas creches induacutestrias de madeiras
e calccedilados
Poreacutem o distrito Sede ou cidade de Satildeo Chico como popularmente
conhecida pelo seu povo jaacute foi uma cidade de interior ou seja uma cidade pequena
com moradores que vinham das fazendas em busca de estudo Visto que a
implementaccedilatildeo de uma rede regular de ensino ocorre tardiamente devido agrave
dificuldade de se locomover pelas distantes localidades entatildeo normalmente os
fazendeiros contratavam professores para que seus filhos obtivessem estudo sendo
que estes moravam na proacutepria residecircncia da famiacutelia Em entrevista com essa autora
relata Albuquerque19 que ldquopara aprimorar os estudos aqueles que tinham mais
condiccedilotildees iam para Porto Alegre Santa Maria ou Passo Fundo mas para isto
ficavam laacute em internatos e soacute retornavam nas feacuterias devido agrave dificuldade e o custo
da viagemrdquo
Na deacutecada de 40 foi criada a Escola Catoacutelica de Satildeo Francisco de Paula
cujo funcionamento acontece ateacute 1973 quando foram encerradas suas atividades
Esta escola iniciou com o curso primaacuterio e posteriormente instalou o curso ginasial
Normalmente estes moradores permaneciam de segunda-feira a sexta-feira na
cidade e nos finais de semana retornavam para as fazendas como recorda uma
moradora local
Noacutes eacuteramos uma cidade de fazendeiros a gente tinha uma casa no campo e uma na cidade a gente vivia de laacute pra caacute de caacute pra laacute fim de semana ia
19 ALBUQUERQUE Moacir Castello Branco de Entrevista concedida agrave autora no dia 06 de abril de
2018
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pra fora20 dia de semana vinha pra caacute normalmente uma irmatilde mais velha voacute ficava com a gente aqui na cidade e a famiacutelia mesmo ficava no campo21
Percebe-se que hoje ainda existem na Sede moradores que manteacutem suas
casas na cidade e durante o dia ou nos finais de semana vatildeo ateacute suas fazendas
para fazer as lides com o gado o que caracteriza uma pequena parte da populaccedilatildeo
que foram os filhos dos antigos fazendeiros que mais tarde acabam se instalando
definitivamente na cidade trazendo com sigo a essecircncia do homem do campo e
afirmando uma identidade genuinamente gauacutecha definiccedilatildeo esta concedida por uma
moradora local
Gauacutecho natildeo eacute o morador do Rio Grande do Sul o morador do Rio Grande do Sul eacute o sul-rio-grandense ou rio-grandense do sul o gauacutecho eacute apenas o homem que vem da pecuaacuteria extensiva essa que existe laacute no pampa e aqui nos campos de cima da serra o gauacutecho serrano com caracteriacutesticas muito proacuteprias grandes gaiteiros poetas aliaacutes o maior gaiteiro do mundo eacute daqui natildeo abro matildeo de dizer isto soacute que todos noacutes viacutenhamos da lida do campo em decorrecircncia disso eacuteramos gauacutechos de verdade22
Em sua fala apresenta o gauacutecho serrano como um tipo singular que ama a
pilcha gauacutecha o seu pingo e suas criaccedilotildees bem como reafirma a importacircncia dos
Irmatildeos Bertussi Honeide e Adelar sendo Adelar Bertussi um dos maiores gaiteiros
deste municiacutepio Exaltam-se tambeacutem os poetas que com suas poesias e letras de
muacutesicas escrevem o jeito do seu povo viver
Mesmo a cidade sendo ldquolocal de paradardquo durante a semana para a maioria
de seus habitantes no passado era cheia de atrativos que o campo natildeo possuiacutea
como o cinema cuja instalaccedilatildeo natildeo se encontra documentada mas sabe-se que
iniciou onde hoje eacute o preacutedio da Prefeitura Municipal sendo proprietaacuterio Francisco
Ferraz (Chico Ferraz como era conhecido) Observa-se em alguns exemplares do
Jornal Folha da Serra23 os filmes e os horaacuterios do funcionamento do cinema
Entende-se que o jornal era uma maneira de divulgar os filmes por ser o uacutenico meio
de comunicaccedilatildeo da eacutepoca Pelos folhetins se percebe que as sessotildees
apresentavam diversos gecircneros natildeo se sabe quando o cinema finalmente fechou
20 Fora refere-se ir para a fazenda 21 SOARES Luciana Olga Entrevista concedida agrave autora no dia 01 de marccedilo de 2018 22 SOARES Luciana Olga Entrevista concedida agrave autora no dia 01 de marccedilo de 2018 23 Folha da Serra jornal local criado em 1932 pelo Dr Siacutelvio Rabelo passando posteriormente a
propriedade da Prefeitura Municipal Sua impressatildeo era na ordem de 500 exemplares natildeo se tem a informaccedilatildeo do periacuteodo que parou de circular mas pelos exemplares encontrados no Arquivo Histoacuterico de Satildeo Francisco de Paula os uacuteltimos datam de 1978 O Arquivo Histoacuterico de Satildeo Francisco de Paula fica em um preacutedio anexo agrave Biblioteca Puacuteblica do municiacutepio
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poreacutem o jornal Folha da Serra traz uma reportagem que retrata como estava difiacutecil
manter o cinema em funcionamento em meados de 1968 ldquoo nosso cinema na
maneira que vai indo natildeo tem mais condiccedilotildees de funcionar natildeo temos apoio da
populaccedilatildeo com uma frequecircncia de mais ou menos 150 pessoas por final de
semanardquo O jornal acrescenta ldquosalienta-se que mais ou menos de 3 de nossa
CULTA populaccedilatildeo natildeo frequenta o cinemardquo Pode-se associar o fechamento do
cinema a dois fatores a natildeo cultura de assistir filmes e pelas sessotildees ocorrerem nos
finais de semana onde boa parte da populaccedilatildeo da cidade se deslocava para as
fazendas ou pela crise que os cinemas passaram na deacutecada de 80 quando em
muitas cidades foram fechados
A vida da populaccedilatildeo local vai se modificando cada vez mais as pessoas vatildeo
se instalando definitivamente na Sede onde se perde o viacutenculo com o campo
Devido agrave venda ou arrendamento das fazendas24 que por render pouco a pecuaacuteria
extensiva e com a criaccedilatildeo de novas legislaccedilotildees que proiacutebem praacuteticas centenaacuterias
seus proprietaacuterios buscaram novas possibilidades econocircmicas que modificaram a
Sede e tambeacutem boa parte do interior Em entrevista a moradora Soares relata
Exatamente porque a produccedilatildeo era pequena isso natildeo serve para o mundo de hoje a uns quarenta anos chega em nossos campos as primeiras plantaccedilotildees de pinus interessante que ningueacutem reclamou da destruiccedilatildeo desse campo de milhotildees de anos e de todo o ecossistema mas mesmo com essa nova cultura continuamos realizando a sapeca do campo no mecircs de agosto mas de repente chega a notiacutecia que estaacute proibida a queima do campo dizendo que noacutes estragaacutevamos a terra poluiacuteamos o ar que mataacutevamos animais e tudo aquilo natildeo era verdade Na verdade alguns anos depois da lei proibindo a queima do campo chegam as multas gigantescas agraves vezes maior que o valor da terra e aiacute inviabilizou a pecuaacuteria e muitos fazendeiros venderam suas terras e foram embora Quem ficou no campo na busca por renda a qualquer preccedilo arrenda seus campos para os batateiros que vieram acredito que a grande maioria de Santa Catarina e do Paranaacute estes lavram o campo nunca mais o campo nem com reza braba taacute tudo perdido para sempre e isso reflete na nossa cidade25
Essas mudanccedilas no campo refletem na Sede onde o homem serrano convive
passivamente com novas identidades que embora sejam presentes eacute minoria pois
esta parcela de novos moradores traz consigo um novo jeito de viver que ainda natildeo
se percebe influenciar na identidade cultural da Sede
24 Propriedades rurais cuja atividade principal eacute a praacutetica da pecuaacuteria extensiva e a produccedilatildeo do
queijo artesanal serrano 25 SOARES Luciana Olga Entrevista concedida agrave autora no dia 01 de marccedilo de 2018
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Na Sede desde o iniacutecio se observam quatro clubes sociais a Sociedade
Cruzeiro a Sociedade 9 de Julho a Sociedade Esperanccedila e o Centro de Tradiccedilotildees
Gauacutechas Cada clube social tem sua importacircncia histoacuterica poreacutem alguns natildeo se
manteacutem ativos
A Sociedade 9 de Julho foi fundada em 27 de setembro de 1961 estando
localizada no bairro Rincatildeo Segundo o jornal Folha da Serra (1968 n 96 p 5)
apoacutes sete anos de sua fundaccedilatildeo ldquoseu presidente Galego promete uma nova e
confortaacutevel sede para a sociedaderdquo Sociedade que se apresenta por sua
versatilidade nos eventos ateacute os dias atuais
O jornal Folha da Serra (1968 n 96 p 5) traz a seguinte mateacuteria ldquoas quatro
noites foram repletas de alegria naquela sociedade onde os foliotildees divertiram-se e
quando se anunciou o final da quarta noite houve quem lamentasse o final da festa
do Momordquo A reportagem refere-se ao carnaval que se desenvolve de forma
popular nesta sociedade Neste espaccedilo na deacutecada de 1990 ocorria um baile na
sexta-feira que antecedia ao Festival do Ronco do Bugio um espaccedilo onde jovens se
encontravam para iniciar as festividades do grande festival da cidade poreacutem na
atualidade este evento natildeo ocorre mais Pelos cartazes de divulgaccedilatildeo de eventos
atuais a Sociedade 9 de Julho se torna um espaccedilo bastante versaacutetil e segundo
dados obtidos no site da proacutepria sociedade o local apresenta shows bailes
tradicionalistas domingueiras e festas temaacuteticas
Sabe-se da existecircncia da Sociedade Esperanccedila devido a uma reportagem a
respeito do carnaval escrita no jornal Folha da Serra (1968 n 11 p 25) ldquoos
escurinhos tambeacutem natildeo ficaram para traacutes e demonstraram que satildeo bons no samba
porque soacute quem assistiu pode ver como brincaram e que maravilha de ritmo
marcaram durante as quatro noitesrdquo A reportagem daacute a entender de se tratar de
uma sociedade frequentada por negros e pode-se entender que ao usar o termo
escurinho na reportagem haacute preconceito racial perpassando a ideia de que por
serem negros natildeo poderiam se divertir da mesma maneira que os brancos
Atualmente se encontra no local um espaccedilo residencial e comercial
A Sociedade Cruzeiro foi fundada em 9 de maio de 1925 pela elite da
sociedade serrana Segundo Teixeira (2002) e Fonseca (2012) sua sede social era
na Avenida Juacutelio de Castilhos onde hoje se situa a agecircncia do Banrisul e teve como
primeiro presidente o Sr Antocircnio Mario Kroeff e o secretaacuterio Sr Joatildeo Parobeacute de
Lucena Sua nova sede foi inaugurada de acordo com Fonseca (2012 p 236) ldquono
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dia 11 de dezembro de 1965 e esta permanece no mesmo endereccedilo ateacute a
atualidade Situa-se na Rua Dr Frederico Tedesco nordm 1261rdquo
Atualmente este espaccedilo eacute usado para convenccedilotildees ou festas particulares
onde as pessoas locam o espaccedilo para realizarem seu evento Neste espaccedilo natildeo
mais ocorrem grandes eventos sociais como Fonseca (2012 p 232) descreve ldquoos
bailes mais elegantes e vistosos desta sociedade ocorrem aquirdquo Fonseca (2012 p
233) ainda complementa que ldquoa primeira Miss Sociedade Cruzeiro foi eleita em 1937
e a vencedora foi a jovem Zilah Teixeirardquo
A Sociedade Cruzeiro tambeacutem foi palco de bailes de carnaval O Jornal Folha
da Serra (1968 n 11 p 25) descreve ldquocomo sempre a Sociedade Cruzeiro ponteou
o nosso carnaval com blocos fantasiados magnificamente fazendo acrobacias ao
som de excelente muacutesica local onde os turistas afluiacuteramrdquo Contrapondo a este
tempo a moradora local Soares26 discorre de maneira saudosa ldquoque saudades do
carnaval hoje eacute bebedeira perdeu o encanto perdeu tudo Na rua o pessoal
gritando sem nenhuma infraestrutura nem os bailes na sociedade natildeo ocorrem
maisrdquo
O distrito Sede jaacute foi palco de inuacutemeros clubes sociais que ao longo do tempo
foram perdendo seu encanto e ateacute mesmo fechando-se para atividades sociais O
que permanece em pleno funcionamento eacute o Centro de Tradiccedilotildees Gauacutechas Rodeio
Serrano o que justifica uma cultura tradicionalista presente neste distrito Dentre as
atividades desenvolvidas por esta entidade estatildeo o Rodeio Interestadual com
atividades campeiras e artiacutesticas que ocorrem todos os anos no primeiro final de
semana de dezembro a manutenccedilatildeo das invernadas artiacutesticas em todas as
categorias mascote mirim juvenil e adulta
A organizaccedilatildeo da Ronda Crioula na Semana Farroupilha com a participaccedilatildeo
das escolas da Sede e do interior que trazem seus grupos de danccedilas bem como
organizam gincanas Outra atividade tambeacutem desenvolvida por esta entidade eacute a
Cavalgada de Prendas que ocorre durante a Semana Farroupilha desde 1992
sendo Satildeo Francisco de Paula pioneira nesta ideia onde somente mulheres
participam da cavalgada que culmina com o desfile na Avenida Juacutelio de Castilhos
Realiza-se tambeacutem o Baile da Prenda Jovem que eacute o baile de debutante gauacutecho
onde as prendas entre 13 e 15 anos satildeo apresentadas agrave sociedade Aleacutem disso nos
26 SOARES Luciana Olga Entrevista concedida agrave autora no dia 01 de marccedilo de 2018
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uacuteltimos anos a organizaccedilatildeo e apresentaccedilatildeo do Festival Ronco do Bugio que ocorre
em Satildeo Francisco de Paula faz parte da programaccedilatildeo desta entidade Este festival
apresenta exclusivamente o gecircnero musical bugio Haacute pelo menos duas hipoacuteteses
sobre a origem deste gecircnero musical
A primeira eacute de berccedilo serrano e teria mais fiel escudeiro o inesqueciacutevel acordeonista de Satildeo Francisco de Paula Honeyde Bertussi Siqueira Segundo ele o ritmo teria sido originaacuterio pelas matildeos do gaiteiro Vergiacutelio Leitatildeo que no jogo-de-foles e nos baixos de sua gaita de botatildeo teria imitado o ronco do bicho nos caponetes de cima da serra [] teria difundido pelas bodegas do Juaacute interior de Satildeo Chico (SOUZA 2003 p 15)
A segunda hipoacutetese eacute apresentada por Souza (2003 p 15) que apresenta a
versatildeo dada pelo povo de Satildeo Francisco de Assis que diz que ldquoa origem do ritmo e
oriunda desta localidade que por sinal realizava um festival nativista chamado
Querecircncia do Bugiordquo
Desconhece-se a verdadeira origem do gecircnero musical bugio mas Souza
(2003 p 23) afirma que ldquoJoatildeo Cincinato Terra muacutesico atuante sentiu a
necessidade de nosso municiacutepio acompanhar o movimento jaacute que neste periacuteodo se
expande por todo o estado do Rio Grande do Sul os festivais nativistasrdquo O
lanccedilamento do primeiro festival do Ronco do Bugio acontece em 1986 no CTG
Rodeio Serrano com a participaccedilatildeo de vaacuterios representantes da muacutesica nativista e
da comunidade serrana Seu lanccedilamento oficial ocorre em 16 de abril de 1986
O jornal Satildeo Chico Tchecirc (1986 n 11 p 6) noticiou que o primeiro Festival do
Ronco do Bugio contou com 98 muacutesicas escritas sendo 24 as selecionadas O
festival ocorreu entre os dias 13 e 15 de maio e Souza (2003 p 42) descreve que foi
apresentado ldquosob uma lona de circo estaqueada num gramado amador mas de
tantas gloacuterias futeboliacutesticas o campo do Clube Atleacutetico Serranordquo
A muacutesica vencedora do primeiro Ronco do Bugio foi ldquoLevanta Bugiordquo
defendida pelo cantor e compositor gauacutecho Leonardo Observando fotos percebe-se
que o Ronco do Bugio se deu em uma noite fria de inverno
O Festival Ronco do Bugio desde o seu iniacutecio premia melhor arranjo
conjunto instrumental instrumentista inteacuterprete e a muacutesica mais popular Fatima
Gimenez foi a melhor inteacuterprete do primeiro festival defendendo a muacutesica ldquoPinheiro
Gringordquo composiccedilatildeo de Erian Fogaccedila e Laerte Fortes Novamente a roupa dos
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muacutesicos reforccedila que na noite da entrega da premiaccedilatildeo fazia muito frio A cantora
tambeacutem se apresenta vestindo um chiripa coberto por um pala27
Na Figura 11 observamos a fotografia de Gonzaga dos Reis muacutesico local
sentado com sua gaita instrumento que lhe deu o precircmio de melhor instrumentista
do primeiro Ronco do Bugio Nesta oportunidade o cantor instrumentista e
compositor defendeu a muacutesica ldquoBugio da Minha Terrardquo
Figura 11 ndash Gonzaga dos Reis
Fonte Jornal Satildeo Chico Tchecirc n 4 p 8 (1986)
A composiccedilatildeo ldquoBugio Tiranordquo que foi defendida pelo conjunto Os Tiranos de
Satildeo Francisco de Paula ganhou o precircmio mais popular
Para o Jornal Satildeo Chico Tchecirc (1986 n 11 p 7) o Festival Ronco do Bugio eacute
ldquoum festival autecircntico e original que aconteceu com grande sucesso em Satildeo
Francisco de Paulardquo No encerramento deste grande evento Joatildeo Chagas Leite se
27 Chiripa e pala satildeo trajes tipicamente gauacutechos Sendo que o chiripa atualmente eacute uma veste de
preferecircncia feminina este fica enrolado na cintura e vai ateacute os joelhos ldquoEacute um pano inteiro passado entre as pernas primeiro de traacutes para frente e depois de frente para traacutes pode ser de latilde ou lisordquo (ABREU 2003 p 67) O pala eacute uma peccedila retangular com franjas nos quatro lados e listras no sentido do comprimento
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apresenta segundo o Jornal Satildeo Chico Tchecirc (1986 n 11 p 8) ldquocom composiccedilotildees
como Corda de Espinho Orelhano Pampa Campo e Querecircncia Coraccedilatildeo de
Estudante e Afiosrdquo
O Festival Ronco do Bugio perpassa o tempo segundo o site da Prefeitura
Municipal
O Festival Ronco do Bugio eacute um evento musical nativista que acontece anualmente na Cidade de Satildeo Francisco de Paula com o intuito de preservar e difundir o uacutenico ritmo originaacuterio do Rio Grande do Sul ou seja o lsquobugiorsquo compasso criado justamente no interior deste municiacutepio Tal criaccedilatildeo se deu a partir da criatividade dos gaiteiros serranos que buscaram imitar com seu instrumento musical o ronco do primata nos matos da serra A festividade agora em sua 26ordf ediccedilatildeo eacute genuiacutena pois eacute o uacutenico da Ameacuterica onde obrigatoriamente os participantes devem utilizar um ritmo somente isto eacute o citado lsquobugiorsquo embora a temaacutetica seja abrangente Por este motivo eacute chamado de lsquoO Festival Mais Autecircntico do Rio Grandersquo Aleacutem do forte enfoque cultural que envolve toda a comunidade musical do Estado o Festival tem seu apelo ecoloacutegico pois chama a atenccedilatildeo para a preservaccedilatildeo da espeacutecie hoje quase em extinccedilatildeo O Ronco do Bugio por sua importacircncia no cenaacuterio cultural rio-grandense criou uma identidade ao povo de Satildeo Francisco de Paula pois junto ao evento estaacute intriacutenseco e vem agrave tona o histoacuterico da criaccedilatildeo do municiacutepio caracterizado pela forte influecircncia dos antigos tropeiros desbravadores e povoadores desta parte do paiacutes (PREFEITURA MUNICIPAL DE SAtildeO FRANCISCO DE PAULA 2017)
No mesmo documento disponibilizado pela Prefeitura Municipal de Satildeo
Francisco de Paula observam-se algumas informaccedilotildees a respeito da realizaccedilatildeo do
festival no ano de 2017
Art 1ordm - O 26ordm Ronco do Bugio realizar-se-aacute no municiacutepio de Satildeo Francisco de Paula nos dias 01 e 02 de setembro de 2017 Art 2ordm - a festividade agora em sua 26ordf ediccedilatildeo eacute genuiacutena pois eacute a uacutenica na Ameacuterica Latina com promoccedilatildeo da Prefeitura Municipal de Satildeo Francisco de Paula e do CTG Rodeio Serrano com apoio de oacutergatildeos puacuteblicos e iniciativa privada Art 3ordm - Satildeo objetivos do 26ordm Ronco do Bugio a) valorizar a tradiccedilatildeo arte cultura e a autecircntica muacutesica regionalista
gauacutecha atraveacutes do seu ritmo mais original b) prestigiar autores compositores inteacuterpretes e conjuntos regionalistas e
incentivar o surgimento de novos valores c) divulgar a muacutesica regional gauacutecha d) valorizar a relevante posiccedilatildeo na formaccedilatildeo de usos e costumes
caracteres e valores espirituais e morais do gauacutecho e) promover e incentivar a cultura gauacutecha projetando Satildeo Francisco de
Paula na maneira mais autecircntica no cenaacuterio do turismo (PREFEITURA MUNICIPAL DE SAtildeO FRANCISCO DE PAULA 2017)
Como eacute possiacutevel observar no artigo 4ordm ldquoA organizaccedilatildeo do 26ordm Ronco do Bugio
ficaraacute a cargo da Comissatildeo Organizadora composta por membros da Prefeitura
Municipal e do CTG Rodeio Serranordquo (PREFEITURA MUNICIPAL DE SAtildeO
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FRANCISCO DE PAULA 2017) Devido agrave importacircncia identitaacuteria do festival para o
municiacutepio ao se chegar agrave cidade na deacutecada de 90 se encontrava o seguinte
outdoor
Figura 12 ndash Outdoor entrada da cidade na ERS-020
Fonte Souza (2003 p 17)
Assim como o tiacutetulo de ldquoCapital Mundial do Bugiordquo Satildeo Francisco de Paula ldquojaacute
obteve vaacuterios slogans dentre eles o de Satildeo Chico eacute terra boardquo (TEIXEIRA 2002 p
149-150)
Mesmo ocorrendo inferecircncias externas advindas com pessoas que trouxeram
consigo uma identidade diferente Soares28 em entrevista afirma ldquoSatildeo Chico eacute
identificada pela cultura tradicionalista gauacutecha a cuia em frente ao antigo preacutedio da
prefeitura demonstra o siacutembolo da hospitalidade de nosso povordquo A permanecircncia
ativa do CTG Rodeio Serrano na sede eacute outro indicativo forte da presente
identidade ligada as atividades do homem do campo Outro fato observado eacute a
constante praacutetica do laccedilo de vaca parada29 por jovens e crianccedilas nos paacutetios de suas
residecircncias bem como cavalarianos (homens mulheres jovens e crianccedilas) na
28 SOARES Luciana Olga Entrevista concedida agrave autora no dia 01 de marccedilo de 2018 29 Vaca parada uma espeacutecie de cavalete de madeira com aspectos de uma vaca usada por crianccedilas
que estatildeo iniciando neste esporte bem como usado como forma de entretenimento para jovens e adultos
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avenida principal cavalgando entre os carros Ainda se percebe o respeito entre
motoristas de automotivos bicicletas e os cavalarianos todos ocupando o mesmo
espaccedilo
42 DISTRITO DE CAZUZA FERREIRA
O distrito de Cazuza Ferreira foi criado em 07 de janeiro de 1903 estando
situado a 85 quilocircmetros da Sede Andrade comenta em entrevista30 ldquoateacute acho que
Cazuza se desenvolveu primeiro que Satildeo Chicordquo31 visto que a criaccedilatildeo do distrito
acontece dias depois da emancipaccedilatildeo enquanto a criaccedilatildeo da vila do distrito de
Cazuza Ferreira se desenvolve segundo a entrevistada
A parte da Histoacuteria que eu sei eacute que houve a chegada de um Sr Chico Mestre eacute como eles chamavam Esse Sr veio as casas eram distantes umas das outras e ele comeccedilou a fazer oraccedilatildeo nas casas e reunir as pessoas e fundou o cemiteacuterio Entatildeo o Joseacute Ferreira de Castilhos que era dono daqui naquela eacutepoca um dos moradores que tinha bastante terra doou a terra para fazer a vila aiacute o que aconteceu segundo as histoacuterias era para ser ali onde eacute a cancha de laccedilo hoje do outro lado da estrada soacute que o terreno natildeo era apropriado entatildeo houve uma permuta com o Sr que era dono deste terreno aqui era Bossle aqui era bem mais alto e mais plano Entatildeo se construiu a Igreja e iniciou o povoamento da vila32
A moradora Basso ainda acrescenta que ldquoa vila foi sempre mais ou menos o
que ela eacute hojerdquo Ao observar o local pode-se perceber uma grande praccedila ao centro
rodeada de casas de comeacutercio posto de combustiacutevel posto de sauacutede o hotel a
Igreja Matriz juntamente com o salatildeo paroquial e casas residecircncias cujo aspecto
impressiona por a grande maioria das casas apresentam uma arquitetura que
perpassa o tempo A Figura 13 apresenta uma imagem da praccedila central tirada das
escadarias da Igreja Matriz
30 ANDRADE Nauro Bossle de Entrevista concedida agrave autora no dia 04 de marccedilo de 2018 31 Primeiro que Satildeo Chico eacute um termo comum usado pelos moradores do interior do municiacutepio de
Satildeo Francisco de Paula que ao se referir a Sede do municiacutepio usam o termo Satildeo Chico ou Satildeo Francisco de Paula pois seus moradores natildeo costumam na atualidade dizer lsquovou a Sedersquo e sim lsquovou a Satildeo Chicorsquo como se eles natildeo morassem no municiacutepio
32 BASSO Ceacutelia Pacheco Terres Entrevista concedida agrave autora no dia 04 de agosto de 2018
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Figura 13 ndash Praccedila Central de Cazuza Ferreira
Fonte acervo pessoal da autora (2018)
Apesar de ter a preservaccedilatildeo arquitetocircnica a moradora Basso declara
O pai contava e outras pessoas contam que teve uma eacutepoca que tinha faacutebrica de tamanca33 jaacute teve faacutebrica de guaranaacute de queijo bastante coisa no sentido de selaria mas tudo foi se extinguindo as pessoas as famiacutelias natildeo deram continuidade e se sumiram natildeo existe mais nada disso mas estas faacutebricas natildeo davam renda ou seja trabalho para pessoas de fora pois elas eram administradas e cuidadas pelas famiacutelias Daiacute houve o periacuteodo das serrarias enquanto pode extrair madeira era o forte a vila movimentada enriqueceram alguns comerciantes locais o momento que extinguiu aquele trabalho eles foram embora e o povo daqui acomodou entatildeo hoje a vila tem bastante pessoas que foram embora trabalhar assim na juventude e hoje aposentados voltaram pois aqui para jovem natildeo tem sobrevivecircncia o uacutenico trabalho eacute na escola tem nove professores e uma funcionaacuteria em alguns funcionaacuterios da prefeitura acho que satildeo seis que cuidam do plantel de maacutequinas a enfermeira e o pessoal que cuida do posto do correio tambeacutem tem a ferraria mas ali eacute soacute os da proacutepria famiacutelia entatildeo o jovem acaba tendo que ir embora34
Os entrevistados Basso e Andrade relatam que apesar das adversidades o
povo de Cazuza Ferreira tem um amor pelas suas tradiccedilotildees mantendo vivos trecircs
aspectos que ambos consideram a marca identitaacuteria de seu povo e afirmam com
33 Tamanca calccedilado comum na regiatildeo solado de madeira com uma proteccedilatildeo sobre as pontas dos
dedos indo ateacute o peito do peacute em couro 34 BASSO Ceacutelia Pacheco Terres Entrevista concedida agrave autora no dia 04 de agosto de 2018
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convicccedilatildeo ldquofalar de Cazuza eacute cavalhada hotel e rodeiordquo enquanto Basso acrescenta
que ldquoas cavalhadas satildeo heranccedila dos portugueses e estatildeo espalhadiacutessimas ateacute
nacionalmente atraveacutes da miacutedia porque natildeo pesquisei mas ateacute onde sei no Rio
Grande do Sul soacute tem aquirdquo
Na comunidade ainda segundo Basso ldquoa apresentaccedilatildeo das cavalhadas se
iniciou por volta de 1890 e permanece ativa ateacute hoje no passado existiam trecircs
cavalhadas as dos brancos dos amarelos e dos negrosrdquo acrescentando ldquomas hoje
natildeo haacute mas essa diferenciaccedilatildeordquo Em poliacutegrafo organizado por uma moradora local a
mesma explica que a cavalhada ldquoeacute uma luta simulada em que haacute vinte e quatro
participantes sendo doze de cada equiperdquo35 por meio da evoluccedilatildeo equestre e
movimentos de espada lanccedila e garrucha representando a batalha entre mouros e
cristatildeos Segundo esta moradora ldquoa batalha sempre termina sendo vencida pelos
cristatildeos demonstrando a submissatildeo dos mouros e a supremacia da religiatildeo cristatilderdquo
Atualmente o grupo depende da boa vontade de seus participantes conforme
explica
Hoje se tornou caro eacute exame dos cavalos transporte depende do querer das pessoas da boa vontade e tem pessoas engajadas que natildeo largam a famiacutelia do Renau que ele eacute o presidente do grupo ele tem um amor tatildeo grande pelas cavalhadas porque ele jaacute recebeu do pai dele do teu avocirc e do seu Ivo Cardoso e a vida dele agraves vezes me desgosto de alguma coisa pois faccedilo a narrativa do que estaacute sendo apresentado mas daiacute eu penso natildeo posso abandonar (sorri) Eacute uma tradiccedilatildeo que natildeo pode morrer mas os filhos do Renau o Marcos e o Marcelo daratildeo continuidade faz parte da famiacutelia tu sabe eacute da mesma famiacutelia Eacute uma grande tradiccedilatildeo que natildeo pode desaparecer temos que continuar peleando36
As cavalhadas satildeo apresentadas na praccedila central sempre durantes as festas
religiosas que acontecem na comunidade sendo assim organizadas
No primeiro ou segundo final de semana de fevereiro tem a festa da Nossa Senhora do Belo Horizonte que eacute a padroeira daqui Agora devido agrave comissatildeo e o padre um ano tem a festa dos morenos e no outro tem a dos agricultores que eram chamados de amarelos antigamente cuja devoccedilatildeo se daacute agrave Nossa Senhora do Rosaacuterio e Nossa Senhora da Penha Antigamente cada um tinha seu espaccedilo social para realizar a festa atualmente soacute se manteve a tradiccedilatildeo de comemorar os santos este ano eacute festa dos morenos ela seraacute dia 13 e 14 de outubro Todas as festas
35 Sendo que doze cavaleiros que representam os cristatildeos vestem tuacutenicas de veludo azul escuro e
os doze cavaleiros mouros vestem tuacutenicas vermelhas Sobre os ombros da tuacutenica haacute uma capinha esta capinha traz enfeites prateados bordados com lantejoulas e bototildees dourados e franjas de seda branca Todos os participantes usam bombacha branca de brim botas campeiras pretas chapeacuteu de palha de aba larga virada para cima com laccedilo de fita e barbicacho de acordo com a cor da tuacutenica
36 BASSO Ceacutelia Pacheco Terres Entrevista concedida agrave autora no dia 04 de agosto de 2018
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religiosas ocorrem em dois dias saacutebado apresentaccedilatildeo das cavalhadas novena janta e baile no domingo tem a missa na Igreja Matriz logo apoacutes almoccedilo e reuniatildeo danccedilante Atualmente resgataram em dezembro a festa a Satildeo Cristoacutevatildeo sempre no primeiro final de semana de dezembro eacute uma missa com benccedilatildeo aos carros durante a procissatildeo e um almoccedilo ao meio-dia esta se daacute somente em um dia E tambeacutem temos de dois em dois anos a festa organizada pelo grupo das Cavalhadas esta ocorre em maio daiacute37
Os moradores explicam que a separaccedilatildeo racial desapareceu com o tempo
poreacutem se manteacutem a cultura de festejar todos os santos o que demonstra que o povo
de Cazuza eacute bastante devoto e cristatildeo E acrescenta em tempos idos que durante
as festas religiosas as pessoas se hospedavam no hotel segundo Basso que ldquoele
recebia tinha mercado junto teve ateacute cinema o pessoal gostava da comida da
Dona Vilma que era minha sogrardquo Este hotel eacute outro marco que identifica Cazuza
Ferreira poreacutem os moradores explicam que atualmente o Hotel do Campo manteacutem a
arquitetura mas funciona em uma modalidade diferenciada pois natildeo haacute como
sobreviver Entatildeo ele recebe hospeda sob reserva antecipada poreacutem natildeo serve
almoccedilo e janta as refeiccedilotildees satildeo feitas no Cantinho do Aconchego com quem
manteacutem uma parceria
Figura 14 ndash Hotel do Campo
Fonte acervo pessoal da autora (2018)
37 BASSO Ceacutelia Pacheco Terres Entrevista concedida agrave autora no dia 04 de agosto de 2018
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Nesta comunidade tambeacutem eacute muito forte segundo os entrevistados38 a
tradiccedilatildeo gauacutecha que adveacutem do homem do campo o amante dos rodeios que nos
finais de semana saem de suas propriedades e se deslocam a outras comunidades
para participar dos eventos campeiros como o tiro de laccedilo Tambeacutem explanam que
existe o CTG Adatildeo Castilhos que estaacute interditado jaacute faz quase seis anos desde
que comeccedilaram a ser exigidos os PPCIs A partir deste momento eles natildeo puderam
mais fazer eventos ali eles realizam os rodeios ou festas campeiras mas laacute dentro
natildeo conseguiram mais fazer nada e taacute difiacutecil vai muito dinheiro para cumprir todas
as exigecircncias Sendo que este espaccedilo na deacutecada de 80 do seacuteculo XX foi palco de
grandes rodeios com apresentaccedilotildees campeiras artiacutesticas e grandes bailes A
moradora explica39 ldquoA Claudiana esposa do Paulo Cesar atual presidente se
inscreveu no projeto Meu Galpatildeo de Cara Nova do Galpatildeo Crioulo da RBS TV
tomara que ela seja classificadardquo Este projeto ajuda na reconstruccedilatildeo dos CTGs pelo
Rio Grande do Sul
Ao pesquisar sobre Cazuza Ferreira percebe-se o quatildeo forte eacute o culto agraves
tradiccedilotildees e o esforccedilo de seus moradores para elas permaneccedilam para futuras
geraccedilotildees visto que o tempo passou e a tradiccedilatildeo local natildeo sofreu alteraccedilotildees
43 DISTRITO DE TAINHAS
O distrito de Tainhas foi criado em 18 de outubro de 1922 estando situado a
33 quilocircmetros da Sede Se desenvolveu no entroncamento de duas rodovias a RS-
020 e a RS-453 cujas rodovias cortavam a vila do distrito Com o advento da
construccedilatildeo da Rota do Sol importante rodovia que hoje que liga Caxias do Sul agraves
praias aleacutem da construccedilatildeo do asfalto da RS-020 que vai a Satildeo Francisco de Paula
tudo mudou O morador Fagundes relata em entrevista40 ldquoaqui era mais habitado
por criadores fazendeiros e agora depois que saiu essa Rota do Sol o movimento
cresceu muito neacute mais por fora da vila entatildeo natildeo trouxe benefiacutecio para noacutesrdquo
Percebe-se que moradores entendem a importacircncia da construccedilatildeo das
rodovias poreacutem as mesmas natildeo trouxeram benefiacutecios econocircmicos para os
moradores locais
38 ANDRADE Nauro Bossle de BASSO Ceacutelia Pacheco Terres Entrevistas concedidas agrave autora no
dia 04 de agosto de 2018 39 BASSO Ceacutelia Pacheco Terres Entrevista concedida agrave autora dia 04 de agosto de 2018 40 FAGUNDES Darci da Silva Entrevista concedida agrave autora no dia 24 de fevereiro de 2018
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Ainda conforme o morador Fagundes41 ldquoo iniacutecio da vila se deu devido agrave
necessidade de parada dos caminhoneiros que transportavam madeira como era
tudo estrada de chatildeo Tainhas ficava em local centralizado se construiu um hotel
que era do seu Pedro Pinhatildeo e da Dona Luisardquo A partir de entatildeo comeccedilou a
construccedilatildeo de casas e se formou a vila onde antes eram terras dos Pinto os
primeiros moradores de Tainhas tanto que o morador ressalta na entrevista42 ldquoo
nome da escola eacute Oliacutempio Soares Pinto que era o proprietaacuterio dessa terra e uma
das professoras mais antigas era Guilherma Pintordquo
Tainhas estaacute rodeada por campos matos de pinnus ilhote e lavouras
atualmente e explica
Hoje aqui eacute pinus e granjeiro plantando batata soja milho e a maioria veio de fora os moradores antigos desapareceram arrendaram ou venderam suas terras para esse pessoal que veio de Ibiraiara e de Maquineacute Itati Trecircs Forquilhas43
Percebe-se que a criaccedilatildeo de gado ou seja a pecuaacuteria extensiva deu lugar a
outras culturas com a chegada de novas pessoas ao distrito Mas segundo os
moradores o culto ao tradicionalismo gauacutecho permanece visto que no distrito
existe
O parque de rodeios do Rodeio Crioulo eacute o mais antigo que noacutes temos aqui natildeo sei se natildeo o primeiro piquete registrado de Satildeo Chico tem uns sessenta anos a nossa tradiccedilatildeo eacute o laccedilo O nosso rodeio acontece sempre no iniacutecio de janeiro hoje eu natildeo laccedilo mais mas o meu neto continua a minha tradiccedilatildeo A escola daqui faz a semana farroupilha com ronda eacute tudo muito lindo e assim se mantem a cultura44
A imagem apresentada na Figura 15 reforccedila a fala e a importacircncia do Piquete
de Laccediladores Rodeio Crioulo que atualmente mesmo estando nas terras de Satildeo
Francisco de Paula divisa com o municiacutepio de Cambaraacute do Sul por opccedilatildeo essa
entidade tradicionalista pertence ao entatildeo municiacutepio de Cambaraacute do Sul Poreacutem sua
fundaccedilatildeo acontece em 20 de janeiro de 1961 quando o entatildeo hoje municiacutepio de
Cambaraacute do Sul ainda era distrito de Satildeo Francisco de Paula
41 FAGUNDES Darci da Silva Entrevista concedida agrave autora no dia 24 de fevereiro de 2018 42 FAGUNDES Darci da Silva Entrevista concedida agrave autora no dia 24 de fevereiro de 2018 43 FAGUNDES Darci da Silva Entrevista concedida agrave autora no dia 24 de fevereiro de 2018 44 FAGUNDES Darci da Silva Entrevista concedida agrave autora no dia 24 de fevereiro de 2018
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Figura 15 ndash Flacircmula de comemoraccedilatildeo aos 50 anos da entidade
Fonte acervo pessoal da autora (2018)
Outro evento importante no distrito eacute realizado pela Escola Estadual de
Ensino Fundamental Oliacutempio Soares Pinto que satildeo atividades ligadas as tradiccedilotildees
gauacutechas na Semana Farroupilha como cavalgadas e gincanas com a participaccedilatildeo
de toda comunidade nesta semana principalmente a comunidade de Tainhas
ldquorespira tradicionalismordquo
O distrito de Tainhas atualmente conta com um posto de sauacutede e o correio
satildeo os serviccedilos puacuteblicos que funcionam no distrito visto que o cartoacuterio fechou O
entrevistado Fagundes relata45 ldquoeu era o juiz de paz desse Cartoacuterio minha funccedilatildeo
era julgar os casamentos mas daiacute fechou hoje o pessoal tem que ir a Satildeo Chicordquo O
morador ainda acrescenta ldquoateacute a rodoviaacuteria fechou os ocircnibus passam aqui Satildeo
Marcos que vem de Caxias e vatildeo a Torres desce de manhatilde e sobe de tarde Citral
de Satildeo Chico a Ouro Verde e agora Transneves da Pedra Lisa para Satildeo Chicordquo
Com uma certa tristeza relata46 ldquoaqui em Tainhas soacute tem o Cafeacute Tainhas do
Mauro eacute o brilho de Tainhas seraacute ponto histoacuterico daqui um tempo todo mundo fala
bem do Cafeacute Tainhasrdquo
Notoriamente a chegada do asfalto modificou a vida das pessoas neste
distrito visto que que os campos foram em boa parte transformados em lavoura se
45 FAGUNDES Darci da Silva Entrevista concedida agrave autora no dia 24 de fevereiro de 2018 46 FAGUNDES Darci da Silva Entrevista concedida agrave autora no dia 24 de fevereiro de 2018
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percebe uma vila pacata jaacute que todo o movimento foi desviado por fora da vila e a
mesma natildeo proporciona lazer para as pessoas que ao terminarem o ensino
fundamental para continuar seus estudos precisam fazer uso do transporte escolar
e se deslocar ateacute a Sede ou ir ao municiacutepio de Cambaraacute do Sul
44 DISTRITO DE ELETRA
O distrito de Eletra foi criado em 31 de dezembro de 1932 estando situado a
19 quilocircmetros da Sede do municiacutepio Poreacutem a populaccedilatildeo local chama de Salto e
seu nome vem das barragens do Salto Blang e Divisa construiacutedas sobre o Rio do
Salto que atravessa o distrito Segundo a moradora local47 Soares ldquoas barragens
que fornecem aacutegua para as usinas no municiacutepio de Satildeo Francisco de Paula e nos
municiacutepios vizinhos de Canela Gramado e Cambaraacute do Sulrdquo A Figura 16 apresenta
uma imagem da Barragem do Salto barragem esta que se situa proacutexima da vila do
distrito
Figura 16 ndash Barragem do Salto
Fonte acervo pessoal da autora (2018)
Ao observarmos a Figura 16 percebe-se que o acesso da vila para o interior
do distrito acontece por uma ponte de concreto estreita com piso bastante irregular
47 SOARES Susana Marques Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018
59
e que em periacuteodos de fortes chuvas o acesso fica interrompido devido agrave altura
Poreacutem ao lado direito percebe-se uma estrutura pequena que segundo o morador
Gomes
Foi uma tentativa de uma empresa japonese construir uma ponte soacute que quando estavam construindo deu uma enchente e levou tudo a aacutegua abaixo a empresa foi embora e nunca mais voltou Jaacute foram feitos estudos que a ponte tem que ser construiacuteda mais para baixo e em forma de arco se natildeo a chuva leva de novo poreacutem natildeo acredito que saia algum dia48
Entende-se que a construccedilatildeo desta nova ponte melhoraria o acesso dos
proprietaacuterios rurais que para saiacuterem de suas propriedades em eacutepocas de chuva
intensa necessitam fazer um longo caminho por estradas de chatildeo batido para terem
acesso ao municiacutepio de Canela bem como a Sede de Satildeo Francisco de Paula
Contudo a moradora explica que a vila do distrito se forma muito antes da
construccedilatildeo da barragem
Em 1915 era uma fazenda chamada Fazenda do Salto e esta pertencia a Francisco Soares de Oliveira Neste local havia sua casa de moradia um galpatildeo e mangueiras onde realizava as suas atividades poreacutem em 1916 o Chico resolveu transferir a casa da Fazendo do Cerro para o Salto tambeacutem sendo construiacuteda aiacute a segunda casa a partir de entatildeo se iniciou o povoado com a construccedilatildeo de novas residecircncias para seus empregados e posteriormente se instalou uma serraria dos irmatildeos Delavechia esta sendo movida a aacutegua dando definitivamente o iniacutecio do povoamento da vila49
Ao analisar a fala da moradora local se percebe que onde hoje se encontra a
vila do distrito de Eletra jaacute foi uma fazenda identificando-se com a mesma formaccedilatildeo
do distrito Sede que tambeacutem surge de terras doadas por um fazendeiro Segundo a
entrevistada Soares50 ldquoa sua casa eacute uma das mais antigas tem 102 anos foi
construiacuteda de pinheiro serrada aqui mesmo na serrariardquo pode-se observar o oacutetimo
estado de conversaccedilatildeo da casa que traz traccedilos arquitetocircnicos europeus na sua
construccedilatildeo natildeo se tem imagem da casa visto que a entrevistada natildeo permitiu
nenhuma imagem de sua residecircncia
Outro fator importante do povoamento da vila segundo o morador local
Gomes51 ldquofoi o iniacutecio da construccedilatildeo da Barragem do Salto no ano de 1925rdquo onde
48 GOMES Jaures Feijoacute Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018 49 SOARES Susana Marques Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018 50 SOARES Susana Marques Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018 51 GOMES Jaures Feijoacute Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018
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vieram muitos funcionaacuterios de vaacuterios lugares tendo como mestre da obra segundo
os moradores locais52 o ldquoAcircngelo Goubertrdquo
Devido agrave necessidade que se formou no distrito neste periacuteodo se abriu um
hotel farmaacutecia cartoacuterio rodoviaacuteria e cinema a moradora local Soares saudosa
diz53 ldquotudo fechou aqui natildeo tem mais nadardquo referindo-se a atual situaccedilatildeo que a vila
se encontra
Os moradores ainda declaram sobre o distrito54 ldquoestaacute abandonado pelo poder
puacuteblico ateacute o calccedilamento das ruas foi arrancadordquo poreacutem outrora foi um local de
muita alegria
A vida era uma festa permanente o tio Chico era casado com a tia Lisoca ela foi para Porto Alegre para os filhos estudar quando vinham nas feacuterias traziam os amigos O tio Chico pagava um gaiteiro por mecircs para ele toca toda noite entatildeo era aquele divertimento55
Atualmente na vila existe a Escola Estadual de Ensino Fundamental Cristino
Ramos com menos de cem alunos e a festa cristatilde cuja celebraccedilatildeo ocorre em
fevereiro sendo Santo Antocircnio o padroeiro local A moradora explica sobre a
construccedilatildeo da capela
A primeira capela a tempestade derrubou em 1957 se construiu outra O santo padroeiro eacute Santo Antocircnio a imagem foi trazida por quarenta cavaleiros Daiacute o padre pediu para que a imagem de Nossa Senhora Catarina tambeacutem fosse acolhida hoje temos dois padroeiros mas para mim Santo Antocircnio eacute o principal56
Percebe-se na fala dos moradores a sua devoccedilatildeo e sua preocupaccedilatildeo com o
futuro da vila visto que ateacute a questatildeo do cemiteacuterio jaacute foi palco de discussatildeo pois o
cemiteacuterio da vila iniciou pela famiacutelia dos Soares sendo este particular Poreacutem a
moradora explica com certa indignaccedilatildeo
O cemiteacuterio era particular da famiacutelia Soares teve um tempo que resolveram abrir veio gente ateacute de Passo Fundo ser enterrada aqui natildeo pediam para ningueacutem tomaram conta Daiacute organizamos uma comissatildeo responsaacutevel decidimos que tinha que ter uma contribuiccedilatildeo e natildeo podia trazer gente de fora para enterrar soacute gente daqui Ningueacutem pagou Aiacute mandei fazer cerca nova a parte dos Soares sempre limpei mas [] hoje acabo limpando tudo
52 GOMES Jaures Feijoacute SOARES Susana Marques Entrevistas concedidas agrave autora no dia 15 de
fevereiro de 2018 53 SOARES Susana Marques Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018 54 GOMES Jaures Feijoacute SOARES Susana Marques Entrevistas concedidas agrave autora no dia 15 de
fevereiro de 2018 55 SOARES Susana Marques Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018 56 SOARES Susana Marques Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018
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porque ningueacutem limpa Enquanto eu for viva vou fazer depois vatildeo entregar para a prefeitura igreja natildeo sei57
A Figura 17 apresenta uma foto da igreja atual tendo em sua lateral direita a
capela mortuaacuteria e ao fundo o Salatildeo Paroquial da comunidade onde ocorre a festa
do Santo Padroeiro
Figura 17 ndash Igreja Santo Antocircnio ndash Distrito de Eletra
Fonte acervo pessoal da autora (2018)
Ao conversar com os moradores locais pode-se observar a feacute cristatilde poreacutem
ambos relatam que a festa de fevereiro atualmente eacute pouco divulgada motivo pelo
qual acreditam que natildeo haja um nuacutemero expressivo de pessoas Ambos sentem um
apreccedilo pelo local onde nasceram e vivem poreacutem ambos relatam
Aqui eacute lugar de dormir as pessoas trabalham em Canela e vem dormir aqui a grande maioria natildeo eacute daqui vieram de fora haacute muitas casas de veraneio tudo gente de Porto Alegre que vem passar feacuterias natildeo rende nada para aqui o que precisam trazem tudo de fora A maioria de quem mora aqui soacute dorme passa o dia fora O ocircnibus das 7 horas sai lotado a gente natildeo conhece mais ningueacutem daqui mesmo soacute noacutes Susana e eu58
Mesmo a vila sendo um local de parada estaacute rodeada de lindos campos e
fazendas cuja a atividade principal eacute a pecuaacuteria extensiva natildeo proporciona
57 SOARES Susana Marques Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018 58 GOMES Jaures Feijoacute Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018
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trabalho no local motivo pelo qual seus moradores buscam sua subsistecircncia em
outro municiacutepio poreacutem possui uma exuberante natureza relata cheia de esperanccedila
a moradora local59 ldquoeu tenho esperanccedila que algueacutem olhe para caacute e veja as belezas
que tem aqui que o lugar volte a se desenvolverrdquo desenvolvimento este que
poderia vir atraveacutes da exploraccedilatildeo do turismo rural ldquoSe vocecirc quiser comer alguma
coisa agora natildeo vai encontrar nada aqui soacute tem lsquobutecorsquo60 mas eles natildeo vendem
nada nem sanduiacuteche pastel eacute uma vergonhardquo fala indignado o morador Gomes61
A populaccedilatildeo que vive nas fazendas aleacutem de ter as lides campeiras no seu
dia-a-dia nos finais de semana segundo o morador Gomes62 ldquolaccedila em torneio vai
nos rodeiosrdquo o que marca a presenccedila do tradicionalismo gauacutecho em uma parte da
populaccedilatildeo do distrito poreacutem com relaccedilatildeo aos moradores da vila natildeo haacute algo que
os identifique visto a miscigenaccedilatildeo que ocorreu e por haver muitas casas de
veraneio no local
45 DISTRITO DO JUAacute
O distrito do Juaacute foi criado em 10 de maio de 1950 e fica distante 65
quilocircmetros da Sede O distrito recebe esse nome devido a um espinho que havia
em abundacircncia no local nome este dado por tropeiros
Os accedilorianos que vinham de Santo Antocircnio da Patrulha e iam para Vacaria com cargueiros eles vinham fazer repouso laacute em cima no reduto e ali tinha muita frutinha do juaacute entatildeo os tropeiros saiam de Santo Antocircnio e diziam vamos posa laacute nos juaacute daiacute o nome do lugar que permanece ateacute hoje63
Juaacute eacute o nome dado a um espinho muito comum na regiatildeo dos campos de
cima da serra que daacute uma fruta amarela em formato redondo que segundo os
moradores locais eacute uma fruta venenosa conforme se observa na Figura 18
59 SOARES Susana Marques Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018 60 Buteco pequeno comeacutercio que normalmente vende bebidas alcooacutelicas e possui mesa de sinuca 61 GOMES Jaures Feijoacute Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018 62 GOMES Jaures Feijoacute Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018 63 REIS Orides Entrevista concedida agrave autora no dia 12 de maio de 2018
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Figura 18 ndash Peacute com a fruta conhecido como Juaacute
Fonte acervo de Clessandra Palhano (moradora local) (2018)
O reduto citado pelo morador local ficava em uma fazenda local onde hoje se
encontra a vila do distrito conforme o entrevistado Reis explica
O primeiro morador eu natildeo lembro soacute sei que o Juaacute era de pouca gente famiacutelia Pedroso e Castilhos daiacute foram morrendo inventariando e vendendo e aos poucos se formou a vila importante o dono de tudo isso aiacute tinha dois escravos no iniacutecio teve escravidatildeo claro na eacutepoca de mil oitocentos e pouco eu acho mas teve E hoje deve ter descendente destes escravos por aiacute64
Escravidatildeo que vai dar origem ao preconceito racial e a um modelo particular
da localidade que sem precisar data explica o morador
Aqui tinha dois salatildeo trecircs com o da Igreja mas era dois salatildeo social Era um clube de brancos que era dos ricos neacute fazendeiros o Salatildeo Vera Cruz e depois fundaram o Satildeo Valentim que era dos morenos que na eacutepoca ateacute eu fui presidente Cada um no seu salatildeo agora quando dava a festa cristatilde em homenagem ao Satildeo Joatildeo de Deus todo o povo reunia-se quando chegava de noite no saacutebado no baile entatildeo cada um ia pro seu salatildeo A muacutesica ficava no salatildeo dos brancos daiacute colocava umas caixas de som laacute pros morenos com um fio pra eles danccedila Um natildeo podia entra no baile do outro tinha o presidente para cuida Cada um no seu tudo se respeitava e obedecia aquela ordem65
Ainda acrescenta a moradora local Santos
64 REIS Orides Entrevista concedida agrave autora no dia 12 de maio de 2018 65 REIS Orides Entrevista concedida agrave autora no dia 12 de maio de 2018
64
O nosso eu natildeo me lembro o nome tem tanto papel mas natildeo sei onde estaacute o nosso dos pretos neacute ningueacutem implicava eles natildeo deixavam noacutes entra no salatildeo Vera Cruz eu entrava de cozinheira empregada porque ali era lugar dos ricaccedilos eles podiam se associar mas o nosso tambeacutem enchia mas eles iam no nosso baile de nego soacute olhavam As festas duravam dias Tinha aquele foguetoacuterio era tatildeo bonito66
Percebe-se na fala dos moradores como esta divisatildeo racial se fazia presente
que havia por parte dos negros um profundo respeito pelos brancos mesmo eles
tendo acesso ao salatildeo Vera Cruz somente para servi-los em nenhum momento se
percebeu que eles se sentissem diminuiacutedos pela situaccedilatildeo ateacute pela cultura que
advinha desde os primeiros moradores locais
Esta divisatildeo social permanece por longo tempo e somente vai desaparecer
nos anos 80 do seacuteculo XX com a contribuiccedilatildeo do Frei Abiacutelio que veio da Vacaria
durante Missotildees convocadas pelo paacuteroco local padre Afonso que conseguiu
modificar esta organizaccedilatildeo implantando a ideia de igualdade e ignorando tudo
aquilo a partir de entatildeo os negros comeccedilaram a frequentar a sociedade Vera Cruz
contribuiccedilatildeo dos entrevistados67 que ao abordar o assunto demonstraram repulsa
pelo passado mas ao mesmo tempo reconhecem que o racismo ainda eacute presente
na comunidade poreacutem devido agraves leis existe um cuidado maior
Atualmente negros e brancos convivem em harmonia participam da festa
cristatilde cujo padroeiro eacute Satildeo Joatildeo de Deus e dos torneios de laccedilo mas geralmente
quem laccedila satildeo os fazendeiros Saudoso o morador68 afirma que ldquouma vez tinha as
carreradas tinha trecircs canchas passava o domingo nas canchas brincando nas
corridas de cavalos tudo terminourdquo Acrescenta69 ainda que ldquoem 70 80 tinha o
futebol o campo era na baixada acho que tem ainda trofeacuteu ai mas daiacute a gurizada
foi embora para a cidade terminou o timerdquo
A vila se construiu de maneira simples tendo a Igreja Catoacutelica com o Salatildeo
Paroquial agrave direita o antigo Centro de Tradiccedilotildees Gauacutechas Laccedilo Velho do Juaacute onde
resta apenas o preacutedio de madeira corroiacuteda pelo tempo ao fundo a cancha de laccedilo
do Piquete de Laccediladores Velho do Juaacute entidade tradicionalista que se manteacutem ativa
desde o iniacutecio da deacutecada de 1960 ao redor haacute casas de moradias que formam ao
centro uma grande praccedila sem nenhuma infraestrutura em frente a esta praccedila
66 SANTOS Deotildes Palhano dos Entrevista concedida agrave autora no dia 12 de maio de 2018 67 REIS Orides SANTOS Deotildes Palhano Entrevistas concedida agrave autora no dia 12 de maio de
2018 68 REIS Orides Entrevista concedida agrave autora no dia 12 de maio de 2018 69 REIS Orides Entrevista concedida agrave autora no dia 12 de maio de 2018
65
perpassa uma rua de chatildeo batido sendo que a escola da comunidade fica do outro
lado a escola eacute municipal se chama Bento Eziacutedio Rodrigues atende
aproximadamente vinte alunos que estatildeo matriculados nas seacuteries iniciais do ensino
fundamental tendo duas professoras e um funcionaacuterio para fazer merenda e limpar
o paacutetio como se pode observar na Figura 19
Figura 19 ndash Praccedila Vila do Distrito Juaacute ao fundo cancha de laccedilo
Fonte acervo pessoal da autora (2018)
Ambos os entrevistados70 explicam que o Juaacute atualmente eacute um lugar de
idosos aposentados que outrora as pessoas viviam das roccedilas e da pecuaacuteria
extensiva na deacutecada de 1980 com o advento da induacutestria em Caxias do Sul os
jovens abandonaram seu modo de vida e foram buscar novas oportunidades poreacutem
estes jovens que foram embora retornam com frequecircncia natildeo perdendo a sua
essecircncia Relataram que a uacutenica fonte de trabalho eacute ser peatildeo de fazenda fazendas
estas que produzem o queijo serrano ou vendem leite para a Piaacute71 sendo que a
lavoura eacute para subsistecircncia Outra fonte de renda eacute ser funcionaacuterio da serraria cujo
proprietaacuterio e Joatildeo Egiacutedio que funciona proacuteximo da vila Outro fator importante eacute a
venda de pequenas chaacutecaras para moradores de Caxias do Sul que vem aos finais
70 REIS Orides SANTOS Deotildes Palhano Entrevistas concedidas agrave autora no dia 12 de maio de
2018 71 Piaacute Cooperativa Agropecuaacuteria Petroacutepolis Ltda Empresa que faz a coleta do leite nas fazendas da
regiatildeo
66
de semana descansar na localidade poreacutem se percebe que estes novos moradores
muitas vezes natildeo interagem com os moradores locais
Segundo o morador Reis72 ldquoapesar da vinda de pessoas de outros lugares o
Juaacute natildeo perdeu sua identidade fala em Juaacute lembra pinhatildeo colheita do pinhatildeo ateacute
haacute uma criacutetica que diz na eacutepoca do pinhatildeo o juazeiro fala grossordquo Ditado que o
entrevistado73 reafirma sorrindo ldquona eacutepoca do pinhatildeo o juazeiro fala grosso claro
que eacute apenas um dito popular uma maneira de se referir mas sempre eacute dito haacute
aqueles que natildeo gostamrdquo
Nota-se que a vida na comunidade do Juaacute se passa de forma tranquila com
poucos moradores que sua identidade estaacute relacionada agrave pecuaacuteria extensiva com
as lides com o gado bem como ao pinhatildeo uma fruta tiacutepica que se desenvolve na
Araucaacuteria ou pinheiro nativo como eacute conhecido na regiatildeo O pinhatildeo seja ele
assado cozido ou paccediloca74 eacute muito consumido pelos moradores do interior de Satildeo
Francisco de Paula durante o inverno inclusive como mistura do cafeacute da manhatilde
46 DISTRITO DO RINCAtildeO DOS KROEFF
O distrito de Rincatildeo dos Kroeff foi criado em 10 de maio de 1950 Fica a 35
quilocircmetros distante da Sede poreacutem muito antes de se institucionalizar oficialmente
este espaccedilo moradores locais contam como tudo se iniciou
Meu avocirc foi um dos primeiros a vim para caacute ele se chamava Guilherme Faciole ele nasceu no navio vindo da Itaacutelia Ele contava que teve uma desavenccedila em Caxias e fincou o peacute pra caacute pra natildeo acharem ele que aqui era soacute mato e na revoluccedilatildeo de 35 ele fugia de casa para natildeo ser levado pelas tropas os piquetes levavam para combater entatildeo ele sempre dizia que pousou vaacuterias noites embaixo dos peraus da serra do Umbu para natildeo ser levado O falecido vovocirc vivia da caccedila do porco do mato tateti ele fazia charque de porco para ter a carne ele viveu 106 anos e dizia se natildeo tivesse fumado viveria mais uns dez isso faz parte da histoacuteria do Rincatildeo dos Kroeff Junto teve o falecido Acircngelo Menegaacutes que entro aqui na mesma eacutepoca Eles satildeo os fundadores do distrito75
O acesso ao distrito Rincatildeo dos Kroeff permanece totalmente pela estrada de
chatildeo batido sendo possiacutevel ir ao municiacutepio de Maquineacute descendo pela serra do
Umbu Poreacutem muito antes da estrada a busca de mantimentos e o escoamento da
72 REIS Orides Entrevista concedida agrave autora no dia 12 de maio de 2018 73 REIS Orides Entrevista concedida agrave autora no dia 12 de maio de 2018 74 Paccediloca carne de porco moiacuteda e frita no azeite ou banha a qual se acrescenta o pinhatildeo jaacute cozido
e moiacutedo 75 FACIOLE Reinaldo Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de marccedilo de 2018
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produccedilatildeo se dava pelos carreiros visto que natildeo havia abertura de estrada e nem
viatura76 como os moradores relatam
Tudo era na tropeada as tropas que ia para Rolante Na tropeada saia um tropeiro na frente e um recircs com um cincerro que era a madrinheira da tropa saia laacute pelo Chuvisqueiro e saia laacute em Rolante perdia boi na estrada ficava semanas boi perdido agraves vezes nem se achava mais tambeacutem tinha tropa de porco e tinha as tropeadas de mula puxando milho feijatildeo trigo tudo produzido aqui e levado de cargueiro carreta era muito pouco porque natildeo tinha estrada para anda era soacute os trilhos pelo meio dos matos e campos e se produzia milho era o inverno inteiro saia tropas e mais tropas com trinta quarenta mulas burros transportando mantimentos da produccedilatildeo do gratildeo haacute tambeacutem tinha a flor de Pireto que era lucro ningueacutem conhece isso aiacute hoje essa flor era levada para Taquara e fazia veneno para formiga tudo que era tipo de veneno era uma flor muito toacutexica Acredita tropear galinha pois eacute a gente criava bastante saia com os cargueiros como era a vida eles faziam um girau no cesto naqueles balaios para fazer duas camas uma mais em cima e outra em baixo daiacute quando era veratildeo era muito quente tinha que no meio da viagem tirar de dentro do cesto botar na aacutegua na sanga para natildeo morrer ateacute chegar no mercado dali para praia a eacutepoca que mais vendia era novembro e dezembro daiacute tinha preccedilo bom tudo criada solta aviaacuterio nem se falava77
Ao ouvir os moradores se percebe que a construccedilatildeo do distrito aconteceu
devido ao esforccedilo e trabalho de muitas pessoas visto que o local era de mata nativa
densa e precisou ser desmatado para ser ocupado pelas pessoas Explica o
entrevistado Faciole78 ldquopara fazer uma lavoura tambeacutem precisava derrubar o
pinheiro seu Onorino Buffon me contou que faziam fogo ao redor do pinheiro eles
eram muito grosso para derrubar a machado entatildeo faziam fogo secavam para
depois fazer a roccedilardquo E a moradora79 local acrescenta ldquoaqui tambeacutem tinha os
barbacuazeiros produziam erva mais aqui eles soacute tiravam a erva e sapecavam e
depois ia para outro lugar industrializa tudo era diferenterdquo
Poreacutem segundo os moradores este modelo de vida rudimentar se modifica
com a chegada das serrarias sendo que a dos Kroeff foi a primeira juntamente com
a serraria se viu a necessidade da construccedilatildeo de novas casas para os
trabalhadores surgindo ali a vila do distrito Rincatildeo dos Kroeff no iniacutecio a serraria era
tudo manual relata Faciole80 ldquoa uacutenica forma de tira a madeira era com um enfieira
76 Viatura se refere a carro de passeio caminhotildees 77 FACIOLE Reinaldo FACIOLE Maria Madalena Scalco Entrevistas concedidas agrave autora no dia 18
de marccedilo de 2018 78 FACIOLE Reinaldo Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de marccedilo de 2018 79 FACIOLE Maria Madalena Scalco Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de marccedilo de 2018 80 FACIOLE Reinaldo Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de marccedilo de 2018
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de boi eu cheguei a ver cinco ternos de boi carreiro81 emendado puxando um
pinheiro eacute uma bicheira de boi natildeo tinha outra formardquo
Rincatildeo dos Kroeff eacute o menor distrito de Satildeo Francisco de Paula poreacutem em
suas terras se desenvolveu a cultura dos hortifrutigranjeiros desde muito cedo jaacute
que sua colonizaccedilatildeo eacute basicamente italiana e alematilde e os italianos tecircm a cultura do
plantio visando lucro A moradora Faciole82 afirma ldquotudo comeccedilou por aqui depois
se expandiu para o municiacutepio comeccedilamos com moranga branca depois repolho
couve broacutecolis alface e daiacute veio beterraba e tudo o restordquo Acrescenta ainda83 que
ldquodaqui saiacuteram os primeiros caminhotildees de hortifruacuteti do municiacutepio para a Ceasa teve
eacutepoca de sair quarenta caminhotildees por dia do Rincatildeo hoje natildeo sai mais porque
muitos foram buscar novos lugares para plantarrdquo E juntamente com a mudanccedila dos
proprietaacuterios em busca de novas terras muitos de seus funcionaacuterios foram embora
junto afirma em entrevista o morador local84 ldquomuita gente do Rincatildeo foi embora
muitas gurias foram embora para estudar para achar emprego e natildeo voltaram maisrdquo
Atraveacutes da fala da moradora pode-se observar que apesar do distrito ser
produtivo enfrenta algumas dificuldades com relaccedilatildeo ao estudo de seus moradores
que para continuarem seus estudos se assim o desejarem necessitam abandonar
seus pais e ir em busca na Sede ou arredores visto que no distrito existe uma uacutenica
escola Gastatilde Henth Esta eacute municipal e atende dos quatro anos ao nono ano do
ensino fundamental A moradora Faciole explica
O coleacutegio hoje tem 99 alunos ao total quando eles terminam o nono ano alguns vatildeo estudar mas satildeo pouquiacutessimos os outros ficam por aiacute mesmo natildeo tem um transporte que leve eles para fazer o ensino meacutedio na Sede que seria a escola de ensino meacutedio mais proacuteximo se quiser estudar vai ter que ir embora reforccedila quem e trabalhador fica trabalhando com os pais quem natildeo eacute [] As pessoas na sua grande maioria soacute tem o ensino fundamental aqui85
Este eacute um dos grandes problemas enfrentados pelos moradores do Rincatildeo
dos Kroeff a possibilidade de continuar estudando A escola que laacute existe os
moradores locais natildeo sabem precisar a data mas sabem que foi durante o mandato
81 Ternos de boi carreiro significam vaacuterias duplas de bois cangados e ligados por um pedaccedilo de
madeira que vatildeo na canga entre a dupla de bois Esse pau roliccedilo na regiatildeo se chama de cambatildeo 82 FACIOLE Maria Madalena Scalco Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de marccedilo de 2018 83 FACIOLE Maria Madalena Scalco Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de marccedilo de 2018 84 FACIOLE Reinaldo Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de marccedilo de 2018 85 FACIOLE Maria Madalena Scalco Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de maio de 2018
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do prefeito Escobar (1977-1982) que ela foi construiacuteda Neste contexto aparece
tambeacutem a dificuldade de se locomover fazendo uso do transporte puacuteblico
Haacute sete anos atraacutes o Rincatildeo estava bom mesmo tinha ocircnibus da praia agraves vezes passava quatro a cinco ocircnibus da praia tudo pela serra do Umbu Agora soacute tem um trecircs dias por semana As empresas deixaram de trafegar por aqui elas natildeo vatildeo descer numa serra de chatildeo batido sendo que tem a outra86 com asfalto87
Os moradores se orgulham da festa religiosa que acontece todos os anos em
agosto sendo que o santo padroeiro eacute Satildeo Roque A festa da comunidade
apresenta uma tradiccedilatildeo local muito interessante na segunda-feira apoacutes a festa ela
continua para os moradores locais que vatildeo ao salatildeo paroquial para se divertir entre
si e esta eacute uma tradiccedilatildeo que eacute comentada em todo o municiacutepio Faciole88 saudoso
afirma ldquopara ti ter uma ideia nessa festa chegava dar vinte poucos ocircnibus lotado que
vinham de outros municiacutepios como Igrejinha Taquara Porto Alegre Novo
Hamburgo o espaccedilo ficava pequenordquo Acrescenta89 ainda ldquoaqui noacutes tinha o Clube
Serrano que dava baile janta italiana dava um movimento louco mas terminou ateacute
o baile das rainhas cada ano era uma era tatildeo lindo mas tudo se acabourdquo
Figura 20 ndash Imagem da Igreja Satildeo Roque em dia de festa no Rincatildeo dos Kroeff
Fonte acervo pessoal da autora (2018)
86 A outra se refere a rodovia RS-453 conhecida como Rota do Sol 87 FACIOLE Reinaldo Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de marccedilo de 2018 88 FACIOLE Reinaldo Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de marccedilo de 2018 89 FACIOLE Reinaldo Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de marccedilo de 2018
70
Percebe-se que o distrito Rincatildeo dos Kroeff eacute o uacutenico que obteve em seu
iniacutecio uma colonizaccedilatildeo por descentes de italianos dentro do municiacutepio de Satildeo
Francisco de Paula o que demonstra o quatildeo forte se daacute a tradiccedilatildeo ldquoitalianardquo neste
local permanecendo intriacutenseca na vida cotidiana de seu povo com a cultura do
plantio de hortifrutigranjeiros que permanece apesar do tempo como sendo a sua
maior identidade local
47 DISTRITO DE LAJEADO GRANDE
Lajeado Grande em tempos idos pertenceu ao distrito de Cazuza Ferreira e
somente em 12 de dezembro de 1968 se tornou um distrito independente segundo
a Lei nordm 655 encontrada nos autos da Prefeitura Municipal de Satildeo Francisco de
Paula A vila do distrito Lajeado Grande fica distante 63 quilocircmetros da Sede e se
situa na confluecircncia do Arroio Porco Morto e o Rio Bururi Seu surgimento acontece
segundo o morador Fogaccedila90 ldquopor volta de 1940 com a abertura da estrada Canela
ndash Bom Jesus a atual RS-476 que corta a vila do Distritordquo Essa estrada segundo o
morador facilitou a locomoccedilatildeo que anteriormente era feita totalmente pelas trilhas e
picadas por onde somente se passava a cavalo ou de carreta E o entrevistado
explica como acontece o desenvolvimento inicial da vila
Tu sabe aqui tem o nome de Lajeado Grande por causa do rio que eacute cheio de lajes grandes o que facilitava a travessia e as terras aqui por roda era tudo do falecido Pequeno Cardoso ele doou parte para a construccedilatildeo da vila onde o falecido Leopoldino Cardoso irmatildeo do Pequeno tinha uma lsquobudega velharsquo91 por aqui sendo o primeiro comeacutercio da vila92
A abertura da estrada possibilitou o desenvolvimento da vila juntamente com
o Casaratildeo um hotel pensatildeo que foi construiacutedo as margens do Arroio Porco Morto
este Casaratildeo passou por diversos proprietaacuterios
Leopoldino Cardoso foi o idealizador do Casaratildeo juntamente com os seus soacutecios Heraacuteclito Andrade de Cardoso lsquoJoanitorsquo Joseacute Osoacuterio de Lima lsquoZecarsquo e Pequeno Cardoso sendo que o Casaratildeo era uma casa de negoacutecio compravam queijo couro era um comeacutercio forte vendia secos e molhados inclusive a primeira rodoviaacuteria foi instalada neste espaccedilo poreacutem em 1948 Joatildeo Pacheco Cardoso assume e amplia o estabelecimento construindo o segundo piso da casa de madeira e alugando para outros dois moradores
90 FOGACcedilA Blair dos Santos Entrevista concedida agrave autora no dia 06 de abril de 2018 91 Budega velha referindo-se a uma antiga casa de comeacutercio de secos e molhados localizada onde
hoje se encontra o armazeacutem Celeiro 92 FOGACcedilA Blair dos Santos Entrevista concedida agrave autora no dia 06 de abril de 2018
71
Eremi Terres e Claunir Lucena Com a reforma o Casaratildeo passa a ter treze quartos para aluguel uma loja onde encontrava-se tudo o que se necessitava de alfinete tecido alimentos e raccedilotildees aleacutem da ala que servia de moradia para os proprietaacuterios Em 1962 o estabelecimento eacute alugado para Eraldo Bento de Oliveira que aleacutem de gerenciar o estabelecimento colocou junto um bar local de encontro dos homens da redondeza para tomar um lsquotragorsquo93 (CERUTTI SILVA CARDOSO 2002 p 19)
Figura 21 ndash Imagem do Casaratildeo pouco antes de ser desmanchado
Fonte acervo pessoal de Fernando Oliveira (conhecido como Guego) (2018)
O Casaratildeo foi desmanchado na deacutecada de 1980 pelo entatildeo proprietaacuterio Reno
Pacheco Poreacutem percebe-se na vila que seus antigos moradores falam com certo
saudosismo deste estabelecimento que fez parte de suas vidas e chegam a
lamentar o seu fim morador Fogaccedila94 afirma ldquoali se fez o pastel mais famoso do
Lajeado Grande o pastel da Odila mas tudo se acabou quando eles entregaram e
construiacuteram laacute na esquinardquo95
Poreacutem a vila Lajeado Grande foi lentamente se desenvolvendo Devido agrave
necessidade da conservaccedilatildeo da nova estrada foi construiacuteda agraves margens do Rio
Bururi uma capatazia do DAER Segundo Cerutti Silva e Cardoso (2002 p 18) ldquoo
primeiro capataz foi Capitulino Prudecircncio de Oliveira vindo de Santa Catarina sua
funccedilatildeo era manter as estradas e chegou a ter vinte funcionaacuteriosrdquo Percebe-se que a
93 Trago expressatildeo local que significa beber uma cachaccedila 94 FOGACcedilA Blair dos Santos Entrevista concedida agrave autora no dia 06 de abril de 2018 95 Esquina eacute o nome dado a parte da vila do Lajeado Grande onde se daacute o entroncamento das
rodovias RS-453 e ERS-476
72
partir deste momento se inserem neste distrito pessoas advindas de outros estados
e locais visto que ateacute o presente momento o distrito era habitado por fazendeiros
naturais do proacuteprio municiacutepio e que tinham suas vidas ligadas diretamente agrave
pecuaacuteria extensiva e agrave produccedilatildeo do queijo serrano Importante destacar que a
esposa de Capitulino segundo Cerutti Silva e Cardoso (2002 p 18) ldquoa Celicina
Guilherme da Silva se torna uma figura conhecida por realizar partos sendo
chamada como parteira de campanhardquo Na atualidade filhos netos e bisnetos do
casal ainda residem na vila
A vila do Lajeado Grande tambeacutem recebe novos moradores com a praacutetica do
corte do pinheiro nativo sendo que na deacutecada de 1950 havia uma faacutebrica de
beneficiamento de madeira ateacute se transformar em pasta este material era levado
para Esteio onde funcionava agrave matriz A partir dos anos 1950 ocorre a instalaccedilatildeo de
serrarias sendo que a Madeireira Albeflor de propriedade de Valter Sguaizer se
instala em 1964 Novamente busca-se matildeo de obra em localidades proacuteximas como
Lagoa Vermelha Vacaria e Bom Jesus poreacutem com a proibiccedilatildeo da extraccedilatildeo de
madeira de lei a serraria deixou de funcionar
Percebe-se que no distrito natildeo houve uma homogeneizaccedilatildeo identitaacuteria visto a
influecircncia advinda de muitas culturas no passado atraveacutes da extraccedilatildeo de madeira
e na atualidade com o advento das lavouras de hortifrutigranjeiros e pomares
frutiacuteferos que ocupam boa parte do distrito substituindo a pecuaacuteria extensiva que jaacute
natildeo proporciona um lucro efetivo Entatildeo os proprietaacuterios na sua grande maioria
venderam ou arrendaram suas terras para novas culturas o que modifica o modo de
vida local pois grande parte dos trabalhadores adveacutem de outros estados como o
Paranaacute e tambeacutem se observa o uso da matildeo de obra indiacutegena
Essa miscigenaccedilatildeo se observa nas escolas locais visto que na vila funciona a
Escola Municipal D Pedro I que segundo Cerutti Silva e Cardoso (2002 p 35)
ldquoinicia em 1965 poreacutem a professora e o preacutedio eram mantidos pela Serraria mas na
deacutecada de 70 a prefeitura assumiu a escola sendo que Eloci Martim foi a primeira
professora da Serrariardquo Escola da Serraria como ainda eacute conhecida por boa parte
dos moradores locais apesar de a escola natildeo se encontrar mais onde havia a antiga
serraria Atualmente a Escola Dom Pedro I funciona em um preacutedio obtido atraveacutes da
Associaccedilatildeo de Moradores atendendo alunos da preacute-escola ateacute o sexto ano das
seacuteries finais tendo em seu quadro seis professores e duas funcionaacuterias Sendo que
73
a obra para um novo preacutedio teve iniacutecio neste ano mas percebe-se que a obra parou
por volta do mecircs de maio Poreacutem na vila tambeacutem se encontra uma escola estadual
A documentaccedilatildeo necessaacuteria para a criaccedilatildeo de uma nova escola na localidade foi elaborada por Manoel Cardoso de Andrade juntamente com a professora Odazilda Cardoso Demori e encaminhada agrave Secretaria da Educaccedilatildeo sendo que em 11 de fevereiro de 1953 foi criada a Escola Isolada de Lajeado Grande sendo os professores estaduais mas o preacutedio sob responsabilidade comunitaacuteria iniciou o seu funcionamento nas dependecircncias do DAER e somente em 1957 foi construiacutedo um preacutedio de madeira em terras doadas por Pequeno Cardoso local onde hoje ainda se encontra a escola poreacutem passou por muitas reformas sendo que em 2000 recebeu um novo preacutedio de alvenaria o que possibilitou a realizaccedilatildeo de um grande sonho dos professores e comunidade a implantaccedilatildeo do Ensino Meacutedio que concretizou-se em 200296
Atualmente a escola atende em torno de trezentos alunos da Educaccedilatildeo
Baacutesica poreacutem percebe-se que devido agraves safras de hortifrutigranjeiros o nuacutemero de
alunos se alterna durante o ano O que tambeacutem se percebe eacute o comportamento dos
alunos com relaccedilatildeo agrave diversidade cultural por exemplo usam bombacha laccedilam boi
de pau no recreio e escutam funk uma cultura totalmente diferente da tradicionalista
gauacutecha o que compreende-se como algo advindo da globalizaccedilatildeo cultural que
vivemos no mundo atual reforccedilando novamente o natildeo reconhecimento de uma
identidade forte na localidade
Poreacutem as famiacutelias tradicionais do local manteacutem fortemente arraigada a
cultura tradicionalista que adveacutem do homem do campo tendo no distrito festas
campeiras torneios de laccedilo e a festa religiosa uma vez por ano em homenagem ao
Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus padroeiro da vila
Na atualidade natildeo se percebe uma identidade forte e marcada no distrito e
sim uma miscigenaccedilatildeo de diferentes culturas e etnias que convivem e se integram
harmonicamente
96 CARDOSO Amaacutelia Celuderes Entrevista concedida agrave autora no dia 08 de marccedilo de 2018
74
5 DESCRICcedilAtildeO DO PRODUTO
O produto consiste em um livro paradidaacutetico sobre a histoacuteria de Satildeo Francisco
de Paula Apresenta de maneira didaacutetica a histoacuteria de Satildeo Francisco de Paula bem
como balotildees explicativos imagens sugestotildees de atividades e leituras
complementares Poderaacute servir de apoio pedagoacutegico a professores e alunos do
municiacutepio visto que existe pouco material sobre a histoacuteria deste municiacutepio e se faz
importante trabalhar a histoacuteria local percepccedilatildeo que a autora obteve ao longo da sua
caminhada como professora de histoacuteria que atua nas seacuteries finais do ensino
fundamental e meacutedio haacute dezessete anos na rede estadual do municiacutepio
Partir do local natildeo eacute abandonar o conhecimento histoacuterico eacute dar outro valor
sentido para este conhecimento Segundo Caimi
Levar em conta o universo da crianccedila ou do adolescente natildeo eacute pois abdicar do rigor intelectual [] mas garantir que a apropriaccedilatildeo deste conhecimento ocorra permeada de sentido e significado resultando em soacutelidas aprendizagens (CAIMI 2006 p 24)
Seguindo esta perspectiva a implantaccedilatildeo do Referencial Curricular Gauacutecho
embasado na Base Nacional Comum Curricular reforccedila a ideia jaacute discutida nos
paraacutegrafos anteriores
No que se refere especificamente ao componente Histoacuteria a base rompe tanto com a cronologia quanto agrave visatildeo eurocecircntrica da histoacuteria tradicional Entram em cena novos atores novas sociedades novos caminhos que sempre tiveram na histoacuteria mas nem sempre receberam a devida importacircncia Acompanhando a Base Nacional Comum Curricular o Referencial Curricular Gauacutecho no que se refere especificamente agrave disciplina de Histoacuteria manteacutem seu foco na aprendizagem dos alunos nos diferentes espaccedilos e tempos tendo a preocupaccedilatildeo de integrar o curriacuteculo com a diversidade regional de nosso Estado Tambeacutem eacute importante contemplar os temas integradores como eacutetica cidadania cultura e valorizaccedilatildeo das diversidades assegurando a multiplicidade de olhares sobre o mundo (RIO GRANDE DO SUL 2018 p 118)
Portanto o paradidaacutetico seraacute mais um material disponiacutevel aos professores e
estudantes da educaccedilatildeo baacutesica de Satildeo Francisco de Paula na construccedilatildeo do
conhecimento da histoacuteria do municiacutepio bem como o reconhecimento de sua
identidade neste material visto que se almeja que os estudantes percebam
vestiacutegios de sua identidade e se percebam como parte deste municiacutepio atraveacutes do
conhecimento de sua histoacuteria
75
O paradidaacutetico vem com o tiacutetulo rdquoTropeando histoacuterias em Satildeo Francisco de
Paulardquo sendo que a capa traz a foto do Monumento aos Carreteiros monumento
que se encontra na Avenida Juacutelio de Castilhos em frente ao preacutedio da Prefeitura
Municipal
Figura 22 ndash Capa do livro
Fonte Livro Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula
Na sequecircncia se apresenta o iacutendice que possibilita ao leitor localizar os
diversos temas abordados visto que existem nove capiacutetulos
76
Figura 23 ndash Iacutendice do livro
Fonte Livro Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula
77
O capiacutetulo um apresenta a localizaccedilatildeo de Satildeo Francisco de Paula com uma
seacuterie de mapas que facilitam a compreensatildeo espacial dos alunos assim como um
mapa da subdivisatildeo do municiacutepio em distrito Ao final satildeo sugeridas duas atividades
que podem ser desenvolvidas de maneira interdisciplinar com o apoio da professora
de arte geografia e portuguecircs
Figura 24 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 1)
Fonte Livro Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula
78
Figura 25 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 1)
Fonte Livro Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula
O capiacutetulo dois aborda a existecircncia indiacutegena em Satildeo Francisco de Paula
antes da chegada dos desbravadores vindos de Satildeo Paulo Como sugestatildeo de
atividades apresenta-se uma pesquisa sobre as diferentes tribos indiacutegenas que
habitavam a Proviacutencia de Satildeo Pedro aleacutem da criaccedilatildeo de um painel infograacutefico
79
Figura 26 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 2)
Fonte Livro Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula
No capiacutetulo trecircs se apresentam os primeiros donataacuterios colonizadores de Satildeo
Francisco de Paula com trecho de um testamento deixado por Pedro da Silva
Chaves o fundador de Satildeo Francisco de Paula bem como o mapa que localiza as
primeiras sesmarias que corresponde ao territoacuterio onde hoje eacute a Sede do municiacutepio
80
Figura 27 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 3)
Fonte Livro Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula
Nos capiacutetulos quatro e cinco eacute apresentado o desenvolvimento de Satildeo
Francisco de Paula ainda no seacuteculo XIX quando pertencia ao municiacutepio de Santo
Antocircnio da Patrulha e no final do seacuteculo XIX quando passa a pertencer ao entatildeo
81
municiacutepio de Taquara do Mundo Novo Existe tambeacutem um mapa que demonstra a
extensatildeo territorial de Santo Antocircnio da Patrulha e quais satildeo os municiacutepios hoje que
pertenceram a este bem como a importacircncia da abertura da estrada que liga Satildeo
Francisco de Paula a Taquara
Figura 28 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 4)
Fonte Livro Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula
82
Os capiacutetulos seis e sete apontam a construccedilatildeo do Municiacutepio a partir de sua
emancipaccedilatildeo em 1903 sua extensatildeo territorial e a diminuiccedilatildeo do seu territoacuterio ao
longo do tempo e a histoacuteria da Igreja Matriz Como sugestatildeo de atividade pesquisar
a diversidade religiosa existente na comunidade escolar e criar graacuteficos com essas
informaccedilotildees podendo a partir de entatildeo trabalhar com as questotildees religiosas ontem
e hoje no mundo
Figura 29 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 6)
Fonte Livro Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula
83
No capiacutetulo oito se apresenta o que difere os sete distritos de Satildeo Francisco
de Paula Este capiacutetulo se apresenta subdividido em sete subtiacutetulos onde cada um
corresponde a um distrito do municiacutepio Tendo como fonte principal as entrevistas
realizadas com moradores locais mesclado com fontes documentais e bibliograacuteficas
que corroboram para se perceber que haacute alguns distritos que manteacutem suas tradiccedilotildees
ao longo do tempo e eacute possiacutevel perceber que existe uma identidade que aproxima
aquela populaccedilatildeo
Figura 30 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 8)
Fonte Livro Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula
84
No uacuteltimo capiacutetulo o nove se exibe uma lista de sugestotildees de leituras
complementares a fim de se aprofundarem sobre determinados temas E por fim
as referecircncias utilizadas para a construccedilatildeo do paradidaacutetico Tropeando Histoacuterias em
Satildeo Francisco de Paula
Figura 31 ndash Atividade do livro (Sugestatildeo de Leituras Complementares)
Fonte Livro Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula
85
O produto foi testado em duas turmas da Educaccedilatildeo Baacutesica na Escola
Estadual de Ensino Meacutedio Lajeado Grande com o propoacutesito de avaliar qual seria a
reaccedilatildeo dos estudantes diante do material e por ele ter sido produzido por algueacutem
que convive com eles semanalmente A receptividade foi bastante gratificante como
se pode observar na Figura 32
Figura 32 ndash Alunos do Ensino Meacutedio
Fonte acervo pessoal da autora (2019)
A receptividade foi muito interessante visto que os estudantes
acompanharam a trajetoacuteria para chegar ao produto final algo que os deixava
ansiosos para manusear pois muitas vezes foram parceiros A autora foi
compartilhando com os estudantes as informaccedilotildees obtidas durante a pesquisa e as
descobertas encontradas usando em suas aulas a histoacuteria local para abordar os
diferentes temas e conceitos histoacutericos
Quando a autora apresenta o produto os estudantes do ensino meacutedio estes
formam grupos por distritos e buscam logo reconhecer no material sua identidade
apoacutes comentam sobre as peculiaridades de cada distrito Poreacutem os alunos do
ensino fundamental manuseiam o produto mas natildeo se deteacutem ao distrito em que
pertence e sim as imagens e as explicaccedilotildees apresentadas no vocecirc sabia
O que enriquece o trabalho realizado foi o envolvimento dos estudantes com
o produto solicitando quando poderatildeo ler calmamente todo o trabalho
86
6 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
A partir de experiecircncias pessoais em sala de aula se percebeu que o ensino
de Histoacuteria quando se partia da histoacuteria local havia maior interesse dos estudantes
da educaccedilatildeo baacutesica motivo pelo qual se deu a questatildeo-problema desta dissertaccedilatildeo
que estaacute relacionada diretamente com o natildeo uso desta histoacuteria pelos professores da
educaccedilatildeo baacutesica
Em conversas informais com professores da educaccedilatildeo baacutesica que atuam no
municiacutepio de Satildeo Francisco de Paula em sua grande maioria alegam que o grande
empecilho para se trabalhar a histoacuteria local eacute o pouco material disponiacutevel sobre a
histoacuteria de Satildeo Francisco de Paula aleacutem do rigor dos curriacuteculos que impotildeem o
ensino de Histoacuteria de maneira linear sem contextualizaccedilatildeo com a realidade vivida
pelos estudantes pois desta forma natildeo estatildeo preparando os estudantes para as
avaliaccedilotildees do Ministeacuterio da Educaccedilatildeo bem como para o vestibular Poreacutem natildeo se
estaacute afirmando que deveraacute estudar somente a histoacuteria local e sim partir dela como
incentivo para estudos dos conceitos e temaacuteticas da histoacuteria por muitas vezes
totalmente abstrato e de difiacutecil compreensatildeo pela grande maioria dos estudantes
A partir de entatildeo se realizaram inuacutemeros questionamentos como qual a
necessidade de se ensinar Histoacuteria de forma abstrata sem nenhuma relaccedilatildeo com
as vivecircncias dos estudantes Por que natildeo usar a fonte oral como metodologia de
pesquisa no ensino de Histoacuteria em Satildeo Francisco de Paula jaacute que natildeo existem
muitos materiais escritos a respeito desta histoacuteria principalmente no que tange os
distritos do interior Poreacutem estes questionamentos natildeo foram aprofundados na
dissertaccedilatildeo por natildeo ser o objetivo direto da pesquisa mas posteriormente poderaacute
se tornar um novo projeto de pesquisa
Nesta incessante busca por resposta se constroacutei todo o estudo desta
dissertaccedilatildeo que em um primeiro momento busca embasamento em diferentes
autores que comprovam que o ensino de Histoacuteria voltado para o local faz maior
sentido para os estudantes da educaccedilatildeo baacutesica e que isto natildeo significa abandonar
os conceitos histoacutericos e sim questionar analisar a trajetoacuteria humana no tempo e
no espaccedilo sob uma nova metodologia Apenas se sugere uma nova abordagem
que torne o ensino de Histoacuteria menos abstrato algo mais presente na vida do
estudante e que possibilite a ele a habilidade de perceber que o mundo estaacute em
constante mudanccedila poreacutem os fatos natildeo ocorrem de forma isolada no espaccedilo Algo
87
que foi reforccedilado apoacutes a construccedilatildeo da Base Nacional Curricular e o Referencial
Curricular Gauacutecho que vem de encontro com esta proposta de se estudar a histoacuteria
sobre novos olhares natildeo esquecendo das especificidades regionais do estado do
Rio Grande do Sul para o reconhecimento da identidade local e regional
A identidade local nesta pesquisa se buscou atraveacutes de relatos de
moradores locais que gentilmente colaboraram para o sucesso deste trabalho pois
a memoacuteria se tornou a fonte primordial para se escrever o que identifica os sete
distritos que constituem Satildeo Francisco de Paula Certamente a temaacutetica natildeo se
esgotou ainda haacute muito que se pesquisar e escrever sobre a histoacuteria de Satildeo
Francisco de Paula possibilitando a criaccedilatildeo de novos materiais que possam ser
usados em sala de aula pelos professores e alunos deste municiacutepio
Mas ao mesmo tempo haacute uma preocupaccedilatildeo por parte da autora nada
adianta criar produtos sinalizar novos meacutetodos ao ensino de Histoacuteria se o
profissional professor natildeo estiver preparado para trabalhar com novas fontes
histoacutericas novas metodologias de ensino proporcionando aos estudantes a
oportunidade de construir seu proacuteprio conhecimento histoacuterico embasado em sua
realidade e suas vivecircncias
Vivecircncias que se tornaram aliadas na pesquisa pois a autora nasceu e
sempre viveu no municiacutepio de Satildeo Francisco de Paula poreacutem a maior dificuldade
encontrada nesta caminhada foi percorrer grandes distacircncias por estradas de
rodagem em peacutessimas condiccedilotildees de trafegabilidade para gravar os relatos que
servem de base para a construccedilatildeo desta pesquisa O municiacutepio de Satildeo Francisco de
Paula eacute territorialmente extenso e essas distacircncias percorridas deram o nome ao
produto Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula como uma homenagem
aos antigos tropeiros deste municiacutepio que passavam boa parte de sua vida ao
lombo de mulas levando e buscando mercadorias pelos campos de cima da serra
Visto que desde o processo seletivo do mestrado em agosto de 2016
quando se apresentou o projeto de pesquisa jaacute se pensava no produto um livro
paradidaacutetico no formato fiacutesico A autora por diversas vezes foi questionada por que
natildeo um blog ou site Porque na forma fiacutesica este material seria de faacutecil manuseio
pelos estudantes e professores pois principalmente no interior uso da internet ainda
eacute um problema visto que em muitos locais natildeo existe sinal de telefonia diraacute
internet
88
O paradidaacutetico foi se moldando ao longo do tempo ateacute se chegar a versatildeo
final com uma ampla gama de informaccedilotildees e curiosidades sobre os sete distritos de
Satildeo Francisco de Paula onde se pretende que os alunos e professores possam
fazer uso deste material em sala de aula para tanto a autora pretende
posteriormente lanccedilar o produto para que possa ser lido e manuseado por todos
inclusive por aqueles que gostam de histoacuteria e sentem curiosidade sobre a formaccedilatildeo
do seu distrito e por conseguinte do municiacutepio de Satildeo Francisco de Paula
O paradidaacutetico foi testado em duas turmas da Escola Estadual de Ensino
Meacutedio Lajeado Grande sendo uma de Ensino Meacutedio e a outra das seacuteries finais do
Ensino Fundamental Os alunos jaacute detinham o conhecimento que a autora estava
cursando o Mestrado e que para sua conclusatildeo deveria apresentar um produto Era
de conhecimento de todos os estudantes que a autora estava produzindo um
paradidaacutetico sobre a histoacuteria de Satildeo Francisco de Paula pois a mesma eacute professora
destes estudantes nesta escola
Em um primeiro momento se explica que eacute apenas um protoacutetipo que
somente a capa estaacute colorida e o restante estaacute todo em preto e branco e que a
versatildeo final teraacute as imagens e as curiosidades coloridas o que com certeza
chamaraacute mais atenccedilatildeo Ao entregar o paradidaacutetico Tropeando Histoacuterias em Satildeo
Francisco de Paula para que possam manuseaacute-lo veio a primeira grande surpresa
os estudantes ficaram muito contentes por a turma ter sido escolhida pela autora
escolha essa que se justifica por ter trabalhado todo o ano de 2017 com estes
alunos partindo da histoacuteria local
A turma do oitavo ano do Ensino Fundamental manuseou sendo que os
alunos acharam interessante poreacutem se deteram mais nas imagens e balotildees do
ldquovocecirc sabiardquo Mas de maneira ampla e geral acharam muito interessante a foto de
capa com o Monumento aos Carreteiros situado na Avenida Juacutelio de Castilhos em
frente ao preacutedio da Prefeitura Municipal pois alguns natildeo conhecem a Sede do
municiacutepio
Os alunos do segundo ano do Ensino Meacutedio se surpreenderam e foram direto
ler sobre o distrito no qual residem Interessados questionaram sobre curiosidades
de como o material foi construiacutedo quais as maiores dificuldades encontradas
elogiaram o leiaute as imagens de fundo ao lado de cada curiosidade relatando que
chama a atenccedilatildeo aleacutem de considerarem relevantes as sugestotildees de atividades e
ao final solicitaram quando o material estaraacute disponiacutevel para que possam ler
89
integralmente visto que um periacuteodo de cinquenta minutos natildeo foi suficiente para que
todos manuseassem se fazendo necessaacuterio levar novamente na proacutexima aula
A autora se sentiu motivada pela recepccedilatildeo do produto por seus alunos o que
a incentiva continuar pesquisando sobre outras temaacuteticas a respeito da histoacuteria de
Satildeo Francisco de Paula trazendo para seu fazer pedagoacutegico novas fontes que
proporcionem um estudo da Histoacuteria de maneira ampla e contextualizada com a
realidade local que os cerca
90
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Jornal Folha da Serra n 25 do dia 31 de dezembro de 1968
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Jornal Satildeo Chico Tchecirc n 11 do dia 25 de maio de 1986
Jornal Satildeo Chico Tchecirc n 12 do dia 28 de maio de 1986
Jornal Pioneiro versatildeo digital do dia 02 de junho de 2017
Entrevistas
Amaacutelia Celuderes Cardoso residente no distrito de Lajeado Grande Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 08 de marccedilo de 2018
Blair dos Santos Fogaccedila residente no distrito de Lajeado Grande Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 06 de abril de 2018
Ceacutelia Pacheco Terres Basso residente no distrito de Cazuza Ferreira Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 04 de agosto de 2018
Darci da Silva Fagundes residente no distrito de Tainhas Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 24 de fevereiro de 2018
Deotildes Palhano dos Santos residente no distrito do Juaacute Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 12 de maio de 2018
Jaures Feijoacute Gomes residente no distrito de Eletra Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 15 de fevereiro de 2018
Luciana Olga Soares residente no distrito Sede Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 01 de marccedilo de 2018
Maria Madalena Scalco Faciole residente no distrito do Rincatildeo dos Kroeff Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 18 de marccedilo de 2018
Moacir Castello Branco de Albuquerque residente no distrito Sede Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 06 abril de 2018
95
Nauro Bossle de Andrade residente no distrito de Cazuza Ferreira Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 04 de marccedilo de 2018
Orides Reis residente no distrito do Juaacute Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 12 de maio de 2018
Reinaldo Faciole residente no distrito do Rincatildeo dos Kroeff Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 18 de marccedilo de 2018
Susana Marques Soares residente no distrito de Eletra Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 15 de fevereiro de 2018
96
APEcircNDICES
97
APEcircNDICE A ndash ENTREVISTA COM MORADORES LOCAIS DOS DISTRITOS DE
SAtildeO FRANCISCO DE PAULA
UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL
PROGRAMA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO EM HISTOacuteRIA ndash MESTRADO EM HISTOacuteRIA PROFISSIONAL
PESQUISA DE CAMPO ndash TATIANA MEacuteLO CARDOSO
1 Nome completo
2 Idade
3 Quantos anos reside neste distrito
4 Como se formou este distrito
5 Por que ele tem esse nome
6 Quem foram os primeiros moradores
7 Como era a vida aqui haacute tempos atraacutes
8 O que mudou aqui com o passar dos anos
9 O que identifica este lugar
10 As pessoas hoje que moram aqui na grande maioria satildeo naturais daqui ou vieram
de onde
11 A(o) Sra(Sr) acredita que as futuras geraccedilotildees valorizaram eou conheceram a
histoacuteria local ou vai se perder no tempo
12 Como funcionava a questatildeo do ensino em meados do seacuteculo XX havia escola na
localidade
13 Qual a primeira escola deste distrito data de fundaccedilatildeo local de funcionamento e a
primeira professora
14 Achas importante trabalhar nas escolas a histoacuteria do lugar
15 O que eacute tradiccedilatildeo deste distrito
16 Qual eacute a fonte de renda das pessoas no que elas trabalham
17 Qual eacute o lazer das pessoas aqui
98
APEcircNDICE B ndash TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Declaro por meio deste termo que concordei em ser entrevistado(a) eou participar na
pesquisa de campo referente ao projetopesquisa Ensino de Histoacuteria Local e o Paradidaacutetico
caso Satildeo Francisco de Paula desenvolvida pela aluna Tatiana Meacutelo Cardoso do Programa de
Poacutes-Graduaccedilatildeo em Histoacuteria ndash Mestrado Profissional da Universidade de Caxias de Sul Fui
informado(a) que poderei consultaacute-la a qualquer momento que julgar necessaacuterio atraveacutes do e-
mail t_ati_mhotmailcom
Afirmo que aceitei participar por minha proacutepria vontade sem receber qualquer
incentivo financeiro ou ter qualquer ocircnus e com a finalidade exclusiva de colaborar para o
sucesso da pesquisa Fui informado(a) dos objetivos estritamente acadecircmicos de estudo
Minha colaboraccedilatildeo natildeo ficaraacute anocircnima e foi realizada por meio de entrevista
semiestruturada A anaacutelise dos dados obtidos seratildeo divulgados natildeo permanecendo restritas
apenas a pesquisadora eou seu(s) orientador(es) coordenador(es)
Fui ainda informado(a) de que posso me retirar desse(a) estudopesquisa programa a
qualquer momento sem prejuiacutezo para meu acompanhamento ou sofrer quaisquer sanccedilotildees ou
constrangimentos Atesto recebimento de uma coacutepia assinada deste Termo de Consentimento
Livre e Esclarecido
Satildeo Francisco de Paula ___ de _____________ de ____
Assinatura do(a) participante
Assinatura do responsaacutevel
Dedico esse estudo a todos que fizeram
parte desta caminhada
AGRADECIMENTOS
Agradeccedilo a Deus em primeiro lugar por ter me dado forccedila para me manter
firme no propoacutesito de concluir o mestrado
Aos meus pais Rivan e Benta que sempre estiveram ao meu lado me
apoiando minha eterna gratidatildeo Amo muito vocecircs
Ao meu esposo Norli que esteve presente em todos os momentos com
paciecircncia e muitas vezes me acompanhando durante as pesquisas para que natildeo
fosse soacute Te amo muito
Ao meu filho Bento Manoel pela compreensatildeo de ver sua matildee mergulhada
em livros em frente ao computador sem poder lhe dar muita atenccedilatildeo Minha razatildeo
de viver
Ao meu irmatildeo Tarciano que sempre me incentivou para que fizesse o
mestrado Muito obrigada por suas palavras
Agrave minha orientadora Professora Dra Cristine pelos ensinamentos prestados
por ter me oportunizado vivecircncias tatildeo ricas que com certeza muito colaboraram
para o sucesso desta pesquisa Minha eterna gratidatildeo
Aos professores do Mestrado pelos ensinamentos prestados com certeza
muito agregaram em minha vida profissional A vocecircs meu carinho
Aos entrevistados Sr Dr Moacir Sr Orides Sr Jaures Sr Blair Sr Nauro
Sr Darci Sr Reinaldo e a Sra Susana Sra Luciana Sra Deotildes Sra Ceacutelia Sra
Amaacutelia Celuderes e Sra Maria Madalena pelo apoio recebendo-me em suas
residecircncias e colaborando com esta pesquisa Sem a colaboraccedilatildeo de vocecircs esse
trabalho seria mais difiacutecil A vocecircs meu muito obrigado
Agrave minha amiga Lisandra que sempre me apoiou com suas palavras de
carinho dando-me coragem para prosseguir Agradeccedilo pela sua amizade
E por fim aos meus alunos que compartilharam muitas vezes as minhas
anguacutestias meu cansaccedilo mas sempre me apoiaram Em especial aqueles que
testaram o produto por suas doces palavras Meu eterno agradecimento
RESUMO
A presente dissertaccedilatildeo aborda o ensino de Histoacuteria em Satildeo Francisco de Paula Rio Grande do Sul tendo como princiacutepio que o ensino de Histoacuteria partindo do local se torna mais significativo aos estudantes da educaccedilatildeo baacutesica Para a construccedilatildeo dessa pesquisa se utilizaram diferentes abordagens metodoloacutegicas tais como documentos da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul jornais fontes bibliograacuteficas imagens e depoimentos orais O estudo procurou abordar a construccedilatildeo do municiacutepio bem como o que identifica os sete distritos pertencentes a Satildeo Francisco Paula Como resultado se cria um paradidaacutetico fiacutesico com textos imagens curiosidades sugestotildees de atividades e leituras complementares que serviraacute de apoio pedagoacutegico aos professores e estudantes da educaccedilatildeo baacutesica Espera-se que este material possa servir de pesquisa a todos os interessados
Palavras-chave Ensino de Histoacuteria Satildeo Francisco de Paula Identidade
ABSTRACT
This dissertation deals with History teaching in Satildeo Francisco de Paula Rio Grande do Sul with the principle that History Teaching from the place becomes more meaningful to students of basic education For the construction of this research different methodological approaches are used such as documents of the Legislative Assembly of Rio Grande do Sul newspapers bibliographic sources images and oral testimony The study sought to address the construction of the municipality as well which identifies the seven districts belonging to San Francisco Paula As a result a physical paradidaacutetico is created with texts images curiosities suggestions of activities and complementary readings that will serve as pedagogical support to teachers and students of basic education It is hoped that this material can serve as a research to all interested parties
Keywords Teaching History Satildeo Francisco de Paula Identity
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 ndash Mapa de Identificaccedilatildeo das Sesmarias Serranas 26
Figura 2 ndash Divisatildeo Municipal em 1809 ndash Proviacutencia Satildeo Pedro do Rio Grande do Sul
28
Figura 3 ndash Vista da vila de Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra (1901) 29
Figura 4 ndash Vista Avenida Juacutelio de Castilhos (1923) 30
Figura 5 ndash Abertura da estrada ERS-020 Taquara ndash Satildeo Francisco de Paula de
Cima da Serra 31
Figura 6 ndash Accedilougue Central 33
Figura 7 ndash Igreja Matriz em 1931 34
Figura 8 ndash Igreja Matriz 34
Figura 9 ndash Mapa de localizaccedilatildeo de Satildeo Francisco de Paula 36
Figura 10 ndash Patroa Neuza Reis e sua Comissatildeo 39
Figura 11 ndash Gonzaga dos Reis 48
Figura 12 ndash Outdoor entrada da cidade na ERS-020 50
Figura 13 ndash Praccedila Central de Cazuza Ferreira 52
Figura 14 ndash Hotel do Campo 54
Figura 15 ndash Flacircmula de comemoraccedilatildeo aos 50 anos da entidade 57
Figura 16 ndash Barragem do Salto 58
Figura 17 ndash Igreja Santo Antocircnio ndash Distrito de Eletra 61
Figura 18 ndash Peacute com a fruta conhecido como Juaacute 63
Figura 19 ndash Praccedila Vila do Distrito Juaacute ao fundo cancha de laccedilo 65
Figura 20 ndash Imagem da Igreja Satildeo Roque em dia de festa no Rincatildeo dos Kroeff 69
Figura 21 ndash Imagem do Casaratildeo pouco antes de ser desmanchado 71
Figura 22 ndash Capa do livro 75
Figura 23 ndash Iacutendice do livro 76
Figura 24 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 1) 77
Figura 25 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 1) 78
Figura 26 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 2) 79
Figura 27 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 3) 80
Figura 28 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 4) 81
Figura 29 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 6) 82
Figura 30 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 8) 83
Figura 31 ndash Atividade do livro (Sugestatildeo de Leituras Complementares) 84
Figura 32 ndash Alunos do Ensino Meacutedio 85
SUMAacuteRIO
1 INTRODUCcedilAtildeO 11
2 HISTOacuteRIA LOCAL E O ENSINO DE HISTOacuteRIA NA SALA DE AULA 17
3 SAtildeO FRANCISCO DE PAULA CONSTRUCcedilAtildeO DO MUNICIacutePIO 24
31 CONVERSA COM MEMORIALISTAS 25
32 AMPLIANDO O DIAacuteLOGO COM OS MEMORIALISTAS 28
4 SAtildeO FRANCISCO DE PAULA DISTRITOS EM FOCO 41
41 DISTRITO SEDE 42
42 DISTRITO DE CAZUZA FERREIRA 51
43 DISTRITO DE TAINHAS 55
44 DISTRITO DE ELETRA 58
45 DISTRITO DO JUAacute 62
46 DISTRITO DO RINCAtildeO DOS KROEFF 66
47 DISTRITO DE LAJEADO GRANDE 70
5 DESCRICcedilAtildeO DO PRODUTO 74
6 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 86
REFEREcircNCIAS 90
FONTES CONSULTADAS 94
APEcircNDICES 96
APEcircNDICE A ndash ENTREVISTA COM MORADORES LOCAIS DOS DISTRITOS DE
SAtildeO FRANCISCO DE PAULA 97
APEcircNDICE B ndash TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO 98
11
1 INTRODUCcedilAtildeO
Os meacutetodos de ensino de Histoacuteria no Brasil vem sendo discutidos desde sua
criaccedilatildeo como disciplina Segundo Nadai (1992-1993 p 144) a introduccedilatildeo de
Histoacuteria no curriacuteculo ocorre na terceira metade do seacuteculo XIX no Brasil sendo que
desde entatildeo passa por diversas modificaccedilotildees Segundo Schmidt e Cainelli (2009)
os meacutetodos foram se adequando ao momento histoacuterico brasileiro em um primeiro
momento ensinou-se a histoacuteria da Europa Ocidental como a verdadeira histoacuteria da
civilizaccedilatildeo uma histoacuteria abstrata sem relaccedilatildeo com a vida do aluno Nadai (1992-
1993 p 146) acrescenta que ldquoa histoacuteria da paacutetria surgia como seu apecircndice sem
corpo autocircnomo e ocupando um papel extremamente secundaacuterio consistia num
repositoacuterio de biografias de homens ilustres de datas e batalhasrdquo
Poreacutem a partir de 1860 segundo Schmidt e Cainelli (2009 p 12-13) ldquono
periacuteodo republicano a incorporaccedilatildeo da concepccedilatildeo de que a disciplina Histoacuteria tinha
a responsabilidade de formar cidadatildeos ganha forccedilardquo sendo assim as escolas
primaacuterias e secundaacuterias comeccedilaram incluir em seus programas a histoacuteria nacional
com o intuito da formaccedilatildeo da nacionalidade sendo a paacutetria com seus heroacuteis o
principal foco Desta forma a criaccedilatildeo das diretrizes da Lei de Educaccedilatildeo nordm 569271
reforccedila o modelo jaacute instaurado
Foi oficializado o ensino de Estudos Sociais nas escolas brasileiras ficando os conteuacutedos especiacuteficos da Histoacuteria destinados somente aos alunos do antigo segundo grau A concepccedilatildeo e os conteuacutedos da Histoacuteria continuavam atrelados agraves concepccedilotildees tradicionais (SCHMIDT CAINELLI 2009 p 13)
Com a redemocratizaccedilatildeo na deacutecada de 1980 houve inuacutemeras discussotildees
que elencaram inuacutemeras abordagens e temaacuteticas para o ensino da Histoacuteria na
atualidade as novas tendecircncias se preocupam com a transposiccedilatildeo didaacutetica
valorizando documentos histoacutericos e incorporando novas linguagens e tecnologias
que permitem discussotildees e autonomia de pensamento Neste sentido as novas
concepccedilotildees de ensino de Histoacuteria ao final do seacuteculo XX abrem a possibilidade de
uma nova praacutetica didaacutetica que segundo Azevedo e Stamatto (2010 p 709) ldquobusca
problematizar a relaccedilatildeo passado-presente e em geral tomam a realidade do aluno
como ponto de partidardquo
Por se acreditar em um ensino de Histoacuteria onde a aprendizagem natildeo ocorre
em periacuteodos estanques de forma abstrata e sem relaccedilatildeo com o presente ou seja
12
apresentando de forma linear sem que haja contextualizaccedilatildeo sendo apresentada
atraveacutes de leitura de textos eou resumos permeando com atividades que muitas
vezes natildeo permitem um desenvolvimento de raciociacutenio histoacuterico que contribua para
a construccedilatildeo da cidadania Torna-se urgente pensar em um ensino voltado para a
inclusatildeo de novas contribuiccedilotildees historiograacuteficas como a histoacuteria cultural econocircmica
e social buscando na realidade local subsiacutedios para a aprendizagem Por isso a
presente dissertaccedilatildeo traz a didatizaccedilatildeo da histoacuteria de Satildeo Francisco de Paula visto
que a questatildeo-problema estaacute vinculada ao natildeo uso da histoacuteria local no ensino de
Histoacuteria deste municiacutepio e o pouco material disponiacutevel para o uso dos professores
Parte-se do pressuposto que ao abranger a histoacuteria local os sujeitos se veem como
partiacutecipes desta histoacuteria estudada significando e ressignificando conceitos
histoacutericos
Corroborando com este estudo Cunha (2016) traz consideraccedilotildees importantes
relacionadas ao uso da histoacuteria local O autor aborda como algo essencial para
compreensatildeo da histoacuteria geral na educaccedilatildeo baacutesica o uso da histoacuteria local o que
proporcionaria aos estudantes o reconhecimento como cidadatildeo e a percepccedilatildeo e
identificaccedilatildeo dos lugares de memoacuteria por parte dos alunos bem como o sentimento
de pertencimento do local Desta forma despertaria no aluno o interesse por um
passado aparentemente desligado de sua realidade estabelecendo relaccedilotildees com o
seu cotidiano
Desta maneira acredita-se que os estudantes da educaccedilatildeo baacutesica
compreenderatildeo a histoacuteria como algo que faz parte de suas vidas tornando-se assim
sujeitos da histoacuteria pois se haacute reconhecimento haveraacute tambeacutem o sentimento de
pertencimento que poderaacute ajudaacute-los a manter ou modificar a realidade que os cerca
Assim descrevem Schmidt e Cainelli
Esse sentido do ensinar Histoacuteria natildeo significaria natildeo ter conteuacutedos para serem ensinados mas olhar para estes conteuacutedos a partir da possibilidade de construir com os alunos novas questotildees diante de conteuacutedos e temas propostos pela historiografia Aprender histoacuteria eacute discutir evidecircncias levantar hipoacuteteses dialogar com os sujeitos os tempos e os espaccedilos histoacutericos Eacute olhar para o outro em tempos e espaccedilos diversos (SCHMIDT CAINELLI 2009 p 20)
Dentro desta perspectiva o reconhecimento da memoacuteria social se faz
importante visto que se necessita invocaacute-la para que um determinado grupo ou local
reconheccedila sua identidade social Atraveacutes de entrevistas com moradores de Satildeo
13
Francisco de Paula se invoca a memoacuteria coletiva na busca da identidade dos sete
distritos deste municiacutepio Visto que a histoacuteria de Satildeo Francisco de Paula se inicia por
volta do seacuteculo XVIII quando se datam as primeiras sesmarias1 concedidas ao
capitatildeo Pedro da Silva Chaves Posteriormente o capitatildeo doa parte de suas terras
para a construccedilatildeo do povoado que recebe o nome de Satildeo Francisco de Paula de
Cima da Serra por este ser devoto do Santo Satildeo Francisco Reza no testamento do
capitatildeo Pedro da Silva Chaves que um de seus filhos foi o primeiro paacuteroco a rezar
missa no povoado Satildeo Francisco de Paula pertenceu a Santo Antocircnio da Patrulha
e mais tarde a Taquara emancipando-se em 1902
Haacute pouca bibliografia sobre a histoacuteria de Satildeo Francisco de Paula o que existe
satildeo livros escritos por memorialistas onde se percebe a prioridade pela histoacuteria do
fundador ou seja do Capitatildeo Pedro da Silva Chaves dos iacutendios Caaguaraacutes que
habitavam a regiatildeo assim como os aspectos poliacuteticos administrativos Alguns destes
livros apresentam uma siacutentese cronoloacutegica de fatos importantes e descrevem
superficialmente o jeito de viver do povo serrano2 Mas a histoacuteria de Satildeo Francisco
de Paula estaacute repleta de diferentes identidades que identificam a Sede3 e o Interior4
deste municiacutepio e formam o jeito de viver do seu povo A natildeo exploraccedilatildeo de
elementos culturais que se fazem importantes para a construccedilatildeo de identidade
destes lugares minimiza as memoacuterias e as tradiccedilotildees que ali se apresentam visto
que
as constantes novidades em diferentes campos do saber os avanccedilos da tecnologia as infinitas possibilidades de comunicaccedilatildeo simultacircnea tecircm provocado sobretudo nas novas geraccedilotildees uma sensaccedilatildeo de que o mundo em que se vive eacute dotado de um temporalidade constituiacuteda por um tempo presente contiacutenuo (FIGUEIRA MIRANDA 2012 p 46)
Neste sentido fez-se uso de diferentes fontes para a construccedilatildeo do produto
desta dissertaccedilatildeo que consiste de um paradidaacutetico que possa servir como um
1 Sesmaria Terreno sem culturas ou abandonado que a antiga legislaccedilatildeo portuguesa com base em
praacuteticas medievais determinava que fosse entregue a quem se comprometesse a cultivaacute-lo 2 Serrano gentiacutelico de quem nasce em Satildeo Francisco de Paula 3 Sede distrito criado em 07 de janeiro de 1903 na mesma data da instalaccedilatildeo oficial do Municiacutepio Eacute
o distrito onde se localiza a Prefeitura Municipal Foacuterum agecircncias bancaacuterias loteacutericas hospital casas comerciais e residecircncias particulares Normalmente os moradores do interior quando vatildeo ao distrito se referem como ldquovou a Satildeo Chicordquo e natildeo como ldquovou a Sederdquo
4 Interior Cazuza Ferreira Juaacute Eletra Rincatildeo dos Kroeff Tainhas e Lajeado Grande satildeo distritos que ficam na zona rural apesar de todos terem uma pequena vila que possui pouca infraestrutura Alguns destes distritos ainda usam aacutegua de vertentes sem nenhuma rede de esgoto pois natildeo possuem aacutegua fornecida pela Companhia de Aacutegua e Saneamento (CORSAN)
14
material disponiacutevel a alunos e professores no ensino de Histoacuteria de Satildeo Francisco
de Paula Segundo Munakata entendem-se como paradidaacuteticos
Livros que sem apresentar caracteriacutesticas proacuteprias dos didaacuteticos satildeo adotados no processo de ensino e aprendizagem nas escolas seja como material de consulta do professor seja como material de pesquisa e de apoio agraves atividades do educando (MUNAKATA 1997 p 103)
Para a construccedilatildeo do paradidaacutetico fez-se uso de bibliografias jaacute existentes
jornais e documentos da Assembleia da Legislativa bem como o uso da histoacuteria
oral sendo as entrevistas a fonte primordial para escrever sobre as semelhanccedilas e
diferenccedilas existentes no modo de vida da populaccedilatildeo de Satildeo Francisco de Paula
visto que os depoimentos satildeo importantes na preservaccedilatildeo das memoacuterias tradiccedilotildees
bem como das heranccedilas identitaacuterias Neste sentido Delgado (2003 p 23) discorre
ldquonarrativas memoacuterias histoacuterias e identidades satildeo a humanidade em movimento
Satildeo o olhar que permeiam tempos heterogecircnicos Satildeo a histoacuteria em construccedilatildeo Satildeo
memoacuterias que falamrdquo
Portanto a histoacuteria oral busca registrar as vivecircncias e lembranccedilas de um
determinado grupo Alberti (2008 p 29) assim define ldquohistoacuteria oral natildeo eacute um fim em
si mesma e sim um meio de conhecimentordquo Quando se trabalha com a histoacuteria
oral se faz necessaacuterio valorizar a memoacuteria as identidades e tradiccedilotildees pois estas
formam a histoacuteria local ou seja a histoacuteria dos indiviacuteduos que ali vivem Halbwachs
(2004) afirma que com a perda da memoacuteria coletiva tambeacutem se perdem as
tradiccedilotildees locais tradiccedilotildees essas que identificam o modo de viver de um determinado
local Hobsbawn e Ranger entendem que as tradiccedilotildees podem ou natildeo ser
inventadas
Tradiccedilatildeo inventada entende-se um conjunto de praacuteticas normalmente reguladas por regras taacutecitas ou abertamente aceitas tais praacuteticas de natureza ritual ou simboacutelica visam inculcar certos valores e normas de comportamento atraveacutes da repeticcedilatildeo o que implica automaticamente uma continuidade com relaccedilatildeo ao passado (HOBSBAWN RANGER 2015 p 8)
Hobsbawn e Ranger (2015) ainda acrescem que a criaccedilatildeo de uma tradiccedilatildeo
independe da imposiccedilatildeo de uma nova tradiccedilatildeo o que normalmente ocorre eacute uma
rebeliatildeo cultural que precede da elaboraccedilatildeo de novas tradiccedilotildees que satildeo adotadas
pela populaccedilatildeo e com o tempo passam a se tornar tradiccedilotildees daquele local
formando a identidade local
15
Neste sentido Hall (2011 p 39) discorre que ldquoas identidades satildeo fabricadas
por meio da marcaccedilatildeo da diferenccedilardquo O autor ainda acresce que ldquoa diferenccedila eacute aquilo
que separa uma identidade da outrardquo (HALL 2011 p 41) Dentro desta perspectiva
a memoacuteria que se apresenta atraveacutes de siacutembolos ou tradiccedilotildees respalda a
construccedilatildeo da identidade do povo de Satildeo Francisco de Paula visto que a memoacuteria eacute
a construccedilatildeo do passado de maneira atualizada e renovada no tempo presente
Assim Halbwachs (2004 p 64) descreve que ldquonatildeo eacute na histoacuteria aprendida eacute na
histoacuteria vivida que se apoia nossa memoacuteriardquo Nessa loacutegica o autor ainda descreve
que ldquoo mundo histoacuterico eacute como um oceano onde afluem todas as histoacuterias parciaisrdquo
(p 90)
O municiacutepio de Satildeo Francisco de Paula eacute repleto de tradiccedilotildees que perpassam
o tempo que estatildeo enraizadas no jeito serrano de ser formando a sua identidade
Portanto a histoacuteria de Satildeo Francisco de Paula descrita nesta dissertaccedilatildeo seraacute
apresentada em quatro capiacutetulos
O capiacutetulo dois apresenta a discussatildeo teoacuterica metodoloacutegica sobre a
importacircncia do ensino da Histoacuteria local na sala de aula Tambeacutem conceitos como
memoacuteria e identidade e a importacircncia de se abordar o local em prol do global
No capiacutetulo trecircs aborda-se a construccedilatildeo histoacuterica do municiacutepio de Satildeo
Francisco de Paula que vai desde a chegada do colonizador nesta terra ateacute as
instituiccedilotildees que se formam ao longo do tempo Para isso se faz uso de bibliografias
jaacute existentes como Lucena (1971) Oliveira (1996) Teixeira (2002) Ribeiro (2003)
Alves (2007) e Fonseca (2012) sendo todas essas obras importantes para Satildeo
Francisco de Paula visto que cada uma traz consigo um pouco da histoacuteria deste
municiacutepio poreacutem sente-se falta da identidade e da memoacuteria na construccedilatildeo histoacuterica
As obras satildeo apresentadas sob o mesmo prisma apresentando os iacutendios Caaguaraacutes
e o Capitatildeo Pedro da Silva Chaves os fundadores desta terra dando bastante
ecircnfase aos sobrenomes que ali se desenvolveram Tambeacutem se fez uso de
documentos da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul aleacutem de jornais
encontrados no Arquivo Histoacuterico de Satildeo Francisco de Paula
No capiacutetulo quatro utiliza-se da fonte oral para que sejam identificadas as
diferentes tradiccedilotildees e versotildees da histoacuteria local ou seja a identidade de cada distrito
constituindo assim as particularidades que constroem o municiacutepio de Satildeo Francisco
de Paula Para tanto buscaram-se depoentes nas vilas dos distritos sendo que a
escolha se deu por duas pessoas por distrito sendo um homem e uma mulher
16
totalizando treze depoentes todos da terceira idade pois segundo Bosi (1994 p
82) ldquoum mundo social que possui uma riqueza e uma diversidade que natildeo
conhecemos pode chegar-nos pela memoacuteria dos velhosrdquo memoacuterias estas
construiacutedas por suas vivecircncias neste local o que justifica a relevacircncia dos
depoimentos para a construccedilatildeo do trabalho
O capiacutetulo cinco apresenta uma descriccedilatildeo do produto que consiste em um
paradidaacutetico em forma fiacutesica abordando a histoacuteria de Satildeo Francisco de Paula A
escolha pelo formato fiacutesico acontece pelas dificuldades encontradas no interior dos
distritos com o acesso agrave internet assim se pensa que o formato fiacutesico abrangeraacute um
nuacutemero maior de alunos e professores
Para tanto utiliza-se a metodologia da Histoacuteria oral para escrever a memoacuteria
e as percepccedilotildees das pessoas que habitam este local Hobsbawn e Ranger (1995 p
103) escrevem que ldquoessa proximidade entre o periacuteodo analisado e sua histoacuteria
pessoal eacute o pano de fundo para a discussatildeo de alguns problemas que qualquer
historiador enfrenta ao escrever sobre seu proacuteprio tempordquo pois a sensibilidade do
historiador vai escrever sua narrativa Em outras palavras Hobsbawn e Ranger
(1995 p 104) explicam que ldquocada historiador tem sua proacutepria vida um lugar privado
a partir do qual inspeciona o mundordquo Tambeacutem afirmam
Para aqueles que querem escrever a histoacuteria do seacuteculo XX uma das mais importantes reside no simples fato de saber sem nenhum esforccedilo especial o quanto as coisas se modificaram Os uacuteltimos trinta ou quarenta anos foram os mais revolucionaacuterios da histoacuteria O mundo ou seja a vida dos homens e mulheres que vivem na Terra nunca foi transformada de maneira tatildeo profunda dramaacutetica e extraordinaacuteria dentro de um periacuteodo tatildeo curto As geraccedilotildees que natildeo viram como o mundo era antes tecircm dificuldade em perceber isso intuitivamente (HOBSBAWN RANGER 1995 p 107)
Portanto se faz importante perceber que o mundo vem se transformando de
maneira raacutepida modificando a vida das pessoas e por conseguinte as tradiccedilotildees e
identidades locais pois estas comunidades natildeo vivem de forma isolada e sofreram
influecircncias jaacute que a cultura natildeo eacute estagnada estaacute sempre em constante movimento
juntamente com as pessoas
17
2 HISTOacuteRIA LOCAL E O ENSINO DE HISTOacuteRIA NA SALA DE AULA
Discutir o ensino de Histoacuteria na educaccedilatildeo baacutesica e a relaccedilatildeo do mesmo com a
histoacuteria local se faz bastante importante para que a cada dia se possa melhorar as
praacuteticas pedagoacutegicas Neste sentido se busca respaldo em diferentes bibliografias
que possam embasar novos afazeres dentro do espaccedilo da sala de aula e
proporcionar ao estudante um novo olhar sobre a histoacuteria um olhar de sujeito ativo
dentro desse processo de ensino aprendizagem
Pois quando a Histoacuteria eacute ensinada como algo certo e imutaacutevel de maneira
fragmentada voltada para linearidade e memorizaccedilatildeo de fatos e datas reforccedila o
que Mendes (1935) e Schmidt e Cainelli (2009) defendem que realmente eacute odiosa a
histoacuteria ensinada por este vieacutes Percebe-se que o ensino de histoacuteria linear nos
moldes europeus positivistas jaacute natildeo daacute mais conta da importacircncia da histoacuteria para a
sociedade atual porque eacute apresentada aos alunos atraveacutes de datas e fatos escrita
pelo vieacutes de uma elite que normalmente eacute branca e deteacutem o poder poliacutetico eou
econocircmico Eacute inconcebiacutevel que se permaneccedila com um ensino de Histoacuteria que natildeo
serve natildeo motiva e segundo Ruumlsen (2001 p 25) ainda ldquoirracionalizardquo sendo esse
modelo muito frequente nas escolas de educaccedilatildeo baacutesica brasileiras
Natildeo eacute por outro motivo que observamos ainda nas uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo XX que para a maior parte dos estudantes brasileiros o estudo de histoacuteria carece de sentido ou utilidade natildeo se tem a visatildeo de ciecircncia e sim de uma mateacuteria decorativa estudo do passado que soacute exige como vimos a prontidatildeo em declinar nomes datas e fatos Natildeo eacute de se estranhar que assim seja porque ocorre a enorme distacircncia entre a realidade vivenciada pela comunidade e o tratamento dado ao ensino de Histoacuteria jaacute que o aluno se torna mero espectador de fatos natildeo necessitando esforccedilos no sentido de qualquer reflexatildeo ou elaboraccedilatildeo (BARBOSA 2006 p 58)
O ensinar da histoacuteria de forma abstrata fragmentada dificulta a compreensatildeo
do processo histoacuterico no sentido que se estuda os fatos isolados ao seu tempo
como se um fato precisasse terminar para iniciar outro Em outras palavras este
meacutetodo de ensino natildeo daacute a noccedilatildeo de continuidade ou seja a histoacuteria perdeu seu
sentido baacutesico que eacute a compreensatildeo do contexto global dos fatos considerando que
o ensino de Histoacuteria por muitas vezes eacute estanque sem uma relaccedilatildeo ldquopresente x
passadordquo sendo de suma importacircncia o despertar de uma consciecircncia criacutetica por
parte do estudante Por isso ao longo do tempo o ensino sofre influecircncia por parte
do ldquopoderrdquo segundo Laville (1999 p 128) ldquoa Histoacuteria eacute certamente a uacutenica disciplina
18
escolar que recebe intervenccedilotildees diretas dos altos dirigentes e a consideraccedilatildeo ativa
dos parlamentos Isso mostra quatildeo importante eacute ela para o poderrdquo Nesta linha o
autor ainda acrescenta que ldquoa narrativa histoacuterica pode tambeacutem ser vista como uma
tomada de poder por grupos sem poderrdquo (LAVILLE 1999 p 129)
Na busca de modificar esse modelo surgem novos meacutetodos que valorizam o
uso do documento histoacuterico e a incorporaccedilatildeo de novas tecnologias de acordo com
Azevedo e Stamatto (2010 p 720) ldquotem o desafio de responder a inquietaccedilotildees do
hojerdquo Partindo deste pressuposto haacute possibilidade de se modificar o ensino da
Histoacuteria que ateacute entatildeo estava voltado agrave memorizaccedilatildeo para um modelo onde o
sujeito seja agente deste processo
Ensinar Histoacuteria como algo pronto e acabado [] sem levar em conta o contexto e os sujeitos envolvidos no processo de ensino aprendizagem pode levar a um ensino que natildeo desenvolve o que eacute mais importante como funccedilatildeo do ensinar histoacuteria que orientar os problemas da vida praacutetica (SCHMIDT CAINELLI 2009 p 20)
Assim Seffner (2013 p 51) acrescenta que ldquoo ensino de Histoacuteria eacute um ensino
de situaccedilotildees histoacutericas Mais do que nomes datas e acontecimentos o professor
deve propiciar ao aluno a compreensatildeo de como se estrutura uma dada situaccedilatildeordquo
Para que o ensino de Histoacuteria seja ressignificado existe a necessidade de anaacutelise
do processo histoacuterico problematizando os fatos no vai e vem do presentepassado
Os estudantes da educaccedilatildeo baacutesica necessitam compreender a histoacuteria como
um processo em constante transformaccedilatildeo que eacute movimentada por sujeitos que a
compotildeem com permanecircncias e rupturas ao longo dos tempos Segundo Bittencourt
(2004 p 168) ldquoa histoacuteria local tem sido indicada como necessaacuteria para o ensino por
possibilitar a compreensatildeo do alunordquo
Corroborando Seffner (2013) Souza (2015) e Brum (2015) evidenciam a
importacircncia de se trabalhar a histoacuteria global partindo de uma histoacuteria local
problematizando levando hipoacuteteses e analisando os fatos histoacutericos o que gera
significado para o educando e torna o docente natildeo mais um mero transmissor mas
um mediador deste conhecimento Neves (1997 p 22) reforccedila que ldquoo local fora do
contexto geral eacute apenas um fragmento e o geral sem o respaldo das realidades
locais eacute apenas uma abstraccedilatildeordquo Com esta nova abordagem o estudar Histoacuteria tem
sentido para o discente que se sente sujeito de sua proacutepria histoacuteria visto que
19
identificar-se com o local onde se vive ajuda a compreender o sentimento de
pertencimento e suas relaccedilotildees com o meio social e cultural no qual estaacute inserido
Nesta perspectiva faz-se necessaacuterio que os professores busquem novas
alternativas de ensino que proporcionem ao estudante a habilidade de ressignificar o
fato histoacuterico estudado
Ensinar Histoacuteria requer do professor a habilidade de buscar sentido e significado para o conhecimento que ministra e isso significa superar a mera transmissatildeo de informaccedilotildees jaacute que essa natildeo tem por finalidade o desenvolvimento intelectual mas ao contraacuterio deforma a capacidade de pensamento histoacuterico do aluno e a possibilidade de consolidar habilidades de anaacutelise da proacutepria realidade social (SILVA PORTO 2012 p 67)
Goubert assim define a histoacuteria local
Denominaremos histoacuteria local como aquela que diga respeito a uma ou poucas aldeias a uma cidade pequena ou meacutedia (um grande porto ou uma capital estatildeo aleacutem do acircmbito local) ou a uma aacuterea geograacutefica que natildeo seja maior do que a unidade provincial comum (como um county inglecircs um contado italiano uma Land alematilde uma bailiwick ou pays francecircs) Praticada haacute tempos atraacutes com cuidado zelo e ateacute orgulho a histoacuteria local foi mais tarde desprezada mdash principalmente nos seacuteculos XIX e primeira metade do XX mdash pelos partidaacuterios da histoacuteria geral A partir poreacutem da metade desse seacuteculo a histoacuteria local ressurgiu e adquiriu novo significado na verdade alguns chegam a afirmar que somente a histoacuteria local pode ser autecircntica e fundamentada (GOUBERT 1992 p 70)
Neste sentido fica evidente a importacircncia de se partir de uma histoacuteria local
para uma global Atraveacutes da histoacuteria local os estudantes teratildeo contato com sua
histoacuteria e poderatildeo se sentir parte integrante deste espaccedilo que muitas vezes por
falta de conhecimento acabam renegando sua proacutepria identidade Figueira e Miranda
(2012 p 113) afirmam que ldquoum dos efeitos mais danosos da globalizaccedilatildeo eacute a
universalizaccedilatildeo dos gostosrdquo isto implica diretamente na perda da identidade local
que muitas vezes estaacute sendo afetada pelas muacuteltiplas identidades existentes Neste
sentido Silva e Porto descrevem
A globalizaccedilatildeo entretanto produz diferentes resultados em termos de identidade A homogeneidade cultural promovida pelo mercado global pode levar ao distanciamento da identidade relativamente agrave comunidade e agrave cultura local (SILVA PORTO 2012 p 21)
Neste sentido Canclini acrescenta
Las comunidades de consumidores se organiza cada vez menos seguacuten diferencias nacionales y sobre todo en las generaciones joacutevenes definen sus praacutecticas culturales de acuerdo con informacioacuten y estilos homogeneizados (CANCLINI 1997 p 42)
20
Globalizaccedilatildeo que impotildee atraveacutes dos meios de comunicaccedilatildeo e social uma
identidade geral que regra a sociedade seus haacutebitos e costumes Devido ao grande
movimento das pessoas pelo mundo perceber e manter uma identidade com
caracteriacutesticas locais fica a cada dia mais difiacutecil ainda mais em se tratando da
populaccedilatildeo jovem que natildeo reconhece ao seu redor o que representa a sua
identidade local
Valorar as experiecircncias locais proporcionaraacute aos estudantes uma nova
metodologia de abordar a histoacuteria
Do ponto de vista metodoloacutegico destaca-se nessa forma de abordagem a preocupaccedilatildeo com os conhecimentos preacutevios dos alunos com a problematizaccedilatildeo dos conteuacutedos de ensino selecionados para trabalho em sala de aula estabelecendo relaccedilotildees com o cotidiano dos alunos e com o cotidiano de outras pessoas em outros tempos e em outros lugares Enfatiza-se tambeacutem a busca de articulaccedilatildeo entre histoacuteria local e a histoacuteria universal (SCHMIDT 2007 p 193)
O ensino de histoacuteria partindo do local para o global possibilita segundo
Bittencourt (2004 p 168) ldquoa compreensatildeo do entorno do alunordquo sendo que um dos
aspectos relevantes para este ensino eacute a escolha de fontes que levem os estudantes
a se reconhecerem nesse processo histoacuterico O autor ainda acresce
Eacute pela memoacuteria que se chega agrave histoacuteria local Aleacutem da memoacuteria das pessoas escrita ou recuperada pela oralidade existem os lsquolugares de memoacuteriarsquo (grifo da autora) expressos por monumentos praccedilas edifiacutecios puacuteblicos ou privados mas preservados como patrimocircnio histoacuterico (BITTENCOURT 2004 p 169)
Esta memoacuteria vai contribuir para legitimaccedilatildeo da identidade local Sabe-se que
a identidade eacute algo mutaacutevel e segundo Silva e Porto (2012 p 38) ldquoas identidades
satildeo produzidas em momentos particulares no tempordquo O pesquisador ainda
acrescenta que ldquoas identidades satildeo contingentes emergindo em momentos
histoacutericos particularesrdquo Estas identidades precisam ser reconhecidas quando se fala
de histoacuteria local
Na mesma linha Ruumlsen descreve a identidade histoacuterica
Consiste na ampliaccedilatildeo do horizonte nas experiecircncias do tempo e nas intenccedilotildees acerca do tempo no qual os sujeitos agentes se asseguram da permanecircncia de si mesmos na evoluccedilatildeo do tempo O ponto extremo dessa consolidaccedilatildeo de identidade eacute a lsquohumanidadersquo como suprassumo dos pontos comuns em sociedade com respeito a diversos sujeitos agentes no processo de determinaccedilatildeo de suas proacuteprias identidades determinam as dos outros de forma tal que estes se reconhecem nelas Esse criteacuterio de sentido lsquohumanidadersquo fornece o paracircmetro para se constatar a consolidaccedilatildeo da
21
identidade em que desembocam o progresso contiacutenuo do conhecimento mediante a pesquisa histoacuterica e a ampliaccedilatildeo contiacutenua das perspectivas mediante a reflexatildeo histoacuterica sobre referenciais (RUumlSEN 2001 p 126)
A histoacuteria local eacute constituiacuteda por diferentes identidades que satildeo geradas pelos
grupos que compotildeem este espaccedilo A este respeito Silva e Porto (2011 p 41)
apresentam que ldquoa diferenccedila eacute aquilo que separa uma identidade da outrardquo Tambeacutem
eacute notaacutevel que para que haja a representaccedilatildeo de suas identidades locais faz-se
necessaacuterio o reconhecimento destas e a percepccedilatildeo que existem diferentes fatores
que diferenciam os grupos sociais
Portanto a identidade eacute constituiacuteda pelas posiccedilotildees eou escolhas feitas
sendo que muitas vezes elas satildeo racionais ou ateacute mesmo irracionais A identidade
eacute baseada na memoacuteria que pode ser individual ou coletiva Segundo Candau (2011
p 16) ldquoos laccedilos fundamentais entre memoacuteria e identidade eacute sobre o fato de que eacute a
memoacuteria faculdade primeira que alimenta a identidaderdquo
Se a memoacuteria gera a identidade natildeo se pode pesquisar e escrever sobre
histoacuteria local sem levar em conta estes dois conceitos primordiais pois a histoacuteria
local soacute teraacute valia se escrita pelo vieacutes do todo ou seja natildeo priorize um grupo ou
classe social todos os quadros sociais devem estar representados dentro deste
processo Nessa linha Schmidt e Cainelli descrevem
O estudo da localidade ou da histoacuteria regional contribui para uma compreensatildeo muacuteltipla da Histoacuteria pelo menos em dois sentidos na possibilidade de se ver mais de um eixo histoacuterico na histoacuteria local e na possibilidade da anaacutelise de micro histoacuterias pertencentes a alguma outra histoacuteria que as englobe e ao mesmo tempo reconheccedila suas particularidades (SCHMIDT CAINELLI 2009 p 139)
Uma histoacuteria que faz sentido que esteja englobada a outra histoacuteria A
memoacuteria coletiva entra na construccedilatildeo desta histoacuteria local e eacute primordial pois esta vai
dar elementos que constroem a identidade deste local sendo que a memoacuteria do
passado influencia na representaccedilatildeo da identidade Neste sentido conforme
Figueira e Miranda (2012 p 47) eacute necessaacuterio compreender a memoacuteria ldquocomo a
capacidade de conservar e de preservar dados refere-se a um conjunto de funccedilotildees
cerebrais que nos permite reter informaccedilotildees adquiridas e impressotildees vividasrdquo
Podendo ser ela individual ou coletiva sendo que a memoacuteria individual existe a partir
de uma memoacuteria coletiva jaacute que as lembranccedilas que ajudam a reconstruir o passado
partem do interior de um grupo
22
Para as Ciecircncias Humanas o conceito de memoacuteria estaacute ligado agrave memoacuteria
social e coletiva definida por Le Goff (2003 p 422) como ldquoo estudo da memoacuteria
social eacute um dos elementos fundamentais de abordar os problemas do tempo e da
histoacuteriardquo O autor ainda acrescenta que ldquoa memoacuteria coletiva eacute natildeo somente uma
conquista eacute tambeacutem um instrumento e um objeto de poderrdquo (LE GOFF 2003 p
410) Neste sentido Halbwachs (2004 p 90) ressalta que ldquotoda memoacuteria coletiva
tem por suporte um grupo limitado no espaccedilo e no tempo e o mundo histoacuterico eacute
como um oceano onde afluem todas as histoacuterias parciaisrdquo
Quando se abordam conceitos de memoacuteria e identidade no ensino de
histoacuteria estaacute se trazendo para o estudo os sujeitos que compotildeem aquele local com
suas vivecircncias que podem ser coletivas ou natildeo A transmissatildeo de saberes entre as
geraccedilotildees forma a identidade coletiva sendo o ser humano um agente ativo no
quadro social da memoacuteria
Halbwachs assim define os quadros coletivos da memoacuteria
Os quadros coletivos da memoacuteria natildeo se resumem em datas nomes e foacutermulas que eles representam correntes de pensamento e de experiecircncia onde reencontramos nosso passado porque este foi atravessado por isso tudo (HALBWACHS 2004 p 71)
Nesta direccedilatildeo Le Goff (2003 p 4) acrescenta que ldquoa memoacuteria social eacute um
dos meios fundamentais para se abordar os problemas do tempo e da histoacuteria A
memoacuteria estaacute nos proacuteprios alicerces da histoacuteriardquo Catroga (2001) reforccedila que a
memoacuteria eacute moldada a partir das vivecircncias e na sua narrativa vai haver uma
coerecircncia que se mistura passado e presente
Quando se escreve sobre histoacuteria local eacute importante considerar que ela estaacute
pautada em documentos assim como em memoacuterias escritas visuais ou orais Neste
sentido eacute perceptiacutevel que o uso dos diferentes tipos de memoacuteria satildeo alicerces que
conduzem o trabalho do historiador para que ele possa interpretar suas fontes e
validar seu trabalho Memoacuterias estas que podem ser apresentadas com documentos
oficiais ou atraveacutes de uma cultura material ou imaterial
A escrita de histoacuterias locais vem como um novo modelo de resguardar
identidades e memoacuterias que se natildeo preservadas iratildeo desaparecer pela influecircncia
da globalizaccedilatildeo e falta de conhecimento de futuras geraccedilotildees Barros assim
descreve
23
Os novos tempos comeccedilavam a trazer um novo padratildeo historiograacutefico novas aberturas retornos e possibilidades e tambeacutem incertezas para os historiadores no que se refere agrave natureza do conhecimento que produzem e ao papel do conhecimento histoacuterico na sociedade [] Entre as novidades postula-se a possibilidade de examinar a histoacuteria de acordo com uma nova escala de observaccedilatildeo ndash atenta para o detalhe para as micro realidades para aquilo que habitualmente escapa ao olhar panoracircmico da macro histoacuteria tradicional ndash e eacute esta nova postura que se passou a chamar de micro histoacuteria (BARROS 2012 p 306)
Diante deste contexto o ensino de Histoacuteria pode buscar na histoacuteria local a
problematizaccedilatildeo necessaacuteria para que os estudantes da educaccedilatildeo baacutesica
reconheccedilam a identidade local que vem sofrendo com a uniformizaccedilatildeo da
sociedade que impotildee uma conjuntura global do local
24
3 SAtildeO FRANCISCO DE PAULA CONSTRUCcedilAtildeO DO MUNICIacutePIO
A apresentaccedilatildeo do municiacutepio Satildeo Francisco de Paula acontece atraveacutes do
uso da narrativa Esta se apresenta atraveacutes do diaacutelogo com obras jaacute produzidas por
memorialistas eou genealogistas que contribuem para a construccedilatildeo histoacuterica deste
local bem como se usa como fonte de enriquecimento documentos da Assembleia
Legislativa do Rio Grande do Sul e jornais locais
Para tanto se apresenta a revisatildeo historiograacutefica das obras escritas pelos
memorialistas eou genealogistas sendo que Lucena (1971) em sua obra ldquoSatildeo
Francisco de Paula Monografiardquo que abrange aspectos histoacutericos da formaccedilatildeo do
municiacutepio bem como pontos turiacutesticos e demograacuteficos O proacuteprio autor intitula a sua
obra como informativa a riqueza de detalhes eacute interessante poreacutem natildeo haacute nenhuma
referecircncia quanto aos dados escritos nem mesmo um referencial bibliograacutefico ao
final
No texto intitulado ldquoOs Fundadores de Satildeo Francisco de Paulardquo Alves (2007)
escreve sobre a fundaccedilatildeo de Satildeo Francisco de Paula Em seu livro haacute documentos
que validam o que se refere agrave genealogia jaacute que boa parte da obra apresenta os
troncos familiares que compunham o iniacutecio deste municiacutepio Na mesma linha da
genealogia Oliveira (1996) no livro ldquoAurorescer das Sesmarias Serranas histoacuteria e
genealogiardquo traz a histoacuteria das primeiras sesmarias da regiatildeo mas o foco principal
se daacute aos proprietaacuterios e seus descendentes Haacute um mapa bastante interessante
localizando as sesmarias e o nome por elas recebidos
Em ldquoSatildeo Francisco de Paula nossa terra nossa genterdquo Teixeira (2002)
apresenta dados gerais e histoacutericos do municiacutepio Esta obra apresenta dados
geograacuteficos como clima relevo e vegetaccedilatildeo A autora escreve sobre diversos
aspectos eventos personalidades e lendas Aleacutem disso apresenta Satildeo Francisco
de Paula com uma linha cronoloacutegica A obra abrange vaacuterios aspectos mas todos
suscintamente No final a autora apresenta a bibliografia consultada dentre os
autores estaacute Lucena (1971)
O texto ldquoSatildeo Francisco de Paula Rio Grande do Sul histoacuteria encantos e
misteacuteriosrdquo eacute uma obra de Fonseca (2012) que traz diversidade de assunto muitas
vezes estes estatildeo desconexos ou seja sua leitura se torna ldquotruncadardquo No final do
texto haacute um vasto referencial bibliograacutefico dentre os autores citam-se Lucena
(1971) e Teixeira (2002)
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Ribeiro (2003) eacute compositor e poeta Em ldquoFestival do Ronco do Bugiordquo
escreve sobre Satildeo Francisco de Paula apresentando a histoacuteria dos quinze anos do
festival no municiacutepio No iniacutecio contextualiza a origem do festival e do ritmo bugio
Depois apresenta a capa do disco de cada festival especificando as muacutesicas e os
compositores vencedores
Todas essas obras satildeo importantes para Satildeo Francisco de Paula cada uma
traz consigo um pouco da histoacuteria deste municiacutepio poreacutem sente-se falta da
identidade e da memoacuteria na construccedilatildeo histoacuterica As obras satildeo apresentadas o
mesmo prisma apresentando os iacutendios Caaguaraacutes e o Capitatildeo Pedro da Silva
Chaves os fundadores desta terra dando bastante ecircnfase aos sobrenomes que ali
se desenvolveram
31 CONVERSA COM MEMORIALISTAS
As terras onde hoje fica Satildeo Francisco de Paula eram habitadas por iacutendios da
tribo Caaguaraacutes que faziam parte dos Coroados Estes viviam livremente nos
campos de cima da serra e seus domiacutenios estendiam-se entre a Serra Geral e a
Serra do Mar Os iacutendios Caaguaraacutes tinham como haacutebitos alimentares a caccedila a
pesca e a coleta de sementes e frutos dentre os frutos o pinhatildeo e a goiaba-do-
mato segundo Teixeira (2002) e Alves (2007) Estes iacutendios tiveram seu habitat
invadido por incursotildees de desbravadores que comeccedilaram a trafegar pela regiatildeo em
busca de mulas e novas terras visto que as terras onde hoje se encontra Satildeo
Francisco de Paula de Cima da Serra foram rota de tropeiros5 pois estes trafegavam
pelos Campos de Cima da Serra indo na direccedilatildeo de Lages-SC ateacute alcanccedilarem
Sorocaba-SP6 Ao passarem por esta regiatildeo foram se formando pequenos vilarejos
e construindo um jeito peculiar de viver
Neste cenaacuterio aparece o municiacutepio de Satildeo Francisco de Paula de Cima da
Serra que recebe este nome para se diferenciar de Satildeo Francisco de Paula
denominaccedilatildeo recebida ateacute meados de 1830 pelo municiacutepio de Pelotas Poreacutem na
metade do seacuteculo XVIII Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra possuiacutea
5 Tropeiros homens que conduziam suas tropascomitivas de muares ou cavalos entre as regiotildees 6 Sugere-se a leitura FLORES Moacyr Troperismo no Brasil Porto Alegre Nova Dimensatildeo 1998
SAVARIS Manoelito Tropas e tropeiros o Rio Grande toma forma Disponiacutevel em ltwwwrogeriobastoscombr201104trpas-e-tropeiros-o-rio-grande-tomahtmlgt Acesso em 12 mar 2016
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proprietaacuterios de terras sendo que um dos pioneiros foi Pedro da Silva Chaves um
portuguecircs casado com Gertrudes de Godoy uma paulista Pedro da Silva Chaves
declara em 1742 ser possuidor de terras neste municiacutepio Segundo Oliveira (1996)
em seu testamento Pedro da Silva Chaves rege que possui trecircs fazendas na regiatildeo
uma chamada Satildeo Joatildeo que se localiza desde o Arroio Santa Cruz ateacute o Rio
Tainhas concedida em 1752 por sesmaria a Fazenda da Cria que foi comprada de
Francisco Pinto Bandeira e confirmada como sesmaria em 1754 e a Fazenda
denominada Cerrito comprada do Capitatildeo Antocircnio Gonccedilalves dos Reis Nestas
fazendas havia criaccedilatildeo de cavalos gado vacum mulas e burros As fazendas
tambeacutem apresentavam em torno de 77 escravos sendo que alguns satildeo casados o
que se faz pensar que estes constituiacuteam famiacutelia aumentando assim o nuacutemero de
escravos da regiatildeo No mapa da Figura 1 verifica-se a localizaccedilatildeo das fazendas do
capitatildeo Pedro da Silva Chaves bem como sua extensatildeo territorial
Figura 1 ndash Mapa de Identificaccedilatildeo das Sesmarias Serranas
Fonte Oliveira (1996 p 236)
27
No mapa apresentado na Figura 1 ainda eacute possiacutevel observar a localizaccedilatildeo
onde inicia o povoado de Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra segundo
Lucena (1971 p 1) ldquoiniciou-se com o Capitatildeo Pedro da Silva Chaves que doou
uma gleba de terra para que fosse iniciado o povoadordquo Tambeacutem segundo Lucena
(1971 p 1) ldquodoou cinquenta vacas para construir o primeiro patrimocircnio da Igreja
cuja construccedilatildeo foi iniciada por sua conta e lhe deu o nome de Satildeo Francisco por
este ser devoto do Santordquo O que demonstra que Pedro da Silva Chaves era
Catoacutelico
Neste periacuteodo compreendido como seacuteculo XIX segundo Teixeira (2002) e
Alves (2007) o atual municiacutepio de Satildeo Francisco de Paula pertencia ao municiacutepio de
Santo Antocircnio da Patrulha municiacutepio este que formava juntamente com Porto
Alegre Rio Pardo e Rio Grande a proviacutencia de Satildeo Pedro do Rio Grande do Sul
atual Rio Grande do Sul Eacute possiacutevel observar a grande extensatildeo territorial de cada
municiacutepio no mapa apresentado na Figura 2 segundo Silva (2000) Santo Antocircnio
da Patrulha anexava as freguesias de N Sra Conceiccedilatildeo do Arroio e N Sra da
Oliveira da Vacaria a capela de Satildeo Domingos das Torres e os povoados de Santa
Cristina do Pinhal e Cima da Serra
Analisando o mapa da Figura 2 eacute possiacutevel perceber que o municiacutepio de Santo
Antocircnio da Patrulha tinha um vasto e extenso territoacuterio que atualmente compreende
os municiacutepios de Vacaria Antocircnio Prado Nova Roma do Sul Lagoa Vermelha
Veranoacutepolis Nova Prata Nova Araccedilaacute Nova Bassano Paraiacute Guabiju Satildeo Jorge
Vista Alegre do Prata Protaacutesio Alves Cotiporatilde Fagundes Varela Vila Flores
Caseiros Birajaras Andre da Rocha Capatildeo Bonito do Sul Muitos Capotildees Bom
Jesus Satildeo Joseacute dos Ausentes Esmeralda Ipecirc Campestre da Serra Monte Alegre
dos Campos Taquara Satildeo Francisco de Paula Cambaraacute do Sul e Jaquirana
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Figura 2 ndash Divisatildeo Municipal em 1809 ndash Proviacutencia Satildeo Pedro do Rio Grande do Sul
Fonte Evoluccedilatildeo Administrativa (2013)7
32 AMPLIANDO O DIAacuteLOGO COM OS MEMORIALISTAS
Segundo documentos da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul8
disponiacuteveis no Arquivo Histoacuterico de Satildeo Francisco de Paula9 em 1852 atraveacutes da
Lei nordm 266 de 30 de novembro de 1852 eleva-se agrave categoria de freguesia a entatildeo
capela Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra pelo entatildeo vice-governador da
proviacutencia de Satildeo Pedro do Rio Grande do Sul o senhor Luiz Alves Leite de Oliveira
Bello Estes documentos ainda retratam que no ano de 1886 houve distribuiccedilatildeo de
lotes devolutos para pessoas pobres que comprovassem residecircncia haacute pelo menos
trecircs anos e se comprometessem a ldquofundar moradiardquo em um prazo de um ano sendo
assim passados trecircs anos seriam donos definitivos destes lotes dando o iniacutecio ao
povoamento da vila No mesmo periacuteodo acontece a criaccedilatildeo do cemiteacuterio municipal
7 Disponiacutevel em ltwwwatlassocioeconomicorsgovbrevolucao-administrativa-1809-a-2013gt Acesso
em 18 mar 2017 8 O diaacutelogo com memorialista se amplia a partir de agora com contribuiccedilotildees de documentos
pesquisados que corroboram para a compreensatildeo do tema 9 BARBOSA Eni GONCcedilALVES Jorge Joseacute Xavier (Orgs) Documentos histoacutericos da Assembleia
Legislativa do Rio Grande do Sul Arquivo Histoacuterico de Satildeo Francisco de Paula 1992
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que ocorre em 1891 segundo documentos da Assembleia Legislativa disponiacuteveis
no Arquivo Histoacuterico de Satildeo Francisco de Paula Estes documentos informam que
primeiramente somente moradores que comprovassem residecircncia haacute mais de trecircs
anos e pudessem manter os jazigos de seus entes poderiam fazer uso deste
espaccedilo Atraveacutes desta documentaccedilatildeo se percebe que havia toda uma organizaccedilatildeo
para que ldquoestrangeirosrdquo natildeo se estabelecessem em Satildeo Francisco de Paula de Cima
da Serra
Em 1889 Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra passa a categoria de vila
e deixa de pertencer a Santo Antocircnio da Patrulha passando a ser distrito do
municiacutepio de Taquara do Mundo Novo (hoje Taquara) o que traz mudanccedilas
significativas para a vila
Mesmo havendo distribuiccedilatildeo de lotes apoacutes quinze anos percebe-se na
Figura 3 que o povoado ainda era pequeno cercado de campos que constituiacuteam
fazendas com criaccedilatildeo de gado vacum tendo como principal economia a pecuaacuteria
extensiva Ao alto pode-se visualizar a Igreja Matriz construiacuteda pelo capitatildeo Pedro
da Silva Chaves
Figura 3 ndash Vista da vila de Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra (1901)
Fonte Portal Satildeo Chico (2018)10
10 PORTAL SAtildeO CHICO Fotos antigas de Satildeo Francisco de Paula 2018 Disponiacutevel em
ltwwwsaochicocombrantigasgt Acesso em 12 abr 2019
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Ainda eacute possiacutevel observar atraveacutes da Figura 3 que neste periacuteodo natildeo havia
nenhuma preocupaccedilatildeo com a organizaccedilatildeo urbana ou seja ruas quadras as
construccedilotildees se apresentam de maneira desordenada Poreacutem passados vinte e dois
anos na Figura 4 jaacute eacute possiacutevel visualizar uma estrutura urbanizada com possiacutevel
organizaccedilatildeo de ruas e quadras mas a vila ainda eacute rodeada de campos
Figura 4 ndash Vista Avenida Juacutelio de Castilhos (1923)
Fonte Lucena (1971 p 67)
O desenvolvimento da Sede de Satildeo Francisco de Paula acontece segundo
Lucena (1971 p 27) ldquonos primeiros anos de vida isto eacute de 1910 a 1924 mais ou
menos devido agrave extraccedilatildeo da erva-mate que era abundante em nossos matos nas
zonas da serrardquo O autor ainda acrescenta
O pioneiro na extraccedilatildeo da erva-mate em nossa Comuna foi o proprietaacuterio Carlos Miguel Kroeff dono da fazenda Potreirinho praticamente arrabalde de nossa cidade No barba-quaacute11 se iniciava todo processo de industrializaccedilatildeo da erva-mate sendo que Satildeo Francisco de Paula chegou a ter quinhentos barbaacute-quas (LUCENA 1971 p 28)
11 Barba-quaacute um valo de cerca de oito metros de comprimento amis ou menos por um metro de
profundidade e oitenta centiacutemetros de largura coberto de xaxim e terra em uma das extremidades colocava-se um gradeado e acima deste em uma parte tambeacutem coberta e mais alta tinha apenas uma saiacuteda sob o gradeado colocava-se as folhas de erva extraiacuteda da aacutervore no iniacutecio do valo fazia-se um fogo e a fumaccedila que pela pouca ventilaccedilatildeo existente formava bastante fumaccedila e esta atingia as folhas secando-as (LUCENA 1971 p 28)
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A produccedilatildeo de erva-mate contribuiu para o povoamento da vila visto que
muitas pessoas vieram trabalhar e acabaram se instalando no municiacutepio Apoacutes a
extraccedilatildeo da erva-mate surge a extraccedilatildeo de madeira que tambeacutem contribui para o
desenvolvimento
Nesta documentaccedilatildeo ainda se encontra no artigo nordm 251 de 08 de abril de
1891 a liberaccedilatildeo da verba para abrir a estrada de rodagem que liga as vilas de
Taquara do Mundo Novo e Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra em 1889
Atraveacutes da Figura 5 pode-se perceber o quatildeo difiacutecil era abrir uma nova estrada de
rodagem Tudo era manual com o uso de animais e muares para transportar pedras
e terras poreacutem a abertura desta estrada traz mudanccedilas significativas para a
populaccedilatildeo de Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra
Figura 5 ndash Abertura da estrada ERS-020 Taquara ndash Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra
Fonte Jornal Folha da Serra (1968 n 89 p 8)12
12 Folha da Serra jornal criado em 1932 pelo Dr Siacutelvio Rabelo sendo o uacutenico jornal que existia na
regiatildeo serrana Este trazia notiacutecias sociais poliacuteticas etc com uma tiragem em torno de 500 exemplares por semana Encontram-se no Arquivo Histoacuterico de Satildeo Francisco de Paula alguns exemplares ateacute a deacutecada de 70 seacuteculo XX
32
A estrada visava facilitar o acesso da populaccedilatildeo de Satildeo Francisco de Paula
de Cima da Serra que ia ateacute Taquara para buscar gecircneros de primeira necessidade
Em tempos idos os serranos se abasteciam de gecircneros de primeira necessidade quase que totalmente em Taquara e o transporte era feito em cargueiros que compunham uma tropa com cerca de quinze a vinte cargueiros Os animais usados para esse transporte eram geralmente muares mais resistentes para o transporte de carga Os serranos levavam daqui queijo (o queijo ateacute hoje chamado queijo serrano) charque couros e alguns levavam maccedilatilde ou pinhatildeo em suas eacutepocas de colheita trocados por mantimentos de que necessitavam Natildeo existiam ainda estradas e o trajeto era feito por picadas existentes (LUCENA 1971 p 23)
O mesmo autor ainda acrescenta
Para atingir a capital do Estado a viagem era cheia de peripeacutecias O transporte era feito a cavalo ou em diligecircncias ateacute Taquara As diligecircncias carros de quatro de rodas puxados por quatro animais ndash cavalos ndash eram de propriedade de Bertolo Casara mais conhecido por lsquoJoatildeo Gringorsquo Essa viagem se fazia normalmente em um dia e agraves vezes em dia e meio O ponto de parada era ali no Rodeio Bonito onde existia uma casa agrave esquerda bem defronte a estrada que desce para Trecircs Coroas [] De Taquara a Porto Alegre por via ferroviaacuteria ndash de trem (LUCENA 1971 p 16)
A construccedilatildeo desta estrada traz um novo desenvolvimento para a entatildeo vila
de Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra pois apoacutes a abertura da estrada de
rodagem Taquara ndash Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra modifica o transporte
de mercadorias entre as localidades
O transporte de mercadorias era feito em carretotildees de quatro rodas puxados uns por cinco animais outros por sete as maiores que geralmente eram muares Eram atrelados em duas fileiras Na fileira junto agrave carreta que era de duas ou trecircs mulas na da esquerda montava o carreteiro Este toda vez que se verificava um declive na estrada apeava de sua montaria a fim de brecar a carreta sem que esta entretanto parasse (LUCENA 1971 p 24)
Este modelo de comeacutercio vai desaparecer com o surgimento das primeiras
casas de comeacutercios na vila de Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra De acordo
com Lucena (1971 p 38) ldquoos primeiros comerciantes foram Manoel Vicente
Ferreira Abel Pacheco Luis Carlos de Andrade e Jacob Bossle Sobrinhordquo Na
imagem da Figura 6 temos o Accedilougue Central onde nota-se que os animais
convivem soltos na rua juntamente com as pessoas mesmo se tratando de local
urbano
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Figura 6 ndash Accedilougue Central
Fonte Portal Satildeo Chico (2018)13
Nesta mesma documentaccedilatildeo haacute decretos que definem a construccedilatildeo de uma
nova Igreja Matriz isto eacute uma Igreja de Pedra substituindo a antiga que era de
madeira ainda construiacuteda pelo capitatildeo Pedro da Silva Chaves esta construccedilatildeo data
do ano de 1922 Segundo Teixeira (2002 p 30) a Igreja de Pedra permanece ateacute
1960 quando daacute lugar ao atual preacutedio da Igreja Matriz que foi inaugurada em 14 de
junho de 1964 Na sequecircncia teremos duas imagens demonstrando a Igreja de
Pedra e a atual edificaccedilatildeo da Igreja Matriz Natildeo foi encontrada nenhuma foto da
Igreja de Madeira nos arquivos do Arquivo Histoacuterico do Municiacutepio somente em um
site de fotos antigas onde encontra-se registro apresentado na Figura 7
13 PORTAL SAtildeO CHICO Fotos antigas de Satildeo Francisco de Paula 2018 Disponiacutevel em
ltwwwsaochicocombrantigasgt Acesso em 12 abr 2019
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Figura 7 ndash Igreja Matriz em 1931
Fonte Portal Satildeo Chico (2018)14
Figura 8 ndash Igreja Matriz
Fonte acervo da autora (2015)
14 PORTAL SAtildeO CHICO Fotos antigas de Satildeo Francisco de Paula 2018 Disponiacutevel em
ltwwwsaochicocombrantigasgt Acesso em 12 abr 2019
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Entre os anos de 1892 a 1902 por duas vezes Satildeo Francisco de Paula de
Cima da Serra eacute desanexado e reanexado ao entatildeo municiacutepio de Taquara do Mundo
Novo Somente em 23 de dezembro de 1902 foi reestabelecido definitivamente o
municiacutepio de Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra cuja instalaccedilatildeo se verificou
em 07 de janeiro de 1903 A partir de 01 de janeiro de 1938 perde ldquoCima da Serrardquo
de sua nomenclatura permanecendo somente Satildeo Francisco de Paula Apesar
disso se manteacutem o gentiliacutecio ldquoSerranordquo de acordo com Silva (2000 p 23) e dados
do Arquivo Histoacuterico de Satildeo Francisco de Paula sendo que este gentiliacutecio eacute usado
ateacute os dias de hoje
No iniacutecio o municiacutepio de Satildeo Francisco de Paula foi um dos maiores do Rio
Grande do Sul em territoacuterio mas ao longo do tempo foi diminuindo seu territoacuterio
com a anexaccedilatildeo de parte dele ao entatildeo municiacutepio de Caxias do Sul e de Torres e a
criaccedilatildeo dos municiacutepios de Cambaraacute do Sul em 1963 e Jaquirana em 1988
Foi uma das maiores Comunas do Estado pois de seu territoacuterio faziam parte os atuais municiacutepios de Satildeo Marcos Cambaraacute do Sul e Jaquirana e os distritos de Vila Oliva Criuacuteva Fazenda Souza e Vila Seca hoje integrantes de Caxias do Sul De nosso territoacuterio foi tambeacutem desanexada uma gleba de terra ndash Josafaacute ndash e anexada ao municiacutepio de Torres (LUCENA 1971 p 10)
Mesmo perdendo parte de seu territoacuterio ao longo dos anos atualmente
segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (2016) ldquoSatildeo Chicordquo como
costumeiramente eacute chamado pelo seu povo estaacute situado na Encosta Inferior do
Nordeste do Estado do Rio Grande do Sul na zona denominada de Campos de
Cima da Serra Fica distante 112 quilocircmetros da capital do Estado Porto Alegre Os
municiacutepios limiacutetrofes satildeo Monte Alegre dos Campos Bom Jesus Jaquirana
Cambaraacute do Sul Praia Grande-SC Trecircs Forquilhas Itati Maquineacute Riozinho
Rolante Taquara Trecircs Coroas Canela e Caxias do Sul Possui uma aacuterea territorial
de 3264490 quilocircmetros quadrados com uma estimativa populacional de 21617
habitantes distribuiacutedos na zona urbana e rural O municiacutepio se divide em sete
distritos Sede Cazuza Ferreira Tainhas Juaacute Eletra e Lajeado Grande Atraveacutes do
conjunto de mapas apresentado na Figura 9 eacute possiacutevel visualizar a localizaccedilatildeo de
Satildeo Francisco de Paula dentro do Rio Grande do Sul e por conseguinte no Brasil
Tambeacutem se verifica a localizaccedilatildeo dos distritos de Satildeo Francisco de Paula
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Figura 9 ndash Mapa de localizaccedilatildeo de Satildeo Francisco de Paula
Subdivisatildeo de Satildeo Francisco de Paula em distritos
Fonte montagem da autora (2019)
Desta forma se constitui o espaccedilo fiacutesico do municiacutepio de Satildeo Francisco de
Paula cuja populaccedilatildeo natildeo forma uma colocircnia pois seu povo adveacutem de diferentes
lugares a grande maioria com descendecircncia lusa sendo que os primeiros
colonizadores foram bandeirantes paulistas
A populaccedilatildeo de Satildeo Francisco de Paula eacute composta de brancos africanos e indiacutegenas Os brancos compreendendo portugueses (principalmente
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accedilorianos) alematildees e italianos os africanos pertenciam ao grupo dos bantos e foram trazidos pelos portugueses (TEIXEIRA 2002 p 147)
A diversidade de pessoas que se estabeleceram em Satildeo Francisco de Paula
pode ser percebida pelos sobrenomes das famiacutelias precursoras do municiacutepio
Para Satildeo Francisco de Paula afluiacuteram famiacutelias de diversas nacionalidades que atraveacutes de seus descendentes ainda hoje aqui satildeo representadas como Famiacutelias Ferreira Soares Pinto Castilhos Asmuz Santos Martins Lopes Comin Feijoacute Silva Canani Peixoto Andrade Teixeira Valin Lucena Alves Cardoso Gomes Borges Marques Tedesco Medeiros Paglioacuteli Costa Fogaccedila Casara em outras (LUCENA 1971 p 11-12)
Os moradores deste municiacutepio introduziram um jeito singular de viver tendo
em seu cotidiano as tradiccedilotildees gauacutechas15 muito presentes Teixeira (2002 p 83)
assim descreve que ldquoas raiacutezes gauacutechas estatildeo fortemente marcadas na comunidade
seja pelo modo de vestir bombacha botas cinturotildees chapeacuteus e no inverno com o
pala ou pela preferecircncia por comidas campeiras churrasco carreteiro feijatildeo
mexidordquo A autora acrescenta que ldquoas casas com lareira e o tradicional fogatildeo agrave
lenha para aquececirc-las durante o inverno rigoroso satildeo um convite para uma
conversa ao peacute do fogo e o saboreio de um gostoso chimarratildeordquo (TEIXEIRA 2002 p
83)
O enraizamento deste modo de vida adveacutem do homem do campo o
pecuarista que no passado necessitava enviar seus filhos a cidade para estudar
contribuindo para este modelo de vida
Antigamente a pecuaacuteria era a atividade econocircmica muito forte em nosso municiacutepio Assim sendo havia muitos fazendeiros E como as fazendas ficavam muito longe da Sede do municiacutepio as senhoras tinham seus filhos em casa com parteiras Tambeacutem os estudos iniciavam nas fazendas porque as escolas ficavam longe Assim muitas vezes os fazendeiros contratavam professoras para se hospedarem nas suas casas e darem aulas aos seus filhos Em muitos casos ateacute mesmo os proacuteprios pais e avoacutes ensinavam alguma coisa Alguns fazendeiros quando seus filhos ficavam maiores os mandavam continuarem seus estudos na vila (assim lsquoSatildeo Chicorsquo era chamada) (TEIXEIRA 2002 p 77)
Com a vinda dos filhos para a vila trouxeram consigo o jeito do homem do
campo sendo que um dos maiores clubes em funcionamento de Satildeo Francisco de
Paula eacute o atual Centro de Tradiccedilotildees Gauacutechas Rodeio Serrano fundado em maio de
15 Tradiccedilotildees gauacutechas segundo Fagundes (1997 p 38) eacute um movimento ciacutevico-cultural [] eacute a
tradiccedilatildeo em marcha resgatando valores que satildeo vaacutelidos natildeo por serem antigos mas por serem eternos exatamente os valores que trouxeram o Rio Grande e o gauacutecho do passado para o presente projetando-se para o futuro
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1955 Segundo o Jornal Folha da Serra (1968 n 11 p 12) a entidade
tradicionalista receacutem-formada recebe o nome de CTG Coronel Alziro Torres Filho
Fonseca (2012 p 223) menciona que a iniciativa partiu de ldquoDavenir Peixoto Gomes
um homem ruralista e serranordquo Esta entidade tradicionalista teve como primeiro
Patratildeo Oscar Teixeira O CTG Alziro Torres Filho segundo o jornal Folha da Serra
(1957) muda sua nomenclatura em uma reuniatildeo onde o posteiro da invernada
artiacutestica Alaor Valim propotildee a troca do nome para Rodeio Serrano nome que
permanece ateacute a atualidade
A entidade tradicionalista traz como lema ldquoRepontando a Tradiccedilatildeo com o Rio
Grande na Garupardquo Fonseca (2012 p 224) relata que o lema foi ldquocriado pelo
primeiro instrutor de danccedilas Dr Alaor de Almeida Valimrdquo O mesmo autor acrescenta
que ldquoa primeira prenda foi a professora Maria Asmuz Valimrdquo Poreacutem sua sede
somente foi construiacuteda em 1968 sob a patronagem de Dante Santos O Jornal Folha
da Serra (1968 n 11 p 12) indica que ldquoa construccedilatildeo da sede era uma aspiraccedilatildeo de
longos anos que somente agora se concretizardquo Anteriormente ldquoos bailes eram
realizados em sua maioria no Salatildeo Paroquial sendo que alguns foram feitos no
primeiro andar da Associaccedilatildeo Rural e ateacute mesmo na Sociedade Cruzeirordquo
(FONSECA 2012 p 225) Este fato justifica a vontade de Dante Santos de construir
uma sede proacutepria
Apoacutes a construccedilatildeo de sua nova sede o CTG Rodeio Serrano localiza-se na
Rua Benjamim Constant nordm 582 constituindo um espaccedilo importante para a
comunidade de Satildeo Francisco de Paula Dentre as atividades desenvolvidas pelo
CTG estaacute o Rodeio Interestadual que ocorre todos os anos no primeiro final de
semana de dezembro sendo que se encontra na 33ordf ediccedilatildeo A manutenccedilatildeo das
invernadas artiacutesticas em todas as categorias mascote mirim juvenil e adulta A
organizaccedilatildeo da Ronda Crioula na Semana Farroupilha bem como a Cavalgada de
Prendas que ocorre durante a Semana Farroupilha todos os anos Realiza-se o
baile da Prenda Jovem aleacutem de shows e bailes tipicamente gauchescos Aleacutem
disso nos uacuteltimos anos a organizaccedilatildeo do Festival Ronco do Bugio que ocorre em
Satildeo Francisco de Paula ldquofestival este lanccedilado em 16 de abril 1986rdquo segundo o
Jornal Satildeo Chico Tchecirc (1986 n 4 p 5)16
16 Satildeo Chico Tchecirc jornal de circulaccedilatildeo quinzenal fundado em 08 de janeiro de 1986 e que circulou
ateacute 1989 O jornal trazia informaccedilotildees culturais sociais econocircmicas e poliacuteticas da Sede e do
39
Durante os seus sessenta e dois anos de existecircncia muitos patrotildees
passaram por esta entidade tradicionalista mas em 2017 pela primeira vez na
histoacuteria o CTG Rodeio Serrano teve uma patronagem feminina Aleacutem da Patroa
Neuza Reis foram empossadas a Capataz Elenita Amaral a Sota-capataz Fernanda
Kirsch Damasceno o Agregado das Pilchas Antocircnio Garcia de Souza e no
Conselho de Vaqueanos Neiva Santos Valim
Figura 10 ndash Patroa Neuza Reis e sua Comissatildeo
Fonte Jornal Pioneiro (2017)17
Satildeo Francisco de Paula hoje conta com vinte e oito entidades
tradicionalistas18 espalhadas pelos seus distritos demonstrando que homem do
campo se faz muito presente em todo o municiacutepio sendo assim a cultura
interior Os exemplares encontram-se encadernados no arquivo histoacuterico de Satildeo Francisco de Paula
17 Jornal Pioneiro conhecido como o jornal que estaacute ldquoao teu ladordquo o Pioneiro circula desde 1948 e estaacute presente hoje em 64 municiacutepios da regiatildeo de Caxias do Sul Desde 1993 integra a rede de jornais do Grupo RBS sendo filiado ao Instituto Verificador de Circulaccedilatildeo (IVC) Conta com uma equipe de Redaccedilatildeo com mais de 40 jornalistas aleacutem de colunistas internos e externos Em 2008 o jornal ganhou o site pioneirocom Disponiacutevel em lthttpwwwgruporbscombratuacaopioneirogt acesso em 10 de fevereiro de 2019
18 Informaccedilatildeo cedida pelo Coordenador da 27ordf Regiatildeo Tradicionalista Gauacutecha
40
tradicionalista se apresenta de maneira forte e consistente segundo vaacuterios
depoimentos de moradores de todos os distritos de Satildeo Francisco de Paula
41
4 SAtildeO FRANCISCO DE PAULA DISTRITOS EM FOCO
Quanto aos distritos de Satildeo Francisco de Paula surgem diversas
inquietaccedilotildees com relaccedilatildeo agrave identidade destes locais pois estes mesmo fazendo
parte de um mesmo municiacutepio apresentam singularidades que derivam de sua
colonizaccedilatildeo basicamente lusa portuguesa e da recepccedilatildeo de imigrantes de diversas
etnias como italianos e alematildees ao longo destes cento quinze anos de
emancipaccedilatildeo Percebe-se que alguns distritos manteacutem sua identidade e tradiccedilotildees
resguardadas enquanto em outros jaacute ocorreu agrave miscigenaccedilatildeo de diferentes haacutebitos
e culturas o que dificulta identificar traccedilos que identifiquem estes distritos
Neste capiacutetulo busca-se responder a estas inquietaccedilotildees fazendo uso dos
depoimentos de moradores locais Segundo Delgado (2003 p 21) ldquoessas
narrativas tal qual os lugares da memoacuteria satildeo instrumentos importantes de
preservaccedilatildeo e transmissatildeo das heranccedilas identitaacuterias e das tradiccedilotildeesrdquo Neste sentido
se optou por dois moradores por distrito totalizando treze entrevistados um homem
e uma mulher da terceira idade que sempre morou no distrito o que enriquece os
detalhes repassados pelos entrevistados
Toda entrevista tem por base a memoacuteria individual que se referencia na coletiva profundamente relacionada agraves vivecircncias individuais A utilizaccedilatildeo do depoimento de pessoas idosas como fonte para a histoacuteria oral eacute uma forma de justificar a entrevista como histoacuterica referindo-se ao passado jaacute que aos idosos se pretende atribuir a guarda de memoacuterias do passado pelo proacuteprio tempo de vida do depoente Isto retoma e ajuda a fortalecer a ideia de que a histoacuteria mesmo tratando do tempo presente ainda se reporta a um periacuteodo anterior ao da vida do pesquisador (ALMEIDA 2012 p 10)
A entrevista somente ocorreu quando o entrevistado concordou em assinar o
termo de consentimento As entrevistas ocorreram nas residecircncias dos
entrevistados foram preacute-agendadas sendo que o meacutetodo utilizado foi entrevista
guiada atraveacutes de questionaacuterio previamente organizado pela autora as entrevistas
foram filmadas e gravadas onde somente uma entrevistada natildeo autorizou a
filmagem de seus relatos justificando a idade avanccedilada e por morar sozinha
A escolha pela histoacuteria oral hibrida ocorreu no sentido de que a fonte oral eacute o
principal recurso utilizado para colher informaccedilotildees sobre os distritos visto que em
sua grande maioria natildeo haacute publicaccedilotildees Poreacutem em determinados momentos se
utilizam fontes documentais como complemento do que vem sendo apresentado
Com relaccedilatildeo agrave abordagem adotada nas entrevistas se optou pela temaacutetica visto
42
que se leva um roteiro preacute-organizado com temas que deveratildeo ser explorados
durante as entrevistas o que proporciona uma riqueza de informaccedilotildees para a
autora
41 DISTRITO SEDE
O distrito Sede se constitui no local onde se inicia o povoado do municiacutepio na
antiga Fazenda da Cria terras doadas pelo capitatildeo Pedro da Silva Chaves Neste
distrito concentram-se os serviccedilos puacuteblicos e privados que os moradores
necessitam em seu dia-a-dia visto que ali existem bancos casas loteacutericas
farmaacutecias hospital supermercados lojas papelarias livraria inspetoria veterinaacuteria
secretaacuterias municipais escolas puacuteblicas e privadas creches induacutestrias de madeiras
e calccedilados
Poreacutem o distrito Sede ou cidade de Satildeo Chico como popularmente
conhecida pelo seu povo jaacute foi uma cidade de interior ou seja uma cidade pequena
com moradores que vinham das fazendas em busca de estudo Visto que a
implementaccedilatildeo de uma rede regular de ensino ocorre tardiamente devido agrave
dificuldade de se locomover pelas distantes localidades entatildeo normalmente os
fazendeiros contratavam professores para que seus filhos obtivessem estudo sendo
que estes moravam na proacutepria residecircncia da famiacutelia Em entrevista com essa autora
relata Albuquerque19 que ldquopara aprimorar os estudos aqueles que tinham mais
condiccedilotildees iam para Porto Alegre Santa Maria ou Passo Fundo mas para isto
ficavam laacute em internatos e soacute retornavam nas feacuterias devido agrave dificuldade e o custo
da viagemrdquo
Na deacutecada de 40 foi criada a Escola Catoacutelica de Satildeo Francisco de Paula
cujo funcionamento acontece ateacute 1973 quando foram encerradas suas atividades
Esta escola iniciou com o curso primaacuterio e posteriormente instalou o curso ginasial
Normalmente estes moradores permaneciam de segunda-feira a sexta-feira na
cidade e nos finais de semana retornavam para as fazendas como recorda uma
moradora local
Noacutes eacuteramos uma cidade de fazendeiros a gente tinha uma casa no campo e uma na cidade a gente vivia de laacute pra caacute de caacute pra laacute fim de semana ia
19 ALBUQUERQUE Moacir Castello Branco de Entrevista concedida agrave autora no dia 06 de abril de
2018
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pra fora20 dia de semana vinha pra caacute normalmente uma irmatilde mais velha voacute ficava com a gente aqui na cidade e a famiacutelia mesmo ficava no campo21
Percebe-se que hoje ainda existem na Sede moradores que manteacutem suas
casas na cidade e durante o dia ou nos finais de semana vatildeo ateacute suas fazendas
para fazer as lides com o gado o que caracteriza uma pequena parte da populaccedilatildeo
que foram os filhos dos antigos fazendeiros que mais tarde acabam se instalando
definitivamente na cidade trazendo com sigo a essecircncia do homem do campo e
afirmando uma identidade genuinamente gauacutecha definiccedilatildeo esta concedida por uma
moradora local
Gauacutecho natildeo eacute o morador do Rio Grande do Sul o morador do Rio Grande do Sul eacute o sul-rio-grandense ou rio-grandense do sul o gauacutecho eacute apenas o homem que vem da pecuaacuteria extensiva essa que existe laacute no pampa e aqui nos campos de cima da serra o gauacutecho serrano com caracteriacutesticas muito proacuteprias grandes gaiteiros poetas aliaacutes o maior gaiteiro do mundo eacute daqui natildeo abro matildeo de dizer isto soacute que todos noacutes viacutenhamos da lida do campo em decorrecircncia disso eacuteramos gauacutechos de verdade22
Em sua fala apresenta o gauacutecho serrano como um tipo singular que ama a
pilcha gauacutecha o seu pingo e suas criaccedilotildees bem como reafirma a importacircncia dos
Irmatildeos Bertussi Honeide e Adelar sendo Adelar Bertussi um dos maiores gaiteiros
deste municiacutepio Exaltam-se tambeacutem os poetas que com suas poesias e letras de
muacutesicas escrevem o jeito do seu povo viver
Mesmo a cidade sendo ldquolocal de paradardquo durante a semana para a maioria
de seus habitantes no passado era cheia de atrativos que o campo natildeo possuiacutea
como o cinema cuja instalaccedilatildeo natildeo se encontra documentada mas sabe-se que
iniciou onde hoje eacute o preacutedio da Prefeitura Municipal sendo proprietaacuterio Francisco
Ferraz (Chico Ferraz como era conhecido) Observa-se em alguns exemplares do
Jornal Folha da Serra23 os filmes e os horaacuterios do funcionamento do cinema
Entende-se que o jornal era uma maneira de divulgar os filmes por ser o uacutenico meio
de comunicaccedilatildeo da eacutepoca Pelos folhetins se percebe que as sessotildees
apresentavam diversos gecircneros natildeo se sabe quando o cinema finalmente fechou
20 Fora refere-se ir para a fazenda 21 SOARES Luciana Olga Entrevista concedida agrave autora no dia 01 de marccedilo de 2018 22 SOARES Luciana Olga Entrevista concedida agrave autora no dia 01 de marccedilo de 2018 23 Folha da Serra jornal local criado em 1932 pelo Dr Siacutelvio Rabelo passando posteriormente a
propriedade da Prefeitura Municipal Sua impressatildeo era na ordem de 500 exemplares natildeo se tem a informaccedilatildeo do periacuteodo que parou de circular mas pelos exemplares encontrados no Arquivo Histoacuterico de Satildeo Francisco de Paula os uacuteltimos datam de 1978 O Arquivo Histoacuterico de Satildeo Francisco de Paula fica em um preacutedio anexo agrave Biblioteca Puacuteblica do municiacutepio
44
poreacutem o jornal Folha da Serra traz uma reportagem que retrata como estava difiacutecil
manter o cinema em funcionamento em meados de 1968 ldquoo nosso cinema na
maneira que vai indo natildeo tem mais condiccedilotildees de funcionar natildeo temos apoio da
populaccedilatildeo com uma frequecircncia de mais ou menos 150 pessoas por final de
semanardquo O jornal acrescenta ldquosalienta-se que mais ou menos de 3 de nossa
CULTA populaccedilatildeo natildeo frequenta o cinemardquo Pode-se associar o fechamento do
cinema a dois fatores a natildeo cultura de assistir filmes e pelas sessotildees ocorrerem nos
finais de semana onde boa parte da populaccedilatildeo da cidade se deslocava para as
fazendas ou pela crise que os cinemas passaram na deacutecada de 80 quando em
muitas cidades foram fechados
A vida da populaccedilatildeo local vai se modificando cada vez mais as pessoas vatildeo
se instalando definitivamente na Sede onde se perde o viacutenculo com o campo
Devido agrave venda ou arrendamento das fazendas24 que por render pouco a pecuaacuteria
extensiva e com a criaccedilatildeo de novas legislaccedilotildees que proiacutebem praacuteticas centenaacuterias
seus proprietaacuterios buscaram novas possibilidades econocircmicas que modificaram a
Sede e tambeacutem boa parte do interior Em entrevista a moradora Soares relata
Exatamente porque a produccedilatildeo era pequena isso natildeo serve para o mundo de hoje a uns quarenta anos chega em nossos campos as primeiras plantaccedilotildees de pinus interessante que ningueacutem reclamou da destruiccedilatildeo desse campo de milhotildees de anos e de todo o ecossistema mas mesmo com essa nova cultura continuamos realizando a sapeca do campo no mecircs de agosto mas de repente chega a notiacutecia que estaacute proibida a queima do campo dizendo que noacutes estragaacutevamos a terra poluiacuteamos o ar que mataacutevamos animais e tudo aquilo natildeo era verdade Na verdade alguns anos depois da lei proibindo a queima do campo chegam as multas gigantescas agraves vezes maior que o valor da terra e aiacute inviabilizou a pecuaacuteria e muitos fazendeiros venderam suas terras e foram embora Quem ficou no campo na busca por renda a qualquer preccedilo arrenda seus campos para os batateiros que vieram acredito que a grande maioria de Santa Catarina e do Paranaacute estes lavram o campo nunca mais o campo nem com reza braba taacute tudo perdido para sempre e isso reflete na nossa cidade25
Essas mudanccedilas no campo refletem na Sede onde o homem serrano convive
passivamente com novas identidades que embora sejam presentes eacute minoria pois
esta parcela de novos moradores traz consigo um novo jeito de viver que ainda natildeo
se percebe influenciar na identidade cultural da Sede
24 Propriedades rurais cuja atividade principal eacute a praacutetica da pecuaacuteria extensiva e a produccedilatildeo do
queijo artesanal serrano 25 SOARES Luciana Olga Entrevista concedida agrave autora no dia 01 de marccedilo de 2018
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Na Sede desde o iniacutecio se observam quatro clubes sociais a Sociedade
Cruzeiro a Sociedade 9 de Julho a Sociedade Esperanccedila e o Centro de Tradiccedilotildees
Gauacutechas Cada clube social tem sua importacircncia histoacuterica poreacutem alguns natildeo se
manteacutem ativos
A Sociedade 9 de Julho foi fundada em 27 de setembro de 1961 estando
localizada no bairro Rincatildeo Segundo o jornal Folha da Serra (1968 n 96 p 5)
apoacutes sete anos de sua fundaccedilatildeo ldquoseu presidente Galego promete uma nova e
confortaacutevel sede para a sociedaderdquo Sociedade que se apresenta por sua
versatilidade nos eventos ateacute os dias atuais
O jornal Folha da Serra (1968 n 96 p 5) traz a seguinte mateacuteria ldquoas quatro
noites foram repletas de alegria naquela sociedade onde os foliotildees divertiram-se e
quando se anunciou o final da quarta noite houve quem lamentasse o final da festa
do Momordquo A reportagem refere-se ao carnaval que se desenvolve de forma
popular nesta sociedade Neste espaccedilo na deacutecada de 1990 ocorria um baile na
sexta-feira que antecedia ao Festival do Ronco do Bugio um espaccedilo onde jovens se
encontravam para iniciar as festividades do grande festival da cidade poreacutem na
atualidade este evento natildeo ocorre mais Pelos cartazes de divulgaccedilatildeo de eventos
atuais a Sociedade 9 de Julho se torna um espaccedilo bastante versaacutetil e segundo
dados obtidos no site da proacutepria sociedade o local apresenta shows bailes
tradicionalistas domingueiras e festas temaacuteticas
Sabe-se da existecircncia da Sociedade Esperanccedila devido a uma reportagem a
respeito do carnaval escrita no jornal Folha da Serra (1968 n 11 p 25) ldquoos
escurinhos tambeacutem natildeo ficaram para traacutes e demonstraram que satildeo bons no samba
porque soacute quem assistiu pode ver como brincaram e que maravilha de ritmo
marcaram durante as quatro noitesrdquo A reportagem daacute a entender de se tratar de
uma sociedade frequentada por negros e pode-se entender que ao usar o termo
escurinho na reportagem haacute preconceito racial perpassando a ideia de que por
serem negros natildeo poderiam se divertir da mesma maneira que os brancos
Atualmente se encontra no local um espaccedilo residencial e comercial
A Sociedade Cruzeiro foi fundada em 9 de maio de 1925 pela elite da
sociedade serrana Segundo Teixeira (2002) e Fonseca (2012) sua sede social era
na Avenida Juacutelio de Castilhos onde hoje se situa a agecircncia do Banrisul e teve como
primeiro presidente o Sr Antocircnio Mario Kroeff e o secretaacuterio Sr Joatildeo Parobeacute de
Lucena Sua nova sede foi inaugurada de acordo com Fonseca (2012 p 236) ldquono
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dia 11 de dezembro de 1965 e esta permanece no mesmo endereccedilo ateacute a
atualidade Situa-se na Rua Dr Frederico Tedesco nordm 1261rdquo
Atualmente este espaccedilo eacute usado para convenccedilotildees ou festas particulares
onde as pessoas locam o espaccedilo para realizarem seu evento Neste espaccedilo natildeo
mais ocorrem grandes eventos sociais como Fonseca (2012 p 232) descreve ldquoos
bailes mais elegantes e vistosos desta sociedade ocorrem aquirdquo Fonseca (2012 p
233) ainda complementa que ldquoa primeira Miss Sociedade Cruzeiro foi eleita em 1937
e a vencedora foi a jovem Zilah Teixeirardquo
A Sociedade Cruzeiro tambeacutem foi palco de bailes de carnaval O Jornal Folha
da Serra (1968 n 11 p 25) descreve ldquocomo sempre a Sociedade Cruzeiro ponteou
o nosso carnaval com blocos fantasiados magnificamente fazendo acrobacias ao
som de excelente muacutesica local onde os turistas afluiacuteramrdquo Contrapondo a este
tempo a moradora local Soares26 discorre de maneira saudosa ldquoque saudades do
carnaval hoje eacute bebedeira perdeu o encanto perdeu tudo Na rua o pessoal
gritando sem nenhuma infraestrutura nem os bailes na sociedade natildeo ocorrem
maisrdquo
O distrito Sede jaacute foi palco de inuacutemeros clubes sociais que ao longo do tempo
foram perdendo seu encanto e ateacute mesmo fechando-se para atividades sociais O
que permanece em pleno funcionamento eacute o Centro de Tradiccedilotildees Gauacutechas Rodeio
Serrano o que justifica uma cultura tradicionalista presente neste distrito Dentre as
atividades desenvolvidas por esta entidade estatildeo o Rodeio Interestadual com
atividades campeiras e artiacutesticas que ocorrem todos os anos no primeiro final de
semana de dezembro a manutenccedilatildeo das invernadas artiacutesticas em todas as
categorias mascote mirim juvenil e adulta
A organizaccedilatildeo da Ronda Crioula na Semana Farroupilha com a participaccedilatildeo
das escolas da Sede e do interior que trazem seus grupos de danccedilas bem como
organizam gincanas Outra atividade tambeacutem desenvolvida por esta entidade eacute a
Cavalgada de Prendas que ocorre durante a Semana Farroupilha desde 1992
sendo Satildeo Francisco de Paula pioneira nesta ideia onde somente mulheres
participam da cavalgada que culmina com o desfile na Avenida Juacutelio de Castilhos
Realiza-se tambeacutem o Baile da Prenda Jovem que eacute o baile de debutante gauacutecho
onde as prendas entre 13 e 15 anos satildeo apresentadas agrave sociedade Aleacutem disso nos
26 SOARES Luciana Olga Entrevista concedida agrave autora no dia 01 de marccedilo de 2018
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uacuteltimos anos a organizaccedilatildeo e apresentaccedilatildeo do Festival Ronco do Bugio que ocorre
em Satildeo Francisco de Paula faz parte da programaccedilatildeo desta entidade Este festival
apresenta exclusivamente o gecircnero musical bugio Haacute pelo menos duas hipoacuteteses
sobre a origem deste gecircnero musical
A primeira eacute de berccedilo serrano e teria mais fiel escudeiro o inesqueciacutevel acordeonista de Satildeo Francisco de Paula Honeyde Bertussi Siqueira Segundo ele o ritmo teria sido originaacuterio pelas matildeos do gaiteiro Vergiacutelio Leitatildeo que no jogo-de-foles e nos baixos de sua gaita de botatildeo teria imitado o ronco do bicho nos caponetes de cima da serra [] teria difundido pelas bodegas do Juaacute interior de Satildeo Chico (SOUZA 2003 p 15)
A segunda hipoacutetese eacute apresentada por Souza (2003 p 15) que apresenta a
versatildeo dada pelo povo de Satildeo Francisco de Assis que diz que ldquoa origem do ritmo e
oriunda desta localidade que por sinal realizava um festival nativista chamado
Querecircncia do Bugiordquo
Desconhece-se a verdadeira origem do gecircnero musical bugio mas Souza
(2003 p 23) afirma que ldquoJoatildeo Cincinato Terra muacutesico atuante sentiu a
necessidade de nosso municiacutepio acompanhar o movimento jaacute que neste periacuteodo se
expande por todo o estado do Rio Grande do Sul os festivais nativistasrdquo O
lanccedilamento do primeiro festival do Ronco do Bugio acontece em 1986 no CTG
Rodeio Serrano com a participaccedilatildeo de vaacuterios representantes da muacutesica nativista e
da comunidade serrana Seu lanccedilamento oficial ocorre em 16 de abril de 1986
O jornal Satildeo Chico Tchecirc (1986 n 11 p 6) noticiou que o primeiro Festival do
Ronco do Bugio contou com 98 muacutesicas escritas sendo 24 as selecionadas O
festival ocorreu entre os dias 13 e 15 de maio e Souza (2003 p 42) descreve que foi
apresentado ldquosob uma lona de circo estaqueada num gramado amador mas de
tantas gloacuterias futeboliacutesticas o campo do Clube Atleacutetico Serranordquo
A muacutesica vencedora do primeiro Ronco do Bugio foi ldquoLevanta Bugiordquo
defendida pelo cantor e compositor gauacutecho Leonardo Observando fotos percebe-se
que o Ronco do Bugio se deu em uma noite fria de inverno
O Festival Ronco do Bugio desde o seu iniacutecio premia melhor arranjo
conjunto instrumental instrumentista inteacuterprete e a muacutesica mais popular Fatima
Gimenez foi a melhor inteacuterprete do primeiro festival defendendo a muacutesica ldquoPinheiro
Gringordquo composiccedilatildeo de Erian Fogaccedila e Laerte Fortes Novamente a roupa dos
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muacutesicos reforccedila que na noite da entrega da premiaccedilatildeo fazia muito frio A cantora
tambeacutem se apresenta vestindo um chiripa coberto por um pala27
Na Figura 11 observamos a fotografia de Gonzaga dos Reis muacutesico local
sentado com sua gaita instrumento que lhe deu o precircmio de melhor instrumentista
do primeiro Ronco do Bugio Nesta oportunidade o cantor instrumentista e
compositor defendeu a muacutesica ldquoBugio da Minha Terrardquo
Figura 11 ndash Gonzaga dos Reis
Fonte Jornal Satildeo Chico Tchecirc n 4 p 8 (1986)
A composiccedilatildeo ldquoBugio Tiranordquo que foi defendida pelo conjunto Os Tiranos de
Satildeo Francisco de Paula ganhou o precircmio mais popular
Para o Jornal Satildeo Chico Tchecirc (1986 n 11 p 7) o Festival Ronco do Bugio eacute
ldquoum festival autecircntico e original que aconteceu com grande sucesso em Satildeo
Francisco de Paulardquo No encerramento deste grande evento Joatildeo Chagas Leite se
27 Chiripa e pala satildeo trajes tipicamente gauacutechos Sendo que o chiripa atualmente eacute uma veste de
preferecircncia feminina este fica enrolado na cintura e vai ateacute os joelhos ldquoEacute um pano inteiro passado entre as pernas primeiro de traacutes para frente e depois de frente para traacutes pode ser de latilde ou lisordquo (ABREU 2003 p 67) O pala eacute uma peccedila retangular com franjas nos quatro lados e listras no sentido do comprimento
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apresenta segundo o Jornal Satildeo Chico Tchecirc (1986 n 11 p 8) ldquocom composiccedilotildees
como Corda de Espinho Orelhano Pampa Campo e Querecircncia Coraccedilatildeo de
Estudante e Afiosrdquo
O Festival Ronco do Bugio perpassa o tempo segundo o site da Prefeitura
Municipal
O Festival Ronco do Bugio eacute um evento musical nativista que acontece anualmente na Cidade de Satildeo Francisco de Paula com o intuito de preservar e difundir o uacutenico ritmo originaacuterio do Rio Grande do Sul ou seja o lsquobugiorsquo compasso criado justamente no interior deste municiacutepio Tal criaccedilatildeo se deu a partir da criatividade dos gaiteiros serranos que buscaram imitar com seu instrumento musical o ronco do primata nos matos da serra A festividade agora em sua 26ordf ediccedilatildeo eacute genuiacutena pois eacute o uacutenico da Ameacuterica onde obrigatoriamente os participantes devem utilizar um ritmo somente isto eacute o citado lsquobugiorsquo embora a temaacutetica seja abrangente Por este motivo eacute chamado de lsquoO Festival Mais Autecircntico do Rio Grandersquo Aleacutem do forte enfoque cultural que envolve toda a comunidade musical do Estado o Festival tem seu apelo ecoloacutegico pois chama a atenccedilatildeo para a preservaccedilatildeo da espeacutecie hoje quase em extinccedilatildeo O Ronco do Bugio por sua importacircncia no cenaacuterio cultural rio-grandense criou uma identidade ao povo de Satildeo Francisco de Paula pois junto ao evento estaacute intriacutenseco e vem agrave tona o histoacuterico da criaccedilatildeo do municiacutepio caracterizado pela forte influecircncia dos antigos tropeiros desbravadores e povoadores desta parte do paiacutes (PREFEITURA MUNICIPAL DE SAtildeO FRANCISCO DE PAULA 2017)
No mesmo documento disponibilizado pela Prefeitura Municipal de Satildeo
Francisco de Paula observam-se algumas informaccedilotildees a respeito da realizaccedilatildeo do
festival no ano de 2017
Art 1ordm - O 26ordm Ronco do Bugio realizar-se-aacute no municiacutepio de Satildeo Francisco de Paula nos dias 01 e 02 de setembro de 2017 Art 2ordm - a festividade agora em sua 26ordf ediccedilatildeo eacute genuiacutena pois eacute a uacutenica na Ameacuterica Latina com promoccedilatildeo da Prefeitura Municipal de Satildeo Francisco de Paula e do CTG Rodeio Serrano com apoio de oacutergatildeos puacuteblicos e iniciativa privada Art 3ordm - Satildeo objetivos do 26ordm Ronco do Bugio a) valorizar a tradiccedilatildeo arte cultura e a autecircntica muacutesica regionalista
gauacutecha atraveacutes do seu ritmo mais original b) prestigiar autores compositores inteacuterpretes e conjuntos regionalistas e
incentivar o surgimento de novos valores c) divulgar a muacutesica regional gauacutecha d) valorizar a relevante posiccedilatildeo na formaccedilatildeo de usos e costumes
caracteres e valores espirituais e morais do gauacutecho e) promover e incentivar a cultura gauacutecha projetando Satildeo Francisco de
Paula na maneira mais autecircntica no cenaacuterio do turismo (PREFEITURA MUNICIPAL DE SAtildeO FRANCISCO DE PAULA 2017)
Como eacute possiacutevel observar no artigo 4ordm ldquoA organizaccedilatildeo do 26ordm Ronco do Bugio
ficaraacute a cargo da Comissatildeo Organizadora composta por membros da Prefeitura
Municipal e do CTG Rodeio Serranordquo (PREFEITURA MUNICIPAL DE SAtildeO
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FRANCISCO DE PAULA 2017) Devido agrave importacircncia identitaacuteria do festival para o
municiacutepio ao se chegar agrave cidade na deacutecada de 90 se encontrava o seguinte
outdoor
Figura 12 ndash Outdoor entrada da cidade na ERS-020
Fonte Souza (2003 p 17)
Assim como o tiacutetulo de ldquoCapital Mundial do Bugiordquo Satildeo Francisco de Paula ldquojaacute
obteve vaacuterios slogans dentre eles o de Satildeo Chico eacute terra boardquo (TEIXEIRA 2002 p
149-150)
Mesmo ocorrendo inferecircncias externas advindas com pessoas que trouxeram
consigo uma identidade diferente Soares28 em entrevista afirma ldquoSatildeo Chico eacute
identificada pela cultura tradicionalista gauacutecha a cuia em frente ao antigo preacutedio da
prefeitura demonstra o siacutembolo da hospitalidade de nosso povordquo A permanecircncia
ativa do CTG Rodeio Serrano na sede eacute outro indicativo forte da presente
identidade ligada as atividades do homem do campo Outro fato observado eacute a
constante praacutetica do laccedilo de vaca parada29 por jovens e crianccedilas nos paacutetios de suas
residecircncias bem como cavalarianos (homens mulheres jovens e crianccedilas) na
28 SOARES Luciana Olga Entrevista concedida agrave autora no dia 01 de marccedilo de 2018 29 Vaca parada uma espeacutecie de cavalete de madeira com aspectos de uma vaca usada por crianccedilas
que estatildeo iniciando neste esporte bem como usado como forma de entretenimento para jovens e adultos
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avenida principal cavalgando entre os carros Ainda se percebe o respeito entre
motoristas de automotivos bicicletas e os cavalarianos todos ocupando o mesmo
espaccedilo
42 DISTRITO DE CAZUZA FERREIRA
O distrito de Cazuza Ferreira foi criado em 07 de janeiro de 1903 estando
situado a 85 quilocircmetros da Sede Andrade comenta em entrevista30 ldquoateacute acho que
Cazuza se desenvolveu primeiro que Satildeo Chicordquo31 visto que a criaccedilatildeo do distrito
acontece dias depois da emancipaccedilatildeo enquanto a criaccedilatildeo da vila do distrito de
Cazuza Ferreira se desenvolve segundo a entrevistada
A parte da Histoacuteria que eu sei eacute que houve a chegada de um Sr Chico Mestre eacute como eles chamavam Esse Sr veio as casas eram distantes umas das outras e ele comeccedilou a fazer oraccedilatildeo nas casas e reunir as pessoas e fundou o cemiteacuterio Entatildeo o Joseacute Ferreira de Castilhos que era dono daqui naquela eacutepoca um dos moradores que tinha bastante terra doou a terra para fazer a vila aiacute o que aconteceu segundo as histoacuterias era para ser ali onde eacute a cancha de laccedilo hoje do outro lado da estrada soacute que o terreno natildeo era apropriado entatildeo houve uma permuta com o Sr que era dono deste terreno aqui era Bossle aqui era bem mais alto e mais plano Entatildeo se construiu a Igreja e iniciou o povoamento da vila32
A moradora Basso ainda acrescenta que ldquoa vila foi sempre mais ou menos o
que ela eacute hojerdquo Ao observar o local pode-se perceber uma grande praccedila ao centro
rodeada de casas de comeacutercio posto de combustiacutevel posto de sauacutede o hotel a
Igreja Matriz juntamente com o salatildeo paroquial e casas residecircncias cujo aspecto
impressiona por a grande maioria das casas apresentam uma arquitetura que
perpassa o tempo A Figura 13 apresenta uma imagem da praccedila central tirada das
escadarias da Igreja Matriz
30 ANDRADE Nauro Bossle de Entrevista concedida agrave autora no dia 04 de marccedilo de 2018 31 Primeiro que Satildeo Chico eacute um termo comum usado pelos moradores do interior do municiacutepio de
Satildeo Francisco de Paula que ao se referir a Sede do municiacutepio usam o termo Satildeo Chico ou Satildeo Francisco de Paula pois seus moradores natildeo costumam na atualidade dizer lsquovou a Sedersquo e sim lsquovou a Satildeo Chicorsquo como se eles natildeo morassem no municiacutepio
32 BASSO Ceacutelia Pacheco Terres Entrevista concedida agrave autora no dia 04 de agosto de 2018
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Figura 13 ndash Praccedila Central de Cazuza Ferreira
Fonte acervo pessoal da autora (2018)
Apesar de ter a preservaccedilatildeo arquitetocircnica a moradora Basso declara
O pai contava e outras pessoas contam que teve uma eacutepoca que tinha faacutebrica de tamanca33 jaacute teve faacutebrica de guaranaacute de queijo bastante coisa no sentido de selaria mas tudo foi se extinguindo as pessoas as famiacutelias natildeo deram continuidade e se sumiram natildeo existe mais nada disso mas estas faacutebricas natildeo davam renda ou seja trabalho para pessoas de fora pois elas eram administradas e cuidadas pelas famiacutelias Daiacute houve o periacuteodo das serrarias enquanto pode extrair madeira era o forte a vila movimentada enriqueceram alguns comerciantes locais o momento que extinguiu aquele trabalho eles foram embora e o povo daqui acomodou entatildeo hoje a vila tem bastante pessoas que foram embora trabalhar assim na juventude e hoje aposentados voltaram pois aqui para jovem natildeo tem sobrevivecircncia o uacutenico trabalho eacute na escola tem nove professores e uma funcionaacuteria em alguns funcionaacuterios da prefeitura acho que satildeo seis que cuidam do plantel de maacutequinas a enfermeira e o pessoal que cuida do posto do correio tambeacutem tem a ferraria mas ali eacute soacute os da proacutepria famiacutelia entatildeo o jovem acaba tendo que ir embora34
Os entrevistados Basso e Andrade relatam que apesar das adversidades o
povo de Cazuza Ferreira tem um amor pelas suas tradiccedilotildees mantendo vivos trecircs
aspectos que ambos consideram a marca identitaacuteria de seu povo e afirmam com
33 Tamanca calccedilado comum na regiatildeo solado de madeira com uma proteccedilatildeo sobre as pontas dos
dedos indo ateacute o peito do peacute em couro 34 BASSO Ceacutelia Pacheco Terres Entrevista concedida agrave autora no dia 04 de agosto de 2018
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convicccedilatildeo ldquofalar de Cazuza eacute cavalhada hotel e rodeiordquo enquanto Basso acrescenta
que ldquoas cavalhadas satildeo heranccedila dos portugueses e estatildeo espalhadiacutessimas ateacute
nacionalmente atraveacutes da miacutedia porque natildeo pesquisei mas ateacute onde sei no Rio
Grande do Sul soacute tem aquirdquo
Na comunidade ainda segundo Basso ldquoa apresentaccedilatildeo das cavalhadas se
iniciou por volta de 1890 e permanece ativa ateacute hoje no passado existiam trecircs
cavalhadas as dos brancos dos amarelos e dos negrosrdquo acrescentando ldquomas hoje
natildeo haacute mas essa diferenciaccedilatildeordquo Em poliacutegrafo organizado por uma moradora local a
mesma explica que a cavalhada ldquoeacute uma luta simulada em que haacute vinte e quatro
participantes sendo doze de cada equiperdquo35 por meio da evoluccedilatildeo equestre e
movimentos de espada lanccedila e garrucha representando a batalha entre mouros e
cristatildeos Segundo esta moradora ldquoa batalha sempre termina sendo vencida pelos
cristatildeos demonstrando a submissatildeo dos mouros e a supremacia da religiatildeo cristatilderdquo
Atualmente o grupo depende da boa vontade de seus participantes conforme
explica
Hoje se tornou caro eacute exame dos cavalos transporte depende do querer das pessoas da boa vontade e tem pessoas engajadas que natildeo largam a famiacutelia do Renau que ele eacute o presidente do grupo ele tem um amor tatildeo grande pelas cavalhadas porque ele jaacute recebeu do pai dele do teu avocirc e do seu Ivo Cardoso e a vida dele agraves vezes me desgosto de alguma coisa pois faccedilo a narrativa do que estaacute sendo apresentado mas daiacute eu penso natildeo posso abandonar (sorri) Eacute uma tradiccedilatildeo que natildeo pode morrer mas os filhos do Renau o Marcos e o Marcelo daratildeo continuidade faz parte da famiacutelia tu sabe eacute da mesma famiacutelia Eacute uma grande tradiccedilatildeo que natildeo pode desaparecer temos que continuar peleando36
As cavalhadas satildeo apresentadas na praccedila central sempre durantes as festas
religiosas que acontecem na comunidade sendo assim organizadas
No primeiro ou segundo final de semana de fevereiro tem a festa da Nossa Senhora do Belo Horizonte que eacute a padroeira daqui Agora devido agrave comissatildeo e o padre um ano tem a festa dos morenos e no outro tem a dos agricultores que eram chamados de amarelos antigamente cuja devoccedilatildeo se daacute agrave Nossa Senhora do Rosaacuterio e Nossa Senhora da Penha Antigamente cada um tinha seu espaccedilo social para realizar a festa atualmente soacute se manteve a tradiccedilatildeo de comemorar os santos este ano eacute festa dos morenos ela seraacute dia 13 e 14 de outubro Todas as festas
35 Sendo que doze cavaleiros que representam os cristatildeos vestem tuacutenicas de veludo azul escuro e
os doze cavaleiros mouros vestem tuacutenicas vermelhas Sobre os ombros da tuacutenica haacute uma capinha esta capinha traz enfeites prateados bordados com lantejoulas e bototildees dourados e franjas de seda branca Todos os participantes usam bombacha branca de brim botas campeiras pretas chapeacuteu de palha de aba larga virada para cima com laccedilo de fita e barbicacho de acordo com a cor da tuacutenica
36 BASSO Ceacutelia Pacheco Terres Entrevista concedida agrave autora no dia 04 de agosto de 2018
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religiosas ocorrem em dois dias saacutebado apresentaccedilatildeo das cavalhadas novena janta e baile no domingo tem a missa na Igreja Matriz logo apoacutes almoccedilo e reuniatildeo danccedilante Atualmente resgataram em dezembro a festa a Satildeo Cristoacutevatildeo sempre no primeiro final de semana de dezembro eacute uma missa com benccedilatildeo aos carros durante a procissatildeo e um almoccedilo ao meio-dia esta se daacute somente em um dia E tambeacutem temos de dois em dois anos a festa organizada pelo grupo das Cavalhadas esta ocorre em maio daiacute37
Os moradores explicam que a separaccedilatildeo racial desapareceu com o tempo
poreacutem se manteacutem a cultura de festejar todos os santos o que demonstra que o povo
de Cazuza eacute bastante devoto e cristatildeo E acrescenta em tempos idos que durante
as festas religiosas as pessoas se hospedavam no hotel segundo Basso que ldquoele
recebia tinha mercado junto teve ateacute cinema o pessoal gostava da comida da
Dona Vilma que era minha sogrardquo Este hotel eacute outro marco que identifica Cazuza
Ferreira poreacutem os moradores explicam que atualmente o Hotel do Campo manteacutem a
arquitetura mas funciona em uma modalidade diferenciada pois natildeo haacute como
sobreviver Entatildeo ele recebe hospeda sob reserva antecipada poreacutem natildeo serve
almoccedilo e janta as refeiccedilotildees satildeo feitas no Cantinho do Aconchego com quem
manteacutem uma parceria
Figura 14 ndash Hotel do Campo
Fonte acervo pessoal da autora (2018)
37 BASSO Ceacutelia Pacheco Terres Entrevista concedida agrave autora no dia 04 de agosto de 2018
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Nesta comunidade tambeacutem eacute muito forte segundo os entrevistados38 a
tradiccedilatildeo gauacutecha que adveacutem do homem do campo o amante dos rodeios que nos
finais de semana saem de suas propriedades e se deslocam a outras comunidades
para participar dos eventos campeiros como o tiro de laccedilo Tambeacutem explanam que
existe o CTG Adatildeo Castilhos que estaacute interditado jaacute faz quase seis anos desde
que comeccedilaram a ser exigidos os PPCIs A partir deste momento eles natildeo puderam
mais fazer eventos ali eles realizam os rodeios ou festas campeiras mas laacute dentro
natildeo conseguiram mais fazer nada e taacute difiacutecil vai muito dinheiro para cumprir todas
as exigecircncias Sendo que este espaccedilo na deacutecada de 80 do seacuteculo XX foi palco de
grandes rodeios com apresentaccedilotildees campeiras artiacutesticas e grandes bailes A
moradora explica39 ldquoA Claudiana esposa do Paulo Cesar atual presidente se
inscreveu no projeto Meu Galpatildeo de Cara Nova do Galpatildeo Crioulo da RBS TV
tomara que ela seja classificadardquo Este projeto ajuda na reconstruccedilatildeo dos CTGs pelo
Rio Grande do Sul
Ao pesquisar sobre Cazuza Ferreira percebe-se o quatildeo forte eacute o culto agraves
tradiccedilotildees e o esforccedilo de seus moradores para elas permaneccedilam para futuras
geraccedilotildees visto que o tempo passou e a tradiccedilatildeo local natildeo sofreu alteraccedilotildees
43 DISTRITO DE TAINHAS
O distrito de Tainhas foi criado em 18 de outubro de 1922 estando situado a
33 quilocircmetros da Sede Se desenvolveu no entroncamento de duas rodovias a RS-
020 e a RS-453 cujas rodovias cortavam a vila do distrito Com o advento da
construccedilatildeo da Rota do Sol importante rodovia que hoje que liga Caxias do Sul agraves
praias aleacutem da construccedilatildeo do asfalto da RS-020 que vai a Satildeo Francisco de Paula
tudo mudou O morador Fagundes relata em entrevista40 ldquoaqui era mais habitado
por criadores fazendeiros e agora depois que saiu essa Rota do Sol o movimento
cresceu muito neacute mais por fora da vila entatildeo natildeo trouxe benefiacutecio para noacutesrdquo
Percebe-se que moradores entendem a importacircncia da construccedilatildeo das
rodovias poreacutem as mesmas natildeo trouxeram benefiacutecios econocircmicos para os
moradores locais
38 ANDRADE Nauro Bossle de BASSO Ceacutelia Pacheco Terres Entrevistas concedidas agrave autora no
dia 04 de agosto de 2018 39 BASSO Ceacutelia Pacheco Terres Entrevista concedida agrave autora dia 04 de agosto de 2018 40 FAGUNDES Darci da Silva Entrevista concedida agrave autora no dia 24 de fevereiro de 2018
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Ainda conforme o morador Fagundes41 ldquoo iniacutecio da vila se deu devido agrave
necessidade de parada dos caminhoneiros que transportavam madeira como era
tudo estrada de chatildeo Tainhas ficava em local centralizado se construiu um hotel
que era do seu Pedro Pinhatildeo e da Dona Luisardquo A partir de entatildeo comeccedilou a
construccedilatildeo de casas e se formou a vila onde antes eram terras dos Pinto os
primeiros moradores de Tainhas tanto que o morador ressalta na entrevista42 ldquoo
nome da escola eacute Oliacutempio Soares Pinto que era o proprietaacuterio dessa terra e uma
das professoras mais antigas era Guilherma Pintordquo
Tainhas estaacute rodeada por campos matos de pinnus ilhote e lavouras
atualmente e explica
Hoje aqui eacute pinus e granjeiro plantando batata soja milho e a maioria veio de fora os moradores antigos desapareceram arrendaram ou venderam suas terras para esse pessoal que veio de Ibiraiara e de Maquineacute Itati Trecircs Forquilhas43
Percebe-se que a criaccedilatildeo de gado ou seja a pecuaacuteria extensiva deu lugar a
outras culturas com a chegada de novas pessoas ao distrito Mas segundo os
moradores o culto ao tradicionalismo gauacutecho permanece visto que no distrito
existe
O parque de rodeios do Rodeio Crioulo eacute o mais antigo que noacutes temos aqui natildeo sei se natildeo o primeiro piquete registrado de Satildeo Chico tem uns sessenta anos a nossa tradiccedilatildeo eacute o laccedilo O nosso rodeio acontece sempre no iniacutecio de janeiro hoje eu natildeo laccedilo mais mas o meu neto continua a minha tradiccedilatildeo A escola daqui faz a semana farroupilha com ronda eacute tudo muito lindo e assim se mantem a cultura44
A imagem apresentada na Figura 15 reforccedila a fala e a importacircncia do Piquete
de Laccediladores Rodeio Crioulo que atualmente mesmo estando nas terras de Satildeo
Francisco de Paula divisa com o municiacutepio de Cambaraacute do Sul por opccedilatildeo essa
entidade tradicionalista pertence ao entatildeo municiacutepio de Cambaraacute do Sul Poreacutem sua
fundaccedilatildeo acontece em 20 de janeiro de 1961 quando o entatildeo hoje municiacutepio de
Cambaraacute do Sul ainda era distrito de Satildeo Francisco de Paula
41 FAGUNDES Darci da Silva Entrevista concedida agrave autora no dia 24 de fevereiro de 2018 42 FAGUNDES Darci da Silva Entrevista concedida agrave autora no dia 24 de fevereiro de 2018 43 FAGUNDES Darci da Silva Entrevista concedida agrave autora no dia 24 de fevereiro de 2018 44 FAGUNDES Darci da Silva Entrevista concedida agrave autora no dia 24 de fevereiro de 2018
57
Figura 15 ndash Flacircmula de comemoraccedilatildeo aos 50 anos da entidade
Fonte acervo pessoal da autora (2018)
Outro evento importante no distrito eacute realizado pela Escola Estadual de
Ensino Fundamental Oliacutempio Soares Pinto que satildeo atividades ligadas as tradiccedilotildees
gauacutechas na Semana Farroupilha como cavalgadas e gincanas com a participaccedilatildeo
de toda comunidade nesta semana principalmente a comunidade de Tainhas
ldquorespira tradicionalismordquo
O distrito de Tainhas atualmente conta com um posto de sauacutede e o correio
satildeo os serviccedilos puacuteblicos que funcionam no distrito visto que o cartoacuterio fechou O
entrevistado Fagundes relata45 ldquoeu era o juiz de paz desse Cartoacuterio minha funccedilatildeo
era julgar os casamentos mas daiacute fechou hoje o pessoal tem que ir a Satildeo Chicordquo O
morador ainda acrescenta ldquoateacute a rodoviaacuteria fechou os ocircnibus passam aqui Satildeo
Marcos que vem de Caxias e vatildeo a Torres desce de manhatilde e sobe de tarde Citral
de Satildeo Chico a Ouro Verde e agora Transneves da Pedra Lisa para Satildeo Chicordquo
Com uma certa tristeza relata46 ldquoaqui em Tainhas soacute tem o Cafeacute Tainhas do
Mauro eacute o brilho de Tainhas seraacute ponto histoacuterico daqui um tempo todo mundo fala
bem do Cafeacute Tainhasrdquo
Notoriamente a chegada do asfalto modificou a vida das pessoas neste
distrito visto que que os campos foram em boa parte transformados em lavoura se
45 FAGUNDES Darci da Silva Entrevista concedida agrave autora no dia 24 de fevereiro de 2018 46 FAGUNDES Darci da Silva Entrevista concedida agrave autora no dia 24 de fevereiro de 2018
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percebe uma vila pacata jaacute que todo o movimento foi desviado por fora da vila e a
mesma natildeo proporciona lazer para as pessoas que ao terminarem o ensino
fundamental para continuar seus estudos precisam fazer uso do transporte escolar
e se deslocar ateacute a Sede ou ir ao municiacutepio de Cambaraacute do Sul
44 DISTRITO DE ELETRA
O distrito de Eletra foi criado em 31 de dezembro de 1932 estando situado a
19 quilocircmetros da Sede do municiacutepio Poreacutem a populaccedilatildeo local chama de Salto e
seu nome vem das barragens do Salto Blang e Divisa construiacutedas sobre o Rio do
Salto que atravessa o distrito Segundo a moradora local47 Soares ldquoas barragens
que fornecem aacutegua para as usinas no municiacutepio de Satildeo Francisco de Paula e nos
municiacutepios vizinhos de Canela Gramado e Cambaraacute do Sulrdquo A Figura 16 apresenta
uma imagem da Barragem do Salto barragem esta que se situa proacutexima da vila do
distrito
Figura 16 ndash Barragem do Salto
Fonte acervo pessoal da autora (2018)
Ao observarmos a Figura 16 percebe-se que o acesso da vila para o interior
do distrito acontece por uma ponte de concreto estreita com piso bastante irregular
47 SOARES Susana Marques Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018
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e que em periacuteodos de fortes chuvas o acesso fica interrompido devido agrave altura
Poreacutem ao lado direito percebe-se uma estrutura pequena que segundo o morador
Gomes
Foi uma tentativa de uma empresa japonese construir uma ponte soacute que quando estavam construindo deu uma enchente e levou tudo a aacutegua abaixo a empresa foi embora e nunca mais voltou Jaacute foram feitos estudos que a ponte tem que ser construiacuteda mais para baixo e em forma de arco se natildeo a chuva leva de novo poreacutem natildeo acredito que saia algum dia48
Entende-se que a construccedilatildeo desta nova ponte melhoraria o acesso dos
proprietaacuterios rurais que para saiacuterem de suas propriedades em eacutepocas de chuva
intensa necessitam fazer um longo caminho por estradas de chatildeo batido para terem
acesso ao municiacutepio de Canela bem como a Sede de Satildeo Francisco de Paula
Contudo a moradora explica que a vila do distrito se forma muito antes da
construccedilatildeo da barragem
Em 1915 era uma fazenda chamada Fazenda do Salto e esta pertencia a Francisco Soares de Oliveira Neste local havia sua casa de moradia um galpatildeo e mangueiras onde realizava as suas atividades poreacutem em 1916 o Chico resolveu transferir a casa da Fazendo do Cerro para o Salto tambeacutem sendo construiacuteda aiacute a segunda casa a partir de entatildeo se iniciou o povoado com a construccedilatildeo de novas residecircncias para seus empregados e posteriormente se instalou uma serraria dos irmatildeos Delavechia esta sendo movida a aacutegua dando definitivamente o iniacutecio do povoamento da vila49
Ao analisar a fala da moradora local se percebe que onde hoje se encontra a
vila do distrito de Eletra jaacute foi uma fazenda identificando-se com a mesma formaccedilatildeo
do distrito Sede que tambeacutem surge de terras doadas por um fazendeiro Segundo a
entrevistada Soares50 ldquoa sua casa eacute uma das mais antigas tem 102 anos foi
construiacuteda de pinheiro serrada aqui mesmo na serrariardquo pode-se observar o oacutetimo
estado de conversaccedilatildeo da casa que traz traccedilos arquitetocircnicos europeus na sua
construccedilatildeo natildeo se tem imagem da casa visto que a entrevistada natildeo permitiu
nenhuma imagem de sua residecircncia
Outro fator importante do povoamento da vila segundo o morador local
Gomes51 ldquofoi o iniacutecio da construccedilatildeo da Barragem do Salto no ano de 1925rdquo onde
48 GOMES Jaures Feijoacute Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018 49 SOARES Susana Marques Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018 50 SOARES Susana Marques Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018 51 GOMES Jaures Feijoacute Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018
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vieram muitos funcionaacuterios de vaacuterios lugares tendo como mestre da obra segundo
os moradores locais52 o ldquoAcircngelo Goubertrdquo
Devido agrave necessidade que se formou no distrito neste periacuteodo se abriu um
hotel farmaacutecia cartoacuterio rodoviaacuteria e cinema a moradora local Soares saudosa
diz53 ldquotudo fechou aqui natildeo tem mais nadardquo referindo-se a atual situaccedilatildeo que a vila
se encontra
Os moradores ainda declaram sobre o distrito54 ldquoestaacute abandonado pelo poder
puacuteblico ateacute o calccedilamento das ruas foi arrancadordquo poreacutem outrora foi um local de
muita alegria
A vida era uma festa permanente o tio Chico era casado com a tia Lisoca ela foi para Porto Alegre para os filhos estudar quando vinham nas feacuterias traziam os amigos O tio Chico pagava um gaiteiro por mecircs para ele toca toda noite entatildeo era aquele divertimento55
Atualmente na vila existe a Escola Estadual de Ensino Fundamental Cristino
Ramos com menos de cem alunos e a festa cristatilde cuja celebraccedilatildeo ocorre em
fevereiro sendo Santo Antocircnio o padroeiro local A moradora explica sobre a
construccedilatildeo da capela
A primeira capela a tempestade derrubou em 1957 se construiu outra O santo padroeiro eacute Santo Antocircnio a imagem foi trazida por quarenta cavaleiros Daiacute o padre pediu para que a imagem de Nossa Senhora Catarina tambeacutem fosse acolhida hoje temos dois padroeiros mas para mim Santo Antocircnio eacute o principal56
Percebe-se na fala dos moradores a sua devoccedilatildeo e sua preocupaccedilatildeo com o
futuro da vila visto que ateacute a questatildeo do cemiteacuterio jaacute foi palco de discussatildeo pois o
cemiteacuterio da vila iniciou pela famiacutelia dos Soares sendo este particular Poreacutem a
moradora explica com certa indignaccedilatildeo
O cemiteacuterio era particular da famiacutelia Soares teve um tempo que resolveram abrir veio gente ateacute de Passo Fundo ser enterrada aqui natildeo pediam para ningueacutem tomaram conta Daiacute organizamos uma comissatildeo responsaacutevel decidimos que tinha que ter uma contribuiccedilatildeo e natildeo podia trazer gente de fora para enterrar soacute gente daqui Ningueacutem pagou Aiacute mandei fazer cerca nova a parte dos Soares sempre limpei mas [] hoje acabo limpando tudo
52 GOMES Jaures Feijoacute SOARES Susana Marques Entrevistas concedidas agrave autora no dia 15 de
fevereiro de 2018 53 SOARES Susana Marques Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018 54 GOMES Jaures Feijoacute SOARES Susana Marques Entrevistas concedidas agrave autora no dia 15 de
fevereiro de 2018 55 SOARES Susana Marques Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018 56 SOARES Susana Marques Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018
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porque ningueacutem limpa Enquanto eu for viva vou fazer depois vatildeo entregar para a prefeitura igreja natildeo sei57
A Figura 17 apresenta uma foto da igreja atual tendo em sua lateral direita a
capela mortuaacuteria e ao fundo o Salatildeo Paroquial da comunidade onde ocorre a festa
do Santo Padroeiro
Figura 17 ndash Igreja Santo Antocircnio ndash Distrito de Eletra
Fonte acervo pessoal da autora (2018)
Ao conversar com os moradores locais pode-se observar a feacute cristatilde poreacutem
ambos relatam que a festa de fevereiro atualmente eacute pouco divulgada motivo pelo
qual acreditam que natildeo haja um nuacutemero expressivo de pessoas Ambos sentem um
apreccedilo pelo local onde nasceram e vivem poreacutem ambos relatam
Aqui eacute lugar de dormir as pessoas trabalham em Canela e vem dormir aqui a grande maioria natildeo eacute daqui vieram de fora haacute muitas casas de veraneio tudo gente de Porto Alegre que vem passar feacuterias natildeo rende nada para aqui o que precisam trazem tudo de fora A maioria de quem mora aqui soacute dorme passa o dia fora O ocircnibus das 7 horas sai lotado a gente natildeo conhece mais ningueacutem daqui mesmo soacute noacutes Susana e eu58
Mesmo a vila sendo um local de parada estaacute rodeada de lindos campos e
fazendas cuja a atividade principal eacute a pecuaacuteria extensiva natildeo proporciona
57 SOARES Susana Marques Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018 58 GOMES Jaures Feijoacute Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018
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trabalho no local motivo pelo qual seus moradores buscam sua subsistecircncia em
outro municiacutepio poreacutem possui uma exuberante natureza relata cheia de esperanccedila
a moradora local59 ldquoeu tenho esperanccedila que algueacutem olhe para caacute e veja as belezas
que tem aqui que o lugar volte a se desenvolverrdquo desenvolvimento este que
poderia vir atraveacutes da exploraccedilatildeo do turismo rural ldquoSe vocecirc quiser comer alguma
coisa agora natildeo vai encontrar nada aqui soacute tem lsquobutecorsquo60 mas eles natildeo vendem
nada nem sanduiacuteche pastel eacute uma vergonhardquo fala indignado o morador Gomes61
A populaccedilatildeo que vive nas fazendas aleacutem de ter as lides campeiras no seu
dia-a-dia nos finais de semana segundo o morador Gomes62 ldquolaccedila em torneio vai
nos rodeiosrdquo o que marca a presenccedila do tradicionalismo gauacutecho em uma parte da
populaccedilatildeo do distrito poreacutem com relaccedilatildeo aos moradores da vila natildeo haacute algo que
os identifique visto a miscigenaccedilatildeo que ocorreu e por haver muitas casas de
veraneio no local
45 DISTRITO DO JUAacute
O distrito do Juaacute foi criado em 10 de maio de 1950 e fica distante 65
quilocircmetros da Sede O distrito recebe esse nome devido a um espinho que havia
em abundacircncia no local nome este dado por tropeiros
Os accedilorianos que vinham de Santo Antocircnio da Patrulha e iam para Vacaria com cargueiros eles vinham fazer repouso laacute em cima no reduto e ali tinha muita frutinha do juaacute entatildeo os tropeiros saiam de Santo Antocircnio e diziam vamos posa laacute nos juaacute daiacute o nome do lugar que permanece ateacute hoje63
Juaacute eacute o nome dado a um espinho muito comum na regiatildeo dos campos de
cima da serra que daacute uma fruta amarela em formato redondo que segundo os
moradores locais eacute uma fruta venenosa conforme se observa na Figura 18
59 SOARES Susana Marques Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018 60 Buteco pequeno comeacutercio que normalmente vende bebidas alcooacutelicas e possui mesa de sinuca 61 GOMES Jaures Feijoacute Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018 62 GOMES Jaures Feijoacute Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018 63 REIS Orides Entrevista concedida agrave autora no dia 12 de maio de 2018
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Figura 18 ndash Peacute com a fruta conhecido como Juaacute
Fonte acervo de Clessandra Palhano (moradora local) (2018)
O reduto citado pelo morador local ficava em uma fazenda local onde hoje se
encontra a vila do distrito conforme o entrevistado Reis explica
O primeiro morador eu natildeo lembro soacute sei que o Juaacute era de pouca gente famiacutelia Pedroso e Castilhos daiacute foram morrendo inventariando e vendendo e aos poucos se formou a vila importante o dono de tudo isso aiacute tinha dois escravos no iniacutecio teve escravidatildeo claro na eacutepoca de mil oitocentos e pouco eu acho mas teve E hoje deve ter descendente destes escravos por aiacute64
Escravidatildeo que vai dar origem ao preconceito racial e a um modelo particular
da localidade que sem precisar data explica o morador
Aqui tinha dois salatildeo trecircs com o da Igreja mas era dois salatildeo social Era um clube de brancos que era dos ricos neacute fazendeiros o Salatildeo Vera Cruz e depois fundaram o Satildeo Valentim que era dos morenos que na eacutepoca ateacute eu fui presidente Cada um no seu salatildeo agora quando dava a festa cristatilde em homenagem ao Satildeo Joatildeo de Deus todo o povo reunia-se quando chegava de noite no saacutebado no baile entatildeo cada um ia pro seu salatildeo A muacutesica ficava no salatildeo dos brancos daiacute colocava umas caixas de som laacute pros morenos com um fio pra eles danccedila Um natildeo podia entra no baile do outro tinha o presidente para cuida Cada um no seu tudo se respeitava e obedecia aquela ordem65
Ainda acrescenta a moradora local Santos
64 REIS Orides Entrevista concedida agrave autora no dia 12 de maio de 2018 65 REIS Orides Entrevista concedida agrave autora no dia 12 de maio de 2018
64
O nosso eu natildeo me lembro o nome tem tanto papel mas natildeo sei onde estaacute o nosso dos pretos neacute ningueacutem implicava eles natildeo deixavam noacutes entra no salatildeo Vera Cruz eu entrava de cozinheira empregada porque ali era lugar dos ricaccedilos eles podiam se associar mas o nosso tambeacutem enchia mas eles iam no nosso baile de nego soacute olhavam As festas duravam dias Tinha aquele foguetoacuterio era tatildeo bonito66
Percebe-se na fala dos moradores como esta divisatildeo racial se fazia presente
que havia por parte dos negros um profundo respeito pelos brancos mesmo eles
tendo acesso ao salatildeo Vera Cruz somente para servi-los em nenhum momento se
percebeu que eles se sentissem diminuiacutedos pela situaccedilatildeo ateacute pela cultura que
advinha desde os primeiros moradores locais
Esta divisatildeo social permanece por longo tempo e somente vai desaparecer
nos anos 80 do seacuteculo XX com a contribuiccedilatildeo do Frei Abiacutelio que veio da Vacaria
durante Missotildees convocadas pelo paacuteroco local padre Afonso que conseguiu
modificar esta organizaccedilatildeo implantando a ideia de igualdade e ignorando tudo
aquilo a partir de entatildeo os negros comeccedilaram a frequentar a sociedade Vera Cruz
contribuiccedilatildeo dos entrevistados67 que ao abordar o assunto demonstraram repulsa
pelo passado mas ao mesmo tempo reconhecem que o racismo ainda eacute presente
na comunidade poreacutem devido agraves leis existe um cuidado maior
Atualmente negros e brancos convivem em harmonia participam da festa
cristatilde cujo padroeiro eacute Satildeo Joatildeo de Deus e dos torneios de laccedilo mas geralmente
quem laccedila satildeo os fazendeiros Saudoso o morador68 afirma que ldquouma vez tinha as
carreradas tinha trecircs canchas passava o domingo nas canchas brincando nas
corridas de cavalos tudo terminourdquo Acrescenta69 ainda que ldquoem 70 80 tinha o
futebol o campo era na baixada acho que tem ainda trofeacuteu ai mas daiacute a gurizada
foi embora para a cidade terminou o timerdquo
A vila se construiu de maneira simples tendo a Igreja Catoacutelica com o Salatildeo
Paroquial agrave direita o antigo Centro de Tradiccedilotildees Gauacutechas Laccedilo Velho do Juaacute onde
resta apenas o preacutedio de madeira corroiacuteda pelo tempo ao fundo a cancha de laccedilo
do Piquete de Laccediladores Velho do Juaacute entidade tradicionalista que se manteacutem ativa
desde o iniacutecio da deacutecada de 1960 ao redor haacute casas de moradias que formam ao
centro uma grande praccedila sem nenhuma infraestrutura em frente a esta praccedila
66 SANTOS Deotildes Palhano dos Entrevista concedida agrave autora no dia 12 de maio de 2018 67 REIS Orides SANTOS Deotildes Palhano Entrevistas concedida agrave autora no dia 12 de maio de
2018 68 REIS Orides Entrevista concedida agrave autora no dia 12 de maio de 2018 69 REIS Orides Entrevista concedida agrave autora no dia 12 de maio de 2018
65
perpassa uma rua de chatildeo batido sendo que a escola da comunidade fica do outro
lado a escola eacute municipal se chama Bento Eziacutedio Rodrigues atende
aproximadamente vinte alunos que estatildeo matriculados nas seacuteries iniciais do ensino
fundamental tendo duas professoras e um funcionaacuterio para fazer merenda e limpar
o paacutetio como se pode observar na Figura 19
Figura 19 ndash Praccedila Vila do Distrito Juaacute ao fundo cancha de laccedilo
Fonte acervo pessoal da autora (2018)
Ambos os entrevistados70 explicam que o Juaacute atualmente eacute um lugar de
idosos aposentados que outrora as pessoas viviam das roccedilas e da pecuaacuteria
extensiva na deacutecada de 1980 com o advento da induacutestria em Caxias do Sul os
jovens abandonaram seu modo de vida e foram buscar novas oportunidades poreacutem
estes jovens que foram embora retornam com frequecircncia natildeo perdendo a sua
essecircncia Relataram que a uacutenica fonte de trabalho eacute ser peatildeo de fazenda fazendas
estas que produzem o queijo serrano ou vendem leite para a Piaacute71 sendo que a
lavoura eacute para subsistecircncia Outra fonte de renda eacute ser funcionaacuterio da serraria cujo
proprietaacuterio e Joatildeo Egiacutedio que funciona proacuteximo da vila Outro fator importante eacute a
venda de pequenas chaacutecaras para moradores de Caxias do Sul que vem aos finais
70 REIS Orides SANTOS Deotildes Palhano Entrevistas concedidas agrave autora no dia 12 de maio de
2018 71 Piaacute Cooperativa Agropecuaacuteria Petroacutepolis Ltda Empresa que faz a coleta do leite nas fazendas da
regiatildeo
66
de semana descansar na localidade poreacutem se percebe que estes novos moradores
muitas vezes natildeo interagem com os moradores locais
Segundo o morador Reis72 ldquoapesar da vinda de pessoas de outros lugares o
Juaacute natildeo perdeu sua identidade fala em Juaacute lembra pinhatildeo colheita do pinhatildeo ateacute
haacute uma criacutetica que diz na eacutepoca do pinhatildeo o juazeiro fala grossordquo Ditado que o
entrevistado73 reafirma sorrindo ldquona eacutepoca do pinhatildeo o juazeiro fala grosso claro
que eacute apenas um dito popular uma maneira de se referir mas sempre eacute dito haacute
aqueles que natildeo gostamrdquo
Nota-se que a vida na comunidade do Juaacute se passa de forma tranquila com
poucos moradores que sua identidade estaacute relacionada agrave pecuaacuteria extensiva com
as lides com o gado bem como ao pinhatildeo uma fruta tiacutepica que se desenvolve na
Araucaacuteria ou pinheiro nativo como eacute conhecido na regiatildeo O pinhatildeo seja ele
assado cozido ou paccediloca74 eacute muito consumido pelos moradores do interior de Satildeo
Francisco de Paula durante o inverno inclusive como mistura do cafeacute da manhatilde
46 DISTRITO DO RINCAtildeO DOS KROEFF
O distrito de Rincatildeo dos Kroeff foi criado em 10 de maio de 1950 Fica a 35
quilocircmetros distante da Sede poreacutem muito antes de se institucionalizar oficialmente
este espaccedilo moradores locais contam como tudo se iniciou
Meu avocirc foi um dos primeiros a vim para caacute ele se chamava Guilherme Faciole ele nasceu no navio vindo da Itaacutelia Ele contava que teve uma desavenccedila em Caxias e fincou o peacute pra caacute pra natildeo acharem ele que aqui era soacute mato e na revoluccedilatildeo de 35 ele fugia de casa para natildeo ser levado pelas tropas os piquetes levavam para combater entatildeo ele sempre dizia que pousou vaacuterias noites embaixo dos peraus da serra do Umbu para natildeo ser levado O falecido vovocirc vivia da caccedila do porco do mato tateti ele fazia charque de porco para ter a carne ele viveu 106 anos e dizia se natildeo tivesse fumado viveria mais uns dez isso faz parte da histoacuteria do Rincatildeo dos Kroeff Junto teve o falecido Acircngelo Menegaacutes que entro aqui na mesma eacutepoca Eles satildeo os fundadores do distrito75
O acesso ao distrito Rincatildeo dos Kroeff permanece totalmente pela estrada de
chatildeo batido sendo possiacutevel ir ao municiacutepio de Maquineacute descendo pela serra do
Umbu Poreacutem muito antes da estrada a busca de mantimentos e o escoamento da
72 REIS Orides Entrevista concedida agrave autora no dia 12 de maio de 2018 73 REIS Orides Entrevista concedida agrave autora no dia 12 de maio de 2018 74 Paccediloca carne de porco moiacuteda e frita no azeite ou banha a qual se acrescenta o pinhatildeo jaacute cozido
e moiacutedo 75 FACIOLE Reinaldo Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de marccedilo de 2018
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produccedilatildeo se dava pelos carreiros visto que natildeo havia abertura de estrada e nem
viatura76 como os moradores relatam
Tudo era na tropeada as tropas que ia para Rolante Na tropeada saia um tropeiro na frente e um recircs com um cincerro que era a madrinheira da tropa saia laacute pelo Chuvisqueiro e saia laacute em Rolante perdia boi na estrada ficava semanas boi perdido agraves vezes nem se achava mais tambeacutem tinha tropa de porco e tinha as tropeadas de mula puxando milho feijatildeo trigo tudo produzido aqui e levado de cargueiro carreta era muito pouco porque natildeo tinha estrada para anda era soacute os trilhos pelo meio dos matos e campos e se produzia milho era o inverno inteiro saia tropas e mais tropas com trinta quarenta mulas burros transportando mantimentos da produccedilatildeo do gratildeo haacute tambeacutem tinha a flor de Pireto que era lucro ningueacutem conhece isso aiacute hoje essa flor era levada para Taquara e fazia veneno para formiga tudo que era tipo de veneno era uma flor muito toacutexica Acredita tropear galinha pois eacute a gente criava bastante saia com os cargueiros como era a vida eles faziam um girau no cesto naqueles balaios para fazer duas camas uma mais em cima e outra em baixo daiacute quando era veratildeo era muito quente tinha que no meio da viagem tirar de dentro do cesto botar na aacutegua na sanga para natildeo morrer ateacute chegar no mercado dali para praia a eacutepoca que mais vendia era novembro e dezembro daiacute tinha preccedilo bom tudo criada solta aviaacuterio nem se falava77
Ao ouvir os moradores se percebe que a construccedilatildeo do distrito aconteceu
devido ao esforccedilo e trabalho de muitas pessoas visto que o local era de mata nativa
densa e precisou ser desmatado para ser ocupado pelas pessoas Explica o
entrevistado Faciole78 ldquopara fazer uma lavoura tambeacutem precisava derrubar o
pinheiro seu Onorino Buffon me contou que faziam fogo ao redor do pinheiro eles
eram muito grosso para derrubar a machado entatildeo faziam fogo secavam para
depois fazer a roccedilardquo E a moradora79 local acrescenta ldquoaqui tambeacutem tinha os
barbacuazeiros produziam erva mais aqui eles soacute tiravam a erva e sapecavam e
depois ia para outro lugar industrializa tudo era diferenterdquo
Poreacutem segundo os moradores este modelo de vida rudimentar se modifica
com a chegada das serrarias sendo que a dos Kroeff foi a primeira juntamente com
a serraria se viu a necessidade da construccedilatildeo de novas casas para os
trabalhadores surgindo ali a vila do distrito Rincatildeo dos Kroeff no iniacutecio a serraria era
tudo manual relata Faciole80 ldquoa uacutenica forma de tira a madeira era com um enfieira
76 Viatura se refere a carro de passeio caminhotildees 77 FACIOLE Reinaldo FACIOLE Maria Madalena Scalco Entrevistas concedidas agrave autora no dia 18
de marccedilo de 2018 78 FACIOLE Reinaldo Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de marccedilo de 2018 79 FACIOLE Maria Madalena Scalco Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de marccedilo de 2018 80 FACIOLE Reinaldo Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de marccedilo de 2018
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de boi eu cheguei a ver cinco ternos de boi carreiro81 emendado puxando um
pinheiro eacute uma bicheira de boi natildeo tinha outra formardquo
Rincatildeo dos Kroeff eacute o menor distrito de Satildeo Francisco de Paula poreacutem em
suas terras se desenvolveu a cultura dos hortifrutigranjeiros desde muito cedo jaacute
que sua colonizaccedilatildeo eacute basicamente italiana e alematilde e os italianos tecircm a cultura do
plantio visando lucro A moradora Faciole82 afirma ldquotudo comeccedilou por aqui depois
se expandiu para o municiacutepio comeccedilamos com moranga branca depois repolho
couve broacutecolis alface e daiacute veio beterraba e tudo o restordquo Acrescenta ainda83 que
ldquodaqui saiacuteram os primeiros caminhotildees de hortifruacuteti do municiacutepio para a Ceasa teve
eacutepoca de sair quarenta caminhotildees por dia do Rincatildeo hoje natildeo sai mais porque
muitos foram buscar novos lugares para plantarrdquo E juntamente com a mudanccedila dos
proprietaacuterios em busca de novas terras muitos de seus funcionaacuterios foram embora
junto afirma em entrevista o morador local84 ldquomuita gente do Rincatildeo foi embora
muitas gurias foram embora para estudar para achar emprego e natildeo voltaram maisrdquo
Atraveacutes da fala da moradora pode-se observar que apesar do distrito ser
produtivo enfrenta algumas dificuldades com relaccedilatildeo ao estudo de seus moradores
que para continuarem seus estudos se assim o desejarem necessitam abandonar
seus pais e ir em busca na Sede ou arredores visto que no distrito existe uma uacutenica
escola Gastatilde Henth Esta eacute municipal e atende dos quatro anos ao nono ano do
ensino fundamental A moradora Faciole explica
O coleacutegio hoje tem 99 alunos ao total quando eles terminam o nono ano alguns vatildeo estudar mas satildeo pouquiacutessimos os outros ficam por aiacute mesmo natildeo tem um transporte que leve eles para fazer o ensino meacutedio na Sede que seria a escola de ensino meacutedio mais proacuteximo se quiser estudar vai ter que ir embora reforccedila quem e trabalhador fica trabalhando com os pais quem natildeo eacute [] As pessoas na sua grande maioria soacute tem o ensino fundamental aqui85
Este eacute um dos grandes problemas enfrentados pelos moradores do Rincatildeo
dos Kroeff a possibilidade de continuar estudando A escola que laacute existe os
moradores locais natildeo sabem precisar a data mas sabem que foi durante o mandato
81 Ternos de boi carreiro significam vaacuterias duplas de bois cangados e ligados por um pedaccedilo de
madeira que vatildeo na canga entre a dupla de bois Esse pau roliccedilo na regiatildeo se chama de cambatildeo 82 FACIOLE Maria Madalena Scalco Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de marccedilo de 2018 83 FACIOLE Maria Madalena Scalco Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de marccedilo de 2018 84 FACIOLE Reinaldo Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de marccedilo de 2018 85 FACIOLE Maria Madalena Scalco Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de maio de 2018
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do prefeito Escobar (1977-1982) que ela foi construiacuteda Neste contexto aparece
tambeacutem a dificuldade de se locomover fazendo uso do transporte puacuteblico
Haacute sete anos atraacutes o Rincatildeo estava bom mesmo tinha ocircnibus da praia agraves vezes passava quatro a cinco ocircnibus da praia tudo pela serra do Umbu Agora soacute tem um trecircs dias por semana As empresas deixaram de trafegar por aqui elas natildeo vatildeo descer numa serra de chatildeo batido sendo que tem a outra86 com asfalto87
Os moradores se orgulham da festa religiosa que acontece todos os anos em
agosto sendo que o santo padroeiro eacute Satildeo Roque A festa da comunidade
apresenta uma tradiccedilatildeo local muito interessante na segunda-feira apoacutes a festa ela
continua para os moradores locais que vatildeo ao salatildeo paroquial para se divertir entre
si e esta eacute uma tradiccedilatildeo que eacute comentada em todo o municiacutepio Faciole88 saudoso
afirma ldquopara ti ter uma ideia nessa festa chegava dar vinte poucos ocircnibus lotado que
vinham de outros municiacutepios como Igrejinha Taquara Porto Alegre Novo
Hamburgo o espaccedilo ficava pequenordquo Acrescenta89 ainda ldquoaqui noacutes tinha o Clube
Serrano que dava baile janta italiana dava um movimento louco mas terminou ateacute
o baile das rainhas cada ano era uma era tatildeo lindo mas tudo se acabourdquo
Figura 20 ndash Imagem da Igreja Satildeo Roque em dia de festa no Rincatildeo dos Kroeff
Fonte acervo pessoal da autora (2018)
86 A outra se refere a rodovia RS-453 conhecida como Rota do Sol 87 FACIOLE Reinaldo Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de marccedilo de 2018 88 FACIOLE Reinaldo Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de marccedilo de 2018 89 FACIOLE Reinaldo Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de marccedilo de 2018
70
Percebe-se que o distrito Rincatildeo dos Kroeff eacute o uacutenico que obteve em seu
iniacutecio uma colonizaccedilatildeo por descentes de italianos dentro do municiacutepio de Satildeo
Francisco de Paula o que demonstra o quatildeo forte se daacute a tradiccedilatildeo ldquoitalianardquo neste
local permanecendo intriacutenseca na vida cotidiana de seu povo com a cultura do
plantio de hortifrutigranjeiros que permanece apesar do tempo como sendo a sua
maior identidade local
47 DISTRITO DE LAJEADO GRANDE
Lajeado Grande em tempos idos pertenceu ao distrito de Cazuza Ferreira e
somente em 12 de dezembro de 1968 se tornou um distrito independente segundo
a Lei nordm 655 encontrada nos autos da Prefeitura Municipal de Satildeo Francisco de
Paula A vila do distrito Lajeado Grande fica distante 63 quilocircmetros da Sede e se
situa na confluecircncia do Arroio Porco Morto e o Rio Bururi Seu surgimento acontece
segundo o morador Fogaccedila90 ldquopor volta de 1940 com a abertura da estrada Canela
ndash Bom Jesus a atual RS-476 que corta a vila do Distritordquo Essa estrada segundo o
morador facilitou a locomoccedilatildeo que anteriormente era feita totalmente pelas trilhas e
picadas por onde somente se passava a cavalo ou de carreta E o entrevistado
explica como acontece o desenvolvimento inicial da vila
Tu sabe aqui tem o nome de Lajeado Grande por causa do rio que eacute cheio de lajes grandes o que facilitava a travessia e as terras aqui por roda era tudo do falecido Pequeno Cardoso ele doou parte para a construccedilatildeo da vila onde o falecido Leopoldino Cardoso irmatildeo do Pequeno tinha uma lsquobudega velharsquo91 por aqui sendo o primeiro comeacutercio da vila92
A abertura da estrada possibilitou o desenvolvimento da vila juntamente com
o Casaratildeo um hotel pensatildeo que foi construiacutedo as margens do Arroio Porco Morto
este Casaratildeo passou por diversos proprietaacuterios
Leopoldino Cardoso foi o idealizador do Casaratildeo juntamente com os seus soacutecios Heraacuteclito Andrade de Cardoso lsquoJoanitorsquo Joseacute Osoacuterio de Lima lsquoZecarsquo e Pequeno Cardoso sendo que o Casaratildeo era uma casa de negoacutecio compravam queijo couro era um comeacutercio forte vendia secos e molhados inclusive a primeira rodoviaacuteria foi instalada neste espaccedilo poreacutem em 1948 Joatildeo Pacheco Cardoso assume e amplia o estabelecimento construindo o segundo piso da casa de madeira e alugando para outros dois moradores
90 FOGACcedilA Blair dos Santos Entrevista concedida agrave autora no dia 06 de abril de 2018 91 Budega velha referindo-se a uma antiga casa de comeacutercio de secos e molhados localizada onde
hoje se encontra o armazeacutem Celeiro 92 FOGACcedilA Blair dos Santos Entrevista concedida agrave autora no dia 06 de abril de 2018
71
Eremi Terres e Claunir Lucena Com a reforma o Casaratildeo passa a ter treze quartos para aluguel uma loja onde encontrava-se tudo o que se necessitava de alfinete tecido alimentos e raccedilotildees aleacutem da ala que servia de moradia para os proprietaacuterios Em 1962 o estabelecimento eacute alugado para Eraldo Bento de Oliveira que aleacutem de gerenciar o estabelecimento colocou junto um bar local de encontro dos homens da redondeza para tomar um lsquotragorsquo93 (CERUTTI SILVA CARDOSO 2002 p 19)
Figura 21 ndash Imagem do Casaratildeo pouco antes de ser desmanchado
Fonte acervo pessoal de Fernando Oliveira (conhecido como Guego) (2018)
O Casaratildeo foi desmanchado na deacutecada de 1980 pelo entatildeo proprietaacuterio Reno
Pacheco Poreacutem percebe-se na vila que seus antigos moradores falam com certo
saudosismo deste estabelecimento que fez parte de suas vidas e chegam a
lamentar o seu fim morador Fogaccedila94 afirma ldquoali se fez o pastel mais famoso do
Lajeado Grande o pastel da Odila mas tudo se acabou quando eles entregaram e
construiacuteram laacute na esquinardquo95
Poreacutem a vila Lajeado Grande foi lentamente se desenvolvendo Devido agrave
necessidade da conservaccedilatildeo da nova estrada foi construiacuteda agraves margens do Rio
Bururi uma capatazia do DAER Segundo Cerutti Silva e Cardoso (2002 p 18) ldquoo
primeiro capataz foi Capitulino Prudecircncio de Oliveira vindo de Santa Catarina sua
funccedilatildeo era manter as estradas e chegou a ter vinte funcionaacuteriosrdquo Percebe-se que a
93 Trago expressatildeo local que significa beber uma cachaccedila 94 FOGACcedilA Blair dos Santos Entrevista concedida agrave autora no dia 06 de abril de 2018 95 Esquina eacute o nome dado a parte da vila do Lajeado Grande onde se daacute o entroncamento das
rodovias RS-453 e ERS-476
72
partir deste momento se inserem neste distrito pessoas advindas de outros estados
e locais visto que ateacute o presente momento o distrito era habitado por fazendeiros
naturais do proacuteprio municiacutepio e que tinham suas vidas ligadas diretamente agrave
pecuaacuteria extensiva e agrave produccedilatildeo do queijo serrano Importante destacar que a
esposa de Capitulino segundo Cerutti Silva e Cardoso (2002 p 18) ldquoa Celicina
Guilherme da Silva se torna uma figura conhecida por realizar partos sendo
chamada como parteira de campanhardquo Na atualidade filhos netos e bisnetos do
casal ainda residem na vila
A vila do Lajeado Grande tambeacutem recebe novos moradores com a praacutetica do
corte do pinheiro nativo sendo que na deacutecada de 1950 havia uma faacutebrica de
beneficiamento de madeira ateacute se transformar em pasta este material era levado
para Esteio onde funcionava agrave matriz A partir dos anos 1950 ocorre a instalaccedilatildeo de
serrarias sendo que a Madeireira Albeflor de propriedade de Valter Sguaizer se
instala em 1964 Novamente busca-se matildeo de obra em localidades proacuteximas como
Lagoa Vermelha Vacaria e Bom Jesus poreacutem com a proibiccedilatildeo da extraccedilatildeo de
madeira de lei a serraria deixou de funcionar
Percebe-se que no distrito natildeo houve uma homogeneizaccedilatildeo identitaacuteria visto a
influecircncia advinda de muitas culturas no passado atraveacutes da extraccedilatildeo de madeira
e na atualidade com o advento das lavouras de hortifrutigranjeiros e pomares
frutiacuteferos que ocupam boa parte do distrito substituindo a pecuaacuteria extensiva que jaacute
natildeo proporciona um lucro efetivo Entatildeo os proprietaacuterios na sua grande maioria
venderam ou arrendaram suas terras para novas culturas o que modifica o modo de
vida local pois grande parte dos trabalhadores adveacutem de outros estados como o
Paranaacute e tambeacutem se observa o uso da matildeo de obra indiacutegena
Essa miscigenaccedilatildeo se observa nas escolas locais visto que na vila funciona a
Escola Municipal D Pedro I que segundo Cerutti Silva e Cardoso (2002 p 35)
ldquoinicia em 1965 poreacutem a professora e o preacutedio eram mantidos pela Serraria mas na
deacutecada de 70 a prefeitura assumiu a escola sendo que Eloci Martim foi a primeira
professora da Serrariardquo Escola da Serraria como ainda eacute conhecida por boa parte
dos moradores locais apesar de a escola natildeo se encontrar mais onde havia a antiga
serraria Atualmente a Escola Dom Pedro I funciona em um preacutedio obtido atraveacutes da
Associaccedilatildeo de Moradores atendendo alunos da preacute-escola ateacute o sexto ano das
seacuteries finais tendo em seu quadro seis professores e duas funcionaacuterias Sendo que
73
a obra para um novo preacutedio teve iniacutecio neste ano mas percebe-se que a obra parou
por volta do mecircs de maio Poreacutem na vila tambeacutem se encontra uma escola estadual
A documentaccedilatildeo necessaacuteria para a criaccedilatildeo de uma nova escola na localidade foi elaborada por Manoel Cardoso de Andrade juntamente com a professora Odazilda Cardoso Demori e encaminhada agrave Secretaria da Educaccedilatildeo sendo que em 11 de fevereiro de 1953 foi criada a Escola Isolada de Lajeado Grande sendo os professores estaduais mas o preacutedio sob responsabilidade comunitaacuteria iniciou o seu funcionamento nas dependecircncias do DAER e somente em 1957 foi construiacutedo um preacutedio de madeira em terras doadas por Pequeno Cardoso local onde hoje ainda se encontra a escola poreacutem passou por muitas reformas sendo que em 2000 recebeu um novo preacutedio de alvenaria o que possibilitou a realizaccedilatildeo de um grande sonho dos professores e comunidade a implantaccedilatildeo do Ensino Meacutedio que concretizou-se em 200296
Atualmente a escola atende em torno de trezentos alunos da Educaccedilatildeo
Baacutesica poreacutem percebe-se que devido agraves safras de hortifrutigranjeiros o nuacutemero de
alunos se alterna durante o ano O que tambeacutem se percebe eacute o comportamento dos
alunos com relaccedilatildeo agrave diversidade cultural por exemplo usam bombacha laccedilam boi
de pau no recreio e escutam funk uma cultura totalmente diferente da tradicionalista
gauacutecha o que compreende-se como algo advindo da globalizaccedilatildeo cultural que
vivemos no mundo atual reforccedilando novamente o natildeo reconhecimento de uma
identidade forte na localidade
Poreacutem as famiacutelias tradicionais do local manteacutem fortemente arraigada a
cultura tradicionalista que adveacutem do homem do campo tendo no distrito festas
campeiras torneios de laccedilo e a festa religiosa uma vez por ano em homenagem ao
Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus padroeiro da vila
Na atualidade natildeo se percebe uma identidade forte e marcada no distrito e
sim uma miscigenaccedilatildeo de diferentes culturas e etnias que convivem e se integram
harmonicamente
96 CARDOSO Amaacutelia Celuderes Entrevista concedida agrave autora no dia 08 de marccedilo de 2018
74
5 DESCRICcedilAtildeO DO PRODUTO
O produto consiste em um livro paradidaacutetico sobre a histoacuteria de Satildeo Francisco
de Paula Apresenta de maneira didaacutetica a histoacuteria de Satildeo Francisco de Paula bem
como balotildees explicativos imagens sugestotildees de atividades e leituras
complementares Poderaacute servir de apoio pedagoacutegico a professores e alunos do
municiacutepio visto que existe pouco material sobre a histoacuteria deste municiacutepio e se faz
importante trabalhar a histoacuteria local percepccedilatildeo que a autora obteve ao longo da sua
caminhada como professora de histoacuteria que atua nas seacuteries finais do ensino
fundamental e meacutedio haacute dezessete anos na rede estadual do municiacutepio
Partir do local natildeo eacute abandonar o conhecimento histoacuterico eacute dar outro valor
sentido para este conhecimento Segundo Caimi
Levar em conta o universo da crianccedila ou do adolescente natildeo eacute pois abdicar do rigor intelectual [] mas garantir que a apropriaccedilatildeo deste conhecimento ocorra permeada de sentido e significado resultando em soacutelidas aprendizagens (CAIMI 2006 p 24)
Seguindo esta perspectiva a implantaccedilatildeo do Referencial Curricular Gauacutecho
embasado na Base Nacional Comum Curricular reforccedila a ideia jaacute discutida nos
paraacutegrafos anteriores
No que se refere especificamente ao componente Histoacuteria a base rompe tanto com a cronologia quanto agrave visatildeo eurocecircntrica da histoacuteria tradicional Entram em cena novos atores novas sociedades novos caminhos que sempre tiveram na histoacuteria mas nem sempre receberam a devida importacircncia Acompanhando a Base Nacional Comum Curricular o Referencial Curricular Gauacutecho no que se refere especificamente agrave disciplina de Histoacuteria manteacutem seu foco na aprendizagem dos alunos nos diferentes espaccedilos e tempos tendo a preocupaccedilatildeo de integrar o curriacuteculo com a diversidade regional de nosso Estado Tambeacutem eacute importante contemplar os temas integradores como eacutetica cidadania cultura e valorizaccedilatildeo das diversidades assegurando a multiplicidade de olhares sobre o mundo (RIO GRANDE DO SUL 2018 p 118)
Portanto o paradidaacutetico seraacute mais um material disponiacutevel aos professores e
estudantes da educaccedilatildeo baacutesica de Satildeo Francisco de Paula na construccedilatildeo do
conhecimento da histoacuteria do municiacutepio bem como o reconhecimento de sua
identidade neste material visto que se almeja que os estudantes percebam
vestiacutegios de sua identidade e se percebam como parte deste municiacutepio atraveacutes do
conhecimento de sua histoacuteria
75
O paradidaacutetico vem com o tiacutetulo rdquoTropeando histoacuterias em Satildeo Francisco de
Paulardquo sendo que a capa traz a foto do Monumento aos Carreteiros monumento
que se encontra na Avenida Juacutelio de Castilhos em frente ao preacutedio da Prefeitura
Municipal
Figura 22 ndash Capa do livro
Fonte Livro Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula
Na sequecircncia se apresenta o iacutendice que possibilita ao leitor localizar os
diversos temas abordados visto que existem nove capiacutetulos
76
Figura 23 ndash Iacutendice do livro
Fonte Livro Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula
77
O capiacutetulo um apresenta a localizaccedilatildeo de Satildeo Francisco de Paula com uma
seacuterie de mapas que facilitam a compreensatildeo espacial dos alunos assim como um
mapa da subdivisatildeo do municiacutepio em distrito Ao final satildeo sugeridas duas atividades
que podem ser desenvolvidas de maneira interdisciplinar com o apoio da professora
de arte geografia e portuguecircs
Figura 24 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 1)
Fonte Livro Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula
78
Figura 25 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 1)
Fonte Livro Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula
O capiacutetulo dois aborda a existecircncia indiacutegena em Satildeo Francisco de Paula
antes da chegada dos desbravadores vindos de Satildeo Paulo Como sugestatildeo de
atividades apresenta-se uma pesquisa sobre as diferentes tribos indiacutegenas que
habitavam a Proviacutencia de Satildeo Pedro aleacutem da criaccedilatildeo de um painel infograacutefico
79
Figura 26 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 2)
Fonte Livro Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula
No capiacutetulo trecircs se apresentam os primeiros donataacuterios colonizadores de Satildeo
Francisco de Paula com trecho de um testamento deixado por Pedro da Silva
Chaves o fundador de Satildeo Francisco de Paula bem como o mapa que localiza as
primeiras sesmarias que corresponde ao territoacuterio onde hoje eacute a Sede do municiacutepio
80
Figura 27 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 3)
Fonte Livro Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula
Nos capiacutetulos quatro e cinco eacute apresentado o desenvolvimento de Satildeo
Francisco de Paula ainda no seacuteculo XIX quando pertencia ao municiacutepio de Santo
Antocircnio da Patrulha e no final do seacuteculo XIX quando passa a pertencer ao entatildeo
81
municiacutepio de Taquara do Mundo Novo Existe tambeacutem um mapa que demonstra a
extensatildeo territorial de Santo Antocircnio da Patrulha e quais satildeo os municiacutepios hoje que
pertenceram a este bem como a importacircncia da abertura da estrada que liga Satildeo
Francisco de Paula a Taquara
Figura 28 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 4)
Fonte Livro Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula
82
Os capiacutetulos seis e sete apontam a construccedilatildeo do Municiacutepio a partir de sua
emancipaccedilatildeo em 1903 sua extensatildeo territorial e a diminuiccedilatildeo do seu territoacuterio ao
longo do tempo e a histoacuteria da Igreja Matriz Como sugestatildeo de atividade pesquisar
a diversidade religiosa existente na comunidade escolar e criar graacuteficos com essas
informaccedilotildees podendo a partir de entatildeo trabalhar com as questotildees religiosas ontem
e hoje no mundo
Figura 29 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 6)
Fonte Livro Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula
83
No capiacutetulo oito se apresenta o que difere os sete distritos de Satildeo Francisco
de Paula Este capiacutetulo se apresenta subdividido em sete subtiacutetulos onde cada um
corresponde a um distrito do municiacutepio Tendo como fonte principal as entrevistas
realizadas com moradores locais mesclado com fontes documentais e bibliograacuteficas
que corroboram para se perceber que haacute alguns distritos que manteacutem suas tradiccedilotildees
ao longo do tempo e eacute possiacutevel perceber que existe uma identidade que aproxima
aquela populaccedilatildeo
Figura 30 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 8)
Fonte Livro Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula
84
No uacuteltimo capiacutetulo o nove se exibe uma lista de sugestotildees de leituras
complementares a fim de se aprofundarem sobre determinados temas E por fim
as referecircncias utilizadas para a construccedilatildeo do paradidaacutetico Tropeando Histoacuterias em
Satildeo Francisco de Paula
Figura 31 ndash Atividade do livro (Sugestatildeo de Leituras Complementares)
Fonte Livro Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula
85
O produto foi testado em duas turmas da Educaccedilatildeo Baacutesica na Escola
Estadual de Ensino Meacutedio Lajeado Grande com o propoacutesito de avaliar qual seria a
reaccedilatildeo dos estudantes diante do material e por ele ter sido produzido por algueacutem
que convive com eles semanalmente A receptividade foi bastante gratificante como
se pode observar na Figura 32
Figura 32 ndash Alunos do Ensino Meacutedio
Fonte acervo pessoal da autora (2019)
A receptividade foi muito interessante visto que os estudantes
acompanharam a trajetoacuteria para chegar ao produto final algo que os deixava
ansiosos para manusear pois muitas vezes foram parceiros A autora foi
compartilhando com os estudantes as informaccedilotildees obtidas durante a pesquisa e as
descobertas encontradas usando em suas aulas a histoacuteria local para abordar os
diferentes temas e conceitos histoacutericos
Quando a autora apresenta o produto os estudantes do ensino meacutedio estes
formam grupos por distritos e buscam logo reconhecer no material sua identidade
apoacutes comentam sobre as peculiaridades de cada distrito Poreacutem os alunos do
ensino fundamental manuseiam o produto mas natildeo se deteacutem ao distrito em que
pertence e sim as imagens e as explicaccedilotildees apresentadas no vocecirc sabia
O que enriquece o trabalho realizado foi o envolvimento dos estudantes com
o produto solicitando quando poderatildeo ler calmamente todo o trabalho
86
6 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
A partir de experiecircncias pessoais em sala de aula se percebeu que o ensino
de Histoacuteria quando se partia da histoacuteria local havia maior interesse dos estudantes
da educaccedilatildeo baacutesica motivo pelo qual se deu a questatildeo-problema desta dissertaccedilatildeo
que estaacute relacionada diretamente com o natildeo uso desta histoacuteria pelos professores da
educaccedilatildeo baacutesica
Em conversas informais com professores da educaccedilatildeo baacutesica que atuam no
municiacutepio de Satildeo Francisco de Paula em sua grande maioria alegam que o grande
empecilho para se trabalhar a histoacuteria local eacute o pouco material disponiacutevel sobre a
histoacuteria de Satildeo Francisco de Paula aleacutem do rigor dos curriacuteculos que impotildeem o
ensino de Histoacuteria de maneira linear sem contextualizaccedilatildeo com a realidade vivida
pelos estudantes pois desta forma natildeo estatildeo preparando os estudantes para as
avaliaccedilotildees do Ministeacuterio da Educaccedilatildeo bem como para o vestibular Poreacutem natildeo se
estaacute afirmando que deveraacute estudar somente a histoacuteria local e sim partir dela como
incentivo para estudos dos conceitos e temaacuteticas da histoacuteria por muitas vezes
totalmente abstrato e de difiacutecil compreensatildeo pela grande maioria dos estudantes
A partir de entatildeo se realizaram inuacutemeros questionamentos como qual a
necessidade de se ensinar Histoacuteria de forma abstrata sem nenhuma relaccedilatildeo com
as vivecircncias dos estudantes Por que natildeo usar a fonte oral como metodologia de
pesquisa no ensino de Histoacuteria em Satildeo Francisco de Paula jaacute que natildeo existem
muitos materiais escritos a respeito desta histoacuteria principalmente no que tange os
distritos do interior Poreacutem estes questionamentos natildeo foram aprofundados na
dissertaccedilatildeo por natildeo ser o objetivo direto da pesquisa mas posteriormente poderaacute
se tornar um novo projeto de pesquisa
Nesta incessante busca por resposta se constroacutei todo o estudo desta
dissertaccedilatildeo que em um primeiro momento busca embasamento em diferentes
autores que comprovam que o ensino de Histoacuteria voltado para o local faz maior
sentido para os estudantes da educaccedilatildeo baacutesica e que isto natildeo significa abandonar
os conceitos histoacutericos e sim questionar analisar a trajetoacuteria humana no tempo e
no espaccedilo sob uma nova metodologia Apenas se sugere uma nova abordagem
que torne o ensino de Histoacuteria menos abstrato algo mais presente na vida do
estudante e que possibilite a ele a habilidade de perceber que o mundo estaacute em
constante mudanccedila poreacutem os fatos natildeo ocorrem de forma isolada no espaccedilo Algo
87
que foi reforccedilado apoacutes a construccedilatildeo da Base Nacional Curricular e o Referencial
Curricular Gauacutecho que vem de encontro com esta proposta de se estudar a histoacuteria
sobre novos olhares natildeo esquecendo das especificidades regionais do estado do
Rio Grande do Sul para o reconhecimento da identidade local e regional
A identidade local nesta pesquisa se buscou atraveacutes de relatos de
moradores locais que gentilmente colaboraram para o sucesso deste trabalho pois
a memoacuteria se tornou a fonte primordial para se escrever o que identifica os sete
distritos que constituem Satildeo Francisco de Paula Certamente a temaacutetica natildeo se
esgotou ainda haacute muito que se pesquisar e escrever sobre a histoacuteria de Satildeo
Francisco de Paula possibilitando a criaccedilatildeo de novos materiais que possam ser
usados em sala de aula pelos professores e alunos deste municiacutepio
Mas ao mesmo tempo haacute uma preocupaccedilatildeo por parte da autora nada
adianta criar produtos sinalizar novos meacutetodos ao ensino de Histoacuteria se o
profissional professor natildeo estiver preparado para trabalhar com novas fontes
histoacutericas novas metodologias de ensino proporcionando aos estudantes a
oportunidade de construir seu proacuteprio conhecimento histoacuterico embasado em sua
realidade e suas vivecircncias
Vivecircncias que se tornaram aliadas na pesquisa pois a autora nasceu e
sempre viveu no municiacutepio de Satildeo Francisco de Paula poreacutem a maior dificuldade
encontrada nesta caminhada foi percorrer grandes distacircncias por estradas de
rodagem em peacutessimas condiccedilotildees de trafegabilidade para gravar os relatos que
servem de base para a construccedilatildeo desta pesquisa O municiacutepio de Satildeo Francisco de
Paula eacute territorialmente extenso e essas distacircncias percorridas deram o nome ao
produto Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula como uma homenagem
aos antigos tropeiros deste municiacutepio que passavam boa parte de sua vida ao
lombo de mulas levando e buscando mercadorias pelos campos de cima da serra
Visto que desde o processo seletivo do mestrado em agosto de 2016
quando se apresentou o projeto de pesquisa jaacute se pensava no produto um livro
paradidaacutetico no formato fiacutesico A autora por diversas vezes foi questionada por que
natildeo um blog ou site Porque na forma fiacutesica este material seria de faacutecil manuseio
pelos estudantes e professores pois principalmente no interior uso da internet ainda
eacute um problema visto que em muitos locais natildeo existe sinal de telefonia diraacute
internet
88
O paradidaacutetico foi se moldando ao longo do tempo ateacute se chegar a versatildeo
final com uma ampla gama de informaccedilotildees e curiosidades sobre os sete distritos de
Satildeo Francisco de Paula onde se pretende que os alunos e professores possam
fazer uso deste material em sala de aula para tanto a autora pretende
posteriormente lanccedilar o produto para que possa ser lido e manuseado por todos
inclusive por aqueles que gostam de histoacuteria e sentem curiosidade sobre a formaccedilatildeo
do seu distrito e por conseguinte do municiacutepio de Satildeo Francisco de Paula
O paradidaacutetico foi testado em duas turmas da Escola Estadual de Ensino
Meacutedio Lajeado Grande sendo uma de Ensino Meacutedio e a outra das seacuteries finais do
Ensino Fundamental Os alunos jaacute detinham o conhecimento que a autora estava
cursando o Mestrado e que para sua conclusatildeo deveria apresentar um produto Era
de conhecimento de todos os estudantes que a autora estava produzindo um
paradidaacutetico sobre a histoacuteria de Satildeo Francisco de Paula pois a mesma eacute professora
destes estudantes nesta escola
Em um primeiro momento se explica que eacute apenas um protoacutetipo que
somente a capa estaacute colorida e o restante estaacute todo em preto e branco e que a
versatildeo final teraacute as imagens e as curiosidades coloridas o que com certeza
chamaraacute mais atenccedilatildeo Ao entregar o paradidaacutetico Tropeando Histoacuterias em Satildeo
Francisco de Paula para que possam manuseaacute-lo veio a primeira grande surpresa
os estudantes ficaram muito contentes por a turma ter sido escolhida pela autora
escolha essa que se justifica por ter trabalhado todo o ano de 2017 com estes
alunos partindo da histoacuteria local
A turma do oitavo ano do Ensino Fundamental manuseou sendo que os
alunos acharam interessante poreacutem se deteram mais nas imagens e balotildees do
ldquovocecirc sabiardquo Mas de maneira ampla e geral acharam muito interessante a foto de
capa com o Monumento aos Carreteiros situado na Avenida Juacutelio de Castilhos em
frente ao preacutedio da Prefeitura Municipal pois alguns natildeo conhecem a Sede do
municiacutepio
Os alunos do segundo ano do Ensino Meacutedio se surpreenderam e foram direto
ler sobre o distrito no qual residem Interessados questionaram sobre curiosidades
de como o material foi construiacutedo quais as maiores dificuldades encontradas
elogiaram o leiaute as imagens de fundo ao lado de cada curiosidade relatando que
chama a atenccedilatildeo aleacutem de considerarem relevantes as sugestotildees de atividades e
ao final solicitaram quando o material estaraacute disponiacutevel para que possam ler
89
integralmente visto que um periacuteodo de cinquenta minutos natildeo foi suficiente para que
todos manuseassem se fazendo necessaacuterio levar novamente na proacutexima aula
A autora se sentiu motivada pela recepccedilatildeo do produto por seus alunos o que
a incentiva continuar pesquisando sobre outras temaacuteticas a respeito da histoacuteria de
Satildeo Francisco de Paula trazendo para seu fazer pedagoacutegico novas fontes que
proporcionem um estudo da Histoacuteria de maneira ampla e contextualizada com a
realidade local que os cerca
90
REFEREcircNCIAS
ALBERTI Verena Manual da histoacuteria oral Satildeo Paulo FGV 2008
ALMEIDA Magdalena Maria de Histoacuteria oral e formalidades metodoloacutegicas 2012 Disponiacutevel em ltwwwencontro2012historiaoralorgbrresourcesanais31332442488_ARQUIVO_ABHOHistoriaoraleformalidadesmetodologicaspdfgt Acesso em 12 abr 2019
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Jornal Satildeo Chico Tchecirc n 12 do dia 28 de maio de 1986
Jornal Pioneiro versatildeo digital do dia 02 de junho de 2017
Entrevistas
Amaacutelia Celuderes Cardoso residente no distrito de Lajeado Grande Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 08 de marccedilo de 2018
Blair dos Santos Fogaccedila residente no distrito de Lajeado Grande Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 06 de abril de 2018
Ceacutelia Pacheco Terres Basso residente no distrito de Cazuza Ferreira Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 04 de agosto de 2018
Darci da Silva Fagundes residente no distrito de Tainhas Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 24 de fevereiro de 2018
Deotildes Palhano dos Santos residente no distrito do Juaacute Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 12 de maio de 2018
Jaures Feijoacute Gomes residente no distrito de Eletra Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 15 de fevereiro de 2018
Luciana Olga Soares residente no distrito Sede Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 01 de marccedilo de 2018
Maria Madalena Scalco Faciole residente no distrito do Rincatildeo dos Kroeff Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 18 de marccedilo de 2018
Moacir Castello Branco de Albuquerque residente no distrito Sede Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 06 abril de 2018
95
Nauro Bossle de Andrade residente no distrito de Cazuza Ferreira Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 04 de marccedilo de 2018
Orides Reis residente no distrito do Juaacute Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 12 de maio de 2018
Reinaldo Faciole residente no distrito do Rincatildeo dos Kroeff Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 18 de marccedilo de 2018
Susana Marques Soares residente no distrito de Eletra Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 15 de fevereiro de 2018
96
APEcircNDICES
97
APEcircNDICE A ndash ENTREVISTA COM MORADORES LOCAIS DOS DISTRITOS DE
SAtildeO FRANCISCO DE PAULA
UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL
PROGRAMA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO EM HISTOacuteRIA ndash MESTRADO EM HISTOacuteRIA PROFISSIONAL
PESQUISA DE CAMPO ndash TATIANA MEacuteLO CARDOSO
1 Nome completo
2 Idade
3 Quantos anos reside neste distrito
4 Como se formou este distrito
5 Por que ele tem esse nome
6 Quem foram os primeiros moradores
7 Como era a vida aqui haacute tempos atraacutes
8 O que mudou aqui com o passar dos anos
9 O que identifica este lugar
10 As pessoas hoje que moram aqui na grande maioria satildeo naturais daqui ou vieram
de onde
11 A(o) Sra(Sr) acredita que as futuras geraccedilotildees valorizaram eou conheceram a
histoacuteria local ou vai se perder no tempo
12 Como funcionava a questatildeo do ensino em meados do seacuteculo XX havia escola na
localidade
13 Qual a primeira escola deste distrito data de fundaccedilatildeo local de funcionamento e a
primeira professora
14 Achas importante trabalhar nas escolas a histoacuteria do lugar
15 O que eacute tradiccedilatildeo deste distrito
16 Qual eacute a fonte de renda das pessoas no que elas trabalham
17 Qual eacute o lazer das pessoas aqui
98
APEcircNDICE B ndash TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Declaro por meio deste termo que concordei em ser entrevistado(a) eou participar na
pesquisa de campo referente ao projetopesquisa Ensino de Histoacuteria Local e o Paradidaacutetico
caso Satildeo Francisco de Paula desenvolvida pela aluna Tatiana Meacutelo Cardoso do Programa de
Poacutes-Graduaccedilatildeo em Histoacuteria ndash Mestrado Profissional da Universidade de Caxias de Sul Fui
informado(a) que poderei consultaacute-la a qualquer momento que julgar necessaacuterio atraveacutes do e-
mail t_ati_mhotmailcom
Afirmo que aceitei participar por minha proacutepria vontade sem receber qualquer
incentivo financeiro ou ter qualquer ocircnus e com a finalidade exclusiva de colaborar para o
sucesso da pesquisa Fui informado(a) dos objetivos estritamente acadecircmicos de estudo
Minha colaboraccedilatildeo natildeo ficaraacute anocircnima e foi realizada por meio de entrevista
semiestruturada A anaacutelise dos dados obtidos seratildeo divulgados natildeo permanecendo restritas
apenas a pesquisadora eou seu(s) orientador(es) coordenador(es)
Fui ainda informado(a) de que posso me retirar desse(a) estudopesquisa programa a
qualquer momento sem prejuiacutezo para meu acompanhamento ou sofrer quaisquer sanccedilotildees ou
constrangimentos Atesto recebimento de uma coacutepia assinada deste Termo de Consentimento
Livre e Esclarecido
Satildeo Francisco de Paula ___ de _____________ de ____
Assinatura do(a) participante
Assinatura do responsaacutevel
AGRADECIMENTOS
Agradeccedilo a Deus em primeiro lugar por ter me dado forccedila para me manter
firme no propoacutesito de concluir o mestrado
Aos meus pais Rivan e Benta que sempre estiveram ao meu lado me
apoiando minha eterna gratidatildeo Amo muito vocecircs
Ao meu esposo Norli que esteve presente em todos os momentos com
paciecircncia e muitas vezes me acompanhando durante as pesquisas para que natildeo
fosse soacute Te amo muito
Ao meu filho Bento Manoel pela compreensatildeo de ver sua matildee mergulhada
em livros em frente ao computador sem poder lhe dar muita atenccedilatildeo Minha razatildeo
de viver
Ao meu irmatildeo Tarciano que sempre me incentivou para que fizesse o
mestrado Muito obrigada por suas palavras
Agrave minha orientadora Professora Dra Cristine pelos ensinamentos prestados
por ter me oportunizado vivecircncias tatildeo ricas que com certeza muito colaboraram
para o sucesso desta pesquisa Minha eterna gratidatildeo
Aos professores do Mestrado pelos ensinamentos prestados com certeza
muito agregaram em minha vida profissional A vocecircs meu carinho
Aos entrevistados Sr Dr Moacir Sr Orides Sr Jaures Sr Blair Sr Nauro
Sr Darci Sr Reinaldo e a Sra Susana Sra Luciana Sra Deotildes Sra Ceacutelia Sra
Amaacutelia Celuderes e Sra Maria Madalena pelo apoio recebendo-me em suas
residecircncias e colaborando com esta pesquisa Sem a colaboraccedilatildeo de vocecircs esse
trabalho seria mais difiacutecil A vocecircs meu muito obrigado
Agrave minha amiga Lisandra que sempre me apoiou com suas palavras de
carinho dando-me coragem para prosseguir Agradeccedilo pela sua amizade
E por fim aos meus alunos que compartilharam muitas vezes as minhas
anguacutestias meu cansaccedilo mas sempre me apoiaram Em especial aqueles que
testaram o produto por suas doces palavras Meu eterno agradecimento
RESUMO
A presente dissertaccedilatildeo aborda o ensino de Histoacuteria em Satildeo Francisco de Paula Rio Grande do Sul tendo como princiacutepio que o ensino de Histoacuteria partindo do local se torna mais significativo aos estudantes da educaccedilatildeo baacutesica Para a construccedilatildeo dessa pesquisa se utilizaram diferentes abordagens metodoloacutegicas tais como documentos da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul jornais fontes bibliograacuteficas imagens e depoimentos orais O estudo procurou abordar a construccedilatildeo do municiacutepio bem como o que identifica os sete distritos pertencentes a Satildeo Francisco Paula Como resultado se cria um paradidaacutetico fiacutesico com textos imagens curiosidades sugestotildees de atividades e leituras complementares que serviraacute de apoio pedagoacutegico aos professores e estudantes da educaccedilatildeo baacutesica Espera-se que este material possa servir de pesquisa a todos os interessados
Palavras-chave Ensino de Histoacuteria Satildeo Francisco de Paula Identidade
ABSTRACT
This dissertation deals with History teaching in Satildeo Francisco de Paula Rio Grande do Sul with the principle that History Teaching from the place becomes more meaningful to students of basic education For the construction of this research different methodological approaches are used such as documents of the Legislative Assembly of Rio Grande do Sul newspapers bibliographic sources images and oral testimony The study sought to address the construction of the municipality as well which identifies the seven districts belonging to San Francisco Paula As a result a physical paradidaacutetico is created with texts images curiosities suggestions of activities and complementary readings that will serve as pedagogical support to teachers and students of basic education It is hoped that this material can serve as a research to all interested parties
Keywords Teaching History Satildeo Francisco de Paula Identity
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 ndash Mapa de Identificaccedilatildeo das Sesmarias Serranas 26
Figura 2 ndash Divisatildeo Municipal em 1809 ndash Proviacutencia Satildeo Pedro do Rio Grande do Sul
28
Figura 3 ndash Vista da vila de Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra (1901) 29
Figura 4 ndash Vista Avenida Juacutelio de Castilhos (1923) 30
Figura 5 ndash Abertura da estrada ERS-020 Taquara ndash Satildeo Francisco de Paula de
Cima da Serra 31
Figura 6 ndash Accedilougue Central 33
Figura 7 ndash Igreja Matriz em 1931 34
Figura 8 ndash Igreja Matriz 34
Figura 9 ndash Mapa de localizaccedilatildeo de Satildeo Francisco de Paula 36
Figura 10 ndash Patroa Neuza Reis e sua Comissatildeo 39
Figura 11 ndash Gonzaga dos Reis 48
Figura 12 ndash Outdoor entrada da cidade na ERS-020 50
Figura 13 ndash Praccedila Central de Cazuza Ferreira 52
Figura 14 ndash Hotel do Campo 54
Figura 15 ndash Flacircmula de comemoraccedilatildeo aos 50 anos da entidade 57
Figura 16 ndash Barragem do Salto 58
Figura 17 ndash Igreja Santo Antocircnio ndash Distrito de Eletra 61
Figura 18 ndash Peacute com a fruta conhecido como Juaacute 63
Figura 19 ndash Praccedila Vila do Distrito Juaacute ao fundo cancha de laccedilo 65
Figura 20 ndash Imagem da Igreja Satildeo Roque em dia de festa no Rincatildeo dos Kroeff 69
Figura 21 ndash Imagem do Casaratildeo pouco antes de ser desmanchado 71
Figura 22 ndash Capa do livro 75
Figura 23 ndash Iacutendice do livro 76
Figura 24 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 1) 77
Figura 25 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 1) 78
Figura 26 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 2) 79
Figura 27 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 3) 80
Figura 28 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 4) 81
Figura 29 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 6) 82
Figura 30 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 8) 83
Figura 31 ndash Atividade do livro (Sugestatildeo de Leituras Complementares) 84
Figura 32 ndash Alunos do Ensino Meacutedio 85
SUMAacuteRIO
1 INTRODUCcedilAtildeO 11
2 HISTOacuteRIA LOCAL E O ENSINO DE HISTOacuteRIA NA SALA DE AULA 17
3 SAtildeO FRANCISCO DE PAULA CONSTRUCcedilAtildeO DO MUNICIacutePIO 24
31 CONVERSA COM MEMORIALISTAS 25
32 AMPLIANDO O DIAacuteLOGO COM OS MEMORIALISTAS 28
4 SAtildeO FRANCISCO DE PAULA DISTRITOS EM FOCO 41
41 DISTRITO SEDE 42
42 DISTRITO DE CAZUZA FERREIRA 51
43 DISTRITO DE TAINHAS 55
44 DISTRITO DE ELETRA 58
45 DISTRITO DO JUAacute 62
46 DISTRITO DO RINCAtildeO DOS KROEFF 66
47 DISTRITO DE LAJEADO GRANDE 70
5 DESCRICcedilAtildeO DO PRODUTO 74
6 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 86
REFEREcircNCIAS 90
FONTES CONSULTADAS 94
APEcircNDICES 96
APEcircNDICE A ndash ENTREVISTA COM MORADORES LOCAIS DOS DISTRITOS DE
SAtildeO FRANCISCO DE PAULA 97
APEcircNDICE B ndash TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO 98
11
1 INTRODUCcedilAtildeO
Os meacutetodos de ensino de Histoacuteria no Brasil vem sendo discutidos desde sua
criaccedilatildeo como disciplina Segundo Nadai (1992-1993 p 144) a introduccedilatildeo de
Histoacuteria no curriacuteculo ocorre na terceira metade do seacuteculo XIX no Brasil sendo que
desde entatildeo passa por diversas modificaccedilotildees Segundo Schmidt e Cainelli (2009)
os meacutetodos foram se adequando ao momento histoacuterico brasileiro em um primeiro
momento ensinou-se a histoacuteria da Europa Ocidental como a verdadeira histoacuteria da
civilizaccedilatildeo uma histoacuteria abstrata sem relaccedilatildeo com a vida do aluno Nadai (1992-
1993 p 146) acrescenta que ldquoa histoacuteria da paacutetria surgia como seu apecircndice sem
corpo autocircnomo e ocupando um papel extremamente secundaacuterio consistia num
repositoacuterio de biografias de homens ilustres de datas e batalhasrdquo
Poreacutem a partir de 1860 segundo Schmidt e Cainelli (2009 p 12-13) ldquono
periacuteodo republicano a incorporaccedilatildeo da concepccedilatildeo de que a disciplina Histoacuteria tinha
a responsabilidade de formar cidadatildeos ganha forccedilardquo sendo assim as escolas
primaacuterias e secundaacuterias comeccedilaram incluir em seus programas a histoacuteria nacional
com o intuito da formaccedilatildeo da nacionalidade sendo a paacutetria com seus heroacuteis o
principal foco Desta forma a criaccedilatildeo das diretrizes da Lei de Educaccedilatildeo nordm 569271
reforccedila o modelo jaacute instaurado
Foi oficializado o ensino de Estudos Sociais nas escolas brasileiras ficando os conteuacutedos especiacuteficos da Histoacuteria destinados somente aos alunos do antigo segundo grau A concepccedilatildeo e os conteuacutedos da Histoacuteria continuavam atrelados agraves concepccedilotildees tradicionais (SCHMIDT CAINELLI 2009 p 13)
Com a redemocratizaccedilatildeo na deacutecada de 1980 houve inuacutemeras discussotildees
que elencaram inuacutemeras abordagens e temaacuteticas para o ensino da Histoacuteria na
atualidade as novas tendecircncias se preocupam com a transposiccedilatildeo didaacutetica
valorizando documentos histoacutericos e incorporando novas linguagens e tecnologias
que permitem discussotildees e autonomia de pensamento Neste sentido as novas
concepccedilotildees de ensino de Histoacuteria ao final do seacuteculo XX abrem a possibilidade de
uma nova praacutetica didaacutetica que segundo Azevedo e Stamatto (2010 p 709) ldquobusca
problematizar a relaccedilatildeo passado-presente e em geral tomam a realidade do aluno
como ponto de partidardquo
Por se acreditar em um ensino de Histoacuteria onde a aprendizagem natildeo ocorre
em periacuteodos estanques de forma abstrata e sem relaccedilatildeo com o presente ou seja
12
apresentando de forma linear sem que haja contextualizaccedilatildeo sendo apresentada
atraveacutes de leitura de textos eou resumos permeando com atividades que muitas
vezes natildeo permitem um desenvolvimento de raciociacutenio histoacuterico que contribua para
a construccedilatildeo da cidadania Torna-se urgente pensar em um ensino voltado para a
inclusatildeo de novas contribuiccedilotildees historiograacuteficas como a histoacuteria cultural econocircmica
e social buscando na realidade local subsiacutedios para a aprendizagem Por isso a
presente dissertaccedilatildeo traz a didatizaccedilatildeo da histoacuteria de Satildeo Francisco de Paula visto
que a questatildeo-problema estaacute vinculada ao natildeo uso da histoacuteria local no ensino de
Histoacuteria deste municiacutepio e o pouco material disponiacutevel para o uso dos professores
Parte-se do pressuposto que ao abranger a histoacuteria local os sujeitos se veem como
partiacutecipes desta histoacuteria estudada significando e ressignificando conceitos
histoacutericos
Corroborando com este estudo Cunha (2016) traz consideraccedilotildees importantes
relacionadas ao uso da histoacuteria local O autor aborda como algo essencial para
compreensatildeo da histoacuteria geral na educaccedilatildeo baacutesica o uso da histoacuteria local o que
proporcionaria aos estudantes o reconhecimento como cidadatildeo e a percepccedilatildeo e
identificaccedilatildeo dos lugares de memoacuteria por parte dos alunos bem como o sentimento
de pertencimento do local Desta forma despertaria no aluno o interesse por um
passado aparentemente desligado de sua realidade estabelecendo relaccedilotildees com o
seu cotidiano
Desta maneira acredita-se que os estudantes da educaccedilatildeo baacutesica
compreenderatildeo a histoacuteria como algo que faz parte de suas vidas tornando-se assim
sujeitos da histoacuteria pois se haacute reconhecimento haveraacute tambeacutem o sentimento de
pertencimento que poderaacute ajudaacute-los a manter ou modificar a realidade que os cerca
Assim descrevem Schmidt e Cainelli
Esse sentido do ensinar Histoacuteria natildeo significaria natildeo ter conteuacutedos para serem ensinados mas olhar para estes conteuacutedos a partir da possibilidade de construir com os alunos novas questotildees diante de conteuacutedos e temas propostos pela historiografia Aprender histoacuteria eacute discutir evidecircncias levantar hipoacuteteses dialogar com os sujeitos os tempos e os espaccedilos histoacutericos Eacute olhar para o outro em tempos e espaccedilos diversos (SCHMIDT CAINELLI 2009 p 20)
Dentro desta perspectiva o reconhecimento da memoacuteria social se faz
importante visto que se necessita invocaacute-la para que um determinado grupo ou local
reconheccedila sua identidade social Atraveacutes de entrevistas com moradores de Satildeo
13
Francisco de Paula se invoca a memoacuteria coletiva na busca da identidade dos sete
distritos deste municiacutepio Visto que a histoacuteria de Satildeo Francisco de Paula se inicia por
volta do seacuteculo XVIII quando se datam as primeiras sesmarias1 concedidas ao
capitatildeo Pedro da Silva Chaves Posteriormente o capitatildeo doa parte de suas terras
para a construccedilatildeo do povoado que recebe o nome de Satildeo Francisco de Paula de
Cima da Serra por este ser devoto do Santo Satildeo Francisco Reza no testamento do
capitatildeo Pedro da Silva Chaves que um de seus filhos foi o primeiro paacuteroco a rezar
missa no povoado Satildeo Francisco de Paula pertenceu a Santo Antocircnio da Patrulha
e mais tarde a Taquara emancipando-se em 1902
Haacute pouca bibliografia sobre a histoacuteria de Satildeo Francisco de Paula o que existe
satildeo livros escritos por memorialistas onde se percebe a prioridade pela histoacuteria do
fundador ou seja do Capitatildeo Pedro da Silva Chaves dos iacutendios Caaguaraacutes que
habitavam a regiatildeo assim como os aspectos poliacuteticos administrativos Alguns destes
livros apresentam uma siacutentese cronoloacutegica de fatos importantes e descrevem
superficialmente o jeito de viver do povo serrano2 Mas a histoacuteria de Satildeo Francisco
de Paula estaacute repleta de diferentes identidades que identificam a Sede3 e o Interior4
deste municiacutepio e formam o jeito de viver do seu povo A natildeo exploraccedilatildeo de
elementos culturais que se fazem importantes para a construccedilatildeo de identidade
destes lugares minimiza as memoacuterias e as tradiccedilotildees que ali se apresentam visto
que
as constantes novidades em diferentes campos do saber os avanccedilos da tecnologia as infinitas possibilidades de comunicaccedilatildeo simultacircnea tecircm provocado sobretudo nas novas geraccedilotildees uma sensaccedilatildeo de que o mundo em que se vive eacute dotado de um temporalidade constituiacuteda por um tempo presente contiacutenuo (FIGUEIRA MIRANDA 2012 p 46)
Neste sentido fez-se uso de diferentes fontes para a construccedilatildeo do produto
desta dissertaccedilatildeo que consiste de um paradidaacutetico que possa servir como um
1 Sesmaria Terreno sem culturas ou abandonado que a antiga legislaccedilatildeo portuguesa com base em
praacuteticas medievais determinava que fosse entregue a quem se comprometesse a cultivaacute-lo 2 Serrano gentiacutelico de quem nasce em Satildeo Francisco de Paula 3 Sede distrito criado em 07 de janeiro de 1903 na mesma data da instalaccedilatildeo oficial do Municiacutepio Eacute
o distrito onde se localiza a Prefeitura Municipal Foacuterum agecircncias bancaacuterias loteacutericas hospital casas comerciais e residecircncias particulares Normalmente os moradores do interior quando vatildeo ao distrito se referem como ldquovou a Satildeo Chicordquo e natildeo como ldquovou a Sederdquo
4 Interior Cazuza Ferreira Juaacute Eletra Rincatildeo dos Kroeff Tainhas e Lajeado Grande satildeo distritos que ficam na zona rural apesar de todos terem uma pequena vila que possui pouca infraestrutura Alguns destes distritos ainda usam aacutegua de vertentes sem nenhuma rede de esgoto pois natildeo possuem aacutegua fornecida pela Companhia de Aacutegua e Saneamento (CORSAN)
14
material disponiacutevel a alunos e professores no ensino de Histoacuteria de Satildeo Francisco
de Paula Segundo Munakata entendem-se como paradidaacuteticos
Livros que sem apresentar caracteriacutesticas proacuteprias dos didaacuteticos satildeo adotados no processo de ensino e aprendizagem nas escolas seja como material de consulta do professor seja como material de pesquisa e de apoio agraves atividades do educando (MUNAKATA 1997 p 103)
Para a construccedilatildeo do paradidaacutetico fez-se uso de bibliografias jaacute existentes
jornais e documentos da Assembleia da Legislativa bem como o uso da histoacuteria
oral sendo as entrevistas a fonte primordial para escrever sobre as semelhanccedilas e
diferenccedilas existentes no modo de vida da populaccedilatildeo de Satildeo Francisco de Paula
visto que os depoimentos satildeo importantes na preservaccedilatildeo das memoacuterias tradiccedilotildees
bem como das heranccedilas identitaacuterias Neste sentido Delgado (2003 p 23) discorre
ldquonarrativas memoacuterias histoacuterias e identidades satildeo a humanidade em movimento
Satildeo o olhar que permeiam tempos heterogecircnicos Satildeo a histoacuteria em construccedilatildeo Satildeo
memoacuterias que falamrdquo
Portanto a histoacuteria oral busca registrar as vivecircncias e lembranccedilas de um
determinado grupo Alberti (2008 p 29) assim define ldquohistoacuteria oral natildeo eacute um fim em
si mesma e sim um meio de conhecimentordquo Quando se trabalha com a histoacuteria
oral se faz necessaacuterio valorizar a memoacuteria as identidades e tradiccedilotildees pois estas
formam a histoacuteria local ou seja a histoacuteria dos indiviacuteduos que ali vivem Halbwachs
(2004) afirma que com a perda da memoacuteria coletiva tambeacutem se perdem as
tradiccedilotildees locais tradiccedilotildees essas que identificam o modo de viver de um determinado
local Hobsbawn e Ranger entendem que as tradiccedilotildees podem ou natildeo ser
inventadas
Tradiccedilatildeo inventada entende-se um conjunto de praacuteticas normalmente reguladas por regras taacutecitas ou abertamente aceitas tais praacuteticas de natureza ritual ou simboacutelica visam inculcar certos valores e normas de comportamento atraveacutes da repeticcedilatildeo o que implica automaticamente uma continuidade com relaccedilatildeo ao passado (HOBSBAWN RANGER 2015 p 8)
Hobsbawn e Ranger (2015) ainda acrescem que a criaccedilatildeo de uma tradiccedilatildeo
independe da imposiccedilatildeo de uma nova tradiccedilatildeo o que normalmente ocorre eacute uma
rebeliatildeo cultural que precede da elaboraccedilatildeo de novas tradiccedilotildees que satildeo adotadas
pela populaccedilatildeo e com o tempo passam a se tornar tradiccedilotildees daquele local
formando a identidade local
15
Neste sentido Hall (2011 p 39) discorre que ldquoas identidades satildeo fabricadas
por meio da marcaccedilatildeo da diferenccedilardquo O autor ainda acresce que ldquoa diferenccedila eacute aquilo
que separa uma identidade da outrardquo (HALL 2011 p 41) Dentro desta perspectiva
a memoacuteria que se apresenta atraveacutes de siacutembolos ou tradiccedilotildees respalda a
construccedilatildeo da identidade do povo de Satildeo Francisco de Paula visto que a memoacuteria eacute
a construccedilatildeo do passado de maneira atualizada e renovada no tempo presente
Assim Halbwachs (2004 p 64) descreve que ldquonatildeo eacute na histoacuteria aprendida eacute na
histoacuteria vivida que se apoia nossa memoacuteriardquo Nessa loacutegica o autor ainda descreve
que ldquoo mundo histoacuterico eacute como um oceano onde afluem todas as histoacuterias parciaisrdquo
(p 90)
O municiacutepio de Satildeo Francisco de Paula eacute repleto de tradiccedilotildees que perpassam
o tempo que estatildeo enraizadas no jeito serrano de ser formando a sua identidade
Portanto a histoacuteria de Satildeo Francisco de Paula descrita nesta dissertaccedilatildeo seraacute
apresentada em quatro capiacutetulos
O capiacutetulo dois apresenta a discussatildeo teoacuterica metodoloacutegica sobre a
importacircncia do ensino da Histoacuteria local na sala de aula Tambeacutem conceitos como
memoacuteria e identidade e a importacircncia de se abordar o local em prol do global
No capiacutetulo trecircs aborda-se a construccedilatildeo histoacuterica do municiacutepio de Satildeo
Francisco de Paula que vai desde a chegada do colonizador nesta terra ateacute as
instituiccedilotildees que se formam ao longo do tempo Para isso se faz uso de bibliografias
jaacute existentes como Lucena (1971) Oliveira (1996) Teixeira (2002) Ribeiro (2003)
Alves (2007) e Fonseca (2012) sendo todas essas obras importantes para Satildeo
Francisco de Paula visto que cada uma traz consigo um pouco da histoacuteria deste
municiacutepio poreacutem sente-se falta da identidade e da memoacuteria na construccedilatildeo histoacuterica
As obras satildeo apresentadas sob o mesmo prisma apresentando os iacutendios Caaguaraacutes
e o Capitatildeo Pedro da Silva Chaves os fundadores desta terra dando bastante
ecircnfase aos sobrenomes que ali se desenvolveram Tambeacutem se fez uso de
documentos da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul aleacutem de jornais
encontrados no Arquivo Histoacuterico de Satildeo Francisco de Paula
No capiacutetulo quatro utiliza-se da fonte oral para que sejam identificadas as
diferentes tradiccedilotildees e versotildees da histoacuteria local ou seja a identidade de cada distrito
constituindo assim as particularidades que constroem o municiacutepio de Satildeo Francisco
de Paula Para tanto buscaram-se depoentes nas vilas dos distritos sendo que a
escolha se deu por duas pessoas por distrito sendo um homem e uma mulher
16
totalizando treze depoentes todos da terceira idade pois segundo Bosi (1994 p
82) ldquoum mundo social que possui uma riqueza e uma diversidade que natildeo
conhecemos pode chegar-nos pela memoacuteria dos velhosrdquo memoacuterias estas
construiacutedas por suas vivecircncias neste local o que justifica a relevacircncia dos
depoimentos para a construccedilatildeo do trabalho
O capiacutetulo cinco apresenta uma descriccedilatildeo do produto que consiste em um
paradidaacutetico em forma fiacutesica abordando a histoacuteria de Satildeo Francisco de Paula A
escolha pelo formato fiacutesico acontece pelas dificuldades encontradas no interior dos
distritos com o acesso agrave internet assim se pensa que o formato fiacutesico abrangeraacute um
nuacutemero maior de alunos e professores
Para tanto utiliza-se a metodologia da Histoacuteria oral para escrever a memoacuteria
e as percepccedilotildees das pessoas que habitam este local Hobsbawn e Ranger (1995 p
103) escrevem que ldquoessa proximidade entre o periacuteodo analisado e sua histoacuteria
pessoal eacute o pano de fundo para a discussatildeo de alguns problemas que qualquer
historiador enfrenta ao escrever sobre seu proacuteprio tempordquo pois a sensibilidade do
historiador vai escrever sua narrativa Em outras palavras Hobsbawn e Ranger
(1995 p 104) explicam que ldquocada historiador tem sua proacutepria vida um lugar privado
a partir do qual inspeciona o mundordquo Tambeacutem afirmam
Para aqueles que querem escrever a histoacuteria do seacuteculo XX uma das mais importantes reside no simples fato de saber sem nenhum esforccedilo especial o quanto as coisas se modificaram Os uacuteltimos trinta ou quarenta anos foram os mais revolucionaacuterios da histoacuteria O mundo ou seja a vida dos homens e mulheres que vivem na Terra nunca foi transformada de maneira tatildeo profunda dramaacutetica e extraordinaacuteria dentro de um periacuteodo tatildeo curto As geraccedilotildees que natildeo viram como o mundo era antes tecircm dificuldade em perceber isso intuitivamente (HOBSBAWN RANGER 1995 p 107)
Portanto se faz importante perceber que o mundo vem se transformando de
maneira raacutepida modificando a vida das pessoas e por conseguinte as tradiccedilotildees e
identidades locais pois estas comunidades natildeo vivem de forma isolada e sofreram
influecircncias jaacute que a cultura natildeo eacute estagnada estaacute sempre em constante movimento
juntamente com as pessoas
17
2 HISTOacuteRIA LOCAL E O ENSINO DE HISTOacuteRIA NA SALA DE AULA
Discutir o ensino de Histoacuteria na educaccedilatildeo baacutesica e a relaccedilatildeo do mesmo com a
histoacuteria local se faz bastante importante para que a cada dia se possa melhorar as
praacuteticas pedagoacutegicas Neste sentido se busca respaldo em diferentes bibliografias
que possam embasar novos afazeres dentro do espaccedilo da sala de aula e
proporcionar ao estudante um novo olhar sobre a histoacuteria um olhar de sujeito ativo
dentro desse processo de ensino aprendizagem
Pois quando a Histoacuteria eacute ensinada como algo certo e imutaacutevel de maneira
fragmentada voltada para linearidade e memorizaccedilatildeo de fatos e datas reforccedila o
que Mendes (1935) e Schmidt e Cainelli (2009) defendem que realmente eacute odiosa a
histoacuteria ensinada por este vieacutes Percebe-se que o ensino de histoacuteria linear nos
moldes europeus positivistas jaacute natildeo daacute mais conta da importacircncia da histoacuteria para a
sociedade atual porque eacute apresentada aos alunos atraveacutes de datas e fatos escrita
pelo vieacutes de uma elite que normalmente eacute branca e deteacutem o poder poliacutetico eou
econocircmico Eacute inconcebiacutevel que se permaneccedila com um ensino de Histoacuteria que natildeo
serve natildeo motiva e segundo Ruumlsen (2001 p 25) ainda ldquoirracionalizardquo sendo esse
modelo muito frequente nas escolas de educaccedilatildeo baacutesica brasileiras
Natildeo eacute por outro motivo que observamos ainda nas uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo XX que para a maior parte dos estudantes brasileiros o estudo de histoacuteria carece de sentido ou utilidade natildeo se tem a visatildeo de ciecircncia e sim de uma mateacuteria decorativa estudo do passado que soacute exige como vimos a prontidatildeo em declinar nomes datas e fatos Natildeo eacute de se estranhar que assim seja porque ocorre a enorme distacircncia entre a realidade vivenciada pela comunidade e o tratamento dado ao ensino de Histoacuteria jaacute que o aluno se torna mero espectador de fatos natildeo necessitando esforccedilos no sentido de qualquer reflexatildeo ou elaboraccedilatildeo (BARBOSA 2006 p 58)
O ensinar da histoacuteria de forma abstrata fragmentada dificulta a compreensatildeo
do processo histoacuterico no sentido que se estuda os fatos isolados ao seu tempo
como se um fato precisasse terminar para iniciar outro Em outras palavras este
meacutetodo de ensino natildeo daacute a noccedilatildeo de continuidade ou seja a histoacuteria perdeu seu
sentido baacutesico que eacute a compreensatildeo do contexto global dos fatos considerando que
o ensino de Histoacuteria por muitas vezes eacute estanque sem uma relaccedilatildeo ldquopresente x
passadordquo sendo de suma importacircncia o despertar de uma consciecircncia criacutetica por
parte do estudante Por isso ao longo do tempo o ensino sofre influecircncia por parte
do ldquopoderrdquo segundo Laville (1999 p 128) ldquoa Histoacuteria eacute certamente a uacutenica disciplina
18
escolar que recebe intervenccedilotildees diretas dos altos dirigentes e a consideraccedilatildeo ativa
dos parlamentos Isso mostra quatildeo importante eacute ela para o poderrdquo Nesta linha o
autor ainda acrescenta que ldquoa narrativa histoacuterica pode tambeacutem ser vista como uma
tomada de poder por grupos sem poderrdquo (LAVILLE 1999 p 129)
Na busca de modificar esse modelo surgem novos meacutetodos que valorizam o
uso do documento histoacuterico e a incorporaccedilatildeo de novas tecnologias de acordo com
Azevedo e Stamatto (2010 p 720) ldquotem o desafio de responder a inquietaccedilotildees do
hojerdquo Partindo deste pressuposto haacute possibilidade de se modificar o ensino da
Histoacuteria que ateacute entatildeo estava voltado agrave memorizaccedilatildeo para um modelo onde o
sujeito seja agente deste processo
Ensinar Histoacuteria como algo pronto e acabado [] sem levar em conta o contexto e os sujeitos envolvidos no processo de ensino aprendizagem pode levar a um ensino que natildeo desenvolve o que eacute mais importante como funccedilatildeo do ensinar histoacuteria que orientar os problemas da vida praacutetica (SCHMIDT CAINELLI 2009 p 20)
Assim Seffner (2013 p 51) acrescenta que ldquoo ensino de Histoacuteria eacute um ensino
de situaccedilotildees histoacutericas Mais do que nomes datas e acontecimentos o professor
deve propiciar ao aluno a compreensatildeo de como se estrutura uma dada situaccedilatildeordquo
Para que o ensino de Histoacuteria seja ressignificado existe a necessidade de anaacutelise
do processo histoacuterico problematizando os fatos no vai e vem do presentepassado
Os estudantes da educaccedilatildeo baacutesica necessitam compreender a histoacuteria como
um processo em constante transformaccedilatildeo que eacute movimentada por sujeitos que a
compotildeem com permanecircncias e rupturas ao longo dos tempos Segundo Bittencourt
(2004 p 168) ldquoa histoacuteria local tem sido indicada como necessaacuteria para o ensino por
possibilitar a compreensatildeo do alunordquo
Corroborando Seffner (2013) Souza (2015) e Brum (2015) evidenciam a
importacircncia de se trabalhar a histoacuteria global partindo de uma histoacuteria local
problematizando levando hipoacuteteses e analisando os fatos histoacutericos o que gera
significado para o educando e torna o docente natildeo mais um mero transmissor mas
um mediador deste conhecimento Neves (1997 p 22) reforccedila que ldquoo local fora do
contexto geral eacute apenas um fragmento e o geral sem o respaldo das realidades
locais eacute apenas uma abstraccedilatildeordquo Com esta nova abordagem o estudar Histoacuteria tem
sentido para o discente que se sente sujeito de sua proacutepria histoacuteria visto que
19
identificar-se com o local onde se vive ajuda a compreender o sentimento de
pertencimento e suas relaccedilotildees com o meio social e cultural no qual estaacute inserido
Nesta perspectiva faz-se necessaacuterio que os professores busquem novas
alternativas de ensino que proporcionem ao estudante a habilidade de ressignificar o
fato histoacuterico estudado
Ensinar Histoacuteria requer do professor a habilidade de buscar sentido e significado para o conhecimento que ministra e isso significa superar a mera transmissatildeo de informaccedilotildees jaacute que essa natildeo tem por finalidade o desenvolvimento intelectual mas ao contraacuterio deforma a capacidade de pensamento histoacuterico do aluno e a possibilidade de consolidar habilidades de anaacutelise da proacutepria realidade social (SILVA PORTO 2012 p 67)
Goubert assim define a histoacuteria local
Denominaremos histoacuteria local como aquela que diga respeito a uma ou poucas aldeias a uma cidade pequena ou meacutedia (um grande porto ou uma capital estatildeo aleacutem do acircmbito local) ou a uma aacuterea geograacutefica que natildeo seja maior do que a unidade provincial comum (como um county inglecircs um contado italiano uma Land alematilde uma bailiwick ou pays francecircs) Praticada haacute tempos atraacutes com cuidado zelo e ateacute orgulho a histoacuteria local foi mais tarde desprezada mdash principalmente nos seacuteculos XIX e primeira metade do XX mdash pelos partidaacuterios da histoacuteria geral A partir poreacutem da metade desse seacuteculo a histoacuteria local ressurgiu e adquiriu novo significado na verdade alguns chegam a afirmar que somente a histoacuteria local pode ser autecircntica e fundamentada (GOUBERT 1992 p 70)
Neste sentido fica evidente a importacircncia de se partir de uma histoacuteria local
para uma global Atraveacutes da histoacuteria local os estudantes teratildeo contato com sua
histoacuteria e poderatildeo se sentir parte integrante deste espaccedilo que muitas vezes por
falta de conhecimento acabam renegando sua proacutepria identidade Figueira e Miranda
(2012 p 113) afirmam que ldquoum dos efeitos mais danosos da globalizaccedilatildeo eacute a
universalizaccedilatildeo dos gostosrdquo isto implica diretamente na perda da identidade local
que muitas vezes estaacute sendo afetada pelas muacuteltiplas identidades existentes Neste
sentido Silva e Porto descrevem
A globalizaccedilatildeo entretanto produz diferentes resultados em termos de identidade A homogeneidade cultural promovida pelo mercado global pode levar ao distanciamento da identidade relativamente agrave comunidade e agrave cultura local (SILVA PORTO 2012 p 21)
Neste sentido Canclini acrescenta
Las comunidades de consumidores se organiza cada vez menos seguacuten diferencias nacionales y sobre todo en las generaciones joacutevenes definen sus praacutecticas culturales de acuerdo con informacioacuten y estilos homogeneizados (CANCLINI 1997 p 42)
20
Globalizaccedilatildeo que impotildee atraveacutes dos meios de comunicaccedilatildeo e social uma
identidade geral que regra a sociedade seus haacutebitos e costumes Devido ao grande
movimento das pessoas pelo mundo perceber e manter uma identidade com
caracteriacutesticas locais fica a cada dia mais difiacutecil ainda mais em se tratando da
populaccedilatildeo jovem que natildeo reconhece ao seu redor o que representa a sua
identidade local
Valorar as experiecircncias locais proporcionaraacute aos estudantes uma nova
metodologia de abordar a histoacuteria
Do ponto de vista metodoloacutegico destaca-se nessa forma de abordagem a preocupaccedilatildeo com os conhecimentos preacutevios dos alunos com a problematizaccedilatildeo dos conteuacutedos de ensino selecionados para trabalho em sala de aula estabelecendo relaccedilotildees com o cotidiano dos alunos e com o cotidiano de outras pessoas em outros tempos e em outros lugares Enfatiza-se tambeacutem a busca de articulaccedilatildeo entre histoacuteria local e a histoacuteria universal (SCHMIDT 2007 p 193)
O ensino de histoacuteria partindo do local para o global possibilita segundo
Bittencourt (2004 p 168) ldquoa compreensatildeo do entorno do alunordquo sendo que um dos
aspectos relevantes para este ensino eacute a escolha de fontes que levem os estudantes
a se reconhecerem nesse processo histoacuterico O autor ainda acresce
Eacute pela memoacuteria que se chega agrave histoacuteria local Aleacutem da memoacuteria das pessoas escrita ou recuperada pela oralidade existem os lsquolugares de memoacuteriarsquo (grifo da autora) expressos por monumentos praccedilas edifiacutecios puacuteblicos ou privados mas preservados como patrimocircnio histoacuterico (BITTENCOURT 2004 p 169)
Esta memoacuteria vai contribuir para legitimaccedilatildeo da identidade local Sabe-se que
a identidade eacute algo mutaacutevel e segundo Silva e Porto (2012 p 38) ldquoas identidades
satildeo produzidas em momentos particulares no tempordquo O pesquisador ainda
acrescenta que ldquoas identidades satildeo contingentes emergindo em momentos
histoacutericos particularesrdquo Estas identidades precisam ser reconhecidas quando se fala
de histoacuteria local
Na mesma linha Ruumlsen descreve a identidade histoacuterica
Consiste na ampliaccedilatildeo do horizonte nas experiecircncias do tempo e nas intenccedilotildees acerca do tempo no qual os sujeitos agentes se asseguram da permanecircncia de si mesmos na evoluccedilatildeo do tempo O ponto extremo dessa consolidaccedilatildeo de identidade eacute a lsquohumanidadersquo como suprassumo dos pontos comuns em sociedade com respeito a diversos sujeitos agentes no processo de determinaccedilatildeo de suas proacuteprias identidades determinam as dos outros de forma tal que estes se reconhecem nelas Esse criteacuterio de sentido lsquohumanidadersquo fornece o paracircmetro para se constatar a consolidaccedilatildeo da
21
identidade em que desembocam o progresso contiacutenuo do conhecimento mediante a pesquisa histoacuterica e a ampliaccedilatildeo contiacutenua das perspectivas mediante a reflexatildeo histoacuterica sobre referenciais (RUumlSEN 2001 p 126)
A histoacuteria local eacute constituiacuteda por diferentes identidades que satildeo geradas pelos
grupos que compotildeem este espaccedilo A este respeito Silva e Porto (2011 p 41)
apresentam que ldquoa diferenccedila eacute aquilo que separa uma identidade da outrardquo Tambeacutem
eacute notaacutevel que para que haja a representaccedilatildeo de suas identidades locais faz-se
necessaacuterio o reconhecimento destas e a percepccedilatildeo que existem diferentes fatores
que diferenciam os grupos sociais
Portanto a identidade eacute constituiacuteda pelas posiccedilotildees eou escolhas feitas
sendo que muitas vezes elas satildeo racionais ou ateacute mesmo irracionais A identidade
eacute baseada na memoacuteria que pode ser individual ou coletiva Segundo Candau (2011
p 16) ldquoos laccedilos fundamentais entre memoacuteria e identidade eacute sobre o fato de que eacute a
memoacuteria faculdade primeira que alimenta a identidaderdquo
Se a memoacuteria gera a identidade natildeo se pode pesquisar e escrever sobre
histoacuteria local sem levar em conta estes dois conceitos primordiais pois a histoacuteria
local soacute teraacute valia se escrita pelo vieacutes do todo ou seja natildeo priorize um grupo ou
classe social todos os quadros sociais devem estar representados dentro deste
processo Nessa linha Schmidt e Cainelli descrevem
O estudo da localidade ou da histoacuteria regional contribui para uma compreensatildeo muacuteltipla da Histoacuteria pelo menos em dois sentidos na possibilidade de se ver mais de um eixo histoacuterico na histoacuteria local e na possibilidade da anaacutelise de micro histoacuterias pertencentes a alguma outra histoacuteria que as englobe e ao mesmo tempo reconheccedila suas particularidades (SCHMIDT CAINELLI 2009 p 139)
Uma histoacuteria que faz sentido que esteja englobada a outra histoacuteria A
memoacuteria coletiva entra na construccedilatildeo desta histoacuteria local e eacute primordial pois esta vai
dar elementos que constroem a identidade deste local sendo que a memoacuteria do
passado influencia na representaccedilatildeo da identidade Neste sentido conforme
Figueira e Miranda (2012 p 47) eacute necessaacuterio compreender a memoacuteria ldquocomo a
capacidade de conservar e de preservar dados refere-se a um conjunto de funccedilotildees
cerebrais que nos permite reter informaccedilotildees adquiridas e impressotildees vividasrdquo
Podendo ser ela individual ou coletiva sendo que a memoacuteria individual existe a partir
de uma memoacuteria coletiva jaacute que as lembranccedilas que ajudam a reconstruir o passado
partem do interior de um grupo
22
Para as Ciecircncias Humanas o conceito de memoacuteria estaacute ligado agrave memoacuteria
social e coletiva definida por Le Goff (2003 p 422) como ldquoo estudo da memoacuteria
social eacute um dos elementos fundamentais de abordar os problemas do tempo e da
histoacuteriardquo O autor ainda acrescenta que ldquoa memoacuteria coletiva eacute natildeo somente uma
conquista eacute tambeacutem um instrumento e um objeto de poderrdquo (LE GOFF 2003 p
410) Neste sentido Halbwachs (2004 p 90) ressalta que ldquotoda memoacuteria coletiva
tem por suporte um grupo limitado no espaccedilo e no tempo e o mundo histoacuterico eacute
como um oceano onde afluem todas as histoacuterias parciaisrdquo
Quando se abordam conceitos de memoacuteria e identidade no ensino de
histoacuteria estaacute se trazendo para o estudo os sujeitos que compotildeem aquele local com
suas vivecircncias que podem ser coletivas ou natildeo A transmissatildeo de saberes entre as
geraccedilotildees forma a identidade coletiva sendo o ser humano um agente ativo no
quadro social da memoacuteria
Halbwachs assim define os quadros coletivos da memoacuteria
Os quadros coletivos da memoacuteria natildeo se resumem em datas nomes e foacutermulas que eles representam correntes de pensamento e de experiecircncia onde reencontramos nosso passado porque este foi atravessado por isso tudo (HALBWACHS 2004 p 71)
Nesta direccedilatildeo Le Goff (2003 p 4) acrescenta que ldquoa memoacuteria social eacute um
dos meios fundamentais para se abordar os problemas do tempo e da histoacuteria A
memoacuteria estaacute nos proacuteprios alicerces da histoacuteriardquo Catroga (2001) reforccedila que a
memoacuteria eacute moldada a partir das vivecircncias e na sua narrativa vai haver uma
coerecircncia que se mistura passado e presente
Quando se escreve sobre histoacuteria local eacute importante considerar que ela estaacute
pautada em documentos assim como em memoacuterias escritas visuais ou orais Neste
sentido eacute perceptiacutevel que o uso dos diferentes tipos de memoacuteria satildeo alicerces que
conduzem o trabalho do historiador para que ele possa interpretar suas fontes e
validar seu trabalho Memoacuterias estas que podem ser apresentadas com documentos
oficiais ou atraveacutes de uma cultura material ou imaterial
A escrita de histoacuterias locais vem como um novo modelo de resguardar
identidades e memoacuterias que se natildeo preservadas iratildeo desaparecer pela influecircncia
da globalizaccedilatildeo e falta de conhecimento de futuras geraccedilotildees Barros assim
descreve
23
Os novos tempos comeccedilavam a trazer um novo padratildeo historiograacutefico novas aberturas retornos e possibilidades e tambeacutem incertezas para os historiadores no que se refere agrave natureza do conhecimento que produzem e ao papel do conhecimento histoacuterico na sociedade [] Entre as novidades postula-se a possibilidade de examinar a histoacuteria de acordo com uma nova escala de observaccedilatildeo ndash atenta para o detalhe para as micro realidades para aquilo que habitualmente escapa ao olhar panoracircmico da macro histoacuteria tradicional ndash e eacute esta nova postura que se passou a chamar de micro histoacuteria (BARROS 2012 p 306)
Diante deste contexto o ensino de Histoacuteria pode buscar na histoacuteria local a
problematizaccedilatildeo necessaacuteria para que os estudantes da educaccedilatildeo baacutesica
reconheccedilam a identidade local que vem sofrendo com a uniformizaccedilatildeo da
sociedade que impotildee uma conjuntura global do local
24
3 SAtildeO FRANCISCO DE PAULA CONSTRUCcedilAtildeO DO MUNICIacutePIO
A apresentaccedilatildeo do municiacutepio Satildeo Francisco de Paula acontece atraveacutes do
uso da narrativa Esta se apresenta atraveacutes do diaacutelogo com obras jaacute produzidas por
memorialistas eou genealogistas que contribuem para a construccedilatildeo histoacuterica deste
local bem como se usa como fonte de enriquecimento documentos da Assembleia
Legislativa do Rio Grande do Sul e jornais locais
Para tanto se apresenta a revisatildeo historiograacutefica das obras escritas pelos
memorialistas eou genealogistas sendo que Lucena (1971) em sua obra ldquoSatildeo
Francisco de Paula Monografiardquo que abrange aspectos histoacutericos da formaccedilatildeo do
municiacutepio bem como pontos turiacutesticos e demograacuteficos O proacuteprio autor intitula a sua
obra como informativa a riqueza de detalhes eacute interessante poreacutem natildeo haacute nenhuma
referecircncia quanto aos dados escritos nem mesmo um referencial bibliograacutefico ao
final
No texto intitulado ldquoOs Fundadores de Satildeo Francisco de Paulardquo Alves (2007)
escreve sobre a fundaccedilatildeo de Satildeo Francisco de Paula Em seu livro haacute documentos
que validam o que se refere agrave genealogia jaacute que boa parte da obra apresenta os
troncos familiares que compunham o iniacutecio deste municiacutepio Na mesma linha da
genealogia Oliveira (1996) no livro ldquoAurorescer das Sesmarias Serranas histoacuteria e
genealogiardquo traz a histoacuteria das primeiras sesmarias da regiatildeo mas o foco principal
se daacute aos proprietaacuterios e seus descendentes Haacute um mapa bastante interessante
localizando as sesmarias e o nome por elas recebidos
Em ldquoSatildeo Francisco de Paula nossa terra nossa genterdquo Teixeira (2002)
apresenta dados gerais e histoacutericos do municiacutepio Esta obra apresenta dados
geograacuteficos como clima relevo e vegetaccedilatildeo A autora escreve sobre diversos
aspectos eventos personalidades e lendas Aleacutem disso apresenta Satildeo Francisco
de Paula com uma linha cronoloacutegica A obra abrange vaacuterios aspectos mas todos
suscintamente No final a autora apresenta a bibliografia consultada dentre os
autores estaacute Lucena (1971)
O texto ldquoSatildeo Francisco de Paula Rio Grande do Sul histoacuteria encantos e
misteacuteriosrdquo eacute uma obra de Fonseca (2012) que traz diversidade de assunto muitas
vezes estes estatildeo desconexos ou seja sua leitura se torna ldquotruncadardquo No final do
texto haacute um vasto referencial bibliograacutefico dentre os autores citam-se Lucena
(1971) e Teixeira (2002)
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Ribeiro (2003) eacute compositor e poeta Em ldquoFestival do Ronco do Bugiordquo
escreve sobre Satildeo Francisco de Paula apresentando a histoacuteria dos quinze anos do
festival no municiacutepio No iniacutecio contextualiza a origem do festival e do ritmo bugio
Depois apresenta a capa do disco de cada festival especificando as muacutesicas e os
compositores vencedores
Todas essas obras satildeo importantes para Satildeo Francisco de Paula cada uma
traz consigo um pouco da histoacuteria deste municiacutepio poreacutem sente-se falta da
identidade e da memoacuteria na construccedilatildeo histoacuterica As obras satildeo apresentadas o
mesmo prisma apresentando os iacutendios Caaguaraacutes e o Capitatildeo Pedro da Silva
Chaves os fundadores desta terra dando bastante ecircnfase aos sobrenomes que ali
se desenvolveram
31 CONVERSA COM MEMORIALISTAS
As terras onde hoje fica Satildeo Francisco de Paula eram habitadas por iacutendios da
tribo Caaguaraacutes que faziam parte dos Coroados Estes viviam livremente nos
campos de cima da serra e seus domiacutenios estendiam-se entre a Serra Geral e a
Serra do Mar Os iacutendios Caaguaraacutes tinham como haacutebitos alimentares a caccedila a
pesca e a coleta de sementes e frutos dentre os frutos o pinhatildeo e a goiaba-do-
mato segundo Teixeira (2002) e Alves (2007) Estes iacutendios tiveram seu habitat
invadido por incursotildees de desbravadores que comeccedilaram a trafegar pela regiatildeo em
busca de mulas e novas terras visto que as terras onde hoje se encontra Satildeo
Francisco de Paula de Cima da Serra foram rota de tropeiros5 pois estes trafegavam
pelos Campos de Cima da Serra indo na direccedilatildeo de Lages-SC ateacute alcanccedilarem
Sorocaba-SP6 Ao passarem por esta regiatildeo foram se formando pequenos vilarejos
e construindo um jeito peculiar de viver
Neste cenaacuterio aparece o municiacutepio de Satildeo Francisco de Paula de Cima da
Serra que recebe este nome para se diferenciar de Satildeo Francisco de Paula
denominaccedilatildeo recebida ateacute meados de 1830 pelo municiacutepio de Pelotas Poreacutem na
metade do seacuteculo XVIII Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra possuiacutea
5 Tropeiros homens que conduziam suas tropascomitivas de muares ou cavalos entre as regiotildees 6 Sugere-se a leitura FLORES Moacyr Troperismo no Brasil Porto Alegre Nova Dimensatildeo 1998
SAVARIS Manoelito Tropas e tropeiros o Rio Grande toma forma Disponiacutevel em ltwwwrogeriobastoscombr201104trpas-e-tropeiros-o-rio-grande-tomahtmlgt Acesso em 12 mar 2016
26
proprietaacuterios de terras sendo que um dos pioneiros foi Pedro da Silva Chaves um
portuguecircs casado com Gertrudes de Godoy uma paulista Pedro da Silva Chaves
declara em 1742 ser possuidor de terras neste municiacutepio Segundo Oliveira (1996)
em seu testamento Pedro da Silva Chaves rege que possui trecircs fazendas na regiatildeo
uma chamada Satildeo Joatildeo que se localiza desde o Arroio Santa Cruz ateacute o Rio
Tainhas concedida em 1752 por sesmaria a Fazenda da Cria que foi comprada de
Francisco Pinto Bandeira e confirmada como sesmaria em 1754 e a Fazenda
denominada Cerrito comprada do Capitatildeo Antocircnio Gonccedilalves dos Reis Nestas
fazendas havia criaccedilatildeo de cavalos gado vacum mulas e burros As fazendas
tambeacutem apresentavam em torno de 77 escravos sendo que alguns satildeo casados o
que se faz pensar que estes constituiacuteam famiacutelia aumentando assim o nuacutemero de
escravos da regiatildeo No mapa da Figura 1 verifica-se a localizaccedilatildeo das fazendas do
capitatildeo Pedro da Silva Chaves bem como sua extensatildeo territorial
Figura 1 ndash Mapa de Identificaccedilatildeo das Sesmarias Serranas
Fonte Oliveira (1996 p 236)
27
No mapa apresentado na Figura 1 ainda eacute possiacutevel observar a localizaccedilatildeo
onde inicia o povoado de Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra segundo
Lucena (1971 p 1) ldquoiniciou-se com o Capitatildeo Pedro da Silva Chaves que doou
uma gleba de terra para que fosse iniciado o povoadordquo Tambeacutem segundo Lucena
(1971 p 1) ldquodoou cinquenta vacas para construir o primeiro patrimocircnio da Igreja
cuja construccedilatildeo foi iniciada por sua conta e lhe deu o nome de Satildeo Francisco por
este ser devoto do Santordquo O que demonstra que Pedro da Silva Chaves era
Catoacutelico
Neste periacuteodo compreendido como seacuteculo XIX segundo Teixeira (2002) e
Alves (2007) o atual municiacutepio de Satildeo Francisco de Paula pertencia ao municiacutepio de
Santo Antocircnio da Patrulha municiacutepio este que formava juntamente com Porto
Alegre Rio Pardo e Rio Grande a proviacutencia de Satildeo Pedro do Rio Grande do Sul
atual Rio Grande do Sul Eacute possiacutevel observar a grande extensatildeo territorial de cada
municiacutepio no mapa apresentado na Figura 2 segundo Silva (2000) Santo Antocircnio
da Patrulha anexava as freguesias de N Sra Conceiccedilatildeo do Arroio e N Sra da
Oliveira da Vacaria a capela de Satildeo Domingos das Torres e os povoados de Santa
Cristina do Pinhal e Cima da Serra
Analisando o mapa da Figura 2 eacute possiacutevel perceber que o municiacutepio de Santo
Antocircnio da Patrulha tinha um vasto e extenso territoacuterio que atualmente compreende
os municiacutepios de Vacaria Antocircnio Prado Nova Roma do Sul Lagoa Vermelha
Veranoacutepolis Nova Prata Nova Araccedilaacute Nova Bassano Paraiacute Guabiju Satildeo Jorge
Vista Alegre do Prata Protaacutesio Alves Cotiporatilde Fagundes Varela Vila Flores
Caseiros Birajaras Andre da Rocha Capatildeo Bonito do Sul Muitos Capotildees Bom
Jesus Satildeo Joseacute dos Ausentes Esmeralda Ipecirc Campestre da Serra Monte Alegre
dos Campos Taquara Satildeo Francisco de Paula Cambaraacute do Sul e Jaquirana
28
Figura 2 ndash Divisatildeo Municipal em 1809 ndash Proviacutencia Satildeo Pedro do Rio Grande do Sul
Fonte Evoluccedilatildeo Administrativa (2013)7
32 AMPLIANDO O DIAacuteLOGO COM OS MEMORIALISTAS
Segundo documentos da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul8
disponiacuteveis no Arquivo Histoacuterico de Satildeo Francisco de Paula9 em 1852 atraveacutes da
Lei nordm 266 de 30 de novembro de 1852 eleva-se agrave categoria de freguesia a entatildeo
capela Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra pelo entatildeo vice-governador da
proviacutencia de Satildeo Pedro do Rio Grande do Sul o senhor Luiz Alves Leite de Oliveira
Bello Estes documentos ainda retratam que no ano de 1886 houve distribuiccedilatildeo de
lotes devolutos para pessoas pobres que comprovassem residecircncia haacute pelo menos
trecircs anos e se comprometessem a ldquofundar moradiardquo em um prazo de um ano sendo
assim passados trecircs anos seriam donos definitivos destes lotes dando o iniacutecio ao
povoamento da vila No mesmo periacuteodo acontece a criaccedilatildeo do cemiteacuterio municipal
7 Disponiacutevel em ltwwwatlassocioeconomicorsgovbrevolucao-administrativa-1809-a-2013gt Acesso
em 18 mar 2017 8 O diaacutelogo com memorialista se amplia a partir de agora com contribuiccedilotildees de documentos
pesquisados que corroboram para a compreensatildeo do tema 9 BARBOSA Eni GONCcedilALVES Jorge Joseacute Xavier (Orgs) Documentos histoacutericos da Assembleia
Legislativa do Rio Grande do Sul Arquivo Histoacuterico de Satildeo Francisco de Paula 1992
29
que ocorre em 1891 segundo documentos da Assembleia Legislativa disponiacuteveis
no Arquivo Histoacuterico de Satildeo Francisco de Paula Estes documentos informam que
primeiramente somente moradores que comprovassem residecircncia haacute mais de trecircs
anos e pudessem manter os jazigos de seus entes poderiam fazer uso deste
espaccedilo Atraveacutes desta documentaccedilatildeo se percebe que havia toda uma organizaccedilatildeo
para que ldquoestrangeirosrdquo natildeo se estabelecessem em Satildeo Francisco de Paula de Cima
da Serra
Em 1889 Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra passa a categoria de vila
e deixa de pertencer a Santo Antocircnio da Patrulha passando a ser distrito do
municiacutepio de Taquara do Mundo Novo (hoje Taquara) o que traz mudanccedilas
significativas para a vila
Mesmo havendo distribuiccedilatildeo de lotes apoacutes quinze anos percebe-se na
Figura 3 que o povoado ainda era pequeno cercado de campos que constituiacuteam
fazendas com criaccedilatildeo de gado vacum tendo como principal economia a pecuaacuteria
extensiva Ao alto pode-se visualizar a Igreja Matriz construiacuteda pelo capitatildeo Pedro
da Silva Chaves
Figura 3 ndash Vista da vila de Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra (1901)
Fonte Portal Satildeo Chico (2018)10
10 PORTAL SAtildeO CHICO Fotos antigas de Satildeo Francisco de Paula 2018 Disponiacutevel em
ltwwwsaochicocombrantigasgt Acesso em 12 abr 2019
30
Ainda eacute possiacutevel observar atraveacutes da Figura 3 que neste periacuteodo natildeo havia
nenhuma preocupaccedilatildeo com a organizaccedilatildeo urbana ou seja ruas quadras as
construccedilotildees se apresentam de maneira desordenada Poreacutem passados vinte e dois
anos na Figura 4 jaacute eacute possiacutevel visualizar uma estrutura urbanizada com possiacutevel
organizaccedilatildeo de ruas e quadras mas a vila ainda eacute rodeada de campos
Figura 4 ndash Vista Avenida Juacutelio de Castilhos (1923)
Fonte Lucena (1971 p 67)
O desenvolvimento da Sede de Satildeo Francisco de Paula acontece segundo
Lucena (1971 p 27) ldquonos primeiros anos de vida isto eacute de 1910 a 1924 mais ou
menos devido agrave extraccedilatildeo da erva-mate que era abundante em nossos matos nas
zonas da serrardquo O autor ainda acrescenta
O pioneiro na extraccedilatildeo da erva-mate em nossa Comuna foi o proprietaacuterio Carlos Miguel Kroeff dono da fazenda Potreirinho praticamente arrabalde de nossa cidade No barba-quaacute11 se iniciava todo processo de industrializaccedilatildeo da erva-mate sendo que Satildeo Francisco de Paula chegou a ter quinhentos barbaacute-quas (LUCENA 1971 p 28)
11 Barba-quaacute um valo de cerca de oito metros de comprimento amis ou menos por um metro de
profundidade e oitenta centiacutemetros de largura coberto de xaxim e terra em uma das extremidades colocava-se um gradeado e acima deste em uma parte tambeacutem coberta e mais alta tinha apenas uma saiacuteda sob o gradeado colocava-se as folhas de erva extraiacuteda da aacutervore no iniacutecio do valo fazia-se um fogo e a fumaccedila que pela pouca ventilaccedilatildeo existente formava bastante fumaccedila e esta atingia as folhas secando-as (LUCENA 1971 p 28)
31
A produccedilatildeo de erva-mate contribuiu para o povoamento da vila visto que
muitas pessoas vieram trabalhar e acabaram se instalando no municiacutepio Apoacutes a
extraccedilatildeo da erva-mate surge a extraccedilatildeo de madeira que tambeacutem contribui para o
desenvolvimento
Nesta documentaccedilatildeo ainda se encontra no artigo nordm 251 de 08 de abril de
1891 a liberaccedilatildeo da verba para abrir a estrada de rodagem que liga as vilas de
Taquara do Mundo Novo e Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra em 1889
Atraveacutes da Figura 5 pode-se perceber o quatildeo difiacutecil era abrir uma nova estrada de
rodagem Tudo era manual com o uso de animais e muares para transportar pedras
e terras poreacutem a abertura desta estrada traz mudanccedilas significativas para a
populaccedilatildeo de Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra
Figura 5 ndash Abertura da estrada ERS-020 Taquara ndash Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra
Fonte Jornal Folha da Serra (1968 n 89 p 8)12
12 Folha da Serra jornal criado em 1932 pelo Dr Siacutelvio Rabelo sendo o uacutenico jornal que existia na
regiatildeo serrana Este trazia notiacutecias sociais poliacuteticas etc com uma tiragem em torno de 500 exemplares por semana Encontram-se no Arquivo Histoacuterico de Satildeo Francisco de Paula alguns exemplares ateacute a deacutecada de 70 seacuteculo XX
32
A estrada visava facilitar o acesso da populaccedilatildeo de Satildeo Francisco de Paula
de Cima da Serra que ia ateacute Taquara para buscar gecircneros de primeira necessidade
Em tempos idos os serranos se abasteciam de gecircneros de primeira necessidade quase que totalmente em Taquara e o transporte era feito em cargueiros que compunham uma tropa com cerca de quinze a vinte cargueiros Os animais usados para esse transporte eram geralmente muares mais resistentes para o transporte de carga Os serranos levavam daqui queijo (o queijo ateacute hoje chamado queijo serrano) charque couros e alguns levavam maccedilatilde ou pinhatildeo em suas eacutepocas de colheita trocados por mantimentos de que necessitavam Natildeo existiam ainda estradas e o trajeto era feito por picadas existentes (LUCENA 1971 p 23)
O mesmo autor ainda acrescenta
Para atingir a capital do Estado a viagem era cheia de peripeacutecias O transporte era feito a cavalo ou em diligecircncias ateacute Taquara As diligecircncias carros de quatro de rodas puxados por quatro animais ndash cavalos ndash eram de propriedade de Bertolo Casara mais conhecido por lsquoJoatildeo Gringorsquo Essa viagem se fazia normalmente em um dia e agraves vezes em dia e meio O ponto de parada era ali no Rodeio Bonito onde existia uma casa agrave esquerda bem defronte a estrada que desce para Trecircs Coroas [] De Taquara a Porto Alegre por via ferroviaacuteria ndash de trem (LUCENA 1971 p 16)
A construccedilatildeo desta estrada traz um novo desenvolvimento para a entatildeo vila
de Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra pois apoacutes a abertura da estrada de
rodagem Taquara ndash Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra modifica o transporte
de mercadorias entre as localidades
O transporte de mercadorias era feito em carretotildees de quatro rodas puxados uns por cinco animais outros por sete as maiores que geralmente eram muares Eram atrelados em duas fileiras Na fileira junto agrave carreta que era de duas ou trecircs mulas na da esquerda montava o carreteiro Este toda vez que se verificava um declive na estrada apeava de sua montaria a fim de brecar a carreta sem que esta entretanto parasse (LUCENA 1971 p 24)
Este modelo de comeacutercio vai desaparecer com o surgimento das primeiras
casas de comeacutercios na vila de Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra De acordo
com Lucena (1971 p 38) ldquoos primeiros comerciantes foram Manoel Vicente
Ferreira Abel Pacheco Luis Carlos de Andrade e Jacob Bossle Sobrinhordquo Na
imagem da Figura 6 temos o Accedilougue Central onde nota-se que os animais
convivem soltos na rua juntamente com as pessoas mesmo se tratando de local
urbano
33
Figura 6 ndash Accedilougue Central
Fonte Portal Satildeo Chico (2018)13
Nesta mesma documentaccedilatildeo haacute decretos que definem a construccedilatildeo de uma
nova Igreja Matriz isto eacute uma Igreja de Pedra substituindo a antiga que era de
madeira ainda construiacuteda pelo capitatildeo Pedro da Silva Chaves esta construccedilatildeo data
do ano de 1922 Segundo Teixeira (2002 p 30) a Igreja de Pedra permanece ateacute
1960 quando daacute lugar ao atual preacutedio da Igreja Matriz que foi inaugurada em 14 de
junho de 1964 Na sequecircncia teremos duas imagens demonstrando a Igreja de
Pedra e a atual edificaccedilatildeo da Igreja Matriz Natildeo foi encontrada nenhuma foto da
Igreja de Madeira nos arquivos do Arquivo Histoacuterico do Municiacutepio somente em um
site de fotos antigas onde encontra-se registro apresentado na Figura 7
13 PORTAL SAtildeO CHICO Fotos antigas de Satildeo Francisco de Paula 2018 Disponiacutevel em
ltwwwsaochicocombrantigasgt Acesso em 12 abr 2019
34
Figura 7 ndash Igreja Matriz em 1931
Fonte Portal Satildeo Chico (2018)14
Figura 8 ndash Igreja Matriz
Fonte acervo da autora (2015)
14 PORTAL SAtildeO CHICO Fotos antigas de Satildeo Francisco de Paula 2018 Disponiacutevel em
ltwwwsaochicocombrantigasgt Acesso em 12 abr 2019
35
Entre os anos de 1892 a 1902 por duas vezes Satildeo Francisco de Paula de
Cima da Serra eacute desanexado e reanexado ao entatildeo municiacutepio de Taquara do Mundo
Novo Somente em 23 de dezembro de 1902 foi reestabelecido definitivamente o
municiacutepio de Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra cuja instalaccedilatildeo se verificou
em 07 de janeiro de 1903 A partir de 01 de janeiro de 1938 perde ldquoCima da Serrardquo
de sua nomenclatura permanecendo somente Satildeo Francisco de Paula Apesar
disso se manteacutem o gentiliacutecio ldquoSerranordquo de acordo com Silva (2000 p 23) e dados
do Arquivo Histoacuterico de Satildeo Francisco de Paula sendo que este gentiliacutecio eacute usado
ateacute os dias de hoje
No iniacutecio o municiacutepio de Satildeo Francisco de Paula foi um dos maiores do Rio
Grande do Sul em territoacuterio mas ao longo do tempo foi diminuindo seu territoacuterio
com a anexaccedilatildeo de parte dele ao entatildeo municiacutepio de Caxias do Sul e de Torres e a
criaccedilatildeo dos municiacutepios de Cambaraacute do Sul em 1963 e Jaquirana em 1988
Foi uma das maiores Comunas do Estado pois de seu territoacuterio faziam parte os atuais municiacutepios de Satildeo Marcos Cambaraacute do Sul e Jaquirana e os distritos de Vila Oliva Criuacuteva Fazenda Souza e Vila Seca hoje integrantes de Caxias do Sul De nosso territoacuterio foi tambeacutem desanexada uma gleba de terra ndash Josafaacute ndash e anexada ao municiacutepio de Torres (LUCENA 1971 p 10)
Mesmo perdendo parte de seu territoacuterio ao longo dos anos atualmente
segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (2016) ldquoSatildeo Chicordquo como
costumeiramente eacute chamado pelo seu povo estaacute situado na Encosta Inferior do
Nordeste do Estado do Rio Grande do Sul na zona denominada de Campos de
Cima da Serra Fica distante 112 quilocircmetros da capital do Estado Porto Alegre Os
municiacutepios limiacutetrofes satildeo Monte Alegre dos Campos Bom Jesus Jaquirana
Cambaraacute do Sul Praia Grande-SC Trecircs Forquilhas Itati Maquineacute Riozinho
Rolante Taquara Trecircs Coroas Canela e Caxias do Sul Possui uma aacuterea territorial
de 3264490 quilocircmetros quadrados com uma estimativa populacional de 21617
habitantes distribuiacutedos na zona urbana e rural O municiacutepio se divide em sete
distritos Sede Cazuza Ferreira Tainhas Juaacute Eletra e Lajeado Grande Atraveacutes do
conjunto de mapas apresentado na Figura 9 eacute possiacutevel visualizar a localizaccedilatildeo de
Satildeo Francisco de Paula dentro do Rio Grande do Sul e por conseguinte no Brasil
Tambeacutem se verifica a localizaccedilatildeo dos distritos de Satildeo Francisco de Paula
36
Figura 9 ndash Mapa de localizaccedilatildeo de Satildeo Francisco de Paula
Subdivisatildeo de Satildeo Francisco de Paula em distritos
Fonte montagem da autora (2019)
Desta forma se constitui o espaccedilo fiacutesico do municiacutepio de Satildeo Francisco de
Paula cuja populaccedilatildeo natildeo forma uma colocircnia pois seu povo adveacutem de diferentes
lugares a grande maioria com descendecircncia lusa sendo que os primeiros
colonizadores foram bandeirantes paulistas
A populaccedilatildeo de Satildeo Francisco de Paula eacute composta de brancos africanos e indiacutegenas Os brancos compreendendo portugueses (principalmente
37
accedilorianos) alematildees e italianos os africanos pertenciam ao grupo dos bantos e foram trazidos pelos portugueses (TEIXEIRA 2002 p 147)
A diversidade de pessoas que se estabeleceram em Satildeo Francisco de Paula
pode ser percebida pelos sobrenomes das famiacutelias precursoras do municiacutepio
Para Satildeo Francisco de Paula afluiacuteram famiacutelias de diversas nacionalidades que atraveacutes de seus descendentes ainda hoje aqui satildeo representadas como Famiacutelias Ferreira Soares Pinto Castilhos Asmuz Santos Martins Lopes Comin Feijoacute Silva Canani Peixoto Andrade Teixeira Valin Lucena Alves Cardoso Gomes Borges Marques Tedesco Medeiros Paglioacuteli Costa Fogaccedila Casara em outras (LUCENA 1971 p 11-12)
Os moradores deste municiacutepio introduziram um jeito singular de viver tendo
em seu cotidiano as tradiccedilotildees gauacutechas15 muito presentes Teixeira (2002 p 83)
assim descreve que ldquoas raiacutezes gauacutechas estatildeo fortemente marcadas na comunidade
seja pelo modo de vestir bombacha botas cinturotildees chapeacuteus e no inverno com o
pala ou pela preferecircncia por comidas campeiras churrasco carreteiro feijatildeo
mexidordquo A autora acrescenta que ldquoas casas com lareira e o tradicional fogatildeo agrave
lenha para aquececirc-las durante o inverno rigoroso satildeo um convite para uma
conversa ao peacute do fogo e o saboreio de um gostoso chimarratildeordquo (TEIXEIRA 2002 p
83)
O enraizamento deste modo de vida adveacutem do homem do campo o
pecuarista que no passado necessitava enviar seus filhos a cidade para estudar
contribuindo para este modelo de vida
Antigamente a pecuaacuteria era a atividade econocircmica muito forte em nosso municiacutepio Assim sendo havia muitos fazendeiros E como as fazendas ficavam muito longe da Sede do municiacutepio as senhoras tinham seus filhos em casa com parteiras Tambeacutem os estudos iniciavam nas fazendas porque as escolas ficavam longe Assim muitas vezes os fazendeiros contratavam professoras para se hospedarem nas suas casas e darem aulas aos seus filhos Em muitos casos ateacute mesmo os proacuteprios pais e avoacutes ensinavam alguma coisa Alguns fazendeiros quando seus filhos ficavam maiores os mandavam continuarem seus estudos na vila (assim lsquoSatildeo Chicorsquo era chamada) (TEIXEIRA 2002 p 77)
Com a vinda dos filhos para a vila trouxeram consigo o jeito do homem do
campo sendo que um dos maiores clubes em funcionamento de Satildeo Francisco de
Paula eacute o atual Centro de Tradiccedilotildees Gauacutechas Rodeio Serrano fundado em maio de
15 Tradiccedilotildees gauacutechas segundo Fagundes (1997 p 38) eacute um movimento ciacutevico-cultural [] eacute a
tradiccedilatildeo em marcha resgatando valores que satildeo vaacutelidos natildeo por serem antigos mas por serem eternos exatamente os valores que trouxeram o Rio Grande e o gauacutecho do passado para o presente projetando-se para o futuro
38
1955 Segundo o Jornal Folha da Serra (1968 n 11 p 12) a entidade
tradicionalista receacutem-formada recebe o nome de CTG Coronel Alziro Torres Filho
Fonseca (2012 p 223) menciona que a iniciativa partiu de ldquoDavenir Peixoto Gomes
um homem ruralista e serranordquo Esta entidade tradicionalista teve como primeiro
Patratildeo Oscar Teixeira O CTG Alziro Torres Filho segundo o jornal Folha da Serra
(1957) muda sua nomenclatura em uma reuniatildeo onde o posteiro da invernada
artiacutestica Alaor Valim propotildee a troca do nome para Rodeio Serrano nome que
permanece ateacute a atualidade
A entidade tradicionalista traz como lema ldquoRepontando a Tradiccedilatildeo com o Rio
Grande na Garupardquo Fonseca (2012 p 224) relata que o lema foi ldquocriado pelo
primeiro instrutor de danccedilas Dr Alaor de Almeida Valimrdquo O mesmo autor acrescenta
que ldquoa primeira prenda foi a professora Maria Asmuz Valimrdquo Poreacutem sua sede
somente foi construiacuteda em 1968 sob a patronagem de Dante Santos O Jornal Folha
da Serra (1968 n 11 p 12) indica que ldquoa construccedilatildeo da sede era uma aspiraccedilatildeo de
longos anos que somente agora se concretizardquo Anteriormente ldquoos bailes eram
realizados em sua maioria no Salatildeo Paroquial sendo que alguns foram feitos no
primeiro andar da Associaccedilatildeo Rural e ateacute mesmo na Sociedade Cruzeirordquo
(FONSECA 2012 p 225) Este fato justifica a vontade de Dante Santos de construir
uma sede proacutepria
Apoacutes a construccedilatildeo de sua nova sede o CTG Rodeio Serrano localiza-se na
Rua Benjamim Constant nordm 582 constituindo um espaccedilo importante para a
comunidade de Satildeo Francisco de Paula Dentre as atividades desenvolvidas pelo
CTG estaacute o Rodeio Interestadual que ocorre todos os anos no primeiro final de
semana de dezembro sendo que se encontra na 33ordf ediccedilatildeo A manutenccedilatildeo das
invernadas artiacutesticas em todas as categorias mascote mirim juvenil e adulta A
organizaccedilatildeo da Ronda Crioula na Semana Farroupilha bem como a Cavalgada de
Prendas que ocorre durante a Semana Farroupilha todos os anos Realiza-se o
baile da Prenda Jovem aleacutem de shows e bailes tipicamente gauchescos Aleacutem
disso nos uacuteltimos anos a organizaccedilatildeo do Festival Ronco do Bugio que ocorre em
Satildeo Francisco de Paula ldquofestival este lanccedilado em 16 de abril 1986rdquo segundo o
Jornal Satildeo Chico Tchecirc (1986 n 4 p 5)16
16 Satildeo Chico Tchecirc jornal de circulaccedilatildeo quinzenal fundado em 08 de janeiro de 1986 e que circulou
ateacute 1989 O jornal trazia informaccedilotildees culturais sociais econocircmicas e poliacuteticas da Sede e do
39
Durante os seus sessenta e dois anos de existecircncia muitos patrotildees
passaram por esta entidade tradicionalista mas em 2017 pela primeira vez na
histoacuteria o CTG Rodeio Serrano teve uma patronagem feminina Aleacutem da Patroa
Neuza Reis foram empossadas a Capataz Elenita Amaral a Sota-capataz Fernanda
Kirsch Damasceno o Agregado das Pilchas Antocircnio Garcia de Souza e no
Conselho de Vaqueanos Neiva Santos Valim
Figura 10 ndash Patroa Neuza Reis e sua Comissatildeo
Fonte Jornal Pioneiro (2017)17
Satildeo Francisco de Paula hoje conta com vinte e oito entidades
tradicionalistas18 espalhadas pelos seus distritos demonstrando que homem do
campo se faz muito presente em todo o municiacutepio sendo assim a cultura
interior Os exemplares encontram-se encadernados no arquivo histoacuterico de Satildeo Francisco de Paula
17 Jornal Pioneiro conhecido como o jornal que estaacute ldquoao teu ladordquo o Pioneiro circula desde 1948 e estaacute presente hoje em 64 municiacutepios da regiatildeo de Caxias do Sul Desde 1993 integra a rede de jornais do Grupo RBS sendo filiado ao Instituto Verificador de Circulaccedilatildeo (IVC) Conta com uma equipe de Redaccedilatildeo com mais de 40 jornalistas aleacutem de colunistas internos e externos Em 2008 o jornal ganhou o site pioneirocom Disponiacutevel em lthttpwwwgruporbscombratuacaopioneirogt acesso em 10 de fevereiro de 2019
18 Informaccedilatildeo cedida pelo Coordenador da 27ordf Regiatildeo Tradicionalista Gauacutecha
40
tradicionalista se apresenta de maneira forte e consistente segundo vaacuterios
depoimentos de moradores de todos os distritos de Satildeo Francisco de Paula
41
4 SAtildeO FRANCISCO DE PAULA DISTRITOS EM FOCO
Quanto aos distritos de Satildeo Francisco de Paula surgem diversas
inquietaccedilotildees com relaccedilatildeo agrave identidade destes locais pois estes mesmo fazendo
parte de um mesmo municiacutepio apresentam singularidades que derivam de sua
colonizaccedilatildeo basicamente lusa portuguesa e da recepccedilatildeo de imigrantes de diversas
etnias como italianos e alematildees ao longo destes cento quinze anos de
emancipaccedilatildeo Percebe-se que alguns distritos manteacutem sua identidade e tradiccedilotildees
resguardadas enquanto em outros jaacute ocorreu agrave miscigenaccedilatildeo de diferentes haacutebitos
e culturas o que dificulta identificar traccedilos que identifiquem estes distritos
Neste capiacutetulo busca-se responder a estas inquietaccedilotildees fazendo uso dos
depoimentos de moradores locais Segundo Delgado (2003 p 21) ldquoessas
narrativas tal qual os lugares da memoacuteria satildeo instrumentos importantes de
preservaccedilatildeo e transmissatildeo das heranccedilas identitaacuterias e das tradiccedilotildeesrdquo Neste sentido
se optou por dois moradores por distrito totalizando treze entrevistados um homem
e uma mulher da terceira idade que sempre morou no distrito o que enriquece os
detalhes repassados pelos entrevistados
Toda entrevista tem por base a memoacuteria individual que se referencia na coletiva profundamente relacionada agraves vivecircncias individuais A utilizaccedilatildeo do depoimento de pessoas idosas como fonte para a histoacuteria oral eacute uma forma de justificar a entrevista como histoacuterica referindo-se ao passado jaacute que aos idosos se pretende atribuir a guarda de memoacuterias do passado pelo proacuteprio tempo de vida do depoente Isto retoma e ajuda a fortalecer a ideia de que a histoacuteria mesmo tratando do tempo presente ainda se reporta a um periacuteodo anterior ao da vida do pesquisador (ALMEIDA 2012 p 10)
A entrevista somente ocorreu quando o entrevistado concordou em assinar o
termo de consentimento As entrevistas ocorreram nas residecircncias dos
entrevistados foram preacute-agendadas sendo que o meacutetodo utilizado foi entrevista
guiada atraveacutes de questionaacuterio previamente organizado pela autora as entrevistas
foram filmadas e gravadas onde somente uma entrevistada natildeo autorizou a
filmagem de seus relatos justificando a idade avanccedilada e por morar sozinha
A escolha pela histoacuteria oral hibrida ocorreu no sentido de que a fonte oral eacute o
principal recurso utilizado para colher informaccedilotildees sobre os distritos visto que em
sua grande maioria natildeo haacute publicaccedilotildees Poreacutem em determinados momentos se
utilizam fontes documentais como complemento do que vem sendo apresentado
Com relaccedilatildeo agrave abordagem adotada nas entrevistas se optou pela temaacutetica visto
42
que se leva um roteiro preacute-organizado com temas que deveratildeo ser explorados
durante as entrevistas o que proporciona uma riqueza de informaccedilotildees para a
autora
41 DISTRITO SEDE
O distrito Sede se constitui no local onde se inicia o povoado do municiacutepio na
antiga Fazenda da Cria terras doadas pelo capitatildeo Pedro da Silva Chaves Neste
distrito concentram-se os serviccedilos puacuteblicos e privados que os moradores
necessitam em seu dia-a-dia visto que ali existem bancos casas loteacutericas
farmaacutecias hospital supermercados lojas papelarias livraria inspetoria veterinaacuteria
secretaacuterias municipais escolas puacuteblicas e privadas creches induacutestrias de madeiras
e calccedilados
Poreacutem o distrito Sede ou cidade de Satildeo Chico como popularmente
conhecida pelo seu povo jaacute foi uma cidade de interior ou seja uma cidade pequena
com moradores que vinham das fazendas em busca de estudo Visto que a
implementaccedilatildeo de uma rede regular de ensino ocorre tardiamente devido agrave
dificuldade de se locomover pelas distantes localidades entatildeo normalmente os
fazendeiros contratavam professores para que seus filhos obtivessem estudo sendo
que estes moravam na proacutepria residecircncia da famiacutelia Em entrevista com essa autora
relata Albuquerque19 que ldquopara aprimorar os estudos aqueles que tinham mais
condiccedilotildees iam para Porto Alegre Santa Maria ou Passo Fundo mas para isto
ficavam laacute em internatos e soacute retornavam nas feacuterias devido agrave dificuldade e o custo
da viagemrdquo
Na deacutecada de 40 foi criada a Escola Catoacutelica de Satildeo Francisco de Paula
cujo funcionamento acontece ateacute 1973 quando foram encerradas suas atividades
Esta escola iniciou com o curso primaacuterio e posteriormente instalou o curso ginasial
Normalmente estes moradores permaneciam de segunda-feira a sexta-feira na
cidade e nos finais de semana retornavam para as fazendas como recorda uma
moradora local
Noacutes eacuteramos uma cidade de fazendeiros a gente tinha uma casa no campo e uma na cidade a gente vivia de laacute pra caacute de caacute pra laacute fim de semana ia
19 ALBUQUERQUE Moacir Castello Branco de Entrevista concedida agrave autora no dia 06 de abril de
2018
43
pra fora20 dia de semana vinha pra caacute normalmente uma irmatilde mais velha voacute ficava com a gente aqui na cidade e a famiacutelia mesmo ficava no campo21
Percebe-se que hoje ainda existem na Sede moradores que manteacutem suas
casas na cidade e durante o dia ou nos finais de semana vatildeo ateacute suas fazendas
para fazer as lides com o gado o que caracteriza uma pequena parte da populaccedilatildeo
que foram os filhos dos antigos fazendeiros que mais tarde acabam se instalando
definitivamente na cidade trazendo com sigo a essecircncia do homem do campo e
afirmando uma identidade genuinamente gauacutecha definiccedilatildeo esta concedida por uma
moradora local
Gauacutecho natildeo eacute o morador do Rio Grande do Sul o morador do Rio Grande do Sul eacute o sul-rio-grandense ou rio-grandense do sul o gauacutecho eacute apenas o homem que vem da pecuaacuteria extensiva essa que existe laacute no pampa e aqui nos campos de cima da serra o gauacutecho serrano com caracteriacutesticas muito proacuteprias grandes gaiteiros poetas aliaacutes o maior gaiteiro do mundo eacute daqui natildeo abro matildeo de dizer isto soacute que todos noacutes viacutenhamos da lida do campo em decorrecircncia disso eacuteramos gauacutechos de verdade22
Em sua fala apresenta o gauacutecho serrano como um tipo singular que ama a
pilcha gauacutecha o seu pingo e suas criaccedilotildees bem como reafirma a importacircncia dos
Irmatildeos Bertussi Honeide e Adelar sendo Adelar Bertussi um dos maiores gaiteiros
deste municiacutepio Exaltam-se tambeacutem os poetas que com suas poesias e letras de
muacutesicas escrevem o jeito do seu povo viver
Mesmo a cidade sendo ldquolocal de paradardquo durante a semana para a maioria
de seus habitantes no passado era cheia de atrativos que o campo natildeo possuiacutea
como o cinema cuja instalaccedilatildeo natildeo se encontra documentada mas sabe-se que
iniciou onde hoje eacute o preacutedio da Prefeitura Municipal sendo proprietaacuterio Francisco
Ferraz (Chico Ferraz como era conhecido) Observa-se em alguns exemplares do
Jornal Folha da Serra23 os filmes e os horaacuterios do funcionamento do cinema
Entende-se que o jornal era uma maneira de divulgar os filmes por ser o uacutenico meio
de comunicaccedilatildeo da eacutepoca Pelos folhetins se percebe que as sessotildees
apresentavam diversos gecircneros natildeo se sabe quando o cinema finalmente fechou
20 Fora refere-se ir para a fazenda 21 SOARES Luciana Olga Entrevista concedida agrave autora no dia 01 de marccedilo de 2018 22 SOARES Luciana Olga Entrevista concedida agrave autora no dia 01 de marccedilo de 2018 23 Folha da Serra jornal local criado em 1932 pelo Dr Siacutelvio Rabelo passando posteriormente a
propriedade da Prefeitura Municipal Sua impressatildeo era na ordem de 500 exemplares natildeo se tem a informaccedilatildeo do periacuteodo que parou de circular mas pelos exemplares encontrados no Arquivo Histoacuterico de Satildeo Francisco de Paula os uacuteltimos datam de 1978 O Arquivo Histoacuterico de Satildeo Francisco de Paula fica em um preacutedio anexo agrave Biblioteca Puacuteblica do municiacutepio
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poreacutem o jornal Folha da Serra traz uma reportagem que retrata como estava difiacutecil
manter o cinema em funcionamento em meados de 1968 ldquoo nosso cinema na
maneira que vai indo natildeo tem mais condiccedilotildees de funcionar natildeo temos apoio da
populaccedilatildeo com uma frequecircncia de mais ou menos 150 pessoas por final de
semanardquo O jornal acrescenta ldquosalienta-se que mais ou menos de 3 de nossa
CULTA populaccedilatildeo natildeo frequenta o cinemardquo Pode-se associar o fechamento do
cinema a dois fatores a natildeo cultura de assistir filmes e pelas sessotildees ocorrerem nos
finais de semana onde boa parte da populaccedilatildeo da cidade se deslocava para as
fazendas ou pela crise que os cinemas passaram na deacutecada de 80 quando em
muitas cidades foram fechados
A vida da populaccedilatildeo local vai se modificando cada vez mais as pessoas vatildeo
se instalando definitivamente na Sede onde se perde o viacutenculo com o campo
Devido agrave venda ou arrendamento das fazendas24 que por render pouco a pecuaacuteria
extensiva e com a criaccedilatildeo de novas legislaccedilotildees que proiacutebem praacuteticas centenaacuterias
seus proprietaacuterios buscaram novas possibilidades econocircmicas que modificaram a
Sede e tambeacutem boa parte do interior Em entrevista a moradora Soares relata
Exatamente porque a produccedilatildeo era pequena isso natildeo serve para o mundo de hoje a uns quarenta anos chega em nossos campos as primeiras plantaccedilotildees de pinus interessante que ningueacutem reclamou da destruiccedilatildeo desse campo de milhotildees de anos e de todo o ecossistema mas mesmo com essa nova cultura continuamos realizando a sapeca do campo no mecircs de agosto mas de repente chega a notiacutecia que estaacute proibida a queima do campo dizendo que noacutes estragaacutevamos a terra poluiacuteamos o ar que mataacutevamos animais e tudo aquilo natildeo era verdade Na verdade alguns anos depois da lei proibindo a queima do campo chegam as multas gigantescas agraves vezes maior que o valor da terra e aiacute inviabilizou a pecuaacuteria e muitos fazendeiros venderam suas terras e foram embora Quem ficou no campo na busca por renda a qualquer preccedilo arrenda seus campos para os batateiros que vieram acredito que a grande maioria de Santa Catarina e do Paranaacute estes lavram o campo nunca mais o campo nem com reza braba taacute tudo perdido para sempre e isso reflete na nossa cidade25
Essas mudanccedilas no campo refletem na Sede onde o homem serrano convive
passivamente com novas identidades que embora sejam presentes eacute minoria pois
esta parcela de novos moradores traz consigo um novo jeito de viver que ainda natildeo
se percebe influenciar na identidade cultural da Sede
24 Propriedades rurais cuja atividade principal eacute a praacutetica da pecuaacuteria extensiva e a produccedilatildeo do
queijo artesanal serrano 25 SOARES Luciana Olga Entrevista concedida agrave autora no dia 01 de marccedilo de 2018
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Na Sede desde o iniacutecio se observam quatro clubes sociais a Sociedade
Cruzeiro a Sociedade 9 de Julho a Sociedade Esperanccedila e o Centro de Tradiccedilotildees
Gauacutechas Cada clube social tem sua importacircncia histoacuterica poreacutem alguns natildeo se
manteacutem ativos
A Sociedade 9 de Julho foi fundada em 27 de setembro de 1961 estando
localizada no bairro Rincatildeo Segundo o jornal Folha da Serra (1968 n 96 p 5)
apoacutes sete anos de sua fundaccedilatildeo ldquoseu presidente Galego promete uma nova e
confortaacutevel sede para a sociedaderdquo Sociedade que se apresenta por sua
versatilidade nos eventos ateacute os dias atuais
O jornal Folha da Serra (1968 n 96 p 5) traz a seguinte mateacuteria ldquoas quatro
noites foram repletas de alegria naquela sociedade onde os foliotildees divertiram-se e
quando se anunciou o final da quarta noite houve quem lamentasse o final da festa
do Momordquo A reportagem refere-se ao carnaval que se desenvolve de forma
popular nesta sociedade Neste espaccedilo na deacutecada de 1990 ocorria um baile na
sexta-feira que antecedia ao Festival do Ronco do Bugio um espaccedilo onde jovens se
encontravam para iniciar as festividades do grande festival da cidade poreacutem na
atualidade este evento natildeo ocorre mais Pelos cartazes de divulgaccedilatildeo de eventos
atuais a Sociedade 9 de Julho se torna um espaccedilo bastante versaacutetil e segundo
dados obtidos no site da proacutepria sociedade o local apresenta shows bailes
tradicionalistas domingueiras e festas temaacuteticas
Sabe-se da existecircncia da Sociedade Esperanccedila devido a uma reportagem a
respeito do carnaval escrita no jornal Folha da Serra (1968 n 11 p 25) ldquoos
escurinhos tambeacutem natildeo ficaram para traacutes e demonstraram que satildeo bons no samba
porque soacute quem assistiu pode ver como brincaram e que maravilha de ritmo
marcaram durante as quatro noitesrdquo A reportagem daacute a entender de se tratar de
uma sociedade frequentada por negros e pode-se entender que ao usar o termo
escurinho na reportagem haacute preconceito racial perpassando a ideia de que por
serem negros natildeo poderiam se divertir da mesma maneira que os brancos
Atualmente se encontra no local um espaccedilo residencial e comercial
A Sociedade Cruzeiro foi fundada em 9 de maio de 1925 pela elite da
sociedade serrana Segundo Teixeira (2002) e Fonseca (2012) sua sede social era
na Avenida Juacutelio de Castilhos onde hoje se situa a agecircncia do Banrisul e teve como
primeiro presidente o Sr Antocircnio Mario Kroeff e o secretaacuterio Sr Joatildeo Parobeacute de
Lucena Sua nova sede foi inaugurada de acordo com Fonseca (2012 p 236) ldquono
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dia 11 de dezembro de 1965 e esta permanece no mesmo endereccedilo ateacute a
atualidade Situa-se na Rua Dr Frederico Tedesco nordm 1261rdquo
Atualmente este espaccedilo eacute usado para convenccedilotildees ou festas particulares
onde as pessoas locam o espaccedilo para realizarem seu evento Neste espaccedilo natildeo
mais ocorrem grandes eventos sociais como Fonseca (2012 p 232) descreve ldquoos
bailes mais elegantes e vistosos desta sociedade ocorrem aquirdquo Fonseca (2012 p
233) ainda complementa que ldquoa primeira Miss Sociedade Cruzeiro foi eleita em 1937
e a vencedora foi a jovem Zilah Teixeirardquo
A Sociedade Cruzeiro tambeacutem foi palco de bailes de carnaval O Jornal Folha
da Serra (1968 n 11 p 25) descreve ldquocomo sempre a Sociedade Cruzeiro ponteou
o nosso carnaval com blocos fantasiados magnificamente fazendo acrobacias ao
som de excelente muacutesica local onde os turistas afluiacuteramrdquo Contrapondo a este
tempo a moradora local Soares26 discorre de maneira saudosa ldquoque saudades do
carnaval hoje eacute bebedeira perdeu o encanto perdeu tudo Na rua o pessoal
gritando sem nenhuma infraestrutura nem os bailes na sociedade natildeo ocorrem
maisrdquo
O distrito Sede jaacute foi palco de inuacutemeros clubes sociais que ao longo do tempo
foram perdendo seu encanto e ateacute mesmo fechando-se para atividades sociais O
que permanece em pleno funcionamento eacute o Centro de Tradiccedilotildees Gauacutechas Rodeio
Serrano o que justifica uma cultura tradicionalista presente neste distrito Dentre as
atividades desenvolvidas por esta entidade estatildeo o Rodeio Interestadual com
atividades campeiras e artiacutesticas que ocorrem todos os anos no primeiro final de
semana de dezembro a manutenccedilatildeo das invernadas artiacutesticas em todas as
categorias mascote mirim juvenil e adulta
A organizaccedilatildeo da Ronda Crioula na Semana Farroupilha com a participaccedilatildeo
das escolas da Sede e do interior que trazem seus grupos de danccedilas bem como
organizam gincanas Outra atividade tambeacutem desenvolvida por esta entidade eacute a
Cavalgada de Prendas que ocorre durante a Semana Farroupilha desde 1992
sendo Satildeo Francisco de Paula pioneira nesta ideia onde somente mulheres
participam da cavalgada que culmina com o desfile na Avenida Juacutelio de Castilhos
Realiza-se tambeacutem o Baile da Prenda Jovem que eacute o baile de debutante gauacutecho
onde as prendas entre 13 e 15 anos satildeo apresentadas agrave sociedade Aleacutem disso nos
26 SOARES Luciana Olga Entrevista concedida agrave autora no dia 01 de marccedilo de 2018
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uacuteltimos anos a organizaccedilatildeo e apresentaccedilatildeo do Festival Ronco do Bugio que ocorre
em Satildeo Francisco de Paula faz parte da programaccedilatildeo desta entidade Este festival
apresenta exclusivamente o gecircnero musical bugio Haacute pelo menos duas hipoacuteteses
sobre a origem deste gecircnero musical
A primeira eacute de berccedilo serrano e teria mais fiel escudeiro o inesqueciacutevel acordeonista de Satildeo Francisco de Paula Honeyde Bertussi Siqueira Segundo ele o ritmo teria sido originaacuterio pelas matildeos do gaiteiro Vergiacutelio Leitatildeo que no jogo-de-foles e nos baixos de sua gaita de botatildeo teria imitado o ronco do bicho nos caponetes de cima da serra [] teria difundido pelas bodegas do Juaacute interior de Satildeo Chico (SOUZA 2003 p 15)
A segunda hipoacutetese eacute apresentada por Souza (2003 p 15) que apresenta a
versatildeo dada pelo povo de Satildeo Francisco de Assis que diz que ldquoa origem do ritmo e
oriunda desta localidade que por sinal realizava um festival nativista chamado
Querecircncia do Bugiordquo
Desconhece-se a verdadeira origem do gecircnero musical bugio mas Souza
(2003 p 23) afirma que ldquoJoatildeo Cincinato Terra muacutesico atuante sentiu a
necessidade de nosso municiacutepio acompanhar o movimento jaacute que neste periacuteodo se
expande por todo o estado do Rio Grande do Sul os festivais nativistasrdquo O
lanccedilamento do primeiro festival do Ronco do Bugio acontece em 1986 no CTG
Rodeio Serrano com a participaccedilatildeo de vaacuterios representantes da muacutesica nativista e
da comunidade serrana Seu lanccedilamento oficial ocorre em 16 de abril de 1986
O jornal Satildeo Chico Tchecirc (1986 n 11 p 6) noticiou que o primeiro Festival do
Ronco do Bugio contou com 98 muacutesicas escritas sendo 24 as selecionadas O
festival ocorreu entre os dias 13 e 15 de maio e Souza (2003 p 42) descreve que foi
apresentado ldquosob uma lona de circo estaqueada num gramado amador mas de
tantas gloacuterias futeboliacutesticas o campo do Clube Atleacutetico Serranordquo
A muacutesica vencedora do primeiro Ronco do Bugio foi ldquoLevanta Bugiordquo
defendida pelo cantor e compositor gauacutecho Leonardo Observando fotos percebe-se
que o Ronco do Bugio se deu em uma noite fria de inverno
O Festival Ronco do Bugio desde o seu iniacutecio premia melhor arranjo
conjunto instrumental instrumentista inteacuterprete e a muacutesica mais popular Fatima
Gimenez foi a melhor inteacuterprete do primeiro festival defendendo a muacutesica ldquoPinheiro
Gringordquo composiccedilatildeo de Erian Fogaccedila e Laerte Fortes Novamente a roupa dos
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muacutesicos reforccedila que na noite da entrega da premiaccedilatildeo fazia muito frio A cantora
tambeacutem se apresenta vestindo um chiripa coberto por um pala27
Na Figura 11 observamos a fotografia de Gonzaga dos Reis muacutesico local
sentado com sua gaita instrumento que lhe deu o precircmio de melhor instrumentista
do primeiro Ronco do Bugio Nesta oportunidade o cantor instrumentista e
compositor defendeu a muacutesica ldquoBugio da Minha Terrardquo
Figura 11 ndash Gonzaga dos Reis
Fonte Jornal Satildeo Chico Tchecirc n 4 p 8 (1986)
A composiccedilatildeo ldquoBugio Tiranordquo que foi defendida pelo conjunto Os Tiranos de
Satildeo Francisco de Paula ganhou o precircmio mais popular
Para o Jornal Satildeo Chico Tchecirc (1986 n 11 p 7) o Festival Ronco do Bugio eacute
ldquoum festival autecircntico e original que aconteceu com grande sucesso em Satildeo
Francisco de Paulardquo No encerramento deste grande evento Joatildeo Chagas Leite se
27 Chiripa e pala satildeo trajes tipicamente gauacutechos Sendo que o chiripa atualmente eacute uma veste de
preferecircncia feminina este fica enrolado na cintura e vai ateacute os joelhos ldquoEacute um pano inteiro passado entre as pernas primeiro de traacutes para frente e depois de frente para traacutes pode ser de latilde ou lisordquo (ABREU 2003 p 67) O pala eacute uma peccedila retangular com franjas nos quatro lados e listras no sentido do comprimento
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apresenta segundo o Jornal Satildeo Chico Tchecirc (1986 n 11 p 8) ldquocom composiccedilotildees
como Corda de Espinho Orelhano Pampa Campo e Querecircncia Coraccedilatildeo de
Estudante e Afiosrdquo
O Festival Ronco do Bugio perpassa o tempo segundo o site da Prefeitura
Municipal
O Festival Ronco do Bugio eacute um evento musical nativista que acontece anualmente na Cidade de Satildeo Francisco de Paula com o intuito de preservar e difundir o uacutenico ritmo originaacuterio do Rio Grande do Sul ou seja o lsquobugiorsquo compasso criado justamente no interior deste municiacutepio Tal criaccedilatildeo se deu a partir da criatividade dos gaiteiros serranos que buscaram imitar com seu instrumento musical o ronco do primata nos matos da serra A festividade agora em sua 26ordf ediccedilatildeo eacute genuiacutena pois eacute o uacutenico da Ameacuterica onde obrigatoriamente os participantes devem utilizar um ritmo somente isto eacute o citado lsquobugiorsquo embora a temaacutetica seja abrangente Por este motivo eacute chamado de lsquoO Festival Mais Autecircntico do Rio Grandersquo Aleacutem do forte enfoque cultural que envolve toda a comunidade musical do Estado o Festival tem seu apelo ecoloacutegico pois chama a atenccedilatildeo para a preservaccedilatildeo da espeacutecie hoje quase em extinccedilatildeo O Ronco do Bugio por sua importacircncia no cenaacuterio cultural rio-grandense criou uma identidade ao povo de Satildeo Francisco de Paula pois junto ao evento estaacute intriacutenseco e vem agrave tona o histoacuterico da criaccedilatildeo do municiacutepio caracterizado pela forte influecircncia dos antigos tropeiros desbravadores e povoadores desta parte do paiacutes (PREFEITURA MUNICIPAL DE SAtildeO FRANCISCO DE PAULA 2017)
No mesmo documento disponibilizado pela Prefeitura Municipal de Satildeo
Francisco de Paula observam-se algumas informaccedilotildees a respeito da realizaccedilatildeo do
festival no ano de 2017
Art 1ordm - O 26ordm Ronco do Bugio realizar-se-aacute no municiacutepio de Satildeo Francisco de Paula nos dias 01 e 02 de setembro de 2017 Art 2ordm - a festividade agora em sua 26ordf ediccedilatildeo eacute genuiacutena pois eacute a uacutenica na Ameacuterica Latina com promoccedilatildeo da Prefeitura Municipal de Satildeo Francisco de Paula e do CTG Rodeio Serrano com apoio de oacutergatildeos puacuteblicos e iniciativa privada Art 3ordm - Satildeo objetivos do 26ordm Ronco do Bugio a) valorizar a tradiccedilatildeo arte cultura e a autecircntica muacutesica regionalista
gauacutecha atraveacutes do seu ritmo mais original b) prestigiar autores compositores inteacuterpretes e conjuntos regionalistas e
incentivar o surgimento de novos valores c) divulgar a muacutesica regional gauacutecha d) valorizar a relevante posiccedilatildeo na formaccedilatildeo de usos e costumes
caracteres e valores espirituais e morais do gauacutecho e) promover e incentivar a cultura gauacutecha projetando Satildeo Francisco de
Paula na maneira mais autecircntica no cenaacuterio do turismo (PREFEITURA MUNICIPAL DE SAtildeO FRANCISCO DE PAULA 2017)
Como eacute possiacutevel observar no artigo 4ordm ldquoA organizaccedilatildeo do 26ordm Ronco do Bugio
ficaraacute a cargo da Comissatildeo Organizadora composta por membros da Prefeitura
Municipal e do CTG Rodeio Serranordquo (PREFEITURA MUNICIPAL DE SAtildeO
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FRANCISCO DE PAULA 2017) Devido agrave importacircncia identitaacuteria do festival para o
municiacutepio ao se chegar agrave cidade na deacutecada de 90 se encontrava o seguinte
outdoor
Figura 12 ndash Outdoor entrada da cidade na ERS-020
Fonte Souza (2003 p 17)
Assim como o tiacutetulo de ldquoCapital Mundial do Bugiordquo Satildeo Francisco de Paula ldquojaacute
obteve vaacuterios slogans dentre eles o de Satildeo Chico eacute terra boardquo (TEIXEIRA 2002 p
149-150)
Mesmo ocorrendo inferecircncias externas advindas com pessoas que trouxeram
consigo uma identidade diferente Soares28 em entrevista afirma ldquoSatildeo Chico eacute
identificada pela cultura tradicionalista gauacutecha a cuia em frente ao antigo preacutedio da
prefeitura demonstra o siacutembolo da hospitalidade de nosso povordquo A permanecircncia
ativa do CTG Rodeio Serrano na sede eacute outro indicativo forte da presente
identidade ligada as atividades do homem do campo Outro fato observado eacute a
constante praacutetica do laccedilo de vaca parada29 por jovens e crianccedilas nos paacutetios de suas
residecircncias bem como cavalarianos (homens mulheres jovens e crianccedilas) na
28 SOARES Luciana Olga Entrevista concedida agrave autora no dia 01 de marccedilo de 2018 29 Vaca parada uma espeacutecie de cavalete de madeira com aspectos de uma vaca usada por crianccedilas
que estatildeo iniciando neste esporte bem como usado como forma de entretenimento para jovens e adultos
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avenida principal cavalgando entre os carros Ainda se percebe o respeito entre
motoristas de automotivos bicicletas e os cavalarianos todos ocupando o mesmo
espaccedilo
42 DISTRITO DE CAZUZA FERREIRA
O distrito de Cazuza Ferreira foi criado em 07 de janeiro de 1903 estando
situado a 85 quilocircmetros da Sede Andrade comenta em entrevista30 ldquoateacute acho que
Cazuza se desenvolveu primeiro que Satildeo Chicordquo31 visto que a criaccedilatildeo do distrito
acontece dias depois da emancipaccedilatildeo enquanto a criaccedilatildeo da vila do distrito de
Cazuza Ferreira se desenvolve segundo a entrevistada
A parte da Histoacuteria que eu sei eacute que houve a chegada de um Sr Chico Mestre eacute como eles chamavam Esse Sr veio as casas eram distantes umas das outras e ele comeccedilou a fazer oraccedilatildeo nas casas e reunir as pessoas e fundou o cemiteacuterio Entatildeo o Joseacute Ferreira de Castilhos que era dono daqui naquela eacutepoca um dos moradores que tinha bastante terra doou a terra para fazer a vila aiacute o que aconteceu segundo as histoacuterias era para ser ali onde eacute a cancha de laccedilo hoje do outro lado da estrada soacute que o terreno natildeo era apropriado entatildeo houve uma permuta com o Sr que era dono deste terreno aqui era Bossle aqui era bem mais alto e mais plano Entatildeo se construiu a Igreja e iniciou o povoamento da vila32
A moradora Basso ainda acrescenta que ldquoa vila foi sempre mais ou menos o
que ela eacute hojerdquo Ao observar o local pode-se perceber uma grande praccedila ao centro
rodeada de casas de comeacutercio posto de combustiacutevel posto de sauacutede o hotel a
Igreja Matriz juntamente com o salatildeo paroquial e casas residecircncias cujo aspecto
impressiona por a grande maioria das casas apresentam uma arquitetura que
perpassa o tempo A Figura 13 apresenta uma imagem da praccedila central tirada das
escadarias da Igreja Matriz
30 ANDRADE Nauro Bossle de Entrevista concedida agrave autora no dia 04 de marccedilo de 2018 31 Primeiro que Satildeo Chico eacute um termo comum usado pelos moradores do interior do municiacutepio de
Satildeo Francisco de Paula que ao se referir a Sede do municiacutepio usam o termo Satildeo Chico ou Satildeo Francisco de Paula pois seus moradores natildeo costumam na atualidade dizer lsquovou a Sedersquo e sim lsquovou a Satildeo Chicorsquo como se eles natildeo morassem no municiacutepio
32 BASSO Ceacutelia Pacheco Terres Entrevista concedida agrave autora no dia 04 de agosto de 2018
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Figura 13 ndash Praccedila Central de Cazuza Ferreira
Fonte acervo pessoal da autora (2018)
Apesar de ter a preservaccedilatildeo arquitetocircnica a moradora Basso declara
O pai contava e outras pessoas contam que teve uma eacutepoca que tinha faacutebrica de tamanca33 jaacute teve faacutebrica de guaranaacute de queijo bastante coisa no sentido de selaria mas tudo foi se extinguindo as pessoas as famiacutelias natildeo deram continuidade e se sumiram natildeo existe mais nada disso mas estas faacutebricas natildeo davam renda ou seja trabalho para pessoas de fora pois elas eram administradas e cuidadas pelas famiacutelias Daiacute houve o periacuteodo das serrarias enquanto pode extrair madeira era o forte a vila movimentada enriqueceram alguns comerciantes locais o momento que extinguiu aquele trabalho eles foram embora e o povo daqui acomodou entatildeo hoje a vila tem bastante pessoas que foram embora trabalhar assim na juventude e hoje aposentados voltaram pois aqui para jovem natildeo tem sobrevivecircncia o uacutenico trabalho eacute na escola tem nove professores e uma funcionaacuteria em alguns funcionaacuterios da prefeitura acho que satildeo seis que cuidam do plantel de maacutequinas a enfermeira e o pessoal que cuida do posto do correio tambeacutem tem a ferraria mas ali eacute soacute os da proacutepria famiacutelia entatildeo o jovem acaba tendo que ir embora34
Os entrevistados Basso e Andrade relatam que apesar das adversidades o
povo de Cazuza Ferreira tem um amor pelas suas tradiccedilotildees mantendo vivos trecircs
aspectos que ambos consideram a marca identitaacuteria de seu povo e afirmam com
33 Tamanca calccedilado comum na regiatildeo solado de madeira com uma proteccedilatildeo sobre as pontas dos
dedos indo ateacute o peito do peacute em couro 34 BASSO Ceacutelia Pacheco Terres Entrevista concedida agrave autora no dia 04 de agosto de 2018
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convicccedilatildeo ldquofalar de Cazuza eacute cavalhada hotel e rodeiordquo enquanto Basso acrescenta
que ldquoas cavalhadas satildeo heranccedila dos portugueses e estatildeo espalhadiacutessimas ateacute
nacionalmente atraveacutes da miacutedia porque natildeo pesquisei mas ateacute onde sei no Rio
Grande do Sul soacute tem aquirdquo
Na comunidade ainda segundo Basso ldquoa apresentaccedilatildeo das cavalhadas se
iniciou por volta de 1890 e permanece ativa ateacute hoje no passado existiam trecircs
cavalhadas as dos brancos dos amarelos e dos negrosrdquo acrescentando ldquomas hoje
natildeo haacute mas essa diferenciaccedilatildeordquo Em poliacutegrafo organizado por uma moradora local a
mesma explica que a cavalhada ldquoeacute uma luta simulada em que haacute vinte e quatro
participantes sendo doze de cada equiperdquo35 por meio da evoluccedilatildeo equestre e
movimentos de espada lanccedila e garrucha representando a batalha entre mouros e
cristatildeos Segundo esta moradora ldquoa batalha sempre termina sendo vencida pelos
cristatildeos demonstrando a submissatildeo dos mouros e a supremacia da religiatildeo cristatilderdquo
Atualmente o grupo depende da boa vontade de seus participantes conforme
explica
Hoje se tornou caro eacute exame dos cavalos transporte depende do querer das pessoas da boa vontade e tem pessoas engajadas que natildeo largam a famiacutelia do Renau que ele eacute o presidente do grupo ele tem um amor tatildeo grande pelas cavalhadas porque ele jaacute recebeu do pai dele do teu avocirc e do seu Ivo Cardoso e a vida dele agraves vezes me desgosto de alguma coisa pois faccedilo a narrativa do que estaacute sendo apresentado mas daiacute eu penso natildeo posso abandonar (sorri) Eacute uma tradiccedilatildeo que natildeo pode morrer mas os filhos do Renau o Marcos e o Marcelo daratildeo continuidade faz parte da famiacutelia tu sabe eacute da mesma famiacutelia Eacute uma grande tradiccedilatildeo que natildeo pode desaparecer temos que continuar peleando36
As cavalhadas satildeo apresentadas na praccedila central sempre durantes as festas
religiosas que acontecem na comunidade sendo assim organizadas
No primeiro ou segundo final de semana de fevereiro tem a festa da Nossa Senhora do Belo Horizonte que eacute a padroeira daqui Agora devido agrave comissatildeo e o padre um ano tem a festa dos morenos e no outro tem a dos agricultores que eram chamados de amarelos antigamente cuja devoccedilatildeo se daacute agrave Nossa Senhora do Rosaacuterio e Nossa Senhora da Penha Antigamente cada um tinha seu espaccedilo social para realizar a festa atualmente soacute se manteve a tradiccedilatildeo de comemorar os santos este ano eacute festa dos morenos ela seraacute dia 13 e 14 de outubro Todas as festas
35 Sendo que doze cavaleiros que representam os cristatildeos vestem tuacutenicas de veludo azul escuro e
os doze cavaleiros mouros vestem tuacutenicas vermelhas Sobre os ombros da tuacutenica haacute uma capinha esta capinha traz enfeites prateados bordados com lantejoulas e bototildees dourados e franjas de seda branca Todos os participantes usam bombacha branca de brim botas campeiras pretas chapeacuteu de palha de aba larga virada para cima com laccedilo de fita e barbicacho de acordo com a cor da tuacutenica
36 BASSO Ceacutelia Pacheco Terres Entrevista concedida agrave autora no dia 04 de agosto de 2018
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religiosas ocorrem em dois dias saacutebado apresentaccedilatildeo das cavalhadas novena janta e baile no domingo tem a missa na Igreja Matriz logo apoacutes almoccedilo e reuniatildeo danccedilante Atualmente resgataram em dezembro a festa a Satildeo Cristoacutevatildeo sempre no primeiro final de semana de dezembro eacute uma missa com benccedilatildeo aos carros durante a procissatildeo e um almoccedilo ao meio-dia esta se daacute somente em um dia E tambeacutem temos de dois em dois anos a festa organizada pelo grupo das Cavalhadas esta ocorre em maio daiacute37
Os moradores explicam que a separaccedilatildeo racial desapareceu com o tempo
poreacutem se manteacutem a cultura de festejar todos os santos o que demonstra que o povo
de Cazuza eacute bastante devoto e cristatildeo E acrescenta em tempos idos que durante
as festas religiosas as pessoas se hospedavam no hotel segundo Basso que ldquoele
recebia tinha mercado junto teve ateacute cinema o pessoal gostava da comida da
Dona Vilma que era minha sogrardquo Este hotel eacute outro marco que identifica Cazuza
Ferreira poreacutem os moradores explicam que atualmente o Hotel do Campo manteacutem a
arquitetura mas funciona em uma modalidade diferenciada pois natildeo haacute como
sobreviver Entatildeo ele recebe hospeda sob reserva antecipada poreacutem natildeo serve
almoccedilo e janta as refeiccedilotildees satildeo feitas no Cantinho do Aconchego com quem
manteacutem uma parceria
Figura 14 ndash Hotel do Campo
Fonte acervo pessoal da autora (2018)
37 BASSO Ceacutelia Pacheco Terres Entrevista concedida agrave autora no dia 04 de agosto de 2018
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Nesta comunidade tambeacutem eacute muito forte segundo os entrevistados38 a
tradiccedilatildeo gauacutecha que adveacutem do homem do campo o amante dos rodeios que nos
finais de semana saem de suas propriedades e se deslocam a outras comunidades
para participar dos eventos campeiros como o tiro de laccedilo Tambeacutem explanam que
existe o CTG Adatildeo Castilhos que estaacute interditado jaacute faz quase seis anos desde
que comeccedilaram a ser exigidos os PPCIs A partir deste momento eles natildeo puderam
mais fazer eventos ali eles realizam os rodeios ou festas campeiras mas laacute dentro
natildeo conseguiram mais fazer nada e taacute difiacutecil vai muito dinheiro para cumprir todas
as exigecircncias Sendo que este espaccedilo na deacutecada de 80 do seacuteculo XX foi palco de
grandes rodeios com apresentaccedilotildees campeiras artiacutesticas e grandes bailes A
moradora explica39 ldquoA Claudiana esposa do Paulo Cesar atual presidente se
inscreveu no projeto Meu Galpatildeo de Cara Nova do Galpatildeo Crioulo da RBS TV
tomara que ela seja classificadardquo Este projeto ajuda na reconstruccedilatildeo dos CTGs pelo
Rio Grande do Sul
Ao pesquisar sobre Cazuza Ferreira percebe-se o quatildeo forte eacute o culto agraves
tradiccedilotildees e o esforccedilo de seus moradores para elas permaneccedilam para futuras
geraccedilotildees visto que o tempo passou e a tradiccedilatildeo local natildeo sofreu alteraccedilotildees
43 DISTRITO DE TAINHAS
O distrito de Tainhas foi criado em 18 de outubro de 1922 estando situado a
33 quilocircmetros da Sede Se desenvolveu no entroncamento de duas rodovias a RS-
020 e a RS-453 cujas rodovias cortavam a vila do distrito Com o advento da
construccedilatildeo da Rota do Sol importante rodovia que hoje que liga Caxias do Sul agraves
praias aleacutem da construccedilatildeo do asfalto da RS-020 que vai a Satildeo Francisco de Paula
tudo mudou O morador Fagundes relata em entrevista40 ldquoaqui era mais habitado
por criadores fazendeiros e agora depois que saiu essa Rota do Sol o movimento
cresceu muito neacute mais por fora da vila entatildeo natildeo trouxe benefiacutecio para noacutesrdquo
Percebe-se que moradores entendem a importacircncia da construccedilatildeo das
rodovias poreacutem as mesmas natildeo trouxeram benefiacutecios econocircmicos para os
moradores locais
38 ANDRADE Nauro Bossle de BASSO Ceacutelia Pacheco Terres Entrevistas concedidas agrave autora no
dia 04 de agosto de 2018 39 BASSO Ceacutelia Pacheco Terres Entrevista concedida agrave autora dia 04 de agosto de 2018 40 FAGUNDES Darci da Silva Entrevista concedida agrave autora no dia 24 de fevereiro de 2018
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Ainda conforme o morador Fagundes41 ldquoo iniacutecio da vila se deu devido agrave
necessidade de parada dos caminhoneiros que transportavam madeira como era
tudo estrada de chatildeo Tainhas ficava em local centralizado se construiu um hotel
que era do seu Pedro Pinhatildeo e da Dona Luisardquo A partir de entatildeo comeccedilou a
construccedilatildeo de casas e se formou a vila onde antes eram terras dos Pinto os
primeiros moradores de Tainhas tanto que o morador ressalta na entrevista42 ldquoo
nome da escola eacute Oliacutempio Soares Pinto que era o proprietaacuterio dessa terra e uma
das professoras mais antigas era Guilherma Pintordquo
Tainhas estaacute rodeada por campos matos de pinnus ilhote e lavouras
atualmente e explica
Hoje aqui eacute pinus e granjeiro plantando batata soja milho e a maioria veio de fora os moradores antigos desapareceram arrendaram ou venderam suas terras para esse pessoal que veio de Ibiraiara e de Maquineacute Itati Trecircs Forquilhas43
Percebe-se que a criaccedilatildeo de gado ou seja a pecuaacuteria extensiva deu lugar a
outras culturas com a chegada de novas pessoas ao distrito Mas segundo os
moradores o culto ao tradicionalismo gauacutecho permanece visto que no distrito
existe
O parque de rodeios do Rodeio Crioulo eacute o mais antigo que noacutes temos aqui natildeo sei se natildeo o primeiro piquete registrado de Satildeo Chico tem uns sessenta anos a nossa tradiccedilatildeo eacute o laccedilo O nosso rodeio acontece sempre no iniacutecio de janeiro hoje eu natildeo laccedilo mais mas o meu neto continua a minha tradiccedilatildeo A escola daqui faz a semana farroupilha com ronda eacute tudo muito lindo e assim se mantem a cultura44
A imagem apresentada na Figura 15 reforccedila a fala e a importacircncia do Piquete
de Laccediladores Rodeio Crioulo que atualmente mesmo estando nas terras de Satildeo
Francisco de Paula divisa com o municiacutepio de Cambaraacute do Sul por opccedilatildeo essa
entidade tradicionalista pertence ao entatildeo municiacutepio de Cambaraacute do Sul Poreacutem sua
fundaccedilatildeo acontece em 20 de janeiro de 1961 quando o entatildeo hoje municiacutepio de
Cambaraacute do Sul ainda era distrito de Satildeo Francisco de Paula
41 FAGUNDES Darci da Silva Entrevista concedida agrave autora no dia 24 de fevereiro de 2018 42 FAGUNDES Darci da Silva Entrevista concedida agrave autora no dia 24 de fevereiro de 2018 43 FAGUNDES Darci da Silva Entrevista concedida agrave autora no dia 24 de fevereiro de 2018 44 FAGUNDES Darci da Silva Entrevista concedida agrave autora no dia 24 de fevereiro de 2018
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Figura 15 ndash Flacircmula de comemoraccedilatildeo aos 50 anos da entidade
Fonte acervo pessoal da autora (2018)
Outro evento importante no distrito eacute realizado pela Escola Estadual de
Ensino Fundamental Oliacutempio Soares Pinto que satildeo atividades ligadas as tradiccedilotildees
gauacutechas na Semana Farroupilha como cavalgadas e gincanas com a participaccedilatildeo
de toda comunidade nesta semana principalmente a comunidade de Tainhas
ldquorespira tradicionalismordquo
O distrito de Tainhas atualmente conta com um posto de sauacutede e o correio
satildeo os serviccedilos puacuteblicos que funcionam no distrito visto que o cartoacuterio fechou O
entrevistado Fagundes relata45 ldquoeu era o juiz de paz desse Cartoacuterio minha funccedilatildeo
era julgar os casamentos mas daiacute fechou hoje o pessoal tem que ir a Satildeo Chicordquo O
morador ainda acrescenta ldquoateacute a rodoviaacuteria fechou os ocircnibus passam aqui Satildeo
Marcos que vem de Caxias e vatildeo a Torres desce de manhatilde e sobe de tarde Citral
de Satildeo Chico a Ouro Verde e agora Transneves da Pedra Lisa para Satildeo Chicordquo
Com uma certa tristeza relata46 ldquoaqui em Tainhas soacute tem o Cafeacute Tainhas do
Mauro eacute o brilho de Tainhas seraacute ponto histoacuterico daqui um tempo todo mundo fala
bem do Cafeacute Tainhasrdquo
Notoriamente a chegada do asfalto modificou a vida das pessoas neste
distrito visto que que os campos foram em boa parte transformados em lavoura se
45 FAGUNDES Darci da Silva Entrevista concedida agrave autora no dia 24 de fevereiro de 2018 46 FAGUNDES Darci da Silva Entrevista concedida agrave autora no dia 24 de fevereiro de 2018
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percebe uma vila pacata jaacute que todo o movimento foi desviado por fora da vila e a
mesma natildeo proporciona lazer para as pessoas que ao terminarem o ensino
fundamental para continuar seus estudos precisam fazer uso do transporte escolar
e se deslocar ateacute a Sede ou ir ao municiacutepio de Cambaraacute do Sul
44 DISTRITO DE ELETRA
O distrito de Eletra foi criado em 31 de dezembro de 1932 estando situado a
19 quilocircmetros da Sede do municiacutepio Poreacutem a populaccedilatildeo local chama de Salto e
seu nome vem das barragens do Salto Blang e Divisa construiacutedas sobre o Rio do
Salto que atravessa o distrito Segundo a moradora local47 Soares ldquoas barragens
que fornecem aacutegua para as usinas no municiacutepio de Satildeo Francisco de Paula e nos
municiacutepios vizinhos de Canela Gramado e Cambaraacute do Sulrdquo A Figura 16 apresenta
uma imagem da Barragem do Salto barragem esta que se situa proacutexima da vila do
distrito
Figura 16 ndash Barragem do Salto
Fonte acervo pessoal da autora (2018)
Ao observarmos a Figura 16 percebe-se que o acesso da vila para o interior
do distrito acontece por uma ponte de concreto estreita com piso bastante irregular
47 SOARES Susana Marques Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018
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e que em periacuteodos de fortes chuvas o acesso fica interrompido devido agrave altura
Poreacutem ao lado direito percebe-se uma estrutura pequena que segundo o morador
Gomes
Foi uma tentativa de uma empresa japonese construir uma ponte soacute que quando estavam construindo deu uma enchente e levou tudo a aacutegua abaixo a empresa foi embora e nunca mais voltou Jaacute foram feitos estudos que a ponte tem que ser construiacuteda mais para baixo e em forma de arco se natildeo a chuva leva de novo poreacutem natildeo acredito que saia algum dia48
Entende-se que a construccedilatildeo desta nova ponte melhoraria o acesso dos
proprietaacuterios rurais que para saiacuterem de suas propriedades em eacutepocas de chuva
intensa necessitam fazer um longo caminho por estradas de chatildeo batido para terem
acesso ao municiacutepio de Canela bem como a Sede de Satildeo Francisco de Paula
Contudo a moradora explica que a vila do distrito se forma muito antes da
construccedilatildeo da barragem
Em 1915 era uma fazenda chamada Fazenda do Salto e esta pertencia a Francisco Soares de Oliveira Neste local havia sua casa de moradia um galpatildeo e mangueiras onde realizava as suas atividades poreacutem em 1916 o Chico resolveu transferir a casa da Fazendo do Cerro para o Salto tambeacutem sendo construiacuteda aiacute a segunda casa a partir de entatildeo se iniciou o povoado com a construccedilatildeo de novas residecircncias para seus empregados e posteriormente se instalou uma serraria dos irmatildeos Delavechia esta sendo movida a aacutegua dando definitivamente o iniacutecio do povoamento da vila49
Ao analisar a fala da moradora local se percebe que onde hoje se encontra a
vila do distrito de Eletra jaacute foi uma fazenda identificando-se com a mesma formaccedilatildeo
do distrito Sede que tambeacutem surge de terras doadas por um fazendeiro Segundo a
entrevistada Soares50 ldquoa sua casa eacute uma das mais antigas tem 102 anos foi
construiacuteda de pinheiro serrada aqui mesmo na serrariardquo pode-se observar o oacutetimo
estado de conversaccedilatildeo da casa que traz traccedilos arquitetocircnicos europeus na sua
construccedilatildeo natildeo se tem imagem da casa visto que a entrevistada natildeo permitiu
nenhuma imagem de sua residecircncia
Outro fator importante do povoamento da vila segundo o morador local
Gomes51 ldquofoi o iniacutecio da construccedilatildeo da Barragem do Salto no ano de 1925rdquo onde
48 GOMES Jaures Feijoacute Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018 49 SOARES Susana Marques Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018 50 SOARES Susana Marques Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018 51 GOMES Jaures Feijoacute Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018
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vieram muitos funcionaacuterios de vaacuterios lugares tendo como mestre da obra segundo
os moradores locais52 o ldquoAcircngelo Goubertrdquo
Devido agrave necessidade que se formou no distrito neste periacuteodo se abriu um
hotel farmaacutecia cartoacuterio rodoviaacuteria e cinema a moradora local Soares saudosa
diz53 ldquotudo fechou aqui natildeo tem mais nadardquo referindo-se a atual situaccedilatildeo que a vila
se encontra
Os moradores ainda declaram sobre o distrito54 ldquoestaacute abandonado pelo poder
puacuteblico ateacute o calccedilamento das ruas foi arrancadordquo poreacutem outrora foi um local de
muita alegria
A vida era uma festa permanente o tio Chico era casado com a tia Lisoca ela foi para Porto Alegre para os filhos estudar quando vinham nas feacuterias traziam os amigos O tio Chico pagava um gaiteiro por mecircs para ele toca toda noite entatildeo era aquele divertimento55
Atualmente na vila existe a Escola Estadual de Ensino Fundamental Cristino
Ramos com menos de cem alunos e a festa cristatilde cuja celebraccedilatildeo ocorre em
fevereiro sendo Santo Antocircnio o padroeiro local A moradora explica sobre a
construccedilatildeo da capela
A primeira capela a tempestade derrubou em 1957 se construiu outra O santo padroeiro eacute Santo Antocircnio a imagem foi trazida por quarenta cavaleiros Daiacute o padre pediu para que a imagem de Nossa Senhora Catarina tambeacutem fosse acolhida hoje temos dois padroeiros mas para mim Santo Antocircnio eacute o principal56
Percebe-se na fala dos moradores a sua devoccedilatildeo e sua preocupaccedilatildeo com o
futuro da vila visto que ateacute a questatildeo do cemiteacuterio jaacute foi palco de discussatildeo pois o
cemiteacuterio da vila iniciou pela famiacutelia dos Soares sendo este particular Poreacutem a
moradora explica com certa indignaccedilatildeo
O cemiteacuterio era particular da famiacutelia Soares teve um tempo que resolveram abrir veio gente ateacute de Passo Fundo ser enterrada aqui natildeo pediam para ningueacutem tomaram conta Daiacute organizamos uma comissatildeo responsaacutevel decidimos que tinha que ter uma contribuiccedilatildeo e natildeo podia trazer gente de fora para enterrar soacute gente daqui Ningueacutem pagou Aiacute mandei fazer cerca nova a parte dos Soares sempre limpei mas [] hoje acabo limpando tudo
52 GOMES Jaures Feijoacute SOARES Susana Marques Entrevistas concedidas agrave autora no dia 15 de
fevereiro de 2018 53 SOARES Susana Marques Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018 54 GOMES Jaures Feijoacute SOARES Susana Marques Entrevistas concedidas agrave autora no dia 15 de
fevereiro de 2018 55 SOARES Susana Marques Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018 56 SOARES Susana Marques Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018
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porque ningueacutem limpa Enquanto eu for viva vou fazer depois vatildeo entregar para a prefeitura igreja natildeo sei57
A Figura 17 apresenta uma foto da igreja atual tendo em sua lateral direita a
capela mortuaacuteria e ao fundo o Salatildeo Paroquial da comunidade onde ocorre a festa
do Santo Padroeiro
Figura 17 ndash Igreja Santo Antocircnio ndash Distrito de Eletra
Fonte acervo pessoal da autora (2018)
Ao conversar com os moradores locais pode-se observar a feacute cristatilde poreacutem
ambos relatam que a festa de fevereiro atualmente eacute pouco divulgada motivo pelo
qual acreditam que natildeo haja um nuacutemero expressivo de pessoas Ambos sentem um
apreccedilo pelo local onde nasceram e vivem poreacutem ambos relatam
Aqui eacute lugar de dormir as pessoas trabalham em Canela e vem dormir aqui a grande maioria natildeo eacute daqui vieram de fora haacute muitas casas de veraneio tudo gente de Porto Alegre que vem passar feacuterias natildeo rende nada para aqui o que precisam trazem tudo de fora A maioria de quem mora aqui soacute dorme passa o dia fora O ocircnibus das 7 horas sai lotado a gente natildeo conhece mais ningueacutem daqui mesmo soacute noacutes Susana e eu58
Mesmo a vila sendo um local de parada estaacute rodeada de lindos campos e
fazendas cuja a atividade principal eacute a pecuaacuteria extensiva natildeo proporciona
57 SOARES Susana Marques Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018 58 GOMES Jaures Feijoacute Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018
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trabalho no local motivo pelo qual seus moradores buscam sua subsistecircncia em
outro municiacutepio poreacutem possui uma exuberante natureza relata cheia de esperanccedila
a moradora local59 ldquoeu tenho esperanccedila que algueacutem olhe para caacute e veja as belezas
que tem aqui que o lugar volte a se desenvolverrdquo desenvolvimento este que
poderia vir atraveacutes da exploraccedilatildeo do turismo rural ldquoSe vocecirc quiser comer alguma
coisa agora natildeo vai encontrar nada aqui soacute tem lsquobutecorsquo60 mas eles natildeo vendem
nada nem sanduiacuteche pastel eacute uma vergonhardquo fala indignado o morador Gomes61
A populaccedilatildeo que vive nas fazendas aleacutem de ter as lides campeiras no seu
dia-a-dia nos finais de semana segundo o morador Gomes62 ldquolaccedila em torneio vai
nos rodeiosrdquo o que marca a presenccedila do tradicionalismo gauacutecho em uma parte da
populaccedilatildeo do distrito poreacutem com relaccedilatildeo aos moradores da vila natildeo haacute algo que
os identifique visto a miscigenaccedilatildeo que ocorreu e por haver muitas casas de
veraneio no local
45 DISTRITO DO JUAacute
O distrito do Juaacute foi criado em 10 de maio de 1950 e fica distante 65
quilocircmetros da Sede O distrito recebe esse nome devido a um espinho que havia
em abundacircncia no local nome este dado por tropeiros
Os accedilorianos que vinham de Santo Antocircnio da Patrulha e iam para Vacaria com cargueiros eles vinham fazer repouso laacute em cima no reduto e ali tinha muita frutinha do juaacute entatildeo os tropeiros saiam de Santo Antocircnio e diziam vamos posa laacute nos juaacute daiacute o nome do lugar que permanece ateacute hoje63
Juaacute eacute o nome dado a um espinho muito comum na regiatildeo dos campos de
cima da serra que daacute uma fruta amarela em formato redondo que segundo os
moradores locais eacute uma fruta venenosa conforme se observa na Figura 18
59 SOARES Susana Marques Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018 60 Buteco pequeno comeacutercio que normalmente vende bebidas alcooacutelicas e possui mesa de sinuca 61 GOMES Jaures Feijoacute Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018 62 GOMES Jaures Feijoacute Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018 63 REIS Orides Entrevista concedida agrave autora no dia 12 de maio de 2018
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Figura 18 ndash Peacute com a fruta conhecido como Juaacute
Fonte acervo de Clessandra Palhano (moradora local) (2018)
O reduto citado pelo morador local ficava em uma fazenda local onde hoje se
encontra a vila do distrito conforme o entrevistado Reis explica
O primeiro morador eu natildeo lembro soacute sei que o Juaacute era de pouca gente famiacutelia Pedroso e Castilhos daiacute foram morrendo inventariando e vendendo e aos poucos se formou a vila importante o dono de tudo isso aiacute tinha dois escravos no iniacutecio teve escravidatildeo claro na eacutepoca de mil oitocentos e pouco eu acho mas teve E hoje deve ter descendente destes escravos por aiacute64
Escravidatildeo que vai dar origem ao preconceito racial e a um modelo particular
da localidade que sem precisar data explica o morador
Aqui tinha dois salatildeo trecircs com o da Igreja mas era dois salatildeo social Era um clube de brancos que era dos ricos neacute fazendeiros o Salatildeo Vera Cruz e depois fundaram o Satildeo Valentim que era dos morenos que na eacutepoca ateacute eu fui presidente Cada um no seu salatildeo agora quando dava a festa cristatilde em homenagem ao Satildeo Joatildeo de Deus todo o povo reunia-se quando chegava de noite no saacutebado no baile entatildeo cada um ia pro seu salatildeo A muacutesica ficava no salatildeo dos brancos daiacute colocava umas caixas de som laacute pros morenos com um fio pra eles danccedila Um natildeo podia entra no baile do outro tinha o presidente para cuida Cada um no seu tudo se respeitava e obedecia aquela ordem65
Ainda acrescenta a moradora local Santos
64 REIS Orides Entrevista concedida agrave autora no dia 12 de maio de 2018 65 REIS Orides Entrevista concedida agrave autora no dia 12 de maio de 2018
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O nosso eu natildeo me lembro o nome tem tanto papel mas natildeo sei onde estaacute o nosso dos pretos neacute ningueacutem implicava eles natildeo deixavam noacutes entra no salatildeo Vera Cruz eu entrava de cozinheira empregada porque ali era lugar dos ricaccedilos eles podiam se associar mas o nosso tambeacutem enchia mas eles iam no nosso baile de nego soacute olhavam As festas duravam dias Tinha aquele foguetoacuterio era tatildeo bonito66
Percebe-se na fala dos moradores como esta divisatildeo racial se fazia presente
que havia por parte dos negros um profundo respeito pelos brancos mesmo eles
tendo acesso ao salatildeo Vera Cruz somente para servi-los em nenhum momento se
percebeu que eles se sentissem diminuiacutedos pela situaccedilatildeo ateacute pela cultura que
advinha desde os primeiros moradores locais
Esta divisatildeo social permanece por longo tempo e somente vai desaparecer
nos anos 80 do seacuteculo XX com a contribuiccedilatildeo do Frei Abiacutelio que veio da Vacaria
durante Missotildees convocadas pelo paacuteroco local padre Afonso que conseguiu
modificar esta organizaccedilatildeo implantando a ideia de igualdade e ignorando tudo
aquilo a partir de entatildeo os negros comeccedilaram a frequentar a sociedade Vera Cruz
contribuiccedilatildeo dos entrevistados67 que ao abordar o assunto demonstraram repulsa
pelo passado mas ao mesmo tempo reconhecem que o racismo ainda eacute presente
na comunidade poreacutem devido agraves leis existe um cuidado maior
Atualmente negros e brancos convivem em harmonia participam da festa
cristatilde cujo padroeiro eacute Satildeo Joatildeo de Deus e dos torneios de laccedilo mas geralmente
quem laccedila satildeo os fazendeiros Saudoso o morador68 afirma que ldquouma vez tinha as
carreradas tinha trecircs canchas passava o domingo nas canchas brincando nas
corridas de cavalos tudo terminourdquo Acrescenta69 ainda que ldquoem 70 80 tinha o
futebol o campo era na baixada acho que tem ainda trofeacuteu ai mas daiacute a gurizada
foi embora para a cidade terminou o timerdquo
A vila se construiu de maneira simples tendo a Igreja Catoacutelica com o Salatildeo
Paroquial agrave direita o antigo Centro de Tradiccedilotildees Gauacutechas Laccedilo Velho do Juaacute onde
resta apenas o preacutedio de madeira corroiacuteda pelo tempo ao fundo a cancha de laccedilo
do Piquete de Laccediladores Velho do Juaacute entidade tradicionalista que se manteacutem ativa
desde o iniacutecio da deacutecada de 1960 ao redor haacute casas de moradias que formam ao
centro uma grande praccedila sem nenhuma infraestrutura em frente a esta praccedila
66 SANTOS Deotildes Palhano dos Entrevista concedida agrave autora no dia 12 de maio de 2018 67 REIS Orides SANTOS Deotildes Palhano Entrevistas concedida agrave autora no dia 12 de maio de
2018 68 REIS Orides Entrevista concedida agrave autora no dia 12 de maio de 2018 69 REIS Orides Entrevista concedida agrave autora no dia 12 de maio de 2018
65
perpassa uma rua de chatildeo batido sendo que a escola da comunidade fica do outro
lado a escola eacute municipal se chama Bento Eziacutedio Rodrigues atende
aproximadamente vinte alunos que estatildeo matriculados nas seacuteries iniciais do ensino
fundamental tendo duas professoras e um funcionaacuterio para fazer merenda e limpar
o paacutetio como se pode observar na Figura 19
Figura 19 ndash Praccedila Vila do Distrito Juaacute ao fundo cancha de laccedilo
Fonte acervo pessoal da autora (2018)
Ambos os entrevistados70 explicam que o Juaacute atualmente eacute um lugar de
idosos aposentados que outrora as pessoas viviam das roccedilas e da pecuaacuteria
extensiva na deacutecada de 1980 com o advento da induacutestria em Caxias do Sul os
jovens abandonaram seu modo de vida e foram buscar novas oportunidades poreacutem
estes jovens que foram embora retornam com frequecircncia natildeo perdendo a sua
essecircncia Relataram que a uacutenica fonte de trabalho eacute ser peatildeo de fazenda fazendas
estas que produzem o queijo serrano ou vendem leite para a Piaacute71 sendo que a
lavoura eacute para subsistecircncia Outra fonte de renda eacute ser funcionaacuterio da serraria cujo
proprietaacuterio e Joatildeo Egiacutedio que funciona proacuteximo da vila Outro fator importante eacute a
venda de pequenas chaacutecaras para moradores de Caxias do Sul que vem aos finais
70 REIS Orides SANTOS Deotildes Palhano Entrevistas concedidas agrave autora no dia 12 de maio de
2018 71 Piaacute Cooperativa Agropecuaacuteria Petroacutepolis Ltda Empresa que faz a coleta do leite nas fazendas da
regiatildeo
66
de semana descansar na localidade poreacutem se percebe que estes novos moradores
muitas vezes natildeo interagem com os moradores locais
Segundo o morador Reis72 ldquoapesar da vinda de pessoas de outros lugares o
Juaacute natildeo perdeu sua identidade fala em Juaacute lembra pinhatildeo colheita do pinhatildeo ateacute
haacute uma criacutetica que diz na eacutepoca do pinhatildeo o juazeiro fala grossordquo Ditado que o
entrevistado73 reafirma sorrindo ldquona eacutepoca do pinhatildeo o juazeiro fala grosso claro
que eacute apenas um dito popular uma maneira de se referir mas sempre eacute dito haacute
aqueles que natildeo gostamrdquo
Nota-se que a vida na comunidade do Juaacute se passa de forma tranquila com
poucos moradores que sua identidade estaacute relacionada agrave pecuaacuteria extensiva com
as lides com o gado bem como ao pinhatildeo uma fruta tiacutepica que se desenvolve na
Araucaacuteria ou pinheiro nativo como eacute conhecido na regiatildeo O pinhatildeo seja ele
assado cozido ou paccediloca74 eacute muito consumido pelos moradores do interior de Satildeo
Francisco de Paula durante o inverno inclusive como mistura do cafeacute da manhatilde
46 DISTRITO DO RINCAtildeO DOS KROEFF
O distrito de Rincatildeo dos Kroeff foi criado em 10 de maio de 1950 Fica a 35
quilocircmetros distante da Sede poreacutem muito antes de se institucionalizar oficialmente
este espaccedilo moradores locais contam como tudo se iniciou
Meu avocirc foi um dos primeiros a vim para caacute ele se chamava Guilherme Faciole ele nasceu no navio vindo da Itaacutelia Ele contava que teve uma desavenccedila em Caxias e fincou o peacute pra caacute pra natildeo acharem ele que aqui era soacute mato e na revoluccedilatildeo de 35 ele fugia de casa para natildeo ser levado pelas tropas os piquetes levavam para combater entatildeo ele sempre dizia que pousou vaacuterias noites embaixo dos peraus da serra do Umbu para natildeo ser levado O falecido vovocirc vivia da caccedila do porco do mato tateti ele fazia charque de porco para ter a carne ele viveu 106 anos e dizia se natildeo tivesse fumado viveria mais uns dez isso faz parte da histoacuteria do Rincatildeo dos Kroeff Junto teve o falecido Acircngelo Menegaacutes que entro aqui na mesma eacutepoca Eles satildeo os fundadores do distrito75
O acesso ao distrito Rincatildeo dos Kroeff permanece totalmente pela estrada de
chatildeo batido sendo possiacutevel ir ao municiacutepio de Maquineacute descendo pela serra do
Umbu Poreacutem muito antes da estrada a busca de mantimentos e o escoamento da
72 REIS Orides Entrevista concedida agrave autora no dia 12 de maio de 2018 73 REIS Orides Entrevista concedida agrave autora no dia 12 de maio de 2018 74 Paccediloca carne de porco moiacuteda e frita no azeite ou banha a qual se acrescenta o pinhatildeo jaacute cozido
e moiacutedo 75 FACIOLE Reinaldo Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de marccedilo de 2018
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produccedilatildeo se dava pelos carreiros visto que natildeo havia abertura de estrada e nem
viatura76 como os moradores relatam
Tudo era na tropeada as tropas que ia para Rolante Na tropeada saia um tropeiro na frente e um recircs com um cincerro que era a madrinheira da tropa saia laacute pelo Chuvisqueiro e saia laacute em Rolante perdia boi na estrada ficava semanas boi perdido agraves vezes nem se achava mais tambeacutem tinha tropa de porco e tinha as tropeadas de mula puxando milho feijatildeo trigo tudo produzido aqui e levado de cargueiro carreta era muito pouco porque natildeo tinha estrada para anda era soacute os trilhos pelo meio dos matos e campos e se produzia milho era o inverno inteiro saia tropas e mais tropas com trinta quarenta mulas burros transportando mantimentos da produccedilatildeo do gratildeo haacute tambeacutem tinha a flor de Pireto que era lucro ningueacutem conhece isso aiacute hoje essa flor era levada para Taquara e fazia veneno para formiga tudo que era tipo de veneno era uma flor muito toacutexica Acredita tropear galinha pois eacute a gente criava bastante saia com os cargueiros como era a vida eles faziam um girau no cesto naqueles balaios para fazer duas camas uma mais em cima e outra em baixo daiacute quando era veratildeo era muito quente tinha que no meio da viagem tirar de dentro do cesto botar na aacutegua na sanga para natildeo morrer ateacute chegar no mercado dali para praia a eacutepoca que mais vendia era novembro e dezembro daiacute tinha preccedilo bom tudo criada solta aviaacuterio nem se falava77
Ao ouvir os moradores se percebe que a construccedilatildeo do distrito aconteceu
devido ao esforccedilo e trabalho de muitas pessoas visto que o local era de mata nativa
densa e precisou ser desmatado para ser ocupado pelas pessoas Explica o
entrevistado Faciole78 ldquopara fazer uma lavoura tambeacutem precisava derrubar o
pinheiro seu Onorino Buffon me contou que faziam fogo ao redor do pinheiro eles
eram muito grosso para derrubar a machado entatildeo faziam fogo secavam para
depois fazer a roccedilardquo E a moradora79 local acrescenta ldquoaqui tambeacutem tinha os
barbacuazeiros produziam erva mais aqui eles soacute tiravam a erva e sapecavam e
depois ia para outro lugar industrializa tudo era diferenterdquo
Poreacutem segundo os moradores este modelo de vida rudimentar se modifica
com a chegada das serrarias sendo que a dos Kroeff foi a primeira juntamente com
a serraria se viu a necessidade da construccedilatildeo de novas casas para os
trabalhadores surgindo ali a vila do distrito Rincatildeo dos Kroeff no iniacutecio a serraria era
tudo manual relata Faciole80 ldquoa uacutenica forma de tira a madeira era com um enfieira
76 Viatura se refere a carro de passeio caminhotildees 77 FACIOLE Reinaldo FACIOLE Maria Madalena Scalco Entrevistas concedidas agrave autora no dia 18
de marccedilo de 2018 78 FACIOLE Reinaldo Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de marccedilo de 2018 79 FACIOLE Maria Madalena Scalco Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de marccedilo de 2018 80 FACIOLE Reinaldo Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de marccedilo de 2018
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de boi eu cheguei a ver cinco ternos de boi carreiro81 emendado puxando um
pinheiro eacute uma bicheira de boi natildeo tinha outra formardquo
Rincatildeo dos Kroeff eacute o menor distrito de Satildeo Francisco de Paula poreacutem em
suas terras se desenvolveu a cultura dos hortifrutigranjeiros desde muito cedo jaacute
que sua colonizaccedilatildeo eacute basicamente italiana e alematilde e os italianos tecircm a cultura do
plantio visando lucro A moradora Faciole82 afirma ldquotudo comeccedilou por aqui depois
se expandiu para o municiacutepio comeccedilamos com moranga branca depois repolho
couve broacutecolis alface e daiacute veio beterraba e tudo o restordquo Acrescenta ainda83 que
ldquodaqui saiacuteram os primeiros caminhotildees de hortifruacuteti do municiacutepio para a Ceasa teve
eacutepoca de sair quarenta caminhotildees por dia do Rincatildeo hoje natildeo sai mais porque
muitos foram buscar novos lugares para plantarrdquo E juntamente com a mudanccedila dos
proprietaacuterios em busca de novas terras muitos de seus funcionaacuterios foram embora
junto afirma em entrevista o morador local84 ldquomuita gente do Rincatildeo foi embora
muitas gurias foram embora para estudar para achar emprego e natildeo voltaram maisrdquo
Atraveacutes da fala da moradora pode-se observar que apesar do distrito ser
produtivo enfrenta algumas dificuldades com relaccedilatildeo ao estudo de seus moradores
que para continuarem seus estudos se assim o desejarem necessitam abandonar
seus pais e ir em busca na Sede ou arredores visto que no distrito existe uma uacutenica
escola Gastatilde Henth Esta eacute municipal e atende dos quatro anos ao nono ano do
ensino fundamental A moradora Faciole explica
O coleacutegio hoje tem 99 alunos ao total quando eles terminam o nono ano alguns vatildeo estudar mas satildeo pouquiacutessimos os outros ficam por aiacute mesmo natildeo tem um transporte que leve eles para fazer o ensino meacutedio na Sede que seria a escola de ensino meacutedio mais proacuteximo se quiser estudar vai ter que ir embora reforccedila quem e trabalhador fica trabalhando com os pais quem natildeo eacute [] As pessoas na sua grande maioria soacute tem o ensino fundamental aqui85
Este eacute um dos grandes problemas enfrentados pelos moradores do Rincatildeo
dos Kroeff a possibilidade de continuar estudando A escola que laacute existe os
moradores locais natildeo sabem precisar a data mas sabem que foi durante o mandato
81 Ternos de boi carreiro significam vaacuterias duplas de bois cangados e ligados por um pedaccedilo de
madeira que vatildeo na canga entre a dupla de bois Esse pau roliccedilo na regiatildeo se chama de cambatildeo 82 FACIOLE Maria Madalena Scalco Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de marccedilo de 2018 83 FACIOLE Maria Madalena Scalco Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de marccedilo de 2018 84 FACIOLE Reinaldo Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de marccedilo de 2018 85 FACIOLE Maria Madalena Scalco Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de maio de 2018
69
do prefeito Escobar (1977-1982) que ela foi construiacuteda Neste contexto aparece
tambeacutem a dificuldade de se locomover fazendo uso do transporte puacuteblico
Haacute sete anos atraacutes o Rincatildeo estava bom mesmo tinha ocircnibus da praia agraves vezes passava quatro a cinco ocircnibus da praia tudo pela serra do Umbu Agora soacute tem um trecircs dias por semana As empresas deixaram de trafegar por aqui elas natildeo vatildeo descer numa serra de chatildeo batido sendo que tem a outra86 com asfalto87
Os moradores se orgulham da festa religiosa que acontece todos os anos em
agosto sendo que o santo padroeiro eacute Satildeo Roque A festa da comunidade
apresenta uma tradiccedilatildeo local muito interessante na segunda-feira apoacutes a festa ela
continua para os moradores locais que vatildeo ao salatildeo paroquial para se divertir entre
si e esta eacute uma tradiccedilatildeo que eacute comentada em todo o municiacutepio Faciole88 saudoso
afirma ldquopara ti ter uma ideia nessa festa chegava dar vinte poucos ocircnibus lotado que
vinham de outros municiacutepios como Igrejinha Taquara Porto Alegre Novo
Hamburgo o espaccedilo ficava pequenordquo Acrescenta89 ainda ldquoaqui noacutes tinha o Clube
Serrano que dava baile janta italiana dava um movimento louco mas terminou ateacute
o baile das rainhas cada ano era uma era tatildeo lindo mas tudo se acabourdquo
Figura 20 ndash Imagem da Igreja Satildeo Roque em dia de festa no Rincatildeo dos Kroeff
Fonte acervo pessoal da autora (2018)
86 A outra se refere a rodovia RS-453 conhecida como Rota do Sol 87 FACIOLE Reinaldo Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de marccedilo de 2018 88 FACIOLE Reinaldo Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de marccedilo de 2018 89 FACIOLE Reinaldo Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de marccedilo de 2018
70
Percebe-se que o distrito Rincatildeo dos Kroeff eacute o uacutenico que obteve em seu
iniacutecio uma colonizaccedilatildeo por descentes de italianos dentro do municiacutepio de Satildeo
Francisco de Paula o que demonstra o quatildeo forte se daacute a tradiccedilatildeo ldquoitalianardquo neste
local permanecendo intriacutenseca na vida cotidiana de seu povo com a cultura do
plantio de hortifrutigranjeiros que permanece apesar do tempo como sendo a sua
maior identidade local
47 DISTRITO DE LAJEADO GRANDE
Lajeado Grande em tempos idos pertenceu ao distrito de Cazuza Ferreira e
somente em 12 de dezembro de 1968 se tornou um distrito independente segundo
a Lei nordm 655 encontrada nos autos da Prefeitura Municipal de Satildeo Francisco de
Paula A vila do distrito Lajeado Grande fica distante 63 quilocircmetros da Sede e se
situa na confluecircncia do Arroio Porco Morto e o Rio Bururi Seu surgimento acontece
segundo o morador Fogaccedila90 ldquopor volta de 1940 com a abertura da estrada Canela
ndash Bom Jesus a atual RS-476 que corta a vila do Distritordquo Essa estrada segundo o
morador facilitou a locomoccedilatildeo que anteriormente era feita totalmente pelas trilhas e
picadas por onde somente se passava a cavalo ou de carreta E o entrevistado
explica como acontece o desenvolvimento inicial da vila
Tu sabe aqui tem o nome de Lajeado Grande por causa do rio que eacute cheio de lajes grandes o que facilitava a travessia e as terras aqui por roda era tudo do falecido Pequeno Cardoso ele doou parte para a construccedilatildeo da vila onde o falecido Leopoldino Cardoso irmatildeo do Pequeno tinha uma lsquobudega velharsquo91 por aqui sendo o primeiro comeacutercio da vila92
A abertura da estrada possibilitou o desenvolvimento da vila juntamente com
o Casaratildeo um hotel pensatildeo que foi construiacutedo as margens do Arroio Porco Morto
este Casaratildeo passou por diversos proprietaacuterios
Leopoldino Cardoso foi o idealizador do Casaratildeo juntamente com os seus soacutecios Heraacuteclito Andrade de Cardoso lsquoJoanitorsquo Joseacute Osoacuterio de Lima lsquoZecarsquo e Pequeno Cardoso sendo que o Casaratildeo era uma casa de negoacutecio compravam queijo couro era um comeacutercio forte vendia secos e molhados inclusive a primeira rodoviaacuteria foi instalada neste espaccedilo poreacutem em 1948 Joatildeo Pacheco Cardoso assume e amplia o estabelecimento construindo o segundo piso da casa de madeira e alugando para outros dois moradores
90 FOGACcedilA Blair dos Santos Entrevista concedida agrave autora no dia 06 de abril de 2018 91 Budega velha referindo-se a uma antiga casa de comeacutercio de secos e molhados localizada onde
hoje se encontra o armazeacutem Celeiro 92 FOGACcedilA Blair dos Santos Entrevista concedida agrave autora no dia 06 de abril de 2018
71
Eremi Terres e Claunir Lucena Com a reforma o Casaratildeo passa a ter treze quartos para aluguel uma loja onde encontrava-se tudo o que se necessitava de alfinete tecido alimentos e raccedilotildees aleacutem da ala que servia de moradia para os proprietaacuterios Em 1962 o estabelecimento eacute alugado para Eraldo Bento de Oliveira que aleacutem de gerenciar o estabelecimento colocou junto um bar local de encontro dos homens da redondeza para tomar um lsquotragorsquo93 (CERUTTI SILVA CARDOSO 2002 p 19)
Figura 21 ndash Imagem do Casaratildeo pouco antes de ser desmanchado
Fonte acervo pessoal de Fernando Oliveira (conhecido como Guego) (2018)
O Casaratildeo foi desmanchado na deacutecada de 1980 pelo entatildeo proprietaacuterio Reno
Pacheco Poreacutem percebe-se na vila que seus antigos moradores falam com certo
saudosismo deste estabelecimento que fez parte de suas vidas e chegam a
lamentar o seu fim morador Fogaccedila94 afirma ldquoali se fez o pastel mais famoso do
Lajeado Grande o pastel da Odila mas tudo se acabou quando eles entregaram e
construiacuteram laacute na esquinardquo95
Poreacutem a vila Lajeado Grande foi lentamente se desenvolvendo Devido agrave
necessidade da conservaccedilatildeo da nova estrada foi construiacuteda agraves margens do Rio
Bururi uma capatazia do DAER Segundo Cerutti Silva e Cardoso (2002 p 18) ldquoo
primeiro capataz foi Capitulino Prudecircncio de Oliveira vindo de Santa Catarina sua
funccedilatildeo era manter as estradas e chegou a ter vinte funcionaacuteriosrdquo Percebe-se que a
93 Trago expressatildeo local que significa beber uma cachaccedila 94 FOGACcedilA Blair dos Santos Entrevista concedida agrave autora no dia 06 de abril de 2018 95 Esquina eacute o nome dado a parte da vila do Lajeado Grande onde se daacute o entroncamento das
rodovias RS-453 e ERS-476
72
partir deste momento se inserem neste distrito pessoas advindas de outros estados
e locais visto que ateacute o presente momento o distrito era habitado por fazendeiros
naturais do proacuteprio municiacutepio e que tinham suas vidas ligadas diretamente agrave
pecuaacuteria extensiva e agrave produccedilatildeo do queijo serrano Importante destacar que a
esposa de Capitulino segundo Cerutti Silva e Cardoso (2002 p 18) ldquoa Celicina
Guilherme da Silva se torna uma figura conhecida por realizar partos sendo
chamada como parteira de campanhardquo Na atualidade filhos netos e bisnetos do
casal ainda residem na vila
A vila do Lajeado Grande tambeacutem recebe novos moradores com a praacutetica do
corte do pinheiro nativo sendo que na deacutecada de 1950 havia uma faacutebrica de
beneficiamento de madeira ateacute se transformar em pasta este material era levado
para Esteio onde funcionava agrave matriz A partir dos anos 1950 ocorre a instalaccedilatildeo de
serrarias sendo que a Madeireira Albeflor de propriedade de Valter Sguaizer se
instala em 1964 Novamente busca-se matildeo de obra em localidades proacuteximas como
Lagoa Vermelha Vacaria e Bom Jesus poreacutem com a proibiccedilatildeo da extraccedilatildeo de
madeira de lei a serraria deixou de funcionar
Percebe-se que no distrito natildeo houve uma homogeneizaccedilatildeo identitaacuteria visto a
influecircncia advinda de muitas culturas no passado atraveacutes da extraccedilatildeo de madeira
e na atualidade com o advento das lavouras de hortifrutigranjeiros e pomares
frutiacuteferos que ocupam boa parte do distrito substituindo a pecuaacuteria extensiva que jaacute
natildeo proporciona um lucro efetivo Entatildeo os proprietaacuterios na sua grande maioria
venderam ou arrendaram suas terras para novas culturas o que modifica o modo de
vida local pois grande parte dos trabalhadores adveacutem de outros estados como o
Paranaacute e tambeacutem se observa o uso da matildeo de obra indiacutegena
Essa miscigenaccedilatildeo se observa nas escolas locais visto que na vila funciona a
Escola Municipal D Pedro I que segundo Cerutti Silva e Cardoso (2002 p 35)
ldquoinicia em 1965 poreacutem a professora e o preacutedio eram mantidos pela Serraria mas na
deacutecada de 70 a prefeitura assumiu a escola sendo que Eloci Martim foi a primeira
professora da Serrariardquo Escola da Serraria como ainda eacute conhecida por boa parte
dos moradores locais apesar de a escola natildeo se encontrar mais onde havia a antiga
serraria Atualmente a Escola Dom Pedro I funciona em um preacutedio obtido atraveacutes da
Associaccedilatildeo de Moradores atendendo alunos da preacute-escola ateacute o sexto ano das
seacuteries finais tendo em seu quadro seis professores e duas funcionaacuterias Sendo que
73
a obra para um novo preacutedio teve iniacutecio neste ano mas percebe-se que a obra parou
por volta do mecircs de maio Poreacutem na vila tambeacutem se encontra uma escola estadual
A documentaccedilatildeo necessaacuteria para a criaccedilatildeo de uma nova escola na localidade foi elaborada por Manoel Cardoso de Andrade juntamente com a professora Odazilda Cardoso Demori e encaminhada agrave Secretaria da Educaccedilatildeo sendo que em 11 de fevereiro de 1953 foi criada a Escola Isolada de Lajeado Grande sendo os professores estaduais mas o preacutedio sob responsabilidade comunitaacuteria iniciou o seu funcionamento nas dependecircncias do DAER e somente em 1957 foi construiacutedo um preacutedio de madeira em terras doadas por Pequeno Cardoso local onde hoje ainda se encontra a escola poreacutem passou por muitas reformas sendo que em 2000 recebeu um novo preacutedio de alvenaria o que possibilitou a realizaccedilatildeo de um grande sonho dos professores e comunidade a implantaccedilatildeo do Ensino Meacutedio que concretizou-se em 200296
Atualmente a escola atende em torno de trezentos alunos da Educaccedilatildeo
Baacutesica poreacutem percebe-se que devido agraves safras de hortifrutigranjeiros o nuacutemero de
alunos se alterna durante o ano O que tambeacutem se percebe eacute o comportamento dos
alunos com relaccedilatildeo agrave diversidade cultural por exemplo usam bombacha laccedilam boi
de pau no recreio e escutam funk uma cultura totalmente diferente da tradicionalista
gauacutecha o que compreende-se como algo advindo da globalizaccedilatildeo cultural que
vivemos no mundo atual reforccedilando novamente o natildeo reconhecimento de uma
identidade forte na localidade
Poreacutem as famiacutelias tradicionais do local manteacutem fortemente arraigada a
cultura tradicionalista que adveacutem do homem do campo tendo no distrito festas
campeiras torneios de laccedilo e a festa religiosa uma vez por ano em homenagem ao
Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus padroeiro da vila
Na atualidade natildeo se percebe uma identidade forte e marcada no distrito e
sim uma miscigenaccedilatildeo de diferentes culturas e etnias que convivem e se integram
harmonicamente
96 CARDOSO Amaacutelia Celuderes Entrevista concedida agrave autora no dia 08 de marccedilo de 2018
74
5 DESCRICcedilAtildeO DO PRODUTO
O produto consiste em um livro paradidaacutetico sobre a histoacuteria de Satildeo Francisco
de Paula Apresenta de maneira didaacutetica a histoacuteria de Satildeo Francisco de Paula bem
como balotildees explicativos imagens sugestotildees de atividades e leituras
complementares Poderaacute servir de apoio pedagoacutegico a professores e alunos do
municiacutepio visto que existe pouco material sobre a histoacuteria deste municiacutepio e se faz
importante trabalhar a histoacuteria local percepccedilatildeo que a autora obteve ao longo da sua
caminhada como professora de histoacuteria que atua nas seacuteries finais do ensino
fundamental e meacutedio haacute dezessete anos na rede estadual do municiacutepio
Partir do local natildeo eacute abandonar o conhecimento histoacuterico eacute dar outro valor
sentido para este conhecimento Segundo Caimi
Levar em conta o universo da crianccedila ou do adolescente natildeo eacute pois abdicar do rigor intelectual [] mas garantir que a apropriaccedilatildeo deste conhecimento ocorra permeada de sentido e significado resultando em soacutelidas aprendizagens (CAIMI 2006 p 24)
Seguindo esta perspectiva a implantaccedilatildeo do Referencial Curricular Gauacutecho
embasado na Base Nacional Comum Curricular reforccedila a ideia jaacute discutida nos
paraacutegrafos anteriores
No que se refere especificamente ao componente Histoacuteria a base rompe tanto com a cronologia quanto agrave visatildeo eurocecircntrica da histoacuteria tradicional Entram em cena novos atores novas sociedades novos caminhos que sempre tiveram na histoacuteria mas nem sempre receberam a devida importacircncia Acompanhando a Base Nacional Comum Curricular o Referencial Curricular Gauacutecho no que se refere especificamente agrave disciplina de Histoacuteria manteacutem seu foco na aprendizagem dos alunos nos diferentes espaccedilos e tempos tendo a preocupaccedilatildeo de integrar o curriacuteculo com a diversidade regional de nosso Estado Tambeacutem eacute importante contemplar os temas integradores como eacutetica cidadania cultura e valorizaccedilatildeo das diversidades assegurando a multiplicidade de olhares sobre o mundo (RIO GRANDE DO SUL 2018 p 118)
Portanto o paradidaacutetico seraacute mais um material disponiacutevel aos professores e
estudantes da educaccedilatildeo baacutesica de Satildeo Francisco de Paula na construccedilatildeo do
conhecimento da histoacuteria do municiacutepio bem como o reconhecimento de sua
identidade neste material visto que se almeja que os estudantes percebam
vestiacutegios de sua identidade e se percebam como parte deste municiacutepio atraveacutes do
conhecimento de sua histoacuteria
75
O paradidaacutetico vem com o tiacutetulo rdquoTropeando histoacuterias em Satildeo Francisco de
Paulardquo sendo que a capa traz a foto do Monumento aos Carreteiros monumento
que se encontra na Avenida Juacutelio de Castilhos em frente ao preacutedio da Prefeitura
Municipal
Figura 22 ndash Capa do livro
Fonte Livro Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula
Na sequecircncia se apresenta o iacutendice que possibilita ao leitor localizar os
diversos temas abordados visto que existem nove capiacutetulos
76
Figura 23 ndash Iacutendice do livro
Fonte Livro Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula
77
O capiacutetulo um apresenta a localizaccedilatildeo de Satildeo Francisco de Paula com uma
seacuterie de mapas que facilitam a compreensatildeo espacial dos alunos assim como um
mapa da subdivisatildeo do municiacutepio em distrito Ao final satildeo sugeridas duas atividades
que podem ser desenvolvidas de maneira interdisciplinar com o apoio da professora
de arte geografia e portuguecircs
Figura 24 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 1)
Fonte Livro Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula
78
Figura 25 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 1)
Fonte Livro Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula
O capiacutetulo dois aborda a existecircncia indiacutegena em Satildeo Francisco de Paula
antes da chegada dos desbravadores vindos de Satildeo Paulo Como sugestatildeo de
atividades apresenta-se uma pesquisa sobre as diferentes tribos indiacutegenas que
habitavam a Proviacutencia de Satildeo Pedro aleacutem da criaccedilatildeo de um painel infograacutefico
79
Figura 26 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 2)
Fonte Livro Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula
No capiacutetulo trecircs se apresentam os primeiros donataacuterios colonizadores de Satildeo
Francisco de Paula com trecho de um testamento deixado por Pedro da Silva
Chaves o fundador de Satildeo Francisco de Paula bem como o mapa que localiza as
primeiras sesmarias que corresponde ao territoacuterio onde hoje eacute a Sede do municiacutepio
80
Figura 27 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 3)
Fonte Livro Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula
Nos capiacutetulos quatro e cinco eacute apresentado o desenvolvimento de Satildeo
Francisco de Paula ainda no seacuteculo XIX quando pertencia ao municiacutepio de Santo
Antocircnio da Patrulha e no final do seacuteculo XIX quando passa a pertencer ao entatildeo
81
municiacutepio de Taquara do Mundo Novo Existe tambeacutem um mapa que demonstra a
extensatildeo territorial de Santo Antocircnio da Patrulha e quais satildeo os municiacutepios hoje que
pertenceram a este bem como a importacircncia da abertura da estrada que liga Satildeo
Francisco de Paula a Taquara
Figura 28 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 4)
Fonte Livro Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula
82
Os capiacutetulos seis e sete apontam a construccedilatildeo do Municiacutepio a partir de sua
emancipaccedilatildeo em 1903 sua extensatildeo territorial e a diminuiccedilatildeo do seu territoacuterio ao
longo do tempo e a histoacuteria da Igreja Matriz Como sugestatildeo de atividade pesquisar
a diversidade religiosa existente na comunidade escolar e criar graacuteficos com essas
informaccedilotildees podendo a partir de entatildeo trabalhar com as questotildees religiosas ontem
e hoje no mundo
Figura 29 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 6)
Fonte Livro Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula
83
No capiacutetulo oito se apresenta o que difere os sete distritos de Satildeo Francisco
de Paula Este capiacutetulo se apresenta subdividido em sete subtiacutetulos onde cada um
corresponde a um distrito do municiacutepio Tendo como fonte principal as entrevistas
realizadas com moradores locais mesclado com fontes documentais e bibliograacuteficas
que corroboram para se perceber que haacute alguns distritos que manteacutem suas tradiccedilotildees
ao longo do tempo e eacute possiacutevel perceber que existe uma identidade que aproxima
aquela populaccedilatildeo
Figura 30 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 8)
Fonte Livro Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula
84
No uacuteltimo capiacutetulo o nove se exibe uma lista de sugestotildees de leituras
complementares a fim de se aprofundarem sobre determinados temas E por fim
as referecircncias utilizadas para a construccedilatildeo do paradidaacutetico Tropeando Histoacuterias em
Satildeo Francisco de Paula
Figura 31 ndash Atividade do livro (Sugestatildeo de Leituras Complementares)
Fonte Livro Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula
85
O produto foi testado em duas turmas da Educaccedilatildeo Baacutesica na Escola
Estadual de Ensino Meacutedio Lajeado Grande com o propoacutesito de avaliar qual seria a
reaccedilatildeo dos estudantes diante do material e por ele ter sido produzido por algueacutem
que convive com eles semanalmente A receptividade foi bastante gratificante como
se pode observar na Figura 32
Figura 32 ndash Alunos do Ensino Meacutedio
Fonte acervo pessoal da autora (2019)
A receptividade foi muito interessante visto que os estudantes
acompanharam a trajetoacuteria para chegar ao produto final algo que os deixava
ansiosos para manusear pois muitas vezes foram parceiros A autora foi
compartilhando com os estudantes as informaccedilotildees obtidas durante a pesquisa e as
descobertas encontradas usando em suas aulas a histoacuteria local para abordar os
diferentes temas e conceitos histoacutericos
Quando a autora apresenta o produto os estudantes do ensino meacutedio estes
formam grupos por distritos e buscam logo reconhecer no material sua identidade
apoacutes comentam sobre as peculiaridades de cada distrito Poreacutem os alunos do
ensino fundamental manuseiam o produto mas natildeo se deteacutem ao distrito em que
pertence e sim as imagens e as explicaccedilotildees apresentadas no vocecirc sabia
O que enriquece o trabalho realizado foi o envolvimento dos estudantes com
o produto solicitando quando poderatildeo ler calmamente todo o trabalho
86
6 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
A partir de experiecircncias pessoais em sala de aula se percebeu que o ensino
de Histoacuteria quando se partia da histoacuteria local havia maior interesse dos estudantes
da educaccedilatildeo baacutesica motivo pelo qual se deu a questatildeo-problema desta dissertaccedilatildeo
que estaacute relacionada diretamente com o natildeo uso desta histoacuteria pelos professores da
educaccedilatildeo baacutesica
Em conversas informais com professores da educaccedilatildeo baacutesica que atuam no
municiacutepio de Satildeo Francisco de Paula em sua grande maioria alegam que o grande
empecilho para se trabalhar a histoacuteria local eacute o pouco material disponiacutevel sobre a
histoacuteria de Satildeo Francisco de Paula aleacutem do rigor dos curriacuteculos que impotildeem o
ensino de Histoacuteria de maneira linear sem contextualizaccedilatildeo com a realidade vivida
pelos estudantes pois desta forma natildeo estatildeo preparando os estudantes para as
avaliaccedilotildees do Ministeacuterio da Educaccedilatildeo bem como para o vestibular Poreacutem natildeo se
estaacute afirmando que deveraacute estudar somente a histoacuteria local e sim partir dela como
incentivo para estudos dos conceitos e temaacuteticas da histoacuteria por muitas vezes
totalmente abstrato e de difiacutecil compreensatildeo pela grande maioria dos estudantes
A partir de entatildeo se realizaram inuacutemeros questionamentos como qual a
necessidade de se ensinar Histoacuteria de forma abstrata sem nenhuma relaccedilatildeo com
as vivecircncias dos estudantes Por que natildeo usar a fonte oral como metodologia de
pesquisa no ensino de Histoacuteria em Satildeo Francisco de Paula jaacute que natildeo existem
muitos materiais escritos a respeito desta histoacuteria principalmente no que tange os
distritos do interior Poreacutem estes questionamentos natildeo foram aprofundados na
dissertaccedilatildeo por natildeo ser o objetivo direto da pesquisa mas posteriormente poderaacute
se tornar um novo projeto de pesquisa
Nesta incessante busca por resposta se constroacutei todo o estudo desta
dissertaccedilatildeo que em um primeiro momento busca embasamento em diferentes
autores que comprovam que o ensino de Histoacuteria voltado para o local faz maior
sentido para os estudantes da educaccedilatildeo baacutesica e que isto natildeo significa abandonar
os conceitos histoacutericos e sim questionar analisar a trajetoacuteria humana no tempo e
no espaccedilo sob uma nova metodologia Apenas se sugere uma nova abordagem
que torne o ensino de Histoacuteria menos abstrato algo mais presente na vida do
estudante e que possibilite a ele a habilidade de perceber que o mundo estaacute em
constante mudanccedila poreacutem os fatos natildeo ocorrem de forma isolada no espaccedilo Algo
87
que foi reforccedilado apoacutes a construccedilatildeo da Base Nacional Curricular e o Referencial
Curricular Gauacutecho que vem de encontro com esta proposta de se estudar a histoacuteria
sobre novos olhares natildeo esquecendo das especificidades regionais do estado do
Rio Grande do Sul para o reconhecimento da identidade local e regional
A identidade local nesta pesquisa se buscou atraveacutes de relatos de
moradores locais que gentilmente colaboraram para o sucesso deste trabalho pois
a memoacuteria se tornou a fonte primordial para se escrever o que identifica os sete
distritos que constituem Satildeo Francisco de Paula Certamente a temaacutetica natildeo se
esgotou ainda haacute muito que se pesquisar e escrever sobre a histoacuteria de Satildeo
Francisco de Paula possibilitando a criaccedilatildeo de novos materiais que possam ser
usados em sala de aula pelos professores e alunos deste municiacutepio
Mas ao mesmo tempo haacute uma preocupaccedilatildeo por parte da autora nada
adianta criar produtos sinalizar novos meacutetodos ao ensino de Histoacuteria se o
profissional professor natildeo estiver preparado para trabalhar com novas fontes
histoacutericas novas metodologias de ensino proporcionando aos estudantes a
oportunidade de construir seu proacuteprio conhecimento histoacuterico embasado em sua
realidade e suas vivecircncias
Vivecircncias que se tornaram aliadas na pesquisa pois a autora nasceu e
sempre viveu no municiacutepio de Satildeo Francisco de Paula poreacutem a maior dificuldade
encontrada nesta caminhada foi percorrer grandes distacircncias por estradas de
rodagem em peacutessimas condiccedilotildees de trafegabilidade para gravar os relatos que
servem de base para a construccedilatildeo desta pesquisa O municiacutepio de Satildeo Francisco de
Paula eacute territorialmente extenso e essas distacircncias percorridas deram o nome ao
produto Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula como uma homenagem
aos antigos tropeiros deste municiacutepio que passavam boa parte de sua vida ao
lombo de mulas levando e buscando mercadorias pelos campos de cima da serra
Visto que desde o processo seletivo do mestrado em agosto de 2016
quando se apresentou o projeto de pesquisa jaacute se pensava no produto um livro
paradidaacutetico no formato fiacutesico A autora por diversas vezes foi questionada por que
natildeo um blog ou site Porque na forma fiacutesica este material seria de faacutecil manuseio
pelos estudantes e professores pois principalmente no interior uso da internet ainda
eacute um problema visto que em muitos locais natildeo existe sinal de telefonia diraacute
internet
88
O paradidaacutetico foi se moldando ao longo do tempo ateacute se chegar a versatildeo
final com uma ampla gama de informaccedilotildees e curiosidades sobre os sete distritos de
Satildeo Francisco de Paula onde se pretende que os alunos e professores possam
fazer uso deste material em sala de aula para tanto a autora pretende
posteriormente lanccedilar o produto para que possa ser lido e manuseado por todos
inclusive por aqueles que gostam de histoacuteria e sentem curiosidade sobre a formaccedilatildeo
do seu distrito e por conseguinte do municiacutepio de Satildeo Francisco de Paula
O paradidaacutetico foi testado em duas turmas da Escola Estadual de Ensino
Meacutedio Lajeado Grande sendo uma de Ensino Meacutedio e a outra das seacuteries finais do
Ensino Fundamental Os alunos jaacute detinham o conhecimento que a autora estava
cursando o Mestrado e que para sua conclusatildeo deveria apresentar um produto Era
de conhecimento de todos os estudantes que a autora estava produzindo um
paradidaacutetico sobre a histoacuteria de Satildeo Francisco de Paula pois a mesma eacute professora
destes estudantes nesta escola
Em um primeiro momento se explica que eacute apenas um protoacutetipo que
somente a capa estaacute colorida e o restante estaacute todo em preto e branco e que a
versatildeo final teraacute as imagens e as curiosidades coloridas o que com certeza
chamaraacute mais atenccedilatildeo Ao entregar o paradidaacutetico Tropeando Histoacuterias em Satildeo
Francisco de Paula para que possam manuseaacute-lo veio a primeira grande surpresa
os estudantes ficaram muito contentes por a turma ter sido escolhida pela autora
escolha essa que se justifica por ter trabalhado todo o ano de 2017 com estes
alunos partindo da histoacuteria local
A turma do oitavo ano do Ensino Fundamental manuseou sendo que os
alunos acharam interessante poreacutem se deteram mais nas imagens e balotildees do
ldquovocecirc sabiardquo Mas de maneira ampla e geral acharam muito interessante a foto de
capa com o Monumento aos Carreteiros situado na Avenida Juacutelio de Castilhos em
frente ao preacutedio da Prefeitura Municipal pois alguns natildeo conhecem a Sede do
municiacutepio
Os alunos do segundo ano do Ensino Meacutedio se surpreenderam e foram direto
ler sobre o distrito no qual residem Interessados questionaram sobre curiosidades
de como o material foi construiacutedo quais as maiores dificuldades encontradas
elogiaram o leiaute as imagens de fundo ao lado de cada curiosidade relatando que
chama a atenccedilatildeo aleacutem de considerarem relevantes as sugestotildees de atividades e
ao final solicitaram quando o material estaraacute disponiacutevel para que possam ler
89
integralmente visto que um periacuteodo de cinquenta minutos natildeo foi suficiente para que
todos manuseassem se fazendo necessaacuterio levar novamente na proacutexima aula
A autora se sentiu motivada pela recepccedilatildeo do produto por seus alunos o que
a incentiva continuar pesquisando sobre outras temaacuteticas a respeito da histoacuteria de
Satildeo Francisco de Paula trazendo para seu fazer pedagoacutegico novas fontes que
proporcionem um estudo da Histoacuteria de maneira ampla e contextualizada com a
realidade local que os cerca
90
REFEREcircNCIAS
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Jornal Satildeo Chico Tchecirc n 12 do dia 28 de maio de 1986
Jornal Pioneiro versatildeo digital do dia 02 de junho de 2017
Entrevistas
Amaacutelia Celuderes Cardoso residente no distrito de Lajeado Grande Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 08 de marccedilo de 2018
Blair dos Santos Fogaccedila residente no distrito de Lajeado Grande Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 06 de abril de 2018
Ceacutelia Pacheco Terres Basso residente no distrito de Cazuza Ferreira Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 04 de agosto de 2018
Darci da Silva Fagundes residente no distrito de Tainhas Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 24 de fevereiro de 2018
Deotildes Palhano dos Santos residente no distrito do Juaacute Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 12 de maio de 2018
Jaures Feijoacute Gomes residente no distrito de Eletra Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 15 de fevereiro de 2018
Luciana Olga Soares residente no distrito Sede Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 01 de marccedilo de 2018
Maria Madalena Scalco Faciole residente no distrito do Rincatildeo dos Kroeff Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 18 de marccedilo de 2018
Moacir Castello Branco de Albuquerque residente no distrito Sede Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 06 abril de 2018
95
Nauro Bossle de Andrade residente no distrito de Cazuza Ferreira Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 04 de marccedilo de 2018
Orides Reis residente no distrito do Juaacute Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 12 de maio de 2018
Reinaldo Faciole residente no distrito do Rincatildeo dos Kroeff Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 18 de marccedilo de 2018
Susana Marques Soares residente no distrito de Eletra Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 15 de fevereiro de 2018
96
APEcircNDICES
97
APEcircNDICE A ndash ENTREVISTA COM MORADORES LOCAIS DOS DISTRITOS DE
SAtildeO FRANCISCO DE PAULA
UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL
PROGRAMA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO EM HISTOacuteRIA ndash MESTRADO EM HISTOacuteRIA PROFISSIONAL
PESQUISA DE CAMPO ndash TATIANA MEacuteLO CARDOSO
1 Nome completo
2 Idade
3 Quantos anos reside neste distrito
4 Como se formou este distrito
5 Por que ele tem esse nome
6 Quem foram os primeiros moradores
7 Como era a vida aqui haacute tempos atraacutes
8 O que mudou aqui com o passar dos anos
9 O que identifica este lugar
10 As pessoas hoje que moram aqui na grande maioria satildeo naturais daqui ou vieram
de onde
11 A(o) Sra(Sr) acredita que as futuras geraccedilotildees valorizaram eou conheceram a
histoacuteria local ou vai se perder no tempo
12 Como funcionava a questatildeo do ensino em meados do seacuteculo XX havia escola na
localidade
13 Qual a primeira escola deste distrito data de fundaccedilatildeo local de funcionamento e a
primeira professora
14 Achas importante trabalhar nas escolas a histoacuteria do lugar
15 O que eacute tradiccedilatildeo deste distrito
16 Qual eacute a fonte de renda das pessoas no que elas trabalham
17 Qual eacute o lazer das pessoas aqui
98
APEcircNDICE B ndash TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Declaro por meio deste termo que concordei em ser entrevistado(a) eou participar na
pesquisa de campo referente ao projetopesquisa Ensino de Histoacuteria Local e o Paradidaacutetico
caso Satildeo Francisco de Paula desenvolvida pela aluna Tatiana Meacutelo Cardoso do Programa de
Poacutes-Graduaccedilatildeo em Histoacuteria ndash Mestrado Profissional da Universidade de Caxias de Sul Fui
informado(a) que poderei consultaacute-la a qualquer momento que julgar necessaacuterio atraveacutes do e-
mail t_ati_mhotmailcom
Afirmo que aceitei participar por minha proacutepria vontade sem receber qualquer
incentivo financeiro ou ter qualquer ocircnus e com a finalidade exclusiva de colaborar para o
sucesso da pesquisa Fui informado(a) dos objetivos estritamente acadecircmicos de estudo
Minha colaboraccedilatildeo natildeo ficaraacute anocircnima e foi realizada por meio de entrevista
semiestruturada A anaacutelise dos dados obtidos seratildeo divulgados natildeo permanecendo restritas
apenas a pesquisadora eou seu(s) orientador(es) coordenador(es)
Fui ainda informado(a) de que posso me retirar desse(a) estudopesquisa programa a
qualquer momento sem prejuiacutezo para meu acompanhamento ou sofrer quaisquer sanccedilotildees ou
constrangimentos Atesto recebimento de uma coacutepia assinada deste Termo de Consentimento
Livre e Esclarecido
Satildeo Francisco de Paula ___ de _____________ de ____
Assinatura do(a) participante
Assinatura do responsaacutevel
RESUMO
A presente dissertaccedilatildeo aborda o ensino de Histoacuteria em Satildeo Francisco de Paula Rio Grande do Sul tendo como princiacutepio que o ensino de Histoacuteria partindo do local se torna mais significativo aos estudantes da educaccedilatildeo baacutesica Para a construccedilatildeo dessa pesquisa se utilizaram diferentes abordagens metodoloacutegicas tais como documentos da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul jornais fontes bibliograacuteficas imagens e depoimentos orais O estudo procurou abordar a construccedilatildeo do municiacutepio bem como o que identifica os sete distritos pertencentes a Satildeo Francisco Paula Como resultado se cria um paradidaacutetico fiacutesico com textos imagens curiosidades sugestotildees de atividades e leituras complementares que serviraacute de apoio pedagoacutegico aos professores e estudantes da educaccedilatildeo baacutesica Espera-se que este material possa servir de pesquisa a todos os interessados
Palavras-chave Ensino de Histoacuteria Satildeo Francisco de Paula Identidade
ABSTRACT
This dissertation deals with History teaching in Satildeo Francisco de Paula Rio Grande do Sul with the principle that History Teaching from the place becomes more meaningful to students of basic education For the construction of this research different methodological approaches are used such as documents of the Legislative Assembly of Rio Grande do Sul newspapers bibliographic sources images and oral testimony The study sought to address the construction of the municipality as well which identifies the seven districts belonging to San Francisco Paula As a result a physical paradidaacutetico is created with texts images curiosities suggestions of activities and complementary readings that will serve as pedagogical support to teachers and students of basic education It is hoped that this material can serve as a research to all interested parties
Keywords Teaching History Satildeo Francisco de Paula Identity
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 ndash Mapa de Identificaccedilatildeo das Sesmarias Serranas 26
Figura 2 ndash Divisatildeo Municipal em 1809 ndash Proviacutencia Satildeo Pedro do Rio Grande do Sul
28
Figura 3 ndash Vista da vila de Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra (1901) 29
Figura 4 ndash Vista Avenida Juacutelio de Castilhos (1923) 30
Figura 5 ndash Abertura da estrada ERS-020 Taquara ndash Satildeo Francisco de Paula de
Cima da Serra 31
Figura 6 ndash Accedilougue Central 33
Figura 7 ndash Igreja Matriz em 1931 34
Figura 8 ndash Igreja Matriz 34
Figura 9 ndash Mapa de localizaccedilatildeo de Satildeo Francisco de Paula 36
Figura 10 ndash Patroa Neuza Reis e sua Comissatildeo 39
Figura 11 ndash Gonzaga dos Reis 48
Figura 12 ndash Outdoor entrada da cidade na ERS-020 50
Figura 13 ndash Praccedila Central de Cazuza Ferreira 52
Figura 14 ndash Hotel do Campo 54
Figura 15 ndash Flacircmula de comemoraccedilatildeo aos 50 anos da entidade 57
Figura 16 ndash Barragem do Salto 58
Figura 17 ndash Igreja Santo Antocircnio ndash Distrito de Eletra 61
Figura 18 ndash Peacute com a fruta conhecido como Juaacute 63
Figura 19 ndash Praccedila Vila do Distrito Juaacute ao fundo cancha de laccedilo 65
Figura 20 ndash Imagem da Igreja Satildeo Roque em dia de festa no Rincatildeo dos Kroeff 69
Figura 21 ndash Imagem do Casaratildeo pouco antes de ser desmanchado 71
Figura 22 ndash Capa do livro 75
Figura 23 ndash Iacutendice do livro 76
Figura 24 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 1) 77
Figura 25 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 1) 78
Figura 26 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 2) 79
Figura 27 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 3) 80
Figura 28 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 4) 81
Figura 29 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 6) 82
Figura 30 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 8) 83
Figura 31 ndash Atividade do livro (Sugestatildeo de Leituras Complementares) 84
Figura 32 ndash Alunos do Ensino Meacutedio 85
SUMAacuteRIO
1 INTRODUCcedilAtildeO 11
2 HISTOacuteRIA LOCAL E O ENSINO DE HISTOacuteRIA NA SALA DE AULA 17
3 SAtildeO FRANCISCO DE PAULA CONSTRUCcedilAtildeO DO MUNICIacutePIO 24
31 CONVERSA COM MEMORIALISTAS 25
32 AMPLIANDO O DIAacuteLOGO COM OS MEMORIALISTAS 28
4 SAtildeO FRANCISCO DE PAULA DISTRITOS EM FOCO 41
41 DISTRITO SEDE 42
42 DISTRITO DE CAZUZA FERREIRA 51
43 DISTRITO DE TAINHAS 55
44 DISTRITO DE ELETRA 58
45 DISTRITO DO JUAacute 62
46 DISTRITO DO RINCAtildeO DOS KROEFF 66
47 DISTRITO DE LAJEADO GRANDE 70
5 DESCRICcedilAtildeO DO PRODUTO 74
6 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 86
REFEREcircNCIAS 90
FONTES CONSULTADAS 94
APEcircNDICES 96
APEcircNDICE A ndash ENTREVISTA COM MORADORES LOCAIS DOS DISTRITOS DE
SAtildeO FRANCISCO DE PAULA 97
APEcircNDICE B ndash TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO 98
11
1 INTRODUCcedilAtildeO
Os meacutetodos de ensino de Histoacuteria no Brasil vem sendo discutidos desde sua
criaccedilatildeo como disciplina Segundo Nadai (1992-1993 p 144) a introduccedilatildeo de
Histoacuteria no curriacuteculo ocorre na terceira metade do seacuteculo XIX no Brasil sendo que
desde entatildeo passa por diversas modificaccedilotildees Segundo Schmidt e Cainelli (2009)
os meacutetodos foram se adequando ao momento histoacuterico brasileiro em um primeiro
momento ensinou-se a histoacuteria da Europa Ocidental como a verdadeira histoacuteria da
civilizaccedilatildeo uma histoacuteria abstrata sem relaccedilatildeo com a vida do aluno Nadai (1992-
1993 p 146) acrescenta que ldquoa histoacuteria da paacutetria surgia como seu apecircndice sem
corpo autocircnomo e ocupando um papel extremamente secundaacuterio consistia num
repositoacuterio de biografias de homens ilustres de datas e batalhasrdquo
Poreacutem a partir de 1860 segundo Schmidt e Cainelli (2009 p 12-13) ldquono
periacuteodo republicano a incorporaccedilatildeo da concepccedilatildeo de que a disciplina Histoacuteria tinha
a responsabilidade de formar cidadatildeos ganha forccedilardquo sendo assim as escolas
primaacuterias e secundaacuterias comeccedilaram incluir em seus programas a histoacuteria nacional
com o intuito da formaccedilatildeo da nacionalidade sendo a paacutetria com seus heroacuteis o
principal foco Desta forma a criaccedilatildeo das diretrizes da Lei de Educaccedilatildeo nordm 569271
reforccedila o modelo jaacute instaurado
Foi oficializado o ensino de Estudos Sociais nas escolas brasileiras ficando os conteuacutedos especiacuteficos da Histoacuteria destinados somente aos alunos do antigo segundo grau A concepccedilatildeo e os conteuacutedos da Histoacuteria continuavam atrelados agraves concepccedilotildees tradicionais (SCHMIDT CAINELLI 2009 p 13)
Com a redemocratizaccedilatildeo na deacutecada de 1980 houve inuacutemeras discussotildees
que elencaram inuacutemeras abordagens e temaacuteticas para o ensino da Histoacuteria na
atualidade as novas tendecircncias se preocupam com a transposiccedilatildeo didaacutetica
valorizando documentos histoacutericos e incorporando novas linguagens e tecnologias
que permitem discussotildees e autonomia de pensamento Neste sentido as novas
concepccedilotildees de ensino de Histoacuteria ao final do seacuteculo XX abrem a possibilidade de
uma nova praacutetica didaacutetica que segundo Azevedo e Stamatto (2010 p 709) ldquobusca
problematizar a relaccedilatildeo passado-presente e em geral tomam a realidade do aluno
como ponto de partidardquo
Por se acreditar em um ensino de Histoacuteria onde a aprendizagem natildeo ocorre
em periacuteodos estanques de forma abstrata e sem relaccedilatildeo com o presente ou seja
12
apresentando de forma linear sem que haja contextualizaccedilatildeo sendo apresentada
atraveacutes de leitura de textos eou resumos permeando com atividades que muitas
vezes natildeo permitem um desenvolvimento de raciociacutenio histoacuterico que contribua para
a construccedilatildeo da cidadania Torna-se urgente pensar em um ensino voltado para a
inclusatildeo de novas contribuiccedilotildees historiograacuteficas como a histoacuteria cultural econocircmica
e social buscando na realidade local subsiacutedios para a aprendizagem Por isso a
presente dissertaccedilatildeo traz a didatizaccedilatildeo da histoacuteria de Satildeo Francisco de Paula visto
que a questatildeo-problema estaacute vinculada ao natildeo uso da histoacuteria local no ensino de
Histoacuteria deste municiacutepio e o pouco material disponiacutevel para o uso dos professores
Parte-se do pressuposto que ao abranger a histoacuteria local os sujeitos se veem como
partiacutecipes desta histoacuteria estudada significando e ressignificando conceitos
histoacutericos
Corroborando com este estudo Cunha (2016) traz consideraccedilotildees importantes
relacionadas ao uso da histoacuteria local O autor aborda como algo essencial para
compreensatildeo da histoacuteria geral na educaccedilatildeo baacutesica o uso da histoacuteria local o que
proporcionaria aos estudantes o reconhecimento como cidadatildeo e a percepccedilatildeo e
identificaccedilatildeo dos lugares de memoacuteria por parte dos alunos bem como o sentimento
de pertencimento do local Desta forma despertaria no aluno o interesse por um
passado aparentemente desligado de sua realidade estabelecendo relaccedilotildees com o
seu cotidiano
Desta maneira acredita-se que os estudantes da educaccedilatildeo baacutesica
compreenderatildeo a histoacuteria como algo que faz parte de suas vidas tornando-se assim
sujeitos da histoacuteria pois se haacute reconhecimento haveraacute tambeacutem o sentimento de
pertencimento que poderaacute ajudaacute-los a manter ou modificar a realidade que os cerca
Assim descrevem Schmidt e Cainelli
Esse sentido do ensinar Histoacuteria natildeo significaria natildeo ter conteuacutedos para serem ensinados mas olhar para estes conteuacutedos a partir da possibilidade de construir com os alunos novas questotildees diante de conteuacutedos e temas propostos pela historiografia Aprender histoacuteria eacute discutir evidecircncias levantar hipoacuteteses dialogar com os sujeitos os tempos e os espaccedilos histoacutericos Eacute olhar para o outro em tempos e espaccedilos diversos (SCHMIDT CAINELLI 2009 p 20)
Dentro desta perspectiva o reconhecimento da memoacuteria social se faz
importante visto que se necessita invocaacute-la para que um determinado grupo ou local
reconheccedila sua identidade social Atraveacutes de entrevistas com moradores de Satildeo
13
Francisco de Paula se invoca a memoacuteria coletiva na busca da identidade dos sete
distritos deste municiacutepio Visto que a histoacuteria de Satildeo Francisco de Paula se inicia por
volta do seacuteculo XVIII quando se datam as primeiras sesmarias1 concedidas ao
capitatildeo Pedro da Silva Chaves Posteriormente o capitatildeo doa parte de suas terras
para a construccedilatildeo do povoado que recebe o nome de Satildeo Francisco de Paula de
Cima da Serra por este ser devoto do Santo Satildeo Francisco Reza no testamento do
capitatildeo Pedro da Silva Chaves que um de seus filhos foi o primeiro paacuteroco a rezar
missa no povoado Satildeo Francisco de Paula pertenceu a Santo Antocircnio da Patrulha
e mais tarde a Taquara emancipando-se em 1902
Haacute pouca bibliografia sobre a histoacuteria de Satildeo Francisco de Paula o que existe
satildeo livros escritos por memorialistas onde se percebe a prioridade pela histoacuteria do
fundador ou seja do Capitatildeo Pedro da Silva Chaves dos iacutendios Caaguaraacutes que
habitavam a regiatildeo assim como os aspectos poliacuteticos administrativos Alguns destes
livros apresentam uma siacutentese cronoloacutegica de fatos importantes e descrevem
superficialmente o jeito de viver do povo serrano2 Mas a histoacuteria de Satildeo Francisco
de Paula estaacute repleta de diferentes identidades que identificam a Sede3 e o Interior4
deste municiacutepio e formam o jeito de viver do seu povo A natildeo exploraccedilatildeo de
elementos culturais que se fazem importantes para a construccedilatildeo de identidade
destes lugares minimiza as memoacuterias e as tradiccedilotildees que ali se apresentam visto
que
as constantes novidades em diferentes campos do saber os avanccedilos da tecnologia as infinitas possibilidades de comunicaccedilatildeo simultacircnea tecircm provocado sobretudo nas novas geraccedilotildees uma sensaccedilatildeo de que o mundo em que se vive eacute dotado de um temporalidade constituiacuteda por um tempo presente contiacutenuo (FIGUEIRA MIRANDA 2012 p 46)
Neste sentido fez-se uso de diferentes fontes para a construccedilatildeo do produto
desta dissertaccedilatildeo que consiste de um paradidaacutetico que possa servir como um
1 Sesmaria Terreno sem culturas ou abandonado que a antiga legislaccedilatildeo portuguesa com base em
praacuteticas medievais determinava que fosse entregue a quem se comprometesse a cultivaacute-lo 2 Serrano gentiacutelico de quem nasce em Satildeo Francisco de Paula 3 Sede distrito criado em 07 de janeiro de 1903 na mesma data da instalaccedilatildeo oficial do Municiacutepio Eacute
o distrito onde se localiza a Prefeitura Municipal Foacuterum agecircncias bancaacuterias loteacutericas hospital casas comerciais e residecircncias particulares Normalmente os moradores do interior quando vatildeo ao distrito se referem como ldquovou a Satildeo Chicordquo e natildeo como ldquovou a Sederdquo
4 Interior Cazuza Ferreira Juaacute Eletra Rincatildeo dos Kroeff Tainhas e Lajeado Grande satildeo distritos que ficam na zona rural apesar de todos terem uma pequena vila que possui pouca infraestrutura Alguns destes distritos ainda usam aacutegua de vertentes sem nenhuma rede de esgoto pois natildeo possuem aacutegua fornecida pela Companhia de Aacutegua e Saneamento (CORSAN)
14
material disponiacutevel a alunos e professores no ensino de Histoacuteria de Satildeo Francisco
de Paula Segundo Munakata entendem-se como paradidaacuteticos
Livros que sem apresentar caracteriacutesticas proacuteprias dos didaacuteticos satildeo adotados no processo de ensino e aprendizagem nas escolas seja como material de consulta do professor seja como material de pesquisa e de apoio agraves atividades do educando (MUNAKATA 1997 p 103)
Para a construccedilatildeo do paradidaacutetico fez-se uso de bibliografias jaacute existentes
jornais e documentos da Assembleia da Legislativa bem como o uso da histoacuteria
oral sendo as entrevistas a fonte primordial para escrever sobre as semelhanccedilas e
diferenccedilas existentes no modo de vida da populaccedilatildeo de Satildeo Francisco de Paula
visto que os depoimentos satildeo importantes na preservaccedilatildeo das memoacuterias tradiccedilotildees
bem como das heranccedilas identitaacuterias Neste sentido Delgado (2003 p 23) discorre
ldquonarrativas memoacuterias histoacuterias e identidades satildeo a humanidade em movimento
Satildeo o olhar que permeiam tempos heterogecircnicos Satildeo a histoacuteria em construccedilatildeo Satildeo
memoacuterias que falamrdquo
Portanto a histoacuteria oral busca registrar as vivecircncias e lembranccedilas de um
determinado grupo Alberti (2008 p 29) assim define ldquohistoacuteria oral natildeo eacute um fim em
si mesma e sim um meio de conhecimentordquo Quando se trabalha com a histoacuteria
oral se faz necessaacuterio valorizar a memoacuteria as identidades e tradiccedilotildees pois estas
formam a histoacuteria local ou seja a histoacuteria dos indiviacuteduos que ali vivem Halbwachs
(2004) afirma que com a perda da memoacuteria coletiva tambeacutem se perdem as
tradiccedilotildees locais tradiccedilotildees essas que identificam o modo de viver de um determinado
local Hobsbawn e Ranger entendem que as tradiccedilotildees podem ou natildeo ser
inventadas
Tradiccedilatildeo inventada entende-se um conjunto de praacuteticas normalmente reguladas por regras taacutecitas ou abertamente aceitas tais praacuteticas de natureza ritual ou simboacutelica visam inculcar certos valores e normas de comportamento atraveacutes da repeticcedilatildeo o que implica automaticamente uma continuidade com relaccedilatildeo ao passado (HOBSBAWN RANGER 2015 p 8)
Hobsbawn e Ranger (2015) ainda acrescem que a criaccedilatildeo de uma tradiccedilatildeo
independe da imposiccedilatildeo de uma nova tradiccedilatildeo o que normalmente ocorre eacute uma
rebeliatildeo cultural que precede da elaboraccedilatildeo de novas tradiccedilotildees que satildeo adotadas
pela populaccedilatildeo e com o tempo passam a se tornar tradiccedilotildees daquele local
formando a identidade local
15
Neste sentido Hall (2011 p 39) discorre que ldquoas identidades satildeo fabricadas
por meio da marcaccedilatildeo da diferenccedilardquo O autor ainda acresce que ldquoa diferenccedila eacute aquilo
que separa uma identidade da outrardquo (HALL 2011 p 41) Dentro desta perspectiva
a memoacuteria que se apresenta atraveacutes de siacutembolos ou tradiccedilotildees respalda a
construccedilatildeo da identidade do povo de Satildeo Francisco de Paula visto que a memoacuteria eacute
a construccedilatildeo do passado de maneira atualizada e renovada no tempo presente
Assim Halbwachs (2004 p 64) descreve que ldquonatildeo eacute na histoacuteria aprendida eacute na
histoacuteria vivida que se apoia nossa memoacuteriardquo Nessa loacutegica o autor ainda descreve
que ldquoo mundo histoacuterico eacute como um oceano onde afluem todas as histoacuterias parciaisrdquo
(p 90)
O municiacutepio de Satildeo Francisco de Paula eacute repleto de tradiccedilotildees que perpassam
o tempo que estatildeo enraizadas no jeito serrano de ser formando a sua identidade
Portanto a histoacuteria de Satildeo Francisco de Paula descrita nesta dissertaccedilatildeo seraacute
apresentada em quatro capiacutetulos
O capiacutetulo dois apresenta a discussatildeo teoacuterica metodoloacutegica sobre a
importacircncia do ensino da Histoacuteria local na sala de aula Tambeacutem conceitos como
memoacuteria e identidade e a importacircncia de se abordar o local em prol do global
No capiacutetulo trecircs aborda-se a construccedilatildeo histoacuterica do municiacutepio de Satildeo
Francisco de Paula que vai desde a chegada do colonizador nesta terra ateacute as
instituiccedilotildees que se formam ao longo do tempo Para isso se faz uso de bibliografias
jaacute existentes como Lucena (1971) Oliveira (1996) Teixeira (2002) Ribeiro (2003)
Alves (2007) e Fonseca (2012) sendo todas essas obras importantes para Satildeo
Francisco de Paula visto que cada uma traz consigo um pouco da histoacuteria deste
municiacutepio poreacutem sente-se falta da identidade e da memoacuteria na construccedilatildeo histoacuterica
As obras satildeo apresentadas sob o mesmo prisma apresentando os iacutendios Caaguaraacutes
e o Capitatildeo Pedro da Silva Chaves os fundadores desta terra dando bastante
ecircnfase aos sobrenomes que ali se desenvolveram Tambeacutem se fez uso de
documentos da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul aleacutem de jornais
encontrados no Arquivo Histoacuterico de Satildeo Francisco de Paula
No capiacutetulo quatro utiliza-se da fonte oral para que sejam identificadas as
diferentes tradiccedilotildees e versotildees da histoacuteria local ou seja a identidade de cada distrito
constituindo assim as particularidades que constroem o municiacutepio de Satildeo Francisco
de Paula Para tanto buscaram-se depoentes nas vilas dos distritos sendo que a
escolha se deu por duas pessoas por distrito sendo um homem e uma mulher
16
totalizando treze depoentes todos da terceira idade pois segundo Bosi (1994 p
82) ldquoum mundo social que possui uma riqueza e uma diversidade que natildeo
conhecemos pode chegar-nos pela memoacuteria dos velhosrdquo memoacuterias estas
construiacutedas por suas vivecircncias neste local o que justifica a relevacircncia dos
depoimentos para a construccedilatildeo do trabalho
O capiacutetulo cinco apresenta uma descriccedilatildeo do produto que consiste em um
paradidaacutetico em forma fiacutesica abordando a histoacuteria de Satildeo Francisco de Paula A
escolha pelo formato fiacutesico acontece pelas dificuldades encontradas no interior dos
distritos com o acesso agrave internet assim se pensa que o formato fiacutesico abrangeraacute um
nuacutemero maior de alunos e professores
Para tanto utiliza-se a metodologia da Histoacuteria oral para escrever a memoacuteria
e as percepccedilotildees das pessoas que habitam este local Hobsbawn e Ranger (1995 p
103) escrevem que ldquoessa proximidade entre o periacuteodo analisado e sua histoacuteria
pessoal eacute o pano de fundo para a discussatildeo de alguns problemas que qualquer
historiador enfrenta ao escrever sobre seu proacuteprio tempordquo pois a sensibilidade do
historiador vai escrever sua narrativa Em outras palavras Hobsbawn e Ranger
(1995 p 104) explicam que ldquocada historiador tem sua proacutepria vida um lugar privado
a partir do qual inspeciona o mundordquo Tambeacutem afirmam
Para aqueles que querem escrever a histoacuteria do seacuteculo XX uma das mais importantes reside no simples fato de saber sem nenhum esforccedilo especial o quanto as coisas se modificaram Os uacuteltimos trinta ou quarenta anos foram os mais revolucionaacuterios da histoacuteria O mundo ou seja a vida dos homens e mulheres que vivem na Terra nunca foi transformada de maneira tatildeo profunda dramaacutetica e extraordinaacuteria dentro de um periacuteodo tatildeo curto As geraccedilotildees que natildeo viram como o mundo era antes tecircm dificuldade em perceber isso intuitivamente (HOBSBAWN RANGER 1995 p 107)
Portanto se faz importante perceber que o mundo vem se transformando de
maneira raacutepida modificando a vida das pessoas e por conseguinte as tradiccedilotildees e
identidades locais pois estas comunidades natildeo vivem de forma isolada e sofreram
influecircncias jaacute que a cultura natildeo eacute estagnada estaacute sempre em constante movimento
juntamente com as pessoas
17
2 HISTOacuteRIA LOCAL E O ENSINO DE HISTOacuteRIA NA SALA DE AULA
Discutir o ensino de Histoacuteria na educaccedilatildeo baacutesica e a relaccedilatildeo do mesmo com a
histoacuteria local se faz bastante importante para que a cada dia se possa melhorar as
praacuteticas pedagoacutegicas Neste sentido se busca respaldo em diferentes bibliografias
que possam embasar novos afazeres dentro do espaccedilo da sala de aula e
proporcionar ao estudante um novo olhar sobre a histoacuteria um olhar de sujeito ativo
dentro desse processo de ensino aprendizagem
Pois quando a Histoacuteria eacute ensinada como algo certo e imutaacutevel de maneira
fragmentada voltada para linearidade e memorizaccedilatildeo de fatos e datas reforccedila o
que Mendes (1935) e Schmidt e Cainelli (2009) defendem que realmente eacute odiosa a
histoacuteria ensinada por este vieacutes Percebe-se que o ensino de histoacuteria linear nos
moldes europeus positivistas jaacute natildeo daacute mais conta da importacircncia da histoacuteria para a
sociedade atual porque eacute apresentada aos alunos atraveacutes de datas e fatos escrita
pelo vieacutes de uma elite que normalmente eacute branca e deteacutem o poder poliacutetico eou
econocircmico Eacute inconcebiacutevel que se permaneccedila com um ensino de Histoacuteria que natildeo
serve natildeo motiva e segundo Ruumlsen (2001 p 25) ainda ldquoirracionalizardquo sendo esse
modelo muito frequente nas escolas de educaccedilatildeo baacutesica brasileiras
Natildeo eacute por outro motivo que observamos ainda nas uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo XX que para a maior parte dos estudantes brasileiros o estudo de histoacuteria carece de sentido ou utilidade natildeo se tem a visatildeo de ciecircncia e sim de uma mateacuteria decorativa estudo do passado que soacute exige como vimos a prontidatildeo em declinar nomes datas e fatos Natildeo eacute de se estranhar que assim seja porque ocorre a enorme distacircncia entre a realidade vivenciada pela comunidade e o tratamento dado ao ensino de Histoacuteria jaacute que o aluno se torna mero espectador de fatos natildeo necessitando esforccedilos no sentido de qualquer reflexatildeo ou elaboraccedilatildeo (BARBOSA 2006 p 58)
O ensinar da histoacuteria de forma abstrata fragmentada dificulta a compreensatildeo
do processo histoacuterico no sentido que se estuda os fatos isolados ao seu tempo
como se um fato precisasse terminar para iniciar outro Em outras palavras este
meacutetodo de ensino natildeo daacute a noccedilatildeo de continuidade ou seja a histoacuteria perdeu seu
sentido baacutesico que eacute a compreensatildeo do contexto global dos fatos considerando que
o ensino de Histoacuteria por muitas vezes eacute estanque sem uma relaccedilatildeo ldquopresente x
passadordquo sendo de suma importacircncia o despertar de uma consciecircncia criacutetica por
parte do estudante Por isso ao longo do tempo o ensino sofre influecircncia por parte
do ldquopoderrdquo segundo Laville (1999 p 128) ldquoa Histoacuteria eacute certamente a uacutenica disciplina
18
escolar que recebe intervenccedilotildees diretas dos altos dirigentes e a consideraccedilatildeo ativa
dos parlamentos Isso mostra quatildeo importante eacute ela para o poderrdquo Nesta linha o
autor ainda acrescenta que ldquoa narrativa histoacuterica pode tambeacutem ser vista como uma
tomada de poder por grupos sem poderrdquo (LAVILLE 1999 p 129)
Na busca de modificar esse modelo surgem novos meacutetodos que valorizam o
uso do documento histoacuterico e a incorporaccedilatildeo de novas tecnologias de acordo com
Azevedo e Stamatto (2010 p 720) ldquotem o desafio de responder a inquietaccedilotildees do
hojerdquo Partindo deste pressuposto haacute possibilidade de se modificar o ensino da
Histoacuteria que ateacute entatildeo estava voltado agrave memorizaccedilatildeo para um modelo onde o
sujeito seja agente deste processo
Ensinar Histoacuteria como algo pronto e acabado [] sem levar em conta o contexto e os sujeitos envolvidos no processo de ensino aprendizagem pode levar a um ensino que natildeo desenvolve o que eacute mais importante como funccedilatildeo do ensinar histoacuteria que orientar os problemas da vida praacutetica (SCHMIDT CAINELLI 2009 p 20)
Assim Seffner (2013 p 51) acrescenta que ldquoo ensino de Histoacuteria eacute um ensino
de situaccedilotildees histoacutericas Mais do que nomes datas e acontecimentos o professor
deve propiciar ao aluno a compreensatildeo de como se estrutura uma dada situaccedilatildeordquo
Para que o ensino de Histoacuteria seja ressignificado existe a necessidade de anaacutelise
do processo histoacuterico problematizando os fatos no vai e vem do presentepassado
Os estudantes da educaccedilatildeo baacutesica necessitam compreender a histoacuteria como
um processo em constante transformaccedilatildeo que eacute movimentada por sujeitos que a
compotildeem com permanecircncias e rupturas ao longo dos tempos Segundo Bittencourt
(2004 p 168) ldquoa histoacuteria local tem sido indicada como necessaacuteria para o ensino por
possibilitar a compreensatildeo do alunordquo
Corroborando Seffner (2013) Souza (2015) e Brum (2015) evidenciam a
importacircncia de se trabalhar a histoacuteria global partindo de uma histoacuteria local
problematizando levando hipoacuteteses e analisando os fatos histoacutericos o que gera
significado para o educando e torna o docente natildeo mais um mero transmissor mas
um mediador deste conhecimento Neves (1997 p 22) reforccedila que ldquoo local fora do
contexto geral eacute apenas um fragmento e o geral sem o respaldo das realidades
locais eacute apenas uma abstraccedilatildeordquo Com esta nova abordagem o estudar Histoacuteria tem
sentido para o discente que se sente sujeito de sua proacutepria histoacuteria visto que
19
identificar-se com o local onde se vive ajuda a compreender o sentimento de
pertencimento e suas relaccedilotildees com o meio social e cultural no qual estaacute inserido
Nesta perspectiva faz-se necessaacuterio que os professores busquem novas
alternativas de ensino que proporcionem ao estudante a habilidade de ressignificar o
fato histoacuterico estudado
Ensinar Histoacuteria requer do professor a habilidade de buscar sentido e significado para o conhecimento que ministra e isso significa superar a mera transmissatildeo de informaccedilotildees jaacute que essa natildeo tem por finalidade o desenvolvimento intelectual mas ao contraacuterio deforma a capacidade de pensamento histoacuterico do aluno e a possibilidade de consolidar habilidades de anaacutelise da proacutepria realidade social (SILVA PORTO 2012 p 67)
Goubert assim define a histoacuteria local
Denominaremos histoacuteria local como aquela que diga respeito a uma ou poucas aldeias a uma cidade pequena ou meacutedia (um grande porto ou uma capital estatildeo aleacutem do acircmbito local) ou a uma aacuterea geograacutefica que natildeo seja maior do que a unidade provincial comum (como um county inglecircs um contado italiano uma Land alematilde uma bailiwick ou pays francecircs) Praticada haacute tempos atraacutes com cuidado zelo e ateacute orgulho a histoacuteria local foi mais tarde desprezada mdash principalmente nos seacuteculos XIX e primeira metade do XX mdash pelos partidaacuterios da histoacuteria geral A partir poreacutem da metade desse seacuteculo a histoacuteria local ressurgiu e adquiriu novo significado na verdade alguns chegam a afirmar que somente a histoacuteria local pode ser autecircntica e fundamentada (GOUBERT 1992 p 70)
Neste sentido fica evidente a importacircncia de se partir de uma histoacuteria local
para uma global Atraveacutes da histoacuteria local os estudantes teratildeo contato com sua
histoacuteria e poderatildeo se sentir parte integrante deste espaccedilo que muitas vezes por
falta de conhecimento acabam renegando sua proacutepria identidade Figueira e Miranda
(2012 p 113) afirmam que ldquoum dos efeitos mais danosos da globalizaccedilatildeo eacute a
universalizaccedilatildeo dos gostosrdquo isto implica diretamente na perda da identidade local
que muitas vezes estaacute sendo afetada pelas muacuteltiplas identidades existentes Neste
sentido Silva e Porto descrevem
A globalizaccedilatildeo entretanto produz diferentes resultados em termos de identidade A homogeneidade cultural promovida pelo mercado global pode levar ao distanciamento da identidade relativamente agrave comunidade e agrave cultura local (SILVA PORTO 2012 p 21)
Neste sentido Canclini acrescenta
Las comunidades de consumidores se organiza cada vez menos seguacuten diferencias nacionales y sobre todo en las generaciones joacutevenes definen sus praacutecticas culturales de acuerdo con informacioacuten y estilos homogeneizados (CANCLINI 1997 p 42)
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Globalizaccedilatildeo que impotildee atraveacutes dos meios de comunicaccedilatildeo e social uma
identidade geral que regra a sociedade seus haacutebitos e costumes Devido ao grande
movimento das pessoas pelo mundo perceber e manter uma identidade com
caracteriacutesticas locais fica a cada dia mais difiacutecil ainda mais em se tratando da
populaccedilatildeo jovem que natildeo reconhece ao seu redor o que representa a sua
identidade local
Valorar as experiecircncias locais proporcionaraacute aos estudantes uma nova
metodologia de abordar a histoacuteria
Do ponto de vista metodoloacutegico destaca-se nessa forma de abordagem a preocupaccedilatildeo com os conhecimentos preacutevios dos alunos com a problematizaccedilatildeo dos conteuacutedos de ensino selecionados para trabalho em sala de aula estabelecendo relaccedilotildees com o cotidiano dos alunos e com o cotidiano de outras pessoas em outros tempos e em outros lugares Enfatiza-se tambeacutem a busca de articulaccedilatildeo entre histoacuteria local e a histoacuteria universal (SCHMIDT 2007 p 193)
O ensino de histoacuteria partindo do local para o global possibilita segundo
Bittencourt (2004 p 168) ldquoa compreensatildeo do entorno do alunordquo sendo que um dos
aspectos relevantes para este ensino eacute a escolha de fontes que levem os estudantes
a se reconhecerem nesse processo histoacuterico O autor ainda acresce
Eacute pela memoacuteria que se chega agrave histoacuteria local Aleacutem da memoacuteria das pessoas escrita ou recuperada pela oralidade existem os lsquolugares de memoacuteriarsquo (grifo da autora) expressos por monumentos praccedilas edifiacutecios puacuteblicos ou privados mas preservados como patrimocircnio histoacuterico (BITTENCOURT 2004 p 169)
Esta memoacuteria vai contribuir para legitimaccedilatildeo da identidade local Sabe-se que
a identidade eacute algo mutaacutevel e segundo Silva e Porto (2012 p 38) ldquoas identidades
satildeo produzidas em momentos particulares no tempordquo O pesquisador ainda
acrescenta que ldquoas identidades satildeo contingentes emergindo em momentos
histoacutericos particularesrdquo Estas identidades precisam ser reconhecidas quando se fala
de histoacuteria local
Na mesma linha Ruumlsen descreve a identidade histoacuterica
Consiste na ampliaccedilatildeo do horizonte nas experiecircncias do tempo e nas intenccedilotildees acerca do tempo no qual os sujeitos agentes se asseguram da permanecircncia de si mesmos na evoluccedilatildeo do tempo O ponto extremo dessa consolidaccedilatildeo de identidade eacute a lsquohumanidadersquo como suprassumo dos pontos comuns em sociedade com respeito a diversos sujeitos agentes no processo de determinaccedilatildeo de suas proacuteprias identidades determinam as dos outros de forma tal que estes se reconhecem nelas Esse criteacuterio de sentido lsquohumanidadersquo fornece o paracircmetro para se constatar a consolidaccedilatildeo da
21
identidade em que desembocam o progresso contiacutenuo do conhecimento mediante a pesquisa histoacuterica e a ampliaccedilatildeo contiacutenua das perspectivas mediante a reflexatildeo histoacuterica sobre referenciais (RUumlSEN 2001 p 126)
A histoacuteria local eacute constituiacuteda por diferentes identidades que satildeo geradas pelos
grupos que compotildeem este espaccedilo A este respeito Silva e Porto (2011 p 41)
apresentam que ldquoa diferenccedila eacute aquilo que separa uma identidade da outrardquo Tambeacutem
eacute notaacutevel que para que haja a representaccedilatildeo de suas identidades locais faz-se
necessaacuterio o reconhecimento destas e a percepccedilatildeo que existem diferentes fatores
que diferenciam os grupos sociais
Portanto a identidade eacute constituiacuteda pelas posiccedilotildees eou escolhas feitas
sendo que muitas vezes elas satildeo racionais ou ateacute mesmo irracionais A identidade
eacute baseada na memoacuteria que pode ser individual ou coletiva Segundo Candau (2011
p 16) ldquoos laccedilos fundamentais entre memoacuteria e identidade eacute sobre o fato de que eacute a
memoacuteria faculdade primeira que alimenta a identidaderdquo
Se a memoacuteria gera a identidade natildeo se pode pesquisar e escrever sobre
histoacuteria local sem levar em conta estes dois conceitos primordiais pois a histoacuteria
local soacute teraacute valia se escrita pelo vieacutes do todo ou seja natildeo priorize um grupo ou
classe social todos os quadros sociais devem estar representados dentro deste
processo Nessa linha Schmidt e Cainelli descrevem
O estudo da localidade ou da histoacuteria regional contribui para uma compreensatildeo muacuteltipla da Histoacuteria pelo menos em dois sentidos na possibilidade de se ver mais de um eixo histoacuterico na histoacuteria local e na possibilidade da anaacutelise de micro histoacuterias pertencentes a alguma outra histoacuteria que as englobe e ao mesmo tempo reconheccedila suas particularidades (SCHMIDT CAINELLI 2009 p 139)
Uma histoacuteria que faz sentido que esteja englobada a outra histoacuteria A
memoacuteria coletiva entra na construccedilatildeo desta histoacuteria local e eacute primordial pois esta vai
dar elementos que constroem a identidade deste local sendo que a memoacuteria do
passado influencia na representaccedilatildeo da identidade Neste sentido conforme
Figueira e Miranda (2012 p 47) eacute necessaacuterio compreender a memoacuteria ldquocomo a
capacidade de conservar e de preservar dados refere-se a um conjunto de funccedilotildees
cerebrais que nos permite reter informaccedilotildees adquiridas e impressotildees vividasrdquo
Podendo ser ela individual ou coletiva sendo que a memoacuteria individual existe a partir
de uma memoacuteria coletiva jaacute que as lembranccedilas que ajudam a reconstruir o passado
partem do interior de um grupo
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Para as Ciecircncias Humanas o conceito de memoacuteria estaacute ligado agrave memoacuteria
social e coletiva definida por Le Goff (2003 p 422) como ldquoo estudo da memoacuteria
social eacute um dos elementos fundamentais de abordar os problemas do tempo e da
histoacuteriardquo O autor ainda acrescenta que ldquoa memoacuteria coletiva eacute natildeo somente uma
conquista eacute tambeacutem um instrumento e um objeto de poderrdquo (LE GOFF 2003 p
410) Neste sentido Halbwachs (2004 p 90) ressalta que ldquotoda memoacuteria coletiva
tem por suporte um grupo limitado no espaccedilo e no tempo e o mundo histoacuterico eacute
como um oceano onde afluem todas as histoacuterias parciaisrdquo
Quando se abordam conceitos de memoacuteria e identidade no ensino de
histoacuteria estaacute se trazendo para o estudo os sujeitos que compotildeem aquele local com
suas vivecircncias que podem ser coletivas ou natildeo A transmissatildeo de saberes entre as
geraccedilotildees forma a identidade coletiva sendo o ser humano um agente ativo no
quadro social da memoacuteria
Halbwachs assim define os quadros coletivos da memoacuteria
Os quadros coletivos da memoacuteria natildeo se resumem em datas nomes e foacutermulas que eles representam correntes de pensamento e de experiecircncia onde reencontramos nosso passado porque este foi atravessado por isso tudo (HALBWACHS 2004 p 71)
Nesta direccedilatildeo Le Goff (2003 p 4) acrescenta que ldquoa memoacuteria social eacute um
dos meios fundamentais para se abordar os problemas do tempo e da histoacuteria A
memoacuteria estaacute nos proacuteprios alicerces da histoacuteriardquo Catroga (2001) reforccedila que a
memoacuteria eacute moldada a partir das vivecircncias e na sua narrativa vai haver uma
coerecircncia que se mistura passado e presente
Quando se escreve sobre histoacuteria local eacute importante considerar que ela estaacute
pautada em documentos assim como em memoacuterias escritas visuais ou orais Neste
sentido eacute perceptiacutevel que o uso dos diferentes tipos de memoacuteria satildeo alicerces que
conduzem o trabalho do historiador para que ele possa interpretar suas fontes e
validar seu trabalho Memoacuterias estas que podem ser apresentadas com documentos
oficiais ou atraveacutes de uma cultura material ou imaterial
A escrita de histoacuterias locais vem como um novo modelo de resguardar
identidades e memoacuterias que se natildeo preservadas iratildeo desaparecer pela influecircncia
da globalizaccedilatildeo e falta de conhecimento de futuras geraccedilotildees Barros assim
descreve
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Os novos tempos comeccedilavam a trazer um novo padratildeo historiograacutefico novas aberturas retornos e possibilidades e tambeacutem incertezas para os historiadores no que se refere agrave natureza do conhecimento que produzem e ao papel do conhecimento histoacuterico na sociedade [] Entre as novidades postula-se a possibilidade de examinar a histoacuteria de acordo com uma nova escala de observaccedilatildeo ndash atenta para o detalhe para as micro realidades para aquilo que habitualmente escapa ao olhar panoracircmico da macro histoacuteria tradicional ndash e eacute esta nova postura que se passou a chamar de micro histoacuteria (BARROS 2012 p 306)
Diante deste contexto o ensino de Histoacuteria pode buscar na histoacuteria local a
problematizaccedilatildeo necessaacuteria para que os estudantes da educaccedilatildeo baacutesica
reconheccedilam a identidade local que vem sofrendo com a uniformizaccedilatildeo da
sociedade que impotildee uma conjuntura global do local
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3 SAtildeO FRANCISCO DE PAULA CONSTRUCcedilAtildeO DO MUNICIacutePIO
A apresentaccedilatildeo do municiacutepio Satildeo Francisco de Paula acontece atraveacutes do
uso da narrativa Esta se apresenta atraveacutes do diaacutelogo com obras jaacute produzidas por
memorialistas eou genealogistas que contribuem para a construccedilatildeo histoacuterica deste
local bem como se usa como fonte de enriquecimento documentos da Assembleia
Legislativa do Rio Grande do Sul e jornais locais
Para tanto se apresenta a revisatildeo historiograacutefica das obras escritas pelos
memorialistas eou genealogistas sendo que Lucena (1971) em sua obra ldquoSatildeo
Francisco de Paula Monografiardquo que abrange aspectos histoacutericos da formaccedilatildeo do
municiacutepio bem como pontos turiacutesticos e demograacuteficos O proacuteprio autor intitula a sua
obra como informativa a riqueza de detalhes eacute interessante poreacutem natildeo haacute nenhuma
referecircncia quanto aos dados escritos nem mesmo um referencial bibliograacutefico ao
final
No texto intitulado ldquoOs Fundadores de Satildeo Francisco de Paulardquo Alves (2007)
escreve sobre a fundaccedilatildeo de Satildeo Francisco de Paula Em seu livro haacute documentos
que validam o que se refere agrave genealogia jaacute que boa parte da obra apresenta os
troncos familiares que compunham o iniacutecio deste municiacutepio Na mesma linha da
genealogia Oliveira (1996) no livro ldquoAurorescer das Sesmarias Serranas histoacuteria e
genealogiardquo traz a histoacuteria das primeiras sesmarias da regiatildeo mas o foco principal
se daacute aos proprietaacuterios e seus descendentes Haacute um mapa bastante interessante
localizando as sesmarias e o nome por elas recebidos
Em ldquoSatildeo Francisco de Paula nossa terra nossa genterdquo Teixeira (2002)
apresenta dados gerais e histoacutericos do municiacutepio Esta obra apresenta dados
geograacuteficos como clima relevo e vegetaccedilatildeo A autora escreve sobre diversos
aspectos eventos personalidades e lendas Aleacutem disso apresenta Satildeo Francisco
de Paula com uma linha cronoloacutegica A obra abrange vaacuterios aspectos mas todos
suscintamente No final a autora apresenta a bibliografia consultada dentre os
autores estaacute Lucena (1971)
O texto ldquoSatildeo Francisco de Paula Rio Grande do Sul histoacuteria encantos e
misteacuteriosrdquo eacute uma obra de Fonseca (2012) que traz diversidade de assunto muitas
vezes estes estatildeo desconexos ou seja sua leitura se torna ldquotruncadardquo No final do
texto haacute um vasto referencial bibliograacutefico dentre os autores citam-se Lucena
(1971) e Teixeira (2002)
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Ribeiro (2003) eacute compositor e poeta Em ldquoFestival do Ronco do Bugiordquo
escreve sobre Satildeo Francisco de Paula apresentando a histoacuteria dos quinze anos do
festival no municiacutepio No iniacutecio contextualiza a origem do festival e do ritmo bugio
Depois apresenta a capa do disco de cada festival especificando as muacutesicas e os
compositores vencedores
Todas essas obras satildeo importantes para Satildeo Francisco de Paula cada uma
traz consigo um pouco da histoacuteria deste municiacutepio poreacutem sente-se falta da
identidade e da memoacuteria na construccedilatildeo histoacuterica As obras satildeo apresentadas o
mesmo prisma apresentando os iacutendios Caaguaraacutes e o Capitatildeo Pedro da Silva
Chaves os fundadores desta terra dando bastante ecircnfase aos sobrenomes que ali
se desenvolveram
31 CONVERSA COM MEMORIALISTAS
As terras onde hoje fica Satildeo Francisco de Paula eram habitadas por iacutendios da
tribo Caaguaraacutes que faziam parte dos Coroados Estes viviam livremente nos
campos de cima da serra e seus domiacutenios estendiam-se entre a Serra Geral e a
Serra do Mar Os iacutendios Caaguaraacutes tinham como haacutebitos alimentares a caccedila a
pesca e a coleta de sementes e frutos dentre os frutos o pinhatildeo e a goiaba-do-
mato segundo Teixeira (2002) e Alves (2007) Estes iacutendios tiveram seu habitat
invadido por incursotildees de desbravadores que comeccedilaram a trafegar pela regiatildeo em
busca de mulas e novas terras visto que as terras onde hoje se encontra Satildeo
Francisco de Paula de Cima da Serra foram rota de tropeiros5 pois estes trafegavam
pelos Campos de Cima da Serra indo na direccedilatildeo de Lages-SC ateacute alcanccedilarem
Sorocaba-SP6 Ao passarem por esta regiatildeo foram se formando pequenos vilarejos
e construindo um jeito peculiar de viver
Neste cenaacuterio aparece o municiacutepio de Satildeo Francisco de Paula de Cima da
Serra que recebe este nome para se diferenciar de Satildeo Francisco de Paula
denominaccedilatildeo recebida ateacute meados de 1830 pelo municiacutepio de Pelotas Poreacutem na
metade do seacuteculo XVIII Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra possuiacutea
5 Tropeiros homens que conduziam suas tropascomitivas de muares ou cavalos entre as regiotildees 6 Sugere-se a leitura FLORES Moacyr Troperismo no Brasil Porto Alegre Nova Dimensatildeo 1998
SAVARIS Manoelito Tropas e tropeiros o Rio Grande toma forma Disponiacutevel em ltwwwrogeriobastoscombr201104trpas-e-tropeiros-o-rio-grande-tomahtmlgt Acesso em 12 mar 2016
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proprietaacuterios de terras sendo que um dos pioneiros foi Pedro da Silva Chaves um
portuguecircs casado com Gertrudes de Godoy uma paulista Pedro da Silva Chaves
declara em 1742 ser possuidor de terras neste municiacutepio Segundo Oliveira (1996)
em seu testamento Pedro da Silva Chaves rege que possui trecircs fazendas na regiatildeo
uma chamada Satildeo Joatildeo que se localiza desde o Arroio Santa Cruz ateacute o Rio
Tainhas concedida em 1752 por sesmaria a Fazenda da Cria que foi comprada de
Francisco Pinto Bandeira e confirmada como sesmaria em 1754 e a Fazenda
denominada Cerrito comprada do Capitatildeo Antocircnio Gonccedilalves dos Reis Nestas
fazendas havia criaccedilatildeo de cavalos gado vacum mulas e burros As fazendas
tambeacutem apresentavam em torno de 77 escravos sendo que alguns satildeo casados o
que se faz pensar que estes constituiacuteam famiacutelia aumentando assim o nuacutemero de
escravos da regiatildeo No mapa da Figura 1 verifica-se a localizaccedilatildeo das fazendas do
capitatildeo Pedro da Silva Chaves bem como sua extensatildeo territorial
Figura 1 ndash Mapa de Identificaccedilatildeo das Sesmarias Serranas
Fonte Oliveira (1996 p 236)
27
No mapa apresentado na Figura 1 ainda eacute possiacutevel observar a localizaccedilatildeo
onde inicia o povoado de Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra segundo
Lucena (1971 p 1) ldquoiniciou-se com o Capitatildeo Pedro da Silva Chaves que doou
uma gleba de terra para que fosse iniciado o povoadordquo Tambeacutem segundo Lucena
(1971 p 1) ldquodoou cinquenta vacas para construir o primeiro patrimocircnio da Igreja
cuja construccedilatildeo foi iniciada por sua conta e lhe deu o nome de Satildeo Francisco por
este ser devoto do Santordquo O que demonstra que Pedro da Silva Chaves era
Catoacutelico
Neste periacuteodo compreendido como seacuteculo XIX segundo Teixeira (2002) e
Alves (2007) o atual municiacutepio de Satildeo Francisco de Paula pertencia ao municiacutepio de
Santo Antocircnio da Patrulha municiacutepio este que formava juntamente com Porto
Alegre Rio Pardo e Rio Grande a proviacutencia de Satildeo Pedro do Rio Grande do Sul
atual Rio Grande do Sul Eacute possiacutevel observar a grande extensatildeo territorial de cada
municiacutepio no mapa apresentado na Figura 2 segundo Silva (2000) Santo Antocircnio
da Patrulha anexava as freguesias de N Sra Conceiccedilatildeo do Arroio e N Sra da
Oliveira da Vacaria a capela de Satildeo Domingos das Torres e os povoados de Santa
Cristina do Pinhal e Cima da Serra
Analisando o mapa da Figura 2 eacute possiacutevel perceber que o municiacutepio de Santo
Antocircnio da Patrulha tinha um vasto e extenso territoacuterio que atualmente compreende
os municiacutepios de Vacaria Antocircnio Prado Nova Roma do Sul Lagoa Vermelha
Veranoacutepolis Nova Prata Nova Araccedilaacute Nova Bassano Paraiacute Guabiju Satildeo Jorge
Vista Alegre do Prata Protaacutesio Alves Cotiporatilde Fagundes Varela Vila Flores
Caseiros Birajaras Andre da Rocha Capatildeo Bonito do Sul Muitos Capotildees Bom
Jesus Satildeo Joseacute dos Ausentes Esmeralda Ipecirc Campestre da Serra Monte Alegre
dos Campos Taquara Satildeo Francisco de Paula Cambaraacute do Sul e Jaquirana
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Figura 2 ndash Divisatildeo Municipal em 1809 ndash Proviacutencia Satildeo Pedro do Rio Grande do Sul
Fonte Evoluccedilatildeo Administrativa (2013)7
32 AMPLIANDO O DIAacuteLOGO COM OS MEMORIALISTAS
Segundo documentos da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul8
disponiacuteveis no Arquivo Histoacuterico de Satildeo Francisco de Paula9 em 1852 atraveacutes da
Lei nordm 266 de 30 de novembro de 1852 eleva-se agrave categoria de freguesia a entatildeo
capela Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra pelo entatildeo vice-governador da
proviacutencia de Satildeo Pedro do Rio Grande do Sul o senhor Luiz Alves Leite de Oliveira
Bello Estes documentos ainda retratam que no ano de 1886 houve distribuiccedilatildeo de
lotes devolutos para pessoas pobres que comprovassem residecircncia haacute pelo menos
trecircs anos e se comprometessem a ldquofundar moradiardquo em um prazo de um ano sendo
assim passados trecircs anos seriam donos definitivos destes lotes dando o iniacutecio ao
povoamento da vila No mesmo periacuteodo acontece a criaccedilatildeo do cemiteacuterio municipal
7 Disponiacutevel em ltwwwatlassocioeconomicorsgovbrevolucao-administrativa-1809-a-2013gt Acesso
em 18 mar 2017 8 O diaacutelogo com memorialista se amplia a partir de agora com contribuiccedilotildees de documentos
pesquisados que corroboram para a compreensatildeo do tema 9 BARBOSA Eni GONCcedilALVES Jorge Joseacute Xavier (Orgs) Documentos histoacutericos da Assembleia
Legislativa do Rio Grande do Sul Arquivo Histoacuterico de Satildeo Francisco de Paula 1992
29
que ocorre em 1891 segundo documentos da Assembleia Legislativa disponiacuteveis
no Arquivo Histoacuterico de Satildeo Francisco de Paula Estes documentos informam que
primeiramente somente moradores que comprovassem residecircncia haacute mais de trecircs
anos e pudessem manter os jazigos de seus entes poderiam fazer uso deste
espaccedilo Atraveacutes desta documentaccedilatildeo se percebe que havia toda uma organizaccedilatildeo
para que ldquoestrangeirosrdquo natildeo se estabelecessem em Satildeo Francisco de Paula de Cima
da Serra
Em 1889 Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra passa a categoria de vila
e deixa de pertencer a Santo Antocircnio da Patrulha passando a ser distrito do
municiacutepio de Taquara do Mundo Novo (hoje Taquara) o que traz mudanccedilas
significativas para a vila
Mesmo havendo distribuiccedilatildeo de lotes apoacutes quinze anos percebe-se na
Figura 3 que o povoado ainda era pequeno cercado de campos que constituiacuteam
fazendas com criaccedilatildeo de gado vacum tendo como principal economia a pecuaacuteria
extensiva Ao alto pode-se visualizar a Igreja Matriz construiacuteda pelo capitatildeo Pedro
da Silva Chaves
Figura 3 ndash Vista da vila de Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra (1901)
Fonte Portal Satildeo Chico (2018)10
10 PORTAL SAtildeO CHICO Fotos antigas de Satildeo Francisco de Paula 2018 Disponiacutevel em
ltwwwsaochicocombrantigasgt Acesso em 12 abr 2019
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Ainda eacute possiacutevel observar atraveacutes da Figura 3 que neste periacuteodo natildeo havia
nenhuma preocupaccedilatildeo com a organizaccedilatildeo urbana ou seja ruas quadras as
construccedilotildees se apresentam de maneira desordenada Poreacutem passados vinte e dois
anos na Figura 4 jaacute eacute possiacutevel visualizar uma estrutura urbanizada com possiacutevel
organizaccedilatildeo de ruas e quadras mas a vila ainda eacute rodeada de campos
Figura 4 ndash Vista Avenida Juacutelio de Castilhos (1923)
Fonte Lucena (1971 p 67)
O desenvolvimento da Sede de Satildeo Francisco de Paula acontece segundo
Lucena (1971 p 27) ldquonos primeiros anos de vida isto eacute de 1910 a 1924 mais ou
menos devido agrave extraccedilatildeo da erva-mate que era abundante em nossos matos nas
zonas da serrardquo O autor ainda acrescenta
O pioneiro na extraccedilatildeo da erva-mate em nossa Comuna foi o proprietaacuterio Carlos Miguel Kroeff dono da fazenda Potreirinho praticamente arrabalde de nossa cidade No barba-quaacute11 se iniciava todo processo de industrializaccedilatildeo da erva-mate sendo que Satildeo Francisco de Paula chegou a ter quinhentos barbaacute-quas (LUCENA 1971 p 28)
11 Barba-quaacute um valo de cerca de oito metros de comprimento amis ou menos por um metro de
profundidade e oitenta centiacutemetros de largura coberto de xaxim e terra em uma das extremidades colocava-se um gradeado e acima deste em uma parte tambeacutem coberta e mais alta tinha apenas uma saiacuteda sob o gradeado colocava-se as folhas de erva extraiacuteda da aacutervore no iniacutecio do valo fazia-se um fogo e a fumaccedila que pela pouca ventilaccedilatildeo existente formava bastante fumaccedila e esta atingia as folhas secando-as (LUCENA 1971 p 28)
31
A produccedilatildeo de erva-mate contribuiu para o povoamento da vila visto que
muitas pessoas vieram trabalhar e acabaram se instalando no municiacutepio Apoacutes a
extraccedilatildeo da erva-mate surge a extraccedilatildeo de madeira que tambeacutem contribui para o
desenvolvimento
Nesta documentaccedilatildeo ainda se encontra no artigo nordm 251 de 08 de abril de
1891 a liberaccedilatildeo da verba para abrir a estrada de rodagem que liga as vilas de
Taquara do Mundo Novo e Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra em 1889
Atraveacutes da Figura 5 pode-se perceber o quatildeo difiacutecil era abrir uma nova estrada de
rodagem Tudo era manual com o uso de animais e muares para transportar pedras
e terras poreacutem a abertura desta estrada traz mudanccedilas significativas para a
populaccedilatildeo de Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra
Figura 5 ndash Abertura da estrada ERS-020 Taquara ndash Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra
Fonte Jornal Folha da Serra (1968 n 89 p 8)12
12 Folha da Serra jornal criado em 1932 pelo Dr Siacutelvio Rabelo sendo o uacutenico jornal que existia na
regiatildeo serrana Este trazia notiacutecias sociais poliacuteticas etc com uma tiragem em torno de 500 exemplares por semana Encontram-se no Arquivo Histoacuterico de Satildeo Francisco de Paula alguns exemplares ateacute a deacutecada de 70 seacuteculo XX
32
A estrada visava facilitar o acesso da populaccedilatildeo de Satildeo Francisco de Paula
de Cima da Serra que ia ateacute Taquara para buscar gecircneros de primeira necessidade
Em tempos idos os serranos se abasteciam de gecircneros de primeira necessidade quase que totalmente em Taquara e o transporte era feito em cargueiros que compunham uma tropa com cerca de quinze a vinte cargueiros Os animais usados para esse transporte eram geralmente muares mais resistentes para o transporte de carga Os serranos levavam daqui queijo (o queijo ateacute hoje chamado queijo serrano) charque couros e alguns levavam maccedilatilde ou pinhatildeo em suas eacutepocas de colheita trocados por mantimentos de que necessitavam Natildeo existiam ainda estradas e o trajeto era feito por picadas existentes (LUCENA 1971 p 23)
O mesmo autor ainda acrescenta
Para atingir a capital do Estado a viagem era cheia de peripeacutecias O transporte era feito a cavalo ou em diligecircncias ateacute Taquara As diligecircncias carros de quatro de rodas puxados por quatro animais ndash cavalos ndash eram de propriedade de Bertolo Casara mais conhecido por lsquoJoatildeo Gringorsquo Essa viagem se fazia normalmente em um dia e agraves vezes em dia e meio O ponto de parada era ali no Rodeio Bonito onde existia uma casa agrave esquerda bem defronte a estrada que desce para Trecircs Coroas [] De Taquara a Porto Alegre por via ferroviaacuteria ndash de trem (LUCENA 1971 p 16)
A construccedilatildeo desta estrada traz um novo desenvolvimento para a entatildeo vila
de Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra pois apoacutes a abertura da estrada de
rodagem Taquara ndash Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra modifica o transporte
de mercadorias entre as localidades
O transporte de mercadorias era feito em carretotildees de quatro rodas puxados uns por cinco animais outros por sete as maiores que geralmente eram muares Eram atrelados em duas fileiras Na fileira junto agrave carreta que era de duas ou trecircs mulas na da esquerda montava o carreteiro Este toda vez que se verificava um declive na estrada apeava de sua montaria a fim de brecar a carreta sem que esta entretanto parasse (LUCENA 1971 p 24)
Este modelo de comeacutercio vai desaparecer com o surgimento das primeiras
casas de comeacutercios na vila de Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra De acordo
com Lucena (1971 p 38) ldquoos primeiros comerciantes foram Manoel Vicente
Ferreira Abel Pacheco Luis Carlos de Andrade e Jacob Bossle Sobrinhordquo Na
imagem da Figura 6 temos o Accedilougue Central onde nota-se que os animais
convivem soltos na rua juntamente com as pessoas mesmo se tratando de local
urbano
33
Figura 6 ndash Accedilougue Central
Fonte Portal Satildeo Chico (2018)13
Nesta mesma documentaccedilatildeo haacute decretos que definem a construccedilatildeo de uma
nova Igreja Matriz isto eacute uma Igreja de Pedra substituindo a antiga que era de
madeira ainda construiacuteda pelo capitatildeo Pedro da Silva Chaves esta construccedilatildeo data
do ano de 1922 Segundo Teixeira (2002 p 30) a Igreja de Pedra permanece ateacute
1960 quando daacute lugar ao atual preacutedio da Igreja Matriz que foi inaugurada em 14 de
junho de 1964 Na sequecircncia teremos duas imagens demonstrando a Igreja de
Pedra e a atual edificaccedilatildeo da Igreja Matriz Natildeo foi encontrada nenhuma foto da
Igreja de Madeira nos arquivos do Arquivo Histoacuterico do Municiacutepio somente em um
site de fotos antigas onde encontra-se registro apresentado na Figura 7
13 PORTAL SAtildeO CHICO Fotos antigas de Satildeo Francisco de Paula 2018 Disponiacutevel em
ltwwwsaochicocombrantigasgt Acesso em 12 abr 2019
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Figura 7 ndash Igreja Matriz em 1931
Fonte Portal Satildeo Chico (2018)14
Figura 8 ndash Igreja Matriz
Fonte acervo da autora (2015)
14 PORTAL SAtildeO CHICO Fotos antigas de Satildeo Francisco de Paula 2018 Disponiacutevel em
ltwwwsaochicocombrantigasgt Acesso em 12 abr 2019
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Entre os anos de 1892 a 1902 por duas vezes Satildeo Francisco de Paula de
Cima da Serra eacute desanexado e reanexado ao entatildeo municiacutepio de Taquara do Mundo
Novo Somente em 23 de dezembro de 1902 foi reestabelecido definitivamente o
municiacutepio de Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra cuja instalaccedilatildeo se verificou
em 07 de janeiro de 1903 A partir de 01 de janeiro de 1938 perde ldquoCima da Serrardquo
de sua nomenclatura permanecendo somente Satildeo Francisco de Paula Apesar
disso se manteacutem o gentiliacutecio ldquoSerranordquo de acordo com Silva (2000 p 23) e dados
do Arquivo Histoacuterico de Satildeo Francisco de Paula sendo que este gentiliacutecio eacute usado
ateacute os dias de hoje
No iniacutecio o municiacutepio de Satildeo Francisco de Paula foi um dos maiores do Rio
Grande do Sul em territoacuterio mas ao longo do tempo foi diminuindo seu territoacuterio
com a anexaccedilatildeo de parte dele ao entatildeo municiacutepio de Caxias do Sul e de Torres e a
criaccedilatildeo dos municiacutepios de Cambaraacute do Sul em 1963 e Jaquirana em 1988
Foi uma das maiores Comunas do Estado pois de seu territoacuterio faziam parte os atuais municiacutepios de Satildeo Marcos Cambaraacute do Sul e Jaquirana e os distritos de Vila Oliva Criuacuteva Fazenda Souza e Vila Seca hoje integrantes de Caxias do Sul De nosso territoacuterio foi tambeacutem desanexada uma gleba de terra ndash Josafaacute ndash e anexada ao municiacutepio de Torres (LUCENA 1971 p 10)
Mesmo perdendo parte de seu territoacuterio ao longo dos anos atualmente
segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (2016) ldquoSatildeo Chicordquo como
costumeiramente eacute chamado pelo seu povo estaacute situado na Encosta Inferior do
Nordeste do Estado do Rio Grande do Sul na zona denominada de Campos de
Cima da Serra Fica distante 112 quilocircmetros da capital do Estado Porto Alegre Os
municiacutepios limiacutetrofes satildeo Monte Alegre dos Campos Bom Jesus Jaquirana
Cambaraacute do Sul Praia Grande-SC Trecircs Forquilhas Itati Maquineacute Riozinho
Rolante Taquara Trecircs Coroas Canela e Caxias do Sul Possui uma aacuterea territorial
de 3264490 quilocircmetros quadrados com uma estimativa populacional de 21617
habitantes distribuiacutedos na zona urbana e rural O municiacutepio se divide em sete
distritos Sede Cazuza Ferreira Tainhas Juaacute Eletra e Lajeado Grande Atraveacutes do
conjunto de mapas apresentado na Figura 9 eacute possiacutevel visualizar a localizaccedilatildeo de
Satildeo Francisco de Paula dentro do Rio Grande do Sul e por conseguinte no Brasil
Tambeacutem se verifica a localizaccedilatildeo dos distritos de Satildeo Francisco de Paula
36
Figura 9 ndash Mapa de localizaccedilatildeo de Satildeo Francisco de Paula
Subdivisatildeo de Satildeo Francisco de Paula em distritos
Fonte montagem da autora (2019)
Desta forma se constitui o espaccedilo fiacutesico do municiacutepio de Satildeo Francisco de
Paula cuja populaccedilatildeo natildeo forma uma colocircnia pois seu povo adveacutem de diferentes
lugares a grande maioria com descendecircncia lusa sendo que os primeiros
colonizadores foram bandeirantes paulistas
A populaccedilatildeo de Satildeo Francisco de Paula eacute composta de brancos africanos e indiacutegenas Os brancos compreendendo portugueses (principalmente
37
accedilorianos) alematildees e italianos os africanos pertenciam ao grupo dos bantos e foram trazidos pelos portugueses (TEIXEIRA 2002 p 147)
A diversidade de pessoas que se estabeleceram em Satildeo Francisco de Paula
pode ser percebida pelos sobrenomes das famiacutelias precursoras do municiacutepio
Para Satildeo Francisco de Paula afluiacuteram famiacutelias de diversas nacionalidades que atraveacutes de seus descendentes ainda hoje aqui satildeo representadas como Famiacutelias Ferreira Soares Pinto Castilhos Asmuz Santos Martins Lopes Comin Feijoacute Silva Canani Peixoto Andrade Teixeira Valin Lucena Alves Cardoso Gomes Borges Marques Tedesco Medeiros Paglioacuteli Costa Fogaccedila Casara em outras (LUCENA 1971 p 11-12)
Os moradores deste municiacutepio introduziram um jeito singular de viver tendo
em seu cotidiano as tradiccedilotildees gauacutechas15 muito presentes Teixeira (2002 p 83)
assim descreve que ldquoas raiacutezes gauacutechas estatildeo fortemente marcadas na comunidade
seja pelo modo de vestir bombacha botas cinturotildees chapeacuteus e no inverno com o
pala ou pela preferecircncia por comidas campeiras churrasco carreteiro feijatildeo
mexidordquo A autora acrescenta que ldquoas casas com lareira e o tradicional fogatildeo agrave
lenha para aquececirc-las durante o inverno rigoroso satildeo um convite para uma
conversa ao peacute do fogo e o saboreio de um gostoso chimarratildeordquo (TEIXEIRA 2002 p
83)
O enraizamento deste modo de vida adveacutem do homem do campo o
pecuarista que no passado necessitava enviar seus filhos a cidade para estudar
contribuindo para este modelo de vida
Antigamente a pecuaacuteria era a atividade econocircmica muito forte em nosso municiacutepio Assim sendo havia muitos fazendeiros E como as fazendas ficavam muito longe da Sede do municiacutepio as senhoras tinham seus filhos em casa com parteiras Tambeacutem os estudos iniciavam nas fazendas porque as escolas ficavam longe Assim muitas vezes os fazendeiros contratavam professoras para se hospedarem nas suas casas e darem aulas aos seus filhos Em muitos casos ateacute mesmo os proacuteprios pais e avoacutes ensinavam alguma coisa Alguns fazendeiros quando seus filhos ficavam maiores os mandavam continuarem seus estudos na vila (assim lsquoSatildeo Chicorsquo era chamada) (TEIXEIRA 2002 p 77)
Com a vinda dos filhos para a vila trouxeram consigo o jeito do homem do
campo sendo que um dos maiores clubes em funcionamento de Satildeo Francisco de
Paula eacute o atual Centro de Tradiccedilotildees Gauacutechas Rodeio Serrano fundado em maio de
15 Tradiccedilotildees gauacutechas segundo Fagundes (1997 p 38) eacute um movimento ciacutevico-cultural [] eacute a
tradiccedilatildeo em marcha resgatando valores que satildeo vaacutelidos natildeo por serem antigos mas por serem eternos exatamente os valores que trouxeram o Rio Grande e o gauacutecho do passado para o presente projetando-se para o futuro
38
1955 Segundo o Jornal Folha da Serra (1968 n 11 p 12) a entidade
tradicionalista receacutem-formada recebe o nome de CTG Coronel Alziro Torres Filho
Fonseca (2012 p 223) menciona que a iniciativa partiu de ldquoDavenir Peixoto Gomes
um homem ruralista e serranordquo Esta entidade tradicionalista teve como primeiro
Patratildeo Oscar Teixeira O CTG Alziro Torres Filho segundo o jornal Folha da Serra
(1957) muda sua nomenclatura em uma reuniatildeo onde o posteiro da invernada
artiacutestica Alaor Valim propotildee a troca do nome para Rodeio Serrano nome que
permanece ateacute a atualidade
A entidade tradicionalista traz como lema ldquoRepontando a Tradiccedilatildeo com o Rio
Grande na Garupardquo Fonseca (2012 p 224) relata que o lema foi ldquocriado pelo
primeiro instrutor de danccedilas Dr Alaor de Almeida Valimrdquo O mesmo autor acrescenta
que ldquoa primeira prenda foi a professora Maria Asmuz Valimrdquo Poreacutem sua sede
somente foi construiacuteda em 1968 sob a patronagem de Dante Santos O Jornal Folha
da Serra (1968 n 11 p 12) indica que ldquoa construccedilatildeo da sede era uma aspiraccedilatildeo de
longos anos que somente agora se concretizardquo Anteriormente ldquoos bailes eram
realizados em sua maioria no Salatildeo Paroquial sendo que alguns foram feitos no
primeiro andar da Associaccedilatildeo Rural e ateacute mesmo na Sociedade Cruzeirordquo
(FONSECA 2012 p 225) Este fato justifica a vontade de Dante Santos de construir
uma sede proacutepria
Apoacutes a construccedilatildeo de sua nova sede o CTG Rodeio Serrano localiza-se na
Rua Benjamim Constant nordm 582 constituindo um espaccedilo importante para a
comunidade de Satildeo Francisco de Paula Dentre as atividades desenvolvidas pelo
CTG estaacute o Rodeio Interestadual que ocorre todos os anos no primeiro final de
semana de dezembro sendo que se encontra na 33ordf ediccedilatildeo A manutenccedilatildeo das
invernadas artiacutesticas em todas as categorias mascote mirim juvenil e adulta A
organizaccedilatildeo da Ronda Crioula na Semana Farroupilha bem como a Cavalgada de
Prendas que ocorre durante a Semana Farroupilha todos os anos Realiza-se o
baile da Prenda Jovem aleacutem de shows e bailes tipicamente gauchescos Aleacutem
disso nos uacuteltimos anos a organizaccedilatildeo do Festival Ronco do Bugio que ocorre em
Satildeo Francisco de Paula ldquofestival este lanccedilado em 16 de abril 1986rdquo segundo o
Jornal Satildeo Chico Tchecirc (1986 n 4 p 5)16
16 Satildeo Chico Tchecirc jornal de circulaccedilatildeo quinzenal fundado em 08 de janeiro de 1986 e que circulou
ateacute 1989 O jornal trazia informaccedilotildees culturais sociais econocircmicas e poliacuteticas da Sede e do
39
Durante os seus sessenta e dois anos de existecircncia muitos patrotildees
passaram por esta entidade tradicionalista mas em 2017 pela primeira vez na
histoacuteria o CTG Rodeio Serrano teve uma patronagem feminina Aleacutem da Patroa
Neuza Reis foram empossadas a Capataz Elenita Amaral a Sota-capataz Fernanda
Kirsch Damasceno o Agregado das Pilchas Antocircnio Garcia de Souza e no
Conselho de Vaqueanos Neiva Santos Valim
Figura 10 ndash Patroa Neuza Reis e sua Comissatildeo
Fonte Jornal Pioneiro (2017)17
Satildeo Francisco de Paula hoje conta com vinte e oito entidades
tradicionalistas18 espalhadas pelos seus distritos demonstrando que homem do
campo se faz muito presente em todo o municiacutepio sendo assim a cultura
interior Os exemplares encontram-se encadernados no arquivo histoacuterico de Satildeo Francisco de Paula
17 Jornal Pioneiro conhecido como o jornal que estaacute ldquoao teu ladordquo o Pioneiro circula desde 1948 e estaacute presente hoje em 64 municiacutepios da regiatildeo de Caxias do Sul Desde 1993 integra a rede de jornais do Grupo RBS sendo filiado ao Instituto Verificador de Circulaccedilatildeo (IVC) Conta com uma equipe de Redaccedilatildeo com mais de 40 jornalistas aleacutem de colunistas internos e externos Em 2008 o jornal ganhou o site pioneirocom Disponiacutevel em lthttpwwwgruporbscombratuacaopioneirogt acesso em 10 de fevereiro de 2019
18 Informaccedilatildeo cedida pelo Coordenador da 27ordf Regiatildeo Tradicionalista Gauacutecha
40
tradicionalista se apresenta de maneira forte e consistente segundo vaacuterios
depoimentos de moradores de todos os distritos de Satildeo Francisco de Paula
41
4 SAtildeO FRANCISCO DE PAULA DISTRITOS EM FOCO
Quanto aos distritos de Satildeo Francisco de Paula surgem diversas
inquietaccedilotildees com relaccedilatildeo agrave identidade destes locais pois estes mesmo fazendo
parte de um mesmo municiacutepio apresentam singularidades que derivam de sua
colonizaccedilatildeo basicamente lusa portuguesa e da recepccedilatildeo de imigrantes de diversas
etnias como italianos e alematildees ao longo destes cento quinze anos de
emancipaccedilatildeo Percebe-se que alguns distritos manteacutem sua identidade e tradiccedilotildees
resguardadas enquanto em outros jaacute ocorreu agrave miscigenaccedilatildeo de diferentes haacutebitos
e culturas o que dificulta identificar traccedilos que identifiquem estes distritos
Neste capiacutetulo busca-se responder a estas inquietaccedilotildees fazendo uso dos
depoimentos de moradores locais Segundo Delgado (2003 p 21) ldquoessas
narrativas tal qual os lugares da memoacuteria satildeo instrumentos importantes de
preservaccedilatildeo e transmissatildeo das heranccedilas identitaacuterias e das tradiccedilotildeesrdquo Neste sentido
se optou por dois moradores por distrito totalizando treze entrevistados um homem
e uma mulher da terceira idade que sempre morou no distrito o que enriquece os
detalhes repassados pelos entrevistados
Toda entrevista tem por base a memoacuteria individual que se referencia na coletiva profundamente relacionada agraves vivecircncias individuais A utilizaccedilatildeo do depoimento de pessoas idosas como fonte para a histoacuteria oral eacute uma forma de justificar a entrevista como histoacuterica referindo-se ao passado jaacute que aos idosos se pretende atribuir a guarda de memoacuterias do passado pelo proacuteprio tempo de vida do depoente Isto retoma e ajuda a fortalecer a ideia de que a histoacuteria mesmo tratando do tempo presente ainda se reporta a um periacuteodo anterior ao da vida do pesquisador (ALMEIDA 2012 p 10)
A entrevista somente ocorreu quando o entrevistado concordou em assinar o
termo de consentimento As entrevistas ocorreram nas residecircncias dos
entrevistados foram preacute-agendadas sendo que o meacutetodo utilizado foi entrevista
guiada atraveacutes de questionaacuterio previamente organizado pela autora as entrevistas
foram filmadas e gravadas onde somente uma entrevistada natildeo autorizou a
filmagem de seus relatos justificando a idade avanccedilada e por morar sozinha
A escolha pela histoacuteria oral hibrida ocorreu no sentido de que a fonte oral eacute o
principal recurso utilizado para colher informaccedilotildees sobre os distritos visto que em
sua grande maioria natildeo haacute publicaccedilotildees Poreacutem em determinados momentos se
utilizam fontes documentais como complemento do que vem sendo apresentado
Com relaccedilatildeo agrave abordagem adotada nas entrevistas se optou pela temaacutetica visto
42
que se leva um roteiro preacute-organizado com temas que deveratildeo ser explorados
durante as entrevistas o que proporciona uma riqueza de informaccedilotildees para a
autora
41 DISTRITO SEDE
O distrito Sede se constitui no local onde se inicia o povoado do municiacutepio na
antiga Fazenda da Cria terras doadas pelo capitatildeo Pedro da Silva Chaves Neste
distrito concentram-se os serviccedilos puacuteblicos e privados que os moradores
necessitam em seu dia-a-dia visto que ali existem bancos casas loteacutericas
farmaacutecias hospital supermercados lojas papelarias livraria inspetoria veterinaacuteria
secretaacuterias municipais escolas puacuteblicas e privadas creches induacutestrias de madeiras
e calccedilados
Poreacutem o distrito Sede ou cidade de Satildeo Chico como popularmente
conhecida pelo seu povo jaacute foi uma cidade de interior ou seja uma cidade pequena
com moradores que vinham das fazendas em busca de estudo Visto que a
implementaccedilatildeo de uma rede regular de ensino ocorre tardiamente devido agrave
dificuldade de se locomover pelas distantes localidades entatildeo normalmente os
fazendeiros contratavam professores para que seus filhos obtivessem estudo sendo
que estes moravam na proacutepria residecircncia da famiacutelia Em entrevista com essa autora
relata Albuquerque19 que ldquopara aprimorar os estudos aqueles que tinham mais
condiccedilotildees iam para Porto Alegre Santa Maria ou Passo Fundo mas para isto
ficavam laacute em internatos e soacute retornavam nas feacuterias devido agrave dificuldade e o custo
da viagemrdquo
Na deacutecada de 40 foi criada a Escola Catoacutelica de Satildeo Francisco de Paula
cujo funcionamento acontece ateacute 1973 quando foram encerradas suas atividades
Esta escola iniciou com o curso primaacuterio e posteriormente instalou o curso ginasial
Normalmente estes moradores permaneciam de segunda-feira a sexta-feira na
cidade e nos finais de semana retornavam para as fazendas como recorda uma
moradora local
Noacutes eacuteramos uma cidade de fazendeiros a gente tinha uma casa no campo e uma na cidade a gente vivia de laacute pra caacute de caacute pra laacute fim de semana ia
19 ALBUQUERQUE Moacir Castello Branco de Entrevista concedida agrave autora no dia 06 de abril de
2018
43
pra fora20 dia de semana vinha pra caacute normalmente uma irmatilde mais velha voacute ficava com a gente aqui na cidade e a famiacutelia mesmo ficava no campo21
Percebe-se que hoje ainda existem na Sede moradores que manteacutem suas
casas na cidade e durante o dia ou nos finais de semana vatildeo ateacute suas fazendas
para fazer as lides com o gado o que caracteriza uma pequena parte da populaccedilatildeo
que foram os filhos dos antigos fazendeiros que mais tarde acabam se instalando
definitivamente na cidade trazendo com sigo a essecircncia do homem do campo e
afirmando uma identidade genuinamente gauacutecha definiccedilatildeo esta concedida por uma
moradora local
Gauacutecho natildeo eacute o morador do Rio Grande do Sul o morador do Rio Grande do Sul eacute o sul-rio-grandense ou rio-grandense do sul o gauacutecho eacute apenas o homem que vem da pecuaacuteria extensiva essa que existe laacute no pampa e aqui nos campos de cima da serra o gauacutecho serrano com caracteriacutesticas muito proacuteprias grandes gaiteiros poetas aliaacutes o maior gaiteiro do mundo eacute daqui natildeo abro matildeo de dizer isto soacute que todos noacutes viacutenhamos da lida do campo em decorrecircncia disso eacuteramos gauacutechos de verdade22
Em sua fala apresenta o gauacutecho serrano como um tipo singular que ama a
pilcha gauacutecha o seu pingo e suas criaccedilotildees bem como reafirma a importacircncia dos
Irmatildeos Bertussi Honeide e Adelar sendo Adelar Bertussi um dos maiores gaiteiros
deste municiacutepio Exaltam-se tambeacutem os poetas que com suas poesias e letras de
muacutesicas escrevem o jeito do seu povo viver
Mesmo a cidade sendo ldquolocal de paradardquo durante a semana para a maioria
de seus habitantes no passado era cheia de atrativos que o campo natildeo possuiacutea
como o cinema cuja instalaccedilatildeo natildeo se encontra documentada mas sabe-se que
iniciou onde hoje eacute o preacutedio da Prefeitura Municipal sendo proprietaacuterio Francisco
Ferraz (Chico Ferraz como era conhecido) Observa-se em alguns exemplares do
Jornal Folha da Serra23 os filmes e os horaacuterios do funcionamento do cinema
Entende-se que o jornal era uma maneira de divulgar os filmes por ser o uacutenico meio
de comunicaccedilatildeo da eacutepoca Pelos folhetins se percebe que as sessotildees
apresentavam diversos gecircneros natildeo se sabe quando o cinema finalmente fechou
20 Fora refere-se ir para a fazenda 21 SOARES Luciana Olga Entrevista concedida agrave autora no dia 01 de marccedilo de 2018 22 SOARES Luciana Olga Entrevista concedida agrave autora no dia 01 de marccedilo de 2018 23 Folha da Serra jornal local criado em 1932 pelo Dr Siacutelvio Rabelo passando posteriormente a
propriedade da Prefeitura Municipal Sua impressatildeo era na ordem de 500 exemplares natildeo se tem a informaccedilatildeo do periacuteodo que parou de circular mas pelos exemplares encontrados no Arquivo Histoacuterico de Satildeo Francisco de Paula os uacuteltimos datam de 1978 O Arquivo Histoacuterico de Satildeo Francisco de Paula fica em um preacutedio anexo agrave Biblioteca Puacuteblica do municiacutepio
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poreacutem o jornal Folha da Serra traz uma reportagem que retrata como estava difiacutecil
manter o cinema em funcionamento em meados de 1968 ldquoo nosso cinema na
maneira que vai indo natildeo tem mais condiccedilotildees de funcionar natildeo temos apoio da
populaccedilatildeo com uma frequecircncia de mais ou menos 150 pessoas por final de
semanardquo O jornal acrescenta ldquosalienta-se que mais ou menos de 3 de nossa
CULTA populaccedilatildeo natildeo frequenta o cinemardquo Pode-se associar o fechamento do
cinema a dois fatores a natildeo cultura de assistir filmes e pelas sessotildees ocorrerem nos
finais de semana onde boa parte da populaccedilatildeo da cidade se deslocava para as
fazendas ou pela crise que os cinemas passaram na deacutecada de 80 quando em
muitas cidades foram fechados
A vida da populaccedilatildeo local vai se modificando cada vez mais as pessoas vatildeo
se instalando definitivamente na Sede onde se perde o viacutenculo com o campo
Devido agrave venda ou arrendamento das fazendas24 que por render pouco a pecuaacuteria
extensiva e com a criaccedilatildeo de novas legislaccedilotildees que proiacutebem praacuteticas centenaacuterias
seus proprietaacuterios buscaram novas possibilidades econocircmicas que modificaram a
Sede e tambeacutem boa parte do interior Em entrevista a moradora Soares relata
Exatamente porque a produccedilatildeo era pequena isso natildeo serve para o mundo de hoje a uns quarenta anos chega em nossos campos as primeiras plantaccedilotildees de pinus interessante que ningueacutem reclamou da destruiccedilatildeo desse campo de milhotildees de anos e de todo o ecossistema mas mesmo com essa nova cultura continuamos realizando a sapeca do campo no mecircs de agosto mas de repente chega a notiacutecia que estaacute proibida a queima do campo dizendo que noacutes estragaacutevamos a terra poluiacuteamos o ar que mataacutevamos animais e tudo aquilo natildeo era verdade Na verdade alguns anos depois da lei proibindo a queima do campo chegam as multas gigantescas agraves vezes maior que o valor da terra e aiacute inviabilizou a pecuaacuteria e muitos fazendeiros venderam suas terras e foram embora Quem ficou no campo na busca por renda a qualquer preccedilo arrenda seus campos para os batateiros que vieram acredito que a grande maioria de Santa Catarina e do Paranaacute estes lavram o campo nunca mais o campo nem com reza braba taacute tudo perdido para sempre e isso reflete na nossa cidade25
Essas mudanccedilas no campo refletem na Sede onde o homem serrano convive
passivamente com novas identidades que embora sejam presentes eacute minoria pois
esta parcela de novos moradores traz consigo um novo jeito de viver que ainda natildeo
se percebe influenciar na identidade cultural da Sede
24 Propriedades rurais cuja atividade principal eacute a praacutetica da pecuaacuteria extensiva e a produccedilatildeo do
queijo artesanal serrano 25 SOARES Luciana Olga Entrevista concedida agrave autora no dia 01 de marccedilo de 2018
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Na Sede desde o iniacutecio se observam quatro clubes sociais a Sociedade
Cruzeiro a Sociedade 9 de Julho a Sociedade Esperanccedila e o Centro de Tradiccedilotildees
Gauacutechas Cada clube social tem sua importacircncia histoacuterica poreacutem alguns natildeo se
manteacutem ativos
A Sociedade 9 de Julho foi fundada em 27 de setembro de 1961 estando
localizada no bairro Rincatildeo Segundo o jornal Folha da Serra (1968 n 96 p 5)
apoacutes sete anos de sua fundaccedilatildeo ldquoseu presidente Galego promete uma nova e
confortaacutevel sede para a sociedaderdquo Sociedade que se apresenta por sua
versatilidade nos eventos ateacute os dias atuais
O jornal Folha da Serra (1968 n 96 p 5) traz a seguinte mateacuteria ldquoas quatro
noites foram repletas de alegria naquela sociedade onde os foliotildees divertiram-se e
quando se anunciou o final da quarta noite houve quem lamentasse o final da festa
do Momordquo A reportagem refere-se ao carnaval que se desenvolve de forma
popular nesta sociedade Neste espaccedilo na deacutecada de 1990 ocorria um baile na
sexta-feira que antecedia ao Festival do Ronco do Bugio um espaccedilo onde jovens se
encontravam para iniciar as festividades do grande festival da cidade poreacutem na
atualidade este evento natildeo ocorre mais Pelos cartazes de divulgaccedilatildeo de eventos
atuais a Sociedade 9 de Julho se torna um espaccedilo bastante versaacutetil e segundo
dados obtidos no site da proacutepria sociedade o local apresenta shows bailes
tradicionalistas domingueiras e festas temaacuteticas
Sabe-se da existecircncia da Sociedade Esperanccedila devido a uma reportagem a
respeito do carnaval escrita no jornal Folha da Serra (1968 n 11 p 25) ldquoos
escurinhos tambeacutem natildeo ficaram para traacutes e demonstraram que satildeo bons no samba
porque soacute quem assistiu pode ver como brincaram e que maravilha de ritmo
marcaram durante as quatro noitesrdquo A reportagem daacute a entender de se tratar de
uma sociedade frequentada por negros e pode-se entender que ao usar o termo
escurinho na reportagem haacute preconceito racial perpassando a ideia de que por
serem negros natildeo poderiam se divertir da mesma maneira que os brancos
Atualmente se encontra no local um espaccedilo residencial e comercial
A Sociedade Cruzeiro foi fundada em 9 de maio de 1925 pela elite da
sociedade serrana Segundo Teixeira (2002) e Fonseca (2012) sua sede social era
na Avenida Juacutelio de Castilhos onde hoje se situa a agecircncia do Banrisul e teve como
primeiro presidente o Sr Antocircnio Mario Kroeff e o secretaacuterio Sr Joatildeo Parobeacute de
Lucena Sua nova sede foi inaugurada de acordo com Fonseca (2012 p 236) ldquono
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dia 11 de dezembro de 1965 e esta permanece no mesmo endereccedilo ateacute a
atualidade Situa-se na Rua Dr Frederico Tedesco nordm 1261rdquo
Atualmente este espaccedilo eacute usado para convenccedilotildees ou festas particulares
onde as pessoas locam o espaccedilo para realizarem seu evento Neste espaccedilo natildeo
mais ocorrem grandes eventos sociais como Fonseca (2012 p 232) descreve ldquoos
bailes mais elegantes e vistosos desta sociedade ocorrem aquirdquo Fonseca (2012 p
233) ainda complementa que ldquoa primeira Miss Sociedade Cruzeiro foi eleita em 1937
e a vencedora foi a jovem Zilah Teixeirardquo
A Sociedade Cruzeiro tambeacutem foi palco de bailes de carnaval O Jornal Folha
da Serra (1968 n 11 p 25) descreve ldquocomo sempre a Sociedade Cruzeiro ponteou
o nosso carnaval com blocos fantasiados magnificamente fazendo acrobacias ao
som de excelente muacutesica local onde os turistas afluiacuteramrdquo Contrapondo a este
tempo a moradora local Soares26 discorre de maneira saudosa ldquoque saudades do
carnaval hoje eacute bebedeira perdeu o encanto perdeu tudo Na rua o pessoal
gritando sem nenhuma infraestrutura nem os bailes na sociedade natildeo ocorrem
maisrdquo
O distrito Sede jaacute foi palco de inuacutemeros clubes sociais que ao longo do tempo
foram perdendo seu encanto e ateacute mesmo fechando-se para atividades sociais O
que permanece em pleno funcionamento eacute o Centro de Tradiccedilotildees Gauacutechas Rodeio
Serrano o que justifica uma cultura tradicionalista presente neste distrito Dentre as
atividades desenvolvidas por esta entidade estatildeo o Rodeio Interestadual com
atividades campeiras e artiacutesticas que ocorrem todos os anos no primeiro final de
semana de dezembro a manutenccedilatildeo das invernadas artiacutesticas em todas as
categorias mascote mirim juvenil e adulta
A organizaccedilatildeo da Ronda Crioula na Semana Farroupilha com a participaccedilatildeo
das escolas da Sede e do interior que trazem seus grupos de danccedilas bem como
organizam gincanas Outra atividade tambeacutem desenvolvida por esta entidade eacute a
Cavalgada de Prendas que ocorre durante a Semana Farroupilha desde 1992
sendo Satildeo Francisco de Paula pioneira nesta ideia onde somente mulheres
participam da cavalgada que culmina com o desfile na Avenida Juacutelio de Castilhos
Realiza-se tambeacutem o Baile da Prenda Jovem que eacute o baile de debutante gauacutecho
onde as prendas entre 13 e 15 anos satildeo apresentadas agrave sociedade Aleacutem disso nos
26 SOARES Luciana Olga Entrevista concedida agrave autora no dia 01 de marccedilo de 2018
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uacuteltimos anos a organizaccedilatildeo e apresentaccedilatildeo do Festival Ronco do Bugio que ocorre
em Satildeo Francisco de Paula faz parte da programaccedilatildeo desta entidade Este festival
apresenta exclusivamente o gecircnero musical bugio Haacute pelo menos duas hipoacuteteses
sobre a origem deste gecircnero musical
A primeira eacute de berccedilo serrano e teria mais fiel escudeiro o inesqueciacutevel acordeonista de Satildeo Francisco de Paula Honeyde Bertussi Siqueira Segundo ele o ritmo teria sido originaacuterio pelas matildeos do gaiteiro Vergiacutelio Leitatildeo que no jogo-de-foles e nos baixos de sua gaita de botatildeo teria imitado o ronco do bicho nos caponetes de cima da serra [] teria difundido pelas bodegas do Juaacute interior de Satildeo Chico (SOUZA 2003 p 15)
A segunda hipoacutetese eacute apresentada por Souza (2003 p 15) que apresenta a
versatildeo dada pelo povo de Satildeo Francisco de Assis que diz que ldquoa origem do ritmo e
oriunda desta localidade que por sinal realizava um festival nativista chamado
Querecircncia do Bugiordquo
Desconhece-se a verdadeira origem do gecircnero musical bugio mas Souza
(2003 p 23) afirma que ldquoJoatildeo Cincinato Terra muacutesico atuante sentiu a
necessidade de nosso municiacutepio acompanhar o movimento jaacute que neste periacuteodo se
expande por todo o estado do Rio Grande do Sul os festivais nativistasrdquo O
lanccedilamento do primeiro festival do Ronco do Bugio acontece em 1986 no CTG
Rodeio Serrano com a participaccedilatildeo de vaacuterios representantes da muacutesica nativista e
da comunidade serrana Seu lanccedilamento oficial ocorre em 16 de abril de 1986
O jornal Satildeo Chico Tchecirc (1986 n 11 p 6) noticiou que o primeiro Festival do
Ronco do Bugio contou com 98 muacutesicas escritas sendo 24 as selecionadas O
festival ocorreu entre os dias 13 e 15 de maio e Souza (2003 p 42) descreve que foi
apresentado ldquosob uma lona de circo estaqueada num gramado amador mas de
tantas gloacuterias futeboliacutesticas o campo do Clube Atleacutetico Serranordquo
A muacutesica vencedora do primeiro Ronco do Bugio foi ldquoLevanta Bugiordquo
defendida pelo cantor e compositor gauacutecho Leonardo Observando fotos percebe-se
que o Ronco do Bugio se deu em uma noite fria de inverno
O Festival Ronco do Bugio desde o seu iniacutecio premia melhor arranjo
conjunto instrumental instrumentista inteacuterprete e a muacutesica mais popular Fatima
Gimenez foi a melhor inteacuterprete do primeiro festival defendendo a muacutesica ldquoPinheiro
Gringordquo composiccedilatildeo de Erian Fogaccedila e Laerte Fortes Novamente a roupa dos
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muacutesicos reforccedila que na noite da entrega da premiaccedilatildeo fazia muito frio A cantora
tambeacutem se apresenta vestindo um chiripa coberto por um pala27
Na Figura 11 observamos a fotografia de Gonzaga dos Reis muacutesico local
sentado com sua gaita instrumento que lhe deu o precircmio de melhor instrumentista
do primeiro Ronco do Bugio Nesta oportunidade o cantor instrumentista e
compositor defendeu a muacutesica ldquoBugio da Minha Terrardquo
Figura 11 ndash Gonzaga dos Reis
Fonte Jornal Satildeo Chico Tchecirc n 4 p 8 (1986)
A composiccedilatildeo ldquoBugio Tiranordquo que foi defendida pelo conjunto Os Tiranos de
Satildeo Francisco de Paula ganhou o precircmio mais popular
Para o Jornal Satildeo Chico Tchecirc (1986 n 11 p 7) o Festival Ronco do Bugio eacute
ldquoum festival autecircntico e original que aconteceu com grande sucesso em Satildeo
Francisco de Paulardquo No encerramento deste grande evento Joatildeo Chagas Leite se
27 Chiripa e pala satildeo trajes tipicamente gauacutechos Sendo que o chiripa atualmente eacute uma veste de
preferecircncia feminina este fica enrolado na cintura e vai ateacute os joelhos ldquoEacute um pano inteiro passado entre as pernas primeiro de traacutes para frente e depois de frente para traacutes pode ser de latilde ou lisordquo (ABREU 2003 p 67) O pala eacute uma peccedila retangular com franjas nos quatro lados e listras no sentido do comprimento
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apresenta segundo o Jornal Satildeo Chico Tchecirc (1986 n 11 p 8) ldquocom composiccedilotildees
como Corda de Espinho Orelhano Pampa Campo e Querecircncia Coraccedilatildeo de
Estudante e Afiosrdquo
O Festival Ronco do Bugio perpassa o tempo segundo o site da Prefeitura
Municipal
O Festival Ronco do Bugio eacute um evento musical nativista que acontece anualmente na Cidade de Satildeo Francisco de Paula com o intuito de preservar e difundir o uacutenico ritmo originaacuterio do Rio Grande do Sul ou seja o lsquobugiorsquo compasso criado justamente no interior deste municiacutepio Tal criaccedilatildeo se deu a partir da criatividade dos gaiteiros serranos que buscaram imitar com seu instrumento musical o ronco do primata nos matos da serra A festividade agora em sua 26ordf ediccedilatildeo eacute genuiacutena pois eacute o uacutenico da Ameacuterica onde obrigatoriamente os participantes devem utilizar um ritmo somente isto eacute o citado lsquobugiorsquo embora a temaacutetica seja abrangente Por este motivo eacute chamado de lsquoO Festival Mais Autecircntico do Rio Grandersquo Aleacutem do forte enfoque cultural que envolve toda a comunidade musical do Estado o Festival tem seu apelo ecoloacutegico pois chama a atenccedilatildeo para a preservaccedilatildeo da espeacutecie hoje quase em extinccedilatildeo O Ronco do Bugio por sua importacircncia no cenaacuterio cultural rio-grandense criou uma identidade ao povo de Satildeo Francisco de Paula pois junto ao evento estaacute intriacutenseco e vem agrave tona o histoacuterico da criaccedilatildeo do municiacutepio caracterizado pela forte influecircncia dos antigos tropeiros desbravadores e povoadores desta parte do paiacutes (PREFEITURA MUNICIPAL DE SAtildeO FRANCISCO DE PAULA 2017)
No mesmo documento disponibilizado pela Prefeitura Municipal de Satildeo
Francisco de Paula observam-se algumas informaccedilotildees a respeito da realizaccedilatildeo do
festival no ano de 2017
Art 1ordm - O 26ordm Ronco do Bugio realizar-se-aacute no municiacutepio de Satildeo Francisco de Paula nos dias 01 e 02 de setembro de 2017 Art 2ordm - a festividade agora em sua 26ordf ediccedilatildeo eacute genuiacutena pois eacute a uacutenica na Ameacuterica Latina com promoccedilatildeo da Prefeitura Municipal de Satildeo Francisco de Paula e do CTG Rodeio Serrano com apoio de oacutergatildeos puacuteblicos e iniciativa privada Art 3ordm - Satildeo objetivos do 26ordm Ronco do Bugio a) valorizar a tradiccedilatildeo arte cultura e a autecircntica muacutesica regionalista
gauacutecha atraveacutes do seu ritmo mais original b) prestigiar autores compositores inteacuterpretes e conjuntos regionalistas e
incentivar o surgimento de novos valores c) divulgar a muacutesica regional gauacutecha d) valorizar a relevante posiccedilatildeo na formaccedilatildeo de usos e costumes
caracteres e valores espirituais e morais do gauacutecho e) promover e incentivar a cultura gauacutecha projetando Satildeo Francisco de
Paula na maneira mais autecircntica no cenaacuterio do turismo (PREFEITURA MUNICIPAL DE SAtildeO FRANCISCO DE PAULA 2017)
Como eacute possiacutevel observar no artigo 4ordm ldquoA organizaccedilatildeo do 26ordm Ronco do Bugio
ficaraacute a cargo da Comissatildeo Organizadora composta por membros da Prefeitura
Municipal e do CTG Rodeio Serranordquo (PREFEITURA MUNICIPAL DE SAtildeO
50
FRANCISCO DE PAULA 2017) Devido agrave importacircncia identitaacuteria do festival para o
municiacutepio ao se chegar agrave cidade na deacutecada de 90 se encontrava o seguinte
outdoor
Figura 12 ndash Outdoor entrada da cidade na ERS-020
Fonte Souza (2003 p 17)
Assim como o tiacutetulo de ldquoCapital Mundial do Bugiordquo Satildeo Francisco de Paula ldquojaacute
obteve vaacuterios slogans dentre eles o de Satildeo Chico eacute terra boardquo (TEIXEIRA 2002 p
149-150)
Mesmo ocorrendo inferecircncias externas advindas com pessoas que trouxeram
consigo uma identidade diferente Soares28 em entrevista afirma ldquoSatildeo Chico eacute
identificada pela cultura tradicionalista gauacutecha a cuia em frente ao antigo preacutedio da
prefeitura demonstra o siacutembolo da hospitalidade de nosso povordquo A permanecircncia
ativa do CTG Rodeio Serrano na sede eacute outro indicativo forte da presente
identidade ligada as atividades do homem do campo Outro fato observado eacute a
constante praacutetica do laccedilo de vaca parada29 por jovens e crianccedilas nos paacutetios de suas
residecircncias bem como cavalarianos (homens mulheres jovens e crianccedilas) na
28 SOARES Luciana Olga Entrevista concedida agrave autora no dia 01 de marccedilo de 2018 29 Vaca parada uma espeacutecie de cavalete de madeira com aspectos de uma vaca usada por crianccedilas
que estatildeo iniciando neste esporte bem como usado como forma de entretenimento para jovens e adultos
51
avenida principal cavalgando entre os carros Ainda se percebe o respeito entre
motoristas de automotivos bicicletas e os cavalarianos todos ocupando o mesmo
espaccedilo
42 DISTRITO DE CAZUZA FERREIRA
O distrito de Cazuza Ferreira foi criado em 07 de janeiro de 1903 estando
situado a 85 quilocircmetros da Sede Andrade comenta em entrevista30 ldquoateacute acho que
Cazuza se desenvolveu primeiro que Satildeo Chicordquo31 visto que a criaccedilatildeo do distrito
acontece dias depois da emancipaccedilatildeo enquanto a criaccedilatildeo da vila do distrito de
Cazuza Ferreira se desenvolve segundo a entrevistada
A parte da Histoacuteria que eu sei eacute que houve a chegada de um Sr Chico Mestre eacute como eles chamavam Esse Sr veio as casas eram distantes umas das outras e ele comeccedilou a fazer oraccedilatildeo nas casas e reunir as pessoas e fundou o cemiteacuterio Entatildeo o Joseacute Ferreira de Castilhos que era dono daqui naquela eacutepoca um dos moradores que tinha bastante terra doou a terra para fazer a vila aiacute o que aconteceu segundo as histoacuterias era para ser ali onde eacute a cancha de laccedilo hoje do outro lado da estrada soacute que o terreno natildeo era apropriado entatildeo houve uma permuta com o Sr que era dono deste terreno aqui era Bossle aqui era bem mais alto e mais plano Entatildeo se construiu a Igreja e iniciou o povoamento da vila32
A moradora Basso ainda acrescenta que ldquoa vila foi sempre mais ou menos o
que ela eacute hojerdquo Ao observar o local pode-se perceber uma grande praccedila ao centro
rodeada de casas de comeacutercio posto de combustiacutevel posto de sauacutede o hotel a
Igreja Matriz juntamente com o salatildeo paroquial e casas residecircncias cujo aspecto
impressiona por a grande maioria das casas apresentam uma arquitetura que
perpassa o tempo A Figura 13 apresenta uma imagem da praccedila central tirada das
escadarias da Igreja Matriz
30 ANDRADE Nauro Bossle de Entrevista concedida agrave autora no dia 04 de marccedilo de 2018 31 Primeiro que Satildeo Chico eacute um termo comum usado pelos moradores do interior do municiacutepio de
Satildeo Francisco de Paula que ao se referir a Sede do municiacutepio usam o termo Satildeo Chico ou Satildeo Francisco de Paula pois seus moradores natildeo costumam na atualidade dizer lsquovou a Sedersquo e sim lsquovou a Satildeo Chicorsquo como se eles natildeo morassem no municiacutepio
32 BASSO Ceacutelia Pacheco Terres Entrevista concedida agrave autora no dia 04 de agosto de 2018
52
Figura 13 ndash Praccedila Central de Cazuza Ferreira
Fonte acervo pessoal da autora (2018)
Apesar de ter a preservaccedilatildeo arquitetocircnica a moradora Basso declara
O pai contava e outras pessoas contam que teve uma eacutepoca que tinha faacutebrica de tamanca33 jaacute teve faacutebrica de guaranaacute de queijo bastante coisa no sentido de selaria mas tudo foi se extinguindo as pessoas as famiacutelias natildeo deram continuidade e se sumiram natildeo existe mais nada disso mas estas faacutebricas natildeo davam renda ou seja trabalho para pessoas de fora pois elas eram administradas e cuidadas pelas famiacutelias Daiacute houve o periacuteodo das serrarias enquanto pode extrair madeira era o forte a vila movimentada enriqueceram alguns comerciantes locais o momento que extinguiu aquele trabalho eles foram embora e o povo daqui acomodou entatildeo hoje a vila tem bastante pessoas que foram embora trabalhar assim na juventude e hoje aposentados voltaram pois aqui para jovem natildeo tem sobrevivecircncia o uacutenico trabalho eacute na escola tem nove professores e uma funcionaacuteria em alguns funcionaacuterios da prefeitura acho que satildeo seis que cuidam do plantel de maacutequinas a enfermeira e o pessoal que cuida do posto do correio tambeacutem tem a ferraria mas ali eacute soacute os da proacutepria famiacutelia entatildeo o jovem acaba tendo que ir embora34
Os entrevistados Basso e Andrade relatam que apesar das adversidades o
povo de Cazuza Ferreira tem um amor pelas suas tradiccedilotildees mantendo vivos trecircs
aspectos que ambos consideram a marca identitaacuteria de seu povo e afirmam com
33 Tamanca calccedilado comum na regiatildeo solado de madeira com uma proteccedilatildeo sobre as pontas dos
dedos indo ateacute o peito do peacute em couro 34 BASSO Ceacutelia Pacheco Terres Entrevista concedida agrave autora no dia 04 de agosto de 2018
53
convicccedilatildeo ldquofalar de Cazuza eacute cavalhada hotel e rodeiordquo enquanto Basso acrescenta
que ldquoas cavalhadas satildeo heranccedila dos portugueses e estatildeo espalhadiacutessimas ateacute
nacionalmente atraveacutes da miacutedia porque natildeo pesquisei mas ateacute onde sei no Rio
Grande do Sul soacute tem aquirdquo
Na comunidade ainda segundo Basso ldquoa apresentaccedilatildeo das cavalhadas se
iniciou por volta de 1890 e permanece ativa ateacute hoje no passado existiam trecircs
cavalhadas as dos brancos dos amarelos e dos negrosrdquo acrescentando ldquomas hoje
natildeo haacute mas essa diferenciaccedilatildeordquo Em poliacutegrafo organizado por uma moradora local a
mesma explica que a cavalhada ldquoeacute uma luta simulada em que haacute vinte e quatro
participantes sendo doze de cada equiperdquo35 por meio da evoluccedilatildeo equestre e
movimentos de espada lanccedila e garrucha representando a batalha entre mouros e
cristatildeos Segundo esta moradora ldquoa batalha sempre termina sendo vencida pelos
cristatildeos demonstrando a submissatildeo dos mouros e a supremacia da religiatildeo cristatilderdquo
Atualmente o grupo depende da boa vontade de seus participantes conforme
explica
Hoje se tornou caro eacute exame dos cavalos transporte depende do querer das pessoas da boa vontade e tem pessoas engajadas que natildeo largam a famiacutelia do Renau que ele eacute o presidente do grupo ele tem um amor tatildeo grande pelas cavalhadas porque ele jaacute recebeu do pai dele do teu avocirc e do seu Ivo Cardoso e a vida dele agraves vezes me desgosto de alguma coisa pois faccedilo a narrativa do que estaacute sendo apresentado mas daiacute eu penso natildeo posso abandonar (sorri) Eacute uma tradiccedilatildeo que natildeo pode morrer mas os filhos do Renau o Marcos e o Marcelo daratildeo continuidade faz parte da famiacutelia tu sabe eacute da mesma famiacutelia Eacute uma grande tradiccedilatildeo que natildeo pode desaparecer temos que continuar peleando36
As cavalhadas satildeo apresentadas na praccedila central sempre durantes as festas
religiosas que acontecem na comunidade sendo assim organizadas
No primeiro ou segundo final de semana de fevereiro tem a festa da Nossa Senhora do Belo Horizonte que eacute a padroeira daqui Agora devido agrave comissatildeo e o padre um ano tem a festa dos morenos e no outro tem a dos agricultores que eram chamados de amarelos antigamente cuja devoccedilatildeo se daacute agrave Nossa Senhora do Rosaacuterio e Nossa Senhora da Penha Antigamente cada um tinha seu espaccedilo social para realizar a festa atualmente soacute se manteve a tradiccedilatildeo de comemorar os santos este ano eacute festa dos morenos ela seraacute dia 13 e 14 de outubro Todas as festas
35 Sendo que doze cavaleiros que representam os cristatildeos vestem tuacutenicas de veludo azul escuro e
os doze cavaleiros mouros vestem tuacutenicas vermelhas Sobre os ombros da tuacutenica haacute uma capinha esta capinha traz enfeites prateados bordados com lantejoulas e bototildees dourados e franjas de seda branca Todos os participantes usam bombacha branca de brim botas campeiras pretas chapeacuteu de palha de aba larga virada para cima com laccedilo de fita e barbicacho de acordo com a cor da tuacutenica
36 BASSO Ceacutelia Pacheco Terres Entrevista concedida agrave autora no dia 04 de agosto de 2018
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religiosas ocorrem em dois dias saacutebado apresentaccedilatildeo das cavalhadas novena janta e baile no domingo tem a missa na Igreja Matriz logo apoacutes almoccedilo e reuniatildeo danccedilante Atualmente resgataram em dezembro a festa a Satildeo Cristoacutevatildeo sempre no primeiro final de semana de dezembro eacute uma missa com benccedilatildeo aos carros durante a procissatildeo e um almoccedilo ao meio-dia esta se daacute somente em um dia E tambeacutem temos de dois em dois anos a festa organizada pelo grupo das Cavalhadas esta ocorre em maio daiacute37
Os moradores explicam que a separaccedilatildeo racial desapareceu com o tempo
poreacutem se manteacutem a cultura de festejar todos os santos o que demonstra que o povo
de Cazuza eacute bastante devoto e cristatildeo E acrescenta em tempos idos que durante
as festas religiosas as pessoas se hospedavam no hotel segundo Basso que ldquoele
recebia tinha mercado junto teve ateacute cinema o pessoal gostava da comida da
Dona Vilma que era minha sogrardquo Este hotel eacute outro marco que identifica Cazuza
Ferreira poreacutem os moradores explicam que atualmente o Hotel do Campo manteacutem a
arquitetura mas funciona em uma modalidade diferenciada pois natildeo haacute como
sobreviver Entatildeo ele recebe hospeda sob reserva antecipada poreacutem natildeo serve
almoccedilo e janta as refeiccedilotildees satildeo feitas no Cantinho do Aconchego com quem
manteacutem uma parceria
Figura 14 ndash Hotel do Campo
Fonte acervo pessoal da autora (2018)
37 BASSO Ceacutelia Pacheco Terres Entrevista concedida agrave autora no dia 04 de agosto de 2018
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Nesta comunidade tambeacutem eacute muito forte segundo os entrevistados38 a
tradiccedilatildeo gauacutecha que adveacutem do homem do campo o amante dos rodeios que nos
finais de semana saem de suas propriedades e se deslocam a outras comunidades
para participar dos eventos campeiros como o tiro de laccedilo Tambeacutem explanam que
existe o CTG Adatildeo Castilhos que estaacute interditado jaacute faz quase seis anos desde
que comeccedilaram a ser exigidos os PPCIs A partir deste momento eles natildeo puderam
mais fazer eventos ali eles realizam os rodeios ou festas campeiras mas laacute dentro
natildeo conseguiram mais fazer nada e taacute difiacutecil vai muito dinheiro para cumprir todas
as exigecircncias Sendo que este espaccedilo na deacutecada de 80 do seacuteculo XX foi palco de
grandes rodeios com apresentaccedilotildees campeiras artiacutesticas e grandes bailes A
moradora explica39 ldquoA Claudiana esposa do Paulo Cesar atual presidente se
inscreveu no projeto Meu Galpatildeo de Cara Nova do Galpatildeo Crioulo da RBS TV
tomara que ela seja classificadardquo Este projeto ajuda na reconstruccedilatildeo dos CTGs pelo
Rio Grande do Sul
Ao pesquisar sobre Cazuza Ferreira percebe-se o quatildeo forte eacute o culto agraves
tradiccedilotildees e o esforccedilo de seus moradores para elas permaneccedilam para futuras
geraccedilotildees visto que o tempo passou e a tradiccedilatildeo local natildeo sofreu alteraccedilotildees
43 DISTRITO DE TAINHAS
O distrito de Tainhas foi criado em 18 de outubro de 1922 estando situado a
33 quilocircmetros da Sede Se desenvolveu no entroncamento de duas rodovias a RS-
020 e a RS-453 cujas rodovias cortavam a vila do distrito Com o advento da
construccedilatildeo da Rota do Sol importante rodovia que hoje que liga Caxias do Sul agraves
praias aleacutem da construccedilatildeo do asfalto da RS-020 que vai a Satildeo Francisco de Paula
tudo mudou O morador Fagundes relata em entrevista40 ldquoaqui era mais habitado
por criadores fazendeiros e agora depois que saiu essa Rota do Sol o movimento
cresceu muito neacute mais por fora da vila entatildeo natildeo trouxe benefiacutecio para noacutesrdquo
Percebe-se que moradores entendem a importacircncia da construccedilatildeo das
rodovias poreacutem as mesmas natildeo trouxeram benefiacutecios econocircmicos para os
moradores locais
38 ANDRADE Nauro Bossle de BASSO Ceacutelia Pacheco Terres Entrevistas concedidas agrave autora no
dia 04 de agosto de 2018 39 BASSO Ceacutelia Pacheco Terres Entrevista concedida agrave autora dia 04 de agosto de 2018 40 FAGUNDES Darci da Silva Entrevista concedida agrave autora no dia 24 de fevereiro de 2018
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Ainda conforme o morador Fagundes41 ldquoo iniacutecio da vila se deu devido agrave
necessidade de parada dos caminhoneiros que transportavam madeira como era
tudo estrada de chatildeo Tainhas ficava em local centralizado se construiu um hotel
que era do seu Pedro Pinhatildeo e da Dona Luisardquo A partir de entatildeo comeccedilou a
construccedilatildeo de casas e se formou a vila onde antes eram terras dos Pinto os
primeiros moradores de Tainhas tanto que o morador ressalta na entrevista42 ldquoo
nome da escola eacute Oliacutempio Soares Pinto que era o proprietaacuterio dessa terra e uma
das professoras mais antigas era Guilherma Pintordquo
Tainhas estaacute rodeada por campos matos de pinnus ilhote e lavouras
atualmente e explica
Hoje aqui eacute pinus e granjeiro plantando batata soja milho e a maioria veio de fora os moradores antigos desapareceram arrendaram ou venderam suas terras para esse pessoal que veio de Ibiraiara e de Maquineacute Itati Trecircs Forquilhas43
Percebe-se que a criaccedilatildeo de gado ou seja a pecuaacuteria extensiva deu lugar a
outras culturas com a chegada de novas pessoas ao distrito Mas segundo os
moradores o culto ao tradicionalismo gauacutecho permanece visto que no distrito
existe
O parque de rodeios do Rodeio Crioulo eacute o mais antigo que noacutes temos aqui natildeo sei se natildeo o primeiro piquete registrado de Satildeo Chico tem uns sessenta anos a nossa tradiccedilatildeo eacute o laccedilo O nosso rodeio acontece sempre no iniacutecio de janeiro hoje eu natildeo laccedilo mais mas o meu neto continua a minha tradiccedilatildeo A escola daqui faz a semana farroupilha com ronda eacute tudo muito lindo e assim se mantem a cultura44
A imagem apresentada na Figura 15 reforccedila a fala e a importacircncia do Piquete
de Laccediladores Rodeio Crioulo que atualmente mesmo estando nas terras de Satildeo
Francisco de Paula divisa com o municiacutepio de Cambaraacute do Sul por opccedilatildeo essa
entidade tradicionalista pertence ao entatildeo municiacutepio de Cambaraacute do Sul Poreacutem sua
fundaccedilatildeo acontece em 20 de janeiro de 1961 quando o entatildeo hoje municiacutepio de
Cambaraacute do Sul ainda era distrito de Satildeo Francisco de Paula
41 FAGUNDES Darci da Silva Entrevista concedida agrave autora no dia 24 de fevereiro de 2018 42 FAGUNDES Darci da Silva Entrevista concedida agrave autora no dia 24 de fevereiro de 2018 43 FAGUNDES Darci da Silva Entrevista concedida agrave autora no dia 24 de fevereiro de 2018 44 FAGUNDES Darci da Silva Entrevista concedida agrave autora no dia 24 de fevereiro de 2018
57
Figura 15 ndash Flacircmula de comemoraccedilatildeo aos 50 anos da entidade
Fonte acervo pessoal da autora (2018)
Outro evento importante no distrito eacute realizado pela Escola Estadual de
Ensino Fundamental Oliacutempio Soares Pinto que satildeo atividades ligadas as tradiccedilotildees
gauacutechas na Semana Farroupilha como cavalgadas e gincanas com a participaccedilatildeo
de toda comunidade nesta semana principalmente a comunidade de Tainhas
ldquorespira tradicionalismordquo
O distrito de Tainhas atualmente conta com um posto de sauacutede e o correio
satildeo os serviccedilos puacuteblicos que funcionam no distrito visto que o cartoacuterio fechou O
entrevistado Fagundes relata45 ldquoeu era o juiz de paz desse Cartoacuterio minha funccedilatildeo
era julgar os casamentos mas daiacute fechou hoje o pessoal tem que ir a Satildeo Chicordquo O
morador ainda acrescenta ldquoateacute a rodoviaacuteria fechou os ocircnibus passam aqui Satildeo
Marcos que vem de Caxias e vatildeo a Torres desce de manhatilde e sobe de tarde Citral
de Satildeo Chico a Ouro Verde e agora Transneves da Pedra Lisa para Satildeo Chicordquo
Com uma certa tristeza relata46 ldquoaqui em Tainhas soacute tem o Cafeacute Tainhas do
Mauro eacute o brilho de Tainhas seraacute ponto histoacuterico daqui um tempo todo mundo fala
bem do Cafeacute Tainhasrdquo
Notoriamente a chegada do asfalto modificou a vida das pessoas neste
distrito visto que que os campos foram em boa parte transformados em lavoura se
45 FAGUNDES Darci da Silva Entrevista concedida agrave autora no dia 24 de fevereiro de 2018 46 FAGUNDES Darci da Silva Entrevista concedida agrave autora no dia 24 de fevereiro de 2018
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percebe uma vila pacata jaacute que todo o movimento foi desviado por fora da vila e a
mesma natildeo proporciona lazer para as pessoas que ao terminarem o ensino
fundamental para continuar seus estudos precisam fazer uso do transporte escolar
e se deslocar ateacute a Sede ou ir ao municiacutepio de Cambaraacute do Sul
44 DISTRITO DE ELETRA
O distrito de Eletra foi criado em 31 de dezembro de 1932 estando situado a
19 quilocircmetros da Sede do municiacutepio Poreacutem a populaccedilatildeo local chama de Salto e
seu nome vem das barragens do Salto Blang e Divisa construiacutedas sobre o Rio do
Salto que atravessa o distrito Segundo a moradora local47 Soares ldquoas barragens
que fornecem aacutegua para as usinas no municiacutepio de Satildeo Francisco de Paula e nos
municiacutepios vizinhos de Canela Gramado e Cambaraacute do Sulrdquo A Figura 16 apresenta
uma imagem da Barragem do Salto barragem esta que se situa proacutexima da vila do
distrito
Figura 16 ndash Barragem do Salto
Fonte acervo pessoal da autora (2018)
Ao observarmos a Figura 16 percebe-se que o acesso da vila para o interior
do distrito acontece por uma ponte de concreto estreita com piso bastante irregular
47 SOARES Susana Marques Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018
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e que em periacuteodos de fortes chuvas o acesso fica interrompido devido agrave altura
Poreacutem ao lado direito percebe-se uma estrutura pequena que segundo o morador
Gomes
Foi uma tentativa de uma empresa japonese construir uma ponte soacute que quando estavam construindo deu uma enchente e levou tudo a aacutegua abaixo a empresa foi embora e nunca mais voltou Jaacute foram feitos estudos que a ponte tem que ser construiacuteda mais para baixo e em forma de arco se natildeo a chuva leva de novo poreacutem natildeo acredito que saia algum dia48
Entende-se que a construccedilatildeo desta nova ponte melhoraria o acesso dos
proprietaacuterios rurais que para saiacuterem de suas propriedades em eacutepocas de chuva
intensa necessitam fazer um longo caminho por estradas de chatildeo batido para terem
acesso ao municiacutepio de Canela bem como a Sede de Satildeo Francisco de Paula
Contudo a moradora explica que a vila do distrito se forma muito antes da
construccedilatildeo da barragem
Em 1915 era uma fazenda chamada Fazenda do Salto e esta pertencia a Francisco Soares de Oliveira Neste local havia sua casa de moradia um galpatildeo e mangueiras onde realizava as suas atividades poreacutem em 1916 o Chico resolveu transferir a casa da Fazendo do Cerro para o Salto tambeacutem sendo construiacuteda aiacute a segunda casa a partir de entatildeo se iniciou o povoado com a construccedilatildeo de novas residecircncias para seus empregados e posteriormente se instalou uma serraria dos irmatildeos Delavechia esta sendo movida a aacutegua dando definitivamente o iniacutecio do povoamento da vila49
Ao analisar a fala da moradora local se percebe que onde hoje se encontra a
vila do distrito de Eletra jaacute foi uma fazenda identificando-se com a mesma formaccedilatildeo
do distrito Sede que tambeacutem surge de terras doadas por um fazendeiro Segundo a
entrevistada Soares50 ldquoa sua casa eacute uma das mais antigas tem 102 anos foi
construiacuteda de pinheiro serrada aqui mesmo na serrariardquo pode-se observar o oacutetimo
estado de conversaccedilatildeo da casa que traz traccedilos arquitetocircnicos europeus na sua
construccedilatildeo natildeo se tem imagem da casa visto que a entrevistada natildeo permitiu
nenhuma imagem de sua residecircncia
Outro fator importante do povoamento da vila segundo o morador local
Gomes51 ldquofoi o iniacutecio da construccedilatildeo da Barragem do Salto no ano de 1925rdquo onde
48 GOMES Jaures Feijoacute Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018 49 SOARES Susana Marques Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018 50 SOARES Susana Marques Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018 51 GOMES Jaures Feijoacute Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018
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vieram muitos funcionaacuterios de vaacuterios lugares tendo como mestre da obra segundo
os moradores locais52 o ldquoAcircngelo Goubertrdquo
Devido agrave necessidade que se formou no distrito neste periacuteodo se abriu um
hotel farmaacutecia cartoacuterio rodoviaacuteria e cinema a moradora local Soares saudosa
diz53 ldquotudo fechou aqui natildeo tem mais nadardquo referindo-se a atual situaccedilatildeo que a vila
se encontra
Os moradores ainda declaram sobre o distrito54 ldquoestaacute abandonado pelo poder
puacuteblico ateacute o calccedilamento das ruas foi arrancadordquo poreacutem outrora foi um local de
muita alegria
A vida era uma festa permanente o tio Chico era casado com a tia Lisoca ela foi para Porto Alegre para os filhos estudar quando vinham nas feacuterias traziam os amigos O tio Chico pagava um gaiteiro por mecircs para ele toca toda noite entatildeo era aquele divertimento55
Atualmente na vila existe a Escola Estadual de Ensino Fundamental Cristino
Ramos com menos de cem alunos e a festa cristatilde cuja celebraccedilatildeo ocorre em
fevereiro sendo Santo Antocircnio o padroeiro local A moradora explica sobre a
construccedilatildeo da capela
A primeira capela a tempestade derrubou em 1957 se construiu outra O santo padroeiro eacute Santo Antocircnio a imagem foi trazida por quarenta cavaleiros Daiacute o padre pediu para que a imagem de Nossa Senhora Catarina tambeacutem fosse acolhida hoje temos dois padroeiros mas para mim Santo Antocircnio eacute o principal56
Percebe-se na fala dos moradores a sua devoccedilatildeo e sua preocupaccedilatildeo com o
futuro da vila visto que ateacute a questatildeo do cemiteacuterio jaacute foi palco de discussatildeo pois o
cemiteacuterio da vila iniciou pela famiacutelia dos Soares sendo este particular Poreacutem a
moradora explica com certa indignaccedilatildeo
O cemiteacuterio era particular da famiacutelia Soares teve um tempo que resolveram abrir veio gente ateacute de Passo Fundo ser enterrada aqui natildeo pediam para ningueacutem tomaram conta Daiacute organizamos uma comissatildeo responsaacutevel decidimos que tinha que ter uma contribuiccedilatildeo e natildeo podia trazer gente de fora para enterrar soacute gente daqui Ningueacutem pagou Aiacute mandei fazer cerca nova a parte dos Soares sempre limpei mas [] hoje acabo limpando tudo
52 GOMES Jaures Feijoacute SOARES Susana Marques Entrevistas concedidas agrave autora no dia 15 de
fevereiro de 2018 53 SOARES Susana Marques Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018 54 GOMES Jaures Feijoacute SOARES Susana Marques Entrevistas concedidas agrave autora no dia 15 de
fevereiro de 2018 55 SOARES Susana Marques Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018 56 SOARES Susana Marques Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018
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porque ningueacutem limpa Enquanto eu for viva vou fazer depois vatildeo entregar para a prefeitura igreja natildeo sei57
A Figura 17 apresenta uma foto da igreja atual tendo em sua lateral direita a
capela mortuaacuteria e ao fundo o Salatildeo Paroquial da comunidade onde ocorre a festa
do Santo Padroeiro
Figura 17 ndash Igreja Santo Antocircnio ndash Distrito de Eletra
Fonte acervo pessoal da autora (2018)
Ao conversar com os moradores locais pode-se observar a feacute cristatilde poreacutem
ambos relatam que a festa de fevereiro atualmente eacute pouco divulgada motivo pelo
qual acreditam que natildeo haja um nuacutemero expressivo de pessoas Ambos sentem um
apreccedilo pelo local onde nasceram e vivem poreacutem ambos relatam
Aqui eacute lugar de dormir as pessoas trabalham em Canela e vem dormir aqui a grande maioria natildeo eacute daqui vieram de fora haacute muitas casas de veraneio tudo gente de Porto Alegre que vem passar feacuterias natildeo rende nada para aqui o que precisam trazem tudo de fora A maioria de quem mora aqui soacute dorme passa o dia fora O ocircnibus das 7 horas sai lotado a gente natildeo conhece mais ningueacutem daqui mesmo soacute noacutes Susana e eu58
Mesmo a vila sendo um local de parada estaacute rodeada de lindos campos e
fazendas cuja a atividade principal eacute a pecuaacuteria extensiva natildeo proporciona
57 SOARES Susana Marques Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018 58 GOMES Jaures Feijoacute Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018
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trabalho no local motivo pelo qual seus moradores buscam sua subsistecircncia em
outro municiacutepio poreacutem possui uma exuberante natureza relata cheia de esperanccedila
a moradora local59 ldquoeu tenho esperanccedila que algueacutem olhe para caacute e veja as belezas
que tem aqui que o lugar volte a se desenvolverrdquo desenvolvimento este que
poderia vir atraveacutes da exploraccedilatildeo do turismo rural ldquoSe vocecirc quiser comer alguma
coisa agora natildeo vai encontrar nada aqui soacute tem lsquobutecorsquo60 mas eles natildeo vendem
nada nem sanduiacuteche pastel eacute uma vergonhardquo fala indignado o morador Gomes61
A populaccedilatildeo que vive nas fazendas aleacutem de ter as lides campeiras no seu
dia-a-dia nos finais de semana segundo o morador Gomes62 ldquolaccedila em torneio vai
nos rodeiosrdquo o que marca a presenccedila do tradicionalismo gauacutecho em uma parte da
populaccedilatildeo do distrito poreacutem com relaccedilatildeo aos moradores da vila natildeo haacute algo que
os identifique visto a miscigenaccedilatildeo que ocorreu e por haver muitas casas de
veraneio no local
45 DISTRITO DO JUAacute
O distrito do Juaacute foi criado em 10 de maio de 1950 e fica distante 65
quilocircmetros da Sede O distrito recebe esse nome devido a um espinho que havia
em abundacircncia no local nome este dado por tropeiros
Os accedilorianos que vinham de Santo Antocircnio da Patrulha e iam para Vacaria com cargueiros eles vinham fazer repouso laacute em cima no reduto e ali tinha muita frutinha do juaacute entatildeo os tropeiros saiam de Santo Antocircnio e diziam vamos posa laacute nos juaacute daiacute o nome do lugar que permanece ateacute hoje63
Juaacute eacute o nome dado a um espinho muito comum na regiatildeo dos campos de
cima da serra que daacute uma fruta amarela em formato redondo que segundo os
moradores locais eacute uma fruta venenosa conforme se observa na Figura 18
59 SOARES Susana Marques Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018 60 Buteco pequeno comeacutercio que normalmente vende bebidas alcooacutelicas e possui mesa de sinuca 61 GOMES Jaures Feijoacute Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018 62 GOMES Jaures Feijoacute Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018 63 REIS Orides Entrevista concedida agrave autora no dia 12 de maio de 2018
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Figura 18 ndash Peacute com a fruta conhecido como Juaacute
Fonte acervo de Clessandra Palhano (moradora local) (2018)
O reduto citado pelo morador local ficava em uma fazenda local onde hoje se
encontra a vila do distrito conforme o entrevistado Reis explica
O primeiro morador eu natildeo lembro soacute sei que o Juaacute era de pouca gente famiacutelia Pedroso e Castilhos daiacute foram morrendo inventariando e vendendo e aos poucos se formou a vila importante o dono de tudo isso aiacute tinha dois escravos no iniacutecio teve escravidatildeo claro na eacutepoca de mil oitocentos e pouco eu acho mas teve E hoje deve ter descendente destes escravos por aiacute64
Escravidatildeo que vai dar origem ao preconceito racial e a um modelo particular
da localidade que sem precisar data explica o morador
Aqui tinha dois salatildeo trecircs com o da Igreja mas era dois salatildeo social Era um clube de brancos que era dos ricos neacute fazendeiros o Salatildeo Vera Cruz e depois fundaram o Satildeo Valentim que era dos morenos que na eacutepoca ateacute eu fui presidente Cada um no seu salatildeo agora quando dava a festa cristatilde em homenagem ao Satildeo Joatildeo de Deus todo o povo reunia-se quando chegava de noite no saacutebado no baile entatildeo cada um ia pro seu salatildeo A muacutesica ficava no salatildeo dos brancos daiacute colocava umas caixas de som laacute pros morenos com um fio pra eles danccedila Um natildeo podia entra no baile do outro tinha o presidente para cuida Cada um no seu tudo se respeitava e obedecia aquela ordem65
Ainda acrescenta a moradora local Santos
64 REIS Orides Entrevista concedida agrave autora no dia 12 de maio de 2018 65 REIS Orides Entrevista concedida agrave autora no dia 12 de maio de 2018
64
O nosso eu natildeo me lembro o nome tem tanto papel mas natildeo sei onde estaacute o nosso dos pretos neacute ningueacutem implicava eles natildeo deixavam noacutes entra no salatildeo Vera Cruz eu entrava de cozinheira empregada porque ali era lugar dos ricaccedilos eles podiam se associar mas o nosso tambeacutem enchia mas eles iam no nosso baile de nego soacute olhavam As festas duravam dias Tinha aquele foguetoacuterio era tatildeo bonito66
Percebe-se na fala dos moradores como esta divisatildeo racial se fazia presente
que havia por parte dos negros um profundo respeito pelos brancos mesmo eles
tendo acesso ao salatildeo Vera Cruz somente para servi-los em nenhum momento se
percebeu que eles se sentissem diminuiacutedos pela situaccedilatildeo ateacute pela cultura que
advinha desde os primeiros moradores locais
Esta divisatildeo social permanece por longo tempo e somente vai desaparecer
nos anos 80 do seacuteculo XX com a contribuiccedilatildeo do Frei Abiacutelio que veio da Vacaria
durante Missotildees convocadas pelo paacuteroco local padre Afonso que conseguiu
modificar esta organizaccedilatildeo implantando a ideia de igualdade e ignorando tudo
aquilo a partir de entatildeo os negros comeccedilaram a frequentar a sociedade Vera Cruz
contribuiccedilatildeo dos entrevistados67 que ao abordar o assunto demonstraram repulsa
pelo passado mas ao mesmo tempo reconhecem que o racismo ainda eacute presente
na comunidade poreacutem devido agraves leis existe um cuidado maior
Atualmente negros e brancos convivem em harmonia participam da festa
cristatilde cujo padroeiro eacute Satildeo Joatildeo de Deus e dos torneios de laccedilo mas geralmente
quem laccedila satildeo os fazendeiros Saudoso o morador68 afirma que ldquouma vez tinha as
carreradas tinha trecircs canchas passava o domingo nas canchas brincando nas
corridas de cavalos tudo terminourdquo Acrescenta69 ainda que ldquoem 70 80 tinha o
futebol o campo era na baixada acho que tem ainda trofeacuteu ai mas daiacute a gurizada
foi embora para a cidade terminou o timerdquo
A vila se construiu de maneira simples tendo a Igreja Catoacutelica com o Salatildeo
Paroquial agrave direita o antigo Centro de Tradiccedilotildees Gauacutechas Laccedilo Velho do Juaacute onde
resta apenas o preacutedio de madeira corroiacuteda pelo tempo ao fundo a cancha de laccedilo
do Piquete de Laccediladores Velho do Juaacute entidade tradicionalista que se manteacutem ativa
desde o iniacutecio da deacutecada de 1960 ao redor haacute casas de moradias que formam ao
centro uma grande praccedila sem nenhuma infraestrutura em frente a esta praccedila
66 SANTOS Deotildes Palhano dos Entrevista concedida agrave autora no dia 12 de maio de 2018 67 REIS Orides SANTOS Deotildes Palhano Entrevistas concedida agrave autora no dia 12 de maio de
2018 68 REIS Orides Entrevista concedida agrave autora no dia 12 de maio de 2018 69 REIS Orides Entrevista concedida agrave autora no dia 12 de maio de 2018
65
perpassa uma rua de chatildeo batido sendo que a escola da comunidade fica do outro
lado a escola eacute municipal se chama Bento Eziacutedio Rodrigues atende
aproximadamente vinte alunos que estatildeo matriculados nas seacuteries iniciais do ensino
fundamental tendo duas professoras e um funcionaacuterio para fazer merenda e limpar
o paacutetio como se pode observar na Figura 19
Figura 19 ndash Praccedila Vila do Distrito Juaacute ao fundo cancha de laccedilo
Fonte acervo pessoal da autora (2018)
Ambos os entrevistados70 explicam que o Juaacute atualmente eacute um lugar de
idosos aposentados que outrora as pessoas viviam das roccedilas e da pecuaacuteria
extensiva na deacutecada de 1980 com o advento da induacutestria em Caxias do Sul os
jovens abandonaram seu modo de vida e foram buscar novas oportunidades poreacutem
estes jovens que foram embora retornam com frequecircncia natildeo perdendo a sua
essecircncia Relataram que a uacutenica fonte de trabalho eacute ser peatildeo de fazenda fazendas
estas que produzem o queijo serrano ou vendem leite para a Piaacute71 sendo que a
lavoura eacute para subsistecircncia Outra fonte de renda eacute ser funcionaacuterio da serraria cujo
proprietaacuterio e Joatildeo Egiacutedio que funciona proacuteximo da vila Outro fator importante eacute a
venda de pequenas chaacutecaras para moradores de Caxias do Sul que vem aos finais
70 REIS Orides SANTOS Deotildes Palhano Entrevistas concedidas agrave autora no dia 12 de maio de
2018 71 Piaacute Cooperativa Agropecuaacuteria Petroacutepolis Ltda Empresa que faz a coleta do leite nas fazendas da
regiatildeo
66
de semana descansar na localidade poreacutem se percebe que estes novos moradores
muitas vezes natildeo interagem com os moradores locais
Segundo o morador Reis72 ldquoapesar da vinda de pessoas de outros lugares o
Juaacute natildeo perdeu sua identidade fala em Juaacute lembra pinhatildeo colheita do pinhatildeo ateacute
haacute uma criacutetica que diz na eacutepoca do pinhatildeo o juazeiro fala grossordquo Ditado que o
entrevistado73 reafirma sorrindo ldquona eacutepoca do pinhatildeo o juazeiro fala grosso claro
que eacute apenas um dito popular uma maneira de se referir mas sempre eacute dito haacute
aqueles que natildeo gostamrdquo
Nota-se que a vida na comunidade do Juaacute se passa de forma tranquila com
poucos moradores que sua identidade estaacute relacionada agrave pecuaacuteria extensiva com
as lides com o gado bem como ao pinhatildeo uma fruta tiacutepica que se desenvolve na
Araucaacuteria ou pinheiro nativo como eacute conhecido na regiatildeo O pinhatildeo seja ele
assado cozido ou paccediloca74 eacute muito consumido pelos moradores do interior de Satildeo
Francisco de Paula durante o inverno inclusive como mistura do cafeacute da manhatilde
46 DISTRITO DO RINCAtildeO DOS KROEFF
O distrito de Rincatildeo dos Kroeff foi criado em 10 de maio de 1950 Fica a 35
quilocircmetros distante da Sede poreacutem muito antes de se institucionalizar oficialmente
este espaccedilo moradores locais contam como tudo se iniciou
Meu avocirc foi um dos primeiros a vim para caacute ele se chamava Guilherme Faciole ele nasceu no navio vindo da Itaacutelia Ele contava que teve uma desavenccedila em Caxias e fincou o peacute pra caacute pra natildeo acharem ele que aqui era soacute mato e na revoluccedilatildeo de 35 ele fugia de casa para natildeo ser levado pelas tropas os piquetes levavam para combater entatildeo ele sempre dizia que pousou vaacuterias noites embaixo dos peraus da serra do Umbu para natildeo ser levado O falecido vovocirc vivia da caccedila do porco do mato tateti ele fazia charque de porco para ter a carne ele viveu 106 anos e dizia se natildeo tivesse fumado viveria mais uns dez isso faz parte da histoacuteria do Rincatildeo dos Kroeff Junto teve o falecido Acircngelo Menegaacutes que entro aqui na mesma eacutepoca Eles satildeo os fundadores do distrito75
O acesso ao distrito Rincatildeo dos Kroeff permanece totalmente pela estrada de
chatildeo batido sendo possiacutevel ir ao municiacutepio de Maquineacute descendo pela serra do
Umbu Poreacutem muito antes da estrada a busca de mantimentos e o escoamento da
72 REIS Orides Entrevista concedida agrave autora no dia 12 de maio de 2018 73 REIS Orides Entrevista concedida agrave autora no dia 12 de maio de 2018 74 Paccediloca carne de porco moiacuteda e frita no azeite ou banha a qual se acrescenta o pinhatildeo jaacute cozido
e moiacutedo 75 FACIOLE Reinaldo Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de marccedilo de 2018
67
produccedilatildeo se dava pelos carreiros visto que natildeo havia abertura de estrada e nem
viatura76 como os moradores relatam
Tudo era na tropeada as tropas que ia para Rolante Na tropeada saia um tropeiro na frente e um recircs com um cincerro que era a madrinheira da tropa saia laacute pelo Chuvisqueiro e saia laacute em Rolante perdia boi na estrada ficava semanas boi perdido agraves vezes nem se achava mais tambeacutem tinha tropa de porco e tinha as tropeadas de mula puxando milho feijatildeo trigo tudo produzido aqui e levado de cargueiro carreta era muito pouco porque natildeo tinha estrada para anda era soacute os trilhos pelo meio dos matos e campos e se produzia milho era o inverno inteiro saia tropas e mais tropas com trinta quarenta mulas burros transportando mantimentos da produccedilatildeo do gratildeo haacute tambeacutem tinha a flor de Pireto que era lucro ningueacutem conhece isso aiacute hoje essa flor era levada para Taquara e fazia veneno para formiga tudo que era tipo de veneno era uma flor muito toacutexica Acredita tropear galinha pois eacute a gente criava bastante saia com os cargueiros como era a vida eles faziam um girau no cesto naqueles balaios para fazer duas camas uma mais em cima e outra em baixo daiacute quando era veratildeo era muito quente tinha que no meio da viagem tirar de dentro do cesto botar na aacutegua na sanga para natildeo morrer ateacute chegar no mercado dali para praia a eacutepoca que mais vendia era novembro e dezembro daiacute tinha preccedilo bom tudo criada solta aviaacuterio nem se falava77
Ao ouvir os moradores se percebe que a construccedilatildeo do distrito aconteceu
devido ao esforccedilo e trabalho de muitas pessoas visto que o local era de mata nativa
densa e precisou ser desmatado para ser ocupado pelas pessoas Explica o
entrevistado Faciole78 ldquopara fazer uma lavoura tambeacutem precisava derrubar o
pinheiro seu Onorino Buffon me contou que faziam fogo ao redor do pinheiro eles
eram muito grosso para derrubar a machado entatildeo faziam fogo secavam para
depois fazer a roccedilardquo E a moradora79 local acrescenta ldquoaqui tambeacutem tinha os
barbacuazeiros produziam erva mais aqui eles soacute tiravam a erva e sapecavam e
depois ia para outro lugar industrializa tudo era diferenterdquo
Poreacutem segundo os moradores este modelo de vida rudimentar se modifica
com a chegada das serrarias sendo que a dos Kroeff foi a primeira juntamente com
a serraria se viu a necessidade da construccedilatildeo de novas casas para os
trabalhadores surgindo ali a vila do distrito Rincatildeo dos Kroeff no iniacutecio a serraria era
tudo manual relata Faciole80 ldquoa uacutenica forma de tira a madeira era com um enfieira
76 Viatura se refere a carro de passeio caminhotildees 77 FACIOLE Reinaldo FACIOLE Maria Madalena Scalco Entrevistas concedidas agrave autora no dia 18
de marccedilo de 2018 78 FACIOLE Reinaldo Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de marccedilo de 2018 79 FACIOLE Maria Madalena Scalco Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de marccedilo de 2018 80 FACIOLE Reinaldo Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de marccedilo de 2018
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de boi eu cheguei a ver cinco ternos de boi carreiro81 emendado puxando um
pinheiro eacute uma bicheira de boi natildeo tinha outra formardquo
Rincatildeo dos Kroeff eacute o menor distrito de Satildeo Francisco de Paula poreacutem em
suas terras se desenvolveu a cultura dos hortifrutigranjeiros desde muito cedo jaacute
que sua colonizaccedilatildeo eacute basicamente italiana e alematilde e os italianos tecircm a cultura do
plantio visando lucro A moradora Faciole82 afirma ldquotudo comeccedilou por aqui depois
se expandiu para o municiacutepio comeccedilamos com moranga branca depois repolho
couve broacutecolis alface e daiacute veio beterraba e tudo o restordquo Acrescenta ainda83 que
ldquodaqui saiacuteram os primeiros caminhotildees de hortifruacuteti do municiacutepio para a Ceasa teve
eacutepoca de sair quarenta caminhotildees por dia do Rincatildeo hoje natildeo sai mais porque
muitos foram buscar novos lugares para plantarrdquo E juntamente com a mudanccedila dos
proprietaacuterios em busca de novas terras muitos de seus funcionaacuterios foram embora
junto afirma em entrevista o morador local84 ldquomuita gente do Rincatildeo foi embora
muitas gurias foram embora para estudar para achar emprego e natildeo voltaram maisrdquo
Atraveacutes da fala da moradora pode-se observar que apesar do distrito ser
produtivo enfrenta algumas dificuldades com relaccedilatildeo ao estudo de seus moradores
que para continuarem seus estudos se assim o desejarem necessitam abandonar
seus pais e ir em busca na Sede ou arredores visto que no distrito existe uma uacutenica
escola Gastatilde Henth Esta eacute municipal e atende dos quatro anos ao nono ano do
ensino fundamental A moradora Faciole explica
O coleacutegio hoje tem 99 alunos ao total quando eles terminam o nono ano alguns vatildeo estudar mas satildeo pouquiacutessimos os outros ficam por aiacute mesmo natildeo tem um transporte que leve eles para fazer o ensino meacutedio na Sede que seria a escola de ensino meacutedio mais proacuteximo se quiser estudar vai ter que ir embora reforccedila quem e trabalhador fica trabalhando com os pais quem natildeo eacute [] As pessoas na sua grande maioria soacute tem o ensino fundamental aqui85
Este eacute um dos grandes problemas enfrentados pelos moradores do Rincatildeo
dos Kroeff a possibilidade de continuar estudando A escola que laacute existe os
moradores locais natildeo sabem precisar a data mas sabem que foi durante o mandato
81 Ternos de boi carreiro significam vaacuterias duplas de bois cangados e ligados por um pedaccedilo de
madeira que vatildeo na canga entre a dupla de bois Esse pau roliccedilo na regiatildeo se chama de cambatildeo 82 FACIOLE Maria Madalena Scalco Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de marccedilo de 2018 83 FACIOLE Maria Madalena Scalco Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de marccedilo de 2018 84 FACIOLE Reinaldo Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de marccedilo de 2018 85 FACIOLE Maria Madalena Scalco Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de maio de 2018
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do prefeito Escobar (1977-1982) que ela foi construiacuteda Neste contexto aparece
tambeacutem a dificuldade de se locomover fazendo uso do transporte puacuteblico
Haacute sete anos atraacutes o Rincatildeo estava bom mesmo tinha ocircnibus da praia agraves vezes passava quatro a cinco ocircnibus da praia tudo pela serra do Umbu Agora soacute tem um trecircs dias por semana As empresas deixaram de trafegar por aqui elas natildeo vatildeo descer numa serra de chatildeo batido sendo que tem a outra86 com asfalto87
Os moradores se orgulham da festa religiosa que acontece todos os anos em
agosto sendo que o santo padroeiro eacute Satildeo Roque A festa da comunidade
apresenta uma tradiccedilatildeo local muito interessante na segunda-feira apoacutes a festa ela
continua para os moradores locais que vatildeo ao salatildeo paroquial para se divertir entre
si e esta eacute uma tradiccedilatildeo que eacute comentada em todo o municiacutepio Faciole88 saudoso
afirma ldquopara ti ter uma ideia nessa festa chegava dar vinte poucos ocircnibus lotado que
vinham de outros municiacutepios como Igrejinha Taquara Porto Alegre Novo
Hamburgo o espaccedilo ficava pequenordquo Acrescenta89 ainda ldquoaqui noacutes tinha o Clube
Serrano que dava baile janta italiana dava um movimento louco mas terminou ateacute
o baile das rainhas cada ano era uma era tatildeo lindo mas tudo se acabourdquo
Figura 20 ndash Imagem da Igreja Satildeo Roque em dia de festa no Rincatildeo dos Kroeff
Fonte acervo pessoal da autora (2018)
86 A outra se refere a rodovia RS-453 conhecida como Rota do Sol 87 FACIOLE Reinaldo Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de marccedilo de 2018 88 FACIOLE Reinaldo Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de marccedilo de 2018 89 FACIOLE Reinaldo Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de marccedilo de 2018
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Percebe-se que o distrito Rincatildeo dos Kroeff eacute o uacutenico que obteve em seu
iniacutecio uma colonizaccedilatildeo por descentes de italianos dentro do municiacutepio de Satildeo
Francisco de Paula o que demonstra o quatildeo forte se daacute a tradiccedilatildeo ldquoitalianardquo neste
local permanecendo intriacutenseca na vida cotidiana de seu povo com a cultura do
plantio de hortifrutigranjeiros que permanece apesar do tempo como sendo a sua
maior identidade local
47 DISTRITO DE LAJEADO GRANDE
Lajeado Grande em tempos idos pertenceu ao distrito de Cazuza Ferreira e
somente em 12 de dezembro de 1968 se tornou um distrito independente segundo
a Lei nordm 655 encontrada nos autos da Prefeitura Municipal de Satildeo Francisco de
Paula A vila do distrito Lajeado Grande fica distante 63 quilocircmetros da Sede e se
situa na confluecircncia do Arroio Porco Morto e o Rio Bururi Seu surgimento acontece
segundo o morador Fogaccedila90 ldquopor volta de 1940 com a abertura da estrada Canela
ndash Bom Jesus a atual RS-476 que corta a vila do Distritordquo Essa estrada segundo o
morador facilitou a locomoccedilatildeo que anteriormente era feita totalmente pelas trilhas e
picadas por onde somente se passava a cavalo ou de carreta E o entrevistado
explica como acontece o desenvolvimento inicial da vila
Tu sabe aqui tem o nome de Lajeado Grande por causa do rio que eacute cheio de lajes grandes o que facilitava a travessia e as terras aqui por roda era tudo do falecido Pequeno Cardoso ele doou parte para a construccedilatildeo da vila onde o falecido Leopoldino Cardoso irmatildeo do Pequeno tinha uma lsquobudega velharsquo91 por aqui sendo o primeiro comeacutercio da vila92
A abertura da estrada possibilitou o desenvolvimento da vila juntamente com
o Casaratildeo um hotel pensatildeo que foi construiacutedo as margens do Arroio Porco Morto
este Casaratildeo passou por diversos proprietaacuterios
Leopoldino Cardoso foi o idealizador do Casaratildeo juntamente com os seus soacutecios Heraacuteclito Andrade de Cardoso lsquoJoanitorsquo Joseacute Osoacuterio de Lima lsquoZecarsquo e Pequeno Cardoso sendo que o Casaratildeo era uma casa de negoacutecio compravam queijo couro era um comeacutercio forte vendia secos e molhados inclusive a primeira rodoviaacuteria foi instalada neste espaccedilo poreacutem em 1948 Joatildeo Pacheco Cardoso assume e amplia o estabelecimento construindo o segundo piso da casa de madeira e alugando para outros dois moradores
90 FOGACcedilA Blair dos Santos Entrevista concedida agrave autora no dia 06 de abril de 2018 91 Budega velha referindo-se a uma antiga casa de comeacutercio de secos e molhados localizada onde
hoje se encontra o armazeacutem Celeiro 92 FOGACcedilA Blair dos Santos Entrevista concedida agrave autora no dia 06 de abril de 2018
71
Eremi Terres e Claunir Lucena Com a reforma o Casaratildeo passa a ter treze quartos para aluguel uma loja onde encontrava-se tudo o que se necessitava de alfinete tecido alimentos e raccedilotildees aleacutem da ala que servia de moradia para os proprietaacuterios Em 1962 o estabelecimento eacute alugado para Eraldo Bento de Oliveira que aleacutem de gerenciar o estabelecimento colocou junto um bar local de encontro dos homens da redondeza para tomar um lsquotragorsquo93 (CERUTTI SILVA CARDOSO 2002 p 19)
Figura 21 ndash Imagem do Casaratildeo pouco antes de ser desmanchado
Fonte acervo pessoal de Fernando Oliveira (conhecido como Guego) (2018)
O Casaratildeo foi desmanchado na deacutecada de 1980 pelo entatildeo proprietaacuterio Reno
Pacheco Poreacutem percebe-se na vila que seus antigos moradores falam com certo
saudosismo deste estabelecimento que fez parte de suas vidas e chegam a
lamentar o seu fim morador Fogaccedila94 afirma ldquoali se fez o pastel mais famoso do
Lajeado Grande o pastel da Odila mas tudo se acabou quando eles entregaram e
construiacuteram laacute na esquinardquo95
Poreacutem a vila Lajeado Grande foi lentamente se desenvolvendo Devido agrave
necessidade da conservaccedilatildeo da nova estrada foi construiacuteda agraves margens do Rio
Bururi uma capatazia do DAER Segundo Cerutti Silva e Cardoso (2002 p 18) ldquoo
primeiro capataz foi Capitulino Prudecircncio de Oliveira vindo de Santa Catarina sua
funccedilatildeo era manter as estradas e chegou a ter vinte funcionaacuteriosrdquo Percebe-se que a
93 Trago expressatildeo local que significa beber uma cachaccedila 94 FOGACcedilA Blair dos Santos Entrevista concedida agrave autora no dia 06 de abril de 2018 95 Esquina eacute o nome dado a parte da vila do Lajeado Grande onde se daacute o entroncamento das
rodovias RS-453 e ERS-476
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partir deste momento se inserem neste distrito pessoas advindas de outros estados
e locais visto que ateacute o presente momento o distrito era habitado por fazendeiros
naturais do proacuteprio municiacutepio e que tinham suas vidas ligadas diretamente agrave
pecuaacuteria extensiva e agrave produccedilatildeo do queijo serrano Importante destacar que a
esposa de Capitulino segundo Cerutti Silva e Cardoso (2002 p 18) ldquoa Celicina
Guilherme da Silva se torna uma figura conhecida por realizar partos sendo
chamada como parteira de campanhardquo Na atualidade filhos netos e bisnetos do
casal ainda residem na vila
A vila do Lajeado Grande tambeacutem recebe novos moradores com a praacutetica do
corte do pinheiro nativo sendo que na deacutecada de 1950 havia uma faacutebrica de
beneficiamento de madeira ateacute se transformar em pasta este material era levado
para Esteio onde funcionava agrave matriz A partir dos anos 1950 ocorre a instalaccedilatildeo de
serrarias sendo que a Madeireira Albeflor de propriedade de Valter Sguaizer se
instala em 1964 Novamente busca-se matildeo de obra em localidades proacuteximas como
Lagoa Vermelha Vacaria e Bom Jesus poreacutem com a proibiccedilatildeo da extraccedilatildeo de
madeira de lei a serraria deixou de funcionar
Percebe-se que no distrito natildeo houve uma homogeneizaccedilatildeo identitaacuteria visto a
influecircncia advinda de muitas culturas no passado atraveacutes da extraccedilatildeo de madeira
e na atualidade com o advento das lavouras de hortifrutigranjeiros e pomares
frutiacuteferos que ocupam boa parte do distrito substituindo a pecuaacuteria extensiva que jaacute
natildeo proporciona um lucro efetivo Entatildeo os proprietaacuterios na sua grande maioria
venderam ou arrendaram suas terras para novas culturas o que modifica o modo de
vida local pois grande parte dos trabalhadores adveacutem de outros estados como o
Paranaacute e tambeacutem se observa o uso da matildeo de obra indiacutegena
Essa miscigenaccedilatildeo se observa nas escolas locais visto que na vila funciona a
Escola Municipal D Pedro I que segundo Cerutti Silva e Cardoso (2002 p 35)
ldquoinicia em 1965 poreacutem a professora e o preacutedio eram mantidos pela Serraria mas na
deacutecada de 70 a prefeitura assumiu a escola sendo que Eloci Martim foi a primeira
professora da Serrariardquo Escola da Serraria como ainda eacute conhecida por boa parte
dos moradores locais apesar de a escola natildeo se encontrar mais onde havia a antiga
serraria Atualmente a Escola Dom Pedro I funciona em um preacutedio obtido atraveacutes da
Associaccedilatildeo de Moradores atendendo alunos da preacute-escola ateacute o sexto ano das
seacuteries finais tendo em seu quadro seis professores e duas funcionaacuterias Sendo que
73
a obra para um novo preacutedio teve iniacutecio neste ano mas percebe-se que a obra parou
por volta do mecircs de maio Poreacutem na vila tambeacutem se encontra uma escola estadual
A documentaccedilatildeo necessaacuteria para a criaccedilatildeo de uma nova escola na localidade foi elaborada por Manoel Cardoso de Andrade juntamente com a professora Odazilda Cardoso Demori e encaminhada agrave Secretaria da Educaccedilatildeo sendo que em 11 de fevereiro de 1953 foi criada a Escola Isolada de Lajeado Grande sendo os professores estaduais mas o preacutedio sob responsabilidade comunitaacuteria iniciou o seu funcionamento nas dependecircncias do DAER e somente em 1957 foi construiacutedo um preacutedio de madeira em terras doadas por Pequeno Cardoso local onde hoje ainda se encontra a escola poreacutem passou por muitas reformas sendo que em 2000 recebeu um novo preacutedio de alvenaria o que possibilitou a realizaccedilatildeo de um grande sonho dos professores e comunidade a implantaccedilatildeo do Ensino Meacutedio que concretizou-se em 200296
Atualmente a escola atende em torno de trezentos alunos da Educaccedilatildeo
Baacutesica poreacutem percebe-se que devido agraves safras de hortifrutigranjeiros o nuacutemero de
alunos se alterna durante o ano O que tambeacutem se percebe eacute o comportamento dos
alunos com relaccedilatildeo agrave diversidade cultural por exemplo usam bombacha laccedilam boi
de pau no recreio e escutam funk uma cultura totalmente diferente da tradicionalista
gauacutecha o que compreende-se como algo advindo da globalizaccedilatildeo cultural que
vivemos no mundo atual reforccedilando novamente o natildeo reconhecimento de uma
identidade forte na localidade
Poreacutem as famiacutelias tradicionais do local manteacutem fortemente arraigada a
cultura tradicionalista que adveacutem do homem do campo tendo no distrito festas
campeiras torneios de laccedilo e a festa religiosa uma vez por ano em homenagem ao
Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus padroeiro da vila
Na atualidade natildeo se percebe uma identidade forte e marcada no distrito e
sim uma miscigenaccedilatildeo de diferentes culturas e etnias que convivem e se integram
harmonicamente
96 CARDOSO Amaacutelia Celuderes Entrevista concedida agrave autora no dia 08 de marccedilo de 2018
74
5 DESCRICcedilAtildeO DO PRODUTO
O produto consiste em um livro paradidaacutetico sobre a histoacuteria de Satildeo Francisco
de Paula Apresenta de maneira didaacutetica a histoacuteria de Satildeo Francisco de Paula bem
como balotildees explicativos imagens sugestotildees de atividades e leituras
complementares Poderaacute servir de apoio pedagoacutegico a professores e alunos do
municiacutepio visto que existe pouco material sobre a histoacuteria deste municiacutepio e se faz
importante trabalhar a histoacuteria local percepccedilatildeo que a autora obteve ao longo da sua
caminhada como professora de histoacuteria que atua nas seacuteries finais do ensino
fundamental e meacutedio haacute dezessete anos na rede estadual do municiacutepio
Partir do local natildeo eacute abandonar o conhecimento histoacuterico eacute dar outro valor
sentido para este conhecimento Segundo Caimi
Levar em conta o universo da crianccedila ou do adolescente natildeo eacute pois abdicar do rigor intelectual [] mas garantir que a apropriaccedilatildeo deste conhecimento ocorra permeada de sentido e significado resultando em soacutelidas aprendizagens (CAIMI 2006 p 24)
Seguindo esta perspectiva a implantaccedilatildeo do Referencial Curricular Gauacutecho
embasado na Base Nacional Comum Curricular reforccedila a ideia jaacute discutida nos
paraacutegrafos anteriores
No que se refere especificamente ao componente Histoacuteria a base rompe tanto com a cronologia quanto agrave visatildeo eurocecircntrica da histoacuteria tradicional Entram em cena novos atores novas sociedades novos caminhos que sempre tiveram na histoacuteria mas nem sempre receberam a devida importacircncia Acompanhando a Base Nacional Comum Curricular o Referencial Curricular Gauacutecho no que se refere especificamente agrave disciplina de Histoacuteria manteacutem seu foco na aprendizagem dos alunos nos diferentes espaccedilos e tempos tendo a preocupaccedilatildeo de integrar o curriacuteculo com a diversidade regional de nosso Estado Tambeacutem eacute importante contemplar os temas integradores como eacutetica cidadania cultura e valorizaccedilatildeo das diversidades assegurando a multiplicidade de olhares sobre o mundo (RIO GRANDE DO SUL 2018 p 118)
Portanto o paradidaacutetico seraacute mais um material disponiacutevel aos professores e
estudantes da educaccedilatildeo baacutesica de Satildeo Francisco de Paula na construccedilatildeo do
conhecimento da histoacuteria do municiacutepio bem como o reconhecimento de sua
identidade neste material visto que se almeja que os estudantes percebam
vestiacutegios de sua identidade e se percebam como parte deste municiacutepio atraveacutes do
conhecimento de sua histoacuteria
75
O paradidaacutetico vem com o tiacutetulo rdquoTropeando histoacuterias em Satildeo Francisco de
Paulardquo sendo que a capa traz a foto do Monumento aos Carreteiros monumento
que se encontra na Avenida Juacutelio de Castilhos em frente ao preacutedio da Prefeitura
Municipal
Figura 22 ndash Capa do livro
Fonte Livro Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula
Na sequecircncia se apresenta o iacutendice que possibilita ao leitor localizar os
diversos temas abordados visto que existem nove capiacutetulos
76
Figura 23 ndash Iacutendice do livro
Fonte Livro Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula
77
O capiacutetulo um apresenta a localizaccedilatildeo de Satildeo Francisco de Paula com uma
seacuterie de mapas que facilitam a compreensatildeo espacial dos alunos assim como um
mapa da subdivisatildeo do municiacutepio em distrito Ao final satildeo sugeridas duas atividades
que podem ser desenvolvidas de maneira interdisciplinar com o apoio da professora
de arte geografia e portuguecircs
Figura 24 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 1)
Fonte Livro Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula
78
Figura 25 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 1)
Fonte Livro Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula
O capiacutetulo dois aborda a existecircncia indiacutegena em Satildeo Francisco de Paula
antes da chegada dos desbravadores vindos de Satildeo Paulo Como sugestatildeo de
atividades apresenta-se uma pesquisa sobre as diferentes tribos indiacutegenas que
habitavam a Proviacutencia de Satildeo Pedro aleacutem da criaccedilatildeo de um painel infograacutefico
79
Figura 26 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 2)
Fonte Livro Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula
No capiacutetulo trecircs se apresentam os primeiros donataacuterios colonizadores de Satildeo
Francisco de Paula com trecho de um testamento deixado por Pedro da Silva
Chaves o fundador de Satildeo Francisco de Paula bem como o mapa que localiza as
primeiras sesmarias que corresponde ao territoacuterio onde hoje eacute a Sede do municiacutepio
80
Figura 27 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 3)
Fonte Livro Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula
Nos capiacutetulos quatro e cinco eacute apresentado o desenvolvimento de Satildeo
Francisco de Paula ainda no seacuteculo XIX quando pertencia ao municiacutepio de Santo
Antocircnio da Patrulha e no final do seacuteculo XIX quando passa a pertencer ao entatildeo
81
municiacutepio de Taquara do Mundo Novo Existe tambeacutem um mapa que demonstra a
extensatildeo territorial de Santo Antocircnio da Patrulha e quais satildeo os municiacutepios hoje que
pertenceram a este bem como a importacircncia da abertura da estrada que liga Satildeo
Francisco de Paula a Taquara
Figura 28 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 4)
Fonte Livro Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula
82
Os capiacutetulos seis e sete apontam a construccedilatildeo do Municiacutepio a partir de sua
emancipaccedilatildeo em 1903 sua extensatildeo territorial e a diminuiccedilatildeo do seu territoacuterio ao
longo do tempo e a histoacuteria da Igreja Matriz Como sugestatildeo de atividade pesquisar
a diversidade religiosa existente na comunidade escolar e criar graacuteficos com essas
informaccedilotildees podendo a partir de entatildeo trabalhar com as questotildees religiosas ontem
e hoje no mundo
Figura 29 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 6)
Fonte Livro Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula
83
No capiacutetulo oito se apresenta o que difere os sete distritos de Satildeo Francisco
de Paula Este capiacutetulo se apresenta subdividido em sete subtiacutetulos onde cada um
corresponde a um distrito do municiacutepio Tendo como fonte principal as entrevistas
realizadas com moradores locais mesclado com fontes documentais e bibliograacuteficas
que corroboram para se perceber que haacute alguns distritos que manteacutem suas tradiccedilotildees
ao longo do tempo e eacute possiacutevel perceber que existe uma identidade que aproxima
aquela populaccedilatildeo
Figura 30 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 8)
Fonte Livro Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula
84
No uacuteltimo capiacutetulo o nove se exibe uma lista de sugestotildees de leituras
complementares a fim de se aprofundarem sobre determinados temas E por fim
as referecircncias utilizadas para a construccedilatildeo do paradidaacutetico Tropeando Histoacuterias em
Satildeo Francisco de Paula
Figura 31 ndash Atividade do livro (Sugestatildeo de Leituras Complementares)
Fonte Livro Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula
85
O produto foi testado em duas turmas da Educaccedilatildeo Baacutesica na Escola
Estadual de Ensino Meacutedio Lajeado Grande com o propoacutesito de avaliar qual seria a
reaccedilatildeo dos estudantes diante do material e por ele ter sido produzido por algueacutem
que convive com eles semanalmente A receptividade foi bastante gratificante como
se pode observar na Figura 32
Figura 32 ndash Alunos do Ensino Meacutedio
Fonte acervo pessoal da autora (2019)
A receptividade foi muito interessante visto que os estudantes
acompanharam a trajetoacuteria para chegar ao produto final algo que os deixava
ansiosos para manusear pois muitas vezes foram parceiros A autora foi
compartilhando com os estudantes as informaccedilotildees obtidas durante a pesquisa e as
descobertas encontradas usando em suas aulas a histoacuteria local para abordar os
diferentes temas e conceitos histoacutericos
Quando a autora apresenta o produto os estudantes do ensino meacutedio estes
formam grupos por distritos e buscam logo reconhecer no material sua identidade
apoacutes comentam sobre as peculiaridades de cada distrito Poreacutem os alunos do
ensino fundamental manuseiam o produto mas natildeo se deteacutem ao distrito em que
pertence e sim as imagens e as explicaccedilotildees apresentadas no vocecirc sabia
O que enriquece o trabalho realizado foi o envolvimento dos estudantes com
o produto solicitando quando poderatildeo ler calmamente todo o trabalho
86
6 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
A partir de experiecircncias pessoais em sala de aula se percebeu que o ensino
de Histoacuteria quando se partia da histoacuteria local havia maior interesse dos estudantes
da educaccedilatildeo baacutesica motivo pelo qual se deu a questatildeo-problema desta dissertaccedilatildeo
que estaacute relacionada diretamente com o natildeo uso desta histoacuteria pelos professores da
educaccedilatildeo baacutesica
Em conversas informais com professores da educaccedilatildeo baacutesica que atuam no
municiacutepio de Satildeo Francisco de Paula em sua grande maioria alegam que o grande
empecilho para se trabalhar a histoacuteria local eacute o pouco material disponiacutevel sobre a
histoacuteria de Satildeo Francisco de Paula aleacutem do rigor dos curriacuteculos que impotildeem o
ensino de Histoacuteria de maneira linear sem contextualizaccedilatildeo com a realidade vivida
pelos estudantes pois desta forma natildeo estatildeo preparando os estudantes para as
avaliaccedilotildees do Ministeacuterio da Educaccedilatildeo bem como para o vestibular Poreacutem natildeo se
estaacute afirmando que deveraacute estudar somente a histoacuteria local e sim partir dela como
incentivo para estudos dos conceitos e temaacuteticas da histoacuteria por muitas vezes
totalmente abstrato e de difiacutecil compreensatildeo pela grande maioria dos estudantes
A partir de entatildeo se realizaram inuacutemeros questionamentos como qual a
necessidade de se ensinar Histoacuteria de forma abstrata sem nenhuma relaccedilatildeo com
as vivecircncias dos estudantes Por que natildeo usar a fonte oral como metodologia de
pesquisa no ensino de Histoacuteria em Satildeo Francisco de Paula jaacute que natildeo existem
muitos materiais escritos a respeito desta histoacuteria principalmente no que tange os
distritos do interior Poreacutem estes questionamentos natildeo foram aprofundados na
dissertaccedilatildeo por natildeo ser o objetivo direto da pesquisa mas posteriormente poderaacute
se tornar um novo projeto de pesquisa
Nesta incessante busca por resposta se constroacutei todo o estudo desta
dissertaccedilatildeo que em um primeiro momento busca embasamento em diferentes
autores que comprovam que o ensino de Histoacuteria voltado para o local faz maior
sentido para os estudantes da educaccedilatildeo baacutesica e que isto natildeo significa abandonar
os conceitos histoacutericos e sim questionar analisar a trajetoacuteria humana no tempo e
no espaccedilo sob uma nova metodologia Apenas se sugere uma nova abordagem
que torne o ensino de Histoacuteria menos abstrato algo mais presente na vida do
estudante e que possibilite a ele a habilidade de perceber que o mundo estaacute em
constante mudanccedila poreacutem os fatos natildeo ocorrem de forma isolada no espaccedilo Algo
87
que foi reforccedilado apoacutes a construccedilatildeo da Base Nacional Curricular e o Referencial
Curricular Gauacutecho que vem de encontro com esta proposta de se estudar a histoacuteria
sobre novos olhares natildeo esquecendo das especificidades regionais do estado do
Rio Grande do Sul para o reconhecimento da identidade local e regional
A identidade local nesta pesquisa se buscou atraveacutes de relatos de
moradores locais que gentilmente colaboraram para o sucesso deste trabalho pois
a memoacuteria se tornou a fonte primordial para se escrever o que identifica os sete
distritos que constituem Satildeo Francisco de Paula Certamente a temaacutetica natildeo se
esgotou ainda haacute muito que se pesquisar e escrever sobre a histoacuteria de Satildeo
Francisco de Paula possibilitando a criaccedilatildeo de novos materiais que possam ser
usados em sala de aula pelos professores e alunos deste municiacutepio
Mas ao mesmo tempo haacute uma preocupaccedilatildeo por parte da autora nada
adianta criar produtos sinalizar novos meacutetodos ao ensino de Histoacuteria se o
profissional professor natildeo estiver preparado para trabalhar com novas fontes
histoacutericas novas metodologias de ensino proporcionando aos estudantes a
oportunidade de construir seu proacuteprio conhecimento histoacuterico embasado em sua
realidade e suas vivecircncias
Vivecircncias que se tornaram aliadas na pesquisa pois a autora nasceu e
sempre viveu no municiacutepio de Satildeo Francisco de Paula poreacutem a maior dificuldade
encontrada nesta caminhada foi percorrer grandes distacircncias por estradas de
rodagem em peacutessimas condiccedilotildees de trafegabilidade para gravar os relatos que
servem de base para a construccedilatildeo desta pesquisa O municiacutepio de Satildeo Francisco de
Paula eacute territorialmente extenso e essas distacircncias percorridas deram o nome ao
produto Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula como uma homenagem
aos antigos tropeiros deste municiacutepio que passavam boa parte de sua vida ao
lombo de mulas levando e buscando mercadorias pelos campos de cima da serra
Visto que desde o processo seletivo do mestrado em agosto de 2016
quando se apresentou o projeto de pesquisa jaacute se pensava no produto um livro
paradidaacutetico no formato fiacutesico A autora por diversas vezes foi questionada por que
natildeo um blog ou site Porque na forma fiacutesica este material seria de faacutecil manuseio
pelos estudantes e professores pois principalmente no interior uso da internet ainda
eacute um problema visto que em muitos locais natildeo existe sinal de telefonia diraacute
internet
88
O paradidaacutetico foi se moldando ao longo do tempo ateacute se chegar a versatildeo
final com uma ampla gama de informaccedilotildees e curiosidades sobre os sete distritos de
Satildeo Francisco de Paula onde se pretende que os alunos e professores possam
fazer uso deste material em sala de aula para tanto a autora pretende
posteriormente lanccedilar o produto para que possa ser lido e manuseado por todos
inclusive por aqueles que gostam de histoacuteria e sentem curiosidade sobre a formaccedilatildeo
do seu distrito e por conseguinte do municiacutepio de Satildeo Francisco de Paula
O paradidaacutetico foi testado em duas turmas da Escola Estadual de Ensino
Meacutedio Lajeado Grande sendo uma de Ensino Meacutedio e a outra das seacuteries finais do
Ensino Fundamental Os alunos jaacute detinham o conhecimento que a autora estava
cursando o Mestrado e que para sua conclusatildeo deveria apresentar um produto Era
de conhecimento de todos os estudantes que a autora estava produzindo um
paradidaacutetico sobre a histoacuteria de Satildeo Francisco de Paula pois a mesma eacute professora
destes estudantes nesta escola
Em um primeiro momento se explica que eacute apenas um protoacutetipo que
somente a capa estaacute colorida e o restante estaacute todo em preto e branco e que a
versatildeo final teraacute as imagens e as curiosidades coloridas o que com certeza
chamaraacute mais atenccedilatildeo Ao entregar o paradidaacutetico Tropeando Histoacuterias em Satildeo
Francisco de Paula para que possam manuseaacute-lo veio a primeira grande surpresa
os estudantes ficaram muito contentes por a turma ter sido escolhida pela autora
escolha essa que se justifica por ter trabalhado todo o ano de 2017 com estes
alunos partindo da histoacuteria local
A turma do oitavo ano do Ensino Fundamental manuseou sendo que os
alunos acharam interessante poreacutem se deteram mais nas imagens e balotildees do
ldquovocecirc sabiardquo Mas de maneira ampla e geral acharam muito interessante a foto de
capa com o Monumento aos Carreteiros situado na Avenida Juacutelio de Castilhos em
frente ao preacutedio da Prefeitura Municipal pois alguns natildeo conhecem a Sede do
municiacutepio
Os alunos do segundo ano do Ensino Meacutedio se surpreenderam e foram direto
ler sobre o distrito no qual residem Interessados questionaram sobre curiosidades
de como o material foi construiacutedo quais as maiores dificuldades encontradas
elogiaram o leiaute as imagens de fundo ao lado de cada curiosidade relatando que
chama a atenccedilatildeo aleacutem de considerarem relevantes as sugestotildees de atividades e
ao final solicitaram quando o material estaraacute disponiacutevel para que possam ler
89
integralmente visto que um periacuteodo de cinquenta minutos natildeo foi suficiente para que
todos manuseassem se fazendo necessaacuterio levar novamente na proacutexima aula
A autora se sentiu motivada pela recepccedilatildeo do produto por seus alunos o que
a incentiva continuar pesquisando sobre outras temaacuteticas a respeito da histoacuteria de
Satildeo Francisco de Paula trazendo para seu fazer pedagoacutegico novas fontes que
proporcionem um estudo da Histoacuteria de maneira ampla e contextualizada com a
realidade local que os cerca
90
REFEREcircNCIAS
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Jornal Satildeo Chico Tchecirc n 11 do dia 25 de maio de 1986
Jornal Satildeo Chico Tchecirc n 12 do dia 28 de maio de 1986
Jornal Pioneiro versatildeo digital do dia 02 de junho de 2017
Entrevistas
Amaacutelia Celuderes Cardoso residente no distrito de Lajeado Grande Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 08 de marccedilo de 2018
Blair dos Santos Fogaccedila residente no distrito de Lajeado Grande Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 06 de abril de 2018
Ceacutelia Pacheco Terres Basso residente no distrito de Cazuza Ferreira Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 04 de agosto de 2018
Darci da Silva Fagundes residente no distrito de Tainhas Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 24 de fevereiro de 2018
Deotildes Palhano dos Santos residente no distrito do Juaacute Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 12 de maio de 2018
Jaures Feijoacute Gomes residente no distrito de Eletra Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 15 de fevereiro de 2018
Luciana Olga Soares residente no distrito Sede Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 01 de marccedilo de 2018
Maria Madalena Scalco Faciole residente no distrito do Rincatildeo dos Kroeff Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 18 de marccedilo de 2018
Moacir Castello Branco de Albuquerque residente no distrito Sede Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 06 abril de 2018
95
Nauro Bossle de Andrade residente no distrito de Cazuza Ferreira Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 04 de marccedilo de 2018
Orides Reis residente no distrito do Juaacute Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 12 de maio de 2018
Reinaldo Faciole residente no distrito do Rincatildeo dos Kroeff Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 18 de marccedilo de 2018
Susana Marques Soares residente no distrito de Eletra Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 15 de fevereiro de 2018
96
APEcircNDICES
97
APEcircNDICE A ndash ENTREVISTA COM MORADORES LOCAIS DOS DISTRITOS DE
SAtildeO FRANCISCO DE PAULA
UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL
PROGRAMA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO EM HISTOacuteRIA ndash MESTRADO EM HISTOacuteRIA PROFISSIONAL
PESQUISA DE CAMPO ndash TATIANA MEacuteLO CARDOSO
1 Nome completo
2 Idade
3 Quantos anos reside neste distrito
4 Como se formou este distrito
5 Por que ele tem esse nome
6 Quem foram os primeiros moradores
7 Como era a vida aqui haacute tempos atraacutes
8 O que mudou aqui com o passar dos anos
9 O que identifica este lugar
10 As pessoas hoje que moram aqui na grande maioria satildeo naturais daqui ou vieram
de onde
11 A(o) Sra(Sr) acredita que as futuras geraccedilotildees valorizaram eou conheceram a
histoacuteria local ou vai se perder no tempo
12 Como funcionava a questatildeo do ensino em meados do seacuteculo XX havia escola na
localidade
13 Qual a primeira escola deste distrito data de fundaccedilatildeo local de funcionamento e a
primeira professora
14 Achas importante trabalhar nas escolas a histoacuteria do lugar
15 O que eacute tradiccedilatildeo deste distrito
16 Qual eacute a fonte de renda das pessoas no que elas trabalham
17 Qual eacute o lazer das pessoas aqui
98
APEcircNDICE B ndash TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Declaro por meio deste termo que concordei em ser entrevistado(a) eou participar na
pesquisa de campo referente ao projetopesquisa Ensino de Histoacuteria Local e o Paradidaacutetico
caso Satildeo Francisco de Paula desenvolvida pela aluna Tatiana Meacutelo Cardoso do Programa de
Poacutes-Graduaccedilatildeo em Histoacuteria ndash Mestrado Profissional da Universidade de Caxias de Sul Fui
informado(a) que poderei consultaacute-la a qualquer momento que julgar necessaacuterio atraveacutes do e-
mail t_ati_mhotmailcom
Afirmo que aceitei participar por minha proacutepria vontade sem receber qualquer
incentivo financeiro ou ter qualquer ocircnus e com a finalidade exclusiva de colaborar para o
sucesso da pesquisa Fui informado(a) dos objetivos estritamente acadecircmicos de estudo
Minha colaboraccedilatildeo natildeo ficaraacute anocircnima e foi realizada por meio de entrevista
semiestruturada A anaacutelise dos dados obtidos seratildeo divulgados natildeo permanecendo restritas
apenas a pesquisadora eou seu(s) orientador(es) coordenador(es)
Fui ainda informado(a) de que posso me retirar desse(a) estudopesquisa programa a
qualquer momento sem prejuiacutezo para meu acompanhamento ou sofrer quaisquer sanccedilotildees ou
constrangimentos Atesto recebimento de uma coacutepia assinada deste Termo de Consentimento
Livre e Esclarecido
Satildeo Francisco de Paula ___ de _____________ de ____
Assinatura do(a) participante
Assinatura do responsaacutevel
ABSTRACT
This dissertation deals with History teaching in Satildeo Francisco de Paula Rio Grande do Sul with the principle that History Teaching from the place becomes more meaningful to students of basic education For the construction of this research different methodological approaches are used such as documents of the Legislative Assembly of Rio Grande do Sul newspapers bibliographic sources images and oral testimony The study sought to address the construction of the municipality as well which identifies the seven districts belonging to San Francisco Paula As a result a physical paradidaacutetico is created with texts images curiosities suggestions of activities and complementary readings that will serve as pedagogical support to teachers and students of basic education It is hoped that this material can serve as a research to all interested parties
Keywords Teaching History Satildeo Francisco de Paula Identity
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 ndash Mapa de Identificaccedilatildeo das Sesmarias Serranas 26
Figura 2 ndash Divisatildeo Municipal em 1809 ndash Proviacutencia Satildeo Pedro do Rio Grande do Sul
28
Figura 3 ndash Vista da vila de Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra (1901) 29
Figura 4 ndash Vista Avenida Juacutelio de Castilhos (1923) 30
Figura 5 ndash Abertura da estrada ERS-020 Taquara ndash Satildeo Francisco de Paula de
Cima da Serra 31
Figura 6 ndash Accedilougue Central 33
Figura 7 ndash Igreja Matriz em 1931 34
Figura 8 ndash Igreja Matriz 34
Figura 9 ndash Mapa de localizaccedilatildeo de Satildeo Francisco de Paula 36
Figura 10 ndash Patroa Neuza Reis e sua Comissatildeo 39
Figura 11 ndash Gonzaga dos Reis 48
Figura 12 ndash Outdoor entrada da cidade na ERS-020 50
Figura 13 ndash Praccedila Central de Cazuza Ferreira 52
Figura 14 ndash Hotel do Campo 54
Figura 15 ndash Flacircmula de comemoraccedilatildeo aos 50 anos da entidade 57
Figura 16 ndash Barragem do Salto 58
Figura 17 ndash Igreja Santo Antocircnio ndash Distrito de Eletra 61
Figura 18 ndash Peacute com a fruta conhecido como Juaacute 63
Figura 19 ndash Praccedila Vila do Distrito Juaacute ao fundo cancha de laccedilo 65
Figura 20 ndash Imagem da Igreja Satildeo Roque em dia de festa no Rincatildeo dos Kroeff 69
Figura 21 ndash Imagem do Casaratildeo pouco antes de ser desmanchado 71
Figura 22 ndash Capa do livro 75
Figura 23 ndash Iacutendice do livro 76
Figura 24 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 1) 77
Figura 25 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 1) 78
Figura 26 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 2) 79
Figura 27 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 3) 80
Figura 28 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 4) 81
Figura 29 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 6) 82
Figura 30 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 8) 83
Figura 31 ndash Atividade do livro (Sugestatildeo de Leituras Complementares) 84
Figura 32 ndash Alunos do Ensino Meacutedio 85
SUMAacuteRIO
1 INTRODUCcedilAtildeO 11
2 HISTOacuteRIA LOCAL E O ENSINO DE HISTOacuteRIA NA SALA DE AULA 17
3 SAtildeO FRANCISCO DE PAULA CONSTRUCcedilAtildeO DO MUNICIacutePIO 24
31 CONVERSA COM MEMORIALISTAS 25
32 AMPLIANDO O DIAacuteLOGO COM OS MEMORIALISTAS 28
4 SAtildeO FRANCISCO DE PAULA DISTRITOS EM FOCO 41
41 DISTRITO SEDE 42
42 DISTRITO DE CAZUZA FERREIRA 51
43 DISTRITO DE TAINHAS 55
44 DISTRITO DE ELETRA 58
45 DISTRITO DO JUAacute 62
46 DISTRITO DO RINCAtildeO DOS KROEFF 66
47 DISTRITO DE LAJEADO GRANDE 70
5 DESCRICcedilAtildeO DO PRODUTO 74
6 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 86
REFEREcircNCIAS 90
FONTES CONSULTADAS 94
APEcircNDICES 96
APEcircNDICE A ndash ENTREVISTA COM MORADORES LOCAIS DOS DISTRITOS DE
SAtildeO FRANCISCO DE PAULA 97
APEcircNDICE B ndash TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO 98
11
1 INTRODUCcedilAtildeO
Os meacutetodos de ensino de Histoacuteria no Brasil vem sendo discutidos desde sua
criaccedilatildeo como disciplina Segundo Nadai (1992-1993 p 144) a introduccedilatildeo de
Histoacuteria no curriacuteculo ocorre na terceira metade do seacuteculo XIX no Brasil sendo que
desde entatildeo passa por diversas modificaccedilotildees Segundo Schmidt e Cainelli (2009)
os meacutetodos foram se adequando ao momento histoacuterico brasileiro em um primeiro
momento ensinou-se a histoacuteria da Europa Ocidental como a verdadeira histoacuteria da
civilizaccedilatildeo uma histoacuteria abstrata sem relaccedilatildeo com a vida do aluno Nadai (1992-
1993 p 146) acrescenta que ldquoa histoacuteria da paacutetria surgia como seu apecircndice sem
corpo autocircnomo e ocupando um papel extremamente secundaacuterio consistia num
repositoacuterio de biografias de homens ilustres de datas e batalhasrdquo
Poreacutem a partir de 1860 segundo Schmidt e Cainelli (2009 p 12-13) ldquono
periacuteodo republicano a incorporaccedilatildeo da concepccedilatildeo de que a disciplina Histoacuteria tinha
a responsabilidade de formar cidadatildeos ganha forccedilardquo sendo assim as escolas
primaacuterias e secundaacuterias comeccedilaram incluir em seus programas a histoacuteria nacional
com o intuito da formaccedilatildeo da nacionalidade sendo a paacutetria com seus heroacuteis o
principal foco Desta forma a criaccedilatildeo das diretrizes da Lei de Educaccedilatildeo nordm 569271
reforccedila o modelo jaacute instaurado
Foi oficializado o ensino de Estudos Sociais nas escolas brasileiras ficando os conteuacutedos especiacuteficos da Histoacuteria destinados somente aos alunos do antigo segundo grau A concepccedilatildeo e os conteuacutedos da Histoacuteria continuavam atrelados agraves concepccedilotildees tradicionais (SCHMIDT CAINELLI 2009 p 13)
Com a redemocratizaccedilatildeo na deacutecada de 1980 houve inuacutemeras discussotildees
que elencaram inuacutemeras abordagens e temaacuteticas para o ensino da Histoacuteria na
atualidade as novas tendecircncias se preocupam com a transposiccedilatildeo didaacutetica
valorizando documentos histoacutericos e incorporando novas linguagens e tecnologias
que permitem discussotildees e autonomia de pensamento Neste sentido as novas
concepccedilotildees de ensino de Histoacuteria ao final do seacuteculo XX abrem a possibilidade de
uma nova praacutetica didaacutetica que segundo Azevedo e Stamatto (2010 p 709) ldquobusca
problematizar a relaccedilatildeo passado-presente e em geral tomam a realidade do aluno
como ponto de partidardquo
Por se acreditar em um ensino de Histoacuteria onde a aprendizagem natildeo ocorre
em periacuteodos estanques de forma abstrata e sem relaccedilatildeo com o presente ou seja
12
apresentando de forma linear sem que haja contextualizaccedilatildeo sendo apresentada
atraveacutes de leitura de textos eou resumos permeando com atividades que muitas
vezes natildeo permitem um desenvolvimento de raciociacutenio histoacuterico que contribua para
a construccedilatildeo da cidadania Torna-se urgente pensar em um ensino voltado para a
inclusatildeo de novas contribuiccedilotildees historiograacuteficas como a histoacuteria cultural econocircmica
e social buscando na realidade local subsiacutedios para a aprendizagem Por isso a
presente dissertaccedilatildeo traz a didatizaccedilatildeo da histoacuteria de Satildeo Francisco de Paula visto
que a questatildeo-problema estaacute vinculada ao natildeo uso da histoacuteria local no ensino de
Histoacuteria deste municiacutepio e o pouco material disponiacutevel para o uso dos professores
Parte-se do pressuposto que ao abranger a histoacuteria local os sujeitos se veem como
partiacutecipes desta histoacuteria estudada significando e ressignificando conceitos
histoacutericos
Corroborando com este estudo Cunha (2016) traz consideraccedilotildees importantes
relacionadas ao uso da histoacuteria local O autor aborda como algo essencial para
compreensatildeo da histoacuteria geral na educaccedilatildeo baacutesica o uso da histoacuteria local o que
proporcionaria aos estudantes o reconhecimento como cidadatildeo e a percepccedilatildeo e
identificaccedilatildeo dos lugares de memoacuteria por parte dos alunos bem como o sentimento
de pertencimento do local Desta forma despertaria no aluno o interesse por um
passado aparentemente desligado de sua realidade estabelecendo relaccedilotildees com o
seu cotidiano
Desta maneira acredita-se que os estudantes da educaccedilatildeo baacutesica
compreenderatildeo a histoacuteria como algo que faz parte de suas vidas tornando-se assim
sujeitos da histoacuteria pois se haacute reconhecimento haveraacute tambeacutem o sentimento de
pertencimento que poderaacute ajudaacute-los a manter ou modificar a realidade que os cerca
Assim descrevem Schmidt e Cainelli
Esse sentido do ensinar Histoacuteria natildeo significaria natildeo ter conteuacutedos para serem ensinados mas olhar para estes conteuacutedos a partir da possibilidade de construir com os alunos novas questotildees diante de conteuacutedos e temas propostos pela historiografia Aprender histoacuteria eacute discutir evidecircncias levantar hipoacuteteses dialogar com os sujeitos os tempos e os espaccedilos histoacutericos Eacute olhar para o outro em tempos e espaccedilos diversos (SCHMIDT CAINELLI 2009 p 20)
Dentro desta perspectiva o reconhecimento da memoacuteria social se faz
importante visto que se necessita invocaacute-la para que um determinado grupo ou local
reconheccedila sua identidade social Atraveacutes de entrevistas com moradores de Satildeo
13
Francisco de Paula se invoca a memoacuteria coletiva na busca da identidade dos sete
distritos deste municiacutepio Visto que a histoacuteria de Satildeo Francisco de Paula se inicia por
volta do seacuteculo XVIII quando se datam as primeiras sesmarias1 concedidas ao
capitatildeo Pedro da Silva Chaves Posteriormente o capitatildeo doa parte de suas terras
para a construccedilatildeo do povoado que recebe o nome de Satildeo Francisco de Paula de
Cima da Serra por este ser devoto do Santo Satildeo Francisco Reza no testamento do
capitatildeo Pedro da Silva Chaves que um de seus filhos foi o primeiro paacuteroco a rezar
missa no povoado Satildeo Francisco de Paula pertenceu a Santo Antocircnio da Patrulha
e mais tarde a Taquara emancipando-se em 1902
Haacute pouca bibliografia sobre a histoacuteria de Satildeo Francisco de Paula o que existe
satildeo livros escritos por memorialistas onde se percebe a prioridade pela histoacuteria do
fundador ou seja do Capitatildeo Pedro da Silva Chaves dos iacutendios Caaguaraacutes que
habitavam a regiatildeo assim como os aspectos poliacuteticos administrativos Alguns destes
livros apresentam uma siacutentese cronoloacutegica de fatos importantes e descrevem
superficialmente o jeito de viver do povo serrano2 Mas a histoacuteria de Satildeo Francisco
de Paula estaacute repleta de diferentes identidades que identificam a Sede3 e o Interior4
deste municiacutepio e formam o jeito de viver do seu povo A natildeo exploraccedilatildeo de
elementos culturais que se fazem importantes para a construccedilatildeo de identidade
destes lugares minimiza as memoacuterias e as tradiccedilotildees que ali se apresentam visto
que
as constantes novidades em diferentes campos do saber os avanccedilos da tecnologia as infinitas possibilidades de comunicaccedilatildeo simultacircnea tecircm provocado sobretudo nas novas geraccedilotildees uma sensaccedilatildeo de que o mundo em que se vive eacute dotado de um temporalidade constituiacuteda por um tempo presente contiacutenuo (FIGUEIRA MIRANDA 2012 p 46)
Neste sentido fez-se uso de diferentes fontes para a construccedilatildeo do produto
desta dissertaccedilatildeo que consiste de um paradidaacutetico que possa servir como um
1 Sesmaria Terreno sem culturas ou abandonado que a antiga legislaccedilatildeo portuguesa com base em
praacuteticas medievais determinava que fosse entregue a quem se comprometesse a cultivaacute-lo 2 Serrano gentiacutelico de quem nasce em Satildeo Francisco de Paula 3 Sede distrito criado em 07 de janeiro de 1903 na mesma data da instalaccedilatildeo oficial do Municiacutepio Eacute
o distrito onde se localiza a Prefeitura Municipal Foacuterum agecircncias bancaacuterias loteacutericas hospital casas comerciais e residecircncias particulares Normalmente os moradores do interior quando vatildeo ao distrito se referem como ldquovou a Satildeo Chicordquo e natildeo como ldquovou a Sederdquo
4 Interior Cazuza Ferreira Juaacute Eletra Rincatildeo dos Kroeff Tainhas e Lajeado Grande satildeo distritos que ficam na zona rural apesar de todos terem uma pequena vila que possui pouca infraestrutura Alguns destes distritos ainda usam aacutegua de vertentes sem nenhuma rede de esgoto pois natildeo possuem aacutegua fornecida pela Companhia de Aacutegua e Saneamento (CORSAN)
14
material disponiacutevel a alunos e professores no ensino de Histoacuteria de Satildeo Francisco
de Paula Segundo Munakata entendem-se como paradidaacuteticos
Livros que sem apresentar caracteriacutesticas proacuteprias dos didaacuteticos satildeo adotados no processo de ensino e aprendizagem nas escolas seja como material de consulta do professor seja como material de pesquisa e de apoio agraves atividades do educando (MUNAKATA 1997 p 103)
Para a construccedilatildeo do paradidaacutetico fez-se uso de bibliografias jaacute existentes
jornais e documentos da Assembleia da Legislativa bem como o uso da histoacuteria
oral sendo as entrevistas a fonte primordial para escrever sobre as semelhanccedilas e
diferenccedilas existentes no modo de vida da populaccedilatildeo de Satildeo Francisco de Paula
visto que os depoimentos satildeo importantes na preservaccedilatildeo das memoacuterias tradiccedilotildees
bem como das heranccedilas identitaacuterias Neste sentido Delgado (2003 p 23) discorre
ldquonarrativas memoacuterias histoacuterias e identidades satildeo a humanidade em movimento
Satildeo o olhar que permeiam tempos heterogecircnicos Satildeo a histoacuteria em construccedilatildeo Satildeo
memoacuterias que falamrdquo
Portanto a histoacuteria oral busca registrar as vivecircncias e lembranccedilas de um
determinado grupo Alberti (2008 p 29) assim define ldquohistoacuteria oral natildeo eacute um fim em
si mesma e sim um meio de conhecimentordquo Quando se trabalha com a histoacuteria
oral se faz necessaacuterio valorizar a memoacuteria as identidades e tradiccedilotildees pois estas
formam a histoacuteria local ou seja a histoacuteria dos indiviacuteduos que ali vivem Halbwachs
(2004) afirma que com a perda da memoacuteria coletiva tambeacutem se perdem as
tradiccedilotildees locais tradiccedilotildees essas que identificam o modo de viver de um determinado
local Hobsbawn e Ranger entendem que as tradiccedilotildees podem ou natildeo ser
inventadas
Tradiccedilatildeo inventada entende-se um conjunto de praacuteticas normalmente reguladas por regras taacutecitas ou abertamente aceitas tais praacuteticas de natureza ritual ou simboacutelica visam inculcar certos valores e normas de comportamento atraveacutes da repeticcedilatildeo o que implica automaticamente uma continuidade com relaccedilatildeo ao passado (HOBSBAWN RANGER 2015 p 8)
Hobsbawn e Ranger (2015) ainda acrescem que a criaccedilatildeo de uma tradiccedilatildeo
independe da imposiccedilatildeo de uma nova tradiccedilatildeo o que normalmente ocorre eacute uma
rebeliatildeo cultural que precede da elaboraccedilatildeo de novas tradiccedilotildees que satildeo adotadas
pela populaccedilatildeo e com o tempo passam a se tornar tradiccedilotildees daquele local
formando a identidade local
15
Neste sentido Hall (2011 p 39) discorre que ldquoas identidades satildeo fabricadas
por meio da marcaccedilatildeo da diferenccedilardquo O autor ainda acresce que ldquoa diferenccedila eacute aquilo
que separa uma identidade da outrardquo (HALL 2011 p 41) Dentro desta perspectiva
a memoacuteria que se apresenta atraveacutes de siacutembolos ou tradiccedilotildees respalda a
construccedilatildeo da identidade do povo de Satildeo Francisco de Paula visto que a memoacuteria eacute
a construccedilatildeo do passado de maneira atualizada e renovada no tempo presente
Assim Halbwachs (2004 p 64) descreve que ldquonatildeo eacute na histoacuteria aprendida eacute na
histoacuteria vivida que se apoia nossa memoacuteriardquo Nessa loacutegica o autor ainda descreve
que ldquoo mundo histoacuterico eacute como um oceano onde afluem todas as histoacuterias parciaisrdquo
(p 90)
O municiacutepio de Satildeo Francisco de Paula eacute repleto de tradiccedilotildees que perpassam
o tempo que estatildeo enraizadas no jeito serrano de ser formando a sua identidade
Portanto a histoacuteria de Satildeo Francisco de Paula descrita nesta dissertaccedilatildeo seraacute
apresentada em quatro capiacutetulos
O capiacutetulo dois apresenta a discussatildeo teoacuterica metodoloacutegica sobre a
importacircncia do ensino da Histoacuteria local na sala de aula Tambeacutem conceitos como
memoacuteria e identidade e a importacircncia de se abordar o local em prol do global
No capiacutetulo trecircs aborda-se a construccedilatildeo histoacuterica do municiacutepio de Satildeo
Francisco de Paula que vai desde a chegada do colonizador nesta terra ateacute as
instituiccedilotildees que se formam ao longo do tempo Para isso se faz uso de bibliografias
jaacute existentes como Lucena (1971) Oliveira (1996) Teixeira (2002) Ribeiro (2003)
Alves (2007) e Fonseca (2012) sendo todas essas obras importantes para Satildeo
Francisco de Paula visto que cada uma traz consigo um pouco da histoacuteria deste
municiacutepio poreacutem sente-se falta da identidade e da memoacuteria na construccedilatildeo histoacuterica
As obras satildeo apresentadas sob o mesmo prisma apresentando os iacutendios Caaguaraacutes
e o Capitatildeo Pedro da Silva Chaves os fundadores desta terra dando bastante
ecircnfase aos sobrenomes que ali se desenvolveram Tambeacutem se fez uso de
documentos da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul aleacutem de jornais
encontrados no Arquivo Histoacuterico de Satildeo Francisco de Paula
No capiacutetulo quatro utiliza-se da fonte oral para que sejam identificadas as
diferentes tradiccedilotildees e versotildees da histoacuteria local ou seja a identidade de cada distrito
constituindo assim as particularidades que constroem o municiacutepio de Satildeo Francisco
de Paula Para tanto buscaram-se depoentes nas vilas dos distritos sendo que a
escolha se deu por duas pessoas por distrito sendo um homem e uma mulher
16
totalizando treze depoentes todos da terceira idade pois segundo Bosi (1994 p
82) ldquoum mundo social que possui uma riqueza e uma diversidade que natildeo
conhecemos pode chegar-nos pela memoacuteria dos velhosrdquo memoacuterias estas
construiacutedas por suas vivecircncias neste local o que justifica a relevacircncia dos
depoimentos para a construccedilatildeo do trabalho
O capiacutetulo cinco apresenta uma descriccedilatildeo do produto que consiste em um
paradidaacutetico em forma fiacutesica abordando a histoacuteria de Satildeo Francisco de Paula A
escolha pelo formato fiacutesico acontece pelas dificuldades encontradas no interior dos
distritos com o acesso agrave internet assim se pensa que o formato fiacutesico abrangeraacute um
nuacutemero maior de alunos e professores
Para tanto utiliza-se a metodologia da Histoacuteria oral para escrever a memoacuteria
e as percepccedilotildees das pessoas que habitam este local Hobsbawn e Ranger (1995 p
103) escrevem que ldquoessa proximidade entre o periacuteodo analisado e sua histoacuteria
pessoal eacute o pano de fundo para a discussatildeo de alguns problemas que qualquer
historiador enfrenta ao escrever sobre seu proacuteprio tempordquo pois a sensibilidade do
historiador vai escrever sua narrativa Em outras palavras Hobsbawn e Ranger
(1995 p 104) explicam que ldquocada historiador tem sua proacutepria vida um lugar privado
a partir do qual inspeciona o mundordquo Tambeacutem afirmam
Para aqueles que querem escrever a histoacuteria do seacuteculo XX uma das mais importantes reside no simples fato de saber sem nenhum esforccedilo especial o quanto as coisas se modificaram Os uacuteltimos trinta ou quarenta anos foram os mais revolucionaacuterios da histoacuteria O mundo ou seja a vida dos homens e mulheres que vivem na Terra nunca foi transformada de maneira tatildeo profunda dramaacutetica e extraordinaacuteria dentro de um periacuteodo tatildeo curto As geraccedilotildees que natildeo viram como o mundo era antes tecircm dificuldade em perceber isso intuitivamente (HOBSBAWN RANGER 1995 p 107)
Portanto se faz importante perceber que o mundo vem se transformando de
maneira raacutepida modificando a vida das pessoas e por conseguinte as tradiccedilotildees e
identidades locais pois estas comunidades natildeo vivem de forma isolada e sofreram
influecircncias jaacute que a cultura natildeo eacute estagnada estaacute sempre em constante movimento
juntamente com as pessoas
17
2 HISTOacuteRIA LOCAL E O ENSINO DE HISTOacuteRIA NA SALA DE AULA
Discutir o ensino de Histoacuteria na educaccedilatildeo baacutesica e a relaccedilatildeo do mesmo com a
histoacuteria local se faz bastante importante para que a cada dia se possa melhorar as
praacuteticas pedagoacutegicas Neste sentido se busca respaldo em diferentes bibliografias
que possam embasar novos afazeres dentro do espaccedilo da sala de aula e
proporcionar ao estudante um novo olhar sobre a histoacuteria um olhar de sujeito ativo
dentro desse processo de ensino aprendizagem
Pois quando a Histoacuteria eacute ensinada como algo certo e imutaacutevel de maneira
fragmentada voltada para linearidade e memorizaccedilatildeo de fatos e datas reforccedila o
que Mendes (1935) e Schmidt e Cainelli (2009) defendem que realmente eacute odiosa a
histoacuteria ensinada por este vieacutes Percebe-se que o ensino de histoacuteria linear nos
moldes europeus positivistas jaacute natildeo daacute mais conta da importacircncia da histoacuteria para a
sociedade atual porque eacute apresentada aos alunos atraveacutes de datas e fatos escrita
pelo vieacutes de uma elite que normalmente eacute branca e deteacutem o poder poliacutetico eou
econocircmico Eacute inconcebiacutevel que se permaneccedila com um ensino de Histoacuteria que natildeo
serve natildeo motiva e segundo Ruumlsen (2001 p 25) ainda ldquoirracionalizardquo sendo esse
modelo muito frequente nas escolas de educaccedilatildeo baacutesica brasileiras
Natildeo eacute por outro motivo que observamos ainda nas uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo XX que para a maior parte dos estudantes brasileiros o estudo de histoacuteria carece de sentido ou utilidade natildeo se tem a visatildeo de ciecircncia e sim de uma mateacuteria decorativa estudo do passado que soacute exige como vimos a prontidatildeo em declinar nomes datas e fatos Natildeo eacute de se estranhar que assim seja porque ocorre a enorme distacircncia entre a realidade vivenciada pela comunidade e o tratamento dado ao ensino de Histoacuteria jaacute que o aluno se torna mero espectador de fatos natildeo necessitando esforccedilos no sentido de qualquer reflexatildeo ou elaboraccedilatildeo (BARBOSA 2006 p 58)
O ensinar da histoacuteria de forma abstrata fragmentada dificulta a compreensatildeo
do processo histoacuterico no sentido que se estuda os fatos isolados ao seu tempo
como se um fato precisasse terminar para iniciar outro Em outras palavras este
meacutetodo de ensino natildeo daacute a noccedilatildeo de continuidade ou seja a histoacuteria perdeu seu
sentido baacutesico que eacute a compreensatildeo do contexto global dos fatos considerando que
o ensino de Histoacuteria por muitas vezes eacute estanque sem uma relaccedilatildeo ldquopresente x
passadordquo sendo de suma importacircncia o despertar de uma consciecircncia criacutetica por
parte do estudante Por isso ao longo do tempo o ensino sofre influecircncia por parte
do ldquopoderrdquo segundo Laville (1999 p 128) ldquoa Histoacuteria eacute certamente a uacutenica disciplina
18
escolar que recebe intervenccedilotildees diretas dos altos dirigentes e a consideraccedilatildeo ativa
dos parlamentos Isso mostra quatildeo importante eacute ela para o poderrdquo Nesta linha o
autor ainda acrescenta que ldquoa narrativa histoacuterica pode tambeacutem ser vista como uma
tomada de poder por grupos sem poderrdquo (LAVILLE 1999 p 129)
Na busca de modificar esse modelo surgem novos meacutetodos que valorizam o
uso do documento histoacuterico e a incorporaccedilatildeo de novas tecnologias de acordo com
Azevedo e Stamatto (2010 p 720) ldquotem o desafio de responder a inquietaccedilotildees do
hojerdquo Partindo deste pressuposto haacute possibilidade de se modificar o ensino da
Histoacuteria que ateacute entatildeo estava voltado agrave memorizaccedilatildeo para um modelo onde o
sujeito seja agente deste processo
Ensinar Histoacuteria como algo pronto e acabado [] sem levar em conta o contexto e os sujeitos envolvidos no processo de ensino aprendizagem pode levar a um ensino que natildeo desenvolve o que eacute mais importante como funccedilatildeo do ensinar histoacuteria que orientar os problemas da vida praacutetica (SCHMIDT CAINELLI 2009 p 20)
Assim Seffner (2013 p 51) acrescenta que ldquoo ensino de Histoacuteria eacute um ensino
de situaccedilotildees histoacutericas Mais do que nomes datas e acontecimentos o professor
deve propiciar ao aluno a compreensatildeo de como se estrutura uma dada situaccedilatildeordquo
Para que o ensino de Histoacuteria seja ressignificado existe a necessidade de anaacutelise
do processo histoacuterico problematizando os fatos no vai e vem do presentepassado
Os estudantes da educaccedilatildeo baacutesica necessitam compreender a histoacuteria como
um processo em constante transformaccedilatildeo que eacute movimentada por sujeitos que a
compotildeem com permanecircncias e rupturas ao longo dos tempos Segundo Bittencourt
(2004 p 168) ldquoa histoacuteria local tem sido indicada como necessaacuteria para o ensino por
possibilitar a compreensatildeo do alunordquo
Corroborando Seffner (2013) Souza (2015) e Brum (2015) evidenciam a
importacircncia de se trabalhar a histoacuteria global partindo de uma histoacuteria local
problematizando levando hipoacuteteses e analisando os fatos histoacutericos o que gera
significado para o educando e torna o docente natildeo mais um mero transmissor mas
um mediador deste conhecimento Neves (1997 p 22) reforccedila que ldquoo local fora do
contexto geral eacute apenas um fragmento e o geral sem o respaldo das realidades
locais eacute apenas uma abstraccedilatildeordquo Com esta nova abordagem o estudar Histoacuteria tem
sentido para o discente que se sente sujeito de sua proacutepria histoacuteria visto que
19
identificar-se com o local onde se vive ajuda a compreender o sentimento de
pertencimento e suas relaccedilotildees com o meio social e cultural no qual estaacute inserido
Nesta perspectiva faz-se necessaacuterio que os professores busquem novas
alternativas de ensino que proporcionem ao estudante a habilidade de ressignificar o
fato histoacuterico estudado
Ensinar Histoacuteria requer do professor a habilidade de buscar sentido e significado para o conhecimento que ministra e isso significa superar a mera transmissatildeo de informaccedilotildees jaacute que essa natildeo tem por finalidade o desenvolvimento intelectual mas ao contraacuterio deforma a capacidade de pensamento histoacuterico do aluno e a possibilidade de consolidar habilidades de anaacutelise da proacutepria realidade social (SILVA PORTO 2012 p 67)
Goubert assim define a histoacuteria local
Denominaremos histoacuteria local como aquela que diga respeito a uma ou poucas aldeias a uma cidade pequena ou meacutedia (um grande porto ou uma capital estatildeo aleacutem do acircmbito local) ou a uma aacuterea geograacutefica que natildeo seja maior do que a unidade provincial comum (como um county inglecircs um contado italiano uma Land alematilde uma bailiwick ou pays francecircs) Praticada haacute tempos atraacutes com cuidado zelo e ateacute orgulho a histoacuteria local foi mais tarde desprezada mdash principalmente nos seacuteculos XIX e primeira metade do XX mdash pelos partidaacuterios da histoacuteria geral A partir poreacutem da metade desse seacuteculo a histoacuteria local ressurgiu e adquiriu novo significado na verdade alguns chegam a afirmar que somente a histoacuteria local pode ser autecircntica e fundamentada (GOUBERT 1992 p 70)
Neste sentido fica evidente a importacircncia de se partir de uma histoacuteria local
para uma global Atraveacutes da histoacuteria local os estudantes teratildeo contato com sua
histoacuteria e poderatildeo se sentir parte integrante deste espaccedilo que muitas vezes por
falta de conhecimento acabam renegando sua proacutepria identidade Figueira e Miranda
(2012 p 113) afirmam que ldquoum dos efeitos mais danosos da globalizaccedilatildeo eacute a
universalizaccedilatildeo dos gostosrdquo isto implica diretamente na perda da identidade local
que muitas vezes estaacute sendo afetada pelas muacuteltiplas identidades existentes Neste
sentido Silva e Porto descrevem
A globalizaccedilatildeo entretanto produz diferentes resultados em termos de identidade A homogeneidade cultural promovida pelo mercado global pode levar ao distanciamento da identidade relativamente agrave comunidade e agrave cultura local (SILVA PORTO 2012 p 21)
Neste sentido Canclini acrescenta
Las comunidades de consumidores se organiza cada vez menos seguacuten diferencias nacionales y sobre todo en las generaciones joacutevenes definen sus praacutecticas culturales de acuerdo con informacioacuten y estilos homogeneizados (CANCLINI 1997 p 42)
20
Globalizaccedilatildeo que impotildee atraveacutes dos meios de comunicaccedilatildeo e social uma
identidade geral que regra a sociedade seus haacutebitos e costumes Devido ao grande
movimento das pessoas pelo mundo perceber e manter uma identidade com
caracteriacutesticas locais fica a cada dia mais difiacutecil ainda mais em se tratando da
populaccedilatildeo jovem que natildeo reconhece ao seu redor o que representa a sua
identidade local
Valorar as experiecircncias locais proporcionaraacute aos estudantes uma nova
metodologia de abordar a histoacuteria
Do ponto de vista metodoloacutegico destaca-se nessa forma de abordagem a preocupaccedilatildeo com os conhecimentos preacutevios dos alunos com a problematizaccedilatildeo dos conteuacutedos de ensino selecionados para trabalho em sala de aula estabelecendo relaccedilotildees com o cotidiano dos alunos e com o cotidiano de outras pessoas em outros tempos e em outros lugares Enfatiza-se tambeacutem a busca de articulaccedilatildeo entre histoacuteria local e a histoacuteria universal (SCHMIDT 2007 p 193)
O ensino de histoacuteria partindo do local para o global possibilita segundo
Bittencourt (2004 p 168) ldquoa compreensatildeo do entorno do alunordquo sendo que um dos
aspectos relevantes para este ensino eacute a escolha de fontes que levem os estudantes
a se reconhecerem nesse processo histoacuterico O autor ainda acresce
Eacute pela memoacuteria que se chega agrave histoacuteria local Aleacutem da memoacuteria das pessoas escrita ou recuperada pela oralidade existem os lsquolugares de memoacuteriarsquo (grifo da autora) expressos por monumentos praccedilas edifiacutecios puacuteblicos ou privados mas preservados como patrimocircnio histoacuterico (BITTENCOURT 2004 p 169)
Esta memoacuteria vai contribuir para legitimaccedilatildeo da identidade local Sabe-se que
a identidade eacute algo mutaacutevel e segundo Silva e Porto (2012 p 38) ldquoas identidades
satildeo produzidas em momentos particulares no tempordquo O pesquisador ainda
acrescenta que ldquoas identidades satildeo contingentes emergindo em momentos
histoacutericos particularesrdquo Estas identidades precisam ser reconhecidas quando se fala
de histoacuteria local
Na mesma linha Ruumlsen descreve a identidade histoacuterica
Consiste na ampliaccedilatildeo do horizonte nas experiecircncias do tempo e nas intenccedilotildees acerca do tempo no qual os sujeitos agentes se asseguram da permanecircncia de si mesmos na evoluccedilatildeo do tempo O ponto extremo dessa consolidaccedilatildeo de identidade eacute a lsquohumanidadersquo como suprassumo dos pontos comuns em sociedade com respeito a diversos sujeitos agentes no processo de determinaccedilatildeo de suas proacuteprias identidades determinam as dos outros de forma tal que estes se reconhecem nelas Esse criteacuterio de sentido lsquohumanidadersquo fornece o paracircmetro para se constatar a consolidaccedilatildeo da
21
identidade em que desembocam o progresso contiacutenuo do conhecimento mediante a pesquisa histoacuterica e a ampliaccedilatildeo contiacutenua das perspectivas mediante a reflexatildeo histoacuterica sobre referenciais (RUumlSEN 2001 p 126)
A histoacuteria local eacute constituiacuteda por diferentes identidades que satildeo geradas pelos
grupos que compotildeem este espaccedilo A este respeito Silva e Porto (2011 p 41)
apresentam que ldquoa diferenccedila eacute aquilo que separa uma identidade da outrardquo Tambeacutem
eacute notaacutevel que para que haja a representaccedilatildeo de suas identidades locais faz-se
necessaacuterio o reconhecimento destas e a percepccedilatildeo que existem diferentes fatores
que diferenciam os grupos sociais
Portanto a identidade eacute constituiacuteda pelas posiccedilotildees eou escolhas feitas
sendo que muitas vezes elas satildeo racionais ou ateacute mesmo irracionais A identidade
eacute baseada na memoacuteria que pode ser individual ou coletiva Segundo Candau (2011
p 16) ldquoos laccedilos fundamentais entre memoacuteria e identidade eacute sobre o fato de que eacute a
memoacuteria faculdade primeira que alimenta a identidaderdquo
Se a memoacuteria gera a identidade natildeo se pode pesquisar e escrever sobre
histoacuteria local sem levar em conta estes dois conceitos primordiais pois a histoacuteria
local soacute teraacute valia se escrita pelo vieacutes do todo ou seja natildeo priorize um grupo ou
classe social todos os quadros sociais devem estar representados dentro deste
processo Nessa linha Schmidt e Cainelli descrevem
O estudo da localidade ou da histoacuteria regional contribui para uma compreensatildeo muacuteltipla da Histoacuteria pelo menos em dois sentidos na possibilidade de se ver mais de um eixo histoacuterico na histoacuteria local e na possibilidade da anaacutelise de micro histoacuterias pertencentes a alguma outra histoacuteria que as englobe e ao mesmo tempo reconheccedila suas particularidades (SCHMIDT CAINELLI 2009 p 139)
Uma histoacuteria que faz sentido que esteja englobada a outra histoacuteria A
memoacuteria coletiva entra na construccedilatildeo desta histoacuteria local e eacute primordial pois esta vai
dar elementos que constroem a identidade deste local sendo que a memoacuteria do
passado influencia na representaccedilatildeo da identidade Neste sentido conforme
Figueira e Miranda (2012 p 47) eacute necessaacuterio compreender a memoacuteria ldquocomo a
capacidade de conservar e de preservar dados refere-se a um conjunto de funccedilotildees
cerebrais que nos permite reter informaccedilotildees adquiridas e impressotildees vividasrdquo
Podendo ser ela individual ou coletiva sendo que a memoacuteria individual existe a partir
de uma memoacuteria coletiva jaacute que as lembranccedilas que ajudam a reconstruir o passado
partem do interior de um grupo
22
Para as Ciecircncias Humanas o conceito de memoacuteria estaacute ligado agrave memoacuteria
social e coletiva definida por Le Goff (2003 p 422) como ldquoo estudo da memoacuteria
social eacute um dos elementos fundamentais de abordar os problemas do tempo e da
histoacuteriardquo O autor ainda acrescenta que ldquoa memoacuteria coletiva eacute natildeo somente uma
conquista eacute tambeacutem um instrumento e um objeto de poderrdquo (LE GOFF 2003 p
410) Neste sentido Halbwachs (2004 p 90) ressalta que ldquotoda memoacuteria coletiva
tem por suporte um grupo limitado no espaccedilo e no tempo e o mundo histoacuterico eacute
como um oceano onde afluem todas as histoacuterias parciaisrdquo
Quando se abordam conceitos de memoacuteria e identidade no ensino de
histoacuteria estaacute se trazendo para o estudo os sujeitos que compotildeem aquele local com
suas vivecircncias que podem ser coletivas ou natildeo A transmissatildeo de saberes entre as
geraccedilotildees forma a identidade coletiva sendo o ser humano um agente ativo no
quadro social da memoacuteria
Halbwachs assim define os quadros coletivos da memoacuteria
Os quadros coletivos da memoacuteria natildeo se resumem em datas nomes e foacutermulas que eles representam correntes de pensamento e de experiecircncia onde reencontramos nosso passado porque este foi atravessado por isso tudo (HALBWACHS 2004 p 71)
Nesta direccedilatildeo Le Goff (2003 p 4) acrescenta que ldquoa memoacuteria social eacute um
dos meios fundamentais para se abordar os problemas do tempo e da histoacuteria A
memoacuteria estaacute nos proacuteprios alicerces da histoacuteriardquo Catroga (2001) reforccedila que a
memoacuteria eacute moldada a partir das vivecircncias e na sua narrativa vai haver uma
coerecircncia que se mistura passado e presente
Quando se escreve sobre histoacuteria local eacute importante considerar que ela estaacute
pautada em documentos assim como em memoacuterias escritas visuais ou orais Neste
sentido eacute perceptiacutevel que o uso dos diferentes tipos de memoacuteria satildeo alicerces que
conduzem o trabalho do historiador para que ele possa interpretar suas fontes e
validar seu trabalho Memoacuterias estas que podem ser apresentadas com documentos
oficiais ou atraveacutes de uma cultura material ou imaterial
A escrita de histoacuterias locais vem como um novo modelo de resguardar
identidades e memoacuterias que se natildeo preservadas iratildeo desaparecer pela influecircncia
da globalizaccedilatildeo e falta de conhecimento de futuras geraccedilotildees Barros assim
descreve
23
Os novos tempos comeccedilavam a trazer um novo padratildeo historiograacutefico novas aberturas retornos e possibilidades e tambeacutem incertezas para os historiadores no que se refere agrave natureza do conhecimento que produzem e ao papel do conhecimento histoacuterico na sociedade [] Entre as novidades postula-se a possibilidade de examinar a histoacuteria de acordo com uma nova escala de observaccedilatildeo ndash atenta para o detalhe para as micro realidades para aquilo que habitualmente escapa ao olhar panoracircmico da macro histoacuteria tradicional ndash e eacute esta nova postura que se passou a chamar de micro histoacuteria (BARROS 2012 p 306)
Diante deste contexto o ensino de Histoacuteria pode buscar na histoacuteria local a
problematizaccedilatildeo necessaacuteria para que os estudantes da educaccedilatildeo baacutesica
reconheccedilam a identidade local que vem sofrendo com a uniformizaccedilatildeo da
sociedade que impotildee uma conjuntura global do local
24
3 SAtildeO FRANCISCO DE PAULA CONSTRUCcedilAtildeO DO MUNICIacutePIO
A apresentaccedilatildeo do municiacutepio Satildeo Francisco de Paula acontece atraveacutes do
uso da narrativa Esta se apresenta atraveacutes do diaacutelogo com obras jaacute produzidas por
memorialistas eou genealogistas que contribuem para a construccedilatildeo histoacuterica deste
local bem como se usa como fonte de enriquecimento documentos da Assembleia
Legislativa do Rio Grande do Sul e jornais locais
Para tanto se apresenta a revisatildeo historiograacutefica das obras escritas pelos
memorialistas eou genealogistas sendo que Lucena (1971) em sua obra ldquoSatildeo
Francisco de Paula Monografiardquo que abrange aspectos histoacutericos da formaccedilatildeo do
municiacutepio bem como pontos turiacutesticos e demograacuteficos O proacuteprio autor intitula a sua
obra como informativa a riqueza de detalhes eacute interessante poreacutem natildeo haacute nenhuma
referecircncia quanto aos dados escritos nem mesmo um referencial bibliograacutefico ao
final
No texto intitulado ldquoOs Fundadores de Satildeo Francisco de Paulardquo Alves (2007)
escreve sobre a fundaccedilatildeo de Satildeo Francisco de Paula Em seu livro haacute documentos
que validam o que se refere agrave genealogia jaacute que boa parte da obra apresenta os
troncos familiares que compunham o iniacutecio deste municiacutepio Na mesma linha da
genealogia Oliveira (1996) no livro ldquoAurorescer das Sesmarias Serranas histoacuteria e
genealogiardquo traz a histoacuteria das primeiras sesmarias da regiatildeo mas o foco principal
se daacute aos proprietaacuterios e seus descendentes Haacute um mapa bastante interessante
localizando as sesmarias e o nome por elas recebidos
Em ldquoSatildeo Francisco de Paula nossa terra nossa genterdquo Teixeira (2002)
apresenta dados gerais e histoacutericos do municiacutepio Esta obra apresenta dados
geograacuteficos como clima relevo e vegetaccedilatildeo A autora escreve sobre diversos
aspectos eventos personalidades e lendas Aleacutem disso apresenta Satildeo Francisco
de Paula com uma linha cronoloacutegica A obra abrange vaacuterios aspectos mas todos
suscintamente No final a autora apresenta a bibliografia consultada dentre os
autores estaacute Lucena (1971)
O texto ldquoSatildeo Francisco de Paula Rio Grande do Sul histoacuteria encantos e
misteacuteriosrdquo eacute uma obra de Fonseca (2012) que traz diversidade de assunto muitas
vezes estes estatildeo desconexos ou seja sua leitura se torna ldquotruncadardquo No final do
texto haacute um vasto referencial bibliograacutefico dentre os autores citam-se Lucena
(1971) e Teixeira (2002)
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Ribeiro (2003) eacute compositor e poeta Em ldquoFestival do Ronco do Bugiordquo
escreve sobre Satildeo Francisco de Paula apresentando a histoacuteria dos quinze anos do
festival no municiacutepio No iniacutecio contextualiza a origem do festival e do ritmo bugio
Depois apresenta a capa do disco de cada festival especificando as muacutesicas e os
compositores vencedores
Todas essas obras satildeo importantes para Satildeo Francisco de Paula cada uma
traz consigo um pouco da histoacuteria deste municiacutepio poreacutem sente-se falta da
identidade e da memoacuteria na construccedilatildeo histoacuterica As obras satildeo apresentadas o
mesmo prisma apresentando os iacutendios Caaguaraacutes e o Capitatildeo Pedro da Silva
Chaves os fundadores desta terra dando bastante ecircnfase aos sobrenomes que ali
se desenvolveram
31 CONVERSA COM MEMORIALISTAS
As terras onde hoje fica Satildeo Francisco de Paula eram habitadas por iacutendios da
tribo Caaguaraacutes que faziam parte dos Coroados Estes viviam livremente nos
campos de cima da serra e seus domiacutenios estendiam-se entre a Serra Geral e a
Serra do Mar Os iacutendios Caaguaraacutes tinham como haacutebitos alimentares a caccedila a
pesca e a coleta de sementes e frutos dentre os frutos o pinhatildeo e a goiaba-do-
mato segundo Teixeira (2002) e Alves (2007) Estes iacutendios tiveram seu habitat
invadido por incursotildees de desbravadores que comeccedilaram a trafegar pela regiatildeo em
busca de mulas e novas terras visto que as terras onde hoje se encontra Satildeo
Francisco de Paula de Cima da Serra foram rota de tropeiros5 pois estes trafegavam
pelos Campos de Cima da Serra indo na direccedilatildeo de Lages-SC ateacute alcanccedilarem
Sorocaba-SP6 Ao passarem por esta regiatildeo foram se formando pequenos vilarejos
e construindo um jeito peculiar de viver
Neste cenaacuterio aparece o municiacutepio de Satildeo Francisco de Paula de Cima da
Serra que recebe este nome para se diferenciar de Satildeo Francisco de Paula
denominaccedilatildeo recebida ateacute meados de 1830 pelo municiacutepio de Pelotas Poreacutem na
metade do seacuteculo XVIII Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra possuiacutea
5 Tropeiros homens que conduziam suas tropascomitivas de muares ou cavalos entre as regiotildees 6 Sugere-se a leitura FLORES Moacyr Troperismo no Brasil Porto Alegre Nova Dimensatildeo 1998
SAVARIS Manoelito Tropas e tropeiros o Rio Grande toma forma Disponiacutevel em ltwwwrogeriobastoscombr201104trpas-e-tropeiros-o-rio-grande-tomahtmlgt Acesso em 12 mar 2016
26
proprietaacuterios de terras sendo que um dos pioneiros foi Pedro da Silva Chaves um
portuguecircs casado com Gertrudes de Godoy uma paulista Pedro da Silva Chaves
declara em 1742 ser possuidor de terras neste municiacutepio Segundo Oliveira (1996)
em seu testamento Pedro da Silva Chaves rege que possui trecircs fazendas na regiatildeo
uma chamada Satildeo Joatildeo que se localiza desde o Arroio Santa Cruz ateacute o Rio
Tainhas concedida em 1752 por sesmaria a Fazenda da Cria que foi comprada de
Francisco Pinto Bandeira e confirmada como sesmaria em 1754 e a Fazenda
denominada Cerrito comprada do Capitatildeo Antocircnio Gonccedilalves dos Reis Nestas
fazendas havia criaccedilatildeo de cavalos gado vacum mulas e burros As fazendas
tambeacutem apresentavam em torno de 77 escravos sendo que alguns satildeo casados o
que se faz pensar que estes constituiacuteam famiacutelia aumentando assim o nuacutemero de
escravos da regiatildeo No mapa da Figura 1 verifica-se a localizaccedilatildeo das fazendas do
capitatildeo Pedro da Silva Chaves bem como sua extensatildeo territorial
Figura 1 ndash Mapa de Identificaccedilatildeo das Sesmarias Serranas
Fonte Oliveira (1996 p 236)
27
No mapa apresentado na Figura 1 ainda eacute possiacutevel observar a localizaccedilatildeo
onde inicia o povoado de Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra segundo
Lucena (1971 p 1) ldquoiniciou-se com o Capitatildeo Pedro da Silva Chaves que doou
uma gleba de terra para que fosse iniciado o povoadordquo Tambeacutem segundo Lucena
(1971 p 1) ldquodoou cinquenta vacas para construir o primeiro patrimocircnio da Igreja
cuja construccedilatildeo foi iniciada por sua conta e lhe deu o nome de Satildeo Francisco por
este ser devoto do Santordquo O que demonstra que Pedro da Silva Chaves era
Catoacutelico
Neste periacuteodo compreendido como seacuteculo XIX segundo Teixeira (2002) e
Alves (2007) o atual municiacutepio de Satildeo Francisco de Paula pertencia ao municiacutepio de
Santo Antocircnio da Patrulha municiacutepio este que formava juntamente com Porto
Alegre Rio Pardo e Rio Grande a proviacutencia de Satildeo Pedro do Rio Grande do Sul
atual Rio Grande do Sul Eacute possiacutevel observar a grande extensatildeo territorial de cada
municiacutepio no mapa apresentado na Figura 2 segundo Silva (2000) Santo Antocircnio
da Patrulha anexava as freguesias de N Sra Conceiccedilatildeo do Arroio e N Sra da
Oliveira da Vacaria a capela de Satildeo Domingos das Torres e os povoados de Santa
Cristina do Pinhal e Cima da Serra
Analisando o mapa da Figura 2 eacute possiacutevel perceber que o municiacutepio de Santo
Antocircnio da Patrulha tinha um vasto e extenso territoacuterio que atualmente compreende
os municiacutepios de Vacaria Antocircnio Prado Nova Roma do Sul Lagoa Vermelha
Veranoacutepolis Nova Prata Nova Araccedilaacute Nova Bassano Paraiacute Guabiju Satildeo Jorge
Vista Alegre do Prata Protaacutesio Alves Cotiporatilde Fagundes Varela Vila Flores
Caseiros Birajaras Andre da Rocha Capatildeo Bonito do Sul Muitos Capotildees Bom
Jesus Satildeo Joseacute dos Ausentes Esmeralda Ipecirc Campestre da Serra Monte Alegre
dos Campos Taquara Satildeo Francisco de Paula Cambaraacute do Sul e Jaquirana
28
Figura 2 ndash Divisatildeo Municipal em 1809 ndash Proviacutencia Satildeo Pedro do Rio Grande do Sul
Fonte Evoluccedilatildeo Administrativa (2013)7
32 AMPLIANDO O DIAacuteLOGO COM OS MEMORIALISTAS
Segundo documentos da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul8
disponiacuteveis no Arquivo Histoacuterico de Satildeo Francisco de Paula9 em 1852 atraveacutes da
Lei nordm 266 de 30 de novembro de 1852 eleva-se agrave categoria de freguesia a entatildeo
capela Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra pelo entatildeo vice-governador da
proviacutencia de Satildeo Pedro do Rio Grande do Sul o senhor Luiz Alves Leite de Oliveira
Bello Estes documentos ainda retratam que no ano de 1886 houve distribuiccedilatildeo de
lotes devolutos para pessoas pobres que comprovassem residecircncia haacute pelo menos
trecircs anos e se comprometessem a ldquofundar moradiardquo em um prazo de um ano sendo
assim passados trecircs anos seriam donos definitivos destes lotes dando o iniacutecio ao
povoamento da vila No mesmo periacuteodo acontece a criaccedilatildeo do cemiteacuterio municipal
7 Disponiacutevel em ltwwwatlassocioeconomicorsgovbrevolucao-administrativa-1809-a-2013gt Acesso
em 18 mar 2017 8 O diaacutelogo com memorialista se amplia a partir de agora com contribuiccedilotildees de documentos
pesquisados que corroboram para a compreensatildeo do tema 9 BARBOSA Eni GONCcedilALVES Jorge Joseacute Xavier (Orgs) Documentos histoacutericos da Assembleia
Legislativa do Rio Grande do Sul Arquivo Histoacuterico de Satildeo Francisco de Paula 1992
29
que ocorre em 1891 segundo documentos da Assembleia Legislativa disponiacuteveis
no Arquivo Histoacuterico de Satildeo Francisco de Paula Estes documentos informam que
primeiramente somente moradores que comprovassem residecircncia haacute mais de trecircs
anos e pudessem manter os jazigos de seus entes poderiam fazer uso deste
espaccedilo Atraveacutes desta documentaccedilatildeo se percebe que havia toda uma organizaccedilatildeo
para que ldquoestrangeirosrdquo natildeo se estabelecessem em Satildeo Francisco de Paula de Cima
da Serra
Em 1889 Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra passa a categoria de vila
e deixa de pertencer a Santo Antocircnio da Patrulha passando a ser distrito do
municiacutepio de Taquara do Mundo Novo (hoje Taquara) o que traz mudanccedilas
significativas para a vila
Mesmo havendo distribuiccedilatildeo de lotes apoacutes quinze anos percebe-se na
Figura 3 que o povoado ainda era pequeno cercado de campos que constituiacuteam
fazendas com criaccedilatildeo de gado vacum tendo como principal economia a pecuaacuteria
extensiva Ao alto pode-se visualizar a Igreja Matriz construiacuteda pelo capitatildeo Pedro
da Silva Chaves
Figura 3 ndash Vista da vila de Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra (1901)
Fonte Portal Satildeo Chico (2018)10
10 PORTAL SAtildeO CHICO Fotos antigas de Satildeo Francisco de Paula 2018 Disponiacutevel em
ltwwwsaochicocombrantigasgt Acesso em 12 abr 2019
30
Ainda eacute possiacutevel observar atraveacutes da Figura 3 que neste periacuteodo natildeo havia
nenhuma preocupaccedilatildeo com a organizaccedilatildeo urbana ou seja ruas quadras as
construccedilotildees se apresentam de maneira desordenada Poreacutem passados vinte e dois
anos na Figura 4 jaacute eacute possiacutevel visualizar uma estrutura urbanizada com possiacutevel
organizaccedilatildeo de ruas e quadras mas a vila ainda eacute rodeada de campos
Figura 4 ndash Vista Avenida Juacutelio de Castilhos (1923)
Fonte Lucena (1971 p 67)
O desenvolvimento da Sede de Satildeo Francisco de Paula acontece segundo
Lucena (1971 p 27) ldquonos primeiros anos de vida isto eacute de 1910 a 1924 mais ou
menos devido agrave extraccedilatildeo da erva-mate que era abundante em nossos matos nas
zonas da serrardquo O autor ainda acrescenta
O pioneiro na extraccedilatildeo da erva-mate em nossa Comuna foi o proprietaacuterio Carlos Miguel Kroeff dono da fazenda Potreirinho praticamente arrabalde de nossa cidade No barba-quaacute11 se iniciava todo processo de industrializaccedilatildeo da erva-mate sendo que Satildeo Francisco de Paula chegou a ter quinhentos barbaacute-quas (LUCENA 1971 p 28)
11 Barba-quaacute um valo de cerca de oito metros de comprimento amis ou menos por um metro de
profundidade e oitenta centiacutemetros de largura coberto de xaxim e terra em uma das extremidades colocava-se um gradeado e acima deste em uma parte tambeacutem coberta e mais alta tinha apenas uma saiacuteda sob o gradeado colocava-se as folhas de erva extraiacuteda da aacutervore no iniacutecio do valo fazia-se um fogo e a fumaccedila que pela pouca ventilaccedilatildeo existente formava bastante fumaccedila e esta atingia as folhas secando-as (LUCENA 1971 p 28)
31
A produccedilatildeo de erva-mate contribuiu para o povoamento da vila visto que
muitas pessoas vieram trabalhar e acabaram se instalando no municiacutepio Apoacutes a
extraccedilatildeo da erva-mate surge a extraccedilatildeo de madeira que tambeacutem contribui para o
desenvolvimento
Nesta documentaccedilatildeo ainda se encontra no artigo nordm 251 de 08 de abril de
1891 a liberaccedilatildeo da verba para abrir a estrada de rodagem que liga as vilas de
Taquara do Mundo Novo e Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra em 1889
Atraveacutes da Figura 5 pode-se perceber o quatildeo difiacutecil era abrir uma nova estrada de
rodagem Tudo era manual com o uso de animais e muares para transportar pedras
e terras poreacutem a abertura desta estrada traz mudanccedilas significativas para a
populaccedilatildeo de Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra
Figura 5 ndash Abertura da estrada ERS-020 Taquara ndash Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra
Fonte Jornal Folha da Serra (1968 n 89 p 8)12
12 Folha da Serra jornal criado em 1932 pelo Dr Siacutelvio Rabelo sendo o uacutenico jornal que existia na
regiatildeo serrana Este trazia notiacutecias sociais poliacuteticas etc com uma tiragem em torno de 500 exemplares por semana Encontram-se no Arquivo Histoacuterico de Satildeo Francisco de Paula alguns exemplares ateacute a deacutecada de 70 seacuteculo XX
32
A estrada visava facilitar o acesso da populaccedilatildeo de Satildeo Francisco de Paula
de Cima da Serra que ia ateacute Taquara para buscar gecircneros de primeira necessidade
Em tempos idos os serranos se abasteciam de gecircneros de primeira necessidade quase que totalmente em Taquara e o transporte era feito em cargueiros que compunham uma tropa com cerca de quinze a vinte cargueiros Os animais usados para esse transporte eram geralmente muares mais resistentes para o transporte de carga Os serranos levavam daqui queijo (o queijo ateacute hoje chamado queijo serrano) charque couros e alguns levavam maccedilatilde ou pinhatildeo em suas eacutepocas de colheita trocados por mantimentos de que necessitavam Natildeo existiam ainda estradas e o trajeto era feito por picadas existentes (LUCENA 1971 p 23)
O mesmo autor ainda acrescenta
Para atingir a capital do Estado a viagem era cheia de peripeacutecias O transporte era feito a cavalo ou em diligecircncias ateacute Taquara As diligecircncias carros de quatro de rodas puxados por quatro animais ndash cavalos ndash eram de propriedade de Bertolo Casara mais conhecido por lsquoJoatildeo Gringorsquo Essa viagem se fazia normalmente em um dia e agraves vezes em dia e meio O ponto de parada era ali no Rodeio Bonito onde existia uma casa agrave esquerda bem defronte a estrada que desce para Trecircs Coroas [] De Taquara a Porto Alegre por via ferroviaacuteria ndash de trem (LUCENA 1971 p 16)
A construccedilatildeo desta estrada traz um novo desenvolvimento para a entatildeo vila
de Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra pois apoacutes a abertura da estrada de
rodagem Taquara ndash Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra modifica o transporte
de mercadorias entre as localidades
O transporte de mercadorias era feito em carretotildees de quatro rodas puxados uns por cinco animais outros por sete as maiores que geralmente eram muares Eram atrelados em duas fileiras Na fileira junto agrave carreta que era de duas ou trecircs mulas na da esquerda montava o carreteiro Este toda vez que se verificava um declive na estrada apeava de sua montaria a fim de brecar a carreta sem que esta entretanto parasse (LUCENA 1971 p 24)
Este modelo de comeacutercio vai desaparecer com o surgimento das primeiras
casas de comeacutercios na vila de Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra De acordo
com Lucena (1971 p 38) ldquoos primeiros comerciantes foram Manoel Vicente
Ferreira Abel Pacheco Luis Carlos de Andrade e Jacob Bossle Sobrinhordquo Na
imagem da Figura 6 temos o Accedilougue Central onde nota-se que os animais
convivem soltos na rua juntamente com as pessoas mesmo se tratando de local
urbano
33
Figura 6 ndash Accedilougue Central
Fonte Portal Satildeo Chico (2018)13
Nesta mesma documentaccedilatildeo haacute decretos que definem a construccedilatildeo de uma
nova Igreja Matriz isto eacute uma Igreja de Pedra substituindo a antiga que era de
madeira ainda construiacuteda pelo capitatildeo Pedro da Silva Chaves esta construccedilatildeo data
do ano de 1922 Segundo Teixeira (2002 p 30) a Igreja de Pedra permanece ateacute
1960 quando daacute lugar ao atual preacutedio da Igreja Matriz que foi inaugurada em 14 de
junho de 1964 Na sequecircncia teremos duas imagens demonstrando a Igreja de
Pedra e a atual edificaccedilatildeo da Igreja Matriz Natildeo foi encontrada nenhuma foto da
Igreja de Madeira nos arquivos do Arquivo Histoacuterico do Municiacutepio somente em um
site de fotos antigas onde encontra-se registro apresentado na Figura 7
13 PORTAL SAtildeO CHICO Fotos antigas de Satildeo Francisco de Paula 2018 Disponiacutevel em
ltwwwsaochicocombrantigasgt Acesso em 12 abr 2019
34
Figura 7 ndash Igreja Matriz em 1931
Fonte Portal Satildeo Chico (2018)14
Figura 8 ndash Igreja Matriz
Fonte acervo da autora (2015)
14 PORTAL SAtildeO CHICO Fotos antigas de Satildeo Francisco de Paula 2018 Disponiacutevel em
ltwwwsaochicocombrantigasgt Acesso em 12 abr 2019
35
Entre os anos de 1892 a 1902 por duas vezes Satildeo Francisco de Paula de
Cima da Serra eacute desanexado e reanexado ao entatildeo municiacutepio de Taquara do Mundo
Novo Somente em 23 de dezembro de 1902 foi reestabelecido definitivamente o
municiacutepio de Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra cuja instalaccedilatildeo se verificou
em 07 de janeiro de 1903 A partir de 01 de janeiro de 1938 perde ldquoCima da Serrardquo
de sua nomenclatura permanecendo somente Satildeo Francisco de Paula Apesar
disso se manteacutem o gentiliacutecio ldquoSerranordquo de acordo com Silva (2000 p 23) e dados
do Arquivo Histoacuterico de Satildeo Francisco de Paula sendo que este gentiliacutecio eacute usado
ateacute os dias de hoje
No iniacutecio o municiacutepio de Satildeo Francisco de Paula foi um dos maiores do Rio
Grande do Sul em territoacuterio mas ao longo do tempo foi diminuindo seu territoacuterio
com a anexaccedilatildeo de parte dele ao entatildeo municiacutepio de Caxias do Sul e de Torres e a
criaccedilatildeo dos municiacutepios de Cambaraacute do Sul em 1963 e Jaquirana em 1988
Foi uma das maiores Comunas do Estado pois de seu territoacuterio faziam parte os atuais municiacutepios de Satildeo Marcos Cambaraacute do Sul e Jaquirana e os distritos de Vila Oliva Criuacuteva Fazenda Souza e Vila Seca hoje integrantes de Caxias do Sul De nosso territoacuterio foi tambeacutem desanexada uma gleba de terra ndash Josafaacute ndash e anexada ao municiacutepio de Torres (LUCENA 1971 p 10)
Mesmo perdendo parte de seu territoacuterio ao longo dos anos atualmente
segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (2016) ldquoSatildeo Chicordquo como
costumeiramente eacute chamado pelo seu povo estaacute situado na Encosta Inferior do
Nordeste do Estado do Rio Grande do Sul na zona denominada de Campos de
Cima da Serra Fica distante 112 quilocircmetros da capital do Estado Porto Alegre Os
municiacutepios limiacutetrofes satildeo Monte Alegre dos Campos Bom Jesus Jaquirana
Cambaraacute do Sul Praia Grande-SC Trecircs Forquilhas Itati Maquineacute Riozinho
Rolante Taquara Trecircs Coroas Canela e Caxias do Sul Possui uma aacuterea territorial
de 3264490 quilocircmetros quadrados com uma estimativa populacional de 21617
habitantes distribuiacutedos na zona urbana e rural O municiacutepio se divide em sete
distritos Sede Cazuza Ferreira Tainhas Juaacute Eletra e Lajeado Grande Atraveacutes do
conjunto de mapas apresentado na Figura 9 eacute possiacutevel visualizar a localizaccedilatildeo de
Satildeo Francisco de Paula dentro do Rio Grande do Sul e por conseguinte no Brasil
Tambeacutem se verifica a localizaccedilatildeo dos distritos de Satildeo Francisco de Paula
36
Figura 9 ndash Mapa de localizaccedilatildeo de Satildeo Francisco de Paula
Subdivisatildeo de Satildeo Francisco de Paula em distritos
Fonte montagem da autora (2019)
Desta forma se constitui o espaccedilo fiacutesico do municiacutepio de Satildeo Francisco de
Paula cuja populaccedilatildeo natildeo forma uma colocircnia pois seu povo adveacutem de diferentes
lugares a grande maioria com descendecircncia lusa sendo que os primeiros
colonizadores foram bandeirantes paulistas
A populaccedilatildeo de Satildeo Francisco de Paula eacute composta de brancos africanos e indiacutegenas Os brancos compreendendo portugueses (principalmente
37
accedilorianos) alematildees e italianos os africanos pertenciam ao grupo dos bantos e foram trazidos pelos portugueses (TEIXEIRA 2002 p 147)
A diversidade de pessoas que se estabeleceram em Satildeo Francisco de Paula
pode ser percebida pelos sobrenomes das famiacutelias precursoras do municiacutepio
Para Satildeo Francisco de Paula afluiacuteram famiacutelias de diversas nacionalidades que atraveacutes de seus descendentes ainda hoje aqui satildeo representadas como Famiacutelias Ferreira Soares Pinto Castilhos Asmuz Santos Martins Lopes Comin Feijoacute Silva Canani Peixoto Andrade Teixeira Valin Lucena Alves Cardoso Gomes Borges Marques Tedesco Medeiros Paglioacuteli Costa Fogaccedila Casara em outras (LUCENA 1971 p 11-12)
Os moradores deste municiacutepio introduziram um jeito singular de viver tendo
em seu cotidiano as tradiccedilotildees gauacutechas15 muito presentes Teixeira (2002 p 83)
assim descreve que ldquoas raiacutezes gauacutechas estatildeo fortemente marcadas na comunidade
seja pelo modo de vestir bombacha botas cinturotildees chapeacuteus e no inverno com o
pala ou pela preferecircncia por comidas campeiras churrasco carreteiro feijatildeo
mexidordquo A autora acrescenta que ldquoas casas com lareira e o tradicional fogatildeo agrave
lenha para aquececirc-las durante o inverno rigoroso satildeo um convite para uma
conversa ao peacute do fogo e o saboreio de um gostoso chimarratildeordquo (TEIXEIRA 2002 p
83)
O enraizamento deste modo de vida adveacutem do homem do campo o
pecuarista que no passado necessitava enviar seus filhos a cidade para estudar
contribuindo para este modelo de vida
Antigamente a pecuaacuteria era a atividade econocircmica muito forte em nosso municiacutepio Assim sendo havia muitos fazendeiros E como as fazendas ficavam muito longe da Sede do municiacutepio as senhoras tinham seus filhos em casa com parteiras Tambeacutem os estudos iniciavam nas fazendas porque as escolas ficavam longe Assim muitas vezes os fazendeiros contratavam professoras para se hospedarem nas suas casas e darem aulas aos seus filhos Em muitos casos ateacute mesmo os proacuteprios pais e avoacutes ensinavam alguma coisa Alguns fazendeiros quando seus filhos ficavam maiores os mandavam continuarem seus estudos na vila (assim lsquoSatildeo Chicorsquo era chamada) (TEIXEIRA 2002 p 77)
Com a vinda dos filhos para a vila trouxeram consigo o jeito do homem do
campo sendo que um dos maiores clubes em funcionamento de Satildeo Francisco de
Paula eacute o atual Centro de Tradiccedilotildees Gauacutechas Rodeio Serrano fundado em maio de
15 Tradiccedilotildees gauacutechas segundo Fagundes (1997 p 38) eacute um movimento ciacutevico-cultural [] eacute a
tradiccedilatildeo em marcha resgatando valores que satildeo vaacutelidos natildeo por serem antigos mas por serem eternos exatamente os valores que trouxeram o Rio Grande e o gauacutecho do passado para o presente projetando-se para o futuro
38
1955 Segundo o Jornal Folha da Serra (1968 n 11 p 12) a entidade
tradicionalista receacutem-formada recebe o nome de CTG Coronel Alziro Torres Filho
Fonseca (2012 p 223) menciona que a iniciativa partiu de ldquoDavenir Peixoto Gomes
um homem ruralista e serranordquo Esta entidade tradicionalista teve como primeiro
Patratildeo Oscar Teixeira O CTG Alziro Torres Filho segundo o jornal Folha da Serra
(1957) muda sua nomenclatura em uma reuniatildeo onde o posteiro da invernada
artiacutestica Alaor Valim propotildee a troca do nome para Rodeio Serrano nome que
permanece ateacute a atualidade
A entidade tradicionalista traz como lema ldquoRepontando a Tradiccedilatildeo com o Rio
Grande na Garupardquo Fonseca (2012 p 224) relata que o lema foi ldquocriado pelo
primeiro instrutor de danccedilas Dr Alaor de Almeida Valimrdquo O mesmo autor acrescenta
que ldquoa primeira prenda foi a professora Maria Asmuz Valimrdquo Poreacutem sua sede
somente foi construiacuteda em 1968 sob a patronagem de Dante Santos O Jornal Folha
da Serra (1968 n 11 p 12) indica que ldquoa construccedilatildeo da sede era uma aspiraccedilatildeo de
longos anos que somente agora se concretizardquo Anteriormente ldquoos bailes eram
realizados em sua maioria no Salatildeo Paroquial sendo que alguns foram feitos no
primeiro andar da Associaccedilatildeo Rural e ateacute mesmo na Sociedade Cruzeirordquo
(FONSECA 2012 p 225) Este fato justifica a vontade de Dante Santos de construir
uma sede proacutepria
Apoacutes a construccedilatildeo de sua nova sede o CTG Rodeio Serrano localiza-se na
Rua Benjamim Constant nordm 582 constituindo um espaccedilo importante para a
comunidade de Satildeo Francisco de Paula Dentre as atividades desenvolvidas pelo
CTG estaacute o Rodeio Interestadual que ocorre todos os anos no primeiro final de
semana de dezembro sendo que se encontra na 33ordf ediccedilatildeo A manutenccedilatildeo das
invernadas artiacutesticas em todas as categorias mascote mirim juvenil e adulta A
organizaccedilatildeo da Ronda Crioula na Semana Farroupilha bem como a Cavalgada de
Prendas que ocorre durante a Semana Farroupilha todos os anos Realiza-se o
baile da Prenda Jovem aleacutem de shows e bailes tipicamente gauchescos Aleacutem
disso nos uacuteltimos anos a organizaccedilatildeo do Festival Ronco do Bugio que ocorre em
Satildeo Francisco de Paula ldquofestival este lanccedilado em 16 de abril 1986rdquo segundo o
Jornal Satildeo Chico Tchecirc (1986 n 4 p 5)16
16 Satildeo Chico Tchecirc jornal de circulaccedilatildeo quinzenal fundado em 08 de janeiro de 1986 e que circulou
ateacute 1989 O jornal trazia informaccedilotildees culturais sociais econocircmicas e poliacuteticas da Sede e do
39
Durante os seus sessenta e dois anos de existecircncia muitos patrotildees
passaram por esta entidade tradicionalista mas em 2017 pela primeira vez na
histoacuteria o CTG Rodeio Serrano teve uma patronagem feminina Aleacutem da Patroa
Neuza Reis foram empossadas a Capataz Elenita Amaral a Sota-capataz Fernanda
Kirsch Damasceno o Agregado das Pilchas Antocircnio Garcia de Souza e no
Conselho de Vaqueanos Neiva Santos Valim
Figura 10 ndash Patroa Neuza Reis e sua Comissatildeo
Fonte Jornal Pioneiro (2017)17
Satildeo Francisco de Paula hoje conta com vinte e oito entidades
tradicionalistas18 espalhadas pelos seus distritos demonstrando que homem do
campo se faz muito presente em todo o municiacutepio sendo assim a cultura
interior Os exemplares encontram-se encadernados no arquivo histoacuterico de Satildeo Francisco de Paula
17 Jornal Pioneiro conhecido como o jornal que estaacute ldquoao teu ladordquo o Pioneiro circula desde 1948 e estaacute presente hoje em 64 municiacutepios da regiatildeo de Caxias do Sul Desde 1993 integra a rede de jornais do Grupo RBS sendo filiado ao Instituto Verificador de Circulaccedilatildeo (IVC) Conta com uma equipe de Redaccedilatildeo com mais de 40 jornalistas aleacutem de colunistas internos e externos Em 2008 o jornal ganhou o site pioneirocom Disponiacutevel em lthttpwwwgruporbscombratuacaopioneirogt acesso em 10 de fevereiro de 2019
18 Informaccedilatildeo cedida pelo Coordenador da 27ordf Regiatildeo Tradicionalista Gauacutecha
40
tradicionalista se apresenta de maneira forte e consistente segundo vaacuterios
depoimentos de moradores de todos os distritos de Satildeo Francisco de Paula
41
4 SAtildeO FRANCISCO DE PAULA DISTRITOS EM FOCO
Quanto aos distritos de Satildeo Francisco de Paula surgem diversas
inquietaccedilotildees com relaccedilatildeo agrave identidade destes locais pois estes mesmo fazendo
parte de um mesmo municiacutepio apresentam singularidades que derivam de sua
colonizaccedilatildeo basicamente lusa portuguesa e da recepccedilatildeo de imigrantes de diversas
etnias como italianos e alematildees ao longo destes cento quinze anos de
emancipaccedilatildeo Percebe-se que alguns distritos manteacutem sua identidade e tradiccedilotildees
resguardadas enquanto em outros jaacute ocorreu agrave miscigenaccedilatildeo de diferentes haacutebitos
e culturas o que dificulta identificar traccedilos que identifiquem estes distritos
Neste capiacutetulo busca-se responder a estas inquietaccedilotildees fazendo uso dos
depoimentos de moradores locais Segundo Delgado (2003 p 21) ldquoessas
narrativas tal qual os lugares da memoacuteria satildeo instrumentos importantes de
preservaccedilatildeo e transmissatildeo das heranccedilas identitaacuterias e das tradiccedilotildeesrdquo Neste sentido
se optou por dois moradores por distrito totalizando treze entrevistados um homem
e uma mulher da terceira idade que sempre morou no distrito o que enriquece os
detalhes repassados pelos entrevistados
Toda entrevista tem por base a memoacuteria individual que se referencia na coletiva profundamente relacionada agraves vivecircncias individuais A utilizaccedilatildeo do depoimento de pessoas idosas como fonte para a histoacuteria oral eacute uma forma de justificar a entrevista como histoacuterica referindo-se ao passado jaacute que aos idosos se pretende atribuir a guarda de memoacuterias do passado pelo proacuteprio tempo de vida do depoente Isto retoma e ajuda a fortalecer a ideia de que a histoacuteria mesmo tratando do tempo presente ainda se reporta a um periacuteodo anterior ao da vida do pesquisador (ALMEIDA 2012 p 10)
A entrevista somente ocorreu quando o entrevistado concordou em assinar o
termo de consentimento As entrevistas ocorreram nas residecircncias dos
entrevistados foram preacute-agendadas sendo que o meacutetodo utilizado foi entrevista
guiada atraveacutes de questionaacuterio previamente organizado pela autora as entrevistas
foram filmadas e gravadas onde somente uma entrevistada natildeo autorizou a
filmagem de seus relatos justificando a idade avanccedilada e por morar sozinha
A escolha pela histoacuteria oral hibrida ocorreu no sentido de que a fonte oral eacute o
principal recurso utilizado para colher informaccedilotildees sobre os distritos visto que em
sua grande maioria natildeo haacute publicaccedilotildees Poreacutem em determinados momentos se
utilizam fontes documentais como complemento do que vem sendo apresentado
Com relaccedilatildeo agrave abordagem adotada nas entrevistas se optou pela temaacutetica visto
42
que se leva um roteiro preacute-organizado com temas que deveratildeo ser explorados
durante as entrevistas o que proporciona uma riqueza de informaccedilotildees para a
autora
41 DISTRITO SEDE
O distrito Sede se constitui no local onde se inicia o povoado do municiacutepio na
antiga Fazenda da Cria terras doadas pelo capitatildeo Pedro da Silva Chaves Neste
distrito concentram-se os serviccedilos puacuteblicos e privados que os moradores
necessitam em seu dia-a-dia visto que ali existem bancos casas loteacutericas
farmaacutecias hospital supermercados lojas papelarias livraria inspetoria veterinaacuteria
secretaacuterias municipais escolas puacuteblicas e privadas creches induacutestrias de madeiras
e calccedilados
Poreacutem o distrito Sede ou cidade de Satildeo Chico como popularmente
conhecida pelo seu povo jaacute foi uma cidade de interior ou seja uma cidade pequena
com moradores que vinham das fazendas em busca de estudo Visto que a
implementaccedilatildeo de uma rede regular de ensino ocorre tardiamente devido agrave
dificuldade de se locomover pelas distantes localidades entatildeo normalmente os
fazendeiros contratavam professores para que seus filhos obtivessem estudo sendo
que estes moravam na proacutepria residecircncia da famiacutelia Em entrevista com essa autora
relata Albuquerque19 que ldquopara aprimorar os estudos aqueles que tinham mais
condiccedilotildees iam para Porto Alegre Santa Maria ou Passo Fundo mas para isto
ficavam laacute em internatos e soacute retornavam nas feacuterias devido agrave dificuldade e o custo
da viagemrdquo
Na deacutecada de 40 foi criada a Escola Catoacutelica de Satildeo Francisco de Paula
cujo funcionamento acontece ateacute 1973 quando foram encerradas suas atividades
Esta escola iniciou com o curso primaacuterio e posteriormente instalou o curso ginasial
Normalmente estes moradores permaneciam de segunda-feira a sexta-feira na
cidade e nos finais de semana retornavam para as fazendas como recorda uma
moradora local
Noacutes eacuteramos uma cidade de fazendeiros a gente tinha uma casa no campo e uma na cidade a gente vivia de laacute pra caacute de caacute pra laacute fim de semana ia
19 ALBUQUERQUE Moacir Castello Branco de Entrevista concedida agrave autora no dia 06 de abril de
2018
43
pra fora20 dia de semana vinha pra caacute normalmente uma irmatilde mais velha voacute ficava com a gente aqui na cidade e a famiacutelia mesmo ficava no campo21
Percebe-se que hoje ainda existem na Sede moradores que manteacutem suas
casas na cidade e durante o dia ou nos finais de semana vatildeo ateacute suas fazendas
para fazer as lides com o gado o que caracteriza uma pequena parte da populaccedilatildeo
que foram os filhos dos antigos fazendeiros que mais tarde acabam se instalando
definitivamente na cidade trazendo com sigo a essecircncia do homem do campo e
afirmando uma identidade genuinamente gauacutecha definiccedilatildeo esta concedida por uma
moradora local
Gauacutecho natildeo eacute o morador do Rio Grande do Sul o morador do Rio Grande do Sul eacute o sul-rio-grandense ou rio-grandense do sul o gauacutecho eacute apenas o homem que vem da pecuaacuteria extensiva essa que existe laacute no pampa e aqui nos campos de cima da serra o gauacutecho serrano com caracteriacutesticas muito proacuteprias grandes gaiteiros poetas aliaacutes o maior gaiteiro do mundo eacute daqui natildeo abro matildeo de dizer isto soacute que todos noacutes viacutenhamos da lida do campo em decorrecircncia disso eacuteramos gauacutechos de verdade22
Em sua fala apresenta o gauacutecho serrano como um tipo singular que ama a
pilcha gauacutecha o seu pingo e suas criaccedilotildees bem como reafirma a importacircncia dos
Irmatildeos Bertussi Honeide e Adelar sendo Adelar Bertussi um dos maiores gaiteiros
deste municiacutepio Exaltam-se tambeacutem os poetas que com suas poesias e letras de
muacutesicas escrevem o jeito do seu povo viver
Mesmo a cidade sendo ldquolocal de paradardquo durante a semana para a maioria
de seus habitantes no passado era cheia de atrativos que o campo natildeo possuiacutea
como o cinema cuja instalaccedilatildeo natildeo se encontra documentada mas sabe-se que
iniciou onde hoje eacute o preacutedio da Prefeitura Municipal sendo proprietaacuterio Francisco
Ferraz (Chico Ferraz como era conhecido) Observa-se em alguns exemplares do
Jornal Folha da Serra23 os filmes e os horaacuterios do funcionamento do cinema
Entende-se que o jornal era uma maneira de divulgar os filmes por ser o uacutenico meio
de comunicaccedilatildeo da eacutepoca Pelos folhetins se percebe que as sessotildees
apresentavam diversos gecircneros natildeo se sabe quando o cinema finalmente fechou
20 Fora refere-se ir para a fazenda 21 SOARES Luciana Olga Entrevista concedida agrave autora no dia 01 de marccedilo de 2018 22 SOARES Luciana Olga Entrevista concedida agrave autora no dia 01 de marccedilo de 2018 23 Folha da Serra jornal local criado em 1932 pelo Dr Siacutelvio Rabelo passando posteriormente a
propriedade da Prefeitura Municipal Sua impressatildeo era na ordem de 500 exemplares natildeo se tem a informaccedilatildeo do periacuteodo que parou de circular mas pelos exemplares encontrados no Arquivo Histoacuterico de Satildeo Francisco de Paula os uacuteltimos datam de 1978 O Arquivo Histoacuterico de Satildeo Francisco de Paula fica em um preacutedio anexo agrave Biblioteca Puacuteblica do municiacutepio
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poreacutem o jornal Folha da Serra traz uma reportagem que retrata como estava difiacutecil
manter o cinema em funcionamento em meados de 1968 ldquoo nosso cinema na
maneira que vai indo natildeo tem mais condiccedilotildees de funcionar natildeo temos apoio da
populaccedilatildeo com uma frequecircncia de mais ou menos 150 pessoas por final de
semanardquo O jornal acrescenta ldquosalienta-se que mais ou menos de 3 de nossa
CULTA populaccedilatildeo natildeo frequenta o cinemardquo Pode-se associar o fechamento do
cinema a dois fatores a natildeo cultura de assistir filmes e pelas sessotildees ocorrerem nos
finais de semana onde boa parte da populaccedilatildeo da cidade se deslocava para as
fazendas ou pela crise que os cinemas passaram na deacutecada de 80 quando em
muitas cidades foram fechados
A vida da populaccedilatildeo local vai se modificando cada vez mais as pessoas vatildeo
se instalando definitivamente na Sede onde se perde o viacutenculo com o campo
Devido agrave venda ou arrendamento das fazendas24 que por render pouco a pecuaacuteria
extensiva e com a criaccedilatildeo de novas legislaccedilotildees que proiacutebem praacuteticas centenaacuterias
seus proprietaacuterios buscaram novas possibilidades econocircmicas que modificaram a
Sede e tambeacutem boa parte do interior Em entrevista a moradora Soares relata
Exatamente porque a produccedilatildeo era pequena isso natildeo serve para o mundo de hoje a uns quarenta anos chega em nossos campos as primeiras plantaccedilotildees de pinus interessante que ningueacutem reclamou da destruiccedilatildeo desse campo de milhotildees de anos e de todo o ecossistema mas mesmo com essa nova cultura continuamos realizando a sapeca do campo no mecircs de agosto mas de repente chega a notiacutecia que estaacute proibida a queima do campo dizendo que noacutes estragaacutevamos a terra poluiacuteamos o ar que mataacutevamos animais e tudo aquilo natildeo era verdade Na verdade alguns anos depois da lei proibindo a queima do campo chegam as multas gigantescas agraves vezes maior que o valor da terra e aiacute inviabilizou a pecuaacuteria e muitos fazendeiros venderam suas terras e foram embora Quem ficou no campo na busca por renda a qualquer preccedilo arrenda seus campos para os batateiros que vieram acredito que a grande maioria de Santa Catarina e do Paranaacute estes lavram o campo nunca mais o campo nem com reza braba taacute tudo perdido para sempre e isso reflete na nossa cidade25
Essas mudanccedilas no campo refletem na Sede onde o homem serrano convive
passivamente com novas identidades que embora sejam presentes eacute minoria pois
esta parcela de novos moradores traz consigo um novo jeito de viver que ainda natildeo
se percebe influenciar na identidade cultural da Sede
24 Propriedades rurais cuja atividade principal eacute a praacutetica da pecuaacuteria extensiva e a produccedilatildeo do
queijo artesanal serrano 25 SOARES Luciana Olga Entrevista concedida agrave autora no dia 01 de marccedilo de 2018
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Na Sede desde o iniacutecio se observam quatro clubes sociais a Sociedade
Cruzeiro a Sociedade 9 de Julho a Sociedade Esperanccedila e o Centro de Tradiccedilotildees
Gauacutechas Cada clube social tem sua importacircncia histoacuterica poreacutem alguns natildeo se
manteacutem ativos
A Sociedade 9 de Julho foi fundada em 27 de setembro de 1961 estando
localizada no bairro Rincatildeo Segundo o jornal Folha da Serra (1968 n 96 p 5)
apoacutes sete anos de sua fundaccedilatildeo ldquoseu presidente Galego promete uma nova e
confortaacutevel sede para a sociedaderdquo Sociedade que se apresenta por sua
versatilidade nos eventos ateacute os dias atuais
O jornal Folha da Serra (1968 n 96 p 5) traz a seguinte mateacuteria ldquoas quatro
noites foram repletas de alegria naquela sociedade onde os foliotildees divertiram-se e
quando se anunciou o final da quarta noite houve quem lamentasse o final da festa
do Momordquo A reportagem refere-se ao carnaval que se desenvolve de forma
popular nesta sociedade Neste espaccedilo na deacutecada de 1990 ocorria um baile na
sexta-feira que antecedia ao Festival do Ronco do Bugio um espaccedilo onde jovens se
encontravam para iniciar as festividades do grande festival da cidade poreacutem na
atualidade este evento natildeo ocorre mais Pelos cartazes de divulgaccedilatildeo de eventos
atuais a Sociedade 9 de Julho se torna um espaccedilo bastante versaacutetil e segundo
dados obtidos no site da proacutepria sociedade o local apresenta shows bailes
tradicionalistas domingueiras e festas temaacuteticas
Sabe-se da existecircncia da Sociedade Esperanccedila devido a uma reportagem a
respeito do carnaval escrita no jornal Folha da Serra (1968 n 11 p 25) ldquoos
escurinhos tambeacutem natildeo ficaram para traacutes e demonstraram que satildeo bons no samba
porque soacute quem assistiu pode ver como brincaram e que maravilha de ritmo
marcaram durante as quatro noitesrdquo A reportagem daacute a entender de se tratar de
uma sociedade frequentada por negros e pode-se entender que ao usar o termo
escurinho na reportagem haacute preconceito racial perpassando a ideia de que por
serem negros natildeo poderiam se divertir da mesma maneira que os brancos
Atualmente se encontra no local um espaccedilo residencial e comercial
A Sociedade Cruzeiro foi fundada em 9 de maio de 1925 pela elite da
sociedade serrana Segundo Teixeira (2002) e Fonseca (2012) sua sede social era
na Avenida Juacutelio de Castilhos onde hoje se situa a agecircncia do Banrisul e teve como
primeiro presidente o Sr Antocircnio Mario Kroeff e o secretaacuterio Sr Joatildeo Parobeacute de
Lucena Sua nova sede foi inaugurada de acordo com Fonseca (2012 p 236) ldquono
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dia 11 de dezembro de 1965 e esta permanece no mesmo endereccedilo ateacute a
atualidade Situa-se na Rua Dr Frederico Tedesco nordm 1261rdquo
Atualmente este espaccedilo eacute usado para convenccedilotildees ou festas particulares
onde as pessoas locam o espaccedilo para realizarem seu evento Neste espaccedilo natildeo
mais ocorrem grandes eventos sociais como Fonseca (2012 p 232) descreve ldquoos
bailes mais elegantes e vistosos desta sociedade ocorrem aquirdquo Fonseca (2012 p
233) ainda complementa que ldquoa primeira Miss Sociedade Cruzeiro foi eleita em 1937
e a vencedora foi a jovem Zilah Teixeirardquo
A Sociedade Cruzeiro tambeacutem foi palco de bailes de carnaval O Jornal Folha
da Serra (1968 n 11 p 25) descreve ldquocomo sempre a Sociedade Cruzeiro ponteou
o nosso carnaval com blocos fantasiados magnificamente fazendo acrobacias ao
som de excelente muacutesica local onde os turistas afluiacuteramrdquo Contrapondo a este
tempo a moradora local Soares26 discorre de maneira saudosa ldquoque saudades do
carnaval hoje eacute bebedeira perdeu o encanto perdeu tudo Na rua o pessoal
gritando sem nenhuma infraestrutura nem os bailes na sociedade natildeo ocorrem
maisrdquo
O distrito Sede jaacute foi palco de inuacutemeros clubes sociais que ao longo do tempo
foram perdendo seu encanto e ateacute mesmo fechando-se para atividades sociais O
que permanece em pleno funcionamento eacute o Centro de Tradiccedilotildees Gauacutechas Rodeio
Serrano o que justifica uma cultura tradicionalista presente neste distrito Dentre as
atividades desenvolvidas por esta entidade estatildeo o Rodeio Interestadual com
atividades campeiras e artiacutesticas que ocorrem todos os anos no primeiro final de
semana de dezembro a manutenccedilatildeo das invernadas artiacutesticas em todas as
categorias mascote mirim juvenil e adulta
A organizaccedilatildeo da Ronda Crioula na Semana Farroupilha com a participaccedilatildeo
das escolas da Sede e do interior que trazem seus grupos de danccedilas bem como
organizam gincanas Outra atividade tambeacutem desenvolvida por esta entidade eacute a
Cavalgada de Prendas que ocorre durante a Semana Farroupilha desde 1992
sendo Satildeo Francisco de Paula pioneira nesta ideia onde somente mulheres
participam da cavalgada que culmina com o desfile na Avenida Juacutelio de Castilhos
Realiza-se tambeacutem o Baile da Prenda Jovem que eacute o baile de debutante gauacutecho
onde as prendas entre 13 e 15 anos satildeo apresentadas agrave sociedade Aleacutem disso nos
26 SOARES Luciana Olga Entrevista concedida agrave autora no dia 01 de marccedilo de 2018
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uacuteltimos anos a organizaccedilatildeo e apresentaccedilatildeo do Festival Ronco do Bugio que ocorre
em Satildeo Francisco de Paula faz parte da programaccedilatildeo desta entidade Este festival
apresenta exclusivamente o gecircnero musical bugio Haacute pelo menos duas hipoacuteteses
sobre a origem deste gecircnero musical
A primeira eacute de berccedilo serrano e teria mais fiel escudeiro o inesqueciacutevel acordeonista de Satildeo Francisco de Paula Honeyde Bertussi Siqueira Segundo ele o ritmo teria sido originaacuterio pelas matildeos do gaiteiro Vergiacutelio Leitatildeo que no jogo-de-foles e nos baixos de sua gaita de botatildeo teria imitado o ronco do bicho nos caponetes de cima da serra [] teria difundido pelas bodegas do Juaacute interior de Satildeo Chico (SOUZA 2003 p 15)
A segunda hipoacutetese eacute apresentada por Souza (2003 p 15) que apresenta a
versatildeo dada pelo povo de Satildeo Francisco de Assis que diz que ldquoa origem do ritmo e
oriunda desta localidade que por sinal realizava um festival nativista chamado
Querecircncia do Bugiordquo
Desconhece-se a verdadeira origem do gecircnero musical bugio mas Souza
(2003 p 23) afirma que ldquoJoatildeo Cincinato Terra muacutesico atuante sentiu a
necessidade de nosso municiacutepio acompanhar o movimento jaacute que neste periacuteodo se
expande por todo o estado do Rio Grande do Sul os festivais nativistasrdquo O
lanccedilamento do primeiro festival do Ronco do Bugio acontece em 1986 no CTG
Rodeio Serrano com a participaccedilatildeo de vaacuterios representantes da muacutesica nativista e
da comunidade serrana Seu lanccedilamento oficial ocorre em 16 de abril de 1986
O jornal Satildeo Chico Tchecirc (1986 n 11 p 6) noticiou que o primeiro Festival do
Ronco do Bugio contou com 98 muacutesicas escritas sendo 24 as selecionadas O
festival ocorreu entre os dias 13 e 15 de maio e Souza (2003 p 42) descreve que foi
apresentado ldquosob uma lona de circo estaqueada num gramado amador mas de
tantas gloacuterias futeboliacutesticas o campo do Clube Atleacutetico Serranordquo
A muacutesica vencedora do primeiro Ronco do Bugio foi ldquoLevanta Bugiordquo
defendida pelo cantor e compositor gauacutecho Leonardo Observando fotos percebe-se
que o Ronco do Bugio se deu em uma noite fria de inverno
O Festival Ronco do Bugio desde o seu iniacutecio premia melhor arranjo
conjunto instrumental instrumentista inteacuterprete e a muacutesica mais popular Fatima
Gimenez foi a melhor inteacuterprete do primeiro festival defendendo a muacutesica ldquoPinheiro
Gringordquo composiccedilatildeo de Erian Fogaccedila e Laerte Fortes Novamente a roupa dos
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muacutesicos reforccedila que na noite da entrega da premiaccedilatildeo fazia muito frio A cantora
tambeacutem se apresenta vestindo um chiripa coberto por um pala27
Na Figura 11 observamos a fotografia de Gonzaga dos Reis muacutesico local
sentado com sua gaita instrumento que lhe deu o precircmio de melhor instrumentista
do primeiro Ronco do Bugio Nesta oportunidade o cantor instrumentista e
compositor defendeu a muacutesica ldquoBugio da Minha Terrardquo
Figura 11 ndash Gonzaga dos Reis
Fonte Jornal Satildeo Chico Tchecirc n 4 p 8 (1986)
A composiccedilatildeo ldquoBugio Tiranordquo que foi defendida pelo conjunto Os Tiranos de
Satildeo Francisco de Paula ganhou o precircmio mais popular
Para o Jornal Satildeo Chico Tchecirc (1986 n 11 p 7) o Festival Ronco do Bugio eacute
ldquoum festival autecircntico e original que aconteceu com grande sucesso em Satildeo
Francisco de Paulardquo No encerramento deste grande evento Joatildeo Chagas Leite se
27 Chiripa e pala satildeo trajes tipicamente gauacutechos Sendo que o chiripa atualmente eacute uma veste de
preferecircncia feminina este fica enrolado na cintura e vai ateacute os joelhos ldquoEacute um pano inteiro passado entre as pernas primeiro de traacutes para frente e depois de frente para traacutes pode ser de latilde ou lisordquo (ABREU 2003 p 67) O pala eacute uma peccedila retangular com franjas nos quatro lados e listras no sentido do comprimento
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apresenta segundo o Jornal Satildeo Chico Tchecirc (1986 n 11 p 8) ldquocom composiccedilotildees
como Corda de Espinho Orelhano Pampa Campo e Querecircncia Coraccedilatildeo de
Estudante e Afiosrdquo
O Festival Ronco do Bugio perpassa o tempo segundo o site da Prefeitura
Municipal
O Festival Ronco do Bugio eacute um evento musical nativista que acontece anualmente na Cidade de Satildeo Francisco de Paula com o intuito de preservar e difundir o uacutenico ritmo originaacuterio do Rio Grande do Sul ou seja o lsquobugiorsquo compasso criado justamente no interior deste municiacutepio Tal criaccedilatildeo se deu a partir da criatividade dos gaiteiros serranos que buscaram imitar com seu instrumento musical o ronco do primata nos matos da serra A festividade agora em sua 26ordf ediccedilatildeo eacute genuiacutena pois eacute o uacutenico da Ameacuterica onde obrigatoriamente os participantes devem utilizar um ritmo somente isto eacute o citado lsquobugiorsquo embora a temaacutetica seja abrangente Por este motivo eacute chamado de lsquoO Festival Mais Autecircntico do Rio Grandersquo Aleacutem do forte enfoque cultural que envolve toda a comunidade musical do Estado o Festival tem seu apelo ecoloacutegico pois chama a atenccedilatildeo para a preservaccedilatildeo da espeacutecie hoje quase em extinccedilatildeo O Ronco do Bugio por sua importacircncia no cenaacuterio cultural rio-grandense criou uma identidade ao povo de Satildeo Francisco de Paula pois junto ao evento estaacute intriacutenseco e vem agrave tona o histoacuterico da criaccedilatildeo do municiacutepio caracterizado pela forte influecircncia dos antigos tropeiros desbravadores e povoadores desta parte do paiacutes (PREFEITURA MUNICIPAL DE SAtildeO FRANCISCO DE PAULA 2017)
No mesmo documento disponibilizado pela Prefeitura Municipal de Satildeo
Francisco de Paula observam-se algumas informaccedilotildees a respeito da realizaccedilatildeo do
festival no ano de 2017
Art 1ordm - O 26ordm Ronco do Bugio realizar-se-aacute no municiacutepio de Satildeo Francisco de Paula nos dias 01 e 02 de setembro de 2017 Art 2ordm - a festividade agora em sua 26ordf ediccedilatildeo eacute genuiacutena pois eacute a uacutenica na Ameacuterica Latina com promoccedilatildeo da Prefeitura Municipal de Satildeo Francisco de Paula e do CTG Rodeio Serrano com apoio de oacutergatildeos puacuteblicos e iniciativa privada Art 3ordm - Satildeo objetivos do 26ordm Ronco do Bugio a) valorizar a tradiccedilatildeo arte cultura e a autecircntica muacutesica regionalista
gauacutecha atraveacutes do seu ritmo mais original b) prestigiar autores compositores inteacuterpretes e conjuntos regionalistas e
incentivar o surgimento de novos valores c) divulgar a muacutesica regional gauacutecha d) valorizar a relevante posiccedilatildeo na formaccedilatildeo de usos e costumes
caracteres e valores espirituais e morais do gauacutecho e) promover e incentivar a cultura gauacutecha projetando Satildeo Francisco de
Paula na maneira mais autecircntica no cenaacuterio do turismo (PREFEITURA MUNICIPAL DE SAtildeO FRANCISCO DE PAULA 2017)
Como eacute possiacutevel observar no artigo 4ordm ldquoA organizaccedilatildeo do 26ordm Ronco do Bugio
ficaraacute a cargo da Comissatildeo Organizadora composta por membros da Prefeitura
Municipal e do CTG Rodeio Serranordquo (PREFEITURA MUNICIPAL DE SAtildeO
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FRANCISCO DE PAULA 2017) Devido agrave importacircncia identitaacuteria do festival para o
municiacutepio ao se chegar agrave cidade na deacutecada de 90 se encontrava o seguinte
outdoor
Figura 12 ndash Outdoor entrada da cidade na ERS-020
Fonte Souza (2003 p 17)
Assim como o tiacutetulo de ldquoCapital Mundial do Bugiordquo Satildeo Francisco de Paula ldquojaacute
obteve vaacuterios slogans dentre eles o de Satildeo Chico eacute terra boardquo (TEIXEIRA 2002 p
149-150)
Mesmo ocorrendo inferecircncias externas advindas com pessoas que trouxeram
consigo uma identidade diferente Soares28 em entrevista afirma ldquoSatildeo Chico eacute
identificada pela cultura tradicionalista gauacutecha a cuia em frente ao antigo preacutedio da
prefeitura demonstra o siacutembolo da hospitalidade de nosso povordquo A permanecircncia
ativa do CTG Rodeio Serrano na sede eacute outro indicativo forte da presente
identidade ligada as atividades do homem do campo Outro fato observado eacute a
constante praacutetica do laccedilo de vaca parada29 por jovens e crianccedilas nos paacutetios de suas
residecircncias bem como cavalarianos (homens mulheres jovens e crianccedilas) na
28 SOARES Luciana Olga Entrevista concedida agrave autora no dia 01 de marccedilo de 2018 29 Vaca parada uma espeacutecie de cavalete de madeira com aspectos de uma vaca usada por crianccedilas
que estatildeo iniciando neste esporte bem como usado como forma de entretenimento para jovens e adultos
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avenida principal cavalgando entre os carros Ainda se percebe o respeito entre
motoristas de automotivos bicicletas e os cavalarianos todos ocupando o mesmo
espaccedilo
42 DISTRITO DE CAZUZA FERREIRA
O distrito de Cazuza Ferreira foi criado em 07 de janeiro de 1903 estando
situado a 85 quilocircmetros da Sede Andrade comenta em entrevista30 ldquoateacute acho que
Cazuza se desenvolveu primeiro que Satildeo Chicordquo31 visto que a criaccedilatildeo do distrito
acontece dias depois da emancipaccedilatildeo enquanto a criaccedilatildeo da vila do distrito de
Cazuza Ferreira se desenvolve segundo a entrevistada
A parte da Histoacuteria que eu sei eacute que houve a chegada de um Sr Chico Mestre eacute como eles chamavam Esse Sr veio as casas eram distantes umas das outras e ele comeccedilou a fazer oraccedilatildeo nas casas e reunir as pessoas e fundou o cemiteacuterio Entatildeo o Joseacute Ferreira de Castilhos que era dono daqui naquela eacutepoca um dos moradores que tinha bastante terra doou a terra para fazer a vila aiacute o que aconteceu segundo as histoacuterias era para ser ali onde eacute a cancha de laccedilo hoje do outro lado da estrada soacute que o terreno natildeo era apropriado entatildeo houve uma permuta com o Sr que era dono deste terreno aqui era Bossle aqui era bem mais alto e mais plano Entatildeo se construiu a Igreja e iniciou o povoamento da vila32
A moradora Basso ainda acrescenta que ldquoa vila foi sempre mais ou menos o
que ela eacute hojerdquo Ao observar o local pode-se perceber uma grande praccedila ao centro
rodeada de casas de comeacutercio posto de combustiacutevel posto de sauacutede o hotel a
Igreja Matriz juntamente com o salatildeo paroquial e casas residecircncias cujo aspecto
impressiona por a grande maioria das casas apresentam uma arquitetura que
perpassa o tempo A Figura 13 apresenta uma imagem da praccedila central tirada das
escadarias da Igreja Matriz
30 ANDRADE Nauro Bossle de Entrevista concedida agrave autora no dia 04 de marccedilo de 2018 31 Primeiro que Satildeo Chico eacute um termo comum usado pelos moradores do interior do municiacutepio de
Satildeo Francisco de Paula que ao se referir a Sede do municiacutepio usam o termo Satildeo Chico ou Satildeo Francisco de Paula pois seus moradores natildeo costumam na atualidade dizer lsquovou a Sedersquo e sim lsquovou a Satildeo Chicorsquo como se eles natildeo morassem no municiacutepio
32 BASSO Ceacutelia Pacheco Terres Entrevista concedida agrave autora no dia 04 de agosto de 2018
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Figura 13 ndash Praccedila Central de Cazuza Ferreira
Fonte acervo pessoal da autora (2018)
Apesar de ter a preservaccedilatildeo arquitetocircnica a moradora Basso declara
O pai contava e outras pessoas contam que teve uma eacutepoca que tinha faacutebrica de tamanca33 jaacute teve faacutebrica de guaranaacute de queijo bastante coisa no sentido de selaria mas tudo foi se extinguindo as pessoas as famiacutelias natildeo deram continuidade e se sumiram natildeo existe mais nada disso mas estas faacutebricas natildeo davam renda ou seja trabalho para pessoas de fora pois elas eram administradas e cuidadas pelas famiacutelias Daiacute houve o periacuteodo das serrarias enquanto pode extrair madeira era o forte a vila movimentada enriqueceram alguns comerciantes locais o momento que extinguiu aquele trabalho eles foram embora e o povo daqui acomodou entatildeo hoje a vila tem bastante pessoas que foram embora trabalhar assim na juventude e hoje aposentados voltaram pois aqui para jovem natildeo tem sobrevivecircncia o uacutenico trabalho eacute na escola tem nove professores e uma funcionaacuteria em alguns funcionaacuterios da prefeitura acho que satildeo seis que cuidam do plantel de maacutequinas a enfermeira e o pessoal que cuida do posto do correio tambeacutem tem a ferraria mas ali eacute soacute os da proacutepria famiacutelia entatildeo o jovem acaba tendo que ir embora34
Os entrevistados Basso e Andrade relatam que apesar das adversidades o
povo de Cazuza Ferreira tem um amor pelas suas tradiccedilotildees mantendo vivos trecircs
aspectos que ambos consideram a marca identitaacuteria de seu povo e afirmam com
33 Tamanca calccedilado comum na regiatildeo solado de madeira com uma proteccedilatildeo sobre as pontas dos
dedos indo ateacute o peito do peacute em couro 34 BASSO Ceacutelia Pacheco Terres Entrevista concedida agrave autora no dia 04 de agosto de 2018
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convicccedilatildeo ldquofalar de Cazuza eacute cavalhada hotel e rodeiordquo enquanto Basso acrescenta
que ldquoas cavalhadas satildeo heranccedila dos portugueses e estatildeo espalhadiacutessimas ateacute
nacionalmente atraveacutes da miacutedia porque natildeo pesquisei mas ateacute onde sei no Rio
Grande do Sul soacute tem aquirdquo
Na comunidade ainda segundo Basso ldquoa apresentaccedilatildeo das cavalhadas se
iniciou por volta de 1890 e permanece ativa ateacute hoje no passado existiam trecircs
cavalhadas as dos brancos dos amarelos e dos negrosrdquo acrescentando ldquomas hoje
natildeo haacute mas essa diferenciaccedilatildeordquo Em poliacutegrafo organizado por uma moradora local a
mesma explica que a cavalhada ldquoeacute uma luta simulada em que haacute vinte e quatro
participantes sendo doze de cada equiperdquo35 por meio da evoluccedilatildeo equestre e
movimentos de espada lanccedila e garrucha representando a batalha entre mouros e
cristatildeos Segundo esta moradora ldquoa batalha sempre termina sendo vencida pelos
cristatildeos demonstrando a submissatildeo dos mouros e a supremacia da religiatildeo cristatilderdquo
Atualmente o grupo depende da boa vontade de seus participantes conforme
explica
Hoje se tornou caro eacute exame dos cavalos transporte depende do querer das pessoas da boa vontade e tem pessoas engajadas que natildeo largam a famiacutelia do Renau que ele eacute o presidente do grupo ele tem um amor tatildeo grande pelas cavalhadas porque ele jaacute recebeu do pai dele do teu avocirc e do seu Ivo Cardoso e a vida dele agraves vezes me desgosto de alguma coisa pois faccedilo a narrativa do que estaacute sendo apresentado mas daiacute eu penso natildeo posso abandonar (sorri) Eacute uma tradiccedilatildeo que natildeo pode morrer mas os filhos do Renau o Marcos e o Marcelo daratildeo continuidade faz parte da famiacutelia tu sabe eacute da mesma famiacutelia Eacute uma grande tradiccedilatildeo que natildeo pode desaparecer temos que continuar peleando36
As cavalhadas satildeo apresentadas na praccedila central sempre durantes as festas
religiosas que acontecem na comunidade sendo assim organizadas
No primeiro ou segundo final de semana de fevereiro tem a festa da Nossa Senhora do Belo Horizonte que eacute a padroeira daqui Agora devido agrave comissatildeo e o padre um ano tem a festa dos morenos e no outro tem a dos agricultores que eram chamados de amarelos antigamente cuja devoccedilatildeo se daacute agrave Nossa Senhora do Rosaacuterio e Nossa Senhora da Penha Antigamente cada um tinha seu espaccedilo social para realizar a festa atualmente soacute se manteve a tradiccedilatildeo de comemorar os santos este ano eacute festa dos morenos ela seraacute dia 13 e 14 de outubro Todas as festas
35 Sendo que doze cavaleiros que representam os cristatildeos vestem tuacutenicas de veludo azul escuro e
os doze cavaleiros mouros vestem tuacutenicas vermelhas Sobre os ombros da tuacutenica haacute uma capinha esta capinha traz enfeites prateados bordados com lantejoulas e bototildees dourados e franjas de seda branca Todos os participantes usam bombacha branca de brim botas campeiras pretas chapeacuteu de palha de aba larga virada para cima com laccedilo de fita e barbicacho de acordo com a cor da tuacutenica
36 BASSO Ceacutelia Pacheco Terres Entrevista concedida agrave autora no dia 04 de agosto de 2018
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religiosas ocorrem em dois dias saacutebado apresentaccedilatildeo das cavalhadas novena janta e baile no domingo tem a missa na Igreja Matriz logo apoacutes almoccedilo e reuniatildeo danccedilante Atualmente resgataram em dezembro a festa a Satildeo Cristoacutevatildeo sempre no primeiro final de semana de dezembro eacute uma missa com benccedilatildeo aos carros durante a procissatildeo e um almoccedilo ao meio-dia esta se daacute somente em um dia E tambeacutem temos de dois em dois anos a festa organizada pelo grupo das Cavalhadas esta ocorre em maio daiacute37
Os moradores explicam que a separaccedilatildeo racial desapareceu com o tempo
poreacutem se manteacutem a cultura de festejar todos os santos o que demonstra que o povo
de Cazuza eacute bastante devoto e cristatildeo E acrescenta em tempos idos que durante
as festas religiosas as pessoas se hospedavam no hotel segundo Basso que ldquoele
recebia tinha mercado junto teve ateacute cinema o pessoal gostava da comida da
Dona Vilma que era minha sogrardquo Este hotel eacute outro marco que identifica Cazuza
Ferreira poreacutem os moradores explicam que atualmente o Hotel do Campo manteacutem a
arquitetura mas funciona em uma modalidade diferenciada pois natildeo haacute como
sobreviver Entatildeo ele recebe hospeda sob reserva antecipada poreacutem natildeo serve
almoccedilo e janta as refeiccedilotildees satildeo feitas no Cantinho do Aconchego com quem
manteacutem uma parceria
Figura 14 ndash Hotel do Campo
Fonte acervo pessoal da autora (2018)
37 BASSO Ceacutelia Pacheco Terres Entrevista concedida agrave autora no dia 04 de agosto de 2018
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Nesta comunidade tambeacutem eacute muito forte segundo os entrevistados38 a
tradiccedilatildeo gauacutecha que adveacutem do homem do campo o amante dos rodeios que nos
finais de semana saem de suas propriedades e se deslocam a outras comunidades
para participar dos eventos campeiros como o tiro de laccedilo Tambeacutem explanam que
existe o CTG Adatildeo Castilhos que estaacute interditado jaacute faz quase seis anos desde
que comeccedilaram a ser exigidos os PPCIs A partir deste momento eles natildeo puderam
mais fazer eventos ali eles realizam os rodeios ou festas campeiras mas laacute dentro
natildeo conseguiram mais fazer nada e taacute difiacutecil vai muito dinheiro para cumprir todas
as exigecircncias Sendo que este espaccedilo na deacutecada de 80 do seacuteculo XX foi palco de
grandes rodeios com apresentaccedilotildees campeiras artiacutesticas e grandes bailes A
moradora explica39 ldquoA Claudiana esposa do Paulo Cesar atual presidente se
inscreveu no projeto Meu Galpatildeo de Cara Nova do Galpatildeo Crioulo da RBS TV
tomara que ela seja classificadardquo Este projeto ajuda na reconstruccedilatildeo dos CTGs pelo
Rio Grande do Sul
Ao pesquisar sobre Cazuza Ferreira percebe-se o quatildeo forte eacute o culto agraves
tradiccedilotildees e o esforccedilo de seus moradores para elas permaneccedilam para futuras
geraccedilotildees visto que o tempo passou e a tradiccedilatildeo local natildeo sofreu alteraccedilotildees
43 DISTRITO DE TAINHAS
O distrito de Tainhas foi criado em 18 de outubro de 1922 estando situado a
33 quilocircmetros da Sede Se desenvolveu no entroncamento de duas rodovias a RS-
020 e a RS-453 cujas rodovias cortavam a vila do distrito Com o advento da
construccedilatildeo da Rota do Sol importante rodovia que hoje que liga Caxias do Sul agraves
praias aleacutem da construccedilatildeo do asfalto da RS-020 que vai a Satildeo Francisco de Paula
tudo mudou O morador Fagundes relata em entrevista40 ldquoaqui era mais habitado
por criadores fazendeiros e agora depois que saiu essa Rota do Sol o movimento
cresceu muito neacute mais por fora da vila entatildeo natildeo trouxe benefiacutecio para noacutesrdquo
Percebe-se que moradores entendem a importacircncia da construccedilatildeo das
rodovias poreacutem as mesmas natildeo trouxeram benefiacutecios econocircmicos para os
moradores locais
38 ANDRADE Nauro Bossle de BASSO Ceacutelia Pacheco Terres Entrevistas concedidas agrave autora no
dia 04 de agosto de 2018 39 BASSO Ceacutelia Pacheco Terres Entrevista concedida agrave autora dia 04 de agosto de 2018 40 FAGUNDES Darci da Silva Entrevista concedida agrave autora no dia 24 de fevereiro de 2018
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Ainda conforme o morador Fagundes41 ldquoo iniacutecio da vila se deu devido agrave
necessidade de parada dos caminhoneiros que transportavam madeira como era
tudo estrada de chatildeo Tainhas ficava em local centralizado se construiu um hotel
que era do seu Pedro Pinhatildeo e da Dona Luisardquo A partir de entatildeo comeccedilou a
construccedilatildeo de casas e se formou a vila onde antes eram terras dos Pinto os
primeiros moradores de Tainhas tanto que o morador ressalta na entrevista42 ldquoo
nome da escola eacute Oliacutempio Soares Pinto que era o proprietaacuterio dessa terra e uma
das professoras mais antigas era Guilherma Pintordquo
Tainhas estaacute rodeada por campos matos de pinnus ilhote e lavouras
atualmente e explica
Hoje aqui eacute pinus e granjeiro plantando batata soja milho e a maioria veio de fora os moradores antigos desapareceram arrendaram ou venderam suas terras para esse pessoal que veio de Ibiraiara e de Maquineacute Itati Trecircs Forquilhas43
Percebe-se que a criaccedilatildeo de gado ou seja a pecuaacuteria extensiva deu lugar a
outras culturas com a chegada de novas pessoas ao distrito Mas segundo os
moradores o culto ao tradicionalismo gauacutecho permanece visto que no distrito
existe
O parque de rodeios do Rodeio Crioulo eacute o mais antigo que noacutes temos aqui natildeo sei se natildeo o primeiro piquete registrado de Satildeo Chico tem uns sessenta anos a nossa tradiccedilatildeo eacute o laccedilo O nosso rodeio acontece sempre no iniacutecio de janeiro hoje eu natildeo laccedilo mais mas o meu neto continua a minha tradiccedilatildeo A escola daqui faz a semana farroupilha com ronda eacute tudo muito lindo e assim se mantem a cultura44
A imagem apresentada na Figura 15 reforccedila a fala e a importacircncia do Piquete
de Laccediladores Rodeio Crioulo que atualmente mesmo estando nas terras de Satildeo
Francisco de Paula divisa com o municiacutepio de Cambaraacute do Sul por opccedilatildeo essa
entidade tradicionalista pertence ao entatildeo municiacutepio de Cambaraacute do Sul Poreacutem sua
fundaccedilatildeo acontece em 20 de janeiro de 1961 quando o entatildeo hoje municiacutepio de
Cambaraacute do Sul ainda era distrito de Satildeo Francisco de Paula
41 FAGUNDES Darci da Silva Entrevista concedida agrave autora no dia 24 de fevereiro de 2018 42 FAGUNDES Darci da Silva Entrevista concedida agrave autora no dia 24 de fevereiro de 2018 43 FAGUNDES Darci da Silva Entrevista concedida agrave autora no dia 24 de fevereiro de 2018 44 FAGUNDES Darci da Silva Entrevista concedida agrave autora no dia 24 de fevereiro de 2018
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Figura 15 ndash Flacircmula de comemoraccedilatildeo aos 50 anos da entidade
Fonte acervo pessoal da autora (2018)
Outro evento importante no distrito eacute realizado pela Escola Estadual de
Ensino Fundamental Oliacutempio Soares Pinto que satildeo atividades ligadas as tradiccedilotildees
gauacutechas na Semana Farroupilha como cavalgadas e gincanas com a participaccedilatildeo
de toda comunidade nesta semana principalmente a comunidade de Tainhas
ldquorespira tradicionalismordquo
O distrito de Tainhas atualmente conta com um posto de sauacutede e o correio
satildeo os serviccedilos puacuteblicos que funcionam no distrito visto que o cartoacuterio fechou O
entrevistado Fagundes relata45 ldquoeu era o juiz de paz desse Cartoacuterio minha funccedilatildeo
era julgar os casamentos mas daiacute fechou hoje o pessoal tem que ir a Satildeo Chicordquo O
morador ainda acrescenta ldquoateacute a rodoviaacuteria fechou os ocircnibus passam aqui Satildeo
Marcos que vem de Caxias e vatildeo a Torres desce de manhatilde e sobe de tarde Citral
de Satildeo Chico a Ouro Verde e agora Transneves da Pedra Lisa para Satildeo Chicordquo
Com uma certa tristeza relata46 ldquoaqui em Tainhas soacute tem o Cafeacute Tainhas do
Mauro eacute o brilho de Tainhas seraacute ponto histoacuterico daqui um tempo todo mundo fala
bem do Cafeacute Tainhasrdquo
Notoriamente a chegada do asfalto modificou a vida das pessoas neste
distrito visto que que os campos foram em boa parte transformados em lavoura se
45 FAGUNDES Darci da Silva Entrevista concedida agrave autora no dia 24 de fevereiro de 2018 46 FAGUNDES Darci da Silva Entrevista concedida agrave autora no dia 24 de fevereiro de 2018
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percebe uma vila pacata jaacute que todo o movimento foi desviado por fora da vila e a
mesma natildeo proporciona lazer para as pessoas que ao terminarem o ensino
fundamental para continuar seus estudos precisam fazer uso do transporte escolar
e se deslocar ateacute a Sede ou ir ao municiacutepio de Cambaraacute do Sul
44 DISTRITO DE ELETRA
O distrito de Eletra foi criado em 31 de dezembro de 1932 estando situado a
19 quilocircmetros da Sede do municiacutepio Poreacutem a populaccedilatildeo local chama de Salto e
seu nome vem das barragens do Salto Blang e Divisa construiacutedas sobre o Rio do
Salto que atravessa o distrito Segundo a moradora local47 Soares ldquoas barragens
que fornecem aacutegua para as usinas no municiacutepio de Satildeo Francisco de Paula e nos
municiacutepios vizinhos de Canela Gramado e Cambaraacute do Sulrdquo A Figura 16 apresenta
uma imagem da Barragem do Salto barragem esta que se situa proacutexima da vila do
distrito
Figura 16 ndash Barragem do Salto
Fonte acervo pessoal da autora (2018)
Ao observarmos a Figura 16 percebe-se que o acesso da vila para o interior
do distrito acontece por uma ponte de concreto estreita com piso bastante irregular
47 SOARES Susana Marques Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018
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e que em periacuteodos de fortes chuvas o acesso fica interrompido devido agrave altura
Poreacutem ao lado direito percebe-se uma estrutura pequena que segundo o morador
Gomes
Foi uma tentativa de uma empresa japonese construir uma ponte soacute que quando estavam construindo deu uma enchente e levou tudo a aacutegua abaixo a empresa foi embora e nunca mais voltou Jaacute foram feitos estudos que a ponte tem que ser construiacuteda mais para baixo e em forma de arco se natildeo a chuva leva de novo poreacutem natildeo acredito que saia algum dia48
Entende-se que a construccedilatildeo desta nova ponte melhoraria o acesso dos
proprietaacuterios rurais que para saiacuterem de suas propriedades em eacutepocas de chuva
intensa necessitam fazer um longo caminho por estradas de chatildeo batido para terem
acesso ao municiacutepio de Canela bem como a Sede de Satildeo Francisco de Paula
Contudo a moradora explica que a vila do distrito se forma muito antes da
construccedilatildeo da barragem
Em 1915 era uma fazenda chamada Fazenda do Salto e esta pertencia a Francisco Soares de Oliveira Neste local havia sua casa de moradia um galpatildeo e mangueiras onde realizava as suas atividades poreacutem em 1916 o Chico resolveu transferir a casa da Fazendo do Cerro para o Salto tambeacutem sendo construiacuteda aiacute a segunda casa a partir de entatildeo se iniciou o povoado com a construccedilatildeo de novas residecircncias para seus empregados e posteriormente se instalou uma serraria dos irmatildeos Delavechia esta sendo movida a aacutegua dando definitivamente o iniacutecio do povoamento da vila49
Ao analisar a fala da moradora local se percebe que onde hoje se encontra a
vila do distrito de Eletra jaacute foi uma fazenda identificando-se com a mesma formaccedilatildeo
do distrito Sede que tambeacutem surge de terras doadas por um fazendeiro Segundo a
entrevistada Soares50 ldquoa sua casa eacute uma das mais antigas tem 102 anos foi
construiacuteda de pinheiro serrada aqui mesmo na serrariardquo pode-se observar o oacutetimo
estado de conversaccedilatildeo da casa que traz traccedilos arquitetocircnicos europeus na sua
construccedilatildeo natildeo se tem imagem da casa visto que a entrevistada natildeo permitiu
nenhuma imagem de sua residecircncia
Outro fator importante do povoamento da vila segundo o morador local
Gomes51 ldquofoi o iniacutecio da construccedilatildeo da Barragem do Salto no ano de 1925rdquo onde
48 GOMES Jaures Feijoacute Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018 49 SOARES Susana Marques Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018 50 SOARES Susana Marques Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018 51 GOMES Jaures Feijoacute Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018
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vieram muitos funcionaacuterios de vaacuterios lugares tendo como mestre da obra segundo
os moradores locais52 o ldquoAcircngelo Goubertrdquo
Devido agrave necessidade que se formou no distrito neste periacuteodo se abriu um
hotel farmaacutecia cartoacuterio rodoviaacuteria e cinema a moradora local Soares saudosa
diz53 ldquotudo fechou aqui natildeo tem mais nadardquo referindo-se a atual situaccedilatildeo que a vila
se encontra
Os moradores ainda declaram sobre o distrito54 ldquoestaacute abandonado pelo poder
puacuteblico ateacute o calccedilamento das ruas foi arrancadordquo poreacutem outrora foi um local de
muita alegria
A vida era uma festa permanente o tio Chico era casado com a tia Lisoca ela foi para Porto Alegre para os filhos estudar quando vinham nas feacuterias traziam os amigos O tio Chico pagava um gaiteiro por mecircs para ele toca toda noite entatildeo era aquele divertimento55
Atualmente na vila existe a Escola Estadual de Ensino Fundamental Cristino
Ramos com menos de cem alunos e a festa cristatilde cuja celebraccedilatildeo ocorre em
fevereiro sendo Santo Antocircnio o padroeiro local A moradora explica sobre a
construccedilatildeo da capela
A primeira capela a tempestade derrubou em 1957 se construiu outra O santo padroeiro eacute Santo Antocircnio a imagem foi trazida por quarenta cavaleiros Daiacute o padre pediu para que a imagem de Nossa Senhora Catarina tambeacutem fosse acolhida hoje temos dois padroeiros mas para mim Santo Antocircnio eacute o principal56
Percebe-se na fala dos moradores a sua devoccedilatildeo e sua preocupaccedilatildeo com o
futuro da vila visto que ateacute a questatildeo do cemiteacuterio jaacute foi palco de discussatildeo pois o
cemiteacuterio da vila iniciou pela famiacutelia dos Soares sendo este particular Poreacutem a
moradora explica com certa indignaccedilatildeo
O cemiteacuterio era particular da famiacutelia Soares teve um tempo que resolveram abrir veio gente ateacute de Passo Fundo ser enterrada aqui natildeo pediam para ningueacutem tomaram conta Daiacute organizamos uma comissatildeo responsaacutevel decidimos que tinha que ter uma contribuiccedilatildeo e natildeo podia trazer gente de fora para enterrar soacute gente daqui Ningueacutem pagou Aiacute mandei fazer cerca nova a parte dos Soares sempre limpei mas [] hoje acabo limpando tudo
52 GOMES Jaures Feijoacute SOARES Susana Marques Entrevistas concedidas agrave autora no dia 15 de
fevereiro de 2018 53 SOARES Susana Marques Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018 54 GOMES Jaures Feijoacute SOARES Susana Marques Entrevistas concedidas agrave autora no dia 15 de
fevereiro de 2018 55 SOARES Susana Marques Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018 56 SOARES Susana Marques Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018
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porque ningueacutem limpa Enquanto eu for viva vou fazer depois vatildeo entregar para a prefeitura igreja natildeo sei57
A Figura 17 apresenta uma foto da igreja atual tendo em sua lateral direita a
capela mortuaacuteria e ao fundo o Salatildeo Paroquial da comunidade onde ocorre a festa
do Santo Padroeiro
Figura 17 ndash Igreja Santo Antocircnio ndash Distrito de Eletra
Fonte acervo pessoal da autora (2018)
Ao conversar com os moradores locais pode-se observar a feacute cristatilde poreacutem
ambos relatam que a festa de fevereiro atualmente eacute pouco divulgada motivo pelo
qual acreditam que natildeo haja um nuacutemero expressivo de pessoas Ambos sentem um
apreccedilo pelo local onde nasceram e vivem poreacutem ambos relatam
Aqui eacute lugar de dormir as pessoas trabalham em Canela e vem dormir aqui a grande maioria natildeo eacute daqui vieram de fora haacute muitas casas de veraneio tudo gente de Porto Alegre que vem passar feacuterias natildeo rende nada para aqui o que precisam trazem tudo de fora A maioria de quem mora aqui soacute dorme passa o dia fora O ocircnibus das 7 horas sai lotado a gente natildeo conhece mais ningueacutem daqui mesmo soacute noacutes Susana e eu58
Mesmo a vila sendo um local de parada estaacute rodeada de lindos campos e
fazendas cuja a atividade principal eacute a pecuaacuteria extensiva natildeo proporciona
57 SOARES Susana Marques Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018 58 GOMES Jaures Feijoacute Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018
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trabalho no local motivo pelo qual seus moradores buscam sua subsistecircncia em
outro municiacutepio poreacutem possui uma exuberante natureza relata cheia de esperanccedila
a moradora local59 ldquoeu tenho esperanccedila que algueacutem olhe para caacute e veja as belezas
que tem aqui que o lugar volte a se desenvolverrdquo desenvolvimento este que
poderia vir atraveacutes da exploraccedilatildeo do turismo rural ldquoSe vocecirc quiser comer alguma
coisa agora natildeo vai encontrar nada aqui soacute tem lsquobutecorsquo60 mas eles natildeo vendem
nada nem sanduiacuteche pastel eacute uma vergonhardquo fala indignado o morador Gomes61
A populaccedilatildeo que vive nas fazendas aleacutem de ter as lides campeiras no seu
dia-a-dia nos finais de semana segundo o morador Gomes62 ldquolaccedila em torneio vai
nos rodeiosrdquo o que marca a presenccedila do tradicionalismo gauacutecho em uma parte da
populaccedilatildeo do distrito poreacutem com relaccedilatildeo aos moradores da vila natildeo haacute algo que
os identifique visto a miscigenaccedilatildeo que ocorreu e por haver muitas casas de
veraneio no local
45 DISTRITO DO JUAacute
O distrito do Juaacute foi criado em 10 de maio de 1950 e fica distante 65
quilocircmetros da Sede O distrito recebe esse nome devido a um espinho que havia
em abundacircncia no local nome este dado por tropeiros
Os accedilorianos que vinham de Santo Antocircnio da Patrulha e iam para Vacaria com cargueiros eles vinham fazer repouso laacute em cima no reduto e ali tinha muita frutinha do juaacute entatildeo os tropeiros saiam de Santo Antocircnio e diziam vamos posa laacute nos juaacute daiacute o nome do lugar que permanece ateacute hoje63
Juaacute eacute o nome dado a um espinho muito comum na regiatildeo dos campos de
cima da serra que daacute uma fruta amarela em formato redondo que segundo os
moradores locais eacute uma fruta venenosa conforme se observa na Figura 18
59 SOARES Susana Marques Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018 60 Buteco pequeno comeacutercio que normalmente vende bebidas alcooacutelicas e possui mesa de sinuca 61 GOMES Jaures Feijoacute Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018 62 GOMES Jaures Feijoacute Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018 63 REIS Orides Entrevista concedida agrave autora no dia 12 de maio de 2018
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Figura 18 ndash Peacute com a fruta conhecido como Juaacute
Fonte acervo de Clessandra Palhano (moradora local) (2018)
O reduto citado pelo morador local ficava em uma fazenda local onde hoje se
encontra a vila do distrito conforme o entrevistado Reis explica
O primeiro morador eu natildeo lembro soacute sei que o Juaacute era de pouca gente famiacutelia Pedroso e Castilhos daiacute foram morrendo inventariando e vendendo e aos poucos se formou a vila importante o dono de tudo isso aiacute tinha dois escravos no iniacutecio teve escravidatildeo claro na eacutepoca de mil oitocentos e pouco eu acho mas teve E hoje deve ter descendente destes escravos por aiacute64
Escravidatildeo que vai dar origem ao preconceito racial e a um modelo particular
da localidade que sem precisar data explica o morador
Aqui tinha dois salatildeo trecircs com o da Igreja mas era dois salatildeo social Era um clube de brancos que era dos ricos neacute fazendeiros o Salatildeo Vera Cruz e depois fundaram o Satildeo Valentim que era dos morenos que na eacutepoca ateacute eu fui presidente Cada um no seu salatildeo agora quando dava a festa cristatilde em homenagem ao Satildeo Joatildeo de Deus todo o povo reunia-se quando chegava de noite no saacutebado no baile entatildeo cada um ia pro seu salatildeo A muacutesica ficava no salatildeo dos brancos daiacute colocava umas caixas de som laacute pros morenos com um fio pra eles danccedila Um natildeo podia entra no baile do outro tinha o presidente para cuida Cada um no seu tudo se respeitava e obedecia aquela ordem65
Ainda acrescenta a moradora local Santos
64 REIS Orides Entrevista concedida agrave autora no dia 12 de maio de 2018 65 REIS Orides Entrevista concedida agrave autora no dia 12 de maio de 2018
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O nosso eu natildeo me lembro o nome tem tanto papel mas natildeo sei onde estaacute o nosso dos pretos neacute ningueacutem implicava eles natildeo deixavam noacutes entra no salatildeo Vera Cruz eu entrava de cozinheira empregada porque ali era lugar dos ricaccedilos eles podiam se associar mas o nosso tambeacutem enchia mas eles iam no nosso baile de nego soacute olhavam As festas duravam dias Tinha aquele foguetoacuterio era tatildeo bonito66
Percebe-se na fala dos moradores como esta divisatildeo racial se fazia presente
que havia por parte dos negros um profundo respeito pelos brancos mesmo eles
tendo acesso ao salatildeo Vera Cruz somente para servi-los em nenhum momento se
percebeu que eles se sentissem diminuiacutedos pela situaccedilatildeo ateacute pela cultura que
advinha desde os primeiros moradores locais
Esta divisatildeo social permanece por longo tempo e somente vai desaparecer
nos anos 80 do seacuteculo XX com a contribuiccedilatildeo do Frei Abiacutelio que veio da Vacaria
durante Missotildees convocadas pelo paacuteroco local padre Afonso que conseguiu
modificar esta organizaccedilatildeo implantando a ideia de igualdade e ignorando tudo
aquilo a partir de entatildeo os negros comeccedilaram a frequentar a sociedade Vera Cruz
contribuiccedilatildeo dos entrevistados67 que ao abordar o assunto demonstraram repulsa
pelo passado mas ao mesmo tempo reconhecem que o racismo ainda eacute presente
na comunidade poreacutem devido agraves leis existe um cuidado maior
Atualmente negros e brancos convivem em harmonia participam da festa
cristatilde cujo padroeiro eacute Satildeo Joatildeo de Deus e dos torneios de laccedilo mas geralmente
quem laccedila satildeo os fazendeiros Saudoso o morador68 afirma que ldquouma vez tinha as
carreradas tinha trecircs canchas passava o domingo nas canchas brincando nas
corridas de cavalos tudo terminourdquo Acrescenta69 ainda que ldquoem 70 80 tinha o
futebol o campo era na baixada acho que tem ainda trofeacuteu ai mas daiacute a gurizada
foi embora para a cidade terminou o timerdquo
A vila se construiu de maneira simples tendo a Igreja Catoacutelica com o Salatildeo
Paroquial agrave direita o antigo Centro de Tradiccedilotildees Gauacutechas Laccedilo Velho do Juaacute onde
resta apenas o preacutedio de madeira corroiacuteda pelo tempo ao fundo a cancha de laccedilo
do Piquete de Laccediladores Velho do Juaacute entidade tradicionalista que se manteacutem ativa
desde o iniacutecio da deacutecada de 1960 ao redor haacute casas de moradias que formam ao
centro uma grande praccedila sem nenhuma infraestrutura em frente a esta praccedila
66 SANTOS Deotildes Palhano dos Entrevista concedida agrave autora no dia 12 de maio de 2018 67 REIS Orides SANTOS Deotildes Palhano Entrevistas concedida agrave autora no dia 12 de maio de
2018 68 REIS Orides Entrevista concedida agrave autora no dia 12 de maio de 2018 69 REIS Orides Entrevista concedida agrave autora no dia 12 de maio de 2018
65
perpassa uma rua de chatildeo batido sendo que a escola da comunidade fica do outro
lado a escola eacute municipal se chama Bento Eziacutedio Rodrigues atende
aproximadamente vinte alunos que estatildeo matriculados nas seacuteries iniciais do ensino
fundamental tendo duas professoras e um funcionaacuterio para fazer merenda e limpar
o paacutetio como se pode observar na Figura 19
Figura 19 ndash Praccedila Vila do Distrito Juaacute ao fundo cancha de laccedilo
Fonte acervo pessoal da autora (2018)
Ambos os entrevistados70 explicam que o Juaacute atualmente eacute um lugar de
idosos aposentados que outrora as pessoas viviam das roccedilas e da pecuaacuteria
extensiva na deacutecada de 1980 com o advento da induacutestria em Caxias do Sul os
jovens abandonaram seu modo de vida e foram buscar novas oportunidades poreacutem
estes jovens que foram embora retornam com frequecircncia natildeo perdendo a sua
essecircncia Relataram que a uacutenica fonte de trabalho eacute ser peatildeo de fazenda fazendas
estas que produzem o queijo serrano ou vendem leite para a Piaacute71 sendo que a
lavoura eacute para subsistecircncia Outra fonte de renda eacute ser funcionaacuterio da serraria cujo
proprietaacuterio e Joatildeo Egiacutedio que funciona proacuteximo da vila Outro fator importante eacute a
venda de pequenas chaacutecaras para moradores de Caxias do Sul que vem aos finais
70 REIS Orides SANTOS Deotildes Palhano Entrevistas concedidas agrave autora no dia 12 de maio de
2018 71 Piaacute Cooperativa Agropecuaacuteria Petroacutepolis Ltda Empresa que faz a coleta do leite nas fazendas da
regiatildeo
66
de semana descansar na localidade poreacutem se percebe que estes novos moradores
muitas vezes natildeo interagem com os moradores locais
Segundo o morador Reis72 ldquoapesar da vinda de pessoas de outros lugares o
Juaacute natildeo perdeu sua identidade fala em Juaacute lembra pinhatildeo colheita do pinhatildeo ateacute
haacute uma criacutetica que diz na eacutepoca do pinhatildeo o juazeiro fala grossordquo Ditado que o
entrevistado73 reafirma sorrindo ldquona eacutepoca do pinhatildeo o juazeiro fala grosso claro
que eacute apenas um dito popular uma maneira de se referir mas sempre eacute dito haacute
aqueles que natildeo gostamrdquo
Nota-se que a vida na comunidade do Juaacute se passa de forma tranquila com
poucos moradores que sua identidade estaacute relacionada agrave pecuaacuteria extensiva com
as lides com o gado bem como ao pinhatildeo uma fruta tiacutepica que se desenvolve na
Araucaacuteria ou pinheiro nativo como eacute conhecido na regiatildeo O pinhatildeo seja ele
assado cozido ou paccediloca74 eacute muito consumido pelos moradores do interior de Satildeo
Francisco de Paula durante o inverno inclusive como mistura do cafeacute da manhatilde
46 DISTRITO DO RINCAtildeO DOS KROEFF
O distrito de Rincatildeo dos Kroeff foi criado em 10 de maio de 1950 Fica a 35
quilocircmetros distante da Sede poreacutem muito antes de se institucionalizar oficialmente
este espaccedilo moradores locais contam como tudo se iniciou
Meu avocirc foi um dos primeiros a vim para caacute ele se chamava Guilherme Faciole ele nasceu no navio vindo da Itaacutelia Ele contava que teve uma desavenccedila em Caxias e fincou o peacute pra caacute pra natildeo acharem ele que aqui era soacute mato e na revoluccedilatildeo de 35 ele fugia de casa para natildeo ser levado pelas tropas os piquetes levavam para combater entatildeo ele sempre dizia que pousou vaacuterias noites embaixo dos peraus da serra do Umbu para natildeo ser levado O falecido vovocirc vivia da caccedila do porco do mato tateti ele fazia charque de porco para ter a carne ele viveu 106 anos e dizia se natildeo tivesse fumado viveria mais uns dez isso faz parte da histoacuteria do Rincatildeo dos Kroeff Junto teve o falecido Acircngelo Menegaacutes que entro aqui na mesma eacutepoca Eles satildeo os fundadores do distrito75
O acesso ao distrito Rincatildeo dos Kroeff permanece totalmente pela estrada de
chatildeo batido sendo possiacutevel ir ao municiacutepio de Maquineacute descendo pela serra do
Umbu Poreacutem muito antes da estrada a busca de mantimentos e o escoamento da
72 REIS Orides Entrevista concedida agrave autora no dia 12 de maio de 2018 73 REIS Orides Entrevista concedida agrave autora no dia 12 de maio de 2018 74 Paccediloca carne de porco moiacuteda e frita no azeite ou banha a qual se acrescenta o pinhatildeo jaacute cozido
e moiacutedo 75 FACIOLE Reinaldo Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de marccedilo de 2018
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produccedilatildeo se dava pelos carreiros visto que natildeo havia abertura de estrada e nem
viatura76 como os moradores relatam
Tudo era na tropeada as tropas que ia para Rolante Na tropeada saia um tropeiro na frente e um recircs com um cincerro que era a madrinheira da tropa saia laacute pelo Chuvisqueiro e saia laacute em Rolante perdia boi na estrada ficava semanas boi perdido agraves vezes nem se achava mais tambeacutem tinha tropa de porco e tinha as tropeadas de mula puxando milho feijatildeo trigo tudo produzido aqui e levado de cargueiro carreta era muito pouco porque natildeo tinha estrada para anda era soacute os trilhos pelo meio dos matos e campos e se produzia milho era o inverno inteiro saia tropas e mais tropas com trinta quarenta mulas burros transportando mantimentos da produccedilatildeo do gratildeo haacute tambeacutem tinha a flor de Pireto que era lucro ningueacutem conhece isso aiacute hoje essa flor era levada para Taquara e fazia veneno para formiga tudo que era tipo de veneno era uma flor muito toacutexica Acredita tropear galinha pois eacute a gente criava bastante saia com os cargueiros como era a vida eles faziam um girau no cesto naqueles balaios para fazer duas camas uma mais em cima e outra em baixo daiacute quando era veratildeo era muito quente tinha que no meio da viagem tirar de dentro do cesto botar na aacutegua na sanga para natildeo morrer ateacute chegar no mercado dali para praia a eacutepoca que mais vendia era novembro e dezembro daiacute tinha preccedilo bom tudo criada solta aviaacuterio nem se falava77
Ao ouvir os moradores se percebe que a construccedilatildeo do distrito aconteceu
devido ao esforccedilo e trabalho de muitas pessoas visto que o local era de mata nativa
densa e precisou ser desmatado para ser ocupado pelas pessoas Explica o
entrevistado Faciole78 ldquopara fazer uma lavoura tambeacutem precisava derrubar o
pinheiro seu Onorino Buffon me contou que faziam fogo ao redor do pinheiro eles
eram muito grosso para derrubar a machado entatildeo faziam fogo secavam para
depois fazer a roccedilardquo E a moradora79 local acrescenta ldquoaqui tambeacutem tinha os
barbacuazeiros produziam erva mais aqui eles soacute tiravam a erva e sapecavam e
depois ia para outro lugar industrializa tudo era diferenterdquo
Poreacutem segundo os moradores este modelo de vida rudimentar se modifica
com a chegada das serrarias sendo que a dos Kroeff foi a primeira juntamente com
a serraria se viu a necessidade da construccedilatildeo de novas casas para os
trabalhadores surgindo ali a vila do distrito Rincatildeo dos Kroeff no iniacutecio a serraria era
tudo manual relata Faciole80 ldquoa uacutenica forma de tira a madeira era com um enfieira
76 Viatura se refere a carro de passeio caminhotildees 77 FACIOLE Reinaldo FACIOLE Maria Madalena Scalco Entrevistas concedidas agrave autora no dia 18
de marccedilo de 2018 78 FACIOLE Reinaldo Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de marccedilo de 2018 79 FACIOLE Maria Madalena Scalco Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de marccedilo de 2018 80 FACIOLE Reinaldo Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de marccedilo de 2018
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de boi eu cheguei a ver cinco ternos de boi carreiro81 emendado puxando um
pinheiro eacute uma bicheira de boi natildeo tinha outra formardquo
Rincatildeo dos Kroeff eacute o menor distrito de Satildeo Francisco de Paula poreacutem em
suas terras se desenvolveu a cultura dos hortifrutigranjeiros desde muito cedo jaacute
que sua colonizaccedilatildeo eacute basicamente italiana e alematilde e os italianos tecircm a cultura do
plantio visando lucro A moradora Faciole82 afirma ldquotudo comeccedilou por aqui depois
se expandiu para o municiacutepio comeccedilamos com moranga branca depois repolho
couve broacutecolis alface e daiacute veio beterraba e tudo o restordquo Acrescenta ainda83 que
ldquodaqui saiacuteram os primeiros caminhotildees de hortifruacuteti do municiacutepio para a Ceasa teve
eacutepoca de sair quarenta caminhotildees por dia do Rincatildeo hoje natildeo sai mais porque
muitos foram buscar novos lugares para plantarrdquo E juntamente com a mudanccedila dos
proprietaacuterios em busca de novas terras muitos de seus funcionaacuterios foram embora
junto afirma em entrevista o morador local84 ldquomuita gente do Rincatildeo foi embora
muitas gurias foram embora para estudar para achar emprego e natildeo voltaram maisrdquo
Atraveacutes da fala da moradora pode-se observar que apesar do distrito ser
produtivo enfrenta algumas dificuldades com relaccedilatildeo ao estudo de seus moradores
que para continuarem seus estudos se assim o desejarem necessitam abandonar
seus pais e ir em busca na Sede ou arredores visto que no distrito existe uma uacutenica
escola Gastatilde Henth Esta eacute municipal e atende dos quatro anos ao nono ano do
ensino fundamental A moradora Faciole explica
O coleacutegio hoje tem 99 alunos ao total quando eles terminam o nono ano alguns vatildeo estudar mas satildeo pouquiacutessimos os outros ficam por aiacute mesmo natildeo tem um transporte que leve eles para fazer o ensino meacutedio na Sede que seria a escola de ensino meacutedio mais proacuteximo se quiser estudar vai ter que ir embora reforccedila quem e trabalhador fica trabalhando com os pais quem natildeo eacute [] As pessoas na sua grande maioria soacute tem o ensino fundamental aqui85
Este eacute um dos grandes problemas enfrentados pelos moradores do Rincatildeo
dos Kroeff a possibilidade de continuar estudando A escola que laacute existe os
moradores locais natildeo sabem precisar a data mas sabem que foi durante o mandato
81 Ternos de boi carreiro significam vaacuterias duplas de bois cangados e ligados por um pedaccedilo de
madeira que vatildeo na canga entre a dupla de bois Esse pau roliccedilo na regiatildeo se chama de cambatildeo 82 FACIOLE Maria Madalena Scalco Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de marccedilo de 2018 83 FACIOLE Maria Madalena Scalco Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de marccedilo de 2018 84 FACIOLE Reinaldo Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de marccedilo de 2018 85 FACIOLE Maria Madalena Scalco Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de maio de 2018
69
do prefeito Escobar (1977-1982) que ela foi construiacuteda Neste contexto aparece
tambeacutem a dificuldade de se locomover fazendo uso do transporte puacuteblico
Haacute sete anos atraacutes o Rincatildeo estava bom mesmo tinha ocircnibus da praia agraves vezes passava quatro a cinco ocircnibus da praia tudo pela serra do Umbu Agora soacute tem um trecircs dias por semana As empresas deixaram de trafegar por aqui elas natildeo vatildeo descer numa serra de chatildeo batido sendo que tem a outra86 com asfalto87
Os moradores se orgulham da festa religiosa que acontece todos os anos em
agosto sendo que o santo padroeiro eacute Satildeo Roque A festa da comunidade
apresenta uma tradiccedilatildeo local muito interessante na segunda-feira apoacutes a festa ela
continua para os moradores locais que vatildeo ao salatildeo paroquial para se divertir entre
si e esta eacute uma tradiccedilatildeo que eacute comentada em todo o municiacutepio Faciole88 saudoso
afirma ldquopara ti ter uma ideia nessa festa chegava dar vinte poucos ocircnibus lotado que
vinham de outros municiacutepios como Igrejinha Taquara Porto Alegre Novo
Hamburgo o espaccedilo ficava pequenordquo Acrescenta89 ainda ldquoaqui noacutes tinha o Clube
Serrano que dava baile janta italiana dava um movimento louco mas terminou ateacute
o baile das rainhas cada ano era uma era tatildeo lindo mas tudo se acabourdquo
Figura 20 ndash Imagem da Igreja Satildeo Roque em dia de festa no Rincatildeo dos Kroeff
Fonte acervo pessoal da autora (2018)
86 A outra se refere a rodovia RS-453 conhecida como Rota do Sol 87 FACIOLE Reinaldo Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de marccedilo de 2018 88 FACIOLE Reinaldo Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de marccedilo de 2018 89 FACIOLE Reinaldo Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de marccedilo de 2018
70
Percebe-se que o distrito Rincatildeo dos Kroeff eacute o uacutenico que obteve em seu
iniacutecio uma colonizaccedilatildeo por descentes de italianos dentro do municiacutepio de Satildeo
Francisco de Paula o que demonstra o quatildeo forte se daacute a tradiccedilatildeo ldquoitalianardquo neste
local permanecendo intriacutenseca na vida cotidiana de seu povo com a cultura do
plantio de hortifrutigranjeiros que permanece apesar do tempo como sendo a sua
maior identidade local
47 DISTRITO DE LAJEADO GRANDE
Lajeado Grande em tempos idos pertenceu ao distrito de Cazuza Ferreira e
somente em 12 de dezembro de 1968 se tornou um distrito independente segundo
a Lei nordm 655 encontrada nos autos da Prefeitura Municipal de Satildeo Francisco de
Paula A vila do distrito Lajeado Grande fica distante 63 quilocircmetros da Sede e se
situa na confluecircncia do Arroio Porco Morto e o Rio Bururi Seu surgimento acontece
segundo o morador Fogaccedila90 ldquopor volta de 1940 com a abertura da estrada Canela
ndash Bom Jesus a atual RS-476 que corta a vila do Distritordquo Essa estrada segundo o
morador facilitou a locomoccedilatildeo que anteriormente era feita totalmente pelas trilhas e
picadas por onde somente se passava a cavalo ou de carreta E o entrevistado
explica como acontece o desenvolvimento inicial da vila
Tu sabe aqui tem o nome de Lajeado Grande por causa do rio que eacute cheio de lajes grandes o que facilitava a travessia e as terras aqui por roda era tudo do falecido Pequeno Cardoso ele doou parte para a construccedilatildeo da vila onde o falecido Leopoldino Cardoso irmatildeo do Pequeno tinha uma lsquobudega velharsquo91 por aqui sendo o primeiro comeacutercio da vila92
A abertura da estrada possibilitou o desenvolvimento da vila juntamente com
o Casaratildeo um hotel pensatildeo que foi construiacutedo as margens do Arroio Porco Morto
este Casaratildeo passou por diversos proprietaacuterios
Leopoldino Cardoso foi o idealizador do Casaratildeo juntamente com os seus soacutecios Heraacuteclito Andrade de Cardoso lsquoJoanitorsquo Joseacute Osoacuterio de Lima lsquoZecarsquo e Pequeno Cardoso sendo que o Casaratildeo era uma casa de negoacutecio compravam queijo couro era um comeacutercio forte vendia secos e molhados inclusive a primeira rodoviaacuteria foi instalada neste espaccedilo poreacutem em 1948 Joatildeo Pacheco Cardoso assume e amplia o estabelecimento construindo o segundo piso da casa de madeira e alugando para outros dois moradores
90 FOGACcedilA Blair dos Santos Entrevista concedida agrave autora no dia 06 de abril de 2018 91 Budega velha referindo-se a uma antiga casa de comeacutercio de secos e molhados localizada onde
hoje se encontra o armazeacutem Celeiro 92 FOGACcedilA Blair dos Santos Entrevista concedida agrave autora no dia 06 de abril de 2018
71
Eremi Terres e Claunir Lucena Com a reforma o Casaratildeo passa a ter treze quartos para aluguel uma loja onde encontrava-se tudo o que se necessitava de alfinete tecido alimentos e raccedilotildees aleacutem da ala que servia de moradia para os proprietaacuterios Em 1962 o estabelecimento eacute alugado para Eraldo Bento de Oliveira que aleacutem de gerenciar o estabelecimento colocou junto um bar local de encontro dos homens da redondeza para tomar um lsquotragorsquo93 (CERUTTI SILVA CARDOSO 2002 p 19)
Figura 21 ndash Imagem do Casaratildeo pouco antes de ser desmanchado
Fonte acervo pessoal de Fernando Oliveira (conhecido como Guego) (2018)
O Casaratildeo foi desmanchado na deacutecada de 1980 pelo entatildeo proprietaacuterio Reno
Pacheco Poreacutem percebe-se na vila que seus antigos moradores falam com certo
saudosismo deste estabelecimento que fez parte de suas vidas e chegam a
lamentar o seu fim morador Fogaccedila94 afirma ldquoali se fez o pastel mais famoso do
Lajeado Grande o pastel da Odila mas tudo se acabou quando eles entregaram e
construiacuteram laacute na esquinardquo95
Poreacutem a vila Lajeado Grande foi lentamente se desenvolvendo Devido agrave
necessidade da conservaccedilatildeo da nova estrada foi construiacuteda agraves margens do Rio
Bururi uma capatazia do DAER Segundo Cerutti Silva e Cardoso (2002 p 18) ldquoo
primeiro capataz foi Capitulino Prudecircncio de Oliveira vindo de Santa Catarina sua
funccedilatildeo era manter as estradas e chegou a ter vinte funcionaacuteriosrdquo Percebe-se que a
93 Trago expressatildeo local que significa beber uma cachaccedila 94 FOGACcedilA Blair dos Santos Entrevista concedida agrave autora no dia 06 de abril de 2018 95 Esquina eacute o nome dado a parte da vila do Lajeado Grande onde se daacute o entroncamento das
rodovias RS-453 e ERS-476
72
partir deste momento se inserem neste distrito pessoas advindas de outros estados
e locais visto que ateacute o presente momento o distrito era habitado por fazendeiros
naturais do proacuteprio municiacutepio e que tinham suas vidas ligadas diretamente agrave
pecuaacuteria extensiva e agrave produccedilatildeo do queijo serrano Importante destacar que a
esposa de Capitulino segundo Cerutti Silva e Cardoso (2002 p 18) ldquoa Celicina
Guilherme da Silva se torna uma figura conhecida por realizar partos sendo
chamada como parteira de campanhardquo Na atualidade filhos netos e bisnetos do
casal ainda residem na vila
A vila do Lajeado Grande tambeacutem recebe novos moradores com a praacutetica do
corte do pinheiro nativo sendo que na deacutecada de 1950 havia uma faacutebrica de
beneficiamento de madeira ateacute se transformar em pasta este material era levado
para Esteio onde funcionava agrave matriz A partir dos anos 1950 ocorre a instalaccedilatildeo de
serrarias sendo que a Madeireira Albeflor de propriedade de Valter Sguaizer se
instala em 1964 Novamente busca-se matildeo de obra em localidades proacuteximas como
Lagoa Vermelha Vacaria e Bom Jesus poreacutem com a proibiccedilatildeo da extraccedilatildeo de
madeira de lei a serraria deixou de funcionar
Percebe-se que no distrito natildeo houve uma homogeneizaccedilatildeo identitaacuteria visto a
influecircncia advinda de muitas culturas no passado atraveacutes da extraccedilatildeo de madeira
e na atualidade com o advento das lavouras de hortifrutigranjeiros e pomares
frutiacuteferos que ocupam boa parte do distrito substituindo a pecuaacuteria extensiva que jaacute
natildeo proporciona um lucro efetivo Entatildeo os proprietaacuterios na sua grande maioria
venderam ou arrendaram suas terras para novas culturas o que modifica o modo de
vida local pois grande parte dos trabalhadores adveacutem de outros estados como o
Paranaacute e tambeacutem se observa o uso da matildeo de obra indiacutegena
Essa miscigenaccedilatildeo se observa nas escolas locais visto que na vila funciona a
Escola Municipal D Pedro I que segundo Cerutti Silva e Cardoso (2002 p 35)
ldquoinicia em 1965 poreacutem a professora e o preacutedio eram mantidos pela Serraria mas na
deacutecada de 70 a prefeitura assumiu a escola sendo que Eloci Martim foi a primeira
professora da Serrariardquo Escola da Serraria como ainda eacute conhecida por boa parte
dos moradores locais apesar de a escola natildeo se encontrar mais onde havia a antiga
serraria Atualmente a Escola Dom Pedro I funciona em um preacutedio obtido atraveacutes da
Associaccedilatildeo de Moradores atendendo alunos da preacute-escola ateacute o sexto ano das
seacuteries finais tendo em seu quadro seis professores e duas funcionaacuterias Sendo que
73
a obra para um novo preacutedio teve iniacutecio neste ano mas percebe-se que a obra parou
por volta do mecircs de maio Poreacutem na vila tambeacutem se encontra uma escola estadual
A documentaccedilatildeo necessaacuteria para a criaccedilatildeo de uma nova escola na localidade foi elaborada por Manoel Cardoso de Andrade juntamente com a professora Odazilda Cardoso Demori e encaminhada agrave Secretaria da Educaccedilatildeo sendo que em 11 de fevereiro de 1953 foi criada a Escola Isolada de Lajeado Grande sendo os professores estaduais mas o preacutedio sob responsabilidade comunitaacuteria iniciou o seu funcionamento nas dependecircncias do DAER e somente em 1957 foi construiacutedo um preacutedio de madeira em terras doadas por Pequeno Cardoso local onde hoje ainda se encontra a escola poreacutem passou por muitas reformas sendo que em 2000 recebeu um novo preacutedio de alvenaria o que possibilitou a realizaccedilatildeo de um grande sonho dos professores e comunidade a implantaccedilatildeo do Ensino Meacutedio que concretizou-se em 200296
Atualmente a escola atende em torno de trezentos alunos da Educaccedilatildeo
Baacutesica poreacutem percebe-se que devido agraves safras de hortifrutigranjeiros o nuacutemero de
alunos se alterna durante o ano O que tambeacutem se percebe eacute o comportamento dos
alunos com relaccedilatildeo agrave diversidade cultural por exemplo usam bombacha laccedilam boi
de pau no recreio e escutam funk uma cultura totalmente diferente da tradicionalista
gauacutecha o que compreende-se como algo advindo da globalizaccedilatildeo cultural que
vivemos no mundo atual reforccedilando novamente o natildeo reconhecimento de uma
identidade forte na localidade
Poreacutem as famiacutelias tradicionais do local manteacutem fortemente arraigada a
cultura tradicionalista que adveacutem do homem do campo tendo no distrito festas
campeiras torneios de laccedilo e a festa religiosa uma vez por ano em homenagem ao
Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus padroeiro da vila
Na atualidade natildeo se percebe uma identidade forte e marcada no distrito e
sim uma miscigenaccedilatildeo de diferentes culturas e etnias que convivem e se integram
harmonicamente
96 CARDOSO Amaacutelia Celuderes Entrevista concedida agrave autora no dia 08 de marccedilo de 2018
74
5 DESCRICcedilAtildeO DO PRODUTO
O produto consiste em um livro paradidaacutetico sobre a histoacuteria de Satildeo Francisco
de Paula Apresenta de maneira didaacutetica a histoacuteria de Satildeo Francisco de Paula bem
como balotildees explicativos imagens sugestotildees de atividades e leituras
complementares Poderaacute servir de apoio pedagoacutegico a professores e alunos do
municiacutepio visto que existe pouco material sobre a histoacuteria deste municiacutepio e se faz
importante trabalhar a histoacuteria local percepccedilatildeo que a autora obteve ao longo da sua
caminhada como professora de histoacuteria que atua nas seacuteries finais do ensino
fundamental e meacutedio haacute dezessete anos na rede estadual do municiacutepio
Partir do local natildeo eacute abandonar o conhecimento histoacuterico eacute dar outro valor
sentido para este conhecimento Segundo Caimi
Levar em conta o universo da crianccedila ou do adolescente natildeo eacute pois abdicar do rigor intelectual [] mas garantir que a apropriaccedilatildeo deste conhecimento ocorra permeada de sentido e significado resultando em soacutelidas aprendizagens (CAIMI 2006 p 24)
Seguindo esta perspectiva a implantaccedilatildeo do Referencial Curricular Gauacutecho
embasado na Base Nacional Comum Curricular reforccedila a ideia jaacute discutida nos
paraacutegrafos anteriores
No que se refere especificamente ao componente Histoacuteria a base rompe tanto com a cronologia quanto agrave visatildeo eurocecircntrica da histoacuteria tradicional Entram em cena novos atores novas sociedades novos caminhos que sempre tiveram na histoacuteria mas nem sempre receberam a devida importacircncia Acompanhando a Base Nacional Comum Curricular o Referencial Curricular Gauacutecho no que se refere especificamente agrave disciplina de Histoacuteria manteacutem seu foco na aprendizagem dos alunos nos diferentes espaccedilos e tempos tendo a preocupaccedilatildeo de integrar o curriacuteculo com a diversidade regional de nosso Estado Tambeacutem eacute importante contemplar os temas integradores como eacutetica cidadania cultura e valorizaccedilatildeo das diversidades assegurando a multiplicidade de olhares sobre o mundo (RIO GRANDE DO SUL 2018 p 118)
Portanto o paradidaacutetico seraacute mais um material disponiacutevel aos professores e
estudantes da educaccedilatildeo baacutesica de Satildeo Francisco de Paula na construccedilatildeo do
conhecimento da histoacuteria do municiacutepio bem como o reconhecimento de sua
identidade neste material visto que se almeja que os estudantes percebam
vestiacutegios de sua identidade e se percebam como parte deste municiacutepio atraveacutes do
conhecimento de sua histoacuteria
75
O paradidaacutetico vem com o tiacutetulo rdquoTropeando histoacuterias em Satildeo Francisco de
Paulardquo sendo que a capa traz a foto do Monumento aos Carreteiros monumento
que se encontra na Avenida Juacutelio de Castilhos em frente ao preacutedio da Prefeitura
Municipal
Figura 22 ndash Capa do livro
Fonte Livro Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula
Na sequecircncia se apresenta o iacutendice que possibilita ao leitor localizar os
diversos temas abordados visto que existem nove capiacutetulos
76
Figura 23 ndash Iacutendice do livro
Fonte Livro Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula
77
O capiacutetulo um apresenta a localizaccedilatildeo de Satildeo Francisco de Paula com uma
seacuterie de mapas que facilitam a compreensatildeo espacial dos alunos assim como um
mapa da subdivisatildeo do municiacutepio em distrito Ao final satildeo sugeridas duas atividades
que podem ser desenvolvidas de maneira interdisciplinar com o apoio da professora
de arte geografia e portuguecircs
Figura 24 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 1)
Fonte Livro Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula
78
Figura 25 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 1)
Fonte Livro Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula
O capiacutetulo dois aborda a existecircncia indiacutegena em Satildeo Francisco de Paula
antes da chegada dos desbravadores vindos de Satildeo Paulo Como sugestatildeo de
atividades apresenta-se uma pesquisa sobre as diferentes tribos indiacutegenas que
habitavam a Proviacutencia de Satildeo Pedro aleacutem da criaccedilatildeo de um painel infograacutefico
79
Figura 26 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 2)
Fonte Livro Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula
No capiacutetulo trecircs se apresentam os primeiros donataacuterios colonizadores de Satildeo
Francisco de Paula com trecho de um testamento deixado por Pedro da Silva
Chaves o fundador de Satildeo Francisco de Paula bem como o mapa que localiza as
primeiras sesmarias que corresponde ao territoacuterio onde hoje eacute a Sede do municiacutepio
80
Figura 27 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 3)
Fonte Livro Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula
Nos capiacutetulos quatro e cinco eacute apresentado o desenvolvimento de Satildeo
Francisco de Paula ainda no seacuteculo XIX quando pertencia ao municiacutepio de Santo
Antocircnio da Patrulha e no final do seacuteculo XIX quando passa a pertencer ao entatildeo
81
municiacutepio de Taquara do Mundo Novo Existe tambeacutem um mapa que demonstra a
extensatildeo territorial de Santo Antocircnio da Patrulha e quais satildeo os municiacutepios hoje que
pertenceram a este bem como a importacircncia da abertura da estrada que liga Satildeo
Francisco de Paula a Taquara
Figura 28 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 4)
Fonte Livro Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula
82
Os capiacutetulos seis e sete apontam a construccedilatildeo do Municiacutepio a partir de sua
emancipaccedilatildeo em 1903 sua extensatildeo territorial e a diminuiccedilatildeo do seu territoacuterio ao
longo do tempo e a histoacuteria da Igreja Matriz Como sugestatildeo de atividade pesquisar
a diversidade religiosa existente na comunidade escolar e criar graacuteficos com essas
informaccedilotildees podendo a partir de entatildeo trabalhar com as questotildees religiosas ontem
e hoje no mundo
Figura 29 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 6)
Fonte Livro Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula
83
No capiacutetulo oito se apresenta o que difere os sete distritos de Satildeo Francisco
de Paula Este capiacutetulo se apresenta subdividido em sete subtiacutetulos onde cada um
corresponde a um distrito do municiacutepio Tendo como fonte principal as entrevistas
realizadas com moradores locais mesclado com fontes documentais e bibliograacuteficas
que corroboram para se perceber que haacute alguns distritos que manteacutem suas tradiccedilotildees
ao longo do tempo e eacute possiacutevel perceber que existe uma identidade que aproxima
aquela populaccedilatildeo
Figura 30 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 8)
Fonte Livro Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula
84
No uacuteltimo capiacutetulo o nove se exibe uma lista de sugestotildees de leituras
complementares a fim de se aprofundarem sobre determinados temas E por fim
as referecircncias utilizadas para a construccedilatildeo do paradidaacutetico Tropeando Histoacuterias em
Satildeo Francisco de Paula
Figura 31 ndash Atividade do livro (Sugestatildeo de Leituras Complementares)
Fonte Livro Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula
85
O produto foi testado em duas turmas da Educaccedilatildeo Baacutesica na Escola
Estadual de Ensino Meacutedio Lajeado Grande com o propoacutesito de avaliar qual seria a
reaccedilatildeo dos estudantes diante do material e por ele ter sido produzido por algueacutem
que convive com eles semanalmente A receptividade foi bastante gratificante como
se pode observar na Figura 32
Figura 32 ndash Alunos do Ensino Meacutedio
Fonte acervo pessoal da autora (2019)
A receptividade foi muito interessante visto que os estudantes
acompanharam a trajetoacuteria para chegar ao produto final algo que os deixava
ansiosos para manusear pois muitas vezes foram parceiros A autora foi
compartilhando com os estudantes as informaccedilotildees obtidas durante a pesquisa e as
descobertas encontradas usando em suas aulas a histoacuteria local para abordar os
diferentes temas e conceitos histoacutericos
Quando a autora apresenta o produto os estudantes do ensino meacutedio estes
formam grupos por distritos e buscam logo reconhecer no material sua identidade
apoacutes comentam sobre as peculiaridades de cada distrito Poreacutem os alunos do
ensino fundamental manuseiam o produto mas natildeo se deteacutem ao distrito em que
pertence e sim as imagens e as explicaccedilotildees apresentadas no vocecirc sabia
O que enriquece o trabalho realizado foi o envolvimento dos estudantes com
o produto solicitando quando poderatildeo ler calmamente todo o trabalho
86
6 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
A partir de experiecircncias pessoais em sala de aula se percebeu que o ensino
de Histoacuteria quando se partia da histoacuteria local havia maior interesse dos estudantes
da educaccedilatildeo baacutesica motivo pelo qual se deu a questatildeo-problema desta dissertaccedilatildeo
que estaacute relacionada diretamente com o natildeo uso desta histoacuteria pelos professores da
educaccedilatildeo baacutesica
Em conversas informais com professores da educaccedilatildeo baacutesica que atuam no
municiacutepio de Satildeo Francisco de Paula em sua grande maioria alegam que o grande
empecilho para se trabalhar a histoacuteria local eacute o pouco material disponiacutevel sobre a
histoacuteria de Satildeo Francisco de Paula aleacutem do rigor dos curriacuteculos que impotildeem o
ensino de Histoacuteria de maneira linear sem contextualizaccedilatildeo com a realidade vivida
pelos estudantes pois desta forma natildeo estatildeo preparando os estudantes para as
avaliaccedilotildees do Ministeacuterio da Educaccedilatildeo bem como para o vestibular Poreacutem natildeo se
estaacute afirmando que deveraacute estudar somente a histoacuteria local e sim partir dela como
incentivo para estudos dos conceitos e temaacuteticas da histoacuteria por muitas vezes
totalmente abstrato e de difiacutecil compreensatildeo pela grande maioria dos estudantes
A partir de entatildeo se realizaram inuacutemeros questionamentos como qual a
necessidade de se ensinar Histoacuteria de forma abstrata sem nenhuma relaccedilatildeo com
as vivecircncias dos estudantes Por que natildeo usar a fonte oral como metodologia de
pesquisa no ensino de Histoacuteria em Satildeo Francisco de Paula jaacute que natildeo existem
muitos materiais escritos a respeito desta histoacuteria principalmente no que tange os
distritos do interior Poreacutem estes questionamentos natildeo foram aprofundados na
dissertaccedilatildeo por natildeo ser o objetivo direto da pesquisa mas posteriormente poderaacute
se tornar um novo projeto de pesquisa
Nesta incessante busca por resposta se constroacutei todo o estudo desta
dissertaccedilatildeo que em um primeiro momento busca embasamento em diferentes
autores que comprovam que o ensino de Histoacuteria voltado para o local faz maior
sentido para os estudantes da educaccedilatildeo baacutesica e que isto natildeo significa abandonar
os conceitos histoacutericos e sim questionar analisar a trajetoacuteria humana no tempo e
no espaccedilo sob uma nova metodologia Apenas se sugere uma nova abordagem
que torne o ensino de Histoacuteria menos abstrato algo mais presente na vida do
estudante e que possibilite a ele a habilidade de perceber que o mundo estaacute em
constante mudanccedila poreacutem os fatos natildeo ocorrem de forma isolada no espaccedilo Algo
87
que foi reforccedilado apoacutes a construccedilatildeo da Base Nacional Curricular e o Referencial
Curricular Gauacutecho que vem de encontro com esta proposta de se estudar a histoacuteria
sobre novos olhares natildeo esquecendo das especificidades regionais do estado do
Rio Grande do Sul para o reconhecimento da identidade local e regional
A identidade local nesta pesquisa se buscou atraveacutes de relatos de
moradores locais que gentilmente colaboraram para o sucesso deste trabalho pois
a memoacuteria se tornou a fonte primordial para se escrever o que identifica os sete
distritos que constituem Satildeo Francisco de Paula Certamente a temaacutetica natildeo se
esgotou ainda haacute muito que se pesquisar e escrever sobre a histoacuteria de Satildeo
Francisco de Paula possibilitando a criaccedilatildeo de novos materiais que possam ser
usados em sala de aula pelos professores e alunos deste municiacutepio
Mas ao mesmo tempo haacute uma preocupaccedilatildeo por parte da autora nada
adianta criar produtos sinalizar novos meacutetodos ao ensino de Histoacuteria se o
profissional professor natildeo estiver preparado para trabalhar com novas fontes
histoacutericas novas metodologias de ensino proporcionando aos estudantes a
oportunidade de construir seu proacuteprio conhecimento histoacuterico embasado em sua
realidade e suas vivecircncias
Vivecircncias que se tornaram aliadas na pesquisa pois a autora nasceu e
sempre viveu no municiacutepio de Satildeo Francisco de Paula poreacutem a maior dificuldade
encontrada nesta caminhada foi percorrer grandes distacircncias por estradas de
rodagem em peacutessimas condiccedilotildees de trafegabilidade para gravar os relatos que
servem de base para a construccedilatildeo desta pesquisa O municiacutepio de Satildeo Francisco de
Paula eacute territorialmente extenso e essas distacircncias percorridas deram o nome ao
produto Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula como uma homenagem
aos antigos tropeiros deste municiacutepio que passavam boa parte de sua vida ao
lombo de mulas levando e buscando mercadorias pelos campos de cima da serra
Visto que desde o processo seletivo do mestrado em agosto de 2016
quando se apresentou o projeto de pesquisa jaacute se pensava no produto um livro
paradidaacutetico no formato fiacutesico A autora por diversas vezes foi questionada por que
natildeo um blog ou site Porque na forma fiacutesica este material seria de faacutecil manuseio
pelos estudantes e professores pois principalmente no interior uso da internet ainda
eacute um problema visto que em muitos locais natildeo existe sinal de telefonia diraacute
internet
88
O paradidaacutetico foi se moldando ao longo do tempo ateacute se chegar a versatildeo
final com uma ampla gama de informaccedilotildees e curiosidades sobre os sete distritos de
Satildeo Francisco de Paula onde se pretende que os alunos e professores possam
fazer uso deste material em sala de aula para tanto a autora pretende
posteriormente lanccedilar o produto para que possa ser lido e manuseado por todos
inclusive por aqueles que gostam de histoacuteria e sentem curiosidade sobre a formaccedilatildeo
do seu distrito e por conseguinte do municiacutepio de Satildeo Francisco de Paula
O paradidaacutetico foi testado em duas turmas da Escola Estadual de Ensino
Meacutedio Lajeado Grande sendo uma de Ensino Meacutedio e a outra das seacuteries finais do
Ensino Fundamental Os alunos jaacute detinham o conhecimento que a autora estava
cursando o Mestrado e que para sua conclusatildeo deveria apresentar um produto Era
de conhecimento de todos os estudantes que a autora estava produzindo um
paradidaacutetico sobre a histoacuteria de Satildeo Francisco de Paula pois a mesma eacute professora
destes estudantes nesta escola
Em um primeiro momento se explica que eacute apenas um protoacutetipo que
somente a capa estaacute colorida e o restante estaacute todo em preto e branco e que a
versatildeo final teraacute as imagens e as curiosidades coloridas o que com certeza
chamaraacute mais atenccedilatildeo Ao entregar o paradidaacutetico Tropeando Histoacuterias em Satildeo
Francisco de Paula para que possam manuseaacute-lo veio a primeira grande surpresa
os estudantes ficaram muito contentes por a turma ter sido escolhida pela autora
escolha essa que se justifica por ter trabalhado todo o ano de 2017 com estes
alunos partindo da histoacuteria local
A turma do oitavo ano do Ensino Fundamental manuseou sendo que os
alunos acharam interessante poreacutem se deteram mais nas imagens e balotildees do
ldquovocecirc sabiardquo Mas de maneira ampla e geral acharam muito interessante a foto de
capa com o Monumento aos Carreteiros situado na Avenida Juacutelio de Castilhos em
frente ao preacutedio da Prefeitura Municipal pois alguns natildeo conhecem a Sede do
municiacutepio
Os alunos do segundo ano do Ensino Meacutedio se surpreenderam e foram direto
ler sobre o distrito no qual residem Interessados questionaram sobre curiosidades
de como o material foi construiacutedo quais as maiores dificuldades encontradas
elogiaram o leiaute as imagens de fundo ao lado de cada curiosidade relatando que
chama a atenccedilatildeo aleacutem de considerarem relevantes as sugestotildees de atividades e
ao final solicitaram quando o material estaraacute disponiacutevel para que possam ler
89
integralmente visto que um periacuteodo de cinquenta minutos natildeo foi suficiente para que
todos manuseassem se fazendo necessaacuterio levar novamente na proacutexima aula
A autora se sentiu motivada pela recepccedilatildeo do produto por seus alunos o que
a incentiva continuar pesquisando sobre outras temaacuteticas a respeito da histoacuteria de
Satildeo Francisco de Paula trazendo para seu fazer pedagoacutegico novas fontes que
proporcionem um estudo da Histoacuteria de maneira ampla e contextualizada com a
realidade local que os cerca
90
REFEREcircNCIAS
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Jornal Satildeo Chico Tchecirc n 11 do dia 25 de maio de 1986
Jornal Satildeo Chico Tchecirc n 12 do dia 28 de maio de 1986
Jornal Pioneiro versatildeo digital do dia 02 de junho de 2017
Entrevistas
Amaacutelia Celuderes Cardoso residente no distrito de Lajeado Grande Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 08 de marccedilo de 2018
Blair dos Santos Fogaccedila residente no distrito de Lajeado Grande Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 06 de abril de 2018
Ceacutelia Pacheco Terres Basso residente no distrito de Cazuza Ferreira Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 04 de agosto de 2018
Darci da Silva Fagundes residente no distrito de Tainhas Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 24 de fevereiro de 2018
Deotildes Palhano dos Santos residente no distrito do Juaacute Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 12 de maio de 2018
Jaures Feijoacute Gomes residente no distrito de Eletra Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 15 de fevereiro de 2018
Luciana Olga Soares residente no distrito Sede Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 01 de marccedilo de 2018
Maria Madalena Scalco Faciole residente no distrito do Rincatildeo dos Kroeff Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 18 de marccedilo de 2018
Moacir Castello Branco de Albuquerque residente no distrito Sede Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 06 abril de 2018
95
Nauro Bossle de Andrade residente no distrito de Cazuza Ferreira Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 04 de marccedilo de 2018
Orides Reis residente no distrito do Juaacute Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 12 de maio de 2018
Reinaldo Faciole residente no distrito do Rincatildeo dos Kroeff Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 18 de marccedilo de 2018
Susana Marques Soares residente no distrito de Eletra Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 15 de fevereiro de 2018
96
APEcircNDICES
97
APEcircNDICE A ndash ENTREVISTA COM MORADORES LOCAIS DOS DISTRITOS DE
SAtildeO FRANCISCO DE PAULA
UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL
PROGRAMA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO EM HISTOacuteRIA ndash MESTRADO EM HISTOacuteRIA PROFISSIONAL
PESQUISA DE CAMPO ndash TATIANA MEacuteLO CARDOSO
1 Nome completo
2 Idade
3 Quantos anos reside neste distrito
4 Como se formou este distrito
5 Por que ele tem esse nome
6 Quem foram os primeiros moradores
7 Como era a vida aqui haacute tempos atraacutes
8 O que mudou aqui com o passar dos anos
9 O que identifica este lugar
10 As pessoas hoje que moram aqui na grande maioria satildeo naturais daqui ou vieram
de onde
11 A(o) Sra(Sr) acredita que as futuras geraccedilotildees valorizaram eou conheceram a
histoacuteria local ou vai se perder no tempo
12 Como funcionava a questatildeo do ensino em meados do seacuteculo XX havia escola na
localidade
13 Qual a primeira escola deste distrito data de fundaccedilatildeo local de funcionamento e a
primeira professora
14 Achas importante trabalhar nas escolas a histoacuteria do lugar
15 O que eacute tradiccedilatildeo deste distrito
16 Qual eacute a fonte de renda das pessoas no que elas trabalham
17 Qual eacute o lazer das pessoas aqui
98
APEcircNDICE B ndash TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Declaro por meio deste termo que concordei em ser entrevistado(a) eou participar na
pesquisa de campo referente ao projetopesquisa Ensino de Histoacuteria Local e o Paradidaacutetico
caso Satildeo Francisco de Paula desenvolvida pela aluna Tatiana Meacutelo Cardoso do Programa de
Poacutes-Graduaccedilatildeo em Histoacuteria ndash Mestrado Profissional da Universidade de Caxias de Sul Fui
informado(a) que poderei consultaacute-la a qualquer momento que julgar necessaacuterio atraveacutes do e-
mail t_ati_mhotmailcom
Afirmo que aceitei participar por minha proacutepria vontade sem receber qualquer
incentivo financeiro ou ter qualquer ocircnus e com a finalidade exclusiva de colaborar para o
sucesso da pesquisa Fui informado(a) dos objetivos estritamente acadecircmicos de estudo
Minha colaboraccedilatildeo natildeo ficaraacute anocircnima e foi realizada por meio de entrevista
semiestruturada A anaacutelise dos dados obtidos seratildeo divulgados natildeo permanecendo restritas
apenas a pesquisadora eou seu(s) orientador(es) coordenador(es)
Fui ainda informado(a) de que posso me retirar desse(a) estudopesquisa programa a
qualquer momento sem prejuiacutezo para meu acompanhamento ou sofrer quaisquer sanccedilotildees ou
constrangimentos Atesto recebimento de uma coacutepia assinada deste Termo de Consentimento
Livre e Esclarecido
Satildeo Francisco de Paula ___ de _____________ de ____
Assinatura do(a) participante
Assinatura do responsaacutevel
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 ndash Mapa de Identificaccedilatildeo das Sesmarias Serranas 26
Figura 2 ndash Divisatildeo Municipal em 1809 ndash Proviacutencia Satildeo Pedro do Rio Grande do Sul
28
Figura 3 ndash Vista da vila de Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra (1901) 29
Figura 4 ndash Vista Avenida Juacutelio de Castilhos (1923) 30
Figura 5 ndash Abertura da estrada ERS-020 Taquara ndash Satildeo Francisco de Paula de
Cima da Serra 31
Figura 6 ndash Accedilougue Central 33
Figura 7 ndash Igreja Matriz em 1931 34
Figura 8 ndash Igreja Matriz 34
Figura 9 ndash Mapa de localizaccedilatildeo de Satildeo Francisco de Paula 36
Figura 10 ndash Patroa Neuza Reis e sua Comissatildeo 39
Figura 11 ndash Gonzaga dos Reis 48
Figura 12 ndash Outdoor entrada da cidade na ERS-020 50
Figura 13 ndash Praccedila Central de Cazuza Ferreira 52
Figura 14 ndash Hotel do Campo 54
Figura 15 ndash Flacircmula de comemoraccedilatildeo aos 50 anos da entidade 57
Figura 16 ndash Barragem do Salto 58
Figura 17 ndash Igreja Santo Antocircnio ndash Distrito de Eletra 61
Figura 18 ndash Peacute com a fruta conhecido como Juaacute 63
Figura 19 ndash Praccedila Vila do Distrito Juaacute ao fundo cancha de laccedilo 65
Figura 20 ndash Imagem da Igreja Satildeo Roque em dia de festa no Rincatildeo dos Kroeff 69
Figura 21 ndash Imagem do Casaratildeo pouco antes de ser desmanchado 71
Figura 22 ndash Capa do livro 75
Figura 23 ndash Iacutendice do livro 76
Figura 24 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 1) 77
Figura 25 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 1) 78
Figura 26 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 2) 79
Figura 27 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 3) 80
Figura 28 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 4) 81
Figura 29 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 6) 82
Figura 30 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 8) 83
Figura 31 ndash Atividade do livro (Sugestatildeo de Leituras Complementares) 84
Figura 32 ndash Alunos do Ensino Meacutedio 85
SUMAacuteRIO
1 INTRODUCcedilAtildeO 11
2 HISTOacuteRIA LOCAL E O ENSINO DE HISTOacuteRIA NA SALA DE AULA 17
3 SAtildeO FRANCISCO DE PAULA CONSTRUCcedilAtildeO DO MUNICIacutePIO 24
31 CONVERSA COM MEMORIALISTAS 25
32 AMPLIANDO O DIAacuteLOGO COM OS MEMORIALISTAS 28
4 SAtildeO FRANCISCO DE PAULA DISTRITOS EM FOCO 41
41 DISTRITO SEDE 42
42 DISTRITO DE CAZUZA FERREIRA 51
43 DISTRITO DE TAINHAS 55
44 DISTRITO DE ELETRA 58
45 DISTRITO DO JUAacute 62
46 DISTRITO DO RINCAtildeO DOS KROEFF 66
47 DISTRITO DE LAJEADO GRANDE 70
5 DESCRICcedilAtildeO DO PRODUTO 74
6 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 86
REFEREcircNCIAS 90
FONTES CONSULTADAS 94
APEcircNDICES 96
APEcircNDICE A ndash ENTREVISTA COM MORADORES LOCAIS DOS DISTRITOS DE
SAtildeO FRANCISCO DE PAULA 97
APEcircNDICE B ndash TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO 98
11
1 INTRODUCcedilAtildeO
Os meacutetodos de ensino de Histoacuteria no Brasil vem sendo discutidos desde sua
criaccedilatildeo como disciplina Segundo Nadai (1992-1993 p 144) a introduccedilatildeo de
Histoacuteria no curriacuteculo ocorre na terceira metade do seacuteculo XIX no Brasil sendo que
desde entatildeo passa por diversas modificaccedilotildees Segundo Schmidt e Cainelli (2009)
os meacutetodos foram se adequando ao momento histoacuterico brasileiro em um primeiro
momento ensinou-se a histoacuteria da Europa Ocidental como a verdadeira histoacuteria da
civilizaccedilatildeo uma histoacuteria abstrata sem relaccedilatildeo com a vida do aluno Nadai (1992-
1993 p 146) acrescenta que ldquoa histoacuteria da paacutetria surgia como seu apecircndice sem
corpo autocircnomo e ocupando um papel extremamente secundaacuterio consistia num
repositoacuterio de biografias de homens ilustres de datas e batalhasrdquo
Poreacutem a partir de 1860 segundo Schmidt e Cainelli (2009 p 12-13) ldquono
periacuteodo republicano a incorporaccedilatildeo da concepccedilatildeo de que a disciplina Histoacuteria tinha
a responsabilidade de formar cidadatildeos ganha forccedilardquo sendo assim as escolas
primaacuterias e secundaacuterias comeccedilaram incluir em seus programas a histoacuteria nacional
com o intuito da formaccedilatildeo da nacionalidade sendo a paacutetria com seus heroacuteis o
principal foco Desta forma a criaccedilatildeo das diretrizes da Lei de Educaccedilatildeo nordm 569271
reforccedila o modelo jaacute instaurado
Foi oficializado o ensino de Estudos Sociais nas escolas brasileiras ficando os conteuacutedos especiacuteficos da Histoacuteria destinados somente aos alunos do antigo segundo grau A concepccedilatildeo e os conteuacutedos da Histoacuteria continuavam atrelados agraves concepccedilotildees tradicionais (SCHMIDT CAINELLI 2009 p 13)
Com a redemocratizaccedilatildeo na deacutecada de 1980 houve inuacutemeras discussotildees
que elencaram inuacutemeras abordagens e temaacuteticas para o ensino da Histoacuteria na
atualidade as novas tendecircncias se preocupam com a transposiccedilatildeo didaacutetica
valorizando documentos histoacutericos e incorporando novas linguagens e tecnologias
que permitem discussotildees e autonomia de pensamento Neste sentido as novas
concepccedilotildees de ensino de Histoacuteria ao final do seacuteculo XX abrem a possibilidade de
uma nova praacutetica didaacutetica que segundo Azevedo e Stamatto (2010 p 709) ldquobusca
problematizar a relaccedilatildeo passado-presente e em geral tomam a realidade do aluno
como ponto de partidardquo
Por se acreditar em um ensino de Histoacuteria onde a aprendizagem natildeo ocorre
em periacuteodos estanques de forma abstrata e sem relaccedilatildeo com o presente ou seja
12
apresentando de forma linear sem que haja contextualizaccedilatildeo sendo apresentada
atraveacutes de leitura de textos eou resumos permeando com atividades que muitas
vezes natildeo permitem um desenvolvimento de raciociacutenio histoacuterico que contribua para
a construccedilatildeo da cidadania Torna-se urgente pensar em um ensino voltado para a
inclusatildeo de novas contribuiccedilotildees historiograacuteficas como a histoacuteria cultural econocircmica
e social buscando na realidade local subsiacutedios para a aprendizagem Por isso a
presente dissertaccedilatildeo traz a didatizaccedilatildeo da histoacuteria de Satildeo Francisco de Paula visto
que a questatildeo-problema estaacute vinculada ao natildeo uso da histoacuteria local no ensino de
Histoacuteria deste municiacutepio e o pouco material disponiacutevel para o uso dos professores
Parte-se do pressuposto que ao abranger a histoacuteria local os sujeitos se veem como
partiacutecipes desta histoacuteria estudada significando e ressignificando conceitos
histoacutericos
Corroborando com este estudo Cunha (2016) traz consideraccedilotildees importantes
relacionadas ao uso da histoacuteria local O autor aborda como algo essencial para
compreensatildeo da histoacuteria geral na educaccedilatildeo baacutesica o uso da histoacuteria local o que
proporcionaria aos estudantes o reconhecimento como cidadatildeo e a percepccedilatildeo e
identificaccedilatildeo dos lugares de memoacuteria por parte dos alunos bem como o sentimento
de pertencimento do local Desta forma despertaria no aluno o interesse por um
passado aparentemente desligado de sua realidade estabelecendo relaccedilotildees com o
seu cotidiano
Desta maneira acredita-se que os estudantes da educaccedilatildeo baacutesica
compreenderatildeo a histoacuteria como algo que faz parte de suas vidas tornando-se assim
sujeitos da histoacuteria pois se haacute reconhecimento haveraacute tambeacutem o sentimento de
pertencimento que poderaacute ajudaacute-los a manter ou modificar a realidade que os cerca
Assim descrevem Schmidt e Cainelli
Esse sentido do ensinar Histoacuteria natildeo significaria natildeo ter conteuacutedos para serem ensinados mas olhar para estes conteuacutedos a partir da possibilidade de construir com os alunos novas questotildees diante de conteuacutedos e temas propostos pela historiografia Aprender histoacuteria eacute discutir evidecircncias levantar hipoacuteteses dialogar com os sujeitos os tempos e os espaccedilos histoacutericos Eacute olhar para o outro em tempos e espaccedilos diversos (SCHMIDT CAINELLI 2009 p 20)
Dentro desta perspectiva o reconhecimento da memoacuteria social se faz
importante visto que se necessita invocaacute-la para que um determinado grupo ou local
reconheccedila sua identidade social Atraveacutes de entrevistas com moradores de Satildeo
13
Francisco de Paula se invoca a memoacuteria coletiva na busca da identidade dos sete
distritos deste municiacutepio Visto que a histoacuteria de Satildeo Francisco de Paula se inicia por
volta do seacuteculo XVIII quando se datam as primeiras sesmarias1 concedidas ao
capitatildeo Pedro da Silva Chaves Posteriormente o capitatildeo doa parte de suas terras
para a construccedilatildeo do povoado que recebe o nome de Satildeo Francisco de Paula de
Cima da Serra por este ser devoto do Santo Satildeo Francisco Reza no testamento do
capitatildeo Pedro da Silva Chaves que um de seus filhos foi o primeiro paacuteroco a rezar
missa no povoado Satildeo Francisco de Paula pertenceu a Santo Antocircnio da Patrulha
e mais tarde a Taquara emancipando-se em 1902
Haacute pouca bibliografia sobre a histoacuteria de Satildeo Francisco de Paula o que existe
satildeo livros escritos por memorialistas onde se percebe a prioridade pela histoacuteria do
fundador ou seja do Capitatildeo Pedro da Silva Chaves dos iacutendios Caaguaraacutes que
habitavam a regiatildeo assim como os aspectos poliacuteticos administrativos Alguns destes
livros apresentam uma siacutentese cronoloacutegica de fatos importantes e descrevem
superficialmente o jeito de viver do povo serrano2 Mas a histoacuteria de Satildeo Francisco
de Paula estaacute repleta de diferentes identidades que identificam a Sede3 e o Interior4
deste municiacutepio e formam o jeito de viver do seu povo A natildeo exploraccedilatildeo de
elementos culturais que se fazem importantes para a construccedilatildeo de identidade
destes lugares minimiza as memoacuterias e as tradiccedilotildees que ali se apresentam visto
que
as constantes novidades em diferentes campos do saber os avanccedilos da tecnologia as infinitas possibilidades de comunicaccedilatildeo simultacircnea tecircm provocado sobretudo nas novas geraccedilotildees uma sensaccedilatildeo de que o mundo em que se vive eacute dotado de um temporalidade constituiacuteda por um tempo presente contiacutenuo (FIGUEIRA MIRANDA 2012 p 46)
Neste sentido fez-se uso de diferentes fontes para a construccedilatildeo do produto
desta dissertaccedilatildeo que consiste de um paradidaacutetico que possa servir como um
1 Sesmaria Terreno sem culturas ou abandonado que a antiga legislaccedilatildeo portuguesa com base em
praacuteticas medievais determinava que fosse entregue a quem se comprometesse a cultivaacute-lo 2 Serrano gentiacutelico de quem nasce em Satildeo Francisco de Paula 3 Sede distrito criado em 07 de janeiro de 1903 na mesma data da instalaccedilatildeo oficial do Municiacutepio Eacute
o distrito onde se localiza a Prefeitura Municipal Foacuterum agecircncias bancaacuterias loteacutericas hospital casas comerciais e residecircncias particulares Normalmente os moradores do interior quando vatildeo ao distrito se referem como ldquovou a Satildeo Chicordquo e natildeo como ldquovou a Sederdquo
4 Interior Cazuza Ferreira Juaacute Eletra Rincatildeo dos Kroeff Tainhas e Lajeado Grande satildeo distritos que ficam na zona rural apesar de todos terem uma pequena vila que possui pouca infraestrutura Alguns destes distritos ainda usam aacutegua de vertentes sem nenhuma rede de esgoto pois natildeo possuem aacutegua fornecida pela Companhia de Aacutegua e Saneamento (CORSAN)
14
material disponiacutevel a alunos e professores no ensino de Histoacuteria de Satildeo Francisco
de Paula Segundo Munakata entendem-se como paradidaacuteticos
Livros que sem apresentar caracteriacutesticas proacuteprias dos didaacuteticos satildeo adotados no processo de ensino e aprendizagem nas escolas seja como material de consulta do professor seja como material de pesquisa e de apoio agraves atividades do educando (MUNAKATA 1997 p 103)
Para a construccedilatildeo do paradidaacutetico fez-se uso de bibliografias jaacute existentes
jornais e documentos da Assembleia da Legislativa bem como o uso da histoacuteria
oral sendo as entrevistas a fonte primordial para escrever sobre as semelhanccedilas e
diferenccedilas existentes no modo de vida da populaccedilatildeo de Satildeo Francisco de Paula
visto que os depoimentos satildeo importantes na preservaccedilatildeo das memoacuterias tradiccedilotildees
bem como das heranccedilas identitaacuterias Neste sentido Delgado (2003 p 23) discorre
ldquonarrativas memoacuterias histoacuterias e identidades satildeo a humanidade em movimento
Satildeo o olhar que permeiam tempos heterogecircnicos Satildeo a histoacuteria em construccedilatildeo Satildeo
memoacuterias que falamrdquo
Portanto a histoacuteria oral busca registrar as vivecircncias e lembranccedilas de um
determinado grupo Alberti (2008 p 29) assim define ldquohistoacuteria oral natildeo eacute um fim em
si mesma e sim um meio de conhecimentordquo Quando se trabalha com a histoacuteria
oral se faz necessaacuterio valorizar a memoacuteria as identidades e tradiccedilotildees pois estas
formam a histoacuteria local ou seja a histoacuteria dos indiviacuteduos que ali vivem Halbwachs
(2004) afirma que com a perda da memoacuteria coletiva tambeacutem se perdem as
tradiccedilotildees locais tradiccedilotildees essas que identificam o modo de viver de um determinado
local Hobsbawn e Ranger entendem que as tradiccedilotildees podem ou natildeo ser
inventadas
Tradiccedilatildeo inventada entende-se um conjunto de praacuteticas normalmente reguladas por regras taacutecitas ou abertamente aceitas tais praacuteticas de natureza ritual ou simboacutelica visam inculcar certos valores e normas de comportamento atraveacutes da repeticcedilatildeo o que implica automaticamente uma continuidade com relaccedilatildeo ao passado (HOBSBAWN RANGER 2015 p 8)
Hobsbawn e Ranger (2015) ainda acrescem que a criaccedilatildeo de uma tradiccedilatildeo
independe da imposiccedilatildeo de uma nova tradiccedilatildeo o que normalmente ocorre eacute uma
rebeliatildeo cultural que precede da elaboraccedilatildeo de novas tradiccedilotildees que satildeo adotadas
pela populaccedilatildeo e com o tempo passam a se tornar tradiccedilotildees daquele local
formando a identidade local
15
Neste sentido Hall (2011 p 39) discorre que ldquoas identidades satildeo fabricadas
por meio da marcaccedilatildeo da diferenccedilardquo O autor ainda acresce que ldquoa diferenccedila eacute aquilo
que separa uma identidade da outrardquo (HALL 2011 p 41) Dentro desta perspectiva
a memoacuteria que se apresenta atraveacutes de siacutembolos ou tradiccedilotildees respalda a
construccedilatildeo da identidade do povo de Satildeo Francisco de Paula visto que a memoacuteria eacute
a construccedilatildeo do passado de maneira atualizada e renovada no tempo presente
Assim Halbwachs (2004 p 64) descreve que ldquonatildeo eacute na histoacuteria aprendida eacute na
histoacuteria vivida que se apoia nossa memoacuteriardquo Nessa loacutegica o autor ainda descreve
que ldquoo mundo histoacuterico eacute como um oceano onde afluem todas as histoacuterias parciaisrdquo
(p 90)
O municiacutepio de Satildeo Francisco de Paula eacute repleto de tradiccedilotildees que perpassam
o tempo que estatildeo enraizadas no jeito serrano de ser formando a sua identidade
Portanto a histoacuteria de Satildeo Francisco de Paula descrita nesta dissertaccedilatildeo seraacute
apresentada em quatro capiacutetulos
O capiacutetulo dois apresenta a discussatildeo teoacuterica metodoloacutegica sobre a
importacircncia do ensino da Histoacuteria local na sala de aula Tambeacutem conceitos como
memoacuteria e identidade e a importacircncia de se abordar o local em prol do global
No capiacutetulo trecircs aborda-se a construccedilatildeo histoacuterica do municiacutepio de Satildeo
Francisco de Paula que vai desde a chegada do colonizador nesta terra ateacute as
instituiccedilotildees que se formam ao longo do tempo Para isso se faz uso de bibliografias
jaacute existentes como Lucena (1971) Oliveira (1996) Teixeira (2002) Ribeiro (2003)
Alves (2007) e Fonseca (2012) sendo todas essas obras importantes para Satildeo
Francisco de Paula visto que cada uma traz consigo um pouco da histoacuteria deste
municiacutepio poreacutem sente-se falta da identidade e da memoacuteria na construccedilatildeo histoacuterica
As obras satildeo apresentadas sob o mesmo prisma apresentando os iacutendios Caaguaraacutes
e o Capitatildeo Pedro da Silva Chaves os fundadores desta terra dando bastante
ecircnfase aos sobrenomes que ali se desenvolveram Tambeacutem se fez uso de
documentos da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul aleacutem de jornais
encontrados no Arquivo Histoacuterico de Satildeo Francisco de Paula
No capiacutetulo quatro utiliza-se da fonte oral para que sejam identificadas as
diferentes tradiccedilotildees e versotildees da histoacuteria local ou seja a identidade de cada distrito
constituindo assim as particularidades que constroem o municiacutepio de Satildeo Francisco
de Paula Para tanto buscaram-se depoentes nas vilas dos distritos sendo que a
escolha se deu por duas pessoas por distrito sendo um homem e uma mulher
16
totalizando treze depoentes todos da terceira idade pois segundo Bosi (1994 p
82) ldquoum mundo social que possui uma riqueza e uma diversidade que natildeo
conhecemos pode chegar-nos pela memoacuteria dos velhosrdquo memoacuterias estas
construiacutedas por suas vivecircncias neste local o que justifica a relevacircncia dos
depoimentos para a construccedilatildeo do trabalho
O capiacutetulo cinco apresenta uma descriccedilatildeo do produto que consiste em um
paradidaacutetico em forma fiacutesica abordando a histoacuteria de Satildeo Francisco de Paula A
escolha pelo formato fiacutesico acontece pelas dificuldades encontradas no interior dos
distritos com o acesso agrave internet assim se pensa que o formato fiacutesico abrangeraacute um
nuacutemero maior de alunos e professores
Para tanto utiliza-se a metodologia da Histoacuteria oral para escrever a memoacuteria
e as percepccedilotildees das pessoas que habitam este local Hobsbawn e Ranger (1995 p
103) escrevem que ldquoessa proximidade entre o periacuteodo analisado e sua histoacuteria
pessoal eacute o pano de fundo para a discussatildeo de alguns problemas que qualquer
historiador enfrenta ao escrever sobre seu proacuteprio tempordquo pois a sensibilidade do
historiador vai escrever sua narrativa Em outras palavras Hobsbawn e Ranger
(1995 p 104) explicam que ldquocada historiador tem sua proacutepria vida um lugar privado
a partir do qual inspeciona o mundordquo Tambeacutem afirmam
Para aqueles que querem escrever a histoacuteria do seacuteculo XX uma das mais importantes reside no simples fato de saber sem nenhum esforccedilo especial o quanto as coisas se modificaram Os uacuteltimos trinta ou quarenta anos foram os mais revolucionaacuterios da histoacuteria O mundo ou seja a vida dos homens e mulheres que vivem na Terra nunca foi transformada de maneira tatildeo profunda dramaacutetica e extraordinaacuteria dentro de um periacuteodo tatildeo curto As geraccedilotildees que natildeo viram como o mundo era antes tecircm dificuldade em perceber isso intuitivamente (HOBSBAWN RANGER 1995 p 107)
Portanto se faz importante perceber que o mundo vem se transformando de
maneira raacutepida modificando a vida das pessoas e por conseguinte as tradiccedilotildees e
identidades locais pois estas comunidades natildeo vivem de forma isolada e sofreram
influecircncias jaacute que a cultura natildeo eacute estagnada estaacute sempre em constante movimento
juntamente com as pessoas
17
2 HISTOacuteRIA LOCAL E O ENSINO DE HISTOacuteRIA NA SALA DE AULA
Discutir o ensino de Histoacuteria na educaccedilatildeo baacutesica e a relaccedilatildeo do mesmo com a
histoacuteria local se faz bastante importante para que a cada dia se possa melhorar as
praacuteticas pedagoacutegicas Neste sentido se busca respaldo em diferentes bibliografias
que possam embasar novos afazeres dentro do espaccedilo da sala de aula e
proporcionar ao estudante um novo olhar sobre a histoacuteria um olhar de sujeito ativo
dentro desse processo de ensino aprendizagem
Pois quando a Histoacuteria eacute ensinada como algo certo e imutaacutevel de maneira
fragmentada voltada para linearidade e memorizaccedilatildeo de fatos e datas reforccedila o
que Mendes (1935) e Schmidt e Cainelli (2009) defendem que realmente eacute odiosa a
histoacuteria ensinada por este vieacutes Percebe-se que o ensino de histoacuteria linear nos
moldes europeus positivistas jaacute natildeo daacute mais conta da importacircncia da histoacuteria para a
sociedade atual porque eacute apresentada aos alunos atraveacutes de datas e fatos escrita
pelo vieacutes de uma elite que normalmente eacute branca e deteacutem o poder poliacutetico eou
econocircmico Eacute inconcebiacutevel que se permaneccedila com um ensino de Histoacuteria que natildeo
serve natildeo motiva e segundo Ruumlsen (2001 p 25) ainda ldquoirracionalizardquo sendo esse
modelo muito frequente nas escolas de educaccedilatildeo baacutesica brasileiras
Natildeo eacute por outro motivo que observamos ainda nas uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo XX que para a maior parte dos estudantes brasileiros o estudo de histoacuteria carece de sentido ou utilidade natildeo se tem a visatildeo de ciecircncia e sim de uma mateacuteria decorativa estudo do passado que soacute exige como vimos a prontidatildeo em declinar nomes datas e fatos Natildeo eacute de se estranhar que assim seja porque ocorre a enorme distacircncia entre a realidade vivenciada pela comunidade e o tratamento dado ao ensino de Histoacuteria jaacute que o aluno se torna mero espectador de fatos natildeo necessitando esforccedilos no sentido de qualquer reflexatildeo ou elaboraccedilatildeo (BARBOSA 2006 p 58)
O ensinar da histoacuteria de forma abstrata fragmentada dificulta a compreensatildeo
do processo histoacuterico no sentido que se estuda os fatos isolados ao seu tempo
como se um fato precisasse terminar para iniciar outro Em outras palavras este
meacutetodo de ensino natildeo daacute a noccedilatildeo de continuidade ou seja a histoacuteria perdeu seu
sentido baacutesico que eacute a compreensatildeo do contexto global dos fatos considerando que
o ensino de Histoacuteria por muitas vezes eacute estanque sem uma relaccedilatildeo ldquopresente x
passadordquo sendo de suma importacircncia o despertar de uma consciecircncia criacutetica por
parte do estudante Por isso ao longo do tempo o ensino sofre influecircncia por parte
do ldquopoderrdquo segundo Laville (1999 p 128) ldquoa Histoacuteria eacute certamente a uacutenica disciplina
18
escolar que recebe intervenccedilotildees diretas dos altos dirigentes e a consideraccedilatildeo ativa
dos parlamentos Isso mostra quatildeo importante eacute ela para o poderrdquo Nesta linha o
autor ainda acrescenta que ldquoa narrativa histoacuterica pode tambeacutem ser vista como uma
tomada de poder por grupos sem poderrdquo (LAVILLE 1999 p 129)
Na busca de modificar esse modelo surgem novos meacutetodos que valorizam o
uso do documento histoacuterico e a incorporaccedilatildeo de novas tecnologias de acordo com
Azevedo e Stamatto (2010 p 720) ldquotem o desafio de responder a inquietaccedilotildees do
hojerdquo Partindo deste pressuposto haacute possibilidade de se modificar o ensino da
Histoacuteria que ateacute entatildeo estava voltado agrave memorizaccedilatildeo para um modelo onde o
sujeito seja agente deste processo
Ensinar Histoacuteria como algo pronto e acabado [] sem levar em conta o contexto e os sujeitos envolvidos no processo de ensino aprendizagem pode levar a um ensino que natildeo desenvolve o que eacute mais importante como funccedilatildeo do ensinar histoacuteria que orientar os problemas da vida praacutetica (SCHMIDT CAINELLI 2009 p 20)
Assim Seffner (2013 p 51) acrescenta que ldquoo ensino de Histoacuteria eacute um ensino
de situaccedilotildees histoacutericas Mais do que nomes datas e acontecimentos o professor
deve propiciar ao aluno a compreensatildeo de como se estrutura uma dada situaccedilatildeordquo
Para que o ensino de Histoacuteria seja ressignificado existe a necessidade de anaacutelise
do processo histoacuterico problematizando os fatos no vai e vem do presentepassado
Os estudantes da educaccedilatildeo baacutesica necessitam compreender a histoacuteria como
um processo em constante transformaccedilatildeo que eacute movimentada por sujeitos que a
compotildeem com permanecircncias e rupturas ao longo dos tempos Segundo Bittencourt
(2004 p 168) ldquoa histoacuteria local tem sido indicada como necessaacuteria para o ensino por
possibilitar a compreensatildeo do alunordquo
Corroborando Seffner (2013) Souza (2015) e Brum (2015) evidenciam a
importacircncia de se trabalhar a histoacuteria global partindo de uma histoacuteria local
problematizando levando hipoacuteteses e analisando os fatos histoacutericos o que gera
significado para o educando e torna o docente natildeo mais um mero transmissor mas
um mediador deste conhecimento Neves (1997 p 22) reforccedila que ldquoo local fora do
contexto geral eacute apenas um fragmento e o geral sem o respaldo das realidades
locais eacute apenas uma abstraccedilatildeordquo Com esta nova abordagem o estudar Histoacuteria tem
sentido para o discente que se sente sujeito de sua proacutepria histoacuteria visto que
19
identificar-se com o local onde se vive ajuda a compreender o sentimento de
pertencimento e suas relaccedilotildees com o meio social e cultural no qual estaacute inserido
Nesta perspectiva faz-se necessaacuterio que os professores busquem novas
alternativas de ensino que proporcionem ao estudante a habilidade de ressignificar o
fato histoacuterico estudado
Ensinar Histoacuteria requer do professor a habilidade de buscar sentido e significado para o conhecimento que ministra e isso significa superar a mera transmissatildeo de informaccedilotildees jaacute que essa natildeo tem por finalidade o desenvolvimento intelectual mas ao contraacuterio deforma a capacidade de pensamento histoacuterico do aluno e a possibilidade de consolidar habilidades de anaacutelise da proacutepria realidade social (SILVA PORTO 2012 p 67)
Goubert assim define a histoacuteria local
Denominaremos histoacuteria local como aquela que diga respeito a uma ou poucas aldeias a uma cidade pequena ou meacutedia (um grande porto ou uma capital estatildeo aleacutem do acircmbito local) ou a uma aacuterea geograacutefica que natildeo seja maior do que a unidade provincial comum (como um county inglecircs um contado italiano uma Land alematilde uma bailiwick ou pays francecircs) Praticada haacute tempos atraacutes com cuidado zelo e ateacute orgulho a histoacuteria local foi mais tarde desprezada mdash principalmente nos seacuteculos XIX e primeira metade do XX mdash pelos partidaacuterios da histoacuteria geral A partir poreacutem da metade desse seacuteculo a histoacuteria local ressurgiu e adquiriu novo significado na verdade alguns chegam a afirmar que somente a histoacuteria local pode ser autecircntica e fundamentada (GOUBERT 1992 p 70)
Neste sentido fica evidente a importacircncia de se partir de uma histoacuteria local
para uma global Atraveacutes da histoacuteria local os estudantes teratildeo contato com sua
histoacuteria e poderatildeo se sentir parte integrante deste espaccedilo que muitas vezes por
falta de conhecimento acabam renegando sua proacutepria identidade Figueira e Miranda
(2012 p 113) afirmam que ldquoum dos efeitos mais danosos da globalizaccedilatildeo eacute a
universalizaccedilatildeo dos gostosrdquo isto implica diretamente na perda da identidade local
que muitas vezes estaacute sendo afetada pelas muacuteltiplas identidades existentes Neste
sentido Silva e Porto descrevem
A globalizaccedilatildeo entretanto produz diferentes resultados em termos de identidade A homogeneidade cultural promovida pelo mercado global pode levar ao distanciamento da identidade relativamente agrave comunidade e agrave cultura local (SILVA PORTO 2012 p 21)
Neste sentido Canclini acrescenta
Las comunidades de consumidores se organiza cada vez menos seguacuten diferencias nacionales y sobre todo en las generaciones joacutevenes definen sus praacutecticas culturales de acuerdo con informacioacuten y estilos homogeneizados (CANCLINI 1997 p 42)
20
Globalizaccedilatildeo que impotildee atraveacutes dos meios de comunicaccedilatildeo e social uma
identidade geral que regra a sociedade seus haacutebitos e costumes Devido ao grande
movimento das pessoas pelo mundo perceber e manter uma identidade com
caracteriacutesticas locais fica a cada dia mais difiacutecil ainda mais em se tratando da
populaccedilatildeo jovem que natildeo reconhece ao seu redor o que representa a sua
identidade local
Valorar as experiecircncias locais proporcionaraacute aos estudantes uma nova
metodologia de abordar a histoacuteria
Do ponto de vista metodoloacutegico destaca-se nessa forma de abordagem a preocupaccedilatildeo com os conhecimentos preacutevios dos alunos com a problematizaccedilatildeo dos conteuacutedos de ensino selecionados para trabalho em sala de aula estabelecendo relaccedilotildees com o cotidiano dos alunos e com o cotidiano de outras pessoas em outros tempos e em outros lugares Enfatiza-se tambeacutem a busca de articulaccedilatildeo entre histoacuteria local e a histoacuteria universal (SCHMIDT 2007 p 193)
O ensino de histoacuteria partindo do local para o global possibilita segundo
Bittencourt (2004 p 168) ldquoa compreensatildeo do entorno do alunordquo sendo que um dos
aspectos relevantes para este ensino eacute a escolha de fontes que levem os estudantes
a se reconhecerem nesse processo histoacuterico O autor ainda acresce
Eacute pela memoacuteria que se chega agrave histoacuteria local Aleacutem da memoacuteria das pessoas escrita ou recuperada pela oralidade existem os lsquolugares de memoacuteriarsquo (grifo da autora) expressos por monumentos praccedilas edifiacutecios puacuteblicos ou privados mas preservados como patrimocircnio histoacuterico (BITTENCOURT 2004 p 169)
Esta memoacuteria vai contribuir para legitimaccedilatildeo da identidade local Sabe-se que
a identidade eacute algo mutaacutevel e segundo Silva e Porto (2012 p 38) ldquoas identidades
satildeo produzidas em momentos particulares no tempordquo O pesquisador ainda
acrescenta que ldquoas identidades satildeo contingentes emergindo em momentos
histoacutericos particularesrdquo Estas identidades precisam ser reconhecidas quando se fala
de histoacuteria local
Na mesma linha Ruumlsen descreve a identidade histoacuterica
Consiste na ampliaccedilatildeo do horizonte nas experiecircncias do tempo e nas intenccedilotildees acerca do tempo no qual os sujeitos agentes se asseguram da permanecircncia de si mesmos na evoluccedilatildeo do tempo O ponto extremo dessa consolidaccedilatildeo de identidade eacute a lsquohumanidadersquo como suprassumo dos pontos comuns em sociedade com respeito a diversos sujeitos agentes no processo de determinaccedilatildeo de suas proacuteprias identidades determinam as dos outros de forma tal que estes se reconhecem nelas Esse criteacuterio de sentido lsquohumanidadersquo fornece o paracircmetro para se constatar a consolidaccedilatildeo da
21
identidade em que desembocam o progresso contiacutenuo do conhecimento mediante a pesquisa histoacuterica e a ampliaccedilatildeo contiacutenua das perspectivas mediante a reflexatildeo histoacuterica sobre referenciais (RUumlSEN 2001 p 126)
A histoacuteria local eacute constituiacuteda por diferentes identidades que satildeo geradas pelos
grupos que compotildeem este espaccedilo A este respeito Silva e Porto (2011 p 41)
apresentam que ldquoa diferenccedila eacute aquilo que separa uma identidade da outrardquo Tambeacutem
eacute notaacutevel que para que haja a representaccedilatildeo de suas identidades locais faz-se
necessaacuterio o reconhecimento destas e a percepccedilatildeo que existem diferentes fatores
que diferenciam os grupos sociais
Portanto a identidade eacute constituiacuteda pelas posiccedilotildees eou escolhas feitas
sendo que muitas vezes elas satildeo racionais ou ateacute mesmo irracionais A identidade
eacute baseada na memoacuteria que pode ser individual ou coletiva Segundo Candau (2011
p 16) ldquoos laccedilos fundamentais entre memoacuteria e identidade eacute sobre o fato de que eacute a
memoacuteria faculdade primeira que alimenta a identidaderdquo
Se a memoacuteria gera a identidade natildeo se pode pesquisar e escrever sobre
histoacuteria local sem levar em conta estes dois conceitos primordiais pois a histoacuteria
local soacute teraacute valia se escrita pelo vieacutes do todo ou seja natildeo priorize um grupo ou
classe social todos os quadros sociais devem estar representados dentro deste
processo Nessa linha Schmidt e Cainelli descrevem
O estudo da localidade ou da histoacuteria regional contribui para uma compreensatildeo muacuteltipla da Histoacuteria pelo menos em dois sentidos na possibilidade de se ver mais de um eixo histoacuterico na histoacuteria local e na possibilidade da anaacutelise de micro histoacuterias pertencentes a alguma outra histoacuteria que as englobe e ao mesmo tempo reconheccedila suas particularidades (SCHMIDT CAINELLI 2009 p 139)
Uma histoacuteria que faz sentido que esteja englobada a outra histoacuteria A
memoacuteria coletiva entra na construccedilatildeo desta histoacuteria local e eacute primordial pois esta vai
dar elementos que constroem a identidade deste local sendo que a memoacuteria do
passado influencia na representaccedilatildeo da identidade Neste sentido conforme
Figueira e Miranda (2012 p 47) eacute necessaacuterio compreender a memoacuteria ldquocomo a
capacidade de conservar e de preservar dados refere-se a um conjunto de funccedilotildees
cerebrais que nos permite reter informaccedilotildees adquiridas e impressotildees vividasrdquo
Podendo ser ela individual ou coletiva sendo que a memoacuteria individual existe a partir
de uma memoacuteria coletiva jaacute que as lembranccedilas que ajudam a reconstruir o passado
partem do interior de um grupo
22
Para as Ciecircncias Humanas o conceito de memoacuteria estaacute ligado agrave memoacuteria
social e coletiva definida por Le Goff (2003 p 422) como ldquoo estudo da memoacuteria
social eacute um dos elementos fundamentais de abordar os problemas do tempo e da
histoacuteriardquo O autor ainda acrescenta que ldquoa memoacuteria coletiva eacute natildeo somente uma
conquista eacute tambeacutem um instrumento e um objeto de poderrdquo (LE GOFF 2003 p
410) Neste sentido Halbwachs (2004 p 90) ressalta que ldquotoda memoacuteria coletiva
tem por suporte um grupo limitado no espaccedilo e no tempo e o mundo histoacuterico eacute
como um oceano onde afluem todas as histoacuterias parciaisrdquo
Quando se abordam conceitos de memoacuteria e identidade no ensino de
histoacuteria estaacute se trazendo para o estudo os sujeitos que compotildeem aquele local com
suas vivecircncias que podem ser coletivas ou natildeo A transmissatildeo de saberes entre as
geraccedilotildees forma a identidade coletiva sendo o ser humano um agente ativo no
quadro social da memoacuteria
Halbwachs assim define os quadros coletivos da memoacuteria
Os quadros coletivos da memoacuteria natildeo se resumem em datas nomes e foacutermulas que eles representam correntes de pensamento e de experiecircncia onde reencontramos nosso passado porque este foi atravessado por isso tudo (HALBWACHS 2004 p 71)
Nesta direccedilatildeo Le Goff (2003 p 4) acrescenta que ldquoa memoacuteria social eacute um
dos meios fundamentais para se abordar os problemas do tempo e da histoacuteria A
memoacuteria estaacute nos proacuteprios alicerces da histoacuteriardquo Catroga (2001) reforccedila que a
memoacuteria eacute moldada a partir das vivecircncias e na sua narrativa vai haver uma
coerecircncia que se mistura passado e presente
Quando se escreve sobre histoacuteria local eacute importante considerar que ela estaacute
pautada em documentos assim como em memoacuterias escritas visuais ou orais Neste
sentido eacute perceptiacutevel que o uso dos diferentes tipos de memoacuteria satildeo alicerces que
conduzem o trabalho do historiador para que ele possa interpretar suas fontes e
validar seu trabalho Memoacuterias estas que podem ser apresentadas com documentos
oficiais ou atraveacutes de uma cultura material ou imaterial
A escrita de histoacuterias locais vem como um novo modelo de resguardar
identidades e memoacuterias que se natildeo preservadas iratildeo desaparecer pela influecircncia
da globalizaccedilatildeo e falta de conhecimento de futuras geraccedilotildees Barros assim
descreve
23
Os novos tempos comeccedilavam a trazer um novo padratildeo historiograacutefico novas aberturas retornos e possibilidades e tambeacutem incertezas para os historiadores no que se refere agrave natureza do conhecimento que produzem e ao papel do conhecimento histoacuterico na sociedade [] Entre as novidades postula-se a possibilidade de examinar a histoacuteria de acordo com uma nova escala de observaccedilatildeo ndash atenta para o detalhe para as micro realidades para aquilo que habitualmente escapa ao olhar panoracircmico da macro histoacuteria tradicional ndash e eacute esta nova postura que se passou a chamar de micro histoacuteria (BARROS 2012 p 306)
Diante deste contexto o ensino de Histoacuteria pode buscar na histoacuteria local a
problematizaccedilatildeo necessaacuteria para que os estudantes da educaccedilatildeo baacutesica
reconheccedilam a identidade local que vem sofrendo com a uniformizaccedilatildeo da
sociedade que impotildee uma conjuntura global do local
24
3 SAtildeO FRANCISCO DE PAULA CONSTRUCcedilAtildeO DO MUNICIacutePIO
A apresentaccedilatildeo do municiacutepio Satildeo Francisco de Paula acontece atraveacutes do
uso da narrativa Esta se apresenta atraveacutes do diaacutelogo com obras jaacute produzidas por
memorialistas eou genealogistas que contribuem para a construccedilatildeo histoacuterica deste
local bem como se usa como fonte de enriquecimento documentos da Assembleia
Legislativa do Rio Grande do Sul e jornais locais
Para tanto se apresenta a revisatildeo historiograacutefica das obras escritas pelos
memorialistas eou genealogistas sendo que Lucena (1971) em sua obra ldquoSatildeo
Francisco de Paula Monografiardquo que abrange aspectos histoacutericos da formaccedilatildeo do
municiacutepio bem como pontos turiacutesticos e demograacuteficos O proacuteprio autor intitula a sua
obra como informativa a riqueza de detalhes eacute interessante poreacutem natildeo haacute nenhuma
referecircncia quanto aos dados escritos nem mesmo um referencial bibliograacutefico ao
final
No texto intitulado ldquoOs Fundadores de Satildeo Francisco de Paulardquo Alves (2007)
escreve sobre a fundaccedilatildeo de Satildeo Francisco de Paula Em seu livro haacute documentos
que validam o que se refere agrave genealogia jaacute que boa parte da obra apresenta os
troncos familiares que compunham o iniacutecio deste municiacutepio Na mesma linha da
genealogia Oliveira (1996) no livro ldquoAurorescer das Sesmarias Serranas histoacuteria e
genealogiardquo traz a histoacuteria das primeiras sesmarias da regiatildeo mas o foco principal
se daacute aos proprietaacuterios e seus descendentes Haacute um mapa bastante interessante
localizando as sesmarias e o nome por elas recebidos
Em ldquoSatildeo Francisco de Paula nossa terra nossa genterdquo Teixeira (2002)
apresenta dados gerais e histoacutericos do municiacutepio Esta obra apresenta dados
geograacuteficos como clima relevo e vegetaccedilatildeo A autora escreve sobre diversos
aspectos eventos personalidades e lendas Aleacutem disso apresenta Satildeo Francisco
de Paula com uma linha cronoloacutegica A obra abrange vaacuterios aspectos mas todos
suscintamente No final a autora apresenta a bibliografia consultada dentre os
autores estaacute Lucena (1971)
O texto ldquoSatildeo Francisco de Paula Rio Grande do Sul histoacuteria encantos e
misteacuteriosrdquo eacute uma obra de Fonseca (2012) que traz diversidade de assunto muitas
vezes estes estatildeo desconexos ou seja sua leitura se torna ldquotruncadardquo No final do
texto haacute um vasto referencial bibliograacutefico dentre os autores citam-se Lucena
(1971) e Teixeira (2002)
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Ribeiro (2003) eacute compositor e poeta Em ldquoFestival do Ronco do Bugiordquo
escreve sobre Satildeo Francisco de Paula apresentando a histoacuteria dos quinze anos do
festival no municiacutepio No iniacutecio contextualiza a origem do festival e do ritmo bugio
Depois apresenta a capa do disco de cada festival especificando as muacutesicas e os
compositores vencedores
Todas essas obras satildeo importantes para Satildeo Francisco de Paula cada uma
traz consigo um pouco da histoacuteria deste municiacutepio poreacutem sente-se falta da
identidade e da memoacuteria na construccedilatildeo histoacuterica As obras satildeo apresentadas o
mesmo prisma apresentando os iacutendios Caaguaraacutes e o Capitatildeo Pedro da Silva
Chaves os fundadores desta terra dando bastante ecircnfase aos sobrenomes que ali
se desenvolveram
31 CONVERSA COM MEMORIALISTAS
As terras onde hoje fica Satildeo Francisco de Paula eram habitadas por iacutendios da
tribo Caaguaraacutes que faziam parte dos Coroados Estes viviam livremente nos
campos de cima da serra e seus domiacutenios estendiam-se entre a Serra Geral e a
Serra do Mar Os iacutendios Caaguaraacutes tinham como haacutebitos alimentares a caccedila a
pesca e a coleta de sementes e frutos dentre os frutos o pinhatildeo e a goiaba-do-
mato segundo Teixeira (2002) e Alves (2007) Estes iacutendios tiveram seu habitat
invadido por incursotildees de desbravadores que comeccedilaram a trafegar pela regiatildeo em
busca de mulas e novas terras visto que as terras onde hoje se encontra Satildeo
Francisco de Paula de Cima da Serra foram rota de tropeiros5 pois estes trafegavam
pelos Campos de Cima da Serra indo na direccedilatildeo de Lages-SC ateacute alcanccedilarem
Sorocaba-SP6 Ao passarem por esta regiatildeo foram se formando pequenos vilarejos
e construindo um jeito peculiar de viver
Neste cenaacuterio aparece o municiacutepio de Satildeo Francisco de Paula de Cima da
Serra que recebe este nome para se diferenciar de Satildeo Francisco de Paula
denominaccedilatildeo recebida ateacute meados de 1830 pelo municiacutepio de Pelotas Poreacutem na
metade do seacuteculo XVIII Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra possuiacutea
5 Tropeiros homens que conduziam suas tropascomitivas de muares ou cavalos entre as regiotildees 6 Sugere-se a leitura FLORES Moacyr Troperismo no Brasil Porto Alegre Nova Dimensatildeo 1998
SAVARIS Manoelito Tropas e tropeiros o Rio Grande toma forma Disponiacutevel em ltwwwrogeriobastoscombr201104trpas-e-tropeiros-o-rio-grande-tomahtmlgt Acesso em 12 mar 2016
26
proprietaacuterios de terras sendo que um dos pioneiros foi Pedro da Silva Chaves um
portuguecircs casado com Gertrudes de Godoy uma paulista Pedro da Silva Chaves
declara em 1742 ser possuidor de terras neste municiacutepio Segundo Oliveira (1996)
em seu testamento Pedro da Silva Chaves rege que possui trecircs fazendas na regiatildeo
uma chamada Satildeo Joatildeo que se localiza desde o Arroio Santa Cruz ateacute o Rio
Tainhas concedida em 1752 por sesmaria a Fazenda da Cria que foi comprada de
Francisco Pinto Bandeira e confirmada como sesmaria em 1754 e a Fazenda
denominada Cerrito comprada do Capitatildeo Antocircnio Gonccedilalves dos Reis Nestas
fazendas havia criaccedilatildeo de cavalos gado vacum mulas e burros As fazendas
tambeacutem apresentavam em torno de 77 escravos sendo que alguns satildeo casados o
que se faz pensar que estes constituiacuteam famiacutelia aumentando assim o nuacutemero de
escravos da regiatildeo No mapa da Figura 1 verifica-se a localizaccedilatildeo das fazendas do
capitatildeo Pedro da Silva Chaves bem como sua extensatildeo territorial
Figura 1 ndash Mapa de Identificaccedilatildeo das Sesmarias Serranas
Fonte Oliveira (1996 p 236)
27
No mapa apresentado na Figura 1 ainda eacute possiacutevel observar a localizaccedilatildeo
onde inicia o povoado de Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra segundo
Lucena (1971 p 1) ldquoiniciou-se com o Capitatildeo Pedro da Silva Chaves que doou
uma gleba de terra para que fosse iniciado o povoadordquo Tambeacutem segundo Lucena
(1971 p 1) ldquodoou cinquenta vacas para construir o primeiro patrimocircnio da Igreja
cuja construccedilatildeo foi iniciada por sua conta e lhe deu o nome de Satildeo Francisco por
este ser devoto do Santordquo O que demonstra que Pedro da Silva Chaves era
Catoacutelico
Neste periacuteodo compreendido como seacuteculo XIX segundo Teixeira (2002) e
Alves (2007) o atual municiacutepio de Satildeo Francisco de Paula pertencia ao municiacutepio de
Santo Antocircnio da Patrulha municiacutepio este que formava juntamente com Porto
Alegre Rio Pardo e Rio Grande a proviacutencia de Satildeo Pedro do Rio Grande do Sul
atual Rio Grande do Sul Eacute possiacutevel observar a grande extensatildeo territorial de cada
municiacutepio no mapa apresentado na Figura 2 segundo Silva (2000) Santo Antocircnio
da Patrulha anexava as freguesias de N Sra Conceiccedilatildeo do Arroio e N Sra da
Oliveira da Vacaria a capela de Satildeo Domingos das Torres e os povoados de Santa
Cristina do Pinhal e Cima da Serra
Analisando o mapa da Figura 2 eacute possiacutevel perceber que o municiacutepio de Santo
Antocircnio da Patrulha tinha um vasto e extenso territoacuterio que atualmente compreende
os municiacutepios de Vacaria Antocircnio Prado Nova Roma do Sul Lagoa Vermelha
Veranoacutepolis Nova Prata Nova Araccedilaacute Nova Bassano Paraiacute Guabiju Satildeo Jorge
Vista Alegre do Prata Protaacutesio Alves Cotiporatilde Fagundes Varela Vila Flores
Caseiros Birajaras Andre da Rocha Capatildeo Bonito do Sul Muitos Capotildees Bom
Jesus Satildeo Joseacute dos Ausentes Esmeralda Ipecirc Campestre da Serra Monte Alegre
dos Campos Taquara Satildeo Francisco de Paula Cambaraacute do Sul e Jaquirana
28
Figura 2 ndash Divisatildeo Municipal em 1809 ndash Proviacutencia Satildeo Pedro do Rio Grande do Sul
Fonte Evoluccedilatildeo Administrativa (2013)7
32 AMPLIANDO O DIAacuteLOGO COM OS MEMORIALISTAS
Segundo documentos da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul8
disponiacuteveis no Arquivo Histoacuterico de Satildeo Francisco de Paula9 em 1852 atraveacutes da
Lei nordm 266 de 30 de novembro de 1852 eleva-se agrave categoria de freguesia a entatildeo
capela Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra pelo entatildeo vice-governador da
proviacutencia de Satildeo Pedro do Rio Grande do Sul o senhor Luiz Alves Leite de Oliveira
Bello Estes documentos ainda retratam que no ano de 1886 houve distribuiccedilatildeo de
lotes devolutos para pessoas pobres que comprovassem residecircncia haacute pelo menos
trecircs anos e se comprometessem a ldquofundar moradiardquo em um prazo de um ano sendo
assim passados trecircs anos seriam donos definitivos destes lotes dando o iniacutecio ao
povoamento da vila No mesmo periacuteodo acontece a criaccedilatildeo do cemiteacuterio municipal
7 Disponiacutevel em ltwwwatlassocioeconomicorsgovbrevolucao-administrativa-1809-a-2013gt Acesso
em 18 mar 2017 8 O diaacutelogo com memorialista se amplia a partir de agora com contribuiccedilotildees de documentos
pesquisados que corroboram para a compreensatildeo do tema 9 BARBOSA Eni GONCcedilALVES Jorge Joseacute Xavier (Orgs) Documentos histoacutericos da Assembleia
Legislativa do Rio Grande do Sul Arquivo Histoacuterico de Satildeo Francisco de Paula 1992
29
que ocorre em 1891 segundo documentos da Assembleia Legislativa disponiacuteveis
no Arquivo Histoacuterico de Satildeo Francisco de Paula Estes documentos informam que
primeiramente somente moradores que comprovassem residecircncia haacute mais de trecircs
anos e pudessem manter os jazigos de seus entes poderiam fazer uso deste
espaccedilo Atraveacutes desta documentaccedilatildeo se percebe que havia toda uma organizaccedilatildeo
para que ldquoestrangeirosrdquo natildeo se estabelecessem em Satildeo Francisco de Paula de Cima
da Serra
Em 1889 Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra passa a categoria de vila
e deixa de pertencer a Santo Antocircnio da Patrulha passando a ser distrito do
municiacutepio de Taquara do Mundo Novo (hoje Taquara) o que traz mudanccedilas
significativas para a vila
Mesmo havendo distribuiccedilatildeo de lotes apoacutes quinze anos percebe-se na
Figura 3 que o povoado ainda era pequeno cercado de campos que constituiacuteam
fazendas com criaccedilatildeo de gado vacum tendo como principal economia a pecuaacuteria
extensiva Ao alto pode-se visualizar a Igreja Matriz construiacuteda pelo capitatildeo Pedro
da Silva Chaves
Figura 3 ndash Vista da vila de Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra (1901)
Fonte Portal Satildeo Chico (2018)10
10 PORTAL SAtildeO CHICO Fotos antigas de Satildeo Francisco de Paula 2018 Disponiacutevel em
ltwwwsaochicocombrantigasgt Acesso em 12 abr 2019
30
Ainda eacute possiacutevel observar atraveacutes da Figura 3 que neste periacuteodo natildeo havia
nenhuma preocupaccedilatildeo com a organizaccedilatildeo urbana ou seja ruas quadras as
construccedilotildees se apresentam de maneira desordenada Poreacutem passados vinte e dois
anos na Figura 4 jaacute eacute possiacutevel visualizar uma estrutura urbanizada com possiacutevel
organizaccedilatildeo de ruas e quadras mas a vila ainda eacute rodeada de campos
Figura 4 ndash Vista Avenida Juacutelio de Castilhos (1923)
Fonte Lucena (1971 p 67)
O desenvolvimento da Sede de Satildeo Francisco de Paula acontece segundo
Lucena (1971 p 27) ldquonos primeiros anos de vida isto eacute de 1910 a 1924 mais ou
menos devido agrave extraccedilatildeo da erva-mate que era abundante em nossos matos nas
zonas da serrardquo O autor ainda acrescenta
O pioneiro na extraccedilatildeo da erva-mate em nossa Comuna foi o proprietaacuterio Carlos Miguel Kroeff dono da fazenda Potreirinho praticamente arrabalde de nossa cidade No barba-quaacute11 se iniciava todo processo de industrializaccedilatildeo da erva-mate sendo que Satildeo Francisco de Paula chegou a ter quinhentos barbaacute-quas (LUCENA 1971 p 28)
11 Barba-quaacute um valo de cerca de oito metros de comprimento amis ou menos por um metro de
profundidade e oitenta centiacutemetros de largura coberto de xaxim e terra em uma das extremidades colocava-se um gradeado e acima deste em uma parte tambeacutem coberta e mais alta tinha apenas uma saiacuteda sob o gradeado colocava-se as folhas de erva extraiacuteda da aacutervore no iniacutecio do valo fazia-se um fogo e a fumaccedila que pela pouca ventilaccedilatildeo existente formava bastante fumaccedila e esta atingia as folhas secando-as (LUCENA 1971 p 28)
31
A produccedilatildeo de erva-mate contribuiu para o povoamento da vila visto que
muitas pessoas vieram trabalhar e acabaram se instalando no municiacutepio Apoacutes a
extraccedilatildeo da erva-mate surge a extraccedilatildeo de madeira que tambeacutem contribui para o
desenvolvimento
Nesta documentaccedilatildeo ainda se encontra no artigo nordm 251 de 08 de abril de
1891 a liberaccedilatildeo da verba para abrir a estrada de rodagem que liga as vilas de
Taquara do Mundo Novo e Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra em 1889
Atraveacutes da Figura 5 pode-se perceber o quatildeo difiacutecil era abrir uma nova estrada de
rodagem Tudo era manual com o uso de animais e muares para transportar pedras
e terras poreacutem a abertura desta estrada traz mudanccedilas significativas para a
populaccedilatildeo de Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra
Figura 5 ndash Abertura da estrada ERS-020 Taquara ndash Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra
Fonte Jornal Folha da Serra (1968 n 89 p 8)12
12 Folha da Serra jornal criado em 1932 pelo Dr Siacutelvio Rabelo sendo o uacutenico jornal que existia na
regiatildeo serrana Este trazia notiacutecias sociais poliacuteticas etc com uma tiragem em torno de 500 exemplares por semana Encontram-se no Arquivo Histoacuterico de Satildeo Francisco de Paula alguns exemplares ateacute a deacutecada de 70 seacuteculo XX
32
A estrada visava facilitar o acesso da populaccedilatildeo de Satildeo Francisco de Paula
de Cima da Serra que ia ateacute Taquara para buscar gecircneros de primeira necessidade
Em tempos idos os serranos se abasteciam de gecircneros de primeira necessidade quase que totalmente em Taquara e o transporte era feito em cargueiros que compunham uma tropa com cerca de quinze a vinte cargueiros Os animais usados para esse transporte eram geralmente muares mais resistentes para o transporte de carga Os serranos levavam daqui queijo (o queijo ateacute hoje chamado queijo serrano) charque couros e alguns levavam maccedilatilde ou pinhatildeo em suas eacutepocas de colheita trocados por mantimentos de que necessitavam Natildeo existiam ainda estradas e o trajeto era feito por picadas existentes (LUCENA 1971 p 23)
O mesmo autor ainda acrescenta
Para atingir a capital do Estado a viagem era cheia de peripeacutecias O transporte era feito a cavalo ou em diligecircncias ateacute Taquara As diligecircncias carros de quatro de rodas puxados por quatro animais ndash cavalos ndash eram de propriedade de Bertolo Casara mais conhecido por lsquoJoatildeo Gringorsquo Essa viagem se fazia normalmente em um dia e agraves vezes em dia e meio O ponto de parada era ali no Rodeio Bonito onde existia uma casa agrave esquerda bem defronte a estrada que desce para Trecircs Coroas [] De Taquara a Porto Alegre por via ferroviaacuteria ndash de trem (LUCENA 1971 p 16)
A construccedilatildeo desta estrada traz um novo desenvolvimento para a entatildeo vila
de Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra pois apoacutes a abertura da estrada de
rodagem Taquara ndash Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra modifica o transporte
de mercadorias entre as localidades
O transporte de mercadorias era feito em carretotildees de quatro rodas puxados uns por cinco animais outros por sete as maiores que geralmente eram muares Eram atrelados em duas fileiras Na fileira junto agrave carreta que era de duas ou trecircs mulas na da esquerda montava o carreteiro Este toda vez que se verificava um declive na estrada apeava de sua montaria a fim de brecar a carreta sem que esta entretanto parasse (LUCENA 1971 p 24)
Este modelo de comeacutercio vai desaparecer com o surgimento das primeiras
casas de comeacutercios na vila de Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra De acordo
com Lucena (1971 p 38) ldquoos primeiros comerciantes foram Manoel Vicente
Ferreira Abel Pacheco Luis Carlos de Andrade e Jacob Bossle Sobrinhordquo Na
imagem da Figura 6 temos o Accedilougue Central onde nota-se que os animais
convivem soltos na rua juntamente com as pessoas mesmo se tratando de local
urbano
33
Figura 6 ndash Accedilougue Central
Fonte Portal Satildeo Chico (2018)13
Nesta mesma documentaccedilatildeo haacute decretos que definem a construccedilatildeo de uma
nova Igreja Matriz isto eacute uma Igreja de Pedra substituindo a antiga que era de
madeira ainda construiacuteda pelo capitatildeo Pedro da Silva Chaves esta construccedilatildeo data
do ano de 1922 Segundo Teixeira (2002 p 30) a Igreja de Pedra permanece ateacute
1960 quando daacute lugar ao atual preacutedio da Igreja Matriz que foi inaugurada em 14 de
junho de 1964 Na sequecircncia teremos duas imagens demonstrando a Igreja de
Pedra e a atual edificaccedilatildeo da Igreja Matriz Natildeo foi encontrada nenhuma foto da
Igreja de Madeira nos arquivos do Arquivo Histoacuterico do Municiacutepio somente em um
site de fotos antigas onde encontra-se registro apresentado na Figura 7
13 PORTAL SAtildeO CHICO Fotos antigas de Satildeo Francisco de Paula 2018 Disponiacutevel em
ltwwwsaochicocombrantigasgt Acesso em 12 abr 2019
34
Figura 7 ndash Igreja Matriz em 1931
Fonte Portal Satildeo Chico (2018)14
Figura 8 ndash Igreja Matriz
Fonte acervo da autora (2015)
14 PORTAL SAtildeO CHICO Fotos antigas de Satildeo Francisco de Paula 2018 Disponiacutevel em
ltwwwsaochicocombrantigasgt Acesso em 12 abr 2019
35
Entre os anos de 1892 a 1902 por duas vezes Satildeo Francisco de Paula de
Cima da Serra eacute desanexado e reanexado ao entatildeo municiacutepio de Taquara do Mundo
Novo Somente em 23 de dezembro de 1902 foi reestabelecido definitivamente o
municiacutepio de Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra cuja instalaccedilatildeo se verificou
em 07 de janeiro de 1903 A partir de 01 de janeiro de 1938 perde ldquoCima da Serrardquo
de sua nomenclatura permanecendo somente Satildeo Francisco de Paula Apesar
disso se manteacutem o gentiliacutecio ldquoSerranordquo de acordo com Silva (2000 p 23) e dados
do Arquivo Histoacuterico de Satildeo Francisco de Paula sendo que este gentiliacutecio eacute usado
ateacute os dias de hoje
No iniacutecio o municiacutepio de Satildeo Francisco de Paula foi um dos maiores do Rio
Grande do Sul em territoacuterio mas ao longo do tempo foi diminuindo seu territoacuterio
com a anexaccedilatildeo de parte dele ao entatildeo municiacutepio de Caxias do Sul e de Torres e a
criaccedilatildeo dos municiacutepios de Cambaraacute do Sul em 1963 e Jaquirana em 1988
Foi uma das maiores Comunas do Estado pois de seu territoacuterio faziam parte os atuais municiacutepios de Satildeo Marcos Cambaraacute do Sul e Jaquirana e os distritos de Vila Oliva Criuacuteva Fazenda Souza e Vila Seca hoje integrantes de Caxias do Sul De nosso territoacuterio foi tambeacutem desanexada uma gleba de terra ndash Josafaacute ndash e anexada ao municiacutepio de Torres (LUCENA 1971 p 10)
Mesmo perdendo parte de seu territoacuterio ao longo dos anos atualmente
segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (2016) ldquoSatildeo Chicordquo como
costumeiramente eacute chamado pelo seu povo estaacute situado na Encosta Inferior do
Nordeste do Estado do Rio Grande do Sul na zona denominada de Campos de
Cima da Serra Fica distante 112 quilocircmetros da capital do Estado Porto Alegre Os
municiacutepios limiacutetrofes satildeo Monte Alegre dos Campos Bom Jesus Jaquirana
Cambaraacute do Sul Praia Grande-SC Trecircs Forquilhas Itati Maquineacute Riozinho
Rolante Taquara Trecircs Coroas Canela e Caxias do Sul Possui uma aacuterea territorial
de 3264490 quilocircmetros quadrados com uma estimativa populacional de 21617
habitantes distribuiacutedos na zona urbana e rural O municiacutepio se divide em sete
distritos Sede Cazuza Ferreira Tainhas Juaacute Eletra e Lajeado Grande Atraveacutes do
conjunto de mapas apresentado na Figura 9 eacute possiacutevel visualizar a localizaccedilatildeo de
Satildeo Francisco de Paula dentro do Rio Grande do Sul e por conseguinte no Brasil
Tambeacutem se verifica a localizaccedilatildeo dos distritos de Satildeo Francisco de Paula
36
Figura 9 ndash Mapa de localizaccedilatildeo de Satildeo Francisco de Paula
Subdivisatildeo de Satildeo Francisco de Paula em distritos
Fonte montagem da autora (2019)
Desta forma se constitui o espaccedilo fiacutesico do municiacutepio de Satildeo Francisco de
Paula cuja populaccedilatildeo natildeo forma uma colocircnia pois seu povo adveacutem de diferentes
lugares a grande maioria com descendecircncia lusa sendo que os primeiros
colonizadores foram bandeirantes paulistas
A populaccedilatildeo de Satildeo Francisco de Paula eacute composta de brancos africanos e indiacutegenas Os brancos compreendendo portugueses (principalmente
37
accedilorianos) alematildees e italianos os africanos pertenciam ao grupo dos bantos e foram trazidos pelos portugueses (TEIXEIRA 2002 p 147)
A diversidade de pessoas que se estabeleceram em Satildeo Francisco de Paula
pode ser percebida pelos sobrenomes das famiacutelias precursoras do municiacutepio
Para Satildeo Francisco de Paula afluiacuteram famiacutelias de diversas nacionalidades que atraveacutes de seus descendentes ainda hoje aqui satildeo representadas como Famiacutelias Ferreira Soares Pinto Castilhos Asmuz Santos Martins Lopes Comin Feijoacute Silva Canani Peixoto Andrade Teixeira Valin Lucena Alves Cardoso Gomes Borges Marques Tedesco Medeiros Paglioacuteli Costa Fogaccedila Casara em outras (LUCENA 1971 p 11-12)
Os moradores deste municiacutepio introduziram um jeito singular de viver tendo
em seu cotidiano as tradiccedilotildees gauacutechas15 muito presentes Teixeira (2002 p 83)
assim descreve que ldquoas raiacutezes gauacutechas estatildeo fortemente marcadas na comunidade
seja pelo modo de vestir bombacha botas cinturotildees chapeacuteus e no inverno com o
pala ou pela preferecircncia por comidas campeiras churrasco carreteiro feijatildeo
mexidordquo A autora acrescenta que ldquoas casas com lareira e o tradicional fogatildeo agrave
lenha para aquececirc-las durante o inverno rigoroso satildeo um convite para uma
conversa ao peacute do fogo e o saboreio de um gostoso chimarratildeordquo (TEIXEIRA 2002 p
83)
O enraizamento deste modo de vida adveacutem do homem do campo o
pecuarista que no passado necessitava enviar seus filhos a cidade para estudar
contribuindo para este modelo de vida
Antigamente a pecuaacuteria era a atividade econocircmica muito forte em nosso municiacutepio Assim sendo havia muitos fazendeiros E como as fazendas ficavam muito longe da Sede do municiacutepio as senhoras tinham seus filhos em casa com parteiras Tambeacutem os estudos iniciavam nas fazendas porque as escolas ficavam longe Assim muitas vezes os fazendeiros contratavam professoras para se hospedarem nas suas casas e darem aulas aos seus filhos Em muitos casos ateacute mesmo os proacuteprios pais e avoacutes ensinavam alguma coisa Alguns fazendeiros quando seus filhos ficavam maiores os mandavam continuarem seus estudos na vila (assim lsquoSatildeo Chicorsquo era chamada) (TEIXEIRA 2002 p 77)
Com a vinda dos filhos para a vila trouxeram consigo o jeito do homem do
campo sendo que um dos maiores clubes em funcionamento de Satildeo Francisco de
Paula eacute o atual Centro de Tradiccedilotildees Gauacutechas Rodeio Serrano fundado em maio de
15 Tradiccedilotildees gauacutechas segundo Fagundes (1997 p 38) eacute um movimento ciacutevico-cultural [] eacute a
tradiccedilatildeo em marcha resgatando valores que satildeo vaacutelidos natildeo por serem antigos mas por serem eternos exatamente os valores que trouxeram o Rio Grande e o gauacutecho do passado para o presente projetando-se para o futuro
38
1955 Segundo o Jornal Folha da Serra (1968 n 11 p 12) a entidade
tradicionalista receacutem-formada recebe o nome de CTG Coronel Alziro Torres Filho
Fonseca (2012 p 223) menciona que a iniciativa partiu de ldquoDavenir Peixoto Gomes
um homem ruralista e serranordquo Esta entidade tradicionalista teve como primeiro
Patratildeo Oscar Teixeira O CTG Alziro Torres Filho segundo o jornal Folha da Serra
(1957) muda sua nomenclatura em uma reuniatildeo onde o posteiro da invernada
artiacutestica Alaor Valim propotildee a troca do nome para Rodeio Serrano nome que
permanece ateacute a atualidade
A entidade tradicionalista traz como lema ldquoRepontando a Tradiccedilatildeo com o Rio
Grande na Garupardquo Fonseca (2012 p 224) relata que o lema foi ldquocriado pelo
primeiro instrutor de danccedilas Dr Alaor de Almeida Valimrdquo O mesmo autor acrescenta
que ldquoa primeira prenda foi a professora Maria Asmuz Valimrdquo Poreacutem sua sede
somente foi construiacuteda em 1968 sob a patronagem de Dante Santos O Jornal Folha
da Serra (1968 n 11 p 12) indica que ldquoa construccedilatildeo da sede era uma aspiraccedilatildeo de
longos anos que somente agora se concretizardquo Anteriormente ldquoos bailes eram
realizados em sua maioria no Salatildeo Paroquial sendo que alguns foram feitos no
primeiro andar da Associaccedilatildeo Rural e ateacute mesmo na Sociedade Cruzeirordquo
(FONSECA 2012 p 225) Este fato justifica a vontade de Dante Santos de construir
uma sede proacutepria
Apoacutes a construccedilatildeo de sua nova sede o CTG Rodeio Serrano localiza-se na
Rua Benjamim Constant nordm 582 constituindo um espaccedilo importante para a
comunidade de Satildeo Francisco de Paula Dentre as atividades desenvolvidas pelo
CTG estaacute o Rodeio Interestadual que ocorre todos os anos no primeiro final de
semana de dezembro sendo que se encontra na 33ordf ediccedilatildeo A manutenccedilatildeo das
invernadas artiacutesticas em todas as categorias mascote mirim juvenil e adulta A
organizaccedilatildeo da Ronda Crioula na Semana Farroupilha bem como a Cavalgada de
Prendas que ocorre durante a Semana Farroupilha todos os anos Realiza-se o
baile da Prenda Jovem aleacutem de shows e bailes tipicamente gauchescos Aleacutem
disso nos uacuteltimos anos a organizaccedilatildeo do Festival Ronco do Bugio que ocorre em
Satildeo Francisco de Paula ldquofestival este lanccedilado em 16 de abril 1986rdquo segundo o
Jornal Satildeo Chico Tchecirc (1986 n 4 p 5)16
16 Satildeo Chico Tchecirc jornal de circulaccedilatildeo quinzenal fundado em 08 de janeiro de 1986 e que circulou
ateacute 1989 O jornal trazia informaccedilotildees culturais sociais econocircmicas e poliacuteticas da Sede e do
39
Durante os seus sessenta e dois anos de existecircncia muitos patrotildees
passaram por esta entidade tradicionalista mas em 2017 pela primeira vez na
histoacuteria o CTG Rodeio Serrano teve uma patronagem feminina Aleacutem da Patroa
Neuza Reis foram empossadas a Capataz Elenita Amaral a Sota-capataz Fernanda
Kirsch Damasceno o Agregado das Pilchas Antocircnio Garcia de Souza e no
Conselho de Vaqueanos Neiva Santos Valim
Figura 10 ndash Patroa Neuza Reis e sua Comissatildeo
Fonte Jornal Pioneiro (2017)17
Satildeo Francisco de Paula hoje conta com vinte e oito entidades
tradicionalistas18 espalhadas pelos seus distritos demonstrando que homem do
campo se faz muito presente em todo o municiacutepio sendo assim a cultura
interior Os exemplares encontram-se encadernados no arquivo histoacuterico de Satildeo Francisco de Paula
17 Jornal Pioneiro conhecido como o jornal que estaacute ldquoao teu ladordquo o Pioneiro circula desde 1948 e estaacute presente hoje em 64 municiacutepios da regiatildeo de Caxias do Sul Desde 1993 integra a rede de jornais do Grupo RBS sendo filiado ao Instituto Verificador de Circulaccedilatildeo (IVC) Conta com uma equipe de Redaccedilatildeo com mais de 40 jornalistas aleacutem de colunistas internos e externos Em 2008 o jornal ganhou o site pioneirocom Disponiacutevel em lthttpwwwgruporbscombratuacaopioneirogt acesso em 10 de fevereiro de 2019
18 Informaccedilatildeo cedida pelo Coordenador da 27ordf Regiatildeo Tradicionalista Gauacutecha
40
tradicionalista se apresenta de maneira forte e consistente segundo vaacuterios
depoimentos de moradores de todos os distritos de Satildeo Francisco de Paula
41
4 SAtildeO FRANCISCO DE PAULA DISTRITOS EM FOCO
Quanto aos distritos de Satildeo Francisco de Paula surgem diversas
inquietaccedilotildees com relaccedilatildeo agrave identidade destes locais pois estes mesmo fazendo
parte de um mesmo municiacutepio apresentam singularidades que derivam de sua
colonizaccedilatildeo basicamente lusa portuguesa e da recepccedilatildeo de imigrantes de diversas
etnias como italianos e alematildees ao longo destes cento quinze anos de
emancipaccedilatildeo Percebe-se que alguns distritos manteacutem sua identidade e tradiccedilotildees
resguardadas enquanto em outros jaacute ocorreu agrave miscigenaccedilatildeo de diferentes haacutebitos
e culturas o que dificulta identificar traccedilos que identifiquem estes distritos
Neste capiacutetulo busca-se responder a estas inquietaccedilotildees fazendo uso dos
depoimentos de moradores locais Segundo Delgado (2003 p 21) ldquoessas
narrativas tal qual os lugares da memoacuteria satildeo instrumentos importantes de
preservaccedilatildeo e transmissatildeo das heranccedilas identitaacuterias e das tradiccedilotildeesrdquo Neste sentido
se optou por dois moradores por distrito totalizando treze entrevistados um homem
e uma mulher da terceira idade que sempre morou no distrito o que enriquece os
detalhes repassados pelos entrevistados
Toda entrevista tem por base a memoacuteria individual que se referencia na coletiva profundamente relacionada agraves vivecircncias individuais A utilizaccedilatildeo do depoimento de pessoas idosas como fonte para a histoacuteria oral eacute uma forma de justificar a entrevista como histoacuterica referindo-se ao passado jaacute que aos idosos se pretende atribuir a guarda de memoacuterias do passado pelo proacuteprio tempo de vida do depoente Isto retoma e ajuda a fortalecer a ideia de que a histoacuteria mesmo tratando do tempo presente ainda se reporta a um periacuteodo anterior ao da vida do pesquisador (ALMEIDA 2012 p 10)
A entrevista somente ocorreu quando o entrevistado concordou em assinar o
termo de consentimento As entrevistas ocorreram nas residecircncias dos
entrevistados foram preacute-agendadas sendo que o meacutetodo utilizado foi entrevista
guiada atraveacutes de questionaacuterio previamente organizado pela autora as entrevistas
foram filmadas e gravadas onde somente uma entrevistada natildeo autorizou a
filmagem de seus relatos justificando a idade avanccedilada e por morar sozinha
A escolha pela histoacuteria oral hibrida ocorreu no sentido de que a fonte oral eacute o
principal recurso utilizado para colher informaccedilotildees sobre os distritos visto que em
sua grande maioria natildeo haacute publicaccedilotildees Poreacutem em determinados momentos se
utilizam fontes documentais como complemento do que vem sendo apresentado
Com relaccedilatildeo agrave abordagem adotada nas entrevistas se optou pela temaacutetica visto
42
que se leva um roteiro preacute-organizado com temas que deveratildeo ser explorados
durante as entrevistas o que proporciona uma riqueza de informaccedilotildees para a
autora
41 DISTRITO SEDE
O distrito Sede se constitui no local onde se inicia o povoado do municiacutepio na
antiga Fazenda da Cria terras doadas pelo capitatildeo Pedro da Silva Chaves Neste
distrito concentram-se os serviccedilos puacuteblicos e privados que os moradores
necessitam em seu dia-a-dia visto que ali existem bancos casas loteacutericas
farmaacutecias hospital supermercados lojas papelarias livraria inspetoria veterinaacuteria
secretaacuterias municipais escolas puacuteblicas e privadas creches induacutestrias de madeiras
e calccedilados
Poreacutem o distrito Sede ou cidade de Satildeo Chico como popularmente
conhecida pelo seu povo jaacute foi uma cidade de interior ou seja uma cidade pequena
com moradores que vinham das fazendas em busca de estudo Visto que a
implementaccedilatildeo de uma rede regular de ensino ocorre tardiamente devido agrave
dificuldade de se locomover pelas distantes localidades entatildeo normalmente os
fazendeiros contratavam professores para que seus filhos obtivessem estudo sendo
que estes moravam na proacutepria residecircncia da famiacutelia Em entrevista com essa autora
relata Albuquerque19 que ldquopara aprimorar os estudos aqueles que tinham mais
condiccedilotildees iam para Porto Alegre Santa Maria ou Passo Fundo mas para isto
ficavam laacute em internatos e soacute retornavam nas feacuterias devido agrave dificuldade e o custo
da viagemrdquo
Na deacutecada de 40 foi criada a Escola Catoacutelica de Satildeo Francisco de Paula
cujo funcionamento acontece ateacute 1973 quando foram encerradas suas atividades
Esta escola iniciou com o curso primaacuterio e posteriormente instalou o curso ginasial
Normalmente estes moradores permaneciam de segunda-feira a sexta-feira na
cidade e nos finais de semana retornavam para as fazendas como recorda uma
moradora local
Noacutes eacuteramos uma cidade de fazendeiros a gente tinha uma casa no campo e uma na cidade a gente vivia de laacute pra caacute de caacute pra laacute fim de semana ia
19 ALBUQUERQUE Moacir Castello Branco de Entrevista concedida agrave autora no dia 06 de abril de
2018
43
pra fora20 dia de semana vinha pra caacute normalmente uma irmatilde mais velha voacute ficava com a gente aqui na cidade e a famiacutelia mesmo ficava no campo21
Percebe-se que hoje ainda existem na Sede moradores que manteacutem suas
casas na cidade e durante o dia ou nos finais de semana vatildeo ateacute suas fazendas
para fazer as lides com o gado o que caracteriza uma pequena parte da populaccedilatildeo
que foram os filhos dos antigos fazendeiros que mais tarde acabam se instalando
definitivamente na cidade trazendo com sigo a essecircncia do homem do campo e
afirmando uma identidade genuinamente gauacutecha definiccedilatildeo esta concedida por uma
moradora local
Gauacutecho natildeo eacute o morador do Rio Grande do Sul o morador do Rio Grande do Sul eacute o sul-rio-grandense ou rio-grandense do sul o gauacutecho eacute apenas o homem que vem da pecuaacuteria extensiva essa que existe laacute no pampa e aqui nos campos de cima da serra o gauacutecho serrano com caracteriacutesticas muito proacuteprias grandes gaiteiros poetas aliaacutes o maior gaiteiro do mundo eacute daqui natildeo abro matildeo de dizer isto soacute que todos noacutes viacutenhamos da lida do campo em decorrecircncia disso eacuteramos gauacutechos de verdade22
Em sua fala apresenta o gauacutecho serrano como um tipo singular que ama a
pilcha gauacutecha o seu pingo e suas criaccedilotildees bem como reafirma a importacircncia dos
Irmatildeos Bertussi Honeide e Adelar sendo Adelar Bertussi um dos maiores gaiteiros
deste municiacutepio Exaltam-se tambeacutem os poetas que com suas poesias e letras de
muacutesicas escrevem o jeito do seu povo viver
Mesmo a cidade sendo ldquolocal de paradardquo durante a semana para a maioria
de seus habitantes no passado era cheia de atrativos que o campo natildeo possuiacutea
como o cinema cuja instalaccedilatildeo natildeo se encontra documentada mas sabe-se que
iniciou onde hoje eacute o preacutedio da Prefeitura Municipal sendo proprietaacuterio Francisco
Ferraz (Chico Ferraz como era conhecido) Observa-se em alguns exemplares do
Jornal Folha da Serra23 os filmes e os horaacuterios do funcionamento do cinema
Entende-se que o jornal era uma maneira de divulgar os filmes por ser o uacutenico meio
de comunicaccedilatildeo da eacutepoca Pelos folhetins se percebe que as sessotildees
apresentavam diversos gecircneros natildeo se sabe quando o cinema finalmente fechou
20 Fora refere-se ir para a fazenda 21 SOARES Luciana Olga Entrevista concedida agrave autora no dia 01 de marccedilo de 2018 22 SOARES Luciana Olga Entrevista concedida agrave autora no dia 01 de marccedilo de 2018 23 Folha da Serra jornal local criado em 1932 pelo Dr Siacutelvio Rabelo passando posteriormente a
propriedade da Prefeitura Municipal Sua impressatildeo era na ordem de 500 exemplares natildeo se tem a informaccedilatildeo do periacuteodo que parou de circular mas pelos exemplares encontrados no Arquivo Histoacuterico de Satildeo Francisco de Paula os uacuteltimos datam de 1978 O Arquivo Histoacuterico de Satildeo Francisco de Paula fica em um preacutedio anexo agrave Biblioteca Puacuteblica do municiacutepio
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poreacutem o jornal Folha da Serra traz uma reportagem que retrata como estava difiacutecil
manter o cinema em funcionamento em meados de 1968 ldquoo nosso cinema na
maneira que vai indo natildeo tem mais condiccedilotildees de funcionar natildeo temos apoio da
populaccedilatildeo com uma frequecircncia de mais ou menos 150 pessoas por final de
semanardquo O jornal acrescenta ldquosalienta-se que mais ou menos de 3 de nossa
CULTA populaccedilatildeo natildeo frequenta o cinemardquo Pode-se associar o fechamento do
cinema a dois fatores a natildeo cultura de assistir filmes e pelas sessotildees ocorrerem nos
finais de semana onde boa parte da populaccedilatildeo da cidade se deslocava para as
fazendas ou pela crise que os cinemas passaram na deacutecada de 80 quando em
muitas cidades foram fechados
A vida da populaccedilatildeo local vai se modificando cada vez mais as pessoas vatildeo
se instalando definitivamente na Sede onde se perde o viacutenculo com o campo
Devido agrave venda ou arrendamento das fazendas24 que por render pouco a pecuaacuteria
extensiva e com a criaccedilatildeo de novas legislaccedilotildees que proiacutebem praacuteticas centenaacuterias
seus proprietaacuterios buscaram novas possibilidades econocircmicas que modificaram a
Sede e tambeacutem boa parte do interior Em entrevista a moradora Soares relata
Exatamente porque a produccedilatildeo era pequena isso natildeo serve para o mundo de hoje a uns quarenta anos chega em nossos campos as primeiras plantaccedilotildees de pinus interessante que ningueacutem reclamou da destruiccedilatildeo desse campo de milhotildees de anos e de todo o ecossistema mas mesmo com essa nova cultura continuamos realizando a sapeca do campo no mecircs de agosto mas de repente chega a notiacutecia que estaacute proibida a queima do campo dizendo que noacutes estragaacutevamos a terra poluiacuteamos o ar que mataacutevamos animais e tudo aquilo natildeo era verdade Na verdade alguns anos depois da lei proibindo a queima do campo chegam as multas gigantescas agraves vezes maior que o valor da terra e aiacute inviabilizou a pecuaacuteria e muitos fazendeiros venderam suas terras e foram embora Quem ficou no campo na busca por renda a qualquer preccedilo arrenda seus campos para os batateiros que vieram acredito que a grande maioria de Santa Catarina e do Paranaacute estes lavram o campo nunca mais o campo nem com reza braba taacute tudo perdido para sempre e isso reflete na nossa cidade25
Essas mudanccedilas no campo refletem na Sede onde o homem serrano convive
passivamente com novas identidades que embora sejam presentes eacute minoria pois
esta parcela de novos moradores traz consigo um novo jeito de viver que ainda natildeo
se percebe influenciar na identidade cultural da Sede
24 Propriedades rurais cuja atividade principal eacute a praacutetica da pecuaacuteria extensiva e a produccedilatildeo do
queijo artesanal serrano 25 SOARES Luciana Olga Entrevista concedida agrave autora no dia 01 de marccedilo de 2018
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Na Sede desde o iniacutecio se observam quatro clubes sociais a Sociedade
Cruzeiro a Sociedade 9 de Julho a Sociedade Esperanccedila e o Centro de Tradiccedilotildees
Gauacutechas Cada clube social tem sua importacircncia histoacuterica poreacutem alguns natildeo se
manteacutem ativos
A Sociedade 9 de Julho foi fundada em 27 de setembro de 1961 estando
localizada no bairro Rincatildeo Segundo o jornal Folha da Serra (1968 n 96 p 5)
apoacutes sete anos de sua fundaccedilatildeo ldquoseu presidente Galego promete uma nova e
confortaacutevel sede para a sociedaderdquo Sociedade que se apresenta por sua
versatilidade nos eventos ateacute os dias atuais
O jornal Folha da Serra (1968 n 96 p 5) traz a seguinte mateacuteria ldquoas quatro
noites foram repletas de alegria naquela sociedade onde os foliotildees divertiram-se e
quando se anunciou o final da quarta noite houve quem lamentasse o final da festa
do Momordquo A reportagem refere-se ao carnaval que se desenvolve de forma
popular nesta sociedade Neste espaccedilo na deacutecada de 1990 ocorria um baile na
sexta-feira que antecedia ao Festival do Ronco do Bugio um espaccedilo onde jovens se
encontravam para iniciar as festividades do grande festival da cidade poreacutem na
atualidade este evento natildeo ocorre mais Pelos cartazes de divulgaccedilatildeo de eventos
atuais a Sociedade 9 de Julho se torna um espaccedilo bastante versaacutetil e segundo
dados obtidos no site da proacutepria sociedade o local apresenta shows bailes
tradicionalistas domingueiras e festas temaacuteticas
Sabe-se da existecircncia da Sociedade Esperanccedila devido a uma reportagem a
respeito do carnaval escrita no jornal Folha da Serra (1968 n 11 p 25) ldquoos
escurinhos tambeacutem natildeo ficaram para traacutes e demonstraram que satildeo bons no samba
porque soacute quem assistiu pode ver como brincaram e que maravilha de ritmo
marcaram durante as quatro noitesrdquo A reportagem daacute a entender de se tratar de
uma sociedade frequentada por negros e pode-se entender que ao usar o termo
escurinho na reportagem haacute preconceito racial perpassando a ideia de que por
serem negros natildeo poderiam se divertir da mesma maneira que os brancos
Atualmente se encontra no local um espaccedilo residencial e comercial
A Sociedade Cruzeiro foi fundada em 9 de maio de 1925 pela elite da
sociedade serrana Segundo Teixeira (2002) e Fonseca (2012) sua sede social era
na Avenida Juacutelio de Castilhos onde hoje se situa a agecircncia do Banrisul e teve como
primeiro presidente o Sr Antocircnio Mario Kroeff e o secretaacuterio Sr Joatildeo Parobeacute de
Lucena Sua nova sede foi inaugurada de acordo com Fonseca (2012 p 236) ldquono
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dia 11 de dezembro de 1965 e esta permanece no mesmo endereccedilo ateacute a
atualidade Situa-se na Rua Dr Frederico Tedesco nordm 1261rdquo
Atualmente este espaccedilo eacute usado para convenccedilotildees ou festas particulares
onde as pessoas locam o espaccedilo para realizarem seu evento Neste espaccedilo natildeo
mais ocorrem grandes eventos sociais como Fonseca (2012 p 232) descreve ldquoos
bailes mais elegantes e vistosos desta sociedade ocorrem aquirdquo Fonseca (2012 p
233) ainda complementa que ldquoa primeira Miss Sociedade Cruzeiro foi eleita em 1937
e a vencedora foi a jovem Zilah Teixeirardquo
A Sociedade Cruzeiro tambeacutem foi palco de bailes de carnaval O Jornal Folha
da Serra (1968 n 11 p 25) descreve ldquocomo sempre a Sociedade Cruzeiro ponteou
o nosso carnaval com blocos fantasiados magnificamente fazendo acrobacias ao
som de excelente muacutesica local onde os turistas afluiacuteramrdquo Contrapondo a este
tempo a moradora local Soares26 discorre de maneira saudosa ldquoque saudades do
carnaval hoje eacute bebedeira perdeu o encanto perdeu tudo Na rua o pessoal
gritando sem nenhuma infraestrutura nem os bailes na sociedade natildeo ocorrem
maisrdquo
O distrito Sede jaacute foi palco de inuacutemeros clubes sociais que ao longo do tempo
foram perdendo seu encanto e ateacute mesmo fechando-se para atividades sociais O
que permanece em pleno funcionamento eacute o Centro de Tradiccedilotildees Gauacutechas Rodeio
Serrano o que justifica uma cultura tradicionalista presente neste distrito Dentre as
atividades desenvolvidas por esta entidade estatildeo o Rodeio Interestadual com
atividades campeiras e artiacutesticas que ocorrem todos os anos no primeiro final de
semana de dezembro a manutenccedilatildeo das invernadas artiacutesticas em todas as
categorias mascote mirim juvenil e adulta
A organizaccedilatildeo da Ronda Crioula na Semana Farroupilha com a participaccedilatildeo
das escolas da Sede e do interior que trazem seus grupos de danccedilas bem como
organizam gincanas Outra atividade tambeacutem desenvolvida por esta entidade eacute a
Cavalgada de Prendas que ocorre durante a Semana Farroupilha desde 1992
sendo Satildeo Francisco de Paula pioneira nesta ideia onde somente mulheres
participam da cavalgada que culmina com o desfile na Avenida Juacutelio de Castilhos
Realiza-se tambeacutem o Baile da Prenda Jovem que eacute o baile de debutante gauacutecho
onde as prendas entre 13 e 15 anos satildeo apresentadas agrave sociedade Aleacutem disso nos
26 SOARES Luciana Olga Entrevista concedida agrave autora no dia 01 de marccedilo de 2018
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uacuteltimos anos a organizaccedilatildeo e apresentaccedilatildeo do Festival Ronco do Bugio que ocorre
em Satildeo Francisco de Paula faz parte da programaccedilatildeo desta entidade Este festival
apresenta exclusivamente o gecircnero musical bugio Haacute pelo menos duas hipoacuteteses
sobre a origem deste gecircnero musical
A primeira eacute de berccedilo serrano e teria mais fiel escudeiro o inesqueciacutevel acordeonista de Satildeo Francisco de Paula Honeyde Bertussi Siqueira Segundo ele o ritmo teria sido originaacuterio pelas matildeos do gaiteiro Vergiacutelio Leitatildeo que no jogo-de-foles e nos baixos de sua gaita de botatildeo teria imitado o ronco do bicho nos caponetes de cima da serra [] teria difundido pelas bodegas do Juaacute interior de Satildeo Chico (SOUZA 2003 p 15)
A segunda hipoacutetese eacute apresentada por Souza (2003 p 15) que apresenta a
versatildeo dada pelo povo de Satildeo Francisco de Assis que diz que ldquoa origem do ritmo e
oriunda desta localidade que por sinal realizava um festival nativista chamado
Querecircncia do Bugiordquo
Desconhece-se a verdadeira origem do gecircnero musical bugio mas Souza
(2003 p 23) afirma que ldquoJoatildeo Cincinato Terra muacutesico atuante sentiu a
necessidade de nosso municiacutepio acompanhar o movimento jaacute que neste periacuteodo se
expande por todo o estado do Rio Grande do Sul os festivais nativistasrdquo O
lanccedilamento do primeiro festival do Ronco do Bugio acontece em 1986 no CTG
Rodeio Serrano com a participaccedilatildeo de vaacuterios representantes da muacutesica nativista e
da comunidade serrana Seu lanccedilamento oficial ocorre em 16 de abril de 1986
O jornal Satildeo Chico Tchecirc (1986 n 11 p 6) noticiou que o primeiro Festival do
Ronco do Bugio contou com 98 muacutesicas escritas sendo 24 as selecionadas O
festival ocorreu entre os dias 13 e 15 de maio e Souza (2003 p 42) descreve que foi
apresentado ldquosob uma lona de circo estaqueada num gramado amador mas de
tantas gloacuterias futeboliacutesticas o campo do Clube Atleacutetico Serranordquo
A muacutesica vencedora do primeiro Ronco do Bugio foi ldquoLevanta Bugiordquo
defendida pelo cantor e compositor gauacutecho Leonardo Observando fotos percebe-se
que o Ronco do Bugio se deu em uma noite fria de inverno
O Festival Ronco do Bugio desde o seu iniacutecio premia melhor arranjo
conjunto instrumental instrumentista inteacuterprete e a muacutesica mais popular Fatima
Gimenez foi a melhor inteacuterprete do primeiro festival defendendo a muacutesica ldquoPinheiro
Gringordquo composiccedilatildeo de Erian Fogaccedila e Laerte Fortes Novamente a roupa dos
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muacutesicos reforccedila que na noite da entrega da premiaccedilatildeo fazia muito frio A cantora
tambeacutem se apresenta vestindo um chiripa coberto por um pala27
Na Figura 11 observamos a fotografia de Gonzaga dos Reis muacutesico local
sentado com sua gaita instrumento que lhe deu o precircmio de melhor instrumentista
do primeiro Ronco do Bugio Nesta oportunidade o cantor instrumentista e
compositor defendeu a muacutesica ldquoBugio da Minha Terrardquo
Figura 11 ndash Gonzaga dos Reis
Fonte Jornal Satildeo Chico Tchecirc n 4 p 8 (1986)
A composiccedilatildeo ldquoBugio Tiranordquo que foi defendida pelo conjunto Os Tiranos de
Satildeo Francisco de Paula ganhou o precircmio mais popular
Para o Jornal Satildeo Chico Tchecirc (1986 n 11 p 7) o Festival Ronco do Bugio eacute
ldquoum festival autecircntico e original que aconteceu com grande sucesso em Satildeo
Francisco de Paulardquo No encerramento deste grande evento Joatildeo Chagas Leite se
27 Chiripa e pala satildeo trajes tipicamente gauacutechos Sendo que o chiripa atualmente eacute uma veste de
preferecircncia feminina este fica enrolado na cintura e vai ateacute os joelhos ldquoEacute um pano inteiro passado entre as pernas primeiro de traacutes para frente e depois de frente para traacutes pode ser de latilde ou lisordquo (ABREU 2003 p 67) O pala eacute uma peccedila retangular com franjas nos quatro lados e listras no sentido do comprimento
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apresenta segundo o Jornal Satildeo Chico Tchecirc (1986 n 11 p 8) ldquocom composiccedilotildees
como Corda de Espinho Orelhano Pampa Campo e Querecircncia Coraccedilatildeo de
Estudante e Afiosrdquo
O Festival Ronco do Bugio perpassa o tempo segundo o site da Prefeitura
Municipal
O Festival Ronco do Bugio eacute um evento musical nativista que acontece anualmente na Cidade de Satildeo Francisco de Paula com o intuito de preservar e difundir o uacutenico ritmo originaacuterio do Rio Grande do Sul ou seja o lsquobugiorsquo compasso criado justamente no interior deste municiacutepio Tal criaccedilatildeo se deu a partir da criatividade dos gaiteiros serranos que buscaram imitar com seu instrumento musical o ronco do primata nos matos da serra A festividade agora em sua 26ordf ediccedilatildeo eacute genuiacutena pois eacute o uacutenico da Ameacuterica onde obrigatoriamente os participantes devem utilizar um ritmo somente isto eacute o citado lsquobugiorsquo embora a temaacutetica seja abrangente Por este motivo eacute chamado de lsquoO Festival Mais Autecircntico do Rio Grandersquo Aleacutem do forte enfoque cultural que envolve toda a comunidade musical do Estado o Festival tem seu apelo ecoloacutegico pois chama a atenccedilatildeo para a preservaccedilatildeo da espeacutecie hoje quase em extinccedilatildeo O Ronco do Bugio por sua importacircncia no cenaacuterio cultural rio-grandense criou uma identidade ao povo de Satildeo Francisco de Paula pois junto ao evento estaacute intriacutenseco e vem agrave tona o histoacuterico da criaccedilatildeo do municiacutepio caracterizado pela forte influecircncia dos antigos tropeiros desbravadores e povoadores desta parte do paiacutes (PREFEITURA MUNICIPAL DE SAtildeO FRANCISCO DE PAULA 2017)
No mesmo documento disponibilizado pela Prefeitura Municipal de Satildeo
Francisco de Paula observam-se algumas informaccedilotildees a respeito da realizaccedilatildeo do
festival no ano de 2017
Art 1ordm - O 26ordm Ronco do Bugio realizar-se-aacute no municiacutepio de Satildeo Francisco de Paula nos dias 01 e 02 de setembro de 2017 Art 2ordm - a festividade agora em sua 26ordf ediccedilatildeo eacute genuiacutena pois eacute a uacutenica na Ameacuterica Latina com promoccedilatildeo da Prefeitura Municipal de Satildeo Francisco de Paula e do CTG Rodeio Serrano com apoio de oacutergatildeos puacuteblicos e iniciativa privada Art 3ordm - Satildeo objetivos do 26ordm Ronco do Bugio a) valorizar a tradiccedilatildeo arte cultura e a autecircntica muacutesica regionalista
gauacutecha atraveacutes do seu ritmo mais original b) prestigiar autores compositores inteacuterpretes e conjuntos regionalistas e
incentivar o surgimento de novos valores c) divulgar a muacutesica regional gauacutecha d) valorizar a relevante posiccedilatildeo na formaccedilatildeo de usos e costumes
caracteres e valores espirituais e morais do gauacutecho e) promover e incentivar a cultura gauacutecha projetando Satildeo Francisco de
Paula na maneira mais autecircntica no cenaacuterio do turismo (PREFEITURA MUNICIPAL DE SAtildeO FRANCISCO DE PAULA 2017)
Como eacute possiacutevel observar no artigo 4ordm ldquoA organizaccedilatildeo do 26ordm Ronco do Bugio
ficaraacute a cargo da Comissatildeo Organizadora composta por membros da Prefeitura
Municipal e do CTG Rodeio Serranordquo (PREFEITURA MUNICIPAL DE SAtildeO
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FRANCISCO DE PAULA 2017) Devido agrave importacircncia identitaacuteria do festival para o
municiacutepio ao se chegar agrave cidade na deacutecada de 90 se encontrava o seguinte
outdoor
Figura 12 ndash Outdoor entrada da cidade na ERS-020
Fonte Souza (2003 p 17)
Assim como o tiacutetulo de ldquoCapital Mundial do Bugiordquo Satildeo Francisco de Paula ldquojaacute
obteve vaacuterios slogans dentre eles o de Satildeo Chico eacute terra boardquo (TEIXEIRA 2002 p
149-150)
Mesmo ocorrendo inferecircncias externas advindas com pessoas que trouxeram
consigo uma identidade diferente Soares28 em entrevista afirma ldquoSatildeo Chico eacute
identificada pela cultura tradicionalista gauacutecha a cuia em frente ao antigo preacutedio da
prefeitura demonstra o siacutembolo da hospitalidade de nosso povordquo A permanecircncia
ativa do CTG Rodeio Serrano na sede eacute outro indicativo forte da presente
identidade ligada as atividades do homem do campo Outro fato observado eacute a
constante praacutetica do laccedilo de vaca parada29 por jovens e crianccedilas nos paacutetios de suas
residecircncias bem como cavalarianos (homens mulheres jovens e crianccedilas) na
28 SOARES Luciana Olga Entrevista concedida agrave autora no dia 01 de marccedilo de 2018 29 Vaca parada uma espeacutecie de cavalete de madeira com aspectos de uma vaca usada por crianccedilas
que estatildeo iniciando neste esporte bem como usado como forma de entretenimento para jovens e adultos
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avenida principal cavalgando entre os carros Ainda se percebe o respeito entre
motoristas de automotivos bicicletas e os cavalarianos todos ocupando o mesmo
espaccedilo
42 DISTRITO DE CAZUZA FERREIRA
O distrito de Cazuza Ferreira foi criado em 07 de janeiro de 1903 estando
situado a 85 quilocircmetros da Sede Andrade comenta em entrevista30 ldquoateacute acho que
Cazuza se desenvolveu primeiro que Satildeo Chicordquo31 visto que a criaccedilatildeo do distrito
acontece dias depois da emancipaccedilatildeo enquanto a criaccedilatildeo da vila do distrito de
Cazuza Ferreira se desenvolve segundo a entrevistada
A parte da Histoacuteria que eu sei eacute que houve a chegada de um Sr Chico Mestre eacute como eles chamavam Esse Sr veio as casas eram distantes umas das outras e ele comeccedilou a fazer oraccedilatildeo nas casas e reunir as pessoas e fundou o cemiteacuterio Entatildeo o Joseacute Ferreira de Castilhos que era dono daqui naquela eacutepoca um dos moradores que tinha bastante terra doou a terra para fazer a vila aiacute o que aconteceu segundo as histoacuterias era para ser ali onde eacute a cancha de laccedilo hoje do outro lado da estrada soacute que o terreno natildeo era apropriado entatildeo houve uma permuta com o Sr que era dono deste terreno aqui era Bossle aqui era bem mais alto e mais plano Entatildeo se construiu a Igreja e iniciou o povoamento da vila32
A moradora Basso ainda acrescenta que ldquoa vila foi sempre mais ou menos o
que ela eacute hojerdquo Ao observar o local pode-se perceber uma grande praccedila ao centro
rodeada de casas de comeacutercio posto de combustiacutevel posto de sauacutede o hotel a
Igreja Matriz juntamente com o salatildeo paroquial e casas residecircncias cujo aspecto
impressiona por a grande maioria das casas apresentam uma arquitetura que
perpassa o tempo A Figura 13 apresenta uma imagem da praccedila central tirada das
escadarias da Igreja Matriz
30 ANDRADE Nauro Bossle de Entrevista concedida agrave autora no dia 04 de marccedilo de 2018 31 Primeiro que Satildeo Chico eacute um termo comum usado pelos moradores do interior do municiacutepio de
Satildeo Francisco de Paula que ao se referir a Sede do municiacutepio usam o termo Satildeo Chico ou Satildeo Francisco de Paula pois seus moradores natildeo costumam na atualidade dizer lsquovou a Sedersquo e sim lsquovou a Satildeo Chicorsquo como se eles natildeo morassem no municiacutepio
32 BASSO Ceacutelia Pacheco Terres Entrevista concedida agrave autora no dia 04 de agosto de 2018
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Figura 13 ndash Praccedila Central de Cazuza Ferreira
Fonte acervo pessoal da autora (2018)
Apesar de ter a preservaccedilatildeo arquitetocircnica a moradora Basso declara
O pai contava e outras pessoas contam que teve uma eacutepoca que tinha faacutebrica de tamanca33 jaacute teve faacutebrica de guaranaacute de queijo bastante coisa no sentido de selaria mas tudo foi se extinguindo as pessoas as famiacutelias natildeo deram continuidade e se sumiram natildeo existe mais nada disso mas estas faacutebricas natildeo davam renda ou seja trabalho para pessoas de fora pois elas eram administradas e cuidadas pelas famiacutelias Daiacute houve o periacuteodo das serrarias enquanto pode extrair madeira era o forte a vila movimentada enriqueceram alguns comerciantes locais o momento que extinguiu aquele trabalho eles foram embora e o povo daqui acomodou entatildeo hoje a vila tem bastante pessoas que foram embora trabalhar assim na juventude e hoje aposentados voltaram pois aqui para jovem natildeo tem sobrevivecircncia o uacutenico trabalho eacute na escola tem nove professores e uma funcionaacuteria em alguns funcionaacuterios da prefeitura acho que satildeo seis que cuidam do plantel de maacutequinas a enfermeira e o pessoal que cuida do posto do correio tambeacutem tem a ferraria mas ali eacute soacute os da proacutepria famiacutelia entatildeo o jovem acaba tendo que ir embora34
Os entrevistados Basso e Andrade relatam que apesar das adversidades o
povo de Cazuza Ferreira tem um amor pelas suas tradiccedilotildees mantendo vivos trecircs
aspectos que ambos consideram a marca identitaacuteria de seu povo e afirmam com
33 Tamanca calccedilado comum na regiatildeo solado de madeira com uma proteccedilatildeo sobre as pontas dos
dedos indo ateacute o peito do peacute em couro 34 BASSO Ceacutelia Pacheco Terres Entrevista concedida agrave autora no dia 04 de agosto de 2018
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convicccedilatildeo ldquofalar de Cazuza eacute cavalhada hotel e rodeiordquo enquanto Basso acrescenta
que ldquoas cavalhadas satildeo heranccedila dos portugueses e estatildeo espalhadiacutessimas ateacute
nacionalmente atraveacutes da miacutedia porque natildeo pesquisei mas ateacute onde sei no Rio
Grande do Sul soacute tem aquirdquo
Na comunidade ainda segundo Basso ldquoa apresentaccedilatildeo das cavalhadas se
iniciou por volta de 1890 e permanece ativa ateacute hoje no passado existiam trecircs
cavalhadas as dos brancos dos amarelos e dos negrosrdquo acrescentando ldquomas hoje
natildeo haacute mas essa diferenciaccedilatildeordquo Em poliacutegrafo organizado por uma moradora local a
mesma explica que a cavalhada ldquoeacute uma luta simulada em que haacute vinte e quatro
participantes sendo doze de cada equiperdquo35 por meio da evoluccedilatildeo equestre e
movimentos de espada lanccedila e garrucha representando a batalha entre mouros e
cristatildeos Segundo esta moradora ldquoa batalha sempre termina sendo vencida pelos
cristatildeos demonstrando a submissatildeo dos mouros e a supremacia da religiatildeo cristatilderdquo
Atualmente o grupo depende da boa vontade de seus participantes conforme
explica
Hoje se tornou caro eacute exame dos cavalos transporte depende do querer das pessoas da boa vontade e tem pessoas engajadas que natildeo largam a famiacutelia do Renau que ele eacute o presidente do grupo ele tem um amor tatildeo grande pelas cavalhadas porque ele jaacute recebeu do pai dele do teu avocirc e do seu Ivo Cardoso e a vida dele agraves vezes me desgosto de alguma coisa pois faccedilo a narrativa do que estaacute sendo apresentado mas daiacute eu penso natildeo posso abandonar (sorri) Eacute uma tradiccedilatildeo que natildeo pode morrer mas os filhos do Renau o Marcos e o Marcelo daratildeo continuidade faz parte da famiacutelia tu sabe eacute da mesma famiacutelia Eacute uma grande tradiccedilatildeo que natildeo pode desaparecer temos que continuar peleando36
As cavalhadas satildeo apresentadas na praccedila central sempre durantes as festas
religiosas que acontecem na comunidade sendo assim organizadas
No primeiro ou segundo final de semana de fevereiro tem a festa da Nossa Senhora do Belo Horizonte que eacute a padroeira daqui Agora devido agrave comissatildeo e o padre um ano tem a festa dos morenos e no outro tem a dos agricultores que eram chamados de amarelos antigamente cuja devoccedilatildeo se daacute agrave Nossa Senhora do Rosaacuterio e Nossa Senhora da Penha Antigamente cada um tinha seu espaccedilo social para realizar a festa atualmente soacute se manteve a tradiccedilatildeo de comemorar os santos este ano eacute festa dos morenos ela seraacute dia 13 e 14 de outubro Todas as festas
35 Sendo que doze cavaleiros que representam os cristatildeos vestem tuacutenicas de veludo azul escuro e
os doze cavaleiros mouros vestem tuacutenicas vermelhas Sobre os ombros da tuacutenica haacute uma capinha esta capinha traz enfeites prateados bordados com lantejoulas e bototildees dourados e franjas de seda branca Todos os participantes usam bombacha branca de brim botas campeiras pretas chapeacuteu de palha de aba larga virada para cima com laccedilo de fita e barbicacho de acordo com a cor da tuacutenica
36 BASSO Ceacutelia Pacheco Terres Entrevista concedida agrave autora no dia 04 de agosto de 2018
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religiosas ocorrem em dois dias saacutebado apresentaccedilatildeo das cavalhadas novena janta e baile no domingo tem a missa na Igreja Matriz logo apoacutes almoccedilo e reuniatildeo danccedilante Atualmente resgataram em dezembro a festa a Satildeo Cristoacutevatildeo sempre no primeiro final de semana de dezembro eacute uma missa com benccedilatildeo aos carros durante a procissatildeo e um almoccedilo ao meio-dia esta se daacute somente em um dia E tambeacutem temos de dois em dois anos a festa organizada pelo grupo das Cavalhadas esta ocorre em maio daiacute37
Os moradores explicam que a separaccedilatildeo racial desapareceu com o tempo
poreacutem se manteacutem a cultura de festejar todos os santos o que demonstra que o povo
de Cazuza eacute bastante devoto e cristatildeo E acrescenta em tempos idos que durante
as festas religiosas as pessoas se hospedavam no hotel segundo Basso que ldquoele
recebia tinha mercado junto teve ateacute cinema o pessoal gostava da comida da
Dona Vilma que era minha sogrardquo Este hotel eacute outro marco que identifica Cazuza
Ferreira poreacutem os moradores explicam que atualmente o Hotel do Campo manteacutem a
arquitetura mas funciona em uma modalidade diferenciada pois natildeo haacute como
sobreviver Entatildeo ele recebe hospeda sob reserva antecipada poreacutem natildeo serve
almoccedilo e janta as refeiccedilotildees satildeo feitas no Cantinho do Aconchego com quem
manteacutem uma parceria
Figura 14 ndash Hotel do Campo
Fonte acervo pessoal da autora (2018)
37 BASSO Ceacutelia Pacheco Terres Entrevista concedida agrave autora no dia 04 de agosto de 2018
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Nesta comunidade tambeacutem eacute muito forte segundo os entrevistados38 a
tradiccedilatildeo gauacutecha que adveacutem do homem do campo o amante dos rodeios que nos
finais de semana saem de suas propriedades e se deslocam a outras comunidades
para participar dos eventos campeiros como o tiro de laccedilo Tambeacutem explanam que
existe o CTG Adatildeo Castilhos que estaacute interditado jaacute faz quase seis anos desde
que comeccedilaram a ser exigidos os PPCIs A partir deste momento eles natildeo puderam
mais fazer eventos ali eles realizam os rodeios ou festas campeiras mas laacute dentro
natildeo conseguiram mais fazer nada e taacute difiacutecil vai muito dinheiro para cumprir todas
as exigecircncias Sendo que este espaccedilo na deacutecada de 80 do seacuteculo XX foi palco de
grandes rodeios com apresentaccedilotildees campeiras artiacutesticas e grandes bailes A
moradora explica39 ldquoA Claudiana esposa do Paulo Cesar atual presidente se
inscreveu no projeto Meu Galpatildeo de Cara Nova do Galpatildeo Crioulo da RBS TV
tomara que ela seja classificadardquo Este projeto ajuda na reconstruccedilatildeo dos CTGs pelo
Rio Grande do Sul
Ao pesquisar sobre Cazuza Ferreira percebe-se o quatildeo forte eacute o culto agraves
tradiccedilotildees e o esforccedilo de seus moradores para elas permaneccedilam para futuras
geraccedilotildees visto que o tempo passou e a tradiccedilatildeo local natildeo sofreu alteraccedilotildees
43 DISTRITO DE TAINHAS
O distrito de Tainhas foi criado em 18 de outubro de 1922 estando situado a
33 quilocircmetros da Sede Se desenvolveu no entroncamento de duas rodovias a RS-
020 e a RS-453 cujas rodovias cortavam a vila do distrito Com o advento da
construccedilatildeo da Rota do Sol importante rodovia que hoje que liga Caxias do Sul agraves
praias aleacutem da construccedilatildeo do asfalto da RS-020 que vai a Satildeo Francisco de Paula
tudo mudou O morador Fagundes relata em entrevista40 ldquoaqui era mais habitado
por criadores fazendeiros e agora depois que saiu essa Rota do Sol o movimento
cresceu muito neacute mais por fora da vila entatildeo natildeo trouxe benefiacutecio para noacutesrdquo
Percebe-se que moradores entendem a importacircncia da construccedilatildeo das
rodovias poreacutem as mesmas natildeo trouxeram benefiacutecios econocircmicos para os
moradores locais
38 ANDRADE Nauro Bossle de BASSO Ceacutelia Pacheco Terres Entrevistas concedidas agrave autora no
dia 04 de agosto de 2018 39 BASSO Ceacutelia Pacheco Terres Entrevista concedida agrave autora dia 04 de agosto de 2018 40 FAGUNDES Darci da Silva Entrevista concedida agrave autora no dia 24 de fevereiro de 2018
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Ainda conforme o morador Fagundes41 ldquoo iniacutecio da vila se deu devido agrave
necessidade de parada dos caminhoneiros que transportavam madeira como era
tudo estrada de chatildeo Tainhas ficava em local centralizado se construiu um hotel
que era do seu Pedro Pinhatildeo e da Dona Luisardquo A partir de entatildeo comeccedilou a
construccedilatildeo de casas e se formou a vila onde antes eram terras dos Pinto os
primeiros moradores de Tainhas tanto que o morador ressalta na entrevista42 ldquoo
nome da escola eacute Oliacutempio Soares Pinto que era o proprietaacuterio dessa terra e uma
das professoras mais antigas era Guilherma Pintordquo
Tainhas estaacute rodeada por campos matos de pinnus ilhote e lavouras
atualmente e explica
Hoje aqui eacute pinus e granjeiro plantando batata soja milho e a maioria veio de fora os moradores antigos desapareceram arrendaram ou venderam suas terras para esse pessoal que veio de Ibiraiara e de Maquineacute Itati Trecircs Forquilhas43
Percebe-se que a criaccedilatildeo de gado ou seja a pecuaacuteria extensiva deu lugar a
outras culturas com a chegada de novas pessoas ao distrito Mas segundo os
moradores o culto ao tradicionalismo gauacutecho permanece visto que no distrito
existe
O parque de rodeios do Rodeio Crioulo eacute o mais antigo que noacutes temos aqui natildeo sei se natildeo o primeiro piquete registrado de Satildeo Chico tem uns sessenta anos a nossa tradiccedilatildeo eacute o laccedilo O nosso rodeio acontece sempre no iniacutecio de janeiro hoje eu natildeo laccedilo mais mas o meu neto continua a minha tradiccedilatildeo A escola daqui faz a semana farroupilha com ronda eacute tudo muito lindo e assim se mantem a cultura44
A imagem apresentada na Figura 15 reforccedila a fala e a importacircncia do Piquete
de Laccediladores Rodeio Crioulo que atualmente mesmo estando nas terras de Satildeo
Francisco de Paula divisa com o municiacutepio de Cambaraacute do Sul por opccedilatildeo essa
entidade tradicionalista pertence ao entatildeo municiacutepio de Cambaraacute do Sul Poreacutem sua
fundaccedilatildeo acontece em 20 de janeiro de 1961 quando o entatildeo hoje municiacutepio de
Cambaraacute do Sul ainda era distrito de Satildeo Francisco de Paula
41 FAGUNDES Darci da Silva Entrevista concedida agrave autora no dia 24 de fevereiro de 2018 42 FAGUNDES Darci da Silva Entrevista concedida agrave autora no dia 24 de fevereiro de 2018 43 FAGUNDES Darci da Silva Entrevista concedida agrave autora no dia 24 de fevereiro de 2018 44 FAGUNDES Darci da Silva Entrevista concedida agrave autora no dia 24 de fevereiro de 2018
57
Figura 15 ndash Flacircmula de comemoraccedilatildeo aos 50 anos da entidade
Fonte acervo pessoal da autora (2018)
Outro evento importante no distrito eacute realizado pela Escola Estadual de
Ensino Fundamental Oliacutempio Soares Pinto que satildeo atividades ligadas as tradiccedilotildees
gauacutechas na Semana Farroupilha como cavalgadas e gincanas com a participaccedilatildeo
de toda comunidade nesta semana principalmente a comunidade de Tainhas
ldquorespira tradicionalismordquo
O distrito de Tainhas atualmente conta com um posto de sauacutede e o correio
satildeo os serviccedilos puacuteblicos que funcionam no distrito visto que o cartoacuterio fechou O
entrevistado Fagundes relata45 ldquoeu era o juiz de paz desse Cartoacuterio minha funccedilatildeo
era julgar os casamentos mas daiacute fechou hoje o pessoal tem que ir a Satildeo Chicordquo O
morador ainda acrescenta ldquoateacute a rodoviaacuteria fechou os ocircnibus passam aqui Satildeo
Marcos que vem de Caxias e vatildeo a Torres desce de manhatilde e sobe de tarde Citral
de Satildeo Chico a Ouro Verde e agora Transneves da Pedra Lisa para Satildeo Chicordquo
Com uma certa tristeza relata46 ldquoaqui em Tainhas soacute tem o Cafeacute Tainhas do
Mauro eacute o brilho de Tainhas seraacute ponto histoacuterico daqui um tempo todo mundo fala
bem do Cafeacute Tainhasrdquo
Notoriamente a chegada do asfalto modificou a vida das pessoas neste
distrito visto que que os campos foram em boa parte transformados em lavoura se
45 FAGUNDES Darci da Silva Entrevista concedida agrave autora no dia 24 de fevereiro de 2018 46 FAGUNDES Darci da Silva Entrevista concedida agrave autora no dia 24 de fevereiro de 2018
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percebe uma vila pacata jaacute que todo o movimento foi desviado por fora da vila e a
mesma natildeo proporciona lazer para as pessoas que ao terminarem o ensino
fundamental para continuar seus estudos precisam fazer uso do transporte escolar
e se deslocar ateacute a Sede ou ir ao municiacutepio de Cambaraacute do Sul
44 DISTRITO DE ELETRA
O distrito de Eletra foi criado em 31 de dezembro de 1932 estando situado a
19 quilocircmetros da Sede do municiacutepio Poreacutem a populaccedilatildeo local chama de Salto e
seu nome vem das barragens do Salto Blang e Divisa construiacutedas sobre o Rio do
Salto que atravessa o distrito Segundo a moradora local47 Soares ldquoas barragens
que fornecem aacutegua para as usinas no municiacutepio de Satildeo Francisco de Paula e nos
municiacutepios vizinhos de Canela Gramado e Cambaraacute do Sulrdquo A Figura 16 apresenta
uma imagem da Barragem do Salto barragem esta que se situa proacutexima da vila do
distrito
Figura 16 ndash Barragem do Salto
Fonte acervo pessoal da autora (2018)
Ao observarmos a Figura 16 percebe-se que o acesso da vila para o interior
do distrito acontece por uma ponte de concreto estreita com piso bastante irregular
47 SOARES Susana Marques Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018
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e que em periacuteodos de fortes chuvas o acesso fica interrompido devido agrave altura
Poreacutem ao lado direito percebe-se uma estrutura pequena que segundo o morador
Gomes
Foi uma tentativa de uma empresa japonese construir uma ponte soacute que quando estavam construindo deu uma enchente e levou tudo a aacutegua abaixo a empresa foi embora e nunca mais voltou Jaacute foram feitos estudos que a ponte tem que ser construiacuteda mais para baixo e em forma de arco se natildeo a chuva leva de novo poreacutem natildeo acredito que saia algum dia48
Entende-se que a construccedilatildeo desta nova ponte melhoraria o acesso dos
proprietaacuterios rurais que para saiacuterem de suas propriedades em eacutepocas de chuva
intensa necessitam fazer um longo caminho por estradas de chatildeo batido para terem
acesso ao municiacutepio de Canela bem como a Sede de Satildeo Francisco de Paula
Contudo a moradora explica que a vila do distrito se forma muito antes da
construccedilatildeo da barragem
Em 1915 era uma fazenda chamada Fazenda do Salto e esta pertencia a Francisco Soares de Oliveira Neste local havia sua casa de moradia um galpatildeo e mangueiras onde realizava as suas atividades poreacutem em 1916 o Chico resolveu transferir a casa da Fazendo do Cerro para o Salto tambeacutem sendo construiacuteda aiacute a segunda casa a partir de entatildeo se iniciou o povoado com a construccedilatildeo de novas residecircncias para seus empregados e posteriormente se instalou uma serraria dos irmatildeos Delavechia esta sendo movida a aacutegua dando definitivamente o iniacutecio do povoamento da vila49
Ao analisar a fala da moradora local se percebe que onde hoje se encontra a
vila do distrito de Eletra jaacute foi uma fazenda identificando-se com a mesma formaccedilatildeo
do distrito Sede que tambeacutem surge de terras doadas por um fazendeiro Segundo a
entrevistada Soares50 ldquoa sua casa eacute uma das mais antigas tem 102 anos foi
construiacuteda de pinheiro serrada aqui mesmo na serrariardquo pode-se observar o oacutetimo
estado de conversaccedilatildeo da casa que traz traccedilos arquitetocircnicos europeus na sua
construccedilatildeo natildeo se tem imagem da casa visto que a entrevistada natildeo permitiu
nenhuma imagem de sua residecircncia
Outro fator importante do povoamento da vila segundo o morador local
Gomes51 ldquofoi o iniacutecio da construccedilatildeo da Barragem do Salto no ano de 1925rdquo onde
48 GOMES Jaures Feijoacute Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018 49 SOARES Susana Marques Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018 50 SOARES Susana Marques Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018 51 GOMES Jaures Feijoacute Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018
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vieram muitos funcionaacuterios de vaacuterios lugares tendo como mestre da obra segundo
os moradores locais52 o ldquoAcircngelo Goubertrdquo
Devido agrave necessidade que se formou no distrito neste periacuteodo se abriu um
hotel farmaacutecia cartoacuterio rodoviaacuteria e cinema a moradora local Soares saudosa
diz53 ldquotudo fechou aqui natildeo tem mais nadardquo referindo-se a atual situaccedilatildeo que a vila
se encontra
Os moradores ainda declaram sobre o distrito54 ldquoestaacute abandonado pelo poder
puacuteblico ateacute o calccedilamento das ruas foi arrancadordquo poreacutem outrora foi um local de
muita alegria
A vida era uma festa permanente o tio Chico era casado com a tia Lisoca ela foi para Porto Alegre para os filhos estudar quando vinham nas feacuterias traziam os amigos O tio Chico pagava um gaiteiro por mecircs para ele toca toda noite entatildeo era aquele divertimento55
Atualmente na vila existe a Escola Estadual de Ensino Fundamental Cristino
Ramos com menos de cem alunos e a festa cristatilde cuja celebraccedilatildeo ocorre em
fevereiro sendo Santo Antocircnio o padroeiro local A moradora explica sobre a
construccedilatildeo da capela
A primeira capela a tempestade derrubou em 1957 se construiu outra O santo padroeiro eacute Santo Antocircnio a imagem foi trazida por quarenta cavaleiros Daiacute o padre pediu para que a imagem de Nossa Senhora Catarina tambeacutem fosse acolhida hoje temos dois padroeiros mas para mim Santo Antocircnio eacute o principal56
Percebe-se na fala dos moradores a sua devoccedilatildeo e sua preocupaccedilatildeo com o
futuro da vila visto que ateacute a questatildeo do cemiteacuterio jaacute foi palco de discussatildeo pois o
cemiteacuterio da vila iniciou pela famiacutelia dos Soares sendo este particular Poreacutem a
moradora explica com certa indignaccedilatildeo
O cemiteacuterio era particular da famiacutelia Soares teve um tempo que resolveram abrir veio gente ateacute de Passo Fundo ser enterrada aqui natildeo pediam para ningueacutem tomaram conta Daiacute organizamos uma comissatildeo responsaacutevel decidimos que tinha que ter uma contribuiccedilatildeo e natildeo podia trazer gente de fora para enterrar soacute gente daqui Ningueacutem pagou Aiacute mandei fazer cerca nova a parte dos Soares sempre limpei mas [] hoje acabo limpando tudo
52 GOMES Jaures Feijoacute SOARES Susana Marques Entrevistas concedidas agrave autora no dia 15 de
fevereiro de 2018 53 SOARES Susana Marques Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018 54 GOMES Jaures Feijoacute SOARES Susana Marques Entrevistas concedidas agrave autora no dia 15 de
fevereiro de 2018 55 SOARES Susana Marques Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018 56 SOARES Susana Marques Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018
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porque ningueacutem limpa Enquanto eu for viva vou fazer depois vatildeo entregar para a prefeitura igreja natildeo sei57
A Figura 17 apresenta uma foto da igreja atual tendo em sua lateral direita a
capela mortuaacuteria e ao fundo o Salatildeo Paroquial da comunidade onde ocorre a festa
do Santo Padroeiro
Figura 17 ndash Igreja Santo Antocircnio ndash Distrito de Eletra
Fonte acervo pessoal da autora (2018)
Ao conversar com os moradores locais pode-se observar a feacute cristatilde poreacutem
ambos relatam que a festa de fevereiro atualmente eacute pouco divulgada motivo pelo
qual acreditam que natildeo haja um nuacutemero expressivo de pessoas Ambos sentem um
apreccedilo pelo local onde nasceram e vivem poreacutem ambos relatam
Aqui eacute lugar de dormir as pessoas trabalham em Canela e vem dormir aqui a grande maioria natildeo eacute daqui vieram de fora haacute muitas casas de veraneio tudo gente de Porto Alegre que vem passar feacuterias natildeo rende nada para aqui o que precisam trazem tudo de fora A maioria de quem mora aqui soacute dorme passa o dia fora O ocircnibus das 7 horas sai lotado a gente natildeo conhece mais ningueacutem daqui mesmo soacute noacutes Susana e eu58
Mesmo a vila sendo um local de parada estaacute rodeada de lindos campos e
fazendas cuja a atividade principal eacute a pecuaacuteria extensiva natildeo proporciona
57 SOARES Susana Marques Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018 58 GOMES Jaures Feijoacute Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018
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trabalho no local motivo pelo qual seus moradores buscam sua subsistecircncia em
outro municiacutepio poreacutem possui uma exuberante natureza relata cheia de esperanccedila
a moradora local59 ldquoeu tenho esperanccedila que algueacutem olhe para caacute e veja as belezas
que tem aqui que o lugar volte a se desenvolverrdquo desenvolvimento este que
poderia vir atraveacutes da exploraccedilatildeo do turismo rural ldquoSe vocecirc quiser comer alguma
coisa agora natildeo vai encontrar nada aqui soacute tem lsquobutecorsquo60 mas eles natildeo vendem
nada nem sanduiacuteche pastel eacute uma vergonhardquo fala indignado o morador Gomes61
A populaccedilatildeo que vive nas fazendas aleacutem de ter as lides campeiras no seu
dia-a-dia nos finais de semana segundo o morador Gomes62 ldquolaccedila em torneio vai
nos rodeiosrdquo o que marca a presenccedila do tradicionalismo gauacutecho em uma parte da
populaccedilatildeo do distrito poreacutem com relaccedilatildeo aos moradores da vila natildeo haacute algo que
os identifique visto a miscigenaccedilatildeo que ocorreu e por haver muitas casas de
veraneio no local
45 DISTRITO DO JUAacute
O distrito do Juaacute foi criado em 10 de maio de 1950 e fica distante 65
quilocircmetros da Sede O distrito recebe esse nome devido a um espinho que havia
em abundacircncia no local nome este dado por tropeiros
Os accedilorianos que vinham de Santo Antocircnio da Patrulha e iam para Vacaria com cargueiros eles vinham fazer repouso laacute em cima no reduto e ali tinha muita frutinha do juaacute entatildeo os tropeiros saiam de Santo Antocircnio e diziam vamos posa laacute nos juaacute daiacute o nome do lugar que permanece ateacute hoje63
Juaacute eacute o nome dado a um espinho muito comum na regiatildeo dos campos de
cima da serra que daacute uma fruta amarela em formato redondo que segundo os
moradores locais eacute uma fruta venenosa conforme se observa na Figura 18
59 SOARES Susana Marques Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018 60 Buteco pequeno comeacutercio que normalmente vende bebidas alcooacutelicas e possui mesa de sinuca 61 GOMES Jaures Feijoacute Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018 62 GOMES Jaures Feijoacute Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018 63 REIS Orides Entrevista concedida agrave autora no dia 12 de maio de 2018
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Figura 18 ndash Peacute com a fruta conhecido como Juaacute
Fonte acervo de Clessandra Palhano (moradora local) (2018)
O reduto citado pelo morador local ficava em uma fazenda local onde hoje se
encontra a vila do distrito conforme o entrevistado Reis explica
O primeiro morador eu natildeo lembro soacute sei que o Juaacute era de pouca gente famiacutelia Pedroso e Castilhos daiacute foram morrendo inventariando e vendendo e aos poucos se formou a vila importante o dono de tudo isso aiacute tinha dois escravos no iniacutecio teve escravidatildeo claro na eacutepoca de mil oitocentos e pouco eu acho mas teve E hoje deve ter descendente destes escravos por aiacute64
Escravidatildeo que vai dar origem ao preconceito racial e a um modelo particular
da localidade que sem precisar data explica o morador
Aqui tinha dois salatildeo trecircs com o da Igreja mas era dois salatildeo social Era um clube de brancos que era dos ricos neacute fazendeiros o Salatildeo Vera Cruz e depois fundaram o Satildeo Valentim que era dos morenos que na eacutepoca ateacute eu fui presidente Cada um no seu salatildeo agora quando dava a festa cristatilde em homenagem ao Satildeo Joatildeo de Deus todo o povo reunia-se quando chegava de noite no saacutebado no baile entatildeo cada um ia pro seu salatildeo A muacutesica ficava no salatildeo dos brancos daiacute colocava umas caixas de som laacute pros morenos com um fio pra eles danccedila Um natildeo podia entra no baile do outro tinha o presidente para cuida Cada um no seu tudo se respeitava e obedecia aquela ordem65
Ainda acrescenta a moradora local Santos
64 REIS Orides Entrevista concedida agrave autora no dia 12 de maio de 2018 65 REIS Orides Entrevista concedida agrave autora no dia 12 de maio de 2018
64
O nosso eu natildeo me lembro o nome tem tanto papel mas natildeo sei onde estaacute o nosso dos pretos neacute ningueacutem implicava eles natildeo deixavam noacutes entra no salatildeo Vera Cruz eu entrava de cozinheira empregada porque ali era lugar dos ricaccedilos eles podiam se associar mas o nosso tambeacutem enchia mas eles iam no nosso baile de nego soacute olhavam As festas duravam dias Tinha aquele foguetoacuterio era tatildeo bonito66
Percebe-se na fala dos moradores como esta divisatildeo racial se fazia presente
que havia por parte dos negros um profundo respeito pelos brancos mesmo eles
tendo acesso ao salatildeo Vera Cruz somente para servi-los em nenhum momento se
percebeu que eles se sentissem diminuiacutedos pela situaccedilatildeo ateacute pela cultura que
advinha desde os primeiros moradores locais
Esta divisatildeo social permanece por longo tempo e somente vai desaparecer
nos anos 80 do seacuteculo XX com a contribuiccedilatildeo do Frei Abiacutelio que veio da Vacaria
durante Missotildees convocadas pelo paacuteroco local padre Afonso que conseguiu
modificar esta organizaccedilatildeo implantando a ideia de igualdade e ignorando tudo
aquilo a partir de entatildeo os negros comeccedilaram a frequentar a sociedade Vera Cruz
contribuiccedilatildeo dos entrevistados67 que ao abordar o assunto demonstraram repulsa
pelo passado mas ao mesmo tempo reconhecem que o racismo ainda eacute presente
na comunidade poreacutem devido agraves leis existe um cuidado maior
Atualmente negros e brancos convivem em harmonia participam da festa
cristatilde cujo padroeiro eacute Satildeo Joatildeo de Deus e dos torneios de laccedilo mas geralmente
quem laccedila satildeo os fazendeiros Saudoso o morador68 afirma que ldquouma vez tinha as
carreradas tinha trecircs canchas passava o domingo nas canchas brincando nas
corridas de cavalos tudo terminourdquo Acrescenta69 ainda que ldquoem 70 80 tinha o
futebol o campo era na baixada acho que tem ainda trofeacuteu ai mas daiacute a gurizada
foi embora para a cidade terminou o timerdquo
A vila se construiu de maneira simples tendo a Igreja Catoacutelica com o Salatildeo
Paroquial agrave direita o antigo Centro de Tradiccedilotildees Gauacutechas Laccedilo Velho do Juaacute onde
resta apenas o preacutedio de madeira corroiacuteda pelo tempo ao fundo a cancha de laccedilo
do Piquete de Laccediladores Velho do Juaacute entidade tradicionalista que se manteacutem ativa
desde o iniacutecio da deacutecada de 1960 ao redor haacute casas de moradias que formam ao
centro uma grande praccedila sem nenhuma infraestrutura em frente a esta praccedila
66 SANTOS Deotildes Palhano dos Entrevista concedida agrave autora no dia 12 de maio de 2018 67 REIS Orides SANTOS Deotildes Palhano Entrevistas concedida agrave autora no dia 12 de maio de
2018 68 REIS Orides Entrevista concedida agrave autora no dia 12 de maio de 2018 69 REIS Orides Entrevista concedida agrave autora no dia 12 de maio de 2018
65
perpassa uma rua de chatildeo batido sendo que a escola da comunidade fica do outro
lado a escola eacute municipal se chama Bento Eziacutedio Rodrigues atende
aproximadamente vinte alunos que estatildeo matriculados nas seacuteries iniciais do ensino
fundamental tendo duas professoras e um funcionaacuterio para fazer merenda e limpar
o paacutetio como se pode observar na Figura 19
Figura 19 ndash Praccedila Vila do Distrito Juaacute ao fundo cancha de laccedilo
Fonte acervo pessoal da autora (2018)
Ambos os entrevistados70 explicam que o Juaacute atualmente eacute um lugar de
idosos aposentados que outrora as pessoas viviam das roccedilas e da pecuaacuteria
extensiva na deacutecada de 1980 com o advento da induacutestria em Caxias do Sul os
jovens abandonaram seu modo de vida e foram buscar novas oportunidades poreacutem
estes jovens que foram embora retornam com frequecircncia natildeo perdendo a sua
essecircncia Relataram que a uacutenica fonte de trabalho eacute ser peatildeo de fazenda fazendas
estas que produzem o queijo serrano ou vendem leite para a Piaacute71 sendo que a
lavoura eacute para subsistecircncia Outra fonte de renda eacute ser funcionaacuterio da serraria cujo
proprietaacuterio e Joatildeo Egiacutedio que funciona proacuteximo da vila Outro fator importante eacute a
venda de pequenas chaacutecaras para moradores de Caxias do Sul que vem aos finais
70 REIS Orides SANTOS Deotildes Palhano Entrevistas concedidas agrave autora no dia 12 de maio de
2018 71 Piaacute Cooperativa Agropecuaacuteria Petroacutepolis Ltda Empresa que faz a coleta do leite nas fazendas da
regiatildeo
66
de semana descansar na localidade poreacutem se percebe que estes novos moradores
muitas vezes natildeo interagem com os moradores locais
Segundo o morador Reis72 ldquoapesar da vinda de pessoas de outros lugares o
Juaacute natildeo perdeu sua identidade fala em Juaacute lembra pinhatildeo colheita do pinhatildeo ateacute
haacute uma criacutetica que diz na eacutepoca do pinhatildeo o juazeiro fala grossordquo Ditado que o
entrevistado73 reafirma sorrindo ldquona eacutepoca do pinhatildeo o juazeiro fala grosso claro
que eacute apenas um dito popular uma maneira de se referir mas sempre eacute dito haacute
aqueles que natildeo gostamrdquo
Nota-se que a vida na comunidade do Juaacute se passa de forma tranquila com
poucos moradores que sua identidade estaacute relacionada agrave pecuaacuteria extensiva com
as lides com o gado bem como ao pinhatildeo uma fruta tiacutepica que se desenvolve na
Araucaacuteria ou pinheiro nativo como eacute conhecido na regiatildeo O pinhatildeo seja ele
assado cozido ou paccediloca74 eacute muito consumido pelos moradores do interior de Satildeo
Francisco de Paula durante o inverno inclusive como mistura do cafeacute da manhatilde
46 DISTRITO DO RINCAtildeO DOS KROEFF
O distrito de Rincatildeo dos Kroeff foi criado em 10 de maio de 1950 Fica a 35
quilocircmetros distante da Sede poreacutem muito antes de se institucionalizar oficialmente
este espaccedilo moradores locais contam como tudo se iniciou
Meu avocirc foi um dos primeiros a vim para caacute ele se chamava Guilherme Faciole ele nasceu no navio vindo da Itaacutelia Ele contava que teve uma desavenccedila em Caxias e fincou o peacute pra caacute pra natildeo acharem ele que aqui era soacute mato e na revoluccedilatildeo de 35 ele fugia de casa para natildeo ser levado pelas tropas os piquetes levavam para combater entatildeo ele sempre dizia que pousou vaacuterias noites embaixo dos peraus da serra do Umbu para natildeo ser levado O falecido vovocirc vivia da caccedila do porco do mato tateti ele fazia charque de porco para ter a carne ele viveu 106 anos e dizia se natildeo tivesse fumado viveria mais uns dez isso faz parte da histoacuteria do Rincatildeo dos Kroeff Junto teve o falecido Acircngelo Menegaacutes que entro aqui na mesma eacutepoca Eles satildeo os fundadores do distrito75
O acesso ao distrito Rincatildeo dos Kroeff permanece totalmente pela estrada de
chatildeo batido sendo possiacutevel ir ao municiacutepio de Maquineacute descendo pela serra do
Umbu Poreacutem muito antes da estrada a busca de mantimentos e o escoamento da
72 REIS Orides Entrevista concedida agrave autora no dia 12 de maio de 2018 73 REIS Orides Entrevista concedida agrave autora no dia 12 de maio de 2018 74 Paccediloca carne de porco moiacuteda e frita no azeite ou banha a qual se acrescenta o pinhatildeo jaacute cozido
e moiacutedo 75 FACIOLE Reinaldo Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de marccedilo de 2018
67
produccedilatildeo se dava pelos carreiros visto que natildeo havia abertura de estrada e nem
viatura76 como os moradores relatam
Tudo era na tropeada as tropas que ia para Rolante Na tropeada saia um tropeiro na frente e um recircs com um cincerro que era a madrinheira da tropa saia laacute pelo Chuvisqueiro e saia laacute em Rolante perdia boi na estrada ficava semanas boi perdido agraves vezes nem se achava mais tambeacutem tinha tropa de porco e tinha as tropeadas de mula puxando milho feijatildeo trigo tudo produzido aqui e levado de cargueiro carreta era muito pouco porque natildeo tinha estrada para anda era soacute os trilhos pelo meio dos matos e campos e se produzia milho era o inverno inteiro saia tropas e mais tropas com trinta quarenta mulas burros transportando mantimentos da produccedilatildeo do gratildeo haacute tambeacutem tinha a flor de Pireto que era lucro ningueacutem conhece isso aiacute hoje essa flor era levada para Taquara e fazia veneno para formiga tudo que era tipo de veneno era uma flor muito toacutexica Acredita tropear galinha pois eacute a gente criava bastante saia com os cargueiros como era a vida eles faziam um girau no cesto naqueles balaios para fazer duas camas uma mais em cima e outra em baixo daiacute quando era veratildeo era muito quente tinha que no meio da viagem tirar de dentro do cesto botar na aacutegua na sanga para natildeo morrer ateacute chegar no mercado dali para praia a eacutepoca que mais vendia era novembro e dezembro daiacute tinha preccedilo bom tudo criada solta aviaacuterio nem se falava77
Ao ouvir os moradores se percebe que a construccedilatildeo do distrito aconteceu
devido ao esforccedilo e trabalho de muitas pessoas visto que o local era de mata nativa
densa e precisou ser desmatado para ser ocupado pelas pessoas Explica o
entrevistado Faciole78 ldquopara fazer uma lavoura tambeacutem precisava derrubar o
pinheiro seu Onorino Buffon me contou que faziam fogo ao redor do pinheiro eles
eram muito grosso para derrubar a machado entatildeo faziam fogo secavam para
depois fazer a roccedilardquo E a moradora79 local acrescenta ldquoaqui tambeacutem tinha os
barbacuazeiros produziam erva mais aqui eles soacute tiravam a erva e sapecavam e
depois ia para outro lugar industrializa tudo era diferenterdquo
Poreacutem segundo os moradores este modelo de vida rudimentar se modifica
com a chegada das serrarias sendo que a dos Kroeff foi a primeira juntamente com
a serraria se viu a necessidade da construccedilatildeo de novas casas para os
trabalhadores surgindo ali a vila do distrito Rincatildeo dos Kroeff no iniacutecio a serraria era
tudo manual relata Faciole80 ldquoa uacutenica forma de tira a madeira era com um enfieira
76 Viatura se refere a carro de passeio caminhotildees 77 FACIOLE Reinaldo FACIOLE Maria Madalena Scalco Entrevistas concedidas agrave autora no dia 18
de marccedilo de 2018 78 FACIOLE Reinaldo Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de marccedilo de 2018 79 FACIOLE Maria Madalena Scalco Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de marccedilo de 2018 80 FACIOLE Reinaldo Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de marccedilo de 2018
68
de boi eu cheguei a ver cinco ternos de boi carreiro81 emendado puxando um
pinheiro eacute uma bicheira de boi natildeo tinha outra formardquo
Rincatildeo dos Kroeff eacute o menor distrito de Satildeo Francisco de Paula poreacutem em
suas terras se desenvolveu a cultura dos hortifrutigranjeiros desde muito cedo jaacute
que sua colonizaccedilatildeo eacute basicamente italiana e alematilde e os italianos tecircm a cultura do
plantio visando lucro A moradora Faciole82 afirma ldquotudo comeccedilou por aqui depois
se expandiu para o municiacutepio comeccedilamos com moranga branca depois repolho
couve broacutecolis alface e daiacute veio beterraba e tudo o restordquo Acrescenta ainda83 que
ldquodaqui saiacuteram os primeiros caminhotildees de hortifruacuteti do municiacutepio para a Ceasa teve
eacutepoca de sair quarenta caminhotildees por dia do Rincatildeo hoje natildeo sai mais porque
muitos foram buscar novos lugares para plantarrdquo E juntamente com a mudanccedila dos
proprietaacuterios em busca de novas terras muitos de seus funcionaacuterios foram embora
junto afirma em entrevista o morador local84 ldquomuita gente do Rincatildeo foi embora
muitas gurias foram embora para estudar para achar emprego e natildeo voltaram maisrdquo
Atraveacutes da fala da moradora pode-se observar que apesar do distrito ser
produtivo enfrenta algumas dificuldades com relaccedilatildeo ao estudo de seus moradores
que para continuarem seus estudos se assim o desejarem necessitam abandonar
seus pais e ir em busca na Sede ou arredores visto que no distrito existe uma uacutenica
escola Gastatilde Henth Esta eacute municipal e atende dos quatro anos ao nono ano do
ensino fundamental A moradora Faciole explica
O coleacutegio hoje tem 99 alunos ao total quando eles terminam o nono ano alguns vatildeo estudar mas satildeo pouquiacutessimos os outros ficam por aiacute mesmo natildeo tem um transporte que leve eles para fazer o ensino meacutedio na Sede que seria a escola de ensino meacutedio mais proacuteximo se quiser estudar vai ter que ir embora reforccedila quem e trabalhador fica trabalhando com os pais quem natildeo eacute [] As pessoas na sua grande maioria soacute tem o ensino fundamental aqui85
Este eacute um dos grandes problemas enfrentados pelos moradores do Rincatildeo
dos Kroeff a possibilidade de continuar estudando A escola que laacute existe os
moradores locais natildeo sabem precisar a data mas sabem que foi durante o mandato
81 Ternos de boi carreiro significam vaacuterias duplas de bois cangados e ligados por um pedaccedilo de
madeira que vatildeo na canga entre a dupla de bois Esse pau roliccedilo na regiatildeo se chama de cambatildeo 82 FACIOLE Maria Madalena Scalco Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de marccedilo de 2018 83 FACIOLE Maria Madalena Scalco Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de marccedilo de 2018 84 FACIOLE Reinaldo Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de marccedilo de 2018 85 FACIOLE Maria Madalena Scalco Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de maio de 2018
69
do prefeito Escobar (1977-1982) que ela foi construiacuteda Neste contexto aparece
tambeacutem a dificuldade de se locomover fazendo uso do transporte puacuteblico
Haacute sete anos atraacutes o Rincatildeo estava bom mesmo tinha ocircnibus da praia agraves vezes passava quatro a cinco ocircnibus da praia tudo pela serra do Umbu Agora soacute tem um trecircs dias por semana As empresas deixaram de trafegar por aqui elas natildeo vatildeo descer numa serra de chatildeo batido sendo que tem a outra86 com asfalto87
Os moradores se orgulham da festa religiosa que acontece todos os anos em
agosto sendo que o santo padroeiro eacute Satildeo Roque A festa da comunidade
apresenta uma tradiccedilatildeo local muito interessante na segunda-feira apoacutes a festa ela
continua para os moradores locais que vatildeo ao salatildeo paroquial para se divertir entre
si e esta eacute uma tradiccedilatildeo que eacute comentada em todo o municiacutepio Faciole88 saudoso
afirma ldquopara ti ter uma ideia nessa festa chegava dar vinte poucos ocircnibus lotado que
vinham de outros municiacutepios como Igrejinha Taquara Porto Alegre Novo
Hamburgo o espaccedilo ficava pequenordquo Acrescenta89 ainda ldquoaqui noacutes tinha o Clube
Serrano que dava baile janta italiana dava um movimento louco mas terminou ateacute
o baile das rainhas cada ano era uma era tatildeo lindo mas tudo se acabourdquo
Figura 20 ndash Imagem da Igreja Satildeo Roque em dia de festa no Rincatildeo dos Kroeff
Fonte acervo pessoal da autora (2018)
86 A outra se refere a rodovia RS-453 conhecida como Rota do Sol 87 FACIOLE Reinaldo Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de marccedilo de 2018 88 FACIOLE Reinaldo Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de marccedilo de 2018 89 FACIOLE Reinaldo Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de marccedilo de 2018
70
Percebe-se que o distrito Rincatildeo dos Kroeff eacute o uacutenico que obteve em seu
iniacutecio uma colonizaccedilatildeo por descentes de italianos dentro do municiacutepio de Satildeo
Francisco de Paula o que demonstra o quatildeo forte se daacute a tradiccedilatildeo ldquoitalianardquo neste
local permanecendo intriacutenseca na vida cotidiana de seu povo com a cultura do
plantio de hortifrutigranjeiros que permanece apesar do tempo como sendo a sua
maior identidade local
47 DISTRITO DE LAJEADO GRANDE
Lajeado Grande em tempos idos pertenceu ao distrito de Cazuza Ferreira e
somente em 12 de dezembro de 1968 se tornou um distrito independente segundo
a Lei nordm 655 encontrada nos autos da Prefeitura Municipal de Satildeo Francisco de
Paula A vila do distrito Lajeado Grande fica distante 63 quilocircmetros da Sede e se
situa na confluecircncia do Arroio Porco Morto e o Rio Bururi Seu surgimento acontece
segundo o morador Fogaccedila90 ldquopor volta de 1940 com a abertura da estrada Canela
ndash Bom Jesus a atual RS-476 que corta a vila do Distritordquo Essa estrada segundo o
morador facilitou a locomoccedilatildeo que anteriormente era feita totalmente pelas trilhas e
picadas por onde somente se passava a cavalo ou de carreta E o entrevistado
explica como acontece o desenvolvimento inicial da vila
Tu sabe aqui tem o nome de Lajeado Grande por causa do rio que eacute cheio de lajes grandes o que facilitava a travessia e as terras aqui por roda era tudo do falecido Pequeno Cardoso ele doou parte para a construccedilatildeo da vila onde o falecido Leopoldino Cardoso irmatildeo do Pequeno tinha uma lsquobudega velharsquo91 por aqui sendo o primeiro comeacutercio da vila92
A abertura da estrada possibilitou o desenvolvimento da vila juntamente com
o Casaratildeo um hotel pensatildeo que foi construiacutedo as margens do Arroio Porco Morto
este Casaratildeo passou por diversos proprietaacuterios
Leopoldino Cardoso foi o idealizador do Casaratildeo juntamente com os seus soacutecios Heraacuteclito Andrade de Cardoso lsquoJoanitorsquo Joseacute Osoacuterio de Lima lsquoZecarsquo e Pequeno Cardoso sendo que o Casaratildeo era uma casa de negoacutecio compravam queijo couro era um comeacutercio forte vendia secos e molhados inclusive a primeira rodoviaacuteria foi instalada neste espaccedilo poreacutem em 1948 Joatildeo Pacheco Cardoso assume e amplia o estabelecimento construindo o segundo piso da casa de madeira e alugando para outros dois moradores
90 FOGACcedilA Blair dos Santos Entrevista concedida agrave autora no dia 06 de abril de 2018 91 Budega velha referindo-se a uma antiga casa de comeacutercio de secos e molhados localizada onde
hoje se encontra o armazeacutem Celeiro 92 FOGACcedilA Blair dos Santos Entrevista concedida agrave autora no dia 06 de abril de 2018
71
Eremi Terres e Claunir Lucena Com a reforma o Casaratildeo passa a ter treze quartos para aluguel uma loja onde encontrava-se tudo o que se necessitava de alfinete tecido alimentos e raccedilotildees aleacutem da ala que servia de moradia para os proprietaacuterios Em 1962 o estabelecimento eacute alugado para Eraldo Bento de Oliveira que aleacutem de gerenciar o estabelecimento colocou junto um bar local de encontro dos homens da redondeza para tomar um lsquotragorsquo93 (CERUTTI SILVA CARDOSO 2002 p 19)
Figura 21 ndash Imagem do Casaratildeo pouco antes de ser desmanchado
Fonte acervo pessoal de Fernando Oliveira (conhecido como Guego) (2018)
O Casaratildeo foi desmanchado na deacutecada de 1980 pelo entatildeo proprietaacuterio Reno
Pacheco Poreacutem percebe-se na vila que seus antigos moradores falam com certo
saudosismo deste estabelecimento que fez parte de suas vidas e chegam a
lamentar o seu fim morador Fogaccedila94 afirma ldquoali se fez o pastel mais famoso do
Lajeado Grande o pastel da Odila mas tudo se acabou quando eles entregaram e
construiacuteram laacute na esquinardquo95
Poreacutem a vila Lajeado Grande foi lentamente se desenvolvendo Devido agrave
necessidade da conservaccedilatildeo da nova estrada foi construiacuteda agraves margens do Rio
Bururi uma capatazia do DAER Segundo Cerutti Silva e Cardoso (2002 p 18) ldquoo
primeiro capataz foi Capitulino Prudecircncio de Oliveira vindo de Santa Catarina sua
funccedilatildeo era manter as estradas e chegou a ter vinte funcionaacuteriosrdquo Percebe-se que a
93 Trago expressatildeo local que significa beber uma cachaccedila 94 FOGACcedilA Blair dos Santos Entrevista concedida agrave autora no dia 06 de abril de 2018 95 Esquina eacute o nome dado a parte da vila do Lajeado Grande onde se daacute o entroncamento das
rodovias RS-453 e ERS-476
72
partir deste momento se inserem neste distrito pessoas advindas de outros estados
e locais visto que ateacute o presente momento o distrito era habitado por fazendeiros
naturais do proacuteprio municiacutepio e que tinham suas vidas ligadas diretamente agrave
pecuaacuteria extensiva e agrave produccedilatildeo do queijo serrano Importante destacar que a
esposa de Capitulino segundo Cerutti Silva e Cardoso (2002 p 18) ldquoa Celicina
Guilherme da Silva se torna uma figura conhecida por realizar partos sendo
chamada como parteira de campanhardquo Na atualidade filhos netos e bisnetos do
casal ainda residem na vila
A vila do Lajeado Grande tambeacutem recebe novos moradores com a praacutetica do
corte do pinheiro nativo sendo que na deacutecada de 1950 havia uma faacutebrica de
beneficiamento de madeira ateacute se transformar em pasta este material era levado
para Esteio onde funcionava agrave matriz A partir dos anos 1950 ocorre a instalaccedilatildeo de
serrarias sendo que a Madeireira Albeflor de propriedade de Valter Sguaizer se
instala em 1964 Novamente busca-se matildeo de obra em localidades proacuteximas como
Lagoa Vermelha Vacaria e Bom Jesus poreacutem com a proibiccedilatildeo da extraccedilatildeo de
madeira de lei a serraria deixou de funcionar
Percebe-se que no distrito natildeo houve uma homogeneizaccedilatildeo identitaacuteria visto a
influecircncia advinda de muitas culturas no passado atraveacutes da extraccedilatildeo de madeira
e na atualidade com o advento das lavouras de hortifrutigranjeiros e pomares
frutiacuteferos que ocupam boa parte do distrito substituindo a pecuaacuteria extensiva que jaacute
natildeo proporciona um lucro efetivo Entatildeo os proprietaacuterios na sua grande maioria
venderam ou arrendaram suas terras para novas culturas o que modifica o modo de
vida local pois grande parte dos trabalhadores adveacutem de outros estados como o
Paranaacute e tambeacutem se observa o uso da matildeo de obra indiacutegena
Essa miscigenaccedilatildeo se observa nas escolas locais visto que na vila funciona a
Escola Municipal D Pedro I que segundo Cerutti Silva e Cardoso (2002 p 35)
ldquoinicia em 1965 poreacutem a professora e o preacutedio eram mantidos pela Serraria mas na
deacutecada de 70 a prefeitura assumiu a escola sendo que Eloci Martim foi a primeira
professora da Serrariardquo Escola da Serraria como ainda eacute conhecida por boa parte
dos moradores locais apesar de a escola natildeo se encontrar mais onde havia a antiga
serraria Atualmente a Escola Dom Pedro I funciona em um preacutedio obtido atraveacutes da
Associaccedilatildeo de Moradores atendendo alunos da preacute-escola ateacute o sexto ano das
seacuteries finais tendo em seu quadro seis professores e duas funcionaacuterias Sendo que
73
a obra para um novo preacutedio teve iniacutecio neste ano mas percebe-se que a obra parou
por volta do mecircs de maio Poreacutem na vila tambeacutem se encontra uma escola estadual
A documentaccedilatildeo necessaacuteria para a criaccedilatildeo de uma nova escola na localidade foi elaborada por Manoel Cardoso de Andrade juntamente com a professora Odazilda Cardoso Demori e encaminhada agrave Secretaria da Educaccedilatildeo sendo que em 11 de fevereiro de 1953 foi criada a Escola Isolada de Lajeado Grande sendo os professores estaduais mas o preacutedio sob responsabilidade comunitaacuteria iniciou o seu funcionamento nas dependecircncias do DAER e somente em 1957 foi construiacutedo um preacutedio de madeira em terras doadas por Pequeno Cardoso local onde hoje ainda se encontra a escola poreacutem passou por muitas reformas sendo que em 2000 recebeu um novo preacutedio de alvenaria o que possibilitou a realizaccedilatildeo de um grande sonho dos professores e comunidade a implantaccedilatildeo do Ensino Meacutedio que concretizou-se em 200296
Atualmente a escola atende em torno de trezentos alunos da Educaccedilatildeo
Baacutesica poreacutem percebe-se que devido agraves safras de hortifrutigranjeiros o nuacutemero de
alunos se alterna durante o ano O que tambeacutem se percebe eacute o comportamento dos
alunos com relaccedilatildeo agrave diversidade cultural por exemplo usam bombacha laccedilam boi
de pau no recreio e escutam funk uma cultura totalmente diferente da tradicionalista
gauacutecha o que compreende-se como algo advindo da globalizaccedilatildeo cultural que
vivemos no mundo atual reforccedilando novamente o natildeo reconhecimento de uma
identidade forte na localidade
Poreacutem as famiacutelias tradicionais do local manteacutem fortemente arraigada a
cultura tradicionalista que adveacutem do homem do campo tendo no distrito festas
campeiras torneios de laccedilo e a festa religiosa uma vez por ano em homenagem ao
Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus padroeiro da vila
Na atualidade natildeo se percebe uma identidade forte e marcada no distrito e
sim uma miscigenaccedilatildeo de diferentes culturas e etnias que convivem e se integram
harmonicamente
96 CARDOSO Amaacutelia Celuderes Entrevista concedida agrave autora no dia 08 de marccedilo de 2018
74
5 DESCRICcedilAtildeO DO PRODUTO
O produto consiste em um livro paradidaacutetico sobre a histoacuteria de Satildeo Francisco
de Paula Apresenta de maneira didaacutetica a histoacuteria de Satildeo Francisco de Paula bem
como balotildees explicativos imagens sugestotildees de atividades e leituras
complementares Poderaacute servir de apoio pedagoacutegico a professores e alunos do
municiacutepio visto que existe pouco material sobre a histoacuteria deste municiacutepio e se faz
importante trabalhar a histoacuteria local percepccedilatildeo que a autora obteve ao longo da sua
caminhada como professora de histoacuteria que atua nas seacuteries finais do ensino
fundamental e meacutedio haacute dezessete anos na rede estadual do municiacutepio
Partir do local natildeo eacute abandonar o conhecimento histoacuterico eacute dar outro valor
sentido para este conhecimento Segundo Caimi
Levar em conta o universo da crianccedila ou do adolescente natildeo eacute pois abdicar do rigor intelectual [] mas garantir que a apropriaccedilatildeo deste conhecimento ocorra permeada de sentido e significado resultando em soacutelidas aprendizagens (CAIMI 2006 p 24)
Seguindo esta perspectiva a implantaccedilatildeo do Referencial Curricular Gauacutecho
embasado na Base Nacional Comum Curricular reforccedila a ideia jaacute discutida nos
paraacutegrafos anteriores
No que se refere especificamente ao componente Histoacuteria a base rompe tanto com a cronologia quanto agrave visatildeo eurocecircntrica da histoacuteria tradicional Entram em cena novos atores novas sociedades novos caminhos que sempre tiveram na histoacuteria mas nem sempre receberam a devida importacircncia Acompanhando a Base Nacional Comum Curricular o Referencial Curricular Gauacutecho no que se refere especificamente agrave disciplina de Histoacuteria manteacutem seu foco na aprendizagem dos alunos nos diferentes espaccedilos e tempos tendo a preocupaccedilatildeo de integrar o curriacuteculo com a diversidade regional de nosso Estado Tambeacutem eacute importante contemplar os temas integradores como eacutetica cidadania cultura e valorizaccedilatildeo das diversidades assegurando a multiplicidade de olhares sobre o mundo (RIO GRANDE DO SUL 2018 p 118)
Portanto o paradidaacutetico seraacute mais um material disponiacutevel aos professores e
estudantes da educaccedilatildeo baacutesica de Satildeo Francisco de Paula na construccedilatildeo do
conhecimento da histoacuteria do municiacutepio bem como o reconhecimento de sua
identidade neste material visto que se almeja que os estudantes percebam
vestiacutegios de sua identidade e se percebam como parte deste municiacutepio atraveacutes do
conhecimento de sua histoacuteria
75
O paradidaacutetico vem com o tiacutetulo rdquoTropeando histoacuterias em Satildeo Francisco de
Paulardquo sendo que a capa traz a foto do Monumento aos Carreteiros monumento
que se encontra na Avenida Juacutelio de Castilhos em frente ao preacutedio da Prefeitura
Municipal
Figura 22 ndash Capa do livro
Fonte Livro Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula
Na sequecircncia se apresenta o iacutendice que possibilita ao leitor localizar os
diversos temas abordados visto que existem nove capiacutetulos
76
Figura 23 ndash Iacutendice do livro
Fonte Livro Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula
77
O capiacutetulo um apresenta a localizaccedilatildeo de Satildeo Francisco de Paula com uma
seacuterie de mapas que facilitam a compreensatildeo espacial dos alunos assim como um
mapa da subdivisatildeo do municiacutepio em distrito Ao final satildeo sugeridas duas atividades
que podem ser desenvolvidas de maneira interdisciplinar com o apoio da professora
de arte geografia e portuguecircs
Figura 24 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 1)
Fonte Livro Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula
78
Figura 25 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 1)
Fonte Livro Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula
O capiacutetulo dois aborda a existecircncia indiacutegena em Satildeo Francisco de Paula
antes da chegada dos desbravadores vindos de Satildeo Paulo Como sugestatildeo de
atividades apresenta-se uma pesquisa sobre as diferentes tribos indiacutegenas que
habitavam a Proviacutencia de Satildeo Pedro aleacutem da criaccedilatildeo de um painel infograacutefico
79
Figura 26 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 2)
Fonte Livro Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula
No capiacutetulo trecircs se apresentam os primeiros donataacuterios colonizadores de Satildeo
Francisco de Paula com trecho de um testamento deixado por Pedro da Silva
Chaves o fundador de Satildeo Francisco de Paula bem como o mapa que localiza as
primeiras sesmarias que corresponde ao territoacuterio onde hoje eacute a Sede do municiacutepio
80
Figura 27 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 3)
Fonte Livro Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula
Nos capiacutetulos quatro e cinco eacute apresentado o desenvolvimento de Satildeo
Francisco de Paula ainda no seacuteculo XIX quando pertencia ao municiacutepio de Santo
Antocircnio da Patrulha e no final do seacuteculo XIX quando passa a pertencer ao entatildeo
81
municiacutepio de Taquara do Mundo Novo Existe tambeacutem um mapa que demonstra a
extensatildeo territorial de Santo Antocircnio da Patrulha e quais satildeo os municiacutepios hoje que
pertenceram a este bem como a importacircncia da abertura da estrada que liga Satildeo
Francisco de Paula a Taquara
Figura 28 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 4)
Fonte Livro Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula
82
Os capiacutetulos seis e sete apontam a construccedilatildeo do Municiacutepio a partir de sua
emancipaccedilatildeo em 1903 sua extensatildeo territorial e a diminuiccedilatildeo do seu territoacuterio ao
longo do tempo e a histoacuteria da Igreja Matriz Como sugestatildeo de atividade pesquisar
a diversidade religiosa existente na comunidade escolar e criar graacuteficos com essas
informaccedilotildees podendo a partir de entatildeo trabalhar com as questotildees religiosas ontem
e hoje no mundo
Figura 29 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 6)
Fonte Livro Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula
83
No capiacutetulo oito se apresenta o que difere os sete distritos de Satildeo Francisco
de Paula Este capiacutetulo se apresenta subdividido em sete subtiacutetulos onde cada um
corresponde a um distrito do municiacutepio Tendo como fonte principal as entrevistas
realizadas com moradores locais mesclado com fontes documentais e bibliograacuteficas
que corroboram para se perceber que haacute alguns distritos que manteacutem suas tradiccedilotildees
ao longo do tempo e eacute possiacutevel perceber que existe uma identidade que aproxima
aquela populaccedilatildeo
Figura 30 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 8)
Fonte Livro Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula
84
No uacuteltimo capiacutetulo o nove se exibe uma lista de sugestotildees de leituras
complementares a fim de se aprofundarem sobre determinados temas E por fim
as referecircncias utilizadas para a construccedilatildeo do paradidaacutetico Tropeando Histoacuterias em
Satildeo Francisco de Paula
Figura 31 ndash Atividade do livro (Sugestatildeo de Leituras Complementares)
Fonte Livro Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula
85
O produto foi testado em duas turmas da Educaccedilatildeo Baacutesica na Escola
Estadual de Ensino Meacutedio Lajeado Grande com o propoacutesito de avaliar qual seria a
reaccedilatildeo dos estudantes diante do material e por ele ter sido produzido por algueacutem
que convive com eles semanalmente A receptividade foi bastante gratificante como
se pode observar na Figura 32
Figura 32 ndash Alunos do Ensino Meacutedio
Fonte acervo pessoal da autora (2019)
A receptividade foi muito interessante visto que os estudantes
acompanharam a trajetoacuteria para chegar ao produto final algo que os deixava
ansiosos para manusear pois muitas vezes foram parceiros A autora foi
compartilhando com os estudantes as informaccedilotildees obtidas durante a pesquisa e as
descobertas encontradas usando em suas aulas a histoacuteria local para abordar os
diferentes temas e conceitos histoacutericos
Quando a autora apresenta o produto os estudantes do ensino meacutedio estes
formam grupos por distritos e buscam logo reconhecer no material sua identidade
apoacutes comentam sobre as peculiaridades de cada distrito Poreacutem os alunos do
ensino fundamental manuseiam o produto mas natildeo se deteacutem ao distrito em que
pertence e sim as imagens e as explicaccedilotildees apresentadas no vocecirc sabia
O que enriquece o trabalho realizado foi o envolvimento dos estudantes com
o produto solicitando quando poderatildeo ler calmamente todo o trabalho
86
6 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
A partir de experiecircncias pessoais em sala de aula se percebeu que o ensino
de Histoacuteria quando se partia da histoacuteria local havia maior interesse dos estudantes
da educaccedilatildeo baacutesica motivo pelo qual se deu a questatildeo-problema desta dissertaccedilatildeo
que estaacute relacionada diretamente com o natildeo uso desta histoacuteria pelos professores da
educaccedilatildeo baacutesica
Em conversas informais com professores da educaccedilatildeo baacutesica que atuam no
municiacutepio de Satildeo Francisco de Paula em sua grande maioria alegam que o grande
empecilho para se trabalhar a histoacuteria local eacute o pouco material disponiacutevel sobre a
histoacuteria de Satildeo Francisco de Paula aleacutem do rigor dos curriacuteculos que impotildeem o
ensino de Histoacuteria de maneira linear sem contextualizaccedilatildeo com a realidade vivida
pelos estudantes pois desta forma natildeo estatildeo preparando os estudantes para as
avaliaccedilotildees do Ministeacuterio da Educaccedilatildeo bem como para o vestibular Poreacutem natildeo se
estaacute afirmando que deveraacute estudar somente a histoacuteria local e sim partir dela como
incentivo para estudos dos conceitos e temaacuteticas da histoacuteria por muitas vezes
totalmente abstrato e de difiacutecil compreensatildeo pela grande maioria dos estudantes
A partir de entatildeo se realizaram inuacutemeros questionamentos como qual a
necessidade de se ensinar Histoacuteria de forma abstrata sem nenhuma relaccedilatildeo com
as vivecircncias dos estudantes Por que natildeo usar a fonte oral como metodologia de
pesquisa no ensino de Histoacuteria em Satildeo Francisco de Paula jaacute que natildeo existem
muitos materiais escritos a respeito desta histoacuteria principalmente no que tange os
distritos do interior Poreacutem estes questionamentos natildeo foram aprofundados na
dissertaccedilatildeo por natildeo ser o objetivo direto da pesquisa mas posteriormente poderaacute
se tornar um novo projeto de pesquisa
Nesta incessante busca por resposta se constroacutei todo o estudo desta
dissertaccedilatildeo que em um primeiro momento busca embasamento em diferentes
autores que comprovam que o ensino de Histoacuteria voltado para o local faz maior
sentido para os estudantes da educaccedilatildeo baacutesica e que isto natildeo significa abandonar
os conceitos histoacutericos e sim questionar analisar a trajetoacuteria humana no tempo e
no espaccedilo sob uma nova metodologia Apenas se sugere uma nova abordagem
que torne o ensino de Histoacuteria menos abstrato algo mais presente na vida do
estudante e que possibilite a ele a habilidade de perceber que o mundo estaacute em
constante mudanccedila poreacutem os fatos natildeo ocorrem de forma isolada no espaccedilo Algo
87
que foi reforccedilado apoacutes a construccedilatildeo da Base Nacional Curricular e o Referencial
Curricular Gauacutecho que vem de encontro com esta proposta de se estudar a histoacuteria
sobre novos olhares natildeo esquecendo das especificidades regionais do estado do
Rio Grande do Sul para o reconhecimento da identidade local e regional
A identidade local nesta pesquisa se buscou atraveacutes de relatos de
moradores locais que gentilmente colaboraram para o sucesso deste trabalho pois
a memoacuteria se tornou a fonte primordial para se escrever o que identifica os sete
distritos que constituem Satildeo Francisco de Paula Certamente a temaacutetica natildeo se
esgotou ainda haacute muito que se pesquisar e escrever sobre a histoacuteria de Satildeo
Francisco de Paula possibilitando a criaccedilatildeo de novos materiais que possam ser
usados em sala de aula pelos professores e alunos deste municiacutepio
Mas ao mesmo tempo haacute uma preocupaccedilatildeo por parte da autora nada
adianta criar produtos sinalizar novos meacutetodos ao ensino de Histoacuteria se o
profissional professor natildeo estiver preparado para trabalhar com novas fontes
histoacutericas novas metodologias de ensino proporcionando aos estudantes a
oportunidade de construir seu proacuteprio conhecimento histoacuterico embasado em sua
realidade e suas vivecircncias
Vivecircncias que se tornaram aliadas na pesquisa pois a autora nasceu e
sempre viveu no municiacutepio de Satildeo Francisco de Paula poreacutem a maior dificuldade
encontrada nesta caminhada foi percorrer grandes distacircncias por estradas de
rodagem em peacutessimas condiccedilotildees de trafegabilidade para gravar os relatos que
servem de base para a construccedilatildeo desta pesquisa O municiacutepio de Satildeo Francisco de
Paula eacute territorialmente extenso e essas distacircncias percorridas deram o nome ao
produto Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula como uma homenagem
aos antigos tropeiros deste municiacutepio que passavam boa parte de sua vida ao
lombo de mulas levando e buscando mercadorias pelos campos de cima da serra
Visto que desde o processo seletivo do mestrado em agosto de 2016
quando se apresentou o projeto de pesquisa jaacute se pensava no produto um livro
paradidaacutetico no formato fiacutesico A autora por diversas vezes foi questionada por que
natildeo um blog ou site Porque na forma fiacutesica este material seria de faacutecil manuseio
pelos estudantes e professores pois principalmente no interior uso da internet ainda
eacute um problema visto que em muitos locais natildeo existe sinal de telefonia diraacute
internet
88
O paradidaacutetico foi se moldando ao longo do tempo ateacute se chegar a versatildeo
final com uma ampla gama de informaccedilotildees e curiosidades sobre os sete distritos de
Satildeo Francisco de Paula onde se pretende que os alunos e professores possam
fazer uso deste material em sala de aula para tanto a autora pretende
posteriormente lanccedilar o produto para que possa ser lido e manuseado por todos
inclusive por aqueles que gostam de histoacuteria e sentem curiosidade sobre a formaccedilatildeo
do seu distrito e por conseguinte do municiacutepio de Satildeo Francisco de Paula
O paradidaacutetico foi testado em duas turmas da Escola Estadual de Ensino
Meacutedio Lajeado Grande sendo uma de Ensino Meacutedio e a outra das seacuteries finais do
Ensino Fundamental Os alunos jaacute detinham o conhecimento que a autora estava
cursando o Mestrado e que para sua conclusatildeo deveria apresentar um produto Era
de conhecimento de todos os estudantes que a autora estava produzindo um
paradidaacutetico sobre a histoacuteria de Satildeo Francisco de Paula pois a mesma eacute professora
destes estudantes nesta escola
Em um primeiro momento se explica que eacute apenas um protoacutetipo que
somente a capa estaacute colorida e o restante estaacute todo em preto e branco e que a
versatildeo final teraacute as imagens e as curiosidades coloridas o que com certeza
chamaraacute mais atenccedilatildeo Ao entregar o paradidaacutetico Tropeando Histoacuterias em Satildeo
Francisco de Paula para que possam manuseaacute-lo veio a primeira grande surpresa
os estudantes ficaram muito contentes por a turma ter sido escolhida pela autora
escolha essa que se justifica por ter trabalhado todo o ano de 2017 com estes
alunos partindo da histoacuteria local
A turma do oitavo ano do Ensino Fundamental manuseou sendo que os
alunos acharam interessante poreacutem se deteram mais nas imagens e balotildees do
ldquovocecirc sabiardquo Mas de maneira ampla e geral acharam muito interessante a foto de
capa com o Monumento aos Carreteiros situado na Avenida Juacutelio de Castilhos em
frente ao preacutedio da Prefeitura Municipal pois alguns natildeo conhecem a Sede do
municiacutepio
Os alunos do segundo ano do Ensino Meacutedio se surpreenderam e foram direto
ler sobre o distrito no qual residem Interessados questionaram sobre curiosidades
de como o material foi construiacutedo quais as maiores dificuldades encontradas
elogiaram o leiaute as imagens de fundo ao lado de cada curiosidade relatando que
chama a atenccedilatildeo aleacutem de considerarem relevantes as sugestotildees de atividades e
ao final solicitaram quando o material estaraacute disponiacutevel para que possam ler
89
integralmente visto que um periacuteodo de cinquenta minutos natildeo foi suficiente para que
todos manuseassem se fazendo necessaacuterio levar novamente na proacutexima aula
A autora se sentiu motivada pela recepccedilatildeo do produto por seus alunos o que
a incentiva continuar pesquisando sobre outras temaacuteticas a respeito da histoacuteria de
Satildeo Francisco de Paula trazendo para seu fazer pedagoacutegico novas fontes que
proporcionem um estudo da Histoacuteria de maneira ampla e contextualizada com a
realidade local que os cerca
90
REFEREcircNCIAS
ALBERTI Verena Manual da histoacuteria oral Satildeo Paulo FGV 2008
ALMEIDA Magdalena Maria de Histoacuteria oral e formalidades metodoloacutegicas 2012 Disponiacutevel em ltwwwencontro2012historiaoralorgbrresourcesanais31332442488_ARQUIVO_ABHOHistoriaoraleformalidadesmetodologicaspdfgt Acesso em 12 abr 2019
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AZEVEDO Crislane Barbosa STAMATTO Maria Inecircs Sucupira Teoria historiografia e praacutetica pedagoacutegica as correntes de pensamento que influenciaram o ensino de histoacuteria no Brasil Antiacuteteses v 3 n 6 juldez 2010
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Jornal Satildeo Chico Tchecirc n 11 do dia 25 de maio de 1986
Jornal Satildeo Chico Tchecirc n 12 do dia 28 de maio de 1986
Jornal Pioneiro versatildeo digital do dia 02 de junho de 2017
Entrevistas
Amaacutelia Celuderes Cardoso residente no distrito de Lajeado Grande Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 08 de marccedilo de 2018
Blair dos Santos Fogaccedila residente no distrito de Lajeado Grande Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 06 de abril de 2018
Ceacutelia Pacheco Terres Basso residente no distrito de Cazuza Ferreira Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 04 de agosto de 2018
Darci da Silva Fagundes residente no distrito de Tainhas Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 24 de fevereiro de 2018
Deotildes Palhano dos Santos residente no distrito do Juaacute Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 12 de maio de 2018
Jaures Feijoacute Gomes residente no distrito de Eletra Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 15 de fevereiro de 2018
Luciana Olga Soares residente no distrito Sede Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 01 de marccedilo de 2018
Maria Madalena Scalco Faciole residente no distrito do Rincatildeo dos Kroeff Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 18 de marccedilo de 2018
Moacir Castello Branco de Albuquerque residente no distrito Sede Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 06 abril de 2018
95
Nauro Bossle de Andrade residente no distrito de Cazuza Ferreira Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 04 de marccedilo de 2018
Orides Reis residente no distrito do Juaacute Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 12 de maio de 2018
Reinaldo Faciole residente no distrito do Rincatildeo dos Kroeff Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 18 de marccedilo de 2018
Susana Marques Soares residente no distrito de Eletra Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 15 de fevereiro de 2018
96
APEcircNDICES
97
APEcircNDICE A ndash ENTREVISTA COM MORADORES LOCAIS DOS DISTRITOS DE
SAtildeO FRANCISCO DE PAULA
UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL
PROGRAMA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO EM HISTOacuteRIA ndash MESTRADO EM HISTOacuteRIA PROFISSIONAL
PESQUISA DE CAMPO ndash TATIANA MEacuteLO CARDOSO
1 Nome completo
2 Idade
3 Quantos anos reside neste distrito
4 Como se formou este distrito
5 Por que ele tem esse nome
6 Quem foram os primeiros moradores
7 Como era a vida aqui haacute tempos atraacutes
8 O que mudou aqui com o passar dos anos
9 O que identifica este lugar
10 As pessoas hoje que moram aqui na grande maioria satildeo naturais daqui ou vieram
de onde
11 A(o) Sra(Sr) acredita que as futuras geraccedilotildees valorizaram eou conheceram a
histoacuteria local ou vai se perder no tempo
12 Como funcionava a questatildeo do ensino em meados do seacuteculo XX havia escola na
localidade
13 Qual a primeira escola deste distrito data de fundaccedilatildeo local de funcionamento e a
primeira professora
14 Achas importante trabalhar nas escolas a histoacuteria do lugar
15 O que eacute tradiccedilatildeo deste distrito
16 Qual eacute a fonte de renda das pessoas no que elas trabalham
17 Qual eacute o lazer das pessoas aqui
98
APEcircNDICE B ndash TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Declaro por meio deste termo que concordei em ser entrevistado(a) eou participar na
pesquisa de campo referente ao projetopesquisa Ensino de Histoacuteria Local e o Paradidaacutetico
caso Satildeo Francisco de Paula desenvolvida pela aluna Tatiana Meacutelo Cardoso do Programa de
Poacutes-Graduaccedilatildeo em Histoacuteria ndash Mestrado Profissional da Universidade de Caxias de Sul Fui
informado(a) que poderei consultaacute-la a qualquer momento que julgar necessaacuterio atraveacutes do e-
mail t_ati_mhotmailcom
Afirmo que aceitei participar por minha proacutepria vontade sem receber qualquer
incentivo financeiro ou ter qualquer ocircnus e com a finalidade exclusiva de colaborar para o
sucesso da pesquisa Fui informado(a) dos objetivos estritamente acadecircmicos de estudo
Minha colaboraccedilatildeo natildeo ficaraacute anocircnima e foi realizada por meio de entrevista
semiestruturada A anaacutelise dos dados obtidos seratildeo divulgados natildeo permanecendo restritas
apenas a pesquisadora eou seu(s) orientador(es) coordenador(es)
Fui ainda informado(a) de que posso me retirar desse(a) estudopesquisa programa a
qualquer momento sem prejuiacutezo para meu acompanhamento ou sofrer quaisquer sanccedilotildees ou
constrangimentos Atesto recebimento de uma coacutepia assinada deste Termo de Consentimento
Livre e Esclarecido
Satildeo Francisco de Paula ___ de _____________ de ____
Assinatura do(a) participante
Assinatura do responsaacutevel
Figura 31 ndash Atividade do livro (Sugestatildeo de Leituras Complementares) 84
Figura 32 ndash Alunos do Ensino Meacutedio 85
SUMAacuteRIO
1 INTRODUCcedilAtildeO 11
2 HISTOacuteRIA LOCAL E O ENSINO DE HISTOacuteRIA NA SALA DE AULA 17
3 SAtildeO FRANCISCO DE PAULA CONSTRUCcedilAtildeO DO MUNICIacutePIO 24
31 CONVERSA COM MEMORIALISTAS 25
32 AMPLIANDO O DIAacuteLOGO COM OS MEMORIALISTAS 28
4 SAtildeO FRANCISCO DE PAULA DISTRITOS EM FOCO 41
41 DISTRITO SEDE 42
42 DISTRITO DE CAZUZA FERREIRA 51
43 DISTRITO DE TAINHAS 55
44 DISTRITO DE ELETRA 58
45 DISTRITO DO JUAacute 62
46 DISTRITO DO RINCAtildeO DOS KROEFF 66
47 DISTRITO DE LAJEADO GRANDE 70
5 DESCRICcedilAtildeO DO PRODUTO 74
6 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 86
REFEREcircNCIAS 90
FONTES CONSULTADAS 94
APEcircNDICES 96
APEcircNDICE A ndash ENTREVISTA COM MORADORES LOCAIS DOS DISTRITOS DE
SAtildeO FRANCISCO DE PAULA 97
APEcircNDICE B ndash TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO 98
11
1 INTRODUCcedilAtildeO
Os meacutetodos de ensino de Histoacuteria no Brasil vem sendo discutidos desde sua
criaccedilatildeo como disciplina Segundo Nadai (1992-1993 p 144) a introduccedilatildeo de
Histoacuteria no curriacuteculo ocorre na terceira metade do seacuteculo XIX no Brasil sendo que
desde entatildeo passa por diversas modificaccedilotildees Segundo Schmidt e Cainelli (2009)
os meacutetodos foram se adequando ao momento histoacuterico brasileiro em um primeiro
momento ensinou-se a histoacuteria da Europa Ocidental como a verdadeira histoacuteria da
civilizaccedilatildeo uma histoacuteria abstrata sem relaccedilatildeo com a vida do aluno Nadai (1992-
1993 p 146) acrescenta que ldquoa histoacuteria da paacutetria surgia como seu apecircndice sem
corpo autocircnomo e ocupando um papel extremamente secundaacuterio consistia num
repositoacuterio de biografias de homens ilustres de datas e batalhasrdquo
Poreacutem a partir de 1860 segundo Schmidt e Cainelli (2009 p 12-13) ldquono
periacuteodo republicano a incorporaccedilatildeo da concepccedilatildeo de que a disciplina Histoacuteria tinha
a responsabilidade de formar cidadatildeos ganha forccedilardquo sendo assim as escolas
primaacuterias e secundaacuterias comeccedilaram incluir em seus programas a histoacuteria nacional
com o intuito da formaccedilatildeo da nacionalidade sendo a paacutetria com seus heroacuteis o
principal foco Desta forma a criaccedilatildeo das diretrizes da Lei de Educaccedilatildeo nordm 569271
reforccedila o modelo jaacute instaurado
Foi oficializado o ensino de Estudos Sociais nas escolas brasileiras ficando os conteuacutedos especiacuteficos da Histoacuteria destinados somente aos alunos do antigo segundo grau A concepccedilatildeo e os conteuacutedos da Histoacuteria continuavam atrelados agraves concepccedilotildees tradicionais (SCHMIDT CAINELLI 2009 p 13)
Com a redemocratizaccedilatildeo na deacutecada de 1980 houve inuacutemeras discussotildees
que elencaram inuacutemeras abordagens e temaacuteticas para o ensino da Histoacuteria na
atualidade as novas tendecircncias se preocupam com a transposiccedilatildeo didaacutetica
valorizando documentos histoacutericos e incorporando novas linguagens e tecnologias
que permitem discussotildees e autonomia de pensamento Neste sentido as novas
concepccedilotildees de ensino de Histoacuteria ao final do seacuteculo XX abrem a possibilidade de
uma nova praacutetica didaacutetica que segundo Azevedo e Stamatto (2010 p 709) ldquobusca
problematizar a relaccedilatildeo passado-presente e em geral tomam a realidade do aluno
como ponto de partidardquo
Por se acreditar em um ensino de Histoacuteria onde a aprendizagem natildeo ocorre
em periacuteodos estanques de forma abstrata e sem relaccedilatildeo com o presente ou seja
12
apresentando de forma linear sem que haja contextualizaccedilatildeo sendo apresentada
atraveacutes de leitura de textos eou resumos permeando com atividades que muitas
vezes natildeo permitem um desenvolvimento de raciociacutenio histoacuterico que contribua para
a construccedilatildeo da cidadania Torna-se urgente pensar em um ensino voltado para a
inclusatildeo de novas contribuiccedilotildees historiograacuteficas como a histoacuteria cultural econocircmica
e social buscando na realidade local subsiacutedios para a aprendizagem Por isso a
presente dissertaccedilatildeo traz a didatizaccedilatildeo da histoacuteria de Satildeo Francisco de Paula visto
que a questatildeo-problema estaacute vinculada ao natildeo uso da histoacuteria local no ensino de
Histoacuteria deste municiacutepio e o pouco material disponiacutevel para o uso dos professores
Parte-se do pressuposto que ao abranger a histoacuteria local os sujeitos se veem como
partiacutecipes desta histoacuteria estudada significando e ressignificando conceitos
histoacutericos
Corroborando com este estudo Cunha (2016) traz consideraccedilotildees importantes
relacionadas ao uso da histoacuteria local O autor aborda como algo essencial para
compreensatildeo da histoacuteria geral na educaccedilatildeo baacutesica o uso da histoacuteria local o que
proporcionaria aos estudantes o reconhecimento como cidadatildeo e a percepccedilatildeo e
identificaccedilatildeo dos lugares de memoacuteria por parte dos alunos bem como o sentimento
de pertencimento do local Desta forma despertaria no aluno o interesse por um
passado aparentemente desligado de sua realidade estabelecendo relaccedilotildees com o
seu cotidiano
Desta maneira acredita-se que os estudantes da educaccedilatildeo baacutesica
compreenderatildeo a histoacuteria como algo que faz parte de suas vidas tornando-se assim
sujeitos da histoacuteria pois se haacute reconhecimento haveraacute tambeacutem o sentimento de
pertencimento que poderaacute ajudaacute-los a manter ou modificar a realidade que os cerca
Assim descrevem Schmidt e Cainelli
Esse sentido do ensinar Histoacuteria natildeo significaria natildeo ter conteuacutedos para serem ensinados mas olhar para estes conteuacutedos a partir da possibilidade de construir com os alunos novas questotildees diante de conteuacutedos e temas propostos pela historiografia Aprender histoacuteria eacute discutir evidecircncias levantar hipoacuteteses dialogar com os sujeitos os tempos e os espaccedilos histoacutericos Eacute olhar para o outro em tempos e espaccedilos diversos (SCHMIDT CAINELLI 2009 p 20)
Dentro desta perspectiva o reconhecimento da memoacuteria social se faz
importante visto que se necessita invocaacute-la para que um determinado grupo ou local
reconheccedila sua identidade social Atraveacutes de entrevistas com moradores de Satildeo
13
Francisco de Paula se invoca a memoacuteria coletiva na busca da identidade dos sete
distritos deste municiacutepio Visto que a histoacuteria de Satildeo Francisco de Paula se inicia por
volta do seacuteculo XVIII quando se datam as primeiras sesmarias1 concedidas ao
capitatildeo Pedro da Silva Chaves Posteriormente o capitatildeo doa parte de suas terras
para a construccedilatildeo do povoado que recebe o nome de Satildeo Francisco de Paula de
Cima da Serra por este ser devoto do Santo Satildeo Francisco Reza no testamento do
capitatildeo Pedro da Silva Chaves que um de seus filhos foi o primeiro paacuteroco a rezar
missa no povoado Satildeo Francisco de Paula pertenceu a Santo Antocircnio da Patrulha
e mais tarde a Taquara emancipando-se em 1902
Haacute pouca bibliografia sobre a histoacuteria de Satildeo Francisco de Paula o que existe
satildeo livros escritos por memorialistas onde se percebe a prioridade pela histoacuteria do
fundador ou seja do Capitatildeo Pedro da Silva Chaves dos iacutendios Caaguaraacutes que
habitavam a regiatildeo assim como os aspectos poliacuteticos administrativos Alguns destes
livros apresentam uma siacutentese cronoloacutegica de fatos importantes e descrevem
superficialmente o jeito de viver do povo serrano2 Mas a histoacuteria de Satildeo Francisco
de Paula estaacute repleta de diferentes identidades que identificam a Sede3 e o Interior4
deste municiacutepio e formam o jeito de viver do seu povo A natildeo exploraccedilatildeo de
elementos culturais que se fazem importantes para a construccedilatildeo de identidade
destes lugares minimiza as memoacuterias e as tradiccedilotildees que ali se apresentam visto
que
as constantes novidades em diferentes campos do saber os avanccedilos da tecnologia as infinitas possibilidades de comunicaccedilatildeo simultacircnea tecircm provocado sobretudo nas novas geraccedilotildees uma sensaccedilatildeo de que o mundo em que se vive eacute dotado de um temporalidade constituiacuteda por um tempo presente contiacutenuo (FIGUEIRA MIRANDA 2012 p 46)
Neste sentido fez-se uso de diferentes fontes para a construccedilatildeo do produto
desta dissertaccedilatildeo que consiste de um paradidaacutetico que possa servir como um
1 Sesmaria Terreno sem culturas ou abandonado que a antiga legislaccedilatildeo portuguesa com base em
praacuteticas medievais determinava que fosse entregue a quem se comprometesse a cultivaacute-lo 2 Serrano gentiacutelico de quem nasce em Satildeo Francisco de Paula 3 Sede distrito criado em 07 de janeiro de 1903 na mesma data da instalaccedilatildeo oficial do Municiacutepio Eacute
o distrito onde se localiza a Prefeitura Municipal Foacuterum agecircncias bancaacuterias loteacutericas hospital casas comerciais e residecircncias particulares Normalmente os moradores do interior quando vatildeo ao distrito se referem como ldquovou a Satildeo Chicordquo e natildeo como ldquovou a Sederdquo
4 Interior Cazuza Ferreira Juaacute Eletra Rincatildeo dos Kroeff Tainhas e Lajeado Grande satildeo distritos que ficam na zona rural apesar de todos terem uma pequena vila que possui pouca infraestrutura Alguns destes distritos ainda usam aacutegua de vertentes sem nenhuma rede de esgoto pois natildeo possuem aacutegua fornecida pela Companhia de Aacutegua e Saneamento (CORSAN)
14
material disponiacutevel a alunos e professores no ensino de Histoacuteria de Satildeo Francisco
de Paula Segundo Munakata entendem-se como paradidaacuteticos
Livros que sem apresentar caracteriacutesticas proacuteprias dos didaacuteticos satildeo adotados no processo de ensino e aprendizagem nas escolas seja como material de consulta do professor seja como material de pesquisa e de apoio agraves atividades do educando (MUNAKATA 1997 p 103)
Para a construccedilatildeo do paradidaacutetico fez-se uso de bibliografias jaacute existentes
jornais e documentos da Assembleia da Legislativa bem como o uso da histoacuteria
oral sendo as entrevistas a fonte primordial para escrever sobre as semelhanccedilas e
diferenccedilas existentes no modo de vida da populaccedilatildeo de Satildeo Francisco de Paula
visto que os depoimentos satildeo importantes na preservaccedilatildeo das memoacuterias tradiccedilotildees
bem como das heranccedilas identitaacuterias Neste sentido Delgado (2003 p 23) discorre
ldquonarrativas memoacuterias histoacuterias e identidades satildeo a humanidade em movimento
Satildeo o olhar que permeiam tempos heterogecircnicos Satildeo a histoacuteria em construccedilatildeo Satildeo
memoacuterias que falamrdquo
Portanto a histoacuteria oral busca registrar as vivecircncias e lembranccedilas de um
determinado grupo Alberti (2008 p 29) assim define ldquohistoacuteria oral natildeo eacute um fim em
si mesma e sim um meio de conhecimentordquo Quando se trabalha com a histoacuteria
oral se faz necessaacuterio valorizar a memoacuteria as identidades e tradiccedilotildees pois estas
formam a histoacuteria local ou seja a histoacuteria dos indiviacuteduos que ali vivem Halbwachs
(2004) afirma que com a perda da memoacuteria coletiva tambeacutem se perdem as
tradiccedilotildees locais tradiccedilotildees essas que identificam o modo de viver de um determinado
local Hobsbawn e Ranger entendem que as tradiccedilotildees podem ou natildeo ser
inventadas
Tradiccedilatildeo inventada entende-se um conjunto de praacuteticas normalmente reguladas por regras taacutecitas ou abertamente aceitas tais praacuteticas de natureza ritual ou simboacutelica visam inculcar certos valores e normas de comportamento atraveacutes da repeticcedilatildeo o que implica automaticamente uma continuidade com relaccedilatildeo ao passado (HOBSBAWN RANGER 2015 p 8)
Hobsbawn e Ranger (2015) ainda acrescem que a criaccedilatildeo de uma tradiccedilatildeo
independe da imposiccedilatildeo de uma nova tradiccedilatildeo o que normalmente ocorre eacute uma
rebeliatildeo cultural que precede da elaboraccedilatildeo de novas tradiccedilotildees que satildeo adotadas
pela populaccedilatildeo e com o tempo passam a se tornar tradiccedilotildees daquele local
formando a identidade local
15
Neste sentido Hall (2011 p 39) discorre que ldquoas identidades satildeo fabricadas
por meio da marcaccedilatildeo da diferenccedilardquo O autor ainda acresce que ldquoa diferenccedila eacute aquilo
que separa uma identidade da outrardquo (HALL 2011 p 41) Dentro desta perspectiva
a memoacuteria que se apresenta atraveacutes de siacutembolos ou tradiccedilotildees respalda a
construccedilatildeo da identidade do povo de Satildeo Francisco de Paula visto que a memoacuteria eacute
a construccedilatildeo do passado de maneira atualizada e renovada no tempo presente
Assim Halbwachs (2004 p 64) descreve que ldquonatildeo eacute na histoacuteria aprendida eacute na
histoacuteria vivida que se apoia nossa memoacuteriardquo Nessa loacutegica o autor ainda descreve
que ldquoo mundo histoacuterico eacute como um oceano onde afluem todas as histoacuterias parciaisrdquo
(p 90)
O municiacutepio de Satildeo Francisco de Paula eacute repleto de tradiccedilotildees que perpassam
o tempo que estatildeo enraizadas no jeito serrano de ser formando a sua identidade
Portanto a histoacuteria de Satildeo Francisco de Paula descrita nesta dissertaccedilatildeo seraacute
apresentada em quatro capiacutetulos
O capiacutetulo dois apresenta a discussatildeo teoacuterica metodoloacutegica sobre a
importacircncia do ensino da Histoacuteria local na sala de aula Tambeacutem conceitos como
memoacuteria e identidade e a importacircncia de se abordar o local em prol do global
No capiacutetulo trecircs aborda-se a construccedilatildeo histoacuterica do municiacutepio de Satildeo
Francisco de Paula que vai desde a chegada do colonizador nesta terra ateacute as
instituiccedilotildees que se formam ao longo do tempo Para isso se faz uso de bibliografias
jaacute existentes como Lucena (1971) Oliveira (1996) Teixeira (2002) Ribeiro (2003)
Alves (2007) e Fonseca (2012) sendo todas essas obras importantes para Satildeo
Francisco de Paula visto que cada uma traz consigo um pouco da histoacuteria deste
municiacutepio poreacutem sente-se falta da identidade e da memoacuteria na construccedilatildeo histoacuterica
As obras satildeo apresentadas sob o mesmo prisma apresentando os iacutendios Caaguaraacutes
e o Capitatildeo Pedro da Silva Chaves os fundadores desta terra dando bastante
ecircnfase aos sobrenomes que ali se desenvolveram Tambeacutem se fez uso de
documentos da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul aleacutem de jornais
encontrados no Arquivo Histoacuterico de Satildeo Francisco de Paula
No capiacutetulo quatro utiliza-se da fonte oral para que sejam identificadas as
diferentes tradiccedilotildees e versotildees da histoacuteria local ou seja a identidade de cada distrito
constituindo assim as particularidades que constroem o municiacutepio de Satildeo Francisco
de Paula Para tanto buscaram-se depoentes nas vilas dos distritos sendo que a
escolha se deu por duas pessoas por distrito sendo um homem e uma mulher
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totalizando treze depoentes todos da terceira idade pois segundo Bosi (1994 p
82) ldquoum mundo social que possui uma riqueza e uma diversidade que natildeo
conhecemos pode chegar-nos pela memoacuteria dos velhosrdquo memoacuterias estas
construiacutedas por suas vivecircncias neste local o que justifica a relevacircncia dos
depoimentos para a construccedilatildeo do trabalho
O capiacutetulo cinco apresenta uma descriccedilatildeo do produto que consiste em um
paradidaacutetico em forma fiacutesica abordando a histoacuteria de Satildeo Francisco de Paula A
escolha pelo formato fiacutesico acontece pelas dificuldades encontradas no interior dos
distritos com o acesso agrave internet assim se pensa que o formato fiacutesico abrangeraacute um
nuacutemero maior de alunos e professores
Para tanto utiliza-se a metodologia da Histoacuteria oral para escrever a memoacuteria
e as percepccedilotildees das pessoas que habitam este local Hobsbawn e Ranger (1995 p
103) escrevem que ldquoessa proximidade entre o periacuteodo analisado e sua histoacuteria
pessoal eacute o pano de fundo para a discussatildeo de alguns problemas que qualquer
historiador enfrenta ao escrever sobre seu proacuteprio tempordquo pois a sensibilidade do
historiador vai escrever sua narrativa Em outras palavras Hobsbawn e Ranger
(1995 p 104) explicam que ldquocada historiador tem sua proacutepria vida um lugar privado
a partir do qual inspeciona o mundordquo Tambeacutem afirmam
Para aqueles que querem escrever a histoacuteria do seacuteculo XX uma das mais importantes reside no simples fato de saber sem nenhum esforccedilo especial o quanto as coisas se modificaram Os uacuteltimos trinta ou quarenta anos foram os mais revolucionaacuterios da histoacuteria O mundo ou seja a vida dos homens e mulheres que vivem na Terra nunca foi transformada de maneira tatildeo profunda dramaacutetica e extraordinaacuteria dentro de um periacuteodo tatildeo curto As geraccedilotildees que natildeo viram como o mundo era antes tecircm dificuldade em perceber isso intuitivamente (HOBSBAWN RANGER 1995 p 107)
Portanto se faz importante perceber que o mundo vem se transformando de
maneira raacutepida modificando a vida das pessoas e por conseguinte as tradiccedilotildees e
identidades locais pois estas comunidades natildeo vivem de forma isolada e sofreram
influecircncias jaacute que a cultura natildeo eacute estagnada estaacute sempre em constante movimento
juntamente com as pessoas
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2 HISTOacuteRIA LOCAL E O ENSINO DE HISTOacuteRIA NA SALA DE AULA
Discutir o ensino de Histoacuteria na educaccedilatildeo baacutesica e a relaccedilatildeo do mesmo com a
histoacuteria local se faz bastante importante para que a cada dia se possa melhorar as
praacuteticas pedagoacutegicas Neste sentido se busca respaldo em diferentes bibliografias
que possam embasar novos afazeres dentro do espaccedilo da sala de aula e
proporcionar ao estudante um novo olhar sobre a histoacuteria um olhar de sujeito ativo
dentro desse processo de ensino aprendizagem
Pois quando a Histoacuteria eacute ensinada como algo certo e imutaacutevel de maneira
fragmentada voltada para linearidade e memorizaccedilatildeo de fatos e datas reforccedila o
que Mendes (1935) e Schmidt e Cainelli (2009) defendem que realmente eacute odiosa a
histoacuteria ensinada por este vieacutes Percebe-se que o ensino de histoacuteria linear nos
moldes europeus positivistas jaacute natildeo daacute mais conta da importacircncia da histoacuteria para a
sociedade atual porque eacute apresentada aos alunos atraveacutes de datas e fatos escrita
pelo vieacutes de uma elite que normalmente eacute branca e deteacutem o poder poliacutetico eou
econocircmico Eacute inconcebiacutevel que se permaneccedila com um ensino de Histoacuteria que natildeo
serve natildeo motiva e segundo Ruumlsen (2001 p 25) ainda ldquoirracionalizardquo sendo esse
modelo muito frequente nas escolas de educaccedilatildeo baacutesica brasileiras
Natildeo eacute por outro motivo que observamos ainda nas uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo XX que para a maior parte dos estudantes brasileiros o estudo de histoacuteria carece de sentido ou utilidade natildeo se tem a visatildeo de ciecircncia e sim de uma mateacuteria decorativa estudo do passado que soacute exige como vimos a prontidatildeo em declinar nomes datas e fatos Natildeo eacute de se estranhar que assim seja porque ocorre a enorme distacircncia entre a realidade vivenciada pela comunidade e o tratamento dado ao ensino de Histoacuteria jaacute que o aluno se torna mero espectador de fatos natildeo necessitando esforccedilos no sentido de qualquer reflexatildeo ou elaboraccedilatildeo (BARBOSA 2006 p 58)
O ensinar da histoacuteria de forma abstrata fragmentada dificulta a compreensatildeo
do processo histoacuterico no sentido que se estuda os fatos isolados ao seu tempo
como se um fato precisasse terminar para iniciar outro Em outras palavras este
meacutetodo de ensino natildeo daacute a noccedilatildeo de continuidade ou seja a histoacuteria perdeu seu
sentido baacutesico que eacute a compreensatildeo do contexto global dos fatos considerando que
o ensino de Histoacuteria por muitas vezes eacute estanque sem uma relaccedilatildeo ldquopresente x
passadordquo sendo de suma importacircncia o despertar de uma consciecircncia criacutetica por
parte do estudante Por isso ao longo do tempo o ensino sofre influecircncia por parte
do ldquopoderrdquo segundo Laville (1999 p 128) ldquoa Histoacuteria eacute certamente a uacutenica disciplina
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escolar que recebe intervenccedilotildees diretas dos altos dirigentes e a consideraccedilatildeo ativa
dos parlamentos Isso mostra quatildeo importante eacute ela para o poderrdquo Nesta linha o
autor ainda acrescenta que ldquoa narrativa histoacuterica pode tambeacutem ser vista como uma
tomada de poder por grupos sem poderrdquo (LAVILLE 1999 p 129)
Na busca de modificar esse modelo surgem novos meacutetodos que valorizam o
uso do documento histoacuterico e a incorporaccedilatildeo de novas tecnologias de acordo com
Azevedo e Stamatto (2010 p 720) ldquotem o desafio de responder a inquietaccedilotildees do
hojerdquo Partindo deste pressuposto haacute possibilidade de se modificar o ensino da
Histoacuteria que ateacute entatildeo estava voltado agrave memorizaccedilatildeo para um modelo onde o
sujeito seja agente deste processo
Ensinar Histoacuteria como algo pronto e acabado [] sem levar em conta o contexto e os sujeitos envolvidos no processo de ensino aprendizagem pode levar a um ensino que natildeo desenvolve o que eacute mais importante como funccedilatildeo do ensinar histoacuteria que orientar os problemas da vida praacutetica (SCHMIDT CAINELLI 2009 p 20)
Assim Seffner (2013 p 51) acrescenta que ldquoo ensino de Histoacuteria eacute um ensino
de situaccedilotildees histoacutericas Mais do que nomes datas e acontecimentos o professor
deve propiciar ao aluno a compreensatildeo de como se estrutura uma dada situaccedilatildeordquo
Para que o ensino de Histoacuteria seja ressignificado existe a necessidade de anaacutelise
do processo histoacuterico problematizando os fatos no vai e vem do presentepassado
Os estudantes da educaccedilatildeo baacutesica necessitam compreender a histoacuteria como
um processo em constante transformaccedilatildeo que eacute movimentada por sujeitos que a
compotildeem com permanecircncias e rupturas ao longo dos tempos Segundo Bittencourt
(2004 p 168) ldquoa histoacuteria local tem sido indicada como necessaacuteria para o ensino por
possibilitar a compreensatildeo do alunordquo
Corroborando Seffner (2013) Souza (2015) e Brum (2015) evidenciam a
importacircncia de se trabalhar a histoacuteria global partindo de uma histoacuteria local
problematizando levando hipoacuteteses e analisando os fatos histoacutericos o que gera
significado para o educando e torna o docente natildeo mais um mero transmissor mas
um mediador deste conhecimento Neves (1997 p 22) reforccedila que ldquoo local fora do
contexto geral eacute apenas um fragmento e o geral sem o respaldo das realidades
locais eacute apenas uma abstraccedilatildeordquo Com esta nova abordagem o estudar Histoacuteria tem
sentido para o discente que se sente sujeito de sua proacutepria histoacuteria visto que
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identificar-se com o local onde se vive ajuda a compreender o sentimento de
pertencimento e suas relaccedilotildees com o meio social e cultural no qual estaacute inserido
Nesta perspectiva faz-se necessaacuterio que os professores busquem novas
alternativas de ensino que proporcionem ao estudante a habilidade de ressignificar o
fato histoacuterico estudado
Ensinar Histoacuteria requer do professor a habilidade de buscar sentido e significado para o conhecimento que ministra e isso significa superar a mera transmissatildeo de informaccedilotildees jaacute que essa natildeo tem por finalidade o desenvolvimento intelectual mas ao contraacuterio deforma a capacidade de pensamento histoacuterico do aluno e a possibilidade de consolidar habilidades de anaacutelise da proacutepria realidade social (SILVA PORTO 2012 p 67)
Goubert assim define a histoacuteria local
Denominaremos histoacuteria local como aquela que diga respeito a uma ou poucas aldeias a uma cidade pequena ou meacutedia (um grande porto ou uma capital estatildeo aleacutem do acircmbito local) ou a uma aacuterea geograacutefica que natildeo seja maior do que a unidade provincial comum (como um county inglecircs um contado italiano uma Land alematilde uma bailiwick ou pays francecircs) Praticada haacute tempos atraacutes com cuidado zelo e ateacute orgulho a histoacuteria local foi mais tarde desprezada mdash principalmente nos seacuteculos XIX e primeira metade do XX mdash pelos partidaacuterios da histoacuteria geral A partir poreacutem da metade desse seacuteculo a histoacuteria local ressurgiu e adquiriu novo significado na verdade alguns chegam a afirmar que somente a histoacuteria local pode ser autecircntica e fundamentada (GOUBERT 1992 p 70)
Neste sentido fica evidente a importacircncia de se partir de uma histoacuteria local
para uma global Atraveacutes da histoacuteria local os estudantes teratildeo contato com sua
histoacuteria e poderatildeo se sentir parte integrante deste espaccedilo que muitas vezes por
falta de conhecimento acabam renegando sua proacutepria identidade Figueira e Miranda
(2012 p 113) afirmam que ldquoum dos efeitos mais danosos da globalizaccedilatildeo eacute a
universalizaccedilatildeo dos gostosrdquo isto implica diretamente na perda da identidade local
que muitas vezes estaacute sendo afetada pelas muacuteltiplas identidades existentes Neste
sentido Silva e Porto descrevem
A globalizaccedilatildeo entretanto produz diferentes resultados em termos de identidade A homogeneidade cultural promovida pelo mercado global pode levar ao distanciamento da identidade relativamente agrave comunidade e agrave cultura local (SILVA PORTO 2012 p 21)
Neste sentido Canclini acrescenta
Las comunidades de consumidores se organiza cada vez menos seguacuten diferencias nacionales y sobre todo en las generaciones joacutevenes definen sus praacutecticas culturales de acuerdo con informacioacuten y estilos homogeneizados (CANCLINI 1997 p 42)
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Globalizaccedilatildeo que impotildee atraveacutes dos meios de comunicaccedilatildeo e social uma
identidade geral que regra a sociedade seus haacutebitos e costumes Devido ao grande
movimento das pessoas pelo mundo perceber e manter uma identidade com
caracteriacutesticas locais fica a cada dia mais difiacutecil ainda mais em se tratando da
populaccedilatildeo jovem que natildeo reconhece ao seu redor o que representa a sua
identidade local
Valorar as experiecircncias locais proporcionaraacute aos estudantes uma nova
metodologia de abordar a histoacuteria
Do ponto de vista metodoloacutegico destaca-se nessa forma de abordagem a preocupaccedilatildeo com os conhecimentos preacutevios dos alunos com a problematizaccedilatildeo dos conteuacutedos de ensino selecionados para trabalho em sala de aula estabelecendo relaccedilotildees com o cotidiano dos alunos e com o cotidiano de outras pessoas em outros tempos e em outros lugares Enfatiza-se tambeacutem a busca de articulaccedilatildeo entre histoacuteria local e a histoacuteria universal (SCHMIDT 2007 p 193)
O ensino de histoacuteria partindo do local para o global possibilita segundo
Bittencourt (2004 p 168) ldquoa compreensatildeo do entorno do alunordquo sendo que um dos
aspectos relevantes para este ensino eacute a escolha de fontes que levem os estudantes
a se reconhecerem nesse processo histoacuterico O autor ainda acresce
Eacute pela memoacuteria que se chega agrave histoacuteria local Aleacutem da memoacuteria das pessoas escrita ou recuperada pela oralidade existem os lsquolugares de memoacuteriarsquo (grifo da autora) expressos por monumentos praccedilas edifiacutecios puacuteblicos ou privados mas preservados como patrimocircnio histoacuterico (BITTENCOURT 2004 p 169)
Esta memoacuteria vai contribuir para legitimaccedilatildeo da identidade local Sabe-se que
a identidade eacute algo mutaacutevel e segundo Silva e Porto (2012 p 38) ldquoas identidades
satildeo produzidas em momentos particulares no tempordquo O pesquisador ainda
acrescenta que ldquoas identidades satildeo contingentes emergindo em momentos
histoacutericos particularesrdquo Estas identidades precisam ser reconhecidas quando se fala
de histoacuteria local
Na mesma linha Ruumlsen descreve a identidade histoacuterica
Consiste na ampliaccedilatildeo do horizonte nas experiecircncias do tempo e nas intenccedilotildees acerca do tempo no qual os sujeitos agentes se asseguram da permanecircncia de si mesmos na evoluccedilatildeo do tempo O ponto extremo dessa consolidaccedilatildeo de identidade eacute a lsquohumanidadersquo como suprassumo dos pontos comuns em sociedade com respeito a diversos sujeitos agentes no processo de determinaccedilatildeo de suas proacuteprias identidades determinam as dos outros de forma tal que estes se reconhecem nelas Esse criteacuterio de sentido lsquohumanidadersquo fornece o paracircmetro para se constatar a consolidaccedilatildeo da
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identidade em que desembocam o progresso contiacutenuo do conhecimento mediante a pesquisa histoacuterica e a ampliaccedilatildeo contiacutenua das perspectivas mediante a reflexatildeo histoacuterica sobre referenciais (RUumlSEN 2001 p 126)
A histoacuteria local eacute constituiacuteda por diferentes identidades que satildeo geradas pelos
grupos que compotildeem este espaccedilo A este respeito Silva e Porto (2011 p 41)
apresentam que ldquoa diferenccedila eacute aquilo que separa uma identidade da outrardquo Tambeacutem
eacute notaacutevel que para que haja a representaccedilatildeo de suas identidades locais faz-se
necessaacuterio o reconhecimento destas e a percepccedilatildeo que existem diferentes fatores
que diferenciam os grupos sociais
Portanto a identidade eacute constituiacuteda pelas posiccedilotildees eou escolhas feitas
sendo que muitas vezes elas satildeo racionais ou ateacute mesmo irracionais A identidade
eacute baseada na memoacuteria que pode ser individual ou coletiva Segundo Candau (2011
p 16) ldquoos laccedilos fundamentais entre memoacuteria e identidade eacute sobre o fato de que eacute a
memoacuteria faculdade primeira que alimenta a identidaderdquo
Se a memoacuteria gera a identidade natildeo se pode pesquisar e escrever sobre
histoacuteria local sem levar em conta estes dois conceitos primordiais pois a histoacuteria
local soacute teraacute valia se escrita pelo vieacutes do todo ou seja natildeo priorize um grupo ou
classe social todos os quadros sociais devem estar representados dentro deste
processo Nessa linha Schmidt e Cainelli descrevem
O estudo da localidade ou da histoacuteria regional contribui para uma compreensatildeo muacuteltipla da Histoacuteria pelo menos em dois sentidos na possibilidade de se ver mais de um eixo histoacuterico na histoacuteria local e na possibilidade da anaacutelise de micro histoacuterias pertencentes a alguma outra histoacuteria que as englobe e ao mesmo tempo reconheccedila suas particularidades (SCHMIDT CAINELLI 2009 p 139)
Uma histoacuteria que faz sentido que esteja englobada a outra histoacuteria A
memoacuteria coletiva entra na construccedilatildeo desta histoacuteria local e eacute primordial pois esta vai
dar elementos que constroem a identidade deste local sendo que a memoacuteria do
passado influencia na representaccedilatildeo da identidade Neste sentido conforme
Figueira e Miranda (2012 p 47) eacute necessaacuterio compreender a memoacuteria ldquocomo a
capacidade de conservar e de preservar dados refere-se a um conjunto de funccedilotildees
cerebrais que nos permite reter informaccedilotildees adquiridas e impressotildees vividasrdquo
Podendo ser ela individual ou coletiva sendo que a memoacuteria individual existe a partir
de uma memoacuteria coletiva jaacute que as lembranccedilas que ajudam a reconstruir o passado
partem do interior de um grupo
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Para as Ciecircncias Humanas o conceito de memoacuteria estaacute ligado agrave memoacuteria
social e coletiva definida por Le Goff (2003 p 422) como ldquoo estudo da memoacuteria
social eacute um dos elementos fundamentais de abordar os problemas do tempo e da
histoacuteriardquo O autor ainda acrescenta que ldquoa memoacuteria coletiva eacute natildeo somente uma
conquista eacute tambeacutem um instrumento e um objeto de poderrdquo (LE GOFF 2003 p
410) Neste sentido Halbwachs (2004 p 90) ressalta que ldquotoda memoacuteria coletiva
tem por suporte um grupo limitado no espaccedilo e no tempo e o mundo histoacuterico eacute
como um oceano onde afluem todas as histoacuterias parciaisrdquo
Quando se abordam conceitos de memoacuteria e identidade no ensino de
histoacuteria estaacute se trazendo para o estudo os sujeitos que compotildeem aquele local com
suas vivecircncias que podem ser coletivas ou natildeo A transmissatildeo de saberes entre as
geraccedilotildees forma a identidade coletiva sendo o ser humano um agente ativo no
quadro social da memoacuteria
Halbwachs assim define os quadros coletivos da memoacuteria
Os quadros coletivos da memoacuteria natildeo se resumem em datas nomes e foacutermulas que eles representam correntes de pensamento e de experiecircncia onde reencontramos nosso passado porque este foi atravessado por isso tudo (HALBWACHS 2004 p 71)
Nesta direccedilatildeo Le Goff (2003 p 4) acrescenta que ldquoa memoacuteria social eacute um
dos meios fundamentais para se abordar os problemas do tempo e da histoacuteria A
memoacuteria estaacute nos proacuteprios alicerces da histoacuteriardquo Catroga (2001) reforccedila que a
memoacuteria eacute moldada a partir das vivecircncias e na sua narrativa vai haver uma
coerecircncia que se mistura passado e presente
Quando se escreve sobre histoacuteria local eacute importante considerar que ela estaacute
pautada em documentos assim como em memoacuterias escritas visuais ou orais Neste
sentido eacute perceptiacutevel que o uso dos diferentes tipos de memoacuteria satildeo alicerces que
conduzem o trabalho do historiador para que ele possa interpretar suas fontes e
validar seu trabalho Memoacuterias estas que podem ser apresentadas com documentos
oficiais ou atraveacutes de uma cultura material ou imaterial
A escrita de histoacuterias locais vem como um novo modelo de resguardar
identidades e memoacuterias que se natildeo preservadas iratildeo desaparecer pela influecircncia
da globalizaccedilatildeo e falta de conhecimento de futuras geraccedilotildees Barros assim
descreve
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Os novos tempos comeccedilavam a trazer um novo padratildeo historiograacutefico novas aberturas retornos e possibilidades e tambeacutem incertezas para os historiadores no que se refere agrave natureza do conhecimento que produzem e ao papel do conhecimento histoacuterico na sociedade [] Entre as novidades postula-se a possibilidade de examinar a histoacuteria de acordo com uma nova escala de observaccedilatildeo ndash atenta para o detalhe para as micro realidades para aquilo que habitualmente escapa ao olhar panoracircmico da macro histoacuteria tradicional ndash e eacute esta nova postura que se passou a chamar de micro histoacuteria (BARROS 2012 p 306)
Diante deste contexto o ensino de Histoacuteria pode buscar na histoacuteria local a
problematizaccedilatildeo necessaacuteria para que os estudantes da educaccedilatildeo baacutesica
reconheccedilam a identidade local que vem sofrendo com a uniformizaccedilatildeo da
sociedade que impotildee uma conjuntura global do local
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3 SAtildeO FRANCISCO DE PAULA CONSTRUCcedilAtildeO DO MUNICIacutePIO
A apresentaccedilatildeo do municiacutepio Satildeo Francisco de Paula acontece atraveacutes do
uso da narrativa Esta se apresenta atraveacutes do diaacutelogo com obras jaacute produzidas por
memorialistas eou genealogistas que contribuem para a construccedilatildeo histoacuterica deste
local bem como se usa como fonte de enriquecimento documentos da Assembleia
Legislativa do Rio Grande do Sul e jornais locais
Para tanto se apresenta a revisatildeo historiograacutefica das obras escritas pelos
memorialistas eou genealogistas sendo que Lucena (1971) em sua obra ldquoSatildeo
Francisco de Paula Monografiardquo que abrange aspectos histoacutericos da formaccedilatildeo do
municiacutepio bem como pontos turiacutesticos e demograacuteficos O proacuteprio autor intitula a sua
obra como informativa a riqueza de detalhes eacute interessante poreacutem natildeo haacute nenhuma
referecircncia quanto aos dados escritos nem mesmo um referencial bibliograacutefico ao
final
No texto intitulado ldquoOs Fundadores de Satildeo Francisco de Paulardquo Alves (2007)
escreve sobre a fundaccedilatildeo de Satildeo Francisco de Paula Em seu livro haacute documentos
que validam o que se refere agrave genealogia jaacute que boa parte da obra apresenta os
troncos familiares que compunham o iniacutecio deste municiacutepio Na mesma linha da
genealogia Oliveira (1996) no livro ldquoAurorescer das Sesmarias Serranas histoacuteria e
genealogiardquo traz a histoacuteria das primeiras sesmarias da regiatildeo mas o foco principal
se daacute aos proprietaacuterios e seus descendentes Haacute um mapa bastante interessante
localizando as sesmarias e o nome por elas recebidos
Em ldquoSatildeo Francisco de Paula nossa terra nossa genterdquo Teixeira (2002)
apresenta dados gerais e histoacutericos do municiacutepio Esta obra apresenta dados
geograacuteficos como clima relevo e vegetaccedilatildeo A autora escreve sobre diversos
aspectos eventos personalidades e lendas Aleacutem disso apresenta Satildeo Francisco
de Paula com uma linha cronoloacutegica A obra abrange vaacuterios aspectos mas todos
suscintamente No final a autora apresenta a bibliografia consultada dentre os
autores estaacute Lucena (1971)
O texto ldquoSatildeo Francisco de Paula Rio Grande do Sul histoacuteria encantos e
misteacuteriosrdquo eacute uma obra de Fonseca (2012) que traz diversidade de assunto muitas
vezes estes estatildeo desconexos ou seja sua leitura se torna ldquotruncadardquo No final do
texto haacute um vasto referencial bibliograacutefico dentre os autores citam-se Lucena
(1971) e Teixeira (2002)
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Ribeiro (2003) eacute compositor e poeta Em ldquoFestival do Ronco do Bugiordquo
escreve sobre Satildeo Francisco de Paula apresentando a histoacuteria dos quinze anos do
festival no municiacutepio No iniacutecio contextualiza a origem do festival e do ritmo bugio
Depois apresenta a capa do disco de cada festival especificando as muacutesicas e os
compositores vencedores
Todas essas obras satildeo importantes para Satildeo Francisco de Paula cada uma
traz consigo um pouco da histoacuteria deste municiacutepio poreacutem sente-se falta da
identidade e da memoacuteria na construccedilatildeo histoacuterica As obras satildeo apresentadas o
mesmo prisma apresentando os iacutendios Caaguaraacutes e o Capitatildeo Pedro da Silva
Chaves os fundadores desta terra dando bastante ecircnfase aos sobrenomes que ali
se desenvolveram
31 CONVERSA COM MEMORIALISTAS
As terras onde hoje fica Satildeo Francisco de Paula eram habitadas por iacutendios da
tribo Caaguaraacutes que faziam parte dos Coroados Estes viviam livremente nos
campos de cima da serra e seus domiacutenios estendiam-se entre a Serra Geral e a
Serra do Mar Os iacutendios Caaguaraacutes tinham como haacutebitos alimentares a caccedila a
pesca e a coleta de sementes e frutos dentre os frutos o pinhatildeo e a goiaba-do-
mato segundo Teixeira (2002) e Alves (2007) Estes iacutendios tiveram seu habitat
invadido por incursotildees de desbravadores que comeccedilaram a trafegar pela regiatildeo em
busca de mulas e novas terras visto que as terras onde hoje se encontra Satildeo
Francisco de Paula de Cima da Serra foram rota de tropeiros5 pois estes trafegavam
pelos Campos de Cima da Serra indo na direccedilatildeo de Lages-SC ateacute alcanccedilarem
Sorocaba-SP6 Ao passarem por esta regiatildeo foram se formando pequenos vilarejos
e construindo um jeito peculiar de viver
Neste cenaacuterio aparece o municiacutepio de Satildeo Francisco de Paula de Cima da
Serra que recebe este nome para se diferenciar de Satildeo Francisco de Paula
denominaccedilatildeo recebida ateacute meados de 1830 pelo municiacutepio de Pelotas Poreacutem na
metade do seacuteculo XVIII Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra possuiacutea
5 Tropeiros homens que conduziam suas tropascomitivas de muares ou cavalos entre as regiotildees 6 Sugere-se a leitura FLORES Moacyr Troperismo no Brasil Porto Alegre Nova Dimensatildeo 1998
SAVARIS Manoelito Tropas e tropeiros o Rio Grande toma forma Disponiacutevel em ltwwwrogeriobastoscombr201104trpas-e-tropeiros-o-rio-grande-tomahtmlgt Acesso em 12 mar 2016
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proprietaacuterios de terras sendo que um dos pioneiros foi Pedro da Silva Chaves um
portuguecircs casado com Gertrudes de Godoy uma paulista Pedro da Silva Chaves
declara em 1742 ser possuidor de terras neste municiacutepio Segundo Oliveira (1996)
em seu testamento Pedro da Silva Chaves rege que possui trecircs fazendas na regiatildeo
uma chamada Satildeo Joatildeo que se localiza desde o Arroio Santa Cruz ateacute o Rio
Tainhas concedida em 1752 por sesmaria a Fazenda da Cria que foi comprada de
Francisco Pinto Bandeira e confirmada como sesmaria em 1754 e a Fazenda
denominada Cerrito comprada do Capitatildeo Antocircnio Gonccedilalves dos Reis Nestas
fazendas havia criaccedilatildeo de cavalos gado vacum mulas e burros As fazendas
tambeacutem apresentavam em torno de 77 escravos sendo que alguns satildeo casados o
que se faz pensar que estes constituiacuteam famiacutelia aumentando assim o nuacutemero de
escravos da regiatildeo No mapa da Figura 1 verifica-se a localizaccedilatildeo das fazendas do
capitatildeo Pedro da Silva Chaves bem como sua extensatildeo territorial
Figura 1 ndash Mapa de Identificaccedilatildeo das Sesmarias Serranas
Fonte Oliveira (1996 p 236)
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No mapa apresentado na Figura 1 ainda eacute possiacutevel observar a localizaccedilatildeo
onde inicia o povoado de Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra segundo
Lucena (1971 p 1) ldquoiniciou-se com o Capitatildeo Pedro da Silva Chaves que doou
uma gleba de terra para que fosse iniciado o povoadordquo Tambeacutem segundo Lucena
(1971 p 1) ldquodoou cinquenta vacas para construir o primeiro patrimocircnio da Igreja
cuja construccedilatildeo foi iniciada por sua conta e lhe deu o nome de Satildeo Francisco por
este ser devoto do Santordquo O que demonstra que Pedro da Silva Chaves era
Catoacutelico
Neste periacuteodo compreendido como seacuteculo XIX segundo Teixeira (2002) e
Alves (2007) o atual municiacutepio de Satildeo Francisco de Paula pertencia ao municiacutepio de
Santo Antocircnio da Patrulha municiacutepio este que formava juntamente com Porto
Alegre Rio Pardo e Rio Grande a proviacutencia de Satildeo Pedro do Rio Grande do Sul
atual Rio Grande do Sul Eacute possiacutevel observar a grande extensatildeo territorial de cada
municiacutepio no mapa apresentado na Figura 2 segundo Silva (2000) Santo Antocircnio
da Patrulha anexava as freguesias de N Sra Conceiccedilatildeo do Arroio e N Sra da
Oliveira da Vacaria a capela de Satildeo Domingos das Torres e os povoados de Santa
Cristina do Pinhal e Cima da Serra
Analisando o mapa da Figura 2 eacute possiacutevel perceber que o municiacutepio de Santo
Antocircnio da Patrulha tinha um vasto e extenso territoacuterio que atualmente compreende
os municiacutepios de Vacaria Antocircnio Prado Nova Roma do Sul Lagoa Vermelha
Veranoacutepolis Nova Prata Nova Araccedilaacute Nova Bassano Paraiacute Guabiju Satildeo Jorge
Vista Alegre do Prata Protaacutesio Alves Cotiporatilde Fagundes Varela Vila Flores
Caseiros Birajaras Andre da Rocha Capatildeo Bonito do Sul Muitos Capotildees Bom
Jesus Satildeo Joseacute dos Ausentes Esmeralda Ipecirc Campestre da Serra Monte Alegre
dos Campos Taquara Satildeo Francisco de Paula Cambaraacute do Sul e Jaquirana
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Figura 2 ndash Divisatildeo Municipal em 1809 ndash Proviacutencia Satildeo Pedro do Rio Grande do Sul
Fonte Evoluccedilatildeo Administrativa (2013)7
32 AMPLIANDO O DIAacuteLOGO COM OS MEMORIALISTAS
Segundo documentos da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul8
disponiacuteveis no Arquivo Histoacuterico de Satildeo Francisco de Paula9 em 1852 atraveacutes da
Lei nordm 266 de 30 de novembro de 1852 eleva-se agrave categoria de freguesia a entatildeo
capela Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra pelo entatildeo vice-governador da
proviacutencia de Satildeo Pedro do Rio Grande do Sul o senhor Luiz Alves Leite de Oliveira
Bello Estes documentos ainda retratam que no ano de 1886 houve distribuiccedilatildeo de
lotes devolutos para pessoas pobres que comprovassem residecircncia haacute pelo menos
trecircs anos e se comprometessem a ldquofundar moradiardquo em um prazo de um ano sendo
assim passados trecircs anos seriam donos definitivos destes lotes dando o iniacutecio ao
povoamento da vila No mesmo periacuteodo acontece a criaccedilatildeo do cemiteacuterio municipal
7 Disponiacutevel em ltwwwatlassocioeconomicorsgovbrevolucao-administrativa-1809-a-2013gt Acesso
em 18 mar 2017 8 O diaacutelogo com memorialista se amplia a partir de agora com contribuiccedilotildees de documentos
pesquisados que corroboram para a compreensatildeo do tema 9 BARBOSA Eni GONCcedilALVES Jorge Joseacute Xavier (Orgs) Documentos histoacutericos da Assembleia
Legislativa do Rio Grande do Sul Arquivo Histoacuterico de Satildeo Francisco de Paula 1992
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que ocorre em 1891 segundo documentos da Assembleia Legislativa disponiacuteveis
no Arquivo Histoacuterico de Satildeo Francisco de Paula Estes documentos informam que
primeiramente somente moradores que comprovassem residecircncia haacute mais de trecircs
anos e pudessem manter os jazigos de seus entes poderiam fazer uso deste
espaccedilo Atraveacutes desta documentaccedilatildeo se percebe que havia toda uma organizaccedilatildeo
para que ldquoestrangeirosrdquo natildeo se estabelecessem em Satildeo Francisco de Paula de Cima
da Serra
Em 1889 Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra passa a categoria de vila
e deixa de pertencer a Santo Antocircnio da Patrulha passando a ser distrito do
municiacutepio de Taquara do Mundo Novo (hoje Taquara) o que traz mudanccedilas
significativas para a vila
Mesmo havendo distribuiccedilatildeo de lotes apoacutes quinze anos percebe-se na
Figura 3 que o povoado ainda era pequeno cercado de campos que constituiacuteam
fazendas com criaccedilatildeo de gado vacum tendo como principal economia a pecuaacuteria
extensiva Ao alto pode-se visualizar a Igreja Matriz construiacuteda pelo capitatildeo Pedro
da Silva Chaves
Figura 3 ndash Vista da vila de Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra (1901)
Fonte Portal Satildeo Chico (2018)10
10 PORTAL SAtildeO CHICO Fotos antigas de Satildeo Francisco de Paula 2018 Disponiacutevel em
ltwwwsaochicocombrantigasgt Acesso em 12 abr 2019
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Ainda eacute possiacutevel observar atraveacutes da Figura 3 que neste periacuteodo natildeo havia
nenhuma preocupaccedilatildeo com a organizaccedilatildeo urbana ou seja ruas quadras as
construccedilotildees se apresentam de maneira desordenada Poreacutem passados vinte e dois
anos na Figura 4 jaacute eacute possiacutevel visualizar uma estrutura urbanizada com possiacutevel
organizaccedilatildeo de ruas e quadras mas a vila ainda eacute rodeada de campos
Figura 4 ndash Vista Avenida Juacutelio de Castilhos (1923)
Fonte Lucena (1971 p 67)
O desenvolvimento da Sede de Satildeo Francisco de Paula acontece segundo
Lucena (1971 p 27) ldquonos primeiros anos de vida isto eacute de 1910 a 1924 mais ou
menos devido agrave extraccedilatildeo da erva-mate que era abundante em nossos matos nas
zonas da serrardquo O autor ainda acrescenta
O pioneiro na extraccedilatildeo da erva-mate em nossa Comuna foi o proprietaacuterio Carlos Miguel Kroeff dono da fazenda Potreirinho praticamente arrabalde de nossa cidade No barba-quaacute11 se iniciava todo processo de industrializaccedilatildeo da erva-mate sendo que Satildeo Francisco de Paula chegou a ter quinhentos barbaacute-quas (LUCENA 1971 p 28)
11 Barba-quaacute um valo de cerca de oito metros de comprimento amis ou menos por um metro de
profundidade e oitenta centiacutemetros de largura coberto de xaxim e terra em uma das extremidades colocava-se um gradeado e acima deste em uma parte tambeacutem coberta e mais alta tinha apenas uma saiacuteda sob o gradeado colocava-se as folhas de erva extraiacuteda da aacutervore no iniacutecio do valo fazia-se um fogo e a fumaccedila que pela pouca ventilaccedilatildeo existente formava bastante fumaccedila e esta atingia as folhas secando-as (LUCENA 1971 p 28)
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A produccedilatildeo de erva-mate contribuiu para o povoamento da vila visto que
muitas pessoas vieram trabalhar e acabaram se instalando no municiacutepio Apoacutes a
extraccedilatildeo da erva-mate surge a extraccedilatildeo de madeira que tambeacutem contribui para o
desenvolvimento
Nesta documentaccedilatildeo ainda se encontra no artigo nordm 251 de 08 de abril de
1891 a liberaccedilatildeo da verba para abrir a estrada de rodagem que liga as vilas de
Taquara do Mundo Novo e Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra em 1889
Atraveacutes da Figura 5 pode-se perceber o quatildeo difiacutecil era abrir uma nova estrada de
rodagem Tudo era manual com o uso de animais e muares para transportar pedras
e terras poreacutem a abertura desta estrada traz mudanccedilas significativas para a
populaccedilatildeo de Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra
Figura 5 ndash Abertura da estrada ERS-020 Taquara ndash Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra
Fonte Jornal Folha da Serra (1968 n 89 p 8)12
12 Folha da Serra jornal criado em 1932 pelo Dr Siacutelvio Rabelo sendo o uacutenico jornal que existia na
regiatildeo serrana Este trazia notiacutecias sociais poliacuteticas etc com uma tiragem em torno de 500 exemplares por semana Encontram-se no Arquivo Histoacuterico de Satildeo Francisco de Paula alguns exemplares ateacute a deacutecada de 70 seacuteculo XX
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A estrada visava facilitar o acesso da populaccedilatildeo de Satildeo Francisco de Paula
de Cima da Serra que ia ateacute Taquara para buscar gecircneros de primeira necessidade
Em tempos idos os serranos se abasteciam de gecircneros de primeira necessidade quase que totalmente em Taquara e o transporte era feito em cargueiros que compunham uma tropa com cerca de quinze a vinte cargueiros Os animais usados para esse transporte eram geralmente muares mais resistentes para o transporte de carga Os serranos levavam daqui queijo (o queijo ateacute hoje chamado queijo serrano) charque couros e alguns levavam maccedilatilde ou pinhatildeo em suas eacutepocas de colheita trocados por mantimentos de que necessitavam Natildeo existiam ainda estradas e o trajeto era feito por picadas existentes (LUCENA 1971 p 23)
O mesmo autor ainda acrescenta
Para atingir a capital do Estado a viagem era cheia de peripeacutecias O transporte era feito a cavalo ou em diligecircncias ateacute Taquara As diligecircncias carros de quatro de rodas puxados por quatro animais ndash cavalos ndash eram de propriedade de Bertolo Casara mais conhecido por lsquoJoatildeo Gringorsquo Essa viagem se fazia normalmente em um dia e agraves vezes em dia e meio O ponto de parada era ali no Rodeio Bonito onde existia uma casa agrave esquerda bem defronte a estrada que desce para Trecircs Coroas [] De Taquara a Porto Alegre por via ferroviaacuteria ndash de trem (LUCENA 1971 p 16)
A construccedilatildeo desta estrada traz um novo desenvolvimento para a entatildeo vila
de Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra pois apoacutes a abertura da estrada de
rodagem Taquara ndash Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra modifica o transporte
de mercadorias entre as localidades
O transporte de mercadorias era feito em carretotildees de quatro rodas puxados uns por cinco animais outros por sete as maiores que geralmente eram muares Eram atrelados em duas fileiras Na fileira junto agrave carreta que era de duas ou trecircs mulas na da esquerda montava o carreteiro Este toda vez que se verificava um declive na estrada apeava de sua montaria a fim de brecar a carreta sem que esta entretanto parasse (LUCENA 1971 p 24)
Este modelo de comeacutercio vai desaparecer com o surgimento das primeiras
casas de comeacutercios na vila de Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra De acordo
com Lucena (1971 p 38) ldquoos primeiros comerciantes foram Manoel Vicente
Ferreira Abel Pacheco Luis Carlos de Andrade e Jacob Bossle Sobrinhordquo Na
imagem da Figura 6 temos o Accedilougue Central onde nota-se que os animais
convivem soltos na rua juntamente com as pessoas mesmo se tratando de local
urbano
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Figura 6 ndash Accedilougue Central
Fonte Portal Satildeo Chico (2018)13
Nesta mesma documentaccedilatildeo haacute decretos que definem a construccedilatildeo de uma
nova Igreja Matriz isto eacute uma Igreja de Pedra substituindo a antiga que era de
madeira ainda construiacuteda pelo capitatildeo Pedro da Silva Chaves esta construccedilatildeo data
do ano de 1922 Segundo Teixeira (2002 p 30) a Igreja de Pedra permanece ateacute
1960 quando daacute lugar ao atual preacutedio da Igreja Matriz que foi inaugurada em 14 de
junho de 1964 Na sequecircncia teremos duas imagens demonstrando a Igreja de
Pedra e a atual edificaccedilatildeo da Igreja Matriz Natildeo foi encontrada nenhuma foto da
Igreja de Madeira nos arquivos do Arquivo Histoacuterico do Municiacutepio somente em um
site de fotos antigas onde encontra-se registro apresentado na Figura 7
13 PORTAL SAtildeO CHICO Fotos antigas de Satildeo Francisco de Paula 2018 Disponiacutevel em
ltwwwsaochicocombrantigasgt Acesso em 12 abr 2019
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Figura 7 ndash Igreja Matriz em 1931
Fonte Portal Satildeo Chico (2018)14
Figura 8 ndash Igreja Matriz
Fonte acervo da autora (2015)
14 PORTAL SAtildeO CHICO Fotos antigas de Satildeo Francisco de Paula 2018 Disponiacutevel em
ltwwwsaochicocombrantigasgt Acesso em 12 abr 2019
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Entre os anos de 1892 a 1902 por duas vezes Satildeo Francisco de Paula de
Cima da Serra eacute desanexado e reanexado ao entatildeo municiacutepio de Taquara do Mundo
Novo Somente em 23 de dezembro de 1902 foi reestabelecido definitivamente o
municiacutepio de Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra cuja instalaccedilatildeo se verificou
em 07 de janeiro de 1903 A partir de 01 de janeiro de 1938 perde ldquoCima da Serrardquo
de sua nomenclatura permanecendo somente Satildeo Francisco de Paula Apesar
disso se manteacutem o gentiliacutecio ldquoSerranordquo de acordo com Silva (2000 p 23) e dados
do Arquivo Histoacuterico de Satildeo Francisco de Paula sendo que este gentiliacutecio eacute usado
ateacute os dias de hoje
No iniacutecio o municiacutepio de Satildeo Francisco de Paula foi um dos maiores do Rio
Grande do Sul em territoacuterio mas ao longo do tempo foi diminuindo seu territoacuterio
com a anexaccedilatildeo de parte dele ao entatildeo municiacutepio de Caxias do Sul e de Torres e a
criaccedilatildeo dos municiacutepios de Cambaraacute do Sul em 1963 e Jaquirana em 1988
Foi uma das maiores Comunas do Estado pois de seu territoacuterio faziam parte os atuais municiacutepios de Satildeo Marcos Cambaraacute do Sul e Jaquirana e os distritos de Vila Oliva Criuacuteva Fazenda Souza e Vila Seca hoje integrantes de Caxias do Sul De nosso territoacuterio foi tambeacutem desanexada uma gleba de terra ndash Josafaacute ndash e anexada ao municiacutepio de Torres (LUCENA 1971 p 10)
Mesmo perdendo parte de seu territoacuterio ao longo dos anos atualmente
segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (2016) ldquoSatildeo Chicordquo como
costumeiramente eacute chamado pelo seu povo estaacute situado na Encosta Inferior do
Nordeste do Estado do Rio Grande do Sul na zona denominada de Campos de
Cima da Serra Fica distante 112 quilocircmetros da capital do Estado Porto Alegre Os
municiacutepios limiacutetrofes satildeo Monte Alegre dos Campos Bom Jesus Jaquirana
Cambaraacute do Sul Praia Grande-SC Trecircs Forquilhas Itati Maquineacute Riozinho
Rolante Taquara Trecircs Coroas Canela e Caxias do Sul Possui uma aacuterea territorial
de 3264490 quilocircmetros quadrados com uma estimativa populacional de 21617
habitantes distribuiacutedos na zona urbana e rural O municiacutepio se divide em sete
distritos Sede Cazuza Ferreira Tainhas Juaacute Eletra e Lajeado Grande Atraveacutes do
conjunto de mapas apresentado na Figura 9 eacute possiacutevel visualizar a localizaccedilatildeo de
Satildeo Francisco de Paula dentro do Rio Grande do Sul e por conseguinte no Brasil
Tambeacutem se verifica a localizaccedilatildeo dos distritos de Satildeo Francisco de Paula
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Figura 9 ndash Mapa de localizaccedilatildeo de Satildeo Francisco de Paula
Subdivisatildeo de Satildeo Francisco de Paula em distritos
Fonte montagem da autora (2019)
Desta forma se constitui o espaccedilo fiacutesico do municiacutepio de Satildeo Francisco de
Paula cuja populaccedilatildeo natildeo forma uma colocircnia pois seu povo adveacutem de diferentes
lugares a grande maioria com descendecircncia lusa sendo que os primeiros
colonizadores foram bandeirantes paulistas
A populaccedilatildeo de Satildeo Francisco de Paula eacute composta de brancos africanos e indiacutegenas Os brancos compreendendo portugueses (principalmente
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accedilorianos) alematildees e italianos os africanos pertenciam ao grupo dos bantos e foram trazidos pelos portugueses (TEIXEIRA 2002 p 147)
A diversidade de pessoas que se estabeleceram em Satildeo Francisco de Paula
pode ser percebida pelos sobrenomes das famiacutelias precursoras do municiacutepio
Para Satildeo Francisco de Paula afluiacuteram famiacutelias de diversas nacionalidades que atraveacutes de seus descendentes ainda hoje aqui satildeo representadas como Famiacutelias Ferreira Soares Pinto Castilhos Asmuz Santos Martins Lopes Comin Feijoacute Silva Canani Peixoto Andrade Teixeira Valin Lucena Alves Cardoso Gomes Borges Marques Tedesco Medeiros Paglioacuteli Costa Fogaccedila Casara em outras (LUCENA 1971 p 11-12)
Os moradores deste municiacutepio introduziram um jeito singular de viver tendo
em seu cotidiano as tradiccedilotildees gauacutechas15 muito presentes Teixeira (2002 p 83)
assim descreve que ldquoas raiacutezes gauacutechas estatildeo fortemente marcadas na comunidade
seja pelo modo de vestir bombacha botas cinturotildees chapeacuteus e no inverno com o
pala ou pela preferecircncia por comidas campeiras churrasco carreteiro feijatildeo
mexidordquo A autora acrescenta que ldquoas casas com lareira e o tradicional fogatildeo agrave
lenha para aquececirc-las durante o inverno rigoroso satildeo um convite para uma
conversa ao peacute do fogo e o saboreio de um gostoso chimarratildeordquo (TEIXEIRA 2002 p
83)
O enraizamento deste modo de vida adveacutem do homem do campo o
pecuarista que no passado necessitava enviar seus filhos a cidade para estudar
contribuindo para este modelo de vida
Antigamente a pecuaacuteria era a atividade econocircmica muito forte em nosso municiacutepio Assim sendo havia muitos fazendeiros E como as fazendas ficavam muito longe da Sede do municiacutepio as senhoras tinham seus filhos em casa com parteiras Tambeacutem os estudos iniciavam nas fazendas porque as escolas ficavam longe Assim muitas vezes os fazendeiros contratavam professoras para se hospedarem nas suas casas e darem aulas aos seus filhos Em muitos casos ateacute mesmo os proacuteprios pais e avoacutes ensinavam alguma coisa Alguns fazendeiros quando seus filhos ficavam maiores os mandavam continuarem seus estudos na vila (assim lsquoSatildeo Chicorsquo era chamada) (TEIXEIRA 2002 p 77)
Com a vinda dos filhos para a vila trouxeram consigo o jeito do homem do
campo sendo que um dos maiores clubes em funcionamento de Satildeo Francisco de
Paula eacute o atual Centro de Tradiccedilotildees Gauacutechas Rodeio Serrano fundado em maio de
15 Tradiccedilotildees gauacutechas segundo Fagundes (1997 p 38) eacute um movimento ciacutevico-cultural [] eacute a
tradiccedilatildeo em marcha resgatando valores que satildeo vaacutelidos natildeo por serem antigos mas por serem eternos exatamente os valores que trouxeram o Rio Grande e o gauacutecho do passado para o presente projetando-se para o futuro
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1955 Segundo o Jornal Folha da Serra (1968 n 11 p 12) a entidade
tradicionalista receacutem-formada recebe o nome de CTG Coronel Alziro Torres Filho
Fonseca (2012 p 223) menciona que a iniciativa partiu de ldquoDavenir Peixoto Gomes
um homem ruralista e serranordquo Esta entidade tradicionalista teve como primeiro
Patratildeo Oscar Teixeira O CTG Alziro Torres Filho segundo o jornal Folha da Serra
(1957) muda sua nomenclatura em uma reuniatildeo onde o posteiro da invernada
artiacutestica Alaor Valim propotildee a troca do nome para Rodeio Serrano nome que
permanece ateacute a atualidade
A entidade tradicionalista traz como lema ldquoRepontando a Tradiccedilatildeo com o Rio
Grande na Garupardquo Fonseca (2012 p 224) relata que o lema foi ldquocriado pelo
primeiro instrutor de danccedilas Dr Alaor de Almeida Valimrdquo O mesmo autor acrescenta
que ldquoa primeira prenda foi a professora Maria Asmuz Valimrdquo Poreacutem sua sede
somente foi construiacuteda em 1968 sob a patronagem de Dante Santos O Jornal Folha
da Serra (1968 n 11 p 12) indica que ldquoa construccedilatildeo da sede era uma aspiraccedilatildeo de
longos anos que somente agora se concretizardquo Anteriormente ldquoos bailes eram
realizados em sua maioria no Salatildeo Paroquial sendo que alguns foram feitos no
primeiro andar da Associaccedilatildeo Rural e ateacute mesmo na Sociedade Cruzeirordquo
(FONSECA 2012 p 225) Este fato justifica a vontade de Dante Santos de construir
uma sede proacutepria
Apoacutes a construccedilatildeo de sua nova sede o CTG Rodeio Serrano localiza-se na
Rua Benjamim Constant nordm 582 constituindo um espaccedilo importante para a
comunidade de Satildeo Francisco de Paula Dentre as atividades desenvolvidas pelo
CTG estaacute o Rodeio Interestadual que ocorre todos os anos no primeiro final de
semana de dezembro sendo que se encontra na 33ordf ediccedilatildeo A manutenccedilatildeo das
invernadas artiacutesticas em todas as categorias mascote mirim juvenil e adulta A
organizaccedilatildeo da Ronda Crioula na Semana Farroupilha bem como a Cavalgada de
Prendas que ocorre durante a Semana Farroupilha todos os anos Realiza-se o
baile da Prenda Jovem aleacutem de shows e bailes tipicamente gauchescos Aleacutem
disso nos uacuteltimos anos a organizaccedilatildeo do Festival Ronco do Bugio que ocorre em
Satildeo Francisco de Paula ldquofestival este lanccedilado em 16 de abril 1986rdquo segundo o
Jornal Satildeo Chico Tchecirc (1986 n 4 p 5)16
16 Satildeo Chico Tchecirc jornal de circulaccedilatildeo quinzenal fundado em 08 de janeiro de 1986 e que circulou
ateacute 1989 O jornal trazia informaccedilotildees culturais sociais econocircmicas e poliacuteticas da Sede e do
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Durante os seus sessenta e dois anos de existecircncia muitos patrotildees
passaram por esta entidade tradicionalista mas em 2017 pela primeira vez na
histoacuteria o CTG Rodeio Serrano teve uma patronagem feminina Aleacutem da Patroa
Neuza Reis foram empossadas a Capataz Elenita Amaral a Sota-capataz Fernanda
Kirsch Damasceno o Agregado das Pilchas Antocircnio Garcia de Souza e no
Conselho de Vaqueanos Neiva Santos Valim
Figura 10 ndash Patroa Neuza Reis e sua Comissatildeo
Fonte Jornal Pioneiro (2017)17
Satildeo Francisco de Paula hoje conta com vinte e oito entidades
tradicionalistas18 espalhadas pelos seus distritos demonstrando que homem do
campo se faz muito presente em todo o municiacutepio sendo assim a cultura
interior Os exemplares encontram-se encadernados no arquivo histoacuterico de Satildeo Francisco de Paula
17 Jornal Pioneiro conhecido como o jornal que estaacute ldquoao teu ladordquo o Pioneiro circula desde 1948 e estaacute presente hoje em 64 municiacutepios da regiatildeo de Caxias do Sul Desde 1993 integra a rede de jornais do Grupo RBS sendo filiado ao Instituto Verificador de Circulaccedilatildeo (IVC) Conta com uma equipe de Redaccedilatildeo com mais de 40 jornalistas aleacutem de colunistas internos e externos Em 2008 o jornal ganhou o site pioneirocom Disponiacutevel em lthttpwwwgruporbscombratuacaopioneirogt acesso em 10 de fevereiro de 2019
18 Informaccedilatildeo cedida pelo Coordenador da 27ordf Regiatildeo Tradicionalista Gauacutecha
40
tradicionalista se apresenta de maneira forte e consistente segundo vaacuterios
depoimentos de moradores de todos os distritos de Satildeo Francisco de Paula
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4 SAtildeO FRANCISCO DE PAULA DISTRITOS EM FOCO
Quanto aos distritos de Satildeo Francisco de Paula surgem diversas
inquietaccedilotildees com relaccedilatildeo agrave identidade destes locais pois estes mesmo fazendo
parte de um mesmo municiacutepio apresentam singularidades que derivam de sua
colonizaccedilatildeo basicamente lusa portuguesa e da recepccedilatildeo de imigrantes de diversas
etnias como italianos e alematildees ao longo destes cento quinze anos de
emancipaccedilatildeo Percebe-se que alguns distritos manteacutem sua identidade e tradiccedilotildees
resguardadas enquanto em outros jaacute ocorreu agrave miscigenaccedilatildeo de diferentes haacutebitos
e culturas o que dificulta identificar traccedilos que identifiquem estes distritos
Neste capiacutetulo busca-se responder a estas inquietaccedilotildees fazendo uso dos
depoimentos de moradores locais Segundo Delgado (2003 p 21) ldquoessas
narrativas tal qual os lugares da memoacuteria satildeo instrumentos importantes de
preservaccedilatildeo e transmissatildeo das heranccedilas identitaacuterias e das tradiccedilotildeesrdquo Neste sentido
se optou por dois moradores por distrito totalizando treze entrevistados um homem
e uma mulher da terceira idade que sempre morou no distrito o que enriquece os
detalhes repassados pelos entrevistados
Toda entrevista tem por base a memoacuteria individual que se referencia na coletiva profundamente relacionada agraves vivecircncias individuais A utilizaccedilatildeo do depoimento de pessoas idosas como fonte para a histoacuteria oral eacute uma forma de justificar a entrevista como histoacuterica referindo-se ao passado jaacute que aos idosos se pretende atribuir a guarda de memoacuterias do passado pelo proacuteprio tempo de vida do depoente Isto retoma e ajuda a fortalecer a ideia de que a histoacuteria mesmo tratando do tempo presente ainda se reporta a um periacuteodo anterior ao da vida do pesquisador (ALMEIDA 2012 p 10)
A entrevista somente ocorreu quando o entrevistado concordou em assinar o
termo de consentimento As entrevistas ocorreram nas residecircncias dos
entrevistados foram preacute-agendadas sendo que o meacutetodo utilizado foi entrevista
guiada atraveacutes de questionaacuterio previamente organizado pela autora as entrevistas
foram filmadas e gravadas onde somente uma entrevistada natildeo autorizou a
filmagem de seus relatos justificando a idade avanccedilada e por morar sozinha
A escolha pela histoacuteria oral hibrida ocorreu no sentido de que a fonte oral eacute o
principal recurso utilizado para colher informaccedilotildees sobre os distritos visto que em
sua grande maioria natildeo haacute publicaccedilotildees Poreacutem em determinados momentos se
utilizam fontes documentais como complemento do que vem sendo apresentado
Com relaccedilatildeo agrave abordagem adotada nas entrevistas se optou pela temaacutetica visto
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que se leva um roteiro preacute-organizado com temas que deveratildeo ser explorados
durante as entrevistas o que proporciona uma riqueza de informaccedilotildees para a
autora
41 DISTRITO SEDE
O distrito Sede se constitui no local onde se inicia o povoado do municiacutepio na
antiga Fazenda da Cria terras doadas pelo capitatildeo Pedro da Silva Chaves Neste
distrito concentram-se os serviccedilos puacuteblicos e privados que os moradores
necessitam em seu dia-a-dia visto que ali existem bancos casas loteacutericas
farmaacutecias hospital supermercados lojas papelarias livraria inspetoria veterinaacuteria
secretaacuterias municipais escolas puacuteblicas e privadas creches induacutestrias de madeiras
e calccedilados
Poreacutem o distrito Sede ou cidade de Satildeo Chico como popularmente
conhecida pelo seu povo jaacute foi uma cidade de interior ou seja uma cidade pequena
com moradores que vinham das fazendas em busca de estudo Visto que a
implementaccedilatildeo de uma rede regular de ensino ocorre tardiamente devido agrave
dificuldade de se locomover pelas distantes localidades entatildeo normalmente os
fazendeiros contratavam professores para que seus filhos obtivessem estudo sendo
que estes moravam na proacutepria residecircncia da famiacutelia Em entrevista com essa autora
relata Albuquerque19 que ldquopara aprimorar os estudos aqueles que tinham mais
condiccedilotildees iam para Porto Alegre Santa Maria ou Passo Fundo mas para isto
ficavam laacute em internatos e soacute retornavam nas feacuterias devido agrave dificuldade e o custo
da viagemrdquo
Na deacutecada de 40 foi criada a Escola Catoacutelica de Satildeo Francisco de Paula
cujo funcionamento acontece ateacute 1973 quando foram encerradas suas atividades
Esta escola iniciou com o curso primaacuterio e posteriormente instalou o curso ginasial
Normalmente estes moradores permaneciam de segunda-feira a sexta-feira na
cidade e nos finais de semana retornavam para as fazendas como recorda uma
moradora local
Noacutes eacuteramos uma cidade de fazendeiros a gente tinha uma casa no campo e uma na cidade a gente vivia de laacute pra caacute de caacute pra laacute fim de semana ia
19 ALBUQUERQUE Moacir Castello Branco de Entrevista concedida agrave autora no dia 06 de abril de
2018
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pra fora20 dia de semana vinha pra caacute normalmente uma irmatilde mais velha voacute ficava com a gente aqui na cidade e a famiacutelia mesmo ficava no campo21
Percebe-se que hoje ainda existem na Sede moradores que manteacutem suas
casas na cidade e durante o dia ou nos finais de semana vatildeo ateacute suas fazendas
para fazer as lides com o gado o que caracteriza uma pequena parte da populaccedilatildeo
que foram os filhos dos antigos fazendeiros que mais tarde acabam se instalando
definitivamente na cidade trazendo com sigo a essecircncia do homem do campo e
afirmando uma identidade genuinamente gauacutecha definiccedilatildeo esta concedida por uma
moradora local
Gauacutecho natildeo eacute o morador do Rio Grande do Sul o morador do Rio Grande do Sul eacute o sul-rio-grandense ou rio-grandense do sul o gauacutecho eacute apenas o homem que vem da pecuaacuteria extensiva essa que existe laacute no pampa e aqui nos campos de cima da serra o gauacutecho serrano com caracteriacutesticas muito proacuteprias grandes gaiteiros poetas aliaacutes o maior gaiteiro do mundo eacute daqui natildeo abro matildeo de dizer isto soacute que todos noacutes viacutenhamos da lida do campo em decorrecircncia disso eacuteramos gauacutechos de verdade22
Em sua fala apresenta o gauacutecho serrano como um tipo singular que ama a
pilcha gauacutecha o seu pingo e suas criaccedilotildees bem como reafirma a importacircncia dos
Irmatildeos Bertussi Honeide e Adelar sendo Adelar Bertussi um dos maiores gaiteiros
deste municiacutepio Exaltam-se tambeacutem os poetas que com suas poesias e letras de
muacutesicas escrevem o jeito do seu povo viver
Mesmo a cidade sendo ldquolocal de paradardquo durante a semana para a maioria
de seus habitantes no passado era cheia de atrativos que o campo natildeo possuiacutea
como o cinema cuja instalaccedilatildeo natildeo se encontra documentada mas sabe-se que
iniciou onde hoje eacute o preacutedio da Prefeitura Municipal sendo proprietaacuterio Francisco
Ferraz (Chico Ferraz como era conhecido) Observa-se em alguns exemplares do
Jornal Folha da Serra23 os filmes e os horaacuterios do funcionamento do cinema
Entende-se que o jornal era uma maneira de divulgar os filmes por ser o uacutenico meio
de comunicaccedilatildeo da eacutepoca Pelos folhetins se percebe que as sessotildees
apresentavam diversos gecircneros natildeo se sabe quando o cinema finalmente fechou
20 Fora refere-se ir para a fazenda 21 SOARES Luciana Olga Entrevista concedida agrave autora no dia 01 de marccedilo de 2018 22 SOARES Luciana Olga Entrevista concedida agrave autora no dia 01 de marccedilo de 2018 23 Folha da Serra jornal local criado em 1932 pelo Dr Siacutelvio Rabelo passando posteriormente a
propriedade da Prefeitura Municipal Sua impressatildeo era na ordem de 500 exemplares natildeo se tem a informaccedilatildeo do periacuteodo que parou de circular mas pelos exemplares encontrados no Arquivo Histoacuterico de Satildeo Francisco de Paula os uacuteltimos datam de 1978 O Arquivo Histoacuterico de Satildeo Francisco de Paula fica em um preacutedio anexo agrave Biblioteca Puacuteblica do municiacutepio
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poreacutem o jornal Folha da Serra traz uma reportagem que retrata como estava difiacutecil
manter o cinema em funcionamento em meados de 1968 ldquoo nosso cinema na
maneira que vai indo natildeo tem mais condiccedilotildees de funcionar natildeo temos apoio da
populaccedilatildeo com uma frequecircncia de mais ou menos 150 pessoas por final de
semanardquo O jornal acrescenta ldquosalienta-se que mais ou menos de 3 de nossa
CULTA populaccedilatildeo natildeo frequenta o cinemardquo Pode-se associar o fechamento do
cinema a dois fatores a natildeo cultura de assistir filmes e pelas sessotildees ocorrerem nos
finais de semana onde boa parte da populaccedilatildeo da cidade se deslocava para as
fazendas ou pela crise que os cinemas passaram na deacutecada de 80 quando em
muitas cidades foram fechados
A vida da populaccedilatildeo local vai se modificando cada vez mais as pessoas vatildeo
se instalando definitivamente na Sede onde se perde o viacutenculo com o campo
Devido agrave venda ou arrendamento das fazendas24 que por render pouco a pecuaacuteria
extensiva e com a criaccedilatildeo de novas legislaccedilotildees que proiacutebem praacuteticas centenaacuterias
seus proprietaacuterios buscaram novas possibilidades econocircmicas que modificaram a
Sede e tambeacutem boa parte do interior Em entrevista a moradora Soares relata
Exatamente porque a produccedilatildeo era pequena isso natildeo serve para o mundo de hoje a uns quarenta anos chega em nossos campos as primeiras plantaccedilotildees de pinus interessante que ningueacutem reclamou da destruiccedilatildeo desse campo de milhotildees de anos e de todo o ecossistema mas mesmo com essa nova cultura continuamos realizando a sapeca do campo no mecircs de agosto mas de repente chega a notiacutecia que estaacute proibida a queima do campo dizendo que noacutes estragaacutevamos a terra poluiacuteamos o ar que mataacutevamos animais e tudo aquilo natildeo era verdade Na verdade alguns anos depois da lei proibindo a queima do campo chegam as multas gigantescas agraves vezes maior que o valor da terra e aiacute inviabilizou a pecuaacuteria e muitos fazendeiros venderam suas terras e foram embora Quem ficou no campo na busca por renda a qualquer preccedilo arrenda seus campos para os batateiros que vieram acredito que a grande maioria de Santa Catarina e do Paranaacute estes lavram o campo nunca mais o campo nem com reza braba taacute tudo perdido para sempre e isso reflete na nossa cidade25
Essas mudanccedilas no campo refletem na Sede onde o homem serrano convive
passivamente com novas identidades que embora sejam presentes eacute minoria pois
esta parcela de novos moradores traz consigo um novo jeito de viver que ainda natildeo
se percebe influenciar na identidade cultural da Sede
24 Propriedades rurais cuja atividade principal eacute a praacutetica da pecuaacuteria extensiva e a produccedilatildeo do
queijo artesanal serrano 25 SOARES Luciana Olga Entrevista concedida agrave autora no dia 01 de marccedilo de 2018
45
Na Sede desde o iniacutecio se observam quatro clubes sociais a Sociedade
Cruzeiro a Sociedade 9 de Julho a Sociedade Esperanccedila e o Centro de Tradiccedilotildees
Gauacutechas Cada clube social tem sua importacircncia histoacuterica poreacutem alguns natildeo se
manteacutem ativos
A Sociedade 9 de Julho foi fundada em 27 de setembro de 1961 estando
localizada no bairro Rincatildeo Segundo o jornal Folha da Serra (1968 n 96 p 5)
apoacutes sete anos de sua fundaccedilatildeo ldquoseu presidente Galego promete uma nova e
confortaacutevel sede para a sociedaderdquo Sociedade que se apresenta por sua
versatilidade nos eventos ateacute os dias atuais
O jornal Folha da Serra (1968 n 96 p 5) traz a seguinte mateacuteria ldquoas quatro
noites foram repletas de alegria naquela sociedade onde os foliotildees divertiram-se e
quando se anunciou o final da quarta noite houve quem lamentasse o final da festa
do Momordquo A reportagem refere-se ao carnaval que se desenvolve de forma
popular nesta sociedade Neste espaccedilo na deacutecada de 1990 ocorria um baile na
sexta-feira que antecedia ao Festival do Ronco do Bugio um espaccedilo onde jovens se
encontravam para iniciar as festividades do grande festival da cidade poreacutem na
atualidade este evento natildeo ocorre mais Pelos cartazes de divulgaccedilatildeo de eventos
atuais a Sociedade 9 de Julho se torna um espaccedilo bastante versaacutetil e segundo
dados obtidos no site da proacutepria sociedade o local apresenta shows bailes
tradicionalistas domingueiras e festas temaacuteticas
Sabe-se da existecircncia da Sociedade Esperanccedila devido a uma reportagem a
respeito do carnaval escrita no jornal Folha da Serra (1968 n 11 p 25) ldquoos
escurinhos tambeacutem natildeo ficaram para traacutes e demonstraram que satildeo bons no samba
porque soacute quem assistiu pode ver como brincaram e que maravilha de ritmo
marcaram durante as quatro noitesrdquo A reportagem daacute a entender de se tratar de
uma sociedade frequentada por negros e pode-se entender que ao usar o termo
escurinho na reportagem haacute preconceito racial perpassando a ideia de que por
serem negros natildeo poderiam se divertir da mesma maneira que os brancos
Atualmente se encontra no local um espaccedilo residencial e comercial
A Sociedade Cruzeiro foi fundada em 9 de maio de 1925 pela elite da
sociedade serrana Segundo Teixeira (2002) e Fonseca (2012) sua sede social era
na Avenida Juacutelio de Castilhos onde hoje se situa a agecircncia do Banrisul e teve como
primeiro presidente o Sr Antocircnio Mario Kroeff e o secretaacuterio Sr Joatildeo Parobeacute de
Lucena Sua nova sede foi inaugurada de acordo com Fonseca (2012 p 236) ldquono
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dia 11 de dezembro de 1965 e esta permanece no mesmo endereccedilo ateacute a
atualidade Situa-se na Rua Dr Frederico Tedesco nordm 1261rdquo
Atualmente este espaccedilo eacute usado para convenccedilotildees ou festas particulares
onde as pessoas locam o espaccedilo para realizarem seu evento Neste espaccedilo natildeo
mais ocorrem grandes eventos sociais como Fonseca (2012 p 232) descreve ldquoos
bailes mais elegantes e vistosos desta sociedade ocorrem aquirdquo Fonseca (2012 p
233) ainda complementa que ldquoa primeira Miss Sociedade Cruzeiro foi eleita em 1937
e a vencedora foi a jovem Zilah Teixeirardquo
A Sociedade Cruzeiro tambeacutem foi palco de bailes de carnaval O Jornal Folha
da Serra (1968 n 11 p 25) descreve ldquocomo sempre a Sociedade Cruzeiro ponteou
o nosso carnaval com blocos fantasiados magnificamente fazendo acrobacias ao
som de excelente muacutesica local onde os turistas afluiacuteramrdquo Contrapondo a este
tempo a moradora local Soares26 discorre de maneira saudosa ldquoque saudades do
carnaval hoje eacute bebedeira perdeu o encanto perdeu tudo Na rua o pessoal
gritando sem nenhuma infraestrutura nem os bailes na sociedade natildeo ocorrem
maisrdquo
O distrito Sede jaacute foi palco de inuacutemeros clubes sociais que ao longo do tempo
foram perdendo seu encanto e ateacute mesmo fechando-se para atividades sociais O
que permanece em pleno funcionamento eacute o Centro de Tradiccedilotildees Gauacutechas Rodeio
Serrano o que justifica uma cultura tradicionalista presente neste distrito Dentre as
atividades desenvolvidas por esta entidade estatildeo o Rodeio Interestadual com
atividades campeiras e artiacutesticas que ocorrem todos os anos no primeiro final de
semana de dezembro a manutenccedilatildeo das invernadas artiacutesticas em todas as
categorias mascote mirim juvenil e adulta
A organizaccedilatildeo da Ronda Crioula na Semana Farroupilha com a participaccedilatildeo
das escolas da Sede e do interior que trazem seus grupos de danccedilas bem como
organizam gincanas Outra atividade tambeacutem desenvolvida por esta entidade eacute a
Cavalgada de Prendas que ocorre durante a Semana Farroupilha desde 1992
sendo Satildeo Francisco de Paula pioneira nesta ideia onde somente mulheres
participam da cavalgada que culmina com o desfile na Avenida Juacutelio de Castilhos
Realiza-se tambeacutem o Baile da Prenda Jovem que eacute o baile de debutante gauacutecho
onde as prendas entre 13 e 15 anos satildeo apresentadas agrave sociedade Aleacutem disso nos
26 SOARES Luciana Olga Entrevista concedida agrave autora no dia 01 de marccedilo de 2018
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uacuteltimos anos a organizaccedilatildeo e apresentaccedilatildeo do Festival Ronco do Bugio que ocorre
em Satildeo Francisco de Paula faz parte da programaccedilatildeo desta entidade Este festival
apresenta exclusivamente o gecircnero musical bugio Haacute pelo menos duas hipoacuteteses
sobre a origem deste gecircnero musical
A primeira eacute de berccedilo serrano e teria mais fiel escudeiro o inesqueciacutevel acordeonista de Satildeo Francisco de Paula Honeyde Bertussi Siqueira Segundo ele o ritmo teria sido originaacuterio pelas matildeos do gaiteiro Vergiacutelio Leitatildeo que no jogo-de-foles e nos baixos de sua gaita de botatildeo teria imitado o ronco do bicho nos caponetes de cima da serra [] teria difundido pelas bodegas do Juaacute interior de Satildeo Chico (SOUZA 2003 p 15)
A segunda hipoacutetese eacute apresentada por Souza (2003 p 15) que apresenta a
versatildeo dada pelo povo de Satildeo Francisco de Assis que diz que ldquoa origem do ritmo e
oriunda desta localidade que por sinal realizava um festival nativista chamado
Querecircncia do Bugiordquo
Desconhece-se a verdadeira origem do gecircnero musical bugio mas Souza
(2003 p 23) afirma que ldquoJoatildeo Cincinato Terra muacutesico atuante sentiu a
necessidade de nosso municiacutepio acompanhar o movimento jaacute que neste periacuteodo se
expande por todo o estado do Rio Grande do Sul os festivais nativistasrdquo O
lanccedilamento do primeiro festival do Ronco do Bugio acontece em 1986 no CTG
Rodeio Serrano com a participaccedilatildeo de vaacuterios representantes da muacutesica nativista e
da comunidade serrana Seu lanccedilamento oficial ocorre em 16 de abril de 1986
O jornal Satildeo Chico Tchecirc (1986 n 11 p 6) noticiou que o primeiro Festival do
Ronco do Bugio contou com 98 muacutesicas escritas sendo 24 as selecionadas O
festival ocorreu entre os dias 13 e 15 de maio e Souza (2003 p 42) descreve que foi
apresentado ldquosob uma lona de circo estaqueada num gramado amador mas de
tantas gloacuterias futeboliacutesticas o campo do Clube Atleacutetico Serranordquo
A muacutesica vencedora do primeiro Ronco do Bugio foi ldquoLevanta Bugiordquo
defendida pelo cantor e compositor gauacutecho Leonardo Observando fotos percebe-se
que o Ronco do Bugio se deu em uma noite fria de inverno
O Festival Ronco do Bugio desde o seu iniacutecio premia melhor arranjo
conjunto instrumental instrumentista inteacuterprete e a muacutesica mais popular Fatima
Gimenez foi a melhor inteacuterprete do primeiro festival defendendo a muacutesica ldquoPinheiro
Gringordquo composiccedilatildeo de Erian Fogaccedila e Laerte Fortes Novamente a roupa dos
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muacutesicos reforccedila que na noite da entrega da premiaccedilatildeo fazia muito frio A cantora
tambeacutem se apresenta vestindo um chiripa coberto por um pala27
Na Figura 11 observamos a fotografia de Gonzaga dos Reis muacutesico local
sentado com sua gaita instrumento que lhe deu o precircmio de melhor instrumentista
do primeiro Ronco do Bugio Nesta oportunidade o cantor instrumentista e
compositor defendeu a muacutesica ldquoBugio da Minha Terrardquo
Figura 11 ndash Gonzaga dos Reis
Fonte Jornal Satildeo Chico Tchecirc n 4 p 8 (1986)
A composiccedilatildeo ldquoBugio Tiranordquo que foi defendida pelo conjunto Os Tiranos de
Satildeo Francisco de Paula ganhou o precircmio mais popular
Para o Jornal Satildeo Chico Tchecirc (1986 n 11 p 7) o Festival Ronco do Bugio eacute
ldquoum festival autecircntico e original que aconteceu com grande sucesso em Satildeo
Francisco de Paulardquo No encerramento deste grande evento Joatildeo Chagas Leite se
27 Chiripa e pala satildeo trajes tipicamente gauacutechos Sendo que o chiripa atualmente eacute uma veste de
preferecircncia feminina este fica enrolado na cintura e vai ateacute os joelhos ldquoEacute um pano inteiro passado entre as pernas primeiro de traacutes para frente e depois de frente para traacutes pode ser de latilde ou lisordquo (ABREU 2003 p 67) O pala eacute uma peccedila retangular com franjas nos quatro lados e listras no sentido do comprimento
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apresenta segundo o Jornal Satildeo Chico Tchecirc (1986 n 11 p 8) ldquocom composiccedilotildees
como Corda de Espinho Orelhano Pampa Campo e Querecircncia Coraccedilatildeo de
Estudante e Afiosrdquo
O Festival Ronco do Bugio perpassa o tempo segundo o site da Prefeitura
Municipal
O Festival Ronco do Bugio eacute um evento musical nativista que acontece anualmente na Cidade de Satildeo Francisco de Paula com o intuito de preservar e difundir o uacutenico ritmo originaacuterio do Rio Grande do Sul ou seja o lsquobugiorsquo compasso criado justamente no interior deste municiacutepio Tal criaccedilatildeo se deu a partir da criatividade dos gaiteiros serranos que buscaram imitar com seu instrumento musical o ronco do primata nos matos da serra A festividade agora em sua 26ordf ediccedilatildeo eacute genuiacutena pois eacute o uacutenico da Ameacuterica onde obrigatoriamente os participantes devem utilizar um ritmo somente isto eacute o citado lsquobugiorsquo embora a temaacutetica seja abrangente Por este motivo eacute chamado de lsquoO Festival Mais Autecircntico do Rio Grandersquo Aleacutem do forte enfoque cultural que envolve toda a comunidade musical do Estado o Festival tem seu apelo ecoloacutegico pois chama a atenccedilatildeo para a preservaccedilatildeo da espeacutecie hoje quase em extinccedilatildeo O Ronco do Bugio por sua importacircncia no cenaacuterio cultural rio-grandense criou uma identidade ao povo de Satildeo Francisco de Paula pois junto ao evento estaacute intriacutenseco e vem agrave tona o histoacuterico da criaccedilatildeo do municiacutepio caracterizado pela forte influecircncia dos antigos tropeiros desbravadores e povoadores desta parte do paiacutes (PREFEITURA MUNICIPAL DE SAtildeO FRANCISCO DE PAULA 2017)
No mesmo documento disponibilizado pela Prefeitura Municipal de Satildeo
Francisco de Paula observam-se algumas informaccedilotildees a respeito da realizaccedilatildeo do
festival no ano de 2017
Art 1ordm - O 26ordm Ronco do Bugio realizar-se-aacute no municiacutepio de Satildeo Francisco de Paula nos dias 01 e 02 de setembro de 2017 Art 2ordm - a festividade agora em sua 26ordf ediccedilatildeo eacute genuiacutena pois eacute a uacutenica na Ameacuterica Latina com promoccedilatildeo da Prefeitura Municipal de Satildeo Francisco de Paula e do CTG Rodeio Serrano com apoio de oacutergatildeos puacuteblicos e iniciativa privada Art 3ordm - Satildeo objetivos do 26ordm Ronco do Bugio a) valorizar a tradiccedilatildeo arte cultura e a autecircntica muacutesica regionalista
gauacutecha atraveacutes do seu ritmo mais original b) prestigiar autores compositores inteacuterpretes e conjuntos regionalistas e
incentivar o surgimento de novos valores c) divulgar a muacutesica regional gauacutecha d) valorizar a relevante posiccedilatildeo na formaccedilatildeo de usos e costumes
caracteres e valores espirituais e morais do gauacutecho e) promover e incentivar a cultura gauacutecha projetando Satildeo Francisco de
Paula na maneira mais autecircntica no cenaacuterio do turismo (PREFEITURA MUNICIPAL DE SAtildeO FRANCISCO DE PAULA 2017)
Como eacute possiacutevel observar no artigo 4ordm ldquoA organizaccedilatildeo do 26ordm Ronco do Bugio
ficaraacute a cargo da Comissatildeo Organizadora composta por membros da Prefeitura
Municipal e do CTG Rodeio Serranordquo (PREFEITURA MUNICIPAL DE SAtildeO
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FRANCISCO DE PAULA 2017) Devido agrave importacircncia identitaacuteria do festival para o
municiacutepio ao se chegar agrave cidade na deacutecada de 90 se encontrava o seguinte
outdoor
Figura 12 ndash Outdoor entrada da cidade na ERS-020
Fonte Souza (2003 p 17)
Assim como o tiacutetulo de ldquoCapital Mundial do Bugiordquo Satildeo Francisco de Paula ldquojaacute
obteve vaacuterios slogans dentre eles o de Satildeo Chico eacute terra boardquo (TEIXEIRA 2002 p
149-150)
Mesmo ocorrendo inferecircncias externas advindas com pessoas que trouxeram
consigo uma identidade diferente Soares28 em entrevista afirma ldquoSatildeo Chico eacute
identificada pela cultura tradicionalista gauacutecha a cuia em frente ao antigo preacutedio da
prefeitura demonstra o siacutembolo da hospitalidade de nosso povordquo A permanecircncia
ativa do CTG Rodeio Serrano na sede eacute outro indicativo forte da presente
identidade ligada as atividades do homem do campo Outro fato observado eacute a
constante praacutetica do laccedilo de vaca parada29 por jovens e crianccedilas nos paacutetios de suas
residecircncias bem como cavalarianos (homens mulheres jovens e crianccedilas) na
28 SOARES Luciana Olga Entrevista concedida agrave autora no dia 01 de marccedilo de 2018 29 Vaca parada uma espeacutecie de cavalete de madeira com aspectos de uma vaca usada por crianccedilas
que estatildeo iniciando neste esporte bem como usado como forma de entretenimento para jovens e adultos
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avenida principal cavalgando entre os carros Ainda se percebe o respeito entre
motoristas de automotivos bicicletas e os cavalarianos todos ocupando o mesmo
espaccedilo
42 DISTRITO DE CAZUZA FERREIRA
O distrito de Cazuza Ferreira foi criado em 07 de janeiro de 1903 estando
situado a 85 quilocircmetros da Sede Andrade comenta em entrevista30 ldquoateacute acho que
Cazuza se desenvolveu primeiro que Satildeo Chicordquo31 visto que a criaccedilatildeo do distrito
acontece dias depois da emancipaccedilatildeo enquanto a criaccedilatildeo da vila do distrito de
Cazuza Ferreira se desenvolve segundo a entrevistada
A parte da Histoacuteria que eu sei eacute que houve a chegada de um Sr Chico Mestre eacute como eles chamavam Esse Sr veio as casas eram distantes umas das outras e ele comeccedilou a fazer oraccedilatildeo nas casas e reunir as pessoas e fundou o cemiteacuterio Entatildeo o Joseacute Ferreira de Castilhos que era dono daqui naquela eacutepoca um dos moradores que tinha bastante terra doou a terra para fazer a vila aiacute o que aconteceu segundo as histoacuterias era para ser ali onde eacute a cancha de laccedilo hoje do outro lado da estrada soacute que o terreno natildeo era apropriado entatildeo houve uma permuta com o Sr que era dono deste terreno aqui era Bossle aqui era bem mais alto e mais plano Entatildeo se construiu a Igreja e iniciou o povoamento da vila32
A moradora Basso ainda acrescenta que ldquoa vila foi sempre mais ou menos o
que ela eacute hojerdquo Ao observar o local pode-se perceber uma grande praccedila ao centro
rodeada de casas de comeacutercio posto de combustiacutevel posto de sauacutede o hotel a
Igreja Matriz juntamente com o salatildeo paroquial e casas residecircncias cujo aspecto
impressiona por a grande maioria das casas apresentam uma arquitetura que
perpassa o tempo A Figura 13 apresenta uma imagem da praccedila central tirada das
escadarias da Igreja Matriz
30 ANDRADE Nauro Bossle de Entrevista concedida agrave autora no dia 04 de marccedilo de 2018 31 Primeiro que Satildeo Chico eacute um termo comum usado pelos moradores do interior do municiacutepio de
Satildeo Francisco de Paula que ao se referir a Sede do municiacutepio usam o termo Satildeo Chico ou Satildeo Francisco de Paula pois seus moradores natildeo costumam na atualidade dizer lsquovou a Sedersquo e sim lsquovou a Satildeo Chicorsquo como se eles natildeo morassem no municiacutepio
32 BASSO Ceacutelia Pacheco Terres Entrevista concedida agrave autora no dia 04 de agosto de 2018
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Figura 13 ndash Praccedila Central de Cazuza Ferreira
Fonte acervo pessoal da autora (2018)
Apesar de ter a preservaccedilatildeo arquitetocircnica a moradora Basso declara
O pai contava e outras pessoas contam que teve uma eacutepoca que tinha faacutebrica de tamanca33 jaacute teve faacutebrica de guaranaacute de queijo bastante coisa no sentido de selaria mas tudo foi se extinguindo as pessoas as famiacutelias natildeo deram continuidade e se sumiram natildeo existe mais nada disso mas estas faacutebricas natildeo davam renda ou seja trabalho para pessoas de fora pois elas eram administradas e cuidadas pelas famiacutelias Daiacute houve o periacuteodo das serrarias enquanto pode extrair madeira era o forte a vila movimentada enriqueceram alguns comerciantes locais o momento que extinguiu aquele trabalho eles foram embora e o povo daqui acomodou entatildeo hoje a vila tem bastante pessoas que foram embora trabalhar assim na juventude e hoje aposentados voltaram pois aqui para jovem natildeo tem sobrevivecircncia o uacutenico trabalho eacute na escola tem nove professores e uma funcionaacuteria em alguns funcionaacuterios da prefeitura acho que satildeo seis que cuidam do plantel de maacutequinas a enfermeira e o pessoal que cuida do posto do correio tambeacutem tem a ferraria mas ali eacute soacute os da proacutepria famiacutelia entatildeo o jovem acaba tendo que ir embora34
Os entrevistados Basso e Andrade relatam que apesar das adversidades o
povo de Cazuza Ferreira tem um amor pelas suas tradiccedilotildees mantendo vivos trecircs
aspectos que ambos consideram a marca identitaacuteria de seu povo e afirmam com
33 Tamanca calccedilado comum na regiatildeo solado de madeira com uma proteccedilatildeo sobre as pontas dos
dedos indo ateacute o peito do peacute em couro 34 BASSO Ceacutelia Pacheco Terres Entrevista concedida agrave autora no dia 04 de agosto de 2018
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convicccedilatildeo ldquofalar de Cazuza eacute cavalhada hotel e rodeiordquo enquanto Basso acrescenta
que ldquoas cavalhadas satildeo heranccedila dos portugueses e estatildeo espalhadiacutessimas ateacute
nacionalmente atraveacutes da miacutedia porque natildeo pesquisei mas ateacute onde sei no Rio
Grande do Sul soacute tem aquirdquo
Na comunidade ainda segundo Basso ldquoa apresentaccedilatildeo das cavalhadas se
iniciou por volta de 1890 e permanece ativa ateacute hoje no passado existiam trecircs
cavalhadas as dos brancos dos amarelos e dos negrosrdquo acrescentando ldquomas hoje
natildeo haacute mas essa diferenciaccedilatildeordquo Em poliacutegrafo organizado por uma moradora local a
mesma explica que a cavalhada ldquoeacute uma luta simulada em que haacute vinte e quatro
participantes sendo doze de cada equiperdquo35 por meio da evoluccedilatildeo equestre e
movimentos de espada lanccedila e garrucha representando a batalha entre mouros e
cristatildeos Segundo esta moradora ldquoa batalha sempre termina sendo vencida pelos
cristatildeos demonstrando a submissatildeo dos mouros e a supremacia da religiatildeo cristatilderdquo
Atualmente o grupo depende da boa vontade de seus participantes conforme
explica
Hoje se tornou caro eacute exame dos cavalos transporte depende do querer das pessoas da boa vontade e tem pessoas engajadas que natildeo largam a famiacutelia do Renau que ele eacute o presidente do grupo ele tem um amor tatildeo grande pelas cavalhadas porque ele jaacute recebeu do pai dele do teu avocirc e do seu Ivo Cardoso e a vida dele agraves vezes me desgosto de alguma coisa pois faccedilo a narrativa do que estaacute sendo apresentado mas daiacute eu penso natildeo posso abandonar (sorri) Eacute uma tradiccedilatildeo que natildeo pode morrer mas os filhos do Renau o Marcos e o Marcelo daratildeo continuidade faz parte da famiacutelia tu sabe eacute da mesma famiacutelia Eacute uma grande tradiccedilatildeo que natildeo pode desaparecer temos que continuar peleando36
As cavalhadas satildeo apresentadas na praccedila central sempre durantes as festas
religiosas que acontecem na comunidade sendo assim organizadas
No primeiro ou segundo final de semana de fevereiro tem a festa da Nossa Senhora do Belo Horizonte que eacute a padroeira daqui Agora devido agrave comissatildeo e o padre um ano tem a festa dos morenos e no outro tem a dos agricultores que eram chamados de amarelos antigamente cuja devoccedilatildeo se daacute agrave Nossa Senhora do Rosaacuterio e Nossa Senhora da Penha Antigamente cada um tinha seu espaccedilo social para realizar a festa atualmente soacute se manteve a tradiccedilatildeo de comemorar os santos este ano eacute festa dos morenos ela seraacute dia 13 e 14 de outubro Todas as festas
35 Sendo que doze cavaleiros que representam os cristatildeos vestem tuacutenicas de veludo azul escuro e
os doze cavaleiros mouros vestem tuacutenicas vermelhas Sobre os ombros da tuacutenica haacute uma capinha esta capinha traz enfeites prateados bordados com lantejoulas e bototildees dourados e franjas de seda branca Todos os participantes usam bombacha branca de brim botas campeiras pretas chapeacuteu de palha de aba larga virada para cima com laccedilo de fita e barbicacho de acordo com a cor da tuacutenica
36 BASSO Ceacutelia Pacheco Terres Entrevista concedida agrave autora no dia 04 de agosto de 2018
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religiosas ocorrem em dois dias saacutebado apresentaccedilatildeo das cavalhadas novena janta e baile no domingo tem a missa na Igreja Matriz logo apoacutes almoccedilo e reuniatildeo danccedilante Atualmente resgataram em dezembro a festa a Satildeo Cristoacutevatildeo sempre no primeiro final de semana de dezembro eacute uma missa com benccedilatildeo aos carros durante a procissatildeo e um almoccedilo ao meio-dia esta se daacute somente em um dia E tambeacutem temos de dois em dois anos a festa organizada pelo grupo das Cavalhadas esta ocorre em maio daiacute37
Os moradores explicam que a separaccedilatildeo racial desapareceu com o tempo
poreacutem se manteacutem a cultura de festejar todos os santos o que demonstra que o povo
de Cazuza eacute bastante devoto e cristatildeo E acrescenta em tempos idos que durante
as festas religiosas as pessoas se hospedavam no hotel segundo Basso que ldquoele
recebia tinha mercado junto teve ateacute cinema o pessoal gostava da comida da
Dona Vilma que era minha sogrardquo Este hotel eacute outro marco que identifica Cazuza
Ferreira poreacutem os moradores explicam que atualmente o Hotel do Campo manteacutem a
arquitetura mas funciona em uma modalidade diferenciada pois natildeo haacute como
sobreviver Entatildeo ele recebe hospeda sob reserva antecipada poreacutem natildeo serve
almoccedilo e janta as refeiccedilotildees satildeo feitas no Cantinho do Aconchego com quem
manteacutem uma parceria
Figura 14 ndash Hotel do Campo
Fonte acervo pessoal da autora (2018)
37 BASSO Ceacutelia Pacheco Terres Entrevista concedida agrave autora no dia 04 de agosto de 2018
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Nesta comunidade tambeacutem eacute muito forte segundo os entrevistados38 a
tradiccedilatildeo gauacutecha que adveacutem do homem do campo o amante dos rodeios que nos
finais de semana saem de suas propriedades e se deslocam a outras comunidades
para participar dos eventos campeiros como o tiro de laccedilo Tambeacutem explanam que
existe o CTG Adatildeo Castilhos que estaacute interditado jaacute faz quase seis anos desde
que comeccedilaram a ser exigidos os PPCIs A partir deste momento eles natildeo puderam
mais fazer eventos ali eles realizam os rodeios ou festas campeiras mas laacute dentro
natildeo conseguiram mais fazer nada e taacute difiacutecil vai muito dinheiro para cumprir todas
as exigecircncias Sendo que este espaccedilo na deacutecada de 80 do seacuteculo XX foi palco de
grandes rodeios com apresentaccedilotildees campeiras artiacutesticas e grandes bailes A
moradora explica39 ldquoA Claudiana esposa do Paulo Cesar atual presidente se
inscreveu no projeto Meu Galpatildeo de Cara Nova do Galpatildeo Crioulo da RBS TV
tomara que ela seja classificadardquo Este projeto ajuda na reconstruccedilatildeo dos CTGs pelo
Rio Grande do Sul
Ao pesquisar sobre Cazuza Ferreira percebe-se o quatildeo forte eacute o culto agraves
tradiccedilotildees e o esforccedilo de seus moradores para elas permaneccedilam para futuras
geraccedilotildees visto que o tempo passou e a tradiccedilatildeo local natildeo sofreu alteraccedilotildees
43 DISTRITO DE TAINHAS
O distrito de Tainhas foi criado em 18 de outubro de 1922 estando situado a
33 quilocircmetros da Sede Se desenvolveu no entroncamento de duas rodovias a RS-
020 e a RS-453 cujas rodovias cortavam a vila do distrito Com o advento da
construccedilatildeo da Rota do Sol importante rodovia que hoje que liga Caxias do Sul agraves
praias aleacutem da construccedilatildeo do asfalto da RS-020 que vai a Satildeo Francisco de Paula
tudo mudou O morador Fagundes relata em entrevista40 ldquoaqui era mais habitado
por criadores fazendeiros e agora depois que saiu essa Rota do Sol o movimento
cresceu muito neacute mais por fora da vila entatildeo natildeo trouxe benefiacutecio para noacutesrdquo
Percebe-se que moradores entendem a importacircncia da construccedilatildeo das
rodovias poreacutem as mesmas natildeo trouxeram benefiacutecios econocircmicos para os
moradores locais
38 ANDRADE Nauro Bossle de BASSO Ceacutelia Pacheco Terres Entrevistas concedidas agrave autora no
dia 04 de agosto de 2018 39 BASSO Ceacutelia Pacheco Terres Entrevista concedida agrave autora dia 04 de agosto de 2018 40 FAGUNDES Darci da Silva Entrevista concedida agrave autora no dia 24 de fevereiro de 2018
56
Ainda conforme o morador Fagundes41 ldquoo iniacutecio da vila se deu devido agrave
necessidade de parada dos caminhoneiros que transportavam madeira como era
tudo estrada de chatildeo Tainhas ficava em local centralizado se construiu um hotel
que era do seu Pedro Pinhatildeo e da Dona Luisardquo A partir de entatildeo comeccedilou a
construccedilatildeo de casas e se formou a vila onde antes eram terras dos Pinto os
primeiros moradores de Tainhas tanto que o morador ressalta na entrevista42 ldquoo
nome da escola eacute Oliacutempio Soares Pinto que era o proprietaacuterio dessa terra e uma
das professoras mais antigas era Guilherma Pintordquo
Tainhas estaacute rodeada por campos matos de pinnus ilhote e lavouras
atualmente e explica
Hoje aqui eacute pinus e granjeiro plantando batata soja milho e a maioria veio de fora os moradores antigos desapareceram arrendaram ou venderam suas terras para esse pessoal que veio de Ibiraiara e de Maquineacute Itati Trecircs Forquilhas43
Percebe-se que a criaccedilatildeo de gado ou seja a pecuaacuteria extensiva deu lugar a
outras culturas com a chegada de novas pessoas ao distrito Mas segundo os
moradores o culto ao tradicionalismo gauacutecho permanece visto que no distrito
existe
O parque de rodeios do Rodeio Crioulo eacute o mais antigo que noacutes temos aqui natildeo sei se natildeo o primeiro piquete registrado de Satildeo Chico tem uns sessenta anos a nossa tradiccedilatildeo eacute o laccedilo O nosso rodeio acontece sempre no iniacutecio de janeiro hoje eu natildeo laccedilo mais mas o meu neto continua a minha tradiccedilatildeo A escola daqui faz a semana farroupilha com ronda eacute tudo muito lindo e assim se mantem a cultura44
A imagem apresentada na Figura 15 reforccedila a fala e a importacircncia do Piquete
de Laccediladores Rodeio Crioulo que atualmente mesmo estando nas terras de Satildeo
Francisco de Paula divisa com o municiacutepio de Cambaraacute do Sul por opccedilatildeo essa
entidade tradicionalista pertence ao entatildeo municiacutepio de Cambaraacute do Sul Poreacutem sua
fundaccedilatildeo acontece em 20 de janeiro de 1961 quando o entatildeo hoje municiacutepio de
Cambaraacute do Sul ainda era distrito de Satildeo Francisco de Paula
41 FAGUNDES Darci da Silva Entrevista concedida agrave autora no dia 24 de fevereiro de 2018 42 FAGUNDES Darci da Silva Entrevista concedida agrave autora no dia 24 de fevereiro de 2018 43 FAGUNDES Darci da Silva Entrevista concedida agrave autora no dia 24 de fevereiro de 2018 44 FAGUNDES Darci da Silva Entrevista concedida agrave autora no dia 24 de fevereiro de 2018
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Figura 15 ndash Flacircmula de comemoraccedilatildeo aos 50 anos da entidade
Fonte acervo pessoal da autora (2018)
Outro evento importante no distrito eacute realizado pela Escola Estadual de
Ensino Fundamental Oliacutempio Soares Pinto que satildeo atividades ligadas as tradiccedilotildees
gauacutechas na Semana Farroupilha como cavalgadas e gincanas com a participaccedilatildeo
de toda comunidade nesta semana principalmente a comunidade de Tainhas
ldquorespira tradicionalismordquo
O distrito de Tainhas atualmente conta com um posto de sauacutede e o correio
satildeo os serviccedilos puacuteblicos que funcionam no distrito visto que o cartoacuterio fechou O
entrevistado Fagundes relata45 ldquoeu era o juiz de paz desse Cartoacuterio minha funccedilatildeo
era julgar os casamentos mas daiacute fechou hoje o pessoal tem que ir a Satildeo Chicordquo O
morador ainda acrescenta ldquoateacute a rodoviaacuteria fechou os ocircnibus passam aqui Satildeo
Marcos que vem de Caxias e vatildeo a Torres desce de manhatilde e sobe de tarde Citral
de Satildeo Chico a Ouro Verde e agora Transneves da Pedra Lisa para Satildeo Chicordquo
Com uma certa tristeza relata46 ldquoaqui em Tainhas soacute tem o Cafeacute Tainhas do
Mauro eacute o brilho de Tainhas seraacute ponto histoacuterico daqui um tempo todo mundo fala
bem do Cafeacute Tainhasrdquo
Notoriamente a chegada do asfalto modificou a vida das pessoas neste
distrito visto que que os campos foram em boa parte transformados em lavoura se
45 FAGUNDES Darci da Silva Entrevista concedida agrave autora no dia 24 de fevereiro de 2018 46 FAGUNDES Darci da Silva Entrevista concedida agrave autora no dia 24 de fevereiro de 2018
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percebe uma vila pacata jaacute que todo o movimento foi desviado por fora da vila e a
mesma natildeo proporciona lazer para as pessoas que ao terminarem o ensino
fundamental para continuar seus estudos precisam fazer uso do transporte escolar
e se deslocar ateacute a Sede ou ir ao municiacutepio de Cambaraacute do Sul
44 DISTRITO DE ELETRA
O distrito de Eletra foi criado em 31 de dezembro de 1932 estando situado a
19 quilocircmetros da Sede do municiacutepio Poreacutem a populaccedilatildeo local chama de Salto e
seu nome vem das barragens do Salto Blang e Divisa construiacutedas sobre o Rio do
Salto que atravessa o distrito Segundo a moradora local47 Soares ldquoas barragens
que fornecem aacutegua para as usinas no municiacutepio de Satildeo Francisco de Paula e nos
municiacutepios vizinhos de Canela Gramado e Cambaraacute do Sulrdquo A Figura 16 apresenta
uma imagem da Barragem do Salto barragem esta que se situa proacutexima da vila do
distrito
Figura 16 ndash Barragem do Salto
Fonte acervo pessoal da autora (2018)
Ao observarmos a Figura 16 percebe-se que o acesso da vila para o interior
do distrito acontece por uma ponte de concreto estreita com piso bastante irregular
47 SOARES Susana Marques Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018
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e que em periacuteodos de fortes chuvas o acesso fica interrompido devido agrave altura
Poreacutem ao lado direito percebe-se uma estrutura pequena que segundo o morador
Gomes
Foi uma tentativa de uma empresa japonese construir uma ponte soacute que quando estavam construindo deu uma enchente e levou tudo a aacutegua abaixo a empresa foi embora e nunca mais voltou Jaacute foram feitos estudos que a ponte tem que ser construiacuteda mais para baixo e em forma de arco se natildeo a chuva leva de novo poreacutem natildeo acredito que saia algum dia48
Entende-se que a construccedilatildeo desta nova ponte melhoraria o acesso dos
proprietaacuterios rurais que para saiacuterem de suas propriedades em eacutepocas de chuva
intensa necessitam fazer um longo caminho por estradas de chatildeo batido para terem
acesso ao municiacutepio de Canela bem como a Sede de Satildeo Francisco de Paula
Contudo a moradora explica que a vila do distrito se forma muito antes da
construccedilatildeo da barragem
Em 1915 era uma fazenda chamada Fazenda do Salto e esta pertencia a Francisco Soares de Oliveira Neste local havia sua casa de moradia um galpatildeo e mangueiras onde realizava as suas atividades poreacutem em 1916 o Chico resolveu transferir a casa da Fazendo do Cerro para o Salto tambeacutem sendo construiacuteda aiacute a segunda casa a partir de entatildeo se iniciou o povoado com a construccedilatildeo de novas residecircncias para seus empregados e posteriormente se instalou uma serraria dos irmatildeos Delavechia esta sendo movida a aacutegua dando definitivamente o iniacutecio do povoamento da vila49
Ao analisar a fala da moradora local se percebe que onde hoje se encontra a
vila do distrito de Eletra jaacute foi uma fazenda identificando-se com a mesma formaccedilatildeo
do distrito Sede que tambeacutem surge de terras doadas por um fazendeiro Segundo a
entrevistada Soares50 ldquoa sua casa eacute uma das mais antigas tem 102 anos foi
construiacuteda de pinheiro serrada aqui mesmo na serrariardquo pode-se observar o oacutetimo
estado de conversaccedilatildeo da casa que traz traccedilos arquitetocircnicos europeus na sua
construccedilatildeo natildeo se tem imagem da casa visto que a entrevistada natildeo permitiu
nenhuma imagem de sua residecircncia
Outro fator importante do povoamento da vila segundo o morador local
Gomes51 ldquofoi o iniacutecio da construccedilatildeo da Barragem do Salto no ano de 1925rdquo onde
48 GOMES Jaures Feijoacute Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018 49 SOARES Susana Marques Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018 50 SOARES Susana Marques Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018 51 GOMES Jaures Feijoacute Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018
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vieram muitos funcionaacuterios de vaacuterios lugares tendo como mestre da obra segundo
os moradores locais52 o ldquoAcircngelo Goubertrdquo
Devido agrave necessidade que se formou no distrito neste periacuteodo se abriu um
hotel farmaacutecia cartoacuterio rodoviaacuteria e cinema a moradora local Soares saudosa
diz53 ldquotudo fechou aqui natildeo tem mais nadardquo referindo-se a atual situaccedilatildeo que a vila
se encontra
Os moradores ainda declaram sobre o distrito54 ldquoestaacute abandonado pelo poder
puacuteblico ateacute o calccedilamento das ruas foi arrancadordquo poreacutem outrora foi um local de
muita alegria
A vida era uma festa permanente o tio Chico era casado com a tia Lisoca ela foi para Porto Alegre para os filhos estudar quando vinham nas feacuterias traziam os amigos O tio Chico pagava um gaiteiro por mecircs para ele toca toda noite entatildeo era aquele divertimento55
Atualmente na vila existe a Escola Estadual de Ensino Fundamental Cristino
Ramos com menos de cem alunos e a festa cristatilde cuja celebraccedilatildeo ocorre em
fevereiro sendo Santo Antocircnio o padroeiro local A moradora explica sobre a
construccedilatildeo da capela
A primeira capela a tempestade derrubou em 1957 se construiu outra O santo padroeiro eacute Santo Antocircnio a imagem foi trazida por quarenta cavaleiros Daiacute o padre pediu para que a imagem de Nossa Senhora Catarina tambeacutem fosse acolhida hoje temos dois padroeiros mas para mim Santo Antocircnio eacute o principal56
Percebe-se na fala dos moradores a sua devoccedilatildeo e sua preocupaccedilatildeo com o
futuro da vila visto que ateacute a questatildeo do cemiteacuterio jaacute foi palco de discussatildeo pois o
cemiteacuterio da vila iniciou pela famiacutelia dos Soares sendo este particular Poreacutem a
moradora explica com certa indignaccedilatildeo
O cemiteacuterio era particular da famiacutelia Soares teve um tempo que resolveram abrir veio gente ateacute de Passo Fundo ser enterrada aqui natildeo pediam para ningueacutem tomaram conta Daiacute organizamos uma comissatildeo responsaacutevel decidimos que tinha que ter uma contribuiccedilatildeo e natildeo podia trazer gente de fora para enterrar soacute gente daqui Ningueacutem pagou Aiacute mandei fazer cerca nova a parte dos Soares sempre limpei mas [] hoje acabo limpando tudo
52 GOMES Jaures Feijoacute SOARES Susana Marques Entrevistas concedidas agrave autora no dia 15 de
fevereiro de 2018 53 SOARES Susana Marques Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018 54 GOMES Jaures Feijoacute SOARES Susana Marques Entrevistas concedidas agrave autora no dia 15 de
fevereiro de 2018 55 SOARES Susana Marques Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018 56 SOARES Susana Marques Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018
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porque ningueacutem limpa Enquanto eu for viva vou fazer depois vatildeo entregar para a prefeitura igreja natildeo sei57
A Figura 17 apresenta uma foto da igreja atual tendo em sua lateral direita a
capela mortuaacuteria e ao fundo o Salatildeo Paroquial da comunidade onde ocorre a festa
do Santo Padroeiro
Figura 17 ndash Igreja Santo Antocircnio ndash Distrito de Eletra
Fonte acervo pessoal da autora (2018)
Ao conversar com os moradores locais pode-se observar a feacute cristatilde poreacutem
ambos relatam que a festa de fevereiro atualmente eacute pouco divulgada motivo pelo
qual acreditam que natildeo haja um nuacutemero expressivo de pessoas Ambos sentem um
apreccedilo pelo local onde nasceram e vivem poreacutem ambos relatam
Aqui eacute lugar de dormir as pessoas trabalham em Canela e vem dormir aqui a grande maioria natildeo eacute daqui vieram de fora haacute muitas casas de veraneio tudo gente de Porto Alegre que vem passar feacuterias natildeo rende nada para aqui o que precisam trazem tudo de fora A maioria de quem mora aqui soacute dorme passa o dia fora O ocircnibus das 7 horas sai lotado a gente natildeo conhece mais ningueacutem daqui mesmo soacute noacutes Susana e eu58
Mesmo a vila sendo um local de parada estaacute rodeada de lindos campos e
fazendas cuja a atividade principal eacute a pecuaacuteria extensiva natildeo proporciona
57 SOARES Susana Marques Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018 58 GOMES Jaures Feijoacute Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018
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trabalho no local motivo pelo qual seus moradores buscam sua subsistecircncia em
outro municiacutepio poreacutem possui uma exuberante natureza relata cheia de esperanccedila
a moradora local59 ldquoeu tenho esperanccedila que algueacutem olhe para caacute e veja as belezas
que tem aqui que o lugar volte a se desenvolverrdquo desenvolvimento este que
poderia vir atraveacutes da exploraccedilatildeo do turismo rural ldquoSe vocecirc quiser comer alguma
coisa agora natildeo vai encontrar nada aqui soacute tem lsquobutecorsquo60 mas eles natildeo vendem
nada nem sanduiacuteche pastel eacute uma vergonhardquo fala indignado o morador Gomes61
A populaccedilatildeo que vive nas fazendas aleacutem de ter as lides campeiras no seu
dia-a-dia nos finais de semana segundo o morador Gomes62 ldquolaccedila em torneio vai
nos rodeiosrdquo o que marca a presenccedila do tradicionalismo gauacutecho em uma parte da
populaccedilatildeo do distrito poreacutem com relaccedilatildeo aos moradores da vila natildeo haacute algo que
os identifique visto a miscigenaccedilatildeo que ocorreu e por haver muitas casas de
veraneio no local
45 DISTRITO DO JUAacute
O distrito do Juaacute foi criado em 10 de maio de 1950 e fica distante 65
quilocircmetros da Sede O distrito recebe esse nome devido a um espinho que havia
em abundacircncia no local nome este dado por tropeiros
Os accedilorianos que vinham de Santo Antocircnio da Patrulha e iam para Vacaria com cargueiros eles vinham fazer repouso laacute em cima no reduto e ali tinha muita frutinha do juaacute entatildeo os tropeiros saiam de Santo Antocircnio e diziam vamos posa laacute nos juaacute daiacute o nome do lugar que permanece ateacute hoje63
Juaacute eacute o nome dado a um espinho muito comum na regiatildeo dos campos de
cima da serra que daacute uma fruta amarela em formato redondo que segundo os
moradores locais eacute uma fruta venenosa conforme se observa na Figura 18
59 SOARES Susana Marques Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018 60 Buteco pequeno comeacutercio que normalmente vende bebidas alcooacutelicas e possui mesa de sinuca 61 GOMES Jaures Feijoacute Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018 62 GOMES Jaures Feijoacute Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018 63 REIS Orides Entrevista concedida agrave autora no dia 12 de maio de 2018
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Figura 18 ndash Peacute com a fruta conhecido como Juaacute
Fonte acervo de Clessandra Palhano (moradora local) (2018)
O reduto citado pelo morador local ficava em uma fazenda local onde hoje se
encontra a vila do distrito conforme o entrevistado Reis explica
O primeiro morador eu natildeo lembro soacute sei que o Juaacute era de pouca gente famiacutelia Pedroso e Castilhos daiacute foram morrendo inventariando e vendendo e aos poucos se formou a vila importante o dono de tudo isso aiacute tinha dois escravos no iniacutecio teve escravidatildeo claro na eacutepoca de mil oitocentos e pouco eu acho mas teve E hoje deve ter descendente destes escravos por aiacute64
Escravidatildeo que vai dar origem ao preconceito racial e a um modelo particular
da localidade que sem precisar data explica o morador
Aqui tinha dois salatildeo trecircs com o da Igreja mas era dois salatildeo social Era um clube de brancos que era dos ricos neacute fazendeiros o Salatildeo Vera Cruz e depois fundaram o Satildeo Valentim que era dos morenos que na eacutepoca ateacute eu fui presidente Cada um no seu salatildeo agora quando dava a festa cristatilde em homenagem ao Satildeo Joatildeo de Deus todo o povo reunia-se quando chegava de noite no saacutebado no baile entatildeo cada um ia pro seu salatildeo A muacutesica ficava no salatildeo dos brancos daiacute colocava umas caixas de som laacute pros morenos com um fio pra eles danccedila Um natildeo podia entra no baile do outro tinha o presidente para cuida Cada um no seu tudo se respeitava e obedecia aquela ordem65
Ainda acrescenta a moradora local Santos
64 REIS Orides Entrevista concedida agrave autora no dia 12 de maio de 2018 65 REIS Orides Entrevista concedida agrave autora no dia 12 de maio de 2018
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O nosso eu natildeo me lembro o nome tem tanto papel mas natildeo sei onde estaacute o nosso dos pretos neacute ningueacutem implicava eles natildeo deixavam noacutes entra no salatildeo Vera Cruz eu entrava de cozinheira empregada porque ali era lugar dos ricaccedilos eles podiam se associar mas o nosso tambeacutem enchia mas eles iam no nosso baile de nego soacute olhavam As festas duravam dias Tinha aquele foguetoacuterio era tatildeo bonito66
Percebe-se na fala dos moradores como esta divisatildeo racial se fazia presente
que havia por parte dos negros um profundo respeito pelos brancos mesmo eles
tendo acesso ao salatildeo Vera Cruz somente para servi-los em nenhum momento se
percebeu que eles se sentissem diminuiacutedos pela situaccedilatildeo ateacute pela cultura que
advinha desde os primeiros moradores locais
Esta divisatildeo social permanece por longo tempo e somente vai desaparecer
nos anos 80 do seacuteculo XX com a contribuiccedilatildeo do Frei Abiacutelio que veio da Vacaria
durante Missotildees convocadas pelo paacuteroco local padre Afonso que conseguiu
modificar esta organizaccedilatildeo implantando a ideia de igualdade e ignorando tudo
aquilo a partir de entatildeo os negros comeccedilaram a frequentar a sociedade Vera Cruz
contribuiccedilatildeo dos entrevistados67 que ao abordar o assunto demonstraram repulsa
pelo passado mas ao mesmo tempo reconhecem que o racismo ainda eacute presente
na comunidade poreacutem devido agraves leis existe um cuidado maior
Atualmente negros e brancos convivem em harmonia participam da festa
cristatilde cujo padroeiro eacute Satildeo Joatildeo de Deus e dos torneios de laccedilo mas geralmente
quem laccedila satildeo os fazendeiros Saudoso o morador68 afirma que ldquouma vez tinha as
carreradas tinha trecircs canchas passava o domingo nas canchas brincando nas
corridas de cavalos tudo terminourdquo Acrescenta69 ainda que ldquoem 70 80 tinha o
futebol o campo era na baixada acho que tem ainda trofeacuteu ai mas daiacute a gurizada
foi embora para a cidade terminou o timerdquo
A vila se construiu de maneira simples tendo a Igreja Catoacutelica com o Salatildeo
Paroquial agrave direita o antigo Centro de Tradiccedilotildees Gauacutechas Laccedilo Velho do Juaacute onde
resta apenas o preacutedio de madeira corroiacuteda pelo tempo ao fundo a cancha de laccedilo
do Piquete de Laccediladores Velho do Juaacute entidade tradicionalista que se manteacutem ativa
desde o iniacutecio da deacutecada de 1960 ao redor haacute casas de moradias que formam ao
centro uma grande praccedila sem nenhuma infraestrutura em frente a esta praccedila
66 SANTOS Deotildes Palhano dos Entrevista concedida agrave autora no dia 12 de maio de 2018 67 REIS Orides SANTOS Deotildes Palhano Entrevistas concedida agrave autora no dia 12 de maio de
2018 68 REIS Orides Entrevista concedida agrave autora no dia 12 de maio de 2018 69 REIS Orides Entrevista concedida agrave autora no dia 12 de maio de 2018
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perpassa uma rua de chatildeo batido sendo que a escola da comunidade fica do outro
lado a escola eacute municipal se chama Bento Eziacutedio Rodrigues atende
aproximadamente vinte alunos que estatildeo matriculados nas seacuteries iniciais do ensino
fundamental tendo duas professoras e um funcionaacuterio para fazer merenda e limpar
o paacutetio como se pode observar na Figura 19
Figura 19 ndash Praccedila Vila do Distrito Juaacute ao fundo cancha de laccedilo
Fonte acervo pessoal da autora (2018)
Ambos os entrevistados70 explicam que o Juaacute atualmente eacute um lugar de
idosos aposentados que outrora as pessoas viviam das roccedilas e da pecuaacuteria
extensiva na deacutecada de 1980 com o advento da induacutestria em Caxias do Sul os
jovens abandonaram seu modo de vida e foram buscar novas oportunidades poreacutem
estes jovens que foram embora retornam com frequecircncia natildeo perdendo a sua
essecircncia Relataram que a uacutenica fonte de trabalho eacute ser peatildeo de fazenda fazendas
estas que produzem o queijo serrano ou vendem leite para a Piaacute71 sendo que a
lavoura eacute para subsistecircncia Outra fonte de renda eacute ser funcionaacuterio da serraria cujo
proprietaacuterio e Joatildeo Egiacutedio que funciona proacuteximo da vila Outro fator importante eacute a
venda de pequenas chaacutecaras para moradores de Caxias do Sul que vem aos finais
70 REIS Orides SANTOS Deotildes Palhano Entrevistas concedidas agrave autora no dia 12 de maio de
2018 71 Piaacute Cooperativa Agropecuaacuteria Petroacutepolis Ltda Empresa que faz a coleta do leite nas fazendas da
regiatildeo
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de semana descansar na localidade poreacutem se percebe que estes novos moradores
muitas vezes natildeo interagem com os moradores locais
Segundo o morador Reis72 ldquoapesar da vinda de pessoas de outros lugares o
Juaacute natildeo perdeu sua identidade fala em Juaacute lembra pinhatildeo colheita do pinhatildeo ateacute
haacute uma criacutetica que diz na eacutepoca do pinhatildeo o juazeiro fala grossordquo Ditado que o
entrevistado73 reafirma sorrindo ldquona eacutepoca do pinhatildeo o juazeiro fala grosso claro
que eacute apenas um dito popular uma maneira de se referir mas sempre eacute dito haacute
aqueles que natildeo gostamrdquo
Nota-se que a vida na comunidade do Juaacute se passa de forma tranquila com
poucos moradores que sua identidade estaacute relacionada agrave pecuaacuteria extensiva com
as lides com o gado bem como ao pinhatildeo uma fruta tiacutepica que se desenvolve na
Araucaacuteria ou pinheiro nativo como eacute conhecido na regiatildeo O pinhatildeo seja ele
assado cozido ou paccediloca74 eacute muito consumido pelos moradores do interior de Satildeo
Francisco de Paula durante o inverno inclusive como mistura do cafeacute da manhatilde
46 DISTRITO DO RINCAtildeO DOS KROEFF
O distrito de Rincatildeo dos Kroeff foi criado em 10 de maio de 1950 Fica a 35
quilocircmetros distante da Sede poreacutem muito antes de se institucionalizar oficialmente
este espaccedilo moradores locais contam como tudo se iniciou
Meu avocirc foi um dos primeiros a vim para caacute ele se chamava Guilherme Faciole ele nasceu no navio vindo da Itaacutelia Ele contava que teve uma desavenccedila em Caxias e fincou o peacute pra caacute pra natildeo acharem ele que aqui era soacute mato e na revoluccedilatildeo de 35 ele fugia de casa para natildeo ser levado pelas tropas os piquetes levavam para combater entatildeo ele sempre dizia que pousou vaacuterias noites embaixo dos peraus da serra do Umbu para natildeo ser levado O falecido vovocirc vivia da caccedila do porco do mato tateti ele fazia charque de porco para ter a carne ele viveu 106 anos e dizia se natildeo tivesse fumado viveria mais uns dez isso faz parte da histoacuteria do Rincatildeo dos Kroeff Junto teve o falecido Acircngelo Menegaacutes que entro aqui na mesma eacutepoca Eles satildeo os fundadores do distrito75
O acesso ao distrito Rincatildeo dos Kroeff permanece totalmente pela estrada de
chatildeo batido sendo possiacutevel ir ao municiacutepio de Maquineacute descendo pela serra do
Umbu Poreacutem muito antes da estrada a busca de mantimentos e o escoamento da
72 REIS Orides Entrevista concedida agrave autora no dia 12 de maio de 2018 73 REIS Orides Entrevista concedida agrave autora no dia 12 de maio de 2018 74 Paccediloca carne de porco moiacuteda e frita no azeite ou banha a qual se acrescenta o pinhatildeo jaacute cozido
e moiacutedo 75 FACIOLE Reinaldo Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de marccedilo de 2018
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produccedilatildeo se dava pelos carreiros visto que natildeo havia abertura de estrada e nem
viatura76 como os moradores relatam
Tudo era na tropeada as tropas que ia para Rolante Na tropeada saia um tropeiro na frente e um recircs com um cincerro que era a madrinheira da tropa saia laacute pelo Chuvisqueiro e saia laacute em Rolante perdia boi na estrada ficava semanas boi perdido agraves vezes nem se achava mais tambeacutem tinha tropa de porco e tinha as tropeadas de mula puxando milho feijatildeo trigo tudo produzido aqui e levado de cargueiro carreta era muito pouco porque natildeo tinha estrada para anda era soacute os trilhos pelo meio dos matos e campos e se produzia milho era o inverno inteiro saia tropas e mais tropas com trinta quarenta mulas burros transportando mantimentos da produccedilatildeo do gratildeo haacute tambeacutem tinha a flor de Pireto que era lucro ningueacutem conhece isso aiacute hoje essa flor era levada para Taquara e fazia veneno para formiga tudo que era tipo de veneno era uma flor muito toacutexica Acredita tropear galinha pois eacute a gente criava bastante saia com os cargueiros como era a vida eles faziam um girau no cesto naqueles balaios para fazer duas camas uma mais em cima e outra em baixo daiacute quando era veratildeo era muito quente tinha que no meio da viagem tirar de dentro do cesto botar na aacutegua na sanga para natildeo morrer ateacute chegar no mercado dali para praia a eacutepoca que mais vendia era novembro e dezembro daiacute tinha preccedilo bom tudo criada solta aviaacuterio nem se falava77
Ao ouvir os moradores se percebe que a construccedilatildeo do distrito aconteceu
devido ao esforccedilo e trabalho de muitas pessoas visto que o local era de mata nativa
densa e precisou ser desmatado para ser ocupado pelas pessoas Explica o
entrevistado Faciole78 ldquopara fazer uma lavoura tambeacutem precisava derrubar o
pinheiro seu Onorino Buffon me contou que faziam fogo ao redor do pinheiro eles
eram muito grosso para derrubar a machado entatildeo faziam fogo secavam para
depois fazer a roccedilardquo E a moradora79 local acrescenta ldquoaqui tambeacutem tinha os
barbacuazeiros produziam erva mais aqui eles soacute tiravam a erva e sapecavam e
depois ia para outro lugar industrializa tudo era diferenterdquo
Poreacutem segundo os moradores este modelo de vida rudimentar se modifica
com a chegada das serrarias sendo que a dos Kroeff foi a primeira juntamente com
a serraria se viu a necessidade da construccedilatildeo de novas casas para os
trabalhadores surgindo ali a vila do distrito Rincatildeo dos Kroeff no iniacutecio a serraria era
tudo manual relata Faciole80 ldquoa uacutenica forma de tira a madeira era com um enfieira
76 Viatura se refere a carro de passeio caminhotildees 77 FACIOLE Reinaldo FACIOLE Maria Madalena Scalco Entrevistas concedidas agrave autora no dia 18
de marccedilo de 2018 78 FACIOLE Reinaldo Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de marccedilo de 2018 79 FACIOLE Maria Madalena Scalco Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de marccedilo de 2018 80 FACIOLE Reinaldo Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de marccedilo de 2018
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de boi eu cheguei a ver cinco ternos de boi carreiro81 emendado puxando um
pinheiro eacute uma bicheira de boi natildeo tinha outra formardquo
Rincatildeo dos Kroeff eacute o menor distrito de Satildeo Francisco de Paula poreacutem em
suas terras se desenvolveu a cultura dos hortifrutigranjeiros desde muito cedo jaacute
que sua colonizaccedilatildeo eacute basicamente italiana e alematilde e os italianos tecircm a cultura do
plantio visando lucro A moradora Faciole82 afirma ldquotudo comeccedilou por aqui depois
se expandiu para o municiacutepio comeccedilamos com moranga branca depois repolho
couve broacutecolis alface e daiacute veio beterraba e tudo o restordquo Acrescenta ainda83 que
ldquodaqui saiacuteram os primeiros caminhotildees de hortifruacuteti do municiacutepio para a Ceasa teve
eacutepoca de sair quarenta caminhotildees por dia do Rincatildeo hoje natildeo sai mais porque
muitos foram buscar novos lugares para plantarrdquo E juntamente com a mudanccedila dos
proprietaacuterios em busca de novas terras muitos de seus funcionaacuterios foram embora
junto afirma em entrevista o morador local84 ldquomuita gente do Rincatildeo foi embora
muitas gurias foram embora para estudar para achar emprego e natildeo voltaram maisrdquo
Atraveacutes da fala da moradora pode-se observar que apesar do distrito ser
produtivo enfrenta algumas dificuldades com relaccedilatildeo ao estudo de seus moradores
que para continuarem seus estudos se assim o desejarem necessitam abandonar
seus pais e ir em busca na Sede ou arredores visto que no distrito existe uma uacutenica
escola Gastatilde Henth Esta eacute municipal e atende dos quatro anos ao nono ano do
ensino fundamental A moradora Faciole explica
O coleacutegio hoje tem 99 alunos ao total quando eles terminam o nono ano alguns vatildeo estudar mas satildeo pouquiacutessimos os outros ficam por aiacute mesmo natildeo tem um transporte que leve eles para fazer o ensino meacutedio na Sede que seria a escola de ensino meacutedio mais proacuteximo se quiser estudar vai ter que ir embora reforccedila quem e trabalhador fica trabalhando com os pais quem natildeo eacute [] As pessoas na sua grande maioria soacute tem o ensino fundamental aqui85
Este eacute um dos grandes problemas enfrentados pelos moradores do Rincatildeo
dos Kroeff a possibilidade de continuar estudando A escola que laacute existe os
moradores locais natildeo sabem precisar a data mas sabem que foi durante o mandato
81 Ternos de boi carreiro significam vaacuterias duplas de bois cangados e ligados por um pedaccedilo de
madeira que vatildeo na canga entre a dupla de bois Esse pau roliccedilo na regiatildeo se chama de cambatildeo 82 FACIOLE Maria Madalena Scalco Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de marccedilo de 2018 83 FACIOLE Maria Madalena Scalco Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de marccedilo de 2018 84 FACIOLE Reinaldo Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de marccedilo de 2018 85 FACIOLE Maria Madalena Scalco Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de maio de 2018
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do prefeito Escobar (1977-1982) que ela foi construiacuteda Neste contexto aparece
tambeacutem a dificuldade de se locomover fazendo uso do transporte puacuteblico
Haacute sete anos atraacutes o Rincatildeo estava bom mesmo tinha ocircnibus da praia agraves vezes passava quatro a cinco ocircnibus da praia tudo pela serra do Umbu Agora soacute tem um trecircs dias por semana As empresas deixaram de trafegar por aqui elas natildeo vatildeo descer numa serra de chatildeo batido sendo que tem a outra86 com asfalto87
Os moradores se orgulham da festa religiosa que acontece todos os anos em
agosto sendo que o santo padroeiro eacute Satildeo Roque A festa da comunidade
apresenta uma tradiccedilatildeo local muito interessante na segunda-feira apoacutes a festa ela
continua para os moradores locais que vatildeo ao salatildeo paroquial para se divertir entre
si e esta eacute uma tradiccedilatildeo que eacute comentada em todo o municiacutepio Faciole88 saudoso
afirma ldquopara ti ter uma ideia nessa festa chegava dar vinte poucos ocircnibus lotado que
vinham de outros municiacutepios como Igrejinha Taquara Porto Alegre Novo
Hamburgo o espaccedilo ficava pequenordquo Acrescenta89 ainda ldquoaqui noacutes tinha o Clube
Serrano que dava baile janta italiana dava um movimento louco mas terminou ateacute
o baile das rainhas cada ano era uma era tatildeo lindo mas tudo se acabourdquo
Figura 20 ndash Imagem da Igreja Satildeo Roque em dia de festa no Rincatildeo dos Kroeff
Fonte acervo pessoal da autora (2018)
86 A outra se refere a rodovia RS-453 conhecida como Rota do Sol 87 FACIOLE Reinaldo Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de marccedilo de 2018 88 FACIOLE Reinaldo Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de marccedilo de 2018 89 FACIOLE Reinaldo Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de marccedilo de 2018
70
Percebe-se que o distrito Rincatildeo dos Kroeff eacute o uacutenico que obteve em seu
iniacutecio uma colonizaccedilatildeo por descentes de italianos dentro do municiacutepio de Satildeo
Francisco de Paula o que demonstra o quatildeo forte se daacute a tradiccedilatildeo ldquoitalianardquo neste
local permanecendo intriacutenseca na vida cotidiana de seu povo com a cultura do
plantio de hortifrutigranjeiros que permanece apesar do tempo como sendo a sua
maior identidade local
47 DISTRITO DE LAJEADO GRANDE
Lajeado Grande em tempos idos pertenceu ao distrito de Cazuza Ferreira e
somente em 12 de dezembro de 1968 se tornou um distrito independente segundo
a Lei nordm 655 encontrada nos autos da Prefeitura Municipal de Satildeo Francisco de
Paula A vila do distrito Lajeado Grande fica distante 63 quilocircmetros da Sede e se
situa na confluecircncia do Arroio Porco Morto e o Rio Bururi Seu surgimento acontece
segundo o morador Fogaccedila90 ldquopor volta de 1940 com a abertura da estrada Canela
ndash Bom Jesus a atual RS-476 que corta a vila do Distritordquo Essa estrada segundo o
morador facilitou a locomoccedilatildeo que anteriormente era feita totalmente pelas trilhas e
picadas por onde somente se passava a cavalo ou de carreta E o entrevistado
explica como acontece o desenvolvimento inicial da vila
Tu sabe aqui tem o nome de Lajeado Grande por causa do rio que eacute cheio de lajes grandes o que facilitava a travessia e as terras aqui por roda era tudo do falecido Pequeno Cardoso ele doou parte para a construccedilatildeo da vila onde o falecido Leopoldino Cardoso irmatildeo do Pequeno tinha uma lsquobudega velharsquo91 por aqui sendo o primeiro comeacutercio da vila92
A abertura da estrada possibilitou o desenvolvimento da vila juntamente com
o Casaratildeo um hotel pensatildeo que foi construiacutedo as margens do Arroio Porco Morto
este Casaratildeo passou por diversos proprietaacuterios
Leopoldino Cardoso foi o idealizador do Casaratildeo juntamente com os seus soacutecios Heraacuteclito Andrade de Cardoso lsquoJoanitorsquo Joseacute Osoacuterio de Lima lsquoZecarsquo e Pequeno Cardoso sendo que o Casaratildeo era uma casa de negoacutecio compravam queijo couro era um comeacutercio forte vendia secos e molhados inclusive a primeira rodoviaacuteria foi instalada neste espaccedilo poreacutem em 1948 Joatildeo Pacheco Cardoso assume e amplia o estabelecimento construindo o segundo piso da casa de madeira e alugando para outros dois moradores
90 FOGACcedilA Blair dos Santos Entrevista concedida agrave autora no dia 06 de abril de 2018 91 Budega velha referindo-se a uma antiga casa de comeacutercio de secos e molhados localizada onde
hoje se encontra o armazeacutem Celeiro 92 FOGACcedilA Blair dos Santos Entrevista concedida agrave autora no dia 06 de abril de 2018
71
Eremi Terres e Claunir Lucena Com a reforma o Casaratildeo passa a ter treze quartos para aluguel uma loja onde encontrava-se tudo o que se necessitava de alfinete tecido alimentos e raccedilotildees aleacutem da ala que servia de moradia para os proprietaacuterios Em 1962 o estabelecimento eacute alugado para Eraldo Bento de Oliveira que aleacutem de gerenciar o estabelecimento colocou junto um bar local de encontro dos homens da redondeza para tomar um lsquotragorsquo93 (CERUTTI SILVA CARDOSO 2002 p 19)
Figura 21 ndash Imagem do Casaratildeo pouco antes de ser desmanchado
Fonte acervo pessoal de Fernando Oliveira (conhecido como Guego) (2018)
O Casaratildeo foi desmanchado na deacutecada de 1980 pelo entatildeo proprietaacuterio Reno
Pacheco Poreacutem percebe-se na vila que seus antigos moradores falam com certo
saudosismo deste estabelecimento que fez parte de suas vidas e chegam a
lamentar o seu fim morador Fogaccedila94 afirma ldquoali se fez o pastel mais famoso do
Lajeado Grande o pastel da Odila mas tudo se acabou quando eles entregaram e
construiacuteram laacute na esquinardquo95
Poreacutem a vila Lajeado Grande foi lentamente se desenvolvendo Devido agrave
necessidade da conservaccedilatildeo da nova estrada foi construiacuteda agraves margens do Rio
Bururi uma capatazia do DAER Segundo Cerutti Silva e Cardoso (2002 p 18) ldquoo
primeiro capataz foi Capitulino Prudecircncio de Oliveira vindo de Santa Catarina sua
funccedilatildeo era manter as estradas e chegou a ter vinte funcionaacuteriosrdquo Percebe-se que a
93 Trago expressatildeo local que significa beber uma cachaccedila 94 FOGACcedilA Blair dos Santos Entrevista concedida agrave autora no dia 06 de abril de 2018 95 Esquina eacute o nome dado a parte da vila do Lajeado Grande onde se daacute o entroncamento das
rodovias RS-453 e ERS-476
72
partir deste momento se inserem neste distrito pessoas advindas de outros estados
e locais visto que ateacute o presente momento o distrito era habitado por fazendeiros
naturais do proacuteprio municiacutepio e que tinham suas vidas ligadas diretamente agrave
pecuaacuteria extensiva e agrave produccedilatildeo do queijo serrano Importante destacar que a
esposa de Capitulino segundo Cerutti Silva e Cardoso (2002 p 18) ldquoa Celicina
Guilherme da Silva se torna uma figura conhecida por realizar partos sendo
chamada como parteira de campanhardquo Na atualidade filhos netos e bisnetos do
casal ainda residem na vila
A vila do Lajeado Grande tambeacutem recebe novos moradores com a praacutetica do
corte do pinheiro nativo sendo que na deacutecada de 1950 havia uma faacutebrica de
beneficiamento de madeira ateacute se transformar em pasta este material era levado
para Esteio onde funcionava agrave matriz A partir dos anos 1950 ocorre a instalaccedilatildeo de
serrarias sendo que a Madeireira Albeflor de propriedade de Valter Sguaizer se
instala em 1964 Novamente busca-se matildeo de obra em localidades proacuteximas como
Lagoa Vermelha Vacaria e Bom Jesus poreacutem com a proibiccedilatildeo da extraccedilatildeo de
madeira de lei a serraria deixou de funcionar
Percebe-se que no distrito natildeo houve uma homogeneizaccedilatildeo identitaacuteria visto a
influecircncia advinda de muitas culturas no passado atraveacutes da extraccedilatildeo de madeira
e na atualidade com o advento das lavouras de hortifrutigranjeiros e pomares
frutiacuteferos que ocupam boa parte do distrito substituindo a pecuaacuteria extensiva que jaacute
natildeo proporciona um lucro efetivo Entatildeo os proprietaacuterios na sua grande maioria
venderam ou arrendaram suas terras para novas culturas o que modifica o modo de
vida local pois grande parte dos trabalhadores adveacutem de outros estados como o
Paranaacute e tambeacutem se observa o uso da matildeo de obra indiacutegena
Essa miscigenaccedilatildeo se observa nas escolas locais visto que na vila funciona a
Escola Municipal D Pedro I que segundo Cerutti Silva e Cardoso (2002 p 35)
ldquoinicia em 1965 poreacutem a professora e o preacutedio eram mantidos pela Serraria mas na
deacutecada de 70 a prefeitura assumiu a escola sendo que Eloci Martim foi a primeira
professora da Serrariardquo Escola da Serraria como ainda eacute conhecida por boa parte
dos moradores locais apesar de a escola natildeo se encontrar mais onde havia a antiga
serraria Atualmente a Escola Dom Pedro I funciona em um preacutedio obtido atraveacutes da
Associaccedilatildeo de Moradores atendendo alunos da preacute-escola ateacute o sexto ano das
seacuteries finais tendo em seu quadro seis professores e duas funcionaacuterias Sendo que
73
a obra para um novo preacutedio teve iniacutecio neste ano mas percebe-se que a obra parou
por volta do mecircs de maio Poreacutem na vila tambeacutem se encontra uma escola estadual
A documentaccedilatildeo necessaacuteria para a criaccedilatildeo de uma nova escola na localidade foi elaborada por Manoel Cardoso de Andrade juntamente com a professora Odazilda Cardoso Demori e encaminhada agrave Secretaria da Educaccedilatildeo sendo que em 11 de fevereiro de 1953 foi criada a Escola Isolada de Lajeado Grande sendo os professores estaduais mas o preacutedio sob responsabilidade comunitaacuteria iniciou o seu funcionamento nas dependecircncias do DAER e somente em 1957 foi construiacutedo um preacutedio de madeira em terras doadas por Pequeno Cardoso local onde hoje ainda se encontra a escola poreacutem passou por muitas reformas sendo que em 2000 recebeu um novo preacutedio de alvenaria o que possibilitou a realizaccedilatildeo de um grande sonho dos professores e comunidade a implantaccedilatildeo do Ensino Meacutedio que concretizou-se em 200296
Atualmente a escola atende em torno de trezentos alunos da Educaccedilatildeo
Baacutesica poreacutem percebe-se que devido agraves safras de hortifrutigranjeiros o nuacutemero de
alunos se alterna durante o ano O que tambeacutem se percebe eacute o comportamento dos
alunos com relaccedilatildeo agrave diversidade cultural por exemplo usam bombacha laccedilam boi
de pau no recreio e escutam funk uma cultura totalmente diferente da tradicionalista
gauacutecha o que compreende-se como algo advindo da globalizaccedilatildeo cultural que
vivemos no mundo atual reforccedilando novamente o natildeo reconhecimento de uma
identidade forte na localidade
Poreacutem as famiacutelias tradicionais do local manteacutem fortemente arraigada a
cultura tradicionalista que adveacutem do homem do campo tendo no distrito festas
campeiras torneios de laccedilo e a festa religiosa uma vez por ano em homenagem ao
Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus padroeiro da vila
Na atualidade natildeo se percebe uma identidade forte e marcada no distrito e
sim uma miscigenaccedilatildeo de diferentes culturas e etnias que convivem e se integram
harmonicamente
96 CARDOSO Amaacutelia Celuderes Entrevista concedida agrave autora no dia 08 de marccedilo de 2018
74
5 DESCRICcedilAtildeO DO PRODUTO
O produto consiste em um livro paradidaacutetico sobre a histoacuteria de Satildeo Francisco
de Paula Apresenta de maneira didaacutetica a histoacuteria de Satildeo Francisco de Paula bem
como balotildees explicativos imagens sugestotildees de atividades e leituras
complementares Poderaacute servir de apoio pedagoacutegico a professores e alunos do
municiacutepio visto que existe pouco material sobre a histoacuteria deste municiacutepio e se faz
importante trabalhar a histoacuteria local percepccedilatildeo que a autora obteve ao longo da sua
caminhada como professora de histoacuteria que atua nas seacuteries finais do ensino
fundamental e meacutedio haacute dezessete anos na rede estadual do municiacutepio
Partir do local natildeo eacute abandonar o conhecimento histoacuterico eacute dar outro valor
sentido para este conhecimento Segundo Caimi
Levar em conta o universo da crianccedila ou do adolescente natildeo eacute pois abdicar do rigor intelectual [] mas garantir que a apropriaccedilatildeo deste conhecimento ocorra permeada de sentido e significado resultando em soacutelidas aprendizagens (CAIMI 2006 p 24)
Seguindo esta perspectiva a implantaccedilatildeo do Referencial Curricular Gauacutecho
embasado na Base Nacional Comum Curricular reforccedila a ideia jaacute discutida nos
paraacutegrafos anteriores
No que se refere especificamente ao componente Histoacuteria a base rompe tanto com a cronologia quanto agrave visatildeo eurocecircntrica da histoacuteria tradicional Entram em cena novos atores novas sociedades novos caminhos que sempre tiveram na histoacuteria mas nem sempre receberam a devida importacircncia Acompanhando a Base Nacional Comum Curricular o Referencial Curricular Gauacutecho no que se refere especificamente agrave disciplina de Histoacuteria manteacutem seu foco na aprendizagem dos alunos nos diferentes espaccedilos e tempos tendo a preocupaccedilatildeo de integrar o curriacuteculo com a diversidade regional de nosso Estado Tambeacutem eacute importante contemplar os temas integradores como eacutetica cidadania cultura e valorizaccedilatildeo das diversidades assegurando a multiplicidade de olhares sobre o mundo (RIO GRANDE DO SUL 2018 p 118)
Portanto o paradidaacutetico seraacute mais um material disponiacutevel aos professores e
estudantes da educaccedilatildeo baacutesica de Satildeo Francisco de Paula na construccedilatildeo do
conhecimento da histoacuteria do municiacutepio bem como o reconhecimento de sua
identidade neste material visto que se almeja que os estudantes percebam
vestiacutegios de sua identidade e se percebam como parte deste municiacutepio atraveacutes do
conhecimento de sua histoacuteria
75
O paradidaacutetico vem com o tiacutetulo rdquoTropeando histoacuterias em Satildeo Francisco de
Paulardquo sendo que a capa traz a foto do Monumento aos Carreteiros monumento
que se encontra na Avenida Juacutelio de Castilhos em frente ao preacutedio da Prefeitura
Municipal
Figura 22 ndash Capa do livro
Fonte Livro Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula
Na sequecircncia se apresenta o iacutendice que possibilita ao leitor localizar os
diversos temas abordados visto que existem nove capiacutetulos
76
Figura 23 ndash Iacutendice do livro
Fonte Livro Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula
77
O capiacutetulo um apresenta a localizaccedilatildeo de Satildeo Francisco de Paula com uma
seacuterie de mapas que facilitam a compreensatildeo espacial dos alunos assim como um
mapa da subdivisatildeo do municiacutepio em distrito Ao final satildeo sugeridas duas atividades
que podem ser desenvolvidas de maneira interdisciplinar com o apoio da professora
de arte geografia e portuguecircs
Figura 24 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 1)
Fonte Livro Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula
78
Figura 25 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 1)
Fonte Livro Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula
O capiacutetulo dois aborda a existecircncia indiacutegena em Satildeo Francisco de Paula
antes da chegada dos desbravadores vindos de Satildeo Paulo Como sugestatildeo de
atividades apresenta-se uma pesquisa sobre as diferentes tribos indiacutegenas que
habitavam a Proviacutencia de Satildeo Pedro aleacutem da criaccedilatildeo de um painel infograacutefico
79
Figura 26 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 2)
Fonte Livro Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula
No capiacutetulo trecircs se apresentam os primeiros donataacuterios colonizadores de Satildeo
Francisco de Paula com trecho de um testamento deixado por Pedro da Silva
Chaves o fundador de Satildeo Francisco de Paula bem como o mapa que localiza as
primeiras sesmarias que corresponde ao territoacuterio onde hoje eacute a Sede do municiacutepio
80
Figura 27 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 3)
Fonte Livro Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula
Nos capiacutetulos quatro e cinco eacute apresentado o desenvolvimento de Satildeo
Francisco de Paula ainda no seacuteculo XIX quando pertencia ao municiacutepio de Santo
Antocircnio da Patrulha e no final do seacuteculo XIX quando passa a pertencer ao entatildeo
81
municiacutepio de Taquara do Mundo Novo Existe tambeacutem um mapa que demonstra a
extensatildeo territorial de Santo Antocircnio da Patrulha e quais satildeo os municiacutepios hoje que
pertenceram a este bem como a importacircncia da abertura da estrada que liga Satildeo
Francisco de Paula a Taquara
Figura 28 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 4)
Fonte Livro Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula
82
Os capiacutetulos seis e sete apontam a construccedilatildeo do Municiacutepio a partir de sua
emancipaccedilatildeo em 1903 sua extensatildeo territorial e a diminuiccedilatildeo do seu territoacuterio ao
longo do tempo e a histoacuteria da Igreja Matriz Como sugestatildeo de atividade pesquisar
a diversidade religiosa existente na comunidade escolar e criar graacuteficos com essas
informaccedilotildees podendo a partir de entatildeo trabalhar com as questotildees religiosas ontem
e hoje no mundo
Figura 29 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 6)
Fonte Livro Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula
83
No capiacutetulo oito se apresenta o que difere os sete distritos de Satildeo Francisco
de Paula Este capiacutetulo se apresenta subdividido em sete subtiacutetulos onde cada um
corresponde a um distrito do municiacutepio Tendo como fonte principal as entrevistas
realizadas com moradores locais mesclado com fontes documentais e bibliograacuteficas
que corroboram para se perceber que haacute alguns distritos que manteacutem suas tradiccedilotildees
ao longo do tempo e eacute possiacutevel perceber que existe uma identidade que aproxima
aquela populaccedilatildeo
Figura 30 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 8)
Fonte Livro Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula
84
No uacuteltimo capiacutetulo o nove se exibe uma lista de sugestotildees de leituras
complementares a fim de se aprofundarem sobre determinados temas E por fim
as referecircncias utilizadas para a construccedilatildeo do paradidaacutetico Tropeando Histoacuterias em
Satildeo Francisco de Paula
Figura 31 ndash Atividade do livro (Sugestatildeo de Leituras Complementares)
Fonte Livro Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula
85
O produto foi testado em duas turmas da Educaccedilatildeo Baacutesica na Escola
Estadual de Ensino Meacutedio Lajeado Grande com o propoacutesito de avaliar qual seria a
reaccedilatildeo dos estudantes diante do material e por ele ter sido produzido por algueacutem
que convive com eles semanalmente A receptividade foi bastante gratificante como
se pode observar na Figura 32
Figura 32 ndash Alunos do Ensino Meacutedio
Fonte acervo pessoal da autora (2019)
A receptividade foi muito interessante visto que os estudantes
acompanharam a trajetoacuteria para chegar ao produto final algo que os deixava
ansiosos para manusear pois muitas vezes foram parceiros A autora foi
compartilhando com os estudantes as informaccedilotildees obtidas durante a pesquisa e as
descobertas encontradas usando em suas aulas a histoacuteria local para abordar os
diferentes temas e conceitos histoacutericos
Quando a autora apresenta o produto os estudantes do ensino meacutedio estes
formam grupos por distritos e buscam logo reconhecer no material sua identidade
apoacutes comentam sobre as peculiaridades de cada distrito Poreacutem os alunos do
ensino fundamental manuseiam o produto mas natildeo se deteacutem ao distrito em que
pertence e sim as imagens e as explicaccedilotildees apresentadas no vocecirc sabia
O que enriquece o trabalho realizado foi o envolvimento dos estudantes com
o produto solicitando quando poderatildeo ler calmamente todo o trabalho
86
6 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
A partir de experiecircncias pessoais em sala de aula se percebeu que o ensino
de Histoacuteria quando se partia da histoacuteria local havia maior interesse dos estudantes
da educaccedilatildeo baacutesica motivo pelo qual se deu a questatildeo-problema desta dissertaccedilatildeo
que estaacute relacionada diretamente com o natildeo uso desta histoacuteria pelos professores da
educaccedilatildeo baacutesica
Em conversas informais com professores da educaccedilatildeo baacutesica que atuam no
municiacutepio de Satildeo Francisco de Paula em sua grande maioria alegam que o grande
empecilho para se trabalhar a histoacuteria local eacute o pouco material disponiacutevel sobre a
histoacuteria de Satildeo Francisco de Paula aleacutem do rigor dos curriacuteculos que impotildeem o
ensino de Histoacuteria de maneira linear sem contextualizaccedilatildeo com a realidade vivida
pelos estudantes pois desta forma natildeo estatildeo preparando os estudantes para as
avaliaccedilotildees do Ministeacuterio da Educaccedilatildeo bem como para o vestibular Poreacutem natildeo se
estaacute afirmando que deveraacute estudar somente a histoacuteria local e sim partir dela como
incentivo para estudos dos conceitos e temaacuteticas da histoacuteria por muitas vezes
totalmente abstrato e de difiacutecil compreensatildeo pela grande maioria dos estudantes
A partir de entatildeo se realizaram inuacutemeros questionamentos como qual a
necessidade de se ensinar Histoacuteria de forma abstrata sem nenhuma relaccedilatildeo com
as vivecircncias dos estudantes Por que natildeo usar a fonte oral como metodologia de
pesquisa no ensino de Histoacuteria em Satildeo Francisco de Paula jaacute que natildeo existem
muitos materiais escritos a respeito desta histoacuteria principalmente no que tange os
distritos do interior Poreacutem estes questionamentos natildeo foram aprofundados na
dissertaccedilatildeo por natildeo ser o objetivo direto da pesquisa mas posteriormente poderaacute
se tornar um novo projeto de pesquisa
Nesta incessante busca por resposta se constroacutei todo o estudo desta
dissertaccedilatildeo que em um primeiro momento busca embasamento em diferentes
autores que comprovam que o ensino de Histoacuteria voltado para o local faz maior
sentido para os estudantes da educaccedilatildeo baacutesica e que isto natildeo significa abandonar
os conceitos histoacutericos e sim questionar analisar a trajetoacuteria humana no tempo e
no espaccedilo sob uma nova metodologia Apenas se sugere uma nova abordagem
que torne o ensino de Histoacuteria menos abstrato algo mais presente na vida do
estudante e que possibilite a ele a habilidade de perceber que o mundo estaacute em
constante mudanccedila poreacutem os fatos natildeo ocorrem de forma isolada no espaccedilo Algo
87
que foi reforccedilado apoacutes a construccedilatildeo da Base Nacional Curricular e o Referencial
Curricular Gauacutecho que vem de encontro com esta proposta de se estudar a histoacuteria
sobre novos olhares natildeo esquecendo das especificidades regionais do estado do
Rio Grande do Sul para o reconhecimento da identidade local e regional
A identidade local nesta pesquisa se buscou atraveacutes de relatos de
moradores locais que gentilmente colaboraram para o sucesso deste trabalho pois
a memoacuteria se tornou a fonte primordial para se escrever o que identifica os sete
distritos que constituem Satildeo Francisco de Paula Certamente a temaacutetica natildeo se
esgotou ainda haacute muito que se pesquisar e escrever sobre a histoacuteria de Satildeo
Francisco de Paula possibilitando a criaccedilatildeo de novos materiais que possam ser
usados em sala de aula pelos professores e alunos deste municiacutepio
Mas ao mesmo tempo haacute uma preocupaccedilatildeo por parte da autora nada
adianta criar produtos sinalizar novos meacutetodos ao ensino de Histoacuteria se o
profissional professor natildeo estiver preparado para trabalhar com novas fontes
histoacutericas novas metodologias de ensino proporcionando aos estudantes a
oportunidade de construir seu proacuteprio conhecimento histoacuterico embasado em sua
realidade e suas vivecircncias
Vivecircncias que se tornaram aliadas na pesquisa pois a autora nasceu e
sempre viveu no municiacutepio de Satildeo Francisco de Paula poreacutem a maior dificuldade
encontrada nesta caminhada foi percorrer grandes distacircncias por estradas de
rodagem em peacutessimas condiccedilotildees de trafegabilidade para gravar os relatos que
servem de base para a construccedilatildeo desta pesquisa O municiacutepio de Satildeo Francisco de
Paula eacute territorialmente extenso e essas distacircncias percorridas deram o nome ao
produto Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula como uma homenagem
aos antigos tropeiros deste municiacutepio que passavam boa parte de sua vida ao
lombo de mulas levando e buscando mercadorias pelos campos de cima da serra
Visto que desde o processo seletivo do mestrado em agosto de 2016
quando se apresentou o projeto de pesquisa jaacute se pensava no produto um livro
paradidaacutetico no formato fiacutesico A autora por diversas vezes foi questionada por que
natildeo um blog ou site Porque na forma fiacutesica este material seria de faacutecil manuseio
pelos estudantes e professores pois principalmente no interior uso da internet ainda
eacute um problema visto que em muitos locais natildeo existe sinal de telefonia diraacute
internet
88
O paradidaacutetico foi se moldando ao longo do tempo ateacute se chegar a versatildeo
final com uma ampla gama de informaccedilotildees e curiosidades sobre os sete distritos de
Satildeo Francisco de Paula onde se pretende que os alunos e professores possam
fazer uso deste material em sala de aula para tanto a autora pretende
posteriormente lanccedilar o produto para que possa ser lido e manuseado por todos
inclusive por aqueles que gostam de histoacuteria e sentem curiosidade sobre a formaccedilatildeo
do seu distrito e por conseguinte do municiacutepio de Satildeo Francisco de Paula
O paradidaacutetico foi testado em duas turmas da Escola Estadual de Ensino
Meacutedio Lajeado Grande sendo uma de Ensino Meacutedio e a outra das seacuteries finais do
Ensino Fundamental Os alunos jaacute detinham o conhecimento que a autora estava
cursando o Mestrado e que para sua conclusatildeo deveria apresentar um produto Era
de conhecimento de todos os estudantes que a autora estava produzindo um
paradidaacutetico sobre a histoacuteria de Satildeo Francisco de Paula pois a mesma eacute professora
destes estudantes nesta escola
Em um primeiro momento se explica que eacute apenas um protoacutetipo que
somente a capa estaacute colorida e o restante estaacute todo em preto e branco e que a
versatildeo final teraacute as imagens e as curiosidades coloridas o que com certeza
chamaraacute mais atenccedilatildeo Ao entregar o paradidaacutetico Tropeando Histoacuterias em Satildeo
Francisco de Paula para que possam manuseaacute-lo veio a primeira grande surpresa
os estudantes ficaram muito contentes por a turma ter sido escolhida pela autora
escolha essa que se justifica por ter trabalhado todo o ano de 2017 com estes
alunos partindo da histoacuteria local
A turma do oitavo ano do Ensino Fundamental manuseou sendo que os
alunos acharam interessante poreacutem se deteram mais nas imagens e balotildees do
ldquovocecirc sabiardquo Mas de maneira ampla e geral acharam muito interessante a foto de
capa com o Monumento aos Carreteiros situado na Avenida Juacutelio de Castilhos em
frente ao preacutedio da Prefeitura Municipal pois alguns natildeo conhecem a Sede do
municiacutepio
Os alunos do segundo ano do Ensino Meacutedio se surpreenderam e foram direto
ler sobre o distrito no qual residem Interessados questionaram sobre curiosidades
de como o material foi construiacutedo quais as maiores dificuldades encontradas
elogiaram o leiaute as imagens de fundo ao lado de cada curiosidade relatando que
chama a atenccedilatildeo aleacutem de considerarem relevantes as sugestotildees de atividades e
ao final solicitaram quando o material estaraacute disponiacutevel para que possam ler
89
integralmente visto que um periacuteodo de cinquenta minutos natildeo foi suficiente para que
todos manuseassem se fazendo necessaacuterio levar novamente na proacutexima aula
A autora se sentiu motivada pela recepccedilatildeo do produto por seus alunos o que
a incentiva continuar pesquisando sobre outras temaacuteticas a respeito da histoacuteria de
Satildeo Francisco de Paula trazendo para seu fazer pedagoacutegico novas fontes que
proporcionem um estudo da Histoacuteria de maneira ampla e contextualizada com a
realidade local que os cerca
90
REFEREcircNCIAS
ALBERTI Verena Manual da histoacuteria oral Satildeo Paulo FGV 2008
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Jornal Satildeo Chico Tchecirc n 11 do dia 25 de maio de 1986
Jornal Satildeo Chico Tchecirc n 12 do dia 28 de maio de 1986
Jornal Pioneiro versatildeo digital do dia 02 de junho de 2017
Entrevistas
Amaacutelia Celuderes Cardoso residente no distrito de Lajeado Grande Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 08 de marccedilo de 2018
Blair dos Santos Fogaccedila residente no distrito de Lajeado Grande Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 06 de abril de 2018
Ceacutelia Pacheco Terres Basso residente no distrito de Cazuza Ferreira Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 04 de agosto de 2018
Darci da Silva Fagundes residente no distrito de Tainhas Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 24 de fevereiro de 2018
Deotildes Palhano dos Santos residente no distrito do Juaacute Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 12 de maio de 2018
Jaures Feijoacute Gomes residente no distrito de Eletra Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 15 de fevereiro de 2018
Luciana Olga Soares residente no distrito Sede Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 01 de marccedilo de 2018
Maria Madalena Scalco Faciole residente no distrito do Rincatildeo dos Kroeff Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 18 de marccedilo de 2018
Moacir Castello Branco de Albuquerque residente no distrito Sede Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 06 abril de 2018
95
Nauro Bossle de Andrade residente no distrito de Cazuza Ferreira Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 04 de marccedilo de 2018
Orides Reis residente no distrito do Juaacute Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 12 de maio de 2018
Reinaldo Faciole residente no distrito do Rincatildeo dos Kroeff Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 18 de marccedilo de 2018
Susana Marques Soares residente no distrito de Eletra Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 15 de fevereiro de 2018
96
APEcircNDICES
97
APEcircNDICE A ndash ENTREVISTA COM MORADORES LOCAIS DOS DISTRITOS DE
SAtildeO FRANCISCO DE PAULA
UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL
PROGRAMA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO EM HISTOacuteRIA ndash MESTRADO EM HISTOacuteRIA PROFISSIONAL
PESQUISA DE CAMPO ndash TATIANA MEacuteLO CARDOSO
1 Nome completo
2 Idade
3 Quantos anos reside neste distrito
4 Como se formou este distrito
5 Por que ele tem esse nome
6 Quem foram os primeiros moradores
7 Como era a vida aqui haacute tempos atraacutes
8 O que mudou aqui com o passar dos anos
9 O que identifica este lugar
10 As pessoas hoje que moram aqui na grande maioria satildeo naturais daqui ou vieram
de onde
11 A(o) Sra(Sr) acredita que as futuras geraccedilotildees valorizaram eou conheceram a
histoacuteria local ou vai se perder no tempo
12 Como funcionava a questatildeo do ensino em meados do seacuteculo XX havia escola na
localidade
13 Qual a primeira escola deste distrito data de fundaccedilatildeo local de funcionamento e a
primeira professora
14 Achas importante trabalhar nas escolas a histoacuteria do lugar
15 O que eacute tradiccedilatildeo deste distrito
16 Qual eacute a fonte de renda das pessoas no que elas trabalham
17 Qual eacute o lazer das pessoas aqui
98
APEcircNDICE B ndash TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Declaro por meio deste termo que concordei em ser entrevistado(a) eou participar na
pesquisa de campo referente ao projetopesquisa Ensino de Histoacuteria Local e o Paradidaacutetico
caso Satildeo Francisco de Paula desenvolvida pela aluna Tatiana Meacutelo Cardoso do Programa de
Poacutes-Graduaccedilatildeo em Histoacuteria ndash Mestrado Profissional da Universidade de Caxias de Sul Fui
informado(a) que poderei consultaacute-la a qualquer momento que julgar necessaacuterio atraveacutes do e-
mail t_ati_mhotmailcom
Afirmo que aceitei participar por minha proacutepria vontade sem receber qualquer
incentivo financeiro ou ter qualquer ocircnus e com a finalidade exclusiva de colaborar para o
sucesso da pesquisa Fui informado(a) dos objetivos estritamente acadecircmicos de estudo
Minha colaboraccedilatildeo natildeo ficaraacute anocircnima e foi realizada por meio de entrevista
semiestruturada A anaacutelise dos dados obtidos seratildeo divulgados natildeo permanecendo restritas
apenas a pesquisadora eou seu(s) orientador(es) coordenador(es)
Fui ainda informado(a) de que posso me retirar desse(a) estudopesquisa programa a
qualquer momento sem prejuiacutezo para meu acompanhamento ou sofrer quaisquer sanccedilotildees ou
constrangimentos Atesto recebimento de uma coacutepia assinada deste Termo de Consentimento
Livre e Esclarecido
Satildeo Francisco de Paula ___ de _____________ de ____
Assinatura do(a) participante
Assinatura do responsaacutevel
SUMAacuteRIO
1 INTRODUCcedilAtildeO 11
2 HISTOacuteRIA LOCAL E O ENSINO DE HISTOacuteRIA NA SALA DE AULA 17
3 SAtildeO FRANCISCO DE PAULA CONSTRUCcedilAtildeO DO MUNICIacutePIO 24
31 CONVERSA COM MEMORIALISTAS 25
32 AMPLIANDO O DIAacuteLOGO COM OS MEMORIALISTAS 28
4 SAtildeO FRANCISCO DE PAULA DISTRITOS EM FOCO 41
41 DISTRITO SEDE 42
42 DISTRITO DE CAZUZA FERREIRA 51
43 DISTRITO DE TAINHAS 55
44 DISTRITO DE ELETRA 58
45 DISTRITO DO JUAacute 62
46 DISTRITO DO RINCAtildeO DOS KROEFF 66
47 DISTRITO DE LAJEADO GRANDE 70
5 DESCRICcedilAtildeO DO PRODUTO 74
6 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 86
REFEREcircNCIAS 90
FONTES CONSULTADAS 94
APEcircNDICES 96
APEcircNDICE A ndash ENTREVISTA COM MORADORES LOCAIS DOS DISTRITOS DE
SAtildeO FRANCISCO DE PAULA 97
APEcircNDICE B ndash TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO 98
11
1 INTRODUCcedilAtildeO
Os meacutetodos de ensino de Histoacuteria no Brasil vem sendo discutidos desde sua
criaccedilatildeo como disciplina Segundo Nadai (1992-1993 p 144) a introduccedilatildeo de
Histoacuteria no curriacuteculo ocorre na terceira metade do seacuteculo XIX no Brasil sendo que
desde entatildeo passa por diversas modificaccedilotildees Segundo Schmidt e Cainelli (2009)
os meacutetodos foram se adequando ao momento histoacuterico brasileiro em um primeiro
momento ensinou-se a histoacuteria da Europa Ocidental como a verdadeira histoacuteria da
civilizaccedilatildeo uma histoacuteria abstrata sem relaccedilatildeo com a vida do aluno Nadai (1992-
1993 p 146) acrescenta que ldquoa histoacuteria da paacutetria surgia como seu apecircndice sem
corpo autocircnomo e ocupando um papel extremamente secundaacuterio consistia num
repositoacuterio de biografias de homens ilustres de datas e batalhasrdquo
Poreacutem a partir de 1860 segundo Schmidt e Cainelli (2009 p 12-13) ldquono
periacuteodo republicano a incorporaccedilatildeo da concepccedilatildeo de que a disciplina Histoacuteria tinha
a responsabilidade de formar cidadatildeos ganha forccedilardquo sendo assim as escolas
primaacuterias e secundaacuterias comeccedilaram incluir em seus programas a histoacuteria nacional
com o intuito da formaccedilatildeo da nacionalidade sendo a paacutetria com seus heroacuteis o
principal foco Desta forma a criaccedilatildeo das diretrizes da Lei de Educaccedilatildeo nordm 569271
reforccedila o modelo jaacute instaurado
Foi oficializado o ensino de Estudos Sociais nas escolas brasileiras ficando os conteuacutedos especiacuteficos da Histoacuteria destinados somente aos alunos do antigo segundo grau A concepccedilatildeo e os conteuacutedos da Histoacuteria continuavam atrelados agraves concepccedilotildees tradicionais (SCHMIDT CAINELLI 2009 p 13)
Com a redemocratizaccedilatildeo na deacutecada de 1980 houve inuacutemeras discussotildees
que elencaram inuacutemeras abordagens e temaacuteticas para o ensino da Histoacuteria na
atualidade as novas tendecircncias se preocupam com a transposiccedilatildeo didaacutetica
valorizando documentos histoacutericos e incorporando novas linguagens e tecnologias
que permitem discussotildees e autonomia de pensamento Neste sentido as novas
concepccedilotildees de ensino de Histoacuteria ao final do seacuteculo XX abrem a possibilidade de
uma nova praacutetica didaacutetica que segundo Azevedo e Stamatto (2010 p 709) ldquobusca
problematizar a relaccedilatildeo passado-presente e em geral tomam a realidade do aluno
como ponto de partidardquo
Por se acreditar em um ensino de Histoacuteria onde a aprendizagem natildeo ocorre
em periacuteodos estanques de forma abstrata e sem relaccedilatildeo com o presente ou seja
12
apresentando de forma linear sem que haja contextualizaccedilatildeo sendo apresentada
atraveacutes de leitura de textos eou resumos permeando com atividades que muitas
vezes natildeo permitem um desenvolvimento de raciociacutenio histoacuterico que contribua para
a construccedilatildeo da cidadania Torna-se urgente pensar em um ensino voltado para a
inclusatildeo de novas contribuiccedilotildees historiograacuteficas como a histoacuteria cultural econocircmica
e social buscando na realidade local subsiacutedios para a aprendizagem Por isso a
presente dissertaccedilatildeo traz a didatizaccedilatildeo da histoacuteria de Satildeo Francisco de Paula visto
que a questatildeo-problema estaacute vinculada ao natildeo uso da histoacuteria local no ensino de
Histoacuteria deste municiacutepio e o pouco material disponiacutevel para o uso dos professores
Parte-se do pressuposto que ao abranger a histoacuteria local os sujeitos se veem como
partiacutecipes desta histoacuteria estudada significando e ressignificando conceitos
histoacutericos
Corroborando com este estudo Cunha (2016) traz consideraccedilotildees importantes
relacionadas ao uso da histoacuteria local O autor aborda como algo essencial para
compreensatildeo da histoacuteria geral na educaccedilatildeo baacutesica o uso da histoacuteria local o que
proporcionaria aos estudantes o reconhecimento como cidadatildeo e a percepccedilatildeo e
identificaccedilatildeo dos lugares de memoacuteria por parte dos alunos bem como o sentimento
de pertencimento do local Desta forma despertaria no aluno o interesse por um
passado aparentemente desligado de sua realidade estabelecendo relaccedilotildees com o
seu cotidiano
Desta maneira acredita-se que os estudantes da educaccedilatildeo baacutesica
compreenderatildeo a histoacuteria como algo que faz parte de suas vidas tornando-se assim
sujeitos da histoacuteria pois se haacute reconhecimento haveraacute tambeacutem o sentimento de
pertencimento que poderaacute ajudaacute-los a manter ou modificar a realidade que os cerca
Assim descrevem Schmidt e Cainelli
Esse sentido do ensinar Histoacuteria natildeo significaria natildeo ter conteuacutedos para serem ensinados mas olhar para estes conteuacutedos a partir da possibilidade de construir com os alunos novas questotildees diante de conteuacutedos e temas propostos pela historiografia Aprender histoacuteria eacute discutir evidecircncias levantar hipoacuteteses dialogar com os sujeitos os tempos e os espaccedilos histoacutericos Eacute olhar para o outro em tempos e espaccedilos diversos (SCHMIDT CAINELLI 2009 p 20)
Dentro desta perspectiva o reconhecimento da memoacuteria social se faz
importante visto que se necessita invocaacute-la para que um determinado grupo ou local
reconheccedila sua identidade social Atraveacutes de entrevistas com moradores de Satildeo
13
Francisco de Paula se invoca a memoacuteria coletiva na busca da identidade dos sete
distritos deste municiacutepio Visto que a histoacuteria de Satildeo Francisco de Paula se inicia por
volta do seacuteculo XVIII quando se datam as primeiras sesmarias1 concedidas ao
capitatildeo Pedro da Silva Chaves Posteriormente o capitatildeo doa parte de suas terras
para a construccedilatildeo do povoado que recebe o nome de Satildeo Francisco de Paula de
Cima da Serra por este ser devoto do Santo Satildeo Francisco Reza no testamento do
capitatildeo Pedro da Silva Chaves que um de seus filhos foi o primeiro paacuteroco a rezar
missa no povoado Satildeo Francisco de Paula pertenceu a Santo Antocircnio da Patrulha
e mais tarde a Taquara emancipando-se em 1902
Haacute pouca bibliografia sobre a histoacuteria de Satildeo Francisco de Paula o que existe
satildeo livros escritos por memorialistas onde se percebe a prioridade pela histoacuteria do
fundador ou seja do Capitatildeo Pedro da Silva Chaves dos iacutendios Caaguaraacutes que
habitavam a regiatildeo assim como os aspectos poliacuteticos administrativos Alguns destes
livros apresentam uma siacutentese cronoloacutegica de fatos importantes e descrevem
superficialmente o jeito de viver do povo serrano2 Mas a histoacuteria de Satildeo Francisco
de Paula estaacute repleta de diferentes identidades que identificam a Sede3 e o Interior4
deste municiacutepio e formam o jeito de viver do seu povo A natildeo exploraccedilatildeo de
elementos culturais que se fazem importantes para a construccedilatildeo de identidade
destes lugares minimiza as memoacuterias e as tradiccedilotildees que ali se apresentam visto
que
as constantes novidades em diferentes campos do saber os avanccedilos da tecnologia as infinitas possibilidades de comunicaccedilatildeo simultacircnea tecircm provocado sobretudo nas novas geraccedilotildees uma sensaccedilatildeo de que o mundo em que se vive eacute dotado de um temporalidade constituiacuteda por um tempo presente contiacutenuo (FIGUEIRA MIRANDA 2012 p 46)
Neste sentido fez-se uso de diferentes fontes para a construccedilatildeo do produto
desta dissertaccedilatildeo que consiste de um paradidaacutetico que possa servir como um
1 Sesmaria Terreno sem culturas ou abandonado que a antiga legislaccedilatildeo portuguesa com base em
praacuteticas medievais determinava que fosse entregue a quem se comprometesse a cultivaacute-lo 2 Serrano gentiacutelico de quem nasce em Satildeo Francisco de Paula 3 Sede distrito criado em 07 de janeiro de 1903 na mesma data da instalaccedilatildeo oficial do Municiacutepio Eacute
o distrito onde se localiza a Prefeitura Municipal Foacuterum agecircncias bancaacuterias loteacutericas hospital casas comerciais e residecircncias particulares Normalmente os moradores do interior quando vatildeo ao distrito se referem como ldquovou a Satildeo Chicordquo e natildeo como ldquovou a Sederdquo
4 Interior Cazuza Ferreira Juaacute Eletra Rincatildeo dos Kroeff Tainhas e Lajeado Grande satildeo distritos que ficam na zona rural apesar de todos terem uma pequena vila que possui pouca infraestrutura Alguns destes distritos ainda usam aacutegua de vertentes sem nenhuma rede de esgoto pois natildeo possuem aacutegua fornecida pela Companhia de Aacutegua e Saneamento (CORSAN)
14
material disponiacutevel a alunos e professores no ensino de Histoacuteria de Satildeo Francisco
de Paula Segundo Munakata entendem-se como paradidaacuteticos
Livros que sem apresentar caracteriacutesticas proacuteprias dos didaacuteticos satildeo adotados no processo de ensino e aprendizagem nas escolas seja como material de consulta do professor seja como material de pesquisa e de apoio agraves atividades do educando (MUNAKATA 1997 p 103)
Para a construccedilatildeo do paradidaacutetico fez-se uso de bibliografias jaacute existentes
jornais e documentos da Assembleia da Legislativa bem como o uso da histoacuteria
oral sendo as entrevistas a fonte primordial para escrever sobre as semelhanccedilas e
diferenccedilas existentes no modo de vida da populaccedilatildeo de Satildeo Francisco de Paula
visto que os depoimentos satildeo importantes na preservaccedilatildeo das memoacuterias tradiccedilotildees
bem como das heranccedilas identitaacuterias Neste sentido Delgado (2003 p 23) discorre
ldquonarrativas memoacuterias histoacuterias e identidades satildeo a humanidade em movimento
Satildeo o olhar que permeiam tempos heterogecircnicos Satildeo a histoacuteria em construccedilatildeo Satildeo
memoacuterias que falamrdquo
Portanto a histoacuteria oral busca registrar as vivecircncias e lembranccedilas de um
determinado grupo Alberti (2008 p 29) assim define ldquohistoacuteria oral natildeo eacute um fim em
si mesma e sim um meio de conhecimentordquo Quando se trabalha com a histoacuteria
oral se faz necessaacuterio valorizar a memoacuteria as identidades e tradiccedilotildees pois estas
formam a histoacuteria local ou seja a histoacuteria dos indiviacuteduos que ali vivem Halbwachs
(2004) afirma que com a perda da memoacuteria coletiva tambeacutem se perdem as
tradiccedilotildees locais tradiccedilotildees essas que identificam o modo de viver de um determinado
local Hobsbawn e Ranger entendem que as tradiccedilotildees podem ou natildeo ser
inventadas
Tradiccedilatildeo inventada entende-se um conjunto de praacuteticas normalmente reguladas por regras taacutecitas ou abertamente aceitas tais praacuteticas de natureza ritual ou simboacutelica visam inculcar certos valores e normas de comportamento atraveacutes da repeticcedilatildeo o que implica automaticamente uma continuidade com relaccedilatildeo ao passado (HOBSBAWN RANGER 2015 p 8)
Hobsbawn e Ranger (2015) ainda acrescem que a criaccedilatildeo de uma tradiccedilatildeo
independe da imposiccedilatildeo de uma nova tradiccedilatildeo o que normalmente ocorre eacute uma
rebeliatildeo cultural que precede da elaboraccedilatildeo de novas tradiccedilotildees que satildeo adotadas
pela populaccedilatildeo e com o tempo passam a se tornar tradiccedilotildees daquele local
formando a identidade local
15
Neste sentido Hall (2011 p 39) discorre que ldquoas identidades satildeo fabricadas
por meio da marcaccedilatildeo da diferenccedilardquo O autor ainda acresce que ldquoa diferenccedila eacute aquilo
que separa uma identidade da outrardquo (HALL 2011 p 41) Dentro desta perspectiva
a memoacuteria que se apresenta atraveacutes de siacutembolos ou tradiccedilotildees respalda a
construccedilatildeo da identidade do povo de Satildeo Francisco de Paula visto que a memoacuteria eacute
a construccedilatildeo do passado de maneira atualizada e renovada no tempo presente
Assim Halbwachs (2004 p 64) descreve que ldquonatildeo eacute na histoacuteria aprendida eacute na
histoacuteria vivida que se apoia nossa memoacuteriardquo Nessa loacutegica o autor ainda descreve
que ldquoo mundo histoacuterico eacute como um oceano onde afluem todas as histoacuterias parciaisrdquo
(p 90)
O municiacutepio de Satildeo Francisco de Paula eacute repleto de tradiccedilotildees que perpassam
o tempo que estatildeo enraizadas no jeito serrano de ser formando a sua identidade
Portanto a histoacuteria de Satildeo Francisco de Paula descrita nesta dissertaccedilatildeo seraacute
apresentada em quatro capiacutetulos
O capiacutetulo dois apresenta a discussatildeo teoacuterica metodoloacutegica sobre a
importacircncia do ensino da Histoacuteria local na sala de aula Tambeacutem conceitos como
memoacuteria e identidade e a importacircncia de se abordar o local em prol do global
No capiacutetulo trecircs aborda-se a construccedilatildeo histoacuterica do municiacutepio de Satildeo
Francisco de Paula que vai desde a chegada do colonizador nesta terra ateacute as
instituiccedilotildees que se formam ao longo do tempo Para isso se faz uso de bibliografias
jaacute existentes como Lucena (1971) Oliveira (1996) Teixeira (2002) Ribeiro (2003)
Alves (2007) e Fonseca (2012) sendo todas essas obras importantes para Satildeo
Francisco de Paula visto que cada uma traz consigo um pouco da histoacuteria deste
municiacutepio poreacutem sente-se falta da identidade e da memoacuteria na construccedilatildeo histoacuterica
As obras satildeo apresentadas sob o mesmo prisma apresentando os iacutendios Caaguaraacutes
e o Capitatildeo Pedro da Silva Chaves os fundadores desta terra dando bastante
ecircnfase aos sobrenomes que ali se desenvolveram Tambeacutem se fez uso de
documentos da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul aleacutem de jornais
encontrados no Arquivo Histoacuterico de Satildeo Francisco de Paula
No capiacutetulo quatro utiliza-se da fonte oral para que sejam identificadas as
diferentes tradiccedilotildees e versotildees da histoacuteria local ou seja a identidade de cada distrito
constituindo assim as particularidades que constroem o municiacutepio de Satildeo Francisco
de Paula Para tanto buscaram-se depoentes nas vilas dos distritos sendo que a
escolha se deu por duas pessoas por distrito sendo um homem e uma mulher
16
totalizando treze depoentes todos da terceira idade pois segundo Bosi (1994 p
82) ldquoum mundo social que possui uma riqueza e uma diversidade que natildeo
conhecemos pode chegar-nos pela memoacuteria dos velhosrdquo memoacuterias estas
construiacutedas por suas vivecircncias neste local o que justifica a relevacircncia dos
depoimentos para a construccedilatildeo do trabalho
O capiacutetulo cinco apresenta uma descriccedilatildeo do produto que consiste em um
paradidaacutetico em forma fiacutesica abordando a histoacuteria de Satildeo Francisco de Paula A
escolha pelo formato fiacutesico acontece pelas dificuldades encontradas no interior dos
distritos com o acesso agrave internet assim se pensa que o formato fiacutesico abrangeraacute um
nuacutemero maior de alunos e professores
Para tanto utiliza-se a metodologia da Histoacuteria oral para escrever a memoacuteria
e as percepccedilotildees das pessoas que habitam este local Hobsbawn e Ranger (1995 p
103) escrevem que ldquoessa proximidade entre o periacuteodo analisado e sua histoacuteria
pessoal eacute o pano de fundo para a discussatildeo de alguns problemas que qualquer
historiador enfrenta ao escrever sobre seu proacuteprio tempordquo pois a sensibilidade do
historiador vai escrever sua narrativa Em outras palavras Hobsbawn e Ranger
(1995 p 104) explicam que ldquocada historiador tem sua proacutepria vida um lugar privado
a partir do qual inspeciona o mundordquo Tambeacutem afirmam
Para aqueles que querem escrever a histoacuteria do seacuteculo XX uma das mais importantes reside no simples fato de saber sem nenhum esforccedilo especial o quanto as coisas se modificaram Os uacuteltimos trinta ou quarenta anos foram os mais revolucionaacuterios da histoacuteria O mundo ou seja a vida dos homens e mulheres que vivem na Terra nunca foi transformada de maneira tatildeo profunda dramaacutetica e extraordinaacuteria dentro de um periacuteodo tatildeo curto As geraccedilotildees que natildeo viram como o mundo era antes tecircm dificuldade em perceber isso intuitivamente (HOBSBAWN RANGER 1995 p 107)
Portanto se faz importante perceber que o mundo vem se transformando de
maneira raacutepida modificando a vida das pessoas e por conseguinte as tradiccedilotildees e
identidades locais pois estas comunidades natildeo vivem de forma isolada e sofreram
influecircncias jaacute que a cultura natildeo eacute estagnada estaacute sempre em constante movimento
juntamente com as pessoas
17
2 HISTOacuteRIA LOCAL E O ENSINO DE HISTOacuteRIA NA SALA DE AULA
Discutir o ensino de Histoacuteria na educaccedilatildeo baacutesica e a relaccedilatildeo do mesmo com a
histoacuteria local se faz bastante importante para que a cada dia se possa melhorar as
praacuteticas pedagoacutegicas Neste sentido se busca respaldo em diferentes bibliografias
que possam embasar novos afazeres dentro do espaccedilo da sala de aula e
proporcionar ao estudante um novo olhar sobre a histoacuteria um olhar de sujeito ativo
dentro desse processo de ensino aprendizagem
Pois quando a Histoacuteria eacute ensinada como algo certo e imutaacutevel de maneira
fragmentada voltada para linearidade e memorizaccedilatildeo de fatos e datas reforccedila o
que Mendes (1935) e Schmidt e Cainelli (2009) defendem que realmente eacute odiosa a
histoacuteria ensinada por este vieacutes Percebe-se que o ensino de histoacuteria linear nos
moldes europeus positivistas jaacute natildeo daacute mais conta da importacircncia da histoacuteria para a
sociedade atual porque eacute apresentada aos alunos atraveacutes de datas e fatos escrita
pelo vieacutes de uma elite que normalmente eacute branca e deteacutem o poder poliacutetico eou
econocircmico Eacute inconcebiacutevel que se permaneccedila com um ensino de Histoacuteria que natildeo
serve natildeo motiva e segundo Ruumlsen (2001 p 25) ainda ldquoirracionalizardquo sendo esse
modelo muito frequente nas escolas de educaccedilatildeo baacutesica brasileiras
Natildeo eacute por outro motivo que observamos ainda nas uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo XX que para a maior parte dos estudantes brasileiros o estudo de histoacuteria carece de sentido ou utilidade natildeo se tem a visatildeo de ciecircncia e sim de uma mateacuteria decorativa estudo do passado que soacute exige como vimos a prontidatildeo em declinar nomes datas e fatos Natildeo eacute de se estranhar que assim seja porque ocorre a enorme distacircncia entre a realidade vivenciada pela comunidade e o tratamento dado ao ensino de Histoacuteria jaacute que o aluno se torna mero espectador de fatos natildeo necessitando esforccedilos no sentido de qualquer reflexatildeo ou elaboraccedilatildeo (BARBOSA 2006 p 58)
O ensinar da histoacuteria de forma abstrata fragmentada dificulta a compreensatildeo
do processo histoacuterico no sentido que se estuda os fatos isolados ao seu tempo
como se um fato precisasse terminar para iniciar outro Em outras palavras este
meacutetodo de ensino natildeo daacute a noccedilatildeo de continuidade ou seja a histoacuteria perdeu seu
sentido baacutesico que eacute a compreensatildeo do contexto global dos fatos considerando que
o ensino de Histoacuteria por muitas vezes eacute estanque sem uma relaccedilatildeo ldquopresente x
passadordquo sendo de suma importacircncia o despertar de uma consciecircncia criacutetica por
parte do estudante Por isso ao longo do tempo o ensino sofre influecircncia por parte
do ldquopoderrdquo segundo Laville (1999 p 128) ldquoa Histoacuteria eacute certamente a uacutenica disciplina
18
escolar que recebe intervenccedilotildees diretas dos altos dirigentes e a consideraccedilatildeo ativa
dos parlamentos Isso mostra quatildeo importante eacute ela para o poderrdquo Nesta linha o
autor ainda acrescenta que ldquoa narrativa histoacuterica pode tambeacutem ser vista como uma
tomada de poder por grupos sem poderrdquo (LAVILLE 1999 p 129)
Na busca de modificar esse modelo surgem novos meacutetodos que valorizam o
uso do documento histoacuterico e a incorporaccedilatildeo de novas tecnologias de acordo com
Azevedo e Stamatto (2010 p 720) ldquotem o desafio de responder a inquietaccedilotildees do
hojerdquo Partindo deste pressuposto haacute possibilidade de se modificar o ensino da
Histoacuteria que ateacute entatildeo estava voltado agrave memorizaccedilatildeo para um modelo onde o
sujeito seja agente deste processo
Ensinar Histoacuteria como algo pronto e acabado [] sem levar em conta o contexto e os sujeitos envolvidos no processo de ensino aprendizagem pode levar a um ensino que natildeo desenvolve o que eacute mais importante como funccedilatildeo do ensinar histoacuteria que orientar os problemas da vida praacutetica (SCHMIDT CAINELLI 2009 p 20)
Assim Seffner (2013 p 51) acrescenta que ldquoo ensino de Histoacuteria eacute um ensino
de situaccedilotildees histoacutericas Mais do que nomes datas e acontecimentos o professor
deve propiciar ao aluno a compreensatildeo de como se estrutura uma dada situaccedilatildeordquo
Para que o ensino de Histoacuteria seja ressignificado existe a necessidade de anaacutelise
do processo histoacuterico problematizando os fatos no vai e vem do presentepassado
Os estudantes da educaccedilatildeo baacutesica necessitam compreender a histoacuteria como
um processo em constante transformaccedilatildeo que eacute movimentada por sujeitos que a
compotildeem com permanecircncias e rupturas ao longo dos tempos Segundo Bittencourt
(2004 p 168) ldquoa histoacuteria local tem sido indicada como necessaacuteria para o ensino por
possibilitar a compreensatildeo do alunordquo
Corroborando Seffner (2013) Souza (2015) e Brum (2015) evidenciam a
importacircncia de se trabalhar a histoacuteria global partindo de uma histoacuteria local
problematizando levando hipoacuteteses e analisando os fatos histoacutericos o que gera
significado para o educando e torna o docente natildeo mais um mero transmissor mas
um mediador deste conhecimento Neves (1997 p 22) reforccedila que ldquoo local fora do
contexto geral eacute apenas um fragmento e o geral sem o respaldo das realidades
locais eacute apenas uma abstraccedilatildeordquo Com esta nova abordagem o estudar Histoacuteria tem
sentido para o discente que se sente sujeito de sua proacutepria histoacuteria visto que
19
identificar-se com o local onde se vive ajuda a compreender o sentimento de
pertencimento e suas relaccedilotildees com o meio social e cultural no qual estaacute inserido
Nesta perspectiva faz-se necessaacuterio que os professores busquem novas
alternativas de ensino que proporcionem ao estudante a habilidade de ressignificar o
fato histoacuterico estudado
Ensinar Histoacuteria requer do professor a habilidade de buscar sentido e significado para o conhecimento que ministra e isso significa superar a mera transmissatildeo de informaccedilotildees jaacute que essa natildeo tem por finalidade o desenvolvimento intelectual mas ao contraacuterio deforma a capacidade de pensamento histoacuterico do aluno e a possibilidade de consolidar habilidades de anaacutelise da proacutepria realidade social (SILVA PORTO 2012 p 67)
Goubert assim define a histoacuteria local
Denominaremos histoacuteria local como aquela que diga respeito a uma ou poucas aldeias a uma cidade pequena ou meacutedia (um grande porto ou uma capital estatildeo aleacutem do acircmbito local) ou a uma aacuterea geograacutefica que natildeo seja maior do que a unidade provincial comum (como um county inglecircs um contado italiano uma Land alematilde uma bailiwick ou pays francecircs) Praticada haacute tempos atraacutes com cuidado zelo e ateacute orgulho a histoacuteria local foi mais tarde desprezada mdash principalmente nos seacuteculos XIX e primeira metade do XX mdash pelos partidaacuterios da histoacuteria geral A partir poreacutem da metade desse seacuteculo a histoacuteria local ressurgiu e adquiriu novo significado na verdade alguns chegam a afirmar que somente a histoacuteria local pode ser autecircntica e fundamentada (GOUBERT 1992 p 70)
Neste sentido fica evidente a importacircncia de se partir de uma histoacuteria local
para uma global Atraveacutes da histoacuteria local os estudantes teratildeo contato com sua
histoacuteria e poderatildeo se sentir parte integrante deste espaccedilo que muitas vezes por
falta de conhecimento acabam renegando sua proacutepria identidade Figueira e Miranda
(2012 p 113) afirmam que ldquoum dos efeitos mais danosos da globalizaccedilatildeo eacute a
universalizaccedilatildeo dos gostosrdquo isto implica diretamente na perda da identidade local
que muitas vezes estaacute sendo afetada pelas muacuteltiplas identidades existentes Neste
sentido Silva e Porto descrevem
A globalizaccedilatildeo entretanto produz diferentes resultados em termos de identidade A homogeneidade cultural promovida pelo mercado global pode levar ao distanciamento da identidade relativamente agrave comunidade e agrave cultura local (SILVA PORTO 2012 p 21)
Neste sentido Canclini acrescenta
Las comunidades de consumidores se organiza cada vez menos seguacuten diferencias nacionales y sobre todo en las generaciones joacutevenes definen sus praacutecticas culturales de acuerdo con informacioacuten y estilos homogeneizados (CANCLINI 1997 p 42)
20
Globalizaccedilatildeo que impotildee atraveacutes dos meios de comunicaccedilatildeo e social uma
identidade geral que regra a sociedade seus haacutebitos e costumes Devido ao grande
movimento das pessoas pelo mundo perceber e manter uma identidade com
caracteriacutesticas locais fica a cada dia mais difiacutecil ainda mais em se tratando da
populaccedilatildeo jovem que natildeo reconhece ao seu redor o que representa a sua
identidade local
Valorar as experiecircncias locais proporcionaraacute aos estudantes uma nova
metodologia de abordar a histoacuteria
Do ponto de vista metodoloacutegico destaca-se nessa forma de abordagem a preocupaccedilatildeo com os conhecimentos preacutevios dos alunos com a problematizaccedilatildeo dos conteuacutedos de ensino selecionados para trabalho em sala de aula estabelecendo relaccedilotildees com o cotidiano dos alunos e com o cotidiano de outras pessoas em outros tempos e em outros lugares Enfatiza-se tambeacutem a busca de articulaccedilatildeo entre histoacuteria local e a histoacuteria universal (SCHMIDT 2007 p 193)
O ensino de histoacuteria partindo do local para o global possibilita segundo
Bittencourt (2004 p 168) ldquoa compreensatildeo do entorno do alunordquo sendo que um dos
aspectos relevantes para este ensino eacute a escolha de fontes que levem os estudantes
a se reconhecerem nesse processo histoacuterico O autor ainda acresce
Eacute pela memoacuteria que se chega agrave histoacuteria local Aleacutem da memoacuteria das pessoas escrita ou recuperada pela oralidade existem os lsquolugares de memoacuteriarsquo (grifo da autora) expressos por monumentos praccedilas edifiacutecios puacuteblicos ou privados mas preservados como patrimocircnio histoacuterico (BITTENCOURT 2004 p 169)
Esta memoacuteria vai contribuir para legitimaccedilatildeo da identidade local Sabe-se que
a identidade eacute algo mutaacutevel e segundo Silva e Porto (2012 p 38) ldquoas identidades
satildeo produzidas em momentos particulares no tempordquo O pesquisador ainda
acrescenta que ldquoas identidades satildeo contingentes emergindo em momentos
histoacutericos particularesrdquo Estas identidades precisam ser reconhecidas quando se fala
de histoacuteria local
Na mesma linha Ruumlsen descreve a identidade histoacuterica
Consiste na ampliaccedilatildeo do horizonte nas experiecircncias do tempo e nas intenccedilotildees acerca do tempo no qual os sujeitos agentes se asseguram da permanecircncia de si mesmos na evoluccedilatildeo do tempo O ponto extremo dessa consolidaccedilatildeo de identidade eacute a lsquohumanidadersquo como suprassumo dos pontos comuns em sociedade com respeito a diversos sujeitos agentes no processo de determinaccedilatildeo de suas proacuteprias identidades determinam as dos outros de forma tal que estes se reconhecem nelas Esse criteacuterio de sentido lsquohumanidadersquo fornece o paracircmetro para se constatar a consolidaccedilatildeo da
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identidade em que desembocam o progresso contiacutenuo do conhecimento mediante a pesquisa histoacuterica e a ampliaccedilatildeo contiacutenua das perspectivas mediante a reflexatildeo histoacuterica sobre referenciais (RUumlSEN 2001 p 126)
A histoacuteria local eacute constituiacuteda por diferentes identidades que satildeo geradas pelos
grupos que compotildeem este espaccedilo A este respeito Silva e Porto (2011 p 41)
apresentam que ldquoa diferenccedila eacute aquilo que separa uma identidade da outrardquo Tambeacutem
eacute notaacutevel que para que haja a representaccedilatildeo de suas identidades locais faz-se
necessaacuterio o reconhecimento destas e a percepccedilatildeo que existem diferentes fatores
que diferenciam os grupos sociais
Portanto a identidade eacute constituiacuteda pelas posiccedilotildees eou escolhas feitas
sendo que muitas vezes elas satildeo racionais ou ateacute mesmo irracionais A identidade
eacute baseada na memoacuteria que pode ser individual ou coletiva Segundo Candau (2011
p 16) ldquoos laccedilos fundamentais entre memoacuteria e identidade eacute sobre o fato de que eacute a
memoacuteria faculdade primeira que alimenta a identidaderdquo
Se a memoacuteria gera a identidade natildeo se pode pesquisar e escrever sobre
histoacuteria local sem levar em conta estes dois conceitos primordiais pois a histoacuteria
local soacute teraacute valia se escrita pelo vieacutes do todo ou seja natildeo priorize um grupo ou
classe social todos os quadros sociais devem estar representados dentro deste
processo Nessa linha Schmidt e Cainelli descrevem
O estudo da localidade ou da histoacuteria regional contribui para uma compreensatildeo muacuteltipla da Histoacuteria pelo menos em dois sentidos na possibilidade de se ver mais de um eixo histoacuterico na histoacuteria local e na possibilidade da anaacutelise de micro histoacuterias pertencentes a alguma outra histoacuteria que as englobe e ao mesmo tempo reconheccedila suas particularidades (SCHMIDT CAINELLI 2009 p 139)
Uma histoacuteria que faz sentido que esteja englobada a outra histoacuteria A
memoacuteria coletiva entra na construccedilatildeo desta histoacuteria local e eacute primordial pois esta vai
dar elementos que constroem a identidade deste local sendo que a memoacuteria do
passado influencia na representaccedilatildeo da identidade Neste sentido conforme
Figueira e Miranda (2012 p 47) eacute necessaacuterio compreender a memoacuteria ldquocomo a
capacidade de conservar e de preservar dados refere-se a um conjunto de funccedilotildees
cerebrais que nos permite reter informaccedilotildees adquiridas e impressotildees vividasrdquo
Podendo ser ela individual ou coletiva sendo que a memoacuteria individual existe a partir
de uma memoacuteria coletiva jaacute que as lembranccedilas que ajudam a reconstruir o passado
partem do interior de um grupo
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Para as Ciecircncias Humanas o conceito de memoacuteria estaacute ligado agrave memoacuteria
social e coletiva definida por Le Goff (2003 p 422) como ldquoo estudo da memoacuteria
social eacute um dos elementos fundamentais de abordar os problemas do tempo e da
histoacuteriardquo O autor ainda acrescenta que ldquoa memoacuteria coletiva eacute natildeo somente uma
conquista eacute tambeacutem um instrumento e um objeto de poderrdquo (LE GOFF 2003 p
410) Neste sentido Halbwachs (2004 p 90) ressalta que ldquotoda memoacuteria coletiva
tem por suporte um grupo limitado no espaccedilo e no tempo e o mundo histoacuterico eacute
como um oceano onde afluem todas as histoacuterias parciaisrdquo
Quando se abordam conceitos de memoacuteria e identidade no ensino de
histoacuteria estaacute se trazendo para o estudo os sujeitos que compotildeem aquele local com
suas vivecircncias que podem ser coletivas ou natildeo A transmissatildeo de saberes entre as
geraccedilotildees forma a identidade coletiva sendo o ser humano um agente ativo no
quadro social da memoacuteria
Halbwachs assim define os quadros coletivos da memoacuteria
Os quadros coletivos da memoacuteria natildeo se resumem em datas nomes e foacutermulas que eles representam correntes de pensamento e de experiecircncia onde reencontramos nosso passado porque este foi atravessado por isso tudo (HALBWACHS 2004 p 71)
Nesta direccedilatildeo Le Goff (2003 p 4) acrescenta que ldquoa memoacuteria social eacute um
dos meios fundamentais para se abordar os problemas do tempo e da histoacuteria A
memoacuteria estaacute nos proacuteprios alicerces da histoacuteriardquo Catroga (2001) reforccedila que a
memoacuteria eacute moldada a partir das vivecircncias e na sua narrativa vai haver uma
coerecircncia que se mistura passado e presente
Quando se escreve sobre histoacuteria local eacute importante considerar que ela estaacute
pautada em documentos assim como em memoacuterias escritas visuais ou orais Neste
sentido eacute perceptiacutevel que o uso dos diferentes tipos de memoacuteria satildeo alicerces que
conduzem o trabalho do historiador para que ele possa interpretar suas fontes e
validar seu trabalho Memoacuterias estas que podem ser apresentadas com documentos
oficiais ou atraveacutes de uma cultura material ou imaterial
A escrita de histoacuterias locais vem como um novo modelo de resguardar
identidades e memoacuterias que se natildeo preservadas iratildeo desaparecer pela influecircncia
da globalizaccedilatildeo e falta de conhecimento de futuras geraccedilotildees Barros assim
descreve
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Os novos tempos comeccedilavam a trazer um novo padratildeo historiograacutefico novas aberturas retornos e possibilidades e tambeacutem incertezas para os historiadores no que se refere agrave natureza do conhecimento que produzem e ao papel do conhecimento histoacuterico na sociedade [] Entre as novidades postula-se a possibilidade de examinar a histoacuteria de acordo com uma nova escala de observaccedilatildeo ndash atenta para o detalhe para as micro realidades para aquilo que habitualmente escapa ao olhar panoracircmico da macro histoacuteria tradicional ndash e eacute esta nova postura que se passou a chamar de micro histoacuteria (BARROS 2012 p 306)
Diante deste contexto o ensino de Histoacuteria pode buscar na histoacuteria local a
problematizaccedilatildeo necessaacuteria para que os estudantes da educaccedilatildeo baacutesica
reconheccedilam a identidade local que vem sofrendo com a uniformizaccedilatildeo da
sociedade que impotildee uma conjuntura global do local
24
3 SAtildeO FRANCISCO DE PAULA CONSTRUCcedilAtildeO DO MUNICIacutePIO
A apresentaccedilatildeo do municiacutepio Satildeo Francisco de Paula acontece atraveacutes do
uso da narrativa Esta se apresenta atraveacutes do diaacutelogo com obras jaacute produzidas por
memorialistas eou genealogistas que contribuem para a construccedilatildeo histoacuterica deste
local bem como se usa como fonte de enriquecimento documentos da Assembleia
Legislativa do Rio Grande do Sul e jornais locais
Para tanto se apresenta a revisatildeo historiograacutefica das obras escritas pelos
memorialistas eou genealogistas sendo que Lucena (1971) em sua obra ldquoSatildeo
Francisco de Paula Monografiardquo que abrange aspectos histoacutericos da formaccedilatildeo do
municiacutepio bem como pontos turiacutesticos e demograacuteficos O proacuteprio autor intitula a sua
obra como informativa a riqueza de detalhes eacute interessante poreacutem natildeo haacute nenhuma
referecircncia quanto aos dados escritos nem mesmo um referencial bibliograacutefico ao
final
No texto intitulado ldquoOs Fundadores de Satildeo Francisco de Paulardquo Alves (2007)
escreve sobre a fundaccedilatildeo de Satildeo Francisco de Paula Em seu livro haacute documentos
que validam o que se refere agrave genealogia jaacute que boa parte da obra apresenta os
troncos familiares que compunham o iniacutecio deste municiacutepio Na mesma linha da
genealogia Oliveira (1996) no livro ldquoAurorescer das Sesmarias Serranas histoacuteria e
genealogiardquo traz a histoacuteria das primeiras sesmarias da regiatildeo mas o foco principal
se daacute aos proprietaacuterios e seus descendentes Haacute um mapa bastante interessante
localizando as sesmarias e o nome por elas recebidos
Em ldquoSatildeo Francisco de Paula nossa terra nossa genterdquo Teixeira (2002)
apresenta dados gerais e histoacutericos do municiacutepio Esta obra apresenta dados
geograacuteficos como clima relevo e vegetaccedilatildeo A autora escreve sobre diversos
aspectos eventos personalidades e lendas Aleacutem disso apresenta Satildeo Francisco
de Paula com uma linha cronoloacutegica A obra abrange vaacuterios aspectos mas todos
suscintamente No final a autora apresenta a bibliografia consultada dentre os
autores estaacute Lucena (1971)
O texto ldquoSatildeo Francisco de Paula Rio Grande do Sul histoacuteria encantos e
misteacuteriosrdquo eacute uma obra de Fonseca (2012) que traz diversidade de assunto muitas
vezes estes estatildeo desconexos ou seja sua leitura se torna ldquotruncadardquo No final do
texto haacute um vasto referencial bibliograacutefico dentre os autores citam-se Lucena
(1971) e Teixeira (2002)
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Ribeiro (2003) eacute compositor e poeta Em ldquoFestival do Ronco do Bugiordquo
escreve sobre Satildeo Francisco de Paula apresentando a histoacuteria dos quinze anos do
festival no municiacutepio No iniacutecio contextualiza a origem do festival e do ritmo bugio
Depois apresenta a capa do disco de cada festival especificando as muacutesicas e os
compositores vencedores
Todas essas obras satildeo importantes para Satildeo Francisco de Paula cada uma
traz consigo um pouco da histoacuteria deste municiacutepio poreacutem sente-se falta da
identidade e da memoacuteria na construccedilatildeo histoacuterica As obras satildeo apresentadas o
mesmo prisma apresentando os iacutendios Caaguaraacutes e o Capitatildeo Pedro da Silva
Chaves os fundadores desta terra dando bastante ecircnfase aos sobrenomes que ali
se desenvolveram
31 CONVERSA COM MEMORIALISTAS
As terras onde hoje fica Satildeo Francisco de Paula eram habitadas por iacutendios da
tribo Caaguaraacutes que faziam parte dos Coroados Estes viviam livremente nos
campos de cima da serra e seus domiacutenios estendiam-se entre a Serra Geral e a
Serra do Mar Os iacutendios Caaguaraacutes tinham como haacutebitos alimentares a caccedila a
pesca e a coleta de sementes e frutos dentre os frutos o pinhatildeo e a goiaba-do-
mato segundo Teixeira (2002) e Alves (2007) Estes iacutendios tiveram seu habitat
invadido por incursotildees de desbravadores que comeccedilaram a trafegar pela regiatildeo em
busca de mulas e novas terras visto que as terras onde hoje se encontra Satildeo
Francisco de Paula de Cima da Serra foram rota de tropeiros5 pois estes trafegavam
pelos Campos de Cima da Serra indo na direccedilatildeo de Lages-SC ateacute alcanccedilarem
Sorocaba-SP6 Ao passarem por esta regiatildeo foram se formando pequenos vilarejos
e construindo um jeito peculiar de viver
Neste cenaacuterio aparece o municiacutepio de Satildeo Francisco de Paula de Cima da
Serra que recebe este nome para se diferenciar de Satildeo Francisco de Paula
denominaccedilatildeo recebida ateacute meados de 1830 pelo municiacutepio de Pelotas Poreacutem na
metade do seacuteculo XVIII Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra possuiacutea
5 Tropeiros homens que conduziam suas tropascomitivas de muares ou cavalos entre as regiotildees 6 Sugere-se a leitura FLORES Moacyr Troperismo no Brasil Porto Alegre Nova Dimensatildeo 1998
SAVARIS Manoelito Tropas e tropeiros o Rio Grande toma forma Disponiacutevel em ltwwwrogeriobastoscombr201104trpas-e-tropeiros-o-rio-grande-tomahtmlgt Acesso em 12 mar 2016
26
proprietaacuterios de terras sendo que um dos pioneiros foi Pedro da Silva Chaves um
portuguecircs casado com Gertrudes de Godoy uma paulista Pedro da Silva Chaves
declara em 1742 ser possuidor de terras neste municiacutepio Segundo Oliveira (1996)
em seu testamento Pedro da Silva Chaves rege que possui trecircs fazendas na regiatildeo
uma chamada Satildeo Joatildeo que se localiza desde o Arroio Santa Cruz ateacute o Rio
Tainhas concedida em 1752 por sesmaria a Fazenda da Cria que foi comprada de
Francisco Pinto Bandeira e confirmada como sesmaria em 1754 e a Fazenda
denominada Cerrito comprada do Capitatildeo Antocircnio Gonccedilalves dos Reis Nestas
fazendas havia criaccedilatildeo de cavalos gado vacum mulas e burros As fazendas
tambeacutem apresentavam em torno de 77 escravos sendo que alguns satildeo casados o
que se faz pensar que estes constituiacuteam famiacutelia aumentando assim o nuacutemero de
escravos da regiatildeo No mapa da Figura 1 verifica-se a localizaccedilatildeo das fazendas do
capitatildeo Pedro da Silva Chaves bem como sua extensatildeo territorial
Figura 1 ndash Mapa de Identificaccedilatildeo das Sesmarias Serranas
Fonte Oliveira (1996 p 236)
27
No mapa apresentado na Figura 1 ainda eacute possiacutevel observar a localizaccedilatildeo
onde inicia o povoado de Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra segundo
Lucena (1971 p 1) ldquoiniciou-se com o Capitatildeo Pedro da Silva Chaves que doou
uma gleba de terra para que fosse iniciado o povoadordquo Tambeacutem segundo Lucena
(1971 p 1) ldquodoou cinquenta vacas para construir o primeiro patrimocircnio da Igreja
cuja construccedilatildeo foi iniciada por sua conta e lhe deu o nome de Satildeo Francisco por
este ser devoto do Santordquo O que demonstra que Pedro da Silva Chaves era
Catoacutelico
Neste periacuteodo compreendido como seacuteculo XIX segundo Teixeira (2002) e
Alves (2007) o atual municiacutepio de Satildeo Francisco de Paula pertencia ao municiacutepio de
Santo Antocircnio da Patrulha municiacutepio este que formava juntamente com Porto
Alegre Rio Pardo e Rio Grande a proviacutencia de Satildeo Pedro do Rio Grande do Sul
atual Rio Grande do Sul Eacute possiacutevel observar a grande extensatildeo territorial de cada
municiacutepio no mapa apresentado na Figura 2 segundo Silva (2000) Santo Antocircnio
da Patrulha anexava as freguesias de N Sra Conceiccedilatildeo do Arroio e N Sra da
Oliveira da Vacaria a capela de Satildeo Domingos das Torres e os povoados de Santa
Cristina do Pinhal e Cima da Serra
Analisando o mapa da Figura 2 eacute possiacutevel perceber que o municiacutepio de Santo
Antocircnio da Patrulha tinha um vasto e extenso territoacuterio que atualmente compreende
os municiacutepios de Vacaria Antocircnio Prado Nova Roma do Sul Lagoa Vermelha
Veranoacutepolis Nova Prata Nova Araccedilaacute Nova Bassano Paraiacute Guabiju Satildeo Jorge
Vista Alegre do Prata Protaacutesio Alves Cotiporatilde Fagundes Varela Vila Flores
Caseiros Birajaras Andre da Rocha Capatildeo Bonito do Sul Muitos Capotildees Bom
Jesus Satildeo Joseacute dos Ausentes Esmeralda Ipecirc Campestre da Serra Monte Alegre
dos Campos Taquara Satildeo Francisco de Paula Cambaraacute do Sul e Jaquirana
28
Figura 2 ndash Divisatildeo Municipal em 1809 ndash Proviacutencia Satildeo Pedro do Rio Grande do Sul
Fonte Evoluccedilatildeo Administrativa (2013)7
32 AMPLIANDO O DIAacuteLOGO COM OS MEMORIALISTAS
Segundo documentos da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul8
disponiacuteveis no Arquivo Histoacuterico de Satildeo Francisco de Paula9 em 1852 atraveacutes da
Lei nordm 266 de 30 de novembro de 1852 eleva-se agrave categoria de freguesia a entatildeo
capela Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra pelo entatildeo vice-governador da
proviacutencia de Satildeo Pedro do Rio Grande do Sul o senhor Luiz Alves Leite de Oliveira
Bello Estes documentos ainda retratam que no ano de 1886 houve distribuiccedilatildeo de
lotes devolutos para pessoas pobres que comprovassem residecircncia haacute pelo menos
trecircs anos e se comprometessem a ldquofundar moradiardquo em um prazo de um ano sendo
assim passados trecircs anos seriam donos definitivos destes lotes dando o iniacutecio ao
povoamento da vila No mesmo periacuteodo acontece a criaccedilatildeo do cemiteacuterio municipal
7 Disponiacutevel em ltwwwatlassocioeconomicorsgovbrevolucao-administrativa-1809-a-2013gt Acesso
em 18 mar 2017 8 O diaacutelogo com memorialista se amplia a partir de agora com contribuiccedilotildees de documentos
pesquisados que corroboram para a compreensatildeo do tema 9 BARBOSA Eni GONCcedilALVES Jorge Joseacute Xavier (Orgs) Documentos histoacutericos da Assembleia
Legislativa do Rio Grande do Sul Arquivo Histoacuterico de Satildeo Francisco de Paula 1992
29
que ocorre em 1891 segundo documentos da Assembleia Legislativa disponiacuteveis
no Arquivo Histoacuterico de Satildeo Francisco de Paula Estes documentos informam que
primeiramente somente moradores que comprovassem residecircncia haacute mais de trecircs
anos e pudessem manter os jazigos de seus entes poderiam fazer uso deste
espaccedilo Atraveacutes desta documentaccedilatildeo se percebe que havia toda uma organizaccedilatildeo
para que ldquoestrangeirosrdquo natildeo se estabelecessem em Satildeo Francisco de Paula de Cima
da Serra
Em 1889 Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra passa a categoria de vila
e deixa de pertencer a Santo Antocircnio da Patrulha passando a ser distrito do
municiacutepio de Taquara do Mundo Novo (hoje Taquara) o que traz mudanccedilas
significativas para a vila
Mesmo havendo distribuiccedilatildeo de lotes apoacutes quinze anos percebe-se na
Figura 3 que o povoado ainda era pequeno cercado de campos que constituiacuteam
fazendas com criaccedilatildeo de gado vacum tendo como principal economia a pecuaacuteria
extensiva Ao alto pode-se visualizar a Igreja Matriz construiacuteda pelo capitatildeo Pedro
da Silva Chaves
Figura 3 ndash Vista da vila de Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra (1901)
Fonte Portal Satildeo Chico (2018)10
10 PORTAL SAtildeO CHICO Fotos antigas de Satildeo Francisco de Paula 2018 Disponiacutevel em
ltwwwsaochicocombrantigasgt Acesso em 12 abr 2019
30
Ainda eacute possiacutevel observar atraveacutes da Figura 3 que neste periacuteodo natildeo havia
nenhuma preocupaccedilatildeo com a organizaccedilatildeo urbana ou seja ruas quadras as
construccedilotildees se apresentam de maneira desordenada Poreacutem passados vinte e dois
anos na Figura 4 jaacute eacute possiacutevel visualizar uma estrutura urbanizada com possiacutevel
organizaccedilatildeo de ruas e quadras mas a vila ainda eacute rodeada de campos
Figura 4 ndash Vista Avenida Juacutelio de Castilhos (1923)
Fonte Lucena (1971 p 67)
O desenvolvimento da Sede de Satildeo Francisco de Paula acontece segundo
Lucena (1971 p 27) ldquonos primeiros anos de vida isto eacute de 1910 a 1924 mais ou
menos devido agrave extraccedilatildeo da erva-mate que era abundante em nossos matos nas
zonas da serrardquo O autor ainda acrescenta
O pioneiro na extraccedilatildeo da erva-mate em nossa Comuna foi o proprietaacuterio Carlos Miguel Kroeff dono da fazenda Potreirinho praticamente arrabalde de nossa cidade No barba-quaacute11 se iniciava todo processo de industrializaccedilatildeo da erva-mate sendo que Satildeo Francisco de Paula chegou a ter quinhentos barbaacute-quas (LUCENA 1971 p 28)
11 Barba-quaacute um valo de cerca de oito metros de comprimento amis ou menos por um metro de
profundidade e oitenta centiacutemetros de largura coberto de xaxim e terra em uma das extremidades colocava-se um gradeado e acima deste em uma parte tambeacutem coberta e mais alta tinha apenas uma saiacuteda sob o gradeado colocava-se as folhas de erva extraiacuteda da aacutervore no iniacutecio do valo fazia-se um fogo e a fumaccedila que pela pouca ventilaccedilatildeo existente formava bastante fumaccedila e esta atingia as folhas secando-as (LUCENA 1971 p 28)
31
A produccedilatildeo de erva-mate contribuiu para o povoamento da vila visto que
muitas pessoas vieram trabalhar e acabaram se instalando no municiacutepio Apoacutes a
extraccedilatildeo da erva-mate surge a extraccedilatildeo de madeira que tambeacutem contribui para o
desenvolvimento
Nesta documentaccedilatildeo ainda se encontra no artigo nordm 251 de 08 de abril de
1891 a liberaccedilatildeo da verba para abrir a estrada de rodagem que liga as vilas de
Taquara do Mundo Novo e Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra em 1889
Atraveacutes da Figura 5 pode-se perceber o quatildeo difiacutecil era abrir uma nova estrada de
rodagem Tudo era manual com o uso de animais e muares para transportar pedras
e terras poreacutem a abertura desta estrada traz mudanccedilas significativas para a
populaccedilatildeo de Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra
Figura 5 ndash Abertura da estrada ERS-020 Taquara ndash Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra
Fonte Jornal Folha da Serra (1968 n 89 p 8)12
12 Folha da Serra jornal criado em 1932 pelo Dr Siacutelvio Rabelo sendo o uacutenico jornal que existia na
regiatildeo serrana Este trazia notiacutecias sociais poliacuteticas etc com uma tiragem em torno de 500 exemplares por semana Encontram-se no Arquivo Histoacuterico de Satildeo Francisco de Paula alguns exemplares ateacute a deacutecada de 70 seacuteculo XX
32
A estrada visava facilitar o acesso da populaccedilatildeo de Satildeo Francisco de Paula
de Cima da Serra que ia ateacute Taquara para buscar gecircneros de primeira necessidade
Em tempos idos os serranos se abasteciam de gecircneros de primeira necessidade quase que totalmente em Taquara e o transporte era feito em cargueiros que compunham uma tropa com cerca de quinze a vinte cargueiros Os animais usados para esse transporte eram geralmente muares mais resistentes para o transporte de carga Os serranos levavam daqui queijo (o queijo ateacute hoje chamado queijo serrano) charque couros e alguns levavam maccedilatilde ou pinhatildeo em suas eacutepocas de colheita trocados por mantimentos de que necessitavam Natildeo existiam ainda estradas e o trajeto era feito por picadas existentes (LUCENA 1971 p 23)
O mesmo autor ainda acrescenta
Para atingir a capital do Estado a viagem era cheia de peripeacutecias O transporte era feito a cavalo ou em diligecircncias ateacute Taquara As diligecircncias carros de quatro de rodas puxados por quatro animais ndash cavalos ndash eram de propriedade de Bertolo Casara mais conhecido por lsquoJoatildeo Gringorsquo Essa viagem se fazia normalmente em um dia e agraves vezes em dia e meio O ponto de parada era ali no Rodeio Bonito onde existia uma casa agrave esquerda bem defronte a estrada que desce para Trecircs Coroas [] De Taquara a Porto Alegre por via ferroviaacuteria ndash de trem (LUCENA 1971 p 16)
A construccedilatildeo desta estrada traz um novo desenvolvimento para a entatildeo vila
de Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra pois apoacutes a abertura da estrada de
rodagem Taquara ndash Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra modifica o transporte
de mercadorias entre as localidades
O transporte de mercadorias era feito em carretotildees de quatro rodas puxados uns por cinco animais outros por sete as maiores que geralmente eram muares Eram atrelados em duas fileiras Na fileira junto agrave carreta que era de duas ou trecircs mulas na da esquerda montava o carreteiro Este toda vez que se verificava um declive na estrada apeava de sua montaria a fim de brecar a carreta sem que esta entretanto parasse (LUCENA 1971 p 24)
Este modelo de comeacutercio vai desaparecer com o surgimento das primeiras
casas de comeacutercios na vila de Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra De acordo
com Lucena (1971 p 38) ldquoos primeiros comerciantes foram Manoel Vicente
Ferreira Abel Pacheco Luis Carlos de Andrade e Jacob Bossle Sobrinhordquo Na
imagem da Figura 6 temos o Accedilougue Central onde nota-se que os animais
convivem soltos na rua juntamente com as pessoas mesmo se tratando de local
urbano
33
Figura 6 ndash Accedilougue Central
Fonte Portal Satildeo Chico (2018)13
Nesta mesma documentaccedilatildeo haacute decretos que definem a construccedilatildeo de uma
nova Igreja Matriz isto eacute uma Igreja de Pedra substituindo a antiga que era de
madeira ainda construiacuteda pelo capitatildeo Pedro da Silva Chaves esta construccedilatildeo data
do ano de 1922 Segundo Teixeira (2002 p 30) a Igreja de Pedra permanece ateacute
1960 quando daacute lugar ao atual preacutedio da Igreja Matriz que foi inaugurada em 14 de
junho de 1964 Na sequecircncia teremos duas imagens demonstrando a Igreja de
Pedra e a atual edificaccedilatildeo da Igreja Matriz Natildeo foi encontrada nenhuma foto da
Igreja de Madeira nos arquivos do Arquivo Histoacuterico do Municiacutepio somente em um
site de fotos antigas onde encontra-se registro apresentado na Figura 7
13 PORTAL SAtildeO CHICO Fotos antigas de Satildeo Francisco de Paula 2018 Disponiacutevel em
ltwwwsaochicocombrantigasgt Acesso em 12 abr 2019
34
Figura 7 ndash Igreja Matriz em 1931
Fonte Portal Satildeo Chico (2018)14
Figura 8 ndash Igreja Matriz
Fonte acervo da autora (2015)
14 PORTAL SAtildeO CHICO Fotos antigas de Satildeo Francisco de Paula 2018 Disponiacutevel em
ltwwwsaochicocombrantigasgt Acesso em 12 abr 2019
35
Entre os anos de 1892 a 1902 por duas vezes Satildeo Francisco de Paula de
Cima da Serra eacute desanexado e reanexado ao entatildeo municiacutepio de Taquara do Mundo
Novo Somente em 23 de dezembro de 1902 foi reestabelecido definitivamente o
municiacutepio de Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra cuja instalaccedilatildeo se verificou
em 07 de janeiro de 1903 A partir de 01 de janeiro de 1938 perde ldquoCima da Serrardquo
de sua nomenclatura permanecendo somente Satildeo Francisco de Paula Apesar
disso se manteacutem o gentiliacutecio ldquoSerranordquo de acordo com Silva (2000 p 23) e dados
do Arquivo Histoacuterico de Satildeo Francisco de Paula sendo que este gentiliacutecio eacute usado
ateacute os dias de hoje
No iniacutecio o municiacutepio de Satildeo Francisco de Paula foi um dos maiores do Rio
Grande do Sul em territoacuterio mas ao longo do tempo foi diminuindo seu territoacuterio
com a anexaccedilatildeo de parte dele ao entatildeo municiacutepio de Caxias do Sul e de Torres e a
criaccedilatildeo dos municiacutepios de Cambaraacute do Sul em 1963 e Jaquirana em 1988
Foi uma das maiores Comunas do Estado pois de seu territoacuterio faziam parte os atuais municiacutepios de Satildeo Marcos Cambaraacute do Sul e Jaquirana e os distritos de Vila Oliva Criuacuteva Fazenda Souza e Vila Seca hoje integrantes de Caxias do Sul De nosso territoacuterio foi tambeacutem desanexada uma gleba de terra ndash Josafaacute ndash e anexada ao municiacutepio de Torres (LUCENA 1971 p 10)
Mesmo perdendo parte de seu territoacuterio ao longo dos anos atualmente
segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (2016) ldquoSatildeo Chicordquo como
costumeiramente eacute chamado pelo seu povo estaacute situado na Encosta Inferior do
Nordeste do Estado do Rio Grande do Sul na zona denominada de Campos de
Cima da Serra Fica distante 112 quilocircmetros da capital do Estado Porto Alegre Os
municiacutepios limiacutetrofes satildeo Monte Alegre dos Campos Bom Jesus Jaquirana
Cambaraacute do Sul Praia Grande-SC Trecircs Forquilhas Itati Maquineacute Riozinho
Rolante Taquara Trecircs Coroas Canela e Caxias do Sul Possui uma aacuterea territorial
de 3264490 quilocircmetros quadrados com uma estimativa populacional de 21617
habitantes distribuiacutedos na zona urbana e rural O municiacutepio se divide em sete
distritos Sede Cazuza Ferreira Tainhas Juaacute Eletra e Lajeado Grande Atraveacutes do
conjunto de mapas apresentado na Figura 9 eacute possiacutevel visualizar a localizaccedilatildeo de
Satildeo Francisco de Paula dentro do Rio Grande do Sul e por conseguinte no Brasil
Tambeacutem se verifica a localizaccedilatildeo dos distritos de Satildeo Francisco de Paula
36
Figura 9 ndash Mapa de localizaccedilatildeo de Satildeo Francisco de Paula
Subdivisatildeo de Satildeo Francisco de Paula em distritos
Fonte montagem da autora (2019)
Desta forma se constitui o espaccedilo fiacutesico do municiacutepio de Satildeo Francisco de
Paula cuja populaccedilatildeo natildeo forma uma colocircnia pois seu povo adveacutem de diferentes
lugares a grande maioria com descendecircncia lusa sendo que os primeiros
colonizadores foram bandeirantes paulistas
A populaccedilatildeo de Satildeo Francisco de Paula eacute composta de brancos africanos e indiacutegenas Os brancos compreendendo portugueses (principalmente
37
accedilorianos) alematildees e italianos os africanos pertenciam ao grupo dos bantos e foram trazidos pelos portugueses (TEIXEIRA 2002 p 147)
A diversidade de pessoas que se estabeleceram em Satildeo Francisco de Paula
pode ser percebida pelos sobrenomes das famiacutelias precursoras do municiacutepio
Para Satildeo Francisco de Paula afluiacuteram famiacutelias de diversas nacionalidades que atraveacutes de seus descendentes ainda hoje aqui satildeo representadas como Famiacutelias Ferreira Soares Pinto Castilhos Asmuz Santos Martins Lopes Comin Feijoacute Silva Canani Peixoto Andrade Teixeira Valin Lucena Alves Cardoso Gomes Borges Marques Tedesco Medeiros Paglioacuteli Costa Fogaccedila Casara em outras (LUCENA 1971 p 11-12)
Os moradores deste municiacutepio introduziram um jeito singular de viver tendo
em seu cotidiano as tradiccedilotildees gauacutechas15 muito presentes Teixeira (2002 p 83)
assim descreve que ldquoas raiacutezes gauacutechas estatildeo fortemente marcadas na comunidade
seja pelo modo de vestir bombacha botas cinturotildees chapeacuteus e no inverno com o
pala ou pela preferecircncia por comidas campeiras churrasco carreteiro feijatildeo
mexidordquo A autora acrescenta que ldquoas casas com lareira e o tradicional fogatildeo agrave
lenha para aquececirc-las durante o inverno rigoroso satildeo um convite para uma
conversa ao peacute do fogo e o saboreio de um gostoso chimarratildeordquo (TEIXEIRA 2002 p
83)
O enraizamento deste modo de vida adveacutem do homem do campo o
pecuarista que no passado necessitava enviar seus filhos a cidade para estudar
contribuindo para este modelo de vida
Antigamente a pecuaacuteria era a atividade econocircmica muito forte em nosso municiacutepio Assim sendo havia muitos fazendeiros E como as fazendas ficavam muito longe da Sede do municiacutepio as senhoras tinham seus filhos em casa com parteiras Tambeacutem os estudos iniciavam nas fazendas porque as escolas ficavam longe Assim muitas vezes os fazendeiros contratavam professoras para se hospedarem nas suas casas e darem aulas aos seus filhos Em muitos casos ateacute mesmo os proacuteprios pais e avoacutes ensinavam alguma coisa Alguns fazendeiros quando seus filhos ficavam maiores os mandavam continuarem seus estudos na vila (assim lsquoSatildeo Chicorsquo era chamada) (TEIXEIRA 2002 p 77)
Com a vinda dos filhos para a vila trouxeram consigo o jeito do homem do
campo sendo que um dos maiores clubes em funcionamento de Satildeo Francisco de
Paula eacute o atual Centro de Tradiccedilotildees Gauacutechas Rodeio Serrano fundado em maio de
15 Tradiccedilotildees gauacutechas segundo Fagundes (1997 p 38) eacute um movimento ciacutevico-cultural [] eacute a
tradiccedilatildeo em marcha resgatando valores que satildeo vaacutelidos natildeo por serem antigos mas por serem eternos exatamente os valores que trouxeram o Rio Grande e o gauacutecho do passado para o presente projetando-se para o futuro
38
1955 Segundo o Jornal Folha da Serra (1968 n 11 p 12) a entidade
tradicionalista receacutem-formada recebe o nome de CTG Coronel Alziro Torres Filho
Fonseca (2012 p 223) menciona que a iniciativa partiu de ldquoDavenir Peixoto Gomes
um homem ruralista e serranordquo Esta entidade tradicionalista teve como primeiro
Patratildeo Oscar Teixeira O CTG Alziro Torres Filho segundo o jornal Folha da Serra
(1957) muda sua nomenclatura em uma reuniatildeo onde o posteiro da invernada
artiacutestica Alaor Valim propotildee a troca do nome para Rodeio Serrano nome que
permanece ateacute a atualidade
A entidade tradicionalista traz como lema ldquoRepontando a Tradiccedilatildeo com o Rio
Grande na Garupardquo Fonseca (2012 p 224) relata que o lema foi ldquocriado pelo
primeiro instrutor de danccedilas Dr Alaor de Almeida Valimrdquo O mesmo autor acrescenta
que ldquoa primeira prenda foi a professora Maria Asmuz Valimrdquo Poreacutem sua sede
somente foi construiacuteda em 1968 sob a patronagem de Dante Santos O Jornal Folha
da Serra (1968 n 11 p 12) indica que ldquoa construccedilatildeo da sede era uma aspiraccedilatildeo de
longos anos que somente agora se concretizardquo Anteriormente ldquoos bailes eram
realizados em sua maioria no Salatildeo Paroquial sendo que alguns foram feitos no
primeiro andar da Associaccedilatildeo Rural e ateacute mesmo na Sociedade Cruzeirordquo
(FONSECA 2012 p 225) Este fato justifica a vontade de Dante Santos de construir
uma sede proacutepria
Apoacutes a construccedilatildeo de sua nova sede o CTG Rodeio Serrano localiza-se na
Rua Benjamim Constant nordm 582 constituindo um espaccedilo importante para a
comunidade de Satildeo Francisco de Paula Dentre as atividades desenvolvidas pelo
CTG estaacute o Rodeio Interestadual que ocorre todos os anos no primeiro final de
semana de dezembro sendo que se encontra na 33ordf ediccedilatildeo A manutenccedilatildeo das
invernadas artiacutesticas em todas as categorias mascote mirim juvenil e adulta A
organizaccedilatildeo da Ronda Crioula na Semana Farroupilha bem como a Cavalgada de
Prendas que ocorre durante a Semana Farroupilha todos os anos Realiza-se o
baile da Prenda Jovem aleacutem de shows e bailes tipicamente gauchescos Aleacutem
disso nos uacuteltimos anos a organizaccedilatildeo do Festival Ronco do Bugio que ocorre em
Satildeo Francisco de Paula ldquofestival este lanccedilado em 16 de abril 1986rdquo segundo o
Jornal Satildeo Chico Tchecirc (1986 n 4 p 5)16
16 Satildeo Chico Tchecirc jornal de circulaccedilatildeo quinzenal fundado em 08 de janeiro de 1986 e que circulou
ateacute 1989 O jornal trazia informaccedilotildees culturais sociais econocircmicas e poliacuteticas da Sede e do
39
Durante os seus sessenta e dois anos de existecircncia muitos patrotildees
passaram por esta entidade tradicionalista mas em 2017 pela primeira vez na
histoacuteria o CTG Rodeio Serrano teve uma patronagem feminina Aleacutem da Patroa
Neuza Reis foram empossadas a Capataz Elenita Amaral a Sota-capataz Fernanda
Kirsch Damasceno o Agregado das Pilchas Antocircnio Garcia de Souza e no
Conselho de Vaqueanos Neiva Santos Valim
Figura 10 ndash Patroa Neuza Reis e sua Comissatildeo
Fonte Jornal Pioneiro (2017)17
Satildeo Francisco de Paula hoje conta com vinte e oito entidades
tradicionalistas18 espalhadas pelos seus distritos demonstrando que homem do
campo se faz muito presente em todo o municiacutepio sendo assim a cultura
interior Os exemplares encontram-se encadernados no arquivo histoacuterico de Satildeo Francisco de Paula
17 Jornal Pioneiro conhecido como o jornal que estaacute ldquoao teu ladordquo o Pioneiro circula desde 1948 e estaacute presente hoje em 64 municiacutepios da regiatildeo de Caxias do Sul Desde 1993 integra a rede de jornais do Grupo RBS sendo filiado ao Instituto Verificador de Circulaccedilatildeo (IVC) Conta com uma equipe de Redaccedilatildeo com mais de 40 jornalistas aleacutem de colunistas internos e externos Em 2008 o jornal ganhou o site pioneirocom Disponiacutevel em lthttpwwwgruporbscombratuacaopioneirogt acesso em 10 de fevereiro de 2019
18 Informaccedilatildeo cedida pelo Coordenador da 27ordf Regiatildeo Tradicionalista Gauacutecha
40
tradicionalista se apresenta de maneira forte e consistente segundo vaacuterios
depoimentos de moradores de todos os distritos de Satildeo Francisco de Paula
41
4 SAtildeO FRANCISCO DE PAULA DISTRITOS EM FOCO
Quanto aos distritos de Satildeo Francisco de Paula surgem diversas
inquietaccedilotildees com relaccedilatildeo agrave identidade destes locais pois estes mesmo fazendo
parte de um mesmo municiacutepio apresentam singularidades que derivam de sua
colonizaccedilatildeo basicamente lusa portuguesa e da recepccedilatildeo de imigrantes de diversas
etnias como italianos e alematildees ao longo destes cento quinze anos de
emancipaccedilatildeo Percebe-se que alguns distritos manteacutem sua identidade e tradiccedilotildees
resguardadas enquanto em outros jaacute ocorreu agrave miscigenaccedilatildeo de diferentes haacutebitos
e culturas o que dificulta identificar traccedilos que identifiquem estes distritos
Neste capiacutetulo busca-se responder a estas inquietaccedilotildees fazendo uso dos
depoimentos de moradores locais Segundo Delgado (2003 p 21) ldquoessas
narrativas tal qual os lugares da memoacuteria satildeo instrumentos importantes de
preservaccedilatildeo e transmissatildeo das heranccedilas identitaacuterias e das tradiccedilotildeesrdquo Neste sentido
se optou por dois moradores por distrito totalizando treze entrevistados um homem
e uma mulher da terceira idade que sempre morou no distrito o que enriquece os
detalhes repassados pelos entrevistados
Toda entrevista tem por base a memoacuteria individual que se referencia na coletiva profundamente relacionada agraves vivecircncias individuais A utilizaccedilatildeo do depoimento de pessoas idosas como fonte para a histoacuteria oral eacute uma forma de justificar a entrevista como histoacuterica referindo-se ao passado jaacute que aos idosos se pretende atribuir a guarda de memoacuterias do passado pelo proacuteprio tempo de vida do depoente Isto retoma e ajuda a fortalecer a ideia de que a histoacuteria mesmo tratando do tempo presente ainda se reporta a um periacuteodo anterior ao da vida do pesquisador (ALMEIDA 2012 p 10)
A entrevista somente ocorreu quando o entrevistado concordou em assinar o
termo de consentimento As entrevistas ocorreram nas residecircncias dos
entrevistados foram preacute-agendadas sendo que o meacutetodo utilizado foi entrevista
guiada atraveacutes de questionaacuterio previamente organizado pela autora as entrevistas
foram filmadas e gravadas onde somente uma entrevistada natildeo autorizou a
filmagem de seus relatos justificando a idade avanccedilada e por morar sozinha
A escolha pela histoacuteria oral hibrida ocorreu no sentido de que a fonte oral eacute o
principal recurso utilizado para colher informaccedilotildees sobre os distritos visto que em
sua grande maioria natildeo haacute publicaccedilotildees Poreacutem em determinados momentos se
utilizam fontes documentais como complemento do que vem sendo apresentado
Com relaccedilatildeo agrave abordagem adotada nas entrevistas se optou pela temaacutetica visto
42
que se leva um roteiro preacute-organizado com temas que deveratildeo ser explorados
durante as entrevistas o que proporciona uma riqueza de informaccedilotildees para a
autora
41 DISTRITO SEDE
O distrito Sede se constitui no local onde se inicia o povoado do municiacutepio na
antiga Fazenda da Cria terras doadas pelo capitatildeo Pedro da Silva Chaves Neste
distrito concentram-se os serviccedilos puacuteblicos e privados que os moradores
necessitam em seu dia-a-dia visto que ali existem bancos casas loteacutericas
farmaacutecias hospital supermercados lojas papelarias livraria inspetoria veterinaacuteria
secretaacuterias municipais escolas puacuteblicas e privadas creches induacutestrias de madeiras
e calccedilados
Poreacutem o distrito Sede ou cidade de Satildeo Chico como popularmente
conhecida pelo seu povo jaacute foi uma cidade de interior ou seja uma cidade pequena
com moradores que vinham das fazendas em busca de estudo Visto que a
implementaccedilatildeo de uma rede regular de ensino ocorre tardiamente devido agrave
dificuldade de se locomover pelas distantes localidades entatildeo normalmente os
fazendeiros contratavam professores para que seus filhos obtivessem estudo sendo
que estes moravam na proacutepria residecircncia da famiacutelia Em entrevista com essa autora
relata Albuquerque19 que ldquopara aprimorar os estudos aqueles que tinham mais
condiccedilotildees iam para Porto Alegre Santa Maria ou Passo Fundo mas para isto
ficavam laacute em internatos e soacute retornavam nas feacuterias devido agrave dificuldade e o custo
da viagemrdquo
Na deacutecada de 40 foi criada a Escola Catoacutelica de Satildeo Francisco de Paula
cujo funcionamento acontece ateacute 1973 quando foram encerradas suas atividades
Esta escola iniciou com o curso primaacuterio e posteriormente instalou o curso ginasial
Normalmente estes moradores permaneciam de segunda-feira a sexta-feira na
cidade e nos finais de semana retornavam para as fazendas como recorda uma
moradora local
Noacutes eacuteramos uma cidade de fazendeiros a gente tinha uma casa no campo e uma na cidade a gente vivia de laacute pra caacute de caacute pra laacute fim de semana ia
19 ALBUQUERQUE Moacir Castello Branco de Entrevista concedida agrave autora no dia 06 de abril de
2018
43
pra fora20 dia de semana vinha pra caacute normalmente uma irmatilde mais velha voacute ficava com a gente aqui na cidade e a famiacutelia mesmo ficava no campo21
Percebe-se que hoje ainda existem na Sede moradores que manteacutem suas
casas na cidade e durante o dia ou nos finais de semana vatildeo ateacute suas fazendas
para fazer as lides com o gado o que caracteriza uma pequena parte da populaccedilatildeo
que foram os filhos dos antigos fazendeiros que mais tarde acabam se instalando
definitivamente na cidade trazendo com sigo a essecircncia do homem do campo e
afirmando uma identidade genuinamente gauacutecha definiccedilatildeo esta concedida por uma
moradora local
Gauacutecho natildeo eacute o morador do Rio Grande do Sul o morador do Rio Grande do Sul eacute o sul-rio-grandense ou rio-grandense do sul o gauacutecho eacute apenas o homem que vem da pecuaacuteria extensiva essa que existe laacute no pampa e aqui nos campos de cima da serra o gauacutecho serrano com caracteriacutesticas muito proacuteprias grandes gaiteiros poetas aliaacutes o maior gaiteiro do mundo eacute daqui natildeo abro matildeo de dizer isto soacute que todos noacutes viacutenhamos da lida do campo em decorrecircncia disso eacuteramos gauacutechos de verdade22
Em sua fala apresenta o gauacutecho serrano como um tipo singular que ama a
pilcha gauacutecha o seu pingo e suas criaccedilotildees bem como reafirma a importacircncia dos
Irmatildeos Bertussi Honeide e Adelar sendo Adelar Bertussi um dos maiores gaiteiros
deste municiacutepio Exaltam-se tambeacutem os poetas que com suas poesias e letras de
muacutesicas escrevem o jeito do seu povo viver
Mesmo a cidade sendo ldquolocal de paradardquo durante a semana para a maioria
de seus habitantes no passado era cheia de atrativos que o campo natildeo possuiacutea
como o cinema cuja instalaccedilatildeo natildeo se encontra documentada mas sabe-se que
iniciou onde hoje eacute o preacutedio da Prefeitura Municipal sendo proprietaacuterio Francisco
Ferraz (Chico Ferraz como era conhecido) Observa-se em alguns exemplares do
Jornal Folha da Serra23 os filmes e os horaacuterios do funcionamento do cinema
Entende-se que o jornal era uma maneira de divulgar os filmes por ser o uacutenico meio
de comunicaccedilatildeo da eacutepoca Pelos folhetins se percebe que as sessotildees
apresentavam diversos gecircneros natildeo se sabe quando o cinema finalmente fechou
20 Fora refere-se ir para a fazenda 21 SOARES Luciana Olga Entrevista concedida agrave autora no dia 01 de marccedilo de 2018 22 SOARES Luciana Olga Entrevista concedida agrave autora no dia 01 de marccedilo de 2018 23 Folha da Serra jornal local criado em 1932 pelo Dr Siacutelvio Rabelo passando posteriormente a
propriedade da Prefeitura Municipal Sua impressatildeo era na ordem de 500 exemplares natildeo se tem a informaccedilatildeo do periacuteodo que parou de circular mas pelos exemplares encontrados no Arquivo Histoacuterico de Satildeo Francisco de Paula os uacuteltimos datam de 1978 O Arquivo Histoacuterico de Satildeo Francisco de Paula fica em um preacutedio anexo agrave Biblioteca Puacuteblica do municiacutepio
44
poreacutem o jornal Folha da Serra traz uma reportagem que retrata como estava difiacutecil
manter o cinema em funcionamento em meados de 1968 ldquoo nosso cinema na
maneira que vai indo natildeo tem mais condiccedilotildees de funcionar natildeo temos apoio da
populaccedilatildeo com uma frequecircncia de mais ou menos 150 pessoas por final de
semanardquo O jornal acrescenta ldquosalienta-se que mais ou menos de 3 de nossa
CULTA populaccedilatildeo natildeo frequenta o cinemardquo Pode-se associar o fechamento do
cinema a dois fatores a natildeo cultura de assistir filmes e pelas sessotildees ocorrerem nos
finais de semana onde boa parte da populaccedilatildeo da cidade se deslocava para as
fazendas ou pela crise que os cinemas passaram na deacutecada de 80 quando em
muitas cidades foram fechados
A vida da populaccedilatildeo local vai se modificando cada vez mais as pessoas vatildeo
se instalando definitivamente na Sede onde se perde o viacutenculo com o campo
Devido agrave venda ou arrendamento das fazendas24 que por render pouco a pecuaacuteria
extensiva e com a criaccedilatildeo de novas legislaccedilotildees que proiacutebem praacuteticas centenaacuterias
seus proprietaacuterios buscaram novas possibilidades econocircmicas que modificaram a
Sede e tambeacutem boa parte do interior Em entrevista a moradora Soares relata
Exatamente porque a produccedilatildeo era pequena isso natildeo serve para o mundo de hoje a uns quarenta anos chega em nossos campos as primeiras plantaccedilotildees de pinus interessante que ningueacutem reclamou da destruiccedilatildeo desse campo de milhotildees de anos e de todo o ecossistema mas mesmo com essa nova cultura continuamos realizando a sapeca do campo no mecircs de agosto mas de repente chega a notiacutecia que estaacute proibida a queima do campo dizendo que noacutes estragaacutevamos a terra poluiacuteamos o ar que mataacutevamos animais e tudo aquilo natildeo era verdade Na verdade alguns anos depois da lei proibindo a queima do campo chegam as multas gigantescas agraves vezes maior que o valor da terra e aiacute inviabilizou a pecuaacuteria e muitos fazendeiros venderam suas terras e foram embora Quem ficou no campo na busca por renda a qualquer preccedilo arrenda seus campos para os batateiros que vieram acredito que a grande maioria de Santa Catarina e do Paranaacute estes lavram o campo nunca mais o campo nem com reza braba taacute tudo perdido para sempre e isso reflete na nossa cidade25
Essas mudanccedilas no campo refletem na Sede onde o homem serrano convive
passivamente com novas identidades que embora sejam presentes eacute minoria pois
esta parcela de novos moradores traz consigo um novo jeito de viver que ainda natildeo
se percebe influenciar na identidade cultural da Sede
24 Propriedades rurais cuja atividade principal eacute a praacutetica da pecuaacuteria extensiva e a produccedilatildeo do
queijo artesanal serrano 25 SOARES Luciana Olga Entrevista concedida agrave autora no dia 01 de marccedilo de 2018
45
Na Sede desde o iniacutecio se observam quatro clubes sociais a Sociedade
Cruzeiro a Sociedade 9 de Julho a Sociedade Esperanccedila e o Centro de Tradiccedilotildees
Gauacutechas Cada clube social tem sua importacircncia histoacuterica poreacutem alguns natildeo se
manteacutem ativos
A Sociedade 9 de Julho foi fundada em 27 de setembro de 1961 estando
localizada no bairro Rincatildeo Segundo o jornal Folha da Serra (1968 n 96 p 5)
apoacutes sete anos de sua fundaccedilatildeo ldquoseu presidente Galego promete uma nova e
confortaacutevel sede para a sociedaderdquo Sociedade que se apresenta por sua
versatilidade nos eventos ateacute os dias atuais
O jornal Folha da Serra (1968 n 96 p 5) traz a seguinte mateacuteria ldquoas quatro
noites foram repletas de alegria naquela sociedade onde os foliotildees divertiram-se e
quando se anunciou o final da quarta noite houve quem lamentasse o final da festa
do Momordquo A reportagem refere-se ao carnaval que se desenvolve de forma
popular nesta sociedade Neste espaccedilo na deacutecada de 1990 ocorria um baile na
sexta-feira que antecedia ao Festival do Ronco do Bugio um espaccedilo onde jovens se
encontravam para iniciar as festividades do grande festival da cidade poreacutem na
atualidade este evento natildeo ocorre mais Pelos cartazes de divulgaccedilatildeo de eventos
atuais a Sociedade 9 de Julho se torna um espaccedilo bastante versaacutetil e segundo
dados obtidos no site da proacutepria sociedade o local apresenta shows bailes
tradicionalistas domingueiras e festas temaacuteticas
Sabe-se da existecircncia da Sociedade Esperanccedila devido a uma reportagem a
respeito do carnaval escrita no jornal Folha da Serra (1968 n 11 p 25) ldquoos
escurinhos tambeacutem natildeo ficaram para traacutes e demonstraram que satildeo bons no samba
porque soacute quem assistiu pode ver como brincaram e que maravilha de ritmo
marcaram durante as quatro noitesrdquo A reportagem daacute a entender de se tratar de
uma sociedade frequentada por negros e pode-se entender que ao usar o termo
escurinho na reportagem haacute preconceito racial perpassando a ideia de que por
serem negros natildeo poderiam se divertir da mesma maneira que os brancos
Atualmente se encontra no local um espaccedilo residencial e comercial
A Sociedade Cruzeiro foi fundada em 9 de maio de 1925 pela elite da
sociedade serrana Segundo Teixeira (2002) e Fonseca (2012) sua sede social era
na Avenida Juacutelio de Castilhos onde hoje se situa a agecircncia do Banrisul e teve como
primeiro presidente o Sr Antocircnio Mario Kroeff e o secretaacuterio Sr Joatildeo Parobeacute de
Lucena Sua nova sede foi inaugurada de acordo com Fonseca (2012 p 236) ldquono
46
dia 11 de dezembro de 1965 e esta permanece no mesmo endereccedilo ateacute a
atualidade Situa-se na Rua Dr Frederico Tedesco nordm 1261rdquo
Atualmente este espaccedilo eacute usado para convenccedilotildees ou festas particulares
onde as pessoas locam o espaccedilo para realizarem seu evento Neste espaccedilo natildeo
mais ocorrem grandes eventos sociais como Fonseca (2012 p 232) descreve ldquoos
bailes mais elegantes e vistosos desta sociedade ocorrem aquirdquo Fonseca (2012 p
233) ainda complementa que ldquoa primeira Miss Sociedade Cruzeiro foi eleita em 1937
e a vencedora foi a jovem Zilah Teixeirardquo
A Sociedade Cruzeiro tambeacutem foi palco de bailes de carnaval O Jornal Folha
da Serra (1968 n 11 p 25) descreve ldquocomo sempre a Sociedade Cruzeiro ponteou
o nosso carnaval com blocos fantasiados magnificamente fazendo acrobacias ao
som de excelente muacutesica local onde os turistas afluiacuteramrdquo Contrapondo a este
tempo a moradora local Soares26 discorre de maneira saudosa ldquoque saudades do
carnaval hoje eacute bebedeira perdeu o encanto perdeu tudo Na rua o pessoal
gritando sem nenhuma infraestrutura nem os bailes na sociedade natildeo ocorrem
maisrdquo
O distrito Sede jaacute foi palco de inuacutemeros clubes sociais que ao longo do tempo
foram perdendo seu encanto e ateacute mesmo fechando-se para atividades sociais O
que permanece em pleno funcionamento eacute o Centro de Tradiccedilotildees Gauacutechas Rodeio
Serrano o que justifica uma cultura tradicionalista presente neste distrito Dentre as
atividades desenvolvidas por esta entidade estatildeo o Rodeio Interestadual com
atividades campeiras e artiacutesticas que ocorrem todos os anos no primeiro final de
semana de dezembro a manutenccedilatildeo das invernadas artiacutesticas em todas as
categorias mascote mirim juvenil e adulta
A organizaccedilatildeo da Ronda Crioula na Semana Farroupilha com a participaccedilatildeo
das escolas da Sede e do interior que trazem seus grupos de danccedilas bem como
organizam gincanas Outra atividade tambeacutem desenvolvida por esta entidade eacute a
Cavalgada de Prendas que ocorre durante a Semana Farroupilha desde 1992
sendo Satildeo Francisco de Paula pioneira nesta ideia onde somente mulheres
participam da cavalgada que culmina com o desfile na Avenida Juacutelio de Castilhos
Realiza-se tambeacutem o Baile da Prenda Jovem que eacute o baile de debutante gauacutecho
onde as prendas entre 13 e 15 anos satildeo apresentadas agrave sociedade Aleacutem disso nos
26 SOARES Luciana Olga Entrevista concedida agrave autora no dia 01 de marccedilo de 2018
47
uacuteltimos anos a organizaccedilatildeo e apresentaccedilatildeo do Festival Ronco do Bugio que ocorre
em Satildeo Francisco de Paula faz parte da programaccedilatildeo desta entidade Este festival
apresenta exclusivamente o gecircnero musical bugio Haacute pelo menos duas hipoacuteteses
sobre a origem deste gecircnero musical
A primeira eacute de berccedilo serrano e teria mais fiel escudeiro o inesqueciacutevel acordeonista de Satildeo Francisco de Paula Honeyde Bertussi Siqueira Segundo ele o ritmo teria sido originaacuterio pelas matildeos do gaiteiro Vergiacutelio Leitatildeo que no jogo-de-foles e nos baixos de sua gaita de botatildeo teria imitado o ronco do bicho nos caponetes de cima da serra [] teria difundido pelas bodegas do Juaacute interior de Satildeo Chico (SOUZA 2003 p 15)
A segunda hipoacutetese eacute apresentada por Souza (2003 p 15) que apresenta a
versatildeo dada pelo povo de Satildeo Francisco de Assis que diz que ldquoa origem do ritmo e
oriunda desta localidade que por sinal realizava um festival nativista chamado
Querecircncia do Bugiordquo
Desconhece-se a verdadeira origem do gecircnero musical bugio mas Souza
(2003 p 23) afirma que ldquoJoatildeo Cincinato Terra muacutesico atuante sentiu a
necessidade de nosso municiacutepio acompanhar o movimento jaacute que neste periacuteodo se
expande por todo o estado do Rio Grande do Sul os festivais nativistasrdquo O
lanccedilamento do primeiro festival do Ronco do Bugio acontece em 1986 no CTG
Rodeio Serrano com a participaccedilatildeo de vaacuterios representantes da muacutesica nativista e
da comunidade serrana Seu lanccedilamento oficial ocorre em 16 de abril de 1986
O jornal Satildeo Chico Tchecirc (1986 n 11 p 6) noticiou que o primeiro Festival do
Ronco do Bugio contou com 98 muacutesicas escritas sendo 24 as selecionadas O
festival ocorreu entre os dias 13 e 15 de maio e Souza (2003 p 42) descreve que foi
apresentado ldquosob uma lona de circo estaqueada num gramado amador mas de
tantas gloacuterias futeboliacutesticas o campo do Clube Atleacutetico Serranordquo
A muacutesica vencedora do primeiro Ronco do Bugio foi ldquoLevanta Bugiordquo
defendida pelo cantor e compositor gauacutecho Leonardo Observando fotos percebe-se
que o Ronco do Bugio se deu em uma noite fria de inverno
O Festival Ronco do Bugio desde o seu iniacutecio premia melhor arranjo
conjunto instrumental instrumentista inteacuterprete e a muacutesica mais popular Fatima
Gimenez foi a melhor inteacuterprete do primeiro festival defendendo a muacutesica ldquoPinheiro
Gringordquo composiccedilatildeo de Erian Fogaccedila e Laerte Fortes Novamente a roupa dos
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muacutesicos reforccedila que na noite da entrega da premiaccedilatildeo fazia muito frio A cantora
tambeacutem se apresenta vestindo um chiripa coberto por um pala27
Na Figura 11 observamos a fotografia de Gonzaga dos Reis muacutesico local
sentado com sua gaita instrumento que lhe deu o precircmio de melhor instrumentista
do primeiro Ronco do Bugio Nesta oportunidade o cantor instrumentista e
compositor defendeu a muacutesica ldquoBugio da Minha Terrardquo
Figura 11 ndash Gonzaga dos Reis
Fonte Jornal Satildeo Chico Tchecirc n 4 p 8 (1986)
A composiccedilatildeo ldquoBugio Tiranordquo que foi defendida pelo conjunto Os Tiranos de
Satildeo Francisco de Paula ganhou o precircmio mais popular
Para o Jornal Satildeo Chico Tchecirc (1986 n 11 p 7) o Festival Ronco do Bugio eacute
ldquoum festival autecircntico e original que aconteceu com grande sucesso em Satildeo
Francisco de Paulardquo No encerramento deste grande evento Joatildeo Chagas Leite se
27 Chiripa e pala satildeo trajes tipicamente gauacutechos Sendo que o chiripa atualmente eacute uma veste de
preferecircncia feminina este fica enrolado na cintura e vai ateacute os joelhos ldquoEacute um pano inteiro passado entre as pernas primeiro de traacutes para frente e depois de frente para traacutes pode ser de latilde ou lisordquo (ABREU 2003 p 67) O pala eacute uma peccedila retangular com franjas nos quatro lados e listras no sentido do comprimento
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apresenta segundo o Jornal Satildeo Chico Tchecirc (1986 n 11 p 8) ldquocom composiccedilotildees
como Corda de Espinho Orelhano Pampa Campo e Querecircncia Coraccedilatildeo de
Estudante e Afiosrdquo
O Festival Ronco do Bugio perpassa o tempo segundo o site da Prefeitura
Municipal
O Festival Ronco do Bugio eacute um evento musical nativista que acontece anualmente na Cidade de Satildeo Francisco de Paula com o intuito de preservar e difundir o uacutenico ritmo originaacuterio do Rio Grande do Sul ou seja o lsquobugiorsquo compasso criado justamente no interior deste municiacutepio Tal criaccedilatildeo se deu a partir da criatividade dos gaiteiros serranos que buscaram imitar com seu instrumento musical o ronco do primata nos matos da serra A festividade agora em sua 26ordf ediccedilatildeo eacute genuiacutena pois eacute o uacutenico da Ameacuterica onde obrigatoriamente os participantes devem utilizar um ritmo somente isto eacute o citado lsquobugiorsquo embora a temaacutetica seja abrangente Por este motivo eacute chamado de lsquoO Festival Mais Autecircntico do Rio Grandersquo Aleacutem do forte enfoque cultural que envolve toda a comunidade musical do Estado o Festival tem seu apelo ecoloacutegico pois chama a atenccedilatildeo para a preservaccedilatildeo da espeacutecie hoje quase em extinccedilatildeo O Ronco do Bugio por sua importacircncia no cenaacuterio cultural rio-grandense criou uma identidade ao povo de Satildeo Francisco de Paula pois junto ao evento estaacute intriacutenseco e vem agrave tona o histoacuterico da criaccedilatildeo do municiacutepio caracterizado pela forte influecircncia dos antigos tropeiros desbravadores e povoadores desta parte do paiacutes (PREFEITURA MUNICIPAL DE SAtildeO FRANCISCO DE PAULA 2017)
No mesmo documento disponibilizado pela Prefeitura Municipal de Satildeo
Francisco de Paula observam-se algumas informaccedilotildees a respeito da realizaccedilatildeo do
festival no ano de 2017
Art 1ordm - O 26ordm Ronco do Bugio realizar-se-aacute no municiacutepio de Satildeo Francisco de Paula nos dias 01 e 02 de setembro de 2017 Art 2ordm - a festividade agora em sua 26ordf ediccedilatildeo eacute genuiacutena pois eacute a uacutenica na Ameacuterica Latina com promoccedilatildeo da Prefeitura Municipal de Satildeo Francisco de Paula e do CTG Rodeio Serrano com apoio de oacutergatildeos puacuteblicos e iniciativa privada Art 3ordm - Satildeo objetivos do 26ordm Ronco do Bugio a) valorizar a tradiccedilatildeo arte cultura e a autecircntica muacutesica regionalista
gauacutecha atraveacutes do seu ritmo mais original b) prestigiar autores compositores inteacuterpretes e conjuntos regionalistas e
incentivar o surgimento de novos valores c) divulgar a muacutesica regional gauacutecha d) valorizar a relevante posiccedilatildeo na formaccedilatildeo de usos e costumes
caracteres e valores espirituais e morais do gauacutecho e) promover e incentivar a cultura gauacutecha projetando Satildeo Francisco de
Paula na maneira mais autecircntica no cenaacuterio do turismo (PREFEITURA MUNICIPAL DE SAtildeO FRANCISCO DE PAULA 2017)
Como eacute possiacutevel observar no artigo 4ordm ldquoA organizaccedilatildeo do 26ordm Ronco do Bugio
ficaraacute a cargo da Comissatildeo Organizadora composta por membros da Prefeitura
Municipal e do CTG Rodeio Serranordquo (PREFEITURA MUNICIPAL DE SAtildeO
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FRANCISCO DE PAULA 2017) Devido agrave importacircncia identitaacuteria do festival para o
municiacutepio ao se chegar agrave cidade na deacutecada de 90 se encontrava o seguinte
outdoor
Figura 12 ndash Outdoor entrada da cidade na ERS-020
Fonte Souza (2003 p 17)
Assim como o tiacutetulo de ldquoCapital Mundial do Bugiordquo Satildeo Francisco de Paula ldquojaacute
obteve vaacuterios slogans dentre eles o de Satildeo Chico eacute terra boardquo (TEIXEIRA 2002 p
149-150)
Mesmo ocorrendo inferecircncias externas advindas com pessoas que trouxeram
consigo uma identidade diferente Soares28 em entrevista afirma ldquoSatildeo Chico eacute
identificada pela cultura tradicionalista gauacutecha a cuia em frente ao antigo preacutedio da
prefeitura demonstra o siacutembolo da hospitalidade de nosso povordquo A permanecircncia
ativa do CTG Rodeio Serrano na sede eacute outro indicativo forte da presente
identidade ligada as atividades do homem do campo Outro fato observado eacute a
constante praacutetica do laccedilo de vaca parada29 por jovens e crianccedilas nos paacutetios de suas
residecircncias bem como cavalarianos (homens mulheres jovens e crianccedilas) na
28 SOARES Luciana Olga Entrevista concedida agrave autora no dia 01 de marccedilo de 2018 29 Vaca parada uma espeacutecie de cavalete de madeira com aspectos de uma vaca usada por crianccedilas
que estatildeo iniciando neste esporte bem como usado como forma de entretenimento para jovens e adultos
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avenida principal cavalgando entre os carros Ainda se percebe o respeito entre
motoristas de automotivos bicicletas e os cavalarianos todos ocupando o mesmo
espaccedilo
42 DISTRITO DE CAZUZA FERREIRA
O distrito de Cazuza Ferreira foi criado em 07 de janeiro de 1903 estando
situado a 85 quilocircmetros da Sede Andrade comenta em entrevista30 ldquoateacute acho que
Cazuza se desenvolveu primeiro que Satildeo Chicordquo31 visto que a criaccedilatildeo do distrito
acontece dias depois da emancipaccedilatildeo enquanto a criaccedilatildeo da vila do distrito de
Cazuza Ferreira se desenvolve segundo a entrevistada
A parte da Histoacuteria que eu sei eacute que houve a chegada de um Sr Chico Mestre eacute como eles chamavam Esse Sr veio as casas eram distantes umas das outras e ele comeccedilou a fazer oraccedilatildeo nas casas e reunir as pessoas e fundou o cemiteacuterio Entatildeo o Joseacute Ferreira de Castilhos que era dono daqui naquela eacutepoca um dos moradores que tinha bastante terra doou a terra para fazer a vila aiacute o que aconteceu segundo as histoacuterias era para ser ali onde eacute a cancha de laccedilo hoje do outro lado da estrada soacute que o terreno natildeo era apropriado entatildeo houve uma permuta com o Sr que era dono deste terreno aqui era Bossle aqui era bem mais alto e mais plano Entatildeo se construiu a Igreja e iniciou o povoamento da vila32
A moradora Basso ainda acrescenta que ldquoa vila foi sempre mais ou menos o
que ela eacute hojerdquo Ao observar o local pode-se perceber uma grande praccedila ao centro
rodeada de casas de comeacutercio posto de combustiacutevel posto de sauacutede o hotel a
Igreja Matriz juntamente com o salatildeo paroquial e casas residecircncias cujo aspecto
impressiona por a grande maioria das casas apresentam uma arquitetura que
perpassa o tempo A Figura 13 apresenta uma imagem da praccedila central tirada das
escadarias da Igreja Matriz
30 ANDRADE Nauro Bossle de Entrevista concedida agrave autora no dia 04 de marccedilo de 2018 31 Primeiro que Satildeo Chico eacute um termo comum usado pelos moradores do interior do municiacutepio de
Satildeo Francisco de Paula que ao se referir a Sede do municiacutepio usam o termo Satildeo Chico ou Satildeo Francisco de Paula pois seus moradores natildeo costumam na atualidade dizer lsquovou a Sedersquo e sim lsquovou a Satildeo Chicorsquo como se eles natildeo morassem no municiacutepio
32 BASSO Ceacutelia Pacheco Terres Entrevista concedida agrave autora no dia 04 de agosto de 2018
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Figura 13 ndash Praccedila Central de Cazuza Ferreira
Fonte acervo pessoal da autora (2018)
Apesar de ter a preservaccedilatildeo arquitetocircnica a moradora Basso declara
O pai contava e outras pessoas contam que teve uma eacutepoca que tinha faacutebrica de tamanca33 jaacute teve faacutebrica de guaranaacute de queijo bastante coisa no sentido de selaria mas tudo foi se extinguindo as pessoas as famiacutelias natildeo deram continuidade e se sumiram natildeo existe mais nada disso mas estas faacutebricas natildeo davam renda ou seja trabalho para pessoas de fora pois elas eram administradas e cuidadas pelas famiacutelias Daiacute houve o periacuteodo das serrarias enquanto pode extrair madeira era o forte a vila movimentada enriqueceram alguns comerciantes locais o momento que extinguiu aquele trabalho eles foram embora e o povo daqui acomodou entatildeo hoje a vila tem bastante pessoas que foram embora trabalhar assim na juventude e hoje aposentados voltaram pois aqui para jovem natildeo tem sobrevivecircncia o uacutenico trabalho eacute na escola tem nove professores e uma funcionaacuteria em alguns funcionaacuterios da prefeitura acho que satildeo seis que cuidam do plantel de maacutequinas a enfermeira e o pessoal que cuida do posto do correio tambeacutem tem a ferraria mas ali eacute soacute os da proacutepria famiacutelia entatildeo o jovem acaba tendo que ir embora34
Os entrevistados Basso e Andrade relatam que apesar das adversidades o
povo de Cazuza Ferreira tem um amor pelas suas tradiccedilotildees mantendo vivos trecircs
aspectos que ambos consideram a marca identitaacuteria de seu povo e afirmam com
33 Tamanca calccedilado comum na regiatildeo solado de madeira com uma proteccedilatildeo sobre as pontas dos
dedos indo ateacute o peito do peacute em couro 34 BASSO Ceacutelia Pacheco Terres Entrevista concedida agrave autora no dia 04 de agosto de 2018
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convicccedilatildeo ldquofalar de Cazuza eacute cavalhada hotel e rodeiordquo enquanto Basso acrescenta
que ldquoas cavalhadas satildeo heranccedila dos portugueses e estatildeo espalhadiacutessimas ateacute
nacionalmente atraveacutes da miacutedia porque natildeo pesquisei mas ateacute onde sei no Rio
Grande do Sul soacute tem aquirdquo
Na comunidade ainda segundo Basso ldquoa apresentaccedilatildeo das cavalhadas se
iniciou por volta de 1890 e permanece ativa ateacute hoje no passado existiam trecircs
cavalhadas as dos brancos dos amarelos e dos negrosrdquo acrescentando ldquomas hoje
natildeo haacute mas essa diferenciaccedilatildeordquo Em poliacutegrafo organizado por uma moradora local a
mesma explica que a cavalhada ldquoeacute uma luta simulada em que haacute vinte e quatro
participantes sendo doze de cada equiperdquo35 por meio da evoluccedilatildeo equestre e
movimentos de espada lanccedila e garrucha representando a batalha entre mouros e
cristatildeos Segundo esta moradora ldquoa batalha sempre termina sendo vencida pelos
cristatildeos demonstrando a submissatildeo dos mouros e a supremacia da religiatildeo cristatilderdquo
Atualmente o grupo depende da boa vontade de seus participantes conforme
explica
Hoje se tornou caro eacute exame dos cavalos transporte depende do querer das pessoas da boa vontade e tem pessoas engajadas que natildeo largam a famiacutelia do Renau que ele eacute o presidente do grupo ele tem um amor tatildeo grande pelas cavalhadas porque ele jaacute recebeu do pai dele do teu avocirc e do seu Ivo Cardoso e a vida dele agraves vezes me desgosto de alguma coisa pois faccedilo a narrativa do que estaacute sendo apresentado mas daiacute eu penso natildeo posso abandonar (sorri) Eacute uma tradiccedilatildeo que natildeo pode morrer mas os filhos do Renau o Marcos e o Marcelo daratildeo continuidade faz parte da famiacutelia tu sabe eacute da mesma famiacutelia Eacute uma grande tradiccedilatildeo que natildeo pode desaparecer temos que continuar peleando36
As cavalhadas satildeo apresentadas na praccedila central sempre durantes as festas
religiosas que acontecem na comunidade sendo assim organizadas
No primeiro ou segundo final de semana de fevereiro tem a festa da Nossa Senhora do Belo Horizonte que eacute a padroeira daqui Agora devido agrave comissatildeo e o padre um ano tem a festa dos morenos e no outro tem a dos agricultores que eram chamados de amarelos antigamente cuja devoccedilatildeo se daacute agrave Nossa Senhora do Rosaacuterio e Nossa Senhora da Penha Antigamente cada um tinha seu espaccedilo social para realizar a festa atualmente soacute se manteve a tradiccedilatildeo de comemorar os santos este ano eacute festa dos morenos ela seraacute dia 13 e 14 de outubro Todas as festas
35 Sendo que doze cavaleiros que representam os cristatildeos vestem tuacutenicas de veludo azul escuro e
os doze cavaleiros mouros vestem tuacutenicas vermelhas Sobre os ombros da tuacutenica haacute uma capinha esta capinha traz enfeites prateados bordados com lantejoulas e bototildees dourados e franjas de seda branca Todos os participantes usam bombacha branca de brim botas campeiras pretas chapeacuteu de palha de aba larga virada para cima com laccedilo de fita e barbicacho de acordo com a cor da tuacutenica
36 BASSO Ceacutelia Pacheco Terres Entrevista concedida agrave autora no dia 04 de agosto de 2018
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religiosas ocorrem em dois dias saacutebado apresentaccedilatildeo das cavalhadas novena janta e baile no domingo tem a missa na Igreja Matriz logo apoacutes almoccedilo e reuniatildeo danccedilante Atualmente resgataram em dezembro a festa a Satildeo Cristoacutevatildeo sempre no primeiro final de semana de dezembro eacute uma missa com benccedilatildeo aos carros durante a procissatildeo e um almoccedilo ao meio-dia esta se daacute somente em um dia E tambeacutem temos de dois em dois anos a festa organizada pelo grupo das Cavalhadas esta ocorre em maio daiacute37
Os moradores explicam que a separaccedilatildeo racial desapareceu com o tempo
poreacutem se manteacutem a cultura de festejar todos os santos o que demonstra que o povo
de Cazuza eacute bastante devoto e cristatildeo E acrescenta em tempos idos que durante
as festas religiosas as pessoas se hospedavam no hotel segundo Basso que ldquoele
recebia tinha mercado junto teve ateacute cinema o pessoal gostava da comida da
Dona Vilma que era minha sogrardquo Este hotel eacute outro marco que identifica Cazuza
Ferreira poreacutem os moradores explicam que atualmente o Hotel do Campo manteacutem a
arquitetura mas funciona em uma modalidade diferenciada pois natildeo haacute como
sobreviver Entatildeo ele recebe hospeda sob reserva antecipada poreacutem natildeo serve
almoccedilo e janta as refeiccedilotildees satildeo feitas no Cantinho do Aconchego com quem
manteacutem uma parceria
Figura 14 ndash Hotel do Campo
Fonte acervo pessoal da autora (2018)
37 BASSO Ceacutelia Pacheco Terres Entrevista concedida agrave autora no dia 04 de agosto de 2018
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Nesta comunidade tambeacutem eacute muito forte segundo os entrevistados38 a
tradiccedilatildeo gauacutecha que adveacutem do homem do campo o amante dos rodeios que nos
finais de semana saem de suas propriedades e se deslocam a outras comunidades
para participar dos eventos campeiros como o tiro de laccedilo Tambeacutem explanam que
existe o CTG Adatildeo Castilhos que estaacute interditado jaacute faz quase seis anos desde
que comeccedilaram a ser exigidos os PPCIs A partir deste momento eles natildeo puderam
mais fazer eventos ali eles realizam os rodeios ou festas campeiras mas laacute dentro
natildeo conseguiram mais fazer nada e taacute difiacutecil vai muito dinheiro para cumprir todas
as exigecircncias Sendo que este espaccedilo na deacutecada de 80 do seacuteculo XX foi palco de
grandes rodeios com apresentaccedilotildees campeiras artiacutesticas e grandes bailes A
moradora explica39 ldquoA Claudiana esposa do Paulo Cesar atual presidente se
inscreveu no projeto Meu Galpatildeo de Cara Nova do Galpatildeo Crioulo da RBS TV
tomara que ela seja classificadardquo Este projeto ajuda na reconstruccedilatildeo dos CTGs pelo
Rio Grande do Sul
Ao pesquisar sobre Cazuza Ferreira percebe-se o quatildeo forte eacute o culto agraves
tradiccedilotildees e o esforccedilo de seus moradores para elas permaneccedilam para futuras
geraccedilotildees visto que o tempo passou e a tradiccedilatildeo local natildeo sofreu alteraccedilotildees
43 DISTRITO DE TAINHAS
O distrito de Tainhas foi criado em 18 de outubro de 1922 estando situado a
33 quilocircmetros da Sede Se desenvolveu no entroncamento de duas rodovias a RS-
020 e a RS-453 cujas rodovias cortavam a vila do distrito Com o advento da
construccedilatildeo da Rota do Sol importante rodovia que hoje que liga Caxias do Sul agraves
praias aleacutem da construccedilatildeo do asfalto da RS-020 que vai a Satildeo Francisco de Paula
tudo mudou O morador Fagundes relata em entrevista40 ldquoaqui era mais habitado
por criadores fazendeiros e agora depois que saiu essa Rota do Sol o movimento
cresceu muito neacute mais por fora da vila entatildeo natildeo trouxe benefiacutecio para noacutesrdquo
Percebe-se que moradores entendem a importacircncia da construccedilatildeo das
rodovias poreacutem as mesmas natildeo trouxeram benefiacutecios econocircmicos para os
moradores locais
38 ANDRADE Nauro Bossle de BASSO Ceacutelia Pacheco Terres Entrevistas concedidas agrave autora no
dia 04 de agosto de 2018 39 BASSO Ceacutelia Pacheco Terres Entrevista concedida agrave autora dia 04 de agosto de 2018 40 FAGUNDES Darci da Silva Entrevista concedida agrave autora no dia 24 de fevereiro de 2018
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Ainda conforme o morador Fagundes41 ldquoo iniacutecio da vila se deu devido agrave
necessidade de parada dos caminhoneiros que transportavam madeira como era
tudo estrada de chatildeo Tainhas ficava em local centralizado se construiu um hotel
que era do seu Pedro Pinhatildeo e da Dona Luisardquo A partir de entatildeo comeccedilou a
construccedilatildeo de casas e se formou a vila onde antes eram terras dos Pinto os
primeiros moradores de Tainhas tanto que o morador ressalta na entrevista42 ldquoo
nome da escola eacute Oliacutempio Soares Pinto que era o proprietaacuterio dessa terra e uma
das professoras mais antigas era Guilherma Pintordquo
Tainhas estaacute rodeada por campos matos de pinnus ilhote e lavouras
atualmente e explica
Hoje aqui eacute pinus e granjeiro plantando batata soja milho e a maioria veio de fora os moradores antigos desapareceram arrendaram ou venderam suas terras para esse pessoal que veio de Ibiraiara e de Maquineacute Itati Trecircs Forquilhas43
Percebe-se que a criaccedilatildeo de gado ou seja a pecuaacuteria extensiva deu lugar a
outras culturas com a chegada de novas pessoas ao distrito Mas segundo os
moradores o culto ao tradicionalismo gauacutecho permanece visto que no distrito
existe
O parque de rodeios do Rodeio Crioulo eacute o mais antigo que noacutes temos aqui natildeo sei se natildeo o primeiro piquete registrado de Satildeo Chico tem uns sessenta anos a nossa tradiccedilatildeo eacute o laccedilo O nosso rodeio acontece sempre no iniacutecio de janeiro hoje eu natildeo laccedilo mais mas o meu neto continua a minha tradiccedilatildeo A escola daqui faz a semana farroupilha com ronda eacute tudo muito lindo e assim se mantem a cultura44
A imagem apresentada na Figura 15 reforccedila a fala e a importacircncia do Piquete
de Laccediladores Rodeio Crioulo que atualmente mesmo estando nas terras de Satildeo
Francisco de Paula divisa com o municiacutepio de Cambaraacute do Sul por opccedilatildeo essa
entidade tradicionalista pertence ao entatildeo municiacutepio de Cambaraacute do Sul Poreacutem sua
fundaccedilatildeo acontece em 20 de janeiro de 1961 quando o entatildeo hoje municiacutepio de
Cambaraacute do Sul ainda era distrito de Satildeo Francisco de Paula
41 FAGUNDES Darci da Silva Entrevista concedida agrave autora no dia 24 de fevereiro de 2018 42 FAGUNDES Darci da Silva Entrevista concedida agrave autora no dia 24 de fevereiro de 2018 43 FAGUNDES Darci da Silva Entrevista concedida agrave autora no dia 24 de fevereiro de 2018 44 FAGUNDES Darci da Silva Entrevista concedida agrave autora no dia 24 de fevereiro de 2018
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Figura 15 ndash Flacircmula de comemoraccedilatildeo aos 50 anos da entidade
Fonte acervo pessoal da autora (2018)
Outro evento importante no distrito eacute realizado pela Escola Estadual de
Ensino Fundamental Oliacutempio Soares Pinto que satildeo atividades ligadas as tradiccedilotildees
gauacutechas na Semana Farroupilha como cavalgadas e gincanas com a participaccedilatildeo
de toda comunidade nesta semana principalmente a comunidade de Tainhas
ldquorespira tradicionalismordquo
O distrito de Tainhas atualmente conta com um posto de sauacutede e o correio
satildeo os serviccedilos puacuteblicos que funcionam no distrito visto que o cartoacuterio fechou O
entrevistado Fagundes relata45 ldquoeu era o juiz de paz desse Cartoacuterio minha funccedilatildeo
era julgar os casamentos mas daiacute fechou hoje o pessoal tem que ir a Satildeo Chicordquo O
morador ainda acrescenta ldquoateacute a rodoviaacuteria fechou os ocircnibus passam aqui Satildeo
Marcos que vem de Caxias e vatildeo a Torres desce de manhatilde e sobe de tarde Citral
de Satildeo Chico a Ouro Verde e agora Transneves da Pedra Lisa para Satildeo Chicordquo
Com uma certa tristeza relata46 ldquoaqui em Tainhas soacute tem o Cafeacute Tainhas do
Mauro eacute o brilho de Tainhas seraacute ponto histoacuterico daqui um tempo todo mundo fala
bem do Cafeacute Tainhasrdquo
Notoriamente a chegada do asfalto modificou a vida das pessoas neste
distrito visto que que os campos foram em boa parte transformados em lavoura se
45 FAGUNDES Darci da Silva Entrevista concedida agrave autora no dia 24 de fevereiro de 2018 46 FAGUNDES Darci da Silva Entrevista concedida agrave autora no dia 24 de fevereiro de 2018
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percebe uma vila pacata jaacute que todo o movimento foi desviado por fora da vila e a
mesma natildeo proporciona lazer para as pessoas que ao terminarem o ensino
fundamental para continuar seus estudos precisam fazer uso do transporte escolar
e se deslocar ateacute a Sede ou ir ao municiacutepio de Cambaraacute do Sul
44 DISTRITO DE ELETRA
O distrito de Eletra foi criado em 31 de dezembro de 1932 estando situado a
19 quilocircmetros da Sede do municiacutepio Poreacutem a populaccedilatildeo local chama de Salto e
seu nome vem das barragens do Salto Blang e Divisa construiacutedas sobre o Rio do
Salto que atravessa o distrito Segundo a moradora local47 Soares ldquoas barragens
que fornecem aacutegua para as usinas no municiacutepio de Satildeo Francisco de Paula e nos
municiacutepios vizinhos de Canela Gramado e Cambaraacute do Sulrdquo A Figura 16 apresenta
uma imagem da Barragem do Salto barragem esta que se situa proacutexima da vila do
distrito
Figura 16 ndash Barragem do Salto
Fonte acervo pessoal da autora (2018)
Ao observarmos a Figura 16 percebe-se que o acesso da vila para o interior
do distrito acontece por uma ponte de concreto estreita com piso bastante irregular
47 SOARES Susana Marques Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018
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e que em periacuteodos de fortes chuvas o acesso fica interrompido devido agrave altura
Poreacutem ao lado direito percebe-se uma estrutura pequena que segundo o morador
Gomes
Foi uma tentativa de uma empresa japonese construir uma ponte soacute que quando estavam construindo deu uma enchente e levou tudo a aacutegua abaixo a empresa foi embora e nunca mais voltou Jaacute foram feitos estudos que a ponte tem que ser construiacuteda mais para baixo e em forma de arco se natildeo a chuva leva de novo poreacutem natildeo acredito que saia algum dia48
Entende-se que a construccedilatildeo desta nova ponte melhoraria o acesso dos
proprietaacuterios rurais que para saiacuterem de suas propriedades em eacutepocas de chuva
intensa necessitam fazer um longo caminho por estradas de chatildeo batido para terem
acesso ao municiacutepio de Canela bem como a Sede de Satildeo Francisco de Paula
Contudo a moradora explica que a vila do distrito se forma muito antes da
construccedilatildeo da barragem
Em 1915 era uma fazenda chamada Fazenda do Salto e esta pertencia a Francisco Soares de Oliveira Neste local havia sua casa de moradia um galpatildeo e mangueiras onde realizava as suas atividades poreacutem em 1916 o Chico resolveu transferir a casa da Fazendo do Cerro para o Salto tambeacutem sendo construiacuteda aiacute a segunda casa a partir de entatildeo se iniciou o povoado com a construccedilatildeo de novas residecircncias para seus empregados e posteriormente se instalou uma serraria dos irmatildeos Delavechia esta sendo movida a aacutegua dando definitivamente o iniacutecio do povoamento da vila49
Ao analisar a fala da moradora local se percebe que onde hoje se encontra a
vila do distrito de Eletra jaacute foi uma fazenda identificando-se com a mesma formaccedilatildeo
do distrito Sede que tambeacutem surge de terras doadas por um fazendeiro Segundo a
entrevistada Soares50 ldquoa sua casa eacute uma das mais antigas tem 102 anos foi
construiacuteda de pinheiro serrada aqui mesmo na serrariardquo pode-se observar o oacutetimo
estado de conversaccedilatildeo da casa que traz traccedilos arquitetocircnicos europeus na sua
construccedilatildeo natildeo se tem imagem da casa visto que a entrevistada natildeo permitiu
nenhuma imagem de sua residecircncia
Outro fator importante do povoamento da vila segundo o morador local
Gomes51 ldquofoi o iniacutecio da construccedilatildeo da Barragem do Salto no ano de 1925rdquo onde
48 GOMES Jaures Feijoacute Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018 49 SOARES Susana Marques Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018 50 SOARES Susana Marques Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018 51 GOMES Jaures Feijoacute Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018
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vieram muitos funcionaacuterios de vaacuterios lugares tendo como mestre da obra segundo
os moradores locais52 o ldquoAcircngelo Goubertrdquo
Devido agrave necessidade que se formou no distrito neste periacuteodo se abriu um
hotel farmaacutecia cartoacuterio rodoviaacuteria e cinema a moradora local Soares saudosa
diz53 ldquotudo fechou aqui natildeo tem mais nadardquo referindo-se a atual situaccedilatildeo que a vila
se encontra
Os moradores ainda declaram sobre o distrito54 ldquoestaacute abandonado pelo poder
puacuteblico ateacute o calccedilamento das ruas foi arrancadordquo poreacutem outrora foi um local de
muita alegria
A vida era uma festa permanente o tio Chico era casado com a tia Lisoca ela foi para Porto Alegre para os filhos estudar quando vinham nas feacuterias traziam os amigos O tio Chico pagava um gaiteiro por mecircs para ele toca toda noite entatildeo era aquele divertimento55
Atualmente na vila existe a Escola Estadual de Ensino Fundamental Cristino
Ramos com menos de cem alunos e a festa cristatilde cuja celebraccedilatildeo ocorre em
fevereiro sendo Santo Antocircnio o padroeiro local A moradora explica sobre a
construccedilatildeo da capela
A primeira capela a tempestade derrubou em 1957 se construiu outra O santo padroeiro eacute Santo Antocircnio a imagem foi trazida por quarenta cavaleiros Daiacute o padre pediu para que a imagem de Nossa Senhora Catarina tambeacutem fosse acolhida hoje temos dois padroeiros mas para mim Santo Antocircnio eacute o principal56
Percebe-se na fala dos moradores a sua devoccedilatildeo e sua preocupaccedilatildeo com o
futuro da vila visto que ateacute a questatildeo do cemiteacuterio jaacute foi palco de discussatildeo pois o
cemiteacuterio da vila iniciou pela famiacutelia dos Soares sendo este particular Poreacutem a
moradora explica com certa indignaccedilatildeo
O cemiteacuterio era particular da famiacutelia Soares teve um tempo que resolveram abrir veio gente ateacute de Passo Fundo ser enterrada aqui natildeo pediam para ningueacutem tomaram conta Daiacute organizamos uma comissatildeo responsaacutevel decidimos que tinha que ter uma contribuiccedilatildeo e natildeo podia trazer gente de fora para enterrar soacute gente daqui Ningueacutem pagou Aiacute mandei fazer cerca nova a parte dos Soares sempre limpei mas [] hoje acabo limpando tudo
52 GOMES Jaures Feijoacute SOARES Susana Marques Entrevistas concedidas agrave autora no dia 15 de
fevereiro de 2018 53 SOARES Susana Marques Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018 54 GOMES Jaures Feijoacute SOARES Susana Marques Entrevistas concedidas agrave autora no dia 15 de
fevereiro de 2018 55 SOARES Susana Marques Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018 56 SOARES Susana Marques Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018
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porque ningueacutem limpa Enquanto eu for viva vou fazer depois vatildeo entregar para a prefeitura igreja natildeo sei57
A Figura 17 apresenta uma foto da igreja atual tendo em sua lateral direita a
capela mortuaacuteria e ao fundo o Salatildeo Paroquial da comunidade onde ocorre a festa
do Santo Padroeiro
Figura 17 ndash Igreja Santo Antocircnio ndash Distrito de Eletra
Fonte acervo pessoal da autora (2018)
Ao conversar com os moradores locais pode-se observar a feacute cristatilde poreacutem
ambos relatam que a festa de fevereiro atualmente eacute pouco divulgada motivo pelo
qual acreditam que natildeo haja um nuacutemero expressivo de pessoas Ambos sentem um
apreccedilo pelo local onde nasceram e vivem poreacutem ambos relatam
Aqui eacute lugar de dormir as pessoas trabalham em Canela e vem dormir aqui a grande maioria natildeo eacute daqui vieram de fora haacute muitas casas de veraneio tudo gente de Porto Alegre que vem passar feacuterias natildeo rende nada para aqui o que precisam trazem tudo de fora A maioria de quem mora aqui soacute dorme passa o dia fora O ocircnibus das 7 horas sai lotado a gente natildeo conhece mais ningueacutem daqui mesmo soacute noacutes Susana e eu58
Mesmo a vila sendo um local de parada estaacute rodeada de lindos campos e
fazendas cuja a atividade principal eacute a pecuaacuteria extensiva natildeo proporciona
57 SOARES Susana Marques Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018 58 GOMES Jaures Feijoacute Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018
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trabalho no local motivo pelo qual seus moradores buscam sua subsistecircncia em
outro municiacutepio poreacutem possui uma exuberante natureza relata cheia de esperanccedila
a moradora local59 ldquoeu tenho esperanccedila que algueacutem olhe para caacute e veja as belezas
que tem aqui que o lugar volte a se desenvolverrdquo desenvolvimento este que
poderia vir atraveacutes da exploraccedilatildeo do turismo rural ldquoSe vocecirc quiser comer alguma
coisa agora natildeo vai encontrar nada aqui soacute tem lsquobutecorsquo60 mas eles natildeo vendem
nada nem sanduiacuteche pastel eacute uma vergonhardquo fala indignado o morador Gomes61
A populaccedilatildeo que vive nas fazendas aleacutem de ter as lides campeiras no seu
dia-a-dia nos finais de semana segundo o morador Gomes62 ldquolaccedila em torneio vai
nos rodeiosrdquo o que marca a presenccedila do tradicionalismo gauacutecho em uma parte da
populaccedilatildeo do distrito poreacutem com relaccedilatildeo aos moradores da vila natildeo haacute algo que
os identifique visto a miscigenaccedilatildeo que ocorreu e por haver muitas casas de
veraneio no local
45 DISTRITO DO JUAacute
O distrito do Juaacute foi criado em 10 de maio de 1950 e fica distante 65
quilocircmetros da Sede O distrito recebe esse nome devido a um espinho que havia
em abundacircncia no local nome este dado por tropeiros
Os accedilorianos que vinham de Santo Antocircnio da Patrulha e iam para Vacaria com cargueiros eles vinham fazer repouso laacute em cima no reduto e ali tinha muita frutinha do juaacute entatildeo os tropeiros saiam de Santo Antocircnio e diziam vamos posa laacute nos juaacute daiacute o nome do lugar que permanece ateacute hoje63
Juaacute eacute o nome dado a um espinho muito comum na regiatildeo dos campos de
cima da serra que daacute uma fruta amarela em formato redondo que segundo os
moradores locais eacute uma fruta venenosa conforme se observa na Figura 18
59 SOARES Susana Marques Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018 60 Buteco pequeno comeacutercio que normalmente vende bebidas alcooacutelicas e possui mesa de sinuca 61 GOMES Jaures Feijoacute Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018 62 GOMES Jaures Feijoacute Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018 63 REIS Orides Entrevista concedida agrave autora no dia 12 de maio de 2018
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Figura 18 ndash Peacute com a fruta conhecido como Juaacute
Fonte acervo de Clessandra Palhano (moradora local) (2018)
O reduto citado pelo morador local ficava em uma fazenda local onde hoje se
encontra a vila do distrito conforme o entrevistado Reis explica
O primeiro morador eu natildeo lembro soacute sei que o Juaacute era de pouca gente famiacutelia Pedroso e Castilhos daiacute foram morrendo inventariando e vendendo e aos poucos se formou a vila importante o dono de tudo isso aiacute tinha dois escravos no iniacutecio teve escravidatildeo claro na eacutepoca de mil oitocentos e pouco eu acho mas teve E hoje deve ter descendente destes escravos por aiacute64
Escravidatildeo que vai dar origem ao preconceito racial e a um modelo particular
da localidade que sem precisar data explica o morador
Aqui tinha dois salatildeo trecircs com o da Igreja mas era dois salatildeo social Era um clube de brancos que era dos ricos neacute fazendeiros o Salatildeo Vera Cruz e depois fundaram o Satildeo Valentim que era dos morenos que na eacutepoca ateacute eu fui presidente Cada um no seu salatildeo agora quando dava a festa cristatilde em homenagem ao Satildeo Joatildeo de Deus todo o povo reunia-se quando chegava de noite no saacutebado no baile entatildeo cada um ia pro seu salatildeo A muacutesica ficava no salatildeo dos brancos daiacute colocava umas caixas de som laacute pros morenos com um fio pra eles danccedila Um natildeo podia entra no baile do outro tinha o presidente para cuida Cada um no seu tudo se respeitava e obedecia aquela ordem65
Ainda acrescenta a moradora local Santos
64 REIS Orides Entrevista concedida agrave autora no dia 12 de maio de 2018 65 REIS Orides Entrevista concedida agrave autora no dia 12 de maio de 2018
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O nosso eu natildeo me lembro o nome tem tanto papel mas natildeo sei onde estaacute o nosso dos pretos neacute ningueacutem implicava eles natildeo deixavam noacutes entra no salatildeo Vera Cruz eu entrava de cozinheira empregada porque ali era lugar dos ricaccedilos eles podiam se associar mas o nosso tambeacutem enchia mas eles iam no nosso baile de nego soacute olhavam As festas duravam dias Tinha aquele foguetoacuterio era tatildeo bonito66
Percebe-se na fala dos moradores como esta divisatildeo racial se fazia presente
que havia por parte dos negros um profundo respeito pelos brancos mesmo eles
tendo acesso ao salatildeo Vera Cruz somente para servi-los em nenhum momento se
percebeu que eles se sentissem diminuiacutedos pela situaccedilatildeo ateacute pela cultura que
advinha desde os primeiros moradores locais
Esta divisatildeo social permanece por longo tempo e somente vai desaparecer
nos anos 80 do seacuteculo XX com a contribuiccedilatildeo do Frei Abiacutelio que veio da Vacaria
durante Missotildees convocadas pelo paacuteroco local padre Afonso que conseguiu
modificar esta organizaccedilatildeo implantando a ideia de igualdade e ignorando tudo
aquilo a partir de entatildeo os negros comeccedilaram a frequentar a sociedade Vera Cruz
contribuiccedilatildeo dos entrevistados67 que ao abordar o assunto demonstraram repulsa
pelo passado mas ao mesmo tempo reconhecem que o racismo ainda eacute presente
na comunidade poreacutem devido agraves leis existe um cuidado maior
Atualmente negros e brancos convivem em harmonia participam da festa
cristatilde cujo padroeiro eacute Satildeo Joatildeo de Deus e dos torneios de laccedilo mas geralmente
quem laccedila satildeo os fazendeiros Saudoso o morador68 afirma que ldquouma vez tinha as
carreradas tinha trecircs canchas passava o domingo nas canchas brincando nas
corridas de cavalos tudo terminourdquo Acrescenta69 ainda que ldquoem 70 80 tinha o
futebol o campo era na baixada acho que tem ainda trofeacuteu ai mas daiacute a gurizada
foi embora para a cidade terminou o timerdquo
A vila se construiu de maneira simples tendo a Igreja Catoacutelica com o Salatildeo
Paroquial agrave direita o antigo Centro de Tradiccedilotildees Gauacutechas Laccedilo Velho do Juaacute onde
resta apenas o preacutedio de madeira corroiacuteda pelo tempo ao fundo a cancha de laccedilo
do Piquete de Laccediladores Velho do Juaacute entidade tradicionalista que se manteacutem ativa
desde o iniacutecio da deacutecada de 1960 ao redor haacute casas de moradias que formam ao
centro uma grande praccedila sem nenhuma infraestrutura em frente a esta praccedila
66 SANTOS Deotildes Palhano dos Entrevista concedida agrave autora no dia 12 de maio de 2018 67 REIS Orides SANTOS Deotildes Palhano Entrevistas concedida agrave autora no dia 12 de maio de
2018 68 REIS Orides Entrevista concedida agrave autora no dia 12 de maio de 2018 69 REIS Orides Entrevista concedida agrave autora no dia 12 de maio de 2018
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perpassa uma rua de chatildeo batido sendo que a escola da comunidade fica do outro
lado a escola eacute municipal se chama Bento Eziacutedio Rodrigues atende
aproximadamente vinte alunos que estatildeo matriculados nas seacuteries iniciais do ensino
fundamental tendo duas professoras e um funcionaacuterio para fazer merenda e limpar
o paacutetio como se pode observar na Figura 19
Figura 19 ndash Praccedila Vila do Distrito Juaacute ao fundo cancha de laccedilo
Fonte acervo pessoal da autora (2018)
Ambos os entrevistados70 explicam que o Juaacute atualmente eacute um lugar de
idosos aposentados que outrora as pessoas viviam das roccedilas e da pecuaacuteria
extensiva na deacutecada de 1980 com o advento da induacutestria em Caxias do Sul os
jovens abandonaram seu modo de vida e foram buscar novas oportunidades poreacutem
estes jovens que foram embora retornam com frequecircncia natildeo perdendo a sua
essecircncia Relataram que a uacutenica fonte de trabalho eacute ser peatildeo de fazenda fazendas
estas que produzem o queijo serrano ou vendem leite para a Piaacute71 sendo que a
lavoura eacute para subsistecircncia Outra fonte de renda eacute ser funcionaacuterio da serraria cujo
proprietaacuterio e Joatildeo Egiacutedio que funciona proacuteximo da vila Outro fator importante eacute a
venda de pequenas chaacutecaras para moradores de Caxias do Sul que vem aos finais
70 REIS Orides SANTOS Deotildes Palhano Entrevistas concedidas agrave autora no dia 12 de maio de
2018 71 Piaacute Cooperativa Agropecuaacuteria Petroacutepolis Ltda Empresa que faz a coleta do leite nas fazendas da
regiatildeo
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de semana descansar na localidade poreacutem se percebe que estes novos moradores
muitas vezes natildeo interagem com os moradores locais
Segundo o morador Reis72 ldquoapesar da vinda de pessoas de outros lugares o
Juaacute natildeo perdeu sua identidade fala em Juaacute lembra pinhatildeo colheita do pinhatildeo ateacute
haacute uma criacutetica que diz na eacutepoca do pinhatildeo o juazeiro fala grossordquo Ditado que o
entrevistado73 reafirma sorrindo ldquona eacutepoca do pinhatildeo o juazeiro fala grosso claro
que eacute apenas um dito popular uma maneira de se referir mas sempre eacute dito haacute
aqueles que natildeo gostamrdquo
Nota-se que a vida na comunidade do Juaacute se passa de forma tranquila com
poucos moradores que sua identidade estaacute relacionada agrave pecuaacuteria extensiva com
as lides com o gado bem como ao pinhatildeo uma fruta tiacutepica que se desenvolve na
Araucaacuteria ou pinheiro nativo como eacute conhecido na regiatildeo O pinhatildeo seja ele
assado cozido ou paccediloca74 eacute muito consumido pelos moradores do interior de Satildeo
Francisco de Paula durante o inverno inclusive como mistura do cafeacute da manhatilde
46 DISTRITO DO RINCAtildeO DOS KROEFF
O distrito de Rincatildeo dos Kroeff foi criado em 10 de maio de 1950 Fica a 35
quilocircmetros distante da Sede poreacutem muito antes de se institucionalizar oficialmente
este espaccedilo moradores locais contam como tudo se iniciou
Meu avocirc foi um dos primeiros a vim para caacute ele se chamava Guilherme Faciole ele nasceu no navio vindo da Itaacutelia Ele contava que teve uma desavenccedila em Caxias e fincou o peacute pra caacute pra natildeo acharem ele que aqui era soacute mato e na revoluccedilatildeo de 35 ele fugia de casa para natildeo ser levado pelas tropas os piquetes levavam para combater entatildeo ele sempre dizia que pousou vaacuterias noites embaixo dos peraus da serra do Umbu para natildeo ser levado O falecido vovocirc vivia da caccedila do porco do mato tateti ele fazia charque de porco para ter a carne ele viveu 106 anos e dizia se natildeo tivesse fumado viveria mais uns dez isso faz parte da histoacuteria do Rincatildeo dos Kroeff Junto teve o falecido Acircngelo Menegaacutes que entro aqui na mesma eacutepoca Eles satildeo os fundadores do distrito75
O acesso ao distrito Rincatildeo dos Kroeff permanece totalmente pela estrada de
chatildeo batido sendo possiacutevel ir ao municiacutepio de Maquineacute descendo pela serra do
Umbu Poreacutem muito antes da estrada a busca de mantimentos e o escoamento da
72 REIS Orides Entrevista concedida agrave autora no dia 12 de maio de 2018 73 REIS Orides Entrevista concedida agrave autora no dia 12 de maio de 2018 74 Paccediloca carne de porco moiacuteda e frita no azeite ou banha a qual se acrescenta o pinhatildeo jaacute cozido
e moiacutedo 75 FACIOLE Reinaldo Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de marccedilo de 2018
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produccedilatildeo se dava pelos carreiros visto que natildeo havia abertura de estrada e nem
viatura76 como os moradores relatam
Tudo era na tropeada as tropas que ia para Rolante Na tropeada saia um tropeiro na frente e um recircs com um cincerro que era a madrinheira da tropa saia laacute pelo Chuvisqueiro e saia laacute em Rolante perdia boi na estrada ficava semanas boi perdido agraves vezes nem se achava mais tambeacutem tinha tropa de porco e tinha as tropeadas de mula puxando milho feijatildeo trigo tudo produzido aqui e levado de cargueiro carreta era muito pouco porque natildeo tinha estrada para anda era soacute os trilhos pelo meio dos matos e campos e se produzia milho era o inverno inteiro saia tropas e mais tropas com trinta quarenta mulas burros transportando mantimentos da produccedilatildeo do gratildeo haacute tambeacutem tinha a flor de Pireto que era lucro ningueacutem conhece isso aiacute hoje essa flor era levada para Taquara e fazia veneno para formiga tudo que era tipo de veneno era uma flor muito toacutexica Acredita tropear galinha pois eacute a gente criava bastante saia com os cargueiros como era a vida eles faziam um girau no cesto naqueles balaios para fazer duas camas uma mais em cima e outra em baixo daiacute quando era veratildeo era muito quente tinha que no meio da viagem tirar de dentro do cesto botar na aacutegua na sanga para natildeo morrer ateacute chegar no mercado dali para praia a eacutepoca que mais vendia era novembro e dezembro daiacute tinha preccedilo bom tudo criada solta aviaacuterio nem se falava77
Ao ouvir os moradores se percebe que a construccedilatildeo do distrito aconteceu
devido ao esforccedilo e trabalho de muitas pessoas visto que o local era de mata nativa
densa e precisou ser desmatado para ser ocupado pelas pessoas Explica o
entrevistado Faciole78 ldquopara fazer uma lavoura tambeacutem precisava derrubar o
pinheiro seu Onorino Buffon me contou que faziam fogo ao redor do pinheiro eles
eram muito grosso para derrubar a machado entatildeo faziam fogo secavam para
depois fazer a roccedilardquo E a moradora79 local acrescenta ldquoaqui tambeacutem tinha os
barbacuazeiros produziam erva mais aqui eles soacute tiravam a erva e sapecavam e
depois ia para outro lugar industrializa tudo era diferenterdquo
Poreacutem segundo os moradores este modelo de vida rudimentar se modifica
com a chegada das serrarias sendo que a dos Kroeff foi a primeira juntamente com
a serraria se viu a necessidade da construccedilatildeo de novas casas para os
trabalhadores surgindo ali a vila do distrito Rincatildeo dos Kroeff no iniacutecio a serraria era
tudo manual relata Faciole80 ldquoa uacutenica forma de tira a madeira era com um enfieira
76 Viatura se refere a carro de passeio caminhotildees 77 FACIOLE Reinaldo FACIOLE Maria Madalena Scalco Entrevistas concedidas agrave autora no dia 18
de marccedilo de 2018 78 FACIOLE Reinaldo Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de marccedilo de 2018 79 FACIOLE Maria Madalena Scalco Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de marccedilo de 2018 80 FACIOLE Reinaldo Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de marccedilo de 2018
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de boi eu cheguei a ver cinco ternos de boi carreiro81 emendado puxando um
pinheiro eacute uma bicheira de boi natildeo tinha outra formardquo
Rincatildeo dos Kroeff eacute o menor distrito de Satildeo Francisco de Paula poreacutem em
suas terras se desenvolveu a cultura dos hortifrutigranjeiros desde muito cedo jaacute
que sua colonizaccedilatildeo eacute basicamente italiana e alematilde e os italianos tecircm a cultura do
plantio visando lucro A moradora Faciole82 afirma ldquotudo comeccedilou por aqui depois
se expandiu para o municiacutepio comeccedilamos com moranga branca depois repolho
couve broacutecolis alface e daiacute veio beterraba e tudo o restordquo Acrescenta ainda83 que
ldquodaqui saiacuteram os primeiros caminhotildees de hortifruacuteti do municiacutepio para a Ceasa teve
eacutepoca de sair quarenta caminhotildees por dia do Rincatildeo hoje natildeo sai mais porque
muitos foram buscar novos lugares para plantarrdquo E juntamente com a mudanccedila dos
proprietaacuterios em busca de novas terras muitos de seus funcionaacuterios foram embora
junto afirma em entrevista o morador local84 ldquomuita gente do Rincatildeo foi embora
muitas gurias foram embora para estudar para achar emprego e natildeo voltaram maisrdquo
Atraveacutes da fala da moradora pode-se observar que apesar do distrito ser
produtivo enfrenta algumas dificuldades com relaccedilatildeo ao estudo de seus moradores
que para continuarem seus estudos se assim o desejarem necessitam abandonar
seus pais e ir em busca na Sede ou arredores visto que no distrito existe uma uacutenica
escola Gastatilde Henth Esta eacute municipal e atende dos quatro anos ao nono ano do
ensino fundamental A moradora Faciole explica
O coleacutegio hoje tem 99 alunos ao total quando eles terminam o nono ano alguns vatildeo estudar mas satildeo pouquiacutessimos os outros ficam por aiacute mesmo natildeo tem um transporte que leve eles para fazer o ensino meacutedio na Sede que seria a escola de ensino meacutedio mais proacuteximo se quiser estudar vai ter que ir embora reforccedila quem e trabalhador fica trabalhando com os pais quem natildeo eacute [] As pessoas na sua grande maioria soacute tem o ensino fundamental aqui85
Este eacute um dos grandes problemas enfrentados pelos moradores do Rincatildeo
dos Kroeff a possibilidade de continuar estudando A escola que laacute existe os
moradores locais natildeo sabem precisar a data mas sabem que foi durante o mandato
81 Ternos de boi carreiro significam vaacuterias duplas de bois cangados e ligados por um pedaccedilo de
madeira que vatildeo na canga entre a dupla de bois Esse pau roliccedilo na regiatildeo se chama de cambatildeo 82 FACIOLE Maria Madalena Scalco Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de marccedilo de 2018 83 FACIOLE Maria Madalena Scalco Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de marccedilo de 2018 84 FACIOLE Reinaldo Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de marccedilo de 2018 85 FACIOLE Maria Madalena Scalco Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de maio de 2018
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do prefeito Escobar (1977-1982) que ela foi construiacuteda Neste contexto aparece
tambeacutem a dificuldade de se locomover fazendo uso do transporte puacuteblico
Haacute sete anos atraacutes o Rincatildeo estava bom mesmo tinha ocircnibus da praia agraves vezes passava quatro a cinco ocircnibus da praia tudo pela serra do Umbu Agora soacute tem um trecircs dias por semana As empresas deixaram de trafegar por aqui elas natildeo vatildeo descer numa serra de chatildeo batido sendo que tem a outra86 com asfalto87
Os moradores se orgulham da festa religiosa que acontece todos os anos em
agosto sendo que o santo padroeiro eacute Satildeo Roque A festa da comunidade
apresenta uma tradiccedilatildeo local muito interessante na segunda-feira apoacutes a festa ela
continua para os moradores locais que vatildeo ao salatildeo paroquial para se divertir entre
si e esta eacute uma tradiccedilatildeo que eacute comentada em todo o municiacutepio Faciole88 saudoso
afirma ldquopara ti ter uma ideia nessa festa chegava dar vinte poucos ocircnibus lotado que
vinham de outros municiacutepios como Igrejinha Taquara Porto Alegre Novo
Hamburgo o espaccedilo ficava pequenordquo Acrescenta89 ainda ldquoaqui noacutes tinha o Clube
Serrano que dava baile janta italiana dava um movimento louco mas terminou ateacute
o baile das rainhas cada ano era uma era tatildeo lindo mas tudo se acabourdquo
Figura 20 ndash Imagem da Igreja Satildeo Roque em dia de festa no Rincatildeo dos Kroeff
Fonte acervo pessoal da autora (2018)
86 A outra se refere a rodovia RS-453 conhecida como Rota do Sol 87 FACIOLE Reinaldo Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de marccedilo de 2018 88 FACIOLE Reinaldo Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de marccedilo de 2018 89 FACIOLE Reinaldo Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de marccedilo de 2018
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Percebe-se que o distrito Rincatildeo dos Kroeff eacute o uacutenico que obteve em seu
iniacutecio uma colonizaccedilatildeo por descentes de italianos dentro do municiacutepio de Satildeo
Francisco de Paula o que demonstra o quatildeo forte se daacute a tradiccedilatildeo ldquoitalianardquo neste
local permanecendo intriacutenseca na vida cotidiana de seu povo com a cultura do
plantio de hortifrutigranjeiros que permanece apesar do tempo como sendo a sua
maior identidade local
47 DISTRITO DE LAJEADO GRANDE
Lajeado Grande em tempos idos pertenceu ao distrito de Cazuza Ferreira e
somente em 12 de dezembro de 1968 se tornou um distrito independente segundo
a Lei nordm 655 encontrada nos autos da Prefeitura Municipal de Satildeo Francisco de
Paula A vila do distrito Lajeado Grande fica distante 63 quilocircmetros da Sede e se
situa na confluecircncia do Arroio Porco Morto e o Rio Bururi Seu surgimento acontece
segundo o morador Fogaccedila90 ldquopor volta de 1940 com a abertura da estrada Canela
ndash Bom Jesus a atual RS-476 que corta a vila do Distritordquo Essa estrada segundo o
morador facilitou a locomoccedilatildeo que anteriormente era feita totalmente pelas trilhas e
picadas por onde somente se passava a cavalo ou de carreta E o entrevistado
explica como acontece o desenvolvimento inicial da vila
Tu sabe aqui tem o nome de Lajeado Grande por causa do rio que eacute cheio de lajes grandes o que facilitava a travessia e as terras aqui por roda era tudo do falecido Pequeno Cardoso ele doou parte para a construccedilatildeo da vila onde o falecido Leopoldino Cardoso irmatildeo do Pequeno tinha uma lsquobudega velharsquo91 por aqui sendo o primeiro comeacutercio da vila92
A abertura da estrada possibilitou o desenvolvimento da vila juntamente com
o Casaratildeo um hotel pensatildeo que foi construiacutedo as margens do Arroio Porco Morto
este Casaratildeo passou por diversos proprietaacuterios
Leopoldino Cardoso foi o idealizador do Casaratildeo juntamente com os seus soacutecios Heraacuteclito Andrade de Cardoso lsquoJoanitorsquo Joseacute Osoacuterio de Lima lsquoZecarsquo e Pequeno Cardoso sendo que o Casaratildeo era uma casa de negoacutecio compravam queijo couro era um comeacutercio forte vendia secos e molhados inclusive a primeira rodoviaacuteria foi instalada neste espaccedilo poreacutem em 1948 Joatildeo Pacheco Cardoso assume e amplia o estabelecimento construindo o segundo piso da casa de madeira e alugando para outros dois moradores
90 FOGACcedilA Blair dos Santos Entrevista concedida agrave autora no dia 06 de abril de 2018 91 Budega velha referindo-se a uma antiga casa de comeacutercio de secos e molhados localizada onde
hoje se encontra o armazeacutem Celeiro 92 FOGACcedilA Blair dos Santos Entrevista concedida agrave autora no dia 06 de abril de 2018
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Eremi Terres e Claunir Lucena Com a reforma o Casaratildeo passa a ter treze quartos para aluguel uma loja onde encontrava-se tudo o que se necessitava de alfinete tecido alimentos e raccedilotildees aleacutem da ala que servia de moradia para os proprietaacuterios Em 1962 o estabelecimento eacute alugado para Eraldo Bento de Oliveira que aleacutem de gerenciar o estabelecimento colocou junto um bar local de encontro dos homens da redondeza para tomar um lsquotragorsquo93 (CERUTTI SILVA CARDOSO 2002 p 19)
Figura 21 ndash Imagem do Casaratildeo pouco antes de ser desmanchado
Fonte acervo pessoal de Fernando Oliveira (conhecido como Guego) (2018)
O Casaratildeo foi desmanchado na deacutecada de 1980 pelo entatildeo proprietaacuterio Reno
Pacheco Poreacutem percebe-se na vila que seus antigos moradores falam com certo
saudosismo deste estabelecimento que fez parte de suas vidas e chegam a
lamentar o seu fim morador Fogaccedila94 afirma ldquoali se fez o pastel mais famoso do
Lajeado Grande o pastel da Odila mas tudo se acabou quando eles entregaram e
construiacuteram laacute na esquinardquo95
Poreacutem a vila Lajeado Grande foi lentamente se desenvolvendo Devido agrave
necessidade da conservaccedilatildeo da nova estrada foi construiacuteda agraves margens do Rio
Bururi uma capatazia do DAER Segundo Cerutti Silva e Cardoso (2002 p 18) ldquoo
primeiro capataz foi Capitulino Prudecircncio de Oliveira vindo de Santa Catarina sua
funccedilatildeo era manter as estradas e chegou a ter vinte funcionaacuteriosrdquo Percebe-se que a
93 Trago expressatildeo local que significa beber uma cachaccedila 94 FOGACcedilA Blair dos Santos Entrevista concedida agrave autora no dia 06 de abril de 2018 95 Esquina eacute o nome dado a parte da vila do Lajeado Grande onde se daacute o entroncamento das
rodovias RS-453 e ERS-476
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partir deste momento se inserem neste distrito pessoas advindas de outros estados
e locais visto que ateacute o presente momento o distrito era habitado por fazendeiros
naturais do proacuteprio municiacutepio e que tinham suas vidas ligadas diretamente agrave
pecuaacuteria extensiva e agrave produccedilatildeo do queijo serrano Importante destacar que a
esposa de Capitulino segundo Cerutti Silva e Cardoso (2002 p 18) ldquoa Celicina
Guilherme da Silva se torna uma figura conhecida por realizar partos sendo
chamada como parteira de campanhardquo Na atualidade filhos netos e bisnetos do
casal ainda residem na vila
A vila do Lajeado Grande tambeacutem recebe novos moradores com a praacutetica do
corte do pinheiro nativo sendo que na deacutecada de 1950 havia uma faacutebrica de
beneficiamento de madeira ateacute se transformar em pasta este material era levado
para Esteio onde funcionava agrave matriz A partir dos anos 1950 ocorre a instalaccedilatildeo de
serrarias sendo que a Madeireira Albeflor de propriedade de Valter Sguaizer se
instala em 1964 Novamente busca-se matildeo de obra em localidades proacuteximas como
Lagoa Vermelha Vacaria e Bom Jesus poreacutem com a proibiccedilatildeo da extraccedilatildeo de
madeira de lei a serraria deixou de funcionar
Percebe-se que no distrito natildeo houve uma homogeneizaccedilatildeo identitaacuteria visto a
influecircncia advinda de muitas culturas no passado atraveacutes da extraccedilatildeo de madeira
e na atualidade com o advento das lavouras de hortifrutigranjeiros e pomares
frutiacuteferos que ocupam boa parte do distrito substituindo a pecuaacuteria extensiva que jaacute
natildeo proporciona um lucro efetivo Entatildeo os proprietaacuterios na sua grande maioria
venderam ou arrendaram suas terras para novas culturas o que modifica o modo de
vida local pois grande parte dos trabalhadores adveacutem de outros estados como o
Paranaacute e tambeacutem se observa o uso da matildeo de obra indiacutegena
Essa miscigenaccedilatildeo se observa nas escolas locais visto que na vila funciona a
Escola Municipal D Pedro I que segundo Cerutti Silva e Cardoso (2002 p 35)
ldquoinicia em 1965 poreacutem a professora e o preacutedio eram mantidos pela Serraria mas na
deacutecada de 70 a prefeitura assumiu a escola sendo que Eloci Martim foi a primeira
professora da Serrariardquo Escola da Serraria como ainda eacute conhecida por boa parte
dos moradores locais apesar de a escola natildeo se encontrar mais onde havia a antiga
serraria Atualmente a Escola Dom Pedro I funciona em um preacutedio obtido atraveacutes da
Associaccedilatildeo de Moradores atendendo alunos da preacute-escola ateacute o sexto ano das
seacuteries finais tendo em seu quadro seis professores e duas funcionaacuterias Sendo que
73
a obra para um novo preacutedio teve iniacutecio neste ano mas percebe-se que a obra parou
por volta do mecircs de maio Poreacutem na vila tambeacutem se encontra uma escola estadual
A documentaccedilatildeo necessaacuteria para a criaccedilatildeo de uma nova escola na localidade foi elaborada por Manoel Cardoso de Andrade juntamente com a professora Odazilda Cardoso Demori e encaminhada agrave Secretaria da Educaccedilatildeo sendo que em 11 de fevereiro de 1953 foi criada a Escola Isolada de Lajeado Grande sendo os professores estaduais mas o preacutedio sob responsabilidade comunitaacuteria iniciou o seu funcionamento nas dependecircncias do DAER e somente em 1957 foi construiacutedo um preacutedio de madeira em terras doadas por Pequeno Cardoso local onde hoje ainda se encontra a escola poreacutem passou por muitas reformas sendo que em 2000 recebeu um novo preacutedio de alvenaria o que possibilitou a realizaccedilatildeo de um grande sonho dos professores e comunidade a implantaccedilatildeo do Ensino Meacutedio que concretizou-se em 200296
Atualmente a escola atende em torno de trezentos alunos da Educaccedilatildeo
Baacutesica poreacutem percebe-se que devido agraves safras de hortifrutigranjeiros o nuacutemero de
alunos se alterna durante o ano O que tambeacutem se percebe eacute o comportamento dos
alunos com relaccedilatildeo agrave diversidade cultural por exemplo usam bombacha laccedilam boi
de pau no recreio e escutam funk uma cultura totalmente diferente da tradicionalista
gauacutecha o que compreende-se como algo advindo da globalizaccedilatildeo cultural que
vivemos no mundo atual reforccedilando novamente o natildeo reconhecimento de uma
identidade forte na localidade
Poreacutem as famiacutelias tradicionais do local manteacutem fortemente arraigada a
cultura tradicionalista que adveacutem do homem do campo tendo no distrito festas
campeiras torneios de laccedilo e a festa religiosa uma vez por ano em homenagem ao
Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus padroeiro da vila
Na atualidade natildeo se percebe uma identidade forte e marcada no distrito e
sim uma miscigenaccedilatildeo de diferentes culturas e etnias que convivem e se integram
harmonicamente
96 CARDOSO Amaacutelia Celuderes Entrevista concedida agrave autora no dia 08 de marccedilo de 2018
74
5 DESCRICcedilAtildeO DO PRODUTO
O produto consiste em um livro paradidaacutetico sobre a histoacuteria de Satildeo Francisco
de Paula Apresenta de maneira didaacutetica a histoacuteria de Satildeo Francisco de Paula bem
como balotildees explicativos imagens sugestotildees de atividades e leituras
complementares Poderaacute servir de apoio pedagoacutegico a professores e alunos do
municiacutepio visto que existe pouco material sobre a histoacuteria deste municiacutepio e se faz
importante trabalhar a histoacuteria local percepccedilatildeo que a autora obteve ao longo da sua
caminhada como professora de histoacuteria que atua nas seacuteries finais do ensino
fundamental e meacutedio haacute dezessete anos na rede estadual do municiacutepio
Partir do local natildeo eacute abandonar o conhecimento histoacuterico eacute dar outro valor
sentido para este conhecimento Segundo Caimi
Levar em conta o universo da crianccedila ou do adolescente natildeo eacute pois abdicar do rigor intelectual [] mas garantir que a apropriaccedilatildeo deste conhecimento ocorra permeada de sentido e significado resultando em soacutelidas aprendizagens (CAIMI 2006 p 24)
Seguindo esta perspectiva a implantaccedilatildeo do Referencial Curricular Gauacutecho
embasado na Base Nacional Comum Curricular reforccedila a ideia jaacute discutida nos
paraacutegrafos anteriores
No que se refere especificamente ao componente Histoacuteria a base rompe tanto com a cronologia quanto agrave visatildeo eurocecircntrica da histoacuteria tradicional Entram em cena novos atores novas sociedades novos caminhos que sempre tiveram na histoacuteria mas nem sempre receberam a devida importacircncia Acompanhando a Base Nacional Comum Curricular o Referencial Curricular Gauacutecho no que se refere especificamente agrave disciplina de Histoacuteria manteacutem seu foco na aprendizagem dos alunos nos diferentes espaccedilos e tempos tendo a preocupaccedilatildeo de integrar o curriacuteculo com a diversidade regional de nosso Estado Tambeacutem eacute importante contemplar os temas integradores como eacutetica cidadania cultura e valorizaccedilatildeo das diversidades assegurando a multiplicidade de olhares sobre o mundo (RIO GRANDE DO SUL 2018 p 118)
Portanto o paradidaacutetico seraacute mais um material disponiacutevel aos professores e
estudantes da educaccedilatildeo baacutesica de Satildeo Francisco de Paula na construccedilatildeo do
conhecimento da histoacuteria do municiacutepio bem como o reconhecimento de sua
identidade neste material visto que se almeja que os estudantes percebam
vestiacutegios de sua identidade e se percebam como parte deste municiacutepio atraveacutes do
conhecimento de sua histoacuteria
75
O paradidaacutetico vem com o tiacutetulo rdquoTropeando histoacuterias em Satildeo Francisco de
Paulardquo sendo que a capa traz a foto do Monumento aos Carreteiros monumento
que se encontra na Avenida Juacutelio de Castilhos em frente ao preacutedio da Prefeitura
Municipal
Figura 22 ndash Capa do livro
Fonte Livro Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula
Na sequecircncia se apresenta o iacutendice que possibilita ao leitor localizar os
diversos temas abordados visto que existem nove capiacutetulos
76
Figura 23 ndash Iacutendice do livro
Fonte Livro Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula
77
O capiacutetulo um apresenta a localizaccedilatildeo de Satildeo Francisco de Paula com uma
seacuterie de mapas que facilitam a compreensatildeo espacial dos alunos assim como um
mapa da subdivisatildeo do municiacutepio em distrito Ao final satildeo sugeridas duas atividades
que podem ser desenvolvidas de maneira interdisciplinar com o apoio da professora
de arte geografia e portuguecircs
Figura 24 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 1)
Fonte Livro Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula
78
Figura 25 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 1)
Fonte Livro Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula
O capiacutetulo dois aborda a existecircncia indiacutegena em Satildeo Francisco de Paula
antes da chegada dos desbravadores vindos de Satildeo Paulo Como sugestatildeo de
atividades apresenta-se uma pesquisa sobre as diferentes tribos indiacutegenas que
habitavam a Proviacutencia de Satildeo Pedro aleacutem da criaccedilatildeo de um painel infograacutefico
79
Figura 26 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 2)
Fonte Livro Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula
No capiacutetulo trecircs se apresentam os primeiros donataacuterios colonizadores de Satildeo
Francisco de Paula com trecho de um testamento deixado por Pedro da Silva
Chaves o fundador de Satildeo Francisco de Paula bem como o mapa que localiza as
primeiras sesmarias que corresponde ao territoacuterio onde hoje eacute a Sede do municiacutepio
80
Figura 27 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 3)
Fonte Livro Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula
Nos capiacutetulos quatro e cinco eacute apresentado o desenvolvimento de Satildeo
Francisco de Paula ainda no seacuteculo XIX quando pertencia ao municiacutepio de Santo
Antocircnio da Patrulha e no final do seacuteculo XIX quando passa a pertencer ao entatildeo
81
municiacutepio de Taquara do Mundo Novo Existe tambeacutem um mapa que demonstra a
extensatildeo territorial de Santo Antocircnio da Patrulha e quais satildeo os municiacutepios hoje que
pertenceram a este bem como a importacircncia da abertura da estrada que liga Satildeo
Francisco de Paula a Taquara
Figura 28 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 4)
Fonte Livro Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula
82
Os capiacutetulos seis e sete apontam a construccedilatildeo do Municiacutepio a partir de sua
emancipaccedilatildeo em 1903 sua extensatildeo territorial e a diminuiccedilatildeo do seu territoacuterio ao
longo do tempo e a histoacuteria da Igreja Matriz Como sugestatildeo de atividade pesquisar
a diversidade religiosa existente na comunidade escolar e criar graacuteficos com essas
informaccedilotildees podendo a partir de entatildeo trabalhar com as questotildees religiosas ontem
e hoje no mundo
Figura 29 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 6)
Fonte Livro Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula
83
No capiacutetulo oito se apresenta o que difere os sete distritos de Satildeo Francisco
de Paula Este capiacutetulo se apresenta subdividido em sete subtiacutetulos onde cada um
corresponde a um distrito do municiacutepio Tendo como fonte principal as entrevistas
realizadas com moradores locais mesclado com fontes documentais e bibliograacuteficas
que corroboram para se perceber que haacute alguns distritos que manteacutem suas tradiccedilotildees
ao longo do tempo e eacute possiacutevel perceber que existe uma identidade que aproxima
aquela populaccedilatildeo
Figura 30 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 8)
Fonte Livro Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula
84
No uacuteltimo capiacutetulo o nove se exibe uma lista de sugestotildees de leituras
complementares a fim de se aprofundarem sobre determinados temas E por fim
as referecircncias utilizadas para a construccedilatildeo do paradidaacutetico Tropeando Histoacuterias em
Satildeo Francisco de Paula
Figura 31 ndash Atividade do livro (Sugestatildeo de Leituras Complementares)
Fonte Livro Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula
85
O produto foi testado em duas turmas da Educaccedilatildeo Baacutesica na Escola
Estadual de Ensino Meacutedio Lajeado Grande com o propoacutesito de avaliar qual seria a
reaccedilatildeo dos estudantes diante do material e por ele ter sido produzido por algueacutem
que convive com eles semanalmente A receptividade foi bastante gratificante como
se pode observar na Figura 32
Figura 32 ndash Alunos do Ensino Meacutedio
Fonte acervo pessoal da autora (2019)
A receptividade foi muito interessante visto que os estudantes
acompanharam a trajetoacuteria para chegar ao produto final algo que os deixava
ansiosos para manusear pois muitas vezes foram parceiros A autora foi
compartilhando com os estudantes as informaccedilotildees obtidas durante a pesquisa e as
descobertas encontradas usando em suas aulas a histoacuteria local para abordar os
diferentes temas e conceitos histoacutericos
Quando a autora apresenta o produto os estudantes do ensino meacutedio estes
formam grupos por distritos e buscam logo reconhecer no material sua identidade
apoacutes comentam sobre as peculiaridades de cada distrito Poreacutem os alunos do
ensino fundamental manuseiam o produto mas natildeo se deteacutem ao distrito em que
pertence e sim as imagens e as explicaccedilotildees apresentadas no vocecirc sabia
O que enriquece o trabalho realizado foi o envolvimento dos estudantes com
o produto solicitando quando poderatildeo ler calmamente todo o trabalho
86
6 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
A partir de experiecircncias pessoais em sala de aula se percebeu que o ensino
de Histoacuteria quando se partia da histoacuteria local havia maior interesse dos estudantes
da educaccedilatildeo baacutesica motivo pelo qual se deu a questatildeo-problema desta dissertaccedilatildeo
que estaacute relacionada diretamente com o natildeo uso desta histoacuteria pelos professores da
educaccedilatildeo baacutesica
Em conversas informais com professores da educaccedilatildeo baacutesica que atuam no
municiacutepio de Satildeo Francisco de Paula em sua grande maioria alegam que o grande
empecilho para se trabalhar a histoacuteria local eacute o pouco material disponiacutevel sobre a
histoacuteria de Satildeo Francisco de Paula aleacutem do rigor dos curriacuteculos que impotildeem o
ensino de Histoacuteria de maneira linear sem contextualizaccedilatildeo com a realidade vivida
pelos estudantes pois desta forma natildeo estatildeo preparando os estudantes para as
avaliaccedilotildees do Ministeacuterio da Educaccedilatildeo bem como para o vestibular Poreacutem natildeo se
estaacute afirmando que deveraacute estudar somente a histoacuteria local e sim partir dela como
incentivo para estudos dos conceitos e temaacuteticas da histoacuteria por muitas vezes
totalmente abstrato e de difiacutecil compreensatildeo pela grande maioria dos estudantes
A partir de entatildeo se realizaram inuacutemeros questionamentos como qual a
necessidade de se ensinar Histoacuteria de forma abstrata sem nenhuma relaccedilatildeo com
as vivecircncias dos estudantes Por que natildeo usar a fonte oral como metodologia de
pesquisa no ensino de Histoacuteria em Satildeo Francisco de Paula jaacute que natildeo existem
muitos materiais escritos a respeito desta histoacuteria principalmente no que tange os
distritos do interior Poreacutem estes questionamentos natildeo foram aprofundados na
dissertaccedilatildeo por natildeo ser o objetivo direto da pesquisa mas posteriormente poderaacute
se tornar um novo projeto de pesquisa
Nesta incessante busca por resposta se constroacutei todo o estudo desta
dissertaccedilatildeo que em um primeiro momento busca embasamento em diferentes
autores que comprovam que o ensino de Histoacuteria voltado para o local faz maior
sentido para os estudantes da educaccedilatildeo baacutesica e que isto natildeo significa abandonar
os conceitos histoacutericos e sim questionar analisar a trajetoacuteria humana no tempo e
no espaccedilo sob uma nova metodologia Apenas se sugere uma nova abordagem
que torne o ensino de Histoacuteria menos abstrato algo mais presente na vida do
estudante e que possibilite a ele a habilidade de perceber que o mundo estaacute em
constante mudanccedila poreacutem os fatos natildeo ocorrem de forma isolada no espaccedilo Algo
87
que foi reforccedilado apoacutes a construccedilatildeo da Base Nacional Curricular e o Referencial
Curricular Gauacutecho que vem de encontro com esta proposta de se estudar a histoacuteria
sobre novos olhares natildeo esquecendo das especificidades regionais do estado do
Rio Grande do Sul para o reconhecimento da identidade local e regional
A identidade local nesta pesquisa se buscou atraveacutes de relatos de
moradores locais que gentilmente colaboraram para o sucesso deste trabalho pois
a memoacuteria se tornou a fonte primordial para se escrever o que identifica os sete
distritos que constituem Satildeo Francisco de Paula Certamente a temaacutetica natildeo se
esgotou ainda haacute muito que se pesquisar e escrever sobre a histoacuteria de Satildeo
Francisco de Paula possibilitando a criaccedilatildeo de novos materiais que possam ser
usados em sala de aula pelos professores e alunos deste municiacutepio
Mas ao mesmo tempo haacute uma preocupaccedilatildeo por parte da autora nada
adianta criar produtos sinalizar novos meacutetodos ao ensino de Histoacuteria se o
profissional professor natildeo estiver preparado para trabalhar com novas fontes
histoacutericas novas metodologias de ensino proporcionando aos estudantes a
oportunidade de construir seu proacuteprio conhecimento histoacuterico embasado em sua
realidade e suas vivecircncias
Vivecircncias que se tornaram aliadas na pesquisa pois a autora nasceu e
sempre viveu no municiacutepio de Satildeo Francisco de Paula poreacutem a maior dificuldade
encontrada nesta caminhada foi percorrer grandes distacircncias por estradas de
rodagem em peacutessimas condiccedilotildees de trafegabilidade para gravar os relatos que
servem de base para a construccedilatildeo desta pesquisa O municiacutepio de Satildeo Francisco de
Paula eacute territorialmente extenso e essas distacircncias percorridas deram o nome ao
produto Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula como uma homenagem
aos antigos tropeiros deste municiacutepio que passavam boa parte de sua vida ao
lombo de mulas levando e buscando mercadorias pelos campos de cima da serra
Visto que desde o processo seletivo do mestrado em agosto de 2016
quando se apresentou o projeto de pesquisa jaacute se pensava no produto um livro
paradidaacutetico no formato fiacutesico A autora por diversas vezes foi questionada por que
natildeo um blog ou site Porque na forma fiacutesica este material seria de faacutecil manuseio
pelos estudantes e professores pois principalmente no interior uso da internet ainda
eacute um problema visto que em muitos locais natildeo existe sinal de telefonia diraacute
internet
88
O paradidaacutetico foi se moldando ao longo do tempo ateacute se chegar a versatildeo
final com uma ampla gama de informaccedilotildees e curiosidades sobre os sete distritos de
Satildeo Francisco de Paula onde se pretende que os alunos e professores possam
fazer uso deste material em sala de aula para tanto a autora pretende
posteriormente lanccedilar o produto para que possa ser lido e manuseado por todos
inclusive por aqueles que gostam de histoacuteria e sentem curiosidade sobre a formaccedilatildeo
do seu distrito e por conseguinte do municiacutepio de Satildeo Francisco de Paula
O paradidaacutetico foi testado em duas turmas da Escola Estadual de Ensino
Meacutedio Lajeado Grande sendo uma de Ensino Meacutedio e a outra das seacuteries finais do
Ensino Fundamental Os alunos jaacute detinham o conhecimento que a autora estava
cursando o Mestrado e que para sua conclusatildeo deveria apresentar um produto Era
de conhecimento de todos os estudantes que a autora estava produzindo um
paradidaacutetico sobre a histoacuteria de Satildeo Francisco de Paula pois a mesma eacute professora
destes estudantes nesta escola
Em um primeiro momento se explica que eacute apenas um protoacutetipo que
somente a capa estaacute colorida e o restante estaacute todo em preto e branco e que a
versatildeo final teraacute as imagens e as curiosidades coloridas o que com certeza
chamaraacute mais atenccedilatildeo Ao entregar o paradidaacutetico Tropeando Histoacuterias em Satildeo
Francisco de Paula para que possam manuseaacute-lo veio a primeira grande surpresa
os estudantes ficaram muito contentes por a turma ter sido escolhida pela autora
escolha essa que se justifica por ter trabalhado todo o ano de 2017 com estes
alunos partindo da histoacuteria local
A turma do oitavo ano do Ensino Fundamental manuseou sendo que os
alunos acharam interessante poreacutem se deteram mais nas imagens e balotildees do
ldquovocecirc sabiardquo Mas de maneira ampla e geral acharam muito interessante a foto de
capa com o Monumento aos Carreteiros situado na Avenida Juacutelio de Castilhos em
frente ao preacutedio da Prefeitura Municipal pois alguns natildeo conhecem a Sede do
municiacutepio
Os alunos do segundo ano do Ensino Meacutedio se surpreenderam e foram direto
ler sobre o distrito no qual residem Interessados questionaram sobre curiosidades
de como o material foi construiacutedo quais as maiores dificuldades encontradas
elogiaram o leiaute as imagens de fundo ao lado de cada curiosidade relatando que
chama a atenccedilatildeo aleacutem de considerarem relevantes as sugestotildees de atividades e
ao final solicitaram quando o material estaraacute disponiacutevel para que possam ler
89
integralmente visto que um periacuteodo de cinquenta minutos natildeo foi suficiente para que
todos manuseassem se fazendo necessaacuterio levar novamente na proacutexima aula
A autora se sentiu motivada pela recepccedilatildeo do produto por seus alunos o que
a incentiva continuar pesquisando sobre outras temaacuteticas a respeito da histoacuteria de
Satildeo Francisco de Paula trazendo para seu fazer pedagoacutegico novas fontes que
proporcionem um estudo da Histoacuteria de maneira ampla e contextualizada com a
realidade local que os cerca
90
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SOUZA Magda Vianna de Reinvenccedilatildeo das tradiccedilotildees e promoccedilatildeo do turismo estrateacutegias diferenciadas de mercantilizaccedilatildeo da identidade cultural os casos de Nova Petroacutepolis e Satildeo Francisco de Paula no Rio Grande do Sul 2005 230f Tese (Doutorado) ndash Instituto de Filosofia e Ciecircncias Humanas Universidade Federal do Rio Grande do Sul Porto Alegre 2005
TEIXEIRA Maria Lucia da Silva Satildeo Francisco de Paula nossa terra nossa gente Porto Alegre Evangraf 2002
94
FONTES CONSULTADAS
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Jornal Folha da Serra n 11 do dia 29 de setembro de 1968
Jornal Folha da Serra n 25 do dia 31 de dezembro de 1968
Jornal Folha da Serra n 89 do dia 07 de setembro de 1969
Jornal Satildeo Chico Tchecirc n 4 do dia 30 de abril de 1986
Jornal Satildeo Chico Tchecirc n 11 do dia 25 de maio de 1986
Jornal Satildeo Chico Tchecirc n 12 do dia 28 de maio de 1986
Jornal Pioneiro versatildeo digital do dia 02 de junho de 2017
Entrevistas
Amaacutelia Celuderes Cardoso residente no distrito de Lajeado Grande Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 08 de marccedilo de 2018
Blair dos Santos Fogaccedila residente no distrito de Lajeado Grande Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 06 de abril de 2018
Ceacutelia Pacheco Terres Basso residente no distrito de Cazuza Ferreira Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 04 de agosto de 2018
Darci da Silva Fagundes residente no distrito de Tainhas Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 24 de fevereiro de 2018
Deotildes Palhano dos Santos residente no distrito do Juaacute Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 12 de maio de 2018
Jaures Feijoacute Gomes residente no distrito de Eletra Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 15 de fevereiro de 2018
Luciana Olga Soares residente no distrito Sede Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 01 de marccedilo de 2018
Maria Madalena Scalco Faciole residente no distrito do Rincatildeo dos Kroeff Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 18 de marccedilo de 2018
Moacir Castello Branco de Albuquerque residente no distrito Sede Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 06 abril de 2018
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Nauro Bossle de Andrade residente no distrito de Cazuza Ferreira Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 04 de marccedilo de 2018
Orides Reis residente no distrito do Juaacute Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 12 de maio de 2018
Reinaldo Faciole residente no distrito do Rincatildeo dos Kroeff Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 18 de marccedilo de 2018
Susana Marques Soares residente no distrito de Eletra Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 15 de fevereiro de 2018
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APEcircNDICES
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APEcircNDICE A ndash ENTREVISTA COM MORADORES LOCAIS DOS DISTRITOS DE
SAtildeO FRANCISCO DE PAULA
UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL
PROGRAMA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO EM HISTOacuteRIA ndash MESTRADO EM HISTOacuteRIA PROFISSIONAL
PESQUISA DE CAMPO ndash TATIANA MEacuteLO CARDOSO
1 Nome completo
2 Idade
3 Quantos anos reside neste distrito
4 Como se formou este distrito
5 Por que ele tem esse nome
6 Quem foram os primeiros moradores
7 Como era a vida aqui haacute tempos atraacutes
8 O que mudou aqui com o passar dos anos
9 O que identifica este lugar
10 As pessoas hoje que moram aqui na grande maioria satildeo naturais daqui ou vieram
de onde
11 A(o) Sra(Sr) acredita que as futuras geraccedilotildees valorizaram eou conheceram a
histoacuteria local ou vai se perder no tempo
12 Como funcionava a questatildeo do ensino em meados do seacuteculo XX havia escola na
localidade
13 Qual a primeira escola deste distrito data de fundaccedilatildeo local de funcionamento e a
primeira professora
14 Achas importante trabalhar nas escolas a histoacuteria do lugar
15 O que eacute tradiccedilatildeo deste distrito
16 Qual eacute a fonte de renda das pessoas no que elas trabalham
17 Qual eacute o lazer das pessoas aqui
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APEcircNDICE B ndash TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Declaro por meio deste termo que concordei em ser entrevistado(a) eou participar na
pesquisa de campo referente ao projetopesquisa Ensino de Histoacuteria Local e o Paradidaacutetico
caso Satildeo Francisco de Paula desenvolvida pela aluna Tatiana Meacutelo Cardoso do Programa de
Poacutes-Graduaccedilatildeo em Histoacuteria ndash Mestrado Profissional da Universidade de Caxias de Sul Fui
informado(a) que poderei consultaacute-la a qualquer momento que julgar necessaacuterio atraveacutes do e-
mail t_ati_mhotmailcom
Afirmo que aceitei participar por minha proacutepria vontade sem receber qualquer
incentivo financeiro ou ter qualquer ocircnus e com a finalidade exclusiva de colaborar para o
sucesso da pesquisa Fui informado(a) dos objetivos estritamente acadecircmicos de estudo
Minha colaboraccedilatildeo natildeo ficaraacute anocircnima e foi realizada por meio de entrevista
semiestruturada A anaacutelise dos dados obtidos seratildeo divulgados natildeo permanecendo restritas
apenas a pesquisadora eou seu(s) orientador(es) coordenador(es)
Fui ainda informado(a) de que posso me retirar desse(a) estudopesquisa programa a
qualquer momento sem prejuiacutezo para meu acompanhamento ou sofrer quaisquer sanccedilotildees ou
constrangimentos Atesto recebimento de uma coacutepia assinada deste Termo de Consentimento
Livre e Esclarecido
Satildeo Francisco de Paula ___ de _____________ de ____
Assinatura do(a) participante
Assinatura do responsaacutevel
11
1 INTRODUCcedilAtildeO
Os meacutetodos de ensino de Histoacuteria no Brasil vem sendo discutidos desde sua
criaccedilatildeo como disciplina Segundo Nadai (1992-1993 p 144) a introduccedilatildeo de
Histoacuteria no curriacuteculo ocorre na terceira metade do seacuteculo XIX no Brasil sendo que
desde entatildeo passa por diversas modificaccedilotildees Segundo Schmidt e Cainelli (2009)
os meacutetodos foram se adequando ao momento histoacuterico brasileiro em um primeiro
momento ensinou-se a histoacuteria da Europa Ocidental como a verdadeira histoacuteria da
civilizaccedilatildeo uma histoacuteria abstrata sem relaccedilatildeo com a vida do aluno Nadai (1992-
1993 p 146) acrescenta que ldquoa histoacuteria da paacutetria surgia como seu apecircndice sem
corpo autocircnomo e ocupando um papel extremamente secundaacuterio consistia num
repositoacuterio de biografias de homens ilustres de datas e batalhasrdquo
Poreacutem a partir de 1860 segundo Schmidt e Cainelli (2009 p 12-13) ldquono
periacuteodo republicano a incorporaccedilatildeo da concepccedilatildeo de que a disciplina Histoacuteria tinha
a responsabilidade de formar cidadatildeos ganha forccedilardquo sendo assim as escolas
primaacuterias e secundaacuterias comeccedilaram incluir em seus programas a histoacuteria nacional
com o intuito da formaccedilatildeo da nacionalidade sendo a paacutetria com seus heroacuteis o
principal foco Desta forma a criaccedilatildeo das diretrizes da Lei de Educaccedilatildeo nordm 569271
reforccedila o modelo jaacute instaurado
Foi oficializado o ensino de Estudos Sociais nas escolas brasileiras ficando os conteuacutedos especiacuteficos da Histoacuteria destinados somente aos alunos do antigo segundo grau A concepccedilatildeo e os conteuacutedos da Histoacuteria continuavam atrelados agraves concepccedilotildees tradicionais (SCHMIDT CAINELLI 2009 p 13)
Com a redemocratizaccedilatildeo na deacutecada de 1980 houve inuacutemeras discussotildees
que elencaram inuacutemeras abordagens e temaacuteticas para o ensino da Histoacuteria na
atualidade as novas tendecircncias se preocupam com a transposiccedilatildeo didaacutetica
valorizando documentos histoacutericos e incorporando novas linguagens e tecnologias
que permitem discussotildees e autonomia de pensamento Neste sentido as novas
concepccedilotildees de ensino de Histoacuteria ao final do seacuteculo XX abrem a possibilidade de
uma nova praacutetica didaacutetica que segundo Azevedo e Stamatto (2010 p 709) ldquobusca
problematizar a relaccedilatildeo passado-presente e em geral tomam a realidade do aluno
como ponto de partidardquo
Por se acreditar em um ensino de Histoacuteria onde a aprendizagem natildeo ocorre
em periacuteodos estanques de forma abstrata e sem relaccedilatildeo com o presente ou seja
12
apresentando de forma linear sem que haja contextualizaccedilatildeo sendo apresentada
atraveacutes de leitura de textos eou resumos permeando com atividades que muitas
vezes natildeo permitem um desenvolvimento de raciociacutenio histoacuterico que contribua para
a construccedilatildeo da cidadania Torna-se urgente pensar em um ensino voltado para a
inclusatildeo de novas contribuiccedilotildees historiograacuteficas como a histoacuteria cultural econocircmica
e social buscando na realidade local subsiacutedios para a aprendizagem Por isso a
presente dissertaccedilatildeo traz a didatizaccedilatildeo da histoacuteria de Satildeo Francisco de Paula visto
que a questatildeo-problema estaacute vinculada ao natildeo uso da histoacuteria local no ensino de
Histoacuteria deste municiacutepio e o pouco material disponiacutevel para o uso dos professores
Parte-se do pressuposto que ao abranger a histoacuteria local os sujeitos se veem como
partiacutecipes desta histoacuteria estudada significando e ressignificando conceitos
histoacutericos
Corroborando com este estudo Cunha (2016) traz consideraccedilotildees importantes
relacionadas ao uso da histoacuteria local O autor aborda como algo essencial para
compreensatildeo da histoacuteria geral na educaccedilatildeo baacutesica o uso da histoacuteria local o que
proporcionaria aos estudantes o reconhecimento como cidadatildeo e a percepccedilatildeo e
identificaccedilatildeo dos lugares de memoacuteria por parte dos alunos bem como o sentimento
de pertencimento do local Desta forma despertaria no aluno o interesse por um
passado aparentemente desligado de sua realidade estabelecendo relaccedilotildees com o
seu cotidiano
Desta maneira acredita-se que os estudantes da educaccedilatildeo baacutesica
compreenderatildeo a histoacuteria como algo que faz parte de suas vidas tornando-se assim
sujeitos da histoacuteria pois se haacute reconhecimento haveraacute tambeacutem o sentimento de
pertencimento que poderaacute ajudaacute-los a manter ou modificar a realidade que os cerca
Assim descrevem Schmidt e Cainelli
Esse sentido do ensinar Histoacuteria natildeo significaria natildeo ter conteuacutedos para serem ensinados mas olhar para estes conteuacutedos a partir da possibilidade de construir com os alunos novas questotildees diante de conteuacutedos e temas propostos pela historiografia Aprender histoacuteria eacute discutir evidecircncias levantar hipoacuteteses dialogar com os sujeitos os tempos e os espaccedilos histoacutericos Eacute olhar para o outro em tempos e espaccedilos diversos (SCHMIDT CAINELLI 2009 p 20)
Dentro desta perspectiva o reconhecimento da memoacuteria social se faz
importante visto que se necessita invocaacute-la para que um determinado grupo ou local
reconheccedila sua identidade social Atraveacutes de entrevistas com moradores de Satildeo
13
Francisco de Paula se invoca a memoacuteria coletiva na busca da identidade dos sete
distritos deste municiacutepio Visto que a histoacuteria de Satildeo Francisco de Paula se inicia por
volta do seacuteculo XVIII quando se datam as primeiras sesmarias1 concedidas ao
capitatildeo Pedro da Silva Chaves Posteriormente o capitatildeo doa parte de suas terras
para a construccedilatildeo do povoado que recebe o nome de Satildeo Francisco de Paula de
Cima da Serra por este ser devoto do Santo Satildeo Francisco Reza no testamento do
capitatildeo Pedro da Silva Chaves que um de seus filhos foi o primeiro paacuteroco a rezar
missa no povoado Satildeo Francisco de Paula pertenceu a Santo Antocircnio da Patrulha
e mais tarde a Taquara emancipando-se em 1902
Haacute pouca bibliografia sobre a histoacuteria de Satildeo Francisco de Paula o que existe
satildeo livros escritos por memorialistas onde se percebe a prioridade pela histoacuteria do
fundador ou seja do Capitatildeo Pedro da Silva Chaves dos iacutendios Caaguaraacutes que
habitavam a regiatildeo assim como os aspectos poliacuteticos administrativos Alguns destes
livros apresentam uma siacutentese cronoloacutegica de fatos importantes e descrevem
superficialmente o jeito de viver do povo serrano2 Mas a histoacuteria de Satildeo Francisco
de Paula estaacute repleta de diferentes identidades que identificam a Sede3 e o Interior4
deste municiacutepio e formam o jeito de viver do seu povo A natildeo exploraccedilatildeo de
elementos culturais que se fazem importantes para a construccedilatildeo de identidade
destes lugares minimiza as memoacuterias e as tradiccedilotildees que ali se apresentam visto
que
as constantes novidades em diferentes campos do saber os avanccedilos da tecnologia as infinitas possibilidades de comunicaccedilatildeo simultacircnea tecircm provocado sobretudo nas novas geraccedilotildees uma sensaccedilatildeo de que o mundo em que se vive eacute dotado de um temporalidade constituiacuteda por um tempo presente contiacutenuo (FIGUEIRA MIRANDA 2012 p 46)
Neste sentido fez-se uso de diferentes fontes para a construccedilatildeo do produto
desta dissertaccedilatildeo que consiste de um paradidaacutetico que possa servir como um
1 Sesmaria Terreno sem culturas ou abandonado que a antiga legislaccedilatildeo portuguesa com base em
praacuteticas medievais determinava que fosse entregue a quem se comprometesse a cultivaacute-lo 2 Serrano gentiacutelico de quem nasce em Satildeo Francisco de Paula 3 Sede distrito criado em 07 de janeiro de 1903 na mesma data da instalaccedilatildeo oficial do Municiacutepio Eacute
o distrito onde se localiza a Prefeitura Municipal Foacuterum agecircncias bancaacuterias loteacutericas hospital casas comerciais e residecircncias particulares Normalmente os moradores do interior quando vatildeo ao distrito se referem como ldquovou a Satildeo Chicordquo e natildeo como ldquovou a Sederdquo
4 Interior Cazuza Ferreira Juaacute Eletra Rincatildeo dos Kroeff Tainhas e Lajeado Grande satildeo distritos que ficam na zona rural apesar de todos terem uma pequena vila que possui pouca infraestrutura Alguns destes distritos ainda usam aacutegua de vertentes sem nenhuma rede de esgoto pois natildeo possuem aacutegua fornecida pela Companhia de Aacutegua e Saneamento (CORSAN)
14
material disponiacutevel a alunos e professores no ensino de Histoacuteria de Satildeo Francisco
de Paula Segundo Munakata entendem-se como paradidaacuteticos
Livros que sem apresentar caracteriacutesticas proacuteprias dos didaacuteticos satildeo adotados no processo de ensino e aprendizagem nas escolas seja como material de consulta do professor seja como material de pesquisa e de apoio agraves atividades do educando (MUNAKATA 1997 p 103)
Para a construccedilatildeo do paradidaacutetico fez-se uso de bibliografias jaacute existentes
jornais e documentos da Assembleia da Legislativa bem como o uso da histoacuteria
oral sendo as entrevistas a fonte primordial para escrever sobre as semelhanccedilas e
diferenccedilas existentes no modo de vida da populaccedilatildeo de Satildeo Francisco de Paula
visto que os depoimentos satildeo importantes na preservaccedilatildeo das memoacuterias tradiccedilotildees
bem como das heranccedilas identitaacuterias Neste sentido Delgado (2003 p 23) discorre
ldquonarrativas memoacuterias histoacuterias e identidades satildeo a humanidade em movimento
Satildeo o olhar que permeiam tempos heterogecircnicos Satildeo a histoacuteria em construccedilatildeo Satildeo
memoacuterias que falamrdquo
Portanto a histoacuteria oral busca registrar as vivecircncias e lembranccedilas de um
determinado grupo Alberti (2008 p 29) assim define ldquohistoacuteria oral natildeo eacute um fim em
si mesma e sim um meio de conhecimentordquo Quando se trabalha com a histoacuteria
oral se faz necessaacuterio valorizar a memoacuteria as identidades e tradiccedilotildees pois estas
formam a histoacuteria local ou seja a histoacuteria dos indiviacuteduos que ali vivem Halbwachs
(2004) afirma que com a perda da memoacuteria coletiva tambeacutem se perdem as
tradiccedilotildees locais tradiccedilotildees essas que identificam o modo de viver de um determinado
local Hobsbawn e Ranger entendem que as tradiccedilotildees podem ou natildeo ser
inventadas
Tradiccedilatildeo inventada entende-se um conjunto de praacuteticas normalmente reguladas por regras taacutecitas ou abertamente aceitas tais praacuteticas de natureza ritual ou simboacutelica visam inculcar certos valores e normas de comportamento atraveacutes da repeticcedilatildeo o que implica automaticamente uma continuidade com relaccedilatildeo ao passado (HOBSBAWN RANGER 2015 p 8)
Hobsbawn e Ranger (2015) ainda acrescem que a criaccedilatildeo de uma tradiccedilatildeo
independe da imposiccedilatildeo de uma nova tradiccedilatildeo o que normalmente ocorre eacute uma
rebeliatildeo cultural que precede da elaboraccedilatildeo de novas tradiccedilotildees que satildeo adotadas
pela populaccedilatildeo e com o tempo passam a se tornar tradiccedilotildees daquele local
formando a identidade local
15
Neste sentido Hall (2011 p 39) discorre que ldquoas identidades satildeo fabricadas
por meio da marcaccedilatildeo da diferenccedilardquo O autor ainda acresce que ldquoa diferenccedila eacute aquilo
que separa uma identidade da outrardquo (HALL 2011 p 41) Dentro desta perspectiva
a memoacuteria que se apresenta atraveacutes de siacutembolos ou tradiccedilotildees respalda a
construccedilatildeo da identidade do povo de Satildeo Francisco de Paula visto que a memoacuteria eacute
a construccedilatildeo do passado de maneira atualizada e renovada no tempo presente
Assim Halbwachs (2004 p 64) descreve que ldquonatildeo eacute na histoacuteria aprendida eacute na
histoacuteria vivida que se apoia nossa memoacuteriardquo Nessa loacutegica o autor ainda descreve
que ldquoo mundo histoacuterico eacute como um oceano onde afluem todas as histoacuterias parciaisrdquo
(p 90)
O municiacutepio de Satildeo Francisco de Paula eacute repleto de tradiccedilotildees que perpassam
o tempo que estatildeo enraizadas no jeito serrano de ser formando a sua identidade
Portanto a histoacuteria de Satildeo Francisco de Paula descrita nesta dissertaccedilatildeo seraacute
apresentada em quatro capiacutetulos
O capiacutetulo dois apresenta a discussatildeo teoacuterica metodoloacutegica sobre a
importacircncia do ensino da Histoacuteria local na sala de aula Tambeacutem conceitos como
memoacuteria e identidade e a importacircncia de se abordar o local em prol do global
No capiacutetulo trecircs aborda-se a construccedilatildeo histoacuterica do municiacutepio de Satildeo
Francisco de Paula que vai desde a chegada do colonizador nesta terra ateacute as
instituiccedilotildees que se formam ao longo do tempo Para isso se faz uso de bibliografias
jaacute existentes como Lucena (1971) Oliveira (1996) Teixeira (2002) Ribeiro (2003)
Alves (2007) e Fonseca (2012) sendo todas essas obras importantes para Satildeo
Francisco de Paula visto que cada uma traz consigo um pouco da histoacuteria deste
municiacutepio poreacutem sente-se falta da identidade e da memoacuteria na construccedilatildeo histoacuterica
As obras satildeo apresentadas sob o mesmo prisma apresentando os iacutendios Caaguaraacutes
e o Capitatildeo Pedro da Silva Chaves os fundadores desta terra dando bastante
ecircnfase aos sobrenomes que ali se desenvolveram Tambeacutem se fez uso de
documentos da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul aleacutem de jornais
encontrados no Arquivo Histoacuterico de Satildeo Francisco de Paula
No capiacutetulo quatro utiliza-se da fonte oral para que sejam identificadas as
diferentes tradiccedilotildees e versotildees da histoacuteria local ou seja a identidade de cada distrito
constituindo assim as particularidades que constroem o municiacutepio de Satildeo Francisco
de Paula Para tanto buscaram-se depoentes nas vilas dos distritos sendo que a
escolha se deu por duas pessoas por distrito sendo um homem e uma mulher
16
totalizando treze depoentes todos da terceira idade pois segundo Bosi (1994 p
82) ldquoum mundo social que possui uma riqueza e uma diversidade que natildeo
conhecemos pode chegar-nos pela memoacuteria dos velhosrdquo memoacuterias estas
construiacutedas por suas vivecircncias neste local o que justifica a relevacircncia dos
depoimentos para a construccedilatildeo do trabalho
O capiacutetulo cinco apresenta uma descriccedilatildeo do produto que consiste em um
paradidaacutetico em forma fiacutesica abordando a histoacuteria de Satildeo Francisco de Paula A
escolha pelo formato fiacutesico acontece pelas dificuldades encontradas no interior dos
distritos com o acesso agrave internet assim se pensa que o formato fiacutesico abrangeraacute um
nuacutemero maior de alunos e professores
Para tanto utiliza-se a metodologia da Histoacuteria oral para escrever a memoacuteria
e as percepccedilotildees das pessoas que habitam este local Hobsbawn e Ranger (1995 p
103) escrevem que ldquoessa proximidade entre o periacuteodo analisado e sua histoacuteria
pessoal eacute o pano de fundo para a discussatildeo de alguns problemas que qualquer
historiador enfrenta ao escrever sobre seu proacuteprio tempordquo pois a sensibilidade do
historiador vai escrever sua narrativa Em outras palavras Hobsbawn e Ranger
(1995 p 104) explicam que ldquocada historiador tem sua proacutepria vida um lugar privado
a partir do qual inspeciona o mundordquo Tambeacutem afirmam
Para aqueles que querem escrever a histoacuteria do seacuteculo XX uma das mais importantes reside no simples fato de saber sem nenhum esforccedilo especial o quanto as coisas se modificaram Os uacuteltimos trinta ou quarenta anos foram os mais revolucionaacuterios da histoacuteria O mundo ou seja a vida dos homens e mulheres que vivem na Terra nunca foi transformada de maneira tatildeo profunda dramaacutetica e extraordinaacuteria dentro de um periacuteodo tatildeo curto As geraccedilotildees que natildeo viram como o mundo era antes tecircm dificuldade em perceber isso intuitivamente (HOBSBAWN RANGER 1995 p 107)
Portanto se faz importante perceber que o mundo vem se transformando de
maneira raacutepida modificando a vida das pessoas e por conseguinte as tradiccedilotildees e
identidades locais pois estas comunidades natildeo vivem de forma isolada e sofreram
influecircncias jaacute que a cultura natildeo eacute estagnada estaacute sempre em constante movimento
juntamente com as pessoas
17
2 HISTOacuteRIA LOCAL E O ENSINO DE HISTOacuteRIA NA SALA DE AULA
Discutir o ensino de Histoacuteria na educaccedilatildeo baacutesica e a relaccedilatildeo do mesmo com a
histoacuteria local se faz bastante importante para que a cada dia se possa melhorar as
praacuteticas pedagoacutegicas Neste sentido se busca respaldo em diferentes bibliografias
que possam embasar novos afazeres dentro do espaccedilo da sala de aula e
proporcionar ao estudante um novo olhar sobre a histoacuteria um olhar de sujeito ativo
dentro desse processo de ensino aprendizagem
Pois quando a Histoacuteria eacute ensinada como algo certo e imutaacutevel de maneira
fragmentada voltada para linearidade e memorizaccedilatildeo de fatos e datas reforccedila o
que Mendes (1935) e Schmidt e Cainelli (2009) defendem que realmente eacute odiosa a
histoacuteria ensinada por este vieacutes Percebe-se que o ensino de histoacuteria linear nos
moldes europeus positivistas jaacute natildeo daacute mais conta da importacircncia da histoacuteria para a
sociedade atual porque eacute apresentada aos alunos atraveacutes de datas e fatos escrita
pelo vieacutes de uma elite que normalmente eacute branca e deteacutem o poder poliacutetico eou
econocircmico Eacute inconcebiacutevel que se permaneccedila com um ensino de Histoacuteria que natildeo
serve natildeo motiva e segundo Ruumlsen (2001 p 25) ainda ldquoirracionalizardquo sendo esse
modelo muito frequente nas escolas de educaccedilatildeo baacutesica brasileiras
Natildeo eacute por outro motivo que observamos ainda nas uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo XX que para a maior parte dos estudantes brasileiros o estudo de histoacuteria carece de sentido ou utilidade natildeo se tem a visatildeo de ciecircncia e sim de uma mateacuteria decorativa estudo do passado que soacute exige como vimos a prontidatildeo em declinar nomes datas e fatos Natildeo eacute de se estranhar que assim seja porque ocorre a enorme distacircncia entre a realidade vivenciada pela comunidade e o tratamento dado ao ensino de Histoacuteria jaacute que o aluno se torna mero espectador de fatos natildeo necessitando esforccedilos no sentido de qualquer reflexatildeo ou elaboraccedilatildeo (BARBOSA 2006 p 58)
O ensinar da histoacuteria de forma abstrata fragmentada dificulta a compreensatildeo
do processo histoacuterico no sentido que se estuda os fatos isolados ao seu tempo
como se um fato precisasse terminar para iniciar outro Em outras palavras este
meacutetodo de ensino natildeo daacute a noccedilatildeo de continuidade ou seja a histoacuteria perdeu seu
sentido baacutesico que eacute a compreensatildeo do contexto global dos fatos considerando que
o ensino de Histoacuteria por muitas vezes eacute estanque sem uma relaccedilatildeo ldquopresente x
passadordquo sendo de suma importacircncia o despertar de uma consciecircncia criacutetica por
parte do estudante Por isso ao longo do tempo o ensino sofre influecircncia por parte
do ldquopoderrdquo segundo Laville (1999 p 128) ldquoa Histoacuteria eacute certamente a uacutenica disciplina
18
escolar que recebe intervenccedilotildees diretas dos altos dirigentes e a consideraccedilatildeo ativa
dos parlamentos Isso mostra quatildeo importante eacute ela para o poderrdquo Nesta linha o
autor ainda acrescenta que ldquoa narrativa histoacuterica pode tambeacutem ser vista como uma
tomada de poder por grupos sem poderrdquo (LAVILLE 1999 p 129)
Na busca de modificar esse modelo surgem novos meacutetodos que valorizam o
uso do documento histoacuterico e a incorporaccedilatildeo de novas tecnologias de acordo com
Azevedo e Stamatto (2010 p 720) ldquotem o desafio de responder a inquietaccedilotildees do
hojerdquo Partindo deste pressuposto haacute possibilidade de se modificar o ensino da
Histoacuteria que ateacute entatildeo estava voltado agrave memorizaccedilatildeo para um modelo onde o
sujeito seja agente deste processo
Ensinar Histoacuteria como algo pronto e acabado [] sem levar em conta o contexto e os sujeitos envolvidos no processo de ensino aprendizagem pode levar a um ensino que natildeo desenvolve o que eacute mais importante como funccedilatildeo do ensinar histoacuteria que orientar os problemas da vida praacutetica (SCHMIDT CAINELLI 2009 p 20)
Assim Seffner (2013 p 51) acrescenta que ldquoo ensino de Histoacuteria eacute um ensino
de situaccedilotildees histoacutericas Mais do que nomes datas e acontecimentos o professor
deve propiciar ao aluno a compreensatildeo de como se estrutura uma dada situaccedilatildeordquo
Para que o ensino de Histoacuteria seja ressignificado existe a necessidade de anaacutelise
do processo histoacuterico problematizando os fatos no vai e vem do presentepassado
Os estudantes da educaccedilatildeo baacutesica necessitam compreender a histoacuteria como
um processo em constante transformaccedilatildeo que eacute movimentada por sujeitos que a
compotildeem com permanecircncias e rupturas ao longo dos tempos Segundo Bittencourt
(2004 p 168) ldquoa histoacuteria local tem sido indicada como necessaacuteria para o ensino por
possibilitar a compreensatildeo do alunordquo
Corroborando Seffner (2013) Souza (2015) e Brum (2015) evidenciam a
importacircncia de se trabalhar a histoacuteria global partindo de uma histoacuteria local
problematizando levando hipoacuteteses e analisando os fatos histoacutericos o que gera
significado para o educando e torna o docente natildeo mais um mero transmissor mas
um mediador deste conhecimento Neves (1997 p 22) reforccedila que ldquoo local fora do
contexto geral eacute apenas um fragmento e o geral sem o respaldo das realidades
locais eacute apenas uma abstraccedilatildeordquo Com esta nova abordagem o estudar Histoacuteria tem
sentido para o discente que se sente sujeito de sua proacutepria histoacuteria visto que
19
identificar-se com o local onde se vive ajuda a compreender o sentimento de
pertencimento e suas relaccedilotildees com o meio social e cultural no qual estaacute inserido
Nesta perspectiva faz-se necessaacuterio que os professores busquem novas
alternativas de ensino que proporcionem ao estudante a habilidade de ressignificar o
fato histoacuterico estudado
Ensinar Histoacuteria requer do professor a habilidade de buscar sentido e significado para o conhecimento que ministra e isso significa superar a mera transmissatildeo de informaccedilotildees jaacute que essa natildeo tem por finalidade o desenvolvimento intelectual mas ao contraacuterio deforma a capacidade de pensamento histoacuterico do aluno e a possibilidade de consolidar habilidades de anaacutelise da proacutepria realidade social (SILVA PORTO 2012 p 67)
Goubert assim define a histoacuteria local
Denominaremos histoacuteria local como aquela que diga respeito a uma ou poucas aldeias a uma cidade pequena ou meacutedia (um grande porto ou uma capital estatildeo aleacutem do acircmbito local) ou a uma aacuterea geograacutefica que natildeo seja maior do que a unidade provincial comum (como um county inglecircs um contado italiano uma Land alematilde uma bailiwick ou pays francecircs) Praticada haacute tempos atraacutes com cuidado zelo e ateacute orgulho a histoacuteria local foi mais tarde desprezada mdash principalmente nos seacuteculos XIX e primeira metade do XX mdash pelos partidaacuterios da histoacuteria geral A partir poreacutem da metade desse seacuteculo a histoacuteria local ressurgiu e adquiriu novo significado na verdade alguns chegam a afirmar que somente a histoacuteria local pode ser autecircntica e fundamentada (GOUBERT 1992 p 70)
Neste sentido fica evidente a importacircncia de se partir de uma histoacuteria local
para uma global Atraveacutes da histoacuteria local os estudantes teratildeo contato com sua
histoacuteria e poderatildeo se sentir parte integrante deste espaccedilo que muitas vezes por
falta de conhecimento acabam renegando sua proacutepria identidade Figueira e Miranda
(2012 p 113) afirmam que ldquoum dos efeitos mais danosos da globalizaccedilatildeo eacute a
universalizaccedilatildeo dos gostosrdquo isto implica diretamente na perda da identidade local
que muitas vezes estaacute sendo afetada pelas muacuteltiplas identidades existentes Neste
sentido Silva e Porto descrevem
A globalizaccedilatildeo entretanto produz diferentes resultados em termos de identidade A homogeneidade cultural promovida pelo mercado global pode levar ao distanciamento da identidade relativamente agrave comunidade e agrave cultura local (SILVA PORTO 2012 p 21)
Neste sentido Canclini acrescenta
Las comunidades de consumidores se organiza cada vez menos seguacuten diferencias nacionales y sobre todo en las generaciones joacutevenes definen sus praacutecticas culturales de acuerdo con informacioacuten y estilos homogeneizados (CANCLINI 1997 p 42)
20
Globalizaccedilatildeo que impotildee atraveacutes dos meios de comunicaccedilatildeo e social uma
identidade geral que regra a sociedade seus haacutebitos e costumes Devido ao grande
movimento das pessoas pelo mundo perceber e manter uma identidade com
caracteriacutesticas locais fica a cada dia mais difiacutecil ainda mais em se tratando da
populaccedilatildeo jovem que natildeo reconhece ao seu redor o que representa a sua
identidade local
Valorar as experiecircncias locais proporcionaraacute aos estudantes uma nova
metodologia de abordar a histoacuteria
Do ponto de vista metodoloacutegico destaca-se nessa forma de abordagem a preocupaccedilatildeo com os conhecimentos preacutevios dos alunos com a problematizaccedilatildeo dos conteuacutedos de ensino selecionados para trabalho em sala de aula estabelecendo relaccedilotildees com o cotidiano dos alunos e com o cotidiano de outras pessoas em outros tempos e em outros lugares Enfatiza-se tambeacutem a busca de articulaccedilatildeo entre histoacuteria local e a histoacuteria universal (SCHMIDT 2007 p 193)
O ensino de histoacuteria partindo do local para o global possibilita segundo
Bittencourt (2004 p 168) ldquoa compreensatildeo do entorno do alunordquo sendo que um dos
aspectos relevantes para este ensino eacute a escolha de fontes que levem os estudantes
a se reconhecerem nesse processo histoacuterico O autor ainda acresce
Eacute pela memoacuteria que se chega agrave histoacuteria local Aleacutem da memoacuteria das pessoas escrita ou recuperada pela oralidade existem os lsquolugares de memoacuteriarsquo (grifo da autora) expressos por monumentos praccedilas edifiacutecios puacuteblicos ou privados mas preservados como patrimocircnio histoacuterico (BITTENCOURT 2004 p 169)
Esta memoacuteria vai contribuir para legitimaccedilatildeo da identidade local Sabe-se que
a identidade eacute algo mutaacutevel e segundo Silva e Porto (2012 p 38) ldquoas identidades
satildeo produzidas em momentos particulares no tempordquo O pesquisador ainda
acrescenta que ldquoas identidades satildeo contingentes emergindo em momentos
histoacutericos particularesrdquo Estas identidades precisam ser reconhecidas quando se fala
de histoacuteria local
Na mesma linha Ruumlsen descreve a identidade histoacuterica
Consiste na ampliaccedilatildeo do horizonte nas experiecircncias do tempo e nas intenccedilotildees acerca do tempo no qual os sujeitos agentes se asseguram da permanecircncia de si mesmos na evoluccedilatildeo do tempo O ponto extremo dessa consolidaccedilatildeo de identidade eacute a lsquohumanidadersquo como suprassumo dos pontos comuns em sociedade com respeito a diversos sujeitos agentes no processo de determinaccedilatildeo de suas proacuteprias identidades determinam as dos outros de forma tal que estes se reconhecem nelas Esse criteacuterio de sentido lsquohumanidadersquo fornece o paracircmetro para se constatar a consolidaccedilatildeo da
21
identidade em que desembocam o progresso contiacutenuo do conhecimento mediante a pesquisa histoacuterica e a ampliaccedilatildeo contiacutenua das perspectivas mediante a reflexatildeo histoacuterica sobre referenciais (RUumlSEN 2001 p 126)
A histoacuteria local eacute constituiacuteda por diferentes identidades que satildeo geradas pelos
grupos que compotildeem este espaccedilo A este respeito Silva e Porto (2011 p 41)
apresentam que ldquoa diferenccedila eacute aquilo que separa uma identidade da outrardquo Tambeacutem
eacute notaacutevel que para que haja a representaccedilatildeo de suas identidades locais faz-se
necessaacuterio o reconhecimento destas e a percepccedilatildeo que existem diferentes fatores
que diferenciam os grupos sociais
Portanto a identidade eacute constituiacuteda pelas posiccedilotildees eou escolhas feitas
sendo que muitas vezes elas satildeo racionais ou ateacute mesmo irracionais A identidade
eacute baseada na memoacuteria que pode ser individual ou coletiva Segundo Candau (2011
p 16) ldquoos laccedilos fundamentais entre memoacuteria e identidade eacute sobre o fato de que eacute a
memoacuteria faculdade primeira que alimenta a identidaderdquo
Se a memoacuteria gera a identidade natildeo se pode pesquisar e escrever sobre
histoacuteria local sem levar em conta estes dois conceitos primordiais pois a histoacuteria
local soacute teraacute valia se escrita pelo vieacutes do todo ou seja natildeo priorize um grupo ou
classe social todos os quadros sociais devem estar representados dentro deste
processo Nessa linha Schmidt e Cainelli descrevem
O estudo da localidade ou da histoacuteria regional contribui para uma compreensatildeo muacuteltipla da Histoacuteria pelo menos em dois sentidos na possibilidade de se ver mais de um eixo histoacuterico na histoacuteria local e na possibilidade da anaacutelise de micro histoacuterias pertencentes a alguma outra histoacuteria que as englobe e ao mesmo tempo reconheccedila suas particularidades (SCHMIDT CAINELLI 2009 p 139)
Uma histoacuteria que faz sentido que esteja englobada a outra histoacuteria A
memoacuteria coletiva entra na construccedilatildeo desta histoacuteria local e eacute primordial pois esta vai
dar elementos que constroem a identidade deste local sendo que a memoacuteria do
passado influencia na representaccedilatildeo da identidade Neste sentido conforme
Figueira e Miranda (2012 p 47) eacute necessaacuterio compreender a memoacuteria ldquocomo a
capacidade de conservar e de preservar dados refere-se a um conjunto de funccedilotildees
cerebrais que nos permite reter informaccedilotildees adquiridas e impressotildees vividasrdquo
Podendo ser ela individual ou coletiva sendo que a memoacuteria individual existe a partir
de uma memoacuteria coletiva jaacute que as lembranccedilas que ajudam a reconstruir o passado
partem do interior de um grupo
22
Para as Ciecircncias Humanas o conceito de memoacuteria estaacute ligado agrave memoacuteria
social e coletiva definida por Le Goff (2003 p 422) como ldquoo estudo da memoacuteria
social eacute um dos elementos fundamentais de abordar os problemas do tempo e da
histoacuteriardquo O autor ainda acrescenta que ldquoa memoacuteria coletiva eacute natildeo somente uma
conquista eacute tambeacutem um instrumento e um objeto de poderrdquo (LE GOFF 2003 p
410) Neste sentido Halbwachs (2004 p 90) ressalta que ldquotoda memoacuteria coletiva
tem por suporte um grupo limitado no espaccedilo e no tempo e o mundo histoacuterico eacute
como um oceano onde afluem todas as histoacuterias parciaisrdquo
Quando se abordam conceitos de memoacuteria e identidade no ensino de
histoacuteria estaacute se trazendo para o estudo os sujeitos que compotildeem aquele local com
suas vivecircncias que podem ser coletivas ou natildeo A transmissatildeo de saberes entre as
geraccedilotildees forma a identidade coletiva sendo o ser humano um agente ativo no
quadro social da memoacuteria
Halbwachs assim define os quadros coletivos da memoacuteria
Os quadros coletivos da memoacuteria natildeo se resumem em datas nomes e foacutermulas que eles representam correntes de pensamento e de experiecircncia onde reencontramos nosso passado porque este foi atravessado por isso tudo (HALBWACHS 2004 p 71)
Nesta direccedilatildeo Le Goff (2003 p 4) acrescenta que ldquoa memoacuteria social eacute um
dos meios fundamentais para se abordar os problemas do tempo e da histoacuteria A
memoacuteria estaacute nos proacuteprios alicerces da histoacuteriardquo Catroga (2001) reforccedila que a
memoacuteria eacute moldada a partir das vivecircncias e na sua narrativa vai haver uma
coerecircncia que se mistura passado e presente
Quando se escreve sobre histoacuteria local eacute importante considerar que ela estaacute
pautada em documentos assim como em memoacuterias escritas visuais ou orais Neste
sentido eacute perceptiacutevel que o uso dos diferentes tipos de memoacuteria satildeo alicerces que
conduzem o trabalho do historiador para que ele possa interpretar suas fontes e
validar seu trabalho Memoacuterias estas que podem ser apresentadas com documentos
oficiais ou atraveacutes de uma cultura material ou imaterial
A escrita de histoacuterias locais vem como um novo modelo de resguardar
identidades e memoacuterias que se natildeo preservadas iratildeo desaparecer pela influecircncia
da globalizaccedilatildeo e falta de conhecimento de futuras geraccedilotildees Barros assim
descreve
23
Os novos tempos comeccedilavam a trazer um novo padratildeo historiograacutefico novas aberturas retornos e possibilidades e tambeacutem incertezas para os historiadores no que se refere agrave natureza do conhecimento que produzem e ao papel do conhecimento histoacuterico na sociedade [] Entre as novidades postula-se a possibilidade de examinar a histoacuteria de acordo com uma nova escala de observaccedilatildeo ndash atenta para o detalhe para as micro realidades para aquilo que habitualmente escapa ao olhar panoracircmico da macro histoacuteria tradicional ndash e eacute esta nova postura que se passou a chamar de micro histoacuteria (BARROS 2012 p 306)
Diante deste contexto o ensino de Histoacuteria pode buscar na histoacuteria local a
problematizaccedilatildeo necessaacuteria para que os estudantes da educaccedilatildeo baacutesica
reconheccedilam a identidade local que vem sofrendo com a uniformizaccedilatildeo da
sociedade que impotildee uma conjuntura global do local
24
3 SAtildeO FRANCISCO DE PAULA CONSTRUCcedilAtildeO DO MUNICIacutePIO
A apresentaccedilatildeo do municiacutepio Satildeo Francisco de Paula acontece atraveacutes do
uso da narrativa Esta se apresenta atraveacutes do diaacutelogo com obras jaacute produzidas por
memorialistas eou genealogistas que contribuem para a construccedilatildeo histoacuterica deste
local bem como se usa como fonte de enriquecimento documentos da Assembleia
Legislativa do Rio Grande do Sul e jornais locais
Para tanto se apresenta a revisatildeo historiograacutefica das obras escritas pelos
memorialistas eou genealogistas sendo que Lucena (1971) em sua obra ldquoSatildeo
Francisco de Paula Monografiardquo que abrange aspectos histoacutericos da formaccedilatildeo do
municiacutepio bem como pontos turiacutesticos e demograacuteficos O proacuteprio autor intitula a sua
obra como informativa a riqueza de detalhes eacute interessante poreacutem natildeo haacute nenhuma
referecircncia quanto aos dados escritos nem mesmo um referencial bibliograacutefico ao
final
No texto intitulado ldquoOs Fundadores de Satildeo Francisco de Paulardquo Alves (2007)
escreve sobre a fundaccedilatildeo de Satildeo Francisco de Paula Em seu livro haacute documentos
que validam o que se refere agrave genealogia jaacute que boa parte da obra apresenta os
troncos familiares que compunham o iniacutecio deste municiacutepio Na mesma linha da
genealogia Oliveira (1996) no livro ldquoAurorescer das Sesmarias Serranas histoacuteria e
genealogiardquo traz a histoacuteria das primeiras sesmarias da regiatildeo mas o foco principal
se daacute aos proprietaacuterios e seus descendentes Haacute um mapa bastante interessante
localizando as sesmarias e o nome por elas recebidos
Em ldquoSatildeo Francisco de Paula nossa terra nossa genterdquo Teixeira (2002)
apresenta dados gerais e histoacutericos do municiacutepio Esta obra apresenta dados
geograacuteficos como clima relevo e vegetaccedilatildeo A autora escreve sobre diversos
aspectos eventos personalidades e lendas Aleacutem disso apresenta Satildeo Francisco
de Paula com uma linha cronoloacutegica A obra abrange vaacuterios aspectos mas todos
suscintamente No final a autora apresenta a bibliografia consultada dentre os
autores estaacute Lucena (1971)
O texto ldquoSatildeo Francisco de Paula Rio Grande do Sul histoacuteria encantos e
misteacuteriosrdquo eacute uma obra de Fonseca (2012) que traz diversidade de assunto muitas
vezes estes estatildeo desconexos ou seja sua leitura se torna ldquotruncadardquo No final do
texto haacute um vasto referencial bibliograacutefico dentre os autores citam-se Lucena
(1971) e Teixeira (2002)
25
Ribeiro (2003) eacute compositor e poeta Em ldquoFestival do Ronco do Bugiordquo
escreve sobre Satildeo Francisco de Paula apresentando a histoacuteria dos quinze anos do
festival no municiacutepio No iniacutecio contextualiza a origem do festival e do ritmo bugio
Depois apresenta a capa do disco de cada festival especificando as muacutesicas e os
compositores vencedores
Todas essas obras satildeo importantes para Satildeo Francisco de Paula cada uma
traz consigo um pouco da histoacuteria deste municiacutepio poreacutem sente-se falta da
identidade e da memoacuteria na construccedilatildeo histoacuterica As obras satildeo apresentadas o
mesmo prisma apresentando os iacutendios Caaguaraacutes e o Capitatildeo Pedro da Silva
Chaves os fundadores desta terra dando bastante ecircnfase aos sobrenomes que ali
se desenvolveram
31 CONVERSA COM MEMORIALISTAS
As terras onde hoje fica Satildeo Francisco de Paula eram habitadas por iacutendios da
tribo Caaguaraacutes que faziam parte dos Coroados Estes viviam livremente nos
campos de cima da serra e seus domiacutenios estendiam-se entre a Serra Geral e a
Serra do Mar Os iacutendios Caaguaraacutes tinham como haacutebitos alimentares a caccedila a
pesca e a coleta de sementes e frutos dentre os frutos o pinhatildeo e a goiaba-do-
mato segundo Teixeira (2002) e Alves (2007) Estes iacutendios tiveram seu habitat
invadido por incursotildees de desbravadores que comeccedilaram a trafegar pela regiatildeo em
busca de mulas e novas terras visto que as terras onde hoje se encontra Satildeo
Francisco de Paula de Cima da Serra foram rota de tropeiros5 pois estes trafegavam
pelos Campos de Cima da Serra indo na direccedilatildeo de Lages-SC ateacute alcanccedilarem
Sorocaba-SP6 Ao passarem por esta regiatildeo foram se formando pequenos vilarejos
e construindo um jeito peculiar de viver
Neste cenaacuterio aparece o municiacutepio de Satildeo Francisco de Paula de Cima da
Serra que recebe este nome para se diferenciar de Satildeo Francisco de Paula
denominaccedilatildeo recebida ateacute meados de 1830 pelo municiacutepio de Pelotas Poreacutem na
metade do seacuteculo XVIII Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra possuiacutea
5 Tropeiros homens que conduziam suas tropascomitivas de muares ou cavalos entre as regiotildees 6 Sugere-se a leitura FLORES Moacyr Troperismo no Brasil Porto Alegre Nova Dimensatildeo 1998
SAVARIS Manoelito Tropas e tropeiros o Rio Grande toma forma Disponiacutevel em ltwwwrogeriobastoscombr201104trpas-e-tropeiros-o-rio-grande-tomahtmlgt Acesso em 12 mar 2016
26
proprietaacuterios de terras sendo que um dos pioneiros foi Pedro da Silva Chaves um
portuguecircs casado com Gertrudes de Godoy uma paulista Pedro da Silva Chaves
declara em 1742 ser possuidor de terras neste municiacutepio Segundo Oliveira (1996)
em seu testamento Pedro da Silva Chaves rege que possui trecircs fazendas na regiatildeo
uma chamada Satildeo Joatildeo que se localiza desde o Arroio Santa Cruz ateacute o Rio
Tainhas concedida em 1752 por sesmaria a Fazenda da Cria que foi comprada de
Francisco Pinto Bandeira e confirmada como sesmaria em 1754 e a Fazenda
denominada Cerrito comprada do Capitatildeo Antocircnio Gonccedilalves dos Reis Nestas
fazendas havia criaccedilatildeo de cavalos gado vacum mulas e burros As fazendas
tambeacutem apresentavam em torno de 77 escravos sendo que alguns satildeo casados o
que se faz pensar que estes constituiacuteam famiacutelia aumentando assim o nuacutemero de
escravos da regiatildeo No mapa da Figura 1 verifica-se a localizaccedilatildeo das fazendas do
capitatildeo Pedro da Silva Chaves bem como sua extensatildeo territorial
Figura 1 ndash Mapa de Identificaccedilatildeo das Sesmarias Serranas
Fonte Oliveira (1996 p 236)
27
No mapa apresentado na Figura 1 ainda eacute possiacutevel observar a localizaccedilatildeo
onde inicia o povoado de Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra segundo
Lucena (1971 p 1) ldquoiniciou-se com o Capitatildeo Pedro da Silva Chaves que doou
uma gleba de terra para que fosse iniciado o povoadordquo Tambeacutem segundo Lucena
(1971 p 1) ldquodoou cinquenta vacas para construir o primeiro patrimocircnio da Igreja
cuja construccedilatildeo foi iniciada por sua conta e lhe deu o nome de Satildeo Francisco por
este ser devoto do Santordquo O que demonstra que Pedro da Silva Chaves era
Catoacutelico
Neste periacuteodo compreendido como seacuteculo XIX segundo Teixeira (2002) e
Alves (2007) o atual municiacutepio de Satildeo Francisco de Paula pertencia ao municiacutepio de
Santo Antocircnio da Patrulha municiacutepio este que formava juntamente com Porto
Alegre Rio Pardo e Rio Grande a proviacutencia de Satildeo Pedro do Rio Grande do Sul
atual Rio Grande do Sul Eacute possiacutevel observar a grande extensatildeo territorial de cada
municiacutepio no mapa apresentado na Figura 2 segundo Silva (2000) Santo Antocircnio
da Patrulha anexava as freguesias de N Sra Conceiccedilatildeo do Arroio e N Sra da
Oliveira da Vacaria a capela de Satildeo Domingos das Torres e os povoados de Santa
Cristina do Pinhal e Cima da Serra
Analisando o mapa da Figura 2 eacute possiacutevel perceber que o municiacutepio de Santo
Antocircnio da Patrulha tinha um vasto e extenso territoacuterio que atualmente compreende
os municiacutepios de Vacaria Antocircnio Prado Nova Roma do Sul Lagoa Vermelha
Veranoacutepolis Nova Prata Nova Araccedilaacute Nova Bassano Paraiacute Guabiju Satildeo Jorge
Vista Alegre do Prata Protaacutesio Alves Cotiporatilde Fagundes Varela Vila Flores
Caseiros Birajaras Andre da Rocha Capatildeo Bonito do Sul Muitos Capotildees Bom
Jesus Satildeo Joseacute dos Ausentes Esmeralda Ipecirc Campestre da Serra Monte Alegre
dos Campos Taquara Satildeo Francisco de Paula Cambaraacute do Sul e Jaquirana
28
Figura 2 ndash Divisatildeo Municipal em 1809 ndash Proviacutencia Satildeo Pedro do Rio Grande do Sul
Fonte Evoluccedilatildeo Administrativa (2013)7
32 AMPLIANDO O DIAacuteLOGO COM OS MEMORIALISTAS
Segundo documentos da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul8
disponiacuteveis no Arquivo Histoacuterico de Satildeo Francisco de Paula9 em 1852 atraveacutes da
Lei nordm 266 de 30 de novembro de 1852 eleva-se agrave categoria de freguesia a entatildeo
capela Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra pelo entatildeo vice-governador da
proviacutencia de Satildeo Pedro do Rio Grande do Sul o senhor Luiz Alves Leite de Oliveira
Bello Estes documentos ainda retratam que no ano de 1886 houve distribuiccedilatildeo de
lotes devolutos para pessoas pobres que comprovassem residecircncia haacute pelo menos
trecircs anos e se comprometessem a ldquofundar moradiardquo em um prazo de um ano sendo
assim passados trecircs anos seriam donos definitivos destes lotes dando o iniacutecio ao
povoamento da vila No mesmo periacuteodo acontece a criaccedilatildeo do cemiteacuterio municipal
7 Disponiacutevel em ltwwwatlassocioeconomicorsgovbrevolucao-administrativa-1809-a-2013gt Acesso
em 18 mar 2017 8 O diaacutelogo com memorialista se amplia a partir de agora com contribuiccedilotildees de documentos
pesquisados que corroboram para a compreensatildeo do tema 9 BARBOSA Eni GONCcedilALVES Jorge Joseacute Xavier (Orgs) Documentos histoacutericos da Assembleia
Legislativa do Rio Grande do Sul Arquivo Histoacuterico de Satildeo Francisco de Paula 1992
29
que ocorre em 1891 segundo documentos da Assembleia Legislativa disponiacuteveis
no Arquivo Histoacuterico de Satildeo Francisco de Paula Estes documentos informam que
primeiramente somente moradores que comprovassem residecircncia haacute mais de trecircs
anos e pudessem manter os jazigos de seus entes poderiam fazer uso deste
espaccedilo Atraveacutes desta documentaccedilatildeo se percebe que havia toda uma organizaccedilatildeo
para que ldquoestrangeirosrdquo natildeo se estabelecessem em Satildeo Francisco de Paula de Cima
da Serra
Em 1889 Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra passa a categoria de vila
e deixa de pertencer a Santo Antocircnio da Patrulha passando a ser distrito do
municiacutepio de Taquara do Mundo Novo (hoje Taquara) o que traz mudanccedilas
significativas para a vila
Mesmo havendo distribuiccedilatildeo de lotes apoacutes quinze anos percebe-se na
Figura 3 que o povoado ainda era pequeno cercado de campos que constituiacuteam
fazendas com criaccedilatildeo de gado vacum tendo como principal economia a pecuaacuteria
extensiva Ao alto pode-se visualizar a Igreja Matriz construiacuteda pelo capitatildeo Pedro
da Silva Chaves
Figura 3 ndash Vista da vila de Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra (1901)
Fonte Portal Satildeo Chico (2018)10
10 PORTAL SAtildeO CHICO Fotos antigas de Satildeo Francisco de Paula 2018 Disponiacutevel em
ltwwwsaochicocombrantigasgt Acesso em 12 abr 2019
30
Ainda eacute possiacutevel observar atraveacutes da Figura 3 que neste periacuteodo natildeo havia
nenhuma preocupaccedilatildeo com a organizaccedilatildeo urbana ou seja ruas quadras as
construccedilotildees se apresentam de maneira desordenada Poreacutem passados vinte e dois
anos na Figura 4 jaacute eacute possiacutevel visualizar uma estrutura urbanizada com possiacutevel
organizaccedilatildeo de ruas e quadras mas a vila ainda eacute rodeada de campos
Figura 4 ndash Vista Avenida Juacutelio de Castilhos (1923)
Fonte Lucena (1971 p 67)
O desenvolvimento da Sede de Satildeo Francisco de Paula acontece segundo
Lucena (1971 p 27) ldquonos primeiros anos de vida isto eacute de 1910 a 1924 mais ou
menos devido agrave extraccedilatildeo da erva-mate que era abundante em nossos matos nas
zonas da serrardquo O autor ainda acrescenta
O pioneiro na extraccedilatildeo da erva-mate em nossa Comuna foi o proprietaacuterio Carlos Miguel Kroeff dono da fazenda Potreirinho praticamente arrabalde de nossa cidade No barba-quaacute11 se iniciava todo processo de industrializaccedilatildeo da erva-mate sendo que Satildeo Francisco de Paula chegou a ter quinhentos barbaacute-quas (LUCENA 1971 p 28)
11 Barba-quaacute um valo de cerca de oito metros de comprimento amis ou menos por um metro de
profundidade e oitenta centiacutemetros de largura coberto de xaxim e terra em uma das extremidades colocava-se um gradeado e acima deste em uma parte tambeacutem coberta e mais alta tinha apenas uma saiacuteda sob o gradeado colocava-se as folhas de erva extraiacuteda da aacutervore no iniacutecio do valo fazia-se um fogo e a fumaccedila que pela pouca ventilaccedilatildeo existente formava bastante fumaccedila e esta atingia as folhas secando-as (LUCENA 1971 p 28)
31
A produccedilatildeo de erva-mate contribuiu para o povoamento da vila visto que
muitas pessoas vieram trabalhar e acabaram se instalando no municiacutepio Apoacutes a
extraccedilatildeo da erva-mate surge a extraccedilatildeo de madeira que tambeacutem contribui para o
desenvolvimento
Nesta documentaccedilatildeo ainda se encontra no artigo nordm 251 de 08 de abril de
1891 a liberaccedilatildeo da verba para abrir a estrada de rodagem que liga as vilas de
Taquara do Mundo Novo e Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra em 1889
Atraveacutes da Figura 5 pode-se perceber o quatildeo difiacutecil era abrir uma nova estrada de
rodagem Tudo era manual com o uso de animais e muares para transportar pedras
e terras poreacutem a abertura desta estrada traz mudanccedilas significativas para a
populaccedilatildeo de Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra
Figura 5 ndash Abertura da estrada ERS-020 Taquara ndash Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra
Fonte Jornal Folha da Serra (1968 n 89 p 8)12
12 Folha da Serra jornal criado em 1932 pelo Dr Siacutelvio Rabelo sendo o uacutenico jornal que existia na
regiatildeo serrana Este trazia notiacutecias sociais poliacuteticas etc com uma tiragem em torno de 500 exemplares por semana Encontram-se no Arquivo Histoacuterico de Satildeo Francisco de Paula alguns exemplares ateacute a deacutecada de 70 seacuteculo XX
32
A estrada visava facilitar o acesso da populaccedilatildeo de Satildeo Francisco de Paula
de Cima da Serra que ia ateacute Taquara para buscar gecircneros de primeira necessidade
Em tempos idos os serranos se abasteciam de gecircneros de primeira necessidade quase que totalmente em Taquara e o transporte era feito em cargueiros que compunham uma tropa com cerca de quinze a vinte cargueiros Os animais usados para esse transporte eram geralmente muares mais resistentes para o transporte de carga Os serranos levavam daqui queijo (o queijo ateacute hoje chamado queijo serrano) charque couros e alguns levavam maccedilatilde ou pinhatildeo em suas eacutepocas de colheita trocados por mantimentos de que necessitavam Natildeo existiam ainda estradas e o trajeto era feito por picadas existentes (LUCENA 1971 p 23)
O mesmo autor ainda acrescenta
Para atingir a capital do Estado a viagem era cheia de peripeacutecias O transporte era feito a cavalo ou em diligecircncias ateacute Taquara As diligecircncias carros de quatro de rodas puxados por quatro animais ndash cavalos ndash eram de propriedade de Bertolo Casara mais conhecido por lsquoJoatildeo Gringorsquo Essa viagem se fazia normalmente em um dia e agraves vezes em dia e meio O ponto de parada era ali no Rodeio Bonito onde existia uma casa agrave esquerda bem defronte a estrada que desce para Trecircs Coroas [] De Taquara a Porto Alegre por via ferroviaacuteria ndash de trem (LUCENA 1971 p 16)
A construccedilatildeo desta estrada traz um novo desenvolvimento para a entatildeo vila
de Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra pois apoacutes a abertura da estrada de
rodagem Taquara ndash Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra modifica o transporte
de mercadorias entre as localidades
O transporte de mercadorias era feito em carretotildees de quatro rodas puxados uns por cinco animais outros por sete as maiores que geralmente eram muares Eram atrelados em duas fileiras Na fileira junto agrave carreta que era de duas ou trecircs mulas na da esquerda montava o carreteiro Este toda vez que se verificava um declive na estrada apeava de sua montaria a fim de brecar a carreta sem que esta entretanto parasse (LUCENA 1971 p 24)
Este modelo de comeacutercio vai desaparecer com o surgimento das primeiras
casas de comeacutercios na vila de Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra De acordo
com Lucena (1971 p 38) ldquoos primeiros comerciantes foram Manoel Vicente
Ferreira Abel Pacheco Luis Carlos de Andrade e Jacob Bossle Sobrinhordquo Na
imagem da Figura 6 temos o Accedilougue Central onde nota-se que os animais
convivem soltos na rua juntamente com as pessoas mesmo se tratando de local
urbano
33
Figura 6 ndash Accedilougue Central
Fonte Portal Satildeo Chico (2018)13
Nesta mesma documentaccedilatildeo haacute decretos que definem a construccedilatildeo de uma
nova Igreja Matriz isto eacute uma Igreja de Pedra substituindo a antiga que era de
madeira ainda construiacuteda pelo capitatildeo Pedro da Silva Chaves esta construccedilatildeo data
do ano de 1922 Segundo Teixeira (2002 p 30) a Igreja de Pedra permanece ateacute
1960 quando daacute lugar ao atual preacutedio da Igreja Matriz que foi inaugurada em 14 de
junho de 1964 Na sequecircncia teremos duas imagens demonstrando a Igreja de
Pedra e a atual edificaccedilatildeo da Igreja Matriz Natildeo foi encontrada nenhuma foto da
Igreja de Madeira nos arquivos do Arquivo Histoacuterico do Municiacutepio somente em um
site de fotos antigas onde encontra-se registro apresentado na Figura 7
13 PORTAL SAtildeO CHICO Fotos antigas de Satildeo Francisco de Paula 2018 Disponiacutevel em
ltwwwsaochicocombrantigasgt Acesso em 12 abr 2019
34
Figura 7 ndash Igreja Matriz em 1931
Fonte Portal Satildeo Chico (2018)14
Figura 8 ndash Igreja Matriz
Fonte acervo da autora (2015)
14 PORTAL SAtildeO CHICO Fotos antigas de Satildeo Francisco de Paula 2018 Disponiacutevel em
ltwwwsaochicocombrantigasgt Acesso em 12 abr 2019
35
Entre os anos de 1892 a 1902 por duas vezes Satildeo Francisco de Paula de
Cima da Serra eacute desanexado e reanexado ao entatildeo municiacutepio de Taquara do Mundo
Novo Somente em 23 de dezembro de 1902 foi reestabelecido definitivamente o
municiacutepio de Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra cuja instalaccedilatildeo se verificou
em 07 de janeiro de 1903 A partir de 01 de janeiro de 1938 perde ldquoCima da Serrardquo
de sua nomenclatura permanecendo somente Satildeo Francisco de Paula Apesar
disso se manteacutem o gentiliacutecio ldquoSerranordquo de acordo com Silva (2000 p 23) e dados
do Arquivo Histoacuterico de Satildeo Francisco de Paula sendo que este gentiliacutecio eacute usado
ateacute os dias de hoje
No iniacutecio o municiacutepio de Satildeo Francisco de Paula foi um dos maiores do Rio
Grande do Sul em territoacuterio mas ao longo do tempo foi diminuindo seu territoacuterio
com a anexaccedilatildeo de parte dele ao entatildeo municiacutepio de Caxias do Sul e de Torres e a
criaccedilatildeo dos municiacutepios de Cambaraacute do Sul em 1963 e Jaquirana em 1988
Foi uma das maiores Comunas do Estado pois de seu territoacuterio faziam parte os atuais municiacutepios de Satildeo Marcos Cambaraacute do Sul e Jaquirana e os distritos de Vila Oliva Criuacuteva Fazenda Souza e Vila Seca hoje integrantes de Caxias do Sul De nosso territoacuterio foi tambeacutem desanexada uma gleba de terra ndash Josafaacute ndash e anexada ao municiacutepio de Torres (LUCENA 1971 p 10)
Mesmo perdendo parte de seu territoacuterio ao longo dos anos atualmente
segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (2016) ldquoSatildeo Chicordquo como
costumeiramente eacute chamado pelo seu povo estaacute situado na Encosta Inferior do
Nordeste do Estado do Rio Grande do Sul na zona denominada de Campos de
Cima da Serra Fica distante 112 quilocircmetros da capital do Estado Porto Alegre Os
municiacutepios limiacutetrofes satildeo Monte Alegre dos Campos Bom Jesus Jaquirana
Cambaraacute do Sul Praia Grande-SC Trecircs Forquilhas Itati Maquineacute Riozinho
Rolante Taquara Trecircs Coroas Canela e Caxias do Sul Possui uma aacuterea territorial
de 3264490 quilocircmetros quadrados com uma estimativa populacional de 21617
habitantes distribuiacutedos na zona urbana e rural O municiacutepio se divide em sete
distritos Sede Cazuza Ferreira Tainhas Juaacute Eletra e Lajeado Grande Atraveacutes do
conjunto de mapas apresentado na Figura 9 eacute possiacutevel visualizar a localizaccedilatildeo de
Satildeo Francisco de Paula dentro do Rio Grande do Sul e por conseguinte no Brasil
Tambeacutem se verifica a localizaccedilatildeo dos distritos de Satildeo Francisco de Paula
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Figura 9 ndash Mapa de localizaccedilatildeo de Satildeo Francisco de Paula
Subdivisatildeo de Satildeo Francisco de Paula em distritos
Fonte montagem da autora (2019)
Desta forma se constitui o espaccedilo fiacutesico do municiacutepio de Satildeo Francisco de
Paula cuja populaccedilatildeo natildeo forma uma colocircnia pois seu povo adveacutem de diferentes
lugares a grande maioria com descendecircncia lusa sendo que os primeiros
colonizadores foram bandeirantes paulistas
A populaccedilatildeo de Satildeo Francisco de Paula eacute composta de brancos africanos e indiacutegenas Os brancos compreendendo portugueses (principalmente
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accedilorianos) alematildees e italianos os africanos pertenciam ao grupo dos bantos e foram trazidos pelos portugueses (TEIXEIRA 2002 p 147)
A diversidade de pessoas que se estabeleceram em Satildeo Francisco de Paula
pode ser percebida pelos sobrenomes das famiacutelias precursoras do municiacutepio
Para Satildeo Francisco de Paula afluiacuteram famiacutelias de diversas nacionalidades que atraveacutes de seus descendentes ainda hoje aqui satildeo representadas como Famiacutelias Ferreira Soares Pinto Castilhos Asmuz Santos Martins Lopes Comin Feijoacute Silva Canani Peixoto Andrade Teixeira Valin Lucena Alves Cardoso Gomes Borges Marques Tedesco Medeiros Paglioacuteli Costa Fogaccedila Casara em outras (LUCENA 1971 p 11-12)
Os moradores deste municiacutepio introduziram um jeito singular de viver tendo
em seu cotidiano as tradiccedilotildees gauacutechas15 muito presentes Teixeira (2002 p 83)
assim descreve que ldquoas raiacutezes gauacutechas estatildeo fortemente marcadas na comunidade
seja pelo modo de vestir bombacha botas cinturotildees chapeacuteus e no inverno com o
pala ou pela preferecircncia por comidas campeiras churrasco carreteiro feijatildeo
mexidordquo A autora acrescenta que ldquoas casas com lareira e o tradicional fogatildeo agrave
lenha para aquececirc-las durante o inverno rigoroso satildeo um convite para uma
conversa ao peacute do fogo e o saboreio de um gostoso chimarratildeordquo (TEIXEIRA 2002 p
83)
O enraizamento deste modo de vida adveacutem do homem do campo o
pecuarista que no passado necessitava enviar seus filhos a cidade para estudar
contribuindo para este modelo de vida
Antigamente a pecuaacuteria era a atividade econocircmica muito forte em nosso municiacutepio Assim sendo havia muitos fazendeiros E como as fazendas ficavam muito longe da Sede do municiacutepio as senhoras tinham seus filhos em casa com parteiras Tambeacutem os estudos iniciavam nas fazendas porque as escolas ficavam longe Assim muitas vezes os fazendeiros contratavam professoras para se hospedarem nas suas casas e darem aulas aos seus filhos Em muitos casos ateacute mesmo os proacuteprios pais e avoacutes ensinavam alguma coisa Alguns fazendeiros quando seus filhos ficavam maiores os mandavam continuarem seus estudos na vila (assim lsquoSatildeo Chicorsquo era chamada) (TEIXEIRA 2002 p 77)
Com a vinda dos filhos para a vila trouxeram consigo o jeito do homem do
campo sendo que um dos maiores clubes em funcionamento de Satildeo Francisco de
Paula eacute o atual Centro de Tradiccedilotildees Gauacutechas Rodeio Serrano fundado em maio de
15 Tradiccedilotildees gauacutechas segundo Fagundes (1997 p 38) eacute um movimento ciacutevico-cultural [] eacute a
tradiccedilatildeo em marcha resgatando valores que satildeo vaacutelidos natildeo por serem antigos mas por serem eternos exatamente os valores que trouxeram o Rio Grande e o gauacutecho do passado para o presente projetando-se para o futuro
38
1955 Segundo o Jornal Folha da Serra (1968 n 11 p 12) a entidade
tradicionalista receacutem-formada recebe o nome de CTG Coronel Alziro Torres Filho
Fonseca (2012 p 223) menciona que a iniciativa partiu de ldquoDavenir Peixoto Gomes
um homem ruralista e serranordquo Esta entidade tradicionalista teve como primeiro
Patratildeo Oscar Teixeira O CTG Alziro Torres Filho segundo o jornal Folha da Serra
(1957) muda sua nomenclatura em uma reuniatildeo onde o posteiro da invernada
artiacutestica Alaor Valim propotildee a troca do nome para Rodeio Serrano nome que
permanece ateacute a atualidade
A entidade tradicionalista traz como lema ldquoRepontando a Tradiccedilatildeo com o Rio
Grande na Garupardquo Fonseca (2012 p 224) relata que o lema foi ldquocriado pelo
primeiro instrutor de danccedilas Dr Alaor de Almeida Valimrdquo O mesmo autor acrescenta
que ldquoa primeira prenda foi a professora Maria Asmuz Valimrdquo Poreacutem sua sede
somente foi construiacuteda em 1968 sob a patronagem de Dante Santos O Jornal Folha
da Serra (1968 n 11 p 12) indica que ldquoa construccedilatildeo da sede era uma aspiraccedilatildeo de
longos anos que somente agora se concretizardquo Anteriormente ldquoos bailes eram
realizados em sua maioria no Salatildeo Paroquial sendo que alguns foram feitos no
primeiro andar da Associaccedilatildeo Rural e ateacute mesmo na Sociedade Cruzeirordquo
(FONSECA 2012 p 225) Este fato justifica a vontade de Dante Santos de construir
uma sede proacutepria
Apoacutes a construccedilatildeo de sua nova sede o CTG Rodeio Serrano localiza-se na
Rua Benjamim Constant nordm 582 constituindo um espaccedilo importante para a
comunidade de Satildeo Francisco de Paula Dentre as atividades desenvolvidas pelo
CTG estaacute o Rodeio Interestadual que ocorre todos os anos no primeiro final de
semana de dezembro sendo que se encontra na 33ordf ediccedilatildeo A manutenccedilatildeo das
invernadas artiacutesticas em todas as categorias mascote mirim juvenil e adulta A
organizaccedilatildeo da Ronda Crioula na Semana Farroupilha bem como a Cavalgada de
Prendas que ocorre durante a Semana Farroupilha todos os anos Realiza-se o
baile da Prenda Jovem aleacutem de shows e bailes tipicamente gauchescos Aleacutem
disso nos uacuteltimos anos a organizaccedilatildeo do Festival Ronco do Bugio que ocorre em
Satildeo Francisco de Paula ldquofestival este lanccedilado em 16 de abril 1986rdquo segundo o
Jornal Satildeo Chico Tchecirc (1986 n 4 p 5)16
16 Satildeo Chico Tchecirc jornal de circulaccedilatildeo quinzenal fundado em 08 de janeiro de 1986 e que circulou
ateacute 1989 O jornal trazia informaccedilotildees culturais sociais econocircmicas e poliacuteticas da Sede e do
39
Durante os seus sessenta e dois anos de existecircncia muitos patrotildees
passaram por esta entidade tradicionalista mas em 2017 pela primeira vez na
histoacuteria o CTG Rodeio Serrano teve uma patronagem feminina Aleacutem da Patroa
Neuza Reis foram empossadas a Capataz Elenita Amaral a Sota-capataz Fernanda
Kirsch Damasceno o Agregado das Pilchas Antocircnio Garcia de Souza e no
Conselho de Vaqueanos Neiva Santos Valim
Figura 10 ndash Patroa Neuza Reis e sua Comissatildeo
Fonte Jornal Pioneiro (2017)17
Satildeo Francisco de Paula hoje conta com vinte e oito entidades
tradicionalistas18 espalhadas pelos seus distritos demonstrando que homem do
campo se faz muito presente em todo o municiacutepio sendo assim a cultura
interior Os exemplares encontram-se encadernados no arquivo histoacuterico de Satildeo Francisco de Paula
17 Jornal Pioneiro conhecido como o jornal que estaacute ldquoao teu ladordquo o Pioneiro circula desde 1948 e estaacute presente hoje em 64 municiacutepios da regiatildeo de Caxias do Sul Desde 1993 integra a rede de jornais do Grupo RBS sendo filiado ao Instituto Verificador de Circulaccedilatildeo (IVC) Conta com uma equipe de Redaccedilatildeo com mais de 40 jornalistas aleacutem de colunistas internos e externos Em 2008 o jornal ganhou o site pioneirocom Disponiacutevel em lthttpwwwgruporbscombratuacaopioneirogt acesso em 10 de fevereiro de 2019
18 Informaccedilatildeo cedida pelo Coordenador da 27ordf Regiatildeo Tradicionalista Gauacutecha
40
tradicionalista se apresenta de maneira forte e consistente segundo vaacuterios
depoimentos de moradores de todos os distritos de Satildeo Francisco de Paula
41
4 SAtildeO FRANCISCO DE PAULA DISTRITOS EM FOCO
Quanto aos distritos de Satildeo Francisco de Paula surgem diversas
inquietaccedilotildees com relaccedilatildeo agrave identidade destes locais pois estes mesmo fazendo
parte de um mesmo municiacutepio apresentam singularidades que derivam de sua
colonizaccedilatildeo basicamente lusa portuguesa e da recepccedilatildeo de imigrantes de diversas
etnias como italianos e alematildees ao longo destes cento quinze anos de
emancipaccedilatildeo Percebe-se que alguns distritos manteacutem sua identidade e tradiccedilotildees
resguardadas enquanto em outros jaacute ocorreu agrave miscigenaccedilatildeo de diferentes haacutebitos
e culturas o que dificulta identificar traccedilos que identifiquem estes distritos
Neste capiacutetulo busca-se responder a estas inquietaccedilotildees fazendo uso dos
depoimentos de moradores locais Segundo Delgado (2003 p 21) ldquoessas
narrativas tal qual os lugares da memoacuteria satildeo instrumentos importantes de
preservaccedilatildeo e transmissatildeo das heranccedilas identitaacuterias e das tradiccedilotildeesrdquo Neste sentido
se optou por dois moradores por distrito totalizando treze entrevistados um homem
e uma mulher da terceira idade que sempre morou no distrito o que enriquece os
detalhes repassados pelos entrevistados
Toda entrevista tem por base a memoacuteria individual que se referencia na coletiva profundamente relacionada agraves vivecircncias individuais A utilizaccedilatildeo do depoimento de pessoas idosas como fonte para a histoacuteria oral eacute uma forma de justificar a entrevista como histoacuterica referindo-se ao passado jaacute que aos idosos se pretende atribuir a guarda de memoacuterias do passado pelo proacuteprio tempo de vida do depoente Isto retoma e ajuda a fortalecer a ideia de que a histoacuteria mesmo tratando do tempo presente ainda se reporta a um periacuteodo anterior ao da vida do pesquisador (ALMEIDA 2012 p 10)
A entrevista somente ocorreu quando o entrevistado concordou em assinar o
termo de consentimento As entrevistas ocorreram nas residecircncias dos
entrevistados foram preacute-agendadas sendo que o meacutetodo utilizado foi entrevista
guiada atraveacutes de questionaacuterio previamente organizado pela autora as entrevistas
foram filmadas e gravadas onde somente uma entrevistada natildeo autorizou a
filmagem de seus relatos justificando a idade avanccedilada e por morar sozinha
A escolha pela histoacuteria oral hibrida ocorreu no sentido de que a fonte oral eacute o
principal recurso utilizado para colher informaccedilotildees sobre os distritos visto que em
sua grande maioria natildeo haacute publicaccedilotildees Poreacutem em determinados momentos se
utilizam fontes documentais como complemento do que vem sendo apresentado
Com relaccedilatildeo agrave abordagem adotada nas entrevistas se optou pela temaacutetica visto
42
que se leva um roteiro preacute-organizado com temas que deveratildeo ser explorados
durante as entrevistas o que proporciona uma riqueza de informaccedilotildees para a
autora
41 DISTRITO SEDE
O distrito Sede se constitui no local onde se inicia o povoado do municiacutepio na
antiga Fazenda da Cria terras doadas pelo capitatildeo Pedro da Silva Chaves Neste
distrito concentram-se os serviccedilos puacuteblicos e privados que os moradores
necessitam em seu dia-a-dia visto que ali existem bancos casas loteacutericas
farmaacutecias hospital supermercados lojas papelarias livraria inspetoria veterinaacuteria
secretaacuterias municipais escolas puacuteblicas e privadas creches induacutestrias de madeiras
e calccedilados
Poreacutem o distrito Sede ou cidade de Satildeo Chico como popularmente
conhecida pelo seu povo jaacute foi uma cidade de interior ou seja uma cidade pequena
com moradores que vinham das fazendas em busca de estudo Visto que a
implementaccedilatildeo de uma rede regular de ensino ocorre tardiamente devido agrave
dificuldade de se locomover pelas distantes localidades entatildeo normalmente os
fazendeiros contratavam professores para que seus filhos obtivessem estudo sendo
que estes moravam na proacutepria residecircncia da famiacutelia Em entrevista com essa autora
relata Albuquerque19 que ldquopara aprimorar os estudos aqueles que tinham mais
condiccedilotildees iam para Porto Alegre Santa Maria ou Passo Fundo mas para isto
ficavam laacute em internatos e soacute retornavam nas feacuterias devido agrave dificuldade e o custo
da viagemrdquo
Na deacutecada de 40 foi criada a Escola Catoacutelica de Satildeo Francisco de Paula
cujo funcionamento acontece ateacute 1973 quando foram encerradas suas atividades
Esta escola iniciou com o curso primaacuterio e posteriormente instalou o curso ginasial
Normalmente estes moradores permaneciam de segunda-feira a sexta-feira na
cidade e nos finais de semana retornavam para as fazendas como recorda uma
moradora local
Noacutes eacuteramos uma cidade de fazendeiros a gente tinha uma casa no campo e uma na cidade a gente vivia de laacute pra caacute de caacute pra laacute fim de semana ia
19 ALBUQUERQUE Moacir Castello Branco de Entrevista concedida agrave autora no dia 06 de abril de
2018
43
pra fora20 dia de semana vinha pra caacute normalmente uma irmatilde mais velha voacute ficava com a gente aqui na cidade e a famiacutelia mesmo ficava no campo21
Percebe-se que hoje ainda existem na Sede moradores que manteacutem suas
casas na cidade e durante o dia ou nos finais de semana vatildeo ateacute suas fazendas
para fazer as lides com o gado o que caracteriza uma pequena parte da populaccedilatildeo
que foram os filhos dos antigos fazendeiros que mais tarde acabam se instalando
definitivamente na cidade trazendo com sigo a essecircncia do homem do campo e
afirmando uma identidade genuinamente gauacutecha definiccedilatildeo esta concedida por uma
moradora local
Gauacutecho natildeo eacute o morador do Rio Grande do Sul o morador do Rio Grande do Sul eacute o sul-rio-grandense ou rio-grandense do sul o gauacutecho eacute apenas o homem que vem da pecuaacuteria extensiva essa que existe laacute no pampa e aqui nos campos de cima da serra o gauacutecho serrano com caracteriacutesticas muito proacuteprias grandes gaiteiros poetas aliaacutes o maior gaiteiro do mundo eacute daqui natildeo abro matildeo de dizer isto soacute que todos noacutes viacutenhamos da lida do campo em decorrecircncia disso eacuteramos gauacutechos de verdade22
Em sua fala apresenta o gauacutecho serrano como um tipo singular que ama a
pilcha gauacutecha o seu pingo e suas criaccedilotildees bem como reafirma a importacircncia dos
Irmatildeos Bertussi Honeide e Adelar sendo Adelar Bertussi um dos maiores gaiteiros
deste municiacutepio Exaltam-se tambeacutem os poetas que com suas poesias e letras de
muacutesicas escrevem o jeito do seu povo viver
Mesmo a cidade sendo ldquolocal de paradardquo durante a semana para a maioria
de seus habitantes no passado era cheia de atrativos que o campo natildeo possuiacutea
como o cinema cuja instalaccedilatildeo natildeo se encontra documentada mas sabe-se que
iniciou onde hoje eacute o preacutedio da Prefeitura Municipal sendo proprietaacuterio Francisco
Ferraz (Chico Ferraz como era conhecido) Observa-se em alguns exemplares do
Jornal Folha da Serra23 os filmes e os horaacuterios do funcionamento do cinema
Entende-se que o jornal era uma maneira de divulgar os filmes por ser o uacutenico meio
de comunicaccedilatildeo da eacutepoca Pelos folhetins se percebe que as sessotildees
apresentavam diversos gecircneros natildeo se sabe quando o cinema finalmente fechou
20 Fora refere-se ir para a fazenda 21 SOARES Luciana Olga Entrevista concedida agrave autora no dia 01 de marccedilo de 2018 22 SOARES Luciana Olga Entrevista concedida agrave autora no dia 01 de marccedilo de 2018 23 Folha da Serra jornal local criado em 1932 pelo Dr Siacutelvio Rabelo passando posteriormente a
propriedade da Prefeitura Municipal Sua impressatildeo era na ordem de 500 exemplares natildeo se tem a informaccedilatildeo do periacuteodo que parou de circular mas pelos exemplares encontrados no Arquivo Histoacuterico de Satildeo Francisco de Paula os uacuteltimos datam de 1978 O Arquivo Histoacuterico de Satildeo Francisco de Paula fica em um preacutedio anexo agrave Biblioteca Puacuteblica do municiacutepio
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poreacutem o jornal Folha da Serra traz uma reportagem que retrata como estava difiacutecil
manter o cinema em funcionamento em meados de 1968 ldquoo nosso cinema na
maneira que vai indo natildeo tem mais condiccedilotildees de funcionar natildeo temos apoio da
populaccedilatildeo com uma frequecircncia de mais ou menos 150 pessoas por final de
semanardquo O jornal acrescenta ldquosalienta-se que mais ou menos de 3 de nossa
CULTA populaccedilatildeo natildeo frequenta o cinemardquo Pode-se associar o fechamento do
cinema a dois fatores a natildeo cultura de assistir filmes e pelas sessotildees ocorrerem nos
finais de semana onde boa parte da populaccedilatildeo da cidade se deslocava para as
fazendas ou pela crise que os cinemas passaram na deacutecada de 80 quando em
muitas cidades foram fechados
A vida da populaccedilatildeo local vai se modificando cada vez mais as pessoas vatildeo
se instalando definitivamente na Sede onde se perde o viacutenculo com o campo
Devido agrave venda ou arrendamento das fazendas24 que por render pouco a pecuaacuteria
extensiva e com a criaccedilatildeo de novas legislaccedilotildees que proiacutebem praacuteticas centenaacuterias
seus proprietaacuterios buscaram novas possibilidades econocircmicas que modificaram a
Sede e tambeacutem boa parte do interior Em entrevista a moradora Soares relata
Exatamente porque a produccedilatildeo era pequena isso natildeo serve para o mundo de hoje a uns quarenta anos chega em nossos campos as primeiras plantaccedilotildees de pinus interessante que ningueacutem reclamou da destruiccedilatildeo desse campo de milhotildees de anos e de todo o ecossistema mas mesmo com essa nova cultura continuamos realizando a sapeca do campo no mecircs de agosto mas de repente chega a notiacutecia que estaacute proibida a queima do campo dizendo que noacutes estragaacutevamos a terra poluiacuteamos o ar que mataacutevamos animais e tudo aquilo natildeo era verdade Na verdade alguns anos depois da lei proibindo a queima do campo chegam as multas gigantescas agraves vezes maior que o valor da terra e aiacute inviabilizou a pecuaacuteria e muitos fazendeiros venderam suas terras e foram embora Quem ficou no campo na busca por renda a qualquer preccedilo arrenda seus campos para os batateiros que vieram acredito que a grande maioria de Santa Catarina e do Paranaacute estes lavram o campo nunca mais o campo nem com reza braba taacute tudo perdido para sempre e isso reflete na nossa cidade25
Essas mudanccedilas no campo refletem na Sede onde o homem serrano convive
passivamente com novas identidades que embora sejam presentes eacute minoria pois
esta parcela de novos moradores traz consigo um novo jeito de viver que ainda natildeo
se percebe influenciar na identidade cultural da Sede
24 Propriedades rurais cuja atividade principal eacute a praacutetica da pecuaacuteria extensiva e a produccedilatildeo do
queijo artesanal serrano 25 SOARES Luciana Olga Entrevista concedida agrave autora no dia 01 de marccedilo de 2018
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Na Sede desde o iniacutecio se observam quatro clubes sociais a Sociedade
Cruzeiro a Sociedade 9 de Julho a Sociedade Esperanccedila e o Centro de Tradiccedilotildees
Gauacutechas Cada clube social tem sua importacircncia histoacuterica poreacutem alguns natildeo se
manteacutem ativos
A Sociedade 9 de Julho foi fundada em 27 de setembro de 1961 estando
localizada no bairro Rincatildeo Segundo o jornal Folha da Serra (1968 n 96 p 5)
apoacutes sete anos de sua fundaccedilatildeo ldquoseu presidente Galego promete uma nova e
confortaacutevel sede para a sociedaderdquo Sociedade que se apresenta por sua
versatilidade nos eventos ateacute os dias atuais
O jornal Folha da Serra (1968 n 96 p 5) traz a seguinte mateacuteria ldquoas quatro
noites foram repletas de alegria naquela sociedade onde os foliotildees divertiram-se e
quando se anunciou o final da quarta noite houve quem lamentasse o final da festa
do Momordquo A reportagem refere-se ao carnaval que se desenvolve de forma
popular nesta sociedade Neste espaccedilo na deacutecada de 1990 ocorria um baile na
sexta-feira que antecedia ao Festival do Ronco do Bugio um espaccedilo onde jovens se
encontravam para iniciar as festividades do grande festival da cidade poreacutem na
atualidade este evento natildeo ocorre mais Pelos cartazes de divulgaccedilatildeo de eventos
atuais a Sociedade 9 de Julho se torna um espaccedilo bastante versaacutetil e segundo
dados obtidos no site da proacutepria sociedade o local apresenta shows bailes
tradicionalistas domingueiras e festas temaacuteticas
Sabe-se da existecircncia da Sociedade Esperanccedila devido a uma reportagem a
respeito do carnaval escrita no jornal Folha da Serra (1968 n 11 p 25) ldquoos
escurinhos tambeacutem natildeo ficaram para traacutes e demonstraram que satildeo bons no samba
porque soacute quem assistiu pode ver como brincaram e que maravilha de ritmo
marcaram durante as quatro noitesrdquo A reportagem daacute a entender de se tratar de
uma sociedade frequentada por negros e pode-se entender que ao usar o termo
escurinho na reportagem haacute preconceito racial perpassando a ideia de que por
serem negros natildeo poderiam se divertir da mesma maneira que os brancos
Atualmente se encontra no local um espaccedilo residencial e comercial
A Sociedade Cruzeiro foi fundada em 9 de maio de 1925 pela elite da
sociedade serrana Segundo Teixeira (2002) e Fonseca (2012) sua sede social era
na Avenida Juacutelio de Castilhos onde hoje se situa a agecircncia do Banrisul e teve como
primeiro presidente o Sr Antocircnio Mario Kroeff e o secretaacuterio Sr Joatildeo Parobeacute de
Lucena Sua nova sede foi inaugurada de acordo com Fonseca (2012 p 236) ldquono
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dia 11 de dezembro de 1965 e esta permanece no mesmo endereccedilo ateacute a
atualidade Situa-se na Rua Dr Frederico Tedesco nordm 1261rdquo
Atualmente este espaccedilo eacute usado para convenccedilotildees ou festas particulares
onde as pessoas locam o espaccedilo para realizarem seu evento Neste espaccedilo natildeo
mais ocorrem grandes eventos sociais como Fonseca (2012 p 232) descreve ldquoos
bailes mais elegantes e vistosos desta sociedade ocorrem aquirdquo Fonseca (2012 p
233) ainda complementa que ldquoa primeira Miss Sociedade Cruzeiro foi eleita em 1937
e a vencedora foi a jovem Zilah Teixeirardquo
A Sociedade Cruzeiro tambeacutem foi palco de bailes de carnaval O Jornal Folha
da Serra (1968 n 11 p 25) descreve ldquocomo sempre a Sociedade Cruzeiro ponteou
o nosso carnaval com blocos fantasiados magnificamente fazendo acrobacias ao
som de excelente muacutesica local onde os turistas afluiacuteramrdquo Contrapondo a este
tempo a moradora local Soares26 discorre de maneira saudosa ldquoque saudades do
carnaval hoje eacute bebedeira perdeu o encanto perdeu tudo Na rua o pessoal
gritando sem nenhuma infraestrutura nem os bailes na sociedade natildeo ocorrem
maisrdquo
O distrito Sede jaacute foi palco de inuacutemeros clubes sociais que ao longo do tempo
foram perdendo seu encanto e ateacute mesmo fechando-se para atividades sociais O
que permanece em pleno funcionamento eacute o Centro de Tradiccedilotildees Gauacutechas Rodeio
Serrano o que justifica uma cultura tradicionalista presente neste distrito Dentre as
atividades desenvolvidas por esta entidade estatildeo o Rodeio Interestadual com
atividades campeiras e artiacutesticas que ocorrem todos os anos no primeiro final de
semana de dezembro a manutenccedilatildeo das invernadas artiacutesticas em todas as
categorias mascote mirim juvenil e adulta
A organizaccedilatildeo da Ronda Crioula na Semana Farroupilha com a participaccedilatildeo
das escolas da Sede e do interior que trazem seus grupos de danccedilas bem como
organizam gincanas Outra atividade tambeacutem desenvolvida por esta entidade eacute a
Cavalgada de Prendas que ocorre durante a Semana Farroupilha desde 1992
sendo Satildeo Francisco de Paula pioneira nesta ideia onde somente mulheres
participam da cavalgada que culmina com o desfile na Avenida Juacutelio de Castilhos
Realiza-se tambeacutem o Baile da Prenda Jovem que eacute o baile de debutante gauacutecho
onde as prendas entre 13 e 15 anos satildeo apresentadas agrave sociedade Aleacutem disso nos
26 SOARES Luciana Olga Entrevista concedida agrave autora no dia 01 de marccedilo de 2018
47
uacuteltimos anos a organizaccedilatildeo e apresentaccedilatildeo do Festival Ronco do Bugio que ocorre
em Satildeo Francisco de Paula faz parte da programaccedilatildeo desta entidade Este festival
apresenta exclusivamente o gecircnero musical bugio Haacute pelo menos duas hipoacuteteses
sobre a origem deste gecircnero musical
A primeira eacute de berccedilo serrano e teria mais fiel escudeiro o inesqueciacutevel acordeonista de Satildeo Francisco de Paula Honeyde Bertussi Siqueira Segundo ele o ritmo teria sido originaacuterio pelas matildeos do gaiteiro Vergiacutelio Leitatildeo que no jogo-de-foles e nos baixos de sua gaita de botatildeo teria imitado o ronco do bicho nos caponetes de cima da serra [] teria difundido pelas bodegas do Juaacute interior de Satildeo Chico (SOUZA 2003 p 15)
A segunda hipoacutetese eacute apresentada por Souza (2003 p 15) que apresenta a
versatildeo dada pelo povo de Satildeo Francisco de Assis que diz que ldquoa origem do ritmo e
oriunda desta localidade que por sinal realizava um festival nativista chamado
Querecircncia do Bugiordquo
Desconhece-se a verdadeira origem do gecircnero musical bugio mas Souza
(2003 p 23) afirma que ldquoJoatildeo Cincinato Terra muacutesico atuante sentiu a
necessidade de nosso municiacutepio acompanhar o movimento jaacute que neste periacuteodo se
expande por todo o estado do Rio Grande do Sul os festivais nativistasrdquo O
lanccedilamento do primeiro festival do Ronco do Bugio acontece em 1986 no CTG
Rodeio Serrano com a participaccedilatildeo de vaacuterios representantes da muacutesica nativista e
da comunidade serrana Seu lanccedilamento oficial ocorre em 16 de abril de 1986
O jornal Satildeo Chico Tchecirc (1986 n 11 p 6) noticiou que o primeiro Festival do
Ronco do Bugio contou com 98 muacutesicas escritas sendo 24 as selecionadas O
festival ocorreu entre os dias 13 e 15 de maio e Souza (2003 p 42) descreve que foi
apresentado ldquosob uma lona de circo estaqueada num gramado amador mas de
tantas gloacuterias futeboliacutesticas o campo do Clube Atleacutetico Serranordquo
A muacutesica vencedora do primeiro Ronco do Bugio foi ldquoLevanta Bugiordquo
defendida pelo cantor e compositor gauacutecho Leonardo Observando fotos percebe-se
que o Ronco do Bugio se deu em uma noite fria de inverno
O Festival Ronco do Bugio desde o seu iniacutecio premia melhor arranjo
conjunto instrumental instrumentista inteacuterprete e a muacutesica mais popular Fatima
Gimenez foi a melhor inteacuterprete do primeiro festival defendendo a muacutesica ldquoPinheiro
Gringordquo composiccedilatildeo de Erian Fogaccedila e Laerte Fortes Novamente a roupa dos
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muacutesicos reforccedila que na noite da entrega da premiaccedilatildeo fazia muito frio A cantora
tambeacutem se apresenta vestindo um chiripa coberto por um pala27
Na Figura 11 observamos a fotografia de Gonzaga dos Reis muacutesico local
sentado com sua gaita instrumento que lhe deu o precircmio de melhor instrumentista
do primeiro Ronco do Bugio Nesta oportunidade o cantor instrumentista e
compositor defendeu a muacutesica ldquoBugio da Minha Terrardquo
Figura 11 ndash Gonzaga dos Reis
Fonte Jornal Satildeo Chico Tchecirc n 4 p 8 (1986)
A composiccedilatildeo ldquoBugio Tiranordquo que foi defendida pelo conjunto Os Tiranos de
Satildeo Francisco de Paula ganhou o precircmio mais popular
Para o Jornal Satildeo Chico Tchecirc (1986 n 11 p 7) o Festival Ronco do Bugio eacute
ldquoum festival autecircntico e original que aconteceu com grande sucesso em Satildeo
Francisco de Paulardquo No encerramento deste grande evento Joatildeo Chagas Leite se
27 Chiripa e pala satildeo trajes tipicamente gauacutechos Sendo que o chiripa atualmente eacute uma veste de
preferecircncia feminina este fica enrolado na cintura e vai ateacute os joelhos ldquoEacute um pano inteiro passado entre as pernas primeiro de traacutes para frente e depois de frente para traacutes pode ser de latilde ou lisordquo (ABREU 2003 p 67) O pala eacute uma peccedila retangular com franjas nos quatro lados e listras no sentido do comprimento
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apresenta segundo o Jornal Satildeo Chico Tchecirc (1986 n 11 p 8) ldquocom composiccedilotildees
como Corda de Espinho Orelhano Pampa Campo e Querecircncia Coraccedilatildeo de
Estudante e Afiosrdquo
O Festival Ronco do Bugio perpassa o tempo segundo o site da Prefeitura
Municipal
O Festival Ronco do Bugio eacute um evento musical nativista que acontece anualmente na Cidade de Satildeo Francisco de Paula com o intuito de preservar e difundir o uacutenico ritmo originaacuterio do Rio Grande do Sul ou seja o lsquobugiorsquo compasso criado justamente no interior deste municiacutepio Tal criaccedilatildeo se deu a partir da criatividade dos gaiteiros serranos que buscaram imitar com seu instrumento musical o ronco do primata nos matos da serra A festividade agora em sua 26ordf ediccedilatildeo eacute genuiacutena pois eacute o uacutenico da Ameacuterica onde obrigatoriamente os participantes devem utilizar um ritmo somente isto eacute o citado lsquobugiorsquo embora a temaacutetica seja abrangente Por este motivo eacute chamado de lsquoO Festival Mais Autecircntico do Rio Grandersquo Aleacutem do forte enfoque cultural que envolve toda a comunidade musical do Estado o Festival tem seu apelo ecoloacutegico pois chama a atenccedilatildeo para a preservaccedilatildeo da espeacutecie hoje quase em extinccedilatildeo O Ronco do Bugio por sua importacircncia no cenaacuterio cultural rio-grandense criou uma identidade ao povo de Satildeo Francisco de Paula pois junto ao evento estaacute intriacutenseco e vem agrave tona o histoacuterico da criaccedilatildeo do municiacutepio caracterizado pela forte influecircncia dos antigos tropeiros desbravadores e povoadores desta parte do paiacutes (PREFEITURA MUNICIPAL DE SAtildeO FRANCISCO DE PAULA 2017)
No mesmo documento disponibilizado pela Prefeitura Municipal de Satildeo
Francisco de Paula observam-se algumas informaccedilotildees a respeito da realizaccedilatildeo do
festival no ano de 2017
Art 1ordm - O 26ordm Ronco do Bugio realizar-se-aacute no municiacutepio de Satildeo Francisco de Paula nos dias 01 e 02 de setembro de 2017 Art 2ordm - a festividade agora em sua 26ordf ediccedilatildeo eacute genuiacutena pois eacute a uacutenica na Ameacuterica Latina com promoccedilatildeo da Prefeitura Municipal de Satildeo Francisco de Paula e do CTG Rodeio Serrano com apoio de oacutergatildeos puacuteblicos e iniciativa privada Art 3ordm - Satildeo objetivos do 26ordm Ronco do Bugio a) valorizar a tradiccedilatildeo arte cultura e a autecircntica muacutesica regionalista
gauacutecha atraveacutes do seu ritmo mais original b) prestigiar autores compositores inteacuterpretes e conjuntos regionalistas e
incentivar o surgimento de novos valores c) divulgar a muacutesica regional gauacutecha d) valorizar a relevante posiccedilatildeo na formaccedilatildeo de usos e costumes
caracteres e valores espirituais e morais do gauacutecho e) promover e incentivar a cultura gauacutecha projetando Satildeo Francisco de
Paula na maneira mais autecircntica no cenaacuterio do turismo (PREFEITURA MUNICIPAL DE SAtildeO FRANCISCO DE PAULA 2017)
Como eacute possiacutevel observar no artigo 4ordm ldquoA organizaccedilatildeo do 26ordm Ronco do Bugio
ficaraacute a cargo da Comissatildeo Organizadora composta por membros da Prefeitura
Municipal e do CTG Rodeio Serranordquo (PREFEITURA MUNICIPAL DE SAtildeO
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FRANCISCO DE PAULA 2017) Devido agrave importacircncia identitaacuteria do festival para o
municiacutepio ao se chegar agrave cidade na deacutecada de 90 se encontrava o seguinte
outdoor
Figura 12 ndash Outdoor entrada da cidade na ERS-020
Fonte Souza (2003 p 17)
Assim como o tiacutetulo de ldquoCapital Mundial do Bugiordquo Satildeo Francisco de Paula ldquojaacute
obteve vaacuterios slogans dentre eles o de Satildeo Chico eacute terra boardquo (TEIXEIRA 2002 p
149-150)
Mesmo ocorrendo inferecircncias externas advindas com pessoas que trouxeram
consigo uma identidade diferente Soares28 em entrevista afirma ldquoSatildeo Chico eacute
identificada pela cultura tradicionalista gauacutecha a cuia em frente ao antigo preacutedio da
prefeitura demonstra o siacutembolo da hospitalidade de nosso povordquo A permanecircncia
ativa do CTG Rodeio Serrano na sede eacute outro indicativo forte da presente
identidade ligada as atividades do homem do campo Outro fato observado eacute a
constante praacutetica do laccedilo de vaca parada29 por jovens e crianccedilas nos paacutetios de suas
residecircncias bem como cavalarianos (homens mulheres jovens e crianccedilas) na
28 SOARES Luciana Olga Entrevista concedida agrave autora no dia 01 de marccedilo de 2018 29 Vaca parada uma espeacutecie de cavalete de madeira com aspectos de uma vaca usada por crianccedilas
que estatildeo iniciando neste esporte bem como usado como forma de entretenimento para jovens e adultos
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avenida principal cavalgando entre os carros Ainda se percebe o respeito entre
motoristas de automotivos bicicletas e os cavalarianos todos ocupando o mesmo
espaccedilo
42 DISTRITO DE CAZUZA FERREIRA
O distrito de Cazuza Ferreira foi criado em 07 de janeiro de 1903 estando
situado a 85 quilocircmetros da Sede Andrade comenta em entrevista30 ldquoateacute acho que
Cazuza se desenvolveu primeiro que Satildeo Chicordquo31 visto que a criaccedilatildeo do distrito
acontece dias depois da emancipaccedilatildeo enquanto a criaccedilatildeo da vila do distrito de
Cazuza Ferreira se desenvolve segundo a entrevistada
A parte da Histoacuteria que eu sei eacute que houve a chegada de um Sr Chico Mestre eacute como eles chamavam Esse Sr veio as casas eram distantes umas das outras e ele comeccedilou a fazer oraccedilatildeo nas casas e reunir as pessoas e fundou o cemiteacuterio Entatildeo o Joseacute Ferreira de Castilhos que era dono daqui naquela eacutepoca um dos moradores que tinha bastante terra doou a terra para fazer a vila aiacute o que aconteceu segundo as histoacuterias era para ser ali onde eacute a cancha de laccedilo hoje do outro lado da estrada soacute que o terreno natildeo era apropriado entatildeo houve uma permuta com o Sr que era dono deste terreno aqui era Bossle aqui era bem mais alto e mais plano Entatildeo se construiu a Igreja e iniciou o povoamento da vila32
A moradora Basso ainda acrescenta que ldquoa vila foi sempre mais ou menos o
que ela eacute hojerdquo Ao observar o local pode-se perceber uma grande praccedila ao centro
rodeada de casas de comeacutercio posto de combustiacutevel posto de sauacutede o hotel a
Igreja Matriz juntamente com o salatildeo paroquial e casas residecircncias cujo aspecto
impressiona por a grande maioria das casas apresentam uma arquitetura que
perpassa o tempo A Figura 13 apresenta uma imagem da praccedila central tirada das
escadarias da Igreja Matriz
30 ANDRADE Nauro Bossle de Entrevista concedida agrave autora no dia 04 de marccedilo de 2018 31 Primeiro que Satildeo Chico eacute um termo comum usado pelos moradores do interior do municiacutepio de
Satildeo Francisco de Paula que ao se referir a Sede do municiacutepio usam o termo Satildeo Chico ou Satildeo Francisco de Paula pois seus moradores natildeo costumam na atualidade dizer lsquovou a Sedersquo e sim lsquovou a Satildeo Chicorsquo como se eles natildeo morassem no municiacutepio
32 BASSO Ceacutelia Pacheco Terres Entrevista concedida agrave autora no dia 04 de agosto de 2018
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Figura 13 ndash Praccedila Central de Cazuza Ferreira
Fonte acervo pessoal da autora (2018)
Apesar de ter a preservaccedilatildeo arquitetocircnica a moradora Basso declara
O pai contava e outras pessoas contam que teve uma eacutepoca que tinha faacutebrica de tamanca33 jaacute teve faacutebrica de guaranaacute de queijo bastante coisa no sentido de selaria mas tudo foi se extinguindo as pessoas as famiacutelias natildeo deram continuidade e se sumiram natildeo existe mais nada disso mas estas faacutebricas natildeo davam renda ou seja trabalho para pessoas de fora pois elas eram administradas e cuidadas pelas famiacutelias Daiacute houve o periacuteodo das serrarias enquanto pode extrair madeira era o forte a vila movimentada enriqueceram alguns comerciantes locais o momento que extinguiu aquele trabalho eles foram embora e o povo daqui acomodou entatildeo hoje a vila tem bastante pessoas que foram embora trabalhar assim na juventude e hoje aposentados voltaram pois aqui para jovem natildeo tem sobrevivecircncia o uacutenico trabalho eacute na escola tem nove professores e uma funcionaacuteria em alguns funcionaacuterios da prefeitura acho que satildeo seis que cuidam do plantel de maacutequinas a enfermeira e o pessoal que cuida do posto do correio tambeacutem tem a ferraria mas ali eacute soacute os da proacutepria famiacutelia entatildeo o jovem acaba tendo que ir embora34
Os entrevistados Basso e Andrade relatam que apesar das adversidades o
povo de Cazuza Ferreira tem um amor pelas suas tradiccedilotildees mantendo vivos trecircs
aspectos que ambos consideram a marca identitaacuteria de seu povo e afirmam com
33 Tamanca calccedilado comum na regiatildeo solado de madeira com uma proteccedilatildeo sobre as pontas dos
dedos indo ateacute o peito do peacute em couro 34 BASSO Ceacutelia Pacheco Terres Entrevista concedida agrave autora no dia 04 de agosto de 2018
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convicccedilatildeo ldquofalar de Cazuza eacute cavalhada hotel e rodeiordquo enquanto Basso acrescenta
que ldquoas cavalhadas satildeo heranccedila dos portugueses e estatildeo espalhadiacutessimas ateacute
nacionalmente atraveacutes da miacutedia porque natildeo pesquisei mas ateacute onde sei no Rio
Grande do Sul soacute tem aquirdquo
Na comunidade ainda segundo Basso ldquoa apresentaccedilatildeo das cavalhadas se
iniciou por volta de 1890 e permanece ativa ateacute hoje no passado existiam trecircs
cavalhadas as dos brancos dos amarelos e dos negrosrdquo acrescentando ldquomas hoje
natildeo haacute mas essa diferenciaccedilatildeordquo Em poliacutegrafo organizado por uma moradora local a
mesma explica que a cavalhada ldquoeacute uma luta simulada em que haacute vinte e quatro
participantes sendo doze de cada equiperdquo35 por meio da evoluccedilatildeo equestre e
movimentos de espada lanccedila e garrucha representando a batalha entre mouros e
cristatildeos Segundo esta moradora ldquoa batalha sempre termina sendo vencida pelos
cristatildeos demonstrando a submissatildeo dos mouros e a supremacia da religiatildeo cristatilderdquo
Atualmente o grupo depende da boa vontade de seus participantes conforme
explica
Hoje se tornou caro eacute exame dos cavalos transporte depende do querer das pessoas da boa vontade e tem pessoas engajadas que natildeo largam a famiacutelia do Renau que ele eacute o presidente do grupo ele tem um amor tatildeo grande pelas cavalhadas porque ele jaacute recebeu do pai dele do teu avocirc e do seu Ivo Cardoso e a vida dele agraves vezes me desgosto de alguma coisa pois faccedilo a narrativa do que estaacute sendo apresentado mas daiacute eu penso natildeo posso abandonar (sorri) Eacute uma tradiccedilatildeo que natildeo pode morrer mas os filhos do Renau o Marcos e o Marcelo daratildeo continuidade faz parte da famiacutelia tu sabe eacute da mesma famiacutelia Eacute uma grande tradiccedilatildeo que natildeo pode desaparecer temos que continuar peleando36
As cavalhadas satildeo apresentadas na praccedila central sempre durantes as festas
religiosas que acontecem na comunidade sendo assim organizadas
No primeiro ou segundo final de semana de fevereiro tem a festa da Nossa Senhora do Belo Horizonte que eacute a padroeira daqui Agora devido agrave comissatildeo e o padre um ano tem a festa dos morenos e no outro tem a dos agricultores que eram chamados de amarelos antigamente cuja devoccedilatildeo se daacute agrave Nossa Senhora do Rosaacuterio e Nossa Senhora da Penha Antigamente cada um tinha seu espaccedilo social para realizar a festa atualmente soacute se manteve a tradiccedilatildeo de comemorar os santos este ano eacute festa dos morenos ela seraacute dia 13 e 14 de outubro Todas as festas
35 Sendo que doze cavaleiros que representam os cristatildeos vestem tuacutenicas de veludo azul escuro e
os doze cavaleiros mouros vestem tuacutenicas vermelhas Sobre os ombros da tuacutenica haacute uma capinha esta capinha traz enfeites prateados bordados com lantejoulas e bototildees dourados e franjas de seda branca Todos os participantes usam bombacha branca de brim botas campeiras pretas chapeacuteu de palha de aba larga virada para cima com laccedilo de fita e barbicacho de acordo com a cor da tuacutenica
36 BASSO Ceacutelia Pacheco Terres Entrevista concedida agrave autora no dia 04 de agosto de 2018
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religiosas ocorrem em dois dias saacutebado apresentaccedilatildeo das cavalhadas novena janta e baile no domingo tem a missa na Igreja Matriz logo apoacutes almoccedilo e reuniatildeo danccedilante Atualmente resgataram em dezembro a festa a Satildeo Cristoacutevatildeo sempre no primeiro final de semana de dezembro eacute uma missa com benccedilatildeo aos carros durante a procissatildeo e um almoccedilo ao meio-dia esta se daacute somente em um dia E tambeacutem temos de dois em dois anos a festa organizada pelo grupo das Cavalhadas esta ocorre em maio daiacute37
Os moradores explicam que a separaccedilatildeo racial desapareceu com o tempo
poreacutem se manteacutem a cultura de festejar todos os santos o que demonstra que o povo
de Cazuza eacute bastante devoto e cristatildeo E acrescenta em tempos idos que durante
as festas religiosas as pessoas se hospedavam no hotel segundo Basso que ldquoele
recebia tinha mercado junto teve ateacute cinema o pessoal gostava da comida da
Dona Vilma que era minha sogrardquo Este hotel eacute outro marco que identifica Cazuza
Ferreira poreacutem os moradores explicam que atualmente o Hotel do Campo manteacutem a
arquitetura mas funciona em uma modalidade diferenciada pois natildeo haacute como
sobreviver Entatildeo ele recebe hospeda sob reserva antecipada poreacutem natildeo serve
almoccedilo e janta as refeiccedilotildees satildeo feitas no Cantinho do Aconchego com quem
manteacutem uma parceria
Figura 14 ndash Hotel do Campo
Fonte acervo pessoal da autora (2018)
37 BASSO Ceacutelia Pacheco Terres Entrevista concedida agrave autora no dia 04 de agosto de 2018
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Nesta comunidade tambeacutem eacute muito forte segundo os entrevistados38 a
tradiccedilatildeo gauacutecha que adveacutem do homem do campo o amante dos rodeios que nos
finais de semana saem de suas propriedades e se deslocam a outras comunidades
para participar dos eventos campeiros como o tiro de laccedilo Tambeacutem explanam que
existe o CTG Adatildeo Castilhos que estaacute interditado jaacute faz quase seis anos desde
que comeccedilaram a ser exigidos os PPCIs A partir deste momento eles natildeo puderam
mais fazer eventos ali eles realizam os rodeios ou festas campeiras mas laacute dentro
natildeo conseguiram mais fazer nada e taacute difiacutecil vai muito dinheiro para cumprir todas
as exigecircncias Sendo que este espaccedilo na deacutecada de 80 do seacuteculo XX foi palco de
grandes rodeios com apresentaccedilotildees campeiras artiacutesticas e grandes bailes A
moradora explica39 ldquoA Claudiana esposa do Paulo Cesar atual presidente se
inscreveu no projeto Meu Galpatildeo de Cara Nova do Galpatildeo Crioulo da RBS TV
tomara que ela seja classificadardquo Este projeto ajuda na reconstruccedilatildeo dos CTGs pelo
Rio Grande do Sul
Ao pesquisar sobre Cazuza Ferreira percebe-se o quatildeo forte eacute o culto agraves
tradiccedilotildees e o esforccedilo de seus moradores para elas permaneccedilam para futuras
geraccedilotildees visto que o tempo passou e a tradiccedilatildeo local natildeo sofreu alteraccedilotildees
43 DISTRITO DE TAINHAS
O distrito de Tainhas foi criado em 18 de outubro de 1922 estando situado a
33 quilocircmetros da Sede Se desenvolveu no entroncamento de duas rodovias a RS-
020 e a RS-453 cujas rodovias cortavam a vila do distrito Com o advento da
construccedilatildeo da Rota do Sol importante rodovia que hoje que liga Caxias do Sul agraves
praias aleacutem da construccedilatildeo do asfalto da RS-020 que vai a Satildeo Francisco de Paula
tudo mudou O morador Fagundes relata em entrevista40 ldquoaqui era mais habitado
por criadores fazendeiros e agora depois que saiu essa Rota do Sol o movimento
cresceu muito neacute mais por fora da vila entatildeo natildeo trouxe benefiacutecio para noacutesrdquo
Percebe-se que moradores entendem a importacircncia da construccedilatildeo das
rodovias poreacutem as mesmas natildeo trouxeram benefiacutecios econocircmicos para os
moradores locais
38 ANDRADE Nauro Bossle de BASSO Ceacutelia Pacheco Terres Entrevistas concedidas agrave autora no
dia 04 de agosto de 2018 39 BASSO Ceacutelia Pacheco Terres Entrevista concedida agrave autora dia 04 de agosto de 2018 40 FAGUNDES Darci da Silva Entrevista concedida agrave autora no dia 24 de fevereiro de 2018
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Ainda conforme o morador Fagundes41 ldquoo iniacutecio da vila se deu devido agrave
necessidade de parada dos caminhoneiros que transportavam madeira como era
tudo estrada de chatildeo Tainhas ficava em local centralizado se construiu um hotel
que era do seu Pedro Pinhatildeo e da Dona Luisardquo A partir de entatildeo comeccedilou a
construccedilatildeo de casas e se formou a vila onde antes eram terras dos Pinto os
primeiros moradores de Tainhas tanto que o morador ressalta na entrevista42 ldquoo
nome da escola eacute Oliacutempio Soares Pinto que era o proprietaacuterio dessa terra e uma
das professoras mais antigas era Guilherma Pintordquo
Tainhas estaacute rodeada por campos matos de pinnus ilhote e lavouras
atualmente e explica
Hoje aqui eacute pinus e granjeiro plantando batata soja milho e a maioria veio de fora os moradores antigos desapareceram arrendaram ou venderam suas terras para esse pessoal que veio de Ibiraiara e de Maquineacute Itati Trecircs Forquilhas43
Percebe-se que a criaccedilatildeo de gado ou seja a pecuaacuteria extensiva deu lugar a
outras culturas com a chegada de novas pessoas ao distrito Mas segundo os
moradores o culto ao tradicionalismo gauacutecho permanece visto que no distrito
existe
O parque de rodeios do Rodeio Crioulo eacute o mais antigo que noacutes temos aqui natildeo sei se natildeo o primeiro piquete registrado de Satildeo Chico tem uns sessenta anos a nossa tradiccedilatildeo eacute o laccedilo O nosso rodeio acontece sempre no iniacutecio de janeiro hoje eu natildeo laccedilo mais mas o meu neto continua a minha tradiccedilatildeo A escola daqui faz a semana farroupilha com ronda eacute tudo muito lindo e assim se mantem a cultura44
A imagem apresentada na Figura 15 reforccedila a fala e a importacircncia do Piquete
de Laccediladores Rodeio Crioulo que atualmente mesmo estando nas terras de Satildeo
Francisco de Paula divisa com o municiacutepio de Cambaraacute do Sul por opccedilatildeo essa
entidade tradicionalista pertence ao entatildeo municiacutepio de Cambaraacute do Sul Poreacutem sua
fundaccedilatildeo acontece em 20 de janeiro de 1961 quando o entatildeo hoje municiacutepio de
Cambaraacute do Sul ainda era distrito de Satildeo Francisco de Paula
41 FAGUNDES Darci da Silva Entrevista concedida agrave autora no dia 24 de fevereiro de 2018 42 FAGUNDES Darci da Silva Entrevista concedida agrave autora no dia 24 de fevereiro de 2018 43 FAGUNDES Darci da Silva Entrevista concedida agrave autora no dia 24 de fevereiro de 2018 44 FAGUNDES Darci da Silva Entrevista concedida agrave autora no dia 24 de fevereiro de 2018
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Figura 15 ndash Flacircmula de comemoraccedilatildeo aos 50 anos da entidade
Fonte acervo pessoal da autora (2018)
Outro evento importante no distrito eacute realizado pela Escola Estadual de
Ensino Fundamental Oliacutempio Soares Pinto que satildeo atividades ligadas as tradiccedilotildees
gauacutechas na Semana Farroupilha como cavalgadas e gincanas com a participaccedilatildeo
de toda comunidade nesta semana principalmente a comunidade de Tainhas
ldquorespira tradicionalismordquo
O distrito de Tainhas atualmente conta com um posto de sauacutede e o correio
satildeo os serviccedilos puacuteblicos que funcionam no distrito visto que o cartoacuterio fechou O
entrevistado Fagundes relata45 ldquoeu era o juiz de paz desse Cartoacuterio minha funccedilatildeo
era julgar os casamentos mas daiacute fechou hoje o pessoal tem que ir a Satildeo Chicordquo O
morador ainda acrescenta ldquoateacute a rodoviaacuteria fechou os ocircnibus passam aqui Satildeo
Marcos que vem de Caxias e vatildeo a Torres desce de manhatilde e sobe de tarde Citral
de Satildeo Chico a Ouro Verde e agora Transneves da Pedra Lisa para Satildeo Chicordquo
Com uma certa tristeza relata46 ldquoaqui em Tainhas soacute tem o Cafeacute Tainhas do
Mauro eacute o brilho de Tainhas seraacute ponto histoacuterico daqui um tempo todo mundo fala
bem do Cafeacute Tainhasrdquo
Notoriamente a chegada do asfalto modificou a vida das pessoas neste
distrito visto que que os campos foram em boa parte transformados em lavoura se
45 FAGUNDES Darci da Silva Entrevista concedida agrave autora no dia 24 de fevereiro de 2018 46 FAGUNDES Darci da Silva Entrevista concedida agrave autora no dia 24 de fevereiro de 2018
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percebe uma vila pacata jaacute que todo o movimento foi desviado por fora da vila e a
mesma natildeo proporciona lazer para as pessoas que ao terminarem o ensino
fundamental para continuar seus estudos precisam fazer uso do transporte escolar
e se deslocar ateacute a Sede ou ir ao municiacutepio de Cambaraacute do Sul
44 DISTRITO DE ELETRA
O distrito de Eletra foi criado em 31 de dezembro de 1932 estando situado a
19 quilocircmetros da Sede do municiacutepio Poreacutem a populaccedilatildeo local chama de Salto e
seu nome vem das barragens do Salto Blang e Divisa construiacutedas sobre o Rio do
Salto que atravessa o distrito Segundo a moradora local47 Soares ldquoas barragens
que fornecem aacutegua para as usinas no municiacutepio de Satildeo Francisco de Paula e nos
municiacutepios vizinhos de Canela Gramado e Cambaraacute do Sulrdquo A Figura 16 apresenta
uma imagem da Barragem do Salto barragem esta que se situa proacutexima da vila do
distrito
Figura 16 ndash Barragem do Salto
Fonte acervo pessoal da autora (2018)
Ao observarmos a Figura 16 percebe-se que o acesso da vila para o interior
do distrito acontece por uma ponte de concreto estreita com piso bastante irregular
47 SOARES Susana Marques Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018
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e que em periacuteodos de fortes chuvas o acesso fica interrompido devido agrave altura
Poreacutem ao lado direito percebe-se uma estrutura pequena que segundo o morador
Gomes
Foi uma tentativa de uma empresa japonese construir uma ponte soacute que quando estavam construindo deu uma enchente e levou tudo a aacutegua abaixo a empresa foi embora e nunca mais voltou Jaacute foram feitos estudos que a ponte tem que ser construiacuteda mais para baixo e em forma de arco se natildeo a chuva leva de novo poreacutem natildeo acredito que saia algum dia48
Entende-se que a construccedilatildeo desta nova ponte melhoraria o acesso dos
proprietaacuterios rurais que para saiacuterem de suas propriedades em eacutepocas de chuva
intensa necessitam fazer um longo caminho por estradas de chatildeo batido para terem
acesso ao municiacutepio de Canela bem como a Sede de Satildeo Francisco de Paula
Contudo a moradora explica que a vila do distrito se forma muito antes da
construccedilatildeo da barragem
Em 1915 era uma fazenda chamada Fazenda do Salto e esta pertencia a Francisco Soares de Oliveira Neste local havia sua casa de moradia um galpatildeo e mangueiras onde realizava as suas atividades poreacutem em 1916 o Chico resolveu transferir a casa da Fazendo do Cerro para o Salto tambeacutem sendo construiacuteda aiacute a segunda casa a partir de entatildeo se iniciou o povoado com a construccedilatildeo de novas residecircncias para seus empregados e posteriormente se instalou uma serraria dos irmatildeos Delavechia esta sendo movida a aacutegua dando definitivamente o iniacutecio do povoamento da vila49
Ao analisar a fala da moradora local se percebe que onde hoje se encontra a
vila do distrito de Eletra jaacute foi uma fazenda identificando-se com a mesma formaccedilatildeo
do distrito Sede que tambeacutem surge de terras doadas por um fazendeiro Segundo a
entrevistada Soares50 ldquoa sua casa eacute uma das mais antigas tem 102 anos foi
construiacuteda de pinheiro serrada aqui mesmo na serrariardquo pode-se observar o oacutetimo
estado de conversaccedilatildeo da casa que traz traccedilos arquitetocircnicos europeus na sua
construccedilatildeo natildeo se tem imagem da casa visto que a entrevistada natildeo permitiu
nenhuma imagem de sua residecircncia
Outro fator importante do povoamento da vila segundo o morador local
Gomes51 ldquofoi o iniacutecio da construccedilatildeo da Barragem do Salto no ano de 1925rdquo onde
48 GOMES Jaures Feijoacute Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018 49 SOARES Susana Marques Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018 50 SOARES Susana Marques Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018 51 GOMES Jaures Feijoacute Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018
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vieram muitos funcionaacuterios de vaacuterios lugares tendo como mestre da obra segundo
os moradores locais52 o ldquoAcircngelo Goubertrdquo
Devido agrave necessidade que se formou no distrito neste periacuteodo se abriu um
hotel farmaacutecia cartoacuterio rodoviaacuteria e cinema a moradora local Soares saudosa
diz53 ldquotudo fechou aqui natildeo tem mais nadardquo referindo-se a atual situaccedilatildeo que a vila
se encontra
Os moradores ainda declaram sobre o distrito54 ldquoestaacute abandonado pelo poder
puacuteblico ateacute o calccedilamento das ruas foi arrancadordquo poreacutem outrora foi um local de
muita alegria
A vida era uma festa permanente o tio Chico era casado com a tia Lisoca ela foi para Porto Alegre para os filhos estudar quando vinham nas feacuterias traziam os amigos O tio Chico pagava um gaiteiro por mecircs para ele toca toda noite entatildeo era aquele divertimento55
Atualmente na vila existe a Escola Estadual de Ensino Fundamental Cristino
Ramos com menos de cem alunos e a festa cristatilde cuja celebraccedilatildeo ocorre em
fevereiro sendo Santo Antocircnio o padroeiro local A moradora explica sobre a
construccedilatildeo da capela
A primeira capela a tempestade derrubou em 1957 se construiu outra O santo padroeiro eacute Santo Antocircnio a imagem foi trazida por quarenta cavaleiros Daiacute o padre pediu para que a imagem de Nossa Senhora Catarina tambeacutem fosse acolhida hoje temos dois padroeiros mas para mim Santo Antocircnio eacute o principal56
Percebe-se na fala dos moradores a sua devoccedilatildeo e sua preocupaccedilatildeo com o
futuro da vila visto que ateacute a questatildeo do cemiteacuterio jaacute foi palco de discussatildeo pois o
cemiteacuterio da vila iniciou pela famiacutelia dos Soares sendo este particular Poreacutem a
moradora explica com certa indignaccedilatildeo
O cemiteacuterio era particular da famiacutelia Soares teve um tempo que resolveram abrir veio gente ateacute de Passo Fundo ser enterrada aqui natildeo pediam para ningueacutem tomaram conta Daiacute organizamos uma comissatildeo responsaacutevel decidimos que tinha que ter uma contribuiccedilatildeo e natildeo podia trazer gente de fora para enterrar soacute gente daqui Ningueacutem pagou Aiacute mandei fazer cerca nova a parte dos Soares sempre limpei mas [] hoje acabo limpando tudo
52 GOMES Jaures Feijoacute SOARES Susana Marques Entrevistas concedidas agrave autora no dia 15 de
fevereiro de 2018 53 SOARES Susana Marques Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018 54 GOMES Jaures Feijoacute SOARES Susana Marques Entrevistas concedidas agrave autora no dia 15 de
fevereiro de 2018 55 SOARES Susana Marques Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018 56 SOARES Susana Marques Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018
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porque ningueacutem limpa Enquanto eu for viva vou fazer depois vatildeo entregar para a prefeitura igreja natildeo sei57
A Figura 17 apresenta uma foto da igreja atual tendo em sua lateral direita a
capela mortuaacuteria e ao fundo o Salatildeo Paroquial da comunidade onde ocorre a festa
do Santo Padroeiro
Figura 17 ndash Igreja Santo Antocircnio ndash Distrito de Eletra
Fonte acervo pessoal da autora (2018)
Ao conversar com os moradores locais pode-se observar a feacute cristatilde poreacutem
ambos relatam que a festa de fevereiro atualmente eacute pouco divulgada motivo pelo
qual acreditam que natildeo haja um nuacutemero expressivo de pessoas Ambos sentem um
apreccedilo pelo local onde nasceram e vivem poreacutem ambos relatam
Aqui eacute lugar de dormir as pessoas trabalham em Canela e vem dormir aqui a grande maioria natildeo eacute daqui vieram de fora haacute muitas casas de veraneio tudo gente de Porto Alegre que vem passar feacuterias natildeo rende nada para aqui o que precisam trazem tudo de fora A maioria de quem mora aqui soacute dorme passa o dia fora O ocircnibus das 7 horas sai lotado a gente natildeo conhece mais ningueacutem daqui mesmo soacute noacutes Susana e eu58
Mesmo a vila sendo um local de parada estaacute rodeada de lindos campos e
fazendas cuja a atividade principal eacute a pecuaacuteria extensiva natildeo proporciona
57 SOARES Susana Marques Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018 58 GOMES Jaures Feijoacute Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018
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trabalho no local motivo pelo qual seus moradores buscam sua subsistecircncia em
outro municiacutepio poreacutem possui uma exuberante natureza relata cheia de esperanccedila
a moradora local59 ldquoeu tenho esperanccedila que algueacutem olhe para caacute e veja as belezas
que tem aqui que o lugar volte a se desenvolverrdquo desenvolvimento este que
poderia vir atraveacutes da exploraccedilatildeo do turismo rural ldquoSe vocecirc quiser comer alguma
coisa agora natildeo vai encontrar nada aqui soacute tem lsquobutecorsquo60 mas eles natildeo vendem
nada nem sanduiacuteche pastel eacute uma vergonhardquo fala indignado o morador Gomes61
A populaccedilatildeo que vive nas fazendas aleacutem de ter as lides campeiras no seu
dia-a-dia nos finais de semana segundo o morador Gomes62 ldquolaccedila em torneio vai
nos rodeiosrdquo o que marca a presenccedila do tradicionalismo gauacutecho em uma parte da
populaccedilatildeo do distrito poreacutem com relaccedilatildeo aos moradores da vila natildeo haacute algo que
os identifique visto a miscigenaccedilatildeo que ocorreu e por haver muitas casas de
veraneio no local
45 DISTRITO DO JUAacute
O distrito do Juaacute foi criado em 10 de maio de 1950 e fica distante 65
quilocircmetros da Sede O distrito recebe esse nome devido a um espinho que havia
em abundacircncia no local nome este dado por tropeiros
Os accedilorianos que vinham de Santo Antocircnio da Patrulha e iam para Vacaria com cargueiros eles vinham fazer repouso laacute em cima no reduto e ali tinha muita frutinha do juaacute entatildeo os tropeiros saiam de Santo Antocircnio e diziam vamos posa laacute nos juaacute daiacute o nome do lugar que permanece ateacute hoje63
Juaacute eacute o nome dado a um espinho muito comum na regiatildeo dos campos de
cima da serra que daacute uma fruta amarela em formato redondo que segundo os
moradores locais eacute uma fruta venenosa conforme se observa na Figura 18
59 SOARES Susana Marques Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018 60 Buteco pequeno comeacutercio que normalmente vende bebidas alcooacutelicas e possui mesa de sinuca 61 GOMES Jaures Feijoacute Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018 62 GOMES Jaures Feijoacute Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018 63 REIS Orides Entrevista concedida agrave autora no dia 12 de maio de 2018
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Figura 18 ndash Peacute com a fruta conhecido como Juaacute
Fonte acervo de Clessandra Palhano (moradora local) (2018)
O reduto citado pelo morador local ficava em uma fazenda local onde hoje se
encontra a vila do distrito conforme o entrevistado Reis explica
O primeiro morador eu natildeo lembro soacute sei que o Juaacute era de pouca gente famiacutelia Pedroso e Castilhos daiacute foram morrendo inventariando e vendendo e aos poucos se formou a vila importante o dono de tudo isso aiacute tinha dois escravos no iniacutecio teve escravidatildeo claro na eacutepoca de mil oitocentos e pouco eu acho mas teve E hoje deve ter descendente destes escravos por aiacute64
Escravidatildeo que vai dar origem ao preconceito racial e a um modelo particular
da localidade que sem precisar data explica o morador
Aqui tinha dois salatildeo trecircs com o da Igreja mas era dois salatildeo social Era um clube de brancos que era dos ricos neacute fazendeiros o Salatildeo Vera Cruz e depois fundaram o Satildeo Valentim que era dos morenos que na eacutepoca ateacute eu fui presidente Cada um no seu salatildeo agora quando dava a festa cristatilde em homenagem ao Satildeo Joatildeo de Deus todo o povo reunia-se quando chegava de noite no saacutebado no baile entatildeo cada um ia pro seu salatildeo A muacutesica ficava no salatildeo dos brancos daiacute colocava umas caixas de som laacute pros morenos com um fio pra eles danccedila Um natildeo podia entra no baile do outro tinha o presidente para cuida Cada um no seu tudo se respeitava e obedecia aquela ordem65
Ainda acrescenta a moradora local Santos
64 REIS Orides Entrevista concedida agrave autora no dia 12 de maio de 2018 65 REIS Orides Entrevista concedida agrave autora no dia 12 de maio de 2018
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O nosso eu natildeo me lembro o nome tem tanto papel mas natildeo sei onde estaacute o nosso dos pretos neacute ningueacutem implicava eles natildeo deixavam noacutes entra no salatildeo Vera Cruz eu entrava de cozinheira empregada porque ali era lugar dos ricaccedilos eles podiam se associar mas o nosso tambeacutem enchia mas eles iam no nosso baile de nego soacute olhavam As festas duravam dias Tinha aquele foguetoacuterio era tatildeo bonito66
Percebe-se na fala dos moradores como esta divisatildeo racial se fazia presente
que havia por parte dos negros um profundo respeito pelos brancos mesmo eles
tendo acesso ao salatildeo Vera Cruz somente para servi-los em nenhum momento se
percebeu que eles se sentissem diminuiacutedos pela situaccedilatildeo ateacute pela cultura que
advinha desde os primeiros moradores locais
Esta divisatildeo social permanece por longo tempo e somente vai desaparecer
nos anos 80 do seacuteculo XX com a contribuiccedilatildeo do Frei Abiacutelio que veio da Vacaria
durante Missotildees convocadas pelo paacuteroco local padre Afonso que conseguiu
modificar esta organizaccedilatildeo implantando a ideia de igualdade e ignorando tudo
aquilo a partir de entatildeo os negros comeccedilaram a frequentar a sociedade Vera Cruz
contribuiccedilatildeo dos entrevistados67 que ao abordar o assunto demonstraram repulsa
pelo passado mas ao mesmo tempo reconhecem que o racismo ainda eacute presente
na comunidade poreacutem devido agraves leis existe um cuidado maior
Atualmente negros e brancos convivem em harmonia participam da festa
cristatilde cujo padroeiro eacute Satildeo Joatildeo de Deus e dos torneios de laccedilo mas geralmente
quem laccedila satildeo os fazendeiros Saudoso o morador68 afirma que ldquouma vez tinha as
carreradas tinha trecircs canchas passava o domingo nas canchas brincando nas
corridas de cavalos tudo terminourdquo Acrescenta69 ainda que ldquoem 70 80 tinha o
futebol o campo era na baixada acho que tem ainda trofeacuteu ai mas daiacute a gurizada
foi embora para a cidade terminou o timerdquo
A vila se construiu de maneira simples tendo a Igreja Catoacutelica com o Salatildeo
Paroquial agrave direita o antigo Centro de Tradiccedilotildees Gauacutechas Laccedilo Velho do Juaacute onde
resta apenas o preacutedio de madeira corroiacuteda pelo tempo ao fundo a cancha de laccedilo
do Piquete de Laccediladores Velho do Juaacute entidade tradicionalista que se manteacutem ativa
desde o iniacutecio da deacutecada de 1960 ao redor haacute casas de moradias que formam ao
centro uma grande praccedila sem nenhuma infraestrutura em frente a esta praccedila
66 SANTOS Deotildes Palhano dos Entrevista concedida agrave autora no dia 12 de maio de 2018 67 REIS Orides SANTOS Deotildes Palhano Entrevistas concedida agrave autora no dia 12 de maio de
2018 68 REIS Orides Entrevista concedida agrave autora no dia 12 de maio de 2018 69 REIS Orides Entrevista concedida agrave autora no dia 12 de maio de 2018
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perpassa uma rua de chatildeo batido sendo que a escola da comunidade fica do outro
lado a escola eacute municipal se chama Bento Eziacutedio Rodrigues atende
aproximadamente vinte alunos que estatildeo matriculados nas seacuteries iniciais do ensino
fundamental tendo duas professoras e um funcionaacuterio para fazer merenda e limpar
o paacutetio como se pode observar na Figura 19
Figura 19 ndash Praccedila Vila do Distrito Juaacute ao fundo cancha de laccedilo
Fonte acervo pessoal da autora (2018)
Ambos os entrevistados70 explicam que o Juaacute atualmente eacute um lugar de
idosos aposentados que outrora as pessoas viviam das roccedilas e da pecuaacuteria
extensiva na deacutecada de 1980 com o advento da induacutestria em Caxias do Sul os
jovens abandonaram seu modo de vida e foram buscar novas oportunidades poreacutem
estes jovens que foram embora retornam com frequecircncia natildeo perdendo a sua
essecircncia Relataram que a uacutenica fonte de trabalho eacute ser peatildeo de fazenda fazendas
estas que produzem o queijo serrano ou vendem leite para a Piaacute71 sendo que a
lavoura eacute para subsistecircncia Outra fonte de renda eacute ser funcionaacuterio da serraria cujo
proprietaacuterio e Joatildeo Egiacutedio que funciona proacuteximo da vila Outro fator importante eacute a
venda de pequenas chaacutecaras para moradores de Caxias do Sul que vem aos finais
70 REIS Orides SANTOS Deotildes Palhano Entrevistas concedidas agrave autora no dia 12 de maio de
2018 71 Piaacute Cooperativa Agropecuaacuteria Petroacutepolis Ltda Empresa que faz a coleta do leite nas fazendas da
regiatildeo
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de semana descansar na localidade poreacutem se percebe que estes novos moradores
muitas vezes natildeo interagem com os moradores locais
Segundo o morador Reis72 ldquoapesar da vinda de pessoas de outros lugares o
Juaacute natildeo perdeu sua identidade fala em Juaacute lembra pinhatildeo colheita do pinhatildeo ateacute
haacute uma criacutetica que diz na eacutepoca do pinhatildeo o juazeiro fala grossordquo Ditado que o
entrevistado73 reafirma sorrindo ldquona eacutepoca do pinhatildeo o juazeiro fala grosso claro
que eacute apenas um dito popular uma maneira de se referir mas sempre eacute dito haacute
aqueles que natildeo gostamrdquo
Nota-se que a vida na comunidade do Juaacute se passa de forma tranquila com
poucos moradores que sua identidade estaacute relacionada agrave pecuaacuteria extensiva com
as lides com o gado bem como ao pinhatildeo uma fruta tiacutepica que se desenvolve na
Araucaacuteria ou pinheiro nativo como eacute conhecido na regiatildeo O pinhatildeo seja ele
assado cozido ou paccediloca74 eacute muito consumido pelos moradores do interior de Satildeo
Francisco de Paula durante o inverno inclusive como mistura do cafeacute da manhatilde
46 DISTRITO DO RINCAtildeO DOS KROEFF
O distrito de Rincatildeo dos Kroeff foi criado em 10 de maio de 1950 Fica a 35
quilocircmetros distante da Sede poreacutem muito antes de se institucionalizar oficialmente
este espaccedilo moradores locais contam como tudo se iniciou
Meu avocirc foi um dos primeiros a vim para caacute ele se chamava Guilherme Faciole ele nasceu no navio vindo da Itaacutelia Ele contava que teve uma desavenccedila em Caxias e fincou o peacute pra caacute pra natildeo acharem ele que aqui era soacute mato e na revoluccedilatildeo de 35 ele fugia de casa para natildeo ser levado pelas tropas os piquetes levavam para combater entatildeo ele sempre dizia que pousou vaacuterias noites embaixo dos peraus da serra do Umbu para natildeo ser levado O falecido vovocirc vivia da caccedila do porco do mato tateti ele fazia charque de porco para ter a carne ele viveu 106 anos e dizia se natildeo tivesse fumado viveria mais uns dez isso faz parte da histoacuteria do Rincatildeo dos Kroeff Junto teve o falecido Acircngelo Menegaacutes que entro aqui na mesma eacutepoca Eles satildeo os fundadores do distrito75
O acesso ao distrito Rincatildeo dos Kroeff permanece totalmente pela estrada de
chatildeo batido sendo possiacutevel ir ao municiacutepio de Maquineacute descendo pela serra do
Umbu Poreacutem muito antes da estrada a busca de mantimentos e o escoamento da
72 REIS Orides Entrevista concedida agrave autora no dia 12 de maio de 2018 73 REIS Orides Entrevista concedida agrave autora no dia 12 de maio de 2018 74 Paccediloca carne de porco moiacuteda e frita no azeite ou banha a qual se acrescenta o pinhatildeo jaacute cozido
e moiacutedo 75 FACIOLE Reinaldo Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de marccedilo de 2018
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produccedilatildeo se dava pelos carreiros visto que natildeo havia abertura de estrada e nem
viatura76 como os moradores relatam
Tudo era na tropeada as tropas que ia para Rolante Na tropeada saia um tropeiro na frente e um recircs com um cincerro que era a madrinheira da tropa saia laacute pelo Chuvisqueiro e saia laacute em Rolante perdia boi na estrada ficava semanas boi perdido agraves vezes nem se achava mais tambeacutem tinha tropa de porco e tinha as tropeadas de mula puxando milho feijatildeo trigo tudo produzido aqui e levado de cargueiro carreta era muito pouco porque natildeo tinha estrada para anda era soacute os trilhos pelo meio dos matos e campos e se produzia milho era o inverno inteiro saia tropas e mais tropas com trinta quarenta mulas burros transportando mantimentos da produccedilatildeo do gratildeo haacute tambeacutem tinha a flor de Pireto que era lucro ningueacutem conhece isso aiacute hoje essa flor era levada para Taquara e fazia veneno para formiga tudo que era tipo de veneno era uma flor muito toacutexica Acredita tropear galinha pois eacute a gente criava bastante saia com os cargueiros como era a vida eles faziam um girau no cesto naqueles balaios para fazer duas camas uma mais em cima e outra em baixo daiacute quando era veratildeo era muito quente tinha que no meio da viagem tirar de dentro do cesto botar na aacutegua na sanga para natildeo morrer ateacute chegar no mercado dali para praia a eacutepoca que mais vendia era novembro e dezembro daiacute tinha preccedilo bom tudo criada solta aviaacuterio nem se falava77
Ao ouvir os moradores se percebe que a construccedilatildeo do distrito aconteceu
devido ao esforccedilo e trabalho de muitas pessoas visto que o local era de mata nativa
densa e precisou ser desmatado para ser ocupado pelas pessoas Explica o
entrevistado Faciole78 ldquopara fazer uma lavoura tambeacutem precisava derrubar o
pinheiro seu Onorino Buffon me contou que faziam fogo ao redor do pinheiro eles
eram muito grosso para derrubar a machado entatildeo faziam fogo secavam para
depois fazer a roccedilardquo E a moradora79 local acrescenta ldquoaqui tambeacutem tinha os
barbacuazeiros produziam erva mais aqui eles soacute tiravam a erva e sapecavam e
depois ia para outro lugar industrializa tudo era diferenterdquo
Poreacutem segundo os moradores este modelo de vida rudimentar se modifica
com a chegada das serrarias sendo que a dos Kroeff foi a primeira juntamente com
a serraria se viu a necessidade da construccedilatildeo de novas casas para os
trabalhadores surgindo ali a vila do distrito Rincatildeo dos Kroeff no iniacutecio a serraria era
tudo manual relata Faciole80 ldquoa uacutenica forma de tira a madeira era com um enfieira
76 Viatura se refere a carro de passeio caminhotildees 77 FACIOLE Reinaldo FACIOLE Maria Madalena Scalco Entrevistas concedidas agrave autora no dia 18
de marccedilo de 2018 78 FACIOLE Reinaldo Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de marccedilo de 2018 79 FACIOLE Maria Madalena Scalco Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de marccedilo de 2018 80 FACIOLE Reinaldo Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de marccedilo de 2018
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de boi eu cheguei a ver cinco ternos de boi carreiro81 emendado puxando um
pinheiro eacute uma bicheira de boi natildeo tinha outra formardquo
Rincatildeo dos Kroeff eacute o menor distrito de Satildeo Francisco de Paula poreacutem em
suas terras se desenvolveu a cultura dos hortifrutigranjeiros desde muito cedo jaacute
que sua colonizaccedilatildeo eacute basicamente italiana e alematilde e os italianos tecircm a cultura do
plantio visando lucro A moradora Faciole82 afirma ldquotudo comeccedilou por aqui depois
se expandiu para o municiacutepio comeccedilamos com moranga branca depois repolho
couve broacutecolis alface e daiacute veio beterraba e tudo o restordquo Acrescenta ainda83 que
ldquodaqui saiacuteram os primeiros caminhotildees de hortifruacuteti do municiacutepio para a Ceasa teve
eacutepoca de sair quarenta caminhotildees por dia do Rincatildeo hoje natildeo sai mais porque
muitos foram buscar novos lugares para plantarrdquo E juntamente com a mudanccedila dos
proprietaacuterios em busca de novas terras muitos de seus funcionaacuterios foram embora
junto afirma em entrevista o morador local84 ldquomuita gente do Rincatildeo foi embora
muitas gurias foram embora para estudar para achar emprego e natildeo voltaram maisrdquo
Atraveacutes da fala da moradora pode-se observar que apesar do distrito ser
produtivo enfrenta algumas dificuldades com relaccedilatildeo ao estudo de seus moradores
que para continuarem seus estudos se assim o desejarem necessitam abandonar
seus pais e ir em busca na Sede ou arredores visto que no distrito existe uma uacutenica
escola Gastatilde Henth Esta eacute municipal e atende dos quatro anos ao nono ano do
ensino fundamental A moradora Faciole explica
O coleacutegio hoje tem 99 alunos ao total quando eles terminam o nono ano alguns vatildeo estudar mas satildeo pouquiacutessimos os outros ficam por aiacute mesmo natildeo tem um transporte que leve eles para fazer o ensino meacutedio na Sede que seria a escola de ensino meacutedio mais proacuteximo se quiser estudar vai ter que ir embora reforccedila quem e trabalhador fica trabalhando com os pais quem natildeo eacute [] As pessoas na sua grande maioria soacute tem o ensino fundamental aqui85
Este eacute um dos grandes problemas enfrentados pelos moradores do Rincatildeo
dos Kroeff a possibilidade de continuar estudando A escola que laacute existe os
moradores locais natildeo sabem precisar a data mas sabem que foi durante o mandato
81 Ternos de boi carreiro significam vaacuterias duplas de bois cangados e ligados por um pedaccedilo de
madeira que vatildeo na canga entre a dupla de bois Esse pau roliccedilo na regiatildeo se chama de cambatildeo 82 FACIOLE Maria Madalena Scalco Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de marccedilo de 2018 83 FACIOLE Maria Madalena Scalco Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de marccedilo de 2018 84 FACIOLE Reinaldo Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de marccedilo de 2018 85 FACIOLE Maria Madalena Scalco Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de maio de 2018
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do prefeito Escobar (1977-1982) que ela foi construiacuteda Neste contexto aparece
tambeacutem a dificuldade de se locomover fazendo uso do transporte puacuteblico
Haacute sete anos atraacutes o Rincatildeo estava bom mesmo tinha ocircnibus da praia agraves vezes passava quatro a cinco ocircnibus da praia tudo pela serra do Umbu Agora soacute tem um trecircs dias por semana As empresas deixaram de trafegar por aqui elas natildeo vatildeo descer numa serra de chatildeo batido sendo que tem a outra86 com asfalto87
Os moradores se orgulham da festa religiosa que acontece todos os anos em
agosto sendo que o santo padroeiro eacute Satildeo Roque A festa da comunidade
apresenta uma tradiccedilatildeo local muito interessante na segunda-feira apoacutes a festa ela
continua para os moradores locais que vatildeo ao salatildeo paroquial para se divertir entre
si e esta eacute uma tradiccedilatildeo que eacute comentada em todo o municiacutepio Faciole88 saudoso
afirma ldquopara ti ter uma ideia nessa festa chegava dar vinte poucos ocircnibus lotado que
vinham de outros municiacutepios como Igrejinha Taquara Porto Alegre Novo
Hamburgo o espaccedilo ficava pequenordquo Acrescenta89 ainda ldquoaqui noacutes tinha o Clube
Serrano que dava baile janta italiana dava um movimento louco mas terminou ateacute
o baile das rainhas cada ano era uma era tatildeo lindo mas tudo se acabourdquo
Figura 20 ndash Imagem da Igreja Satildeo Roque em dia de festa no Rincatildeo dos Kroeff
Fonte acervo pessoal da autora (2018)
86 A outra se refere a rodovia RS-453 conhecida como Rota do Sol 87 FACIOLE Reinaldo Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de marccedilo de 2018 88 FACIOLE Reinaldo Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de marccedilo de 2018 89 FACIOLE Reinaldo Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de marccedilo de 2018
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Percebe-se que o distrito Rincatildeo dos Kroeff eacute o uacutenico que obteve em seu
iniacutecio uma colonizaccedilatildeo por descentes de italianos dentro do municiacutepio de Satildeo
Francisco de Paula o que demonstra o quatildeo forte se daacute a tradiccedilatildeo ldquoitalianardquo neste
local permanecendo intriacutenseca na vida cotidiana de seu povo com a cultura do
plantio de hortifrutigranjeiros que permanece apesar do tempo como sendo a sua
maior identidade local
47 DISTRITO DE LAJEADO GRANDE
Lajeado Grande em tempos idos pertenceu ao distrito de Cazuza Ferreira e
somente em 12 de dezembro de 1968 se tornou um distrito independente segundo
a Lei nordm 655 encontrada nos autos da Prefeitura Municipal de Satildeo Francisco de
Paula A vila do distrito Lajeado Grande fica distante 63 quilocircmetros da Sede e se
situa na confluecircncia do Arroio Porco Morto e o Rio Bururi Seu surgimento acontece
segundo o morador Fogaccedila90 ldquopor volta de 1940 com a abertura da estrada Canela
ndash Bom Jesus a atual RS-476 que corta a vila do Distritordquo Essa estrada segundo o
morador facilitou a locomoccedilatildeo que anteriormente era feita totalmente pelas trilhas e
picadas por onde somente se passava a cavalo ou de carreta E o entrevistado
explica como acontece o desenvolvimento inicial da vila
Tu sabe aqui tem o nome de Lajeado Grande por causa do rio que eacute cheio de lajes grandes o que facilitava a travessia e as terras aqui por roda era tudo do falecido Pequeno Cardoso ele doou parte para a construccedilatildeo da vila onde o falecido Leopoldino Cardoso irmatildeo do Pequeno tinha uma lsquobudega velharsquo91 por aqui sendo o primeiro comeacutercio da vila92
A abertura da estrada possibilitou o desenvolvimento da vila juntamente com
o Casaratildeo um hotel pensatildeo que foi construiacutedo as margens do Arroio Porco Morto
este Casaratildeo passou por diversos proprietaacuterios
Leopoldino Cardoso foi o idealizador do Casaratildeo juntamente com os seus soacutecios Heraacuteclito Andrade de Cardoso lsquoJoanitorsquo Joseacute Osoacuterio de Lima lsquoZecarsquo e Pequeno Cardoso sendo que o Casaratildeo era uma casa de negoacutecio compravam queijo couro era um comeacutercio forte vendia secos e molhados inclusive a primeira rodoviaacuteria foi instalada neste espaccedilo poreacutem em 1948 Joatildeo Pacheco Cardoso assume e amplia o estabelecimento construindo o segundo piso da casa de madeira e alugando para outros dois moradores
90 FOGACcedilA Blair dos Santos Entrevista concedida agrave autora no dia 06 de abril de 2018 91 Budega velha referindo-se a uma antiga casa de comeacutercio de secos e molhados localizada onde
hoje se encontra o armazeacutem Celeiro 92 FOGACcedilA Blair dos Santos Entrevista concedida agrave autora no dia 06 de abril de 2018
71
Eremi Terres e Claunir Lucena Com a reforma o Casaratildeo passa a ter treze quartos para aluguel uma loja onde encontrava-se tudo o que se necessitava de alfinete tecido alimentos e raccedilotildees aleacutem da ala que servia de moradia para os proprietaacuterios Em 1962 o estabelecimento eacute alugado para Eraldo Bento de Oliveira que aleacutem de gerenciar o estabelecimento colocou junto um bar local de encontro dos homens da redondeza para tomar um lsquotragorsquo93 (CERUTTI SILVA CARDOSO 2002 p 19)
Figura 21 ndash Imagem do Casaratildeo pouco antes de ser desmanchado
Fonte acervo pessoal de Fernando Oliveira (conhecido como Guego) (2018)
O Casaratildeo foi desmanchado na deacutecada de 1980 pelo entatildeo proprietaacuterio Reno
Pacheco Poreacutem percebe-se na vila que seus antigos moradores falam com certo
saudosismo deste estabelecimento que fez parte de suas vidas e chegam a
lamentar o seu fim morador Fogaccedila94 afirma ldquoali se fez o pastel mais famoso do
Lajeado Grande o pastel da Odila mas tudo se acabou quando eles entregaram e
construiacuteram laacute na esquinardquo95
Poreacutem a vila Lajeado Grande foi lentamente se desenvolvendo Devido agrave
necessidade da conservaccedilatildeo da nova estrada foi construiacuteda agraves margens do Rio
Bururi uma capatazia do DAER Segundo Cerutti Silva e Cardoso (2002 p 18) ldquoo
primeiro capataz foi Capitulino Prudecircncio de Oliveira vindo de Santa Catarina sua
funccedilatildeo era manter as estradas e chegou a ter vinte funcionaacuteriosrdquo Percebe-se que a
93 Trago expressatildeo local que significa beber uma cachaccedila 94 FOGACcedilA Blair dos Santos Entrevista concedida agrave autora no dia 06 de abril de 2018 95 Esquina eacute o nome dado a parte da vila do Lajeado Grande onde se daacute o entroncamento das
rodovias RS-453 e ERS-476
72
partir deste momento se inserem neste distrito pessoas advindas de outros estados
e locais visto que ateacute o presente momento o distrito era habitado por fazendeiros
naturais do proacuteprio municiacutepio e que tinham suas vidas ligadas diretamente agrave
pecuaacuteria extensiva e agrave produccedilatildeo do queijo serrano Importante destacar que a
esposa de Capitulino segundo Cerutti Silva e Cardoso (2002 p 18) ldquoa Celicina
Guilherme da Silva se torna uma figura conhecida por realizar partos sendo
chamada como parteira de campanhardquo Na atualidade filhos netos e bisnetos do
casal ainda residem na vila
A vila do Lajeado Grande tambeacutem recebe novos moradores com a praacutetica do
corte do pinheiro nativo sendo que na deacutecada de 1950 havia uma faacutebrica de
beneficiamento de madeira ateacute se transformar em pasta este material era levado
para Esteio onde funcionava agrave matriz A partir dos anos 1950 ocorre a instalaccedilatildeo de
serrarias sendo que a Madeireira Albeflor de propriedade de Valter Sguaizer se
instala em 1964 Novamente busca-se matildeo de obra em localidades proacuteximas como
Lagoa Vermelha Vacaria e Bom Jesus poreacutem com a proibiccedilatildeo da extraccedilatildeo de
madeira de lei a serraria deixou de funcionar
Percebe-se que no distrito natildeo houve uma homogeneizaccedilatildeo identitaacuteria visto a
influecircncia advinda de muitas culturas no passado atraveacutes da extraccedilatildeo de madeira
e na atualidade com o advento das lavouras de hortifrutigranjeiros e pomares
frutiacuteferos que ocupam boa parte do distrito substituindo a pecuaacuteria extensiva que jaacute
natildeo proporciona um lucro efetivo Entatildeo os proprietaacuterios na sua grande maioria
venderam ou arrendaram suas terras para novas culturas o que modifica o modo de
vida local pois grande parte dos trabalhadores adveacutem de outros estados como o
Paranaacute e tambeacutem se observa o uso da matildeo de obra indiacutegena
Essa miscigenaccedilatildeo se observa nas escolas locais visto que na vila funciona a
Escola Municipal D Pedro I que segundo Cerutti Silva e Cardoso (2002 p 35)
ldquoinicia em 1965 poreacutem a professora e o preacutedio eram mantidos pela Serraria mas na
deacutecada de 70 a prefeitura assumiu a escola sendo que Eloci Martim foi a primeira
professora da Serrariardquo Escola da Serraria como ainda eacute conhecida por boa parte
dos moradores locais apesar de a escola natildeo se encontrar mais onde havia a antiga
serraria Atualmente a Escola Dom Pedro I funciona em um preacutedio obtido atraveacutes da
Associaccedilatildeo de Moradores atendendo alunos da preacute-escola ateacute o sexto ano das
seacuteries finais tendo em seu quadro seis professores e duas funcionaacuterias Sendo que
73
a obra para um novo preacutedio teve iniacutecio neste ano mas percebe-se que a obra parou
por volta do mecircs de maio Poreacutem na vila tambeacutem se encontra uma escola estadual
A documentaccedilatildeo necessaacuteria para a criaccedilatildeo de uma nova escola na localidade foi elaborada por Manoel Cardoso de Andrade juntamente com a professora Odazilda Cardoso Demori e encaminhada agrave Secretaria da Educaccedilatildeo sendo que em 11 de fevereiro de 1953 foi criada a Escola Isolada de Lajeado Grande sendo os professores estaduais mas o preacutedio sob responsabilidade comunitaacuteria iniciou o seu funcionamento nas dependecircncias do DAER e somente em 1957 foi construiacutedo um preacutedio de madeira em terras doadas por Pequeno Cardoso local onde hoje ainda se encontra a escola poreacutem passou por muitas reformas sendo que em 2000 recebeu um novo preacutedio de alvenaria o que possibilitou a realizaccedilatildeo de um grande sonho dos professores e comunidade a implantaccedilatildeo do Ensino Meacutedio que concretizou-se em 200296
Atualmente a escola atende em torno de trezentos alunos da Educaccedilatildeo
Baacutesica poreacutem percebe-se que devido agraves safras de hortifrutigranjeiros o nuacutemero de
alunos se alterna durante o ano O que tambeacutem se percebe eacute o comportamento dos
alunos com relaccedilatildeo agrave diversidade cultural por exemplo usam bombacha laccedilam boi
de pau no recreio e escutam funk uma cultura totalmente diferente da tradicionalista
gauacutecha o que compreende-se como algo advindo da globalizaccedilatildeo cultural que
vivemos no mundo atual reforccedilando novamente o natildeo reconhecimento de uma
identidade forte na localidade
Poreacutem as famiacutelias tradicionais do local manteacutem fortemente arraigada a
cultura tradicionalista que adveacutem do homem do campo tendo no distrito festas
campeiras torneios de laccedilo e a festa religiosa uma vez por ano em homenagem ao
Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus padroeiro da vila
Na atualidade natildeo se percebe uma identidade forte e marcada no distrito e
sim uma miscigenaccedilatildeo de diferentes culturas e etnias que convivem e se integram
harmonicamente
96 CARDOSO Amaacutelia Celuderes Entrevista concedida agrave autora no dia 08 de marccedilo de 2018
74
5 DESCRICcedilAtildeO DO PRODUTO
O produto consiste em um livro paradidaacutetico sobre a histoacuteria de Satildeo Francisco
de Paula Apresenta de maneira didaacutetica a histoacuteria de Satildeo Francisco de Paula bem
como balotildees explicativos imagens sugestotildees de atividades e leituras
complementares Poderaacute servir de apoio pedagoacutegico a professores e alunos do
municiacutepio visto que existe pouco material sobre a histoacuteria deste municiacutepio e se faz
importante trabalhar a histoacuteria local percepccedilatildeo que a autora obteve ao longo da sua
caminhada como professora de histoacuteria que atua nas seacuteries finais do ensino
fundamental e meacutedio haacute dezessete anos na rede estadual do municiacutepio
Partir do local natildeo eacute abandonar o conhecimento histoacuterico eacute dar outro valor
sentido para este conhecimento Segundo Caimi
Levar em conta o universo da crianccedila ou do adolescente natildeo eacute pois abdicar do rigor intelectual [] mas garantir que a apropriaccedilatildeo deste conhecimento ocorra permeada de sentido e significado resultando em soacutelidas aprendizagens (CAIMI 2006 p 24)
Seguindo esta perspectiva a implantaccedilatildeo do Referencial Curricular Gauacutecho
embasado na Base Nacional Comum Curricular reforccedila a ideia jaacute discutida nos
paraacutegrafos anteriores
No que se refere especificamente ao componente Histoacuteria a base rompe tanto com a cronologia quanto agrave visatildeo eurocecircntrica da histoacuteria tradicional Entram em cena novos atores novas sociedades novos caminhos que sempre tiveram na histoacuteria mas nem sempre receberam a devida importacircncia Acompanhando a Base Nacional Comum Curricular o Referencial Curricular Gauacutecho no que se refere especificamente agrave disciplina de Histoacuteria manteacutem seu foco na aprendizagem dos alunos nos diferentes espaccedilos e tempos tendo a preocupaccedilatildeo de integrar o curriacuteculo com a diversidade regional de nosso Estado Tambeacutem eacute importante contemplar os temas integradores como eacutetica cidadania cultura e valorizaccedilatildeo das diversidades assegurando a multiplicidade de olhares sobre o mundo (RIO GRANDE DO SUL 2018 p 118)
Portanto o paradidaacutetico seraacute mais um material disponiacutevel aos professores e
estudantes da educaccedilatildeo baacutesica de Satildeo Francisco de Paula na construccedilatildeo do
conhecimento da histoacuteria do municiacutepio bem como o reconhecimento de sua
identidade neste material visto que se almeja que os estudantes percebam
vestiacutegios de sua identidade e se percebam como parte deste municiacutepio atraveacutes do
conhecimento de sua histoacuteria
75
O paradidaacutetico vem com o tiacutetulo rdquoTropeando histoacuterias em Satildeo Francisco de
Paulardquo sendo que a capa traz a foto do Monumento aos Carreteiros monumento
que se encontra na Avenida Juacutelio de Castilhos em frente ao preacutedio da Prefeitura
Municipal
Figura 22 ndash Capa do livro
Fonte Livro Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula
Na sequecircncia se apresenta o iacutendice que possibilita ao leitor localizar os
diversos temas abordados visto que existem nove capiacutetulos
76
Figura 23 ndash Iacutendice do livro
Fonte Livro Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula
77
O capiacutetulo um apresenta a localizaccedilatildeo de Satildeo Francisco de Paula com uma
seacuterie de mapas que facilitam a compreensatildeo espacial dos alunos assim como um
mapa da subdivisatildeo do municiacutepio em distrito Ao final satildeo sugeridas duas atividades
que podem ser desenvolvidas de maneira interdisciplinar com o apoio da professora
de arte geografia e portuguecircs
Figura 24 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 1)
Fonte Livro Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula
78
Figura 25 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 1)
Fonte Livro Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula
O capiacutetulo dois aborda a existecircncia indiacutegena em Satildeo Francisco de Paula
antes da chegada dos desbravadores vindos de Satildeo Paulo Como sugestatildeo de
atividades apresenta-se uma pesquisa sobre as diferentes tribos indiacutegenas que
habitavam a Proviacutencia de Satildeo Pedro aleacutem da criaccedilatildeo de um painel infograacutefico
79
Figura 26 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 2)
Fonte Livro Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula
No capiacutetulo trecircs se apresentam os primeiros donataacuterios colonizadores de Satildeo
Francisco de Paula com trecho de um testamento deixado por Pedro da Silva
Chaves o fundador de Satildeo Francisco de Paula bem como o mapa que localiza as
primeiras sesmarias que corresponde ao territoacuterio onde hoje eacute a Sede do municiacutepio
80
Figura 27 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 3)
Fonte Livro Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula
Nos capiacutetulos quatro e cinco eacute apresentado o desenvolvimento de Satildeo
Francisco de Paula ainda no seacuteculo XIX quando pertencia ao municiacutepio de Santo
Antocircnio da Patrulha e no final do seacuteculo XIX quando passa a pertencer ao entatildeo
81
municiacutepio de Taquara do Mundo Novo Existe tambeacutem um mapa que demonstra a
extensatildeo territorial de Santo Antocircnio da Patrulha e quais satildeo os municiacutepios hoje que
pertenceram a este bem como a importacircncia da abertura da estrada que liga Satildeo
Francisco de Paula a Taquara
Figura 28 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 4)
Fonte Livro Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula
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Os capiacutetulos seis e sete apontam a construccedilatildeo do Municiacutepio a partir de sua
emancipaccedilatildeo em 1903 sua extensatildeo territorial e a diminuiccedilatildeo do seu territoacuterio ao
longo do tempo e a histoacuteria da Igreja Matriz Como sugestatildeo de atividade pesquisar
a diversidade religiosa existente na comunidade escolar e criar graacuteficos com essas
informaccedilotildees podendo a partir de entatildeo trabalhar com as questotildees religiosas ontem
e hoje no mundo
Figura 29 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 6)
Fonte Livro Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula
83
No capiacutetulo oito se apresenta o que difere os sete distritos de Satildeo Francisco
de Paula Este capiacutetulo se apresenta subdividido em sete subtiacutetulos onde cada um
corresponde a um distrito do municiacutepio Tendo como fonte principal as entrevistas
realizadas com moradores locais mesclado com fontes documentais e bibliograacuteficas
que corroboram para se perceber que haacute alguns distritos que manteacutem suas tradiccedilotildees
ao longo do tempo e eacute possiacutevel perceber que existe uma identidade que aproxima
aquela populaccedilatildeo
Figura 30 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 8)
Fonte Livro Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula
84
No uacuteltimo capiacutetulo o nove se exibe uma lista de sugestotildees de leituras
complementares a fim de se aprofundarem sobre determinados temas E por fim
as referecircncias utilizadas para a construccedilatildeo do paradidaacutetico Tropeando Histoacuterias em
Satildeo Francisco de Paula
Figura 31 ndash Atividade do livro (Sugestatildeo de Leituras Complementares)
Fonte Livro Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula
85
O produto foi testado em duas turmas da Educaccedilatildeo Baacutesica na Escola
Estadual de Ensino Meacutedio Lajeado Grande com o propoacutesito de avaliar qual seria a
reaccedilatildeo dos estudantes diante do material e por ele ter sido produzido por algueacutem
que convive com eles semanalmente A receptividade foi bastante gratificante como
se pode observar na Figura 32
Figura 32 ndash Alunos do Ensino Meacutedio
Fonte acervo pessoal da autora (2019)
A receptividade foi muito interessante visto que os estudantes
acompanharam a trajetoacuteria para chegar ao produto final algo que os deixava
ansiosos para manusear pois muitas vezes foram parceiros A autora foi
compartilhando com os estudantes as informaccedilotildees obtidas durante a pesquisa e as
descobertas encontradas usando em suas aulas a histoacuteria local para abordar os
diferentes temas e conceitos histoacutericos
Quando a autora apresenta o produto os estudantes do ensino meacutedio estes
formam grupos por distritos e buscam logo reconhecer no material sua identidade
apoacutes comentam sobre as peculiaridades de cada distrito Poreacutem os alunos do
ensino fundamental manuseiam o produto mas natildeo se deteacutem ao distrito em que
pertence e sim as imagens e as explicaccedilotildees apresentadas no vocecirc sabia
O que enriquece o trabalho realizado foi o envolvimento dos estudantes com
o produto solicitando quando poderatildeo ler calmamente todo o trabalho
86
6 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
A partir de experiecircncias pessoais em sala de aula se percebeu que o ensino
de Histoacuteria quando se partia da histoacuteria local havia maior interesse dos estudantes
da educaccedilatildeo baacutesica motivo pelo qual se deu a questatildeo-problema desta dissertaccedilatildeo
que estaacute relacionada diretamente com o natildeo uso desta histoacuteria pelos professores da
educaccedilatildeo baacutesica
Em conversas informais com professores da educaccedilatildeo baacutesica que atuam no
municiacutepio de Satildeo Francisco de Paula em sua grande maioria alegam que o grande
empecilho para se trabalhar a histoacuteria local eacute o pouco material disponiacutevel sobre a
histoacuteria de Satildeo Francisco de Paula aleacutem do rigor dos curriacuteculos que impotildeem o
ensino de Histoacuteria de maneira linear sem contextualizaccedilatildeo com a realidade vivida
pelos estudantes pois desta forma natildeo estatildeo preparando os estudantes para as
avaliaccedilotildees do Ministeacuterio da Educaccedilatildeo bem como para o vestibular Poreacutem natildeo se
estaacute afirmando que deveraacute estudar somente a histoacuteria local e sim partir dela como
incentivo para estudos dos conceitos e temaacuteticas da histoacuteria por muitas vezes
totalmente abstrato e de difiacutecil compreensatildeo pela grande maioria dos estudantes
A partir de entatildeo se realizaram inuacutemeros questionamentos como qual a
necessidade de se ensinar Histoacuteria de forma abstrata sem nenhuma relaccedilatildeo com
as vivecircncias dos estudantes Por que natildeo usar a fonte oral como metodologia de
pesquisa no ensino de Histoacuteria em Satildeo Francisco de Paula jaacute que natildeo existem
muitos materiais escritos a respeito desta histoacuteria principalmente no que tange os
distritos do interior Poreacutem estes questionamentos natildeo foram aprofundados na
dissertaccedilatildeo por natildeo ser o objetivo direto da pesquisa mas posteriormente poderaacute
se tornar um novo projeto de pesquisa
Nesta incessante busca por resposta se constroacutei todo o estudo desta
dissertaccedilatildeo que em um primeiro momento busca embasamento em diferentes
autores que comprovam que o ensino de Histoacuteria voltado para o local faz maior
sentido para os estudantes da educaccedilatildeo baacutesica e que isto natildeo significa abandonar
os conceitos histoacutericos e sim questionar analisar a trajetoacuteria humana no tempo e
no espaccedilo sob uma nova metodologia Apenas se sugere uma nova abordagem
que torne o ensino de Histoacuteria menos abstrato algo mais presente na vida do
estudante e que possibilite a ele a habilidade de perceber que o mundo estaacute em
constante mudanccedila poreacutem os fatos natildeo ocorrem de forma isolada no espaccedilo Algo
87
que foi reforccedilado apoacutes a construccedilatildeo da Base Nacional Curricular e o Referencial
Curricular Gauacutecho que vem de encontro com esta proposta de se estudar a histoacuteria
sobre novos olhares natildeo esquecendo das especificidades regionais do estado do
Rio Grande do Sul para o reconhecimento da identidade local e regional
A identidade local nesta pesquisa se buscou atraveacutes de relatos de
moradores locais que gentilmente colaboraram para o sucesso deste trabalho pois
a memoacuteria se tornou a fonte primordial para se escrever o que identifica os sete
distritos que constituem Satildeo Francisco de Paula Certamente a temaacutetica natildeo se
esgotou ainda haacute muito que se pesquisar e escrever sobre a histoacuteria de Satildeo
Francisco de Paula possibilitando a criaccedilatildeo de novos materiais que possam ser
usados em sala de aula pelos professores e alunos deste municiacutepio
Mas ao mesmo tempo haacute uma preocupaccedilatildeo por parte da autora nada
adianta criar produtos sinalizar novos meacutetodos ao ensino de Histoacuteria se o
profissional professor natildeo estiver preparado para trabalhar com novas fontes
histoacutericas novas metodologias de ensino proporcionando aos estudantes a
oportunidade de construir seu proacuteprio conhecimento histoacuterico embasado em sua
realidade e suas vivecircncias
Vivecircncias que se tornaram aliadas na pesquisa pois a autora nasceu e
sempre viveu no municiacutepio de Satildeo Francisco de Paula poreacutem a maior dificuldade
encontrada nesta caminhada foi percorrer grandes distacircncias por estradas de
rodagem em peacutessimas condiccedilotildees de trafegabilidade para gravar os relatos que
servem de base para a construccedilatildeo desta pesquisa O municiacutepio de Satildeo Francisco de
Paula eacute territorialmente extenso e essas distacircncias percorridas deram o nome ao
produto Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula como uma homenagem
aos antigos tropeiros deste municiacutepio que passavam boa parte de sua vida ao
lombo de mulas levando e buscando mercadorias pelos campos de cima da serra
Visto que desde o processo seletivo do mestrado em agosto de 2016
quando se apresentou o projeto de pesquisa jaacute se pensava no produto um livro
paradidaacutetico no formato fiacutesico A autora por diversas vezes foi questionada por que
natildeo um blog ou site Porque na forma fiacutesica este material seria de faacutecil manuseio
pelos estudantes e professores pois principalmente no interior uso da internet ainda
eacute um problema visto que em muitos locais natildeo existe sinal de telefonia diraacute
internet
88
O paradidaacutetico foi se moldando ao longo do tempo ateacute se chegar a versatildeo
final com uma ampla gama de informaccedilotildees e curiosidades sobre os sete distritos de
Satildeo Francisco de Paula onde se pretende que os alunos e professores possam
fazer uso deste material em sala de aula para tanto a autora pretende
posteriormente lanccedilar o produto para que possa ser lido e manuseado por todos
inclusive por aqueles que gostam de histoacuteria e sentem curiosidade sobre a formaccedilatildeo
do seu distrito e por conseguinte do municiacutepio de Satildeo Francisco de Paula
O paradidaacutetico foi testado em duas turmas da Escola Estadual de Ensino
Meacutedio Lajeado Grande sendo uma de Ensino Meacutedio e a outra das seacuteries finais do
Ensino Fundamental Os alunos jaacute detinham o conhecimento que a autora estava
cursando o Mestrado e que para sua conclusatildeo deveria apresentar um produto Era
de conhecimento de todos os estudantes que a autora estava produzindo um
paradidaacutetico sobre a histoacuteria de Satildeo Francisco de Paula pois a mesma eacute professora
destes estudantes nesta escola
Em um primeiro momento se explica que eacute apenas um protoacutetipo que
somente a capa estaacute colorida e o restante estaacute todo em preto e branco e que a
versatildeo final teraacute as imagens e as curiosidades coloridas o que com certeza
chamaraacute mais atenccedilatildeo Ao entregar o paradidaacutetico Tropeando Histoacuterias em Satildeo
Francisco de Paula para que possam manuseaacute-lo veio a primeira grande surpresa
os estudantes ficaram muito contentes por a turma ter sido escolhida pela autora
escolha essa que se justifica por ter trabalhado todo o ano de 2017 com estes
alunos partindo da histoacuteria local
A turma do oitavo ano do Ensino Fundamental manuseou sendo que os
alunos acharam interessante poreacutem se deteram mais nas imagens e balotildees do
ldquovocecirc sabiardquo Mas de maneira ampla e geral acharam muito interessante a foto de
capa com o Monumento aos Carreteiros situado na Avenida Juacutelio de Castilhos em
frente ao preacutedio da Prefeitura Municipal pois alguns natildeo conhecem a Sede do
municiacutepio
Os alunos do segundo ano do Ensino Meacutedio se surpreenderam e foram direto
ler sobre o distrito no qual residem Interessados questionaram sobre curiosidades
de como o material foi construiacutedo quais as maiores dificuldades encontradas
elogiaram o leiaute as imagens de fundo ao lado de cada curiosidade relatando que
chama a atenccedilatildeo aleacutem de considerarem relevantes as sugestotildees de atividades e
ao final solicitaram quando o material estaraacute disponiacutevel para que possam ler
89
integralmente visto que um periacuteodo de cinquenta minutos natildeo foi suficiente para que
todos manuseassem se fazendo necessaacuterio levar novamente na proacutexima aula
A autora se sentiu motivada pela recepccedilatildeo do produto por seus alunos o que
a incentiva continuar pesquisando sobre outras temaacuteticas a respeito da histoacuteria de
Satildeo Francisco de Paula trazendo para seu fazer pedagoacutegico novas fontes que
proporcionem um estudo da Histoacuteria de maneira ampla e contextualizada com a
realidade local que os cerca
90
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Jornal Satildeo Chico Tchecirc n 12 do dia 28 de maio de 1986
Jornal Pioneiro versatildeo digital do dia 02 de junho de 2017
Entrevistas
Amaacutelia Celuderes Cardoso residente no distrito de Lajeado Grande Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 08 de marccedilo de 2018
Blair dos Santos Fogaccedila residente no distrito de Lajeado Grande Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 06 de abril de 2018
Ceacutelia Pacheco Terres Basso residente no distrito de Cazuza Ferreira Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 04 de agosto de 2018
Darci da Silva Fagundes residente no distrito de Tainhas Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 24 de fevereiro de 2018
Deotildes Palhano dos Santos residente no distrito do Juaacute Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 12 de maio de 2018
Jaures Feijoacute Gomes residente no distrito de Eletra Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 15 de fevereiro de 2018
Luciana Olga Soares residente no distrito Sede Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 01 de marccedilo de 2018
Maria Madalena Scalco Faciole residente no distrito do Rincatildeo dos Kroeff Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 18 de marccedilo de 2018
Moacir Castello Branco de Albuquerque residente no distrito Sede Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 06 abril de 2018
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Nauro Bossle de Andrade residente no distrito de Cazuza Ferreira Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 04 de marccedilo de 2018
Orides Reis residente no distrito do Juaacute Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 12 de maio de 2018
Reinaldo Faciole residente no distrito do Rincatildeo dos Kroeff Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 18 de marccedilo de 2018
Susana Marques Soares residente no distrito de Eletra Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 15 de fevereiro de 2018
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APEcircNDICES
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APEcircNDICE A ndash ENTREVISTA COM MORADORES LOCAIS DOS DISTRITOS DE
SAtildeO FRANCISCO DE PAULA
UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL
PROGRAMA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO EM HISTOacuteRIA ndash MESTRADO EM HISTOacuteRIA PROFISSIONAL
PESQUISA DE CAMPO ndash TATIANA MEacuteLO CARDOSO
1 Nome completo
2 Idade
3 Quantos anos reside neste distrito
4 Como se formou este distrito
5 Por que ele tem esse nome
6 Quem foram os primeiros moradores
7 Como era a vida aqui haacute tempos atraacutes
8 O que mudou aqui com o passar dos anos
9 O que identifica este lugar
10 As pessoas hoje que moram aqui na grande maioria satildeo naturais daqui ou vieram
de onde
11 A(o) Sra(Sr) acredita que as futuras geraccedilotildees valorizaram eou conheceram a
histoacuteria local ou vai se perder no tempo
12 Como funcionava a questatildeo do ensino em meados do seacuteculo XX havia escola na
localidade
13 Qual a primeira escola deste distrito data de fundaccedilatildeo local de funcionamento e a
primeira professora
14 Achas importante trabalhar nas escolas a histoacuteria do lugar
15 O que eacute tradiccedilatildeo deste distrito
16 Qual eacute a fonte de renda das pessoas no que elas trabalham
17 Qual eacute o lazer das pessoas aqui
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APEcircNDICE B ndash TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Declaro por meio deste termo que concordei em ser entrevistado(a) eou participar na
pesquisa de campo referente ao projetopesquisa Ensino de Histoacuteria Local e o Paradidaacutetico
caso Satildeo Francisco de Paula desenvolvida pela aluna Tatiana Meacutelo Cardoso do Programa de
Poacutes-Graduaccedilatildeo em Histoacuteria ndash Mestrado Profissional da Universidade de Caxias de Sul Fui
informado(a) que poderei consultaacute-la a qualquer momento que julgar necessaacuterio atraveacutes do e-
mail t_ati_mhotmailcom
Afirmo que aceitei participar por minha proacutepria vontade sem receber qualquer
incentivo financeiro ou ter qualquer ocircnus e com a finalidade exclusiva de colaborar para o
sucesso da pesquisa Fui informado(a) dos objetivos estritamente acadecircmicos de estudo
Minha colaboraccedilatildeo natildeo ficaraacute anocircnima e foi realizada por meio de entrevista
semiestruturada A anaacutelise dos dados obtidos seratildeo divulgados natildeo permanecendo restritas
apenas a pesquisadora eou seu(s) orientador(es) coordenador(es)
Fui ainda informado(a) de que posso me retirar desse(a) estudopesquisa programa a
qualquer momento sem prejuiacutezo para meu acompanhamento ou sofrer quaisquer sanccedilotildees ou
constrangimentos Atesto recebimento de uma coacutepia assinada deste Termo de Consentimento
Livre e Esclarecido
Satildeo Francisco de Paula ___ de _____________ de ____
Assinatura do(a) participante
Assinatura do responsaacutevel