UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL TATIANA MÉLO CARDOSO

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UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL TATIANA MÉLO CARDOSO SÃO FRANCISCO DE PAULA: O ENSINO DE HISTÓRIA E A IDENTIDADE LOCAL CAXIAS DO SUL 2019

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UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL

TATIANA MEacuteLO CARDOSO

SAtildeO FRANCISCO DE PAULA

O ENSINO DE HISTOacuteRIA E A IDENTIDADE LOCAL

CAXIAS DO SUL

2019

TATIANA MEacuteLO CARDOSO

SAtildeO FRANCISCO DE PAULA

O ENSINO DE HISTOacuteRIA E A IDENTIDADE LOCAL

Dissertaccedilatildeo de mestrado apresentada ao Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Histoacuteria da Universidade de Caxias do Sul para a obtenccedilatildeo do tiacutetulo de Mestre em Histoacuteria

Orientadora Profordf Drordf Cristine Fortes Lia

CAXIAS DO SUL

2019

SAtildeO FRANCISCO DE PAULA

O ENSINO DE HISTOacuteRIA E A IDENTIDADE LOCAL

Tatiana Meacutelo Cardoso

Trabalho de Conclusatildeo de Mestrado submetido agrave Banca Examinadora designada pelo Colegiado do Programa de Poacutes - Graduaccedilatildeo em Histoacuteria da Universidade de Caxias do Sul como parte dos requisitos necessaacuterios para a

obtenccedilatildeo do tiacutetulo de Mestre em Histoacuteria Aacuterea de Concentraccedilatildeo Ensino de Histoacuteria Fontes e Linguagens Linha de Pesquisa Fontes e Acervos na Pesquisa e

Docecircncia em Histoacuteria

Caxias do Sul 5 de junho de 2019

Banca Examinadora

Dra Cristine Fortes Lia Universidade de Caxias do Sul

Dra Eliane Gasparini Xerri Universidade de Caxias do Sul

Dr Jorge Luiz da Cunha Universidade Federal de Santa Maria

Dedico esse estudo a todos que fizeram

parte desta caminhada

AGRADECIMENTOS

Agradeccedilo a Deus em primeiro lugar por ter me dado forccedila para me manter

firme no propoacutesito de concluir o mestrado

Aos meus pais Rivan e Benta que sempre estiveram ao meu lado me

apoiando minha eterna gratidatildeo Amo muito vocecircs

Ao meu esposo Norli que esteve presente em todos os momentos com

paciecircncia e muitas vezes me acompanhando durante as pesquisas para que natildeo

fosse soacute Te amo muito

Ao meu filho Bento Manoel pela compreensatildeo de ver sua matildee mergulhada

em livros em frente ao computador sem poder lhe dar muita atenccedilatildeo Minha razatildeo

de viver

Ao meu irmatildeo Tarciano que sempre me incentivou para que fizesse o

mestrado Muito obrigada por suas palavras

Agrave minha orientadora Professora Dra Cristine pelos ensinamentos prestados

por ter me oportunizado vivecircncias tatildeo ricas que com certeza muito colaboraram

para o sucesso desta pesquisa Minha eterna gratidatildeo

Aos professores do Mestrado pelos ensinamentos prestados com certeza

muito agregaram em minha vida profissional A vocecircs meu carinho

Aos entrevistados Sr Dr Moacir Sr Orides Sr Jaures Sr Blair Sr Nauro

Sr Darci Sr Reinaldo e a Sra Susana Sra Luciana Sra Deotildes Sra Ceacutelia Sra

Amaacutelia Celuderes e Sra Maria Madalena pelo apoio recebendo-me em suas

residecircncias e colaborando com esta pesquisa Sem a colaboraccedilatildeo de vocecircs esse

trabalho seria mais difiacutecil A vocecircs meu muito obrigado

Agrave minha amiga Lisandra que sempre me apoiou com suas palavras de

carinho dando-me coragem para prosseguir Agradeccedilo pela sua amizade

E por fim aos meus alunos que compartilharam muitas vezes as minhas

anguacutestias meu cansaccedilo mas sempre me apoiaram Em especial aqueles que

testaram o produto por suas doces palavras Meu eterno agradecimento

RESUMO

A presente dissertaccedilatildeo aborda o ensino de Histoacuteria em Satildeo Francisco de Paula Rio Grande do Sul tendo como princiacutepio que o ensino de Histoacuteria partindo do local se torna mais significativo aos estudantes da educaccedilatildeo baacutesica Para a construccedilatildeo dessa pesquisa se utilizaram diferentes abordagens metodoloacutegicas tais como documentos da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul jornais fontes bibliograacuteficas imagens e depoimentos orais O estudo procurou abordar a construccedilatildeo do municiacutepio bem como o que identifica os sete distritos pertencentes a Satildeo Francisco Paula Como resultado se cria um paradidaacutetico fiacutesico com textos imagens curiosidades sugestotildees de atividades e leituras complementares que serviraacute de apoio pedagoacutegico aos professores e estudantes da educaccedilatildeo baacutesica Espera-se que este material possa servir de pesquisa a todos os interessados

Palavras-chave Ensino de Histoacuteria Satildeo Francisco de Paula Identidade

ABSTRACT

This dissertation deals with History teaching in Satildeo Francisco de Paula Rio Grande do Sul with the principle that History Teaching from the place becomes more meaningful to students of basic education For the construction of this research different methodological approaches are used such as documents of the Legislative Assembly of Rio Grande do Sul newspapers bibliographic sources images and oral testimony The study sought to address the construction of the municipality as well which identifies the seven districts belonging to San Francisco Paula As a result a physical paradidaacutetico is created with texts images curiosities suggestions of activities and complementary readings that will serve as pedagogical support to teachers and students of basic education It is hoped that this material can serve as a research to all interested parties

Keywords Teaching History Satildeo Francisco de Paula Identity

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 ndash Mapa de Identificaccedilatildeo das Sesmarias Serranas 26

Figura 2 ndash Divisatildeo Municipal em 1809 ndash Proviacutencia Satildeo Pedro do Rio Grande do Sul

28

Figura 3 ndash Vista da vila de Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra (1901) 29

Figura 4 ndash Vista Avenida Juacutelio de Castilhos (1923) 30

Figura 5 ndash Abertura da estrada ERS-020 Taquara ndash Satildeo Francisco de Paula de

Cima da Serra 31

Figura 6 ndash Accedilougue Central 33

Figura 7 ndash Igreja Matriz em 1931 34

Figura 8 ndash Igreja Matriz 34

Figura 9 ndash Mapa de localizaccedilatildeo de Satildeo Francisco de Paula 36

Figura 10 ndash Patroa Neuza Reis e sua Comissatildeo 39

Figura 11 ndash Gonzaga dos Reis 48

Figura 12 ndash Outdoor entrada da cidade na ERS-020 50

Figura 13 ndash Praccedila Central de Cazuza Ferreira 52

Figura 14 ndash Hotel do Campo 54

Figura 15 ndash Flacircmula de comemoraccedilatildeo aos 50 anos da entidade 57

Figura 16 ndash Barragem do Salto 58

Figura 17 ndash Igreja Santo Antocircnio ndash Distrito de Eletra 61

Figura 18 ndash Peacute com a fruta conhecido como Juaacute 63

Figura 19 ndash Praccedila Vila do Distrito Juaacute ao fundo cancha de laccedilo 65

Figura 20 ndash Imagem da Igreja Satildeo Roque em dia de festa no Rincatildeo dos Kroeff 69

Figura 21 ndash Imagem do Casaratildeo pouco antes de ser desmanchado 71

Figura 22 ndash Capa do livro 75

Figura 23 ndash Iacutendice do livro 76

Figura 24 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 1) 77

Figura 25 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 1) 78

Figura 26 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 2) 79

Figura 27 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 3) 80

Figura 28 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 4) 81

Figura 29 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 6) 82

Figura 30 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 8) 83

Figura 31 ndash Atividade do livro (Sugestatildeo de Leituras Complementares) 84

Figura 32 ndash Alunos do Ensino Meacutedio 85

SUMAacuteRIO

1 INTRODUCcedilAtildeO 11

2 HISTOacuteRIA LOCAL E O ENSINO DE HISTOacuteRIA NA SALA DE AULA 17

3 SAtildeO FRANCISCO DE PAULA CONSTRUCcedilAtildeO DO MUNICIacutePIO 24

31 CONVERSA COM MEMORIALISTAS 25

32 AMPLIANDO O DIAacuteLOGO COM OS MEMORIALISTAS 28

4 SAtildeO FRANCISCO DE PAULA DISTRITOS EM FOCO 41

41 DISTRITO SEDE 42

42 DISTRITO DE CAZUZA FERREIRA 51

43 DISTRITO DE TAINHAS 55

44 DISTRITO DE ELETRA 58

45 DISTRITO DO JUAacute 62

46 DISTRITO DO RINCAtildeO DOS KROEFF 66

47 DISTRITO DE LAJEADO GRANDE 70

5 DESCRICcedilAtildeO DO PRODUTO 74

6 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 86

REFEREcircNCIAS 90

FONTES CONSULTADAS 94

APEcircNDICES 96

APEcircNDICE A ndash ENTREVISTA COM MORADORES LOCAIS DOS DISTRITOS DE

SAtildeO FRANCISCO DE PAULA 97

APEcircNDICE B ndash TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO 98

11

1 INTRODUCcedilAtildeO

Os meacutetodos de ensino de Histoacuteria no Brasil vem sendo discutidos desde sua

criaccedilatildeo como disciplina Segundo Nadai (1992-1993 p 144) a introduccedilatildeo de

Histoacuteria no curriacuteculo ocorre na terceira metade do seacuteculo XIX no Brasil sendo que

desde entatildeo passa por diversas modificaccedilotildees Segundo Schmidt e Cainelli (2009)

os meacutetodos foram se adequando ao momento histoacuterico brasileiro em um primeiro

momento ensinou-se a histoacuteria da Europa Ocidental como a verdadeira histoacuteria da

civilizaccedilatildeo uma histoacuteria abstrata sem relaccedilatildeo com a vida do aluno Nadai (1992-

1993 p 146) acrescenta que ldquoa histoacuteria da paacutetria surgia como seu apecircndice sem

corpo autocircnomo e ocupando um papel extremamente secundaacuterio consistia num

repositoacuterio de biografias de homens ilustres de datas e batalhasrdquo

Poreacutem a partir de 1860 segundo Schmidt e Cainelli (2009 p 12-13) ldquono

periacuteodo republicano a incorporaccedilatildeo da concepccedilatildeo de que a disciplina Histoacuteria tinha

a responsabilidade de formar cidadatildeos ganha forccedilardquo sendo assim as escolas

primaacuterias e secundaacuterias comeccedilaram incluir em seus programas a histoacuteria nacional

com o intuito da formaccedilatildeo da nacionalidade sendo a paacutetria com seus heroacuteis o

principal foco Desta forma a criaccedilatildeo das diretrizes da Lei de Educaccedilatildeo nordm 569271

reforccedila o modelo jaacute instaurado

Foi oficializado o ensino de Estudos Sociais nas escolas brasileiras ficando os conteuacutedos especiacuteficos da Histoacuteria destinados somente aos alunos do antigo segundo grau A concepccedilatildeo e os conteuacutedos da Histoacuteria continuavam atrelados agraves concepccedilotildees tradicionais (SCHMIDT CAINELLI 2009 p 13)

Com a redemocratizaccedilatildeo na deacutecada de 1980 houve inuacutemeras discussotildees

que elencaram inuacutemeras abordagens e temaacuteticas para o ensino da Histoacuteria na

atualidade as novas tendecircncias se preocupam com a transposiccedilatildeo didaacutetica

valorizando documentos histoacutericos e incorporando novas linguagens e tecnologias

que permitem discussotildees e autonomia de pensamento Neste sentido as novas

concepccedilotildees de ensino de Histoacuteria ao final do seacuteculo XX abrem a possibilidade de

uma nova praacutetica didaacutetica que segundo Azevedo e Stamatto (2010 p 709) ldquobusca

problematizar a relaccedilatildeo passado-presente e em geral tomam a realidade do aluno

como ponto de partidardquo

Por se acreditar em um ensino de Histoacuteria onde a aprendizagem natildeo ocorre

em periacuteodos estanques de forma abstrata e sem relaccedilatildeo com o presente ou seja

12

apresentando de forma linear sem que haja contextualizaccedilatildeo sendo apresentada

atraveacutes de leitura de textos eou resumos permeando com atividades que muitas

vezes natildeo permitem um desenvolvimento de raciociacutenio histoacuterico que contribua para

a construccedilatildeo da cidadania Torna-se urgente pensar em um ensino voltado para a

inclusatildeo de novas contribuiccedilotildees historiograacuteficas como a histoacuteria cultural econocircmica

e social buscando na realidade local subsiacutedios para a aprendizagem Por isso a

presente dissertaccedilatildeo traz a didatizaccedilatildeo da histoacuteria de Satildeo Francisco de Paula visto

que a questatildeo-problema estaacute vinculada ao natildeo uso da histoacuteria local no ensino de

Histoacuteria deste municiacutepio e o pouco material disponiacutevel para o uso dos professores

Parte-se do pressuposto que ao abranger a histoacuteria local os sujeitos se veem como

partiacutecipes desta histoacuteria estudada significando e ressignificando conceitos

histoacutericos

Corroborando com este estudo Cunha (2016) traz consideraccedilotildees importantes

relacionadas ao uso da histoacuteria local O autor aborda como algo essencial para

compreensatildeo da histoacuteria geral na educaccedilatildeo baacutesica o uso da histoacuteria local o que

proporcionaria aos estudantes o reconhecimento como cidadatildeo e a percepccedilatildeo e

identificaccedilatildeo dos lugares de memoacuteria por parte dos alunos bem como o sentimento

de pertencimento do local Desta forma despertaria no aluno o interesse por um

passado aparentemente desligado de sua realidade estabelecendo relaccedilotildees com o

seu cotidiano

Desta maneira acredita-se que os estudantes da educaccedilatildeo baacutesica

compreenderatildeo a histoacuteria como algo que faz parte de suas vidas tornando-se assim

sujeitos da histoacuteria pois se haacute reconhecimento haveraacute tambeacutem o sentimento de

pertencimento que poderaacute ajudaacute-los a manter ou modificar a realidade que os cerca

Assim descrevem Schmidt e Cainelli

Esse sentido do ensinar Histoacuteria natildeo significaria natildeo ter conteuacutedos para serem ensinados mas olhar para estes conteuacutedos a partir da possibilidade de construir com os alunos novas questotildees diante de conteuacutedos e temas propostos pela historiografia Aprender histoacuteria eacute discutir evidecircncias levantar hipoacuteteses dialogar com os sujeitos os tempos e os espaccedilos histoacutericos Eacute olhar para o outro em tempos e espaccedilos diversos (SCHMIDT CAINELLI 2009 p 20)

Dentro desta perspectiva o reconhecimento da memoacuteria social se faz

importante visto que se necessita invocaacute-la para que um determinado grupo ou local

reconheccedila sua identidade social Atraveacutes de entrevistas com moradores de Satildeo

13

Francisco de Paula se invoca a memoacuteria coletiva na busca da identidade dos sete

distritos deste municiacutepio Visto que a histoacuteria de Satildeo Francisco de Paula se inicia por

volta do seacuteculo XVIII quando se datam as primeiras sesmarias1 concedidas ao

capitatildeo Pedro da Silva Chaves Posteriormente o capitatildeo doa parte de suas terras

para a construccedilatildeo do povoado que recebe o nome de Satildeo Francisco de Paula de

Cima da Serra por este ser devoto do Santo Satildeo Francisco Reza no testamento do

capitatildeo Pedro da Silva Chaves que um de seus filhos foi o primeiro paacuteroco a rezar

missa no povoado Satildeo Francisco de Paula pertenceu a Santo Antocircnio da Patrulha

e mais tarde a Taquara emancipando-se em 1902

Haacute pouca bibliografia sobre a histoacuteria de Satildeo Francisco de Paula o que existe

satildeo livros escritos por memorialistas onde se percebe a prioridade pela histoacuteria do

fundador ou seja do Capitatildeo Pedro da Silva Chaves dos iacutendios Caaguaraacutes que

habitavam a regiatildeo assim como os aspectos poliacuteticos administrativos Alguns destes

livros apresentam uma siacutentese cronoloacutegica de fatos importantes e descrevem

superficialmente o jeito de viver do povo serrano2 Mas a histoacuteria de Satildeo Francisco

de Paula estaacute repleta de diferentes identidades que identificam a Sede3 e o Interior4

deste municiacutepio e formam o jeito de viver do seu povo A natildeo exploraccedilatildeo de

elementos culturais que se fazem importantes para a construccedilatildeo de identidade

destes lugares minimiza as memoacuterias e as tradiccedilotildees que ali se apresentam visto

que

as constantes novidades em diferentes campos do saber os avanccedilos da tecnologia as infinitas possibilidades de comunicaccedilatildeo simultacircnea tecircm provocado sobretudo nas novas geraccedilotildees uma sensaccedilatildeo de que o mundo em que se vive eacute dotado de um temporalidade constituiacuteda por um tempo presente contiacutenuo (FIGUEIRA MIRANDA 2012 p 46)

Neste sentido fez-se uso de diferentes fontes para a construccedilatildeo do produto

desta dissertaccedilatildeo que consiste de um paradidaacutetico que possa servir como um

1 Sesmaria Terreno sem culturas ou abandonado que a antiga legislaccedilatildeo portuguesa com base em

praacuteticas medievais determinava que fosse entregue a quem se comprometesse a cultivaacute-lo 2 Serrano gentiacutelico de quem nasce em Satildeo Francisco de Paula 3 Sede distrito criado em 07 de janeiro de 1903 na mesma data da instalaccedilatildeo oficial do Municiacutepio Eacute

o distrito onde se localiza a Prefeitura Municipal Foacuterum agecircncias bancaacuterias loteacutericas hospital casas comerciais e residecircncias particulares Normalmente os moradores do interior quando vatildeo ao distrito se referem como ldquovou a Satildeo Chicordquo e natildeo como ldquovou a Sederdquo

4 Interior Cazuza Ferreira Juaacute Eletra Rincatildeo dos Kroeff Tainhas e Lajeado Grande satildeo distritos que ficam na zona rural apesar de todos terem uma pequena vila que possui pouca infraestrutura Alguns destes distritos ainda usam aacutegua de vertentes sem nenhuma rede de esgoto pois natildeo possuem aacutegua fornecida pela Companhia de Aacutegua e Saneamento (CORSAN)

14

material disponiacutevel a alunos e professores no ensino de Histoacuteria de Satildeo Francisco

de Paula Segundo Munakata entendem-se como paradidaacuteticos

Livros que sem apresentar caracteriacutesticas proacuteprias dos didaacuteticos satildeo adotados no processo de ensino e aprendizagem nas escolas seja como material de consulta do professor seja como material de pesquisa e de apoio agraves atividades do educando (MUNAKATA 1997 p 103)

Para a construccedilatildeo do paradidaacutetico fez-se uso de bibliografias jaacute existentes

jornais e documentos da Assembleia da Legislativa bem como o uso da histoacuteria

oral sendo as entrevistas a fonte primordial para escrever sobre as semelhanccedilas e

diferenccedilas existentes no modo de vida da populaccedilatildeo de Satildeo Francisco de Paula

visto que os depoimentos satildeo importantes na preservaccedilatildeo das memoacuterias tradiccedilotildees

bem como das heranccedilas identitaacuterias Neste sentido Delgado (2003 p 23) discorre

ldquonarrativas memoacuterias histoacuterias e identidades satildeo a humanidade em movimento

Satildeo o olhar que permeiam tempos heterogecircnicos Satildeo a histoacuteria em construccedilatildeo Satildeo

memoacuterias que falamrdquo

Portanto a histoacuteria oral busca registrar as vivecircncias e lembranccedilas de um

determinado grupo Alberti (2008 p 29) assim define ldquohistoacuteria oral natildeo eacute um fim em

si mesma e sim um meio de conhecimentordquo Quando se trabalha com a histoacuteria

oral se faz necessaacuterio valorizar a memoacuteria as identidades e tradiccedilotildees pois estas

formam a histoacuteria local ou seja a histoacuteria dos indiviacuteduos que ali vivem Halbwachs

(2004) afirma que com a perda da memoacuteria coletiva tambeacutem se perdem as

tradiccedilotildees locais tradiccedilotildees essas que identificam o modo de viver de um determinado

local Hobsbawn e Ranger entendem que as tradiccedilotildees podem ou natildeo ser

inventadas

Tradiccedilatildeo inventada entende-se um conjunto de praacuteticas normalmente reguladas por regras taacutecitas ou abertamente aceitas tais praacuteticas de natureza ritual ou simboacutelica visam inculcar certos valores e normas de comportamento atraveacutes da repeticcedilatildeo o que implica automaticamente uma continuidade com relaccedilatildeo ao passado (HOBSBAWN RANGER 2015 p 8)

Hobsbawn e Ranger (2015) ainda acrescem que a criaccedilatildeo de uma tradiccedilatildeo

independe da imposiccedilatildeo de uma nova tradiccedilatildeo o que normalmente ocorre eacute uma

rebeliatildeo cultural que precede da elaboraccedilatildeo de novas tradiccedilotildees que satildeo adotadas

pela populaccedilatildeo e com o tempo passam a se tornar tradiccedilotildees daquele local

formando a identidade local

15

Neste sentido Hall (2011 p 39) discorre que ldquoas identidades satildeo fabricadas

por meio da marcaccedilatildeo da diferenccedilardquo O autor ainda acresce que ldquoa diferenccedila eacute aquilo

que separa uma identidade da outrardquo (HALL 2011 p 41) Dentro desta perspectiva

a memoacuteria que se apresenta atraveacutes de siacutembolos ou tradiccedilotildees respalda a

construccedilatildeo da identidade do povo de Satildeo Francisco de Paula visto que a memoacuteria eacute

a construccedilatildeo do passado de maneira atualizada e renovada no tempo presente

Assim Halbwachs (2004 p 64) descreve que ldquonatildeo eacute na histoacuteria aprendida eacute na

histoacuteria vivida que se apoia nossa memoacuteriardquo Nessa loacutegica o autor ainda descreve

que ldquoo mundo histoacuterico eacute como um oceano onde afluem todas as histoacuterias parciaisrdquo

(p 90)

O municiacutepio de Satildeo Francisco de Paula eacute repleto de tradiccedilotildees que perpassam

o tempo que estatildeo enraizadas no jeito serrano de ser formando a sua identidade

Portanto a histoacuteria de Satildeo Francisco de Paula descrita nesta dissertaccedilatildeo seraacute

apresentada em quatro capiacutetulos

O capiacutetulo dois apresenta a discussatildeo teoacuterica metodoloacutegica sobre a

importacircncia do ensino da Histoacuteria local na sala de aula Tambeacutem conceitos como

memoacuteria e identidade e a importacircncia de se abordar o local em prol do global

No capiacutetulo trecircs aborda-se a construccedilatildeo histoacuterica do municiacutepio de Satildeo

Francisco de Paula que vai desde a chegada do colonizador nesta terra ateacute as

instituiccedilotildees que se formam ao longo do tempo Para isso se faz uso de bibliografias

jaacute existentes como Lucena (1971) Oliveira (1996) Teixeira (2002) Ribeiro (2003)

Alves (2007) e Fonseca (2012) sendo todas essas obras importantes para Satildeo

Francisco de Paula visto que cada uma traz consigo um pouco da histoacuteria deste

municiacutepio poreacutem sente-se falta da identidade e da memoacuteria na construccedilatildeo histoacuterica

As obras satildeo apresentadas sob o mesmo prisma apresentando os iacutendios Caaguaraacutes

e o Capitatildeo Pedro da Silva Chaves os fundadores desta terra dando bastante

ecircnfase aos sobrenomes que ali se desenvolveram Tambeacutem se fez uso de

documentos da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul aleacutem de jornais

encontrados no Arquivo Histoacuterico de Satildeo Francisco de Paula

No capiacutetulo quatro utiliza-se da fonte oral para que sejam identificadas as

diferentes tradiccedilotildees e versotildees da histoacuteria local ou seja a identidade de cada distrito

constituindo assim as particularidades que constroem o municiacutepio de Satildeo Francisco

de Paula Para tanto buscaram-se depoentes nas vilas dos distritos sendo que a

escolha se deu por duas pessoas por distrito sendo um homem e uma mulher

16

totalizando treze depoentes todos da terceira idade pois segundo Bosi (1994 p

82) ldquoum mundo social que possui uma riqueza e uma diversidade que natildeo

conhecemos pode chegar-nos pela memoacuteria dos velhosrdquo memoacuterias estas

construiacutedas por suas vivecircncias neste local o que justifica a relevacircncia dos

depoimentos para a construccedilatildeo do trabalho

O capiacutetulo cinco apresenta uma descriccedilatildeo do produto que consiste em um

paradidaacutetico em forma fiacutesica abordando a histoacuteria de Satildeo Francisco de Paula A

escolha pelo formato fiacutesico acontece pelas dificuldades encontradas no interior dos

distritos com o acesso agrave internet assim se pensa que o formato fiacutesico abrangeraacute um

nuacutemero maior de alunos e professores

Para tanto utiliza-se a metodologia da Histoacuteria oral para escrever a memoacuteria

e as percepccedilotildees das pessoas que habitam este local Hobsbawn e Ranger (1995 p

103) escrevem que ldquoessa proximidade entre o periacuteodo analisado e sua histoacuteria

pessoal eacute o pano de fundo para a discussatildeo de alguns problemas que qualquer

historiador enfrenta ao escrever sobre seu proacuteprio tempordquo pois a sensibilidade do

historiador vai escrever sua narrativa Em outras palavras Hobsbawn e Ranger

(1995 p 104) explicam que ldquocada historiador tem sua proacutepria vida um lugar privado

a partir do qual inspeciona o mundordquo Tambeacutem afirmam

Para aqueles que querem escrever a histoacuteria do seacuteculo XX uma das mais importantes reside no simples fato de saber sem nenhum esforccedilo especial o quanto as coisas se modificaram Os uacuteltimos trinta ou quarenta anos foram os mais revolucionaacuterios da histoacuteria O mundo ou seja a vida dos homens e mulheres que vivem na Terra nunca foi transformada de maneira tatildeo profunda dramaacutetica e extraordinaacuteria dentro de um periacuteodo tatildeo curto As geraccedilotildees que natildeo viram como o mundo era antes tecircm dificuldade em perceber isso intuitivamente (HOBSBAWN RANGER 1995 p 107)

Portanto se faz importante perceber que o mundo vem se transformando de

maneira raacutepida modificando a vida das pessoas e por conseguinte as tradiccedilotildees e

identidades locais pois estas comunidades natildeo vivem de forma isolada e sofreram

influecircncias jaacute que a cultura natildeo eacute estagnada estaacute sempre em constante movimento

juntamente com as pessoas

17

2 HISTOacuteRIA LOCAL E O ENSINO DE HISTOacuteRIA NA SALA DE AULA

Discutir o ensino de Histoacuteria na educaccedilatildeo baacutesica e a relaccedilatildeo do mesmo com a

histoacuteria local se faz bastante importante para que a cada dia se possa melhorar as

praacuteticas pedagoacutegicas Neste sentido se busca respaldo em diferentes bibliografias

que possam embasar novos afazeres dentro do espaccedilo da sala de aula e

proporcionar ao estudante um novo olhar sobre a histoacuteria um olhar de sujeito ativo

dentro desse processo de ensino aprendizagem

Pois quando a Histoacuteria eacute ensinada como algo certo e imutaacutevel de maneira

fragmentada voltada para linearidade e memorizaccedilatildeo de fatos e datas reforccedila o

que Mendes (1935) e Schmidt e Cainelli (2009) defendem que realmente eacute odiosa a

histoacuteria ensinada por este vieacutes Percebe-se que o ensino de histoacuteria linear nos

moldes europeus positivistas jaacute natildeo daacute mais conta da importacircncia da histoacuteria para a

sociedade atual porque eacute apresentada aos alunos atraveacutes de datas e fatos escrita

pelo vieacutes de uma elite que normalmente eacute branca e deteacutem o poder poliacutetico eou

econocircmico Eacute inconcebiacutevel que se permaneccedila com um ensino de Histoacuteria que natildeo

serve natildeo motiva e segundo Ruumlsen (2001 p 25) ainda ldquoirracionalizardquo sendo esse

modelo muito frequente nas escolas de educaccedilatildeo baacutesica brasileiras

Natildeo eacute por outro motivo que observamos ainda nas uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo XX que para a maior parte dos estudantes brasileiros o estudo de histoacuteria carece de sentido ou utilidade natildeo se tem a visatildeo de ciecircncia e sim de uma mateacuteria decorativa estudo do passado que soacute exige como vimos a prontidatildeo em declinar nomes datas e fatos Natildeo eacute de se estranhar que assim seja porque ocorre a enorme distacircncia entre a realidade vivenciada pela comunidade e o tratamento dado ao ensino de Histoacuteria jaacute que o aluno se torna mero espectador de fatos natildeo necessitando esforccedilos no sentido de qualquer reflexatildeo ou elaboraccedilatildeo (BARBOSA 2006 p 58)

O ensinar da histoacuteria de forma abstrata fragmentada dificulta a compreensatildeo

do processo histoacuterico no sentido que se estuda os fatos isolados ao seu tempo

como se um fato precisasse terminar para iniciar outro Em outras palavras este

meacutetodo de ensino natildeo daacute a noccedilatildeo de continuidade ou seja a histoacuteria perdeu seu

sentido baacutesico que eacute a compreensatildeo do contexto global dos fatos considerando que

o ensino de Histoacuteria por muitas vezes eacute estanque sem uma relaccedilatildeo ldquopresente x

passadordquo sendo de suma importacircncia o despertar de uma consciecircncia criacutetica por

parte do estudante Por isso ao longo do tempo o ensino sofre influecircncia por parte

do ldquopoderrdquo segundo Laville (1999 p 128) ldquoa Histoacuteria eacute certamente a uacutenica disciplina

18

escolar que recebe intervenccedilotildees diretas dos altos dirigentes e a consideraccedilatildeo ativa

dos parlamentos Isso mostra quatildeo importante eacute ela para o poderrdquo Nesta linha o

autor ainda acrescenta que ldquoa narrativa histoacuterica pode tambeacutem ser vista como uma

tomada de poder por grupos sem poderrdquo (LAVILLE 1999 p 129)

Na busca de modificar esse modelo surgem novos meacutetodos que valorizam o

uso do documento histoacuterico e a incorporaccedilatildeo de novas tecnologias de acordo com

Azevedo e Stamatto (2010 p 720) ldquotem o desafio de responder a inquietaccedilotildees do

hojerdquo Partindo deste pressuposto haacute possibilidade de se modificar o ensino da

Histoacuteria que ateacute entatildeo estava voltado agrave memorizaccedilatildeo para um modelo onde o

sujeito seja agente deste processo

Ensinar Histoacuteria como algo pronto e acabado [] sem levar em conta o contexto e os sujeitos envolvidos no processo de ensino aprendizagem pode levar a um ensino que natildeo desenvolve o que eacute mais importante como funccedilatildeo do ensinar histoacuteria que orientar os problemas da vida praacutetica (SCHMIDT CAINELLI 2009 p 20)

Assim Seffner (2013 p 51) acrescenta que ldquoo ensino de Histoacuteria eacute um ensino

de situaccedilotildees histoacutericas Mais do que nomes datas e acontecimentos o professor

deve propiciar ao aluno a compreensatildeo de como se estrutura uma dada situaccedilatildeordquo

Para que o ensino de Histoacuteria seja ressignificado existe a necessidade de anaacutelise

do processo histoacuterico problematizando os fatos no vai e vem do presentepassado

Os estudantes da educaccedilatildeo baacutesica necessitam compreender a histoacuteria como

um processo em constante transformaccedilatildeo que eacute movimentada por sujeitos que a

compotildeem com permanecircncias e rupturas ao longo dos tempos Segundo Bittencourt

(2004 p 168) ldquoa histoacuteria local tem sido indicada como necessaacuteria para o ensino por

possibilitar a compreensatildeo do alunordquo

Corroborando Seffner (2013) Souza (2015) e Brum (2015) evidenciam a

importacircncia de se trabalhar a histoacuteria global partindo de uma histoacuteria local

problematizando levando hipoacuteteses e analisando os fatos histoacutericos o que gera

significado para o educando e torna o docente natildeo mais um mero transmissor mas

um mediador deste conhecimento Neves (1997 p 22) reforccedila que ldquoo local fora do

contexto geral eacute apenas um fragmento e o geral sem o respaldo das realidades

locais eacute apenas uma abstraccedilatildeordquo Com esta nova abordagem o estudar Histoacuteria tem

sentido para o discente que se sente sujeito de sua proacutepria histoacuteria visto que

19

identificar-se com o local onde se vive ajuda a compreender o sentimento de

pertencimento e suas relaccedilotildees com o meio social e cultural no qual estaacute inserido

Nesta perspectiva faz-se necessaacuterio que os professores busquem novas

alternativas de ensino que proporcionem ao estudante a habilidade de ressignificar o

fato histoacuterico estudado

Ensinar Histoacuteria requer do professor a habilidade de buscar sentido e significado para o conhecimento que ministra e isso significa superar a mera transmissatildeo de informaccedilotildees jaacute que essa natildeo tem por finalidade o desenvolvimento intelectual mas ao contraacuterio deforma a capacidade de pensamento histoacuterico do aluno e a possibilidade de consolidar habilidades de anaacutelise da proacutepria realidade social (SILVA PORTO 2012 p 67)

Goubert assim define a histoacuteria local

Denominaremos histoacuteria local como aquela que diga respeito a uma ou poucas aldeias a uma cidade pequena ou meacutedia (um grande porto ou uma capital estatildeo aleacutem do acircmbito local) ou a uma aacuterea geograacutefica que natildeo seja maior do que a unidade provincial comum (como um county inglecircs um contado italiano uma Land alematilde uma bailiwick ou pays francecircs) Praticada haacute tempos atraacutes com cuidado zelo e ateacute orgulho a histoacuteria local foi mais tarde desprezada mdash principalmente nos seacuteculos XIX e primeira metade do XX mdash pelos partidaacuterios da histoacuteria geral A partir poreacutem da metade desse seacuteculo a histoacuteria local ressurgiu e adquiriu novo significado na verdade alguns chegam a afirmar que somente a histoacuteria local pode ser autecircntica e fundamentada (GOUBERT 1992 p 70)

Neste sentido fica evidente a importacircncia de se partir de uma histoacuteria local

para uma global Atraveacutes da histoacuteria local os estudantes teratildeo contato com sua

histoacuteria e poderatildeo se sentir parte integrante deste espaccedilo que muitas vezes por

falta de conhecimento acabam renegando sua proacutepria identidade Figueira e Miranda

(2012 p 113) afirmam que ldquoum dos efeitos mais danosos da globalizaccedilatildeo eacute a

universalizaccedilatildeo dos gostosrdquo isto implica diretamente na perda da identidade local

que muitas vezes estaacute sendo afetada pelas muacuteltiplas identidades existentes Neste

sentido Silva e Porto descrevem

A globalizaccedilatildeo entretanto produz diferentes resultados em termos de identidade A homogeneidade cultural promovida pelo mercado global pode levar ao distanciamento da identidade relativamente agrave comunidade e agrave cultura local (SILVA PORTO 2012 p 21)

Neste sentido Canclini acrescenta

Las comunidades de consumidores se organiza cada vez menos seguacuten diferencias nacionales y sobre todo en las generaciones joacutevenes definen sus praacutecticas culturales de acuerdo con informacioacuten y estilos homogeneizados (CANCLINI 1997 p 42)

20

Globalizaccedilatildeo que impotildee atraveacutes dos meios de comunicaccedilatildeo e social uma

identidade geral que regra a sociedade seus haacutebitos e costumes Devido ao grande

movimento das pessoas pelo mundo perceber e manter uma identidade com

caracteriacutesticas locais fica a cada dia mais difiacutecil ainda mais em se tratando da

populaccedilatildeo jovem que natildeo reconhece ao seu redor o que representa a sua

identidade local

Valorar as experiecircncias locais proporcionaraacute aos estudantes uma nova

metodologia de abordar a histoacuteria

Do ponto de vista metodoloacutegico destaca-se nessa forma de abordagem a preocupaccedilatildeo com os conhecimentos preacutevios dos alunos com a problematizaccedilatildeo dos conteuacutedos de ensino selecionados para trabalho em sala de aula estabelecendo relaccedilotildees com o cotidiano dos alunos e com o cotidiano de outras pessoas em outros tempos e em outros lugares Enfatiza-se tambeacutem a busca de articulaccedilatildeo entre histoacuteria local e a histoacuteria universal (SCHMIDT 2007 p 193)

O ensino de histoacuteria partindo do local para o global possibilita segundo

Bittencourt (2004 p 168) ldquoa compreensatildeo do entorno do alunordquo sendo que um dos

aspectos relevantes para este ensino eacute a escolha de fontes que levem os estudantes

a se reconhecerem nesse processo histoacuterico O autor ainda acresce

Eacute pela memoacuteria que se chega agrave histoacuteria local Aleacutem da memoacuteria das pessoas escrita ou recuperada pela oralidade existem os lsquolugares de memoacuteriarsquo (grifo da autora) expressos por monumentos praccedilas edifiacutecios puacuteblicos ou privados mas preservados como patrimocircnio histoacuterico (BITTENCOURT 2004 p 169)

Esta memoacuteria vai contribuir para legitimaccedilatildeo da identidade local Sabe-se que

a identidade eacute algo mutaacutevel e segundo Silva e Porto (2012 p 38) ldquoas identidades

satildeo produzidas em momentos particulares no tempordquo O pesquisador ainda

acrescenta que ldquoas identidades satildeo contingentes emergindo em momentos

histoacutericos particularesrdquo Estas identidades precisam ser reconhecidas quando se fala

de histoacuteria local

Na mesma linha Ruumlsen descreve a identidade histoacuterica

Consiste na ampliaccedilatildeo do horizonte nas experiecircncias do tempo e nas intenccedilotildees acerca do tempo no qual os sujeitos agentes se asseguram da permanecircncia de si mesmos na evoluccedilatildeo do tempo O ponto extremo dessa consolidaccedilatildeo de identidade eacute a lsquohumanidadersquo como suprassumo dos pontos comuns em sociedade com respeito a diversos sujeitos agentes no processo de determinaccedilatildeo de suas proacuteprias identidades determinam as dos outros de forma tal que estes se reconhecem nelas Esse criteacuterio de sentido lsquohumanidadersquo fornece o paracircmetro para se constatar a consolidaccedilatildeo da

21

identidade em que desembocam o progresso contiacutenuo do conhecimento mediante a pesquisa histoacuterica e a ampliaccedilatildeo contiacutenua das perspectivas mediante a reflexatildeo histoacuterica sobre referenciais (RUumlSEN 2001 p 126)

A histoacuteria local eacute constituiacuteda por diferentes identidades que satildeo geradas pelos

grupos que compotildeem este espaccedilo A este respeito Silva e Porto (2011 p 41)

apresentam que ldquoa diferenccedila eacute aquilo que separa uma identidade da outrardquo Tambeacutem

eacute notaacutevel que para que haja a representaccedilatildeo de suas identidades locais faz-se

necessaacuterio o reconhecimento destas e a percepccedilatildeo que existem diferentes fatores

que diferenciam os grupos sociais

Portanto a identidade eacute constituiacuteda pelas posiccedilotildees eou escolhas feitas

sendo que muitas vezes elas satildeo racionais ou ateacute mesmo irracionais A identidade

eacute baseada na memoacuteria que pode ser individual ou coletiva Segundo Candau (2011

p 16) ldquoos laccedilos fundamentais entre memoacuteria e identidade eacute sobre o fato de que eacute a

memoacuteria faculdade primeira que alimenta a identidaderdquo

Se a memoacuteria gera a identidade natildeo se pode pesquisar e escrever sobre

histoacuteria local sem levar em conta estes dois conceitos primordiais pois a histoacuteria

local soacute teraacute valia se escrita pelo vieacutes do todo ou seja natildeo priorize um grupo ou

classe social todos os quadros sociais devem estar representados dentro deste

processo Nessa linha Schmidt e Cainelli descrevem

O estudo da localidade ou da histoacuteria regional contribui para uma compreensatildeo muacuteltipla da Histoacuteria pelo menos em dois sentidos na possibilidade de se ver mais de um eixo histoacuterico na histoacuteria local e na possibilidade da anaacutelise de micro histoacuterias pertencentes a alguma outra histoacuteria que as englobe e ao mesmo tempo reconheccedila suas particularidades (SCHMIDT CAINELLI 2009 p 139)

Uma histoacuteria que faz sentido que esteja englobada a outra histoacuteria A

memoacuteria coletiva entra na construccedilatildeo desta histoacuteria local e eacute primordial pois esta vai

dar elementos que constroem a identidade deste local sendo que a memoacuteria do

passado influencia na representaccedilatildeo da identidade Neste sentido conforme

Figueira e Miranda (2012 p 47) eacute necessaacuterio compreender a memoacuteria ldquocomo a

capacidade de conservar e de preservar dados refere-se a um conjunto de funccedilotildees

cerebrais que nos permite reter informaccedilotildees adquiridas e impressotildees vividasrdquo

Podendo ser ela individual ou coletiva sendo que a memoacuteria individual existe a partir

de uma memoacuteria coletiva jaacute que as lembranccedilas que ajudam a reconstruir o passado

partem do interior de um grupo

22

Para as Ciecircncias Humanas o conceito de memoacuteria estaacute ligado agrave memoacuteria

social e coletiva definida por Le Goff (2003 p 422) como ldquoo estudo da memoacuteria

social eacute um dos elementos fundamentais de abordar os problemas do tempo e da

histoacuteriardquo O autor ainda acrescenta que ldquoa memoacuteria coletiva eacute natildeo somente uma

conquista eacute tambeacutem um instrumento e um objeto de poderrdquo (LE GOFF 2003 p

410) Neste sentido Halbwachs (2004 p 90) ressalta que ldquotoda memoacuteria coletiva

tem por suporte um grupo limitado no espaccedilo e no tempo e o mundo histoacuterico eacute

como um oceano onde afluem todas as histoacuterias parciaisrdquo

Quando se abordam conceitos de memoacuteria e identidade no ensino de

histoacuteria estaacute se trazendo para o estudo os sujeitos que compotildeem aquele local com

suas vivecircncias que podem ser coletivas ou natildeo A transmissatildeo de saberes entre as

geraccedilotildees forma a identidade coletiva sendo o ser humano um agente ativo no

quadro social da memoacuteria

Halbwachs assim define os quadros coletivos da memoacuteria

Os quadros coletivos da memoacuteria natildeo se resumem em datas nomes e foacutermulas que eles representam correntes de pensamento e de experiecircncia onde reencontramos nosso passado porque este foi atravessado por isso tudo (HALBWACHS 2004 p 71)

Nesta direccedilatildeo Le Goff (2003 p 4) acrescenta que ldquoa memoacuteria social eacute um

dos meios fundamentais para se abordar os problemas do tempo e da histoacuteria A

memoacuteria estaacute nos proacuteprios alicerces da histoacuteriardquo Catroga (2001) reforccedila que a

memoacuteria eacute moldada a partir das vivecircncias e na sua narrativa vai haver uma

coerecircncia que se mistura passado e presente

Quando se escreve sobre histoacuteria local eacute importante considerar que ela estaacute

pautada em documentos assim como em memoacuterias escritas visuais ou orais Neste

sentido eacute perceptiacutevel que o uso dos diferentes tipos de memoacuteria satildeo alicerces que

conduzem o trabalho do historiador para que ele possa interpretar suas fontes e

validar seu trabalho Memoacuterias estas que podem ser apresentadas com documentos

oficiais ou atraveacutes de uma cultura material ou imaterial

A escrita de histoacuterias locais vem como um novo modelo de resguardar

identidades e memoacuterias que se natildeo preservadas iratildeo desaparecer pela influecircncia

da globalizaccedilatildeo e falta de conhecimento de futuras geraccedilotildees Barros assim

descreve

23

Os novos tempos comeccedilavam a trazer um novo padratildeo historiograacutefico novas aberturas retornos e possibilidades e tambeacutem incertezas para os historiadores no que se refere agrave natureza do conhecimento que produzem e ao papel do conhecimento histoacuterico na sociedade [] Entre as novidades postula-se a possibilidade de examinar a histoacuteria de acordo com uma nova escala de observaccedilatildeo ndash atenta para o detalhe para as micro realidades para aquilo que habitualmente escapa ao olhar panoracircmico da macro histoacuteria tradicional ndash e eacute esta nova postura que se passou a chamar de micro histoacuteria (BARROS 2012 p 306)

Diante deste contexto o ensino de Histoacuteria pode buscar na histoacuteria local a

problematizaccedilatildeo necessaacuteria para que os estudantes da educaccedilatildeo baacutesica

reconheccedilam a identidade local que vem sofrendo com a uniformizaccedilatildeo da

sociedade que impotildee uma conjuntura global do local

24

3 SAtildeO FRANCISCO DE PAULA CONSTRUCcedilAtildeO DO MUNICIacutePIO

A apresentaccedilatildeo do municiacutepio Satildeo Francisco de Paula acontece atraveacutes do

uso da narrativa Esta se apresenta atraveacutes do diaacutelogo com obras jaacute produzidas por

memorialistas eou genealogistas que contribuem para a construccedilatildeo histoacuterica deste

local bem como se usa como fonte de enriquecimento documentos da Assembleia

Legislativa do Rio Grande do Sul e jornais locais

Para tanto se apresenta a revisatildeo historiograacutefica das obras escritas pelos

memorialistas eou genealogistas sendo que Lucena (1971) em sua obra ldquoSatildeo

Francisco de Paula Monografiardquo que abrange aspectos histoacutericos da formaccedilatildeo do

municiacutepio bem como pontos turiacutesticos e demograacuteficos O proacuteprio autor intitula a sua

obra como informativa a riqueza de detalhes eacute interessante poreacutem natildeo haacute nenhuma

referecircncia quanto aos dados escritos nem mesmo um referencial bibliograacutefico ao

final

No texto intitulado ldquoOs Fundadores de Satildeo Francisco de Paulardquo Alves (2007)

escreve sobre a fundaccedilatildeo de Satildeo Francisco de Paula Em seu livro haacute documentos

que validam o que se refere agrave genealogia jaacute que boa parte da obra apresenta os

troncos familiares que compunham o iniacutecio deste municiacutepio Na mesma linha da

genealogia Oliveira (1996) no livro ldquoAurorescer das Sesmarias Serranas histoacuteria e

genealogiardquo traz a histoacuteria das primeiras sesmarias da regiatildeo mas o foco principal

se daacute aos proprietaacuterios e seus descendentes Haacute um mapa bastante interessante

localizando as sesmarias e o nome por elas recebidos

Em ldquoSatildeo Francisco de Paula nossa terra nossa genterdquo Teixeira (2002)

apresenta dados gerais e histoacutericos do municiacutepio Esta obra apresenta dados

geograacuteficos como clima relevo e vegetaccedilatildeo A autora escreve sobre diversos

aspectos eventos personalidades e lendas Aleacutem disso apresenta Satildeo Francisco

de Paula com uma linha cronoloacutegica A obra abrange vaacuterios aspectos mas todos

suscintamente No final a autora apresenta a bibliografia consultada dentre os

autores estaacute Lucena (1971)

O texto ldquoSatildeo Francisco de Paula Rio Grande do Sul histoacuteria encantos e

misteacuteriosrdquo eacute uma obra de Fonseca (2012) que traz diversidade de assunto muitas

vezes estes estatildeo desconexos ou seja sua leitura se torna ldquotruncadardquo No final do

texto haacute um vasto referencial bibliograacutefico dentre os autores citam-se Lucena

(1971) e Teixeira (2002)

25

Ribeiro (2003) eacute compositor e poeta Em ldquoFestival do Ronco do Bugiordquo

escreve sobre Satildeo Francisco de Paula apresentando a histoacuteria dos quinze anos do

festival no municiacutepio No iniacutecio contextualiza a origem do festival e do ritmo bugio

Depois apresenta a capa do disco de cada festival especificando as muacutesicas e os

compositores vencedores

Todas essas obras satildeo importantes para Satildeo Francisco de Paula cada uma

traz consigo um pouco da histoacuteria deste municiacutepio poreacutem sente-se falta da

identidade e da memoacuteria na construccedilatildeo histoacuterica As obras satildeo apresentadas o

mesmo prisma apresentando os iacutendios Caaguaraacutes e o Capitatildeo Pedro da Silva

Chaves os fundadores desta terra dando bastante ecircnfase aos sobrenomes que ali

se desenvolveram

31 CONVERSA COM MEMORIALISTAS

As terras onde hoje fica Satildeo Francisco de Paula eram habitadas por iacutendios da

tribo Caaguaraacutes que faziam parte dos Coroados Estes viviam livremente nos

campos de cima da serra e seus domiacutenios estendiam-se entre a Serra Geral e a

Serra do Mar Os iacutendios Caaguaraacutes tinham como haacutebitos alimentares a caccedila a

pesca e a coleta de sementes e frutos dentre os frutos o pinhatildeo e a goiaba-do-

mato segundo Teixeira (2002) e Alves (2007) Estes iacutendios tiveram seu habitat

invadido por incursotildees de desbravadores que comeccedilaram a trafegar pela regiatildeo em

busca de mulas e novas terras visto que as terras onde hoje se encontra Satildeo

Francisco de Paula de Cima da Serra foram rota de tropeiros5 pois estes trafegavam

pelos Campos de Cima da Serra indo na direccedilatildeo de Lages-SC ateacute alcanccedilarem

Sorocaba-SP6 Ao passarem por esta regiatildeo foram se formando pequenos vilarejos

e construindo um jeito peculiar de viver

Neste cenaacuterio aparece o municiacutepio de Satildeo Francisco de Paula de Cima da

Serra que recebe este nome para se diferenciar de Satildeo Francisco de Paula

denominaccedilatildeo recebida ateacute meados de 1830 pelo municiacutepio de Pelotas Poreacutem na

metade do seacuteculo XVIII Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra possuiacutea

5 Tropeiros homens que conduziam suas tropascomitivas de muares ou cavalos entre as regiotildees 6 Sugere-se a leitura FLORES Moacyr Troperismo no Brasil Porto Alegre Nova Dimensatildeo 1998

SAVARIS Manoelito Tropas e tropeiros o Rio Grande toma forma Disponiacutevel em ltwwwrogeriobastoscombr201104trpas-e-tropeiros-o-rio-grande-tomahtmlgt Acesso em 12 mar 2016

26

proprietaacuterios de terras sendo que um dos pioneiros foi Pedro da Silva Chaves um

portuguecircs casado com Gertrudes de Godoy uma paulista Pedro da Silva Chaves

declara em 1742 ser possuidor de terras neste municiacutepio Segundo Oliveira (1996)

em seu testamento Pedro da Silva Chaves rege que possui trecircs fazendas na regiatildeo

uma chamada Satildeo Joatildeo que se localiza desde o Arroio Santa Cruz ateacute o Rio

Tainhas concedida em 1752 por sesmaria a Fazenda da Cria que foi comprada de

Francisco Pinto Bandeira e confirmada como sesmaria em 1754 e a Fazenda

denominada Cerrito comprada do Capitatildeo Antocircnio Gonccedilalves dos Reis Nestas

fazendas havia criaccedilatildeo de cavalos gado vacum mulas e burros As fazendas

tambeacutem apresentavam em torno de 77 escravos sendo que alguns satildeo casados o

que se faz pensar que estes constituiacuteam famiacutelia aumentando assim o nuacutemero de

escravos da regiatildeo No mapa da Figura 1 verifica-se a localizaccedilatildeo das fazendas do

capitatildeo Pedro da Silva Chaves bem como sua extensatildeo territorial

Figura 1 ndash Mapa de Identificaccedilatildeo das Sesmarias Serranas

Fonte Oliveira (1996 p 236)

27

No mapa apresentado na Figura 1 ainda eacute possiacutevel observar a localizaccedilatildeo

onde inicia o povoado de Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra segundo

Lucena (1971 p 1) ldquoiniciou-se com o Capitatildeo Pedro da Silva Chaves que doou

uma gleba de terra para que fosse iniciado o povoadordquo Tambeacutem segundo Lucena

(1971 p 1) ldquodoou cinquenta vacas para construir o primeiro patrimocircnio da Igreja

cuja construccedilatildeo foi iniciada por sua conta e lhe deu o nome de Satildeo Francisco por

este ser devoto do Santordquo O que demonstra que Pedro da Silva Chaves era

Catoacutelico

Neste periacuteodo compreendido como seacuteculo XIX segundo Teixeira (2002) e

Alves (2007) o atual municiacutepio de Satildeo Francisco de Paula pertencia ao municiacutepio de

Santo Antocircnio da Patrulha municiacutepio este que formava juntamente com Porto

Alegre Rio Pardo e Rio Grande a proviacutencia de Satildeo Pedro do Rio Grande do Sul

atual Rio Grande do Sul Eacute possiacutevel observar a grande extensatildeo territorial de cada

municiacutepio no mapa apresentado na Figura 2 segundo Silva (2000) Santo Antocircnio

da Patrulha anexava as freguesias de N Sra Conceiccedilatildeo do Arroio e N Sra da

Oliveira da Vacaria a capela de Satildeo Domingos das Torres e os povoados de Santa

Cristina do Pinhal e Cima da Serra

Analisando o mapa da Figura 2 eacute possiacutevel perceber que o municiacutepio de Santo

Antocircnio da Patrulha tinha um vasto e extenso territoacuterio que atualmente compreende

os municiacutepios de Vacaria Antocircnio Prado Nova Roma do Sul Lagoa Vermelha

Veranoacutepolis Nova Prata Nova Araccedilaacute Nova Bassano Paraiacute Guabiju Satildeo Jorge

Vista Alegre do Prata Protaacutesio Alves Cotiporatilde Fagundes Varela Vila Flores

Caseiros Birajaras Andre da Rocha Capatildeo Bonito do Sul Muitos Capotildees Bom

Jesus Satildeo Joseacute dos Ausentes Esmeralda Ipecirc Campestre da Serra Monte Alegre

dos Campos Taquara Satildeo Francisco de Paula Cambaraacute do Sul e Jaquirana

28

Figura 2 ndash Divisatildeo Municipal em 1809 ndash Proviacutencia Satildeo Pedro do Rio Grande do Sul

Fonte Evoluccedilatildeo Administrativa (2013)7

32 AMPLIANDO O DIAacuteLOGO COM OS MEMORIALISTAS

Segundo documentos da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul8

disponiacuteveis no Arquivo Histoacuterico de Satildeo Francisco de Paula9 em 1852 atraveacutes da

Lei nordm 266 de 30 de novembro de 1852 eleva-se agrave categoria de freguesia a entatildeo

capela Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra pelo entatildeo vice-governador da

proviacutencia de Satildeo Pedro do Rio Grande do Sul o senhor Luiz Alves Leite de Oliveira

Bello Estes documentos ainda retratam que no ano de 1886 houve distribuiccedilatildeo de

lotes devolutos para pessoas pobres que comprovassem residecircncia haacute pelo menos

trecircs anos e se comprometessem a ldquofundar moradiardquo em um prazo de um ano sendo

assim passados trecircs anos seriam donos definitivos destes lotes dando o iniacutecio ao

povoamento da vila No mesmo periacuteodo acontece a criaccedilatildeo do cemiteacuterio municipal

7 Disponiacutevel em ltwwwatlassocioeconomicorsgovbrevolucao-administrativa-1809-a-2013gt Acesso

em 18 mar 2017 8 O diaacutelogo com memorialista se amplia a partir de agora com contribuiccedilotildees de documentos

pesquisados que corroboram para a compreensatildeo do tema 9 BARBOSA Eni GONCcedilALVES Jorge Joseacute Xavier (Orgs) Documentos histoacutericos da Assembleia

Legislativa do Rio Grande do Sul Arquivo Histoacuterico de Satildeo Francisco de Paula 1992

29

que ocorre em 1891 segundo documentos da Assembleia Legislativa disponiacuteveis

no Arquivo Histoacuterico de Satildeo Francisco de Paula Estes documentos informam que

primeiramente somente moradores que comprovassem residecircncia haacute mais de trecircs

anos e pudessem manter os jazigos de seus entes poderiam fazer uso deste

espaccedilo Atraveacutes desta documentaccedilatildeo se percebe que havia toda uma organizaccedilatildeo

para que ldquoestrangeirosrdquo natildeo se estabelecessem em Satildeo Francisco de Paula de Cima

da Serra

Em 1889 Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra passa a categoria de vila

e deixa de pertencer a Santo Antocircnio da Patrulha passando a ser distrito do

municiacutepio de Taquara do Mundo Novo (hoje Taquara) o que traz mudanccedilas

significativas para a vila

Mesmo havendo distribuiccedilatildeo de lotes apoacutes quinze anos percebe-se na

Figura 3 que o povoado ainda era pequeno cercado de campos que constituiacuteam

fazendas com criaccedilatildeo de gado vacum tendo como principal economia a pecuaacuteria

extensiva Ao alto pode-se visualizar a Igreja Matriz construiacuteda pelo capitatildeo Pedro

da Silva Chaves

Figura 3 ndash Vista da vila de Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra (1901)

Fonte Portal Satildeo Chico (2018)10

10 PORTAL SAtildeO CHICO Fotos antigas de Satildeo Francisco de Paula 2018 Disponiacutevel em

ltwwwsaochicocombrantigasgt Acesso em 12 abr 2019

30

Ainda eacute possiacutevel observar atraveacutes da Figura 3 que neste periacuteodo natildeo havia

nenhuma preocupaccedilatildeo com a organizaccedilatildeo urbana ou seja ruas quadras as

construccedilotildees se apresentam de maneira desordenada Poreacutem passados vinte e dois

anos na Figura 4 jaacute eacute possiacutevel visualizar uma estrutura urbanizada com possiacutevel

organizaccedilatildeo de ruas e quadras mas a vila ainda eacute rodeada de campos

Figura 4 ndash Vista Avenida Juacutelio de Castilhos (1923)

Fonte Lucena (1971 p 67)

O desenvolvimento da Sede de Satildeo Francisco de Paula acontece segundo

Lucena (1971 p 27) ldquonos primeiros anos de vida isto eacute de 1910 a 1924 mais ou

menos devido agrave extraccedilatildeo da erva-mate que era abundante em nossos matos nas

zonas da serrardquo O autor ainda acrescenta

O pioneiro na extraccedilatildeo da erva-mate em nossa Comuna foi o proprietaacuterio Carlos Miguel Kroeff dono da fazenda Potreirinho praticamente arrabalde de nossa cidade No barba-quaacute11 se iniciava todo processo de industrializaccedilatildeo da erva-mate sendo que Satildeo Francisco de Paula chegou a ter quinhentos barbaacute-quas (LUCENA 1971 p 28)

11 Barba-quaacute um valo de cerca de oito metros de comprimento amis ou menos por um metro de

profundidade e oitenta centiacutemetros de largura coberto de xaxim e terra em uma das extremidades colocava-se um gradeado e acima deste em uma parte tambeacutem coberta e mais alta tinha apenas uma saiacuteda sob o gradeado colocava-se as folhas de erva extraiacuteda da aacutervore no iniacutecio do valo fazia-se um fogo e a fumaccedila que pela pouca ventilaccedilatildeo existente formava bastante fumaccedila e esta atingia as folhas secando-as (LUCENA 1971 p 28)

31

A produccedilatildeo de erva-mate contribuiu para o povoamento da vila visto que

muitas pessoas vieram trabalhar e acabaram se instalando no municiacutepio Apoacutes a

extraccedilatildeo da erva-mate surge a extraccedilatildeo de madeira que tambeacutem contribui para o

desenvolvimento

Nesta documentaccedilatildeo ainda se encontra no artigo nordm 251 de 08 de abril de

1891 a liberaccedilatildeo da verba para abrir a estrada de rodagem que liga as vilas de

Taquara do Mundo Novo e Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra em 1889

Atraveacutes da Figura 5 pode-se perceber o quatildeo difiacutecil era abrir uma nova estrada de

rodagem Tudo era manual com o uso de animais e muares para transportar pedras

e terras poreacutem a abertura desta estrada traz mudanccedilas significativas para a

populaccedilatildeo de Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra

Figura 5 ndash Abertura da estrada ERS-020 Taquara ndash Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra

Fonte Jornal Folha da Serra (1968 n 89 p 8)12

12 Folha da Serra jornal criado em 1932 pelo Dr Siacutelvio Rabelo sendo o uacutenico jornal que existia na

regiatildeo serrana Este trazia notiacutecias sociais poliacuteticas etc com uma tiragem em torno de 500 exemplares por semana Encontram-se no Arquivo Histoacuterico de Satildeo Francisco de Paula alguns exemplares ateacute a deacutecada de 70 seacuteculo XX

32

A estrada visava facilitar o acesso da populaccedilatildeo de Satildeo Francisco de Paula

de Cima da Serra que ia ateacute Taquara para buscar gecircneros de primeira necessidade

Em tempos idos os serranos se abasteciam de gecircneros de primeira necessidade quase que totalmente em Taquara e o transporte era feito em cargueiros que compunham uma tropa com cerca de quinze a vinte cargueiros Os animais usados para esse transporte eram geralmente muares mais resistentes para o transporte de carga Os serranos levavam daqui queijo (o queijo ateacute hoje chamado queijo serrano) charque couros e alguns levavam maccedilatilde ou pinhatildeo em suas eacutepocas de colheita trocados por mantimentos de que necessitavam Natildeo existiam ainda estradas e o trajeto era feito por picadas existentes (LUCENA 1971 p 23)

O mesmo autor ainda acrescenta

Para atingir a capital do Estado a viagem era cheia de peripeacutecias O transporte era feito a cavalo ou em diligecircncias ateacute Taquara As diligecircncias carros de quatro de rodas puxados por quatro animais ndash cavalos ndash eram de propriedade de Bertolo Casara mais conhecido por lsquoJoatildeo Gringorsquo Essa viagem se fazia normalmente em um dia e agraves vezes em dia e meio O ponto de parada era ali no Rodeio Bonito onde existia uma casa agrave esquerda bem defronte a estrada que desce para Trecircs Coroas [] De Taquara a Porto Alegre por via ferroviaacuteria ndash de trem (LUCENA 1971 p 16)

A construccedilatildeo desta estrada traz um novo desenvolvimento para a entatildeo vila

de Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra pois apoacutes a abertura da estrada de

rodagem Taquara ndash Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra modifica o transporte

de mercadorias entre as localidades

O transporte de mercadorias era feito em carretotildees de quatro rodas puxados uns por cinco animais outros por sete as maiores que geralmente eram muares Eram atrelados em duas fileiras Na fileira junto agrave carreta que era de duas ou trecircs mulas na da esquerda montava o carreteiro Este toda vez que se verificava um declive na estrada apeava de sua montaria a fim de brecar a carreta sem que esta entretanto parasse (LUCENA 1971 p 24)

Este modelo de comeacutercio vai desaparecer com o surgimento das primeiras

casas de comeacutercios na vila de Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra De acordo

com Lucena (1971 p 38) ldquoos primeiros comerciantes foram Manoel Vicente

Ferreira Abel Pacheco Luis Carlos de Andrade e Jacob Bossle Sobrinhordquo Na

imagem da Figura 6 temos o Accedilougue Central onde nota-se que os animais

convivem soltos na rua juntamente com as pessoas mesmo se tratando de local

urbano

33

Figura 6 ndash Accedilougue Central

Fonte Portal Satildeo Chico (2018)13

Nesta mesma documentaccedilatildeo haacute decretos que definem a construccedilatildeo de uma

nova Igreja Matriz isto eacute uma Igreja de Pedra substituindo a antiga que era de

madeira ainda construiacuteda pelo capitatildeo Pedro da Silva Chaves esta construccedilatildeo data

do ano de 1922 Segundo Teixeira (2002 p 30) a Igreja de Pedra permanece ateacute

1960 quando daacute lugar ao atual preacutedio da Igreja Matriz que foi inaugurada em 14 de

junho de 1964 Na sequecircncia teremos duas imagens demonstrando a Igreja de

Pedra e a atual edificaccedilatildeo da Igreja Matriz Natildeo foi encontrada nenhuma foto da

Igreja de Madeira nos arquivos do Arquivo Histoacuterico do Municiacutepio somente em um

site de fotos antigas onde encontra-se registro apresentado na Figura 7

13 PORTAL SAtildeO CHICO Fotos antigas de Satildeo Francisco de Paula 2018 Disponiacutevel em

ltwwwsaochicocombrantigasgt Acesso em 12 abr 2019

34

Figura 7 ndash Igreja Matriz em 1931

Fonte Portal Satildeo Chico (2018)14

Figura 8 ndash Igreja Matriz

Fonte acervo da autora (2015)

14 PORTAL SAtildeO CHICO Fotos antigas de Satildeo Francisco de Paula 2018 Disponiacutevel em

ltwwwsaochicocombrantigasgt Acesso em 12 abr 2019

35

Entre os anos de 1892 a 1902 por duas vezes Satildeo Francisco de Paula de

Cima da Serra eacute desanexado e reanexado ao entatildeo municiacutepio de Taquara do Mundo

Novo Somente em 23 de dezembro de 1902 foi reestabelecido definitivamente o

municiacutepio de Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra cuja instalaccedilatildeo se verificou

em 07 de janeiro de 1903 A partir de 01 de janeiro de 1938 perde ldquoCima da Serrardquo

de sua nomenclatura permanecendo somente Satildeo Francisco de Paula Apesar

disso se manteacutem o gentiliacutecio ldquoSerranordquo de acordo com Silva (2000 p 23) e dados

do Arquivo Histoacuterico de Satildeo Francisco de Paula sendo que este gentiliacutecio eacute usado

ateacute os dias de hoje

No iniacutecio o municiacutepio de Satildeo Francisco de Paula foi um dos maiores do Rio

Grande do Sul em territoacuterio mas ao longo do tempo foi diminuindo seu territoacuterio

com a anexaccedilatildeo de parte dele ao entatildeo municiacutepio de Caxias do Sul e de Torres e a

criaccedilatildeo dos municiacutepios de Cambaraacute do Sul em 1963 e Jaquirana em 1988

Foi uma das maiores Comunas do Estado pois de seu territoacuterio faziam parte os atuais municiacutepios de Satildeo Marcos Cambaraacute do Sul e Jaquirana e os distritos de Vila Oliva Criuacuteva Fazenda Souza e Vila Seca hoje integrantes de Caxias do Sul De nosso territoacuterio foi tambeacutem desanexada uma gleba de terra ndash Josafaacute ndash e anexada ao municiacutepio de Torres (LUCENA 1971 p 10)

Mesmo perdendo parte de seu territoacuterio ao longo dos anos atualmente

segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (2016) ldquoSatildeo Chicordquo como

costumeiramente eacute chamado pelo seu povo estaacute situado na Encosta Inferior do

Nordeste do Estado do Rio Grande do Sul na zona denominada de Campos de

Cima da Serra Fica distante 112 quilocircmetros da capital do Estado Porto Alegre Os

municiacutepios limiacutetrofes satildeo Monte Alegre dos Campos Bom Jesus Jaquirana

Cambaraacute do Sul Praia Grande-SC Trecircs Forquilhas Itati Maquineacute Riozinho

Rolante Taquara Trecircs Coroas Canela e Caxias do Sul Possui uma aacuterea territorial

de 3264490 quilocircmetros quadrados com uma estimativa populacional de 21617

habitantes distribuiacutedos na zona urbana e rural O municiacutepio se divide em sete

distritos Sede Cazuza Ferreira Tainhas Juaacute Eletra e Lajeado Grande Atraveacutes do

conjunto de mapas apresentado na Figura 9 eacute possiacutevel visualizar a localizaccedilatildeo de

Satildeo Francisco de Paula dentro do Rio Grande do Sul e por conseguinte no Brasil

Tambeacutem se verifica a localizaccedilatildeo dos distritos de Satildeo Francisco de Paula

36

Figura 9 ndash Mapa de localizaccedilatildeo de Satildeo Francisco de Paula

Subdivisatildeo de Satildeo Francisco de Paula em distritos

Fonte montagem da autora (2019)

Desta forma se constitui o espaccedilo fiacutesico do municiacutepio de Satildeo Francisco de

Paula cuja populaccedilatildeo natildeo forma uma colocircnia pois seu povo adveacutem de diferentes

lugares a grande maioria com descendecircncia lusa sendo que os primeiros

colonizadores foram bandeirantes paulistas

A populaccedilatildeo de Satildeo Francisco de Paula eacute composta de brancos africanos e indiacutegenas Os brancos compreendendo portugueses (principalmente

37

accedilorianos) alematildees e italianos os africanos pertenciam ao grupo dos bantos e foram trazidos pelos portugueses (TEIXEIRA 2002 p 147)

A diversidade de pessoas que se estabeleceram em Satildeo Francisco de Paula

pode ser percebida pelos sobrenomes das famiacutelias precursoras do municiacutepio

Para Satildeo Francisco de Paula afluiacuteram famiacutelias de diversas nacionalidades que atraveacutes de seus descendentes ainda hoje aqui satildeo representadas como Famiacutelias Ferreira Soares Pinto Castilhos Asmuz Santos Martins Lopes Comin Feijoacute Silva Canani Peixoto Andrade Teixeira Valin Lucena Alves Cardoso Gomes Borges Marques Tedesco Medeiros Paglioacuteli Costa Fogaccedila Casara em outras (LUCENA 1971 p 11-12)

Os moradores deste municiacutepio introduziram um jeito singular de viver tendo

em seu cotidiano as tradiccedilotildees gauacutechas15 muito presentes Teixeira (2002 p 83)

assim descreve que ldquoas raiacutezes gauacutechas estatildeo fortemente marcadas na comunidade

seja pelo modo de vestir bombacha botas cinturotildees chapeacuteus e no inverno com o

pala ou pela preferecircncia por comidas campeiras churrasco carreteiro feijatildeo

mexidordquo A autora acrescenta que ldquoas casas com lareira e o tradicional fogatildeo agrave

lenha para aquececirc-las durante o inverno rigoroso satildeo um convite para uma

conversa ao peacute do fogo e o saboreio de um gostoso chimarratildeordquo (TEIXEIRA 2002 p

83)

O enraizamento deste modo de vida adveacutem do homem do campo o

pecuarista que no passado necessitava enviar seus filhos a cidade para estudar

contribuindo para este modelo de vida

Antigamente a pecuaacuteria era a atividade econocircmica muito forte em nosso municiacutepio Assim sendo havia muitos fazendeiros E como as fazendas ficavam muito longe da Sede do municiacutepio as senhoras tinham seus filhos em casa com parteiras Tambeacutem os estudos iniciavam nas fazendas porque as escolas ficavam longe Assim muitas vezes os fazendeiros contratavam professoras para se hospedarem nas suas casas e darem aulas aos seus filhos Em muitos casos ateacute mesmo os proacuteprios pais e avoacutes ensinavam alguma coisa Alguns fazendeiros quando seus filhos ficavam maiores os mandavam continuarem seus estudos na vila (assim lsquoSatildeo Chicorsquo era chamada) (TEIXEIRA 2002 p 77)

Com a vinda dos filhos para a vila trouxeram consigo o jeito do homem do

campo sendo que um dos maiores clubes em funcionamento de Satildeo Francisco de

Paula eacute o atual Centro de Tradiccedilotildees Gauacutechas Rodeio Serrano fundado em maio de

15 Tradiccedilotildees gauacutechas segundo Fagundes (1997 p 38) eacute um movimento ciacutevico-cultural [] eacute a

tradiccedilatildeo em marcha resgatando valores que satildeo vaacutelidos natildeo por serem antigos mas por serem eternos exatamente os valores que trouxeram o Rio Grande e o gauacutecho do passado para o presente projetando-se para o futuro

38

1955 Segundo o Jornal Folha da Serra (1968 n 11 p 12) a entidade

tradicionalista receacutem-formada recebe o nome de CTG Coronel Alziro Torres Filho

Fonseca (2012 p 223) menciona que a iniciativa partiu de ldquoDavenir Peixoto Gomes

um homem ruralista e serranordquo Esta entidade tradicionalista teve como primeiro

Patratildeo Oscar Teixeira O CTG Alziro Torres Filho segundo o jornal Folha da Serra

(1957) muda sua nomenclatura em uma reuniatildeo onde o posteiro da invernada

artiacutestica Alaor Valim propotildee a troca do nome para Rodeio Serrano nome que

permanece ateacute a atualidade

A entidade tradicionalista traz como lema ldquoRepontando a Tradiccedilatildeo com o Rio

Grande na Garupardquo Fonseca (2012 p 224) relata que o lema foi ldquocriado pelo

primeiro instrutor de danccedilas Dr Alaor de Almeida Valimrdquo O mesmo autor acrescenta

que ldquoa primeira prenda foi a professora Maria Asmuz Valimrdquo Poreacutem sua sede

somente foi construiacuteda em 1968 sob a patronagem de Dante Santos O Jornal Folha

da Serra (1968 n 11 p 12) indica que ldquoa construccedilatildeo da sede era uma aspiraccedilatildeo de

longos anos que somente agora se concretizardquo Anteriormente ldquoos bailes eram

realizados em sua maioria no Salatildeo Paroquial sendo que alguns foram feitos no

primeiro andar da Associaccedilatildeo Rural e ateacute mesmo na Sociedade Cruzeirordquo

(FONSECA 2012 p 225) Este fato justifica a vontade de Dante Santos de construir

uma sede proacutepria

Apoacutes a construccedilatildeo de sua nova sede o CTG Rodeio Serrano localiza-se na

Rua Benjamim Constant nordm 582 constituindo um espaccedilo importante para a

comunidade de Satildeo Francisco de Paula Dentre as atividades desenvolvidas pelo

CTG estaacute o Rodeio Interestadual que ocorre todos os anos no primeiro final de

semana de dezembro sendo que se encontra na 33ordf ediccedilatildeo A manutenccedilatildeo das

invernadas artiacutesticas em todas as categorias mascote mirim juvenil e adulta A

organizaccedilatildeo da Ronda Crioula na Semana Farroupilha bem como a Cavalgada de

Prendas que ocorre durante a Semana Farroupilha todos os anos Realiza-se o

baile da Prenda Jovem aleacutem de shows e bailes tipicamente gauchescos Aleacutem

disso nos uacuteltimos anos a organizaccedilatildeo do Festival Ronco do Bugio que ocorre em

Satildeo Francisco de Paula ldquofestival este lanccedilado em 16 de abril 1986rdquo segundo o

Jornal Satildeo Chico Tchecirc (1986 n 4 p 5)16

16 Satildeo Chico Tchecirc jornal de circulaccedilatildeo quinzenal fundado em 08 de janeiro de 1986 e que circulou

ateacute 1989 O jornal trazia informaccedilotildees culturais sociais econocircmicas e poliacuteticas da Sede e do

39

Durante os seus sessenta e dois anos de existecircncia muitos patrotildees

passaram por esta entidade tradicionalista mas em 2017 pela primeira vez na

histoacuteria o CTG Rodeio Serrano teve uma patronagem feminina Aleacutem da Patroa

Neuza Reis foram empossadas a Capataz Elenita Amaral a Sota-capataz Fernanda

Kirsch Damasceno o Agregado das Pilchas Antocircnio Garcia de Souza e no

Conselho de Vaqueanos Neiva Santos Valim

Figura 10 ndash Patroa Neuza Reis e sua Comissatildeo

Fonte Jornal Pioneiro (2017)17

Satildeo Francisco de Paula hoje conta com vinte e oito entidades

tradicionalistas18 espalhadas pelos seus distritos demonstrando que homem do

campo se faz muito presente em todo o municiacutepio sendo assim a cultura

interior Os exemplares encontram-se encadernados no arquivo histoacuterico de Satildeo Francisco de Paula

17 Jornal Pioneiro conhecido como o jornal que estaacute ldquoao teu ladordquo o Pioneiro circula desde 1948 e estaacute presente hoje em 64 municiacutepios da regiatildeo de Caxias do Sul Desde 1993 integra a rede de jornais do Grupo RBS sendo filiado ao Instituto Verificador de Circulaccedilatildeo (IVC) Conta com uma equipe de Redaccedilatildeo com mais de 40 jornalistas aleacutem de colunistas internos e externos Em 2008 o jornal ganhou o site pioneirocom Disponiacutevel em lthttpwwwgruporbscombratuacaopioneirogt acesso em 10 de fevereiro de 2019

18 Informaccedilatildeo cedida pelo Coordenador da 27ordf Regiatildeo Tradicionalista Gauacutecha

40

tradicionalista se apresenta de maneira forte e consistente segundo vaacuterios

depoimentos de moradores de todos os distritos de Satildeo Francisco de Paula

41

4 SAtildeO FRANCISCO DE PAULA DISTRITOS EM FOCO

Quanto aos distritos de Satildeo Francisco de Paula surgem diversas

inquietaccedilotildees com relaccedilatildeo agrave identidade destes locais pois estes mesmo fazendo

parte de um mesmo municiacutepio apresentam singularidades que derivam de sua

colonizaccedilatildeo basicamente lusa portuguesa e da recepccedilatildeo de imigrantes de diversas

etnias como italianos e alematildees ao longo destes cento quinze anos de

emancipaccedilatildeo Percebe-se que alguns distritos manteacutem sua identidade e tradiccedilotildees

resguardadas enquanto em outros jaacute ocorreu agrave miscigenaccedilatildeo de diferentes haacutebitos

e culturas o que dificulta identificar traccedilos que identifiquem estes distritos

Neste capiacutetulo busca-se responder a estas inquietaccedilotildees fazendo uso dos

depoimentos de moradores locais Segundo Delgado (2003 p 21) ldquoessas

narrativas tal qual os lugares da memoacuteria satildeo instrumentos importantes de

preservaccedilatildeo e transmissatildeo das heranccedilas identitaacuterias e das tradiccedilotildeesrdquo Neste sentido

se optou por dois moradores por distrito totalizando treze entrevistados um homem

e uma mulher da terceira idade que sempre morou no distrito o que enriquece os

detalhes repassados pelos entrevistados

Toda entrevista tem por base a memoacuteria individual que se referencia na coletiva profundamente relacionada agraves vivecircncias individuais A utilizaccedilatildeo do depoimento de pessoas idosas como fonte para a histoacuteria oral eacute uma forma de justificar a entrevista como histoacuterica referindo-se ao passado jaacute que aos idosos se pretende atribuir a guarda de memoacuterias do passado pelo proacuteprio tempo de vida do depoente Isto retoma e ajuda a fortalecer a ideia de que a histoacuteria mesmo tratando do tempo presente ainda se reporta a um periacuteodo anterior ao da vida do pesquisador (ALMEIDA 2012 p 10)

A entrevista somente ocorreu quando o entrevistado concordou em assinar o

termo de consentimento As entrevistas ocorreram nas residecircncias dos

entrevistados foram preacute-agendadas sendo que o meacutetodo utilizado foi entrevista

guiada atraveacutes de questionaacuterio previamente organizado pela autora as entrevistas

foram filmadas e gravadas onde somente uma entrevistada natildeo autorizou a

filmagem de seus relatos justificando a idade avanccedilada e por morar sozinha

A escolha pela histoacuteria oral hibrida ocorreu no sentido de que a fonte oral eacute o

principal recurso utilizado para colher informaccedilotildees sobre os distritos visto que em

sua grande maioria natildeo haacute publicaccedilotildees Poreacutem em determinados momentos se

utilizam fontes documentais como complemento do que vem sendo apresentado

Com relaccedilatildeo agrave abordagem adotada nas entrevistas se optou pela temaacutetica visto

42

que se leva um roteiro preacute-organizado com temas que deveratildeo ser explorados

durante as entrevistas o que proporciona uma riqueza de informaccedilotildees para a

autora

41 DISTRITO SEDE

O distrito Sede se constitui no local onde se inicia o povoado do municiacutepio na

antiga Fazenda da Cria terras doadas pelo capitatildeo Pedro da Silva Chaves Neste

distrito concentram-se os serviccedilos puacuteblicos e privados que os moradores

necessitam em seu dia-a-dia visto que ali existem bancos casas loteacutericas

farmaacutecias hospital supermercados lojas papelarias livraria inspetoria veterinaacuteria

secretaacuterias municipais escolas puacuteblicas e privadas creches induacutestrias de madeiras

e calccedilados

Poreacutem o distrito Sede ou cidade de Satildeo Chico como popularmente

conhecida pelo seu povo jaacute foi uma cidade de interior ou seja uma cidade pequena

com moradores que vinham das fazendas em busca de estudo Visto que a

implementaccedilatildeo de uma rede regular de ensino ocorre tardiamente devido agrave

dificuldade de se locomover pelas distantes localidades entatildeo normalmente os

fazendeiros contratavam professores para que seus filhos obtivessem estudo sendo

que estes moravam na proacutepria residecircncia da famiacutelia Em entrevista com essa autora

relata Albuquerque19 que ldquopara aprimorar os estudos aqueles que tinham mais

condiccedilotildees iam para Porto Alegre Santa Maria ou Passo Fundo mas para isto

ficavam laacute em internatos e soacute retornavam nas feacuterias devido agrave dificuldade e o custo

da viagemrdquo

Na deacutecada de 40 foi criada a Escola Catoacutelica de Satildeo Francisco de Paula

cujo funcionamento acontece ateacute 1973 quando foram encerradas suas atividades

Esta escola iniciou com o curso primaacuterio e posteriormente instalou o curso ginasial

Normalmente estes moradores permaneciam de segunda-feira a sexta-feira na

cidade e nos finais de semana retornavam para as fazendas como recorda uma

moradora local

Noacutes eacuteramos uma cidade de fazendeiros a gente tinha uma casa no campo e uma na cidade a gente vivia de laacute pra caacute de caacute pra laacute fim de semana ia

19 ALBUQUERQUE Moacir Castello Branco de Entrevista concedida agrave autora no dia 06 de abril de

2018

43

pra fora20 dia de semana vinha pra caacute normalmente uma irmatilde mais velha voacute ficava com a gente aqui na cidade e a famiacutelia mesmo ficava no campo21

Percebe-se que hoje ainda existem na Sede moradores que manteacutem suas

casas na cidade e durante o dia ou nos finais de semana vatildeo ateacute suas fazendas

para fazer as lides com o gado o que caracteriza uma pequena parte da populaccedilatildeo

que foram os filhos dos antigos fazendeiros que mais tarde acabam se instalando

definitivamente na cidade trazendo com sigo a essecircncia do homem do campo e

afirmando uma identidade genuinamente gauacutecha definiccedilatildeo esta concedida por uma

moradora local

Gauacutecho natildeo eacute o morador do Rio Grande do Sul o morador do Rio Grande do Sul eacute o sul-rio-grandense ou rio-grandense do sul o gauacutecho eacute apenas o homem que vem da pecuaacuteria extensiva essa que existe laacute no pampa e aqui nos campos de cima da serra o gauacutecho serrano com caracteriacutesticas muito proacuteprias grandes gaiteiros poetas aliaacutes o maior gaiteiro do mundo eacute daqui natildeo abro matildeo de dizer isto soacute que todos noacutes viacutenhamos da lida do campo em decorrecircncia disso eacuteramos gauacutechos de verdade22

Em sua fala apresenta o gauacutecho serrano como um tipo singular que ama a

pilcha gauacutecha o seu pingo e suas criaccedilotildees bem como reafirma a importacircncia dos

Irmatildeos Bertussi Honeide e Adelar sendo Adelar Bertussi um dos maiores gaiteiros

deste municiacutepio Exaltam-se tambeacutem os poetas que com suas poesias e letras de

muacutesicas escrevem o jeito do seu povo viver

Mesmo a cidade sendo ldquolocal de paradardquo durante a semana para a maioria

de seus habitantes no passado era cheia de atrativos que o campo natildeo possuiacutea

como o cinema cuja instalaccedilatildeo natildeo se encontra documentada mas sabe-se que

iniciou onde hoje eacute o preacutedio da Prefeitura Municipal sendo proprietaacuterio Francisco

Ferraz (Chico Ferraz como era conhecido) Observa-se em alguns exemplares do

Jornal Folha da Serra23 os filmes e os horaacuterios do funcionamento do cinema

Entende-se que o jornal era uma maneira de divulgar os filmes por ser o uacutenico meio

de comunicaccedilatildeo da eacutepoca Pelos folhetins se percebe que as sessotildees

apresentavam diversos gecircneros natildeo se sabe quando o cinema finalmente fechou

20 Fora refere-se ir para a fazenda 21 SOARES Luciana Olga Entrevista concedida agrave autora no dia 01 de marccedilo de 2018 22 SOARES Luciana Olga Entrevista concedida agrave autora no dia 01 de marccedilo de 2018 23 Folha da Serra jornal local criado em 1932 pelo Dr Siacutelvio Rabelo passando posteriormente a

propriedade da Prefeitura Municipal Sua impressatildeo era na ordem de 500 exemplares natildeo se tem a informaccedilatildeo do periacuteodo que parou de circular mas pelos exemplares encontrados no Arquivo Histoacuterico de Satildeo Francisco de Paula os uacuteltimos datam de 1978 O Arquivo Histoacuterico de Satildeo Francisco de Paula fica em um preacutedio anexo agrave Biblioteca Puacuteblica do municiacutepio

44

poreacutem o jornal Folha da Serra traz uma reportagem que retrata como estava difiacutecil

manter o cinema em funcionamento em meados de 1968 ldquoo nosso cinema na

maneira que vai indo natildeo tem mais condiccedilotildees de funcionar natildeo temos apoio da

populaccedilatildeo com uma frequecircncia de mais ou menos 150 pessoas por final de

semanardquo O jornal acrescenta ldquosalienta-se que mais ou menos de 3 de nossa

CULTA populaccedilatildeo natildeo frequenta o cinemardquo Pode-se associar o fechamento do

cinema a dois fatores a natildeo cultura de assistir filmes e pelas sessotildees ocorrerem nos

finais de semana onde boa parte da populaccedilatildeo da cidade se deslocava para as

fazendas ou pela crise que os cinemas passaram na deacutecada de 80 quando em

muitas cidades foram fechados

A vida da populaccedilatildeo local vai se modificando cada vez mais as pessoas vatildeo

se instalando definitivamente na Sede onde se perde o viacutenculo com o campo

Devido agrave venda ou arrendamento das fazendas24 que por render pouco a pecuaacuteria

extensiva e com a criaccedilatildeo de novas legislaccedilotildees que proiacutebem praacuteticas centenaacuterias

seus proprietaacuterios buscaram novas possibilidades econocircmicas que modificaram a

Sede e tambeacutem boa parte do interior Em entrevista a moradora Soares relata

Exatamente porque a produccedilatildeo era pequena isso natildeo serve para o mundo de hoje a uns quarenta anos chega em nossos campos as primeiras plantaccedilotildees de pinus interessante que ningueacutem reclamou da destruiccedilatildeo desse campo de milhotildees de anos e de todo o ecossistema mas mesmo com essa nova cultura continuamos realizando a sapeca do campo no mecircs de agosto mas de repente chega a notiacutecia que estaacute proibida a queima do campo dizendo que noacutes estragaacutevamos a terra poluiacuteamos o ar que mataacutevamos animais e tudo aquilo natildeo era verdade Na verdade alguns anos depois da lei proibindo a queima do campo chegam as multas gigantescas agraves vezes maior que o valor da terra e aiacute inviabilizou a pecuaacuteria e muitos fazendeiros venderam suas terras e foram embora Quem ficou no campo na busca por renda a qualquer preccedilo arrenda seus campos para os batateiros que vieram acredito que a grande maioria de Santa Catarina e do Paranaacute estes lavram o campo nunca mais o campo nem com reza braba taacute tudo perdido para sempre e isso reflete na nossa cidade25

Essas mudanccedilas no campo refletem na Sede onde o homem serrano convive

passivamente com novas identidades que embora sejam presentes eacute minoria pois

esta parcela de novos moradores traz consigo um novo jeito de viver que ainda natildeo

se percebe influenciar na identidade cultural da Sede

24 Propriedades rurais cuja atividade principal eacute a praacutetica da pecuaacuteria extensiva e a produccedilatildeo do

queijo artesanal serrano 25 SOARES Luciana Olga Entrevista concedida agrave autora no dia 01 de marccedilo de 2018

45

Na Sede desde o iniacutecio se observam quatro clubes sociais a Sociedade

Cruzeiro a Sociedade 9 de Julho a Sociedade Esperanccedila e o Centro de Tradiccedilotildees

Gauacutechas Cada clube social tem sua importacircncia histoacuterica poreacutem alguns natildeo se

manteacutem ativos

A Sociedade 9 de Julho foi fundada em 27 de setembro de 1961 estando

localizada no bairro Rincatildeo Segundo o jornal Folha da Serra (1968 n 96 p 5)

apoacutes sete anos de sua fundaccedilatildeo ldquoseu presidente Galego promete uma nova e

confortaacutevel sede para a sociedaderdquo Sociedade que se apresenta por sua

versatilidade nos eventos ateacute os dias atuais

O jornal Folha da Serra (1968 n 96 p 5) traz a seguinte mateacuteria ldquoas quatro

noites foram repletas de alegria naquela sociedade onde os foliotildees divertiram-se e

quando se anunciou o final da quarta noite houve quem lamentasse o final da festa

do Momordquo A reportagem refere-se ao carnaval que se desenvolve de forma

popular nesta sociedade Neste espaccedilo na deacutecada de 1990 ocorria um baile na

sexta-feira que antecedia ao Festival do Ronco do Bugio um espaccedilo onde jovens se

encontravam para iniciar as festividades do grande festival da cidade poreacutem na

atualidade este evento natildeo ocorre mais Pelos cartazes de divulgaccedilatildeo de eventos

atuais a Sociedade 9 de Julho se torna um espaccedilo bastante versaacutetil e segundo

dados obtidos no site da proacutepria sociedade o local apresenta shows bailes

tradicionalistas domingueiras e festas temaacuteticas

Sabe-se da existecircncia da Sociedade Esperanccedila devido a uma reportagem a

respeito do carnaval escrita no jornal Folha da Serra (1968 n 11 p 25) ldquoos

escurinhos tambeacutem natildeo ficaram para traacutes e demonstraram que satildeo bons no samba

porque soacute quem assistiu pode ver como brincaram e que maravilha de ritmo

marcaram durante as quatro noitesrdquo A reportagem daacute a entender de se tratar de

uma sociedade frequentada por negros e pode-se entender que ao usar o termo

escurinho na reportagem haacute preconceito racial perpassando a ideia de que por

serem negros natildeo poderiam se divertir da mesma maneira que os brancos

Atualmente se encontra no local um espaccedilo residencial e comercial

A Sociedade Cruzeiro foi fundada em 9 de maio de 1925 pela elite da

sociedade serrana Segundo Teixeira (2002) e Fonseca (2012) sua sede social era

na Avenida Juacutelio de Castilhos onde hoje se situa a agecircncia do Banrisul e teve como

primeiro presidente o Sr Antocircnio Mario Kroeff e o secretaacuterio Sr Joatildeo Parobeacute de

Lucena Sua nova sede foi inaugurada de acordo com Fonseca (2012 p 236) ldquono

46

dia 11 de dezembro de 1965 e esta permanece no mesmo endereccedilo ateacute a

atualidade Situa-se na Rua Dr Frederico Tedesco nordm 1261rdquo

Atualmente este espaccedilo eacute usado para convenccedilotildees ou festas particulares

onde as pessoas locam o espaccedilo para realizarem seu evento Neste espaccedilo natildeo

mais ocorrem grandes eventos sociais como Fonseca (2012 p 232) descreve ldquoos

bailes mais elegantes e vistosos desta sociedade ocorrem aquirdquo Fonseca (2012 p

233) ainda complementa que ldquoa primeira Miss Sociedade Cruzeiro foi eleita em 1937

e a vencedora foi a jovem Zilah Teixeirardquo

A Sociedade Cruzeiro tambeacutem foi palco de bailes de carnaval O Jornal Folha

da Serra (1968 n 11 p 25) descreve ldquocomo sempre a Sociedade Cruzeiro ponteou

o nosso carnaval com blocos fantasiados magnificamente fazendo acrobacias ao

som de excelente muacutesica local onde os turistas afluiacuteramrdquo Contrapondo a este

tempo a moradora local Soares26 discorre de maneira saudosa ldquoque saudades do

carnaval hoje eacute bebedeira perdeu o encanto perdeu tudo Na rua o pessoal

gritando sem nenhuma infraestrutura nem os bailes na sociedade natildeo ocorrem

maisrdquo

O distrito Sede jaacute foi palco de inuacutemeros clubes sociais que ao longo do tempo

foram perdendo seu encanto e ateacute mesmo fechando-se para atividades sociais O

que permanece em pleno funcionamento eacute o Centro de Tradiccedilotildees Gauacutechas Rodeio

Serrano o que justifica uma cultura tradicionalista presente neste distrito Dentre as

atividades desenvolvidas por esta entidade estatildeo o Rodeio Interestadual com

atividades campeiras e artiacutesticas que ocorrem todos os anos no primeiro final de

semana de dezembro a manutenccedilatildeo das invernadas artiacutesticas em todas as

categorias mascote mirim juvenil e adulta

A organizaccedilatildeo da Ronda Crioula na Semana Farroupilha com a participaccedilatildeo

das escolas da Sede e do interior que trazem seus grupos de danccedilas bem como

organizam gincanas Outra atividade tambeacutem desenvolvida por esta entidade eacute a

Cavalgada de Prendas que ocorre durante a Semana Farroupilha desde 1992

sendo Satildeo Francisco de Paula pioneira nesta ideia onde somente mulheres

participam da cavalgada que culmina com o desfile na Avenida Juacutelio de Castilhos

Realiza-se tambeacutem o Baile da Prenda Jovem que eacute o baile de debutante gauacutecho

onde as prendas entre 13 e 15 anos satildeo apresentadas agrave sociedade Aleacutem disso nos

26 SOARES Luciana Olga Entrevista concedida agrave autora no dia 01 de marccedilo de 2018

47

uacuteltimos anos a organizaccedilatildeo e apresentaccedilatildeo do Festival Ronco do Bugio que ocorre

em Satildeo Francisco de Paula faz parte da programaccedilatildeo desta entidade Este festival

apresenta exclusivamente o gecircnero musical bugio Haacute pelo menos duas hipoacuteteses

sobre a origem deste gecircnero musical

A primeira eacute de berccedilo serrano e teria mais fiel escudeiro o inesqueciacutevel acordeonista de Satildeo Francisco de Paula Honeyde Bertussi Siqueira Segundo ele o ritmo teria sido originaacuterio pelas matildeos do gaiteiro Vergiacutelio Leitatildeo que no jogo-de-foles e nos baixos de sua gaita de botatildeo teria imitado o ronco do bicho nos caponetes de cima da serra [] teria difundido pelas bodegas do Juaacute interior de Satildeo Chico (SOUZA 2003 p 15)

A segunda hipoacutetese eacute apresentada por Souza (2003 p 15) que apresenta a

versatildeo dada pelo povo de Satildeo Francisco de Assis que diz que ldquoa origem do ritmo e

oriunda desta localidade que por sinal realizava um festival nativista chamado

Querecircncia do Bugiordquo

Desconhece-se a verdadeira origem do gecircnero musical bugio mas Souza

(2003 p 23) afirma que ldquoJoatildeo Cincinato Terra muacutesico atuante sentiu a

necessidade de nosso municiacutepio acompanhar o movimento jaacute que neste periacuteodo se

expande por todo o estado do Rio Grande do Sul os festivais nativistasrdquo O

lanccedilamento do primeiro festival do Ronco do Bugio acontece em 1986 no CTG

Rodeio Serrano com a participaccedilatildeo de vaacuterios representantes da muacutesica nativista e

da comunidade serrana Seu lanccedilamento oficial ocorre em 16 de abril de 1986

O jornal Satildeo Chico Tchecirc (1986 n 11 p 6) noticiou que o primeiro Festival do

Ronco do Bugio contou com 98 muacutesicas escritas sendo 24 as selecionadas O

festival ocorreu entre os dias 13 e 15 de maio e Souza (2003 p 42) descreve que foi

apresentado ldquosob uma lona de circo estaqueada num gramado amador mas de

tantas gloacuterias futeboliacutesticas o campo do Clube Atleacutetico Serranordquo

A muacutesica vencedora do primeiro Ronco do Bugio foi ldquoLevanta Bugiordquo

defendida pelo cantor e compositor gauacutecho Leonardo Observando fotos percebe-se

que o Ronco do Bugio se deu em uma noite fria de inverno

O Festival Ronco do Bugio desde o seu iniacutecio premia melhor arranjo

conjunto instrumental instrumentista inteacuterprete e a muacutesica mais popular Fatima

Gimenez foi a melhor inteacuterprete do primeiro festival defendendo a muacutesica ldquoPinheiro

Gringordquo composiccedilatildeo de Erian Fogaccedila e Laerte Fortes Novamente a roupa dos

48

muacutesicos reforccedila que na noite da entrega da premiaccedilatildeo fazia muito frio A cantora

tambeacutem se apresenta vestindo um chiripa coberto por um pala27

Na Figura 11 observamos a fotografia de Gonzaga dos Reis muacutesico local

sentado com sua gaita instrumento que lhe deu o precircmio de melhor instrumentista

do primeiro Ronco do Bugio Nesta oportunidade o cantor instrumentista e

compositor defendeu a muacutesica ldquoBugio da Minha Terrardquo

Figura 11 ndash Gonzaga dos Reis

Fonte Jornal Satildeo Chico Tchecirc n 4 p 8 (1986)

A composiccedilatildeo ldquoBugio Tiranordquo que foi defendida pelo conjunto Os Tiranos de

Satildeo Francisco de Paula ganhou o precircmio mais popular

Para o Jornal Satildeo Chico Tchecirc (1986 n 11 p 7) o Festival Ronco do Bugio eacute

ldquoum festival autecircntico e original que aconteceu com grande sucesso em Satildeo

Francisco de Paulardquo No encerramento deste grande evento Joatildeo Chagas Leite se

27 Chiripa e pala satildeo trajes tipicamente gauacutechos Sendo que o chiripa atualmente eacute uma veste de

preferecircncia feminina este fica enrolado na cintura e vai ateacute os joelhos ldquoEacute um pano inteiro passado entre as pernas primeiro de traacutes para frente e depois de frente para traacutes pode ser de latilde ou lisordquo (ABREU 2003 p 67) O pala eacute uma peccedila retangular com franjas nos quatro lados e listras no sentido do comprimento

49

apresenta segundo o Jornal Satildeo Chico Tchecirc (1986 n 11 p 8) ldquocom composiccedilotildees

como Corda de Espinho Orelhano Pampa Campo e Querecircncia Coraccedilatildeo de

Estudante e Afiosrdquo

O Festival Ronco do Bugio perpassa o tempo segundo o site da Prefeitura

Municipal

O Festival Ronco do Bugio eacute um evento musical nativista que acontece anualmente na Cidade de Satildeo Francisco de Paula com o intuito de preservar e difundir o uacutenico ritmo originaacuterio do Rio Grande do Sul ou seja o lsquobugiorsquo compasso criado justamente no interior deste municiacutepio Tal criaccedilatildeo se deu a partir da criatividade dos gaiteiros serranos que buscaram imitar com seu instrumento musical o ronco do primata nos matos da serra A festividade agora em sua 26ordf ediccedilatildeo eacute genuiacutena pois eacute o uacutenico da Ameacuterica onde obrigatoriamente os participantes devem utilizar um ritmo somente isto eacute o citado lsquobugiorsquo embora a temaacutetica seja abrangente Por este motivo eacute chamado de lsquoO Festival Mais Autecircntico do Rio Grandersquo Aleacutem do forte enfoque cultural que envolve toda a comunidade musical do Estado o Festival tem seu apelo ecoloacutegico pois chama a atenccedilatildeo para a preservaccedilatildeo da espeacutecie hoje quase em extinccedilatildeo O Ronco do Bugio por sua importacircncia no cenaacuterio cultural rio-grandense criou uma identidade ao povo de Satildeo Francisco de Paula pois junto ao evento estaacute intriacutenseco e vem agrave tona o histoacuterico da criaccedilatildeo do municiacutepio caracterizado pela forte influecircncia dos antigos tropeiros desbravadores e povoadores desta parte do paiacutes (PREFEITURA MUNICIPAL DE SAtildeO FRANCISCO DE PAULA 2017)

No mesmo documento disponibilizado pela Prefeitura Municipal de Satildeo

Francisco de Paula observam-se algumas informaccedilotildees a respeito da realizaccedilatildeo do

festival no ano de 2017

Art 1ordm - O 26ordm Ronco do Bugio realizar-se-aacute no municiacutepio de Satildeo Francisco de Paula nos dias 01 e 02 de setembro de 2017 Art 2ordm - a festividade agora em sua 26ordf ediccedilatildeo eacute genuiacutena pois eacute a uacutenica na Ameacuterica Latina com promoccedilatildeo da Prefeitura Municipal de Satildeo Francisco de Paula e do CTG Rodeio Serrano com apoio de oacutergatildeos puacuteblicos e iniciativa privada Art 3ordm - Satildeo objetivos do 26ordm Ronco do Bugio a) valorizar a tradiccedilatildeo arte cultura e a autecircntica muacutesica regionalista

gauacutecha atraveacutes do seu ritmo mais original b) prestigiar autores compositores inteacuterpretes e conjuntos regionalistas e

incentivar o surgimento de novos valores c) divulgar a muacutesica regional gauacutecha d) valorizar a relevante posiccedilatildeo na formaccedilatildeo de usos e costumes

caracteres e valores espirituais e morais do gauacutecho e) promover e incentivar a cultura gauacutecha projetando Satildeo Francisco de

Paula na maneira mais autecircntica no cenaacuterio do turismo (PREFEITURA MUNICIPAL DE SAtildeO FRANCISCO DE PAULA 2017)

Como eacute possiacutevel observar no artigo 4ordm ldquoA organizaccedilatildeo do 26ordm Ronco do Bugio

ficaraacute a cargo da Comissatildeo Organizadora composta por membros da Prefeitura

Municipal e do CTG Rodeio Serranordquo (PREFEITURA MUNICIPAL DE SAtildeO

50

FRANCISCO DE PAULA 2017) Devido agrave importacircncia identitaacuteria do festival para o

municiacutepio ao se chegar agrave cidade na deacutecada de 90 se encontrava o seguinte

outdoor

Figura 12 ndash Outdoor entrada da cidade na ERS-020

Fonte Souza (2003 p 17)

Assim como o tiacutetulo de ldquoCapital Mundial do Bugiordquo Satildeo Francisco de Paula ldquojaacute

obteve vaacuterios slogans dentre eles o de Satildeo Chico eacute terra boardquo (TEIXEIRA 2002 p

149-150)

Mesmo ocorrendo inferecircncias externas advindas com pessoas que trouxeram

consigo uma identidade diferente Soares28 em entrevista afirma ldquoSatildeo Chico eacute

identificada pela cultura tradicionalista gauacutecha a cuia em frente ao antigo preacutedio da

prefeitura demonstra o siacutembolo da hospitalidade de nosso povordquo A permanecircncia

ativa do CTG Rodeio Serrano na sede eacute outro indicativo forte da presente

identidade ligada as atividades do homem do campo Outro fato observado eacute a

constante praacutetica do laccedilo de vaca parada29 por jovens e crianccedilas nos paacutetios de suas

residecircncias bem como cavalarianos (homens mulheres jovens e crianccedilas) na

28 SOARES Luciana Olga Entrevista concedida agrave autora no dia 01 de marccedilo de 2018 29 Vaca parada uma espeacutecie de cavalete de madeira com aspectos de uma vaca usada por crianccedilas

que estatildeo iniciando neste esporte bem como usado como forma de entretenimento para jovens e adultos

51

avenida principal cavalgando entre os carros Ainda se percebe o respeito entre

motoristas de automotivos bicicletas e os cavalarianos todos ocupando o mesmo

espaccedilo

42 DISTRITO DE CAZUZA FERREIRA

O distrito de Cazuza Ferreira foi criado em 07 de janeiro de 1903 estando

situado a 85 quilocircmetros da Sede Andrade comenta em entrevista30 ldquoateacute acho que

Cazuza se desenvolveu primeiro que Satildeo Chicordquo31 visto que a criaccedilatildeo do distrito

acontece dias depois da emancipaccedilatildeo enquanto a criaccedilatildeo da vila do distrito de

Cazuza Ferreira se desenvolve segundo a entrevistada

A parte da Histoacuteria que eu sei eacute que houve a chegada de um Sr Chico Mestre eacute como eles chamavam Esse Sr veio as casas eram distantes umas das outras e ele comeccedilou a fazer oraccedilatildeo nas casas e reunir as pessoas e fundou o cemiteacuterio Entatildeo o Joseacute Ferreira de Castilhos que era dono daqui naquela eacutepoca um dos moradores que tinha bastante terra doou a terra para fazer a vila aiacute o que aconteceu segundo as histoacuterias era para ser ali onde eacute a cancha de laccedilo hoje do outro lado da estrada soacute que o terreno natildeo era apropriado entatildeo houve uma permuta com o Sr que era dono deste terreno aqui era Bossle aqui era bem mais alto e mais plano Entatildeo se construiu a Igreja e iniciou o povoamento da vila32

A moradora Basso ainda acrescenta que ldquoa vila foi sempre mais ou menos o

que ela eacute hojerdquo Ao observar o local pode-se perceber uma grande praccedila ao centro

rodeada de casas de comeacutercio posto de combustiacutevel posto de sauacutede o hotel a

Igreja Matriz juntamente com o salatildeo paroquial e casas residecircncias cujo aspecto

impressiona por a grande maioria das casas apresentam uma arquitetura que

perpassa o tempo A Figura 13 apresenta uma imagem da praccedila central tirada das

escadarias da Igreja Matriz

30 ANDRADE Nauro Bossle de Entrevista concedida agrave autora no dia 04 de marccedilo de 2018 31 Primeiro que Satildeo Chico eacute um termo comum usado pelos moradores do interior do municiacutepio de

Satildeo Francisco de Paula que ao se referir a Sede do municiacutepio usam o termo Satildeo Chico ou Satildeo Francisco de Paula pois seus moradores natildeo costumam na atualidade dizer lsquovou a Sedersquo e sim lsquovou a Satildeo Chicorsquo como se eles natildeo morassem no municiacutepio

32 BASSO Ceacutelia Pacheco Terres Entrevista concedida agrave autora no dia 04 de agosto de 2018

52

Figura 13 ndash Praccedila Central de Cazuza Ferreira

Fonte acervo pessoal da autora (2018)

Apesar de ter a preservaccedilatildeo arquitetocircnica a moradora Basso declara

O pai contava e outras pessoas contam que teve uma eacutepoca que tinha faacutebrica de tamanca33 jaacute teve faacutebrica de guaranaacute de queijo bastante coisa no sentido de selaria mas tudo foi se extinguindo as pessoas as famiacutelias natildeo deram continuidade e se sumiram natildeo existe mais nada disso mas estas faacutebricas natildeo davam renda ou seja trabalho para pessoas de fora pois elas eram administradas e cuidadas pelas famiacutelias Daiacute houve o periacuteodo das serrarias enquanto pode extrair madeira era o forte a vila movimentada enriqueceram alguns comerciantes locais o momento que extinguiu aquele trabalho eles foram embora e o povo daqui acomodou entatildeo hoje a vila tem bastante pessoas que foram embora trabalhar assim na juventude e hoje aposentados voltaram pois aqui para jovem natildeo tem sobrevivecircncia o uacutenico trabalho eacute na escola tem nove professores e uma funcionaacuteria em alguns funcionaacuterios da prefeitura acho que satildeo seis que cuidam do plantel de maacutequinas a enfermeira e o pessoal que cuida do posto do correio tambeacutem tem a ferraria mas ali eacute soacute os da proacutepria famiacutelia entatildeo o jovem acaba tendo que ir embora34

Os entrevistados Basso e Andrade relatam que apesar das adversidades o

povo de Cazuza Ferreira tem um amor pelas suas tradiccedilotildees mantendo vivos trecircs

aspectos que ambos consideram a marca identitaacuteria de seu povo e afirmam com

33 Tamanca calccedilado comum na regiatildeo solado de madeira com uma proteccedilatildeo sobre as pontas dos

dedos indo ateacute o peito do peacute em couro 34 BASSO Ceacutelia Pacheco Terres Entrevista concedida agrave autora no dia 04 de agosto de 2018

53

convicccedilatildeo ldquofalar de Cazuza eacute cavalhada hotel e rodeiordquo enquanto Basso acrescenta

que ldquoas cavalhadas satildeo heranccedila dos portugueses e estatildeo espalhadiacutessimas ateacute

nacionalmente atraveacutes da miacutedia porque natildeo pesquisei mas ateacute onde sei no Rio

Grande do Sul soacute tem aquirdquo

Na comunidade ainda segundo Basso ldquoa apresentaccedilatildeo das cavalhadas se

iniciou por volta de 1890 e permanece ativa ateacute hoje no passado existiam trecircs

cavalhadas as dos brancos dos amarelos e dos negrosrdquo acrescentando ldquomas hoje

natildeo haacute mas essa diferenciaccedilatildeordquo Em poliacutegrafo organizado por uma moradora local a

mesma explica que a cavalhada ldquoeacute uma luta simulada em que haacute vinte e quatro

participantes sendo doze de cada equiperdquo35 por meio da evoluccedilatildeo equestre e

movimentos de espada lanccedila e garrucha representando a batalha entre mouros e

cristatildeos Segundo esta moradora ldquoa batalha sempre termina sendo vencida pelos

cristatildeos demonstrando a submissatildeo dos mouros e a supremacia da religiatildeo cristatilderdquo

Atualmente o grupo depende da boa vontade de seus participantes conforme

explica

Hoje se tornou caro eacute exame dos cavalos transporte depende do querer das pessoas da boa vontade e tem pessoas engajadas que natildeo largam a famiacutelia do Renau que ele eacute o presidente do grupo ele tem um amor tatildeo grande pelas cavalhadas porque ele jaacute recebeu do pai dele do teu avocirc e do seu Ivo Cardoso e a vida dele agraves vezes me desgosto de alguma coisa pois faccedilo a narrativa do que estaacute sendo apresentado mas daiacute eu penso natildeo posso abandonar (sorri) Eacute uma tradiccedilatildeo que natildeo pode morrer mas os filhos do Renau o Marcos e o Marcelo daratildeo continuidade faz parte da famiacutelia tu sabe eacute da mesma famiacutelia Eacute uma grande tradiccedilatildeo que natildeo pode desaparecer temos que continuar peleando36

As cavalhadas satildeo apresentadas na praccedila central sempre durantes as festas

religiosas que acontecem na comunidade sendo assim organizadas

No primeiro ou segundo final de semana de fevereiro tem a festa da Nossa Senhora do Belo Horizonte que eacute a padroeira daqui Agora devido agrave comissatildeo e o padre um ano tem a festa dos morenos e no outro tem a dos agricultores que eram chamados de amarelos antigamente cuja devoccedilatildeo se daacute agrave Nossa Senhora do Rosaacuterio e Nossa Senhora da Penha Antigamente cada um tinha seu espaccedilo social para realizar a festa atualmente soacute se manteve a tradiccedilatildeo de comemorar os santos este ano eacute festa dos morenos ela seraacute dia 13 e 14 de outubro Todas as festas

35 Sendo que doze cavaleiros que representam os cristatildeos vestem tuacutenicas de veludo azul escuro e

os doze cavaleiros mouros vestem tuacutenicas vermelhas Sobre os ombros da tuacutenica haacute uma capinha esta capinha traz enfeites prateados bordados com lantejoulas e bototildees dourados e franjas de seda branca Todos os participantes usam bombacha branca de brim botas campeiras pretas chapeacuteu de palha de aba larga virada para cima com laccedilo de fita e barbicacho de acordo com a cor da tuacutenica

36 BASSO Ceacutelia Pacheco Terres Entrevista concedida agrave autora no dia 04 de agosto de 2018

54

religiosas ocorrem em dois dias saacutebado apresentaccedilatildeo das cavalhadas novena janta e baile no domingo tem a missa na Igreja Matriz logo apoacutes almoccedilo e reuniatildeo danccedilante Atualmente resgataram em dezembro a festa a Satildeo Cristoacutevatildeo sempre no primeiro final de semana de dezembro eacute uma missa com benccedilatildeo aos carros durante a procissatildeo e um almoccedilo ao meio-dia esta se daacute somente em um dia E tambeacutem temos de dois em dois anos a festa organizada pelo grupo das Cavalhadas esta ocorre em maio daiacute37

Os moradores explicam que a separaccedilatildeo racial desapareceu com o tempo

poreacutem se manteacutem a cultura de festejar todos os santos o que demonstra que o povo

de Cazuza eacute bastante devoto e cristatildeo E acrescenta em tempos idos que durante

as festas religiosas as pessoas se hospedavam no hotel segundo Basso que ldquoele

recebia tinha mercado junto teve ateacute cinema o pessoal gostava da comida da

Dona Vilma que era minha sogrardquo Este hotel eacute outro marco que identifica Cazuza

Ferreira poreacutem os moradores explicam que atualmente o Hotel do Campo manteacutem a

arquitetura mas funciona em uma modalidade diferenciada pois natildeo haacute como

sobreviver Entatildeo ele recebe hospeda sob reserva antecipada poreacutem natildeo serve

almoccedilo e janta as refeiccedilotildees satildeo feitas no Cantinho do Aconchego com quem

manteacutem uma parceria

Figura 14 ndash Hotel do Campo

Fonte acervo pessoal da autora (2018)

37 BASSO Ceacutelia Pacheco Terres Entrevista concedida agrave autora no dia 04 de agosto de 2018

55

Nesta comunidade tambeacutem eacute muito forte segundo os entrevistados38 a

tradiccedilatildeo gauacutecha que adveacutem do homem do campo o amante dos rodeios que nos

finais de semana saem de suas propriedades e se deslocam a outras comunidades

para participar dos eventos campeiros como o tiro de laccedilo Tambeacutem explanam que

existe o CTG Adatildeo Castilhos que estaacute interditado jaacute faz quase seis anos desde

que comeccedilaram a ser exigidos os PPCIs A partir deste momento eles natildeo puderam

mais fazer eventos ali eles realizam os rodeios ou festas campeiras mas laacute dentro

natildeo conseguiram mais fazer nada e taacute difiacutecil vai muito dinheiro para cumprir todas

as exigecircncias Sendo que este espaccedilo na deacutecada de 80 do seacuteculo XX foi palco de

grandes rodeios com apresentaccedilotildees campeiras artiacutesticas e grandes bailes A

moradora explica39 ldquoA Claudiana esposa do Paulo Cesar atual presidente se

inscreveu no projeto Meu Galpatildeo de Cara Nova do Galpatildeo Crioulo da RBS TV

tomara que ela seja classificadardquo Este projeto ajuda na reconstruccedilatildeo dos CTGs pelo

Rio Grande do Sul

Ao pesquisar sobre Cazuza Ferreira percebe-se o quatildeo forte eacute o culto agraves

tradiccedilotildees e o esforccedilo de seus moradores para elas permaneccedilam para futuras

geraccedilotildees visto que o tempo passou e a tradiccedilatildeo local natildeo sofreu alteraccedilotildees

43 DISTRITO DE TAINHAS

O distrito de Tainhas foi criado em 18 de outubro de 1922 estando situado a

33 quilocircmetros da Sede Se desenvolveu no entroncamento de duas rodovias a RS-

020 e a RS-453 cujas rodovias cortavam a vila do distrito Com o advento da

construccedilatildeo da Rota do Sol importante rodovia que hoje que liga Caxias do Sul agraves

praias aleacutem da construccedilatildeo do asfalto da RS-020 que vai a Satildeo Francisco de Paula

tudo mudou O morador Fagundes relata em entrevista40 ldquoaqui era mais habitado

por criadores fazendeiros e agora depois que saiu essa Rota do Sol o movimento

cresceu muito neacute mais por fora da vila entatildeo natildeo trouxe benefiacutecio para noacutesrdquo

Percebe-se que moradores entendem a importacircncia da construccedilatildeo das

rodovias poreacutem as mesmas natildeo trouxeram benefiacutecios econocircmicos para os

moradores locais

38 ANDRADE Nauro Bossle de BASSO Ceacutelia Pacheco Terres Entrevistas concedidas agrave autora no

dia 04 de agosto de 2018 39 BASSO Ceacutelia Pacheco Terres Entrevista concedida agrave autora dia 04 de agosto de 2018 40 FAGUNDES Darci da Silva Entrevista concedida agrave autora no dia 24 de fevereiro de 2018

56

Ainda conforme o morador Fagundes41 ldquoo iniacutecio da vila se deu devido agrave

necessidade de parada dos caminhoneiros que transportavam madeira como era

tudo estrada de chatildeo Tainhas ficava em local centralizado se construiu um hotel

que era do seu Pedro Pinhatildeo e da Dona Luisardquo A partir de entatildeo comeccedilou a

construccedilatildeo de casas e se formou a vila onde antes eram terras dos Pinto os

primeiros moradores de Tainhas tanto que o morador ressalta na entrevista42 ldquoo

nome da escola eacute Oliacutempio Soares Pinto que era o proprietaacuterio dessa terra e uma

das professoras mais antigas era Guilherma Pintordquo

Tainhas estaacute rodeada por campos matos de pinnus ilhote e lavouras

atualmente e explica

Hoje aqui eacute pinus e granjeiro plantando batata soja milho e a maioria veio de fora os moradores antigos desapareceram arrendaram ou venderam suas terras para esse pessoal que veio de Ibiraiara e de Maquineacute Itati Trecircs Forquilhas43

Percebe-se que a criaccedilatildeo de gado ou seja a pecuaacuteria extensiva deu lugar a

outras culturas com a chegada de novas pessoas ao distrito Mas segundo os

moradores o culto ao tradicionalismo gauacutecho permanece visto que no distrito

existe

O parque de rodeios do Rodeio Crioulo eacute o mais antigo que noacutes temos aqui natildeo sei se natildeo o primeiro piquete registrado de Satildeo Chico tem uns sessenta anos a nossa tradiccedilatildeo eacute o laccedilo O nosso rodeio acontece sempre no iniacutecio de janeiro hoje eu natildeo laccedilo mais mas o meu neto continua a minha tradiccedilatildeo A escola daqui faz a semana farroupilha com ronda eacute tudo muito lindo e assim se mantem a cultura44

A imagem apresentada na Figura 15 reforccedila a fala e a importacircncia do Piquete

de Laccediladores Rodeio Crioulo que atualmente mesmo estando nas terras de Satildeo

Francisco de Paula divisa com o municiacutepio de Cambaraacute do Sul por opccedilatildeo essa

entidade tradicionalista pertence ao entatildeo municiacutepio de Cambaraacute do Sul Poreacutem sua

fundaccedilatildeo acontece em 20 de janeiro de 1961 quando o entatildeo hoje municiacutepio de

Cambaraacute do Sul ainda era distrito de Satildeo Francisco de Paula

41 FAGUNDES Darci da Silva Entrevista concedida agrave autora no dia 24 de fevereiro de 2018 42 FAGUNDES Darci da Silva Entrevista concedida agrave autora no dia 24 de fevereiro de 2018 43 FAGUNDES Darci da Silva Entrevista concedida agrave autora no dia 24 de fevereiro de 2018 44 FAGUNDES Darci da Silva Entrevista concedida agrave autora no dia 24 de fevereiro de 2018

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Figura 15 ndash Flacircmula de comemoraccedilatildeo aos 50 anos da entidade

Fonte acervo pessoal da autora (2018)

Outro evento importante no distrito eacute realizado pela Escola Estadual de

Ensino Fundamental Oliacutempio Soares Pinto que satildeo atividades ligadas as tradiccedilotildees

gauacutechas na Semana Farroupilha como cavalgadas e gincanas com a participaccedilatildeo

de toda comunidade nesta semana principalmente a comunidade de Tainhas

ldquorespira tradicionalismordquo

O distrito de Tainhas atualmente conta com um posto de sauacutede e o correio

satildeo os serviccedilos puacuteblicos que funcionam no distrito visto que o cartoacuterio fechou O

entrevistado Fagundes relata45 ldquoeu era o juiz de paz desse Cartoacuterio minha funccedilatildeo

era julgar os casamentos mas daiacute fechou hoje o pessoal tem que ir a Satildeo Chicordquo O

morador ainda acrescenta ldquoateacute a rodoviaacuteria fechou os ocircnibus passam aqui Satildeo

Marcos que vem de Caxias e vatildeo a Torres desce de manhatilde e sobe de tarde Citral

de Satildeo Chico a Ouro Verde e agora Transneves da Pedra Lisa para Satildeo Chicordquo

Com uma certa tristeza relata46 ldquoaqui em Tainhas soacute tem o Cafeacute Tainhas do

Mauro eacute o brilho de Tainhas seraacute ponto histoacuterico daqui um tempo todo mundo fala

bem do Cafeacute Tainhasrdquo

Notoriamente a chegada do asfalto modificou a vida das pessoas neste

distrito visto que que os campos foram em boa parte transformados em lavoura se

45 FAGUNDES Darci da Silva Entrevista concedida agrave autora no dia 24 de fevereiro de 2018 46 FAGUNDES Darci da Silva Entrevista concedida agrave autora no dia 24 de fevereiro de 2018

58

percebe uma vila pacata jaacute que todo o movimento foi desviado por fora da vila e a

mesma natildeo proporciona lazer para as pessoas que ao terminarem o ensino

fundamental para continuar seus estudos precisam fazer uso do transporte escolar

e se deslocar ateacute a Sede ou ir ao municiacutepio de Cambaraacute do Sul

44 DISTRITO DE ELETRA

O distrito de Eletra foi criado em 31 de dezembro de 1932 estando situado a

19 quilocircmetros da Sede do municiacutepio Poreacutem a populaccedilatildeo local chama de Salto e

seu nome vem das barragens do Salto Blang e Divisa construiacutedas sobre o Rio do

Salto que atravessa o distrito Segundo a moradora local47 Soares ldquoas barragens

que fornecem aacutegua para as usinas no municiacutepio de Satildeo Francisco de Paula e nos

municiacutepios vizinhos de Canela Gramado e Cambaraacute do Sulrdquo A Figura 16 apresenta

uma imagem da Barragem do Salto barragem esta que se situa proacutexima da vila do

distrito

Figura 16 ndash Barragem do Salto

Fonte acervo pessoal da autora (2018)

Ao observarmos a Figura 16 percebe-se que o acesso da vila para o interior

do distrito acontece por uma ponte de concreto estreita com piso bastante irregular

47 SOARES Susana Marques Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018

59

e que em periacuteodos de fortes chuvas o acesso fica interrompido devido agrave altura

Poreacutem ao lado direito percebe-se uma estrutura pequena que segundo o morador

Gomes

Foi uma tentativa de uma empresa japonese construir uma ponte soacute que quando estavam construindo deu uma enchente e levou tudo a aacutegua abaixo a empresa foi embora e nunca mais voltou Jaacute foram feitos estudos que a ponte tem que ser construiacuteda mais para baixo e em forma de arco se natildeo a chuva leva de novo poreacutem natildeo acredito que saia algum dia48

Entende-se que a construccedilatildeo desta nova ponte melhoraria o acesso dos

proprietaacuterios rurais que para saiacuterem de suas propriedades em eacutepocas de chuva

intensa necessitam fazer um longo caminho por estradas de chatildeo batido para terem

acesso ao municiacutepio de Canela bem como a Sede de Satildeo Francisco de Paula

Contudo a moradora explica que a vila do distrito se forma muito antes da

construccedilatildeo da barragem

Em 1915 era uma fazenda chamada Fazenda do Salto e esta pertencia a Francisco Soares de Oliveira Neste local havia sua casa de moradia um galpatildeo e mangueiras onde realizava as suas atividades poreacutem em 1916 o Chico resolveu transferir a casa da Fazendo do Cerro para o Salto tambeacutem sendo construiacuteda aiacute a segunda casa a partir de entatildeo se iniciou o povoado com a construccedilatildeo de novas residecircncias para seus empregados e posteriormente se instalou uma serraria dos irmatildeos Delavechia esta sendo movida a aacutegua dando definitivamente o iniacutecio do povoamento da vila49

Ao analisar a fala da moradora local se percebe que onde hoje se encontra a

vila do distrito de Eletra jaacute foi uma fazenda identificando-se com a mesma formaccedilatildeo

do distrito Sede que tambeacutem surge de terras doadas por um fazendeiro Segundo a

entrevistada Soares50 ldquoa sua casa eacute uma das mais antigas tem 102 anos foi

construiacuteda de pinheiro serrada aqui mesmo na serrariardquo pode-se observar o oacutetimo

estado de conversaccedilatildeo da casa que traz traccedilos arquitetocircnicos europeus na sua

construccedilatildeo natildeo se tem imagem da casa visto que a entrevistada natildeo permitiu

nenhuma imagem de sua residecircncia

Outro fator importante do povoamento da vila segundo o morador local

Gomes51 ldquofoi o iniacutecio da construccedilatildeo da Barragem do Salto no ano de 1925rdquo onde

48 GOMES Jaures Feijoacute Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018 49 SOARES Susana Marques Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018 50 SOARES Susana Marques Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018 51 GOMES Jaures Feijoacute Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018

60

vieram muitos funcionaacuterios de vaacuterios lugares tendo como mestre da obra segundo

os moradores locais52 o ldquoAcircngelo Goubertrdquo

Devido agrave necessidade que se formou no distrito neste periacuteodo se abriu um

hotel farmaacutecia cartoacuterio rodoviaacuteria e cinema a moradora local Soares saudosa

diz53 ldquotudo fechou aqui natildeo tem mais nadardquo referindo-se a atual situaccedilatildeo que a vila

se encontra

Os moradores ainda declaram sobre o distrito54 ldquoestaacute abandonado pelo poder

puacuteblico ateacute o calccedilamento das ruas foi arrancadordquo poreacutem outrora foi um local de

muita alegria

A vida era uma festa permanente o tio Chico era casado com a tia Lisoca ela foi para Porto Alegre para os filhos estudar quando vinham nas feacuterias traziam os amigos O tio Chico pagava um gaiteiro por mecircs para ele toca toda noite entatildeo era aquele divertimento55

Atualmente na vila existe a Escola Estadual de Ensino Fundamental Cristino

Ramos com menos de cem alunos e a festa cristatilde cuja celebraccedilatildeo ocorre em

fevereiro sendo Santo Antocircnio o padroeiro local A moradora explica sobre a

construccedilatildeo da capela

A primeira capela a tempestade derrubou em 1957 se construiu outra O santo padroeiro eacute Santo Antocircnio a imagem foi trazida por quarenta cavaleiros Daiacute o padre pediu para que a imagem de Nossa Senhora Catarina tambeacutem fosse acolhida hoje temos dois padroeiros mas para mim Santo Antocircnio eacute o principal56

Percebe-se na fala dos moradores a sua devoccedilatildeo e sua preocupaccedilatildeo com o

futuro da vila visto que ateacute a questatildeo do cemiteacuterio jaacute foi palco de discussatildeo pois o

cemiteacuterio da vila iniciou pela famiacutelia dos Soares sendo este particular Poreacutem a

moradora explica com certa indignaccedilatildeo

O cemiteacuterio era particular da famiacutelia Soares teve um tempo que resolveram abrir veio gente ateacute de Passo Fundo ser enterrada aqui natildeo pediam para ningueacutem tomaram conta Daiacute organizamos uma comissatildeo responsaacutevel decidimos que tinha que ter uma contribuiccedilatildeo e natildeo podia trazer gente de fora para enterrar soacute gente daqui Ningueacutem pagou Aiacute mandei fazer cerca nova a parte dos Soares sempre limpei mas [] hoje acabo limpando tudo

52 GOMES Jaures Feijoacute SOARES Susana Marques Entrevistas concedidas agrave autora no dia 15 de

fevereiro de 2018 53 SOARES Susana Marques Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018 54 GOMES Jaures Feijoacute SOARES Susana Marques Entrevistas concedidas agrave autora no dia 15 de

fevereiro de 2018 55 SOARES Susana Marques Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018 56 SOARES Susana Marques Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018

61

porque ningueacutem limpa Enquanto eu for viva vou fazer depois vatildeo entregar para a prefeitura igreja natildeo sei57

A Figura 17 apresenta uma foto da igreja atual tendo em sua lateral direita a

capela mortuaacuteria e ao fundo o Salatildeo Paroquial da comunidade onde ocorre a festa

do Santo Padroeiro

Figura 17 ndash Igreja Santo Antocircnio ndash Distrito de Eletra

Fonte acervo pessoal da autora (2018)

Ao conversar com os moradores locais pode-se observar a feacute cristatilde poreacutem

ambos relatam que a festa de fevereiro atualmente eacute pouco divulgada motivo pelo

qual acreditam que natildeo haja um nuacutemero expressivo de pessoas Ambos sentem um

apreccedilo pelo local onde nasceram e vivem poreacutem ambos relatam

Aqui eacute lugar de dormir as pessoas trabalham em Canela e vem dormir aqui a grande maioria natildeo eacute daqui vieram de fora haacute muitas casas de veraneio tudo gente de Porto Alegre que vem passar feacuterias natildeo rende nada para aqui o que precisam trazem tudo de fora A maioria de quem mora aqui soacute dorme passa o dia fora O ocircnibus das 7 horas sai lotado a gente natildeo conhece mais ningueacutem daqui mesmo soacute noacutes Susana e eu58

Mesmo a vila sendo um local de parada estaacute rodeada de lindos campos e

fazendas cuja a atividade principal eacute a pecuaacuteria extensiva natildeo proporciona

57 SOARES Susana Marques Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018 58 GOMES Jaures Feijoacute Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018

62

trabalho no local motivo pelo qual seus moradores buscam sua subsistecircncia em

outro municiacutepio poreacutem possui uma exuberante natureza relata cheia de esperanccedila

a moradora local59 ldquoeu tenho esperanccedila que algueacutem olhe para caacute e veja as belezas

que tem aqui que o lugar volte a se desenvolverrdquo desenvolvimento este que

poderia vir atraveacutes da exploraccedilatildeo do turismo rural ldquoSe vocecirc quiser comer alguma

coisa agora natildeo vai encontrar nada aqui soacute tem lsquobutecorsquo60 mas eles natildeo vendem

nada nem sanduiacuteche pastel eacute uma vergonhardquo fala indignado o morador Gomes61

A populaccedilatildeo que vive nas fazendas aleacutem de ter as lides campeiras no seu

dia-a-dia nos finais de semana segundo o morador Gomes62 ldquolaccedila em torneio vai

nos rodeiosrdquo o que marca a presenccedila do tradicionalismo gauacutecho em uma parte da

populaccedilatildeo do distrito poreacutem com relaccedilatildeo aos moradores da vila natildeo haacute algo que

os identifique visto a miscigenaccedilatildeo que ocorreu e por haver muitas casas de

veraneio no local

45 DISTRITO DO JUAacute

O distrito do Juaacute foi criado em 10 de maio de 1950 e fica distante 65

quilocircmetros da Sede O distrito recebe esse nome devido a um espinho que havia

em abundacircncia no local nome este dado por tropeiros

Os accedilorianos que vinham de Santo Antocircnio da Patrulha e iam para Vacaria com cargueiros eles vinham fazer repouso laacute em cima no reduto e ali tinha muita frutinha do juaacute entatildeo os tropeiros saiam de Santo Antocircnio e diziam vamos posa laacute nos juaacute daiacute o nome do lugar que permanece ateacute hoje63

Juaacute eacute o nome dado a um espinho muito comum na regiatildeo dos campos de

cima da serra que daacute uma fruta amarela em formato redondo que segundo os

moradores locais eacute uma fruta venenosa conforme se observa na Figura 18

59 SOARES Susana Marques Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018 60 Buteco pequeno comeacutercio que normalmente vende bebidas alcooacutelicas e possui mesa de sinuca 61 GOMES Jaures Feijoacute Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018 62 GOMES Jaures Feijoacute Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018 63 REIS Orides Entrevista concedida agrave autora no dia 12 de maio de 2018

63

Figura 18 ndash Peacute com a fruta conhecido como Juaacute

Fonte acervo de Clessandra Palhano (moradora local) (2018)

O reduto citado pelo morador local ficava em uma fazenda local onde hoje se

encontra a vila do distrito conforme o entrevistado Reis explica

O primeiro morador eu natildeo lembro soacute sei que o Juaacute era de pouca gente famiacutelia Pedroso e Castilhos daiacute foram morrendo inventariando e vendendo e aos poucos se formou a vila importante o dono de tudo isso aiacute tinha dois escravos no iniacutecio teve escravidatildeo claro na eacutepoca de mil oitocentos e pouco eu acho mas teve E hoje deve ter descendente destes escravos por aiacute64

Escravidatildeo que vai dar origem ao preconceito racial e a um modelo particular

da localidade que sem precisar data explica o morador

Aqui tinha dois salatildeo trecircs com o da Igreja mas era dois salatildeo social Era um clube de brancos que era dos ricos neacute fazendeiros o Salatildeo Vera Cruz e depois fundaram o Satildeo Valentim que era dos morenos que na eacutepoca ateacute eu fui presidente Cada um no seu salatildeo agora quando dava a festa cristatilde em homenagem ao Satildeo Joatildeo de Deus todo o povo reunia-se quando chegava de noite no saacutebado no baile entatildeo cada um ia pro seu salatildeo A muacutesica ficava no salatildeo dos brancos daiacute colocava umas caixas de som laacute pros morenos com um fio pra eles danccedila Um natildeo podia entra no baile do outro tinha o presidente para cuida Cada um no seu tudo se respeitava e obedecia aquela ordem65

Ainda acrescenta a moradora local Santos

64 REIS Orides Entrevista concedida agrave autora no dia 12 de maio de 2018 65 REIS Orides Entrevista concedida agrave autora no dia 12 de maio de 2018

64

O nosso eu natildeo me lembro o nome tem tanto papel mas natildeo sei onde estaacute o nosso dos pretos neacute ningueacutem implicava eles natildeo deixavam noacutes entra no salatildeo Vera Cruz eu entrava de cozinheira empregada porque ali era lugar dos ricaccedilos eles podiam se associar mas o nosso tambeacutem enchia mas eles iam no nosso baile de nego soacute olhavam As festas duravam dias Tinha aquele foguetoacuterio era tatildeo bonito66

Percebe-se na fala dos moradores como esta divisatildeo racial se fazia presente

que havia por parte dos negros um profundo respeito pelos brancos mesmo eles

tendo acesso ao salatildeo Vera Cruz somente para servi-los em nenhum momento se

percebeu que eles se sentissem diminuiacutedos pela situaccedilatildeo ateacute pela cultura que

advinha desde os primeiros moradores locais

Esta divisatildeo social permanece por longo tempo e somente vai desaparecer

nos anos 80 do seacuteculo XX com a contribuiccedilatildeo do Frei Abiacutelio que veio da Vacaria

durante Missotildees convocadas pelo paacuteroco local padre Afonso que conseguiu

modificar esta organizaccedilatildeo implantando a ideia de igualdade e ignorando tudo

aquilo a partir de entatildeo os negros comeccedilaram a frequentar a sociedade Vera Cruz

contribuiccedilatildeo dos entrevistados67 que ao abordar o assunto demonstraram repulsa

pelo passado mas ao mesmo tempo reconhecem que o racismo ainda eacute presente

na comunidade poreacutem devido agraves leis existe um cuidado maior

Atualmente negros e brancos convivem em harmonia participam da festa

cristatilde cujo padroeiro eacute Satildeo Joatildeo de Deus e dos torneios de laccedilo mas geralmente

quem laccedila satildeo os fazendeiros Saudoso o morador68 afirma que ldquouma vez tinha as

carreradas tinha trecircs canchas passava o domingo nas canchas brincando nas

corridas de cavalos tudo terminourdquo Acrescenta69 ainda que ldquoem 70 80 tinha o

futebol o campo era na baixada acho que tem ainda trofeacuteu ai mas daiacute a gurizada

foi embora para a cidade terminou o timerdquo

A vila se construiu de maneira simples tendo a Igreja Catoacutelica com o Salatildeo

Paroquial agrave direita o antigo Centro de Tradiccedilotildees Gauacutechas Laccedilo Velho do Juaacute onde

resta apenas o preacutedio de madeira corroiacuteda pelo tempo ao fundo a cancha de laccedilo

do Piquete de Laccediladores Velho do Juaacute entidade tradicionalista que se manteacutem ativa

desde o iniacutecio da deacutecada de 1960 ao redor haacute casas de moradias que formam ao

centro uma grande praccedila sem nenhuma infraestrutura em frente a esta praccedila

66 SANTOS Deotildes Palhano dos Entrevista concedida agrave autora no dia 12 de maio de 2018 67 REIS Orides SANTOS Deotildes Palhano Entrevistas concedida agrave autora no dia 12 de maio de

2018 68 REIS Orides Entrevista concedida agrave autora no dia 12 de maio de 2018 69 REIS Orides Entrevista concedida agrave autora no dia 12 de maio de 2018

65

perpassa uma rua de chatildeo batido sendo que a escola da comunidade fica do outro

lado a escola eacute municipal se chama Bento Eziacutedio Rodrigues atende

aproximadamente vinte alunos que estatildeo matriculados nas seacuteries iniciais do ensino

fundamental tendo duas professoras e um funcionaacuterio para fazer merenda e limpar

o paacutetio como se pode observar na Figura 19

Figura 19 ndash Praccedila Vila do Distrito Juaacute ao fundo cancha de laccedilo

Fonte acervo pessoal da autora (2018)

Ambos os entrevistados70 explicam que o Juaacute atualmente eacute um lugar de

idosos aposentados que outrora as pessoas viviam das roccedilas e da pecuaacuteria

extensiva na deacutecada de 1980 com o advento da induacutestria em Caxias do Sul os

jovens abandonaram seu modo de vida e foram buscar novas oportunidades poreacutem

estes jovens que foram embora retornam com frequecircncia natildeo perdendo a sua

essecircncia Relataram que a uacutenica fonte de trabalho eacute ser peatildeo de fazenda fazendas

estas que produzem o queijo serrano ou vendem leite para a Piaacute71 sendo que a

lavoura eacute para subsistecircncia Outra fonte de renda eacute ser funcionaacuterio da serraria cujo

proprietaacuterio e Joatildeo Egiacutedio que funciona proacuteximo da vila Outro fator importante eacute a

venda de pequenas chaacutecaras para moradores de Caxias do Sul que vem aos finais

70 REIS Orides SANTOS Deotildes Palhano Entrevistas concedidas agrave autora no dia 12 de maio de

2018 71 Piaacute Cooperativa Agropecuaacuteria Petroacutepolis Ltda Empresa que faz a coleta do leite nas fazendas da

regiatildeo

66

de semana descansar na localidade poreacutem se percebe que estes novos moradores

muitas vezes natildeo interagem com os moradores locais

Segundo o morador Reis72 ldquoapesar da vinda de pessoas de outros lugares o

Juaacute natildeo perdeu sua identidade fala em Juaacute lembra pinhatildeo colheita do pinhatildeo ateacute

haacute uma criacutetica que diz na eacutepoca do pinhatildeo o juazeiro fala grossordquo Ditado que o

entrevistado73 reafirma sorrindo ldquona eacutepoca do pinhatildeo o juazeiro fala grosso claro

que eacute apenas um dito popular uma maneira de se referir mas sempre eacute dito haacute

aqueles que natildeo gostamrdquo

Nota-se que a vida na comunidade do Juaacute se passa de forma tranquila com

poucos moradores que sua identidade estaacute relacionada agrave pecuaacuteria extensiva com

as lides com o gado bem como ao pinhatildeo uma fruta tiacutepica que se desenvolve na

Araucaacuteria ou pinheiro nativo como eacute conhecido na regiatildeo O pinhatildeo seja ele

assado cozido ou paccediloca74 eacute muito consumido pelos moradores do interior de Satildeo

Francisco de Paula durante o inverno inclusive como mistura do cafeacute da manhatilde

46 DISTRITO DO RINCAtildeO DOS KROEFF

O distrito de Rincatildeo dos Kroeff foi criado em 10 de maio de 1950 Fica a 35

quilocircmetros distante da Sede poreacutem muito antes de se institucionalizar oficialmente

este espaccedilo moradores locais contam como tudo se iniciou

Meu avocirc foi um dos primeiros a vim para caacute ele se chamava Guilherme Faciole ele nasceu no navio vindo da Itaacutelia Ele contava que teve uma desavenccedila em Caxias e fincou o peacute pra caacute pra natildeo acharem ele que aqui era soacute mato e na revoluccedilatildeo de 35 ele fugia de casa para natildeo ser levado pelas tropas os piquetes levavam para combater entatildeo ele sempre dizia que pousou vaacuterias noites embaixo dos peraus da serra do Umbu para natildeo ser levado O falecido vovocirc vivia da caccedila do porco do mato tateti ele fazia charque de porco para ter a carne ele viveu 106 anos e dizia se natildeo tivesse fumado viveria mais uns dez isso faz parte da histoacuteria do Rincatildeo dos Kroeff Junto teve o falecido Acircngelo Menegaacutes que entro aqui na mesma eacutepoca Eles satildeo os fundadores do distrito75

O acesso ao distrito Rincatildeo dos Kroeff permanece totalmente pela estrada de

chatildeo batido sendo possiacutevel ir ao municiacutepio de Maquineacute descendo pela serra do

Umbu Poreacutem muito antes da estrada a busca de mantimentos e o escoamento da

72 REIS Orides Entrevista concedida agrave autora no dia 12 de maio de 2018 73 REIS Orides Entrevista concedida agrave autora no dia 12 de maio de 2018 74 Paccediloca carne de porco moiacuteda e frita no azeite ou banha a qual se acrescenta o pinhatildeo jaacute cozido

e moiacutedo 75 FACIOLE Reinaldo Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de marccedilo de 2018

67

produccedilatildeo se dava pelos carreiros visto que natildeo havia abertura de estrada e nem

viatura76 como os moradores relatam

Tudo era na tropeada as tropas que ia para Rolante Na tropeada saia um tropeiro na frente e um recircs com um cincerro que era a madrinheira da tropa saia laacute pelo Chuvisqueiro e saia laacute em Rolante perdia boi na estrada ficava semanas boi perdido agraves vezes nem se achava mais tambeacutem tinha tropa de porco e tinha as tropeadas de mula puxando milho feijatildeo trigo tudo produzido aqui e levado de cargueiro carreta era muito pouco porque natildeo tinha estrada para anda era soacute os trilhos pelo meio dos matos e campos e se produzia milho era o inverno inteiro saia tropas e mais tropas com trinta quarenta mulas burros transportando mantimentos da produccedilatildeo do gratildeo haacute tambeacutem tinha a flor de Pireto que era lucro ningueacutem conhece isso aiacute hoje essa flor era levada para Taquara e fazia veneno para formiga tudo que era tipo de veneno era uma flor muito toacutexica Acredita tropear galinha pois eacute a gente criava bastante saia com os cargueiros como era a vida eles faziam um girau no cesto naqueles balaios para fazer duas camas uma mais em cima e outra em baixo daiacute quando era veratildeo era muito quente tinha que no meio da viagem tirar de dentro do cesto botar na aacutegua na sanga para natildeo morrer ateacute chegar no mercado dali para praia a eacutepoca que mais vendia era novembro e dezembro daiacute tinha preccedilo bom tudo criada solta aviaacuterio nem se falava77

Ao ouvir os moradores se percebe que a construccedilatildeo do distrito aconteceu

devido ao esforccedilo e trabalho de muitas pessoas visto que o local era de mata nativa

densa e precisou ser desmatado para ser ocupado pelas pessoas Explica o

entrevistado Faciole78 ldquopara fazer uma lavoura tambeacutem precisava derrubar o

pinheiro seu Onorino Buffon me contou que faziam fogo ao redor do pinheiro eles

eram muito grosso para derrubar a machado entatildeo faziam fogo secavam para

depois fazer a roccedilardquo E a moradora79 local acrescenta ldquoaqui tambeacutem tinha os

barbacuazeiros produziam erva mais aqui eles soacute tiravam a erva e sapecavam e

depois ia para outro lugar industrializa tudo era diferenterdquo

Poreacutem segundo os moradores este modelo de vida rudimentar se modifica

com a chegada das serrarias sendo que a dos Kroeff foi a primeira juntamente com

a serraria se viu a necessidade da construccedilatildeo de novas casas para os

trabalhadores surgindo ali a vila do distrito Rincatildeo dos Kroeff no iniacutecio a serraria era

tudo manual relata Faciole80 ldquoa uacutenica forma de tira a madeira era com um enfieira

76 Viatura se refere a carro de passeio caminhotildees 77 FACIOLE Reinaldo FACIOLE Maria Madalena Scalco Entrevistas concedidas agrave autora no dia 18

de marccedilo de 2018 78 FACIOLE Reinaldo Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de marccedilo de 2018 79 FACIOLE Maria Madalena Scalco Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de marccedilo de 2018 80 FACIOLE Reinaldo Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de marccedilo de 2018

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de boi eu cheguei a ver cinco ternos de boi carreiro81 emendado puxando um

pinheiro eacute uma bicheira de boi natildeo tinha outra formardquo

Rincatildeo dos Kroeff eacute o menor distrito de Satildeo Francisco de Paula poreacutem em

suas terras se desenvolveu a cultura dos hortifrutigranjeiros desde muito cedo jaacute

que sua colonizaccedilatildeo eacute basicamente italiana e alematilde e os italianos tecircm a cultura do

plantio visando lucro A moradora Faciole82 afirma ldquotudo comeccedilou por aqui depois

se expandiu para o municiacutepio comeccedilamos com moranga branca depois repolho

couve broacutecolis alface e daiacute veio beterraba e tudo o restordquo Acrescenta ainda83 que

ldquodaqui saiacuteram os primeiros caminhotildees de hortifruacuteti do municiacutepio para a Ceasa teve

eacutepoca de sair quarenta caminhotildees por dia do Rincatildeo hoje natildeo sai mais porque

muitos foram buscar novos lugares para plantarrdquo E juntamente com a mudanccedila dos

proprietaacuterios em busca de novas terras muitos de seus funcionaacuterios foram embora

junto afirma em entrevista o morador local84 ldquomuita gente do Rincatildeo foi embora

muitas gurias foram embora para estudar para achar emprego e natildeo voltaram maisrdquo

Atraveacutes da fala da moradora pode-se observar que apesar do distrito ser

produtivo enfrenta algumas dificuldades com relaccedilatildeo ao estudo de seus moradores

que para continuarem seus estudos se assim o desejarem necessitam abandonar

seus pais e ir em busca na Sede ou arredores visto que no distrito existe uma uacutenica

escola Gastatilde Henth Esta eacute municipal e atende dos quatro anos ao nono ano do

ensino fundamental A moradora Faciole explica

O coleacutegio hoje tem 99 alunos ao total quando eles terminam o nono ano alguns vatildeo estudar mas satildeo pouquiacutessimos os outros ficam por aiacute mesmo natildeo tem um transporte que leve eles para fazer o ensino meacutedio na Sede que seria a escola de ensino meacutedio mais proacuteximo se quiser estudar vai ter que ir embora reforccedila quem e trabalhador fica trabalhando com os pais quem natildeo eacute [] As pessoas na sua grande maioria soacute tem o ensino fundamental aqui85

Este eacute um dos grandes problemas enfrentados pelos moradores do Rincatildeo

dos Kroeff a possibilidade de continuar estudando A escola que laacute existe os

moradores locais natildeo sabem precisar a data mas sabem que foi durante o mandato

81 Ternos de boi carreiro significam vaacuterias duplas de bois cangados e ligados por um pedaccedilo de

madeira que vatildeo na canga entre a dupla de bois Esse pau roliccedilo na regiatildeo se chama de cambatildeo 82 FACIOLE Maria Madalena Scalco Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de marccedilo de 2018 83 FACIOLE Maria Madalena Scalco Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de marccedilo de 2018 84 FACIOLE Reinaldo Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de marccedilo de 2018 85 FACIOLE Maria Madalena Scalco Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de maio de 2018

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do prefeito Escobar (1977-1982) que ela foi construiacuteda Neste contexto aparece

tambeacutem a dificuldade de se locomover fazendo uso do transporte puacuteblico

Haacute sete anos atraacutes o Rincatildeo estava bom mesmo tinha ocircnibus da praia agraves vezes passava quatro a cinco ocircnibus da praia tudo pela serra do Umbu Agora soacute tem um trecircs dias por semana As empresas deixaram de trafegar por aqui elas natildeo vatildeo descer numa serra de chatildeo batido sendo que tem a outra86 com asfalto87

Os moradores se orgulham da festa religiosa que acontece todos os anos em

agosto sendo que o santo padroeiro eacute Satildeo Roque A festa da comunidade

apresenta uma tradiccedilatildeo local muito interessante na segunda-feira apoacutes a festa ela

continua para os moradores locais que vatildeo ao salatildeo paroquial para se divertir entre

si e esta eacute uma tradiccedilatildeo que eacute comentada em todo o municiacutepio Faciole88 saudoso

afirma ldquopara ti ter uma ideia nessa festa chegava dar vinte poucos ocircnibus lotado que

vinham de outros municiacutepios como Igrejinha Taquara Porto Alegre Novo

Hamburgo o espaccedilo ficava pequenordquo Acrescenta89 ainda ldquoaqui noacutes tinha o Clube

Serrano que dava baile janta italiana dava um movimento louco mas terminou ateacute

o baile das rainhas cada ano era uma era tatildeo lindo mas tudo se acabourdquo

Figura 20 ndash Imagem da Igreja Satildeo Roque em dia de festa no Rincatildeo dos Kroeff

Fonte acervo pessoal da autora (2018)

86 A outra se refere a rodovia RS-453 conhecida como Rota do Sol 87 FACIOLE Reinaldo Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de marccedilo de 2018 88 FACIOLE Reinaldo Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de marccedilo de 2018 89 FACIOLE Reinaldo Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de marccedilo de 2018

70

Percebe-se que o distrito Rincatildeo dos Kroeff eacute o uacutenico que obteve em seu

iniacutecio uma colonizaccedilatildeo por descentes de italianos dentro do municiacutepio de Satildeo

Francisco de Paula o que demonstra o quatildeo forte se daacute a tradiccedilatildeo ldquoitalianardquo neste

local permanecendo intriacutenseca na vida cotidiana de seu povo com a cultura do

plantio de hortifrutigranjeiros que permanece apesar do tempo como sendo a sua

maior identidade local

47 DISTRITO DE LAJEADO GRANDE

Lajeado Grande em tempos idos pertenceu ao distrito de Cazuza Ferreira e

somente em 12 de dezembro de 1968 se tornou um distrito independente segundo

a Lei nordm 655 encontrada nos autos da Prefeitura Municipal de Satildeo Francisco de

Paula A vila do distrito Lajeado Grande fica distante 63 quilocircmetros da Sede e se

situa na confluecircncia do Arroio Porco Morto e o Rio Bururi Seu surgimento acontece

segundo o morador Fogaccedila90 ldquopor volta de 1940 com a abertura da estrada Canela

ndash Bom Jesus a atual RS-476 que corta a vila do Distritordquo Essa estrada segundo o

morador facilitou a locomoccedilatildeo que anteriormente era feita totalmente pelas trilhas e

picadas por onde somente se passava a cavalo ou de carreta E o entrevistado

explica como acontece o desenvolvimento inicial da vila

Tu sabe aqui tem o nome de Lajeado Grande por causa do rio que eacute cheio de lajes grandes o que facilitava a travessia e as terras aqui por roda era tudo do falecido Pequeno Cardoso ele doou parte para a construccedilatildeo da vila onde o falecido Leopoldino Cardoso irmatildeo do Pequeno tinha uma lsquobudega velharsquo91 por aqui sendo o primeiro comeacutercio da vila92

A abertura da estrada possibilitou o desenvolvimento da vila juntamente com

o Casaratildeo um hotel pensatildeo que foi construiacutedo as margens do Arroio Porco Morto

este Casaratildeo passou por diversos proprietaacuterios

Leopoldino Cardoso foi o idealizador do Casaratildeo juntamente com os seus soacutecios Heraacuteclito Andrade de Cardoso lsquoJoanitorsquo Joseacute Osoacuterio de Lima lsquoZecarsquo e Pequeno Cardoso sendo que o Casaratildeo era uma casa de negoacutecio compravam queijo couro era um comeacutercio forte vendia secos e molhados inclusive a primeira rodoviaacuteria foi instalada neste espaccedilo poreacutem em 1948 Joatildeo Pacheco Cardoso assume e amplia o estabelecimento construindo o segundo piso da casa de madeira e alugando para outros dois moradores

90 FOGACcedilA Blair dos Santos Entrevista concedida agrave autora no dia 06 de abril de 2018 91 Budega velha referindo-se a uma antiga casa de comeacutercio de secos e molhados localizada onde

hoje se encontra o armazeacutem Celeiro 92 FOGACcedilA Blair dos Santos Entrevista concedida agrave autora no dia 06 de abril de 2018

71

Eremi Terres e Claunir Lucena Com a reforma o Casaratildeo passa a ter treze quartos para aluguel uma loja onde encontrava-se tudo o que se necessitava de alfinete tecido alimentos e raccedilotildees aleacutem da ala que servia de moradia para os proprietaacuterios Em 1962 o estabelecimento eacute alugado para Eraldo Bento de Oliveira que aleacutem de gerenciar o estabelecimento colocou junto um bar local de encontro dos homens da redondeza para tomar um lsquotragorsquo93 (CERUTTI SILVA CARDOSO 2002 p 19)

Figura 21 ndash Imagem do Casaratildeo pouco antes de ser desmanchado

Fonte acervo pessoal de Fernando Oliveira (conhecido como Guego) (2018)

O Casaratildeo foi desmanchado na deacutecada de 1980 pelo entatildeo proprietaacuterio Reno

Pacheco Poreacutem percebe-se na vila que seus antigos moradores falam com certo

saudosismo deste estabelecimento que fez parte de suas vidas e chegam a

lamentar o seu fim morador Fogaccedila94 afirma ldquoali se fez o pastel mais famoso do

Lajeado Grande o pastel da Odila mas tudo se acabou quando eles entregaram e

construiacuteram laacute na esquinardquo95

Poreacutem a vila Lajeado Grande foi lentamente se desenvolvendo Devido agrave

necessidade da conservaccedilatildeo da nova estrada foi construiacuteda agraves margens do Rio

Bururi uma capatazia do DAER Segundo Cerutti Silva e Cardoso (2002 p 18) ldquoo

primeiro capataz foi Capitulino Prudecircncio de Oliveira vindo de Santa Catarina sua

funccedilatildeo era manter as estradas e chegou a ter vinte funcionaacuteriosrdquo Percebe-se que a

93 Trago expressatildeo local que significa beber uma cachaccedila 94 FOGACcedilA Blair dos Santos Entrevista concedida agrave autora no dia 06 de abril de 2018 95 Esquina eacute o nome dado a parte da vila do Lajeado Grande onde se daacute o entroncamento das

rodovias RS-453 e ERS-476

72

partir deste momento se inserem neste distrito pessoas advindas de outros estados

e locais visto que ateacute o presente momento o distrito era habitado por fazendeiros

naturais do proacuteprio municiacutepio e que tinham suas vidas ligadas diretamente agrave

pecuaacuteria extensiva e agrave produccedilatildeo do queijo serrano Importante destacar que a

esposa de Capitulino segundo Cerutti Silva e Cardoso (2002 p 18) ldquoa Celicina

Guilherme da Silva se torna uma figura conhecida por realizar partos sendo

chamada como parteira de campanhardquo Na atualidade filhos netos e bisnetos do

casal ainda residem na vila

A vila do Lajeado Grande tambeacutem recebe novos moradores com a praacutetica do

corte do pinheiro nativo sendo que na deacutecada de 1950 havia uma faacutebrica de

beneficiamento de madeira ateacute se transformar em pasta este material era levado

para Esteio onde funcionava agrave matriz A partir dos anos 1950 ocorre a instalaccedilatildeo de

serrarias sendo que a Madeireira Albeflor de propriedade de Valter Sguaizer se

instala em 1964 Novamente busca-se matildeo de obra em localidades proacuteximas como

Lagoa Vermelha Vacaria e Bom Jesus poreacutem com a proibiccedilatildeo da extraccedilatildeo de

madeira de lei a serraria deixou de funcionar

Percebe-se que no distrito natildeo houve uma homogeneizaccedilatildeo identitaacuteria visto a

influecircncia advinda de muitas culturas no passado atraveacutes da extraccedilatildeo de madeira

e na atualidade com o advento das lavouras de hortifrutigranjeiros e pomares

frutiacuteferos que ocupam boa parte do distrito substituindo a pecuaacuteria extensiva que jaacute

natildeo proporciona um lucro efetivo Entatildeo os proprietaacuterios na sua grande maioria

venderam ou arrendaram suas terras para novas culturas o que modifica o modo de

vida local pois grande parte dos trabalhadores adveacutem de outros estados como o

Paranaacute e tambeacutem se observa o uso da matildeo de obra indiacutegena

Essa miscigenaccedilatildeo se observa nas escolas locais visto que na vila funciona a

Escola Municipal D Pedro I que segundo Cerutti Silva e Cardoso (2002 p 35)

ldquoinicia em 1965 poreacutem a professora e o preacutedio eram mantidos pela Serraria mas na

deacutecada de 70 a prefeitura assumiu a escola sendo que Eloci Martim foi a primeira

professora da Serrariardquo Escola da Serraria como ainda eacute conhecida por boa parte

dos moradores locais apesar de a escola natildeo se encontrar mais onde havia a antiga

serraria Atualmente a Escola Dom Pedro I funciona em um preacutedio obtido atraveacutes da

Associaccedilatildeo de Moradores atendendo alunos da preacute-escola ateacute o sexto ano das

seacuteries finais tendo em seu quadro seis professores e duas funcionaacuterias Sendo que

73

a obra para um novo preacutedio teve iniacutecio neste ano mas percebe-se que a obra parou

por volta do mecircs de maio Poreacutem na vila tambeacutem se encontra uma escola estadual

A documentaccedilatildeo necessaacuteria para a criaccedilatildeo de uma nova escola na localidade foi elaborada por Manoel Cardoso de Andrade juntamente com a professora Odazilda Cardoso Demori e encaminhada agrave Secretaria da Educaccedilatildeo sendo que em 11 de fevereiro de 1953 foi criada a Escola Isolada de Lajeado Grande sendo os professores estaduais mas o preacutedio sob responsabilidade comunitaacuteria iniciou o seu funcionamento nas dependecircncias do DAER e somente em 1957 foi construiacutedo um preacutedio de madeira em terras doadas por Pequeno Cardoso local onde hoje ainda se encontra a escola poreacutem passou por muitas reformas sendo que em 2000 recebeu um novo preacutedio de alvenaria o que possibilitou a realizaccedilatildeo de um grande sonho dos professores e comunidade a implantaccedilatildeo do Ensino Meacutedio que concretizou-se em 200296

Atualmente a escola atende em torno de trezentos alunos da Educaccedilatildeo

Baacutesica poreacutem percebe-se que devido agraves safras de hortifrutigranjeiros o nuacutemero de

alunos se alterna durante o ano O que tambeacutem se percebe eacute o comportamento dos

alunos com relaccedilatildeo agrave diversidade cultural por exemplo usam bombacha laccedilam boi

de pau no recreio e escutam funk uma cultura totalmente diferente da tradicionalista

gauacutecha o que compreende-se como algo advindo da globalizaccedilatildeo cultural que

vivemos no mundo atual reforccedilando novamente o natildeo reconhecimento de uma

identidade forte na localidade

Poreacutem as famiacutelias tradicionais do local manteacutem fortemente arraigada a

cultura tradicionalista que adveacutem do homem do campo tendo no distrito festas

campeiras torneios de laccedilo e a festa religiosa uma vez por ano em homenagem ao

Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus padroeiro da vila

Na atualidade natildeo se percebe uma identidade forte e marcada no distrito e

sim uma miscigenaccedilatildeo de diferentes culturas e etnias que convivem e se integram

harmonicamente

96 CARDOSO Amaacutelia Celuderes Entrevista concedida agrave autora no dia 08 de marccedilo de 2018

74

5 DESCRICcedilAtildeO DO PRODUTO

O produto consiste em um livro paradidaacutetico sobre a histoacuteria de Satildeo Francisco

de Paula Apresenta de maneira didaacutetica a histoacuteria de Satildeo Francisco de Paula bem

como balotildees explicativos imagens sugestotildees de atividades e leituras

complementares Poderaacute servir de apoio pedagoacutegico a professores e alunos do

municiacutepio visto que existe pouco material sobre a histoacuteria deste municiacutepio e se faz

importante trabalhar a histoacuteria local percepccedilatildeo que a autora obteve ao longo da sua

caminhada como professora de histoacuteria que atua nas seacuteries finais do ensino

fundamental e meacutedio haacute dezessete anos na rede estadual do municiacutepio

Partir do local natildeo eacute abandonar o conhecimento histoacuterico eacute dar outro valor

sentido para este conhecimento Segundo Caimi

Levar em conta o universo da crianccedila ou do adolescente natildeo eacute pois abdicar do rigor intelectual [] mas garantir que a apropriaccedilatildeo deste conhecimento ocorra permeada de sentido e significado resultando em soacutelidas aprendizagens (CAIMI 2006 p 24)

Seguindo esta perspectiva a implantaccedilatildeo do Referencial Curricular Gauacutecho

embasado na Base Nacional Comum Curricular reforccedila a ideia jaacute discutida nos

paraacutegrafos anteriores

No que se refere especificamente ao componente Histoacuteria a base rompe tanto com a cronologia quanto agrave visatildeo eurocecircntrica da histoacuteria tradicional Entram em cena novos atores novas sociedades novos caminhos que sempre tiveram na histoacuteria mas nem sempre receberam a devida importacircncia Acompanhando a Base Nacional Comum Curricular o Referencial Curricular Gauacutecho no que se refere especificamente agrave disciplina de Histoacuteria manteacutem seu foco na aprendizagem dos alunos nos diferentes espaccedilos e tempos tendo a preocupaccedilatildeo de integrar o curriacuteculo com a diversidade regional de nosso Estado Tambeacutem eacute importante contemplar os temas integradores como eacutetica cidadania cultura e valorizaccedilatildeo das diversidades assegurando a multiplicidade de olhares sobre o mundo (RIO GRANDE DO SUL 2018 p 118)

Portanto o paradidaacutetico seraacute mais um material disponiacutevel aos professores e

estudantes da educaccedilatildeo baacutesica de Satildeo Francisco de Paula na construccedilatildeo do

conhecimento da histoacuteria do municiacutepio bem como o reconhecimento de sua

identidade neste material visto que se almeja que os estudantes percebam

vestiacutegios de sua identidade e se percebam como parte deste municiacutepio atraveacutes do

conhecimento de sua histoacuteria

75

O paradidaacutetico vem com o tiacutetulo rdquoTropeando histoacuterias em Satildeo Francisco de

Paulardquo sendo que a capa traz a foto do Monumento aos Carreteiros monumento

que se encontra na Avenida Juacutelio de Castilhos em frente ao preacutedio da Prefeitura

Municipal

Figura 22 ndash Capa do livro

Fonte Livro Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula

Na sequecircncia se apresenta o iacutendice que possibilita ao leitor localizar os

diversos temas abordados visto que existem nove capiacutetulos

76

Figura 23 ndash Iacutendice do livro

Fonte Livro Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula

77

O capiacutetulo um apresenta a localizaccedilatildeo de Satildeo Francisco de Paula com uma

seacuterie de mapas que facilitam a compreensatildeo espacial dos alunos assim como um

mapa da subdivisatildeo do municiacutepio em distrito Ao final satildeo sugeridas duas atividades

que podem ser desenvolvidas de maneira interdisciplinar com o apoio da professora

de arte geografia e portuguecircs

Figura 24 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 1)

Fonte Livro Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula

78

Figura 25 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 1)

Fonte Livro Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula

O capiacutetulo dois aborda a existecircncia indiacutegena em Satildeo Francisco de Paula

antes da chegada dos desbravadores vindos de Satildeo Paulo Como sugestatildeo de

atividades apresenta-se uma pesquisa sobre as diferentes tribos indiacutegenas que

habitavam a Proviacutencia de Satildeo Pedro aleacutem da criaccedilatildeo de um painel infograacutefico

79

Figura 26 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 2)

Fonte Livro Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula

No capiacutetulo trecircs se apresentam os primeiros donataacuterios colonizadores de Satildeo

Francisco de Paula com trecho de um testamento deixado por Pedro da Silva

Chaves o fundador de Satildeo Francisco de Paula bem como o mapa que localiza as

primeiras sesmarias que corresponde ao territoacuterio onde hoje eacute a Sede do municiacutepio

80

Figura 27 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 3)

Fonte Livro Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula

Nos capiacutetulos quatro e cinco eacute apresentado o desenvolvimento de Satildeo

Francisco de Paula ainda no seacuteculo XIX quando pertencia ao municiacutepio de Santo

Antocircnio da Patrulha e no final do seacuteculo XIX quando passa a pertencer ao entatildeo

81

municiacutepio de Taquara do Mundo Novo Existe tambeacutem um mapa que demonstra a

extensatildeo territorial de Santo Antocircnio da Patrulha e quais satildeo os municiacutepios hoje que

pertenceram a este bem como a importacircncia da abertura da estrada que liga Satildeo

Francisco de Paula a Taquara

Figura 28 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 4)

Fonte Livro Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula

82

Os capiacutetulos seis e sete apontam a construccedilatildeo do Municiacutepio a partir de sua

emancipaccedilatildeo em 1903 sua extensatildeo territorial e a diminuiccedilatildeo do seu territoacuterio ao

longo do tempo e a histoacuteria da Igreja Matriz Como sugestatildeo de atividade pesquisar

a diversidade religiosa existente na comunidade escolar e criar graacuteficos com essas

informaccedilotildees podendo a partir de entatildeo trabalhar com as questotildees religiosas ontem

e hoje no mundo

Figura 29 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 6)

Fonte Livro Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula

83

No capiacutetulo oito se apresenta o que difere os sete distritos de Satildeo Francisco

de Paula Este capiacutetulo se apresenta subdividido em sete subtiacutetulos onde cada um

corresponde a um distrito do municiacutepio Tendo como fonte principal as entrevistas

realizadas com moradores locais mesclado com fontes documentais e bibliograacuteficas

que corroboram para se perceber que haacute alguns distritos que manteacutem suas tradiccedilotildees

ao longo do tempo e eacute possiacutevel perceber que existe uma identidade que aproxima

aquela populaccedilatildeo

Figura 30 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 8)

Fonte Livro Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula

84

No uacuteltimo capiacutetulo o nove se exibe uma lista de sugestotildees de leituras

complementares a fim de se aprofundarem sobre determinados temas E por fim

as referecircncias utilizadas para a construccedilatildeo do paradidaacutetico Tropeando Histoacuterias em

Satildeo Francisco de Paula

Figura 31 ndash Atividade do livro (Sugestatildeo de Leituras Complementares)

Fonte Livro Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula

85

O produto foi testado em duas turmas da Educaccedilatildeo Baacutesica na Escola

Estadual de Ensino Meacutedio Lajeado Grande com o propoacutesito de avaliar qual seria a

reaccedilatildeo dos estudantes diante do material e por ele ter sido produzido por algueacutem

que convive com eles semanalmente A receptividade foi bastante gratificante como

se pode observar na Figura 32

Figura 32 ndash Alunos do Ensino Meacutedio

Fonte acervo pessoal da autora (2019)

A receptividade foi muito interessante visto que os estudantes

acompanharam a trajetoacuteria para chegar ao produto final algo que os deixava

ansiosos para manusear pois muitas vezes foram parceiros A autora foi

compartilhando com os estudantes as informaccedilotildees obtidas durante a pesquisa e as

descobertas encontradas usando em suas aulas a histoacuteria local para abordar os

diferentes temas e conceitos histoacutericos

Quando a autora apresenta o produto os estudantes do ensino meacutedio estes

formam grupos por distritos e buscam logo reconhecer no material sua identidade

apoacutes comentam sobre as peculiaridades de cada distrito Poreacutem os alunos do

ensino fundamental manuseiam o produto mas natildeo se deteacutem ao distrito em que

pertence e sim as imagens e as explicaccedilotildees apresentadas no vocecirc sabia

O que enriquece o trabalho realizado foi o envolvimento dos estudantes com

o produto solicitando quando poderatildeo ler calmamente todo o trabalho

86

6 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

A partir de experiecircncias pessoais em sala de aula se percebeu que o ensino

de Histoacuteria quando se partia da histoacuteria local havia maior interesse dos estudantes

da educaccedilatildeo baacutesica motivo pelo qual se deu a questatildeo-problema desta dissertaccedilatildeo

que estaacute relacionada diretamente com o natildeo uso desta histoacuteria pelos professores da

educaccedilatildeo baacutesica

Em conversas informais com professores da educaccedilatildeo baacutesica que atuam no

municiacutepio de Satildeo Francisco de Paula em sua grande maioria alegam que o grande

empecilho para se trabalhar a histoacuteria local eacute o pouco material disponiacutevel sobre a

histoacuteria de Satildeo Francisco de Paula aleacutem do rigor dos curriacuteculos que impotildeem o

ensino de Histoacuteria de maneira linear sem contextualizaccedilatildeo com a realidade vivida

pelos estudantes pois desta forma natildeo estatildeo preparando os estudantes para as

avaliaccedilotildees do Ministeacuterio da Educaccedilatildeo bem como para o vestibular Poreacutem natildeo se

estaacute afirmando que deveraacute estudar somente a histoacuteria local e sim partir dela como

incentivo para estudos dos conceitos e temaacuteticas da histoacuteria por muitas vezes

totalmente abstrato e de difiacutecil compreensatildeo pela grande maioria dos estudantes

A partir de entatildeo se realizaram inuacutemeros questionamentos como qual a

necessidade de se ensinar Histoacuteria de forma abstrata sem nenhuma relaccedilatildeo com

as vivecircncias dos estudantes Por que natildeo usar a fonte oral como metodologia de

pesquisa no ensino de Histoacuteria em Satildeo Francisco de Paula jaacute que natildeo existem

muitos materiais escritos a respeito desta histoacuteria principalmente no que tange os

distritos do interior Poreacutem estes questionamentos natildeo foram aprofundados na

dissertaccedilatildeo por natildeo ser o objetivo direto da pesquisa mas posteriormente poderaacute

se tornar um novo projeto de pesquisa

Nesta incessante busca por resposta se constroacutei todo o estudo desta

dissertaccedilatildeo que em um primeiro momento busca embasamento em diferentes

autores que comprovam que o ensino de Histoacuteria voltado para o local faz maior

sentido para os estudantes da educaccedilatildeo baacutesica e que isto natildeo significa abandonar

os conceitos histoacutericos e sim questionar analisar a trajetoacuteria humana no tempo e

no espaccedilo sob uma nova metodologia Apenas se sugere uma nova abordagem

que torne o ensino de Histoacuteria menos abstrato algo mais presente na vida do

estudante e que possibilite a ele a habilidade de perceber que o mundo estaacute em

constante mudanccedila poreacutem os fatos natildeo ocorrem de forma isolada no espaccedilo Algo

87

que foi reforccedilado apoacutes a construccedilatildeo da Base Nacional Curricular e o Referencial

Curricular Gauacutecho que vem de encontro com esta proposta de se estudar a histoacuteria

sobre novos olhares natildeo esquecendo das especificidades regionais do estado do

Rio Grande do Sul para o reconhecimento da identidade local e regional

A identidade local nesta pesquisa se buscou atraveacutes de relatos de

moradores locais que gentilmente colaboraram para o sucesso deste trabalho pois

a memoacuteria se tornou a fonte primordial para se escrever o que identifica os sete

distritos que constituem Satildeo Francisco de Paula Certamente a temaacutetica natildeo se

esgotou ainda haacute muito que se pesquisar e escrever sobre a histoacuteria de Satildeo

Francisco de Paula possibilitando a criaccedilatildeo de novos materiais que possam ser

usados em sala de aula pelos professores e alunos deste municiacutepio

Mas ao mesmo tempo haacute uma preocupaccedilatildeo por parte da autora nada

adianta criar produtos sinalizar novos meacutetodos ao ensino de Histoacuteria se o

profissional professor natildeo estiver preparado para trabalhar com novas fontes

histoacutericas novas metodologias de ensino proporcionando aos estudantes a

oportunidade de construir seu proacuteprio conhecimento histoacuterico embasado em sua

realidade e suas vivecircncias

Vivecircncias que se tornaram aliadas na pesquisa pois a autora nasceu e

sempre viveu no municiacutepio de Satildeo Francisco de Paula poreacutem a maior dificuldade

encontrada nesta caminhada foi percorrer grandes distacircncias por estradas de

rodagem em peacutessimas condiccedilotildees de trafegabilidade para gravar os relatos que

servem de base para a construccedilatildeo desta pesquisa O municiacutepio de Satildeo Francisco de

Paula eacute territorialmente extenso e essas distacircncias percorridas deram o nome ao

produto Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula como uma homenagem

aos antigos tropeiros deste municiacutepio que passavam boa parte de sua vida ao

lombo de mulas levando e buscando mercadorias pelos campos de cima da serra

Visto que desde o processo seletivo do mestrado em agosto de 2016

quando se apresentou o projeto de pesquisa jaacute se pensava no produto um livro

paradidaacutetico no formato fiacutesico A autora por diversas vezes foi questionada por que

natildeo um blog ou site Porque na forma fiacutesica este material seria de faacutecil manuseio

pelos estudantes e professores pois principalmente no interior uso da internet ainda

eacute um problema visto que em muitos locais natildeo existe sinal de telefonia diraacute

internet

88

O paradidaacutetico foi se moldando ao longo do tempo ateacute se chegar a versatildeo

final com uma ampla gama de informaccedilotildees e curiosidades sobre os sete distritos de

Satildeo Francisco de Paula onde se pretende que os alunos e professores possam

fazer uso deste material em sala de aula para tanto a autora pretende

posteriormente lanccedilar o produto para que possa ser lido e manuseado por todos

inclusive por aqueles que gostam de histoacuteria e sentem curiosidade sobre a formaccedilatildeo

do seu distrito e por conseguinte do municiacutepio de Satildeo Francisco de Paula

O paradidaacutetico foi testado em duas turmas da Escola Estadual de Ensino

Meacutedio Lajeado Grande sendo uma de Ensino Meacutedio e a outra das seacuteries finais do

Ensino Fundamental Os alunos jaacute detinham o conhecimento que a autora estava

cursando o Mestrado e que para sua conclusatildeo deveria apresentar um produto Era

de conhecimento de todos os estudantes que a autora estava produzindo um

paradidaacutetico sobre a histoacuteria de Satildeo Francisco de Paula pois a mesma eacute professora

destes estudantes nesta escola

Em um primeiro momento se explica que eacute apenas um protoacutetipo que

somente a capa estaacute colorida e o restante estaacute todo em preto e branco e que a

versatildeo final teraacute as imagens e as curiosidades coloridas o que com certeza

chamaraacute mais atenccedilatildeo Ao entregar o paradidaacutetico Tropeando Histoacuterias em Satildeo

Francisco de Paula para que possam manuseaacute-lo veio a primeira grande surpresa

os estudantes ficaram muito contentes por a turma ter sido escolhida pela autora

escolha essa que se justifica por ter trabalhado todo o ano de 2017 com estes

alunos partindo da histoacuteria local

A turma do oitavo ano do Ensino Fundamental manuseou sendo que os

alunos acharam interessante poreacutem se deteram mais nas imagens e balotildees do

ldquovocecirc sabiardquo Mas de maneira ampla e geral acharam muito interessante a foto de

capa com o Monumento aos Carreteiros situado na Avenida Juacutelio de Castilhos em

frente ao preacutedio da Prefeitura Municipal pois alguns natildeo conhecem a Sede do

municiacutepio

Os alunos do segundo ano do Ensino Meacutedio se surpreenderam e foram direto

ler sobre o distrito no qual residem Interessados questionaram sobre curiosidades

de como o material foi construiacutedo quais as maiores dificuldades encontradas

elogiaram o leiaute as imagens de fundo ao lado de cada curiosidade relatando que

chama a atenccedilatildeo aleacutem de considerarem relevantes as sugestotildees de atividades e

ao final solicitaram quando o material estaraacute disponiacutevel para que possam ler

89

integralmente visto que um periacuteodo de cinquenta minutos natildeo foi suficiente para que

todos manuseassem se fazendo necessaacuterio levar novamente na proacutexima aula

A autora se sentiu motivada pela recepccedilatildeo do produto por seus alunos o que

a incentiva continuar pesquisando sobre outras temaacuteticas a respeito da histoacuteria de

Satildeo Francisco de Paula trazendo para seu fazer pedagoacutegico novas fontes que

proporcionem um estudo da Histoacuteria de maneira ampla e contextualizada com a

realidade local que os cerca

90

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Jornal Satildeo Chico Tchecirc n 11 do dia 25 de maio de 1986

Jornal Satildeo Chico Tchecirc n 12 do dia 28 de maio de 1986

Jornal Pioneiro versatildeo digital do dia 02 de junho de 2017

Entrevistas

Amaacutelia Celuderes Cardoso residente no distrito de Lajeado Grande Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 08 de marccedilo de 2018

Blair dos Santos Fogaccedila residente no distrito de Lajeado Grande Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 06 de abril de 2018

Ceacutelia Pacheco Terres Basso residente no distrito de Cazuza Ferreira Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 04 de agosto de 2018

Darci da Silva Fagundes residente no distrito de Tainhas Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 24 de fevereiro de 2018

Deotildes Palhano dos Santos residente no distrito do Juaacute Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 12 de maio de 2018

Jaures Feijoacute Gomes residente no distrito de Eletra Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 15 de fevereiro de 2018

Luciana Olga Soares residente no distrito Sede Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 01 de marccedilo de 2018

Maria Madalena Scalco Faciole residente no distrito do Rincatildeo dos Kroeff Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 18 de marccedilo de 2018

Moacir Castello Branco de Albuquerque residente no distrito Sede Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 06 abril de 2018

95

Nauro Bossle de Andrade residente no distrito de Cazuza Ferreira Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 04 de marccedilo de 2018

Orides Reis residente no distrito do Juaacute Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 12 de maio de 2018

Reinaldo Faciole residente no distrito do Rincatildeo dos Kroeff Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 18 de marccedilo de 2018

Susana Marques Soares residente no distrito de Eletra Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 15 de fevereiro de 2018

96

APEcircNDICES

97

APEcircNDICE A ndash ENTREVISTA COM MORADORES LOCAIS DOS DISTRITOS DE

SAtildeO FRANCISCO DE PAULA

UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL

PROGRAMA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO EM HISTOacuteRIA ndash MESTRADO EM HISTOacuteRIA PROFISSIONAL

PESQUISA DE CAMPO ndash TATIANA MEacuteLO CARDOSO

1 Nome completo

2 Idade

3 Quantos anos reside neste distrito

4 Como se formou este distrito

5 Por que ele tem esse nome

6 Quem foram os primeiros moradores

7 Como era a vida aqui haacute tempos atraacutes

8 O que mudou aqui com o passar dos anos

9 O que identifica este lugar

10 As pessoas hoje que moram aqui na grande maioria satildeo naturais daqui ou vieram

de onde

11 A(o) Sra(Sr) acredita que as futuras geraccedilotildees valorizaram eou conheceram a

histoacuteria local ou vai se perder no tempo

12 Como funcionava a questatildeo do ensino em meados do seacuteculo XX havia escola na

localidade

13 Qual a primeira escola deste distrito data de fundaccedilatildeo local de funcionamento e a

primeira professora

14 Achas importante trabalhar nas escolas a histoacuteria do lugar

15 O que eacute tradiccedilatildeo deste distrito

16 Qual eacute a fonte de renda das pessoas no que elas trabalham

17 Qual eacute o lazer das pessoas aqui

98

APEcircNDICE B ndash TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Declaro por meio deste termo que concordei em ser entrevistado(a) eou participar na

pesquisa de campo referente ao projetopesquisa Ensino de Histoacuteria Local e o Paradidaacutetico

caso Satildeo Francisco de Paula desenvolvida pela aluna Tatiana Meacutelo Cardoso do Programa de

Poacutes-Graduaccedilatildeo em Histoacuteria ndash Mestrado Profissional da Universidade de Caxias de Sul Fui

informado(a) que poderei consultaacute-la a qualquer momento que julgar necessaacuterio atraveacutes do e-

mail t_ati_mhotmailcom

Afirmo que aceitei participar por minha proacutepria vontade sem receber qualquer

incentivo financeiro ou ter qualquer ocircnus e com a finalidade exclusiva de colaborar para o

sucesso da pesquisa Fui informado(a) dos objetivos estritamente acadecircmicos de estudo

Minha colaboraccedilatildeo natildeo ficaraacute anocircnima e foi realizada por meio de entrevista

semiestruturada A anaacutelise dos dados obtidos seratildeo divulgados natildeo permanecendo restritas

apenas a pesquisadora eou seu(s) orientador(es) coordenador(es)

Fui ainda informado(a) de que posso me retirar desse(a) estudopesquisa programa a

qualquer momento sem prejuiacutezo para meu acompanhamento ou sofrer quaisquer sanccedilotildees ou

constrangimentos Atesto recebimento de uma coacutepia assinada deste Termo de Consentimento

Livre e Esclarecido

Satildeo Francisco de Paula ___ de _____________ de ____

Assinatura do(a) participante

Assinatura do responsaacutevel

Page 2: UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL TATIANA MÉLO CARDOSO

TATIANA MEacuteLO CARDOSO

SAtildeO FRANCISCO DE PAULA

O ENSINO DE HISTOacuteRIA E A IDENTIDADE LOCAL

Dissertaccedilatildeo de mestrado apresentada ao Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Histoacuteria da Universidade de Caxias do Sul para a obtenccedilatildeo do tiacutetulo de Mestre em Histoacuteria

Orientadora Profordf Drordf Cristine Fortes Lia

CAXIAS DO SUL

2019

SAtildeO FRANCISCO DE PAULA

O ENSINO DE HISTOacuteRIA E A IDENTIDADE LOCAL

Tatiana Meacutelo Cardoso

Trabalho de Conclusatildeo de Mestrado submetido agrave Banca Examinadora designada pelo Colegiado do Programa de Poacutes - Graduaccedilatildeo em Histoacuteria da Universidade de Caxias do Sul como parte dos requisitos necessaacuterios para a

obtenccedilatildeo do tiacutetulo de Mestre em Histoacuteria Aacuterea de Concentraccedilatildeo Ensino de Histoacuteria Fontes e Linguagens Linha de Pesquisa Fontes e Acervos na Pesquisa e

Docecircncia em Histoacuteria

Caxias do Sul 5 de junho de 2019

Banca Examinadora

Dra Cristine Fortes Lia Universidade de Caxias do Sul

Dra Eliane Gasparini Xerri Universidade de Caxias do Sul

Dr Jorge Luiz da Cunha Universidade Federal de Santa Maria

Dedico esse estudo a todos que fizeram

parte desta caminhada

AGRADECIMENTOS

Agradeccedilo a Deus em primeiro lugar por ter me dado forccedila para me manter

firme no propoacutesito de concluir o mestrado

Aos meus pais Rivan e Benta que sempre estiveram ao meu lado me

apoiando minha eterna gratidatildeo Amo muito vocecircs

Ao meu esposo Norli que esteve presente em todos os momentos com

paciecircncia e muitas vezes me acompanhando durante as pesquisas para que natildeo

fosse soacute Te amo muito

Ao meu filho Bento Manoel pela compreensatildeo de ver sua matildee mergulhada

em livros em frente ao computador sem poder lhe dar muita atenccedilatildeo Minha razatildeo

de viver

Ao meu irmatildeo Tarciano que sempre me incentivou para que fizesse o

mestrado Muito obrigada por suas palavras

Agrave minha orientadora Professora Dra Cristine pelos ensinamentos prestados

por ter me oportunizado vivecircncias tatildeo ricas que com certeza muito colaboraram

para o sucesso desta pesquisa Minha eterna gratidatildeo

Aos professores do Mestrado pelos ensinamentos prestados com certeza

muito agregaram em minha vida profissional A vocecircs meu carinho

Aos entrevistados Sr Dr Moacir Sr Orides Sr Jaures Sr Blair Sr Nauro

Sr Darci Sr Reinaldo e a Sra Susana Sra Luciana Sra Deotildes Sra Ceacutelia Sra

Amaacutelia Celuderes e Sra Maria Madalena pelo apoio recebendo-me em suas

residecircncias e colaborando com esta pesquisa Sem a colaboraccedilatildeo de vocecircs esse

trabalho seria mais difiacutecil A vocecircs meu muito obrigado

Agrave minha amiga Lisandra que sempre me apoiou com suas palavras de

carinho dando-me coragem para prosseguir Agradeccedilo pela sua amizade

E por fim aos meus alunos que compartilharam muitas vezes as minhas

anguacutestias meu cansaccedilo mas sempre me apoiaram Em especial aqueles que

testaram o produto por suas doces palavras Meu eterno agradecimento

RESUMO

A presente dissertaccedilatildeo aborda o ensino de Histoacuteria em Satildeo Francisco de Paula Rio Grande do Sul tendo como princiacutepio que o ensino de Histoacuteria partindo do local se torna mais significativo aos estudantes da educaccedilatildeo baacutesica Para a construccedilatildeo dessa pesquisa se utilizaram diferentes abordagens metodoloacutegicas tais como documentos da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul jornais fontes bibliograacuteficas imagens e depoimentos orais O estudo procurou abordar a construccedilatildeo do municiacutepio bem como o que identifica os sete distritos pertencentes a Satildeo Francisco Paula Como resultado se cria um paradidaacutetico fiacutesico com textos imagens curiosidades sugestotildees de atividades e leituras complementares que serviraacute de apoio pedagoacutegico aos professores e estudantes da educaccedilatildeo baacutesica Espera-se que este material possa servir de pesquisa a todos os interessados

Palavras-chave Ensino de Histoacuteria Satildeo Francisco de Paula Identidade

ABSTRACT

This dissertation deals with History teaching in Satildeo Francisco de Paula Rio Grande do Sul with the principle that History Teaching from the place becomes more meaningful to students of basic education For the construction of this research different methodological approaches are used such as documents of the Legislative Assembly of Rio Grande do Sul newspapers bibliographic sources images and oral testimony The study sought to address the construction of the municipality as well which identifies the seven districts belonging to San Francisco Paula As a result a physical paradidaacutetico is created with texts images curiosities suggestions of activities and complementary readings that will serve as pedagogical support to teachers and students of basic education It is hoped that this material can serve as a research to all interested parties

Keywords Teaching History Satildeo Francisco de Paula Identity

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 ndash Mapa de Identificaccedilatildeo das Sesmarias Serranas 26

Figura 2 ndash Divisatildeo Municipal em 1809 ndash Proviacutencia Satildeo Pedro do Rio Grande do Sul

28

Figura 3 ndash Vista da vila de Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra (1901) 29

Figura 4 ndash Vista Avenida Juacutelio de Castilhos (1923) 30

Figura 5 ndash Abertura da estrada ERS-020 Taquara ndash Satildeo Francisco de Paula de

Cima da Serra 31

Figura 6 ndash Accedilougue Central 33

Figura 7 ndash Igreja Matriz em 1931 34

Figura 8 ndash Igreja Matriz 34

Figura 9 ndash Mapa de localizaccedilatildeo de Satildeo Francisco de Paula 36

Figura 10 ndash Patroa Neuza Reis e sua Comissatildeo 39

Figura 11 ndash Gonzaga dos Reis 48

Figura 12 ndash Outdoor entrada da cidade na ERS-020 50

Figura 13 ndash Praccedila Central de Cazuza Ferreira 52

Figura 14 ndash Hotel do Campo 54

Figura 15 ndash Flacircmula de comemoraccedilatildeo aos 50 anos da entidade 57

Figura 16 ndash Barragem do Salto 58

Figura 17 ndash Igreja Santo Antocircnio ndash Distrito de Eletra 61

Figura 18 ndash Peacute com a fruta conhecido como Juaacute 63

Figura 19 ndash Praccedila Vila do Distrito Juaacute ao fundo cancha de laccedilo 65

Figura 20 ndash Imagem da Igreja Satildeo Roque em dia de festa no Rincatildeo dos Kroeff 69

Figura 21 ndash Imagem do Casaratildeo pouco antes de ser desmanchado 71

Figura 22 ndash Capa do livro 75

Figura 23 ndash Iacutendice do livro 76

Figura 24 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 1) 77

Figura 25 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 1) 78

Figura 26 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 2) 79

Figura 27 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 3) 80

Figura 28 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 4) 81

Figura 29 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 6) 82

Figura 30 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 8) 83

Figura 31 ndash Atividade do livro (Sugestatildeo de Leituras Complementares) 84

Figura 32 ndash Alunos do Ensino Meacutedio 85

SUMAacuteRIO

1 INTRODUCcedilAtildeO 11

2 HISTOacuteRIA LOCAL E O ENSINO DE HISTOacuteRIA NA SALA DE AULA 17

3 SAtildeO FRANCISCO DE PAULA CONSTRUCcedilAtildeO DO MUNICIacutePIO 24

31 CONVERSA COM MEMORIALISTAS 25

32 AMPLIANDO O DIAacuteLOGO COM OS MEMORIALISTAS 28

4 SAtildeO FRANCISCO DE PAULA DISTRITOS EM FOCO 41

41 DISTRITO SEDE 42

42 DISTRITO DE CAZUZA FERREIRA 51

43 DISTRITO DE TAINHAS 55

44 DISTRITO DE ELETRA 58

45 DISTRITO DO JUAacute 62

46 DISTRITO DO RINCAtildeO DOS KROEFF 66

47 DISTRITO DE LAJEADO GRANDE 70

5 DESCRICcedilAtildeO DO PRODUTO 74

6 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 86

REFEREcircNCIAS 90

FONTES CONSULTADAS 94

APEcircNDICES 96

APEcircNDICE A ndash ENTREVISTA COM MORADORES LOCAIS DOS DISTRITOS DE

SAtildeO FRANCISCO DE PAULA 97

APEcircNDICE B ndash TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO 98

11

1 INTRODUCcedilAtildeO

Os meacutetodos de ensino de Histoacuteria no Brasil vem sendo discutidos desde sua

criaccedilatildeo como disciplina Segundo Nadai (1992-1993 p 144) a introduccedilatildeo de

Histoacuteria no curriacuteculo ocorre na terceira metade do seacuteculo XIX no Brasil sendo que

desde entatildeo passa por diversas modificaccedilotildees Segundo Schmidt e Cainelli (2009)

os meacutetodos foram se adequando ao momento histoacuterico brasileiro em um primeiro

momento ensinou-se a histoacuteria da Europa Ocidental como a verdadeira histoacuteria da

civilizaccedilatildeo uma histoacuteria abstrata sem relaccedilatildeo com a vida do aluno Nadai (1992-

1993 p 146) acrescenta que ldquoa histoacuteria da paacutetria surgia como seu apecircndice sem

corpo autocircnomo e ocupando um papel extremamente secundaacuterio consistia num

repositoacuterio de biografias de homens ilustres de datas e batalhasrdquo

Poreacutem a partir de 1860 segundo Schmidt e Cainelli (2009 p 12-13) ldquono

periacuteodo republicano a incorporaccedilatildeo da concepccedilatildeo de que a disciplina Histoacuteria tinha

a responsabilidade de formar cidadatildeos ganha forccedilardquo sendo assim as escolas

primaacuterias e secundaacuterias comeccedilaram incluir em seus programas a histoacuteria nacional

com o intuito da formaccedilatildeo da nacionalidade sendo a paacutetria com seus heroacuteis o

principal foco Desta forma a criaccedilatildeo das diretrizes da Lei de Educaccedilatildeo nordm 569271

reforccedila o modelo jaacute instaurado

Foi oficializado o ensino de Estudos Sociais nas escolas brasileiras ficando os conteuacutedos especiacuteficos da Histoacuteria destinados somente aos alunos do antigo segundo grau A concepccedilatildeo e os conteuacutedos da Histoacuteria continuavam atrelados agraves concepccedilotildees tradicionais (SCHMIDT CAINELLI 2009 p 13)

Com a redemocratizaccedilatildeo na deacutecada de 1980 houve inuacutemeras discussotildees

que elencaram inuacutemeras abordagens e temaacuteticas para o ensino da Histoacuteria na

atualidade as novas tendecircncias se preocupam com a transposiccedilatildeo didaacutetica

valorizando documentos histoacutericos e incorporando novas linguagens e tecnologias

que permitem discussotildees e autonomia de pensamento Neste sentido as novas

concepccedilotildees de ensino de Histoacuteria ao final do seacuteculo XX abrem a possibilidade de

uma nova praacutetica didaacutetica que segundo Azevedo e Stamatto (2010 p 709) ldquobusca

problematizar a relaccedilatildeo passado-presente e em geral tomam a realidade do aluno

como ponto de partidardquo

Por se acreditar em um ensino de Histoacuteria onde a aprendizagem natildeo ocorre

em periacuteodos estanques de forma abstrata e sem relaccedilatildeo com o presente ou seja

12

apresentando de forma linear sem que haja contextualizaccedilatildeo sendo apresentada

atraveacutes de leitura de textos eou resumos permeando com atividades que muitas

vezes natildeo permitem um desenvolvimento de raciociacutenio histoacuterico que contribua para

a construccedilatildeo da cidadania Torna-se urgente pensar em um ensino voltado para a

inclusatildeo de novas contribuiccedilotildees historiograacuteficas como a histoacuteria cultural econocircmica

e social buscando na realidade local subsiacutedios para a aprendizagem Por isso a

presente dissertaccedilatildeo traz a didatizaccedilatildeo da histoacuteria de Satildeo Francisco de Paula visto

que a questatildeo-problema estaacute vinculada ao natildeo uso da histoacuteria local no ensino de

Histoacuteria deste municiacutepio e o pouco material disponiacutevel para o uso dos professores

Parte-se do pressuposto que ao abranger a histoacuteria local os sujeitos se veem como

partiacutecipes desta histoacuteria estudada significando e ressignificando conceitos

histoacutericos

Corroborando com este estudo Cunha (2016) traz consideraccedilotildees importantes

relacionadas ao uso da histoacuteria local O autor aborda como algo essencial para

compreensatildeo da histoacuteria geral na educaccedilatildeo baacutesica o uso da histoacuteria local o que

proporcionaria aos estudantes o reconhecimento como cidadatildeo e a percepccedilatildeo e

identificaccedilatildeo dos lugares de memoacuteria por parte dos alunos bem como o sentimento

de pertencimento do local Desta forma despertaria no aluno o interesse por um

passado aparentemente desligado de sua realidade estabelecendo relaccedilotildees com o

seu cotidiano

Desta maneira acredita-se que os estudantes da educaccedilatildeo baacutesica

compreenderatildeo a histoacuteria como algo que faz parte de suas vidas tornando-se assim

sujeitos da histoacuteria pois se haacute reconhecimento haveraacute tambeacutem o sentimento de

pertencimento que poderaacute ajudaacute-los a manter ou modificar a realidade que os cerca

Assim descrevem Schmidt e Cainelli

Esse sentido do ensinar Histoacuteria natildeo significaria natildeo ter conteuacutedos para serem ensinados mas olhar para estes conteuacutedos a partir da possibilidade de construir com os alunos novas questotildees diante de conteuacutedos e temas propostos pela historiografia Aprender histoacuteria eacute discutir evidecircncias levantar hipoacuteteses dialogar com os sujeitos os tempos e os espaccedilos histoacutericos Eacute olhar para o outro em tempos e espaccedilos diversos (SCHMIDT CAINELLI 2009 p 20)

Dentro desta perspectiva o reconhecimento da memoacuteria social se faz

importante visto que se necessita invocaacute-la para que um determinado grupo ou local

reconheccedila sua identidade social Atraveacutes de entrevistas com moradores de Satildeo

13

Francisco de Paula se invoca a memoacuteria coletiva na busca da identidade dos sete

distritos deste municiacutepio Visto que a histoacuteria de Satildeo Francisco de Paula se inicia por

volta do seacuteculo XVIII quando se datam as primeiras sesmarias1 concedidas ao

capitatildeo Pedro da Silva Chaves Posteriormente o capitatildeo doa parte de suas terras

para a construccedilatildeo do povoado que recebe o nome de Satildeo Francisco de Paula de

Cima da Serra por este ser devoto do Santo Satildeo Francisco Reza no testamento do

capitatildeo Pedro da Silva Chaves que um de seus filhos foi o primeiro paacuteroco a rezar

missa no povoado Satildeo Francisco de Paula pertenceu a Santo Antocircnio da Patrulha

e mais tarde a Taquara emancipando-se em 1902

Haacute pouca bibliografia sobre a histoacuteria de Satildeo Francisco de Paula o que existe

satildeo livros escritos por memorialistas onde se percebe a prioridade pela histoacuteria do

fundador ou seja do Capitatildeo Pedro da Silva Chaves dos iacutendios Caaguaraacutes que

habitavam a regiatildeo assim como os aspectos poliacuteticos administrativos Alguns destes

livros apresentam uma siacutentese cronoloacutegica de fatos importantes e descrevem

superficialmente o jeito de viver do povo serrano2 Mas a histoacuteria de Satildeo Francisco

de Paula estaacute repleta de diferentes identidades que identificam a Sede3 e o Interior4

deste municiacutepio e formam o jeito de viver do seu povo A natildeo exploraccedilatildeo de

elementos culturais que se fazem importantes para a construccedilatildeo de identidade

destes lugares minimiza as memoacuterias e as tradiccedilotildees que ali se apresentam visto

que

as constantes novidades em diferentes campos do saber os avanccedilos da tecnologia as infinitas possibilidades de comunicaccedilatildeo simultacircnea tecircm provocado sobretudo nas novas geraccedilotildees uma sensaccedilatildeo de que o mundo em que se vive eacute dotado de um temporalidade constituiacuteda por um tempo presente contiacutenuo (FIGUEIRA MIRANDA 2012 p 46)

Neste sentido fez-se uso de diferentes fontes para a construccedilatildeo do produto

desta dissertaccedilatildeo que consiste de um paradidaacutetico que possa servir como um

1 Sesmaria Terreno sem culturas ou abandonado que a antiga legislaccedilatildeo portuguesa com base em

praacuteticas medievais determinava que fosse entregue a quem se comprometesse a cultivaacute-lo 2 Serrano gentiacutelico de quem nasce em Satildeo Francisco de Paula 3 Sede distrito criado em 07 de janeiro de 1903 na mesma data da instalaccedilatildeo oficial do Municiacutepio Eacute

o distrito onde se localiza a Prefeitura Municipal Foacuterum agecircncias bancaacuterias loteacutericas hospital casas comerciais e residecircncias particulares Normalmente os moradores do interior quando vatildeo ao distrito se referem como ldquovou a Satildeo Chicordquo e natildeo como ldquovou a Sederdquo

4 Interior Cazuza Ferreira Juaacute Eletra Rincatildeo dos Kroeff Tainhas e Lajeado Grande satildeo distritos que ficam na zona rural apesar de todos terem uma pequena vila que possui pouca infraestrutura Alguns destes distritos ainda usam aacutegua de vertentes sem nenhuma rede de esgoto pois natildeo possuem aacutegua fornecida pela Companhia de Aacutegua e Saneamento (CORSAN)

14

material disponiacutevel a alunos e professores no ensino de Histoacuteria de Satildeo Francisco

de Paula Segundo Munakata entendem-se como paradidaacuteticos

Livros que sem apresentar caracteriacutesticas proacuteprias dos didaacuteticos satildeo adotados no processo de ensino e aprendizagem nas escolas seja como material de consulta do professor seja como material de pesquisa e de apoio agraves atividades do educando (MUNAKATA 1997 p 103)

Para a construccedilatildeo do paradidaacutetico fez-se uso de bibliografias jaacute existentes

jornais e documentos da Assembleia da Legislativa bem como o uso da histoacuteria

oral sendo as entrevistas a fonte primordial para escrever sobre as semelhanccedilas e

diferenccedilas existentes no modo de vida da populaccedilatildeo de Satildeo Francisco de Paula

visto que os depoimentos satildeo importantes na preservaccedilatildeo das memoacuterias tradiccedilotildees

bem como das heranccedilas identitaacuterias Neste sentido Delgado (2003 p 23) discorre

ldquonarrativas memoacuterias histoacuterias e identidades satildeo a humanidade em movimento

Satildeo o olhar que permeiam tempos heterogecircnicos Satildeo a histoacuteria em construccedilatildeo Satildeo

memoacuterias que falamrdquo

Portanto a histoacuteria oral busca registrar as vivecircncias e lembranccedilas de um

determinado grupo Alberti (2008 p 29) assim define ldquohistoacuteria oral natildeo eacute um fim em

si mesma e sim um meio de conhecimentordquo Quando se trabalha com a histoacuteria

oral se faz necessaacuterio valorizar a memoacuteria as identidades e tradiccedilotildees pois estas

formam a histoacuteria local ou seja a histoacuteria dos indiviacuteduos que ali vivem Halbwachs

(2004) afirma que com a perda da memoacuteria coletiva tambeacutem se perdem as

tradiccedilotildees locais tradiccedilotildees essas que identificam o modo de viver de um determinado

local Hobsbawn e Ranger entendem que as tradiccedilotildees podem ou natildeo ser

inventadas

Tradiccedilatildeo inventada entende-se um conjunto de praacuteticas normalmente reguladas por regras taacutecitas ou abertamente aceitas tais praacuteticas de natureza ritual ou simboacutelica visam inculcar certos valores e normas de comportamento atraveacutes da repeticcedilatildeo o que implica automaticamente uma continuidade com relaccedilatildeo ao passado (HOBSBAWN RANGER 2015 p 8)

Hobsbawn e Ranger (2015) ainda acrescem que a criaccedilatildeo de uma tradiccedilatildeo

independe da imposiccedilatildeo de uma nova tradiccedilatildeo o que normalmente ocorre eacute uma

rebeliatildeo cultural que precede da elaboraccedilatildeo de novas tradiccedilotildees que satildeo adotadas

pela populaccedilatildeo e com o tempo passam a se tornar tradiccedilotildees daquele local

formando a identidade local

15

Neste sentido Hall (2011 p 39) discorre que ldquoas identidades satildeo fabricadas

por meio da marcaccedilatildeo da diferenccedilardquo O autor ainda acresce que ldquoa diferenccedila eacute aquilo

que separa uma identidade da outrardquo (HALL 2011 p 41) Dentro desta perspectiva

a memoacuteria que se apresenta atraveacutes de siacutembolos ou tradiccedilotildees respalda a

construccedilatildeo da identidade do povo de Satildeo Francisco de Paula visto que a memoacuteria eacute

a construccedilatildeo do passado de maneira atualizada e renovada no tempo presente

Assim Halbwachs (2004 p 64) descreve que ldquonatildeo eacute na histoacuteria aprendida eacute na

histoacuteria vivida que se apoia nossa memoacuteriardquo Nessa loacutegica o autor ainda descreve

que ldquoo mundo histoacuterico eacute como um oceano onde afluem todas as histoacuterias parciaisrdquo

(p 90)

O municiacutepio de Satildeo Francisco de Paula eacute repleto de tradiccedilotildees que perpassam

o tempo que estatildeo enraizadas no jeito serrano de ser formando a sua identidade

Portanto a histoacuteria de Satildeo Francisco de Paula descrita nesta dissertaccedilatildeo seraacute

apresentada em quatro capiacutetulos

O capiacutetulo dois apresenta a discussatildeo teoacuterica metodoloacutegica sobre a

importacircncia do ensino da Histoacuteria local na sala de aula Tambeacutem conceitos como

memoacuteria e identidade e a importacircncia de se abordar o local em prol do global

No capiacutetulo trecircs aborda-se a construccedilatildeo histoacuterica do municiacutepio de Satildeo

Francisco de Paula que vai desde a chegada do colonizador nesta terra ateacute as

instituiccedilotildees que se formam ao longo do tempo Para isso se faz uso de bibliografias

jaacute existentes como Lucena (1971) Oliveira (1996) Teixeira (2002) Ribeiro (2003)

Alves (2007) e Fonseca (2012) sendo todas essas obras importantes para Satildeo

Francisco de Paula visto que cada uma traz consigo um pouco da histoacuteria deste

municiacutepio poreacutem sente-se falta da identidade e da memoacuteria na construccedilatildeo histoacuterica

As obras satildeo apresentadas sob o mesmo prisma apresentando os iacutendios Caaguaraacutes

e o Capitatildeo Pedro da Silva Chaves os fundadores desta terra dando bastante

ecircnfase aos sobrenomes que ali se desenvolveram Tambeacutem se fez uso de

documentos da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul aleacutem de jornais

encontrados no Arquivo Histoacuterico de Satildeo Francisco de Paula

No capiacutetulo quatro utiliza-se da fonte oral para que sejam identificadas as

diferentes tradiccedilotildees e versotildees da histoacuteria local ou seja a identidade de cada distrito

constituindo assim as particularidades que constroem o municiacutepio de Satildeo Francisco

de Paula Para tanto buscaram-se depoentes nas vilas dos distritos sendo que a

escolha se deu por duas pessoas por distrito sendo um homem e uma mulher

16

totalizando treze depoentes todos da terceira idade pois segundo Bosi (1994 p

82) ldquoum mundo social que possui uma riqueza e uma diversidade que natildeo

conhecemos pode chegar-nos pela memoacuteria dos velhosrdquo memoacuterias estas

construiacutedas por suas vivecircncias neste local o que justifica a relevacircncia dos

depoimentos para a construccedilatildeo do trabalho

O capiacutetulo cinco apresenta uma descriccedilatildeo do produto que consiste em um

paradidaacutetico em forma fiacutesica abordando a histoacuteria de Satildeo Francisco de Paula A

escolha pelo formato fiacutesico acontece pelas dificuldades encontradas no interior dos

distritos com o acesso agrave internet assim se pensa que o formato fiacutesico abrangeraacute um

nuacutemero maior de alunos e professores

Para tanto utiliza-se a metodologia da Histoacuteria oral para escrever a memoacuteria

e as percepccedilotildees das pessoas que habitam este local Hobsbawn e Ranger (1995 p

103) escrevem que ldquoessa proximidade entre o periacuteodo analisado e sua histoacuteria

pessoal eacute o pano de fundo para a discussatildeo de alguns problemas que qualquer

historiador enfrenta ao escrever sobre seu proacuteprio tempordquo pois a sensibilidade do

historiador vai escrever sua narrativa Em outras palavras Hobsbawn e Ranger

(1995 p 104) explicam que ldquocada historiador tem sua proacutepria vida um lugar privado

a partir do qual inspeciona o mundordquo Tambeacutem afirmam

Para aqueles que querem escrever a histoacuteria do seacuteculo XX uma das mais importantes reside no simples fato de saber sem nenhum esforccedilo especial o quanto as coisas se modificaram Os uacuteltimos trinta ou quarenta anos foram os mais revolucionaacuterios da histoacuteria O mundo ou seja a vida dos homens e mulheres que vivem na Terra nunca foi transformada de maneira tatildeo profunda dramaacutetica e extraordinaacuteria dentro de um periacuteodo tatildeo curto As geraccedilotildees que natildeo viram como o mundo era antes tecircm dificuldade em perceber isso intuitivamente (HOBSBAWN RANGER 1995 p 107)

Portanto se faz importante perceber que o mundo vem se transformando de

maneira raacutepida modificando a vida das pessoas e por conseguinte as tradiccedilotildees e

identidades locais pois estas comunidades natildeo vivem de forma isolada e sofreram

influecircncias jaacute que a cultura natildeo eacute estagnada estaacute sempre em constante movimento

juntamente com as pessoas

17

2 HISTOacuteRIA LOCAL E O ENSINO DE HISTOacuteRIA NA SALA DE AULA

Discutir o ensino de Histoacuteria na educaccedilatildeo baacutesica e a relaccedilatildeo do mesmo com a

histoacuteria local se faz bastante importante para que a cada dia se possa melhorar as

praacuteticas pedagoacutegicas Neste sentido se busca respaldo em diferentes bibliografias

que possam embasar novos afazeres dentro do espaccedilo da sala de aula e

proporcionar ao estudante um novo olhar sobre a histoacuteria um olhar de sujeito ativo

dentro desse processo de ensino aprendizagem

Pois quando a Histoacuteria eacute ensinada como algo certo e imutaacutevel de maneira

fragmentada voltada para linearidade e memorizaccedilatildeo de fatos e datas reforccedila o

que Mendes (1935) e Schmidt e Cainelli (2009) defendem que realmente eacute odiosa a

histoacuteria ensinada por este vieacutes Percebe-se que o ensino de histoacuteria linear nos

moldes europeus positivistas jaacute natildeo daacute mais conta da importacircncia da histoacuteria para a

sociedade atual porque eacute apresentada aos alunos atraveacutes de datas e fatos escrita

pelo vieacutes de uma elite que normalmente eacute branca e deteacutem o poder poliacutetico eou

econocircmico Eacute inconcebiacutevel que se permaneccedila com um ensino de Histoacuteria que natildeo

serve natildeo motiva e segundo Ruumlsen (2001 p 25) ainda ldquoirracionalizardquo sendo esse

modelo muito frequente nas escolas de educaccedilatildeo baacutesica brasileiras

Natildeo eacute por outro motivo que observamos ainda nas uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo XX que para a maior parte dos estudantes brasileiros o estudo de histoacuteria carece de sentido ou utilidade natildeo se tem a visatildeo de ciecircncia e sim de uma mateacuteria decorativa estudo do passado que soacute exige como vimos a prontidatildeo em declinar nomes datas e fatos Natildeo eacute de se estranhar que assim seja porque ocorre a enorme distacircncia entre a realidade vivenciada pela comunidade e o tratamento dado ao ensino de Histoacuteria jaacute que o aluno se torna mero espectador de fatos natildeo necessitando esforccedilos no sentido de qualquer reflexatildeo ou elaboraccedilatildeo (BARBOSA 2006 p 58)

O ensinar da histoacuteria de forma abstrata fragmentada dificulta a compreensatildeo

do processo histoacuterico no sentido que se estuda os fatos isolados ao seu tempo

como se um fato precisasse terminar para iniciar outro Em outras palavras este

meacutetodo de ensino natildeo daacute a noccedilatildeo de continuidade ou seja a histoacuteria perdeu seu

sentido baacutesico que eacute a compreensatildeo do contexto global dos fatos considerando que

o ensino de Histoacuteria por muitas vezes eacute estanque sem uma relaccedilatildeo ldquopresente x

passadordquo sendo de suma importacircncia o despertar de uma consciecircncia criacutetica por

parte do estudante Por isso ao longo do tempo o ensino sofre influecircncia por parte

do ldquopoderrdquo segundo Laville (1999 p 128) ldquoa Histoacuteria eacute certamente a uacutenica disciplina

18

escolar que recebe intervenccedilotildees diretas dos altos dirigentes e a consideraccedilatildeo ativa

dos parlamentos Isso mostra quatildeo importante eacute ela para o poderrdquo Nesta linha o

autor ainda acrescenta que ldquoa narrativa histoacuterica pode tambeacutem ser vista como uma

tomada de poder por grupos sem poderrdquo (LAVILLE 1999 p 129)

Na busca de modificar esse modelo surgem novos meacutetodos que valorizam o

uso do documento histoacuterico e a incorporaccedilatildeo de novas tecnologias de acordo com

Azevedo e Stamatto (2010 p 720) ldquotem o desafio de responder a inquietaccedilotildees do

hojerdquo Partindo deste pressuposto haacute possibilidade de se modificar o ensino da

Histoacuteria que ateacute entatildeo estava voltado agrave memorizaccedilatildeo para um modelo onde o

sujeito seja agente deste processo

Ensinar Histoacuteria como algo pronto e acabado [] sem levar em conta o contexto e os sujeitos envolvidos no processo de ensino aprendizagem pode levar a um ensino que natildeo desenvolve o que eacute mais importante como funccedilatildeo do ensinar histoacuteria que orientar os problemas da vida praacutetica (SCHMIDT CAINELLI 2009 p 20)

Assim Seffner (2013 p 51) acrescenta que ldquoo ensino de Histoacuteria eacute um ensino

de situaccedilotildees histoacutericas Mais do que nomes datas e acontecimentos o professor

deve propiciar ao aluno a compreensatildeo de como se estrutura uma dada situaccedilatildeordquo

Para que o ensino de Histoacuteria seja ressignificado existe a necessidade de anaacutelise

do processo histoacuterico problematizando os fatos no vai e vem do presentepassado

Os estudantes da educaccedilatildeo baacutesica necessitam compreender a histoacuteria como

um processo em constante transformaccedilatildeo que eacute movimentada por sujeitos que a

compotildeem com permanecircncias e rupturas ao longo dos tempos Segundo Bittencourt

(2004 p 168) ldquoa histoacuteria local tem sido indicada como necessaacuteria para o ensino por

possibilitar a compreensatildeo do alunordquo

Corroborando Seffner (2013) Souza (2015) e Brum (2015) evidenciam a

importacircncia de se trabalhar a histoacuteria global partindo de uma histoacuteria local

problematizando levando hipoacuteteses e analisando os fatos histoacutericos o que gera

significado para o educando e torna o docente natildeo mais um mero transmissor mas

um mediador deste conhecimento Neves (1997 p 22) reforccedila que ldquoo local fora do

contexto geral eacute apenas um fragmento e o geral sem o respaldo das realidades

locais eacute apenas uma abstraccedilatildeordquo Com esta nova abordagem o estudar Histoacuteria tem

sentido para o discente que se sente sujeito de sua proacutepria histoacuteria visto que

19

identificar-se com o local onde se vive ajuda a compreender o sentimento de

pertencimento e suas relaccedilotildees com o meio social e cultural no qual estaacute inserido

Nesta perspectiva faz-se necessaacuterio que os professores busquem novas

alternativas de ensino que proporcionem ao estudante a habilidade de ressignificar o

fato histoacuterico estudado

Ensinar Histoacuteria requer do professor a habilidade de buscar sentido e significado para o conhecimento que ministra e isso significa superar a mera transmissatildeo de informaccedilotildees jaacute que essa natildeo tem por finalidade o desenvolvimento intelectual mas ao contraacuterio deforma a capacidade de pensamento histoacuterico do aluno e a possibilidade de consolidar habilidades de anaacutelise da proacutepria realidade social (SILVA PORTO 2012 p 67)

Goubert assim define a histoacuteria local

Denominaremos histoacuteria local como aquela que diga respeito a uma ou poucas aldeias a uma cidade pequena ou meacutedia (um grande porto ou uma capital estatildeo aleacutem do acircmbito local) ou a uma aacuterea geograacutefica que natildeo seja maior do que a unidade provincial comum (como um county inglecircs um contado italiano uma Land alematilde uma bailiwick ou pays francecircs) Praticada haacute tempos atraacutes com cuidado zelo e ateacute orgulho a histoacuteria local foi mais tarde desprezada mdash principalmente nos seacuteculos XIX e primeira metade do XX mdash pelos partidaacuterios da histoacuteria geral A partir poreacutem da metade desse seacuteculo a histoacuteria local ressurgiu e adquiriu novo significado na verdade alguns chegam a afirmar que somente a histoacuteria local pode ser autecircntica e fundamentada (GOUBERT 1992 p 70)

Neste sentido fica evidente a importacircncia de se partir de uma histoacuteria local

para uma global Atraveacutes da histoacuteria local os estudantes teratildeo contato com sua

histoacuteria e poderatildeo se sentir parte integrante deste espaccedilo que muitas vezes por

falta de conhecimento acabam renegando sua proacutepria identidade Figueira e Miranda

(2012 p 113) afirmam que ldquoum dos efeitos mais danosos da globalizaccedilatildeo eacute a

universalizaccedilatildeo dos gostosrdquo isto implica diretamente na perda da identidade local

que muitas vezes estaacute sendo afetada pelas muacuteltiplas identidades existentes Neste

sentido Silva e Porto descrevem

A globalizaccedilatildeo entretanto produz diferentes resultados em termos de identidade A homogeneidade cultural promovida pelo mercado global pode levar ao distanciamento da identidade relativamente agrave comunidade e agrave cultura local (SILVA PORTO 2012 p 21)

Neste sentido Canclini acrescenta

Las comunidades de consumidores se organiza cada vez menos seguacuten diferencias nacionales y sobre todo en las generaciones joacutevenes definen sus praacutecticas culturales de acuerdo con informacioacuten y estilos homogeneizados (CANCLINI 1997 p 42)

20

Globalizaccedilatildeo que impotildee atraveacutes dos meios de comunicaccedilatildeo e social uma

identidade geral que regra a sociedade seus haacutebitos e costumes Devido ao grande

movimento das pessoas pelo mundo perceber e manter uma identidade com

caracteriacutesticas locais fica a cada dia mais difiacutecil ainda mais em se tratando da

populaccedilatildeo jovem que natildeo reconhece ao seu redor o que representa a sua

identidade local

Valorar as experiecircncias locais proporcionaraacute aos estudantes uma nova

metodologia de abordar a histoacuteria

Do ponto de vista metodoloacutegico destaca-se nessa forma de abordagem a preocupaccedilatildeo com os conhecimentos preacutevios dos alunos com a problematizaccedilatildeo dos conteuacutedos de ensino selecionados para trabalho em sala de aula estabelecendo relaccedilotildees com o cotidiano dos alunos e com o cotidiano de outras pessoas em outros tempos e em outros lugares Enfatiza-se tambeacutem a busca de articulaccedilatildeo entre histoacuteria local e a histoacuteria universal (SCHMIDT 2007 p 193)

O ensino de histoacuteria partindo do local para o global possibilita segundo

Bittencourt (2004 p 168) ldquoa compreensatildeo do entorno do alunordquo sendo que um dos

aspectos relevantes para este ensino eacute a escolha de fontes que levem os estudantes

a se reconhecerem nesse processo histoacuterico O autor ainda acresce

Eacute pela memoacuteria que se chega agrave histoacuteria local Aleacutem da memoacuteria das pessoas escrita ou recuperada pela oralidade existem os lsquolugares de memoacuteriarsquo (grifo da autora) expressos por monumentos praccedilas edifiacutecios puacuteblicos ou privados mas preservados como patrimocircnio histoacuterico (BITTENCOURT 2004 p 169)

Esta memoacuteria vai contribuir para legitimaccedilatildeo da identidade local Sabe-se que

a identidade eacute algo mutaacutevel e segundo Silva e Porto (2012 p 38) ldquoas identidades

satildeo produzidas em momentos particulares no tempordquo O pesquisador ainda

acrescenta que ldquoas identidades satildeo contingentes emergindo em momentos

histoacutericos particularesrdquo Estas identidades precisam ser reconhecidas quando se fala

de histoacuteria local

Na mesma linha Ruumlsen descreve a identidade histoacuterica

Consiste na ampliaccedilatildeo do horizonte nas experiecircncias do tempo e nas intenccedilotildees acerca do tempo no qual os sujeitos agentes se asseguram da permanecircncia de si mesmos na evoluccedilatildeo do tempo O ponto extremo dessa consolidaccedilatildeo de identidade eacute a lsquohumanidadersquo como suprassumo dos pontos comuns em sociedade com respeito a diversos sujeitos agentes no processo de determinaccedilatildeo de suas proacuteprias identidades determinam as dos outros de forma tal que estes se reconhecem nelas Esse criteacuterio de sentido lsquohumanidadersquo fornece o paracircmetro para se constatar a consolidaccedilatildeo da

21

identidade em que desembocam o progresso contiacutenuo do conhecimento mediante a pesquisa histoacuterica e a ampliaccedilatildeo contiacutenua das perspectivas mediante a reflexatildeo histoacuterica sobre referenciais (RUumlSEN 2001 p 126)

A histoacuteria local eacute constituiacuteda por diferentes identidades que satildeo geradas pelos

grupos que compotildeem este espaccedilo A este respeito Silva e Porto (2011 p 41)

apresentam que ldquoa diferenccedila eacute aquilo que separa uma identidade da outrardquo Tambeacutem

eacute notaacutevel que para que haja a representaccedilatildeo de suas identidades locais faz-se

necessaacuterio o reconhecimento destas e a percepccedilatildeo que existem diferentes fatores

que diferenciam os grupos sociais

Portanto a identidade eacute constituiacuteda pelas posiccedilotildees eou escolhas feitas

sendo que muitas vezes elas satildeo racionais ou ateacute mesmo irracionais A identidade

eacute baseada na memoacuteria que pode ser individual ou coletiva Segundo Candau (2011

p 16) ldquoos laccedilos fundamentais entre memoacuteria e identidade eacute sobre o fato de que eacute a

memoacuteria faculdade primeira que alimenta a identidaderdquo

Se a memoacuteria gera a identidade natildeo se pode pesquisar e escrever sobre

histoacuteria local sem levar em conta estes dois conceitos primordiais pois a histoacuteria

local soacute teraacute valia se escrita pelo vieacutes do todo ou seja natildeo priorize um grupo ou

classe social todos os quadros sociais devem estar representados dentro deste

processo Nessa linha Schmidt e Cainelli descrevem

O estudo da localidade ou da histoacuteria regional contribui para uma compreensatildeo muacuteltipla da Histoacuteria pelo menos em dois sentidos na possibilidade de se ver mais de um eixo histoacuterico na histoacuteria local e na possibilidade da anaacutelise de micro histoacuterias pertencentes a alguma outra histoacuteria que as englobe e ao mesmo tempo reconheccedila suas particularidades (SCHMIDT CAINELLI 2009 p 139)

Uma histoacuteria que faz sentido que esteja englobada a outra histoacuteria A

memoacuteria coletiva entra na construccedilatildeo desta histoacuteria local e eacute primordial pois esta vai

dar elementos que constroem a identidade deste local sendo que a memoacuteria do

passado influencia na representaccedilatildeo da identidade Neste sentido conforme

Figueira e Miranda (2012 p 47) eacute necessaacuterio compreender a memoacuteria ldquocomo a

capacidade de conservar e de preservar dados refere-se a um conjunto de funccedilotildees

cerebrais que nos permite reter informaccedilotildees adquiridas e impressotildees vividasrdquo

Podendo ser ela individual ou coletiva sendo que a memoacuteria individual existe a partir

de uma memoacuteria coletiva jaacute que as lembranccedilas que ajudam a reconstruir o passado

partem do interior de um grupo

22

Para as Ciecircncias Humanas o conceito de memoacuteria estaacute ligado agrave memoacuteria

social e coletiva definida por Le Goff (2003 p 422) como ldquoo estudo da memoacuteria

social eacute um dos elementos fundamentais de abordar os problemas do tempo e da

histoacuteriardquo O autor ainda acrescenta que ldquoa memoacuteria coletiva eacute natildeo somente uma

conquista eacute tambeacutem um instrumento e um objeto de poderrdquo (LE GOFF 2003 p

410) Neste sentido Halbwachs (2004 p 90) ressalta que ldquotoda memoacuteria coletiva

tem por suporte um grupo limitado no espaccedilo e no tempo e o mundo histoacuterico eacute

como um oceano onde afluem todas as histoacuterias parciaisrdquo

Quando se abordam conceitos de memoacuteria e identidade no ensino de

histoacuteria estaacute se trazendo para o estudo os sujeitos que compotildeem aquele local com

suas vivecircncias que podem ser coletivas ou natildeo A transmissatildeo de saberes entre as

geraccedilotildees forma a identidade coletiva sendo o ser humano um agente ativo no

quadro social da memoacuteria

Halbwachs assim define os quadros coletivos da memoacuteria

Os quadros coletivos da memoacuteria natildeo se resumem em datas nomes e foacutermulas que eles representam correntes de pensamento e de experiecircncia onde reencontramos nosso passado porque este foi atravessado por isso tudo (HALBWACHS 2004 p 71)

Nesta direccedilatildeo Le Goff (2003 p 4) acrescenta que ldquoa memoacuteria social eacute um

dos meios fundamentais para se abordar os problemas do tempo e da histoacuteria A

memoacuteria estaacute nos proacuteprios alicerces da histoacuteriardquo Catroga (2001) reforccedila que a

memoacuteria eacute moldada a partir das vivecircncias e na sua narrativa vai haver uma

coerecircncia que se mistura passado e presente

Quando se escreve sobre histoacuteria local eacute importante considerar que ela estaacute

pautada em documentos assim como em memoacuterias escritas visuais ou orais Neste

sentido eacute perceptiacutevel que o uso dos diferentes tipos de memoacuteria satildeo alicerces que

conduzem o trabalho do historiador para que ele possa interpretar suas fontes e

validar seu trabalho Memoacuterias estas que podem ser apresentadas com documentos

oficiais ou atraveacutes de uma cultura material ou imaterial

A escrita de histoacuterias locais vem como um novo modelo de resguardar

identidades e memoacuterias que se natildeo preservadas iratildeo desaparecer pela influecircncia

da globalizaccedilatildeo e falta de conhecimento de futuras geraccedilotildees Barros assim

descreve

23

Os novos tempos comeccedilavam a trazer um novo padratildeo historiograacutefico novas aberturas retornos e possibilidades e tambeacutem incertezas para os historiadores no que se refere agrave natureza do conhecimento que produzem e ao papel do conhecimento histoacuterico na sociedade [] Entre as novidades postula-se a possibilidade de examinar a histoacuteria de acordo com uma nova escala de observaccedilatildeo ndash atenta para o detalhe para as micro realidades para aquilo que habitualmente escapa ao olhar panoracircmico da macro histoacuteria tradicional ndash e eacute esta nova postura que se passou a chamar de micro histoacuteria (BARROS 2012 p 306)

Diante deste contexto o ensino de Histoacuteria pode buscar na histoacuteria local a

problematizaccedilatildeo necessaacuteria para que os estudantes da educaccedilatildeo baacutesica

reconheccedilam a identidade local que vem sofrendo com a uniformizaccedilatildeo da

sociedade que impotildee uma conjuntura global do local

24

3 SAtildeO FRANCISCO DE PAULA CONSTRUCcedilAtildeO DO MUNICIacutePIO

A apresentaccedilatildeo do municiacutepio Satildeo Francisco de Paula acontece atraveacutes do

uso da narrativa Esta se apresenta atraveacutes do diaacutelogo com obras jaacute produzidas por

memorialistas eou genealogistas que contribuem para a construccedilatildeo histoacuterica deste

local bem como se usa como fonte de enriquecimento documentos da Assembleia

Legislativa do Rio Grande do Sul e jornais locais

Para tanto se apresenta a revisatildeo historiograacutefica das obras escritas pelos

memorialistas eou genealogistas sendo que Lucena (1971) em sua obra ldquoSatildeo

Francisco de Paula Monografiardquo que abrange aspectos histoacutericos da formaccedilatildeo do

municiacutepio bem como pontos turiacutesticos e demograacuteficos O proacuteprio autor intitula a sua

obra como informativa a riqueza de detalhes eacute interessante poreacutem natildeo haacute nenhuma

referecircncia quanto aos dados escritos nem mesmo um referencial bibliograacutefico ao

final

No texto intitulado ldquoOs Fundadores de Satildeo Francisco de Paulardquo Alves (2007)

escreve sobre a fundaccedilatildeo de Satildeo Francisco de Paula Em seu livro haacute documentos

que validam o que se refere agrave genealogia jaacute que boa parte da obra apresenta os

troncos familiares que compunham o iniacutecio deste municiacutepio Na mesma linha da

genealogia Oliveira (1996) no livro ldquoAurorescer das Sesmarias Serranas histoacuteria e

genealogiardquo traz a histoacuteria das primeiras sesmarias da regiatildeo mas o foco principal

se daacute aos proprietaacuterios e seus descendentes Haacute um mapa bastante interessante

localizando as sesmarias e o nome por elas recebidos

Em ldquoSatildeo Francisco de Paula nossa terra nossa genterdquo Teixeira (2002)

apresenta dados gerais e histoacutericos do municiacutepio Esta obra apresenta dados

geograacuteficos como clima relevo e vegetaccedilatildeo A autora escreve sobre diversos

aspectos eventos personalidades e lendas Aleacutem disso apresenta Satildeo Francisco

de Paula com uma linha cronoloacutegica A obra abrange vaacuterios aspectos mas todos

suscintamente No final a autora apresenta a bibliografia consultada dentre os

autores estaacute Lucena (1971)

O texto ldquoSatildeo Francisco de Paula Rio Grande do Sul histoacuteria encantos e

misteacuteriosrdquo eacute uma obra de Fonseca (2012) que traz diversidade de assunto muitas

vezes estes estatildeo desconexos ou seja sua leitura se torna ldquotruncadardquo No final do

texto haacute um vasto referencial bibliograacutefico dentre os autores citam-se Lucena

(1971) e Teixeira (2002)

25

Ribeiro (2003) eacute compositor e poeta Em ldquoFestival do Ronco do Bugiordquo

escreve sobre Satildeo Francisco de Paula apresentando a histoacuteria dos quinze anos do

festival no municiacutepio No iniacutecio contextualiza a origem do festival e do ritmo bugio

Depois apresenta a capa do disco de cada festival especificando as muacutesicas e os

compositores vencedores

Todas essas obras satildeo importantes para Satildeo Francisco de Paula cada uma

traz consigo um pouco da histoacuteria deste municiacutepio poreacutem sente-se falta da

identidade e da memoacuteria na construccedilatildeo histoacuterica As obras satildeo apresentadas o

mesmo prisma apresentando os iacutendios Caaguaraacutes e o Capitatildeo Pedro da Silva

Chaves os fundadores desta terra dando bastante ecircnfase aos sobrenomes que ali

se desenvolveram

31 CONVERSA COM MEMORIALISTAS

As terras onde hoje fica Satildeo Francisco de Paula eram habitadas por iacutendios da

tribo Caaguaraacutes que faziam parte dos Coroados Estes viviam livremente nos

campos de cima da serra e seus domiacutenios estendiam-se entre a Serra Geral e a

Serra do Mar Os iacutendios Caaguaraacutes tinham como haacutebitos alimentares a caccedila a

pesca e a coleta de sementes e frutos dentre os frutos o pinhatildeo e a goiaba-do-

mato segundo Teixeira (2002) e Alves (2007) Estes iacutendios tiveram seu habitat

invadido por incursotildees de desbravadores que comeccedilaram a trafegar pela regiatildeo em

busca de mulas e novas terras visto que as terras onde hoje se encontra Satildeo

Francisco de Paula de Cima da Serra foram rota de tropeiros5 pois estes trafegavam

pelos Campos de Cima da Serra indo na direccedilatildeo de Lages-SC ateacute alcanccedilarem

Sorocaba-SP6 Ao passarem por esta regiatildeo foram se formando pequenos vilarejos

e construindo um jeito peculiar de viver

Neste cenaacuterio aparece o municiacutepio de Satildeo Francisco de Paula de Cima da

Serra que recebe este nome para se diferenciar de Satildeo Francisco de Paula

denominaccedilatildeo recebida ateacute meados de 1830 pelo municiacutepio de Pelotas Poreacutem na

metade do seacuteculo XVIII Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra possuiacutea

5 Tropeiros homens que conduziam suas tropascomitivas de muares ou cavalos entre as regiotildees 6 Sugere-se a leitura FLORES Moacyr Troperismo no Brasil Porto Alegre Nova Dimensatildeo 1998

SAVARIS Manoelito Tropas e tropeiros o Rio Grande toma forma Disponiacutevel em ltwwwrogeriobastoscombr201104trpas-e-tropeiros-o-rio-grande-tomahtmlgt Acesso em 12 mar 2016

26

proprietaacuterios de terras sendo que um dos pioneiros foi Pedro da Silva Chaves um

portuguecircs casado com Gertrudes de Godoy uma paulista Pedro da Silva Chaves

declara em 1742 ser possuidor de terras neste municiacutepio Segundo Oliveira (1996)

em seu testamento Pedro da Silva Chaves rege que possui trecircs fazendas na regiatildeo

uma chamada Satildeo Joatildeo que se localiza desde o Arroio Santa Cruz ateacute o Rio

Tainhas concedida em 1752 por sesmaria a Fazenda da Cria que foi comprada de

Francisco Pinto Bandeira e confirmada como sesmaria em 1754 e a Fazenda

denominada Cerrito comprada do Capitatildeo Antocircnio Gonccedilalves dos Reis Nestas

fazendas havia criaccedilatildeo de cavalos gado vacum mulas e burros As fazendas

tambeacutem apresentavam em torno de 77 escravos sendo que alguns satildeo casados o

que se faz pensar que estes constituiacuteam famiacutelia aumentando assim o nuacutemero de

escravos da regiatildeo No mapa da Figura 1 verifica-se a localizaccedilatildeo das fazendas do

capitatildeo Pedro da Silva Chaves bem como sua extensatildeo territorial

Figura 1 ndash Mapa de Identificaccedilatildeo das Sesmarias Serranas

Fonte Oliveira (1996 p 236)

27

No mapa apresentado na Figura 1 ainda eacute possiacutevel observar a localizaccedilatildeo

onde inicia o povoado de Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra segundo

Lucena (1971 p 1) ldquoiniciou-se com o Capitatildeo Pedro da Silva Chaves que doou

uma gleba de terra para que fosse iniciado o povoadordquo Tambeacutem segundo Lucena

(1971 p 1) ldquodoou cinquenta vacas para construir o primeiro patrimocircnio da Igreja

cuja construccedilatildeo foi iniciada por sua conta e lhe deu o nome de Satildeo Francisco por

este ser devoto do Santordquo O que demonstra que Pedro da Silva Chaves era

Catoacutelico

Neste periacuteodo compreendido como seacuteculo XIX segundo Teixeira (2002) e

Alves (2007) o atual municiacutepio de Satildeo Francisco de Paula pertencia ao municiacutepio de

Santo Antocircnio da Patrulha municiacutepio este que formava juntamente com Porto

Alegre Rio Pardo e Rio Grande a proviacutencia de Satildeo Pedro do Rio Grande do Sul

atual Rio Grande do Sul Eacute possiacutevel observar a grande extensatildeo territorial de cada

municiacutepio no mapa apresentado na Figura 2 segundo Silva (2000) Santo Antocircnio

da Patrulha anexava as freguesias de N Sra Conceiccedilatildeo do Arroio e N Sra da

Oliveira da Vacaria a capela de Satildeo Domingos das Torres e os povoados de Santa

Cristina do Pinhal e Cima da Serra

Analisando o mapa da Figura 2 eacute possiacutevel perceber que o municiacutepio de Santo

Antocircnio da Patrulha tinha um vasto e extenso territoacuterio que atualmente compreende

os municiacutepios de Vacaria Antocircnio Prado Nova Roma do Sul Lagoa Vermelha

Veranoacutepolis Nova Prata Nova Araccedilaacute Nova Bassano Paraiacute Guabiju Satildeo Jorge

Vista Alegre do Prata Protaacutesio Alves Cotiporatilde Fagundes Varela Vila Flores

Caseiros Birajaras Andre da Rocha Capatildeo Bonito do Sul Muitos Capotildees Bom

Jesus Satildeo Joseacute dos Ausentes Esmeralda Ipecirc Campestre da Serra Monte Alegre

dos Campos Taquara Satildeo Francisco de Paula Cambaraacute do Sul e Jaquirana

28

Figura 2 ndash Divisatildeo Municipal em 1809 ndash Proviacutencia Satildeo Pedro do Rio Grande do Sul

Fonte Evoluccedilatildeo Administrativa (2013)7

32 AMPLIANDO O DIAacuteLOGO COM OS MEMORIALISTAS

Segundo documentos da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul8

disponiacuteveis no Arquivo Histoacuterico de Satildeo Francisco de Paula9 em 1852 atraveacutes da

Lei nordm 266 de 30 de novembro de 1852 eleva-se agrave categoria de freguesia a entatildeo

capela Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra pelo entatildeo vice-governador da

proviacutencia de Satildeo Pedro do Rio Grande do Sul o senhor Luiz Alves Leite de Oliveira

Bello Estes documentos ainda retratam que no ano de 1886 houve distribuiccedilatildeo de

lotes devolutos para pessoas pobres que comprovassem residecircncia haacute pelo menos

trecircs anos e se comprometessem a ldquofundar moradiardquo em um prazo de um ano sendo

assim passados trecircs anos seriam donos definitivos destes lotes dando o iniacutecio ao

povoamento da vila No mesmo periacuteodo acontece a criaccedilatildeo do cemiteacuterio municipal

7 Disponiacutevel em ltwwwatlassocioeconomicorsgovbrevolucao-administrativa-1809-a-2013gt Acesso

em 18 mar 2017 8 O diaacutelogo com memorialista se amplia a partir de agora com contribuiccedilotildees de documentos

pesquisados que corroboram para a compreensatildeo do tema 9 BARBOSA Eni GONCcedilALVES Jorge Joseacute Xavier (Orgs) Documentos histoacutericos da Assembleia

Legislativa do Rio Grande do Sul Arquivo Histoacuterico de Satildeo Francisco de Paula 1992

29

que ocorre em 1891 segundo documentos da Assembleia Legislativa disponiacuteveis

no Arquivo Histoacuterico de Satildeo Francisco de Paula Estes documentos informam que

primeiramente somente moradores que comprovassem residecircncia haacute mais de trecircs

anos e pudessem manter os jazigos de seus entes poderiam fazer uso deste

espaccedilo Atraveacutes desta documentaccedilatildeo se percebe que havia toda uma organizaccedilatildeo

para que ldquoestrangeirosrdquo natildeo se estabelecessem em Satildeo Francisco de Paula de Cima

da Serra

Em 1889 Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra passa a categoria de vila

e deixa de pertencer a Santo Antocircnio da Patrulha passando a ser distrito do

municiacutepio de Taquara do Mundo Novo (hoje Taquara) o que traz mudanccedilas

significativas para a vila

Mesmo havendo distribuiccedilatildeo de lotes apoacutes quinze anos percebe-se na

Figura 3 que o povoado ainda era pequeno cercado de campos que constituiacuteam

fazendas com criaccedilatildeo de gado vacum tendo como principal economia a pecuaacuteria

extensiva Ao alto pode-se visualizar a Igreja Matriz construiacuteda pelo capitatildeo Pedro

da Silva Chaves

Figura 3 ndash Vista da vila de Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra (1901)

Fonte Portal Satildeo Chico (2018)10

10 PORTAL SAtildeO CHICO Fotos antigas de Satildeo Francisco de Paula 2018 Disponiacutevel em

ltwwwsaochicocombrantigasgt Acesso em 12 abr 2019

30

Ainda eacute possiacutevel observar atraveacutes da Figura 3 que neste periacuteodo natildeo havia

nenhuma preocupaccedilatildeo com a organizaccedilatildeo urbana ou seja ruas quadras as

construccedilotildees se apresentam de maneira desordenada Poreacutem passados vinte e dois

anos na Figura 4 jaacute eacute possiacutevel visualizar uma estrutura urbanizada com possiacutevel

organizaccedilatildeo de ruas e quadras mas a vila ainda eacute rodeada de campos

Figura 4 ndash Vista Avenida Juacutelio de Castilhos (1923)

Fonte Lucena (1971 p 67)

O desenvolvimento da Sede de Satildeo Francisco de Paula acontece segundo

Lucena (1971 p 27) ldquonos primeiros anos de vida isto eacute de 1910 a 1924 mais ou

menos devido agrave extraccedilatildeo da erva-mate que era abundante em nossos matos nas

zonas da serrardquo O autor ainda acrescenta

O pioneiro na extraccedilatildeo da erva-mate em nossa Comuna foi o proprietaacuterio Carlos Miguel Kroeff dono da fazenda Potreirinho praticamente arrabalde de nossa cidade No barba-quaacute11 se iniciava todo processo de industrializaccedilatildeo da erva-mate sendo que Satildeo Francisco de Paula chegou a ter quinhentos barbaacute-quas (LUCENA 1971 p 28)

11 Barba-quaacute um valo de cerca de oito metros de comprimento amis ou menos por um metro de

profundidade e oitenta centiacutemetros de largura coberto de xaxim e terra em uma das extremidades colocava-se um gradeado e acima deste em uma parte tambeacutem coberta e mais alta tinha apenas uma saiacuteda sob o gradeado colocava-se as folhas de erva extraiacuteda da aacutervore no iniacutecio do valo fazia-se um fogo e a fumaccedila que pela pouca ventilaccedilatildeo existente formava bastante fumaccedila e esta atingia as folhas secando-as (LUCENA 1971 p 28)

31

A produccedilatildeo de erva-mate contribuiu para o povoamento da vila visto que

muitas pessoas vieram trabalhar e acabaram se instalando no municiacutepio Apoacutes a

extraccedilatildeo da erva-mate surge a extraccedilatildeo de madeira que tambeacutem contribui para o

desenvolvimento

Nesta documentaccedilatildeo ainda se encontra no artigo nordm 251 de 08 de abril de

1891 a liberaccedilatildeo da verba para abrir a estrada de rodagem que liga as vilas de

Taquara do Mundo Novo e Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra em 1889

Atraveacutes da Figura 5 pode-se perceber o quatildeo difiacutecil era abrir uma nova estrada de

rodagem Tudo era manual com o uso de animais e muares para transportar pedras

e terras poreacutem a abertura desta estrada traz mudanccedilas significativas para a

populaccedilatildeo de Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra

Figura 5 ndash Abertura da estrada ERS-020 Taquara ndash Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra

Fonte Jornal Folha da Serra (1968 n 89 p 8)12

12 Folha da Serra jornal criado em 1932 pelo Dr Siacutelvio Rabelo sendo o uacutenico jornal que existia na

regiatildeo serrana Este trazia notiacutecias sociais poliacuteticas etc com uma tiragem em torno de 500 exemplares por semana Encontram-se no Arquivo Histoacuterico de Satildeo Francisco de Paula alguns exemplares ateacute a deacutecada de 70 seacuteculo XX

32

A estrada visava facilitar o acesso da populaccedilatildeo de Satildeo Francisco de Paula

de Cima da Serra que ia ateacute Taquara para buscar gecircneros de primeira necessidade

Em tempos idos os serranos se abasteciam de gecircneros de primeira necessidade quase que totalmente em Taquara e o transporte era feito em cargueiros que compunham uma tropa com cerca de quinze a vinte cargueiros Os animais usados para esse transporte eram geralmente muares mais resistentes para o transporte de carga Os serranos levavam daqui queijo (o queijo ateacute hoje chamado queijo serrano) charque couros e alguns levavam maccedilatilde ou pinhatildeo em suas eacutepocas de colheita trocados por mantimentos de que necessitavam Natildeo existiam ainda estradas e o trajeto era feito por picadas existentes (LUCENA 1971 p 23)

O mesmo autor ainda acrescenta

Para atingir a capital do Estado a viagem era cheia de peripeacutecias O transporte era feito a cavalo ou em diligecircncias ateacute Taquara As diligecircncias carros de quatro de rodas puxados por quatro animais ndash cavalos ndash eram de propriedade de Bertolo Casara mais conhecido por lsquoJoatildeo Gringorsquo Essa viagem se fazia normalmente em um dia e agraves vezes em dia e meio O ponto de parada era ali no Rodeio Bonito onde existia uma casa agrave esquerda bem defronte a estrada que desce para Trecircs Coroas [] De Taquara a Porto Alegre por via ferroviaacuteria ndash de trem (LUCENA 1971 p 16)

A construccedilatildeo desta estrada traz um novo desenvolvimento para a entatildeo vila

de Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra pois apoacutes a abertura da estrada de

rodagem Taquara ndash Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra modifica o transporte

de mercadorias entre as localidades

O transporte de mercadorias era feito em carretotildees de quatro rodas puxados uns por cinco animais outros por sete as maiores que geralmente eram muares Eram atrelados em duas fileiras Na fileira junto agrave carreta que era de duas ou trecircs mulas na da esquerda montava o carreteiro Este toda vez que se verificava um declive na estrada apeava de sua montaria a fim de brecar a carreta sem que esta entretanto parasse (LUCENA 1971 p 24)

Este modelo de comeacutercio vai desaparecer com o surgimento das primeiras

casas de comeacutercios na vila de Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra De acordo

com Lucena (1971 p 38) ldquoos primeiros comerciantes foram Manoel Vicente

Ferreira Abel Pacheco Luis Carlos de Andrade e Jacob Bossle Sobrinhordquo Na

imagem da Figura 6 temos o Accedilougue Central onde nota-se que os animais

convivem soltos na rua juntamente com as pessoas mesmo se tratando de local

urbano

33

Figura 6 ndash Accedilougue Central

Fonte Portal Satildeo Chico (2018)13

Nesta mesma documentaccedilatildeo haacute decretos que definem a construccedilatildeo de uma

nova Igreja Matriz isto eacute uma Igreja de Pedra substituindo a antiga que era de

madeira ainda construiacuteda pelo capitatildeo Pedro da Silva Chaves esta construccedilatildeo data

do ano de 1922 Segundo Teixeira (2002 p 30) a Igreja de Pedra permanece ateacute

1960 quando daacute lugar ao atual preacutedio da Igreja Matriz que foi inaugurada em 14 de

junho de 1964 Na sequecircncia teremos duas imagens demonstrando a Igreja de

Pedra e a atual edificaccedilatildeo da Igreja Matriz Natildeo foi encontrada nenhuma foto da

Igreja de Madeira nos arquivos do Arquivo Histoacuterico do Municiacutepio somente em um

site de fotos antigas onde encontra-se registro apresentado na Figura 7

13 PORTAL SAtildeO CHICO Fotos antigas de Satildeo Francisco de Paula 2018 Disponiacutevel em

ltwwwsaochicocombrantigasgt Acesso em 12 abr 2019

34

Figura 7 ndash Igreja Matriz em 1931

Fonte Portal Satildeo Chico (2018)14

Figura 8 ndash Igreja Matriz

Fonte acervo da autora (2015)

14 PORTAL SAtildeO CHICO Fotos antigas de Satildeo Francisco de Paula 2018 Disponiacutevel em

ltwwwsaochicocombrantigasgt Acesso em 12 abr 2019

35

Entre os anos de 1892 a 1902 por duas vezes Satildeo Francisco de Paula de

Cima da Serra eacute desanexado e reanexado ao entatildeo municiacutepio de Taquara do Mundo

Novo Somente em 23 de dezembro de 1902 foi reestabelecido definitivamente o

municiacutepio de Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra cuja instalaccedilatildeo se verificou

em 07 de janeiro de 1903 A partir de 01 de janeiro de 1938 perde ldquoCima da Serrardquo

de sua nomenclatura permanecendo somente Satildeo Francisco de Paula Apesar

disso se manteacutem o gentiliacutecio ldquoSerranordquo de acordo com Silva (2000 p 23) e dados

do Arquivo Histoacuterico de Satildeo Francisco de Paula sendo que este gentiliacutecio eacute usado

ateacute os dias de hoje

No iniacutecio o municiacutepio de Satildeo Francisco de Paula foi um dos maiores do Rio

Grande do Sul em territoacuterio mas ao longo do tempo foi diminuindo seu territoacuterio

com a anexaccedilatildeo de parte dele ao entatildeo municiacutepio de Caxias do Sul e de Torres e a

criaccedilatildeo dos municiacutepios de Cambaraacute do Sul em 1963 e Jaquirana em 1988

Foi uma das maiores Comunas do Estado pois de seu territoacuterio faziam parte os atuais municiacutepios de Satildeo Marcos Cambaraacute do Sul e Jaquirana e os distritos de Vila Oliva Criuacuteva Fazenda Souza e Vila Seca hoje integrantes de Caxias do Sul De nosso territoacuterio foi tambeacutem desanexada uma gleba de terra ndash Josafaacute ndash e anexada ao municiacutepio de Torres (LUCENA 1971 p 10)

Mesmo perdendo parte de seu territoacuterio ao longo dos anos atualmente

segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (2016) ldquoSatildeo Chicordquo como

costumeiramente eacute chamado pelo seu povo estaacute situado na Encosta Inferior do

Nordeste do Estado do Rio Grande do Sul na zona denominada de Campos de

Cima da Serra Fica distante 112 quilocircmetros da capital do Estado Porto Alegre Os

municiacutepios limiacutetrofes satildeo Monte Alegre dos Campos Bom Jesus Jaquirana

Cambaraacute do Sul Praia Grande-SC Trecircs Forquilhas Itati Maquineacute Riozinho

Rolante Taquara Trecircs Coroas Canela e Caxias do Sul Possui uma aacuterea territorial

de 3264490 quilocircmetros quadrados com uma estimativa populacional de 21617

habitantes distribuiacutedos na zona urbana e rural O municiacutepio se divide em sete

distritos Sede Cazuza Ferreira Tainhas Juaacute Eletra e Lajeado Grande Atraveacutes do

conjunto de mapas apresentado na Figura 9 eacute possiacutevel visualizar a localizaccedilatildeo de

Satildeo Francisco de Paula dentro do Rio Grande do Sul e por conseguinte no Brasil

Tambeacutem se verifica a localizaccedilatildeo dos distritos de Satildeo Francisco de Paula

36

Figura 9 ndash Mapa de localizaccedilatildeo de Satildeo Francisco de Paula

Subdivisatildeo de Satildeo Francisco de Paula em distritos

Fonte montagem da autora (2019)

Desta forma se constitui o espaccedilo fiacutesico do municiacutepio de Satildeo Francisco de

Paula cuja populaccedilatildeo natildeo forma uma colocircnia pois seu povo adveacutem de diferentes

lugares a grande maioria com descendecircncia lusa sendo que os primeiros

colonizadores foram bandeirantes paulistas

A populaccedilatildeo de Satildeo Francisco de Paula eacute composta de brancos africanos e indiacutegenas Os brancos compreendendo portugueses (principalmente

37

accedilorianos) alematildees e italianos os africanos pertenciam ao grupo dos bantos e foram trazidos pelos portugueses (TEIXEIRA 2002 p 147)

A diversidade de pessoas que se estabeleceram em Satildeo Francisco de Paula

pode ser percebida pelos sobrenomes das famiacutelias precursoras do municiacutepio

Para Satildeo Francisco de Paula afluiacuteram famiacutelias de diversas nacionalidades que atraveacutes de seus descendentes ainda hoje aqui satildeo representadas como Famiacutelias Ferreira Soares Pinto Castilhos Asmuz Santos Martins Lopes Comin Feijoacute Silva Canani Peixoto Andrade Teixeira Valin Lucena Alves Cardoso Gomes Borges Marques Tedesco Medeiros Paglioacuteli Costa Fogaccedila Casara em outras (LUCENA 1971 p 11-12)

Os moradores deste municiacutepio introduziram um jeito singular de viver tendo

em seu cotidiano as tradiccedilotildees gauacutechas15 muito presentes Teixeira (2002 p 83)

assim descreve que ldquoas raiacutezes gauacutechas estatildeo fortemente marcadas na comunidade

seja pelo modo de vestir bombacha botas cinturotildees chapeacuteus e no inverno com o

pala ou pela preferecircncia por comidas campeiras churrasco carreteiro feijatildeo

mexidordquo A autora acrescenta que ldquoas casas com lareira e o tradicional fogatildeo agrave

lenha para aquececirc-las durante o inverno rigoroso satildeo um convite para uma

conversa ao peacute do fogo e o saboreio de um gostoso chimarratildeordquo (TEIXEIRA 2002 p

83)

O enraizamento deste modo de vida adveacutem do homem do campo o

pecuarista que no passado necessitava enviar seus filhos a cidade para estudar

contribuindo para este modelo de vida

Antigamente a pecuaacuteria era a atividade econocircmica muito forte em nosso municiacutepio Assim sendo havia muitos fazendeiros E como as fazendas ficavam muito longe da Sede do municiacutepio as senhoras tinham seus filhos em casa com parteiras Tambeacutem os estudos iniciavam nas fazendas porque as escolas ficavam longe Assim muitas vezes os fazendeiros contratavam professoras para se hospedarem nas suas casas e darem aulas aos seus filhos Em muitos casos ateacute mesmo os proacuteprios pais e avoacutes ensinavam alguma coisa Alguns fazendeiros quando seus filhos ficavam maiores os mandavam continuarem seus estudos na vila (assim lsquoSatildeo Chicorsquo era chamada) (TEIXEIRA 2002 p 77)

Com a vinda dos filhos para a vila trouxeram consigo o jeito do homem do

campo sendo que um dos maiores clubes em funcionamento de Satildeo Francisco de

Paula eacute o atual Centro de Tradiccedilotildees Gauacutechas Rodeio Serrano fundado em maio de

15 Tradiccedilotildees gauacutechas segundo Fagundes (1997 p 38) eacute um movimento ciacutevico-cultural [] eacute a

tradiccedilatildeo em marcha resgatando valores que satildeo vaacutelidos natildeo por serem antigos mas por serem eternos exatamente os valores que trouxeram o Rio Grande e o gauacutecho do passado para o presente projetando-se para o futuro

38

1955 Segundo o Jornal Folha da Serra (1968 n 11 p 12) a entidade

tradicionalista receacutem-formada recebe o nome de CTG Coronel Alziro Torres Filho

Fonseca (2012 p 223) menciona que a iniciativa partiu de ldquoDavenir Peixoto Gomes

um homem ruralista e serranordquo Esta entidade tradicionalista teve como primeiro

Patratildeo Oscar Teixeira O CTG Alziro Torres Filho segundo o jornal Folha da Serra

(1957) muda sua nomenclatura em uma reuniatildeo onde o posteiro da invernada

artiacutestica Alaor Valim propotildee a troca do nome para Rodeio Serrano nome que

permanece ateacute a atualidade

A entidade tradicionalista traz como lema ldquoRepontando a Tradiccedilatildeo com o Rio

Grande na Garupardquo Fonseca (2012 p 224) relata que o lema foi ldquocriado pelo

primeiro instrutor de danccedilas Dr Alaor de Almeida Valimrdquo O mesmo autor acrescenta

que ldquoa primeira prenda foi a professora Maria Asmuz Valimrdquo Poreacutem sua sede

somente foi construiacuteda em 1968 sob a patronagem de Dante Santos O Jornal Folha

da Serra (1968 n 11 p 12) indica que ldquoa construccedilatildeo da sede era uma aspiraccedilatildeo de

longos anos que somente agora se concretizardquo Anteriormente ldquoos bailes eram

realizados em sua maioria no Salatildeo Paroquial sendo que alguns foram feitos no

primeiro andar da Associaccedilatildeo Rural e ateacute mesmo na Sociedade Cruzeirordquo

(FONSECA 2012 p 225) Este fato justifica a vontade de Dante Santos de construir

uma sede proacutepria

Apoacutes a construccedilatildeo de sua nova sede o CTG Rodeio Serrano localiza-se na

Rua Benjamim Constant nordm 582 constituindo um espaccedilo importante para a

comunidade de Satildeo Francisco de Paula Dentre as atividades desenvolvidas pelo

CTG estaacute o Rodeio Interestadual que ocorre todos os anos no primeiro final de

semana de dezembro sendo que se encontra na 33ordf ediccedilatildeo A manutenccedilatildeo das

invernadas artiacutesticas em todas as categorias mascote mirim juvenil e adulta A

organizaccedilatildeo da Ronda Crioula na Semana Farroupilha bem como a Cavalgada de

Prendas que ocorre durante a Semana Farroupilha todos os anos Realiza-se o

baile da Prenda Jovem aleacutem de shows e bailes tipicamente gauchescos Aleacutem

disso nos uacuteltimos anos a organizaccedilatildeo do Festival Ronco do Bugio que ocorre em

Satildeo Francisco de Paula ldquofestival este lanccedilado em 16 de abril 1986rdquo segundo o

Jornal Satildeo Chico Tchecirc (1986 n 4 p 5)16

16 Satildeo Chico Tchecirc jornal de circulaccedilatildeo quinzenal fundado em 08 de janeiro de 1986 e que circulou

ateacute 1989 O jornal trazia informaccedilotildees culturais sociais econocircmicas e poliacuteticas da Sede e do

39

Durante os seus sessenta e dois anos de existecircncia muitos patrotildees

passaram por esta entidade tradicionalista mas em 2017 pela primeira vez na

histoacuteria o CTG Rodeio Serrano teve uma patronagem feminina Aleacutem da Patroa

Neuza Reis foram empossadas a Capataz Elenita Amaral a Sota-capataz Fernanda

Kirsch Damasceno o Agregado das Pilchas Antocircnio Garcia de Souza e no

Conselho de Vaqueanos Neiva Santos Valim

Figura 10 ndash Patroa Neuza Reis e sua Comissatildeo

Fonte Jornal Pioneiro (2017)17

Satildeo Francisco de Paula hoje conta com vinte e oito entidades

tradicionalistas18 espalhadas pelos seus distritos demonstrando que homem do

campo se faz muito presente em todo o municiacutepio sendo assim a cultura

interior Os exemplares encontram-se encadernados no arquivo histoacuterico de Satildeo Francisco de Paula

17 Jornal Pioneiro conhecido como o jornal que estaacute ldquoao teu ladordquo o Pioneiro circula desde 1948 e estaacute presente hoje em 64 municiacutepios da regiatildeo de Caxias do Sul Desde 1993 integra a rede de jornais do Grupo RBS sendo filiado ao Instituto Verificador de Circulaccedilatildeo (IVC) Conta com uma equipe de Redaccedilatildeo com mais de 40 jornalistas aleacutem de colunistas internos e externos Em 2008 o jornal ganhou o site pioneirocom Disponiacutevel em lthttpwwwgruporbscombratuacaopioneirogt acesso em 10 de fevereiro de 2019

18 Informaccedilatildeo cedida pelo Coordenador da 27ordf Regiatildeo Tradicionalista Gauacutecha

40

tradicionalista se apresenta de maneira forte e consistente segundo vaacuterios

depoimentos de moradores de todos os distritos de Satildeo Francisco de Paula

41

4 SAtildeO FRANCISCO DE PAULA DISTRITOS EM FOCO

Quanto aos distritos de Satildeo Francisco de Paula surgem diversas

inquietaccedilotildees com relaccedilatildeo agrave identidade destes locais pois estes mesmo fazendo

parte de um mesmo municiacutepio apresentam singularidades que derivam de sua

colonizaccedilatildeo basicamente lusa portuguesa e da recepccedilatildeo de imigrantes de diversas

etnias como italianos e alematildees ao longo destes cento quinze anos de

emancipaccedilatildeo Percebe-se que alguns distritos manteacutem sua identidade e tradiccedilotildees

resguardadas enquanto em outros jaacute ocorreu agrave miscigenaccedilatildeo de diferentes haacutebitos

e culturas o que dificulta identificar traccedilos que identifiquem estes distritos

Neste capiacutetulo busca-se responder a estas inquietaccedilotildees fazendo uso dos

depoimentos de moradores locais Segundo Delgado (2003 p 21) ldquoessas

narrativas tal qual os lugares da memoacuteria satildeo instrumentos importantes de

preservaccedilatildeo e transmissatildeo das heranccedilas identitaacuterias e das tradiccedilotildeesrdquo Neste sentido

se optou por dois moradores por distrito totalizando treze entrevistados um homem

e uma mulher da terceira idade que sempre morou no distrito o que enriquece os

detalhes repassados pelos entrevistados

Toda entrevista tem por base a memoacuteria individual que se referencia na coletiva profundamente relacionada agraves vivecircncias individuais A utilizaccedilatildeo do depoimento de pessoas idosas como fonte para a histoacuteria oral eacute uma forma de justificar a entrevista como histoacuterica referindo-se ao passado jaacute que aos idosos se pretende atribuir a guarda de memoacuterias do passado pelo proacuteprio tempo de vida do depoente Isto retoma e ajuda a fortalecer a ideia de que a histoacuteria mesmo tratando do tempo presente ainda se reporta a um periacuteodo anterior ao da vida do pesquisador (ALMEIDA 2012 p 10)

A entrevista somente ocorreu quando o entrevistado concordou em assinar o

termo de consentimento As entrevistas ocorreram nas residecircncias dos

entrevistados foram preacute-agendadas sendo que o meacutetodo utilizado foi entrevista

guiada atraveacutes de questionaacuterio previamente organizado pela autora as entrevistas

foram filmadas e gravadas onde somente uma entrevistada natildeo autorizou a

filmagem de seus relatos justificando a idade avanccedilada e por morar sozinha

A escolha pela histoacuteria oral hibrida ocorreu no sentido de que a fonte oral eacute o

principal recurso utilizado para colher informaccedilotildees sobre os distritos visto que em

sua grande maioria natildeo haacute publicaccedilotildees Poreacutem em determinados momentos se

utilizam fontes documentais como complemento do que vem sendo apresentado

Com relaccedilatildeo agrave abordagem adotada nas entrevistas se optou pela temaacutetica visto

42

que se leva um roteiro preacute-organizado com temas que deveratildeo ser explorados

durante as entrevistas o que proporciona uma riqueza de informaccedilotildees para a

autora

41 DISTRITO SEDE

O distrito Sede se constitui no local onde se inicia o povoado do municiacutepio na

antiga Fazenda da Cria terras doadas pelo capitatildeo Pedro da Silva Chaves Neste

distrito concentram-se os serviccedilos puacuteblicos e privados que os moradores

necessitam em seu dia-a-dia visto que ali existem bancos casas loteacutericas

farmaacutecias hospital supermercados lojas papelarias livraria inspetoria veterinaacuteria

secretaacuterias municipais escolas puacuteblicas e privadas creches induacutestrias de madeiras

e calccedilados

Poreacutem o distrito Sede ou cidade de Satildeo Chico como popularmente

conhecida pelo seu povo jaacute foi uma cidade de interior ou seja uma cidade pequena

com moradores que vinham das fazendas em busca de estudo Visto que a

implementaccedilatildeo de uma rede regular de ensino ocorre tardiamente devido agrave

dificuldade de se locomover pelas distantes localidades entatildeo normalmente os

fazendeiros contratavam professores para que seus filhos obtivessem estudo sendo

que estes moravam na proacutepria residecircncia da famiacutelia Em entrevista com essa autora

relata Albuquerque19 que ldquopara aprimorar os estudos aqueles que tinham mais

condiccedilotildees iam para Porto Alegre Santa Maria ou Passo Fundo mas para isto

ficavam laacute em internatos e soacute retornavam nas feacuterias devido agrave dificuldade e o custo

da viagemrdquo

Na deacutecada de 40 foi criada a Escola Catoacutelica de Satildeo Francisco de Paula

cujo funcionamento acontece ateacute 1973 quando foram encerradas suas atividades

Esta escola iniciou com o curso primaacuterio e posteriormente instalou o curso ginasial

Normalmente estes moradores permaneciam de segunda-feira a sexta-feira na

cidade e nos finais de semana retornavam para as fazendas como recorda uma

moradora local

Noacutes eacuteramos uma cidade de fazendeiros a gente tinha uma casa no campo e uma na cidade a gente vivia de laacute pra caacute de caacute pra laacute fim de semana ia

19 ALBUQUERQUE Moacir Castello Branco de Entrevista concedida agrave autora no dia 06 de abril de

2018

43

pra fora20 dia de semana vinha pra caacute normalmente uma irmatilde mais velha voacute ficava com a gente aqui na cidade e a famiacutelia mesmo ficava no campo21

Percebe-se que hoje ainda existem na Sede moradores que manteacutem suas

casas na cidade e durante o dia ou nos finais de semana vatildeo ateacute suas fazendas

para fazer as lides com o gado o que caracteriza uma pequena parte da populaccedilatildeo

que foram os filhos dos antigos fazendeiros que mais tarde acabam se instalando

definitivamente na cidade trazendo com sigo a essecircncia do homem do campo e

afirmando uma identidade genuinamente gauacutecha definiccedilatildeo esta concedida por uma

moradora local

Gauacutecho natildeo eacute o morador do Rio Grande do Sul o morador do Rio Grande do Sul eacute o sul-rio-grandense ou rio-grandense do sul o gauacutecho eacute apenas o homem que vem da pecuaacuteria extensiva essa que existe laacute no pampa e aqui nos campos de cima da serra o gauacutecho serrano com caracteriacutesticas muito proacuteprias grandes gaiteiros poetas aliaacutes o maior gaiteiro do mundo eacute daqui natildeo abro matildeo de dizer isto soacute que todos noacutes viacutenhamos da lida do campo em decorrecircncia disso eacuteramos gauacutechos de verdade22

Em sua fala apresenta o gauacutecho serrano como um tipo singular que ama a

pilcha gauacutecha o seu pingo e suas criaccedilotildees bem como reafirma a importacircncia dos

Irmatildeos Bertussi Honeide e Adelar sendo Adelar Bertussi um dos maiores gaiteiros

deste municiacutepio Exaltam-se tambeacutem os poetas que com suas poesias e letras de

muacutesicas escrevem o jeito do seu povo viver

Mesmo a cidade sendo ldquolocal de paradardquo durante a semana para a maioria

de seus habitantes no passado era cheia de atrativos que o campo natildeo possuiacutea

como o cinema cuja instalaccedilatildeo natildeo se encontra documentada mas sabe-se que

iniciou onde hoje eacute o preacutedio da Prefeitura Municipal sendo proprietaacuterio Francisco

Ferraz (Chico Ferraz como era conhecido) Observa-se em alguns exemplares do

Jornal Folha da Serra23 os filmes e os horaacuterios do funcionamento do cinema

Entende-se que o jornal era uma maneira de divulgar os filmes por ser o uacutenico meio

de comunicaccedilatildeo da eacutepoca Pelos folhetins se percebe que as sessotildees

apresentavam diversos gecircneros natildeo se sabe quando o cinema finalmente fechou

20 Fora refere-se ir para a fazenda 21 SOARES Luciana Olga Entrevista concedida agrave autora no dia 01 de marccedilo de 2018 22 SOARES Luciana Olga Entrevista concedida agrave autora no dia 01 de marccedilo de 2018 23 Folha da Serra jornal local criado em 1932 pelo Dr Siacutelvio Rabelo passando posteriormente a

propriedade da Prefeitura Municipal Sua impressatildeo era na ordem de 500 exemplares natildeo se tem a informaccedilatildeo do periacuteodo que parou de circular mas pelos exemplares encontrados no Arquivo Histoacuterico de Satildeo Francisco de Paula os uacuteltimos datam de 1978 O Arquivo Histoacuterico de Satildeo Francisco de Paula fica em um preacutedio anexo agrave Biblioteca Puacuteblica do municiacutepio

44

poreacutem o jornal Folha da Serra traz uma reportagem que retrata como estava difiacutecil

manter o cinema em funcionamento em meados de 1968 ldquoo nosso cinema na

maneira que vai indo natildeo tem mais condiccedilotildees de funcionar natildeo temos apoio da

populaccedilatildeo com uma frequecircncia de mais ou menos 150 pessoas por final de

semanardquo O jornal acrescenta ldquosalienta-se que mais ou menos de 3 de nossa

CULTA populaccedilatildeo natildeo frequenta o cinemardquo Pode-se associar o fechamento do

cinema a dois fatores a natildeo cultura de assistir filmes e pelas sessotildees ocorrerem nos

finais de semana onde boa parte da populaccedilatildeo da cidade se deslocava para as

fazendas ou pela crise que os cinemas passaram na deacutecada de 80 quando em

muitas cidades foram fechados

A vida da populaccedilatildeo local vai se modificando cada vez mais as pessoas vatildeo

se instalando definitivamente na Sede onde se perde o viacutenculo com o campo

Devido agrave venda ou arrendamento das fazendas24 que por render pouco a pecuaacuteria

extensiva e com a criaccedilatildeo de novas legislaccedilotildees que proiacutebem praacuteticas centenaacuterias

seus proprietaacuterios buscaram novas possibilidades econocircmicas que modificaram a

Sede e tambeacutem boa parte do interior Em entrevista a moradora Soares relata

Exatamente porque a produccedilatildeo era pequena isso natildeo serve para o mundo de hoje a uns quarenta anos chega em nossos campos as primeiras plantaccedilotildees de pinus interessante que ningueacutem reclamou da destruiccedilatildeo desse campo de milhotildees de anos e de todo o ecossistema mas mesmo com essa nova cultura continuamos realizando a sapeca do campo no mecircs de agosto mas de repente chega a notiacutecia que estaacute proibida a queima do campo dizendo que noacutes estragaacutevamos a terra poluiacuteamos o ar que mataacutevamos animais e tudo aquilo natildeo era verdade Na verdade alguns anos depois da lei proibindo a queima do campo chegam as multas gigantescas agraves vezes maior que o valor da terra e aiacute inviabilizou a pecuaacuteria e muitos fazendeiros venderam suas terras e foram embora Quem ficou no campo na busca por renda a qualquer preccedilo arrenda seus campos para os batateiros que vieram acredito que a grande maioria de Santa Catarina e do Paranaacute estes lavram o campo nunca mais o campo nem com reza braba taacute tudo perdido para sempre e isso reflete na nossa cidade25

Essas mudanccedilas no campo refletem na Sede onde o homem serrano convive

passivamente com novas identidades que embora sejam presentes eacute minoria pois

esta parcela de novos moradores traz consigo um novo jeito de viver que ainda natildeo

se percebe influenciar na identidade cultural da Sede

24 Propriedades rurais cuja atividade principal eacute a praacutetica da pecuaacuteria extensiva e a produccedilatildeo do

queijo artesanal serrano 25 SOARES Luciana Olga Entrevista concedida agrave autora no dia 01 de marccedilo de 2018

45

Na Sede desde o iniacutecio se observam quatro clubes sociais a Sociedade

Cruzeiro a Sociedade 9 de Julho a Sociedade Esperanccedila e o Centro de Tradiccedilotildees

Gauacutechas Cada clube social tem sua importacircncia histoacuterica poreacutem alguns natildeo se

manteacutem ativos

A Sociedade 9 de Julho foi fundada em 27 de setembro de 1961 estando

localizada no bairro Rincatildeo Segundo o jornal Folha da Serra (1968 n 96 p 5)

apoacutes sete anos de sua fundaccedilatildeo ldquoseu presidente Galego promete uma nova e

confortaacutevel sede para a sociedaderdquo Sociedade que se apresenta por sua

versatilidade nos eventos ateacute os dias atuais

O jornal Folha da Serra (1968 n 96 p 5) traz a seguinte mateacuteria ldquoas quatro

noites foram repletas de alegria naquela sociedade onde os foliotildees divertiram-se e

quando se anunciou o final da quarta noite houve quem lamentasse o final da festa

do Momordquo A reportagem refere-se ao carnaval que se desenvolve de forma

popular nesta sociedade Neste espaccedilo na deacutecada de 1990 ocorria um baile na

sexta-feira que antecedia ao Festival do Ronco do Bugio um espaccedilo onde jovens se

encontravam para iniciar as festividades do grande festival da cidade poreacutem na

atualidade este evento natildeo ocorre mais Pelos cartazes de divulgaccedilatildeo de eventos

atuais a Sociedade 9 de Julho se torna um espaccedilo bastante versaacutetil e segundo

dados obtidos no site da proacutepria sociedade o local apresenta shows bailes

tradicionalistas domingueiras e festas temaacuteticas

Sabe-se da existecircncia da Sociedade Esperanccedila devido a uma reportagem a

respeito do carnaval escrita no jornal Folha da Serra (1968 n 11 p 25) ldquoos

escurinhos tambeacutem natildeo ficaram para traacutes e demonstraram que satildeo bons no samba

porque soacute quem assistiu pode ver como brincaram e que maravilha de ritmo

marcaram durante as quatro noitesrdquo A reportagem daacute a entender de se tratar de

uma sociedade frequentada por negros e pode-se entender que ao usar o termo

escurinho na reportagem haacute preconceito racial perpassando a ideia de que por

serem negros natildeo poderiam se divertir da mesma maneira que os brancos

Atualmente se encontra no local um espaccedilo residencial e comercial

A Sociedade Cruzeiro foi fundada em 9 de maio de 1925 pela elite da

sociedade serrana Segundo Teixeira (2002) e Fonseca (2012) sua sede social era

na Avenida Juacutelio de Castilhos onde hoje se situa a agecircncia do Banrisul e teve como

primeiro presidente o Sr Antocircnio Mario Kroeff e o secretaacuterio Sr Joatildeo Parobeacute de

Lucena Sua nova sede foi inaugurada de acordo com Fonseca (2012 p 236) ldquono

46

dia 11 de dezembro de 1965 e esta permanece no mesmo endereccedilo ateacute a

atualidade Situa-se na Rua Dr Frederico Tedesco nordm 1261rdquo

Atualmente este espaccedilo eacute usado para convenccedilotildees ou festas particulares

onde as pessoas locam o espaccedilo para realizarem seu evento Neste espaccedilo natildeo

mais ocorrem grandes eventos sociais como Fonseca (2012 p 232) descreve ldquoos

bailes mais elegantes e vistosos desta sociedade ocorrem aquirdquo Fonseca (2012 p

233) ainda complementa que ldquoa primeira Miss Sociedade Cruzeiro foi eleita em 1937

e a vencedora foi a jovem Zilah Teixeirardquo

A Sociedade Cruzeiro tambeacutem foi palco de bailes de carnaval O Jornal Folha

da Serra (1968 n 11 p 25) descreve ldquocomo sempre a Sociedade Cruzeiro ponteou

o nosso carnaval com blocos fantasiados magnificamente fazendo acrobacias ao

som de excelente muacutesica local onde os turistas afluiacuteramrdquo Contrapondo a este

tempo a moradora local Soares26 discorre de maneira saudosa ldquoque saudades do

carnaval hoje eacute bebedeira perdeu o encanto perdeu tudo Na rua o pessoal

gritando sem nenhuma infraestrutura nem os bailes na sociedade natildeo ocorrem

maisrdquo

O distrito Sede jaacute foi palco de inuacutemeros clubes sociais que ao longo do tempo

foram perdendo seu encanto e ateacute mesmo fechando-se para atividades sociais O

que permanece em pleno funcionamento eacute o Centro de Tradiccedilotildees Gauacutechas Rodeio

Serrano o que justifica uma cultura tradicionalista presente neste distrito Dentre as

atividades desenvolvidas por esta entidade estatildeo o Rodeio Interestadual com

atividades campeiras e artiacutesticas que ocorrem todos os anos no primeiro final de

semana de dezembro a manutenccedilatildeo das invernadas artiacutesticas em todas as

categorias mascote mirim juvenil e adulta

A organizaccedilatildeo da Ronda Crioula na Semana Farroupilha com a participaccedilatildeo

das escolas da Sede e do interior que trazem seus grupos de danccedilas bem como

organizam gincanas Outra atividade tambeacutem desenvolvida por esta entidade eacute a

Cavalgada de Prendas que ocorre durante a Semana Farroupilha desde 1992

sendo Satildeo Francisco de Paula pioneira nesta ideia onde somente mulheres

participam da cavalgada que culmina com o desfile na Avenida Juacutelio de Castilhos

Realiza-se tambeacutem o Baile da Prenda Jovem que eacute o baile de debutante gauacutecho

onde as prendas entre 13 e 15 anos satildeo apresentadas agrave sociedade Aleacutem disso nos

26 SOARES Luciana Olga Entrevista concedida agrave autora no dia 01 de marccedilo de 2018

47

uacuteltimos anos a organizaccedilatildeo e apresentaccedilatildeo do Festival Ronco do Bugio que ocorre

em Satildeo Francisco de Paula faz parte da programaccedilatildeo desta entidade Este festival

apresenta exclusivamente o gecircnero musical bugio Haacute pelo menos duas hipoacuteteses

sobre a origem deste gecircnero musical

A primeira eacute de berccedilo serrano e teria mais fiel escudeiro o inesqueciacutevel acordeonista de Satildeo Francisco de Paula Honeyde Bertussi Siqueira Segundo ele o ritmo teria sido originaacuterio pelas matildeos do gaiteiro Vergiacutelio Leitatildeo que no jogo-de-foles e nos baixos de sua gaita de botatildeo teria imitado o ronco do bicho nos caponetes de cima da serra [] teria difundido pelas bodegas do Juaacute interior de Satildeo Chico (SOUZA 2003 p 15)

A segunda hipoacutetese eacute apresentada por Souza (2003 p 15) que apresenta a

versatildeo dada pelo povo de Satildeo Francisco de Assis que diz que ldquoa origem do ritmo e

oriunda desta localidade que por sinal realizava um festival nativista chamado

Querecircncia do Bugiordquo

Desconhece-se a verdadeira origem do gecircnero musical bugio mas Souza

(2003 p 23) afirma que ldquoJoatildeo Cincinato Terra muacutesico atuante sentiu a

necessidade de nosso municiacutepio acompanhar o movimento jaacute que neste periacuteodo se

expande por todo o estado do Rio Grande do Sul os festivais nativistasrdquo O

lanccedilamento do primeiro festival do Ronco do Bugio acontece em 1986 no CTG

Rodeio Serrano com a participaccedilatildeo de vaacuterios representantes da muacutesica nativista e

da comunidade serrana Seu lanccedilamento oficial ocorre em 16 de abril de 1986

O jornal Satildeo Chico Tchecirc (1986 n 11 p 6) noticiou que o primeiro Festival do

Ronco do Bugio contou com 98 muacutesicas escritas sendo 24 as selecionadas O

festival ocorreu entre os dias 13 e 15 de maio e Souza (2003 p 42) descreve que foi

apresentado ldquosob uma lona de circo estaqueada num gramado amador mas de

tantas gloacuterias futeboliacutesticas o campo do Clube Atleacutetico Serranordquo

A muacutesica vencedora do primeiro Ronco do Bugio foi ldquoLevanta Bugiordquo

defendida pelo cantor e compositor gauacutecho Leonardo Observando fotos percebe-se

que o Ronco do Bugio se deu em uma noite fria de inverno

O Festival Ronco do Bugio desde o seu iniacutecio premia melhor arranjo

conjunto instrumental instrumentista inteacuterprete e a muacutesica mais popular Fatima

Gimenez foi a melhor inteacuterprete do primeiro festival defendendo a muacutesica ldquoPinheiro

Gringordquo composiccedilatildeo de Erian Fogaccedila e Laerte Fortes Novamente a roupa dos

48

muacutesicos reforccedila que na noite da entrega da premiaccedilatildeo fazia muito frio A cantora

tambeacutem se apresenta vestindo um chiripa coberto por um pala27

Na Figura 11 observamos a fotografia de Gonzaga dos Reis muacutesico local

sentado com sua gaita instrumento que lhe deu o precircmio de melhor instrumentista

do primeiro Ronco do Bugio Nesta oportunidade o cantor instrumentista e

compositor defendeu a muacutesica ldquoBugio da Minha Terrardquo

Figura 11 ndash Gonzaga dos Reis

Fonte Jornal Satildeo Chico Tchecirc n 4 p 8 (1986)

A composiccedilatildeo ldquoBugio Tiranordquo que foi defendida pelo conjunto Os Tiranos de

Satildeo Francisco de Paula ganhou o precircmio mais popular

Para o Jornal Satildeo Chico Tchecirc (1986 n 11 p 7) o Festival Ronco do Bugio eacute

ldquoum festival autecircntico e original que aconteceu com grande sucesso em Satildeo

Francisco de Paulardquo No encerramento deste grande evento Joatildeo Chagas Leite se

27 Chiripa e pala satildeo trajes tipicamente gauacutechos Sendo que o chiripa atualmente eacute uma veste de

preferecircncia feminina este fica enrolado na cintura e vai ateacute os joelhos ldquoEacute um pano inteiro passado entre as pernas primeiro de traacutes para frente e depois de frente para traacutes pode ser de latilde ou lisordquo (ABREU 2003 p 67) O pala eacute uma peccedila retangular com franjas nos quatro lados e listras no sentido do comprimento

49

apresenta segundo o Jornal Satildeo Chico Tchecirc (1986 n 11 p 8) ldquocom composiccedilotildees

como Corda de Espinho Orelhano Pampa Campo e Querecircncia Coraccedilatildeo de

Estudante e Afiosrdquo

O Festival Ronco do Bugio perpassa o tempo segundo o site da Prefeitura

Municipal

O Festival Ronco do Bugio eacute um evento musical nativista que acontece anualmente na Cidade de Satildeo Francisco de Paula com o intuito de preservar e difundir o uacutenico ritmo originaacuterio do Rio Grande do Sul ou seja o lsquobugiorsquo compasso criado justamente no interior deste municiacutepio Tal criaccedilatildeo se deu a partir da criatividade dos gaiteiros serranos que buscaram imitar com seu instrumento musical o ronco do primata nos matos da serra A festividade agora em sua 26ordf ediccedilatildeo eacute genuiacutena pois eacute o uacutenico da Ameacuterica onde obrigatoriamente os participantes devem utilizar um ritmo somente isto eacute o citado lsquobugiorsquo embora a temaacutetica seja abrangente Por este motivo eacute chamado de lsquoO Festival Mais Autecircntico do Rio Grandersquo Aleacutem do forte enfoque cultural que envolve toda a comunidade musical do Estado o Festival tem seu apelo ecoloacutegico pois chama a atenccedilatildeo para a preservaccedilatildeo da espeacutecie hoje quase em extinccedilatildeo O Ronco do Bugio por sua importacircncia no cenaacuterio cultural rio-grandense criou uma identidade ao povo de Satildeo Francisco de Paula pois junto ao evento estaacute intriacutenseco e vem agrave tona o histoacuterico da criaccedilatildeo do municiacutepio caracterizado pela forte influecircncia dos antigos tropeiros desbravadores e povoadores desta parte do paiacutes (PREFEITURA MUNICIPAL DE SAtildeO FRANCISCO DE PAULA 2017)

No mesmo documento disponibilizado pela Prefeitura Municipal de Satildeo

Francisco de Paula observam-se algumas informaccedilotildees a respeito da realizaccedilatildeo do

festival no ano de 2017

Art 1ordm - O 26ordm Ronco do Bugio realizar-se-aacute no municiacutepio de Satildeo Francisco de Paula nos dias 01 e 02 de setembro de 2017 Art 2ordm - a festividade agora em sua 26ordf ediccedilatildeo eacute genuiacutena pois eacute a uacutenica na Ameacuterica Latina com promoccedilatildeo da Prefeitura Municipal de Satildeo Francisco de Paula e do CTG Rodeio Serrano com apoio de oacutergatildeos puacuteblicos e iniciativa privada Art 3ordm - Satildeo objetivos do 26ordm Ronco do Bugio a) valorizar a tradiccedilatildeo arte cultura e a autecircntica muacutesica regionalista

gauacutecha atraveacutes do seu ritmo mais original b) prestigiar autores compositores inteacuterpretes e conjuntos regionalistas e

incentivar o surgimento de novos valores c) divulgar a muacutesica regional gauacutecha d) valorizar a relevante posiccedilatildeo na formaccedilatildeo de usos e costumes

caracteres e valores espirituais e morais do gauacutecho e) promover e incentivar a cultura gauacutecha projetando Satildeo Francisco de

Paula na maneira mais autecircntica no cenaacuterio do turismo (PREFEITURA MUNICIPAL DE SAtildeO FRANCISCO DE PAULA 2017)

Como eacute possiacutevel observar no artigo 4ordm ldquoA organizaccedilatildeo do 26ordm Ronco do Bugio

ficaraacute a cargo da Comissatildeo Organizadora composta por membros da Prefeitura

Municipal e do CTG Rodeio Serranordquo (PREFEITURA MUNICIPAL DE SAtildeO

50

FRANCISCO DE PAULA 2017) Devido agrave importacircncia identitaacuteria do festival para o

municiacutepio ao se chegar agrave cidade na deacutecada de 90 se encontrava o seguinte

outdoor

Figura 12 ndash Outdoor entrada da cidade na ERS-020

Fonte Souza (2003 p 17)

Assim como o tiacutetulo de ldquoCapital Mundial do Bugiordquo Satildeo Francisco de Paula ldquojaacute

obteve vaacuterios slogans dentre eles o de Satildeo Chico eacute terra boardquo (TEIXEIRA 2002 p

149-150)

Mesmo ocorrendo inferecircncias externas advindas com pessoas que trouxeram

consigo uma identidade diferente Soares28 em entrevista afirma ldquoSatildeo Chico eacute

identificada pela cultura tradicionalista gauacutecha a cuia em frente ao antigo preacutedio da

prefeitura demonstra o siacutembolo da hospitalidade de nosso povordquo A permanecircncia

ativa do CTG Rodeio Serrano na sede eacute outro indicativo forte da presente

identidade ligada as atividades do homem do campo Outro fato observado eacute a

constante praacutetica do laccedilo de vaca parada29 por jovens e crianccedilas nos paacutetios de suas

residecircncias bem como cavalarianos (homens mulheres jovens e crianccedilas) na

28 SOARES Luciana Olga Entrevista concedida agrave autora no dia 01 de marccedilo de 2018 29 Vaca parada uma espeacutecie de cavalete de madeira com aspectos de uma vaca usada por crianccedilas

que estatildeo iniciando neste esporte bem como usado como forma de entretenimento para jovens e adultos

51

avenida principal cavalgando entre os carros Ainda se percebe o respeito entre

motoristas de automotivos bicicletas e os cavalarianos todos ocupando o mesmo

espaccedilo

42 DISTRITO DE CAZUZA FERREIRA

O distrito de Cazuza Ferreira foi criado em 07 de janeiro de 1903 estando

situado a 85 quilocircmetros da Sede Andrade comenta em entrevista30 ldquoateacute acho que

Cazuza se desenvolveu primeiro que Satildeo Chicordquo31 visto que a criaccedilatildeo do distrito

acontece dias depois da emancipaccedilatildeo enquanto a criaccedilatildeo da vila do distrito de

Cazuza Ferreira se desenvolve segundo a entrevistada

A parte da Histoacuteria que eu sei eacute que houve a chegada de um Sr Chico Mestre eacute como eles chamavam Esse Sr veio as casas eram distantes umas das outras e ele comeccedilou a fazer oraccedilatildeo nas casas e reunir as pessoas e fundou o cemiteacuterio Entatildeo o Joseacute Ferreira de Castilhos que era dono daqui naquela eacutepoca um dos moradores que tinha bastante terra doou a terra para fazer a vila aiacute o que aconteceu segundo as histoacuterias era para ser ali onde eacute a cancha de laccedilo hoje do outro lado da estrada soacute que o terreno natildeo era apropriado entatildeo houve uma permuta com o Sr que era dono deste terreno aqui era Bossle aqui era bem mais alto e mais plano Entatildeo se construiu a Igreja e iniciou o povoamento da vila32

A moradora Basso ainda acrescenta que ldquoa vila foi sempre mais ou menos o

que ela eacute hojerdquo Ao observar o local pode-se perceber uma grande praccedila ao centro

rodeada de casas de comeacutercio posto de combustiacutevel posto de sauacutede o hotel a

Igreja Matriz juntamente com o salatildeo paroquial e casas residecircncias cujo aspecto

impressiona por a grande maioria das casas apresentam uma arquitetura que

perpassa o tempo A Figura 13 apresenta uma imagem da praccedila central tirada das

escadarias da Igreja Matriz

30 ANDRADE Nauro Bossle de Entrevista concedida agrave autora no dia 04 de marccedilo de 2018 31 Primeiro que Satildeo Chico eacute um termo comum usado pelos moradores do interior do municiacutepio de

Satildeo Francisco de Paula que ao se referir a Sede do municiacutepio usam o termo Satildeo Chico ou Satildeo Francisco de Paula pois seus moradores natildeo costumam na atualidade dizer lsquovou a Sedersquo e sim lsquovou a Satildeo Chicorsquo como se eles natildeo morassem no municiacutepio

32 BASSO Ceacutelia Pacheco Terres Entrevista concedida agrave autora no dia 04 de agosto de 2018

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Figura 13 ndash Praccedila Central de Cazuza Ferreira

Fonte acervo pessoal da autora (2018)

Apesar de ter a preservaccedilatildeo arquitetocircnica a moradora Basso declara

O pai contava e outras pessoas contam que teve uma eacutepoca que tinha faacutebrica de tamanca33 jaacute teve faacutebrica de guaranaacute de queijo bastante coisa no sentido de selaria mas tudo foi se extinguindo as pessoas as famiacutelias natildeo deram continuidade e se sumiram natildeo existe mais nada disso mas estas faacutebricas natildeo davam renda ou seja trabalho para pessoas de fora pois elas eram administradas e cuidadas pelas famiacutelias Daiacute houve o periacuteodo das serrarias enquanto pode extrair madeira era o forte a vila movimentada enriqueceram alguns comerciantes locais o momento que extinguiu aquele trabalho eles foram embora e o povo daqui acomodou entatildeo hoje a vila tem bastante pessoas que foram embora trabalhar assim na juventude e hoje aposentados voltaram pois aqui para jovem natildeo tem sobrevivecircncia o uacutenico trabalho eacute na escola tem nove professores e uma funcionaacuteria em alguns funcionaacuterios da prefeitura acho que satildeo seis que cuidam do plantel de maacutequinas a enfermeira e o pessoal que cuida do posto do correio tambeacutem tem a ferraria mas ali eacute soacute os da proacutepria famiacutelia entatildeo o jovem acaba tendo que ir embora34

Os entrevistados Basso e Andrade relatam que apesar das adversidades o

povo de Cazuza Ferreira tem um amor pelas suas tradiccedilotildees mantendo vivos trecircs

aspectos que ambos consideram a marca identitaacuteria de seu povo e afirmam com

33 Tamanca calccedilado comum na regiatildeo solado de madeira com uma proteccedilatildeo sobre as pontas dos

dedos indo ateacute o peito do peacute em couro 34 BASSO Ceacutelia Pacheco Terres Entrevista concedida agrave autora no dia 04 de agosto de 2018

53

convicccedilatildeo ldquofalar de Cazuza eacute cavalhada hotel e rodeiordquo enquanto Basso acrescenta

que ldquoas cavalhadas satildeo heranccedila dos portugueses e estatildeo espalhadiacutessimas ateacute

nacionalmente atraveacutes da miacutedia porque natildeo pesquisei mas ateacute onde sei no Rio

Grande do Sul soacute tem aquirdquo

Na comunidade ainda segundo Basso ldquoa apresentaccedilatildeo das cavalhadas se

iniciou por volta de 1890 e permanece ativa ateacute hoje no passado existiam trecircs

cavalhadas as dos brancos dos amarelos e dos negrosrdquo acrescentando ldquomas hoje

natildeo haacute mas essa diferenciaccedilatildeordquo Em poliacutegrafo organizado por uma moradora local a

mesma explica que a cavalhada ldquoeacute uma luta simulada em que haacute vinte e quatro

participantes sendo doze de cada equiperdquo35 por meio da evoluccedilatildeo equestre e

movimentos de espada lanccedila e garrucha representando a batalha entre mouros e

cristatildeos Segundo esta moradora ldquoa batalha sempre termina sendo vencida pelos

cristatildeos demonstrando a submissatildeo dos mouros e a supremacia da religiatildeo cristatilderdquo

Atualmente o grupo depende da boa vontade de seus participantes conforme

explica

Hoje se tornou caro eacute exame dos cavalos transporte depende do querer das pessoas da boa vontade e tem pessoas engajadas que natildeo largam a famiacutelia do Renau que ele eacute o presidente do grupo ele tem um amor tatildeo grande pelas cavalhadas porque ele jaacute recebeu do pai dele do teu avocirc e do seu Ivo Cardoso e a vida dele agraves vezes me desgosto de alguma coisa pois faccedilo a narrativa do que estaacute sendo apresentado mas daiacute eu penso natildeo posso abandonar (sorri) Eacute uma tradiccedilatildeo que natildeo pode morrer mas os filhos do Renau o Marcos e o Marcelo daratildeo continuidade faz parte da famiacutelia tu sabe eacute da mesma famiacutelia Eacute uma grande tradiccedilatildeo que natildeo pode desaparecer temos que continuar peleando36

As cavalhadas satildeo apresentadas na praccedila central sempre durantes as festas

religiosas que acontecem na comunidade sendo assim organizadas

No primeiro ou segundo final de semana de fevereiro tem a festa da Nossa Senhora do Belo Horizonte que eacute a padroeira daqui Agora devido agrave comissatildeo e o padre um ano tem a festa dos morenos e no outro tem a dos agricultores que eram chamados de amarelos antigamente cuja devoccedilatildeo se daacute agrave Nossa Senhora do Rosaacuterio e Nossa Senhora da Penha Antigamente cada um tinha seu espaccedilo social para realizar a festa atualmente soacute se manteve a tradiccedilatildeo de comemorar os santos este ano eacute festa dos morenos ela seraacute dia 13 e 14 de outubro Todas as festas

35 Sendo que doze cavaleiros que representam os cristatildeos vestem tuacutenicas de veludo azul escuro e

os doze cavaleiros mouros vestem tuacutenicas vermelhas Sobre os ombros da tuacutenica haacute uma capinha esta capinha traz enfeites prateados bordados com lantejoulas e bototildees dourados e franjas de seda branca Todos os participantes usam bombacha branca de brim botas campeiras pretas chapeacuteu de palha de aba larga virada para cima com laccedilo de fita e barbicacho de acordo com a cor da tuacutenica

36 BASSO Ceacutelia Pacheco Terres Entrevista concedida agrave autora no dia 04 de agosto de 2018

54

religiosas ocorrem em dois dias saacutebado apresentaccedilatildeo das cavalhadas novena janta e baile no domingo tem a missa na Igreja Matriz logo apoacutes almoccedilo e reuniatildeo danccedilante Atualmente resgataram em dezembro a festa a Satildeo Cristoacutevatildeo sempre no primeiro final de semana de dezembro eacute uma missa com benccedilatildeo aos carros durante a procissatildeo e um almoccedilo ao meio-dia esta se daacute somente em um dia E tambeacutem temos de dois em dois anos a festa organizada pelo grupo das Cavalhadas esta ocorre em maio daiacute37

Os moradores explicam que a separaccedilatildeo racial desapareceu com o tempo

poreacutem se manteacutem a cultura de festejar todos os santos o que demonstra que o povo

de Cazuza eacute bastante devoto e cristatildeo E acrescenta em tempos idos que durante

as festas religiosas as pessoas se hospedavam no hotel segundo Basso que ldquoele

recebia tinha mercado junto teve ateacute cinema o pessoal gostava da comida da

Dona Vilma que era minha sogrardquo Este hotel eacute outro marco que identifica Cazuza

Ferreira poreacutem os moradores explicam que atualmente o Hotel do Campo manteacutem a

arquitetura mas funciona em uma modalidade diferenciada pois natildeo haacute como

sobreviver Entatildeo ele recebe hospeda sob reserva antecipada poreacutem natildeo serve

almoccedilo e janta as refeiccedilotildees satildeo feitas no Cantinho do Aconchego com quem

manteacutem uma parceria

Figura 14 ndash Hotel do Campo

Fonte acervo pessoal da autora (2018)

37 BASSO Ceacutelia Pacheco Terres Entrevista concedida agrave autora no dia 04 de agosto de 2018

55

Nesta comunidade tambeacutem eacute muito forte segundo os entrevistados38 a

tradiccedilatildeo gauacutecha que adveacutem do homem do campo o amante dos rodeios que nos

finais de semana saem de suas propriedades e se deslocam a outras comunidades

para participar dos eventos campeiros como o tiro de laccedilo Tambeacutem explanam que

existe o CTG Adatildeo Castilhos que estaacute interditado jaacute faz quase seis anos desde

que comeccedilaram a ser exigidos os PPCIs A partir deste momento eles natildeo puderam

mais fazer eventos ali eles realizam os rodeios ou festas campeiras mas laacute dentro

natildeo conseguiram mais fazer nada e taacute difiacutecil vai muito dinheiro para cumprir todas

as exigecircncias Sendo que este espaccedilo na deacutecada de 80 do seacuteculo XX foi palco de

grandes rodeios com apresentaccedilotildees campeiras artiacutesticas e grandes bailes A

moradora explica39 ldquoA Claudiana esposa do Paulo Cesar atual presidente se

inscreveu no projeto Meu Galpatildeo de Cara Nova do Galpatildeo Crioulo da RBS TV

tomara que ela seja classificadardquo Este projeto ajuda na reconstruccedilatildeo dos CTGs pelo

Rio Grande do Sul

Ao pesquisar sobre Cazuza Ferreira percebe-se o quatildeo forte eacute o culto agraves

tradiccedilotildees e o esforccedilo de seus moradores para elas permaneccedilam para futuras

geraccedilotildees visto que o tempo passou e a tradiccedilatildeo local natildeo sofreu alteraccedilotildees

43 DISTRITO DE TAINHAS

O distrito de Tainhas foi criado em 18 de outubro de 1922 estando situado a

33 quilocircmetros da Sede Se desenvolveu no entroncamento de duas rodovias a RS-

020 e a RS-453 cujas rodovias cortavam a vila do distrito Com o advento da

construccedilatildeo da Rota do Sol importante rodovia que hoje que liga Caxias do Sul agraves

praias aleacutem da construccedilatildeo do asfalto da RS-020 que vai a Satildeo Francisco de Paula

tudo mudou O morador Fagundes relata em entrevista40 ldquoaqui era mais habitado

por criadores fazendeiros e agora depois que saiu essa Rota do Sol o movimento

cresceu muito neacute mais por fora da vila entatildeo natildeo trouxe benefiacutecio para noacutesrdquo

Percebe-se que moradores entendem a importacircncia da construccedilatildeo das

rodovias poreacutem as mesmas natildeo trouxeram benefiacutecios econocircmicos para os

moradores locais

38 ANDRADE Nauro Bossle de BASSO Ceacutelia Pacheco Terres Entrevistas concedidas agrave autora no

dia 04 de agosto de 2018 39 BASSO Ceacutelia Pacheco Terres Entrevista concedida agrave autora dia 04 de agosto de 2018 40 FAGUNDES Darci da Silva Entrevista concedida agrave autora no dia 24 de fevereiro de 2018

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Ainda conforme o morador Fagundes41 ldquoo iniacutecio da vila se deu devido agrave

necessidade de parada dos caminhoneiros que transportavam madeira como era

tudo estrada de chatildeo Tainhas ficava em local centralizado se construiu um hotel

que era do seu Pedro Pinhatildeo e da Dona Luisardquo A partir de entatildeo comeccedilou a

construccedilatildeo de casas e se formou a vila onde antes eram terras dos Pinto os

primeiros moradores de Tainhas tanto que o morador ressalta na entrevista42 ldquoo

nome da escola eacute Oliacutempio Soares Pinto que era o proprietaacuterio dessa terra e uma

das professoras mais antigas era Guilherma Pintordquo

Tainhas estaacute rodeada por campos matos de pinnus ilhote e lavouras

atualmente e explica

Hoje aqui eacute pinus e granjeiro plantando batata soja milho e a maioria veio de fora os moradores antigos desapareceram arrendaram ou venderam suas terras para esse pessoal que veio de Ibiraiara e de Maquineacute Itati Trecircs Forquilhas43

Percebe-se que a criaccedilatildeo de gado ou seja a pecuaacuteria extensiva deu lugar a

outras culturas com a chegada de novas pessoas ao distrito Mas segundo os

moradores o culto ao tradicionalismo gauacutecho permanece visto que no distrito

existe

O parque de rodeios do Rodeio Crioulo eacute o mais antigo que noacutes temos aqui natildeo sei se natildeo o primeiro piquete registrado de Satildeo Chico tem uns sessenta anos a nossa tradiccedilatildeo eacute o laccedilo O nosso rodeio acontece sempre no iniacutecio de janeiro hoje eu natildeo laccedilo mais mas o meu neto continua a minha tradiccedilatildeo A escola daqui faz a semana farroupilha com ronda eacute tudo muito lindo e assim se mantem a cultura44

A imagem apresentada na Figura 15 reforccedila a fala e a importacircncia do Piquete

de Laccediladores Rodeio Crioulo que atualmente mesmo estando nas terras de Satildeo

Francisco de Paula divisa com o municiacutepio de Cambaraacute do Sul por opccedilatildeo essa

entidade tradicionalista pertence ao entatildeo municiacutepio de Cambaraacute do Sul Poreacutem sua

fundaccedilatildeo acontece em 20 de janeiro de 1961 quando o entatildeo hoje municiacutepio de

Cambaraacute do Sul ainda era distrito de Satildeo Francisco de Paula

41 FAGUNDES Darci da Silva Entrevista concedida agrave autora no dia 24 de fevereiro de 2018 42 FAGUNDES Darci da Silva Entrevista concedida agrave autora no dia 24 de fevereiro de 2018 43 FAGUNDES Darci da Silva Entrevista concedida agrave autora no dia 24 de fevereiro de 2018 44 FAGUNDES Darci da Silva Entrevista concedida agrave autora no dia 24 de fevereiro de 2018

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Figura 15 ndash Flacircmula de comemoraccedilatildeo aos 50 anos da entidade

Fonte acervo pessoal da autora (2018)

Outro evento importante no distrito eacute realizado pela Escola Estadual de

Ensino Fundamental Oliacutempio Soares Pinto que satildeo atividades ligadas as tradiccedilotildees

gauacutechas na Semana Farroupilha como cavalgadas e gincanas com a participaccedilatildeo

de toda comunidade nesta semana principalmente a comunidade de Tainhas

ldquorespira tradicionalismordquo

O distrito de Tainhas atualmente conta com um posto de sauacutede e o correio

satildeo os serviccedilos puacuteblicos que funcionam no distrito visto que o cartoacuterio fechou O

entrevistado Fagundes relata45 ldquoeu era o juiz de paz desse Cartoacuterio minha funccedilatildeo

era julgar os casamentos mas daiacute fechou hoje o pessoal tem que ir a Satildeo Chicordquo O

morador ainda acrescenta ldquoateacute a rodoviaacuteria fechou os ocircnibus passam aqui Satildeo

Marcos que vem de Caxias e vatildeo a Torres desce de manhatilde e sobe de tarde Citral

de Satildeo Chico a Ouro Verde e agora Transneves da Pedra Lisa para Satildeo Chicordquo

Com uma certa tristeza relata46 ldquoaqui em Tainhas soacute tem o Cafeacute Tainhas do

Mauro eacute o brilho de Tainhas seraacute ponto histoacuterico daqui um tempo todo mundo fala

bem do Cafeacute Tainhasrdquo

Notoriamente a chegada do asfalto modificou a vida das pessoas neste

distrito visto que que os campos foram em boa parte transformados em lavoura se

45 FAGUNDES Darci da Silva Entrevista concedida agrave autora no dia 24 de fevereiro de 2018 46 FAGUNDES Darci da Silva Entrevista concedida agrave autora no dia 24 de fevereiro de 2018

58

percebe uma vila pacata jaacute que todo o movimento foi desviado por fora da vila e a

mesma natildeo proporciona lazer para as pessoas que ao terminarem o ensino

fundamental para continuar seus estudos precisam fazer uso do transporte escolar

e se deslocar ateacute a Sede ou ir ao municiacutepio de Cambaraacute do Sul

44 DISTRITO DE ELETRA

O distrito de Eletra foi criado em 31 de dezembro de 1932 estando situado a

19 quilocircmetros da Sede do municiacutepio Poreacutem a populaccedilatildeo local chama de Salto e

seu nome vem das barragens do Salto Blang e Divisa construiacutedas sobre o Rio do

Salto que atravessa o distrito Segundo a moradora local47 Soares ldquoas barragens

que fornecem aacutegua para as usinas no municiacutepio de Satildeo Francisco de Paula e nos

municiacutepios vizinhos de Canela Gramado e Cambaraacute do Sulrdquo A Figura 16 apresenta

uma imagem da Barragem do Salto barragem esta que se situa proacutexima da vila do

distrito

Figura 16 ndash Barragem do Salto

Fonte acervo pessoal da autora (2018)

Ao observarmos a Figura 16 percebe-se que o acesso da vila para o interior

do distrito acontece por uma ponte de concreto estreita com piso bastante irregular

47 SOARES Susana Marques Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018

59

e que em periacuteodos de fortes chuvas o acesso fica interrompido devido agrave altura

Poreacutem ao lado direito percebe-se uma estrutura pequena que segundo o morador

Gomes

Foi uma tentativa de uma empresa japonese construir uma ponte soacute que quando estavam construindo deu uma enchente e levou tudo a aacutegua abaixo a empresa foi embora e nunca mais voltou Jaacute foram feitos estudos que a ponte tem que ser construiacuteda mais para baixo e em forma de arco se natildeo a chuva leva de novo poreacutem natildeo acredito que saia algum dia48

Entende-se que a construccedilatildeo desta nova ponte melhoraria o acesso dos

proprietaacuterios rurais que para saiacuterem de suas propriedades em eacutepocas de chuva

intensa necessitam fazer um longo caminho por estradas de chatildeo batido para terem

acesso ao municiacutepio de Canela bem como a Sede de Satildeo Francisco de Paula

Contudo a moradora explica que a vila do distrito se forma muito antes da

construccedilatildeo da barragem

Em 1915 era uma fazenda chamada Fazenda do Salto e esta pertencia a Francisco Soares de Oliveira Neste local havia sua casa de moradia um galpatildeo e mangueiras onde realizava as suas atividades poreacutem em 1916 o Chico resolveu transferir a casa da Fazendo do Cerro para o Salto tambeacutem sendo construiacuteda aiacute a segunda casa a partir de entatildeo se iniciou o povoado com a construccedilatildeo de novas residecircncias para seus empregados e posteriormente se instalou uma serraria dos irmatildeos Delavechia esta sendo movida a aacutegua dando definitivamente o iniacutecio do povoamento da vila49

Ao analisar a fala da moradora local se percebe que onde hoje se encontra a

vila do distrito de Eletra jaacute foi uma fazenda identificando-se com a mesma formaccedilatildeo

do distrito Sede que tambeacutem surge de terras doadas por um fazendeiro Segundo a

entrevistada Soares50 ldquoa sua casa eacute uma das mais antigas tem 102 anos foi

construiacuteda de pinheiro serrada aqui mesmo na serrariardquo pode-se observar o oacutetimo

estado de conversaccedilatildeo da casa que traz traccedilos arquitetocircnicos europeus na sua

construccedilatildeo natildeo se tem imagem da casa visto que a entrevistada natildeo permitiu

nenhuma imagem de sua residecircncia

Outro fator importante do povoamento da vila segundo o morador local

Gomes51 ldquofoi o iniacutecio da construccedilatildeo da Barragem do Salto no ano de 1925rdquo onde

48 GOMES Jaures Feijoacute Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018 49 SOARES Susana Marques Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018 50 SOARES Susana Marques Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018 51 GOMES Jaures Feijoacute Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018

60

vieram muitos funcionaacuterios de vaacuterios lugares tendo como mestre da obra segundo

os moradores locais52 o ldquoAcircngelo Goubertrdquo

Devido agrave necessidade que se formou no distrito neste periacuteodo se abriu um

hotel farmaacutecia cartoacuterio rodoviaacuteria e cinema a moradora local Soares saudosa

diz53 ldquotudo fechou aqui natildeo tem mais nadardquo referindo-se a atual situaccedilatildeo que a vila

se encontra

Os moradores ainda declaram sobre o distrito54 ldquoestaacute abandonado pelo poder

puacuteblico ateacute o calccedilamento das ruas foi arrancadordquo poreacutem outrora foi um local de

muita alegria

A vida era uma festa permanente o tio Chico era casado com a tia Lisoca ela foi para Porto Alegre para os filhos estudar quando vinham nas feacuterias traziam os amigos O tio Chico pagava um gaiteiro por mecircs para ele toca toda noite entatildeo era aquele divertimento55

Atualmente na vila existe a Escola Estadual de Ensino Fundamental Cristino

Ramos com menos de cem alunos e a festa cristatilde cuja celebraccedilatildeo ocorre em

fevereiro sendo Santo Antocircnio o padroeiro local A moradora explica sobre a

construccedilatildeo da capela

A primeira capela a tempestade derrubou em 1957 se construiu outra O santo padroeiro eacute Santo Antocircnio a imagem foi trazida por quarenta cavaleiros Daiacute o padre pediu para que a imagem de Nossa Senhora Catarina tambeacutem fosse acolhida hoje temos dois padroeiros mas para mim Santo Antocircnio eacute o principal56

Percebe-se na fala dos moradores a sua devoccedilatildeo e sua preocupaccedilatildeo com o

futuro da vila visto que ateacute a questatildeo do cemiteacuterio jaacute foi palco de discussatildeo pois o

cemiteacuterio da vila iniciou pela famiacutelia dos Soares sendo este particular Poreacutem a

moradora explica com certa indignaccedilatildeo

O cemiteacuterio era particular da famiacutelia Soares teve um tempo que resolveram abrir veio gente ateacute de Passo Fundo ser enterrada aqui natildeo pediam para ningueacutem tomaram conta Daiacute organizamos uma comissatildeo responsaacutevel decidimos que tinha que ter uma contribuiccedilatildeo e natildeo podia trazer gente de fora para enterrar soacute gente daqui Ningueacutem pagou Aiacute mandei fazer cerca nova a parte dos Soares sempre limpei mas [] hoje acabo limpando tudo

52 GOMES Jaures Feijoacute SOARES Susana Marques Entrevistas concedidas agrave autora no dia 15 de

fevereiro de 2018 53 SOARES Susana Marques Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018 54 GOMES Jaures Feijoacute SOARES Susana Marques Entrevistas concedidas agrave autora no dia 15 de

fevereiro de 2018 55 SOARES Susana Marques Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018 56 SOARES Susana Marques Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018

61

porque ningueacutem limpa Enquanto eu for viva vou fazer depois vatildeo entregar para a prefeitura igreja natildeo sei57

A Figura 17 apresenta uma foto da igreja atual tendo em sua lateral direita a

capela mortuaacuteria e ao fundo o Salatildeo Paroquial da comunidade onde ocorre a festa

do Santo Padroeiro

Figura 17 ndash Igreja Santo Antocircnio ndash Distrito de Eletra

Fonte acervo pessoal da autora (2018)

Ao conversar com os moradores locais pode-se observar a feacute cristatilde poreacutem

ambos relatam que a festa de fevereiro atualmente eacute pouco divulgada motivo pelo

qual acreditam que natildeo haja um nuacutemero expressivo de pessoas Ambos sentem um

apreccedilo pelo local onde nasceram e vivem poreacutem ambos relatam

Aqui eacute lugar de dormir as pessoas trabalham em Canela e vem dormir aqui a grande maioria natildeo eacute daqui vieram de fora haacute muitas casas de veraneio tudo gente de Porto Alegre que vem passar feacuterias natildeo rende nada para aqui o que precisam trazem tudo de fora A maioria de quem mora aqui soacute dorme passa o dia fora O ocircnibus das 7 horas sai lotado a gente natildeo conhece mais ningueacutem daqui mesmo soacute noacutes Susana e eu58

Mesmo a vila sendo um local de parada estaacute rodeada de lindos campos e

fazendas cuja a atividade principal eacute a pecuaacuteria extensiva natildeo proporciona

57 SOARES Susana Marques Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018 58 GOMES Jaures Feijoacute Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018

62

trabalho no local motivo pelo qual seus moradores buscam sua subsistecircncia em

outro municiacutepio poreacutem possui uma exuberante natureza relata cheia de esperanccedila

a moradora local59 ldquoeu tenho esperanccedila que algueacutem olhe para caacute e veja as belezas

que tem aqui que o lugar volte a se desenvolverrdquo desenvolvimento este que

poderia vir atraveacutes da exploraccedilatildeo do turismo rural ldquoSe vocecirc quiser comer alguma

coisa agora natildeo vai encontrar nada aqui soacute tem lsquobutecorsquo60 mas eles natildeo vendem

nada nem sanduiacuteche pastel eacute uma vergonhardquo fala indignado o morador Gomes61

A populaccedilatildeo que vive nas fazendas aleacutem de ter as lides campeiras no seu

dia-a-dia nos finais de semana segundo o morador Gomes62 ldquolaccedila em torneio vai

nos rodeiosrdquo o que marca a presenccedila do tradicionalismo gauacutecho em uma parte da

populaccedilatildeo do distrito poreacutem com relaccedilatildeo aos moradores da vila natildeo haacute algo que

os identifique visto a miscigenaccedilatildeo que ocorreu e por haver muitas casas de

veraneio no local

45 DISTRITO DO JUAacute

O distrito do Juaacute foi criado em 10 de maio de 1950 e fica distante 65

quilocircmetros da Sede O distrito recebe esse nome devido a um espinho que havia

em abundacircncia no local nome este dado por tropeiros

Os accedilorianos que vinham de Santo Antocircnio da Patrulha e iam para Vacaria com cargueiros eles vinham fazer repouso laacute em cima no reduto e ali tinha muita frutinha do juaacute entatildeo os tropeiros saiam de Santo Antocircnio e diziam vamos posa laacute nos juaacute daiacute o nome do lugar que permanece ateacute hoje63

Juaacute eacute o nome dado a um espinho muito comum na regiatildeo dos campos de

cima da serra que daacute uma fruta amarela em formato redondo que segundo os

moradores locais eacute uma fruta venenosa conforme se observa na Figura 18

59 SOARES Susana Marques Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018 60 Buteco pequeno comeacutercio que normalmente vende bebidas alcooacutelicas e possui mesa de sinuca 61 GOMES Jaures Feijoacute Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018 62 GOMES Jaures Feijoacute Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018 63 REIS Orides Entrevista concedida agrave autora no dia 12 de maio de 2018

63

Figura 18 ndash Peacute com a fruta conhecido como Juaacute

Fonte acervo de Clessandra Palhano (moradora local) (2018)

O reduto citado pelo morador local ficava em uma fazenda local onde hoje se

encontra a vila do distrito conforme o entrevistado Reis explica

O primeiro morador eu natildeo lembro soacute sei que o Juaacute era de pouca gente famiacutelia Pedroso e Castilhos daiacute foram morrendo inventariando e vendendo e aos poucos se formou a vila importante o dono de tudo isso aiacute tinha dois escravos no iniacutecio teve escravidatildeo claro na eacutepoca de mil oitocentos e pouco eu acho mas teve E hoje deve ter descendente destes escravos por aiacute64

Escravidatildeo que vai dar origem ao preconceito racial e a um modelo particular

da localidade que sem precisar data explica o morador

Aqui tinha dois salatildeo trecircs com o da Igreja mas era dois salatildeo social Era um clube de brancos que era dos ricos neacute fazendeiros o Salatildeo Vera Cruz e depois fundaram o Satildeo Valentim que era dos morenos que na eacutepoca ateacute eu fui presidente Cada um no seu salatildeo agora quando dava a festa cristatilde em homenagem ao Satildeo Joatildeo de Deus todo o povo reunia-se quando chegava de noite no saacutebado no baile entatildeo cada um ia pro seu salatildeo A muacutesica ficava no salatildeo dos brancos daiacute colocava umas caixas de som laacute pros morenos com um fio pra eles danccedila Um natildeo podia entra no baile do outro tinha o presidente para cuida Cada um no seu tudo se respeitava e obedecia aquela ordem65

Ainda acrescenta a moradora local Santos

64 REIS Orides Entrevista concedida agrave autora no dia 12 de maio de 2018 65 REIS Orides Entrevista concedida agrave autora no dia 12 de maio de 2018

64

O nosso eu natildeo me lembro o nome tem tanto papel mas natildeo sei onde estaacute o nosso dos pretos neacute ningueacutem implicava eles natildeo deixavam noacutes entra no salatildeo Vera Cruz eu entrava de cozinheira empregada porque ali era lugar dos ricaccedilos eles podiam se associar mas o nosso tambeacutem enchia mas eles iam no nosso baile de nego soacute olhavam As festas duravam dias Tinha aquele foguetoacuterio era tatildeo bonito66

Percebe-se na fala dos moradores como esta divisatildeo racial se fazia presente

que havia por parte dos negros um profundo respeito pelos brancos mesmo eles

tendo acesso ao salatildeo Vera Cruz somente para servi-los em nenhum momento se

percebeu que eles se sentissem diminuiacutedos pela situaccedilatildeo ateacute pela cultura que

advinha desde os primeiros moradores locais

Esta divisatildeo social permanece por longo tempo e somente vai desaparecer

nos anos 80 do seacuteculo XX com a contribuiccedilatildeo do Frei Abiacutelio que veio da Vacaria

durante Missotildees convocadas pelo paacuteroco local padre Afonso que conseguiu

modificar esta organizaccedilatildeo implantando a ideia de igualdade e ignorando tudo

aquilo a partir de entatildeo os negros comeccedilaram a frequentar a sociedade Vera Cruz

contribuiccedilatildeo dos entrevistados67 que ao abordar o assunto demonstraram repulsa

pelo passado mas ao mesmo tempo reconhecem que o racismo ainda eacute presente

na comunidade poreacutem devido agraves leis existe um cuidado maior

Atualmente negros e brancos convivem em harmonia participam da festa

cristatilde cujo padroeiro eacute Satildeo Joatildeo de Deus e dos torneios de laccedilo mas geralmente

quem laccedila satildeo os fazendeiros Saudoso o morador68 afirma que ldquouma vez tinha as

carreradas tinha trecircs canchas passava o domingo nas canchas brincando nas

corridas de cavalos tudo terminourdquo Acrescenta69 ainda que ldquoem 70 80 tinha o

futebol o campo era na baixada acho que tem ainda trofeacuteu ai mas daiacute a gurizada

foi embora para a cidade terminou o timerdquo

A vila se construiu de maneira simples tendo a Igreja Catoacutelica com o Salatildeo

Paroquial agrave direita o antigo Centro de Tradiccedilotildees Gauacutechas Laccedilo Velho do Juaacute onde

resta apenas o preacutedio de madeira corroiacuteda pelo tempo ao fundo a cancha de laccedilo

do Piquete de Laccediladores Velho do Juaacute entidade tradicionalista que se manteacutem ativa

desde o iniacutecio da deacutecada de 1960 ao redor haacute casas de moradias que formam ao

centro uma grande praccedila sem nenhuma infraestrutura em frente a esta praccedila

66 SANTOS Deotildes Palhano dos Entrevista concedida agrave autora no dia 12 de maio de 2018 67 REIS Orides SANTOS Deotildes Palhano Entrevistas concedida agrave autora no dia 12 de maio de

2018 68 REIS Orides Entrevista concedida agrave autora no dia 12 de maio de 2018 69 REIS Orides Entrevista concedida agrave autora no dia 12 de maio de 2018

65

perpassa uma rua de chatildeo batido sendo que a escola da comunidade fica do outro

lado a escola eacute municipal se chama Bento Eziacutedio Rodrigues atende

aproximadamente vinte alunos que estatildeo matriculados nas seacuteries iniciais do ensino

fundamental tendo duas professoras e um funcionaacuterio para fazer merenda e limpar

o paacutetio como se pode observar na Figura 19

Figura 19 ndash Praccedila Vila do Distrito Juaacute ao fundo cancha de laccedilo

Fonte acervo pessoal da autora (2018)

Ambos os entrevistados70 explicam que o Juaacute atualmente eacute um lugar de

idosos aposentados que outrora as pessoas viviam das roccedilas e da pecuaacuteria

extensiva na deacutecada de 1980 com o advento da induacutestria em Caxias do Sul os

jovens abandonaram seu modo de vida e foram buscar novas oportunidades poreacutem

estes jovens que foram embora retornam com frequecircncia natildeo perdendo a sua

essecircncia Relataram que a uacutenica fonte de trabalho eacute ser peatildeo de fazenda fazendas

estas que produzem o queijo serrano ou vendem leite para a Piaacute71 sendo que a

lavoura eacute para subsistecircncia Outra fonte de renda eacute ser funcionaacuterio da serraria cujo

proprietaacuterio e Joatildeo Egiacutedio que funciona proacuteximo da vila Outro fator importante eacute a

venda de pequenas chaacutecaras para moradores de Caxias do Sul que vem aos finais

70 REIS Orides SANTOS Deotildes Palhano Entrevistas concedidas agrave autora no dia 12 de maio de

2018 71 Piaacute Cooperativa Agropecuaacuteria Petroacutepolis Ltda Empresa que faz a coleta do leite nas fazendas da

regiatildeo

66

de semana descansar na localidade poreacutem se percebe que estes novos moradores

muitas vezes natildeo interagem com os moradores locais

Segundo o morador Reis72 ldquoapesar da vinda de pessoas de outros lugares o

Juaacute natildeo perdeu sua identidade fala em Juaacute lembra pinhatildeo colheita do pinhatildeo ateacute

haacute uma criacutetica que diz na eacutepoca do pinhatildeo o juazeiro fala grossordquo Ditado que o

entrevistado73 reafirma sorrindo ldquona eacutepoca do pinhatildeo o juazeiro fala grosso claro

que eacute apenas um dito popular uma maneira de se referir mas sempre eacute dito haacute

aqueles que natildeo gostamrdquo

Nota-se que a vida na comunidade do Juaacute se passa de forma tranquila com

poucos moradores que sua identidade estaacute relacionada agrave pecuaacuteria extensiva com

as lides com o gado bem como ao pinhatildeo uma fruta tiacutepica que se desenvolve na

Araucaacuteria ou pinheiro nativo como eacute conhecido na regiatildeo O pinhatildeo seja ele

assado cozido ou paccediloca74 eacute muito consumido pelos moradores do interior de Satildeo

Francisco de Paula durante o inverno inclusive como mistura do cafeacute da manhatilde

46 DISTRITO DO RINCAtildeO DOS KROEFF

O distrito de Rincatildeo dos Kroeff foi criado em 10 de maio de 1950 Fica a 35

quilocircmetros distante da Sede poreacutem muito antes de se institucionalizar oficialmente

este espaccedilo moradores locais contam como tudo se iniciou

Meu avocirc foi um dos primeiros a vim para caacute ele se chamava Guilherme Faciole ele nasceu no navio vindo da Itaacutelia Ele contava que teve uma desavenccedila em Caxias e fincou o peacute pra caacute pra natildeo acharem ele que aqui era soacute mato e na revoluccedilatildeo de 35 ele fugia de casa para natildeo ser levado pelas tropas os piquetes levavam para combater entatildeo ele sempre dizia que pousou vaacuterias noites embaixo dos peraus da serra do Umbu para natildeo ser levado O falecido vovocirc vivia da caccedila do porco do mato tateti ele fazia charque de porco para ter a carne ele viveu 106 anos e dizia se natildeo tivesse fumado viveria mais uns dez isso faz parte da histoacuteria do Rincatildeo dos Kroeff Junto teve o falecido Acircngelo Menegaacutes que entro aqui na mesma eacutepoca Eles satildeo os fundadores do distrito75

O acesso ao distrito Rincatildeo dos Kroeff permanece totalmente pela estrada de

chatildeo batido sendo possiacutevel ir ao municiacutepio de Maquineacute descendo pela serra do

Umbu Poreacutem muito antes da estrada a busca de mantimentos e o escoamento da

72 REIS Orides Entrevista concedida agrave autora no dia 12 de maio de 2018 73 REIS Orides Entrevista concedida agrave autora no dia 12 de maio de 2018 74 Paccediloca carne de porco moiacuteda e frita no azeite ou banha a qual se acrescenta o pinhatildeo jaacute cozido

e moiacutedo 75 FACIOLE Reinaldo Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de marccedilo de 2018

67

produccedilatildeo se dava pelos carreiros visto que natildeo havia abertura de estrada e nem

viatura76 como os moradores relatam

Tudo era na tropeada as tropas que ia para Rolante Na tropeada saia um tropeiro na frente e um recircs com um cincerro que era a madrinheira da tropa saia laacute pelo Chuvisqueiro e saia laacute em Rolante perdia boi na estrada ficava semanas boi perdido agraves vezes nem se achava mais tambeacutem tinha tropa de porco e tinha as tropeadas de mula puxando milho feijatildeo trigo tudo produzido aqui e levado de cargueiro carreta era muito pouco porque natildeo tinha estrada para anda era soacute os trilhos pelo meio dos matos e campos e se produzia milho era o inverno inteiro saia tropas e mais tropas com trinta quarenta mulas burros transportando mantimentos da produccedilatildeo do gratildeo haacute tambeacutem tinha a flor de Pireto que era lucro ningueacutem conhece isso aiacute hoje essa flor era levada para Taquara e fazia veneno para formiga tudo que era tipo de veneno era uma flor muito toacutexica Acredita tropear galinha pois eacute a gente criava bastante saia com os cargueiros como era a vida eles faziam um girau no cesto naqueles balaios para fazer duas camas uma mais em cima e outra em baixo daiacute quando era veratildeo era muito quente tinha que no meio da viagem tirar de dentro do cesto botar na aacutegua na sanga para natildeo morrer ateacute chegar no mercado dali para praia a eacutepoca que mais vendia era novembro e dezembro daiacute tinha preccedilo bom tudo criada solta aviaacuterio nem se falava77

Ao ouvir os moradores se percebe que a construccedilatildeo do distrito aconteceu

devido ao esforccedilo e trabalho de muitas pessoas visto que o local era de mata nativa

densa e precisou ser desmatado para ser ocupado pelas pessoas Explica o

entrevistado Faciole78 ldquopara fazer uma lavoura tambeacutem precisava derrubar o

pinheiro seu Onorino Buffon me contou que faziam fogo ao redor do pinheiro eles

eram muito grosso para derrubar a machado entatildeo faziam fogo secavam para

depois fazer a roccedilardquo E a moradora79 local acrescenta ldquoaqui tambeacutem tinha os

barbacuazeiros produziam erva mais aqui eles soacute tiravam a erva e sapecavam e

depois ia para outro lugar industrializa tudo era diferenterdquo

Poreacutem segundo os moradores este modelo de vida rudimentar se modifica

com a chegada das serrarias sendo que a dos Kroeff foi a primeira juntamente com

a serraria se viu a necessidade da construccedilatildeo de novas casas para os

trabalhadores surgindo ali a vila do distrito Rincatildeo dos Kroeff no iniacutecio a serraria era

tudo manual relata Faciole80 ldquoa uacutenica forma de tira a madeira era com um enfieira

76 Viatura se refere a carro de passeio caminhotildees 77 FACIOLE Reinaldo FACIOLE Maria Madalena Scalco Entrevistas concedidas agrave autora no dia 18

de marccedilo de 2018 78 FACIOLE Reinaldo Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de marccedilo de 2018 79 FACIOLE Maria Madalena Scalco Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de marccedilo de 2018 80 FACIOLE Reinaldo Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de marccedilo de 2018

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de boi eu cheguei a ver cinco ternos de boi carreiro81 emendado puxando um

pinheiro eacute uma bicheira de boi natildeo tinha outra formardquo

Rincatildeo dos Kroeff eacute o menor distrito de Satildeo Francisco de Paula poreacutem em

suas terras se desenvolveu a cultura dos hortifrutigranjeiros desde muito cedo jaacute

que sua colonizaccedilatildeo eacute basicamente italiana e alematilde e os italianos tecircm a cultura do

plantio visando lucro A moradora Faciole82 afirma ldquotudo comeccedilou por aqui depois

se expandiu para o municiacutepio comeccedilamos com moranga branca depois repolho

couve broacutecolis alface e daiacute veio beterraba e tudo o restordquo Acrescenta ainda83 que

ldquodaqui saiacuteram os primeiros caminhotildees de hortifruacuteti do municiacutepio para a Ceasa teve

eacutepoca de sair quarenta caminhotildees por dia do Rincatildeo hoje natildeo sai mais porque

muitos foram buscar novos lugares para plantarrdquo E juntamente com a mudanccedila dos

proprietaacuterios em busca de novas terras muitos de seus funcionaacuterios foram embora

junto afirma em entrevista o morador local84 ldquomuita gente do Rincatildeo foi embora

muitas gurias foram embora para estudar para achar emprego e natildeo voltaram maisrdquo

Atraveacutes da fala da moradora pode-se observar que apesar do distrito ser

produtivo enfrenta algumas dificuldades com relaccedilatildeo ao estudo de seus moradores

que para continuarem seus estudos se assim o desejarem necessitam abandonar

seus pais e ir em busca na Sede ou arredores visto que no distrito existe uma uacutenica

escola Gastatilde Henth Esta eacute municipal e atende dos quatro anos ao nono ano do

ensino fundamental A moradora Faciole explica

O coleacutegio hoje tem 99 alunos ao total quando eles terminam o nono ano alguns vatildeo estudar mas satildeo pouquiacutessimos os outros ficam por aiacute mesmo natildeo tem um transporte que leve eles para fazer o ensino meacutedio na Sede que seria a escola de ensino meacutedio mais proacuteximo se quiser estudar vai ter que ir embora reforccedila quem e trabalhador fica trabalhando com os pais quem natildeo eacute [] As pessoas na sua grande maioria soacute tem o ensino fundamental aqui85

Este eacute um dos grandes problemas enfrentados pelos moradores do Rincatildeo

dos Kroeff a possibilidade de continuar estudando A escola que laacute existe os

moradores locais natildeo sabem precisar a data mas sabem que foi durante o mandato

81 Ternos de boi carreiro significam vaacuterias duplas de bois cangados e ligados por um pedaccedilo de

madeira que vatildeo na canga entre a dupla de bois Esse pau roliccedilo na regiatildeo se chama de cambatildeo 82 FACIOLE Maria Madalena Scalco Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de marccedilo de 2018 83 FACIOLE Maria Madalena Scalco Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de marccedilo de 2018 84 FACIOLE Reinaldo Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de marccedilo de 2018 85 FACIOLE Maria Madalena Scalco Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de maio de 2018

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do prefeito Escobar (1977-1982) que ela foi construiacuteda Neste contexto aparece

tambeacutem a dificuldade de se locomover fazendo uso do transporte puacuteblico

Haacute sete anos atraacutes o Rincatildeo estava bom mesmo tinha ocircnibus da praia agraves vezes passava quatro a cinco ocircnibus da praia tudo pela serra do Umbu Agora soacute tem um trecircs dias por semana As empresas deixaram de trafegar por aqui elas natildeo vatildeo descer numa serra de chatildeo batido sendo que tem a outra86 com asfalto87

Os moradores se orgulham da festa religiosa que acontece todos os anos em

agosto sendo que o santo padroeiro eacute Satildeo Roque A festa da comunidade

apresenta uma tradiccedilatildeo local muito interessante na segunda-feira apoacutes a festa ela

continua para os moradores locais que vatildeo ao salatildeo paroquial para se divertir entre

si e esta eacute uma tradiccedilatildeo que eacute comentada em todo o municiacutepio Faciole88 saudoso

afirma ldquopara ti ter uma ideia nessa festa chegava dar vinte poucos ocircnibus lotado que

vinham de outros municiacutepios como Igrejinha Taquara Porto Alegre Novo

Hamburgo o espaccedilo ficava pequenordquo Acrescenta89 ainda ldquoaqui noacutes tinha o Clube

Serrano que dava baile janta italiana dava um movimento louco mas terminou ateacute

o baile das rainhas cada ano era uma era tatildeo lindo mas tudo se acabourdquo

Figura 20 ndash Imagem da Igreja Satildeo Roque em dia de festa no Rincatildeo dos Kroeff

Fonte acervo pessoal da autora (2018)

86 A outra se refere a rodovia RS-453 conhecida como Rota do Sol 87 FACIOLE Reinaldo Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de marccedilo de 2018 88 FACIOLE Reinaldo Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de marccedilo de 2018 89 FACIOLE Reinaldo Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de marccedilo de 2018

70

Percebe-se que o distrito Rincatildeo dos Kroeff eacute o uacutenico que obteve em seu

iniacutecio uma colonizaccedilatildeo por descentes de italianos dentro do municiacutepio de Satildeo

Francisco de Paula o que demonstra o quatildeo forte se daacute a tradiccedilatildeo ldquoitalianardquo neste

local permanecendo intriacutenseca na vida cotidiana de seu povo com a cultura do

plantio de hortifrutigranjeiros que permanece apesar do tempo como sendo a sua

maior identidade local

47 DISTRITO DE LAJEADO GRANDE

Lajeado Grande em tempos idos pertenceu ao distrito de Cazuza Ferreira e

somente em 12 de dezembro de 1968 se tornou um distrito independente segundo

a Lei nordm 655 encontrada nos autos da Prefeitura Municipal de Satildeo Francisco de

Paula A vila do distrito Lajeado Grande fica distante 63 quilocircmetros da Sede e se

situa na confluecircncia do Arroio Porco Morto e o Rio Bururi Seu surgimento acontece

segundo o morador Fogaccedila90 ldquopor volta de 1940 com a abertura da estrada Canela

ndash Bom Jesus a atual RS-476 que corta a vila do Distritordquo Essa estrada segundo o

morador facilitou a locomoccedilatildeo que anteriormente era feita totalmente pelas trilhas e

picadas por onde somente se passava a cavalo ou de carreta E o entrevistado

explica como acontece o desenvolvimento inicial da vila

Tu sabe aqui tem o nome de Lajeado Grande por causa do rio que eacute cheio de lajes grandes o que facilitava a travessia e as terras aqui por roda era tudo do falecido Pequeno Cardoso ele doou parte para a construccedilatildeo da vila onde o falecido Leopoldino Cardoso irmatildeo do Pequeno tinha uma lsquobudega velharsquo91 por aqui sendo o primeiro comeacutercio da vila92

A abertura da estrada possibilitou o desenvolvimento da vila juntamente com

o Casaratildeo um hotel pensatildeo que foi construiacutedo as margens do Arroio Porco Morto

este Casaratildeo passou por diversos proprietaacuterios

Leopoldino Cardoso foi o idealizador do Casaratildeo juntamente com os seus soacutecios Heraacuteclito Andrade de Cardoso lsquoJoanitorsquo Joseacute Osoacuterio de Lima lsquoZecarsquo e Pequeno Cardoso sendo que o Casaratildeo era uma casa de negoacutecio compravam queijo couro era um comeacutercio forte vendia secos e molhados inclusive a primeira rodoviaacuteria foi instalada neste espaccedilo poreacutem em 1948 Joatildeo Pacheco Cardoso assume e amplia o estabelecimento construindo o segundo piso da casa de madeira e alugando para outros dois moradores

90 FOGACcedilA Blair dos Santos Entrevista concedida agrave autora no dia 06 de abril de 2018 91 Budega velha referindo-se a uma antiga casa de comeacutercio de secos e molhados localizada onde

hoje se encontra o armazeacutem Celeiro 92 FOGACcedilA Blair dos Santos Entrevista concedida agrave autora no dia 06 de abril de 2018

71

Eremi Terres e Claunir Lucena Com a reforma o Casaratildeo passa a ter treze quartos para aluguel uma loja onde encontrava-se tudo o que se necessitava de alfinete tecido alimentos e raccedilotildees aleacutem da ala que servia de moradia para os proprietaacuterios Em 1962 o estabelecimento eacute alugado para Eraldo Bento de Oliveira que aleacutem de gerenciar o estabelecimento colocou junto um bar local de encontro dos homens da redondeza para tomar um lsquotragorsquo93 (CERUTTI SILVA CARDOSO 2002 p 19)

Figura 21 ndash Imagem do Casaratildeo pouco antes de ser desmanchado

Fonte acervo pessoal de Fernando Oliveira (conhecido como Guego) (2018)

O Casaratildeo foi desmanchado na deacutecada de 1980 pelo entatildeo proprietaacuterio Reno

Pacheco Poreacutem percebe-se na vila que seus antigos moradores falam com certo

saudosismo deste estabelecimento que fez parte de suas vidas e chegam a

lamentar o seu fim morador Fogaccedila94 afirma ldquoali se fez o pastel mais famoso do

Lajeado Grande o pastel da Odila mas tudo se acabou quando eles entregaram e

construiacuteram laacute na esquinardquo95

Poreacutem a vila Lajeado Grande foi lentamente se desenvolvendo Devido agrave

necessidade da conservaccedilatildeo da nova estrada foi construiacuteda agraves margens do Rio

Bururi uma capatazia do DAER Segundo Cerutti Silva e Cardoso (2002 p 18) ldquoo

primeiro capataz foi Capitulino Prudecircncio de Oliveira vindo de Santa Catarina sua

funccedilatildeo era manter as estradas e chegou a ter vinte funcionaacuteriosrdquo Percebe-se que a

93 Trago expressatildeo local que significa beber uma cachaccedila 94 FOGACcedilA Blair dos Santos Entrevista concedida agrave autora no dia 06 de abril de 2018 95 Esquina eacute o nome dado a parte da vila do Lajeado Grande onde se daacute o entroncamento das

rodovias RS-453 e ERS-476

72

partir deste momento se inserem neste distrito pessoas advindas de outros estados

e locais visto que ateacute o presente momento o distrito era habitado por fazendeiros

naturais do proacuteprio municiacutepio e que tinham suas vidas ligadas diretamente agrave

pecuaacuteria extensiva e agrave produccedilatildeo do queijo serrano Importante destacar que a

esposa de Capitulino segundo Cerutti Silva e Cardoso (2002 p 18) ldquoa Celicina

Guilherme da Silva se torna uma figura conhecida por realizar partos sendo

chamada como parteira de campanhardquo Na atualidade filhos netos e bisnetos do

casal ainda residem na vila

A vila do Lajeado Grande tambeacutem recebe novos moradores com a praacutetica do

corte do pinheiro nativo sendo que na deacutecada de 1950 havia uma faacutebrica de

beneficiamento de madeira ateacute se transformar em pasta este material era levado

para Esteio onde funcionava agrave matriz A partir dos anos 1950 ocorre a instalaccedilatildeo de

serrarias sendo que a Madeireira Albeflor de propriedade de Valter Sguaizer se

instala em 1964 Novamente busca-se matildeo de obra em localidades proacuteximas como

Lagoa Vermelha Vacaria e Bom Jesus poreacutem com a proibiccedilatildeo da extraccedilatildeo de

madeira de lei a serraria deixou de funcionar

Percebe-se que no distrito natildeo houve uma homogeneizaccedilatildeo identitaacuteria visto a

influecircncia advinda de muitas culturas no passado atraveacutes da extraccedilatildeo de madeira

e na atualidade com o advento das lavouras de hortifrutigranjeiros e pomares

frutiacuteferos que ocupam boa parte do distrito substituindo a pecuaacuteria extensiva que jaacute

natildeo proporciona um lucro efetivo Entatildeo os proprietaacuterios na sua grande maioria

venderam ou arrendaram suas terras para novas culturas o que modifica o modo de

vida local pois grande parte dos trabalhadores adveacutem de outros estados como o

Paranaacute e tambeacutem se observa o uso da matildeo de obra indiacutegena

Essa miscigenaccedilatildeo se observa nas escolas locais visto que na vila funciona a

Escola Municipal D Pedro I que segundo Cerutti Silva e Cardoso (2002 p 35)

ldquoinicia em 1965 poreacutem a professora e o preacutedio eram mantidos pela Serraria mas na

deacutecada de 70 a prefeitura assumiu a escola sendo que Eloci Martim foi a primeira

professora da Serrariardquo Escola da Serraria como ainda eacute conhecida por boa parte

dos moradores locais apesar de a escola natildeo se encontrar mais onde havia a antiga

serraria Atualmente a Escola Dom Pedro I funciona em um preacutedio obtido atraveacutes da

Associaccedilatildeo de Moradores atendendo alunos da preacute-escola ateacute o sexto ano das

seacuteries finais tendo em seu quadro seis professores e duas funcionaacuterias Sendo que

73

a obra para um novo preacutedio teve iniacutecio neste ano mas percebe-se que a obra parou

por volta do mecircs de maio Poreacutem na vila tambeacutem se encontra uma escola estadual

A documentaccedilatildeo necessaacuteria para a criaccedilatildeo de uma nova escola na localidade foi elaborada por Manoel Cardoso de Andrade juntamente com a professora Odazilda Cardoso Demori e encaminhada agrave Secretaria da Educaccedilatildeo sendo que em 11 de fevereiro de 1953 foi criada a Escola Isolada de Lajeado Grande sendo os professores estaduais mas o preacutedio sob responsabilidade comunitaacuteria iniciou o seu funcionamento nas dependecircncias do DAER e somente em 1957 foi construiacutedo um preacutedio de madeira em terras doadas por Pequeno Cardoso local onde hoje ainda se encontra a escola poreacutem passou por muitas reformas sendo que em 2000 recebeu um novo preacutedio de alvenaria o que possibilitou a realizaccedilatildeo de um grande sonho dos professores e comunidade a implantaccedilatildeo do Ensino Meacutedio que concretizou-se em 200296

Atualmente a escola atende em torno de trezentos alunos da Educaccedilatildeo

Baacutesica poreacutem percebe-se que devido agraves safras de hortifrutigranjeiros o nuacutemero de

alunos se alterna durante o ano O que tambeacutem se percebe eacute o comportamento dos

alunos com relaccedilatildeo agrave diversidade cultural por exemplo usam bombacha laccedilam boi

de pau no recreio e escutam funk uma cultura totalmente diferente da tradicionalista

gauacutecha o que compreende-se como algo advindo da globalizaccedilatildeo cultural que

vivemos no mundo atual reforccedilando novamente o natildeo reconhecimento de uma

identidade forte na localidade

Poreacutem as famiacutelias tradicionais do local manteacutem fortemente arraigada a

cultura tradicionalista que adveacutem do homem do campo tendo no distrito festas

campeiras torneios de laccedilo e a festa religiosa uma vez por ano em homenagem ao

Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus padroeiro da vila

Na atualidade natildeo se percebe uma identidade forte e marcada no distrito e

sim uma miscigenaccedilatildeo de diferentes culturas e etnias que convivem e se integram

harmonicamente

96 CARDOSO Amaacutelia Celuderes Entrevista concedida agrave autora no dia 08 de marccedilo de 2018

74

5 DESCRICcedilAtildeO DO PRODUTO

O produto consiste em um livro paradidaacutetico sobre a histoacuteria de Satildeo Francisco

de Paula Apresenta de maneira didaacutetica a histoacuteria de Satildeo Francisco de Paula bem

como balotildees explicativos imagens sugestotildees de atividades e leituras

complementares Poderaacute servir de apoio pedagoacutegico a professores e alunos do

municiacutepio visto que existe pouco material sobre a histoacuteria deste municiacutepio e se faz

importante trabalhar a histoacuteria local percepccedilatildeo que a autora obteve ao longo da sua

caminhada como professora de histoacuteria que atua nas seacuteries finais do ensino

fundamental e meacutedio haacute dezessete anos na rede estadual do municiacutepio

Partir do local natildeo eacute abandonar o conhecimento histoacuterico eacute dar outro valor

sentido para este conhecimento Segundo Caimi

Levar em conta o universo da crianccedila ou do adolescente natildeo eacute pois abdicar do rigor intelectual [] mas garantir que a apropriaccedilatildeo deste conhecimento ocorra permeada de sentido e significado resultando em soacutelidas aprendizagens (CAIMI 2006 p 24)

Seguindo esta perspectiva a implantaccedilatildeo do Referencial Curricular Gauacutecho

embasado na Base Nacional Comum Curricular reforccedila a ideia jaacute discutida nos

paraacutegrafos anteriores

No que se refere especificamente ao componente Histoacuteria a base rompe tanto com a cronologia quanto agrave visatildeo eurocecircntrica da histoacuteria tradicional Entram em cena novos atores novas sociedades novos caminhos que sempre tiveram na histoacuteria mas nem sempre receberam a devida importacircncia Acompanhando a Base Nacional Comum Curricular o Referencial Curricular Gauacutecho no que se refere especificamente agrave disciplina de Histoacuteria manteacutem seu foco na aprendizagem dos alunos nos diferentes espaccedilos e tempos tendo a preocupaccedilatildeo de integrar o curriacuteculo com a diversidade regional de nosso Estado Tambeacutem eacute importante contemplar os temas integradores como eacutetica cidadania cultura e valorizaccedilatildeo das diversidades assegurando a multiplicidade de olhares sobre o mundo (RIO GRANDE DO SUL 2018 p 118)

Portanto o paradidaacutetico seraacute mais um material disponiacutevel aos professores e

estudantes da educaccedilatildeo baacutesica de Satildeo Francisco de Paula na construccedilatildeo do

conhecimento da histoacuteria do municiacutepio bem como o reconhecimento de sua

identidade neste material visto que se almeja que os estudantes percebam

vestiacutegios de sua identidade e se percebam como parte deste municiacutepio atraveacutes do

conhecimento de sua histoacuteria

75

O paradidaacutetico vem com o tiacutetulo rdquoTropeando histoacuterias em Satildeo Francisco de

Paulardquo sendo que a capa traz a foto do Monumento aos Carreteiros monumento

que se encontra na Avenida Juacutelio de Castilhos em frente ao preacutedio da Prefeitura

Municipal

Figura 22 ndash Capa do livro

Fonte Livro Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula

Na sequecircncia se apresenta o iacutendice que possibilita ao leitor localizar os

diversos temas abordados visto que existem nove capiacutetulos

76

Figura 23 ndash Iacutendice do livro

Fonte Livro Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula

77

O capiacutetulo um apresenta a localizaccedilatildeo de Satildeo Francisco de Paula com uma

seacuterie de mapas que facilitam a compreensatildeo espacial dos alunos assim como um

mapa da subdivisatildeo do municiacutepio em distrito Ao final satildeo sugeridas duas atividades

que podem ser desenvolvidas de maneira interdisciplinar com o apoio da professora

de arte geografia e portuguecircs

Figura 24 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 1)

Fonte Livro Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula

78

Figura 25 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 1)

Fonte Livro Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula

O capiacutetulo dois aborda a existecircncia indiacutegena em Satildeo Francisco de Paula

antes da chegada dos desbravadores vindos de Satildeo Paulo Como sugestatildeo de

atividades apresenta-se uma pesquisa sobre as diferentes tribos indiacutegenas que

habitavam a Proviacutencia de Satildeo Pedro aleacutem da criaccedilatildeo de um painel infograacutefico

79

Figura 26 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 2)

Fonte Livro Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula

No capiacutetulo trecircs se apresentam os primeiros donataacuterios colonizadores de Satildeo

Francisco de Paula com trecho de um testamento deixado por Pedro da Silva

Chaves o fundador de Satildeo Francisco de Paula bem como o mapa que localiza as

primeiras sesmarias que corresponde ao territoacuterio onde hoje eacute a Sede do municiacutepio

80

Figura 27 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 3)

Fonte Livro Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula

Nos capiacutetulos quatro e cinco eacute apresentado o desenvolvimento de Satildeo

Francisco de Paula ainda no seacuteculo XIX quando pertencia ao municiacutepio de Santo

Antocircnio da Patrulha e no final do seacuteculo XIX quando passa a pertencer ao entatildeo

81

municiacutepio de Taquara do Mundo Novo Existe tambeacutem um mapa que demonstra a

extensatildeo territorial de Santo Antocircnio da Patrulha e quais satildeo os municiacutepios hoje que

pertenceram a este bem como a importacircncia da abertura da estrada que liga Satildeo

Francisco de Paula a Taquara

Figura 28 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 4)

Fonte Livro Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula

82

Os capiacutetulos seis e sete apontam a construccedilatildeo do Municiacutepio a partir de sua

emancipaccedilatildeo em 1903 sua extensatildeo territorial e a diminuiccedilatildeo do seu territoacuterio ao

longo do tempo e a histoacuteria da Igreja Matriz Como sugestatildeo de atividade pesquisar

a diversidade religiosa existente na comunidade escolar e criar graacuteficos com essas

informaccedilotildees podendo a partir de entatildeo trabalhar com as questotildees religiosas ontem

e hoje no mundo

Figura 29 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 6)

Fonte Livro Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula

83

No capiacutetulo oito se apresenta o que difere os sete distritos de Satildeo Francisco

de Paula Este capiacutetulo se apresenta subdividido em sete subtiacutetulos onde cada um

corresponde a um distrito do municiacutepio Tendo como fonte principal as entrevistas

realizadas com moradores locais mesclado com fontes documentais e bibliograacuteficas

que corroboram para se perceber que haacute alguns distritos que manteacutem suas tradiccedilotildees

ao longo do tempo e eacute possiacutevel perceber que existe uma identidade que aproxima

aquela populaccedilatildeo

Figura 30 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 8)

Fonte Livro Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula

84

No uacuteltimo capiacutetulo o nove se exibe uma lista de sugestotildees de leituras

complementares a fim de se aprofundarem sobre determinados temas E por fim

as referecircncias utilizadas para a construccedilatildeo do paradidaacutetico Tropeando Histoacuterias em

Satildeo Francisco de Paula

Figura 31 ndash Atividade do livro (Sugestatildeo de Leituras Complementares)

Fonte Livro Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula

85

O produto foi testado em duas turmas da Educaccedilatildeo Baacutesica na Escola

Estadual de Ensino Meacutedio Lajeado Grande com o propoacutesito de avaliar qual seria a

reaccedilatildeo dos estudantes diante do material e por ele ter sido produzido por algueacutem

que convive com eles semanalmente A receptividade foi bastante gratificante como

se pode observar na Figura 32

Figura 32 ndash Alunos do Ensino Meacutedio

Fonte acervo pessoal da autora (2019)

A receptividade foi muito interessante visto que os estudantes

acompanharam a trajetoacuteria para chegar ao produto final algo que os deixava

ansiosos para manusear pois muitas vezes foram parceiros A autora foi

compartilhando com os estudantes as informaccedilotildees obtidas durante a pesquisa e as

descobertas encontradas usando em suas aulas a histoacuteria local para abordar os

diferentes temas e conceitos histoacutericos

Quando a autora apresenta o produto os estudantes do ensino meacutedio estes

formam grupos por distritos e buscam logo reconhecer no material sua identidade

apoacutes comentam sobre as peculiaridades de cada distrito Poreacutem os alunos do

ensino fundamental manuseiam o produto mas natildeo se deteacutem ao distrito em que

pertence e sim as imagens e as explicaccedilotildees apresentadas no vocecirc sabia

O que enriquece o trabalho realizado foi o envolvimento dos estudantes com

o produto solicitando quando poderatildeo ler calmamente todo o trabalho

86

6 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

A partir de experiecircncias pessoais em sala de aula se percebeu que o ensino

de Histoacuteria quando se partia da histoacuteria local havia maior interesse dos estudantes

da educaccedilatildeo baacutesica motivo pelo qual se deu a questatildeo-problema desta dissertaccedilatildeo

que estaacute relacionada diretamente com o natildeo uso desta histoacuteria pelos professores da

educaccedilatildeo baacutesica

Em conversas informais com professores da educaccedilatildeo baacutesica que atuam no

municiacutepio de Satildeo Francisco de Paula em sua grande maioria alegam que o grande

empecilho para se trabalhar a histoacuteria local eacute o pouco material disponiacutevel sobre a

histoacuteria de Satildeo Francisco de Paula aleacutem do rigor dos curriacuteculos que impotildeem o

ensino de Histoacuteria de maneira linear sem contextualizaccedilatildeo com a realidade vivida

pelos estudantes pois desta forma natildeo estatildeo preparando os estudantes para as

avaliaccedilotildees do Ministeacuterio da Educaccedilatildeo bem como para o vestibular Poreacutem natildeo se

estaacute afirmando que deveraacute estudar somente a histoacuteria local e sim partir dela como

incentivo para estudos dos conceitos e temaacuteticas da histoacuteria por muitas vezes

totalmente abstrato e de difiacutecil compreensatildeo pela grande maioria dos estudantes

A partir de entatildeo se realizaram inuacutemeros questionamentos como qual a

necessidade de se ensinar Histoacuteria de forma abstrata sem nenhuma relaccedilatildeo com

as vivecircncias dos estudantes Por que natildeo usar a fonte oral como metodologia de

pesquisa no ensino de Histoacuteria em Satildeo Francisco de Paula jaacute que natildeo existem

muitos materiais escritos a respeito desta histoacuteria principalmente no que tange os

distritos do interior Poreacutem estes questionamentos natildeo foram aprofundados na

dissertaccedilatildeo por natildeo ser o objetivo direto da pesquisa mas posteriormente poderaacute

se tornar um novo projeto de pesquisa

Nesta incessante busca por resposta se constroacutei todo o estudo desta

dissertaccedilatildeo que em um primeiro momento busca embasamento em diferentes

autores que comprovam que o ensino de Histoacuteria voltado para o local faz maior

sentido para os estudantes da educaccedilatildeo baacutesica e que isto natildeo significa abandonar

os conceitos histoacutericos e sim questionar analisar a trajetoacuteria humana no tempo e

no espaccedilo sob uma nova metodologia Apenas se sugere uma nova abordagem

que torne o ensino de Histoacuteria menos abstrato algo mais presente na vida do

estudante e que possibilite a ele a habilidade de perceber que o mundo estaacute em

constante mudanccedila poreacutem os fatos natildeo ocorrem de forma isolada no espaccedilo Algo

87

que foi reforccedilado apoacutes a construccedilatildeo da Base Nacional Curricular e o Referencial

Curricular Gauacutecho que vem de encontro com esta proposta de se estudar a histoacuteria

sobre novos olhares natildeo esquecendo das especificidades regionais do estado do

Rio Grande do Sul para o reconhecimento da identidade local e regional

A identidade local nesta pesquisa se buscou atraveacutes de relatos de

moradores locais que gentilmente colaboraram para o sucesso deste trabalho pois

a memoacuteria se tornou a fonte primordial para se escrever o que identifica os sete

distritos que constituem Satildeo Francisco de Paula Certamente a temaacutetica natildeo se

esgotou ainda haacute muito que se pesquisar e escrever sobre a histoacuteria de Satildeo

Francisco de Paula possibilitando a criaccedilatildeo de novos materiais que possam ser

usados em sala de aula pelos professores e alunos deste municiacutepio

Mas ao mesmo tempo haacute uma preocupaccedilatildeo por parte da autora nada

adianta criar produtos sinalizar novos meacutetodos ao ensino de Histoacuteria se o

profissional professor natildeo estiver preparado para trabalhar com novas fontes

histoacutericas novas metodologias de ensino proporcionando aos estudantes a

oportunidade de construir seu proacuteprio conhecimento histoacuterico embasado em sua

realidade e suas vivecircncias

Vivecircncias que se tornaram aliadas na pesquisa pois a autora nasceu e

sempre viveu no municiacutepio de Satildeo Francisco de Paula poreacutem a maior dificuldade

encontrada nesta caminhada foi percorrer grandes distacircncias por estradas de

rodagem em peacutessimas condiccedilotildees de trafegabilidade para gravar os relatos que

servem de base para a construccedilatildeo desta pesquisa O municiacutepio de Satildeo Francisco de

Paula eacute territorialmente extenso e essas distacircncias percorridas deram o nome ao

produto Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula como uma homenagem

aos antigos tropeiros deste municiacutepio que passavam boa parte de sua vida ao

lombo de mulas levando e buscando mercadorias pelos campos de cima da serra

Visto que desde o processo seletivo do mestrado em agosto de 2016

quando se apresentou o projeto de pesquisa jaacute se pensava no produto um livro

paradidaacutetico no formato fiacutesico A autora por diversas vezes foi questionada por que

natildeo um blog ou site Porque na forma fiacutesica este material seria de faacutecil manuseio

pelos estudantes e professores pois principalmente no interior uso da internet ainda

eacute um problema visto que em muitos locais natildeo existe sinal de telefonia diraacute

internet

88

O paradidaacutetico foi se moldando ao longo do tempo ateacute se chegar a versatildeo

final com uma ampla gama de informaccedilotildees e curiosidades sobre os sete distritos de

Satildeo Francisco de Paula onde se pretende que os alunos e professores possam

fazer uso deste material em sala de aula para tanto a autora pretende

posteriormente lanccedilar o produto para que possa ser lido e manuseado por todos

inclusive por aqueles que gostam de histoacuteria e sentem curiosidade sobre a formaccedilatildeo

do seu distrito e por conseguinte do municiacutepio de Satildeo Francisco de Paula

O paradidaacutetico foi testado em duas turmas da Escola Estadual de Ensino

Meacutedio Lajeado Grande sendo uma de Ensino Meacutedio e a outra das seacuteries finais do

Ensino Fundamental Os alunos jaacute detinham o conhecimento que a autora estava

cursando o Mestrado e que para sua conclusatildeo deveria apresentar um produto Era

de conhecimento de todos os estudantes que a autora estava produzindo um

paradidaacutetico sobre a histoacuteria de Satildeo Francisco de Paula pois a mesma eacute professora

destes estudantes nesta escola

Em um primeiro momento se explica que eacute apenas um protoacutetipo que

somente a capa estaacute colorida e o restante estaacute todo em preto e branco e que a

versatildeo final teraacute as imagens e as curiosidades coloridas o que com certeza

chamaraacute mais atenccedilatildeo Ao entregar o paradidaacutetico Tropeando Histoacuterias em Satildeo

Francisco de Paula para que possam manuseaacute-lo veio a primeira grande surpresa

os estudantes ficaram muito contentes por a turma ter sido escolhida pela autora

escolha essa que se justifica por ter trabalhado todo o ano de 2017 com estes

alunos partindo da histoacuteria local

A turma do oitavo ano do Ensino Fundamental manuseou sendo que os

alunos acharam interessante poreacutem se deteram mais nas imagens e balotildees do

ldquovocecirc sabiardquo Mas de maneira ampla e geral acharam muito interessante a foto de

capa com o Monumento aos Carreteiros situado na Avenida Juacutelio de Castilhos em

frente ao preacutedio da Prefeitura Municipal pois alguns natildeo conhecem a Sede do

municiacutepio

Os alunos do segundo ano do Ensino Meacutedio se surpreenderam e foram direto

ler sobre o distrito no qual residem Interessados questionaram sobre curiosidades

de como o material foi construiacutedo quais as maiores dificuldades encontradas

elogiaram o leiaute as imagens de fundo ao lado de cada curiosidade relatando que

chama a atenccedilatildeo aleacutem de considerarem relevantes as sugestotildees de atividades e

ao final solicitaram quando o material estaraacute disponiacutevel para que possam ler

89

integralmente visto que um periacuteodo de cinquenta minutos natildeo foi suficiente para que

todos manuseassem se fazendo necessaacuterio levar novamente na proacutexima aula

A autora se sentiu motivada pela recepccedilatildeo do produto por seus alunos o que

a incentiva continuar pesquisando sobre outras temaacuteticas a respeito da histoacuteria de

Satildeo Francisco de Paula trazendo para seu fazer pedagoacutegico novas fontes que

proporcionem um estudo da Histoacuteria de maneira ampla e contextualizada com a

realidade local que os cerca

90

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SCHMIDT Maria Auxiliadora BARCA Isabel MARTINS Estevatildeo de Rezende (Orgs) Joumlrn Ruumlsen e o ensino de histoacuteria Curitiba Ed UFPR 2011

SCHMIDT Maria Auxiliadora CAINELLI Marlene Ensinar Histoacuteria Satildeo Paulo Scipione 2009

SEFFNER Fernando Aprender e ensinar como jogar com isso In GIACOMONI Marcelo Paniz PEREIRA Nilton Mullet (Orgs) Jogos e ensino de Histoacuteria 1 ed Porto Alegre Evangraf 2013

SILVA Kalina Vanderlei SILVA Maciel Hernrique Memoacuteria In Dicionaacuterio de conceitos histoacutericos Satildeo Paulo Contexto 2006

93

SILVA Marco PORTO Ameacutelia Nas trilhas do ensino de Histoacuteria teoria e praacutetica 1 ed Belo Horizonte Rona 2012

SOUZA Israel Soares de Educaccedilatildeo popular e ensino de histoacuteria local cruzando conceitos e praacuteticas 2015 238f Tese (Doutorado em educaccedilatildeo) ndash Universidade Federal da Paraiacuteba Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Educaccedilatildeo Joatildeo Pessoa 2015

SOUZA Leacuteo Ribeiro Festival Ronco do Bugio Satildeo Francisco de Paula Porto Alegre Evangraf 2003

SOUZA Magda Vianna de Reinvenccedilatildeo das tradiccedilotildees e promoccedilatildeo do turismo estrateacutegias diferenciadas de mercantilizaccedilatildeo da identidade cultural os casos de Nova Petroacutepolis e Satildeo Francisco de Paula no Rio Grande do Sul 2005 230f Tese (Doutorado) ndash Instituto de Filosofia e Ciecircncias Humanas Universidade Federal do Rio Grande do Sul Porto Alegre 2005

TEIXEIRA Maria Lucia da Silva Satildeo Francisco de Paula nossa terra nossa gente Porto Alegre Evangraf 2002

94

FONTES CONSULTADAS

Arquivo Histoacuterico de Satildeo Francisco de Paula

Jornal Folha da Serra n 8 do dia 02 de marccedilo de 1958

Jornal Folha da Serra n 11 do dia 29 de setembro de 1968

Jornal Folha da Serra n 25 do dia 31 de dezembro de 1968

Jornal Folha da Serra n 89 do dia 07 de setembro de 1969

Jornal Satildeo Chico Tchecirc n 4 do dia 30 de abril de 1986

Jornal Satildeo Chico Tchecirc n 11 do dia 25 de maio de 1986

Jornal Satildeo Chico Tchecirc n 12 do dia 28 de maio de 1986

Jornal Pioneiro versatildeo digital do dia 02 de junho de 2017

Entrevistas

Amaacutelia Celuderes Cardoso residente no distrito de Lajeado Grande Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 08 de marccedilo de 2018

Blair dos Santos Fogaccedila residente no distrito de Lajeado Grande Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 06 de abril de 2018

Ceacutelia Pacheco Terres Basso residente no distrito de Cazuza Ferreira Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 04 de agosto de 2018

Darci da Silva Fagundes residente no distrito de Tainhas Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 24 de fevereiro de 2018

Deotildes Palhano dos Santos residente no distrito do Juaacute Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 12 de maio de 2018

Jaures Feijoacute Gomes residente no distrito de Eletra Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 15 de fevereiro de 2018

Luciana Olga Soares residente no distrito Sede Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 01 de marccedilo de 2018

Maria Madalena Scalco Faciole residente no distrito do Rincatildeo dos Kroeff Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 18 de marccedilo de 2018

Moacir Castello Branco de Albuquerque residente no distrito Sede Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 06 abril de 2018

95

Nauro Bossle de Andrade residente no distrito de Cazuza Ferreira Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 04 de marccedilo de 2018

Orides Reis residente no distrito do Juaacute Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 12 de maio de 2018

Reinaldo Faciole residente no distrito do Rincatildeo dos Kroeff Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 18 de marccedilo de 2018

Susana Marques Soares residente no distrito de Eletra Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 15 de fevereiro de 2018

96

APEcircNDICES

97

APEcircNDICE A ndash ENTREVISTA COM MORADORES LOCAIS DOS DISTRITOS DE

SAtildeO FRANCISCO DE PAULA

UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL

PROGRAMA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO EM HISTOacuteRIA ndash MESTRADO EM HISTOacuteRIA PROFISSIONAL

PESQUISA DE CAMPO ndash TATIANA MEacuteLO CARDOSO

1 Nome completo

2 Idade

3 Quantos anos reside neste distrito

4 Como se formou este distrito

5 Por que ele tem esse nome

6 Quem foram os primeiros moradores

7 Como era a vida aqui haacute tempos atraacutes

8 O que mudou aqui com o passar dos anos

9 O que identifica este lugar

10 As pessoas hoje que moram aqui na grande maioria satildeo naturais daqui ou vieram

de onde

11 A(o) Sra(Sr) acredita que as futuras geraccedilotildees valorizaram eou conheceram a

histoacuteria local ou vai se perder no tempo

12 Como funcionava a questatildeo do ensino em meados do seacuteculo XX havia escola na

localidade

13 Qual a primeira escola deste distrito data de fundaccedilatildeo local de funcionamento e a

primeira professora

14 Achas importante trabalhar nas escolas a histoacuteria do lugar

15 O que eacute tradiccedilatildeo deste distrito

16 Qual eacute a fonte de renda das pessoas no que elas trabalham

17 Qual eacute o lazer das pessoas aqui

98

APEcircNDICE B ndash TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Declaro por meio deste termo que concordei em ser entrevistado(a) eou participar na

pesquisa de campo referente ao projetopesquisa Ensino de Histoacuteria Local e o Paradidaacutetico

caso Satildeo Francisco de Paula desenvolvida pela aluna Tatiana Meacutelo Cardoso do Programa de

Poacutes-Graduaccedilatildeo em Histoacuteria ndash Mestrado Profissional da Universidade de Caxias de Sul Fui

informado(a) que poderei consultaacute-la a qualquer momento que julgar necessaacuterio atraveacutes do e-

mail t_ati_mhotmailcom

Afirmo que aceitei participar por minha proacutepria vontade sem receber qualquer

incentivo financeiro ou ter qualquer ocircnus e com a finalidade exclusiva de colaborar para o

sucesso da pesquisa Fui informado(a) dos objetivos estritamente acadecircmicos de estudo

Minha colaboraccedilatildeo natildeo ficaraacute anocircnima e foi realizada por meio de entrevista

semiestruturada A anaacutelise dos dados obtidos seratildeo divulgados natildeo permanecendo restritas

apenas a pesquisadora eou seu(s) orientador(es) coordenador(es)

Fui ainda informado(a) de que posso me retirar desse(a) estudopesquisa programa a

qualquer momento sem prejuiacutezo para meu acompanhamento ou sofrer quaisquer sanccedilotildees ou

constrangimentos Atesto recebimento de uma coacutepia assinada deste Termo de Consentimento

Livre e Esclarecido

Satildeo Francisco de Paula ___ de _____________ de ____

Assinatura do(a) participante

Assinatura do responsaacutevel

Page 3: UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL TATIANA MÉLO CARDOSO

SAtildeO FRANCISCO DE PAULA

O ENSINO DE HISTOacuteRIA E A IDENTIDADE LOCAL

Tatiana Meacutelo Cardoso

Trabalho de Conclusatildeo de Mestrado submetido agrave Banca Examinadora designada pelo Colegiado do Programa de Poacutes - Graduaccedilatildeo em Histoacuteria da Universidade de Caxias do Sul como parte dos requisitos necessaacuterios para a

obtenccedilatildeo do tiacutetulo de Mestre em Histoacuteria Aacuterea de Concentraccedilatildeo Ensino de Histoacuteria Fontes e Linguagens Linha de Pesquisa Fontes e Acervos na Pesquisa e

Docecircncia em Histoacuteria

Caxias do Sul 5 de junho de 2019

Banca Examinadora

Dra Cristine Fortes Lia Universidade de Caxias do Sul

Dra Eliane Gasparini Xerri Universidade de Caxias do Sul

Dr Jorge Luiz da Cunha Universidade Federal de Santa Maria

Dedico esse estudo a todos que fizeram

parte desta caminhada

AGRADECIMENTOS

Agradeccedilo a Deus em primeiro lugar por ter me dado forccedila para me manter

firme no propoacutesito de concluir o mestrado

Aos meus pais Rivan e Benta que sempre estiveram ao meu lado me

apoiando minha eterna gratidatildeo Amo muito vocecircs

Ao meu esposo Norli que esteve presente em todos os momentos com

paciecircncia e muitas vezes me acompanhando durante as pesquisas para que natildeo

fosse soacute Te amo muito

Ao meu filho Bento Manoel pela compreensatildeo de ver sua matildee mergulhada

em livros em frente ao computador sem poder lhe dar muita atenccedilatildeo Minha razatildeo

de viver

Ao meu irmatildeo Tarciano que sempre me incentivou para que fizesse o

mestrado Muito obrigada por suas palavras

Agrave minha orientadora Professora Dra Cristine pelos ensinamentos prestados

por ter me oportunizado vivecircncias tatildeo ricas que com certeza muito colaboraram

para o sucesso desta pesquisa Minha eterna gratidatildeo

Aos professores do Mestrado pelos ensinamentos prestados com certeza

muito agregaram em minha vida profissional A vocecircs meu carinho

Aos entrevistados Sr Dr Moacir Sr Orides Sr Jaures Sr Blair Sr Nauro

Sr Darci Sr Reinaldo e a Sra Susana Sra Luciana Sra Deotildes Sra Ceacutelia Sra

Amaacutelia Celuderes e Sra Maria Madalena pelo apoio recebendo-me em suas

residecircncias e colaborando com esta pesquisa Sem a colaboraccedilatildeo de vocecircs esse

trabalho seria mais difiacutecil A vocecircs meu muito obrigado

Agrave minha amiga Lisandra que sempre me apoiou com suas palavras de

carinho dando-me coragem para prosseguir Agradeccedilo pela sua amizade

E por fim aos meus alunos que compartilharam muitas vezes as minhas

anguacutestias meu cansaccedilo mas sempre me apoiaram Em especial aqueles que

testaram o produto por suas doces palavras Meu eterno agradecimento

RESUMO

A presente dissertaccedilatildeo aborda o ensino de Histoacuteria em Satildeo Francisco de Paula Rio Grande do Sul tendo como princiacutepio que o ensino de Histoacuteria partindo do local se torna mais significativo aos estudantes da educaccedilatildeo baacutesica Para a construccedilatildeo dessa pesquisa se utilizaram diferentes abordagens metodoloacutegicas tais como documentos da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul jornais fontes bibliograacuteficas imagens e depoimentos orais O estudo procurou abordar a construccedilatildeo do municiacutepio bem como o que identifica os sete distritos pertencentes a Satildeo Francisco Paula Como resultado se cria um paradidaacutetico fiacutesico com textos imagens curiosidades sugestotildees de atividades e leituras complementares que serviraacute de apoio pedagoacutegico aos professores e estudantes da educaccedilatildeo baacutesica Espera-se que este material possa servir de pesquisa a todos os interessados

Palavras-chave Ensino de Histoacuteria Satildeo Francisco de Paula Identidade

ABSTRACT

This dissertation deals with History teaching in Satildeo Francisco de Paula Rio Grande do Sul with the principle that History Teaching from the place becomes more meaningful to students of basic education For the construction of this research different methodological approaches are used such as documents of the Legislative Assembly of Rio Grande do Sul newspapers bibliographic sources images and oral testimony The study sought to address the construction of the municipality as well which identifies the seven districts belonging to San Francisco Paula As a result a physical paradidaacutetico is created with texts images curiosities suggestions of activities and complementary readings that will serve as pedagogical support to teachers and students of basic education It is hoped that this material can serve as a research to all interested parties

Keywords Teaching History Satildeo Francisco de Paula Identity

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 ndash Mapa de Identificaccedilatildeo das Sesmarias Serranas 26

Figura 2 ndash Divisatildeo Municipal em 1809 ndash Proviacutencia Satildeo Pedro do Rio Grande do Sul

28

Figura 3 ndash Vista da vila de Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra (1901) 29

Figura 4 ndash Vista Avenida Juacutelio de Castilhos (1923) 30

Figura 5 ndash Abertura da estrada ERS-020 Taquara ndash Satildeo Francisco de Paula de

Cima da Serra 31

Figura 6 ndash Accedilougue Central 33

Figura 7 ndash Igreja Matriz em 1931 34

Figura 8 ndash Igreja Matriz 34

Figura 9 ndash Mapa de localizaccedilatildeo de Satildeo Francisco de Paula 36

Figura 10 ndash Patroa Neuza Reis e sua Comissatildeo 39

Figura 11 ndash Gonzaga dos Reis 48

Figura 12 ndash Outdoor entrada da cidade na ERS-020 50

Figura 13 ndash Praccedila Central de Cazuza Ferreira 52

Figura 14 ndash Hotel do Campo 54

Figura 15 ndash Flacircmula de comemoraccedilatildeo aos 50 anos da entidade 57

Figura 16 ndash Barragem do Salto 58

Figura 17 ndash Igreja Santo Antocircnio ndash Distrito de Eletra 61

Figura 18 ndash Peacute com a fruta conhecido como Juaacute 63

Figura 19 ndash Praccedila Vila do Distrito Juaacute ao fundo cancha de laccedilo 65

Figura 20 ndash Imagem da Igreja Satildeo Roque em dia de festa no Rincatildeo dos Kroeff 69

Figura 21 ndash Imagem do Casaratildeo pouco antes de ser desmanchado 71

Figura 22 ndash Capa do livro 75

Figura 23 ndash Iacutendice do livro 76

Figura 24 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 1) 77

Figura 25 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 1) 78

Figura 26 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 2) 79

Figura 27 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 3) 80

Figura 28 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 4) 81

Figura 29 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 6) 82

Figura 30 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 8) 83

Figura 31 ndash Atividade do livro (Sugestatildeo de Leituras Complementares) 84

Figura 32 ndash Alunos do Ensino Meacutedio 85

SUMAacuteRIO

1 INTRODUCcedilAtildeO 11

2 HISTOacuteRIA LOCAL E O ENSINO DE HISTOacuteRIA NA SALA DE AULA 17

3 SAtildeO FRANCISCO DE PAULA CONSTRUCcedilAtildeO DO MUNICIacutePIO 24

31 CONVERSA COM MEMORIALISTAS 25

32 AMPLIANDO O DIAacuteLOGO COM OS MEMORIALISTAS 28

4 SAtildeO FRANCISCO DE PAULA DISTRITOS EM FOCO 41

41 DISTRITO SEDE 42

42 DISTRITO DE CAZUZA FERREIRA 51

43 DISTRITO DE TAINHAS 55

44 DISTRITO DE ELETRA 58

45 DISTRITO DO JUAacute 62

46 DISTRITO DO RINCAtildeO DOS KROEFF 66

47 DISTRITO DE LAJEADO GRANDE 70

5 DESCRICcedilAtildeO DO PRODUTO 74

6 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 86

REFEREcircNCIAS 90

FONTES CONSULTADAS 94

APEcircNDICES 96

APEcircNDICE A ndash ENTREVISTA COM MORADORES LOCAIS DOS DISTRITOS DE

SAtildeO FRANCISCO DE PAULA 97

APEcircNDICE B ndash TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO 98

11

1 INTRODUCcedilAtildeO

Os meacutetodos de ensino de Histoacuteria no Brasil vem sendo discutidos desde sua

criaccedilatildeo como disciplina Segundo Nadai (1992-1993 p 144) a introduccedilatildeo de

Histoacuteria no curriacuteculo ocorre na terceira metade do seacuteculo XIX no Brasil sendo que

desde entatildeo passa por diversas modificaccedilotildees Segundo Schmidt e Cainelli (2009)

os meacutetodos foram se adequando ao momento histoacuterico brasileiro em um primeiro

momento ensinou-se a histoacuteria da Europa Ocidental como a verdadeira histoacuteria da

civilizaccedilatildeo uma histoacuteria abstrata sem relaccedilatildeo com a vida do aluno Nadai (1992-

1993 p 146) acrescenta que ldquoa histoacuteria da paacutetria surgia como seu apecircndice sem

corpo autocircnomo e ocupando um papel extremamente secundaacuterio consistia num

repositoacuterio de biografias de homens ilustres de datas e batalhasrdquo

Poreacutem a partir de 1860 segundo Schmidt e Cainelli (2009 p 12-13) ldquono

periacuteodo republicano a incorporaccedilatildeo da concepccedilatildeo de que a disciplina Histoacuteria tinha

a responsabilidade de formar cidadatildeos ganha forccedilardquo sendo assim as escolas

primaacuterias e secundaacuterias comeccedilaram incluir em seus programas a histoacuteria nacional

com o intuito da formaccedilatildeo da nacionalidade sendo a paacutetria com seus heroacuteis o

principal foco Desta forma a criaccedilatildeo das diretrizes da Lei de Educaccedilatildeo nordm 569271

reforccedila o modelo jaacute instaurado

Foi oficializado o ensino de Estudos Sociais nas escolas brasileiras ficando os conteuacutedos especiacuteficos da Histoacuteria destinados somente aos alunos do antigo segundo grau A concepccedilatildeo e os conteuacutedos da Histoacuteria continuavam atrelados agraves concepccedilotildees tradicionais (SCHMIDT CAINELLI 2009 p 13)

Com a redemocratizaccedilatildeo na deacutecada de 1980 houve inuacutemeras discussotildees

que elencaram inuacutemeras abordagens e temaacuteticas para o ensino da Histoacuteria na

atualidade as novas tendecircncias se preocupam com a transposiccedilatildeo didaacutetica

valorizando documentos histoacutericos e incorporando novas linguagens e tecnologias

que permitem discussotildees e autonomia de pensamento Neste sentido as novas

concepccedilotildees de ensino de Histoacuteria ao final do seacuteculo XX abrem a possibilidade de

uma nova praacutetica didaacutetica que segundo Azevedo e Stamatto (2010 p 709) ldquobusca

problematizar a relaccedilatildeo passado-presente e em geral tomam a realidade do aluno

como ponto de partidardquo

Por se acreditar em um ensino de Histoacuteria onde a aprendizagem natildeo ocorre

em periacuteodos estanques de forma abstrata e sem relaccedilatildeo com o presente ou seja

12

apresentando de forma linear sem que haja contextualizaccedilatildeo sendo apresentada

atraveacutes de leitura de textos eou resumos permeando com atividades que muitas

vezes natildeo permitem um desenvolvimento de raciociacutenio histoacuterico que contribua para

a construccedilatildeo da cidadania Torna-se urgente pensar em um ensino voltado para a

inclusatildeo de novas contribuiccedilotildees historiograacuteficas como a histoacuteria cultural econocircmica

e social buscando na realidade local subsiacutedios para a aprendizagem Por isso a

presente dissertaccedilatildeo traz a didatizaccedilatildeo da histoacuteria de Satildeo Francisco de Paula visto

que a questatildeo-problema estaacute vinculada ao natildeo uso da histoacuteria local no ensino de

Histoacuteria deste municiacutepio e o pouco material disponiacutevel para o uso dos professores

Parte-se do pressuposto que ao abranger a histoacuteria local os sujeitos se veem como

partiacutecipes desta histoacuteria estudada significando e ressignificando conceitos

histoacutericos

Corroborando com este estudo Cunha (2016) traz consideraccedilotildees importantes

relacionadas ao uso da histoacuteria local O autor aborda como algo essencial para

compreensatildeo da histoacuteria geral na educaccedilatildeo baacutesica o uso da histoacuteria local o que

proporcionaria aos estudantes o reconhecimento como cidadatildeo e a percepccedilatildeo e

identificaccedilatildeo dos lugares de memoacuteria por parte dos alunos bem como o sentimento

de pertencimento do local Desta forma despertaria no aluno o interesse por um

passado aparentemente desligado de sua realidade estabelecendo relaccedilotildees com o

seu cotidiano

Desta maneira acredita-se que os estudantes da educaccedilatildeo baacutesica

compreenderatildeo a histoacuteria como algo que faz parte de suas vidas tornando-se assim

sujeitos da histoacuteria pois se haacute reconhecimento haveraacute tambeacutem o sentimento de

pertencimento que poderaacute ajudaacute-los a manter ou modificar a realidade que os cerca

Assim descrevem Schmidt e Cainelli

Esse sentido do ensinar Histoacuteria natildeo significaria natildeo ter conteuacutedos para serem ensinados mas olhar para estes conteuacutedos a partir da possibilidade de construir com os alunos novas questotildees diante de conteuacutedos e temas propostos pela historiografia Aprender histoacuteria eacute discutir evidecircncias levantar hipoacuteteses dialogar com os sujeitos os tempos e os espaccedilos histoacutericos Eacute olhar para o outro em tempos e espaccedilos diversos (SCHMIDT CAINELLI 2009 p 20)

Dentro desta perspectiva o reconhecimento da memoacuteria social se faz

importante visto que se necessita invocaacute-la para que um determinado grupo ou local

reconheccedila sua identidade social Atraveacutes de entrevistas com moradores de Satildeo

13

Francisco de Paula se invoca a memoacuteria coletiva na busca da identidade dos sete

distritos deste municiacutepio Visto que a histoacuteria de Satildeo Francisco de Paula se inicia por

volta do seacuteculo XVIII quando se datam as primeiras sesmarias1 concedidas ao

capitatildeo Pedro da Silva Chaves Posteriormente o capitatildeo doa parte de suas terras

para a construccedilatildeo do povoado que recebe o nome de Satildeo Francisco de Paula de

Cima da Serra por este ser devoto do Santo Satildeo Francisco Reza no testamento do

capitatildeo Pedro da Silva Chaves que um de seus filhos foi o primeiro paacuteroco a rezar

missa no povoado Satildeo Francisco de Paula pertenceu a Santo Antocircnio da Patrulha

e mais tarde a Taquara emancipando-se em 1902

Haacute pouca bibliografia sobre a histoacuteria de Satildeo Francisco de Paula o que existe

satildeo livros escritos por memorialistas onde se percebe a prioridade pela histoacuteria do

fundador ou seja do Capitatildeo Pedro da Silva Chaves dos iacutendios Caaguaraacutes que

habitavam a regiatildeo assim como os aspectos poliacuteticos administrativos Alguns destes

livros apresentam uma siacutentese cronoloacutegica de fatos importantes e descrevem

superficialmente o jeito de viver do povo serrano2 Mas a histoacuteria de Satildeo Francisco

de Paula estaacute repleta de diferentes identidades que identificam a Sede3 e o Interior4

deste municiacutepio e formam o jeito de viver do seu povo A natildeo exploraccedilatildeo de

elementos culturais que se fazem importantes para a construccedilatildeo de identidade

destes lugares minimiza as memoacuterias e as tradiccedilotildees que ali se apresentam visto

que

as constantes novidades em diferentes campos do saber os avanccedilos da tecnologia as infinitas possibilidades de comunicaccedilatildeo simultacircnea tecircm provocado sobretudo nas novas geraccedilotildees uma sensaccedilatildeo de que o mundo em que se vive eacute dotado de um temporalidade constituiacuteda por um tempo presente contiacutenuo (FIGUEIRA MIRANDA 2012 p 46)

Neste sentido fez-se uso de diferentes fontes para a construccedilatildeo do produto

desta dissertaccedilatildeo que consiste de um paradidaacutetico que possa servir como um

1 Sesmaria Terreno sem culturas ou abandonado que a antiga legislaccedilatildeo portuguesa com base em

praacuteticas medievais determinava que fosse entregue a quem se comprometesse a cultivaacute-lo 2 Serrano gentiacutelico de quem nasce em Satildeo Francisco de Paula 3 Sede distrito criado em 07 de janeiro de 1903 na mesma data da instalaccedilatildeo oficial do Municiacutepio Eacute

o distrito onde se localiza a Prefeitura Municipal Foacuterum agecircncias bancaacuterias loteacutericas hospital casas comerciais e residecircncias particulares Normalmente os moradores do interior quando vatildeo ao distrito se referem como ldquovou a Satildeo Chicordquo e natildeo como ldquovou a Sederdquo

4 Interior Cazuza Ferreira Juaacute Eletra Rincatildeo dos Kroeff Tainhas e Lajeado Grande satildeo distritos que ficam na zona rural apesar de todos terem uma pequena vila que possui pouca infraestrutura Alguns destes distritos ainda usam aacutegua de vertentes sem nenhuma rede de esgoto pois natildeo possuem aacutegua fornecida pela Companhia de Aacutegua e Saneamento (CORSAN)

14

material disponiacutevel a alunos e professores no ensino de Histoacuteria de Satildeo Francisco

de Paula Segundo Munakata entendem-se como paradidaacuteticos

Livros que sem apresentar caracteriacutesticas proacuteprias dos didaacuteticos satildeo adotados no processo de ensino e aprendizagem nas escolas seja como material de consulta do professor seja como material de pesquisa e de apoio agraves atividades do educando (MUNAKATA 1997 p 103)

Para a construccedilatildeo do paradidaacutetico fez-se uso de bibliografias jaacute existentes

jornais e documentos da Assembleia da Legislativa bem como o uso da histoacuteria

oral sendo as entrevistas a fonte primordial para escrever sobre as semelhanccedilas e

diferenccedilas existentes no modo de vida da populaccedilatildeo de Satildeo Francisco de Paula

visto que os depoimentos satildeo importantes na preservaccedilatildeo das memoacuterias tradiccedilotildees

bem como das heranccedilas identitaacuterias Neste sentido Delgado (2003 p 23) discorre

ldquonarrativas memoacuterias histoacuterias e identidades satildeo a humanidade em movimento

Satildeo o olhar que permeiam tempos heterogecircnicos Satildeo a histoacuteria em construccedilatildeo Satildeo

memoacuterias que falamrdquo

Portanto a histoacuteria oral busca registrar as vivecircncias e lembranccedilas de um

determinado grupo Alberti (2008 p 29) assim define ldquohistoacuteria oral natildeo eacute um fim em

si mesma e sim um meio de conhecimentordquo Quando se trabalha com a histoacuteria

oral se faz necessaacuterio valorizar a memoacuteria as identidades e tradiccedilotildees pois estas

formam a histoacuteria local ou seja a histoacuteria dos indiviacuteduos que ali vivem Halbwachs

(2004) afirma que com a perda da memoacuteria coletiva tambeacutem se perdem as

tradiccedilotildees locais tradiccedilotildees essas que identificam o modo de viver de um determinado

local Hobsbawn e Ranger entendem que as tradiccedilotildees podem ou natildeo ser

inventadas

Tradiccedilatildeo inventada entende-se um conjunto de praacuteticas normalmente reguladas por regras taacutecitas ou abertamente aceitas tais praacuteticas de natureza ritual ou simboacutelica visam inculcar certos valores e normas de comportamento atraveacutes da repeticcedilatildeo o que implica automaticamente uma continuidade com relaccedilatildeo ao passado (HOBSBAWN RANGER 2015 p 8)

Hobsbawn e Ranger (2015) ainda acrescem que a criaccedilatildeo de uma tradiccedilatildeo

independe da imposiccedilatildeo de uma nova tradiccedilatildeo o que normalmente ocorre eacute uma

rebeliatildeo cultural que precede da elaboraccedilatildeo de novas tradiccedilotildees que satildeo adotadas

pela populaccedilatildeo e com o tempo passam a se tornar tradiccedilotildees daquele local

formando a identidade local

15

Neste sentido Hall (2011 p 39) discorre que ldquoas identidades satildeo fabricadas

por meio da marcaccedilatildeo da diferenccedilardquo O autor ainda acresce que ldquoa diferenccedila eacute aquilo

que separa uma identidade da outrardquo (HALL 2011 p 41) Dentro desta perspectiva

a memoacuteria que se apresenta atraveacutes de siacutembolos ou tradiccedilotildees respalda a

construccedilatildeo da identidade do povo de Satildeo Francisco de Paula visto que a memoacuteria eacute

a construccedilatildeo do passado de maneira atualizada e renovada no tempo presente

Assim Halbwachs (2004 p 64) descreve que ldquonatildeo eacute na histoacuteria aprendida eacute na

histoacuteria vivida que se apoia nossa memoacuteriardquo Nessa loacutegica o autor ainda descreve

que ldquoo mundo histoacuterico eacute como um oceano onde afluem todas as histoacuterias parciaisrdquo

(p 90)

O municiacutepio de Satildeo Francisco de Paula eacute repleto de tradiccedilotildees que perpassam

o tempo que estatildeo enraizadas no jeito serrano de ser formando a sua identidade

Portanto a histoacuteria de Satildeo Francisco de Paula descrita nesta dissertaccedilatildeo seraacute

apresentada em quatro capiacutetulos

O capiacutetulo dois apresenta a discussatildeo teoacuterica metodoloacutegica sobre a

importacircncia do ensino da Histoacuteria local na sala de aula Tambeacutem conceitos como

memoacuteria e identidade e a importacircncia de se abordar o local em prol do global

No capiacutetulo trecircs aborda-se a construccedilatildeo histoacuterica do municiacutepio de Satildeo

Francisco de Paula que vai desde a chegada do colonizador nesta terra ateacute as

instituiccedilotildees que se formam ao longo do tempo Para isso se faz uso de bibliografias

jaacute existentes como Lucena (1971) Oliveira (1996) Teixeira (2002) Ribeiro (2003)

Alves (2007) e Fonseca (2012) sendo todas essas obras importantes para Satildeo

Francisco de Paula visto que cada uma traz consigo um pouco da histoacuteria deste

municiacutepio poreacutem sente-se falta da identidade e da memoacuteria na construccedilatildeo histoacuterica

As obras satildeo apresentadas sob o mesmo prisma apresentando os iacutendios Caaguaraacutes

e o Capitatildeo Pedro da Silva Chaves os fundadores desta terra dando bastante

ecircnfase aos sobrenomes que ali se desenvolveram Tambeacutem se fez uso de

documentos da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul aleacutem de jornais

encontrados no Arquivo Histoacuterico de Satildeo Francisco de Paula

No capiacutetulo quatro utiliza-se da fonte oral para que sejam identificadas as

diferentes tradiccedilotildees e versotildees da histoacuteria local ou seja a identidade de cada distrito

constituindo assim as particularidades que constroem o municiacutepio de Satildeo Francisco

de Paula Para tanto buscaram-se depoentes nas vilas dos distritos sendo que a

escolha se deu por duas pessoas por distrito sendo um homem e uma mulher

16

totalizando treze depoentes todos da terceira idade pois segundo Bosi (1994 p

82) ldquoum mundo social que possui uma riqueza e uma diversidade que natildeo

conhecemos pode chegar-nos pela memoacuteria dos velhosrdquo memoacuterias estas

construiacutedas por suas vivecircncias neste local o que justifica a relevacircncia dos

depoimentos para a construccedilatildeo do trabalho

O capiacutetulo cinco apresenta uma descriccedilatildeo do produto que consiste em um

paradidaacutetico em forma fiacutesica abordando a histoacuteria de Satildeo Francisco de Paula A

escolha pelo formato fiacutesico acontece pelas dificuldades encontradas no interior dos

distritos com o acesso agrave internet assim se pensa que o formato fiacutesico abrangeraacute um

nuacutemero maior de alunos e professores

Para tanto utiliza-se a metodologia da Histoacuteria oral para escrever a memoacuteria

e as percepccedilotildees das pessoas que habitam este local Hobsbawn e Ranger (1995 p

103) escrevem que ldquoessa proximidade entre o periacuteodo analisado e sua histoacuteria

pessoal eacute o pano de fundo para a discussatildeo de alguns problemas que qualquer

historiador enfrenta ao escrever sobre seu proacuteprio tempordquo pois a sensibilidade do

historiador vai escrever sua narrativa Em outras palavras Hobsbawn e Ranger

(1995 p 104) explicam que ldquocada historiador tem sua proacutepria vida um lugar privado

a partir do qual inspeciona o mundordquo Tambeacutem afirmam

Para aqueles que querem escrever a histoacuteria do seacuteculo XX uma das mais importantes reside no simples fato de saber sem nenhum esforccedilo especial o quanto as coisas se modificaram Os uacuteltimos trinta ou quarenta anos foram os mais revolucionaacuterios da histoacuteria O mundo ou seja a vida dos homens e mulheres que vivem na Terra nunca foi transformada de maneira tatildeo profunda dramaacutetica e extraordinaacuteria dentro de um periacuteodo tatildeo curto As geraccedilotildees que natildeo viram como o mundo era antes tecircm dificuldade em perceber isso intuitivamente (HOBSBAWN RANGER 1995 p 107)

Portanto se faz importante perceber que o mundo vem se transformando de

maneira raacutepida modificando a vida das pessoas e por conseguinte as tradiccedilotildees e

identidades locais pois estas comunidades natildeo vivem de forma isolada e sofreram

influecircncias jaacute que a cultura natildeo eacute estagnada estaacute sempre em constante movimento

juntamente com as pessoas

17

2 HISTOacuteRIA LOCAL E O ENSINO DE HISTOacuteRIA NA SALA DE AULA

Discutir o ensino de Histoacuteria na educaccedilatildeo baacutesica e a relaccedilatildeo do mesmo com a

histoacuteria local se faz bastante importante para que a cada dia se possa melhorar as

praacuteticas pedagoacutegicas Neste sentido se busca respaldo em diferentes bibliografias

que possam embasar novos afazeres dentro do espaccedilo da sala de aula e

proporcionar ao estudante um novo olhar sobre a histoacuteria um olhar de sujeito ativo

dentro desse processo de ensino aprendizagem

Pois quando a Histoacuteria eacute ensinada como algo certo e imutaacutevel de maneira

fragmentada voltada para linearidade e memorizaccedilatildeo de fatos e datas reforccedila o

que Mendes (1935) e Schmidt e Cainelli (2009) defendem que realmente eacute odiosa a

histoacuteria ensinada por este vieacutes Percebe-se que o ensino de histoacuteria linear nos

moldes europeus positivistas jaacute natildeo daacute mais conta da importacircncia da histoacuteria para a

sociedade atual porque eacute apresentada aos alunos atraveacutes de datas e fatos escrita

pelo vieacutes de uma elite que normalmente eacute branca e deteacutem o poder poliacutetico eou

econocircmico Eacute inconcebiacutevel que se permaneccedila com um ensino de Histoacuteria que natildeo

serve natildeo motiva e segundo Ruumlsen (2001 p 25) ainda ldquoirracionalizardquo sendo esse

modelo muito frequente nas escolas de educaccedilatildeo baacutesica brasileiras

Natildeo eacute por outro motivo que observamos ainda nas uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo XX que para a maior parte dos estudantes brasileiros o estudo de histoacuteria carece de sentido ou utilidade natildeo se tem a visatildeo de ciecircncia e sim de uma mateacuteria decorativa estudo do passado que soacute exige como vimos a prontidatildeo em declinar nomes datas e fatos Natildeo eacute de se estranhar que assim seja porque ocorre a enorme distacircncia entre a realidade vivenciada pela comunidade e o tratamento dado ao ensino de Histoacuteria jaacute que o aluno se torna mero espectador de fatos natildeo necessitando esforccedilos no sentido de qualquer reflexatildeo ou elaboraccedilatildeo (BARBOSA 2006 p 58)

O ensinar da histoacuteria de forma abstrata fragmentada dificulta a compreensatildeo

do processo histoacuterico no sentido que se estuda os fatos isolados ao seu tempo

como se um fato precisasse terminar para iniciar outro Em outras palavras este

meacutetodo de ensino natildeo daacute a noccedilatildeo de continuidade ou seja a histoacuteria perdeu seu

sentido baacutesico que eacute a compreensatildeo do contexto global dos fatos considerando que

o ensino de Histoacuteria por muitas vezes eacute estanque sem uma relaccedilatildeo ldquopresente x

passadordquo sendo de suma importacircncia o despertar de uma consciecircncia criacutetica por

parte do estudante Por isso ao longo do tempo o ensino sofre influecircncia por parte

do ldquopoderrdquo segundo Laville (1999 p 128) ldquoa Histoacuteria eacute certamente a uacutenica disciplina

18

escolar que recebe intervenccedilotildees diretas dos altos dirigentes e a consideraccedilatildeo ativa

dos parlamentos Isso mostra quatildeo importante eacute ela para o poderrdquo Nesta linha o

autor ainda acrescenta que ldquoa narrativa histoacuterica pode tambeacutem ser vista como uma

tomada de poder por grupos sem poderrdquo (LAVILLE 1999 p 129)

Na busca de modificar esse modelo surgem novos meacutetodos que valorizam o

uso do documento histoacuterico e a incorporaccedilatildeo de novas tecnologias de acordo com

Azevedo e Stamatto (2010 p 720) ldquotem o desafio de responder a inquietaccedilotildees do

hojerdquo Partindo deste pressuposto haacute possibilidade de se modificar o ensino da

Histoacuteria que ateacute entatildeo estava voltado agrave memorizaccedilatildeo para um modelo onde o

sujeito seja agente deste processo

Ensinar Histoacuteria como algo pronto e acabado [] sem levar em conta o contexto e os sujeitos envolvidos no processo de ensino aprendizagem pode levar a um ensino que natildeo desenvolve o que eacute mais importante como funccedilatildeo do ensinar histoacuteria que orientar os problemas da vida praacutetica (SCHMIDT CAINELLI 2009 p 20)

Assim Seffner (2013 p 51) acrescenta que ldquoo ensino de Histoacuteria eacute um ensino

de situaccedilotildees histoacutericas Mais do que nomes datas e acontecimentos o professor

deve propiciar ao aluno a compreensatildeo de como se estrutura uma dada situaccedilatildeordquo

Para que o ensino de Histoacuteria seja ressignificado existe a necessidade de anaacutelise

do processo histoacuterico problematizando os fatos no vai e vem do presentepassado

Os estudantes da educaccedilatildeo baacutesica necessitam compreender a histoacuteria como

um processo em constante transformaccedilatildeo que eacute movimentada por sujeitos que a

compotildeem com permanecircncias e rupturas ao longo dos tempos Segundo Bittencourt

(2004 p 168) ldquoa histoacuteria local tem sido indicada como necessaacuteria para o ensino por

possibilitar a compreensatildeo do alunordquo

Corroborando Seffner (2013) Souza (2015) e Brum (2015) evidenciam a

importacircncia de se trabalhar a histoacuteria global partindo de uma histoacuteria local

problematizando levando hipoacuteteses e analisando os fatos histoacutericos o que gera

significado para o educando e torna o docente natildeo mais um mero transmissor mas

um mediador deste conhecimento Neves (1997 p 22) reforccedila que ldquoo local fora do

contexto geral eacute apenas um fragmento e o geral sem o respaldo das realidades

locais eacute apenas uma abstraccedilatildeordquo Com esta nova abordagem o estudar Histoacuteria tem

sentido para o discente que se sente sujeito de sua proacutepria histoacuteria visto que

19

identificar-se com o local onde se vive ajuda a compreender o sentimento de

pertencimento e suas relaccedilotildees com o meio social e cultural no qual estaacute inserido

Nesta perspectiva faz-se necessaacuterio que os professores busquem novas

alternativas de ensino que proporcionem ao estudante a habilidade de ressignificar o

fato histoacuterico estudado

Ensinar Histoacuteria requer do professor a habilidade de buscar sentido e significado para o conhecimento que ministra e isso significa superar a mera transmissatildeo de informaccedilotildees jaacute que essa natildeo tem por finalidade o desenvolvimento intelectual mas ao contraacuterio deforma a capacidade de pensamento histoacuterico do aluno e a possibilidade de consolidar habilidades de anaacutelise da proacutepria realidade social (SILVA PORTO 2012 p 67)

Goubert assim define a histoacuteria local

Denominaremos histoacuteria local como aquela que diga respeito a uma ou poucas aldeias a uma cidade pequena ou meacutedia (um grande porto ou uma capital estatildeo aleacutem do acircmbito local) ou a uma aacuterea geograacutefica que natildeo seja maior do que a unidade provincial comum (como um county inglecircs um contado italiano uma Land alematilde uma bailiwick ou pays francecircs) Praticada haacute tempos atraacutes com cuidado zelo e ateacute orgulho a histoacuteria local foi mais tarde desprezada mdash principalmente nos seacuteculos XIX e primeira metade do XX mdash pelos partidaacuterios da histoacuteria geral A partir poreacutem da metade desse seacuteculo a histoacuteria local ressurgiu e adquiriu novo significado na verdade alguns chegam a afirmar que somente a histoacuteria local pode ser autecircntica e fundamentada (GOUBERT 1992 p 70)

Neste sentido fica evidente a importacircncia de se partir de uma histoacuteria local

para uma global Atraveacutes da histoacuteria local os estudantes teratildeo contato com sua

histoacuteria e poderatildeo se sentir parte integrante deste espaccedilo que muitas vezes por

falta de conhecimento acabam renegando sua proacutepria identidade Figueira e Miranda

(2012 p 113) afirmam que ldquoum dos efeitos mais danosos da globalizaccedilatildeo eacute a

universalizaccedilatildeo dos gostosrdquo isto implica diretamente na perda da identidade local

que muitas vezes estaacute sendo afetada pelas muacuteltiplas identidades existentes Neste

sentido Silva e Porto descrevem

A globalizaccedilatildeo entretanto produz diferentes resultados em termos de identidade A homogeneidade cultural promovida pelo mercado global pode levar ao distanciamento da identidade relativamente agrave comunidade e agrave cultura local (SILVA PORTO 2012 p 21)

Neste sentido Canclini acrescenta

Las comunidades de consumidores se organiza cada vez menos seguacuten diferencias nacionales y sobre todo en las generaciones joacutevenes definen sus praacutecticas culturales de acuerdo con informacioacuten y estilos homogeneizados (CANCLINI 1997 p 42)

20

Globalizaccedilatildeo que impotildee atraveacutes dos meios de comunicaccedilatildeo e social uma

identidade geral que regra a sociedade seus haacutebitos e costumes Devido ao grande

movimento das pessoas pelo mundo perceber e manter uma identidade com

caracteriacutesticas locais fica a cada dia mais difiacutecil ainda mais em se tratando da

populaccedilatildeo jovem que natildeo reconhece ao seu redor o que representa a sua

identidade local

Valorar as experiecircncias locais proporcionaraacute aos estudantes uma nova

metodologia de abordar a histoacuteria

Do ponto de vista metodoloacutegico destaca-se nessa forma de abordagem a preocupaccedilatildeo com os conhecimentos preacutevios dos alunos com a problematizaccedilatildeo dos conteuacutedos de ensino selecionados para trabalho em sala de aula estabelecendo relaccedilotildees com o cotidiano dos alunos e com o cotidiano de outras pessoas em outros tempos e em outros lugares Enfatiza-se tambeacutem a busca de articulaccedilatildeo entre histoacuteria local e a histoacuteria universal (SCHMIDT 2007 p 193)

O ensino de histoacuteria partindo do local para o global possibilita segundo

Bittencourt (2004 p 168) ldquoa compreensatildeo do entorno do alunordquo sendo que um dos

aspectos relevantes para este ensino eacute a escolha de fontes que levem os estudantes

a se reconhecerem nesse processo histoacuterico O autor ainda acresce

Eacute pela memoacuteria que se chega agrave histoacuteria local Aleacutem da memoacuteria das pessoas escrita ou recuperada pela oralidade existem os lsquolugares de memoacuteriarsquo (grifo da autora) expressos por monumentos praccedilas edifiacutecios puacuteblicos ou privados mas preservados como patrimocircnio histoacuterico (BITTENCOURT 2004 p 169)

Esta memoacuteria vai contribuir para legitimaccedilatildeo da identidade local Sabe-se que

a identidade eacute algo mutaacutevel e segundo Silva e Porto (2012 p 38) ldquoas identidades

satildeo produzidas em momentos particulares no tempordquo O pesquisador ainda

acrescenta que ldquoas identidades satildeo contingentes emergindo em momentos

histoacutericos particularesrdquo Estas identidades precisam ser reconhecidas quando se fala

de histoacuteria local

Na mesma linha Ruumlsen descreve a identidade histoacuterica

Consiste na ampliaccedilatildeo do horizonte nas experiecircncias do tempo e nas intenccedilotildees acerca do tempo no qual os sujeitos agentes se asseguram da permanecircncia de si mesmos na evoluccedilatildeo do tempo O ponto extremo dessa consolidaccedilatildeo de identidade eacute a lsquohumanidadersquo como suprassumo dos pontos comuns em sociedade com respeito a diversos sujeitos agentes no processo de determinaccedilatildeo de suas proacuteprias identidades determinam as dos outros de forma tal que estes se reconhecem nelas Esse criteacuterio de sentido lsquohumanidadersquo fornece o paracircmetro para se constatar a consolidaccedilatildeo da

21

identidade em que desembocam o progresso contiacutenuo do conhecimento mediante a pesquisa histoacuterica e a ampliaccedilatildeo contiacutenua das perspectivas mediante a reflexatildeo histoacuterica sobre referenciais (RUumlSEN 2001 p 126)

A histoacuteria local eacute constituiacuteda por diferentes identidades que satildeo geradas pelos

grupos que compotildeem este espaccedilo A este respeito Silva e Porto (2011 p 41)

apresentam que ldquoa diferenccedila eacute aquilo que separa uma identidade da outrardquo Tambeacutem

eacute notaacutevel que para que haja a representaccedilatildeo de suas identidades locais faz-se

necessaacuterio o reconhecimento destas e a percepccedilatildeo que existem diferentes fatores

que diferenciam os grupos sociais

Portanto a identidade eacute constituiacuteda pelas posiccedilotildees eou escolhas feitas

sendo que muitas vezes elas satildeo racionais ou ateacute mesmo irracionais A identidade

eacute baseada na memoacuteria que pode ser individual ou coletiva Segundo Candau (2011

p 16) ldquoos laccedilos fundamentais entre memoacuteria e identidade eacute sobre o fato de que eacute a

memoacuteria faculdade primeira que alimenta a identidaderdquo

Se a memoacuteria gera a identidade natildeo se pode pesquisar e escrever sobre

histoacuteria local sem levar em conta estes dois conceitos primordiais pois a histoacuteria

local soacute teraacute valia se escrita pelo vieacutes do todo ou seja natildeo priorize um grupo ou

classe social todos os quadros sociais devem estar representados dentro deste

processo Nessa linha Schmidt e Cainelli descrevem

O estudo da localidade ou da histoacuteria regional contribui para uma compreensatildeo muacuteltipla da Histoacuteria pelo menos em dois sentidos na possibilidade de se ver mais de um eixo histoacuterico na histoacuteria local e na possibilidade da anaacutelise de micro histoacuterias pertencentes a alguma outra histoacuteria que as englobe e ao mesmo tempo reconheccedila suas particularidades (SCHMIDT CAINELLI 2009 p 139)

Uma histoacuteria que faz sentido que esteja englobada a outra histoacuteria A

memoacuteria coletiva entra na construccedilatildeo desta histoacuteria local e eacute primordial pois esta vai

dar elementos que constroem a identidade deste local sendo que a memoacuteria do

passado influencia na representaccedilatildeo da identidade Neste sentido conforme

Figueira e Miranda (2012 p 47) eacute necessaacuterio compreender a memoacuteria ldquocomo a

capacidade de conservar e de preservar dados refere-se a um conjunto de funccedilotildees

cerebrais que nos permite reter informaccedilotildees adquiridas e impressotildees vividasrdquo

Podendo ser ela individual ou coletiva sendo que a memoacuteria individual existe a partir

de uma memoacuteria coletiva jaacute que as lembranccedilas que ajudam a reconstruir o passado

partem do interior de um grupo

22

Para as Ciecircncias Humanas o conceito de memoacuteria estaacute ligado agrave memoacuteria

social e coletiva definida por Le Goff (2003 p 422) como ldquoo estudo da memoacuteria

social eacute um dos elementos fundamentais de abordar os problemas do tempo e da

histoacuteriardquo O autor ainda acrescenta que ldquoa memoacuteria coletiva eacute natildeo somente uma

conquista eacute tambeacutem um instrumento e um objeto de poderrdquo (LE GOFF 2003 p

410) Neste sentido Halbwachs (2004 p 90) ressalta que ldquotoda memoacuteria coletiva

tem por suporte um grupo limitado no espaccedilo e no tempo e o mundo histoacuterico eacute

como um oceano onde afluem todas as histoacuterias parciaisrdquo

Quando se abordam conceitos de memoacuteria e identidade no ensino de

histoacuteria estaacute se trazendo para o estudo os sujeitos que compotildeem aquele local com

suas vivecircncias que podem ser coletivas ou natildeo A transmissatildeo de saberes entre as

geraccedilotildees forma a identidade coletiva sendo o ser humano um agente ativo no

quadro social da memoacuteria

Halbwachs assim define os quadros coletivos da memoacuteria

Os quadros coletivos da memoacuteria natildeo se resumem em datas nomes e foacutermulas que eles representam correntes de pensamento e de experiecircncia onde reencontramos nosso passado porque este foi atravessado por isso tudo (HALBWACHS 2004 p 71)

Nesta direccedilatildeo Le Goff (2003 p 4) acrescenta que ldquoa memoacuteria social eacute um

dos meios fundamentais para se abordar os problemas do tempo e da histoacuteria A

memoacuteria estaacute nos proacuteprios alicerces da histoacuteriardquo Catroga (2001) reforccedila que a

memoacuteria eacute moldada a partir das vivecircncias e na sua narrativa vai haver uma

coerecircncia que se mistura passado e presente

Quando se escreve sobre histoacuteria local eacute importante considerar que ela estaacute

pautada em documentos assim como em memoacuterias escritas visuais ou orais Neste

sentido eacute perceptiacutevel que o uso dos diferentes tipos de memoacuteria satildeo alicerces que

conduzem o trabalho do historiador para que ele possa interpretar suas fontes e

validar seu trabalho Memoacuterias estas que podem ser apresentadas com documentos

oficiais ou atraveacutes de uma cultura material ou imaterial

A escrita de histoacuterias locais vem como um novo modelo de resguardar

identidades e memoacuterias que se natildeo preservadas iratildeo desaparecer pela influecircncia

da globalizaccedilatildeo e falta de conhecimento de futuras geraccedilotildees Barros assim

descreve

23

Os novos tempos comeccedilavam a trazer um novo padratildeo historiograacutefico novas aberturas retornos e possibilidades e tambeacutem incertezas para os historiadores no que se refere agrave natureza do conhecimento que produzem e ao papel do conhecimento histoacuterico na sociedade [] Entre as novidades postula-se a possibilidade de examinar a histoacuteria de acordo com uma nova escala de observaccedilatildeo ndash atenta para o detalhe para as micro realidades para aquilo que habitualmente escapa ao olhar panoracircmico da macro histoacuteria tradicional ndash e eacute esta nova postura que se passou a chamar de micro histoacuteria (BARROS 2012 p 306)

Diante deste contexto o ensino de Histoacuteria pode buscar na histoacuteria local a

problematizaccedilatildeo necessaacuteria para que os estudantes da educaccedilatildeo baacutesica

reconheccedilam a identidade local que vem sofrendo com a uniformizaccedilatildeo da

sociedade que impotildee uma conjuntura global do local

24

3 SAtildeO FRANCISCO DE PAULA CONSTRUCcedilAtildeO DO MUNICIacutePIO

A apresentaccedilatildeo do municiacutepio Satildeo Francisco de Paula acontece atraveacutes do

uso da narrativa Esta se apresenta atraveacutes do diaacutelogo com obras jaacute produzidas por

memorialistas eou genealogistas que contribuem para a construccedilatildeo histoacuterica deste

local bem como se usa como fonte de enriquecimento documentos da Assembleia

Legislativa do Rio Grande do Sul e jornais locais

Para tanto se apresenta a revisatildeo historiograacutefica das obras escritas pelos

memorialistas eou genealogistas sendo que Lucena (1971) em sua obra ldquoSatildeo

Francisco de Paula Monografiardquo que abrange aspectos histoacutericos da formaccedilatildeo do

municiacutepio bem como pontos turiacutesticos e demograacuteficos O proacuteprio autor intitula a sua

obra como informativa a riqueza de detalhes eacute interessante poreacutem natildeo haacute nenhuma

referecircncia quanto aos dados escritos nem mesmo um referencial bibliograacutefico ao

final

No texto intitulado ldquoOs Fundadores de Satildeo Francisco de Paulardquo Alves (2007)

escreve sobre a fundaccedilatildeo de Satildeo Francisco de Paula Em seu livro haacute documentos

que validam o que se refere agrave genealogia jaacute que boa parte da obra apresenta os

troncos familiares que compunham o iniacutecio deste municiacutepio Na mesma linha da

genealogia Oliveira (1996) no livro ldquoAurorescer das Sesmarias Serranas histoacuteria e

genealogiardquo traz a histoacuteria das primeiras sesmarias da regiatildeo mas o foco principal

se daacute aos proprietaacuterios e seus descendentes Haacute um mapa bastante interessante

localizando as sesmarias e o nome por elas recebidos

Em ldquoSatildeo Francisco de Paula nossa terra nossa genterdquo Teixeira (2002)

apresenta dados gerais e histoacutericos do municiacutepio Esta obra apresenta dados

geograacuteficos como clima relevo e vegetaccedilatildeo A autora escreve sobre diversos

aspectos eventos personalidades e lendas Aleacutem disso apresenta Satildeo Francisco

de Paula com uma linha cronoloacutegica A obra abrange vaacuterios aspectos mas todos

suscintamente No final a autora apresenta a bibliografia consultada dentre os

autores estaacute Lucena (1971)

O texto ldquoSatildeo Francisco de Paula Rio Grande do Sul histoacuteria encantos e

misteacuteriosrdquo eacute uma obra de Fonseca (2012) que traz diversidade de assunto muitas

vezes estes estatildeo desconexos ou seja sua leitura se torna ldquotruncadardquo No final do

texto haacute um vasto referencial bibliograacutefico dentre os autores citam-se Lucena

(1971) e Teixeira (2002)

25

Ribeiro (2003) eacute compositor e poeta Em ldquoFestival do Ronco do Bugiordquo

escreve sobre Satildeo Francisco de Paula apresentando a histoacuteria dos quinze anos do

festival no municiacutepio No iniacutecio contextualiza a origem do festival e do ritmo bugio

Depois apresenta a capa do disco de cada festival especificando as muacutesicas e os

compositores vencedores

Todas essas obras satildeo importantes para Satildeo Francisco de Paula cada uma

traz consigo um pouco da histoacuteria deste municiacutepio poreacutem sente-se falta da

identidade e da memoacuteria na construccedilatildeo histoacuterica As obras satildeo apresentadas o

mesmo prisma apresentando os iacutendios Caaguaraacutes e o Capitatildeo Pedro da Silva

Chaves os fundadores desta terra dando bastante ecircnfase aos sobrenomes que ali

se desenvolveram

31 CONVERSA COM MEMORIALISTAS

As terras onde hoje fica Satildeo Francisco de Paula eram habitadas por iacutendios da

tribo Caaguaraacutes que faziam parte dos Coroados Estes viviam livremente nos

campos de cima da serra e seus domiacutenios estendiam-se entre a Serra Geral e a

Serra do Mar Os iacutendios Caaguaraacutes tinham como haacutebitos alimentares a caccedila a

pesca e a coleta de sementes e frutos dentre os frutos o pinhatildeo e a goiaba-do-

mato segundo Teixeira (2002) e Alves (2007) Estes iacutendios tiveram seu habitat

invadido por incursotildees de desbravadores que comeccedilaram a trafegar pela regiatildeo em

busca de mulas e novas terras visto que as terras onde hoje se encontra Satildeo

Francisco de Paula de Cima da Serra foram rota de tropeiros5 pois estes trafegavam

pelos Campos de Cima da Serra indo na direccedilatildeo de Lages-SC ateacute alcanccedilarem

Sorocaba-SP6 Ao passarem por esta regiatildeo foram se formando pequenos vilarejos

e construindo um jeito peculiar de viver

Neste cenaacuterio aparece o municiacutepio de Satildeo Francisco de Paula de Cima da

Serra que recebe este nome para se diferenciar de Satildeo Francisco de Paula

denominaccedilatildeo recebida ateacute meados de 1830 pelo municiacutepio de Pelotas Poreacutem na

metade do seacuteculo XVIII Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra possuiacutea

5 Tropeiros homens que conduziam suas tropascomitivas de muares ou cavalos entre as regiotildees 6 Sugere-se a leitura FLORES Moacyr Troperismo no Brasil Porto Alegre Nova Dimensatildeo 1998

SAVARIS Manoelito Tropas e tropeiros o Rio Grande toma forma Disponiacutevel em ltwwwrogeriobastoscombr201104trpas-e-tropeiros-o-rio-grande-tomahtmlgt Acesso em 12 mar 2016

26

proprietaacuterios de terras sendo que um dos pioneiros foi Pedro da Silva Chaves um

portuguecircs casado com Gertrudes de Godoy uma paulista Pedro da Silva Chaves

declara em 1742 ser possuidor de terras neste municiacutepio Segundo Oliveira (1996)

em seu testamento Pedro da Silva Chaves rege que possui trecircs fazendas na regiatildeo

uma chamada Satildeo Joatildeo que se localiza desde o Arroio Santa Cruz ateacute o Rio

Tainhas concedida em 1752 por sesmaria a Fazenda da Cria que foi comprada de

Francisco Pinto Bandeira e confirmada como sesmaria em 1754 e a Fazenda

denominada Cerrito comprada do Capitatildeo Antocircnio Gonccedilalves dos Reis Nestas

fazendas havia criaccedilatildeo de cavalos gado vacum mulas e burros As fazendas

tambeacutem apresentavam em torno de 77 escravos sendo que alguns satildeo casados o

que se faz pensar que estes constituiacuteam famiacutelia aumentando assim o nuacutemero de

escravos da regiatildeo No mapa da Figura 1 verifica-se a localizaccedilatildeo das fazendas do

capitatildeo Pedro da Silva Chaves bem como sua extensatildeo territorial

Figura 1 ndash Mapa de Identificaccedilatildeo das Sesmarias Serranas

Fonte Oliveira (1996 p 236)

27

No mapa apresentado na Figura 1 ainda eacute possiacutevel observar a localizaccedilatildeo

onde inicia o povoado de Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra segundo

Lucena (1971 p 1) ldquoiniciou-se com o Capitatildeo Pedro da Silva Chaves que doou

uma gleba de terra para que fosse iniciado o povoadordquo Tambeacutem segundo Lucena

(1971 p 1) ldquodoou cinquenta vacas para construir o primeiro patrimocircnio da Igreja

cuja construccedilatildeo foi iniciada por sua conta e lhe deu o nome de Satildeo Francisco por

este ser devoto do Santordquo O que demonstra que Pedro da Silva Chaves era

Catoacutelico

Neste periacuteodo compreendido como seacuteculo XIX segundo Teixeira (2002) e

Alves (2007) o atual municiacutepio de Satildeo Francisco de Paula pertencia ao municiacutepio de

Santo Antocircnio da Patrulha municiacutepio este que formava juntamente com Porto

Alegre Rio Pardo e Rio Grande a proviacutencia de Satildeo Pedro do Rio Grande do Sul

atual Rio Grande do Sul Eacute possiacutevel observar a grande extensatildeo territorial de cada

municiacutepio no mapa apresentado na Figura 2 segundo Silva (2000) Santo Antocircnio

da Patrulha anexava as freguesias de N Sra Conceiccedilatildeo do Arroio e N Sra da

Oliveira da Vacaria a capela de Satildeo Domingos das Torres e os povoados de Santa

Cristina do Pinhal e Cima da Serra

Analisando o mapa da Figura 2 eacute possiacutevel perceber que o municiacutepio de Santo

Antocircnio da Patrulha tinha um vasto e extenso territoacuterio que atualmente compreende

os municiacutepios de Vacaria Antocircnio Prado Nova Roma do Sul Lagoa Vermelha

Veranoacutepolis Nova Prata Nova Araccedilaacute Nova Bassano Paraiacute Guabiju Satildeo Jorge

Vista Alegre do Prata Protaacutesio Alves Cotiporatilde Fagundes Varela Vila Flores

Caseiros Birajaras Andre da Rocha Capatildeo Bonito do Sul Muitos Capotildees Bom

Jesus Satildeo Joseacute dos Ausentes Esmeralda Ipecirc Campestre da Serra Monte Alegre

dos Campos Taquara Satildeo Francisco de Paula Cambaraacute do Sul e Jaquirana

28

Figura 2 ndash Divisatildeo Municipal em 1809 ndash Proviacutencia Satildeo Pedro do Rio Grande do Sul

Fonte Evoluccedilatildeo Administrativa (2013)7

32 AMPLIANDO O DIAacuteLOGO COM OS MEMORIALISTAS

Segundo documentos da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul8

disponiacuteveis no Arquivo Histoacuterico de Satildeo Francisco de Paula9 em 1852 atraveacutes da

Lei nordm 266 de 30 de novembro de 1852 eleva-se agrave categoria de freguesia a entatildeo

capela Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra pelo entatildeo vice-governador da

proviacutencia de Satildeo Pedro do Rio Grande do Sul o senhor Luiz Alves Leite de Oliveira

Bello Estes documentos ainda retratam que no ano de 1886 houve distribuiccedilatildeo de

lotes devolutos para pessoas pobres que comprovassem residecircncia haacute pelo menos

trecircs anos e se comprometessem a ldquofundar moradiardquo em um prazo de um ano sendo

assim passados trecircs anos seriam donos definitivos destes lotes dando o iniacutecio ao

povoamento da vila No mesmo periacuteodo acontece a criaccedilatildeo do cemiteacuterio municipal

7 Disponiacutevel em ltwwwatlassocioeconomicorsgovbrevolucao-administrativa-1809-a-2013gt Acesso

em 18 mar 2017 8 O diaacutelogo com memorialista se amplia a partir de agora com contribuiccedilotildees de documentos

pesquisados que corroboram para a compreensatildeo do tema 9 BARBOSA Eni GONCcedilALVES Jorge Joseacute Xavier (Orgs) Documentos histoacutericos da Assembleia

Legislativa do Rio Grande do Sul Arquivo Histoacuterico de Satildeo Francisco de Paula 1992

29

que ocorre em 1891 segundo documentos da Assembleia Legislativa disponiacuteveis

no Arquivo Histoacuterico de Satildeo Francisco de Paula Estes documentos informam que

primeiramente somente moradores que comprovassem residecircncia haacute mais de trecircs

anos e pudessem manter os jazigos de seus entes poderiam fazer uso deste

espaccedilo Atraveacutes desta documentaccedilatildeo se percebe que havia toda uma organizaccedilatildeo

para que ldquoestrangeirosrdquo natildeo se estabelecessem em Satildeo Francisco de Paula de Cima

da Serra

Em 1889 Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra passa a categoria de vila

e deixa de pertencer a Santo Antocircnio da Patrulha passando a ser distrito do

municiacutepio de Taquara do Mundo Novo (hoje Taquara) o que traz mudanccedilas

significativas para a vila

Mesmo havendo distribuiccedilatildeo de lotes apoacutes quinze anos percebe-se na

Figura 3 que o povoado ainda era pequeno cercado de campos que constituiacuteam

fazendas com criaccedilatildeo de gado vacum tendo como principal economia a pecuaacuteria

extensiva Ao alto pode-se visualizar a Igreja Matriz construiacuteda pelo capitatildeo Pedro

da Silva Chaves

Figura 3 ndash Vista da vila de Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra (1901)

Fonte Portal Satildeo Chico (2018)10

10 PORTAL SAtildeO CHICO Fotos antigas de Satildeo Francisco de Paula 2018 Disponiacutevel em

ltwwwsaochicocombrantigasgt Acesso em 12 abr 2019

30

Ainda eacute possiacutevel observar atraveacutes da Figura 3 que neste periacuteodo natildeo havia

nenhuma preocupaccedilatildeo com a organizaccedilatildeo urbana ou seja ruas quadras as

construccedilotildees se apresentam de maneira desordenada Poreacutem passados vinte e dois

anos na Figura 4 jaacute eacute possiacutevel visualizar uma estrutura urbanizada com possiacutevel

organizaccedilatildeo de ruas e quadras mas a vila ainda eacute rodeada de campos

Figura 4 ndash Vista Avenida Juacutelio de Castilhos (1923)

Fonte Lucena (1971 p 67)

O desenvolvimento da Sede de Satildeo Francisco de Paula acontece segundo

Lucena (1971 p 27) ldquonos primeiros anos de vida isto eacute de 1910 a 1924 mais ou

menos devido agrave extraccedilatildeo da erva-mate que era abundante em nossos matos nas

zonas da serrardquo O autor ainda acrescenta

O pioneiro na extraccedilatildeo da erva-mate em nossa Comuna foi o proprietaacuterio Carlos Miguel Kroeff dono da fazenda Potreirinho praticamente arrabalde de nossa cidade No barba-quaacute11 se iniciava todo processo de industrializaccedilatildeo da erva-mate sendo que Satildeo Francisco de Paula chegou a ter quinhentos barbaacute-quas (LUCENA 1971 p 28)

11 Barba-quaacute um valo de cerca de oito metros de comprimento amis ou menos por um metro de

profundidade e oitenta centiacutemetros de largura coberto de xaxim e terra em uma das extremidades colocava-se um gradeado e acima deste em uma parte tambeacutem coberta e mais alta tinha apenas uma saiacuteda sob o gradeado colocava-se as folhas de erva extraiacuteda da aacutervore no iniacutecio do valo fazia-se um fogo e a fumaccedila que pela pouca ventilaccedilatildeo existente formava bastante fumaccedila e esta atingia as folhas secando-as (LUCENA 1971 p 28)

31

A produccedilatildeo de erva-mate contribuiu para o povoamento da vila visto que

muitas pessoas vieram trabalhar e acabaram se instalando no municiacutepio Apoacutes a

extraccedilatildeo da erva-mate surge a extraccedilatildeo de madeira que tambeacutem contribui para o

desenvolvimento

Nesta documentaccedilatildeo ainda se encontra no artigo nordm 251 de 08 de abril de

1891 a liberaccedilatildeo da verba para abrir a estrada de rodagem que liga as vilas de

Taquara do Mundo Novo e Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra em 1889

Atraveacutes da Figura 5 pode-se perceber o quatildeo difiacutecil era abrir uma nova estrada de

rodagem Tudo era manual com o uso de animais e muares para transportar pedras

e terras poreacutem a abertura desta estrada traz mudanccedilas significativas para a

populaccedilatildeo de Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra

Figura 5 ndash Abertura da estrada ERS-020 Taquara ndash Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra

Fonte Jornal Folha da Serra (1968 n 89 p 8)12

12 Folha da Serra jornal criado em 1932 pelo Dr Siacutelvio Rabelo sendo o uacutenico jornal que existia na

regiatildeo serrana Este trazia notiacutecias sociais poliacuteticas etc com uma tiragem em torno de 500 exemplares por semana Encontram-se no Arquivo Histoacuterico de Satildeo Francisco de Paula alguns exemplares ateacute a deacutecada de 70 seacuteculo XX

32

A estrada visava facilitar o acesso da populaccedilatildeo de Satildeo Francisco de Paula

de Cima da Serra que ia ateacute Taquara para buscar gecircneros de primeira necessidade

Em tempos idos os serranos se abasteciam de gecircneros de primeira necessidade quase que totalmente em Taquara e o transporte era feito em cargueiros que compunham uma tropa com cerca de quinze a vinte cargueiros Os animais usados para esse transporte eram geralmente muares mais resistentes para o transporte de carga Os serranos levavam daqui queijo (o queijo ateacute hoje chamado queijo serrano) charque couros e alguns levavam maccedilatilde ou pinhatildeo em suas eacutepocas de colheita trocados por mantimentos de que necessitavam Natildeo existiam ainda estradas e o trajeto era feito por picadas existentes (LUCENA 1971 p 23)

O mesmo autor ainda acrescenta

Para atingir a capital do Estado a viagem era cheia de peripeacutecias O transporte era feito a cavalo ou em diligecircncias ateacute Taquara As diligecircncias carros de quatro de rodas puxados por quatro animais ndash cavalos ndash eram de propriedade de Bertolo Casara mais conhecido por lsquoJoatildeo Gringorsquo Essa viagem se fazia normalmente em um dia e agraves vezes em dia e meio O ponto de parada era ali no Rodeio Bonito onde existia uma casa agrave esquerda bem defronte a estrada que desce para Trecircs Coroas [] De Taquara a Porto Alegre por via ferroviaacuteria ndash de trem (LUCENA 1971 p 16)

A construccedilatildeo desta estrada traz um novo desenvolvimento para a entatildeo vila

de Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra pois apoacutes a abertura da estrada de

rodagem Taquara ndash Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra modifica o transporte

de mercadorias entre as localidades

O transporte de mercadorias era feito em carretotildees de quatro rodas puxados uns por cinco animais outros por sete as maiores que geralmente eram muares Eram atrelados em duas fileiras Na fileira junto agrave carreta que era de duas ou trecircs mulas na da esquerda montava o carreteiro Este toda vez que se verificava um declive na estrada apeava de sua montaria a fim de brecar a carreta sem que esta entretanto parasse (LUCENA 1971 p 24)

Este modelo de comeacutercio vai desaparecer com o surgimento das primeiras

casas de comeacutercios na vila de Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra De acordo

com Lucena (1971 p 38) ldquoos primeiros comerciantes foram Manoel Vicente

Ferreira Abel Pacheco Luis Carlos de Andrade e Jacob Bossle Sobrinhordquo Na

imagem da Figura 6 temos o Accedilougue Central onde nota-se que os animais

convivem soltos na rua juntamente com as pessoas mesmo se tratando de local

urbano

33

Figura 6 ndash Accedilougue Central

Fonte Portal Satildeo Chico (2018)13

Nesta mesma documentaccedilatildeo haacute decretos que definem a construccedilatildeo de uma

nova Igreja Matriz isto eacute uma Igreja de Pedra substituindo a antiga que era de

madeira ainda construiacuteda pelo capitatildeo Pedro da Silva Chaves esta construccedilatildeo data

do ano de 1922 Segundo Teixeira (2002 p 30) a Igreja de Pedra permanece ateacute

1960 quando daacute lugar ao atual preacutedio da Igreja Matriz que foi inaugurada em 14 de

junho de 1964 Na sequecircncia teremos duas imagens demonstrando a Igreja de

Pedra e a atual edificaccedilatildeo da Igreja Matriz Natildeo foi encontrada nenhuma foto da

Igreja de Madeira nos arquivos do Arquivo Histoacuterico do Municiacutepio somente em um

site de fotos antigas onde encontra-se registro apresentado na Figura 7

13 PORTAL SAtildeO CHICO Fotos antigas de Satildeo Francisco de Paula 2018 Disponiacutevel em

ltwwwsaochicocombrantigasgt Acesso em 12 abr 2019

34

Figura 7 ndash Igreja Matriz em 1931

Fonte Portal Satildeo Chico (2018)14

Figura 8 ndash Igreja Matriz

Fonte acervo da autora (2015)

14 PORTAL SAtildeO CHICO Fotos antigas de Satildeo Francisco de Paula 2018 Disponiacutevel em

ltwwwsaochicocombrantigasgt Acesso em 12 abr 2019

35

Entre os anos de 1892 a 1902 por duas vezes Satildeo Francisco de Paula de

Cima da Serra eacute desanexado e reanexado ao entatildeo municiacutepio de Taquara do Mundo

Novo Somente em 23 de dezembro de 1902 foi reestabelecido definitivamente o

municiacutepio de Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra cuja instalaccedilatildeo se verificou

em 07 de janeiro de 1903 A partir de 01 de janeiro de 1938 perde ldquoCima da Serrardquo

de sua nomenclatura permanecendo somente Satildeo Francisco de Paula Apesar

disso se manteacutem o gentiliacutecio ldquoSerranordquo de acordo com Silva (2000 p 23) e dados

do Arquivo Histoacuterico de Satildeo Francisco de Paula sendo que este gentiliacutecio eacute usado

ateacute os dias de hoje

No iniacutecio o municiacutepio de Satildeo Francisco de Paula foi um dos maiores do Rio

Grande do Sul em territoacuterio mas ao longo do tempo foi diminuindo seu territoacuterio

com a anexaccedilatildeo de parte dele ao entatildeo municiacutepio de Caxias do Sul e de Torres e a

criaccedilatildeo dos municiacutepios de Cambaraacute do Sul em 1963 e Jaquirana em 1988

Foi uma das maiores Comunas do Estado pois de seu territoacuterio faziam parte os atuais municiacutepios de Satildeo Marcos Cambaraacute do Sul e Jaquirana e os distritos de Vila Oliva Criuacuteva Fazenda Souza e Vila Seca hoje integrantes de Caxias do Sul De nosso territoacuterio foi tambeacutem desanexada uma gleba de terra ndash Josafaacute ndash e anexada ao municiacutepio de Torres (LUCENA 1971 p 10)

Mesmo perdendo parte de seu territoacuterio ao longo dos anos atualmente

segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (2016) ldquoSatildeo Chicordquo como

costumeiramente eacute chamado pelo seu povo estaacute situado na Encosta Inferior do

Nordeste do Estado do Rio Grande do Sul na zona denominada de Campos de

Cima da Serra Fica distante 112 quilocircmetros da capital do Estado Porto Alegre Os

municiacutepios limiacutetrofes satildeo Monte Alegre dos Campos Bom Jesus Jaquirana

Cambaraacute do Sul Praia Grande-SC Trecircs Forquilhas Itati Maquineacute Riozinho

Rolante Taquara Trecircs Coroas Canela e Caxias do Sul Possui uma aacuterea territorial

de 3264490 quilocircmetros quadrados com uma estimativa populacional de 21617

habitantes distribuiacutedos na zona urbana e rural O municiacutepio se divide em sete

distritos Sede Cazuza Ferreira Tainhas Juaacute Eletra e Lajeado Grande Atraveacutes do

conjunto de mapas apresentado na Figura 9 eacute possiacutevel visualizar a localizaccedilatildeo de

Satildeo Francisco de Paula dentro do Rio Grande do Sul e por conseguinte no Brasil

Tambeacutem se verifica a localizaccedilatildeo dos distritos de Satildeo Francisco de Paula

36

Figura 9 ndash Mapa de localizaccedilatildeo de Satildeo Francisco de Paula

Subdivisatildeo de Satildeo Francisco de Paula em distritos

Fonte montagem da autora (2019)

Desta forma se constitui o espaccedilo fiacutesico do municiacutepio de Satildeo Francisco de

Paula cuja populaccedilatildeo natildeo forma uma colocircnia pois seu povo adveacutem de diferentes

lugares a grande maioria com descendecircncia lusa sendo que os primeiros

colonizadores foram bandeirantes paulistas

A populaccedilatildeo de Satildeo Francisco de Paula eacute composta de brancos africanos e indiacutegenas Os brancos compreendendo portugueses (principalmente

37

accedilorianos) alematildees e italianos os africanos pertenciam ao grupo dos bantos e foram trazidos pelos portugueses (TEIXEIRA 2002 p 147)

A diversidade de pessoas que se estabeleceram em Satildeo Francisco de Paula

pode ser percebida pelos sobrenomes das famiacutelias precursoras do municiacutepio

Para Satildeo Francisco de Paula afluiacuteram famiacutelias de diversas nacionalidades que atraveacutes de seus descendentes ainda hoje aqui satildeo representadas como Famiacutelias Ferreira Soares Pinto Castilhos Asmuz Santos Martins Lopes Comin Feijoacute Silva Canani Peixoto Andrade Teixeira Valin Lucena Alves Cardoso Gomes Borges Marques Tedesco Medeiros Paglioacuteli Costa Fogaccedila Casara em outras (LUCENA 1971 p 11-12)

Os moradores deste municiacutepio introduziram um jeito singular de viver tendo

em seu cotidiano as tradiccedilotildees gauacutechas15 muito presentes Teixeira (2002 p 83)

assim descreve que ldquoas raiacutezes gauacutechas estatildeo fortemente marcadas na comunidade

seja pelo modo de vestir bombacha botas cinturotildees chapeacuteus e no inverno com o

pala ou pela preferecircncia por comidas campeiras churrasco carreteiro feijatildeo

mexidordquo A autora acrescenta que ldquoas casas com lareira e o tradicional fogatildeo agrave

lenha para aquececirc-las durante o inverno rigoroso satildeo um convite para uma

conversa ao peacute do fogo e o saboreio de um gostoso chimarratildeordquo (TEIXEIRA 2002 p

83)

O enraizamento deste modo de vida adveacutem do homem do campo o

pecuarista que no passado necessitava enviar seus filhos a cidade para estudar

contribuindo para este modelo de vida

Antigamente a pecuaacuteria era a atividade econocircmica muito forte em nosso municiacutepio Assim sendo havia muitos fazendeiros E como as fazendas ficavam muito longe da Sede do municiacutepio as senhoras tinham seus filhos em casa com parteiras Tambeacutem os estudos iniciavam nas fazendas porque as escolas ficavam longe Assim muitas vezes os fazendeiros contratavam professoras para se hospedarem nas suas casas e darem aulas aos seus filhos Em muitos casos ateacute mesmo os proacuteprios pais e avoacutes ensinavam alguma coisa Alguns fazendeiros quando seus filhos ficavam maiores os mandavam continuarem seus estudos na vila (assim lsquoSatildeo Chicorsquo era chamada) (TEIXEIRA 2002 p 77)

Com a vinda dos filhos para a vila trouxeram consigo o jeito do homem do

campo sendo que um dos maiores clubes em funcionamento de Satildeo Francisco de

Paula eacute o atual Centro de Tradiccedilotildees Gauacutechas Rodeio Serrano fundado em maio de

15 Tradiccedilotildees gauacutechas segundo Fagundes (1997 p 38) eacute um movimento ciacutevico-cultural [] eacute a

tradiccedilatildeo em marcha resgatando valores que satildeo vaacutelidos natildeo por serem antigos mas por serem eternos exatamente os valores que trouxeram o Rio Grande e o gauacutecho do passado para o presente projetando-se para o futuro

38

1955 Segundo o Jornal Folha da Serra (1968 n 11 p 12) a entidade

tradicionalista receacutem-formada recebe o nome de CTG Coronel Alziro Torres Filho

Fonseca (2012 p 223) menciona que a iniciativa partiu de ldquoDavenir Peixoto Gomes

um homem ruralista e serranordquo Esta entidade tradicionalista teve como primeiro

Patratildeo Oscar Teixeira O CTG Alziro Torres Filho segundo o jornal Folha da Serra

(1957) muda sua nomenclatura em uma reuniatildeo onde o posteiro da invernada

artiacutestica Alaor Valim propotildee a troca do nome para Rodeio Serrano nome que

permanece ateacute a atualidade

A entidade tradicionalista traz como lema ldquoRepontando a Tradiccedilatildeo com o Rio

Grande na Garupardquo Fonseca (2012 p 224) relata que o lema foi ldquocriado pelo

primeiro instrutor de danccedilas Dr Alaor de Almeida Valimrdquo O mesmo autor acrescenta

que ldquoa primeira prenda foi a professora Maria Asmuz Valimrdquo Poreacutem sua sede

somente foi construiacuteda em 1968 sob a patronagem de Dante Santos O Jornal Folha

da Serra (1968 n 11 p 12) indica que ldquoa construccedilatildeo da sede era uma aspiraccedilatildeo de

longos anos que somente agora se concretizardquo Anteriormente ldquoos bailes eram

realizados em sua maioria no Salatildeo Paroquial sendo que alguns foram feitos no

primeiro andar da Associaccedilatildeo Rural e ateacute mesmo na Sociedade Cruzeirordquo

(FONSECA 2012 p 225) Este fato justifica a vontade de Dante Santos de construir

uma sede proacutepria

Apoacutes a construccedilatildeo de sua nova sede o CTG Rodeio Serrano localiza-se na

Rua Benjamim Constant nordm 582 constituindo um espaccedilo importante para a

comunidade de Satildeo Francisco de Paula Dentre as atividades desenvolvidas pelo

CTG estaacute o Rodeio Interestadual que ocorre todos os anos no primeiro final de

semana de dezembro sendo que se encontra na 33ordf ediccedilatildeo A manutenccedilatildeo das

invernadas artiacutesticas em todas as categorias mascote mirim juvenil e adulta A

organizaccedilatildeo da Ronda Crioula na Semana Farroupilha bem como a Cavalgada de

Prendas que ocorre durante a Semana Farroupilha todos os anos Realiza-se o

baile da Prenda Jovem aleacutem de shows e bailes tipicamente gauchescos Aleacutem

disso nos uacuteltimos anos a organizaccedilatildeo do Festival Ronco do Bugio que ocorre em

Satildeo Francisco de Paula ldquofestival este lanccedilado em 16 de abril 1986rdquo segundo o

Jornal Satildeo Chico Tchecirc (1986 n 4 p 5)16

16 Satildeo Chico Tchecirc jornal de circulaccedilatildeo quinzenal fundado em 08 de janeiro de 1986 e que circulou

ateacute 1989 O jornal trazia informaccedilotildees culturais sociais econocircmicas e poliacuteticas da Sede e do

39

Durante os seus sessenta e dois anos de existecircncia muitos patrotildees

passaram por esta entidade tradicionalista mas em 2017 pela primeira vez na

histoacuteria o CTG Rodeio Serrano teve uma patronagem feminina Aleacutem da Patroa

Neuza Reis foram empossadas a Capataz Elenita Amaral a Sota-capataz Fernanda

Kirsch Damasceno o Agregado das Pilchas Antocircnio Garcia de Souza e no

Conselho de Vaqueanos Neiva Santos Valim

Figura 10 ndash Patroa Neuza Reis e sua Comissatildeo

Fonte Jornal Pioneiro (2017)17

Satildeo Francisco de Paula hoje conta com vinte e oito entidades

tradicionalistas18 espalhadas pelos seus distritos demonstrando que homem do

campo se faz muito presente em todo o municiacutepio sendo assim a cultura

interior Os exemplares encontram-se encadernados no arquivo histoacuterico de Satildeo Francisco de Paula

17 Jornal Pioneiro conhecido como o jornal que estaacute ldquoao teu ladordquo o Pioneiro circula desde 1948 e estaacute presente hoje em 64 municiacutepios da regiatildeo de Caxias do Sul Desde 1993 integra a rede de jornais do Grupo RBS sendo filiado ao Instituto Verificador de Circulaccedilatildeo (IVC) Conta com uma equipe de Redaccedilatildeo com mais de 40 jornalistas aleacutem de colunistas internos e externos Em 2008 o jornal ganhou o site pioneirocom Disponiacutevel em lthttpwwwgruporbscombratuacaopioneirogt acesso em 10 de fevereiro de 2019

18 Informaccedilatildeo cedida pelo Coordenador da 27ordf Regiatildeo Tradicionalista Gauacutecha

40

tradicionalista se apresenta de maneira forte e consistente segundo vaacuterios

depoimentos de moradores de todos os distritos de Satildeo Francisco de Paula

41

4 SAtildeO FRANCISCO DE PAULA DISTRITOS EM FOCO

Quanto aos distritos de Satildeo Francisco de Paula surgem diversas

inquietaccedilotildees com relaccedilatildeo agrave identidade destes locais pois estes mesmo fazendo

parte de um mesmo municiacutepio apresentam singularidades que derivam de sua

colonizaccedilatildeo basicamente lusa portuguesa e da recepccedilatildeo de imigrantes de diversas

etnias como italianos e alematildees ao longo destes cento quinze anos de

emancipaccedilatildeo Percebe-se que alguns distritos manteacutem sua identidade e tradiccedilotildees

resguardadas enquanto em outros jaacute ocorreu agrave miscigenaccedilatildeo de diferentes haacutebitos

e culturas o que dificulta identificar traccedilos que identifiquem estes distritos

Neste capiacutetulo busca-se responder a estas inquietaccedilotildees fazendo uso dos

depoimentos de moradores locais Segundo Delgado (2003 p 21) ldquoessas

narrativas tal qual os lugares da memoacuteria satildeo instrumentos importantes de

preservaccedilatildeo e transmissatildeo das heranccedilas identitaacuterias e das tradiccedilotildeesrdquo Neste sentido

se optou por dois moradores por distrito totalizando treze entrevistados um homem

e uma mulher da terceira idade que sempre morou no distrito o que enriquece os

detalhes repassados pelos entrevistados

Toda entrevista tem por base a memoacuteria individual que se referencia na coletiva profundamente relacionada agraves vivecircncias individuais A utilizaccedilatildeo do depoimento de pessoas idosas como fonte para a histoacuteria oral eacute uma forma de justificar a entrevista como histoacuterica referindo-se ao passado jaacute que aos idosos se pretende atribuir a guarda de memoacuterias do passado pelo proacuteprio tempo de vida do depoente Isto retoma e ajuda a fortalecer a ideia de que a histoacuteria mesmo tratando do tempo presente ainda se reporta a um periacuteodo anterior ao da vida do pesquisador (ALMEIDA 2012 p 10)

A entrevista somente ocorreu quando o entrevistado concordou em assinar o

termo de consentimento As entrevistas ocorreram nas residecircncias dos

entrevistados foram preacute-agendadas sendo que o meacutetodo utilizado foi entrevista

guiada atraveacutes de questionaacuterio previamente organizado pela autora as entrevistas

foram filmadas e gravadas onde somente uma entrevistada natildeo autorizou a

filmagem de seus relatos justificando a idade avanccedilada e por morar sozinha

A escolha pela histoacuteria oral hibrida ocorreu no sentido de que a fonte oral eacute o

principal recurso utilizado para colher informaccedilotildees sobre os distritos visto que em

sua grande maioria natildeo haacute publicaccedilotildees Poreacutem em determinados momentos se

utilizam fontes documentais como complemento do que vem sendo apresentado

Com relaccedilatildeo agrave abordagem adotada nas entrevistas se optou pela temaacutetica visto

42

que se leva um roteiro preacute-organizado com temas que deveratildeo ser explorados

durante as entrevistas o que proporciona uma riqueza de informaccedilotildees para a

autora

41 DISTRITO SEDE

O distrito Sede se constitui no local onde se inicia o povoado do municiacutepio na

antiga Fazenda da Cria terras doadas pelo capitatildeo Pedro da Silva Chaves Neste

distrito concentram-se os serviccedilos puacuteblicos e privados que os moradores

necessitam em seu dia-a-dia visto que ali existem bancos casas loteacutericas

farmaacutecias hospital supermercados lojas papelarias livraria inspetoria veterinaacuteria

secretaacuterias municipais escolas puacuteblicas e privadas creches induacutestrias de madeiras

e calccedilados

Poreacutem o distrito Sede ou cidade de Satildeo Chico como popularmente

conhecida pelo seu povo jaacute foi uma cidade de interior ou seja uma cidade pequena

com moradores que vinham das fazendas em busca de estudo Visto que a

implementaccedilatildeo de uma rede regular de ensino ocorre tardiamente devido agrave

dificuldade de se locomover pelas distantes localidades entatildeo normalmente os

fazendeiros contratavam professores para que seus filhos obtivessem estudo sendo

que estes moravam na proacutepria residecircncia da famiacutelia Em entrevista com essa autora

relata Albuquerque19 que ldquopara aprimorar os estudos aqueles que tinham mais

condiccedilotildees iam para Porto Alegre Santa Maria ou Passo Fundo mas para isto

ficavam laacute em internatos e soacute retornavam nas feacuterias devido agrave dificuldade e o custo

da viagemrdquo

Na deacutecada de 40 foi criada a Escola Catoacutelica de Satildeo Francisco de Paula

cujo funcionamento acontece ateacute 1973 quando foram encerradas suas atividades

Esta escola iniciou com o curso primaacuterio e posteriormente instalou o curso ginasial

Normalmente estes moradores permaneciam de segunda-feira a sexta-feira na

cidade e nos finais de semana retornavam para as fazendas como recorda uma

moradora local

Noacutes eacuteramos uma cidade de fazendeiros a gente tinha uma casa no campo e uma na cidade a gente vivia de laacute pra caacute de caacute pra laacute fim de semana ia

19 ALBUQUERQUE Moacir Castello Branco de Entrevista concedida agrave autora no dia 06 de abril de

2018

43

pra fora20 dia de semana vinha pra caacute normalmente uma irmatilde mais velha voacute ficava com a gente aqui na cidade e a famiacutelia mesmo ficava no campo21

Percebe-se que hoje ainda existem na Sede moradores que manteacutem suas

casas na cidade e durante o dia ou nos finais de semana vatildeo ateacute suas fazendas

para fazer as lides com o gado o que caracteriza uma pequena parte da populaccedilatildeo

que foram os filhos dos antigos fazendeiros que mais tarde acabam se instalando

definitivamente na cidade trazendo com sigo a essecircncia do homem do campo e

afirmando uma identidade genuinamente gauacutecha definiccedilatildeo esta concedida por uma

moradora local

Gauacutecho natildeo eacute o morador do Rio Grande do Sul o morador do Rio Grande do Sul eacute o sul-rio-grandense ou rio-grandense do sul o gauacutecho eacute apenas o homem que vem da pecuaacuteria extensiva essa que existe laacute no pampa e aqui nos campos de cima da serra o gauacutecho serrano com caracteriacutesticas muito proacuteprias grandes gaiteiros poetas aliaacutes o maior gaiteiro do mundo eacute daqui natildeo abro matildeo de dizer isto soacute que todos noacutes viacutenhamos da lida do campo em decorrecircncia disso eacuteramos gauacutechos de verdade22

Em sua fala apresenta o gauacutecho serrano como um tipo singular que ama a

pilcha gauacutecha o seu pingo e suas criaccedilotildees bem como reafirma a importacircncia dos

Irmatildeos Bertussi Honeide e Adelar sendo Adelar Bertussi um dos maiores gaiteiros

deste municiacutepio Exaltam-se tambeacutem os poetas que com suas poesias e letras de

muacutesicas escrevem o jeito do seu povo viver

Mesmo a cidade sendo ldquolocal de paradardquo durante a semana para a maioria

de seus habitantes no passado era cheia de atrativos que o campo natildeo possuiacutea

como o cinema cuja instalaccedilatildeo natildeo se encontra documentada mas sabe-se que

iniciou onde hoje eacute o preacutedio da Prefeitura Municipal sendo proprietaacuterio Francisco

Ferraz (Chico Ferraz como era conhecido) Observa-se em alguns exemplares do

Jornal Folha da Serra23 os filmes e os horaacuterios do funcionamento do cinema

Entende-se que o jornal era uma maneira de divulgar os filmes por ser o uacutenico meio

de comunicaccedilatildeo da eacutepoca Pelos folhetins se percebe que as sessotildees

apresentavam diversos gecircneros natildeo se sabe quando o cinema finalmente fechou

20 Fora refere-se ir para a fazenda 21 SOARES Luciana Olga Entrevista concedida agrave autora no dia 01 de marccedilo de 2018 22 SOARES Luciana Olga Entrevista concedida agrave autora no dia 01 de marccedilo de 2018 23 Folha da Serra jornal local criado em 1932 pelo Dr Siacutelvio Rabelo passando posteriormente a

propriedade da Prefeitura Municipal Sua impressatildeo era na ordem de 500 exemplares natildeo se tem a informaccedilatildeo do periacuteodo que parou de circular mas pelos exemplares encontrados no Arquivo Histoacuterico de Satildeo Francisco de Paula os uacuteltimos datam de 1978 O Arquivo Histoacuterico de Satildeo Francisco de Paula fica em um preacutedio anexo agrave Biblioteca Puacuteblica do municiacutepio

44

poreacutem o jornal Folha da Serra traz uma reportagem que retrata como estava difiacutecil

manter o cinema em funcionamento em meados de 1968 ldquoo nosso cinema na

maneira que vai indo natildeo tem mais condiccedilotildees de funcionar natildeo temos apoio da

populaccedilatildeo com uma frequecircncia de mais ou menos 150 pessoas por final de

semanardquo O jornal acrescenta ldquosalienta-se que mais ou menos de 3 de nossa

CULTA populaccedilatildeo natildeo frequenta o cinemardquo Pode-se associar o fechamento do

cinema a dois fatores a natildeo cultura de assistir filmes e pelas sessotildees ocorrerem nos

finais de semana onde boa parte da populaccedilatildeo da cidade se deslocava para as

fazendas ou pela crise que os cinemas passaram na deacutecada de 80 quando em

muitas cidades foram fechados

A vida da populaccedilatildeo local vai se modificando cada vez mais as pessoas vatildeo

se instalando definitivamente na Sede onde se perde o viacutenculo com o campo

Devido agrave venda ou arrendamento das fazendas24 que por render pouco a pecuaacuteria

extensiva e com a criaccedilatildeo de novas legislaccedilotildees que proiacutebem praacuteticas centenaacuterias

seus proprietaacuterios buscaram novas possibilidades econocircmicas que modificaram a

Sede e tambeacutem boa parte do interior Em entrevista a moradora Soares relata

Exatamente porque a produccedilatildeo era pequena isso natildeo serve para o mundo de hoje a uns quarenta anos chega em nossos campos as primeiras plantaccedilotildees de pinus interessante que ningueacutem reclamou da destruiccedilatildeo desse campo de milhotildees de anos e de todo o ecossistema mas mesmo com essa nova cultura continuamos realizando a sapeca do campo no mecircs de agosto mas de repente chega a notiacutecia que estaacute proibida a queima do campo dizendo que noacutes estragaacutevamos a terra poluiacuteamos o ar que mataacutevamos animais e tudo aquilo natildeo era verdade Na verdade alguns anos depois da lei proibindo a queima do campo chegam as multas gigantescas agraves vezes maior que o valor da terra e aiacute inviabilizou a pecuaacuteria e muitos fazendeiros venderam suas terras e foram embora Quem ficou no campo na busca por renda a qualquer preccedilo arrenda seus campos para os batateiros que vieram acredito que a grande maioria de Santa Catarina e do Paranaacute estes lavram o campo nunca mais o campo nem com reza braba taacute tudo perdido para sempre e isso reflete na nossa cidade25

Essas mudanccedilas no campo refletem na Sede onde o homem serrano convive

passivamente com novas identidades que embora sejam presentes eacute minoria pois

esta parcela de novos moradores traz consigo um novo jeito de viver que ainda natildeo

se percebe influenciar na identidade cultural da Sede

24 Propriedades rurais cuja atividade principal eacute a praacutetica da pecuaacuteria extensiva e a produccedilatildeo do

queijo artesanal serrano 25 SOARES Luciana Olga Entrevista concedida agrave autora no dia 01 de marccedilo de 2018

45

Na Sede desde o iniacutecio se observam quatro clubes sociais a Sociedade

Cruzeiro a Sociedade 9 de Julho a Sociedade Esperanccedila e o Centro de Tradiccedilotildees

Gauacutechas Cada clube social tem sua importacircncia histoacuterica poreacutem alguns natildeo se

manteacutem ativos

A Sociedade 9 de Julho foi fundada em 27 de setembro de 1961 estando

localizada no bairro Rincatildeo Segundo o jornal Folha da Serra (1968 n 96 p 5)

apoacutes sete anos de sua fundaccedilatildeo ldquoseu presidente Galego promete uma nova e

confortaacutevel sede para a sociedaderdquo Sociedade que se apresenta por sua

versatilidade nos eventos ateacute os dias atuais

O jornal Folha da Serra (1968 n 96 p 5) traz a seguinte mateacuteria ldquoas quatro

noites foram repletas de alegria naquela sociedade onde os foliotildees divertiram-se e

quando se anunciou o final da quarta noite houve quem lamentasse o final da festa

do Momordquo A reportagem refere-se ao carnaval que se desenvolve de forma

popular nesta sociedade Neste espaccedilo na deacutecada de 1990 ocorria um baile na

sexta-feira que antecedia ao Festival do Ronco do Bugio um espaccedilo onde jovens se

encontravam para iniciar as festividades do grande festival da cidade poreacutem na

atualidade este evento natildeo ocorre mais Pelos cartazes de divulgaccedilatildeo de eventos

atuais a Sociedade 9 de Julho se torna um espaccedilo bastante versaacutetil e segundo

dados obtidos no site da proacutepria sociedade o local apresenta shows bailes

tradicionalistas domingueiras e festas temaacuteticas

Sabe-se da existecircncia da Sociedade Esperanccedila devido a uma reportagem a

respeito do carnaval escrita no jornal Folha da Serra (1968 n 11 p 25) ldquoos

escurinhos tambeacutem natildeo ficaram para traacutes e demonstraram que satildeo bons no samba

porque soacute quem assistiu pode ver como brincaram e que maravilha de ritmo

marcaram durante as quatro noitesrdquo A reportagem daacute a entender de se tratar de

uma sociedade frequentada por negros e pode-se entender que ao usar o termo

escurinho na reportagem haacute preconceito racial perpassando a ideia de que por

serem negros natildeo poderiam se divertir da mesma maneira que os brancos

Atualmente se encontra no local um espaccedilo residencial e comercial

A Sociedade Cruzeiro foi fundada em 9 de maio de 1925 pela elite da

sociedade serrana Segundo Teixeira (2002) e Fonseca (2012) sua sede social era

na Avenida Juacutelio de Castilhos onde hoje se situa a agecircncia do Banrisul e teve como

primeiro presidente o Sr Antocircnio Mario Kroeff e o secretaacuterio Sr Joatildeo Parobeacute de

Lucena Sua nova sede foi inaugurada de acordo com Fonseca (2012 p 236) ldquono

46

dia 11 de dezembro de 1965 e esta permanece no mesmo endereccedilo ateacute a

atualidade Situa-se na Rua Dr Frederico Tedesco nordm 1261rdquo

Atualmente este espaccedilo eacute usado para convenccedilotildees ou festas particulares

onde as pessoas locam o espaccedilo para realizarem seu evento Neste espaccedilo natildeo

mais ocorrem grandes eventos sociais como Fonseca (2012 p 232) descreve ldquoos

bailes mais elegantes e vistosos desta sociedade ocorrem aquirdquo Fonseca (2012 p

233) ainda complementa que ldquoa primeira Miss Sociedade Cruzeiro foi eleita em 1937

e a vencedora foi a jovem Zilah Teixeirardquo

A Sociedade Cruzeiro tambeacutem foi palco de bailes de carnaval O Jornal Folha

da Serra (1968 n 11 p 25) descreve ldquocomo sempre a Sociedade Cruzeiro ponteou

o nosso carnaval com blocos fantasiados magnificamente fazendo acrobacias ao

som de excelente muacutesica local onde os turistas afluiacuteramrdquo Contrapondo a este

tempo a moradora local Soares26 discorre de maneira saudosa ldquoque saudades do

carnaval hoje eacute bebedeira perdeu o encanto perdeu tudo Na rua o pessoal

gritando sem nenhuma infraestrutura nem os bailes na sociedade natildeo ocorrem

maisrdquo

O distrito Sede jaacute foi palco de inuacutemeros clubes sociais que ao longo do tempo

foram perdendo seu encanto e ateacute mesmo fechando-se para atividades sociais O

que permanece em pleno funcionamento eacute o Centro de Tradiccedilotildees Gauacutechas Rodeio

Serrano o que justifica uma cultura tradicionalista presente neste distrito Dentre as

atividades desenvolvidas por esta entidade estatildeo o Rodeio Interestadual com

atividades campeiras e artiacutesticas que ocorrem todos os anos no primeiro final de

semana de dezembro a manutenccedilatildeo das invernadas artiacutesticas em todas as

categorias mascote mirim juvenil e adulta

A organizaccedilatildeo da Ronda Crioula na Semana Farroupilha com a participaccedilatildeo

das escolas da Sede e do interior que trazem seus grupos de danccedilas bem como

organizam gincanas Outra atividade tambeacutem desenvolvida por esta entidade eacute a

Cavalgada de Prendas que ocorre durante a Semana Farroupilha desde 1992

sendo Satildeo Francisco de Paula pioneira nesta ideia onde somente mulheres

participam da cavalgada que culmina com o desfile na Avenida Juacutelio de Castilhos

Realiza-se tambeacutem o Baile da Prenda Jovem que eacute o baile de debutante gauacutecho

onde as prendas entre 13 e 15 anos satildeo apresentadas agrave sociedade Aleacutem disso nos

26 SOARES Luciana Olga Entrevista concedida agrave autora no dia 01 de marccedilo de 2018

47

uacuteltimos anos a organizaccedilatildeo e apresentaccedilatildeo do Festival Ronco do Bugio que ocorre

em Satildeo Francisco de Paula faz parte da programaccedilatildeo desta entidade Este festival

apresenta exclusivamente o gecircnero musical bugio Haacute pelo menos duas hipoacuteteses

sobre a origem deste gecircnero musical

A primeira eacute de berccedilo serrano e teria mais fiel escudeiro o inesqueciacutevel acordeonista de Satildeo Francisco de Paula Honeyde Bertussi Siqueira Segundo ele o ritmo teria sido originaacuterio pelas matildeos do gaiteiro Vergiacutelio Leitatildeo que no jogo-de-foles e nos baixos de sua gaita de botatildeo teria imitado o ronco do bicho nos caponetes de cima da serra [] teria difundido pelas bodegas do Juaacute interior de Satildeo Chico (SOUZA 2003 p 15)

A segunda hipoacutetese eacute apresentada por Souza (2003 p 15) que apresenta a

versatildeo dada pelo povo de Satildeo Francisco de Assis que diz que ldquoa origem do ritmo e

oriunda desta localidade que por sinal realizava um festival nativista chamado

Querecircncia do Bugiordquo

Desconhece-se a verdadeira origem do gecircnero musical bugio mas Souza

(2003 p 23) afirma que ldquoJoatildeo Cincinato Terra muacutesico atuante sentiu a

necessidade de nosso municiacutepio acompanhar o movimento jaacute que neste periacuteodo se

expande por todo o estado do Rio Grande do Sul os festivais nativistasrdquo O

lanccedilamento do primeiro festival do Ronco do Bugio acontece em 1986 no CTG

Rodeio Serrano com a participaccedilatildeo de vaacuterios representantes da muacutesica nativista e

da comunidade serrana Seu lanccedilamento oficial ocorre em 16 de abril de 1986

O jornal Satildeo Chico Tchecirc (1986 n 11 p 6) noticiou que o primeiro Festival do

Ronco do Bugio contou com 98 muacutesicas escritas sendo 24 as selecionadas O

festival ocorreu entre os dias 13 e 15 de maio e Souza (2003 p 42) descreve que foi

apresentado ldquosob uma lona de circo estaqueada num gramado amador mas de

tantas gloacuterias futeboliacutesticas o campo do Clube Atleacutetico Serranordquo

A muacutesica vencedora do primeiro Ronco do Bugio foi ldquoLevanta Bugiordquo

defendida pelo cantor e compositor gauacutecho Leonardo Observando fotos percebe-se

que o Ronco do Bugio se deu em uma noite fria de inverno

O Festival Ronco do Bugio desde o seu iniacutecio premia melhor arranjo

conjunto instrumental instrumentista inteacuterprete e a muacutesica mais popular Fatima

Gimenez foi a melhor inteacuterprete do primeiro festival defendendo a muacutesica ldquoPinheiro

Gringordquo composiccedilatildeo de Erian Fogaccedila e Laerte Fortes Novamente a roupa dos

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muacutesicos reforccedila que na noite da entrega da premiaccedilatildeo fazia muito frio A cantora

tambeacutem se apresenta vestindo um chiripa coberto por um pala27

Na Figura 11 observamos a fotografia de Gonzaga dos Reis muacutesico local

sentado com sua gaita instrumento que lhe deu o precircmio de melhor instrumentista

do primeiro Ronco do Bugio Nesta oportunidade o cantor instrumentista e

compositor defendeu a muacutesica ldquoBugio da Minha Terrardquo

Figura 11 ndash Gonzaga dos Reis

Fonte Jornal Satildeo Chico Tchecirc n 4 p 8 (1986)

A composiccedilatildeo ldquoBugio Tiranordquo que foi defendida pelo conjunto Os Tiranos de

Satildeo Francisco de Paula ganhou o precircmio mais popular

Para o Jornal Satildeo Chico Tchecirc (1986 n 11 p 7) o Festival Ronco do Bugio eacute

ldquoum festival autecircntico e original que aconteceu com grande sucesso em Satildeo

Francisco de Paulardquo No encerramento deste grande evento Joatildeo Chagas Leite se

27 Chiripa e pala satildeo trajes tipicamente gauacutechos Sendo que o chiripa atualmente eacute uma veste de

preferecircncia feminina este fica enrolado na cintura e vai ateacute os joelhos ldquoEacute um pano inteiro passado entre as pernas primeiro de traacutes para frente e depois de frente para traacutes pode ser de latilde ou lisordquo (ABREU 2003 p 67) O pala eacute uma peccedila retangular com franjas nos quatro lados e listras no sentido do comprimento

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apresenta segundo o Jornal Satildeo Chico Tchecirc (1986 n 11 p 8) ldquocom composiccedilotildees

como Corda de Espinho Orelhano Pampa Campo e Querecircncia Coraccedilatildeo de

Estudante e Afiosrdquo

O Festival Ronco do Bugio perpassa o tempo segundo o site da Prefeitura

Municipal

O Festival Ronco do Bugio eacute um evento musical nativista que acontece anualmente na Cidade de Satildeo Francisco de Paula com o intuito de preservar e difundir o uacutenico ritmo originaacuterio do Rio Grande do Sul ou seja o lsquobugiorsquo compasso criado justamente no interior deste municiacutepio Tal criaccedilatildeo se deu a partir da criatividade dos gaiteiros serranos que buscaram imitar com seu instrumento musical o ronco do primata nos matos da serra A festividade agora em sua 26ordf ediccedilatildeo eacute genuiacutena pois eacute o uacutenico da Ameacuterica onde obrigatoriamente os participantes devem utilizar um ritmo somente isto eacute o citado lsquobugiorsquo embora a temaacutetica seja abrangente Por este motivo eacute chamado de lsquoO Festival Mais Autecircntico do Rio Grandersquo Aleacutem do forte enfoque cultural que envolve toda a comunidade musical do Estado o Festival tem seu apelo ecoloacutegico pois chama a atenccedilatildeo para a preservaccedilatildeo da espeacutecie hoje quase em extinccedilatildeo O Ronco do Bugio por sua importacircncia no cenaacuterio cultural rio-grandense criou uma identidade ao povo de Satildeo Francisco de Paula pois junto ao evento estaacute intriacutenseco e vem agrave tona o histoacuterico da criaccedilatildeo do municiacutepio caracterizado pela forte influecircncia dos antigos tropeiros desbravadores e povoadores desta parte do paiacutes (PREFEITURA MUNICIPAL DE SAtildeO FRANCISCO DE PAULA 2017)

No mesmo documento disponibilizado pela Prefeitura Municipal de Satildeo

Francisco de Paula observam-se algumas informaccedilotildees a respeito da realizaccedilatildeo do

festival no ano de 2017

Art 1ordm - O 26ordm Ronco do Bugio realizar-se-aacute no municiacutepio de Satildeo Francisco de Paula nos dias 01 e 02 de setembro de 2017 Art 2ordm - a festividade agora em sua 26ordf ediccedilatildeo eacute genuiacutena pois eacute a uacutenica na Ameacuterica Latina com promoccedilatildeo da Prefeitura Municipal de Satildeo Francisco de Paula e do CTG Rodeio Serrano com apoio de oacutergatildeos puacuteblicos e iniciativa privada Art 3ordm - Satildeo objetivos do 26ordm Ronco do Bugio a) valorizar a tradiccedilatildeo arte cultura e a autecircntica muacutesica regionalista

gauacutecha atraveacutes do seu ritmo mais original b) prestigiar autores compositores inteacuterpretes e conjuntos regionalistas e

incentivar o surgimento de novos valores c) divulgar a muacutesica regional gauacutecha d) valorizar a relevante posiccedilatildeo na formaccedilatildeo de usos e costumes

caracteres e valores espirituais e morais do gauacutecho e) promover e incentivar a cultura gauacutecha projetando Satildeo Francisco de

Paula na maneira mais autecircntica no cenaacuterio do turismo (PREFEITURA MUNICIPAL DE SAtildeO FRANCISCO DE PAULA 2017)

Como eacute possiacutevel observar no artigo 4ordm ldquoA organizaccedilatildeo do 26ordm Ronco do Bugio

ficaraacute a cargo da Comissatildeo Organizadora composta por membros da Prefeitura

Municipal e do CTG Rodeio Serranordquo (PREFEITURA MUNICIPAL DE SAtildeO

50

FRANCISCO DE PAULA 2017) Devido agrave importacircncia identitaacuteria do festival para o

municiacutepio ao se chegar agrave cidade na deacutecada de 90 se encontrava o seguinte

outdoor

Figura 12 ndash Outdoor entrada da cidade na ERS-020

Fonte Souza (2003 p 17)

Assim como o tiacutetulo de ldquoCapital Mundial do Bugiordquo Satildeo Francisco de Paula ldquojaacute

obteve vaacuterios slogans dentre eles o de Satildeo Chico eacute terra boardquo (TEIXEIRA 2002 p

149-150)

Mesmo ocorrendo inferecircncias externas advindas com pessoas que trouxeram

consigo uma identidade diferente Soares28 em entrevista afirma ldquoSatildeo Chico eacute

identificada pela cultura tradicionalista gauacutecha a cuia em frente ao antigo preacutedio da

prefeitura demonstra o siacutembolo da hospitalidade de nosso povordquo A permanecircncia

ativa do CTG Rodeio Serrano na sede eacute outro indicativo forte da presente

identidade ligada as atividades do homem do campo Outro fato observado eacute a

constante praacutetica do laccedilo de vaca parada29 por jovens e crianccedilas nos paacutetios de suas

residecircncias bem como cavalarianos (homens mulheres jovens e crianccedilas) na

28 SOARES Luciana Olga Entrevista concedida agrave autora no dia 01 de marccedilo de 2018 29 Vaca parada uma espeacutecie de cavalete de madeira com aspectos de uma vaca usada por crianccedilas

que estatildeo iniciando neste esporte bem como usado como forma de entretenimento para jovens e adultos

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avenida principal cavalgando entre os carros Ainda se percebe o respeito entre

motoristas de automotivos bicicletas e os cavalarianos todos ocupando o mesmo

espaccedilo

42 DISTRITO DE CAZUZA FERREIRA

O distrito de Cazuza Ferreira foi criado em 07 de janeiro de 1903 estando

situado a 85 quilocircmetros da Sede Andrade comenta em entrevista30 ldquoateacute acho que

Cazuza se desenvolveu primeiro que Satildeo Chicordquo31 visto que a criaccedilatildeo do distrito

acontece dias depois da emancipaccedilatildeo enquanto a criaccedilatildeo da vila do distrito de

Cazuza Ferreira se desenvolve segundo a entrevistada

A parte da Histoacuteria que eu sei eacute que houve a chegada de um Sr Chico Mestre eacute como eles chamavam Esse Sr veio as casas eram distantes umas das outras e ele comeccedilou a fazer oraccedilatildeo nas casas e reunir as pessoas e fundou o cemiteacuterio Entatildeo o Joseacute Ferreira de Castilhos que era dono daqui naquela eacutepoca um dos moradores que tinha bastante terra doou a terra para fazer a vila aiacute o que aconteceu segundo as histoacuterias era para ser ali onde eacute a cancha de laccedilo hoje do outro lado da estrada soacute que o terreno natildeo era apropriado entatildeo houve uma permuta com o Sr que era dono deste terreno aqui era Bossle aqui era bem mais alto e mais plano Entatildeo se construiu a Igreja e iniciou o povoamento da vila32

A moradora Basso ainda acrescenta que ldquoa vila foi sempre mais ou menos o

que ela eacute hojerdquo Ao observar o local pode-se perceber uma grande praccedila ao centro

rodeada de casas de comeacutercio posto de combustiacutevel posto de sauacutede o hotel a

Igreja Matriz juntamente com o salatildeo paroquial e casas residecircncias cujo aspecto

impressiona por a grande maioria das casas apresentam uma arquitetura que

perpassa o tempo A Figura 13 apresenta uma imagem da praccedila central tirada das

escadarias da Igreja Matriz

30 ANDRADE Nauro Bossle de Entrevista concedida agrave autora no dia 04 de marccedilo de 2018 31 Primeiro que Satildeo Chico eacute um termo comum usado pelos moradores do interior do municiacutepio de

Satildeo Francisco de Paula que ao se referir a Sede do municiacutepio usam o termo Satildeo Chico ou Satildeo Francisco de Paula pois seus moradores natildeo costumam na atualidade dizer lsquovou a Sedersquo e sim lsquovou a Satildeo Chicorsquo como se eles natildeo morassem no municiacutepio

32 BASSO Ceacutelia Pacheco Terres Entrevista concedida agrave autora no dia 04 de agosto de 2018

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Figura 13 ndash Praccedila Central de Cazuza Ferreira

Fonte acervo pessoal da autora (2018)

Apesar de ter a preservaccedilatildeo arquitetocircnica a moradora Basso declara

O pai contava e outras pessoas contam que teve uma eacutepoca que tinha faacutebrica de tamanca33 jaacute teve faacutebrica de guaranaacute de queijo bastante coisa no sentido de selaria mas tudo foi se extinguindo as pessoas as famiacutelias natildeo deram continuidade e se sumiram natildeo existe mais nada disso mas estas faacutebricas natildeo davam renda ou seja trabalho para pessoas de fora pois elas eram administradas e cuidadas pelas famiacutelias Daiacute houve o periacuteodo das serrarias enquanto pode extrair madeira era o forte a vila movimentada enriqueceram alguns comerciantes locais o momento que extinguiu aquele trabalho eles foram embora e o povo daqui acomodou entatildeo hoje a vila tem bastante pessoas que foram embora trabalhar assim na juventude e hoje aposentados voltaram pois aqui para jovem natildeo tem sobrevivecircncia o uacutenico trabalho eacute na escola tem nove professores e uma funcionaacuteria em alguns funcionaacuterios da prefeitura acho que satildeo seis que cuidam do plantel de maacutequinas a enfermeira e o pessoal que cuida do posto do correio tambeacutem tem a ferraria mas ali eacute soacute os da proacutepria famiacutelia entatildeo o jovem acaba tendo que ir embora34

Os entrevistados Basso e Andrade relatam que apesar das adversidades o

povo de Cazuza Ferreira tem um amor pelas suas tradiccedilotildees mantendo vivos trecircs

aspectos que ambos consideram a marca identitaacuteria de seu povo e afirmam com

33 Tamanca calccedilado comum na regiatildeo solado de madeira com uma proteccedilatildeo sobre as pontas dos

dedos indo ateacute o peito do peacute em couro 34 BASSO Ceacutelia Pacheco Terres Entrevista concedida agrave autora no dia 04 de agosto de 2018

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convicccedilatildeo ldquofalar de Cazuza eacute cavalhada hotel e rodeiordquo enquanto Basso acrescenta

que ldquoas cavalhadas satildeo heranccedila dos portugueses e estatildeo espalhadiacutessimas ateacute

nacionalmente atraveacutes da miacutedia porque natildeo pesquisei mas ateacute onde sei no Rio

Grande do Sul soacute tem aquirdquo

Na comunidade ainda segundo Basso ldquoa apresentaccedilatildeo das cavalhadas se

iniciou por volta de 1890 e permanece ativa ateacute hoje no passado existiam trecircs

cavalhadas as dos brancos dos amarelos e dos negrosrdquo acrescentando ldquomas hoje

natildeo haacute mas essa diferenciaccedilatildeordquo Em poliacutegrafo organizado por uma moradora local a

mesma explica que a cavalhada ldquoeacute uma luta simulada em que haacute vinte e quatro

participantes sendo doze de cada equiperdquo35 por meio da evoluccedilatildeo equestre e

movimentos de espada lanccedila e garrucha representando a batalha entre mouros e

cristatildeos Segundo esta moradora ldquoa batalha sempre termina sendo vencida pelos

cristatildeos demonstrando a submissatildeo dos mouros e a supremacia da religiatildeo cristatilderdquo

Atualmente o grupo depende da boa vontade de seus participantes conforme

explica

Hoje se tornou caro eacute exame dos cavalos transporte depende do querer das pessoas da boa vontade e tem pessoas engajadas que natildeo largam a famiacutelia do Renau que ele eacute o presidente do grupo ele tem um amor tatildeo grande pelas cavalhadas porque ele jaacute recebeu do pai dele do teu avocirc e do seu Ivo Cardoso e a vida dele agraves vezes me desgosto de alguma coisa pois faccedilo a narrativa do que estaacute sendo apresentado mas daiacute eu penso natildeo posso abandonar (sorri) Eacute uma tradiccedilatildeo que natildeo pode morrer mas os filhos do Renau o Marcos e o Marcelo daratildeo continuidade faz parte da famiacutelia tu sabe eacute da mesma famiacutelia Eacute uma grande tradiccedilatildeo que natildeo pode desaparecer temos que continuar peleando36

As cavalhadas satildeo apresentadas na praccedila central sempre durantes as festas

religiosas que acontecem na comunidade sendo assim organizadas

No primeiro ou segundo final de semana de fevereiro tem a festa da Nossa Senhora do Belo Horizonte que eacute a padroeira daqui Agora devido agrave comissatildeo e o padre um ano tem a festa dos morenos e no outro tem a dos agricultores que eram chamados de amarelos antigamente cuja devoccedilatildeo se daacute agrave Nossa Senhora do Rosaacuterio e Nossa Senhora da Penha Antigamente cada um tinha seu espaccedilo social para realizar a festa atualmente soacute se manteve a tradiccedilatildeo de comemorar os santos este ano eacute festa dos morenos ela seraacute dia 13 e 14 de outubro Todas as festas

35 Sendo que doze cavaleiros que representam os cristatildeos vestem tuacutenicas de veludo azul escuro e

os doze cavaleiros mouros vestem tuacutenicas vermelhas Sobre os ombros da tuacutenica haacute uma capinha esta capinha traz enfeites prateados bordados com lantejoulas e bototildees dourados e franjas de seda branca Todos os participantes usam bombacha branca de brim botas campeiras pretas chapeacuteu de palha de aba larga virada para cima com laccedilo de fita e barbicacho de acordo com a cor da tuacutenica

36 BASSO Ceacutelia Pacheco Terres Entrevista concedida agrave autora no dia 04 de agosto de 2018

54

religiosas ocorrem em dois dias saacutebado apresentaccedilatildeo das cavalhadas novena janta e baile no domingo tem a missa na Igreja Matriz logo apoacutes almoccedilo e reuniatildeo danccedilante Atualmente resgataram em dezembro a festa a Satildeo Cristoacutevatildeo sempre no primeiro final de semana de dezembro eacute uma missa com benccedilatildeo aos carros durante a procissatildeo e um almoccedilo ao meio-dia esta se daacute somente em um dia E tambeacutem temos de dois em dois anos a festa organizada pelo grupo das Cavalhadas esta ocorre em maio daiacute37

Os moradores explicam que a separaccedilatildeo racial desapareceu com o tempo

poreacutem se manteacutem a cultura de festejar todos os santos o que demonstra que o povo

de Cazuza eacute bastante devoto e cristatildeo E acrescenta em tempos idos que durante

as festas religiosas as pessoas se hospedavam no hotel segundo Basso que ldquoele

recebia tinha mercado junto teve ateacute cinema o pessoal gostava da comida da

Dona Vilma que era minha sogrardquo Este hotel eacute outro marco que identifica Cazuza

Ferreira poreacutem os moradores explicam que atualmente o Hotel do Campo manteacutem a

arquitetura mas funciona em uma modalidade diferenciada pois natildeo haacute como

sobreviver Entatildeo ele recebe hospeda sob reserva antecipada poreacutem natildeo serve

almoccedilo e janta as refeiccedilotildees satildeo feitas no Cantinho do Aconchego com quem

manteacutem uma parceria

Figura 14 ndash Hotel do Campo

Fonte acervo pessoal da autora (2018)

37 BASSO Ceacutelia Pacheco Terres Entrevista concedida agrave autora no dia 04 de agosto de 2018

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Nesta comunidade tambeacutem eacute muito forte segundo os entrevistados38 a

tradiccedilatildeo gauacutecha que adveacutem do homem do campo o amante dos rodeios que nos

finais de semana saem de suas propriedades e se deslocam a outras comunidades

para participar dos eventos campeiros como o tiro de laccedilo Tambeacutem explanam que

existe o CTG Adatildeo Castilhos que estaacute interditado jaacute faz quase seis anos desde

que comeccedilaram a ser exigidos os PPCIs A partir deste momento eles natildeo puderam

mais fazer eventos ali eles realizam os rodeios ou festas campeiras mas laacute dentro

natildeo conseguiram mais fazer nada e taacute difiacutecil vai muito dinheiro para cumprir todas

as exigecircncias Sendo que este espaccedilo na deacutecada de 80 do seacuteculo XX foi palco de

grandes rodeios com apresentaccedilotildees campeiras artiacutesticas e grandes bailes A

moradora explica39 ldquoA Claudiana esposa do Paulo Cesar atual presidente se

inscreveu no projeto Meu Galpatildeo de Cara Nova do Galpatildeo Crioulo da RBS TV

tomara que ela seja classificadardquo Este projeto ajuda na reconstruccedilatildeo dos CTGs pelo

Rio Grande do Sul

Ao pesquisar sobre Cazuza Ferreira percebe-se o quatildeo forte eacute o culto agraves

tradiccedilotildees e o esforccedilo de seus moradores para elas permaneccedilam para futuras

geraccedilotildees visto que o tempo passou e a tradiccedilatildeo local natildeo sofreu alteraccedilotildees

43 DISTRITO DE TAINHAS

O distrito de Tainhas foi criado em 18 de outubro de 1922 estando situado a

33 quilocircmetros da Sede Se desenvolveu no entroncamento de duas rodovias a RS-

020 e a RS-453 cujas rodovias cortavam a vila do distrito Com o advento da

construccedilatildeo da Rota do Sol importante rodovia que hoje que liga Caxias do Sul agraves

praias aleacutem da construccedilatildeo do asfalto da RS-020 que vai a Satildeo Francisco de Paula

tudo mudou O morador Fagundes relata em entrevista40 ldquoaqui era mais habitado

por criadores fazendeiros e agora depois que saiu essa Rota do Sol o movimento

cresceu muito neacute mais por fora da vila entatildeo natildeo trouxe benefiacutecio para noacutesrdquo

Percebe-se que moradores entendem a importacircncia da construccedilatildeo das

rodovias poreacutem as mesmas natildeo trouxeram benefiacutecios econocircmicos para os

moradores locais

38 ANDRADE Nauro Bossle de BASSO Ceacutelia Pacheco Terres Entrevistas concedidas agrave autora no

dia 04 de agosto de 2018 39 BASSO Ceacutelia Pacheco Terres Entrevista concedida agrave autora dia 04 de agosto de 2018 40 FAGUNDES Darci da Silva Entrevista concedida agrave autora no dia 24 de fevereiro de 2018

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Ainda conforme o morador Fagundes41 ldquoo iniacutecio da vila se deu devido agrave

necessidade de parada dos caminhoneiros que transportavam madeira como era

tudo estrada de chatildeo Tainhas ficava em local centralizado se construiu um hotel

que era do seu Pedro Pinhatildeo e da Dona Luisardquo A partir de entatildeo comeccedilou a

construccedilatildeo de casas e se formou a vila onde antes eram terras dos Pinto os

primeiros moradores de Tainhas tanto que o morador ressalta na entrevista42 ldquoo

nome da escola eacute Oliacutempio Soares Pinto que era o proprietaacuterio dessa terra e uma

das professoras mais antigas era Guilherma Pintordquo

Tainhas estaacute rodeada por campos matos de pinnus ilhote e lavouras

atualmente e explica

Hoje aqui eacute pinus e granjeiro plantando batata soja milho e a maioria veio de fora os moradores antigos desapareceram arrendaram ou venderam suas terras para esse pessoal que veio de Ibiraiara e de Maquineacute Itati Trecircs Forquilhas43

Percebe-se que a criaccedilatildeo de gado ou seja a pecuaacuteria extensiva deu lugar a

outras culturas com a chegada de novas pessoas ao distrito Mas segundo os

moradores o culto ao tradicionalismo gauacutecho permanece visto que no distrito

existe

O parque de rodeios do Rodeio Crioulo eacute o mais antigo que noacutes temos aqui natildeo sei se natildeo o primeiro piquete registrado de Satildeo Chico tem uns sessenta anos a nossa tradiccedilatildeo eacute o laccedilo O nosso rodeio acontece sempre no iniacutecio de janeiro hoje eu natildeo laccedilo mais mas o meu neto continua a minha tradiccedilatildeo A escola daqui faz a semana farroupilha com ronda eacute tudo muito lindo e assim se mantem a cultura44

A imagem apresentada na Figura 15 reforccedila a fala e a importacircncia do Piquete

de Laccediladores Rodeio Crioulo que atualmente mesmo estando nas terras de Satildeo

Francisco de Paula divisa com o municiacutepio de Cambaraacute do Sul por opccedilatildeo essa

entidade tradicionalista pertence ao entatildeo municiacutepio de Cambaraacute do Sul Poreacutem sua

fundaccedilatildeo acontece em 20 de janeiro de 1961 quando o entatildeo hoje municiacutepio de

Cambaraacute do Sul ainda era distrito de Satildeo Francisco de Paula

41 FAGUNDES Darci da Silva Entrevista concedida agrave autora no dia 24 de fevereiro de 2018 42 FAGUNDES Darci da Silva Entrevista concedida agrave autora no dia 24 de fevereiro de 2018 43 FAGUNDES Darci da Silva Entrevista concedida agrave autora no dia 24 de fevereiro de 2018 44 FAGUNDES Darci da Silva Entrevista concedida agrave autora no dia 24 de fevereiro de 2018

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Figura 15 ndash Flacircmula de comemoraccedilatildeo aos 50 anos da entidade

Fonte acervo pessoal da autora (2018)

Outro evento importante no distrito eacute realizado pela Escola Estadual de

Ensino Fundamental Oliacutempio Soares Pinto que satildeo atividades ligadas as tradiccedilotildees

gauacutechas na Semana Farroupilha como cavalgadas e gincanas com a participaccedilatildeo

de toda comunidade nesta semana principalmente a comunidade de Tainhas

ldquorespira tradicionalismordquo

O distrito de Tainhas atualmente conta com um posto de sauacutede e o correio

satildeo os serviccedilos puacuteblicos que funcionam no distrito visto que o cartoacuterio fechou O

entrevistado Fagundes relata45 ldquoeu era o juiz de paz desse Cartoacuterio minha funccedilatildeo

era julgar os casamentos mas daiacute fechou hoje o pessoal tem que ir a Satildeo Chicordquo O

morador ainda acrescenta ldquoateacute a rodoviaacuteria fechou os ocircnibus passam aqui Satildeo

Marcos que vem de Caxias e vatildeo a Torres desce de manhatilde e sobe de tarde Citral

de Satildeo Chico a Ouro Verde e agora Transneves da Pedra Lisa para Satildeo Chicordquo

Com uma certa tristeza relata46 ldquoaqui em Tainhas soacute tem o Cafeacute Tainhas do

Mauro eacute o brilho de Tainhas seraacute ponto histoacuterico daqui um tempo todo mundo fala

bem do Cafeacute Tainhasrdquo

Notoriamente a chegada do asfalto modificou a vida das pessoas neste

distrito visto que que os campos foram em boa parte transformados em lavoura se

45 FAGUNDES Darci da Silva Entrevista concedida agrave autora no dia 24 de fevereiro de 2018 46 FAGUNDES Darci da Silva Entrevista concedida agrave autora no dia 24 de fevereiro de 2018

58

percebe uma vila pacata jaacute que todo o movimento foi desviado por fora da vila e a

mesma natildeo proporciona lazer para as pessoas que ao terminarem o ensino

fundamental para continuar seus estudos precisam fazer uso do transporte escolar

e se deslocar ateacute a Sede ou ir ao municiacutepio de Cambaraacute do Sul

44 DISTRITO DE ELETRA

O distrito de Eletra foi criado em 31 de dezembro de 1932 estando situado a

19 quilocircmetros da Sede do municiacutepio Poreacutem a populaccedilatildeo local chama de Salto e

seu nome vem das barragens do Salto Blang e Divisa construiacutedas sobre o Rio do

Salto que atravessa o distrito Segundo a moradora local47 Soares ldquoas barragens

que fornecem aacutegua para as usinas no municiacutepio de Satildeo Francisco de Paula e nos

municiacutepios vizinhos de Canela Gramado e Cambaraacute do Sulrdquo A Figura 16 apresenta

uma imagem da Barragem do Salto barragem esta que se situa proacutexima da vila do

distrito

Figura 16 ndash Barragem do Salto

Fonte acervo pessoal da autora (2018)

Ao observarmos a Figura 16 percebe-se que o acesso da vila para o interior

do distrito acontece por uma ponte de concreto estreita com piso bastante irregular

47 SOARES Susana Marques Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018

59

e que em periacuteodos de fortes chuvas o acesso fica interrompido devido agrave altura

Poreacutem ao lado direito percebe-se uma estrutura pequena que segundo o morador

Gomes

Foi uma tentativa de uma empresa japonese construir uma ponte soacute que quando estavam construindo deu uma enchente e levou tudo a aacutegua abaixo a empresa foi embora e nunca mais voltou Jaacute foram feitos estudos que a ponte tem que ser construiacuteda mais para baixo e em forma de arco se natildeo a chuva leva de novo poreacutem natildeo acredito que saia algum dia48

Entende-se que a construccedilatildeo desta nova ponte melhoraria o acesso dos

proprietaacuterios rurais que para saiacuterem de suas propriedades em eacutepocas de chuva

intensa necessitam fazer um longo caminho por estradas de chatildeo batido para terem

acesso ao municiacutepio de Canela bem como a Sede de Satildeo Francisco de Paula

Contudo a moradora explica que a vila do distrito se forma muito antes da

construccedilatildeo da barragem

Em 1915 era uma fazenda chamada Fazenda do Salto e esta pertencia a Francisco Soares de Oliveira Neste local havia sua casa de moradia um galpatildeo e mangueiras onde realizava as suas atividades poreacutem em 1916 o Chico resolveu transferir a casa da Fazendo do Cerro para o Salto tambeacutem sendo construiacuteda aiacute a segunda casa a partir de entatildeo se iniciou o povoado com a construccedilatildeo de novas residecircncias para seus empregados e posteriormente se instalou uma serraria dos irmatildeos Delavechia esta sendo movida a aacutegua dando definitivamente o iniacutecio do povoamento da vila49

Ao analisar a fala da moradora local se percebe que onde hoje se encontra a

vila do distrito de Eletra jaacute foi uma fazenda identificando-se com a mesma formaccedilatildeo

do distrito Sede que tambeacutem surge de terras doadas por um fazendeiro Segundo a

entrevistada Soares50 ldquoa sua casa eacute uma das mais antigas tem 102 anos foi

construiacuteda de pinheiro serrada aqui mesmo na serrariardquo pode-se observar o oacutetimo

estado de conversaccedilatildeo da casa que traz traccedilos arquitetocircnicos europeus na sua

construccedilatildeo natildeo se tem imagem da casa visto que a entrevistada natildeo permitiu

nenhuma imagem de sua residecircncia

Outro fator importante do povoamento da vila segundo o morador local

Gomes51 ldquofoi o iniacutecio da construccedilatildeo da Barragem do Salto no ano de 1925rdquo onde

48 GOMES Jaures Feijoacute Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018 49 SOARES Susana Marques Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018 50 SOARES Susana Marques Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018 51 GOMES Jaures Feijoacute Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018

60

vieram muitos funcionaacuterios de vaacuterios lugares tendo como mestre da obra segundo

os moradores locais52 o ldquoAcircngelo Goubertrdquo

Devido agrave necessidade que se formou no distrito neste periacuteodo se abriu um

hotel farmaacutecia cartoacuterio rodoviaacuteria e cinema a moradora local Soares saudosa

diz53 ldquotudo fechou aqui natildeo tem mais nadardquo referindo-se a atual situaccedilatildeo que a vila

se encontra

Os moradores ainda declaram sobre o distrito54 ldquoestaacute abandonado pelo poder

puacuteblico ateacute o calccedilamento das ruas foi arrancadordquo poreacutem outrora foi um local de

muita alegria

A vida era uma festa permanente o tio Chico era casado com a tia Lisoca ela foi para Porto Alegre para os filhos estudar quando vinham nas feacuterias traziam os amigos O tio Chico pagava um gaiteiro por mecircs para ele toca toda noite entatildeo era aquele divertimento55

Atualmente na vila existe a Escola Estadual de Ensino Fundamental Cristino

Ramos com menos de cem alunos e a festa cristatilde cuja celebraccedilatildeo ocorre em

fevereiro sendo Santo Antocircnio o padroeiro local A moradora explica sobre a

construccedilatildeo da capela

A primeira capela a tempestade derrubou em 1957 se construiu outra O santo padroeiro eacute Santo Antocircnio a imagem foi trazida por quarenta cavaleiros Daiacute o padre pediu para que a imagem de Nossa Senhora Catarina tambeacutem fosse acolhida hoje temos dois padroeiros mas para mim Santo Antocircnio eacute o principal56

Percebe-se na fala dos moradores a sua devoccedilatildeo e sua preocupaccedilatildeo com o

futuro da vila visto que ateacute a questatildeo do cemiteacuterio jaacute foi palco de discussatildeo pois o

cemiteacuterio da vila iniciou pela famiacutelia dos Soares sendo este particular Poreacutem a

moradora explica com certa indignaccedilatildeo

O cemiteacuterio era particular da famiacutelia Soares teve um tempo que resolveram abrir veio gente ateacute de Passo Fundo ser enterrada aqui natildeo pediam para ningueacutem tomaram conta Daiacute organizamos uma comissatildeo responsaacutevel decidimos que tinha que ter uma contribuiccedilatildeo e natildeo podia trazer gente de fora para enterrar soacute gente daqui Ningueacutem pagou Aiacute mandei fazer cerca nova a parte dos Soares sempre limpei mas [] hoje acabo limpando tudo

52 GOMES Jaures Feijoacute SOARES Susana Marques Entrevistas concedidas agrave autora no dia 15 de

fevereiro de 2018 53 SOARES Susana Marques Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018 54 GOMES Jaures Feijoacute SOARES Susana Marques Entrevistas concedidas agrave autora no dia 15 de

fevereiro de 2018 55 SOARES Susana Marques Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018 56 SOARES Susana Marques Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018

61

porque ningueacutem limpa Enquanto eu for viva vou fazer depois vatildeo entregar para a prefeitura igreja natildeo sei57

A Figura 17 apresenta uma foto da igreja atual tendo em sua lateral direita a

capela mortuaacuteria e ao fundo o Salatildeo Paroquial da comunidade onde ocorre a festa

do Santo Padroeiro

Figura 17 ndash Igreja Santo Antocircnio ndash Distrito de Eletra

Fonte acervo pessoal da autora (2018)

Ao conversar com os moradores locais pode-se observar a feacute cristatilde poreacutem

ambos relatam que a festa de fevereiro atualmente eacute pouco divulgada motivo pelo

qual acreditam que natildeo haja um nuacutemero expressivo de pessoas Ambos sentem um

apreccedilo pelo local onde nasceram e vivem poreacutem ambos relatam

Aqui eacute lugar de dormir as pessoas trabalham em Canela e vem dormir aqui a grande maioria natildeo eacute daqui vieram de fora haacute muitas casas de veraneio tudo gente de Porto Alegre que vem passar feacuterias natildeo rende nada para aqui o que precisam trazem tudo de fora A maioria de quem mora aqui soacute dorme passa o dia fora O ocircnibus das 7 horas sai lotado a gente natildeo conhece mais ningueacutem daqui mesmo soacute noacutes Susana e eu58

Mesmo a vila sendo um local de parada estaacute rodeada de lindos campos e

fazendas cuja a atividade principal eacute a pecuaacuteria extensiva natildeo proporciona

57 SOARES Susana Marques Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018 58 GOMES Jaures Feijoacute Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018

62

trabalho no local motivo pelo qual seus moradores buscam sua subsistecircncia em

outro municiacutepio poreacutem possui uma exuberante natureza relata cheia de esperanccedila

a moradora local59 ldquoeu tenho esperanccedila que algueacutem olhe para caacute e veja as belezas

que tem aqui que o lugar volte a se desenvolverrdquo desenvolvimento este que

poderia vir atraveacutes da exploraccedilatildeo do turismo rural ldquoSe vocecirc quiser comer alguma

coisa agora natildeo vai encontrar nada aqui soacute tem lsquobutecorsquo60 mas eles natildeo vendem

nada nem sanduiacuteche pastel eacute uma vergonhardquo fala indignado o morador Gomes61

A populaccedilatildeo que vive nas fazendas aleacutem de ter as lides campeiras no seu

dia-a-dia nos finais de semana segundo o morador Gomes62 ldquolaccedila em torneio vai

nos rodeiosrdquo o que marca a presenccedila do tradicionalismo gauacutecho em uma parte da

populaccedilatildeo do distrito poreacutem com relaccedilatildeo aos moradores da vila natildeo haacute algo que

os identifique visto a miscigenaccedilatildeo que ocorreu e por haver muitas casas de

veraneio no local

45 DISTRITO DO JUAacute

O distrito do Juaacute foi criado em 10 de maio de 1950 e fica distante 65

quilocircmetros da Sede O distrito recebe esse nome devido a um espinho que havia

em abundacircncia no local nome este dado por tropeiros

Os accedilorianos que vinham de Santo Antocircnio da Patrulha e iam para Vacaria com cargueiros eles vinham fazer repouso laacute em cima no reduto e ali tinha muita frutinha do juaacute entatildeo os tropeiros saiam de Santo Antocircnio e diziam vamos posa laacute nos juaacute daiacute o nome do lugar que permanece ateacute hoje63

Juaacute eacute o nome dado a um espinho muito comum na regiatildeo dos campos de

cima da serra que daacute uma fruta amarela em formato redondo que segundo os

moradores locais eacute uma fruta venenosa conforme se observa na Figura 18

59 SOARES Susana Marques Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018 60 Buteco pequeno comeacutercio que normalmente vende bebidas alcooacutelicas e possui mesa de sinuca 61 GOMES Jaures Feijoacute Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018 62 GOMES Jaures Feijoacute Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018 63 REIS Orides Entrevista concedida agrave autora no dia 12 de maio de 2018

63

Figura 18 ndash Peacute com a fruta conhecido como Juaacute

Fonte acervo de Clessandra Palhano (moradora local) (2018)

O reduto citado pelo morador local ficava em uma fazenda local onde hoje se

encontra a vila do distrito conforme o entrevistado Reis explica

O primeiro morador eu natildeo lembro soacute sei que o Juaacute era de pouca gente famiacutelia Pedroso e Castilhos daiacute foram morrendo inventariando e vendendo e aos poucos se formou a vila importante o dono de tudo isso aiacute tinha dois escravos no iniacutecio teve escravidatildeo claro na eacutepoca de mil oitocentos e pouco eu acho mas teve E hoje deve ter descendente destes escravos por aiacute64

Escravidatildeo que vai dar origem ao preconceito racial e a um modelo particular

da localidade que sem precisar data explica o morador

Aqui tinha dois salatildeo trecircs com o da Igreja mas era dois salatildeo social Era um clube de brancos que era dos ricos neacute fazendeiros o Salatildeo Vera Cruz e depois fundaram o Satildeo Valentim que era dos morenos que na eacutepoca ateacute eu fui presidente Cada um no seu salatildeo agora quando dava a festa cristatilde em homenagem ao Satildeo Joatildeo de Deus todo o povo reunia-se quando chegava de noite no saacutebado no baile entatildeo cada um ia pro seu salatildeo A muacutesica ficava no salatildeo dos brancos daiacute colocava umas caixas de som laacute pros morenos com um fio pra eles danccedila Um natildeo podia entra no baile do outro tinha o presidente para cuida Cada um no seu tudo se respeitava e obedecia aquela ordem65

Ainda acrescenta a moradora local Santos

64 REIS Orides Entrevista concedida agrave autora no dia 12 de maio de 2018 65 REIS Orides Entrevista concedida agrave autora no dia 12 de maio de 2018

64

O nosso eu natildeo me lembro o nome tem tanto papel mas natildeo sei onde estaacute o nosso dos pretos neacute ningueacutem implicava eles natildeo deixavam noacutes entra no salatildeo Vera Cruz eu entrava de cozinheira empregada porque ali era lugar dos ricaccedilos eles podiam se associar mas o nosso tambeacutem enchia mas eles iam no nosso baile de nego soacute olhavam As festas duravam dias Tinha aquele foguetoacuterio era tatildeo bonito66

Percebe-se na fala dos moradores como esta divisatildeo racial se fazia presente

que havia por parte dos negros um profundo respeito pelos brancos mesmo eles

tendo acesso ao salatildeo Vera Cruz somente para servi-los em nenhum momento se

percebeu que eles se sentissem diminuiacutedos pela situaccedilatildeo ateacute pela cultura que

advinha desde os primeiros moradores locais

Esta divisatildeo social permanece por longo tempo e somente vai desaparecer

nos anos 80 do seacuteculo XX com a contribuiccedilatildeo do Frei Abiacutelio que veio da Vacaria

durante Missotildees convocadas pelo paacuteroco local padre Afonso que conseguiu

modificar esta organizaccedilatildeo implantando a ideia de igualdade e ignorando tudo

aquilo a partir de entatildeo os negros comeccedilaram a frequentar a sociedade Vera Cruz

contribuiccedilatildeo dos entrevistados67 que ao abordar o assunto demonstraram repulsa

pelo passado mas ao mesmo tempo reconhecem que o racismo ainda eacute presente

na comunidade poreacutem devido agraves leis existe um cuidado maior

Atualmente negros e brancos convivem em harmonia participam da festa

cristatilde cujo padroeiro eacute Satildeo Joatildeo de Deus e dos torneios de laccedilo mas geralmente

quem laccedila satildeo os fazendeiros Saudoso o morador68 afirma que ldquouma vez tinha as

carreradas tinha trecircs canchas passava o domingo nas canchas brincando nas

corridas de cavalos tudo terminourdquo Acrescenta69 ainda que ldquoem 70 80 tinha o

futebol o campo era na baixada acho que tem ainda trofeacuteu ai mas daiacute a gurizada

foi embora para a cidade terminou o timerdquo

A vila se construiu de maneira simples tendo a Igreja Catoacutelica com o Salatildeo

Paroquial agrave direita o antigo Centro de Tradiccedilotildees Gauacutechas Laccedilo Velho do Juaacute onde

resta apenas o preacutedio de madeira corroiacuteda pelo tempo ao fundo a cancha de laccedilo

do Piquete de Laccediladores Velho do Juaacute entidade tradicionalista que se manteacutem ativa

desde o iniacutecio da deacutecada de 1960 ao redor haacute casas de moradias que formam ao

centro uma grande praccedila sem nenhuma infraestrutura em frente a esta praccedila

66 SANTOS Deotildes Palhano dos Entrevista concedida agrave autora no dia 12 de maio de 2018 67 REIS Orides SANTOS Deotildes Palhano Entrevistas concedida agrave autora no dia 12 de maio de

2018 68 REIS Orides Entrevista concedida agrave autora no dia 12 de maio de 2018 69 REIS Orides Entrevista concedida agrave autora no dia 12 de maio de 2018

65

perpassa uma rua de chatildeo batido sendo que a escola da comunidade fica do outro

lado a escola eacute municipal se chama Bento Eziacutedio Rodrigues atende

aproximadamente vinte alunos que estatildeo matriculados nas seacuteries iniciais do ensino

fundamental tendo duas professoras e um funcionaacuterio para fazer merenda e limpar

o paacutetio como se pode observar na Figura 19

Figura 19 ndash Praccedila Vila do Distrito Juaacute ao fundo cancha de laccedilo

Fonte acervo pessoal da autora (2018)

Ambos os entrevistados70 explicam que o Juaacute atualmente eacute um lugar de

idosos aposentados que outrora as pessoas viviam das roccedilas e da pecuaacuteria

extensiva na deacutecada de 1980 com o advento da induacutestria em Caxias do Sul os

jovens abandonaram seu modo de vida e foram buscar novas oportunidades poreacutem

estes jovens que foram embora retornam com frequecircncia natildeo perdendo a sua

essecircncia Relataram que a uacutenica fonte de trabalho eacute ser peatildeo de fazenda fazendas

estas que produzem o queijo serrano ou vendem leite para a Piaacute71 sendo que a

lavoura eacute para subsistecircncia Outra fonte de renda eacute ser funcionaacuterio da serraria cujo

proprietaacuterio e Joatildeo Egiacutedio que funciona proacuteximo da vila Outro fator importante eacute a

venda de pequenas chaacutecaras para moradores de Caxias do Sul que vem aos finais

70 REIS Orides SANTOS Deotildes Palhano Entrevistas concedidas agrave autora no dia 12 de maio de

2018 71 Piaacute Cooperativa Agropecuaacuteria Petroacutepolis Ltda Empresa que faz a coleta do leite nas fazendas da

regiatildeo

66

de semana descansar na localidade poreacutem se percebe que estes novos moradores

muitas vezes natildeo interagem com os moradores locais

Segundo o morador Reis72 ldquoapesar da vinda de pessoas de outros lugares o

Juaacute natildeo perdeu sua identidade fala em Juaacute lembra pinhatildeo colheita do pinhatildeo ateacute

haacute uma criacutetica que diz na eacutepoca do pinhatildeo o juazeiro fala grossordquo Ditado que o

entrevistado73 reafirma sorrindo ldquona eacutepoca do pinhatildeo o juazeiro fala grosso claro

que eacute apenas um dito popular uma maneira de se referir mas sempre eacute dito haacute

aqueles que natildeo gostamrdquo

Nota-se que a vida na comunidade do Juaacute se passa de forma tranquila com

poucos moradores que sua identidade estaacute relacionada agrave pecuaacuteria extensiva com

as lides com o gado bem como ao pinhatildeo uma fruta tiacutepica que se desenvolve na

Araucaacuteria ou pinheiro nativo como eacute conhecido na regiatildeo O pinhatildeo seja ele

assado cozido ou paccediloca74 eacute muito consumido pelos moradores do interior de Satildeo

Francisco de Paula durante o inverno inclusive como mistura do cafeacute da manhatilde

46 DISTRITO DO RINCAtildeO DOS KROEFF

O distrito de Rincatildeo dos Kroeff foi criado em 10 de maio de 1950 Fica a 35

quilocircmetros distante da Sede poreacutem muito antes de se institucionalizar oficialmente

este espaccedilo moradores locais contam como tudo se iniciou

Meu avocirc foi um dos primeiros a vim para caacute ele se chamava Guilherme Faciole ele nasceu no navio vindo da Itaacutelia Ele contava que teve uma desavenccedila em Caxias e fincou o peacute pra caacute pra natildeo acharem ele que aqui era soacute mato e na revoluccedilatildeo de 35 ele fugia de casa para natildeo ser levado pelas tropas os piquetes levavam para combater entatildeo ele sempre dizia que pousou vaacuterias noites embaixo dos peraus da serra do Umbu para natildeo ser levado O falecido vovocirc vivia da caccedila do porco do mato tateti ele fazia charque de porco para ter a carne ele viveu 106 anos e dizia se natildeo tivesse fumado viveria mais uns dez isso faz parte da histoacuteria do Rincatildeo dos Kroeff Junto teve o falecido Acircngelo Menegaacutes que entro aqui na mesma eacutepoca Eles satildeo os fundadores do distrito75

O acesso ao distrito Rincatildeo dos Kroeff permanece totalmente pela estrada de

chatildeo batido sendo possiacutevel ir ao municiacutepio de Maquineacute descendo pela serra do

Umbu Poreacutem muito antes da estrada a busca de mantimentos e o escoamento da

72 REIS Orides Entrevista concedida agrave autora no dia 12 de maio de 2018 73 REIS Orides Entrevista concedida agrave autora no dia 12 de maio de 2018 74 Paccediloca carne de porco moiacuteda e frita no azeite ou banha a qual se acrescenta o pinhatildeo jaacute cozido

e moiacutedo 75 FACIOLE Reinaldo Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de marccedilo de 2018

67

produccedilatildeo se dava pelos carreiros visto que natildeo havia abertura de estrada e nem

viatura76 como os moradores relatam

Tudo era na tropeada as tropas que ia para Rolante Na tropeada saia um tropeiro na frente e um recircs com um cincerro que era a madrinheira da tropa saia laacute pelo Chuvisqueiro e saia laacute em Rolante perdia boi na estrada ficava semanas boi perdido agraves vezes nem se achava mais tambeacutem tinha tropa de porco e tinha as tropeadas de mula puxando milho feijatildeo trigo tudo produzido aqui e levado de cargueiro carreta era muito pouco porque natildeo tinha estrada para anda era soacute os trilhos pelo meio dos matos e campos e se produzia milho era o inverno inteiro saia tropas e mais tropas com trinta quarenta mulas burros transportando mantimentos da produccedilatildeo do gratildeo haacute tambeacutem tinha a flor de Pireto que era lucro ningueacutem conhece isso aiacute hoje essa flor era levada para Taquara e fazia veneno para formiga tudo que era tipo de veneno era uma flor muito toacutexica Acredita tropear galinha pois eacute a gente criava bastante saia com os cargueiros como era a vida eles faziam um girau no cesto naqueles balaios para fazer duas camas uma mais em cima e outra em baixo daiacute quando era veratildeo era muito quente tinha que no meio da viagem tirar de dentro do cesto botar na aacutegua na sanga para natildeo morrer ateacute chegar no mercado dali para praia a eacutepoca que mais vendia era novembro e dezembro daiacute tinha preccedilo bom tudo criada solta aviaacuterio nem se falava77

Ao ouvir os moradores se percebe que a construccedilatildeo do distrito aconteceu

devido ao esforccedilo e trabalho de muitas pessoas visto que o local era de mata nativa

densa e precisou ser desmatado para ser ocupado pelas pessoas Explica o

entrevistado Faciole78 ldquopara fazer uma lavoura tambeacutem precisava derrubar o

pinheiro seu Onorino Buffon me contou que faziam fogo ao redor do pinheiro eles

eram muito grosso para derrubar a machado entatildeo faziam fogo secavam para

depois fazer a roccedilardquo E a moradora79 local acrescenta ldquoaqui tambeacutem tinha os

barbacuazeiros produziam erva mais aqui eles soacute tiravam a erva e sapecavam e

depois ia para outro lugar industrializa tudo era diferenterdquo

Poreacutem segundo os moradores este modelo de vida rudimentar se modifica

com a chegada das serrarias sendo que a dos Kroeff foi a primeira juntamente com

a serraria se viu a necessidade da construccedilatildeo de novas casas para os

trabalhadores surgindo ali a vila do distrito Rincatildeo dos Kroeff no iniacutecio a serraria era

tudo manual relata Faciole80 ldquoa uacutenica forma de tira a madeira era com um enfieira

76 Viatura se refere a carro de passeio caminhotildees 77 FACIOLE Reinaldo FACIOLE Maria Madalena Scalco Entrevistas concedidas agrave autora no dia 18

de marccedilo de 2018 78 FACIOLE Reinaldo Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de marccedilo de 2018 79 FACIOLE Maria Madalena Scalco Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de marccedilo de 2018 80 FACIOLE Reinaldo Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de marccedilo de 2018

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de boi eu cheguei a ver cinco ternos de boi carreiro81 emendado puxando um

pinheiro eacute uma bicheira de boi natildeo tinha outra formardquo

Rincatildeo dos Kroeff eacute o menor distrito de Satildeo Francisco de Paula poreacutem em

suas terras se desenvolveu a cultura dos hortifrutigranjeiros desde muito cedo jaacute

que sua colonizaccedilatildeo eacute basicamente italiana e alematilde e os italianos tecircm a cultura do

plantio visando lucro A moradora Faciole82 afirma ldquotudo comeccedilou por aqui depois

se expandiu para o municiacutepio comeccedilamos com moranga branca depois repolho

couve broacutecolis alface e daiacute veio beterraba e tudo o restordquo Acrescenta ainda83 que

ldquodaqui saiacuteram os primeiros caminhotildees de hortifruacuteti do municiacutepio para a Ceasa teve

eacutepoca de sair quarenta caminhotildees por dia do Rincatildeo hoje natildeo sai mais porque

muitos foram buscar novos lugares para plantarrdquo E juntamente com a mudanccedila dos

proprietaacuterios em busca de novas terras muitos de seus funcionaacuterios foram embora

junto afirma em entrevista o morador local84 ldquomuita gente do Rincatildeo foi embora

muitas gurias foram embora para estudar para achar emprego e natildeo voltaram maisrdquo

Atraveacutes da fala da moradora pode-se observar que apesar do distrito ser

produtivo enfrenta algumas dificuldades com relaccedilatildeo ao estudo de seus moradores

que para continuarem seus estudos se assim o desejarem necessitam abandonar

seus pais e ir em busca na Sede ou arredores visto que no distrito existe uma uacutenica

escola Gastatilde Henth Esta eacute municipal e atende dos quatro anos ao nono ano do

ensino fundamental A moradora Faciole explica

O coleacutegio hoje tem 99 alunos ao total quando eles terminam o nono ano alguns vatildeo estudar mas satildeo pouquiacutessimos os outros ficam por aiacute mesmo natildeo tem um transporte que leve eles para fazer o ensino meacutedio na Sede que seria a escola de ensino meacutedio mais proacuteximo se quiser estudar vai ter que ir embora reforccedila quem e trabalhador fica trabalhando com os pais quem natildeo eacute [] As pessoas na sua grande maioria soacute tem o ensino fundamental aqui85

Este eacute um dos grandes problemas enfrentados pelos moradores do Rincatildeo

dos Kroeff a possibilidade de continuar estudando A escola que laacute existe os

moradores locais natildeo sabem precisar a data mas sabem que foi durante o mandato

81 Ternos de boi carreiro significam vaacuterias duplas de bois cangados e ligados por um pedaccedilo de

madeira que vatildeo na canga entre a dupla de bois Esse pau roliccedilo na regiatildeo se chama de cambatildeo 82 FACIOLE Maria Madalena Scalco Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de marccedilo de 2018 83 FACIOLE Maria Madalena Scalco Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de marccedilo de 2018 84 FACIOLE Reinaldo Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de marccedilo de 2018 85 FACIOLE Maria Madalena Scalco Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de maio de 2018

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do prefeito Escobar (1977-1982) que ela foi construiacuteda Neste contexto aparece

tambeacutem a dificuldade de se locomover fazendo uso do transporte puacuteblico

Haacute sete anos atraacutes o Rincatildeo estava bom mesmo tinha ocircnibus da praia agraves vezes passava quatro a cinco ocircnibus da praia tudo pela serra do Umbu Agora soacute tem um trecircs dias por semana As empresas deixaram de trafegar por aqui elas natildeo vatildeo descer numa serra de chatildeo batido sendo que tem a outra86 com asfalto87

Os moradores se orgulham da festa religiosa que acontece todos os anos em

agosto sendo que o santo padroeiro eacute Satildeo Roque A festa da comunidade

apresenta uma tradiccedilatildeo local muito interessante na segunda-feira apoacutes a festa ela

continua para os moradores locais que vatildeo ao salatildeo paroquial para se divertir entre

si e esta eacute uma tradiccedilatildeo que eacute comentada em todo o municiacutepio Faciole88 saudoso

afirma ldquopara ti ter uma ideia nessa festa chegava dar vinte poucos ocircnibus lotado que

vinham de outros municiacutepios como Igrejinha Taquara Porto Alegre Novo

Hamburgo o espaccedilo ficava pequenordquo Acrescenta89 ainda ldquoaqui noacutes tinha o Clube

Serrano que dava baile janta italiana dava um movimento louco mas terminou ateacute

o baile das rainhas cada ano era uma era tatildeo lindo mas tudo se acabourdquo

Figura 20 ndash Imagem da Igreja Satildeo Roque em dia de festa no Rincatildeo dos Kroeff

Fonte acervo pessoal da autora (2018)

86 A outra se refere a rodovia RS-453 conhecida como Rota do Sol 87 FACIOLE Reinaldo Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de marccedilo de 2018 88 FACIOLE Reinaldo Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de marccedilo de 2018 89 FACIOLE Reinaldo Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de marccedilo de 2018

70

Percebe-se que o distrito Rincatildeo dos Kroeff eacute o uacutenico que obteve em seu

iniacutecio uma colonizaccedilatildeo por descentes de italianos dentro do municiacutepio de Satildeo

Francisco de Paula o que demonstra o quatildeo forte se daacute a tradiccedilatildeo ldquoitalianardquo neste

local permanecendo intriacutenseca na vida cotidiana de seu povo com a cultura do

plantio de hortifrutigranjeiros que permanece apesar do tempo como sendo a sua

maior identidade local

47 DISTRITO DE LAJEADO GRANDE

Lajeado Grande em tempos idos pertenceu ao distrito de Cazuza Ferreira e

somente em 12 de dezembro de 1968 se tornou um distrito independente segundo

a Lei nordm 655 encontrada nos autos da Prefeitura Municipal de Satildeo Francisco de

Paula A vila do distrito Lajeado Grande fica distante 63 quilocircmetros da Sede e se

situa na confluecircncia do Arroio Porco Morto e o Rio Bururi Seu surgimento acontece

segundo o morador Fogaccedila90 ldquopor volta de 1940 com a abertura da estrada Canela

ndash Bom Jesus a atual RS-476 que corta a vila do Distritordquo Essa estrada segundo o

morador facilitou a locomoccedilatildeo que anteriormente era feita totalmente pelas trilhas e

picadas por onde somente se passava a cavalo ou de carreta E o entrevistado

explica como acontece o desenvolvimento inicial da vila

Tu sabe aqui tem o nome de Lajeado Grande por causa do rio que eacute cheio de lajes grandes o que facilitava a travessia e as terras aqui por roda era tudo do falecido Pequeno Cardoso ele doou parte para a construccedilatildeo da vila onde o falecido Leopoldino Cardoso irmatildeo do Pequeno tinha uma lsquobudega velharsquo91 por aqui sendo o primeiro comeacutercio da vila92

A abertura da estrada possibilitou o desenvolvimento da vila juntamente com

o Casaratildeo um hotel pensatildeo que foi construiacutedo as margens do Arroio Porco Morto

este Casaratildeo passou por diversos proprietaacuterios

Leopoldino Cardoso foi o idealizador do Casaratildeo juntamente com os seus soacutecios Heraacuteclito Andrade de Cardoso lsquoJoanitorsquo Joseacute Osoacuterio de Lima lsquoZecarsquo e Pequeno Cardoso sendo que o Casaratildeo era uma casa de negoacutecio compravam queijo couro era um comeacutercio forte vendia secos e molhados inclusive a primeira rodoviaacuteria foi instalada neste espaccedilo poreacutem em 1948 Joatildeo Pacheco Cardoso assume e amplia o estabelecimento construindo o segundo piso da casa de madeira e alugando para outros dois moradores

90 FOGACcedilA Blair dos Santos Entrevista concedida agrave autora no dia 06 de abril de 2018 91 Budega velha referindo-se a uma antiga casa de comeacutercio de secos e molhados localizada onde

hoje se encontra o armazeacutem Celeiro 92 FOGACcedilA Blair dos Santos Entrevista concedida agrave autora no dia 06 de abril de 2018

71

Eremi Terres e Claunir Lucena Com a reforma o Casaratildeo passa a ter treze quartos para aluguel uma loja onde encontrava-se tudo o que se necessitava de alfinete tecido alimentos e raccedilotildees aleacutem da ala que servia de moradia para os proprietaacuterios Em 1962 o estabelecimento eacute alugado para Eraldo Bento de Oliveira que aleacutem de gerenciar o estabelecimento colocou junto um bar local de encontro dos homens da redondeza para tomar um lsquotragorsquo93 (CERUTTI SILVA CARDOSO 2002 p 19)

Figura 21 ndash Imagem do Casaratildeo pouco antes de ser desmanchado

Fonte acervo pessoal de Fernando Oliveira (conhecido como Guego) (2018)

O Casaratildeo foi desmanchado na deacutecada de 1980 pelo entatildeo proprietaacuterio Reno

Pacheco Poreacutem percebe-se na vila que seus antigos moradores falam com certo

saudosismo deste estabelecimento que fez parte de suas vidas e chegam a

lamentar o seu fim morador Fogaccedila94 afirma ldquoali se fez o pastel mais famoso do

Lajeado Grande o pastel da Odila mas tudo se acabou quando eles entregaram e

construiacuteram laacute na esquinardquo95

Poreacutem a vila Lajeado Grande foi lentamente se desenvolvendo Devido agrave

necessidade da conservaccedilatildeo da nova estrada foi construiacuteda agraves margens do Rio

Bururi uma capatazia do DAER Segundo Cerutti Silva e Cardoso (2002 p 18) ldquoo

primeiro capataz foi Capitulino Prudecircncio de Oliveira vindo de Santa Catarina sua

funccedilatildeo era manter as estradas e chegou a ter vinte funcionaacuteriosrdquo Percebe-se que a

93 Trago expressatildeo local que significa beber uma cachaccedila 94 FOGACcedilA Blair dos Santos Entrevista concedida agrave autora no dia 06 de abril de 2018 95 Esquina eacute o nome dado a parte da vila do Lajeado Grande onde se daacute o entroncamento das

rodovias RS-453 e ERS-476

72

partir deste momento se inserem neste distrito pessoas advindas de outros estados

e locais visto que ateacute o presente momento o distrito era habitado por fazendeiros

naturais do proacuteprio municiacutepio e que tinham suas vidas ligadas diretamente agrave

pecuaacuteria extensiva e agrave produccedilatildeo do queijo serrano Importante destacar que a

esposa de Capitulino segundo Cerutti Silva e Cardoso (2002 p 18) ldquoa Celicina

Guilherme da Silva se torna uma figura conhecida por realizar partos sendo

chamada como parteira de campanhardquo Na atualidade filhos netos e bisnetos do

casal ainda residem na vila

A vila do Lajeado Grande tambeacutem recebe novos moradores com a praacutetica do

corte do pinheiro nativo sendo que na deacutecada de 1950 havia uma faacutebrica de

beneficiamento de madeira ateacute se transformar em pasta este material era levado

para Esteio onde funcionava agrave matriz A partir dos anos 1950 ocorre a instalaccedilatildeo de

serrarias sendo que a Madeireira Albeflor de propriedade de Valter Sguaizer se

instala em 1964 Novamente busca-se matildeo de obra em localidades proacuteximas como

Lagoa Vermelha Vacaria e Bom Jesus poreacutem com a proibiccedilatildeo da extraccedilatildeo de

madeira de lei a serraria deixou de funcionar

Percebe-se que no distrito natildeo houve uma homogeneizaccedilatildeo identitaacuteria visto a

influecircncia advinda de muitas culturas no passado atraveacutes da extraccedilatildeo de madeira

e na atualidade com o advento das lavouras de hortifrutigranjeiros e pomares

frutiacuteferos que ocupam boa parte do distrito substituindo a pecuaacuteria extensiva que jaacute

natildeo proporciona um lucro efetivo Entatildeo os proprietaacuterios na sua grande maioria

venderam ou arrendaram suas terras para novas culturas o que modifica o modo de

vida local pois grande parte dos trabalhadores adveacutem de outros estados como o

Paranaacute e tambeacutem se observa o uso da matildeo de obra indiacutegena

Essa miscigenaccedilatildeo se observa nas escolas locais visto que na vila funciona a

Escola Municipal D Pedro I que segundo Cerutti Silva e Cardoso (2002 p 35)

ldquoinicia em 1965 poreacutem a professora e o preacutedio eram mantidos pela Serraria mas na

deacutecada de 70 a prefeitura assumiu a escola sendo que Eloci Martim foi a primeira

professora da Serrariardquo Escola da Serraria como ainda eacute conhecida por boa parte

dos moradores locais apesar de a escola natildeo se encontrar mais onde havia a antiga

serraria Atualmente a Escola Dom Pedro I funciona em um preacutedio obtido atraveacutes da

Associaccedilatildeo de Moradores atendendo alunos da preacute-escola ateacute o sexto ano das

seacuteries finais tendo em seu quadro seis professores e duas funcionaacuterias Sendo que

73

a obra para um novo preacutedio teve iniacutecio neste ano mas percebe-se que a obra parou

por volta do mecircs de maio Poreacutem na vila tambeacutem se encontra uma escola estadual

A documentaccedilatildeo necessaacuteria para a criaccedilatildeo de uma nova escola na localidade foi elaborada por Manoel Cardoso de Andrade juntamente com a professora Odazilda Cardoso Demori e encaminhada agrave Secretaria da Educaccedilatildeo sendo que em 11 de fevereiro de 1953 foi criada a Escola Isolada de Lajeado Grande sendo os professores estaduais mas o preacutedio sob responsabilidade comunitaacuteria iniciou o seu funcionamento nas dependecircncias do DAER e somente em 1957 foi construiacutedo um preacutedio de madeira em terras doadas por Pequeno Cardoso local onde hoje ainda se encontra a escola poreacutem passou por muitas reformas sendo que em 2000 recebeu um novo preacutedio de alvenaria o que possibilitou a realizaccedilatildeo de um grande sonho dos professores e comunidade a implantaccedilatildeo do Ensino Meacutedio que concretizou-se em 200296

Atualmente a escola atende em torno de trezentos alunos da Educaccedilatildeo

Baacutesica poreacutem percebe-se que devido agraves safras de hortifrutigranjeiros o nuacutemero de

alunos se alterna durante o ano O que tambeacutem se percebe eacute o comportamento dos

alunos com relaccedilatildeo agrave diversidade cultural por exemplo usam bombacha laccedilam boi

de pau no recreio e escutam funk uma cultura totalmente diferente da tradicionalista

gauacutecha o que compreende-se como algo advindo da globalizaccedilatildeo cultural que

vivemos no mundo atual reforccedilando novamente o natildeo reconhecimento de uma

identidade forte na localidade

Poreacutem as famiacutelias tradicionais do local manteacutem fortemente arraigada a

cultura tradicionalista que adveacutem do homem do campo tendo no distrito festas

campeiras torneios de laccedilo e a festa religiosa uma vez por ano em homenagem ao

Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus padroeiro da vila

Na atualidade natildeo se percebe uma identidade forte e marcada no distrito e

sim uma miscigenaccedilatildeo de diferentes culturas e etnias que convivem e se integram

harmonicamente

96 CARDOSO Amaacutelia Celuderes Entrevista concedida agrave autora no dia 08 de marccedilo de 2018

74

5 DESCRICcedilAtildeO DO PRODUTO

O produto consiste em um livro paradidaacutetico sobre a histoacuteria de Satildeo Francisco

de Paula Apresenta de maneira didaacutetica a histoacuteria de Satildeo Francisco de Paula bem

como balotildees explicativos imagens sugestotildees de atividades e leituras

complementares Poderaacute servir de apoio pedagoacutegico a professores e alunos do

municiacutepio visto que existe pouco material sobre a histoacuteria deste municiacutepio e se faz

importante trabalhar a histoacuteria local percepccedilatildeo que a autora obteve ao longo da sua

caminhada como professora de histoacuteria que atua nas seacuteries finais do ensino

fundamental e meacutedio haacute dezessete anos na rede estadual do municiacutepio

Partir do local natildeo eacute abandonar o conhecimento histoacuterico eacute dar outro valor

sentido para este conhecimento Segundo Caimi

Levar em conta o universo da crianccedila ou do adolescente natildeo eacute pois abdicar do rigor intelectual [] mas garantir que a apropriaccedilatildeo deste conhecimento ocorra permeada de sentido e significado resultando em soacutelidas aprendizagens (CAIMI 2006 p 24)

Seguindo esta perspectiva a implantaccedilatildeo do Referencial Curricular Gauacutecho

embasado na Base Nacional Comum Curricular reforccedila a ideia jaacute discutida nos

paraacutegrafos anteriores

No que se refere especificamente ao componente Histoacuteria a base rompe tanto com a cronologia quanto agrave visatildeo eurocecircntrica da histoacuteria tradicional Entram em cena novos atores novas sociedades novos caminhos que sempre tiveram na histoacuteria mas nem sempre receberam a devida importacircncia Acompanhando a Base Nacional Comum Curricular o Referencial Curricular Gauacutecho no que se refere especificamente agrave disciplina de Histoacuteria manteacutem seu foco na aprendizagem dos alunos nos diferentes espaccedilos e tempos tendo a preocupaccedilatildeo de integrar o curriacuteculo com a diversidade regional de nosso Estado Tambeacutem eacute importante contemplar os temas integradores como eacutetica cidadania cultura e valorizaccedilatildeo das diversidades assegurando a multiplicidade de olhares sobre o mundo (RIO GRANDE DO SUL 2018 p 118)

Portanto o paradidaacutetico seraacute mais um material disponiacutevel aos professores e

estudantes da educaccedilatildeo baacutesica de Satildeo Francisco de Paula na construccedilatildeo do

conhecimento da histoacuteria do municiacutepio bem como o reconhecimento de sua

identidade neste material visto que se almeja que os estudantes percebam

vestiacutegios de sua identidade e se percebam como parte deste municiacutepio atraveacutes do

conhecimento de sua histoacuteria

75

O paradidaacutetico vem com o tiacutetulo rdquoTropeando histoacuterias em Satildeo Francisco de

Paulardquo sendo que a capa traz a foto do Monumento aos Carreteiros monumento

que se encontra na Avenida Juacutelio de Castilhos em frente ao preacutedio da Prefeitura

Municipal

Figura 22 ndash Capa do livro

Fonte Livro Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula

Na sequecircncia se apresenta o iacutendice que possibilita ao leitor localizar os

diversos temas abordados visto que existem nove capiacutetulos

76

Figura 23 ndash Iacutendice do livro

Fonte Livro Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula

77

O capiacutetulo um apresenta a localizaccedilatildeo de Satildeo Francisco de Paula com uma

seacuterie de mapas que facilitam a compreensatildeo espacial dos alunos assim como um

mapa da subdivisatildeo do municiacutepio em distrito Ao final satildeo sugeridas duas atividades

que podem ser desenvolvidas de maneira interdisciplinar com o apoio da professora

de arte geografia e portuguecircs

Figura 24 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 1)

Fonte Livro Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula

78

Figura 25 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 1)

Fonte Livro Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula

O capiacutetulo dois aborda a existecircncia indiacutegena em Satildeo Francisco de Paula

antes da chegada dos desbravadores vindos de Satildeo Paulo Como sugestatildeo de

atividades apresenta-se uma pesquisa sobre as diferentes tribos indiacutegenas que

habitavam a Proviacutencia de Satildeo Pedro aleacutem da criaccedilatildeo de um painel infograacutefico

79

Figura 26 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 2)

Fonte Livro Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula

No capiacutetulo trecircs se apresentam os primeiros donataacuterios colonizadores de Satildeo

Francisco de Paula com trecho de um testamento deixado por Pedro da Silva

Chaves o fundador de Satildeo Francisco de Paula bem como o mapa que localiza as

primeiras sesmarias que corresponde ao territoacuterio onde hoje eacute a Sede do municiacutepio

80

Figura 27 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 3)

Fonte Livro Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula

Nos capiacutetulos quatro e cinco eacute apresentado o desenvolvimento de Satildeo

Francisco de Paula ainda no seacuteculo XIX quando pertencia ao municiacutepio de Santo

Antocircnio da Patrulha e no final do seacuteculo XIX quando passa a pertencer ao entatildeo

81

municiacutepio de Taquara do Mundo Novo Existe tambeacutem um mapa que demonstra a

extensatildeo territorial de Santo Antocircnio da Patrulha e quais satildeo os municiacutepios hoje que

pertenceram a este bem como a importacircncia da abertura da estrada que liga Satildeo

Francisco de Paula a Taquara

Figura 28 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 4)

Fonte Livro Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula

82

Os capiacutetulos seis e sete apontam a construccedilatildeo do Municiacutepio a partir de sua

emancipaccedilatildeo em 1903 sua extensatildeo territorial e a diminuiccedilatildeo do seu territoacuterio ao

longo do tempo e a histoacuteria da Igreja Matriz Como sugestatildeo de atividade pesquisar

a diversidade religiosa existente na comunidade escolar e criar graacuteficos com essas

informaccedilotildees podendo a partir de entatildeo trabalhar com as questotildees religiosas ontem

e hoje no mundo

Figura 29 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 6)

Fonte Livro Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula

83

No capiacutetulo oito se apresenta o que difere os sete distritos de Satildeo Francisco

de Paula Este capiacutetulo se apresenta subdividido em sete subtiacutetulos onde cada um

corresponde a um distrito do municiacutepio Tendo como fonte principal as entrevistas

realizadas com moradores locais mesclado com fontes documentais e bibliograacuteficas

que corroboram para se perceber que haacute alguns distritos que manteacutem suas tradiccedilotildees

ao longo do tempo e eacute possiacutevel perceber que existe uma identidade que aproxima

aquela populaccedilatildeo

Figura 30 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 8)

Fonte Livro Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula

84

No uacuteltimo capiacutetulo o nove se exibe uma lista de sugestotildees de leituras

complementares a fim de se aprofundarem sobre determinados temas E por fim

as referecircncias utilizadas para a construccedilatildeo do paradidaacutetico Tropeando Histoacuterias em

Satildeo Francisco de Paula

Figura 31 ndash Atividade do livro (Sugestatildeo de Leituras Complementares)

Fonte Livro Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula

85

O produto foi testado em duas turmas da Educaccedilatildeo Baacutesica na Escola

Estadual de Ensino Meacutedio Lajeado Grande com o propoacutesito de avaliar qual seria a

reaccedilatildeo dos estudantes diante do material e por ele ter sido produzido por algueacutem

que convive com eles semanalmente A receptividade foi bastante gratificante como

se pode observar na Figura 32

Figura 32 ndash Alunos do Ensino Meacutedio

Fonte acervo pessoal da autora (2019)

A receptividade foi muito interessante visto que os estudantes

acompanharam a trajetoacuteria para chegar ao produto final algo que os deixava

ansiosos para manusear pois muitas vezes foram parceiros A autora foi

compartilhando com os estudantes as informaccedilotildees obtidas durante a pesquisa e as

descobertas encontradas usando em suas aulas a histoacuteria local para abordar os

diferentes temas e conceitos histoacutericos

Quando a autora apresenta o produto os estudantes do ensino meacutedio estes

formam grupos por distritos e buscam logo reconhecer no material sua identidade

apoacutes comentam sobre as peculiaridades de cada distrito Poreacutem os alunos do

ensino fundamental manuseiam o produto mas natildeo se deteacutem ao distrito em que

pertence e sim as imagens e as explicaccedilotildees apresentadas no vocecirc sabia

O que enriquece o trabalho realizado foi o envolvimento dos estudantes com

o produto solicitando quando poderatildeo ler calmamente todo o trabalho

86

6 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

A partir de experiecircncias pessoais em sala de aula se percebeu que o ensino

de Histoacuteria quando se partia da histoacuteria local havia maior interesse dos estudantes

da educaccedilatildeo baacutesica motivo pelo qual se deu a questatildeo-problema desta dissertaccedilatildeo

que estaacute relacionada diretamente com o natildeo uso desta histoacuteria pelos professores da

educaccedilatildeo baacutesica

Em conversas informais com professores da educaccedilatildeo baacutesica que atuam no

municiacutepio de Satildeo Francisco de Paula em sua grande maioria alegam que o grande

empecilho para se trabalhar a histoacuteria local eacute o pouco material disponiacutevel sobre a

histoacuteria de Satildeo Francisco de Paula aleacutem do rigor dos curriacuteculos que impotildeem o

ensino de Histoacuteria de maneira linear sem contextualizaccedilatildeo com a realidade vivida

pelos estudantes pois desta forma natildeo estatildeo preparando os estudantes para as

avaliaccedilotildees do Ministeacuterio da Educaccedilatildeo bem como para o vestibular Poreacutem natildeo se

estaacute afirmando que deveraacute estudar somente a histoacuteria local e sim partir dela como

incentivo para estudos dos conceitos e temaacuteticas da histoacuteria por muitas vezes

totalmente abstrato e de difiacutecil compreensatildeo pela grande maioria dos estudantes

A partir de entatildeo se realizaram inuacutemeros questionamentos como qual a

necessidade de se ensinar Histoacuteria de forma abstrata sem nenhuma relaccedilatildeo com

as vivecircncias dos estudantes Por que natildeo usar a fonte oral como metodologia de

pesquisa no ensino de Histoacuteria em Satildeo Francisco de Paula jaacute que natildeo existem

muitos materiais escritos a respeito desta histoacuteria principalmente no que tange os

distritos do interior Poreacutem estes questionamentos natildeo foram aprofundados na

dissertaccedilatildeo por natildeo ser o objetivo direto da pesquisa mas posteriormente poderaacute

se tornar um novo projeto de pesquisa

Nesta incessante busca por resposta se constroacutei todo o estudo desta

dissertaccedilatildeo que em um primeiro momento busca embasamento em diferentes

autores que comprovam que o ensino de Histoacuteria voltado para o local faz maior

sentido para os estudantes da educaccedilatildeo baacutesica e que isto natildeo significa abandonar

os conceitos histoacutericos e sim questionar analisar a trajetoacuteria humana no tempo e

no espaccedilo sob uma nova metodologia Apenas se sugere uma nova abordagem

que torne o ensino de Histoacuteria menos abstrato algo mais presente na vida do

estudante e que possibilite a ele a habilidade de perceber que o mundo estaacute em

constante mudanccedila poreacutem os fatos natildeo ocorrem de forma isolada no espaccedilo Algo

87

que foi reforccedilado apoacutes a construccedilatildeo da Base Nacional Curricular e o Referencial

Curricular Gauacutecho que vem de encontro com esta proposta de se estudar a histoacuteria

sobre novos olhares natildeo esquecendo das especificidades regionais do estado do

Rio Grande do Sul para o reconhecimento da identidade local e regional

A identidade local nesta pesquisa se buscou atraveacutes de relatos de

moradores locais que gentilmente colaboraram para o sucesso deste trabalho pois

a memoacuteria se tornou a fonte primordial para se escrever o que identifica os sete

distritos que constituem Satildeo Francisco de Paula Certamente a temaacutetica natildeo se

esgotou ainda haacute muito que se pesquisar e escrever sobre a histoacuteria de Satildeo

Francisco de Paula possibilitando a criaccedilatildeo de novos materiais que possam ser

usados em sala de aula pelos professores e alunos deste municiacutepio

Mas ao mesmo tempo haacute uma preocupaccedilatildeo por parte da autora nada

adianta criar produtos sinalizar novos meacutetodos ao ensino de Histoacuteria se o

profissional professor natildeo estiver preparado para trabalhar com novas fontes

histoacutericas novas metodologias de ensino proporcionando aos estudantes a

oportunidade de construir seu proacuteprio conhecimento histoacuterico embasado em sua

realidade e suas vivecircncias

Vivecircncias que se tornaram aliadas na pesquisa pois a autora nasceu e

sempre viveu no municiacutepio de Satildeo Francisco de Paula poreacutem a maior dificuldade

encontrada nesta caminhada foi percorrer grandes distacircncias por estradas de

rodagem em peacutessimas condiccedilotildees de trafegabilidade para gravar os relatos que

servem de base para a construccedilatildeo desta pesquisa O municiacutepio de Satildeo Francisco de

Paula eacute territorialmente extenso e essas distacircncias percorridas deram o nome ao

produto Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula como uma homenagem

aos antigos tropeiros deste municiacutepio que passavam boa parte de sua vida ao

lombo de mulas levando e buscando mercadorias pelos campos de cima da serra

Visto que desde o processo seletivo do mestrado em agosto de 2016

quando se apresentou o projeto de pesquisa jaacute se pensava no produto um livro

paradidaacutetico no formato fiacutesico A autora por diversas vezes foi questionada por que

natildeo um blog ou site Porque na forma fiacutesica este material seria de faacutecil manuseio

pelos estudantes e professores pois principalmente no interior uso da internet ainda

eacute um problema visto que em muitos locais natildeo existe sinal de telefonia diraacute

internet

88

O paradidaacutetico foi se moldando ao longo do tempo ateacute se chegar a versatildeo

final com uma ampla gama de informaccedilotildees e curiosidades sobre os sete distritos de

Satildeo Francisco de Paula onde se pretende que os alunos e professores possam

fazer uso deste material em sala de aula para tanto a autora pretende

posteriormente lanccedilar o produto para que possa ser lido e manuseado por todos

inclusive por aqueles que gostam de histoacuteria e sentem curiosidade sobre a formaccedilatildeo

do seu distrito e por conseguinte do municiacutepio de Satildeo Francisco de Paula

O paradidaacutetico foi testado em duas turmas da Escola Estadual de Ensino

Meacutedio Lajeado Grande sendo uma de Ensino Meacutedio e a outra das seacuteries finais do

Ensino Fundamental Os alunos jaacute detinham o conhecimento que a autora estava

cursando o Mestrado e que para sua conclusatildeo deveria apresentar um produto Era

de conhecimento de todos os estudantes que a autora estava produzindo um

paradidaacutetico sobre a histoacuteria de Satildeo Francisco de Paula pois a mesma eacute professora

destes estudantes nesta escola

Em um primeiro momento se explica que eacute apenas um protoacutetipo que

somente a capa estaacute colorida e o restante estaacute todo em preto e branco e que a

versatildeo final teraacute as imagens e as curiosidades coloridas o que com certeza

chamaraacute mais atenccedilatildeo Ao entregar o paradidaacutetico Tropeando Histoacuterias em Satildeo

Francisco de Paula para que possam manuseaacute-lo veio a primeira grande surpresa

os estudantes ficaram muito contentes por a turma ter sido escolhida pela autora

escolha essa que se justifica por ter trabalhado todo o ano de 2017 com estes

alunos partindo da histoacuteria local

A turma do oitavo ano do Ensino Fundamental manuseou sendo que os

alunos acharam interessante poreacutem se deteram mais nas imagens e balotildees do

ldquovocecirc sabiardquo Mas de maneira ampla e geral acharam muito interessante a foto de

capa com o Monumento aos Carreteiros situado na Avenida Juacutelio de Castilhos em

frente ao preacutedio da Prefeitura Municipal pois alguns natildeo conhecem a Sede do

municiacutepio

Os alunos do segundo ano do Ensino Meacutedio se surpreenderam e foram direto

ler sobre o distrito no qual residem Interessados questionaram sobre curiosidades

de como o material foi construiacutedo quais as maiores dificuldades encontradas

elogiaram o leiaute as imagens de fundo ao lado de cada curiosidade relatando que

chama a atenccedilatildeo aleacutem de considerarem relevantes as sugestotildees de atividades e

ao final solicitaram quando o material estaraacute disponiacutevel para que possam ler

89

integralmente visto que um periacuteodo de cinquenta minutos natildeo foi suficiente para que

todos manuseassem se fazendo necessaacuterio levar novamente na proacutexima aula

A autora se sentiu motivada pela recepccedilatildeo do produto por seus alunos o que

a incentiva continuar pesquisando sobre outras temaacuteticas a respeito da histoacuteria de

Satildeo Francisco de Paula trazendo para seu fazer pedagoacutegico novas fontes que

proporcionem um estudo da Histoacuteria de maneira ampla e contextualizada com a

realidade local que os cerca

90

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Jornal Folha da Serra n 11 do dia 29 de setembro de 1968

Jornal Folha da Serra n 25 do dia 31 de dezembro de 1968

Jornal Folha da Serra n 89 do dia 07 de setembro de 1969

Jornal Satildeo Chico Tchecirc n 4 do dia 30 de abril de 1986

Jornal Satildeo Chico Tchecirc n 11 do dia 25 de maio de 1986

Jornal Satildeo Chico Tchecirc n 12 do dia 28 de maio de 1986

Jornal Pioneiro versatildeo digital do dia 02 de junho de 2017

Entrevistas

Amaacutelia Celuderes Cardoso residente no distrito de Lajeado Grande Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 08 de marccedilo de 2018

Blair dos Santos Fogaccedila residente no distrito de Lajeado Grande Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 06 de abril de 2018

Ceacutelia Pacheco Terres Basso residente no distrito de Cazuza Ferreira Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 04 de agosto de 2018

Darci da Silva Fagundes residente no distrito de Tainhas Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 24 de fevereiro de 2018

Deotildes Palhano dos Santos residente no distrito do Juaacute Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 12 de maio de 2018

Jaures Feijoacute Gomes residente no distrito de Eletra Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 15 de fevereiro de 2018

Luciana Olga Soares residente no distrito Sede Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 01 de marccedilo de 2018

Maria Madalena Scalco Faciole residente no distrito do Rincatildeo dos Kroeff Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 18 de marccedilo de 2018

Moacir Castello Branco de Albuquerque residente no distrito Sede Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 06 abril de 2018

95

Nauro Bossle de Andrade residente no distrito de Cazuza Ferreira Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 04 de marccedilo de 2018

Orides Reis residente no distrito do Juaacute Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 12 de maio de 2018

Reinaldo Faciole residente no distrito do Rincatildeo dos Kroeff Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 18 de marccedilo de 2018

Susana Marques Soares residente no distrito de Eletra Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 15 de fevereiro de 2018

96

APEcircNDICES

97

APEcircNDICE A ndash ENTREVISTA COM MORADORES LOCAIS DOS DISTRITOS DE

SAtildeO FRANCISCO DE PAULA

UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL

PROGRAMA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO EM HISTOacuteRIA ndash MESTRADO EM HISTOacuteRIA PROFISSIONAL

PESQUISA DE CAMPO ndash TATIANA MEacuteLO CARDOSO

1 Nome completo

2 Idade

3 Quantos anos reside neste distrito

4 Como se formou este distrito

5 Por que ele tem esse nome

6 Quem foram os primeiros moradores

7 Como era a vida aqui haacute tempos atraacutes

8 O que mudou aqui com o passar dos anos

9 O que identifica este lugar

10 As pessoas hoje que moram aqui na grande maioria satildeo naturais daqui ou vieram

de onde

11 A(o) Sra(Sr) acredita que as futuras geraccedilotildees valorizaram eou conheceram a

histoacuteria local ou vai se perder no tempo

12 Como funcionava a questatildeo do ensino em meados do seacuteculo XX havia escola na

localidade

13 Qual a primeira escola deste distrito data de fundaccedilatildeo local de funcionamento e a

primeira professora

14 Achas importante trabalhar nas escolas a histoacuteria do lugar

15 O que eacute tradiccedilatildeo deste distrito

16 Qual eacute a fonte de renda das pessoas no que elas trabalham

17 Qual eacute o lazer das pessoas aqui

98

APEcircNDICE B ndash TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Declaro por meio deste termo que concordei em ser entrevistado(a) eou participar na

pesquisa de campo referente ao projetopesquisa Ensino de Histoacuteria Local e o Paradidaacutetico

caso Satildeo Francisco de Paula desenvolvida pela aluna Tatiana Meacutelo Cardoso do Programa de

Poacutes-Graduaccedilatildeo em Histoacuteria ndash Mestrado Profissional da Universidade de Caxias de Sul Fui

informado(a) que poderei consultaacute-la a qualquer momento que julgar necessaacuterio atraveacutes do e-

mail t_ati_mhotmailcom

Afirmo que aceitei participar por minha proacutepria vontade sem receber qualquer

incentivo financeiro ou ter qualquer ocircnus e com a finalidade exclusiva de colaborar para o

sucesso da pesquisa Fui informado(a) dos objetivos estritamente acadecircmicos de estudo

Minha colaboraccedilatildeo natildeo ficaraacute anocircnima e foi realizada por meio de entrevista

semiestruturada A anaacutelise dos dados obtidos seratildeo divulgados natildeo permanecendo restritas

apenas a pesquisadora eou seu(s) orientador(es) coordenador(es)

Fui ainda informado(a) de que posso me retirar desse(a) estudopesquisa programa a

qualquer momento sem prejuiacutezo para meu acompanhamento ou sofrer quaisquer sanccedilotildees ou

constrangimentos Atesto recebimento de uma coacutepia assinada deste Termo de Consentimento

Livre e Esclarecido

Satildeo Francisco de Paula ___ de _____________ de ____

Assinatura do(a) participante

Assinatura do responsaacutevel

Page 4: UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL TATIANA MÉLO CARDOSO

Dedico esse estudo a todos que fizeram

parte desta caminhada

AGRADECIMENTOS

Agradeccedilo a Deus em primeiro lugar por ter me dado forccedila para me manter

firme no propoacutesito de concluir o mestrado

Aos meus pais Rivan e Benta que sempre estiveram ao meu lado me

apoiando minha eterna gratidatildeo Amo muito vocecircs

Ao meu esposo Norli que esteve presente em todos os momentos com

paciecircncia e muitas vezes me acompanhando durante as pesquisas para que natildeo

fosse soacute Te amo muito

Ao meu filho Bento Manoel pela compreensatildeo de ver sua matildee mergulhada

em livros em frente ao computador sem poder lhe dar muita atenccedilatildeo Minha razatildeo

de viver

Ao meu irmatildeo Tarciano que sempre me incentivou para que fizesse o

mestrado Muito obrigada por suas palavras

Agrave minha orientadora Professora Dra Cristine pelos ensinamentos prestados

por ter me oportunizado vivecircncias tatildeo ricas que com certeza muito colaboraram

para o sucesso desta pesquisa Minha eterna gratidatildeo

Aos professores do Mestrado pelos ensinamentos prestados com certeza

muito agregaram em minha vida profissional A vocecircs meu carinho

Aos entrevistados Sr Dr Moacir Sr Orides Sr Jaures Sr Blair Sr Nauro

Sr Darci Sr Reinaldo e a Sra Susana Sra Luciana Sra Deotildes Sra Ceacutelia Sra

Amaacutelia Celuderes e Sra Maria Madalena pelo apoio recebendo-me em suas

residecircncias e colaborando com esta pesquisa Sem a colaboraccedilatildeo de vocecircs esse

trabalho seria mais difiacutecil A vocecircs meu muito obrigado

Agrave minha amiga Lisandra que sempre me apoiou com suas palavras de

carinho dando-me coragem para prosseguir Agradeccedilo pela sua amizade

E por fim aos meus alunos que compartilharam muitas vezes as minhas

anguacutestias meu cansaccedilo mas sempre me apoiaram Em especial aqueles que

testaram o produto por suas doces palavras Meu eterno agradecimento

RESUMO

A presente dissertaccedilatildeo aborda o ensino de Histoacuteria em Satildeo Francisco de Paula Rio Grande do Sul tendo como princiacutepio que o ensino de Histoacuteria partindo do local se torna mais significativo aos estudantes da educaccedilatildeo baacutesica Para a construccedilatildeo dessa pesquisa se utilizaram diferentes abordagens metodoloacutegicas tais como documentos da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul jornais fontes bibliograacuteficas imagens e depoimentos orais O estudo procurou abordar a construccedilatildeo do municiacutepio bem como o que identifica os sete distritos pertencentes a Satildeo Francisco Paula Como resultado se cria um paradidaacutetico fiacutesico com textos imagens curiosidades sugestotildees de atividades e leituras complementares que serviraacute de apoio pedagoacutegico aos professores e estudantes da educaccedilatildeo baacutesica Espera-se que este material possa servir de pesquisa a todos os interessados

Palavras-chave Ensino de Histoacuteria Satildeo Francisco de Paula Identidade

ABSTRACT

This dissertation deals with History teaching in Satildeo Francisco de Paula Rio Grande do Sul with the principle that History Teaching from the place becomes more meaningful to students of basic education For the construction of this research different methodological approaches are used such as documents of the Legislative Assembly of Rio Grande do Sul newspapers bibliographic sources images and oral testimony The study sought to address the construction of the municipality as well which identifies the seven districts belonging to San Francisco Paula As a result a physical paradidaacutetico is created with texts images curiosities suggestions of activities and complementary readings that will serve as pedagogical support to teachers and students of basic education It is hoped that this material can serve as a research to all interested parties

Keywords Teaching History Satildeo Francisco de Paula Identity

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 ndash Mapa de Identificaccedilatildeo das Sesmarias Serranas 26

Figura 2 ndash Divisatildeo Municipal em 1809 ndash Proviacutencia Satildeo Pedro do Rio Grande do Sul

28

Figura 3 ndash Vista da vila de Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra (1901) 29

Figura 4 ndash Vista Avenida Juacutelio de Castilhos (1923) 30

Figura 5 ndash Abertura da estrada ERS-020 Taquara ndash Satildeo Francisco de Paula de

Cima da Serra 31

Figura 6 ndash Accedilougue Central 33

Figura 7 ndash Igreja Matriz em 1931 34

Figura 8 ndash Igreja Matriz 34

Figura 9 ndash Mapa de localizaccedilatildeo de Satildeo Francisco de Paula 36

Figura 10 ndash Patroa Neuza Reis e sua Comissatildeo 39

Figura 11 ndash Gonzaga dos Reis 48

Figura 12 ndash Outdoor entrada da cidade na ERS-020 50

Figura 13 ndash Praccedila Central de Cazuza Ferreira 52

Figura 14 ndash Hotel do Campo 54

Figura 15 ndash Flacircmula de comemoraccedilatildeo aos 50 anos da entidade 57

Figura 16 ndash Barragem do Salto 58

Figura 17 ndash Igreja Santo Antocircnio ndash Distrito de Eletra 61

Figura 18 ndash Peacute com a fruta conhecido como Juaacute 63

Figura 19 ndash Praccedila Vila do Distrito Juaacute ao fundo cancha de laccedilo 65

Figura 20 ndash Imagem da Igreja Satildeo Roque em dia de festa no Rincatildeo dos Kroeff 69

Figura 21 ndash Imagem do Casaratildeo pouco antes de ser desmanchado 71

Figura 22 ndash Capa do livro 75

Figura 23 ndash Iacutendice do livro 76

Figura 24 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 1) 77

Figura 25 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 1) 78

Figura 26 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 2) 79

Figura 27 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 3) 80

Figura 28 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 4) 81

Figura 29 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 6) 82

Figura 30 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 8) 83

Figura 31 ndash Atividade do livro (Sugestatildeo de Leituras Complementares) 84

Figura 32 ndash Alunos do Ensino Meacutedio 85

SUMAacuteRIO

1 INTRODUCcedilAtildeO 11

2 HISTOacuteRIA LOCAL E O ENSINO DE HISTOacuteRIA NA SALA DE AULA 17

3 SAtildeO FRANCISCO DE PAULA CONSTRUCcedilAtildeO DO MUNICIacutePIO 24

31 CONVERSA COM MEMORIALISTAS 25

32 AMPLIANDO O DIAacuteLOGO COM OS MEMORIALISTAS 28

4 SAtildeO FRANCISCO DE PAULA DISTRITOS EM FOCO 41

41 DISTRITO SEDE 42

42 DISTRITO DE CAZUZA FERREIRA 51

43 DISTRITO DE TAINHAS 55

44 DISTRITO DE ELETRA 58

45 DISTRITO DO JUAacute 62

46 DISTRITO DO RINCAtildeO DOS KROEFF 66

47 DISTRITO DE LAJEADO GRANDE 70

5 DESCRICcedilAtildeO DO PRODUTO 74

6 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 86

REFEREcircNCIAS 90

FONTES CONSULTADAS 94

APEcircNDICES 96

APEcircNDICE A ndash ENTREVISTA COM MORADORES LOCAIS DOS DISTRITOS DE

SAtildeO FRANCISCO DE PAULA 97

APEcircNDICE B ndash TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO 98

11

1 INTRODUCcedilAtildeO

Os meacutetodos de ensino de Histoacuteria no Brasil vem sendo discutidos desde sua

criaccedilatildeo como disciplina Segundo Nadai (1992-1993 p 144) a introduccedilatildeo de

Histoacuteria no curriacuteculo ocorre na terceira metade do seacuteculo XIX no Brasil sendo que

desde entatildeo passa por diversas modificaccedilotildees Segundo Schmidt e Cainelli (2009)

os meacutetodos foram se adequando ao momento histoacuterico brasileiro em um primeiro

momento ensinou-se a histoacuteria da Europa Ocidental como a verdadeira histoacuteria da

civilizaccedilatildeo uma histoacuteria abstrata sem relaccedilatildeo com a vida do aluno Nadai (1992-

1993 p 146) acrescenta que ldquoa histoacuteria da paacutetria surgia como seu apecircndice sem

corpo autocircnomo e ocupando um papel extremamente secundaacuterio consistia num

repositoacuterio de biografias de homens ilustres de datas e batalhasrdquo

Poreacutem a partir de 1860 segundo Schmidt e Cainelli (2009 p 12-13) ldquono

periacuteodo republicano a incorporaccedilatildeo da concepccedilatildeo de que a disciplina Histoacuteria tinha

a responsabilidade de formar cidadatildeos ganha forccedilardquo sendo assim as escolas

primaacuterias e secundaacuterias comeccedilaram incluir em seus programas a histoacuteria nacional

com o intuito da formaccedilatildeo da nacionalidade sendo a paacutetria com seus heroacuteis o

principal foco Desta forma a criaccedilatildeo das diretrizes da Lei de Educaccedilatildeo nordm 569271

reforccedila o modelo jaacute instaurado

Foi oficializado o ensino de Estudos Sociais nas escolas brasileiras ficando os conteuacutedos especiacuteficos da Histoacuteria destinados somente aos alunos do antigo segundo grau A concepccedilatildeo e os conteuacutedos da Histoacuteria continuavam atrelados agraves concepccedilotildees tradicionais (SCHMIDT CAINELLI 2009 p 13)

Com a redemocratizaccedilatildeo na deacutecada de 1980 houve inuacutemeras discussotildees

que elencaram inuacutemeras abordagens e temaacuteticas para o ensino da Histoacuteria na

atualidade as novas tendecircncias se preocupam com a transposiccedilatildeo didaacutetica

valorizando documentos histoacutericos e incorporando novas linguagens e tecnologias

que permitem discussotildees e autonomia de pensamento Neste sentido as novas

concepccedilotildees de ensino de Histoacuteria ao final do seacuteculo XX abrem a possibilidade de

uma nova praacutetica didaacutetica que segundo Azevedo e Stamatto (2010 p 709) ldquobusca

problematizar a relaccedilatildeo passado-presente e em geral tomam a realidade do aluno

como ponto de partidardquo

Por se acreditar em um ensino de Histoacuteria onde a aprendizagem natildeo ocorre

em periacuteodos estanques de forma abstrata e sem relaccedilatildeo com o presente ou seja

12

apresentando de forma linear sem que haja contextualizaccedilatildeo sendo apresentada

atraveacutes de leitura de textos eou resumos permeando com atividades que muitas

vezes natildeo permitem um desenvolvimento de raciociacutenio histoacuterico que contribua para

a construccedilatildeo da cidadania Torna-se urgente pensar em um ensino voltado para a

inclusatildeo de novas contribuiccedilotildees historiograacuteficas como a histoacuteria cultural econocircmica

e social buscando na realidade local subsiacutedios para a aprendizagem Por isso a

presente dissertaccedilatildeo traz a didatizaccedilatildeo da histoacuteria de Satildeo Francisco de Paula visto

que a questatildeo-problema estaacute vinculada ao natildeo uso da histoacuteria local no ensino de

Histoacuteria deste municiacutepio e o pouco material disponiacutevel para o uso dos professores

Parte-se do pressuposto que ao abranger a histoacuteria local os sujeitos se veem como

partiacutecipes desta histoacuteria estudada significando e ressignificando conceitos

histoacutericos

Corroborando com este estudo Cunha (2016) traz consideraccedilotildees importantes

relacionadas ao uso da histoacuteria local O autor aborda como algo essencial para

compreensatildeo da histoacuteria geral na educaccedilatildeo baacutesica o uso da histoacuteria local o que

proporcionaria aos estudantes o reconhecimento como cidadatildeo e a percepccedilatildeo e

identificaccedilatildeo dos lugares de memoacuteria por parte dos alunos bem como o sentimento

de pertencimento do local Desta forma despertaria no aluno o interesse por um

passado aparentemente desligado de sua realidade estabelecendo relaccedilotildees com o

seu cotidiano

Desta maneira acredita-se que os estudantes da educaccedilatildeo baacutesica

compreenderatildeo a histoacuteria como algo que faz parte de suas vidas tornando-se assim

sujeitos da histoacuteria pois se haacute reconhecimento haveraacute tambeacutem o sentimento de

pertencimento que poderaacute ajudaacute-los a manter ou modificar a realidade que os cerca

Assim descrevem Schmidt e Cainelli

Esse sentido do ensinar Histoacuteria natildeo significaria natildeo ter conteuacutedos para serem ensinados mas olhar para estes conteuacutedos a partir da possibilidade de construir com os alunos novas questotildees diante de conteuacutedos e temas propostos pela historiografia Aprender histoacuteria eacute discutir evidecircncias levantar hipoacuteteses dialogar com os sujeitos os tempos e os espaccedilos histoacutericos Eacute olhar para o outro em tempos e espaccedilos diversos (SCHMIDT CAINELLI 2009 p 20)

Dentro desta perspectiva o reconhecimento da memoacuteria social se faz

importante visto que se necessita invocaacute-la para que um determinado grupo ou local

reconheccedila sua identidade social Atraveacutes de entrevistas com moradores de Satildeo

13

Francisco de Paula se invoca a memoacuteria coletiva na busca da identidade dos sete

distritos deste municiacutepio Visto que a histoacuteria de Satildeo Francisco de Paula se inicia por

volta do seacuteculo XVIII quando se datam as primeiras sesmarias1 concedidas ao

capitatildeo Pedro da Silva Chaves Posteriormente o capitatildeo doa parte de suas terras

para a construccedilatildeo do povoado que recebe o nome de Satildeo Francisco de Paula de

Cima da Serra por este ser devoto do Santo Satildeo Francisco Reza no testamento do

capitatildeo Pedro da Silva Chaves que um de seus filhos foi o primeiro paacuteroco a rezar

missa no povoado Satildeo Francisco de Paula pertenceu a Santo Antocircnio da Patrulha

e mais tarde a Taquara emancipando-se em 1902

Haacute pouca bibliografia sobre a histoacuteria de Satildeo Francisco de Paula o que existe

satildeo livros escritos por memorialistas onde se percebe a prioridade pela histoacuteria do

fundador ou seja do Capitatildeo Pedro da Silva Chaves dos iacutendios Caaguaraacutes que

habitavam a regiatildeo assim como os aspectos poliacuteticos administrativos Alguns destes

livros apresentam uma siacutentese cronoloacutegica de fatos importantes e descrevem

superficialmente o jeito de viver do povo serrano2 Mas a histoacuteria de Satildeo Francisco

de Paula estaacute repleta de diferentes identidades que identificam a Sede3 e o Interior4

deste municiacutepio e formam o jeito de viver do seu povo A natildeo exploraccedilatildeo de

elementos culturais que se fazem importantes para a construccedilatildeo de identidade

destes lugares minimiza as memoacuterias e as tradiccedilotildees que ali se apresentam visto

que

as constantes novidades em diferentes campos do saber os avanccedilos da tecnologia as infinitas possibilidades de comunicaccedilatildeo simultacircnea tecircm provocado sobretudo nas novas geraccedilotildees uma sensaccedilatildeo de que o mundo em que se vive eacute dotado de um temporalidade constituiacuteda por um tempo presente contiacutenuo (FIGUEIRA MIRANDA 2012 p 46)

Neste sentido fez-se uso de diferentes fontes para a construccedilatildeo do produto

desta dissertaccedilatildeo que consiste de um paradidaacutetico que possa servir como um

1 Sesmaria Terreno sem culturas ou abandonado que a antiga legislaccedilatildeo portuguesa com base em

praacuteticas medievais determinava que fosse entregue a quem se comprometesse a cultivaacute-lo 2 Serrano gentiacutelico de quem nasce em Satildeo Francisco de Paula 3 Sede distrito criado em 07 de janeiro de 1903 na mesma data da instalaccedilatildeo oficial do Municiacutepio Eacute

o distrito onde se localiza a Prefeitura Municipal Foacuterum agecircncias bancaacuterias loteacutericas hospital casas comerciais e residecircncias particulares Normalmente os moradores do interior quando vatildeo ao distrito se referem como ldquovou a Satildeo Chicordquo e natildeo como ldquovou a Sederdquo

4 Interior Cazuza Ferreira Juaacute Eletra Rincatildeo dos Kroeff Tainhas e Lajeado Grande satildeo distritos que ficam na zona rural apesar de todos terem uma pequena vila que possui pouca infraestrutura Alguns destes distritos ainda usam aacutegua de vertentes sem nenhuma rede de esgoto pois natildeo possuem aacutegua fornecida pela Companhia de Aacutegua e Saneamento (CORSAN)

14

material disponiacutevel a alunos e professores no ensino de Histoacuteria de Satildeo Francisco

de Paula Segundo Munakata entendem-se como paradidaacuteticos

Livros que sem apresentar caracteriacutesticas proacuteprias dos didaacuteticos satildeo adotados no processo de ensino e aprendizagem nas escolas seja como material de consulta do professor seja como material de pesquisa e de apoio agraves atividades do educando (MUNAKATA 1997 p 103)

Para a construccedilatildeo do paradidaacutetico fez-se uso de bibliografias jaacute existentes

jornais e documentos da Assembleia da Legislativa bem como o uso da histoacuteria

oral sendo as entrevistas a fonte primordial para escrever sobre as semelhanccedilas e

diferenccedilas existentes no modo de vida da populaccedilatildeo de Satildeo Francisco de Paula

visto que os depoimentos satildeo importantes na preservaccedilatildeo das memoacuterias tradiccedilotildees

bem como das heranccedilas identitaacuterias Neste sentido Delgado (2003 p 23) discorre

ldquonarrativas memoacuterias histoacuterias e identidades satildeo a humanidade em movimento

Satildeo o olhar que permeiam tempos heterogecircnicos Satildeo a histoacuteria em construccedilatildeo Satildeo

memoacuterias que falamrdquo

Portanto a histoacuteria oral busca registrar as vivecircncias e lembranccedilas de um

determinado grupo Alberti (2008 p 29) assim define ldquohistoacuteria oral natildeo eacute um fim em

si mesma e sim um meio de conhecimentordquo Quando se trabalha com a histoacuteria

oral se faz necessaacuterio valorizar a memoacuteria as identidades e tradiccedilotildees pois estas

formam a histoacuteria local ou seja a histoacuteria dos indiviacuteduos que ali vivem Halbwachs

(2004) afirma que com a perda da memoacuteria coletiva tambeacutem se perdem as

tradiccedilotildees locais tradiccedilotildees essas que identificam o modo de viver de um determinado

local Hobsbawn e Ranger entendem que as tradiccedilotildees podem ou natildeo ser

inventadas

Tradiccedilatildeo inventada entende-se um conjunto de praacuteticas normalmente reguladas por regras taacutecitas ou abertamente aceitas tais praacuteticas de natureza ritual ou simboacutelica visam inculcar certos valores e normas de comportamento atraveacutes da repeticcedilatildeo o que implica automaticamente uma continuidade com relaccedilatildeo ao passado (HOBSBAWN RANGER 2015 p 8)

Hobsbawn e Ranger (2015) ainda acrescem que a criaccedilatildeo de uma tradiccedilatildeo

independe da imposiccedilatildeo de uma nova tradiccedilatildeo o que normalmente ocorre eacute uma

rebeliatildeo cultural que precede da elaboraccedilatildeo de novas tradiccedilotildees que satildeo adotadas

pela populaccedilatildeo e com o tempo passam a se tornar tradiccedilotildees daquele local

formando a identidade local

15

Neste sentido Hall (2011 p 39) discorre que ldquoas identidades satildeo fabricadas

por meio da marcaccedilatildeo da diferenccedilardquo O autor ainda acresce que ldquoa diferenccedila eacute aquilo

que separa uma identidade da outrardquo (HALL 2011 p 41) Dentro desta perspectiva

a memoacuteria que se apresenta atraveacutes de siacutembolos ou tradiccedilotildees respalda a

construccedilatildeo da identidade do povo de Satildeo Francisco de Paula visto que a memoacuteria eacute

a construccedilatildeo do passado de maneira atualizada e renovada no tempo presente

Assim Halbwachs (2004 p 64) descreve que ldquonatildeo eacute na histoacuteria aprendida eacute na

histoacuteria vivida que se apoia nossa memoacuteriardquo Nessa loacutegica o autor ainda descreve

que ldquoo mundo histoacuterico eacute como um oceano onde afluem todas as histoacuterias parciaisrdquo

(p 90)

O municiacutepio de Satildeo Francisco de Paula eacute repleto de tradiccedilotildees que perpassam

o tempo que estatildeo enraizadas no jeito serrano de ser formando a sua identidade

Portanto a histoacuteria de Satildeo Francisco de Paula descrita nesta dissertaccedilatildeo seraacute

apresentada em quatro capiacutetulos

O capiacutetulo dois apresenta a discussatildeo teoacuterica metodoloacutegica sobre a

importacircncia do ensino da Histoacuteria local na sala de aula Tambeacutem conceitos como

memoacuteria e identidade e a importacircncia de se abordar o local em prol do global

No capiacutetulo trecircs aborda-se a construccedilatildeo histoacuterica do municiacutepio de Satildeo

Francisco de Paula que vai desde a chegada do colonizador nesta terra ateacute as

instituiccedilotildees que se formam ao longo do tempo Para isso se faz uso de bibliografias

jaacute existentes como Lucena (1971) Oliveira (1996) Teixeira (2002) Ribeiro (2003)

Alves (2007) e Fonseca (2012) sendo todas essas obras importantes para Satildeo

Francisco de Paula visto que cada uma traz consigo um pouco da histoacuteria deste

municiacutepio poreacutem sente-se falta da identidade e da memoacuteria na construccedilatildeo histoacuterica

As obras satildeo apresentadas sob o mesmo prisma apresentando os iacutendios Caaguaraacutes

e o Capitatildeo Pedro da Silva Chaves os fundadores desta terra dando bastante

ecircnfase aos sobrenomes que ali se desenvolveram Tambeacutem se fez uso de

documentos da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul aleacutem de jornais

encontrados no Arquivo Histoacuterico de Satildeo Francisco de Paula

No capiacutetulo quatro utiliza-se da fonte oral para que sejam identificadas as

diferentes tradiccedilotildees e versotildees da histoacuteria local ou seja a identidade de cada distrito

constituindo assim as particularidades que constroem o municiacutepio de Satildeo Francisco

de Paula Para tanto buscaram-se depoentes nas vilas dos distritos sendo que a

escolha se deu por duas pessoas por distrito sendo um homem e uma mulher

16

totalizando treze depoentes todos da terceira idade pois segundo Bosi (1994 p

82) ldquoum mundo social que possui uma riqueza e uma diversidade que natildeo

conhecemos pode chegar-nos pela memoacuteria dos velhosrdquo memoacuterias estas

construiacutedas por suas vivecircncias neste local o que justifica a relevacircncia dos

depoimentos para a construccedilatildeo do trabalho

O capiacutetulo cinco apresenta uma descriccedilatildeo do produto que consiste em um

paradidaacutetico em forma fiacutesica abordando a histoacuteria de Satildeo Francisco de Paula A

escolha pelo formato fiacutesico acontece pelas dificuldades encontradas no interior dos

distritos com o acesso agrave internet assim se pensa que o formato fiacutesico abrangeraacute um

nuacutemero maior de alunos e professores

Para tanto utiliza-se a metodologia da Histoacuteria oral para escrever a memoacuteria

e as percepccedilotildees das pessoas que habitam este local Hobsbawn e Ranger (1995 p

103) escrevem que ldquoessa proximidade entre o periacuteodo analisado e sua histoacuteria

pessoal eacute o pano de fundo para a discussatildeo de alguns problemas que qualquer

historiador enfrenta ao escrever sobre seu proacuteprio tempordquo pois a sensibilidade do

historiador vai escrever sua narrativa Em outras palavras Hobsbawn e Ranger

(1995 p 104) explicam que ldquocada historiador tem sua proacutepria vida um lugar privado

a partir do qual inspeciona o mundordquo Tambeacutem afirmam

Para aqueles que querem escrever a histoacuteria do seacuteculo XX uma das mais importantes reside no simples fato de saber sem nenhum esforccedilo especial o quanto as coisas se modificaram Os uacuteltimos trinta ou quarenta anos foram os mais revolucionaacuterios da histoacuteria O mundo ou seja a vida dos homens e mulheres que vivem na Terra nunca foi transformada de maneira tatildeo profunda dramaacutetica e extraordinaacuteria dentro de um periacuteodo tatildeo curto As geraccedilotildees que natildeo viram como o mundo era antes tecircm dificuldade em perceber isso intuitivamente (HOBSBAWN RANGER 1995 p 107)

Portanto se faz importante perceber que o mundo vem se transformando de

maneira raacutepida modificando a vida das pessoas e por conseguinte as tradiccedilotildees e

identidades locais pois estas comunidades natildeo vivem de forma isolada e sofreram

influecircncias jaacute que a cultura natildeo eacute estagnada estaacute sempre em constante movimento

juntamente com as pessoas

17

2 HISTOacuteRIA LOCAL E O ENSINO DE HISTOacuteRIA NA SALA DE AULA

Discutir o ensino de Histoacuteria na educaccedilatildeo baacutesica e a relaccedilatildeo do mesmo com a

histoacuteria local se faz bastante importante para que a cada dia se possa melhorar as

praacuteticas pedagoacutegicas Neste sentido se busca respaldo em diferentes bibliografias

que possam embasar novos afazeres dentro do espaccedilo da sala de aula e

proporcionar ao estudante um novo olhar sobre a histoacuteria um olhar de sujeito ativo

dentro desse processo de ensino aprendizagem

Pois quando a Histoacuteria eacute ensinada como algo certo e imutaacutevel de maneira

fragmentada voltada para linearidade e memorizaccedilatildeo de fatos e datas reforccedila o

que Mendes (1935) e Schmidt e Cainelli (2009) defendem que realmente eacute odiosa a

histoacuteria ensinada por este vieacutes Percebe-se que o ensino de histoacuteria linear nos

moldes europeus positivistas jaacute natildeo daacute mais conta da importacircncia da histoacuteria para a

sociedade atual porque eacute apresentada aos alunos atraveacutes de datas e fatos escrita

pelo vieacutes de uma elite que normalmente eacute branca e deteacutem o poder poliacutetico eou

econocircmico Eacute inconcebiacutevel que se permaneccedila com um ensino de Histoacuteria que natildeo

serve natildeo motiva e segundo Ruumlsen (2001 p 25) ainda ldquoirracionalizardquo sendo esse

modelo muito frequente nas escolas de educaccedilatildeo baacutesica brasileiras

Natildeo eacute por outro motivo que observamos ainda nas uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo XX que para a maior parte dos estudantes brasileiros o estudo de histoacuteria carece de sentido ou utilidade natildeo se tem a visatildeo de ciecircncia e sim de uma mateacuteria decorativa estudo do passado que soacute exige como vimos a prontidatildeo em declinar nomes datas e fatos Natildeo eacute de se estranhar que assim seja porque ocorre a enorme distacircncia entre a realidade vivenciada pela comunidade e o tratamento dado ao ensino de Histoacuteria jaacute que o aluno se torna mero espectador de fatos natildeo necessitando esforccedilos no sentido de qualquer reflexatildeo ou elaboraccedilatildeo (BARBOSA 2006 p 58)

O ensinar da histoacuteria de forma abstrata fragmentada dificulta a compreensatildeo

do processo histoacuterico no sentido que se estuda os fatos isolados ao seu tempo

como se um fato precisasse terminar para iniciar outro Em outras palavras este

meacutetodo de ensino natildeo daacute a noccedilatildeo de continuidade ou seja a histoacuteria perdeu seu

sentido baacutesico que eacute a compreensatildeo do contexto global dos fatos considerando que

o ensino de Histoacuteria por muitas vezes eacute estanque sem uma relaccedilatildeo ldquopresente x

passadordquo sendo de suma importacircncia o despertar de uma consciecircncia criacutetica por

parte do estudante Por isso ao longo do tempo o ensino sofre influecircncia por parte

do ldquopoderrdquo segundo Laville (1999 p 128) ldquoa Histoacuteria eacute certamente a uacutenica disciplina

18

escolar que recebe intervenccedilotildees diretas dos altos dirigentes e a consideraccedilatildeo ativa

dos parlamentos Isso mostra quatildeo importante eacute ela para o poderrdquo Nesta linha o

autor ainda acrescenta que ldquoa narrativa histoacuterica pode tambeacutem ser vista como uma

tomada de poder por grupos sem poderrdquo (LAVILLE 1999 p 129)

Na busca de modificar esse modelo surgem novos meacutetodos que valorizam o

uso do documento histoacuterico e a incorporaccedilatildeo de novas tecnologias de acordo com

Azevedo e Stamatto (2010 p 720) ldquotem o desafio de responder a inquietaccedilotildees do

hojerdquo Partindo deste pressuposto haacute possibilidade de se modificar o ensino da

Histoacuteria que ateacute entatildeo estava voltado agrave memorizaccedilatildeo para um modelo onde o

sujeito seja agente deste processo

Ensinar Histoacuteria como algo pronto e acabado [] sem levar em conta o contexto e os sujeitos envolvidos no processo de ensino aprendizagem pode levar a um ensino que natildeo desenvolve o que eacute mais importante como funccedilatildeo do ensinar histoacuteria que orientar os problemas da vida praacutetica (SCHMIDT CAINELLI 2009 p 20)

Assim Seffner (2013 p 51) acrescenta que ldquoo ensino de Histoacuteria eacute um ensino

de situaccedilotildees histoacutericas Mais do que nomes datas e acontecimentos o professor

deve propiciar ao aluno a compreensatildeo de como se estrutura uma dada situaccedilatildeordquo

Para que o ensino de Histoacuteria seja ressignificado existe a necessidade de anaacutelise

do processo histoacuterico problematizando os fatos no vai e vem do presentepassado

Os estudantes da educaccedilatildeo baacutesica necessitam compreender a histoacuteria como

um processo em constante transformaccedilatildeo que eacute movimentada por sujeitos que a

compotildeem com permanecircncias e rupturas ao longo dos tempos Segundo Bittencourt

(2004 p 168) ldquoa histoacuteria local tem sido indicada como necessaacuteria para o ensino por

possibilitar a compreensatildeo do alunordquo

Corroborando Seffner (2013) Souza (2015) e Brum (2015) evidenciam a

importacircncia de se trabalhar a histoacuteria global partindo de uma histoacuteria local

problematizando levando hipoacuteteses e analisando os fatos histoacutericos o que gera

significado para o educando e torna o docente natildeo mais um mero transmissor mas

um mediador deste conhecimento Neves (1997 p 22) reforccedila que ldquoo local fora do

contexto geral eacute apenas um fragmento e o geral sem o respaldo das realidades

locais eacute apenas uma abstraccedilatildeordquo Com esta nova abordagem o estudar Histoacuteria tem

sentido para o discente que se sente sujeito de sua proacutepria histoacuteria visto que

19

identificar-se com o local onde se vive ajuda a compreender o sentimento de

pertencimento e suas relaccedilotildees com o meio social e cultural no qual estaacute inserido

Nesta perspectiva faz-se necessaacuterio que os professores busquem novas

alternativas de ensino que proporcionem ao estudante a habilidade de ressignificar o

fato histoacuterico estudado

Ensinar Histoacuteria requer do professor a habilidade de buscar sentido e significado para o conhecimento que ministra e isso significa superar a mera transmissatildeo de informaccedilotildees jaacute que essa natildeo tem por finalidade o desenvolvimento intelectual mas ao contraacuterio deforma a capacidade de pensamento histoacuterico do aluno e a possibilidade de consolidar habilidades de anaacutelise da proacutepria realidade social (SILVA PORTO 2012 p 67)

Goubert assim define a histoacuteria local

Denominaremos histoacuteria local como aquela que diga respeito a uma ou poucas aldeias a uma cidade pequena ou meacutedia (um grande porto ou uma capital estatildeo aleacutem do acircmbito local) ou a uma aacuterea geograacutefica que natildeo seja maior do que a unidade provincial comum (como um county inglecircs um contado italiano uma Land alematilde uma bailiwick ou pays francecircs) Praticada haacute tempos atraacutes com cuidado zelo e ateacute orgulho a histoacuteria local foi mais tarde desprezada mdash principalmente nos seacuteculos XIX e primeira metade do XX mdash pelos partidaacuterios da histoacuteria geral A partir poreacutem da metade desse seacuteculo a histoacuteria local ressurgiu e adquiriu novo significado na verdade alguns chegam a afirmar que somente a histoacuteria local pode ser autecircntica e fundamentada (GOUBERT 1992 p 70)

Neste sentido fica evidente a importacircncia de se partir de uma histoacuteria local

para uma global Atraveacutes da histoacuteria local os estudantes teratildeo contato com sua

histoacuteria e poderatildeo se sentir parte integrante deste espaccedilo que muitas vezes por

falta de conhecimento acabam renegando sua proacutepria identidade Figueira e Miranda

(2012 p 113) afirmam que ldquoum dos efeitos mais danosos da globalizaccedilatildeo eacute a

universalizaccedilatildeo dos gostosrdquo isto implica diretamente na perda da identidade local

que muitas vezes estaacute sendo afetada pelas muacuteltiplas identidades existentes Neste

sentido Silva e Porto descrevem

A globalizaccedilatildeo entretanto produz diferentes resultados em termos de identidade A homogeneidade cultural promovida pelo mercado global pode levar ao distanciamento da identidade relativamente agrave comunidade e agrave cultura local (SILVA PORTO 2012 p 21)

Neste sentido Canclini acrescenta

Las comunidades de consumidores se organiza cada vez menos seguacuten diferencias nacionales y sobre todo en las generaciones joacutevenes definen sus praacutecticas culturales de acuerdo con informacioacuten y estilos homogeneizados (CANCLINI 1997 p 42)

20

Globalizaccedilatildeo que impotildee atraveacutes dos meios de comunicaccedilatildeo e social uma

identidade geral que regra a sociedade seus haacutebitos e costumes Devido ao grande

movimento das pessoas pelo mundo perceber e manter uma identidade com

caracteriacutesticas locais fica a cada dia mais difiacutecil ainda mais em se tratando da

populaccedilatildeo jovem que natildeo reconhece ao seu redor o que representa a sua

identidade local

Valorar as experiecircncias locais proporcionaraacute aos estudantes uma nova

metodologia de abordar a histoacuteria

Do ponto de vista metodoloacutegico destaca-se nessa forma de abordagem a preocupaccedilatildeo com os conhecimentos preacutevios dos alunos com a problematizaccedilatildeo dos conteuacutedos de ensino selecionados para trabalho em sala de aula estabelecendo relaccedilotildees com o cotidiano dos alunos e com o cotidiano de outras pessoas em outros tempos e em outros lugares Enfatiza-se tambeacutem a busca de articulaccedilatildeo entre histoacuteria local e a histoacuteria universal (SCHMIDT 2007 p 193)

O ensino de histoacuteria partindo do local para o global possibilita segundo

Bittencourt (2004 p 168) ldquoa compreensatildeo do entorno do alunordquo sendo que um dos

aspectos relevantes para este ensino eacute a escolha de fontes que levem os estudantes

a se reconhecerem nesse processo histoacuterico O autor ainda acresce

Eacute pela memoacuteria que se chega agrave histoacuteria local Aleacutem da memoacuteria das pessoas escrita ou recuperada pela oralidade existem os lsquolugares de memoacuteriarsquo (grifo da autora) expressos por monumentos praccedilas edifiacutecios puacuteblicos ou privados mas preservados como patrimocircnio histoacuterico (BITTENCOURT 2004 p 169)

Esta memoacuteria vai contribuir para legitimaccedilatildeo da identidade local Sabe-se que

a identidade eacute algo mutaacutevel e segundo Silva e Porto (2012 p 38) ldquoas identidades

satildeo produzidas em momentos particulares no tempordquo O pesquisador ainda

acrescenta que ldquoas identidades satildeo contingentes emergindo em momentos

histoacutericos particularesrdquo Estas identidades precisam ser reconhecidas quando se fala

de histoacuteria local

Na mesma linha Ruumlsen descreve a identidade histoacuterica

Consiste na ampliaccedilatildeo do horizonte nas experiecircncias do tempo e nas intenccedilotildees acerca do tempo no qual os sujeitos agentes se asseguram da permanecircncia de si mesmos na evoluccedilatildeo do tempo O ponto extremo dessa consolidaccedilatildeo de identidade eacute a lsquohumanidadersquo como suprassumo dos pontos comuns em sociedade com respeito a diversos sujeitos agentes no processo de determinaccedilatildeo de suas proacuteprias identidades determinam as dos outros de forma tal que estes se reconhecem nelas Esse criteacuterio de sentido lsquohumanidadersquo fornece o paracircmetro para se constatar a consolidaccedilatildeo da

21

identidade em que desembocam o progresso contiacutenuo do conhecimento mediante a pesquisa histoacuterica e a ampliaccedilatildeo contiacutenua das perspectivas mediante a reflexatildeo histoacuterica sobre referenciais (RUumlSEN 2001 p 126)

A histoacuteria local eacute constituiacuteda por diferentes identidades que satildeo geradas pelos

grupos que compotildeem este espaccedilo A este respeito Silva e Porto (2011 p 41)

apresentam que ldquoa diferenccedila eacute aquilo que separa uma identidade da outrardquo Tambeacutem

eacute notaacutevel que para que haja a representaccedilatildeo de suas identidades locais faz-se

necessaacuterio o reconhecimento destas e a percepccedilatildeo que existem diferentes fatores

que diferenciam os grupos sociais

Portanto a identidade eacute constituiacuteda pelas posiccedilotildees eou escolhas feitas

sendo que muitas vezes elas satildeo racionais ou ateacute mesmo irracionais A identidade

eacute baseada na memoacuteria que pode ser individual ou coletiva Segundo Candau (2011

p 16) ldquoos laccedilos fundamentais entre memoacuteria e identidade eacute sobre o fato de que eacute a

memoacuteria faculdade primeira que alimenta a identidaderdquo

Se a memoacuteria gera a identidade natildeo se pode pesquisar e escrever sobre

histoacuteria local sem levar em conta estes dois conceitos primordiais pois a histoacuteria

local soacute teraacute valia se escrita pelo vieacutes do todo ou seja natildeo priorize um grupo ou

classe social todos os quadros sociais devem estar representados dentro deste

processo Nessa linha Schmidt e Cainelli descrevem

O estudo da localidade ou da histoacuteria regional contribui para uma compreensatildeo muacuteltipla da Histoacuteria pelo menos em dois sentidos na possibilidade de se ver mais de um eixo histoacuterico na histoacuteria local e na possibilidade da anaacutelise de micro histoacuterias pertencentes a alguma outra histoacuteria que as englobe e ao mesmo tempo reconheccedila suas particularidades (SCHMIDT CAINELLI 2009 p 139)

Uma histoacuteria que faz sentido que esteja englobada a outra histoacuteria A

memoacuteria coletiva entra na construccedilatildeo desta histoacuteria local e eacute primordial pois esta vai

dar elementos que constroem a identidade deste local sendo que a memoacuteria do

passado influencia na representaccedilatildeo da identidade Neste sentido conforme

Figueira e Miranda (2012 p 47) eacute necessaacuterio compreender a memoacuteria ldquocomo a

capacidade de conservar e de preservar dados refere-se a um conjunto de funccedilotildees

cerebrais que nos permite reter informaccedilotildees adquiridas e impressotildees vividasrdquo

Podendo ser ela individual ou coletiva sendo que a memoacuteria individual existe a partir

de uma memoacuteria coletiva jaacute que as lembranccedilas que ajudam a reconstruir o passado

partem do interior de um grupo

22

Para as Ciecircncias Humanas o conceito de memoacuteria estaacute ligado agrave memoacuteria

social e coletiva definida por Le Goff (2003 p 422) como ldquoo estudo da memoacuteria

social eacute um dos elementos fundamentais de abordar os problemas do tempo e da

histoacuteriardquo O autor ainda acrescenta que ldquoa memoacuteria coletiva eacute natildeo somente uma

conquista eacute tambeacutem um instrumento e um objeto de poderrdquo (LE GOFF 2003 p

410) Neste sentido Halbwachs (2004 p 90) ressalta que ldquotoda memoacuteria coletiva

tem por suporte um grupo limitado no espaccedilo e no tempo e o mundo histoacuterico eacute

como um oceano onde afluem todas as histoacuterias parciaisrdquo

Quando se abordam conceitos de memoacuteria e identidade no ensino de

histoacuteria estaacute se trazendo para o estudo os sujeitos que compotildeem aquele local com

suas vivecircncias que podem ser coletivas ou natildeo A transmissatildeo de saberes entre as

geraccedilotildees forma a identidade coletiva sendo o ser humano um agente ativo no

quadro social da memoacuteria

Halbwachs assim define os quadros coletivos da memoacuteria

Os quadros coletivos da memoacuteria natildeo se resumem em datas nomes e foacutermulas que eles representam correntes de pensamento e de experiecircncia onde reencontramos nosso passado porque este foi atravessado por isso tudo (HALBWACHS 2004 p 71)

Nesta direccedilatildeo Le Goff (2003 p 4) acrescenta que ldquoa memoacuteria social eacute um

dos meios fundamentais para se abordar os problemas do tempo e da histoacuteria A

memoacuteria estaacute nos proacuteprios alicerces da histoacuteriardquo Catroga (2001) reforccedila que a

memoacuteria eacute moldada a partir das vivecircncias e na sua narrativa vai haver uma

coerecircncia que se mistura passado e presente

Quando se escreve sobre histoacuteria local eacute importante considerar que ela estaacute

pautada em documentos assim como em memoacuterias escritas visuais ou orais Neste

sentido eacute perceptiacutevel que o uso dos diferentes tipos de memoacuteria satildeo alicerces que

conduzem o trabalho do historiador para que ele possa interpretar suas fontes e

validar seu trabalho Memoacuterias estas que podem ser apresentadas com documentos

oficiais ou atraveacutes de uma cultura material ou imaterial

A escrita de histoacuterias locais vem como um novo modelo de resguardar

identidades e memoacuterias que se natildeo preservadas iratildeo desaparecer pela influecircncia

da globalizaccedilatildeo e falta de conhecimento de futuras geraccedilotildees Barros assim

descreve

23

Os novos tempos comeccedilavam a trazer um novo padratildeo historiograacutefico novas aberturas retornos e possibilidades e tambeacutem incertezas para os historiadores no que se refere agrave natureza do conhecimento que produzem e ao papel do conhecimento histoacuterico na sociedade [] Entre as novidades postula-se a possibilidade de examinar a histoacuteria de acordo com uma nova escala de observaccedilatildeo ndash atenta para o detalhe para as micro realidades para aquilo que habitualmente escapa ao olhar panoracircmico da macro histoacuteria tradicional ndash e eacute esta nova postura que se passou a chamar de micro histoacuteria (BARROS 2012 p 306)

Diante deste contexto o ensino de Histoacuteria pode buscar na histoacuteria local a

problematizaccedilatildeo necessaacuteria para que os estudantes da educaccedilatildeo baacutesica

reconheccedilam a identidade local que vem sofrendo com a uniformizaccedilatildeo da

sociedade que impotildee uma conjuntura global do local

24

3 SAtildeO FRANCISCO DE PAULA CONSTRUCcedilAtildeO DO MUNICIacutePIO

A apresentaccedilatildeo do municiacutepio Satildeo Francisco de Paula acontece atraveacutes do

uso da narrativa Esta se apresenta atraveacutes do diaacutelogo com obras jaacute produzidas por

memorialistas eou genealogistas que contribuem para a construccedilatildeo histoacuterica deste

local bem como se usa como fonte de enriquecimento documentos da Assembleia

Legislativa do Rio Grande do Sul e jornais locais

Para tanto se apresenta a revisatildeo historiograacutefica das obras escritas pelos

memorialistas eou genealogistas sendo que Lucena (1971) em sua obra ldquoSatildeo

Francisco de Paula Monografiardquo que abrange aspectos histoacutericos da formaccedilatildeo do

municiacutepio bem como pontos turiacutesticos e demograacuteficos O proacuteprio autor intitula a sua

obra como informativa a riqueza de detalhes eacute interessante poreacutem natildeo haacute nenhuma

referecircncia quanto aos dados escritos nem mesmo um referencial bibliograacutefico ao

final

No texto intitulado ldquoOs Fundadores de Satildeo Francisco de Paulardquo Alves (2007)

escreve sobre a fundaccedilatildeo de Satildeo Francisco de Paula Em seu livro haacute documentos

que validam o que se refere agrave genealogia jaacute que boa parte da obra apresenta os

troncos familiares que compunham o iniacutecio deste municiacutepio Na mesma linha da

genealogia Oliveira (1996) no livro ldquoAurorescer das Sesmarias Serranas histoacuteria e

genealogiardquo traz a histoacuteria das primeiras sesmarias da regiatildeo mas o foco principal

se daacute aos proprietaacuterios e seus descendentes Haacute um mapa bastante interessante

localizando as sesmarias e o nome por elas recebidos

Em ldquoSatildeo Francisco de Paula nossa terra nossa genterdquo Teixeira (2002)

apresenta dados gerais e histoacutericos do municiacutepio Esta obra apresenta dados

geograacuteficos como clima relevo e vegetaccedilatildeo A autora escreve sobre diversos

aspectos eventos personalidades e lendas Aleacutem disso apresenta Satildeo Francisco

de Paula com uma linha cronoloacutegica A obra abrange vaacuterios aspectos mas todos

suscintamente No final a autora apresenta a bibliografia consultada dentre os

autores estaacute Lucena (1971)

O texto ldquoSatildeo Francisco de Paula Rio Grande do Sul histoacuteria encantos e

misteacuteriosrdquo eacute uma obra de Fonseca (2012) que traz diversidade de assunto muitas

vezes estes estatildeo desconexos ou seja sua leitura se torna ldquotruncadardquo No final do

texto haacute um vasto referencial bibliograacutefico dentre os autores citam-se Lucena

(1971) e Teixeira (2002)

25

Ribeiro (2003) eacute compositor e poeta Em ldquoFestival do Ronco do Bugiordquo

escreve sobre Satildeo Francisco de Paula apresentando a histoacuteria dos quinze anos do

festival no municiacutepio No iniacutecio contextualiza a origem do festival e do ritmo bugio

Depois apresenta a capa do disco de cada festival especificando as muacutesicas e os

compositores vencedores

Todas essas obras satildeo importantes para Satildeo Francisco de Paula cada uma

traz consigo um pouco da histoacuteria deste municiacutepio poreacutem sente-se falta da

identidade e da memoacuteria na construccedilatildeo histoacuterica As obras satildeo apresentadas o

mesmo prisma apresentando os iacutendios Caaguaraacutes e o Capitatildeo Pedro da Silva

Chaves os fundadores desta terra dando bastante ecircnfase aos sobrenomes que ali

se desenvolveram

31 CONVERSA COM MEMORIALISTAS

As terras onde hoje fica Satildeo Francisco de Paula eram habitadas por iacutendios da

tribo Caaguaraacutes que faziam parte dos Coroados Estes viviam livremente nos

campos de cima da serra e seus domiacutenios estendiam-se entre a Serra Geral e a

Serra do Mar Os iacutendios Caaguaraacutes tinham como haacutebitos alimentares a caccedila a

pesca e a coleta de sementes e frutos dentre os frutos o pinhatildeo e a goiaba-do-

mato segundo Teixeira (2002) e Alves (2007) Estes iacutendios tiveram seu habitat

invadido por incursotildees de desbravadores que comeccedilaram a trafegar pela regiatildeo em

busca de mulas e novas terras visto que as terras onde hoje se encontra Satildeo

Francisco de Paula de Cima da Serra foram rota de tropeiros5 pois estes trafegavam

pelos Campos de Cima da Serra indo na direccedilatildeo de Lages-SC ateacute alcanccedilarem

Sorocaba-SP6 Ao passarem por esta regiatildeo foram se formando pequenos vilarejos

e construindo um jeito peculiar de viver

Neste cenaacuterio aparece o municiacutepio de Satildeo Francisco de Paula de Cima da

Serra que recebe este nome para se diferenciar de Satildeo Francisco de Paula

denominaccedilatildeo recebida ateacute meados de 1830 pelo municiacutepio de Pelotas Poreacutem na

metade do seacuteculo XVIII Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra possuiacutea

5 Tropeiros homens que conduziam suas tropascomitivas de muares ou cavalos entre as regiotildees 6 Sugere-se a leitura FLORES Moacyr Troperismo no Brasil Porto Alegre Nova Dimensatildeo 1998

SAVARIS Manoelito Tropas e tropeiros o Rio Grande toma forma Disponiacutevel em ltwwwrogeriobastoscombr201104trpas-e-tropeiros-o-rio-grande-tomahtmlgt Acesso em 12 mar 2016

26

proprietaacuterios de terras sendo que um dos pioneiros foi Pedro da Silva Chaves um

portuguecircs casado com Gertrudes de Godoy uma paulista Pedro da Silva Chaves

declara em 1742 ser possuidor de terras neste municiacutepio Segundo Oliveira (1996)

em seu testamento Pedro da Silva Chaves rege que possui trecircs fazendas na regiatildeo

uma chamada Satildeo Joatildeo que se localiza desde o Arroio Santa Cruz ateacute o Rio

Tainhas concedida em 1752 por sesmaria a Fazenda da Cria que foi comprada de

Francisco Pinto Bandeira e confirmada como sesmaria em 1754 e a Fazenda

denominada Cerrito comprada do Capitatildeo Antocircnio Gonccedilalves dos Reis Nestas

fazendas havia criaccedilatildeo de cavalos gado vacum mulas e burros As fazendas

tambeacutem apresentavam em torno de 77 escravos sendo que alguns satildeo casados o

que se faz pensar que estes constituiacuteam famiacutelia aumentando assim o nuacutemero de

escravos da regiatildeo No mapa da Figura 1 verifica-se a localizaccedilatildeo das fazendas do

capitatildeo Pedro da Silva Chaves bem como sua extensatildeo territorial

Figura 1 ndash Mapa de Identificaccedilatildeo das Sesmarias Serranas

Fonte Oliveira (1996 p 236)

27

No mapa apresentado na Figura 1 ainda eacute possiacutevel observar a localizaccedilatildeo

onde inicia o povoado de Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra segundo

Lucena (1971 p 1) ldquoiniciou-se com o Capitatildeo Pedro da Silva Chaves que doou

uma gleba de terra para que fosse iniciado o povoadordquo Tambeacutem segundo Lucena

(1971 p 1) ldquodoou cinquenta vacas para construir o primeiro patrimocircnio da Igreja

cuja construccedilatildeo foi iniciada por sua conta e lhe deu o nome de Satildeo Francisco por

este ser devoto do Santordquo O que demonstra que Pedro da Silva Chaves era

Catoacutelico

Neste periacuteodo compreendido como seacuteculo XIX segundo Teixeira (2002) e

Alves (2007) o atual municiacutepio de Satildeo Francisco de Paula pertencia ao municiacutepio de

Santo Antocircnio da Patrulha municiacutepio este que formava juntamente com Porto

Alegre Rio Pardo e Rio Grande a proviacutencia de Satildeo Pedro do Rio Grande do Sul

atual Rio Grande do Sul Eacute possiacutevel observar a grande extensatildeo territorial de cada

municiacutepio no mapa apresentado na Figura 2 segundo Silva (2000) Santo Antocircnio

da Patrulha anexava as freguesias de N Sra Conceiccedilatildeo do Arroio e N Sra da

Oliveira da Vacaria a capela de Satildeo Domingos das Torres e os povoados de Santa

Cristina do Pinhal e Cima da Serra

Analisando o mapa da Figura 2 eacute possiacutevel perceber que o municiacutepio de Santo

Antocircnio da Patrulha tinha um vasto e extenso territoacuterio que atualmente compreende

os municiacutepios de Vacaria Antocircnio Prado Nova Roma do Sul Lagoa Vermelha

Veranoacutepolis Nova Prata Nova Araccedilaacute Nova Bassano Paraiacute Guabiju Satildeo Jorge

Vista Alegre do Prata Protaacutesio Alves Cotiporatilde Fagundes Varela Vila Flores

Caseiros Birajaras Andre da Rocha Capatildeo Bonito do Sul Muitos Capotildees Bom

Jesus Satildeo Joseacute dos Ausentes Esmeralda Ipecirc Campestre da Serra Monte Alegre

dos Campos Taquara Satildeo Francisco de Paula Cambaraacute do Sul e Jaquirana

28

Figura 2 ndash Divisatildeo Municipal em 1809 ndash Proviacutencia Satildeo Pedro do Rio Grande do Sul

Fonte Evoluccedilatildeo Administrativa (2013)7

32 AMPLIANDO O DIAacuteLOGO COM OS MEMORIALISTAS

Segundo documentos da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul8

disponiacuteveis no Arquivo Histoacuterico de Satildeo Francisco de Paula9 em 1852 atraveacutes da

Lei nordm 266 de 30 de novembro de 1852 eleva-se agrave categoria de freguesia a entatildeo

capela Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra pelo entatildeo vice-governador da

proviacutencia de Satildeo Pedro do Rio Grande do Sul o senhor Luiz Alves Leite de Oliveira

Bello Estes documentos ainda retratam que no ano de 1886 houve distribuiccedilatildeo de

lotes devolutos para pessoas pobres que comprovassem residecircncia haacute pelo menos

trecircs anos e se comprometessem a ldquofundar moradiardquo em um prazo de um ano sendo

assim passados trecircs anos seriam donos definitivos destes lotes dando o iniacutecio ao

povoamento da vila No mesmo periacuteodo acontece a criaccedilatildeo do cemiteacuterio municipal

7 Disponiacutevel em ltwwwatlassocioeconomicorsgovbrevolucao-administrativa-1809-a-2013gt Acesso

em 18 mar 2017 8 O diaacutelogo com memorialista se amplia a partir de agora com contribuiccedilotildees de documentos

pesquisados que corroboram para a compreensatildeo do tema 9 BARBOSA Eni GONCcedilALVES Jorge Joseacute Xavier (Orgs) Documentos histoacutericos da Assembleia

Legislativa do Rio Grande do Sul Arquivo Histoacuterico de Satildeo Francisco de Paula 1992

29

que ocorre em 1891 segundo documentos da Assembleia Legislativa disponiacuteveis

no Arquivo Histoacuterico de Satildeo Francisco de Paula Estes documentos informam que

primeiramente somente moradores que comprovassem residecircncia haacute mais de trecircs

anos e pudessem manter os jazigos de seus entes poderiam fazer uso deste

espaccedilo Atraveacutes desta documentaccedilatildeo se percebe que havia toda uma organizaccedilatildeo

para que ldquoestrangeirosrdquo natildeo se estabelecessem em Satildeo Francisco de Paula de Cima

da Serra

Em 1889 Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra passa a categoria de vila

e deixa de pertencer a Santo Antocircnio da Patrulha passando a ser distrito do

municiacutepio de Taquara do Mundo Novo (hoje Taquara) o que traz mudanccedilas

significativas para a vila

Mesmo havendo distribuiccedilatildeo de lotes apoacutes quinze anos percebe-se na

Figura 3 que o povoado ainda era pequeno cercado de campos que constituiacuteam

fazendas com criaccedilatildeo de gado vacum tendo como principal economia a pecuaacuteria

extensiva Ao alto pode-se visualizar a Igreja Matriz construiacuteda pelo capitatildeo Pedro

da Silva Chaves

Figura 3 ndash Vista da vila de Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra (1901)

Fonte Portal Satildeo Chico (2018)10

10 PORTAL SAtildeO CHICO Fotos antigas de Satildeo Francisco de Paula 2018 Disponiacutevel em

ltwwwsaochicocombrantigasgt Acesso em 12 abr 2019

30

Ainda eacute possiacutevel observar atraveacutes da Figura 3 que neste periacuteodo natildeo havia

nenhuma preocupaccedilatildeo com a organizaccedilatildeo urbana ou seja ruas quadras as

construccedilotildees se apresentam de maneira desordenada Poreacutem passados vinte e dois

anos na Figura 4 jaacute eacute possiacutevel visualizar uma estrutura urbanizada com possiacutevel

organizaccedilatildeo de ruas e quadras mas a vila ainda eacute rodeada de campos

Figura 4 ndash Vista Avenida Juacutelio de Castilhos (1923)

Fonte Lucena (1971 p 67)

O desenvolvimento da Sede de Satildeo Francisco de Paula acontece segundo

Lucena (1971 p 27) ldquonos primeiros anos de vida isto eacute de 1910 a 1924 mais ou

menos devido agrave extraccedilatildeo da erva-mate que era abundante em nossos matos nas

zonas da serrardquo O autor ainda acrescenta

O pioneiro na extraccedilatildeo da erva-mate em nossa Comuna foi o proprietaacuterio Carlos Miguel Kroeff dono da fazenda Potreirinho praticamente arrabalde de nossa cidade No barba-quaacute11 se iniciava todo processo de industrializaccedilatildeo da erva-mate sendo que Satildeo Francisco de Paula chegou a ter quinhentos barbaacute-quas (LUCENA 1971 p 28)

11 Barba-quaacute um valo de cerca de oito metros de comprimento amis ou menos por um metro de

profundidade e oitenta centiacutemetros de largura coberto de xaxim e terra em uma das extremidades colocava-se um gradeado e acima deste em uma parte tambeacutem coberta e mais alta tinha apenas uma saiacuteda sob o gradeado colocava-se as folhas de erva extraiacuteda da aacutervore no iniacutecio do valo fazia-se um fogo e a fumaccedila que pela pouca ventilaccedilatildeo existente formava bastante fumaccedila e esta atingia as folhas secando-as (LUCENA 1971 p 28)

31

A produccedilatildeo de erva-mate contribuiu para o povoamento da vila visto que

muitas pessoas vieram trabalhar e acabaram se instalando no municiacutepio Apoacutes a

extraccedilatildeo da erva-mate surge a extraccedilatildeo de madeira que tambeacutem contribui para o

desenvolvimento

Nesta documentaccedilatildeo ainda se encontra no artigo nordm 251 de 08 de abril de

1891 a liberaccedilatildeo da verba para abrir a estrada de rodagem que liga as vilas de

Taquara do Mundo Novo e Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra em 1889

Atraveacutes da Figura 5 pode-se perceber o quatildeo difiacutecil era abrir uma nova estrada de

rodagem Tudo era manual com o uso de animais e muares para transportar pedras

e terras poreacutem a abertura desta estrada traz mudanccedilas significativas para a

populaccedilatildeo de Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra

Figura 5 ndash Abertura da estrada ERS-020 Taquara ndash Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra

Fonte Jornal Folha da Serra (1968 n 89 p 8)12

12 Folha da Serra jornal criado em 1932 pelo Dr Siacutelvio Rabelo sendo o uacutenico jornal que existia na

regiatildeo serrana Este trazia notiacutecias sociais poliacuteticas etc com uma tiragem em torno de 500 exemplares por semana Encontram-se no Arquivo Histoacuterico de Satildeo Francisco de Paula alguns exemplares ateacute a deacutecada de 70 seacuteculo XX

32

A estrada visava facilitar o acesso da populaccedilatildeo de Satildeo Francisco de Paula

de Cima da Serra que ia ateacute Taquara para buscar gecircneros de primeira necessidade

Em tempos idos os serranos se abasteciam de gecircneros de primeira necessidade quase que totalmente em Taquara e o transporte era feito em cargueiros que compunham uma tropa com cerca de quinze a vinte cargueiros Os animais usados para esse transporte eram geralmente muares mais resistentes para o transporte de carga Os serranos levavam daqui queijo (o queijo ateacute hoje chamado queijo serrano) charque couros e alguns levavam maccedilatilde ou pinhatildeo em suas eacutepocas de colheita trocados por mantimentos de que necessitavam Natildeo existiam ainda estradas e o trajeto era feito por picadas existentes (LUCENA 1971 p 23)

O mesmo autor ainda acrescenta

Para atingir a capital do Estado a viagem era cheia de peripeacutecias O transporte era feito a cavalo ou em diligecircncias ateacute Taquara As diligecircncias carros de quatro de rodas puxados por quatro animais ndash cavalos ndash eram de propriedade de Bertolo Casara mais conhecido por lsquoJoatildeo Gringorsquo Essa viagem se fazia normalmente em um dia e agraves vezes em dia e meio O ponto de parada era ali no Rodeio Bonito onde existia uma casa agrave esquerda bem defronte a estrada que desce para Trecircs Coroas [] De Taquara a Porto Alegre por via ferroviaacuteria ndash de trem (LUCENA 1971 p 16)

A construccedilatildeo desta estrada traz um novo desenvolvimento para a entatildeo vila

de Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra pois apoacutes a abertura da estrada de

rodagem Taquara ndash Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra modifica o transporte

de mercadorias entre as localidades

O transporte de mercadorias era feito em carretotildees de quatro rodas puxados uns por cinco animais outros por sete as maiores que geralmente eram muares Eram atrelados em duas fileiras Na fileira junto agrave carreta que era de duas ou trecircs mulas na da esquerda montava o carreteiro Este toda vez que se verificava um declive na estrada apeava de sua montaria a fim de brecar a carreta sem que esta entretanto parasse (LUCENA 1971 p 24)

Este modelo de comeacutercio vai desaparecer com o surgimento das primeiras

casas de comeacutercios na vila de Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra De acordo

com Lucena (1971 p 38) ldquoos primeiros comerciantes foram Manoel Vicente

Ferreira Abel Pacheco Luis Carlos de Andrade e Jacob Bossle Sobrinhordquo Na

imagem da Figura 6 temos o Accedilougue Central onde nota-se que os animais

convivem soltos na rua juntamente com as pessoas mesmo se tratando de local

urbano

33

Figura 6 ndash Accedilougue Central

Fonte Portal Satildeo Chico (2018)13

Nesta mesma documentaccedilatildeo haacute decretos que definem a construccedilatildeo de uma

nova Igreja Matriz isto eacute uma Igreja de Pedra substituindo a antiga que era de

madeira ainda construiacuteda pelo capitatildeo Pedro da Silva Chaves esta construccedilatildeo data

do ano de 1922 Segundo Teixeira (2002 p 30) a Igreja de Pedra permanece ateacute

1960 quando daacute lugar ao atual preacutedio da Igreja Matriz que foi inaugurada em 14 de

junho de 1964 Na sequecircncia teremos duas imagens demonstrando a Igreja de

Pedra e a atual edificaccedilatildeo da Igreja Matriz Natildeo foi encontrada nenhuma foto da

Igreja de Madeira nos arquivos do Arquivo Histoacuterico do Municiacutepio somente em um

site de fotos antigas onde encontra-se registro apresentado na Figura 7

13 PORTAL SAtildeO CHICO Fotos antigas de Satildeo Francisco de Paula 2018 Disponiacutevel em

ltwwwsaochicocombrantigasgt Acesso em 12 abr 2019

34

Figura 7 ndash Igreja Matriz em 1931

Fonte Portal Satildeo Chico (2018)14

Figura 8 ndash Igreja Matriz

Fonte acervo da autora (2015)

14 PORTAL SAtildeO CHICO Fotos antigas de Satildeo Francisco de Paula 2018 Disponiacutevel em

ltwwwsaochicocombrantigasgt Acesso em 12 abr 2019

35

Entre os anos de 1892 a 1902 por duas vezes Satildeo Francisco de Paula de

Cima da Serra eacute desanexado e reanexado ao entatildeo municiacutepio de Taquara do Mundo

Novo Somente em 23 de dezembro de 1902 foi reestabelecido definitivamente o

municiacutepio de Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra cuja instalaccedilatildeo se verificou

em 07 de janeiro de 1903 A partir de 01 de janeiro de 1938 perde ldquoCima da Serrardquo

de sua nomenclatura permanecendo somente Satildeo Francisco de Paula Apesar

disso se manteacutem o gentiliacutecio ldquoSerranordquo de acordo com Silva (2000 p 23) e dados

do Arquivo Histoacuterico de Satildeo Francisco de Paula sendo que este gentiliacutecio eacute usado

ateacute os dias de hoje

No iniacutecio o municiacutepio de Satildeo Francisco de Paula foi um dos maiores do Rio

Grande do Sul em territoacuterio mas ao longo do tempo foi diminuindo seu territoacuterio

com a anexaccedilatildeo de parte dele ao entatildeo municiacutepio de Caxias do Sul e de Torres e a

criaccedilatildeo dos municiacutepios de Cambaraacute do Sul em 1963 e Jaquirana em 1988

Foi uma das maiores Comunas do Estado pois de seu territoacuterio faziam parte os atuais municiacutepios de Satildeo Marcos Cambaraacute do Sul e Jaquirana e os distritos de Vila Oliva Criuacuteva Fazenda Souza e Vila Seca hoje integrantes de Caxias do Sul De nosso territoacuterio foi tambeacutem desanexada uma gleba de terra ndash Josafaacute ndash e anexada ao municiacutepio de Torres (LUCENA 1971 p 10)

Mesmo perdendo parte de seu territoacuterio ao longo dos anos atualmente

segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (2016) ldquoSatildeo Chicordquo como

costumeiramente eacute chamado pelo seu povo estaacute situado na Encosta Inferior do

Nordeste do Estado do Rio Grande do Sul na zona denominada de Campos de

Cima da Serra Fica distante 112 quilocircmetros da capital do Estado Porto Alegre Os

municiacutepios limiacutetrofes satildeo Monte Alegre dos Campos Bom Jesus Jaquirana

Cambaraacute do Sul Praia Grande-SC Trecircs Forquilhas Itati Maquineacute Riozinho

Rolante Taquara Trecircs Coroas Canela e Caxias do Sul Possui uma aacuterea territorial

de 3264490 quilocircmetros quadrados com uma estimativa populacional de 21617

habitantes distribuiacutedos na zona urbana e rural O municiacutepio se divide em sete

distritos Sede Cazuza Ferreira Tainhas Juaacute Eletra e Lajeado Grande Atraveacutes do

conjunto de mapas apresentado na Figura 9 eacute possiacutevel visualizar a localizaccedilatildeo de

Satildeo Francisco de Paula dentro do Rio Grande do Sul e por conseguinte no Brasil

Tambeacutem se verifica a localizaccedilatildeo dos distritos de Satildeo Francisco de Paula

36

Figura 9 ndash Mapa de localizaccedilatildeo de Satildeo Francisco de Paula

Subdivisatildeo de Satildeo Francisco de Paula em distritos

Fonte montagem da autora (2019)

Desta forma se constitui o espaccedilo fiacutesico do municiacutepio de Satildeo Francisco de

Paula cuja populaccedilatildeo natildeo forma uma colocircnia pois seu povo adveacutem de diferentes

lugares a grande maioria com descendecircncia lusa sendo que os primeiros

colonizadores foram bandeirantes paulistas

A populaccedilatildeo de Satildeo Francisco de Paula eacute composta de brancos africanos e indiacutegenas Os brancos compreendendo portugueses (principalmente

37

accedilorianos) alematildees e italianos os africanos pertenciam ao grupo dos bantos e foram trazidos pelos portugueses (TEIXEIRA 2002 p 147)

A diversidade de pessoas que se estabeleceram em Satildeo Francisco de Paula

pode ser percebida pelos sobrenomes das famiacutelias precursoras do municiacutepio

Para Satildeo Francisco de Paula afluiacuteram famiacutelias de diversas nacionalidades que atraveacutes de seus descendentes ainda hoje aqui satildeo representadas como Famiacutelias Ferreira Soares Pinto Castilhos Asmuz Santos Martins Lopes Comin Feijoacute Silva Canani Peixoto Andrade Teixeira Valin Lucena Alves Cardoso Gomes Borges Marques Tedesco Medeiros Paglioacuteli Costa Fogaccedila Casara em outras (LUCENA 1971 p 11-12)

Os moradores deste municiacutepio introduziram um jeito singular de viver tendo

em seu cotidiano as tradiccedilotildees gauacutechas15 muito presentes Teixeira (2002 p 83)

assim descreve que ldquoas raiacutezes gauacutechas estatildeo fortemente marcadas na comunidade

seja pelo modo de vestir bombacha botas cinturotildees chapeacuteus e no inverno com o

pala ou pela preferecircncia por comidas campeiras churrasco carreteiro feijatildeo

mexidordquo A autora acrescenta que ldquoas casas com lareira e o tradicional fogatildeo agrave

lenha para aquececirc-las durante o inverno rigoroso satildeo um convite para uma

conversa ao peacute do fogo e o saboreio de um gostoso chimarratildeordquo (TEIXEIRA 2002 p

83)

O enraizamento deste modo de vida adveacutem do homem do campo o

pecuarista que no passado necessitava enviar seus filhos a cidade para estudar

contribuindo para este modelo de vida

Antigamente a pecuaacuteria era a atividade econocircmica muito forte em nosso municiacutepio Assim sendo havia muitos fazendeiros E como as fazendas ficavam muito longe da Sede do municiacutepio as senhoras tinham seus filhos em casa com parteiras Tambeacutem os estudos iniciavam nas fazendas porque as escolas ficavam longe Assim muitas vezes os fazendeiros contratavam professoras para se hospedarem nas suas casas e darem aulas aos seus filhos Em muitos casos ateacute mesmo os proacuteprios pais e avoacutes ensinavam alguma coisa Alguns fazendeiros quando seus filhos ficavam maiores os mandavam continuarem seus estudos na vila (assim lsquoSatildeo Chicorsquo era chamada) (TEIXEIRA 2002 p 77)

Com a vinda dos filhos para a vila trouxeram consigo o jeito do homem do

campo sendo que um dos maiores clubes em funcionamento de Satildeo Francisco de

Paula eacute o atual Centro de Tradiccedilotildees Gauacutechas Rodeio Serrano fundado em maio de

15 Tradiccedilotildees gauacutechas segundo Fagundes (1997 p 38) eacute um movimento ciacutevico-cultural [] eacute a

tradiccedilatildeo em marcha resgatando valores que satildeo vaacutelidos natildeo por serem antigos mas por serem eternos exatamente os valores que trouxeram o Rio Grande e o gauacutecho do passado para o presente projetando-se para o futuro

38

1955 Segundo o Jornal Folha da Serra (1968 n 11 p 12) a entidade

tradicionalista receacutem-formada recebe o nome de CTG Coronel Alziro Torres Filho

Fonseca (2012 p 223) menciona que a iniciativa partiu de ldquoDavenir Peixoto Gomes

um homem ruralista e serranordquo Esta entidade tradicionalista teve como primeiro

Patratildeo Oscar Teixeira O CTG Alziro Torres Filho segundo o jornal Folha da Serra

(1957) muda sua nomenclatura em uma reuniatildeo onde o posteiro da invernada

artiacutestica Alaor Valim propotildee a troca do nome para Rodeio Serrano nome que

permanece ateacute a atualidade

A entidade tradicionalista traz como lema ldquoRepontando a Tradiccedilatildeo com o Rio

Grande na Garupardquo Fonseca (2012 p 224) relata que o lema foi ldquocriado pelo

primeiro instrutor de danccedilas Dr Alaor de Almeida Valimrdquo O mesmo autor acrescenta

que ldquoa primeira prenda foi a professora Maria Asmuz Valimrdquo Poreacutem sua sede

somente foi construiacuteda em 1968 sob a patronagem de Dante Santos O Jornal Folha

da Serra (1968 n 11 p 12) indica que ldquoa construccedilatildeo da sede era uma aspiraccedilatildeo de

longos anos que somente agora se concretizardquo Anteriormente ldquoos bailes eram

realizados em sua maioria no Salatildeo Paroquial sendo que alguns foram feitos no

primeiro andar da Associaccedilatildeo Rural e ateacute mesmo na Sociedade Cruzeirordquo

(FONSECA 2012 p 225) Este fato justifica a vontade de Dante Santos de construir

uma sede proacutepria

Apoacutes a construccedilatildeo de sua nova sede o CTG Rodeio Serrano localiza-se na

Rua Benjamim Constant nordm 582 constituindo um espaccedilo importante para a

comunidade de Satildeo Francisco de Paula Dentre as atividades desenvolvidas pelo

CTG estaacute o Rodeio Interestadual que ocorre todos os anos no primeiro final de

semana de dezembro sendo que se encontra na 33ordf ediccedilatildeo A manutenccedilatildeo das

invernadas artiacutesticas em todas as categorias mascote mirim juvenil e adulta A

organizaccedilatildeo da Ronda Crioula na Semana Farroupilha bem como a Cavalgada de

Prendas que ocorre durante a Semana Farroupilha todos os anos Realiza-se o

baile da Prenda Jovem aleacutem de shows e bailes tipicamente gauchescos Aleacutem

disso nos uacuteltimos anos a organizaccedilatildeo do Festival Ronco do Bugio que ocorre em

Satildeo Francisco de Paula ldquofestival este lanccedilado em 16 de abril 1986rdquo segundo o

Jornal Satildeo Chico Tchecirc (1986 n 4 p 5)16

16 Satildeo Chico Tchecirc jornal de circulaccedilatildeo quinzenal fundado em 08 de janeiro de 1986 e que circulou

ateacute 1989 O jornal trazia informaccedilotildees culturais sociais econocircmicas e poliacuteticas da Sede e do

39

Durante os seus sessenta e dois anos de existecircncia muitos patrotildees

passaram por esta entidade tradicionalista mas em 2017 pela primeira vez na

histoacuteria o CTG Rodeio Serrano teve uma patronagem feminina Aleacutem da Patroa

Neuza Reis foram empossadas a Capataz Elenita Amaral a Sota-capataz Fernanda

Kirsch Damasceno o Agregado das Pilchas Antocircnio Garcia de Souza e no

Conselho de Vaqueanos Neiva Santos Valim

Figura 10 ndash Patroa Neuza Reis e sua Comissatildeo

Fonte Jornal Pioneiro (2017)17

Satildeo Francisco de Paula hoje conta com vinte e oito entidades

tradicionalistas18 espalhadas pelos seus distritos demonstrando que homem do

campo se faz muito presente em todo o municiacutepio sendo assim a cultura

interior Os exemplares encontram-se encadernados no arquivo histoacuterico de Satildeo Francisco de Paula

17 Jornal Pioneiro conhecido como o jornal que estaacute ldquoao teu ladordquo o Pioneiro circula desde 1948 e estaacute presente hoje em 64 municiacutepios da regiatildeo de Caxias do Sul Desde 1993 integra a rede de jornais do Grupo RBS sendo filiado ao Instituto Verificador de Circulaccedilatildeo (IVC) Conta com uma equipe de Redaccedilatildeo com mais de 40 jornalistas aleacutem de colunistas internos e externos Em 2008 o jornal ganhou o site pioneirocom Disponiacutevel em lthttpwwwgruporbscombratuacaopioneirogt acesso em 10 de fevereiro de 2019

18 Informaccedilatildeo cedida pelo Coordenador da 27ordf Regiatildeo Tradicionalista Gauacutecha

40

tradicionalista se apresenta de maneira forte e consistente segundo vaacuterios

depoimentos de moradores de todos os distritos de Satildeo Francisco de Paula

41

4 SAtildeO FRANCISCO DE PAULA DISTRITOS EM FOCO

Quanto aos distritos de Satildeo Francisco de Paula surgem diversas

inquietaccedilotildees com relaccedilatildeo agrave identidade destes locais pois estes mesmo fazendo

parte de um mesmo municiacutepio apresentam singularidades que derivam de sua

colonizaccedilatildeo basicamente lusa portuguesa e da recepccedilatildeo de imigrantes de diversas

etnias como italianos e alematildees ao longo destes cento quinze anos de

emancipaccedilatildeo Percebe-se que alguns distritos manteacutem sua identidade e tradiccedilotildees

resguardadas enquanto em outros jaacute ocorreu agrave miscigenaccedilatildeo de diferentes haacutebitos

e culturas o que dificulta identificar traccedilos que identifiquem estes distritos

Neste capiacutetulo busca-se responder a estas inquietaccedilotildees fazendo uso dos

depoimentos de moradores locais Segundo Delgado (2003 p 21) ldquoessas

narrativas tal qual os lugares da memoacuteria satildeo instrumentos importantes de

preservaccedilatildeo e transmissatildeo das heranccedilas identitaacuterias e das tradiccedilotildeesrdquo Neste sentido

se optou por dois moradores por distrito totalizando treze entrevistados um homem

e uma mulher da terceira idade que sempre morou no distrito o que enriquece os

detalhes repassados pelos entrevistados

Toda entrevista tem por base a memoacuteria individual que se referencia na coletiva profundamente relacionada agraves vivecircncias individuais A utilizaccedilatildeo do depoimento de pessoas idosas como fonte para a histoacuteria oral eacute uma forma de justificar a entrevista como histoacuterica referindo-se ao passado jaacute que aos idosos se pretende atribuir a guarda de memoacuterias do passado pelo proacuteprio tempo de vida do depoente Isto retoma e ajuda a fortalecer a ideia de que a histoacuteria mesmo tratando do tempo presente ainda se reporta a um periacuteodo anterior ao da vida do pesquisador (ALMEIDA 2012 p 10)

A entrevista somente ocorreu quando o entrevistado concordou em assinar o

termo de consentimento As entrevistas ocorreram nas residecircncias dos

entrevistados foram preacute-agendadas sendo que o meacutetodo utilizado foi entrevista

guiada atraveacutes de questionaacuterio previamente organizado pela autora as entrevistas

foram filmadas e gravadas onde somente uma entrevistada natildeo autorizou a

filmagem de seus relatos justificando a idade avanccedilada e por morar sozinha

A escolha pela histoacuteria oral hibrida ocorreu no sentido de que a fonte oral eacute o

principal recurso utilizado para colher informaccedilotildees sobre os distritos visto que em

sua grande maioria natildeo haacute publicaccedilotildees Poreacutem em determinados momentos se

utilizam fontes documentais como complemento do que vem sendo apresentado

Com relaccedilatildeo agrave abordagem adotada nas entrevistas se optou pela temaacutetica visto

42

que se leva um roteiro preacute-organizado com temas que deveratildeo ser explorados

durante as entrevistas o que proporciona uma riqueza de informaccedilotildees para a

autora

41 DISTRITO SEDE

O distrito Sede se constitui no local onde se inicia o povoado do municiacutepio na

antiga Fazenda da Cria terras doadas pelo capitatildeo Pedro da Silva Chaves Neste

distrito concentram-se os serviccedilos puacuteblicos e privados que os moradores

necessitam em seu dia-a-dia visto que ali existem bancos casas loteacutericas

farmaacutecias hospital supermercados lojas papelarias livraria inspetoria veterinaacuteria

secretaacuterias municipais escolas puacuteblicas e privadas creches induacutestrias de madeiras

e calccedilados

Poreacutem o distrito Sede ou cidade de Satildeo Chico como popularmente

conhecida pelo seu povo jaacute foi uma cidade de interior ou seja uma cidade pequena

com moradores que vinham das fazendas em busca de estudo Visto que a

implementaccedilatildeo de uma rede regular de ensino ocorre tardiamente devido agrave

dificuldade de se locomover pelas distantes localidades entatildeo normalmente os

fazendeiros contratavam professores para que seus filhos obtivessem estudo sendo

que estes moravam na proacutepria residecircncia da famiacutelia Em entrevista com essa autora

relata Albuquerque19 que ldquopara aprimorar os estudos aqueles que tinham mais

condiccedilotildees iam para Porto Alegre Santa Maria ou Passo Fundo mas para isto

ficavam laacute em internatos e soacute retornavam nas feacuterias devido agrave dificuldade e o custo

da viagemrdquo

Na deacutecada de 40 foi criada a Escola Catoacutelica de Satildeo Francisco de Paula

cujo funcionamento acontece ateacute 1973 quando foram encerradas suas atividades

Esta escola iniciou com o curso primaacuterio e posteriormente instalou o curso ginasial

Normalmente estes moradores permaneciam de segunda-feira a sexta-feira na

cidade e nos finais de semana retornavam para as fazendas como recorda uma

moradora local

Noacutes eacuteramos uma cidade de fazendeiros a gente tinha uma casa no campo e uma na cidade a gente vivia de laacute pra caacute de caacute pra laacute fim de semana ia

19 ALBUQUERQUE Moacir Castello Branco de Entrevista concedida agrave autora no dia 06 de abril de

2018

43

pra fora20 dia de semana vinha pra caacute normalmente uma irmatilde mais velha voacute ficava com a gente aqui na cidade e a famiacutelia mesmo ficava no campo21

Percebe-se que hoje ainda existem na Sede moradores que manteacutem suas

casas na cidade e durante o dia ou nos finais de semana vatildeo ateacute suas fazendas

para fazer as lides com o gado o que caracteriza uma pequena parte da populaccedilatildeo

que foram os filhos dos antigos fazendeiros que mais tarde acabam se instalando

definitivamente na cidade trazendo com sigo a essecircncia do homem do campo e

afirmando uma identidade genuinamente gauacutecha definiccedilatildeo esta concedida por uma

moradora local

Gauacutecho natildeo eacute o morador do Rio Grande do Sul o morador do Rio Grande do Sul eacute o sul-rio-grandense ou rio-grandense do sul o gauacutecho eacute apenas o homem que vem da pecuaacuteria extensiva essa que existe laacute no pampa e aqui nos campos de cima da serra o gauacutecho serrano com caracteriacutesticas muito proacuteprias grandes gaiteiros poetas aliaacutes o maior gaiteiro do mundo eacute daqui natildeo abro matildeo de dizer isto soacute que todos noacutes viacutenhamos da lida do campo em decorrecircncia disso eacuteramos gauacutechos de verdade22

Em sua fala apresenta o gauacutecho serrano como um tipo singular que ama a

pilcha gauacutecha o seu pingo e suas criaccedilotildees bem como reafirma a importacircncia dos

Irmatildeos Bertussi Honeide e Adelar sendo Adelar Bertussi um dos maiores gaiteiros

deste municiacutepio Exaltam-se tambeacutem os poetas que com suas poesias e letras de

muacutesicas escrevem o jeito do seu povo viver

Mesmo a cidade sendo ldquolocal de paradardquo durante a semana para a maioria

de seus habitantes no passado era cheia de atrativos que o campo natildeo possuiacutea

como o cinema cuja instalaccedilatildeo natildeo se encontra documentada mas sabe-se que

iniciou onde hoje eacute o preacutedio da Prefeitura Municipal sendo proprietaacuterio Francisco

Ferraz (Chico Ferraz como era conhecido) Observa-se em alguns exemplares do

Jornal Folha da Serra23 os filmes e os horaacuterios do funcionamento do cinema

Entende-se que o jornal era uma maneira de divulgar os filmes por ser o uacutenico meio

de comunicaccedilatildeo da eacutepoca Pelos folhetins se percebe que as sessotildees

apresentavam diversos gecircneros natildeo se sabe quando o cinema finalmente fechou

20 Fora refere-se ir para a fazenda 21 SOARES Luciana Olga Entrevista concedida agrave autora no dia 01 de marccedilo de 2018 22 SOARES Luciana Olga Entrevista concedida agrave autora no dia 01 de marccedilo de 2018 23 Folha da Serra jornal local criado em 1932 pelo Dr Siacutelvio Rabelo passando posteriormente a

propriedade da Prefeitura Municipal Sua impressatildeo era na ordem de 500 exemplares natildeo se tem a informaccedilatildeo do periacuteodo que parou de circular mas pelos exemplares encontrados no Arquivo Histoacuterico de Satildeo Francisco de Paula os uacuteltimos datam de 1978 O Arquivo Histoacuterico de Satildeo Francisco de Paula fica em um preacutedio anexo agrave Biblioteca Puacuteblica do municiacutepio

44

poreacutem o jornal Folha da Serra traz uma reportagem que retrata como estava difiacutecil

manter o cinema em funcionamento em meados de 1968 ldquoo nosso cinema na

maneira que vai indo natildeo tem mais condiccedilotildees de funcionar natildeo temos apoio da

populaccedilatildeo com uma frequecircncia de mais ou menos 150 pessoas por final de

semanardquo O jornal acrescenta ldquosalienta-se que mais ou menos de 3 de nossa

CULTA populaccedilatildeo natildeo frequenta o cinemardquo Pode-se associar o fechamento do

cinema a dois fatores a natildeo cultura de assistir filmes e pelas sessotildees ocorrerem nos

finais de semana onde boa parte da populaccedilatildeo da cidade se deslocava para as

fazendas ou pela crise que os cinemas passaram na deacutecada de 80 quando em

muitas cidades foram fechados

A vida da populaccedilatildeo local vai se modificando cada vez mais as pessoas vatildeo

se instalando definitivamente na Sede onde se perde o viacutenculo com o campo

Devido agrave venda ou arrendamento das fazendas24 que por render pouco a pecuaacuteria

extensiva e com a criaccedilatildeo de novas legislaccedilotildees que proiacutebem praacuteticas centenaacuterias

seus proprietaacuterios buscaram novas possibilidades econocircmicas que modificaram a

Sede e tambeacutem boa parte do interior Em entrevista a moradora Soares relata

Exatamente porque a produccedilatildeo era pequena isso natildeo serve para o mundo de hoje a uns quarenta anos chega em nossos campos as primeiras plantaccedilotildees de pinus interessante que ningueacutem reclamou da destruiccedilatildeo desse campo de milhotildees de anos e de todo o ecossistema mas mesmo com essa nova cultura continuamos realizando a sapeca do campo no mecircs de agosto mas de repente chega a notiacutecia que estaacute proibida a queima do campo dizendo que noacutes estragaacutevamos a terra poluiacuteamos o ar que mataacutevamos animais e tudo aquilo natildeo era verdade Na verdade alguns anos depois da lei proibindo a queima do campo chegam as multas gigantescas agraves vezes maior que o valor da terra e aiacute inviabilizou a pecuaacuteria e muitos fazendeiros venderam suas terras e foram embora Quem ficou no campo na busca por renda a qualquer preccedilo arrenda seus campos para os batateiros que vieram acredito que a grande maioria de Santa Catarina e do Paranaacute estes lavram o campo nunca mais o campo nem com reza braba taacute tudo perdido para sempre e isso reflete na nossa cidade25

Essas mudanccedilas no campo refletem na Sede onde o homem serrano convive

passivamente com novas identidades que embora sejam presentes eacute minoria pois

esta parcela de novos moradores traz consigo um novo jeito de viver que ainda natildeo

se percebe influenciar na identidade cultural da Sede

24 Propriedades rurais cuja atividade principal eacute a praacutetica da pecuaacuteria extensiva e a produccedilatildeo do

queijo artesanal serrano 25 SOARES Luciana Olga Entrevista concedida agrave autora no dia 01 de marccedilo de 2018

45

Na Sede desde o iniacutecio se observam quatro clubes sociais a Sociedade

Cruzeiro a Sociedade 9 de Julho a Sociedade Esperanccedila e o Centro de Tradiccedilotildees

Gauacutechas Cada clube social tem sua importacircncia histoacuterica poreacutem alguns natildeo se

manteacutem ativos

A Sociedade 9 de Julho foi fundada em 27 de setembro de 1961 estando

localizada no bairro Rincatildeo Segundo o jornal Folha da Serra (1968 n 96 p 5)

apoacutes sete anos de sua fundaccedilatildeo ldquoseu presidente Galego promete uma nova e

confortaacutevel sede para a sociedaderdquo Sociedade que se apresenta por sua

versatilidade nos eventos ateacute os dias atuais

O jornal Folha da Serra (1968 n 96 p 5) traz a seguinte mateacuteria ldquoas quatro

noites foram repletas de alegria naquela sociedade onde os foliotildees divertiram-se e

quando se anunciou o final da quarta noite houve quem lamentasse o final da festa

do Momordquo A reportagem refere-se ao carnaval que se desenvolve de forma

popular nesta sociedade Neste espaccedilo na deacutecada de 1990 ocorria um baile na

sexta-feira que antecedia ao Festival do Ronco do Bugio um espaccedilo onde jovens se

encontravam para iniciar as festividades do grande festival da cidade poreacutem na

atualidade este evento natildeo ocorre mais Pelos cartazes de divulgaccedilatildeo de eventos

atuais a Sociedade 9 de Julho se torna um espaccedilo bastante versaacutetil e segundo

dados obtidos no site da proacutepria sociedade o local apresenta shows bailes

tradicionalistas domingueiras e festas temaacuteticas

Sabe-se da existecircncia da Sociedade Esperanccedila devido a uma reportagem a

respeito do carnaval escrita no jornal Folha da Serra (1968 n 11 p 25) ldquoos

escurinhos tambeacutem natildeo ficaram para traacutes e demonstraram que satildeo bons no samba

porque soacute quem assistiu pode ver como brincaram e que maravilha de ritmo

marcaram durante as quatro noitesrdquo A reportagem daacute a entender de se tratar de

uma sociedade frequentada por negros e pode-se entender que ao usar o termo

escurinho na reportagem haacute preconceito racial perpassando a ideia de que por

serem negros natildeo poderiam se divertir da mesma maneira que os brancos

Atualmente se encontra no local um espaccedilo residencial e comercial

A Sociedade Cruzeiro foi fundada em 9 de maio de 1925 pela elite da

sociedade serrana Segundo Teixeira (2002) e Fonseca (2012) sua sede social era

na Avenida Juacutelio de Castilhos onde hoje se situa a agecircncia do Banrisul e teve como

primeiro presidente o Sr Antocircnio Mario Kroeff e o secretaacuterio Sr Joatildeo Parobeacute de

Lucena Sua nova sede foi inaugurada de acordo com Fonseca (2012 p 236) ldquono

46

dia 11 de dezembro de 1965 e esta permanece no mesmo endereccedilo ateacute a

atualidade Situa-se na Rua Dr Frederico Tedesco nordm 1261rdquo

Atualmente este espaccedilo eacute usado para convenccedilotildees ou festas particulares

onde as pessoas locam o espaccedilo para realizarem seu evento Neste espaccedilo natildeo

mais ocorrem grandes eventos sociais como Fonseca (2012 p 232) descreve ldquoos

bailes mais elegantes e vistosos desta sociedade ocorrem aquirdquo Fonseca (2012 p

233) ainda complementa que ldquoa primeira Miss Sociedade Cruzeiro foi eleita em 1937

e a vencedora foi a jovem Zilah Teixeirardquo

A Sociedade Cruzeiro tambeacutem foi palco de bailes de carnaval O Jornal Folha

da Serra (1968 n 11 p 25) descreve ldquocomo sempre a Sociedade Cruzeiro ponteou

o nosso carnaval com blocos fantasiados magnificamente fazendo acrobacias ao

som de excelente muacutesica local onde os turistas afluiacuteramrdquo Contrapondo a este

tempo a moradora local Soares26 discorre de maneira saudosa ldquoque saudades do

carnaval hoje eacute bebedeira perdeu o encanto perdeu tudo Na rua o pessoal

gritando sem nenhuma infraestrutura nem os bailes na sociedade natildeo ocorrem

maisrdquo

O distrito Sede jaacute foi palco de inuacutemeros clubes sociais que ao longo do tempo

foram perdendo seu encanto e ateacute mesmo fechando-se para atividades sociais O

que permanece em pleno funcionamento eacute o Centro de Tradiccedilotildees Gauacutechas Rodeio

Serrano o que justifica uma cultura tradicionalista presente neste distrito Dentre as

atividades desenvolvidas por esta entidade estatildeo o Rodeio Interestadual com

atividades campeiras e artiacutesticas que ocorrem todos os anos no primeiro final de

semana de dezembro a manutenccedilatildeo das invernadas artiacutesticas em todas as

categorias mascote mirim juvenil e adulta

A organizaccedilatildeo da Ronda Crioula na Semana Farroupilha com a participaccedilatildeo

das escolas da Sede e do interior que trazem seus grupos de danccedilas bem como

organizam gincanas Outra atividade tambeacutem desenvolvida por esta entidade eacute a

Cavalgada de Prendas que ocorre durante a Semana Farroupilha desde 1992

sendo Satildeo Francisco de Paula pioneira nesta ideia onde somente mulheres

participam da cavalgada que culmina com o desfile na Avenida Juacutelio de Castilhos

Realiza-se tambeacutem o Baile da Prenda Jovem que eacute o baile de debutante gauacutecho

onde as prendas entre 13 e 15 anos satildeo apresentadas agrave sociedade Aleacutem disso nos

26 SOARES Luciana Olga Entrevista concedida agrave autora no dia 01 de marccedilo de 2018

47

uacuteltimos anos a organizaccedilatildeo e apresentaccedilatildeo do Festival Ronco do Bugio que ocorre

em Satildeo Francisco de Paula faz parte da programaccedilatildeo desta entidade Este festival

apresenta exclusivamente o gecircnero musical bugio Haacute pelo menos duas hipoacuteteses

sobre a origem deste gecircnero musical

A primeira eacute de berccedilo serrano e teria mais fiel escudeiro o inesqueciacutevel acordeonista de Satildeo Francisco de Paula Honeyde Bertussi Siqueira Segundo ele o ritmo teria sido originaacuterio pelas matildeos do gaiteiro Vergiacutelio Leitatildeo que no jogo-de-foles e nos baixos de sua gaita de botatildeo teria imitado o ronco do bicho nos caponetes de cima da serra [] teria difundido pelas bodegas do Juaacute interior de Satildeo Chico (SOUZA 2003 p 15)

A segunda hipoacutetese eacute apresentada por Souza (2003 p 15) que apresenta a

versatildeo dada pelo povo de Satildeo Francisco de Assis que diz que ldquoa origem do ritmo e

oriunda desta localidade que por sinal realizava um festival nativista chamado

Querecircncia do Bugiordquo

Desconhece-se a verdadeira origem do gecircnero musical bugio mas Souza

(2003 p 23) afirma que ldquoJoatildeo Cincinato Terra muacutesico atuante sentiu a

necessidade de nosso municiacutepio acompanhar o movimento jaacute que neste periacuteodo se

expande por todo o estado do Rio Grande do Sul os festivais nativistasrdquo O

lanccedilamento do primeiro festival do Ronco do Bugio acontece em 1986 no CTG

Rodeio Serrano com a participaccedilatildeo de vaacuterios representantes da muacutesica nativista e

da comunidade serrana Seu lanccedilamento oficial ocorre em 16 de abril de 1986

O jornal Satildeo Chico Tchecirc (1986 n 11 p 6) noticiou que o primeiro Festival do

Ronco do Bugio contou com 98 muacutesicas escritas sendo 24 as selecionadas O

festival ocorreu entre os dias 13 e 15 de maio e Souza (2003 p 42) descreve que foi

apresentado ldquosob uma lona de circo estaqueada num gramado amador mas de

tantas gloacuterias futeboliacutesticas o campo do Clube Atleacutetico Serranordquo

A muacutesica vencedora do primeiro Ronco do Bugio foi ldquoLevanta Bugiordquo

defendida pelo cantor e compositor gauacutecho Leonardo Observando fotos percebe-se

que o Ronco do Bugio se deu em uma noite fria de inverno

O Festival Ronco do Bugio desde o seu iniacutecio premia melhor arranjo

conjunto instrumental instrumentista inteacuterprete e a muacutesica mais popular Fatima

Gimenez foi a melhor inteacuterprete do primeiro festival defendendo a muacutesica ldquoPinheiro

Gringordquo composiccedilatildeo de Erian Fogaccedila e Laerte Fortes Novamente a roupa dos

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muacutesicos reforccedila que na noite da entrega da premiaccedilatildeo fazia muito frio A cantora

tambeacutem se apresenta vestindo um chiripa coberto por um pala27

Na Figura 11 observamos a fotografia de Gonzaga dos Reis muacutesico local

sentado com sua gaita instrumento que lhe deu o precircmio de melhor instrumentista

do primeiro Ronco do Bugio Nesta oportunidade o cantor instrumentista e

compositor defendeu a muacutesica ldquoBugio da Minha Terrardquo

Figura 11 ndash Gonzaga dos Reis

Fonte Jornal Satildeo Chico Tchecirc n 4 p 8 (1986)

A composiccedilatildeo ldquoBugio Tiranordquo que foi defendida pelo conjunto Os Tiranos de

Satildeo Francisco de Paula ganhou o precircmio mais popular

Para o Jornal Satildeo Chico Tchecirc (1986 n 11 p 7) o Festival Ronco do Bugio eacute

ldquoum festival autecircntico e original que aconteceu com grande sucesso em Satildeo

Francisco de Paulardquo No encerramento deste grande evento Joatildeo Chagas Leite se

27 Chiripa e pala satildeo trajes tipicamente gauacutechos Sendo que o chiripa atualmente eacute uma veste de

preferecircncia feminina este fica enrolado na cintura e vai ateacute os joelhos ldquoEacute um pano inteiro passado entre as pernas primeiro de traacutes para frente e depois de frente para traacutes pode ser de latilde ou lisordquo (ABREU 2003 p 67) O pala eacute uma peccedila retangular com franjas nos quatro lados e listras no sentido do comprimento

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apresenta segundo o Jornal Satildeo Chico Tchecirc (1986 n 11 p 8) ldquocom composiccedilotildees

como Corda de Espinho Orelhano Pampa Campo e Querecircncia Coraccedilatildeo de

Estudante e Afiosrdquo

O Festival Ronco do Bugio perpassa o tempo segundo o site da Prefeitura

Municipal

O Festival Ronco do Bugio eacute um evento musical nativista que acontece anualmente na Cidade de Satildeo Francisco de Paula com o intuito de preservar e difundir o uacutenico ritmo originaacuterio do Rio Grande do Sul ou seja o lsquobugiorsquo compasso criado justamente no interior deste municiacutepio Tal criaccedilatildeo se deu a partir da criatividade dos gaiteiros serranos que buscaram imitar com seu instrumento musical o ronco do primata nos matos da serra A festividade agora em sua 26ordf ediccedilatildeo eacute genuiacutena pois eacute o uacutenico da Ameacuterica onde obrigatoriamente os participantes devem utilizar um ritmo somente isto eacute o citado lsquobugiorsquo embora a temaacutetica seja abrangente Por este motivo eacute chamado de lsquoO Festival Mais Autecircntico do Rio Grandersquo Aleacutem do forte enfoque cultural que envolve toda a comunidade musical do Estado o Festival tem seu apelo ecoloacutegico pois chama a atenccedilatildeo para a preservaccedilatildeo da espeacutecie hoje quase em extinccedilatildeo O Ronco do Bugio por sua importacircncia no cenaacuterio cultural rio-grandense criou uma identidade ao povo de Satildeo Francisco de Paula pois junto ao evento estaacute intriacutenseco e vem agrave tona o histoacuterico da criaccedilatildeo do municiacutepio caracterizado pela forte influecircncia dos antigos tropeiros desbravadores e povoadores desta parte do paiacutes (PREFEITURA MUNICIPAL DE SAtildeO FRANCISCO DE PAULA 2017)

No mesmo documento disponibilizado pela Prefeitura Municipal de Satildeo

Francisco de Paula observam-se algumas informaccedilotildees a respeito da realizaccedilatildeo do

festival no ano de 2017

Art 1ordm - O 26ordm Ronco do Bugio realizar-se-aacute no municiacutepio de Satildeo Francisco de Paula nos dias 01 e 02 de setembro de 2017 Art 2ordm - a festividade agora em sua 26ordf ediccedilatildeo eacute genuiacutena pois eacute a uacutenica na Ameacuterica Latina com promoccedilatildeo da Prefeitura Municipal de Satildeo Francisco de Paula e do CTG Rodeio Serrano com apoio de oacutergatildeos puacuteblicos e iniciativa privada Art 3ordm - Satildeo objetivos do 26ordm Ronco do Bugio a) valorizar a tradiccedilatildeo arte cultura e a autecircntica muacutesica regionalista

gauacutecha atraveacutes do seu ritmo mais original b) prestigiar autores compositores inteacuterpretes e conjuntos regionalistas e

incentivar o surgimento de novos valores c) divulgar a muacutesica regional gauacutecha d) valorizar a relevante posiccedilatildeo na formaccedilatildeo de usos e costumes

caracteres e valores espirituais e morais do gauacutecho e) promover e incentivar a cultura gauacutecha projetando Satildeo Francisco de

Paula na maneira mais autecircntica no cenaacuterio do turismo (PREFEITURA MUNICIPAL DE SAtildeO FRANCISCO DE PAULA 2017)

Como eacute possiacutevel observar no artigo 4ordm ldquoA organizaccedilatildeo do 26ordm Ronco do Bugio

ficaraacute a cargo da Comissatildeo Organizadora composta por membros da Prefeitura

Municipal e do CTG Rodeio Serranordquo (PREFEITURA MUNICIPAL DE SAtildeO

50

FRANCISCO DE PAULA 2017) Devido agrave importacircncia identitaacuteria do festival para o

municiacutepio ao se chegar agrave cidade na deacutecada de 90 se encontrava o seguinte

outdoor

Figura 12 ndash Outdoor entrada da cidade na ERS-020

Fonte Souza (2003 p 17)

Assim como o tiacutetulo de ldquoCapital Mundial do Bugiordquo Satildeo Francisco de Paula ldquojaacute

obteve vaacuterios slogans dentre eles o de Satildeo Chico eacute terra boardquo (TEIXEIRA 2002 p

149-150)

Mesmo ocorrendo inferecircncias externas advindas com pessoas que trouxeram

consigo uma identidade diferente Soares28 em entrevista afirma ldquoSatildeo Chico eacute

identificada pela cultura tradicionalista gauacutecha a cuia em frente ao antigo preacutedio da

prefeitura demonstra o siacutembolo da hospitalidade de nosso povordquo A permanecircncia

ativa do CTG Rodeio Serrano na sede eacute outro indicativo forte da presente

identidade ligada as atividades do homem do campo Outro fato observado eacute a

constante praacutetica do laccedilo de vaca parada29 por jovens e crianccedilas nos paacutetios de suas

residecircncias bem como cavalarianos (homens mulheres jovens e crianccedilas) na

28 SOARES Luciana Olga Entrevista concedida agrave autora no dia 01 de marccedilo de 2018 29 Vaca parada uma espeacutecie de cavalete de madeira com aspectos de uma vaca usada por crianccedilas

que estatildeo iniciando neste esporte bem como usado como forma de entretenimento para jovens e adultos

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avenida principal cavalgando entre os carros Ainda se percebe o respeito entre

motoristas de automotivos bicicletas e os cavalarianos todos ocupando o mesmo

espaccedilo

42 DISTRITO DE CAZUZA FERREIRA

O distrito de Cazuza Ferreira foi criado em 07 de janeiro de 1903 estando

situado a 85 quilocircmetros da Sede Andrade comenta em entrevista30 ldquoateacute acho que

Cazuza se desenvolveu primeiro que Satildeo Chicordquo31 visto que a criaccedilatildeo do distrito

acontece dias depois da emancipaccedilatildeo enquanto a criaccedilatildeo da vila do distrito de

Cazuza Ferreira se desenvolve segundo a entrevistada

A parte da Histoacuteria que eu sei eacute que houve a chegada de um Sr Chico Mestre eacute como eles chamavam Esse Sr veio as casas eram distantes umas das outras e ele comeccedilou a fazer oraccedilatildeo nas casas e reunir as pessoas e fundou o cemiteacuterio Entatildeo o Joseacute Ferreira de Castilhos que era dono daqui naquela eacutepoca um dos moradores que tinha bastante terra doou a terra para fazer a vila aiacute o que aconteceu segundo as histoacuterias era para ser ali onde eacute a cancha de laccedilo hoje do outro lado da estrada soacute que o terreno natildeo era apropriado entatildeo houve uma permuta com o Sr que era dono deste terreno aqui era Bossle aqui era bem mais alto e mais plano Entatildeo se construiu a Igreja e iniciou o povoamento da vila32

A moradora Basso ainda acrescenta que ldquoa vila foi sempre mais ou menos o

que ela eacute hojerdquo Ao observar o local pode-se perceber uma grande praccedila ao centro

rodeada de casas de comeacutercio posto de combustiacutevel posto de sauacutede o hotel a

Igreja Matriz juntamente com o salatildeo paroquial e casas residecircncias cujo aspecto

impressiona por a grande maioria das casas apresentam uma arquitetura que

perpassa o tempo A Figura 13 apresenta uma imagem da praccedila central tirada das

escadarias da Igreja Matriz

30 ANDRADE Nauro Bossle de Entrevista concedida agrave autora no dia 04 de marccedilo de 2018 31 Primeiro que Satildeo Chico eacute um termo comum usado pelos moradores do interior do municiacutepio de

Satildeo Francisco de Paula que ao se referir a Sede do municiacutepio usam o termo Satildeo Chico ou Satildeo Francisco de Paula pois seus moradores natildeo costumam na atualidade dizer lsquovou a Sedersquo e sim lsquovou a Satildeo Chicorsquo como se eles natildeo morassem no municiacutepio

32 BASSO Ceacutelia Pacheco Terres Entrevista concedida agrave autora no dia 04 de agosto de 2018

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Figura 13 ndash Praccedila Central de Cazuza Ferreira

Fonte acervo pessoal da autora (2018)

Apesar de ter a preservaccedilatildeo arquitetocircnica a moradora Basso declara

O pai contava e outras pessoas contam que teve uma eacutepoca que tinha faacutebrica de tamanca33 jaacute teve faacutebrica de guaranaacute de queijo bastante coisa no sentido de selaria mas tudo foi se extinguindo as pessoas as famiacutelias natildeo deram continuidade e se sumiram natildeo existe mais nada disso mas estas faacutebricas natildeo davam renda ou seja trabalho para pessoas de fora pois elas eram administradas e cuidadas pelas famiacutelias Daiacute houve o periacuteodo das serrarias enquanto pode extrair madeira era o forte a vila movimentada enriqueceram alguns comerciantes locais o momento que extinguiu aquele trabalho eles foram embora e o povo daqui acomodou entatildeo hoje a vila tem bastante pessoas que foram embora trabalhar assim na juventude e hoje aposentados voltaram pois aqui para jovem natildeo tem sobrevivecircncia o uacutenico trabalho eacute na escola tem nove professores e uma funcionaacuteria em alguns funcionaacuterios da prefeitura acho que satildeo seis que cuidam do plantel de maacutequinas a enfermeira e o pessoal que cuida do posto do correio tambeacutem tem a ferraria mas ali eacute soacute os da proacutepria famiacutelia entatildeo o jovem acaba tendo que ir embora34

Os entrevistados Basso e Andrade relatam que apesar das adversidades o

povo de Cazuza Ferreira tem um amor pelas suas tradiccedilotildees mantendo vivos trecircs

aspectos que ambos consideram a marca identitaacuteria de seu povo e afirmam com

33 Tamanca calccedilado comum na regiatildeo solado de madeira com uma proteccedilatildeo sobre as pontas dos

dedos indo ateacute o peito do peacute em couro 34 BASSO Ceacutelia Pacheco Terres Entrevista concedida agrave autora no dia 04 de agosto de 2018

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convicccedilatildeo ldquofalar de Cazuza eacute cavalhada hotel e rodeiordquo enquanto Basso acrescenta

que ldquoas cavalhadas satildeo heranccedila dos portugueses e estatildeo espalhadiacutessimas ateacute

nacionalmente atraveacutes da miacutedia porque natildeo pesquisei mas ateacute onde sei no Rio

Grande do Sul soacute tem aquirdquo

Na comunidade ainda segundo Basso ldquoa apresentaccedilatildeo das cavalhadas se

iniciou por volta de 1890 e permanece ativa ateacute hoje no passado existiam trecircs

cavalhadas as dos brancos dos amarelos e dos negrosrdquo acrescentando ldquomas hoje

natildeo haacute mas essa diferenciaccedilatildeordquo Em poliacutegrafo organizado por uma moradora local a

mesma explica que a cavalhada ldquoeacute uma luta simulada em que haacute vinte e quatro

participantes sendo doze de cada equiperdquo35 por meio da evoluccedilatildeo equestre e

movimentos de espada lanccedila e garrucha representando a batalha entre mouros e

cristatildeos Segundo esta moradora ldquoa batalha sempre termina sendo vencida pelos

cristatildeos demonstrando a submissatildeo dos mouros e a supremacia da religiatildeo cristatilderdquo

Atualmente o grupo depende da boa vontade de seus participantes conforme

explica

Hoje se tornou caro eacute exame dos cavalos transporte depende do querer das pessoas da boa vontade e tem pessoas engajadas que natildeo largam a famiacutelia do Renau que ele eacute o presidente do grupo ele tem um amor tatildeo grande pelas cavalhadas porque ele jaacute recebeu do pai dele do teu avocirc e do seu Ivo Cardoso e a vida dele agraves vezes me desgosto de alguma coisa pois faccedilo a narrativa do que estaacute sendo apresentado mas daiacute eu penso natildeo posso abandonar (sorri) Eacute uma tradiccedilatildeo que natildeo pode morrer mas os filhos do Renau o Marcos e o Marcelo daratildeo continuidade faz parte da famiacutelia tu sabe eacute da mesma famiacutelia Eacute uma grande tradiccedilatildeo que natildeo pode desaparecer temos que continuar peleando36

As cavalhadas satildeo apresentadas na praccedila central sempre durantes as festas

religiosas que acontecem na comunidade sendo assim organizadas

No primeiro ou segundo final de semana de fevereiro tem a festa da Nossa Senhora do Belo Horizonte que eacute a padroeira daqui Agora devido agrave comissatildeo e o padre um ano tem a festa dos morenos e no outro tem a dos agricultores que eram chamados de amarelos antigamente cuja devoccedilatildeo se daacute agrave Nossa Senhora do Rosaacuterio e Nossa Senhora da Penha Antigamente cada um tinha seu espaccedilo social para realizar a festa atualmente soacute se manteve a tradiccedilatildeo de comemorar os santos este ano eacute festa dos morenos ela seraacute dia 13 e 14 de outubro Todas as festas

35 Sendo que doze cavaleiros que representam os cristatildeos vestem tuacutenicas de veludo azul escuro e

os doze cavaleiros mouros vestem tuacutenicas vermelhas Sobre os ombros da tuacutenica haacute uma capinha esta capinha traz enfeites prateados bordados com lantejoulas e bototildees dourados e franjas de seda branca Todos os participantes usam bombacha branca de brim botas campeiras pretas chapeacuteu de palha de aba larga virada para cima com laccedilo de fita e barbicacho de acordo com a cor da tuacutenica

36 BASSO Ceacutelia Pacheco Terres Entrevista concedida agrave autora no dia 04 de agosto de 2018

54

religiosas ocorrem em dois dias saacutebado apresentaccedilatildeo das cavalhadas novena janta e baile no domingo tem a missa na Igreja Matriz logo apoacutes almoccedilo e reuniatildeo danccedilante Atualmente resgataram em dezembro a festa a Satildeo Cristoacutevatildeo sempre no primeiro final de semana de dezembro eacute uma missa com benccedilatildeo aos carros durante a procissatildeo e um almoccedilo ao meio-dia esta se daacute somente em um dia E tambeacutem temos de dois em dois anos a festa organizada pelo grupo das Cavalhadas esta ocorre em maio daiacute37

Os moradores explicam que a separaccedilatildeo racial desapareceu com o tempo

poreacutem se manteacutem a cultura de festejar todos os santos o que demonstra que o povo

de Cazuza eacute bastante devoto e cristatildeo E acrescenta em tempos idos que durante

as festas religiosas as pessoas se hospedavam no hotel segundo Basso que ldquoele

recebia tinha mercado junto teve ateacute cinema o pessoal gostava da comida da

Dona Vilma que era minha sogrardquo Este hotel eacute outro marco que identifica Cazuza

Ferreira poreacutem os moradores explicam que atualmente o Hotel do Campo manteacutem a

arquitetura mas funciona em uma modalidade diferenciada pois natildeo haacute como

sobreviver Entatildeo ele recebe hospeda sob reserva antecipada poreacutem natildeo serve

almoccedilo e janta as refeiccedilotildees satildeo feitas no Cantinho do Aconchego com quem

manteacutem uma parceria

Figura 14 ndash Hotel do Campo

Fonte acervo pessoal da autora (2018)

37 BASSO Ceacutelia Pacheco Terres Entrevista concedida agrave autora no dia 04 de agosto de 2018

55

Nesta comunidade tambeacutem eacute muito forte segundo os entrevistados38 a

tradiccedilatildeo gauacutecha que adveacutem do homem do campo o amante dos rodeios que nos

finais de semana saem de suas propriedades e se deslocam a outras comunidades

para participar dos eventos campeiros como o tiro de laccedilo Tambeacutem explanam que

existe o CTG Adatildeo Castilhos que estaacute interditado jaacute faz quase seis anos desde

que comeccedilaram a ser exigidos os PPCIs A partir deste momento eles natildeo puderam

mais fazer eventos ali eles realizam os rodeios ou festas campeiras mas laacute dentro

natildeo conseguiram mais fazer nada e taacute difiacutecil vai muito dinheiro para cumprir todas

as exigecircncias Sendo que este espaccedilo na deacutecada de 80 do seacuteculo XX foi palco de

grandes rodeios com apresentaccedilotildees campeiras artiacutesticas e grandes bailes A

moradora explica39 ldquoA Claudiana esposa do Paulo Cesar atual presidente se

inscreveu no projeto Meu Galpatildeo de Cara Nova do Galpatildeo Crioulo da RBS TV

tomara que ela seja classificadardquo Este projeto ajuda na reconstruccedilatildeo dos CTGs pelo

Rio Grande do Sul

Ao pesquisar sobre Cazuza Ferreira percebe-se o quatildeo forte eacute o culto agraves

tradiccedilotildees e o esforccedilo de seus moradores para elas permaneccedilam para futuras

geraccedilotildees visto que o tempo passou e a tradiccedilatildeo local natildeo sofreu alteraccedilotildees

43 DISTRITO DE TAINHAS

O distrito de Tainhas foi criado em 18 de outubro de 1922 estando situado a

33 quilocircmetros da Sede Se desenvolveu no entroncamento de duas rodovias a RS-

020 e a RS-453 cujas rodovias cortavam a vila do distrito Com o advento da

construccedilatildeo da Rota do Sol importante rodovia que hoje que liga Caxias do Sul agraves

praias aleacutem da construccedilatildeo do asfalto da RS-020 que vai a Satildeo Francisco de Paula

tudo mudou O morador Fagundes relata em entrevista40 ldquoaqui era mais habitado

por criadores fazendeiros e agora depois que saiu essa Rota do Sol o movimento

cresceu muito neacute mais por fora da vila entatildeo natildeo trouxe benefiacutecio para noacutesrdquo

Percebe-se que moradores entendem a importacircncia da construccedilatildeo das

rodovias poreacutem as mesmas natildeo trouxeram benefiacutecios econocircmicos para os

moradores locais

38 ANDRADE Nauro Bossle de BASSO Ceacutelia Pacheco Terres Entrevistas concedidas agrave autora no

dia 04 de agosto de 2018 39 BASSO Ceacutelia Pacheco Terres Entrevista concedida agrave autora dia 04 de agosto de 2018 40 FAGUNDES Darci da Silva Entrevista concedida agrave autora no dia 24 de fevereiro de 2018

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Ainda conforme o morador Fagundes41 ldquoo iniacutecio da vila se deu devido agrave

necessidade de parada dos caminhoneiros que transportavam madeira como era

tudo estrada de chatildeo Tainhas ficava em local centralizado se construiu um hotel

que era do seu Pedro Pinhatildeo e da Dona Luisardquo A partir de entatildeo comeccedilou a

construccedilatildeo de casas e se formou a vila onde antes eram terras dos Pinto os

primeiros moradores de Tainhas tanto que o morador ressalta na entrevista42 ldquoo

nome da escola eacute Oliacutempio Soares Pinto que era o proprietaacuterio dessa terra e uma

das professoras mais antigas era Guilherma Pintordquo

Tainhas estaacute rodeada por campos matos de pinnus ilhote e lavouras

atualmente e explica

Hoje aqui eacute pinus e granjeiro plantando batata soja milho e a maioria veio de fora os moradores antigos desapareceram arrendaram ou venderam suas terras para esse pessoal que veio de Ibiraiara e de Maquineacute Itati Trecircs Forquilhas43

Percebe-se que a criaccedilatildeo de gado ou seja a pecuaacuteria extensiva deu lugar a

outras culturas com a chegada de novas pessoas ao distrito Mas segundo os

moradores o culto ao tradicionalismo gauacutecho permanece visto que no distrito

existe

O parque de rodeios do Rodeio Crioulo eacute o mais antigo que noacutes temos aqui natildeo sei se natildeo o primeiro piquete registrado de Satildeo Chico tem uns sessenta anos a nossa tradiccedilatildeo eacute o laccedilo O nosso rodeio acontece sempre no iniacutecio de janeiro hoje eu natildeo laccedilo mais mas o meu neto continua a minha tradiccedilatildeo A escola daqui faz a semana farroupilha com ronda eacute tudo muito lindo e assim se mantem a cultura44

A imagem apresentada na Figura 15 reforccedila a fala e a importacircncia do Piquete

de Laccediladores Rodeio Crioulo que atualmente mesmo estando nas terras de Satildeo

Francisco de Paula divisa com o municiacutepio de Cambaraacute do Sul por opccedilatildeo essa

entidade tradicionalista pertence ao entatildeo municiacutepio de Cambaraacute do Sul Poreacutem sua

fundaccedilatildeo acontece em 20 de janeiro de 1961 quando o entatildeo hoje municiacutepio de

Cambaraacute do Sul ainda era distrito de Satildeo Francisco de Paula

41 FAGUNDES Darci da Silva Entrevista concedida agrave autora no dia 24 de fevereiro de 2018 42 FAGUNDES Darci da Silva Entrevista concedida agrave autora no dia 24 de fevereiro de 2018 43 FAGUNDES Darci da Silva Entrevista concedida agrave autora no dia 24 de fevereiro de 2018 44 FAGUNDES Darci da Silva Entrevista concedida agrave autora no dia 24 de fevereiro de 2018

57

Figura 15 ndash Flacircmula de comemoraccedilatildeo aos 50 anos da entidade

Fonte acervo pessoal da autora (2018)

Outro evento importante no distrito eacute realizado pela Escola Estadual de

Ensino Fundamental Oliacutempio Soares Pinto que satildeo atividades ligadas as tradiccedilotildees

gauacutechas na Semana Farroupilha como cavalgadas e gincanas com a participaccedilatildeo

de toda comunidade nesta semana principalmente a comunidade de Tainhas

ldquorespira tradicionalismordquo

O distrito de Tainhas atualmente conta com um posto de sauacutede e o correio

satildeo os serviccedilos puacuteblicos que funcionam no distrito visto que o cartoacuterio fechou O

entrevistado Fagundes relata45 ldquoeu era o juiz de paz desse Cartoacuterio minha funccedilatildeo

era julgar os casamentos mas daiacute fechou hoje o pessoal tem que ir a Satildeo Chicordquo O

morador ainda acrescenta ldquoateacute a rodoviaacuteria fechou os ocircnibus passam aqui Satildeo

Marcos que vem de Caxias e vatildeo a Torres desce de manhatilde e sobe de tarde Citral

de Satildeo Chico a Ouro Verde e agora Transneves da Pedra Lisa para Satildeo Chicordquo

Com uma certa tristeza relata46 ldquoaqui em Tainhas soacute tem o Cafeacute Tainhas do

Mauro eacute o brilho de Tainhas seraacute ponto histoacuterico daqui um tempo todo mundo fala

bem do Cafeacute Tainhasrdquo

Notoriamente a chegada do asfalto modificou a vida das pessoas neste

distrito visto que que os campos foram em boa parte transformados em lavoura se

45 FAGUNDES Darci da Silva Entrevista concedida agrave autora no dia 24 de fevereiro de 2018 46 FAGUNDES Darci da Silva Entrevista concedida agrave autora no dia 24 de fevereiro de 2018

58

percebe uma vila pacata jaacute que todo o movimento foi desviado por fora da vila e a

mesma natildeo proporciona lazer para as pessoas que ao terminarem o ensino

fundamental para continuar seus estudos precisam fazer uso do transporte escolar

e se deslocar ateacute a Sede ou ir ao municiacutepio de Cambaraacute do Sul

44 DISTRITO DE ELETRA

O distrito de Eletra foi criado em 31 de dezembro de 1932 estando situado a

19 quilocircmetros da Sede do municiacutepio Poreacutem a populaccedilatildeo local chama de Salto e

seu nome vem das barragens do Salto Blang e Divisa construiacutedas sobre o Rio do

Salto que atravessa o distrito Segundo a moradora local47 Soares ldquoas barragens

que fornecem aacutegua para as usinas no municiacutepio de Satildeo Francisco de Paula e nos

municiacutepios vizinhos de Canela Gramado e Cambaraacute do Sulrdquo A Figura 16 apresenta

uma imagem da Barragem do Salto barragem esta que se situa proacutexima da vila do

distrito

Figura 16 ndash Barragem do Salto

Fonte acervo pessoal da autora (2018)

Ao observarmos a Figura 16 percebe-se que o acesso da vila para o interior

do distrito acontece por uma ponte de concreto estreita com piso bastante irregular

47 SOARES Susana Marques Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018

59

e que em periacuteodos de fortes chuvas o acesso fica interrompido devido agrave altura

Poreacutem ao lado direito percebe-se uma estrutura pequena que segundo o morador

Gomes

Foi uma tentativa de uma empresa japonese construir uma ponte soacute que quando estavam construindo deu uma enchente e levou tudo a aacutegua abaixo a empresa foi embora e nunca mais voltou Jaacute foram feitos estudos que a ponte tem que ser construiacuteda mais para baixo e em forma de arco se natildeo a chuva leva de novo poreacutem natildeo acredito que saia algum dia48

Entende-se que a construccedilatildeo desta nova ponte melhoraria o acesso dos

proprietaacuterios rurais que para saiacuterem de suas propriedades em eacutepocas de chuva

intensa necessitam fazer um longo caminho por estradas de chatildeo batido para terem

acesso ao municiacutepio de Canela bem como a Sede de Satildeo Francisco de Paula

Contudo a moradora explica que a vila do distrito se forma muito antes da

construccedilatildeo da barragem

Em 1915 era uma fazenda chamada Fazenda do Salto e esta pertencia a Francisco Soares de Oliveira Neste local havia sua casa de moradia um galpatildeo e mangueiras onde realizava as suas atividades poreacutem em 1916 o Chico resolveu transferir a casa da Fazendo do Cerro para o Salto tambeacutem sendo construiacuteda aiacute a segunda casa a partir de entatildeo se iniciou o povoado com a construccedilatildeo de novas residecircncias para seus empregados e posteriormente se instalou uma serraria dos irmatildeos Delavechia esta sendo movida a aacutegua dando definitivamente o iniacutecio do povoamento da vila49

Ao analisar a fala da moradora local se percebe que onde hoje se encontra a

vila do distrito de Eletra jaacute foi uma fazenda identificando-se com a mesma formaccedilatildeo

do distrito Sede que tambeacutem surge de terras doadas por um fazendeiro Segundo a

entrevistada Soares50 ldquoa sua casa eacute uma das mais antigas tem 102 anos foi

construiacuteda de pinheiro serrada aqui mesmo na serrariardquo pode-se observar o oacutetimo

estado de conversaccedilatildeo da casa que traz traccedilos arquitetocircnicos europeus na sua

construccedilatildeo natildeo se tem imagem da casa visto que a entrevistada natildeo permitiu

nenhuma imagem de sua residecircncia

Outro fator importante do povoamento da vila segundo o morador local

Gomes51 ldquofoi o iniacutecio da construccedilatildeo da Barragem do Salto no ano de 1925rdquo onde

48 GOMES Jaures Feijoacute Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018 49 SOARES Susana Marques Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018 50 SOARES Susana Marques Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018 51 GOMES Jaures Feijoacute Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018

60

vieram muitos funcionaacuterios de vaacuterios lugares tendo como mestre da obra segundo

os moradores locais52 o ldquoAcircngelo Goubertrdquo

Devido agrave necessidade que se formou no distrito neste periacuteodo se abriu um

hotel farmaacutecia cartoacuterio rodoviaacuteria e cinema a moradora local Soares saudosa

diz53 ldquotudo fechou aqui natildeo tem mais nadardquo referindo-se a atual situaccedilatildeo que a vila

se encontra

Os moradores ainda declaram sobre o distrito54 ldquoestaacute abandonado pelo poder

puacuteblico ateacute o calccedilamento das ruas foi arrancadordquo poreacutem outrora foi um local de

muita alegria

A vida era uma festa permanente o tio Chico era casado com a tia Lisoca ela foi para Porto Alegre para os filhos estudar quando vinham nas feacuterias traziam os amigos O tio Chico pagava um gaiteiro por mecircs para ele toca toda noite entatildeo era aquele divertimento55

Atualmente na vila existe a Escola Estadual de Ensino Fundamental Cristino

Ramos com menos de cem alunos e a festa cristatilde cuja celebraccedilatildeo ocorre em

fevereiro sendo Santo Antocircnio o padroeiro local A moradora explica sobre a

construccedilatildeo da capela

A primeira capela a tempestade derrubou em 1957 se construiu outra O santo padroeiro eacute Santo Antocircnio a imagem foi trazida por quarenta cavaleiros Daiacute o padre pediu para que a imagem de Nossa Senhora Catarina tambeacutem fosse acolhida hoje temos dois padroeiros mas para mim Santo Antocircnio eacute o principal56

Percebe-se na fala dos moradores a sua devoccedilatildeo e sua preocupaccedilatildeo com o

futuro da vila visto que ateacute a questatildeo do cemiteacuterio jaacute foi palco de discussatildeo pois o

cemiteacuterio da vila iniciou pela famiacutelia dos Soares sendo este particular Poreacutem a

moradora explica com certa indignaccedilatildeo

O cemiteacuterio era particular da famiacutelia Soares teve um tempo que resolveram abrir veio gente ateacute de Passo Fundo ser enterrada aqui natildeo pediam para ningueacutem tomaram conta Daiacute organizamos uma comissatildeo responsaacutevel decidimos que tinha que ter uma contribuiccedilatildeo e natildeo podia trazer gente de fora para enterrar soacute gente daqui Ningueacutem pagou Aiacute mandei fazer cerca nova a parte dos Soares sempre limpei mas [] hoje acabo limpando tudo

52 GOMES Jaures Feijoacute SOARES Susana Marques Entrevistas concedidas agrave autora no dia 15 de

fevereiro de 2018 53 SOARES Susana Marques Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018 54 GOMES Jaures Feijoacute SOARES Susana Marques Entrevistas concedidas agrave autora no dia 15 de

fevereiro de 2018 55 SOARES Susana Marques Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018 56 SOARES Susana Marques Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018

61

porque ningueacutem limpa Enquanto eu for viva vou fazer depois vatildeo entregar para a prefeitura igreja natildeo sei57

A Figura 17 apresenta uma foto da igreja atual tendo em sua lateral direita a

capela mortuaacuteria e ao fundo o Salatildeo Paroquial da comunidade onde ocorre a festa

do Santo Padroeiro

Figura 17 ndash Igreja Santo Antocircnio ndash Distrito de Eletra

Fonte acervo pessoal da autora (2018)

Ao conversar com os moradores locais pode-se observar a feacute cristatilde poreacutem

ambos relatam que a festa de fevereiro atualmente eacute pouco divulgada motivo pelo

qual acreditam que natildeo haja um nuacutemero expressivo de pessoas Ambos sentem um

apreccedilo pelo local onde nasceram e vivem poreacutem ambos relatam

Aqui eacute lugar de dormir as pessoas trabalham em Canela e vem dormir aqui a grande maioria natildeo eacute daqui vieram de fora haacute muitas casas de veraneio tudo gente de Porto Alegre que vem passar feacuterias natildeo rende nada para aqui o que precisam trazem tudo de fora A maioria de quem mora aqui soacute dorme passa o dia fora O ocircnibus das 7 horas sai lotado a gente natildeo conhece mais ningueacutem daqui mesmo soacute noacutes Susana e eu58

Mesmo a vila sendo um local de parada estaacute rodeada de lindos campos e

fazendas cuja a atividade principal eacute a pecuaacuteria extensiva natildeo proporciona

57 SOARES Susana Marques Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018 58 GOMES Jaures Feijoacute Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018

62

trabalho no local motivo pelo qual seus moradores buscam sua subsistecircncia em

outro municiacutepio poreacutem possui uma exuberante natureza relata cheia de esperanccedila

a moradora local59 ldquoeu tenho esperanccedila que algueacutem olhe para caacute e veja as belezas

que tem aqui que o lugar volte a se desenvolverrdquo desenvolvimento este que

poderia vir atraveacutes da exploraccedilatildeo do turismo rural ldquoSe vocecirc quiser comer alguma

coisa agora natildeo vai encontrar nada aqui soacute tem lsquobutecorsquo60 mas eles natildeo vendem

nada nem sanduiacuteche pastel eacute uma vergonhardquo fala indignado o morador Gomes61

A populaccedilatildeo que vive nas fazendas aleacutem de ter as lides campeiras no seu

dia-a-dia nos finais de semana segundo o morador Gomes62 ldquolaccedila em torneio vai

nos rodeiosrdquo o que marca a presenccedila do tradicionalismo gauacutecho em uma parte da

populaccedilatildeo do distrito poreacutem com relaccedilatildeo aos moradores da vila natildeo haacute algo que

os identifique visto a miscigenaccedilatildeo que ocorreu e por haver muitas casas de

veraneio no local

45 DISTRITO DO JUAacute

O distrito do Juaacute foi criado em 10 de maio de 1950 e fica distante 65

quilocircmetros da Sede O distrito recebe esse nome devido a um espinho que havia

em abundacircncia no local nome este dado por tropeiros

Os accedilorianos que vinham de Santo Antocircnio da Patrulha e iam para Vacaria com cargueiros eles vinham fazer repouso laacute em cima no reduto e ali tinha muita frutinha do juaacute entatildeo os tropeiros saiam de Santo Antocircnio e diziam vamos posa laacute nos juaacute daiacute o nome do lugar que permanece ateacute hoje63

Juaacute eacute o nome dado a um espinho muito comum na regiatildeo dos campos de

cima da serra que daacute uma fruta amarela em formato redondo que segundo os

moradores locais eacute uma fruta venenosa conforme se observa na Figura 18

59 SOARES Susana Marques Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018 60 Buteco pequeno comeacutercio que normalmente vende bebidas alcooacutelicas e possui mesa de sinuca 61 GOMES Jaures Feijoacute Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018 62 GOMES Jaures Feijoacute Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018 63 REIS Orides Entrevista concedida agrave autora no dia 12 de maio de 2018

63

Figura 18 ndash Peacute com a fruta conhecido como Juaacute

Fonte acervo de Clessandra Palhano (moradora local) (2018)

O reduto citado pelo morador local ficava em uma fazenda local onde hoje se

encontra a vila do distrito conforme o entrevistado Reis explica

O primeiro morador eu natildeo lembro soacute sei que o Juaacute era de pouca gente famiacutelia Pedroso e Castilhos daiacute foram morrendo inventariando e vendendo e aos poucos se formou a vila importante o dono de tudo isso aiacute tinha dois escravos no iniacutecio teve escravidatildeo claro na eacutepoca de mil oitocentos e pouco eu acho mas teve E hoje deve ter descendente destes escravos por aiacute64

Escravidatildeo que vai dar origem ao preconceito racial e a um modelo particular

da localidade que sem precisar data explica o morador

Aqui tinha dois salatildeo trecircs com o da Igreja mas era dois salatildeo social Era um clube de brancos que era dos ricos neacute fazendeiros o Salatildeo Vera Cruz e depois fundaram o Satildeo Valentim que era dos morenos que na eacutepoca ateacute eu fui presidente Cada um no seu salatildeo agora quando dava a festa cristatilde em homenagem ao Satildeo Joatildeo de Deus todo o povo reunia-se quando chegava de noite no saacutebado no baile entatildeo cada um ia pro seu salatildeo A muacutesica ficava no salatildeo dos brancos daiacute colocava umas caixas de som laacute pros morenos com um fio pra eles danccedila Um natildeo podia entra no baile do outro tinha o presidente para cuida Cada um no seu tudo se respeitava e obedecia aquela ordem65

Ainda acrescenta a moradora local Santos

64 REIS Orides Entrevista concedida agrave autora no dia 12 de maio de 2018 65 REIS Orides Entrevista concedida agrave autora no dia 12 de maio de 2018

64

O nosso eu natildeo me lembro o nome tem tanto papel mas natildeo sei onde estaacute o nosso dos pretos neacute ningueacutem implicava eles natildeo deixavam noacutes entra no salatildeo Vera Cruz eu entrava de cozinheira empregada porque ali era lugar dos ricaccedilos eles podiam se associar mas o nosso tambeacutem enchia mas eles iam no nosso baile de nego soacute olhavam As festas duravam dias Tinha aquele foguetoacuterio era tatildeo bonito66

Percebe-se na fala dos moradores como esta divisatildeo racial se fazia presente

que havia por parte dos negros um profundo respeito pelos brancos mesmo eles

tendo acesso ao salatildeo Vera Cruz somente para servi-los em nenhum momento se

percebeu que eles se sentissem diminuiacutedos pela situaccedilatildeo ateacute pela cultura que

advinha desde os primeiros moradores locais

Esta divisatildeo social permanece por longo tempo e somente vai desaparecer

nos anos 80 do seacuteculo XX com a contribuiccedilatildeo do Frei Abiacutelio que veio da Vacaria

durante Missotildees convocadas pelo paacuteroco local padre Afonso que conseguiu

modificar esta organizaccedilatildeo implantando a ideia de igualdade e ignorando tudo

aquilo a partir de entatildeo os negros comeccedilaram a frequentar a sociedade Vera Cruz

contribuiccedilatildeo dos entrevistados67 que ao abordar o assunto demonstraram repulsa

pelo passado mas ao mesmo tempo reconhecem que o racismo ainda eacute presente

na comunidade poreacutem devido agraves leis existe um cuidado maior

Atualmente negros e brancos convivem em harmonia participam da festa

cristatilde cujo padroeiro eacute Satildeo Joatildeo de Deus e dos torneios de laccedilo mas geralmente

quem laccedila satildeo os fazendeiros Saudoso o morador68 afirma que ldquouma vez tinha as

carreradas tinha trecircs canchas passava o domingo nas canchas brincando nas

corridas de cavalos tudo terminourdquo Acrescenta69 ainda que ldquoem 70 80 tinha o

futebol o campo era na baixada acho que tem ainda trofeacuteu ai mas daiacute a gurizada

foi embora para a cidade terminou o timerdquo

A vila se construiu de maneira simples tendo a Igreja Catoacutelica com o Salatildeo

Paroquial agrave direita o antigo Centro de Tradiccedilotildees Gauacutechas Laccedilo Velho do Juaacute onde

resta apenas o preacutedio de madeira corroiacuteda pelo tempo ao fundo a cancha de laccedilo

do Piquete de Laccediladores Velho do Juaacute entidade tradicionalista que se manteacutem ativa

desde o iniacutecio da deacutecada de 1960 ao redor haacute casas de moradias que formam ao

centro uma grande praccedila sem nenhuma infraestrutura em frente a esta praccedila

66 SANTOS Deotildes Palhano dos Entrevista concedida agrave autora no dia 12 de maio de 2018 67 REIS Orides SANTOS Deotildes Palhano Entrevistas concedida agrave autora no dia 12 de maio de

2018 68 REIS Orides Entrevista concedida agrave autora no dia 12 de maio de 2018 69 REIS Orides Entrevista concedida agrave autora no dia 12 de maio de 2018

65

perpassa uma rua de chatildeo batido sendo que a escola da comunidade fica do outro

lado a escola eacute municipal se chama Bento Eziacutedio Rodrigues atende

aproximadamente vinte alunos que estatildeo matriculados nas seacuteries iniciais do ensino

fundamental tendo duas professoras e um funcionaacuterio para fazer merenda e limpar

o paacutetio como se pode observar na Figura 19

Figura 19 ndash Praccedila Vila do Distrito Juaacute ao fundo cancha de laccedilo

Fonte acervo pessoal da autora (2018)

Ambos os entrevistados70 explicam que o Juaacute atualmente eacute um lugar de

idosos aposentados que outrora as pessoas viviam das roccedilas e da pecuaacuteria

extensiva na deacutecada de 1980 com o advento da induacutestria em Caxias do Sul os

jovens abandonaram seu modo de vida e foram buscar novas oportunidades poreacutem

estes jovens que foram embora retornam com frequecircncia natildeo perdendo a sua

essecircncia Relataram que a uacutenica fonte de trabalho eacute ser peatildeo de fazenda fazendas

estas que produzem o queijo serrano ou vendem leite para a Piaacute71 sendo que a

lavoura eacute para subsistecircncia Outra fonte de renda eacute ser funcionaacuterio da serraria cujo

proprietaacuterio e Joatildeo Egiacutedio que funciona proacuteximo da vila Outro fator importante eacute a

venda de pequenas chaacutecaras para moradores de Caxias do Sul que vem aos finais

70 REIS Orides SANTOS Deotildes Palhano Entrevistas concedidas agrave autora no dia 12 de maio de

2018 71 Piaacute Cooperativa Agropecuaacuteria Petroacutepolis Ltda Empresa que faz a coleta do leite nas fazendas da

regiatildeo

66

de semana descansar na localidade poreacutem se percebe que estes novos moradores

muitas vezes natildeo interagem com os moradores locais

Segundo o morador Reis72 ldquoapesar da vinda de pessoas de outros lugares o

Juaacute natildeo perdeu sua identidade fala em Juaacute lembra pinhatildeo colheita do pinhatildeo ateacute

haacute uma criacutetica que diz na eacutepoca do pinhatildeo o juazeiro fala grossordquo Ditado que o

entrevistado73 reafirma sorrindo ldquona eacutepoca do pinhatildeo o juazeiro fala grosso claro

que eacute apenas um dito popular uma maneira de se referir mas sempre eacute dito haacute

aqueles que natildeo gostamrdquo

Nota-se que a vida na comunidade do Juaacute se passa de forma tranquila com

poucos moradores que sua identidade estaacute relacionada agrave pecuaacuteria extensiva com

as lides com o gado bem como ao pinhatildeo uma fruta tiacutepica que se desenvolve na

Araucaacuteria ou pinheiro nativo como eacute conhecido na regiatildeo O pinhatildeo seja ele

assado cozido ou paccediloca74 eacute muito consumido pelos moradores do interior de Satildeo

Francisco de Paula durante o inverno inclusive como mistura do cafeacute da manhatilde

46 DISTRITO DO RINCAtildeO DOS KROEFF

O distrito de Rincatildeo dos Kroeff foi criado em 10 de maio de 1950 Fica a 35

quilocircmetros distante da Sede poreacutem muito antes de se institucionalizar oficialmente

este espaccedilo moradores locais contam como tudo se iniciou

Meu avocirc foi um dos primeiros a vim para caacute ele se chamava Guilherme Faciole ele nasceu no navio vindo da Itaacutelia Ele contava que teve uma desavenccedila em Caxias e fincou o peacute pra caacute pra natildeo acharem ele que aqui era soacute mato e na revoluccedilatildeo de 35 ele fugia de casa para natildeo ser levado pelas tropas os piquetes levavam para combater entatildeo ele sempre dizia que pousou vaacuterias noites embaixo dos peraus da serra do Umbu para natildeo ser levado O falecido vovocirc vivia da caccedila do porco do mato tateti ele fazia charque de porco para ter a carne ele viveu 106 anos e dizia se natildeo tivesse fumado viveria mais uns dez isso faz parte da histoacuteria do Rincatildeo dos Kroeff Junto teve o falecido Acircngelo Menegaacutes que entro aqui na mesma eacutepoca Eles satildeo os fundadores do distrito75

O acesso ao distrito Rincatildeo dos Kroeff permanece totalmente pela estrada de

chatildeo batido sendo possiacutevel ir ao municiacutepio de Maquineacute descendo pela serra do

Umbu Poreacutem muito antes da estrada a busca de mantimentos e o escoamento da

72 REIS Orides Entrevista concedida agrave autora no dia 12 de maio de 2018 73 REIS Orides Entrevista concedida agrave autora no dia 12 de maio de 2018 74 Paccediloca carne de porco moiacuteda e frita no azeite ou banha a qual se acrescenta o pinhatildeo jaacute cozido

e moiacutedo 75 FACIOLE Reinaldo Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de marccedilo de 2018

67

produccedilatildeo se dava pelos carreiros visto que natildeo havia abertura de estrada e nem

viatura76 como os moradores relatam

Tudo era na tropeada as tropas que ia para Rolante Na tropeada saia um tropeiro na frente e um recircs com um cincerro que era a madrinheira da tropa saia laacute pelo Chuvisqueiro e saia laacute em Rolante perdia boi na estrada ficava semanas boi perdido agraves vezes nem se achava mais tambeacutem tinha tropa de porco e tinha as tropeadas de mula puxando milho feijatildeo trigo tudo produzido aqui e levado de cargueiro carreta era muito pouco porque natildeo tinha estrada para anda era soacute os trilhos pelo meio dos matos e campos e se produzia milho era o inverno inteiro saia tropas e mais tropas com trinta quarenta mulas burros transportando mantimentos da produccedilatildeo do gratildeo haacute tambeacutem tinha a flor de Pireto que era lucro ningueacutem conhece isso aiacute hoje essa flor era levada para Taquara e fazia veneno para formiga tudo que era tipo de veneno era uma flor muito toacutexica Acredita tropear galinha pois eacute a gente criava bastante saia com os cargueiros como era a vida eles faziam um girau no cesto naqueles balaios para fazer duas camas uma mais em cima e outra em baixo daiacute quando era veratildeo era muito quente tinha que no meio da viagem tirar de dentro do cesto botar na aacutegua na sanga para natildeo morrer ateacute chegar no mercado dali para praia a eacutepoca que mais vendia era novembro e dezembro daiacute tinha preccedilo bom tudo criada solta aviaacuterio nem se falava77

Ao ouvir os moradores se percebe que a construccedilatildeo do distrito aconteceu

devido ao esforccedilo e trabalho de muitas pessoas visto que o local era de mata nativa

densa e precisou ser desmatado para ser ocupado pelas pessoas Explica o

entrevistado Faciole78 ldquopara fazer uma lavoura tambeacutem precisava derrubar o

pinheiro seu Onorino Buffon me contou que faziam fogo ao redor do pinheiro eles

eram muito grosso para derrubar a machado entatildeo faziam fogo secavam para

depois fazer a roccedilardquo E a moradora79 local acrescenta ldquoaqui tambeacutem tinha os

barbacuazeiros produziam erva mais aqui eles soacute tiravam a erva e sapecavam e

depois ia para outro lugar industrializa tudo era diferenterdquo

Poreacutem segundo os moradores este modelo de vida rudimentar se modifica

com a chegada das serrarias sendo que a dos Kroeff foi a primeira juntamente com

a serraria se viu a necessidade da construccedilatildeo de novas casas para os

trabalhadores surgindo ali a vila do distrito Rincatildeo dos Kroeff no iniacutecio a serraria era

tudo manual relata Faciole80 ldquoa uacutenica forma de tira a madeira era com um enfieira

76 Viatura se refere a carro de passeio caminhotildees 77 FACIOLE Reinaldo FACIOLE Maria Madalena Scalco Entrevistas concedidas agrave autora no dia 18

de marccedilo de 2018 78 FACIOLE Reinaldo Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de marccedilo de 2018 79 FACIOLE Maria Madalena Scalco Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de marccedilo de 2018 80 FACIOLE Reinaldo Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de marccedilo de 2018

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de boi eu cheguei a ver cinco ternos de boi carreiro81 emendado puxando um

pinheiro eacute uma bicheira de boi natildeo tinha outra formardquo

Rincatildeo dos Kroeff eacute o menor distrito de Satildeo Francisco de Paula poreacutem em

suas terras se desenvolveu a cultura dos hortifrutigranjeiros desde muito cedo jaacute

que sua colonizaccedilatildeo eacute basicamente italiana e alematilde e os italianos tecircm a cultura do

plantio visando lucro A moradora Faciole82 afirma ldquotudo comeccedilou por aqui depois

se expandiu para o municiacutepio comeccedilamos com moranga branca depois repolho

couve broacutecolis alface e daiacute veio beterraba e tudo o restordquo Acrescenta ainda83 que

ldquodaqui saiacuteram os primeiros caminhotildees de hortifruacuteti do municiacutepio para a Ceasa teve

eacutepoca de sair quarenta caminhotildees por dia do Rincatildeo hoje natildeo sai mais porque

muitos foram buscar novos lugares para plantarrdquo E juntamente com a mudanccedila dos

proprietaacuterios em busca de novas terras muitos de seus funcionaacuterios foram embora

junto afirma em entrevista o morador local84 ldquomuita gente do Rincatildeo foi embora

muitas gurias foram embora para estudar para achar emprego e natildeo voltaram maisrdquo

Atraveacutes da fala da moradora pode-se observar que apesar do distrito ser

produtivo enfrenta algumas dificuldades com relaccedilatildeo ao estudo de seus moradores

que para continuarem seus estudos se assim o desejarem necessitam abandonar

seus pais e ir em busca na Sede ou arredores visto que no distrito existe uma uacutenica

escola Gastatilde Henth Esta eacute municipal e atende dos quatro anos ao nono ano do

ensino fundamental A moradora Faciole explica

O coleacutegio hoje tem 99 alunos ao total quando eles terminam o nono ano alguns vatildeo estudar mas satildeo pouquiacutessimos os outros ficam por aiacute mesmo natildeo tem um transporte que leve eles para fazer o ensino meacutedio na Sede que seria a escola de ensino meacutedio mais proacuteximo se quiser estudar vai ter que ir embora reforccedila quem e trabalhador fica trabalhando com os pais quem natildeo eacute [] As pessoas na sua grande maioria soacute tem o ensino fundamental aqui85

Este eacute um dos grandes problemas enfrentados pelos moradores do Rincatildeo

dos Kroeff a possibilidade de continuar estudando A escola que laacute existe os

moradores locais natildeo sabem precisar a data mas sabem que foi durante o mandato

81 Ternos de boi carreiro significam vaacuterias duplas de bois cangados e ligados por um pedaccedilo de

madeira que vatildeo na canga entre a dupla de bois Esse pau roliccedilo na regiatildeo se chama de cambatildeo 82 FACIOLE Maria Madalena Scalco Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de marccedilo de 2018 83 FACIOLE Maria Madalena Scalco Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de marccedilo de 2018 84 FACIOLE Reinaldo Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de marccedilo de 2018 85 FACIOLE Maria Madalena Scalco Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de maio de 2018

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do prefeito Escobar (1977-1982) que ela foi construiacuteda Neste contexto aparece

tambeacutem a dificuldade de se locomover fazendo uso do transporte puacuteblico

Haacute sete anos atraacutes o Rincatildeo estava bom mesmo tinha ocircnibus da praia agraves vezes passava quatro a cinco ocircnibus da praia tudo pela serra do Umbu Agora soacute tem um trecircs dias por semana As empresas deixaram de trafegar por aqui elas natildeo vatildeo descer numa serra de chatildeo batido sendo que tem a outra86 com asfalto87

Os moradores se orgulham da festa religiosa que acontece todos os anos em

agosto sendo que o santo padroeiro eacute Satildeo Roque A festa da comunidade

apresenta uma tradiccedilatildeo local muito interessante na segunda-feira apoacutes a festa ela

continua para os moradores locais que vatildeo ao salatildeo paroquial para se divertir entre

si e esta eacute uma tradiccedilatildeo que eacute comentada em todo o municiacutepio Faciole88 saudoso

afirma ldquopara ti ter uma ideia nessa festa chegava dar vinte poucos ocircnibus lotado que

vinham de outros municiacutepios como Igrejinha Taquara Porto Alegre Novo

Hamburgo o espaccedilo ficava pequenordquo Acrescenta89 ainda ldquoaqui noacutes tinha o Clube

Serrano que dava baile janta italiana dava um movimento louco mas terminou ateacute

o baile das rainhas cada ano era uma era tatildeo lindo mas tudo se acabourdquo

Figura 20 ndash Imagem da Igreja Satildeo Roque em dia de festa no Rincatildeo dos Kroeff

Fonte acervo pessoal da autora (2018)

86 A outra se refere a rodovia RS-453 conhecida como Rota do Sol 87 FACIOLE Reinaldo Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de marccedilo de 2018 88 FACIOLE Reinaldo Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de marccedilo de 2018 89 FACIOLE Reinaldo Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de marccedilo de 2018

70

Percebe-se que o distrito Rincatildeo dos Kroeff eacute o uacutenico que obteve em seu

iniacutecio uma colonizaccedilatildeo por descentes de italianos dentro do municiacutepio de Satildeo

Francisco de Paula o que demonstra o quatildeo forte se daacute a tradiccedilatildeo ldquoitalianardquo neste

local permanecendo intriacutenseca na vida cotidiana de seu povo com a cultura do

plantio de hortifrutigranjeiros que permanece apesar do tempo como sendo a sua

maior identidade local

47 DISTRITO DE LAJEADO GRANDE

Lajeado Grande em tempos idos pertenceu ao distrito de Cazuza Ferreira e

somente em 12 de dezembro de 1968 se tornou um distrito independente segundo

a Lei nordm 655 encontrada nos autos da Prefeitura Municipal de Satildeo Francisco de

Paula A vila do distrito Lajeado Grande fica distante 63 quilocircmetros da Sede e se

situa na confluecircncia do Arroio Porco Morto e o Rio Bururi Seu surgimento acontece

segundo o morador Fogaccedila90 ldquopor volta de 1940 com a abertura da estrada Canela

ndash Bom Jesus a atual RS-476 que corta a vila do Distritordquo Essa estrada segundo o

morador facilitou a locomoccedilatildeo que anteriormente era feita totalmente pelas trilhas e

picadas por onde somente se passava a cavalo ou de carreta E o entrevistado

explica como acontece o desenvolvimento inicial da vila

Tu sabe aqui tem o nome de Lajeado Grande por causa do rio que eacute cheio de lajes grandes o que facilitava a travessia e as terras aqui por roda era tudo do falecido Pequeno Cardoso ele doou parte para a construccedilatildeo da vila onde o falecido Leopoldino Cardoso irmatildeo do Pequeno tinha uma lsquobudega velharsquo91 por aqui sendo o primeiro comeacutercio da vila92

A abertura da estrada possibilitou o desenvolvimento da vila juntamente com

o Casaratildeo um hotel pensatildeo que foi construiacutedo as margens do Arroio Porco Morto

este Casaratildeo passou por diversos proprietaacuterios

Leopoldino Cardoso foi o idealizador do Casaratildeo juntamente com os seus soacutecios Heraacuteclito Andrade de Cardoso lsquoJoanitorsquo Joseacute Osoacuterio de Lima lsquoZecarsquo e Pequeno Cardoso sendo que o Casaratildeo era uma casa de negoacutecio compravam queijo couro era um comeacutercio forte vendia secos e molhados inclusive a primeira rodoviaacuteria foi instalada neste espaccedilo poreacutem em 1948 Joatildeo Pacheco Cardoso assume e amplia o estabelecimento construindo o segundo piso da casa de madeira e alugando para outros dois moradores

90 FOGACcedilA Blair dos Santos Entrevista concedida agrave autora no dia 06 de abril de 2018 91 Budega velha referindo-se a uma antiga casa de comeacutercio de secos e molhados localizada onde

hoje se encontra o armazeacutem Celeiro 92 FOGACcedilA Blair dos Santos Entrevista concedida agrave autora no dia 06 de abril de 2018

71

Eremi Terres e Claunir Lucena Com a reforma o Casaratildeo passa a ter treze quartos para aluguel uma loja onde encontrava-se tudo o que se necessitava de alfinete tecido alimentos e raccedilotildees aleacutem da ala que servia de moradia para os proprietaacuterios Em 1962 o estabelecimento eacute alugado para Eraldo Bento de Oliveira que aleacutem de gerenciar o estabelecimento colocou junto um bar local de encontro dos homens da redondeza para tomar um lsquotragorsquo93 (CERUTTI SILVA CARDOSO 2002 p 19)

Figura 21 ndash Imagem do Casaratildeo pouco antes de ser desmanchado

Fonte acervo pessoal de Fernando Oliveira (conhecido como Guego) (2018)

O Casaratildeo foi desmanchado na deacutecada de 1980 pelo entatildeo proprietaacuterio Reno

Pacheco Poreacutem percebe-se na vila que seus antigos moradores falam com certo

saudosismo deste estabelecimento que fez parte de suas vidas e chegam a

lamentar o seu fim morador Fogaccedila94 afirma ldquoali se fez o pastel mais famoso do

Lajeado Grande o pastel da Odila mas tudo se acabou quando eles entregaram e

construiacuteram laacute na esquinardquo95

Poreacutem a vila Lajeado Grande foi lentamente se desenvolvendo Devido agrave

necessidade da conservaccedilatildeo da nova estrada foi construiacuteda agraves margens do Rio

Bururi uma capatazia do DAER Segundo Cerutti Silva e Cardoso (2002 p 18) ldquoo

primeiro capataz foi Capitulino Prudecircncio de Oliveira vindo de Santa Catarina sua

funccedilatildeo era manter as estradas e chegou a ter vinte funcionaacuteriosrdquo Percebe-se que a

93 Trago expressatildeo local que significa beber uma cachaccedila 94 FOGACcedilA Blair dos Santos Entrevista concedida agrave autora no dia 06 de abril de 2018 95 Esquina eacute o nome dado a parte da vila do Lajeado Grande onde se daacute o entroncamento das

rodovias RS-453 e ERS-476

72

partir deste momento se inserem neste distrito pessoas advindas de outros estados

e locais visto que ateacute o presente momento o distrito era habitado por fazendeiros

naturais do proacuteprio municiacutepio e que tinham suas vidas ligadas diretamente agrave

pecuaacuteria extensiva e agrave produccedilatildeo do queijo serrano Importante destacar que a

esposa de Capitulino segundo Cerutti Silva e Cardoso (2002 p 18) ldquoa Celicina

Guilherme da Silva se torna uma figura conhecida por realizar partos sendo

chamada como parteira de campanhardquo Na atualidade filhos netos e bisnetos do

casal ainda residem na vila

A vila do Lajeado Grande tambeacutem recebe novos moradores com a praacutetica do

corte do pinheiro nativo sendo que na deacutecada de 1950 havia uma faacutebrica de

beneficiamento de madeira ateacute se transformar em pasta este material era levado

para Esteio onde funcionava agrave matriz A partir dos anos 1950 ocorre a instalaccedilatildeo de

serrarias sendo que a Madeireira Albeflor de propriedade de Valter Sguaizer se

instala em 1964 Novamente busca-se matildeo de obra em localidades proacuteximas como

Lagoa Vermelha Vacaria e Bom Jesus poreacutem com a proibiccedilatildeo da extraccedilatildeo de

madeira de lei a serraria deixou de funcionar

Percebe-se que no distrito natildeo houve uma homogeneizaccedilatildeo identitaacuteria visto a

influecircncia advinda de muitas culturas no passado atraveacutes da extraccedilatildeo de madeira

e na atualidade com o advento das lavouras de hortifrutigranjeiros e pomares

frutiacuteferos que ocupam boa parte do distrito substituindo a pecuaacuteria extensiva que jaacute

natildeo proporciona um lucro efetivo Entatildeo os proprietaacuterios na sua grande maioria

venderam ou arrendaram suas terras para novas culturas o que modifica o modo de

vida local pois grande parte dos trabalhadores adveacutem de outros estados como o

Paranaacute e tambeacutem se observa o uso da matildeo de obra indiacutegena

Essa miscigenaccedilatildeo se observa nas escolas locais visto que na vila funciona a

Escola Municipal D Pedro I que segundo Cerutti Silva e Cardoso (2002 p 35)

ldquoinicia em 1965 poreacutem a professora e o preacutedio eram mantidos pela Serraria mas na

deacutecada de 70 a prefeitura assumiu a escola sendo que Eloci Martim foi a primeira

professora da Serrariardquo Escola da Serraria como ainda eacute conhecida por boa parte

dos moradores locais apesar de a escola natildeo se encontrar mais onde havia a antiga

serraria Atualmente a Escola Dom Pedro I funciona em um preacutedio obtido atraveacutes da

Associaccedilatildeo de Moradores atendendo alunos da preacute-escola ateacute o sexto ano das

seacuteries finais tendo em seu quadro seis professores e duas funcionaacuterias Sendo que

73

a obra para um novo preacutedio teve iniacutecio neste ano mas percebe-se que a obra parou

por volta do mecircs de maio Poreacutem na vila tambeacutem se encontra uma escola estadual

A documentaccedilatildeo necessaacuteria para a criaccedilatildeo de uma nova escola na localidade foi elaborada por Manoel Cardoso de Andrade juntamente com a professora Odazilda Cardoso Demori e encaminhada agrave Secretaria da Educaccedilatildeo sendo que em 11 de fevereiro de 1953 foi criada a Escola Isolada de Lajeado Grande sendo os professores estaduais mas o preacutedio sob responsabilidade comunitaacuteria iniciou o seu funcionamento nas dependecircncias do DAER e somente em 1957 foi construiacutedo um preacutedio de madeira em terras doadas por Pequeno Cardoso local onde hoje ainda se encontra a escola poreacutem passou por muitas reformas sendo que em 2000 recebeu um novo preacutedio de alvenaria o que possibilitou a realizaccedilatildeo de um grande sonho dos professores e comunidade a implantaccedilatildeo do Ensino Meacutedio que concretizou-se em 200296

Atualmente a escola atende em torno de trezentos alunos da Educaccedilatildeo

Baacutesica poreacutem percebe-se que devido agraves safras de hortifrutigranjeiros o nuacutemero de

alunos se alterna durante o ano O que tambeacutem se percebe eacute o comportamento dos

alunos com relaccedilatildeo agrave diversidade cultural por exemplo usam bombacha laccedilam boi

de pau no recreio e escutam funk uma cultura totalmente diferente da tradicionalista

gauacutecha o que compreende-se como algo advindo da globalizaccedilatildeo cultural que

vivemos no mundo atual reforccedilando novamente o natildeo reconhecimento de uma

identidade forte na localidade

Poreacutem as famiacutelias tradicionais do local manteacutem fortemente arraigada a

cultura tradicionalista que adveacutem do homem do campo tendo no distrito festas

campeiras torneios de laccedilo e a festa religiosa uma vez por ano em homenagem ao

Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus padroeiro da vila

Na atualidade natildeo se percebe uma identidade forte e marcada no distrito e

sim uma miscigenaccedilatildeo de diferentes culturas e etnias que convivem e se integram

harmonicamente

96 CARDOSO Amaacutelia Celuderes Entrevista concedida agrave autora no dia 08 de marccedilo de 2018

74

5 DESCRICcedilAtildeO DO PRODUTO

O produto consiste em um livro paradidaacutetico sobre a histoacuteria de Satildeo Francisco

de Paula Apresenta de maneira didaacutetica a histoacuteria de Satildeo Francisco de Paula bem

como balotildees explicativos imagens sugestotildees de atividades e leituras

complementares Poderaacute servir de apoio pedagoacutegico a professores e alunos do

municiacutepio visto que existe pouco material sobre a histoacuteria deste municiacutepio e se faz

importante trabalhar a histoacuteria local percepccedilatildeo que a autora obteve ao longo da sua

caminhada como professora de histoacuteria que atua nas seacuteries finais do ensino

fundamental e meacutedio haacute dezessete anos na rede estadual do municiacutepio

Partir do local natildeo eacute abandonar o conhecimento histoacuterico eacute dar outro valor

sentido para este conhecimento Segundo Caimi

Levar em conta o universo da crianccedila ou do adolescente natildeo eacute pois abdicar do rigor intelectual [] mas garantir que a apropriaccedilatildeo deste conhecimento ocorra permeada de sentido e significado resultando em soacutelidas aprendizagens (CAIMI 2006 p 24)

Seguindo esta perspectiva a implantaccedilatildeo do Referencial Curricular Gauacutecho

embasado na Base Nacional Comum Curricular reforccedila a ideia jaacute discutida nos

paraacutegrafos anteriores

No que se refere especificamente ao componente Histoacuteria a base rompe tanto com a cronologia quanto agrave visatildeo eurocecircntrica da histoacuteria tradicional Entram em cena novos atores novas sociedades novos caminhos que sempre tiveram na histoacuteria mas nem sempre receberam a devida importacircncia Acompanhando a Base Nacional Comum Curricular o Referencial Curricular Gauacutecho no que se refere especificamente agrave disciplina de Histoacuteria manteacutem seu foco na aprendizagem dos alunos nos diferentes espaccedilos e tempos tendo a preocupaccedilatildeo de integrar o curriacuteculo com a diversidade regional de nosso Estado Tambeacutem eacute importante contemplar os temas integradores como eacutetica cidadania cultura e valorizaccedilatildeo das diversidades assegurando a multiplicidade de olhares sobre o mundo (RIO GRANDE DO SUL 2018 p 118)

Portanto o paradidaacutetico seraacute mais um material disponiacutevel aos professores e

estudantes da educaccedilatildeo baacutesica de Satildeo Francisco de Paula na construccedilatildeo do

conhecimento da histoacuteria do municiacutepio bem como o reconhecimento de sua

identidade neste material visto que se almeja que os estudantes percebam

vestiacutegios de sua identidade e se percebam como parte deste municiacutepio atraveacutes do

conhecimento de sua histoacuteria

75

O paradidaacutetico vem com o tiacutetulo rdquoTropeando histoacuterias em Satildeo Francisco de

Paulardquo sendo que a capa traz a foto do Monumento aos Carreteiros monumento

que se encontra na Avenida Juacutelio de Castilhos em frente ao preacutedio da Prefeitura

Municipal

Figura 22 ndash Capa do livro

Fonte Livro Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula

Na sequecircncia se apresenta o iacutendice que possibilita ao leitor localizar os

diversos temas abordados visto que existem nove capiacutetulos

76

Figura 23 ndash Iacutendice do livro

Fonte Livro Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula

77

O capiacutetulo um apresenta a localizaccedilatildeo de Satildeo Francisco de Paula com uma

seacuterie de mapas que facilitam a compreensatildeo espacial dos alunos assim como um

mapa da subdivisatildeo do municiacutepio em distrito Ao final satildeo sugeridas duas atividades

que podem ser desenvolvidas de maneira interdisciplinar com o apoio da professora

de arte geografia e portuguecircs

Figura 24 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 1)

Fonte Livro Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula

78

Figura 25 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 1)

Fonte Livro Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula

O capiacutetulo dois aborda a existecircncia indiacutegena em Satildeo Francisco de Paula

antes da chegada dos desbravadores vindos de Satildeo Paulo Como sugestatildeo de

atividades apresenta-se uma pesquisa sobre as diferentes tribos indiacutegenas que

habitavam a Proviacutencia de Satildeo Pedro aleacutem da criaccedilatildeo de um painel infograacutefico

79

Figura 26 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 2)

Fonte Livro Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula

No capiacutetulo trecircs se apresentam os primeiros donataacuterios colonizadores de Satildeo

Francisco de Paula com trecho de um testamento deixado por Pedro da Silva

Chaves o fundador de Satildeo Francisco de Paula bem como o mapa que localiza as

primeiras sesmarias que corresponde ao territoacuterio onde hoje eacute a Sede do municiacutepio

80

Figura 27 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 3)

Fonte Livro Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula

Nos capiacutetulos quatro e cinco eacute apresentado o desenvolvimento de Satildeo

Francisco de Paula ainda no seacuteculo XIX quando pertencia ao municiacutepio de Santo

Antocircnio da Patrulha e no final do seacuteculo XIX quando passa a pertencer ao entatildeo

81

municiacutepio de Taquara do Mundo Novo Existe tambeacutem um mapa que demonstra a

extensatildeo territorial de Santo Antocircnio da Patrulha e quais satildeo os municiacutepios hoje que

pertenceram a este bem como a importacircncia da abertura da estrada que liga Satildeo

Francisco de Paula a Taquara

Figura 28 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 4)

Fonte Livro Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula

82

Os capiacutetulos seis e sete apontam a construccedilatildeo do Municiacutepio a partir de sua

emancipaccedilatildeo em 1903 sua extensatildeo territorial e a diminuiccedilatildeo do seu territoacuterio ao

longo do tempo e a histoacuteria da Igreja Matriz Como sugestatildeo de atividade pesquisar

a diversidade religiosa existente na comunidade escolar e criar graacuteficos com essas

informaccedilotildees podendo a partir de entatildeo trabalhar com as questotildees religiosas ontem

e hoje no mundo

Figura 29 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 6)

Fonte Livro Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula

83

No capiacutetulo oito se apresenta o que difere os sete distritos de Satildeo Francisco

de Paula Este capiacutetulo se apresenta subdividido em sete subtiacutetulos onde cada um

corresponde a um distrito do municiacutepio Tendo como fonte principal as entrevistas

realizadas com moradores locais mesclado com fontes documentais e bibliograacuteficas

que corroboram para se perceber que haacute alguns distritos que manteacutem suas tradiccedilotildees

ao longo do tempo e eacute possiacutevel perceber que existe uma identidade que aproxima

aquela populaccedilatildeo

Figura 30 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 8)

Fonte Livro Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula

84

No uacuteltimo capiacutetulo o nove se exibe uma lista de sugestotildees de leituras

complementares a fim de se aprofundarem sobre determinados temas E por fim

as referecircncias utilizadas para a construccedilatildeo do paradidaacutetico Tropeando Histoacuterias em

Satildeo Francisco de Paula

Figura 31 ndash Atividade do livro (Sugestatildeo de Leituras Complementares)

Fonte Livro Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula

85

O produto foi testado em duas turmas da Educaccedilatildeo Baacutesica na Escola

Estadual de Ensino Meacutedio Lajeado Grande com o propoacutesito de avaliar qual seria a

reaccedilatildeo dos estudantes diante do material e por ele ter sido produzido por algueacutem

que convive com eles semanalmente A receptividade foi bastante gratificante como

se pode observar na Figura 32

Figura 32 ndash Alunos do Ensino Meacutedio

Fonte acervo pessoal da autora (2019)

A receptividade foi muito interessante visto que os estudantes

acompanharam a trajetoacuteria para chegar ao produto final algo que os deixava

ansiosos para manusear pois muitas vezes foram parceiros A autora foi

compartilhando com os estudantes as informaccedilotildees obtidas durante a pesquisa e as

descobertas encontradas usando em suas aulas a histoacuteria local para abordar os

diferentes temas e conceitos histoacutericos

Quando a autora apresenta o produto os estudantes do ensino meacutedio estes

formam grupos por distritos e buscam logo reconhecer no material sua identidade

apoacutes comentam sobre as peculiaridades de cada distrito Poreacutem os alunos do

ensino fundamental manuseiam o produto mas natildeo se deteacutem ao distrito em que

pertence e sim as imagens e as explicaccedilotildees apresentadas no vocecirc sabia

O que enriquece o trabalho realizado foi o envolvimento dos estudantes com

o produto solicitando quando poderatildeo ler calmamente todo o trabalho

86

6 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

A partir de experiecircncias pessoais em sala de aula se percebeu que o ensino

de Histoacuteria quando se partia da histoacuteria local havia maior interesse dos estudantes

da educaccedilatildeo baacutesica motivo pelo qual se deu a questatildeo-problema desta dissertaccedilatildeo

que estaacute relacionada diretamente com o natildeo uso desta histoacuteria pelos professores da

educaccedilatildeo baacutesica

Em conversas informais com professores da educaccedilatildeo baacutesica que atuam no

municiacutepio de Satildeo Francisco de Paula em sua grande maioria alegam que o grande

empecilho para se trabalhar a histoacuteria local eacute o pouco material disponiacutevel sobre a

histoacuteria de Satildeo Francisco de Paula aleacutem do rigor dos curriacuteculos que impotildeem o

ensino de Histoacuteria de maneira linear sem contextualizaccedilatildeo com a realidade vivida

pelos estudantes pois desta forma natildeo estatildeo preparando os estudantes para as

avaliaccedilotildees do Ministeacuterio da Educaccedilatildeo bem como para o vestibular Poreacutem natildeo se

estaacute afirmando que deveraacute estudar somente a histoacuteria local e sim partir dela como

incentivo para estudos dos conceitos e temaacuteticas da histoacuteria por muitas vezes

totalmente abstrato e de difiacutecil compreensatildeo pela grande maioria dos estudantes

A partir de entatildeo se realizaram inuacutemeros questionamentos como qual a

necessidade de se ensinar Histoacuteria de forma abstrata sem nenhuma relaccedilatildeo com

as vivecircncias dos estudantes Por que natildeo usar a fonte oral como metodologia de

pesquisa no ensino de Histoacuteria em Satildeo Francisco de Paula jaacute que natildeo existem

muitos materiais escritos a respeito desta histoacuteria principalmente no que tange os

distritos do interior Poreacutem estes questionamentos natildeo foram aprofundados na

dissertaccedilatildeo por natildeo ser o objetivo direto da pesquisa mas posteriormente poderaacute

se tornar um novo projeto de pesquisa

Nesta incessante busca por resposta se constroacutei todo o estudo desta

dissertaccedilatildeo que em um primeiro momento busca embasamento em diferentes

autores que comprovam que o ensino de Histoacuteria voltado para o local faz maior

sentido para os estudantes da educaccedilatildeo baacutesica e que isto natildeo significa abandonar

os conceitos histoacutericos e sim questionar analisar a trajetoacuteria humana no tempo e

no espaccedilo sob uma nova metodologia Apenas se sugere uma nova abordagem

que torne o ensino de Histoacuteria menos abstrato algo mais presente na vida do

estudante e que possibilite a ele a habilidade de perceber que o mundo estaacute em

constante mudanccedila poreacutem os fatos natildeo ocorrem de forma isolada no espaccedilo Algo

87

que foi reforccedilado apoacutes a construccedilatildeo da Base Nacional Curricular e o Referencial

Curricular Gauacutecho que vem de encontro com esta proposta de se estudar a histoacuteria

sobre novos olhares natildeo esquecendo das especificidades regionais do estado do

Rio Grande do Sul para o reconhecimento da identidade local e regional

A identidade local nesta pesquisa se buscou atraveacutes de relatos de

moradores locais que gentilmente colaboraram para o sucesso deste trabalho pois

a memoacuteria se tornou a fonte primordial para se escrever o que identifica os sete

distritos que constituem Satildeo Francisco de Paula Certamente a temaacutetica natildeo se

esgotou ainda haacute muito que se pesquisar e escrever sobre a histoacuteria de Satildeo

Francisco de Paula possibilitando a criaccedilatildeo de novos materiais que possam ser

usados em sala de aula pelos professores e alunos deste municiacutepio

Mas ao mesmo tempo haacute uma preocupaccedilatildeo por parte da autora nada

adianta criar produtos sinalizar novos meacutetodos ao ensino de Histoacuteria se o

profissional professor natildeo estiver preparado para trabalhar com novas fontes

histoacutericas novas metodologias de ensino proporcionando aos estudantes a

oportunidade de construir seu proacuteprio conhecimento histoacuterico embasado em sua

realidade e suas vivecircncias

Vivecircncias que se tornaram aliadas na pesquisa pois a autora nasceu e

sempre viveu no municiacutepio de Satildeo Francisco de Paula poreacutem a maior dificuldade

encontrada nesta caminhada foi percorrer grandes distacircncias por estradas de

rodagem em peacutessimas condiccedilotildees de trafegabilidade para gravar os relatos que

servem de base para a construccedilatildeo desta pesquisa O municiacutepio de Satildeo Francisco de

Paula eacute territorialmente extenso e essas distacircncias percorridas deram o nome ao

produto Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula como uma homenagem

aos antigos tropeiros deste municiacutepio que passavam boa parte de sua vida ao

lombo de mulas levando e buscando mercadorias pelos campos de cima da serra

Visto que desde o processo seletivo do mestrado em agosto de 2016

quando se apresentou o projeto de pesquisa jaacute se pensava no produto um livro

paradidaacutetico no formato fiacutesico A autora por diversas vezes foi questionada por que

natildeo um blog ou site Porque na forma fiacutesica este material seria de faacutecil manuseio

pelos estudantes e professores pois principalmente no interior uso da internet ainda

eacute um problema visto que em muitos locais natildeo existe sinal de telefonia diraacute

internet

88

O paradidaacutetico foi se moldando ao longo do tempo ateacute se chegar a versatildeo

final com uma ampla gama de informaccedilotildees e curiosidades sobre os sete distritos de

Satildeo Francisco de Paula onde se pretende que os alunos e professores possam

fazer uso deste material em sala de aula para tanto a autora pretende

posteriormente lanccedilar o produto para que possa ser lido e manuseado por todos

inclusive por aqueles que gostam de histoacuteria e sentem curiosidade sobre a formaccedilatildeo

do seu distrito e por conseguinte do municiacutepio de Satildeo Francisco de Paula

O paradidaacutetico foi testado em duas turmas da Escola Estadual de Ensino

Meacutedio Lajeado Grande sendo uma de Ensino Meacutedio e a outra das seacuteries finais do

Ensino Fundamental Os alunos jaacute detinham o conhecimento que a autora estava

cursando o Mestrado e que para sua conclusatildeo deveria apresentar um produto Era

de conhecimento de todos os estudantes que a autora estava produzindo um

paradidaacutetico sobre a histoacuteria de Satildeo Francisco de Paula pois a mesma eacute professora

destes estudantes nesta escola

Em um primeiro momento se explica que eacute apenas um protoacutetipo que

somente a capa estaacute colorida e o restante estaacute todo em preto e branco e que a

versatildeo final teraacute as imagens e as curiosidades coloridas o que com certeza

chamaraacute mais atenccedilatildeo Ao entregar o paradidaacutetico Tropeando Histoacuterias em Satildeo

Francisco de Paula para que possam manuseaacute-lo veio a primeira grande surpresa

os estudantes ficaram muito contentes por a turma ter sido escolhida pela autora

escolha essa que se justifica por ter trabalhado todo o ano de 2017 com estes

alunos partindo da histoacuteria local

A turma do oitavo ano do Ensino Fundamental manuseou sendo que os

alunos acharam interessante poreacutem se deteram mais nas imagens e balotildees do

ldquovocecirc sabiardquo Mas de maneira ampla e geral acharam muito interessante a foto de

capa com o Monumento aos Carreteiros situado na Avenida Juacutelio de Castilhos em

frente ao preacutedio da Prefeitura Municipal pois alguns natildeo conhecem a Sede do

municiacutepio

Os alunos do segundo ano do Ensino Meacutedio se surpreenderam e foram direto

ler sobre o distrito no qual residem Interessados questionaram sobre curiosidades

de como o material foi construiacutedo quais as maiores dificuldades encontradas

elogiaram o leiaute as imagens de fundo ao lado de cada curiosidade relatando que

chama a atenccedilatildeo aleacutem de considerarem relevantes as sugestotildees de atividades e

ao final solicitaram quando o material estaraacute disponiacutevel para que possam ler

89

integralmente visto que um periacuteodo de cinquenta minutos natildeo foi suficiente para que

todos manuseassem se fazendo necessaacuterio levar novamente na proacutexima aula

A autora se sentiu motivada pela recepccedilatildeo do produto por seus alunos o que

a incentiva continuar pesquisando sobre outras temaacuteticas a respeito da histoacuteria de

Satildeo Francisco de Paula trazendo para seu fazer pedagoacutegico novas fontes que

proporcionem um estudo da Histoacuteria de maneira ampla e contextualizada com a

realidade local que os cerca

90

REFEREcircNCIAS

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Jornal Folha da Serra n 25 do dia 31 de dezembro de 1968

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Jornal Satildeo Chico Tchecirc n 11 do dia 25 de maio de 1986

Jornal Satildeo Chico Tchecirc n 12 do dia 28 de maio de 1986

Jornal Pioneiro versatildeo digital do dia 02 de junho de 2017

Entrevistas

Amaacutelia Celuderes Cardoso residente no distrito de Lajeado Grande Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 08 de marccedilo de 2018

Blair dos Santos Fogaccedila residente no distrito de Lajeado Grande Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 06 de abril de 2018

Ceacutelia Pacheco Terres Basso residente no distrito de Cazuza Ferreira Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 04 de agosto de 2018

Darci da Silva Fagundes residente no distrito de Tainhas Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 24 de fevereiro de 2018

Deotildes Palhano dos Santos residente no distrito do Juaacute Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 12 de maio de 2018

Jaures Feijoacute Gomes residente no distrito de Eletra Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 15 de fevereiro de 2018

Luciana Olga Soares residente no distrito Sede Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 01 de marccedilo de 2018

Maria Madalena Scalco Faciole residente no distrito do Rincatildeo dos Kroeff Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 18 de marccedilo de 2018

Moacir Castello Branco de Albuquerque residente no distrito Sede Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 06 abril de 2018

95

Nauro Bossle de Andrade residente no distrito de Cazuza Ferreira Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 04 de marccedilo de 2018

Orides Reis residente no distrito do Juaacute Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 12 de maio de 2018

Reinaldo Faciole residente no distrito do Rincatildeo dos Kroeff Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 18 de marccedilo de 2018

Susana Marques Soares residente no distrito de Eletra Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 15 de fevereiro de 2018

96

APEcircNDICES

97

APEcircNDICE A ndash ENTREVISTA COM MORADORES LOCAIS DOS DISTRITOS DE

SAtildeO FRANCISCO DE PAULA

UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL

PROGRAMA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO EM HISTOacuteRIA ndash MESTRADO EM HISTOacuteRIA PROFISSIONAL

PESQUISA DE CAMPO ndash TATIANA MEacuteLO CARDOSO

1 Nome completo

2 Idade

3 Quantos anos reside neste distrito

4 Como se formou este distrito

5 Por que ele tem esse nome

6 Quem foram os primeiros moradores

7 Como era a vida aqui haacute tempos atraacutes

8 O que mudou aqui com o passar dos anos

9 O que identifica este lugar

10 As pessoas hoje que moram aqui na grande maioria satildeo naturais daqui ou vieram

de onde

11 A(o) Sra(Sr) acredita que as futuras geraccedilotildees valorizaram eou conheceram a

histoacuteria local ou vai se perder no tempo

12 Como funcionava a questatildeo do ensino em meados do seacuteculo XX havia escola na

localidade

13 Qual a primeira escola deste distrito data de fundaccedilatildeo local de funcionamento e a

primeira professora

14 Achas importante trabalhar nas escolas a histoacuteria do lugar

15 O que eacute tradiccedilatildeo deste distrito

16 Qual eacute a fonte de renda das pessoas no que elas trabalham

17 Qual eacute o lazer das pessoas aqui

98

APEcircNDICE B ndash TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Declaro por meio deste termo que concordei em ser entrevistado(a) eou participar na

pesquisa de campo referente ao projetopesquisa Ensino de Histoacuteria Local e o Paradidaacutetico

caso Satildeo Francisco de Paula desenvolvida pela aluna Tatiana Meacutelo Cardoso do Programa de

Poacutes-Graduaccedilatildeo em Histoacuteria ndash Mestrado Profissional da Universidade de Caxias de Sul Fui

informado(a) que poderei consultaacute-la a qualquer momento que julgar necessaacuterio atraveacutes do e-

mail t_ati_mhotmailcom

Afirmo que aceitei participar por minha proacutepria vontade sem receber qualquer

incentivo financeiro ou ter qualquer ocircnus e com a finalidade exclusiva de colaborar para o

sucesso da pesquisa Fui informado(a) dos objetivos estritamente acadecircmicos de estudo

Minha colaboraccedilatildeo natildeo ficaraacute anocircnima e foi realizada por meio de entrevista

semiestruturada A anaacutelise dos dados obtidos seratildeo divulgados natildeo permanecendo restritas

apenas a pesquisadora eou seu(s) orientador(es) coordenador(es)

Fui ainda informado(a) de que posso me retirar desse(a) estudopesquisa programa a

qualquer momento sem prejuiacutezo para meu acompanhamento ou sofrer quaisquer sanccedilotildees ou

constrangimentos Atesto recebimento de uma coacutepia assinada deste Termo de Consentimento

Livre e Esclarecido

Satildeo Francisco de Paula ___ de _____________ de ____

Assinatura do(a) participante

Assinatura do responsaacutevel

Page 5: UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL TATIANA MÉLO CARDOSO

AGRADECIMENTOS

Agradeccedilo a Deus em primeiro lugar por ter me dado forccedila para me manter

firme no propoacutesito de concluir o mestrado

Aos meus pais Rivan e Benta que sempre estiveram ao meu lado me

apoiando minha eterna gratidatildeo Amo muito vocecircs

Ao meu esposo Norli que esteve presente em todos os momentos com

paciecircncia e muitas vezes me acompanhando durante as pesquisas para que natildeo

fosse soacute Te amo muito

Ao meu filho Bento Manoel pela compreensatildeo de ver sua matildee mergulhada

em livros em frente ao computador sem poder lhe dar muita atenccedilatildeo Minha razatildeo

de viver

Ao meu irmatildeo Tarciano que sempre me incentivou para que fizesse o

mestrado Muito obrigada por suas palavras

Agrave minha orientadora Professora Dra Cristine pelos ensinamentos prestados

por ter me oportunizado vivecircncias tatildeo ricas que com certeza muito colaboraram

para o sucesso desta pesquisa Minha eterna gratidatildeo

Aos professores do Mestrado pelos ensinamentos prestados com certeza

muito agregaram em minha vida profissional A vocecircs meu carinho

Aos entrevistados Sr Dr Moacir Sr Orides Sr Jaures Sr Blair Sr Nauro

Sr Darci Sr Reinaldo e a Sra Susana Sra Luciana Sra Deotildes Sra Ceacutelia Sra

Amaacutelia Celuderes e Sra Maria Madalena pelo apoio recebendo-me em suas

residecircncias e colaborando com esta pesquisa Sem a colaboraccedilatildeo de vocecircs esse

trabalho seria mais difiacutecil A vocecircs meu muito obrigado

Agrave minha amiga Lisandra que sempre me apoiou com suas palavras de

carinho dando-me coragem para prosseguir Agradeccedilo pela sua amizade

E por fim aos meus alunos que compartilharam muitas vezes as minhas

anguacutestias meu cansaccedilo mas sempre me apoiaram Em especial aqueles que

testaram o produto por suas doces palavras Meu eterno agradecimento

RESUMO

A presente dissertaccedilatildeo aborda o ensino de Histoacuteria em Satildeo Francisco de Paula Rio Grande do Sul tendo como princiacutepio que o ensino de Histoacuteria partindo do local se torna mais significativo aos estudantes da educaccedilatildeo baacutesica Para a construccedilatildeo dessa pesquisa se utilizaram diferentes abordagens metodoloacutegicas tais como documentos da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul jornais fontes bibliograacuteficas imagens e depoimentos orais O estudo procurou abordar a construccedilatildeo do municiacutepio bem como o que identifica os sete distritos pertencentes a Satildeo Francisco Paula Como resultado se cria um paradidaacutetico fiacutesico com textos imagens curiosidades sugestotildees de atividades e leituras complementares que serviraacute de apoio pedagoacutegico aos professores e estudantes da educaccedilatildeo baacutesica Espera-se que este material possa servir de pesquisa a todos os interessados

Palavras-chave Ensino de Histoacuteria Satildeo Francisco de Paula Identidade

ABSTRACT

This dissertation deals with History teaching in Satildeo Francisco de Paula Rio Grande do Sul with the principle that History Teaching from the place becomes more meaningful to students of basic education For the construction of this research different methodological approaches are used such as documents of the Legislative Assembly of Rio Grande do Sul newspapers bibliographic sources images and oral testimony The study sought to address the construction of the municipality as well which identifies the seven districts belonging to San Francisco Paula As a result a physical paradidaacutetico is created with texts images curiosities suggestions of activities and complementary readings that will serve as pedagogical support to teachers and students of basic education It is hoped that this material can serve as a research to all interested parties

Keywords Teaching History Satildeo Francisco de Paula Identity

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 ndash Mapa de Identificaccedilatildeo das Sesmarias Serranas 26

Figura 2 ndash Divisatildeo Municipal em 1809 ndash Proviacutencia Satildeo Pedro do Rio Grande do Sul

28

Figura 3 ndash Vista da vila de Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra (1901) 29

Figura 4 ndash Vista Avenida Juacutelio de Castilhos (1923) 30

Figura 5 ndash Abertura da estrada ERS-020 Taquara ndash Satildeo Francisco de Paula de

Cima da Serra 31

Figura 6 ndash Accedilougue Central 33

Figura 7 ndash Igreja Matriz em 1931 34

Figura 8 ndash Igreja Matriz 34

Figura 9 ndash Mapa de localizaccedilatildeo de Satildeo Francisco de Paula 36

Figura 10 ndash Patroa Neuza Reis e sua Comissatildeo 39

Figura 11 ndash Gonzaga dos Reis 48

Figura 12 ndash Outdoor entrada da cidade na ERS-020 50

Figura 13 ndash Praccedila Central de Cazuza Ferreira 52

Figura 14 ndash Hotel do Campo 54

Figura 15 ndash Flacircmula de comemoraccedilatildeo aos 50 anos da entidade 57

Figura 16 ndash Barragem do Salto 58

Figura 17 ndash Igreja Santo Antocircnio ndash Distrito de Eletra 61

Figura 18 ndash Peacute com a fruta conhecido como Juaacute 63

Figura 19 ndash Praccedila Vila do Distrito Juaacute ao fundo cancha de laccedilo 65

Figura 20 ndash Imagem da Igreja Satildeo Roque em dia de festa no Rincatildeo dos Kroeff 69

Figura 21 ndash Imagem do Casaratildeo pouco antes de ser desmanchado 71

Figura 22 ndash Capa do livro 75

Figura 23 ndash Iacutendice do livro 76

Figura 24 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 1) 77

Figura 25 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 1) 78

Figura 26 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 2) 79

Figura 27 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 3) 80

Figura 28 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 4) 81

Figura 29 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 6) 82

Figura 30 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 8) 83

Figura 31 ndash Atividade do livro (Sugestatildeo de Leituras Complementares) 84

Figura 32 ndash Alunos do Ensino Meacutedio 85

SUMAacuteRIO

1 INTRODUCcedilAtildeO 11

2 HISTOacuteRIA LOCAL E O ENSINO DE HISTOacuteRIA NA SALA DE AULA 17

3 SAtildeO FRANCISCO DE PAULA CONSTRUCcedilAtildeO DO MUNICIacutePIO 24

31 CONVERSA COM MEMORIALISTAS 25

32 AMPLIANDO O DIAacuteLOGO COM OS MEMORIALISTAS 28

4 SAtildeO FRANCISCO DE PAULA DISTRITOS EM FOCO 41

41 DISTRITO SEDE 42

42 DISTRITO DE CAZUZA FERREIRA 51

43 DISTRITO DE TAINHAS 55

44 DISTRITO DE ELETRA 58

45 DISTRITO DO JUAacute 62

46 DISTRITO DO RINCAtildeO DOS KROEFF 66

47 DISTRITO DE LAJEADO GRANDE 70

5 DESCRICcedilAtildeO DO PRODUTO 74

6 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 86

REFEREcircNCIAS 90

FONTES CONSULTADAS 94

APEcircNDICES 96

APEcircNDICE A ndash ENTREVISTA COM MORADORES LOCAIS DOS DISTRITOS DE

SAtildeO FRANCISCO DE PAULA 97

APEcircNDICE B ndash TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO 98

11

1 INTRODUCcedilAtildeO

Os meacutetodos de ensino de Histoacuteria no Brasil vem sendo discutidos desde sua

criaccedilatildeo como disciplina Segundo Nadai (1992-1993 p 144) a introduccedilatildeo de

Histoacuteria no curriacuteculo ocorre na terceira metade do seacuteculo XIX no Brasil sendo que

desde entatildeo passa por diversas modificaccedilotildees Segundo Schmidt e Cainelli (2009)

os meacutetodos foram se adequando ao momento histoacuterico brasileiro em um primeiro

momento ensinou-se a histoacuteria da Europa Ocidental como a verdadeira histoacuteria da

civilizaccedilatildeo uma histoacuteria abstrata sem relaccedilatildeo com a vida do aluno Nadai (1992-

1993 p 146) acrescenta que ldquoa histoacuteria da paacutetria surgia como seu apecircndice sem

corpo autocircnomo e ocupando um papel extremamente secundaacuterio consistia num

repositoacuterio de biografias de homens ilustres de datas e batalhasrdquo

Poreacutem a partir de 1860 segundo Schmidt e Cainelli (2009 p 12-13) ldquono

periacuteodo republicano a incorporaccedilatildeo da concepccedilatildeo de que a disciplina Histoacuteria tinha

a responsabilidade de formar cidadatildeos ganha forccedilardquo sendo assim as escolas

primaacuterias e secundaacuterias comeccedilaram incluir em seus programas a histoacuteria nacional

com o intuito da formaccedilatildeo da nacionalidade sendo a paacutetria com seus heroacuteis o

principal foco Desta forma a criaccedilatildeo das diretrizes da Lei de Educaccedilatildeo nordm 569271

reforccedila o modelo jaacute instaurado

Foi oficializado o ensino de Estudos Sociais nas escolas brasileiras ficando os conteuacutedos especiacuteficos da Histoacuteria destinados somente aos alunos do antigo segundo grau A concepccedilatildeo e os conteuacutedos da Histoacuteria continuavam atrelados agraves concepccedilotildees tradicionais (SCHMIDT CAINELLI 2009 p 13)

Com a redemocratizaccedilatildeo na deacutecada de 1980 houve inuacutemeras discussotildees

que elencaram inuacutemeras abordagens e temaacuteticas para o ensino da Histoacuteria na

atualidade as novas tendecircncias se preocupam com a transposiccedilatildeo didaacutetica

valorizando documentos histoacutericos e incorporando novas linguagens e tecnologias

que permitem discussotildees e autonomia de pensamento Neste sentido as novas

concepccedilotildees de ensino de Histoacuteria ao final do seacuteculo XX abrem a possibilidade de

uma nova praacutetica didaacutetica que segundo Azevedo e Stamatto (2010 p 709) ldquobusca

problematizar a relaccedilatildeo passado-presente e em geral tomam a realidade do aluno

como ponto de partidardquo

Por se acreditar em um ensino de Histoacuteria onde a aprendizagem natildeo ocorre

em periacuteodos estanques de forma abstrata e sem relaccedilatildeo com o presente ou seja

12

apresentando de forma linear sem que haja contextualizaccedilatildeo sendo apresentada

atraveacutes de leitura de textos eou resumos permeando com atividades que muitas

vezes natildeo permitem um desenvolvimento de raciociacutenio histoacuterico que contribua para

a construccedilatildeo da cidadania Torna-se urgente pensar em um ensino voltado para a

inclusatildeo de novas contribuiccedilotildees historiograacuteficas como a histoacuteria cultural econocircmica

e social buscando na realidade local subsiacutedios para a aprendizagem Por isso a

presente dissertaccedilatildeo traz a didatizaccedilatildeo da histoacuteria de Satildeo Francisco de Paula visto

que a questatildeo-problema estaacute vinculada ao natildeo uso da histoacuteria local no ensino de

Histoacuteria deste municiacutepio e o pouco material disponiacutevel para o uso dos professores

Parte-se do pressuposto que ao abranger a histoacuteria local os sujeitos se veem como

partiacutecipes desta histoacuteria estudada significando e ressignificando conceitos

histoacutericos

Corroborando com este estudo Cunha (2016) traz consideraccedilotildees importantes

relacionadas ao uso da histoacuteria local O autor aborda como algo essencial para

compreensatildeo da histoacuteria geral na educaccedilatildeo baacutesica o uso da histoacuteria local o que

proporcionaria aos estudantes o reconhecimento como cidadatildeo e a percepccedilatildeo e

identificaccedilatildeo dos lugares de memoacuteria por parte dos alunos bem como o sentimento

de pertencimento do local Desta forma despertaria no aluno o interesse por um

passado aparentemente desligado de sua realidade estabelecendo relaccedilotildees com o

seu cotidiano

Desta maneira acredita-se que os estudantes da educaccedilatildeo baacutesica

compreenderatildeo a histoacuteria como algo que faz parte de suas vidas tornando-se assim

sujeitos da histoacuteria pois se haacute reconhecimento haveraacute tambeacutem o sentimento de

pertencimento que poderaacute ajudaacute-los a manter ou modificar a realidade que os cerca

Assim descrevem Schmidt e Cainelli

Esse sentido do ensinar Histoacuteria natildeo significaria natildeo ter conteuacutedos para serem ensinados mas olhar para estes conteuacutedos a partir da possibilidade de construir com os alunos novas questotildees diante de conteuacutedos e temas propostos pela historiografia Aprender histoacuteria eacute discutir evidecircncias levantar hipoacuteteses dialogar com os sujeitos os tempos e os espaccedilos histoacutericos Eacute olhar para o outro em tempos e espaccedilos diversos (SCHMIDT CAINELLI 2009 p 20)

Dentro desta perspectiva o reconhecimento da memoacuteria social se faz

importante visto que se necessita invocaacute-la para que um determinado grupo ou local

reconheccedila sua identidade social Atraveacutes de entrevistas com moradores de Satildeo

13

Francisco de Paula se invoca a memoacuteria coletiva na busca da identidade dos sete

distritos deste municiacutepio Visto que a histoacuteria de Satildeo Francisco de Paula se inicia por

volta do seacuteculo XVIII quando se datam as primeiras sesmarias1 concedidas ao

capitatildeo Pedro da Silva Chaves Posteriormente o capitatildeo doa parte de suas terras

para a construccedilatildeo do povoado que recebe o nome de Satildeo Francisco de Paula de

Cima da Serra por este ser devoto do Santo Satildeo Francisco Reza no testamento do

capitatildeo Pedro da Silva Chaves que um de seus filhos foi o primeiro paacuteroco a rezar

missa no povoado Satildeo Francisco de Paula pertenceu a Santo Antocircnio da Patrulha

e mais tarde a Taquara emancipando-se em 1902

Haacute pouca bibliografia sobre a histoacuteria de Satildeo Francisco de Paula o que existe

satildeo livros escritos por memorialistas onde se percebe a prioridade pela histoacuteria do

fundador ou seja do Capitatildeo Pedro da Silva Chaves dos iacutendios Caaguaraacutes que

habitavam a regiatildeo assim como os aspectos poliacuteticos administrativos Alguns destes

livros apresentam uma siacutentese cronoloacutegica de fatos importantes e descrevem

superficialmente o jeito de viver do povo serrano2 Mas a histoacuteria de Satildeo Francisco

de Paula estaacute repleta de diferentes identidades que identificam a Sede3 e o Interior4

deste municiacutepio e formam o jeito de viver do seu povo A natildeo exploraccedilatildeo de

elementos culturais que se fazem importantes para a construccedilatildeo de identidade

destes lugares minimiza as memoacuterias e as tradiccedilotildees que ali se apresentam visto

que

as constantes novidades em diferentes campos do saber os avanccedilos da tecnologia as infinitas possibilidades de comunicaccedilatildeo simultacircnea tecircm provocado sobretudo nas novas geraccedilotildees uma sensaccedilatildeo de que o mundo em que se vive eacute dotado de um temporalidade constituiacuteda por um tempo presente contiacutenuo (FIGUEIRA MIRANDA 2012 p 46)

Neste sentido fez-se uso de diferentes fontes para a construccedilatildeo do produto

desta dissertaccedilatildeo que consiste de um paradidaacutetico que possa servir como um

1 Sesmaria Terreno sem culturas ou abandonado que a antiga legislaccedilatildeo portuguesa com base em

praacuteticas medievais determinava que fosse entregue a quem se comprometesse a cultivaacute-lo 2 Serrano gentiacutelico de quem nasce em Satildeo Francisco de Paula 3 Sede distrito criado em 07 de janeiro de 1903 na mesma data da instalaccedilatildeo oficial do Municiacutepio Eacute

o distrito onde se localiza a Prefeitura Municipal Foacuterum agecircncias bancaacuterias loteacutericas hospital casas comerciais e residecircncias particulares Normalmente os moradores do interior quando vatildeo ao distrito se referem como ldquovou a Satildeo Chicordquo e natildeo como ldquovou a Sederdquo

4 Interior Cazuza Ferreira Juaacute Eletra Rincatildeo dos Kroeff Tainhas e Lajeado Grande satildeo distritos que ficam na zona rural apesar de todos terem uma pequena vila que possui pouca infraestrutura Alguns destes distritos ainda usam aacutegua de vertentes sem nenhuma rede de esgoto pois natildeo possuem aacutegua fornecida pela Companhia de Aacutegua e Saneamento (CORSAN)

14

material disponiacutevel a alunos e professores no ensino de Histoacuteria de Satildeo Francisco

de Paula Segundo Munakata entendem-se como paradidaacuteticos

Livros que sem apresentar caracteriacutesticas proacuteprias dos didaacuteticos satildeo adotados no processo de ensino e aprendizagem nas escolas seja como material de consulta do professor seja como material de pesquisa e de apoio agraves atividades do educando (MUNAKATA 1997 p 103)

Para a construccedilatildeo do paradidaacutetico fez-se uso de bibliografias jaacute existentes

jornais e documentos da Assembleia da Legislativa bem como o uso da histoacuteria

oral sendo as entrevistas a fonte primordial para escrever sobre as semelhanccedilas e

diferenccedilas existentes no modo de vida da populaccedilatildeo de Satildeo Francisco de Paula

visto que os depoimentos satildeo importantes na preservaccedilatildeo das memoacuterias tradiccedilotildees

bem como das heranccedilas identitaacuterias Neste sentido Delgado (2003 p 23) discorre

ldquonarrativas memoacuterias histoacuterias e identidades satildeo a humanidade em movimento

Satildeo o olhar que permeiam tempos heterogecircnicos Satildeo a histoacuteria em construccedilatildeo Satildeo

memoacuterias que falamrdquo

Portanto a histoacuteria oral busca registrar as vivecircncias e lembranccedilas de um

determinado grupo Alberti (2008 p 29) assim define ldquohistoacuteria oral natildeo eacute um fim em

si mesma e sim um meio de conhecimentordquo Quando se trabalha com a histoacuteria

oral se faz necessaacuterio valorizar a memoacuteria as identidades e tradiccedilotildees pois estas

formam a histoacuteria local ou seja a histoacuteria dos indiviacuteduos que ali vivem Halbwachs

(2004) afirma que com a perda da memoacuteria coletiva tambeacutem se perdem as

tradiccedilotildees locais tradiccedilotildees essas que identificam o modo de viver de um determinado

local Hobsbawn e Ranger entendem que as tradiccedilotildees podem ou natildeo ser

inventadas

Tradiccedilatildeo inventada entende-se um conjunto de praacuteticas normalmente reguladas por regras taacutecitas ou abertamente aceitas tais praacuteticas de natureza ritual ou simboacutelica visam inculcar certos valores e normas de comportamento atraveacutes da repeticcedilatildeo o que implica automaticamente uma continuidade com relaccedilatildeo ao passado (HOBSBAWN RANGER 2015 p 8)

Hobsbawn e Ranger (2015) ainda acrescem que a criaccedilatildeo de uma tradiccedilatildeo

independe da imposiccedilatildeo de uma nova tradiccedilatildeo o que normalmente ocorre eacute uma

rebeliatildeo cultural que precede da elaboraccedilatildeo de novas tradiccedilotildees que satildeo adotadas

pela populaccedilatildeo e com o tempo passam a se tornar tradiccedilotildees daquele local

formando a identidade local

15

Neste sentido Hall (2011 p 39) discorre que ldquoas identidades satildeo fabricadas

por meio da marcaccedilatildeo da diferenccedilardquo O autor ainda acresce que ldquoa diferenccedila eacute aquilo

que separa uma identidade da outrardquo (HALL 2011 p 41) Dentro desta perspectiva

a memoacuteria que se apresenta atraveacutes de siacutembolos ou tradiccedilotildees respalda a

construccedilatildeo da identidade do povo de Satildeo Francisco de Paula visto que a memoacuteria eacute

a construccedilatildeo do passado de maneira atualizada e renovada no tempo presente

Assim Halbwachs (2004 p 64) descreve que ldquonatildeo eacute na histoacuteria aprendida eacute na

histoacuteria vivida que se apoia nossa memoacuteriardquo Nessa loacutegica o autor ainda descreve

que ldquoo mundo histoacuterico eacute como um oceano onde afluem todas as histoacuterias parciaisrdquo

(p 90)

O municiacutepio de Satildeo Francisco de Paula eacute repleto de tradiccedilotildees que perpassam

o tempo que estatildeo enraizadas no jeito serrano de ser formando a sua identidade

Portanto a histoacuteria de Satildeo Francisco de Paula descrita nesta dissertaccedilatildeo seraacute

apresentada em quatro capiacutetulos

O capiacutetulo dois apresenta a discussatildeo teoacuterica metodoloacutegica sobre a

importacircncia do ensino da Histoacuteria local na sala de aula Tambeacutem conceitos como

memoacuteria e identidade e a importacircncia de se abordar o local em prol do global

No capiacutetulo trecircs aborda-se a construccedilatildeo histoacuterica do municiacutepio de Satildeo

Francisco de Paula que vai desde a chegada do colonizador nesta terra ateacute as

instituiccedilotildees que se formam ao longo do tempo Para isso se faz uso de bibliografias

jaacute existentes como Lucena (1971) Oliveira (1996) Teixeira (2002) Ribeiro (2003)

Alves (2007) e Fonseca (2012) sendo todas essas obras importantes para Satildeo

Francisco de Paula visto que cada uma traz consigo um pouco da histoacuteria deste

municiacutepio poreacutem sente-se falta da identidade e da memoacuteria na construccedilatildeo histoacuterica

As obras satildeo apresentadas sob o mesmo prisma apresentando os iacutendios Caaguaraacutes

e o Capitatildeo Pedro da Silva Chaves os fundadores desta terra dando bastante

ecircnfase aos sobrenomes que ali se desenvolveram Tambeacutem se fez uso de

documentos da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul aleacutem de jornais

encontrados no Arquivo Histoacuterico de Satildeo Francisco de Paula

No capiacutetulo quatro utiliza-se da fonte oral para que sejam identificadas as

diferentes tradiccedilotildees e versotildees da histoacuteria local ou seja a identidade de cada distrito

constituindo assim as particularidades que constroem o municiacutepio de Satildeo Francisco

de Paula Para tanto buscaram-se depoentes nas vilas dos distritos sendo que a

escolha se deu por duas pessoas por distrito sendo um homem e uma mulher

16

totalizando treze depoentes todos da terceira idade pois segundo Bosi (1994 p

82) ldquoum mundo social que possui uma riqueza e uma diversidade que natildeo

conhecemos pode chegar-nos pela memoacuteria dos velhosrdquo memoacuterias estas

construiacutedas por suas vivecircncias neste local o que justifica a relevacircncia dos

depoimentos para a construccedilatildeo do trabalho

O capiacutetulo cinco apresenta uma descriccedilatildeo do produto que consiste em um

paradidaacutetico em forma fiacutesica abordando a histoacuteria de Satildeo Francisco de Paula A

escolha pelo formato fiacutesico acontece pelas dificuldades encontradas no interior dos

distritos com o acesso agrave internet assim se pensa que o formato fiacutesico abrangeraacute um

nuacutemero maior de alunos e professores

Para tanto utiliza-se a metodologia da Histoacuteria oral para escrever a memoacuteria

e as percepccedilotildees das pessoas que habitam este local Hobsbawn e Ranger (1995 p

103) escrevem que ldquoessa proximidade entre o periacuteodo analisado e sua histoacuteria

pessoal eacute o pano de fundo para a discussatildeo de alguns problemas que qualquer

historiador enfrenta ao escrever sobre seu proacuteprio tempordquo pois a sensibilidade do

historiador vai escrever sua narrativa Em outras palavras Hobsbawn e Ranger

(1995 p 104) explicam que ldquocada historiador tem sua proacutepria vida um lugar privado

a partir do qual inspeciona o mundordquo Tambeacutem afirmam

Para aqueles que querem escrever a histoacuteria do seacuteculo XX uma das mais importantes reside no simples fato de saber sem nenhum esforccedilo especial o quanto as coisas se modificaram Os uacuteltimos trinta ou quarenta anos foram os mais revolucionaacuterios da histoacuteria O mundo ou seja a vida dos homens e mulheres que vivem na Terra nunca foi transformada de maneira tatildeo profunda dramaacutetica e extraordinaacuteria dentro de um periacuteodo tatildeo curto As geraccedilotildees que natildeo viram como o mundo era antes tecircm dificuldade em perceber isso intuitivamente (HOBSBAWN RANGER 1995 p 107)

Portanto se faz importante perceber que o mundo vem se transformando de

maneira raacutepida modificando a vida das pessoas e por conseguinte as tradiccedilotildees e

identidades locais pois estas comunidades natildeo vivem de forma isolada e sofreram

influecircncias jaacute que a cultura natildeo eacute estagnada estaacute sempre em constante movimento

juntamente com as pessoas

17

2 HISTOacuteRIA LOCAL E O ENSINO DE HISTOacuteRIA NA SALA DE AULA

Discutir o ensino de Histoacuteria na educaccedilatildeo baacutesica e a relaccedilatildeo do mesmo com a

histoacuteria local se faz bastante importante para que a cada dia se possa melhorar as

praacuteticas pedagoacutegicas Neste sentido se busca respaldo em diferentes bibliografias

que possam embasar novos afazeres dentro do espaccedilo da sala de aula e

proporcionar ao estudante um novo olhar sobre a histoacuteria um olhar de sujeito ativo

dentro desse processo de ensino aprendizagem

Pois quando a Histoacuteria eacute ensinada como algo certo e imutaacutevel de maneira

fragmentada voltada para linearidade e memorizaccedilatildeo de fatos e datas reforccedila o

que Mendes (1935) e Schmidt e Cainelli (2009) defendem que realmente eacute odiosa a

histoacuteria ensinada por este vieacutes Percebe-se que o ensino de histoacuteria linear nos

moldes europeus positivistas jaacute natildeo daacute mais conta da importacircncia da histoacuteria para a

sociedade atual porque eacute apresentada aos alunos atraveacutes de datas e fatos escrita

pelo vieacutes de uma elite que normalmente eacute branca e deteacutem o poder poliacutetico eou

econocircmico Eacute inconcebiacutevel que se permaneccedila com um ensino de Histoacuteria que natildeo

serve natildeo motiva e segundo Ruumlsen (2001 p 25) ainda ldquoirracionalizardquo sendo esse

modelo muito frequente nas escolas de educaccedilatildeo baacutesica brasileiras

Natildeo eacute por outro motivo que observamos ainda nas uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo XX que para a maior parte dos estudantes brasileiros o estudo de histoacuteria carece de sentido ou utilidade natildeo se tem a visatildeo de ciecircncia e sim de uma mateacuteria decorativa estudo do passado que soacute exige como vimos a prontidatildeo em declinar nomes datas e fatos Natildeo eacute de se estranhar que assim seja porque ocorre a enorme distacircncia entre a realidade vivenciada pela comunidade e o tratamento dado ao ensino de Histoacuteria jaacute que o aluno se torna mero espectador de fatos natildeo necessitando esforccedilos no sentido de qualquer reflexatildeo ou elaboraccedilatildeo (BARBOSA 2006 p 58)

O ensinar da histoacuteria de forma abstrata fragmentada dificulta a compreensatildeo

do processo histoacuterico no sentido que se estuda os fatos isolados ao seu tempo

como se um fato precisasse terminar para iniciar outro Em outras palavras este

meacutetodo de ensino natildeo daacute a noccedilatildeo de continuidade ou seja a histoacuteria perdeu seu

sentido baacutesico que eacute a compreensatildeo do contexto global dos fatos considerando que

o ensino de Histoacuteria por muitas vezes eacute estanque sem uma relaccedilatildeo ldquopresente x

passadordquo sendo de suma importacircncia o despertar de uma consciecircncia criacutetica por

parte do estudante Por isso ao longo do tempo o ensino sofre influecircncia por parte

do ldquopoderrdquo segundo Laville (1999 p 128) ldquoa Histoacuteria eacute certamente a uacutenica disciplina

18

escolar que recebe intervenccedilotildees diretas dos altos dirigentes e a consideraccedilatildeo ativa

dos parlamentos Isso mostra quatildeo importante eacute ela para o poderrdquo Nesta linha o

autor ainda acrescenta que ldquoa narrativa histoacuterica pode tambeacutem ser vista como uma

tomada de poder por grupos sem poderrdquo (LAVILLE 1999 p 129)

Na busca de modificar esse modelo surgem novos meacutetodos que valorizam o

uso do documento histoacuterico e a incorporaccedilatildeo de novas tecnologias de acordo com

Azevedo e Stamatto (2010 p 720) ldquotem o desafio de responder a inquietaccedilotildees do

hojerdquo Partindo deste pressuposto haacute possibilidade de se modificar o ensino da

Histoacuteria que ateacute entatildeo estava voltado agrave memorizaccedilatildeo para um modelo onde o

sujeito seja agente deste processo

Ensinar Histoacuteria como algo pronto e acabado [] sem levar em conta o contexto e os sujeitos envolvidos no processo de ensino aprendizagem pode levar a um ensino que natildeo desenvolve o que eacute mais importante como funccedilatildeo do ensinar histoacuteria que orientar os problemas da vida praacutetica (SCHMIDT CAINELLI 2009 p 20)

Assim Seffner (2013 p 51) acrescenta que ldquoo ensino de Histoacuteria eacute um ensino

de situaccedilotildees histoacutericas Mais do que nomes datas e acontecimentos o professor

deve propiciar ao aluno a compreensatildeo de como se estrutura uma dada situaccedilatildeordquo

Para que o ensino de Histoacuteria seja ressignificado existe a necessidade de anaacutelise

do processo histoacuterico problematizando os fatos no vai e vem do presentepassado

Os estudantes da educaccedilatildeo baacutesica necessitam compreender a histoacuteria como

um processo em constante transformaccedilatildeo que eacute movimentada por sujeitos que a

compotildeem com permanecircncias e rupturas ao longo dos tempos Segundo Bittencourt

(2004 p 168) ldquoa histoacuteria local tem sido indicada como necessaacuteria para o ensino por

possibilitar a compreensatildeo do alunordquo

Corroborando Seffner (2013) Souza (2015) e Brum (2015) evidenciam a

importacircncia de se trabalhar a histoacuteria global partindo de uma histoacuteria local

problematizando levando hipoacuteteses e analisando os fatos histoacutericos o que gera

significado para o educando e torna o docente natildeo mais um mero transmissor mas

um mediador deste conhecimento Neves (1997 p 22) reforccedila que ldquoo local fora do

contexto geral eacute apenas um fragmento e o geral sem o respaldo das realidades

locais eacute apenas uma abstraccedilatildeordquo Com esta nova abordagem o estudar Histoacuteria tem

sentido para o discente que se sente sujeito de sua proacutepria histoacuteria visto que

19

identificar-se com o local onde se vive ajuda a compreender o sentimento de

pertencimento e suas relaccedilotildees com o meio social e cultural no qual estaacute inserido

Nesta perspectiva faz-se necessaacuterio que os professores busquem novas

alternativas de ensino que proporcionem ao estudante a habilidade de ressignificar o

fato histoacuterico estudado

Ensinar Histoacuteria requer do professor a habilidade de buscar sentido e significado para o conhecimento que ministra e isso significa superar a mera transmissatildeo de informaccedilotildees jaacute que essa natildeo tem por finalidade o desenvolvimento intelectual mas ao contraacuterio deforma a capacidade de pensamento histoacuterico do aluno e a possibilidade de consolidar habilidades de anaacutelise da proacutepria realidade social (SILVA PORTO 2012 p 67)

Goubert assim define a histoacuteria local

Denominaremos histoacuteria local como aquela que diga respeito a uma ou poucas aldeias a uma cidade pequena ou meacutedia (um grande porto ou uma capital estatildeo aleacutem do acircmbito local) ou a uma aacuterea geograacutefica que natildeo seja maior do que a unidade provincial comum (como um county inglecircs um contado italiano uma Land alematilde uma bailiwick ou pays francecircs) Praticada haacute tempos atraacutes com cuidado zelo e ateacute orgulho a histoacuteria local foi mais tarde desprezada mdash principalmente nos seacuteculos XIX e primeira metade do XX mdash pelos partidaacuterios da histoacuteria geral A partir poreacutem da metade desse seacuteculo a histoacuteria local ressurgiu e adquiriu novo significado na verdade alguns chegam a afirmar que somente a histoacuteria local pode ser autecircntica e fundamentada (GOUBERT 1992 p 70)

Neste sentido fica evidente a importacircncia de se partir de uma histoacuteria local

para uma global Atraveacutes da histoacuteria local os estudantes teratildeo contato com sua

histoacuteria e poderatildeo se sentir parte integrante deste espaccedilo que muitas vezes por

falta de conhecimento acabam renegando sua proacutepria identidade Figueira e Miranda

(2012 p 113) afirmam que ldquoum dos efeitos mais danosos da globalizaccedilatildeo eacute a

universalizaccedilatildeo dos gostosrdquo isto implica diretamente na perda da identidade local

que muitas vezes estaacute sendo afetada pelas muacuteltiplas identidades existentes Neste

sentido Silva e Porto descrevem

A globalizaccedilatildeo entretanto produz diferentes resultados em termos de identidade A homogeneidade cultural promovida pelo mercado global pode levar ao distanciamento da identidade relativamente agrave comunidade e agrave cultura local (SILVA PORTO 2012 p 21)

Neste sentido Canclini acrescenta

Las comunidades de consumidores se organiza cada vez menos seguacuten diferencias nacionales y sobre todo en las generaciones joacutevenes definen sus praacutecticas culturales de acuerdo con informacioacuten y estilos homogeneizados (CANCLINI 1997 p 42)

20

Globalizaccedilatildeo que impotildee atraveacutes dos meios de comunicaccedilatildeo e social uma

identidade geral que regra a sociedade seus haacutebitos e costumes Devido ao grande

movimento das pessoas pelo mundo perceber e manter uma identidade com

caracteriacutesticas locais fica a cada dia mais difiacutecil ainda mais em se tratando da

populaccedilatildeo jovem que natildeo reconhece ao seu redor o que representa a sua

identidade local

Valorar as experiecircncias locais proporcionaraacute aos estudantes uma nova

metodologia de abordar a histoacuteria

Do ponto de vista metodoloacutegico destaca-se nessa forma de abordagem a preocupaccedilatildeo com os conhecimentos preacutevios dos alunos com a problematizaccedilatildeo dos conteuacutedos de ensino selecionados para trabalho em sala de aula estabelecendo relaccedilotildees com o cotidiano dos alunos e com o cotidiano de outras pessoas em outros tempos e em outros lugares Enfatiza-se tambeacutem a busca de articulaccedilatildeo entre histoacuteria local e a histoacuteria universal (SCHMIDT 2007 p 193)

O ensino de histoacuteria partindo do local para o global possibilita segundo

Bittencourt (2004 p 168) ldquoa compreensatildeo do entorno do alunordquo sendo que um dos

aspectos relevantes para este ensino eacute a escolha de fontes que levem os estudantes

a se reconhecerem nesse processo histoacuterico O autor ainda acresce

Eacute pela memoacuteria que se chega agrave histoacuteria local Aleacutem da memoacuteria das pessoas escrita ou recuperada pela oralidade existem os lsquolugares de memoacuteriarsquo (grifo da autora) expressos por monumentos praccedilas edifiacutecios puacuteblicos ou privados mas preservados como patrimocircnio histoacuterico (BITTENCOURT 2004 p 169)

Esta memoacuteria vai contribuir para legitimaccedilatildeo da identidade local Sabe-se que

a identidade eacute algo mutaacutevel e segundo Silva e Porto (2012 p 38) ldquoas identidades

satildeo produzidas em momentos particulares no tempordquo O pesquisador ainda

acrescenta que ldquoas identidades satildeo contingentes emergindo em momentos

histoacutericos particularesrdquo Estas identidades precisam ser reconhecidas quando se fala

de histoacuteria local

Na mesma linha Ruumlsen descreve a identidade histoacuterica

Consiste na ampliaccedilatildeo do horizonte nas experiecircncias do tempo e nas intenccedilotildees acerca do tempo no qual os sujeitos agentes se asseguram da permanecircncia de si mesmos na evoluccedilatildeo do tempo O ponto extremo dessa consolidaccedilatildeo de identidade eacute a lsquohumanidadersquo como suprassumo dos pontos comuns em sociedade com respeito a diversos sujeitos agentes no processo de determinaccedilatildeo de suas proacuteprias identidades determinam as dos outros de forma tal que estes se reconhecem nelas Esse criteacuterio de sentido lsquohumanidadersquo fornece o paracircmetro para se constatar a consolidaccedilatildeo da

21

identidade em que desembocam o progresso contiacutenuo do conhecimento mediante a pesquisa histoacuterica e a ampliaccedilatildeo contiacutenua das perspectivas mediante a reflexatildeo histoacuterica sobre referenciais (RUumlSEN 2001 p 126)

A histoacuteria local eacute constituiacuteda por diferentes identidades que satildeo geradas pelos

grupos que compotildeem este espaccedilo A este respeito Silva e Porto (2011 p 41)

apresentam que ldquoa diferenccedila eacute aquilo que separa uma identidade da outrardquo Tambeacutem

eacute notaacutevel que para que haja a representaccedilatildeo de suas identidades locais faz-se

necessaacuterio o reconhecimento destas e a percepccedilatildeo que existem diferentes fatores

que diferenciam os grupos sociais

Portanto a identidade eacute constituiacuteda pelas posiccedilotildees eou escolhas feitas

sendo que muitas vezes elas satildeo racionais ou ateacute mesmo irracionais A identidade

eacute baseada na memoacuteria que pode ser individual ou coletiva Segundo Candau (2011

p 16) ldquoos laccedilos fundamentais entre memoacuteria e identidade eacute sobre o fato de que eacute a

memoacuteria faculdade primeira que alimenta a identidaderdquo

Se a memoacuteria gera a identidade natildeo se pode pesquisar e escrever sobre

histoacuteria local sem levar em conta estes dois conceitos primordiais pois a histoacuteria

local soacute teraacute valia se escrita pelo vieacutes do todo ou seja natildeo priorize um grupo ou

classe social todos os quadros sociais devem estar representados dentro deste

processo Nessa linha Schmidt e Cainelli descrevem

O estudo da localidade ou da histoacuteria regional contribui para uma compreensatildeo muacuteltipla da Histoacuteria pelo menos em dois sentidos na possibilidade de se ver mais de um eixo histoacuterico na histoacuteria local e na possibilidade da anaacutelise de micro histoacuterias pertencentes a alguma outra histoacuteria que as englobe e ao mesmo tempo reconheccedila suas particularidades (SCHMIDT CAINELLI 2009 p 139)

Uma histoacuteria que faz sentido que esteja englobada a outra histoacuteria A

memoacuteria coletiva entra na construccedilatildeo desta histoacuteria local e eacute primordial pois esta vai

dar elementos que constroem a identidade deste local sendo que a memoacuteria do

passado influencia na representaccedilatildeo da identidade Neste sentido conforme

Figueira e Miranda (2012 p 47) eacute necessaacuterio compreender a memoacuteria ldquocomo a

capacidade de conservar e de preservar dados refere-se a um conjunto de funccedilotildees

cerebrais que nos permite reter informaccedilotildees adquiridas e impressotildees vividasrdquo

Podendo ser ela individual ou coletiva sendo que a memoacuteria individual existe a partir

de uma memoacuteria coletiva jaacute que as lembranccedilas que ajudam a reconstruir o passado

partem do interior de um grupo

22

Para as Ciecircncias Humanas o conceito de memoacuteria estaacute ligado agrave memoacuteria

social e coletiva definida por Le Goff (2003 p 422) como ldquoo estudo da memoacuteria

social eacute um dos elementos fundamentais de abordar os problemas do tempo e da

histoacuteriardquo O autor ainda acrescenta que ldquoa memoacuteria coletiva eacute natildeo somente uma

conquista eacute tambeacutem um instrumento e um objeto de poderrdquo (LE GOFF 2003 p

410) Neste sentido Halbwachs (2004 p 90) ressalta que ldquotoda memoacuteria coletiva

tem por suporte um grupo limitado no espaccedilo e no tempo e o mundo histoacuterico eacute

como um oceano onde afluem todas as histoacuterias parciaisrdquo

Quando se abordam conceitos de memoacuteria e identidade no ensino de

histoacuteria estaacute se trazendo para o estudo os sujeitos que compotildeem aquele local com

suas vivecircncias que podem ser coletivas ou natildeo A transmissatildeo de saberes entre as

geraccedilotildees forma a identidade coletiva sendo o ser humano um agente ativo no

quadro social da memoacuteria

Halbwachs assim define os quadros coletivos da memoacuteria

Os quadros coletivos da memoacuteria natildeo se resumem em datas nomes e foacutermulas que eles representam correntes de pensamento e de experiecircncia onde reencontramos nosso passado porque este foi atravessado por isso tudo (HALBWACHS 2004 p 71)

Nesta direccedilatildeo Le Goff (2003 p 4) acrescenta que ldquoa memoacuteria social eacute um

dos meios fundamentais para se abordar os problemas do tempo e da histoacuteria A

memoacuteria estaacute nos proacuteprios alicerces da histoacuteriardquo Catroga (2001) reforccedila que a

memoacuteria eacute moldada a partir das vivecircncias e na sua narrativa vai haver uma

coerecircncia que se mistura passado e presente

Quando se escreve sobre histoacuteria local eacute importante considerar que ela estaacute

pautada em documentos assim como em memoacuterias escritas visuais ou orais Neste

sentido eacute perceptiacutevel que o uso dos diferentes tipos de memoacuteria satildeo alicerces que

conduzem o trabalho do historiador para que ele possa interpretar suas fontes e

validar seu trabalho Memoacuterias estas que podem ser apresentadas com documentos

oficiais ou atraveacutes de uma cultura material ou imaterial

A escrita de histoacuterias locais vem como um novo modelo de resguardar

identidades e memoacuterias que se natildeo preservadas iratildeo desaparecer pela influecircncia

da globalizaccedilatildeo e falta de conhecimento de futuras geraccedilotildees Barros assim

descreve

23

Os novos tempos comeccedilavam a trazer um novo padratildeo historiograacutefico novas aberturas retornos e possibilidades e tambeacutem incertezas para os historiadores no que se refere agrave natureza do conhecimento que produzem e ao papel do conhecimento histoacuterico na sociedade [] Entre as novidades postula-se a possibilidade de examinar a histoacuteria de acordo com uma nova escala de observaccedilatildeo ndash atenta para o detalhe para as micro realidades para aquilo que habitualmente escapa ao olhar panoracircmico da macro histoacuteria tradicional ndash e eacute esta nova postura que se passou a chamar de micro histoacuteria (BARROS 2012 p 306)

Diante deste contexto o ensino de Histoacuteria pode buscar na histoacuteria local a

problematizaccedilatildeo necessaacuteria para que os estudantes da educaccedilatildeo baacutesica

reconheccedilam a identidade local que vem sofrendo com a uniformizaccedilatildeo da

sociedade que impotildee uma conjuntura global do local

24

3 SAtildeO FRANCISCO DE PAULA CONSTRUCcedilAtildeO DO MUNICIacutePIO

A apresentaccedilatildeo do municiacutepio Satildeo Francisco de Paula acontece atraveacutes do

uso da narrativa Esta se apresenta atraveacutes do diaacutelogo com obras jaacute produzidas por

memorialistas eou genealogistas que contribuem para a construccedilatildeo histoacuterica deste

local bem como se usa como fonte de enriquecimento documentos da Assembleia

Legislativa do Rio Grande do Sul e jornais locais

Para tanto se apresenta a revisatildeo historiograacutefica das obras escritas pelos

memorialistas eou genealogistas sendo que Lucena (1971) em sua obra ldquoSatildeo

Francisco de Paula Monografiardquo que abrange aspectos histoacutericos da formaccedilatildeo do

municiacutepio bem como pontos turiacutesticos e demograacuteficos O proacuteprio autor intitula a sua

obra como informativa a riqueza de detalhes eacute interessante poreacutem natildeo haacute nenhuma

referecircncia quanto aos dados escritos nem mesmo um referencial bibliograacutefico ao

final

No texto intitulado ldquoOs Fundadores de Satildeo Francisco de Paulardquo Alves (2007)

escreve sobre a fundaccedilatildeo de Satildeo Francisco de Paula Em seu livro haacute documentos

que validam o que se refere agrave genealogia jaacute que boa parte da obra apresenta os

troncos familiares que compunham o iniacutecio deste municiacutepio Na mesma linha da

genealogia Oliveira (1996) no livro ldquoAurorescer das Sesmarias Serranas histoacuteria e

genealogiardquo traz a histoacuteria das primeiras sesmarias da regiatildeo mas o foco principal

se daacute aos proprietaacuterios e seus descendentes Haacute um mapa bastante interessante

localizando as sesmarias e o nome por elas recebidos

Em ldquoSatildeo Francisco de Paula nossa terra nossa genterdquo Teixeira (2002)

apresenta dados gerais e histoacutericos do municiacutepio Esta obra apresenta dados

geograacuteficos como clima relevo e vegetaccedilatildeo A autora escreve sobre diversos

aspectos eventos personalidades e lendas Aleacutem disso apresenta Satildeo Francisco

de Paula com uma linha cronoloacutegica A obra abrange vaacuterios aspectos mas todos

suscintamente No final a autora apresenta a bibliografia consultada dentre os

autores estaacute Lucena (1971)

O texto ldquoSatildeo Francisco de Paula Rio Grande do Sul histoacuteria encantos e

misteacuteriosrdquo eacute uma obra de Fonseca (2012) que traz diversidade de assunto muitas

vezes estes estatildeo desconexos ou seja sua leitura se torna ldquotruncadardquo No final do

texto haacute um vasto referencial bibliograacutefico dentre os autores citam-se Lucena

(1971) e Teixeira (2002)

25

Ribeiro (2003) eacute compositor e poeta Em ldquoFestival do Ronco do Bugiordquo

escreve sobre Satildeo Francisco de Paula apresentando a histoacuteria dos quinze anos do

festival no municiacutepio No iniacutecio contextualiza a origem do festival e do ritmo bugio

Depois apresenta a capa do disco de cada festival especificando as muacutesicas e os

compositores vencedores

Todas essas obras satildeo importantes para Satildeo Francisco de Paula cada uma

traz consigo um pouco da histoacuteria deste municiacutepio poreacutem sente-se falta da

identidade e da memoacuteria na construccedilatildeo histoacuterica As obras satildeo apresentadas o

mesmo prisma apresentando os iacutendios Caaguaraacutes e o Capitatildeo Pedro da Silva

Chaves os fundadores desta terra dando bastante ecircnfase aos sobrenomes que ali

se desenvolveram

31 CONVERSA COM MEMORIALISTAS

As terras onde hoje fica Satildeo Francisco de Paula eram habitadas por iacutendios da

tribo Caaguaraacutes que faziam parte dos Coroados Estes viviam livremente nos

campos de cima da serra e seus domiacutenios estendiam-se entre a Serra Geral e a

Serra do Mar Os iacutendios Caaguaraacutes tinham como haacutebitos alimentares a caccedila a

pesca e a coleta de sementes e frutos dentre os frutos o pinhatildeo e a goiaba-do-

mato segundo Teixeira (2002) e Alves (2007) Estes iacutendios tiveram seu habitat

invadido por incursotildees de desbravadores que comeccedilaram a trafegar pela regiatildeo em

busca de mulas e novas terras visto que as terras onde hoje se encontra Satildeo

Francisco de Paula de Cima da Serra foram rota de tropeiros5 pois estes trafegavam

pelos Campos de Cima da Serra indo na direccedilatildeo de Lages-SC ateacute alcanccedilarem

Sorocaba-SP6 Ao passarem por esta regiatildeo foram se formando pequenos vilarejos

e construindo um jeito peculiar de viver

Neste cenaacuterio aparece o municiacutepio de Satildeo Francisco de Paula de Cima da

Serra que recebe este nome para se diferenciar de Satildeo Francisco de Paula

denominaccedilatildeo recebida ateacute meados de 1830 pelo municiacutepio de Pelotas Poreacutem na

metade do seacuteculo XVIII Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra possuiacutea

5 Tropeiros homens que conduziam suas tropascomitivas de muares ou cavalos entre as regiotildees 6 Sugere-se a leitura FLORES Moacyr Troperismo no Brasil Porto Alegre Nova Dimensatildeo 1998

SAVARIS Manoelito Tropas e tropeiros o Rio Grande toma forma Disponiacutevel em ltwwwrogeriobastoscombr201104trpas-e-tropeiros-o-rio-grande-tomahtmlgt Acesso em 12 mar 2016

26

proprietaacuterios de terras sendo que um dos pioneiros foi Pedro da Silva Chaves um

portuguecircs casado com Gertrudes de Godoy uma paulista Pedro da Silva Chaves

declara em 1742 ser possuidor de terras neste municiacutepio Segundo Oliveira (1996)

em seu testamento Pedro da Silva Chaves rege que possui trecircs fazendas na regiatildeo

uma chamada Satildeo Joatildeo que se localiza desde o Arroio Santa Cruz ateacute o Rio

Tainhas concedida em 1752 por sesmaria a Fazenda da Cria que foi comprada de

Francisco Pinto Bandeira e confirmada como sesmaria em 1754 e a Fazenda

denominada Cerrito comprada do Capitatildeo Antocircnio Gonccedilalves dos Reis Nestas

fazendas havia criaccedilatildeo de cavalos gado vacum mulas e burros As fazendas

tambeacutem apresentavam em torno de 77 escravos sendo que alguns satildeo casados o

que se faz pensar que estes constituiacuteam famiacutelia aumentando assim o nuacutemero de

escravos da regiatildeo No mapa da Figura 1 verifica-se a localizaccedilatildeo das fazendas do

capitatildeo Pedro da Silva Chaves bem como sua extensatildeo territorial

Figura 1 ndash Mapa de Identificaccedilatildeo das Sesmarias Serranas

Fonte Oliveira (1996 p 236)

27

No mapa apresentado na Figura 1 ainda eacute possiacutevel observar a localizaccedilatildeo

onde inicia o povoado de Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra segundo

Lucena (1971 p 1) ldquoiniciou-se com o Capitatildeo Pedro da Silva Chaves que doou

uma gleba de terra para que fosse iniciado o povoadordquo Tambeacutem segundo Lucena

(1971 p 1) ldquodoou cinquenta vacas para construir o primeiro patrimocircnio da Igreja

cuja construccedilatildeo foi iniciada por sua conta e lhe deu o nome de Satildeo Francisco por

este ser devoto do Santordquo O que demonstra que Pedro da Silva Chaves era

Catoacutelico

Neste periacuteodo compreendido como seacuteculo XIX segundo Teixeira (2002) e

Alves (2007) o atual municiacutepio de Satildeo Francisco de Paula pertencia ao municiacutepio de

Santo Antocircnio da Patrulha municiacutepio este que formava juntamente com Porto

Alegre Rio Pardo e Rio Grande a proviacutencia de Satildeo Pedro do Rio Grande do Sul

atual Rio Grande do Sul Eacute possiacutevel observar a grande extensatildeo territorial de cada

municiacutepio no mapa apresentado na Figura 2 segundo Silva (2000) Santo Antocircnio

da Patrulha anexava as freguesias de N Sra Conceiccedilatildeo do Arroio e N Sra da

Oliveira da Vacaria a capela de Satildeo Domingos das Torres e os povoados de Santa

Cristina do Pinhal e Cima da Serra

Analisando o mapa da Figura 2 eacute possiacutevel perceber que o municiacutepio de Santo

Antocircnio da Patrulha tinha um vasto e extenso territoacuterio que atualmente compreende

os municiacutepios de Vacaria Antocircnio Prado Nova Roma do Sul Lagoa Vermelha

Veranoacutepolis Nova Prata Nova Araccedilaacute Nova Bassano Paraiacute Guabiju Satildeo Jorge

Vista Alegre do Prata Protaacutesio Alves Cotiporatilde Fagundes Varela Vila Flores

Caseiros Birajaras Andre da Rocha Capatildeo Bonito do Sul Muitos Capotildees Bom

Jesus Satildeo Joseacute dos Ausentes Esmeralda Ipecirc Campestre da Serra Monte Alegre

dos Campos Taquara Satildeo Francisco de Paula Cambaraacute do Sul e Jaquirana

28

Figura 2 ndash Divisatildeo Municipal em 1809 ndash Proviacutencia Satildeo Pedro do Rio Grande do Sul

Fonte Evoluccedilatildeo Administrativa (2013)7

32 AMPLIANDO O DIAacuteLOGO COM OS MEMORIALISTAS

Segundo documentos da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul8

disponiacuteveis no Arquivo Histoacuterico de Satildeo Francisco de Paula9 em 1852 atraveacutes da

Lei nordm 266 de 30 de novembro de 1852 eleva-se agrave categoria de freguesia a entatildeo

capela Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra pelo entatildeo vice-governador da

proviacutencia de Satildeo Pedro do Rio Grande do Sul o senhor Luiz Alves Leite de Oliveira

Bello Estes documentos ainda retratam que no ano de 1886 houve distribuiccedilatildeo de

lotes devolutos para pessoas pobres que comprovassem residecircncia haacute pelo menos

trecircs anos e se comprometessem a ldquofundar moradiardquo em um prazo de um ano sendo

assim passados trecircs anos seriam donos definitivos destes lotes dando o iniacutecio ao

povoamento da vila No mesmo periacuteodo acontece a criaccedilatildeo do cemiteacuterio municipal

7 Disponiacutevel em ltwwwatlassocioeconomicorsgovbrevolucao-administrativa-1809-a-2013gt Acesso

em 18 mar 2017 8 O diaacutelogo com memorialista se amplia a partir de agora com contribuiccedilotildees de documentos

pesquisados que corroboram para a compreensatildeo do tema 9 BARBOSA Eni GONCcedilALVES Jorge Joseacute Xavier (Orgs) Documentos histoacutericos da Assembleia

Legislativa do Rio Grande do Sul Arquivo Histoacuterico de Satildeo Francisco de Paula 1992

29

que ocorre em 1891 segundo documentos da Assembleia Legislativa disponiacuteveis

no Arquivo Histoacuterico de Satildeo Francisco de Paula Estes documentos informam que

primeiramente somente moradores que comprovassem residecircncia haacute mais de trecircs

anos e pudessem manter os jazigos de seus entes poderiam fazer uso deste

espaccedilo Atraveacutes desta documentaccedilatildeo se percebe que havia toda uma organizaccedilatildeo

para que ldquoestrangeirosrdquo natildeo se estabelecessem em Satildeo Francisco de Paula de Cima

da Serra

Em 1889 Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra passa a categoria de vila

e deixa de pertencer a Santo Antocircnio da Patrulha passando a ser distrito do

municiacutepio de Taquara do Mundo Novo (hoje Taquara) o que traz mudanccedilas

significativas para a vila

Mesmo havendo distribuiccedilatildeo de lotes apoacutes quinze anos percebe-se na

Figura 3 que o povoado ainda era pequeno cercado de campos que constituiacuteam

fazendas com criaccedilatildeo de gado vacum tendo como principal economia a pecuaacuteria

extensiva Ao alto pode-se visualizar a Igreja Matriz construiacuteda pelo capitatildeo Pedro

da Silva Chaves

Figura 3 ndash Vista da vila de Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra (1901)

Fonte Portal Satildeo Chico (2018)10

10 PORTAL SAtildeO CHICO Fotos antigas de Satildeo Francisco de Paula 2018 Disponiacutevel em

ltwwwsaochicocombrantigasgt Acesso em 12 abr 2019

30

Ainda eacute possiacutevel observar atraveacutes da Figura 3 que neste periacuteodo natildeo havia

nenhuma preocupaccedilatildeo com a organizaccedilatildeo urbana ou seja ruas quadras as

construccedilotildees se apresentam de maneira desordenada Poreacutem passados vinte e dois

anos na Figura 4 jaacute eacute possiacutevel visualizar uma estrutura urbanizada com possiacutevel

organizaccedilatildeo de ruas e quadras mas a vila ainda eacute rodeada de campos

Figura 4 ndash Vista Avenida Juacutelio de Castilhos (1923)

Fonte Lucena (1971 p 67)

O desenvolvimento da Sede de Satildeo Francisco de Paula acontece segundo

Lucena (1971 p 27) ldquonos primeiros anos de vida isto eacute de 1910 a 1924 mais ou

menos devido agrave extraccedilatildeo da erva-mate que era abundante em nossos matos nas

zonas da serrardquo O autor ainda acrescenta

O pioneiro na extraccedilatildeo da erva-mate em nossa Comuna foi o proprietaacuterio Carlos Miguel Kroeff dono da fazenda Potreirinho praticamente arrabalde de nossa cidade No barba-quaacute11 se iniciava todo processo de industrializaccedilatildeo da erva-mate sendo que Satildeo Francisco de Paula chegou a ter quinhentos barbaacute-quas (LUCENA 1971 p 28)

11 Barba-quaacute um valo de cerca de oito metros de comprimento amis ou menos por um metro de

profundidade e oitenta centiacutemetros de largura coberto de xaxim e terra em uma das extremidades colocava-se um gradeado e acima deste em uma parte tambeacutem coberta e mais alta tinha apenas uma saiacuteda sob o gradeado colocava-se as folhas de erva extraiacuteda da aacutervore no iniacutecio do valo fazia-se um fogo e a fumaccedila que pela pouca ventilaccedilatildeo existente formava bastante fumaccedila e esta atingia as folhas secando-as (LUCENA 1971 p 28)

31

A produccedilatildeo de erva-mate contribuiu para o povoamento da vila visto que

muitas pessoas vieram trabalhar e acabaram se instalando no municiacutepio Apoacutes a

extraccedilatildeo da erva-mate surge a extraccedilatildeo de madeira que tambeacutem contribui para o

desenvolvimento

Nesta documentaccedilatildeo ainda se encontra no artigo nordm 251 de 08 de abril de

1891 a liberaccedilatildeo da verba para abrir a estrada de rodagem que liga as vilas de

Taquara do Mundo Novo e Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra em 1889

Atraveacutes da Figura 5 pode-se perceber o quatildeo difiacutecil era abrir uma nova estrada de

rodagem Tudo era manual com o uso de animais e muares para transportar pedras

e terras poreacutem a abertura desta estrada traz mudanccedilas significativas para a

populaccedilatildeo de Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra

Figura 5 ndash Abertura da estrada ERS-020 Taquara ndash Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra

Fonte Jornal Folha da Serra (1968 n 89 p 8)12

12 Folha da Serra jornal criado em 1932 pelo Dr Siacutelvio Rabelo sendo o uacutenico jornal que existia na

regiatildeo serrana Este trazia notiacutecias sociais poliacuteticas etc com uma tiragem em torno de 500 exemplares por semana Encontram-se no Arquivo Histoacuterico de Satildeo Francisco de Paula alguns exemplares ateacute a deacutecada de 70 seacuteculo XX

32

A estrada visava facilitar o acesso da populaccedilatildeo de Satildeo Francisco de Paula

de Cima da Serra que ia ateacute Taquara para buscar gecircneros de primeira necessidade

Em tempos idos os serranos se abasteciam de gecircneros de primeira necessidade quase que totalmente em Taquara e o transporte era feito em cargueiros que compunham uma tropa com cerca de quinze a vinte cargueiros Os animais usados para esse transporte eram geralmente muares mais resistentes para o transporte de carga Os serranos levavam daqui queijo (o queijo ateacute hoje chamado queijo serrano) charque couros e alguns levavam maccedilatilde ou pinhatildeo em suas eacutepocas de colheita trocados por mantimentos de que necessitavam Natildeo existiam ainda estradas e o trajeto era feito por picadas existentes (LUCENA 1971 p 23)

O mesmo autor ainda acrescenta

Para atingir a capital do Estado a viagem era cheia de peripeacutecias O transporte era feito a cavalo ou em diligecircncias ateacute Taquara As diligecircncias carros de quatro de rodas puxados por quatro animais ndash cavalos ndash eram de propriedade de Bertolo Casara mais conhecido por lsquoJoatildeo Gringorsquo Essa viagem se fazia normalmente em um dia e agraves vezes em dia e meio O ponto de parada era ali no Rodeio Bonito onde existia uma casa agrave esquerda bem defronte a estrada que desce para Trecircs Coroas [] De Taquara a Porto Alegre por via ferroviaacuteria ndash de trem (LUCENA 1971 p 16)

A construccedilatildeo desta estrada traz um novo desenvolvimento para a entatildeo vila

de Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra pois apoacutes a abertura da estrada de

rodagem Taquara ndash Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra modifica o transporte

de mercadorias entre as localidades

O transporte de mercadorias era feito em carretotildees de quatro rodas puxados uns por cinco animais outros por sete as maiores que geralmente eram muares Eram atrelados em duas fileiras Na fileira junto agrave carreta que era de duas ou trecircs mulas na da esquerda montava o carreteiro Este toda vez que se verificava um declive na estrada apeava de sua montaria a fim de brecar a carreta sem que esta entretanto parasse (LUCENA 1971 p 24)

Este modelo de comeacutercio vai desaparecer com o surgimento das primeiras

casas de comeacutercios na vila de Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra De acordo

com Lucena (1971 p 38) ldquoos primeiros comerciantes foram Manoel Vicente

Ferreira Abel Pacheco Luis Carlos de Andrade e Jacob Bossle Sobrinhordquo Na

imagem da Figura 6 temos o Accedilougue Central onde nota-se que os animais

convivem soltos na rua juntamente com as pessoas mesmo se tratando de local

urbano

33

Figura 6 ndash Accedilougue Central

Fonte Portal Satildeo Chico (2018)13

Nesta mesma documentaccedilatildeo haacute decretos que definem a construccedilatildeo de uma

nova Igreja Matriz isto eacute uma Igreja de Pedra substituindo a antiga que era de

madeira ainda construiacuteda pelo capitatildeo Pedro da Silva Chaves esta construccedilatildeo data

do ano de 1922 Segundo Teixeira (2002 p 30) a Igreja de Pedra permanece ateacute

1960 quando daacute lugar ao atual preacutedio da Igreja Matriz que foi inaugurada em 14 de

junho de 1964 Na sequecircncia teremos duas imagens demonstrando a Igreja de

Pedra e a atual edificaccedilatildeo da Igreja Matriz Natildeo foi encontrada nenhuma foto da

Igreja de Madeira nos arquivos do Arquivo Histoacuterico do Municiacutepio somente em um

site de fotos antigas onde encontra-se registro apresentado na Figura 7

13 PORTAL SAtildeO CHICO Fotos antigas de Satildeo Francisco de Paula 2018 Disponiacutevel em

ltwwwsaochicocombrantigasgt Acesso em 12 abr 2019

34

Figura 7 ndash Igreja Matriz em 1931

Fonte Portal Satildeo Chico (2018)14

Figura 8 ndash Igreja Matriz

Fonte acervo da autora (2015)

14 PORTAL SAtildeO CHICO Fotos antigas de Satildeo Francisco de Paula 2018 Disponiacutevel em

ltwwwsaochicocombrantigasgt Acesso em 12 abr 2019

35

Entre os anos de 1892 a 1902 por duas vezes Satildeo Francisco de Paula de

Cima da Serra eacute desanexado e reanexado ao entatildeo municiacutepio de Taquara do Mundo

Novo Somente em 23 de dezembro de 1902 foi reestabelecido definitivamente o

municiacutepio de Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra cuja instalaccedilatildeo se verificou

em 07 de janeiro de 1903 A partir de 01 de janeiro de 1938 perde ldquoCima da Serrardquo

de sua nomenclatura permanecendo somente Satildeo Francisco de Paula Apesar

disso se manteacutem o gentiliacutecio ldquoSerranordquo de acordo com Silva (2000 p 23) e dados

do Arquivo Histoacuterico de Satildeo Francisco de Paula sendo que este gentiliacutecio eacute usado

ateacute os dias de hoje

No iniacutecio o municiacutepio de Satildeo Francisco de Paula foi um dos maiores do Rio

Grande do Sul em territoacuterio mas ao longo do tempo foi diminuindo seu territoacuterio

com a anexaccedilatildeo de parte dele ao entatildeo municiacutepio de Caxias do Sul e de Torres e a

criaccedilatildeo dos municiacutepios de Cambaraacute do Sul em 1963 e Jaquirana em 1988

Foi uma das maiores Comunas do Estado pois de seu territoacuterio faziam parte os atuais municiacutepios de Satildeo Marcos Cambaraacute do Sul e Jaquirana e os distritos de Vila Oliva Criuacuteva Fazenda Souza e Vila Seca hoje integrantes de Caxias do Sul De nosso territoacuterio foi tambeacutem desanexada uma gleba de terra ndash Josafaacute ndash e anexada ao municiacutepio de Torres (LUCENA 1971 p 10)

Mesmo perdendo parte de seu territoacuterio ao longo dos anos atualmente

segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (2016) ldquoSatildeo Chicordquo como

costumeiramente eacute chamado pelo seu povo estaacute situado na Encosta Inferior do

Nordeste do Estado do Rio Grande do Sul na zona denominada de Campos de

Cima da Serra Fica distante 112 quilocircmetros da capital do Estado Porto Alegre Os

municiacutepios limiacutetrofes satildeo Monte Alegre dos Campos Bom Jesus Jaquirana

Cambaraacute do Sul Praia Grande-SC Trecircs Forquilhas Itati Maquineacute Riozinho

Rolante Taquara Trecircs Coroas Canela e Caxias do Sul Possui uma aacuterea territorial

de 3264490 quilocircmetros quadrados com uma estimativa populacional de 21617

habitantes distribuiacutedos na zona urbana e rural O municiacutepio se divide em sete

distritos Sede Cazuza Ferreira Tainhas Juaacute Eletra e Lajeado Grande Atraveacutes do

conjunto de mapas apresentado na Figura 9 eacute possiacutevel visualizar a localizaccedilatildeo de

Satildeo Francisco de Paula dentro do Rio Grande do Sul e por conseguinte no Brasil

Tambeacutem se verifica a localizaccedilatildeo dos distritos de Satildeo Francisco de Paula

36

Figura 9 ndash Mapa de localizaccedilatildeo de Satildeo Francisco de Paula

Subdivisatildeo de Satildeo Francisco de Paula em distritos

Fonte montagem da autora (2019)

Desta forma se constitui o espaccedilo fiacutesico do municiacutepio de Satildeo Francisco de

Paula cuja populaccedilatildeo natildeo forma uma colocircnia pois seu povo adveacutem de diferentes

lugares a grande maioria com descendecircncia lusa sendo que os primeiros

colonizadores foram bandeirantes paulistas

A populaccedilatildeo de Satildeo Francisco de Paula eacute composta de brancos africanos e indiacutegenas Os brancos compreendendo portugueses (principalmente

37

accedilorianos) alematildees e italianos os africanos pertenciam ao grupo dos bantos e foram trazidos pelos portugueses (TEIXEIRA 2002 p 147)

A diversidade de pessoas que se estabeleceram em Satildeo Francisco de Paula

pode ser percebida pelos sobrenomes das famiacutelias precursoras do municiacutepio

Para Satildeo Francisco de Paula afluiacuteram famiacutelias de diversas nacionalidades que atraveacutes de seus descendentes ainda hoje aqui satildeo representadas como Famiacutelias Ferreira Soares Pinto Castilhos Asmuz Santos Martins Lopes Comin Feijoacute Silva Canani Peixoto Andrade Teixeira Valin Lucena Alves Cardoso Gomes Borges Marques Tedesco Medeiros Paglioacuteli Costa Fogaccedila Casara em outras (LUCENA 1971 p 11-12)

Os moradores deste municiacutepio introduziram um jeito singular de viver tendo

em seu cotidiano as tradiccedilotildees gauacutechas15 muito presentes Teixeira (2002 p 83)

assim descreve que ldquoas raiacutezes gauacutechas estatildeo fortemente marcadas na comunidade

seja pelo modo de vestir bombacha botas cinturotildees chapeacuteus e no inverno com o

pala ou pela preferecircncia por comidas campeiras churrasco carreteiro feijatildeo

mexidordquo A autora acrescenta que ldquoas casas com lareira e o tradicional fogatildeo agrave

lenha para aquececirc-las durante o inverno rigoroso satildeo um convite para uma

conversa ao peacute do fogo e o saboreio de um gostoso chimarratildeordquo (TEIXEIRA 2002 p

83)

O enraizamento deste modo de vida adveacutem do homem do campo o

pecuarista que no passado necessitava enviar seus filhos a cidade para estudar

contribuindo para este modelo de vida

Antigamente a pecuaacuteria era a atividade econocircmica muito forte em nosso municiacutepio Assim sendo havia muitos fazendeiros E como as fazendas ficavam muito longe da Sede do municiacutepio as senhoras tinham seus filhos em casa com parteiras Tambeacutem os estudos iniciavam nas fazendas porque as escolas ficavam longe Assim muitas vezes os fazendeiros contratavam professoras para se hospedarem nas suas casas e darem aulas aos seus filhos Em muitos casos ateacute mesmo os proacuteprios pais e avoacutes ensinavam alguma coisa Alguns fazendeiros quando seus filhos ficavam maiores os mandavam continuarem seus estudos na vila (assim lsquoSatildeo Chicorsquo era chamada) (TEIXEIRA 2002 p 77)

Com a vinda dos filhos para a vila trouxeram consigo o jeito do homem do

campo sendo que um dos maiores clubes em funcionamento de Satildeo Francisco de

Paula eacute o atual Centro de Tradiccedilotildees Gauacutechas Rodeio Serrano fundado em maio de

15 Tradiccedilotildees gauacutechas segundo Fagundes (1997 p 38) eacute um movimento ciacutevico-cultural [] eacute a

tradiccedilatildeo em marcha resgatando valores que satildeo vaacutelidos natildeo por serem antigos mas por serem eternos exatamente os valores que trouxeram o Rio Grande e o gauacutecho do passado para o presente projetando-se para o futuro

38

1955 Segundo o Jornal Folha da Serra (1968 n 11 p 12) a entidade

tradicionalista receacutem-formada recebe o nome de CTG Coronel Alziro Torres Filho

Fonseca (2012 p 223) menciona que a iniciativa partiu de ldquoDavenir Peixoto Gomes

um homem ruralista e serranordquo Esta entidade tradicionalista teve como primeiro

Patratildeo Oscar Teixeira O CTG Alziro Torres Filho segundo o jornal Folha da Serra

(1957) muda sua nomenclatura em uma reuniatildeo onde o posteiro da invernada

artiacutestica Alaor Valim propotildee a troca do nome para Rodeio Serrano nome que

permanece ateacute a atualidade

A entidade tradicionalista traz como lema ldquoRepontando a Tradiccedilatildeo com o Rio

Grande na Garupardquo Fonseca (2012 p 224) relata que o lema foi ldquocriado pelo

primeiro instrutor de danccedilas Dr Alaor de Almeida Valimrdquo O mesmo autor acrescenta

que ldquoa primeira prenda foi a professora Maria Asmuz Valimrdquo Poreacutem sua sede

somente foi construiacuteda em 1968 sob a patronagem de Dante Santos O Jornal Folha

da Serra (1968 n 11 p 12) indica que ldquoa construccedilatildeo da sede era uma aspiraccedilatildeo de

longos anos que somente agora se concretizardquo Anteriormente ldquoos bailes eram

realizados em sua maioria no Salatildeo Paroquial sendo que alguns foram feitos no

primeiro andar da Associaccedilatildeo Rural e ateacute mesmo na Sociedade Cruzeirordquo

(FONSECA 2012 p 225) Este fato justifica a vontade de Dante Santos de construir

uma sede proacutepria

Apoacutes a construccedilatildeo de sua nova sede o CTG Rodeio Serrano localiza-se na

Rua Benjamim Constant nordm 582 constituindo um espaccedilo importante para a

comunidade de Satildeo Francisco de Paula Dentre as atividades desenvolvidas pelo

CTG estaacute o Rodeio Interestadual que ocorre todos os anos no primeiro final de

semana de dezembro sendo que se encontra na 33ordf ediccedilatildeo A manutenccedilatildeo das

invernadas artiacutesticas em todas as categorias mascote mirim juvenil e adulta A

organizaccedilatildeo da Ronda Crioula na Semana Farroupilha bem como a Cavalgada de

Prendas que ocorre durante a Semana Farroupilha todos os anos Realiza-se o

baile da Prenda Jovem aleacutem de shows e bailes tipicamente gauchescos Aleacutem

disso nos uacuteltimos anos a organizaccedilatildeo do Festival Ronco do Bugio que ocorre em

Satildeo Francisco de Paula ldquofestival este lanccedilado em 16 de abril 1986rdquo segundo o

Jornal Satildeo Chico Tchecirc (1986 n 4 p 5)16

16 Satildeo Chico Tchecirc jornal de circulaccedilatildeo quinzenal fundado em 08 de janeiro de 1986 e que circulou

ateacute 1989 O jornal trazia informaccedilotildees culturais sociais econocircmicas e poliacuteticas da Sede e do

39

Durante os seus sessenta e dois anos de existecircncia muitos patrotildees

passaram por esta entidade tradicionalista mas em 2017 pela primeira vez na

histoacuteria o CTG Rodeio Serrano teve uma patronagem feminina Aleacutem da Patroa

Neuza Reis foram empossadas a Capataz Elenita Amaral a Sota-capataz Fernanda

Kirsch Damasceno o Agregado das Pilchas Antocircnio Garcia de Souza e no

Conselho de Vaqueanos Neiva Santos Valim

Figura 10 ndash Patroa Neuza Reis e sua Comissatildeo

Fonte Jornal Pioneiro (2017)17

Satildeo Francisco de Paula hoje conta com vinte e oito entidades

tradicionalistas18 espalhadas pelos seus distritos demonstrando que homem do

campo se faz muito presente em todo o municiacutepio sendo assim a cultura

interior Os exemplares encontram-se encadernados no arquivo histoacuterico de Satildeo Francisco de Paula

17 Jornal Pioneiro conhecido como o jornal que estaacute ldquoao teu ladordquo o Pioneiro circula desde 1948 e estaacute presente hoje em 64 municiacutepios da regiatildeo de Caxias do Sul Desde 1993 integra a rede de jornais do Grupo RBS sendo filiado ao Instituto Verificador de Circulaccedilatildeo (IVC) Conta com uma equipe de Redaccedilatildeo com mais de 40 jornalistas aleacutem de colunistas internos e externos Em 2008 o jornal ganhou o site pioneirocom Disponiacutevel em lthttpwwwgruporbscombratuacaopioneirogt acesso em 10 de fevereiro de 2019

18 Informaccedilatildeo cedida pelo Coordenador da 27ordf Regiatildeo Tradicionalista Gauacutecha

40

tradicionalista se apresenta de maneira forte e consistente segundo vaacuterios

depoimentos de moradores de todos os distritos de Satildeo Francisco de Paula

41

4 SAtildeO FRANCISCO DE PAULA DISTRITOS EM FOCO

Quanto aos distritos de Satildeo Francisco de Paula surgem diversas

inquietaccedilotildees com relaccedilatildeo agrave identidade destes locais pois estes mesmo fazendo

parte de um mesmo municiacutepio apresentam singularidades que derivam de sua

colonizaccedilatildeo basicamente lusa portuguesa e da recepccedilatildeo de imigrantes de diversas

etnias como italianos e alematildees ao longo destes cento quinze anos de

emancipaccedilatildeo Percebe-se que alguns distritos manteacutem sua identidade e tradiccedilotildees

resguardadas enquanto em outros jaacute ocorreu agrave miscigenaccedilatildeo de diferentes haacutebitos

e culturas o que dificulta identificar traccedilos que identifiquem estes distritos

Neste capiacutetulo busca-se responder a estas inquietaccedilotildees fazendo uso dos

depoimentos de moradores locais Segundo Delgado (2003 p 21) ldquoessas

narrativas tal qual os lugares da memoacuteria satildeo instrumentos importantes de

preservaccedilatildeo e transmissatildeo das heranccedilas identitaacuterias e das tradiccedilotildeesrdquo Neste sentido

se optou por dois moradores por distrito totalizando treze entrevistados um homem

e uma mulher da terceira idade que sempre morou no distrito o que enriquece os

detalhes repassados pelos entrevistados

Toda entrevista tem por base a memoacuteria individual que se referencia na coletiva profundamente relacionada agraves vivecircncias individuais A utilizaccedilatildeo do depoimento de pessoas idosas como fonte para a histoacuteria oral eacute uma forma de justificar a entrevista como histoacuterica referindo-se ao passado jaacute que aos idosos se pretende atribuir a guarda de memoacuterias do passado pelo proacuteprio tempo de vida do depoente Isto retoma e ajuda a fortalecer a ideia de que a histoacuteria mesmo tratando do tempo presente ainda se reporta a um periacuteodo anterior ao da vida do pesquisador (ALMEIDA 2012 p 10)

A entrevista somente ocorreu quando o entrevistado concordou em assinar o

termo de consentimento As entrevistas ocorreram nas residecircncias dos

entrevistados foram preacute-agendadas sendo que o meacutetodo utilizado foi entrevista

guiada atraveacutes de questionaacuterio previamente organizado pela autora as entrevistas

foram filmadas e gravadas onde somente uma entrevistada natildeo autorizou a

filmagem de seus relatos justificando a idade avanccedilada e por morar sozinha

A escolha pela histoacuteria oral hibrida ocorreu no sentido de que a fonte oral eacute o

principal recurso utilizado para colher informaccedilotildees sobre os distritos visto que em

sua grande maioria natildeo haacute publicaccedilotildees Poreacutem em determinados momentos se

utilizam fontes documentais como complemento do que vem sendo apresentado

Com relaccedilatildeo agrave abordagem adotada nas entrevistas se optou pela temaacutetica visto

42

que se leva um roteiro preacute-organizado com temas que deveratildeo ser explorados

durante as entrevistas o que proporciona uma riqueza de informaccedilotildees para a

autora

41 DISTRITO SEDE

O distrito Sede se constitui no local onde se inicia o povoado do municiacutepio na

antiga Fazenda da Cria terras doadas pelo capitatildeo Pedro da Silva Chaves Neste

distrito concentram-se os serviccedilos puacuteblicos e privados que os moradores

necessitam em seu dia-a-dia visto que ali existem bancos casas loteacutericas

farmaacutecias hospital supermercados lojas papelarias livraria inspetoria veterinaacuteria

secretaacuterias municipais escolas puacuteblicas e privadas creches induacutestrias de madeiras

e calccedilados

Poreacutem o distrito Sede ou cidade de Satildeo Chico como popularmente

conhecida pelo seu povo jaacute foi uma cidade de interior ou seja uma cidade pequena

com moradores que vinham das fazendas em busca de estudo Visto que a

implementaccedilatildeo de uma rede regular de ensino ocorre tardiamente devido agrave

dificuldade de se locomover pelas distantes localidades entatildeo normalmente os

fazendeiros contratavam professores para que seus filhos obtivessem estudo sendo

que estes moravam na proacutepria residecircncia da famiacutelia Em entrevista com essa autora

relata Albuquerque19 que ldquopara aprimorar os estudos aqueles que tinham mais

condiccedilotildees iam para Porto Alegre Santa Maria ou Passo Fundo mas para isto

ficavam laacute em internatos e soacute retornavam nas feacuterias devido agrave dificuldade e o custo

da viagemrdquo

Na deacutecada de 40 foi criada a Escola Catoacutelica de Satildeo Francisco de Paula

cujo funcionamento acontece ateacute 1973 quando foram encerradas suas atividades

Esta escola iniciou com o curso primaacuterio e posteriormente instalou o curso ginasial

Normalmente estes moradores permaneciam de segunda-feira a sexta-feira na

cidade e nos finais de semana retornavam para as fazendas como recorda uma

moradora local

Noacutes eacuteramos uma cidade de fazendeiros a gente tinha uma casa no campo e uma na cidade a gente vivia de laacute pra caacute de caacute pra laacute fim de semana ia

19 ALBUQUERQUE Moacir Castello Branco de Entrevista concedida agrave autora no dia 06 de abril de

2018

43

pra fora20 dia de semana vinha pra caacute normalmente uma irmatilde mais velha voacute ficava com a gente aqui na cidade e a famiacutelia mesmo ficava no campo21

Percebe-se que hoje ainda existem na Sede moradores que manteacutem suas

casas na cidade e durante o dia ou nos finais de semana vatildeo ateacute suas fazendas

para fazer as lides com o gado o que caracteriza uma pequena parte da populaccedilatildeo

que foram os filhos dos antigos fazendeiros que mais tarde acabam se instalando

definitivamente na cidade trazendo com sigo a essecircncia do homem do campo e

afirmando uma identidade genuinamente gauacutecha definiccedilatildeo esta concedida por uma

moradora local

Gauacutecho natildeo eacute o morador do Rio Grande do Sul o morador do Rio Grande do Sul eacute o sul-rio-grandense ou rio-grandense do sul o gauacutecho eacute apenas o homem que vem da pecuaacuteria extensiva essa que existe laacute no pampa e aqui nos campos de cima da serra o gauacutecho serrano com caracteriacutesticas muito proacuteprias grandes gaiteiros poetas aliaacutes o maior gaiteiro do mundo eacute daqui natildeo abro matildeo de dizer isto soacute que todos noacutes viacutenhamos da lida do campo em decorrecircncia disso eacuteramos gauacutechos de verdade22

Em sua fala apresenta o gauacutecho serrano como um tipo singular que ama a

pilcha gauacutecha o seu pingo e suas criaccedilotildees bem como reafirma a importacircncia dos

Irmatildeos Bertussi Honeide e Adelar sendo Adelar Bertussi um dos maiores gaiteiros

deste municiacutepio Exaltam-se tambeacutem os poetas que com suas poesias e letras de

muacutesicas escrevem o jeito do seu povo viver

Mesmo a cidade sendo ldquolocal de paradardquo durante a semana para a maioria

de seus habitantes no passado era cheia de atrativos que o campo natildeo possuiacutea

como o cinema cuja instalaccedilatildeo natildeo se encontra documentada mas sabe-se que

iniciou onde hoje eacute o preacutedio da Prefeitura Municipal sendo proprietaacuterio Francisco

Ferraz (Chico Ferraz como era conhecido) Observa-se em alguns exemplares do

Jornal Folha da Serra23 os filmes e os horaacuterios do funcionamento do cinema

Entende-se que o jornal era uma maneira de divulgar os filmes por ser o uacutenico meio

de comunicaccedilatildeo da eacutepoca Pelos folhetins se percebe que as sessotildees

apresentavam diversos gecircneros natildeo se sabe quando o cinema finalmente fechou

20 Fora refere-se ir para a fazenda 21 SOARES Luciana Olga Entrevista concedida agrave autora no dia 01 de marccedilo de 2018 22 SOARES Luciana Olga Entrevista concedida agrave autora no dia 01 de marccedilo de 2018 23 Folha da Serra jornal local criado em 1932 pelo Dr Siacutelvio Rabelo passando posteriormente a

propriedade da Prefeitura Municipal Sua impressatildeo era na ordem de 500 exemplares natildeo se tem a informaccedilatildeo do periacuteodo que parou de circular mas pelos exemplares encontrados no Arquivo Histoacuterico de Satildeo Francisco de Paula os uacuteltimos datam de 1978 O Arquivo Histoacuterico de Satildeo Francisco de Paula fica em um preacutedio anexo agrave Biblioteca Puacuteblica do municiacutepio

44

poreacutem o jornal Folha da Serra traz uma reportagem que retrata como estava difiacutecil

manter o cinema em funcionamento em meados de 1968 ldquoo nosso cinema na

maneira que vai indo natildeo tem mais condiccedilotildees de funcionar natildeo temos apoio da

populaccedilatildeo com uma frequecircncia de mais ou menos 150 pessoas por final de

semanardquo O jornal acrescenta ldquosalienta-se que mais ou menos de 3 de nossa

CULTA populaccedilatildeo natildeo frequenta o cinemardquo Pode-se associar o fechamento do

cinema a dois fatores a natildeo cultura de assistir filmes e pelas sessotildees ocorrerem nos

finais de semana onde boa parte da populaccedilatildeo da cidade se deslocava para as

fazendas ou pela crise que os cinemas passaram na deacutecada de 80 quando em

muitas cidades foram fechados

A vida da populaccedilatildeo local vai se modificando cada vez mais as pessoas vatildeo

se instalando definitivamente na Sede onde se perde o viacutenculo com o campo

Devido agrave venda ou arrendamento das fazendas24 que por render pouco a pecuaacuteria

extensiva e com a criaccedilatildeo de novas legislaccedilotildees que proiacutebem praacuteticas centenaacuterias

seus proprietaacuterios buscaram novas possibilidades econocircmicas que modificaram a

Sede e tambeacutem boa parte do interior Em entrevista a moradora Soares relata

Exatamente porque a produccedilatildeo era pequena isso natildeo serve para o mundo de hoje a uns quarenta anos chega em nossos campos as primeiras plantaccedilotildees de pinus interessante que ningueacutem reclamou da destruiccedilatildeo desse campo de milhotildees de anos e de todo o ecossistema mas mesmo com essa nova cultura continuamos realizando a sapeca do campo no mecircs de agosto mas de repente chega a notiacutecia que estaacute proibida a queima do campo dizendo que noacutes estragaacutevamos a terra poluiacuteamos o ar que mataacutevamos animais e tudo aquilo natildeo era verdade Na verdade alguns anos depois da lei proibindo a queima do campo chegam as multas gigantescas agraves vezes maior que o valor da terra e aiacute inviabilizou a pecuaacuteria e muitos fazendeiros venderam suas terras e foram embora Quem ficou no campo na busca por renda a qualquer preccedilo arrenda seus campos para os batateiros que vieram acredito que a grande maioria de Santa Catarina e do Paranaacute estes lavram o campo nunca mais o campo nem com reza braba taacute tudo perdido para sempre e isso reflete na nossa cidade25

Essas mudanccedilas no campo refletem na Sede onde o homem serrano convive

passivamente com novas identidades que embora sejam presentes eacute minoria pois

esta parcela de novos moradores traz consigo um novo jeito de viver que ainda natildeo

se percebe influenciar na identidade cultural da Sede

24 Propriedades rurais cuja atividade principal eacute a praacutetica da pecuaacuteria extensiva e a produccedilatildeo do

queijo artesanal serrano 25 SOARES Luciana Olga Entrevista concedida agrave autora no dia 01 de marccedilo de 2018

45

Na Sede desde o iniacutecio se observam quatro clubes sociais a Sociedade

Cruzeiro a Sociedade 9 de Julho a Sociedade Esperanccedila e o Centro de Tradiccedilotildees

Gauacutechas Cada clube social tem sua importacircncia histoacuterica poreacutem alguns natildeo se

manteacutem ativos

A Sociedade 9 de Julho foi fundada em 27 de setembro de 1961 estando

localizada no bairro Rincatildeo Segundo o jornal Folha da Serra (1968 n 96 p 5)

apoacutes sete anos de sua fundaccedilatildeo ldquoseu presidente Galego promete uma nova e

confortaacutevel sede para a sociedaderdquo Sociedade que se apresenta por sua

versatilidade nos eventos ateacute os dias atuais

O jornal Folha da Serra (1968 n 96 p 5) traz a seguinte mateacuteria ldquoas quatro

noites foram repletas de alegria naquela sociedade onde os foliotildees divertiram-se e

quando se anunciou o final da quarta noite houve quem lamentasse o final da festa

do Momordquo A reportagem refere-se ao carnaval que se desenvolve de forma

popular nesta sociedade Neste espaccedilo na deacutecada de 1990 ocorria um baile na

sexta-feira que antecedia ao Festival do Ronco do Bugio um espaccedilo onde jovens se

encontravam para iniciar as festividades do grande festival da cidade poreacutem na

atualidade este evento natildeo ocorre mais Pelos cartazes de divulgaccedilatildeo de eventos

atuais a Sociedade 9 de Julho se torna um espaccedilo bastante versaacutetil e segundo

dados obtidos no site da proacutepria sociedade o local apresenta shows bailes

tradicionalistas domingueiras e festas temaacuteticas

Sabe-se da existecircncia da Sociedade Esperanccedila devido a uma reportagem a

respeito do carnaval escrita no jornal Folha da Serra (1968 n 11 p 25) ldquoos

escurinhos tambeacutem natildeo ficaram para traacutes e demonstraram que satildeo bons no samba

porque soacute quem assistiu pode ver como brincaram e que maravilha de ritmo

marcaram durante as quatro noitesrdquo A reportagem daacute a entender de se tratar de

uma sociedade frequentada por negros e pode-se entender que ao usar o termo

escurinho na reportagem haacute preconceito racial perpassando a ideia de que por

serem negros natildeo poderiam se divertir da mesma maneira que os brancos

Atualmente se encontra no local um espaccedilo residencial e comercial

A Sociedade Cruzeiro foi fundada em 9 de maio de 1925 pela elite da

sociedade serrana Segundo Teixeira (2002) e Fonseca (2012) sua sede social era

na Avenida Juacutelio de Castilhos onde hoje se situa a agecircncia do Banrisul e teve como

primeiro presidente o Sr Antocircnio Mario Kroeff e o secretaacuterio Sr Joatildeo Parobeacute de

Lucena Sua nova sede foi inaugurada de acordo com Fonseca (2012 p 236) ldquono

46

dia 11 de dezembro de 1965 e esta permanece no mesmo endereccedilo ateacute a

atualidade Situa-se na Rua Dr Frederico Tedesco nordm 1261rdquo

Atualmente este espaccedilo eacute usado para convenccedilotildees ou festas particulares

onde as pessoas locam o espaccedilo para realizarem seu evento Neste espaccedilo natildeo

mais ocorrem grandes eventos sociais como Fonseca (2012 p 232) descreve ldquoos

bailes mais elegantes e vistosos desta sociedade ocorrem aquirdquo Fonseca (2012 p

233) ainda complementa que ldquoa primeira Miss Sociedade Cruzeiro foi eleita em 1937

e a vencedora foi a jovem Zilah Teixeirardquo

A Sociedade Cruzeiro tambeacutem foi palco de bailes de carnaval O Jornal Folha

da Serra (1968 n 11 p 25) descreve ldquocomo sempre a Sociedade Cruzeiro ponteou

o nosso carnaval com blocos fantasiados magnificamente fazendo acrobacias ao

som de excelente muacutesica local onde os turistas afluiacuteramrdquo Contrapondo a este

tempo a moradora local Soares26 discorre de maneira saudosa ldquoque saudades do

carnaval hoje eacute bebedeira perdeu o encanto perdeu tudo Na rua o pessoal

gritando sem nenhuma infraestrutura nem os bailes na sociedade natildeo ocorrem

maisrdquo

O distrito Sede jaacute foi palco de inuacutemeros clubes sociais que ao longo do tempo

foram perdendo seu encanto e ateacute mesmo fechando-se para atividades sociais O

que permanece em pleno funcionamento eacute o Centro de Tradiccedilotildees Gauacutechas Rodeio

Serrano o que justifica uma cultura tradicionalista presente neste distrito Dentre as

atividades desenvolvidas por esta entidade estatildeo o Rodeio Interestadual com

atividades campeiras e artiacutesticas que ocorrem todos os anos no primeiro final de

semana de dezembro a manutenccedilatildeo das invernadas artiacutesticas em todas as

categorias mascote mirim juvenil e adulta

A organizaccedilatildeo da Ronda Crioula na Semana Farroupilha com a participaccedilatildeo

das escolas da Sede e do interior que trazem seus grupos de danccedilas bem como

organizam gincanas Outra atividade tambeacutem desenvolvida por esta entidade eacute a

Cavalgada de Prendas que ocorre durante a Semana Farroupilha desde 1992

sendo Satildeo Francisco de Paula pioneira nesta ideia onde somente mulheres

participam da cavalgada que culmina com o desfile na Avenida Juacutelio de Castilhos

Realiza-se tambeacutem o Baile da Prenda Jovem que eacute o baile de debutante gauacutecho

onde as prendas entre 13 e 15 anos satildeo apresentadas agrave sociedade Aleacutem disso nos

26 SOARES Luciana Olga Entrevista concedida agrave autora no dia 01 de marccedilo de 2018

47

uacuteltimos anos a organizaccedilatildeo e apresentaccedilatildeo do Festival Ronco do Bugio que ocorre

em Satildeo Francisco de Paula faz parte da programaccedilatildeo desta entidade Este festival

apresenta exclusivamente o gecircnero musical bugio Haacute pelo menos duas hipoacuteteses

sobre a origem deste gecircnero musical

A primeira eacute de berccedilo serrano e teria mais fiel escudeiro o inesqueciacutevel acordeonista de Satildeo Francisco de Paula Honeyde Bertussi Siqueira Segundo ele o ritmo teria sido originaacuterio pelas matildeos do gaiteiro Vergiacutelio Leitatildeo que no jogo-de-foles e nos baixos de sua gaita de botatildeo teria imitado o ronco do bicho nos caponetes de cima da serra [] teria difundido pelas bodegas do Juaacute interior de Satildeo Chico (SOUZA 2003 p 15)

A segunda hipoacutetese eacute apresentada por Souza (2003 p 15) que apresenta a

versatildeo dada pelo povo de Satildeo Francisco de Assis que diz que ldquoa origem do ritmo e

oriunda desta localidade que por sinal realizava um festival nativista chamado

Querecircncia do Bugiordquo

Desconhece-se a verdadeira origem do gecircnero musical bugio mas Souza

(2003 p 23) afirma que ldquoJoatildeo Cincinato Terra muacutesico atuante sentiu a

necessidade de nosso municiacutepio acompanhar o movimento jaacute que neste periacuteodo se

expande por todo o estado do Rio Grande do Sul os festivais nativistasrdquo O

lanccedilamento do primeiro festival do Ronco do Bugio acontece em 1986 no CTG

Rodeio Serrano com a participaccedilatildeo de vaacuterios representantes da muacutesica nativista e

da comunidade serrana Seu lanccedilamento oficial ocorre em 16 de abril de 1986

O jornal Satildeo Chico Tchecirc (1986 n 11 p 6) noticiou que o primeiro Festival do

Ronco do Bugio contou com 98 muacutesicas escritas sendo 24 as selecionadas O

festival ocorreu entre os dias 13 e 15 de maio e Souza (2003 p 42) descreve que foi

apresentado ldquosob uma lona de circo estaqueada num gramado amador mas de

tantas gloacuterias futeboliacutesticas o campo do Clube Atleacutetico Serranordquo

A muacutesica vencedora do primeiro Ronco do Bugio foi ldquoLevanta Bugiordquo

defendida pelo cantor e compositor gauacutecho Leonardo Observando fotos percebe-se

que o Ronco do Bugio se deu em uma noite fria de inverno

O Festival Ronco do Bugio desde o seu iniacutecio premia melhor arranjo

conjunto instrumental instrumentista inteacuterprete e a muacutesica mais popular Fatima

Gimenez foi a melhor inteacuterprete do primeiro festival defendendo a muacutesica ldquoPinheiro

Gringordquo composiccedilatildeo de Erian Fogaccedila e Laerte Fortes Novamente a roupa dos

48

muacutesicos reforccedila que na noite da entrega da premiaccedilatildeo fazia muito frio A cantora

tambeacutem se apresenta vestindo um chiripa coberto por um pala27

Na Figura 11 observamos a fotografia de Gonzaga dos Reis muacutesico local

sentado com sua gaita instrumento que lhe deu o precircmio de melhor instrumentista

do primeiro Ronco do Bugio Nesta oportunidade o cantor instrumentista e

compositor defendeu a muacutesica ldquoBugio da Minha Terrardquo

Figura 11 ndash Gonzaga dos Reis

Fonte Jornal Satildeo Chico Tchecirc n 4 p 8 (1986)

A composiccedilatildeo ldquoBugio Tiranordquo que foi defendida pelo conjunto Os Tiranos de

Satildeo Francisco de Paula ganhou o precircmio mais popular

Para o Jornal Satildeo Chico Tchecirc (1986 n 11 p 7) o Festival Ronco do Bugio eacute

ldquoum festival autecircntico e original que aconteceu com grande sucesso em Satildeo

Francisco de Paulardquo No encerramento deste grande evento Joatildeo Chagas Leite se

27 Chiripa e pala satildeo trajes tipicamente gauacutechos Sendo que o chiripa atualmente eacute uma veste de

preferecircncia feminina este fica enrolado na cintura e vai ateacute os joelhos ldquoEacute um pano inteiro passado entre as pernas primeiro de traacutes para frente e depois de frente para traacutes pode ser de latilde ou lisordquo (ABREU 2003 p 67) O pala eacute uma peccedila retangular com franjas nos quatro lados e listras no sentido do comprimento

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apresenta segundo o Jornal Satildeo Chico Tchecirc (1986 n 11 p 8) ldquocom composiccedilotildees

como Corda de Espinho Orelhano Pampa Campo e Querecircncia Coraccedilatildeo de

Estudante e Afiosrdquo

O Festival Ronco do Bugio perpassa o tempo segundo o site da Prefeitura

Municipal

O Festival Ronco do Bugio eacute um evento musical nativista que acontece anualmente na Cidade de Satildeo Francisco de Paula com o intuito de preservar e difundir o uacutenico ritmo originaacuterio do Rio Grande do Sul ou seja o lsquobugiorsquo compasso criado justamente no interior deste municiacutepio Tal criaccedilatildeo se deu a partir da criatividade dos gaiteiros serranos que buscaram imitar com seu instrumento musical o ronco do primata nos matos da serra A festividade agora em sua 26ordf ediccedilatildeo eacute genuiacutena pois eacute o uacutenico da Ameacuterica onde obrigatoriamente os participantes devem utilizar um ritmo somente isto eacute o citado lsquobugiorsquo embora a temaacutetica seja abrangente Por este motivo eacute chamado de lsquoO Festival Mais Autecircntico do Rio Grandersquo Aleacutem do forte enfoque cultural que envolve toda a comunidade musical do Estado o Festival tem seu apelo ecoloacutegico pois chama a atenccedilatildeo para a preservaccedilatildeo da espeacutecie hoje quase em extinccedilatildeo O Ronco do Bugio por sua importacircncia no cenaacuterio cultural rio-grandense criou uma identidade ao povo de Satildeo Francisco de Paula pois junto ao evento estaacute intriacutenseco e vem agrave tona o histoacuterico da criaccedilatildeo do municiacutepio caracterizado pela forte influecircncia dos antigos tropeiros desbravadores e povoadores desta parte do paiacutes (PREFEITURA MUNICIPAL DE SAtildeO FRANCISCO DE PAULA 2017)

No mesmo documento disponibilizado pela Prefeitura Municipal de Satildeo

Francisco de Paula observam-se algumas informaccedilotildees a respeito da realizaccedilatildeo do

festival no ano de 2017

Art 1ordm - O 26ordm Ronco do Bugio realizar-se-aacute no municiacutepio de Satildeo Francisco de Paula nos dias 01 e 02 de setembro de 2017 Art 2ordm - a festividade agora em sua 26ordf ediccedilatildeo eacute genuiacutena pois eacute a uacutenica na Ameacuterica Latina com promoccedilatildeo da Prefeitura Municipal de Satildeo Francisco de Paula e do CTG Rodeio Serrano com apoio de oacutergatildeos puacuteblicos e iniciativa privada Art 3ordm - Satildeo objetivos do 26ordm Ronco do Bugio a) valorizar a tradiccedilatildeo arte cultura e a autecircntica muacutesica regionalista

gauacutecha atraveacutes do seu ritmo mais original b) prestigiar autores compositores inteacuterpretes e conjuntos regionalistas e

incentivar o surgimento de novos valores c) divulgar a muacutesica regional gauacutecha d) valorizar a relevante posiccedilatildeo na formaccedilatildeo de usos e costumes

caracteres e valores espirituais e morais do gauacutecho e) promover e incentivar a cultura gauacutecha projetando Satildeo Francisco de

Paula na maneira mais autecircntica no cenaacuterio do turismo (PREFEITURA MUNICIPAL DE SAtildeO FRANCISCO DE PAULA 2017)

Como eacute possiacutevel observar no artigo 4ordm ldquoA organizaccedilatildeo do 26ordm Ronco do Bugio

ficaraacute a cargo da Comissatildeo Organizadora composta por membros da Prefeitura

Municipal e do CTG Rodeio Serranordquo (PREFEITURA MUNICIPAL DE SAtildeO

50

FRANCISCO DE PAULA 2017) Devido agrave importacircncia identitaacuteria do festival para o

municiacutepio ao se chegar agrave cidade na deacutecada de 90 se encontrava o seguinte

outdoor

Figura 12 ndash Outdoor entrada da cidade na ERS-020

Fonte Souza (2003 p 17)

Assim como o tiacutetulo de ldquoCapital Mundial do Bugiordquo Satildeo Francisco de Paula ldquojaacute

obteve vaacuterios slogans dentre eles o de Satildeo Chico eacute terra boardquo (TEIXEIRA 2002 p

149-150)

Mesmo ocorrendo inferecircncias externas advindas com pessoas que trouxeram

consigo uma identidade diferente Soares28 em entrevista afirma ldquoSatildeo Chico eacute

identificada pela cultura tradicionalista gauacutecha a cuia em frente ao antigo preacutedio da

prefeitura demonstra o siacutembolo da hospitalidade de nosso povordquo A permanecircncia

ativa do CTG Rodeio Serrano na sede eacute outro indicativo forte da presente

identidade ligada as atividades do homem do campo Outro fato observado eacute a

constante praacutetica do laccedilo de vaca parada29 por jovens e crianccedilas nos paacutetios de suas

residecircncias bem como cavalarianos (homens mulheres jovens e crianccedilas) na

28 SOARES Luciana Olga Entrevista concedida agrave autora no dia 01 de marccedilo de 2018 29 Vaca parada uma espeacutecie de cavalete de madeira com aspectos de uma vaca usada por crianccedilas

que estatildeo iniciando neste esporte bem como usado como forma de entretenimento para jovens e adultos

51

avenida principal cavalgando entre os carros Ainda se percebe o respeito entre

motoristas de automotivos bicicletas e os cavalarianos todos ocupando o mesmo

espaccedilo

42 DISTRITO DE CAZUZA FERREIRA

O distrito de Cazuza Ferreira foi criado em 07 de janeiro de 1903 estando

situado a 85 quilocircmetros da Sede Andrade comenta em entrevista30 ldquoateacute acho que

Cazuza se desenvolveu primeiro que Satildeo Chicordquo31 visto que a criaccedilatildeo do distrito

acontece dias depois da emancipaccedilatildeo enquanto a criaccedilatildeo da vila do distrito de

Cazuza Ferreira se desenvolve segundo a entrevistada

A parte da Histoacuteria que eu sei eacute que houve a chegada de um Sr Chico Mestre eacute como eles chamavam Esse Sr veio as casas eram distantes umas das outras e ele comeccedilou a fazer oraccedilatildeo nas casas e reunir as pessoas e fundou o cemiteacuterio Entatildeo o Joseacute Ferreira de Castilhos que era dono daqui naquela eacutepoca um dos moradores que tinha bastante terra doou a terra para fazer a vila aiacute o que aconteceu segundo as histoacuterias era para ser ali onde eacute a cancha de laccedilo hoje do outro lado da estrada soacute que o terreno natildeo era apropriado entatildeo houve uma permuta com o Sr que era dono deste terreno aqui era Bossle aqui era bem mais alto e mais plano Entatildeo se construiu a Igreja e iniciou o povoamento da vila32

A moradora Basso ainda acrescenta que ldquoa vila foi sempre mais ou menos o

que ela eacute hojerdquo Ao observar o local pode-se perceber uma grande praccedila ao centro

rodeada de casas de comeacutercio posto de combustiacutevel posto de sauacutede o hotel a

Igreja Matriz juntamente com o salatildeo paroquial e casas residecircncias cujo aspecto

impressiona por a grande maioria das casas apresentam uma arquitetura que

perpassa o tempo A Figura 13 apresenta uma imagem da praccedila central tirada das

escadarias da Igreja Matriz

30 ANDRADE Nauro Bossle de Entrevista concedida agrave autora no dia 04 de marccedilo de 2018 31 Primeiro que Satildeo Chico eacute um termo comum usado pelos moradores do interior do municiacutepio de

Satildeo Francisco de Paula que ao se referir a Sede do municiacutepio usam o termo Satildeo Chico ou Satildeo Francisco de Paula pois seus moradores natildeo costumam na atualidade dizer lsquovou a Sedersquo e sim lsquovou a Satildeo Chicorsquo como se eles natildeo morassem no municiacutepio

32 BASSO Ceacutelia Pacheco Terres Entrevista concedida agrave autora no dia 04 de agosto de 2018

52

Figura 13 ndash Praccedila Central de Cazuza Ferreira

Fonte acervo pessoal da autora (2018)

Apesar de ter a preservaccedilatildeo arquitetocircnica a moradora Basso declara

O pai contava e outras pessoas contam que teve uma eacutepoca que tinha faacutebrica de tamanca33 jaacute teve faacutebrica de guaranaacute de queijo bastante coisa no sentido de selaria mas tudo foi se extinguindo as pessoas as famiacutelias natildeo deram continuidade e se sumiram natildeo existe mais nada disso mas estas faacutebricas natildeo davam renda ou seja trabalho para pessoas de fora pois elas eram administradas e cuidadas pelas famiacutelias Daiacute houve o periacuteodo das serrarias enquanto pode extrair madeira era o forte a vila movimentada enriqueceram alguns comerciantes locais o momento que extinguiu aquele trabalho eles foram embora e o povo daqui acomodou entatildeo hoje a vila tem bastante pessoas que foram embora trabalhar assim na juventude e hoje aposentados voltaram pois aqui para jovem natildeo tem sobrevivecircncia o uacutenico trabalho eacute na escola tem nove professores e uma funcionaacuteria em alguns funcionaacuterios da prefeitura acho que satildeo seis que cuidam do plantel de maacutequinas a enfermeira e o pessoal que cuida do posto do correio tambeacutem tem a ferraria mas ali eacute soacute os da proacutepria famiacutelia entatildeo o jovem acaba tendo que ir embora34

Os entrevistados Basso e Andrade relatam que apesar das adversidades o

povo de Cazuza Ferreira tem um amor pelas suas tradiccedilotildees mantendo vivos trecircs

aspectos que ambos consideram a marca identitaacuteria de seu povo e afirmam com

33 Tamanca calccedilado comum na regiatildeo solado de madeira com uma proteccedilatildeo sobre as pontas dos

dedos indo ateacute o peito do peacute em couro 34 BASSO Ceacutelia Pacheco Terres Entrevista concedida agrave autora no dia 04 de agosto de 2018

53

convicccedilatildeo ldquofalar de Cazuza eacute cavalhada hotel e rodeiordquo enquanto Basso acrescenta

que ldquoas cavalhadas satildeo heranccedila dos portugueses e estatildeo espalhadiacutessimas ateacute

nacionalmente atraveacutes da miacutedia porque natildeo pesquisei mas ateacute onde sei no Rio

Grande do Sul soacute tem aquirdquo

Na comunidade ainda segundo Basso ldquoa apresentaccedilatildeo das cavalhadas se

iniciou por volta de 1890 e permanece ativa ateacute hoje no passado existiam trecircs

cavalhadas as dos brancos dos amarelos e dos negrosrdquo acrescentando ldquomas hoje

natildeo haacute mas essa diferenciaccedilatildeordquo Em poliacutegrafo organizado por uma moradora local a

mesma explica que a cavalhada ldquoeacute uma luta simulada em que haacute vinte e quatro

participantes sendo doze de cada equiperdquo35 por meio da evoluccedilatildeo equestre e

movimentos de espada lanccedila e garrucha representando a batalha entre mouros e

cristatildeos Segundo esta moradora ldquoa batalha sempre termina sendo vencida pelos

cristatildeos demonstrando a submissatildeo dos mouros e a supremacia da religiatildeo cristatilderdquo

Atualmente o grupo depende da boa vontade de seus participantes conforme

explica

Hoje se tornou caro eacute exame dos cavalos transporte depende do querer das pessoas da boa vontade e tem pessoas engajadas que natildeo largam a famiacutelia do Renau que ele eacute o presidente do grupo ele tem um amor tatildeo grande pelas cavalhadas porque ele jaacute recebeu do pai dele do teu avocirc e do seu Ivo Cardoso e a vida dele agraves vezes me desgosto de alguma coisa pois faccedilo a narrativa do que estaacute sendo apresentado mas daiacute eu penso natildeo posso abandonar (sorri) Eacute uma tradiccedilatildeo que natildeo pode morrer mas os filhos do Renau o Marcos e o Marcelo daratildeo continuidade faz parte da famiacutelia tu sabe eacute da mesma famiacutelia Eacute uma grande tradiccedilatildeo que natildeo pode desaparecer temos que continuar peleando36

As cavalhadas satildeo apresentadas na praccedila central sempre durantes as festas

religiosas que acontecem na comunidade sendo assim organizadas

No primeiro ou segundo final de semana de fevereiro tem a festa da Nossa Senhora do Belo Horizonte que eacute a padroeira daqui Agora devido agrave comissatildeo e o padre um ano tem a festa dos morenos e no outro tem a dos agricultores que eram chamados de amarelos antigamente cuja devoccedilatildeo se daacute agrave Nossa Senhora do Rosaacuterio e Nossa Senhora da Penha Antigamente cada um tinha seu espaccedilo social para realizar a festa atualmente soacute se manteve a tradiccedilatildeo de comemorar os santos este ano eacute festa dos morenos ela seraacute dia 13 e 14 de outubro Todas as festas

35 Sendo que doze cavaleiros que representam os cristatildeos vestem tuacutenicas de veludo azul escuro e

os doze cavaleiros mouros vestem tuacutenicas vermelhas Sobre os ombros da tuacutenica haacute uma capinha esta capinha traz enfeites prateados bordados com lantejoulas e bototildees dourados e franjas de seda branca Todos os participantes usam bombacha branca de brim botas campeiras pretas chapeacuteu de palha de aba larga virada para cima com laccedilo de fita e barbicacho de acordo com a cor da tuacutenica

36 BASSO Ceacutelia Pacheco Terres Entrevista concedida agrave autora no dia 04 de agosto de 2018

54

religiosas ocorrem em dois dias saacutebado apresentaccedilatildeo das cavalhadas novena janta e baile no domingo tem a missa na Igreja Matriz logo apoacutes almoccedilo e reuniatildeo danccedilante Atualmente resgataram em dezembro a festa a Satildeo Cristoacutevatildeo sempre no primeiro final de semana de dezembro eacute uma missa com benccedilatildeo aos carros durante a procissatildeo e um almoccedilo ao meio-dia esta se daacute somente em um dia E tambeacutem temos de dois em dois anos a festa organizada pelo grupo das Cavalhadas esta ocorre em maio daiacute37

Os moradores explicam que a separaccedilatildeo racial desapareceu com o tempo

poreacutem se manteacutem a cultura de festejar todos os santos o que demonstra que o povo

de Cazuza eacute bastante devoto e cristatildeo E acrescenta em tempos idos que durante

as festas religiosas as pessoas se hospedavam no hotel segundo Basso que ldquoele

recebia tinha mercado junto teve ateacute cinema o pessoal gostava da comida da

Dona Vilma que era minha sogrardquo Este hotel eacute outro marco que identifica Cazuza

Ferreira poreacutem os moradores explicam que atualmente o Hotel do Campo manteacutem a

arquitetura mas funciona em uma modalidade diferenciada pois natildeo haacute como

sobreviver Entatildeo ele recebe hospeda sob reserva antecipada poreacutem natildeo serve

almoccedilo e janta as refeiccedilotildees satildeo feitas no Cantinho do Aconchego com quem

manteacutem uma parceria

Figura 14 ndash Hotel do Campo

Fonte acervo pessoal da autora (2018)

37 BASSO Ceacutelia Pacheco Terres Entrevista concedida agrave autora no dia 04 de agosto de 2018

55

Nesta comunidade tambeacutem eacute muito forte segundo os entrevistados38 a

tradiccedilatildeo gauacutecha que adveacutem do homem do campo o amante dos rodeios que nos

finais de semana saem de suas propriedades e se deslocam a outras comunidades

para participar dos eventos campeiros como o tiro de laccedilo Tambeacutem explanam que

existe o CTG Adatildeo Castilhos que estaacute interditado jaacute faz quase seis anos desde

que comeccedilaram a ser exigidos os PPCIs A partir deste momento eles natildeo puderam

mais fazer eventos ali eles realizam os rodeios ou festas campeiras mas laacute dentro

natildeo conseguiram mais fazer nada e taacute difiacutecil vai muito dinheiro para cumprir todas

as exigecircncias Sendo que este espaccedilo na deacutecada de 80 do seacuteculo XX foi palco de

grandes rodeios com apresentaccedilotildees campeiras artiacutesticas e grandes bailes A

moradora explica39 ldquoA Claudiana esposa do Paulo Cesar atual presidente se

inscreveu no projeto Meu Galpatildeo de Cara Nova do Galpatildeo Crioulo da RBS TV

tomara que ela seja classificadardquo Este projeto ajuda na reconstruccedilatildeo dos CTGs pelo

Rio Grande do Sul

Ao pesquisar sobre Cazuza Ferreira percebe-se o quatildeo forte eacute o culto agraves

tradiccedilotildees e o esforccedilo de seus moradores para elas permaneccedilam para futuras

geraccedilotildees visto que o tempo passou e a tradiccedilatildeo local natildeo sofreu alteraccedilotildees

43 DISTRITO DE TAINHAS

O distrito de Tainhas foi criado em 18 de outubro de 1922 estando situado a

33 quilocircmetros da Sede Se desenvolveu no entroncamento de duas rodovias a RS-

020 e a RS-453 cujas rodovias cortavam a vila do distrito Com o advento da

construccedilatildeo da Rota do Sol importante rodovia que hoje que liga Caxias do Sul agraves

praias aleacutem da construccedilatildeo do asfalto da RS-020 que vai a Satildeo Francisco de Paula

tudo mudou O morador Fagundes relata em entrevista40 ldquoaqui era mais habitado

por criadores fazendeiros e agora depois que saiu essa Rota do Sol o movimento

cresceu muito neacute mais por fora da vila entatildeo natildeo trouxe benefiacutecio para noacutesrdquo

Percebe-se que moradores entendem a importacircncia da construccedilatildeo das

rodovias poreacutem as mesmas natildeo trouxeram benefiacutecios econocircmicos para os

moradores locais

38 ANDRADE Nauro Bossle de BASSO Ceacutelia Pacheco Terres Entrevistas concedidas agrave autora no

dia 04 de agosto de 2018 39 BASSO Ceacutelia Pacheco Terres Entrevista concedida agrave autora dia 04 de agosto de 2018 40 FAGUNDES Darci da Silva Entrevista concedida agrave autora no dia 24 de fevereiro de 2018

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Ainda conforme o morador Fagundes41 ldquoo iniacutecio da vila se deu devido agrave

necessidade de parada dos caminhoneiros que transportavam madeira como era

tudo estrada de chatildeo Tainhas ficava em local centralizado se construiu um hotel

que era do seu Pedro Pinhatildeo e da Dona Luisardquo A partir de entatildeo comeccedilou a

construccedilatildeo de casas e se formou a vila onde antes eram terras dos Pinto os

primeiros moradores de Tainhas tanto que o morador ressalta na entrevista42 ldquoo

nome da escola eacute Oliacutempio Soares Pinto que era o proprietaacuterio dessa terra e uma

das professoras mais antigas era Guilherma Pintordquo

Tainhas estaacute rodeada por campos matos de pinnus ilhote e lavouras

atualmente e explica

Hoje aqui eacute pinus e granjeiro plantando batata soja milho e a maioria veio de fora os moradores antigos desapareceram arrendaram ou venderam suas terras para esse pessoal que veio de Ibiraiara e de Maquineacute Itati Trecircs Forquilhas43

Percebe-se que a criaccedilatildeo de gado ou seja a pecuaacuteria extensiva deu lugar a

outras culturas com a chegada de novas pessoas ao distrito Mas segundo os

moradores o culto ao tradicionalismo gauacutecho permanece visto que no distrito

existe

O parque de rodeios do Rodeio Crioulo eacute o mais antigo que noacutes temos aqui natildeo sei se natildeo o primeiro piquete registrado de Satildeo Chico tem uns sessenta anos a nossa tradiccedilatildeo eacute o laccedilo O nosso rodeio acontece sempre no iniacutecio de janeiro hoje eu natildeo laccedilo mais mas o meu neto continua a minha tradiccedilatildeo A escola daqui faz a semana farroupilha com ronda eacute tudo muito lindo e assim se mantem a cultura44

A imagem apresentada na Figura 15 reforccedila a fala e a importacircncia do Piquete

de Laccediladores Rodeio Crioulo que atualmente mesmo estando nas terras de Satildeo

Francisco de Paula divisa com o municiacutepio de Cambaraacute do Sul por opccedilatildeo essa

entidade tradicionalista pertence ao entatildeo municiacutepio de Cambaraacute do Sul Poreacutem sua

fundaccedilatildeo acontece em 20 de janeiro de 1961 quando o entatildeo hoje municiacutepio de

Cambaraacute do Sul ainda era distrito de Satildeo Francisco de Paula

41 FAGUNDES Darci da Silva Entrevista concedida agrave autora no dia 24 de fevereiro de 2018 42 FAGUNDES Darci da Silva Entrevista concedida agrave autora no dia 24 de fevereiro de 2018 43 FAGUNDES Darci da Silva Entrevista concedida agrave autora no dia 24 de fevereiro de 2018 44 FAGUNDES Darci da Silva Entrevista concedida agrave autora no dia 24 de fevereiro de 2018

57

Figura 15 ndash Flacircmula de comemoraccedilatildeo aos 50 anos da entidade

Fonte acervo pessoal da autora (2018)

Outro evento importante no distrito eacute realizado pela Escola Estadual de

Ensino Fundamental Oliacutempio Soares Pinto que satildeo atividades ligadas as tradiccedilotildees

gauacutechas na Semana Farroupilha como cavalgadas e gincanas com a participaccedilatildeo

de toda comunidade nesta semana principalmente a comunidade de Tainhas

ldquorespira tradicionalismordquo

O distrito de Tainhas atualmente conta com um posto de sauacutede e o correio

satildeo os serviccedilos puacuteblicos que funcionam no distrito visto que o cartoacuterio fechou O

entrevistado Fagundes relata45 ldquoeu era o juiz de paz desse Cartoacuterio minha funccedilatildeo

era julgar os casamentos mas daiacute fechou hoje o pessoal tem que ir a Satildeo Chicordquo O

morador ainda acrescenta ldquoateacute a rodoviaacuteria fechou os ocircnibus passam aqui Satildeo

Marcos que vem de Caxias e vatildeo a Torres desce de manhatilde e sobe de tarde Citral

de Satildeo Chico a Ouro Verde e agora Transneves da Pedra Lisa para Satildeo Chicordquo

Com uma certa tristeza relata46 ldquoaqui em Tainhas soacute tem o Cafeacute Tainhas do

Mauro eacute o brilho de Tainhas seraacute ponto histoacuterico daqui um tempo todo mundo fala

bem do Cafeacute Tainhasrdquo

Notoriamente a chegada do asfalto modificou a vida das pessoas neste

distrito visto que que os campos foram em boa parte transformados em lavoura se

45 FAGUNDES Darci da Silva Entrevista concedida agrave autora no dia 24 de fevereiro de 2018 46 FAGUNDES Darci da Silva Entrevista concedida agrave autora no dia 24 de fevereiro de 2018

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percebe uma vila pacata jaacute que todo o movimento foi desviado por fora da vila e a

mesma natildeo proporciona lazer para as pessoas que ao terminarem o ensino

fundamental para continuar seus estudos precisam fazer uso do transporte escolar

e se deslocar ateacute a Sede ou ir ao municiacutepio de Cambaraacute do Sul

44 DISTRITO DE ELETRA

O distrito de Eletra foi criado em 31 de dezembro de 1932 estando situado a

19 quilocircmetros da Sede do municiacutepio Poreacutem a populaccedilatildeo local chama de Salto e

seu nome vem das barragens do Salto Blang e Divisa construiacutedas sobre o Rio do

Salto que atravessa o distrito Segundo a moradora local47 Soares ldquoas barragens

que fornecem aacutegua para as usinas no municiacutepio de Satildeo Francisco de Paula e nos

municiacutepios vizinhos de Canela Gramado e Cambaraacute do Sulrdquo A Figura 16 apresenta

uma imagem da Barragem do Salto barragem esta que se situa proacutexima da vila do

distrito

Figura 16 ndash Barragem do Salto

Fonte acervo pessoal da autora (2018)

Ao observarmos a Figura 16 percebe-se que o acesso da vila para o interior

do distrito acontece por uma ponte de concreto estreita com piso bastante irregular

47 SOARES Susana Marques Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018

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e que em periacuteodos de fortes chuvas o acesso fica interrompido devido agrave altura

Poreacutem ao lado direito percebe-se uma estrutura pequena que segundo o morador

Gomes

Foi uma tentativa de uma empresa japonese construir uma ponte soacute que quando estavam construindo deu uma enchente e levou tudo a aacutegua abaixo a empresa foi embora e nunca mais voltou Jaacute foram feitos estudos que a ponte tem que ser construiacuteda mais para baixo e em forma de arco se natildeo a chuva leva de novo poreacutem natildeo acredito que saia algum dia48

Entende-se que a construccedilatildeo desta nova ponte melhoraria o acesso dos

proprietaacuterios rurais que para saiacuterem de suas propriedades em eacutepocas de chuva

intensa necessitam fazer um longo caminho por estradas de chatildeo batido para terem

acesso ao municiacutepio de Canela bem como a Sede de Satildeo Francisco de Paula

Contudo a moradora explica que a vila do distrito se forma muito antes da

construccedilatildeo da barragem

Em 1915 era uma fazenda chamada Fazenda do Salto e esta pertencia a Francisco Soares de Oliveira Neste local havia sua casa de moradia um galpatildeo e mangueiras onde realizava as suas atividades poreacutem em 1916 o Chico resolveu transferir a casa da Fazendo do Cerro para o Salto tambeacutem sendo construiacuteda aiacute a segunda casa a partir de entatildeo se iniciou o povoado com a construccedilatildeo de novas residecircncias para seus empregados e posteriormente se instalou uma serraria dos irmatildeos Delavechia esta sendo movida a aacutegua dando definitivamente o iniacutecio do povoamento da vila49

Ao analisar a fala da moradora local se percebe que onde hoje se encontra a

vila do distrito de Eletra jaacute foi uma fazenda identificando-se com a mesma formaccedilatildeo

do distrito Sede que tambeacutem surge de terras doadas por um fazendeiro Segundo a

entrevistada Soares50 ldquoa sua casa eacute uma das mais antigas tem 102 anos foi

construiacuteda de pinheiro serrada aqui mesmo na serrariardquo pode-se observar o oacutetimo

estado de conversaccedilatildeo da casa que traz traccedilos arquitetocircnicos europeus na sua

construccedilatildeo natildeo se tem imagem da casa visto que a entrevistada natildeo permitiu

nenhuma imagem de sua residecircncia

Outro fator importante do povoamento da vila segundo o morador local

Gomes51 ldquofoi o iniacutecio da construccedilatildeo da Barragem do Salto no ano de 1925rdquo onde

48 GOMES Jaures Feijoacute Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018 49 SOARES Susana Marques Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018 50 SOARES Susana Marques Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018 51 GOMES Jaures Feijoacute Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018

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vieram muitos funcionaacuterios de vaacuterios lugares tendo como mestre da obra segundo

os moradores locais52 o ldquoAcircngelo Goubertrdquo

Devido agrave necessidade que se formou no distrito neste periacuteodo se abriu um

hotel farmaacutecia cartoacuterio rodoviaacuteria e cinema a moradora local Soares saudosa

diz53 ldquotudo fechou aqui natildeo tem mais nadardquo referindo-se a atual situaccedilatildeo que a vila

se encontra

Os moradores ainda declaram sobre o distrito54 ldquoestaacute abandonado pelo poder

puacuteblico ateacute o calccedilamento das ruas foi arrancadordquo poreacutem outrora foi um local de

muita alegria

A vida era uma festa permanente o tio Chico era casado com a tia Lisoca ela foi para Porto Alegre para os filhos estudar quando vinham nas feacuterias traziam os amigos O tio Chico pagava um gaiteiro por mecircs para ele toca toda noite entatildeo era aquele divertimento55

Atualmente na vila existe a Escola Estadual de Ensino Fundamental Cristino

Ramos com menos de cem alunos e a festa cristatilde cuja celebraccedilatildeo ocorre em

fevereiro sendo Santo Antocircnio o padroeiro local A moradora explica sobre a

construccedilatildeo da capela

A primeira capela a tempestade derrubou em 1957 se construiu outra O santo padroeiro eacute Santo Antocircnio a imagem foi trazida por quarenta cavaleiros Daiacute o padre pediu para que a imagem de Nossa Senhora Catarina tambeacutem fosse acolhida hoje temos dois padroeiros mas para mim Santo Antocircnio eacute o principal56

Percebe-se na fala dos moradores a sua devoccedilatildeo e sua preocupaccedilatildeo com o

futuro da vila visto que ateacute a questatildeo do cemiteacuterio jaacute foi palco de discussatildeo pois o

cemiteacuterio da vila iniciou pela famiacutelia dos Soares sendo este particular Poreacutem a

moradora explica com certa indignaccedilatildeo

O cemiteacuterio era particular da famiacutelia Soares teve um tempo que resolveram abrir veio gente ateacute de Passo Fundo ser enterrada aqui natildeo pediam para ningueacutem tomaram conta Daiacute organizamos uma comissatildeo responsaacutevel decidimos que tinha que ter uma contribuiccedilatildeo e natildeo podia trazer gente de fora para enterrar soacute gente daqui Ningueacutem pagou Aiacute mandei fazer cerca nova a parte dos Soares sempre limpei mas [] hoje acabo limpando tudo

52 GOMES Jaures Feijoacute SOARES Susana Marques Entrevistas concedidas agrave autora no dia 15 de

fevereiro de 2018 53 SOARES Susana Marques Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018 54 GOMES Jaures Feijoacute SOARES Susana Marques Entrevistas concedidas agrave autora no dia 15 de

fevereiro de 2018 55 SOARES Susana Marques Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018 56 SOARES Susana Marques Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018

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porque ningueacutem limpa Enquanto eu for viva vou fazer depois vatildeo entregar para a prefeitura igreja natildeo sei57

A Figura 17 apresenta uma foto da igreja atual tendo em sua lateral direita a

capela mortuaacuteria e ao fundo o Salatildeo Paroquial da comunidade onde ocorre a festa

do Santo Padroeiro

Figura 17 ndash Igreja Santo Antocircnio ndash Distrito de Eletra

Fonte acervo pessoal da autora (2018)

Ao conversar com os moradores locais pode-se observar a feacute cristatilde poreacutem

ambos relatam que a festa de fevereiro atualmente eacute pouco divulgada motivo pelo

qual acreditam que natildeo haja um nuacutemero expressivo de pessoas Ambos sentem um

apreccedilo pelo local onde nasceram e vivem poreacutem ambos relatam

Aqui eacute lugar de dormir as pessoas trabalham em Canela e vem dormir aqui a grande maioria natildeo eacute daqui vieram de fora haacute muitas casas de veraneio tudo gente de Porto Alegre que vem passar feacuterias natildeo rende nada para aqui o que precisam trazem tudo de fora A maioria de quem mora aqui soacute dorme passa o dia fora O ocircnibus das 7 horas sai lotado a gente natildeo conhece mais ningueacutem daqui mesmo soacute noacutes Susana e eu58

Mesmo a vila sendo um local de parada estaacute rodeada de lindos campos e

fazendas cuja a atividade principal eacute a pecuaacuteria extensiva natildeo proporciona

57 SOARES Susana Marques Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018 58 GOMES Jaures Feijoacute Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018

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trabalho no local motivo pelo qual seus moradores buscam sua subsistecircncia em

outro municiacutepio poreacutem possui uma exuberante natureza relata cheia de esperanccedila

a moradora local59 ldquoeu tenho esperanccedila que algueacutem olhe para caacute e veja as belezas

que tem aqui que o lugar volte a se desenvolverrdquo desenvolvimento este que

poderia vir atraveacutes da exploraccedilatildeo do turismo rural ldquoSe vocecirc quiser comer alguma

coisa agora natildeo vai encontrar nada aqui soacute tem lsquobutecorsquo60 mas eles natildeo vendem

nada nem sanduiacuteche pastel eacute uma vergonhardquo fala indignado o morador Gomes61

A populaccedilatildeo que vive nas fazendas aleacutem de ter as lides campeiras no seu

dia-a-dia nos finais de semana segundo o morador Gomes62 ldquolaccedila em torneio vai

nos rodeiosrdquo o que marca a presenccedila do tradicionalismo gauacutecho em uma parte da

populaccedilatildeo do distrito poreacutem com relaccedilatildeo aos moradores da vila natildeo haacute algo que

os identifique visto a miscigenaccedilatildeo que ocorreu e por haver muitas casas de

veraneio no local

45 DISTRITO DO JUAacute

O distrito do Juaacute foi criado em 10 de maio de 1950 e fica distante 65

quilocircmetros da Sede O distrito recebe esse nome devido a um espinho que havia

em abundacircncia no local nome este dado por tropeiros

Os accedilorianos que vinham de Santo Antocircnio da Patrulha e iam para Vacaria com cargueiros eles vinham fazer repouso laacute em cima no reduto e ali tinha muita frutinha do juaacute entatildeo os tropeiros saiam de Santo Antocircnio e diziam vamos posa laacute nos juaacute daiacute o nome do lugar que permanece ateacute hoje63

Juaacute eacute o nome dado a um espinho muito comum na regiatildeo dos campos de

cima da serra que daacute uma fruta amarela em formato redondo que segundo os

moradores locais eacute uma fruta venenosa conforme se observa na Figura 18

59 SOARES Susana Marques Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018 60 Buteco pequeno comeacutercio que normalmente vende bebidas alcooacutelicas e possui mesa de sinuca 61 GOMES Jaures Feijoacute Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018 62 GOMES Jaures Feijoacute Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018 63 REIS Orides Entrevista concedida agrave autora no dia 12 de maio de 2018

63

Figura 18 ndash Peacute com a fruta conhecido como Juaacute

Fonte acervo de Clessandra Palhano (moradora local) (2018)

O reduto citado pelo morador local ficava em uma fazenda local onde hoje se

encontra a vila do distrito conforme o entrevistado Reis explica

O primeiro morador eu natildeo lembro soacute sei que o Juaacute era de pouca gente famiacutelia Pedroso e Castilhos daiacute foram morrendo inventariando e vendendo e aos poucos se formou a vila importante o dono de tudo isso aiacute tinha dois escravos no iniacutecio teve escravidatildeo claro na eacutepoca de mil oitocentos e pouco eu acho mas teve E hoje deve ter descendente destes escravos por aiacute64

Escravidatildeo que vai dar origem ao preconceito racial e a um modelo particular

da localidade que sem precisar data explica o morador

Aqui tinha dois salatildeo trecircs com o da Igreja mas era dois salatildeo social Era um clube de brancos que era dos ricos neacute fazendeiros o Salatildeo Vera Cruz e depois fundaram o Satildeo Valentim que era dos morenos que na eacutepoca ateacute eu fui presidente Cada um no seu salatildeo agora quando dava a festa cristatilde em homenagem ao Satildeo Joatildeo de Deus todo o povo reunia-se quando chegava de noite no saacutebado no baile entatildeo cada um ia pro seu salatildeo A muacutesica ficava no salatildeo dos brancos daiacute colocava umas caixas de som laacute pros morenos com um fio pra eles danccedila Um natildeo podia entra no baile do outro tinha o presidente para cuida Cada um no seu tudo se respeitava e obedecia aquela ordem65

Ainda acrescenta a moradora local Santos

64 REIS Orides Entrevista concedida agrave autora no dia 12 de maio de 2018 65 REIS Orides Entrevista concedida agrave autora no dia 12 de maio de 2018

64

O nosso eu natildeo me lembro o nome tem tanto papel mas natildeo sei onde estaacute o nosso dos pretos neacute ningueacutem implicava eles natildeo deixavam noacutes entra no salatildeo Vera Cruz eu entrava de cozinheira empregada porque ali era lugar dos ricaccedilos eles podiam se associar mas o nosso tambeacutem enchia mas eles iam no nosso baile de nego soacute olhavam As festas duravam dias Tinha aquele foguetoacuterio era tatildeo bonito66

Percebe-se na fala dos moradores como esta divisatildeo racial se fazia presente

que havia por parte dos negros um profundo respeito pelos brancos mesmo eles

tendo acesso ao salatildeo Vera Cruz somente para servi-los em nenhum momento se

percebeu que eles se sentissem diminuiacutedos pela situaccedilatildeo ateacute pela cultura que

advinha desde os primeiros moradores locais

Esta divisatildeo social permanece por longo tempo e somente vai desaparecer

nos anos 80 do seacuteculo XX com a contribuiccedilatildeo do Frei Abiacutelio que veio da Vacaria

durante Missotildees convocadas pelo paacuteroco local padre Afonso que conseguiu

modificar esta organizaccedilatildeo implantando a ideia de igualdade e ignorando tudo

aquilo a partir de entatildeo os negros comeccedilaram a frequentar a sociedade Vera Cruz

contribuiccedilatildeo dos entrevistados67 que ao abordar o assunto demonstraram repulsa

pelo passado mas ao mesmo tempo reconhecem que o racismo ainda eacute presente

na comunidade poreacutem devido agraves leis existe um cuidado maior

Atualmente negros e brancos convivem em harmonia participam da festa

cristatilde cujo padroeiro eacute Satildeo Joatildeo de Deus e dos torneios de laccedilo mas geralmente

quem laccedila satildeo os fazendeiros Saudoso o morador68 afirma que ldquouma vez tinha as

carreradas tinha trecircs canchas passava o domingo nas canchas brincando nas

corridas de cavalos tudo terminourdquo Acrescenta69 ainda que ldquoem 70 80 tinha o

futebol o campo era na baixada acho que tem ainda trofeacuteu ai mas daiacute a gurizada

foi embora para a cidade terminou o timerdquo

A vila se construiu de maneira simples tendo a Igreja Catoacutelica com o Salatildeo

Paroquial agrave direita o antigo Centro de Tradiccedilotildees Gauacutechas Laccedilo Velho do Juaacute onde

resta apenas o preacutedio de madeira corroiacuteda pelo tempo ao fundo a cancha de laccedilo

do Piquete de Laccediladores Velho do Juaacute entidade tradicionalista que se manteacutem ativa

desde o iniacutecio da deacutecada de 1960 ao redor haacute casas de moradias que formam ao

centro uma grande praccedila sem nenhuma infraestrutura em frente a esta praccedila

66 SANTOS Deotildes Palhano dos Entrevista concedida agrave autora no dia 12 de maio de 2018 67 REIS Orides SANTOS Deotildes Palhano Entrevistas concedida agrave autora no dia 12 de maio de

2018 68 REIS Orides Entrevista concedida agrave autora no dia 12 de maio de 2018 69 REIS Orides Entrevista concedida agrave autora no dia 12 de maio de 2018

65

perpassa uma rua de chatildeo batido sendo que a escola da comunidade fica do outro

lado a escola eacute municipal se chama Bento Eziacutedio Rodrigues atende

aproximadamente vinte alunos que estatildeo matriculados nas seacuteries iniciais do ensino

fundamental tendo duas professoras e um funcionaacuterio para fazer merenda e limpar

o paacutetio como se pode observar na Figura 19

Figura 19 ndash Praccedila Vila do Distrito Juaacute ao fundo cancha de laccedilo

Fonte acervo pessoal da autora (2018)

Ambos os entrevistados70 explicam que o Juaacute atualmente eacute um lugar de

idosos aposentados que outrora as pessoas viviam das roccedilas e da pecuaacuteria

extensiva na deacutecada de 1980 com o advento da induacutestria em Caxias do Sul os

jovens abandonaram seu modo de vida e foram buscar novas oportunidades poreacutem

estes jovens que foram embora retornam com frequecircncia natildeo perdendo a sua

essecircncia Relataram que a uacutenica fonte de trabalho eacute ser peatildeo de fazenda fazendas

estas que produzem o queijo serrano ou vendem leite para a Piaacute71 sendo que a

lavoura eacute para subsistecircncia Outra fonte de renda eacute ser funcionaacuterio da serraria cujo

proprietaacuterio e Joatildeo Egiacutedio que funciona proacuteximo da vila Outro fator importante eacute a

venda de pequenas chaacutecaras para moradores de Caxias do Sul que vem aos finais

70 REIS Orides SANTOS Deotildes Palhano Entrevistas concedidas agrave autora no dia 12 de maio de

2018 71 Piaacute Cooperativa Agropecuaacuteria Petroacutepolis Ltda Empresa que faz a coleta do leite nas fazendas da

regiatildeo

66

de semana descansar na localidade poreacutem se percebe que estes novos moradores

muitas vezes natildeo interagem com os moradores locais

Segundo o morador Reis72 ldquoapesar da vinda de pessoas de outros lugares o

Juaacute natildeo perdeu sua identidade fala em Juaacute lembra pinhatildeo colheita do pinhatildeo ateacute

haacute uma criacutetica que diz na eacutepoca do pinhatildeo o juazeiro fala grossordquo Ditado que o

entrevistado73 reafirma sorrindo ldquona eacutepoca do pinhatildeo o juazeiro fala grosso claro

que eacute apenas um dito popular uma maneira de se referir mas sempre eacute dito haacute

aqueles que natildeo gostamrdquo

Nota-se que a vida na comunidade do Juaacute se passa de forma tranquila com

poucos moradores que sua identidade estaacute relacionada agrave pecuaacuteria extensiva com

as lides com o gado bem como ao pinhatildeo uma fruta tiacutepica que se desenvolve na

Araucaacuteria ou pinheiro nativo como eacute conhecido na regiatildeo O pinhatildeo seja ele

assado cozido ou paccediloca74 eacute muito consumido pelos moradores do interior de Satildeo

Francisco de Paula durante o inverno inclusive como mistura do cafeacute da manhatilde

46 DISTRITO DO RINCAtildeO DOS KROEFF

O distrito de Rincatildeo dos Kroeff foi criado em 10 de maio de 1950 Fica a 35

quilocircmetros distante da Sede poreacutem muito antes de se institucionalizar oficialmente

este espaccedilo moradores locais contam como tudo se iniciou

Meu avocirc foi um dos primeiros a vim para caacute ele se chamava Guilherme Faciole ele nasceu no navio vindo da Itaacutelia Ele contava que teve uma desavenccedila em Caxias e fincou o peacute pra caacute pra natildeo acharem ele que aqui era soacute mato e na revoluccedilatildeo de 35 ele fugia de casa para natildeo ser levado pelas tropas os piquetes levavam para combater entatildeo ele sempre dizia que pousou vaacuterias noites embaixo dos peraus da serra do Umbu para natildeo ser levado O falecido vovocirc vivia da caccedila do porco do mato tateti ele fazia charque de porco para ter a carne ele viveu 106 anos e dizia se natildeo tivesse fumado viveria mais uns dez isso faz parte da histoacuteria do Rincatildeo dos Kroeff Junto teve o falecido Acircngelo Menegaacutes que entro aqui na mesma eacutepoca Eles satildeo os fundadores do distrito75

O acesso ao distrito Rincatildeo dos Kroeff permanece totalmente pela estrada de

chatildeo batido sendo possiacutevel ir ao municiacutepio de Maquineacute descendo pela serra do

Umbu Poreacutem muito antes da estrada a busca de mantimentos e o escoamento da

72 REIS Orides Entrevista concedida agrave autora no dia 12 de maio de 2018 73 REIS Orides Entrevista concedida agrave autora no dia 12 de maio de 2018 74 Paccediloca carne de porco moiacuteda e frita no azeite ou banha a qual se acrescenta o pinhatildeo jaacute cozido

e moiacutedo 75 FACIOLE Reinaldo Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de marccedilo de 2018

67

produccedilatildeo se dava pelos carreiros visto que natildeo havia abertura de estrada e nem

viatura76 como os moradores relatam

Tudo era na tropeada as tropas que ia para Rolante Na tropeada saia um tropeiro na frente e um recircs com um cincerro que era a madrinheira da tropa saia laacute pelo Chuvisqueiro e saia laacute em Rolante perdia boi na estrada ficava semanas boi perdido agraves vezes nem se achava mais tambeacutem tinha tropa de porco e tinha as tropeadas de mula puxando milho feijatildeo trigo tudo produzido aqui e levado de cargueiro carreta era muito pouco porque natildeo tinha estrada para anda era soacute os trilhos pelo meio dos matos e campos e se produzia milho era o inverno inteiro saia tropas e mais tropas com trinta quarenta mulas burros transportando mantimentos da produccedilatildeo do gratildeo haacute tambeacutem tinha a flor de Pireto que era lucro ningueacutem conhece isso aiacute hoje essa flor era levada para Taquara e fazia veneno para formiga tudo que era tipo de veneno era uma flor muito toacutexica Acredita tropear galinha pois eacute a gente criava bastante saia com os cargueiros como era a vida eles faziam um girau no cesto naqueles balaios para fazer duas camas uma mais em cima e outra em baixo daiacute quando era veratildeo era muito quente tinha que no meio da viagem tirar de dentro do cesto botar na aacutegua na sanga para natildeo morrer ateacute chegar no mercado dali para praia a eacutepoca que mais vendia era novembro e dezembro daiacute tinha preccedilo bom tudo criada solta aviaacuterio nem se falava77

Ao ouvir os moradores se percebe que a construccedilatildeo do distrito aconteceu

devido ao esforccedilo e trabalho de muitas pessoas visto que o local era de mata nativa

densa e precisou ser desmatado para ser ocupado pelas pessoas Explica o

entrevistado Faciole78 ldquopara fazer uma lavoura tambeacutem precisava derrubar o

pinheiro seu Onorino Buffon me contou que faziam fogo ao redor do pinheiro eles

eram muito grosso para derrubar a machado entatildeo faziam fogo secavam para

depois fazer a roccedilardquo E a moradora79 local acrescenta ldquoaqui tambeacutem tinha os

barbacuazeiros produziam erva mais aqui eles soacute tiravam a erva e sapecavam e

depois ia para outro lugar industrializa tudo era diferenterdquo

Poreacutem segundo os moradores este modelo de vida rudimentar se modifica

com a chegada das serrarias sendo que a dos Kroeff foi a primeira juntamente com

a serraria se viu a necessidade da construccedilatildeo de novas casas para os

trabalhadores surgindo ali a vila do distrito Rincatildeo dos Kroeff no iniacutecio a serraria era

tudo manual relata Faciole80 ldquoa uacutenica forma de tira a madeira era com um enfieira

76 Viatura se refere a carro de passeio caminhotildees 77 FACIOLE Reinaldo FACIOLE Maria Madalena Scalco Entrevistas concedidas agrave autora no dia 18

de marccedilo de 2018 78 FACIOLE Reinaldo Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de marccedilo de 2018 79 FACIOLE Maria Madalena Scalco Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de marccedilo de 2018 80 FACIOLE Reinaldo Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de marccedilo de 2018

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de boi eu cheguei a ver cinco ternos de boi carreiro81 emendado puxando um

pinheiro eacute uma bicheira de boi natildeo tinha outra formardquo

Rincatildeo dos Kroeff eacute o menor distrito de Satildeo Francisco de Paula poreacutem em

suas terras se desenvolveu a cultura dos hortifrutigranjeiros desde muito cedo jaacute

que sua colonizaccedilatildeo eacute basicamente italiana e alematilde e os italianos tecircm a cultura do

plantio visando lucro A moradora Faciole82 afirma ldquotudo comeccedilou por aqui depois

se expandiu para o municiacutepio comeccedilamos com moranga branca depois repolho

couve broacutecolis alface e daiacute veio beterraba e tudo o restordquo Acrescenta ainda83 que

ldquodaqui saiacuteram os primeiros caminhotildees de hortifruacuteti do municiacutepio para a Ceasa teve

eacutepoca de sair quarenta caminhotildees por dia do Rincatildeo hoje natildeo sai mais porque

muitos foram buscar novos lugares para plantarrdquo E juntamente com a mudanccedila dos

proprietaacuterios em busca de novas terras muitos de seus funcionaacuterios foram embora

junto afirma em entrevista o morador local84 ldquomuita gente do Rincatildeo foi embora

muitas gurias foram embora para estudar para achar emprego e natildeo voltaram maisrdquo

Atraveacutes da fala da moradora pode-se observar que apesar do distrito ser

produtivo enfrenta algumas dificuldades com relaccedilatildeo ao estudo de seus moradores

que para continuarem seus estudos se assim o desejarem necessitam abandonar

seus pais e ir em busca na Sede ou arredores visto que no distrito existe uma uacutenica

escola Gastatilde Henth Esta eacute municipal e atende dos quatro anos ao nono ano do

ensino fundamental A moradora Faciole explica

O coleacutegio hoje tem 99 alunos ao total quando eles terminam o nono ano alguns vatildeo estudar mas satildeo pouquiacutessimos os outros ficam por aiacute mesmo natildeo tem um transporte que leve eles para fazer o ensino meacutedio na Sede que seria a escola de ensino meacutedio mais proacuteximo se quiser estudar vai ter que ir embora reforccedila quem e trabalhador fica trabalhando com os pais quem natildeo eacute [] As pessoas na sua grande maioria soacute tem o ensino fundamental aqui85

Este eacute um dos grandes problemas enfrentados pelos moradores do Rincatildeo

dos Kroeff a possibilidade de continuar estudando A escola que laacute existe os

moradores locais natildeo sabem precisar a data mas sabem que foi durante o mandato

81 Ternos de boi carreiro significam vaacuterias duplas de bois cangados e ligados por um pedaccedilo de

madeira que vatildeo na canga entre a dupla de bois Esse pau roliccedilo na regiatildeo se chama de cambatildeo 82 FACIOLE Maria Madalena Scalco Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de marccedilo de 2018 83 FACIOLE Maria Madalena Scalco Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de marccedilo de 2018 84 FACIOLE Reinaldo Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de marccedilo de 2018 85 FACIOLE Maria Madalena Scalco Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de maio de 2018

69

do prefeito Escobar (1977-1982) que ela foi construiacuteda Neste contexto aparece

tambeacutem a dificuldade de se locomover fazendo uso do transporte puacuteblico

Haacute sete anos atraacutes o Rincatildeo estava bom mesmo tinha ocircnibus da praia agraves vezes passava quatro a cinco ocircnibus da praia tudo pela serra do Umbu Agora soacute tem um trecircs dias por semana As empresas deixaram de trafegar por aqui elas natildeo vatildeo descer numa serra de chatildeo batido sendo que tem a outra86 com asfalto87

Os moradores se orgulham da festa religiosa que acontece todos os anos em

agosto sendo que o santo padroeiro eacute Satildeo Roque A festa da comunidade

apresenta uma tradiccedilatildeo local muito interessante na segunda-feira apoacutes a festa ela

continua para os moradores locais que vatildeo ao salatildeo paroquial para se divertir entre

si e esta eacute uma tradiccedilatildeo que eacute comentada em todo o municiacutepio Faciole88 saudoso

afirma ldquopara ti ter uma ideia nessa festa chegava dar vinte poucos ocircnibus lotado que

vinham de outros municiacutepios como Igrejinha Taquara Porto Alegre Novo

Hamburgo o espaccedilo ficava pequenordquo Acrescenta89 ainda ldquoaqui noacutes tinha o Clube

Serrano que dava baile janta italiana dava um movimento louco mas terminou ateacute

o baile das rainhas cada ano era uma era tatildeo lindo mas tudo se acabourdquo

Figura 20 ndash Imagem da Igreja Satildeo Roque em dia de festa no Rincatildeo dos Kroeff

Fonte acervo pessoal da autora (2018)

86 A outra se refere a rodovia RS-453 conhecida como Rota do Sol 87 FACIOLE Reinaldo Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de marccedilo de 2018 88 FACIOLE Reinaldo Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de marccedilo de 2018 89 FACIOLE Reinaldo Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de marccedilo de 2018

70

Percebe-se que o distrito Rincatildeo dos Kroeff eacute o uacutenico que obteve em seu

iniacutecio uma colonizaccedilatildeo por descentes de italianos dentro do municiacutepio de Satildeo

Francisco de Paula o que demonstra o quatildeo forte se daacute a tradiccedilatildeo ldquoitalianardquo neste

local permanecendo intriacutenseca na vida cotidiana de seu povo com a cultura do

plantio de hortifrutigranjeiros que permanece apesar do tempo como sendo a sua

maior identidade local

47 DISTRITO DE LAJEADO GRANDE

Lajeado Grande em tempos idos pertenceu ao distrito de Cazuza Ferreira e

somente em 12 de dezembro de 1968 se tornou um distrito independente segundo

a Lei nordm 655 encontrada nos autos da Prefeitura Municipal de Satildeo Francisco de

Paula A vila do distrito Lajeado Grande fica distante 63 quilocircmetros da Sede e se

situa na confluecircncia do Arroio Porco Morto e o Rio Bururi Seu surgimento acontece

segundo o morador Fogaccedila90 ldquopor volta de 1940 com a abertura da estrada Canela

ndash Bom Jesus a atual RS-476 que corta a vila do Distritordquo Essa estrada segundo o

morador facilitou a locomoccedilatildeo que anteriormente era feita totalmente pelas trilhas e

picadas por onde somente se passava a cavalo ou de carreta E o entrevistado

explica como acontece o desenvolvimento inicial da vila

Tu sabe aqui tem o nome de Lajeado Grande por causa do rio que eacute cheio de lajes grandes o que facilitava a travessia e as terras aqui por roda era tudo do falecido Pequeno Cardoso ele doou parte para a construccedilatildeo da vila onde o falecido Leopoldino Cardoso irmatildeo do Pequeno tinha uma lsquobudega velharsquo91 por aqui sendo o primeiro comeacutercio da vila92

A abertura da estrada possibilitou o desenvolvimento da vila juntamente com

o Casaratildeo um hotel pensatildeo que foi construiacutedo as margens do Arroio Porco Morto

este Casaratildeo passou por diversos proprietaacuterios

Leopoldino Cardoso foi o idealizador do Casaratildeo juntamente com os seus soacutecios Heraacuteclito Andrade de Cardoso lsquoJoanitorsquo Joseacute Osoacuterio de Lima lsquoZecarsquo e Pequeno Cardoso sendo que o Casaratildeo era uma casa de negoacutecio compravam queijo couro era um comeacutercio forte vendia secos e molhados inclusive a primeira rodoviaacuteria foi instalada neste espaccedilo poreacutem em 1948 Joatildeo Pacheco Cardoso assume e amplia o estabelecimento construindo o segundo piso da casa de madeira e alugando para outros dois moradores

90 FOGACcedilA Blair dos Santos Entrevista concedida agrave autora no dia 06 de abril de 2018 91 Budega velha referindo-se a uma antiga casa de comeacutercio de secos e molhados localizada onde

hoje se encontra o armazeacutem Celeiro 92 FOGACcedilA Blair dos Santos Entrevista concedida agrave autora no dia 06 de abril de 2018

71

Eremi Terres e Claunir Lucena Com a reforma o Casaratildeo passa a ter treze quartos para aluguel uma loja onde encontrava-se tudo o que se necessitava de alfinete tecido alimentos e raccedilotildees aleacutem da ala que servia de moradia para os proprietaacuterios Em 1962 o estabelecimento eacute alugado para Eraldo Bento de Oliveira que aleacutem de gerenciar o estabelecimento colocou junto um bar local de encontro dos homens da redondeza para tomar um lsquotragorsquo93 (CERUTTI SILVA CARDOSO 2002 p 19)

Figura 21 ndash Imagem do Casaratildeo pouco antes de ser desmanchado

Fonte acervo pessoal de Fernando Oliveira (conhecido como Guego) (2018)

O Casaratildeo foi desmanchado na deacutecada de 1980 pelo entatildeo proprietaacuterio Reno

Pacheco Poreacutem percebe-se na vila que seus antigos moradores falam com certo

saudosismo deste estabelecimento que fez parte de suas vidas e chegam a

lamentar o seu fim morador Fogaccedila94 afirma ldquoali se fez o pastel mais famoso do

Lajeado Grande o pastel da Odila mas tudo se acabou quando eles entregaram e

construiacuteram laacute na esquinardquo95

Poreacutem a vila Lajeado Grande foi lentamente se desenvolvendo Devido agrave

necessidade da conservaccedilatildeo da nova estrada foi construiacuteda agraves margens do Rio

Bururi uma capatazia do DAER Segundo Cerutti Silva e Cardoso (2002 p 18) ldquoo

primeiro capataz foi Capitulino Prudecircncio de Oliveira vindo de Santa Catarina sua

funccedilatildeo era manter as estradas e chegou a ter vinte funcionaacuteriosrdquo Percebe-se que a

93 Trago expressatildeo local que significa beber uma cachaccedila 94 FOGACcedilA Blair dos Santos Entrevista concedida agrave autora no dia 06 de abril de 2018 95 Esquina eacute o nome dado a parte da vila do Lajeado Grande onde se daacute o entroncamento das

rodovias RS-453 e ERS-476

72

partir deste momento se inserem neste distrito pessoas advindas de outros estados

e locais visto que ateacute o presente momento o distrito era habitado por fazendeiros

naturais do proacuteprio municiacutepio e que tinham suas vidas ligadas diretamente agrave

pecuaacuteria extensiva e agrave produccedilatildeo do queijo serrano Importante destacar que a

esposa de Capitulino segundo Cerutti Silva e Cardoso (2002 p 18) ldquoa Celicina

Guilherme da Silva se torna uma figura conhecida por realizar partos sendo

chamada como parteira de campanhardquo Na atualidade filhos netos e bisnetos do

casal ainda residem na vila

A vila do Lajeado Grande tambeacutem recebe novos moradores com a praacutetica do

corte do pinheiro nativo sendo que na deacutecada de 1950 havia uma faacutebrica de

beneficiamento de madeira ateacute se transformar em pasta este material era levado

para Esteio onde funcionava agrave matriz A partir dos anos 1950 ocorre a instalaccedilatildeo de

serrarias sendo que a Madeireira Albeflor de propriedade de Valter Sguaizer se

instala em 1964 Novamente busca-se matildeo de obra em localidades proacuteximas como

Lagoa Vermelha Vacaria e Bom Jesus poreacutem com a proibiccedilatildeo da extraccedilatildeo de

madeira de lei a serraria deixou de funcionar

Percebe-se que no distrito natildeo houve uma homogeneizaccedilatildeo identitaacuteria visto a

influecircncia advinda de muitas culturas no passado atraveacutes da extraccedilatildeo de madeira

e na atualidade com o advento das lavouras de hortifrutigranjeiros e pomares

frutiacuteferos que ocupam boa parte do distrito substituindo a pecuaacuteria extensiva que jaacute

natildeo proporciona um lucro efetivo Entatildeo os proprietaacuterios na sua grande maioria

venderam ou arrendaram suas terras para novas culturas o que modifica o modo de

vida local pois grande parte dos trabalhadores adveacutem de outros estados como o

Paranaacute e tambeacutem se observa o uso da matildeo de obra indiacutegena

Essa miscigenaccedilatildeo se observa nas escolas locais visto que na vila funciona a

Escola Municipal D Pedro I que segundo Cerutti Silva e Cardoso (2002 p 35)

ldquoinicia em 1965 poreacutem a professora e o preacutedio eram mantidos pela Serraria mas na

deacutecada de 70 a prefeitura assumiu a escola sendo que Eloci Martim foi a primeira

professora da Serrariardquo Escola da Serraria como ainda eacute conhecida por boa parte

dos moradores locais apesar de a escola natildeo se encontrar mais onde havia a antiga

serraria Atualmente a Escola Dom Pedro I funciona em um preacutedio obtido atraveacutes da

Associaccedilatildeo de Moradores atendendo alunos da preacute-escola ateacute o sexto ano das

seacuteries finais tendo em seu quadro seis professores e duas funcionaacuterias Sendo que

73

a obra para um novo preacutedio teve iniacutecio neste ano mas percebe-se que a obra parou

por volta do mecircs de maio Poreacutem na vila tambeacutem se encontra uma escola estadual

A documentaccedilatildeo necessaacuteria para a criaccedilatildeo de uma nova escola na localidade foi elaborada por Manoel Cardoso de Andrade juntamente com a professora Odazilda Cardoso Demori e encaminhada agrave Secretaria da Educaccedilatildeo sendo que em 11 de fevereiro de 1953 foi criada a Escola Isolada de Lajeado Grande sendo os professores estaduais mas o preacutedio sob responsabilidade comunitaacuteria iniciou o seu funcionamento nas dependecircncias do DAER e somente em 1957 foi construiacutedo um preacutedio de madeira em terras doadas por Pequeno Cardoso local onde hoje ainda se encontra a escola poreacutem passou por muitas reformas sendo que em 2000 recebeu um novo preacutedio de alvenaria o que possibilitou a realizaccedilatildeo de um grande sonho dos professores e comunidade a implantaccedilatildeo do Ensino Meacutedio que concretizou-se em 200296

Atualmente a escola atende em torno de trezentos alunos da Educaccedilatildeo

Baacutesica poreacutem percebe-se que devido agraves safras de hortifrutigranjeiros o nuacutemero de

alunos se alterna durante o ano O que tambeacutem se percebe eacute o comportamento dos

alunos com relaccedilatildeo agrave diversidade cultural por exemplo usam bombacha laccedilam boi

de pau no recreio e escutam funk uma cultura totalmente diferente da tradicionalista

gauacutecha o que compreende-se como algo advindo da globalizaccedilatildeo cultural que

vivemos no mundo atual reforccedilando novamente o natildeo reconhecimento de uma

identidade forte na localidade

Poreacutem as famiacutelias tradicionais do local manteacutem fortemente arraigada a

cultura tradicionalista que adveacutem do homem do campo tendo no distrito festas

campeiras torneios de laccedilo e a festa religiosa uma vez por ano em homenagem ao

Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus padroeiro da vila

Na atualidade natildeo se percebe uma identidade forte e marcada no distrito e

sim uma miscigenaccedilatildeo de diferentes culturas e etnias que convivem e se integram

harmonicamente

96 CARDOSO Amaacutelia Celuderes Entrevista concedida agrave autora no dia 08 de marccedilo de 2018

74

5 DESCRICcedilAtildeO DO PRODUTO

O produto consiste em um livro paradidaacutetico sobre a histoacuteria de Satildeo Francisco

de Paula Apresenta de maneira didaacutetica a histoacuteria de Satildeo Francisco de Paula bem

como balotildees explicativos imagens sugestotildees de atividades e leituras

complementares Poderaacute servir de apoio pedagoacutegico a professores e alunos do

municiacutepio visto que existe pouco material sobre a histoacuteria deste municiacutepio e se faz

importante trabalhar a histoacuteria local percepccedilatildeo que a autora obteve ao longo da sua

caminhada como professora de histoacuteria que atua nas seacuteries finais do ensino

fundamental e meacutedio haacute dezessete anos na rede estadual do municiacutepio

Partir do local natildeo eacute abandonar o conhecimento histoacuterico eacute dar outro valor

sentido para este conhecimento Segundo Caimi

Levar em conta o universo da crianccedila ou do adolescente natildeo eacute pois abdicar do rigor intelectual [] mas garantir que a apropriaccedilatildeo deste conhecimento ocorra permeada de sentido e significado resultando em soacutelidas aprendizagens (CAIMI 2006 p 24)

Seguindo esta perspectiva a implantaccedilatildeo do Referencial Curricular Gauacutecho

embasado na Base Nacional Comum Curricular reforccedila a ideia jaacute discutida nos

paraacutegrafos anteriores

No que se refere especificamente ao componente Histoacuteria a base rompe tanto com a cronologia quanto agrave visatildeo eurocecircntrica da histoacuteria tradicional Entram em cena novos atores novas sociedades novos caminhos que sempre tiveram na histoacuteria mas nem sempre receberam a devida importacircncia Acompanhando a Base Nacional Comum Curricular o Referencial Curricular Gauacutecho no que se refere especificamente agrave disciplina de Histoacuteria manteacutem seu foco na aprendizagem dos alunos nos diferentes espaccedilos e tempos tendo a preocupaccedilatildeo de integrar o curriacuteculo com a diversidade regional de nosso Estado Tambeacutem eacute importante contemplar os temas integradores como eacutetica cidadania cultura e valorizaccedilatildeo das diversidades assegurando a multiplicidade de olhares sobre o mundo (RIO GRANDE DO SUL 2018 p 118)

Portanto o paradidaacutetico seraacute mais um material disponiacutevel aos professores e

estudantes da educaccedilatildeo baacutesica de Satildeo Francisco de Paula na construccedilatildeo do

conhecimento da histoacuteria do municiacutepio bem como o reconhecimento de sua

identidade neste material visto que se almeja que os estudantes percebam

vestiacutegios de sua identidade e se percebam como parte deste municiacutepio atraveacutes do

conhecimento de sua histoacuteria

75

O paradidaacutetico vem com o tiacutetulo rdquoTropeando histoacuterias em Satildeo Francisco de

Paulardquo sendo que a capa traz a foto do Monumento aos Carreteiros monumento

que se encontra na Avenida Juacutelio de Castilhos em frente ao preacutedio da Prefeitura

Municipal

Figura 22 ndash Capa do livro

Fonte Livro Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula

Na sequecircncia se apresenta o iacutendice que possibilita ao leitor localizar os

diversos temas abordados visto que existem nove capiacutetulos

76

Figura 23 ndash Iacutendice do livro

Fonte Livro Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula

77

O capiacutetulo um apresenta a localizaccedilatildeo de Satildeo Francisco de Paula com uma

seacuterie de mapas que facilitam a compreensatildeo espacial dos alunos assim como um

mapa da subdivisatildeo do municiacutepio em distrito Ao final satildeo sugeridas duas atividades

que podem ser desenvolvidas de maneira interdisciplinar com o apoio da professora

de arte geografia e portuguecircs

Figura 24 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 1)

Fonte Livro Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula

78

Figura 25 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 1)

Fonte Livro Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula

O capiacutetulo dois aborda a existecircncia indiacutegena em Satildeo Francisco de Paula

antes da chegada dos desbravadores vindos de Satildeo Paulo Como sugestatildeo de

atividades apresenta-se uma pesquisa sobre as diferentes tribos indiacutegenas que

habitavam a Proviacutencia de Satildeo Pedro aleacutem da criaccedilatildeo de um painel infograacutefico

79

Figura 26 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 2)

Fonte Livro Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula

No capiacutetulo trecircs se apresentam os primeiros donataacuterios colonizadores de Satildeo

Francisco de Paula com trecho de um testamento deixado por Pedro da Silva

Chaves o fundador de Satildeo Francisco de Paula bem como o mapa que localiza as

primeiras sesmarias que corresponde ao territoacuterio onde hoje eacute a Sede do municiacutepio

80

Figura 27 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 3)

Fonte Livro Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula

Nos capiacutetulos quatro e cinco eacute apresentado o desenvolvimento de Satildeo

Francisco de Paula ainda no seacuteculo XIX quando pertencia ao municiacutepio de Santo

Antocircnio da Patrulha e no final do seacuteculo XIX quando passa a pertencer ao entatildeo

81

municiacutepio de Taquara do Mundo Novo Existe tambeacutem um mapa que demonstra a

extensatildeo territorial de Santo Antocircnio da Patrulha e quais satildeo os municiacutepios hoje que

pertenceram a este bem como a importacircncia da abertura da estrada que liga Satildeo

Francisco de Paula a Taquara

Figura 28 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 4)

Fonte Livro Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula

82

Os capiacutetulos seis e sete apontam a construccedilatildeo do Municiacutepio a partir de sua

emancipaccedilatildeo em 1903 sua extensatildeo territorial e a diminuiccedilatildeo do seu territoacuterio ao

longo do tempo e a histoacuteria da Igreja Matriz Como sugestatildeo de atividade pesquisar

a diversidade religiosa existente na comunidade escolar e criar graacuteficos com essas

informaccedilotildees podendo a partir de entatildeo trabalhar com as questotildees religiosas ontem

e hoje no mundo

Figura 29 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 6)

Fonte Livro Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula

83

No capiacutetulo oito se apresenta o que difere os sete distritos de Satildeo Francisco

de Paula Este capiacutetulo se apresenta subdividido em sete subtiacutetulos onde cada um

corresponde a um distrito do municiacutepio Tendo como fonte principal as entrevistas

realizadas com moradores locais mesclado com fontes documentais e bibliograacuteficas

que corroboram para se perceber que haacute alguns distritos que manteacutem suas tradiccedilotildees

ao longo do tempo e eacute possiacutevel perceber que existe uma identidade que aproxima

aquela populaccedilatildeo

Figura 30 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 8)

Fonte Livro Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula

84

No uacuteltimo capiacutetulo o nove se exibe uma lista de sugestotildees de leituras

complementares a fim de se aprofundarem sobre determinados temas E por fim

as referecircncias utilizadas para a construccedilatildeo do paradidaacutetico Tropeando Histoacuterias em

Satildeo Francisco de Paula

Figura 31 ndash Atividade do livro (Sugestatildeo de Leituras Complementares)

Fonte Livro Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula

85

O produto foi testado em duas turmas da Educaccedilatildeo Baacutesica na Escola

Estadual de Ensino Meacutedio Lajeado Grande com o propoacutesito de avaliar qual seria a

reaccedilatildeo dos estudantes diante do material e por ele ter sido produzido por algueacutem

que convive com eles semanalmente A receptividade foi bastante gratificante como

se pode observar na Figura 32

Figura 32 ndash Alunos do Ensino Meacutedio

Fonte acervo pessoal da autora (2019)

A receptividade foi muito interessante visto que os estudantes

acompanharam a trajetoacuteria para chegar ao produto final algo que os deixava

ansiosos para manusear pois muitas vezes foram parceiros A autora foi

compartilhando com os estudantes as informaccedilotildees obtidas durante a pesquisa e as

descobertas encontradas usando em suas aulas a histoacuteria local para abordar os

diferentes temas e conceitos histoacutericos

Quando a autora apresenta o produto os estudantes do ensino meacutedio estes

formam grupos por distritos e buscam logo reconhecer no material sua identidade

apoacutes comentam sobre as peculiaridades de cada distrito Poreacutem os alunos do

ensino fundamental manuseiam o produto mas natildeo se deteacutem ao distrito em que

pertence e sim as imagens e as explicaccedilotildees apresentadas no vocecirc sabia

O que enriquece o trabalho realizado foi o envolvimento dos estudantes com

o produto solicitando quando poderatildeo ler calmamente todo o trabalho

86

6 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

A partir de experiecircncias pessoais em sala de aula se percebeu que o ensino

de Histoacuteria quando se partia da histoacuteria local havia maior interesse dos estudantes

da educaccedilatildeo baacutesica motivo pelo qual se deu a questatildeo-problema desta dissertaccedilatildeo

que estaacute relacionada diretamente com o natildeo uso desta histoacuteria pelos professores da

educaccedilatildeo baacutesica

Em conversas informais com professores da educaccedilatildeo baacutesica que atuam no

municiacutepio de Satildeo Francisco de Paula em sua grande maioria alegam que o grande

empecilho para se trabalhar a histoacuteria local eacute o pouco material disponiacutevel sobre a

histoacuteria de Satildeo Francisco de Paula aleacutem do rigor dos curriacuteculos que impotildeem o

ensino de Histoacuteria de maneira linear sem contextualizaccedilatildeo com a realidade vivida

pelos estudantes pois desta forma natildeo estatildeo preparando os estudantes para as

avaliaccedilotildees do Ministeacuterio da Educaccedilatildeo bem como para o vestibular Poreacutem natildeo se

estaacute afirmando que deveraacute estudar somente a histoacuteria local e sim partir dela como

incentivo para estudos dos conceitos e temaacuteticas da histoacuteria por muitas vezes

totalmente abstrato e de difiacutecil compreensatildeo pela grande maioria dos estudantes

A partir de entatildeo se realizaram inuacutemeros questionamentos como qual a

necessidade de se ensinar Histoacuteria de forma abstrata sem nenhuma relaccedilatildeo com

as vivecircncias dos estudantes Por que natildeo usar a fonte oral como metodologia de

pesquisa no ensino de Histoacuteria em Satildeo Francisco de Paula jaacute que natildeo existem

muitos materiais escritos a respeito desta histoacuteria principalmente no que tange os

distritos do interior Poreacutem estes questionamentos natildeo foram aprofundados na

dissertaccedilatildeo por natildeo ser o objetivo direto da pesquisa mas posteriormente poderaacute

se tornar um novo projeto de pesquisa

Nesta incessante busca por resposta se constroacutei todo o estudo desta

dissertaccedilatildeo que em um primeiro momento busca embasamento em diferentes

autores que comprovam que o ensino de Histoacuteria voltado para o local faz maior

sentido para os estudantes da educaccedilatildeo baacutesica e que isto natildeo significa abandonar

os conceitos histoacutericos e sim questionar analisar a trajetoacuteria humana no tempo e

no espaccedilo sob uma nova metodologia Apenas se sugere uma nova abordagem

que torne o ensino de Histoacuteria menos abstrato algo mais presente na vida do

estudante e que possibilite a ele a habilidade de perceber que o mundo estaacute em

constante mudanccedila poreacutem os fatos natildeo ocorrem de forma isolada no espaccedilo Algo

87

que foi reforccedilado apoacutes a construccedilatildeo da Base Nacional Curricular e o Referencial

Curricular Gauacutecho que vem de encontro com esta proposta de se estudar a histoacuteria

sobre novos olhares natildeo esquecendo das especificidades regionais do estado do

Rio Grande do Sul para o reconhecimento da identidade local e regional

A identidade local nesta pesquisa se buscou atraveacutes de relatos de

moradores locais que gentilmente colaboraram para o sucesso deste trabalho pois

a memoacuteria se tornou a fonte primordial para se escrever o que identifica os sete

distritos que constituem Satildeo Francisco de Paula Certamente a temaacutetica natildeo se

esgotou ainda haacute muito que se pesquisar e escrever sobre a histoacuteria de Satildeo

Francisco de Paula possibilitando a criaccedilatildeo de novos materiais que possam ser

usados em sala de aula pelos professores e alunos deste municiacutepio

Mas ao mesmo tempo haacute uma preocupaccedilatildeo por parte da autora nada

adianta criar produtos sinalizar novos meacutetodos ao ensino de Histoacuteria se o

profissional professor natildeo estiver preparado para trabalhar com novas fontes

histoacutericas novas metodologias de ensino proporcionando aos estudantes a

oportunidade de construir seu proacuteprio conhecimento histoacuterico embasado em sua

realidade e suas vivecircncias

Vivecircncias que se tornaram aliadas na pesquisa pois a autora nasceu e

sempre viveu no municiacutepio de Satildeo Francisco de Paula poreacutem a maior dificuldade

encontrada nesta caminhada foi percorrer grandes distacircncias por estradas de

rodagem em peacutessimas condiccedilotildees de trafegabilidade para gravar os relatos que

servem de base para a construccedilatildeo desta pesquisa O municiacutepio de Satildeo Francisco de

Paula eacute territorialmente extenso e essas distacircncias percorridas deram o nome ao

produto Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula como uma homenagem

aos antigos tropeiros deste municiacutepio que passavam boa parte de sua vida ao

lombo de mulas levando e buscando mercadorias pelos campos de cima da serra

Visto que desde o processo seletivo do mestrado em agosto de 2016

quando se apresentou o projeto de pesquisa jaacute se pensava no produto um livro

paradidaacutetico no formato fiacutesico A autora por diversas vezes foi questionada por que

natildeo um blog ou site Porque na forma fiacutesica este material seria de faacutecil manuseio

pelos estudantes e professores pois principalmente no interior uso da internet ainda

eacute um problema visto que em muitos locais natildeo existe sinal de telefonia diraacute

internet

88

O paradidaacutetico foi se moldando ao longo do tempo ateacute se chegar a versatildeo

final com uma ampla gama de informaccedilotildees e curiosidades sobre os sete distritos de

Satildeo Francisco de Paula onde se pretende que os alunos e professores possam

fazer uso deste material em sala de aula para tanto a autora pretende

posteriormente lanccedilar o produto para que possa ser lido e manuseado por todos

inclusive por aqueles que gostam de histoacuteria e sentem curiosidade sobre a formaccedilatildeo

do seu distrito e por conseguinte do municiacutepio de Satildeo Francisco de Paula

O paradidaacutetico foi testado em duas turmas da Escola Estadual de Ensino

Meacutedio Lajeado Grande sendo uma de Ensino Meacutedio e a outra das seacuteries finais do

Ensino Fundamental Os alunos jaacute detinham o conhecimento que a autora estava

cursando o Mestrado e que para sua conclusatildeo deveria apresentar um produto Era

de conhecimento de todos os estudantes que a autora estava produzindo um

paradidaacutetico sobre a histoacuteria de Satildeo Francisco de Paula pois a mesma eacute professora

destes estudantes nesta escola

Em um primeiro momento se explica que eacute apenas um protoacutetipo que

somente a capa estaacute colorida e o restante estaacute todo em preto e branco e que a

versatildeo final teraacute as imagens e as curiosidades coloridas o que com certeza

chamaraacute mais atenccedilatildeo Ao entregar o paradidaacutetico Tropeando Histoacuterias em Satildeo

Francisco de Paula para que possam manuseaacute-lo veio a primeira grande surpresa

os estudantes ficaram muito contentes por a turma ter sido escolhida pela autora

escolha essa que se justifica por ter trabalhado todo o ano de 2017 com estes

alunos partindo da histoacuteria local

A turma do oitavo ano do Ensino Fundamental manuseou sendo que os

alunos acharam interessante poreacutem se deteram mais nas imagens e balotildees do

ldquovocecirc sabiardquo Mas de maneira ampla e geral acharam muito interessante a foto de

capa com o Monumento aos Carreteiros situado na Avenida Juacutelio de Castilhos em

frente ao preacutedio da Prefeitura Municipal pois alguns natildeo conhecem a Sede do

municiacutepio

Os alunos do segundo ano do Ensino Meacutedio se surpreenderam e foram direto

ler sobre o distrito no qual residem Interessados questionaram sobre curiosidades

de como o material foi construiacutedo quais as maiores dificuldades encontradas

elogiaram o leiaute as imagens de fundo ao lado de cada curiosidade relatando que

chama a atenccedilatildeo aleacutem de considerarem relevantes as sugestotildees de atividades e

ao final solicitaram quando o material estaraacute disponiacutevel para que possam ler

89

integralmente visto que um periacuteodo de cinquenta minutos natildeo foi suficiente para que

todos manuseassem se fazendo necessaacuterio levar novamente na proacutexima aula

A autora se sentiu motivada pela recepccedilatildeo do produto por seus alunos o que

a incentiva continuar pesquisando sobre outras temaacuteticas a respeito da histoacuteria de

Satildeo Francisco de Paula trazendo para seu fazer pedagoacutegico novas fontes que

proporcionem um estudo da Histoacuteria de maneira ampla e contextualizada com a

realidade local que os cerca

90

REFEREcircNCIAS

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Jornal Satildeo Chico Tchecirc n 11 do dia 25 de maio de 1986

Jornal Satildeo Chico Tchecirc n 12 do dia 28 de maio de 1986

Jornal Pioneiro versatildeo digital do dia 02 de junho de 2017

Entrevistas

Amaacutelia Celuderes Cardoso residente no distrito de Lajeado Grande Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 08 de marccedilo de 2018

Blair dos Santos Fogaccedila residente no distrito de Lajeado Grande Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 06 de abril de 2018

Ceacutelia Pacheco Terres Basso residente no distrito de Cazuza Ferreira Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 04 de agosto de 2018

Darci da Silva Fagundes residente no distrito de Tainhas Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 24 de fevereiro de 2018

Deotildes Palhano dos Santos residente no distrito do Juaacute Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 12 de maio de 2018

Jaures Feijoacute Gomes residente no distrito de Eletra Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 15 de fevereiro de 2018

Luciana Olga Soares residente no distrito Sede Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 01 de marccedilo de 2018

Maria Madalena Scalco Faciole residente no distrito do Rincatildeo dos Kroeff Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 18 de marccedilo de 2018

Moacir Castello Branco de Albuquerque residente no distrito Sede Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 06 abril de 2018

95

Nauro Bossle de Andrade residente no distrito de Cazuza Ferreira Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 04 de marccedilo de 2018

Orides Reis residente no distrito do Juaacute Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 12 de maio de 2018

Reinaldo Faciole residente no distrito do Rincatildeo dos Kroeff Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 18 de marccedilo de 2018

Susana Marques Soares residente no distrito de Eletra Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 15 de fevereiro de 2018

96

APEcircNDICES

97

APEcircNDICE A ndash ENTREVISTA COM MORADORES LOCAIS DOS DISTRITOS DE

SAtildeO FRANCISCO DE PAULA

UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL

PROGRAMA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO EM HISTOacuteRIA ndash MESTRADO EM HISTOacuteRIA PROFISSIONAL

PESQUISA DE CAMPO ndash TATIANA MEacuteLO CARDOSO

1 Nome completo

2 Idade

3 Quantos anos reside neste distrito

4 Como se formou este distrito

5 Por que ele tem esse nome

6 Quem foram os primeiros moradores

7 Como era a vida aqui haacute tempos atraacutes

8 O que mudou aqui com o passar dos anos

9 O que identifica este lugar

10 As pessoas hoje que moram aqui na grande maioria satildeo naturais daqui ou vieram

de onde

11 A(o) Sra(Sr) acredita que as futuras geraccedilotildees valorizaram eou conheceram a

histoacuteria local ou vai se perder no tempo

12 Como funcionava a questatildeo do ensino em meados do seacuteculo XX havia escola na

localidade

13 Qual a primeira escola deste distrito data de fundaccedilatildeo local de funcionamento e a

primeira professora

14 Achas importante trabalhar nas escolas a histoacuteria do lugar

15 O que eacute tradiccedilatildeo deste distrito

16 Qual eacute a fonte de renda das pessoas no que elas trabalham

17 Qual eacute o lazer das pessoas aqui

98

APEcircNDICE B ndash TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Declaro por meio deste termo que concordei em ser entrevistado(a) eou participar na

pesquisa de campo referente ao projetopesquisa Ensino de Histoacuteria Local e o Paradidaacutetico

caso Satildeo Francisco de Paula desenvolvida pela aluna Tatiana Meacutelo Cardoso do Programa de

Poacutes-Graduaccedilatildeo em Histoacuteria ndash Mestrado Profissional da Universidade de Caxias de Sul Fui

informado(a) que poderei consultaacute-la a qualquer momento que julgar necessaacuterio atraveacutes do e-

mail t_ati_mhotmailcom

Afirmo que aceitei participar por minha proacutepria vontade sem receber qualquer

incentivo financeiro ou ter qualquer ocircnus e com a finalidade exclusiva de colaborar para o

sucesso da pesquisa Fui informado(a) dos objetivos estritamente acadecircmicos de estudo

Minha colaboraccedilatildeo natildeo ficaraacute anocircnima e foi realizada por meio de entrevista

semiestruturada A anaacutelise dos dados obtidos seratildeo divulgados natildeo permanecendo restritas

apenas a pesquisadora eou seu(s) orientador(es) coordenador(es)

Fui ainda informado(a) de que posso me retirar desse(a) estudopesquisa programa a

qualquer momento sem prejuiacutezo para meu acompanhamento ou sofrer quaisquer sanccedilotildees ou

constrangimentos Atesto recebimento de uma coacutepia assinada deste Termo de Consentimento

Livre e Esclarecido

Satildeo Francisco de Paula ___ de _____________ de ____

Assinatura do(a) participante

Assinatura do responsaacutevel

Page 6: UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL TATIANA MÉLO CARDOSO

RESUMO

A presente dissertaccedilatildeo aborda o ensino de Histoacuteria em Satildeo Francisco de Paula Rio Grande do Sul tendo como princiacutepio que o ensino de Histoacuteria partindo do local se torna mais significativo aos estudantes da educaccedilatildeo baacutesica Para a construccedilatildeo dessa pesquisa se utilizaram diferentes abordagens metodoloacutegicas tais como documentos da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul jornais fontes bibliograacuteficas imagens e depoimentos orais O estudo procurou abordar a construccedilatildeo do municiacutepio bem como o que identifica os sete distritos pertencentes a Satildeo Francisco Paula Como resultado se cria um paradidaacutetico fiacutesico com textos imagens curiosidades sugestotildees de atividades e leituras complementares que serviraacute de apoio pedagoacutegico aos professores e estudantes da educaccedilatildeo baacutesica Espera-se que este material possa servir de pesquisa a todos os interessados

Palavras-chave Ensino de Histoacuteria Satildeo Francisco de Paula Identidade

ABSTRACT

This dissertation deals with History teaching in Satildeo Francisco de Paula Rio Grande do Sul with the principle that History Teaching from the place becomes more meaningful to students of basic education For the construction of this research different methodological approaches are used such as documents of the Legislative Assembly of Rio Grande do Sul newspapers bibliographic sources images and oral testimony The study sought to address the construction of the municipality as well which identifies the seven districts belonging to San Francisco Paula As a result a physical paradidaacutetico is created with texts images curiosities suggestions of activities and complementary readings that will serve as pedagogical support to teachers and students of basic education It is hoped that this material can serve as a research to all interested parties

Keywords Teaching History Satildeo Francisco de Paula Identity

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 ndash Mapa de Identificaccedilatildeo das Sesmarias Serranas 26

Figura 2 ndash Divisatildeo Municipal em 1809 ndash Proviacutencia Satildeo Pedro do Rio Grande do Sul

28

Figura 3 ndash Vista da vila de Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra (1901) 29

Figura 4 ndash Vista Avenida Juacutelio de Castilhos (1923) 30

Figura 5 ndash Abertura da estrada ERS-020 Taquara ndash Satildeo Francisco de Paula de

Cima da Serra 31

Figura 6 ndash Accedilougue Central 33

Figura 7 ndash Igreja Matriz em 1931 34

Figura 8 ndash Igreja Matriz 34

Figura 9 ndash Mapa de localizaccedilatildeo de Satildeo Francisco de Paula 36

Figura 10 ndash Patroa Neuza Reis e sua Comissatildeo 39

Figura 11 ndash Gonzaga dos Reis 48

Figura 12 ndash Outdoor entrada da cidade na ERS-020 50

Figura 13 ndash Praccedila Central de Cazuza Ferreira 52

Figura 14 ndash Hotel do Campo 54

Figura 15 ndash Flacircmula de comemoraccedilatildeo aos 50 anos da entidade 57

Figura 16 ndash Barragem do Salto 58

Figura 17 ndash Igreja Santo Antocircnio ndash Distrito de Eletra 61

Figura 18 ndash Peacute com a fruta conhecido como Juaacute 63

Figura 19 ndash Praccedila Vila do Distrito Juaacute ao fundo cancha de laccedilo 65

Figura 20 ndash Imagem da Igreja Satildeo Roque em dia de festa no Rincatildeo dos Kroeff 69

Figura 21 ndash Imagem do Casaratildeo pouco antes de ser desmanchado 71

Figura 22 ndash Capa do livro 75

Figura 23 ndash Iacutendice do livro 76

Figura 24 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 1) 77

Figura 25 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 1) 78

Figura 26 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 2) 79

Figura 27 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 3) 80

Figura 28 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 4) 81

Figura 29 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 6) 82

Figura 30 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 8) 83

Figura 31 ndash Atividade do livro (Sugestatildeo de Leituras Complementares) 84

Figura 32 ndash Alunos do Ensino Meacutedio 85

SUMAacuteRIO

1 INTRODUCcedilAtildeO 11

2 HISTOacuteRIA LOCAL E O ENSINO DE HISTOacuteRIA NA SALA DE AULA 17

3 SAtildeO FRANCISCO DE PAULA CONSTRUCcedilAtildeO DO MUNICIacutePIO 24

31 CONVERSA COM MEMORIALISTAS 25

32 AMPLIANDO O DIAacuteLOGO COM OS MEMORIALISTAS 28

4 SAtildeO FRANCISCO DE PAULA DISTRITOS EM FOCO 41

41 DISTRITO SEDE 42

42 DISTRITO DE CAZUZA FERREIRA 51

43 DISTRITO DE TAINHAS 55

44 DISTRITO DE ELETRA 58

45 DISTRITO DO JUAacute 62

46 DISTRITO DO RINCAtildeO DOS KROEFF 66

47 DISTRITO DE LAJEADO GRANDE 70

5 DESCRICcedilAtildeO DO PRODUTO 74

6 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 86

REFEREcircNCIAS 90

FONTES CONSULTADAS 94

APEcircNDICES 96

APEcircNDICE A ndash ENTREVISTA COM MORADORES LOCAIS DOS DISTRITOS DE

SAtildeO FRANCISCO DE PAULA 97

APEcircNDICE B ndash TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO 98

11

1 INTRODUCcedilAtildeO

Os meacutetodos de ensino de Histoacuteria no Brasil vem sendo discutidos desde sua

criaccedilatildeo como disciplina Segundo Nadai (1992-1993 p 144) a introduccedilatildeo de

Histoacuteria no curriacuteculo ocorre na terceira metade do seacuteculo XIX no Brasil sendo que

desde entatildeo passa por diversas modificaccedilotildees Segundo Schmidt e Cainelli (2009)

os meacutetodos foram se adequando ao momento histoacuterico brasileiro em um primeiro

momento ensinou-se a histoacuteria da Europa Ocidental como a verdadeira histoacuteria da

civilizaccedilatildeo uma histoacuteria abstrata sem relaccedilatildeo com a vida do aluno Nadai (1992-

1993 p 146) acrescenta que ldquoa histoacuteria da paacutetria surgia como seu apecircndice sem

corpo autocircnomo e ocupando um papel extremamente secundaacuterio consistia num

repositoacuterio de biografias de homens ilustres de datas e batalhasrdquo

Poreacutem a partir de 1860 segundo Schmidt e Cainelli (2009 p 12-13) ldquono

periacuteodo republicano a incorporaccedilatildeo da concepccedilatildeo de que a disciplina Histoacuteria tinha

a responsabilidade de formar cidadatildeos ganha forccedilardquo sendo assim as escolas

primaacuterias e secundaacuterias comeccedilaram incluir em seus programas a histoacuteria nacional

com o intuito da formaccedilatildeo da nacionalidade sendo a paacutetria com seus heroacuteis o

principal foco Desta forma a criaccedilatildeo das diretrizes da Lei de Educaccedilatildeo nordm 569271

reforccedila o modelo jaacute instaurado

Foi oficializado o ensino de Estudos Sociais nas escolas brasileiras ficando os conteuacutedos especiacuteficos da Histoacuteria destinados somente aos alunos do antigo segundo grau A concepccedilatildeo e os conteuacutedos da Histoacuteria continuavam atrelados agraves concepccedilotildees tradicionais (SCHMIDT CAINELLI 2009 p 13)

Com a redemocratizaccedilatildeo na deacutecada de 1980 houve inuacutemeras discussotildees

que elencaram inuacutemeras abordagens e temaacuteticas para o ensino da Histoacuteria na

atualidade as novas tendecircncias se preocupam com a transposiccedilatildeo didaacutetica

valorizando documentos histoacutericos e incorporando novas linguagens e tecnologias

que permitem discussotildees e autonomia de pensamento Neste sentido as novas

concepccedilotildees de ensino de Histoacuteria ao final do seacuteculo XX abrem a possibilidade de

uma nova praacutetica didaacutetica que segundo Azevedo e Stamatto (2010 p 709) ldquobusca

problematizar a relaccedilatildeo passado-presente e em geral tomam a realidade do aluno

como ponto de partidardquo

Por se acreditar em um ensino de Histoacuteria onde a aprendizagem natildeo ocorre

em periacuteodos estanques de forma abstrata e sem relaccedilatildeo com o presente ou seja

12

apresentando de forma linear sem que haja contextualizaccedilatildeo sendo apresentada

atraveacutes de leitura de textos eou resumos permeando com atividades que muitas

vezes natildeo permitem um desenvolvimento de raciociacutenio histoacuterico que contribua para

a construccedilatildeo da cidadania Torna-se urgente pensar em um ensino voltado para a

inclusatildeo de novas contribuiccedilotildees historiograacuteficas como a histoacuteria cultural econocircmica

e social buscando na realidade local subsiacutedios para a aprendizagem Por isso a

presente dissertaccedilatildeo traz a didatizaccedilatildeo da histoacuteria de Satildeo Francisco de Paula visto

que a questatildeo-problema estaacute vinculada ao natildeo uso da histoacuteria local no ensino de

Histoacuteria deste municiacutepio e o pouco material disponiacutevel para o uso dos professores

Parte-se do pressuposto que ao abranger a histoacuteria local os sujeitos se veem como

partiacutecipes desta histoacuteria estudada significando e ressignificando conceitos

histoacutericos

Corroborando com este estudo Cunha (2016) traz consideraccedilotildees importantes

relacionadas ao uso da histoacuteria local O autor aborda como algo essencial para

compreensatildeo da histoacuteria geral na educaccedilatildeo baacutesica o uso da histoacuteria local o que

proporcionaria aos estudantes o reconhecimento como cidadatildeo e a percepccedilatildeo e

identificaccedilatildeo dos lugares de memoacuteria por parte dos alunos bem como o sentimento

de pertencimento do local Desta forma despertaria no aluno o interesse por um

passado aparentemente desligado de sua realidade estabelecendo relaccedilotildees com o

seu cotidiano

Desta maneira acredita-se que os estudantes da educaccedilatildeo baacutesica

compreenderatildeo a histoacuteria como algo que faz parte de suas vidas tornando-se assim

sujeitos da histoacuteria pois se haacute reconhecimento haveraacute tambeacutem o sentimento de

pertencimento que poderaacute ajudaacute-los a manter ou modificar a realidade que os cerca

Assim descrevem Schmidt e Cainelli

Esse sentido do ensinar Histoacuteria natildeo significaria natildeo ter conteuacutedos para serem ensinados mas olhar para estes conteuacutedos a partir da possibilidade de construir com os alunos novas questotildees diante de conteuacutedos e temas propostos pela historiografia Aprender histoacuteria eacute discutir evidecircncias levantar hipoacuteteses dialogar com os sujeitos os tempos e os espaccedilos histoacutericos Eacute olhar para o outro em tempos e espaccedilos diversos (SCHMIDT CAINELLI 2009 p 20)

Dentro desta perspectiva o reconhecimento da memoacuteria social se faz

importante visto que se necessita invocaacute-la para que um determinado grupo ou local

reconheccedila sua identidade social Atraveacutes de entrevistas com moradores de Satildeo

13

Francisco de Paula se invoca a memoacuteria coletiva na busca da identidade dos sete

distritos deste municiacutepio Visto que a histoacuteria de Satildeo Francisco de Paula se inicia por

volta do seacuteculo XVIII quando se datam as primeiras sesmarias1 concedidas ao

capitatildeo Pedro da Silva Chaves Posteriormente o capitatildeo doa parte de suas terras

para a construccedilatildeo do povoado que recebe o nome de Satildeo Francisco de Paula de

Cima da Serra por este ser devoto do Santo Satildeo Francisco Reza no testamento do

capitatildeo Pedro da Silva Chaves que um de seus filhos foi o primeiro paacuteroco a rezar

missa no povoado Satildeo Francisco de Paula pertenceu a Santo Antocircnio da Patrulha

e mais tarde a Taquara emancipando-se em 1902

Haacute pouca bibliografia sobre a histoacuteria de Satildeo Francisco de Paula o que existe

satildeo livros escritos por memorialistas onde se percebe a prioridade pela histoacuteria do

fundador ou seja do Capitatildeo Pedro da Silva Chaves dos iacutendios Caaguaraacutes que

habitavam a regiatildeo assim como os aspectos poliacuteticos administrativos Alguns destes

livros apresentam uma siacutentese cronoloacutegica de fatos importantes e descrevem

superficialmente o jeito de viver do povo serrano2 Mas a histoacuteria de Satildeo Francisco

de Paula estaacute repleta de diferentes identidades que identificam a Sede3 e o Interior4

deste municiacutepio e formam o jeito de viver do seu povo A natildeo exploraccedilatildeo de

elementos culturais que se fazem importantes para a construccedilatildeo de identidade

destes lugares minimiza as memoacuterias e as tradiccedilotildees que ali se apresentam visto

que

as constantes novidades em diferentes campos do saber os avanccedilos da tecnologia as infinitas possibilidades de comunicaccedilatildeo simultacircnea tecircm provocado sobretudo nas novas geraccedilotildees uma sensaccedilatildeo de que o mundo em que se vive eacute dotado de um temporalidade constituiacuteda por um tempo presente contiacutenuo (FIGUEIRA MIRANDA 2012 p 46)

Neste sentido fez-se uso de diferentes fontes para a construccedilatildeo do produto

desta dissertaccedilatildeo que consiste de um paradidaacutetico que possa servir como um

1 Sesmaria Terreno sem culturas ou abandonado que a antiga legislaccedilatildeo portuguesa com base em

praacuteticas medievais determinava que fosse entregue a quem se comprometesse a cultivaacute-lo 2 Serrano gentiacutelico de quem nasce em Satildeo Francisco de Paula 3 Sede distrito criado em 07 de janeiro de 1903 na mesma data da instalaccedilatildeo oficial do Municiacutepio Eacute

o distrito onde se localiza a Prefeitura Municipal Foacuterum agecircncias bancaacuterias loteacutericas hospital casas comerciais e residecircncias particulares Normalmente os moradores do interior quando vatildeo ao distrito se referem como ldquovou a Satildeo Chicordquo e natildeo como ldquovou a Sederdquo

4 Interior Cazuza Ferreira Juaacute Eletra Rincatildeo dos Kroeff Tainhas e Lajeado Grande satildeo distritos que ficam na zona rural apesar de todos terem uma pequena vila que possui pouca infraestrutura Alguns destes distritos ainda usam aacutegua de vertentes sem nenhuma rede de esgoto pois natildeo possuem aacutegua fornecida pela Companhia de Aacutegua e Saneamento (CORSAN)

14

material disponiacutevel a alunos e professores no ensino de Histoacuteria de Satildeo Francisco

de Paula Segundo Munakata entendem-se como paradidaacuteticos

Livros que sem apresentar caracteriacutesticas proacuteprias dos didaacuteticos satildeo adotados no processo de ensino e aprendizagem nas escolas seja como material de consulta do professor seja como material de pesquisa e de apoio agraves atividades do educando (MUNAKATA 1997 p 103)

Para a construccedilatildeo do paradidaacutetico fez-se uso de bibliografias jaacute existentes

jornais e documentos da Assembleia da Legislativa bem como o uso da histoacuteria

oral sendo as entrevistas a fonte primordial para escrever sobre as semelhanccedilas e

diferenccedilas existentes no modo de vida da populaccedilatildeo de Satildeo Francisco de Paula

visto que os depoimentos satildeo importantes na preservaccedilatildeo das memoacuterias tradiccedilotildees

bem como das heranccedilas identitaacuterias Neste sentido Delgado (2003 p 23) discorre

ldquonarrativas memoacuterias histoacuterias e identidades satildeo a humanidade em movimento

Satildeo o olhar que permeiam tempos heterogecircnicos Satildeo a histoacuteria em construccedilatildeo Satildeo

memoacuterias que falamrdquo

Portanto a histoacuteria oral busca registrar as vivecircncias e lembranccedilas de um

determinado grupo Alberti (2008 p 29) assim define ldquohistoacuteria oral natildeo eacute um fim em

si mesma e sim um meio de conhecimentordquo Quando se trabalha com a histoacuteria

oral se faz necessaacuterio valorizar a memoacuteria as identidades e tradiccedilotildees pois estas

formam a histoacuteria local ou seja a histoacuteria dos indiviacuteduos que ali vivem Halbwachs

(2004) afirma que com a perda da memoacuteria coletiva tambeacutem se perdem as

tradiccedilotildees locais tradiccedilotildees essas que identificam o modo de viver de um determinado

local Hobsbawn e Ranger entendem que as tradiccedilotildees podem ou natildeo ser

inventadas

Tradiccedilatildeo inventada entende-se um conjunto de praacuteticas normalmente reguladas por regras taacutecitas ou abertamente aceitas tais praacuteticas de natureza ritual ou simboacutelica visam inculcar certos valores e normas de comportamento atraveacutes da repeticcedilatildeo o que implica automaticamente uma continuidade com relaccedilatildeo ao passado (HOBSBAWN RANGER 2015 p 8)

Hobsbawn e Ranger (2015) ainda acrescem que a criaccedilatildeo de uma tradiccedilatildeo

independe da imposiccedilatildeo de uma nova tradiccedilatildeo o que normalmente ocorre eacute uma

rebeliatildeo cultural que precede da elaboraccedilatildeo de novas tradiccedilotildees que satildeo adotadas

pela populaccedilatildeo e com o tempo passam a se tornar tradiccedilotildees daquele local

formando a identidade local

15

Neste sentido Hall (2011 p 39) discorre que ldquoas identidades satildeo fabricadas

por meio da marcaccedilatildeo da diferenccedilardquo O autor ainda acresce que ldquoa diferenccedila eacute aquilo

que separa uma identidade da outrardquo (HALL 2011 p 41) Dentro desta perspectiva

a memoacuteria que se apresenta atraveacutes de siacutembolos ou tradiccedilotildees respalda a

construccedilatildeo da identidade do povo de Satildeo Francisco de Paula visto que a memoacuteria eacute

a construccedilatildeo do passado de maneira atualizada e renovada no tempo presente

Assim Halbwachs (2004 p 64) descreve que ldquonatildeo eacute na histoacuteria aprendida eacute na

histoacuteria vivida que se apoia nossa memoacuteriardquo Nessa loacutegica o autor ainda descreve

que ldquoo mundo histoacuterico eacute como um oceano onde afluem todas as histoacuterias parciaisrdquo

(p 90)

O municiacutepio de Satildeo Francisco de Paula eacute repleto de tradiccedilotildees que perpassam

o tempo que estatildeo enraizadas no jeito serrano de ser formando a sua identidade

Portanto a histoacuteria de Satildeo Francisco de Paula descrita nesta dissertaccedilatildeo seraacute

apresentada em quatro capiacutetulos

O capiacutetulo dois apresenta a discussatildeo teoacuterica metodoloacutegica sobre a

importacircncia do ensino da Histoacuteria local na sala de aula Tambeacutem conceitos como

memoacuteria e identidade e a importacircncia de se abordar o local em prol do global

No capiacutetulo trecircs aborda-se a construccedilatildeo histoacuterica do municiacutepio de Satildeo

Francisco de Paula que vai desde a chegada do colonizador nesta terra ateacute as

instituiccedilotildees que se formam ao longo do tempo Para isso se faz uso de bibliografias

jaacute existentes como Lucena (1971) Oliveira (1996) Teixeira (2002) Ribeiro (2003)

Alves (2007) e Fonseca (2012) sendo todas essas obras importantes para Satildeo

Francisco de Paula visto que cada uma traz consigo um pouco da histoacuteria deste

municiacutepio poreacutem sente-se falta da identidade e da memoacuteria na construccedilatildeo histoacuterica

As obras satildeo apresentadas sob o mesmo prisma apresentando os iacutendios Caaguaraacutes

e o Capitatildeo Pedro da Silva Chaves os fundadores desta terra dando bastante

ecircnfase aos sobrenomes que ali se desenvolveram Tambeacutem se fez uso de

documentos da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul aleacutem de jornais

encontrados no Arquivo Histoacuterico de Satildeo Francisco de Paula

No capiacutetulo quatro utiliza-se da fonte oral para que sejam identificadas as

diferentes tradiccedilotildees e versotildees da histoacuteria local ou seja a identidade de cada distrito

constituindo assim as particularidades que constroem o municiacutepio de Satildeo Francisco

de Paula Para tanto buscaram-se depoentes nas vilas dos distritos sendo que a

escolha se deu por duas pessoas por distrito sendo um homem e uma mulher

16

totalizando treze depoentes todos da terceira idade pois segundo Bosi (1994 p

82) ldquoum mundo social que possui uma riqueza e uma diversidade que natildeo

conhecemos pode chegar-nos pela memoacuteria dos velhosrdquo memoacuterias estas

construiacutedas por suas vivecircncias neste local o que justifica a relevacircncia dos

depoimentos para a construccedilatildeo do trabalho

O capiacutetulo cinco apresenta uma descriccedilatildeo do produto que consiste em um

paradidaacutetico em forma fiacutesica abordando a histoacuteria de Satildeo Francisco de Paula A

escolha pelo formato fiacutesico acontece pelas dificuldades encontradas no interior dos

distritos com o acesso agrave internet assim se pensa que o formato fiacutesico abrangeraacute um

nuacutemero maior de alunos e professores

Para tanto utiliza-se a metodologia da Histoacuteria oral para escrever a memoacuteria

e as percepccedilotildees das pessoas que habitam este local Hobsbawn e Ranger (1995 p

103) escrevem que ldquoessa proximidade entre o periacuteodo analisado e sua histoacuteria

pessoal eacute o pano de fundo para a discussatildeo de alguns problemas que qualquer

historiador enfrenta ao escrever sobre seu proacuteprio tempordquo pois a sensibilidade do

historiador vai escrever sua narrativa Em outras palavras Hobsbawn e Ranger

(1995 p 104) explicam que ldquocada historiador tem sua proacutepria vida um lugar privado

a partir do qual inspeciona o mundordquo Tambeacutem afirmam

Para aqueles que querem escrever a histoacuteria do seacuteculo XX uma das mais importantes reside no simples fato de saber sem nenhum esforccedilo especial o quanto as coisas se modificaram Os uacuteltimos trinta ou quarenta anos foram os mais revolucionaacuterios da histoacuteria O mundo ou seja a vida dos homens e mulheres que vivem na Terra nunca foi transformada de maneira tatildeo profunda dramaacutetica e extraordinaacuteria dentro de um periacuteodo tatildeo curto As geraccedilotildees que natildeo viram como o mundo era antes tecircm dificuldade em perceber isso intuitivamente (HOBSBAWN RANGER 1995 p 107)

Portanto se faz importante perceber que o mundo vem se transformando de

maneira raacutepida modificando a vida das pessoas e por conseguinte as tradiccedilotildees e

identidades locais pois estas comunidades natildeo vivem de forma isolada e sofreram

influecircncias jaacute que a cultura natildeo eacute estagnada estaacute sempre em constante movimento

juntamente com as pessoas

17

2 HISTOacuteRIA LOCAL E O ENSINO DE HISTOacuteRIA NA SALA DE AULA

Discutir o ensino de Histoacuteria na educaccedilatildeo baacutesica e a relaccedilatildeo do mesmo com a

histoacuteria local se faz bastante importante para que a cada dia se possa melhorar as

praacuteticas pedagoacutegicas Neste sentido se busca respaldo em diferentes bibliografias

que possam embasar novos afazeres dentro do espaccedilo da sala de aula e

proporcionar ao estudante um novo olhar sobre a histoacuteria um olhar de sujeito ativo

dentro desse processo de ensino aprendizagem

Pois quando a Histoacuteria eacute ensinada como algo certo e imutaacutevel de maneira

fragmentada voltada para linearidade e memorizaccedilatildeo de fatos e datas reforccedila o

que Mendes (1935) e Schmidt e Cainelli (2009) defendem que realmente eacute odiosa a

histoacuteria ensinada por este vieacutes Percebe-se que o ensino de histoacuteria linear nos

moldes europeus positivistas jaacute natildeo daacute mais conta da importacircncia da histoacuteria para a

sociedade atual porque eacute apresentada aos alunos atraveacutes de datas e fatos escrita

pelo vieacutes de uma elite que normalmente eacute branca e deteacutem o poder poliacutetico eou

econocircmico Eacute inconcebiacutevel que se permaneccedila com um ensino de Histoacuteria que natildeo

serve natildeo motiva e segundo Ruumlsen (2001 p 25) ainda ldquoirracionalizardquo sendo esse

modelo muito frequente nas escolas de educaccedilatildeo baacutesica brasileiras

Natildeo eacute por outro motivo que observamos ainda nas uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo XX que para a maior parte dos estudantes brasileiros o estudo de histoacuteria carece de sentido ou utilidade natildeo se tem a visatildeo de ciecircncia e sim de uma mateacuteria decorativa estudo do passado que soacute exige como vimos a prontidatildeo em declinar nomes datas e fatos Natildeo eacute de se estranhar que assim seja porque ocorre a enorme distacircncia entre a realidade vivenciada pela comunidade e o tratamento dado ao ensino de Histoacuteria jaacute que o aluno se torna mero espectador de fatos natildeo necessitando esforccedilos no sentido de qualquer reflexatildeo ou elaboraccedilatildeo (BARBOSA 2006 p 58)

O ensinar da histoacuteria de forma abstrata fragmentada dificulta a compreensatildeo

do processo histoacuterico no sentido que se estuda os fatos isolados ao seu tempo

como se um fato precisasse terminar para iniciar outro Em outras palavras este

meacutetodo de ensino natildeo daacute a noccedilatildeo de continuidade ou seja a histoacuteria perdeu seu

sentido baacutesico que eacute a compreensatildeo do contexto global dos fatos considerando que

o ensino de Histoacuteria por muitas vezes eacute estanque sem uma relaccedilatildeo ldquopresente x

passadordquo sendo de suma importacircncia o despertar de uma consciecircncia criacutetica por

parte do estudante Por isso ao longo do tempo o ensino sofre influecircncia por parte

do ldquopoderrdquo segundo Laville (1999 p 128) ldquoa Histoacuteria eacute certamente a uacutenica disciplina

18

escolar que recebe intervenccedilotildees diretas dos altos dirigentes e a consideraccedilatildeo ativa

dos parlamentos Isso mostra quatildeo importante eacute ela para o poderrdquo Nesta linha o

autor ainda acrescenta que ldquoa narrativa histoacuterica pode tambeacutem ser vista como uma

tomada de poder por grupos sem poderrdquo (LAVILLE 1999 p 129)

Na busca de modificar esse modelo surgem novos meacutetodos que valorizam o

uso do documento histoacuterico e a incorporaccedilatildeo de novas tecnologias de acordo com

Azevedo e Stamatto (2010 p 720) ldquotem o desafio de responder a inquietaccedilotildees do

hojerdquo Partindo deste pressuposto haacute possibilidade de se modificar o ensino da

Histoacuteria que ateacute entatildeo estava voltado agrave memorizaccedilatildeo para um modelo onde o

sujeito seja agente deste processo

Ensinar Histoacuteria como algo pronto e acabado [] sem levar em conta o contexto e os sujeitos envolvidos no processo de ensino aprendizagem pode levar a um ensino que natildeo desenvolve o que eacute mais importante como funccedilatildeo do ensinar histoacuteria que orientar os problemas da vida praacutetica (SCHMIDT CAINELLI 2009 p 20)

Assim Seffner (2013 p 51) acrescenta que ldquoo ensino de Histoacuteria eacute um ensino

de situaccedilotildees histoacutericas Mais do que nomes datas e acontecimentos o professor

deve propiciar ao aluno a compreensatildeo de como se estrutura uma dada situaccedilatildeordquo

Para que o ensino de Histoacuteria seja ressignificado existe a necessidade de anaacutelise

do processo histoacuterico problematizando os fatos no vai e vem do presentepassado

Os estudantes da educaccedilatildeo baacutesica necessitam compreender a histoacuteria como

um processo em constante transformaccedilatildeo que eacute movimentada por sujeitos que a

compotildeem com permanecircncias e rupturas ao longo dos tempos Segundo Bittencourt

(2004 p 168) ldquoa histoacuteria local tem sido indicada como necessaacuteria para o ensino por

possibilitar a compreensatildeo do alunordquo

Corroborando Seffner (2013) Souza (2015) e Brum (2015) evidenciam a

importacircncia de se trabalhar a histoacuteria global partindo de uma histoacuteria local

problematizando levando hipoacuteteses e analisando os fatos histoacutericos o que gera

significado para o educando e torna o docente natildeo mais um mero transmissor mas

um mediador deste conhecimento Neves (1997 p 22) reforccedila que ldquoo local fora do

contexto geral eacute apenas um fragmento e o geral sem o respaldo das realidades

locais eacute apenas uma abstraccedilatildeordquo Com esta nova abordagem o estudar Histoacuteria tem

sentido para o discente que se sente sujeito de sua proacutepria histoacuteria visto que

19

identificar-se com o local onde se vive ajuda a compreender o sentimento de

pertencimento e suas relaccedilotildees com o meio social e cultural no qual estaacute inserido

Nesta perspectiva faz-se necessaacuterio que os professores busquem novas

alternativas de ensino que proporcionem ao estudante a habilidade de ressignificar o

fato histoacuterico estudado

Ensinar Histoacuteria requer do professor a habilidade de buscar sentido e significado para o conhecimento que ministra e isso significa superar a mera transmissatildeo de informaccedilotildees jaacute que essa natildeo tem por finalidade o desenvolvimento intelectual mas ao contraacuterio deforma a capacidade de pensamento histoacuterico do aluno e a possibilidade de consolidar habilidades de anaacutelise da proacutepria realidade social (SILVA PORTO 2012 p 67)

Goubert assim define a histoacuteria local

Denominaremos histoacuteria local como aquela que diga respeito a uma ou poucas aldeias a uma cidade pequena ou meacutedia (um grande porto ou uma capital estatildeo aleacutem do acircmbito local) ou a uma aacuterea geograacutefica que natildeo seja maior do que a unidade provincial comum (como um county inglecircs um contado italiano uma Land alematilde uma bailiwick ou pays francecircs) Praticada haacute tempos atraacutes com cuidado zelo e ateacute orgulho a histoacuteria local foi mais tarde desprezada mdash principalmente nos seacuteculos XIX e primeira metade do XX mdash pelos partidaacuterios da histoacuteria geral A partir poreacutem da metade desse seacuteculo a histoacuteria local ressurgiu e adquiriu novo significado na verdade alguns chegam a afirmar que somente a histoacuteria local pode ser autecircntica e fundamentada (GOUBERT 1992 p 70)

Neste sentido fica evidente a importacircncia de se partir de uma histoacuteria local

para uma global Atraveacutes da histoacuteria local os estudantes teratildeo contato com sua

histoacuteria e poderatildeo se sentir parte integrante deste espaccedilo que muitas vezes por

falta de conhecimento acabam renegando sua proacutepria identidade Figueira e Miranda

(2012 p 113) afirmam que ldquoum dos efeitos mais danosos da globalizaccedilatildeo eacute a

universalizaccedilatildeo dos gostosrdquo isto implica diretamente na perda da identidade local

que muitas vezes estaacute sendo afetada pelas muacuteltiplas identidades existentes Neste

sentido Silva e Porto descrevem

A globalizaccedilatildeo entretanto produz diferentes resultados em termos de identidade A homogeneidade cultural promovida pelo mercado global pode levar ao distanciamento da identidade relativamente agrave comunidade e agrave cultura local (SILVA PORTO 2012 p 21)

Neste sentido Canclini acrescenta

Las comunidades de consumidores se organiza cada vez menos seguacuten diferencias nacionales y sobre todo en las generaciones joacutevenes definen sus praacutecticas culturales de acuerdo con informacioacuten y estilos homogeneizados (CANCLINI 1997 p 42)

20

Globalizaccedilatildeo que impotildee atraveacutes dos meios de comunicaccedilatildeo e social uma

identidade geral que regra a sociedade seus haacutebitos e costumes Devido ao grande

movimento das pessoas pelo mundo perceber e manter uma identidade com

caracteriacutesticas locais fica a cada dia mais difiacutecil ainda mais em se tratando da

populaccedilatildeo jovem que natildeo reconhece ao seu redor o que representa a sua

identidade local

Valorar as experiecircncias locais proporcionaraacute aos estudantes uma nova

metodologia de abordar a histoacuteria

Do ponto de vista metodoloacutegico destaca-se nessa forma de abordagem a preocupaccedilatildeo com os conhecimentos preacutevios dos alunos com a problematizaccedilatildeo dos conteuacutedos de ensino selecionados para trabalho em sala de aula estabelecendo relaccedilotildees com o cotidiano dos alunos e com o cotidiano de outras pessoas em outros tempos e em outros lugares Enfatiza-se tambeacutem a busca de articulaccedilatildeo entre histoacuteria local e a histoacuteria universal (SCHMIDT 2007 p 193)

O ensino de histoacuteria partindo do local para o global possibilita segundo

Bittencourt (2004 p 168) ldquoa compreensatildeo do entorno do alunordquo sendo que um dos

aspectos relevantes para este ensino eacute a escolha de fontes que levem os estudantes

a se reconhecerem nesse processo histoacuterico O autor ainda acresce

Eacute pela memoacuteria que se chega agrave histoacuteria local Aleacutem da memoacuteria das pessoas escrita ou recuperada pela oralidade existem os lsquolugares de memoacuteriarsquo (grifo da autora) expressos por monumentos praccedilas edifiacutecios puacuteblicos ou privados mas preservados como patrimocircnio histoacuterico (BITTENCOURT 2004 p 169)

Esta memoacuteria vai contribuir para legitimaccedilatildeo da identidade local Sabe-se que

a identidade eacute algo mutaacutevel e segundo Silva e Porto (2012 p 38) ldquoas identidades

satildeo produzidas em momentos particulares no tempordquo O pesquisador ainda

acrescenta que ldquoas identidades satildeo contingentes emergindo em momentos

histoacutericos particularesrdquo Estas identidades precisam ser reconhecidas quando se fala

de histoacuteria local

Na mesma linha Ruumlsen descreve a identidade histoacuterica

Consiste na ampliaccedilatildeo do horizonte nas experiecircncias do tempo e nas intenccedilotildees acerca do tempo no qual os sujeitos agentes se asseguram da permanecircncia de si mesmos na evoluccedilatildeo do tempo O ponto extremo dessa consolidaccedilatildeo de identidade eacute a lsquohumanidadersquo como suprassumo dos pontos comuns em sociedade com respeito a diversos sujeitos agentes no processo de determinaccedilatildeo de suas proacuteprias identidades determinam as dos outros de forma tal que estes se reconhecem nelas Esse criteacuterio de sentido lsquohumanidadersquo fornece o paracircmetro para se constatar a consolidaccedilatildeo da

21

identidade em que desembocam o progresso contiacutenuo do conhecimento mediante a pesquisa histoacuterica e a ampliaccedilatildeo contiacutenua das perspectivas mediante a reflexatildeo histoacuterica sobre referenciais (RUumlSEN 2001 p 126)

A histoacuteria local eacute constituiacuteda por diferentes identidades que satildeo geradas pelos

grupos que compotildeem este espaccedilo A este respeito Silva e Porto (2011 p 41)

apresentam que ldquoa diferenccedila eacute aquilo que separa uma identidade da outrardquo Tambeacutem

eacute notaacutevel que para que haja a representaccedilatildeo de suas identidades locais faz-se

necessaacuterio o reconhecimento destas e a percepccedilatildeo que existem diferentes fatores

que diferenciam os grupos sociais

Portanto a identidade eacute constituiacuteda pelas posiccedilotildees eou escolhas feitas

sendo que muitas vezes elas satildeo racionais ou ateacute mesmo irracionais A identidade

eacute baseada na memoacuteria que pode ser individual ou coletiva Segundo Candau (2011

p 16) ldquoos laccedilos fundamentais entre memoacuteria e identidade eacute sobre o fato de que eacute a

memoacuteria faculdade primeira que alimenta a identidaderdquo

Se a memoacuteria gera a identidade natildeo se pode pesquisar e escrever sobre

histoacuteria local sem levar em conta estes dois conceitos primordiais pois a histoacuteria

local soacute teraacute valia se escrita pelo vieacutes do todo ou seja natildeo priorize um grupo ou

classe social todos os quadros sociais devem estar representados dentro deste

processo Nessa linha Schmidt e Cainelli descrevem

O estudo da localidade ou da histoacuteria regional contribui para uma compreensatildeo muacuteltipla da Histoacuteria pelo menos em dois sentidos na possibilidade de se ver mais de um eixo histoacuterico na histoacuteria local e na possibilidade da anaacutelise de micro histoacuterias pertencentes a alguma outra histoacuteria que as englobe e ao mesmo tempo reconheccedila suas particularidades (SCHMIDT CAINELLI 2009 p 139)

Uma histoacuteria que faz sentido que esteja englobada a outra histoacuteria A

memoacuteria coletiva entra na construccedilatildeo desta histoacuteria local e eacute primordial pois esta vai

dar elementos que constroem a identidade deste local sendo que a memoacuteria do

passado influencia na representaccedilatildeo da identidade Neste sentido conforme

Figueira e Miranda (2012 p 47) eacute necessaacuterio compreender a memoacuteria ldquocomo a

capacidade de conservar e de preservar dados refere-se a um conjunto de funccedilotildees

cerebrais que nos permite reter informaccedilotildees adquiridas e impressotildees vividasrdquo

Podendo ser ela individual ou coletiva sendo que a memoacuteria individual existe a partir

de uma memoacuteria coletiva jaacute que as lembranccedilas que ajudam a reconstruir o passado

partem do interior de um grupo

22

Para as Ciecircncias Humanas o conceito de memoacuteria estaacute ligado agrave memoacuteria

social e coletiva definida por Le Goff (2003 p 422) como ldquoo estudo da memoacuteria

social eacute um dos elementos fundamentais de abordar os problemas do tempo e da

histoacuteriardquo O autor ainda acrescenta que ldquoa memoacuteria coletiva eacute natildeo somente uma

conquista eacute tambeacutem um instrumento e um objeto de poderrdquo (LE GOFF 2003 p

410) Neste sentido Halbwachs (2004 p 90) ressalta que ldquotoda memoacuteria coletiva

tem por suporte um grupo limitado no espaccedilo e no tempo e o mundo histoacuterico eacute

como um oceano onde afluem todas as histoacuterias parciaisrdquo

Quando se abordam conceitos de memoacuteria e identidade no ensino de

histoacuteria estaacute se trazendo para o estudo os sujeitos que compotildeem aquele local com

suas vivecircncias que podem ser coletivas ou natildeo A transmissatildeo de saberes entre as

geraccedilotildees forma a identidade coletiva sendo o ser humano um agente ativo no

quadro social da memoacuteria

Halbwachs assim define os quadros coletivos da memoacuteria

Os quadros coletivos da memoacuteria natildeo se resumem em datas nomes e foacutermulas que eles representam correntes de pensamento e de experiecircncia onde reencontramos nosso passado porque este foi atravessado por isso tudo (HALBWACHS 2004 p 71)

Nesta direccedilatildeo Le Goff (2003 p 4) acrescenta que ldquoa memoacuteria social eacute um

dos meios fundamentais para se abordar os problemas do tempo e da histoacuteria A

memoacuteria estaacute nos proacuteprios alicerces da histoacuteriardquo Catroga (2001) reforccedila que a

memoacuteria eacute moldada a partir das vivecircncias e na sua narrativa vai haver uma

coerecircncia que se mistura passado e presente

Quando se escreve sobre histoacuteria local eacute importante considerar que ela estaacute

pautada em documentos assim como em memoacuterias escritas visuais ou orais Neste

sentido eacute perceptiacutevel que o uso dos diferentes tipos de memoacuteria satildeo alicerces que

conduzem o trabalho do historiador para que ele possa interpretar suas fontes e

validar seu trabalho Memoacuterias estas que podem ser apresentadas com documentos

oficiais ou atraveacutes de uma cultura material ou imaterial

A escrita de histoacuterias locais vem como um novo modelo de resguardar

identidades e memoacuterias que se natildeo preservadas iratildeo desaparecer pela influecircncia

da globalizaccedilatildeo e falta de conhecimento de futuras geraccedilotildees Barros assim

descreve

23

Os novos tempos comeccedilavam a trazer um novo padratildeo historiograacutefico novas aberturas retornos e possibilidades e tambeacutem incertezas para os historiadores no que se refere agrave natureza do conhecimento que produzem e ao papel do conhecimento histoacuterico na sociedade [] Entre as novidades postula-se a possibilidade de examinar a histoacuteria de acordo com uma nova escala de observaccedilatildeo ndash atenta para o detalhe para as micro realidades para aquilo que habitualmente escapa ao olhar panoracircmico da macro histoacuteria tradicional ndash e eacute esta nova postura que se passou a chamar de micro histoacuteria (BARROS 2012 p 306)

Diante deste contexto o ensino de Histoacuteria pode buscar na histoacuteria local a

problematizaccedilatildeo necessaacuteria para que os estudantes da educaccedilatildeo baacutesica

reconheccedilam a identidade local que vem sofrendo com a uniformizaccedilatildeo da

sociedade que impotildee uma conjuntura global do local

24

3 SAtildeO FRANCISCO DE PAULA CONSTRUCcedilAtildeO DO MUNICIacutePIO

A apresentaccedilatildeo do municiacutepio Satildeo Francisco de Paula acontece atraveacutes do

uso da narrativa Esta se apresenta atraveacutes do diaacutelogo com obras jaacute produzidas por

memorialistas eou genealogistas que contribuem para a construccedilatildeo histoacuterica deste

local bem como se usa como fonte de enriquecimento documentos da Assembleia

Legislativa do Rio Grande do Sul e jornais locais

Para tanto se apresenta a revisatildeo historiograacutefica das obras escritas pelos

memorialistas eou genealogistas sendo que Lucena (1971) em sua obra ldquoSatildeo

Francisco de Paula Monografiardquo que abrange aspectos histoacutericos da formaccedilatildeo do

municiacutepio bem como pontos turiacutesticos e demograacuteficos O proacuteprio autor intitula a sua

obra como informativa a riqueza de detalhes eacute interessante poreacutem natildeo haacute nenhuma

referecircncia quanto aos dados escritos nem mesmo um referencial bibliograacutefico ao

final

No texto intitulado ldquoOs Fundadores de Satildeo Francisco de Paulardquo Alves (2007)

escreve sobre a fundaccedilatildeo de Satildeo Francisco de Paula Em seu livro haacute documentos

que validam o que se refere agrave genealogia jaacute que boa parte da obra apresenta os

troncos familiares que compunham o iniacutecio deste municiacutepio Na mesma linha da

genealogia Oliveira (1996) no livro ldquoAurorescer das Sesmarias Serranas histoacuteria e

genealogiardquo traz a histoacuteria das primeiras sesmarias da regiatildeo mas o foco principal

se daacute aos proprietaacuterios e seus descendentes Haacute um mapa bastante interessante

localizando as sesmarias e o nome por elas recebidos

Em ldquoSatildeo Francisco de Paula nossa terra nossa genterdquo Teixeira (2002)

apresenta dados gerais e histoacutericos do municiacutepio Esta obra apresenta dados

geograacuteficos como clima relevo e vegetaccedilatildeo A autora escreve sobre diversos

aspectos eventos personalidades e lendas Aleacutem disso apresenta Satildeo Francisco

de Paula com uma linha cronoloacutegica A obra abrange vaacuterios aspectos mas todos

suscintamente No final a autora apresenta a bibliografia consultada dentre os

autores estaacute Lucena (1971)

O texto ldquoSatildeo Francisco de Paula Rio Grande do Sul histoacuteria encantos e

misteacuteriosrdquo eacute uma obra de Fonseca (2012) que traz diversidade de assunto muitas

vezes estes estatildeo desconexos ou seja sua leitura se torna ldquotruncadardquo No final do

texto haacute um vasto referencial bibliograacutefico dentre os autores citam-se Lucena

(1971) e Teixeira (2002)

25

Ribeiro (2003) eacute compositor e poeta Em ldquoFestival do Ronco do Bugiordquo

escreve sobre Satildeo Francisco de Paula apresentando a histoacuteria dos quinze anos do

festival no municiacutepio No iniacutecio contextualiza a origem do festival e do ritmo bugio

Depois apresenta a capa do disco de cada festival especificando as muacutesicas e os

compositores vencedores

Todas essas obras satildeo importantes para Satildeo Francisco de Paula cada uma

traz consigo um pouco da histoacuteria deste municiacutepio poreacutem sente-se falta da

identidade e da memoacuteria na construccedilatildeo histoacuterica As obras satildeo apresentadas o

mesmo prisma apresentando os iacutendios Caaguaraacutes e o Capitatildeo Pedro da Silva

Chaves os fundadores desta terra dando bastante ecircnfase aos sobrenomes que ali

se desenvolveram

31 CONVERSA COM MEMORIALISTAS

As terras onde hoje fica Satildeo Francisco de Paula eram habitadas por iacutendios da

tribo Caaguaraacutes que faziam parte dos Coroados Estes viviam livremente nos

campos de cima da serra e seus domiacutenios estendiam-se entre a Serra Geral e a

Serra do Mar Os iacutendios Caaguaraacutes tinham como haacutebitos alimentares a caccedila a

pesca e a coleta de sementes e frutos dentre os frutos o pinhatildeo e a goiaba-do-

mato segundo Teixeira (2002) e Alves (2007) Estes iacutendios tiveram seu habitat

invadido por incursotildees de desbravadores que comeccedilaram a trafegar pela regiatildeo em

busca de mulas e novas terras visto que as terras onde hoje se encontra Satildeo

Francisco de Paula de Cima da Serra foram rota de tropeiros5 pois estes trafegavam

pelos Campos de Cima da Serra indo na direccedilatildeo de Lages-SC ateacute alcanccedilarem

Sorocaba-SP6 Ao passarem por esta regiatildeo foram se formando pequenos vilarejos

e construindo um jeito peculiar de viver

Neste cenaacuterio aparece o municiacutepio de Satildeo Francisco de Paula de Cima da

Serra que recebe este nome para se diferenciar de Satildeo Francisco de Paula

denominaccedilatildeo recebida ateacute meados de 1830 pelo municiacutepio de Pelotas Poreacutem na

metade do seacuteculo XVIII Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra possuiacutea

5 Tropeiros homens que conduziam suas tropascomitivas de muares ou cavalos entre as regiotildees 6 Sugere-se a leitura FLORES Moacyr Troperismo no Brasil Porto Alegre Nova Dimensatildeo 1998

SAVARIS Manoelito Tropas e tropeiros o Rio Grande toma forma Disponiacutevel em ltwwwrogeriobastoscombr201104trpas-e-tropeiros-o-rio-grande-tomahtmlgt Acesso em 12 mar 2016

26

proprietaacuterios de terras sendo que um dos pioneiros foi Pedro da Silva Chaves um

portuguecircs casado com Gertrudes de Godoy uma paulista Pedro da Silva Chaves

declara em 1742 ser possuidor de terras neste municiacutepio Segundo Oliveira (1996)

em seu testamento Pedro da Silva Chaves rege que possui trecircs fazendas na regiatildeo

uma chamada Satildeo Joatildeo que se localiza desde o Arroio Santa Cruz ateacute o Rio

Tainhas concedida em 1752 por sesmaria a Fazenda da Cria que foi comprada de

Francisco Pinto Bandeira e confirmada como sesmaria em 1754 e a Fazenda

denominada Cerrito comprada do Capitatildeo Antocircnio Gonccedilalves dos Reis Nestas

fazendas havia criaccedilatildeo de cavalos gado vacum mulas e burros As fazendas

tambeacutem apresentavam em torno de 77 escravos sendo que alguns satildeo casados o

que se faz pensar que estes constituiacuteam famiacutelia aumentando assim o nuacutemero de

escravos da regiatildeo No mapa da Figura 1 verifica-se a localizaccedilatildeo das fazendas do

capitatildeo Pedro da Silva Chaves bem como sua extensatildeo territorial

Figura 1 ndash Mapa de Identificaccedilatildeo das Sesmarias Serranas

Fonte Oliveira (1996 p 236)

27

No mapa apresentado na Figura 1 ainda eacute possiacutevel observar a localizaccedilatildeo

onde inicia o povoado de Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra segundo

Lucena (1971 p 1) ldquoiniciou-se com o Capitatildeo Pedro da Silva Chaves que doou

uma gleba de terra para que fosse iniciado o povoadordquo Tambeacutem segundo Lucena

(1971 p 1) ldquodoou cinquenta vacas para construir o primeiro patrimocircnio da Igreja

cuja construccedilatildeo foi iniciada por sua conta e lhe deu o nome de Satildeo Francisco por

este ser devoto do Santordquo O que demonstra que Pedro da Silva Chaves era

Catoacutelico

Neste periacuteodo compreendido como seacuteculo XIX segundo Teixeira (2002) e

Alves (2007) o atual municiacutepio de Satildeo Francisco de Paula pertencia ao municiacutepio de

Santo Antocircnio da Patrulha municiacutepio este que formava juntamente com Porto

Alegre Rio Pardo e Rio Grande a proviacutencia de Satildeo Pedro do Rio Grande do Sul

atual Rio Grande do Sul Eacute possiacutevel observar a grande extensatildeo territorial de cada

municiacutepio no mapa apresentado na Figura 2 segundo Silva (2000) Santo Antocircnio

da Patrulha anexava as freguesias de N Sra Conceiccedilatildeo do Arroio e N Sra da

Oliveira da Vacaria a capela de Satildeo Domingos das Torres e os povoados de Santa

Cristina do Pinhal e Cima da Serra

Analisando o mapa da Figura 2 eacute possiacutevel perceber que o municiacutepio de Santo

Antocircnio da Patrulha tinha um vasto e extenso territoacuterio que atualmente compreende

os municiacutepios de Vacaria Antocircnio Prado Nova Roma do Sul Lagoa Vermelha

Veranoacutepolis Nova Prata Nova Araccedilaacute Nova Bassano Paraiacute Guabiju Satildeo Jorge

Vista Alegre do Prata Protaacutesio Alves Cotiporatilde Fagundes Varela Vila Flores

Caseiros Birajaras Andre da Rocha Capatildeo Bonito do Sul Muitos Capotildees Bom

Jesus Satildeo Joseacute dos Ausentes Esmeralda Ipecirc Campestre da Serra Monte Alegre

dos Campos Taquara Satildeo Francisco de Paula Cambaraacute do Sul e Jaquirana

28

Figura 2 ndash Divisatildeo Municipal em 1809 ndash Proviacutencia Satildeo Pedro do Rio Grande do Sul

Fonte Evoluccedilatildeo Administrativa (2013)7

32 AMPLIANDO O DIAacuteLOGO COM OS MEMORIALISTAS

Segundo documentos da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul8

disponiacuteveis no Arquivo Histoacuterico de Satildeo Francisco de Paula9 em 1852 atraveacutes da

Lei nordm 266 de 30 de novembro de 1852 eleva-se agrave categoria de freguesia a entatildeo

capela Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra pelo entatildeo vice-governador da

proviacutencia de Satildeo Pedro do Rio Grande do Sul o senhor Luiz Alves Leite de Oliveira

Bello Estes documentos ainda retratam que no ano de 1886 houve distribuiccedilatildeo de

lotes devolutos para pessoas pobres que comprovassem residecircncia haacute pelo menos

trecircs anos e se comprometessem a ldquofundar moradiardquo em um prazo de um ano sendo

assim passados trecircs anos seriam donos definitivos destes lotes dando o iniacutecio ao

povoamento da vila No mesmo periacuteodo acontece a criaccedilatildeo do cemiteacuterio municipal

7 Disponiacutevel em ltwwwatlassocioeconomicorsgovbrevolucao-administrativa-1809-a-2013gt Acesso

em 18 mar 2017 8 O diaacutelogo com memorialista se amplia a partir de agora com contribuiccedilotildees de documentos

pesquisados que corroboram para a compreensatildeo do tema 9 BARBOSA Eni GONCcedilALVES Jorge Joseacute Xavier (Orgs) Documentos histoacutericos da Assembleia

Legislativa do Rio Grande do Sul Arquivo Histoacuterico de Satildeo Francisco de Paula 1992

29

que ocorre em 1891 segundo documentos da Assembleia Legislativa disponiacuteveis

no Arquivo Histoacuterico de Satildeo Francisco de Paula Estes documentos informam que

primeiramente somente moradores que comprovassem residecircncia haacute mais de trecircs

anos e pudessem manter os jazigos de seus entes poderiam fazer uso deste

espaccedilo Atraveacutes desta documentaccedilatildeo se percebe que havia toda uma organizaccedilatildeo

para que ldquoestrangeirosrdquo natildeo se estabelecessem em Satildeo Francisco de Paula de Cima

da Serra

Em 1889 Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra passa a categoria de vila

e deixa de pertencer a Santo Antocircnio da Patrulha passando a ser distrito do

municiacutepio de Taquara do Mundo Novo (hoje Taquara) o que traz mudanccedilas

significativas para a vila

Mesmo havendo distribuiccedilatildeo de lotes apoacutes quinze anos percebe-se na

Figura 3 que o povoado ainda era pequeno cercado de campos que constituiacuteam

fazendas com criaccedilatildeo de gado vacum tendo como principal economia a pecuaacuteria

extensiva Ao alto pode-se visualizar a Igreja Matriz construiacuteda pelo capitatildeo Pedro

da Silva Chaves

Figura 3 ndash Vista da vila de Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra (1901)

Fonte Portal Satildeo Chico (2018)10

10 PORTAL SAtildeO CHICO Fotos antigas de Satildeo Francisco de Paula 2018 Disponiacutevel em

ltwwwsaochicocombrantigasgt Acesso em 12 abr 2019

30

Ainda eacute possiacutevel observar atraveacutes da Figura 3 que neste periacuteodo natildeo havia

nenhuma preocupaccedilatildeo com a organizaccedilatildeo urbana ou seja ruas quadras as

construccedilotildees se apresentam de maneira desordenada Poreacutem passados vinte e dois

anos na Figura 4 jaacute eacute possiacutevel visualizar uma estrutura urbanizada com possiacutevel

organizaccedilatildeo de ruas e quadras mas a vila ainda eacute rodeada de campos

Figura 4 ndash Vista Avenida Juacutelio de Castilhos (1923)

Fonte Lucena (1971 p 67)

O desenvolvimento da Sede de Satildeo Francisco de Paula acontece segundo

Lucena (1971 p 27) ldquonos primeiros anos de vida isto eacute de 1910 a 1924 mais ou

menos devido agrave extraccedilatildeo da erva-mate que era abundante em nossos matos nas

zonas da serrardquo O autor ainda acrescenta

O pioneiro na extraccedilatildeo da erva-mate em nossa Comuna foi o proprietaacuterio Carlos Miguel Kroeff dono da fazenda Potreirinho praticamente arrabalde de nossa cidade No barba-quaacute11 se iniciava todo processo de industrializaccedilatildeo da erva-mate sendo que Satildeo Francisco de Paula chegou a ter quinhentos barbaacute-quas (LUCENA 1971 p 28)

11 Barba-quaacute um valo de cerca de oito metros de comprimento amis ou menos por um metro de

profundidade e oitenta centiacutemetros de largura coberto de xaxim e terra em uma das extremidades colocava-se um gradeado e acima deste em uma parte tambeacutem coberta e mais alta tinha apenas uma saiacuteda sob o gradeado colocava-se as folhas de erva extraiacuteda da aacutervore no iniacutecio do valo fazia-se um fogo e a fumaccedila que pela pouca ventilaccedilatildeo existente formava bastante fumaccedila e esta atingia as folhas secando-as (LUCENA 1971 p 28)

31

A produccedilatildeo de erva-mate contribuiu para o povoamento da vila visto que

muitas pessoas vieram trabalhar e acabaram se instalando no municiacutepio Apoacutes a

extraccedilatildeo da erva-mate surge a extraccedilatildeo de madeira que tambeacutem contribui para o

desenvolvimento

Nesta documentaccedilatildeo ainda se encontra no artigo nordm 251 de 08 de abril de

1891 a liberaccedilatildeo da verba para abrir a estrada de rodagem que liga as vilas de

Taquara do Mundo Novo e Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra em 1889

Atraveacutes da Figura 5 pode-se perceber o quatildeo difiacutecil era abrir uma nova estrada de

rodagem Tudo era manual com o uso de animais e muares para transportar pedras

e terras poreacutem a abertura desta estrada traz mudanccedilas significativas para a

populaccedilatildeo de Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra

Figura 5 ndash Abertura da estrada ERS-020 Taquara ndash Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra

Fonte Jornal Folha da Serra (1968 n 89 p 8)12

12 Folha da Serra jornal criado em 1932 pelo Dr Siacutelvio Rabelo sendo o uacutenico jornal que existia na

regiatildeo serrana Este trazia notiacutecias sociais poliacuteticas etc com uma tiragem em torno de 500 exemplares por semana Encontram-se no Arquivo Histoacuterico de Satildeo Francisco de Paula alguns exemplares ateacute a deacutecada de 70 seacuteculo XX

32

A estrada visava facilitar o acesso da populaccedilatildeo de Satildeo Francisco de Paula

de Cima da Serra que ia ateacute Taquara para buscar gecircneros de primeira necessidade

Em tempos idos os serranos se abasteciam de gecircneros de primeira necessidade quase que totalmente em Taquara e o transporte era feito em cargueiros que compunham uma tropa com cerca de quinze a vinte cargueiros Os animais usados para esse transporte eram geralmente muares mais resistentes para o transporte de carga Os serranos levavam daqui queijo (o queijo ateacute hoje chamado queijo serrano) charque couros e alguns levavam maccedilatilde ou pinhatildeo em suas eacutepocas de colheita trocados por mantimentos de que necessitavam Natildeo existiam ainda estradas e o trajeto era feito por picadas existentes (LUCENA 1971 p 23)

O mesmo autor ainda acrescenta

Para atingir a capital do Estado a viagem era cheia de peripeacutecias O transporte era feito a cavalo ou em diligecircncias ateacute Taquara As diligecircncias carros de quatro de rodas puxados por quatro animais ndash cavalos ndash eram de propriedade de Bertolo Casara mais conhecido por lsquoJoatildeo Gringorsquo Essa viagem se fazia normalmente em um dia e agraves vezes em dia e meio O ponto de parada era ali no Rodeio Bonito onde existia uma casa agrave esquerda bem defronte a estrada que desce para Trecircs Coroas [] De Taquara a Porto Alegre por via ferroviaacuteria ndash de trem (LUCENA 1971 p 16)

A construccedilatildeo desta estrada traz um novo desenvolvimento para a entatildeo vila

de Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra pois apoacutes a abertura da estrada de

rodagem Taquara ndash Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra modifica o transporte

de mercadorias entre as localidades

O transporte de mercadorias era feito em carretotildees de quatro rodas puxados uns por cinco animais outros por sete as maiores que geralmente eram muares Eram atrelados em duas fileiras Na fileira junto agrave carreta que era de duas ou trecircs mulas na da esquerda montava o carreteiro Este toda vez que se verificava um declive na estrada apeava de sua montaria a fim de brecar a carreta sem que esta entretanto parasse (LUCENA 1971 p 24)

Este modelo de comeacutercio vai desaparecer com o surgimento das primeiras

casas de comeacutercios na vila de Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra De acordo

com Lucena (1971 p 38) ldquoos primeiros comerciantes foram Manoel Vicente

Ferreira Abel Pacheco Luis Carlos de Andrade e Jacob Bossle Sobrinhordquo Na

imagem da Figura 6 temos o Accedilougue Central onde nota-se que os animais

convivem soltos na rua juntamente com as pessoas mesmo se tratando de local

urbano

33

Figura 6 ndash Accedilougue Central

Fonte Portal Satildeo Chico (2018)13

Nesta mesma documentaccedilatildeo haacute decretos que definem a construccedilatildeo de uma

nova Igreja Matriz isto eacute uma Igreja de Pedra substituindo a antiga que era de

madeira ainda construiacuteda pelo capitatildeo Pedro da Silva Chaves esta construccedilatildeo data

do ano de 1922 Segundo Teixeira (2002 p 30) a Igreja de Pedra permanece ateacute

1960 quando daacute lugar ao atual preacutedio da Igreja Matriz que foi inaugurada em 14 de

junho de 1964 Na sequecircncia teremos duas imagens demonstrando a Igreja de

Pedra e a atual edificaccedilatildeo da Igreja Matriz Natildeo foi encontrada nenhuma foto da

Igreja de Madeira nos arquivos do Arquivo Histoacuterico do Municiacutepio somente em um

site de fotos antigas onde encontra-se registro apresentado na Figura 7

13 PORTAL SAtildeO CHICO Fotos antigas de Satildeo Francisco de Paula 2018 Disponiacutevel em

ltwwwsaochicocombrantigasgt Acesso em 12 abr 2019

34

Figura 7 ndash Igreja Matriz em 1931

Fonte Portal Satildeo Chico (2018)14

Figura 8 ndash Igreja Matriz

Fonte acervo da autora (2015)

14 PORTAL SAtildeO CHICO Fotos antigas de Satildeo Francisco de Paula 2018 Disponiacutevel em

ltwwwsaochicocombrantigasgt Acesso em 12 abr 2019

35

Entre os anos de 1892 a 1902 por duas vezes Satildeo Francisco de Paula de

Cima da Serra eacute desanexado e reanexado ao entatildeo municiacutepio de Taquara do Mundo

Novo Somente em 23 de dezembro de 1902 foi reestabelecido definitivamente o

municiacutepio de Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra cuja instalaccedilatildeo se verificou

em 07 de janeiro de 1903 A partir de 01 de janeiro de 1938 perde ldquoCima da Serrardquo

de sua nomenclatura permanecendo somente Satildeo Francisco de Paula Apesar

disso se manteacutem o gentiliacutecio ldquoSerranordquo de acordo com Silva (2000 p 23) e dados

do Arquivo Histoacuterico de Satildeo Francisco de Paula sendo que este gentiliacutecio eacute usado

ateacute os dias de hoje

No iniacutecio o municiacutepio de Satildeo Francisco de Paula foi um dos maiores do Rio

Grande do Sul em territoacuterio mas ao longo do tempo foi diminuindo seu territoacuterio

com a anexaccedilatildeo de parte dele ao entatildeo municiacutepio de Caxias do Sul e de Torres e a

criaccedilatildeo dos municiacutepios de Cambaraacute do Sul em 1963 e Jaquirana em 1988

Foi uma das maiores Comunas do Estado pois de seu territoacuterio faziam parte os atuais municiacutepios de Satildeo Marcos Cambaraacute do Sul e Jaquirana e os distritos de Vila Oliva Criuacuteva Fazenda Souza e Vila Seca hoje integrantes de Caxias do Sul De nosso territoacuterio foi tambeacutem desanexada uma gleba de terra ndash Josafaacute ndash e anexada ao municiacutepio de Torres (LUCENA 1971 p 10)

Mesmo perdendo parte de seu territoacuterio ao longo dos anos atualmente

segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (2016) ldquoSatildeo Chicordquo como

costumeiramente eacute chamado pelo seu povo estaacute situado na Encosta Inferior do

Nordeste do Estado do Rio Grande do Sul na zona denominada de Campos de

Cima da Serra Fica distante 112 quilocircmetros da capital do Estado Porto Alegre Os

municiacutepios limiacutetrofes satildeo Monte Alegre dos Campos Bom Jesus Jaquirana

Cambaraacute do Sul Praia Grande-SC Trecircs Forquilhas Itati Maquineacute Riozinho

Rolante Taquara Trecircs Coroas Canela e Caxias do Sul Possui uma aacuterea territorial

de 3264490 quilocircmetros quadrados com uma estimativa populacional de 21617

habitantes distribuiacutedos na zona urbana e rural O municiacutepio se divide em sete

distritos Sede Cazuza Ferreira Tainhas Juaacute Eletra e Lajeado Grande Atraveacutes do

conjunto de mapas apresentado na Figura 9 eacute possiacutevel visualizar a localizaccedilatildeo de

Satildeo Francisco de Paula dentro do Rio Grande do Sul e por conseguinte no Brasil

Tambeacutem se verifica a localizaccedilatildeo dos distritos de Satildeo Francisco de Paula

36

Figura 9 ndash Mapa de localizaccedilatildeo de Satildeo Francisco de Paula

Subdivisatildeo de Satildeo Francisco de Paula em distritos

Fonte montagem da autora (2019)

Desta forma se constitui o espaccedilo fiacutesico do municiacutepio de Satildeo Francisco de

Paula cuja populaccedilatildeo natildeo forma uma colocircnia pois seu povo adveacutem de diferentes

lugares a grande maioria com descendecircncia lusa sendo que os primeiros

colonizadores foram bandeirantes paulistas

A populaccedilatildeo de Satildeo Francisco de Paula eacute composta de brancos africanos e indiacutegenas Os brancos compreendendo portugueses (principalmente

37

accedilorianos) alematildees e italianos os africanos pertenciam ao grupo dos bantos e foram trazidos pelos portugueses (TEIXEIRA 2002 p 147)

A diversidade de pessoas que se estabeleceram em Satildeo Francisco de Paula

pode ser percebida pelos sobrenomes das famiacutelias precursoras do municiacutepio

Para Satildeo Francisco de Paula afluiacuteram famiacutelias de diversas nacionalidades que atraveacutes de seus descendentes ainda hoje aqui satildeo representadas como Famiacutelias Ferreira Soares Pinto Castilhos Asmuz Santos Martins Lopes Comin Feijoacute Silva Canani Peixoto Andrade Teixeira Valin Lucena Alves Cardoso Gomes Borges Marques Tedesco Medeiros Paglioacuteli Costa Fogaccedila Casara em outras (LUCENA 1971 p 11-12)

Os moradores deste municiacutepio introduziram um jeito singular de viver tendo

em seu cotidiano as tradiccedilotildees gauacutechas15 muito presentes Teixeira (2002 p 83)

assim descreve que ldquoas raiacutezes gauacutechas estatildeo fortemente marcadas na comunidade

seja pelo modo de vestir bombacha botas cinturotildees chapeacuteus e no inverno com o

pala ou pela preferecircncia por comidas campeiras churrasco carreteiro feijatildeo

mexidordquo A autora acrescenta que ldquoas casas com lareira e o tradicional fogatildeo agrave

lenha para aquececirc-las durante o inverno rigoroso satildeo um convite para uma

conversa ao peacute do fogo e o saboreio de um gostoso chimarratildeordquo (TEIXEIRA 2002 p

83)

O enraizamento deste modo de vida adveacutem do homem do campo o

pecuarista que no passado necessitava enviar seus filhos a cidade para estudar

contribuindo para este modelo de vida

Antigamente a pecuaacuteria era a atividade econocircmica muito forte em nosso municiacutepio Assim sendo havia muitos fazendeiros E como as fazendas ficavam muito longe da Sede do municiacutepio as senhoras tinham seus filhos em casa com parteiras Tambeacutem os estudos iniciavam nas fazendas porque as escolas ficavam longe Assim muitas vezes os fazendeiros contratavam professoras para se hospedarem nas suas casas e darem aulas aos seus filhos Em muitos casos ateacute mesmo os proacuteprios pais e avoacutes ensinavam alguma coisa Alguns fazendeiros quando seus filhos ficavam maiores os mandavam continuarem seus estudos na vila (assim lsquoSatildeo Chicorsquo era chamada) (TEIXEIRA 2002 p 77)

Com a vinda dos filhos para a vila trouxeram consigo o jeito do homem do

campo sendo que um dos maiores clubes em funcionamento de Satildeo Francisco de

Paula eacute o atual Centro de Tradiccedilotildees Gauacutechas Rodeio Serrano fundado em maio de

15 Tradiccedilotildees gauacutechas segundo Fagundes (1997 p 38) eacute um movimento ciacutevico-cultural [] eacute a

tradiccedilatildeo em marcha resgatando valores que satildeo vaacutelidos natildeo por serem antigos mas por serem eternos exatamente os valores que trouxeram o Rio Grande e o gauacutecho do passado para o presente projetando-se para o futuro

38

1955 Segundo o Jornal Folha da Serra (1968 n 11 p 12) a entidade

tradicionalista receacutem-formada recebe o nome de CTG Coronel Alziro Torres Filho

Fonseca (2012 p 223) menciona que a iniciativa partiu de ldquoDavenir Peixoto Gomes

um homem ruralista e serranordquo Esta entidade tradicionalista teve como primeiro

Patratildeo Oscar Teixeira O CTG Alziro Torres Filho segundo o jornal Folha da Serra

(1957) muda sua nomenclatura em uma reuniatildeo onde o posteiro da invernada

artiacutestica Alaor Valim propotildee a troca do nome para Rodeio Serrano nome que

permanece ateacute a atualidade

A entidade tradicionalista traz como lema ldquoRepontando a Tradiccedilatildeo com o Rio

Grande na Garupardquo Fonseca (2012 p 224) relata que o lema foi ldquocriado pelo

primeiro instrutor de danccedilas Dr Alaor de Almeida Valimrdquo O mesmo autor acrescenta

que ldquoa primeira prenda foi a professora Maria Asmuz Valimrdquo Poreacutem sua sede

somente foi construiacuteda em 1968 sob a patronagem de Dante Santos O Jornal Folha

da Serra (1968 n 11 p 12) indica que ldquoa construccedilatildeo da sede era uma aspiraccedilatildeo de

longos anos que somente agora se concretizardquo Anteriormente ldquoos bailes eram

realizados em sua maioria no Salatildeo Paroquial sendo que alguns foram feitos no

primeiro andar da Associaccedilatildeo Rural e ateacute mesmo na Sociedade Cruzeirordquo

(FONSECA 2012 p 225) Este fato justifica a vontade de Dante Santos de construir

uma sede proacutepria

Apoacutes a construccedilatildeo de sua nova sede o CTG Rodeio Serrano localiza-se na

Rua Benjamim Constant nordm 582 constituindo um espaccedilo importante para a

comunidade de Satildeo Francisco de Paula Dentre as atividades desenvolvidas pelo

CTG estaacute o Rodeio Interestadual que ocorre todos os anos no primeiro final de

semana de dezembro sendo que se encontra na 33ordf ediccedilatildeo A manutenccedilatildeo das

invernadas artiacutesticas em todas as categorias mascote mirim juvenil e adulta A

organizaccedilatildeo da Ronda Crioula na Semana Farroupilha bem como a Cavalgada de

Prendas que ocorre durante a Semana Farroupilha todos os anos Realiza-se o

baile da Prenda Jovem aleacutem de shows e bailes tipicamente gauchescos Aleacutem

disso nos uacuteltimos anos a organizaccedilatildeo do Festival Ronco do Bugio que ocorre em

Satildeo Francisco de Paula ldquofestival este lanccedilado em 16 de abril 1986rdquo segundo o

Jornal Satildeo Chico Tchecirc (1986 n 4 p 5)16

16 Satildeo Chico Tchecirc jornal de circulaccedilatildeo quinzenal fundado em 08 de janeiro de 1986 e que circulou

ateacute 1989 O jornal trazia informaccedilotildees culturais sociais econocircmicas e poliacuteticas da Sede e do

39

Durante os seus sessenta e dois anos de existecircncia muitos patrotildees

passaram por esta entidade tradicionalista mas em 2017 pela primeira vez na

histoacuteria o CTG Rodeio Serrano teve uma patronagem feminina Aleacutem da Patroa

Neuza Reis foram empossadas a Capataz Elenita Amaral a Sota-capataz Fernanda

Kirsch Damasceno o Agregado das Pilchas Antocircnio Garcia de Souza e no

Conselho de Vaqueanos Neiva Santos Valim

Figura 10 ndash Patroa Neuza Reis e sua Comissatildeo

Fonte Jornal Pioneiro (2017)17

Satildeo Francisco de Paula hoje conta com vinte e oito entidades

tradicionalistas18 espalhadas pelos seus distritos demonstrando que homem do

campo se faz muito presente em todo o municiacutepio sendo assim a cultura

interior Os exemplares encontram-se encadernados no arquivo histoacuterico de Satildeo Francisco de Paula

17 Jornal Pioneiro conhecido como o jornal que estaacute ldquoao teu ladordquo o Pioneiro circula desde 1948 e estaacute presente hoje em 64 municiacutepios da regiatildeo de Caxias do Sul Desde 1993 integra a rede de jornais do Grupo RBS sendo filiado ao Instituto Verificador de Circulaccedilatildeo (IVC) Conta com uma equipe de Redaccedilatildeo com mais de 40 jornalistas aleacutem de colunistas internos e externos Em 2008 o jornal ganhou o site pioneirocom Disponiacutevel em lthttpwwwgruporbscombratuacaopioneirogt acesso em 10 de fevereiro de 2019

18 Informaccedilatildeo cedida pelo Coordenador da 27ordf Regiatildeo Tradicionalista Gauacutecha

40

tradicionalista se apresenta de maneira forte e consistente segundo vaacuterios

depoimentos de moradores de todos os distritos de Satildeo Francisco de Paula

41

4 SAtildeO FRANCISCO DE PAULA DISTRITOS EM FOCO

Quanto aos distritos de Satildeo Francisco de Paula surgem diversas

inquietaccedilotildees com relaccedilatildeo agrave identidade destes locais pois estes mesmo fazendo

parte de um mesmo municiacutepio apresentam singularidades que derivam de sua

colonizaccedilatildeo basicamente lusa portuguesa e da recepccedilatildeo de imigrantes de diversas

etnias como italianos e alematildees ao longo destes cento quinze anos de

emancipaccedilatildeo Percebe-se que alguns distritos manteacutem sua identidade e tradiccedilotildees

resguardadas enquanto em outros jaacute ocorreu agrave miscigenaccedilatildeo de diferentes haacutebitos

e culturas o que dificulta identificar traccedilos que identifiquem estes distritos

Neste capiacutetulo busca-se responder a estas inquietaccedilotildees fazendo uso dos

depoimentos de moradores locais Segundo Delgado (2003 p 21) ldquoessas

narrativas tal qual os lugares da memoacuteria satildeo instrumentos importantes de

preservaccedilatildeo e transmissatildeo das heranccedilas identitaacuterias e das tradiccedilotildeesrdquo Neste sentido

se optou por dois moradores por distrito totalizando treze entrevistados um homem

e uma mulher da terceira idade que sempre morou no distrito o que enriquece os

detalhes repassados pelos entrevistados

Toda entrevista tem por base a memoacuteria individual que se referencia na coletiva profundamente relacionada agraves vivecircncias individuais A utilizaccedilatildeo do depoimento de pessoas idosas como fonte para a histoacuteria oral eacute uma forma de justificar a entrevista como histoacuterica referindo-se ao passado jaacute que aos idosos se pretende atribuir a guarda de memoacuterias do passado pelo proacuteprio tempo de vida do depoente Isto retoma e ajuda a fortalecer a ideia de que a histoacuteria mesmo tratando do tempo presente ainda se reporta a um periacuteodo anterior ao da vida do pesquisador (ALMEIDA 2012 p 10)

A entrevista somente ocorreu quando o entrevistado concordou em assinar o

termo de consentimento As entrevistas ocorreram nas residecircncias dos

entrevistados foram preacute-agendadas sendo que o meacutetodo utilizado foi entrevista

guiada atraveacutes de questionaacuterio previamente organizado pela autora as entrevistas

foram filmadas e gravadas onde somente uma entrevistada natildeo autorizou a

filmagem de seus relatos justificando a idade avanccedilada e por morar sozinha

A escolha pela histoacuteria oral hibrida ocorreu no sentido de que a fonte oral eacute o

principal recurso utilizado para colher informaccedilotildees sobre os distritos visto que em

sua grande maioria natildeo haacute publicaccedilotildees Poreacutem em determinados momentos se

utilizam fontes documentais como complemento do que vem sendo apresentado

Com relaccedilatildeo agrave abordagem adotada nas entrevistas se optou pela temaacutetica visto

42

que se leva um roteiro preacute-organizado com temas que deveratildeo ser explorados

durante as entrevistas o que proporciona uma riqueza de informaccedilotildees para a

autora

41 DISTRITO SEDE

O distrito Sede se constitui no local onde se inicia o povoado do municiacutepio na

antiga Fazenda da Cria terras doadas pelo capitatildeo Pedro da Silva Chaves Neste

distrito concentram-se os serviccedilos puacuteblicos e privados que os moradores

necessitam em seu dia-a-dia visto que ali existem bancos casas loteacutericas

farmaacutecias hospital supermercados lojas papelarias livraria inspetoria veterinaacuteria

secretaacuterias municipais escolas puacuteblicas e privadas creches induacutestrias de madeiras

e calccedilados

Poreacutem o distrito Sede ou cidade de Satildeo Chico como popularmente

conhecida pelo seu povo jaacute foi uma cidade de interior ou seja uma cidade pequena

com moradores que vinham das fazendas em busca de estudo Visto que a

implementaccedilatildeo de uma rede regular de ensino ocorre tardiamente devido agrave

dificuldade de se locomover pelas distantes localidades entatildeo normalmente os

fazendeiros contratavam professores para que seus filhos obtivessem estudo sendo

que estes moravam na proacutepria residecircncia da famiacutelia Em entrevista com essa autora

relata Albuquerque19 que ldquopara aprimorar os estudos aqueles que tinham mais

condiccedilotildees iam para Porto Alegre Santa Maria ou Passo Fundo mas para isto

ficavam laacute em internatos e soacute retornavam nas feacuterias devido agrave dificuldade e o custo

da viagemrdquo

Na deacutecada de 40 foi criada a Escola Catoacutelica de Satildeo Francisco de Paula

cujo funcionamento acontece ateacute 1973 quando foram encerradas suas atividades

Esta escola iniciou com o curso primaacuterio e posteriormente instalou o curso ginasial

Normalmente estes moradores permaneciam de segunda-feira a sexta-feira na

cidade e nos finais de semana retornavam para as fazendas como recorda uma

moradora local

Noacutes eacuteramos uma cidade de fazendeiros a gente tinha uma casa no campo e uma na cidade a gente vivia de laacute pra caacute de caacute pra laacute fim de semana ia

19 ALBUQUERQUE Moacir Castello Branco de Entrevista concedida agrave autora no dia 06 de abril de

2018

43

pra fora20 dia de semana vinha pra caacute normalmente uma irmatilde mais velha voacute ficava com a gente aqui na cidade e a famiacutelia mesmo ficava no campo21

Percebe-se que hoje ainda existem na Sede moradores que manteacutem suas

casas na cidade e durante o dia ou nos finais de semana vatildeo ateacute suas fazendas

para fazer as lides com o gado o que caracteriza uma pequena parte da populaccedilatildeo

que foram os filhos dos antigos fazendeiros que mais tarde acabam se instalando

definitivamente na cidade trazendo com sigo a essecircncia do homem do campo e

afirmando uma identidade genuinamente gauacutecha definiccedilatildeo esta concedida por uma

moradora local

Gauacutecho natildeo eacute o morador do Rio Grande do Sul o morador do Rio Grande do Sul eacute o sul-rio-grandense ou rio-grandense do sul o gauacutecho eacute apenas o homem que vem da pecuaacuteria extensiva essa que existe laacute no pampa e aqui nos campos de cima da serra o gauacutecho serrano com caracteriacutesticas muito proacuteprias grandes gaiteiros poetas aliaacutes o maior gaiteiro do mundo eacute daqui natildeo abro matildeo de dizer isto soacute que todos noacutes viacutenhamos da lida do campo em decorrecircncia disso eacuteramos gauacutechos de verdade22

Em sua fala apresenta o gauacutecho serrano como um tipo singular que ama a

pilcha gauacutecha o seu pingo e suas criaccedilotildees bem como reafirma a importacircncia dos

Irmatildeos Bertussi Honeide e Adelar sendo Adelar Bertussi um dos maiores gaiteiros

deste municiacutepio Exaltam-se tambeacutem os poetas que com suas poesias e letras de

muacutesicas escrevem o jeito do seu povo viver

Mesmo a cidade sendo ldquolocal de paradardquo durante a semana para a maioria

de seus habitantes no passado era cheia de atrativos que o campo natildeo possuiacutea

como o cinema cuja instalaccedilatildeo natildeo se encontra documentada mas sabe-se que

iniciou onde hoje eacute o preacutedio da Prefeitura Municipal sendo proprietaacuterio Francisco

Ferraz (Chico Ferraz como era conhecido) Observa-se em alguns exemplares do

Jornal Folha da Serra23 os filmes e os horaacuterios do funcionamento do cinema

Entende-se que o jornal era uma maneira de divulgar os filmes por ser o uacutenico meio

de comunicaccedilatildeo da eacutepoca Pelos folhetins se percebe que as sessotildees

apresentavam diversos gecircneros natildeo se sabe quando o cinema finalmente fechou

20 Fora refere-se ir para a fazenda 21 SOARES Luciana Olga Entrevista concedida agrave autora no dia 01 de marccedilo de 2018 22 SOARES Luciana Olga Entrevista concedida agrave autora no dia 01 de marccedilo de 2018 23 Folha da Serra jornal local criado em 1932 pelo Dr Siacutelvio Rabelo passando posteriormente a

propriedade da Prefeitura Municipal Sua impressatildeo era na ordem de 500 exemplares natildeo se tem a informaccedilatildeo do periacuteodo que parou de circular mas pelos exemplares encontrados no Arquivo Histoacuterico de Satildeo Francisco de Paula os uacuteltimos datam de 1978 O Arquivo Histoacuterico de Satildeo Francisco de Paula fica em um preacutedio anexo agrave Biblioteca Puacuteblica do municiacutepio

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poreacutem o jornal Folha da Serra traz uma reportagem que retrata como estava difiacutecil

manter o cinema em funcionamento em meados de 1968 ldquoo nosso cinema na

maneira que vai indo natildeo tem mais condiccedilotildees de funcionar natildeo temos apoio da

populaccedilatildeo com uma frequecircncia de mais ou menos 150 pessoas por final de

semanardquo O jornal acrescenta ldquosalienta-se que mais ou menos de 3 de nossa

CULTA populaccedilatildeo natildeo frequenta o cinemardquo Pode-se associar o fechamento do

cinema a dois fatores a natildeo cultura de assistir filmes e pelas sessotildees ocorrerem nos

finais de semana onde boa parte da populaccedilatildeo da cidade se deslocava para as

fazendas ou pela crise que os cinemas passaram na deacutecada de 80 quando em

muitas cidades foram fechados

A vida da populaccedilatildeo local vai se modificando cada vez mais as pessoas vatildeo

se instalando definitivamente na Sede onde se perde o viacutenculo com o campo

Devido agrave venda ou arrendamento das fazendas24 que por render pouco a pecuaacuteria

extensiva e com a criaccedilatildeo de novas legislaccedilotildees que proiacutebem praacuteticas centenaacuterias

seus proprietaacuterios buscaram novas possibilidades econocircmicas que modificaram a

Sede e tambeacutem boa parte do interior Em entrevista a moradora Soares relata

Exatamente porque a produccedilatildeo era pequena isso natildeo serve para o mundo de hoje a uns quarenta anos chega em nossos campos as primeiras plantaccedilotildees de pinus interessante que ningueacutem reclamou da destruiccedilatildeo desse campo de milhotildees de anos e de todo o ecossistema mas mesmo com essa nova cultura continuamos realizando a sapeca do campo no mecircs de agosto mas de repente chega a notiacutecia que estaacute proibida a queima do campo dizendo que noacutes estragaacutevamos a terra poluiacuteamos o ar que mataacutevamos animais e tudo aquilo natildeo era verdade Na verdade alguns anos depois da lei proibindo a queima do campo chegam as multas gigantescas agraves vezes maior que o valor da terra e aiacute inviabilizou a pecuaacuteria e muitos fazendeiros venderam suas terras e foram embora Quem ficou no campo na busca por renda a qualquer preccedilo arrenda seus campos para os batateiros que vieram acredito que a grande maioria de Santa Catarina e do Paranaacute estes lavram o campo nunca mais o campo nem com reza braba taacute tudo perdido para sempre e isso reflete na nossa cidade25

Essas mudanccedilas no campo refletem na Sede onde o homem serrano convive

passivamente com novas identidades que embora sejam presentes eacute minoria pois

esta parcela de novos moradores traz consigo um novo jeito de viver que ainda natildeo

se percebe influenciar na identidade cultural da Sede

24 Propriedades rurais cuja atividade principal eacute a praacutetica da pecuaacuteria extensiva e a produccedilatildeo do

queijo artesanal serrano 25 SOARES Luciana Olga Entrevista concedida agrave autora no dia 01 de marccedilo de 2018

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Na Sede desde o iniacutecio se observam quatro clubes sociais a Sociedade

Cruzeiro a Sociedade 9 de Julho a Sociedade Esperanccedila e o Centro de Tradiccedilotildees

Gauacutechas Cada clube social tem sua importacircncia histoacuterica poreacutem alguns natildeo se

manteacutem ativos

A Sociedade 9 de Julho foi fundada em 27 de setembro de 1961 estando

localizada no bairro Rincatildeo Segundo o jornal Folha da Serra (1968 n 96 p 5)

apoacutes sete anos de sua fundaccedilatildeo ldquoseu presidente Galego promete uma nova e

confortaacutevel sede para a sociedaderdquo Sociedade que se apresenta por sua

versatilidade nos eventos ateacute os dias atuais

O jornal Folha da Serra (1968 n 96 p 5) traz a seguinte mateacuteria ldquoas quatro

noites foram repletas de alegria naquela sociedade onde os foliotildees divertiram-se e

quando se anunciou o final da quarta noite houve quem lamentasse o final da festa

do Momordquo A reportagem refere-se ao carnaval que se desenvolve de forma

popular nesta sociedade Neste espaccedilo na deacutecada de 1990 ocorria um baile na

sexta-feira que antecedia ao Festival do Ronco do Bugio um espaccedilo onde jovens se

encontravam para iniciar as festividades do grande festival da cidade poreacutem na

atualidade este evento natildeo ocorre mais Pelos cartazes de divulgaccedilatildeo de eventos

atuais a Sociedade 9 de Julho se torna um espaccedilo bastante versaacutetil e segundo

dados obtidos no site da proacutepria sociedade o local apresenta shows bailes

tradicionalistas domingueiras e festas temaacuteticas

Sabe-se da existecircncia da Sociedade Esperanccedila devido a uma reportagem a

respeito do carnaval escrita no jornal Folha da Serra (1968 n 11 p 25) ldquoos

escurinhos tambeacutem natildeo ficaram para traacutes e demonstraram que satildeo bons no samba

porque soacute quem assistiu pode ver como brincaram e que maravilha de ritmo

marcaram durante as quatro noitesrdquo A reportagem daacute a entender de se tratar de

uma sociedade frequentada por negros e pode-se entender que ao usar o termo

escurinho na reportagem haacute preconceito racial perpassando a ideia de que por

serem negros natildeo poderiam se divertir da mesma maneira que os brancos

Atualmente se encontra no local um espaccedilo residencial e comercial

A Sociedade Cruzeiro foi fundada em 9 de maio de 1925 pela elite da

sociedade serrana Segundo Teixeira (2002) e Fonseca (2012) sua sede social era

na Avenida Juacutelio de Castilhos onde hoje se situa a agecircncia do Banrisul e teve como

primeiro presidente o Sr Antocircnio Mario Kroeff e o secretaacuterio Sr Joatildeo Parobeacute de

Lucena Sua nova sede foi inaugurada de acordo com Fonseca (2012 p 236) ldquono

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dia 11 de dezembro de 1965 e esta permanece no mesmo endereccedilo ateacute a

atualidade Situa-se na Rua Dr Frederico Tedesco nordm 1261rdquo

Atualmente este espaccedilo eacute usado para convenccedilotildees ou festas particulares

onde as pessoas locam o espaccedilo para realizarem seu evento Neste espaccedilo natildeo

mais ocorrem grandes eventos sociais como Fonseca (2012 p 232) descreve ldquoos

bailes mais elegantes e vistosos desta sociedade ocorrem aquirdquo Fonseca (2012 p

233) ainda complementa que ldquoa primeira Miss Sociedade Cruzeiro foi eleita em 1937

e a vencedora foi a jovem Zilah Teixeirardquo

A Sociedade Cruzeiro tambeacutem foi palco de bailes de carnaval O Jornal Folha

da Serra (1968 n 11 p 25) descreve ldquocomo sempre a Sociedade Cruzeiro ponteou

o nosso carnaval com blocos fantasiados magnificamente fazendo acrobacias ao

som de excelente muacutesica local onde os turistas afluiacuteramrdquo Contrapondo a este

tempo a moradora local Soares26 discorre de maneira saudosa ldquoque saudades do

carnaval hoje eacute bebedeira perdeu o encanto perdeu tudo Na rua o pessoal

gritando sem nenhuma infraestrutura nem os bailes na sociedade natildeo ocorrem

maisrdquo

O distrito Sede jaacute foi palco de inuacutemeros clubes sociais que ao longo do tempo

foram perdendo seu encanto e ateacute mesmo fechando-se para atividades sociais O

que permanece em pleno funcionamento eacute o Centro de Tradiccedilotildees Gauacutechas Rodeio

Serrano o que justifica uma cultura tradicionalista presente neste distrito Dentre as

atividades desenvolvidas por esta entidade estatildeo o Rodeio Interestadual com

atividades campeiras e artiacutesticas que ocorrem todos os anos no primeiro final de

semana de dezembro a manutenccedilatildeo das invernadas artiacutesticas em todas as

categorias mascote mirim juvenil e adulta

A organizaccedilatildeo da Ronda Crioula na Semana Farroupilha com a participaccedilatildeo

das escolas da Sede e do interior que trazem seus grupos de danccedilas bem como

organizam gincanas Outra atividade tambeacutem desenvolvida por esta entidade eacute a

Cavalgada de Prendas que ocorre durante a Semana Farroupilha desde 1992

sendo Satildeo Francisco de Paula pioneira nesta ideia onde somente mulheres

participam da cavalgada que culmina com o desfile na Avenida Juacutelio de Castilhos

Realiza-se tambeacutem o Baile da Prenda Jovem que eacute o baile de debutante gauacutecho

onde as prendas entre 13 e 15 anos satildeo apresentadas agrave sociedade Aleacutem disso nos

26 SOARES Luciana Olga Entrevista concedida agrave autora no dia 01 de marccedilo de 2018

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uacuteltimos anos a organizaccedilatildeo e apresentaccedilatildeo do Festival Ronco do Bugio que ocorre

em Satildeo Francisco de Paula faz parte da programaccedilatildeo desta entidade Este festival

apresenta exclusivamente o gecircnero musical bugio Haacute pelo menos duas hipoacuteteses

sobre a origem deste gecircnero musical

A primeira eacute de berccedilo serrano e teria mais fiel escudeiro o inesqueciacutevel acordeonista de Satildeo Francisco de Paula Honeyde Bertussi Siqueira Segundo ele o ritmo teria sido originaacuterio pelas matildeos do gaiteiro Vergiacutelio Leitatildeo que no jogo-de-foles e nos baixos de sua gaita de botatildeo teria imitado o ronco do bicho nos caponetes de cima da serra [] teria difundido pelas bodegas do Juaacute interior de Satildeo Chico (SOUZA 2003 p 15)

A segunda hipoacutetese eacute apresentada por Souza (2003 p 15) que apresenta a

versatildeo dada pelo povo de Satildeo Francisco de Assis que diz que ldquoa origem do ritmo e

oriunda desta localidade que por sinal realizava um festival nativista chamado

Querecircncia do Bugiordquo

Desconhece-se a verdadeira origem do gecircnero musical bugio mas Souza

(2003 p 23) afirma que ldquoJoatildeo Cincinato Terra muacutesico atuante sentiu a

necessidade de nosso municiacutepio acompanhar o movimento jaacute que neste periacuteodo se

expande por todo o estado do Rio Grande do Sul os festivais nativistasrdquo O

lanccedilamento do primeiro festival do Ronco do Bugio acontece em 1986 no CTG

Rodeio Serrano com a participaccedilatildeo de vaacuterios representantes da muacutesica nativista e

da comunidade serrana Seu lanccedilamento oficial ocorre em 16 de abril de 1986

O jornal Satildeo Chico Tchecirc (1986 n 11 p 6) noticiou que o primeiro Festival do

Ronco do Bugio contou com 98 muacutesicas escritas sendo 24 as selecionadas O

festival ocorreu entre os dias 13 e 15 de maio e Souza (2003 p 42) descreve que foi

apresentado ldquosob uma lona de circo estaqueada num gramado amador mas de

tantas gloacuterias futeboliacutesticas o campo do Clube Atleacutetico Serranordquo

A muacutesica vencedora do primeiro Ronco do Bugio foi ldquoLevanta Bugiordquo

defendida pelo cantor e compositor gauacutecho Leonardo Observando fotos percebe-se

que o Ronco do Bugio se deu em uma noite fria de inverno

O Festival Ronco do Bugio desde o seu iniacutecio premia melhor arranjo

conjunto instrumental instrumentista inteacuterprete e a muacutesica mais popular Fatima

Gimenez foi a melhor inteacuterprete do primeiro festival defendendo a muacutesica ldquoPinheiro

Gringordquo composiccedilatildeo de Erian Fogaccedila e Laerte Fortes Novamente a roupa dos

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muacutesicos reforccedila que na noite da entrega da premiaccedilatildeo fazia muito frio A cantora

tambeacutem se apresenta vestindo um chiripa coberto por um pala27

Na Figura 11 observamos a fotografia de Gonzaga dos Reis muacutesico local

sentado com sua gaita instrumento que lhe deu o precircmio de melhor instrumentista

do primeiro Ronco do Bugio Nesta oportunidade o cantor instrumentista e

compositor defendeu a muacutesica ldquoBugio da Minha Terrardquo

Figura 11 ndash Gonzaga dos Reis

Fonte Jornal Satildeo Chico Tchecirc n 4 p 8 (1986)

A composiccedilatildeo ldquoBugio Tiranordquo que foi defendida pelo conjunto Os Tiranos de

Satildeo Francisco de Paula ganhou o precircmio mais popular

Para o Jornal Satildeo Chico Tchecirc (1986 n 11 p 7) o Festival Ronco do Bugio eacute

ldquoum festival autecircntico e original que aconteceu com grande sucesso em Satildeo

Francisco de Paulardquo No encerramento deste grande evento Joatildeo Chagas Leite se

27 Chiripa e pala satildeo trajes tipicamente gauacutechos Sendo que o chiripa atualmente eacute uma veste de

preferecircncia feminina este fica enrolado na cintura e vai ateacute os joelhos ldquoEacute um pano inteiro passado entre as pernas primeiro de traacutes para frente e depois de frente para traacutes pode ser de latilde ou lisordquo (ABREU 2003 p 67) O pala eacute uma peccedila retangular com franjas nos quatro lados e listras no sentido do comprimento

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apresenta segundo o Jornal Satildeo Chico Tchecirc (1986 n 11 p 8) ldquocom composiccedilotildees

como Corda de Espinho Orelhano Pampa Campo e Querecircncia Coraccedilatildeo de

Estudante e Afiosrdquo

O Festival Ronco do Bugio perpassa o tempo segundo o site da Prefeitura

Municipal

O Festival Ronco do Bugio eacute um evento musical nativista que acontece anualmente na Cidade de Satildeo Francisco de Paula com o intuito de preservar e difundir o uacutenico ritmo originaacuterio do Rio Grande do Sul ou seja o lsquobugiorsquo compasso criado justamente no interior deste municiacutepio Tal criaccedilatildeo se deu a partir da criatividade dos gaiteiros serranos que buscaram imitar com seu instrumento musical o ronco do primata nos matos da serra A festividade agora em sua 26ordf ediccedilatildeo eacute genuiacutena pois eacute o uacutenico da Ameacuterica onde obrigatoriamente os participantes devem utilizar um ritmo somente isto eacute o citado lsquobugiorsquo embora a temaacutetica seja abrangente Por este motivo eacute chamado de lsquoO Festival Mais Autecircntico do Rio Grandersquo Aleacutem do forte enfoque cultural que envolve toda a comunidade musical do Estado o Festival tem seu apelo ecoloacutegico pois chama a atenccedilatildeo para a preservaccedilatildeo da espeacutecie hoje quase em extinccedilatildeo O Ronco do Bugio por sua importacircncia no cenaacuterio cultural rio-grandense criou uma identidade ao povo de Satildeo Francisco de Paula pois junto ao evento estaacute intriacutenseco e vem agrave tona o histoacuterico da criaccedilatildeo do municiacutepio caracterizado pela forte influecircncia dos antigos tropeiros desbravadores e povoadores desta parte do paiacutes (PREFEITURA MUNICIPAL DE SAtildeO FRANCISCO DE PAULA 2017)

No mesmo documento disponibilizado pela Prefeitura Municipal de Satildeo

Francisco de Paula observam-se algumas informaccedilotildees a respeito da realizaccedilatildeo do

festival no ano de 2017

Art 1ordm - O 26ordm Ronco do Bugio realizar-se-aacute no municiacutepio de Satildeo Francisco de Paula nos dias 01 e 02 de setembro de 2017 Art 2ordm - a festividade agora em sua 26ordf ediccedilatildeo eacute genuiacutena pois eacute a uacutenica na Ameacuterica Latina com promoccedilatildeo da Prefeitura Municipal de Satildeo Francisco de Paula e do CTG Rodeio Serrano com apoio de oacutergatildeos puacuteblicos e iniciativa privada Art 3ordm - Satildeo objetivos do 26ordm Ronco do Bugio a) valorizar a tradiccedilatildeo arte cultura e a autecircntica muacutesica regionalista

gauacutecha atraveacutes do seu ritmo mais original b) prestigiar autores compositores inteacuterpretes e conjuntos regionalistas e

incentivar o surgimento de novos valores c) divulgar a muacutesica regional gauacutecha d) valorizar a relevante posiccedilatildeo na formaccedilatildeo de usos e costumes

caracteres e valores espirituais e morais do gauacutecho e) promover e incentivar a cultura gauacutecha projetando Satildeo Francisco de

Paula na maneira mais autecircntica no cenaacuterio do turismo (PREFEITURA MUNICIPAL DE SAtildeO FRANCISCO DE PAULA 2017)

Como eacute possiacutevel observar no artigo 4ordm ldquoA organizaccedilatildeo do 26ordm Ronco do Bugio

ficaraacute a cargo da Comissatildeo Organizadora composta por membros da Prefeitura

Municipal e do CTG Rodeio Serranordquo (PREFEITURA MUNICIPAL DE SAtildeO

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FRANCISCO DE PAULA 2017) Devido agrave importacircncia identitaacuteria do festival para o

municiacutepio ao se chegar agrave cidade na deacutecada de 90 se encontrava o seguinte

outdoor

Figura 12 ndash Outdoor entrada da cidade na ERS-020

Fonte Souza (2003 p 17)

Assim como o tiacutetulo de ldquoCapital Mundial do Bugiordquo Satildeo Francisco de Paula ldquojaacute

obteve vaacuterios slogans dentre eles o de Satildeo Chico eacute terra boardquo (TEIXEIRA 2002 p

149-150)

Mesmo ocorrendo inferecircncias externas advindas com pessoas que trouxeram

consigo uma identidade diferente Soares28 em entrevista afirma ldquoSatildeo Chico eacute

identificada pela cultura tradicionalista gauacutecha a cuia em frente ao antigo preacutedio da

prefeitura demonstra o siacutembolo da hospitalidade de nosso povordquo A permanecircncia

ativa do CTG Rodeio Serrano na sede eacute outro indicativo forte da presente

identidade ligada as atividades do homem do campo Outro fato observado eacute a

constante praacutetica do laccedilo de vaca parada29 por jovens e crianccedilas nos paacutetios de suas

residecircncias bem como cavalarianos (homens mulheres jovens e crianccedilas) na

28 SOARES Luciana Olga Entrevista concedida agrave autora no dia 01 de marccedilo de 2018 29 Vaca parada uma espeacutecie de cavalete de madeira com aspectos de uma vaca usada por crianccedilas

que estatildeo iniciando neste esporte bem como usado como forma de entretenimento para jovens e adultos

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avenida principal cavalgando entre os carros Ainda se percebe o respeito entre

motoristas de automotivos bicicletas e os cavalarianos todos ocupando o mesmo

espaccedilo

42 DISTRITO DE CAZUZA FERREIRA

O distrito de Cazuza Ferreira foi criado em 07 de janeiro de 1903 estando

situado a 85 quilocircmetros da Sede Andrade comenta em entrevista30 ldquoateacute acho que

Cazuza se desenvolveu primeiro que Satildeo Chicordquo31 visto que a criaccedilatildeo do distrito

acontece dias depois da emancipaccedilatildeo enquanto a criaccedilatildeo da vila do distrito de

Cazuza Ferreira se desenvolve segundo a entrevistada

A parte da Histoacuteria que eu sei eacute que houve a chegada de um Sr Chico Mestre eacute como eles chamavam Esse Sr veio as casas eram distantes umas das outras e ele comeccedilou a fazer oraccedilatildeo nas casas e reunir as pessoas e fundou o cemiteacuterio Entatildeo o Joseacute Ferreira de Castilhos que era dono daqui naquela eacutepoca um dos moradores que tinha bastante terra doou a terra para fazer a vila aiacute o que aconteceu segundo as histoacuterias era para ser ali onde eacute a cancha de laccedilo hoje do outro lado da estrada soacute que o terreno natildeo era apropriado entatildeo houve uma permuta com o Sr que era dono deste terreno aqui era Bossle aqui era bem mais alto e mais plano Entatildeo se construiu a Igreja e iniciou o povoamento da vila32

A moradora Basso ainda acrescenta que ldquoa vila foi sempre mais ou menos o

que ela eacute hojerdquo Ao observar o local pode-se perceber uma grande praccedila ao centro

rodeada de casas de comeacutercio posto de combustiacutevel posto de sauacutede o hotel a

Igreja Matriz juntamente com o salatildeo paroquial e casas residecircncias cujo aspecto

impressiona por a grande maioria das casas apresentam uma arquitetura que

perpassa o tempo A Figura 13 apresenta uma imagem da praccedila central tirada das

escadarias da Igreja Matriz

30 ANDRADE Nauro Bossle de Entrevista concedida agrave autora no dia 04 de marccedilo de 2018 31 Primeiro que Satildeo Chico eacute um termo comum usado pelos moradores do interior do municiacutepio de

Satildeo Francisco de Paula que ao se referir a Sede do municiacutepio usam o termo Satildeo Chico ou Satildeo Francisco de Paula pois seus moradores natildeo costumam na atualidade dizer lsquovou a Sedersquo e sim lsquovou a Satildeo Chicorsquo como se eles natildeo morassem no municiacutepio

32 BASSO Ceacutelia Pacheco Terres Entrevista concedida agrave autora no dia 04 de agosto de 2018

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Figura 13 ndash Praccedila Central de Cazuza Ferreira

Fonte acervo pessoal da autora (2018)

Apesar de ter a preservaccedilatildeo arquitetocircnica a moradora Basso declara

O pai contava e outras pessoas contam que teve uma eacutepoca que tinha faacutebrica de tamanca33 jaacute teve faacutebrica de guaranaacute de queijo bastante coisa no sentido de selaria mas tudo foi se extinguindo as pessoas as famiacutelias natildeo deram continuidade e se sumiram natildeo existe mais nada disso mas estas faacutebricas natildeo davam renda ou seja trabalho para pessoas de fora pois elas eram administradas e cuidadas pelas famiacutelias Daiacute houve o periacuteodo das serrarias enquanto pode extrair madeira era o forte a vila movimentada enriqueceram alguns comerciantes locais o momento que extinguiu aquele trabalho eles foram embora e o povo daqui acomodou entatildeo hoje a vila tem bastante pessoas que foram embora trabalhar assim na juventude e hoje aposentados voltaram pois aqui para jovem natildeo tem sobrevivecircncia o uacutenico trabalho eacute na escola tem nove professores e uma funcionaacuteria em alguns funcionaacuterios da prefeitura acho que satildeo seis que cuidam do plantel de maacutequinas a enfermeira e o pessoal que cuida do posto do correio tambeacutem tem a ferraria mas ali eacute soacute os da proacutepria famiacutelia entatildeo o jovem acaba tendo que ir embora34

Os entrevistados Basso e Andrade relatam que apesar das adversidades o

povo de Cazuza Ferreira tem um amor pelas suas tradiccedilotildees mantendo vivos trecircs

aspectos que ambos consideram a marca identitaacuteria de seu povo e afirmam com

33 Tamanca calccedilado comum na regiatildeo solado de madeira com uma proteccedilatildeo sobre as pontas dos

dedos indo ateacute o peito do peacute em couro 34 BASSO Ceacutelia Pacheco Terres Entrevista concedida agrave autora no dia 04 de agosto de 2018

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convicccedilatildeo ldquofalar de Cazuza eacute cavalhada hotel e rodeiordquo enquanto Basso acrescenta

que ldquoas cavalhadas satildeo heranccedila dos portugueses e estatildeo espalhadiacutessimas ateacute

nacionalmente atraveacutes da miacutedia porque natildeo pesquisei mas ateacute onde sei no Rio

Grande do Sul soacute tem aquirdquo

Na comunidade ainda segundo Basso ldquoa apresentaccedilatildeo das cavalhadas se

iniciou por volta de 1890 e permanece ativa ateacute hoje no passado existiam trecircs

cavalhadas as dos brancos dos amarelos e dos negrosrdquo acrescentando ldquomas hoje

natildeo haacute mas essa diferenciaccedilatildeordquo Em poliacutegrafo organizado por uma moradora local a

mesma explica que a cavalhada ldquoeacute uma luta simulada em que haacute vinte e quatro

participantes sendo doze de cada equiperdquo35 por meio da evoluccedilatildeo equestre e

movimentos de espada lanccedila e garrucha representando a batalha entre mouros e

cristatildeos Segundo esta moradora ldquoa batalha sempre termina sendo vencida pelos

cristatildeos demonstrando a submissatildeo dos mouros e a supremacia da religiatildeo cristatilderdquo

Atualmente o grupo depende da boa vontade de seus participantes conforme

explica

Hoje se tornou caro eacute exame dos cavalos transporte depende do querer das pessoas da boa vontade e tem pessoas engajadas que natildeo largam a famiacutelia do Renau que ele eacute o presidente do grupo ele tem um amor tatildeo grande pelas cavalhadas porque ele jaacute recebeu do pai dele do teu avocirc e do seu Ivo Cardoso e a vida dele agraves vezes me desgosto de alguma coisa pois faccedilo a narrativa do que estaacute sendo apresentado mas daiacute eu penso natildeo posso abandonar (sorri) Eacute uma tradiccedilatildeo que natildeo pode morrer mas os filhos do Renau o Marcos e o Marcelo daratildeo continuidade faz parte da famiacutelia tu sabe eacute da mesma famiacutelia Eacute uma grande tradiccedilatildeo que natildeo pode desaparecer temos que continuar peleando36

As cavalhadas satildeo apresentadas na praccedila central sempre durantes as festas

religiosas que acontecem na comunidade sendo assim organizadas

No primeiro ou segundo final de semana de fevereiro tem a festa da Nossa Senhora do Belo Horizonte que eacute a padroeira daqui Agora devido agrave comissatildeo e o padre um ano tem a festa dos morenos e no outro tem a dos agricultores que eram chamados de amarelos antigamente cuja devoccedilatildeo se daacute agrave Nossa Senhora do Rosaacuterio e Nossa Senhora da Penha Antigamente cada um tinha seu espaccedilo social para realizar a festa atualmente soacute se manteve a tradiccedilatildeo de comemorar os santos este ano eacute festa dos morenos ela seraacute dia 13 e 14 de outubro Todas as festas

35 Sendo que doze cavaleiros que representam os cristatildeos vestem tuacutenicas de veludo azul escuro e

os doze cavaleiros mouros vestem tuacutenicas vermelhas Sobre os ombros da tuacutenica haacute uma capinha esta capinha traz enfeites prateados bordados com lantejoulas e bototildees dourados e franjas de seda branca Todos os participantes usam bombacha branca de brim botas campeiras pretas chapeacuteu de palha de aba larga virada para cima com laccedilo de fita e barbicacho de acordo com a cor da tuacutenica

36 BASSO Ceacutelia Pacheco Terres Entrevista concedida agrave autora no dia 04 de agosto de 2018

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religiosas ocorrem em dois dias saacutebado apresentaccedilatildeo das cavalhadas novena janta e baile no domingo tem a missa na Igreja Matriz logo apoacutes almoccedilo e reuniatildeo danccedilante Atualmente resgataram em dezembro a festa a Satildeo Cristoacutevatildeo sempre no primeiro final de semana de dezembro eacute uma missa com benccedilatildeo aos carros durante a procissatildeo e um almoccedilo ao meio-dia esta se daacute somente em um dia E tambeacutem temos de dois em dois anos a festa organizada pelo grupo das Cavalhadas esta ocorre em maio daiacute37

Os moradores explicam que a separaccedilatildeo racial desapareceu com o tempo

poreacutem se manteacutem a cultura de festejar todos os santos o que demonstra que o povo

de Cazuza eacute bastante devoto e cristatildeo E acrescenta em tempos idos que durante

as festas religiosas as pessoas se hospedavam no hotel segundo Basso que ldquoele

recebia tinha mercado junto teve ateacute cinema o pessoal gostava da comida da

Dona Vilma que era minha sogrardquo Este hotel eacute outro marco que identifica Cazuza

Ferreira poreacutem os moradores explicam que atualmente o Hotel do Campo manteacutem a

arquitetura mas funciona em uma modalidade diferenciada pois natildeo haacute como

sobreviver Entatildeo ele recebe hospeda sob reserva antecipada poreacutem natildeo serve

almoccedilo e janta as refeiccedilotildees satildeo feitas no Cantinho do Aconchego com quem

manteacutem uma parceria

Figura 14 ndash Hotel do Campo

Fonte acervo pessoal da autora (2018)

37 BASSO Ceacutelia Pacheco Terres Entrevista concedida agrave autora no dia 04 de agosto de 2018

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Nesta comunidade tambeacutem eacute muito forte segundo os entrevistados38 a

tradiccedilatildeo gauacutecha que adveacutem do homem do campo o amante dos rodeios que nos

finais de semana saem de suas propriedades e se deslocam a outras comunidades

para participar dos eventos campeiros como o tiro de laccedilo Tambeacutem explanam que

existe o CTG Adatildeo Castilhos que estaacute interditado jaacute faz quase seis anos desde

que comeccedilaram a ser exigidos os PPCIs A partir deste momento eles natildeo puderam

mais fazer eventos ali eles realizam os rodeios ou festas campeiras mas laacute dentro

natildeo conseguiram mais fazer nada e taacute difiacutecil vai muito dinheiro para cumprir todas

as exigecircncias Sendo que este espaccedilo na deacutecada de 80 do seacuteculo XX foi palco de

grandes rodeios com apresentaccedilotildees campeiras artiacutesticas e grandes bailes A

moradora explica39 ldquoA Claudiana esposa do Paulo Cesar atual presidente se

inscreveu no projeto Meu Galpatildeo de Cara Nova do Galpatildeo Crioulo da RBS TV

tomara que ela seja classificadardquo Este projeto ajuda na reconstruccedilatildeo dos CTGs pelo

Rio Grande do Sul

Ao pesquisar sobre Cazuza Ferreira percebe-se o quatildeo forte eacute o culto agraves

tradiccedilotildees e o esforccedilo de seus moradores para elas permaneccedilam para futuras

geraccedilotildees visto que o tempo passou e a tradiccedilatildeo local natildeo sofreu alteraccedilotildees

43 DISTRITO DE TAINHAS

O distrito de Tainhas foi criado em 18 de outubro de 1922 estando situado a

33 quilocircmetros da Sede Se desenvolveu no entroncamento de duas rodovias a RS-

020 e a RS-453 cujas rodovias cortavam a vila do distrito Com o advento da

construccedilatildeo da Rota do Sol importante rodovia que hoje que liga Caxias do Sul agraves

praias aleacutem da construccedilatildeo do asfalto da RS-020 que vai a Satildeo Francisco de Paula

tudo mudou O morador Fagundes relata em entrevista40 ldquoaqui era mais habitado

por criadores fazendeiros e agora depois que saiu essa Rota do Sol o movimento

cresceu muito neacute mais por fora da vila entatildeo natildeo trouxe benefiacutecio para noacutesrdquo

Percebe-se que moradores entendem a importacircncia da construccedilatildeo das

rodovias poreacutem as mesmas natildeo trouxeram benefiacutecios econocircmicos para os

moradores locais

38 ANDRADE Nauro Bossle de BASSO Ceacutelia Pacheco Terres Entrevistas concedidas agrave autora no

dia 04 de agosto de 2018 39 BASSO Ceacutelia Pacheco Terres Entrevista concedida agrave autora dia 04 de agosto de 2018 40 FAGUNDES Darci da Silva Entrevista concedida agrave autora no dia 24 de fevereiro de 2018

56

Ainda conforme o morador Fagundes41 ldquoo iniacutecio da vila se deu devido agrave

necessidade de parada dos caminhoneiros que transportavam madeira como era

tudo estrada de chatildeo Tainhas ficava em local centralizado se construiu um hotel

que era do seu Pedro Pinhatildeo e da Dona Luisardquo A partir de entatildeo comeccedilou a

construccedilatildeo de casas e se formou a vila onde antes eram terras dos Pinto os

primeiros moradores de Tainhas tanto que o morador ressalta na entrevista42 ldquoo

nome da escola eacute Oliacutempio Soares Pinto que era o proprietaacuterio dessa terra e uma

das professoras mais antigas era Guilherma Pintordquo

Tainhas estaacute rodeada por campos matos de pinnus ilhote e lavouras

atualmente e explica

Hoje aqui eacute pinus e granjeiro plantando batata soja milho e a maioria veio de fora os moradores antigos desapareceram arrendaram ou venderam suas terras para esse pessoal que veio de Ibiraiara e de Maquineacute Itati Trecircs Forquilhas43

Percebe-se que a criaccedilatildeo de gado ou seja a pecuaacuteria extensiva deu lugar a

outras culturas com a chegada de novas pessoas ao distrito Mas segundo os

moradores o culto ao tradicionalismo gauacutecho permanece visto que no distrito

existe

O parque de rodeios do Rodeio Crioulo eacute o mais antigo que noacutes temos aqui natildeo sei se natildeo o primeiro piquete registrado de Satildeo Chico tem uns sessenta anos a nossa tradiccedilatildeo eacute o laccedilo O nosso rodeio acontece sempre no iniacutecio de janeiro hoje eu natildeo laccedilo mais mas o meu neto continua a minha tradiccedilatildeo A escola daqui faz a semana farroupilha com ronda eacute tudo muito lindo e assim se mantem a cultura44

A imagem apresentada na Figura 15 reforccedila a fala e a importacircncia do Piquete

de Laccediladores Rodeio Crioulo que atualmente mesmo estando nas terras de Satildeo

Francisco de Paula divisa com o municiacutepio de Cambaraacute do Sul por opccedilatildeo essa

entidade tradicionalista pertence ao entatildeo municiacutepio de Cambaraacute do Sul Poreacutem sua

fundaccedilatildeo acontece em 20 de janeiro de 1961 quando o entatildeo hoje municiacutepio de

Cambaraacute do Sul ainda era distrito de Satildeo Francisco de Paula

41 FAGUNDES Darci da Silva Entrevista concedida agrave autora no dia 24 de fevereiro de 2018 42 FAGUNDES Darci da Silva Entrevista concedida agrave autora no dia 24 de fevereiro de 2018 43 FAGUNDES Darci da Silva Entrevista concedida agrave autora no dia 24 de fevereiro de 2018 44 FAGUNDES Darci da Silva Entrevista concedida agrave autora no dia 24 de fevereiro de 2018

57

Figura 15 ndash Flacircmula de comemoraccedilatildeo aos 50 anos da entidade

Fonte acervo pessoal da autora (2018)

Outro evento importante no distrito eacute realizado pela Escola Estadual de

Ensino Fundamental Oliacutempio Soares Pinto que satildeo atividades ligadas as tradiccedilotildees

gauacutechas na Semana Farroupilha como cavalgadas e gincanas com a participaccedilatildeo

de toda comunidade nesta semana principalmente a comunidade de Tainhas

ldquorespira tradicionalismordquo

O distrito de Tainhas atualmente conta com um posto de sauacutede e o correio

satildeo os serviccedilos puacuteblicos que funcionam no distrito visto que o cartoacuterio fechou O

entrevistado Fagundes relata45 ldquoeu era o juiz de paz desse Cartoacuterio minha funccedilatildeo

era julgar os casamentos mas daiacute fechou hoje o pessoal tem que ir a Satildeo Chicordquo O

morador ainda acrescenta ldquoateacute a rodoviaacuteria fechou os ocircnibus passam aqui Satildeo

Marcos que vem de Caxias e vatildeo a Torres desce de manhatilde e sobe de tarde Citral

de Satildeo Chico a Ouro Verde e agora Transneves da Pedra Lisa para Satildeo Chicordquo

Com uma certa tristeza relata46 ldquoaqui em Tainhas soacute tem o Cafeacute Tainhas do

Mauro eacute o brilho de Tainhas seraacute ponto histoacuterico daqui um tempo todo mundo fala

bem do Cafeacute Tainhasrdquo

Notoriamente a chegada do asfalto modificou a vida das pessoas neste

distrito visto que que os campos foram em boa parte transformados em lavoura se

45 FAGUNDES Darci da Silva Entrevista concedida agrave autora no dia 24 de fevereiro de 2018 46 FAGUNDES Darci da Silva Entrevista concedida agrave autora no dia 24 de fevereiro de 2018

58

percebe uma vila pacata jaacute que todo o movimento foi desviado por fora da vila e a

mesma natildeo proporciona lazer para as pessoas que ao terminarem o ensino

fundamental para continuar seus estudos precisam fazer uso do transporte escolar

e se deslocar ateacute a Sede ou ir ao municiacutepio de Cambaraacute do Sul

44 DISTRITO DE ELETRA

O distrito de Eletra foi criado em 31 de dezembro de 1932 estando situado a

19 quilocircmetros da Sede do municiacutepio Poreacutem a populaccedilatildeo local chama de Salto e

seu nome vem das barragens do Salto Blang e Divisa construiacutedas sobre o Rio do

Salto que atravessa o distrito Segundo a moradora local47 Soares ldquoas barragens

que fornecem aacutegua para as usinas no municiacutepio de Satildeo Francisco de Paula e nos

municiacutepios vizinhos de Canela Gramado e Cambaraacute do Sulrdquo A Figura 16 apresenta

uma imagem da Barragem do Salto barragem esta que se situa proacutexima da vila do

distrito

Figura 16 ndash Barragem do Salto

Fonte acervo pessoal da autora (2018)

Ao observarmos a Figura 16 percebe-se que o acesso da vila para o interior

do distrito acontece por uma ponte de concreto estreita com piso bastante irregular

47 SOARES Susana Marques Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018

59

e que em periacuteodos de fortes chuvas o acesso fica interrompido devido agrave altura

Poreacutem ao lado direito percebe-se uma estrutura pequena que segundo o morador

Gomes

Foi uma tentativa de uma empresa japonese construir uma ponte soacute que quando estavam construindo deu uma enchente e levou tudo a aacutegua abaixo a empresa foi embora e nunca mais voltou Jaacute foram feitos estudos que a ponte tem que ser construiacuteda mais para baixo e em forma de arco se natildeo a chuva leva de novo poreacutem natildeo acredito que saia algum dia48

Entende-se que a construccedilatildeo desta nova ponte melhoraria o acesso dos

proprietaacuterios rurais que para saiacuterem de suas propriedades em eacutepocas de chuva

intensa necessitam fazer um longo caminho por estradas de chatildeo batido para terem

acesso ao municiacutepio de Canela bem como a Sede de Satildeo Francisco de Paula

Contudo a moradora explica que a vila do distrito se forma muito antes da

construccedilatildeo da barragem

Em 1915 era uma fazenda chamada Fazenda do Salto e esta pertencia a Francisco Soares de Oliveira Neste local havia sua casa de moradia um galpatildeo e mangueiras onde realizava as suas atividades poreacutem em 1916 o Chico resolveu transferir a casa da Fazendo do Cerro para o Salto tambeacutem sendo construiacuteda aiacute a segunda casa a partir de entatildeo se iniciou o povoado com a construccedilatildeo de novas residecircncias para seus empregados e posteriormente se instalou uma serraria dos irmatildeos Delavechia esta sendo movida a aacutegua dando definitivamente o iniacutecio do povoamento da vila49

Ao analisar a fala da moradora local se percebe que onde hoje se encontra a

vila do distrito de Eletra jaacute foi uma fazenda identificando-se com a mesma formaccedilatildeo

do distrito Sede que tambeacutem surge de terras doadas por um fazendeiro Segundo a

entrevistada Soares50 ldquoa sua casa eacute uma das mais antigas tem 102 anos foi

construiacuteda de pinheiro serrada aqui mesmo na serrariardquo pode-se observar o oacutetimo

estado de conversaccedilatildeo da casa que traz traccedilos arquitetocircnicos europeus na sua

construccedilatildeo natildeo se tem imagem da casa visto que a entrevistada natildeo permitiu

nenhuma imagem de sua residecircncia

Outro fator importante do povoamento da vila segundo o morador local

Gomes51 ldquofoi o iniacutecio da construccedilatildeo da Barragem do Salto no ano de 1925rdquo onde

48 GOMES Jaures Feijoacute Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018 49 SOARES Susana Marques Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018 50 SOARES Susana Marques Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018 51 GOMES Jaures Feijoacute Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018

60

vieram muitos funcionaacuterios de vaacuterios lugares tendo como mestre da obra segundo

os moradores locais52 o ldquoAcircngelo Goubertrdquo

Devido agrave necessidade que se formou no distrito neste periacuteodo se abriu um

hotel farmaacutecia cartoacuterio rodoviaacuteria e cinema a moradora local Soares saudosa

diz53 ldquotudo fechou aqui natildeo tem mais nadardquo referindo-se a atual situaccedilatildeo que a vila

se encontra

Os moradores ainda declaram sobre o distrito54 ldquoestaacute abandonado pelo poder

puacuteblico ateacute o calccedilamento das ruas foi arrancadordquo poreacutem outrora foi um local de

muita alegria

A vida era uma festa permanente o tio Chico era casado com a tia Lisoca ela foi para Porto Alegre para os filhos estudar quando vinham nas feacuterias traziam os amigos O tio Chico pagava um gaiteiro por mecircs para ele toca toda noite entatildeo era aquele divertimento55

Atualmente na vila existe a Escola Estadual de Ensino Fundamental Cristino

Ramos com menos de cem alunos e a festa cristatilde cuja celebraccedilatildeo ocorre em

fevereiro sendo Santo Antocircnio o padroeiro local A moradora explica sobre a

construccedilatildeo da capela

A primeira capela a tempestade derrubou em 1957 se construiu outra O santo padroeiro eacute Santo Antocircnio a imagem foi trazida por quarenta cavaleiros Daiacute o padre pediu para que a imagem de Nossa Senhora Catarina tambeacutem fosse acolhida hoje temos dois padroeiros mas para mim Santo Antocircnio eacute o principal56

Percebe-se na fala dos moradores a sua devoccedilatildeo e sua preocupaccedilatildeo com o

futuro da vila visto que ateacute a questatildeo do cemiteacuterio jaacute foi palco de discussatildeo pois o

cemiteacuterio da vila iniciou pela famiacutelia dos Soares sendo este particular Poreacutem a

moradora explica com certa indignaccedilatildeo

O cemiteacuterio era particular da famiacutelia Soares teve um tempo que resolveram abrir veio gente ateacute de Passo Fundo ser enterrada aqui natildeo pediam para ningueacutem tomaram conta Daiacute organizamos uma comissatildeo responsaacutevel decidimos que tinha que ter uma contribuiccedilatildeo e natildeo podia trazer gente de fora para enterrar soacute gente daqui Ningueacutem pagou Aiacute mandei fazer cerca nova a parte dos Soares sempre limpei mas [] hoje acabo limpando tudo

52 GOMES Jaures Feijoacute SOARES Susana Marques Entrevistas concedidas agrave autora no dia 15 de

fevereiro de 2018 53 SOARES Susana Marques Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018 54 GOMES Jaures Feijoacute SOARES Susana Marques Entrevistas concedidas agrave autora no dia 15 de

fevereiro de 2018 55 SOARES Susana Marques Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018 56 SOARES Susana Marques Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018

61

porque ningueacutem limpa Enquanto eu for viva vou fazer depois vatildeo entregar para a prefeitura igreja natildeo sei57

A Figura 17 apresenta uma foto da igreja atual tendo em sua lateral direita a

capela mortuaacuteria e ao fundo o Salatildeo Paroquial da comunidade onde ocorre a festa

do Santo Padroeiro

Figura 17 ndash Igreja Santo Antocircnio ndash Distrito de Eletra

Fonte acervo pessoal da autora (2018)

Ao conversar com os moradores locais pode-se observar a feacute cristatilde poreacutem

ambos relatam que a festa de fevereiro atualmente eacute pouco divulgada motivo pelo

qual acreditam que natildeo haja um nuacutemero expressivo de pessoas Ambos sentem um

apreccedilo pelo local onde nasceram e vivem poreacutem ambos relatam

Aqui eacute lugar de dormir as pessoas trabalham em Canela e vem dormir aqui a grande maioria natildeo eacute daqui vieram de fora haacute muitas casas de veraneio tudo gente de Porto Alegre que vem passar feacuterias natildeo rende nada para aqui o que precisam trazem tudo de fora A maioria de quem mora aqui soacute dorme passa o dia fora O ocircnibus das 7 horas sai lotado a gente natildeo conhece mais ningueacutem daqui mesmo soacute noacutes Susana e eu58

Mesmo a vila sendo um local de parada estaacute rodeada de lindos campos e

fazendas cuja a atividade principal eacute a pecuaacuteria extensiva natildeo proporciona

57 SOARES Susana Marques Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018 58 GOMES Jaures Feijoacute Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018

62

trabalho no local motivo pelo qual seus moradores buscam sua subsistecircncia em

outro municiacutepio poreacutem possui uma exuberante natureza relata cheia de esperanccedila

a moradora local59 ldquoeu tenho esperanccedila que algueacutem olhe para caacute e veja as belezas

que tem aqui que o lugar volte a se desenvolverrdquo desenvolvimento este que

poderia vir atraveacutes da exploraccedilatildeo do turismo rural ldquoSe vocecirc quiser comer alguma

coisa agora natildeo vai encontrar nada aqui soacute tem lsquobutecorsquo60 mas eles natildeo vendem

nada nem sanduiacuteche pastel eacute uma vergonhardquo fala indignado o morador Gomes61

A populaccedilatildeo que vive nas fazendas aleacutem de ter as lides campeiras no seu

dia-a-dia nos finais de semana segundo o morador Gomes62 ldquolaccedila em torneio vai

nos rodeiosrdquo o que marca a presenccedila do tradicionalismo gauacutecho em uma parte da

populaccedilatildeo do distrito poreacutem com relaccedilatildeo aos moradores da vila natildeo haacute algo que

os identifique visto a miscigenaccedilatildeo que ocorreu e por haver muitas casas de

veraneio no local

45 DISTRITO DO JUAacute

O distrito do Juaacute foi criado em 10 de maio de 1950 e fica distante 65

quilocircmetros da Sede O distrito recebe esse nome devido a um espinho que havia

em abundacircncia no local nome este dado por tropeiros

Os accedilorianos que vinham de Santo Antocircnio da Patrulha e iam para Vacaria com cargueiros eles vinham fazer repouso laacute em cima no reduto e ali tinha muita frutinha do juaacute entatildeo os tropeiros saiam de Santo Antocircnio e diziam vamos posa laacute nos juaacute daiacute o nome do lugar que permanece ateacute hoje63

Juaacute eacute o nome dado a um espinho muito comum na regiatildeo dos campos de

cima da serra que daacute uma fruta amarela em formato redondo que segundo os

moradores locais eacute uma fruta venenosa conforme se observa na Figura 18

59 SOARES Susana Marques Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018 60 Buteco pequeno comeacutercio que normalmente vende bebidas alcooacutelicas e possui mesa de sinuca 61 GOMES Jaures Feijoacute Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018 62 GOMES Jaures Feijoacute Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018 63 REIS Orides Entrevista concedida agrave autora no dia 12 de maio de 2018

63

Figura 18 ndash Peacute com a fruta conhecido como Juaacute

Fonte acervo de Clessandra Palhano (moradora local) (2018)

O reduto citado pelo morador local ficava em uma fazenda local onde hoje se

encontra a vila do distrito conforme o entrevistado Reis explica

O primeiro morador eu natildeo lembro soacute sei que o Juaacute era de pouca gente famiacutelia Pedroso e Castilhos daiacute foram morrendo inventariando e vendendo e aos poucos se formou a vila importante o dono de tudo isso aiacute tinha dois escravos no iniacutecio teve escravidatildeo claro na eacutepoca de mil oitocentos e pouco eu acho mas teve E hoje deve ter descendente destes escravos por aiacute64

Escravidatildeo que vai dar origem ao preconceito racial e a um modelo particular

da localidade que sem precisar data explica o morador

Aqui tinha dois salatildeo trecircs com o da Igreja mas era dois salatildeo social Era um clube de brancos que era dos ricos neacute fazendeiros o Salatildeo Vera Cruz e depois fundaram o Satildeo Valentim que era dos morenos que na eacutepoca ateacute eu fui presidente Cada um no seu salatildeo agora quando dava a festa cristatilde em homenagem ao Satildeo Joatildeo de Deus todo o povo reunia-se quando chegava de noite no saacutebado no baile entatildeo cada um ia pro seu salatildeo A muacutesica ficava no salatildeo dos brancos daiacute colocava umas caixas de som laacute pros morenos com um fio pra eles danccedila Um natildeo podia entra no baile do outro tinha o presidente para cuida Cada um no seu tudo se respeitava e obedecia aquela ordem65

Ainda acrescenta a moradora local Santos

64 REIS Orides Entrevista concedida agrave autora no dia 12 de maio de 2018 65 REIS Orides Entrevista concedida agrave autora no dia 12 de maio de 2018

64

O nosso eu natildeo me lembro o nome tem tanto papel mas natildeo sei onde estaacute o nosso dos pretos neacute ningueacutem implicava eles natildeo deixavam noacutes entra no salatildeo Vera Cruz eu entrava de cozinheira empregada porque ali era lugar dos ricaccedilos eles podiam se associar mas o nosso tambeacutem enchia mas eles iam no nosso baile de nego soacute olhavam As festas duravam dias Tinha aquele foguetoacuterio era tatildeo bonito66

Percebe-se na fala dos moradores como esta divisatildeo racial se fazia presente

que havia por parte dos negros um profundo respeito pelos brancos mesmo eles

tendo acesso ao salatildeo Vera Cruz somente para servi-los em nenhum momento se

percebeu que eles se sentissem diminuiacutedos pela situaccedilatildeo ateacute pela cultura que

advinha desde os primeiros moradores locais

Esta divisatildeo social permanece por longo tempo e somente vai desaparecer

nos anos 80 do seacuteculo XX com a contribuiccedilatildeo do Frei Abiacutelio que veio da Vacaria

durante Missotildees convocadas pelo paacuteroco local padre Afonso que conseguiu

modificar esta organizaccedilatildeo implantando a ideia de igualdade e ignorando tudo

aquilo a partir de entatildeo os negros comeccedilaram a frequentar a sociedade Vera Cruz

contribuiccedilatildeo dos entrevistados67 que ao abordar o assunto demonstraram repulsa

pelo passado mas ao mesmo tempo reconhecem que o racismo ainda eacute presente

na comunidade poreacutem devido agraves leis existe um cuidado maior

Atualmente negros e brancos convivem em harmonia participam da festa

cristatilde cujo padroeiro eacute Satildeo Joatildeo de Deus e dos torneios de laccedilo mas geralmente

quem laccedila satildeo os fazendeiros Saudoso o morador68 afirma que ldquouma vez tinha as

carreradas tinha trecircs canchas passava o domingo nas canchas brincando nas

corridas de cavalos tudo terminourdquo Acrescenta69 ainda que ldquoem 70 80 tinha o

futebol o campo era na baixada acho que tem ainda trofeacuteu ai mas daiacute a gurizada

foi embora para a cidade terminou o timerdquo

A vila se construiu de maneira simples tendo a Igreja Catoacutelica com o Salatildeo

Paroquial agrave direita o antigo Centro de Tradiccedilotildees Gauacutechas Laccedilo Velho do Juaacute onde

resta apenas o preacutedio de madeira corroiacuteda pelo tempo ao fundo a cancha de laccedilo

do Piquete de Laccediladores Velho do Juaacute entidade tradicionalista que se manteacutem ativa

desde o iniacutecio da deacutecada de 1960 ao redor haacute casas de moradias que formam ao

centro uma grande praccedila sem nenhuma infraestrutura em frente a esta praccedila

66 SANTOS Deotildes Palhano dos Entrevista concedida agrave autora no dia 12 de maio de 2018 67 REIS Orides SANTOS Deotildes Palhano Entrevistas concedida agrave autora no dia 12 de maio de

2018 68 REIS Orides Entrevista concedida agrave autora no dia 12 de maio de 2018 69 REIS Orides Entrevista concedida agrave autora no dia 12 de maio de 2018

65

perpassa uma rua de chatildeo batido sendo que a escola da comunidade fica do outro

lado a escola eacute municipal se chama Bento Eziacutedio Rodrigues atende

aproximadamente vinte alunos que estatildeo matriculados nas seacuteries iniciais do ensino

fundamental tendo duas professoras e um funcionaacuterio para fazer merenda e limpar

o paacutetio como se pode observar na Figura 19

Figura 19 ndash Praccedila Vila do Distrito Juaacute ao fundo cancha de laccedilo

Fonte acervo pessoal da autora (2018)

Ambos os entrevistados70 explicam que o Juaacute atualmente eacute um lugar de

idosos aposentados que outrora as pessoas viviam das roccedilas e da pecuaacuteria

extensiva na deacutecada de 1980 com o advento da induacutestria em Caxias do Sul os

jovens abandonaram seu modo de vida e foram buscar novas oportunidades poreacutem

estes jovens que foram embora retornam com frequecircncia natildeo perdendo a sua

essecircncia Relataram que a uacutenica fonte de trabalho eacute ser peatildeo de fazenda fazendas

estas que produzem o queijo serrano ou vendem leite para a Piaacute71 sendo que a

lavoura eacute para subsistecircncia Outra fonte de renda eacute ser funcionaacuterio da serraria cujo

proprietaacuterio e Joatildeo Egiacutedio que funciona proacuteximo da vila Outro fator importante eacute a

venda de pequenas chaacutecaras para moradores de Caxias do Sul que vem aos finais

70 REIS Orides SANTOS Deotildes Palhano Entrevistas concedidas agrave autora no dia 12 de maio de

2018 71 Piaacute Cooperativa Agropecuaacuteria Petroacutepolis Ltda Empresa que faz a coleta do leite nas fazendas da

regiatildeo

66

de semana descansar na localidade poreacutem se percebe que estes novos moradores

muitas vezes natildeo interagem com os moradores locais

Segundo o morador Reis72 ldquoapesar da vinda de pessoas de outros lugares o

Juaacute natildeo perdeu sua identidade fala em Juaacute lembra pinhatildeo colheita do pinhatildeo ateacute

haacute uma criacutetica que diz na eacutepoca do pinhatildeo o juazeiro fala grossordquo Ditado que o

entrevistado73 reafirma sorrindo ldquona eacutepoca do pinhatildeo o juazeiro fala grosso claro

que eacute apenas um dito popular uma maneira de se referir mas sempre eacute dito haacute

aqueles que natildeo gostamrdquo

Nota-se que a vida na comunidade do Juaacute se passa de forma tranquila com

poucos moradores que sua identidade estaacute relacionada agrave pecuaacuteria extensiva com

as lides com o gado bem como ao pinhatildeo uma fruta tiacutepica que se desenvolve na

Araucaacuteria ou pinheiro nativo como eacute conhecido na regiatildeo O pinhatildeo seja ele

assado cozido ou paccediloca74 eacute muito consumido pelos moradores do interior de Satildeo

Francisco de Paula durante o inverno inclusive como mistura do cafeacute da manhatilde

46 DISTRITO DO RINCAtildeO DOS KROEFF

O distrito de Rincatildeo dos Kroeff foi criado em 10 de maio de 1950 Fica a 35

quilocircmetros distante da Sede poreacutem muito antes de se institucionalizar oficialmente

este espaccedilo moradores locais contam como tudo se iniciou

Meu avocirc foi um dos primeiros a vim para caacute ele se chamava Guilherme Faciole ele nasceu no navio vindo da Itaacutelia Ele contava que teve uma desavenccedila em Caxias e fincou o peacute pra caacute pra natildeo acharem ele que aqui era soacute mato e na revoluccedilatildeo de 35 ele fugia de casa para natildeo ser levado pelas tropas os piquetes levavam para combater entatildeo ele sempre dizia que pousou vaacuterias noites embaixo dos peraus da serra do Umbu para natildeo ser levado O falecido vovocirc vivia da caccedila do porco do mato tateti ele fazia charque de porco para ter a carne ele viveu 106 anos e dizia se natildeo tivesse fumado viveria mais uns dez isso faz parte da histoacuteria do Rincatildeo dos Kroeff Junto teve o falecido Acircngelo Menegaacutes que entro aqui na mesma eacutepoca Eles satildeo os fundadores do distrito75

O acesso ao distrito Rincatildeo dos Kroeff permanece totalmente pela estrada de

chatildeo batido sendo possiacutevel ir ao municiacutepio de Maquineacute descendo pela serra do

Umbu Poreacutem muito antes da estrada a busca de mantimentos e o escoamento da

72 REIS Orides Entrevista concedida agrave autora no dia 12 de maio de 2018 73 REIS Orides Entrevista concedida agrave autora no dia 12 de maio de 2018 74 Paccediloca carne de porco moiacuteda e frita no azeite ou banha a qual se acrescenta o pinhatildeo jaacute cozido

e moiacutedo 75 FACIOLE Reinaldo Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de marccedilo de 2018

67

produccedilatildeo se dava pelos carreiros visto que natildeo havia abertura de estrada e nem

viatura76 como os moradores relatam

Tudo era na tropeada as tropas que ia para Rolante Na tropeada saia um tropeiro na frente e um recircs com um cincerro que era a madrinheira da tropa saia laacute pelo Chuvisqueiro e saia laacute em Rolante perdia boi na estrada ficava semanas boi perdido agraves vezes nem se achava mais tambeacutem tinha tropa de porco e tinha as tropeadas de mula puxando milho feijatildeo trigo tudo produzido aqui e levado de cargueiro carreta era muito pouco porque natildeo tinha estrada para anda era soacute os trilhos pelo meio dos matos e campos e se produzia milho era o inverno inteiro saia tropas e mais tropas com trinta quarenta mulas burros transportando mantimentos da produccedilatildeo do gratildeo haacute tambeacutem tinha a flor de Pireto que era lucro ningueacutem conhece isso aiacute hoje essa flor era levada para Taquara e fazia veneno para formiga tudo que era tipo de veneno era uma flor muito toacutexica Acredita tropear galinha pois eacute a gente criava bastante saia com os cargueiros como era a vida eles faziam um girau no cesto naqueles balaios para fazer duas camas uma mais em cima e outra em baixo daiacute quando era veratildeo era muito quente tinha que no meio da viagem tirar de dentro do cesto botar na aacutegua na sanga para natildeo morrer ateacute chegar no mercado dali para praia a eacutepoca que mais vendia era novembro e dezembro daiacute tinha preccedilo bom tudo criada solta aviaacuterio nem se falava77

Ao ouvir os moradores se percebe que a construccedilatildeo do distrito aconteceu

devido ao esforccedilo e trabalho de muitas pessoas visto que o local era de mata nativa

densa e precisou ser desmatado para ser ocupado pelas pessoas Explica o

entrevistado Faciole78 ldquopara fazer uma lavoura tambeacutem precisava derrubar o

pinheiro seu Onorino Buffon me contou que faziam fogo ao redor do pinheiro eles

eram muito grosso para derrubar a machado entatildeo faziam fogo secavam para

depois fazer a roccedilardquo E a moradora79 local acrescenta ldquoaqui tambeacutem tinha os

barbacuazeiros produziam erva mais aqui eles soacute tiravam a erva e sapecavam e

depois ia para outro lugar industrializa tudo era diferenterdquo

Poreacutem segundo os moradores este modelo de vida rudimentar se modifica

com a chegada das serrarias sendo que a dos Kroeff foi a primeira juntamente com

a serraria se viu a necessidade da construccedilatildeo de novas casas para os

trabalhadores surgindo ali a vila do distrito Rincatildeo dos Kroeff no iniacutecio a serraria era

tudo manual relata Faciole80 ldquoa uacutenica forma de tira a madeira era com um enfieira

76 Viatura se refere a carro de passeio caminhotildees 77 FACIOLE Reinaldo FACIOLE Maria Madalena Scalco Entrevistas concedidas agrave autora no dia 18

de marccedilo de 2018 78 FACIOLE Reinaldo Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de marccedilo de 2018 79 FACIOLE Maria Madalena Scalco Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de marccedilo de 2018 80 FACIOLE Reinaldo Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de marccedilo de 2018

68

de boi eu cheguei a ver cinco ternos de boi carreiro81 emendado puxando um

pinheiro eacute uma bicheira de boi natildeo tinha outra formardquo

Rincatildeo dos Kroeff eacute o menor distrito de Satildeo Francisco de Paula poreacutem em

suas terras se desenvolveu a cultura dos hortifrutigranjeiros desde muito cedo jaacute

que sua colonizaccedilatildeo eacute basicamente italiana e alematilde e os italianos tecircm a cultura do

plantio visando lucro A moradora Faciole82 afirma ldquotudo comeccedilou por aqui depois

se expandiu para o municiacutepio comeccedilamos com moranga branca depois repolho

couve broacutecolis alface e daiacute veio beterraba e tudo o restordquo Acrescenta ainda83 que

ldquodaqui saiacuteram os primeiros caminhotildees de hortifruacuteti do municiacutepio para a Ceasa teve

eacutepoca de sair quarenta caminhotildees por dia do Rincatildeo hoje natildeo sai mais porque

muitos foram buscar novos lugares para plantarrdquo E juntamente com a mudanccedila dos

proprietaacuterios em busca de novas terras muitos de seus funcionaacuterios foram embora

junto afirma em entrevista o morador local84 ldquomuita gente do Rincatildeo foi embora

muitas gurias foram embora para estudar para achar emprego e natildeo voltaram maisrdquo

Atraveacutes da fala da moradora pode-se observar que apesar do distrito ser

produtivo enfrenta algumas dificuldades com relaccedilatildeo ao estudo de seus moradores

que para continuarem seus estudos se assim o desejarem necessitam abandonar

seus pais e ir em busca na Sede ou arredores visto que no distrito existe uma uacutenica

escola Gastatilde Henth Esta eacute municipal e atende dos quatro anos ao nono ano do

ensino fundamental A moradora Faciole explica

O coleacutegio hoje tem 99 alunos ao total quando eles terminam o nono ano alguns vatildeo estudar mas satildeo pouquiacutessimos os outros ficam por aiacute mesmo natildeo tem um transporte que leve eles para fazer o ensino meacutedio na Sede que seria a escola de ensino meacutedio mais proacuteximo se quiser estudar vai ter que ir embora reforccedila quem e trabalhador fica trabalhando com os pais quem natildeo eacute [] As pessoas na sua grande maioria soacute tem o ensino fundamental aqui85

Este eacute um dos grandes problemas enfrentados pelos moradores do Rincatildeo

dos Kroeff a possibilidade de continuar estudando A escola que laacute existe os

moradores locais natildeo sabem precisar a data mas sabem que foi durante o mandato

81 Ternos de boi carreiro significam vaacuterias duplas de bois cangados e ligados por um pedaccedilo de

madeira que vatildeo na canga entre a dupla de bois Esse pau roliccedilo na regiatildeo se chama de cambatildeo 82 FACIOLE Maria Madalena Scalco Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de marccedilo de 2018 83 FACIOLE Maria Madalena Scalco Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de marccedilo de 2018 84 FACIOLE Reinaldo Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de marccedilo de 2018 85 FACIOLE Maria Madalena Scalco Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de maio de 2018

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do prefeito Escobar (1977-1982) que ela foi construiacuteda Neste contexto aparece

tambeacutem a dificuldade de se locomover fazendo uso do transporte puacuteblico

Haacute sete anos atraacutes o Rincatildeo estava bom mesmo tinha ocircnibus da praia agraves vezes passava quatro a cinco ocircnibus da praia tudo pela serra do Umbu Agora soacute tem um trecircs dias por semana As empresas deixaram de trafegar por aqui elas natildeo vatildeo descer numa serra de chatildeo batido sendo que tem a outra86 com asfalto87

Os moradores se orgulham da festa religiosa que acontece todos os anos em

agosto sendo que o santo padroeiro eacute Satildeo Roque A festa da comunidade

apresenta uma tradiccedilatildeo local muito interessante na segunda-feira apoacutes a festa ela

continua para os moradores locais que vatildeo ao salatildeo paroquial para se divertir entre

si e esta eacute uma tradiccedilatildeo que eacute comentada em todo o municiacutepio Faciole88 saudoso

afirma ldquopara ti ter uma ideia nessa festa chegava dar vinte poucos ocircnibus lotado que

vinham de outros municiacutepios como Igrejinha Taquara Porto Alegre Novo

Hamburgo o espaccedilo ficava pequenordquo Acrescenta89 ainda ldquoaqui noacutes tinha o Clube

Serrano que dava baile janta italiana dava um movimento louco mas terminou ateacute

o baile das rainhas cada ano era uma era tatildeo lindo mas tudo se acabourdquo

Figura 20 ndash Imagem da Igreja Satildeo Roque em dia de festa no Rincatildeo dos Kroeff

Fonte acervo pessoal da autora (2018)

86 A outra se refere a rodovia RS-453 conhecida como Rota do Sol 87 FACIOLE Reinaldo Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de marccedilo de 2018 88 FACIOLE Reinaldo Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de marccedilo de 2018 89 FACIOLE Reinaldo Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de marccedilo de 2018

70

Percebe-se que o distrito Rincatildeo dos Kroeff eacute o uacutenico que obteve em seu

iniacutecio uma colonizaccedilatildeo por descentes de italianos dentro do municiacutepio de Satildeo

Francisco de Paula o que demonstra o quatildeo forte se daacute a tradiccedilatildeo ldquoitalianardquo neste

local permanecendo intriacutenseca na vida cotidiana de seu povo com a cultura do

plantio de hortifrutigranjeiros que permanece apesar do tempo como sendo a sua

maior identidade local

47 DISTRITO DE LAJEADO GRANDE

Lajeado Grande em tempos idos pertenceu ao distrito de Cazuza Ferreira e

somente em 12 de dezembro de 1968 se tornou um distrito independente segundo

a Lei nordm 655 encontrada nos autos da Prefeitura Municipal de Satildeo Francisco de

Paula A vila do distrito Lajeado Grande fica distante 63 quilocircmetros da Sede e se

situa na confluecircncia do Arroio Porco Morto e o Rio Bururi Seu surgimento acontece

segundo o morador Fogaccedila90 ldquopor volta de 1940 com a abertura da estrada Canela

ndash Bom Jesus a atual RS-476 que corta a vila do Distritordquo Essa estrada segundo o

morador facilitou a locomoccedilatildeo que anteriormente era feita totalmente pelas trilhas e

picadas por onde somente se passava a cavalo ou de carreta E o entrevistado

explica como acontece o desenvolvimento inicial da vila

Tu sabe aqui tem o nome de Lajeado Grande por causa do rio que eacute cheio de lajes grandes o que facilitava a travessia e as terras aqui por roda era tudo do falecido Pequeno Cardoso ele doou parte para a construccedilatildeo da vila onde o falecido Leopoldino Cardoso irmatildeo do Pequeno tinha uma lsquobudega velharsquo91 por aqui sendo o primeiro comeacutercio da vila92

A abertura da estrada possibilitou o desenvolvimento da vila juntamente com

o Casaratildeo um hotel pensatildeo que foi construiacutedo as margens do Arroio Porco Morto

este Casaratildeo passou por diversos proprietaacuterios

Leopoldino Cardoso foi o idealizador do Casaratildeo juntamente com os seus soacutecios Heraacuteclito Andrade de Cardoso lsquoJoanitorsquo Joseacute Osoacuterio de Lima lsquoZecarsquo e Pequeno Cardoso sendo que o Casaratildeo era uma casa de negoacutecio compravam queijo couro era um comeacutercio forte vendia secos e molhados inclusive a primeira rodoviaacuteria foi instalada neste espaccedilo poreacutem em 1948 Joatildeo Pacheco Cardoso assume e amplia o estabelecimento construindo o segundo piso da casa de madeira e alugando para outros dois moradores

90 FOGACcedilA Blair dos Santos Entrevista concedida agrave autora no dia 06 de abril de 2018 91 Budega velha referindo-se a uma antiga casa de comeacutercio de secos e molhados localizada onde

hoje se encontra o armazeacutem Celeiro 92 FOGACcedilA Blair dos Santos Entrevista concedida agrave autora no dia 06 de abril de 2018

71

Eremi Terres e Claunir Lucena Com a reforma o Casaratildeo passa a ter treze quartos para aluguel uma loja onde encontrava-se tudo o que se necessitava de alfinete tecido alimentos e raccedilotildees aleacutem da ala que servia de moradia para os proprietaacuterios Em 1962 o estabelecimento eacute alugado para Eraldo Bento de Oliveira que aleacutem de gerenciar o estabelecimento colocou junto um bar local de encontro dos homens da redondeza para tomar um lsquotragorsquo93 (CERUTTI SILVA CARDOSO 2002 p 19)

Figura 21 ndash Imagem do Casaratildeo pouco antes de ser desmanchado

Fonte acervo pessoal de Fernando Oliveira (conhecido como Guego) (2018)

O Casaratildeo foi desmanchado na deacutecada de 1980 pelo entatildeo proprietaacuterio Reno

Pacheco Poreacutem percebe-se na vila que seus antigos moradores falam com certo

saudosismo deste estabelecimento que fez parte de suas vidas e chegam a

lamentar o seu fim morador Fogaccedila94 afirma ldquoali se fez o pastel mais famoso do

Lajeado Grande o pastel da Odila mas tudo se acabou quando eles entregaram e

construiacuteram laacute na esquinardquo95

Poreacutem a vila Lajeado Grande foi lentamente se desenvolvendo Devido agrave

necessidade da conservaccedilatildeo da nova estrada foi construiacuteda agraves margens do Rio

Bururi uma capatazia do DAER Segundo Cerutti Silva e Cardoso (2002 p 18) ldquoo

primeiro capataz foi Capitulino Prudecircncio de Oliveira vindo de Santa Catarina sua

funccedilatildeo era manter as estradas e chegou a ter vinte funcionaacuteriosrdquo Percebe-se que a

93 Trago expressatildeo local que significa beber uma cachaccedila 94 FOGACcedilA Blair dos Santos Entrevista concedida agrave autora no dia 06 de abril de 2018 95 Esquina eacute o nome dado a parte da vila do Lajeado Grande onde se daacute o entroncamento das

rodovias RS-453 e ERS-476

72

partir deste momento se inserem neste distrito pessoas advindas de outros estados

e locais visto que ateacute o presente momento o distrito era habitado por fazendeiros

naturais do proacuteprio municiacutepio e que tinham suas vidas ligadas diretamente agrave

pecuaacuteria extensiva e agrave produccedilatildeo do queijo serrano Importante destacar que a

esposa de Capitulino segundo Cerutti Silva e Cardoso (2002 p 18) ldquoa Celicina

Guilherme da Silva se torna uma figura conhecida por realizar partos sendo

chamada como parteira de campanhardquo Na atualidade filhos netos e bisnetos do

casal ainda residem na vila

A vila do Lajeado Grande tambeacutem recebe novos moradores com a praacutetica do

corte do pinheiro nativo sendo que na deacutecada de 1950 havia uma faacutebrica de

beneficiamento de madeira ateacute se transformar em pasta este material era levado

para Esteio onde funcionava agrave matriz A partir dos anos 1950 ocorre a instalaccedilatildeo de

serrarias sendo que a Madeireira Albeflor de propriedade de Valter Sguaizer se

instala em 1964 Novamente busca-se matildeo de obra em localidades proacuteximas como

Lagoa Vermelha Vacaria e Bom Jesus poreacutem com a proibiccedilatildeo da extraccedilatildeo de

madeira de lei a serraria deixou de funcionar

Percebe-se que no distrito natildeo houve uma homogeneizaccedilatildeo identitaacuteria visto a

influecircncia advinda de muitas culturas no passado atraveacutes da extraccedilatildeo de madeira

e na atualidade com o advento das lavouras de hortifrutigranjeiros e pomares

frutiacuteferos que ocupam boa parte do distrito substituindo a pecuaacuteria extensiva que jaacute

natildeo proporciona um lucro efetivo Entatildeo os proprietaacuterios na sua grande maioria

venderam ou arrendaram suas terras para novas culturas o que modifica o modo de

vida local pois grande parte dos trabalhadores adveacutem de outros estados como o

Paranaacute e tambeacutem se observa o uso da matildeo de obra indiacutegena

Essa miscigenaccedilatildeo se observa nas escolas locais visto que na vila funciona a

Escola Municipal D Pedro I que segundo Cerutti Silva e Cardoso (2002 p 35)

ldquoinicia em 1965 poreacutem a professora e o preacutedio eram mantidos pela Serraria mas na

deacutecada de 70 a prefeitura assumiu a escola sendo que Eloci Martim foi a primeira

professora da Serrariardquo Escola da Serraria como ainda eacute conhecida por boa parte

dos moradores locais apesar de a escola natildeo se encontrar mais onde havia a antiga

serraria Atualmente a Escola Dom Pedro I funciona em um preacutedio obtido atraveacutes da

Associaccedilatildeo de Moradores atendendo alunos da preacute-escola ateacute o sexto ano das

seacuteries finais tendo em seu quadro seis professores e duas funcionaacuterias Sendo que

73

a obra para um novo preacutedio teve iniacutecio neste ano mas percebe-se que a obra parou

por volta do mecircs de maio Poreacutem na vila tambeacutem se encontra uma escola estadual

A documentaccedilatildeo necessaacuteria para a criaccedilatildeo de uma nova escola na localidade foi elaborada por Manoel Cardoso de Andrade juntamente com a professora Odazilda Cardoso Demori e encaminhada agrave Secretaria da Educaccedilatildeo sendo que em 11 de fevereiro de 1953 foi criada a Escola Isolada de Lajeado Grande sendo os professores estaduais mas o preacutedio sob responsabilidade comunitaacuteria iniciou o seu funcionamento nas dependecircncias do DAER e somente em 1957 foi construiacutedo um preacutedio de madeira em terras doadas por Pequeno Cardoso local onde hoje ainda se encontra a escola poreacutem passou por muitas reformas sendo que em 2000 recebeu um novo preacutedio de alvenaria o que possibilitou a realizaccedilatildeo de um grande sonho dos professores e comunidade a implantaccedilatildeo do Ensino Meacutedio que concretizou-se em 200296

Atualmente a escola atende em torno de trezentos alunos da Educaccedilatildeo

Baacutesica poreacutem percebe-se que devido agraves safras de hortifrutigranjeiros o nuacutemero de

alunos se alterna durante o ano O que tambeacutem se percebe eacute o comportamento dos

alunos com relaccedilatildeo agrave diversidade cultural por exemplo usam bombacha laccedilam boi

de pau no recreio e escutam funk uma cultura totalmente diferente da tradicionalista

gauacutecha o que compreende-se como algo advindo da globalizaccedilatildeo cultural que

vivemos no mundo atual reforccedilando novamente o natildeo reconhecimento de uma

identidade forte na localidade

Poreacutem as famiacutelias tradicionais do local manteacutem fortemente arraigada a

cultura tradicionalista que adveacutem do homem do campo tendo no distrito festas

campeiras torneios de laccedilo e a festa religiosa uma vez por ano em homenagem ao

Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus padroeiro da vila

Na atualidade natildeo se percebe uma identidade forte e marcada no distrito e

sim uma miscigenaccedilatildeo de diferentes culturas e etnias que convivem e se integram

harmonicamente

96 CARDOSO Amaacutelia Celuderes Entrevista concedida agrave autora no dia 08 de marccedilo de 2018

74

5 DESCRICcedilAtildeO DO PRODUTO

O produto consiste em um livro paradidaacutetico sobre a histoacuteria de Satildeo Francisco

de Paula Apresenta de maneira didaacutetica a histoacuteria de Satildeo Francisco de Paula bem

como balotildees explicativos imagens sugestotildees de atividades e leituras

complementares Poderaacute servir de apoio pedagoacutegico a professores e alunos do

municiacutepio visto que existe pouco material sobre a histoacuteria deste municiacutepio e se faz

importante trabalhar a histoacuteria local percepccedilatildeo que a autora obteve ao longo da sua

caminhada como professora de histoacuteria que atua nas seacuteries finais do ensino

fundamental e meacutedio haacute dezessete anos na rede estadual do municiacutepio

Partir do local natildeo eacute abandonar o conhecimento histoacuterico eacute dar outro valor

sentido para este conhecimento Segundo Caimi

Levar em conta o universo da crianccedila ou do adolescente natildeo eacute pois abdicar do rigor intelectual [] mas garantir que a apropriaccedilatildeo deste conhecimento ocorra permeada de sentido e significado resultando em soacutelidas aprendizagens (CAIMI 2006 p 24)

Seguindo esta perspectiva a implantaccedilatildeo do Referencial Curricular Gauacutecho

embasado na Base Nacional Comum Curricular reforccedila a ideia jaacute discutida nos

paraacutegrafos anteriores

No que se refere especificamente ao componente Histoacuteria a base rompe tanto com a cronologia quanto agrave visatildeo eurocecircntrica da histoacuteria tradicional Entram em cena novos atores novas sociedades novos caminhos que sempre tiveram na histoacuteria mas nem sempre receberam a devida importacircncia Acompanhando a Base Nacional Comum Curricular o Referencial Curricular Gauacutecho no que se refere especificamente agrave disciplina de Histoacuteria manteacutem seu foco na aprendizagem dos alunos nos diferentes espaccedilos e tempos tendo a preocupaccedilatildeo de integrar o curriacuteculo com a diversidade regional de nosso Estado Tambeacutem eacute importante contemplar os temas integradores como eacutetica cidadania cultura e valorizaccedilatildeo das diversidades assegurando a multiplicidade de olhares sobre o mundo (RIO GRANDE DO SUL 2018 p 118)

Portanto o paradidaacutetico seraacute mais um material disponiacutevel aos professores e

estudantes da educaccedilatildeo baacutesica de Satildeo Francisco de Paula na construccedilatildeo do

conhecimento da histoacuteria do municiacutepio bem como o reconhecimento de sua

identidade neste material visto que se almeja que os estudantes percebam

vestiacutegios de sua identidade e se percebam como parte deste municiacutepio atraveacutes do

conhecimento de sua histoacuteria

75

O paradidaacutetico vem com o tiacutetulo rdquoTropeando histoacuterias em Satildeo Francisco de

Paulardquo sendo que a capa traz a foto do Monumento aos Carreteiros monumento

que se encontra na Avenida Juacutelio de Castilhos em frente ao preacutedio da Prefeitura

Municipal

Figura 22 ndash Capa do livro

Fonte Livro Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula

Na sequecircncia se apresenta o iacutendice que possibilita ao leitor localizar os

diversos temas abordados visto que existem nove capiacutetulos

76

Figura 23 ndash Iacutendice do livro

Fonte Livro Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula

77

O capiacutetulo um apresenta a localizaccedilatildeo de Satildeo Francisco de Paula com uma

seacuterie de mapas que facilitam a compreensatildeo espacial dos alunos assim como um

mapa da subdivisatildeo do municiacutepio em distrito Ao final satildeo sugeridas duas atividades

que podem ser desenvolvidas de maneira interdisciplinar com o apoio da professora

de arte geografia e portuguecircs

Figura 24 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 1)

Fonte Livro Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula

78

Figura 25 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 1)

Fonte Livro Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula

O capiacutetulo dois aborda a existecircncia indiacutegena em Satildeo Francisco de Paula

antes da chegada dos desbravadores vindos de Satildeo Paulo Como sugestatildeo de

atividades apresenta-se uma pesquisa sobre as diferentes tribos indiacutegenas que

habitavam a Proviacutencia de Satildeo Pedro aleacutem da criaccedilatildeo de um painel infograacutefico

79

Figura 26 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 2)

Fonte Livro Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula

No capiacutetulo trecircs se apresentam os primeiros donataacuterios colonizadores de Satildeo

Francisco de Paula com trecho de um testamento deixado por Pedro da Silva

Chaves o fundador de Satildeo Francisco de Paula bem como o mapa que localiza as

primeiras sesmarias que corresponde ao territoacuterio onde hoje eacute a Sede do municiacutepio

80

Figura 27 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 3)

Fonte Livro Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula

Nos capiacutetulos quatro e cinco eacute apresentado o desenvolvimento de Satildeo

Francisco de Paula ainda no seacuteculo XIX quando pertencia ao municiacutepio de Santo

Antocircnio da Patrulha e no final do seacuteculo XIX quando passa a pertencer ao entatildeo

81

municiacutepio de Taquara do Mundo Novo Existe tambeacutem um mapa que demonstra a

extensatildeo territorial de Santo Antocircnio da Patrulha e quais satildeo os municiacutepios hoje que

pertenceram a este bem como a importacircncia da abertura da estrada que liga Satildeo

Francisco de Paula a Taquara

Figura 28 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 4)

Fonte Livro Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula

82

Os capiacutetulos seis e sete apontam a construccedilatildeo do Municiacutepio a partir de sua

emancipaccedilatildeo em 1903 sua extensatildeo territorial e a diminuiccedilatildeo do seu territoacuterio ao

longo do tempo e a histoacuteria da Igreja Matriz Como sugestatildeo de atividade pesquisar

a diversidade religiosa existente na comunidade escolar e criar graacuteficos com essas

informaccedilotildees podendo a partir de entatildeo trabalhar com as questotildees religiosas ontem

e hoje no mundo

Figura 29 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 6)

Fonte Livro Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula

83

No capiacutetulo oito se apresenta o que difere os sete distritos de Satildeo Francisco

de Paula Este capiacutetulo se apresenta subdividido em sete subtiacutetulos onde cada um

corresponde a um distrito do municiacutepio Tendo como fonte principal as entrevistas

realizadas com moradores locais mesclado com fontes documentais e bibliograacuteficas

que corroboram para se perceber que haacute alguns distritos que manteacutem suas tradiccedilotildees

ao longo do tempo e eacute possiacutevel perceber que existe uma identidade que aproxima

aquela populaccedilatildeo

Figura 30 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 8)

Fonte Livro Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula

84

No uacuteltimo capiacutetulo o nove se exibe uma lista de sugestotildees de leituras

complementares a fim de se aprofundarem sobre determinados temas E por fim

as referecircncias utilizadas para a construccedilatildeo do paradidaacutetico Tropeando Histoacuterias em

Satildeo Francisco de Paula

Figura 31 ndash Atividade do livro (Sugestatildeo de Leituras Complementares)

Fonte Livro Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula

85

O produto foi testado em duas turmas da Educaccedilatildeo Baacutesica na Escola

Estadual de Ensino Meacutedio Lajeado Grande com o propoacutesito de avaliar qual seria a

reaccedilatildeo dos estudantes diante do material e por ele ter sido produzido por algueacutem

que convive com eles semanalmente A receptividade foi bastante gratificante como

se pode observar na Figura 32

Figura 32 ndash Alunos do Ensino Meacutedio

Fonte acervo pessoal da autora (2019)

A receptividade foi muito interessante visto que os estudantes

acompanharam a trajetoacuteria para chegar ao produto final algo que os deixava

ansiosos para manusear pois muitas vezes foram parceiros A autora foi

compartilhando com os estudantes as informaccedilotildees obtidas durante a pesquisa e as

descobertas encontradas usando em suas aulas a histoacuteria local para abordar os

diferentes temas e conceitos histoacutericos

Quando a autora apresenta o produto os estudantes do ensino meacutedio estes

formam grupos por distritos e buscam logo reconhecer no material sua identidade

apoacutes comentam sobre as peculiaridades de cada distrito Poreacutem os alunos do

ensino fundamental manuseiam o produto mas natildeo se deteacutem ao distrito em que

pertence e sim as imagens e as explicaccedilotildees apresentadas no vocecirc sabia

O que enriquece o trabalho realizado foi o envolvimento dos estudantes com

o produto solicitando quando poderatildeo ler calmamente todo o trabalho

86

6 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

A partir de experiecircncias pessoais em sala de aula se percebeu que o ensino

de Histoacuteria quando se partia da histoacuteria local havia maior interesse dos estudantes

da educaccedilatildeo baacutesica motivo pelo qual se deu a questatildeo-problema desta dissertaccedilatildeo

que estaacute relacionada diretamente com o natildeo uso desta histoacuteria pelos professores da

educaccedilatildeo baacutesica

Em conversas informais com professores da educaccedilatildeo baacutesica que atuam no

municiacutepio de Satildeo Francisco de Paula em sua grande maioria alegam que o grande

empecilho para se trabalhar a histoacuteria local eacute o pouco material disponiacutevel sobre a

histoacuteria de Satildeo Francisco de Paula aleacutem do rigor dos curriacuteculos que impotildeem o

ensino de Histoacuteria de maneira linear sem contextualizaccedilatildeo com a realidade vivida

pelos estudantes pois desta forma natildeo estatildeo preparando os estudantes para as

avaliaccedilotildees do Ministeacuterio da Educaccedilatildeo bem como para o vestibular Poreacutem natildeo se

estaacute afirmando que deveraacute estudar somente a histoacuteria local e sim partir dela como

incentivo para estudos dos conceitos e temaacuteticas da histoacuteria por muitas vezes

totalmente abstrato e de difiacutecil compreensatildeo pela grande maioria dos estudantes

A partir de entatildeo se realizaram inuacutemeros questionamentos como qual a

necessidade de se ensinar Histoacuteria de forma abstrata sem nenhuma relaccedilatildeo com

as vivecircncias dos estudantes Por que natildeo usar a fonte oral como metodologia de

pesquisa no ensino de Histoacuteria em Satildeo Francisco de Paula jaacute que natildeo existem

muitos materiais escritos a respeito desta histoacuteria principalmente no que tange os

distritos do interior Poreacutem estes questionamentos natildeo foram aprofundados na

dissertaccedilatildeo por natildeo ser o objetivo direto da pesquisa mas posteriormente poderaacute

se tornar um novo projeto de pesquisa

Nesta incessante busca por resposta se constroacutei todo o estudo desta

dissertaccedilatildeo que em um primeiro momento busca embasamento em diferentes

autores que comprovam que o ensino de Histoacuteria voltado para o local faz maior

sentido para os estudantes da educaccedilatildeo baacutesica e que isto natildeo significa abandonar

os conceitos histoacutericos e sim questionar analisar a trajetoacuteria humana no tempo e

no espaccedilo sob uma nova metodologia Apenas se sugere uma nova abordagem

que torne o ensino de Histoacuteria menos abstrato algo mais presente na vida do

estudante e que possibilite a ele a habilidade de perceber que o mundo estaacute em

constante mudanccedila poreacutem os fatos natildeo ocorrem de forma isolada no espaccedilo Algo

87

que foi reforccedilado apoacutes a construccedilatildeo da Base Nacional Curricular e o Referencial

Curricular Gauacutecho que vem de encontro com esta proposta de se estudar a histoacuteria

sobre novos olhares natildeo esquecendo das especificidades regionais do estado do

Rio Grande do Sul para o reconhecimento da identidade local e regional

A identidade local nesta pesquisa se buscou atraveacutes de relatos de

moradores locais que gentilmente colaboraram para o sucesso deste trabalho pois

a memoacuteria se tornou a fonte primordial para se escrever o que identifica os sete

distritos que constituem Satildeo Francisco de Paula Certamente a temaacutetica natildeo se

esgotou ainda haacute muito que se pesquisar e escrever sobre a histoacuteria de Satildeo

Francisco de Paula possibilitando a criaccedilatildeo de novos materiais que possam ser

usados em sala de aula pelos professores e alunos deste municiacutepio

Mas ao mesmo tempo haacute uma preocupaccedilatildeo por parte da autora nada

adianta criar produtos sinalizar novos meacutetodos ao ensino de Histoacuteria se o

profissional professor natildeo estiver preparado para trabalhar com novas fontes

histoacutericas novas metodologias de ensino proporcionando aos estudantes a

oportunidade de construir seu proacuteprio conhecimento histoacuterico embasado em sua

realidade e suas vivecircncias

Vivecircncias que se tornaram aliadas na pesquisa pois a autora nasceu e

sempre viveu no municiacutepio de Satildeo Francisco de Paula poreacutem a maior dificuldade

encontrada nesta caminhada foi percorrer grandes distacircncias por estradas de

rodagem em peacutessimas condiccedilotildees de trafegabilidade para gravar os relatos que

servem de base para a construccedilatildeo desta pesquisa O municiacutepio de Satildeo Francisco de

Paula eacute territorialmente extenso e essas distacircncias percorridas deram o nome ao

produto Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula como uma homenagem

aos antigos tropeiros deste municiacutepio que passavam boa parte de sua vida ao

lombo de mulas levando e buscando mercadorias pelos campos de cima da serra

Visto que desde o processo seletivo do mestrado em agosto de 2016

quando se apresentou o projeto de pesquisa jaacute se pensava no produto um livro

paradidaacutetico no formato fiacutesico A autora por diversas vezes foi questionada por que

natildeo um blog ou site Porque na forma fiacutesica este material seria de faacutecil manuseio

pelos estudantes e professores pois principalmente no interior uso da internet ainda

eacute um problema visto que em muitos locais natildeo existe sinal de telefonia diraacute

internet

88

O paradidaacutetico foi se moldando ao longo do tempo ateacute se chegar a versatildeo

final com uma ampla gama de informaccedilotildees e curiosidades sobre os sete distritos de

Satildeo Francisco de Paula onde se pretende que os alunos e professores possam

fazer uso deste material em sala de aula para tanto a autora pretende

posteriormente lanccedilar o produto para que possa ser lido e manuseado por todos

inclusive por aqueles que gostam de histoacuteria e sentem curiosidade sobre a formaccedilatildeo

do seu distrito e por conseguinte do municiacutepio de Satildeo Francisco de Paula

O paradidaacutetico foi testado em duas turmas da Escola Estadual de Ensino

Meacutedio Lajeado Grande sendo uma de Ensino Meacutedio e a outra das seacuteries finais do

Ensino Fundamental Os alunos jaacute detinham o conhecimento que a autora estava

cursando o Mestrado e que para sua conclusatildeo deveria apresentar um produto Era

de conhecimento de todos os estudantes que a autora estava produzindo um

paradidaacutetico sobre a histoacuteria de Satildeo Francisco de Paula pois a mesma eacute professora

destes estudantes nesta escola

Em um primeiro momento se explica que eacute apenas um protoacutetipo que

somente a capa estaacute colorida e o restante estaacute todo em preto e branco e que a

versatildeo final teraacute as imagens e as curiosidades coloridas o que com certeza

chamaraacute mais atenccedilatildeo Ao entregar o paradidaacutetico Tropeando Histoacuterias em Satildeo

Francisco de Paula para que possam manuseaacute-lo veio a primeira grande surpresa

os estudantes ficaram muito contentes por a turma ter sido escolhida pela autora

escolha essa que se justifica por ter trabalhado todo o ano de 2017 com estes

alunos partindo da histoacuteria local

A turma do oitavo ano do Ensino Fundamental manuseou sendo que os

alunos acharam interessante poreacutem se deteram mais nas imagens e balotildees do

ldquovocecirc sabiardquo Mas de maneira ampla e geral acharam muito interessante a foto de

capa com o Monumento aos Carreteiros situado na Avenida Juacutelio de Castilhos em

frente ao preacutedio da Prefeitura Municipal pois alguns natildeo conhecem a Sede do

municiacutepio

Os alunos do segundo ano do Ensino Meacutedio se surpreenderam e foram direto

ler sobre o distrito no qual residem Interessados questionaram sobre curiosidades

de como o material foi construiacutedo quais as maiores dificuldades encontradas

elogiaram o leiaute as imagens de fundo ao lado de cada curiosidade relatando que

chama a atenccedilatildeo aleacutem de considerarem relevantes as sugestotildees de atividades e

ao final solicitaram quando o material estaraacute disponiacutevel para que possam ler

89

integralmente visto que um periacuteodo de cinquenta minutos natildeo foi suficiente para que

todos manuseassem se fazendo necessaacuterio levar novamente na proacutexima aula

A autora se sentiu motivada pela recepccedilatildeo do produto por seus alunos o que

a incentiva continuar pesquisando sobre outras temaacuteticas a respeito da histoacuteria de

Satildeo Francisco de Paula trazendo para seu fazer pedagoacutegico novas fontes que

proporcionem um estudo da Histoacuteria de maneira ampla e contextualizada com a

realidade local que os cerca

90

REFEREcircNCIAS

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Jornal Satildeo Chico Tchecirc n 11 do dia 25 de maio de 1986

Jornal Satildeo Chico Tchecirc n 12 do dia 28 de maio de 1986

Jornal Pioneiro versatildeo digital do dia 02 de junho de 2017

Entrevistas

Amaacutelia Celuderes Cardoso residente no distrito de Lajeado Grande Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 08 de marccedilo de 2018

Blair dos Santos Fogaccedila residente no distrito de Lajeado Grande Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 06 de abril de 2018

Ceacutelia Pacheco Terres Basso residente no distrito de Cazuza Ferreira Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 04 de agosto de 2018

Darci da Silva Fagundes residente no distrito de Tainhas Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 24 de fevereiro de 2018

Deotildes Palhano dos Santos residente no distrito do Juaacute Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 12 de maio de 2018

Jaures Feijoacute Gomes residente no distrito de Eletra Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 15 de fevereiro de 2018

Luciana Olga Soares residente no distrito Sede Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 01 de marccedilo de 2018

Maria Madalena Scalco Faciole residente no distrito do Rincatildeo dos Kroeff Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 18 de marccedilo de 2018

Moacir Castello Branco de Albuquerque residente no distrito Sede Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 06 abril de 2018

95

Nauro Bossle de Andrade residente no distrito de Cazuza Ferreira Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 04 de marccedilo de 2018

Orides Reis residente no distrito do Juaacute Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 12 de maio de 2018

Reinaldo Faciole residente no distrito do Rincatildeo dos Kroeff Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 18 de marccedilo de 2018

Susana Marques Soares residente no distrito de Eletra Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 15 de fevereiro de 2018

96

APEcircNDICES

97

APEcircNDICE A ndash ENTREVISTA COM MORADORES LOCAIS DOS DISTRITOS DE

SAtildeO FRANCISCO DE PAULA

UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL

PROGRAMA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO EM HISTOacuteRIA ndash MESTRADO EM HISTOacuteRIA PROFISSIONAL

PESQUISA DE CAMPO ndash TATIANA MEacuteLO CARDOSO

1 Nome completo

2 Idade

3 Quantos anos reside neste distrito

4 Como se formou este distrito

5 Por que ele tem esse nome

6 Quem foram os primeiros moradores

7 Como era a vida aqui haacute tempos atraacutes

8 O que mudou aqui com o passar dos anos

9 O que identifica este lugar

10 As pessoas hoje que moram aqui na grande maioria satildeo naturais daqui ou vieram

de onde

11 A(o) Sra(Sr) acredita que as futuras geraccedilotildees valorizaram eou conheceram a

histoacuteria local ou vai se perder no tempo

12 Como funcionava a questatildeo do ensino em meados do seacuteculo XX havia escola na

localidade

13 Qual a primeira escola deste distrito data de fundaccedilatildeo local de funcionamento e a

primeira professora

14 Achas importante trabalhar nas escolas a histoacuteria do lugar

15 O que eacute tradiccedilatildeo deste distrito

16 Qual eacute a fonte de renda das pessoas no que elas trabalham

17 Qual eacute o lazer das pessoas aqui

98

APEcircNDICE B ndash TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Declaro por meio deste termo que concordei em ser entrevistado(a) eou participar na

pesquisa de campo referente ao projetopesquisa Ensino de Histoacuteria Local e o Paradidaacutetico

caso Satildeo Francisco de Paula desenvolvida pela aluna Tatiana Meacutelo Cardoso do Programa de

Poacutes-Graduaccedilatildeo em Histoacuteria ndash Mestrado Profissional da Universidade de Caxias de Sul Fui

informado(a) que poderei consultaacute-la a qualquer momento que julgar necessaacuterio atraveacutes do e-

mail t_ati_mhotmailcom

Afirmo que aceitei participar por minha proacutepria vontade sem receber qualquer

incentivo financeiro ou ter qualquer ocircnus e com a finalidade exclusiva de colaborar para o

sucesso da pesquisa Fui informado(a) dos objetivos estritamente acadecircmicos de estudo

Minha colaboraccedilatildeo natildeo ficaraacute anocircnima e foi realizada por meio de entrevista

semiestruturada A anaacutelise dos dados obtidos seratildeo divulgados natildeo permanecendo restritas

apenas a pesquisadora eou seu(s) orientador(es) coordenador(es)

Fui ainda informado(a) de que posso me retirar desse(a) estudopesquisa programa a

qualquer momento sem prejuiacutezo para meu acompanhamento ou sofrer quaisquer sanccedilotildees ou

constrangimentos Atesto recebimento de uma coacutepia assinada deste Termo de Consentimento

Livre e Esclarecido

Satildeo Francisco de Paula ___ de _____________ de ____

Assinatura do(a) participante

Assinatura do responsaacutevel

Page 7: UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL TATIANA MÉLO CARDOSO

ABSTRACT

This dissertation deals with History teaching in Satildeo Francisco de Paula Rio Grande do Sul with the principle that History Teaching from the place becomes more meaningful to students of basic education For the construction of this research different methodological approaches are used such as documents of the Legislative Assembly of Rio Grande do Sul newspapers bibliographic sources images and oral testimony The study sought to address the construction of the municipality as well which identifies the seven districts belonging to San Francisco Paula As a result a physical paradidaacutetico is created with texts images curiosities suggestions of activities and complementary readings that will serve as pedagogical support to teachers and students of basic education It is hoped that this material can serve as a research to all interested parties

Keywords Teaching History Satildeo Francisco de Paula Identity

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 ndash Mapa de Identificaccedilatildeo das Sesmarias Serranas 26

Figura 2 ndash Divisatildeo Municipal em 1809 ndash Proviacutencia Satildeo Pedro do Rio Grande do Sul

28

Figura 3 ndash Vista da vila de Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra (1901) 29

Figura 4 ndash Vista Avenida Juacutelio de Castilhos (1923) 30

Figura 5 ndash Abertura da estrada ERS-020 Taquara ndash Satildeo Francisco de Paula de

Cima da Serra 31

Figura 6 ndash Accedilougue Central 33

Figura 7 ndash Igreja Matriz em 1931 34

Figura 8 ndash Igreja Matriz 34

Figura 9 ndash Mapa de localizaccedilatildeo de Satildeo Francisco de Paula 36

Figura 10 ndash Patroa Neuza Reis e sua Comissatildeo 39

Figura 11 ndash Gonzaga dos Reis 48

Figura 12 ndash Outdoor entrada da cidade na ERS-020 50

Figura 13 ndash Praccedila Central de Cazuza Ferreira 52

Figura 14 ndash Hotel do Campo 54

Figura 15 ndash Flacircmula de comemoraccedilatildeo aos 50 anos da entidade 57

Figura 16 ndash Barragem do Salto 58

Figura 17 ndash Igreja Santo Antocircnio ndash Distrito de Eletra 61

Figura 18 ndash Peacute com a fruta conhecido como Juaacute 63

Figura 19 ndash Praccedila Vila do Distrito Juaacute ao fundo cancha de laccedilo 65

Figura 20 ndash Imagem da Igreja Satildeo Roque em dia de festa no Rincatildeo dos Kroeff 69

Figura 21 ndash Imagem do Casaratildeo pouco antes de ser desmanchado 71

Figura 22 ndash Capa do livro 75

Figura 23 ndash Iacutendice do livro 76

Figura 24 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 1) 77

Figura 25 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 1) 78

Figura 26 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 2) 79

Figura 27 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 3) 80

Figura 28 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 4) 81

Figura 29 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 6) 82

Figura 30 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 8) 83

Figura 31 ndash Atividade do livro (Sugestatildeo de Leituras Complementares) 84

Figura 32 ndash Alunos do Ensino Meacutedio 85

SUMAacuteRIO

1 INTRODUCcedilAtildeO 11

2 HISTOacuteRIA LOCAL E O ENSINO DE HISTOacuteRIA NA SALA DE AULA 17

3 SAtildeO FRANCISCO DE PAULA CONSTRUCcedilAtildeO DO MUNICIacutePIO 24

31 CONVERSA COM MEMORIALISTAS 25

32 AMPLIANDO O DIAacuteLOGO COM OS MEMORIALISTAS 28

4 SAtildeO FRANCISCO DE PAULA DISTRITOS EM FOCO 41

41 DISTRITO SEDE 42

42 DISTRITO DE CAZUZA FERREIRA 51

43 DISTRITO DE TAINHAS 55

44 DISTRITO DE ELETRA 58

45 DISTRITO DO JUAacute 62

46 DISTRITO DO RINCAtildeO DOS KROEFF 66

47 DISTRITO DE LAJEADO GRANDE 70

5 DESCRICcedilAtildeO DO PRODUTO 74

6 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 86

REFEREcircNCIAS 90

FONTES CONSULTADAS 94

APEcircNDICES 96

APEcircNDICE A ndash ENTREVISTA COM MORADORES LOCAIS DOS DISTRITOS DE

SAtildeO FRANCISCO DE PAULA 97

APEcircNDICE B ndash TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO 98

11

1 INTRODUCcedilAtildeO

Os meacutetodos de ensino de Histoacuteria no Brasil vem sendo discutidos desde sua

criaccedilatildeo como disciplina Segundo Nadai (1992-1993 p 144) a introduccedilatildeo de

Histoacuteria no curriacuteculo ocorre na terceira metade do seacuteculo XIX no Brasil sendo que

desde entatildeo passa por diversas modificaccedilotildees Segundo Schmidt e Cainelli (2009)

os meacutetodos foram se adequando ao momento histoacuterico brasileiro em um primeiro

momento ensinou-se a histoacuteria da Europa Ocidental como a verdadeira histoacuteria da

civilizaccedilatildeo uma histoacuteria abstrata sem relaccedilatildeo com a vida do aluno Nadai (1992-

1993 p 146) acrescenta que ldquoa histoacuteria da paacutetria surgia como seu apecircndice sem

corpo autocircnomo e ocupando um papel extremamente secundaacuterio consistia num

repositoacuterio de biografias de homens ilustres de datas e batalhasrdquo

Poreacutem a partir de 1860 segundo Schmidt e Cainelli (2009 p 12-13) ldquono

periacuteodo republicano a incorporaccedilatildeo da concepccedilatildeo de que a disciplina Histoacuteria tinha

a responsabilidade de formar cidadatildeos ganha forccedilardquo sendo assim as escolas

primaacuterias e secundaacuterias comeccedilaram incluir em seus programas a histoacuteria nacional

com o intuito da formaccedilatildeo da nacionalidade sendo a paacutetria com seus heroacuteis o

principal foco Desta forma a criaccedilatildeo das diretrizes da Lei de Educaccedilatildeo nordm 569271

reforccedila o modelo jaacute instaurado

Foi oficializado o ensino de Estudos Sociais nas escolas brasileiras ficando os conteuacutedos especiacuteficos da Histoacuteria destinados somente aos alunos do antigo segundo grau A concepccedilatildeo e os conteuacutedos da Histoacuteria continuavam atrelados agraves concepccedilotildees tradicionais (SCHMIDT CAINELLI 2009 p 13)

Com a redemocratizaccedilatildeo na deacutecada de 1980 houve inuacutemeras discussotildees

que elencaram inuacutemeras abordagens e temaacuteticas para o ensino da Histoacuteria na

atualidade as novas tendecircncias se preocupam com a transposiccedilatildeo didaacutetica

valorizando documentos histoacutericos e incorporando novas linguagens e tecnologias

que permitem discussotildees e autonomia de pensamento Neste sentido as novas

concepccedilotildees de ensino de Histoacuteria ao final do seacuteculo XX abrem a possibilidade de

uma nova praacutetica didaacutetica que segundo Azevedo e Stamatto (2010 p 709) ldquobusca

problematizar a relaccedilatildeo passado-presente e em geral tomam a realidade do aluno

como ponto de partidardquo

Por se acreditar em um ensino de Histoacuteria onde a aprendizagem natildeo ocorre

em periacuteodos estanques de forma abstrata e sem relaccedilatildeo com o presente ou seja

12

apresentando de forma linear sem que haja contextualizaccedilatildeo sendo apresentada

atraveacutes de leitura de textos eou resumos permeando com atividades que muitas

vezes natildeo permitem um desenvolvimento de raciociacutenio histoacuterico que contribua para

a construccedilatildeo da cidadania Torna-se urgente pensar em um ensino voltado para a

inclusatildeo de novas contribuiccedilotildees historiograacuteficas como a histoacuteria cultural econocircmica

e social buscando na realidade local subsiacutedios para a aprendizagem Por isso a

presente dissertaccedilatildeo traz a didatizaccedilatildeo da histoacuteria de Satildeo Francisco de Paula visto

que a questatildeo-problema estaacute vinculada ao natildeo uso da histoacuteria local no ensino de

Histoacuteria deste municiacutepio e o pouco material disponiacutevel para o uso dos professores

Parte-se do pressuposto que ao abranger a histoacuteria local os sujeitos se veem como

partiacutecipes desta histoacuteria estudada significando e ressignificando conceitos

histoacutericos

Corroborando com este estudo Cunha (2016) traz consideraccedilotildees importantes

relacionadas ao uso da histoacuteria local O autor aborda como algo essencial para

compreensatildeo da histoacuteria geral na educaccedilatildeo baacutesica o uso da histoacuteria local o que

proporcionaria aos estudantes o reconhecimento como cidadatildeo e a percepccedilatildeo e

identificaccedilatildeo dos lugares de memoacuteria por parte dos alunos bem como o sentimento

de pertencimento do local Desta forma despertaria no aluno o interesse por um

passado aparentemente desligado de sua realidade estabelecendo relaccedilotildees com o

seu cotidiano

Desta maneira acredita-se que os estudantes da educaccedilatildeo baacutesica

compreenderatildeo a histoacuteria como algo que faz parte de suas vidas tornando-se assim

sujeitos da histoacuteria pois se haacute reconhecimento haveraacute tambeacutem o sentimento de

pertencimento que poderaacute ajudaacute-los a manter ou modificar a realidade que os cerca

Assim descrevem Schmidt e Cainelli

Esse sentido do ensinar Histoacuteria natildeo significaria natildeo ter conteuacutedos para serem ensinados mas olhar para estes conteuacutedos a partir da possibilidade de construir com os alunos novas questotildees diante de conteuacutedos e temas propostos pela historiografia Aprender histoacuteria eacute discutir evidecircncias levantar hipoacuteteses dialogar com os sujeitos os tempos e os espaccedilos histoacutericos Eacute olhar para o outro em tempos e espaccedilos diversos (SCHMIDT CAINELLI 2009 p 20)

Dentro desta perspectiva o reconhecimento da memoacuteria social se faz

importante visto que se necessita invocaacute-la para que um determinado grupo ou local

reconheccedila sua identidade social Atraveacutes de entrevistas com moradores de Satildeo

13

Francisco de Paula se invoca a memoacuteria coletiva na busca da identidade dos sete

distritos deste municiacutepio Visto que a histoacuteria de Satildeo Francisco de Paula se inicia por

volta do seacuteculo XVIII quando se datam as primeiras sesmarias1 concedidas ao

capitatildeo Pedro da Silva Chaves Posteriormente o capitatildeo doa parte de suas terras

para a construccedilatildeo do povoado que recebe o nome de Satildeo Francisco de Paula de

Cima da Serra por este ser devoto do Santo Satildeo Francisco Reza no testamento do

capitatildeo Pedro da Silva Chaves que um de seus filhos foi o primeiro paacuteroco a rezar

missa no povoado Satildeo Francisco de Paula pertenceu a Santo Antocircnio da Patrulha

e mais tarde a Taquara emancipando-se em 1902

Haacute pouca bibliografia sobre a histoacuteria de Satildeo Francisco de Paula o que existe

satildeo livros escritos por memorialistas onde se percebe a prioridade pela histoacuteria do

fundador ou seja do Capitatildeo Pedro da Silva Chaves dos iacutendios Caaguaraacutes que

habitavam a regiatildeo assim como os aspectos poliacuteticos administrativos Alguns destes

livros apresentam uma siacutentese cronoloacutegica de fatos importantes e descrevem

superficialmente o jeito de viver do povo serrano2 Mas a histoacuteria de Satildeo Francisco

de Paula estaacute repleta de diferentes identidades que identificam a Sede3 e o Interior4

deste municiacutepio e formam o jeito de viver do seu povo A natildeo exploraccedilatildeo de

elementos culturais que se fazem importantes para a construccedilatildeo de identidade

destes lugares minimiza as memoacuterias e as tradiccedilotildees que ali se apresentam visto

que

as constantes novidades em diferentes campos do saber os avanccedilos da tecnologia as infinitas possibilidades de comunicaccedilatildeo simultacircnea tecircm provocado sobretudo nas novas geraccedilotildees uma sensaccedilatildeo de que o mundo em que se vive eacute dotado de um temporalidade constituiacuteda por um tempo presente contiacutenuo (FIGUEIRA MIRANDA 2012 p 46)

Neste sentido fez-se uso de diferentes fontes para a construccedilatildeo do produto

desta dissertaccedilatildeo que consiste de um paradidaacutetico que possa servir como um

1 Sesmaria Terreno sem culturas ou abandonado que a antiga legislaccedilatildeo portuguesa com base em

praacuteticas medievais determinava que fosse entregue a quem se comprometesse a cultivaacute-lo 2 Serrano gentiacutelico de quem nasce em Satildeo Francisco de Paula 3 Sede distrito criado em 07 de janeiro de 1903 na mesma data da instalaccedilatildeo oficial do Municiacutepio Eacute

o distrito onde se localiza a Prefeitura Municipal Foacuterum agecircncias bancaacuterias loteacutericas hospital casas comerciais e residecircncias particulares Normalmente os moradores do interior quando vatildeo ao distrito se referem como ldquovou a Satildeo Chicordquo e natildeo como ldquovou a Sederdquo

4 Interior Cazuza Ferreira Juaacute Eletra Rincatildeo dos Kroeff Tainhas e Lajeado Grande satildeo distritos que ficam na zona rural apesar de todos terem uma pequena vila que possui pouca infraestrutura Alguns destes distritos ainda usam aacutegua de vertentes sem nenhuma rede de esgoto pois natildeo possuem aacutegua fornecida pela Companhia de Aacutegua e Saneamento (CORSAN)

14

material disponiacutevel a alunos e professores no ensino de Histoacuteria de Satildeo Francisco

de Paula Segundo Munakata entendem-se como paradidaacuteticos

Livros que sem apresentar caracteriacutesticas proacuteprias dos didaacuteticos satildeo adotados no processo de ensino e aprendizagem nas escolas seja como material de consulta do professor seja como material de pesquisa e de apoio agraves atividades do educando (MUNAKATA 1997 p 103)

Para a construccedilatildeo do paradidaacutetico fez-se uso de bibliografias jaacute existentes

jornais e documentos da Assembleia da Legislativa bem como o uso da histoacuteria

oral sendo as entrevistas a fonte primordial para escrever sobre as semelhanccedilas e

diferenccedilas existentes no modo de vida da populaccedilatildeo de Satildeo Francisco de Paula

visto que os depoimentos satildeo importantes na preservaccedilatildeo das memoacuterias tradiccedilotildees

bem como das heranccedilas identitaacuterias Neste sentido Delgado (2003 p 23) discorre

ldquonarrativas memoacuterias histoacuterias e identidades satildeo a humanidade em movimento

Satildeo o olhar que permeiam tempos heterogecircnicos Satildeo a histoacuteria em construccedilatildeo Satildeo

memoacuterias que falamrdquo

Portanto a histoacuteria oral busca registrar as vivecircncias e lembranccedilas de um

determinado grupo Alberti (2008 p 29) assim define ldquohistoacuteria oral natildeo eacute um fim em

si mesma e sim um meio de conhecimentordquo Quando se trabalha com a histoacuteria

oral se faz necessaacuterio valorizar a memoacuteria as identidades e tradiccedilotildees pois estas

formam a histoacuteria local ou seja a histoacuteria dos indiviacuteduos que ali vivem Halbwachs

(2004) afirma que com a perda da memoacuteria coletiva tambeacutem se perdem as

tradiccedilotildees locais tradiccedilotildees essas que identificam o modo de viver de um determinado

local Hobsbawn e Ranger entendem que as tradiccedilotildees podem ou natildeo ser

inventadas

Tradiccedilatildeo inventada entende-se um conjunto de praacuteticas normalmente reguladas por regras taacutecitas ou abertamente aceitas tais praacuteticas de natureza ritual ou simboacutelica visam inculcar certos valores e normas de comportamento atraveacutes da repeticcedilatildeo o que implica automaticamente uma continuidade com relaccedilatildeo ao passado (HOBSBAWN RANGER 2015 p 8)

Hobsbawn e Ranger (2015) ainda acrescem que a criaccedilatildeo de uma tradiccedilatildeo

independe da imposiccedilatildeo de uma nova tradiccedilatildeo o que normalmente ocorre eacute uma

rebeliatildeo cultural que precede da elaboraccedilatildeo de novas tradiccedilotildees que satildeo adotadas

pela populaccedilatildeo e com o tempo passam a se tornar tradiccedilotildees daquele local

formando a identidade local

15

Neste sentido Hall (2011 p 39) discorre que ldquoas identidades satildeo fabricadas

por meio da marcaccedilatildeo da diferenccedilardquo O autor ainda acresce que ldquoa diferenccedila eacute aquilo

que separa uma identidade da outrardquo (HALL 2011 p 41) Dentro desta perspectiva

a memoacuteria que se apresenta atraveacutes de siacutembolos ou tradiccedilotildees respalda a

construccedilatildeo da identidade do povo de Satildeo Francisco de Paula visto que a memoacuteria eacute

a construccedilatildeo do passado de maneira atualizada e renovada no tempo presente

Assim Halbwachs (2004 p 64) descreve que ldquonatildeo eacute na histoacuteria aprendida eacute na

histoacuteria vivida que se apoia nossa memoacuteriardquo Nessa loacutegica o autor ainda descreve

que ldquoo mundo histoacuterico eacute como um oceano onde afluem todas as histoacuterias parciaisrdquo

(p 90)

O municiacutepio de Satildeo Francisco de Paula eacute repleto de tradiccedilotildees que perpassam

o tempo que estatildeo enraizadas no jeito serrano de ser formando a sua identidade

Portanto a histoacuteria de Satildeo Francisco de Paula descrita nesta dissertaccedilatildeo seraacute

apresentada em quatro capiacutetulos

O capiacutetulo dois apresenta a discussatildeo teoacuterica metodoloacutegica sobre a

importacircncia do ensino da Histoacuteria local na sala de aula Tambeacutem conceitos como

memoacuteria e identidade e a importacircncia de se abordar o local em prol do global

No capiacutetulo trecircs aborda-se a construccedilatildeo histoacuterica do municiacutepio de Satildeo

Francisco de Paula que vai desde a chegada do colonizador nesta terra ateacute as

instituiccedilotildees que se formam ao longo do tempo Para isso se faz uso de bibliografias

jaacute existentes como Lucena (1971) Oliveira (1996) Teixeira (2002) Ribeiro (2003)

Alves (2007) e Fonseca (2012) sendo todas essas obras importantes para Satildeo

Francisco de Paula visto que cada uma traz consigo um pouco da histoacuteria deste

municiacutepio poreacutem sente-se falta da identidade e da memoacuteria na construccedilatildeo histoacuterica

As obras satildeo apresentadas sob o mesmo prisma apresentando os iacutendios Caaguaraacutes

e o Capitatildeo Pedro da Silva Chaves os fundadores desta terra dando bastante

ecircnfase aos sobrenomes que ali se desenvolveram Tambeacutem se fez uso de

documentos da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul aleacutem de jornais

encontrados no Arquivo Histoacuterico de Satildeo Francisco de Paula

No capiacutetulo quatro utiliza-se da fonte oral para que sejam identificadas as

diferentes tradiccedilotildees e versotildees da histoacuteria local ou seja a identidade de cada distrito

constituindo assim as particularidades que constroem o municiacutepio de Satildeo Francisco

de Paula Para tanto buscaram-se depoentes nas vilas dos distritos sendo que a

escolha se deu por duas pessoas por distrito sendo um homem e uma mulher

16

totalizando treze depoentes todos da terceira idade pois segundo Bosi (1994 p

82) ldquoum mundo social que possui uma riqueza e uma diversidade que natildeo

conhecemos pode chegar-nos pela memoacuteria dos velhosrdquo memoacuterias estas

construiacutedas por suas vivecircncias neste local o que justifica a relevacircncia dos

depoimentos para a construccedilatildeo do trabalho

O capiacutetulo cinco apresenta uma descriccedilatildeo do produto que consiste em um

paradidaacutetico em forma fiacutesica abordando a histoacuteria de Satildeo Francisco de Paula A

escolha pelo formato fiacutesico acontece pelas dificuldades encontradas no interior dos

distritos com o acesso agrave internet assim se pensa que o formato fiacutesico abrangeraacute um

nuacutemero maior de alunos e professores

Para tanto utiliza-se a metodologia da Histoacuteria oral para escrever a memoacuteria

e as percepccedilotildees das pessoas que habitam este local Hobsbawn e Ranger (1995 p

103) escrevem que ldquoessa proximidade entre o periacuteodo analisado e sua histoacuteria

pessoal eacute o pano de fundo para a discussatildeo de alguns problemas que qualquer

historiador enfrenta ao escrever sobre seu proacuteprio tempordquo pois a sensibilidade do

historiador vai escrever sua narrativa Em outras palavras Hobsbawn e Ranger

(1995 p 104) explicam que ldquocada historiador tem sua proacutepria vida um lugar privado

a partir do qual inspeciona o mundordquo Tambeacutem afirmam

Para aqueles que querem escrever a histoacuteria do seacuteculo XX uma das mais importantes reside no simples fato de saber sem nenhum esforccedilo especial o quanto as coisas se modificaram Os uacuteltimos trinta ou quarenta anos foram os mais revolucionaacuterios da histoacuteria O mundo ou seja a vida dos homens e mulheres que vivem na Terra nunca foi transformada de maneira tatildeo profunda dramaacutetica e extraordinaacuteria dentro de um periacuteodo tatildeo curto As geraccedilotildees que natildeo viram como o mundo era antes tecircm dificuldade em perceber isso intuitivamente (HOBSBAWN RANGER 1995 p 107)

Portanto se faz importante perceber que o mundo vem se transformando de

maneira raacutepida modificando a vida das pessoas e por conseguinte as tradiccedilotildees e

identidades locais pois estas comunidades natildeo vivem de forma isolada e sofreram

influecircncias jaacute que a cultura natildeo eacute estagnada estaacute sempre em constante movimento

juntamente com as pessoas

17

2 HISTOacuteRIA LOCAL E O ENSINO DE HISTOacuteRIA NA SALA DE AULA

Discutir o ensino de Histoacuteria na educaccedilatildeo baacutesica e a relaccedilatildeo do mesmo com a

histoacuteria local se faz bastante importante para que a cada dia se possa melhorar as

praacuteticas pedagoacutegicas Neste sentido se busca respaldo em diferentes bibliografias

que possam embasar novos afazeres dentro do espaccedilo da sala de aula e

proporcionar ao estudante um novo olhar sobre a histoacuteria um olhar de sujeito ativo

dentro desse processo de ensino aprendizagem

Pois quando a Histoacuteria eacute ensinada como algo certo e imutaacutevel de maneira

fragmentada voltada para linearidade e memorizaccedilatildeo de fatos e datas reforccedila o

que Mendes (1935) e Schmidt e Cainelli (2009) defendem que realmente eacute odiosa a

histoacuteria ensinada por este vieacutes Percebe-se que o ensino de histoacuteria linear nos

moldes europeus positivistas jaacute natildeo daacute mais conta da importacircncia da histoacuteria para a

sociedade atual porque eacute apresentada aos alunos atraveacutes de datas e fatos escrita

pelo vieacutes de uma elite que normalmente eacute branca e deteacutem o poder poliacutetico eou

econocircmico Eacute inconcebiacutevel que se permaneccedila com um ensino de Histoacuteria que natildeo

serve natildeo motiva e segundo Ruumlsen (2001 p 25) ainda ldquoirracionalizardquo sendo esse

modelo muito frequente nas escolas de educaccedilatildeo baacutesica brasileiras

Natildeo eacute por outro motivo que observamos ainda nas uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo XX que para a maior parte dos estudantes brasileiros o estudo de histoacuteria carece de sentido ou utilidade natildeo se tem a visatildeo de ciecircncia e sim de uma mateacuteria decorativa estudo do passado que soacute exige como vimos a prontidatildeo em declinar nomes datas e fatos Natildeo eacute de se estranhar que assim seja porque ocorre a enorme distacircncia entre a realidade vivenciada pela comunidade e o tratamento dado ao ensino de Histoacuteria jaacute que o aluno se torna mero espectador de fatos natildeo necessitando esforccedilos no sentido de qualquer reflexatildeo ou elaboraccedilatildeo (BARBOSA 2006 p 58)

O ensinar da histoacuteria de forma abstrata fragmentada dificulta a compreensatildeo

do processo histoacuterico no sentido que se estuda os fatos isolados ao seu tempo

como se um fato precisasse terminar para iniciar outro Em outras palavras este

meacutetodo de ensino natildeo daacute a noccedilatildeo de continuidade ou seja a histoacuteria perdeu seu

sentido baacutesico que eacute a compreensatildeo do contexto global dos fatos considerando que

o ensino de Histoacuteria por muitas vezes eacute estanque sem uma relaccedilatildeo ldquopresente x

passadordquo sendo de suma importacircncia o despertar de uma consciecircncia criacutetica por

parte do estudante Por isso ao longo do tempo o ensino sofre influecircncia por parte

do ldquopoderrdquo segundo Laville (1999 p 128) ldquoa Histoacuteria eacute certamente a uacutenica disciplina

18

escolar que recebe intervenccedilotildees diretas dos altos dirigentes e a consideraccedilatildeo ativa

dos parlamentos Isso mostra quatildeo importante eacute ela para o poderrdquo Nesta linha o

autor ainda acrescenta que ldquoa narrativa histoacuterica pode tambeacutem ser vista como uma

tomada de poder por grupos sem poderrdquo (LAVILLE 1999 p 129)

Na busca de modificar esse modelo surgem novos meacutetodos que valorizam o

uso do documento histoacuterico e a incorporaccedilatildeo de novas tecnologias de acordo com

Azevedo e Stamatto (2010 p 720) ldquotem o desafio de responder a inquietaccedilotildees do

hojerdquo Partindo deste pressuposto haacute possibilidade de se modificar o ensino da

Histoacuteria que ateacute entatildeo estava voltado agrave memorizaccedilatildeo para um modelo onde o

sujeito seja agente deste processo

Ensinar Histoacuteria como algo pronto e acabado [] sem levar em conta o contexto e os sujeitos envolvidos no processo de ensino aprendizagem pode levar a um ensino que natildeo desenvolve o que eacute mais importante como funccedilatildeo do ensinar histoacuteria que orientar os problemas da vida praacutetica (SCHMIDT CAINELLI 2009 p 20)

Assim Seffner (2013 p 51) acrescenta que ldquoo ensino de Histoacuteria eacute um ensino

de situaccedilotildees histoacutericas Mais do que nomes datas e acontecimentos o professor

deve propiciar ao aluno a compreensatildeo de como se estrutura uma dada situaccedilatildeordquo

Para que o ensino de Histoacuteria seja ressignificado existe a necessidade de anaacutelise

do processo histoacuterico problematizando os fatos no vai e vem do presentepassado

Os estudantes da educaccedilatildeo baacutesica necessitam compreender a histoacuteria como

um processo em constante transformaccedilatildeo que eacute movimentada por sujeitos que a

compotildeem com permanecircncias e rupturas ao longo dos tempos Segundo Bittencourt

(2004 p 168) ldquoa histoacuteria local tem sido indicada como necessaacuteria para o ensino por

possibilitar a compreensatildeo do alunordquo

Corroborando Seffner (2013) Souza (2015) e Brum (2015) evidenciam a

importacircncia de se trabalhar a histoacuteria global partindo de uma histoacuteria local

problematizando levando hipoacuteteses e analisando os fatos histoacutericos o que gera

significado para o educando e torna o docente natildeo mais um mero transmissor mas

um mediador deste conhecimento Neves (1997 p 22) reforccedila que ldquoo local fora do

contexto geral eacute apenas um fragmento e o geral sem o respaldo das realidades

locais eacute apenas uma abstraccedilatildeordquo Com esta nova abordagem o estudar Histoacuteria tem

sentido para o discente que se sente sujeito de sua proacutepria histoacuteria visto que

19

identificar-se com o local onde se vive ajuda a compreender o sentimento de

pertencimento e suas relaccedilotildees com o meio social e cultural no qual estaacute inserido

Nesta perspectiva faz-se necessaacuterio que os professores busquem novas

alternativas de ensino que proporcionem ao estudante a habilidade de ressignificar o

fato histoacuterico estudado

Ensinar Histoacuteria requer do professor a habilidade de buscar sentido e significado para o conhecimento que ministra e isso significa superar a mera transmissatildeo de informaccedilotildees jaacute que essa natildeo tem por finalidade o desenvolvimento intelectual mas ao contraacuterio deforma a capacidade de pensamento histoacuterico do aluno e a possibilidade de consolidar habilidades de anaacutelise da proacutepria realidade social (SILVA PORTO 2012 p 67)

Goubert assim define a histoacuteria local

Denominaremos histoacuteria local como aquela que diga respeito a uma ou poucas aldeias a uma cidade pequena ou meacutedia (um grande porto ou uma capital estatildeo aleacutem do acircmbito local) ou a uma aacuterea geograacutefica que natildeo seja maior do que a unidade provincial comum (como um county inglecircs um contado italiano uma Land alematilde uma bailiwick ou pays francecircs) Praticada haacute tempos atraacutes com cuidado zelo e ateacute orgulho a histoacuteria local foi mais tarde desprezada mdash principalmente nos seacuteculos XIX e primeira metade do XX mdash pelos partidaacuterios da histoacuteria geral A partir poreacutem da metade desse seacuteculo a histoacuteria local ressurgiu e adquiriu novo significado na verdade alguns chegam a afirmar que somente a histoacuteria local pode ser autecircntica e fundamentada (GOUBERT 1992 p 70)

Neste sentido fica evidente a importacircncia de se partir de uma histoacuteria local

para uma global Atraveacutes da histoacuteria local os estudantes teratildeo contato com sua

histoacuteria e poderatildeo se sentir parte integrante deste espaccedilo que muitas vezes por

falta de conhecimento acabam renegando sua proacutepria identidade Figueira e Miranda

(2012 p 113) afirmam que ldquoum dos efeitos mais danosos da globalizaccedilatildeo eacute a

universalizaccedilatildeo dos gostosrdquo isto implica diretamente na perda da identidade local

que muitas vezes estaacute sendo afetada pelas muacuteltiplas identidades existentes Neste

sentido Silva e Porto descrevem

A globalizaccedilatildeo entretanto produz diferentes resultados em termos de identidade A homogeneidade cultural promovida pelo mercado global pode levar ao distanciamento da identidade relativamente agrave comunidade e agrave cultura local (SILVA PORTO 2012 p 21)

Neste sentido Canclini acrescenta

Las comunidades de consumidores se organiza cada vez menos seguacuten diferencias nacionales y sobre todo en las generaciones joacutevenes definen sus praacutecticas culturales de acuerdo con informacioacuten y estilos homogeneizados (CANCLINI 1997 p 42)

20

Globalizaccedilatildeo que impotildee atraveacutes dos meios de comunicaccedilatildeo e social uma

identidade geral que regra a sociedade seus haacutebitos e costumes Devido ao grande

movimento das pessoas pelo mundo perceber e manter uma identidade com

caracteriacutesticas locais fica a cada dia mais difiacutecil ainda mais em se tratando da

populaccedilatildeo jovem que natildeo reconhece ao seu redor o que representa a sua

identidade local

Valorar as experiecircncias locais proporcionaraacute aos estudantes uma nova

metodologia de abordar a histoacuteria

Do ponto de vista metodoloacutegico destaca-se nessa forma de abordagem a preocupaccedilatildeo com os conhecimentos preacutevios dos alunos com a problematizaccedilatildeo dos conteuacutedos de ensino selecionados para trabalho em sala de aula estabelecendo relaccedilotildees com o cotidiano dos alunos e com o cotidiano de outras pessoas em outros tempos e em outros lugares Enfatiza-se tambeacutem a busca de articulaccedilatildeo entre histoacuteria local e a histoacuteria universal (SCHMIDT 2007 p 193)

O ensino de histoacuteria partindo do local para o global possibilita segundo

Bittencourt (2004 p 168) ldquoa compreensatildeo do entorno do alunordquo sendo que um dos

aspectos relevantes para este ensino eacute a escolha de fontes que levem os estudantes

a se reconhecerem nesse processo histoacuterico O autor ainda acresce

Eacute pela memoacuteria que se chega agrave histoacuteria local Aleacutem da memoacuteria das pessoas escrita ou recuperada pela oralidade existem os lsquolugares de memoacuteriarsquo (grifo da autora) expressos por monumentos praccedilas edifiacutecios puacuteblicos ou privados mas preservados como patrimocircnio histoacuterico (BITTENCOURT 2004 p 169)

Esta memoacuteria vai contribuir para legitimaccedilatildeo da identidade local Sabe-se que

a identidade eacute algo mutaacutevel e segundo Silva e Porto (2012 p 38) ldquoas identidades

satildeo produzidas em momentos particulares no tempordquo O pesquisador ainda

acrescenta que ldquoas identidades satildeo contingentes emergindo em momentos

histoacutericos particularesrdquo Estas identidades precisam ser reconhecidas quando se fala

de histoacuteria local

Na mesma linha Ruumlsen descreve a identidade histoacuterica

Consiste na ampliaccedilatildeo do horizonte nas experiecircncias do tempo e nas intenccedilotildees acerca do tempo no qual os sujeitos agentes se asseguram da permanecircncia de si mesmos na evoluccedilatildeo do tempo O ponto extremo dessa consolidaccedilatildeo de identidade eacute a lsquohumanidadersquo como suprassumo dos pontos comuns em sociedade com respeito a diversos sujeitos agentes no processo de determinaccedilatildeo de suas proacuteprias identidades determinam as dos outros de forma tal que estes se reconhecem nelas Esse criteacuterio de sentido lsquohumanidadersquo fornece o paracircmetro para se constatar a consolidaccedilatildeo da

21

identidade em que desembocam o progresso contiacutenuo do conhecimento mediante a pesquisa histoacuterica e a ampliaccedilatildeo contiacutenua das perspectivas mediante a reflexatildeo histoacuterica sobre referenciais (RUumlSEN 2001 p 126)

A histoacuteria local eacute constituiacuteda por diferentes identidades que satildeo geradas pelos

grupos que compotildeem este espaccedilo A este respeito Silva e Porto (2011 p 41)

apresentam que ldquoa diferenccedila eacute aquilo que separa uma identidade da outrardquo Tambeacutem

eacute notaacutevel que para que haja a representaccedilatildeo de suas identidades locais faz-se

necessaacuterio o reconhecimento destas e a percepccedilatildeo que existem diferentes fatores

que diferenciam os grupos sociais

Portanto a identidade eacute constituiacuteda pelas posiccedilotildees eou escolhas feitas

sendo que muitas vezes elas satildeo racionais ou ateacute mesmo irracionais A identidade

eacute baseada na memoacuteria que pode ser individual ou coletiva Segundo Candau (2011

p 16) ldquoos laccedilos fundamentais entre memoacuteria e identidade eacute sobre o fato de que eacute a

memoacuteria faculdade primeira que alimenta a identidaderdquo

Se a memoacuteria gera a identidade natildeo se pode pesquisar e escrever sobre

histoacuteria local sem levar em conta estes dois conceitos primordiais pois a histoacuteria

local soacute teraacute valia se escrita pelo vieacutes do todo ou seja natildeo priorize um grupo ou

classe social todos os quadros sociais devem estar representados dentro deste

processo Nessa linha Schmidt e Cainelli descrevem

O estudo da localidade ou da histoacuteria regional contribui para uma compreensatildeo muacuteltipla da Histoacuteria pelo menos em dois sentidos na possibilidade de se ver mais de um eixo histoacuterico na histoacuteria local e na possibilidade da anaacutelise de micro histoacuterias pertencentes a alguma outra histoacuteria que as englobe e ao mesmo tempo reconheccedila suas particularidades (SCHMIDT CAINELLI 2009 p 139)

Uma histoacuteria que faz sentido que esteja englobada a outra histoacuteria A

memoacuteria coletiva entra na construccedilatildeo desta histoacuteria local e eacute primordial pois esta vai

dar elementos que constroem a identidade deste local sendo que a memoacuteria do

passado influencia na representaccedilatildeo da identidade Neste sentido conforme

Figueira e Miranda (2012 p 47) eacute necessaacuterio compreender a memoacuteria ldquocomo a

capacidade de conservar e de preservar dados refere-se a um conjunto de funccedilotildees

cerebrais que nos permite reter informaccedilotildees adquiridas e impressotildees vividasrdquo

Podendo ser ela individual ou coletiva sendo que a memoacuteria individual existe a partir

de uma memoacuteria coletiva jaacute que as lembranccedilas que ajudam a reconstruir o passado

partem do interior de um grupo

22

Para as Ciecircncias Humanas o conceito de memoacuteria estaacute ligado agrave memoacuteria

social e coletiva definida por Le Goff (2003 p 422) como ldquoo estudo da memoacuteria

social eacute um dos elementos fundamentais de abordar os problemas do tempo e da

histoacuteriardquo O autor ainda acrescenta que ldquoa memoacuteria coletiva eacute natildeo somente uma

conquista eacute tambeacutem um instrumento e um objeto de poderrdquo (LE GOFF 2003 p

410) Neste sentido Halbwachs (2004 p 90) ressalta que ldquotoda memoacuteria coletiva

tem por suporte um grupo limitado no espaccedilo e no tempo e o mundo histoacuterico eacute

como um oceano onde afluem todas as histoacuterias parciaisrdquo

Quando se abordam conceitos de memoacuteria e identidade no ensino de

histoacuteria estaacute se trazendo para o estudo os sujeitos que compotildeem aquele local com

suas vivecircncias que podem ser coletivas ou natildeo A transmissatildeo de saberes entre as

geraccedilotildees forma a identidade coletiva sendo o ser humano um agente ativo no

quadro social da memoacuteria

Halbwachs assim define os quadros coletivos da memoacuteria

Os quadros coletivos da memoacuteria natildeo se resumem em datas nomes e foacutermulas que eles representam correntes de pensamento e de experiecircncia onde reencontramos nosso passado porque este foi atravessado por isso tudo (HALBWACHS 2004 p 71)

Nesta direccedilatildeo Le Goff (2003 p 4) acrescenta que ldquoa memoacuteria social eacute um

dos meios fundamentais para se abordar os problemas do tempo e da histoacuteria A

memoacuteria estaacute nos proacuteprios alicerces da histoacuteriardquo Catroga (2001) reforccedila que a

memoacuteria eacute moldada a partir das vivecircncias e na sua narrativa vai haver uma

coerecircncia que se mistura passado e presente

Quando se escreve sobre histoacuteria local eacute importante considerar que ela estaacute

pautada em documentos assim como em memoacuterias escritas visuais ou orais Neste

sentido eacute perceptiacutevel que o uso dos diferentes tipos de memoacuteria satildeo alicerces que

conduzem o trabalho do historiador para que ele possa interpretar suas fontes e

validar seu trabalho Memoacuterias estas que podem ser apresentadas com documentos

oficiais ou atraveacutes de uma cultura material ou imaterial

A escrita de histoacuterias locais vem como um novo modelo de resguardar

identidades e memoacuterias que se natildeo preservadas iratildeo desaparecer pela influecircncia

da globalizaccedilatildeo e falta de conhecimento de futuras geraccedilotildees Barros assim

descreve

23

Os novos tempos comeccedilavam a trazer um novo padratildeo historiograacutefico novas aberturas retornos e possibilidades e tambeacutem incertezas para os historiadores no que se refere agrave natureza do conhecimento que produzem e ao papel do conhecimento histoacuterico na sociedade [] Entre as novidades postula-se a possibilidade de examinar a histoacuteria de acordo com uma nova escala de observaccedilatildeo ndash atenta para o detalhe para as micro realidades para aquilo que habitualmente escapa ao olhar panoracircmico da macro histoacuteria tradicional ndash e eacute esta nova postura que se passou a chamar de micro histoacuteria (BARROS 2012 p 306)

Diante deste contexto o ensino de Histoacuteria pode buscar na histoacuteria local a

problematizaccedilatildeo necessaacuteria para que os estudantes da educaccedilatildeo baacutesica

reconheccedilam a identidade local que vem sofrendo com a uniformizaccedilatildeo da

sociedade que impotildee uma conjuntura global do local

24

3 SAtildeO FRANCISCO DE PAULA CONSTRUCcedilAtildeO DO MUNICIacutePIO

A apresentaccedilatildeo do municiacutepio Satildeo Francisco de Paula acontece atraveacutes do

uso da narrativa Esta se apresenta atraveacutes do diaacutelogo com obras jaacute produzidas por

memorialistas eou genealogistas que contribuem para a construccedilatildeo histoacuterica deste

local bem como se usa como fonte de enriquecimento documentos da Assembleia

Legislativa do Rio Grande do Sul e jornais locais

Para tanto se apresenta a revisatildeo historiograacutefica das obras escritas pelos

memorialistas eou genealogistas sendo que Lucena (1971) em sua obra ldquoSatildeo

Francisco de Paula Monografiardquo que abrange aspectos histoacutericos da formaccedilatildeo do

municiacutepio bem como pontos turiacutesticos e demograacuteficos O proacuteprio autor intitula a sua

obra como informativa a riqueza de detalhes eacute interessante poreacutem natildeo haacute nenhuma

referecircncia quanto aos dados escritos nem mesmo um referencial bibliograacutefico ao

final

No texto intitulado ldquoOs Fundadores de Satildeo Francisco de Paulardquo Alves (2007)

escreve sobre a fundaccedilatildeo de Satildeo Francisco de Paula Em seu livro haacute documentos

que validam o que se refere agrave genealogia jaacute que boa parte da obra apresenta os

troncos familiares que compunham o iniacutecio deste municiacutepio Na mesma linha da

genealogia Oliveira (1996) no livro ldquoAurorescer das Sesmarias Serranas histoacuteria e

genealogiardquo traz a histoacuteria das primeiras sesmarias da regiatildeo mas o foco principal

se daacute aos proprietaacuterios e seus descendentes Haacute um mapa bastante interessante

localizando as sesmarias e o nome por elas recebidos

Em ldquoSatildeo Francisco de Paula nossa terra nossa genterdquo Teixeira (2002)

apresenta dados gerais e histoacutericos do municiacutepio Esta obra apresenta dados

geograacuteficos como clima relevo e vegetaccedilatildeo A autora escreve sobre diversos

aspectos eventos personalidades e lendas Aleacutem disso apresenta Satildeo Francisco

de Paula com uma linha cronoloacutegica A obra abrange vaacuterios aspectos mas todos

suscintamente No final a autora apresenta a bibliografia consultada dentre os

autores estaacute Lucena (1971)

O texto ldquoSatildeo Francisco de Paula Rio Grande do Sul histoacuteria encantos e

misteacuteriosrdquo eacute uma obra de Fonseca (2012) que traz diversidade de assunto muitas

vezes estes estatildeo desconexos ou seja sua leitura se torna ldquotruncadardquo No final do

texto haacute um vasto referencial bibliograacutefico dentre os autores citam-se Lucena

(1971) e Teixeira (2002)

25

Ribeiro (2003) eacute compositor e poeta Em ldquoFestival do Ronco do Bugiordquo

escreve sobre Satildeo Francisco de Paula apresentando a histoacuteria dos quinze anos do

festival no municiacutepio No iniacutecio contextualiza a origem do festival e do ritmo bugio

Depois apresenta a capa do disco de cada festival especificando as muacutesicas e os

compositores vencedores

Todas essas obras satildeo importantes para Satildeo Francisco de Paula cada uma

traz consigo um pouco da histoacuteria deste municiacutepio poreacutem sente-se falta da

identidade e da memoacuteria na construccedilatildeo histoacuterica As obras satildeo apresentadas o

mesmo prisma apresentando os iacutendios Caaguaraacutes e o Capitatildeo Pedro da Silva

Chaves os fundadores desta terra dando bastante ecircnfase aos sobrenomes que ali

se desenvolveram

31 CONVERSA COM MEMORIALISTAS

As terras onde hoje fica Satildeo Francisco de Paula eram habitadas por iacutendios da

tribo Caaguaraacutes que faziam parte dos Coroados Estes viviam livremente nos

campos de cima da serra e seus domiacutenios estendiam-se entre a Serra Geral e a

Serra do Mar Os iacutendios Caaguaraacutes tinham como haacutebitos alimentares a caccedila a

pesca e a coleta de sementes e frutos dentre os frutos o pinhatildeo e a goiaba-do-

mato segundo Teixeira (2002) e Alves (2007) Estes iacutendios tiveram seu habitat

invadido por incursotildees de desbravadores que comeccedilaram a trafegar pela regiatildeo em

busca de mulas e novas terras visto que as terras onde hoje se encontra Satildeo

Francisco de Paula de Cima da Serra foram rota de tropeiros5 pois estes trafegavam

pelos Campos de Cima da Serra indo na direccedilatildeo de Lages-SC ateacute alcanccedilarem

Sorocaba-SP6 Ao passarem por esta regiatildeo foram se formando pequenos vilarejos

e construindo um jeito peculiar de viver

Neste cenaacuterio aparece o municiacutepio de Satildeo Francisco de Paula de Cima da

Serra que recebe este nome para se diferenciar de Satildeo Francisco de Paula

denominaccedilatildeo recebida ateacute meados de 1830 pelo municiacutepio de Pelotas Poreacutem na

metade do seacuteculo XVIII Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra possuiacutea

5 Tropeiros homens que conduziam suas tropascomitivas de muares ou cavalos entre as regiotildees 6 Sugere-se a leitura FLORES Moacyr Troperismo no Brasil Porto Alegre Nova Dimensatildeo 1998

SAVARIS Manoelito Tropas e tropeiros o Rio Grande toma forma Disponiacutevel em ltwwwrogeriobastoscombr201104trpas-e-tropeiros-o-rio-grande-tomahtmlgt Acesso em 12 mar 2016

26

proprietaacuterios de terras sendo que um dos pioneiros foi Pedro da Silva Chaves um

portuguecircs casado com Gertrudes de Godoy uma paulista Pedro da Silva Chaves

declara em 1742 ser possuidor de terras neste municiacutepio Segundo Oliveira (1996)

em seu testamento Pedro da Silva Chaves rege que possui trecircs fazendas na regiatildeo

uma chamada Satildeo Joatildeo que se localiza desde o Arroio Santa Cruz ateacute o Rio

Tainhas concedida em 1752 por sesmaria a Fazenda da Cria que foi comprada de

Francisco Pinto Bandeira e confirmada como sesmaria em 1754 e a Fazenda

denominada Cerrito comprada do Capitatildeo Antocircnio Gonccedilalves dos Reis Nestas

fazendas havia criaccedilatildeo de cavalos gado vacum mulas e burros As fazendas

tambeacutem apresentavam em torno de 77 escravos sendo que alguns satildeo casados o

que se faz pensar que estes constituiacuteam famiacutelia aumentando assim o nuacutemero de

escravos da regiatildeo No mapa da Figura 1 verifica-se a localizaccedilatildeo das fazendas do

capitatildeo Pedro da Silva Chaves bem como sua extensatildeo territorial

Figura 1 ndash Mapa de Identificaccedilatildeo das Sesmarias Serranas

Fonte Oliveira (1996 p 236)

27

No mapa apresentado na Figura 1 ainda eacute possiacutevel observar a localizaccedilatildeo

onde inicia o povoado de Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra segundo

Lucena (1971 p 1) ldquoiniciou-se com o Capitatildeo Pedro da Silva Chaves que doou

uma gleba de terra para que fosse iniciado o povoadordquo Tambeacutem segundo Lucena

(1971 p 1) ldquodoou cinquenta vacas para construir o primeiro patrimocircnio da Igreja

cuja construccedilatildeo foi iniciada por sua conta e lhe deu o nome de Satildeo Francisco por

este ser devoto do Santordquo O que demonstra que Pedro da Silva Chaves era

Catoacutelico

Neste periacuteodo compreendido como seacuteculo XIX segundo Teixeira (2002) e

Alves (2007) o atual municiacutepio de Satildeo Francisco de Paula pertencia ao municiacutepio de

Santo Antocircnio da Patrulha municiacutepio este que formava juntamente com Porto

Alegre Rio Pardo e Rio Grande a proviacutencia de Satildeo Pedro do Rio Grande do Sul

atual Rio Grande do Sul Eacute possiacutevel observar a grande extensatildeo territorial de cada

municiacutepio no mapa apresentado na Figura 2 segundo Silva (2000) Santo Antocircnio

da Patrulha anexava as freguesias de N Sra Conceiccedilatildeo do Arroio e N Sra da

Oliveira da Vacaria a capela de Satildeo Domingos das Torres e os povoados de Santa

Cristina do Pinhal e Cima da Serra

Analisando o mapa da Figura 2 eacute possiacutevel perceber que o municiacutepio de Santo

Antocircnio da Patrulha tinha um vasto e extenso territoacuterio que atualmente compreende

os municiacutepios de Vacaria Antocircnio Prado Nova Roma do Sul Lagoa Vermelha

Veranoacutepolis Nova Prata Nova Araccedilaacute Nova Bassano Paraiacute Guabiju Satildeo Jorge

Vista Alegre do Prata Protaacutesio Alves Cotiporatilde Fagundes Varela Vila Flores

Caseiros Birajaras Andre da Rocha Capatildeo Bonito do Sul Muitos Capotildees Bom

Jesus Satildeo Joseacute dos Ausentes Esmeralda Ipecirc Campestre da Serra Monte Alegre

dos Campos Taquara Satildeo Francisco de Paula Cambaraacute do Sul e Jaquirana

28

Figura 2 ndash Divisatildeo Municipal em 1809 ndash Proviacutencia Satildeo Pedro do Rio Grande do Sul

Fonte Evoluccedilatildeo Administrativa (2013)7

32 AMPLIANDO O DIAacuteLOGO COM OS MEMORIALISTAS

Segundo documentos da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul8

disponiacuteveis no Arquivo Histoacuterico de Satildeo Francisco de Paula9 em 1852 atraveacutes da

Lei nordm 266 de 30 de novembro de 1852 eleva-se agrave categoria de freguesia a entatildeo

capela Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra pelo entatildeo vice-governador da

proviacutencia de Satildeo Pedro do Rio Grande do Sul o senhor Luiz Alves Leite de Oliveira

Bello Estes documentos ainda retratam que no ano de 1886 houve distribuiccedilatildeo de

lotes devolutos para pessoas pobres que comprovassem residecircncia haacute pelo menos

trecircs anos e se comprometessem a ldquofundar moradiardquo em um prazo de um ano sendo

assim passados trecircs anos seriam donos definitivos destes lotes dando o iniacutecio ao

povoamento da vila No mesmo periacuteodo acontece a criaccedilatildeo do cemiteacuterio municipal

7 Disponiacutevel em ltwwwatlassocioeconomicorsgovbrevolucao-administrativa-1809-a-2013gt Acesso

em 18 mar 2017 8 O diaacutelogo com memorialista se amplia a partir de agora com contribuiccedilotildees de documentos

pesquisados que corroboram para a compreensatildeo do tema 9 BARBOSA Eni GONCcedilALVES Jorge Joseacute Xavier (Orgs) Documentos histoacutericos da Assembleia

Legislativa do Rio Grande do Sul Arquivo Histoacuterico de Satildeo Francisco de Paula 1992

29

que ocorre em 1891 segundo documentos da Assembleia Legislativa disponiacuteveis

no Arquivo Histoacuterico de Satildeo Francisco de Paula Estes documentos informam que

primeiramente somente moradores que comprovassem residecircncia haacute mais de trecircs

anos e pudessem manter os jazigos de seus entes poderiam fazer uso deste

espaccedilo Atraveacutes desta documentaccedilatildeo se percebe que havia toda uma organizaccedilatildeo

para que ldquoestrangeirosrdquo natildeo se estabelecessem em Satildeo Francisco de Paula de Cima

da Serra

Em 1889 Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra passa a categoria de vila

e deixa de pertencer a Santo Antocircnio da Patrulha passando a ser distrito do

municiacutepio de Taquara do Mundo Novo (hoje Taquara) o que traz mudanccedilas

significativas para a vila

Mesmo havendo distribuiccedilatildeo de lotes apoacutes quinze anos percebe-se na

Figura 3 que o povoado ainda era pequeno cercado de campos que constituiacuteam

fazendas com criaccedilatildeo de gado vacum tendo como principal economia a pecuaacuteria

extensiva Ao alto pode-se visualizar a Igreja Matriz construiacuteda pelo capitatildeo Pedro

da Silva Chaves

Figura 3 ndash Vista da vila de Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra (1901)

Fonte Portal Satildeo Chico (2018)10

10 PORTAL SAtildeO CHICO Fotos antigas de Satildeo Francisco de Paula 2018 Disponiacutevel em

ltwwwsaochicocombrantigasgt Acesso em 12 abr 2019

30

Ainda eacute possiacutevel observar atraveacutes da Figura 3 que neste periacuteodo natildeo havia

nenhuma preocupaccedilatildeo com a organizaccedilatildeo urbana ou seja ruas quadras as

construccedilotildees se apresentam de maneira desordenada Poreacutem passados vinte e dois

anos na Figura 4 jaacute eacute possiacutevel visualizar uma estrutura urbanizada com possiacutevel

organizaccedilatildeo de ruas e quadras mas a vila ainda eacute rodeada de campos

Figura 4 ndash Vista Avenida Juacutelio de Castilhos (1923)

Fonte Lucena (1971 p 67)

O desenvolvimento da Sede de Satildeo Francisco de Paula acontece segundo

Lucena (1971 p 27) ldquonos primeiros anos de vida isto eacute de 1910 a 1924 mais ou

menos devido agrave extraccedilatildeo da erva-mate que era abundante em nossos matos nas

zonas da serrardquo O autor ainda acrescenta

O pioneiro na extraccedilatildeo da erva-mate em nossa Comuna foi o proprietaacuterio Carlos Miguel Kroeff dono da fazenda Potreirinho praticamente arrabalde de nossa cidade No barba-quaacute11 se iniciava todo processo de industrializaccedilatildeo da erva-mate sendo que Satildeo Francisco de Paula chegou a ter quinhentos barbaacute-quas (LUCENA 1971 p 28)

11 Barba-quaacute um valo de cerca de oito metros de comprimento amis ou menos por um metro de

profundidade e oitenta centiacutemetros de largura coberto de xaxim e terra em uma das extremidades colocava-se um gradeado e acima deste em uma parte tambeacutem coberta e mais alta tinha apenas uma saiacuteda sob o gradeado colocava-se as folhas de erva extraiacuteda da aacutervore no iniacutecio do valo fazia-se um fogo e a fumaccedila que pela pouca ventilaccedilatildeo existente formava bastante fumaccedila e esta atingia as folhas secando-as (LUCENA 1971 p 28)

31

A produccedilatildeo de erva-mate contribuiu para o povoamento da vila visto que

muitas pessoas vieram trabalhar e acabaram se instalando no municiacutepio Apoacutes a

extraccedilatildeo da erva-mate surge a extraccedilatildeo de madeira que tambeacutem contribui para o

desenvolvimento

Nesta documentaccedilatildeo ainda se encontra no artigo nordm 251 de 08 de abril de

1891 a liberaccedilatildeo da verba para abrir a estrada de rodagem que liga as vilas de

Taquara do Mundo Novo e Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra em 1889

Atraveacutes da Figura 5 pode-se perceber o quatildeo difiacutecil era abrir uma nova estrada de

rodagem Tudo era manual com o uso de animais e muares para transportar pedras

e terras poreacutem a abertura desta estrada traz mudanccedilas significativas para a

populaccedilatildeo de Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra

Figura 5 ndash Abertura da estrada ERS-020 Taquara ndash Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra

Fonte Jornal Folha da Serra (1968 n 89 p 8)12

12 Folha da Serra jornal criado em 1932 pelo Dr Siacutelvio Rabelo sendo o uacutenico jornal que existia na

regiatildeo serrana Este trazia notiacutecias sociais poliacuteticas etc com uma tiragem em torno de 500 exemplares por semana Encontram-se no Arquivo Histoacuterico de Satildeo Francisco de Paula alguns exemplares ateacute a deacutecada de 70 seacuteculo XX

32

A estrada visava facilitar o acesso da populaccedilatildeo de Satildeo Francisco de Paula

de Cima da Serra que ia ateacute Taquara para buscar gecircneros de primeira necessidade

Em tempos idos os serranos se abasteciam de gecircneros de primeira necessidade quase que totalmente em Taquara e o transporte era feito em cargueiros que compunham uma tropa com cerca de quinze a vinte cargueiros Os animais usados para esse transporte eram geralmente muares mais resistentes para o transporte de carga Os serranos levavam daqui queijo (o queijo ateacute hoje chamado queijo serrano) charque couros e alguns levavam maccedilatilde ou pinhatildeo em suas eacutepocas de colheita trocados por mantimentos de que necessitavam Natildeo existiam ainda estradas e o trajeto era feito por picadas existentes (LUCENA 1971 p 23)

O mesmo autor ainda acrescenta

Para atingir a capital do Estado a viagem era cheia de peripeacutecias O transporte era feito a cavalo ou em diligecircncias ateacute Taquara As diligecircncias carros de quatro de rodas puxados por quatro animais ndash cavalos ndash eram de propriedade de Bertolo Casara mais conhecido por lsquoJoatildeo Gringorsquo Essa viagem se fazia normalmente em um dia e agraves vezes em dia e meio O ponto de parada era ali no Rodeio Bonito onde existia uma casa agrave esquerda bem defronte a estrada que desce para Trecircs Coroas [] De Taquara a Porto Alegre por via ferroviaacuteria ndash de trem (LUCENA 1971 p 16)

A construccedilatildeo desta estrada traz um novo desenvolvimento para a entatildeo vila

de Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra pois apoacutes a abertura da estrada de

rodagem Taquara ndash Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra modifica o transporte

de mercadorias entre as localidades

O transporte de mercadorias era feito em carretotildees de quatro rodas puxados uns por cinco animais outros por sete as maiores que geralmente eram muares Eram atrelados em duas fileiras Na fileira junto agrave carreta que era de duas ou trecircs mulas na da esquerda montava o carreteiro Este toda vez que se verificava um declive na estrada apeava de sua montaria a fim de brecar a carreta sem que esta entretanto parasse (LUCENA 1971 p 24)

Este modelo de comeacutercio vai desaparecer com o surgimento das primeiras

casas de comeacutercios na vila de Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra De acordo

com Lucena (1971 p 38) ldquoos primeiros comerciantes foram Manoel Vicente

Ferreira Abel Pacheco Luis Carlos de Andrade e Jacob Bossle Sobrinhordquo Na

imagem da Figura 6 temos o Accedilougue Central onde nota-se que os animais

convivem soltos na rua juntamente com as pessoas mesmo se tratando de local

urbano

33

Figura 6 ndash Accedilougue Central

Fonte Portal Satildeo Chico (2018)13

Nesta mesma documentaccedilatildeo haacute decretos que definem a construccedilatildeo de uma

nova Igreja Matriz isto eacute uma Igreja de Pedra substituindo a antiga que era de

madeira ainda construiacuteda pelo capitatildeo Pedro da Silva Chaves esta construccedilatildeo data

do ano de 1922 Segundo Teixeira (2002 p 30) a Igreja de Pedra permanece ateacute

1960 quando daacute lugar ao atual preacutedio da Igreja Matriz que foi inaugurada em 14 de

junho de 1964 Na sequecircncia teremos duas imagens demonstrando a Igreja de

Pedra e a atual edificaccedilatildeo da Igreja Matriz Natildeo foi encontrada nenhuma foto da

Igreja de Madeira nos arquivos do Arquivo Histoacuterico do Municiacutepio somente em um

site de fotos antigas onde encontra-se registro apresentado na Figura 7

13 PORTAL SAtildeO CHICO Fotos antigas de Satildeo Francisco de Paula 2018 Disponiacutevel em

ltwwwsaochicocombrantigasgt Acesso em 12 abr 2019

34

Figura 7 ndash Igreja Matriz em 1931

Fonte Portal Satildeo Chico (2018)14

Figura 8 ndash Igreja Matriz

Fonte acervo da autora (2015)

14 PORTAL SAtildeO CHICO Fotos antigas de Satildeo Francisco de Paula 2018 Disponiacutevel em

ltwwwsaochicocombrantigasgt Acesso em 12 abr 2019

35

Entre os anos de 1892 a 1902 por duas vezes Satildeo Francisco de Paula de

Cima da Serra eacute desanexado e reanexado ao entatildeo municiacutepio de Taquara do Mundo

Novo Somente em 23 de dezembro de 1902 foi reestabelecido definitivamente o

municiacutepio de Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra cuja instalaccedilatildeo se verificou

em 07 de janeiro de 1903 A partir de 01 de janeiro de 1938 perde ldquoCima da Serrardquo

de sua nomenclatura permanecendo somente Satildeo Francisco de Paula Apesar

disso se manteacutem o gentiliacutecio ldquoSerranordquo de acordo com Silva (2000 p 23) e dados

do Arquivo Histoacuterico de Satildeo Francisco de Paula sendo que este gentiliacutecio eacute usado

ateacute os dias de hoje

No iniacutecio o municiacutepio de Satildeo Francisco de Paula foi um dos maiores do Rio

Grande do Sul em territoacuterio mas ao longo do tempo foi diminuindo seu territoacuterio

com a anexaccedilatildeo de parte dele ao entatildeo municiacutepio de Caxias do Sul e de Torres e a

criaccedilatildeo dos municiacutepios de Cambaraacute do Sul em 1963 e Jaquirana em 1988

Foi uma das maiores Comunas do Estado pois de seu territoacuterio faziam parte os atuais municiacutepios de Satildeo Marcos Cambaraacute do Sul e Jaquirana e os distritos de Vila Oliva Criuacuteva Fazenda Souza e Vila Seca hoje integrantes de Caxias do Sul De nosso territoacuterio foi tambeacutem desanexada uma gleba de terra ndash Josafaacute ndash e anexada ao municiacutepio de Torres (LUCENA 1971 p 10)

Mesmo perdendo parte de seu territoacuterio ao longo dos anos atualmente

segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (2016) ldquoSatildeo Chicordquo como

costumeiramente eacute chamado pelo seu povo estaacute situado na Encosta Inferior do

Nordeste do Estado do Rio Grande do Sul na zona denominada de Campos de

Cima da Serra Fica distante 112 quilocircmetros da capital do Estado Porto Alegre Os

municiacutepios limiacutetrofes satildeo Monte Alegre dos Campos Bom Jesus Jaquirana

Cambaraacute do Sul Praia Grande-SC Trecircs Forquilhas Itati Maquineacute Riozinho

Rolante Taquara Trecircs Coroas Canela e Caxias do Sul Possui uma aacuterea territorial

de 3264490 quilocircmetros quadrados com uma estimativa populacional de 21617

habitantes distribuiacutedos na zona urbana e rural O municiacutepio se divide em sete

distritos Sede Cazuza Ferreira Tainhas Juaacute Eletra e Lajeado Grande Atraveacutes do

conjunto de mapas apresentado na Figura 9 eacute possiacutevel visualizar a localizaccedilatildeo de

Satildeo Francisco de Paula dentro do Rio Grande do Sul e por conseguinte no Brasil

Tambeacutem se verifica a localizaccedilatildeo dos distritos de Satildeo Francisco de Paula

36

Figura 9 ndash Mapa de localizaccedilatildeo de Satildeo Francisco de Paula

Subdivisatildeo de Satildeo Francisco de Paula em distritos

Fonte montagem da autora (2019)

Desta forma se constitui o espaccedilo fiacutesico do municiacutepio de Satildeo Francisco de

Paula cuja populaccedilatildeo natildeo forma uma colocircnia pois seu povo adveacutem de diferentes

lugares a grande maioria com descendecircncia lusa sendo que os primeiros

colonizadores foram bandeirantes paulistas

A populaccedilatildeo de Satildeo Francisco de Paula eacute composta de brancos africanos e indiacutegenas Os brancos compreendendo portugueses (principalmente

37

accedilorianos) alematildees e italianos os africanos pertenciam ao grupo dos bantos e foram trazidos pelos portugueses (TEIXEIRA 2002 p 147)

A diversidade de pessoas que se estabeleceram em Satildeo Francisco de Paula

pode ser percebida pelos sobrenomes das famiacutelias precursoras do municiacutepio

Para Satildeo Francisco de Paula afluiacuteram famiacutelias de diversas nacionalidades que atraveacutes de seus descendentes ainda hoje aqui satildeo representadas como Famiacutelias Ferreira Soares Pinto Castilhos Asmuz Santos Martins Lopes Comin Feijoacute Silva Canani Peixoto Andrade Teixeira Valin Lucena Alves Cardoso Gomes Borges Marques Tedesco Medeiros Paglioacuteli Costa Fogaccedila Casara em outras (LUCENA 1971 p 11-12)

Os moradores deste municiacutepio introduziram um jeito singular de viver tendo

em seu cotidiano as tradiccedilotildees gauacutechas15 muito presentes Teixeira (2002 p 83)

assim descreve que ldquoas raiacutezes gauacutechas estatildeo fortemente marcadas na comunidade

seja pelo modo de vestir bombacha botas cinturotildees chapeacuteus e no inverno com o

pala ou pela preferecircncia por comidas campeiras churrasco carreteiro feijatildeo

mexidordquo A autora acrescenta que ldquoas casas com lareira e o tradicional fogatildeo agrave

lenha para aquececirc-las durante o inverno rigoroso satildeo um convite para uma

conversa ao peacute do fogo e o saboreio de um gostoso chimarratildeordquo (TEIXEIRA 2002 p

83)

O enraizamento deste modo de vida adveacutem do homem do campo o

pecuarista que no passado necessitava enviar seus filhos a cidade para estudar

contribuindo para este modelo de vida

Antigamente a pecuaacuteria era a atividade econocircmica muito forte em nosso municiacutepio Assim sendo havia muitos fazendeiros E como as fazendas ficavam muito longe da Sede do municiacutepio as senhoras tinham seus filhos em casa com parteiras Tambeacutem os estudos iniciavam nas fazendas porque as escolas ficavam longe Assim muitas vezes os fazendeiros contratavam professoras para se hospedarem nas suas casas e darem aulas aos seus filhos Em muitos casos ateacute mesmo os proacuteprios pais e avoacutes ensinavam alguma coisa Alguns fazendeiros quando seus filhos ficavam maiores os mandavam continuarem seus estudos na vila (assim lsquoSatildeo Chicorsquo era chamada) (TEIXEIRA 2002 p 77)

Com a vinda dos filhos para a vila trouxeram consigo o jeito do homem do

campo sendo que um dos maiores clubes em funcionamento de Satildeo Francisco de

Paula eacute o atual Centro de Tradiccedilotildees Gauacutechas Rodeio Serrano fundado em maio de

15 Tradiccedilotildees gauacutechas segundo Fagundes (1997 p 38) eacute um movimento ciacutevico-cultural [] eacute a

tradiccedilatildeo em marcha resgatando valores que satildeo vaacutelidos natildeo por serem antigos mas por serem eternos exatamente os valores que trouxeram o Rio Grande e o gauacutecho do passado para o presente projetando-se para o futuro

38

1955 Segundo o Jornal Folha da Serra (1968 n 11 p 12) a entidade

tradicionalista receacutem-formada recebe o nome de CTG Coronel Alziro Torres Filho

Fonseca (2012 p 223) menciona que a iniciativa partiu de ldquoDavenir Peixoto Gomes

um homem ruralista e serranordquo Esta entidade tradicionalista teve como primeiro

Patratildeo Oscar Teixeira O CTG Alziro Torres Filho segundo o jornal Folha da Serra

(1957) muda sua nomenclatura em uma reuniatildeo onde o posteiro da invernada

artiacutestica Alaor Valim propotildee a troca do nome para Rodeio Serrano nome que

permanece ateacute a atualidade

A entidade tradicionalista traz como lema ldquoRepontando a Tradiccedilatildeo com o Rio

Grande na Garupardquo Fonseca (2012 p 224) relata que o lema foi ldquocriado pelo

primeiro instrutor de danccedilas Dr Alaor de Almeida Valimrdquo O mesmo autor acrescenta

que ldquoa primeira prenda foi a professora Maria Asmuz Valimrdquo Poreacutem sua sede

somente foi construiacuteda em 1968 sob a patronagem de Dante Santos O Jornal Folha

da Serra (1968 n 11 p 12) indica que ldquoa construccedilatildeo da sede era uma aspiraccedilatildeo de

longos anos que somente agora se concretizardquo Anteriormente ldquoos bailes eram

realizados em sua maioria no Salatildeo Paroquial sendo que alguns foram feitos no

primeiro andar da Associaccedilatildeo Rural e ateacute mesmo na Sociedade Cruzeirordquo

(FONSECA 2012 p 225) Este fato justifica a vontade de Dante Santos de construir

uma sede proacutepria

Apoacutes a construccedilatildeo de sua nova sede o CTG Rodeio Serrano localiza-se na

Rua Benjamim Constant nordm 582 constituindo um espaccedilo importante para a

comunidade de Satildeo Francisco de Paula Dentre as atividades desenvolvidas pelo

CTG estaacute o Rodeio Interestadual que ocorre todos os anos no primeiro final de

semana de dezembro sendo que se encontra na 33ordf ediccedilatildeo A manutenccedilatildeo das

invernadas artiacutesticas em todas as categorias mascote mirim juvenil e adulta A

organizaccedilatildeo da Ronda Crioula na Semana Farroupilha bem como a Cavalgada de

Prendas que ocorre durante a Semana Farroupilha todos os anos Realiza-se o

baile da Prenda Jovem aleacutem de shows e bailes tipicamente gauchescos Aleacutem

disso nos uacuteltimos anos a organizaccedilatildeo do Festival Ronco do Bugio que ocorre em

Satildeo Francisco de Paula ldquofestival este lanccedilado em 16 de abril 1986rdquo segundo o

Jornal Satildeo Chico Tchecirc (1986 n 4 p 5)16

16 Satildeo Chico Tchecirc jornal de circulaccedilatildeo quinzenal fundado em 08 de janeiro de 1986 e que circulou

ateacute 1989 O jornal trazia informaccedilotildees culturais sociais econocircmicas e poliacuteticas da Sede e do

39

Durante os seus sessenta e dois anos de existecircncia muitos patrotildees

passaram por esta entidade tradicionalista mas em 2017 pela primeira vez na

histoacuteria o CTG Rodeio Serrano teve uma patronagem feminina Aleacutem da Patroa

Neuza Reis foram empossadas a Capataz Elenita Amaral a Sota-capataz Fernanda

Kirsch Damasceno o Agregado das Pilchas Antocircnio Garcia de Souza e no

Conselho de Vaqueanos Neiva Santos Valim

Figura 10 ndash Patroa Neuza Reis e sua Comissatildeo

Fonte Jornal Pioneiro (2017)17

Satildeo Francisco de Paula hoje conta com vinte e oito entidades

tradicionalistas18 espalhadas pelos seus distritos demonstrando que homem do

campo se faz muito presente em todo o municiacutepio sendo assim a cultura

interior Os exemplares encontram-se encadernados no arquivo histoacuterico de Satildeo Francisco de Paula

17 Jornal Pioneiro conhecido como o jornal que estaacute ldquoao teu ladordquo o Pioneiro circula desde 1948 e estaacute presente hoje em 64 municiacutepios da regiatildeo de Caxias do Sul Desde 1993 integra a rede de jornais do Grupo RBS sendo filiado ao Instituto Verificador de Circulaccedilatildeo (IVC) Conta com uma equipe de Redaccedilatildeo com mais de 40 jornalistas aleacutem de colunistas internos e externos Em 2008 o jornal ganhou o site pioneirocom Disponiacutevel em lthttpwwwgruporbscombratuacaopioneirogt acesso em 10 de fevereiro de 2019

18 Informaccedilatildeo cedida pelo Coordenador da 27ordf Regiatildeo Tradicionalista Gauacutecha

40

tradicionalista se apresenta de maneira forte e consistente segundo vaacuterios

depoimentos de moradores de todos os distritos de Satildeo Francisco de Paula

41

4 SAtildeO FRANCISCO DE PAULA DISTRITOS EM FOCO

Quanto aos distritos de Satildeo Francisco de Paula surgem diversas

inquietaccedilotildees com relaccedilatildeo agrave identidade destes locais pois estes mesmo fazendo

parte de um mesmo municiacutepio apresentam singularidades que derivam de sua

colonizaccedilatildeo basicamente lusa portuguesa e da recepccedilatildeo de imigrantes de diversas

etnias como italianos e alematildees ao longo destes cento quinze anos de

emancipaccedilatildeo Percebe-se que alguns distritos manteacutem sua identidade e tradiccedilotildees

resguardadas enquanto em outros jaacute ocorreu agrave miscigenaccedilatildeo de diferentes haacutebitos

e culturas o que dificulta identificar traccedilos que identifiquem estes distritos

Neste capiacutetulo busca-se responder a estas inquietaccedilotildees fazendo uso dos

depoimentos de moradores locais Segundo Delgado (2003 p 21) ldquoessas

narrativas tal qual os lugares da memoacuteria satildeo instrumentos importantes de

preservaccedilatildeo e transmissatildeo das heranccedilas identitaacuterias e das tradiccedilotildeesrdquo Neste sentido

se optou por dois moradores por distrito totalizando treze entrevistados um homem

e uma mulher da terceira idade que sempre morou no distrito o que enriquece os

detalhes repassados pelos entrevistados

Toda entrevista tem por base a memoacuteria individual que se referencia na coletiva profundamente relacionada agraves vivecircncias individuais A utilizaccedilatildeo do depoimento de pessoas idosas como fonte para a histoacuteria oral eacute uma forma de justificar a entrevista como histoacuterica referindo-se ao passado jaacute que aos idosos se pretende atribuir a guarda de memoacuterias do passado pelo proacuteprio tempo de vida do depoente Isto retoma e ajuda a fortalecer a ideia de que a histoacuteria mesmo tratando do tempo presente ainda se reporta a um periacuteodo anterior ao da vida do pesquisador (ALMEIDA 2012 p 10)

A entrevista somente ocorreu quando o entrevistado concordou em assinar o

termo de consentimento As entrevistas ocorreram nas residecircncias dos

entrevistados foram preacute-agendadas sendo que o meacutetodo utilizado foi entrevista

guiada atraveacutes de questionaacuterio previamente organizado pela autora as entrevistas

foram filmadas e gravadas onde somente uma entrevistada natildeo autorizou a

filmagem de seus relatos justificando a idade avanccedilada e por morar sozinha

A escolha pela histoacuteria oral hibrida ocorreu no sentido de que a fonte oral eacute o

principal recurso utilizado para colher informaccedilotildees sobre os distritos visto que em

sua grande maioria natildeo haacute publicaccedilotildees Poreacutem em determinados momentos se

utilizam fontes documentais como complemento do que vem sendo apresentado

Com relaccedilatildeo agrave abordagem adotada nas entrevistas se optou pela temaacutetica visto

42

que se leva um roteiro preacute-organizado com temas que deveratildeo ser explorados

durante as entrevistas o que proporciona uma riqueza de informaccedilotildees para a

autora

41 DISTRITO SEDE

O distrito Sede se constitui no local onde se inicia o povoado do municiacutepio na

antiga Fazenda da Cria terras doadas pelo capitatildeo Pedro da Silva Chaves Neste

distrito concentram-se os serviccedilos puacuteblicos e privados que os moradores

necessitam em seu dia-a-dia visto que ali existem bancos casas loteacutericas

farmaacutecias hospital supermercados lojas papelarias livraria inspetoria veterinaacuteria

secretaacuterias municipais escolas puacuteblicas e privadas creches induacutestrias de madeiras

e calccedilados

Poreacutem o distrito Sede ou cidade de Satildeo Chico como popularmente

conhecida pelo seu povo jaacute foi uma cidade de interior ou seja uma cidade pequena

com moradores que vinham das fazendas em busca de estudo Visto que a

implementaccedilatildeo de uma rede regular de ensino ocorre tardiamente devido agrave

dificuldade de se locomover pelas distantes localidades entatildeo normalmente os

fazendeiros contratavam professores para que seus filhos obtivessem estudo sendo

que estes moravam na proacutepria residecircncia da famiacutelia Em entrevista com essa autora

relata Albuquerque19 que ldquopara aprimorar os estudos aqueles que tinham mais

condiccedilotildees iam para Porto Alegre Santa Maria ou Passo Fundo mas para isto

ficavam laacute em internatos e soacute retornavam nas feacuterias devido agrave dificuldade e o custo

da viagemrdquo

Na deacutecada de 40 foi criada a Escola Catoacutelica de Satildeo Francisco de Paula

cujo funcionamento acontece ateacute 1973 quando foram encerradas suas atividades

Esta escola iniciou com o curso primaacuterio e posteriormente instalou o curso ginasial

Normalmente estes moradores permaneciam de segunda-feira a sexta-feira na

cidade e nos finais de semana retornavam para as fazendas como recorda uma

moradora local

Noacutes eacuteramos uma cidade de fazendeiros a gente tinha uma casa no campo e uma na cidade a gente vivia de laacute pra caacute de caacute pra laacute fim de semana ia

19 ALBUQUERQUE Moacir Castello Branco de Entrevista concedida agrave autora no dia 06 de abril de

2018

43

pra fora20 dia de semana vinha pra caacute normalmente uma irmatilde mais velha voacute ficava com a gente aqui na cidade e a famiacutelia mesmo ficava no campo21

Percebe-se que hoje ainda existem na Sede moradores que manteacutem suas

casas na cidade e durante o dia ou nos finais de semana vatildeo ateacute suas fazendas

para fazer as lides com o gado o que caracteriza uma pequena parte da populaccedilatildeo

que foram os filhos dos antigos fazendeiros que mais tarde acabam se instalando

definitivamente na cidade trazendo com sigo a essecircncia do homem do campo e

afirmando uma identidade genuinamente gauacutecha definiccedilatildeo esta concedida por uma

moradora local

Gauacutecho natildeo eacute o morador do Rio Grande do Sul o morador do Rio Grande do Sul eacute o sul-rio-grandense ou rio-grandense do sul o gauacutecho eacute apenas o homem que vem da pecuaacuteria extensiva essa que existe laacute no pampa e aqui nos campos de cima da serra o gauacutecho serrano com caracteriacutesticas muito proacuteprias grandes gaiteiros poetas aliaacutes o maior gaiteiro do mundo eacute daqui natildeo abro matildeo de dizer isto soacute que todos noacutes viacutenhamos da lida do campo em decorrecircncia disso eacuteramos gauacutechos de verdade22

Em sua fala apresenta o gauacutecho serrano como um tipo singular que ama a

pilcha gauacutecha o seu pingo e suas criaccedilotildees bem como reafirma a importacircncia dos

Irmatildeos Bertussi Honeide e Adelar sendo Adelar Bertussi um dos maiores gaiteiros

deste municiacutepio Exaltam-se tambeacutem os poetas que com suas poesias e letras de

muacutesicas escrevem o jeito do seu povo viver

Mesmo a cidade sendo ldquolocal de paradardquo durante a semana para a maioria

de seus habitantes no passado era cheia de atrativos que o campo natildeo possuiacutea

como o cinema cuja instalaccedilatildeo natildeo se encontra documentada mas sabe-se que

iniciou onde hoje eacute o preacutedio da Prefeitura Municipal sendo proprietaacuterio Francisco

Ferraz (Chico Ferraz como era conhecido) Observa-se em alguns exemplares do

Jornal Folha da Serra23 os filmes e os horaacuterios do funcionamento do cinema

Entende-se que o jornal era uma maneira de divulgar os filmes por ser o uacutenico meio

de comunicaccedilatildeo da eacutepoca Pelos folhetins se percebe que as sessotildees

apresentavam diversos gecircneros natildeo se sabe quando o cinema finalmente fechou

20 Fora refere-se ir para a fazenda 21 SOARES Luciana Olga Entrevista concedida agrave autora no dia 01 de marccedilo de 2018 22 SOARES Luciana Olga Entrevista concedida agrave autora no dia 01 de marccedilo de 2018 23 Folha da Serra jornal local criado em 1932 pelo Dr Siacutelvio Rabelo passando posteriormente a

propriedade da Prefeitura Municipal Sua impressatildeo era na ordem de 500 exemplares natildeo se tem a informaccedilatildeo do periacuteodo que parou de circular mas pelos exemplares encontrados no Arquivo Histoacuterico de Satildeo Francisco de Paula os uacuteltimos datam de 1978 O Arquivo Histoacuterico de Satildeo Francisco de Paula fica em um preacutedio anexo agrave Biblioteca Puacuteblica do municiacutepio

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poreacutem o jornal Folha da Serra traz uma reportagem que retrata como estava difiacutecil

manter o cinema em funcionamento em meados de 1968 ldquoo nosso cinema na

maneira que vai indo natildeo tem mais condiccedilotildees de funcionar natildeo temos apoio da

populaccedilatildeo com uma frequecircncia de mais ou menos 150 pessoas por final de

semanardquo O jornal acrescenta ldquosalienta-se que mais ou menos de 3 de nossa

CULTA populaccedilatildeo natildeo frequenta o cinemardquo Pode-se associar o fechamento do

cinema a dois fatores a natildeo cultura de assistir filmes e pelas sessotildees ocorrerem nos

finais de semana onde boa parte da populaccedilatildeo da cidade se deslocava para as

fazendas ou pela crise que os cinemas passaram na deacutecada de 80 quando em

muitas cidades foram fechados

A vida da populaccedilatildeo local vai se modificando cada vez mais as pessoas vatildeo

se instalando definitivamente na Sede onde se perde o viacutenculo com o campo

Devido agrave venda ou arrendamento das fazendas24 que por render pouco a pecuaacuteria

extensiva e com a criaccedilatildeo de novas legislaccedilotildees que proiacutebem praacuteticas centenaacuterias

seus proprietaacuterios buscaram novas possibilidades econocircmicas que modificaram a

Sede e tambeacutem boa parte do interior Em entrevista a moradora Soares relata

Exatamente porque a produccedilatildeo era pequena isso natildeo serve para o mundo de hoje a uns quarenta anos chega em nossos campos as primeiras plantaccedilotildees de pinus interessante que ningueacutem reclamou da destruiccedilatildeo desse campo de milhotildees de anos e de todo o ecossistema mas mesmo com essa nova cultura continuamos realizando a sapeca do campo no mecircs de agosto mas de repente chega a notiacutecia que estaacute proibida a queima do campo dizendo que noacutes estragaacutevamos a terra poluiacuteamos o ar que mataacutevamos animais e tudo aquilo natildeo era verdade Na verdade alguns anos depois da lei proibindo a queima do campo chegam as multas gigantescas agraves vezes maior que o valor da terra e aiacute inviabilizou a pecuaacuteria e muitos fazendeiros venderam suas terras e foram embora Quem ficou no campo na busca por renda a qualquer preccedilo arrenda seus campos para os batateiros que vieram acredito que a grande maioria de Santa Catarina e do Paranaacute estes lavram o campo nunca mais o campo nem com reza braba taacute tudo perdido para sempre e isso reflete na nossa cidade25

Essas mudanccedilas no campo refletem na Sede onde o homem serrano convive

passivamente com novas identidades que embora sejam presentes eacute minoria pois

esta parcela de novos moradores traz consigo um novo jeito de viver que ainda natildeo

se percebe influenciar na identidade cultural da Sede

24 Propriedades rurais cuja atividade principal eacute a praacutetica da pecuaacuteria extensiva e a produccedilatildeo do

queijo artesanal serrano 25 SOARES Luciana Olga Entrevista concedida agrave autora no dia 01 de marccedilo de 2018

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Na Sede desde o iniacutecio se observam quatro clubes sociais a Sociedade

Cruzeiro a Sociedade 9 de Julho a Sociedade Esperanccedila e o Centro de Tradiccedilotildees

Gauacutechas Cada clube social tem sua importacircncia histoacuterica poreacutem alguns natildeo se

manteacutem ativos

A Sociedade 9 de Julho foi fundada em 27 de setembro de 1961 estando

localizada no bairro Rincatildeo Segundo o jornal Folha da Serra (1968 n 96 p 5)

apoacutes sete anos de sua fundaccedilatildeo ldquoseu presidente Galego promete uma nova e

confortaacutevel sede para a sociedaderdquo Sociedade que se apresenta por sua

versatilidade nos eventos ateacute os dias atuais

O jornal Folha da Serra (1968 n 96 p 5) traz a seguinte mateacuteria ldquoas quatro

noites foram repletas de alegria naquela sociedade onde os foliotildees divertiram-se e

quando se anunciou o final da quarta noite houve quem lamentasse o final da festa

do Momordquo A reportagem refere-se ao carnaval que se desenvolve de forma

popular nesta sociedade Neste espaccedilo na deacutecada de 1990 ocorria um baile na

sexta-feira que antecedia ao Festival do Ronco do Bugio um espaccedilo onde jovens se

encontravam para iniciar as festividades do grande festival da cidade poreacutem na

atualidade este evento natildeo ocorre mais Pelos cartazes de divulgaccedilatildeo de eventos

atuais a Sociedade 9 de Julho se torna um espaccedilo bastante versaacutetil e segundo

dados obtidos no site da proacutepria sociedade o local apresenta shows bailes

tradicionalistas domingueiras e festas temaacuteticas

Sabe-se da existecircncia da Sociedade Esperanccedila devido a uma reportagem a

respeito do carnaval escrita no jornal Folha da Serra (1968 n 11 p 25) ldquoos

escurinhos tambeacutem natildeo ficaram para traacutes e demonstraram que satildeo bons no samba

porque soacute quem assistiu pode ver como brincaram e que maravilha de ritmo

marcaram durante as quatro noitesrdquo A reportagem daacute a entender de se tratar de

uma sociedade frequentada por negros e pode-se entender que ao usar o termo

escurinho na reportagem haacute preconceito racial perpassando a ideia de que por

serem negros natildeo poderiam se divertir da mesma maneira que os brancos

Atualmente se encontra no local um espaccedilo residencial e comercial

A Sociedade Cruzeiro foi fundada em 9 de maio de 1925 pela elite da

sociedade serrana Segundo Teixeira (2002) e Fonseca (2012) sua sede social era

na Avenida Juacutelio de Castilhos onde hoje se situa a agecircncia do Banrisul e teve como

primeiro presidente o Sr Antocircnio Mario Kroeff e o secretaacuterio Sr Joatildeo Parobeacute de

Lucena Sua nova sede foi inaugurada de acordo com Fonseca (2012 p 236) ldquono

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dia 11 de dezembro de 1965 e esta permanece no mesmo endereccedilo ateacute a

atualidade Situa-se na Rua Dr Frederico Tedesco nordm 1261rdquo

Atualmente este espaccedilo eacute usado para convenccedilotildees ou festas particulares

onde as pessoas locam o espaccedilo para realizarem seu evento Neste espaccedilo natildeo

mais ocorrem grandes eventos sociais como Fonseca (2012 p 232) descreve ldquoos

bailes mais elegantes e vistosos desta sociedade ocorrem aquirdquo Fonseca (2012 p

233) ainda complementa que ldquoa primeira Miss Sociedade Cruzeiro foi eleita em 1937

e a vencedora foi a jovem Zilah Teixeirardquo

A Sociedade Cruzeiro tambeacutem foi palco de bailes de carnaval O Jornal Folha

da Serra (1968 n 11 p 25) descreve ldquocomo sempre a Sociedade Cruzeiro ponteou

o nosso carnaval com blocos fantasiados magnificamente fazendo acrobacias ao

som de excelente muacutesica local onde os turistas afluiacuteramrdquo Contrapondo a este

tempo a moradora local Soares26 discorre de maneira saudosa ldquoque saudades do

carnaval hoje eacute bebedeira perdeu o encanto perdeu tudo Na rua o pessoal

gritando sem nenhuma infraestrutura nem os bailes na sociedade natildeo ocorrem

maisrdquo

O distrito Sede jaacute foi palco de inuacutemeros clubes sociais que ao longo do tempo

foram perdendo seu encanto e ateacute mesmo fechando-se para atividades sociais O

que permanece em pleno funcionamento eacute o Centro de Tradiccedilotildees Gauacutechas Rodeio

Serrano o que justifica uma cultura tradicionalista presente neste distrito Dentre as

atividades desenvolvidas por esta entidade estatildeo o Rodeio Interestadual com

atividades campeiras e artiacutesticas que ocorrem todos os anos no primeiro final de

semana de dezembro a manutenccedilatildeo das invernadas artiacutesticas em todas as

categorias mascote mirim juvenil e adulta

A organizaccedilatildeo da Ronda Crioula na Semana Farroupilha com a participaccedilatildeo

das escolas da Sede e do interior que trazem seus grupos de danccedilas bem como

organizam gincanas Outra atividade tambeacutem desenvolvida por esta entidade eacute a

Cavalgada de Prendas que ocorre durante a Semana Farroupilha desde 1992

sendo Satildeo Francisco de Paula pioneira nesta ideia onde somente mulheres

participam da cavalgada que culmina com o desfile na Avenida Juacutelio de Castilhos

Realiza-se tambeacutem o Baile da Prenda Jovem que eacute o baile de debutante gauacutecho

onde as prendas entre 13 e 15 anos satildeo apresentadas agrave sociedade Aleacutem disso nos

26 SOARES Luciana Olga Entrevista concedida agrave autora no dia 01 de marccedilo de 2018

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uacuteltimos anos a organizaccedilatildeo e apresentaccedilatildeo do Festival Ronco do Bugio que ocorre

em Satildeo Francisco de Paula faz parte da programaccedilatildeo desta entidade Este festival

apresenta exclusivamente o gecircnero musical bugio Haacute pelo menos duas hipoacuteteses

sobre a origem deste gecircnero musical

A primeira eacute de berccedilo serrano e teria mais fiel escudeiro o inesqueciacutevel acordeonista de Satildeo Francisco de Paula Honeyde Bertussi Siqueira Segundo ele o ritmo teria sido originaacuterio pelas matildeos do gaiteiro Vergiacutelio Leitatildeo que no jogo-de-foles e nos baixos de sua gaita de botatildeo teria imitado o ronco do bicho nos caponetes de cima da serra [] teria difundido pelas bodegas do Juaacute interior de Satildeo Chico (SOUZA 2003 p 15)

A segunda hipoacutetese eacute apresentada por Souza (2003 p 15) que apresenta a

versatildeo dada pelo povo de Satildeo Francisco de Assis que diz que ldquoa origem do ritmo e

oriunda desta localidade que por sinal realizava um festival nativista chamado

Querecircncia do Bugiordquo

Desconhece-se a verdadeira origem do gecircnero musical bugio mas Souza

(2003 p 23) afirma que ldquoJoatildeo Cincinato Terra muacutesico atuante sentiu a

necessidade de nosso municiacutepio acompanhar o movimento jaacute que neste periacuteodo se

expande por todo o estado do Rio Grande do Sul os festivais nativistasrdquo O

lanccedilamento do primeiro festival do Ronco do Bugio acontece em 1986 no CTG

Rodeio Serrano com a participaccedilatildeo de vaacuterios representantes da muacutesica nativista e

da comunidade serrana Seu lanccedilamento oficial ocorre em 16 de abril de 1986

O jornal Satildeo Chico Tchecirc (1986 n 11 p 6) noticiou que o primeiro Festival do

Ronco do Bugio contou com 98 muacutesicas escritas sendo 24 as selecionadas O

festival ocorreu entre os dias 13 e 15 de maio e Souza (2003 p 42) descreve que foi

apresentado ldquosob uma lona de circo estaqueada num gramado amador mas de

tantas gloacuterias futeboliacutesticas o campo do Clube Atleacutetico Serranordquo

A muacutesica vencedora do primeiro Ronco do Bugio foi ldquoLevanta Bugiordquo

defendida pelo cantor e compositor gauacutecho Leonardo Observando fotos percebe-se

que o Ronco do Bugio se deu em uma noite fria de inverno

O Festival Ronco do Bugio desde o seu iniacutecio premia melhor arranjo

conjunto instrumental instrumentista inteacuterprete e a muacutesica mais popular Fatima

Gimenez foi a melhor inteacuterprete do primeiro festival defendendo a muacutesica ldquoPinheiro

Gringordquo composiccedilatildeo de Erian Fogaccedila e Laerte Fortes Novamente a roupa dos

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muacutesicos reforccedila que na noite da entrega da premiaccedilatildeo fazia muito frio A cantora

tambeacutem se apresenta vestindo um chiripa coberto por um pala27

Na Figura 11 observamos a fotografia de Gonzaga dos Reis muacutesico local

sentado com sua gaita instrumento que lhe deu o precircmio de melhor instrumentista

do primeiro Ronco do Bugio Nesta oportunidade o cantor instrumentista e

compositor defendeu a muacutesica ldquoBugio da Minha Terrardquo

Figura 11 ndash Gonzaga dos Reis

Fonte Jornal Satildeo Chico Tchecirc n 4 p 8 (1986)

A composiccedilatildeo ldquoBugio Tiranordquo que foi defendida pelo conjunto Os Tiranos de

Satildeo Francisco de Paula ganhou o precircmio mais popular

Para o Jornal Satildeo Chico Tchecirc (1986 n 11 p 7) o Festival Ronco do Bugio eacute

ldquoum festival autecircntico e original que aconteceu com grande sucesso em Satildeo

Francisco de Paulardquo No encerramento deste grande evento Joatildeo Chagas Leite se

27 Chiripa e pala satildeo trajes tipicamente gauacutechos Sendo que o chiripa atualmente eacute uma veste de

preferecircncia feminina este fica enrolado na cintura e vai ateacute os joelhos ldquoEacute um pano inteiro passado entre as pernas primeiro de traacutes para frente e depois de frente para traacutes pode ser de latilde ou lisordquo (ABREU 2003 p 67) O pala eacute uma peccedila retangular com franjas nos quatro lados e listras no sentido do comprimento

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apresenta segundo o Jornal Satildeo Chico Tchecirc (1986 n 11 p 8) ldquocom composiccedilotildees

como Corda de Espinho Orelhano Pampa Campo e Querecircncia Coraccedilatildeo de

Estudante e Afiosrdquo

O Festival Ronco do Bugio perpassa o tempo segundo o site da Prefeitura

Municipal

O Festival Ronco do Bugio eacute um evento musical nativista que acontece anualmente na Cidade de Satildeo Francisco de Paula com o intuito de preservar e difundir o uacutenico ritmo originaacuterio do Rio Grande do Sul ou seja o lsquobugiorsquo compasso criado justamente no interior deste municiacutepio Tal criaccedilatildeo se deu a partir da criatividade dos gaiteiros serranos que buscaram imitar com seu instrumento musical o ronco do primata nos matos da serra A festividade agora em sua 26ordf ediccedilatildeo eacute genuiacutena pois eacute o uacutenico da Ameacuterica onde obrigatoriamente os participantes devem utilizar um ritmo somente isto eacute o citado lsquobugiorsquo embora a temaacutetica seja abrangente Por este motivo eacute chamado de lsquoO Festival Mais Autecircntico do Rio Grandersquo Aleacutem do forte enfoque cultural que envolve toda a comunidade musical do Estado o Festival tem seu apelo ecoloacutegico pois chama a atenccedilatildeo para a preservaccedilatildeo da espeacutecie hoje quase em extinccedilatildeo O Ronco do Bugio por sua importacircncia no cenaacuterio cultural rio-grandense criou uma identidade ao povo de Satildeo Francisco de Paula pois junto ao evento estaacute intriacutenseco e vem agrave tona o histoacuterico da criaccedilatildeo do municiacutepio caracterizado pela forte influecircncia dos antigos tropeiros desbravadores e povoadores desta parte do paiacutes (PREFEITURA MUNICIPAL DE SAtildeO FRANCISCO DE PAULA 2017)

No mesmo documento disponibilizado pela Prefeitura Municipal de Satildeo

Francisco de Paula observam-se algumas informaccedilotildees a respeito da realizaccedilatildeo do

festival no ano de 2017

Art 1ordm - O 26ordm Ronco do Bugio realizar-se-aacute no municiacutepio de Satildeo Francisco de Paula nos dias 01 e 02 de setembro de 2017 Art 2ordm - a festividade agora em sua 26ordf ediccedilatildeo eacute genuiacutena pois eacute a uacutenica na Ameacuterica Latina com promoccedilatildeo da Prefeitura Municipal de Satildeo Francisco de Paula e do CTG Rodeio Serrano com apoio de oacutergatildeos puacuteblicos e iniciativa privada Art 3ordm - Satildeo objetivos do 26ordm Ronco do Bugio a) valorizar a tradiccedilatildeo arte cultura e a autecircntica muacutesica regionalista

gauacutecha atraveacutes do seu ritmo mais original b) prestigiar autores compositores inteacuterpretes e conjuntos regionalistas e

incentivar o surgimento de novos valores c) divulgar a muacutesica regional gauacutecha d) valorizar a relevante posiccedilatildeo na formaccedilatildeo de usos e costumes

caracteres e valores espirituais e morais do gauacutecho e) promover e incentivar a cultura gauacutecha projetando Satildeo Francisco de

Paula na maneira mais autecircntica no cenaacuterio do turismo (PREFEITURA MUNICIPAL DE SAtildeO FRANCISCO DE PAULA 2017)

Como eacute possiacutevel observar no artigo 4ordm ldquoA organizaccedilatildeo do 26ordm Ronco do Bugio

ficaraacute a cargo da Comissatildeo Organizadora composta por membros da Prefeitura

Municipal e do CTG Rodeio Serranordquo (PREFEITURA MUNICIPAL DE SAtildeO

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FRANCISCO DE PAULA 2017) Devido agrave importacircncia identitaacuteria do festival para o

municiacutepio ao se chegar agrave cidade na deacutecada de 90 se encontrava o seguinte

outdoor

Figura 12 ndash Outdoor entrada da cidade na ERS-020

Fonte Souza (2003 p 17)

Assim como o tiacutetulo de ldquoCapital Mundial do Bugiordquo Satildeo Francisco de Paula ldquojaacute

obteve vaacuterios slogans dentre eles o de Satildeo Chico eacute terra boardquo (TEIXEIRA 2002 p

149-150)

Mesmo ocorrendo inferecircncias externas advindas com pessoas que trouxeram

consigo uma identidade diferente Soares28 em entrevista afirma ldquoSatildeo Chico eacute

identificada pela cultura tradicionalista gauacutecha a cuia em frente ao antigo preacutedio da

prefeitura demonstra o siacutembolo da hospitalidade de nosso povordquo A permanecircncia

ativa do CTG Rodeio Serrano na sede eacute outro indicativo forte da presente

identidade ligada as atividades do homem do campo Outro fato observado eacute a

constante praacutetica do laccedilo de vaca parada29 por jovens e crianccedilas nos paacutetios de suas

residecircncias bem como cavalarianos (homens mulheres jovens e crianccedilas) na

28 SOARES Luciana Olga Entrevista concedida agrave autora no dia 01 de marccedilo de 2018 29 Vaca parada uma espeacutecie de cavalete de madeira com aspectos de uma vaca usada por crianccedilas

que estatildeo iniciando neste esporte bem como usado como forma de entretenimento para jovens e adultos

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avenida principal cavalgando entre os carros Ainda se percebe o respeito entre

motoristas de automotivos bicicletas e os cavalarianos todos ocupando o mesmo

espaccedilo

42 DISTRITO DE CAZUZA FERREIRA

O distrito de Cazuza Ferreira foi criado em 07 de janeiro de 1903 estando

situado a 85 quilocircmetros da Sede Andrade comenta em entrevista30 ldquoateacute acho que

Cazuza se desenvolveu primeiro que Satildeo Chicordquo31 visto que a criaccedilatildeo do distrito

acontece dias depois da emancipaccedilatildeo enquanto a criaccedilatildeo da vila do distrito de

Cazuza Ferreira se desenvolve segundo a entrevistada

A parte da Histoacuteria que eu sei eacute que houve a chegada de um Sr Chico Mestre eacute como eles chamavam Esse Sr veio as casas eram distantes umas das outras e ele comeccedilou a fazer oraccedilatildeo nas casas e reunir as pessoas e fundou o cemiteacuterio Entatildeo o Joseacute Ferreira de Castilhos que era dono daqui naquela eacutepoca um dos moradores que tinha bastante terra doou a terra para fazer a vila aiacute o que aconteceu segundo as histoacuterias era para ser ali onde eacute a cancha de laccedilo hoje do outro lado da estrada soacute que o terreno natildeo era apropriado entatildeo houve uma permuta com o Sr que era dono deste terreno aqui era Bossle aqui era bem mais alto e mais plano Entatildeo se construiu a Igreja e iniciou o povoamento da vila32

A moradora Basso ainda acrescenta que ldquoa vila foi sempre mais ou menos o

que ela eacute hojerdquo Ao observar o local pode-se perceber uma grande praccedila ao centro

rodeada de casas de comeacutercio posto de combustiacutevel posto de sauacutede o hotel a

Igreja Matriz juntamente com o salatildeo paroquial e casas residecircncias cujo aspecto

impressiona por a grande maioria das casas apresentam uma arquitetura que

perpassa o tempo A Figura 13 apresenta uma imagem da praccedila central tirada das

escadarias da Igreja Matriz

30 ANDRADE Nauro Bossle de Entrevista concedida agrave autora no dia 04 de marccedilo de 2018 31 Primeiro que Satildeo Chico eacute um termo comum usado pelos moradores do interior do municiacutepio de

Satildeo Francisco de Paula que ao se referir a Sede do municiacutepio usam o termo Satildeo Chico ou Satildeo Francisco de Paula pois seus moradores natildeo costumam na atualidade dizer lsquovou a Sedersquo e sim lsquovou a Satildeo Chicorsquo como se eles natildeo morassem no municiacutepio

32 BASSO Ceacutelia Pacheco Terres Entrevista concedida agrave autora no dia 04 de agosto de 2018

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Figura 13 ndash Praccedila Central de Cazuza Ferreira

Fonte acervo pessoal da autora (2018)

Apesar de ter a preservaccedilatildeo arquitetocircnica a moradora Basso declara

O pai contava e outras pessoas contam que teve uma eacutepoca que tinha faacutebrica de tamanca33 jaacute teve faacutebrica de guaranaacute de queijo bastante coisa no sentido de selaria mas tudo foi se extinguindo as pessoas as famiacutelias natildeo deram continuidade e se sumiram natildeo existe mais nada disso mas estas faacutebricas natildeo davam renda ou seja trabalho para pessoas de fora pois elas eram administradas e cuidadas pelas famiacutelias Daiacute houve o periacuteodo das serrarias enquanto pode extrair madeira era o forte a vila movimentada enriqueceram alguns comerciantes locais o momento que extinguiu aquele trabalho eles foram embora e o povo daqui acomodou entatildeo hoje a vila tem bastante pessoas que foram embora trabalhar assim na juventude e hoje aposentados voltaram pois aqui para jovem natildeo tem sobrevivecircncia o uacutenico trabalho eacute na escola tem nove professores e uma funcionaacuteria em alguns funcionaacuterios da prefeitura acho que satildeo seis que cuidam do plantel de maacutequinas a enfermeira e o pessoal que cuida do posto do correio tambeacutem tem a ferraria mas ali eacute soacute os da proacutepria famiacutelia entatildeo o jovem acaba tendo que ir embora34

Os entrevistados Basso e Andrade relatam que apesar das adversidades o

povo de Cazuza Ferreira tem um amor pelas suas tradiccedilotildees mantendo vivos trecircs

aspectos que ambos consideram a marca identitaacuteria de seu povo e afirmam com

33 Tamanca calccedilado comum na regiatildeo solado de madeira com uma proteccedilatildeo sobre as pontas dos

dedos indo ateacute o peito do peacute em couro 34 BASSO Ceacutelia Pacheco Terres Entrevista concedida agrave autora no dia 04 de agosto de 2018

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convicccedilatildeo ldquofalar de Cazuza eacute cavalhada hotel e rodeiordquo enquanto Basso acrescenta

que ldquoas cavalhadas satildeo heranccedila dos portugueses e estatildeo espalhadiacutessimas ateacute

nacionalmente atraveacutes da miacutedia porque natildeo pesquisei mas ateacute onde sei no Rio

Grande do Sul soacute tem aquirdquo

Na comunidade ainda segundo Basso ldquoa apresentaccedilatildeo das cavalhadas se

iniciou por volta de 1890 e permanece ativa ateacute hoje no passado existiam trecircs

cavalhadas as dos brancos dos amarelos e dos negrosrdquo acrescentando ldquomas hoje

natildeo haacute mas essa diferenciaccedilatildeordquo Em poliacutegrafo organizado por uma moradora local a

mesma explica que a cavalhada ldquoeacute uma luta simulada em que haacute vinte e quatro

participantes sendo doze de cada equiperdquo35 por meio da evoluccedilatildeo equestre e

movimentos de espada lanccedila e garrucha representando a batalha entre mouros e

cristatildeos Segundo esta moradora ldquoa batalha sempre termina sendo vencida pelos

cristatildeos demonstrando a submissatildeo dos mouros e a supremacia da religiatildeo cristatilderdquo

Atualmente o grupo depende da boa vontade de seus participantes conforme

explica

Hoje se tornou caro eacute exame dos cavalos transporte depende do querer das pessoas da boa vontade e tem pessoas engajadas que natildeo largam a famiacutelia do Renau que ele eacute o presidente do grupo ele tem um amor tatildeo grande pelas cavalhadas porque ele jaacute recebeu do pai dele do teu avocirc e do seu Ivo Cardoso e a vida dele agraves vezes me desgosto de alguma coisa pois faccedilo a narrativa do que estaacute sendo apresentado mas daiacute eu penso natildeo posso abandonar (sorri) Eacute uma tradiccedilatildeo que natildeo pode morrer mas os filhos do Renau o Marcos e o Marcelo daratildeo continuidade faz parte da famiacutelia tu sabe eacute da mesma famiacutelia Eacute uma grande tradiccedilatildeo que natildeo pode desaparecer temos que continuar peleando36

As cavalhadas satildeo apresentadas na praccedila central sempre durantes as festas

religiosas que acontecem na comunidade sendo assim organizadas

No primeiro ou segundo final de semana de fevereiro tem a festa da Nossa Senhora do Belo Horizonte que eacute a padroeira daqui Agora devido agrave comissatildeo e o padre um ano tem a festa dos morenos e no outro tem a dos agricultores que eram chamados de amarelos antigamente cuja devoccedilatildeo se daacute agrave Nossa Senhora do Rosaacuterio e Nossa Senhora da Penha Antigamente cada um tinha seu espaccedilo social para realizar a festa atualmente soacute se manteve a tradiccedilatildeo de comemorar os santos este ano eacute festa dos morenos ela seraacute dia 13 e 14 de outubro Todas as festas

35 Sendo que doze cavaleiros que representam os cristatildeos vestem tuacutenicas de veludo azul escuro e

os doze cavaleiros mouros vestem tuacutenicas vermelhas Sobre os ombros da tuacutenica haacute uma capinha esta capinha traz enfeites prateados bordados com lantejoulas e bototildees dourados e franjas de seda branca Todos os participantes usam bombacha branca de brim botas campeiras pretas chapeacuteu de palha de aba larga virada para cima com laccedilo de fita e barbicacho de acordo com a cor da tuacutenica

36 BASSO Ceacutelia Pacheco Terres Entrevista concedida agrave autora no dia 04 de agosto de 2018

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religiosas ocorrem em dois dias saacutebado apresentaccedilatildeo das cavalhadas novena janta e baile no domingo tem a missa na Igreja Matriz logo apoacutes almoccedilo e reuniatildeo danccedilante Atualmente resgataram em dezembro a festa a Satildeo Cristoacutevatildeo sempre no primeiro final de semana de dezembro eacute uma missa com benccedilatildeo aos carros durante a procissatildeo e um almoccedilo ao meio-dia esta se daacute somente em um dia E tambeacutem temos de dois em dois anos a festa organizada pelo grupo das Cavalhadas esta ocorre em maio daiacute37

Os moradores explicam que a separaccedilatildeo racial desapareceu com o tempo

poreacutem se manteacutem a cultura de festejar todos os santos o que demonstra que o povo

de Cazuza eacute bastante devoto e cristatildeo E acrescenta em tempos idos que durante

as festas religiosas as pessoas se hospedavam no hotel segundo Basso que ldquoele

recebia tinha mercado junto teve ateacute cinema o pessoal gostava da comida da

Dona Vilma que era minha sogrardquo Este hotel eacute outro marco que identifica Cazuza

Ferreira poreacutem os moradores explicam que atualmente o Hotel do Campo manteacutem a

arquitetura mas funciona em uma modalidade diferenciada pois natildeo haacute como

sobreviver Entatildeo ele recebe hospeda sob reserva antecipada poreacutem natildeo serve

almoccedilo e janta as refeiccedilotildees satildeo feitas no Cantinho do Aconchego com quem

manteacutem uma parceria

Figura 14 ndash Hotel do Campo

Fonte acervo pessoal da autora (2018)

37 BASSO Ceacutelia Pacheco Terres Entrevista concedida agrave autora no dia 04 de agosto de 2018

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Nesta comunidade tambeacutem eacute muito forte segundo os entrevistados38 a

tradiccedilatildeo gauacutecha que adveacutem do homem do campo o amante dos rodeios que nos

finais de semana saem de suas propriedades e se deslocam a outras comunidades

para participar dos eventos campeiros como o tiro de laccedilo Tambeacutem explanam que

existe o CTG Adatildeo Castilhos que estaacute interditado jaacute faz quase seis anos desde

que comeccedilaram a ser exigidos os PPCIs A partir deste momento eles natildeo puderam

mais fazer eventos ali eles realizam os rodeios ou festas campeiras mas laacute dentro

natildeo conseguiram mais fazer nada e taacute difiacutecil vai muito dinheiro para cumprir todas

as exigecircncias Sendo que este espaccedilo na deacutecada de 80 do seacuteculo XX foi palco de

grandes rodeios com apresentaccedilotildees campeiras artiacutesticas e grandes bailes A

moradora explica39 ldquoA Claudiana esposa do Paulo Cesar atual presidente se

inscreveu no projeto Meu Galpatildeo de Cara Nova do Galpatildeo Crioulo da RBS TV

tomara que ela seja classificadardquo Este projeto ajuda na reconstruccedilatildeo dos CTGs pelo

Rio Grande do Sul

Ao pesquisar sobre Cazuza Ferreira percebe-se o quatildeo forte eacute o culto agraves

tradiccedilotildees e o esforccedilo de seus moradores para elas permaneccedilam para futuras

geraccedilotildees visto que o tempo passou e a tradiccedilatildeo local natildeo sofreu alteraccedilotildees

43 DISTRITO DE TAINHAS

O distrito de Tainhas foi criado em 18 de outubro de 1922 estando situado a

33 quilocircmetros da Sede Se desenvolveu no entroncamento de duas rodovias a RS-

020 e a RS-453 cujas rodovias cortavam a vila do distrito Com o advento da

construccedilatildeo da Rota do Sol importante rodovia que hoje que liga Caxias do Sul agraves

praias aleacutem da construccedilatildeo do asfalto da RS-020 que vai a Satildeo Francisco de Paula

tudo mudou O morador Fagundes relata em entrevista40 ldquoaqui era mais habitado

por criadores fazendeiros e agora depois que saiu essa Rota do Sol o movimento

cresceu muito neacute mais por fora da vila entatildeo natildeo trouxe benefiacutecio para noacutesrdquo

Percebe-se que moradores entendem a importacircncia da construccedilatildeo das

rodovias poreacutem as mesmas natildeo trouxeram benefiacutecios econocircmicos para os

moradores locais

38 ANDRADE Nauro Bossle de BASSO Ceacutelia Pacheco Terres Entrevistas concedidas agrave autora no

dia 04 de agosto de 2018 39 BASSO Ceacutelia Pacheco Terres Entrevista concedida agrave autora dia 04 de agosto de 2018 40 FAGUNDES Darci da Silva Entrevista concedida agrave autora no dia 24 de fevereiro de 2018

56

Ainda conforme o morador Fagundes41 ldquoo iniacutecio da vila se deu devido agrave

necessidade de parada dos caminhoneiros que transportavam madeira como era

tudo estrada de chatildeo Tainhas ficava em local centralizado se construiu um hotel

que era do seu Pedro Pinhatildeo e da Dona Luisardquo A partir de entatildeo comeccedilou a

construccedilatildeo de casas e se formou a vila onde antes eram terras dos Pinto os

primeiros moradores de Tainhas tanto que o morador ressalta na entrevista42 ldquoo

nome da escola eacute Oliacutempio Soares Pinto que era o proprietaacuterio dessa terra e uma

das professoras mais antigas era Guilherma Pintordquo

Tainhas estaacute rodeada por campos matos de pinnus ilhote e lavouras

atualmente e explica

Hoje aqui eacute pinus e granjeiro plantando batata soja milho e a maioria veio de fora os moradores antigos desapareceram arrendaram ou venderam suas terras para esse pessoal que veio de Ibiraiara e de Maquineacute Itati Trecircs Forquilhas43

Percebe-se que a criaccedilatildeo de gado ou seja a pecuaacuteria extensiva deu lugar a

outras culturas com a chegada de novas pessoas ao distrito Mas segundo os

moradores o culto ao tradicionalismo gauacutecho permanece visto que no distrito

existe

O parque de rodeios do Rodeio Crioulo eacute o mais antigo que noacutes temos aqui natildeo sei se natildeo o primeiro piquete registrado de Satildeo Chico tem uns sessenta anos a nossa tradiccedilatildeo eacute o laccedilo O nosso rodeio acontece sempre no iniacutecio de janeiro hoje eu natildeo laccedilo mais mas o meu neto continua a minha tradiccedilatildeo A escola daqui faz a semana farroupilha com ronda eacute tudo muito lindo e assim se mantem a cultura44

A imagem apresentada na Figura 15 reforccedila a fala e a importacircncia do Piquete

de Laccediladores Rodeio Crioulo que atualmente mesmo estando nas terras de Satildeo

Francisco de Paula divisa com o municiacutepio de Cambaraacute do Sul por opccedilatildeo essa

entidade tradicionalista pertence ao entatildeo municiacutepio de Cambaraacute do Sul Poreacutem sua

fundaccedilatildeo acontece em 20 de janeiro de 1961 quando o entatildeo hoje municiacutepio de

Cambaraacute do Sul ainda era distrito de Satildeo Francisco de Paula

41 FAGUNDES Darci da Silva Entrevista concedida agrave autora no dia 24 de fevereiro de 2018 42 FAGUNDES Darci da Silva Entrevista concedida agrave autora no dia 24 de fevereiro de 2018 43 FAGUNDES Darci da Silva Entrevista concedida agrave autora no dia 24 de fevereiro de 2018 44 FAGUNDES Darci da Silva Entrevista concedida agrave autora no dia 24 de fevereiro de 2018

57

Figura 15 ndash Flacircmula de comemoraccedilatildeo aos 50 anos da entidade

Fonte acervo pessoal da autora (2018)

Outro evento importante no distrito eacute realizado pela Escola Estadual de

Ensino Fundamental Oliacutempio Soares Pinto que satildeo atividades ligadas as tradiccedilotildees

gauacutechas na Semana Farroupilha como cavalgadas e gincanas com a participaccedilatildeo

de toda comunidade nesta semana principalmente a comunidade de Tainhas

ldquorespira tradicionalismordquo

O distrito de Tainhas atualmente conta com um posto de sauacutede e o correio

satildeo os serviccedilos puacuteblicos que funcionam no distrito visto que o cartoacuterio fechou O

entrevistado Fagundes relata45 ldquoeu era o juiz de paz desse Cartoacuterio minha funccedilatildeo

era julgar os casamentos mas daiacute fechou hoje o pessoal tem que ir a Satildeo Chicordquo O

morador ainda acrescenta ldquoateacute a rodoviaacuteria fechou os ocircnibus passam aqui Satildeo

Marcos que vem de Caxias e vatildeo a Torres desce de manhatilde e sobe de tarde Citral

de Satildeo Chico a Ouro Verde e agora Transneves da Pedra Lisa para Satildeo Chicordquo

Com uma certa tristeza relata46 ldquoaqui em Tainhas soacute tem o Cafeacute Tainhas do

Mauro eacute o brilho de Tainhas seraacute ponto histoacuterico daqui um tempo todo mundo fala

bem do Cafeacute Tainhasrdquo

Notoriamente a chegada do asfalto modificou a vida das pessoas neste

distrito visto que que os campos foram em boa parte transformados em lavoura se

45 FAGUNDES Darci da Silva Entrevista concedida agrave autora no dia 24 de fevereiro de 2018 46 FAGUNDES Darci da Silva Entrevista concedida agrave autora no dia 24 de fevereiro de 2018

58

percebe uma vila pacata jaacute que todo o movimento foi desviado por fora da vila e a

mesma natildeo proporciona lazer para as pessoas que ao terminarem o ensino

fundamental para continuar seus estudos precisam fazer uso do transporte escolar

e se deslocar ateacute a Sede ou ir ao municiacutepio de Cambaraacute do Sul

44 DISTRITO DE ELETRA

O distrito de Eletra foi criado em 31 de dezembro de 1932 estando situado a

19 quilocircmetros da Sede do municiacutepio Poreacutem a populaccedilatildeo local chama de Salto e

seu nome vem das barragens do Salto Blang e Divisa construiacutedas sobre o Rio do

Salto que atravessa o distrito Segundo a moradora local47 Soares ldquoas barragens

que fornecem aacutegua para as usinas no municiacutepio de Satildeo Francisco de Paula e nos

municiacutepios vizinhos de Canela Gramado e Cambaraacute do Sulrdquo A Figura 16 apresenta

uma imagem da Barragem do Salto barragem esta que se situa proacutexima da vila do

distrito

Figura 16 ndash Barragem do Salto

Fonte acervo pessoal da autora (2018)

Ao observarmos a Figura 16 percebe-se que o acesso da vila para o interior

do distrito acontece por uma ponte de concreto estreita com piso bastante irregular

47 SOARES Susana Marques Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018

59

e que em periacuteodos de fortes chuvas o acesso fica interrompido devido agrave altura

Poreacutem ao lado direito percebe-se uma estrutura pequena que segundo o morador

Gomes

Foi uma tentativa de uma empresa japonese construir uma ponte soacute que quando estavam construindo deu uma enchente e levou tudo a aacutegua abaixo a empresa foi embora e nunca mais voltou Jaacute foram feitos estudos que a ponte tem que ser construiacuteda mais para baixo e em forma de arco se natildeo a chuva leva de novo poreacutem natildeo acredito que saia algum dia48

Entende-se que a construccedilatildeo desta nova ponte melhoraria o acesso dos

proprietaacuterios rurais que para saiacuterem de suas propriedades em eacutepocas de chuva

intensa necessitam fazer um longo caminho por estradas de chatildeo batido para terem

acesso ao municiacutepio de Canela bem como a Sede de Satildeo Francisco de Paula

Contudo a moradora explica que a vila do distrito se forma muito antes da

construccedilatildeo da barragem

Em 1915 era uma fazenda chamada Fazenda do Salto e esta pertencia a Francisco Soares de Oliveira Neste local havia sua casa de moradia um galpatildeo e mangueiras onde realizava as suas atividades poreacutem em 1916 o Chico resolveu transferir a casa da Fazendo do Cerro para o Salto tambeacutem sendo construiacuteda aiacute a segunda casa a partir de entatildeo se iniciou o povoado com a construccedilatildeo de novas residecircncias para seus empregados e posteriormente se instalou uma serraria dos irmatildeos Delavechia esta sendo movida a aacutegua dando definitivamente o iniacutecio do povoamento da vila49

Ao analisar a fala da moradora local se percebe que onde hoje se encontra a

vila do distrito de Eletra jaacute foi uma fazenda identificando-se com a mesma formaccedilatildeo

do distrito Sede que tambeacutem surge de terras doadas por um fazendeiro Segundo a

entrevistada Soares50 ldquoa sua casa eacute uma das mais antigas tem 102 anos foi

construiacuteda de pinheiro serrada aqui mesmo na serrariardquo pode-se observar o oacutetimo

estado de conversaccedilatildeo da casa que traz traccedilos arquitetocircnicos europeus na sua

construccedilatildeo natildeo se tem imagem da casa visto que a entrevistada natildeo permitiu

nenhuma imagem de sua residecircncia

Outro fator importante do povoamento da vila segundo o morador local

Gomes51 ldquofoi o iniacutecio da construccedilatildeo da Barragem do Salto no ano de 1925rdquo onde

48 GOMES Jaures Feijoacute Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018 49 SOARES Susana Marques Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018 50 SOARES Susana Marques Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018 51 GOMES Jaures Feijoacute Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018

60

vieram muitos funcionaacuterios de vaacuterios lugares tendo como mestre da obra segundo

os moradores locais52 o ldquoAcircngelo Goubertrdquo

Devido agrave necessidade que se formou no distrito neste periacuteodo se abriu um

hotel farmaacutecia cartoacuterio rodoviaacuteria e cinema a moradora local Soares saudosa

diz53 ldquotudo fechou aqui natildeo tem mais nadardquo referindo-se a atual situaccedilatildeo que a vila

se encontra

Os moradores ainda declaram sobre o distrito54 ldquoestaacute abandonado pelo poder

puacuteblico ateacute o calccedilamento das ruas foi arrancadordquo poreacutem outrora foi um local de

muita alegria

A vida era uma festa permanente o tio Chico era casado com a tia Lisoca ela foi para Porto Alegre para os filhos estudar quando vinham nas feacuterias traziam os amigos O tio Chico pagava um gaiteiro por mecircs para ele toca toda noite entatildeo era aquele divertimento55

Atualmente na vila existe a Escola Estadual de Ensino Fundamental Cristino

Ramos com menos de cem alunos e a festa cristatilde cuja celebraccedilatildeo ocorre em

fevereiro sendo Santo Antocircnio o padroeiro local A moradora explica sobre a

construccedilatildeo da capela

A primeira capela a tempestade derrubou em 1957 se construiu outra O santo padroeiro eacute Santo Antocircnio a imagem foi trazida por quarenta cavaleiros Daiacute o padre pediu para que a imagem de Nossa Senhora Catarina tambeacutem fosse acolhida hoje temos dois padroeiros mas para mim Santo Antocircnio eacute o principal56

Percebe-se na fala dos moradores a sua devoccedilatildeo e sua preocupaccedilatildeo com o

futuro da vila visto que ateacute a questatildeo do cemiteacuterio jaacute foi palco de discussatildeo pois o

cemiteacuterio da vila iniciou pela famiacutelia dos Soares sendo este particular Poreacutem a

moradora explica com certa indignaccedilatildeo

O cemiteacuterio era particular da famiacutelia Soares teve um tempo que resolveram abrir veio gente ateacute de Passo Fundo ser enterrada aqui natildeo pediam para ningueacutem tomaram conta Daiacute organizamos uma comissatildeo responsaacutevel decidimos que tinha que ter uma contribuiccedilatildeo e natildeo podia trazer gente de fora para enterrar soacute gente daqui Ningueacutem pagou Aiacute mandei fazer cerca nova a parte dos Soares sempre limpei mas [] hoje acabo limpando tudo

52 GOMES Jaures Feijoacute SOARES Susana Marques Entrevistas concedidas agrave autora no dia 15 de

fevereiro de 2018 53 SOARES Susana Marques Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018 54 GOMES Jaures Feijoacute SOARES Susana Marques Entrevistas concedidas agrave autora no dia 15 de

fevereiro de 2018 55 SOARES Susana Marques Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018 56 SOARES Susana Marques Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018

61

porque ningueacutem limpa Enquanto eu for viva vou fazer depois vatildeo entregar para a prefeitura igreja natildeo sei57

A Figura 17 apresenta uma foto da igreja atual tendo em sua lateral direita a

capela mortuaacuteria e ao fundo o Salatildeo Paroquial da comunidade onde ocorre a festa

do Santo Padroeiro

Figura 17 ndash Igreja Santo Antocircnio ndash Distrito de Eletra

Fonte acervo pessoal da autora (2018)

Ao conversar com os moradores locais pode-se observar a feacute cristatilde poreacutem

ambos relatam que a festa de fevereiro atualmente eacute pouco divulgada motivo pelo

qual acreditam que natildeo haja um nuacutemero expressivo de pessoas Ambos sentem um

apreccedilo pelo local onde nasceram e vivem poreacutem ambos relatam

Aqui eacute lugar de dormir as pessoas trabalham em Canela e vem dormir aqui a grande maioria natildeo eacute daqui vieram de fora haacute muitas casas de veraneio tudo gente de Porto Alegre que vem passar feacuterias natildeo rende nada para aqui o que precisam trazem tudo de fora A maioria de quem mora aqui soacute dorme passa o dia fora O ocircnibus das 7 horas sai lotado a gente natildeo conhece mais ningueacutem daqui mesmo soacute noacutes Susana e eu58

Mesmo a vila sendo um local de parada estaacute rodeada de lindos campos e

fazendas cuja a atividade principal eacute a pecuaacuteria extensiva natildeo proporciona

57 SOARES Susana Marques Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018 58 GOMES Jaures Feijoacute Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018

62

trabalho no local motivo pelo qual seus moradores buscam sua subsistecircncia em

outro municiacutepio poreacutem possui uma exuberante natureza relata cheia de esperanccedila

a moradora local59 ldquoeu tenho esperanccedila que algueacutem olhe para caacute e veja as belezas

que tem aqui que o lugar volte a se desenvolverrdquo desenvolvimento este que

poderia vir atraveacutes da exploraccedilatildeo do turismo rural ldquoSe vocecirc quiser comer alguma

coisa agora natildeo vai encontrar nada aqui soacute tem lsquobutecorsquo60 mas eles natildeo vendem

nada nem sanduiacuteche pastel eacute uma vergonhardquo fala indignado o morador Gomes61

A populaccedilatildeo que vive nas fazendas aleacutem de ter as lides campeiras no seu

dia-a-dia nos finais de semana segundo o morador Gomes62 ldquolaccedila em torneio vai

nos rodeiosrdquo o que marca a presenccedila do tradicionalismo gauacutecho em uma parte da

populaccedilatildeo do distrito poreacutem com relaccedilatildeo aos moradores da vila natildeo haacute algo que

os identifique visto a miscigenaccedilatildeo que ocorreu e por haver muitas casas de

veraneio no local

45 DISTRITO DO JUAacute

O distrito do Juaacute foi criado em 10 de maio de 1950 e fica distante 65

quilocircmetros da Sede O distrito recebe esse nome devido a um espinho que havia

em abundacircncia no local nome este dado por tropeiros

Os accedilorianos que vinham de Santo Antocircnio da Patrulha e iam para Vacaria com cargueiros eles vinham fazer repouso laacute em cima no reduto e ali tinha muita frutinha do juaacute entatildeo os tropeiros saiam de Santo Antocircnio e diziam vamos posa laacute nos juaacute daiacute o nome do lugar que permanece ateacute hoje63

Juaacute eacute o nome dado a um espinho muito comum na regiatildeo dos campos de

cima da serra que daacute uma fruta amarela em formato redondo que segundo os

moradores locais eacute uma fruta venenosa conforme se observa na Figura 18

59 SOARES Susana Marques Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018 60 Buteco pequeno comeacutercio que normalmente vende bebidas alcooacutelicas e possui mesa de sinuca 61 GOMES Jaures Feijoacute Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018 62 GOMES Jaures Feijoacute Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018 63 REIS Orides Entrevista concedida agrave autora no dia 12 de maio de 2018

63

Figura 18 ndash Peacute com a fruta conhecido como Juaacute

Fonte acervo de Clessandra Palhano (moradora local) (2018)

O reduto citado pelo morador local ficava em uma fazenda local onde hoje se

encontra a vila do distrito conforme o entrevistado Reis explica

O primeiro morador eu natildeo lembro soacute sei que o Juaacute era de pouca gente famiacutelia Pedroso e Castilhos daiacute foram morrendo inventariando e vendendo e aos poucos se formou a vila importante o dono de tudo isso aiacute tinha dois escravos no iniacutecio teve escravidatildeo claro na eacutepoca de mil oitocentos e pouco eu acho mas teve E hoje deve ter descendente destes escravos por aiacute64

Escravidatildeo que vai dar origem ao preconceito racial e a um modelo particular

da localidade que sem precisar data explica o morador

Aqui tinha dois salatildeo trecircs com o da Igreja mas era dois salatildeo social Era um clube de brancos que era dos ricos neacute fazendeiros o Salatildeo Vera Cruz e depois fundaram o Satildeo Valentim que era dos morenos que na eacutepoca ateacute eu fui presidente Cada um no seu salatildeo agora quando dava a festa cristatilde em homenagem ao Satildeo Joatildeo de Deus todo o povo reunia-se quando chegava de noite no saacutebado no baile entatildeo cada um ia pro seu salatildeo A muacutesica ficava no salatildeo dos brancos daiacute colocava umas caixas de som laacute pros morenos com um fio pra eles danccedila Um natildeo podia entra no baile do outro tinha o presidente para cuida Cada um no seu tudo se respeitava e obedecia aquela ordem65

Ainda acrescenta a moradora local Santos

64 REIS Orides Entrevista concedida agrave autora no dia 12 de maio de 2018 65 REIS Orides Entrevista concedida agrave autora no dia 12 de maio de 2018

64

O nosso eu natildeo me lembro o nome tem tanto papel mas natildeo sei onde estaacute o nosso dos pretos neacute ningueacutem implicava eles natildeo deixavam noacutes entra no salatildeo Vera Cruz eu entrava de cozinheira empregada porque ali era lugar dos ricaccedilos eles podiam se associar mas o nosso tambeacutem enchia mas eles iam no nosso baile de nego soacute olhavam As festas duravam dias Tinha aquele foguetoacuterio era tatildeo bonito66

Percebe-se na fala dos moradores como esta divisatildeo racial se fazia presente

que havia por parte dos negros um profundo respeito pelos brancos mesmo eles

tendo acesso ao salatildeo Vera Cruz somente para servi-los em nenhum momento se

percebeu que eles se sentissem diminuiacutedos pela situaccedilatildeo ateacute pela cultura que

advinha desde os primeiros moradores locais

Esta divisatildeo social permanece por longo tempo e somente vai desaparecer

nos anos 80 do seacuteculo XX com a contribuiccedilatildeo do Frei Abiacutelio que veio da Vacaria

durante Missotildees convocadas pelo paacuteroco local padre Afonso que conseguiu

modificar esta organizaccedilatildeo implantando a ideia de igualdade e ignorando tudo

aquilo a partir de entatildeo os negros comeccedilaram a frequentar a sociedade Vera Cruz

contribuiccedilatildeo dos entrevistados67 que ao abordar o assunto demonstraram repulsa

pelo passado mas ao mesmo tempo reconhecem que o racismo ainda eacute presente

na comunidade poreacutem devido agraves leis existe um cuidado maior

Atualmente negros e brancos convivem em harmonia participam da festa

cristatilde cujo padroeiro eacute Satildeo Joatildeo de Deus e dos torneios de laccedilo mas geralmente

quem laccedila satildeo os fazendeiros Saudoso o morador68 afirma que ldquouma vez tinha as

carreradas tinha trecircs canchas passava o domingo nas canchas brincando nas

corridas de cavalos tudo terminourdquo Acrescenta69 ainda que ldquoem 70 80 tinha o

futebol o campo era na baixada acho que tem ainda trofeacuteu ai mas daiacute a gurizada

foi embora para a cidade terminou o timerdquo

A vila se construiu de maneira simples tendo a Igreja Catoacutelica com o Salatildeo

Paroquial agrave direita o antigo Centro de Tradiccedilotildees Gauacutechas Laccedilo Velho do Juaacute onde

resta apenas o preacutedio de madeira corroiacuteda pelo tempo ao fundo a cancha de laccedilo

do Piquete de Laccediladores Velho do Juaacute entidade tradicionalista que se manteacutem ativa

desde o iniacutecio da deacutecada de 1960 ao redor haacute casas de moradias que formam ao

centro uma grande praccedila sem nenhuma infraestrutura em frente a esta praccedila

66 SANTOS Deotildes Palhano dos Entrevista concedida agrave autora no dia 12 de maio de 2018 67 REIS Orides SANTOS Deotildes Palhano Entrevistas concedida agrave autora no dia 12 de maio de

2018 68 REIS Orides Entrevista concedida agrave autora no dia 12 de maio de 2018 69 REIS Orides Entrevista concedida agrave autora no dia 12 de maio de 2018

65

perpassa uma rua de chatildeo batido sendo que a escola da comunidade fica do outro

lado a escola eacute municipal se chama Bento Eziacutedio Rodrigues atende

aproximadamente vinte alunos que estatildeo matriculados nas seacuteries iniciais do ensino

fundamental tendo duas professoras e um funcionaacuterio para fazer merenda e limpar

o paacutetio como se pode observar na Figura 19

Figura 19 ndash Praccedila Vila do Distrito Juaacute ao fundo cancha de laccedilo

Fonte acervo pessoal da autora (2018)

Ambos os entrevistados70 explicam que o Juaacute atualmente eacute um lugar de

idosos aposentados que outrora as pessoas viviam das roccedilas e da pecuaacuteria

extensiva na deacutecada de 1980 com o advento da induacutestria em Caxias do Sul os

jovens abandonaram seu modo de vida e foram buscar novas oportunidades poreacutem

estes jovens que foram embora retornam com frequecircncia natildeo perdendo a sua

essecircncia Relataram que a uacutenica fonte de trabalho eacute ser peatildeo de fazenda fazendas

estas que produzem o queijo serrano ou vendem leite para a Piaacute71 sendo que a

lavoura eacute para subsistecircncia Outra fonte de renda eacute ser funcionaacuterio da serraria cujo

proprietaacuterio e Joatildeo Egiacutedio que funciona proacuteximo da vila Outro fator importante eacute a

venda de pequenas chaacutecaras para moradores de Caxias do Sul que vem aos finais

70 REIS Orides SANTOS Deotildes Palhano Entrevistas concedidas agrave autora no dia 12 de maio de

2018 71 Piaacute Cooperativa Agropecuaacuteria Petroacutepolis Ltda Empresa que faz a coleta do leite nas fazendas da

regiatildeo

66

de semana descansar na localidade poreacutem se percebe que estes novos moradores

muitas vezes natildeo interagem com os moradores locais

Segundo o morador Reis72 ldquoapesar da vinda de pessoas de outros lugares o

Juaacute natildeo perdeu sua identidade fala em Juaacute lembra pinhatildeo colheita do pinhatildeo ateacute

haacute uma criacutetica que diz na eacutepoca do pinhatildeo o juazeiro fala grossordquo Ditado que o

entrevistado73 reafirma sorrindo ldquona eacutepoca do pinhatildeo o juazeiro fala grosso claro

que eacute apenas um dito popular uma maneira de se referir mas sempre eacute dito haacute

aqueles que natildeo gostamrdquo

Nota-se que a vida na comunidade do Juaacute se passa de forma tranquila com

poucos moradores que sua identidade estaacute relacionada agrave pecuaacuteria extensiva com

as lides com o gado bem como ao pinhatildeo uma fruta tiacutepica que se desenvolve na

Araucaacuteria ou pinheiro nativo como eacute conhecido na regiatildeo O pinhatildeo seja ele

assado cozido ou paccediloca74 eacute muito consumido pelos moradores do interior de Satildeo

Francisco de Paula durante o inverno inclusive como mistura do cafeacute da manhatilde

46 DISTRITO DO RINCAtildeO DOS KROEFF

O distrito de Rincatildeo dos Kroeff foi criado em 10 de maio de 1950 Fica a 35

quilocircmetros distante da Sede poreacutem muito antes de se institucionalizar oficialmente

este espaccedilo moradores locais contam como tudo se iniciou

Meu avocirc foi um dos primeiros a vim para caacute ele se chamava Guilherme Faciole ele nasceu no navio vindo da Itaacutelia Ele contava que teve uma desavenccedila em Caxias e fincou o peacute pra caacute pra natildeo acharem ele que aqui era soacute mato e na revoluccedilatildeo de 35 ele fugia de casa para natildeo ser levado pelas tropas os piquetes levavam para combater entatildeo ele sempre dizia que pousou vaacuterias noites embaixo dos peraus da serra do Umbu para natildeo ser levado O falecido vovocirc vivia da caccedila do porco do mato tateti ele fazia charque de porco para ter a carne ele viveu 106 anos e dizia se natildeo tivesse fumado viveria mais uns dez isso faz parte da histoacuteria do Rincatildeo dos Kroeff Junto teve o falecido Acircngelo Menegaacutes que entro aqui na mesma eacutepoca Eles satildeo os fundadores do distrito75

O acesso ao distrito Rincatildeo dos Kroeff permanece totalmente pela estrada de

chatildeo batido sendo possiacutevel ir ao municiacutepio de Maquineacute descendo pela serra do

Umbu Poreacutem muito antes da estrada a busca de mantimentos e o escoamento da

72 REIS Orides Entrevista concedida agrave autora no dia 12 de maio de 2018 73 REIS Orides Entrevista concedida agrave autora no dia 12 de maio de 2018 74 Paccediloca carne de porco moiacuteda e frita no azeite ou banha a qual se acrescenta o pinhatildeo jaacute cozido

e moiacutedo 75 FACIOLE Reinaldo Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de marccedilo de 2018

67

produccedilatildeo se dava pelos carreiros visto que natildeo havia abertura de estrada e nem

viatura76 como os moradores relatam

Tudo era na tropeada as tropas que ia para Rolante Na tropeada saia um tropeiro na frente e um recircs com um cincerro que era a madrinheira da tropa saia laacute pelo Chuvisqueiro e saia laacute em Rolante perdia boi na estrada ficava semanas boi perdido agraves vezes nem se achava mais tambeacutem tinha tropa de porco e tinha as tropeadas de mula puxando milho feijatildeo trigo tudo produzido aqui e levado de cargueiro carreta era muito pouco porque natildeo tinha estrada para anda era soacute os trilhos pelo meio dos matos e campos e se produzia milho era o inverno inteiro saia tropas e mais tropas com trinta quarenta mulas burros transportando mantimentos da produccedilatildeo do gratildeo haacute tambeacutem tinha a flor de Pireto que era lucro ningueacutem conhece isso aiacute hoje essa flor era levada para Taquara e fazia veneno para formiga tudo que era tipo de veneno era uma flor muito toacutexica Acredita tropear galinha pois eacute a gente criava bastante saia com os cargueiros como era a vida eles faziam um girau no cesto naqueles balaios para fazer duas camas uma mais em cima e outra em baixo daiacute quando era veratildeo era muito quente tinha que no meio da viagem tirar de dentro do cesto botar na aacutegua na sanga para natildeo morrer ateacute chegar no mercado dali para praia a eacutepoca que mais vendia era novembro e dezembro daiacute tinha preccedilo bom tudo criada solta aviaacuterio nem se falava77

Ao ouvir os moradores se percebe que a construccedilatildeo do distrito aconteceu

devido ao esforccedilo e trabalho de muitas pessoas visto que o local era de mata nativa

densa e precisou ser desmatado para ser ocupado pelas pessoas Explica o

entrevistado Faciole78 ldquopara fazer uma lavoura tambeacutem precisava derrubar o

pinheiro seu Onorino Buffon me contou que faziam fogo ao redor do pinheiro eles

eram muito grosso para derrubar a machado entatildeo faziam fogo secavam para

depois fazer a roccedilardquo E a moradora79 local acrescenta ldquoaqui tambeacutem tinha os

barbacuazeiros produziam erva mais aqui eles soacute tiravam a erva e sapecavam e

depois ia para outro lugar industrializa tudo era diferenterdquo

Poreacutem segundo os moradores este modelo de vida rudimentar se modifica

com a chegada das serrarias sendo que a dos Kroeff foi a primeira juntamente com

a serraria se viu a necessidade da construccedilatildeo de novas casas para os

trabalhadores surgindo ali a vila do distrito Rincatildeo dos Kroeff no iniacutecio a serraria era

tudo manual relata Faciole80 ldquoa uacutenica forma de tira a madeira era com um enfieira

76 Viatura se refere a carro de passeio caminhotildees 77 FACIOLE Reinaldo FACIOLE Maria Madalena Scalco Entrevistas concedidas agrave autora no dia 18

de marccedilo de 2018 78 FACIOLE Reinaldo Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de marccedilo de 2018 79 FACIOLE Maria Madalena Scalco Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de marccedilo de 2018 80 FACIOLE Reinaldo Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de marccedilo de 2018

68

de boi eu cheguei a ver cinco ternos de boi carreiro81 emendado puxando um

pinheiro eacute uma bicheira de boi natildeo tinha outra formardquo

Rincatildeo dos Kroeff eacute o menor distrito de Satildeo Francisco de Paula poreacutem em

suas terras se desenvolveu a cultura dos hortifrutigranjeiros desde muito cedo jaacute

que sua colonizaccedilatildeo eacute basicamente italiana e alematilde e os italianos tecircm a cultura do

plantio visando lucro A moradora Faciole82 afirma ldquotudo comeccedilou por aqui depois

se expandiu para o municiacutepio comeccedilamos com moranga branca depois repolho

couve broacutecolis alface e daiacute veio beterraba e tudo o restordquo Acrescenta ainda83 que

ldquodaqui saiacuteram os primeiros caminhotildees de hortifruacuteti do municiacutepio para a Ceasa teve

eacutepoca de sair quarenta caminhotildees por dia do Rincatildeo hoje natildeo sai mais porque

muitos foram buscar novos lugares para plantarrdquo E juntamente com a mudanccedila dos

proprietaacuterios em busca de novas terras muitos de seus funcionaacuterios foram embora

junto afirma em entrevista o morador local84 ldquomuita gente do Rincatildeo foi embora

muitas gurias foram embora para estudar para achar emprego e natildeo voltaram maisrdquo

Atraveacutes da fala da moradora pode-se observar que apesar do distrito ser

produtivo enfrenta algumas dificuldades com relaccedilatildeo ao estudo de seus moradores

que para continuarem seus estudos se assim o desejarem necessitam abandonar

seus pais e ir em busca na Sede ou arredores visto que no distrito existe uma uacutenica

escola Gastatilde Henth Esta eacute municipal e atende dos quatro anos ao nono ano do

ensino fundamental A moradora Faciole explica

O coleacutegio hoje tem 99 alunos ao total quando eles terminam o nono ano alguns vatildeo estudar mas satildeo pouquiacutessimos os outros ficam por aiacute mesmo natildeo tem um transporte que leve eles para fazer o ensino meacutedio na Sede que seria a escola de ensino meacutedio mais proacuteximo se quiser estudar vai ter que ir embora reforccedila quem e trabalhador fica trabalhando com os pais quem natildeo eacute [] As pessoas na sua grande maioria soacute tem o ensino fundamental aqui85

Este eacute um dos grandes problemas enfrentados pelos moradores do Rincatildeo

dos Kroeff a possibilidade de continuar estudando A escola que laacute existe os

moradores locais natildeo sabem precisar a data mas sabem que foi durante o mandato

81 Ternos de boi carreiro significam vaacuterias duplas de bois cangados e ligados por um pedaccedilo de

madeira que vatildeo na canga entre a dupla de bois Esse pau roliccedilo na regiatildeo se chama de cambatildeo 82 FACIOLE Maria Madalena Scalco Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de marccedilo de 2018 83 FACIOLE Maria Madalena Scalco Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de marccedilo de 2018 84 FACIOLE Reinaldo Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de marccedilo de 2018 85 FACIOLE Maria Madalena Scalco Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de maio de 2018

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do prefeito Escobar (1977-1982) que ela foi construiacuteda Neste contexto aparece

tambeacutem a dificuldade de se locomover fazendo uso do transporte puacuteblico

Haacute sete anos atraacutes o Rincatildeo estava bom mesmo tinha ocircnibus da praia agraves vezes passava quatro a cinco ocircnibus da praia tudo pela serra do Umbu Agora soacute tem um trecircs dias por semana As empresas deixaram de trafegar por aqui elas natildeo vatildeo descer numa serra de chatildeo batido sendo que tem a outra86 com asfalto87

Os moradores se orgulham da festa religiosa que acontece todos os anos em

agosto sendo que o santo padroeiro eacute Satildeo Roque A festa da comunidade

apresenta uma tradiccedilatildeo local muito interessante na segunda-feira apoacutes a festa ela

continua para os moradores locais que vatildeo ao salatildeo paroquial para se divertir entre

si e esta eacute uma tradiccedilatildeo que eacute comentada em todo o municiacutepio Faciole88 saudoso

afirma ldquopara ti ter uma ideia nessa festa chegava dar vinte poucos ocircnibus lotado que

vinham de outros municiacutepios como Igrejinha Taquara Porto Alegre Novo

Hamburgo o espaccedilo ficava pequenordquo Acrescenta89 ainda ldquoaqui noacutes tinha o Clube

Serrano que dava baile janta italiana dava um movimento louco mas terminou ateacute

o baile das rainhas cada ano era uma era tatildeo lindo mas tudo se acabourdquo

Figura 20 ndash Imagem da Igreja Satildeo Roque em dia de festa no Rincatildeo dos Kroeff

Fonte acervo pessoal da autora (2018)

86 A outra se refere a rodovia RS-453 conhecida como Rota do Sol 87 FACIOLE Reinaldo Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de marccedilo de 2018 88 FACIOLE Reinaldo Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de marccedilo de 2018 89 FACIOLE Reinaldo Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de marccedilo de 2018

70

Percebe-se que o distrito Rincatildeo dos Kroeff eacute o uacutenico que obteve em seu

iniacutecio uma colonizaccedilatildeo por descentes de italianos dentro do municiacutepio de Satildeo

Francisco de Paula o que demonstra o quatildeo forte se daacute a tradiccedilatildeo ldquoitalianardquo neste

local permanecendo intriacutenseca na vida cotidiana de seu povo com a cultura do

plantio de hortifrutigranjeiros que permanece apesar do tempo como sendo a sua

maior identidade local

47 DISTRITO DE LAJEADO GRANDE

Lajeado Grande em tempos idos pertenceu ao distrito de Cazuza Ferreira e

somente em 12 de dezembro de 1968 se tornou um distrito independente segundo

a Lei nordm 655 encontrada nos autos da Prefeitura Municipal de Satildeo Francisco de

Paula A vila do distrito Lajeado Grande fica distante 63 quilocircmetros da Sede e se

situa na confluecircncia do Arroio Porco Morto e o Rio Bururi Seu surgimento acontece

segundo o morador Fogaccedila90 ldquopor volta de 1940 com a abertura da estrada Canela

ndash Bom Jesus a atual RS-476 que corta a vila do Distritordquo Essa estrada segundo o

morador facilitou a locomoccedilatildeo que anteriormente era feita totalmente pelas trilhas e

picadas por onde somente se passava a cavalo ou de carreta E o entrevistado

explica como acontece o desenvolvimento inicial da vila

Tu sabe aqui tem o nome de Lajeado Grande por causa do rio que eacute cheio de lajes grandes o que facilitava a travessia e as terras aqui por roda era tudo do falecido Pequeno Cardoso ele doou parte para a construccedilatildeo da vila onde o falecido Leopoldino Cardoso irmatildeo do Pequeno tinha uma lsquobudega velharsquo91 por aqui sendo o primeiro comeacutercio da vila92

A abertura da estrada possibilitou o desenvolvimento da vila juntamente com

o Casaratildeo um hotel pensatildeo que foi construiacutedo as margens do Arroio Porco Morto

este Casaratildeo passou por diversos proprietaacuterios

Leopoldino Cardoso foi o idealizador do Casaratildeo juntamente com os seus soacutecios Heraacuteclito Andrade de Cardoso lsquoJoanitorsquo Joseacute Osoacuterio de Lima lsquoZecarsquo e Pequeno Cardoso sendo que o Casaratildeo era uma casa de negoacutecio compravam queijo couro era um comeacutercio forte vendia secos e molhados inclusive a primeira rodoviaacuteria foi instalada neste espaccedilo poreacutem em 1948 Joatildeo Pacheco Cardoso assume e amplia o estabelecimento construindo o segundo piso da casa de madeira e alugando para outros dois moradores

90 FOGACcedilA Blair dos Santos Entrevista concedida agrave autora no dia 06 de abril de 2018 91 Budega velha referindo-se a uma antiga casa de comeacutercio de secos e molhados localizada onde

hoje se encontra o armazeacutem Celeiro 92 FOGACcedilA Blair dos Santos Entrevista concedida agrave autora no dia 06 de abril de 2018

71

Eremi Terres e Claunir Lucena Com a reforma o Casaratildeo passa a ter treze quartos para aluguel uma loja onde encontrava-se tudo o que se necessitava de alfinete tecido alimentos e raccedilotildees aleacutem da ala que servia de moradia para os proprietaacuterios Em 1962 o estabelecimento eacute alugado para Eraldo Bento de Oliveira que aleacutem de gerenciar o estabelecimento colocou junto um bar local de encontro dos homens da redondeza para tomar um lsquotragorsquo93 (CERUTTI SILVA CARDOSO 2002 p 19)

Figura 21 ndash Imagem do Casaratildeo pouco antes de ser desmanchado

Fonte acervo pessoal de Fernando Oliveira (conhecido como Guego) (2018)

O Casaratildeo foi desmanchado na deacutecada de 1980 pelo entatildeo proprietaacuterio Reno

Pacheco Poreacutem percebe-se na vila que seus antigos moradores falam com certo

saudosismo deste estabelecimento que fez parte de suas vidas e chegam a

lamentar o seu fim morador Fogaccedila94 afirma ldquoali se fez o pastel mais famoso do

Lajeado Grande o pastel da Odila mas tudo se acabou quando eles entregaram e

construiacuteram laacute na esquinardquo95

Poreacutem a vila Lajeado Grande foi lentamente se desenvolvendo Devido agrave

necessidade da conservaccedilatildeo da nova estrada foi construiacuteda agraves margens do Rio

Bururi uma capatazia do DAER Segundo Cerutti Silva e Cardoso (2002 p 18) ldquoo

primeiro capataz foi Capitulino Prudecircncio de Oliveira vindo de Santa Catarina sua

funccedilatildeo era manter as estradas e chegou a ter vinte funcionaacuteriosrdquo Percebe-se que a

93 Trago expressatildeo local que significa beber uma cachaccedila 94 FOGACcedilA Blair dos Santos Entrevista concedida agrave autora no dia 06 de abril de 2018 95 Esquina eacute o nome dado a parte da vila do Lajeado Grande onde se daacute o entroncamento das

rodovias RS-453 e ERS-476

72

partir deste momento se inserem neste distrito pessoas advindas de outros estados

e locais visto que ateacute o presente momento o distrito era habitado por fazendeiros

naturais do proacuteprio municiacutepio e que tinham suas vidas ligadas diretamente agrave

pecuaacuteria extensiva e agrave produccedilatildeo do queijo serrano Importante destacar que a

esposa de Capitulino segundo Cerutti Silva e Cardoso (2002 p 18) ldquoa Celicina

Guilherme da Silva se torna uma figura conhecida por realizar partos sendo

chamada como parteira de campanhardquo Na atualidade filhos netos e bisnetos do

casal ainda residem na vila

A vila do Lajeado Grande tambeacutem recebe novos moradores com a praacutetica do

corte do pinheiro nativo sendo que na deacutecada de 1950 havia uma faacutebrica de

beneficiamento de madeira ateacute se transformar em pasta este material era levado

para Esteio onde funcionava agrave matriz A partir dos anos 1950 ocorre a instalaccedilatildeo de

serrarias sendo que a Madeireira Albeflor de propriedade de Valter Sguaizer se

instala em 1964 Novamente busca-se matildeo de obra em localidades proacuteximas como

Lagoa Vermelha Vacaria e Bom Jesus poreacutem com a proibiccedilatildeo da extraccedilatildeo de

madeira de lei a serraria deixou de funcionar

Percebe-se que no distrito natildeo houve uma homogeneizaccedilatildeo identitaacuteria visto a

influecircncia advinda de muitas culturas no passado atraveacutes da extraccedilatildeo de madeira

e na atualidade com o advento das lavouras de hortifrutigranjeiros e pomares

frutiacuteferos que ocupam boa parte do distrito substituindo a pecuaacuteria extensiva que jaacute

natildeo proporciona um lucro efetivo Entatildeo os proprietaacuterios na sua grande maioria

venderam ou arrendaram suas terras para novas culturas o que modifica o modo de

vida local pois grande parte dos trabalhadores adveacutem de outros estados como o

Paranaacute e tambeacutem se observa o uso da matildeo de obra indiacutegena

Essa miscigenaccedilatildeo se observa nas escolas locais visto que na vila funciona a

Escola Municipal D Pedro I que segundo Cerutti Silva e Cardoso (2002 p 35)

ldquoinicia em 1965 poreacutem a professora e o preacutedio eram mantidos pela Serraria mas na

deacutecada de 70 a prefeitura assumiu a escola sendo que Eloci Martim foi a primeira

professora da Serrariardquo Escola da Serraria como ainda eacute conhecida por boa parte

dos moradores locais apesar de a escola natildeo se encontrar mais onde havia a antiga

serraria Atualmente a Escola Dom Pedro I funciona em um preacutedio obtido atraveacutes da

Associaccedilatildeo de Moradores atendendo alunos da preacute-escola ateacute o sexto ano das

seacuteries finais tendo em seu quadro seis professores e duas funcionaacuterias Sendo que

73

a obra para um novo preacutedio teve iniacutecio neste ano mas percebe-se que a obra parou

por volta do mecircs de maio Poreacutem na vila tambeacutem se encontra uma escola estadual

A documentaccedilatildeo necessaacuteria para a criaccedilatildeo de uma nova escola na localidade foi elaborada por Manoel Cardoso de Andrade juntamente com a professora Odazilda Cardoso Demori e encaminhada agrave Secretaria da Educaccedilatildeo sendo que em 11 de fevereiro de 1953 foi criada a Escola Isolada de Lajeado Grande sendo os professores estaduais mas o preacutedio sob responsabilidade comunitaacuteria iniciou o seu funcionamento nas dependecircncias do DAER e somente em 1957 foi construiacutedo um preacutedio de madeira em terras doadas por Pequeno Cardoso local onde hoje ainda se encontra a escola poreacutem passou por muitas reformas sendo que em 2000 recebeu um novo preacutedio de alvenaria o que possibilitou a realizaccedilatildeo de um grande sonho dos professores e comunidade a implantaccedilatildeo do Ensino Meacutedio que concretizou-se em 200296

Atualmente a escola atende em torno de trezentos alunos da Educaccedilatildeo

Baacutesica poreacutem percebe-se que devido agraves safras de hortifrutigranjeiros o nuacutemero de

alunos se alterna durante o ano O que tambeacutem se percebe eacute o comportamento dos

alunos com relaccedilatildeo agrave diversidade cultural por exemplo usam bombacha laccedilam boi

de pau no recreio e escutam funk uma cultura totalmente diferente da tradicionalista

gauacutecha o que compreende-se como algo advindo da globalizaccedilatildeo cultural que

vivemos no mundo atual reforccedilando novamente o natildeo reconhecimento de uma

identidade forte na localidade

Poreacutem as famiacutelias tradicionais do local manteacutem fortemente arraigada a

cultura tradicionalista que adveacutem do homem do campo tendo no distrito festas

campeiras torneios de laccedilo e a festa religiosa uma vez por ano em homenagem ao

Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus padroeiro da vila

Na atualidade natildeo se percebe uma identidade forte e marcada no distrito e

sim uma miscigenaccedilatildeo de diferentes culturas e etnias que convivem e se integram

harmonicamente

96 CARDOSO Amaacutelia Celuderes Entrevista concedida agrave autora no dia 08 de marccedilo de 2018

74

5 DESCRICcedilAtildeO DO PRODUTO

O produto consiste em um livro paradidaacutetico sobre a histoacuteria de Satildeo Francisco

de Paula Apresenta de maneira didaacutetica a histoacuteria de Satildeo Francisco de Paula bem

como balotildees explicativos imagens sugestotildees de atividades e leituras

complementares Poderaacute servir de apoio pedagoacutegico a professores e alunos do

municiacutepio visto que existe pouco material sobre a histoacuteria deste municiacutepio e se faz

importante trabalhar a histoacuteria local percepccedilatildeo que a autora obteve ao longo da sua

caminhada como professora de histoacuteria que atua nas seacuteries finais do ensino

fundamental e meacutedio haacute dezessete anos na rede estadual do municiacutepio

Partir do local natildeo eacute abandonar o conhecimento histoacuterico eacute dar outro valor

sentido para este conhecimento Segundo Caimi

Levar em conta o universo da crianccedila ou do adolescente natildeo eacute pois abdicar do rigor intelectual [] mas garantir que a apropriaccedilatildeo deste conhecimento ocorra permeada de sentido e significado resultando em soacutelidas aprendizagens (CAIMI 2006 p 24)

Seguindo esta perspectiva a implantaccedilatildeo do Referencial Curricular Gauacutecho

embasado na Base Nacional Comum Curricular reforccedila a ideia jaacute discutida nos

paraacutegrafos anteriores

No que se refere especificamente ao componente Histoacuteria a base rompe tanto com a cronologia quanto agrave visatildeo eurocecircntrica da histoacuteria tradicional Entram em cena novos atores novas sociedades novos caminhos que sempre tiveram na histoacuteria mas nem sempre receberam a devida importacircncia Acompanhando a Base Nacional Comum Curricular o Referencial Curricular Gauacutecho no que se refere especificamente agrave disciplina de Histoacuteria manteacutem seu foco na aprendizagem dos alunos nos diferentes espaccedilos e tempos tendo a preocupaccedilatildeo de integrar o curriacuteculo com a diversidade regional de nosso Estado Tambeacutem eacute importante contemplar os temas integradores como eacutetica cidadania cultura e valorizaccedilatildeo das diversidades assegurando a multiplicidade de olhares sobre o mundo (RIO GRANDE DO SUL 2018 p 118)

Portanto o paradidaacutetico seraacute mais um material disponiacutevel aos professores e

estudantes da educaccedilatildeo baacutesica de Satildeo Francisco de Paula na construccedilatildeo do

conhecimento da histoacuteria do municiacutepio bem como o reconhecimento de sua

identidade neste material visto que se almeja que os estudantes percebam

vestiacutegios de sua identidade e se percebam como parte deste municiacutepio atraveacutes do

conhecimento de sua histoacuteria

75

O paradidaacutetico vem com o tiacutetulo rdquoTropeando histoacuterias em Satildeo Francisco de

Paulardquo sendo que a capa traz a foto do Monumento aos Carreteiros monumento

que se encontra na Avenida Juacutelio de Castilhos em frente ao preacutedio da Prefeitura

Municipal

Figura 22 ndash Capa do livro

Fonte Livro Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula

Na sequecircncia se apresenta o iacutendice que possibilita ao leitor localizar os

diversos temas abordados visto que existem nove capiacutetulos

76

Figura 23 ndash Iacutendice do livro

Fonte Livro Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula

77

O capiacutetulo um apresenta a localizaccedilatildeo de Satildeo Francisco de Paula com uma

seacuterie de mapas que facilitam a compreensatildeo espacial dos alunos assim como um

mapa da subdivisatildeo do municiacutepio em distrito Ao final satildeo sugeridas duas atividades

que podem ser desenvolvidas de maneira interdisciplinar com o apoio da professora

de arte geografia e portuguecircs

Figura 24 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 1)

Fonte Livro Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula

78

Figura 25 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 1)

Fonte Livro Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula

O capiacutetulo dois aborda a existecircncia indiacutegena em Satildeo Francisco de Paula

antes da chegada dos desbravadores vindos de Satildeo Paulo Como sugestatildeo de

atividades apresenta-se uma pesquisa sobre as diferentes tribos indiacutegenas que

habitavam a Proviacutencia de Satildeo Pedro aleacutem da criaccedilatildeo de um painel infograacutefico

79

Figura 26 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 2)

Fonte Livro Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula

No capiacutetulo trecircs se apresentam os primeiros donataacuterios colonizadores de Satildeo

Francisco de Paula com trecho de um testamento deixado por Pedro da Silva

Chaves o fundador de Satildeo Francisco de Paula bem como o mapa que localiza as

primeiras sesmarias que corresponde ao territoacuterio onde hoje eacute a Sede do municiacutepio

80

Figura 27 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 3)

Fonte Livro Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula

Nos capiacutetulos quatro e cinco eacute apresentado o desenvolvimento de Satildeo

Francisco de Paula ainda no seacuteculo XIX quando pertencia ao municiacutepio de Santo

Antocircnio da Patrulha e no final do seacuteculo XIX quando passa a pertencer ao entatildeo

81

municiacutepio de Taquara do Mundo Novo Existe tambeacutem um mapa que demonstra a

extensatildeo territorial de Santo Antocircnio da Patrulha e quais satildeo os municiacutepios hoje que

pertenceram a este bem como a importacircncia da abertura da estrada que liga Satildeo

Francisco de Paula a Taquara

Figura 28 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 4)

Fonte Livro Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula

82

Os capiacutetulos seis e sete apontam a construccedilatildeo do Municiacutepio a partir de sua

emancipaccedilatildeo em 1903 sua extensatildeo territorial e a diminuiccedilatildeo do seu territoacuterio ao

longo do tempo e a histoacuteria da Igreja Matriz Como sugestatildeo de atividade pesquisar

a diversidade religiosa existente na comunidade escolar e criar graacuteficos com essas

informaccedilotildees podendo a partir de entatildeo trabalhar com as questotildees religiosas ontem

e hoje no mundo

Figura 29 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 6)

Fonte Livro Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula

83

No capiacutetulo oito se apresenta o que difere os sete distritos de Satildeo Francisco

de Paula Este capiacutetulo se apresenta subdividido em sete subtiacutetulos onde cada um

corresponde a um distrito do municiacutepio Tendo como fonte principal as entrevistas

realizadas com moradores locais mesclado com fontes documentais e bibliograacuteficas

que corroboram para se perceber que haacute alguns distritos que manteacutem suas tradiccedilotildees

ao longo do tempo e eacute possiacutevel perceber que existe uma identidade que aproxima

aquela populaccedilatildeo

Figura 30 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 8)

Fonte Livro Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula

84

No uacuteltimo capiacutetulo o nove se exibe uma lista de sugestotildees de leituras

complementares a fim de se aprofundarem sobre determinados temas E por fim

as referecircncias utilizadas para a construccedilatildeo do paradidaacutetico Tropeando Histoacuterias em

Satildeo Francisco de Paula

Figura 31 ndash Atividade do livro (Sugestatildeo de Leituras Complementares)

Fonte Livro Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula

85

O produto foi testado em duas turmas da Educaccedilatildeo Baacutesica na Escola

Estadual de Ensino Meacutedio Lajeado Grande com o propoacutesito de avaliar qual seria a

reaccedilatildeo dos estudantes diante do material e por ele ter sido produzido por algueacutem

que convive com eles semanalmente A receptividade foi bastante gratificante como

se pode observar na Figura 32

Figura 32 ndash Alunos do Ensino Meacutedio

Fonte acervo pessoal da autora (2019)

A receptividade foi muito interessante visto que os estudantes

acompanharam a trajetoacuteria para chegar ao produto final algo que os deixava

ansiosos para manusear pois muitas vezes foram parceiros A autora foi

compartilhando com os estudantes as informaccedilotildees obtidas durante a pesquisa e as

descobertas encontradas usando em suas aulas a histoacuteria local para abordar os

diferentes temas e conceitos histoacutericos

Quando a autora apresenta o produto os estudantes do ensino meacutedio estes

formam grupos por distritos e buscam logo reconhecer no material sua identidade

apoacutes comentam sobre as peculiaridades de cada distrito Poreacutem os alunos do

ensino fundamental manuseiam o produto mas natildeo se deteacutem ao distrito em que

pertence e sim as imagens e as explicaccedilotildees apresentadas no vocecirc sabia

O que enriquece o trabalho realizado foi o envolvimento dos estudantes com

o produto solicitando quando poderatildeo ler calmamente todo o trabalho

86

6 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

A partir de experiecircncias pessoais em sala de aula se percebeu que o ensino

de Histoacuteria quando se partia da histoacuteria local havia maior interesse dos estudantes

da educaccedilatildeo baacutesica motivo pelo qual se deu a questatildeo-problema desta dissertaccedilatildeo

que estaacute relacionada diretamente com o natildeo uso desta histoacuteria pelos professores da

educaccedilatildeo baacutesica

Em conversas informais com professores da educaccedilatildeo baacutesica que atuam no

municiacutepio de Satildeo Francisco de Paula em sua grande maioria alegam que o grande

empecilho para se trabalhar a histoacuteria local eacute o pouco material disponiacutevel sobre a

histoacuteria de Satildeo Francisco de Paula aleacutem do rigor dos curriacuteculos que impotildeem o

ensino de Histoacuteria de maneira linear sem contextualizaccedilatildeo com a realidade vivida

pelos estudantes pois desta forma natildeo estatildeo preparando os estudantes para as

avaliaccedilotildees do Ministeacuterio da Educaccedilatildeo bem como para o vestibular Poreacutem natildeo se

estaacute afirmando que deveraacute estudar somente a histoacuteria local e sim partir dela como

incentivo para estudos dos conceitos e temaacuteticas da histoacuteria por muitas vezes

totalmente abstrato e de difiacutecil compreensatildeo pela grande maioria dos estudantes

A partir de entatildeo se realizaram inuacutemeros questionamentos como qual a

necessidade de se ensinar Histoacuteria de forma abstrata sem nenhuma relaccedilatildeo com

as vivecircncias dos estudantes Por que natildeo usar a fonte oral como metodologia de

pesquisa no ensino de Histoacuteria em Satildeo Francisco de Paula jaacute que natildeo existem

muitos materiais escritos a respeito desta histoacuteria principalmente no que tange os

distritos do interior Poreacutem estes questionamentos natildeo foram aprofundados na

dissertaccedilatildeo por natildeo ser o objetivo direto da pesquisa mas posteriormente poderaacute

se tornar um novo projeto de pesquisa

Nesta incessante busca por resposta se constroacutei todo o estudo desta

dissertaccedilatildeo que em um primeiro momento busca embasamento em diferentes

autores que comprovam que o ensino de Histoacuteria voltado para o local faz maior

sentido para os estudantes da educaccedilatildeo baacutesica e que isto natildeo significa abandonar

os conceitos histoacutericos e sim questionar analisar a trajetoacuteria humana no tempo e

no espaccedilo sob uma nova metodologia Apenas se sugere uma nova abordagem

que torne o ensino de Histoacuteria menos abstrato algo mais presente na vida do

estudante e que possibilite a ele a habilidade de perceber que o mundo estaacute em

constante mudanccedila poreacutem os fatos natildeo ocorrem de forma isolada no espaccedilo Algo

87

que foi reforccedilado apoacutes a construccedilatildeo da Base Nacional Curricular e o Referencial

Curricular Gauacutecho que vem de encontro com esta proposta de se estudar a histoacuteria

sobre novos olhares natildeo esquecendo das especificidades regionais do estado do

Rio Grande do Sul para o reconhecimento da identidade local e regional

A identidade local nesta pesquisa se buscou atraveacutes de relatos de

moradores locais que gentilmente colaboraram para o sucesso deste trabalho pois

a memoacuteria se tornou a fonte primordial para se escrever o que identifica os sete

distritos que constituem Satildeo Francisco de Paula Certamente a temaacutetica natildeo se

esgotou ainda haacute muito que se pesquisar e escrever sobre a histoacuteria de Satildeo

Francisco de Paula possibilitando a criaccedilatildeo de novos materiais que possam ser

usados em sala de aula pelos professores e alunos deste municiacutepio

Mas ao mesmo tempo haacute uma preocupaccedilatildeo por parte da autora nada

adianta criar produtos sinalizar novos meacutetodos ao ensino de Histoacuteria se o

profissional professor natildeo estiver preparado para trabalhar com novas fontes

histoacutericas novas metodologias de ensino proporcionando aos estudantes a

oportunidade de construir seu proacuteprio conhecimento histoacuterico embasado em sua

realidade e suas vivecircncias

Vivecircncias que se tornaram aliadas na pesquisa pois a autora nasceu e

sempre viveu no municiacutepio de Satildeo Francisco de Paula poreacutem a maior dificuldade

encontrada nesta caminhada foi percorrer grandes distacircncias por estradas de

rodagem em peacutessimas condiccedilotildees de trafegabilidade para gravar os relatos que

servem de base para a construccedilatildeo desta pesquisa O municiacutepio de Satildeo Francisco de

Paula eacute territorialmente extenso e essas distacircncias percorridas deram o nome ao

produto Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula como uma homenagem

aos antigos tropeiros deste municiacutepio que passavam boa parte de sua vida ao

lombo de mulas levando e buscando mercadorias pelos campos de cima da serra

Visto que desde o processo seletivo do mestrado em agosto de 2016

quando se apresentou o projeto de pesquisa jaacute se pensava no produto um livro

paradidaacutetico no formato fiacutesico A autora por diversas vezes foi questionada por que

natildeo um blog ou site Porque na forma fiacutesica este material seria de faacutecil manuseio

pelos estudantes e professores pois principalmente no interior uso da internet ainda

eacute um problema visto que em muitos locais natildeo existe sinal de telefonia diraacute

internet

88

O paradidaacutetico foi se moldando ao longo do tempo ateacute se chegar a versatildeo

final com uma ampla gama de informaccedilotildees e curiosidades sobre os sete distritos de

Satildeo Francisco de Paula onde se pretende que os alunos e professores possam

fazer uso deste material em sala de aula para tanto a autora pretende

posteriormente lanccedilar o produto para que possa ser lido e manuseado por todos

inclusive por aqueles que gostam de histoacuteria e sentem curiosidade sobre a formaccedilatildeo

do seu distrito e por conseguinte do municiacutepio de Satildeo Francisco de Paula

O paradidaacutetico foi testado em duas turmas da Escola Estadual de Ensino

Meacutedio Lajeado Grande sendo uma de Ensino Meacutedio e a outra das seacuteries finais do

Ensino Fundamental Os alunos jaacute detinham o conhecimento que a autora estava

cursando o Mestrado e que para sua conclusatildeo deveria apresentar um produto Era

de conhecimento de todos os estudantes que a autora estava produzindo um

paradidaacutetico sobre a histoacuteria de Satildeo Francisco de Paula pois a mesma eacute professora

destes estudantes nesta escola

Em um primeiro momento se explica que eacute apenas um protoacutetipo que

somente a capa estaacute colorida e o restante estaacute todo em preto e branco e que a

versatildeo final teraacute as imagens e as curiosidades coloridas o que com certeza

chamaraacute mais atenccedilatildeo Ao entregar o paradidaacutetico Tropeando Histoacuterias em Satildeo

Francisco de Paula para que possam manuseaacute-lo veio a primeira grande surpresa

os estudantes ficaram muito contentes por a turma ter sido escolhida pela autora

escolha essa que se justifica por ter trabalhado todo o ano de 2017 com estes

alunos partindo da histoacuteria local

A turma do oitavo ano do Ensino Fundamental manuseou sendo que os

alunos acharam interessante poreacutem se deteram mais nas imagens e balotildees do

ldquovocecirc sabiardquo Mas de maneira ampla e geral acharam muito interessante a foto de

capa com o Monumento aos Carreteiros situado na Avenida Juacutelio de Castilhos em

frente ao preacutedio da Prefeitura Municipal pois alguns natildeo conhecem a Sede do

municiacutepio

Os alunos do segundo ano do Ensino Meacutedio se surpreenderam e foram direto

ler sobre o distrito no qual residem Interessados questionaram sobre curiosidades

de como o material foi construiacutedo quais as maiores dificuldades encontradas

elogiaram o leiaute as imagens de fundo ao lado de cada curiosidade relatando que

chama a atenccedilatildeo aleacutem de considerarem relevantes as sugestotildees de atividades e

ao final solicitaram quando o material estaraacute disponiacutevel para que possam ler

89

integralmente visto que um periacuteodo de cinquenta minutos natildeo foi suficiente para que

todos manuseassem se fazendo necessaacuterio levar novamente na proacutexima aula

A autora se sentiu motivada pela recepccedilatildeo do produto por seus alunos o que

a incentiva continuar pesquisando sobre outras temaacuteticas a respeito da histoacuteria de

Satildeo Francisco de Paula trazendo para seu fazer pedagoacutegico novas fontes que

proporcionem um estudo da Histoacuteria de maneira ampla e contextualizada com a

realidade local que os cerca

90

REFEREcircNCIAS

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94

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Jornal Folha da Serra n 11 do dia 29 de setembro de 1968

Jornal Folha da Serra n 25 do dia 31 de dezembro de 1968

Jornal Folha da Serra n 89 do dia 07 de setembro de 1969

Jornal Satildeo Chico Tchecirc n 4 do dia 30 de abril de 1986

Jornal Satildeo Chico Tchecirc n 11 do dia 25 de maio de 1986

Jornal Satildeo Chico Tchecirc n 12 do dia 28 de maio de 1986

Jornal Pioneiro versatildeo digital do dia 02 de junho de 2017

Entrevistas

Amaacutelia Celuderes Cardoso residente no distrito de Lajeado Grande Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 08 de marccedilo de 2018

Blair dos Santos Fogaccedila residente no distrito de Lajeado Grande Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 06 de abril de 2018

Ceacutelia Pacheco Terres Basso residente no distrito de Cazuza Ferreira Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 04 de agosto de 2018

Darci da Silva Fagundes residente no distrito de Tainhas Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 24 de fevereiro de 2018

Deotildes Palhano dos Santos residente no distrito do Juaacute Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 12 de maio de 2018

Jaures Feijoacute Gomes residente no distrito de Eletra Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 15 de fevereiro de 2018

Luciana Olga Soares residente no distrito Sede Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 01 de marccedilo de 2018

Maria Madalena Scalco Faciole residente no distrito do Rincatildeo dos Kroeff Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 18 de marccedilo de 2018

Moacir Castello Branco de Albuquerque residente no distrito Sede Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 06 abril de 2018

95

Nauro Bossle de Andrade residente no distrito de Cazuza Ferreira Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 04 de marccedilo de 2018

Orides Reis residente no distrito do Juaacute Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 12 de maio de 2018

Reinaldo Faciole residente no distrito do Rincatildeo dos Kroeff Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 18 de marccedilo de 2018

Susana Marques Soares residente no distrito de Eletra Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 15 de fevereiro de 2018

96

APEcircNDICES

97

APEcircNDICE A ndash ENTREVISTA COM MORADORES LOCAIS DOS DISTRITOS DE

SAtildeO FRANCISCO DE PAULA

UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL

PROGRAMA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO EM HISTOacuteRIA ndash MESTRADO EM HISTOacuteRIA PROFISSIONAL

PESQUISA DE CAMPO ndash TATIANA MEacuteLO CARDOSO

1 Nome completo

2 Idade

3 Quantos anos reside neste distrito

4 Como se formou este distrito

5 Por que ele tem esse nome

6 Quem foram os primeiros moradores

7 Como era a vida aqui haacute tempos atraacutes

8 O que mudou aqui com o passar dos anos

9 O que identifica este lugar

10 As pessoas hoje que moram aqui na grande maioria satildeo naturais daqui ou vieram

de onde

11 A(o) Sra(Sr) acredita que as futuras geraccedilotildees valorizaram eou conheceram a

histoacuteria local ou vai se perder no tempo

12 Como funcionava a questatildeo do ensino em meados do seacuteculo XX havia escola na

localidade

13 Qual a primeira escola deste distrito data de fundaccedilatildeo local de funcionamento e a

primeira professora

14 Achas importante trabalhar nas escolas a histoacuteria do lugar

15 O que eacute tradiccedilatildeo deste distrito

16 Qual eacute a fonte de renda das pessoas no que elas trabalham

17 Qual eacute o lazer das pessoas aqui

98

APEcircNDICE B ndash TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Declaro por meio deste termo que concordei em ser entrevistado(a) eou participar na

pesquisa de campo referente ao projetopesquisa Ensino de Histoacuteria Local e o Paradidaacutetico

caso Satildeo Francisco de Paula desenvolvida pela aluna Tatiana Meacutelo Cardoso do Programa de

Poacutes-Graduaccedilatildeo em Histoacuteria ndash Mestrado Profissional da Universidade de Caxias de Sul Fui

informado(a) que poderei consultaacute-la a qualquer momento que julgar necessaacuterio atraveacutes do e-

mail t_ati_mhotmailcom

Afirmo que aceitei participar por minha proacutepria vontade sem receber qualquer

incentivo financeiro ou ter qualquer ocircnus e com a finalidade exclusiva de colaborar para o

sucesso da pesquisa Fui informado(a) dos objetivos estritamente acadecircmicos de estudo

Minha colaboraccedilatildeo natildeo ficaraacute anocircnima e foi realizada por meio de entrevista

semiestruturada A anaacutelise dos dados obtidos seratildeo divulgados natildeo permanecendo restritas

apenas a pesquisadora eou seu(s) orientador(es) coordenador(es)

Fui ainda informado(a) de que posso me retirar desse(a) estudopesquisa programa a

qualquer momento sem prejuiacutezo para meu acompanhamento ou sofrer quaisquer sanccedilotildees ou

constrangimentos Atesto recebimento de uma coacutepia assinada deste Termo de Consentimento

Livre e Esclarecido

Satildeo Francisco de Paula ___ de _____________ de ____

Assinatura do(a) participante

Assinatura do responsaacutevel

Page 8: UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL TATIANA MÉLO CARDOSO

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 ndash Mapa de Identificaccedilatildeo das Sesmarias Serranas 26

Figura 2 ndash Divisatildeo Municipal em 1809 ndash Proviacutencia Satildeo Pedro do Rio Grande do Sul

28

Figura 3 ndash Vista da vila de Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra (1901) 29

Figura 4 ndash Vista Avenida Juacutelio de Castilhos (1923) 30

Figura 5 ndash Abertura da estrada ERS-020 Taquara ndash Satildeo Francisco de Paula de

Cima da Serra 31

Figura 6 ndash Accedilougue Central 33

Figura 7 ndash Igreja Matriz em 1931 34

Figura 8 ndash Igreja Matriz 34

Figura 9 ndash Mapa de localizaccedilatildeo de Satildeo Francisco de Paula 36

Figura 10 ndash Patroa Neuza Reis e sua Comissatildeo 39

Figura 11 ndash Gonzaga dos Reis 48

Figura 12 ndash Outdoor entrada da cidade na ERS-020 50

Figura 13 ndash Praccedila Central de Cazuza Ferreira 52

Figura 14 ndash Hotel do Campo 54

Figura 15 ndash Flacircmula de comemoraccedilatildeo aos 50 anos da entidade 57

Figura 16 ndash Barragem do Salto 58

Figura 17 ndash Igreja Santo Antocircnio ndash Distrito de Eletra 61

Figura 18 ndash Peacute com a fruta conhecido como Juaacute 63

Figura 19 ndash Praccedila Vila do Distrito Juaacute ao fundo cancha de laccedilo 65

Figura 20 ndash Imagem da Igreja Satildeo Roque em dia de festa no Rincatildeo dos Kroeff 69

Figura 21 ndash Imagem do Casaratildeo pouco antes de ser desmanchado 71

Figura 22 ndash Capa do livro 75

Figura 23 ndash Iacutendice do livro 76

Figura 24 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 1) 77

Figura 25 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 1) 78

Figura 26 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 2) 79

Figura 27 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 3) 80

Figura 28 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 4) 81

Figura 29 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 6) 82

Figura 30 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 8) 83

Figura 31 ndash Atividade do livro (Sugestatildeo de Leituras Complementares) 84

Figura 32 ndash Alunos do Ensino Meacutedio 85

SUMAacuteRIO

1 INTRODUCcedilAtildeO 11

2 HISTOacuteRIA LOCAL E O ENSINO DE HISTOacuteRIA NA SALA DE AULA 17

3 SAtildeO FRANCISCO DE PAULA CONSTRUCcedilAtildeO DO MUNICIacutePIO 24

31 CONVERSA COM MEMORIALISTAS 25

32 AMPLIANDO O DIAacuteLOGO COM OS MEMORIALISTAS 28

4 SAtildeO FRANCISCO DE PAULA DISTRITOS EM FOCO 41

41 DISTRITO SEDE 42

42 DISTRITO DE CAZUZA FERREIRA 51

43 DISTRITO DE TAINHAS 55

44 DISTRITO DE ELETRA 58

45 DISTRITO DO JUAacute 62

46 DISTRITO DO RINCAtildeO DOS KROEFF 66

47 DISTRITO DE LAJEADO GRANDE 70

5 DESCRICcedilAtildeO DO PRODUTO 74

6 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 86

REFEREcircNCIAS 90

FONTES CONSULTADAS 94

APEcircNDICES 96

APEcircNDICE A ndash ENTREVISTA COM MORADORES LOCAIS DOS DISTRITOS DE

SAtildeO FRANCISCO DE PAULA 97

APEcircNDICE B ndash TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO 98

11

1 INTRODUCcedilAtildeO

Os meacutetodos de ensino de Histoacuteria no Brasil vem sendo discutidos desde sua

criaccedilatildeo como disciplina Segundo Nadai (1992-1993 p 144) a introduccedilatildeo de

Histoacuteria no curriacuteculo ocorre na terceira metade do seacuteculo XIX no Brasil sendo que

desde entatildeo passa por diversas modificaccedilotildees Segundo Schmidt e Cainelli (2009)

os meacutetodos foram se adequando ao momento histoacuterico brasileiro em um primeiro

momento ensinou-se a histoacuteria da Europa Ocidental como a verdadeira histoacuteria da

civilizaccedilatildeo uma histoacuteria abstrata sem relaccedilatildeo com a vida do aluno Nadai (1992-

1993 p 146) acrescenta que ldquoa histoacuteria da paacutetria surgia como seu apecircndice sem

corpo autocircnomo e ocupando um papel extremamente secundaacuterio consistia num

repositoacuterio de biografias de homens ilustres de datas e batalhasrdquo

Poreacutem a partir de 1860 segundo Schmidt e Cainelli (2009 p 12-13) ldquono

periacuteodo republicano a incorporaccedilatildeo da concepccedilatildeo de que a disciplina Histoacuteria tinha

a responsabilidade de formar cidadatildeos ganha forccedilardquo sendo assim as escolas

primaacuterias e secundaacuterias comeccedilaram incluir em seus programas a histoacuteria nacional

com o intuito da formaccedilatildeo da nacionalidade sendo a paacutetria com seus heroacuteis o

principal foco Desta forma a criaccedilatildeo das diretrizes da Lei de Educaccedilatildeo nordm 569271

reforccedila o modelo jaacute instaurado

Foi oficializado o ensino de Estudos Sociais nas escolas brasileiras ficando os conteuacutedos especiacuteficos da Histoacuteria destinados somente aos alunos do antigo segundo grau A concepccedilatildeo e os conteuacutedos da Histoacuteria continuavam atrelados agraves concepccedilotildees tradicionais (SCHMIDT CAINELLI 2009 p 13)

Com a redemocratizaccedilatildeo na deacutecada de 1980 houve inuacutemeras discussotildees

que elencaram inuacutemeras abordagens e temaacuteticas para o ensino da Histoacuteria na

atualidade as novas tendecircncias se preocupam com a transposiccedilatildeo didaacutetica

valorizando documentos histoacutericos e incorporando novas linguagens e tecnologias

que permitem discussotildees e autonomia de pensamento Neste sentido as novas

concepccedilotildees de ensino de Histoacuteria ao final do seacuteculo XX abrem a possibilidade de

uma nova praacutetica didaacutetica que segundo Azevedo e Stamatto (2010 p 709) ldquobusca

problematizar a relaccedilatildeo passado-presente e em geral tomam a realidade do aluno

como ponto de partidardquo

Por se acreditar em um ensino de Histoacuteria onde a aprendizagem natildeo ocorre

em periacuteodos estanques de forma abstrata e sem relaccedilatildeo com o presente ou seja

12

apresentando de forma linear sem que haja contextualizaccedilatildeo sendo apresentada

atraveacutes de leitura de textos eou resumos permeando com atividades que muitas

vezes natildeo permitem um desenvolvimento de raciociacutenio histoacuterico que contribua para

a construccedilatildeo da cidadania Torna-se urgente pensar em um ensino voltado para a

inclusatildeo de novas contribuiccedilotildees historiograacuteficas como a histoacuteria cultural econocircmica

e social buscando na realidade local subsiacutedios para a aprendizagem Por isso a

presente dissertaccedilatildeo traz a didatizaccedilatildeo da histoacuteria de Satildeo Francisco de Paula visto

que a questatildeo-problema estaacute vinculada ao natildeo uso da histoacuteria local no ensino de

Histoacuteria deste municiacutepio e o pouco material disponiacutevel para o uso dos professores

Parte-se do pressuposto que ao abranger a histoacuteria local os sujeitos se veem como

partiacutecipes desta histoacuteria estudada significando e ressignificando conceitos

histoacutericos

Corroborando com este estudo Cunha (2016) traz consideraccedilotildees importantes

relacionadas ao uso da histoacuteria local O autor aborda como algo essencial para

compreensatildeo da histoacuteria geral na educaccedilatildeo baacutesica o uso da histoacuteria local o que

proporcionaria aos estudantes o reconhecimento como cidadatildeo e a percepccedilatildeo e

identificaccedilatildeo dos lugares de memoacuteria por parte dos alunos bem como o sentimento

de pertencimento do local Desta forma despertaria no aluno o interesse por um

passado aparentemente desligado de sua realidade estabelecendo relaccedilotildees com o

seu cotidiano

Desta maneira acredita-se que os estudantes da educaccedilatildeo baacutesica

compreenderatildeo a histoacuteria como algo que faz parte de suas vidas tornando-se assim

sujeitos da histoacuteria pois se haacute reconhecimento haveraacute tambeacutem o sentimento de

pertencimento que poderaacute ajudaacute-los a manter ou modificar a realidade que os cerca

Assim descrevem Schmidt e Cainelli

Esse sentido do ensinar Histoacuteria natildeo significaria natildeo ter conteuacutedos para serem ensinados mas olhar para estes conteuacutedos a partir da possibilidade de construir com os alunos novas questotildees diante de conteuacutedos e temas propostos pela historiografia Aprender histoacuteria eacute discutir evidecircncias levantar hipoacuteteses dialogar com os sujeitos os tempos e os espaccedilos histoacutericos Eacute olhar para o outro em tempos e espaccedilos diversos (SCHMIDT CAINELLI 2009 p 20)

Dentro desta perspectiva o reconhecimento da memoacuteria social se faz

importante visto que se necessita invocaacute-la para que um determinado grupo ou local

reconheccedila sua identidade social Atraveacutes de entrevistas com moradores de Satildeo

13

Francisco de Paula se invoca a memoacuteria coletiva na busca da identidade dos sete

distritos deste municiacutepio Visto que a histoacuteria de Satildeo Francisco de Paula se inicia por

volta do seacuteculo XVIII quando se datam as primeiras sesmarias1 concedidas ao

capitatildeo Pedro da Silva Chaves Posteriormente o capitatildeo doa parte de suas terras

para a construccedilatildeo do povoado que recebe o nome de Satildeo Francisco de Paula de

Cima da Serra por este ser devoto do Santo Satildeo Francisco Reza no testamento do

capitatildeo Pedro da Silva Chaves que um de seus filhos foi o primeiro paacuteroco a rezar

missa no povoado Satildeo Francisco de Paula pertenceu a Santo Antocircnio da Patrulha

e mais tarde a Taquara emancipando-se em 1902

Haacute pouca bibliografia sobre a histoacuteria de Satildeo Francisco de Paula o que existe

satildeo livros escritos por memorialistas onde se percebe a prioridade pela histoacuteria do

fundador ou seja do Capitatildeo Pedro da Silva Chaves dos iacutendios Caaguaraacutes que

habitavam a regiatildeo assim como os aspectos poliacuteticos administrativos Alguns destes

livros apresentam uma siacutentese cronoloacutegica de fatos importantes e descrevem

superficialmente o jeito de viver do povo serrano2 Mas a histoacuteria de Satildeo Francisco

de Paula estaacute repleta de diferentes identidades que identificam a Sede3 e o Interior4

deste municiacutepio e formam o jeito de viver do seu povo A natildeo exploraccedilatildeo de

elementos culturais que se fazem importantes para a construccedilatildeo de identidade

destes lugares minimiza as memoacuterias e as tradiccedilotildees que ali se apresentam visto

que

as constantes novidades em diferentes campos do saber os avanccedilos da tecnologia as infinitas possibilidades de comunicaccedilatildeo simultacircnea tecircm provocado sobretudo nas novas geraccedilotildees uma sensaccedilatildeo de que o mundo em que se vive eacute dotado de um temporalidade constituiacuteda por um tempo presente contiacutenuo (FIGUEIRA MIRANDA 2012 p 46)

Neste sentido fez-se uso de diferentes fontes para a construccedilatildeo do produto

desta dissertaccedilatildeo que consiste de um paradidaacutetico que possa servir como um

1 Sesmaria Terreno sem culturas ou abandonado que a antiga legislaccedilatildeo portuguesa com base em

praacuteticas medievais determinava que fosse entregue a quem se comprometesse a cultivaacute-lo 2 Serrano gentiacutelico de quem nasce em Satildeo Francisco de Paula 3 Sede distrito criado em 07 de janeiro de 1903 na mesma data da instalaccedilatildeo oficial do Municiacutepio Eacute

o distrito onde se localiza a Prefeitura Municipal Foacuterum agecircncias bancaacuterias loteacutericas hospital casas comerciais e residecircncias particulares Normalmente os moradores do interior quando vatildeo ao distrito se referem como ldquovou a Satildeo Chicordquo e natildeo como ldquovou a Sederdquo

4 Interior Cazuza Ferreira Juaacute Eletra Rincatildeo dos Kroeff Tainhas e Lajeado Grande satildeo distritos que ficam na zona rural apesar de todos terem uma pequena vila que possui pouca infraestrutura Alguns destes distritos ainda usam aacutegua de vertentes sem nenhuma rede de esgoto pois natildeo possuem aacutegua fornecida pela Companhia de Aacutegua e Saneamento (CORSAN)

14

material disponiacutevel a alunos e professores no ensino de Histoacuteria de Satildeo Francisco

de Paula Segundo Munakata entendem-se como paradidaacuteticos

Livros que sem apresentar caracteriacutesticas proacuteprias dos didaacuteticos satildeo adotados no processo de ensino e aprendizagem nas escolas seja como material de consulta do professor seja como material de pesquisa e de apoio agraves atividades do educando (MUNAKATA 1997 p 103)

Para a construccedilatildeo do paradidaacutetico fez-se uso de bibliografias jaacute existentes

jornais e documentos da Assembleia da Legislativa bem como o uso da histoacuteria

oral sendo as entrevistas a fonte primordial para escrever sobre as semelhanccedilas e

diferenccedilas existentes no modo de vida da populaccedilatildeo de Satildeo Francisco de Paula

visto que os depoimentos satildeo importantes na preservaccedilatildeo das memoacuterias tradiccedilotildees

bem como das heranccedilas identitaacuterias Neste sentido Delgado (2003 p 23) discorre

ldquonarrativas memoacuterias histoacuterias e identidades satildeo a humanidade em movimento

Satildeo o olhar que permeiam tempos heterogecircnicos Satildeo a histoacuteria em construccedilatildeo Satildeo

memoacuterias que falamrdquo

Portanto a histoacuteria oral busca registrar as vivecircncias e lembranccedilas de um

determinado grupo Alberti (2008 p 29) assim define ldquohistoacuteria oral natildeo eacute um fim em

si mesma e sim um meio de conhecimentordquo Quando se trabalha com a histoacuteria

oral se faz necessaacuterio valorizar a memoacuteria as identidades e tradiccedilotildees pois estas

formam a histoacuteria local ou seja a histoacuteria dos indiviacuteduos que ali vivem Halbwachs

(2004) afirma que com a perda da memoacuteria coletiva tambeacutem se perdem as

tradiccedilotildees locais tradiccedilotildees essas que identificam o modo de viver de um determinado

local Hobsbawn e Ranger entendem que as tradiccedilotildees podem ou natildeo ser

inventadas

Tradiccedilatildeo inventada entende-se um conjunto de praacuteticas normalmente reguladas por regras taacutecitas ou abertamente aceitas tais praacuteticas de natureza ritual ou simboacutelica visam inculcar certos valores e normas de comportamento atraveacutes da repeticcedilatildeo o que implica automaticamente uma continuidade com relaccedilatildeo ao passado (HOBSBAWN RANGER 2015 p 8)

Hobsbawn e Ranger (2015) ainda acrescem que a criaccedilatildeo de uma tradiccedilatildeo

independe da imposiccedilatildeo de uma nova tradiccedilatildeo o que normalmente ocorre eacute uma

rebeliatildeo cultural que precede da elaboraccedilatildeo de novas tradiccedilotildees que satildeo adotadas

pela populaccedilatildeo e com o tempo passam a se tornar tradiccedilotildees daquele local

formando a identidade local

15

Neste sentido Hall (2011 p 39) discorre que ldquoas identidades satildeo fabricadas

por meio da marcaccedilatildeo da diferenccedilardquo O autor ainda acresce que ldquoa diferenccedila eacute aquilo

que separa uma identidade da outrardquo (HALL 2011 p 41) Dentro desta perspectiva

a memoacuteria que se apresenta atraveacutes de siacutembolos ou tradiccedilotildees respalda a

construccedilatildeo da identidade do povo de Satildeo Francisco de Paula visto que a memoacuteria eacute

a construccedilatildeo do passado de maneira atualizada e renovada no tempo presente

Assim Halbwachs (2004 p 64) descreve que ldquonatildeo eacute na histoacuteria aprendida eacute na

histoacuteria vivida que se apoia nossa memoacuteriardquo Nessa loacutegica o autor ainda descreve

que ldquoo mundo histoacuterico eacute como um oceano onde afluem todas as histoacuterias parciaisrdquo

(p 90)

O municiacutepio de Satildeo Francisco de Paula eacute repleto de tradiccedilotildees que perpassam

o tempo que estatildeo enraizadas no jeito serrano de ser formando a sua identidade

Portanto a histoacuteria de Satildeo Francisco de Paula descrita nesta dissertaccedilatildeo seraacute

apresentada em quatro capiacutetulos

O capiacutetulo dois apresenta a discussatildeo teoacuterica metodoloacutegica sobre a

importacircncia do ensino da Histoacuteria local na sala de aula Tambeacutem conceitos como

memoacuteria e identidade e a importacircncia de se abordar o local em prol do global

No capiacutetulo trecircs aborda-se a construccedilatildeo histoacuterica do municiacutepio de Satildeo

Francisco de Paula que vai desde a chegada do colonizador nesta terra ateacute as

instituiccedilotildees que se formam ao longo do tempo Para isso se faz uso de bibliografias

jaacute existentes como Lucena (1971) Oliveira (1996) Teixeira (2002) Ribeiro (2003)

Alves (2007) e Fonseca (2012) sendo todas essas obras importantes para Satildeo

Francisco de Paula visto que cada uma traz consigo um pouco da histoacuteria deste

municiacutepio poreacutem sente-se falta da identidade e da memoacuteria na construccedilatildeo histoacuterica

As obras satildeo apresentadas sob o mesmo prisma apresentando os iacutendios Caaguaraacutes

e o Capitatildeo Pedro da Silva Chaves os fundadores desta terra dando bastante

ecircnfase aos sobrenomes que ali se desenvolveram Tambeacutem se fez uso de

documentos da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul aleacutem de jornais

encontrados no Arquivo Histoacuterico de Satildeo Francisco de Paula

No capiacutetulo quatro utiliza-se da fonte oral para que sejam identificadas as

diferentes tradiccedilotildees e versotildees da histoacuteria local ou seja a identidade de cada distrito

constituindo assim as particularidades que constroem o municiacutepio de Satildeo Francisco

de Paula Para tanto buscaram-se depoentes nas vilas dos distritos sendo que a

escolha se deu por duas pessoas por distrito sendo um homem e uma mulher

16

totalizando treze depoentes todos da terceira idade pois segundo Bosi (1994 p

82) ldquoum mundo social que possui uma riqueza e uma diversidade que natildeo

conhecemos pode chegar-nos pela memoacuteria dos velhosrdquo memoacuterias estas

construiacutedas por suas vivecircncias neste local o que justifica a relevacircncia dos

depoimentos para a construccedilatildeo do trabalho

O capiacutetulo cinco apresenta uma descriccedilatildeo do produto que consiste em um

paradidaacutetico em forma fiacutesica abordando a histoacuteria de Satildeo Francisco de Paula A

escolha pelo formato fiacutesico acontece pelas dificuldades encontradas no interior dos

distritos com o acesso agrave internet assim se pensa que o formato fiacutesico abrangeraacute um

nuacutemero maior de alunos e professores

Para tanto utiliza-se a metodologia da Histoacuteria oral para escrever a memoacuteria

e as percepccedilotildees das pessoas que habitam este local Hobsbawn e Ranger (1995 p

103) escrevem que ldquoessa proximidade entre o periacuteodo analisado e sua histoacuteria

pessoal eacute o pano de fundo para a discussatildeo de alguns problemas que qualquer

historiador enfrenta ao escrever sobre seu proacuteprio tempordquo pois a sensibilidade do

historiador vai escrever sua narrativa Em outras palavras Hobsbawn e Ranger

(1995 p 104) explicam que ldquocada historiador tem sua proacutepria vida um lugar privado

a partir do qual inspeciona o mundordquo Tambeacutem afirmam

Para aqueles que querem escrever a histoacuteria do seacuteculo XX uma das mais importantes reside no simples fato de saber sem nenhum esforccedilo especial o quanto as coisas se modificaram Os uacuteltimos trinta ou quarenta anos foram os mais revolucionaacuterios da histoacuteria O mundo ou seja a vida dos homens e mulheres que vivem na Terra nunca foi transformada de maneira tatildeo profunda dramaacutetica e extraordinaacuteria dentro de um periacuteodo tatildeo curto As geraccedilotildees que natildeo viram como o mundo era antes tecircm dificuldade em perceber isso intuitivamente (HOBSBAWN RANGER 1995 p 107)

Portanto se faz importante perceber que o mundo vem se transformando de

maneira raacutepida modificando a vida das pessoas e por conseguinte as tradiccedilotildees e

identidades locais pois estas comunidades natildeo vivem de forma isolada e sofreram

influecircncias jaacute que a cultura natildeo eacute estagnada estaacute sempre em constante movimento

juntamente com as pessoas

17

2 HISTOacuteRIA LOCAL E O ENSINO DE HISTOacuteRIA NA SALA DE AULA

Discutir o ensino de Histoacuteria na educaccedilatildeo baacutesica e a relaccedilatildeo do mesmo com a

histoacuteria local se faz bastante importante para que a cada dia se possa melhorar as

praacuteticas pedagoacutegicas Neste sentido se busca respaldo em diferentes bibliografias

que possam embasar novos afazeres dentro do espaccedilo da sala de aula e

proporcionar ao estudante um novo olhar sobre a histoacuteria um olhar de sujeito ativo

dentro desse processo de ensino aprendizagem

Pois quando a Histoacuteria eacute ensinada como algo certo e imutaacutevel de maneira

fragmentada voltada para linearidade e memorizaccedilatildeo de fatos e datas reforccedila o

que Mendes (1935) e Schmidt e Cainelli (2009) defendem que realmente eacute odiosa a

histoacuteria ensinada por este vieacutes Percebe-se que o ensino de histoacuteria linear nos

moldes europeus positivistas jaacute natildeo daacute mais conta da importacircncia da histoacuteria para a

sociedade atual porque eacute apresentada aos alunos atraveacutes de datas e fatos escrita

pelo vieacutes de uma elite que normalmente eacute branca e deteacutem o poder poliacutetico eou

econocircmico Eacute inconcebiacutevel que se permaneccedila com um ensino de Histoacuteria que natildeo

serve natildeo motiva e segundo Ruumlsen (2001 p 25) ainda ldquoirracionalizardquo sendo esse

modelo muito frequente nas escolas de educaccedilatildeo baacutesica brasileiras

Natildeo eacute por outro motivo que observamos ainda nas uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo XX que para a maior parte dos estudantes brasileiros o estudo de histoacuteria carece de sentido ou utilidade natildeo se tem a visatildeo de ciecircncia e sim de uma mateacuteria decorativa estudo do passado que soacute exige como vimos a prontidatildeo em declinar nomes datas e fatos Natildeo eacute de se estranhar que assim seja porque ocorre a enorme distacircncia entre a realidade vivenciada pela comunidade e o tratamento dado ao ensino de Histoacuteria jaacute que o aluno se torna mero espectador de fatos natildeo necessitando esforccedilos no sentido de qualquer reflexatildeo ou elaboraccedilatildeo (BARBOSA 2006 p 58)

O ensinar da histoacuteria de forma abstrata fragmentada dificulta a compreensatildeo

do processo histoacuterico no sentido que se estuda os fatos isolados ao seu tempo

como se um fato precisasse terminar para iniciar outro Em outras palavras este

meacutetodo de ensino natildeo daacute a noccedilatildeo de continuidade ou seja a histoacuteria perdeu seu

sentido baacutesico que eacute a compreensatildeo do contexto global dos fatos considerando que

o ensino de Histoacuteria por muitas vezes eacute estanque sem uma relaccedilatildeo ldquopresente x

passadordquo sendo de suma importacircncia o despertar de uma consciecircncia criacutetica por

parte do estudante Por isso ao longo do tempo o ensino sofre influecircncia por parte

do ldquopoderrdquo segundo Laville (1999 p 128) ldquoa Histoacuteria eacute certamente a uacutenica disciplina

18

escolar que recebe intervenccedilotildees diretas dos altos dirigentes e a consideraccedilatildeo ativa

dos parlamentos Isso mostra quatildeo importante eacute ela para o poderrdquo Nesta linha o

autor ainda acrescenta que ldquoa narrativa histoacuterica pode tambeacutem ser vista como uma

tomada de poder por grupos sem poderrdquo (LAVILLE 1999 p 129)

Na busca de modificar esse modelo surgem novos meacutetodos que valorizam o

uso do documento histoacuterico e a incorporaccedilatildeo de novas tecnologias de acordo com

Azevedo e Stamatto (2010 p 720) ldquotem o desafio de responder a inquietaccedilotildees do

hojerdquo Partindo deste pressuposto haacute possibilidade de se modificar o ensino da

Histoacuteria que ateacute entatildeo estava voltado agrave memorizaccedilatildeo para um modelo onde o

sujeito seja agente deste processo

Ensinar Histoacuteria como algo pronto e acabado [] sem levar em conta o contexto e os sujeitos envolvidos no processo de ensino aprendizagem pode levar a um ensino que natildeo desenvolve o que eacute mais importante como funccedilatildeo do ensinar histoacuteria que orientar os problemas da vida praacutetica (SCHMIDT CAINELLI 2009 p 20)

Assim Seffner (2013 p 51) acrescenta que ldquoo ensino de Histoacuteria eacute um ensino

de situaccedilotildees histoacutericas Mais do que nomes datas e acontecimentos o professor

deve propiciar ao aluno a compreensatildeo de como se estrutura uma dada situaccedilatildeordquo

Para que o ensino de Histoacuteria seja ressignificado existe a necessidade de anaacutelise

do processo histoacuterico problematizando os fatos no vai e vem do presentepassado

Os estudantes da educaccedilatildeo baacutesica necessitam compreender a histoacuteria como

um processo em constante transformaccedilatildeo que eacute movimentada por sujeitos que a

compotildeem com permanecircncias e rupturas ao longo dos tempos Segundo Bittencourt

(2004 p 168) ldquoa histoacuteria local tem sido indicada como necessaacuteria para o ensino por

possibilitar a compreensatildeo do alunordquo

Corroborando Seffner (2013) Souza (2015) e Brum (2015) evidenciam a

importacircncia de se trabalhar a histoacuteria global partindo de uma histoacuteria local

problematizando levando hipoacuteteses e analisando os fatos histoacutericos o que gera

significado para o educando e torna o docente natildeo mais um mero transmissor mas

um mediador deste conhecimento Neves (1997 p 22) reforccedila que ldquoo local fora do

contexto geral eacute apenas um fragmento e o geral sem o respaldo das realidades

locais eacute apenas uma abstraccedilatildeordquo Com esta nova abordagem o estudar Histoacuteria tem

sentido para o discente que se sente sujeito de sua proacutepria histoacuteria visto que

19

identificar-se com o local onde se vive ajuda a compreender o sentimento de

pertencimento e suas relaccedilotildees com o meio social e cultural no qual estaacute inserido

Nesta perspectiva faz-se necessaacuterio que os professores busquem novas

alternativas de ensino que proporcionem ao estudante a habilidade de ressignificar o

fato histoacuterico estudado

Ensinar Histoacuteria requer do professor a habilidade de buscar sentido e significado para o conhecimento que ministra e isso significa superar a mera transmissatildeo de informaccedilotildees jaacute que essa natildeo tem por finalidade o desenvolvimento intelectual mas ao contraacuterio deforma a capacidade de pensamento histoacuterico do aluno e a possibilidade de consolidar habilidades de anaacutelise da proacutepria realidade social (SILVA PORTO 2012 p 67)

Goubert assim define a histoacuteria local

Denominaremos histoacuteria local como aquela que diga respeito a uma ou poucas aldeias a uma cidade pequena ou meacutedia (um grande porto ou uma capital estatildeo aleacutem do acircmbito local) ou a uma aacuterea geograacutefica que natildeo seja maior do que a unidade provincial comum (como um county inglecircs um contado italiano uma Land alematilde uma bailiwick ou pays francecircs) Praticada haacute tempos atraacutes com cuidado zelo e ateacute orgulho a histoacuteria local foi mais tarde desprezada mdash principalmente nos seacuteculos XIX e primeira metade do XX mdash pelos partidaacuterios da histoacuteria geral A partir poreacutem da metade desse seacuteculo a histoacuteria local ressurgiu e adquiriu novo significado na verdade alguns chegam a afirmar que somente a histoacuteria local pode ser autecircntica e fundamentada (GOUBERT 1992 p 70)

Neste sentido fica evidente a importacircncia de se partir de uma histoacuteria local

para uma global Atraveacutes da histoacuteria local os estudantes teratildeo contato com sua

histoacuteria e poderatildeo se sentir parte integrante deste espaccedilo que muitas vezes por

falta de conhecimento acabam renegando sua proacutepria identidade Figueira e Miranda

(2012 p 113) afirmam que ldquoum dos efeitos mais danosos da globalizaccedilatildeo eacute a

universalizaccedilatildeo dos gostosrdquo isto implica diretamente na perda da identidade local

que muitas vezes estaacute sendo afetada pelas muacuteltiplas identidades existentes Neste

sentido Silva e Porto descrevem

A globalizaccedilatildeo entretanto produz diferentes resultados em termos de identidade A homogeneidade cultural promovida pelo mercado global pode levar ao distanciamento da identidade relativamente agrave comunidade e agrave cultura local (SILVA PORTO 2012 p 21)

Neste sentido Canclini acrescenta

Las comunidades de consumidores se organiza cada vez menos seguacuten diferencias nacionales y sobre todo en las generaciones joacutevenes definen sus praacutecticas culturales de acuerdo con informacioacuten y estilos homogeneizados (CANCLINI 1997 p 42)

20

Globalizaccedilatildeo que impotildee atraveacutes dos meios de comunicaccedilatildeo e social uma

identidade geral que regra a sociedade seus haacutebitos e costumes Devido ao grande

movimento das pessoas pelo mundo perceber e manter uma identidade com

caracteriacutesticas locais fica a cada dia mais difiacutecil ainda mais em se tratando da

populaccedilatildeo jovem que natildeo reconhece ao seu redor o que representa a sua

identidade local

Valorar as experiecircncias locais proporcionaraacute aos estudantes uma nova

metodologia de abordar a histoacuteria

Do ponto de vista metodoloacutegico destaca-se nessa forma de abordagem a preocupaccedilatildeo com os conhecimentos preacutevios dos alunos com a problematizaccedilatildeo dos conteuacutedos de ensino selecionados para trabalho em sala de aula estabelecendo relaccedilotildees com o cotidiano dos alunos e com o cotidiano de outras pessoas em outros tempos e em outros lugares Enfatiza-se tambeacutem a busca de articulaccedilatildeo entre histoacuteria local e a histoacuteria universal (SCHMIDT 2007 p 193)

O ensino de histoacuteria partindo do local para o global possibilita segundo

Bittencourt (2004 p 168) ldquoa compreensatildeo do entorno do alunordquo sendo que um dos

aspectos relevantes para este ensino eacute a escolha de fontes que levem os estudantes

a se reconhecerem nesse processo histoacuterico O autor ainda acresce

Eacute pela memoacuteria que se chega agrave histoacuteria local Aleacutem da memoacuteria das pessoas escrita ou recuperada pela oralidade existem os lsquolugares de memoacuteriarsquo (grifo da autora) expressos por monumentos praccedilas edifiacutecios puacuteblicos ou privados mas preservados como patrimocircnio histoacuterico (BITTENCOURT 2004 p 169)

Esta memoacuteria vai contribuir para legitimaccedilatildeo da identidade local Sabe-se que

a identidade eacute algo mutaacutevel e segundo Silva e Porto (2012 p 38) ldquoas identidades

satildeo produzidas em momentos particulares no tempordquo O pesquisador ainda

acrescenta que ldquoas identidades satildeo contingentes emergindo em momentos

histoacutericos particularesrdquo Estas identidades precisam ser reconhecidas quando se fala

de histoacuteria local

Na mesma linha Ruumlsen descreve a identidade histoacuterica

Consiste na ampliaccedilatildeo do horizonte nas experiecircncias do tempo e nas intenccedilotildees acerca do tempo no qual os sujeitos agentes se asseguram da permanecircncia de si mesmos na evoluccedilatildeo do tempo O ponto extremo dessa consolidaccedilatildeo de identidade eacute a lsquohumanidadersquo como suprassumo dos pontos comuns em sociedade com respeito a diversos sujeitos agentes no processo de determinaccedilatildeo de suas proacuteprias identidades determinam as dos outros de forma tal que estes se reconhecem nelas Esse criteacuterio de sentido lsquohumanidadersquo fornece o paracircmetro para se constatar a consolidaccedilatildeo da

21

identidade em que desembocam o progresso contiacutenuo do conhecimento mediante a pesquisa histoacuterica e a ampliaccedilatildeo contiacutenua das perspectivas mediante a reflexatildeo histoacuterica sobre referenciais (RUumlSEN 2001 p 126)

A histoacuteria local eacute constituiacuteda por diferentes identidades que satildeo geradas pelos

grupos que compotildeem este espaccedilo A este respeito Silva e Porto (2011 p 41)

apresentam que ldquoa diferenccedila eacute aquilo que separa uma identidade da outrardquo Tambeacutem

eacute notaacutevel que para que haja a representaccedilatildeo de suas identidades locais faz-se

necessaacuterio o reconhecimento destas e a percepccedilatildeo que existem diferentes fatores

que diferenciam os grupos sociais

Portanto a identidade eacute constituiacuteda pelas posiccedilotildees eou escolhas feitas

sendo que muitas vezes elas satildeo racionais ou ateacute mesmo irracionais A identidade

eacute baseada na memoacuteria que pode ser individual ou coletiva Segundo Candau (2011

p 16) ldquoos laccedilos fundamentais entre memoacuteria e identidade eacute sobre o fato de que eacute a

memoacuteria faculdade primeira que alimenta a identidaderdquo

Se a memoacuteria gera a identidade natildeo se pode pesquisar e escrever sobre

histoacuteria local sem levar em conta estes dois conceitos primordiais pois a histoacuteria

local soacute teraacute valia se escrita pelo vieacutes do todo ou seja natildeo priorize um grupo ou

classe social todos os quadros sociais devem estar representados dentro deste

processo Nessa linha Schmidt e Cainelli descrevem

O estudo da localidade ou da histoacuteria regional contribui para uma compreensatildeo muacuteltipla da Histoacuteria pelo menos em dois sentidos na possibilidade de se ver mais de um eixo histoacuterico na histoacuteria local e na possibilidade da anaacutelise de micro histoacuterias pertencentes a alguma outra histoacuteria que as englobe e ao mesmo tempo reconheccedila suas particularidades (SCHMIDT CAINELLI 2009 p 139)

Uma histoacuteria que faz sentido que esteja englobada a outra histoacuteria A

memoacuteria coletiva entra na construccedilatildeo desta histoacuteria local e eacute primordial pois esta vai

dar elementos que constroem a identidade deste local sendo que a memoacuteria do

passado influencia na representaccedilatildeo da identidade Neste sentido conforme

Figueira e Miranda (2012 p 47) eacute necessaacuterio compreender a memoacuteria ldquocomo a

capacidade de conservar e de preservar dados refere-se a um conjunto de funccedilotildees

cerebrais que nos permite reter informaccedilotildees adquiridas e impressotildees vividasrdquo

Podendo ser ela individual ou coletiva sendo que a memoacuteria individual existe a partir

de uma memoacuteria coletiva jaacute que as lembranccedilas que ajudam a reconstruir o passado

partem do interior de um grupo

22

Para as Ciecircncias Humanas o conceito de memoacuteria estaacute ligado agrave memoacuteria

social e coletiva definida por Le Goff (2003 p 422) como ldquoo estudo da memoacuteria

social eacute um dos elementos fundamentais de abordar os problemas do tempo e da

histoacuteriardquo O autor ainda acrescenta que ldquoa memoacuteria coletiva eacute natildeo somente uma

conquista eacute tambeacutem um instrumento e um objeto de poderrdquo (LE GOFF 2003 p

410) Neste sentido Halbwachs (2004 p 90) ressalta que ldquotoda memoacuteria coletiva

tem por suporte um grupo limitado no espaccedilo e no tempo e o mundo histoacuterico eacute

como um oceano onde afluem todas as histoacuterias parciaisrdquo

Quando se abordam conceitos de memoacuteria e identidade no ensino de

histoacuteria estaacute se trazendo para o estudo os sujeitos que compotildeem aquele local com

suas vivecircncias que podem ser coletivas ou natildeo A transmissatildeo de saberes entre as

geraccedilotildees forma a identidade coletiva sendo o ser humano um agente ativo no

quadro social da memoacuteria

Halbwachs assim define os quadros coletivos da memoacuteria

Os quadros coletivos da memoacuteria natildeo se resumem em datas nomes e foacutermulas que eles representam correntes de pensamento e de experiecircncia onde reencontramos nosso passado porque este foi atravessado por isso tudo (HALBWACHS 2004 p 71)

Nesta direccedilatildeo Le Goff (2003 p 4) acrescenta que ldquoa memoacuteria social eacute um

dos meios fundamentais para se abordar os problemas do tempo e da histoacuteria A

memoacuteria estaacute nos proacuteprios alicerces da histoacuteriardquo Catroga (2001) reforccedila que a

memoacuteria eacute moldada a partir das vivecircncias e na sua narrativa vai haver uma

coerecircncia que se mistura passado e presente

Quando se escreve sobre histoacuteria local eacute importante considerar que ela estaacute

pautada em documentos assim como em memoacuterias escritas visuais ou orais Neste

sentido eacute perceptiacutevel que o uso dos diferentes tipos de memoacuteria satildeo alicerces que

conduzem o trabalho do historiador para que ele possa interpretar suas fontes e

validar seu trabalho Memoacuterias estas que podem ser apresentadas com documentos

oficiais ou atraveacutes de uma cultura material ou imaterial

A escrita de histoacuterias locais vem como um novo modelo de resguardar

identidades e memoacuterias que se natildeo preservadas iratildeo desaparecer pela influecircncia

da globalizaccedilatildeo e falta de conhecimento de futuras geraccedilotildees Barros assim

descreve

23

Os novos tempos comeccedilavam a trazer um novo padratildeo historiograacutefico novas aberturas retornos e possibilidades e tambeacutem incertezas para os historiadores no que se refere agrave natureza do conhecimento que produzem e ao papel do conhecimento histoacuterico na sociedade [] Entre as novidades postula-se a possibilidade de examinar a histoacuteria de acordo com uma nova escala de observaccedilatildeo ndash atenta para o detalhe para as micro realidades para aquilo que habitualmente escapa ao olhar panoracircmico da macro histoacuteria tradicional ndash e eacute esta nova postura que se passou a chamar de micro histoacuteria (BARROS 2012 p 306)

Diante deste contexto o ensino de Histoacuteria pode buscar na histoacuteria local a

problematizaccedilatildeo necessaacuteria para que os estudantes da educaccedilatildeo baacutesica

reconheccedilam a identidade local que vem sofrendo com a uniformizaccedilatildeo da

sociedade que impotildee uma conjuntura global do local

24

3 SAtildeO FRANCISCO DE PAULA CONSTRUCcedilAtildeO DO MUNICIacutePIO

A apresentaccedilatildeo do municiacutepio Satildeo Francisco de Paula acontece atraveacutes do

uso da narrativa Esta se apresenta atraveacutes do diaacutelogo com obras jaacute produzidas por

memorialistas eou genealogistas que contribuem para a construccedilatildeo histoacuterica deste

local bem como se usa como fonte de enriquecimento documentos da Assembleia

Legislativa do Rio Grande do Sul e jornais locais

Para tanto se apresenta a revisatildeo historiograacutefica das obras escritas pelos

memorialistas eou genealogistas sendo que Lucena (1971) em sua obra ldquoSatildeo

Francisco de Paula Monografiardquo que abrange aspectos histoacutericos da formaccedilatildeo do

municiacutepio bem como pontos turiacutesticos e demograacuteficos O proacuteprio autor intitula a sua

obra como informativa a riqueza de detalhes eacute interessante poreacutem natildeo haacute nenhuma

referecircncia quanto aos dados escritos nem mesmo um referencial bibliograacutefico ao

final

No texto intitulado ldquoOs Fundadores de Satildeo Francisco de Paulardquo Alves (2007)

escreve sobre a fundaccedilatildeo de Satildeo Francisco de Paula Em seu livro haacute documentos

que validam o que se refere agrave genealogia jaacute que boa parte da obra apresenta os

troncos familiares que compunham o iniacutecio deste municiacutepio Na mesma linha da

genealogia Oliveira (1996) no livro ldquoAurorescer das Sesmarias Serranas histoacuteria e

genealogiardquo traz a histoacuteria das primeiras sesmarias da regiatildeo mas o foco principal

se daacute aos proprietaacuterios e seus descendentes Haacute um mapa bastante interessante

localizando as sesmarias e o nome por elas recebidos

Em ldquoSatildeo Francisco de Paula nossa terra nossa genterdquo Teixeira (2002)

apresenta dados gerais e histoacutericos do municiacutepio Esta obra apresenta dados

geograacuteficos como clima relevo e vegetaccedilatildeo A autora escreve sobre diversos

aspectos eventos personalidades e lendas Aleacutem disso apresenta Satildeo Francisco

de Paula com uma linha cronoloacutegica A obra abrange vaacuterios aspectos mas todos

suscintamente No final a autora apresenta a bibliografia consultada dentre os

autores estaacute Lucena (1971)

O texto ldquoSatildeo Francisco de Paula Rio Grande do Sul histoacuteria encantos e

misteacuteriosrdquo eacute uma obra de Fonseca (2012) que traz diversidade de assunto muitas

vezes estes estatildeo desconexos ou seja sua leitura se torna ldquotruncadardquo No final do

texto haacute um vasto referencial bibliograacutefico dentre os autores citam-se Lucena

(1971) e Teixeira (2002)

25

Ribeiro (2003) eacute compositor e poeta Em ldquoFestival do Ronco do Bugiordquo

escreve sobre Satildeo Francisco de Paula apresentando a histoacuteria dos quinze anos do

festival no municiacutepio No iniacutecio contextualiza a origem do festival e do ritmo bugio

Depois apresenta a capa do disco de cada festival especificando as muacutesicas e os

compositores vencedores

Todas essas obras satildeo importantes para Satildeo Francisco de Paula cada uma

traz consigo um pouco da histoacuteria deste municiacutepio poreacutem sente-se falta da

identidade e da memoacuteria na construccedilatildeo histoacuterica As obras satildeo apresentadas o

mesmo prisma apresentando os iacutendios Caaguaraacutes e o Capitatildeo Pedro da Silva

Chaves os fundadores desta terra dando bastante ecircnfase aos sobrenomes que ali

se desenvolveram

31 CONVERSA COM MEMORIALISTAS

As terras onde hoje fica Satildeo Francisco de Paula eram habitadas por iacutendios da

tribo Caaguaraacutes que faziam parte dos Coroados Estes viviam livremente nos

campos de cima da serra e seus domiacutenios estendiam-se entre a Serra Geral e a

Serra do Mar Os iacutendios Caaguaraacutes tinham como haacutebitos alimentares a caccedila a

pesca e a coleta de sementes e frutos dentre os frutos o pinhatildeo e a goiaba-do-

mato segundo Teixeira (2002) e Alves (2007) Estes iacutendios tiveram seu habitat

invadido por incursotildees de desbravadores que comeccedilaram a trafegar pela regiatildeo em

busca de mulas e novas terras visto que as terras onde hoje se encontra Satildeo

Francisco de Paula de Cima da Serra foram rota de tropeiros5 pois estes trafegavam

pelos Campos de Cima da Serra indo na direccedilatildeo de Lages-SC ateacute alcanccedilarem

Sorocaba-SP6 Ao passarem por esta regiatildeo foram se formando pequenos vilarejos

e construindo um jeito peculiar de viver

Neste cenaacuterio aparece o municiacutepio de Satildeo Francisco de Paula de Cima da

Serra que recebe este nome para se diferenciar de Satildeo Francisco de Paula

denominaccedilatildeo recebida ateacute meados de 1830 pelo municiacutepio de Pelotas Poreacutem na

metade do seacuteculo XVIII Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra possuiacutea

5 Tropeiros homens que conduziam suas tropascomitivas de muares ou cavalos entre as regiotildees 6 Sugere-se a leitura FLORES Moacyr Troperismo no Brasil Porto Alegre Nova Dimensatildeo 1998

SAVARIS Manoelito Tropas e tropeiros o Rio Grande toma forma Disponiacutevel em ltwwwrogeriobastoscombr201104trpas-e-tropeiros-o-rio-grande-tomahtmlgt Acesso em 12 mar 2016

26

proprietaacuterios de terras sendo que um dos pioneiros foi Pedro da Silva Chaves um

portuguecircs casado com Gertrudes de Godoy uma paulista Pedro da Silva Chaves

declara em 1742 ser possuidor de terras neste municiacutepio Segundo Oliveira (1996)

em seu testamento Pedro da Silva Chaves rege que possui trecircs fazendas na regiatildeo

uma chamada Satildeo Joatildeo que se localiza desde o Arroio Santa Cruz ateacute o Rio

Tainhas concedida em 1752 por sesmaria a Fazenda da Cria que foi comprada de

Francisco Pinto Bandeira e confirmada como sesmaria em 1754 e a Fazenda

denominada Cerrito comprada do Capitatildeo Antocircnio Gonccedilalves dos Reis Nestas

fazendas havia criaccedilatildeo de cavalos gado vacum mulas e burros As fazendas

tambeacutem apresentavam em torno de 77 escravos sendo que alguns satildeo casados o

que se faz pensar que estes constituiacuteam famiacutelia aumentando assim o nuacutemero de

escravos da regiatildeo No mapa da Figura 1 verifica-se a localizaccedilatildeo das fazendas do

capitatildeo Pedro da Silva Chaves bem como sua extensatildeo territorial

Figura 1 ndash Mapa de Identificaccedilatildeo das Sesmarias Serranas

Fonte Oliveira (1996 p 236)

27

No mapa apresentado na Figura 1 ainda eacute possiacutevel observar a localizaccedilatildeo

onde inicia o povoado de Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra segundo

Lucena (1971 p 1) ldquoiniciou-se com o Capitatildeo Pedro da Silva Chaves que doou

uma gleba de terra para que fosse iniciado o povoadordquo Tambeacutem segundo Lucena

(1971 p 1) ldquodoou cinquenta vacas para construir o primeiro patrimocircnio da Igreja

cuja construccedilatildeo foi iniciada por sua conta e lhe deu o nome de Satildeo Francisco por

este ser devoto do Santordquo O que demonstra que Pedro da Silva Chaves era

Catoacutelico

Neste periacuteodo compreendido como seacuteculo XIX segundo Teixeira (2002) e

Alves (2007) o atual municiacutepio de Satildeo Francisco de Paula pertencia ao municiacutepio de

Santo Antocircnio da Patrulha municiacutepio este que formava juntamente com Porto

Alegre Rio Pardo e Rio Grande a proviacutencia de Satildeo Pedro do Rio Grande do Sul

atual Rio Grande do Sul Eacute possiacutevel observar a grande extensatildeo territorial de cada

municiacutepio no mapa apresentado na Figura 2 segundo Silva (2000) Santo Antocircnio

da Patrulha anexava as freguesias de N Sra Conceiccedilatildeo do Arroio e N Sra da

Oliveira da Vacaria a capela de Satildeo Domingos das Torres e os povoados de Santa

Cristina do Pinhal e Cima da Serra

Analisando o mapa da Figura 2 eacute possiacutevel perceber que o municiacutepio de Santo

Antocircnio da Patrulha tinha um vasto e extenso territoacuterio que atualmente compreende

os municiacutepios de Vacaria Antocircnio Prado Nova Roma do Sul Lagoa Vermelha

Veranoacutepolis Nova Prata Nova Araccedilaacute Nova Bassano Paraiacute Guabiju Satildeo Jorge

Vista Alegre do Prata Protaacutesio Alves Cotiporatilde Fagundes Varela Vila Flores

Caseiros Birajaras Andre da Rocha Capatildeo Bonito do Sul Muitos Capotildees Bom

Jesus Satildeo Joseacute dos Ausentes Esmeralda Ipecirc Campestre da Serra Monte Alegre

dos Campos Taquara Satildeo Francisco de Paula Cambaraacute do Sul e Jaquirana

28

Figura 2 ndash Divisatildeo Municipal em 1809 ndash Proviacutencia Satildeo Pedro do Rio Grande do Sul

Fonte Evoluccedilatildeo Administrativa (2013)7

32 AMPLIANDO O DIAacuteLOGO COM OS MEMORIALISTAS

Segundo documentos da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul8

disponiacuteveis no Arquivo Histoacuterico de Satildeo Francisco de Paula9 em 1852 atraveacutes da

Lei nordm 266 de 30 de novembro de 1852 eleva-se agrave categoria de freguesia a entatildeo

capela Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra pelo entatildeo vice-governador da

proviacutencia de Satildeo Pedro do Rio Grande do Sul o senhor Luiz Alves Leite de Oliveira

Bello Estes documentos ainda retratam que no ano de 1886 houve distribuiccedilatildeo de

lotes devolutos para pessoas pobres que comprovassem residecircncia haacute pelo menos

trecircs anos e se comprometessem a ldquofundar moradiardquo em um prazo de um ano sendo

assim passados trecircs anos seriam donos definitivos destes lotes dando o iniacutecio ao

povoamento da vila No mesmo periacuteodo acontece a criaccedilatildeo do cemiteacuterio municipal

7 Disponiacutevel em ltwwwatlassocioeconomicorsgovbrevolucao-administrativa-1809-a-2013gt Acesso

em 18 mar 2017 8 O diaacutelogo com memorialista se amplia a partir de agora com contribuiccedilotildees de documentos

pesquisados que corroboram para a compreensatildeo do tema 9 BARBOSA Eni GONCcedilALVES Jorge Joseacute Xavier (Orgs) Documentos histoacutericos da Assembleia

Legislativa do Rio Grande do Sul Arquivo Histoacuterico de Satildeo Francisco de Paula 1992

29

que ocorre em 1891 segundo documentos da Assembleia Legislativa disponiacuteveis

no Arquivo Histoacuterico de Satildeo Francisco de Paula Estes documentos informam que

primeiramente somente moradores que comprovassem residecircncia haacute mais de trecircs

anos e pudessem manter os jazigos de seus entes poderiam fazer uso deste

espaccedilo Atraveacutes desta documentaccedilatildeo se percebe que havia toda uma organizaccedilatildeo

para que ldquoestrangeirosrdquo natildeo se estabelecessem em Satildeo Francisco de Paula de Cima

da Serra

Em 1889 Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra passa a categoria de vila

e deixa de pertencer a Santo Antocircnio da Patrulha passando a ser distrito do

municiacutepio de Taquara do Mundo Novo (hoje Taquara) o que traz mudanccedilas

significativas para a vila

Mesmo havendo distribuiccedilatildeo de lotes apoacutes quinze anos percebe-se na

Figura 3 que o povoado ainda era pequeno cercado de campos que constituiacuteam

fazendas com criaccedilatildeo de gado vacum tendo como principal economia a pecuaacuteria

extensiva Ao alto pode-se visualizar a Igreja Matriz construiacuteda pelo capitatildeo Pedro

da Silva Chaves

Figura 3 ndash Vista da vila de Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra (1901)

Fonte Portal Satildeo Chico (2018)10

10 PORTAL SAtildeO CHICO Fotos antigas de Satildeo Francisco de Paula 2018 Disponiacutevel em

ltwwwsaochicocombrantigasgt Acesso em 12 abr 2019

30

Ainda eacute possiacutevel observar atraveacutes da Figura 3 que neste periacuteodo natildeo havia

nenhuma preocupaccedilatildeo com a organizaccedilatildeo urbana ou seja ruas quadras as

construccedilotildees se apresentam de maneira desordenada Poreacutem passados vinte e dois

anos na Figura 4 jaacute eacute possiacutevel visualizar uma estrutura urbanizada com possiacutevel

organizaccedilatildeo de ruas e quadras mas a vila ainda eacute rodeada de campos

Figura 4 ndash Vista Avenida Juacutelio de Castilhos (1923)

Fonte Lucena (1971 p 67)

O desenvolvimento da Sede de Satildeo Francisco de Paula acontece segundo

Lucena (1971 p 27) ldquonos primeiros anos de vida isto eacute de 1910 a 1924 mais ou

menos devido agrave extraccedilatildeo da erva-mate que era abundante em nossos matos nas

zonas da serrardquo O autor ainda acrescenta

O pioneiro na extraccedilatildeo da erva-mate em nossa Comuna foi o proprietaacuterio Carlos Miguel Kroeff dono da fazenda Potreirinho praticamente arrabalde de nossa cidade No barba-quaacute11 se iniciava todo processo de industrializaccedilatildeo da erva-mate sendo que Satildeo Francisco de Paula chegou a ter quinhentos barbaacute-quas (LUCENA 1971 p 28)

11 Barba-quaacute um valo de cerca de oito metros de comprimento amis ou menos por um metro de

profundidade e oitenta centiacutemetros de largura coberto de xaxim e terra em uma das extremidades colocava-se um gradeado e acima deste em uma parte tambeacutem coberta e mais alta tinha apenas uma saiacuteda sob o gradeado colocava-se as folhas de erva extraiacuteda da aacutervore no iniacutecio do valo fazia-se um fogo e a fumaccedila que pela pouca ventilaccedilatildeo existente formava bastante fumaccedila e esta atingia as folhas secando-as (LUCENA 1971 p 28)

31

A produccedilatildeo de erva-mate contribuiu para o povoamento da vila visto que

muitas pessoas vieram trabalhar e acabaram se instalando no municiacutepio Apoacutes a

extraccedilatildeo da erva-mate surge a extraccedilatildeo de madeira que tambeacutem contribui para o

desenvolvimento

Nesta documentaccedilatildeo ainda se encontra no artigo nordm 251 de 08 de abril de

1891 a liberaccedilatildeo da verba para abrir a estrada de rodagem que liga as vilas de

Taquara do Mundo Novo e Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra em 1889

Atraveacutes da Figura 5 pode-se perceber o quatildeo difiacutecil era abrir uma nova estrada de

rodagem Tudo era manual com o uso de animais e muares para transportar pedras

e terras poreacutem a abertura desta estrada traz mudanccedilas significativas para a

populaccedilatildeo de Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra

Figura 5 ndash Abertura da estrada ERS-020 Taquara ndash Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra

Fonte Jornal Folha da Serra (1968 n 89 p 8)12

12 Folha da Serra jornal criado em 1932 pelo Dr Siacutelvio Rabelo sendo o uacutenico jornal que existia na

regiatildeo serrana Este trazia notiacutecias sociais poliacuteticas etc com uma tiragem em torno de 500 exemplares por semana Encontram-se no Arquivo Histoacuterico de Satildeo Francisco de Paula alguns exemplares ateacute a deacutecada de 70 seacuteculo XX

32

A estrada visava facilitar o acesso da populaccedilatildeo de Satildeo Francisco de Paula

de Cima da Serra que ia ateacute Taquara para buscar gecircneros de primeira necessidade

Em tempos idos os serranos se abasteciam de gecircneros de primeira necessidade quase que totalmente em Taquara e o transporte era feito em cargueiros que compunham uma tropa com cerca de quinze a vinte cargueiros Os animais usados para esse transporte eram geralmente muares mais resistentes para o transporte de carga Os serranos levavam daqui queijo (o queijo ateacute hoje chamado queijo serrano) charque couros e alguns levavam maccedilatilde ou pinhatildeo em suas eacutepocas de colheita trocados por mantimentos de que necessitavam Natildeo existiam ainda estradas e o trajeto era feito por picadas existentes (LUCENA 1971 p 23)

O mesmo autor ainda acrescenta

Para atingir a capital do Estado a viagem era cheia de peripeacutecias O transporte era feito a cavalo ou em diligecircncias ateacute Taquara As diligecircncias carros de quatro de rodas puxados por quatro animais ndash cavalos ndash eram de propriedade de Bertolo Casara mais conhecido por lsquoJoatildeo Gringorsquo Essa viagem se fazia normalmente em um dia e agraves vezes em dia e meio O ponto de parada era ali no Rodeio Bonito onde existia uma casa agrave esquerda bem defronte a estrada que desce para Trecircs Coroas [] De Taquara a Porto Alegre por via ferroviaacuteria ndash de trem (LUCENA 1971 p 16)

A construccedilatildeo desta estrada traz um novo desenvolvimento para a entatildeo vila

de Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra pois apoacutes a abertura da estrada de

rodagem Taquara ndash Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra modifica o transporte

de mercadorias entre as localidades

O transporte de mercadorias era feito em carretotildees de quatro rodas puxados uns por cinco animais outros por sete as maiores que geralmente eram muares Eram atrelados em duas fileiras Na fileira junto agrave carreta que era de duas ou trecircs mulas na da esquerda montava o carreteiro Este toda vez que se verificava um declive na estrada apeava de sua montaria a fim de brecar a carreta sem que esta entretanto parasse (LUCENA 1971 p 24)

Este modelo de comeacutercio vai desaparecer com o surgimento das primeiras

casas de comeacutercios na vila de Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra De acordo

com Lucena (1971 p 38) ldquoos primeiros comerciantes foram Manoel Vicente

Ferreira Abel Pacheco Luis Carlos de Andrade e Jacob Bossle Sobrinhordquo Na

imagem da Figura 6 temos o Accedilougue Central onde nota-se que os animais

convivem soltos na rua juntamente com as pessoas mesmo se tratando de local

urbano

33

Figura 6 ndash Accedilougue Central

Fonte Portal Satildeo Chico (2018)13

Nesta mesma documentaccedilatildeo haacute decretos que definem a construccedilatildeo de uma

nova Igreja Matriz isto eacute uma Igreja de Pedra substituindo a antiga que era de

madeira ainda construiacuteda pelo capitatildeo Pedro da Silva Chaves esta construccedilatildeo data

do ano de 1922 Segundo Teixeira (2002 p 30) a Igreja de Pedra permanece ateacute

1960 quando daacute lugar ao atual preacutedio da Igreja Matriz que foi inaugurada em 14 de

junho de 1964 Na sequecircncia teremos duas imagens demonstrando a Igreja de

Pedra e a atual edificaccedilatildeo da Igreja Matriz Natildeo foi encontrada nenhuma foto da

Igreja de Madeira nos arquivos do Arquivo Histoacuterico do Municiacutepio somente em um

site de fotos antigas onde encontra-se registro apresentado na Figura 7

13 PORTAL SAtildeO CHICO Fotos antigas de Satildeo Francisco de Paula 2018 Disponiacutevel em

ltwwwsaochicocombrantigasgt Acesso em 12 abr 2019

34

Figura 7 ndash Igreja Matriz em 1931

Fonte Portal Satildeo Chico (2018)14

Figura 8 ndash Igreja Matriz

Fonte acervo da autora (2015)

14 PORTAL SAtildeO CHICO Fotos antigas de Satildeo Francisco de Paula 2018 Disponiacutevel em

ltwwwsaochicocombrantigasgt Acesso em 12 abr 2019

35

Entre os anos de 1892 a 1902 por duas vezes Satildeo Francisco de Paula de

Cima da Serra eacute desanexado e reanexado ao entatildeo municiacutepio de Taquara do Mundo

Novo Somente em 23 de dezembro de 1902 foi reestabelecido definitivamente o

municiacutepio de Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra cuja instalaccedilatildeo se verificou

em 07 de janeiro de 1903 A partir de 01 de janeiro de 1938 perde ldquoCima da Serrardquo

de sua nomenclatura permanecendo somente Satildeo Francisco de Paula Apesar

disso se manteacutem o gentiliacutecio ldquoSerranordquo de acordo com Silva (2000 p 23) e dados

do Arquivo Histoacuterico de Satildeo Francisco de Paula sendo que este gentiliacutecio eacute usado

ateacute os dias de hoje

No iniacutecio o municiacutepio de Satildeo Francisco de Paula foi um dos maiores do Rio

Grande do Sul em territoacuterio mas ao longo do tempo foi diminuindo seu territoacuterio

com a anexaccedilatildeo de parte dele ao entatildeo municiacutepio de Caxias do Sul e de Torres e a

criaccedilatildeo dos municiacutepios de Cambaraacute do Sul em 1963 e Jaquirana em 1988

Foi uma das maiores Comunas do Estado pois de seu territoacuterio faziam parte os atuais municiacutepios de Satildeo Marcos Cambaraacute do Sul e Jaquirana e os distritos de Vila Oliva Criuacuteva Fazenda Souza e Vila Seca hoje integrantes de Caxias do Sul De nosso territoacuterio foi tambeacutem desanexada uma gleba de terra ndash Josafaacute ndash e anexada ao municiacutepio de Torres (LUCENA 1971 p 10)

Mesmo perdendo parte de seu territoacuterio ao longo dos anos atualmente

segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (2016) ldquoSatildeo Chicordquo como

costumeiramente eacute chamado pelo seu povo estaacute situado na Encosta Inferior do

Nordeste do Estado do Rio Grande do Sul na zona denominada de Campos de

Cima da Serra Fica distante 112 quilocircmetros da capital do Estado Porto Alegre Os

municiacutepios limiacutetrofes satildeo Monte Alegre dos Campos Bom Jesus Jaquirana

Cambaraacute do Sul Praia Grande-SC Trecircs Forquilhas Itati Maquineacute Riozinho

Rolante Taquara Trecircs Coroas Canela e Caxias do Sul Possui uma aacuterea territorial

de 3264490 quilocircmetros quadrados com uma estimativa populacional de 21617

habitantes distribuiacutedos na zona urbana e rural O municiacutepio se divide em sete

distritos Sede Cazuza Ferreira Tainhas Juaacute Eletra e Lajeado Grande Atraveacutes do

conjunto de mapas apresentado na Figura 9 eacute possiacutevel visualizar a localizaccedilatildeo de

Satildeo Francisco de Paula dentro do Rio Grande do Sul e por conseguinte no Brasil

Tambeacutem se verifica a localizaccedilatildeo dos distritos de Satildeo Francisco de Paula

36

Figura 9 ndash Mapa de localizaccedilatildeo de Satildeo Francisco de Paula

Subdivisatildeo de Satildeo Francisco de Paula em distritos

Fonte montagem da autora (2019)

Desta forma se constitui o espaccedilo fiacutesico do municiacutepio de Satildeo Francisco de

Paula cuja populaccedilatildeo natildeo forma uma colocircnia pois seu povo adveacutem de diferentes

lugares a grande maioria com descendecircncia lusa sendo que os primeiros

colonizadores foram bandeirantes paulistas

A populaccedilatildeo de Satildeo Francisco de Paula eacute composta de brancos africanos e indiacutegenas Os brancos compreendendo portugueses (principalmente

37

accedilorianos) alematildees e italianos os africanos pertenciam ao grupo dos bantos e foram trazidos pelos portugueses (TEIXEIRA 2002 p 147)

A diversidade de pessoas que se estabeleceram em Satildeo Francisco de Paula

pode ser percebida pelos sobrenomes das famiacutelias precursoras do municiacutepio

Para Satildeo Francisco de Paula afluiacuteram famiacutelias de diversas nacionalidades que atraveacutes de seus descendentes ainda hoje aqui satildeo representadas como Famiacutelias Ferreira Soares Pinto Castilhos Asmuz Santos Martins Lopes Comin Feijoacute Silva Canani Peixoto Andrade Teixeira Valin Lucena Alves Cardoso Gomes Borges Marques Tedesco Medeiros Paglioacuteli Costa Fogaccedila Casara em outras (LUCENA 1971 p 11-12)

Os moradores deste municiacutepio introduziram um jeito singular de viver tendo

em seu cotidiano as tradiccedilotildees gauacutechas15 muito presentes Teixeira (2002 p 83)

assim descreve que ldquoas raiacutezes gauacutechas estatildeo fortemente marcadas na comunidade

seja pelo modo de vestir bombacha botas cinturotildees chapeacuteus e no inverno com o

pala ou pela preferecircncia por comidas campeiras churrasco carreteiro feijatildeo

mexidordquo A autora acrescenta que ldquoas casas com lareira e o tradicional fogatildeo agrave

lenha para aquececirc-las durante o inverno rigoroso satildeo um convite para uma

conversa ao peacute do fogo e o saboreio de um gostoso chimarratildeordquo (TEIXEIRA 2002 p

83)

O enraizamento deste modo de vida adveacutem do homem do campo o

pecuarista que no passado necessitava enviar seus filhos a cidade para estudar

contribuindo para este modelo de vida

Antigamente a pecuaacuteria era a atividade econocircmica muito forte em nosso municiacutepio Assim sendo havia muitos fazendeiros E como as fazendas ficavam muito longe da Sede do municiacutepio as senhoras tinham seus filhos em casa com parteiras Tambeacutem os estudos iniciavam nas fazendas porque as escolas ficavam longe Assim muitas vezes os fazendeiros contratavam professoras para se hospedarem nas suas casas e darem aulas aos seus filhos Em muitos casos ateacute mesmo os proacuteprios pais e avoacutes ensinavam alguma coisa Alguns fazendeiros quando seus filhos ficavam maiores os mandavam continuarem seus estudos na vila (assim lsquoSatildeo Chicorsquo era chamada) (TEIXEIRA 2002 p 77)

Com a vinda dos filhos para a vila trouxeram consigo o jeito do homem do

campo sendo que um dos maiores clubes em funcionamento de Satildeo Francisco de

Paula eacute o atual Centro de Tradiccedilotildees Gauacutechas Rodeio Serrano fundado em maio de

15 Tradiccedilotildees gauacutechas segundo Fagundes (1997 p 38) eacute um movimento ciacutevico-cultural [] eacute a

tradiccedilatildeo em marcha resgatando valores que satildeo vaacutelidos natildeo por serem antigos mas por serem eternos exatamente os valores que trouxeram o Rio Grande e o gauacutecho do passado para o presente projetando-se para o futuro

38

1955 Segundo o Jornal Folha da Serra (1968 n 11 p 12) a entidade

tradicionalista receacutem-formada recebe o nome de CTG Coronel Alziro Torres Filho

Fonseca (2012 p 223) menciona que a iniciativa partiu de ldquoDavenir Peixoto Gomes

um homem ruralista e serranordquo Esta entidade tradicionalista teve como primeiro

Patratildeo Oscar Teixeira O CTG Alziro Torres Filho segundo o jornal Folha da Serra

(1957) muda sua nomenclatura em uma reuniatildeo onde o posteiro da invernada

artiacutestica Alaor Valim propotildee a troca do nome para Rodeio Serrano nome que

permanece ateacute a atualidade

A entidade tradicionalista traz como lema ldquoRepontando a Tradiccedilatildeo com o Rio

Grande na Garupardquo Fonseca (2012 p 224) relata que o lema foi ldquocriado pelo

primeiro instrutor de danccedilas Dr Alaor de Almeida Valimrdquo O mesmo autor acrescenta

que ldquoa primeira prenda foi a professora Maria Asmuz Valimrdquo Poreacutem sua sede

somente foi construiacuteda em 1968 sob a patronagem de Dante Santos O Jornal Folha

da Serra (1968 n 11 p 12) indica que ldquoa construccedilatildeo da sede era uma aspiraccedilatildeo de

longos anos que somente agora se concretizardquo Anteriormente ldquoos bailes eram

realizados em sua maioria no Salatildeo Paroquial sendo que alguns foram feitos no

primeiro andar da Associaccedilatildeo Rural e ateacute mesmo na Sociedade Cruzeirordquo

(FONSECA 2012 p 225) Este fato justifica a vontade de Dante Santos de construir

uma sede proacutepria

Apoacutes a construccedilatildeo de sua nova sede o CTG Rodeio Serrano localiza-se na

Rua Benjamim Constant nordm 582 constituindo um espaccedilo importante para a

comunidade de Satildeo Francisco de Paula Dentre as atividades desenvolvidas pelo

CTG estaacute o Rodeio Interestadual que ocorre todos os anos no primeiro final de

semana de dezembro sendo que se encontra na 33ordf ediccedilatildeo A manutenccedilatildeo das

invernadas artiacutesticas em todas as categorias mascote mirim juvenil e adulta A

organizaccedilatildeo da Ronda Crioula na Semana Farroupilha bem como a Cavalgada de

Prendas que ocorre durante a Semana Farroupilha todos os anos Realiza-se o

baile da Prenda Jovem aleacutem de shows e bailes tipicamente gauchescos Aleacutem

disso nos uacuteltimos anos a organizaccedilatildeo do Festival Ronco do Bugio que ocorre em

Satildeo Francisco de Paula ldquofestival este lanccedilado em 16 de abril 1986rdquo segundo o

Jornal Satildeo Chico Tchecirc (1986 n 4 p 5)16

16 Satildeo Chico Tchecirc jornal de circulaccedilatildeo quinzenal fundado em 08 de janeiro de 1986 e que circulou

ateacute 1989 O jornal trazia informaccedilotildees culturais sociais econocircmicas e poliacuteticas da Sede e do

39

Durante os seus sessenta e dois anos de existecircncia muitos patrotildees

passaram por esta entidade tradicionalista mas em 2017 pela primeira vez na

histoacuteria o CTG Rodeio Serrano teve uma patronagem feminina Aleacutem da Patroa

Neuza Reis foram empossadas a Capataz Elenita Amaral a Sota-capataz Fernanda

Kirsch Damasceno o Agregado das Pilchas Antocircnio Garcia de Souza e no

Conselho de Vaqueanos Neiva Santos Valim

Figura 10 ndash Patroa Neuza Reis e sua Comissatildeo

Fonte Jornal Pioneiro (2017)17

Satildeo Francisco de Paula hoje conta com vinte e oito entidades

tradicionalistas18 espalhadas pelos seus distritos demonstrando que homem do

campo se faz muito presente em todo o municiacutepio sendo assim a cultura

interior Os exemplares encontram-se encadernados no arquivo histoacuterico de Satildeo Francisco de Paula

17 Jornal Pioneiro conhecido como o jornal que estaacute ldquoao teu ladordquo o Pioneiro circula desde 1948 e estaacute presente hoje em 64 municiacutepios da regiatildeo de Caxias do Sul Desde 1993 integra a rede de jornais do Grupo RBS sendo filiado ao Instituto Verificador de Circulaccedilatildeo (IVC) Conta com uma equipe de Redaccedilatildeo com mais de 40 jornalistas aleacutem de colunistas internos e externos Em 2008 o jornal ganhou o site pioneirocom Disponiacutevel em lthttpwwwgruporbscombratuacaopioneirogt acesso em 10 de fevereiro de 2019

18 Informaccedilatildeo cedida pelo Coordenador da 27ordf Regiatildeo Tradicionalista Gauacutecha

40

tradicionalista se apresenta de maneira forte e consistente segundo vaacuterios

depoimentos de moradores de todos os distritos de Satildeo Francisco de Paula

41

4 SAtildeO FRANCISCO DE PAULA DISTRITOS EM FOCO

Quanto aos distritos de Satildeo Francisco de Paula surgem diversas

inquietaccedilotildees com relaccedilatildeo agrave identidade destes locais pois estes mesmo fazendo

parte de um mesmo municiacutepio apresentam singularidades que derivam de sua

colonizaccedilatildeo basicamente lusa portuguesa e da recepccedilatildeo de imigrantes de diversas

etnias como italianos e alematildees ao longo destes cento quinze anos de

emancipaccedilatildeo Percebe-se que alguns distritos manteacutem sua identidade e tradiccedilotildees

resguardadas enquanto em outros jaacute ocorreu agrave miscigenaccedilatildeo de diferentes haacutebitos

e culturas o que dificulta identificar traccedilos que identifiquem estes distritos

Neste capiacutetulo busca-se responder a estas inquietaccedilotildees fazendo uso dos

depoimentos de moradores locais Segundo Delgado (2003 p 21) ldquoessas

narrativas tal qual os lugares da memoacuteria satildeo instrumentos importantes de

preservaccedilatildeo e transmissatildeo das heranccedilas identitaacuterias e das tradiccedilotildeesrdquo Neste sentido

se optou por dois moradores por distrito totalizando treze entrevistados um homem

e uma mulher da terceira idade que sempre morou no distrito o que enriquece os

detalhes repassados pelos entrevistados

Toda entrevista tem por base a memoacuteria individual que se referencia na coletiva profundamente relacionada agraves vivecircncias individuais A utilizaccedilatildeo do depoimento de pessoas idosas como fonte para a histoacuteria oral eacute uma forma de justificar a entrevista como histoacuterica referindo-se ao passado jaacute que aos idosos se pretende atribuir a guarda de memoacuterias do passado pelo proacuteprio tempo de vida do depoente Isto retoma e ajuda a fortalecer a ideia de que a histoacuteria mesmo tratando do tempo presente ainda se reporta a um periacuteodo anterior ao da vida do pesquisador (ALMEIDA 2012 p 10)

A entrevista somente ocorreu quando o entrevistado concordou em assinar o

termo de consentimento As entrevistas ocorreram nas residecircncias dos

entrevistados foram preacute-agendadas sendo que o meacutetodo utilizado foi entrevista

guiada atraveacutes de questionaacuterio previamente organizado pela autora as entrevistas

foram filmadas e gravadas onde somente uma entrevistada natildeo autorizou a

filmagem de seus relatos justificando a idade avanccedilada e por morar sozinha

A escolha pela histoacuteria oral hibrida ocorreu no sentido de que a fonte oral eacute o

principal recurso utilizado para colher informaccedilotildees sobre os distritos visto que em

sua grande maioria natildeo haacute publicaccedilotildees Poreacutem em determinados momentos se

utilizam fontes documentais como complemento do que vem sendo apresentado

Com relaccedilatildeo agrave abordagem adotada nas entrevistas se optou pela temaacutetica visto

42

que se leva um roteiro preacute-organizado com temas que deveratildeo ser explorados

durante as entrevistas o que proporciona uma riqueza de informaccedilotildees para a

autora

41 DISTRITO SEDE

O distrito Sede se constitui no local onde se inicia o povoado do municiacutepio na

antiga Fazenda da Cria terras doadas pelo capitatildeo Pedro da Silva Chaves Neste

distrito concentram-se os serviccedilos puacuteblicos e privados que os moradores

necessitam em seu dia-a-dia visto que ali existem bancos casas loteacutericas

farmaacutecias hospital supermercados lojas papelarias livraria inspetoria veterinaacuteria

secretaacuterias municipais escolas puacuteblicas e privadas creches induacutestrias de madeiras

e calccedilados

Poreacutem o distrito Sede ou cidade de Satildeo Chico como popularmente

conhecida pelo seu povo jaacute foi uma cidade de interior ou seja uma cidade pequena

com moradores que vinham das fazendas em busca de estudo Visto que a

implementaccedilatildeo de uma rede regular de ensino ocorre tardiamente devido agrave

dificuldade de se locomover pelas distantes localidades entatildeo normalmente os

fazendeiros contratavam professores para que seus filhos obtivessem estudo sendo

que estes moravam na proacutepria residecircncia da famiacutelia Em entrevista com essa autora

relata Albuquerque19 que ldquopara aprimorar os estudos aqueles que tinham mais

condiccedilotildees iam para Porto Alegre Santa Maria ou Passo Fundo mas para isto

ficavam laacute em internatos e soacute retornavam nas feacuterias devido agrave dificuldade e o custo

da viagemrdquo

Na deacutecada de 40 foi criada a Escola Catoacutelica de Satildeo Francisco de Paula

cujo funcionamento acontece ateacute 1973 quando foram encerradas suas atividades

Esta escola iniciou com o curso primaacuterio e posteriormente instalou o curso ginasial

Normalmente estes moradores permaneciam de segunda-feira a sexta-feira na

cidade e nos finais de semana retornavam para as fazendas como recorda uma

moradora local

Noacutes eacuteramos uma cidade de fazendeiros a gente tinha uma casa no campo e uma na cidade a gente vivia de laacute pra caacute de caacute pra laacute fim de semana ia

19 ALBUQUERQUE Moacir Castello Branco de Entrevista concedida agrave autora no dia 06 de abril de

2018

43

pra fora20 dia de semana vinha pra caacute normalmente uma irmatilde mais velha voacute ficava com a gente aqui na cidade e a famiacutelia mesmo ficava no campo21

Percebe-se que hoje ainda existem na Sede moradores que manteacutem suas

casas na cidade e durante o dia ou nos finais de semana vatildeo ateacute suas fazendas

para fazer as lides com o gado o que caracteriza uma pequena parte da populaccedilatildeo

que foram os filhos dos antigos fazendeiros que mais tarde acabam se instalando

definitivamente na cidade trazendo com sigo a essecircncia do homem do campo e

afirmando uma identidade genuinamente gauacutecha definiccedilatildeo esta concedida por uma

moradora local

Gauacutecho natildeo eacute o morador do Rio Grande do Sul o morador do Rio Grande do Sul eacute o sul-rio-grandense ou rio-grandense do sul o gauacutecho eacute apenas o homem que vem da pecuaacuteria extensiva essa que existe laacute no pampa e aqui nos campos de cima da serra o gauacutecho serrano com caracteriacutesticas muito proacuteprias grandes gaiteiros poetas aliaacutes o maior gaiteiro do mundo eacute daqui natildeo abro matildeo de dizer isto soacute que todos noacutes viacutenhamos da lida do campo em decorrecircncia disso eacuteramos gauacutechos de verdade22

Em sua fala apresenta o gauacutecho serrano como um tipo singular que ama a

pilcha gauacutecha o seu pingo e suas criaccedilotildees bem como reafirma a importacircncia dos

Irmatildeos Bertussi Honeide e Adelar sendo Adelar Bertussi um dos maiores gaiteiros

deste municiacutepio Exaltam-se tambeacutem os poetas que com suas poesias e letras de

muacutesicas escrevem o jeito do seu povo viver

Mesmo a cidade sendo ldquolocal de paradardquo durante a semana para a maioria

de seus habitantes no passado era cheia de atrativos que o campo natildeo possuiacutea

como o cinema cuja instalaccedilatildeo natildeo se encontra documentada mas sabe-se que

iniciou onde hoje eacute o preacutedio da Prefeitura Municipal sendo proprietaacuterio Francisco

Ferraz (Chico Ferraz como era conhecido) Observa-se em alguns exemplares do

Jornal Folha da Serra23 os filmes e os horaacuterios do funcionamento do cinema

Entende-se que o jornal era uma maneira de divulgar os filmes por ser o uacutenico meio

de comunicaccedilatildeo da eacutepoca Pelos folhetins se percebe que as sessotildees

apresentavam diversos gecircneros natildeo se sabe quando o cinema finalmente fechou

20 Fora refere-se ir para a fazenda 21 SOARES Luciana Olga Entrevista concedida agrave autora no dia 01 de marccedilo de 2018 22 SOARES Luciana Olga Entrevista concedida agrave autora no dia 01 de marccedilo de 2018 23 Folha da Serra jornal local criado em 1932 pelo Dr Siacutelvio Rabelo passando posteriormente a

propriedade da Prefeitura Municipal Sua impressatildeo era na ordem de 500 exemplares natildeo se tem a informaccedilatildeo do periacuteodo que parou de circular mas pelos exemplares encontrados no Arquivo Histoacuterico de Satildeo Francisco de Paula os uacuteltimos datam de 1978 O Arquivo Histoacuterico de Satildeo Francisco de Paula fica em um preacutedio anexo agrave Biblioteca Puacuteblica do municiacutepio

44

poreacutem o jornal Folha da Serra traz uma reportagem que retrata como estava difiacutecil

manter o cinema em funcionamento em meados de 1968 ldquoo nosso cinema na

maneira que vai indo natildeo tem mais condiccedilotildees de funcionar natildeo temos apoio da

populaccedilatildeo com uma frequecircncia de mais ou menos 150 pessoas por final de

semanardquo O jornal acrescenta ldquosalienta-se que mais ou menos de 3 de nossa

CULTA populaccedilatildeo natildeo frequenta o cinemardquo Pode-se associar o fechamento do

cinema a dois fatores a natildeo cultura de assistir filmes e pelas sessotildees ocorrerem nos

finais de semana onde boa parte da populaccedilatildeo da cidade se deslocava para as

fazendas ou pela crise que os cinemas passaram na deacutecada de 80 quando em

muitas cidades foram fechados

A vida da populaccedilatildeo local vai se modificando cada vez mais as pessoas vatildeo

se instalando definitivamente na Sede onde se perde o viacutenculo com o campo

Devido agrave venda ou arrendamento das fazendas24 que por render pouco a pecuaacuteria

extensiva e com a criaccedilatildeo de novas legislaccedilotildees que proiacutebem praacuteticas centenaacuterias

seus proprietaacuterios buscaram novas possibilidades econocircmicas que modificaram a

Sede e tambeacutem boa parte do interior Em entrevista a moradora Soares relata

Exatamente porque a produccedilatildeo era pequena isso natildeo serve para o mundo de hoje a uns quarenta anos chega em nossos campos as primeiras plantaccedilotildees de pinus interessante que ningueacutem reclamou da destruiccedilatildeo desse campo de milhotildees de anos e de todo o ecossistema mas mesmo com essa nova cultura continuamos realizando a sapeca do campo no mecircs de agosto mas de repente chega a notiacutecia que estaacute proibida a queima do campo dizendo que noacutes estragaacutevamos a terra poluiacuteamos o ar que mataacutevamos animais e tudo aquilo natildeo era verdade Na verdade alguns anos depois da lei proibindo a queima do campo chegam as multas gigantescas agraves vezes maior que o valor da terra e aiacute inviabilizou a pecuaacuteria e muitos fazendeiros venderam suas terras e foram embora Quem ficou no campo na busca por renda a qualquer preccedilo arrenda seus campos para os batateiros que vieram acredito que a grande maioria de Santa Catarina e do Paranaacute estes lavram o campo nunca mais o campo nem com reza braba taacute tudo perdido para sempre e isso reflete na nossa cidade25

Essas mudanccedilas no campo refletem na Sede onde o homem serrano convive

passivamente com novas identidades que embora sejam presentes eacute minoria pois

esta parcela de novos moradores traz consigo um novo jeito de viver que ainda natildeo

se percebe influenciar na identidade cultural da Sede

24 Propriedades rurais cuja atividade principal eacute a praacutetica da pecuaacuteria extensiva e a produccedilatildeo do

queijo artesanal serrano 25 SOARES Luciana Olga Entrevista concedida agrave autora no dia 01 de marccedilo de 2018

45

Na Sede desde o iniacutecio se observam quatro clubes sociais a Sociedade

Cruzeiro a Sociedade 9 de Julho a Sociedade Esperanccedila e o Centro de Tradiccedilotildees

Gauacutechas Cada clube social tem sua importacircncia histoacuterica poreacutem alguns natildeo se

manteacutem ativos

A Sociedade 9 de Julho foi fundada em 27 de setembro de 1961 estando

localizada no bairro Rincatildeo Segundo o jornal Folha da Serra (1968 n 96 p 5)

apoacutes sete anos de sua fundaccedilatildeo ldquoseu presidente Galego promete uma nova e

confortaacutevel sede para a sociedaderdquo Sociedade que se apresenta por sua

versatilidade nos eventos ateacute os dias atuais

O jornal Folha da Serra (1968 n 96 p 5) traz a seguinte mateacuteria ldquoas quatro

noites foram repletas de alegria naquela sociedade onde os foliotildees divertiram-se e

quando se anunciou o final da quarta noite houve quem lamentasse o final da festa

do Momordquo A reportagem refere-se ao carnaval que se desenvolve de forma

popular nesta sociedade Neste espaccedilo na deacutecada de 1990 ocorria um baile na

sexta-feira que antecedia ao Festival do Ronco do Bugio um espaccedilo onde jovens se

encontravam para iniciar as festividades do grande festival da cidade poreacutem na

atualidade este evento natildeo ocorre mais Pelos cartazes de divulgaccedilatildeo de eventos

atuais a Sociedade 9 de Julho se torna um espaccedilo bastante versaacutetil e segundo

dados obtidos no site da proacutepria sociedade o local apresenta shows bailes

tradicionalistas domingueiras e festas temaacuteticas

Sabe-se da existecircncia da Sociedade Esperanccedila devido a uma reportagem a

respeito do carnaval escrita no jornal Folha da Serra (1968 n 11 p 25) ldquoos

escurinhos tambeacutem natildeo ficaram para traacutes e demonstraram que satildeo bons no samba

porque soacute quem assistiu pode ver como brincaram e que maravilha de ritmo

marcaram durante as quatro noitesrdquo A reportagem daacute a entender de se tratar de

uma sociedade frequentada por negros e pode-se entender que ao usar o termo

escurinho na reportagem haacute preconceito racial perpassando a ideia de que por

serem negros natildeo poderiam se divertir da mesma maneira que os brancos

Atualmente se encontra no local um espaccedilo residencial e comercial

A Sociedade Cruzeiro foi fundada em 9 de maio de 1925 pela elite da

sociedade serrana Segundo Teixeira (2002) e Fonseca (2012) sua sede social era

na Avenida Juacutelio de Castilhos onde hoje se situa a agecircncia do Banrisul e teve como

primeiro presidente o Sr Antocircnio Mario Kroeff e o secretaacuterio Sr Joatildeo Parobeacute de

Lucena Sua nova sede foi inaugurada de acordo com Fonseca (2012 p 236) ldquono

46

dia 11 de dezembro de 1965 e esta permanece no mesmo endereccedilo ateacute a

atualidade Situa-se na Rua Dr Frederico Tedesco nordm 1261rdquo

Atualmente este espaccedilo eacute usado para convenccedilotildees ou festas particulares

onde as pessoas locam o espaccedilo para realizarem seu evento Neste espaccedilo natildeo

mais ocorrem grandes eventos sociais como Fonseca (2012 p 232) descreve ldquoos

bailes mais elegantes e vistosos desta sociedade ocorrem aquirdquo Fonseca (2012 p

233) ainda complementa que ldquoa primeira Miss Sociedade Cruzeiro foi eleita em 1937

e a vencedora foi a jovem Zilah Teixeirardquo

A Sociedade Cruzeiro tambeacutem foi palco de bailes de carnaval O Jornal Folha

da Serra (1968 n 11 p 25) descreve ldquocomo sempre a Sociedade Cruzeiro ponteou

o nosso carnaval com blocos fantasiados magnificamente fazendo acrobacias ao

som de excelente muacutesica local onde os turistas afluiacuteramrdquo Contrapondo a este

tempo a moradora local Soares26 discorre de maneira saudosa ldquoque saudades do

carnaval hoje eacute bebedeira perdeu o encanto perdeu tudo Na rua o pessoal

gritando sem nenhuma infraestrutura nem os bailes na sociedade natildeo ocorrem

maisrdquo

O distrito Sede jaacute foi palco de inuacutemeros clubes sociais que ao longo do tempo

foram perdendo seu encanto e ateacute mesmo fechando-se para atividades sociais O

que permanece em pleno funcionamento eacute o Centro de Tradiccedilotildees Gauacutechas Rodeio

Serrano o que justifica uma cultura tradicionalista presente neste distrito Dentre as

atividades desenvolvidas por esta entidade estatildeo o Rodeio Interestadual com

atividades campeiras e artiacutesticas que ocorrem todos os anos no primeiro final de

semana de dezembro a manutenccedilatildeo das invernadas artiacutesticas em todas as

categorias mascote mirim juvenil e adulta

A organizaccedilatildeo da Ronda Crioula na Semana Farroupilha com a participaccedilatildeo

das escolas da Sede e do interior que trazem seus grupos de danccedilas bem como

organizam gincanas Outra atividade tambeacutem desenvolvida por esta entidade eacute a

Cavalgada de Prendas que ocorre durante a Semana Farroupilha desde 1992

sendo Satildeo Francisco de Paula pioneira nesta ideia onde somente mulheres

participam da cavalgada que culmina com o desfile na Avenida Juacutelio de Castilhos

Realiza-se tambeacutem o Baile da Prenda Jovem que eacute o baile de debutante gauacutecho

onde as prendas entre 13 e 15 anos satildeo apresentadas agrave sociedade Aleacutem disso nos

26 SOARES Luciana Olga Entrevista concedida agrave autora no dia 01 de marccedilo de 2018

47

uacuteltimos anos a organizaccedilatildeo e apresentaccedilatildeo do Festival Ronco do Bugio que ocorre

em Satildeo Francisco de Paula faz parte da programaccedilatildeo desta entidade Este festival

apresenta exclusivamente o gecircnero musical bugio Haacute pelo menos duas hipoacuteteses

sobre a origem deste gecircnero musical

A primeira eacute de berccedilo serrano e teria mais fiel escudeiro o inesqueciacutevel acordeonista de Satildeo Francisco de Paula Honeyde Bertussi Siqueira Segundo ele o ritmo teria sido originaacuterio pelas matildeos do gaiteiro Vergiacutelio Leitatildeo que no jogo-de-foles e nos baixos de sua gaita de botatildeo teria imitado o ronco do bicho nos caponetes de cima da serra [] teria difundido pelas bodegas do Juaacute interior de Satildeo Chico (SOUZA 2003 p 15)

A segunda hipoacutetese eacute apresentada por Souza (2003 p 15) que apresenta a

versatildeo dada pelo povo de Satildeo Francisco de Assis que diz que ldquoa origem do ritmo e

oriunda desta localidade que por sinal realizava um festival nativista chamado

Querecircncia do Bugiordquo

Desconhece-se a verdadeira origem do gecircnero musical bugio mas Souza

(2003 p 23) afirma que ldquoJoatildeo Cincinato Terra muacutesico atuante sentiu a

necessidade de nosso municiacutepio acompanhar o movimento jaacute que neste periacuteodo se

expande por todo o estado do Rio Grande do Sul os festivais nativistasrdquo O

lanccedilamento do primeiro festival do Ronco do Bugio acontece em 1986 no CTG

Rodeio Serrano com a participaccedilatildeo de vaacuterios representantes da muacutesica nativista e

da comunidade serrana Seu lanccedilamento oficial ocorre em 16 de abril de 1986

O jornal Satildeo Chico Tchecirc (1986 n 11 p 6) noticiou que o primeiro Festival do

Ronco do Bugio contou com 98 muacutesicas escritas sendo 24 as selecionadas O

festival ocorreu entre os dias 13 e 15 de maio e Souza (2003 p 42) descreve que foi

apresentado ldquosob uma lona de circo estaqueada num gramado amador mas de

tantas gloacuterias futeboliacutesticas o campo do Clube Atleacutetico Serranordquo

A muacutesica vencedora do primeiro Ronco do Bugio foi ldquoLevanta Bugiordquo

defendida pelo cantor e compositor gauacutecho Leonardo Observando fotos percebe-se

que o Ronco do Bugio se deu em uma noite fria de inverno

O Festival Ronco do Bugio desde o seu iniacutecio premia melhor arranjo

conjunto instrumental instrumentista inteacuterprete e a muacutesica mais popular Fatima

Gimenez foi a melhor inteacuterprete do primeiro festival defendendo a muacutesica ldquoPinheiro

Gringordquo composiccedilatildeo de Erian Fogaccedila e Laerte Fortes Novamente a roupa dos

48

muacutesicos reforccedila que na noite da entrega da premiaccedilatildeo fazia muito frio A cantora

tambeacutem se apresenta vestindo um chiripa coberto por um pala27

Na Figura 11 observamos a fotografia de Gonzaga dos Reis muacutesico local

sentado com sua gaita instrumento que lhe deu o precircmio de melhor instrumentista

do primeiro Ronco do Bugio Nesta oportunidade o cantor instrumentista e

compositor defendeu a muacutesica ldquoBugio da Minha Terrardquo

Figura 11 ndash Gonzaga dos Reis

Fonte Jornal Satildeo Chico Tchecirc n 4 p 8 (1986)

A composiccedilatildeo ldquoBugio Tiranordquo que foi defendida pelo conjunto Os Tiranos de

Satildeo Francisco de Paula ganhou o precircmio mais popular

Para o Jornal Satildeo Chico Tchecirc (1986 n 11 p 7) o Festival Ronco do Bugio eacute

ldquoum festival autecircntico e original que aconteceu com grande sucesso em Satildeo

Francisco de Paulardquo No encerramento deste grande evento Joatildeo Chagas Leite se

27 Chiripa e pala satildeo trajes tipicamente gauacutechos Sendo que o chiripa atualmente eacute uma veste de

preferecircncia feminina este fica enrolado na cintura e vai ateacute os joelhos ldquoEacute um pano inteiro passado entre as pernas primeiro de traacutes para frente e depois de frente para traacutes pode ser de latilde ou lisordquo (ABREU 2003 p 67) O pala eacute uma peccedila retangular com franjas nos quatro lados e listras no sentido do comprimento

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apresenta segundo o Jornal Satildeo Chico Tchecirc (1986 n 11 p 8) ldquocom composiccedilotildees

como Corda de Espinho Orelhano Pampa Campo e Querecircncia Coraccedilatildeo de

Estudante e Afiosrdquo

O Festival Ronco do Bugio perpassa o tempo segundo o site da Prefeitura

Municipal

O Festival Ronco do Bugio eacute um evento musical nativista que acontece anualmente na Cidade de Satildeo Francisco de Paula com o intuito de preservar e difundir o uacutenico ritmo originaacuterio do Rio Grande do Sul ou seja o lsquobugiorsquo compasso criado justamente no interior deste municiacutepio Tal criaccedilatildeo se deu a partir da criatividade dos gaiteiros serranos que buscaram imitar com seu instrumento musical o ronco do primata nos matos da serra A festividade agora em sua 26ordf ediccedilatildeo eacute genuiacutena pois eacute o uacutenico da Ameacuterica onde obrigatoriamente os participantes devem utilizar um ritmo somente isto eacute o citado lsquobugiorsquo embora a temaacutetica seja abrangente Por este motivo eacute chamado de lsquoO Festival Mais Autecircntico do Rio Grandersquo Aleacutem do forte enfoque cultural que envolve toda a comunidade musical do Estado o Festival tem seu apelo ecoloacutegico pois chama a atenccedilatildeo para a preservaccedilatildeo da espeacutecie hoje quase em extinccedilatildeo O Ronco do Bugio por sua importacircncia no cenaacuterio cultural rio-grandense criou uma identidade ao povo de Satildeo Francisco de Paula pois junto ao evento estaacute intriacutenseco e vem agrave tona o histoacuterico da criaccedilatildeo do municiacutepio caracterizado pela forte influecircncia dos antigos tropeiros desbravadores e povoadores desta parte do paiacutes (PREFEITURA MUNICIPAL DE SAtildeO FRANCISCO DE PAULA 2017)

No mesmo documento disponibilizado pela Prefeitura Municipal de Satildeo

Francisco de Paula observam-se algumas informaccedilotildees a respeito da realizaccedilatildeo do

festival no ano de 2017

Art 1ordm - O 26ordm Ronco do Bugio realizar-se-aacute no municiacutepio de Satildeo Francisco de Paula nos dias 01 e 02 de setembro de 2017 Art 2ordm - a festividade agora em sua 26ordf ediccedilatildeo eacute genuiacutena pois eacute a uacutenica na Ameacuterica Latina com promoccedilatildeo da Prefeitura Municipal de Satildeo Francisco de Paula e do CTG Rodeio Serrano com apoio de oacutergatildeos puacuteblicos e iniciativa privada Art 3ordm - Satildeo objetivos do 26ordm Ronco do Bugio a) valorizar a tradiccedilatildeo arte cultura e a autecircntica muacutesica regionalista

gauacutecha atraveacutes do seu ritmo mais original b) prestigiar autores compositores inteacuterpretes e conjuntos regionalistas e

incentivar o surgimento de novos valores c) divulgar a muacutesica regional gauacutecha d) valorizar a relevante posiccedilatildeo na formaccedilatildeo de usos e costumes

caracteres e valores espirituais e morais do gauacutecho e) promover e incentivar a cultura gauacutecha projetando Satildeo Francisco de

Paula na maneira mais autecircntica no cenaacuterio do turismo (PREFEITURA MUNICIPAL DE SAtildeO FRANCISCO DE PAULA 2017)

Como eacute possiacutevel observar no artigo 4ordm ldquoA organizaccedilatildeo do 26ordm Ronco do Bugio

ficaraacute a cargo da Comissatildeo Organizadora composta por membros da Prefeitura

Municipal e do CTG Rodeio Serranordquo (PREFEITURA MUNICIPAL DE SAtildeO

50

FRANCISCO DE PAULA 2017) Devido agrave importacircncia identitaacuteria do festival para o

municiacutepio ao se chegar agrave cidade na deacutecada de 90 se encontrava o seguinte

outdoor

Figura 12 ndash Outdoor entrada da cidade na ERS-020

Fonte Souza (2003 p 17)

Assim como o tiacutetulo de ldquoCapital Mundial do Bugiordquo Satildeo Francisco de Paula ldquojaacute

obteve vaacuterios slogans dentre eles o de Satildeo Chico eacute terra boardquo (TEIXEIRA 2002 p

149-150)

Mesmo ocorrendo inferecircncias externas advindas com pessoas que trouxeram

consigo uma identidade diferente Soares28 em entrevista afirma ldquoSatildeo Chico eacute

identificada pela cultura tradicionalista gauacutecha a cuia em frente ao antigo preacutedio da

prefeitura demonstra o siacutembolo da hospitalidade de nosso povordquo A permanecircncia

ativa do CTG Rodeio Serrano na sede eacute outro indicativo forte da presente

identidade ligada as atividades do homem do campo Outro fato observado eacute a

constante praacutetica do laccedilo de vaca parada29 por jovens e crianccedilas nos paacutetios de suas

residecircncias bem como cavalarianos (homens mulheres jovens e crianccedilas) na

28 SOARES Luciana Olga Entrevista concedida agrave autora no dia 01 de marccedilo de 2018 29 Vaca parada uma espeacutecie de cavalete de madeira com aspectos de uma vaca usada por crianccedilas

que estatildeo iniciando neste esporte bem como usado como forma de entretenimento para jovens e adultos

51

avenida principal cavalgando entre os carros Ainda se percebe o respeito entre

motoristas de automotivos bicicletas e os cavalarianos todos ocupando o mesmo

espaccedilo

42 DISTRITO DE CAZUZA FERREIRA

O distrito de Cazuza Ferreira foi criado em 07 de janeiro de 1903 estando

situado a 85 quilocircmetros da Sede Andrade comenta em entrevista30 ldquoateacute acho que

Cazuza se desenvolveu primeiro que Satildeo Chicordquo31 visto que a criaccedilatildeo do distrito

acontece dias depois da emancipaccedilatildeo enquanto a criaccedilatildeo da vila do distrito de

Cazuza Ferreira se desenvolve segundo a entrevistada

A parte da Histoacuteria que eu sei eacute que houve a chegada de um Sr Chico Mestre eacute como eles chamavam Esse Sr veio as casas eram distantes umas das outras e ele comeccedilou a fazer oraccedilatildeo nas casas e reunir as pessoas e fundou o cemiteacuterio Entatildeo o Joseacute Ferreira de Castilhos que era dono daqui naquela eacutepoca um dos moradores que tinha bastante terra doou a terra para fazer a vila aiacute o que aconteceu segundo as histoacuterias era para ser ali onde eacute a cancha de laccedilo hoje do outro lado da estrada soacute que o terreno natildeo era apropriado entatildeo houve uma permuta com o Sr que era dono deste terreno aqui era Bossle aqui era bem mais alto e mais plano Entatildeo se construiu a Igreja e iniciou o povoamento da vila32

A moradora Basso ainda acrescenta que ldquoa vila foi sempre mais ou menos o

que ela eacute hojerdquo Ao observar o local pode-se perceber uma grande praccedila ao centro

rodeada de casas de comeacutercio posto de combustiacutevel posto de sauacutede o hotel a

Igreja Matriz juntamente com o salatildeo paroquial e casas residecircncias cujo aspecto

impressiona por a grande maioria das casas apresentam uma arquitetura que

perpassa o tempo A Figura 13 apresenta uma imagem da praccedila central tirada das

escadarias da Igreja Matriz

30 ANDRADE Nauro Bossle de Entrevista concedida agrave autora no dia 04 de marccedilo de 2018 31 Primeiro que Satildeo Chico eacute um termo comum usado pelos moradores do interior do municiacutepio de

Satildeo Francisco de Paula que ao se referir a Sede do municiacutepio usam o termo Satildeo Chico ou Satildeo Francisco de Paula pois seus moradores natildeo costumam na atualidade dizer lsquovou a Sedersquo e sim lsquovou a Satildeo Chicorsquo como se eles natildeo morassem no municiacutepio

32 BASSO Ceacutelia Pacheco Terres Entrevista concedida agrave autora no dia 04 de agosto de 2018

52

Figura 13 ndash Praccedila Central de Cazuza Ferreira

Fonte acervo pessoal da autora (2018)

Apesar de ter a preservaccedilatildeo arquitetocircnica a moradora Basso declara

O pai contava e outras pessoas contam que teve uma eacutepoca que tinha faacutebrica de tamanca33 jaacute teve faacutebrica de guaranaacute de queijo bastante coisa no sentido de selaria mas tudo foi se extinguindo as pessoas as famiacutelias natildeo deram continuidade e se sumiram natildeo existe mais nada disso mas estas faacutebricas natildeo davam renda ou seja trabalho para pessoas de fora pois elas eram administradas e cuidadas pelas famiacutelias Daiacute houve o periacuteodo das serrarias enquanto pode extrair madeira era o forte a vila movimentada enriqueceram alguns comerciantes locais o momento que extinguiu aquele trabalho eles foram embora e o povo daqui acomodou entatildeo hoje a vila tem bastante pessoas que foram embora trabalhar assim na juventude e hoje aposentados voltaram pois aqui para jovem natildeo tem sobrevivecircncia o uacutenico trabalho eacute na escola tem nove professores e uma funcionaacuteria em alguns funcionaacuterios da prefeitura acho que satildeo seis que cuidam do plantel de maacutequinas a enfermeira e o pessoal que cuida do posto do correio tambeacutem tem a ferraria mas ali eacute soacute os da proacutepria famiacutelia entatildeo o jovem acaba tendo que ir embora34

Os entrevistados Basso e Andrade relatam que apesar das adversidades o

povo de Cazuza Ferreira tem um amor pelas suas tradiccedilotildees mantendo vivos trecircs

aspectos que ambos consideram a marca identitaacuteria de seu povo e afirmam com

33 Tamanca calccedilado comum na regiatildeo solado de madeira com uma proteccedilatildeo sobre as pontas dos

dedos indo ateacute o peito do peacute em couro 34 BASSO Ceacutelia Pacheco Terres Entrevista concedida agrave autora no dia 04 de agosto de 2018

53

convicccedilatildeo ldquofalar de Cazuza eacute cavalhada hotel e rodeiordquo enquanto Basso acrescenta

que ldquoas cavalhadas satildeo heranccedila dos portugueses e estatildeo espalhadiacutessimas ateacute

nacionalmente atraveacutes da miacutedia porque natildeo pesquisei mas ateacute onde sei no Rio

Grande do Sul soacute tem aquirdquo

Na comunidade ainda segundo Basso ldquoa apresentaccedilatildeo das cavalhadas se

iniciou por volta de 1890 e permanece ativa ateacute hoje no passado existiam trecircs

cavalhadas as dos brancos dos amarelos e dos negrosrdquo acrescentando ldquomas hoje

natildeo haacute mas essa diferenciaccedilatildeordquo Em poliacutegrafo organizado por uma moradora local a

mesma explica que a cavalhada ldquoeacute uma luta simulada em que haacute vinte e quatro

participantes sendo doze de cada equiperdquo35 por meio da evoluccedilatildeo equestre e

movimentos de espada lanccedila e garrucha representando a batalha entre mouros e

cristatildeos Segundo esta moradora ldquoa batalha sempre termina sendo vencida pelos

cristatildeos demonstrando a submissatildeo dos mouros e a supremacia da religiatildeo cristatilderdquo

Atualmente o grupo depende da boa vontade de seus participantes conforme

explica

Hoje se tornou caro eacute exame dos cavalos transporte depende do querer das pessoas da boa vontade e tem pessoas engajadas que natildeo largam a famiacutelia do Renau que ele eacute o presidente do grupo ele tem um amor tatildeo grande pelas cavalhadas porque ele jaacute recebeu do pai dele do teu avocirc e do seu Ivo Cardoso e a vida dele agraves vezes me desgosto de alguma coisa pois faccedilo a narrativa do que estaacute sendo apresentado mas daiacute eu penso natildeo posso abandonar (sorri) Eacute uma tradiccedilatildeo que natildeo pode morrer mas os filhos do Renau o Marcos e o Marcelo daratildeo continuidade faz parte da famiacutelia tu sabe eacute da mesma famiacutelia Eacute uma grande tradiccedilatildeo que natildeo pode desaparecer temos que continuar peleando36

As cavalhadas satildeo apresentadas na praccedila central sempre durantes as festas

religiosas que acontecem na comunidade sendo assim organizadas

No primeiro ou segundo final de semana de fevereiro tem a festa da Nossa Senhora do Belo Horizonte que eacute a padroeira daqui Agora devido agrave comissatildeo e o padre um ano tem a festa dos morenos e no outro tem a dos agricultores que eram chamados de amarelos antigamente cuja devoccedilatildeo se daacute agrave Nossa Senhora do Rosaacuterio e Nossa Senhora da Penha Antigamente cada um tinha seu espaccedilo social para realizar a festa atualmente soacute se manteve a tradiccedilatildeo de comemorar os santos este ano eacute festa dos morenos ela seraacute dia 13 e 14 de outubro Todas as festas

35 Sendo que doze cavaleiros que representam os cristatildeos vestem tuacutenicas de veludo azul escuro e

os doze cavaleiros mouros vestem tuacutenicas vermelhas Sobre os ombros da tuacutenica haacute uma capinha esta capinha traz enfeites prateados bordados com lantejoulas e bototildees dourados e franjas de seda branca Todos os participantes usam bombacha branca de brim botas campeiras pretas chapeacuteu de palha de aba larga virada para cima com laccedilo de fita e barbicacho de acordo com a cor da tuacutenica

36 BASSO Ceacutelia Pacheco Terres Entrevista concedida agrave autora no dia 04 de agosto de 2018

54

religiosas ocorrem em dois dias saacutebado apresentaccedilatildeo das cavalhadas novena janta e baile no domingo tem a missa na Igreja Matriz logo apoacutes almoccedilo e reuniatildeo danccedilante Atualmente resgataram em dezembro a festa a Satildeo Cristoacutevatildeo sempre no primeiro final de semana de dezembro eacute uma missa com benccedilatildeo aos carros durante a procissatildeo e um almoccedilo ao meio-dia esta se daacute somente em um dia E tambeacutem temos de dois em dois anos a festa organizada pelo grupo das Cavalhadas esta ocorre em maio daiacute37

Os moradores explicam que a separaccedilatildeo racial desapareceu com o tempo

poreacutem se manteacutem a cultura de festejar todos os santos o que demonstra que o povo

de Cazuza eacute bastante devoto e cristatildeo E acrescenta em tempos idos que durante

as festas religiosas as pessoas se hospedavam no hotel segundo Basso que ldquoele

recebia tinha mercado junto teve ateacute cinema o pessoal gostava da comida da

Dona Vilma que era minha sogrardquo Este hotel eacute outro marco que identifica Cazuza

Ferreira poreacutem os moradores explicam que atualmente o Hotel do Campo manteacutem a

arquitetura mas funciona em uma modalidade diferenciada pois natildeo haacute como

sobreviver Entatildeo ele recebe hospeda sob reserva antecipada poreacutem natildeo serve

almoccedilo e janta as refeiccedilotildees satildeo feitas no Cantinho do Aconchego com quem

manteacutem uma parceria

Figura 14 ndash Hotel do Campo

Fonte acervo pessoal da autora (2018)

37 BASSO Ceacutelia Pacheco Terres Entrevista concedida agrave autora no dia 04 de agosto de 2018

55

Nesta comunidade tambeacutem eacute muito forte segundo os entrevistados38 a

tradiccedilatildeo gauacutecha que adveacutem do homem do campo o amante dos rodeios que nos

finais de semana saem de suas propriedades e se deslocam a outras comunidades

para participar dos eventos campeiros como o tiro de laccedilo Tambeacutem explanam que

existe o CTG Adatildeo Castilhos que estaacute interditado jaacute faz quase seis anos desde

que comeccedilaram a ser exigidos os PPCIs A partir deste momento eles natildeo puderam

mais fazer eventos ali eles realizam os rodeios ou festas campeiras mas laacute dentro

natildeo conseguiram mais fazer nada e taacute difiacutecil vai muito dinheiro para cumprir todas

as exigecircncias Sendo que este espaccedilo na deacutecada de 80 do seacuteculo XX foi palco de

grandes rodeios com apresentaccedilotildees campeiras artiacutesticas e grandes bailes A

moradora explica39 ldquoA Claudiana esposa do Paulo Cesar atual presidente se

inscreveu no projeto Meu Galpatildeo de Cara Nova do Galpatildeo Crioulo da RBS TV

tomara que ela seja classificadardquo Este projeto ajuda na reconstruccedilatildeo dos CTGs pelo

Rio Grande do Sul

Ao pesquisar sobre Cazuza Ferreira percebe-se o quatildeo forte eacute o culto agraves

tradiccedilotildees e o esforccedilo de seus moradores para elas permaneccedilam para futuras

geraccedilotildees visto que o tempo passou e a tradiccedilatildeo local natildeo sofreu alteraccedilotildees

43 DISTRITO DE TAINHAS

O distrito de Tainhas foi criado em 18 de outubro de 1922 estando situado a

33 quilocircmetros da Sede Se desenvolveu no entroncamento de duas rodovias a RS-

020 e a RS-453 cujas rodovias cortavam a vila do distrito Com o advento da

construccedilatildeo da Rota do Sol importante rodovia que hoje que liga Caxias do Sul agraves

praias aleacutem da construccedilatildeo do asfalto da RS-020 que vai a Satildeo Francisco de Paula

tudo mudou O morador Fagundes relata em entrevista40 ldquoaqui era mais habitado

por criadores fazendeiros e agora depois que saiu essa Rota do Sol o movimento

cresceu muito neacute mais por fora da vila entatildeo natildeo trouxe benefiacutecio para noacutesrdquo

Percebe-se que moradores entendem a importacircncia da construccedilatildeo das

rodovias poreacutem as mesmas natildeo trouxeram benefiacutecios econocircmicos para os

moradores locais

38 ANDRADE Nauro Bossle de BASSO Ceacutelia Pacheco Terres Entrevistas concedidas agrave autora no

dia 04 de agosto de 2018 39 BASSO Ceacutelia Pacheco Terres Entrevista concedida agrave autora dia 04 de agosto de 2018 40 FAGUNDES Darci da Silva Entrevista concedida agrave autora no dia 24 de fevereiro de 2018

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Ainda conforme o morador Fagundes41 ldquoo iniacutecio da vila se deu devido agrave

necessidade de parada dos caminhoneiros que transportavam madeira como era

tudo estrada de chatildeo Tainhas ficava em local centralizado se construiu um hotel

que era do seu Pedro Pinhatildeo e da Dona Luisardquo A partir de entatildeo comeccedilou a

construccedilatildeo de casas e se formou a vila onde antes eram terras dos Pinto os

primeiros moradores de Tainhas tanto que o morador ressalta na entrevista42 ldquoo

nome da escola eacute Oliacutempio Soares Pinto que era o proprietaacuterio dessa terra e uma

das professoras mais antigas era Guilherma Pintordquo

Tainhas estaacute rodeada por campos matos de pinnus ilhote e lavouras

atualmente e explica

Hoje aqui eacute pinus e granjeiro plantando batata soja milho e a maioria veio de fora os moradores antigos desapareceram arrendaram ou venderam suas terras para esse pessoal que veio de Ibiraiara e de Maquineacute Itati Trecircs Forquilhas43

Percebe-se que a criaccedilatildeo de gado ou seja a pecuaacuteria extensiva deu lugar a

outras culturas com a chegada de novas pessoas ao distrito Mas segundo os

moradores o culto ao tradicionalismo gauacutecho permanece visto que no distrito

existe

O parque de rodeios do Rodeio Crioulo eacute o mais antigo que noacutes temos aqui natildeo sei se natildeo o primeiro piquete registrado de Satildeo Chico tem uns sessenta anos a nossa tradiccedilatildeo eacute o laccedilo O nosso rodeio acontece sempre no iniacutecio de janeiro hoje eu natildeo laccedilo mais mas o meu neto continua a minha tradiccedilatildeo A escola daqui faz a semana farroupilha com ronda eacute tudo muito lindo e assim se mantem a cultura44

A imagem apresentada na Figura 15 reforccedila a fala e a importacircncia do Piquete

de Laccediladores Rodeio Crioulo que atualmente mesmo estando nas terras de Satildeo

Francisco de Paula divisa com o municiacutepio de Cambaraacute do Sul por opccedilatildeo essa

entidade tradicionalista pertence ao entatildeo municiacutepio de Cambaraacute do Sul Poreacutem sua

fundaccedilatildeo acontece em 20 de janeiro de 1961 quando o entatildeo hoje municiacutepio de

Cambaraacute do Sul ainda era distrito de Satildeo Francisco de Paula

41 FAGUNDES Darci da Silva Entrevista concedida agrave autora no dia 24 de fevereiro de 2018 42 FAGUNDES Darci da Silva Entrevista concedida agrave autora no dia 24 de fevereiro de 2018 43 FAGUNDES Darci da Silva Entrevista concedida agrave autora no dia 24 de fevereiro de 2018 44 FAGUNDES Darci da Silva Entrevista concedida agrave autora no dia 24 de fevereiro de 2018

57

Figura 15 ndash Flacircmula de comemoraccedilatildeo aos 50 anos da entidade

Fonte acervo pessoal da autora (2018)

Outro evento importante no distrito eacute realizado pela Escola Estadual de

Ensino Fundamental Oliacutempio Soares Pinto que satildeo atividades ligadas as tradiccedilotildees

gauacutechas na Semana Farroupilha como cavalgadas e gincanas com a participaccedilatildeo

de toda comunidade nesta semana principalmente a comunidade de Tainhas

ldquorespira tradicionalismordquo

O distrito de Tainhas atualmente conta com um posto de sauacutede e o correio

satildeo os serviccedilos puacuteblicos que funcionam no distrito visto que o cartoacuterio fechou O

entrevistado Fagundes relata45 ldquoeu era o juiz de paz desse Cartoacuterio minha funccedilatildeo

era julgar os casamentos mas daiacute fechou hoje o pessoal tem que ir a Satildeo Chicordquo O

morador ainda acrescenta ldquoateacute a rodoviaacuteria fechou os ocircnibus passam aqui Satildeo

Marcos que vem de Caxias e vatildeo a Torres desce de manhatilde e sobe de tarde Citral

de Satildeo Chico a Ouro Verde e agora Transneves da Pedra Lisa para Satildeo Chicordquo

Com uma certa tristeza relata46 ldquoaqui em Tainhas soacute tem o Cafeacute Tainhas do

Mauro eacute o brilho de Tainhas seraacute ponto histoacuterico daqui um tempo todo mundo fala

bem do Cafeacute Tainhasrdquo

Notoriamente a chegada do asfalto modificou a vida das pessoas neste

distrito visto que que os campos foram em boa parte transformados em lavoura se

45 FAGUNDES Darci da Silva Entrevista concedida agrave autora no dia 24 de fevereiro de 2018 46 FAGUNDES Darci da Silva Entrevista concedida agrave autora no dia 24 de fevereiro de 2018

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percebe uma vila pacata jaacute que todo o movimento foi desviado por fora da vila e a

mesma natildeo proporciona lazer para as pessoas que ao terminarem o ensino

fundamental para continuar seus estudos precisam fazer uso do transporte escolar

e se deslocar ateacute a Sede ou ir ao municiacutepio de Cambaraacute do Sul

44 DISTRITO DE ELETRA

O distrito de Eletra foi criado em 31 de dezembro de 1932 estando situado a

19 quilocircmetros da Sede do municiacutepio Poreacutem a populaccedilatildeo local chama de Salto e

seu nome vem das barragens do Salto Blang e Divisa construiacutedas sobre o Rio do

Salto que atravessa o distrito Segundo a moradora local47 Soares ldquoas barragens

que fornecem aacutegua para as usinas no municiacutepio de Satildeo Francisco de Paula e nos

municiacutepios vizinhos de Canela Gramado e Cambaraacute do Sulrdquo A Figura 16 apresenta

uma imagem da Barragem do Salto barragem esta que se situa proacutexima da vila do

distrito

Figura 16 ndash Barragem do Salto

Fonte acervo pessoal da autora (2018)

Ao observarmos a Figura 16 percebe-se que o acesso da vila para o interior

do distrito acontece por uma ponte de concreto estreita com piso bastante irregular

47 SOARES Susana Marques Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018

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e que em periacuteodos de fortes chuvas o acesso fica interrompido devido agrave altura

Poreacutem ao lado direito percebe-se uma estrutura pequena que segundo o morador

Gomes

Foi uma tentativa de uma empresa japonese construir uma ponte soacute que quando estavam construindo deu uma enchente e levou tudo a aacutegua abaixo a empresa foi embora e nunca mais voltou Jaacute foram feitos estudos que a ponte tem que ser construiacuteda mais para baixo e em forma de arco se natildeo a chuva leva de novo poreacutem natildeo acredito que saia algum dia48

Entende-se que a construccedilatildeo desta nova ponte melhoraria o acesso dos

proprietaacuterios rurais que para saiacuterem de suas propriedades em eacutepocas de chuva

intensa necessitam fazer um longo caminho por estradas de chatildeo batido para terem

acesso ao municiacutepio de Canela bem como a Sede de Satildeo Francisco de Paula

Contudo a moradora explica que a vila do distrito se forma muito antes da

construccedilatildeo da barragem

Em 1915 era uma fazenda chamada Fazenda do Salto e esta pertencia a Francisco Soares de Oliveira Neste local havia sua casa de moradia um galpatildeo e mangueiras onde realizava as suas atividades poreacutem em 1916 o Chico resolveu transferir a casa da Fazendo do Cerro para o Salto tambeacutem sendo construiacuteda aiacute a segunda casa a partir de entatildeo se iniciou o povoado com a construccedilatildeo de novas residecircncias para seus empregados e posteriormente se instalou uma serraria dos irmatildeos Delavechia esta sendo movida a aacutegua dando definitivamente o iniacutecio do povoamento da vila49

Ao analisar a fala da moradora local se percebe que onde hoje se encontra a

vila do distrito de Eletra jaacute foi uma fazenda identificando-se com a mesma formaccedilatildeo

do distrito Sede que tambeacutem surge de terras doadas por um fazendeiro Segundo a

entrevistada Soares50 ldquoa sua casa eacute uma das mais antigas tem 102 anos foi

construiacuteda de pinheiro serrada aqui mesmo na serrariardquo pode-se observar o oacutetimo

estado de conversaccedilatildeo da casa que traz traccedilos arquitetocircnicos europeus na sua

construccedilatildeo natildeo se tem imagem da casa visto que a entrevistada natildeo permitiu

nenhuma imagem de sua residecircncia

Outro fator importante do povoamento da vila segundo o morador local

Gomes51 ldquofoi o iniacutecio da construccedilatildeo da Barragem do Salto no ano de 1925rdquo onde

48 GOMES Jaures Feijoacute Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018 49 SOARES Susana Marques Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018 50 SOARES Susana Marques Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018 51 GOMES Jaures Feijoacute Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018

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vieram muitos funcionaacuterios de vaacuterios lugares tendo como mestre da obra segundo

os moradores locais52 o ldquoAcircngelo Goubertrdquo

Devido agrave necessidade que se formou no distrito neste periacuteodo se abriu um

hotel farmaacutecia cartoacuterio rodoviaacuteria e cinema a moradora local Soares saudosa

diz53 ldquotudo fechou aqui natildeo tem mais nadardquo referindo-se a atual situaccedilatildeo que a vila

se encontra

Os moradores ainda declaram sobre o distrito54 ldquoestaacute abandonado pelo poder

puacuteblico ateacute o calccedilamento das ruas foi arrancadordquo poreacutem outrora foi um local de

muita alegria

A vida era uma festa permanente o tio Chico era casado com a tia Lisoca ela foi para Porto Alegre para os filhos estudar quando vinham nas feacuterias traziam os amigos O tio Chico pagava um gaiteiro por mecircs para ele toca toda noite entatildeo era aquele divertimento55

Atualmente na vila existe a Escola Estadual de Ensino Fundamental Cristino

Ramos com menos de cem alunos e a festa cristatilde cuja celebraccedilatildeo ocorre em

fevereiro sendo Santo Antocircnio o padroeiro local A moradora explica sobre a

construccedilatildeo da capela

A primeira capela a tempestade derrubou em 1957 se construiu outra O santo padroeiro eacute Santo Antocircnio a imagem foi trazida por quarenta cavaleiros Daiacute o padre pediu para que a imagem de Nossa Senhora Catarina tambeacutem fosse acolhida hoje temos dois padroeiros mas para mim Santo Antocircnio eacute o principal56

Percebe-se na fala dos moradores a sua devoccedilatildeo e sua preocupaccedilatildeo com o

futuro da vila visto que ateacute a questatildeo do cemiteacuterio jaacute foi palco de discussatildeo pois o

cemiteacuterio da vila iniciou pela famiacutelia dos Soares sendo este particular Poreacutem a

moradora explica com certa indignaccedilatildeo

O cemiteacuterio era particular da famiacutelia Soares teve um tempo que resolveram abrir veio gente ateacute de Passo Fundo ser enterrada aqui natildeo pediam para ningueacutem tomaram conta Daiacute organizamos uma comissatildeo responsaacutevel decidimos que tinha que ter uma contribuiccedilatildeo e natildeo podia trazer gente de fora para enterrar soacute gente daqui Ningueacutem pagou Aiacute mandei fazer cerca nova a parte dos Soares sempre limpei mas [] hoje acabo limpando tudo

52 GOMES Jaures Feijoacute SOARES Susana Marques Entrevistas concedidas agrave autora no dia 15 de

fevereiro de 2018 53 SOARES Susana Marques Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018 54 GOMES Jaures Feijoacute SOARES Susana Marques Entrevistas concedidas agrave autora no dia 15 de

fevereiro de 2018 55 SOARES Susana Marques Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018 56 SOARES Susana Marques Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018

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porque ningueacutem limpa Enquanto eu for viva vou fazer depois vatildeo entregar para a prefeitura igreja natildeo sei57

A Figura 17 apresenta uma foto da igreja atual tendo em sua lateral direita a

capela mortuaacuteria e ao fundo o Salatildeo Paroquial da comunidade onde ocorre a festa

do Santo Padroeiro

Figura 17 ndash Igreja Santo Antocircnio ndash Distrito de Eletra

Fonte acervo pessoal da autora (2018)

Ao conversar com os moradores locais pode-se observar a feacute cristatilde poreacutem

ambos relatam que a festa de fevereiro atualmente eacute pouco divulgada motivo pelo

qual acreditam que natildeo haja um nuacutemero expressivo de pessoas Ambos sentem um

apreccedilo pelo local onde nasceram e vivem poreacutem ambos relatam

Aqui eacute lugar de dormir as pessoas trabalham em Canela e vem dormir aqui a grande maioria natildeo eacute daqui vieram de fora haacute muitas casas de veraneio tudo gente de Porto Alegre que vem passar feacuterias natildeo rende nada para aqui o que precisam trazem tudo de fora A maioria de quem mora aqui soacute dorme passa o dia fora O ocircnibus das 7 horas sai lotado a gente natildeo conhece mais ningueacutem daqui mesmo soacute noacutes Susana e eu58

Mesmo a vila sendo um local de parada estaacute rodeada de lindos campos e

fazendas cuja a atividade principal eacute a pecuaacuteria extensiva natildeo proporciona

57 SOARES Susana Marques Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018 58 GOMES Jaures Feijoacute Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018

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trabalho no local motivo pelo qual seus moradores buscam sua subsistecircncia em

outro municiacutepio poreacutem possui uma exuberante natureza relata cheia de esperanccedila

a moradora local59 ldquoeu tenho esperanccedila que algueacutem olhe para caacute e veja as belezas

que tem aqui que o lugar volte a se desenvolverrdquo desenvolvimento este que

poderia vir atraveacutes da exploraccedilatildeo do turismo rural ldquoSe vocecirc quiser comer alguma

coisa agora natildeo vai encontrar nada aqui soacute tem lsquobutecorsquo60 mas eles natildeo vendem

nada nem sanduiacuteche pastel eacute uma vergonhardquo fala indignado o morador Gomes61

A populaccedilatildeo que vive nas fazendas aleacutem de ter as lides campeiras no seu

dia-a-dia nos finais de semana segundo o morador Gomes62 ldquolaccedila em torneio vai

nos rodeiosrdquo o que marca a presenccedila do tradicionalismo gauacutecho em uma parte da

populaccedilatildeo do distrito poreacutem com relaccedilatildeo aos moradores da vila natildeo haacute algo que

os identifique visto a miscigenaccedilatildeo que ocorreu e por haver muitas casas de

veraneio no local

45 DISTRITO DO JUAacute

O distrito do Juaacute foi criado em 10 de maio de 1950 e fica distante 65

quilocircmetros da Sede O distrito recebe esse nome devido a um espinho que havia

em abundacircncia no local nome este dado por tropeiros

Os accedilorianos que vinham de Santo Antocircnio da Patrulha e iam para Vacaria com cargueiros eles vinham fazer repouso laacute em cima no reduto e ali tinha muita frutinha do juaacute entatildeo os tropeiros saiam de Santo Antocircnio e diziam vamos posa laacute nos juaacute daiacute o nome do lugar que permanece ateacute hoje63

Juaacute eacute o nome dado a um espinho muito comum na regiatildeo dos campos de

cima da serra que daacute uma fruta amarela em formato redondo que segundo os

moradores locais eacute uma fruta venenosa conforme se observa na Figura 18

59 SOARES Susana Marques Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018 60 Buteco pequeno comeacutercio que normalmente vende bebidas alcooacutelicas e possui mesa de sinuca 61 GOMES Jaures Feijoacute Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018 62 GOMES Jaures Feijoacute Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018 63 REIS Orides Entrevista concedida agrave autora no dia 12 de maio de 2018

63

Figura 18 ndash Peacute com a fruta conhecido como Juaacute

Fonte acervo de Clessandra Palhano (moradora local) (2018)

O reduto citado pelo morador local ficava em uma fazenda local onde hoje se

encontra a vila do distrito conforme o entrevistado Reis explica

O primeiro morador eu natildeo lembro soacute sei que o Juaacute era de pouca gente famiacutelia Pedroso e Castilhos daiacute foram morrendo inventariando e vendendo e aos poucos se formou a vila importante o dono de tudo isso aiacute tinha dois escravos no iniacutecio teve escravidatildeo claro na eacutepoca de mil oitocentos e pouco eu acho mas teve E hoje deve ter descendente destes escravos por aiacute64

Escravidatildeo que vai dar origem ao preconceito racial e a um modelo particular

da localidade que sem precisar data explica o morador

Aqui tinha dois salatildeo trecircs com o da Igreja mas era dois salatildeo social Era um clube de brancos que era dos ricos neacute fazendeiros o Salatildeo Vera Cruz e depois fundaram o Satildeo Valentim que era dos morenos que na eacutepoca ateacute eu fui presidente Cada um no seu salatildeo agora quando dava a festa cristatilde em homenagem ao Satildeo Joatildeo de Deus todo o povo reunia-se quando chegava de noite no saacutebado no baile entatildeo cada um ia pro seu salatildeo A muacutesica ficava no salatildeo dos brancos daiacute colocava umas caixas de som laacute pros morenos com um fio pra eles danccedila Um natildeo podia entra no baile do outro tinha o presidente para cuida Cada um no seu tudo se respeitava e obedecia aquela ordem65

Ainda acrescenta a moradora local Santos

64 REIS Orides Entrevista concedida agrave autora no dia 12 de maio de 2018 65 REIS Orides Entrevista concedida agrave autora no dia 12 de maio de 2018

64

O nosso eu natildeo me lembro o nome tem tanto papel mas natildeo sei onde estaacute o nosso dos pretos neacute ningueacutem implicava eles natildeo deixavam noacutes entra no salatildeo Vera Cruz eu entrava de cozinheira empregada porque ali era lugar dos ricaccedilos eles podiam se associar mas o nosso tambeacutem enchia mas eles iam no nosso baile de nego soacute olhavam As festas duravam dias Tinha aquele foguetoacuterio era tatildeo bonito66

Percebe-se na fala dos moradores como esta divisatildeo racial se fazia presente

que havia por parte dos negros um profundo respeito pelos brancos mesmo eles

tendo acesso ao salatildeo Vera Cruz somente para servi-los em nenhum momento se

percebeu que eles se sentissem diminuiacutedos pela situaccedilatildeo ateacute pela cultura que

advinha desde os primeiros moradores locais

Esta divisatildeo social permanece por longo tempo e somente vai desaparecer

nos anos 80 do seacuteculo XX com a contribuiccedilatildeo do Frei Abiacutelio que veio da Vacaria

durante Missotildees convocadas pelo paacuteroco local padre Afonso que conseguiu

modificar esta organizaccedilatildeo implantando a ideia de igualdade e ignorando tudo

aquilo a partir de entatildeo os negros comeccedilaram a frequentar a sociedade Vera Cruz

contribuiccedilatildeo dos entrevistados67 que ao abordar o assunto demonstraram repulsa

pelo passado mas ao mesmo tempo reconhecem que o racismo ainda eacute presente

na comunidade poreacutem devido agraves leis existe um cuidado maior

Atualmente negros e brancos convivem em harmonia participam da festa

cristatilde cujo padroeiro eacute Satildeo Joatildeo de Deus e dos torneios de laccedilo mas geralmente

quem laccedila satildeo os fazendeiros Saudoso o morador68 afirma que ldquouma vez tinha as

carreradas tinha trecircs canchas passava o domingo nas canchas brincando nas

corridas de cavalos tudo terminourdquo Acrescenta69 ainda que ldquoem 70 80 tinha o

futebol o campo era na baixada acho que tem ainda trofeacuteu ai mas daiacute a gurizada

foi embora para a cidade terminou o timerdquo

A vila se construiu de maneira simples tendo a Igreja Catoacutelica com o Salatildeo

Paroquial agrave direita o antigo Centro de Tradiccedilotildees Gauacutechas Laccedilo Velho do Juaacute onde

resta apenas o preacutedio de madeira corroiacuteda pelo tempo ao fundo a cancha de laccedilo

do Piquete de Laccediladores Velho do Juaacute entidade tradicionalista que se manteacutem ativa

desde o iniacutecio da deacutecada de 1960 ao redor haacute casas de moradias que formam ao

centro uma grande praccedila sem nenhuma infraestrutura em frente a esta praccedila

66 SANTOS Deotildes Palhano dos Entrevista concedida agrave autora no dia 12 de maio de 2018 67 REIS Orides SANTOS Deotildes Palhano Entrevistas concedida agrave autora no dia 12 de maio de

2018 68 REIS Orides Entrevista concedida agrave autora no dia 12 de maio de 2018 69 REIS Orides Entrevista concedida agrave autora no dia 12 de maio de 2018

65

perpassa uma rua de chatildeo batido sendo que a escola da comunidade fica do outro

lado a escola eacute municipal se chama Bento Eziacutedio Rodrigues atende

aproximadamente vinte alunos que estatildeo matriculados nas seacuteries iniciais do ensino

fundamental tendo duas professoras e um funcionaacuterio para fazer merenda e limpar

o paacutetio como se pode observar na Figura 19

Figura 19 ndash Praccedila Vila do Distrito Juaacute ao fundo cancha de laccedilo

Fonte acervo pessoal da autora (2018)

Ambos os entrevistados70 explicam que o Juaacute atualmente eacute um lugar de

idosos aposentados que outrora as pessoas viviam das roccedilas e da pecuaacuteria

extensiva na deacutecada de 1980 com o advento da induacutestria em Caxias do Sul os

jovens abandonaram seu modo de vida e foram buscar novas oportunidades poreacutem

estes jovens que foram embora retornam com frequecircncia natildeo perdendo a sua

essecircncia Relataram que a uacutenica fonte de trabalho eacute ser peatildeo de fazenda fazendas

estas que produzem o queijo serrano ou vendem leite para a Piaacute71 sendo que a

lavoura eacute para subsistecircncia Outra fonte de renda eacute ser funcionaacuterio da serraria cujo

proprietaacuterio e Joatildeo Egiacutedio que funciona proacuteximo da vila Outro fator importante eacute a

venda de pequenas chaacutecaras para moradores de Caxias do Sul que vem aos finais

70 REIS Orides SANTOS Deotildes Palhano Entrevistas concedidas agrave autora no dia 12 de maio de

2018 71 Piaacute Cooperativa Agropecuaacuteria Petroacutepolis Ltda Empresa que faz a coleta do leite nas fazendas da

regiatildeo

66

de semana descansar na localidade poreacutem se percebe que estes novos moradores

muitas vezes natildeo interagem com os moradores locais

Segundo o morador Reis72 ldquoapesar da vinda de pessoas de outros lugares o

Juaacute natildeo perdeu sua identidade fala em Juaacute lembra pinhatildeo colheita do pinhatildeo ateacute

haacute uma criacutetica que diz na eacutepoca do pinhatildeo o juazeiro fala grossordquo Ditado que o

entrevistado73 reafirma sorrindo ldquona eacutepoca do pinhatildeo o juazeiro fala grosso claro

que eacute apenas um dito popular uma maneira de se referir mas sempre eacute dito haacute

aqueles que natildeo gostamrdquo

Nota-se que a vida na comunidade do Juaacute se passa de forma tranquila com

poucos moradores que sua identidade estaacute relacionada agrave pecuaacuteria extensiva com

as lides com o gado bem como ao pinhatildeo uma fruta tiacutepica que se desenvolve na

Araucaacuteria ou pinheiro nativo como eacute conhecido na regiatildeo O pinhatildeo seja ele

assado cozido ou paccediloca74 eacute muito consumido pelos moradores do interior de Satildeo

Francisco de Paula durante o inverno inclusive como mistura do cafeacute da manhatilde

46 DISTRITO DO RINCAtildeO DOS KROEFF

O distrito de Rincatildeo dos Kroeff foi criado em 10 de maio de 1950 Fica a 35

quilocircmetros distante da Sede poreacutem muito antes de se institucionalizar oficialmente

este espaccedilo moradores locais contam como tudo se iniciou

Meu avocirc foi um dos primeiros a vim para caacute ele se chamava Guilherme Faciole ele nasceu no navio vindo da Itaacutelia Ele contava que teve uma desavenccedila em Caxias e fincou o peacute pra caacute pra natildeo acharem ele que aqui era soacute mato e na revoluccedilatildeo de 35 ele fugia de casa para natildeo ser levado pelas tropas os piquetes levavam para combater entatildeo ele sempre dizia que pousou vaacuterias noites embaixo dos peraus da serra do Umbu para natildeo ser levado O falecido vovocirc vivia da caccedila do porco do mato tateti ele fazia charque de porco para ter a carne ele viveu 106 anos e dizia se natildeo tivesse fumado viveria mais uns dez isso faz parte da histoacuteria do Rincatildeo dos Kroeff Junto teve o falecido Acircngelo Menegaacutes que entro aqui na mesma eacutepoca Eles satildeo os fundadores do distrito75

O acesso ao distrito Rincatildeo dos Kroeff permanece totalmente pela estrada de

chatildeo batido sendo possiacutevel ir ao municiacutepio de Maquineacute descendo pela serra do

Umbu Poreacutem muito antes da estrada a busca de mantimentos e o escoamento da

72 REIS Orides Entrevista concedida agrave autora no dia 12 de maio de 2018 73 REIS Orides Entrevista concedida agrave autora no dia 12 de maio de 2018 74 Paccediloca carne de porco moiacuteda e frita no azeite ou banha a qual se acrescenta o pinhatildeo jaacute cozido

e moiacutedo 75 FACIOLE Reinaldo Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de marccedilo de 2018

67

produccedilatildeo se dava pelos carreiros visto que natildeo havia abertura de estrada e nem

viatura76 como os moradores relatam

Tudo era na tropeada as tropas que ia para Rolante Na tropeada saia um tropeiro na frente e um recircs com um cincerro que era a madrinheira da tropa saia laacute pelo Chuvisqueiro e saia laacute em Rolante perdia boi na estrada ficava semanas boi perdido agraves vezes nem se achava mais tambeacutem tinha tropa de porco e tinha as tropeadas de mula puxando milho feijatildeo trigo tudo produzido aqui e levado de cargueiro carreta era muito pouco porque natildeo tinha estrada para anda era soacute os trilhos pelo meio dos matos e campos e se produzia milho era o inverno inteiro saia tropas e mais tropas com trinta quarenta mulas burros transportando mantimentos da produccedilatildeo do gratildeo haacute tambeacutem tinha a flor de Pireto que era lucro ningueacutem conhece isso aiacute hoje essa flor era levada para Taquara e fazia veneno para formiga tudo que era tipo de veneno era uma flor muito toacutexica Acredita tropear galinha pois eacute a gente criava bastante saia com os cargueiros como era a vida eles faziam um girau no cesto naqueles balaios para fazer duas camas uma mais em cima e outra em baixo daiacute quando era veratildeo era muito quente tinha que no meio da viagem tirar de dentro do cesto botar na aacutegua na sanga para natildeo morrer ateacute chegar no mercado dali para praia a eacutepoca que mais vendia era novembro e dezembro daiacute tinha preccedilo bom tudo criada solta aviaacuterio nem se falava77

Ao ouvir os moradores se percebe que a construccedilatildeo do distrito aconteceu

devido ao esforccedilo e trabalho de muitas pessoas visto que o local era de mata nativa

densa e precisou ser desmatado para ser ocupado pelas pessoas Explica o

entrevistado Faciole78 ldquopara fazer uma lavoura tambeacutem precisava derrubar o

pinheiro seu Onorino Buffon me contou que faziam fogo ao redor do pinheiro eles

eram muito grosso para derrubar a machado entatildeo faziam fogo secavam para

depois fazer a roccedilardquo E a moradora79 local acrescenta ldquoaqui tambeacutem tinha os

barbacuazeiros produziam erva mais aqui eles soacute tiravam a erva e sapecavam e

depois ia para outro lugar industrializa tudo era diferenterdquo

Poreacutem segundo os moradores este modelo de vida rudimentar se modifica

com a chegada das serrarias sendo que a dos Kroeff foi a primeira juntamente com

a serraria se viu a necessidade da construccedilatildeo de novas casas para os

trabalhadores surgindo ali a vila do distrito Rincatildeo dos Kroeff no iniacutecio a serraria era

tudo manual relata Faciole80 ldquoa uacutenica forma de tira a madeira era com um enfieira

76 Viatura se refere a carro de passeio caminhotildees 77 FACIOLE Reinaldo FACIOLE Maria Madalena Scalco Entrevistas concedidas agrave autora no dia 18

de marccedilo de 2018 78 FACIOLE Reinaldo Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de marccedilo de 2018 79 FACIOLE Maria Madalena Scalco Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de marccedilo de 2018 80 FACIOLE Reinaldo Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de marccedilo de 2018

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de boi eu cheguei a ver cinco ternos de boi carreiro81 emendado puxando um

pinheiro eacute uma bicheira de boi natildeo tinha outra formardquo

Rincatildeo dos Kroeff eacute o menor distrito de Satildeo Francisco de Paula poreacutem em

suas terras se desenvolveu a cultura dos hortifrutigranjeiros desde muito cedo jaacute

que sua colonizaccedilatildeo eacute basicamente italiana e alematilde e os italianos tecircm a cultura do

plantio visando lucro A moradora Faciole82 afirma ldquotudo comeccedilou por aqui depois

se expandiu para o municiacutepio comeccedilamos com moranga branca depois repolho

couve broacutecolis alface e daiacute veio beterraba e tudo o restordquo Acrescenta ainda83 que

ldquodaqui saiacuteram os primeiros caminhotildees de hortifruacuteti do municiacutepio para a Ceasa teve

eacutepoca de sair quarenta caminhotildees por dia do Rincatildeo hoje natildeo sai mais porque

muitos foram buscar novos lugares para plantarrdquo E juntamente com a mudanccedila dos

proprietaacuterios em busca de novas terras muitos de seus funcionaacuterios foram embora

junto afirma em entrevista o morador local84 ldquomuita gente do Rincatildeo foi embora

muitas gurias foram embora para estudar para achar emprego e natildeo voltaram maisrdquo

Atraveacutes da fala da moradora pode-se observar que apesar do distrito ser

produtivo enfrenta algumas dificuldades com relaccedilatildeo ao estudo de seus moradores

que para continuarem seus estudos se assim o desejarem necessitam abandonar

seus pais e ir em busca na Sede ou arredores visto que no distrito existe uma uacutenica

escola Gastatilde Henth Esta eacute municipal e atende dos quatro anos ao nono ano do

ensino fundamental A moradora Faciole explica

O coleacutegio hoje tem 99 alunos ao total quando eles terminam o nono ano alguns vatildeo estudar mas satildeo pouquiacutessimos os outros ficam por aiacute mesmo natildeo tem um transporte que leve eles para fazer o ensino meacutedio na Sede que seria a escola de ensino meacutedio mais proacuteximo se quiser estudar vai ter que ir embora reforccedila quem e trabalhador fica trabalhando com os pais quem natildeo eacute [] As pessoas na sua grande maioria soacute tem o ensino fundamental aqui85

Este eacute um dos grandes problemas enfrentados pelos moradores do Rincatildeo

dos Kroeff a possibilidade de continuar estudando A escola que laacute existe os

moradores locais natildeo sabem precisar a data mas sabem que foi durante o mandato

81 Ternos de boi carreiro significam vaacuterias duplas de bois cangados e ligados por um pedaccedilo de

madeira que vatildeo na canga entre a dupla de bois Esse pau roliccedilo na regiatildeo se chama de cambatildeo 82 FACIOLE Maria Madalena Scalco Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de marccedilo de 2018 83 FACIOLE Maria Madalena Scalco Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de marccedilo de 2018 84 FACIOLE Reinaldo Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de marccedilo de 2018 85 FACIOLE Maria Madalena Scalco Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de maio de 2018

69

do prefeito Escobar (1977-1982) que ela foi construiacuteda Neste contexto aparece

tambeacutem a dificuldade de se locomover fazendo uso do transporte puacuteblico

Haacute sete anos atraacutes o Rincatildeo estava bom mesmo tinha ocircnibus da praia agraves vezes passava quatro a cinco ocircnibus da praia tudo pela serra do Umbu Agora soacute tem um trecircs dias por semana As empresas deixaram de trafegar por aqui elas natildeo vatildeo descer numa serra de chatildeo batido sendo que tem a outra86 com asfalto87

Os moradores se orgulham da festa religiosa que acontece todos os anos em

agosto sendo que o santo padroeiro eacute Satildeo Roque A festa da comunidade

apresenta uma tradiccedilatildeo local muito interessante na segunda-feira apoacutes a festa ela

continua para os moradores locais que vatildeo ao salatildeo paroquial para se divertir entre

si e esta eacute uma tradiccedilatildeo que eacute comentada em todo o municiacutepio Faciole88 saudoso

afirma ldquopara ti ter uma ideia nessa festa chegava dar vinte poucos ocircnibus lotado que

vinham de outros municiacutepios como Igrejinha Taquara Porto Alegre Novo

Hamburgo o espaccedilo ficava pequenordquo Acrescenta89 ainda ldquoaqui noacutes tinha o Clube

Serrano que dava baile janta italiana dava um movimento louco mas terminou ateacute

o baile das rainhas cada ano era uma era tatildeo lindo mas tudo se acabourdquo

Figura 20 ndash Imagem da Igreja Satildeo Roque em dia de festa no Rincatildeo dos Kroeff

Fonte acervo pessoal da autora (2018)

86 A outra se refere a rodovia RS-453 conhecida como Rota do Sol 87 FACIOLE Reinaldo Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de marccedilo de 2018 88 FACIOLE Reinaldo Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de marccedilo de 2018 89 FACIOLE Reinaldo Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de marccedilo de 2018

70

Percebe-se que o distrito Rincatildeo dos Kroeff eacute o uacutenico que obteve em seu

iniacutecio uma colonizaccedilatildeo por descentes de italianos dentro do municiacutepio de Satildeo

Francisco de Paula o que demonstra o quatildeo forte se daacute a tradiccedilatildeo ldquoitalianardquo neste

local permanecendo intriacutenseca na vida cotidiana de seu povo com a cultura do

plantio de hortifrutigranjeiros que permanece apesar do tempo como sendo a sua

maior identidade local

47 DISTRITO DE LAJEADO GRANDE

Lajeado Grande em tempos idos pertenceu ao distrito de Cazuza Ferreira e

somente em 12 de dezembro de 1968 se tornou um distrito independente segundo

a Lei nordm 655 encontrada nos autos da Prefeitura Municipal de Satildeo Francisco de

Paula A vila do distrito Lajeado Grande fica distante 63 quilocircmetros da Sede e se

situa na confluecircncia do Arroio Porco Morto e o Rio Bururi Seu surgimento acontece

segundo o morador Fogaccedila90 ldquopor volta de 1940 com a abertura da estrada Canela

ndash Bom Jesus a atual RS-476 que corta a vila do Distritordquo Essa estrada segundo o

morador facilitou a locomoccedilatildeo que anteriormente era feita totalmente pelas trilhas e

picadas por onde somente se passava a cavalo ou de carreta E o entrevistado

explica como acontece o desenvolvimento inicial da vila

Tu sabe aqui tem o nome de Lajeado Grande por causa do rio que eacute cheio de lajes grandes o que facilitava a travessia e as terras aqui por roda era tudo do falecido Pequeno Cardoso ele doou parte para a construccedilatildeo da vila onde o falecido Leopoldino Cardoso irmatildeo do Pequeno tinha uma lsquobudega velharsquo91 por aqui sendo o primeiro comeacutercio da vila92

A abertura da estrada possibilitou o desenvolvimento da vila juntamente com

o Casaratildeo um hotel pensatildeo que foi construiacutedo as margens do Arroio Porco Morto

este Casaratildeo passou por diversos proprietaacuterios

Leopoldino Cardoso foi o idealizador do Casaratildeo juntamente com os seus soacutecios Heraacuteclito Andrade de Cardoso lsquoJoanitorsquo Joseacute Osoacuterio de Lima lsquoZecarsquo e Pequeno Cardoso sendo que o Casaratildeo era uma casa de negoacutecio compravam queijo couro era um comeacutercio forte vendia secos e molhados inclusive a primeira rodoviaacuteria foi instalada neste espaccedilo poreacutem em 1948 Joatildeo Pacheco Cardoso assume e amplia o estabelecimento construindo o segundo piso da casa de madeira e alugando para outros dois moradores

90 FOGACcedilA Blair dos Santos Entrevista concedida agrave autora no dia 06 de abril de 2018 91 Budega velha referindo-se a uma antiga casa de comeacutercio de secos e molhados localizada onde

hoje se encontra o armazeacutem Celeiro 92 FOGACcedilA Blair dos Santos Entrevista concedida agrave autora no dia 06 de abril de 2018

71

Eremi Terres e Claunir Lucena Com a reforma o Casaratildeo passa a ter treze quartos para aluguel uma loja onde encontrava-se tudo o que se necessitava de alfinete tecido alimentos e raccedilotildees aleacutem da ala que servia de moradia para os proprietaacuterios Em 1962 o estabelecimento eacute alugado para Eraldo Bento de Oliveira que aleacutem de gerenciar o estabelecimento colocou junto um bar local de encontro dos homens da redondeza para tomar um lsquotragorsquo93 (CERUTTI SILVA CARDOSO 2002 p 19)

Figura 21 ndash Imagem do Casaratildeo pouco antes de ser desmanchado

Fonte acervo pessoal de Fernando Oliveira (conhecido como Guego) (2018)

O Casaratildeo foi desmanchado na deacutecada de 1980 pelo entatildeo proprietaacuterio Reno

Pacheco Poreacutem percebe-se na vila que seus antigos moradores falam com certo

saudosismo deste estabelecimento que fez parte de suas vidas e chegam a

lamentar o seu fim morador Fogaccedila94 afirma ldquoali se fez o pastel mais famoso do

Lajeado Grande o pastel da Odila mas tudo se acabou quando eles entregaram e

construiacuteram laacute na esquinardquo95

Poreacutem a vila Lajeado Grande foi lentamente se desenvolvendo Devido agrave

necessidade da conservaccedilatildeo da nova estrada foi construiacuteda agraves margens do Rio

Bururi uma capatazia do DAER Segundo Cerutti Silva e Cardoso (2002 p 18) ldquoo

primeiro capataz foi Capitulino Prudecircncio de Oliveira vindo de Santa Catarina sua

funccedilatildeo era manter as estradas e chegou a ter vinte funcionaacuteriosrdquo Percebe-se que a

93 Trago expressatildeo local que significa beber uma cachaccedila 94 FOGACcedilA Blair dos Santos Entrevista concedida agrave autora no dia 06 de abril de 2018 95 Esquina eacute o nome dado a parte da vila do Lajeado Grande onde se daacute o entroncamento das

rodovias RS-453 e ERS-476

72

partir deste momento se inserem neste distrito pessoas advindas de outros estados

e locais visto que ateacute o presente momento o distrito era habitado por fazendeiros

naturais do proacuteprio municiacutepio e que tinham suas vidas ligadas diretamente agrave

pecuaacuteria extensiva e agrave produccedilatildeo do queijo serrano Importante destacar que a

esposa de Capitulino segundo Cerutti Silva e Cardoso (2002 p 18) ldquoa Celicina

Guilherme da Silva se torna uma figura conhecida por realizar partos sendo

chamada como parteira de campanhardquo Na atualidade filhos netos e bisnetos do

casal ainda residem na vila

A vila do Lajeado Grande tambeacutem recebe novos moradores com a praacutetica do

corte do pinheiro nativo sendo que na deacutecada de 1950 havia uma faacutebrica de

beneficiamento de madeira ateacute se transformar em pasta este material era levado

para Esteio onde funcionava agrave matriz A partir dos anos 1950 ocorre a instalaccedilatildeo de

serrarias sendo que a Madeireira Albeflor de propriedade de Valter Sguaizer se

instala em 1964 Novamente busca-se matildeo de obra em localidades proacuteximas como

Lagoa Vermelha Vacaria e Bom Jesus poreacutem com a proibiccedilatildeo da extraccedilatildeo de

madeira de lei a serraria deixou de funcionar

Percebe-se que no distrito natildeo houve uma homogeneizaccedilatildeo identitaacuteria visto a

influecircncia advinda de muitas culturas no passado atraveacutes da extraccedilatildeo de madeira

e na atualidade com o advento das lavouras de hortifrutigranjeiros e pomares

frutiacuteferos que ocupam boa parte do distrito substituindo a pecuaacuteria extensiva que jaacute

natildeo proporciona um lucro efetivo Entatildeo os proprietaacuterios na sua grande maioria

venderam ou arrendaram suas terras para novas culturas o que modifica o modo de

vida local pois grande parte dos trabalhadores adveacutem de outros estados como o

Paranaacute e tambeacutem se observa o uso da matildeo de obra indiacutegena

Essa miscigenaccedilatildeo se observa nas escolas locais visto que na vila funciona a

Escola Municipal D Pedro I que segundo Cerutti Silva e Cardoso (2002 p 35)

ldquoinicia em 1965 poreacutem a professora e o preacutedio eram mantidos pela Serraria mas na

deacutecada de 70 a prefeitura assumiu a escola sendo que Eloci Martim foi a primeira

professora da Serrariardquo Escola da Serraria como ainda eacute conhecida por boa parte

dos moradores locais apesar de a escola natildeo se encontrar mais onde havia a antiga

serraria Atualmente a Escola Dom Pedro I funciona em um preacutedio obtido atraveacutes da

Associaccedilatildeo de Moradores atendendo alunos da preacute-escola ateacute o sexto ano das

seacuteries finais tendo em seu quadro seis professores e duas funcionaacuterias Sendo que

73

a obra para um novo preacutedio teve iniacutecio neste ano mas percebe-se que a obra parou

por volta do mecircs de maio Poreacutem na vila tambeacutem se encontra uma escola estadual

A documentaccedilatildeo necessaacuteria para a criaccedilatildeo de uma nova escola na localidade foi elaborada por Manoel Cardoso de Andrade juntamente com a professora Odazilda Cardoso Demori e encaminhada agrave Secretaria da Educaccedilatildeo sendo que em 11 de fevereiro de 1953 foi criada a Escola Isolada de Lajeado Grande sendo os professores estaduais mas o preacutedio sob responsabilidade comunitaacuteria iniciou o seu funcionamento nas dependecircncias do DAER e somente em 1957 foi construiacutedo um preacutedio de madeira em terras doadas por Pequeno Cardoso local onde hoje ainda se encontra a escola poreacutem passou por muitas reformas sendo que em 2000 recebeu um novo preacutedio de alvenaria o que possibilitou a realizaccedilatildeo de um grande sonho dos professores e comunidade a implantaccedilatildeo do Ensino Meacutedio que concretizou-se em 200296

Atualmente a escola atende em torno de trezentos alunos da Educaccedilatildeo

Baacutesica poreacutem percebe-se que devido agraves safras de hortifrutigranjeiros o nuacutemero de

alunos se alterna durante o ano O que tambeacutem se percebe eacute o comportamento dos

alunos com relaccedilatildeo agrave diversidade cultural por exemplo usam bombacha laccedilam boi

de pau no recreio e escutam funk uma cultura totalmente diferente da tradicionalista

gauacutecha o que compreende-se como algo advindo da globalizaccedilatildeo cultural que

vivemos no mundo atual reforccedilando novamente o natildeo reconhecimento de uma

identidade forte na localidade

Poreacutem as famiacutelias tradicionais do local manteacutem fortemente arraigada a

cultura tradicionalista que adveacutem do homem do campo tendo no distrito festas

campeiras torneios de laccedilo e a festa religiosa uma vez por ano em homenagem ao

Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus padroeiro da vila

Na atualidade natildeo se percebe uma identidade forte e marcada no distrito e

sim uma miscigenaccedilatildeo de diferentes culturas e etnias que convivem e se integram

harmonicamente

96 CARDOSO Amaacutelia Celuderes Entrevista concedida agrave autora no dia 08 de marccedilo de 2018

74

5 DESCRICcedilAtildeO DO PRODUTO

O produto consiste em um livro paradidaacutetico sobre a histoacuteria de Satildeo Francisco

de Paula Apresenta de maneira didaacutetica a histoacuteria de Satildeo Francisco de Paula bem

como balotildees explicativos imagens sugestotildees de atividades e leituras

complementares Poderaacute servir de apoio pedagoacutegico a professores e alunos do

municiacutepio visto que existe pouco material sobre a histoacuteria deste municiacutepio e se faz

importante trabalhar a histoacuteria local percepccedilatildeo que a autora obteve ao longo da sua

caminhada como professora de histoacuteria que atua nas seacuteries finais do ensino

fundamental e meacutedio haacute dezessete anos na rede estadual do municiacutepio

Partir do local natildeo eacute abandonar o conhecimento histoacuterico eacute dar outro valor

sentido para este conhecimento Segundo Caimi

Levar em conta o universo da crianccedila ou do adolescente natildeo eacute pois abdicar do rigor intelectual [] mas garantir que a apropriaccedilatildeo deste conhecimento ocorra permeada de sentido e significado resultando em soacutelidas aprendizagens (CAIMI 2006 p 24)

Seguindo esta perspectiva a implantaccedilatildeo do Referencial Curricular Gauacutecho

embasado na Base Nacional Comum Curricular reforccedila a ideia jaacute discutida nos

paraacutegrafos anteriores

No que se refere especificamente ao componente Histoacuteria a base rompe tanto com a cronologia quanto agrave visatildeo eurocecircntrica da histoacuteria tradicional Entram em cena novos atores novas sociedades novos caminhos que sempre tiveram na histoacuteria mas nem sempre receberam a devida importacircncia Acompanhando a Base Nacional Comum Curricular o Referencial Curricular Gauacutecho no que se refere especificamente agrave disciplina de Histoacuteria manteacutem seu foco na aprendizagem dos alunos nos diferentes espaccedilos e tempos tendo a preocupaccedilatildeo de integrar o curriacuteculo com a diversidade regional de nosso Estado Tambeacutem eacute importante contemplar os temas integradores como eacutetica cidadania cultura e valorizaccedilatildeo das diversidades assegurando a multiplicidade de olhares sobre o mundo (RIO GRANDE DO SUL 2018 p 118)

Portanto o paradidaacutetico seraacute mais um material disponiacutevel aos professores e

estudantes da educaccedilatildeo baacutesica de Satildeo Francisco de Paula na construccedilatildeo do

conhecimento da histoacuteria do municiacutepio bem como o reconhecimento de sua

identidade neste material visto que se almeja que os estudantes percebam

vestiacutegios de sua identidade e se percebam como parte deste municiacutepio atraveacutes do

conhecimento de sua histoacuteria

75

O paradidaacutetico vem com o tiacutetulo rdquoTropeando histoacuterias em Satildeo Francisco de

Paulardquo sendo que a capa traz a foto do Monumento aos Carreteiros monumento

que se encontra na Avenida Juacutelio de Castilhos em frente ao preacutedio da Prefeitura

Municipal

Figura 22 ndash Capa do livro

Fonte Livro Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula

Na sequecircncia se apresenta o iacutendice que possibilita ao leitor localizar os

diversos temas abordados visto que existem nove capiacutetulos

76

Figura 23 ndash Iacutendice do livro

Fonte Livro Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula

77

O capiacutetulo um apresenta a localizaccedilatildeo de Satildeo Francisco de Paula com uma

seacuterie de mapas que facilitam a compreensatildeo espacial dos alunos assim como um

mapa da subdivisatildeo do municiacutepio em distrito Ao final satildeo sugeridas duas atividades

que podem ser desenvolvidas de maneira interdisciplinar com o apoio da professora

de arte geografia e portuguecircs

Figura 24 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 1)

Fonte Livro Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula

78

Figura 25 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 1)

Fonte Livro Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula

O capiacutetulo dois aborda a existecircncia indiacutegena em Satildeo Francisco de Paula

antes da chegada dos desbravadores vindos de Satildeo Paulo Como sugestatildeo de

atividades apresenta-se uma pesquisa sobre as diferentes tribos indiacutegenas que

habitavam a Proviacutencia de Satildeo Pedro aleacutem da criaccedilatildeo de um painel infograacutefico

79

Figura 26 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 2)

Fonte Livro Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula

No capiacutetulo trecircs se apresentam os primeiros donataacuterios colonizadores de Satildeo

Francisco de Paula com trecho de um testamento deixado por Pedro da Silva

Chaves o fundador de Satildeo Francisco de Paula bem como o mapa que localiza as

primeiras sesmarias que corresponde ao territoacuterio onde hoje eacute a Sede do municiacutepio

80

Figura 27 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 3)

Fonte Livro Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula

Nos capiacutetulos quatro e cinco eacute apresentado o desenvolvimento de Satildeo

Francisco de Paula ainda no seacuteculo XIX quando pertencia ao municiacutepio de Santo

Antocircnio da Patrulha e no final do seacuteculo XIX quando passa a pertencer ao entatildeo

81

municiacutepio de Taquara do Mundo Novo Existe tambeacutem um mapa que demonstra a

extensatildeo territorial de Santo Antocircnio da Patrulha e quais satildeo os municiacutepios hoje que

pertenceram a este bem como a importacircncia da abertura da estrada que liga Satildeo

Francisco de Paula a Taquara

Figura 28 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 4)

Fonte Livro Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula

82

Os capiacutetulos seis e sete apontam a construccedilatildeo do Municiacutepio a partir de sua

emancipaccedilatildeo em 1903 sua extensatildeo territorial e a diminuiccedilatildeo do seu territoacuterio ao

longo do tempo e a histoacuteria da Igreja Matriz Como sugestatildeo de atividade pesquisar

a diversidade religiosa existente na comunidade escolar e criar graacuteficos com essas

informaccedilotildees podendo a partir de entatildeo trabalhar com as questotildees religiosas ontem

e hoje no mundo

Figura 29 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 6)

Fonte Livro Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula

83

No capiacutetulo oito se apresenta o que difere os sete distritos de Satildeo Francisco

de Paula Este capiacutetulo se apresenta subdividido em sete subtiacutetulos onde cada um

corresponde a um distrito do municiacutepio Tendo como fonte principal as entrevistas

realizadas com moradores locais mesclado com fontes documentais e bibliograacuteficas

que corroboram para se perceber que haacute alguns distritos que manteacutem suas tradiccedilotildees

ao longo do tempo e eacute possiacutevel perceber que existe uma identidade que aproxima

aquela populaccedilatildeo

Figura 30 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 8)

Fonte Livro Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula

84

No uacuteltimo capiacutetulo o nove se exibe uma lista de sugestotildees de leituras

complementares a fim de se aprofundarem sobre determinados temas E por fim

as referecircncias utilizadas para a construccedilatildeo do paradidaacutetico Tropeando Histoacuterias em

Satildeo Francisco de Paula

Figura 31 ndash Atividade do livro (Sugestatildeo de Leituras Complementares)

Fonte Livro Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula

85

O produto foi testado em duas turmas da Educaccedilatildeo Baacutesica na Escola

Estadual de Ensino Meacutedio Lajeado Grande com o propoacutesito de avaliar qual seria a

reaccedilatildeo dos estudantes diante do material e por ele ter sido produzido por algueacutem

que convive com eles semanalmente A receptividade foi bastante gratificante como

se pode observar na Figura 32

Figura 32 ndash Alunos do Ensino Meacutedio

Fonte acervo pessoal da autora (2019)

A receptividade foi muito interessante visto que os estudantes

acompanharam a trajetoacuteria para chegar ao produto final algo que os deixava

ansiosos para manusear pois muitas vezes foram parceiros A autora foi

compartilhando com os estudantes as informaccedilotildees obtidas durante a pesquisa e as

descobertas encontradas usando em suas aulas a histoacuteria local para abordar os

diferentes temas e conceitos histoacutericos

Quando a autora apresenta o produto os estudantes do ensino meacutedio estes

formam grupos por distritos e buscam logo reconhecer no material sua identidade

apoacutes comentam sobre as peculiaridades de cada distrito Poreacutem os alunos do

ensino fundamental manuseiam o produto mas natildeo se deteacutem ao distrito em que

pertence e sim as imagens e as explicaccedilotildees apresentadas no vocecirc sabia

O que enriquece o trabalho realizado foi o envolvimento dos estudantes com

o produto solicitando quando poderatildeo ler calmamente todo o trabalho

86

6 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

A partir de experiecircncias pessoais em sala de aula se percebeu que o ensino

de Histoacuteria quando se partia da histoacuteria local havia maior interesse dos estudantes

da educaccedilatildeo baacutesica motivo pelo qual se deu a questatildeo-problema desta dissertaccedilatildeo

que estaacute relacionada diretamente com o natildeo uso desta histoacuteria pelos professores da

educaccedilatildeo baacutesica

Em conversas informais com professores da educaccedilatildeo baacutesica que atuam no

municiacutepio de Satildeo Francisco de Paula em sua grande maioria alegam que o grande

empecilho para se trabalhar a histoacuteria local eacute o pouco material disponiacutevel sobre a

histoacuteria de Satildeo Francisco de Paula aleacutem do rigor dos curriacuteculos que impotildeem o

ensino de Histoacuteria de maneira linear sem contextualizaccedilatildeo com a realidade vivida

pelos estudantes pois desta forma natildeo estatildeo preparando os estudantes para as

avaliaccedilotildees do Ministeacuterio da Educaccedilatildeo bem como para o vestibular Poreacutem natildeo se

estaacute afirmando que deveraacute estudar somente a histoacuteria local e sim partir dela como

incentivo para estudos dos conceitos e temaacuteticas da histoacuteria por muitas vezes

totalmente abstrato e de difiacutecil compreensatildeo pela grande maioria dos estudantes

A partir de entatildeo se realizaram inuacutemeros questionamentos como qual a

necessidade de se ensinar Histoacuteria de forma abstrata sem nenhuma relaccedilatildeo com

as vivecircncias dos estudantes Por que natildeo usar a fonte oral como metodologia de

pesquisa no ensino de Histoacuteria em Satildeo Francisco de Paula jaacute que natildeo existem

muitos materiais escritos a respeito desta histoacuteria principalmente no que tange os

distritos do interior Poreacutem estes questionamentos natildeo foram aprofundados na

dissertaccedilatildeo por natildeo ser o objetivo direto da pesquisa mas posteriormente poderaacute

se tornar um novo projeto de pesquisa

Nesta incessante busca por resposta se constroacutei todo o estudo desta

dissertaccedilatildeo que em um primeiro momento busca embasamento em diferentes

autores que comprovam que o ensino de Histoacuteria voltado para o local faz maior

sentido para os estudantes da educaccedilatildeo baacutesica e que isto natildeo significa abandonar

os conceitos histoacutericos e sim questionar analisar a trajetoacuteria humana no tempo e

no espaccedilo sob uma nova metodologia Apenas se sugere uma nova abordagem

que torne o ensino de Histoacuteria menos abstrato algo mais presente na vida do

estudante e que possibilite a ele a habilidade de perceber que o mundo estaacute em

constante mudanccedila poreacutem os fatos natildeo ocorrem de forma isolada no espaccedilo Algo

87

que foi reforccedilado apoacutes a construccedilatildeo da Base Nacional Curricular e o Referencial

Curricular Gauacutecho que vem de encontro com esta proposta de se estudar a histoacuteria

sobre novos olhares natildeo esquecendo das especificidades regionais do estado do

Rio Grande do Sul para o reconhecimento da identidade local e regional

A identidade local nesta pesquisa se buscou atraveacutes de relatos de

moradores locais que gentilmente colaboraram para o sucesso deste trabalho pois

a memoacuteria se tornou a fonte primordial para se escrever o que identifica os sete

distritos que constituem Satildeo Francisco de Paula Certamente a temaacutetica natildeo se

esgotou ainda haacute muito que se pesquisar e escrever sobre a histoacuteria de Satildeo

Francisco de Paula possibilitando a criaccedilatildeo de novos materiais que possam ser

usados em sala de aula pelos professores e alunos deste municiacutepio

Mas ao mesmo tempo haacute uma preocupaccedilatildeo por parte da autora nada

adianta criar produtos sinalizar novos meacutetodos ao ensino de Histoacuteria se o

profissional professor natildeo estiver preparado para trabalhar com novas fontes

histoacutericas novas metodologias de ensino proporcionando aos estudantes a

oportunidade de construir seu proacuteprio conhecimento histoacuterico embasado em sua

realidade e suas vivecircncias

Vivecircncias que se tornaram aliadas na pesquisa pois a autora nasceu e

sempre viveu no municiacutepio de Satildeo Francisco de Paula poreacutem a maior dificuldade

encontrada nesta caminhada foi percorrer grandes distacircncias por estradas de

rodagem em peacutessimas condiccedilotildees de trafegabilidade para gravar os relatos que

servem de base para a construccedilatildeo desta pesquisa O municiacutepio de Satildeo Francisco de

Paula eacute territorialmente extenso e essas distacircncias percorridas deram o nome ao

produto Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula como uma homenagem

aos antigos tropeiros deste municiacutepio que passavam boa parte de sua vida ao

lombo de mulas levando e buscando mercadorias pelos campos de cima da serra

Visto que desde o processo seletivo do mestrado em agosto de 2016

quando se apresentou o projeto de pesquisa jaacute se pensava no produto um livro

paradidaacutetico no formato fiacutesico A autora por diversas vezes foi questionada por que

natildeo um blog ou site Porque na forma fiacutesica este material seria de faacutecil manuseio

pelos estudantes e professores pois principalmente no interior uso da internet ainda

eacute um problema visto que em muitos locais natildeo existe sinal de telefonia diraacute

internet

88

O paradidaacutetico foi se moldando ao longo do tempo ateacute se chegar a versatildeo

final com uma ampla gama de informaccedilotildees e curiosidades sobre os sete distritos de

Satildeo Francisco de Paula onde se pretende que os alunos e professores possam

fazer uso deste material em sala de aula para tanto a autora pretende

posteriormente lanccedilar o produto para que possa ser lido e manuseado por todos

inclusive por aqueles que gostam de histoacuteria e sentem curiosidade sobre a formaccedilatildeo

do seu distrito e por conseguinte do municiacutepio de Satildeo Francisco de Paula

O paradidaacutetico foi testado em duas turmas da Escola Estadual de Ensino

Meacutedio Lajeado Grande sendo uma de Ensino Meacutedio e a outra das seacuteries finais do

Ensino Fundamental Os alunos jaacute detinham o conhecimento que a autora estava

cursando o Mestrado e que para sua conclusatildeo deveria apresentar um produto Era

de conhecimento de todos os estudantes que a autora estava produzindo um

paradidaacutetico sobre a histoacuteria de Satildeo Francisco de Paula pois a mesma eacute professora

destes estudantes nesta escola

Em um primeiro momento se explica que eacute apenas um protoacutetipo que

somente a capa estaacute colorida e o restante estaacute todo em preto e branco e que a

versatildeo final teraacute as imagens e as curiosidades coloridas o que com certeza

chamaraacute mais atenccedilatildeo Ao entregar o paradidaacutetico Tropeando Histoacuterias em Satildeo

Francisco de Paula para que possam manuseaacute-lo veio a primeira grande surpresa

os estudantes ficaram muito contentes por a turma ter sido escolhida pela autora

escolha essa que se justifica por ter trabalhado todo o ano de 2017 com estes

alunos partindo da histoacuteria local

A turma do oitavo ano do Ensino Fundamental manuseou sendo que os

alunos acharam interessante poreacutem se deteram mais nas imagens e balotildees do

ldquovocecirc sabiardquo Mas de maneira ampla e geral acharam muito interessante a foto de

capa com o Monumento aos Carreteiros situado na Avenida Juacutelio de Castilhos em

frente ao preacutedio da Prefeitura Municipal pois alguns natildeo conhecem a Sede do

municiacutepio

Os alunos do segundo ano do Ensino Meacutedio se surpreenderam e foram direto

ler sobre o distrito no qual residem Interessados questionaram sobre curiosidades

de como o material foi construiacutedo quais as maiores dificuldades encontradas

elogiaram o leiaute as imagens de fundo ao lado de cada curiosidade relatando que

chama a atenccedilatildeo aleacutem de considerarem relevantes as sugestotildees de atividades e

ao final solicitaram quando o material estaraacute disponiacutevel para que possam ler

89

integralmente visto que um periacuteodo de cinquenta minutos natildeo foi suficiente para que

todos manuseassem se fazendo necessaacuterio levar novamente na proacutexima aula

A autora se sentiu motivada pela recepccedilatildeo do produto por seus alunos o que

a incentiva continuar pesquisando sobre outras temaacuteticas a respeito da histoacuteria de

Satildeo Francisco de Paula trazendo para seu fazer pedagoacutegico novas fontes que

proporcionem um estudo da Histoacuteria de maneira ampla e contextualizada com a

realidade local que os cerca

90

REFEREcircNCIAS

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Jornal Folha da Serra n 11 do dia 29 de setembro de 1968

Jornal Folha da Serra n 25 do dia 31 de dezembro de 1968

Jornal Folha da Serra n 89 do dia 07 de setembro de 1969

Jornal Satildeo Chico Tchecirc n 4 do dia 30 de abril de 1986

Jornal Satildeo Chico Tchecirc n 11 do dia 25 de maio de 1986

Jornal Satildeo Chico Tchecirc n 12 do dia 28 de maio de 1986

Jornal Pioneiro versatildeo digital do dia 02 de junho de 2017

Entrevistas

Amaacutelia Celuderes Cardoso residente no distrito de Lajeado Grande Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 08 de marccedilo de 2018

Blair dos Santos Fogaccedila residente no distrito de Lajeado Grande Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 06 de abril de 2018

Ceacutelia Pacheco Terres Basso residente no distrito de Cazuza Ferreira Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 04 de agosto de 2018

Darci da Silva Fagundes residente no distrito de Tainhas Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 24 de fevereiro de 2018

Deotildes Palhano dos Santos residente no distrito do Juaacute Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 12 de maio de 2018

Jaures Feijoacute Gomes residente no distrito de Eletra Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 15 de fevereiro de 2018

Luciana Olga Soares residente no distrito Sede Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 01 de marccedilo de 2018

Maria Madalena Scalco Faciole residente no distrito do Rincatildeo dos Kroeff Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 18 de marccedilo de 2018

Moacir Castello Branco de Albuquerque residente no distrito Sede Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 06 abril de 2018

95

Nauro Bossle de Andrade residente no distrito de Cazuza Ferreira Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 04 de marccedilo de 2018

Orides Reis residente no distrito do Juaacute Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 12 de maio de 2018

Reinaldo Faciole residente no distrito do Rincatildeo dos Kroeff Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 18 de marccedilo de 2018

Susana Marques Soares residente no distrito de Eletra Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 15 de fevereiro de 2018

96

APEcircNDICES

97

APEcircNDICE A ndash ENTREVISTA COM MORADORES LOCAIS DOS DISTRITOS DE

SAtildeO FRANCISCO DE PAULA

UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL

PROGRAMA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO EM HISTOacuteRIA ndash MESTRADO EM HISTOacuteRIA PROFISSIONAL

PESQUISA DE CAMPO ndash TATIANA MEacuteLO CARDOSO

1 Nome completo

2 Idade

3 Quantos anos reside neste distrito

4 Como se formou este distrito

5 Por que ele tem esse nome

6 Quem foram os primeiros moradores

7 Como era a vida aqui haacute tempos atraacutes

8 O que mudou aqui com o passar dos anos

9 O que identifica este lugar

10 As pessoas hoje que moram aqui na grande maioria satildeo naturais daqui ou vieram

de onde

11 A(o) Sra(Sr) acredita que as futuras geraccedilotildees valorizaram eou conheceram a

histoacuteria local ou vai se perder no tempo

12 Como funcionava a questatildeo do ensino em meados do seacuteculo XX havia escola na

localidade

13 Qual a primeira escola deste distrito data de fundaccedilatildeo local de funcionamento e a

primeira professora

14 Achas importante trabalhar nas escolas a histoacuteria do lugar

15 O que eacute tradiccedilatildeo deste distrito

16 Qual eacute a fonte de renda das pessoas no que elas trabalham

17 Qual eacute o lazer das pessoas aqui

98

APEcircNDICE B ndash TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Declaro por meio deste termo que concordei em ser entrevistado(a) eou participar na

pesquisa de campo referente ao projetopesquisa Ensino de Histoacuteria Local e o Paradidaacutetico

caso Satildeo Francisco de Paula desenvolvida pela aluna Tatiana Meacutelo Cardoso do Programa de

Poacutes-Graduaccedilatildeo em Histoacuteria ndash Mestrado Profissional da Universidade de Caxias de Sul Fui

informado(a) que poderei consultaacute-la a qualquer momento que julgar necessaacuterio atraveacutes do e-

mail t_ati_mhotmailcom

Afirmo que aceitei participar por minha proacutepria vontade sem receber qualquer

incentivo financeiro ou ter qualquer ocircnus e com a finalidade exclusiva de colaborar para o

sucesso da pesquisa Fui informado(a) dos objetivos estritamente acadecircmicos de estudo

Minha colaboraccedilatildeo natildeo ficaraacute anocircnima e foi realizada por meio de entrevista

semiestruturada A anaacutelise dos dados obtidos seratildeo divulgados natildeo permanecendo restritas

apenas a pesquisadora eou seu(s) orientador(es) coordenador(es)

Fui ainda informado(a) de que posso me retirar desse(a) estudopesquisa programa a

qualquer momento sem prejuiacutezo para meu acompanhamento ou sofrer quaisquer sanccedilotildees ou

constrangimentos Atesto recebimento de uma coacutepia assinada deste Termo de Consentimento

Livre e Esclarecido

Satildeo Francisco de Paula ___ de _____________ de ____

Assinatura do(a) participante

Assinatura do responsaacutevel

Page 9: UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL TATIANA MÉLO CARDOSO

Figura 31 ndash Atividade do livro (Sugestatildeo de Leituras Complementares) 84

Figura 32 ndash Alunos do Ensino Meacutedio 85

SUMAacuteRIO

1 INTRODUCcedilAtildeO 11

2 HISTOacuteRIA LOCAL E O ENSINO DE HISTOacuteRIA NA SALA DE AULA 17

3 SAtildeO FRANCISCO DE PAULA CONSTRUCcedilAtildeO DO MUNICIacutePIO 24

31 CONVERSA COM MEMORIALISTAS 25

32 AMPLIANDO O DIAacuteLOGO COM OS MEMORIALISTAS 28

4 SAtildeO FRANCISCO DE PAULA DISTRITOS EM FOCO 41

41 DISTRITO SEDE 42

42 DISTRITO DE CAZUZA FERREIRA 51

43 DISTRITO DE TAINHAS 55

44 DISTRITO DE ELETRA 58

45 DISTRITO DO JUAacute 62

46 DISTRITO DO RINCAtildeO DOS KROEFF 66

47 DISTRITO DE LAJEADO GRANDE 70

5 DESCRICcedilAtildeO DO PRODUTO 74

6 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 86

REFEREcircNCIAS 90

FONTES CONSULTADAS 94

APEcircNDICES 96

APEcircNDICE A ndash ENTREVISTA COM MORADORES LOCAIS DOS DISTRITOS DE

SAtildeO FRANCISCO DE PAULA 97

APEcircNDICE B ndash TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO 98

11

1 INTRODUCcedilAtildeO

Os meacutetodos de ensino de Histoacuteria no Brasil vem sendo discutidos desde sua

criaccedilatildeo como disciplina Segundo Nadai (1992-1993 p 144) a introduccedilatildeo de

Histoacuteria no curriacuteculo ocorre na terceira metade do seacuteculo XIX no Brasil sendo que

desde entatildeo passa por diversas modificaccedilotildees Segundo Schmidt e Cainelli (2009)

os meacutetodos foram se adequando ao momento histoacuterico brasileiro em um primeiro

momento ensinou-se a histoacuteria da Europa Ocidental como a verdadeira histoacuteria da

civilizaccedilatildeo uma histoacuteria abstrata sem relaccedilatildeo com a vida do aluno Nadai (1992-

1993 p 146) acrescenta que ldquoa histoacuteria da paacutetria surgia como seu apecircndice sem

corpo autocircnomo e ocupando um papel extremamente secundaacuterio consistia num

repositoacuterio de biografias de homens ilustres de datas e batalhasrdquo

Poreacutem a partir de 1860 segundo Schmidt e Cainelli (2009 p 12-13) ldquono

periacuteodo republicano a incorporaccedilatildeo da concepccedilatildeo de que a disciplina Histoacuteria tinha

a responsabilidade de formar cidadatildeos ganha forccedilardquo sendo assim as escolas

primaacuterias e secundaacuterias comeccedilaram incluir em seus programas a histoacuteria nacional

com o intuito da formaccedilatildeo da nacionalidade sendo a paacutetria com seus heroacuteis o

principal foco Desta forma a criaccedilatildeo das diretrizes da Lei de Educaccedilatildeo nordm 569271

reforccedila o modelo jaacute instaurado

Foi oficializado o ensino de Estudos Sociais nas escolas brasileiras ficando os conteuacutedos especiacuteficos da Histoacuteria destinados somente aos alunos do antigo segundo grau A concepccedilatildeo e os conteuacutedos da Histoacuteria continuavam atrelados agraves concepccedilotildees tradicionais (SCHMIDT CAINELLI 2009 p 13)

Com a redemocratizaccedilatildeo na deacutecada de 1980 houve inuacutemeras discussotildees

que elencaram inuacutemeras abordagens e temaacuteticas para o ensino da Histoacuteria na

atualidade as novas tendecircncias se preocupam com a transposiccedilatildeo didaacutetica

valorizando documentos histoacutericos e incorporando novas linguagens e tecnologias

que permitem discussotildees e autonomia de pensamento Neste sentido as novas

concepccedilotildees de ensino de Histoacuteria ao final do seacuteculo XX abrem a possibilidade de

uma nova praacutetica didaacutetica que segundo Azevedo e Stamatto (2010 p 709) ldquobusca

problematizar a relaccedilatildeo passado-presente e em geral tomam a realidade do aluno

como ponto de partidardquo

Por se acreditar em um ensino de Histoacuteria onde a aprendizagem natildeo ocorre

em periacuteodos estanques de forma abstrata e sem relaccedilatildeo com o presente ou seja

12

apresentando de forma linear sem que haja contextualizaccedilatildeo sendo apresentada

atraveacutes de leitura de textos eou resumos permeando com atividades que muitas

vezes natildeo permitem um desenvolvimento de raciociacutenio histoacuterico que contribua para

a construccedilatildeo da cidadania Torna-se urgente pensar em um ensino voltado para a

inclusatildeo de novas contribuiccedilotildees historiograacuteficas como a histoacuteria cultural econocircmica

e social buscando na realidade local subsiacutedios para a aprendizagem Por isso a

presente dissertaccedilatildeo traz a didatizaccedilatildeo da histoacuteria de Satildeo Francisco de Paula visto

que a questatildeo-problema estaacute vinculada ao natildeo uso da histoacuteria local no ensino de

Histoacuteria deste municiacutepio e o pouco material disponiacutevel para o uso dos professores

Parte-se do pressuposto que ao abranger a histoacuteria local os sujeitos se veem como

partiacutecipes desta histoacuteria estudada significando e ressignificando conceitos

histoacutericos

Corroborando com este estudo Cunha (2016) traz consideraccedilotildees importantes

relacionadas ao uso da histoacuteria local O autor aborda como algo essencial para

compreensatildeo da histoacuteria geral na educaccedilatildeo baacutesica o uso da histoacuteria local o que

proporcionaria aos estudantes o reconhecimento como cidadatildeo e a percepccedilatildeo e

identificaccedilatildeo dos lugares de memoacuteria por parte dos alunos bem como o sentimento

de pertencimento do local Desta forma despertaria no aluno o interesse por um

passado aparentemente desligado de sua realidade estabelecendo relaccedilotildees com o

seu cotidiano

Desta maneira acredita-se que os estudantes da educaccedilatildeo baacutesica

compreenderatildeo a histoacuteria como algo que faz parte de suas vidas tornando-se assim

sujeitos da histoacuteria pois se haacute reconhecimento haveraacute tambeacutem o sentimento de

pertencimento que poderaacute ajudaacute-los a manter ou modificar a realidade que os cerca

Assim descrevem Schmidt e Cainelli

Esse sentido do ensinar Histoacuteria natildeo significaria natildeo ter conteuacutedos para serem ensinados mas olhar para estes conteuacutedos a partir da possibilidade de construir com os alunos novas questotildees diante de conteuacutedos e temas propostos pela historiografia Aprender histoacuteria eacute discutir evidecircncias levantar hipoacuteteses dialogar com os sujeitos os tempos e os espaccedilos histoacutericos Eacute olhar para o outro em tempos e espaccedilos diversos (SCHMIDT CAINELLI 2009 p 20)

Dentro desta perspectiva o reconhecimento da memoacuteria social se faz

importante visto que se necessita invocaacute-la para que um determinado grupo ou local

reconheccedila sua identidade social Atraveacutes de entrevistas com moradores de Satildeo

13

Francisco de Paula se invoca a memoacuteria coletiva na busca da identidade dos sete

distritos deste municiacutepio Visto que a histoacuteria de Satildeo Francisco de Paula se inicia por

volta do seacuteculo XVIII quando se datam as primeiras sesmarias1 concedidas ao

capitatildeo Pedro da Silva Chaves Posteriormente o capitatildeo doa parte de suas terras

para a construccedilatildeo do povoado que recebe o nome de Satildeo Francisco de Paula de

Cima da Serra por este ser devoto do Santo Satildeo Francisco Reza no testamento do

capitatildeo Pedro da Silva Chaves que um de seus filhos foi o primeiro paacuteroco a rezar

missa no povoado Satildeo Francisco de Paula pertenceu a Santo Antocircnio da Patrulha

e mais tarde a Taquara emancipando-se em 1902

Haacute pouca bibliografia sobre a histoacuteria de Satildeo Francisco de Paula o que existe

satildeo livros escritos por memorialistas onde se percebe a prioridade pela histoacuteria do

fundador ou seja do Capitatildeo Pedro da Silva Chaves dos iacutendios Caaguaraacutes que

habitavam a regiatildeo assim como os aspectos poliacuteticos administrativos Alguns destes

livros apresentam uma siacutentese cronoloacutegica de fatos importantes e descrevem

superficialmente o jeito de viver do povo serrano2 Mas a histoacuteria de Satildeo Francisco

de Paula estaacute repleta de diferentes identidades que identificam a Sede3 e o Interior4

deste municiacutepio e formam o jeito de viver do seu povo A natildeo exploraccedilatildeo de

elementos culturais que se fazem importantes para a construccedilatildeo de identidade

destes lugares minimiza as memoacuterias e as tradiccedilotildees que ali se apresentam visto

que

as constantes novidades em diferentes campos do saber os avanccedilos da tecnologia as infinitas possibilidades de comunicaccedilatildeo simultacircnea tecircm provocado sobretudo nas novas geraccedilotildees uma sensaccedilatildeo de que o mundo em que se vive eacute dotado de um temporalidade constituiacuteda por um tempo presente contiacutenuo (FIGUEIRA MIRANDA 2012 p 46)

Neste sentido fez-se uso de diferentes fontes para a construccedilatildeo do produto

desta dissertaccedilatildeo que consiste de um paradidaacutetico que possa servir como um

1 Sesmaria Terreno sem culturas ou abandonado que a antiga legislaccedilatildeo portuguesa com base em

praacuteticas medievais determinava que fosse entregue a quem se comprometesse a cultivaacute-lo 2 Serrano gentiacutelico de quem nasce em Satildeo Francisco de Paula 3 Sede distrito criado em 07 de janeiro de 1903 na mesma data da instalaccedilatildeo oficial do Municiacutepio Eacute

o distrito onde se localiza a Prefeitura Municipal Foacuterum agecircncias bancaacuterias loteacutericas hospital casas comerciais e residecircncias particulares Normalmente os moradores do interior quando vatildeo ao distrito se referem como ldquovou a Satildeo Chicordquo e natildeo como ldquovou a Sederdquo

4 Interior Cazuza Ferreira Juaacute Eletra Rincatildeo dos Kroeff Tainhas e Lajeado Grande satildeo distritos que ficam na zona rural apesar de todos terem uma pequena vila que possui pouca infraestrutura Alguns destes distritos ainda usam aacutegua de vertentes sem nenhuma rede de esgoto pois natildeo possuem aacutegua fornecida pela Companhia de Aacutegua e Saneamento (CORSAN)

14

material disponiacutevel a alunos e professores no ensino de Histoacuteria de Satildeo Francisco

de Paula Segundo Munakata entendem-se como paradidaacuteticos

Livros que sem apresentar caracteriacutesticas proacuteprias dos didaacuteticos satildeo adotados no processo de ensino e aprendizagem nas escolas seja como material de consulta do professor seja como material de pesquisa e de apoio agraves atividades do educando (MUNAKATA 1997 p 103)

Para a construccedilatildeo do paradidaacutetico fez-se uso de bibliografias jaacute existentes

jornais e documentos da Assembleia da Legislativa bem como o uso da histoacuteria

oral sendo as entrevistas a fonte primordial para escrever sobre as semelhanccedilas e

diferenccedilas existentes no modo de vida da populaccedilatildeo de Satildeo Francisco de Paula

visto que os depoimentos satildeo importantes na preservaccedilatildeo das memoacuterias tradiccedilotildees

bem como das heranccedilas identitaacuterias Neste sentido Delgado (2003 p 23) discorre

ldquonarrativas memoacuterias histoacuterias e identidades satildeo a humanidade em movimento

Satildeo o olhar que permeiam tempos heterogecircnicos Satildeo a histoacuteria em construccedilatildeo Satildeo

memoacuterias que falamrdquo

Portanto a histoacuteria oral busca registrar as vivecircncias e lembranccedilas de um

determinado grupo Alberti (2008 p 29) assim define ldquohistoacuteria oral natildeo eacute um fim em

si mesma e sim um meio de conhecimentordquo Quando se trabalha com a histoacuteria

oral se faz necessaacuterio valorizar a memoacuteria as identidades e tradiccedilotildees pois estas

formam a histoacuteria local ou seja a histoacuteria dos indiviacuteduos que ali vivem Halbwachs

(2004) afirma que com a perda da memoacuteria coletiva tambeacutem se perdem as

tradiccedilotildees locais tradiccedilotildees essas que identificam o modo de viver de um determinado

local Hobsbawn e Ranger entendem que as tradiccedilotildees podem ou natildeo ser

inventadas

Tradiccedilatildeo inventada entende-se um conjunto de praacuteticas normalmente reguladas por regras taacutecitas ou abertamente aceitas tais praacuteticas de natureza ritual ou simboacutelica visam inculcar certos valores e normas de comportamento atraveacutes da repeticcedilatildeo o que implica automaticamente uma continuidade com relaccedilatildeo ao passado (HOBSBAWN RANGER 2015 p 8)

Hobsbawn e Ranger (2015) ainda acrescem que a criaccedilatildeo de uma tradiccedilatildeo

independe da imposiccedilatildeo de uma nova tradiccedilatildeo o que normalmente ocorre eacute uma

rebeliatildeo cultural que precede da elaboraccedilatildeo de novas tradiccedilotildees que satildeo adotadas

pela populaccedilatildeo e com o tempo passam a se tornar tradiccedilotildees daquele local

formando a identidade local

15

Neste sentido Hall (2011 p 39) discorre que ldquoas identidades satildeo fabricadas

por meio da marcaccedilatildeo da diferenccedilardquo O autor ainda acresce que ldquoa diferenccedila eacute aquilo

que separa uma identidade da outrardquo (HALL 2011 p 41) Dentro desta perspectiva

a memoacuteria que se apresenta atraveacutes de siacutembolos ou tradiccedilotildees respalda a

construccedilatildeo da identidade do povo de Satildeo Francisco de Paula visto que a memoacuteria eacute

a construccedilatildeo do passado de maneira atualizada e renovada no tempo presente

Assim Halbwachs (2004 p 64) descreve que ldquonatildeo eacute na histoacuteria aprendida eacute na

histoacuteria vivida que se apoia nossa memoacuteriardquo Nessa loacutegica o autor ainda descreve

que ldquoo mundo histoacuterico eacute como um oceano onde afluem todas as histoacuterias parciaisrdquo

(p 90)

O municiacutepio de Satildeo Francisco de Paula eacute repleto de tradiccedilotildees que perpassam

o tempo que estatildeo enraizadas no jeito serrano de ser formando a sua identidade

Portanto a histoacuteria de Satildeo Francisco de Paula descrita nesta dissertaccedilatildeo seraacute

apresentada em quatro capiacutetulos

O capiacutetulo dois apresenta a discussatildeo teoacuterica metodoloacutegica sobre a

importacircncia do ensino da Histoacuteria local na sala de aula Tambeacutem conceitos como

memoacuteria e identidade e a importacircncia de se abordar o local em prol do global

No capiacutetulo trecircs aborda-se a construccedilatildeo histoacuterica do municiacutepio de Satildeo

Francisco de Paula que vai desde a chegada do colonizador nesta terra ateacute as

instituiccedilotildees que se formam ao longo do tempo Para isso se faz uso de bibliografias

jaacute existentes como Lucena (1971) Oliveira (1996) Teixeira (2002) Ribeiro (2003)

Alves (2007) e Fonseca (2012) sendo todas essas obras importantes para Satildeo

Francisco de Paula visto que cada uma traz consigo um pouco da histoacuteria deste

municiacutepio poreacutem sente-se falta da identidade e da memoacuteria na construccedilatildeo histoacuterica

As obras satildeo apresentadas sob o mesmo prisma apresentando os iacutendios Caaguaraacutes

e o Capitatildeo Pedro da Silva Chaves os fundadores desta terra dando bastante

ecircnfase aos sobrenomes que ali se desenvolveram Tambeacutem se fez uso de

documentos da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul aleacutem de jornais

encontrados no Arquivo Histoacuterico de Satildeo Francisco de Paula

No capiacutetulo quatro utiliza-se da fonte oral para que sejam identificadas as

diferentes tradiccedilotildees e versotildees da histoacuteria local ou seja a identidade de cada distrito

constituindo assim as particularidades que constroem o municiacutepio de Satildeo Francisco

de Paula Para tanto buscaram-se depoentes nas vilas dos distritos sendo que a

escolha se deu por duas pessoas por distrito sendo um homem e uma mulher

16

totalizando treze depoentes todos da terceira idade pois segundo Bosi (1994 p

82) ldquoum mundo social que possui uma riqueza e uma diversidade que natildeo

conhecemos pode chegar-nos pela memoacuteria dos velhosrdquo memoacuterias estas

construiacutedas por suas vivecircncias neste local o que justifica a relevacircncia dos

depoimentos para a construccedilatildeo do trabalho

O capiacutetulo cinco apresenta uma descriccedilatildeo do produto que consiste em um

paradidaacutetico em forma fiacutesica abordando a histoacuteria de Satildeo Francisco de Paula A

escolha pelo formato fiacutesico acontece pelas dificuldades encontradas no interior dos

distritos com o acesso agrave internet assim se pensa que o formato fiacutesico abrangeraacute um

nuacutemero maior de alunos e professores

Para tanto utiliza-se a metodologia da Histoacuteria oral para escrever a memoacuteria

e as percepccedilotildees das pessoas que habitam este local Hobsbawn e Ranger (1995 p

103) escrevem que ldquoessa proximidade entre o periacuteodo analisado e sua histoacuteria

pessoal eacute o pano de fundo para a discussatildeo de alguns problemas que qualquer

historiador enfrenta ao escrever sobre seu proacuteprio tempordquo pois a sensibilidade do

historiador vai escrever sua narrativa Em outras palavras Hobsbawn e Ranger

(1995 p 104) explicam que ldquocada historiador tem sua proacutepria vida um lugar privado

a partir do qual inspeciona o mundordquo Tambeacutem afirmam

Para aqueles que querem escrever a histoacuteria do seacuteculo XX uma das mais importantes reside no simples fato de saber sem nenhum esforccedilo especial o quanto as coisas se modificaram Os uacuteltimos trinta ou quarenta anos foram os mais revolucionaacuterios da histoacuteria O mundo ou seja a vida dos homens e mulheres que vivem na Terra nunca foi transformada de maneira tatildeo profunda dramaacutetica e extraordinaacuteria dentro de um periacuteodo tatildeo curto As geraccedilotildees que natildeo viram como o mundo era antes tecircm dificuldade em perceber isso intuitivamente (HOBSBAWN RANGER 1995 p 107)

Portanto se faz importante perceber que o mundo vem se transformando de

maneira raacutepida modificando a vida das pessoas e por conseguinte as tradiccedilotildees e

identidades locais pois estas comunidades natildeo vivem de forma isolada e sofreram

influecircncias jaacute que a cultura natildeo eacute estagnada estaacute sempre em constante movimento

juntamente com as pessoas

17

2 HISTOacuteRIA LOCAL E O ENSINO DE HISTOacuteRIA NA SALA DE AULA

Discutir o ensino de Histoacuteria na educaccedilatildeo baacutesica e a relaccedilatildeo do mesmo com a

histoacuteria local se faz bastante importante para que a cada dia se possa melhorar as

praacuteticas pedagoacutegicas Neste sentido se busca respaldo em diferentes bibliografias

que possam embasar novos afazeres dentro do espaccedilo da sala de aula e

proporcionar ao estudante um novo olhar sobre a histoacuteria um olhar de sujeito ativo

dentro desse processo de ensino aprendizagem

Pois quando a Histoacuteria eacute ensinada como algo certo e imutaacutevel de maneira

fragmentada voltada para linearidade e memorizaccedilatildeo de fatos e datas reforccedila o

que Mendes (1935) e Schmidt e Cainelli (2009) defendem que realmente eacute odiosa a

histoacuteria ensinada por este vieacutes Percebe-se que o ensino de histoacuteria linear nos

moldes europeus positivistas jaacute natildeo daacute mais conta da importacircncia da histoacuteria para a

sociedade atual porque eacute apresentada aos alunos atraveacutes de datas e fatos escrita

pelo vieacutes de uma elite que normalmente eacute branca e deteacutem o poder poliacutetico eou

econocircmico Eacute inconcebiacutevel que se permaneccedila com um ensino de Histoacuteria que natildeo

serve natildeo motiva e segundo Ruumlsen (2001 p 25) ainda ldquoirracionalizardquo sendo esse

modelo muito frequente nas escolas de educaccedilatildeo baacutesica brasileiras

Natildeo eacute por outro motivo que observamos ainda nas uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo XX que para a maior parte dos estudantes brasileiros o estudo de histoacuteria carece de sentido ou utilidade natildeo se tem a visatildeo de ciecircncia e sim de uma mateacuteria decorativa estudo do passado que soacute exige como vimos a prontidatildeo em declinar nomes datas e fatos Natildeo eacute de se estranhar que assim seja porque ocorre a enorme distacircncia entre a realidade vivenciada pela comunidade e o tratamento dado ao ensino de Histoacuteria jaacute que o aluno se torna mero espectador de fatos natildeo necessitando esforccedilos no sentido de qualquer reflexatildeo ou elaboraccedilatildeo (BARBOSA 2006 p 58)

O ensinar da histoacuteria de forma abstrata fragmentada dificulta a compreensatildeo

do processo histoacuterico no sentido que se estuda os fatos isolados ao seu tempo

como se um fato precisasse terminar para iniciar outro Em outras palavras este

meacutetodo de ensino natildeo daacute a noccedilatildeo de continuidade ou seja a histoacuteria perdeu seu

sentido baacutesico que eacute a compreensatildeo do contexto global dos fatos considerando que

o ensino de Histoacuteria por muitas vezes eacute estanque sem uma relaccedilatildeo ldquopresente x

passadordquo sendo de suma importacircncia o despertar de uma consciecircncia criacutetica por

parte do estudante Por isso ao longo do tempo o ensino sofre influecircncia por parte

do ldquopoderrdquo segundo Laville (1999 p 128) ldquoa Histoacuteria eacute certamente a uacutenica disciplina

18

escolar que recebe intervenccedilotildees diretas dos altos dirigentes e a consideraccedilatildeo ativa

dos parlamentos Isso mostra quatildeo importante eacute ela para o poderrdquo Nesta linha o

autor ainda acrescenta que ldquoa narrativa histoacuterica pode tambeacutem ser vista como uma

tomada de poder por grupos sem poderrdquo (LAVILLE 1999 p 129)

Na busca de modificar esse modelo surgem novos meacutetodos que valorizam o

uso do documento histoacuterico e a incorporaccedilatildeo de novas tecnologias de acordo com

Azevedo e Stamatto (2010 p 720) ldquotem o desafio de responder a inquietaccedilotildees do

hojerdquo Partindo deste pressuposto haacute possibilidade de se modificar o ensino da

Histoacuteria que ateacute entatildeo estava voltado agrave memorizaccedilatildeo para um modelo onde o

sujeito seja agente deste processo

Ensinar Histoacuteria como algo pronto e acabado [] sem levar em conta o contexto e os sujeitos envolvidos no processo de ensino aprendizagem pode levar a um ensino que natildeo desenvolve o que eacute mais importante como funccedilatildeo do ensinar histoacuteria que orientar os problemas da vida praacutetica (SCHMIDT CAINELLI 2009 p 20)

Assim Seffner (2013 p 51) acrescenta que ldquoo ensino de Histoacuteria eacute um ensino

de situaccedilotildees histoacutericas Mais do que nomes datas e acontecimentos o professor

deve propiciar ao aluno a compreensatildeo de como se estrutura uma dada situaccedilatildeordquo

Para que o ensino de Histoacuteria seja ressignificado existe a necessidade de anaacutelise

do processo histoacuterico problematizando os fatos no vai e vem do presentepassado

Os estudantes da educaccedilatildeo baacutesica necessitam compreender a histoacuteria como

um processo em constante transformaccedilatildeo que eacute movimentada por sujeitos que a

compotildeem com permanecircncias e rupturas ao longo dos tempos Segundo Bittencourt

(2004 p 168) ldquoa histoacuteria local tem sido indicada como necessaacuteria para o ensino por

possibilitar a compreensatildeo do alunordquo

Corroborando Seffner (2013) Souza (2015) e Brum (2015) evidenciam a

importacircncia de se trabalhar a histoacuteria global partindo de uma histoacuteria local

problematizando levando hipoacuteteses e analisando os fatos histoacutericos o que gera

significado para o educando e torna o docente natildeo mais um mero transmissor mas

um mediador deste conhecimento Neves (1997 p 22) reforccedila que ldquoo local fora do

contexto geral eacute apenas um fragmento e o geral sem o respaldo das realidades

locais eacute apenas uma abstraccedilatildeordquo Com esta nova abordagem o estudar Histoacuteria tem

sentido para o discente que se sente sujeito de sua proacutepria histoacuteria visto que

19

identificar-se com o local onde se vive ajuda a compreender o sentimento de

pertencimento e suas relaccedilotildees com o meio social e cultural no qual estaacute inserido

Nesta perspectiva faz-se necessaacuterio que os professores busquem novas

alternativas de ensino que proporcionem ao estudante a habilidade de ressignificar o

fato histoacuterico estudado

Ensinar Histoacuteria requer do professor a habilidade de buscar sentido e significado para o conhecimento que ministra e isso significa superar a mera transmissatildeo de informaccedilotildees jaacute que essa natildeo tem por finalidade o desenvolvimento intelectual mas ao contraacuterio deforma a capacidade de pensamento histoacuterico do aluno e a possibilidade de consolidar habilidades de anaacutelise da proacutepria realidade social (SILVA PORTO 2012 p 67)

Goubert assim define a histoacuteria local

Denominaremos histoacuteria local como aquela que diga respeito a uma ou poucas aldeias a uma cidade pequena ou meacutedia (um grande porto ou uma capital estatildeo aleacutem do acircmbito local) ou a uma aacuterea geograacutefica que natildeo seja maior do que a unidade provincial comum (como um county inglecircs um contado italiano uma Land alematilde uma bailiwick ou pays francecircs) Praticada haacute tempos atraacutes com cuidado zelo e ateacute orgulho a histoacuteria local foi mais tarde desprezada mdash principalmente nos seacuteculos XIX e primeira metade do XX mdash pelos partidaacuterios da histoacuteria geral A partir poreacutem da metade desse seacuteculo a histoacuteria local ressurgiu e adquiriu novo significado na verdade alguns chegam a afirmar que somente a histoacuteria local pode ser autecircntica e fundamentada (GOUBERT 1992 p 70)

Neste sentido fica evidente a importacircncia de se partir de uma histoacuteria local

para uma global Atraveacutes da histoacuteria local os estudantes teratildeo contato com sua

histoacuteria e poderatildeo se sentir parte integrante deste espaccedilo que muitas vezes por

falta de conhecimento acabam renegando sua proacutepria identidade Figueira e Miranda

(2012 p 113) afirmam que ldquoum dos efeitos mais danosos da globalizaccedilatildeo eacute a

universalizaccedilatildeo dos gostosrdquo isto implica diretamente na perda da identidade local

que muitas vezes estaacute sendo afetada pelas muacuteltiplas identidades existentes Neste

sentido Silva e Porto descrevem

A globalizaccedilatildeo entretanto produz diferentes resultados em termos de identidade A homogeneidade cultural promovida pelo mercado global pode levar ao distanciamento da identidade relativamente agrave comunidade e agrave cultura local (SILVA PORTO 2012 p 21)

Neste sentido Canclini acrescenta

Las comunidades de consumidores se organiza cada vez menos seguacuten diferencias nacionales y sobre todo en las generaciones joacutevenes definen sus praacutecticas culturales de acuerdo con informacioacuten y estilos homogeneizados (CANCLINI 1997 p 42)

20

Globalizaccedilatildeo que impotildee atraveacutes dos meios de comunicaccedilatildeo e social uma

identidade geral que regra a sociedade seus haacutebitos e costumes Devido ao grande

movimento das pessoas pelo mundo perceber e manter uma identidade com

caracteriacutesticas locais fica a cada dia mais difiacutecil ainda mais em se tratando da

populaccedilatildeo jovem que natildeo reconhece ao seu redor o que representa a sua

identidade local

Valorar as experiecircncias locais proporcionaraacute aos estudantes uma nova

metodologia de abordar a histoacuteria

Do ponto de vista metodoloacutegico destaca-se nessa forma de abordagem a preocupaccedilatildeo com os conhecimentos preacutevios dos alunos com a problematizaccedilatildeo dos conteuacutedos de ensino selecionados para trabalho em sala de aula estabelecendo relaccedilotildees com o cotidiano dos alunos e com o cotidiano de outras pessoas em outros tempos e em outros lugares Enfatiza-se tambeacutem a busca de articulaccedilatildeo entre histoacuteria local e a histoacuteria universal (SCHMIDT 2007 p 193)

O ensino de histoacuteria partindo do local para o global possibilita segundo

Bittencourt (2004 p 168) ldquoa compreensatildeo do entorno do alunordquo sendo que um dos

aspectos relevantes para este ensino eacute a escolha de fontes que levem os estudantes

a se reconhecerem nesse processo histoacuterico O autor ainda acresce

Eacute pela memoacuteria que se chega agrave histoacuteria local Aleacutem da memoacuteria das pessoas escrita ou recuperada pela oralidade existem os lsquolugares de memoacuteriarsquo (grifo da autora) expressos por monumentos praccedilas edifiacutecios puacuteblicos ou privados mas preservados como patrimocircnio histoacuterico (BITTENCOURT 2004 p 169)

Esta memoacuteria vai contribuir para legitimaccedilatildeo da identidade local Sabe-se que

a identidade eacute algo mutaacutevel e segundo Silva e Porto (2012 p 38) ldquoas identidades

satildeo produzidas em momentos particulares no tempordquo O pesquisador ainda

acrescenta que ldquoas identidades satildeo contingentes emergindo em momentos

histoacutericos particularesrdquo Estas identidades precisam ser reconhecidas quando se fala

de histoacuteria local

Na mesma linha Ruumlsen descreve a identidade histoacuterica

Consiste na ampliaccedilatildeo do horizonte nas experiecircncias do tempo e nas intenccedilotildees acerca do tempo no qual os sujeitos agentes se asseguram da permanecircncia de si mesmos na evoluccedilatildeo do tempo O ponto extremo dessa consolidaccedilatildeo de identidade eacute a lsquohumanidadersquo como suprassumo dos pontos comuns em sociedade com respeito a diversos sujeitos agentes no processo de determinaccedilatildeo de suas proacuteprias identidades determinam as dos outros de forma tal que estes se reconhecem nelas Esse criteacuterio de sentido lsquohumanidadersquo fornece o paracircmetro para se constatar a consolidaccedilatildeo da

21

identidade em que desembocam o progresso contiacutenuo do conhecimento mediante a pesquisa histoacuterica e a ampliaccedilatildeo contiacutenua das perspectivas mediante a reflexatildeo histoacuterica sobre referenciais (RUumlSEN 2001 p 126)

A histoacuteria local eacute constituiacuteda por diferentes identidades que satildeo geradas pelos

grupos que compotildeem este espaccedilo A este respeito Silva e Porto (2011 p 41)

apresentam que ldquoa diferenccedila eacute aquilo que separa uma identidade da outrardquo Tambeacutem

eacute notaacutevel que para que haja a representaccedilatildeo de suas identidades locais faz-se

necessaacuterio o reconhecimento destas e a percepccedilatildeo que existem diferentes fatores

que diferenciam os grupos sociais

Portanto a identidade eacute constituiacuteda pelas posiccedilotildees eou escolhas feitas

sendo que muitas vezes elas satildeo racionais ou ateacute mesmo irracionais A identidade

eacute baseada na memoacuteria que pode ser individual ou coletiva Segundo Candau (2011

p 16) ldquoos laccedilos fundamentais entre memoacuteria e identidade eacute sobre o fato de que eacute a

memoacuteria faculdade primeira que alimenta a identidaderdquo

Se a memoacuteria gera a identidade natildeo se pode pesquisar e escrever sobre

histoacuteria local sem levar em conta estes dois conceitos primordiais pois a histoacuteria

local soacute teraacute valia se escrita pelo vieacutes do todo ou seja natildeo priorize um grupo ou

classe social todos os quadros sociais devem estar representados dentro deste

processo Nessa linha Schmidt e Cainelli descrevem

O estudo da localidade ou da histoacuteria regional contribui para uma compreensatildeo muacuteltipla da Histoacuteria pelo menos em dois sentidos na possibilidade de se ver mais de um eixo histoacuterico na histoacuteria local e na possibilidade da anaacutelise de micro histoacuterias pertencentes a alguma outra histoacuteria que as englobe e ao mesmo tempo reconheccedila suas particularidades (SCHMIDT CAINELLI 2009 p 139)

Uma histoacuteria que faz sentido que esteja englobada a outra histoacuteria A

memoacuteria coletiva entra na construccedilatildeo desta histoacuteria local e eacute primordial pois esta vai

dar elementos que constroem a identidade deste local sendo que a memoacuteria do

passado influencia na representaccedilatildeo da identidade Neste sentido conforme

Figueira e Miranda (2012 p 47) eacute necessaacuterio compreender a memoacuteria ldquocomo a

capacidade de conservar e de preservar dados refere-se a um conjunto de funccedilotildees

cerebrais que nos permite reter informaccedilotildees adquiridas e impressotildees vividasrdquo

Podendo ser ela individual ou coletiva sendo que a memoacuteria individual existe a partir

de uma memoacuteria coletiva jaacute que as lembranccedilas que ajudam a reconstruir o passado

partem do interior de um grupo

22

Para as Ciecircncias Humanas o conceito de memoacuteria estaacute ligado agrave memoacuteria

social e coletiva definida por Le Goff (2003 p 422) como ldquoo estudo da memoacuteria

social eacute um dos elementos fundamentais de abordar os problemas do tempo e da

histoacuteriardquo O autor ainda acrescenta que ldquoa memoacuteria coletiva eacute natildeo somente uma

conquista eacute tambeacutem um instrumento e um objeto de poderrdquo (LE GOFF 2003 p

410) Neste sentido Halbwachs (2004 p 90) ressalta que ldquotoda memoacuteria coletiva

tem por suporte um grupo limitado no espaccedilo e no tempo e o mundo histoacuterico eacute

como um oceano onde afluem todas as histoacuterias parciaisrdquo

Quando se abordam conceitos de memoacuteria e identidade no ensino de

histoacuteria estaacute se trazendo para o estudo os sujeitos que compotildeem aquele local com

suas vivecircncias que podem ser coletivas ou natildeo A transmissatildeo de saberes entre as

geraccedilotildees forma a identidade coletiva sendo o ser humano um agente ativo no

quadro social da memoacuteria

Halbwachs assim define os quadros coletivos da memoacuteria

Os quadros coletivos da memoacuteria natildeo se resumem em datas nomes e foacutermulas que eles representam correntes de pensamento e de experiecircncia onde reencontramos nosso passado porque este foi atravessado por isso tudo (HALBWACHS 2004 p 71)

Nesta direccedilatildeo Le Goff (2003 p 4) acrescenta que ldquoa memoacuteria social eacute um

dos meios fundamentais para se abordar os problemas do tempo e da histoacuteria A

memoacuteria estaacute nos proacuteprios alicerces da histoacuteriardquo Catroga (2001) reforccedila que a

memoacuteria eacute moldada a partir das vivecircncias e na sua narrativa vai haver uma

coerecircncia que se mistura passado e presente

Quando se escreve sobre histoacuteria local eacute importante considerar que ela estaacute

pautada em documentos assim como em memoacuterias escritas visuais ou orais Neste

sentido eacute perceptiacutevel que o uso dos diferentes tipos de memoacuteria satildeo alicerces que

conduzem o trabalho do historiador para que ele possa interpretar suas fontes e

validar seu trabalho Memoacuterias estas que podem ser apresentadas com documentos

oficiais ou atraveacutes de uma cultura material ou imaterial

A escrita de histoacuterias locais vem como um novo modelo de resguardar

identidades e memoacuterias que se natildeo preservadas iratildeo desaparecer pela influecircncia

da globalizaccedilatildeo e falta de conhecimento de futuras geraccedilotildees Barros assim

descreve

23

Os novos tempos comeccedilavam a trazer um novo padratildeo historiograacutefico novas aberturas retornos e possibilidades e tambeacutem incertezas para os historiadores no que se refere agrave natureza do conhecimento que produzem e ao papel do conhecimento histoacuterico na sociedade [] Entre as novidades postula-se a possibilidade de examinar a histoacuteria de acordo com uma nova escala de observaccedilatildeo ndash atenta para o detalhe para as micro realidades para aquilo que habitualmente escapa ao olhar panoracircmico da macro histoacuteria tradicional ndash e eacute esta nova postura que se passou a chamar de micro histoacuteria (BARROS 2012 p 306)

Diante deste contexto o ensino de Histoacuteria pode buscar na histoacuteria local a

problematizaccedilatildeo necessaacuteria para que os estudantes da educaccedilatildeo baacutesica

reconheccedilam a identidade local que vem sofrendo com a uniformizaccedilatildeo da

sociedade que impotildee uma conjuntura global do local

24

3 SAtildeO FRANCISCO DE PAULA CONSTRUCcedilAtildeO DO MUNICIacutePIO

A apresentaccedilatildeo do municiacutepio Satildeo Francisco de Paula acontece atraveacutes do

uso da narrativa Esta se apresenta atraveacutes do diaacutelogo com obras jaacute produzidas por

memorialistas eou genealogistas que contribuem para a construccedilatildeo histoacuterica deste

local bem como se usa como fonte de enriquecimento documentos da Assembleia

Legislativa do Rio Grande do Sul e jornais locais

Para tanto se apresenta a revisatildeo historiograacutefica das obras escritas pelos

memorialistas eou genealogistas sendo que Lucena (1971) em sua obra ldquoSatildeo

Francisco de Paula Monografiardquo que abrange aspectos histoacutericos da formaccedilatildeo do

municiacutepio bem como pontos turiacutesticos e demograacuteficos O proacuteprio autor intitula a sua

obra como informativa a riqueza de detalhes eacute interessante poreacutem natildeo haacute nenhuma

referecircncia quanto aos dados escritos nem mesmo um referencial bibliograacutefico ao

final

No texto intitulado ldquoOs Fundadores de Satildeo Francisco de Paulardquo Alves (2007)

escreve sobre a fundaccedilatildeo de Satildeo Francisco de Paula Em seu livro haacute documentos

que validam o que se refere agrave genealogia jaacute que boa parte da obra apresenta os

troncos familiares que compunham o iniacutecio deste municiacutepio Na mesma linha da

genealogia Oliveira (1996) no livro ldquoAurorescer das Sesmarias Serranas histoacuteria e

genealogiardquo traz a histoacuteria das primeiras sesmarias da regiatildeo mas o foco principal

se daacute aos proprietaacuterios e seus descendentes Haacute um mapa bastante interessante

localizando as sesmarias e o nome por elas recebidos

Em ldquoSatildeo Francisco de Paula nossa terra nossa genterdquo Teixeira (2002)

apresenta dados gerais e histoacutericos do municiacutepio Esta obra apresenta dados

geograacuteficos como clima relevo e vegetaccedilatildeo A autora escreve sobre diversos

aspectos eventos personalidades e lendas Aleacutem disso apresenta Satildeo Francisco

de Paula com uma linha cronoloacutegica A obra abrange vaacuterios aspectos mas todos

suscintamente No final a autora apresenta a bibliografia consultada dentre os

autores estaacute Lucena (1971)

O texto ldquoSatildeo Francisco de Paula Rio Grande do Sul histoacuteria encantos e

misteacuteriosrdquo eacute uma obra de Fonseca (2012) que traz diversidade de assunto muitas

vezes estes estatildeo desconexos ou seja sua leitura se torna ldquotruncadardquo No final do

texto haacute um vasto referencial bibliograacutefico dentre os autores citam-se Lucena

(1971) e Teixeira (2002)

25

Ribeiro (2003) eacute compositor e poeta Em ldquoFestival do Ronco do Bugiordquo

escreve sobre Satildeo Francisco de Paula apresentando a histoacuteria dos quinze anos do

festival no municiacutepio No iniacutecio contextualiza a origem do festival e do ritmo bugio

Depois apresenta a capa do disco de cada festival especificando as muacutesicas e os

compositores vencedores

Todas essas obras satildeo importantes para Satildeo Francisco de Paula cada uma

traz consigo um pouco da histoacuteria deste municiacutepio poreacutem sente-se falta da

identidade e da memoacuteria na construccedilatildeo histoacuterica As obras satildeo apresentadas o

mesmo prisma apresentando os iacutendios Caaguaraacutes e o Capitatildeo Pedro da Silva

Chaves os fundadores desta terra dando bastante ecircnfase aos sobrenomes que ali

se desenvolveram

31 CONVERSA COM MEMORIALISTAS

As terras onde hoje fica Satildeo Francisco de Paula eram habitadas por iacutendios da

tribo Caaguaraacutes que faziam parte dos Coroados Estes viviam livremente nos

campos de cima da serra e seus domiacutenios estendiam-se entre a Serra Geral e a

Serra do Mar Os iacutendios Caaguaraacutes tinham como haacutebitos alimentares a caccedila a

pesca e a coleta de sementes e frutos dentre os frutos o pinhatildeo e a goiaba-do-

mato segundo Teixeira (2002) e Alves (2007) Estes iacutendios tiveram seu habitat

invadido por incursotildees de desbravadores que comeccedilaram a trafegar pela regiatildeo em

busca de mulas e novas terras visto que as terras onde hoje se encontra Satildeo

Francisco de Paula de Cima da Serra foram rota de tropeiros5 pois estes trafegavam

pelos Campos de Cima da Serra indo na direccedilatildeo de Lages-SC ateacute alcanccedilarem

Sorocaba-SP6 Ao passarem por esta regiatildeo foram se formando pequenos vilarejos

e construindo um jeito peculiar de viver

Neste cenaacuterio aparece o municiacutepio de Satildeo Francisco de Paula de Cima da

Serra que recebe este nome para se diferenciar de Satildeo Francisco de Paula

denominaccedilatildeo recebida ateacute meados de 1830 pelo municiacutepio de Pelotas Poreacutem na

metade do seacuteculo XVIII Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra possuiacutea

5 Tropeiros homens que conduziam suas tropascomitivas de muares ou cavalos entre as regiotildees 6 Sugere-se a leitura FLORES Moacyr Troperismo no Brasil Porto Alegre Nova Dimensatildeo 1998

SAVARIS Manoelito Tropas e tropeiros o Rio Grande toma forma Disponiacutevel em ltwwwrogeriobastoscombr201104trpas-e-tropeiros-o-rio-grande-tomahtmlgt Acesso em 12 mar 2016

26

proprietaacuterios de terras sendo que um dos pioneiros foi Pedro da Silva Chaves um

portuguecircs casado com Gertrudes de Godoy uma paulista Pedro da Silva Chaves

declara em 1742 ser possuidor de terras neste municiacutepio Segundo Oliveira (1996)

em seu testamento Pedro da Silva Chaves rege que possui trecircs fazendas na regiatildeo

uma chamada Satildeo Joatildeo que se localiza desde o Arroio Santa Cruz ateacute o Rio

Tainhas concedida em 1752 por sesmaria a Fazenda da Cria que foi comprada de

Francisco Pinto Bandeira e confirmada como sesmaria em 1754 e a Fazenda

denominada Cerrito comprada do Capitatildeo Antocircnio Gonccedilalves dos Reis Nestas

fazendas havia criaccedilatildeo de cavalos gado vacum mulas e burros As fazendas

tambeacutem apresentavam em torno de 77 escravos sendo que alguns satildeo casados o

que se faz pensar que estes constituiacuteam famiacutelia aumentando assim o nuacutemero de

escravos da regiatildeo No mapa da Figura 1 verifica-se a localizaccedilatildeo das fazendas do

capitatildeo Pedro da Silva Chaves bem como sua extensatildeo territorial

Figura 1 ndash Mapa de Identificaccedilatildeo das Sesmarias Serranas

Fonte Oliveira (1996 p 236)

27

No mapa apresentado na Figura 1 ainda eacute possiacutevel observar a localizaccedilatildeo

onde inicia o povoado de Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra segundo

Lucena (1971 p 1) ldquoiniciou-se com o Capitatildeo Pedro da Silva Chaves que doou

uma gleba de terra para que fosse iniciado o povoadordquo Tambeacutem segundo Lucena

(1971 p 1) ldquodoou cinquenta vacas para construir o primeiro patrimocircnio da Igreja

cuja construccedilatildeo foi iniciada por sua conta e lhe deu o nome de Satildeo Francisco por

este ser devoto do Santordquo O que demonstra que Pedro da Silva Chaves era

Catoacutelico

Neste periacuteodo compreendido como seacuteculo XIX segundo Teixeira (2002) e

Alves (2007) o atual municiacutepio de Satildeo Francisco de Paula pertencia ao municiacutepio de

Santo Antocircnio da Patrulha municiacutepio este que formava juntamente com Porto

Alegre Rio Pardo e Rio Grande a proviacutencia de Satildeo Pedro do Rio Grande do Sul

atual Rio Grande do Sul Eacute possiacutevel observar a grande extensatildeo territorial de cada

municiacutepio no mapa apresentado na Figura 2 segundo Silva (2000) Santo Antocircnio

da Patrulha anexava as freguesias de N Sra Conceiccedilatildeo do Arroio e N Sra da

Oliveira da Vacaria a capela de Satildeo Domingos das Torres e os povoados de Santa

Cristina do Pinhal e Cima da Serra

Analisando o mapa da Figura 2 eacute possiacutevel perceber que o municiacutepio de Santo

Antocircnio da Patrulha tinha um vasto e extenso territoacuterio que atualmente compreende

os municiacutepios de Vacaria Antocircnio Prado Nova Roma do Sul Lagoa Vermelha

Veranoacutepolis Nova Prata Nova Araccedilaacute Nova Bassano Paraiacute Guabiju Satildeo Jorge

Vista Alegre do Prata Protaacutesio Alves Cotiporatilde Fagundes Varela Vila Flores

Caseiros Birajaras Andre da Rocha Capatildeo Bonito do Sul Muitos Capotildees Bom

Jesus Satildeo Joseacute dos Ausentes Esmeralda Ipecirc Campestre da Serra Monte Alegre

dos Campos Taquara Satildeo Francisco de Paula Cambaraacute do Sul e Jaquirana

28

Figura 2 ndash Divisatildeo Municipal em 1809 ndash Proviacutencia Satildeo Pedro do Rio Grande do Sul

Fonte Evoluccedilatildeo Administrativa (2013)7

32 AMPLIANDO O DIAacuteLOGO COM OS MEMORIALISTAS

Segundo documentos da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul8

disponiacuteveis no Arquivo Histoacuterico de Satildeo Francisco de Paula9 em 1852 atraveacutes da

Lei nordm 266 de 30 de novembro de 1852 eleva-se agrave categoria de freguesia a entatildeo

capela Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra pelo entatildeo vice-governador da

proviacutencia de Satildeo Pedro do Rio Grande do Sul o senhor Luiz Alves Leite de Oliveira

Bello Estes documentos ainda retratam que no ano de 1886 houve distribuiccedilatildeo de

lotes devolutos para pessoas pobres que comprovassem residecircncia haacute pelo menos

trecircs anos e se comprometessem a ldquofundar moradiardquo em um prazo de um ano sendo

assim passados trecircs anos seriam donos definitivos destes lotes dando o iniacutecio ao

povoamento da vila No mesmo periacuteodo acontece a criaccedilatildeo do cemiteacuterio municipal

7 Disponiacutevel em ltwwwatlassocioeconomicorsgovbrevolucao-administrativa-1809-a-2013gt Acesso

em 18 mar 2017 8 O diaacutelogo com memorialista se amplia a partir de agora com contribuiccedilotildees de documentos

pesquisados que corroboram para a compreensatildeo do tema 9 BARBOSA Eni GONCcedilALVES Jorge Joseacute Xavier (Orgs) Documentos histoacutericos da Assembleia

Legislativa do Rio Grande do Sul Arquivo Histoacuterico de Satildeo Francisco de Paula 1992

29

que ocorre em 1891 segundo documentos da Assembleia Legislativa disponiacuteveis

no Arquivo Histoacuterico de Satildeo Francisco de Paula Estes documentos informam que

primeiramente somente moradores que comprovassem residecircncia haacute mais de trecircs

anos e pudessem manter os jazigos de seus entes poderiam fazer uso deste

espaccedilo Atraveacutes desta documentaccedilatildeo se percebe que havia toda uma organizaccedilatildeo

para que ldquoestrangeirosrdquo natildeo se estabelecessem em Satildeo Francisco de Paula de Cima

da Serra

Em 1889 Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra passa a categoria de vila

e deixa de pertencer a Santo Antocircnio da Patrulha passando a ser distrito do

municiacutepio de Taquara do Mundo Novo (hoje Taquara) o que traz mudanccedilas

significativas para a vila

Mesmo havendo distribuiccedilatildeo de lotes apoacutes quinze anos percebe-se na

Figura 3 que o povoado ainda era pequeno cercado de campos que constituiacuteam

fazendas com criaccedilatildeo de gado vacum tendo como principal economia a pecuaacuteria

extensiva Ao alto pode-se visualizar a Igreja Matriz construiacuteda pelo capitatildeo Pedro

da Silva Chaves

Figura 3 ndash Vista da vila de Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra (1901)

Fonte Portal Satildeo Chico (2018)10

10 PORTAL SAtildeO CHICO Fotos antigas de Satildeo Francisco de Paula 2018 Disponiacutevel em

ltwwwsaochicocombrantigasgt Acesso em 12 abr 2019

30

Ainda eacute possiacutevel observar atraveacutes da Figura 3 que neste periacuteodo natildeo havia

nenhuma preocupaccedilatildeo com a organizaccedilatildeo urbana ou seja ruas quadras as

construccedilotildees se apresentam de maneira desordenada Poreacutem passados vinte e dois

anos na Figura 4 jaacute eacute possiacutevel visualizar uma estrutura urbanizada com possiacutevel

organizaccedilatildeo de ruas e quadras mas a vila ainda eacute rodeada de campos

Figura 4 ndash Vista Avenida Juacutelio de Castilhos (1923)

Fonte Lucena (1971 p 67)

O desenvolvimento da Sede de Satildeo Francisco de Paula acontece segundo

Lucena (1971 p 27) ldquonos primeiros anos de vida isto eacute de 1910 a 1924 mais ou

menos devido agrave extraccedilatildeo da erva-mate que era abundante em nossos matos nas

zonas da serrardquo O autor ainda acrescenta

O pioneiro na extraccedilatildeo da erva-mate em nossa Comuna foi o proprietaacuterio Carlos Miguel Kroeff dono da fazenda Potreirinho praticamente arrabalde de nossa cidade No barba-quaacute11 se iniciava todo processo de industrializaccedilatildeo da erva-mate sendo que Satildeo Francisco de Paula chegou a ter quinhentos barbaacute-quas (LUCENA 1971 p 28)

11 Barba-quaacute um valo de cerca de oito metros de comprimento amis ou menos por um metro de

profundidade e oitenta centiacutemetros de largura coberto de xaxim e terra em uma das extremidades colocava-se um gradeado e acima deste em uma parte tambeacutem coberta e mais alta tinha apenas uma saiacuteda sob o gradeado colocava-se as folhas de erva extraiacuteda da aacutervore no iniacutecio do valo fazia-se um fogo e a fumaccedila que pela pouca ventilaccedilatildeo existente formava bastante fumaccedila e esta atingia as folhas secando-as (LUCENA 1971 p 28)

31

A produccedilatildeo de erva-mate contribuiu para o povoamento da vila visto que

muitas pessoas vieram trabalhar e acabaram se instalando no municiacutepio Apoacutes a

extraccedilatildeo da erva-mate surge a extraccedilatildeo de madeira que tambeacutem contribui para o

desenvolvimento

Nesta documentaccedilatildeo ainda se encontra no artigo nordm 251 de 08 de abril de

1891 a liberaccedilatildeo da verba para abrir a estrada de rodagem que liga as vilas de

Taquara do Mundo Novo e Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra em 1889

Atraveacutes da Figura 5 pode-se perceber o quatildeo difiacutecil era abrir uma nova estrada de

rodagem Tudo era manual com o uso de animais e muares para transportar pedras

e terras poreacutem a abertura desta estrada traz mudanccedilas significativas para a

populaccedilatildeo de Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra

Figura 5 ndash Abertura da estrada ERS-020 Taquara ndash Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra

Fonte Jornal Folha da Serra (1968 n 89 p 8)12

12 Folha da Serra jornal criado em 1932 pelo Dr Siacutelvio Rabelo sendo o uacutenico jornal que existia na

regiatildeo serrana Este trazia notiacutecias sociais poliacuteticas etc com uma tiragem em torno de 500 exemplares por semana Encontram-se no Arquivo Histoacuterico de Satildeo Francisco de Paula alguns exemplares ateacute a deacutecada de 70 seacuteculo XX

32

A estrada visava facilitar o acesso da populaccedilatildeo de Satildeo Francisco de Paula

de Cima da Serra que ia ateacute Taquara para buscar gecircneros de primeira necessidade

Em tempos idos os serranos se abasteciam de gecircneros de primeira necessidade quase que totalmente em Taquara e o transporte era feito em cargueiros que compunham uma tropa com cerca de quinze a vinte cargueiros Os animais usados para esse transporte eram geralmente muares mais resistentes para o transporte de carga Os serranos levavam daqui queijo (o queijo ateacute hoje chamado queijo serrano) charque couros e alguns levavam maccedilatilde ou pinhatildeo em suas eacutepocas de colheita trocados por mantimentos de que necessitavam Natildeo existiam ainda estradas e o trajeto era feito por picadas existentes (LUCENA 1971 p 23)

O mesmo autor ainda acrescenta

Para atingir a capital do Estado a viagem era cheia de peripeacutecias O transporte era feito a cavalo ou em diligecircncias ateacute Taquara As diligecircncias carros de quatro de rodas puxados por quatro animais ndash cavalos ndash eram de propriedade de Bertolo Casara mais conhecido por lsquoJoatildeo Gringorsquo Essa viagem se fazia normalmente em um dia e agraves vezes em dia e meio O ponto de parada era ali no Rodeio Bonito onde existia uma casa agrave esquerda bem defronte a estrada que desce para Trecircs Coroas [] De Taquara a Porto Alegre por via ferroviaacuteria ndash de trem (LUCENA 1971 p 16)

A construccedilatildeo desta estrada traz um novo desenvolvimento para a entatildeo vila

de Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra pois apoacutes a abertura da estrada de

rodagem Taquara ndash Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra modifica o transporte

de mercadorias entre as localidades

O transporte de mercadorias era feito em carretotildees de quatro rodas puxados uns por cinco animais outros por sete as maiores que geralmente eram muares Eram atrelados em duas fileiras Na fileira junto agrave carreta que era de duas ou trecircs mulas na da esquerda montava o carreteiro Este toda vez que se verificava um declive na estrada apeava de sua montaria a fim de brecar a carreta sem que esta entretanto parasse (LUCENA 1971 p 24)

Este modelo de comeacutercio vai desaparecer com o surgimento das primeiras

casas de comeacutercios na vila de Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra De acordo

com Lucena (1971 p 38) ldquoos primeiros comerciantes foram Manoel Vicente

Ferreira Abel Pacheco Luis Carlos de Andrade e Jacob Bossle Sobrinhordquo Na

imagem da Figura 6 temos o Accedilougue Central onde nota-se que os animais

convivem soltos na rua juntamente com as pessoas mesmo se tratando de local

urbano

33

Figura 6 ndash Accedilougue Central

Fonte Portal Satildeo Chico (2018)13

Nesta mesma documentaccedilatildeo haacute decretos que definem a construccedilatildeo de uma

nova Igreja Matriz isto eacute uma Igreja de Pedra substituindo a antiga que era de

madeira ainda construiacuteda pelo capitatildeo Pedro da Silva Chaves esta construccedilatildeo data

do ano de 1922 Segundo Teixeira (2002 p 30) a Igreja de Pedra permanece ateacute

1960 quando daacute lugar ao atual preacutedio da Igreja Matriz que foi inaugurada em 14 de

junho de 1964 Na sequecircncia teremos duas imagens demonstrando a Igreja de

Pedra e a atual edificaccedilatildeo da Igreja Matriz Natildeo foi encontrada nenhuma foto da

Igreja de Madeira nos arquivos do Arquivo Histoacuterico do Municiacutepio somente em um

site de fotos antigas onde encontra-se registro apresentado na Figura 7

13 PORTAL SAtildeO CHICO Fotos antigas de Satildeo Francisco de Paula 2018 Disponiacutevel em

ltwwwsaochicocombrantigasgt Acesso em 12 abr 2019

34

Figura 7 ndash Igreja Matriz em 1931

Fonte Portal Satildeo Chico (2018)14

Figura 8 ndash Igreja Matriz

Fonte acervo da autora (2015)

14 PORTAL SAtildeO CHICO Fotos antigas de Satildeo Francisco de Paula 2018 Disponiacutevel em

ltwwwsaochicocombrantigasgt Acesso em 12 abr 2019

35

Entre os anos de 1892 a 1902 por duas vezes Satildeo Francisco de Paula de

Cima da Serra eacute desanexado e reanexado ao entatildeo municiacutepio de Taquara do Mundo

Novo Somente em 23 de dezembro de 1902 foi reestabelecido definitivamente o

municiacutepio de Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra cuja instalaccedilatildeo se verificou

em 07 de janeiro de 1903 A partir de 01 de janeiro de 1938 perde ldquoCima da Serrardquo

de sua nomenclatura permanecendo somente Satildeo Francisco de Paula Apesar

disso se manteacutem o gentiliacutecio ldquoSerranordquo de acordo com Silva (2000 p 23) e dados

do Arquivo Histoacuterico de Satildeo Francisco de Paula sendo que este gentiliacutecio eacute usado

ateacute os dias de hoje

No iniacutecio o municiacutepio de Satildeo Francisco de Paula foi um dos maiores do Rio

Grande do Sul em territoacuterio mas ao longo do tempo foi diminuindo seu territoacuterio

com a anexaccedilatildeo de parte dele ao entatildeo municiacutepio de Caxias do Sul e de Torres e a

criaccedilatildeo dos municiacutepios de Cambaraacute do Sul em 1963 e Jaquirana em 1988

Foi uma das maiores Comunas do Estado pois de seu territoacuterio faziam parte os atuais municiacutepios de Satildeo Marcos Cambaraacute do Sul e Jaquirana e os distritos de Vila Oliva Criuacuteva Fazenda Souza e Vila Seca hoje integrantes de Caxias do Sul De nosso territoacuterio foi tambeacutem desanexada uma gleba de terra ndash Josafaacute ndash e anexada ao municiacutepio de Torres (LUCENA 1971 p 10)

Mesmo perdendo parte de seu territoacuterio ao longo dos anos atualmente

segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (2016) ldquoSatildeo Chicordquo como

costumeiramente eacute chamado pelo seu povo estaacute situado na Encosta Inferior do

Nordeste do Estado do Rio Grande do Sul na zona denominada de Campos de

Cima da Serra Fica distante 112 quilocircmetros da capital do Estado Porto Alegre Os

municiacutepios limiacutetrofes satildeo Monte Alegre dos Campos Bom Jesus Jaquirana

Cambaraacute do Sul Praia Grande-SC Trecircs Forquilhas Itati Maquineacute Riozinho

Rolante Taquara Trecircs Coroas Canela e Caxias do Sul Possui uma aacuterea territorial

de 3264490 quilocircmetros quadrados com uma estimativa populacional de 21617

habitantes distribuiacutedos na zona urbana e rural O municiacutepio se divide em sete

distritos Sede Cazuza Ferreira Tainhas Juaacute Eletra e Lajeado Grande Atraveacutes do

conjunto de mapas apresentado na Figura 9 eacute possiacutevel visualizar a localizaccedilatildeo de

Satildeo Francisco de Paula dentro do Rio Grande do Sul e por conseguinte no Brasil

Tambeacutem se verifica a localizaccedilatildeo dos distritos de Satildeo Francisco de Paula

36

Figura 9 ndash Mapa de localizaccedilatildeo de Satildeo Francisco de Paula

Subdivisatildeo de Satildeo Francisco de Paula em distritos

Fonte montagem da autora (2019)

Desta forma se constitui o espaccedilo fiacutesico do municiacutepio de Satildeo Francisco de

Paula cuja populaccedilatildeo natildeo forma uma colocircnia pois seu povo adveacutem de diferentes

lugares a grande maioria com descendecircncia lusa sendo que os primeiros

colonizadores foram bandeirantes paulistas

A populaccedilatildeo de Satildeo Francisco de Paula eacute composta de brancos africanos e indiacutegenas Os brancos compreendendo portugueses (principalmente

37

accedilorianos) alematildees e italianos os africanos pertenciam ao grupo dos bantos e foram trazidos pelos portugueses (TEIXEIRA 2002 p 147)

A diversidade de pessoas que se estabeleceram em Satildeo Francisco de Paula

pode ser percebida pelos sobrenomes das famiacutelias precursoras do municiacutepio

Para Satildeo Francisco de Paula afluiacuteram famiacutelias de diversas nacionalidades que atraveacutes de seus descendentes ainda hoje aqui satildeo representadas como Famiacutelias Ferreira Soares Pinto Castilhos Asmuz Santos Martins Lopes Comin Feijoacute Silva Canani Peixoto Andrade Teixeira Valin Lucena Alves Cardoso Gomes Borges Marques Tedesco Medeiros Paglioacuteli Costa Fogaccedila Casara em outras (LUCENA 1971 p 11-12)

Os moradores deste municiacutepio introduziram um jeito singular de viver tendo

em seu cotidiano as tradiccedilotildees gauacutechas15 muito presentes Teixeira (2002 p 83)

assim descreve que ldquoas raiacutezes gauacutechas estatildeo fortemente marcadas na comunidade

seja pelo modo de vestir bombacha botas cinturotildees chapeacuteus e no inverno com o

pala ou pela preferecircncia por comidas campeiras churrasco carreteiro feijatildeo

mexidordquo A autora acrescenta que ldquoas casas com lareira e o tradicional fogatildeo agrave

lenha para aquececirc-las durante o inverno rigoroso satildeo um convite para uma

conversa ao peacute do fogo e o saboreio de um gostoso chimarratildeordquo (TEIXEIRA 2002 p

83)

O enraizamento deste modo de vida adveacutem do homem do campo o

pecuarista que no passado necessitava enviar seus filhos a cidade para estudar

contribuindo para este modelo de vida

Antigamente a pecuaacuteria era a atividade econocircmica muito forte em nosso municiacutepio Assim sendo havia muitos fazendeiros E como as fazendas ficavam muito longe da Sede do municiacutepio as senhoras tinham seus filhos em casa com parteiras Tambeacutem os estudos iniciavam nas fazendas porque as escolas ficavam longe Assim muitas vezes os fazendeiros contratavam professoras para se hospedarem nas suas casas e darem aulas aos seus filhos Em muitos casos ateacute mesmo os proacuteprios pais e avoacutes ensinavam alguma coisa Alguns fazendeiros quando seus filhos ficavam maiores os mandavam continuarem seus estudos na vila (assim lsquoSatildeo Chicorsquo era chamada) (TEIXEIRA 2002 p 77)

Com a vinda dos filhos para a vila trouxeram consigo o jeito do homem do

campo sendo que um dos maiores clubes em funcionamento de Satildeo Francisco de

Paula eacute o atual Centro de Tradiccedilotildees Gauacutechas Rodeio Serrano fundado em maio de

15 Tradiccedilotildees gauacutechas segundo Fagundes (1997 p 38) eacute um movimento ciacutevico-cultural [] eacute a

tradiccedilatildeo em marcha resgatando valores que satildeo vaacutelidos natildeo por serem antigos mas por serem eternos exatamente os valores que trouxeram o Rio Grande e o gauacutecho do passado para o presente projetando-se para o futuro

38

1955 Segundo o Jornal Folha da Serra (1968 n 11 p 12) a entidade

tradicionalista receacutem-formada recebe o nome de CTG Coronel Alziro Torres Filho

Fonseca (2012 p 223) menciona que a iniciativa partiu de ldquoDavenir Peixoto Gomes

um homem ruralista e serranordquo Esta entidade tradicionalista teve como primeiro

Patratildeo Oscar Teixeira O CTG Alziro Torres Filho segundo o jornal Folha da Serra

(1957) muda sua nomenclatura em uma reuniatildeo onde o posteiro da invernada

artiacutestica Alaor Valim propotildee a troca do nome para Rodeio Serrano nome que

permanece ateacute a atualidade

A entidade tradicionalista traz como lema ldquoRepontando a Tradiccedilatildeo com o Rio

Grande na Garupardquo Fonseca (2012 p 224) relata que o lema foi ldquocriado pelo

primeiro instrutor de danccedilas Dr Alaor de Almeida Valimrdquo O mesmo autor acrescenta

que ldquoa primeira prenda foi a professora Maria Asmuz Valimrdquo Poreacutem sua sede

somente foi construiacuteda em 1968 sob a patronagem de Dante Santos O Jornal Folha

da Serra (1968 n 11 p 12) indica que ldquoa construccedilatildeo da sede era uma aspiraccedilatildeo de

longos anos que somente agora se concretizardquo Anteriormente ldquoos bailes eram

realizados em sua maioria no Salatildeo Paroquial sendo que alguns foram feitos no

primeiro andar da Associaccedilatildeo Rural e ateacute mesmo na Sociedade Cruzeirordquo

(FONSECA 2012 p 225) Este fato justifica a vontade de Dante Santos de construir

uma sede proacutepria

Apoacutes a construccedilatildeo de sua nova sede o CTG Rodeio Serrano localiza-se na

Rua Benjamim Constant nordm 582 constituindo um espaccedilo importante para a

comunidade de Satildeo Francisco de Paula Dentre as atividades desenvolvidas pelo

CTG estaacute o Rodeio Interestadual que ocorre todos os anos no primeiro final de

semana de dezembro sendo que se encontra na 33ordf ediccedilatildeo A manutenccedilatildeo das

invernadas artiacutesticas em todas as categorias mascote mirim juvenil e adulta A

organizaccedilatildeo da Ronda Crioula na Semana Farroupilha bem como a Cavalgada de

Prendas que ocorre durante a Semana Farroupilha todos os anos Realiza-se o

baile da Prenda Jovem aleacutem de shows e bailes tipicamente gauchescos Aleacutem

disso nos uacuteltimos anos a organizaccedilatildeo do Festival Ronco do Bugio que ocorre em

Satildeo Francisco de Paula ldquofestival este lanccedilado em 16 de abril 1986rdquo segundo o

Jornal Satildeo Chico Tchecirc (1986 n 4 p 5)16

16 Satildeo Chico Tchecirc jornal de circulaccedilatildeo quinzenal fundado em 08 de janeiro de 1986 e que circulou

ateacute 1989 O jornal trazia informaccedilotildees culturais sociais econocircmicas e poliacuteticas da Sede e do

39

Durante os seus sessenta e dois anos de existecircncia muitos patrotildees

passaram por esta entidade tradicionalista mas em 2017 pela primeira vez na

histoacuteria o CTG Rodeio Serrano teve uma patronagem feminina Aleacutem da Patroa

Neuza Reis foram empossadas a Capataz Elenita Amaral a Sota-capataz Fernanda

Kirsch Damasceno o Agregado das Pilchas Antocircnio Garcia de Souza e no

Conselho de Vaqueanos Neiva Santos Valim

Figura 10 ndash Patroa Neuza Reis e sua Comissatildeo

Fonte Jornal Pioneiro (2017)17

Satildeo Francisco de Paula hoje conta com vinte e oito entidades

tradicionalistas18 espalhadas pelos seus distritos demonstrando que homem do

campo se faz muito presente em todo o municiacutepio sendo assim a cultura

interior Os exemplares encontram-se encadernados no arquivo histoacuterico de Satildeo Francisco de Paula

17 Jornal Pioneiro conhecido como o jornal que estaacute ldquoao teu ladordquo o Pioneiro circula desde 1948 e estaacute presente hoje em 64 municiacutepios da regiatildeo de Caxias do Sul Desde 1993 integra a rede de jornais do Grupo RBS sendo filiado ao Instituto Verificador de Circulaccedilatildeo (IVC) Conta com uma equipe de Redaccedilatildeo com mais de 40 jornalistas aleacutem de colunistas internos e externos Em 2008 o jornal ganhou o site pioneirocom Disponiacutevel em lthttpwwwgruporbscombratuacaopioneirogt acesso em 10 de fevereiro de 2019

18 Informaccedilatildeo cedida pelo Coordenador da 27ordf Regiatildeo Tradicionalista Gauacutecha

40

tradicionalista se apresenta de maneira forte e consistente segundo vaacuterios

depoimentos de moradores de todos os distritos de Satildeo Francisco de Paula

41

4 SAtildeO FRANCISCO DE PAULA DISTRITOS EM FOCO

Quanto aos distritos de Satildeo Francisco de Paula surgem diversas

inquietaccedilotildees com relaccedilatildeo agrave identidade destes locais pois estes mesmo fazendo

parte de um mesmo municiacutepio apresentam singularidades que derivam de sua

colonizaccedilatildeo basicamente lusa portuguesa e da recepccedilatildeo de imigrantes de diversas

etnias como italianos e alematildees ao longo destes cento quinze anos de

emancipaccedilatildeo Percebe-se que alguns distritos manteacutem sua identidade e tradiccedilotildees

resguardadas enquanto em outros jaacute ocorreu agrave miscigenaccedilatildeo de diferentes haacutebitos

e culturas o que dificulta identificar traccedilos que identifiquem estes distritos

Neste capiacutetulo busca-se responder a estas inquietaccedilotildees fazendo uso dos

depoimentos de moradores locais Segundo Delgado (2003 p 21) ldquoessas

narrativas tal qual os lugares da memoacuteria satildeo instrumentos importantes de

preservaccedilatildeo e transmissatildeo das heranccedilas identitaacuterias e das tradiccedilotildeesrdquo Neste sentido

se optou por dois moradores por distrito totalizando treze entrevistados um homem

e uma mulher da terceira idade que sempre morou no distrito o que enriquece os

detalhes repassados pelos entrevistados

Toda entrevista tem por base a memoacuteria individual que se referencia na coletiva profundamente relacionada agraves vivecircncias individuais A utilizaccedilatildeo do depoimento de pessoas idosas como fonte para a histoacuteria oral eacute uma forma de justificar a entrevista como histoacuterica referindo-se ao passado jaacute que aos idosos se pretende atribuir a guarda de memoacuterias do passado pelo proacuteprio tempo de vida do depoente Isto retoma e ajuda a fortalecer a ideia de que a histoacuteria mesmo tratando do tempo presente ainda se reporta a um periacuteodo anterior ao da vida do pesquisador (ALMEIDA 2012 p 10)

A entrevista somente ocorreu quando o entrevistado concordou em assinar o

termo de consentimento As entrevistas ocorreram nas residecircncias dos

entrevistados foram preacute-agendadas sendo que o meacutetodo utilizado foi entrevista

guiada atraveacutes de questionaacuterio previamente organizado pela autora as entrevistas

foram filmadas e gravadas onde somente uma entrevistada natildeo autorizou a

filmagem de seus relatos justificando a idade avanccedilada e por morar sozinha

A escolha pela histoacuteria oral hibrida ocorreu no sentido de que a fonte oral eacute o

principal recurso utilizado para colher informaccedilotildees sobre os distritos visto que em

sua grande maioria natildeo haacute publicaccedilotildees Poreacutem em determinados momentos se

utilizam fontes documentais como complemento do que vem sendo apresentado

Com relaccedilatildeo agrave abordagem adotada nas entrevistas se optou pela temaacutetica visto

42

que se leva um roteiro preacute-organizado com temas que deveratildeo ser explorados

durante as entrevistas o que proporciona uma riqueza de informaccedilotildees para a

autora

41 DISTRITO SEDE

O distrito Sede se constitui no local onde se inicia o povoado do municiacutepio na

antiga Fazenda da Cria terras doadas pelo capitatildeo Pedro da Silva Chaves Neste

distrito concentram-se os serviccedilos puacuteblicos e privados que os moradores

necessitam em seu dia-a-dia visto que ali existem bancos casas loteacutericas

farmaacutecias hospital supermercados lojas papelarias livraria inspetoria veterinaacuteria

secretaacuterias municipais escolas puacuteblicas e privadas creches induacutestrias de madeiras

e calccedilados

Poreacutem o distrito Sede ou cidade de Satildeo Chico como popularmente

conhecida pelo seu povo jaacute foi uma cidade de interior ou seja uma cidade pequena

com moradores que vinham das fazendas em busca de estudo Visto que a

implementaccedilatildeo de uma rede regular de ensino ocorre tardiamente devido agrave

dificuldade de se locomover pelas distantes localidades entatildeo normalmente os

fazendeiros contratavam professores para que seus filhos obtivessem estudo sendo

que estes moravam na proacutepria residecircncia da famiacutelia Em entrevista com essa autora

relata Albuquerque19 que ldquopara aprimorar os estudos aqueles que tinham mais

condiccedilotildees iam para Porto Alegre Santa Maria ou Passo Fundo mas para isto

ficavam laacute em internatos e soacute retornavam nas feacuterias devido agrave dificuldade e o custo

da viagemrdquo

Na deacutecada de 40 foi criada a Escola Catoacutelica de Satildeo Francisco de Paula

cujo funcionamento acontece ateacute 1973 quando foram encerradas suas atividades

Esta escola iniciou com o curso primaacuterio e posteriormente instalou o curso ginasial

Normalmente estes moradores permaneciam de segunda-feira a sexta-feira na

cidade e nos finais de semana retornavam para as fazendas como recorda uma

moradora local

Noacutes eacuteramos uma cidade de fazendeiros a gente tinha uma casa no campo e uma na cidade a gente vivia de laacute pra caacute de caacute pra laacute fim de semana ia

19 ALBUQUERQUE Moacir Castello Branco de Entrevista concedida agrave autora no dia 06 de abril de

2018

43

pra fora20 dia de semana vinha pra caacute normalmente uma irmatilde mais velha voacute ficava com a gente aqui na cidade e a famiacutelia mesmo ficava no campo21

Percebe-se que hoje ainda existem na Sede moradores que manteacutem suas

casas na cidade e durante o dia ou nos finais de semana vatildeo ateacute suas fazendas

para fazer as lides com o gado o que caracteriza uma pequena parte da populaccedilatildeo

que foram os filhos dos antigos fazendeiros que mais tarde acabam se instalando

definitivamente na cidade trazendo com sigo a essecircncia do homem do campo e

afirmando uma identidade genuinamente gauacutecha definiccedilatildeo esta concedida por uma

moradora local

Gauacutecho natildeo eacute o morador do Rio Grande do Sul o morador do Rio Grande do Sul eacute o sul-rio-grandense ou rio-grandense do sul o gauacutecho eacute apenas o homem que vem da pecuaacuteria extensiva essa que existe laacute no pampa e aqui nos campos de cima da serra o gauacutecho serrano com caracteriacutesticas muito proacuteprias grandes gaiteiros poetas aliaacutes o maior gaiteiro do mundo eacute daqui natildeo abro matildeo de dizer isto soacute que todos noacutes viacutenhamos da lida do campo em decorrecircncia disso eacuteramos gauacutechos de verdade22

Em sua fala apresenta o gauacutecho serrano como um tipo singular que ama a

pilcha gauacutecha o seu pingo e suas criaccedilotildees bem como reafirma a importacircncia dos

Irmatildeos Bertussi Honeide e Adelar sendo Adelar Bertussi um dos maiores gaiteiros

deste municiacutepio Exaltam-se tambeacutem os poetas que com suas poesias e letras de

muacutesicas escrevem o jeito do seu povo viver

Mesmo a cidade sendo ldquolocal de paradardquo durante a semana para a maioria

de seus habitantes no passado era cheia de atrativos que o campo natildeo possuiacutea

como o cinema cuja instalaccedilatildeo natildeo se encontra documentada mas sabe-se que

iniciou onde hoje eacute o preacutedio da Prefeitura Municipal sendo proprietaacuterio Francisco

Ferraz (Chico Ferraz como era conhecido) Observa-se em alguns exemplares do

Jornal Folha da Serra23 os filmes e os horaacuterios do funcionamento do cinema

Entende-se que o jornal era uma maneira de divulgar os filmes por ser o uacutenico meio

de comunicaccedilatildeo da eacutepoca Pelos folhetins se percebe que as sessotildees

apresentavam diversos gecircneros natildeo se sabe quando o cinema finalmente fechou

20 Fora refere-se ir para a fazenda 21 SOARES Luciana Olga Entrevista concedida agrave autora no dia 01 de marccedilo de 2018 22 SOARES Luciana Olga Entrevista concedida agrave autora no dia 01 de marccedilo de 2018 23 Folha da Serra jornal local criado em 1932 pelo Dr Siacutelvio Rabelo passando posteriormente a

propriedade da Prefeitura Municipal Sua impressatildeo era na ordem de 500 exemplares natildeo se tem a informaccedilatildeo do periacuteodo que parou de circular mas pelos exemplares encontrados no Arquivo Histoacuterico de Satildeo Francisco de Paula os uacuteltimos datam de 1978 O Arquivo Histoacuterico de Satildeo Francisco de Paula fica em um preacutedio anexo agrave Biblioteca Puacuteblica do municiacutepio

44

poreacutem o jornal Folha da Serra traz uma reportagem que retrata como estava difiacutecil

manter o cinema em funcionamento em meados de 1968 ldquoo nosso cinema na

maneira que vai indo natildeo tem mais condiccedilotildees de funcionar natildeo temos apoio da

populaccedilatildeo com uma frequecircncia de mais ou menos 150 pessoas por final de

semanardquo O jornal acrescenta ldquosalienta-se que mais ou menos de 3 de nossa

CULTA populaccedilatildeo natildeo frequenta o cinemardquo Pode-se associar o fechamento do

cinema a dois fatores a natildeo cultura de assistir filmes e pelas sessotildees ocorrerem nos

finais de semana onde boa parte da populaccedilatildeo da cidade se deslocava para as

fazendas ou pela crise que os cinemas passaram na deacutecada de 80 quando em

muitas cidades foram fechados

A vida da populaccedilatildeo local vai se modificando cada vez mais as pessoas vatildeo

se instalando definitivamente na Sede onde se perde o viacutenculo com o campo

Devido agrave venda ou arrendamento das fazendas24 que por render pouco a pecuaacuteria

extensiva e com a criaccedilatildeo de novas legislaccedilotildees que proiacutebem praacuteticas centenaacuterias

seus proprietaacuterios buscaram novas possibilidades econocircmicas que modificaram a

Sede e tambeacutem boa parte do interior Em entrevista a moradora Soares relata

Exatamente porque a produccedilatildeo era pequena isso natildeo serve para o mundo de hoje a uns quarenta anos chega em nossos campos as primeiras plantaccedilotildees de pinus interessante que ningueacutem reclamou da destruiccedilatildeo desse campo de milhotildees de anos e de todo o ecossistema mas mesmo com essa nova cultura continuamos realizando a sapeca do campo no mecircs de agosto mas de repente chega a notiacutecia que estaacute proibida a queima do campo dizendo que noacutes estragaacutevamos a terra poluiacuteamos o ar que mataacutevamos animais e tudo aquilo natildeo era verdade Na verdade alguns anos depois da lei proibindo a queima do campo chegam as multas gigantescas agraves vezes maior que o valor da terra e aiacute inviabilizou a pecuaacuteria e muitos fazendeiros venderam suas terras e foram embora Quem ficou no campo na busca por renda a qualquer preccedilo arrenda seus campos para os batateiros que vieram acredito que a grande maioria de Santa Catarina e do Paranaacute estes lavram o campo nunca mais o campo nem com reza braba taacute tudo perdido para sempre e isso reflete na nossa cidade25

Essas mudanccedilas no campo refletem na Sede onde o homem serrano convive

passivamente com novas identidades que embora sejam presentes eacute minoria pois

esta parcela de novos moradores traz consigo um novo jeito de viver que ainda natildeo

se percebe influenciar na identidade cultural da Sede

24 Propriedades rurais cuja atividade principal eacute a praacutetica da pecuaacuteria extensiva e a produccedilatildeo do

queijo artesanal serrano 25 SOARES Luciana Olga Entrevista concedida agrave autora no dia 01 de marccedilo de 2018

45

Na Sede desde o iniacutecio se observam quatro clubes sociais a Sociedade

Cruzeiro a Sociedade 9 de Julho a Sociedade Esperanccedila e o Centro de Tradiccedilotildees

Gauacutechas Cada clube social tem sua importacircncia histoacuterica poreacutem alguns natildeo se

manteacutem ativos

A Sociedade 9 de Julho foi fundada em 27 de setembro de 1961 estando

localizada no bairro Rincatildeo Segundo o jornal Folha da Serra (1968 n 96 p 5)

apoacutes sete anos de sua fundaccedilatildeo ldquoseu presidente Galego promete uma nova e

confortaacutevel sede para a sociedaderdquo Sociedade que se apresenta por sua

versatilidade nos eventos ateacute os dias atuais

O jornal Folha da Serra (1968 n 96 p 5) traz a seguinte mateacuteria ldquoas quatro

noites foram repletas de alegria naquela sociedade onde os foliotildees divertiram-se e

quando se anunciou o final da quarta noite houve quem lamentasse o final da festa

do Momordquo A reportagem refere-se ao carnaval que se desenvolve de forma

popular nesta sociedade Neste espaccedilo na deacutecada de 1990 ocorria um baile na

sexta-feira que antecedia ao Festival do Ronco do Bugio um espaccedilo onde jovens se

encontravam para iniciar as festividades do grande festival da cidade poreacutem na

atualidade este evento natildeo ocorre mais Pelos cartazes de divulgaccedilatildeo de eventos

atuais a Sociedade 9 de Julho se torna um espaccedilo bastante versaacutetil e segundo

dados obtidos no site da proacutepria sociedade o local apresenta shows bailes

tradicionalistas domingueiras e festas temaacuteticas

Sabe-se da existecircncia da Sociedade Esperanccedila devido a uma reportagem a

respeito do carnaval escrita no jornal Folha da Serra (1968 n 11 p 25) ldquoos

escurinhos tambeacutem natildeo ficaram para traacutes e demonstraram que satildeo bons no samba

porque soacute quem assistiu pode ver como brincaram e que maravilha de ritmo

marcaram durante as quatro noitesrdquo A reportagem daacute a entender de se tratar de

uma sociedade frequentada por negros e pode-se entender que ao usar o termo

escurinho na reportagem haacute preconceito racial perpassando a ideia de que por

serem negros natildeo poderiam se divertir da mesma maneira que os brancos

Atualmente se encontra no local um espaccedilo residencial e comercial

A Sociedade Cruzeiro foi fundada em 9 de maio de 1925 pela elite da

sociedade serrana Segundo Teixeira (2002) e Fonseca (2012) sua sede social era

na Avenida Juacutelio de Castilhos onde hoje se situa a agecircncia do Banrisul e teve como

primeiro presidente o Sr Antocircnio Mario Kroeff e o secretaacuterio Sr Joatildeo Parobeacute de

Lucena Sua nova sede foi inaugurada de acordo com Fonseca (2012 p 236) ldquono

46

dia 11 de dezembro de 1965 e esta permanece no mesmo endereccedilo ateacute a

atualidade Situa-se na Rua Dr Frederico Tedesco nordm 1261rdquo

Atualmente este espaccedilo eacute usado para convenccedilotildees ou festas particulares

onde as pessoas locam o espaccedilo para realizarem seu evento Neste espaccedilo natildeo

mais ocorrem grandes eventos sociais como Fonseca (2012 p 232) descreve ldquoos

bailes mais elegantes e vistosos desta sociedade ocorrem aquirdquo Fonseca (2012 p

233) ainda complementa que ldquoa primeira Miss Sociedade Cruzeiro foi eleita em 1937

e a vencedora foi a jovem Zilah Teixeirardquo

A Sociedade Cruzeiro tambeacutem foi palco de bailes de carnaval O Jornal Folha

da Serra (1968 n 11 p 25) descreve ldquocomo sempre a Sociedade Cruzeiro ponteou

o nosso carnaval com blocos fantasiados magnificamente fazendo acrobacias ao

som de excelente muacutesica local onde os turistas afluiacuteramrdquo Contrapondo a este

tempo a moradora local Soares26 discorre de maneira saudosa ldquoque saudades do

carnaval hoje eacute bebedeira perdeu o encanto perdeu tudo Na rua o pessoal

gritando sem nenhuma infraestrutura nem os bailes na sociedade natildeo ocorrem

maisrdquo

O distrito Sede jaacute foi palco de inuacutemeros clubes sociais que ao longo do tempo

foram perdendo seu encanto e ateacute mesmo fechando-se para atividades sociais O

que permanece em pleno funcionamento eacute o Centro de Tradiccedilotildees Gauacutechas Rodeio

Serrano o que justifica uma cultura tradicionalista presente neste distrito Dentre as

atividades desenvolvidas por esta entidade estatildeo o Rodeio Interestadual com

atividades campeiras e artiacutesticas que ocorrem todos os anos no primeiro final de

semana de dezembro a manutenccedilatildeo das invernadas artiacutesticas em todas as

categorias mascote mirim juvenil e adulta

A organizaccedilatildeo da Ronda Crioula na Semana Farroupilha com a participaccedilatildeo

das escolas da Sede e do interior que trazem seus grupos de danccedilas bem como

organizam gincanas Outra atividade tambeacutem desenvolvida por esta entidade eacute a

Cavalgada de Prendas que ocorre durante a Semana Farroupilha desde 1992

sendo Satildeo Francisco de Paula pioneira nesta ideia onde somente mulheres

participam da cavalgada que culmina com o desfile na Avenida Juacutelio de Castilhos

Realiza-se tambeacutem o Baile da Prenda Jovem que eacute o baile de debutante gauacutecho

onde as prendas entre 13 e 15 anos satildeo apresentadas agrave sociedade Aleacutem disso nos

26 SOARES Luciana Olga Entrevista concedida agrave autora no dia 01 de marccedilo de 2018

47

uacuteltimos anos a organizaccedilatildeo e apresentaccedilatildeo do Festival Ronco do Bugio que ocorre

em Satildeo Francisco de Paula faz parte da programaccedilatildeo desta entidade Este festival

apresenta exclusivamente o gecircnero musical bugio Haacute pelo menos duas hipoacuteteses

sobre a origem deste gecircnero musical

A primeira eacute de berccedilo serrano e teria mais fiel escudeiro o inesqueciacutevel acordeonista de Satildeo Francisco de Paula Honeyde Bertussi Siqueira Segundo ele o ritmo teria sido originaacuterio pelas matildeos do gaiteiro Vergiacutelio Leitatildeo que no jogo-de-foles e nos baixos de sua gaita de botatildeo teria imitado o ronco do bicho nos caponetes de cima da serra [] teria difundido pelas bodegas do Juaacute interior de Satildeo Chico (SOUZA 2003 p 15)

A segunda hipoacutetese eacute apresentada por Souza (2003 p 15) que apresenta a

versatildeo dada pelo povo de Satildeo Francisco de Assis que diz que ldquoa origem do ritmo e

oriunda desta localidade que por sinal realizava um festival nativista chamado

Querecircncia do Bugiordquo

Desconhece-se a verdadeira origem do gecircnero musical bugio mas Souza

(2003 p 23) afirma que ldquoJoatildeo Cincinato Terra muacutesico atuante sentiu a

necessidade de nosso municiacutepio acompanhar o movimento jaacute que neste periacuteodo se

expande por todo o estado do Rio Grande do Sul os festivais nativistasrdquo O

lanccedilamento do primeiro festival do Ronco do Bugio acontece em 1986 no CTG

Rodeio Serrano com a participaccedilatildeo de vaacuterios representantes da muacutesica nativista e

da comunidade serrana Seu lanccedilamento oficial ocorre em 16 de abril de 1986

O jornal Satildeo Chico Tchecirc (1986 n 11 p 6) noticiou que o primeiro Festival do

Ronco do Bugio contou com 98 muacutesicas escritas sendo 24 as selecionadas O

festival ocorreu entre os dias 13 e 15 de maio e Souza (2003 p 42) descreve que foi

apresentado ldquosob uma lona de circo estaqueada num gramado amador mas de

tantas gloacuterias futeboliacutesticas o campo do Clube Atleacutetico Serranordquo

A muacutesica vencedora do primeiro Ronco do Bugio foi ldquoLevanta Bugiordquo

defendida pelo cantor e compositor gauacutecho Leonardo Observando fotos percebe-se

que o Ronco do Bugio se deu em uma noite fria de inverno

O Festival Ronco do Bugio desde o seu iniacutecio premia melhor arranjo

conjunto instrumental instrumentista inteacuterprete e a muacutesica mais popular Fatima

Gimenez foi a melhor inteacuterprete do primeiro festival defendendo a muacutesica ldquoPinheiro

Gringordquo composiccedilatildeo de Erian Fogaccedila e Laerte Fortes Novamente a roupa dos

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muacutesicos reforccedila que na noite da entrega da premiaccedilatildeo fazia muito frio A cantora

tambeacutem se apresenta vestindo um chiripa coberto por um pala27

Na Figura 11 observamos a fotografia de Gonzaga dos Reis muacutesico local

sentado com sua gaita instrumento que lhe deu o precircmio de melhor instrumentista

do primeiro Ronco do Bugio Nesta oportunidade o cantor instrumentista e

compositor defendeu a muacutesica ldquoBugio da Minha Terrardquo

Figura 11 ndash Gonzaga dos Reis

Fonte Jornal Satildeo Chico Tchecirc n 4 p 8 (1986)

A composiccedilatildeo ldquoBugio Tiranordquo que foi defendida pelo conjunto Os Tiranos de

Satildeo Francisco de Paula ganhou o precircmio mais popular

Para o Jornal Satildeo Chico Tchecirc (1986 n 11 p 7) o Festival Ronco do Bugio eacute

ldquoum festival autecircntico e original que aconteceu com grande sucesso em Satildeo

Francisco de Paulardquo No encerramento deste grande evento Joatildeo Chagas Leite se

27 Chiripa e pala satildeo trajes tipicamente gauacutechos Sendo que o chiripa atualmente eacute uma veste de

preferecircncia feminina este fica enrolado na cintura e vai ateacute os joelhos ldquoEacute um pano inteiro passado entre as pernas primeiro de traacutes para frente e depois de frente para traacutes pode ser de latilde ou lisordquo (ABREU 2003 p 67) O pala eacute uma peccedila retangular com franjas nos quatro lados e listras no sentido do comprimento

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apresenta segundo o Jornal Satildeo Chico Tchecirc (1986 n 11 p 8) ldquocom composiccedilotildees

como Corda de Espinho Orelhano Pampa Campo e Querecircncia Coraccedilatildeo de

Estudante e Afiosrdquo

O Festival Ronco do Bugio perpassa o tempo segundo o site da Prefeitura

Municipal

O Festival Ronco do Bugio eacute um evento musical nativista que acontece anualmente na Cidade de Satildeo Francisco de Paula com o intuito de preservar e difundir o uacutenico ritmo originaacuterio do Rio Grande do Sul ou seja o lsquobugiorsquo compasso criado justamente no interior deste municiacutepio Tal criaccedilatildeo se deu a partir da criatividade dos gaiteiros serranos que buscaram imitar com seu instrumento musical o ronco do primata nos matos da serra A festividade agora em sua 26ordf ediccedilatildeo eacute genuiacutena pois eacute o uacutenico da Ameacuterica onde obrigatoriamente os participantes devem utilizar um ritmo somente isto eacute o citado lsquobugiorsquo embora a temaacutetica seja abrangente Por este motivo eacute chamado de lsquoO Festival Mais Autecircntico do Rio Grandersquo Aleacutem do forte enfoque cultural que envolve toda a comunidade musical do Estado o Festival tem seu apelo ecoloacutegico pois chama a atenccedilatildeo para a preservaccedilatildeo da espeacutecie hoje quase em extinccedilatildeo O Ronco do Bugio por sua importacircncia no cenaacuterio cultural rio-grandense criou uma identidade ao povo de Satildeo Francisco de Paula pois junto ao evento estaacute intriacutenseco e vem agrave tona o histoacuterico da criaccedilatildeo do municiacutepio caracterizado pela forte influecircncia dos antigos tropeiros desbravadores e povoadores desta parte do paiacutes (PREFEITURA MUNICIPAL DE SAtildeO FRANCISCO DE PAULA 2017)

No mesmo documento disponibilizado pela Prefeitura Municipal de Satildeo

Francisco de Paula observam-se algumas informaccedilotildees a respeito da realizaccedilatildeo do

festival no ano de 2017

Art 1ordm - O 26ordm Ronco do Bugio realizar-se-aacute no municiacutepio de Satildeo Francisco de Paula nos dias 01 e 02 de setembro de 2017 Art 2ordm - a festividade agora em sua 26ordf ediccedilatildeo eacute genuiacutena pois eacute a uacutenica na Ameacuterica Latina com promoccedilatildeo da Prefeitura Municipal de Satildeo Francisco de Paula e do CTG Rodeio Serrano com apoio de oacutergatildeos puacuteblicos e iniciativa privada Art 3ordm - Satildeo objetivos do 26ordm Ronco do Bugio a) valorizar a tradiccedilatildeo arte cultura e a autecircntica muacutesica regionalista

gauacutecha atraveacutes do seu ritmo mais original b) prestigiar autores compositores inteacuterpretes e conjuntos regionalistas e

incentivar o surgimento de novos valores c) divulgar a muacutesica regional gauacutecha d) valorizar a relevante posiccedilatildeo na formaccedilatildeo de usos e costumes

caracteres e valores espirituais e morais do gauacutecho e) promover e incentivar a cultura gauacutecha projetando Satildeo Francisco de

Paula na maneira mais autecircntica no cenaacuterio do turismo (PREFEITURA MUNICIPAL DE SAtildeO FRANCISCO DE PAULA 2017)

Como eacute possiacutevel observar no artigo 4ordm ldquoA organizaccedilatildeo do 26ordm Ronco do Bugio

ficaraacute a cargo da Comissatildeo Organizadora composta por membros da Prefeitura

Municipal e do CTG Rodeio Serranordquo (PREFEITURA MUNICIPAL DE SAtildeO

50

FRANCISCO DE PAULA 2017) Devido agrave importacircncia identitaacuteria do festival para o

municiacutepio ao se chegar agrave cidade na deacutecada de 90 se encontrava o seguinte

outdoor

Figura 12 ndash Outdoor entrada da cidade na ERS-020

Fonte Souza (2003 p 17)

Assim como o tiacutetulo de ldquoCapital Mundial do Bugiordquo Satildeo Francisco de Paula ldquojaacute

obteve vaacuterios slogans dentre eles o de Satildeo Chico eacute terra boardquo (TEIXEIRA 2002 p

149-150)

Mesmo ocorrendo inferecircncias externas advindas com pessoas que trouxeram

consigo uma identidade diferente Soares28 em entrevista afirma ldquoSatildeo Chico eacute

identificada pela cultura tradicionalista gauacutecha a cuia em frente ao antigo preacutedio da

prefeitura demonstra o siacutembolo da hospitalidade de nosso povordquo A permanecircncia

ativa do CTG Rodeio Serrano na sede eacute outro indicativo forte da presente

identidade ligada as atividades do homem do campo Outro fato observado eacute a

constante praacutetica do laccedilo de vaca parada29 por jovens e crianccedilas nos paacutetios de suas

residecircncias bem como cavalarianos (homens mulheres jovens e crianccedilas) na

28 SOARES Luciana Olga Entrevista concedida agrave autora no dia 01 de marccedilo de 2018 29 Vaca parada uma espeacutecie de cavalete de madeira com aspectos de uma vaca usada por crianccedilas

que estatildeo iniciando neste esporte bem como usado como forma de entretenimento para jovens e adultos

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avenida principal cavalgando entre os carros Ainda se percebe o respeito entre

motoristas de automotivos bicicletas e os cavalarianos todos ocupando o mesmo

espaccedilo

42 DISTRITO DE CAZUZA FERREIRA

O distrito de Cazuza Ferreira foi criado em 07 de janeiro de 1903 estando

situado a 85 quilocircmetros da Sede Andrade comenta em entrevista30 ldquoateacute acho que

Cazuza se desenvolveu primeiro que Satildeo Chicordquo31 visto que a criaccedilatildeo do distrito

acontece dias depois da emancipaccedilatildeo enquanto a criaccedilatildeo da vila do distrito de

Cazuza Ferreira se desenvolve segundo a entrevistada

A parte da Histoacuteria que eu sei eacute que houve a chegada de um Sr Chico Mestre eacute como eles chamavam Esse Sr veio as casas eram distantes umas das outras e ele comeccedilou a fazer oraccedilatildeo nas casas e reunir as pessoas e fundou o cemiteacuterio Entatildeo o Joseacute Ferreira de Castilhos que era dono daqui naquela eacutepoca um dos moradores que tinha bastante terra doou a terra para fazer a vila aiacute o que aconteceu segundo as histoacuterias era para ser ali onde eacute a cancha de laccedilo hoje do outro lado da estrada soacute que o terreno natildeo era apropriado entatildeo houve uma permuta com o Sr que era dono deste terreno aqui era Bossle aqui era bem mais alto e mais plano Entatildeo se construiu a Igreja e iniciou o povoamento da vila32

A moradora Basso ainda acrescenta que ldquoa vila foi sempre mais ou menos o

que ela eacute hojerdquo Ao observar o local pode-se perceber uma grande praccedila ao centro

rodeada de casas de comeacutercio posto de combustiacutevel posto de sauacutede o hotel a

Igreja Matriz juntamente com o salatildeo paroquial e casas residecircncias cujo aspecto

impressiona por a grande maioria das casas apresentam uma arquitetura que

perpassa o tempo A Figura 13 apresenta uma imagem da praccedila central tirada das

escadarias da Igreja Matriz

30 ANDRADE Nauro Bossle de Entrevista concedida agrave autora no dia 04 de marccedilo de 2018 31 Primeiro que Satildeo Chico eacute um termo comum usado pelos moradores do interior do municiacutepio de

Satildeo Francisco de Paula que ao se referir a Sede do municiacutepio usam o termo Satildeo Chico ou Satildeo Francisco de Paula pois seus moradores natildeo costumam na atualidade dizer lsquovou a Sedersquo e sim lsquovou a Satildeo Chicorsquo como se eles natildeo morassem no municiacutepio

32 BASSO Ceacutelia Pacheco Terres Entrevista concedida agrave autora no dia 04 de agosto de 2018

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Figura 13 ndash Praccedila Central de Cazuza Ferreira

Fonte acervo pessoal da autora (2018)

Apesar de ter a preservaccedilatildeo arquitetocircnica a moradora Basso declara

O pai contava e outras pessoas contam que teve uma eacutepoca que tinha faacutebrica de tamanca33 jaacute teve faacutebrica de guaranaacute de queijo bastante coisa no sentido de selaria mas tudo foi se extinguindo as pessoas as famiacutelias natildeo deram continuidade e se sumiram natildeo existe mais nada disso mas estas faacutebricas natildeo davam renda ou seja trabalho para pessoas de fora pois elas eram administradas e cuidadas pelas famiacutelias Daiacute houve o periacuteodo das serrarias enquanto pode extrair madeira era o forte a vila movimentada enriqueceram alguns comerciantes locais o momento que extinguiu aquele trabalho eles foram embora e o povo daqui acomodou entatildeo hoje a vila tem bastante pessoas que foram embora trabalhar assim na juventude e hoje aposentados voltaram pois aqui para jovem natildeo tem sobrevivecircncia o uacutenico trabalho eacute na escola tem nove professores e uma funcionaacuteria em alguns funcionaacuterios da prefeitura acho que satildeo seis que cuidam do plantel de maacutequinas a enfermeira e o pessoal que cuida do posto do correio tambeacutem tem a ferraria mas ali eacute soacute os da proacutepria famiacutelia entatildeo o jovem acaba tendo que ir embora34

Os entrevistados Basso e Andrade relatam que apesar das adversidades o

povo de Cazuza Ferreira tem um amor pelas suas tradiccedilotildees mantendo vivos trecircs

aspectos que ambos consideram a marca identitaacuteria de seu povo e afirmam com

33 Tamanca calccedilado comum na regiatildeo solado de madeira com uma proteccedilatildeo sobre as pontas dos

dedos indo ateacute o peito do peacute em couro 34 BASSO Ceacutelia Pacheco Terres Entrevista concedida agrave autora no dia 04 de agosto de 2018

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convicccedilatildeo ldquofalar de Cazuza eacute cavalhada hotel e rodeiordquo enquanto Basso acrescenta

que ldquoas cavalhadas satildeo heranccedila dos portugueses e estatildeo espalhadiacutessimas ateacute

nacionalmente atraveacutes da miacutedia porque natildeo pesquisei mas ateacute onde sei no Rio

Grande do Sul soacute tem aquirdquo

Na comunidade ainda segundo Basso ldquoa apresentaccedilatildeo das cavalhadas se

iniciou por volta de 1890 e permanece ativa ateacute hoje no passado existiam trecircs

cavalhadas as dos brancos dos amarelos e dos negrosrdquo acrescentando ldquomas hoje

natildeo haacute mas essa diferenciaccedilatildeordquo Em poliacutegrafo organizado por uma moradora local a

mesma explica que a cavalhada ldquoeacute uma luta simulada em que haacute vinte e quatro

participantes sendo doze de cada equiperdquo35 por meio da evoluccedilatildeo equestre e

movimentos de espada lanccedila e garrucha representando a batalha entre mouros e

cristatildeos Segundo esta moradora ldquoa batalha sempre termina sendo vencida pelos

cristatildeos demonstrando a submissatildeo dos mouros e a supremacia da religiatildeo cristatilderdquo

Atualmente o grupo depende da boa vontade de seus participantes conforme

explica

Hoje se tornou caro eacute exame dos cavalos transporte depende do querer das pessoas da boa vontade e tem pessoas engajadas que natildeo largam a famiacutelia do Renau que ele eacute o presidente do grupo ele tem um amor tatildeo grande pelas cavalhadas porque ele jaacute recebeu do pai dele do teu avocirc e do seu Ivo Cardoso e a vida dele agraves vezes me desgosto de alguma coisa pois faccedilo a narrativa do que estaacute sendo apresentado mas daiacute eu penso natildeo posso abandonar (sorri) Eacute uma tradiccedilatildeo que natildeo pode morrer mas os filhos do Renau o Marcos e o Marcelo daratildeo continuidade faz parte da famiacutelia tu sabe eacute da mesma famiacutelia Eacute uma grande tradiccedilatildeo que natildeo pode desaparecer temos que continuar peleando36

As cavalhadas satildeo apresentadas na praccedila central sempre durantes as festas

religiosas que acontecem na comunidade sendo assim organizadas

No primeiro ou segundo final de semana de fevereiro tem a festa da Nossa Senhora do Belo Horizonte que eacute a padroeira daqui Agora devido agrave comissatildeo e o padre um ano tem a festa dos morenos e no outro tem a dos agricultores que eram chamados de amarelos antigamente cuja devoccedilatildeo se daacute agrave Nossa Senhora do Rosaacuterio e Nossa Senhora da Penha Antigamente cada um tinha seu espaccedilo social para realizar a festa atualmente soacute se manteve a tradiccedilatildeo de comemorar os santos este ano eacute festa dos morenos ela seraacute dia 13 e 14 de outubro Todas as festas

35 Sendo que doze cavaleiros que representam os cristatildeos vestem tuacutenicas de veludo azul escuro e

os doze cavaleiros mouros vestem tuacutenicas vermelhas Sobre os ombros da tuacutenica haacute uma capinha esta capinha traz enfeites prateados bordados com lantejoulas e bototildees dourados e franjas de seda branca Todos os participantes usam bombacha branca de brim botas campeiras pretas chapeacuteu de palha de aba larga virada para cima com laccedilo de fita e barbicacho de acordo com a cor da tuacutenica

36 BASSO Ceacutelia Pacheco Terres Entrevista concedida agrave autora no dia 04 de agosto de 2018

54

religiosas ocorrem em dois dias saacutebado apresentaccedilatildeo das cavalhadas novena janta e baile no domingo tem a missa na Igreja Matriz logo apoacutes almoccedilo e reuniatildeo danccedilante Atualmente resgataram em dezembro a festa a Satildeo Cristoacutevatildeo sempre no primeiro final de semana de dezembro eacute uma missa com benccedilatildeo aos carros durante a procissatildeo e um almoccedilo ao meio-dia esta se daacute somente em um dia E tambeacutem temos de dois em dois anos a festa organizada pelo grupo das Cavalhadas esta ocorre em maio daiacute37

Os moradores explicam que a separaccedilatildeo racial desapareceu com o tempo

poreacutem se manteacutem a cultura de festejar todos os santos o que demonstra que o povo

de Cazuza eacute bastante devoto e cristatildeo E acrescenta em tempos idos que durante

as festas religiosas as pessoas se hospedavam no hotel segundo Basso que ldquoele

recebia tinha mercado junto teve ateacute cinema o pessoal gostava da comida da

Dona Vilma que era minha sogrardquo Este hotel eacute outro marco que identifica Cazuza

Ferreira poreacutem os moradores explicam que atualmente o Hotel do Campo manteacutem a

arquitetura mas funciona em uma modalidade diferenciada pois natildeo haacute como

sobreviver Entatildeo ele recebe hospeda sob reserva antecipada poreacutem natildeo serve

almoccedilo e janta as refeiccedilotildees satildeo feitas no Cantinho do Aconchego com quem

manteacutem uma parceria

Figura 14 ndash Hotel do Campo

Fonte acervo pessoal da autora (2018)

37 BASSO Ceacutelia Pacheco Terres Entrevista concedida agrave autora no dia 04 de agosto de 2018

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Nesta comunidade tambeacutem eacute muito forte segundo os entrevistados38 a

tradiccedilatildeo gauacutecha que adveacutem do homem do campo o amante dos rodeios que nos

finais de semana saem de suas propriedades e se deslocam a outras comunidades

para participar dos eventos campeiros como o tiro de laccedilo Tambeacutem explanam que

existe o CTG Adatildeo Castilhos que estaacute interditado jaacute faz quase seis anos desde

que comeccedilaram a ser exigidos os PPCIs A partir deste momento eles natildeo puderam

mais fazer eventos ali eles realizam os rodeios ou festas campeiras mas laacute dentro

natildeo conseguiram mais fazer nada e taacute difiacutecil vai muito dinheiro para cumprir todas

as exigecircncias Sendo que este espaccedilo na deacutecada de 80 do seacuteculo XX foi palco de

grandes rodeios com apresentaccedilotildees campeiras artiacutesticas e grandes bailes A

moradora explica39 ldquoA Claudiana esposa do Paulo Cesar atual presidente se

inscreveu no projeto Meu Galpatildeo de Cara Nova do Galpatildeo Crioulo da RBS TV

tomara que ela seja classificadardquo Este projeto ajuda na reconstruccedilatildeo dos CTGs pelo

Rio Grande do Sul

Ao pesquisar sobre Cazuza Ferreira percebe-se o quatildeo forte eacute o culto agraves

tradiccedilotildees e o esforccedilo de seus moradores para elas permaneccedilam para futuras

geraccedilotildees visto que o tempo passou e a tradiccedilatildeo local natildeo sofreu alteraccedilotildees

43 DISTRITO DE TAINHAS

O distrito de Tainhas foi criado em 18 de outubro de 1922 estando situado a

33 quilocircmetros da Sede Se desenvolveu no entroncamento de duas rodovias a RS-

020 e a RS-453 cujas rodovias cortavam a vila do distrito Com o advento da

construccedilatildeo da Rota do Sol importante rodovia que hoje que liga Caxias do Sul agraves

praias aleacutem da construccedilatildeo do asfalto da RS-020 que vai a Satildeo Francisco de Paula

tudo mudou O morador Fagundes relata em entrevista40 ldquoaqui era mais habitado

por criadores fazendeiros e agora depois que saiu essa Rota do Sol o movimento

cresceu muito neacute mais por fora da vila entatildeo natildeo trouxe benefiacutecio para noacutesrdquo

Percebe-se que moradores entendem a importacircncia da construccedilatildeo das

rodovias poreacutem as mesmas natildeo trouxeram benefiacutecios econocircmicos para os

moradores locais

38 ANDRADE Nauro Bossle de BASSO Ceacutelia Pacheco Terres Entrevistas concedidas agrave autora no

dia 04 de agosto de 2018 39 BASSO Ceacutelia Pacheco Terres Entrevista concedida agrave autora dia 04 de agosto de 2018 40 FAGUNDES Darci da Silva Entrevista concedida agrave autora no dia 24 de fevereiro de 2018

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Ainda conforme o morador Fagundes41 ldquoo iniacutecio da vila se deu devido agrave

necessidade de parada dos caminhoneiros que transportavam madeira como era

tudo estrada de chatildeo Tainhas ficava em local centralizado se construiu um hotel

que era do seu Pedro Pinhatildeo e da Dona Luisardquo A partir de entatildeo comeccedilou a

construccedilatildeo de casas e se formou a vila onde antes eram terras dos Pinto os

primeiros moradores de Tainhas tanto que o morador ressalta na entrevista42 ldquoo

nome da escola eacute Oliacutempio Soares Pinto que era o proprietaacuterio dessa terra e uma

das professoras mais antigas era Guilherma Pintordquo

Tainhas estaacute rodeada por campos matos de pinnus ilhote e lavouras

atualmente e explica

Hoje aqui eacute pinus e granjeiro plantando batata soja milho e a maioria veio de fora os moradores antigos desapareceram arrendaram ou venderam suas terras para esse pessoal que veio de Ibiraiara e de Maquineacute Itati Trecircs Forquilhas43

Percebe-se que a criaccedilatildeo de gado ou seja a pecuaacuteria extensiva deu lugar a

outras culturas com a chegada de novas pessoas ao distrito Mas segundo os

moradores o culto ao tradicionalismo gauacutecho permanece visto que no distrito

existe

O parque de rodeios do Rodeio Crioulo eacute o mais antigo que noacutes temos aqui natildeo sei se natildeo o primeiro piquete registrado de Satildeo Chico tem uns sessenta anos a nossa tradiccedilatildeo eacute o laccedilo O nosso rodeio acontece sempre no iniacutecio de janeiro hoje eu natildeo laccedilo mais mas o meu neto continua a minha tradiccedilatildeo A escola daqui faz a semana farroupilha com ronda eacute tudo muito lindo e assim se mantem a cultura44

A imagem apresentada na Figura 15 reforccedila a fala e a importacircncia do Piquete

de Laccediladores Rodeio Crioulo que atualmente mesmo estando nas terras de Satildeo

Francisco de Paula divisa com o municiacutepio de Cambaraacute do Sul por opccedilatildeo essa

entidade tradicionalista pertence ao entatildeo municiacutepio de Cambaraacute do Sul Poreacutem sua

fundaccedilatildeo acontece em 20 de janeiro de 1961 quando o entatildeo hoje municiacutepio de

Cambaraacute do Sul ainda era distrito de Satildeo Francisco de Paula

41 FAGUNDES Darci da Silva Entrevista concedida agrave autora no dia 24 de fevereiro de 2018 42 FAGUNDES Darci da Silva Entrevista concedida agrave autora no dia 24 de fevereiro de 2018 43 FAGUNDES Darci da Silva Entrevista concedida agrave autora no dia 24 de fevereiro de 2018 44 FAGUNDES Darci da Silva Entrevista concedida agrave autora no dia 24 de fevereiro de 2018

57

Figura 15 ndash Flacircmula de comemoraccedilatildeo aos 50 anos da entidade

Fonte acervo pessoal da autora (2018)

Outro evento importante no distrito eacute realizado pela Escola Estadual de

Ensino Fundamental Oliacutempio Soares Pinto que satildeo atividades ligadas as tradiccedilotildees

gauacutechas na Semana Farroupilha como cavalgadas e gincanas com a participaccedilatildeo

de toda comunidade nesta semana principalmente a comunidade de Tainhas

ldquorespira tradicionalismordquo

O distrito de Tainhas atualmente conta com um posto de sauacutede e o correio

satildeo os serviccedilos puacuteblicos que funcionam no distrito visto que o cartoacuterio fechou O

entrevistado Fagundes relata45 ldquoeu era o juiz de paz desse Cartoacuterio minha funccedilatildeo

era julgar os casamentos mas daiacute fechou hoje o pessoal tem que ir a Satildeo Chicordquo O

morador ainda acrescenta ldquoateacute a rodoviaacuteria fechou os ocircnibus passam aqui Satildeo

Marcos que vem de Caxias e vatildeo a Torres desce de manhatilde e sobe de tarde Citral

de Satildeo Chico a Ouro Verde e agora Transneves da Pedra Lisa para Satildeo Chicordquo

Com uma certa tristeza relata46 ldquoaqui em Tainhas soacute tem o Cafeacute Tainhas do

Mauro eacute o brilho de Tainhas seraacute ponto histoacuterico daqui um tempo todo mundo fala

bem do Cafeacute Tainhasrdquo

Notoriamente a chegada do asfalto modificou a vida das pessoas neste

distrito visto que que os campos foram em boa parte transformados em lavoura se

45 FAGUNDES Darci da Silva Entrevista concedida agrave autora no dia 24 de fevereiro de 2018 46 FAGUNDES Darci da Silva Entrevista concedida agrave autora no dia 24 de fevereiro de 2018

58

percebe uma vila pacata jaacute que todo o movimento foi desviado por fora da vila e a

mesma natildeo proporciona lazer para as pessoas que ao terminarem o ensino

fundamental para continuar seus estudos precisam fazer uso do transporte escolar

e se deslocar ateacute a Sede ou ir ao municiacutepio de Cambaraacute do Sul

44 DISTRITO DE ELETRA

O distrito de Eletra foi criado em 31 de dezembro de 1932 estando situado a

19 quilocircmetros da Sede do municiacutepio Poreacutem a populaccedilatildeo local chama de Salto e

seu nome vem das barragens do Salto Blang e Divisa construiacutedas sobre o Rio do

Salto que atravessa o distrito Segundo a moradora local47 Soares ldquoas barragens

que fornecem aacutegua para as usinas no municiacutepio de Satildeo Francisco de Paula e nos

municiacutepios vizinhos de Canela Gramado e Cambaraacute do Sulrdquo A Figura 16 apresenta

uma imagem da Barragem do Salto barragem esta que se situa proacutexima da vila do

distrito

Figura 16 ndash Barragem do Salto

Fonte acervo pessoal da autora (2018)

Ao observarmos a Figura 16 percebe-se que o acesso da vila para o interior

do distrito acontece por uma ponte de concreto estreita com piso bastante irregular

47 SOARES Susana Marques Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018

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e que em periacuteodos de fortes chuvas o acesso fica interrompido devido agrave altura

Poreacutem ao lado direito percebe-se uma estrutura pequena que segundo o morador

Gomes

Foi uma tentativa de uma empresa japonese construir uma ponte soacute que quando estavam construindo deu uma enchente e levou tudo a aacutegua abaixo a empresa foi embora e nunca mais voltou Jaacute foram feitos estudos que a ponte tem que ser construiacuteda mais para baixo e em forma de arco se natildeo a chuva leva de novo poreacutem natildeo acredito que saia algum dia48

Entende-se que a construccedilatildeo desta nova ponte melhoraria o acesso dos

proprietaacuterios rurais que para saiacuterem de suas propriedades em eacutepocas de chuva

intensa necessitam fazer um longo caminho por estradas de chatildeo batido para terem

acesso ao municiacutepio de Canela bem como a Sede de Satildeo Francisco de Paula

Contudo a moradora explica que a vila do distrito se forma muito antes da

construccedilatildeo da barragem

Em 1915 era uma fazenda chamada Fazenda do Salto e esta pertencia a Francisco Soares de Oliveira Neste local havia sua casa de moradia um galpatildeo e mangueiras onde realizava as suas atividades poreacutem em 1916 o Chico resolveu transferir a casa da Fazendo do Cerro para o Salto tambeacutem sendo construiacuteda aiacute a segunda casa a partir de entatildeo se iniciou o povoado com a construccedilatildeo de novas residecircncias para seus empregados e posteriormente se instalou uma serraria dos irmatildeos Delavechia esta sendo movida a aacutegua dando definitivamente o iniacutecio do povoamento da vila49

Ao analisar a fala da moradora local se percebe que onde hoje se encontra a

vila do distrito de Eletra jaacute foi uma fazenda identificando-se com a mesma formaccedilatildeo

do distrito Sede que tambeacutem surge de terras doadas por um fazendeiro Segundo a

entrevistada Soares50 ldquoa sua casa eacute uma das mais antigas tem 102 anos foi

construiacuteda de pinheiro serrada aqui mesmo na serrariardquo pode-se observar o oacutetimo

estado de conversaccedilatildeo da casa que traz traccedilos arquitetocircnicos europeus na sua

construccedilatildeo natildeo se tem imagem da casa visto que a entrevistada natildeo permitiu

nenhuma imagem de sua residecircncia

Outro fator importante do povoamento da vila segundo o morador local

Gomes51 ldquofoi o iniacutecio da construccedilatildeo da Barragem do Salto no ano de 1925rdquo onde

48 GOMES Jaures Feijoacute Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018 49 SOARES Susana Marques Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018 50 SOARES Susana Marques Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018 51 GOMES Jaures Feijoacute Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018

60

vieram muitos funcionaacuterios de vaacuterios lugares tendo como mestre da obra segundo

os moradores locais52 o ldquoAcircngelo Goubertrdquo

Devido agrave necessidade que se formou no distrito neste periacuteodo se abriu um

hotel farmaacutecia cartoacuterio rodoviaacuteria e cinema a moradora local Soares saudosa

diz53 ldquotudo fechou aqui natildeo tem mais nadardquo referindo-se a atual situaccedilatildeo que a vila

se encontra

Os moradores ainda declaram sobre o distrito54 ldquoestaacute abandonado pelo poder

puacuteblico ateacute o calccedilamento das ruas foi arrancadordquo poreacutem outrora foi um local de

muita alegria

A vida era uma festa permanente o tio Chico era casado com a tia Lisoca ela foi para Porto Alegre para os filhos estudar quando vinham nas feacuterias traziam os amigos O tio Chico pagava um gaiteiro por mecircs para ele toca toda noite entatildeo era aquele divertimento55

Atualmente na vila existe a Escola Estadual de Ensino Fundamental Cristino

Ramos com menos de cem alunos e a festa cristatilde cuja celebraccedilatildeo ocorre em

fevereiro sendo Santo Antocircnio o padroeiro local A moradora explica sobre a

construccedilatildeo da capela

A primeira capela a tempestade derrubou em 1957 se construiu outra O santo padroeiro eacute Santo Antocircnio a imagem foi trazida por quarenta cavaleiros Daiacute o padre pediu para que a imagem de Nossa Senhora Catarina tambeacutem fosse acolhida hoje temos dois padroeiros mas para mim Santo Antocircnio eacute o principal56

Percebe-se na fala dos moradores a sua devoccedilatildeo e sua preocupaccedilatildeo com o

futuro da vila visto que ateacute a questatildeo do cemiteacuterio jaacute foi palco de discussatildeo pois o

cemiteacuterio da vila iniciou pela famiacutelia dos Soares sendo este particular Poreacutem a

moradora explica com certa indignaccedilatildeo

O cemiteacuterio era particular da famiacutelia Soares teve um tempo que resolveram abrir veio gente ateacute de Passo Fundo ser enterrada aqui natildeo pediam para ningueacutem tomaram conta Daiacute organizamos uma comissatildeo responsaacutevel decidimos que tinha que ter uma contribuiccedilatildeo e natildeo podia trazer gente de fora para enterrar soacute gente daqui Ningueacutem pagou Aiacute mandei fazer cerca nova a parte dos Soares sempre limpei mas [] hoje acabo limpando tudo

52 GOMES Jaures Feijoacute SOARES Susana Marques Entrevistas concedidas agrave autora no dia 15 de

fevereiro de 2018 53 SOARES Susana Marques Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018 54 GOMES Jaures Feijoacute SOARES Susana Marques Entrevistas concedidas agrave autora no dia 15 de

fevereiro de 2018 55 SOARES Susana Marques Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018 56 SOARES Susana Marques Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018

61

porque ningueacutem limpa Enquanto eu for viva vou fazer depois vatildeo entregar para a prefeitura igreja natildeo sei57

A Figura 17 apresenta uma foto da igreja atual tendo em sua lateral direita a

capela mortuaacuteria e ao fundo o Salatildeo Paroquial da comunidade onde ocorre a festa

do Santo Padroeiro

Figura 17 ndash Igreja Santo Antocircnio ndash Distrito de Eletra

Fonte acervo pessoal da autora (2018)

Ao conversar com os moradores locais pode-se observar a feacute cristatilde poreacutem

ambos relatam que a festa de fevereiro atualmente eacute pouco divulgada motivo pelo

qual acreditam que natildeo haja um nuacutemero expressivo de pessoas Ambos sentem um

apreccedilo pelo local onde nasceram e vivem poreacutem ambos relatam

Aqui eacute lugar de dormir as pessoas trabalham em Canela e vem dormir aqui a grande maioria natildeo eacute daqui vieram de fora haacute muitas casas de veraneio tudo gente de Porto Alegre que vem passar feacuterias natildeo rende nada para aqui o que precisam trazem tudo de fora A maioria de quem mora aqui soacute dorme passa o dia fora O ocircnibus das 7 horas sai lotado a gente natildeo conhece mais ningueacutem daqui mesmo soacute noacutes Susana e eu58

Mesmo a vila sendo um local de parada estaacute rodeada de lindos campos e

fazendas cuja a atividade principal eacute a pecuaacuteria extensiva natildeo proporciona

57 SOARES Susana Marques Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018 58 GOMES Jaures Feijoacute Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018

62

trabalho no local motivo pelo qual seus moradores buscam sua subsistecircncia em

outro municiacutepio poreacutem possui uma exuberante natureza relata cheia de esperanccedila

a moradora local59 ldquoeu tenho esperanccedila que algueacutem olhe para caacute e veja as belezas

que tem aqui que o lugar volte a se desenvolverrdquo desenvolvimento este que

poderia vir atraveacutes da exploraccedilatildeo do turismo rural ldquoSe vocecirc quiser comer alguma

coisa agora natildeo vai encontrar nada aqui soacute tem lsquobutecorsquo60 mas eles natildeo vendem

nada nem sanduiacuteche pastel eacute uma vergonhardquo fala indignado o morador Gomes61

A populaccedilatildeo que vive nas fazendas aleacutem de ter as lides campeiras no seu

dia-a-dia nos finais de semana segundo o morador Gomes62 ldquolaccedila em torneio vai

nos rodeiosrdquo o que marca a presenccedila do tradicionalismo gauacutecho em uma parte da

populaccedilatildeo do distrito poreacutem com relaccedilatildeo aos moradores da vila natildeo haacute algo que

os identifique visto a miscigenaccedilatildeo que ocorreu e por haver muitas casas de

veraneio no local

45 DISTRITO DO JUAacute

O distrito do Juaacute foi criado em 10 de maio de 1950 e fica distante 65

quilocircmetros da Sede O distrito recebe esse nome devido a um espinho que havia

em abundacircncia no local nome este dado por tropeiros

Os accedilorianos que vinham de Santo Antocircnio da Patrulha e iam para Vacaria com cargueiros eles vinham fazer repouso laacute em cima no reduto e ali tinha muita frutinha do juaacute entatildeo os tropeiros saiam de Santo Antocircnio e diziam vamos posa laacute nos juaacute daiacute o nome do lugar que permanece ateacute hoje63

Juaacute eacute o nome dado a um espinho muito comum na regiatildeo dos campos de

cima da serra que daacute uma fruta amarela em formato redondo que segundo os

moradores locais eacute uma fruta venenosa conforme se observa na Figura 18

59 SOARES Susana Marques Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018 60 Buteco pequeno comeacutercio que normalmente vende bebidas alcooacutelicas e possui mesa de sinuca 61 GOMES Jaures Feijoacute Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018 62 GOMES Jaures Feijoacute Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018 63 REIS Orides Entrevista concedida agrave autora no dia 12 de maio de 2018

63

Figura 18 ndash Peacute com a fruta conhecido como Juaacute

Fonte acervo de Clessandra Palhano (moradora local) (2018)

O reduto citado pelo morador local ficava em uma fazenda local onde hoje se

encontra a vila do distrito conforme o entrevistado Reis explica

O primeiro morador eu natildeo lembro soacute sei que o Juaacute era de pouca gente famiacutelia Pedroso e Castilhos daiacute foram morrendo inventariando e vendendo e aos poucos se formou a vila importante o dono de tudo isso aiacute tinha dois escravos no iniacutecio teve escravidatildeo claro na eacutepoca de mil oitocentos e pouco eu acho mas teve E hoje deve ter descendente destes escravos por aiacute64

Escravidatildeo que vai dar origem ao preconceito racial e a um modelo particular

da localidade que sem precisar data explica o morador

Aqui tinha dois salatildeo trecircs com o da Igreja mas era dois salatildeo social Era um clube de brancos que era dos ricos neacute fazendeiros o Salatildeo Vera Cruz e depois fundaram o Satildeo Valentim que era dos morenos que na eacutepoca ateacute eu fui presidente Cada um no seu salatildeo agora quando dava a festa cristatilde em homenagem ao Satildeo Joatildeo de Deus todo o povo reunia-se quando chegava de noite no saacutebado no baile entatildeo cada um ia pro seu salatildeo A muacutesica ficava no salatildeo dos brancos daiacute colocava umas caixas de som laacute pros morenos com um fio pra eles danccedila Um natildeo podia entra no baile do outro tinha o presidente para cuida Cada um no seu tudo se respeitava e obedecia aquela ordem65

Ainda acrescenta a moradora local Santos

64 REIS Orides Entrevista concedida agrave autora no dia 12 de maio de 2018 65 REIS Orides Entrevista concedida agrave autora no dia 12 de maio de 2018

64

O nosso eu natildeo me lembro o nome tem tanto papel mas natildeo sei onde estaacute o nosso dos pretos neacute ningueacutem implicava eles natildeo deixavam noacutes entra no salatildeo Vera Cruz eu entrava de cozinheira empregada porque ali era lugar dos ricaccedilos eles podiam se associar mas o nosso tambeacutem enchia mas eles iam no nosso baile de nego soacute olhavam As festas duravam dias Tinha aquele foguetoacuterio era tatildeo bonito66

Percebe-se na fala dos moradores como esta divisatildeo racial se fazia presente

que havia por parte dos negros um profundo respeito pelos brancos mesmo eles

tendo acesso ao salatildeo Vera Cruz somente para servi-los em nenhum momento se

percebeu que eles se sentissem diminuiacutedos pela situaccedilatildeo ateacute pela cultura que

advinha desde os primeiros moradores locais

Esta divisatildeo social permanece por longo tempo e somente vai desaparecer

nos anos 80 do seacuteculo XX com a contribuiccedilatildeo do Frei Abiacutelio que veio da Vacaria

durante Missotildees convocadas pelo paacuteroco local padre Afonso que conseguiu

modificar esta organizaccedilatildeo implantando a ideia de igualdade e ignorando tudo

aquilo a partir de entatildeo os negros comeccedilaram a frequentar a sociedade Vera Cruz

contribuiccedilatildeo dos entrevistados67 que ao abordar o assunto demonstraram repulsa

pelo passado mas ao mesmo tempo reconhecem que o racismo ainda eacute presente

na comunidade poreacutem devido agraves leis existe um cuidado maior

Atualmente negros e brancos convivem em harmonia participam da festa

cristatilde cujo padroeiro eacute Satildeo Joatildeo de Deus e dos torneios de laccedilo mas geralmente

quem laccedila satildeo os fazendeiros Saudoso o morador68 afirma que ldquouma vez tinha as

carreradas tinha trecircs canchas passava o domingo nas canchas brincando nas

corridas de cavalos tudo terminourdquo Acrescenta69 ainda que ldquoem 70 80 tinha o

futebol o campo era na baixada acho que tem ainda trofeacuteu ai mas daiacute a gurizada

foi embora para a cidade terminou o timerdquo

A vila se construiu de maneira simples tendo a Igreja Catoacutelica com o Salatildeo

Paroquial agrave direita o antigo Centro de Tradiccedilotildees Gauacutechas Laccedilo Velho do Juaacute onde

resta apenas o preacutedio de madeira corroiacuteda pelo tempo ao fundo a cancha de laccedilo

do Piquete de Laccediladores Velho do Juaacute entidade tradicionalista que se manteacutem ativa

desde o iniacutecio da deacutecada de 1960 ao redor haacute casas de moradias que formam ao

centro uma grande praccedila sem nenhuma infraestrutura em frente a esta praccedila

66 SANTOS Deotildes Palhano dos Entrevista concedida agrave autora no dia 12 de maio de 2018 67 REIS Orides SANTOS Deotildes Palhano Entrevistas concedida agrave autora no dia 12 de maio de

2018 68 REIS Orides Entrevista concedida agrave autora no dia 12 de maio de 2018 69 REIS Orides Entrevista concedida agrave autora no dia 12 de maio de 2018

65

perpassa uma rua de chatildeo batido sendo que a escola da comunidade fica do outro

lado a escola eacute municipal se chama Bento Eziacutedio Rodrigues atende

aproximadamente vinte alunos que estatildeo matriculados nas seacuteries iniciais do ensino

fundamental tendo duas professoras e um funcionaacuterio para fazer merenda e limpar

o paacutetio como se pode observar na Figura 19

Figura 19 ndash Praccedila Vila do Distrito Juaacute ao fundo cancha de laccedilo

Fonte acervo pessoal da autora (2018)

Ambos os entrevistados70 explicam que o Juaacute atualmente eacute um lugar de

idosos aposentados que outrora as pessoas viviam das roccedilas e da pecuaacuteria

extensiva na deacutecada de 1980 com o advento da induacutestria em Caxias do Sul os

jovens abandonaram seu modo de vida e foram buscar novas oportunidades poreacutem

estes jovens que foram embora retornam com frequecircncia natildeo perdendo a sua

essecircncia Relataram que a uacutenica fonte de trabalho eacute ser peatildeo de fazenda fazendas

estas que produzem o queijo serrano ou vendem leite para a Piaacute71 sendo que a

lavoura eacute para subsistecircncia Outra fonte de renda eacute ser funcionaacuterio da serraria cujo

proprietaacuterio e Joatildeo Egiacutedio que funciona proacuteximo da vila Outro fator importante eacute a

venda de pequenas chaacutecaras para moradores de Caxias do Sul que vem aos finais

70 REIS Orides SANTOS Deotildes Palhano Entrevistas concedidas agrave autora no dia 12 de maio de

2018 71 Piaacute Cooperativa Agropecuaacuteria Petroacutepolis Ltda Empresa que faz a coleta do leite nas fazendas da

regiatildeo

66

de semana descansar na localidade poreacutem se percebe que estes novos moradores

muitas vezes natildeo interagem com os moradores locais

Segundo o morador Reis72 ldquoapesar da vinda de pessoas de outros lugares o

Juaacute natildeo perdeu sua identidade fala em Juaacute lembra pinhatildeo colheita do pinhatildeo ateacute

haacute uma criacutetica que diz na eacutepoca do pinhatildeo o juazeiro fala grossordquo Ditado que o

entrevistado73 reafirma sorrindo ldquona eacutepoca do pinhatildeo o juazeiro fala grosso claro

que eacute apenas um dito popular uma maneira de se referir mas sempre eacute dito haacute

aqueles que natildeo gostamrdquo

Nota-se que a vida na comunidade do Juaacute se passa de forma tranquila com

poucos moradores que sua identidade estaacute relacionada agrave pecuaacuteria extensiva com

as lides com o gado bem como ao pinhatildeo uma fruta tiacutepica que se desenvolve na

Araucaacuteria ou pinheiro nativo como eacute conhecido na regiatildeo O pinhatildeo seja ele

assado cozido ou paccediloca74 eacute muito consumido pelos moradores do interior de Satildeo

Francisco de Paula durante o inverno inclusive como mistura do cafeacute da manhatilde

46 DISTRITO DO RINCAtildeO DOS KROEFF

O distrito de Rincatildeo dos Kroeff foi criado em 10 de maio de 1950 Fica a 35

quilocircmetros distante da Sede poreacutem muito antes de se institucionalizar oficialmente

este espaccedilo moradores locais contam como tudo se iniciou

Meu avocirc foi um dos primeiros a vim para caacute ele se chamava Guilherme Faciole ele nasceu no navio vindo da Itaacutelia Ele contava que teve uma desavenccedila em Caxias e fincou o peacute pra caacute pra natildeo acharem ele que aqui era soacute mato e na revoluccedilatildeo de 35 ele fugia de casa para natildeo ser levado pelas tropas os piquetes levavam para combater entatildeo ele sempre dizia que pousou vaacuterias noites embaixo dos peraus da serra do Umbu para natildeo ser levado O falecido vovocirc vivia da caccedila do porco do mato tateti ele fazia charque de porco para ter a carne ele viveu 106 anos e dizia se natildeo tivesse fumado viveria mais uns dez isso faz parte da histoacuteria do Rincatildeo dos Kroeff Junto teve o falecido Acircngelo Menegaacutes que entro aqui na mesma eacutepoca Eles satildeo os fundadores do distrito75

O acesso ao distrito Rincatildeo dos Kroeff permanece totalmente pela estrada de

chatildeo batido sendo possiacutevel ir ao municiacutepio de Maquineacute descendo pela serra do

Umbu Poreacutem muito antes da estrada a busca de mantimentos e o escoamento da

72 REIS Orides Entrevista concedida agrave autora no dia 12 de maio de 2018 73 REIS Orides Entrevista concedida agrave autora no dia 12 de maio de 2018 74 Paccediloca carne de porco moiacuteda e frita no azeite ou banha a qual se acrescenta o pinhatildeo jaacute cozido

e moiacutedo 75 FACIOLE Reinaldo Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de marccedilo de 2018

67

produccedilatildeo se dava pelos carreiros visto que natildeo havia abertura de estrada e nem

viatura76 como os moradores relatam

Tudo era na tropeada as tropas que ia para Rolante Na tropeada saia um tropeiro na frente e um recircs com um cincerro que era a madrinheira da tropa saia laacute pelo Chuvisqueiro e saia laacute em Rolante perdia boi na estrada ficava semanas boi perdido agraves vezes nem se achava mais tambeacutem tinha tropa de porco e tinha as tropeadas de mula puxando milho feijatildeo trigo tudo produzido aqui e levado de cargueiro carreta era muito pouco porque natildeo tinha estrada para anda era soacute os trilhos pelo meio dos matos e campos e se produzia milho era o inverno inteiro saia tropas e mais tropas com trinta quarenta mulas burros transportando mantimentos da produccedilatildeo do gratildeo haacute tambeacutem tinha a flor de Pireto que era lucro ningueacutem conhece isso aiacute hoje essa flor era levada para Taquara e fazia veneno para formiga tudo que era tipo de veneno era uma flor muito toacutexica Acredita tropear galinha pois eacute a gente criava bastante saia com os cargueiros como era a vida eles faziam um girau no cesto naqueles balaios para fazer duas camas uma mais em cima e outra em baixo daiacute quando era veratildeo era muito quente tinha que no meio da viagem tirar de dentro do cesto botar na aacutegua na sanga para natildeo morrer ateacute chegar no mercado dali para praia a eacutepoca que mais vendia era novembro e dezembro daiacute tinha preccedilo bom tudo criada solta aviaacuterio nem se falava77

Ao ouvir os moradores se percebe que a construccedilatildeo do distrito aconteceu

devido ao esforccedilo e trabalho de muitas pessoas visto que o local era de mata nativa

densa e precisou ser desmatado para ser ocupado pelas pessoas Explica o

entrevistado Faciole78 ldquopara fazer uma lavoura tambeacutem precisava derrubar o

pinheiro seu Onorino Buffon me contou que faziam fogo ao redor do pinheiro eles

eram muito grosso para derrubar a machado entatildeo faziam fogo secavam para

depois fazer a roccedilardquo E a moradora79 local acrescenta ldquoaqui tambeacutem tinha os

barbacuazeiros produziam erva mais aqui eles soacute tiravam a erva e sapecavam e

depois ia para outro lugar industrializa tudo era diferenterdquo

Poreacutem segundo os moradores este modelo de vida rudimentar se modifica

com a chegada das serrarias sendo que a dos Kroeff foi a primeira juntamente com

a serraria se viu a necessidade da construccedilatildeo de novas casas para os

trabalhadores surgindo ali a vila do distrito Rincatildeo dos Kroeff no iniacutecio a serraria era

tudo manual relata Faciole80 ldquoa uacutenica forma de tira a madeira era com um enfieira

76 Viatura se refere a carro de passeio caminhotildees 77 FACIOLE Reinaldo FACIOLE Maria Madalena Scalco Entrevistas concedidas agrave autora no dia 18

de marccedilo de 2018 78 FACIOLE Reinaldo Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de marccedilo de 2018 79 FACIOLE Maria Madalena Scalco Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de marccedilo de 2018 80 FACIOLE Reinaldo Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de marccedilo de 2018

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de boi eu cheguei a ver cinco ternos de boi carreiro81 emendado puxando um

pinheiro eacute uma bicheira de boi natildeo tinha outra formardquo

Rincatildeo dos Kroeff eacute o menor distrito de Satildeo Francisco de Paula poreacutem em

suas terras se desenvolveu a cultura dos hortifrutigranjeiros desde muito cedo jaacute

que sua colonizaccedilatildeo eacute basicamente italiana e alematilde e os italianos tecircm a cultura do

plantio visando lucro A moradora Faciole82 afirma ldquotudo comeccedilou por aqui depois

se expandiu para o municiacutepio comeccedilamos com moranga branca depois repolho

couve broacutecolis alface e daiacute veio beterraba e tudo o restordquo Acrescenta ainda83 que

ldquodaqui saiacuteram os primeiros caminhotildees de hortifruacuteti do municiacutepio para a Ceasa teve

eacutepoca de sair quarenta caminhotildees por dia do Rincatildeo hoje natildeo sai mais porque

muitos foram buscar novos lugares para plantarrdquo E juntamente com a mudanccedila dos

proprietaacuterios em busca de novas terras muitos de seus funcionaacuterios foram embora

junto afirma em entrevista o morador local84 ldquomuita gente do Rincatildeo foi embora

muitas gurias foram embora para estudar para achar emprego e natildeo voltaram maisrdquo

Atraveacutes da fala da moradora pode-se observar que apesar do distrito ser

produtivo enfrenta algumas dificuldades com relaccedilatildeo ao estudo de seus moradores

que para continuarem seus estudos se assim o desejarem necessitam abandonar

seus pais e ir em busca na Sede ou arredores visto que no distrito existe uma uacutenica

escola Gastatilde Henth Esta eacute municipal e atende dos quatro anos ao nono ano do

ensino fundamental A moradora Faciole explica

O coleacutegio hoje tem 99 alunos ao total quando eles terminam o nono ano alguns vatildeo estudar mas satildeo pouquiacutessimos os outros ficam por aiacute mesmo natildeo tem um transporte que leve eles para fazer o ensino meacutedio na Sede que seria a escola de ensino meacutedio mais proacuteximo se quiser estudar vai ter que ir embora reforccedila quem e trabalhador fica trabalhando com os pais quem natildeo eacute [] As pessoas na sua grande maioria soacute tem o ensino fundamental aqui85

Este eacute um dos grandes problemas enfrentados pelos moradores do Rincatildeo

dos Kroeff a possibilidade de continuar estudando A escola que laacute existe os

moradores locais natildeo sabem precisar a data mas sabem que foi durante o mandato

81 Ternos de boi carreiro significam vaacuterias duplas de bois cangados e ligados por um pedaccedilo de

madeira que vatildeo na canga entre a dupla de bois Esse pau roliccedilo na regiatildeo se chama de cambatildeo 82 FACIOLE Maria Madalena Scalco Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de marccedilo de 2018 83 FACIOLE Maria Madalena Scalco Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de marccedilo de 2018 84 FACIOLE Reinaldo Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de marccedilo de 2018 85 FACIOLE Maria Madalena Scalco Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de maio de 2018

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do prefeito Escobar (1977-1982) que ela foi construiacuteda Neste contexto aparece

tambeacutem a dificuldade de se locomover fazendo uso do transporte puacuteblico

Haacute sete anos atraacutes o Rincatildeo estava bom mesmo tinha ocircnibus da praia agraves vezes passava quatro a cinco ocircnibus da praia tudo pela serra do Umbu Agora soacute tem um trecircs dias por semana As empresas deixaram de trafegar por aqui elas natildeo vatildeo descer numa serra de chatildeo batido sendo que tem a outra86 com asfalto87

Os moradores se orgulham da festa religiosa que acontece todos os anos em

agosto sendo que o santo padroeiro eacute Satildeo Roque A festa da comunidade

apresenta uma tradiccedilatildeo local muito interessante na segunda-feira apoacutes a festa ela

continua para os moradores locais que vatildeo ao salatildeo paroquial para se divertir entre

si e esta eacute uma tradiccedilatildeo que eacute comentada em todo o municiacutepio Faciole88 saudoso

afirma ldquopara ti ter uma ideia nessa festa chegava dar vinte poucos ocircnibus lotado que

vinham de outros municiacutepios como Igrejinha Taquara Porto Alegre Novo

Hamburgo o espaccedilo ficava pequenordquo Acrescenta89 ainda ldquoaqui noacutes tinha o Clube

Serrano que dava baile janta italiana dava um movimento louco mas terminou ateacute

o baile das rainhas cada ano era uma era tatildeo lindo mas tudo se acabourdquo

Figura 20 ndash Imagem da Igreja Satildeo Roque em dia de festa no Rincatildeo dos Kroeff

Fonte acervo pessoal da autora (2018)

86 A outra se refere a rodovia RS-453 conhecida como Rota do Sol 87 FACIOLE Reinaldo Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de marccedilo de 2018 88 FACIOLE Reinaldo Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de marccedilo de 2018 89 FACIOLE Reinaldo Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de marccedilo de 2018

70

Percebe-se que o distrito Rincatildeo dos Kroeff eacute o uacutenico que obteve em seu

iniacutecio uma colonizaccedilatildeo por descentes de italianos dentro do municiacutepio de Satildeo

Francisco de Paula o que demonstra o quatildeo forte se daacute a tradiccedilatildeo ldquoitalianardquo neste

local permanecendo intriacutenseca na vida cotidiana de seu povo com a cultura do

plantio de hortifrutigranjeiros que permanece apesar do tempo como sendo a sua

maior identidade local

47 DISTRITO DE LAJEADO GRANDE

Lajeado Grande em tempos idos pertenceu ao distrito de Cazuza Ferreira e

somente em 12 de dezembro de 1968 se tornou um distrito independente segundo

a Lei nordm 655 encontrada nos autos da Prefeitura Municipal de Satildeo Francisco de

Paula A vila do distrito Lajeado Grande fica distante 63 quilocircmetros da Sede e se

situa na confluecircncia do Arroio Porco Morto e o Rio Bururi Seu surgimento acontece

segundo o morador Fogaccedila90 ldquopor volta de 1940 com a abertura da estrada Canela

ndash Bom Jesus a atual RS-476 que corta a vila do Distritordquo Essa estrada segundo o

morador facilitou a locomoccedilatildeo que anteriormente era feita totalmente pelas trilhas e

picadas por onde somente se passava a cavalo ou de carreta E o entrevistado

explica como acontece o desenvolvimento inicial da vila

Tu sabe aqui tem o nome de Lajeado Grande por causa do rio que eacute cheio de lajes grandes o que facilitava a travessia e as terras aqui por roda era tudo do falecido Pequeno Cardoso ele doou parte para a construccedilatildeo da vila onde o falecido Leopoldino Cardoso irmatildeo do Pequeno tinha uma lsquobudega velharsquo91 por aqui sendo o primeiro comeacutercio da vila92

A abertura da estrada possibilitou o desenvolvimento da vila juntamente com

o Casaratildeo um hotel pensatildeo que foi construiacutedo as margens do Arroio Porco Morto

este Casaratildeo passou por diversos proprietaacuterios

Leopoldino Cardoso foi o idealizador do Casaratildeo juntamente com os seus soacutecios Heraacuteclito Andrade de Cardoso lsquoJoanitorsquo Joseacute Osoacuterio de Lima lsquoZecarsquo e Pequeno Cardoso sendo que o Casaratildeo era uma casa de negoacutecio compravam queijo couro era um comeacutercio forte vendia secos e molhados inclusive a primeira rodoviaacuteria foi instalada neste espaccedilo poreacutem em 1948 Joatildeo Pacheco Cardoso assume e amplia o estabelecimento construindo o segundo piso da casa de madeira e alugando para outros dois moradores

90 FOGACcedilA Blair dos Santos Entrevista concedida agrave autora no dia 06 de abril de 2018 91 Budega velha referindo-se a uma antiga casa de comeacutercio de secos e molhados localizada onde

hoje se encontra o armazeacutem Celeiro 92 FOGACcedilA Blair dos Santos Entrevista concedida agrave autora no dia 06 de abril de 2018

71

Eremi Terres e Claunir Lucena Com a reforma o Casaratildeo passa a ter treze quartos para aluguel uma loja onde encontrava-se tudo o que se necessitava de alfinete tecido alimentos e raccedilotildees aleacutem da ala que servia de moradia para os proprietaacuterios Em 1962 o estabelecimento eacute alugado para Eraldo Bento de Oliveira que aleacutem de gerenciar o estabelecimento colocou junto um bar local de encontro dos homens da redondeza para tomar um lsquotragorsquo93 (CERUTTI SILVA CARDOSO 2002 p 19)

Figura 21 ndash Imagem do Casaratildeo pouco antes de ser desmanchado

Fonte acervo pessoal de Fernando Oliveira (conhecido como Guego) (2018)

O Casaratildeo foi desmanchado na deacutecada de 1980 pelo entatildeo proprietaacuterio Reno

Pacheco Poreacutem percebe-se na vila que seus antigos moradores falam com certo

saudosismo deste estabelecimento que fez parte de suas vidas e chegam a

lamentar o seu fim morador Fogaccedila94 afirma ldquoali se fez o pastel mais famoso do

Lajeado Grande o pastel da Odila mas tudo se acabou quando eles entregaram e

construiacuteram laacute na esquinardquo95

Poreacutem a vila Lajeado Grande foi lentamente se desenvolvendo Devido agrave

necessidade da conservaccedilatildeo da nova estrada foi construiacuteda agraves margens do Rio

Bururi uma capatazia do DAER Segundo Cerutti Silva e Cardoso (2002 p 18) ldquoo

primeiro capataz foi Capitulino Prudecircncio de Oliveira vindo de Santa Catarina sua

funccedilatildeo era manter as estradas e chegou a ter vinte funcionaacuteriosrdquo Percebe-se que a

93 Trago expressatildeo local que significa beber uma cachaccedila 94 FOGACcedilA Blair dos Santos Entrevista concedida agrave autora no dia 06 de abril de 2018 95 Esquina eacute o nome dado a parte da vila do Lajeado Grande onde se daacute o entroncamento das

rodovias RS-453 e ERS-476

72

partir deste momento se inserem neste distrito pessoas advindas de outros estados

e locais visto que ateacute o presente momento o distrito era habitado por fazendeiros

naturais do proacuteprio municiacutepio e que tinham suas vidas ligadas diretamente agrave

pecuaacuteria extensiva e agrave produccedilatildeo do queijo serrano Importante destacar que a

esposa de Capitulino segundo Cerutti Silva e Cardoso (2002 p 18) ldquoa Celicina

Guilherme da Silva se torna uma figura conhecida por realizar partos sendo

chamada como parteira de campanhardquo Na atualidade filhos netos e bisnetos do

casal ainda residem na vila

A vila do Lajeado Grande tambeacutem recebe novos moradores com a praacutetica do

corte do pinheiro nativo sendo que na deacutecada de 1950 havia uma faacutebrica de

beneficiamento de madeira ateacute se transformar em pasta este material era levado

para Esteio onde funcionava agrave matriz A partir dos anos 1950 ocorre a instalaccedilatildeo de

serrarias sendo que a Madeireira Albeflor de propriedade de Valter Sguaizer se

instala em 1964 Novamente busca-se matildeo de obra em localidades proacuteximas como

Lagoa Vermelha Vacaria e Bom Jesus poreacutem com a proibiccedilatildeo da extraccedilatildeo de

madeira de lei a serraria deixou de funcionar

Percebe-se que no distrito natildeo houve uma homogeneizaccedilatildeo identitaacuteria visto a

influecircncia advinda de muitas culturas no passado atraveacutes da extraccedilatildeo de madeira

e na atualidade com o advento das lavouras de hortifrutigranjeiros e pomares

frutiacuteferos que ocupam boa parte do distrito substituindo a pecuaacuteria extensiva que jaacute

natildeo proporciona um lucro efetivo Entatildeo os proprietaacuterios na sua grande maioria

venderam ou arrendaram suas terras para novas culturas o que modifica o modo de

vida local pois grande parte dos trabalhadores adveacutem de outros estados como o

Paranaacute e tambeacutem se observa o uso da matildeo de obra indiacutegena

Essa miscigenaccedilatildeo se observa nas escolas locais visto que na vila funciona a

Escola Municipal D Pedro I que segundo Cerutti Silva e Cardoso (2002 p 35)

ldquoinicia em 1965 poreacutem a professora e o preacutedio eram mantidos pela Serraria mas na

deacutecada de 70 a prefeitura assumiu a escola sendo que Eloci Martim foi a primeira

professora da Serrariardquo Escola da Serraria como ainda eacute conhecida por boa parte

dos moradores locais apesar de a escola natildeo se encontrar mais onde havia a antiga

serraria Atualmente a Escola Dom Pedro I funciona em um preacutedio obtido atraveacutes da

Associaccedilatildeo de Moradores atendendo alunos da preacute-escola ateacute o sexto ano das

seacuteries finais tendo em seu quadro seis professores e duas funcionaacuterias Sendo que

73

a obra para um novo preacutedio teve iniacutecio neste ano mas percebe-se que a obra parou

por volta do mecircs de maio Poreacutem na vila tambeacutem se encontra uma escola estadual

A documentaccedilatildeo necessaacuteria para a criaccedilatildeo de uma nova escola na localidade foi elaborada por Manoel Cardoso de Andrade juntamente com a professora Odazilda Cardoso Demori e encaminhada agrave Secretaria da Educaccedilatildeo sendo que em 11 de fevereiro de 1953 foi criada a Escola Isolada de Lajeado Grande sendo os professores estaduais mas o preacutedio sob responsabilidade comunitaacuteria iniciou o seu funcionamento nas dependecircncias do DAER e somente em 1957 foi construiacutedo um preacutedio de madeira em terras doadas por Pequeno Cardoso local onde hoje ainda se encontra a escola poreacutem passou por muitas reformas sendo que em 2000 recebeu um novo preacutedio de alvenaria o que possibilitou a realizaccedilatildeo de um grande sonho dos professores e comunidade a implantaccedilatildeo do Ensino Meacutedio que concretizou-se em 200296

Atualmente a escola atende em torno de trezentos alunos da Educaccedilatildeo

Baacutesica poreacutem percebe-se que devido agraves safras de hortifrutigranjeiros o nuacutemero de

alunos se alterna durante o ano O que tambeacutem se percebe eacute o comportamento dos

alunos com relaccedilatildeo agrave diversidade cultural por exemplo usam bombacha laccedilam boi

de pau no recreio e escutam funk uma cultura totalmente diferente da tradicionalista

gauacutecha o que compreende-se como algo advindo da globalizaccedilatildeo cultural que

vivemos no mundo atual reforccedilando novamente o natildeo reconhecimento de uma

identidade forte na localidade

Poreacutem as famiacutelias tradicionais do local manteacutem fortemente arraigada a

cultura tradicionalista que adveacutem do homem do campo tendo no distrito festas

campeiras torneios de laccedilo e a festa religiosa uma vez por ano em homenagem ao

Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus padroeiro da vila

Na atualidade natildeo se percebe uma identidade forte e marcada no distrito e

sim uma miscigenaccedilatildeo de diferentes culturas e etnias que convivem e se integram

harmonicamente

96 CARDOSO Amaacutelia Celuderes Entrevista concedida agrave autora no dia 08 de marccedilo de 2018

74

5 DESCRICcedilAtildeO DO PRODUTO

O produto consiste em um livro paradidaacutetico sobre a histoacuteria de Satildeo Francisco

de Paula Apresenta de maneira didaacutetica a histoacuteria de Satildeo Francisco de Paula bem

como balotildees explicativos imagens sugestotildees de atividades e leituras

complementares Poderaacute servir de apoio pedagoacutegico a professores e alunos do

municiacutepio visto que existe pouco material sobre a histoacuteria deste municiacutepio e se faz

importante trabalhar a histoacuteria local percepccedilatildeo que a autora obteve ao longo da sua

caminhada como professora de histoacuteria que atua nas seacuteries finais do ensino

fundamental e meacutedio haacute dezessete anos na rede estadual do municiacutepio

Partir do local natildeo eacute abandonar o conhecimento histoacuterico eacute dar outro valor

sentido para este conhecimento Segundo Caimi

Levar em conta o universo da crianccedila ou do adolescente natildeo eacute pois abdicar do rigor intelectual [] mas garantir que a apropriaccedilatildeo deste conhecimento ocorra permeada de sentido e significado resultando em soacutelidas aprendizagens (CAIMI 2006 p 24)

Seguindo esta perspectiva a implantaccedilatildeo do Referencial Curricular Gauacutecho

embasado na Base Nacional Comum Curricular reforccedila a ideia jaacute discutida nos

paraacutegrafos anteriores

No que se refere especificamente ao componente Histoacuteria a base rompe tanto com a cronologia quanto agrave visatildeo eurocecircntrica da histoacuteria tradicional Entram em cena novos atores novas sociedades novos caminhos que sempre tiveram na histoacuteria mas nem sempre receberam a devida importacircncia Acompanhando a Base Nacional Comum Curricular o Referencial Curricular Gauacutecho no que se refere especificamente agrave disciplina de Histoacuteria manteacutem seu foco na aprendizagem dos alunos nos diferentes espaccedilos e tempos tendo a preocupaccedilatildeo de integrar o curriacuteculo com a diversidade regional de nosso Estado Tambeacutem eacute importante contemplar os temas integradores como eacutetica cidadania cultura e valorizaccedilatildeo das diversidades assegurando a multiplicidade de olhares sobre o mundo (RIO GRANDE DO SUL 2018 p 118)

Portanto o paradidaacutetico seraacute mais um material disponiacutevel aos professores e

estudantes da educaccedilatildeo baacutesica de Satildeo Francisco de Paula na construccedilatildeo do

conhecimento da histoacuteria do municiacutepio bem como o reconhecimento de sua

identidade neste material visto que se almeja que os estudantes percebam

vestiacutegios de sua identidade e se percebam como parte deste municiacutepio atraveacutes do

conhecimento de sua histoacuteria

75

O paradidaacutetico vem com o tiacutetulo rdquoTropeando histoacuterias em Satildeo Francisco de

Paulardquo sendo que a capa traz a foto do Monumento aos Carreteiros monumento

que se encontra na Avenida Juacutelio de Castilhos em frente ao preacutedio da Prefeitura

Municipal

Figura 22 ndash Capa do livro

Fonte Livro Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula

Na sequecircncia se apresenta o iacutendice que possibilita ao leitor localizar os

diversos temas abordados visto que existem nove capiacutetulos

76

Figura 23 ndash Iacutendice do livro

Fonte Livro Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula

77

O capiacutetulo um apresenta a localizaccedilatildeo de Satildeo Francisco de Paula com uma

seacuterie de mapas que facilitam a compreensatildeo espacial dos alunos assim como um

mapa da subdivisatildeo do municiacutepio em distrito Ao final satildeo sugeridas duas atividades

que podem ser desenvolvidas de maneira interdisciplinar com o apoio da professora

de arte geografia e portuguecircs

Figura 24 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 1)

Fonte Livro Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula

78

Figura 25 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 1)

Fonte Livro Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula

O capiacutetulo dois aborda a existecircncia indiacutegena em Satildeo Francisco de Paula

antes da chegada dos desbravadores vindos de Satildeo Paulo Como sugestatildeo de

atividades apresenta-se uma pesquisa sobre as diferentes tribos indiacutegenas que

habitavam a Proviacutencia de Satildeo Pedro aleacutem da criaccedilatildeo de um painel infograacutefico

79

Figura 26 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 2)

Fonte Livro Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula

No capiacutetulo trecircs se apresentam os primeiros donataacuterios colonizadores de Satildeo

Francisco de Paula com trecho de um testamento deixado por Pedro da Silva

Chaves o fundador de Satildeo Francisco de Paula bem como o mapa que localiza as

primeiras sesmarias que corresponde ao territoacuterio onde hoje eacute a Sede do municiacutepio

80

Figura 27 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 3)

Fonte Livro Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula

Nos capiacutetulos quatro e cinco eacute apresentado o desenvolvimento de Satildeo

Francisco de Paula ainda no seacuteculo XIX quando pertencia ao municiacutepio de Santo

Antocircnio da Patrulha e no final do seacuteculo XIX quando passa a pertencer ao entatildeo

81

municiacutepio de Taquara do Mundo Novo Existe tambeacutem um mapa que demonstra a

extensatildeo territorial de Santo Antocircnio da Patrulha e quais satildeo os municiacutepios hoje que

pertenceram a este bem como a importacircncia da abertura da estrada que liga Satildeo

Francisco de Paula a Taquara

Figura 28 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 4)

Fonte Livro Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula

82

Os capiacutetulos seis e sete apontam a construccedilatildeo do Municiacutepio a partir de sua

emancipaccedilatildeo em 1903 sua extensatildeo territorial e a diminuiccedilatildeo do seu territoacuterio ao

longo do tempo e a histoacuteria da Igreja Matriz Como sugestatildeo de atividade pesquisar

a diversidade religiosa existente na comunidade escolar e criar graacuteficos com essas

informaccedilotildees podendo a partir de entatildeo trabalhar com as questotildees religiosas ontem

e hoje no mundo

Figura 29 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 6)

Fonte Livro Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula

83

No capiacutetulo oito se apresenta o que difere os sete distritos de Satildeo Francisco

de Paula Este capiacutetulo se apresenta subdividido em sete subtiacutetulos onde cada um

corresponde a um distrito do municiacutepio Tendo como fonte principal as entrevistas

realizadas com moradores locais mesclado com fontes documentais e bibliograacuteficas

que corroboram para se perceber que haacute alguns distritos que manteacutem suas tradiccedilotildees

ao longo do tempo e eacute possiacutevel perceber que existe uma identidade que aproxima

aquela populaccedilatildeo

Figura 30 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 8)

Fonte Livro Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula

84

No uacuteltimo capiacutetulo o nove se exibe uma lista de sugestotildees de leituras

complementares a fim de se aprofundarem sobre determinados temas E por fim

as referecircncias utilizadas para a construccedilatildeo do paradidaacutetico Tropeando Histoacuterias em

Satildeo Francisco de Paula

Figura 31 ndash Atividade do livro (Sugestatildeo de Leituras Complementares)

Fonte Livro Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula

85

O produto foi testado em duas turmas da Educaccedilatildeo Baacutesica na Escola

Estadual de Ensino Meacutedio Lajeado Grande com o propoacutesito de avaliar qual seria a

reaccedilatildeo dos estudantes diante do material e por ele ter sido produzido por algueacutem

que convive com eles semanalmente A receptividade foi bastante gratificante como

se pode observar na Figura 32

Figura 32 ndash Alunos do Ensino Meacutedio

Fonte acervo pessoal da autora (2019)

A receptividade foi muito interessante visto que os estudantes

acompanharam a trajetoacuteria para chegar ao produto final algo que os deixava

ansiosos para manusear pois muitas vezes foram parceiros A autora foi

compartilhando com os estudantes as informaccedilotildees obtidas durante a pesquisa e as

descobertas encontradas usando em suas aulas a histoacuteria local para abordar os

diferentes temas e conceitos histoacutericos

Quando a autora apresenta o produto os estudantes do ensino meacutedio estes

formam grupos por distritos e buscam logo reconhecer no material sua identidade

apoacutes comentam sobre as peculiaridades de cada distrito Poreacutem os alunos do

ensino fundamental manuseiam o produto mas natildeo se deteacutem ao distrito em que

pertence e sim as imagens e as explicaccedilotildees apresentadas no vocecirc sabia

O que enriquece o trabalho realizado foi o envolvimento dos estudantes com

o produto solicitando quando poderatildeo ler calmamente todo o trabalho

86

6 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

A partir de experiecircncias pessoais em sala de aula se percebeu que o ensino

de Histoacuteria quando se partia da histoacuteria local havia maior interesse dos estudantes

da educaccedilatildeo baacutesica motivo pelo qual se deu a questatildeo-problema desta dissertaccedilatildeo

que estaacute relacionada diretamente com o natildeo uso desta histoacuteria pelos professores da

educaccedilatildeo baacutesica

Em conversas informais com professores da educaccedilatildeo baacutesica que atuam no

municiacutepio de Satildeo Francisco de Paula em sua grande maioria alegam que o grande

empecilho para se trabalhar a histoacuteria local eacute o pouco material disponiacutevel sobre a

histoacuteria de Satildeo Francisco de Paula aleacutem do rigor dos curriacuteculos que impotildeem o

ensino de Histoacuteria de maneira linear sem contextualizaccedilatildeo com a realidade vivida

pelos estudantes pois desta forma natildeo estatildeo preparando os estudantes para as

avaliaccedilotildees do Ministeacuterio da Educaccedilatildeo bem como para o vestibular Poreacutem natildeo se

estaacute afirmando que deveraacute estudar somente a histoacuteria local e sim partir dela como

incentivo para estudos dos conceitos e temaacuteticas da histoacuteria por muitas vezes

totalmente abstrato e de difiacutecil compreensatildeo pela grande maioria dos estudantes

A partir de entatildeo se realizaram inuacutemeros questionamentos como qual a

necessidade de se ensinar Histoacuteria de forma abstrata sem nenhuma relaccedilatildeo com

as vivecircncias dos estudantes Por que natildeo usar a fonte oral como metodologia de

pesquisa no ensino de Histoacuteria em Satildeo Francisco de Paula jaacute que natildeo existem

muitos materiais escritos a respeito desta histoacuteria principalmente no que tange os

distritos do interior Poreacutem estes questionamentos natildeo foram aprofundados na

dissertaccedilatildeo por natildeo ser o objetivo direto da pesquisa mas posteriormente poderaacute

se tornar um novo projeto de pesquisa

Nesta incessante busca por resposta se constroacutei todo o estudo desta

dissertaccedilatildeo que em um primeiro momento busca embasamento em diferentes

autores que comprovam que o ensino de Histoacuteria voltado para o local faz maior

sentido para os estudantes da educaccedilatildeo baacutesica e que isto natildeo significa abandonar

os conceitos histoacutericos e sim questionar analisar a trajetoacuteria humana no tempo e

no espaccedilo sob uma nova metodologia Apenas se sugere uma nova abordagem

que torne o ensino de Histoacuteria menos abstrato algo mais presente na vida do

estudante e que possibilite a ele a habilidade de perceber que o mundo estaacute em

constante mudanccedila poreacutem os fatos natildeo ocorrem de forma isolada no espaccedilo Algo

87

que foi reforccedilado apoacutes a construccedilatildeo da Base Nacional Curricular e o Referencial

Curricular Gauacutecho que vem de encontro com esta proposta de se estudar a histoacuteria

sobre novos olhares natildeo esquecendo das especificidades regionais do estado do

Rio Grande do Sul para o reconhecimento da identidade local e regional

A identidade local nesta pesquisa se buscou atraveacutes de relatos de

moradores locais que gentilmente colaboraram para o sucesso deste trabalho pois

a memoacuteria se tornou a fonte primordial para se escrever o que identifica os sete

distritos que constituem Satildeo Francisco de Paula Certamente a temaacutetica natildeo se

esgotou ainda haacute muito que se pesquisar e escrever sobre a histoacuteria de Satildeo

Francisco de Paula possibilitando a criaccedilatildeo de novos materiais que possam ser

usados em sala de aula pelos professores e alunos deste municiacutepio

Mas ao mesmo tempo haacute uma preocupaccedilatildeo por parte da autora nada

adianta criar produtos sinalizar novos meacutetodos ao ensino de Histoacuteria se o

profissional professor natildeo estiver preparado para trabalhar com novas fontes

histoacutericas novas metodologias de ensino proporcionando aos estudantes a

oportunidade de construir seu proacuteprio conhecimento histoacuterico embasado em sua

realidade e suas vivecircncias

Vivecircncias que se tornaram aliadas na pesquisa pois a autora nasceu e

sempre viveu no municiacutepio de Satildeo Francisco de Paula poreacutem a maior dificuldade

encontrada nesta caminhada foi percorrer grandes distacircncias por estradas de

rodagem em peacutessimas condiccedilotildees de trafegabilidade para gravar os relatos que

servem de base para a construccedilatildeo desta pesquisa O municiacutepio de Satildeo Francisco de

Paula eacute territorialmente extenso e essas distacircncias percorridas deram o nome ao

produto Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula como uma homenagem

aos antigos tropeiros deste municiacutepio que passavam boa parte de sua vida ao

lombo de mulas levando e buscando mercadorias pelos campos de cima da serra

Visto que desde o processo seletivo do mestrado em agosto de 2016

quando se apresentou o projeto de pesquisa jaacute se pensava no produto um livro

paradidaacutetico no formato fiacutesico A autora por diversas vezes foi questionada por que

natildeo um blog ou site Porque na forma fiacutesica este material seria de faacutecil manuseio

pelos estudantes e professores pois principalmente no interior uso da internet ainda

eacute um problema visto que em muitos locais natildeo existe sinal de telefonia diraacute

internet

88

O paradidaacutetico foi se moldando ao longo do tempo ateacute se chegar a versatildeo

final com uma ampla gama de informaccedilotildees e curiosidades sobre os sete distritos de

Satildeo Francisco de Paula onde se pretende que os alunos e professores possam

fazer uso deste material em sala de aula para tanto a autora pretende

posteriormente lanccedilar o produto para que possa ser lido e manuseado por todos

inclusive por aqueles que gostam de histoacuteria e sentem curiosidade sobre a formaccedilatildeo

do seu distrito e por conseguinte do municiacutepio de Satildeo Francisco de Paula

O paradidaacutetico foi testado em duas turmas da Escola Estadual de Ensino

Meacutedio Lajeado Grande sendo uma de Ensino Meacutedio e a outra das seacuteries finais do

Ensino Fundamental Os alunos jaacute detinham o conhecimento que a autora estava

cursando o Mestrado e que para sua conclusatildeo deveria apresentar um produto Era

de conhecimento de todos os estudantes que a autora estava produzindo um

paradidaacutetico sobre a histoacuteria de Satildeo Francisco de Paula pois a mesma eacute professora

destes estudantes nesta escola

Em um primeiro momento se explica que eacute apenas um protoacutetipo que

somente a capa estaacute colorida e o restante estaacute todo em preto e branco e que a

versatildeo final teraacute as imagens e as curiosidades coloridas o que com certeza

chamaraacute mais atenccedilatildeo Ao entregar o paradidaacutetico Tropeando Histoacuterias em Satildeo

Francisco de Paula para que possam manuseaacute-lo veio a primeira grande surpresa

os estudantes ficaram muito contentes por a turma ter sido escolhida pela autora

escolha essa que se justifica por ter trabalhado todo o ano de 2017 com estes

alunos partindo da histoacuteria local

A turma do oitavo ano do Ensino Fundamental manuseou sendo que os

alunos acharam interessante poreacutem se deteram mais nas imagens e balotildees do

ldquovocecirc sabiardquo Mas de maneira ampla e geral acharam muito interessante a foto de

capa com o Monumento aos Carreteiros situado na Avenida Juacutelio de Castilhos em

frente ao preacutedio da Prefeitura Municipal pois alguns natildeo conhecem a Sede do

municiacutepio

Os alunos do segundo ano do Ensino Meacutedio se surpreenderam e foram direto

ler sobre o distrito no qual residem Interessados questionaram sobre curiosidades

de como o material foi construiacutedo quais as maiores dificuldades encontradas

elogiaram o leiaute as imagens de fundo ao lado de cada curiosidade relatando que

chama a atenccedilatildeo aleacutem de considerarem relevantes as sugestotildees de atividades e

ao final solicitaram quando o material estaraacute disponiacutevel para que possam ler

89

integralmente visto que um periacuteodo de cinquenta minutos natildeo foi suficiente para que

todos manuseassem se fazendo necessaacuterio levar novamente na proacutexima aula

A autora se sentiu motivada pela recepccedilatildeo do produto por seus alunos o que

a incentiva continuar pesquisando sobre outras temaacuteticas a respeito da histoacuteria de

Satildeo Francisco de Paula trazendo para seu fazer pedagoacutegico novas fontes que

proporcionem um estudo da Histoacuteria de maneira ampla e contextualizada com a

realidade local que os cerca

90

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94

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Jornal Folha da Serra n 11 do dia 29 de setembro de 1968

Jornal Folha da Serra n 25 do dia 31 de dezembro de 1968

Jornal Folha da Serra n 89 do dia 07 de setembro de 1969

Jornal Satildeo Chico Tchecirc n 4 do dia 30 de abril de 1986

Jornal Satildeo Chico Tchecirc n 11 do dia 25 de maio de 1986

Jornal Satildeo Chico Tchecirc n 12 do dia 28 de maio de 1986

Jornal Pioneiro versatildeo digital do dia 02 de junho de 2017

Entrevistas

Amaacutelia Celuderes Cardoso residente no distrito de Lajeado Grande Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 08 de marccedilo de 2018

Blair dos Santos Fogaccedila residente no distrito de Lajeado Grande Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 06 de abril de 2018

Ceacutelia Pacheco Terres Basso residente no distrito de Cazuza Ferreira Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 04 de agosto de 2018

Darci da Silva Fagundes residente no distrito de Tainhas Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 24 de fevereiro de 2018

Deotildes Palhano dos Santos residente no distrito do Juaacute Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 12 de maio de 2018

Jaures Feijoacute Gomes residente no distrito de Eletra Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 15 de fevereiro de 2018

Luciana Olga Soares residente no distrito Sede Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 01 de marccedilo de 2018

Maria Madalena Scalco Faciole residente no distrito do Rincatildeo dos Kroeff Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 18 de marccedilo de 2018

Moacir Castello Branco de Albuquerque residente no distrito Sede Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 06 abril de 2018

95

Nauro Bossle de Andrade residente no distrito de Cazuza Ferreira Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 04 de marccedilo de 2018

Orides Reis residente no distrito do Juaacute Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 12 de maio de 2018

Reinaldo Faciole residente no distrito do Rincatildeo dos Kroeff Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 18 de marccedilo de 2018

Susana Marques Soares residente no distrito de Eletra Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 15 de fevereiro de 2018

96

APEcircNDICES

97

APEcircNDICE A ndash ENTREVISTA COM MORADORES LOCAIS DOS DISTRITOS DE

SAtildeO FRANCISCO DE PAULA

UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL

PROGRAMA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO EM HISTOacuteRIA ndash MESTRADO EM HISTOacuteRIA PROFISSIONAL

PESQUISA DE CAMPO ndash TATIANA MEacuteLO CARDOSO

1 Nome completo

2 Idade

3 Quantos anos reside neste distrito

4 Como se formou este distrito

5 Por que ele tem esse nome

6 Quem foram os primeiros moradores

7 Como era a vida aqui haacute tempos atraacutes

8 O que mudou aqui com o passar dos anos

9 O que identifica este lugar

10 As pessoas hoje que moram aqui na grande maioria satildeo naturais daqui ou vieram

de onde

11 A(o) Sra(Sr) acredita que as futuras geraccedilotildees valorizaram eou conheceram a

histoacuteria local ou vai se perder no tempo

12 Como funcionava a questatildeo do ensino em meados do seacuteculo XX havia escola na

localidade

13 Qual a primeira escola deste distrito data de fundaccedilatildeo local de funcionamento e a

primeira professora

14 Achas importante trabalhar nas escolas a histoacuteria do lugar

15 O que eacute tradiccedilatildeo deste distrito

16 Qual eacute a fonte de renda das pessoas no que elas trabalham

17 Qual eacute o lazer das pessoas aqui

98

APEcircNDICE B ndash TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Declaro por meio deste termo que concordei em ser entrevistado(a) eou participar na

pesquisa de campo referente ao projetopesquisa Ensino de Histoacuteria Local e o Paradidaacutetico

caso Satildeo Francisco de Paula desenvolvida pela aluna Tatiana Meacutelo Cardoso do Programa de

Poacutes-Graduaccedilatildeo em Histoacuteria ndash Mestrado Profissional da Universidade de Caxias de Sul Fui

informado(a) que poderei consultaacute-la a qualquer momento que julgar necessaacuterio atraveacutes do e-

mail t_ati_mhotmailcom

Afirmo que aceitei participar por minha proacutepria vontade sem receber qualquer

incentivo financeiro ou ter qualquer ocircnus e com a finalidade exclusiva de colaborar para o

sucesso da pesquisa Fui informado(a) dos objetivos estritamente acadecircmicos de estudo

Minha colaboraccedilatildeo natildeo ficaraacute anocircnima e foi realizada por meio de entrevista

semiestruturada A anaacutelise dos dados obtidos seratildeo divulgados natildeo permanecendo restritas

apenas a pesquisadora eou seu(s) orientador(es) coordenador(es)

Fui ainda informado(a) de que posso me retirar desse(a) estudopesquisa programa a

qualquer momento sem prejuiacutezo para meu acompanhamento ou sofrer quaisquer sanccedilotildees ou

constrangimentos Atesto recebimento de uma coacutepia assinada deste Termo de Consentimento

Livre e Esclarecido

Satildeo Francisco de Paula ___ de _____________ de ____

Assinatura do(a) participante

Assinatura do responsaacutevel

Page 10: UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL TATIANA MÉLO CARDOSO

SUMAacuteRIO

1 INTRODUCcedilAtildeO 11

2 HISTOacuteRIA LOCAL E O ENSINO DE HISTOacuteRIA NA SALA DE AULA 17

3 SAtildeO FRANCISCO DE PAULA CONSTRUCcedilAtildeO DO MUNICIacutePIO 24

31 CONVERSA COM MEMORIALISTAS 25

32 AMPLIANDO O DIAacuteLOGO COM OS MEMORIALISTAS 28

4 SAtildeO FRANCISCO DE PAULA DISTRITOS EM FOCO 41

41 DISTRITO SEDE 42

42 DISTRITO DE CAZUZA FERREIRA 51

43 DISTRITO DE TAINHAS 55

44 DISTRITO DE ELETRA 58

45 DISTRITO DO JUAacute 62

46 DISTRITO DO RINCAtildeO DOS KROEFF 66

47 DISTRITO DE LAJEADO GRANDE 70

5 DESCRICcedilAtildeO DO PRODUTO 74

6 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 86

REFEREcircNCIAS 90

FONTES CONSULTADAS 94

APEcircNDICES 96

APEcircNDICE A ndash ENTREVISTA COM MORADORES LOCAIS DOS DISTRITOS DE

SAtildeO FRANCISCO DE PAULA 97

APEcircNDICE B ndash TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO 98

11

1 INTRODUCcedilAtildeO

Os meacutetodos de ensino de Histoacuteria no Brasil vem sendo discutidos desde sua

criaccedilatildeo como disciplina Segundo Nadai (1992-1993 p 144) a introduccedilatildeo de

Histoacuteria no curriacuteculo ocorre na terceira metade do seacuteculo XIX no Brasil sendo que

desde entatildeo passa por diversas modificaccedilotildees Segundo Schmidt e Cainelli (2009)

os meacutetodos foram se adequando ao momento histoacuterico brasileiro em um primeiro

momento ensinou-se a histoacuteria da Europa Ocidental como a verdadeira histoacuteria da

civilizaccedilatildeo uma histoacuteria abstrata sem relaccedilatildeo com a vida do aluno Nadai (1992-

1993 p 146) acrescenta que ldquoa histoacuteria da paacutetria surgia como seu apecircndice sem

corpo autocircnomo e ocupando um papel extremamente secundaacuterio consistia num

repositoacuterio de biografias de homens ilustres de datas e batalhasrdquo

Poreacutem a partir de 1860 segundo Schmidt e Cainelli (2009 p 12-13) ldquono

periacuteodo republicano a incorporaccedilatildeo da concepccedilatildeo de que a disciplina Histoacuteria tinha

a responsabilidade de formar cidadatildeos ganha forccedilardquo sendo assim as escolas

primaacuterias e secundaacuterias comeccedilaram incluir em seus programas a histoacuteria nacional

com o intuito da formaccedilatildeo da nacionalidade sendo a paacutetria com seus heroacuteis o

principal foco Desta forma a criaccedilatildeo das diretrizes da Lei de Educaccedilatildeo nordm 569271

reforccedila o modelo jaacute instaurado

Foi oficializado o ensino de Estudos Sociais nas escolas brasileiras ficando os conteuacutedos especiacuteficos da Histoacuteria destinados somente aos alunos do antigo segundo grau A concepccedilatildeo e os conteuacutedos da Histoacuteria continuavam atrelados agraves concepccedilotildees tradicionais (SCHMIDT CAINELLI 2009 p 13)

Com a redemocratizaccedilatildeo na deacutecada de 1980 houve inuacutemeras discussotildees

que elencaram inuacutemeras abordagens e temaacuteticas para o ensino da Histoacuteria na

atualidade as novas tendecircncias se preocupam com a transposiccedilatildeo didaacutetica

valorizando documentos histoacutericos e incorporando novas linguagens e tecnologias

que permitem discussotildees e autonomia de pensamento Neste sentido as novas

concepccedilotildees de ensino de Histoacuteria ao final do seacuteculo XX abrem a possibilidade de

uma nova praacutetica didaacutetica que segundo Azevedo e Stamatto (2010 p 709) ldquobusca

problematizar a relaccedilatildeo passado-presente e em geral tomam a realidade do aluno

como ponto de partidardquo

Por se acreditar em um ensino de Histoacuteria onde a aprendizagem natildeo ocorre

em periacuteodos estanques de forma abstrata e sem relaccedilatildeo com o presente ou seja

12

apresentando de forma linear sem que haja contextualizaccedilatildeo sendo apresentada

atraveacutes de leitura de textos eou resumos permeando com atividades que muitas

vezes natildeo permitem um desenvolvimento de raciociacutenio histoacuterico que contribua para

a construccedilatildeo da cidadania Torna-se urgente pensar em um ensino voltado para a

inclusatildeo de novas contribuiccedilotildees historiograacuteficas como a histoacuteria cultural econocircmica

e social buscando na realidade local subsiacutedios para a aprendizagem Por isso a

presente dissertaccedilatildeo traz a didatizaccedilatildeo da histoacuteria de Satildeo Francisco de Paula visto

que a questatildeo-problema estaacute vinculada ao natildeo uso da histoacuteria local no ensino de

Histoacuteria deste municiacutepio e o pouco material disponiacutevel para o uso dos professores

Parte-se do pressuposto que ao abranger a histoacuteria local os sujeitos se veem como

partiacutecipes desta histoacuteria estudada significando e ressignificando conceitos

histoacutericos

Corroborando com este estudo Cunha (2016) traz consideraccedilotildees importantes

relacionadas ao uso da histoacuteria local O autor aborda como algo essencial para

compreensatildeo da histoacuteria geral na educaccedilatildeo baacutesica o uso da histoacuteria local o que

proporcionaria aos estudantes o reconhecimento como cidadatildeo e a percepccedilatildeo e

identificaccedilatildeo dos lugares de memoacuteria por parte dos alunos bem como o sentimento

de pertencimento do local Desta forma despertaria no aluno o interesse por um

passado aparentemente desligado de sua realidade estabelecendo relaccedilotildees com o

seu cotidiano

Desta maneira acredita-se que os estudantes da educaccedilatildeo baacutesica

compreenderatildeo a histoacuteria como algo que faz parte de suas vidas tornando-se assim

sujeitos da histoacuteria pois se haacute reconhecimento haveraacute tambeacutem o sentimento de

pertencimento que poderaacute ajudaacute-los a manter ou modificar a realidade que os cerca

Assim descrevem Schmidt e Cainelli

Esse sentido do ensinar Histoacuteria natildeo significaria natildeo ter conteuacutedos para serem ensinados mas olhar para estes conteuacutedos a partir da possibilidade de construir com os alunos novas questotildees diante de conteuacutedos e temas propostos pela historiografia Aprender histoacuteria eacute discutir evidecircncias levantar hipoacuteteses dialogar com os sujeitos os tempos e os espaccedilos histoacutericos Eacute olhar para o outro em tempos e espaccedilos diversos (SCHMIDT CAINELLI 2009 p 20)

Dentro desta perspectiva o reconhecimento da memoacuteria social se faz

importante visto que se necessita invocaacute-la para que um determinado grupo ou local

reconheccedila sua identidade social Atraveacutes de entrevistas com moradores de Satildeo

13

Francisco de Paula se invoca a memoacuteria coletiva na busca da identidade dos sete

distritos deste municiacutepio Visto que a histoacuteria de Satildeo Francisco de Paula se inicia por

volta do seacuteculo XVIII quando se datam as primeiras sesmarias1 concedidas ao

capitatildeo Pedro da Silva Chaves Posteriormente o capitatildeo doa parte de suas terras

para a construccedilatildeo do povoado que recebe o nome de Satildeo Francisco de Paula de

Cima da Serra por este ser devoto do Santo Satildeo Francisco Reza no testamento do

capitatildeo Pedro da Silva Chaves que um de seus filhos foi o primeiro paacuteroco a rezar

missa no povoado Satildeo Francisco de Paula pertenceu a Santo Antocircnio da Patrulha

e mais tarde a Taquara emancipando-se em 1902

Haacute pouca bibliografia sobre a histoacuteria de Satildeo Francisco de Paula o que existe

satildeo livros escritos por memorialistas onde se percebe a prioridade pela histoacuteria do

fundador ou seja do Capitatildeo Pedro da Silva Chaves dos iacutendios Caaguaraacutes que

habitavam a regiatildeo assim como os aspectos poliacuteticos administrativos Alguns destes

livros apresentam uma siacutentese cronoloacutegica de fatos importantes e descrevem

superficialmente o jeito de viver do povo serrano2 Mas a histoacuteria de Satildeo Francisco

de Paula estaacute repleta de diferentes identidades que identificam a Sede3 e o Interior4

deste municiacutepio e formam o jeito de viver do seu povo A natildeo exploraccedilatildeo de

elementos culturais que se fazem importantes para a construccedilatildeo de identidade

destes lugares minimiza as memoacuterias e as tradiccedilotildees que ali se apresentam visto

que

as constantes novidades em diferentes campos do saber os avanccedilos da tecnologia as infinitas possibilidades de comunicaccedilatildeo simultacircnea tecircm provocado sobretudo nas novas geraccedilotildees uma sensaccedilatildeo de que o mundo em que se vive eacute dotado de um temporalidade constituiacuteda por um tempo presente contiacutenuo (FIGUEIRA MIRANDA 2012 p 46)

Neste sentido fez-se uso de diferentes fontes para a construccedilatildeo do produto

desta dissertaccedilatildeo que consiste de um paradidaacutetico que possa servir como um

1 Sesmaria Terreno sem culturas ou abandonado que a antiga legislaccedilatildeo portuguesa com base em

praacuteticas medievais determinava que fosse entregue a quem se comprometesse a cultivaacute-lo 2 Serrano gentiacutelico de quem nasce em Satildeo Francisco de Paula 3 Sede distrito criado em 07 de janeiro de 1903 na mesma data da instalaccedilatildeo oficial do Municiacutepio Eacute

o distrito onde se localiza a Prefeitura Municipal Foacuterum agecircncias bancaacuterias loteacutericas hospital casas comerciais e residecircncias particulares Normalmente os moradores do interior quando vatildeo ao distrito se referem como ldquovou a Satildeo Chicordquo e natildeo como ldquovou a Sederdquo

4 Interior Cazuza Ferreira Juaacute Eletra Rincatildeo dos Kroeff Tainhas e Lajeado Grande satildeo distritos que ficam na zona rural apesar de todos terem uma pequena vila que possui pouca infraestrutura Alguns destes distritos ainda usam aacutegua de vertentes sem nenhuma rede de esgoto pois natildeo possuem aacutegua fornecida pela Companhia de Aacutegua e Saneamento (CORSAN)

14

material disponiacutevel a alunos e professores no ensino de Histoacuteria de Satildeo Francisco

de Paula Segundo Munakata entendem-se como paradidaacuteticos

Livros que sem apresentar caracteriacutesticas proacuteprias dos didaacuteticos satildeo adotados no processo de ensino e aprendizagem nas escolas seja como material de consulta do professor seja como material de pesquisa e de apoio agraves atividades do educando (MUNAKATA 1997 p 103)

Para a construccedilatildeo do paradidaacutetico fez-se uso de bibliografias jaacute existentes

jornais e documentos da Assembleia da Legislativa bem como o uso da histoacuteria

oral sendo as entrevistas a fonte primordial para escrever sobre as semelhanccedilas e

diferenccedilas existentes no modo de vida da populaccedilatildeo de Satildeo Francisco de Paula

visto que os depoimentos satildeo importantes na preservaccedilatildeo das memoacuterias tradiccedilotildees

bem como das heranccedilas identitaacuterias Neste sentido Delgado (2003 p 23) discorre

ldquonarrativas memoacuterias histoacuterias e identidades satildeo a humanidade em movimento

Satildeo o olhar que permeiam tempos heterogecircnicos Satildeo a histoacuteria em construccedilatildeo Satildeo

memoacuterias que falamrdquo

Portanto a histoacuteria oral busca registrar as vivecircncias e lembranccedilas de um

determinado grupo Alberti (2008 p 29) assim define ldquohistoacuteria oral natildeo eacute um fim em

si mesma e sim um meio de conhecimentordquo Quando se trabalha com a histoacuteria

oral se faz necessaacuterio valorizar a memoacuteria as identidades e tradiccedilotildees pois estas

formam a histoacuteria local ou seja a histoacuteria dos indiviacuteduos que ali vivem Halbwachs

(2004) afirma que com a perda da memoacuteria coletiva tambeacutem se perdem as

tradiccedilotildees locais tradiccedilotildees essas que identificam o modo de viver de um determinado

local Hobsbawn e Ranger entendem que as tradiccedilotildees podem ou natildeo ser

inventadas

Tradiccedilatildeo inventada entende-se um conjunto de praacuteticas normalmente reguladas por regras taacutecitas ou abertamente aceitas tais praacuteticas de natureza ritual ou simboacutelica visam inculcar certos valores e normas de comportamento atraveacutes da repeticcedilatildeo o que implica automaticamente uma continuidade com relaccedilatildeo ao passado (HOBSBAWN RANGER 2015 p 8)

Hobsbawn e Ranger (2015) ainda acrescem que a criaccedilatildeo de uma tradiccedilatildeo

independe da imposiccedilatildeo de uma nova tradiccedilatildeo o que normalmente ocorre eacute uma

rebeliatildeo cultural que precede da elaboraccedilatildeo de novas tradiccedilotildees que satildeo adotadas

pela populaccedilatildeo e com o tempo passam a se tornar tradiccedilotildees daquele local

formando a identidade local

15

Neste sentido Hall (2011 p 39) discorre que ldquoas identidades satildeo fabricadas

por meio da marcaccedilatildeo da diferenccedilardquo O autor ainda acresce que ldquoa diferenccedila eacute aquilo

que separa uma identidade da outrardquo (HALL 2011 p 41) Dentro desta perspectiva

a memoacuteria que se apresenta atraveacutes de siacutembolos ou tradiccedilotildees respalda a

construccedilatildeo da identidade do povo de Satildeo Francisco de Paula visto que a memoacuteria eacute

a construccedilatildeo do passado de maneira atualizada e renovada no tempo presente

Assim Halbwachs (2004 p 64) descreve que ldquonatildeo eacute na histoacuteria aprendida eacute na

histoacuteria vivida que se apoia nossa memoacuteriardquo Nessa loacutegica o autor ainda descreve

que ldquoo mundo histoacuterico eacute como um oceano onde afluem todas as histoacuterias parciaisrdquo

(p 90)

O municiacutepio de Satildeo Francisco de Paula eacute repleto de tradiccedilotildees que perpassam

o tempo que estatildeo enraizadas no jeito serrano de ser formando a sua identidade

Portanto a histoacuteria de Satildeo Francisco de Paula descrita nesta dissertaccedilatildeo seraacute

apresentada em quatro capiacutetulos

O capiacutetulo dois apresenta a discussatildeo teoacuterica metodoloacutegica sobre a

importacircncia do ensino da Histoacuteria local na sala de aula Tambeacutem conceitos como

memoacuteria e identidade e a importacircncia de se abordar o local em prol do global

No capiacutetulo trecircs aborda-se a construccedilatildeo histoacuterica do municiacutepio de Satildeo

Francisco de Paula que vai desde a chegada do colonizador nesta terra ateacute as

instituiccedilotildees que se formam ao longo do tempo Para isso se faz uso de bibliografias

jaacute existentes como Lucena (1971) Oliveira (1996) Teixeira (2002) Ribeiro (2003)

Alves (2007) e Fonseca (2012) sendo todas essas obras importantes para Satildeo

Francisco de Paula visto que cada uma traz consigo um pouco da histoacuteria deste

municiacutepio poreacutem sente-se falta da identidade e da memoacuteria na construccedilatildeo histoacuterica

As obras satildeo apresentadas sob o mesmo prisma apresentando os iacutendios Caaguaraacutes

e o Capitatildeo Pedro da Silva Chaves os fundadores desta terra dando bastante

ecircnfase aos sobrenomes que ali se desenvolveram Tambeacutem se fez uso de

documentos da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul aleacutem de jornais

encontrados no Arquivo Histoacuterico de Satildeo Francisco de Paula

No capiacutetulo quatro utiliza-se da fonte oral para que sejam identificadas as

diferentes tradiccedilotildees e versotildees da histoacuteria local ou seja a identidade de cada distrito

constituindo assim as particularidades que constroem o municiacutepio de Satildeo Francisco

de Paula Para tanto buscaram-se depoentes nas vilas dos distritos sendo que a

escolha se deu por duas pessoas por distrito sendo um homem e uma mulher

16

totalizando treze depoentes todos da terceira idade pois segundo Bosi (1994 p

82) ldquoum mundo social que possui uma riqueza e uma diversidade que natildeo

conhecemos pode chegar-nos pela memoacuteria dos velhosrdquo memoacuterias estas

construiacutedas por suas vivecircncias neste local o que justifica a relevacircncia dos

depoimentos para a construccedilatildeo do trabalho

O capiacutetulo cinco apresenta uma descriccedilatildeo do produto que consiste em um

paradidaacutetico em forma fiacutesica abordando a histoacuteria de Satildeo Francisco de Paula A

escolha pelo formato fiacutesico acontece pelas dificuldades encontradas no interior dos

distritos com o acesso agrave internet assim se pensa que o formato fiacutesico abrangeraacute um

nuacutemero maior de alunos e professores

Para tanto utiliza-se a metodologia da Histoacuteria oral para escrever a memoacuteria

e as percepccedilotildees das pessoas que habitam este local Hobsbawn e Ranger (1995 p

103) escrevem que ldquoessa proximidade entre o periacuteodo analisado e sua histoacuteria

pessoal eacute o pano de fundo para a discussatildeo de alguns problemas que qualquer

historiador enfrenta ao escrever sobre seu proacuteprio tempordquo pois a sensibilidade do

historiador vai escrever sua narrativa Em outras palavras Hobsbawn e Ranger

(1995 p 104) explicam que ldquocada historiador tem sua proacutepria vida um lugar privado

a partir do qual inspeciona o mundordquo Tambeacutem afirmam

Para aqueles que querem escrever a histoacuteria do seacuteculo XX uma das mais importantes reside no simples fato de saber sem nenhum esforccedilo especial o quanto as coisas se modificaram Os uacuteltimos trinta ou quarenta anos foram os mais revolucionaacuterios da histoacuteria O mundo ou seja a vida dos homens e mulheres que vivem na Terra nunca foi transformada de maneira tatildeo profunda dramaacutetica e extraordinaacuteria dentro de um periacuteodo tatildeo curto As geraccedilotildees que natildeo viram como o mundo era antes tecircm dificuldade em perceber isso intuitivamente (HOBSBAWN RANGER 1995 p 107)

Portanto se faz importante perceber que o mundo vem se transformando de

maneira raacutepida modificando a vida das pessoas e por conseguinte as tradiccedilotildees e

identidades locais pois estas comunidades natildeo vivem de forma isolada e sofreram

influecircncias jaacute que a cultura natildeo eacute estagnada estaacute sempre em constante movimento

juntamente com as pessoas

17

2 HISTOacuteRIA LOCAL E O ENSINO DE HISTOacuteRIA NA SALA DE AULA

Discutir o ensino de Histoacuteria na educaccedilatildeo baacutesica e a relaccedilatildeo do mesmo com a

histoacuteria local se faz bastante importante para que a cada dia se possa melhorar as

praacuteticas pedagoacutegicas Neste sentido se busca respaldo em diferentes bibliografias

que possam embasar novos afazeres dentro do espaccedilo da sala de aula e

proporcionar ao estudante um novo olhar sobre a histoacuteria um olhar de sujeito ativo

dentro desse processo de ensino aprendizagem

Pois quando a Histoacuteria eacute ensinada como algo certo e imutaacutevel de maneira

fragmentada voltada para linearidade e memorizaccedilatildeo de fatos e datas reforccedila o

que Mendes (1935) e Schmidt e Cainelli (2009) defendem que realmente eacute odiosa a

histoacuteria ensinada por este vieacutes Percebe-se que o ensino de histoacuteria linear nos

moldes europeus positivistas jaacute natildeo daacute mais conta da importacircncia da histoacuteria para a

sociedade atual porque eacute apresentada aos alunos atraveacutes de datas e fatos escrita

pelo vieacutes de uma elite que normalmente eacute branca e deteacutem o poder poliacutetico eou

econocircmico Eacute inconcebiacutevel que se permaneccedila com um ensino de Histoacuteria que natildeo

serve natildeo motiva e segundo Ruumlsen (2001 p 25) ainda ldquoirracionalizardquo sendo esse

modelo muito frequente nas escolas de educaccedilatildeo baacutesica brasileiras

Natildeo eacute por outro motivo que observamos ainda nas uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo XX que para a maior parte dos estudantes brasileiros o estudo de histoacuteria carece de sentido ou utilidade natildeo se tem a visatildeo de ciecircncia e sim de uma mateacuteria decorativa estudo do passado que soacute exige como vimos a prontidatildeo em declinar nomes datas e fatos Natildeo eacute de se estranhar que assim seja porque ocorre a enorme distacircncia entre a realidade vivenciada pela comunidade e o tratamento dado ao ensino de Histoacuteria jaacute que o aluno se torna mero espectador de fatos natildeo necessitando esforccedilos no sentido de qualquer reflexatildeo ou elaboraccedilatildeo (BARBOSA 2006 p 58)

O ensinar da histoacuteria de forma abstrata fragmentada dificulta a compreensatildeo

do processo histoacuterico no sentido que se estuda os fatos isolados ao seu tempo

como se um fato precisasse terminar para iniciar outro Em outras palavras este

meacutetodo de ensino natildeo daacute a noccedilatildeo de continuidade ou seja a histoacuteria perdeu seu

sentido baacutesico que eacute a compreensatildeo do contexto global dos fatos considerando que

o ensino de Histoacuteria por muitas vezes eacute estanque sem uma relaccedilatildeo ldquopresente x

passadordquo sendo de suma importacircncia o despertar de uma consciecircncia criacutetica por

parte do estudante Por isso ao longo do tempo o ensino sofre influecircncia por parte

do ldquopoderrdquo segundo Laville (1999 p 128) ldquoa Histoacuteria eacute certamente a uacutenica disciplina

18

escolar que recebe intervenccedilotildees diretas dos altos dirigentes e a consideraccedilatildeo ativa

dos parlamentos Isso mostra quatildeo importante eacute ela para o poderrdquo Nesta linha o

autor ainda acrescenta que ldquoa narrativa histoacuterica pode tambeacutem ser vista como uma

tomada de poder por grupos sem poderrdquo (LAVILLE 1999 p 129)

Na busca de modificar esse modelo surgem novos meacutetodos que valorizam o

uso do documento histoacuterico e a incorporaccedilatildeo de novas tecnologias de acordo com

Azevedo e Stamatto (2010 p 720) ldquotem o desafio de responder a inquietaccedilotildees do

hojerdquo Partindo deste pressuposto haacute possibilidade de se modificar o ensino da

Histoacuteria que ateacute entatildeo estava voltado agrave memorizaccedilatildeo para um modelo onde o

sujeito seja agente deste processo

Ensinar Histoacuteria como algo pronto e acabado [] sem levar em conta o contexto e os sujeitos envolvidos no processo de ensino aprendizagem pode levar a um ensino que natildeo desenvolve o que eacute mais importante como funccedilatildeo do ensinar histoacuteria que orientar os problemas da vida praacutetica (SCHMIDT CAINELLI 2009 p 20)

Assim Seffner (2013 p 51) acrescenta que ldquoo ensino de Histoacuteria eacute um ensino

de situaccedilotildees histoacutericas Mais do que nomes datas e acontecimentos o professor

deve propiciar ao aluno a compreensatildeo de como se estrutura uma dada situaccedilatildeordquo

Para que o ensino de Histoacuteria seja ressignificado existe a necessidade de anaacutelise

do processo histoacuterico problematizando os fatos no vai e vem do presentepassado

Os estudantes da educaccedilatildeo baacutesica necessitam compreender a histoacuteria como

um processo em constante transformaccedilatildeo que eacute movimentada por sujeitos que a

compotildeem com permanecircncias e rupturas ao longo dos tempos Segundo Bittencourt

(2004 p 168) ldquoa histoacuteria local tem sido indicada como necessaacuteria para o ensino por

possibilitar a compreensatildeo do alunordquo

Corroborando Seffner (2013) Souza (2015) e Brum (2015) evidenciam a

importacircncia de se trabalhar a histoacuteria global partindo de uma histoacuteria local

problematizando levando hipoacuteteses e analisando os fatos histoacutericos o que gera

significado para o educando e torna o docente natildeo mais um mero transmissor mas

um mediador deste conhecimento Neves (1997 p 22) reforccedila que ldquoo local fora do

contexto geral eacute apenas um fragmento e o geral sem o respaldo das realidades

locais eacute apenas uma abstraccedilatildeordquo Com esta nova abordagem o estudar Histoacuteria tem

sentido para o discente que se sente sujeito de sua proacutepria histoacuteria visto que

19

identificar-se com o local onde se vive ajuda a compreender o sentimento de

pertencimento e suas relaccedilotildees com o meio social e cultural no qual estaacute inserido

Nesta perspectiva faz-se necessaacuterio que os professores busquem novas

alternativas de ensino que proporcionem ao estudante a habilidade de ressignificar o

fato histoacuterico estudado

Ensinar Histoacuteria requer do professor a habilidade de buscar sentido e significado para o conhecimento que ministra e isso significa superar a mera transmissatildeo de informaccedilotildees jaacute que essa natildeo tem por finalidade o desenvolvimento intelectual mas ao contraacuterio deforma a capacidade de pensamento histoacuterico do aluno e a possibilidade de consolidar habilidades de anaacutelise da proacutepria realidade social (SILVA PORTO 2012 p 67)

Goubert assim define a histoacuteria local

Denominaremos histoacuteria local como aquela que diga respeito a uma ou poucas aldeias a uma cidade pequena ou meacutedia (um grande porto ou uma capital estatildeo aleacutem do acircmbito local) ou a uma aacuterea geograacutefica que natildeo seja maior do que a unidade provincial comum (como um county inglecircs um contado italiano uma Land alematilde uma bailiwick ou pays francecircs) Praticada haacute tempos atraacutes com cuidado zelo e ateacute orgulho a histoacuteria local foi mais tarde desprezada mdash principalmente nos seacuteculos XIX e primeira metade do XX mdash pelos partidaacuterios da histoacuteria geral A partir poreacutem da metade desse seacuteculo a histoacuteria local ressurgiu e adquiriu novo significado na verdade alguns chegam a afirmar que somente a histoacuteria local pode ser autecircntica e fundamentada (GOUBERT 1992 p 70)

Neste sentido fica evidente a importacircncia de se partir de uma histoacuteria local

para uma global Atraveacutes da histoacuteria local os estudantes teratildeo contato com sua

histoacuteria e poderatildeo se sentir parte integrante deste espaccedilo que muitas vezes por

falta de conhecimento acabam renegando sua proacutepria identidade Figueira e Miranda

(2012 p 113) afirmam que ldquoum dos efeitos mais danosos da globalizaccedilatildeo eacute a

universalizaccedilatildeo dos gostosrdquo isto implica diretamente na perda da identidade local

que muitas vezes estaacute sendo afetada pelas muacuteltiplas identidades existentes Neste

sentido Silva e Porto descrevem

A globalizaccedilatildeo entretanto produz diferentes resultados em termos de identidade A homogeneidade cultural promovida pelo mercado global pode levar ao distanciamento da identidade relativamente agrave comunidade e agrave cultura local (SILVA PORTO 2012 p 21)

Neste sentido Canclini acrescenta

Las comunidades de consumidores se organiza cada vez menos seguacuten diferencias nacionales y sobre todo en las generaciones joacutevenes definen sus praacutecticas culturales de acuerdo con informacioacuten y estilos homogeneizados (CANCLINI 1997 p 42)

20

Globalizaccedilatildeo que impotildee atraveacutes dos meios de comunicaccedilatildeo e social uma

identidade geral que regra a sociedade seus haacutebitos e costumes Devido ao grande

movimento das pessoas pelo mundo perceber e manter uma identidade com

caracteriacutesticas locais fica a cada dia mais difiacutecil ainda mais em se tratando da

populaccedilatildeo jovem que natildeo reconhece ao seu redor o que representa a sua

identidade local

Valorar as experiecircncias locais proporcionaraacute aos estudantes uma nova

metodologia de abordar a histoacuteria

Do ponto de vista metodoloacutegico destaca-se nessa forma de abordagem a preocupaccedilatildeo com os conhecimentos preacutevios dos alunos com a problematizaccedilatildeo dos conteuacutedos de ensino selecionados para trabalho em sala de aula estabelecendo relaccedilotildees com o cotidiano dos alunos e com o cotidiano de outras pessoas em outros tempos e em outros lugares Enfatiza-se tambeacutem a busca de articulaccedilatildeo entre histoacuteria local e a histoacuteria universal (SCHMIDT 2007 p 193)

O ensino de histoacuteria partindo do local para o global possibilita segundo

Bittencourt (2004 p 168) ldquoa compreensatildeo do entorno do alunordquo sendo que um dos

aspectos relevantes para este ensino eacute a escolha de fontes que levem os estudantes

a se reconhecerem nesse processo histoacuterico O autor ainda acresce

Eacute pela memoacuteria que se chega agrave histoacuteria local Aleacutem da memoacuteria das pessoas escrita ou recuperada pela oralidade existem os lsquolugares de memoacuteriarsquo (grifo da autora) expressos por monumentos praccedilas edifiacutecios puacuteblicos ou privados mas preservados como patrimocircnio histoacuterico (BITTENCOURT 2004 p 169)

Esta memoacuteria vai contribuir para legitimaccedilatildeo da identidade local Sabe-se que

a identidade eacute algo mutaacutevel e segundo Silva e Porto (2012 p 38) ldquoas identidades

satildeo produzidas em momentos particulares no tempordquo O pesquisador ainda

acrescenta que ldquoas identidades satildeo contingentes emergindo em momentos

histoacutericos particularesrdquo Estas identidades precisam ser reconhecidas quando se fala

de histoacuteria local

Na mesma linha Ruumlsen descreve a identidade histoacuterica

Consiste na ampliaccedilatildeo do horizonte nas experiecircncias do tempo e nas intenccedilotildees acerca do tempo no qual os sujeitos agentes se asseguram da permanecircncia de si mesmos na evoluccedilatildeo do tempo O ponto extremo dessa consolidaccedilatildeo de identidade eacute a lsquohumanidadersquo como suprassumo dos pontos comuns em sociedade com respeito a diversos sujeitos agentes no processo de determinaccedilatildeo de suas proacuteprias identidades determinam as dos outros de forma tal que estes se reconhecem nelas Esse criteacuterio de sentido lsquohumanidadersquo fornece o paracircmetro para se constatar a consolidaccedilatildeo da

21

identidade em que desembocam o progresso contiacutenuo do conhecimento mediante a pesquisa histoacuterica e a ampliaccedilatildeo contiacutenua das perspectivas mediante a reflexatildeo histoacuterica sobre referenciais (RUumlSEN 2001 p 126)

A histoacuteria local eacute constituiacuteda por diferentes identidades que satildeo geradas pelos

grupos que compotildeem este espaccedilo A este respeito Silva e Porto (2011 p 41)

apresentam que ldquoa diferenccedila eacute aquilo que separa uma identidade da outrardquo Tambeacutem

eacute notaacutevel que para que haja a representaccedilatildeo de suas identidades locais faz-se

necessaacuterio o reconhecimento destas e a percepccedilatildeo que existem diferentes fatores

que diferenciam os grupos sociais

Portanto a identidade eacute constituiacuteda pelas posiccedilotildees eou escolhas feitas

sendo que muitas vezes elas satildeo racionais ou ateacute mesmo irracionais A identidade

eacute baseada na memoacuteria que pode ser individual ou coletiva Segundo Candau (2011

p 16) ldquoos laccedilos fundamentais entre memoacuteria e identidade eacute sobre o fato de que eacute a

memoacuteria faculdade primeira que alimenta a identidaderdquo

Se a memoacuteria gera a identidade natildeo se pode pesquisar e escrever sobre

histoacuteria local sem levar em conta estes dois conceitos primordiais pois a histoacuteria

local soacute teraacute valia se escrita pelo vieacutes do todo ou seja natildeo priorize um grupo ou

classe social todos os quadros sociais devem estar representados dentro deste

processo Nessa linha Schmidt e Cainelli descrevem

O estudo da localidade ou da histoacuteria regional contribui para uma compreensatildeo muacuteltipla da Histoacuteria pelo menos em dois sentidos na possibilidade de se ver mais de um eixo histoacuterico na histoacuteria local e na possibilidade da anaacutelise de micro histoacuterias pertencentes a alguma outra histoacuteria que as englobe e ao mesmo tempo reconheccedila suas particularidades (SCHMIDT CAINELLI 2009 p 139)

Uma histoacuteria que faz sentido que esteja englobada a outra histoacuteria A

memoacuteria coletiva entra na construccedilatildeo desta histoacuteria local e eacute primordial pois esta vai

dar elementos que constroem a identidade deste local sendo que a memoacuteria do

passado influencia na representaccedilatildeo da identidade Neste sentido conforme

Figueira e Miranda (2012 p 47) eacute necessaacuterio compreender a memoacuteria ldquocomo a

capacidade de conservar e de preservar dados refere-se a um conjunto de funccedilotildees

cerebrais que nos permite reter informaccedilotildees adquiridas e impressotildees vividasrdquo

Podendo ser ela individual ou coletiva sendo que a memoacuteria individual existe a partir

de uma memoacuteria coletiva jaacute que as lembranccedilas que ajudam a reconstruir o passado

partem do interior de um grupo

22

Para as Ciecircncias Humanas o conceito de memoacuteria estaacute ligado agrave memoacuteria

social e coletiva definida por Le Goff (2003 p 422) como ldquoo estudo da memoacuteria

social eacute um dos elementos fundamentais de abordar os problemas do tempo e da

histoacuteriardquo O autor ainda acrescenta que ldquoa memoacuteria coletiva eacute natildeo somente uma

conquista eacute tambeacutem um instrumento e um objeto de poderrdquo (LE GOFF 2003 p

410) Neste sentido Halbwachs (2004 p 90) ressalta que ldquotoda memoacuteria coletiva

tem por suporte um grupo limitado no espaccedilo e no tempo e o mundo histoacuterico eacute

como um oceano onde afluem todas as histoacuterias parciaisrdquo

Quando se abordam conceitos de memoacuteria e identidade no ensino de

histoacuteria estaacute se trazendo para o estudo os sujeitos que compotildeem aquele local com

suas vivecircncias que podem ser coletivas ou natildeo A transmissatildeo de saberes entre as

geraccedilotildees forma a identidade coletiva sendo o ser humano um agente ativo no

quadro social da memoacuteria

Halbwachs assim define os quadros coletivos da memoacuteria

Os quadros coletivos da memoacuteria natildeo se resumem em datas nomes e foacutermulas que eles representam correntes de pensamento e de experiecircncia onde reencontramos nosso passado porque este foi atravessado por isso tudo (HALBWACHS 2004 p 71)

Nesta direccedilatildeo Le Goff (2003 p 4) acrescenta que ldquoa memoacuteria social eacute um

dos meios fundamentais para se abordar os problemas do tempo e da histoacuteria A

memoacuteria estaacute nos proacuteprios alicerces da histoacuteriardquo Catroga (2001) reforccedila que a

memoacuteria eacute moldada a partir das vivecircncias e na sua narrativa vai haver uma

coerecircncia que se mistura passado e presente

Quando se escreve sobre histoacuteria local eacute importante considerar que ela estaacute

pautada em documentos assim como em memoacuterias escritas visuais ou orais Neste

sentido eacute perceptiacutevel que o uso dos diferentes tipos de memoacuteria satildeo alicerces que

conduzem o trabalho do historiador para que ele possa interpretar suas fontes e

validar seu trabalho Memoacuterias estas que podem ser apresentadas com documentos

oficiais ou atraveacutes de uma cultura material ou imaterial

A escrita de histoacuterias locais vem como um novo modelo de resguardar

identidades e memoacuterias que se natildeo preservadas iratildeo desaparecer pela influecircncia

da globalizaccedilatildeo e falta de conhecimento de futuras geraccedilotildees Barros assim

descreve

23

Os novos tempos comeccedilavam a trazer um novo padratildeo historiograacutefico novas aberturas retornos e possibilidades e tambeacutem incertezas para os historiadores no que se refere agrave natureza do conhecimento que produzem e ao papel do conhecimento histoacuterico na sociedade [] Entre as novidades postula-se a possibilidade de examinar a histoacuteria de acordo com uma nova escala de observaccedilatildeo ndash atenta para o detalhe para as micro realidades para aquilo que habitualmente escapa ao olhar panoracircmico da macro histoacuteria tradicional ndash e eacute esta nova postura que se passou a chamar de micro histoacuteria (BARROS 2012 p 306)

Diante deste contexto o ensino de Histoacuteria pode buscar na histoacuteria local a

problematizaccedilatildeo necessaacuteria para que os estudantes da educaccedilatildeo baacutesica

reconheccedilam a identidade local que vem sofrendo com a uniformizaccedilatildeo da

sociedade que impotildee uma conjuntura global do local

24

3 SAtildeO FRANCISCO DE PAULA CONSTRUCcedilAtildeO DO MUNICIacutePIO

A apresentaccedilatildeo do municiacutepio Satildeo Francisco de Paula acontece atraveacutes do

uso da narrativa Esta se apresenta atraveacutes do diaacutelogo com obras jaacute produzidas por

memorialistas eou genealogistas que contribuem para a construccedilatildeo histoacuterica deste

local bem como se usa como fonte de enriquecimento documentos da Assembleia

Legislativa do Rio Grande do Sul e jornais locais

Para tanto se apresenta a revisatildeo historiograacutefica das obras escritas pelos

memorialistas eou genealogistas sendo que Lucena (1971) em sua obra ldquoSatildeo

Francisco de Paula Monografiardquo que abrange aspectos histoacutericos da formaccedilatildeo do

municiacutepio bem como pontos turiacutesticos e demograacuteficos O proacuteprio autor intitula a sua

obra como informativa a riqueza de detalhes eacute interessante poreacutem natildeo haacute nenhuma

referecircncia quanto aos dados escritos nem mesmo um referencial bibliograacutefico ao

final

No texto intitulado ldquoOs Fundadores de Satildeo Francisco de Paulardquo Alves (2007)

escreve sobre a fundaccedilatildeo de Satildeo Francisco de Paula Em seu livro haacute documentos

que validam o que se refere agrave genealogia jaacute que boa parte da obra apresenta os

troncos familiares que compunham o iniacutecio deste municiacutepio Na mesma linha da

genealogia Oliveira (1996) no livro ldquoAurorescer das Sesmarias Serranas histoacuteria e

genealogiardquo traz a histoacuteria das primeiras sesmarias da regiatildeo mas o foco principal

se daacute aos proprietaacuterios e seus descendentes Haacute um mapa bastante interessante

localizando as sesmarias e o nome por elas recebidos

Em ldquoSatildeo Francisco de Paula nossa terra nossa genterdquo Teixeira (2002)

apresenta dados gerais e histoacutericos do municiacutepio Esta obra apresenta dados

geograacuteficos como clima relevo e vegetaccedilatildeo A autora escreve sobre diversos

aspectos eventos personalidades e lendas Aleacutem disso apresenta Satildeo Francisco

de Paula com uma linha cronoloacutegica A obra abrange vaacuterios aspectos mas todos

suscintamente No final a autora apresenta a bibliografia consultada dentre os

autores estaacute Lucena (1971)

O texto ldquoSatildeo Francisco de Paula Rio Grande do Sul histoacuteria encantos e

misteacuteriosrdquo eacute uma obra de Fonseca (2012) que traz diversidade de assunto muitas

vezes estes estatildeo desconexos ou seja sua leitura se torna ldquotruncadardquo No final do

texto haacute um vasto referencial bibliograacutefico dentre os autores citam-se Lucena

(1971) e Teixeira (2002)

25

Ribeiro (2003) eacute compositor e poeta Em ldquoFestival do Ronco do Bugiordquo

escreve sobre Satildeo Francisco de Paula apresentando a histoacuteria dos quinze anos do

festival no municiacutepio No iniacutecio contextualiza a origem do festival e do ritmo bugio

Depois apresenta a capa do disco de cada festival especificando as muacutesicas e os

compositores vencedores

Todas essas obras satildeo importantes para Satildeo Francisco de Paula cada uma

traz consigo um pouco da histoacuteria deste municiacutepio poreacutem sente-se falta da

identidade e da memoacuteria na construccedilatildeo histoacuterica As obras satildeo apresentadas o

mesmo prisma apresentando os iacutendios Caaguaraacutes e o Capitatildeo Pedro da Silva

Chaves os fundadores desta terra dando bastante ecircnfase aos sobrenomes que ali

se desenvolveram

31 CONVERSA COM MEMORIALISTAS

As terras onde hoje fica Satildeo Francisco de Paula eram habitadas por iacutendios da

tribo Caaguaraacutes que faziam parte dos Coroados Estes viviam livremente nos

campos de cima da serra e seus domiacutenios estendiam-se entre a Serra Geral e a

Serra do Mar Os iacutendios Caaguaraacutes tinham como haacutebitos alimentares a caccedila a

pesca e a coleta de sementes e frutos dentre os frutos o pinhatildeo e a goiaba-do-

mato segundo Teixeira (2002) e Alves (2007) Estes iacutendios tiveram seu habitat

invadido por incursotildees de desbravadores que comeccedilaram a trafegar pela regiatildeo em

busca de mulas e novas terras visto que as terras onde hoje se encontra Satildeo

Francisco de Paula de Cima da Serra foram rota de tropeiros5 pois estes trafegavam

pelos Campos de Cima da Serra indo na direccedilatildeo de Lages-SC ateacute alcanccedilarem

Sorocaba-SP6 Ao passarem por esta regiatildeo foram se formando pequenos vilarejos

e construindo um jeito peculiar de viver

Neste cenaacuterio aparece o municiacutepio de Satildeo Francisco de Paula de Cima da

Serra que recebe este nome para se diferenciar de Satildeo Francisco de Paula

denominaccedilatildeo recebida ateacute meados de 1830 pelo municiacutepio de Pelotas Poreacutem na

metade do seacuteculo XVIII Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra possuiacutea

5 Tropeiros homens que conduziam suas tropascomitivas de muares ou cavalos entre as regiotildees 6 Sugere-se a leitura FLORES Moacyr Troperismo no Brasil Porto Alegre Nova Dimensatildeo 1998

SAVARIS Manoelito Tropas e tropeiros o Rio Grande toma forma Disponiacutevel em ltwwwrogeriobastoscombr201104trpas-e-tropeiros-o-rio-grande-tomahtmlgt Acesso em 12 mar 2016

26

proprietaacuterios de terras sendo que um dos pioneiros foi Pedro da Silva Chaves um

portuguecircs casado com Gertrudes de Godoy uma paulista Pedro da Silva Chaves

declara em 1742 ser possuidor de terras neste municiacutepio Segundo Oliveira (1996)

em seu testamento Pedro da Silva Chaves rege que possui trecircs fazendas na regiatildeo

uma chamada Satildeo Joatildeo que se localiza desde o Arroio Santa Cruz ateacute o Rio

Tainhas concedida em 1752 por sesmaria a Fazenda da Cria que foi comprada de

Francisco Pinto Bandeira e confirmada como sesmaria em 1754 e a Fazenda

denominada Cerrito comprada do Capitatildeo Antocircnio Gonccedilalves dos Reis Nestas

fazendas havia criaccedilatildeo de cavalos gado vacum mulas e burros As fazendas

tambeacutem apresentavam em torno de 77 escravos sendo que alguns satildeo casados o

que se faz pensar que estes constituiacuteam famiacutelia aumentando assim o nuacutemero de

escravos da regiatildeo No mapa da Figura 1 verifica-se a localizaccedilatildeo das fazendas do

capitatildeo Pedro da Silva Chaves bem como sua extensatildeo territorial

Figura 1 ndash Mapa de Identificaccedilatildeo das Sesmarias Serranas

Fonte Oliveira (1996 p 236)

27

No mapa apresentado na Figura 1 ainda eacute possiacutevel observar a localizaccedilatildeo

onde inicia o povoado de Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra segundo

Lucena (1971 p 1) ldquoiniciou-se com o Capitatildeo Pedro da Silva Chaves que doou

uma gleba de terra para que fosse iniciado o povoadordquo Tambeacutem segundo Lucena

(1971 p 1) ldquodoou cinquenta vacas para construir o primeiro patrimocircnio da Igreja

cuja construccedilatildeo foi iniciada por sua conta e lhe deu o nome de Satildeo Francisco por

este ser devoto do Santordquo O que demonstra que Pedro da Silva Chaves era

Catoacutelico

Neste periacuteodo compreendido como seacuteculo XIX segundo Teixeira (2002) e

Alves (2007) o atual municiacutepio de Satildeo Francisco de Paula pertencia ao municiacutepio de

Santo Antocircnio da Patrulha municiacutepio este que formava juntamente com Porto

Alegre Rio Pardo e Rio Grande a proviacutencia de Satildeo Pedro do Rio Grande do Sul

atual Rio Grande do Sul Eacute possiacutevel observar a grande extensatildeo territorial de cada

municiacutepio no mapa apresentado na Figura 2 segundo Silva (2000) Santo Antocircnio

da Patrulha anexava as freguesias de N Sra Conceiccedilatildeo do Arroio e N Sra da

Oliveira da Vacaria a capela de Satildeo Domingos das Torres e os povoados de Santa

Cristina do Pinhal e Cima da Serra

Analisando o mapa da Figura 2 eacute possiacutevel perceber que o municiacutepio de Santo

Antocircnio da Patrulha tinha um vasto e extenso territoacuterio que atualmente compreende

os municiacutepios de Vacaria Antocircnio Prado Nova Roma do Sul Lagoa Vermelha

Veranoacutepolis Nova Prata Nova Araccedilaacute Nova Bassano Paraiacute Guabiju Satildeo Jorge

Vista Alegre do Prata Protaacutesio Alves Cotiporatilde Fagundes Varela Vila Flores

Caseiros Birajaras Andre da Rocha Capatildeo Bonito do Sul Muitos Capotildees Bom

Jesus Satildeo Joseacute dos Ausentes Esmeralda Ipecirc Campestre da Serra Monte Alegre

dos Campos Taquara Satildeo Francisco de Paula Cambaraacute do Sul e Jaquirana

28

Figura 2 ndash Divisatildeo Municipal em 1809 ndash Proviacutencia Satildeo Pedro do Rio Grande do Sul

Fonte Evoluccedilatildeo Administrativa (2013)7

32 AMPLIANDO O DIAacuteLOGO COM OS MEMORIALISTAS

Segundo documentos da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul8

disponiacuteveis no Arquivo Histoacuterico de Satildeo Francisco de Paula9 em 1852 atraveacutes da

Lei nordm 266 de 30 de novembro de 1852 eleva-se agrave categoria de freguesia a entatildeo

capela Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra pelo entatildeo vice-governador da

proviacutencia de Satildeo Pedro do Rio Grande do Sul o senhor Luiz Alves Leite de Oliveira

Bello Estes documentos ainda retratam que no ano de 1886 houve distribuiccedilatildeo de

lotes devolutos para pessoas pobres que comprovassem residecircncia haacute pelo menos

trecircs anos e se comprometessem a ldquofundar moradiardquo em um prazo de um ano sendo

assim passados trecircs anos seriam donos definitivos destes lotes dando o iniacutecio ao

povoamento da vila No mesmo periacuteodo acontece a criaccedilatildeo do cemiteacuterio municipal

7 Disponiacutevel em ltwwwatlassocioeconomicorsgovbrevolucao-administrativa-1809-a-2013gt Acesso

em 18 mar 2017 8 O diaacutelogo com memorialista se amplia a partir de agora com contribuiccedilotildees de documentos

pesquisados que corroboram para a compreensatildeo do tema 9 BARBOSA Eni GONCcedilALVES Jorge Joseacute Xavier (Orgs) Documentos histoacutericos da Assembleia

Legislativa do Rio Grande do Sul Arquivo Histoacuterico de Satildeo Francisco de Paula 1992

29

que ocorre em 1891 segundo documentos da Assembleia Legislativa disponiacuteveis

no Arquivo Histoacuterico de Satildeo Francisco de Paula Estes documentos informam que

primeiramente somente moradores que comprovassem residecircncia haacute mais de trecircs

anos e pudessem manter os jazigos de seus entes poderiam fazer uso deste

espaccedilo Atraveacutes desta documentaccedilatildeo se percebe que havia toda uma organizaccedilatildeo

para que ldquoestrangeirosrdquo natildeo se estabelecessem em Satildeo Francisco de Paula de Cima

da Serra

Em 1889 Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra passa a categoria de vila

e deixa de pertencer a Santo Antocircnio da Patrulha passando a ser distrito do

municiacutepio de Taquara do Mundo Novo (hoje Taquara) o que traz mudanccedilas

significativas para a vila

Mesmo havendo distribuiccedilatildeo de lotes apoacutes quinze anos percebe-se na

Figura 3 que o povoado ainda era pequeno cercado de campos que constituiacuteam

fazendas com criaccedilatildeo de gado vacum tendo como principal economia a pecuaacuteria

extensiva Ao alto pode-se visualizar a Igreja Matriz construiacuteda pelo capitatildeo Pedro

da Silva Chaves

Figura 3 ndash Vista da vila de Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra (1901)

Fonte Portal Satildeo Chico (2018)10

10 PORTAL SAtildeO CHICO Fotos antigas de Satildeo Francisco de Paula 2018 Disponiacutevel em

ltwwwsaochicocombrantigasgt Acesso em 12 abr 2019

30

Ainda eacute possiacutevel observar atraveacutes da Figura 3 que neste periacuteodo natildeo havia

nenhuma preocupaccedilatildeo com a organizaccedilatildeo urbana ou seja ruas quadras as

construccedilotildees se apresentam de maneira desordenada Poreacutem passados vinte e dois

anos na Figura 4 jaacute eacute possiacutevel visualizar uma estrutura urbanizada com possiacutevel

organizaccedilatildeo de ruas e quadras mas a vila ainda eacute rodeada de campos

Figura 4 ndash Vista Avenida Juacutelio de Castilhos (1923)

Fonte Lucena (1971 p 67)

O desenvolvimento da Sede de Satildeo Francisco de Paula acontece segundo

Lucena (1971 p 27) ldquonos primeiros anos de vida isto eacute de 1910 a 1924 mais ou

menos devido agrave extraccedilatildeo da erva-mate que era abundante em nossos matos nas

zonas da serrardquo O autor ainda acrescenta

O pioneiro na extraccedilatildeo da erva-mate em nossa Comuna foi o proprietaacuterio Carlos Miguel Kroeff dono da fazenda Potreirinho praticamente arrabalde de nossa cidade No barba-quaacute11 se iniciava todo processo de industrializaccedilatildeo da erva-mate sendo que Satildeo Francisco de Paula chegou a ter quinhentos barbaacute-quas (LUCENA 1971 p 28)

11 Barba-quaacute um valo de cerca de oito metros de comprimento amis ou menos por um metro de

profundidade e oitenta centiacutemetros de largura coberto de xaxim e terra em uma das extremidades colocava-se um gradeado e acima deste em uma parte tambeacutem coberta e mais alta tinha apenas uma saiacuteda sob o gradeado colocava-se as folhas de erva extraiacuteda da aacutervore no iniacutecio do valo fazia-se um fogo e a fumaccedila que pela pouca ventilaccedilatildeo existente formava bastante fumaccedila e esta atingia as folhas secando-as (LUCENA 1971 p 28)

31

A produccedilatildeo de erva-mate contribuiu para o povoamento da vila visto que

muitas pessoas vieram trabalhar e acabaram se instalando no municiacutepio Apoacutes a

extraccedilatildeo da erva-mate surge a extraccedilatildeo de madeira que tambeacutem contribui para o

desenvolvimento

Nesta documentaccedilatildeo ainda se encontra no artigo nordm 251 de 08 de abril de

1891 a liberaccedilatildeo da verba para abrir a estrada de rodagem que liga as vilas de

Taquara do Mundo Novo e Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra em 1889

Atraveacutes da Figura 5 pode-se perceber o quatildeo difiacutecil era abrir uma nova estrada de

rodagem Tudo era manual com o uso de animais e muares para transportar pedras

e terras poreacutem a abertura desta estrada traz mudanccedilas significativas para a

populaccedilatildeo de Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra

Figura 5 ndash Abertura da estrada ERS-020 Taquara ndash Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra

Fonte Jornal Folha da Serra (1968 n 89 p 8)12

12 Folha da Serra jornal criado em 1932 pelo Dr Siacutelvio Rabelo sendo o uacutenico jornal que existia na

regiatildeo serrana Este trazia notiacutecias sociais poliacuteticas etc com uma tiragem em torno de 500 exemplares por semana Encontram-se no Arquivo Histoacuterico de Satildeo Francisco de Paula alguns exemplares ateacute a deacutecada de 70 seacuteculo XX

32

A estrada visava facilitar o acesso da populaccedilatildeo de Satildeo Francisco de Paula

de Cima da Serra que ia ateacute Taquara para buscar gecircneros de primeira necessidade

Em tempos idos os serranos se abasteciam de gecircneros de primeira necessidade quase que totalmente em Taquara e o transporte era feito em cargueiros que compunham uma tropa com cerca de quinze a vinte cargueiros Os animais usados para esse transporte eram geralmente muares mais resistentes para o transporte de carga Os serranos levavam daqui queijo (o queijo ateacute hoje chamado queijo serrano) charque couros e alguns levavam maccedilatilde ou pinhatildeo em suas eacutepocas de colheita trocados por mantimentos de que necessitavam Natildeo existiam ainda estradas e o trajeto era feito por picadas existentes (LUCENA 1971 p 23)

O mesmo autor ainda acrescenta

Para atingir a capital do Estado a viagem era cheia de peripeacutecias O transporte era feito a cavalo ou em diligecircncias ateacute Taquara As diligecircncias carros de quatro de rodas puxados por quatro animais ndash cavalos ndash eram de propriedade de Bertolo Casara mais conhecido por lsquoJoatildeo Gringorsquo Essa viagem se fazia normalmente em um dia e agraves vezes em dia e meio O ponto de parada era ali no Rodeio Bonito onde existia uma casa agrave esquerda bem defronte a estrada que desce para Trecircs Coroas [] De Taquara a Porto Alegre por via ferroviaacuteria ndash de trem (LUCENA 1971 p 16)

A construccedilatildeo desta estrada traz um novo desenvolvimento para a entatildeo vila

de Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra pois apoacutes a abertura da estrada de

rodagem Taquara ndash Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra modifica o transporte

de mercadorias entre as localidades

O transporte de mercadorias era feito em carretotildees de quatro rodas puxados uns por cinco animais outros por sete as maiores que geralmente eram muares Eram atrelados em duas fileiras Na fileira junto agrave carreta que era de duas ou trecircs mulas na da esquerda montava o carreteiro Este toda vez que se verificava um declive na estrada apeava de sua montaria a fim de brecar a carreta sem que esta entretanto parasse (LUCENA 1971 p 24)

Este modelo de comeacutercio vai desaparecer com o surgimento das primeiras

casas de comeacutercios na vila de Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra De acordo

com Lucena (1971 p 38) ldquoos primeiros comerciantes foram Manoel Vicente

Ferreira Abel Pacheco Luis Carlos de Andrade e Jacob Bossle Sobrinhordquo Na

imagem da Figura 6 temos o Accedilougue Central onde nota-se que os animais

convivem soltos na rua juntamente com as pessoas mesmo se tratando de local

urbano

33

Figura 6 ndash Accedilougue Central

Fonte Portal Satildeo Chico (2018)13

Nesta mesma documentaccedilatildeo haacute decretos que definem a construccedilatildeo de uma

nova Igreja Matriz isto eacute uma Igreja de Pedra substituindo a antiga que era de

madeira ainda construiacuteda pelo capitatildeo Pedro da Silva Chaves esta construccedilatildeo data

do ano de 1922 Segundo Teixeira (2002 p 30) a Igreja de Pedra permanece ateacute

1960 quando daacute lugar ao atual preacutedio da Igreja Matriz que foi inaugurada em 14 de

junho de 1964 Na sequecircncia teremos duas imagens demonstrando a Igreja de

Pedra e a atual edificaccedilatildeo da Igreja Matriz Natildeo foi encontrada nenhuma foto da

Igreja de Madeira nos arquivos do Arquivo Histoacuterico do Municiacutepio somente em um

site de fotos antigas onde encontra-se registro apresentado na Figura 7

13 PORTAL SAtildeO CHICO Fotos antigas de Satildeo Francisco de Paula 2018 Disponiacutevel em

ltwwwsaochicocombrantigasgt Acesso em 12 abr 2019

34

Figura 7 ndash Igreja Matriz em 1931

Fonte Portal Satildeo Chico (2018)14

Figura 8 ndash Igreja Matriz

Fonte acervo da autora (2015)

14 PORTAL SAtildeO CHICO Fotos antigas de Satildeo Francisco de Paula 2018 Disponiacutevel em

ltwwwsaochicocombrantigasgt Acesso em 12 abr 2019

35

Entre os anos de 1892 a 1902 por duas vezes Satildeo Francisco de Paula de

Cima da Serra eacute desanexado e reanexado ao entatildeo municiacutepio de Taquara do Mundo

Novo Somente em 23 de dezembro de 1902 foi reestabelecido definitivamente o

municiacutepio de Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra cuja instalaccedilatildeo se verificou

em 07 de janeiro de 1903 A partir de 01 de janeiro de 1938 perde ldquoCima da Serrardquo

de sua nomenclatura permanecendo somente Satildeo Francisco de Paula Apesar

disso se manteacutem o gentiliacutecio ldquoSerranordquo de acordo com Silva (2000 p 23) e dados

do Arquivo Histoacuterico de Satildeo Francisco de Paula sendo que este gentiliacutecio eacute usado

ateacute os dias de hoje

No iniacutecio o municiacutepio de Satildeo Francisco de Paula foi um dos maiores do Rio

Grande do Sul em territoacuterio mas ao longo do tempo foi diminuindo seu territoacuterio

com a anexaccedilatildeo de parte dele ao entatildeo municiacutepio de Caxias do Sul e de Torres e a

criaccedilatildeo dos municiacutepios de Cambaraacute do Sul em 1963 e Jaquirana em 1988

Foi uma das maiores Comunas do Estado pois de seu territoacuterio faziam parte os atuais municiacutepios de Satildeo Marcos Cambaraacute do Sul e Jaquirana e os distritos de Vila Oliva Criuacuteva Fazenda Souza e Vila Seca hoje integrantes de Caxias do Sul De nosso territoacuterio foi tambeacutem desanexada uma gleba de terra ndash Josafaacute ndash e anexada ao municiacutepio de Torres (LUCENA 1971 p 10)

Mesmo perdendo parte de seu territoacuterio ao longo dos anos atualmente

segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (2016) ldquoSatildeo Chicordquo como

costumeiramente eacute chamado pelo seu povo estaacute situado na Encosta Inferior do

Nordeste do Estado do Rio Grande do Sul na zona denominada de Campos de

Cima da Serra Fica distante 112 quilocircmetros da capital do Estado Porto Alegre Os

municiacutepios limiacutetrofes satildeo Monte Alegre dos Campos Bom Jesus Jaquirana

Cambaraacute do Sul Praia Grande-SC Trecircs Forquilhas Itati Maquineacute Riozinho

Rolante Taquara Trecircs Coroas Canela e Caxias do Sul Possui uma aacuterea territorial

de 3264490 quilocircmetros quadrados com uma estimativa populacional de 21617

habitantes distribuiacutedos na zona urbana e rural O municiacutepio se divide em sete

distritos Sede Cazuza Ferreira Tainhas Juaacute Eletra e Lajeado Grande Atraveacutes do

conjunto de mapas apresentado na Figura 9 eacute possiacutevel visualizar a localizaccedilatildeo de

Satildeo Francisco de Paula dentro do Rio Grande do Sul e por conseguinte no Brasil

Tambeacutem se verifica a localizaccedilatildeo dos distritos de Satildeo Francisco de Paula

36

Figura 9 ndash Mapa de localizaccedilatildeo de Satildeo Francisco de Paula

Subdivisatildeo de Satildeo Francisco de Paula em distritos

Fonte montagem da autora (2019)

Desta forma se constitui o espaccedilo fiacutesico do municiacutepio de Satildeo Francisco de

Paula cuja populaccedilatildeo natildeo forma uma colocircnia pois seu povo adveacutem de diferentes

lugares a grande maioria com descendecircncia lusa sendo que os primeiros

colonizadores foram bandeirantes paulistas

A populaccedilatildeo de Satildeo Francisco de Paula eacute composta de brancos africanos e indiacutegenas Os brancos compreendendo portugueses (principalmente

37

accedilorianos) alematildees e italianos os africanos pertenciam ao grupo dos bantos e foram trazidos pelos portugueses (TEIXEIRA 2002 p 147)

A diversidade de pessoas que se estabeleceram em Satildeo Francisco de Paula

pode ser percebida pelos sobrenomes das famiacutelias precursoras do municiacutepio

Para Satildeo Francisco de Paula afluiacuteram famiacutelias de diversas nacionalidades que atraveacutes de seus descendentes ainda hoje aqui satildeo representadas como Famiacutelias Ferreira Soares Pinto Castilhos Asmuz Santos Martins Lopes Comin Feijoacute Silva Canani Peixoto Andrade Teixeira Valin Lucena Alves Cardoso Gomes Borges Marques Tedesco Medeiros Paglioacuteli Costa Fogaccedila Casara em outras (LUCENA 1971 p 11-12)

Os moradores deste municiacutepio introduziram um jeito singular de viver tendo

em seu cotidiano as tradiccedilotildees gauacutechas15 muito presentes Teixeira (2002 p 83)

assim descreve que ldquoas raiacutezes gauacutechas estatildeo fortemente marcadas na comunidade

seja pelo modo de vestir bombacha botas cinturotildees chapeacuteus e no inverno com o

pala ou pela preferecircncia por comidas campeiras churrasco carreteiro feijatildeo

mexidordquo A autora acrescenta que ldquoas casas com lareira e o tradicional fogatildeo agrave

lenha para aquececirc-las durante o inverno rigoroso satildeo um convite para uma

conversa ao peacute do fogo e o saboreio de um gostoso chimarratildeordquo (TEIXEIRA 2002 p

83)

O enraizamento deste modo de vida adveacutem do homem do campo o

pecuarista que no passado necessitava enviar seus filhos a cidade para estudar

contribuindo para este modelo de vida

Antigamente a pecuaacuteria era a atividade econocircmica muito forte em nosso municiacutepio Assim sendo havia muitos fazendeiros E como as fazendas ficavam muito longe da Sede do municiacutepio as senhoras tinham seus filhos em casa com parteiras Tambeacutem os estudos iniciavam nas fazendas porque as escolas ficavam longe Assim muitas vezes os fazendeiros contratavam professoras para se hospedarem nas suas casas e darem aulas aos seus filhos Em muitos casos ateacute mesmo os proacuteprios pais e avoacutes ensinavam alguma coisa Alguns fazendeiros quando seus filhos ficavam maiores os mandavam continuarem seus estudos na vila (assim lsquoSatildeo Chicorsquo era chamada) (TEIXEIRA 2002 p 77)

Com a vinda dos filhos para a vila trouxeram consigo o jeito do homem do

campo sendo que um dos maiores clubes em funcionamento de Satildeo Francisco de

Paula eacute o atual Centro de Tradiccedilotildees Gauacutechas Rodeio Serrano fundado em maio de

15 Tradiccedilotildees gauacutechas segundo Fagundes (1997 p 38) eacute um movimento ciacutevico-cultural [] eacute a

tradiccedilatildeo em marcha resgatando valores que satildeo vaacutelidos natildeo por serem antigos mas por serem eternos exatamente os valores que trouxeram o Rio Grande e o gauacutecho do passado para o presente projetando-se para o futuro

38

1955 Segundo o Jornal Folha da Serra (1968 n 11 p 12) a entidade

tradicionalista receacutem-formada recebe o nome de CTG Coronel Alziro Torres Filho

Fonseca (2012 p 223) menciona que a iniciativa partiu de ldquoDavenir Peixoto Gomes

um homem ruralista e serranordquo Esta entidade tradicionalista teve como primeiro

Patratildeo Oscar Teixeira O CTG Alziro Torres Filho segundo o jornal Folha da Serra

(1957) muda sua nomenclatura em uma reuniatildeo onde o posteiro da invernada

artiacutestica Alaor Valim propotildee a troca do nome para Rodeio Serrano nome que

permanece ateacute a atualidade

A entidade tradicionalista traz como lema ldquoRepontando a Tradiccedilatildeo com o Rio

Grande na Garupardquo Fonseca (2012 p 224) relata que o lema foi ldquocriado pelo

primeiro instrutor de danccedilas Dr Alaor de Almeida Valimrdquo O mesmo autor acrescenta

que ldquoa primeira prenda foi a professora Maria Asmuz Valimrdquo Poreacutem sua sede

somente foi construiacuteda em 1968 sob a patronagem de Dante Santos O Jornal Folha

da Serra (1968 n 11 p 12) indica que ldquoa construccedilatildeo da sede era uma aspiraccedilatildeo de

longos anos que somente agora se concretizardquo Anteriormente ldquoos bailes eram

realizados em sua maioria no Salatildeo Paroquial sendo que alguns foram feitos no

primeiro andar da Associaccedilatildeo Rural e ateacute mesmo na Sociedade Cruzeirordquo

(FONSECA 2012 p 225) Este fato justifica a vontade de Dante Santos de construir

uma sede proacutepria

Apoacutes a construccedilatildeo de sua nova sede o CTG Rodeio Serrano localiza-se na

Rua Benjamim Constant nordm 582 constituindo um espaccedilo importante para a

comunidade de Satildeo Francisco de Paula Dentre as atividades desenvolvidas pelo

CTG estaacute o Rodeio Interestadual que ocorre todos os anos no primeiro final de

semana de dezembro sendo que se encontra na 33ordf ediccedilatildeo A manutenccedilatildeo das

invernadas artiacutesticas em todas as categorias mascote mirim juvenil e adulta A

organizaccedilatildeo da Ronda Crioula na Semana Farroupilha bem como a Cavalgada de

Prendas que ocorre durante a Semana Farroupilha todos os anos Realiza-se o

baile da Prenda Jovem aleacutem de shows e bailes tipicamente gauchescos Aleacutem

disso nos uacuteltimos anos a organizaccedilatildeo do Festival Ronco do Bugio que ocorre em

Satildeo Francisco de Paula ldquofestival este lanccedilado em 16 de abril 1986rdquo segundo o

Jornal Satildeo Chico Tchecirc (1986 n 4 p 5)16

16 Satildeo Chico Tchecirc jornal de circulaccedilatildeo quinzenal fundado em 08 de janeiro de 1986 e que circulou

ateacute 1989 O jornal trazia informaccedilotildees culturais sociais econocircmicas e poliacuteticas da Sede e do

39

Durante os seus sessenta e dois anos de existecircncia muitos patrotildees

passaram por esta entidade tradicionalista mas em 2017 pela primeira vez na

histoacuteria o CTG Rodeio Serrano teve uma patronagem feminina Aleacutem da Patroa

Neuza Reis foram empossadas a Capataz Elenita Amaral a Sota-capataz Fernanda

Kirsch Damasceno o Agregado das Pilchas Antocircnio Garcia de Souza e no

Conselho de Vaqueanos Neiva Santos Valim

Figura 10 ndash Patroa Neuza Reis e sua Comissatildeo

Fonte Jornal Pioneiro (2017)17

Satildeo Francisco de Paula hoje conta com vinte e oito entidades

tradicionalistas18 espalhadas pelos seus distritos demonstrando que homem do

campo se faz muito presente em todo o municiacutepio sendo assim a cultura

interior Os exemplares encontram-se encadernados no arquivo histoacuterico de Satildeo Francisco de Paula

17 Jornal Pioneiro conhecido como o jornal que estaacute ldquoao teu ladordquo o Pioneiro circula desde 1948 e estaacute presente hoje em 64 municiacutepios da regiatildeo de Caxias do Sul Desde 1993 integra a rede de jornais do Grupo RBS sendo filiado ao Instituto Verificador de Circulaccedilatildeo (IVC) Conta com uma equipe de Redaccedilatildeo com mais de 40 jornalistas aleacutem de colunistas internos e externos Em 2008 o jornal ganhou o site pioneirocom Disponiacutevel em lthttpwwwgruporbscombratuacaopioneirogt acesso em 10 de fevereiro de 2019

18 Informaccedilatildeo cedida pelo Coordenador da 27ordf Regiatildeo Tradicionalista Gauacutecha

40

tradicionalista se apresenta de maneira forte e consistente segundo vaacuterios

depoimentos de moradores de todos os distritos de Satildeo Francisco de Paula

41

4 SAtildeO FRANCISCO DE PAULA DISTRITOS EM FOCO

Quanto aos distritos de Satildeo Francisco de Paula surgem diversas

inquietaccedilotildees com relaccedilatildeo agrave identidade destes locais pois estes mesmo fazendo

parte de um mesmo municiacutepio apresentam singularidades que derivam de sua

colonizaccedilatildeo basicamente lusa portuguesa e da recepccedilatildeo de imigrantes de diversas

etnias como italianos e alematildees ao longo destes cento quinze anos de

emancipaccedilatildeo Percebe-se que alguns distritos manteacutem sua identidade e tradiccedilotildees

resguardadas enquanto em outros jaacute ocorreu agrave miscigenaccedilatildeo de diferentes haacutebitos

e culturas o que dificulta identificar traccedilos que identifiquem estes distritos

Neste capiacutetulo busca-se responder a estas inquietaccedilotildees fazendo uso dos

depoimentos de moradores locais Segundo Delgado (2003 p 21) ldquoessas

narrativas tal qual os lugares da memoacuteria satildeo instrumentos importantes de

preservaccedilatildeo e transmissatildeo das heranccedilas identitaacuterias e das tradiccedilotildeesrdquo Neste sentido

se optou por dois moradores por distrito totalizando treze entrevistados um homem

e uma mulher da terceira idade que sempre morou no distrito o que enriquece os

detalhes repassados pelos entrevistados

Toda entrevista tem por base a memoacuteria individual que se referencia na coletiva profundamente relacionada agraves vivecircncias individuais A utilizaccedilatildeo do depoimento de pessoas idosas como fonte para a histoacuteria oral eacute uma forma de justificar a entrevista como histoacuterica referindo-se ao passado jaacute que aos idosos se pretende atribuir a guarda de memoacuterias do passado pelo proacuteprio tempo de vida do depoente Isto retoma e ajuda a fortalecer a ideia de que a histoacuteria mesmo tratando do tempo presente ainda se reporta a um periacuteodo anterior ao da vida do pesquisador (ALMEIDA 2012 p 10)

A entrevista somente ocorreu quando o entrevistado concordou em assinar o

termo de consentimento As entrevistas ocorreram nas residecircncias dos

entrevistados foram preacute-agendadas sendo que o meacutetodo utilizado foi entrevista

guiada atraveacutes de questionaacuterio previamente organizado pela autora as entrevistas

foram filmadas e gravadas onde somente uma entrevistada natildeo autorizou a

filmagem de seus relatos justificando a idade avanccedilada e por morar sozinha

A escolha pela histoacuteria oral hibrida ocorreu no sentido de que a fonte oral eacute o

principal recurso utilizado para colher informaccedilotildees sobre os distritos visto que em

sua grande maioria natildeo haacute publicaccedilotildees Poreacutem em determinados momentos se

utilizam fontes documentais como complemento do que vem sendo apresentado

Com relaccedilatildeo agrave abordagem adotada nas entrevistas se optou pela temaacutetica visto

42

que se leva um roteiro preacute-organizado com temas que deveratildeo ser explorados

durante as entrevistas o que proporciona uma riqueza de informaccedilotildees para a

autora

41 DISTRITO SEDE

O distrito Sede se constitui no local onde se inicia o povoado do municiacutepio na

antiga Fazenda da Cria terras doadas pelo capitatildeo Pedro da Silva Chaves Neste

distrito concentram-se os serviccedilos puacuteblicos e privados que os moradores

necessitam em seu dia-a-dia visto que ali existem bancos casas loteacutericas

farmaacutecias hospital supermercados lojas papelarias livraria inspetoria veterinaacuteria

secretaacuterias municipais escolas puacuteblicas e privadas creches induacutestrias de madeiras

e calccedilados

Poreacutem o distrito Sede ou cidade de Satildeo Chico como popularmente

conhecida pelo seu povo jaacute foi uma cidade de interior ou seja uma cidade pequena

com moradores que vinham das fazendas em busca de estudo Visto que a

implementaccedilatildeo de uma rede regular de ensino ocorre tardiamente devido agrave

dificuldade de se locomover pelas distantes localidades entatildeo normalmente os

fazendeiros contratavam professores para que seus filhos obtivessem estudo sendo

que estes moravam na proacutepria residecircncia da famiacutelia Em entrevista com essa autora

relata Albuquerque19 que ldquopara aprimorar os estudos aqueles que tinham mais

condiccedilotildees iam para Porto Alegre Santa Maria ou Passo Fundo mas para isto

ficavam laacute em internatos e soacute retornavam nas feacuterias devido agrave dificuldade e o custo

da viagemrdquo

Na deacutecada de 40 foi criada a Escola Catoacutelica de Satildeo Francisco de Paula

cujo funcionamento acontece ateacute 1973 quando foram encerradas suas atividades

Esta escola iniciou com o curso primaacuterio e posteriormente instalou o curso ginasial

Normalmente estes moradores permaneciam de segunda-feira a sexta-feira na

cidade e nos finais de semana retornavam para as fazendas como recorda uma

moradora local

Noacutes eacuteramos uma cidade de fazendeiros a gente tinha uma casa no campo e uma na cidade a gente vivia de laacute pra caacute de caacute pra laacute fim de semana ia

19 ALBUQUERQUE Moacir Castello Branco de Entrevista concedida agrave autora no dia 06 de abril de

2018

43

pra fora20 dia de semana vinha pra caacute normalmente uma irmatilde mais velha voacute ficava com a gente aqui na cidade e a famiacutelia mesmo ficava no campo21

Percebe-se que hoje ainda existem na Sede moradores que manteacutem suas

casas na cidade e durante o dia ou nos finais de semana vatildeo ateacute suas fazendas

para fazer as lides com o gado o que caracteriza uma pequena parte da populaccedilatildeo

que foram os filhos dos antigos fazendeiros que mais tarde acabam se instalando

definitivamente na cidade trazendo com sigo a essecircncia do homem do campo e

afirmando uma identidade genuinamente gauacutecha definiccedilatildeo esta concedida por uma

moradora local

Gauacutecho natildeo eacute o morador do Rio Grande do Sul o morador do Rio Grande do Sul eacute o sul-rio-grandense ou rio-grandense do sul o gauacutecho eacute apenas o homem que vem da pecuaacuteria extensiva essa que existe laacute no pampa e aqui nos campos de cima da serra o gauacutecho serrano com caracteriacutesticas muito proacuteprias grandes gaiteiros poetas aliaacutes o maior gaiteiro do mundo eacute daqui natildeo abro matildeo de dizer isto soacute que todos noacutes viacutenhamos da lida do campo em decorrecircncia disso eacuteramos gauacutechos de verdade22

Em sua fala apresenta o gauacutecho serrano como um tipo singular que ama a

pilcha gauacutecha o seu pingo e suas criaccedilotildees bem como reafirma a importacircncia dos

Irmatildeos Bertussi Honeide e Adelar sendo Adelar Bertussi um dos maiores gaiteiros

deste municiacutepio Exaltam-se tambeacutem os poetas que com suas poesias e letras de

muacutesicas escrevem o jeito do seu povo viver

Mesmo a cidade sendo ldquolocal de paradardquo durante a semana para a maioria

de seus habitantes no passado era cheia de atrativos que o campo natildeo possuiacutea

como o cinema cuja instalaccedilatildeo natildeo se encontra documentada mas sabe-se que

iniciou onde hoje eacute o preacutedio da Prefeitura Municipal sendo proprietaacuterio Francisco

Ferraz (Chico Ferraz como era conhecido) Observa-se em alguns exemplares do

Jornal Folha da Serra23 os filmes e os horaacuterios do funcionamento do cinema

Entende-se que o jornal era uma maneira de divulgar os filmes por ser o uacutenico meio

de comunicaccedilatildeo da eacutepoca Pelos folhetins se percebe que as sessotildees

apresentavam diversos gecircneros natildeo se sabe quando o cinema finalmente fechou

20 Fora refere-se ir para a fazenda 21 SOARES Luciana Olga Entrevista concedida agrave autora no dia 01 de marccedilo de 2018 22 SOARES Luciana Olga Entrevista concedida agrave autora no dia 01 de marccedilo de 2018 23 Folha da Serra jornal local criado em 1932 pelo Dr Siacutelvio Rabelo passando posteriormente a

propriedade da Prefeitura Municipal Sua impressatildeo era na ordem de 500 exemplares natildeo se tem a informaccedilatildeo do periacuteodo que parou de circular mas pelos exemplares encontrados no Arquivo Histoacuterico de Satildeo Francisco de Paula os uacuteltimos datam de 1978 O Arquivo Histoacuterico de Satildeo Francisco de Paula fica em um preacutedio anexo agrave Biblioteca Puacuteblica do municiacutepio

44

poreacutem o jornal Folha da Serra traz uma reportagem que retrata como estava difiacutecil

manter o cinema em funcionamento em meados de 1968 ldquoo nosso cinema na

maneira que vai indo natildeo tem mais condiccedilotildees de funcionar natildeo temos apoio da

populaccedilatildeo com uma frequecircncia de mais ou menos 150 pessoas por final de

semanardquo O jornal acrescenta ldquosalienta-se que mais ou menos de 3 de nossa

CULTA populaccedilatildeo natildeo frequenta o cinemardquo Pode-se associar o fechamento do

cinema a dois fatores a natildeo cultura de assistir filmes e pelas sessotildees ocorrerem nos

finais de semana onde boa parte da populaccedilatildeo da cidade se deslocava para as

fazendas ou pela crise que os cinemas passaram na deacutecada de 80 quando em

muitas cidades foram fechados

A vida da populaccedilatildeo local vai se modificando cada vez mais as pessoas vatildeo

se instalando definitivamente na Sede onde se perde o viacutenculo com o campo

Devido agrave venda ou arrendamento das fazendas24 que por render pouco a pecuaacuteria

extensiva e com a criaccedilatildeo de novas legislaccedilotildees que proiacutebem praacuteticas centenaacuterias

seus proprietaacuterios buscaram novas possibilidades econocircmicas que modificaram a

Sede e tambeacutem boa parte do interior Em entrevista a moradora Soares relata

Exatamente porque a produccedilatildeo era pequena isso natildeo serve para o mundo de hoje a uns quarenta anos chega em nossos campos as primeiras plantaccedilotildees de pinus interessante que ningueacutem reclamou da destruiccedilatildeo desse campo de milhotildees de anos e de todo o ecossistema mas mesmo com essa nova cultura continuamos realizando a sapeca do campo no mecircs de agosto mas de repente chega a notiacutecia que estaacute proibida a queima do campo dizendo que noacutes estragaacutevamos a terra poluiacuteamos o ar que mataacutevamos animais e tudo aquilo natildeo era verdade Na verdade alguns anos depois da lei proibindo a queima do campo chegam as multas gigantescas agraves vezes maior que o valor da terra e aiacute inviabilizou a pecuaacuteria e muitos fazendeiros venderam suas terras e foram embora Quem ficou no campo na busca por renda a qualquer preccedilo arrenda seus campos para os batateiros que vieram acredito que a grande maioria de Santa Catarina e do Paranaacute estes lavram o campo nunca mais o campo nem com reza braba taacute tudo perdido para sempre e isso reflete na nossa cidade25

Essas mudanccedilas no campo refletem na Sede onde o homem serrano convive

passivamente com novas identidades que embora sejam presentes eacute minoria pois

esta parcela de novos moradores traz consigo um novo jeito de viver que ainda natildeo

se percebe influenciar na identidade cultural da Sede

24 Propriedades rurais cuja atividade principal eacute a praacutetica da pecuaacuteria extensiva e a produccedilatildeo do

queijo artesanal serrano 25 SOARES Luciana Olga Entrevista concedida agrave autora no dia 01 de marccedilo de 2018

45

Na Sede desde o iniacutecio se observam quatro clubes sociais a Sociedade

Cruzeiro a Sociedade 9 de Julho a Sociedade Esperanccedila e o Centro de Tradiccedilotildees

Gauacutechas Cada clube social tem sua importacircncia histoacuterica poreacutem alguns natildeo se

manteacutem ativos

A Sociedade 9 de Julho foi fundada em 27 de setembro de 1961 estando

localizada no bairro Rincatildeo Segundo o jornal Folha da Serra (1968 n 96 p 5)

apoacutes sete anos de sua fundaccedilatildeo ldquoseu presidente Galego promete uma nova e

confortaacutevel sede para a sociedaderdquo Sociedade que se apresenta por sua

versatilidade nos eventos ateacute os dias atuais

O jornal Folha da Serra (1968 n 96 p 5) traz a seguinte mateacuteria ldquoas quatro

noites foram repletas de alegria naquela sociedade onde os foliotildees divertiram-se e

quando se anunciou o final da quarta noite houve quem lamentasse o final da festa

do Momordquo A reportagem refere-se ao carnaval que se desenvolve de forma

popular nesta sociedade Neste espaccedilo na deacutecada de 1990 ocorria um baile na

sexta-feira que antecedia ao Festival do Ronco do Bugio um espaccedilo onde jovens se

encontravam para iniciar as festividades do grande festival da cidade poreacutem na

atualidade este evento natildeo ocorre mais Pelos cartazes de divulgaccedilatildeo de eventos

atuais a Sociedade 9 de Julho se torna um espaccedilo bastante versaacutetil e segundo

dados obtidos no site da proacutepria sociedade o local apresenta shows bailes

tradicionalistas domingueiras e festas temaacuteticas

Sabe-se da existecircncia da Sociedade Esperanccedila devido a uma reportagem a

respeito do carnaval escrita no jornal Folha da Serra (1968 n 11 p 25) ldquoos

escurinhos tambeacutem natildeo ficaram para traacutes e demonstraram que satildeo bons no samba

porque soacute quem assistiu pode ver como brincaram e que maravilha de ritmo

marcaram durante as quatro noitesrdquo A reportagem daacute a entender de se tratar de

uma sociedade frequentada por negros e pode-se entender que ao usar o termo

escurinho na reportagem haacute preconceito racial perpassando a ideia de que por

serem negros natildeo poderiam se divertir da mesma maneira que os brancos

Atualmente se encontra no local um espaccedilo residencial e comercial

A Sociedade Cruzeiro foi fundada em 9 de maio de 1925 pela elite da

sociedade serrana Segundo Teixeira (2002) e Fonseca (2012) sua sede social era

na Avenida Juacutelio de Castilhos onde hoje se situa a agecircncia do Banrisul e teve como

primeiro presidente o Sr Antocircnio Mario Kroeff e o secretaacuterio Sr Joatildeo Parobeacute de

Lucena Sua nova sede foi inaugurada de acordo com Fonseca (2012 p 236) ldquono

46

dia 11 de dezembro de 1965 e esta permanece no mesmo endereccedilo ateacute a

atualidade Situa-se na Rua Dr Frederico Tedesco nordm 1261rdquo

Atualmente este espaccedilo eacute usado para convenccedilotildees ou festas particulares

onde as pessoas locam o espaccedilo para realizarem seu evento Neste espaccedilo natildeo

mais ocorrem grandes eventos sociais como Fonseca (2012 p 232) descreve ldquoos

bailes mais elegantes e vistosos desta sociedade ocorrem aquirdquo Fonseca (2012 p

233) ainda complementa que ldquoa primeira Miss Sociedade Cruzeiro foi eleita em 1937

e a vencedora foi a jovem Zilah Teixeirardquo

A Sociedade Cruzeiro tambeacutem foi palco de bailes de carnaval O Jornal Folha

da Serra (1968 n 11 p 25) descreve ldquocomo sempre a Sociedade Cruzeiro ponteou

o nosso carnaval com blocos fantasiados magnificamente fazendo acrobacias ao

som de excelente muacutesica local onde os turistas afluiacuteramrdquo Contrapondo a este

tempo a moradora local Soares26 discorre de maneira saudosa ldquoque saudades do

carnaval hoje eacute bebedeira perdeu o encanto perdeu tudo Na rua o pessoal

gritando sem nenhuma infraestrutura nem os bailes na sociedade natildeo ocorrem

maisrdquo

O distrito Sede jaacute foi palco de inuacutemeros clubes sociais que ao longo do tempo

foram perdendo seu encanto e ateacute mesmo fechando-se para atividades sociais O

que permanece em pleno funcionamento eacute o Centro de Tradiccedilotildees Gauacutechas Rodeio

Serrano o que justifica uma cultura tradicionalista presente neste distrito Dentre as

atividades desenvolvidas por esta entidade estatildeo o Rodeio Interestadual com

atividades campeiras e artiacutesticas que ocorrem todos os anos no primeiro final de

semana de dezembro a manutenccedilatildeo das invernadas artiacutesticas em todas as

categorias mascote mirim juvenil e adulta

A organizaccedilatildeo da Ronda Crioula na Semana Farroupilha com a participaccedilatildeo

das escolas da Sede e do interior que trazem seus grupos de danccedilas bem como

organizam gincanas Outra atividade tambeacutem desenvolvida por esta entidade eacute a

Cavalgada de Prendas que ocorre durante a Semana Farroupilha desde 1992

sendo Satildeo Francisco de Paula pioneira nesta ideia onde somente mulheres

participam da cavalgada que culmina com o desfile na Avenida Juacutelio de Castilhos

Realiza-se tambeacutem o Baile da Prenda Jovem que eacute o baile de debutante gauacutecho

onde as prendas entre 13 e 15 anos satildeo apresentadas agrave sociedade Aleacutem disso nos

26 SOARES Luciana Olga Entrevista concedida agrave autora no dia 01 de marccedilo de 2018

47

uacuteltimos anos a organizaccedilatildeo e apresentaccedilatildeo do Festival Ronco do Bugio que ocorre

em Satildeo Francisco de Paula faz parte da programaccedilatildeo desta entidade Este festival

apresenta exclusivamente o gecircnero musical bugio Haacute pelo menos duas hipoacuteteses

sobre a origem deste gecircnero musical

A primeira eacute de berccedilo serrano e teria mais fiel escudeiro o inesqueciacutevel acordeonista de Satildeo Francisco de Paula Honeyde Bertussi Siqueira Segundo ele o ritmo teria sido originaacuterio pelas matildeos do gaiteiro Vergiacutelio Leitatildeo que no jogo-de-foles e nos baixos de sua gaita de botatildeo teria imitado o ronco do bicho nos caponetes de cima da serra [] teria difundido pelas bodegas do Juaacute interior de Satildeo Chico (SOUZA 2003 p 15)

A segunda hipoacutetese eacute apresentada por Souza (2003 p 15) que apresenta a

versatildeo dada pelo povo de Satildeo Francisco de Assis que diz que ldquoa origem do ritmo e

oriunda desta localidade que por sinal realizava um festival nativista chamado

Querecircncia do Bugiordquo

Desconhece-se a verdadeira origem do gecircnero musical bugio mas Souza

(2003 p 23) afirma que ldquoJoatildeo Cincinato Terra muacutesico atuante sentiu a

necessidade de nosso municiacutepio acompanhar o movimento jaacute que neste periacuteodo se

expande por todo o estado do Rio Grande do Sul os festivais nativistasrdquo O

lanccedilamento do primeiro festival do Ronco do Bugio acontece em 1986 no CTG

Rodeio Serrano com a participaccedilatildeo de vaacuterios representantes da muacutesica nativista e

da comunidade serrana Seu lanccedilamento oficial ocorre em 16 de abril de 1986

O jornal Satildeo Chico Tchecirc (1986 n 11 p 6) noticiou que o primeiro Festival do

Ronco do Bugio contou com 98 muacutesicas escritas sendo 24 as selecionadas O

festival ocorreu entre os dias 13 e 15 de maio e Souza (2003 p 42) descreve que foi

apresentado ldquosob uma lona de circo estaqueada num gramado amador mas de

tantas gloacuterias futeboliacutesticas o campo do Clube Atleacutetico Serranordquo

A muacutesica vencedora do primeiro Ronco do Bugio foi ldquoLevanta Bugiordquo

defendida pelo cantor e compositor gauacutecho Leonardo Observando fotos percebe-se

que o Ronco do Bugio se deu em uma noite fria de inverno

O Festival Ronco do Bugio desde o seu iniacutecio premia melhor arranjo

conjunto instrumental instrumentista inteacuterprete e a muacutesica mais popular Fatima

Gimenez foi a melhor inteacuterprete do primeiro festival defendendo a muacutesica ldquoPinheiro

Gringordquo composiccedilatildeo de Erian Fogaccedila e Laerte Fortes Novamente a roupa dos

48

muacutesicos reforccedila que na noite da entrega da premiaccedilatildeo fazia muito frio A cantora

tambeacutem se apresenta vestindo um chiripa coberto por um pala27

Na Figura 11 observamos a fotografia de Gonzaga dos Reis muacutesico local

sentado com sua gaita instrumento que lhe deu o precircmio de melhor instrumentista

do primeiro Ronco do Bugio Nesta oportunidade o cantor instrumentista e

compositor defendeu a muacutesica ldquoBugio da Minha Terrardquo

Figura 11 ndash Gonzaga dos Reis

Fonte Jornal Satildeo Chico Tchecirc n 4 p 8 (1986)

A composiccedilatildeo ldquoBugio Tiranordquo que foi defendida pelo conjunto Os Tiranos de

Satildeo Francisco de Paula ganhou o precircmio mais popular

Para o Jornal Satildeo Chico Tchecirc (1986 n 11 p 7) o Festival Ronco do Bugio eacute

ldquoum festival autecircntico e original que aconteceu com grande sucesso em Satildeo

Francisco de Paulardquo No encerramento deste grande evento Joatildeo Chagas Leite se

27 Chiripa e pala satildeo trajes tipicamente gauacutechos Sendo que o chiripa atualmente eacute uma veste de

preferecircncia feminina este fica enrolado na cintura e vai ateacute os joelhos ldquoEacute um pano inteiro passado entre as pernas primeiro de traacutes para frente e depois de frente para traacutes pode ser de latilde ou lisordquo (ABREU 2003 p 67) O pala eacute uma peccedila retangular com franjas nos quatro lados e listras no sentido do comprimento

49

apresenta segundo o Jornal Satildeo Chico Tchecirc (1986 n 11 p 8) ldquocom composiccedilotildees

como Corda de Espinho Orelhano Pampa Campo e Querecircncia Coraccedilatildeo de

Estudante e Afiosrdquo

O Festival Ronco do Bugio perpassa o tempo segundo o site da Prefeitura

Municipal

O Festival Ronco do Bugio eacute um evento musical nativista que acontece anualmente na Cidade de Satildeo Francisco de Paula com o intuito de preservar e difundir o uacutenico ritmo originaacuterio do Rio Grande do Sul ou seja o lsquobugiorsquo compasso criado justamente no interior deste municiacutepio Tal criaccedilatildeo se deu a partir da criatividade dos gaiteiros serranos que buscaram imitar com seu instrumento musical o ronco do primata nos matos da serra A festividade agora em sua 26ordf ediccedilatildeo eacute genuiacutena pois eacute o uacutenico da Ameacuterica onde obrigatoriamente os participantes devem utilizar um ritmo somente isto eacute o citado lsquobugiorsquo embora a temaacutetica seja abrangente Por este motivo eacute chamado de lsquoO Festival Mais Autecircntico do Rio Grandersquo Aleacutem do forte enfoque cultural que envolve toda a comunidade musical do Estado o Festival tem seu apelo ecoloacutegico pois chama a atenccedilatildeo para a preservaccedilatildeo da espeacutecie hoje quase em extinccedilatildeo O Ronco do Bugio por sua importacircncia no cenaacuterio cultural rio-grandense criou uma identidade ao povo de Satildeo Francisco de Paula pois junto ao evento estaacute intriacutenseco e vem agrave tona o histoacuterico da criaccedilatildeo do municiacutepio caracterizado pela forte influecircncia dos antigos tropeiros desbravadores e povoadores desta parte do paiacutes (PREFEITURA MUNICIPAL DE SAtildeO FRANCISCO DE PAULA 2017)

No mesmo documento disponibilizado pela Prefeitura Municipal de Satildeo

Francisco de Paula observam-se algumas informaccedilotildees a respeito da realizaccedilatildeo do

festival no ano de 2017

Art 1ordm - O 26ordm Ronco do Bugio realizar-se-aacute no municiacutepio de Satildeo Francisco de Paula nos dias 01 e 02 de setembro de 2017 Art 2ordm - a festividade agora em sua 26ordf ediccedilatildeo eacute genuiacutena pois eacute a uacutenica na Ameacuterica Latina com promoccedilatildeo da Prefeitura Municipal de Satildeo Francisco de Paula e do CTG Rodeio Serrano com apoio de oacutergatildeos puacuteblicos e iniciativa privada Art 3ordm - Satildeo objetivos do 26ordm Ronco do Bugio a) valorizar a tradiccedilatildeo arte cultura e a autecircntica muacutesica regionalista

gauacutecha atraveacutes do seu ritmo mais original b) prestigiar autores compositores inteacuterpretes e conjuntos regionalistas e

incentivar o surgimento de novos valores c) divulgar a muacutesica regional gauacutecha d) valorizar a relevante posiccedilatildeo na formaccedilatildeo de usos e costumes

caracteres e valores espirituais e morais do gauacutecho e) promover e incentivar a cultura gauacutecha projetando Satildeo Francisco de

Paula na maneira mais autecircntica no cenaacuterio do turismo (PREFEITURA MUNICIPAL DE SAtildeO FRANCISCO DE PAULA 2017)

Como eacute possiacutevel observar no artigo 4ordm ldquoA organizaccedilatildeo do 26ordm Ronco do Bugio

ficaraacute a cargo da Comissatildeo Organizadora composta por membros da Prefeitura

Municipal e do CTG Rodeio Serranordquo (PREFEITURA MUNICIPAL DE SAtildeO

50

FRANCISCO DE PAULA 2017) Devido agrave importacircncia identitaacuteria do festival para o

municiacutepio ao se chegar agrave cidade na deacutecada de 90 se encontrava o seguinte

outdoor

Figura 12 ndash Outdoor entrada da cidade na ERS-020

Fonte Souza (2003 p 17)

Assim como o tiacutetulo de ldquoCapital Mundial do Bugiordquo Satildeo Francisco de Paula ldquojaacute

obteve vaacuterios slogans dentre eles o de Satildeo Chico eacute terra boardquo (TEIXEIRA 2002 p

149-150)

Mesmo ocorrendo inferecircncias externas advindas com pessoas que trouxeram

consigo uma identidade diferente Soares28 em entrevista afirma ldquoSatildeo Chico eacute

identificada pela cultura tradicionalista gauacutecha a cuia em frente ao antigo preacutedio da

prefeitura demonstra o siacutembolo da hospitalidade de nosso povordquo A permanecircncia

ativa do CTG Rodeio Serrano na sede eacute outro indicativo forte da presente

identidade ligada as atividades do homem do campo Outro fato observado eacute a

constante praacutetica do laccedilo de vaca parada29 por jovens e crianccedilas nos paacutetios de suas

residecircncias bem como cavalarianos (homens mulheres jovens e crianccedilas) na

28 SOARES Luciana Olga Entrevista concedida agrave autora no dia 01 de marccedilo de 2018 29 Vaca parada uma espeacutecie de cavalete de madeira com aspectos de uma vaca usada por crianccedilas

que estatildeo iniciando neste esporte bem como usado como forma de entretenimento para jovens e adultos

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avenida principal cavalgando entre os carros Ainda se percebe o respeito entre

motoristas de automotivos bicicletas e os cavalarianos todos ocupando o mesmo

espaccedilo

42 DISTRITO DE CAZUZA FERREIRA

O distrito de Cazuza Ferreira foi criado em 07 de janeiro de 1903 estando

situado a 85 quilocircmetros da Sede Andrade comenta em entrevista30 ldquoateacute acho que

Cazuza se desenvolveu primeiro que Satildeo Chicordquo31 visto que a criaccedilatildeo do distrito

acontece dias depois da emancipaccedilatildeo enquanto a criaccedilatildeo da vila do distrito de

Cazuza Ferreira se desenvolve segundo a entrevistada

A parte da Histoacuteria que eu sei eacute que houve a chegada de um Sr Chico Mestre eacute como eles chamavam Esse Sr veio as casas eram distantes umas das outras e ele comeccedilou a fazer oraccedilatildeo nas casas e reunir as pessoas e fundou o cemiteacuterio Entatildeo o Joseacute Ferreira de Castilhos que era dono daqui naquela eacutepoca um dos moradores que tinha bastante terra doou a terra para fazer a vila aiacute o que aconteceu segundo as histoacuterias era para ser ali onde eacute a cancha de laccedilo hoje do outro lado da estrada soacute que o terreno natildeo era apropriado entatildeo houve uma permuta com o Sr que era dono deste terreno aqui era Bossle aqui era bem mais alto e mais plano Entatildeo se construiu a Igreja e iniciou o povoamento da vila32

A moradora Basso ainda acrescenta que ldquoa vila foi sempre mais ou menos o

que ela eacute hojerdquo Ao observar o local pode-se perceber uma grande praccedila ao centro

rodeada de casas de comeacutercio posto de combustiacutevel posto de sauacutede o hotel a

Igreja Matriz juntamente com o salatildeo paroquial e casas residecircncias cujo aspecto

impressiona por a grande maioria das casas apresentam uma arquitetura que

perpassa o tempo A Figura 13 apresenta uma imagem da praccedila central tirada das

escadarias da Igreja Matriz

30 ANDRADE Nauro Bossle de Entrevista concedida agrave autora no dia 04 de marccedilo de 2018 31 Primeiro que Satildeo Chico eacute um termo comum usado pelos moradores do interior do municiacutepio de

Satildeo Francisco de Paula que ao se referir a Sede do municiacutepio usam o termo Satildeo Chico ou Satildeo Francisco de Paula pois seus moradores natildeo costumam na atualidade dizer lsquovou a Sedersquo e sim lsquovou a Satildeo Chicorsquo como se eles natildeo morassem no municiacutepio

32 BASSO Ceacutelia Pacheco Terres Entrevista concedida agrave autora no dia 04 de agosto de 2018

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Figura 13 ndash Praccedila Central de Cazuza Ferreira

Fonte acervo pessoal da autora (2018)

Apesar de ter a preservaccedilatildeo arquitetocircnica a moradora Basso declara

O pai contava e outras pessoas contam que teve uma eacutepoca que tinha faacutebrica de tamanca33 jaacute teve faacutebrica de guaranaacute de queijo bastante coisa no sentido de selaria mas tudo foi se extinguindo as pessoas as famiacutelias natildeo deram continuidade e se sumiram natildeo existe mais nada disso mas estas faacutebricas natildeo davam renda ou seja trabalho para pessoas de fora pois elas eram administradas e cuidadas pelas famiacutelias Daiacute houve o periacuteodo das serrarias enquanto pode extrair madeira era o forte a vila movimentada enriqueceram alguns comerciantes locais o momento que extinguiu aquele trabalho eles foram embora e o povo daqui acomodou entatildeo hoje a vila tem bastante pessoas que foram embora trabalhar assim na juventude e hoje aposentados voltaram pois aqui para jovem natildeo tem sobrevivecircncia o uacutenico trabalho eacute na escola tem nove professores e uma funcionaacuteria em alguns funcionaacuterios da prefeitura acho que satildeo seis que cuidam do plantel de maacutequinas a enfermeira e o pessoal que cuida do posto do correio tambeacutem tem a ferraria mas ali eacute soacute os da proacutepria famiacutelia entatildeo o jovem acaba tendo que ir embora34

Os entrevistados Basso e Andrade relatam que apesar das adversidades o

povo de Cazuza Ferreira tem um amor pelas suas tradiccedilotildees mantendo vivos trecircs

aspectos que ambos consideram a marca identitaacuteria de seu povo e afirmam com

33 Tamanca calccedilado comum na regiatildeo solado de madeira com uma proteccedilatildeo sobre as pontas dos

dedos indo ateacute o peito do peacute em couro 34 BASSO Ceacutelia Pacheco Terres Entrevista concedida agrave autora no dia 04 de agosto de 2018

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convicccedilatildeo ldquofalar de Cazuza eacute cavalhada hotel e rodeiordquo enquanto Basso acrescenta

que ldquoas cavalhadas satildeo heranccedila dos portugueses e estatildeo espalhadiacutessimas ateacute

nacionalmente atraveacutes da miacutedia porque natildeo pesquisei mas ateacute onde sei no Rio

Grande do Sul soacute tem aquirdquo

Na comunidade ainda segundo Basso ldquoa apresentaccedilatildeo das cavalhadas se

iniciou por volta de 1890 e permanece ativa ateacute hoje no passado existiam trecircs

cavalhadas as dos brancos dos amarelos e dos negrosrdquo acrescentando ldquomas hoje

natildeo haacute mas essa diferenciaccedilatildeordquo Em poliacutegrafo organizado por uma moradora local a

mesma explica que a cavalhada ldquoeacute uma luta simulada em que haacute vinte e quatro

participantes sendo doze de cada equiperdquo35 por meio da evoluccedilatildeo equestre e

movimentos de espada lanccedila e garrucha representando a batalha entre mouros e

cristatildeos Segundo esta moradora ldquoa batalha sempre termina sendo vencida pelos

cristatildeos demonstrando a submissatildeo dos mouros e a supremacia da religiatildeo cristatilderdquo

Atualmente o grupo depende da boa vontade de seus participantes conforme

explica

Hoje se tornou caro eacute exame dos cavalos transporte depende do querer das pessoas da boa vontade e tem pessoas engajadas que natildeo largam a famiacutelia do Renau que ele eacute o presidente do grupo ele tem um amor tatildeo grande pelas cavalhadas porque ele jaacute recebeu do pai dele do teu avocirc e do seu Ivo Cardoso e a vida dele agraves vezes me desgosto de alguma coisa pois faccedilo a narrativa do que estaacute sendo apresentado mas daiacute eu penso natildeo posso abandonar (sorri) Eacute uma tradiccedilatildeo que natildeo pode morrer mas os filhos do Renau o Marcos e o Marcelo daratildeo continuidade faz parte da famiacutelia tu sabe eacute da mesma famiacutelia Eacute uma grande tradiccedilatildeo que natildeo pode desaparecer temos que continuar peleando36

As cavalhadas satildeo apresentadas na praccedila central sempre durantes as festas

religiosas que acontecem na comunidade sendo assim organizadas

No primeiro ou segundo final de semana de fevereiro tem a festa da Nossa Senhora do Belo Horizonte que eacute a padroeira daqui Agora devido agrave comissatildeo e o padre um ano tem a festa dos morenos e no outro tem a dos agricultores que eram chamados de amarelos antigamente cuja devoccedilatildeo se daacute agrave Nossa Senhora do Rosaacuterio e Nossa Senhora da Penha Antigamente cada um tinha seu espaccedilo social para realizar a festa atualmente soacute se manteve a tradiccedilatildeo de comemorar os santos este ano eacute festa dos morenos ela seraacute dia 13 e 14 de outubro Todas as festas

35 Sendo que doze cavaleiros que representam os cristatildeos vestem tuacutenicas de veludo azul escuro e

os doze cavaleiros mouros vestem tuacutenicas vermelhas Sobre os ombros da tuacutenica haacute uma capinha esta capinha traz enfeites prateados bordados com lantejoulas e bototildees dourados e franjas de seda branca Todos os participantes usam bombacha branca de brim botas campeiras pretas chapeacuteu de palha de aba larga virada para cima com laccedilo de fita e barbicacho de acordo com a cor da tuacutenica

36 BASSO Ceacutelia Pacheco Terres Entrevista concedida agrave autora no dia 04 de agosto de 2018

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religiosas ocorrem em dois dias saacutebado apresentaccedilatildeo das cavalhadas novena janta e baile no domingo tem a missa na Igreja Matriz logo apoacutes almoccedilo e reuniatildeo danccedilante Atualmente resgataram em dezembro a festa a Satildeo Cristoacutevatildeo sempre no primeiro final de semana de dezembro eacute uma missa com benccedilatildeo aos carros durante a procissatildeo e um almoccedilo ao meio-dia esta se daacute somente em um dia E tambeacutem temos de dois em dois anos a festa organizada pelo grupo das Cavalhadas esta ocorre em maio daiacute37

Os moradores explicam que a separaccedilatildeo racial desapareceu com o tempo

poreacutem se manteacutem a cultura de festejar todos os santos o que demonstra que o povo

de Cazuza eacute bastante devoto e cristatildeo E acrescenta em tempos idos que durante

as festas religiosas as pessoas se hospedavam no hotel segundo Basso que ldquoele

recebia tinha mercado junto teve ateacute cinema o pessoal gostava da comida da

Dona Vilma que era minha sogrardquo Este hotel eacute outro marco que identifica Cazuza

Ferreira poreacutem os moradores explicam que atualmente o Hotel do Campo manteacutem a

arquitetura mas funciona em uma modalidade diferenciada pois natildeo haacute como

sobreviver Entatildeo ele recebe hospeda sob reserva antecipada poreacutem natildeo serve

almoccedilo e janta as refeiccedilotildees satildeo feitas no Cantinho do Aconchego com quem

manteacutem uma parceria

Figura 14 ndash Hotel do Campo

Fonte acervo pessoal da autora (2018)

37 BASSO Ceacutelia Pacheco Terres Entrevista concedida agrave autora no dia 04 de agosto de 2018

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Nesta comunidade tambeacutem eacute muito forte segundo os entrevistados38 a

tradiccedilatildeo gauacutecha que adveacutem do homem do campo o amante dos rodeios que nos

finais de semana saem de suas propriedades e se deslocam a outras comunidades

para participar dos eventos campeiros como o tiro de laccedilo Tambeacutem explanam que

existe o CTG Adatildeo Castilhos que estaacute interditado jaacute faz quase seis anos desde

que comeccedilaram a ser exigidos os PPCIs A partir deste momento eles natildeo puderam

mais fazer eventos ali eles realizam os rodeios ou festas campeiras mas laacute dentro

natildeo conseguiram mais fazer nada e taacute difiacutecil vai muito dinheiro para cumprir todas

as exigecircncias Sendo que este espaccedilo na deacutecada de 80 do seacuteculo XX foi palco de

grandes rodeios com apresentaccedilotildees campeiras artiacutesticas e grandes bailes A

moradora explica39 ldquoA Claudiana esposa do Paulo Cesar atual presidente se

inscreveu no projeto Meu Galpatildeo de Cara Nova do Galpatildeo Crioulo da RBS TV

tomara que ela seja classificadardquo Este projeto ajuda na reconstruccedilatildeo dos CTGs pelo

Rio Grande do Sul

Ao pesquisar sobre Cazuza Ferreira percebe-se o quatildeo forte eacute o culto agraves

tradiccedilotildees e o esforccedilo de seus moradores para elas permaneccedilam para futuras

geraccedilotildees visto que o tempo passou e a tradiccedilatildeo local natildeo sofreu alteraccedilotildees

43 DISTRITO DE TAINHAS

O distrito de Tainhas foi criado em 18 de outubro de 1922 estando situado a

33 quilocircmetros da Sede Se desenvolveu no entroncamento de duas rodovias a RS-

020 e a RS-453 cujas rodovias cortavam a vila do distrito Com o advento da

construccedilatildeo da Rota do Sol importante rodovia que hoje que liga Caxias do Sul agraves

praias aleacutem da construccedilatildeo do asfalto da RS-020 que vai a Satildeo Francisco de Paula

tudo mudou O morador Fagundes relata em entrevista40 ldquoaqui era mais habitado

por criadores fazendeiros e agora depois que saiu essa Rota do Sol o movimento

cresceu muito neacute mais por fora da vila entatildeo natildeo trouxe benefiacutecio para noacutesrdquo

Percebe-se que moradores entendem a importacircncia da construccedilatildeo das

rodovias poreacutem as mesmas natildeo trouxeram benefiacutecios econocircmicos para os

moradores locais

38 ANDRADE Nauro Bossle de BASSO Ceacutelia Pacheco Terres Entrevistas concedidas agrave autora no

dia 04 de agosto de 2018 39 BASSO Ceacutelia Pacheco Terres Entrevista concedida agrave autora dia 04 de agosto de 2018 40 FAGUNDES Darci da Silva Entrevista concedida agrave autora no dia 24 de fevereiro de 2018

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Ainda conforme o morador Fagundes41 ldquoo iniacutecio da vila se deu devido agrave

necessidade de parada dos caminhoneiros que transportavam madeira como era

tudo estrada de chatildeo Tainhas ficava em local centralizado se construiu um hotel

que era do seu Pedro Pinhatildeo e da Dona Luisardquo A partir de entatildeo comeccedilou a

construccedilatildeo de casas e se formou a vila onde antes eram terras dos Pinto os

primeiros moradores de Tainhas tanto que o morador ressalta na entrevista42 ldquoo

nome da escola eacute Oliacutempio Soares Pinto que era o proprietaacuterio dessa terra e uma

das professoras mais antigas era Guilherma Pintordquo

Tainhas estaacute rodeada por campos matos de pinnus ilhote e lavouras

atualmente e explica

Hoje aqui eacute pinus e granjeiro plantando batata soja milho e a maioria veio de fora os moradores antigos desapareceram arrendaram ou venderam suas terras para esse pessoal que veio de Ibiraiara e de Maquineacute Itati Trecircs Forquilhas43

Percebe-se que a criaccedilatildeo de gado ou seja a pecuaacuteria extensiva deu lugar a

outras culturas com a chegada de novas pessoas ao distrito Mas segundo os

moradores o culto ao tradicionalismo gauacutecho permanece visto que no distrito

existe

O parque de rodeios do Rodeio Crioulo eacute o mais antigo que noacutes temos aqui natildeo sei se natildeo o primeiro piquete registrado de Satildeo Chico tem uns sessenta anos a nossa tradiccedilatildeo eacute o laccedilo O nosso rodeio acontece sempre no iniacutecio de janeiro hoje eu natildeo laccedilo mais mas o meu neto continua a minha tradiccedilatildeo A escola daqui faz a semana farroupilha com ronda eacute tudo muito lindo e assim se mantem a cultura44

A imagem apresentada na Figura 15 reforccedila a fala e a importacircncia do Piquete

de Laccediladores Rodeio Crioulo que atualmente mesmo estando nas terras de Satildeo

Francisco de Paula divisa com o municiacutepio de Cambaraacute do Sul por opccedilatildeo essa

entidade tradicionalista pertence ao entatildeo municiacutepio de Cambaraacute do Sul Poreacutem sua

fundaccedilatildeo acontece em 20 de janeiro de 1961 quando o entatildeo hoje municiacutepio de

Cambaraacute do Sul ainda era distrito de Satildeo Francisco de Paula

41 FAGUNDES Darci da Silva Entrevista concedida agrave autora no dia 24 de fevereiro de 2018 42 FAGUNDES Darci da Silva Entrevista concedida agrave autora no dia 24 de fevereiro de 2018 43 FAGUNDES Darci da Silva Entrevista concedida agrave autora no dia 24 de fevereiro de 2018 44 FAGUNDES Darci da Silva Entrevista concedida agrave autora no dia 24 de fevereiro de 2018

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Figura 15 ndash Flacircmula de comemoraccedilatildeo aos 50 anos da entidade

Fonte acervo pessoal da autora (2018)

Outro evento importante no distrito eacute realizado pela Escola Estadual de

Ensino Fundamental Oliacutempio Soares Pinto que satildeo atividades ligadas as tradiccedilotildees

gauacutechas na Semana Farroupilha como cavalgadas e gincanas com a participaccedilatildeo

de toda comunidade nesta semana principalmente a comunidade de Tainhas

ldquorespira tradicionalismordquo

O distrito de Tainhas atualmente conta com um posto de sauacutede e o correio

satildeo os serviccedilos puacuteblicos que funcionam no distrito visto que o cartoacuterio fechou O

entrevistado Fagundes relata45 ldquoeu era o juiz de paz desse Cartoacuterio minha funccedilatildeo

era julgar os casamentos mas daiacute fechou hoje o pessoal tem que ir a Satildeo Chicordquo O

morador ainda acrescenta ldquoateacute a rodoviaacuteria fechou os ocircnibus passam aqui Satildeo

Marcos que vem de Caxias e vatildeo a Torres desce de manhatilde e sobe de tarde Citral

de Satildeo Chico a Ouro Verde e agora Transneves da Pedra Lisa para Satildeo Chicordquo

Com uma certa tristeza relata46 ldquoaqui em Tainhas soacute tem o Cafeacute Tainhas do

Mauro eacute o brilho de Tainhas seraacute ponto histoacuterico daqui um tempo todo mundo fala

bem do Cafeacute Tainhasrdquo

Notoriamente a chegada do asfalto modificou a vida das pessoas neste

distrito visto que que os campos foram em boa parte transformados em lavoura se

45 FAGUNDES Darci da Silva Entrevista concedida agrave autora no dia 24 de fevereiro de 2018 46 FAGUNDES Darci da Silva Entrevista concedida agrave autora no dia 24 de fevereiro de 2018

58

percebe uma vila pacata jaacute que todo o movimento foi desviado por fora da vila e a

mesma natildeo proporciona lazer para as pessoas que ao terminarem o ensino

fundamental para continuar seus estudos precisam fazer uso do transporte escolar

e se deslocar ateacute a Sede ou ir ao municiacutepio de Cambaraacute do Sul

44 DISTRITO DE ELETRA

O distrito de Eletra foi criado em 31 de dezembro de 1932 estando situado a

19 quilocircmetros da Sede do municiacutepio Poreacutem a populaccedilatildeo local chama de Salto e

seu nome vem das barragens do Salto Blang e Divisa construiacutedas sobre o Rio do

Salto que atravessa o distrito Segundo a moradora local47 Soares ldquoas barragens

que fornecem aacutegua para as usinas no municiacutepio de Satildeo Francisco de Paula e nos

municiacutepios vizinhos de Canela Gramado e Cambaraacute do Sulrdquo A Figura 16 apresenta

uma imagem da Barragem do Salto barragem esta que se situa proacutexima da vila do

distrito

Figura 16 ndash Barragem do Salto

Fonte acervo pessoal da autora (2018)

Ao observarmos a Figura 16 percebe-se que o acesso da vila para o interior

do distrito acontece por uma ponte de concreto estreita com piso bastante irregular

47 SOARES Susana Marques Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018

59

e que em periacuteodos de fortes chuvas o acesso fica interrompido devido agrave altura

Poreacutem ao lado direito percebe-se uma estrutura pequena que segundo o morador

Gomes

Foi uma tentativa de uma empresa japonese construir uma ponte soacute que quando estavam construindo deu uma enchente e levou tudo a aacutegua abaixo a empresa foi embora e nunca mais voltou Jaacute foram feitos estudos que a ponte tem que ser construiacuteda mais para baixo e em forma de arco se natildeo a chuva leva de novo poreacutem natildeo acredito que saia algum dia48

Entende-se que a construccedilatildeo desta nova ponte melhoraria o acesso dos

proprietaacuterios rurais que para saiacuterem de suas propriedades em eacutepocas de chuva

intensa necessitam fazer um longo caminho por estradas de chatildeo batido para terem

acesso ao municiacutepio de Canela bem como a Sede de Satildeo Francisco de Paula

Contudo a moradora explica que a vila do distrito se forma muito antes da

construccedilatildeo da barragem

Em 1915 era uma fazenda chamada Fazenda do Salto e esta pertencia a Francisco Soares de Oliveira Neste local havia sua casa de moradia um galpatildeo e mangueiras onde realizava as suas atividades poreacutem em 1916 o Chico resolveu transferir a casa da Fazendo do Cerro para o Salto tambeacutem sendo construiacuteda aiacute a segunda casa a partir de entatildeo se iniciou o povoado com a construccedilatildeo de novas residecircncias para seus empregados e posteriormente se instalou uma serraria dos irmatildeos Delavechia esta sendo movida a aacutegua dando definitivamente o iniacutecio do povoamento da vila49

Ao analisar a fala da moradora local se percebe que onde hoje se encontra a

vila do distrito de Eletra jaacute foi uma fazenda identificando-se com a mesma formaccedilatildeo

do distrito Sede que tambeacutem surge de terras doadas por um fazendeiro Segundo a

entrevistada Soares50 ldquoa sua casa eacute uma das mais antigas tem 102 anos foi

construiacuteda de pinheiro serrada aqui mesmo na serrariardquo pode-se observar o oacutetimo

estado de conversaccedilatildeo da casa que traz traccedilos arquitetocircnicos europeus na sua

construccedilatildeo natildeo se tem imagem da casa visto que a entrevistada natildeo permitiu

nenhuma imagem de sua residecircncia

Outro fator importante do povoamento da vila segundo o morador local

Gomes51 ldquofoi o iniacutecio da construccedilatildeo da Barragem do Salto no ano de 1925rdquo onde

48 GOMES Jaures Feijoacute Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018 49 SOARES Susana Marques Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018 50 SOARES Susana Marques Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018 51 GOMES Jaures Feijoacute Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018

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vieram muitos funcionaacuterios de vaacuterios lugares tendo como mestre da obra segundo

os moradores locais52 o ldquoAcircngelo Goubertrdquo

Devido agrave necessidade que se formou no distrito neste periacuteodo se abriu um

hotel farmaacutecia cartoacuterio rodoviaacuteria e cinema a moradora local Soares saudosa

diz53 ldquotudo fechou aqui natildeo tem mais nadardquo referindo-se a atual situaccedilatildeo que a vila

se encontra

Os moradores ainda declaram sobre o distrito54 ldquoestaacute abandonado pelo poder

puacuteblico ateacute o calccedilamento das ruas foi arrancadordquo poreacutem outrora foi um local de

muita alegria

A vida era uma festa permanente o tio Chico era casado com a tia Lisoca ela foi para Porto Alegre para os filhos estudar quando vinham nas feacuterias traziam os amigos O tio Chico pagava um gaiteiro por mecircs para ele toca toda noite entatildeo era aquele divertimento55

Atualmente na vila existe a Escola Estadual de Ensino Fundamental Cristino

Ramos com menos de cem alunos e a festa cristatilde cuja celebraccedilatildeo ocorre em

fevereiro sendo Santo Antocircnio o padroeiro local A moradora explica sobre a

construccedilatildeo da capela

A primeira capela a tempestade derrubou em 1957 se construiu outra O santo padroeiro eacute Santo Antocircnio a imagem foi trazida por quarenta cavaleiros Daiacute o padre pediu para que a imagem de Nossa Senhora Catarina tambeacutem fosse acolhida hoje temos dois padroeiros mas para mim Santo Antocircnio eacute o principal56

Percebe-se na fala dos moradores a sua devoccedilatildeo e sua preocupaccedilatildeo com o

futuro da vila visto que ateacute a questatildeo do cemiteacuterio jaacute foi palco de discussatildeo pois o

cemiteacuterio da vila iniciou pela famiacutelia dos Soares sendo este particular Poreacutem a

moradora explica com certa indignaccedilatildeo

O cemiteacuterio era particular da famiacutelia Soares teve um tempo que resolveram abrir veio gente ateacute de Passo Fundo ser enterrada aqui natildeo pediam para ningueacutem tomaram conta Daiacute organizamos uma comissatildeo responsaacutevel decidimos que tinha que ter uma contribuiccedilatildeo e natildeo podia trazer gente de fora para enterrar soacute gente daqui Ningueacutem pagou Aiacute mandei fazer cerca nova a parte dos Soares sempre limpei mas [] hoje acabo limpando tudo

52 GOMES Jaures Feijoacute SOARES Susana Marques Entrevistas concedidas agrave autora no dia 15 de

fevereiro de 2018 53 SOARES Susana Marques Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018 54 GOMES Jaures Feijoacute SOARES Susana Marques Entrevistas concedidas agrave autora no dia 15 de

fevereiro de 2018 55 SOARES Susana Marques Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018 56 SOARES Susana Marques Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018

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porque ningueacutem limpa Enquanto eu for viva vou fazer depois vatildeo entregar para a prefeitura igreja natildeo sei57

A Figura 17 apresenta uma foto da igreja atual tendo em sua lateral direita a

capela mortuaacuteria e ao fundo o Salatildeo Paroquial da comunidade onde ocorre a festa

do Santo Padroeiro

Figura 17 ndash Igreja Santo Antocircnio ndash Distrito de Eletra

Fonte acervo pessoal da autora (2018)

Ao conversar com os moradores locais pode-se observar a feacute cristatilde poreacutem

ambos relatam que a festa de fevereiro atualmente eacute pouco divulgada motivo pelo

qual acreditam que natildeo haja um nuacutemero expressivo de pessoas Ambos sentem um

apreccedilo pelo local onde nasceram e vivem poreacutem ambos relatam

Aqui eacute lugar de dormir as pessoas trabalham em Canela e vem dormir aqui a grande maioria natildeo eacute daqui vieram de fora haacute muitas casas de veraneio tudo gente de Porto Alegre que vem passar feacuterias natildeo rende nada para aqui o que precisam trazem tudo de fora A maioria de quem mora aqui soacute dorme passa o dia fora O ocircnibus das 7 horas sai lotado a gente natildeo conhece mais ningueacutem daqui mesmo soacute noacutes Susana e eu58

Mesmo a vila sendo um local de parada estaacute rodeada de lindos campos e

fazendas cuja a atividade principal eacute a pecuaacuteria extensiva natildeo proporciona

57 SOARES Susana Marques Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018 58 GOMES Jaures Feijoacute Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018

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trabalho no local motivo pelo qual seus moradores buscam sua subsistecircncia em

outro municiacutepio poreacutem possui uma exuberante natureza relata cheia de esperanccedila

a moradora local59 ldquoeu tenho esperanccedila que algueacutem olhe para caacute e veja as belezas

que tem aqui que o lugar volte a se desenvolverrdquo desenvolvimento este que

poderia vir atraveacutes da exploraccedilatildeo do turismo rural ldquoSe vocecirc quiser comer alguma

coisa agora natildeo vai encontrar nada aqui soacute tem lsquobutecorsquo60 mas eles natildeo vendem

nada nem sanduiacuteche pastel eacute uma vergonhardquo fala indignado o morador Gomes61

A populaccedilatildeo que vive nas fazendas aleacutem de ter as lides campeiras no seu

dia-a-dia nos finais de semana segundo o morador Gomes62 ldquolaccedila em torneio vai

nos rodeiosrdquo o que marca a presenccedila do tradicionalismo gauacutecho em uma parte da

populaccedilatildeo do distrito poreacutem com relaccedilatildeo aos moradores da vila natildeo haacute algo que

os identifique visto a miscigenaccedilatildeo que ocorreu e por haver muitas casas de

veraneio no local

45 DISTRITO DO JUAacute

O distrito do Juaacute foi criado em 10 de maio de 1950 e fica distante 65

quilocircmetros da Sede O distrito recebe esse nome devido a um espinho que havia

em abundacircncia no local nome este dado por tropeiros

Os accedilorianos que vinham de Santo Antocircnio da Patrulha e iam para Vacaria com cargueiros eles vinham fazer repouso laacute em cima no reduto e ali tinha muita frutinha do juaacute entatildeo os tropeiros saiam de Santo Antocircnio e diziam vamos posa laacute nos juaacute daiacute o nome do lugar que permanece ateacute hoje63

Juaacute eacute o nome dado a um espinho muito comum na regiatildeo dos campos de

cima da serra que daacute uma fruta amarela em formato redondo que segundo os

moradores locais eacute uma fruta venenosa conforme se observa na Figura 18

59 SOARES Susana Marques Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018 60 Buteco pequeno comeacutercio que normalmente vende bebidas alcooacutelicas e possui mesa de sinuca 61 GOMES Jaures Feijoacute Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018 62 GOMES Jaures Feijoacute Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018 63 REIS Orides Entrevista concedida agrave autora no dia 12 de maio de 2018

63

Figura 18 ndash Peacute com a fruta conhecido como Juaacute

Fonte acervo de Clessandra Palhano (moradora local) (2018)

O reduto citado pelo morador local ficava em uma fazenda local onde hoje se

encontra a vila do distrito conforme o entrevistado Reis explica

O primeiro morador eu natildeo lembro soacute sei que o Juaacute era de pouca gente famiacutelia Pedroso e Castilhos daiacute foram morrendo inventariando e vendendo e aos poucos se formou a vila importante o dono de tudo isso aiacute tinha dois escravos no iniacutecio teve escravidatildeo claro na eacutepoca de mil oitocentos e pouco eu acho mas teve E hoje deve ter descendente destes escravos por aiacute64

Escravidatildeo que vai dar origem ao preconceito racial e a um modelo particular

da localidade que sem precisar data explica o morador

Aqui tinha dois salatildeo trecircs com o da Igreja mas era dois salatildeo social Era um clube de brancos que era dos ricos neacute fazendeiros o Salatildeo Vera Cruz e depois fundaram o Satildeo Valentim que era dos morenos que na eacutepoca ateacute eu fui presidente Cada um no seu salatildeo agora quando dava a festa cristatilde em homenagem ao Satildeo Joatildeo de Deus todo o povo reunia-se quando chegava de noite no saacutebado no baile entatildeo cada um ia pro seu salatildeo A muacutesica ficava no salatildeo dos brancos daiacute colocava umas caixas de som laacute pros morenos com um fio pra eles danccedila Um natildeo podia entra no baile do outro tinha o presidente para cuida Cada um no seu tudo se respeitava e obedecia aquela ordem65

Ainda acrescenta a moradora local Santos

64 REIS Orides Entrevista concedida agrave autora no dia 12 de maio de 2018 65 REIS Orides Entrevista concedida agrave autora no dia 12 de maio de 2018

64

O nosso eu natildeo me lembro o nome tem tanto papel mas natildeo sei onde estaacute o nosso dos pretos neacute ningueacutem implicava eles natildeo deixavam noacutes entra no salatildeo Vera Cruz eu entrava de cozinheira empregada porque ali era lugar dos ricaccedilos eles podiam se associar mas o nosso tambeacutem enchia mas eles iam no nosso baile de nego soacute olhavam As festas duravam dias Tinha aquele foguetoacuterio era tatildeo bonito66

Percebe-se na fala dos moradores como esta divisatildeo racial se fazia presente

que havia por parte dos negros um profundo respeito pelos brancos mesmo eles

tendo acesso ao salatildeo Vera Cruz somente para servi-los em nenhum momento se

percebeu que eles se sentissem diminuiacutedos pela situaccedilatildeo ateacute pela cultura que

advinha desde os primeiros moradores locais

Esta divisatildeo social permanece por longo tempo e somente vai desaparecer

nos anos 80 do seacuteculo XX com a contribuiccedilatildeo do Frei Abiacutelio que veio da Vacaria

durante Missotildees convocadas pelo paacuteroco local padre Afonso que conseguiu

modificar esta organizaccedilatildeo implantando a ideia de igualdade e ignorando tudo

aquilo a partir de entatildeo os negros comeccedilaram a frequentar a sociedade Vera Cruz

contribuiccedilatildeo dos entrevistados67 que ao abordar o assunto demonstraram repulsa

pelo passado mas ao mesmo tempo reconhecem que o racismo ainda eacute presente

na comunidade poreacutem devido agraves leis existe um cuidado maior

Atualmente negros e brancos convivem em harmonia participam da festa

cristatilde cujo padroeiro eacute Satildeo Joatildeo de Deus e dos torneios de laccedilo mas geralmente

quem laccedila satildeo os fazendeiros Saudoso o morador68 afirma que ldquouma vez tinha as

carreradas tinha trecircs canchas passava o domingo nas canchas brincando nas

corridas de cavalos tudo terminourdquo Acrescenta69 ainda que ldquoem 70 80 tinha o

futebol o campo era na baixada acho que tem ainda trofeacuteu ai mas daiacute a gurizada

foi embora para a cidade terminou o timerdquo

A vila se construiu de maneira simples tendo a Igreja Catoacutelica com o Salatildeo

Paroquial agrave direita o antigo Centro de Tradiccedilotildees Gauacutechas Laccedilo Velho do Juaacute onde

resta apenas o preacutedio de madeira corroiacuteda pelo tempo ao fundo a cancha de laccedilo

do Piquete de Laccediladores Velho do Juaacute entidade tradicionalista que se manteacutem ativa

desde o iniacutecio da deacutecada de 1960 ao redor haacute casas de moradias que formam ao

centro uma grande praccedila sem nenhuma infraestrutura em frente a esta praccedila

66 SANTOS Deotildes Palhano dos Entrevista concedida agrave autora no dia 12 de maio de 2018 67 REIS Orides SANTOS Deotildes Palhano Entrevistas concedida agrave autora no dia 12 de maio de

2018 68 REIS Orides Entrevista concedida agrave autora no dia 12 de maio de 2018 69 REIS Orides Entrevista concedida agrave autora no dia 12 de maio de 2018

65

perpassa uma rua de chatildeo batido sendo que a escola da comunidade fica do outro

lado a escola eacute municipal se chama Bento Eziacutedio Rodrigues atende

aproximadamente vinte alunos que estatildeo matriculados nas seacuteries iniciais do ensino

fundamental tendo duas professoras e um funcionaacuterio para fazer merenda e limpar

o paacutetio como se pode observar na Figura 19

Figura 19 ndash Praccedila Vila do Distrito Juaacute ao fundo cancha de laccedilo

Fonte acervo pessoal da autora (2018)

Ambos os entrevistados70 explicam que o Juaacute atualmente eacute um lugar de

idosos aposentados que outrora as pessoas viviam das roccedilas e da pecuaacuteria

extensiva na deacutecada de 1980 com o advento da induacutestria em Caxias do Sul os

jovens abandonaram seu modo de vida e foram buscar novas oportunidades poreacutem

estes jovens que foram embora retornam com frequecircncia natildeo perdendo a sua

essecircncia Relataram que a uacutenica fonte de trabalho eacute ser peatildeo de fazenda fazendas

estas que produzem o queijo serrano ou vendem leite para a Piaacute71 sendo que a

lavoura eacute para subsistecircncia Outra fonte de renda eacute ser funcionaacuterio da serraria cujo

proprietaacuterio e Joatildeo Egiacutedio que funciona proacuteximo da vila Outro fator importante eacute a

venda de pequenas chaacutecaras para moradores de Caxias do Sul que vem aos finais

70 REIS Orides SANTOS Deotildes Palhano Entrevistas concedidas agrave autora no dia 12 de maio de

2018 71 Piaacute Cooperativa Agropecuaacuteria Petroacutepolis Ltda Empresa que faz a coleta do leite nas fazendas da

regiatildeo

66

de semana descansar na localidade poreacutem se percebe que estes novos moradores

muitas vezes natildeo interagem com os moradores locais

Segundo o morador Reis72 ldquoapesar da vinda de pessoas de outros lugares o

Juaacute natildeo perdeu sua identidade fala em Juaacute lembra pinhatildeo colheita do pinhatildeo ateacute

haacute uma criacutetica que diz na eacutepoca do pinhatildeo o juazeiro fala grossordquo Ditado que o

entrevistado73 reafirma sorrindo ldquona eacutepoca do pinhatildeo o juazeiro fala grosso claro

que eacute apenas um dito popular uma maneira de se referir mas sempre eacute dito haacute

aqueles que natildeo gostamrdquo

Nota-se que a vida na comunidade do Juaacute se passa de forma tranquila com

poucos moradores que sua identidade estaacute relacionada agrave pecuaacuteria extensiva com

as lides com o gado bem como ao pinhatildeo uma fruta tiacutepica que se desenvolve na

Araucaacuteria ou pinheiro nativo como eacute conhecido na regiatildeo O pinhatildeo seja ele

assado cozido ou paccediloca74 eacute muito consumido pelos moradores do interior de Satildeo

Francisco de Paula durante o inverno inclusive como mistura do cafeacute da manhatilde

46 DISTRITO DO RINCAtildeO DOS KROEFF

O distrito de Rincatildeo dos Kroeff foi criado em 10 de maio de 1950 Fica a 35

quilocircmetros distante da Sede poreacutem muito antes de se institucionalizar oficialmente

este espaccedilo moradores locais contam como tudo se iniciou

Meu avocirc foi um dos primeiros a vim para caacute ele se chamava Guilherme Faciole ele nasceu no navio vindo da Itaacutelia Ele contava que teve uma desavenccedila em Caxias e fincou o peacute pra caacute pra natildeo acharem ele que aqui era soacute mato e na revoluccedilatildeo de 35 ele fugia de casa para natildeo ser levado pelas tropas os piquetes levavam para combater entatildeo ele sempre dizia que pousou vaacuterias noites embaixo dos peraus da serra do Umbu para natildeo ser levado O falecido vovocirc vivia da caccedila do porco do mato tateti ele fazia charque de porco para ter a carne ele viveu 106 anos e dizia se natildeo tivesse fumado viveria mais uns dez isso faz parte da histoacuteria do Rincatildeo dos Kroeff Junto teve o falecido Acircngelo Menegaacutes que entro aqui na mesma eacutepoca Eles satildeo os fundadores do distrito75

O acesso ao distrito Rincatildeo dos Kroeff permanece totalmente pela estrada de

chatildeo batido sendo possiacutevel ir ao municiacutepio de Maquineacute descendo pela serra do

Umbu Poreacutem muito antes da estrada a busca de mantimentos e o escoamento da

72 REIS Orides Entrevista concedida agrave autora no dia 12 de maio de 2018 73 REIS Orides Entrevista concedida agrave autora no dia 12 de maio de 2018 74 Paccediloca carne de porco moiacuteda e frita no azeite ou banha a qual se acrescenta o pinhatildeo jaacute cozido

e moiacutedo 75 FACIOLE Reinaldo Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de marccedilo de 2018

67

produccedilatildeo se dava pelos carreiros visto que natildeo havia abertura de estrada e nem

viatura76 como os moradores relatam

Tudo era na tropeada as tropas que ia para Rolante Na tropeada saia um tropeiro na frente e um recircs com um cincerro que era a madrinheira da tropa saia laacute pelo Chuvisqueiro e saia laacute em Rolante perdia boi na estrada ficava semanas boi perdido agraves vezes nem se achava mais tambeacutem tinha tropa de porco e tinha as tropeadas de mula puxando milho feijatildeo trigo tudo produzido aqui e levado de cargueiro carreta era muito pouco porque natildeo tinha estrada para anda era soacute os trilhos pelo meio dos matos e campos e se produzia milho era o inverno inteiro saia tropas e mais tropas com trinta quarenta mulas burros transportando mantimentos da produccedilatildeo do gratildeo haacute tambeacutem tinha a flor de Pireto que era lucro ningueacutem conhece isso aiacute hoje essa flor era levada para Taquara e fazia veneno para formiga tudo que era tipo de veneno era uma flor muito toacutexica Acredita tropear galinha pois eacute a gente criava bastante saia com os cargueiros como era a vida eles faziam um girau no cesto naqueles balaios para fazer duas camas uma mais em cima e outra em baixo daiacute quando era veratildeo era muito quente tinha que no meio da viagem tirar de dentro do cesto botar na aacutegua na sanga para natildeo morrer ateacute chegar no mercado dali para praia a eacutepoca que mais vendia era novembro e dezembro daiacute tinha preccedilo bom tudo criada solta aviaacuterio nem se falava77

Ao ouvir os moradores se percebe que a construccedilatildeo do distrito aconteceu

devido ao esforccedilo e trabalho de muitas pessoas visto que o local era de mata nativa

densa e precisou ser desmatado para ser ocupado pelas pessoas Explica o

entrevistado Faciole78 ldquopara fazer uma lavoura tambeacutem precisava derrubar o

pinheiro seu Onorino Buffon me contou que faziam fogo ao redor do pinheiro eles

eram muito grosso para derrubar a machado entatildeo faziam fogo secavam para

depois fazer a roccedilardquo E a moradora79 local acrescenta ldquoaqui tambeacutem tinha os

barbacuazeiros produziam erva mais aqui eles soacute tiravam a erva e sapecavam e

depois ia para outro lugar industrializa tudo era diferenterdquo

Poreacutem segundo os moradores este modelo de vida rudimentar se modifica

com a chegada das serrarias sendo que a dos Kroeff foi a primeira juntamente com

a serraria se viu a necessidade da construccedilatildeo de novas casas para os

trabalhadores surgindo ali a vila do distrito Rincatildeo dos Kroeff no iniacutecio a serraria era

tudo manual relata Faciole80 ldquoa uacutenica forma de tira a madeira era com um enfieira

76 Viatura se refere a carro de passeio caminhotildees 77 FACIOLE Reinaldo FACIOLE Maria Madalena Scalco Entrevistas concedidas agrave autora no dia 18

de marccedilo de 2018 78 FACIOLE Reinaldo Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de marccedilo de 2018 79 FACIOLE Maria Madalena Scalco Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de marccedilo de 2018 80 FACIOLE Reinaldo Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de marccedilo de 2018

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de boi eu cheguei a ver cinco ternos de boi carreiro81 emendado puxando um

pinheiro eacute uma bicheira de boi natildeo tinha outra formardquo

Rincatildeo dos Kroeff eacute o menor distrito de Satildeo Francisco de Paula poreacutem em

suas terras se desenvolveu a cultura dos hortifrutigranjeiros desde muito cedo jaacute

que sua colonizaccedilatildeo eacute basicamente italiana e alematilde e os italianos tecircm a cultura do

plantio visando lucro A moradora Faciole82 afirma ldquotudo comeccedilou por aqui depois

se expandiu para o municiacutepio comeccedilamos com moranga branca depois repolho

couve broacutecolis alface e daiacute veio beterraba e tudo o restordquo Acrescenta ainda83 que

ldquodaqui saiacuteram os primeiros caminhotildees de hortifruacuteti do municiacutepio para a Ceasa teve

eacutepoca de sair quarenta caminhotildees por dia do Rincatildeo hoje natildeo sai mais porque

muitos foram buscar novos lugares para plantarrdquo E juntamente com a mudanccedila dos

proprietaacuterios em busca de novas terras muitos de seus funcionaacuterios foram embora

junto afirma em entrevista o morador local84 ldquomuita gente do Rincatildeo foi embora

muitas gurias foram embora para estudar para achar emprego e natildeo voltaram maisrdquo

Atraveacutes da fala da moradora pode-se observar que apesar do distrito ser

produtivo enfrenta algumas dificuldades com relaccedilatildeo ao estudo de seus moradores

que para continuarem seus estudos se assim o desejarem necessitam abandonar

seus pais e ir em busca na Sede ou arredores visto que no distrito existe uma uacutenica

escola Gastatilde Henth Esta eacute municipal e atende dos quatro anos ao nono ano do

ensino fundamental A moradora Faciole explica

O coleacutegio hoje tem 99 alunos ao total quando eles terminam o nono ano alguns vatildeo estudar mas satildeo pouquiacutessimos os outros ficam por aiacute mesmo natildeo tem um transporte que leve eles para fazer o ensino meacutedio na Sede que seria a escola de ensino meacutedio mais proacuteximo se quiser estudar vai ter que ir embora reforccedila quem e trabalhador fica trabalhando com os pais quem natildeo eacute [] As pessoas na sua grande maioria soacute tem o ensino fundamental aqui85

Este eacute um dos grandes problemas enfrentados pelos moradores do Rincatildeo

dos Kroeff a possibilidade de continuar estudando A escola que laacute existe os

moradores locais natildeo sabem precisar a data mas sabem que foi durante o mandato

81 Ternos de boi carreiro significam vaacuterias duplas de bois cangados e ligados por um pedaccedilo de

madeira que vatildeo na canga entre a dupla de bois Esse pau roliccedilo na regiatildeo se chama de cambatildeo 82 FACIOLE Maria Madalena Scalco Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de marccedilo de 2018 83 FACIOLE Maria Madalena Scalco Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de marccedilo de 2018 84 FACIOLE Reinaldo Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de marccedilo de 2018 85 FACIOLE Maria Madalena Scalco Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de maio de 2018

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do prefeito Escobar (1977-1982) que ela foi construiacuteda Neste contexto aparece

tambeacutem a dificuldade de se locomover fazendo uso do transporte puacuteblico

Haacute sete anos atraacutes o Rincatildeo estava bom mesmo tinha ocircnibus da praia agraves vezes passava quatro a cinco ocircnibus da praia tudo pela serra do Umbu Agora soacute tem um trecircs dias por semana As empresas deixaram de trafegar por aqui elas natildeo vatildeo descer numa serra de chatildeo batido sendo que tem a outra86 com asfalto87

Os moradores se orgulham da festa religiosa que acontece todos os anos em

agosto sendo que o santo padroeiro eacute Satildeo Roque A festa da comunidade

apresenta uma tradiccedilatildeo local muito interessante na segunda-feira apoacutes a festa ela

continua para os moradores locais que vatildeo ao salatildeo paroquial para se divertir entre

si e esta eacute uma tradiccedilatildeo que eacute comentada em todo o municiacutepio Faciole88 saudoso

afirma ldquopara ti ter uma ideia nessa festa chegava dar vinte poucos ocircnibus lotado que

vinham de outros municiacutepios como Igrejinha Taquara Porto Alegre Novo

Hamburgo o espaccedilo ficava pequenordquo Acrescenta89 ainda ldquoaqui noacutes tinha o Clube

Serrano que dava baile janta italiana dava um movimento louco mas terminou ateacute

o baile das rainhas cada ano era uma era tatildeo lindo mas tudo se acabourdquo

Figura 20 ndash Imagem da Igreja Satildeo Roque em dia de festa no Rincatildeo dos Kroeff

Fonte acervo pessoal da autora (2018)

86 A outra se refere a rodovia RS-453 conhecida como Rota do Sol 87 FACIOLE Reinaldo Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de marccedilo de 2018 88 FACIOLE Reinaldo Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de marccedilo de 2018 89 FACIOLE Reinaldo Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de marccedilo de 2018

70

Percebe-se que o distrito Rincatildeo dos Kroeff eacute o uacutenico que obteve em seu

iniacutecio uma colonizaccedilatildeo por descentes de italianos dentro do municiacutepio de Satildeo

Francisco de Paula o que demonstra o quatildeo forte se daacute a tradiccedilatildeo ldquoitalianardquo neste

local permanecendo intriacutenseca na vida cotidiana de seu povo com a cultura do

plantio de hortifrutigranjeiros que permanece apesar do tempo como sendo a sua

maior identidade local

47 DISTRITO DE LAJEADO GRANDE

Lajeado Grande em tempos idos pertenceu ao distrito de Cazuza Ferreira e

somente em 12 de dezembro de 1968 se tornou um distrito independente segundo

a Lei nordm 655 encontrada nos autos da Prefeitura Municipal de Satildeo Francisco de

Paula A vila do distrito Lajeado Grande fica distante 63 quilocircmetros da Sede e se

situa na confluecircncia do Arroio Porco Morto e o Rio Bururi Seu surgimento acontece

segundo o morador Fogaccedila90 ldquopor volta de 1940 com a abertura da estrada Canela

ndash Bom Jesus a atual RS-476 que corta a vila do Distritordquo Essa estrada segundo o

morador facilitou a locomoccedilatildeo que anteriormente era feita totalmente pelas trilhas e

picadas por onde somente se passava a cavalo ou de carreta E o entrevistado

explica como acontece o desenvolvimento inicial da vila

Tu sabe aqui tem o nome de Lajeado Grande por causa do rio que eacute cheio de lajes grandes o que facilitava a travessia e as terras aqui por roda era tudo do falecido Pequeno Cardoso ele doou parte para a construccedilatildeo da vila onde o falecido Leopoldino Cardoso irmatildeo do Pequeno tinha uma lsquobudega velharsquo91 por aqui sendo o primeiro comeacutercio da vila92

A abertura da estrada possibilitou o desenvolvimento da vila juntamente com

o Casaratildeo um hotel pensatildeo que foi construiacutedo as margens do Arroio Porco Morto

este Casaratildeo passou por diversos proprietaacuterios

Leopoldino Cardoso foi o idealizador do Casaratildeo juntamente com os seus soacutecios Heraacuteclito Andrade de Cardoso lsquoJoanitorsquo Joseacute Osoacuterio de Lima lsquoZecarsquo e Pequeno Cardoso sendo que o Casaratildeo era uma casa de negoacutecio compravam queijo couro era um comeacutercio forte vendia secos e molhados inclusive a primeira rodoviaacuteria foi instalada neste espaccedilo poreacutem em 1948 Joatildeo Pacheco Cardoso assume e amplia o estabelecimento construindo o segundo piso da casa de madeira e alugando para outros dois moradores

90 FOGACcedilA Blair dos Santos Entrevista concedida agrave autora no dia 06 de abril de 2018 91 Budega velha referindo-se a uma antiga casa de comeacutercio de secos e molhados localizada onde

hoje se encontra o armazeacutem Celeiro 92 FOGACcedilA Blair dos Santos Entrevista concedida agrave autora no dia 06 de abril de 2018

71

Eremi Terres e Claunir Lucena Com a reforma o Casaratildeo passa a ter treze quartos para aluguel uma loja onde encontrava-se tudo o que se necessitava de alfinete tecido alimentos e raccedilotildees aleacutem da ala que servia de moradia para os proprietaacuterios Em 1962 o estabelecimento eacute alugado para Eraldo Bento de Oliveira que aleacutem de gerenciar o estabelecimento colocou junto um bar local de encontro dos homens da redondeza para tomar um lsquotragorsquo93 (CERUTTI SILVA CARDOSO 2002 p 19)

Figura 21 ndash Imagem do Casaratildeo pouco antes de ser desmanchado

Fonte acervo pessoal de Fernando Oliveira (conhecido como Guego) (2018)

O Casaratildeo foi desmanchado na deacutecada de 1980 pelo entatildeo proprietaacuterio Reno

Pacheco Poreacutem percebe-se na vila que seus antigos moradores falam com certo

saudosismo deste estabelecimento que fez parte de suas vidas e chegam a

lamentar o seu fim morador Fogaccedila94 afirma ldquoali se fez o pastel mais famoso do

Lajeado Grande o pastel da Odila mas tudo se acabou quando eles entregaram e

construiacuteram laacute na esquinardquo95

Poreacutem a vila Lajeado Grande foi lentamente se desenvolvendo Devido agrave

necessidade da conservaccedilatildeo da nova estrada foi construiacuteda agraves margens do Rio

Bururi uma capatazia do DAER Segundo Cerutti Silva e Cardoso (2002 p 18) ldquoo

primeiro capataz foi Capitulino Prudecircncio de Oliveira vindo de Santa Catarina sua

funccedilatildeo era manter as estradas e chegou a ter vinte funcionaacuteriosrdquo Percebe-se que a

93 Trago expressatildeo local que significa beber uma cachaccedila 94 FOGACcedilA Blair dos Santos Entrevista concedida agrave autora no dia 06 de abril de 2018 95 Esquina eacute o nome dado a parte da vila do Lajeado Grande onde se daacute o entroncamento das

rodovias RS-453 e ERS-476

72

partir deste momento se inserem neste distrito pessoas advindas de outros estados

e locais visto que ateacute o presente momento o distrito era habitado por fazendeiros

naturais do proacuteprio municiacutepio e que tinham suas vidas ligadas diretamente agrave

pecuaacuteria extensiva e agrave produccedilatildeo do queijo serrano Importante destacar que a

esposa de Capitulino segundo Cerutti Silva e Cardoso (2002 p 18) ldquoa Celicina

Guilherme da Silva se torna uma figura conhecida por realizar partos sendo

chamada como parteira de campanhardquo Na atualidade filhos netos e bisnetos do

casal ainda residem na vila

A vila do Lajeado Grande tambeacutem recebe novos moradores com a praacutetica do

corte do pinheiro nativo sendo que na deacutecada de 1950 havia uma faacutebrica de

beneficiamento de madeira ateacute se transformar em pasta este material era levado

para Esteio onde funcionava agrave matriz A partir dos anos 1950 ocorre a instalaccedilatildeo de

serrarias sendo que a Madeireira Albeflor de propriedade de Valter Sguaizer se

instala em 1964 Novamente busca-se matildeo de obra em localidades proacuteximas como

Lagoa Vermelha Vacaria e Bom Jesus poreacutem com a proibiccedilatildeo da extraccedilatildeo de

madeira de lei a serraria deixou de funcionar

Percebe-se que no distrito natildeo houve uma homogeneizaccedilatildeo identitaacuteria visto a

influecircncia advinda de muitas culturas no passado atraveacutes da extraccedilatildeo de madeira

e na atualidade com o advento das lavouras de hortifrutigranjeiros e pomares

frutiacuteferos que ocupam boa parte do distrito substituindo a pecuaacuteria extensiva que jaacute

natildeo proporciona um lucro efetivo Entatildeo os proprietaacuterios na sua grande maioria

venderam ou arrendaram suas terras para novas culturas o que modifica o modo de

vida local pois grande parte dos trabalhadores adveacutem de outros estados como o

Paranaacute e tambeacutem se observa o uso da matildeo de obra indiacutegena

Essa miscigenaccedilatildeo se observa nas escolas locais visto que na vila funciona a

Escola Municipal D Pedro I que segundo Cerutti Silva e Cardoso (2002 p 35)

ldquoinicia em 1965 poreacutem a professora e o preacutedio eram mantidos pela Serraria mas na

deacutecada de 70 a prefeitura assumiu a escola sendo que Eloci Martim foi a primeira

professora da Serrariardquo Escola da Serraria como ainda eacute conhecida por boa parte

dos moradores locais apesar de a escola natildeo se encontrar mais onde havia a antiga

serraria Atualmente a Escola Dom Pedro I funciona em um preacutedio obtido atraveacutes da

Associaccedilatildeo de Moradores atendendo alunos da preacute-escola ateacute o sexto ano das

seacuteries finais tendo em seu quadro seis professores e duas funcionaacuterias Sendo que

73

a obra para um novo preacutedio teve iniacutecio neste ano mas percebe-se que a obra parou

por volta do mecircs de maio Poreacutem na vila tambeacutem se encontra uma escola estadual

A documentaccedilatildeo necessaacuteria para a criaccedilatildeo de uma nova escola na localidade foi elaborada por Manoel Cardoso de Andrade juntamente com a professora Odazilda Cardoso Demori e encaminhada agrave Secretaria da Educaccedilatildeo sendo que em 11 de fevereiro de 1953 foi criada a Escola Isolada de Lajeado Grande sendo os professores estaduais mas o preacutedio sob responsabilidade comunitaacuteria iniciou o seu funcionamento nas dependecircncias do DAER e somente em 1957 foi construiacutedo um preacutedio de madeira em terras doadas por Pequeno Cardoso local onde hoje ainda se encontra a escola poreacutem passou por muitas reformas sendo que em 2000 recebeu um novo preacutedio de alvenaria o que possibilitou a realizaccedilatildeo de um grande sonho dos professores e comunidade a implantaccedilatildeo do Ensino Meacutedio que concretizou-se em 200296

Atualmente a escola atende em torno de trezentos alunos da Educaccedilatildeo

Baacutesica poreacutem percebe-se que devido agraves safras de hortifrutigranjeiros o nuacutemero de

alunos se alterna durante o ano O que tambeacutem se percebe eacute o comportamento dos

alunos com relaccedilatildeo agrave diversidade cultural por exemplo usam bombacha laccedilam boi

de pau no recreio e escutam funk uma cultura totalmente diferente da tradicionalista

gauacutecha o que compreende-se como algo advindo da globalizaccedilatildeo cultural que

vivemos no mundo atual reforccedilando novamente o natildeo reconhecimento de uma

identidade forte na localidade

Poreacutem as famiacutelias tradicionais do local manteacutem fortemente arraigada a

cultura tradicionalista que adveacutem do homem do campo tendo no distrito festas

campeiras torneios de laccedilo e a festa religiosa uma vez por ano em homenagem ao

Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus padroeiro da vila

Na atualidade natildeo se percebe uma identidade forte e marcada no distrito e

sim uma miscigenaccedilatildeo de diferentes culturas e etnias que convivem e se integram

harmonicamente

96 CARDOSO Amaacutelia Celuderes Entrevista concedida agrave autora no dia 08 de marccedilo de 2018

74

5 DESCRICcedilAtildeO DO PRODUTO

O produto consiste em um livro paradidaacutetico sobre a histoacuteria de Satildeo Francisco

de Paula Apresenta de maneira didaacutetica a histoacuteria de Satildeo Francisco de Paula bem

como balotildees explicativos imagens sugestotildees de atividades e leituras

complementares Poderaacute servir de apoio pedagoacutegico a professores e alunos do

municiacutepio visto que existe pouco material sobre a histoacuteria deste municiacutepio e se faz

importante trabalhar a histoacuteria local percepccedilatildeo que a autora obteve ao longo da sua

caminhada como professora de histoacuteria que atua nas seacuteries finais do ensino

fundamental e meacutedio haacute dezessete anos na rede estadual do municiacutepio

Partir do local natildeo eacute abandonar o conhecimento histoacuterico eacute dar outro valor

sentido para este conhecimento Segundo Caimi

Levar em conta o universo da crianccedila ou do adolescente natildeo eacute pois abdicar do rigor intelectual [] mas garantir que a apropriaccedilatildeo deste conhecimento ocorra permeada de sentido e significado resultando em soacutelidas aprendizagens (CAIMI 2006 p 24)

Seguindo esta perspectiva a implantaccedilatildeo do Referencial Curricular Gauacutecho

embasado na Base Nacional Comum Curricular reforccedila a ideia jaacute discutida nos

paraacutegrafos anteriores

No que se refere especificamente ao componente Histoacuteria a base rompe tanto com a cronologia quanto agrave visatildeo eurocecircntrica da histoacuteria tradicional Entram em cena novos atores novas sociedades novos caminhos que sempre tiveram na histoacuteria mas nem sempre receberam a devida importacircncia Acompanhando a Base Nacional Comum Curricular o Referencial Curricular Gauacutecho no que se refere especificamente agrave disciplina de Histoacuteria manteacutem seu foco na aprendizagem dos alunos nos diferentes espaccedilos e tempos tendo a preocupaccedilatildeo de integrar o curriacuteculo com a diversidade regional de nosso Estado Tambeacutem eacute importante contemplar os temas integradores como eacutetica cidadania cultura e valorizaccedilatildeo das diversidades assegurando a multiplicidade de olhares sobre o mundo (RIO GRANDE DO SUL 2018 p 118)

Portanto o paradidaacutetico seraacute mais um material disponiacutevel aos professores e

estudantes da educaccedilatildeo baacutesica de Satildeo Francisco de Paula na construccedilatildeo do

conhecimento da histoacuteria do municiacutepio bem como o reconhecimento de sua

identidade neste material visto que se almeja que os estudantes percebam

vestiacutegios de sua identidade e se percebam como parte deste municiacutepio atraveacutes do

conhecimento de sua histoacuteria

75

O paradidaacutetico vem com o tiacutetulo rdquoTropeando histoacuterias em Satildeo Francisco de

Paulardquo sendo que a capa traz a foto do Monumento aos Carreteiros monumento

que se encontra na Avenida Juacutelio de Castilhos em frente ao preacutedio da Prefeitura

Municipal

Figura 22 ndash Capa do livro

Fonte Livro Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula

Na sequecircncia se apresenta o iacutendice que possibilita ao leitor localizar os

diversos temas abordados visto que existem nove capiacutetulos

76

Figura 23 ndash Iacutendice do livro

Fonte Livro Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula

77

O capiacutetulo um apresenta a localizaccedilatildeo de Satildeo Francisco de Paula com uma

seacuterie de mapas que facilitam a compreensatildeo espacial dos alunos assim como um

mapa da subdivisatildeo do municiacutepio em distrito Ao final satildeo sugeridas duas atividades

que podem ser desenvolvidas de maneira interdisciplinar com o apoio da professora

de arte geografia e portuguecircs

Figura 24 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 1)

Fonte Livro Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula

78

Figura 25 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 1)

Fonte Livro Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula

O capiacutetulo dois aborda a existecircncia indiacutegena em Satildeo Francisco de Paula

antes da chegada dos desbravadores vindos de Satildeo Paulo Como sugestatildeo de

atividades apresenta-se uma pesquisa sobre as diferentes tribos indiacutegenas que

habitavam a Proviacutencia de Satildeo Pedro aleacutem da criaccedilatildeo de um painel infograacutefico

79

Figura 26 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 2)

Fonte Livro Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula

No capiacutetulo trecircs se apresentam os primeiros donataacuterios colonizadores de Satildeo

Francisco de Paula com trecho de um testamento deixado por Pedro da Silva

Chaves o fundador de Satildeo Francisco de Paula bem como o mapa que localiza as

primeiras sesmarias que corresponde ao territoacuterio onde hoje eacute a Sede do municiacutepio

80

Figura 27 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 3)

Fonte Livro Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula

Nos capiacutetulos quatro e cinco eacute apresentado o desenvolvimento de Satildeo

Francisco de Paula ainda no seacuteculo XIX quando pertencia ao municiacutepio de Santo

Antocircnio da Patrulha e no final do seacuteculo XIX quando passa a pertencer ao entatildeo

81

municiacutepio de Taquara do Mundo Novo Existe tambeacutem um mapa que demonstra a

extensatildeo territorial de Santo Antocircnio da Patrulha e quais satildeo os municiacutepios hoje que

pertenceram a este bem como a importacircncia da abertura da estrada que liga Satildeo

Francisco de Paula a Taquara

Figura 28 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 4)

Fonte Livro Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula

82

Os capiacutetulos seis e sete apontam a construccedilatildeo do Municiacutepio a partir de sua

emancipaccedilatildeo em 1903 sua extensatildeo territorial e a diminuiccedilatildeo do seu territoacuterio ao

longo do tempo e a histoacuteria da Igreja Matriz Como sugestatildeo de atividade pesquisar

a diversidade religiosa existente na comunidade escolar e criar graacuteficos com essas

informaccedilotildees podendo a partir de entatildeo trabalhar com as questotildees religiosas ontem

e hoje no mundo

Figura 29 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 6)

Fonte Livro Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula

83

No capiacutetulo oito se apresenta o que difere os sete distritos de Satildeo Francisco

de Paula Este capiacutetulo se apresenta subdividido em sete subtiacutetulos onde cada um

corresponde a um distrito do municiacutepio Tendo como fonte principal as entrevistas

realizadas com moradores locais mesclado com fontes documentais e bibliograacuteficas

que corroboram para se perceber que haacute alguns distritos que manteacutem suas tradiccedilotildees

ao longo do tempo e eacute possiacutevel perceber que existe uma identidade que aproxima

aquela populaccedilatildeo

Figura 30 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 8)

Fonte Livro Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula

84

No uacuteltimo capiacutetulo o nove se exibe uma lista de sugestotildees de leituras

complementares a fim de se aprofundarem sobre determinados temas E por fim

as referecircncias utilizadas para a construccedilatildeo do paradidaacutetico Tropeando Histoacuterias em

Satildeo Francisco de Paula

Figura 31 ndash Atividade do livro (Sugestatildeo de Leituras Complementares)

Fonte Livro Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula

85

O produto foi testado em duas turmas da Educaccedilatildeo Baacutesica na Escola

Estadual de Ensino Meacutedio Lajeado Grande com o propoacutesito de avaliar qual seria a

reaccedilatildeo dos estudantes diante do material e por ele ter sido produzido por algueacutem

que convive com eles semanalmente A receptividade foi bastante gratificante como

se pode observar na Figura 32

Figura 32 ndash Alunos do Ensino Meacutedio

Fonte acervo pessoal da autora (2019)

A receptividade foi muito interessante visto que os estudantes

acompanharam a trajetoacuteria para chegar ao produto final algo que os deixava

ansiosos para manusear pois muitas vezes foram parceiros A autora foi

compartilhando com os estudantes as informaccedilotildees obtidas durante a pesquisa e as

descobertas encontradas usando em suas aulas a histoacuteria local para abordar os

diferentes temas e conceitos histoacutericos

Quando a autora apresenta o produto os estudantes do ensino meacutedio estes

formam grupos por distritos e buscam logo reconhecer no material sua identidade

apoacutes comentam sobre as peculiaridades de cada distrito Poreacutem os alunos do

ensino fundamental manuseiam o produto mas natildeo se deteacutem ao distrito em que

pertence e sim as imagens e as explicaccedilotildees apresentadas no vocecirc sabia

O que enriquece o trabalho realizado foi o envolvimento dos estudantes com

o produto solicitando quando poderatildeo ler calmamente todo o trabalho

86

6 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

A partir de experiecircncias pessoais em sala de aula se percebeu que o ensino

de Histoacuteria quando se partia da histoacuteria local havia maior interesse dos estudantes

da educaccedilatildeo baacutesica motivo pelo qual se deu a questatildeo-problema desta dissertaccedilatildeo

que estaacute relacionada diretamente com o natildeo uso desta histoacuteria pelos professores da

educaccedilatildeo baacutesica

Em conversas informais com professores da educaccedilatildeo baacutesica que atuam no

municiacutepio de Satildeo Francisco de Paula em sua grande maioria alegam que o grande

empecilho para se trabalhar a histoacuteria local eacute o pouco material disponiacutevel sobre a

histoacuteria de Satildeo Francisco de Paula aleacutem do rigor dos curriacuteculos que impotildeem o

ensino de Histoacuteria de maneira linear sem contextualizaccedilatildeo com a realidade vivida

pelos estudantes pois desta forma natildeo estatildeo preparando os estudantes para as

avaliaccedilotildees do Ministeacuterio da Educaccedilatildeo bem como para o vestibular Poreacutem natildeo se

estaacute afirmando que deveraacute estudar somente a histoacuteria local e sim partir dela como

incentivo para estudos dos conceitos e temaacuteticas da histoacuteria por muitas vezes

totalmente abstrato e de difiacutecil compreensatildeo pela grande maioria dos estudantes

A partir de entatildeo se realizaram inuacutemeros questionamentos como qual a

necessidade de se ensinar Histoacuteria de forma abstrata sem nenhuma relaccedilatildeo com

as vivecircncias dos estudantes Por que natildeo usar a fonte oral como metodologia de

pesquisa no ensino de Histoacuteria em Satildeo Francisco de Paula jaacute que natildeo existem

muitos materiais escritos a respeito desta histoacuteria principalmente no que tange os

distritos do interior Poreacutem estes questionamentos natildeo foram aprofundados na

dissertaccedilatildeo por natildeo ser o objetivo direto da pesquisa mas posteriormente poderaacute

se tornar um novo projeto de pesquisa

Nesta incessante busca por resposta se constroacutei todo o estudo desta

dissertaccedilatildeo que em um primeiro momento busca embasamento em diferentes

autores que comprovam que o ensino de Histoacuteria voltado para o local faz maior

sentido para os estudantes da educaccedilatildeo baacutesica e que isto natildeo significa abandonar

os conceitos histoacutericos e sim questionar analisar a trajetoacuteria humana no tempo e

no espaccedilo sob uma nova metodologia Apenas se sugere uma nova abordagem

que torne o ensino de Histoacuteria menos abstrato algo mais presente na vida do

estudante e que possibilite a ele a habilidade de perceber que o mundo estaacute em

constante mudanccedila poreacutem os fatos natildeo ocorrem de forma isolada no espaccedilo Algo

87

que foi reforccedilado apoacutes a construccedilatildeo da Base Nacional Curricular e o Referencial

Curricular Gauacutecho que vem de encontro com esta proposta de se estudar a histoacuteria

sobre novos olhares natildeo esquecendo das especificidades regionais do estado do

Rio Grande do Sul para o reconhecimento da identidade local e regional

A identidade local nesta pesquisa se buscou atraveacutes de relatos de

moradores locais que gentilmente colaboraram para o sucesso deste trabalho pois

a memoacuteria se tornou a fonte primordial para se escrever o que identifica os sete

distritos que constituem Satildeo Francisco de Paula Certamente a temaacutetica natildeo se

esgotou ainda haacute muito que se pesquisar e escrever sobre a histoacuteria de Satildeo

Francisco de Paula possibilitando a criaccedilatildeo de novos materiais que possam ser

usados em sala de aula pelos professores e alunos deste municiacutepio

Mas ao mesmo tempo haacute uma preocupaccedilatildeo por parte da autora nada

adianta criar produtos sinalizar novos meacutetodos ao ensino de Histoacuteria se o

profissional professor natildeo estiver preparado para trabalhar com novas fontes

histoacutericas novas metodologias de ensino proporcionando aos estudantes a

oportunidade de construir seu proacuteprio conhecimento histoacuterico embasado em sua

realidade e suas vivecircncias

Vivecircncias que se tornaram aliadas na pesquisa pois a autora nasceu e

sempre viveu no municiacutepio de Satildeo Francisco de Paula poreacutem a maior dificuldade

encontrada nesta caminhada foi percorrer grandes distacircncias por estradas de

rodagem em peacutessimas condiccedilotildees de trafegabilidade para gravar os relatos que

servem de base para a construccedilatildeo desta pesquisa O municiacutepio de Satildeo Francisco de

Paula eacute territorialmente extenso e essas distacircncias percorridas deram o nome ao

produto Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula como uma homenagem

aos antigos tropeiros deste municiacutepio que passavam boa parte de sua vida ao

lombo de mulas levando e buscando mercadorias pelos campos de cima da serra

Visto que desde o processo seletivo do mestrado em agosto de 2016

quando se apresentou o projeto de pesquisa jaacute se pensava no produto um livro

paradidaacutetico no formato fiacutesico A autora por diversas vezes foi questionada por que

natildeo um blog ou site Porque na forma fiacutesica este material seria de faacutecil manuseio

pelos estudantes e professores pois principalmente no interior uso da internet ainda

eacute um problema visto que em muitos locais natildeo existe sinal de telefonia diraacute

internet

88

O paradidaacutetico foi se moldando ao longo do tempo ateacute se chegar a versatildeo

final com uma ampla gama de informaccedilotildees e curiosidades sobre os sete distritos de

Satildeo Francisco de Paula onde se pretende que os alunos e professores possam

fazer uso deste material em sala de aula para tanto a autora pretende

posteriormente lanccedilar o produto para que possa ser lido e manuseado por todos

inclusive por aqueles que gostam de histoacuteria e sentem curiosidade sobre a formaccedilatildeo

do seu distrito e por conseguinte do municiacutepio de Satildeo Francisco de Paula

O paradidaacutetico foi testado em duas turmas da Escola Estadual de Ensino

Meacutedio Lajeado Grande sendo uma de Ensino Meacutedio e a outra das seacuteries finais do

Ensino Fundamental Os alunos jaacute detinham o conhecimento que a autora estava

cursando o Mestrado e que para sua conclusatildeo deveria apresentar um produto Era

de conhecimento de todos os estudantes que a autora estava produzindo um

paradidaacutetico sobre a histoacuteria de Satildeo Francisco de Paula pois a mesma eacute professora

destes estudantes nesta escola

Em um primeiro momento se explica que eacute apenas um protoacutetipo que

somente a capa estaacute colorida e o restante estaacute todo em preto e branco e que a

versatildeo final teraacute as imagens e as curiosidades coloridas o que com certeza

chamaraacute mais atenccedilatildeo Ao entregar o paradidaacutetico Tropeando Histoacuterias em Satildeo

Francisco de Paula para que possam manuseaacute-lo veio a primeira grande surpresa

os estudantes ficaram muito contentes por a turma ter sido escolhida pela autora

escolha essa que se justifica por ter trabalhado todo o ano de 2017 com estes

alunos partindo da histoacuteria local

A turma do oitavo ano do Ensino Fundamental manuseou sendo que os

alunos acharam interessante poreacutem se deteram mais nas imagens e balotildees do

ldquovocecirc sabiardquo Mas de maneira ampla e geral acharam muito interessante a foto de

capa com o Monumento aos Carreteiros situado na Avenida Juacutelio de Castilhos em

frente ao preacutedio da Prefeitura Municipal pois alguns natildeo conhecem a Sede do

municiacutepio

Os alunos do segundo ano do Ensino Meacutedio se surpreenderam e foram direto

ler sobre o distrito no qual residem Interessados questionaram sobre curiosidades

de como o material foi construiacutedo quais as maiores dificuldades encontradas

elogiaram o leiaute as imagens de fundo ao lado de cada curiosidade relatando que

chama a atenccedilatildeo aleacutem de considerarem relevantes as sugestotildees de atividades e

ao final solicitaram quando o material estaraacute disponiacutevel para que possam ler

89

integralmente visto que um periacuteodo de cinquenta minutos natildeo foi suficiente para que

todos manuseassem se fazendo necessaacuterio levar novamente na proacutexima aula

A autora se sentiu motivada pela recepccedilatildeo do produto por seus alunos o que

a incentiva continuar pesquisando sobre outras temaacuteticas a respeito da histoacuteria de

Satildeo Francisco de Paula trazendo para seu fazer pedagoacutegico novas fontes que

proporcionem um estudo da Histoacuteria de maneira ampla e contextualizada com a

realidade local que os cerca

90

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93

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SOUZA Leacuteo Ribeiro Festival Ronco do Bugio Satildeo Francisco de Paula Porto Alegre Evangraf 2003

SOUZA Magda Vianna de Reinvenccedilatildeo das tradiccedilotildees e promoccedilatildeo do turismo estrateacutegias diferenciadas de mercantilizaccedilatildeo da identidade cultural os casos de Nova Petroacutepolis e Satildeo Francisco de Paula no Rio Grande do Sul 2005 230f Tese (Doutorado) ndash Instituto de Filosofia e Ciecircncias Humanas Universidade Federal do Rio Grande do Sul Porto Alegre 2005

TEIXEIRA Maria Lucia da Silva Satildeo Francisco de Paula nossa terra nossa gente Porto Alegre Evangraf 2002

94

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Jornal Folha da Serra n 11 do dia 29 de setembro de 1968

Jornal Folha da Serra n 25 do dia 31 de dezembro de 1968

Jornal Folha da Serra n 89 do dia 07 de setembro de 1969

Jornal Satildeo Chico Tchecirc n 4 do dia 30 de abril de 1986

Jornal Satildeo Chico Tchecirc n 11 do dia 25 de maio de 1986

Jornal Satildeo Chico Tchecirc n 12 do dia 28 de maio de 1986

Jornal Pioneiro versatildeo digital do dia 02 de junho de 2017

Entrevistas

Amaacutelia Celuderes Cardoso residente no distrito de Lajeado Grande Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 08 de marccedilo de 2018

Blair dos Santos Fogaccedila residente no distrito de Lajeado Grande Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 06 de abril de 2018

Ceacutelia Pacheco Terres Basso residente no distrito de Cazuza Ferreira Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 04 de agosto de 2018

Darci da Silva Fagundes residente no distrito de Tainhas Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 24 de fevereiro de 2018

Deotildes Palhano dos Santos residente no distrito do Juaacute Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 12 de maio de 2018

Jaures Feijoacute Gomes residente no distrito de Eletra Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 15 de fevereiro de 2018

Luciana Olga Soares residente no distrito Sede Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 01 de marccedilo de 2018

Maria Madalena Scalco Faciole residente no distrito do Rincatildeo dos Kroeff Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 18 de marccedilo de 2018

Moacir Castello Branco de Albuquerque residente no distrito Sede Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 06 abril de 2018

95

Nauro Bossle de Andrade residente no distrito de Cazuza Ferreira Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 04 de marccedilo de 2018

Orides Reis residente no distrito do Juaacute Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 12 de maio de 2018

Reinaldo Faciole residente no distrito do Rincatildeo dos Kroeff Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 18 de marccedilo de 2018

Susana Marques Soares residente no distrito de Eletra Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 15 de fevereiro de 2018

96

APEcircNDICES

97

APEcircNDICE A ndash ENTREVISTA COM MORADORES LOCAIS DOS DISTRITOS DE

SAtildeO FRANCISCO DE PAULA

UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL

PROGRAMA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO EM HISTOacuteRIA ndash MESTRADO EM HISTOacuteRIA PROFISSIONAL

PESQUISA DE CAMPO ndash TATIANA MEacuteLO CARDOSO

1 Nome completo

2 Idade

3 Quantos anos reside neste distrito

4 Como se formou este distrito

5 Por que ele tem esse nome

6 Quem foram os primeiros moradores

7 Como era a vida aqui haacute tempos atraacutes

8 O que mudou aqui com o passar dos anos

9 O que identifica este lugar

10 As pessoas hoje que moram aqui na grande maioria satildeo naturais daqui ou vieram

de onde

11 A(o) Sra(Sr) acredita que as futuras geraccedilotildees valorizaram eou conheceram a

histoacuteria local ou vai se perder no tempo

12 Como funcionava a questatildeo do ensino em meados do seacuteculo XX havia escola na

localidade

13 Qual a primeira escola deste distrito data de fundaccedilatildeo local de funcionamento e a

primeira professora

14 Achas importante trabalhar nas escolas a histoacuteria do lugar

15 O que eacute tradiccedilatildeo deste distrito

16 Qual eacute a fonte de renda das pessoas no que elas trabalham

17 Qual eacute o lazer das pessoas aqui

98

APEcircNDICE B ndash TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Declaro por meio deste termo que concordei em ser entrevistado(a) eou participar na

pesquisa de campo referente ao projetopesquisa Ensino de Histoacuteria Local e o Paradidaacutetico

caso Satildeo Francisco de Paula desenvolvida pela aluna Tatiana Meacutelo Cardoso do Programa de

Poacutes-Graduaccedilatildeo em Histoacuteria ndash Mestrado Profissional da Universidade de Caxias de Sul Fui

informado(a) que poderei consultaacute-la a qualquer momento que julgar necessaacuterio atraveacutes do e-

mail t_ati_mhotmailcom

Afirmo que aceitei participar por minha proacutepria vontade sem receber qualquer

incentivo financeiro ou ter qualquer ocircnus e com a finalidade exclusiva de colaborar para o

sucesso da pesquisa Fui informado(a) dos objetivos estritamente acadecircmicos de estudo

Minha colaboraccedilatildeo natildeo ficaraacute anocircnima e foi realizada por meio de entrevista

semiestruturada A anaacutelise dos dados obtidos seratildeo divulgados natildeo permanecendo restritas

apenas a pesquisadora eou seu(s) orientador(es) coordenador(es)

Fui ainda informado(a) de que posso me retirar desse(a) estudopesquisa programa a

qualquer momento sem prejuiacutezo para meu acompanhamento ou sofrer quaisquer sanccedilotildees ou

constrangimentos Atesto recebimento de uma coacutepia assinada deste Termo de Consentimento

Livre e Esclarecido

Satildeo Francisco de Paula ___ de _____________ de ____

Assinatura do(a) participante

Assinatura do responsaacutevel

Page 11: UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL TATIANA MÉLO CARDOSO

11

1 INTRODUCcedilAtildeO

Os meacutetodos de ensino de Histoacuteria no Brasil vem sendo discutidos desde sua

criaccedilatildeo como disciplina Segundo Nadai (1992-1993 p 144) a introduccedilatildeo de

Histoacuteria no curriacuteculo ocorre na terceira metade do seacuteculo XIX no Brasil sendo que

desde entatildeo passa por diversas modificaccedilotildees Segundo Schmidt e Cainelli (2009)

os meacutetodos foram se adequando ao momento histoacuterico brasileiro em um primeiro

momento ensinou-se a histoacuteria da Europa Ocidental como a verdadeira histoacuteria da

civilizaccedilatildeo uma histoacuteria abstrata sem relaccedilatildeo com a vida do aluno Nadai (1992-

1993 p 146) acrescenta que ldquoa histoacuteria da paacutetria surgia como seu apecircndice sem

corpo autocircnomo e ocupando um papel extremamente secundaacuterio consistia num

repositoacuterio de biografias de homens ilustres de datas e batalhasrdquo

Poreacutem a partir de 1860 segundo Schmidt e Cainelli (2009 p 12-13) ldquono

periacuteodo republicano a incorporaccedilatildeo da concepccedilatildeo de que a disciplina Histoacuteria tinha

a responsabilidade de formar cidadatildeos ganha forccedilardquo sendo assim as escolas

primaacuterias e secundaacuterias comeccedilaram incluir em seus programas a histoacuteria nacional

com o intuito da formaccedilatildeo da nacionalidade sendo a paacutetria com seus heroacuteis o

principal foco Desta forma a criaccedilatildeo das diretrizes da Lei de Educaccedilatildeo nordm 569271

reforccedila o modelo jaacute instaurado

Foi oficializado o ensino de Estudos Sociais nas escolas brasileiras ficando os conteuacutedos especiacuteficos da Histoacuteria destinados somente aos alunos do antigo segundo grau A concepccedilatildeo e os conteuacutedos da Histoacuteria continuavam atrelados agraves concepccedilotildees tradicionais (SCHMIDT CAINELLI 2009 p 13)

Com a redemocratizaccedilatildeo na deacutecada de 1980 houve inuacutemeras discussotildees

que elencaram inuacutemeras abordagens e temaacuteticas para o ensino da Histoacuteria na

atualidade as novas tendecircncias se preocupam com a transposiccedilatildeo didaacutetica

valorizando documentos histoacutericos e incorporando novas linguagens e tecnologias

que permitem discussotildees e autonomia de pensamento Neste sentido as novas

concepccedilotildees de ensino de Histoacuteria ao final do seacuteculo XX abrem a possibilidade de

uma nova praacutetica didaacutetica que segundo Azevedo e Stamatto (2010 p 709) ldquobusca

problematizar a relaccedilatildeo passado-presente e em geral tomam a realidade do aluno

como ponto de partidardquo

Por se acreditar em um ensino de Histoacuteria onde a aprendizagem natildeo ocorre

em periacuteodos estanques de forma abstrata e sem relaccedilatildeo com o presente ou seja

12

apresentando de forma linear sem que haja contextualizaccedilatildeo sendo apresentada

atraveacutes de leitura de textos eou resumos permeando com atividades que muitas

vezes natildeo permitem um desenvolvimento de raciociacutenio histoacuterico que contribua para

a construccedilatildeo da cidadania Torna-se urgente pensar em um ensino voltado para a

inclusatildeo de novas contribuiccedilotildees historiograacuteficas como a histoacuteria cultural econocircmica

e social buscando na realidade local subsiacutedios para a aprendizagem Por isso a

presente dissertaccedilatildeo traz a didatizaccedilatildeo da histoacuteria de Satildeo Francisco de Paula visto

que a questatildeo-problema estaacute vinculada ao natildeo uso da histoacuteria local no ensino de

Histoacuteria deste municiacutepio e o pouco material disponiacutevel para o uso dos professores

Parte-se do pressuposto que ao abranger a histoacuteria local os sujeitos se veem como

partiacutecipes desta histoacuteria estudada significando e ressignificando conceitos

histoacutericos

Corroborando com este estudo Cunha (2016) traz consideraccedilotildees importantes

relacionadas ao uso da histoacuteria local O autor aborda como algo essencial para

compreensatildeo da histoacuteria geral na educaccedilatildeo baacutesica o uso da histoacuteria local o que

proporcionaria aos estudantes o reconhecimento como cidadatildeo e a percepccedilatildeo e

identificaccedilatildeo dos lugares de memoacuteria por parte dos alunos bem como o sentimento

de pertencimento do local Desta forma despertaria no aluno o interesse por um

passado aparentemente desligado de sua realidade estabelecendo relaccedilotildees com o

seu cotidiano

Desta maneira acredita-se que os estudantes da educaccedilatildeo baacutesica

compreenderatildeo a histoacuteria como algo que faz parte de suas vidas tornando-se assim

sujeitos da histoacuteria pois se haacute reconhecimento haveraacute tambeacutem o sentimento de

pertencimento que poderaacute ajudaacute-los a manter ou modificar a realidade que os cerca

Assim descrevem Schmidt e Cainelli

Esse sentido do ensinar Histoacuteria natildeo significaria natildeo ter conteuacutedos para serem ensinados mas olhar para estes conteuacutedos a partir da possibilidade de construir com os alunos novas questotildees diante de conteuacutedos e temas propostos pela historiografia Aprender histoacuteria eacute discutir evidecircncias levantar hipoacuteteses dialogar com os sujeitos os tempos e os espaccedilos histoacutericos Eacute olhar para o outro em tempos e espaccedilos diversos (SCHMIDT CAINELLI 2009 p 20)

Dentro desta perspectiva o reconhecimento da memoacuteria social se faz

importante visto que se necessita invocaacute-la para que um determinado grupo ou local

reconheccedila sua identidade social Atraveacutes de entrevistas com moradores de Satildeo

13

Francisco de Paula se invoca a memoacuteria coletiva na busca da identidade dos sete

distritos deste municiacutepio Visto que a histoacuteria de Satildeo Francisco de Paula se inicia por

volta do seacuteculo XVIII quando se datam as primeiras sesmarias1 concedidas ao

capitatildeo Pedro da Silva Chaves Posteriormente o capitatildeo doa parte de suas terras

para a construccedilatildeo do povoado que recebe o nome de Satildeo Francisco de Paula de

Cima da Serra por este ser devoto do Santo Satildeo Francisco Reza no testamento do

capitatildeo Pedro da Silva Chaves que um de seus filhos foi o primeiro paacuteroco a rezar

missa no povoado Satildeo Francisco de Paula pertenceu a Santo Antocircnio da Patrulha

e mais tarde a Taquara emancipando-se em 1902

Haacute pouca bibliografia sobre a histoacuteria de Satildeo Francisco de Paula o que existe

satildeo livros escritos por memorialistas onde se percebe a prioridade pela histoacuteria do

fundador ou seja do Capitatildeo Pedro da Silva Chaves dos iacutendios Caaguaraacutes que

habitavam a regiatildeo assim como os aspectos poliacuteticos administrativos Alguns destes

livros apresentam uma siacutentese cronoloacutegica de fatos importantes e descrevem

superficialmente o jeito de viver do povo serrano2 Mas a histoacuteria de Satildeo Francisco

de Paula estaacute repleta de diferentes identidades que identificam a Sede3 e o Interior4

deste municiacutepio e formam o jeito de viver do seu povo A natildeo exploraccedilatildeo de

elementos culturais que se fazem importantes para a construccedilatildeo de identidade

destes lugares minimiza as memoacuterias e as tradiccedilotildees que ali se apresentam visto

que

as constantes novidades em diferentes campos do saber os avanccedilos da tecnologia as infinitas possibilidades de comunicaccedilatildeo simultacircnea tecircm provocado sobretudo nas novas geraccedilotildees uma sensaccedilatildeo de que o mundo em que se vive eacute dotado de um temporalidade constituiacuteda por um tempo presente contiacutenuo (FIGUEIRA MIRANDA 2012 p 46)

Neste sentido fez-se uso de diferentes fontes para a construccedilatildeo do produto

desta dissertaccedilatildeo que consiste de um paradidaacutetico que possa servir como um

1 Sesmaria Terreno sem culturas ou abandonado que a antiga legislaccedilatildeo portuguesa com base em

praacuteticas medievais determinava que fosse entregue a quem se comprometesse a cultivaacute-lo 2 Serrano gentiacutelico de quem nasce em Satildeo Francisco de Paula 3 Sede distrito criado em 07 de janeiro de 1903 na mesma data da instalaccedilatildeo oficial do Municiacutepio Eacute

o distrito onde se localiza a Prefeitura Municipal Foacuterum agecircncias bancaacuterias loteacutericas hospital casas comerciais e residecircncias particulares Normalmente os moradores do interior quando vatildeo ao distrito se referem como ldquovou a Satildeo Chicordquo e natildeo como ldquovou a Sederdquo

4 Interior Cazuza Ferreira Juaacute Eletra Rincatildeo dos Kroeff Tainhas e Lajeado Grande satildeo distritos que ficam na zona rural apesar de todos terem uma pequena vila que possui pouca infraestrutura Alguns destes distritos ainda usam aacutegua de vertentes sem nenhuma rede de esgoto pois natildeo possuem aacutegua fornecida pela Companhia de Aacutegua e Saneamento (CORSAN)

14

material disponiacutevel a alunos e professores no ensino de Histoacuteria de Satildeo Francisco

de Paula Segundo Munakata entendem-se como paradidaacuteticos

Livros que sem apresentar caracteriacutesticas proacuteprias dos didaacuteticos satildeo adotados no processo de ensino e aprendizagem nas escolas seja como material de consulta do professor seja como material de pesquisa e de apoio agraves atividades do educando (MUNAKATA 1997 p 103)

Para a construccedilatildeo do paradidaacutetico fez-se uso de bibliografias jaacute existentes

jornais e documentos da Assembleia da Legislativa bem como o uso da histoacuteria

oral sendo as entrevistas a fonte primordial para escrever sobre as semelhanccedilas e

diferenccedilas existentes no modo de vida da populaccedilatildeo de Satildeo Francisco de Paula

visto que os depoimentos satildeo importantes na preservaccedilatildeo das memoacuterias tradiccedilotildees

bem como das heranccedilas identitaacuterias Neste sentido Delgado (2003 p 23) discorre

ldquonarrativas memoacuterias histoacuterias e identidades satildeo a humanidade em movimento

Satildeo o olhar que permeiam tempos heterogecircnicos Satildeo a histoacuteria em construccedilatildeo Satildeo

memoacuterias que falamrdquo

Portanto a histoacuteria oral busca registrar as vivecircncias e lembranccedilas de um

determinado grupo Alberti (2008 p 29) assim define ldquohistoacuteria oral natildeo eacute um fim em

si mesma e sim um meio de conhecimentordquo Quando se trabalha com a histoacuteria

oral se faz necessaacuterio valorizar a memoacuteria as identidades e tradiccedilotildees pois estas

formam a histoacuteria local ou seja a histoacuteria dos indiviacuteduos que ali vivem Halbwachs

(2004) afirma que com a perda da memoacuteria coletiva tambeacutem se perdem as

tradiccedilotildees locais tradiccedilotildees essas que identificam o modo de viver de um determinado

local Hobsbawn e Ranger entendem que as tradiccedilotildees podem ou natildeo ser

inventadas

Tradiccedilatildeo inventada entende-se um conjunto de praacuteticas normalmente reguladas por regras taacutecitas ou abertamente aceitas tais praacuteticas de natureza ritual ou simboacutelica visam inculcar certos valores e normas de comportamento atraveacutes da repeticcedilatildeo o que implica automaticamente uma continuidade com relaccedilatildeo ao passado (HOBSBAWN RANGER 2015 p 8)

Hobsbawn e Ranger (2015) ainda acrescem que a criaccedilatildeo de uma tradiccedilatildeo

independe da imposiccedilatildeo de uma nova tradiccedilatildeo o que normalmente ocorre eacute uma

rebeliatildeo cultural que precede da elaboraccedilatildeo de novas tradiccedilotildees que satildeo adotadas

pela populaccedilatildeo e com o tempo passam a se tornar tradiccedilotildees daquele local

formando a identidade local

15

Neste sentido Hall (2011 p 39) discorre que ldquoas identidades satildeo fabricadas

por meio da marcaccedilatildeo da diferenccedilardquo O autor ainda acresce que ldquoa diferenccedila eacute aquilo

que separa uma identidade da outrardquo (HALL 2011 p 41) Dentro desta perspectiva

a memoacuteria que se apresenta atraveacutes de siacutembolos ou tradiccedilotildees respalda a

construccedilatildeo da identidade do povo de Satildeo Francisco de Paula visto que a memoacuteria eacute

a construccedilatildeo do passado de maneira atualizada e renovada no tempo presente

Assim Halbwachs (2004 p 64) descreve que ldquonatildeo eacute na histoacuteria aprendida eacute na

histoacuteria vivida que se apoia nossa memoacuteriardquo Nessa loacutegica o autor ainda descreve

que ldquoo mundo histoacuterico eacute como um oceano onde afluem todas as histoacuterias parciaisrdquo

(p 90)

O municiacutepio de Satildeo Francisco de Paula eacute repleto de tradiccedilotildees que perpassam

o tempo que estatildeo enraizadas no jeito serrano de ser formando a sua identidade

Portanto a histoacuteria de Satildeo Francisco de Paula descrita nesta dissertaccedilatildeo seraacute

apresentada em quatro capiacutetulos

O capiacutetulo dois apresenta a discussatildeo teoacuterica metodoloacutegica sobre a

importacircncia do ensino da Histoacuteria local na sala de aula Tambeacutem conceitos como

memoacuteria e identidade e a importacircncia de se abordar o local em prol do global

No capiacutetulo trecircs aborda-se a construccedilatildeo histoacuterica do municiacutepio de Satildeo

Francisco de Paula que vai desde a chegada do colonizador nesta terra ateacute as

instituiccedilotildees que se formam ao longo do tempo Para isso se faz uso de bibliografias

jaacute existentes como Lucena (1971) Oliveira (1996) Teixeira (2002) Ribeiro (2003)

Alves (2007) e Fonseca (2012) sendo todas essas obras importantes para Satildeo

Francisco de Paula visto que cada uma traz consigo um pouco da histoacuteria deste

municiacutepio poreacutem sente-se falta da identidade e da memoacuteria na construccedilatildeo histoacuterica

As obras satildeo apresentadas sob o mesmo prisma apresentando os iacutendios Caaguaraacutes

e o Capitatildeo Pedro da Silva Chaves os fundadores desta terra dando bastante

ecircnfase aos sobrenomes que ali se desenvolveram Tambeacutem se fez uso de

documentos da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul aleacutem de jornais

encontrados no Arquivo Histoacuterico de Satildeo Francisco de Paula

No capiacutetulo quatro utiliza-se da fonte oral para que sejam identificadas as

diferentes tradiccedilotildees e versotildees da histoacuteria local ou seja a identidade de cada distrito

constituindo assim as particularidades que constroem o municiacutepio de Satildeo Francisco

de Paula Para tanto buscaram-se depoentes nas vilas dos distritos sendo que a

escolha se deu por duas pessoas por distrito sendo um homem e uma mulher

16

totalizando treze depoentes todos da terceira idade pois segundo Bosi (1994 p

82) ldquoum mundo social que possui uma riqueza e uma diversidade que natildeo

conhecemos pode chegar-nos pela memoacuteria dos velhosrdquo memoacuterias estas

construiacutedas por suas vivecircncias neste local o que justifica a relevacircncia dos

depoimentos para a construccedilatildeo do trabalho

O capiacutetulo cinco apresenta uma descriccedilatildeo do produto que consiste em um

paradidaacutetico em forma fiacutesica abordando a histoacuteria de Satildeo Francisco de Paula A

escolha pelo formato fiacutesico acontece pelas dificuldades encontradas no interior dos

distritos com o acesso agrave internet assim se pensa que o formato fiacutesico abrangeraacute um

nuacutemero maior de alunos e professores

Para tanto utiliza-se a metodologia da Histoacuteria oral para escrever a memoacuteria

e as percepccedilotildees das pessoas que habitam este local Hobsbawn e Ranger (1995 p

103) escrevem que ldquoessa proximidade entre o periacuteodo analisado e sua histoacuteria

pessoal eacute o pano de fundo para a discussatildeo de alguns problemas que qualquer

historiador enfrenta ao escrever sobre seu proacuteprio tempordquo pois a sensibilidade do

historiador vai escrever sua narrativa Em outras palavras Hobsbawn e Ranger

(1995 p 104) explicam que ldquocada historiador tem sua proacutepria vida um lugar privado

a partir do qual inspeciona o mundordquo Tambeacutem afirmam

Para aqueles que querem escrever a histoacuteria do seacuteculo XX uma das mais importantes reside no simples fato de saber sem nenhum esforccedilo especial o quanto as coisas se modificaram Os uacuteltimos trinta ou quarenta anos foram os mais revolucionaacuterios da histoacuteria O mundo ou seja a vida dos homens e mulheres que vivem na Terra nunca foi transformada de maneira tatildeo profunda dramaacutetica e extraordinaacuteria dentro de um periacuteodo tatildeo curto As geraccedilotildees que natildeo viram como o mundo era antes tecircm dificuldade em perceber isso intuitivamente (HOBSBAWN RANGER 1995 p 107)

Portanto se faz importante perceber que o mundo vem se transformando de

maneira raacutepida modificando a vida das pessoas e por conseguinte as tradiccedilotildees e

identidades locais pois estas comunidades natildeo vivem de forma isolada e sofreram

influecircncias jaacute que a cultura natildeo eacute estagnada estaacute sempre em constante movimento

juntamente com as pessoas

17

2 HISTOacuteRIA LOCAL E O ENSINO DE HISTOacuteRIA NA SALA DE AULA

Discutir o ensino de Histoacuteria na educaccedilatildeo baacutesica e a relaccedilatildeo do mesmo com a

histoacuteria local se faz bastante importante para que a cada dia se possa melhorar as

praacuteticas pedagoacutegicas Neste sentido se busca respaldo em diferentes bibliografias

que possam embasar novos afazeres dentro do espaccedilo da sala de aula e

proporcionar ao estudante um novo olhar sobre a histoacuteria um olhar de sujeito ativo

dentro desse processo de ensino aprendizagem

Pois quando a Histoacuteria eacute ensinada como algo certo e imutaacutevel de maneira

fragmentada voltada para linearidade e memorizaccedilatildeo de fatos e datas reforccedila o

que Mendes (1935) e Schmidt e Cainelli (2009) defendem que realmente eacute odiosa a

histoacuteria ensinada por este vieacutes Percebe-se que o ensino de histoacuteria linear nos

moldes europeus positivistas jaacute natildeo daacute mais conta da importacircncia da histoacuteria para a

sociedade atual porque eacute apresentada aos alunos atraveacutes de datas e fatos escrita

pelo vieacutes de uma elite que normalmente eacute branca e deteacutem o poder poliacutetico eou

econocircmico Eacute inconcebiacutevel que se permaneccedila com um ensino de Histoacuteria que natildeo

serve natildeo motiva e segundo Ruumlsen (2001 p 25) ainda ldquoirracionalizardquo sendo esse

modelo muito frequente nas escolas de educaccedilatildeo baacutesica brasileiras

Natildeo eacute por outro motivo que observamos ainda nas uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo XX que para a maior parte dos estudantes brasileiros o estudo de histoacuteria carece de sentido ou utilidade natildeo se tem a visatildeo de ciecircncia e sim de uma mateacuteria decorativa estudo do passado que soacute exige como vimos a prontidatildeo em declinar nomes datas e fatos Natildeo eacute de se estranhar que assim seja porque ocorre a enorme distacircncia entre a realidade vivenciada pela comunidade e o tratamento dado ao ensino de Histoacuteria jaacute que o aluno se torna mero espectador de fatos natildeo necessitando esforccedilos no sentido de qualquer reflexatildeo ou elaboraccedilatildeo (BARBOSA 2006 p 58)

O ensinar da histoacuteria de forma abstrata fragmentada dificulta a compreensatildeo

do processo histoacuterico no sentido que se estuda os fatos isolados ao seu tempo

como se um fato precisasse terminar para iniciar outro Em outras palavras este

meacutetodo de ensino natildeo daacute a noccedilatildeo de continuidade ou seja a histoacuteria perdeu seu

sentido baacutesico que eacute a compreensatildeo do contexto global dos fatos considerando que

o ensino de Histoacuteria por muitas vezes eacute estanque sem uma relaccedilatildeo ldquopresente x

passadordquo sendo de suma importacircncia o despertar de uma consciecircncia criacutetica por

parte do estudante Por isso ao longo do tempo o ensino sofre influecircncia por parte

do ldquopoderrdquo segundo Laville (1999 p 128) ldquoa Histoacuteria eacute certamente a uacutenica disciplina

18

escolar que recebe intervenccedilotildees diretas dos altos dirigentes e a consideraccedilatildeo ativa

dos parlamentos Isso mostra quatildeo importante eacute ela para o poderrdquo Nesta linha o

autor ainda acrescenta que ldquoa narrativa histoacuterica pode tambeacutem ser vista como uma

tomada de poder por grupos sem poderrdquo (LAVILLE 1999 p 129)

Na busca de modificar esse modelo surgem novos meacutetodos que valorizam o

uso do documento histoacuterico e a incorporaccedilatildeo de novas tecnologias de acordo com

Azevedo e Stamatto (2010 p 720) ldquotem o desafio de responder a inquietaccedilotildees do

hojerdquo Partindo deste pressuposto haacute possibilidade de se modificar o ensino da

Histoacuteria que ateacute entatildeo estava voltado agrave memorizaccedilatildeo para um modelo onde o

sujeito seja agente deste processo

Ensinar Histoacuteria como algo pronto e acabado [] sem levar em conta o contexto e os sujeitos envolvidos no processo de ensino aprendizagem pode levar a um ensino que natildeo desenvolve o que eacute mais importante como funccedilatildeo do ensinar histoacuteria que orientar os problemas da vida praacutetica (SCHMIDT CAINELLI 2009 p 20)

Assim Seffner (2013 p 51) acrescenta que ldquoo ensino de Histoacuteria eacute um ensino

de situaccedilotildees histoacutericas Mais do que nomes datas e acontecimentos o professor

deve propiciar ao aluno a compreensatildeo de como se estrutura uma dada situaccedilatildeordquo

Para que o ensino de Histoacuteria seja ressignificado existe a necessidade de anaacutelise

do processo histoacuterico problematizando os fatos no vai e vem do presentepassado

Os estudantes da educaccedilatildeo baacutesica necessitam compreender a histoacuteria como

um processo em constante transformaccedilatildeo que eacute movimentada por sujeitos que a

compotildeem com permanecircncias e rupturas ao longo dos tempos Segundo Bittencourt

(2004 p 168) ldquoa histoacuteria local tem sido indicada como necessaacuteria para o ensino por

possibilitar a compreensatildeo do alunordquo

Corroborando Seffner (2013) Souza (2015) e Brum (2015) evidenciam a

importacircncia de se trabalhar a histoacuteria global partindo de uma histoacuteria local

problematizando levando hipoacuteteses e analisando os fatos histoacutericos o que gera

significado para o educando e torna o docente natildeo mais um mero transmissor mas

um mediador deste conhecimento Neves (1997 p 22) reforccedila que ldquoo local fora do

contexto geral eacute apenas um fragmento e o geral sem o respaldo das realidades

locais eacute apenas uma abstraccedilatildeordquo Com esta nova abordagem o estudar Histoacuteria tem

sentido para o discente que se sente sujeito de sua proacutepria histoacuteria visto que

19

identificar-se com o local onde se vive ajuda a compreender o sentimento de

pertencimento e suas relaccedilotildees com o meio social e cultural no qual estaacute inserido

Nesta perspectiva faz-se necessaacuterio que os professores busquem novas

alternativas de ensino que proporcionem ao estudante a habilidade de ressignificar o

fato histoacuterico estudado

Ensinar Histoacuteria requer do professor a habilidade de buscar sentido e significado para o conhecimento que ministra e isso significa superar a mera transmissatildeo de informaccedilotildees jaacute que essa natildeo tem por finalidade o desenvolvimento intelectual mas ao contraacuterio deforma a capacidade de pensamento histoacuterico do aluno e a possibilidade de consolidar habilidades de anaacutelise da proacutepria realidade social (SILVA PORTO 2012 p 67)

Goubert assim define a histoacuteria local

Denominaremos histoacuteria local como aquela que diga respeito a uma ou poucas aldeias a uma cidade pequena ou meacutedia (um grande porto ou uma capital estatildeo aleacutem do acircmbito local) ou a uma aacuterea geograacutefica que natildeo seja maior do que a unidade provincial comum (como um county inglecircs um contado italiano uma Land alematilde uma bailiwick ou pays francecircs) Praticada haacute tempos atraacutes com cuidado zelo e ateacute orgulho a histoacuteria local foi mais tarde desprezada mdash principalmente nos seacuteculos XIX e primeira metade do XX mdash pelos partidaacuterios da histoacuteria geral A partir poreacutem da metade desse seacuteculo a histoacuteria local ressurgiu e adquiriu novo significado na verdade alguns chegam a afirmar que somente a histoacuteria local pode ser autecircntica e fundamentada (GOUBERT 1992 p 70)

Neste sentido fica evidente a importacircncia de se partir de uma histoacuteria local

para uma global Atraveacutes da histoacuteria local os estudantes teratildeo contato com sua

histoacuteria e poderatildeo se sentir parte integrante deste espaccedilo que muitas vezes por

falta de conhecimento acabam renegando sua proacutepria identidade Figueira e Miranda

(2012 p 113) afirmam que ldquoum dos efeitos mais danosos da globalizaccedilatildeo eacute a

universalizaccedilatildeo dos gostosrdquo isto implica diretamente na perda da identidade local

que muitas vezes estaacute sendo afetada pelas muacuteltiplas identidades existentes Neste

sentido Silva e Porto descrevem

A globalizaccedilatildeo entretanto produz diferentes resultados em termos de identidade A homogeneidade cultural promovida pelo mercado global pode levar ao distanciamento da identidade relativamente agrave comunidade e agrave cultura local (SILVA PORTO 2012 p 21)

Neste sentido Canclini acrescenta

Las comunidades de consumidores se organiza cada vez menos seguacuten diferencias nacionales y sobre todo en las generaciones joacutevenes definen sus praacutecticas culturales de acuerdo con informacioacuten y estilos homogeneizados (CANCLINI 1997 p 42)

20

Globalizaccedilatildeo que impotildee atraveacutes dos meios de comunicaccedilatildeo e social uma

identidade geral que regra a sociedade seus haacutebitos e costumes Devido ao grande

movimento das pessoas pelo mundo perceber e manter uma identidade com

caracteriacutesticas locais fica a cada dia mais difiacutecil ainda mais em se tratando da

populaccedilatildeo jovem que natildeo reconhece ao seu redor o que representa a sua

identidade local

Valorar as experiecircncias locais proporcionaraacute aos estudantes uma nova

metodologia de abordar a histoacuteria

Do ponto de vista metodoloacutegico destaca-se nessa forma de abordagem a preocupaccedilatildeo com os conhecimentos preacutevios dos alunos com a problematizaccedilatildeo dos conteuacutedos de ensino selecionados para trabalho em sala de aula estabelecendo relaccedilotildees com o cotidiano dos alunos e com o cotidiano de outras pessoas em outros tempos e em outros lugares Enfatiza-se tambeacutem a busca de articulaccedilatildeo entre histoacuteria local e a histoacuteria universal (SCHMIDT 2007 p 193)

O ensino de histoacuteria partindo do local para o global possibilita segundo

Bittencourt (2004 p 168) ldquoa compreensatildeo do entorno do alunordquo sendo que um dos

aspectos relevantes para este ensino eacute a escolha de fontes que levem os estudantes

a se reconhecerem nesse processo histoacuterico O autor ainda acresce

Eacute pela memoacuteria que se chega agrave histoacuteria local Aleacutem da memoacuteria das pessoas escrita ou recuperada pela oralidade existem os lsquolugares de memoacuteriarsquo (grifo da autora) expressos por monumentos praccedilas edifiacutecios puacuteblicos ou privados mas preservados como patrimocircnio histoacuterico (BITTENCOURT 2004 p 169)

Esta memoacuteria vai contribuir para legitimaccedilatildeo da identidade local Sabe-se que

a identidade eacute algo mutaacutevel e segundo Silva e Porto (2012 p 38) ldquoas identidades

satildeo produzidas em momentos particulares no tempordquo O pesquisador ainda

acrescenta que ldquoas identidades satildeo contingentes emergindo em momentos

histoacutericos particularesrdquo Estas identidades precisam ser reconhecidas quando se fala

de histoacuteria local

Na mesma linha Ruumlsen descreve a identidade histoacuterica

Consiste na ampliaccedilatildeo do horizonte nas experiecircncias do tempo e nas intenccedilotildees acerca do tempo no qual os sujeitos agentes se asseguram da permanecircncia de si mesmos na evoluccedilatildeo do tempo O ponto extremo dessa consolidaccedilatildeo de identidade eacute a lsquohumanidadersquo como suprassumo dos pontos comuns em sociedade com respeito a diversos sujeitos agentes no processo de determinaccedilatildeo de suas proacuteprias identidades determinam as dos outros de forma tal que estes se reconhecem nelas Esse criteacuterio de sentido lsquohumanidadersquo fornece o paracircmetro para se constatar a consolidaccedilatildeo da

21

identidade em que desembocam o progresso contiacutenuo do conhecimento mediante a pesquisa histoacuterica e a ampliaccedilatildeo contiacutenua das perspectivas mediante a reflexatildeo histoacuterica sobre referenciais (RUumlSEN 2001 p 126)

A histoacuteria local eacute constituiacuteda por diferentes identidades que satildeo geradas pelos

grupos que compotildeem este espaccedilo A este respeito Silva e Porto (2011 p 41)

apresentam que ldquoa diferenccedila eacute aquilo que separa uma identidade da outrardquo Tambeacutem

eacute notaacutevel que para que haja a representaccedilatildeo de suas identidades locais faz-se

necessaacuterio o reconhecimento destas e a percepccedilatildeo que existem diferentes fatores

que diferenciam os grupos sociais

Portanto a identidade eacute constituiacuteda pelas posiccedilotildees eou escolhas feitas

sendo que muitas vezes elas satildeo racionais ou ateacute mesmo irracionais A identidade

eacute baseada na memoacuteria que pode ser individual ou coletiva Segundo Candau (2011

p 16) ldquoos laccedilos fundamentais entre memoacuteria e identidade eacute sobre o fato de que eacute a

memoacuteria faculdade primeira que alimenta a identidaderdquo

Se a memoacuteria gera a identidade natildeo se pode pesquisar e escrever sobre

histoacuteria local sem levar em conta estes dois conceitos primordiais pois a histoacuteria

local soacute teraacute valia se escrita pelo vieacutes do todo ou seja natildeo priorize um grupo ou

classe social todos os quadros sociais devem estar representados dentro deste

processo Nessa linha Schmidt e Cainelli descrevem

O estudo da localidade ou da histoacuteria regional contribui para uma compreensatildeo muacuteltipla da Histoacuteria pelo menos em dois sentidos na possibilidade de se ver mais de um eixo histoacuterico na histoacuteria local e na possibilidade da anaacutelise de micro histoacuterias pertencentes a alguma outra histoacuteria que as englobe e ao mesmo tempo reconheccedila suas particularidades (SCHMIDT CAINELLI 2009 p 139)

Uma histoacuteria que faz sentido que esteja englobada a outra histoacuteria A

memoacuteria coletiva entra na construccedilatildeo desta histoacuteria local e eacute primordial pois esta vai

dar elementos que constroem a identidade deste local sendo que a memoacuteria do

passado influencia na representaccedilatildeo da identidade Neste sentido conforme

Figueira e Miranda (2012 p 47) eacute necessaacuterio compreender a memoacuteria ldquocomo a

capacidade de conservar e de preservar dados refere-se a um conjunto de funccedilotildees

cerebrais que nos permite reter informaccedilotildees adquiridas e impressotildees vividasrdquo

Podendo ser ela individual ou coletiva sendo que a memoacuteria individual existe a partir

de uma memoacuteria coletiva jaacute que as lembranccedilas que ajudam a reconstruir o passado

partem do interior de um grupo

22

Para as Ciecircncias Humanas o conceito de memoacuteria estaacute ligado agrave memoacuteria

social e coletiva definida por Le Goff (2003 p 422) como ldquoo estudo da memoacuteria

social eacute um dos elementos fundamentais de abordar os problemas do tempo e da

histoacuteriardquo O autor ainda acrescenta que ldquoa memoacuteria coletiva eacute natildeo somente uma

conquista eacute tambeacutem um instrumento e um objeto de poderrdquo (LE GOFF 2003 p

410) Neste sentido Halbwachs (2004 p 90) ressalta que ldquotoda memoacuteria coletiva

tem por suporte um grupo limitado no espaccedilo e no tempo e o mundo histoacuterico eacute

como um oceano onde afluem todas as histoacuterias parciaisrdquo

Quando se abordam conceitos de memoacuteria e identidade no ensino de

histoacuteria estaacute se trazendo para o estudo os sujeitos que compotildeem aquele local com

suas vivecircncias que podem ser coletivas ou natildeo A transmissatildeo de saberes entre as

geraccedilotildees forma a identidade coletiva sendo o ser humano um agente ativo no

quadro social da memoacuteria

Halbwachs assim define os quadros coletivos da memoacuteria

Os quadros coletivos da memoacuteria natildeo se resumem em datas nomes e foacutermulas que eles representam correntes de pensamento e de experiecircncia onde reencontramos nosso passado porque este foi atravessado por isso tudo (HALBWACHS 2004 p 71)

Nesta direccedilatildeo Le Goff (2003 p 4) acrescenta que ldquoa memoacuteria social eacute um

dos meios fundamentais para se abordar os problemas do tempo e da histoacuteria A

memoacuteria estaacute nos proacuteprios alicerces da histoacuteriardquo Catroga (2001) reforccedila que a

memoacuteria eacute moldada a partir das vivecircncias e na sua narrativa vai haver uma

coerecircncia que se mistura passado e presente

Quando se escreve sobre histoacuteria local eacute importante considerar que ela estaacute

pautada em documentos assim como em memoacuterias escritas visuais ou orais Neste

sentido eacute perceptiacutevel que o uso dos diferentes tipos de memoacuteria satildeo alicerces que

conduzem o trabalho do historiador para que ele possa interpretar suas fontes e

validar seu trabalho Memoacuterias estas que podem ser apresentadas com documentos

oficiais ou atraveacutes de uma cultura material ou imaterial

A escrita de histoacuterias locais vem como um novo modelo de resguardar

identidades e memoacuterias que se natildeo preservadas iratildeo desaparecer pela influecircncia

da globalizaccedilatildeo e falta de conhecimento de futuras geraccedilotildees Barros assim

descreve

23

Os novos tempos comeccedilavam a trazer um novo padratildeo historiograacutefico novas aberturas retornos e possibilidades e tambeacutem incertezas para os historiadores no que se refere agrave natureza do conhecimento que produzem e ao papel do conhecimento histoacuterico na sociedade [] Entre as novidades postula-se a possibilidade de examinar a histoacuteria de acordo com uma nova escala de observaccedilatildeo ndash atenta para o detalhe para as micro realidades para aquilo que habitualmente escapa ao olhar panoracircmico da macro histoacuteria tradicional ndash e eacute esta nova postura que se passou a chamar de micro histoacuteria (BARROS 2012 p 306)

Diante deste contexto o ensino de Histoacuteria pode buscar na histoacuteria local a

problematizaccedilatildeo necessaacuteria para que os estudantes da educaccedilatildeo baacutesica

reconheccedilam a identidade local que vem sofrendo com a uniformizaccedilatildeo da

sociedade que impotildee uma conjuntura global do local

24

3 SAtildeO FRANCISCO DE PAULA CONSTRUCcedilAtildeO DO MUNICIacutePIO

A apresentaccedilatildeo do municiacutepio Satildeo Francisco de Paula acontece atraveacutes do

uso da narrativa Esta se apresenta atraveacutes do diaacutelogo com obras jaacute produzidas por

memorialistas eou genealogistas que contribuem para a construccedilatildeo histoacuterica deste

local bem como se usa como fonte de enriquecimento documentos da Assembleia

Legislativa do Rio Grande do Sul e jornais locais

Para tanto se apresenta a revisatildeo historiograacutefica das obras escritas pelos

memorialistas eou genealogistas sendo que Lucena (1971) em sua obra ldquoSatildeo

Francisco de Paula Monografiardquo que abrange aspectos histoacutericos da formaccedilatildeo do

municiacutepio bem como pontos turiacutesticos e demograacuteficos O proacuteprio autor intitula a sua

obra como informativa a riqueza de detalhes eacute interessante poreacutem natildeo haacute nenhuma

referecircncia quanto aos dados escritos nem mesmo um referencial bibliograacutefico ao

final

No texto intitulado ldquoOs Fundadores de Satildeo Francisco de Paulardquo Alves (2007)

escreve sobre a fundaccedilatildeo de Satildeo Francisco de Paula Em seu livro haacute documentos

que validam o que se refere agrave genealogia jaacute que boa parte da obra apresenta os

troncos familiares que compunham o iniacutecio deste municiacutepio Na mesma linha da

genealogia Oliveira (1996) no livro ldquoAurorescer das Sesmarias Serranas histoacuteria e

genealogiardquo traz a histoacuteria das primeiras sesmarias da regiatildeo mas o foco principal

se daacute aos proprietaacuterios e seus descendentes Haacute um mapa bastante interessante

localizando as sesmarias e o nome por elas recebidos

Em ldquoSatildeo Francisco de Paula nossa terra nossa genterdquo Teixeira (2002)

apresenta dados gerais e histoacutericos do municiacutepio Esta obra apresenta dados

geograacuteficos como clima relevo e vegetaccedilatildeo A autora escreve sobre diversos

aspectos eventos personalidades e lendas Aleacutem disso apresenta Satildeo Francisco

de Paula com uma linha cronoloacutegica A obra abrange vaacuterios aspectos mas todos

suscintamente No final a autora apresenta a bibliografia consultada dentre os

autores estaacute Lucena (1971)

O texto ldquoSatildeo Francisco de Paula Rio Grande do Sul histoacuteria encantos e

misteacuteriosrdquo eacute uma obra de Fonseca (2012) que traz diversidade de assunto muitas

vezes estes estatildeo desconexos ou seja sua leitura se torna ldquotruncadardquo No final do

texto haacute um vasto referencial bibliograacutefico dentre os autores citam-se Lucena

(1971) e Teixeira (2002)

25

Ribeiro (2003) eacute compositor e poeta Em ldquoFestival do Ronco do Bugiordquo

escreve sobre Satildeo Francisco de Paula apresentando a histoacuteria dos quinze anos do

festival no municiacutepio No iniacutecio contextualiza a origem do festival e do ritmo bugio

Depois apresenta a capa do disco de cada festival especificando as muacutesicas e os

compositores vencedores

Todas essas obras satildeo importantes para Satildeo Francisco de Paula cada uma

traz consigo um pouco da histoacuteria deste municiacutepio poreacutem sente-se falta da

identidade e da memoacuteria na construccedilatildeo histoacuterica As obras satildeo apresentadas o

mesmo prisma apresentando os iacutendios Caaguaraacutes e o Capitatildeo Pedro da Silva

Chaves os fundadores desta terra dando bastante ecircnfase aos sobrenomes que ali

se desenvolveram

31 CONVERSA COM MEMORIALISTAS

As terras onde hoje fica Satildeo Francisco de Paula eram habitadas por iacutendios da

tribo Caaguaraacutes que faziam parte dos Coroados Estes viviam livremente nos

campos de cima da serra e seus domiacutenios estendiam-se entre a Serra Geral e a

Serra do Mar Os iacutendios Caaguaraacutes tinham como haacutebitos alimentares a caccedila a

pesca e a coleta de sementes e frutos dentre os frutos o pinhatildeo e a goiaba-do-

mato segundo Teixeira (2002) e Alves (2007) Estes iacutendios tiveram seu habitat

invadido por incursotildees de desbravadores que comeccedilaram a trafegar pela regiatildeo em

busca de mulas e novas terras visto que as terras onde hoje se encontra Satildeo

Francisco de Paula de Cima da Serra foram rota de tropeiros5 pois estes trafegavam

pelos Campos de Cima da Serra indo na direccedilatildeo de Lages-SC ateacute alcanccedilarem

Sorocaba-SP6 Ao passarem por esta regiatildeo foram se formando pequenos vilarejos

e construindo um jeito peculiar de viver

Neste cenaacuterio aparece o municiacutepio de Satildeo Francisco de Paula de Cima da

Serra que recebe este nome para se diferenciar de Satildeo Francisco de Paula

denominaccedilatildeo recebida ateacute meados de 1830 pelo municiacutepio de Pelotas Poreacutem na

metade do seacuteculo XVIII Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra possuiacutea

5 Tropeiros homens que conduziam suas tropascomitivas de muares ou cavalos entre as regiotildees 6 Sugere-se a leitura FLORES Moacyr Troperismo no Brasil Porto Alegre Nova Dimensatildeo 1998

SAVARIS Manoelito Tropas e tropeiros o Rio Grande toma forma Disponiacutevel em ltwwwrogeriobastoscombr201104trpas-e-tropeiros-o-rio-grande-tomahtmlgt Acesso em 12 mar 2016

26

proprietaacuterios de terras sendo que um dos pioneiros foi Pedro da Silva Chaves um

portuguecircs casado com Gertrudes de Godoy uma paulista Pedro da Silva Chaves

declara em 1742 ser possuidor de terras neste municiacutepio Segundo Oliveira (1996)

em seu testamento Pedro da Silva Chaves rege que possui trecircs fazendas na regiatildeo

uma chamada Satildeo Joatildeo que se localiza desde o Arroio Santa Cruz ateacute o Rio

Tainhas concedida em 1752 por sesmaria a Fazenda da Cria que foi comprada de

Francisco Pinto Bandeira e confirmada como sesmaria em 1754 e a Fazenda

denominada Cerrito comprada do Capitatildeo Antocircnio Gonccedilalves dos Reis Nestas

fazendas havia criaccedilatildeo de cavalos gado vacum mulas e burros As fazendas

tambeacutem apresentavam em torno de 77 escravos sendo que alguns satildeo casados o

que se faz pensar que estes constituiacuteam famiacutelia aumentando assim o nuacutemero de

escravos da regiatildeo No mapa da Figura 1 verifica-se a localizaccedilatildeo das fazendas do

capitatildeo Pedro da Silva Chaves bem como sua extensatildeo territorial

Figura 1 ndash Mapa de Identificaccedilatildeo das Sesmarias Serranas

Fonte Oliveira (1996 p 236)

27

No mapa apresentado na Figura 1 ainda eacute possiacutevel observar a localizaccedilatildeo

onde inicia o povoado de Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra segundo

Lucena (1971 p 1) ldquoiniciou-se com o Capitatildeo Pedro da Silva Chaves que doou

uma gleba de terra para que fosse iniciado o povoadordquo Tambeacutem segundo Lucena

(1971 p 1) ldquodoou cinquenta vacas para construir o primeiro patrimocircnio da Igreja

cuja construccedilatildeo foi iniciada por sua conta e lhe deu o nome de Satildeo Francisco por

este ser devoto do Santordquo O que demonstra que Pedro da Silva Chaves era

Catoacutelico

Neste periacuteodo compreendido como seacuteculo XIX segundo Teixeira (2002) e

Alves (2007) o atual municiacutepio de Satildeo Francisco de Paula pertencia ao municiacutepio de

Santo Antocircnio da Patrulha municiacutepio este que formava juntamente com Porto

Alegre Rio Pardo e Rio Grande a proviacutencia de Satildeo Pedro do Rio Grande do Sul

atual Rio Grande do Sul Eacute possiacutevel observar a grande extensatildeo territorial de cada

municiacutepio no mapa apresentado na Figura 2 segundo Silva (2000) Santo Antocircnio

da Patrulha anexava as freguesias de N Sra Conceiccedilatildeo do Arroio e N Sra da

Oliveira da Vacaria a capela de Satildeo Domingos das Torres e os povoados de Santa

Cristina do Pinhal e Cima da Serra

Analisando o mapa da Figura 2 eacute possiacutevel perceber que o municiacutepio de Santo

Antocircnio da Patrulha tinha um vasto e extenso territoacuterio que atualmente compreende

os municiacutepios de Vacaria Antocircnio Prado Nova Roma do Sul Lagoa Vermelha

Veranoacutepolis Nova Prata Nova Araccedilaacute Nova Bassano Paraiacute Guabiju Satildeo Jorge

Vista Alegre do Prata Protaacutesio Alves Cotiporatilde Fagundes Varela Vila Flores

Caseiros Birajaras Andre da Rocha Capatildeo Bonito do Sul Muitos Capotildees Bom

Jesus Satildeo Joseacute dos Ausentes Esmeralda Ipecirc Campestre da Serra Monte Alegre

dos Campos Taquara Satildeo Francisco de Paula Cambaraacute do Sul e Jaquirana

28

Figura 2 ndash Divisatildeo Municipal em 1809 ndash Proviacutencia Satildeo Pedro do Rio Grande do Sul

Fonte Evoluccedilatildeo Administrativa (2013)7

32 AMPLIANDO O DIAacuteLOGO COM OS MEMORIALISTAS

Segundo documentos da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul8

disponiacuteveis no Arquivo Histoacuterico de Satildeo Francisco de Paula9 em 1852 atraveacutes da

Lei nordm 266 de 30 de novembro de 1852 eleva-se agrave categoria de freguesia a entatildeo

capela Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra pelo entatildeo vice-governador da

proviacutencia de Satildeo Pedro do Rio Grande do Sul o senhor Luiz Alves Leite de Oliveira

Bello Estes documentos ainda retratam que no ano de 1886 houve distribuiccedilatildeo de

lotes devolutos para pessoas pobres que comprovassem residecircncia haacute pelo menos

trecircs anos e se comprometessem a ldquofundar moradiardquo em um prazo de um ano sendo

assim passados trecircs anos seriam donos definitivos destes lotes dando o iniacutecio ao

povoamento da vila No mesmo periacuteodo acontece a criaccedilatildeo do cemiteacuterio municipal

7 Disponiacutevel em ltwwwatlassocioeconomicorsgovbrevolucao-administrativa-1809-a-2013gt Acesso

em 18 mar 2017 8 O diaacutelogo com memorialista se amplia a partir de agora com contribuiccedilotildees de documentos

pesquisados que corroboram para a compreensatildeo do tema 9 BARBOSA Eni GONCcedilALVES Jorge Joseacute Xavier (Orgs) Documentos histoacutericos da Assembleia

Legislativa do Rio Grande do Sul Arquivo Histoacuterico de Satildeo Francisco de Paula 1992

29

que ocorre em 1891 segundo documentos da Assembleia Legislativa disponiacuteveis

no Arquivo Histoacuterico de Satildeo Francisco de Paula Estes documentos informam que

primeiramente somente moradores que comprovassem residecircncia haacute mais de trecircs

anos e pudessem manter os jazigos de seus entes poderiam fazer uso deste

espaccedilo Atraveacutes desta documentaccedilatildeo se percebe que havia toda uma organizaccedilatildeo

para que ldquoestrangeirosrdquo natildeo se estabelecessem em Satildeo Francisco de Paula de Cima

da Serra

Em 1889 Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra passa a categoria de vila

e deixa de pertencer a Santo Antocircnio da Patrulha passando a ser distrito do

municiacutepio de Taquara do Mundo Novo (hoje Taquara) o que traz mudanccedilas

significativas para a vila

Mesmo havendo distribuiccedilatildeo de lotes apoacutes quinze anos percebe-se na

Figura 3 que o povoado ainda era pequeno cercado de campos que constituiacuteam

fazendas com criaccedilatildeo de gado vacum tendo como principal economia a pecuaacuteria

extensiva Ao alto pode-se visualizar a Igreja Matriz construiacuteda pelo capitatildeo Pedro

da Silva Chaves

Figura 3 ndash Vista da vila de Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra (1901)

Fonte Portal Satildeo Chico (2018)10

10 PORTAL SAtildeO CHICO Fotos antigas de Satildeo Francisco de Paula 2018 Disponiacutevel em

ltwwwsaochicocombrantigasgt Acesso em 12 abr 2019

30

Ainda eacute possiacutevel observar atraveacutes da Figura 3 que neste periacuteodo natildeo havia

nenhuma preocupaccedilatildeo com a organizaccedilatildeo urbana ou seja ruas quadras as

construccedilotildees se apresentam de maneira desordenada Poreacutem passados vinte e dois

anos na Figura 4 jaacute eacute possiacutevel visualizar uma estrutura urbanizada com possiacutevel

organizaccedilatildeo de ruas e quadras mas a vila ainda eacute rodeada de campos

Figura 4 ndash Vista Avenida Juacutelio de Castilhos (1923)

Fonte Lucena (1971 p 67)

O desenvolvimento da Sede de Satildeo Francisco de Paula acontece segundo

Lucena (1971 p 27) ldquonos primeiros anos de vida isto eacute de 1910 a 1924 mais ou

menos devido agrave extraccedilatildeo da erva-mate que era abundante em nossos matos nas

zonas da serrardquo O autor ainda acrescenta

O pioneiro na extraccedilatildeo da erva-mate em nossa Comuna foi o proprietaacuterio Carlos Miguel Kroeff dono da fazenda Potreirinho praticamente arrabalde de nossa cidade No barba-quaacute11 se iniciava todo processo de industrializaccedilatildeo da erva-mate sendo que Satildeo Francisco de Paula chegou a ter quinhentos barbaacute-quas (LUCENA 1971 p 28)

11 Barba-quaacute um valo de cerca de oito metros de comprimento amis ou menos por um metro de

profundidade e oitenta centiacutemetros de largura coberto de xaxim e terra em uma das extremidades colocava-se um gradeado e acima deste em uma parte tambeacutem coberta e mais alta tinha apenas uma saiacuteda sob o gradeado colocava-se as folhas de erva extraiacuteda da aacutervore no iniacutecio do valo fazia-se um fogo e a fumaccedila que pela pouca ventilaccedilatildeo existente formava bastante fumaccedila e esta atingia as folhas secando-as (LUCENA 1971 p 28)

31

A produccedilatildeo de erva-mate contribuiu para o povoamento da vila visto que

muitas pessoas vieram trabalhar e acabaram se instalando no municiacutepio Apoacutes a

extraccedilatildeo da erva-mate surge a extraccedilatildeo de madeira que tambeacutem contribui para o

desenvolvimento

Nesta documentaccedilatildeo ainda se encontra no artigo nordm 251 de 08 de abril de

1891 a liberaccedilatildeo da verba para abrir a estrada de rodagem que liga as vilas de

Taquara do Mundo Novo e Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra em 1889

Atraveacutes da Figura 5 pode-se perceber o quatildeo difiacutecil era abrir uma nova estrada de

rodagem Tudo era manual com o uso de animais e muares para transportar pedras

e terras poreacutem a abertura desta estrada traz mudanccedilas significativas para a

populaccedilatildeo de Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra

Figura 5 ndash Abertura da estrada ERS-020 Taquara ndash Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra

Fonte Jornal Folha da Serra (1968 n 89 p 8)12

12 Folha da Serra jornal criado em 1932 pelo Dr Siacutelvio Rabelo sendo o uacutenico jornal que existia na

regiatildeo serrana Este trazia notiacutecias sociais poliacuteticas etc com uma tiragem em torno de 500 exemplares por semana Encontram-se no Arquivo Histoacuterico de Satildeo Francisco de Paula alguns exemplares ateacute a deacutecada de 70 seacuteculo XX

32

A estrada visava facilitar o acesso da populaccedilatildeo de Satildeo Francisco de Paula

de Cima da Serra que ia ateacute Taquara para buscar gecircneros de primeira necessidade

Em tempos idos os serranos se abasteciam de gecircneros de primeira necessidade quase que totalmente em Taquara e o transporte era feito em cargueiros que compunham uma tropa com cerca de quinze a vinte cargueiros Os animais usados para esse transporte eram geralmente muares mais resistentes para o transporte de carga Os serranos levavam daqui queijo (o queijo ateacute hoje chamado queijo serrano) charque couros e alguns levavam maccedilatilde ou pinhatildeo em suas eacutepocas de colheita trocados por mantimentos de que necessitavam Natildeo existiam ainda estradas e o trajeto era feito por picadas existentes (LUCENA 1971 p 23)

O mesmo autor ainda acrescenta

Para atingir a capital do Estado a viagem era cheia de peripeacutecias O transporte era feito a cavalo ou em diligecircncias ateacute Taquara As diligecircncias carros de quatro de rodas puxados por quatro animais ndash cavalos ndash eram de propriedade de Bertolo Casara mais conhecido por lsquoJoatildeo Gringorsquo Essa viagem se fazia normalmente em um dia e agraves vezes em dia e meio O ponto de parada era ali no Rodeio Bonito onde existia uma casa agrave esquerda bem defronte a estrada que desce para Trecircs Coroas [] De Taquara a Porto Alegre por via ferroviaacuteria ndash de trem (LUCENA 1971 p 16)

A construccedilatildeo desta estrada traz um novo desenvolvimento para a entatildeo vila

de Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra pois apoacutes a abertura da estrada de

rodagem Taquara ndash Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra modifica o transporte

de mercadorias entre as localidades

O transporte de mercadorias era feito em carretotildees de quatro rodas puxados uns por cinco animais outros por sete as maiores que geralmente eram muares Eram atrelados em duas fileiras Na fileira junto agrave carreta que era de duas ou trecircs mulas na da esquerda montava o carreteiro Este toda vez que se verificava um declive na estrada apeava de sua montaria a fim de brecar a carreta sem que esta entretanto parasse (LUCENA 1971 p 24)

Este modelo de comeacutercio vai desaparecer com o surgimento das primeiras

casas de comeacutercios na vila de Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra De acordo

com Lucena (1971 p 38) ldquoos primeiros comerciantes foram Manoel Vicente

Ferreira Abel Pacheco Luis Carlos de Andrade e Jacob Bossle Sobrinhordquo Na

imagem da Figura 6 temos o Accedilougue Central onde nota-se que os animais

convivem soltos na rua juntamente com as pessoas mesmo se tratando de local

urbano

33

Figura 6 ndash Accedilougue Central

Fonte Portal Satildeo Chico (2018)13

Nesta mesma documentaccedilatildeo haacute decretos que definem a construccedilatildeo de uma

nova Igreja Matriz isto eacute uma Igreja de Pedra substituindo a antiga que era de

madeira ainda construiacuteda pelo capitatildeo Pedro da Silva Chaves esta construccedilatildeo data

do ano de 1922 Segundo Teixeira (2002 p 30) a Igreja de Pedra permanece ateacute

1960 quando daacute lugar ao atual preacutedio da Igreja Matriz que foi inaugurada em 14 de

junho de 1964 Na sequecircncia teremos duas imagens demonstrando a Igreja de

Pedra e a atual edificaccedilatildeo da Igreja Matriz Natildeo foi encontrada nenhuma foto da

Igreja de Madeira nos arquivos do Arquivo Histoacuterico do Municiacutepio somente em um

site de fotos antigas onde encontra-se registro apresentado na Figura 7

13 PORTAL SAtildeO CHICO Fotos antigas de Satildeo Francisco de Paula 2018 Disponiacutevel em

ltwwwsaochicocombrantigasgt Acesso em 12 abr 2019

34

Figura 7 ndash Igreja Matriz em 1931

Fonte Portal Satildeo Chico (2018)14

Figura 8 ndash Igreja Matriz

Fonte acervo da autora (2015)

14 PORTAL SAtildeO CHICO Fotos antigas de Satildeo Francisco de Paula 2018 Disponiacutevel em

ltwwwsaochicocombrantigasgt Acesso em 12 abr 2019

35

Entre os anos de 1892 a 1902 por duas vezes Satildeo Francisco de Paula de

Cima da Serra eacute desanexado e reanexado ao entatildeo municiacutepio de Taquara do Mundo

Novo Somente em 23 de dezembro de 1902 foi reestabelecido definitivamente o

municiacutepio de Satildeo Francisco de Paula de Cima da Serra cuja instalaccedilatildeo se verificou

em 07 de janeiro de 1903 A partir de 01 de janeiro de 1938 perde ldquoCima da Serrardquo

de sua nomenclatura permanecendo somente Satildeo Francisco de Paula Apesar

disso se manteacutem o gentiliacutecio ldquoSerranordquo de acordo com Silva (2000 p 23) e dados

do Arquivo Histoacuterico de Satildeo Francisco de Paula sendo que este gentiliacutecio eacute usado

ateacute os dias de hoje

No iniacutecio o municiacutepio de Satildeo Francisco de Paula foi um dos maiores do Rio

Grande do Sul em territoacuterio mas ao longo do tempo foi diminuindo seu territoacuterio

com a anexaccedilatildeo de parte dele ao entatildeo municiacutepio de Caxias do Sul e de Torres e a

criaccedilatildeo dos municiacutepios de Cambaraacute do Sul em 1963 e Jaquirana em 1988

Foi uma das maiores Comunas do Estado pois de seu territoacuterio faziam parte os atuais municiacutepios de Satildeo Marcos Cambaraacute do Sul e Jaquirana e os distritos de Vila Oliva Criuacuteva Fazenda Souza e Vila Seca hoje integrantes de Caxias do Sul De nosso territoacuterio foi tambeacutem desanexada uma gleba de terra ndash Josafaacute ndash e anexada ao municiacutepio de Torres (LUCENA 1971 p 10)

Mesmo perdendo parte de seu territoacuterio ao longo dos anos atualmente

segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (2016) ldquoSatildeo Chicordquo como

costumeiramente eacute chamado pelo seu povo estaacute situado na Encosta Inferior do

Nordeste do Estado do Rio Grande do Sul na zona denominada de Campos de

Cima da Serra Fica distante 112 quilocircmetros da capital do Estado Porto Alegre Os

municiacutepios limiacutetrofes satildeo Monte Alegre dos Campos Bom Jesus Jaquirana

Cambaraacute do Sul Praia Grande-SC Trecircs Forquilhas Itati Maquineacute Riozinho

Rolante Taquara Trecircs Coroas Canela e Caxias do Sul Possui uma aacuterea territorial

de 3264490 quilocircmetros quadrados com uma estimativa populacional de 21617

habitantes distribuiacutedos na zona urbana e rural O municiacutepio se divide em sete

distritos Sede Cazuza Ferreira Tainhas Juaacute Eletra e Lajeado Grande Atraveacutes do

conjunto de mapas apresentado na Figura 9 eacute possiacutevel visualizar a localizaccedilatildeo de

Satildeo Francisco de Paula dentro do Rio Grande do Sul e por conseguinte no Brasil

Tambeacutem se verifica a localizaccedilatildeo dos distritos de Satildeo Francisco de Paula

36

Figura 9 ndash Mapa de localizaccedilatildeo de Satildeo Francisco de Paula

Subdivisatildeo de Satildeo Francisco de Paula em distritos

Fonte montagem da autora (2019)

Desta forma se constitui o espaccedilo fiacutesico do municiacutepio de Satildeo Francisco de

Paula cuja populaccedilatildeo natildeo forma uma colocircnia pois seu povo adveacutem de diferentes

lugares a grande maioria com descendecircncia lusa sendo que os primeiros

colonizadores foram bandeirantes paulistas

A populaccedilatildeo de Satildeo Francisco de Paula eacute composta de brancos africanos e indiacutegenas Os brancos compreendendo portugueses (principalmente

37

accedilorianos) alematildees e italianos os africanos pertenciam ao grupo dos bantos e foram trazidos pelos portugueses (TEIXEIRA 2002 p 147)

A diversidade de pessoas que se estabeleceram em Satildeo Francisco de Paula

pode ser percebida pelos sobrenomes das famiacutelias precursoras do municiacutepio

Para Satildeo Francisco de Paula afluiacuteram famiacutelias de diversas nacionalidades que atraveacutes de seus descendentes ainda hoje aqui satildeo representadas como Famiacutelias Ferreira Soares Pinto Castilhos Asmuz Santos Martins Lopes Comin Feijoacute Silva Canani Peixoto Andrade Teixeira Valin Lucena Alves Cardoso Gomes Borges Marques Tedesco Medeiros Paglioacuteli Costa Fogaccedila Casara em outras (LUCENA 1971 p 11-12)

Os moradores deste municiacutepio introduziram um jeito singular de viver tendo

em seu cotidiano as tradiccedilotildees gauacutechas15 muito presentes Teixeira (2002 p 83)

assim descreve que ldquoas raiacutezes gauacutechas estatildeo fortemente marcadas na comunidade

seja pelo modo de vestir bombacha botas cinturotildees chapeacuteus e no inverno com o

pala ou pela preferecircncia por comidas campeiras churrasco carreteiro feijatildeo

mexidordquo A autora acrescenta que ldquoas casas com lareira e o tradicional fogatildeo agrave

lenha para aquececirc-las durante o inverno rigoroso satildeo um convite para uma

conversa ao peacute do fogo e o saboreio de um gostoso chimarratildeordquo (TEIXEIRA 2002 p

83)

O enraizamento deste modo de vida adveacutem do homem do campo o

pecuarista que no passado necessitava enviar seus filhos a cidade para estudar

contribuindo para este modelo de vida

Antigamente a pecuaacuteria era a atividade econocircmica muito forte em nosso municiacutepio Assim sendo havia muitos fazendeiros E como as fazendas ficavam muito longe da Sede do municiacutepio as senhoras tinham seus filhos em casa com parteiras Tambeacutem os estudos iniciavam nas fazendas porque as escolas ficavam longe Assim muitas vezes os fazendeiros contratavam professoras para se hospedarem nas suas casas e darem aulas aos seus filhos Em muitos casos ateacute mesmo os proacuteprios pais e avoacutes ensinavam alguma coisa Alguns fazendeiros quando seus filhos ficavam maiores os mandavam continuarem seus estudos na vila (assim lsquoSatildeo Chicorsquo era chamada) (TEIXEIRA 2002 p 77)

Com a vinda dos filhos para a vila trouxeram consigo o jeito do homem do

campo sendo que um dos maiores clubes em funcionamento de Satildeo Francisco de

Paula eacute o atual Centro de Tradiccedilotildees Gauacutechas Rodeio Serrano fundado em maio de

15 Tradiccedilotildees gauacutechas segundo Fagundes (1997 p 38) eacute um movimento ciacutevico-cultural [] eacute a

tradiccedilatildeo em marcha resgatando valores que satildeo vaacutelidos natildeo por serem antigos mas por serem eternos exatamente os valores que trouxeram o Rio Grande e o gauacutecho do passado para o presente projetando-se para o futuro

38

1955 Segundo o Jornal Folha da Serra (1968 n 11 p 12) a entidade

tradicionalista receacutem-formada recebe o nome de CTG Coronel Alziro Torres Filho

Fonseca (2012 p 223) menciona que a iniciativa partiu de ldquoDavenir Peixoto Gomes

um homem ruralista e serranordquo Esta entidade tradicionalista teve como primeiro

Patratildeo Oscar Teixeira O CTG Alziro Torres Filho segundo o jornal Folha da Serra

(1957) muda sua nomenclatura em uma reuniatildeo onde o posteiro da invernada

artiacutestica Alaor Valim propotildee a troca do nome para Rodeio Serrano nome que

permanece ateacute a atualidade

A entidade tradicionalista traz como lema ldquoRepontando a Tradiccedilatildeo com o Rio

Grande na Garupardquo Fonseca (2012 p 224) relata que o lema foi ldquocriado pelo

primeiro instrutor de danccedilas Dr Alaor de Almeida Valimrdquo O mesmo autor acrescenta

que ldquoa primeira prenda foi a professora Maria Asmuz Valimrdquo Poreacutem sua sede

somente foi construiacuteda em 1968 sob a patronagem de Dante Santos O Jornal Folha

da Serra (1968 n 11 p 12) indica que ldquoa construccedilatildeo da sede era uma aspiraccedilatildeo de

longos anos que somente agora se concretizardquo Anteriormente ldquoos bailes eram

realizados em sua maioria no Salatildeo Paroquial sendo que alguns foram feitos no

primeiro andar da Associaccedilatildeo Rural e ateacute mesmo na Sociedade Cruzeirordquo

(FONSECA 2012 p 225) Este fato justifica a vontade de Dante Santos de construir

uma sede proacutepria

Apoacutes a construccedilatildeo de sua nova sede o CTG Rodeio Serrano localiza-se na

Rua Benjamim Constant nordm 582 constituindo um espaccedilo importante para a

comunidade de Satildeo Francisco de Paula Dentre as atividades desenvolvidas pelo

CTG estaacute o Rodeio Interestadual que ocorre todos os anos no primeiro final de

semana de dezembro sendo que se encontra na 33ordf ediccedilatildeo A manutenccedilatildeo das

invernadas artiacutesticas em todas as categorias mascote mirim juvenil e adulta A

organizaccedilatildeo da Ronda Crioula na Semana Farroupilha bem como a Cavalgada de

Prendas que ocorre durante a Semana Farroupilha todos os anos Realiza-se o

baile da Prenda Jovem aleacutem de shows e bailes tipicamente gauchescos Aleacutem

disso nos uacuteltimos anos a organizaccedilatildeo do Festival Ronco do Bugio que ocorre em

Satildeo Francisco de Paula ldquofestival este lanccedilado em 16 de abril 1986rdquo segundo o

Jornal Satildeo Chico Tchecirc (1986 n 4 p 5)16

16 Satildeo Chico Tchecirc jornal de circulaccedilatildeo quinzenal fundado em 08 de janeiro de 1986 e que circulou

ateacute 1989 O jornal trazia informaccedilotildees culturais sociais econocircmicas e poliacuteticas da Sede e do

39

Durante os seus sessenta e dois anos de existecircncia muitos patrotildees

passaram por esta entidade tradicionalista mas em 2017 pela primeira vez na

histoacuteria o CTG Rodeio Serrano teve uma patronagem feminina Aleacutem da Patroa

Neuza Reis foram empossadas a Capataz Elenita Amaral a Sota-capataz Fernanda

Kirsch Damasceno o Agregado das Pilchas Antocircnio Garcia de Souza e no

Conselho de Vaqueanos Neiva Santos Valim

Figura 10 ndash Patroa Neuza Reis e sua Comissatildeo

Fonte Jornal Pioneiro (2017)17

Satildeo Francisco de Paula hoje conta com vinte e oito entidades

tradicionalistas18 espalhadas pelos seus distritos demonstrando que homem do

campo se faz muito presente em todo o municiacutepio sendo assim a cultura

interior Os exemplares encontram-se encadernados no arquivo histoacuterico de Satildeo Francisco de Paula

17 Jornal Pioneiro conhecido como o jornal que estaacute ldquoao teu ladordquo o Pioneiro circula desde 1948 e estaacute presente hoje em 64 municiacutepios da regiatildeo de Caxias do Sul Desde 1993 integra a rede de jornais do Grupo RBS sendo filiado ao Instituto Verificador de Circulaccedilatildeo (IVC) Conta com uma equipe de Redaccedilatildeo com mais de 40 jornalistas aleacutem de colunistas internos e externos Em 2008 o jornal ganhou o site pioneirocom Disponiacutevel em lthttpwwwgruporbscombratuacaopioneirogt acesso em 10 de fevereiro de 2019

18 Informaccedilatildeo cedida pelo Coordenador da 27ordf Regiatildeo Tradicionalista Gauacutecha

40

tradicionalista se apresenta de maneira forte e consistente segundo vaacuterios

depoimentos de moradores de todos os distritos de Satildeo Francisco de Paula

41

4 SAtildeO FRANCISCO DE PAULA DISTRITOS EM FOCO

Quanto aos distritos de Satildeo Francisco de Paula surgem diversas

inquietaccedilotildees com relaccedilatildeo agrave identidade destes locais pois estes mesmo fazendo

parte de um mesmo municiacutepio apresentam singularidades que derivam de sua

colonizaccedilatildeo basicamente lusa portuguesa e da recepccedilatildeo de imigrantes de diversas

etnias como italianos e alematildees ao longo destes cento quinze anos de

emancipaccedilatildeo Percebe-se que alguns distritos manteacutem sua identidade e tradiccedilotildees

resguardadas enquanto em outros jaacute ocorreu agrave miscigenaccedilatildeo de diferentes haacutebitos

e culturas o que dificulta identificar traccedilos que identifiquem estes distritos

Neste capiacutetulo busca-se responder a estas inquietaccedilotildees fazendo uso dos

depoimentos de moradores locais Segundo Delgado (2003 p 21) ldquoessas

narrativas tal qual os lugares da memoacuteria satildeo instrumentos importantes de

preservaccedilatildeo e transmissatildeo das heranccedilas identitaacuterias e das tradiccedilotildeesrdquo Neste sentido

se optou por dois moradores por distrito totalizando treze entrevistados um homem

e uma mulher da terceira idade que sempre morou no distrito o que enriquece os

detalhes repassados pelos entrevistados

Toda entrevista tem por base a memoacuteria individual que se referencia na coletiva profundamente relacionada agraves vivecircncias individuais A utilizaccedilatildeo do depoimento de pessoas idosas como fonte para a histoacuteria oral eacute uma forma de justificar a entrevista como histoacuterica referindo-se ao passado jaacute que aos idosos se pretende atribuir a guarda de memoacuterias do passado pelo proacuteprio tempo de vida do depoente Isto retoma e ajuda a fortalecer a ideia de que a histoacuteria mesmo tratando do tempo presente ainda se reporta a um periacuteodo anterior ao da vida do pesquisador (ALMEIDA 2012 p 10)

A entrevista somente ocorreu quando o entrevistado concordou em assinar o

termo de consentimento As entrevistas ocorreram nas residecircncias dos

entrevistados foram preacute-agendadas sendo que o meacutetodo utilizado foi entrevista

guiada atraveacutes de questionaacuterio previamente organizado pela autora as entrevistas

foram filmadas e gravadas onde somente uma entrevistada natildeo autorizou a

filmagem de seus relatos justificando a idade avanccedilada e por morar sozinha

A escolha pela histoacuteria oral hibrida ocorreu no sentido de que a fonte oral eacute o

principal recurso utilizado para colher informaccedilotildees sobre os distritos visto que em

sua grande maioria natildeo haacute publicaccedilotildees Poreacutem em determinados momentos se

utilizam fontes documentais como complemento do que vem sendo apresentado

Com relaccedilatildeo agrave abordagem adotada nas entrevistas se optou pela temaacutetica visto

42

que se leva um roteiro preacute-organizado com temas que deveratildeo ser explorados

durante as entrevistas o que proporciona uma riqueza de informaccedilotildees para a

autora

41 DISTRITO SEDE

O distrito Sede se constitui no local onde se inicia o povoado do municiacutepio na

antiga Fazenda da Cria terras doadas pelo capitatildeo Pedro da Silva Chaves Neste

distrito concentram-se os serviccedilos puacuteblicos e privados que os moradores

necessitam em seu dia-a-dia visto que ali existem bancos casas loteacutericas

farmaacutecias hospital supermercados lojas papelarias livraria inspetoria veterinaacuteria

secretaacuterias municipais escolas puacuteblicas e privadas creches induacutestrias de madeiras

e calccedilados

Poreacutem o distrito Sede ou cidade de Satildeo Chico como popularmente

conhecida pelo seu povo jaacute foi uma cidade de interior ou seja uma cidade pequena

com moradores que vinham das fazendas em busca de estudo Visto que a

implementaccedilatildeo de uma rede regular de ensino ocorre tardiamente devido agrave

dificuldade de se locomover pelas distantes localidades entatildeo normalmente os

fazendeiros contratavam professores para que seus filhos obtivessem estudo sendo

que estes moravam na proacutepria residecircncia da famiacutelia Em entrevista com essa autora

relata Albuquerque19 que ldquopara aprimorar os estudos aqueles que tinham mais

condiccedilotildees iam para Porto Alegre Santa Maria ou Passo Fundo mas para isto

ficavam laacute em internatos e soacute retornavam nas feacuterias devido agrave dificuldade e o custo

da viagemrdquo

Na deacutecada de 40 foi criada a Escola Catoacutelica de Satildeo Francisco de Paula

cujo funcionamento acontece ateacute 1973 quando foram encerradas suas atividades

Esta escola iniciou com o curso primaacuterio e posteriormente instalou o curso ginasial

Normalmente estes moradores permaneciam de segunda-feira a sexta-feira na

cidade e nos finais de semana retornavam para as fazendas como recorda uma

moradora local

Noacutes eacuteramos uma cidade de fazendeiros a gente tinha uma casa no campo e uma na cidade a gente vivia de laacute pra caacute de caacute pra laacute fim de semana ia

19 ALBUQUERQUE Moacir Castello Branco de Entrevista concedida agrave autora no dia 06 de abril de

2018

43

pra fora20 dia de semana vinha pra caacute normalmente uma irmatilde mais velha voacute ficava com a gente aqui na cidade e a famiacutelia mesmo ficava no campo21

Percebe-se que hoje ainda existem na Sede moradores que manteacutem suas

casas na cidade e durante o dia ou nos finais de semana vatildeo ateacute suas fazendas

para fazer as lides com o gado o que caracteriza uma pequena parte da populaccedilatildeo

que foram os filhos dos antigos fazendeiros que mais tarde acabam se instalando

definitivamente na cidade trazendo com sigo a essecircncia do homem do campo e

afirmando uma identidade genuinamente gauacutecha definiccedilatildeo esta concedida por uma

moradora local

Gauacutecho natildeo eacute o morador do Rio Grande do Sul o morador do Rio Grande do Sul eacute o sul-rio-grandense ou rio-grandense do sul o gauacutecho eacute apenas o homem que vem da pecuaacuteria extensiva essa que existe laacute no pampa e aqui nos campos de cima da serra o gauacutecho serrano com caracteriacutesticas muito proacuteprias grandes gaiteiros poetas aliaacutes o maior gaiteiro do mundo eacute daqui natildeo abro matildeo de dizer isto soacute que todos noacutes viacutenhamos da lida do campo em decorrecircncia disso eacuteramos gauacutechos de verdade22

Em sua fala apresenta o gauacutecho serrano como um tipo singular que ama a

pilcha gauacutecha o seu pingo e suas criaccedilotildees bem como reafirma a importacircncia dos

Irmatildeos Bertussi Honeide e Adelar sendo Adelar Bertussi um dos maiores gaiteiros

deste municiacutepio Exaltam-se tambeacutem os poetas que com suas poesias e letras de

muacutesicas escrevem o jeito do seu povo viver

Mesmo a cidade sendo ldquolocal de paradardquo durante a semana para a maioria

de seus habitantes no passado era cheia de atrativos que o campo natildeo possuiacutea

como o cinema cuja instalaccedilatildeo natildeo se encontra documentada mas sabe-se que

iniciou onde hoje eacute o preacutedio da Prefeitura Municipal sendo proprietaacuterio Francisco

Ferraz (Chico Ferraz como era conhecido) Observa-se em alguns exemplares do

Jornal Folha da Serra23 os filmes e os horaacuterios do funcionamento do cinema

Entende-se que o jornal era uma maneira de divulgar os filmes por ser o uacutenico meio

de comunicaccedilatildeo da eacutepoca Pelos folhetins se percebe que as sessotildees

apresentavam diversos gecircneros natildeo se sabe quando o cinema finalmente fechou

20 Fora refere-se ir para a fazenda 21 SOARES Luciana Olga Entrevista concedida agrave autora no dia 01 de marccedilo de 2018 22 SOARES Luciana Olga Entrevista concedida agrave autora no dia 01 de marccedilo de 2018 23 Folha da Serra jornal local criado em 1932 pelo Dr Siacutelvio Rabelo passando posteriormente a

propriedade da Prefeitura Municipal Sua impressatildeo era na ordem de 500 exemplares natildeo se tem a informaccedilatildeo do periacuteodo que parou de circular mas pelos exemplares encontrados no Arquivo Histoacuterico de Satildeo Francisco de Paula os uacuteltimos datam de 1978 O Arquivo Histoacuterico de Satildeo Francisco de Paula fica em um preacutedio anexo agrave Biblioteca Puacuteblica do municiacutepio

44

poreacutem o jornal Folha da Serra traz uma reportagem que retrata como estava difiacutecil

manter o cinema em funcionamento em meados de 1968 ldquoo nosso cinema na

maneira que vai indo natildeo tem mais condiccedilotildees de funcionar natildeo temos apoio da

populaccedilatildeo com uma frequecircncia de mais ou menos 150 pessoas por final de

semanardquo O jornal acrescenta ldquosalienta-se que mais ou menos de 3 de nossa

CULTA populaccedilatildeo natildeo frequenta o cinemardquo Pode-se associar o fechamento do

cinema a dois fatores a natildeo cultura de assistir filmes e pelas sessotildees ocorrerem nos

finais de semana onde boa parte da populaccedilatildeo da cidade se deslocava para as

fazendas ou pela crise que os cinemas passaram na deacutecada de 80 quando em

muitas cidades foram fechados

A vida da populaccedilatildeo local vai se modificando cada vez mais as pessoas vatildeo

se instalando definitivamente na Sede onde se perde o viacutenculo com o campo

Devido agrave venda ou arrendamento das fazendas24 que por render pouco a pecuaacuteria

extensiva e com a criaccedilatildeo de novas legislaccedilotildees que proiacutebem praacuteticas centenaacuterias

seus proprietaacuterios buscaram novas possibilidades econocircmicas que modificaram a

Sede e tambeacutem boa parte do interior Em entrevista a moradora Soares relata

Exatamente porque a produccedilatildeo era pequena isso natildeo serve para o mundo de hoje a uns quarenta anos chega em nossos campos as primeiras plantaccedilotildees de pinus interessante que ningueacutem reclamou da destruiccedilatildeo desse campo de milhotildees de anos e de todo o ecossistema mas mesmo com essa nova cultura continuamos realizando a sapeca do campo no mecircs de agosto mas de repente chega a notiacutecia que estaacute proibida a queima do campo dizendo que noacutes estragaacutevamos a terra poluiacuteamos o ar que mataacutevamos animais e tudo aquilo natildeo era verdade Na verdade alguns anos depois da lei proibindo a queima do campo chegam as multas gigantescas agraves vezes maior que o valor da terra e aiacute inviabilizou a pecuaacuteria e muitos fazendeiros venderam suas terras e foram embora Quem ficou no campo na busca por renda a qualquer preccedilo arrenda seus campos para os batateiros que vieram acredito que a grande maioria de Santa Catarina e do Paranaacute estes lavram o campo nunca mais o campo nem com reza braba taacute tudo perdido para sempre e isso reflete na nossa cidade25

Essas mudanccedilas no campo refletem na Sede onde o homem serrano convive

passivamente com novas identidades que embora sejam presentes eacute minoria pois

esta parcela de novos moradores traz consigo um novo jeito de viver que ainda natildeo

se percebe influenciar na identidade cultural da Sede

24 Propriedades rurais cuja atividade principal eacute a praacutetica da pecuaacuteria extensiva e a produccedilatildeo do

queijo artesanal serrano 25 SOARES Luciana Olga Entrevista concedida agrave autora no dia 01 de marccedilo de 2018

45

Na Sede desde o iniacutecio se observam quatro clubes sociais a Sociedade

Cruzeiro a Sociedade 9 de Julho a Sociedade Esperanccedila e o Centro de Tradiccedilotildees

Gauacutechas Cada clube social tem sua importacircncia histoacuterica poreacutem alguns natildeo se

manteacutem ativos

A Sociedade 9 de Julho foi fundada em 27 de setembro de 1961 estando

localizada no bairro Rincatildeo Segundo o jornal Folha da Serra (1968 n 96 p 5)

apoacutes sete anos de sua fundaccedilatildeo ldquoseu presidente Galego promete uma nova e

confortaacutevel sede para a sociedaderdquo Sociedade que se apresenta por sua

versatilidade nos eventos ateacute os dias atuais

O jornal Folha da Serra (1968 n 96 p 5) traz a seguinte mateacuteria ldquoas quatro

noites foram repletas de alegria naquela sociedade onde os foliotildees divertiram-se e

quando se anunciou o final da quarta noite houve quem lamentasse o final da festa

do Momordquo A reportagem refere-se ao carnaval que se desenvolve de forma

popular nesta sociedade Neste espaccedilo na deacutecada de 1990 ocorria um baile na

sexta-feira que antecedia ao Festival do Ronco do Bugio um espaccedilo onde jovens se

encontravam para iniciar as festividades do grande festival da cidade poreacutem na

atualidade este evento natildeo ocorre mais Pelos cartazes de divulgaccedilatildeo de eventos

atuais a Sociedade 9 de Julho se torna um espaccedilo bastante versaacutetil e segundo

dados obtidos no site da proacutepria sociedade o local apresenta shows bailes

tradicionalistas domingueiras e festas temaacuteticas

Sabe-se da existecircncia da Sociedade Esperanccedila devido a uma reportagem a

respeito do carnaval escrita no jornal Folha da Serra (1968 n 11 p 25) ldquoos

escurinhos tambeacutem natildeo ficaram para traacutes e demonstraram que satildeo bons no samba

porque soacute quem assistiu pode ver como brincaram e que maravilha de ritmo

marcaram durante as quatro noitesrdquo A reportagem daacute a entender de se tratar de

uma sociedade frequentada por negros e pode-se entender que ao usar o termo

escurinho na reportagem haacute preconceito racial perpassando a ideia de que por

serem negros natildeo poderiam se divertir da mesma maneira que os brancos

Atualmente se encontra no local um espaccedilo residencial e comercial

A Sociedade Cruzeiro foi fundada em 9 de maio de 1925 pela elite da

sociedade serrana Segundo Teixeira (2002) e Fonseca (2012) sua sede social era

na Avenida Juacutelio de Castilhos onde hoje se situa a agecircncia do Banrisul e teve como

primeiro presidente o Sr Antocircnio Mario Kroeff e o secretaacuterio Sr Joatildeo Parobeacute de

Lucena Sua nova sede foi inaugurada de acordo com Fonseca (2012 p 236) ldquono

46

dia 11 de dezembro de 1965 e esta permanece no mesmo endereccedilo ateacute a

atualidade Situa-se na Rua Dr Frederico Tedesco nordm 1261rdquo

Atualmente este espaccedilo eacute usado para convenccedilotildees ou festas particulares

onde as pessoas locam o espaccedilo para realizarem seu evento Neste espaccedilo natildeo

mais ocorrem grandes eventos sociais como Fonseca (2012 p 232) descreve ldquoos

bailes mais elegantes e vistosos desta sociedade ocorrem aquirdquo Fonseca (2012 p

233) ainda complementa que ldquoa primeira Miss Sociedade Cruzeiro foi eleita em 1937

e a vencedora foi a jovem Zilah Teixeirardquo

A Sociedade Cruzeiro tambeacutem foi palco de bailes de carnaval O Jornal Folha

da Serra (1968 n 11 p 25) descreve ldquocomo sempre a Sociedade Cruzeiro ponteou

o nosso carnaval com blocos fantasiados magnificamente fazendo acrobacias ao

som de excelente muacutesica local onde os turistas afluiacuteramrdquo Contrapondo a este

tempo a moradora local Soares26 discorre de maneira saudosa ldquoque saudades do

carnaval hoje eacute bebedeira perdeu o encanto perdeu tudo Na rua o pessoal

gritando sem nenhuma infraestrutura nem os bailes na sociedade natildeo ocorrem

maisrdquo

O distrito Sede jaacute foi palco de inuacutemeros clubes sociais que ao longo do tempo

foram perdendo seu encanto e ateacute mesmo fechando-se para atividades sociais O

que permanece em pleno funcionamento eacute o Centro de Tradiccedilotildees Gauacutechas Rodeio

Serrano o que justifica uma cultura tradicionalista presente neste distrito Dentre as

atividades desenvolvidas por esta entidade estatildeo o Rodeio Interestadual com

atividades campeiras e artiacutesticas que ocorrem todos os anos no primeiro final de

semana de dezembro a manutenccedilatildeo das invernadas artiacutesticas em todas as

categorias mascote mirim juvenil e adulta

A organizaccedilatildeo da Ronda Crioula na Semana Farroupilha com a participaccedilatildeo

das escolas da Sede e do interior que trazem seus grupos de danccedilas bem como

organizam gincanas Outra atividade tambeacutem desenvolvida por esta entidade eacute a

Cavalgada de Prendas que ocorre durante a Semana Farroupilha desde 1992

sendo Satildeo Francisco de Paula pioneira nesta ideia onde somente mulheres

participam da cavalgada que culmina com o desfile na Avenida Juacutelio de Castilhos

Realiza-se tambeacutem o Baile da Prenda Jovem que eacute o baile de debutante gauacutecho

onde as prendas entre 13 e 15 anos satildeo apresentadas agrave sociedade Aleacutem disso nos

26 SOARES Luciana Olga Entrevista concedida agrave autora no dia 01 de marccedilo de 2018

47

uacuteltimos anos a organizaccedilatildeo e apresentaccedilatildeo do Festival Ronco do Bugio que ocorre

em Satildeo Francisco de Paula faz parte da programaccedilatildeo desta entidade Este festival

apresenta exclusivamente o gecircnero musical bugio Haacute pelo menos duas hipoacuteteses

sobre a origem deste gecircnero musical

A primeira eacute de berccedilo serrano e teria mais fiel escudeiro o inesqueciacutevel acordeonista de Satildeo Francisco de Paula Honeyde Bertussi Siqueira Segundo ele o ritmo teria sido originaacuterio pelas matildeos do gaiteiro Vergiacutelio Leitatildeo que no jogo-de-foles e nos baixos de sua gaita de botatildeo teria imitado o ronco do bicho nos caponetes de cima da serra [] teria difundido pelas bodegas do Juaacute interior de Satildeo Chico (SOUZA 2003 p 15)

A segunda hipoacutetese eacute apresentada por Souza (2003 p 15) que apresenta a

versatildeo dada pelo povo de Satildeo Francisco de Assis que diz que ldquoa origem do ritmo e

oriunda desta localidade que por sinal realizava um festival nativista chamado

Querecircncia do Bugiordquo

Desconhece-se a verdadeira origem do gecircnero musical bugio mas Souza

(2003 p 23) afirma que ldquoJoatildeo Cincinato Terra muacutesico atuante sentiu a

necessidade de nosso municiacutepio acompanhar o movimento jaacute que neste periacuteodo se

expande por todo o estado do Rio Grande do Sul os festivais nativistasrdquo O

lanccedilamento do primeiro festival do Ronco do Bugio acontece em 1986 no CTG

Rodeio Serrano com a participaccedilatildeo de vaacuterios representantes da muacutesica nativista e

da comunidade serrana Seu lanccedilamento oficial ocorre em 16 de abril de 1986

O jornal Satildeo Chico Tchecirc (1986 n 11 p 6) noticiou que o primeiro Festival do

Ronco do Bugio contou com 98 muacutesicas escritas sendo 24 as selecionadas O

festival ocorreu entre os dias 13 e 15 de maio e Souza (2003 p 42) descreve que foi

apresentado ldquosob uma lona de circo estaqueada num gramado amador mas de

tantas gloacuterias futeboliacutesticas o campo do Clube Atleacutetico Serranordquo

A muacutesica vencedora do primeiro Ronco do Bugio foi ldquoLevanta Bugiordquo

defendida pelo cantor e compositor gauacutecho Leonardo Observando fotos percebe-se

que o Ronco do Bugio se deu em uma noite fria de inverno

O Festival Ronco do Bugio desde o seu iniacutecio premia melhor arranjo

conjunto instrumental instrumentista inteacuterprete e a muacutesica mais popular Fatima

Gimenez foi a melhor inteacuterprete do primeiro festival defendendo a muacutesica ldquoPinheiro

Gringordquo composiccedilatildeo de Erian Fogaccedila e Laerte Fortes Novamente a roupa dos

48

muacutesicos reforccedila que na noite da entrega da premiaccedilatildeo fazia muito frio A cantora

tambeacutem se apresenta vestindo um chiripa coberto por um pala27

Na Figura 11 observamos a fotografia de Gonzaga dos Reis muacutesico local

sentado com sua gaita instrumento que lhe deu o precircmio de melhor instrumentista

do primeiro Ronco do Bugio Nesta oportunidade o cantor instrumentista e

compositor defendeu a muacutesica ldquoBugio da Minha Terrardquo

Figura 11 ndash Gonzaga dos Reis

Fonte Jornal Satildeo Chico Tchecirc n 4 p 8 (1986)

A composiccedilatildeo ldquoBugio Tiranordquo que foi defendida pelo conjunto Os Tiranos de

Satildeo Francisco de Paula ganhou o precircmio mais popular

Para o Jornal Satildeo Chico Tchecirc (1986 n 11 p 7) o Festival Ronco do Bugio eacute

ldquoum festival autecircntico e original que aconteceu com grande sucesso em Satildeo

Francisco de Paulardquo No encerramento deste grande evento Joatildeo Chagas Leite se

27 Chiripa e pala satildeo trajes tipicamente gauacutechos Sendo que o chiripa atualmente eacute uma veste de

preferecircncia feminina este fica enrolado na cintura e vai ateacute os joelhos ldquoEacute um pano inteiro passado entre as pernas primeiro de traacutes para frente e depois de frente para traacutes pode ser de latilde ou lisordquo (ABREU 2003 p 67) O pala eacute uma peccedila retangular com franjas nos quatro lados e listras no sentido do comprimento

49

apresenta segundo o Jornal Satildeo Chico Tchecirc (1986 n 11 p 8) ldquocom composiccedilotildees

como Corda de Espinho Orelhano Pampa Campo e Querecircncia Coraccedilatildeo de

Estudante e Afiosrdquo

O Festival Ronco do Bugio perpassa o tempo segundo o site da Prefeitura

Municipal

O Festival Ronco do Bugio eacute um evento musical nativista que acontece anualmente na Cidade de Satildeo Francisco de Paula com o intuito de preservar e difundir o uacutenico ritmo originaacuterio do Rio Grande do Sul ou seja o lsquobugiorsquo compasso criado justamente no interior deste municiacutepio Tal criaccedilatildeo se deu a partir da criatividade dos gaiteiros serranos que buscaram imitar com seu instrumento musical o ronco do primata nos matos da serra A festividade agora em sua 26ordf ediccedilatildeo eacute genuiacutena pois eacute o uacutenico da Ameacuterica onde obrigatoriamente os participantes devem utilizar um ritmo somente isto eacute o citado lsquobugiorsquo embora a temaacutetica seja abrangente Por este motivo eacute chamado de lsquoO Festival Mais Autecircntico do Rio Grandersquo Aleacutem do forte enfoque cultural que envolve toda a comunidade musical do Estado o Festival tem seu apelo ecoloacutegico pois chama a atenccedilatildeo para a preservaccedilatildeo da espeacutecie hoje quase em extinccedilatildeo O Ronco do Bugio por sua importacircncia no cenaacuterio cultural rio-grandense criou uma identidade ao povo de Satildeo Francisco de Paula pois junto ao evento estaacute intriacutenseco e vem agrave tona o histoacuterico da criaccedilatildeo do municiacutepio caracterizado pela forte influecircncia dos antigos tropeiros desbravadores e povoadores desta parte do paiacutes (PREFEITURA MUNICIPAL DE SAtildeO FRANCISCO DE PAULA 2017)

No mesmo documento disponibilizado pela Prefeitura Municipal de Satildeo

Francisco de Paula observam-se algumas informaccedilotildees a respeito da realizaccedilatildeo do

festival no ano de 2017

Art 1ordm - O 26ordm Ronco do Bugio realizar-se-aacute no municiacutepio de Satildeo Francisco de Paula nos dias 01 e 02 de setembro de 2017 Art 2ordm - a festividade agora em sua 26ordf ediccedilatildeo eacute genuiacutena pois eacute a uacutenica na Ameacuterica Latina com promoccedilatildeo da Prefeitura Municipal de Satildeo Francisco de Paula e do CTG Rodeio Serrano com apoio de oacutergatildeos puacuteblicos e iniciativa privada Art 3ordm - Satildeo objetivos do 26ordm Ronco do Bugio a) valorizar a tradiccedilatildeo arte cultura e a autecircntica muacutesica regionalista

gauacutecha atraveacutes do seu ritmo mais original b) prestigiar autores compositores inteacuterpretes e conjuntos regionalistas e

incentivar o surgimento de novos valores c) divulgar a muacutesica regional gauacutecha d) valorizar a relevante posiccedilatildeo na formaccedilatildeo de usos e costumes

caracteres e valores espirituais e morais do gauacutecho e) promover e incentivar a cultura gauacutecha projetando Satildeo Francisco de

Paula na maneira mais autecircntica no cenaacuterio do turismo (PREFEITURA MUNICIPAL DE SAtildeO FRANCISCO DE PAULA 2017)

Como eacute possiacutevel observar no artigo 4ordm ldquoA organizaccedilatildeo do 26ordm Ronco do Bugio

ficaraacute a cargo da Comissatildeo Organizadora composta por membros da Prefeitura

Municipal e do CTG Rodeio Serranordquo (PREFEITURA MUNICIPAL DE SAtildeO

50

FRANCISCO DE PAULA 2017) Devido agrave importacircncia identitaacuteria do festival para o

municiacutepio ao se chegar agrave cidade na deacutecada de 90 se encontrava o seguinte

outdoor

Figura 12 ndash Outdoor entrada da cidade na ERS-020

Fonte Souza (2003 p 17)

Assim como o tiacutetulo de ldquoCapital Mundial do Bugiordquo Satildeo Francisco de Paula ldquojaacute

obteve vaacuterios slogans dentre eles o de Satildeo Chico eacute terra boardquo (TEIXEIRA 2002 p

149-150)

Mesmo ocorrendo inferecircncias externas advindas com pessoas que trouxeram

consigo uma identidade diferente Soares28 em entrevista afirma ldquoSatildeo Chico eacute

identificada pela cultura tradicionalista gauacutecha a cuia em frente ao antigo preacutedio da

prefeitura demonstra o siacutembolo da hospitalidade de nosso povordquo A permanecircncia

ativa do CTG Rodeio Serrano na sede eacute outro indicativo forte da presente

identidade ligada as atividades do homem do campo Outro fato observado eacute a

constante praacutetica do laccedilo de vaca parada29 por jovens e crianccedilas nos paacutetios de suas

residecircncias bem como cavalarianos (homens mulheres jovens e crianccedilas) na

28 SOARES Luciana Olga Entrevista concedida agrave autora no dia 01 de marccedilo de 2018 29 Vaca parada uma espeacutecie de cavalete de madeira com aspectos de uma vaca usada por crianccedilas

que estatildeo iniciando neste esporte bem como usado como forma de entretenimento para jovens e adultos

51

avenida principal cavalgando entre os carros Ainda se percebe o respeito entre

motoristas de automotivos bicicletas e os cavalarianos todos ocupando o mesmo

espaccedilo

42 DISTRITO DE CAZUZA FERREIRA

O distrito de Cazuza Ferreira foi criado em 07 de janeiro de 1903 estando

situado a 85 quilocircmetros da Sede Andrade comenta em entrevista30 ldquoateacute acho que

Cazuza se desenvolveu primeiro que Satildeo Chicordquo31 visto que a criaccedilatildeo do distrito

acontece dias depois da emancipaccedilatildeo enquanto a criaccedilatildeo da vila do distrito de

Cazuza Ferreira se desenvolve segundo a entrevistada

A parte da Histoacuteria que eu sei eacute que houve a chegada de um Sr Chico Mestre eacute como eles chamavam Esse Sr veio as casas eram distantes umas das outras e ele comeccedilou a fazer oraccedilatildeo nas casas e reunir as pessoas e fundou o cemiteacuterio Entatildeo o Joseacute Ferreira de Castilhos que era dono daqui naquela eacutepoca um dos moradores que tinha bastante terra doou a terra para fazer a vila aiacute o que aconteceu segundo as histoacuterias era para ser ali onde eacute a cancha de laccedilo hoje do outro lado da estrada soacute que o terreno natildeo era apropriado entatildeo houve uma permuta com o Sr que era dono deste terreno aqui era Bossle aqui era bem mais alto e mais plano Entatildeo se construiu a Igreja e iniciou o povoamento da vila32

A moradora Basso ainda acrescenta que ldquoa vila foi sempre mais ou menos o

que ela eacute hojerdquo Ao observar o local pode-se perceber uma grande praccedila ao centro

rodeada de casas de comeacutercio posto de combustiacutevel posto de sauacutede o hotel a

Igreja Matriz juntamente com o salatildeo paroquial e casas residecircncias cujo aspecto

impressiona por a grande maioria das casas apresentam uma arquitetura que

perpassa o tempo A Figura 13 apresenta uma imagem da praccedila central tirada das

escadarias da Igreja Matriz

30 ANDRADE Nauro Bossle de Entrevista concedida agrave autora no dia 04 de marccedilo de 2018 31 Primeiro que Satildeo Chico eacute um termo comum usado pelos moradores do interior do municiacutepio de

Satildeo Francisco de Paula que ao se referir a Sede do municiacutepio usam o termo Satildeo Chico ou Satildeo Francisco de Paula pois seus moradores natildeo costumam na atualidade dizer lsquovou a Sedersquo e sim lsquovou a Satildeo Chicorsquo como se eles natildeo morassem no municiacutepio

32 BASSO Ceacutelia Pacheco Terres Entrevista concedida agrave autora no dia 04 de agosto de 2018

52

Figura 13 ndash Praccedila Central de Cazuza Ferreira

Fonte acervo pessoal da autora (2018)

Apesar de ter a preservaccedilatildeo arquitetocircnica a moradora Basso declara

O pai contava e outras pessoas contam que teve uma eacutepoca que tinha faacutebrica de tamanca33 jaacute teve faacutebrica de guaranaacute de queijo bastante coisa no sentido de selaria mas tudo foi se extinguindo as pessoas as famiacutelias natildeo deram continuidade e se sumiram natildeo existe mais nada disso mas estas faacutebricas natildeo davam renda ou seja trabalho para pessoas de fora pois elas eram administradas e cuidadas pelas famiacutelias Daiacute houve o periacuteodo das serrarias enquanto pode extrair madeira era o forte a vila movimentada enriqueceram alguns comerciantes locais o momento que extinguiu aquele trabalho eles foram embora e o povo daqui acomodou entatildeo hoje a vila tem bastante pessoas que foram embora trabalhar assim na juventude e hoje aposentados voltaram pois aqui para jovem natildeo tem sobrevivecircncia o uacutenico trabalho eacute na escola tem nove professores e uma funcionaacuteria em alguns funcionaacuterios da prefeitura acho que satildeo seis que cuidam do plantel de maacutequinas a enfermeira e o pessoal que cuida do posto do correio tambeacutem tem a ferraria mas ali eacute soacute os da proacutepria famiacutelia entatildeo o jovem acaba tendo que ir embora34

Os entrevistados Basso e Andrade relatam que apesar das adversidades o

povo de Cazuza Ferreira tem um amor pelas suas tradiccedilotildees mantendo vivos trecircs

aspectos que ambos consideram a marca identitaacuteria de seu povo e afirmam com

33 Tamanca calccedilado comum na regiatildeo solado de madeira com uma proteccedilatildeo sobre as pontas dos

dedos indo ateacute o peito do peacute em couro 34 BASSO Ceacutelia Pacheco Terres Entrevista concedida agrave autora no dia 04 de agosto de 2018

53

convicccedilatildeo ldquofalar de Cazuza eacute cavalhada hotel e rodeiordquo enquanto Basso acrescenta

que ldquoas cavalhadas satildeo heranccedila dos portugueses e estatildeo espalhadiacutessimas ateacute

nacionalmente atraveacutes da miacutedia porque natildeo pesquisei mas ateacute onde sei no Rio

Grande do Sul soacute tem aquirdquo

Na comunidade ainda segundo Basso ldquoa apresentaccedilatildeo das cavalhadas se

iniciou por volta de 1890 e permanece ativa ateacute hoje no passado existiam trecircs

cavalhadas as dos brancos dos amarelos e dos negrosrdquo acrescentando ldquomas hoje

natildeo haacute mas essa diferenciaccedilatildeordquo Em poliacutegrafo organizado por uma moradora local a

mesma explica que a cavalhada ldquoeacute uma luta simulada em que haacute vinte e quatro

participantes sendo doze de cada equiperdquo35 por meio da evoluccedilatildeo equestre e

movimentos de espada lanccedila e garrucha representando a batalha entre mouros e

cristatildeos Segundo esta moradora ldquoa batalha sempre termina sendo vencida pelos

cristatildeos demonstrando a submissatildeo dos mouros e a supremacia da religiatildeo cristatilderdquo

Atualmente o grupo depende da boa vontade de seus participantes conforme

explica

Hoje se tornou caro eacute exame dos cavalos transporte depende do querer das pessoas da boa vontade e tem pessoas engajadas que natildeo largam a famiacutelia do Renau que ele eacute o presidente do grupo ele tem um amor tatildeo grande pelas cavalhadas porque ele jaacute recebeu do pai dele do teu avocirc e do seu Ivo Cardoso e a vida dele agraves vezes me desgosto de alguma coisa pois faccedilo a narrativa do que estaacute sendo apresentado mas daiacute eu penso natildeo posso abandonar (sorri) Eacute uma tradiccedilatildeo que natildeo pode morrer mas os filhos do Renau o Marcos e o Marcelo daratildeo continuidade faz parte da famiacutelia tu sabe eacute da mesma famiacutelia Eacute uma grande tradiccedilatildeo que natildeo pode desaparecer temos que continuar peleando36

As cavalhadas satildeo apresentadas na praccedila central sempre durantes as festas

religiosas que acontecem na comunidade sendo assim organizadas

No primeiro ou segundo final de semana de fevereiro tem a festa da Nossa Senhora do Belo Horizonte que eacute a padroeira daqui Agora devido agrave comissatildeo e o padre um ano tem a festa dos morenos e no outro tem a dos agricultores que eram chamados de amarelos antigamente cuja devoccedilatildeo se daacute agrave Nossa Senhora do Rosaacuterio e Nossa Senhora da Penha Antigamente cada um tinha seu espaccedilo social para realizar a festa atualmente soacute se manteve a tradiccedilatildeo de comemorar os santos este ano eacute festa dos morenos ela seraacute dia 13 e 14 de outubro Todas as festas

35 Sendo que doze cavaleiros que representam os cristatildeos vestem tuacutenicas de veludo azul escuro e

os doze cavaleiros mouros vestem tuacutenicas vermelhas Sobre os ombros da tuacutenica haacute uma capinha esta capinha traz enfeites prateados bordados com lantejoulas e bototildees dourados e franjas de seda branca Todos os participantes usam bombacha branca de brim botas campeiras pretas chapeacuteu de palha de aba larga virada para cima com laccedilo de fita e barbicacho de acordo com a cor da tuacutenica

36 BASSO Ceacutelia Pacheco Terres Entrevista concedida agrave autora no dia 04 de agosto de 2018

54

religiosas ocorrem em dois dias saacutebado apresentaccedilatildeo das cavalhadas novena janta e baile no domingo tem a missa na Igreja Matriz logo apoacutes almoccedilo e reuniatildeo danccedilante Atualmente resgataram em dezembro a festa a Satildeo Cristoacutevatildeo sempre no primeiro final de semana de dezembro eacute uma missa com benccedilatildeo aos carros durante a procissatildeo e um almoccedilo ao meio-dia esta se daacute somente em um dia E tambeacutem temos de dois em dois anos a festa organizada pelo grupo das Cavalhadas esta ocorre em maio daiacute37

Os moradores explicam que a separaccedilatildeo racial desapareceu com o tempo

poreacutem se manteacutem a cultura de festejar todos os santos o que demonstra que o povo

de Cazuza eacute bastante devoto e cristatildeo E acrescenta em tempos idos que durante

as festas religiosas as pessoas se hospedavam no hotel segundo Basso que ldquoele

recebia tinha mercado junto teve ateacute cinema o pessoal gostava da comida da

Dona Vilma que era minha sogrardquo Este hotel eacute outro marco que identifica Cazuza

Ferreira poreacutem os moradores explicam que atualmente o Hotel do Campo manteacutem a

arquitetura mas funciona em uma modalidade diferenciada pois natildeo haacute como

sobreviver Entatildeo ele recebe hospeda sob reserva antecipada poreacutem natildeo serve

almoccedilo e janta as refeiccedilotildees satildeo feitas no Cantinho do Aconchego com quem

manteacutem uma parceria

Figura 14 ndash Hotel do Campo

Fonte acervo pessoal da autora (2018)

37 BASSO Ceacutelia Pacheco Terres Entrevista concedida agrave autora no dia 04 de agosto de 2018

55

Nesta comunidade tambeacutem eacute muito forte segundo os entrevistados38 a

tradiccedilatildeo gauacutecha que adveacutem do homem do campo o amante dos rodeios que nos

finais de semana saem de suas propriedades e se deslocam a outras comunidades

para participar dos eventos campeiros como o tiro de laccedilo Tambeacutem explanam que

existe o CTG Adatildeo Castilhos que estaacute interditado jaacute faz quase seis anos desde

que comeccedilaram a ser exigidos os PPCIs A partir deste momento eles natildeo puderam

mais fazer eventos ali eles realizam os rodeios ou festas campeiras mas laacute dentro

natildeo conseguiram mais fazer nada e taacute difiacutecil vai muito dinheiro para cumprir todas

as exigecircncias Sendo que este espaccedilo na deacutecada de 80 do seacuteculo XX foi palco de

grandes rodeios com apresentaccedilotildees campeiras artiacutesticas e grandes bailes A

moradora explica39 ldquoA Claudiana esposa do Paulo Cesar atual presidente se

inscreveu no projeto Meu Galpatildeo de Cara Nova do Galpatildeo Crioulo da RBS TV

tomara que ela seja classificadardquo Este projeto ajuda na reconstruccedilatildeo dos CTGs pelo

Rio Grande do Sul

Ao pesquisar sobre Cazuza Ferreira percebe-se o quatildeo forte eacute o culto agraves

tradiccedilotildees e o esforccedilo de seus moradores para elas permaneccedilam para futuras

geraccedilotildees visto que o tempo passou e a tradiccedilatildeo local natildeo sofreu alteraccedilotildees

43 DISTRITO DE TAINHAS

O distrito de Tainhas foi criado em 18 de outubro de 1922 estando situado a

33 quilocircmetros da Sede Se desenvolveu no entroncamento de duas rodovias a RS-

020 e a RS-453 cujas rodovias cortavam a vila do distrito Com o advento da

construccedilatildeo da Rota do Sol importante rodovia que hoje que liga Caxias do Sul agraves

praias aleacutem da construccedilatildeo do asfalto da RS-020 que vai a Satildeo Francisco de Paula

tudo mudou O morador Fagundes relata em entrevista40 ldquoaqui era mais habitado

por criadores fazendeiros e agora depois que saiu essa Rota do Sol o movimento

cresceu muito neacute mais por fora da vila entatildeo natildeo trouxe benefiacutecio para noacutesrdquo

Percebe-se que moradores entendem a importacircncia da construccedilatildeo das

rodovias poreacutem as mesmas natildeo trouxeram benefiacutecios econocircmicos para os

moradores locais

38 ANDRADE Nauro Bossle de BASSO Ceacutelia Pacheco Terres Entrevistas concedidas agrave autora no

dia 04 de agosto de 2018 39 BASSO Ceacutelia Pacheco Terres Entrevista concedida agrave autora dia 04 de agosto de 2018 40 FAGUNDES Darci da Silva Entrevista concedida agrave autora no dia 24 de fevereiro de 2018

56

Ainda conforme o morador Fagundes41 ldquoo iniacutecio da vila se deu devido agrave

necessidade de parada dos caminhoneiros que transportavam madeira como era

tudo estrada de chatildeo Tainhas ficava em local centralizado se construiu um hotel

que era do seu Pedro Pinhatildeo e da Dona Luisardquo A partir de entatildeo comeccedilou a

construccedilatildeo de casas e se formou a vila onde antes eram terras dos Pinto os

primeiros moradores de Tainhas tanto que o morador ressalta na entrevista42 ldquoo

nome da escola eacute Oliacutempio Soares Pinto que era o proprietaacuterio dessa terra e uma

das professoras mais antigas era Guilherma Pintordquo

Tainhas estaacute rodeada por campos matos de pinnus ilhote e lavouras

atualmente e explica

Hoje aqui eacute pinus e granjeiro plantando batata soja milho e a maioria veio de fora os moradores antigos desapareceram arrendaram ou venderam suas terras para esse pessoal que veio de Ibiraiara e de Maquineacute Itati Trecircs Forquilhas43

Percebe-se que a criaccedilatildeo de gado ou seja a pecuaacuteria extensiva deu lugar a

outras culturas com a chegada de novas pessoas ao distrito Mas segundo os

moradores o culto ao tradicionalismo gauacutecho permanece visto que no distrito

existe

O parque de rodeios do Rodeio Crioulo eacute o mais antigo que noacutes temos aqui natildeo sei se natildeo o primeiro piquete registrado de Satildeo Chico tem uns sessenta anos a nossa tradiccedilatildeo eacute o laccedilo O nosso rodeio acontece sempre no iniacutecio de janeiro hoje eu natildeo laccedilo mais mas o meu neto continua a minha tradiccedilatildeo A escola daqui faz a semana farroupilha com ronda eacute tudo muito lindo e assim se mantem a cultura44

A imagem apresentada na Figura 15 reforccedila a fala e a importacircncia do Piquete

de Laccediladores Rodeio Crioulo que atualmente mesmo estando nas terras de Satildeo

Francisco de Paula divisa com o municiacutepio de Cambaraacute do Sul por opccedilatildeo essa

entidade tradicionalista pertence ao entatildeo municiacutepio de Cambaraacute do Sul Poreacutem sua

fundaccedilatildeo acontece em 20 de janeiro de 1961 quando o entatildeo hoje municiacutepio de

Cambaraacute do Sul ainda era distrito de Satildeo Francisco de Paula

41 FAGUNDES Darci da Silva Entrevista concedida agrave autora no dia 24 de fevereiro de 2018 42 FAGUNDES Darci da Silva Entrevista concedida agrave autora no dia 24 de fevereiro de 2018 43 FAGUNDES Darci da Silva Entrevista concedida agrave autora no dia 24 de fevereiro de 2018 44 FAGUNDES Darci da Silva Entrevista concedida agrave autora no dia 24 de fevereiro de 2018

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Figura 15 ndash Flacircmula de comemoraccedilatildeo aos 50 anos da entidade

Fonte acervo pessoal da autora (2018)

Outro evento importante no distrito eacute realizado pela Escola Estadual de

Ensino Fundamental Oliacutempio Soares Pinto que satildeo atividades ligadas as tradiccedilotildees

gauacutechas na Semana Farroupilha como cavalgadas e gincanas com a participaccedilatildeo

de toda comunidade nesta semana principalmente a comunidade de Tainhas

ldquorespira tradicionalismordquo

O distrito de Tainhas atualmente conta com um posto de sauacutede e o correio

satildeo os serviccedilos puacuteblicos que funcionam no distrito visto que o cartoacuterio fechou O

entrevistado Fagundes relata45 ldquoeu era o juiz de paz desse Cartoacuterio minha funccedilatildeo

era julgar os casamentos mas daiacute fechou hoje o pessoal tem que ir a Satildeo Chicordquo O

morador ainda acrescenta ldquoateacute a rodoviaacuteria fechou os ocircnibus passam aqui Satildeo

Marcos que vem de Caxias e vatildeo a Torres desce de manhatilde e sobe de tarde Citral

de Satildeo Chico a Ouro Verde e agora Transneves da Pedra Lisa para Satildeo Chicordquo

Com uma certa tristeza relata46 ldquoaqui em Tainhas soacute tem o Cafeacute Tainhas do

Mauro eacute o brilho de Tainhas seraacute ponto histoacuterico daqui um tempo todo mundo fala

bem do Cafeacute Tainhasrdquo

Notoriamente a chegada do asfalto modificou a vida das pessoas neste

distrito visto que que os campos foram em boa parte transformados em lavoura se

45 FAGUNDES Darci da Silva Entrevista concedida agrave autora no dia 24 de fevereiro de 2018 46 FAGUNDES Darci da Silva Entrevista concedida agrave autora no dia 24 de fevereiro de 2018

58

percebe uma vila pacata jaacute que todo o movimento foi desviado por fora da vila e a

mesma natildeo proporciona lazer para as pessoas que ao terminarem o ensino

fundamental para continuar seus estudos precisam fazer uso do transporte escolar

e se deslocar ateacute a Sede ou ir ao municiacutepio de Cambaraacute do Sul

44 DISTRITO DE ELETRA

O distrito de Eletra foi criado em 31 de dezembro de 1932 estando situado a

19 quilocircmetros da Sede do municiacutepio Poreacutem a populaccedilatildeo local chama de Salto e

seu nome vem das barragens do Salto Blang e Divisa construiacutedas sobre o Rio do

Salto que atravessa o distrito Segundo a moradora local47 Soares ldquoas barragens

que fornecem aacutegua para as usinas no municiacutepio de Satildeo Francisco de Paula e nos

municiacutepios vizinhos de Canela Gramado e Cambaraacute do Sulrdquo A Figura 16 apresenta

uma imagem da Barragem do Salto barragem esta que se situa proacutexima da vila do

distrito

Figura 16 ndash Barragem do Salto

Fonte acervo pessoal da autora (2018)

Ao observarmos a Figura 16 percebe-se que o acesso da vila para o interior

do distrito acontece por uma ponte de concreto estreita com piso bastante irregular

47 SOARES Susana Marques Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018

59

e que em periacuteodos de fortes chuvas o acesso fica interrompido devido agrave altura

Poreacutem ao lado direito percebe-se uma estrutura pequena que segundo o morador

Gomes

Foi uma tentativa de uma empresa japonese construir uma ponte soacute que quando estavam construindo deu uma enchente e levou tudo a aacutegua abaixo a empresa foi embora e nunca mais voltou Jaacute foram feitos estudos que a ponte tem que ser construiacuteda mais para baixo e em forma de arco se natildeo a chuva leva de novo poreacutem natildeo acredito que saia algum dia48

Entende-se que a construccedilatildeo desta nova ponte melhoraria o acesso dos

proprietaacuterios rurais que para saiacuterem de suas propriedades em eacutepocas de chuva

intensa necessitam fazer um longo caminho por estradas de chatildeo batido para terem

acesso ao municiacutepio de Canela bem como a Sede de Satildeo Francisco de Paula

Contudo a moradora explica que a vila do distrito se forma muito antes da

construccedilatildeo da barragem

Em 1915 era uma fazenda chamada Fazenda do Salto e esta pertencia a Francisco Soares de Oliveira Neste local havia sua casa de moradia um galpatildeo e mangueiras onde realizava as suas atividades poreacutem em 1916 o Chico resolveu transferir a casa da Fazendo do Cerro para o Salto tambeacutem sendo construiacuteda aiacute a segunda casa a partir de entatildeo se iniciou o povoado com a construccedilatildeo de novas residecircncias para seus empregados e posteriormente se instalou uma serraria dos irmatildeos Delavechia esta sendo movida a aacutegua dando definitivamente o iniacutecio do povoamento da vila49

Ao analisar a fala da moradora local se percebe que onde hoje se encontra a

vila do distrito de Eletra jaacute foi uma fazenda identificando-se com a mesma formaccedilatildeo

do distrito Sede que tambeacutem surge de terras doadas por um fazendeiro Segundo a

entrevistada Soares50 ldquoa sua casa eacute uma das mais antigas tem 102 anos foi

construiacuteda de pinheiro serrada aqui mesmo na serrariardquo pode-se observar o oacutetimo

estado de conversaccedilatildeo da casa que traz traccedilos arquitetocircnicos europeus na sua

construccedilatildeo natildeo se tem imagem da casa visto que a entrevistada natildeo permitiu

nenhuma imagem de sua residecircncia

Outro fator importante do povoamento da vila segundo o morador local

Gomes51 ldquofoi o iniacutecio da construccedilatildeo da Barragem do Salto no ano de 1925rdquo onde

48 GOMES Jaures Feijoacute Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018 49 SOARES Susana Marques Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018 50 SOARES Susana Marques Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018 51 GOMES Jaures Feijoacute Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018

60

vieram muitos funcionaacuterios de vaacuterios lugares tendo como mestre da obra segundo

os moradores locais52 o ldquoAcircngelo Goubertrdquo

Devido agrave necessidade que se formou no distrito neste periacuteodo se abriu um

hotel farmaacutecia cartoacuterio rodoviaacuteria e cinema a moradora local Soares saudosa

diz53 ldquotudo fechou aqui natildeo tem mais nadardquo referindo-se a atual situaccedilatildeo que a vila

se encontra

Os moradores ainda declaram sobre o distrito54 ldquoestaacute abandonado pelo poder

puacuteblico ateacute o calccedilamento das ruas foi arrancadordquo poreacutem outrora foi um local de

muita alegria

A vida era uma festa permanente o tio Chico era casado com a tia Lisoca ela foi para Porto Alegre para os filhos estudar quando vinham nas feacuterias traziam os amigos O tio Chico pagava um gaiteiro por mecircs para ele toca toda noite entatildeo era aquele divertimento55

Atualmente na vila existe a Escola Estadual de Ensino Fundamental Cristino

Ramos com menos de cem alunos e a festa cristatilde cuja celebraccedilatildeo ocorre em

fevereiro sendo Santo Antocircnio o padroeiro local A moradora explica sobre a

construccedilatildeo da capela

A primeira capela a tempestade derrubou em 1957 se construiu outra O santo padroeiro eacute Santo Antocircnio a imagem foi trazida por quarenta cavaleiros Daiacute o padre pediu para que a imagem de Nossa Senhora Catarina tambeacutem fosse acolhida hoje temos dois padroeiros mas para mim Santo Antocircnio eacute o principal56

Percebe-se na fala dos moradores a sua devoccedilatildeo e sua preocupaccedilatildeo com o

futuro da vila visto que ateacute a questatildeo do cemiteacuterio jaacute foi palco de discussatildeo pois o

cemiteacuterio da vila iniciou pela famiacutelia dos Soares sendo este particular Poreacutem a

moradora explica com certa indignaccedilatildeo

O cemiteacuterio era particular da famiacutelia Soares teve um tempo que resolveram abrir veio gente ateacute de Passo Fundo ser enterrada aqui natildeo pediam para ningueacutem tomaram conta Daiacute organizamos uma comissatildeo responsaacutevel decidimos que tinha que ter uma contribuiccedilatildeo e natildeo podia trazer gente de fora para enterrar soacute gente daqui Ningueacutem pagou Aiacute mandei fazer cerca nova a parte dos Soares sempre limpei mas [] hoje acabo limpando tudo

52 GOMES Jaures Feijoacute SOARES Susana Marques Entrevistas concedidas agrave autora no dia 15 de

fevereiro de 2018 53 SOARES Susana Marques Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018 54 GOMES Jaures Feijoacute SOARES Susana Marques Entrevistas concedidas agrave autora no dia 15 de

fevereiro de 2018 55 SOARES Susana Marques Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018 56 SOARES Susana Marques Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018

61

porque ningueacutem limpa Enquanto eu for viva vou fazer depois vatildeo entregar para a prefeitura igreja natildeo sei57

A Figura 17 apresenta uma foto da igreja atual tendo em sua lateral direita a

capela mortuaacuteria e ao fundo o Salatildeo Paroquial da comunidade onde ocorre a festa

do Santo Padroeiro

Figura 17 ndash Igreja Santo Antocircnio ndash Distrito de Eletra

Fonte acervo pessoal da autora (2018)

Ao conversar com os moradores locais pode-se observar a feacute cristatilde poreacutem

ambos relatam que a festa de fevereiro atualmente eacute pouco divulgada motivo pelo

qual acreditam que natildeo haja um nuacutemero expressivo de pessoas Ambos sentem um

apreccedilo pelo local onde nasceram e vivem poreacutem ambos relatam

Aqui eacute lugar de dormir as pessoas trabalham em Canela e vem dormir aqui a grande maioria natildeo eacute daqui vieram de fora haacute muitas casas de veraneio tudo gente de Porto Alegre que vem passar feacuterias natildeo rende nada para aqui o que precisam trazem tudo de fora A maioria de quem mora aqui soacute dorme passa o dia fora O ocircnibus das 7 horas sai lotado a gente natildeo conhece mais ningueacutem daqui mesmo soacute noacutes Susana e eu58

Mesmo a vila sendo um local de parada estaacute rodeada de lindos campos e

fazendas cuja a atividade principal eacute a pecuaacuteria extensiva natildeo proporciona

57 SOARES Susana Marques Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018 58 GOMES Jaures Feijoacute Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018

62

trabalho no local motivo pelo qual seus moradores buscam sua subsistecircncia em

outro municiacutepio poreacutem possui uma exuberante natureza relata cheia de esperanccedila

a moradora local59 ldquoeu tenho esperanccedila que algueacutem olhe para caacute e veja as belezas

que tem aqui que o lugar volte a se desenvolverrdquo desenvolvimento este que

poderia vir atraveacutes da exploraccedilatildeo do turismo rural ldquoSe vocecirc quiser comer alguma

coisa agora natildeo vai encontrar nada aqui soacute tem lsquobutecorsquo60 mas eles natildeo vendem

nada nem sanduiacuteche pastel eacute uma vergonhardquo fala indignado o morador Gomes61

A populaccedilatildeo que vive nas fazendas aleacutem de ter as lides campeiras no seu

dia-a-dia nos finais de semana segundo o morador Gomes62 ldquolaccedila em torneio vai

nos rodeiosrdquo o que marca a presenccedila do tradicionalismo gauacutecho em uma parte da

populaccedilatildeo do distrito poreacutem com relaccedilatildeo aos moradores da vila natildeo haacute algo que

os identifique visto a miscigenaccedilatildeo que ocorreu e por haver muitas casas de

veraneio no local

45 DISTRITO DO JUAacute

O distrito do Juaacute foi criado em 10 de maio de 1950 e fica distante 65

quilocircmetros da Sede O distrito recebe esse nome devido a um espinho que havia

em abundacircncia no local nome este dado por tropeiros

Os accedilorianos que vinham de Santo Antocircnio da Patrulha e iam para Vacaria com cargueiros eles vinham fazer repouso laacute em cima no reduto e ali tinha muita frutinha do juaacute entatildeo os tropeiros saiam de Santo Antocircnio e diziam vamos posa laacute nos juaacute daiacute o nome do lugar que permanece ateacute hoje63

Juaacute eacute o nome dado a um espinho muito comum na regiatildeo dos campos de

cima da serra que daacute uma fruta amarela em formato redondo que segundo os

moradores locais eacute uma fruta venenosa conforme se observa na Figura 18

59 SOARES Susana Marques Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018 60 Buteco pequeno comeacutercio que normalmente vende bebidas alcooacutelicas e possui mesa de sinuca 61 GOMES Jaures Feijoacute Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018 62 GOMES Jaures Feijoacute Entrevista concedida agrave autora no dia 15 de fevereiro de 2018 63 REIS Orides Entrevista concedida agrave autora no dia 12 de maio de 2018

63

Figura 18 ndash Peacute com a fruta conhecido como Juaacute

Fonte acervo de Clessandra Palhano (moradora local) (2018)

O reduto citado pelo morador local ficava em uma fazenda local onde hoje se

encontra a vila do distrito conforme o entrevistado Reis explica

O primeiro morador eu natildeo lembro soacute sei que o Juaacute era de pouca gente famiacutelia Pedroso e Castilhos daiacute foram morrendo inventariando e vendendo e aos poucos se formou a vila importante o dono de tudo isso aiacute tinha dois escravos no iniacutecio teve escravidatildeo claro na eacutepoca de mil oitocentos e pouco eu acho mas teve E hoje deve ter descendente destes escravos por aiacute64

Escravidatildeo que vai dar origem ao preconceito racial e a um modelo particular

da localidade que sem precisar data explica o morador

Aqui tinha dois salatildeo trecircs com o da Igreja mas era dois salatildeo social Era um clube de brancos que era dos ricos neacute fazendeiros o Salatildeo Vera Cruz e depois fundaram o Satildeo Valentim que era dos morenos que na eacutepoca ateacute eu fui presidente Cada um no seu salatildeo agora quando dava a festa cristatilde em homenagem ao Satildeo Joatildeo de Deus todo o povo reunia-se quando chegava de noite no saacutebado no baile entatildeo cada um ia pro seu salatildeo A muacutesica ficava no salatildeo dos brancos daiacute colocava umas caixas de som laacute pros morenos com um fio pra eles danccedila Um natildeo podia entra no baile do outro tinha o presidente para cuida Cada um no seu tudo se respeitava e obedecia aquela ordem65

Ainda acrescenta a moradora local Santos

64 REIS Orides Entrevista concedida agrave autora no dia 12 de maio de 2018 65 REIS Orides Entrevista concedida agrave autora no dia 12 de maio de 2018

64

O nosso eu natildeo me lembro o nome tem tanto papel mas natildeo sei onde estaacute o nosso dos pretos neacute ningueacutem implicava eles natildeo deixavam noacutes entra no salatildeo Vera Cruz eu entrava de cozinheira empregada porque ali era lugar dos ricaccedilos eles podiam se associar mas o nosso tambeacutem enchia mas eles iam no nosso baile de nego soacute olhavam As festas duravam dias Tinha aquele foguetoacuterio era tatildeo bonito66

Percebe-se na fala dos moradores como esta divisatildeo racial se fazia presente

que havia por parte dos negros um profundo respeito pelos brancos mesmo eles

tendo acesso ao salatildeo Vera Cruz somente para servi-los em nenhum momento se

percebeu que eles se sentissem diminuiacutedos pela situaccedilatildeo ateacute pela cultura que

advinha desde os primeiros moradores locais

Esta divisatildeo social permanece por longo tempo e somente vai desaparecer

nos anos 80 do seacuteculo XX com a contribuiccedilatildeo do Frei Abiacutelio que veio da Vacaria

durante Missotildees convocadas pelo paacuteroco local padre Afonso que conseguiu

modificar esta organizaccedilatildeo implantando a ideia de igualdade e ignorando tudo

aquilo a partir de entatildeo os negros comeccedilaram a frequentar a sociedade Vera Cruz

contribuiccedilatildeo dos entrevistados67 que ao abordar o assunto demonstraram repulsa

pelo passado mas ao mesmo tempo reconhecem que o racismo ainda eacute presente

na comunidade poreacutem devido agraves leis existe um cuidado maior

Atualmente negros e brancos convivem em harmonia participam da festa

cristatilde cujo padroeiro eacute Satildeo Joatildeo de Deus e dos torneios de laccedilo mas geralmente

quem laccedila satildeo os fazendeiros Saudoso o morador68 afirma que ldquouma vez tinha as

carreradas tinha trecircs canchas passava o domingo nas canchas brincando nas

corridas de cavalos tudo terminourdquo Acrescenta69 ainda que ldquoem 70 80 tinha o

futebol o campo era na baixada acho que tem ainda trofeacuteu ai mas daiacute a gurizada

foi embora para a cidade terminou o timerdquo

A vila se construiu de maneira simples tendo a Igreja Catoacutelica com o Salatildeo

Paroquial agrave direita o antigo Centro de Tradiccedilotildees Gauacutechas Laccedilo Velho do Juaacute onde

resta apenas o preacutedio de madeira corroiacuteda pelo tempo ao fundo a cancha de laccedilo

do Piquete de Laccediladores Velho do Juaacute entidade tradicionalista que se manteacutem ativa

desde o iniacutecio da deacutecada de 1960 ao redor haacute casas de moradias que formam ao

centro uma grande praccedila sem nenhuma infraestrutura em frente a esta praccedila

66 SANTOS Deotildes Palhano dos Entrevista concedida agrave autora no dia 12 de maio de 2018 67 REIS Orides SANTOS Deotildes Palhano Entrevistas concedida agrave autora no dia 12 de maio de

2018 68 REIS Orides Entrevista concedida agrave autora no dia 12 de maio de 2018 69 REIS Orides Entrevista concedida agrave autora no dia 12 de maio de 2018

65

perpassa uma rua de chatildeo batido sendo que a escola da comunidade fica do outro

lado a escola eacute municipal se chama Bento Eziacutedio Rodrigues atende

aproximadamente vinte alunos que estatildeo matriculados nas seacuteries iniciais do ensino

fundamental tendo duas professoras e um funcionaacuterio para fazer merenda e limpar

o paacutetio como se pode observar na Figura 19

Figura 19 ndash Praccedila Vila do Distrito Juaacute ao fundo cancha de laccedilo

Fonte acervo pessoal da autora (2018)

Ambos os entrevistados70 explicam que o Juaacute atualmente eacute um lugar de

idosos aposentados que outrora as pessoas viviam das roccedilas e da pecuaacuteria

extensiva na deacutecada de 1980 com o advento da induacutestria em Caxias do Sul os

jovens abandonaram seu modo de vida e foram buscar novas oportunidades poreacutem

estes jovens que foram embora retornam com frequecircncia natildeo perdendo a sua

essecircncia Relataram que a uacutenica fonte de trabalho eacute ser peatildeo de fazenda fazendas

estas que produzem o queijo serrano ou vendem leite para a Piaacute71 sendo que a

lavoura eacute para subsistecircncia Outra fonte de renda eacute ser funcionaacuterio da serraria cujo

proprietaacuterio e Joatildeo Egiacutedio que funciona proacuteximo da vila Outro fator importante eacute a

venda de pequenas chaacutecaras para moradores de Caxias do Sul que vem aos finais

70 REIS Orides SANTOS Deotildes Palhano Entrevistas concedidas agrave autora no dia 12 de maio de

2018 71 Piaacute Cooperativa Agropecuaacuteria Petroacutepolis Ltda Empresa que faz a coleta do leite nas fazendas da

regiatildeo

66

de semana descansar na localidade poreacutem se percebe que estes novos moradores

muitas vezes natildeo interagem com os moradores locais

Segundo o morador Reis72 ldquoapesar da vinda de pessoas de outros lugares o

Juaacute natildeo perdeu sua identidade fala em Juaacute lembra pinhatildeo colheita do pinhatildeo ateacute

haacute uma criacutetica que diz na eacutepoca do pinhatildeo o juazeiro fala grossordquo Ditado que o

entrevistado73 reafirma sorrindo ldquona eacutepoca do pinhatildeo o juazeiro fala grosso claro

que eacute apenas um dito popular uma maneira de se referir mas sempre eacute dito haacute

aqueles que natildeo gostamrdquo

Nota-se que a vida na comunidade do Juaacute se passa de forma tranquila com

poucos moradores que sua identidade estaacute relacionada agrave pecuaacuteria extensiva com

as lides com o gado bem como ao pinhatildeo uma fruta tiacutepica que se desenvolve na

Araucaacuteria ou pinheiro nativo como eacute conhecido na regiatildeo O pinhatildeo seja ele

assado cozido ou paccediloca74 eacute muito consumido pelos moradores do interior de Satildeo

Francisco de Paula durante o inverno inclusive como mistura do cafeacute da manhatilde

46 DISTRITO DO RINCAtildeO DOS KROEFF

O distrito de Rincatildeo dos Kroeff foi criado em 10 de maio de 1950 Fica a 35

quilocircmetros distante da Sede poreacutem muito antes de se institucionalizar oficialmente

este espaccedilo moradores locais contam como tudo se iniciou

Meu avocirc foi um dos primeiros a vim para caacute ele se chamava Guilherme Faciole ele nasceu no navio vindo da Itaacutelia Ele contava que teve uma desavenccedila em Caxias e fincou o peacute pra caacute pra natildeo acharem ele que aqui era soacute mato e na revoluccedilatildeo de 35 ele fugia de casa para natildeo ser levado pelas tropas os piquetes levavam para combater entatildeo ele sempre dizia que pousou vaacuterias noites embaixo dos peraus da serra do Umbu para natildeo ser levado O falecido vovocirc vivia da caccedila do porco do mato tateti ele fazia charque de porco para ter a carne ele viveu 106 anos e dizia se natildeo tivesse fumado viveria mais uns dez isso faz parte da histoacuteria do Rincatildeo dos Kroeff Junto teve o falecido Acircngelo Menegaacutes que entro aqui na mesma eacutepoca Eles satildeo os fundadores do distrito75

O acesso ao distrito Rincatildeo dos Kroeff permanece totalmente pela estrada de

chatildeo batido sendo possiacutevel ir ao municiacutepio de Maquineacute descendo pela serra do

Umbu Poreacutem muito antes da estrada a busca de mantimentos e o escoamento da

72 REIS Orides Entrevista concedida agrave autora no dia 12 de maio de 2018 73 REIS Orides Entrevista concedida agrave autora no dia 12 de maio de 2018 74 Paccediloca carne de porco moiacuteda e frita no azeite ou banha a qual se acrescenta o pinhatildeo jaacute cozido

e moiacutedo 75 FACIOLE Reinaldo Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de marccedilo de 2018

67

produccedilatildeo se dava pelos carreiros visto que natildeo havia abertura de estrada e nem

viatura76 como os moradores relatam

Tudo era na tropeada as tropas que ia para Rolante Na tropeada saia um tropeiro na frente e um recircs com um cincerro que era a madrinheira da tropa saia laacute pelo Chuvisqueiro e saia laacute em Rolante perdia boi na estrada ficava semanas boi perdido agraves vezes nem se achava mais tambeacutem tinha tropa de porco e tinha as tropeadas de mula puxando milho feijatildeo trigo tudo produzido aqui e levado de cargueiro carreta era muito pouco porque natildeo tinha estrada para anda era soacute os trilhos pelo meio dos matos e campos e se produzia milho era o inverno inteiro saia tropas e mais tropas com trinta quarenta mulas burros transportando mantimentos da produccedilatildeo do gratildeo haacute tambeacutem tinha a flor de Pireto que era lucro ningueacutem conhece isso aiacute hoje essa flor era levada para Taquara e fazia veneno para formiga tudo que era tipo de veneno era uma flor muito toacutexica Acredita tropear galinha pois eacute a gente criava bastante saia com os cargueiros como era a vida eles faziam um girau no cesto naqueles balaios para fazer duas camas uma mais em cima e outra em baixo daiacute quando era veratildeo era muito quente tinha que no meio da viagem tirar de dentro do cesto botar na aacutegua na sanga para natildeo morrer ateacute chegar no mercado dali para praia a eacutepoca que mais vendia era novembro e dezembro daiacute tinha preccedilo bom tudo criada solta aviaacuterio nem se falava77

Ao ouvir os moradores se percebe que a construccedilatildeo do distrito aconteceu

devido ao esforccedilo e trabalho de muitas pessoas visto que o local era de mata nativa

densa e precisou ser desmatado para ser ocupado pelas pessoas Explica o

entrevistado Faciole78 ldquopara fazer uma lavoura tambeacutem precisava derrubar o

pinheiro seu Onorino Buffon me contou que faziam fogo ao redor do pinheiro eles

eram muito grosso para derrubar a machado entatildeo faziam fogo secavam para

depois fazer a roccedilardquo E a moradora79 local acrescenta ldquoaqui tambeacutem tinha os

barbacuazeiros produziam erva mais aqui eles soacute tiravam a erva e sapecavam e

depois ia para outro lugar industrializa tudo era diferenterdquo

Poreacutem segundo os moradores este modelo de vida rudimentar se modifica

com a chegada das serrarias sendo que a dos Kroeff foi a primeira juntamente com

a serraria se viu a necessidade da construccedilatildeo de novas casas para os

trabalhadores surgindo ali a vila do distrito Rincatildeo dos Kroeff no iniacutecio a serraria era

tudo manual relata Faciole80 ldquoa uacutenica forma de tira a madeira era com um enfieira

76 Viatura se refere a carro de passeio caminhotildees 77 FACIOLE Reinaldo FACIOLE Maria Madalena Scalco Entrevistas concedidas agrave autora no dia 18

de marccedilo de 2018 78 FACIOLE Reinaldo Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de marccedilo de 2018 79 FACIOLE Maria Madalena Scalco Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de marccedilo de 2018 80 FACIOLE Reinaldo Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de marccedilo de 2018

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de boi eu cheguei a ver cinco ternos de boi carreiro81 emendado puxando um

pinheiro eacute uma bicheira de boi natildeo tinha outra formardquo

Rincatildeo dos Kroeff eacute o menor distrito de Satildeo Francisco de Paula poreacutem em

suas terras se desenvolveu a cultura dos hortifrutigranjeiros desde muito cedo jaacute

que sua colonizaccedilatildeo eacute basicamente italiana e alematilde e os italianos tecircm a cultura do

plantio visando lucro A moradora Faciole82 afirma ldquotudo comeccedilou por aqui depois

se expandiu para o municiacutepio comeccedilamos com moranga branca depois repolho

couve broacutecolis alface e daiacute veio beterraba e tudo o restordquo Acrescenta ainda83 que

ldquodaqui saiacuteram os primeiros caminhotildees de hortifruacuteti do municiacutepio para a Ceasa teve

eacutepoca de sair quarenta caminhotildees por dia do Rincatildeo hoje natildeo sai mais porque

muitos foram buscar novos lugares para plantarrdquo E juntamente com a mudanccedila dos

proprietaacuterios em busca de novas terras muitos de seus funcionaacuterios foram embora

junto afirma em entrevista o morador local84 ldquomuita gente do Rincatildeo foi embora

muitas gurias foram embora para estudar para achar emprego e natildeo voltaram maisrdquo

Atraveacutes da fala da moradora pode-se observar que apesar do distrito ser

produtivo enfrenta algumas dificuldades com relaccedilatildeo ao estudo de seus moradores

que para continuarem seus estudos se assim o desejarem necessitam abandonar

seus pais e ir em busca na Sede ou arredores visto que no distrito existe uma uacutenica

escola Gastatilde Henth Esta eacute municipal e atende dos quatro anos ao nono ano do

ensino fundamental A moradora Faciole explica

O coleacutegio hoje tem 99 alunos ao total quando eles terminam o nono ano alguns vatildeo estudar mas satildeo pouquiacutessimos os outros ficam por aiacute mesmo natildeo tem um transporte que leve eles para fazer o ensino meacutedio na Sede que seria a escola de ensino meacutedio mais proacuteximo se quiser estudar vai ter que ir embora reforccedila quem e trabalhador fica trabalhando com os pais quem natildeo eacute [] As pessoas na sua grande maioria soacute tem o ensino fundamental aqui85

Este eacute um dos grandes problemas enfrentados pelos moradores do Rincatildeo

dos Kroeff a possibilidade de continuar estudando A escola que laacute existe os

moradores locais natildeo sabem precisar a data mas sabem que foi durante o mandato

81 Ternos de boi carreiro significam vaacuterias duplas de bois cangados e ligados por um pedaccedilo de

madeira que vatildeo na canga entre a dupla de bois Esse pau roliccedilo na regiatildeo se chama de cambatildeo 82 FACIOLE Maria Madalena Scalco Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de marccedilo de 2018 83 FACIOLE Maria Madalena Scalco Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de marccedilo de 2018 84 FACIOLE Reinaldo Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de marccedilo de 2018 85 FACIOLE Maria Madalena Scalco Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de maio de 2018

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do prefeito Escobar (1977-1982) que ela foi construiacuteda Neste contexto aparece

tambeacutem a dificuldade de se locomover fazendo uso do transporte puacuteblico

Haacute sete anos atraacutes o Rincatildeo estava bom mesmo tinha ocircnibus da praia agraves vezes passava quatro a cinco ocircnibus da praia tudo pela serra do Umbu Agora soacute tem um trecircs dias por semana As empresas deixaram de trafegar por aqui elas natildeo vatildeo descer numa serra de chatildeo batido sendo que tem a outra86 com asfalto87

Os moradores se orgulham da festa religiosa que acontece todos os anos em

agosto sendo que o santo padroeiro eacute Satildeo Roque A festa da comunidade

apresenta uma tradiccedilatildeo local muito interessante na segunda-feira apoacutes a festa ela

continua para os moradores locais que vatildeo ao salatildeo paroquial para se divertir entre

si e esta eacute uma tradiccedilatildeo que eacute comentada em todo o municiacutepio Faciole88 saudoso

afirma ldquopara ti ter uma ideia nessa festa chegava dar vinte poucos ocircnibus lotado que

vinham de outros municiacutepios como Igrejinha Taquara Porto Alegre Novo

Hamburgo o espaccedilo ficava pequenordquo Acrescenta89 ainda ldquoaqui noacutes tinha o Clube

Serrano que dava baile janta italiana dava um movimento louco mas terminou ateacute

o baile das rainhas cada ano era uma era tatildeo lindo mas tudo se acabourdquo

Figura 20 ndash Imagem da Igreja Satildeo Roque em dia de festa no Rincatildeo dos Kroeff

Fonte acervo pessoal da autora (2018)

86 A outra se refere a rodovia RS-453 conhecida como Rota do Sol 87 FACIOLE Reinaldo Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de marccedilo de 2018 88 FACIOLE Reinaldo Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de marccedilo de 2018 89 FACIOLE Reinaldo Entrevista concedida agrave autora no dia 18 de marccedilo de 2018

70

Percebe-se que o distrito Rincatildeo dos Kroeff eacute o uacutenico que obteve em seu

iniacutecio uma colonizaccedilatildeo por descentes de italianos dentro do municiacutepio de Satildeo

Francisco de Paula o que demonstra o quatildeo forte se daacute a tradiccedilatildeo ldquoitalianardquo neste

local permanecendo intriacutenseca na vida cotidiana de seu povo com a cultura do

plantio de hortifrutigranjeiros que permanece apesar do tempo como sendo a sua

maior identidade local

47 DISTRITO DE LAJEADO GRANDE

Lajeado Grande em tempos idos pertenceu ao distrito de Cazuza Ferreira e

somente em 12 de dezembro de 1968 se tornou um distrito independente segundo

a Lei nordm 655 encontrada nos autos da Prefeitura Municipal de Satildeo Francisco de

Paula A vila do distrito Lajeado Grande fica distante 63 quilocircmetros da Sede e se

situa na confluecircncia do Arroio Porco Morto e o Rio Bururi Seu surgimento acontece

segundo o morador Fogaccedila90 ldquopor volta de 1940 com a abertura da estrada Canela

ndash Bom Jesus a atual RS-476 que corta a vila do Distritordquo Essa estrada segundo o

morador facilitou a locomoccedilatildeo que anteriormente era feita totalmente pelas trilhas e

picadas por onde somente se passava a cavalo ou de carreta E o entrevistado

explica como acontece o desenvolvimento inicial da vila

Tu sabe aqui tem o nome de Lajeado Grande por causa do rio que eacute cheio de lajes grandes o que facilitava a travessia e as terras aqui por roda era tudo do falecido Pequeno Cardoso ele doou parte para a construccedilatildeo da vila onde o falecido Leopoldino Cardoso irmatildeo do Pequeno tinha uma lsquobudega velharsquo91 por aqui sendo o primeiro comeacutercio da vila92

A abertura da estrada possibilitou o desenvolvimento da vila juntamente com

o Casaratildeo um hotel pensatildeo que foi construiacutedo as margens do Arroio Porco Morto

este Casaratildeo passou por diversos proprietaacuterios

Leopoldino Cardoso foi o idealizador do Casaratildeo juntamente com os seus soacutecios Heraacuteclito Andrade de Cardoso lsquoJoanitorsquo Joseacute Osoacuterio de Lima lsquoZecarsquo e Pequeno Cardoso sendo que o Casaratildeo era uma casa de negoacutecio compravam queijo couro era um comeacutercio forte vendia secos e molhados inclusive a primeira rodoviaacuteria foi instalada neste espaccedilo poreacutem em 1948 Joatildeo Pacheco Cardoso assume e amplia o estabelecimento construindo o segundo piso da casa de madeira e alugando para outros dois moradores

90 FOGACcedilA Blair dos Santos Entrevista concedida agrave autora no dia 06 de abril de 2018 91 Budega velha referindo-se a uma antiga casa de comeacutercio de secos e molhados localizada onde

hoje se encontra o armazeacutem Celeiro 92 FOGACcedilA Blair dos Santos Entrevista concedida agrave autora no dia 06 de abril de 2018

71

Eremi Terres e Claunir Lucena Com a reforma o Casaratildeo passa a ter treze quartos para aluguel uma loja onde encontrava-se tudo o que se necessitava de alfinete tecido alimentos e raccedilotildees aleacutem da ala que servia de moradia para os proprietaacuterios Em 1962 o estabelecimento eacute alugado para Eraldo Bento de Oliveira que aleacutem de gerenciar o estabelecimento colocou junto um bar local de encontro dos homens da redondeza para tomar um lsquotragorsquo93 (CERUTTI SILVA CARDOSO 2002 p 19)

Figura 21 ndash Imagem do Casaratildeo pouco antes de ser desmanchado

Fonte acervo pessoal de Fernando Oliveira (conhecido como Guego) (2018)

O Casaratildeo foi desmanchado na deacutecada de 1980 pelo entatildeo proprietaacuterio Reno

Pacheco Poreacutem percebe-se na vila que seus antigos moradores falam com certo

saudosismo deste estabelecimento que fez parte de suas vidas e chegam a

lamentar o seu fim morador Fogaccedila94 afirma ldquoali se fez o pastel mais famoso do

Lajeado Grande o pastel da Odila mas tudo se acabou quando eles entregaram e

construiacuteram laacute na esquinardquo95

Poreacutem a vila Lajeado Grande foi lentamente se desenvolvendo Devido agrave

necessidade da conservaccedilatildeo da nova estrada foi construiacuteda agraves margens do Rio

Bururi uma capatazia do DAER Segundo Cerutti Silva e Cardoso (2002 p 18) ldquoo

primeiro capataz foi Capitulino Prudecircncio de Oliveira vindo de Santa Catarina sua

funccedilatildeo era manter as estradas e chegou a ter vinte funcionaacuteriosrdquo Percebe-se que a

93 Trago expressatildeo local que significa beber uma cachaccedila 94 FOGACcedilA Blair dos Santos Entrevista concedida agrave autora no dia 06 de abril de 2018 95 Esquina eacute o nome dado a parte da vila do Lajeado Grande onde se daacute o entroncamento das

rodovias RS-453 e ERS-476

72

partir deste momento se inserem neste distrito pessoas advindas de outros estados

e locais visto que ateacute o presente momento o distrito era habitado por fazendeiros

naturais do proacuteprio municiacutepio e que tinham suas vidas ligadas diretamente agrave

pecuaacuteria extensiva e agrave produccedilatildeo do queijo serrano Importante destacar que a

esposa de Capitulino segundo Cerutti Silva e Cardoso (2002 p 18) ldquoa Celicina

Guilherme da Silva se torna uma figura conhecida por realizar partos sendo

chamada como parteira de campanhardquo Na atualidade filhos netos e bisnetos do

casal ainda residem na vila

A vila do Lajeado Grande tambeacutem recebe novos moradores com a praacutetica do

corte do pinheiro nativo sendo que na deacutecada de 1950 havia uma faacutebrica de

beneficiamento de madeira ateacute se transformar em pasta este material era levado

para Esteio onde funcionava agrave matriz A partir dos anos 1950 ocorre a instalaccedilatildeo de

serrarias sendo que a Madeireira Albeflor de propriedade de Valter Sguaizer se

instala em 1964 Novamente busca-se matildeo de obra em localidades proacuteximas como

Lagoa Vermelha Vacaria e Bom Jesus poreacutem com a proibiccedilatildeo da extraccedilatildeo de

madeira de lei a serraria deixou de funcionar

Percebe-se que no distrito natildeo houve uma homogeneizaccedilatildeo identitaacuteria visto a

influecircncia advinda de muitas culturas no passado atraveacutes da extraccedilatildeo de madeira

e na atualidade com o advento das lavouras de hortifrutigranjeiros e pomares

frutiacuteferos que ocupam boa parte do distrito substituindo a pecuaacuteria extensiva que jaacute

natildeo proporciona um lucro efetivo Entatildeo os proprietaacuterios na sua grande maioria

venderam ou arrendaram suas terras para novas culturas o que modifica o modo de

vida local pois grande parte dos trabalhadores adveacutem de outros estados como o

Paranaacute e tambeacutem se observa o uso da matildeo de obra indiacutegena

Essa miscigenaccedilatildeo se observa nas escolas locais visto que na vila funciona a

Escola Municipal D Pedro I que segundo Cerutti Silva e Cardoso (2002 p 35)

ldquoinicia em 1965 poreacutem a professora e o preacutedio eram mantidos pela Serraria mas na

deacutecada de 70 a prefeitura assumiu a escola sendo que Eloci Martim foi a primeira

professora da Serrariardquo Escola da Serraria como ainda eacute conhecida por boa parte

dos moradores locais apesar de a escola natildeo se encontrar mais onde havia a antiga

serraria Atualmente a Escola Dom Pedro I funciona em um preacutedio obtido atraveacutes da

Associaccedilatildeo de Moradores atendendo alunos da preacute-escola ateacute o sexto ano das

seacuteries finais tendo em seu quadro seis professores e duas funcionaacuterias Sendo que

73

a obra para um novo preacutedio teve iniacutecio neste ano mas percebe-se que a obra parou

por volta do mecircs de maio Poreacutem na vila tambeacutem se encontra uma escola estadual

A documentaccedilatildeo necessaacuteria para a criaccedilatildeo de uma nova escola na localidade foi elaborada por Manoel Cardoso de Andrade juntamente com a professora Odazilda Cardoso Demori e encaminhada agrave Secretaria da Educaccedilatildeo sendo que em 11 de fevereiro de 1953 foi criada a Escola Isolada de Lajeado Grande sendo os professores estaduais mas o preacutedio sob responsabilidade comunitaacuteria iniciou o seu funcionamento nas dependecircncias do DAER e somente em 1957 foi construiacutedo um preacutedio de madeira em terras doadas por Pequeno Cardoso local onde hoje ainda se encontra a escola poreacutem passou por muitas reformas sendo que em 2000 recebeu um novo preacutedio de alvenaria o que possibilitou a realizaccedilatildeo de um grande sonho dos professores e comunidade a implantaccedilatildeo do Ensino Meacutedio que concretizou-se em 200296

Atualmente a escola atende em torno de trezentos alunos da Educaccedilatildeo

Baacutesica poreacutem percebe-se que devido agraves safras de hortifrutigranjeiros o nuacutemero de

alunos se alterna durante o ano O que tambeacutem se percebe eacute o comportamento dos

alunos com relaccedilatildeo agrave diversidade cultural por exemplo usam bombacha laccedilam boi

de pau no recreio e escutam funk uma cultura totalmente diferente da tradicionalista

gauacutecha o que compreende-se como algo advindo da globalizaccedilatildeo cultural que

vivemos no mundo atual reforccedilando novamente o natildeo reconhecimento de uma

identidade forte na localidade

Poreacutem as famiacutelias tradicionais do local manteacutem fortemente arraigada a

cultura tradicionalista que adveacutem do homem do campo tendo no distrito festas

campeiras torneios de laccedilo e a festa religiosa uma vez por ano em homenagem ao

Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus padroeiro da vila

Na atualidade natildeo se percebe uma identidade forte e marcada no distrito e

sim uma miscigenaccedilatildeo de diferentes culturas e etnias que convivem e se integram

harmonicamente

96 CARDOSO Amaacutelia Celuderes Entrevista concedida agrave autora no dia 08 de marccedilo de 2018

74

5 DESCRICcedilAtildeO DO PRODUTO

O produto consiste em um livro paradidaacutetico sobre a histoacuteria de Satildeo Francisco

de Paula Apresenta de maneira didaacutetica a histoacuteria de Satildeo Francisco de Paula bem

como balotildees explicativos imagens sugestotildees de atividades e leituras

complementares Poderaacute servir de apoio pedagoacutegico a professores e alunos do

municiacutepio visto que existe pouco material sobre a histoacuteria deste municiacutepio e se faz

importante trabalhar a histoacuteria local percepccedilatildeo que a autora obteve ao longo da sua

caminhada como professora de histoacuteria que atua nas seacuteries finais do ensino

fundamental e meacutedio haacute dezessete anos na rede estadual do municiacutepio

Partir do local natildeo eacute abandonar o conhecimento histoacuterico eacute dar outro valor

sentido para este conhecimento Segundo Caimi

Levar em conta o universo da crianccedila ou do adolescente natildeo eacute pois abdicar do rigor intelectual [] mas garantir que a apropriaccedilatildeo deste conhecimento ocorra permeada de sentido e significado resultando em soacutelidas aprendizagens (CAIMI 2006 p 24)

Seguindo esta perspectiva a implantaccedilatildeo do Referencial Curricular Gauacutecho

embasado na Base Nacional Comum Curricular reforccedila a ideia jaacute discutida nos

paraacutegrafos anteriores

No que se refere especificamente ao componente Histoacuteria a base rompe tanto com a cronologia quanto agrave visatildeo eurocecircntrica da histoacuteria tradicional Entram em cena novos atores novas sociedades novos caminhos que sempre tiveram na histoacuteria mas nem sempre receberam a devida importacircncia Acompanhando a Base Nacional Comum Curricular o Referencial Curricular Gauacutecho no que se refere especificamente agrave disciplina de Histoacuteria manteacutem seu foco na aprendizagem dos alunos nos diferentes espaccedilos e tempos tendo a preocupaccedilatildeo de integrar o curriacuteculo com a diversidade regional de nosso Estado Tambeacutem eacute importante contemplar os temas integradores como eacutetica cidadania cultura e valorizaccedilatildeo das diversidades assegurando a multiplicidade de olhares sobre o mundo (RIO GRANDE DO SUL 2018 p 118)

Portanto o paradidaacutetico seraacute mais um material disponiacutevel aos professores e

estudantes da educaccedilatildeo baacutesica de Satildeo Francisco de Paula na construccedilatildeo do

conhecimento da histoacuteria do municiacutepio bem como o reconhecimento de sua

identidade neste material visto que se almeja que os estudantes percebam

vestiacutegios de sua identidade e se percebam como parte deste municiacutepio atraveacutes do

conhecimento de sua histoacuteria

75

O paradidaacutetico vem com o tiacutetulo rdquoTropeando histoacuterias em Satildeo Francisco de

Paulardquo sendo que a capa traz a foto do Monumento aos Carreteiros monumento

que se encontra na Avenida Juacutelio de Castilhos em frente ao preacutedio da Prefeitura

Municipal

Figura 22 ndash Capa do livro

Fonte Livro Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula

Na sequecircncia se apresenta o iacutendice que possibilita ao leitor localizar os

diversos temas abordados visto que existem nove capiacutetulos

76

Figura 23 ndash Iacutendice do livro

Fonte Livro Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula

77

O capiacutetulo um apresenta a localizaccedilatildeo de Satildeo Francisco de Paula com uma

seacuterie de mapas que facilitam a compreensatildeo espacial dos alunos assim como um

mapa da subdivisatildeo do municiacutepio em distrito Ao final satildeo sugeridas duas atividades

que podem ser desenvolvidas de maneira interdisciplinar com o apoio da professora

de arte geografia e portuguecircs

Figura 24 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 1)

Fonte Livro Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula

78

Figura 25 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 1)

Fonte Livro Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula

O capiacutetulo dois aborda a existecircncia indiacutegena em Satildeo Francisco de Paula

antes da chegada dos desbravadores vindos de Satildeo Paulo Como sugestatildeo de

atividades apresenta-se uma pesquisa sobre as diferentes tribos indiacutegenas que

habitavam a Proviacutencia de Satildeo Pedro aleacutem da criaccedilatildeo de um painel infograacutefico

79

Figura 26 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 2)

Fonte Livro Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula

No capiacutetulo trecircs se apresentam os primeiros donataacuterios colonizadores de Satildeo

Francisco de Paula com trecho de um testamento deixado por Pedro da Silva

Chaves o fundador de Satildeo Francisco de Paula bem como o mapa que localiza as

primeiras sesmarias que corresponde ao territoacuterio onde hoje eacute a Sede do municiacutepio

80

Figura 27 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 3)

Fonte Livro Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula

Nos capiacutetulos quatro e cinco eacute apresentado o desenvolvimento de Satildeo

Francisco de Paula ainda no seacuteculo XIX quando pertencia ao municiacutepio de Santo

Antocircnio da Patrulha e no final do seacuteculo XIX quando passa a pertencer ao entatildeo

81

municiacutepio de Taquara do Mundo Novo Existe tambeacutem um mapa que demonstra a

extensatildeo territorial de Santo Antocircnio da Patrulha e quais satildeo os municiacutepios hoje que

pertenceram a este bem como a importacircncia da abertura da estrada que liga Satildeo

Francisco de Paula a Taquara

Figura 28 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 4)

Fonte Livro Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula

82

Os capiacutetulos seis e sete apontam a construccedilatildeo do Municiacutepio a partir de sua

emancipaccedilatildeo em 1903 sua extensatildeo territorial e a diminuiccedilatildeo do seu territoacuterio ao

longo do tempo e a histoacuteria da Igreja Matriz Como sugestatildeo de atividade pesquisar

a diversidade religiosa existente na comunidade escolar e criar graacuteficos com essas

informaccedilotildees podendo a partir de entatildeo trabalhar com as questotildees religiosas ontem

e hoje no mundo

Figura 29 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 6)

Fonte Livro Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula

83

No capiacutetulo oito se apresenta o que difere os sete distritos de Satildeo Francisco

de Paula Este capiacutetulo se apresenta subdividido em sete subtiacutetulos onde cada um

corresponde a um distrito do municiacutepio Tendo como fonte principal as entrevistas

realizadas com moradores locais mesclado com fontes documentais e bibliograacuteficas

que corroboram para se perceber que haacute alguns distritos que manteacutem suas tradiccedilotildees

ao longo do tempo e eacute possiacutevel perceber que existe uma identidade que aproxima

aquela populaccedilatildeo

Figura 30 ndash Atividade do livro (capiacutetulo 8)

Fonte Livro Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula

84

No uacuteltimo capiacutetulo o nove se exibe uma lista de sugestotildees de leituras

complementares a fim de se aprofundarem sobre determinados temas E por fim

as referecircncias utilizadas para a construccedilatildeo do paradidaacutetico Tropeando Histoacuterias em

Satildeo Francisco de Paula

Figura 31 ndash Atividade do livro (Sugestatildeo de Leituras Complementares)

Fonte Livro Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula

85

O produto foi testado em duas turmas da Educaccedilatildeo Baacutesica na Escola

Estadual de Ensino Meacutedio Lajeado Grande com o propoacutesito de avaliar qual seria a

reaccedilatildeo dos estudantes diante do material e por ele ter sido produzido por algueacutem

que convive com eles semanalmente A receptividade foi bastante gratificante como

se pode observar na Figura 32

Figura 32 ndash Alunos do Ensino Meacutedio

Fonte acervo pessoal da autora (2019)

A receptividade foi muito interessante visto que os estudantes

acompanharam a trajetoacuteria para chegar ao produto final algo que os deixava

ansiosos para manusear pois muitas vezes foram parceiros A autora foi

compartilhando com os estudantes as informaccedilotildees obtidas durante a pesquisa e as

descobertas encontradas usando em suas aulas a histoacuteria local para abordar os

diferentes temas e conceitos histoacutericos

Quando a autora apresenta o produto os estudantes do ensino meacutedio estes

formam grupos por distritos e buscam logo reconhecer no material sua identidade

apoacutes comentam sobre as peculiaridades de cada distrito Poreacutem os alunos do

ensino fundamental manuseiam o produto mas natildeo se deteacutem ao distrito em que

pertence e sim as imagens e as explicaccedilotildees apresentadas no vocecirc sabia

O que enriquece o trabalho realizado foi o envolvimento dos estudantes com

o produto solicitando quando poderatildeo ler calmamente todo o trabalho

86

6 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

A partir de experiecircncias pessoais em sala de aula se percebeu que o ensino

de Histoacuteria quando se partia da histoacuteria local havia maior interesse dos estudantes

da educaccedilatildeo baacutesica motivo pelo qual se deu a questatildeo-problema desta dissertaccedilatildeo

que estaacute relacionada diretamente com o natildeo uso desta histoacuteria pelos professores da

educaccedilatildeo baacutesica

Em conversas informais com professores da educaccedilatildeo baacutesica que atuam no

municiacutepio de Satildeo Francisco de Paula em sua grande maioria alegam que o grande

empecilho para se trabalhar a histoacuteria local eacute o pouco material disponiacutevel sobre a

histoacuteria de Satildeo Francisco de Paula aleacutem do rigor dos curriacuteculos que impotildeem o

ensino de Histoacuteria de maneira linear sem contextualizaccedilatildeo com a realidade vivida

pelos estudantes pois desta forma natildeo estatildeo preparando os estudantes para as

avaliaccedilotildees do Ministeacuterio da Educaccedilatildeo bem como para o vestibular Poreacutem natildeo se

estaacute afirmando que deveraacute estudar somente a histoacuteria local e sim partir dela como

incentivo para estudos dos conceitos e temaacuteticas da histoacuteria por muitas vezes

totalmente abstrato e de difiacutecil compreensatildeo pela grande maioria dos estudantes

A partir de entatildeo se realizaram inuacutemeros questionamentos como qual a

necessidade de se ensinar Histoacuteria de forma abstrata sem nenhuma relaccedilatildeo com

as vivecircncias dos estudantes Por que natildeo usar a fonte oral como metodologia de

pesquisa no ensino de Histoacuteria em Satildeo Francisco de Paula jaacute que natildeo existem

muitos materiais escritos a respeito desta histoacuteria principalmente no que tange os

distritos do interior Poreacutem estes questionamentos natildeo foram aprofundados na

dissertaccedilatildeo por natildeo ser o objetivo direto da pesquisa mas posteriormente poderaacute

se tornar um novo projeto de pesquisa

Nesta incessante busca por resposta se constroacutei todo o estudo desta

dissertaccedilatildeo que em um primeiro momento busca embasamento em diferentes

autores que comprovam que o ensino de Histoacuteria voltado para o local faz maior

sentido para os estudantes da educaccedilatildeo baacutesica e que isto natildeo significa abandonar

os conceitos histoacutericos e sim questionar analisar a trajetoacuteria humana no tempo e

no espaccedilo sob uma nova metodologia Apenas se sugere uma nova abordagem

que torne o ensino de Histoacuteria menos abstrato algo mais presente na vida do

estudante e que possibilite a ele a habilidade de perceber que o mundo estaacute em

constante mudanccedila poreacutem os fatos natildeo ocorrem de forma isolada no espaccedilo Algo

87

que foi reforccedilado apoacutes a construccedilatildeo da Base Nacional Curricular e o Referencial

Curricular Gauacutecho que vem de encontro com esta proposta de se estudar a histoacuteria

sobre novos olhares natildeo esquecendo das especificidades regionais do estado do

Rio Grande do Sul para o reconhecimento da identidade local e regional

A identidade local nesta pesquisa se buscou atraveacutes de relatos de

moradores locais que gentilmente colaboraram para o sucesso deste trabalho pois

a memoacuteria se tornou a fonte primordial para se escrever o que identifica os sete

distritos que constituem Satildeo Francisco de Paula Certamente a temaacutetica natildeo se

esgotou ainda haacute muito que se pesquisar e escrever sobre a histoacuteria de Satildeo

Francisco de Paula possibilitando a criaccedilatildeo de novos materiais que possam ser

usados em sala de aula pelos professores e alunos deste municiacutepio

Mas ao mesmo tempo haacute uma preocupaccedilatildeo por parte da autora nada

adianta criar produtos sinalizar novos meacutetodos ao ensino de Histoacuteria se o

profissional professor natildeo estiver preparado para trabalhar com novas fontes

histoacutericas novas metodologias de ensino proporcionando aos estudantes a

oportunidade de construir seu proacuteprio conhecimento histoacuterico embasado em sua

realidade e suas vivecircncias

Vivecircncias que se tornaram aliadas na pesquisa pois a autora nasceu e

sempre viveu no municiacutepio de Satildeo Francisco de Paula poreacutem a maior dificuldade

encontrada nesta caminhada foi percorrer grandes distacircncias por estradas de

rodagem em peacutessimas condiccedilotildees de trafegabilidade para gravar os relatos que

servem de base para a construccedilatildeo desta pesquisa O municiacutepio de Satildeo Francisco de

Paula eacute territorialmente extenso e essas distacircncias percorridas deram o nome ao

produto Tropeando Histoacuterias em Satildeo Francisco de Paula como uma homenagem

aos antigos tropeiros deste municiacutepio que passavam boa parte de sua vida ao

lombo de mulas levando e buscando mercadorias pelos campos de cima da serra

Visto que desde o processo seletivo do mestrado em agosto de 2016

quando se apresentou o projeto de pesquisa jaacute se pensava no produto um livro

paradidaacutetico no formato fiacutesico A autora por diversas vezes foi questionada por que

natildeo um blog ou site Porque na forma fiacutesica este material seria de faacutecil manuseio

pelos estudantes e professores pois principalmente no interior uso da internet ainda

eacute um problema visto que em muitos locais natildeo existe sinal de telefonia diraacute

internet

88

O paradidaacutetico foi se moldando ao longo do tempo ateacute se chegar a versatildeo

final com uma ampla gama de informaccedilotildees e curiosidades sobre os sete distritos de

Satildeo Francisco de Paula onde se pretende que os alunos e professores possam

fazer uso deste material em sala de aula para tanto a autora pretende

posteriormente lanccedilar o produto para que possa ser lido e manuseado por todos

inclusive por aqueles que gostam de histoacuteria e sentem curiosidade sobre a formaccedilatildeo

do seu distrito e por conseguinte do municiacutepio de Satildeo Francisco de Paula

O paradidaacutetico foi testado em duas turmas da Escola Estadual de Ensino

Meacutedio Lajeado Grande sendo uma de Ensino Meacutedio e a outra das seacuteries finais do

Ensino Fundamental Os alunos jaacute detinham o conhecimento que a autora estava

cursando o Mestrado e que para sua conclusatildeo deveria apresentar um produto Era

de conhecimento de todos os estudantes que a autora estava produzindo um

paradidaacutetico sobre a histoacuteria de Satildeo Francisco de Paula pois a mesma eacute professora

destes estudantes nesta escola

Em um primeiro momento se explica que eacute apenas um protoacutetipo que

somente a capa estaacute colorida e o restante estaacute todo em preto e branco e que a

versatildeo final teraacute as imagens e as curiosidades coloridas o que com certeza

chamaraacute mais atenccedilatildeo Ao entregar o paradidaacutetico Tropeando Histoacuterias em Satildeo

Francisco de Paula para que possam manuseaacute-lo veio a primeira grande surpresa

os estudantes ficaram muito contentes por a turma ter sido escolhida pela autora

escolha essa que se justifica por ter trabalhado todo o ano de 2017 com estes

alunos partindo da histoacuteria local

A turma do oitavo ano do Ensino Fundamental manuseou sendo que os

alunos acharam interessante poreacutem se deteram mais nas imagens e balotildees do

ldquovocecirc sabiardquo Mas de maneira ampla e geral acharam muito interessante a foto de

capa com o Monumento aos Carreteiros situado na Avenida Juacutelio de Castilhos em

frente ao preacutedio da Prefeitura Municipal pois alguns natildeo conhecem a Sede do

municiacutepio

Os alunos do segundo ano do Ensino Meacutedio se surpreenderam e foram direto

ler sobre o distrito no qual residem Interessados questionaram sobre curiosidades

de como o material foi construiacutedo quais as maiores dificuldades encontradas

elogiaram o leiaute as imagens de fundo ao lado de cada curiosidade relatando que

chama a atenccedilatildeo aleacutem de considerarem relevantes as sugestotildees de atividades e

ao final solicitaram quando o material estaraacute disponiacutevel para que possam ler

89

integralmente visto que um periacuteodo de cinquenta minutos natildeo foi suficiente para que

todos manuseassem se fazendo necessaacuterio levar novamente na proacutexima aula

A autora se sentiu motivada pela recepccedilatildeo do produto por seus alunos o que

a incentiva continuar pesquisando sobre outras temaacuteticas a respeito da histoacuteria de

Satildeo Francisco de Paula trazendo para seu fazer pedagoacutegico novas fontes que

proporcionem um estudo da Histoacuteria de maneira ampla e contextualizada com a

realidade local que os cerca

90

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Entrevistas

Amaacutelia Celuderes Cardoso residente no distrito de Lajeado Grande Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 08 de marccedilo de 2018

Blair dos Santos Fogaccedila residente no distrito de Lajeado Grande Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 06 de abril de 2018

Ceacutelia Pacheco Terres Basso residente no distrito de Cazuza Ferreira Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 04 de agosto de 2018

Darci da Silva Fagundes residente no distrito de Tainhas Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 24 de fevereiro de 2018

Deotildes Palhano dos Santos residente no distrito do Juaacute Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 12 de maio de 2018

Jaures Feijoacute Gomes residente no distrito de Eletra Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 15 de fevereiro de 2018

Luciana Olga Soares residente no distrito Sede Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 01 de marccedilo de 2018

Maria Madalena Scalco Faciole residente no distrito do Rincatildeo dos Kroeff Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 18 de marccedilo de 2018

Moacir Castello Branco de Albuquerque residente no distrito Sede Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 06 abril de 2018

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Nauro Bossle de Andrade residente no distrito de Cazuza Ferreira Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 04 de marccedilo de 2018

Orides Reis residente no distrito do Juaacute Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 12 de maio de 2018

Reinaldo Faciole residente no distrito do Rincatildeo dos Kroeff Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 18 de marccedilo de 2018

Susana Marques Soares residente no distrito de Eletra Satildeo Francisco de PaulaRS Entrevista realizada no dia 15 de fevereiro de 2018

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APEcircNDICES

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APEcircNDICE A ndash ENTREVISTA COM MORADORES LOCAIS DOS DISTRITOS DE

SAtildeO FRANCISCO DE PAULA

UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL

PROGRAMA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO EM HISTOacuteRIA ndash MESTRADO EM HISTOacuteRIA PROFISSIONAL

PESQUISA DE CAMPO ndash TATIANA MEacuteLO CARDOSO

1 Nome completo

2 Idade

3 Quantos anos reside neste distrito

4 Como se formou este distrito

5 Por que ele tem esse nome

6 Quem foram os primeiros moradores

7 Como era a vida aqui haacute tempos atraacutes

8 O que mudou aqui com o passar dos anos

9 O que identifica este lugar

10 As pessoas hoje que moram aqui na grande maioria satildeo naturais daqui ou vieram

de onde

11 A(o) Sra(Sr) acredita que as futuras geraccedilotildees valorizaram eou conheceram a

histoacuteria local ou vai se perder no tempo

12 Como funcionava a questatildeo do ensino em meados do seacuteculo XX havia escola na

localidade

13 Qual a primeira escola deste distrito data de fundaccedilatildeo local de funcionamento e a

primeira professora

14 Achas importante trabalhar nas escolas a histoacuteria do lugar

15 O que eacute tradiccedilatildeo deste distrito

16 Qual eacute a fonte de renda das pessoas no que elas trabalham

17 Qual eacute o lazer das pessoas aqui

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APEcircNDICE B ndash TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Declaro por meio deste termo que concordei em ser entrevistado(a) eou participar na

pesquisa de campo referente ao projetopesquisa Ensino de Histoacuteria Local e o Paradidaacutetico

caso Satildeo Francisco de Paula desenvolvida pela aluna Tatiana Meacutelo Cardoso do Programa de

Poacutes-Graduaccedilatildeo em Histoacuteria ndash Mestrado Profissional da Universidade de Caxias de Sul Fui

informado(a) que poderei consultaacute-la a qualquer momento que julgar necessaacuterio atraveacutes do e-

mail t_ati_mhotmailcom

Afirmo que aceitei participar por minha proacutepria vontade sem receber qualquer

incentivo financeiro ou ter qualquer ocircnus e com a finalidade exclusiva de colaborar para o

sucesso da pesquisa Fui informado(a) dos objetivos estritamente acadecircmicos de estudo

Minha colaboraccedilatildeo natildeo ficaraacute anocircnima e foi realizada por meio de entrevista

semiestruturada A anaacutelise dos dados obtidos seratildeo divulgados natildeo permanecendo restritas

apenas a pesquisadora eou seu(s) orientador(es) coordenador(es)

Fui ainda informado(a) de que posso me retirar desse(a) estudopesquisa programa a

qualquer momento sem prejuiacutezo para meu acompanhamento ou sofrer quaisquer sanccedilotildees ou

constrangimentos Atesto recebimento de uma coacutepia assinada deste Termo de Consentimento

Livre e Esclarecido

Satildeo Francisco de Paula ___ de _____________ de ____

Assinatura do(a) participante

Assinatura do responsaacutevel

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