UNIVERSIDADE DE ÉVORA - dspace.uevora.pt¡tica de... · Partindo de um quadro teórico como...
Transcript of UNIVERSIDADE DE ÉVORA - dspace.uevora.pt¡tica de... · Partindo de um quadro teórico como...
UNIVERSIDADE DE ÉVORA
ESCOLA DE CIÊNCIAS SOCIAIS
DEPARTAMENTO DE PEDAGOGIA E EDUCAÇÃO
Prática de Ensino Supervisionada em Educação Pré- Escolar e Ensino do 1.º Ciclo do Ensino Básico:
A função reguladora da avaliação
Isolinda Rosa Pintado Bailote Esperança
Orientação: Doutora Isabel José Botas Bruno Fialho
Mestrado em Educação Pré-Escolar e Ensino do 1º Ciclo do Ensino Básico
Relatório de Estágio
Évora, 2015
Agradecimentos
Agradeço à educadora Arminda Escária e à professora Leonor Rosário, por todos os
momentos de partilha, apoio e reflexão que me proporcionaram. Obrigado pelo carinho com
que me acolheram em ambas as instituições, por me incluírem como um membro da equipa,
dispostas a ensinar e a aprender.
Um agradecimento muito especial para a minha orientadora Prof.ª Doutora Isabel José
Botas Bruno Fialho, pela atenção e disponibilidade que sempre demonstrou ao longo deste
percurso e também por ter sido a responsável pelo meu interesse e vontade de aprofundar os
meus conhecimentos acerca do tema da avaliação. Agradeço, todo o tempo que dispensou
para me apoiar e aconselhar, possibilitando-me alargar os meus horizontes como profissional.
Agradeço também, a todas as crianças da sala A do pré-escolar e do 3.º ano de
escolaridade do 1.º ciclo, por todos os momentos de carinho e afeto que partilhámos, assim
como, pelas aprendizagens conjuntas que realizámos.
Obrigado, a todos os professores que me ajudaram a compreender, a experimentar, a
conhecer novos conceitos e formas de desenvolver a minha profissionalidade. Agradeço, à
Prof.ª Dr.ª Maria da Conceição Leal da Costa, orientadora da minha PES em 1.º ciclo, pela
disponibilidade, partilha de opiniões, ideias e momentos de reflexão.
Agradeço de forma especial, ao meu marido e à minha filha pela compreensão e pelo
apoio que me deram, em todos os momentos em que os deixei para segundo lugar, mesmo
quando precisavam de mim. Obrigado também aos meus pais e irmãos, especialmente à minha
mãe pelo apoio incondicional.
Obrigado a todos aqueles que me apoiaram ao longo deste percurso e que me ajudaram
a atingir um sonho que agora se realiza.
Resumo
O presente relatório da Prática de Ensino Supervisionada (PES) resulta da observação e
participação no contexto da PES em Pré-Escolar, na Escola Básica e Jardim de Infância dos
Canaviais, pertencente ao Agrupamento n.º4 de Évora e da PES em 1.º Ciclo do Ensino Básico
na Escola Básica Sr.ª da Glória, pertencente ao Agrupamento Manuel Ferreira Patrício de
Évora (anteriormente designado Agrupamento n.º1 de Évora).
Este relatório está centrado na temática da função reguladora da avaliação e tem como
objetivo compreender e refletir sobre a avaliação e como as práticas de avaliação formativa
promovem as aprendizagens e regulam a ação dos educadores/professores na sala de
aula/atividades.
Partindo de um quadro teórico como referência, e utilizando as escalas de avaliação
ECERS – Edição Revista, como instrumento de análise da qualidade do ambiente educativo
no contexto da sala de aula em pré-escolar, assim como o Sistema de Acompanhamento de
Crianças (SAC) como instrumento de avaliação do contexto, em duas dimensões: o bem-estar
emocional e a implicação das crianças no contexto educativo. Estes instrumentos permitiram-
me conhecer o contexto mais aprofundadamente, conduzindo a uma consolidação da ação
educativa. No que concerne ao 1.º Ciclo do Ensino Básico, investiga-se o uso do feedback oral
e escrito na regulação das aprendizagens, pretendendo promover o desenvolvimento de
competências de leitura e de escrita.
Palavras – chave: Pré-escolar; 1.º Ciclo do Ensino Básico; avaliação; feedback; avaliação
formativa; prática de ensino supervisionada.
Report of teaching practice in Pre-school and Primary school:
Regulatory function of assesment
Abstract
This report of Supervised Teaching Practice (ESP) results from the observation and
participation in the context of ESP Preschool, in the Primary School and Kindergarten of
Canaviais, belonging to the 4th Grouping of Évora, and ESP 1st Cycle of Basic Education in
the Primary School of Sr.ª of Glória, belonging to the Grouping Manuel Ferreira Patrício of
Évora (anteriorly designated 1th Grouping of Évora).
This report focuses on the theme of the regulatory function of assessment and aims to
understand and reflect on the evaluation and how formative assessment practices promote the
learning and regulate the action of educators / teachers in the classroom / activities.
From a theoretical framework as a reference, and using evaluation scales ECERS -
Revised Edition, as an analytical tool the quality of the educational environment in the context
of the classroom in preschool, as well as the Children Tracking System (CTS) to evaluate the
context, in two dimensions: emotional well-being and the involvement of children in the
educational context. These instruments allowed me to know the further context, leading to a
consolidation of educational action. With regard to the 1st Cycle of Basic Education,
investigates the use of oral and written feedback in the regulation of learning and to help
promote the development of reading and writing skills.
Keywords: Pre-school; 1st cycle of basic education; evaluation; feedback; formative
assesment; supervised teaching practice.
Índice Geral
Índice Quadros ....................................................................................................................................... i
Índice Figuras ........................................................................................................................................ ii
Índice Gráficos ...................................................................................................................................... iii
Índice de Anexos .................................................................................................................................. iv
Índice de Apêndices .............................................................................................................................. v
Introdução ............................................................................................................................................. 1
Capítulo I – Enquadramento Teórico .................................................................................................... 4
1.1. A avaliação como instrumento regulador da aprendizagem ..................................................... 4
1.2. O papel da avaliação formativa na prática letiva ................................................................. 13
1.2.1. A importância do feedback oral e escrito ..................................................................... 20
1.2.2. O questionamento oral ................................................................................................. 23
1.3. Os intervenientes na avaliação ............................................................................................ 26
1.3.1. A autoavaliação ............................................................................................................. 27
1.3.2. A heteroavaliação .......................................................................................................... 29
1.3.3. A coavaliação ................................................................................................................. 30
Capítulo II - Contextos da Prática de Ensino Supervisionada .............................................................. 33
2.1. Contexto da prática de ensino supervisionada no pré-escolar. ............................................... 33
2.1.1. Caraterização do grupo ................................................................................................. 36
2.1.2. Organização da ação educativa ..................................................................................... 42
2.2. Contexto da prática de ensino supervisionada em 1.º ciclo ................................................ 58
2.2.1. Caraterização do grupo ................................................................................................. 60
2.2.2. Organização da ação educativa ..................................................................................... 63
Capítulo III – Dimensão Investigativa da Prática de Ensino ................................................................ 70
3.1. Objetivos .............................................................................................................................. 71
3.2. Metodologia ......................................................................................................................... 72
3.3. Apresentação, análise e interpretação dos dados ............................................................... 77
3.3.1. Avaliação geral do grupo de Pré-escolar em relação ao bem-estar emocional e à
implicação. .............................................................................................................................. 79
3.3.2. Avaliação do ambiente educativo em Pré-escolar em relação às atividades disponíveis.
................................................................................................................................................. 87
3.3.3. Avaliação do ambiente educativo em Pré-escolar em relação à linguagem/raciocínio.
................................................................................................................................................. 93
3.3.4. Avaliação do uso de feedback oral no desenvolvimento de competências de leitura no
1.º ciclo. ................................................................................................................................... 99
3.3.5. Avaliação do uso de feedback escrito no desenvolvimento de competências de
produções escritas. ............................................................................................................... 109
Considerações Finais ......................................................................................................................... 115
Referências Bibliográficas ................................................................................................................. 119
i
Índice Quadros
Quadro 1- Práticas de avaliação reguladora (adaptado de Santos, 2008). ......................................... 19
Quadro 2 - Escolas e Jardins-de-Infância do Agrupamento n.º 4 e respetiva localização geográfica. 33
Quadro 3 - Distribuição do grupo de crianças do pré-escolar, por sexo e idades (em 21-02-2014). . 37
Quadro 4 – Principais interesses e necessidades demonstrados pelas crianças (final de fevereiro de
2014). .................................................................................................................................................. 40
Quadro 5 - Distribuição do grupo de crianças do 1.º ciclo, por sexo e idades (em 29-09-14). ........... 60
Quadro 6 - 1.ª avaliação do grupo em relação ao bem-estar emocional e à implicação. .................. 79
Quadro 7 - 2.ª avaliação do grupo em relação ao bem-estar emocional e à implicação. .................. 83
Quadro 8 - Registo da 1.ª avaliação de leitura oral........................................................................... 100
Quadro 9 - Registo da 2.ª avaliação de leitura oral........................................................................... 105
ii
Índice Figuras
Figura 1 - A avaliação e o processo de ensino e aprendizagem (adaptado de Pinto & Santos, 2006). 5
Figura 2 - A avaliação e o processo de ensino e aprendizagem (adaptado de Pinto & Santos, 2006) . 7
Figura 3 - A avaliação e o processo de ensino e aprendizagem (adaptado de Pinto & Santos, 2006).
............................................................................................................................................................. 11
Figura 4 - A avaliação e o processo de ensino e aprendizagem (adaptado de Pinto & Santos, 2006).
............................................................................................................................................................. 12
Figura 5 - Avaliação como assistência à aprendizagem (adaptado de Pinto & Santos, 2006). ........... 16
Figura 6 - Tipos de feedback (adaptado de Gipps, 1999 citado por Pinto & Santos, 2006). ............... 21
Figura 7 - Práticas de avaliação reguladora (adaptado de Régnier, 2002). ........................................ 26
Figura 8 - Quadro de presenças. ......................................................................................................... 44
Figura 9 - Plano da Semana. ................................................................................................................ 45
Figura 10 - Planta da sala A (após alteração realizada na interrupção letiva da Páscoa). .................. 47
Figura 11 - Identificação da área da escrita. ....................................................................................... 48
Figura 12 - Tempo dos jogos de manhã. ............................................................................................. 53
Figura 13 - Registo da avaliação da semana. ...................................................................................... 56
Figura 14 - Exemplo 1 (texto escrito pelo aluno e respetivo feedback). ........................................... 111
Figura 15 - Exemplo 2 (texto escrito pelo aluno e respetivo feedback). ........................................... 112
Figura 16 - Exemplo 3 (texto escrito pelo aluno e respetivo feedback). ........................................... 113
iii
Índice Gráficos
Gráfico 1 – Tempo de frequência na instituição. ................................................................................ 38
Gráfico 2 – Número de incidências no indicador bem-estar emocional (1.ª avaliação). .................... 81
Gráfico 3 – Número de incidências no indicador implicação (1.ª avaliação). ..................................... 81
Gráfico 4 – Comparação entre os indicadores implicação e bem-estar emocional (1.ª avaliação). ... 82
Gráfico 5 – Número de incidências no indicador bem-estar emocional (2.ª avaliação). .................... 84
Gráfico 6 – Número de incidências no indicador implicação (2.ª avaliação). ..................................... 85
Gráfico 7 – Comparação entre os indicadores implicação e bem-estar emocional (2.ª avaliação). ... 85
Gráfico 8 – Comparação das médias obtidas na 1.ª e na 2.ª avaliação para os indicadores implicação
e bem-estar emocional. ...................................................................................................................... 86
Gráfico 9 – Perfil obtido na escala atividades. .................................................................................... 92
Gráfico 10 – Perfil obtido na escala linguagem-raciocínio. ................................................................. 97
iv
Índice de Anexos
Anexo 1 – (SAC) – Avaliação do bem-estar emocional ..................................................................... 122
Anexo 2 – (SAC) – Avaliação da implicação ....................................................................................... 126
Anexo 3 – ECERS – Escala Linguagem-Raciocínio: Subescala 15. Livros e Imagens .......................... 130
Anexo 4 – ECERS – Escala Linguagem-Raciocínio: Subescala 16. Encorajar as crianças a comunicar
........................................................................................................................................................... 131
Anexo 5 – ECERS – Escala Linguagem-Raciocínio: Subescala 17. Uso da linguagem para desenvolver
competências de raciocínio ............................................................................................................... 132
Anexo 6 – ECERS – Escala Linguagem-Raciocínio: Subescala 18. Uso informal da linguagem .......... 133
Anexo 7 – ECERS – Escala Atividades: Subescala 19. Motricidade fina............................................. 134
Anexo 8 – ECERS – Escala Atividades: Subescala 20. Arte ................................................................ 135
Anexo 9 – ECERS – Escala Atividades: Subescala 23. Areia/água ...................................................... 136
Anexo 10 – ECERS – Escala Atividades: Subescala 25. Natureza/ciência .......................................... 137
Anexo 11 – ECERS – Escala Atividades: Subescala 26. Matemática/número ................................... 138
Anexo 12 – Texto da 1.ª Avaliação de fluência de leitura oral.......................................................... 139
Anexo 13 – Texto da 2.ª Avaliação da fluência de leitura oral .......................................................... 140
v
Índice de Apêndices
Apêndice 1 – Reflexão 6 .................................................................................................................... 142
Apêndice 2 – Reflexão 7 .................................................................................................................... 151
Apêndice 3 – Reflexão 7 .................................................................................................................... 161
Apêndice 4 – Reflexão 3 .................................................................................................................... 168
1
Introdução
O presente relatório resulta da observação e intervenção desenvolvida no âmbito das
unidades curriculares da Prática de Ensino Supervisionada em Pré-escolar e em 1.º Ciclo do
Ensino Básico, que integram o plano de estudos do Mestrado em Educação Pré-escolar e
Ensino do 1.º Ciclo do Ensino Básico da Universidade de Évora.
O Relatório Final de mestrado apresenta assim uma natureza teórico-prática,
constituindo uma oportunidade de aplicar a teoria na prática e de reflexão sobre a prática,
construindo os alicerces para o profissional de qualidade.
Ambas as PES contaram com momentos diferenciados, que num primeiro período
contemplaram cerca de duas semanas de observação participante, que nos proporcionou o
conhecimento do contexto, seguindo-se o período de intervenção plena nesses mesmos
contextos, de cerca de três meses. Com base nos diversos momentos de observação e de
reflexão, num processo gradual, foi-nos possibilitado conhecer e adequar ao contexto, às suas
rotinas, hábitos, famílias, equipa docente e não docente, que conduziram a uma ação baseada
nos interesses, necessidades e competências do grupo e de cada uma das crianças.
O perfil geral de desempenho profissional do educador de infância e dos professores
dos ensinos básico e secundário, definidos pelo Decreto-Lei n.º 240/2001 de 30 de Agosto, é
também um referencial a ter em conta na construção da profissão docente e que apoiou
igualmente o meu desempenho. Neste enunciam-se referenciais comuns a todos os docentes
dos diferentes níveis de ensino, na sua atividade. Destaco deste documento, na dimensão de
desenvolvimento profissional ao longo da vida, o seguinte:
o professor incorpora a sua formação como elemento constitutivo da prática
profissional, construindo-a a partir das necessidades e realizações que
consciencializa, mediante a análise problematizada da sua prática
pedagógica, a reflexão fundamentada sobre a construção da profissão e o
recurso à investigação, em cooperação com outros profissionais. (p.4).
Também a Carta de Princípios para uma Ética Profissional da Educação de Infância e a
Lei n.º 49/2005, de 30 de Agosto (Lei de Bases do Sistema Educativo) enunciam princípios
gerais orientadores da ação dos profissionais, destacam-se da Lei de Bases do Sistema
Educativo os seguintes:
2
Todos os portugueses têm direito à educação e à cultura;
Garantir o direito a uma justa e efetiva igualdade de oportunidades;
Garantir a todos o respeito pelo princípio da liberdade de aprender e ensinar
respeitando a imparcialidade do ensino;
Incentivar a formação de cidadãos livres, responsáveis, autónomos e solidários,
valorizando a dimensão humana do trabalho;
Formar cidadãos capazes de julgarem com espirito crítico e criativo o meio
social em que se integram e de se empenharem na sua transformação
progressiva.
Estes documentos normativos constituem-se como um referencial no exercício da
profissão docente, atendendo mais especificamente na nossa formação e no desenvolvimento
da profisssionalidade docente coerente, com o Perfil específico de desempenho profissional
do educador de infância e do professor do 1.º ciclo do ensino básico, Decreto-lei n.º 241/2001,
de 30 de Agosto.
Um dos desafios dos estágios foi o desenvolvimento do trabalho de investigação-ação,
que partiu de um tema da minha eleição e que aprofundei ao longo da prática. Também o
presente relatório constitui o registo dessa investigação-ação, sob o tema: a função reguladora
da avaliação. Este foco investigativo permitiu-me investigar e refletir, e agir de forma
adequada e pensada, ao mesmo tempo aprendendo e evoluindo na construção da minha
profissionalidade.
O interesse por este tema surgiu da necessidade em compreender de forma aprofundada,
como a avaliação e as práticas de avaliação desenvolvidas pelos docentes assumem uma
função de regulação das aprendizagens, colocando-se deste modo a avaliação ao serviço da
aprendizagem. Esta é uma questão que nos últimos anos tem ganhado destaque no cenário
educativo, nomeadamente que o ensino, a aprendizagem e a avaliação devem ser integrados,
a avaliação deve assumir-se como intencional, contínua e sistemática e ter essencialmente um
caráter formativo. A avaliação, para dar resposta, face às atuais exigências do ensino e à
heterogeneidade dos alunos, não se pode limitar ao seu papel tradicional de medida de saberes,
pois não contribui para melhorar os processos de ensino e aprendizagem.
Neste sentido, aponta-se que a avaliação formativa não consiste apenas no uso de
instrumentos e de técnicas, mas que assenta essencialmente numa atitude ética sobre o ensino
e a aprendizagem. As práticas de avaliação devem assim estar centradas para orientar o
aluno/criança a aprender e ajudar o professor/educador a melhorar na sua profissão.
3
Este relatório encontra-se assim organizado em três capítulos. No primeiro apresenta-se
o enquadramento teórico, iniciando com a evolução da conceção da avaliação ao longo dos
tempos, relacionando-os com o que em cada altura se entende por ensinar e aprender. Aborda-
se de seguida a avaliação formativa e o seu papel na prática letiva, aprofundando-se o conceito
de avaliação formativa e a análise dos modos de intervenção do professor na avaliação,
seguindo-se uma análise da avaliação reguladora. Explicitam-se assim os intervenientes nos
processos de avaliação reguladora, dando enfâse às práticas de avaliação desenvolvidas pelos
alunos: a autoavaliação, a heteroavaliação e a coavaliação.
No segundo capítulo apresentam-se os contextos das intervenções na PES em pré-
escolar e em 1.º ciclo, contextualizando a prática desenvolvida de acordo com as conceções e
os fundamentos da ação educativa em cada um deles e como estes influenciaram a
investigação do tema em ambos os contextos.
O terceiro capítulo aponta os objetivos e a metodologia utilizados e que foram aplicados
ao estudo realizado no decorrer de ambas as práticas, seguindo-se uma análise suportada nos
instrumentos de recolha de dados e uma reflexão sobre esses dados e como influenciaram na
melhoria do desempenho do trabalho com as crianças.
Por fim temos as considerações finais, que apresentam a reflexão final sobre o trabalho
que foi desenvolvido, evidenciando-se as aprendizagens e as implicações que se podem retirar
da investigação-ação que foi realizada nas PES.
4
Capítulo I – Enquadramento Teórico
1.1. A avaliação como instrumento regulador da aprendizagem
Neste capítulo, numa primeira abordagem, sobressai a necessidade de contextualizar e
compreender a evolução dos conceitos teóricos da avaliação e as perspetivas que lhes estão
associadas.
O tema da avaliação tem vindo, ao longo do tempo, a sofrer transformações nas suas
conceções e na forma como tem vindo a ser utilizada pelos professores e profissionais da
educação. De acordo com Gonçalves (2008), “a avaliação tem vindo a tornar-se cada vez mais
complexa e exigente ao nível dos métodos, das finalidades e dos instrumentos” (p.56).
Realizando uma retrospetiva sintética sobre o conceito de avaliação no último século,
podem-se referir quatro grandes perspetivas, ou ideias, sobre as quais os diversos autores que
se debruçaram sobre esta temática encontraram consensualidade, apesar de as referirem de
modos diferentes. Pinto e Santos (2006) aludem que estas quatro grandes ideias estruturantes
podem ser designadas como “avaliação como uma medida; a avaliação como uma congruência
entre os objetivos e os desempenhos dos alunos; a avaliação como um julgamento de
especialistas; a avaliação como uma interação social complexa” (p.12).
A avaliação como uma medida está relacionada com o surgimento da escola de massas
e com o insucesso e sucesso escolar alcançado pelos alunos. Avaliar consiste em situar os
alunos numa escala de valores, onde a norma é instituída por um referencial estabelecido
realizando-se a comparação entre os sujeitos.
Pinto e Santos (2006) referem esta teoria avaliativa como típica de um modelo
pedagógico no qual o professor é o detentor/transmissor dos conhecimentos e o aluno tem um
papel passivo de aprendiz, no processo de ensino/aprendizagem. Neste contexto, as
dificuldades de aprendizagem estão centradas nos alunos, são eles os responsáveis pelo seu
insucesso, sendo a avaliação um processo considerado pelos autores, exterior à relação de
ensino e aprendizagem. A Figura 1 ilustra como a avaliação neste modelo pedagógico
(centrado no ensinar) acontece.
5
A avaliação acontece com a realização dos testes escritos individuais no final do
período, onde o enfoque avaliativo é dado às respostas corretas do aluno, onde o erro é
penalizado, incidindo sobre os conhecimentos demonstrados pelos alunos e a comparação dos
resultados obtidos individualmente com o grupo de referência.
Mais tarde, verificando-se que a avaliação como medida era pouco fiável, surgiu a
necessidade de encontrar outras formas de avaliação. Com o surgimento da docimologia com
Piéron em 1930, domínio de estudo que tem como disciplinas: a docimástica, que consiste no
estudo dos exames e das suas técnicas e a doxologia, que se debruça sobre o estudo sistemático
do papel que a avaliação desempenha na educação escolar, surge a teoria da avaliação como
uma congruência entre os objetivos e os desempenhos dos alunos (Pinto & Santos, 2006).
Deste modo, abandona-se a avaliação centrada exclusivamente nos testes e a avaliação passa
a ser centrada nos objetivos.
Citando Gonçalves,
ainda com uma certa inconsistência, dão-se os primeiros passos no sentido
de relacionar os objetivos com o desempenho dos alunos e desencadeiam-
se mecanismos de regulação, com o intuito de introduzir procedimentos
corretivos e de incrementar a gestão do programa em desenvolvimento (ex.:
observação dos alunos). (2008, p.57).
Passa-se então, de acordo com Pinto e Santos (2006), para o modelo pedagógico de
formar, na medida em que é privilegiado o fulcro professor/aluno, no qual o aluno assume um
papel passivo e o papel da comunicação assume um lugar de destaque. É neste contexto, que
Ensino e Aprendizagem
AvaliaçãoEnsino e
Aprendizagem
Figura 1 - A avaliação e o processo de ensino e aprendizagem (adaptado de Pinto &
Santos, 2006).
6
o papel do professor se prende com manter a motivação, sendo para tal preponderante a
relação e a comunicação.
Para existir compatibilidade entre o nível de motivação e a aprendizagem é imperativo
dar enfoque na forma como se conduz o processo de ensino e aprendizagem. É aqui que a
avaliação será determinante, pois fornece informações preponderantes sobre o estado dos
alunos possibilitando ao professor gerir o processo de ensino e aprendizagem. É nesta linha
de ação que a avaliação surge como contínua, que serve os propósitos da gestão curricular, ou
seja, a avaliação formativa.
A avaliação aparece como um instrumento que fazendo o balanço do estado
real do aluno em relação ao estado esperado, ajuda o professor a tomar
decisões ao nível da gestão do programa, no sentido de criar melhores
condições de aprendizagem. (Pinto & Santos, 2006, p. 24).
A avaliação assume-se então como um instrumento que ajuda o professor a tomar
decisões sobre a gestão dos programas, procurando melhorar as condições de aprendizagem,
na medida em que realiza um balanço sobre a aprendizagem real dos alunos e o que é esperado
que eles aprendam. Neste sentido, o erro surge como um sinal sobre o funcionamento
pedagógico (Pinto & Santos, 2006).
Estes autores, referindo Scriven (1967), diferenciam a função formativa e sumativa que
a avaliação pode assumir. Se a formativa se coloca ao serviço do programa que se desenvolve
e intenciona melhorá-lo, a sumativa procura comprovar se esses mesmos programas no final
do seu desenvolvimento são eficazes. Neste modelo de avaliação, a formativa acontece depois
de um período de ensino e aprendizagem e sempre antes da sumativa. Entre estas, os alunos
realizam atividades de aprofundamento e remediação, tendo em conta os resultados da
avaliação formativa, como exemplificado na Figura 2.
7
Gonçalves (2008) alude ainda que a avaliação formativa se refere aos aspetos de
regulação dos processos de ensino e aprendizagem, durante o seu desenvolvimento, assim
como à melhoria da aprendizagem.
Scriven (1967), no entanto, crítica que na procura em alcançar os objetivos pré-definidos
não se olha ao seu valor intrínseco, Pinto e Santos (2006) referem “é nesta linha que Scriven
introduz a noção de avaliação intrínseca e extrínseca. A primeira avalia o elemento em si
próprio, a segunda os seus efeitos” (p. 26). A intrínseca refere-se à avaliação do elemento em
si, a extrínseca à avaliação dos seus efeitos.
Glasser (1963, referido por Gonçalves, 2008), ao desenvolver a noção de teste criterial,
sugere a distinção entre a medição com referência à norma e a medição que se refere ao
critério, resultando deste modo a comparação entre o estado do aluno com o que é considerado
a plenitude do nível de qualidade. É neste seguimento que surge a definição de critérios a
partir dos quais se irão avaliar os alunos, situação que leva ao atual conceito de avaliação
criterial.
Neste modelo, em ambas as modalidades de avaliação, não se proporciona o
aparecimento de uma análise e uma reflexão sobre as causas que justificam o afastamento em
relação aos objetivos previamente definidos, sendo que a ação dos professores são por norma
regulares e seguem dois desenvolvimentos possíveis: as atividades de remediação ou de
aprofundamento. As dificuldades que os alunos sentiram durante o período de aprendizagem
Ensino e aprendizag
em
Avaliação Formativa
Actividades de remediação
Avaliação sumativa
Ensino e Aprendiza
gem
Atividades de
aprofundamento
Figura 2 - A avaliação e o processo de ensino e aprendizagem
(adaptado de Pinto & Santos, 2006)
8
não são assim detetadas pelo professor, visto que nas atividades de remediação existe um
retorno aos objetivos que não foram atingidos (Pinto & Santos, 2006). Deste modo, a função
reguladora que a avaliação formativa faculta é pontual e tem uma natureza retroativa. O
professor tem assim um exercício orientado num sentido limitado (Allal, 1986 citado por Pinto
& Santos, 2006).
Considera-se, no entanto, que existe uma evolução no que respeita ao modelo de
avaliação anterior (avaliação como medida), pois o processo de avaliação procura saber até
que ponto os objetivos educacionais são realmente alcançados pelos programas e currículos.
Fernandes (2005, citado por Gonçalves, 2008) refere que já se pode começar a falar de
uma função reguladora da avaliação, no entanto, sem ter a exigência e o rigor que o conceito
engloba nos dias de hoje. A expressão avaliação educacional surge, para designar o processo
de avaliação de cumprimento ou não, dos objetivos definidos, começam então a evidenciar-se
as dimensões social e pedagógica da avaliação. No entanto, este tipo de avaliação manifesta-
se sobretudo na deteção de dificuldades, não apontando estratégias para as superar. Este
conceito de avaliação, que se baseia em objetivos, foi denominado por Guba e Lincoln (1989,
citados por Pinto & Santos, 2006), como a segunda geração da avaliação.
Mais tarde, entra-se na terceira geração da avaliação, ou de acordo com Fernandes
(2005, citado por Gonçalves, 2008), na avaliação como um juízo de valor, designada também
por Guba e Lincoln (1989), como refere a mesma autora, na geração da avaliação de
formulação de juízos ou julgamentos. Já Pinto e Santos (2006), referindo os mesmos autores,
a denominam de geração da avaliação como um julgamento de especialistas.
Com o objetivo de sistematização da própria ação de avaliação, na década de 60, surgem
ideias importantes que permitem a evolução do conceito de avaliação. De acordo com Mateo
(2000, citado por Pinto & Santos, 2006), baseados nas ideias de Cronbach (1963) e Scriven
(1967), irão desenvolver-se modelos avaliativos em torno de duas grandes linhas conceptuais.
No desenvolvimento de uma das linhas conceptuais, seguindo as ideias de Ralph Tyler
(1949), surge a avaliação baseada no desenvolvimento de uma tecnologia ao serviço dos
objetivos e da sua medida, ou seja, o seu grande foco é desenvolver instrumentos que
sustentam a avaliação. Por outro lado, baseada na ideologia de Cronbach (1963), a outra
associa a avaliação à tomada de decisões, ou seja, a avaliação não se reduz ao processo de
9
recolher informações, mas também integra o processo de julgamento sobre a informação
recolhida (Pinto & Santos, 2006).
Seguindo a linha conceptual de Tyler, procura-se dar resposta às falhas detetadas na
anterior geração de avaliação, investe-se então na clarificação dos objetivos, e entrega-se aos
especialistas a construção de instrumentos de avaliação fiáveis e que permitam averiguar os
aspetos relevantes na aprendizagem. Stufflebeam (1973, citado por Pinto & Santos, 2006)
define a avaliação como:
o processo de delimitar, obter e providenciar informação útil para ponderar
futuras decisões. O acto de avaliar é a produção de conhecimento. Ele
contempla a recolha, organização e tratamento de informação seguindo um
método científico, tratamento de dados e análise estatística. Deste modo, a
avaliação é um processo que permite sustentar as tomadas de decisão em
informação rigorosa e científica. (2006, p. 29).
Nesta linha orientadora, a avaliação passa a ser externa à escola, separada de qualquer
modelo pedagógico e acontece fora do contexto de aprendizagem. Desta forma, existe um
distanciamento entre a avaliação e os modelos de aprendizagem, embora as funções a que
procura dar resposta sejam ainda formativas, são essencialmente marcadas pela lógica de
certificação e de validação de aspetos que dizem respeito ao próprio sistema educativo.
No seguimento de ideias de Cronbach, a avaliação é um processo de tomada de decisão.
Pinto e Santos (2006) referem que “não há hoje nenhuma concepção moderna de avaliação
que não aceite que a avaliação só tem sentido se permitir sustentar a decisão sobre alternativas
de acção” (p. 29).
Deste modo, avaliar significa fazer escolhas e ao escolher existe uma tomada de decisão,
ao avaliar fazemos um juízo sobre algo, então o avaliador reveste-se de um papel de juiz.
Neste contexto tem-se que a avaliação é responsabilidade de especialistas. No entanto, as
considerações de Hadji (1989, citado por Gonçalves, 2008) levantam questões sobre este
conceito de avaliação pois existe ambiguidade entre a natureza do conceito de avaliação e a
relação interdependente entre o avaliador e a avaliação. Devem ser considerados, na avaliação,
não só os atos mas também o avaliador que os origina (Gonçalves, 2008).
A evolução do paradigma qualitativo das ciências sociais e humanas irá influenciar as
conceções acerca da avaliação, pois as novas metodologias pretendiam analisar outros aspetos
10
que até então não eram tidos em conta, como as atitudes e os valores relacionados com o ato
de avaliar e seus atores, assim como os significados sociais das ações avaliativas em si. Assim,
tendo em conta o modelo pedagógico em que decorria o processo avaliativo eram
considerados diversos contextos, em conformidade com o tipo de avaliação desenvolvida
(Gonçalves, 2008). Ou seja, o ato avaliativo não se relacionava unicamente com o contexto
imediato, mas com múltiplos contextos que se interrelacionam entre si de forma
interdependente (Pinto & Santos, 2006). Estes autores apresentam três contextos:
- a sociedade, que corresponde à avaliação prescrita, surge do contexto político-
administrativo, preconizada por documentos normativos (regulamentos, leis);
- a escola, que corresponde à avaliação preconizada, surge do contexto institucional, que
se consagra à interpretação dos normativos e adaptá-los à realidade institucional;
- a turma, que corresponde à avaliação concretizada, que se torna visível no contexto da
turma ao nível da relação professor/aluno.
Considera-se que esta geração de avaliação, quer no modelo pedagógico do ensinar
como no de formar, ficou conhecida pelo desenvolvimento da avaliação formativa enquanto
fator de regulação interno a um sistema de formação (Pinto & Santos, 2006).
Allal (1986, referido por Gonçalves, 2008) enuncia três fases primordiais no processo
de regulação: a recolha de informação que está relacionada com os processos de aprendizagem
desenvolvidos por cada aluno; com a interpretação da informação; e a adaptação das
atividades pedagógicas tendo em conta a interpretação desenvolvida. É neste sentido que o
erro deixa de ser considerado penalizador e passa a ser um instrumento interessante, que
permite perceber as estratégias e as representações do aluno. Assim, a diferenciação
pedagógica atua no sentido de orientar e ajudar o aluno na tarefa proposta.
A avaliação é então considerada como um elemento que facilita a tomada de decisão,
pois procura regular o ensino e as aprendizagens, tendo em conta outros intervenientes, onde
o contexto é relevante e a determinação de critérios é primordial para que se avalie o mérito e
a importância de um determinado objeto de avaliação (Fernandes, 2005, citado por Gonçalves,
2008). É a regulação, nesta linha condutora, que irá servir de suporte para o processo de
ensino/aprendizagem.
Segundo Pinto e Santos (2006), “os processos de avaliação formativa estão integrados
nas atividades de ensino e aprendizagem” (p.34). A Figura 3 ilustra a relação entre a avaliação
e o processo de ensino e aprendizagem.
11
Figura 3 - A avaliação e o processo de ensino e aprendizagem (adaptado de Pinto & Santos, 2006).
É neste seguimento que surge a quarta geração de avaliação, como é designada por Guba
e Lincoln (1989, citado por Pinto & Santos, 2006), já Fernandes (2006, referido por
Gonçalves, 2008) refere-se-lhe como a geração da avaliação como negociação e construção.
Pinto e Santos (2006) designam-na de geração da avaliação como uma interação social
complexa. Estes autores referem que a avaliação é encarada de outra forma, sob novas
perspetivas, tendo em conta a afirmação do paradigma construtivista nas ciências sociais e
humanas, nos anos 90. Encara-se assim a avaliação não como um processo neutro socialmente,
mas como uma construção social ao serviço de determinadas finalidades que enformam
determinados valores (Pinto, 2002; Pinto & Santos, 2006).
Assim, a natureza da avaliação irá prender-se com a sua natureza relacional, que assenta
num processo de comunicação, ou seja, tem que existir uma intencionalidade recíproca entre
os atores numa relação, como também “com a adequação, a eficácia e o sentido das ações
resultantes das decisões/julgamentos avaliativos” (Pinto e Santos, (2006, p. 379)). Procura
ainda interrogar o sentido, quer dos processos de avaliação, quer das consequências que dela
decorrem, sendo para tal necessário conhecermos o sistema de valores que está subjacente às
finalidades da respetiva dinâmica de avaliação. Neste enquadramento a avaliação é
perspetivada como,
um processo de construção social e político, que envolve uma colaboração
entre vários parceiros, que toma a realidade como socialmente construída e
dinâmica, que admite a divergência, que lida com resultados imprevisíveis
e em que a sua ação vai também gerando a própria realidade. (Pinto &
Santos 2006, p. 38).
O processo de aprendizagem está centrado na relação privilegiada entre os alunos e o
saber, onde o papel que é desempenhado pelo professor se assume como passivo. É colocada
Ensino e aprendizagem
Avaliação
12
em destaque a relação dos alunos com o saber, que não necessitam de uma mediação forçada
pelo professor, (visão influenciada pela psicologia construtivista), que aponta no sentido de
que os alunos são construtores do seu próprio conhecimento, pois este resulta de um processo
pessoal de atribuição de significado ao que aprendem. Deste modo, sendo os alunos os
construtores do seu conhecimento, podem aceder ao saber de forma direta e imediata. Ao
professor, no lugar de transmissor do saber, cabe desempenhar o papel de organizador dos
contextos e acompanhante dos alunos nas suas aprendizagens.
O erro e as dificuldades são então entendidos como um fator de regulação retroativa,
tendo como objetivo levar os alunos a refletirem sobre as suas dificuldades e a reformularem
as suas ações no sentido de as ultrapassar. Gonçalves (2008) realça “a avaliação passa a ser
compreendida como uma reflexão contínua do indivíduo, reguladora do seu próprio percurso
enquanto sujeito em aprendizagem. A ação do aluno passa a ser o foco central da função
reguladora da avaliação” (p. 64).
A avaliação acontece, deste modo, integrada no ato pedagógico e não no final de um
período de tempo mais ou menos alargado (Pinto & Santos, 2006). Esta relação é evidenciada
pela Figura 4.
Figura 4 - A avaliação e o processo de ensino e aprendizagem (adaptado de Pinto & Santos, 2006).
Nunziatti (1990, citado por Gonçalves, 2008) realça que associado ao papel principal da
ação do aluno enquanto agente principal da sua própria aprendizagem, com a função do
professor de ajuda neste processo, indica o conceito de avaliação formadora. Também a
autoavaliação regulada diz respeito ao papel do aluno enquanto regulador da sua própria
formação/aprendizagem. No entanto, para além da autoavaliação, outras formas de avaliação
são utilizadas, com o objetivo principal de realizar um balanço para encontrar os melhores
caminhos na superação de dificuldades.
Ensino e aprendizagem Avaliação
13
Fernandes (2005, citado por Gonçalves, 2008) salienta que “os parâmetros e os objetivos
não são estabelecidos à partida. A sua definição ocorre progressivamente, de um modo
interativo, negociado entre os diversos atores que participam na avaliação” (p. 64).
Surge entretanto a discussão em torno da função informativa da avaliação. Muitos
sistemas educativos adotaram já esta prática, na qual a avaliação tem a função informativa.
Perrenoud (2001, citado por Pinto & Santos, 2008), no entanto, coloca em causa se esta é uma
nova função da avaliação ou se a função informativa não é já uma componente da avaliação.
Numa visão oposta da apresentada por Perrenoud, evidencia-se Ribeiro (1999), pois no seu
ponto de vista é possível considerar a existência das funções descritiva e informativa da
avaliação, tendo em conta a utilidade da avaliação na recolha de informações úteis,
nomeadamente sobre o progresso da turma e de cada um dos seus elementos, na descrição dos
conhecimentos e das atitudes dos alunos perante o seu percurso e as suas dificuldades. Pinto
(1991, citado por Pinto & Santos, 2006) refere que a avaliação é um processo que gera uma
cultura de avaliação.
1.2. O papel da avaliação formativa na prática letiva
Neste ponto importa explicitar de forma mais aprofundada o significado de avaliação
formativa. É sobre esta modalidade da avaliação que o presente trabalho incide, pois não pode
coexistir uma função reguladora da avaliação, dissociada da vertente formativa da avaliação.
Assim pretende-se contextualizar e compreender mais aprofundadamente este conceito de
avaliação.
Alves e Formosinho (1992, citados por Gonçalves, 2008) expõem que atualmente, as
modalidades principais em que a avaliação se manifesta são a avaliação sumativa e a avaliação
formativa. No entanto, a avaliação formativa, pelas suas funções e processos que lhe estão
inerentes, é a que melhor serve a aprendizagem e os seus intervenientes.
De acordo com Abrecht (1991, citado por Santos, 2008), não existe um sentido
consensual sobre a avaliação formativa. Na sua análise, realizada a definições de diversos
autores, encontra, no entanto, um conjunto de posições que convergem entre elas. Abrecht
(1991, citado por Pinto & Santos, 2006) realça que apesar de haver muitas definições para o
conceito de avaliação formativa, agrega-se um conjunto de ideias que lhe são comuns. Estes
autores expõem esse conjunto de ideias análogas, acerca do conceito de avaliação formativa:
14
- a avaliação formativa é dirigida ao aluno, no contexto da sua aprendizagem;
- requer que os alunos tomem consciência acerca da sua aprendizagem, das suas
dificuldades e potencialidades;
- a avaliação formativa é um processo intrínseco à aprendizagem;
- a avaliação pretende que exista adaptação a uma situação individual, logo deve
respeitar a pluralidade e a diversidade;
- aborda tanto os resultados como os processos;
- a observação conduz a uma ação, a uma intervenção sobre o ensino/aprendizagem,
sendo, portanto, impulsionadora da intervenção pedagógica;
- ao contrário de sancionar os erros e as dificuldades dos alunos, procura conhecer as
suas causas, tornando-se estes, assim, instrumentos de compreensão do processo de
ensino e aprendizagem;
- a avaliação formativa tem como objetivo principal ajudar os alunos pelo
desenvolvimento de metodologias e materiais aplicados a estratégias diversificadas de
ensino/aprendizagem, que são baseadas em “pistas de retorno através de informações
múltiplas, que permitem orientar o ensino de forma mais subtil e eficaz”. (Pinto &
Santos 2006, p. 102).
Daqui ressalta a distinção entre a avaliação formativa da vertente sumativa pelas funções
que a primeira desempenha: é centrada no aluno e nos processos de ensino e de aprendizagem;
na sua intencionalidade, que compreende a necessidade de aceitar que vale a pena trabalhar
de forma diferente; e pela sua ética, que compreende a aceitação de que é possível e vale a
pena ajudar os alunos. Pode-se assim afirmar que a função da avaliação formativa é de ajudar,
de regular e reforçar as aprendizagens, processo que acompanha toda a ação educativa.
Já a avaliação sumativa tem como função a verificação e a certificação de
conhecimentos dos alunos, associada a uma medida ou norma, que decorre no final de um
ciclo de avaliação formativa e que vem confirmar socialmente as aprendizagens realizadas por
estes. Por outro lado, temos a avaliação diagnóstica, que antecede por norma a avaliação
formativa, considerada por alguns autores como uma modalidade desta última. Esta apresenta
as funções de prognóstico, de orientação e adaptação, na medida em que se procura conhecer
as aquisições de competências dos alunos e assim servir de suporte para a tomada de decisões
de orientação e seleção (Pinto, 2002, citado por Gonçalves, 2008).
Em relação ao referencial que suporta a avaliação, distinguem-se a avaliação normativa
e a avaliação criterial. A primeira tem como base de referência a comparação e expõe-se como
um processo de seleção, logo associa-se à avaliação sumativa. A segunda suporta-se em
15
critérios estabelecidos tendo em conta os indivíduos, caracterizando-se como um processo de
formação, que faz parte da avaliação formativa (Pinto & Santos, 2006).
Esta perspetiva sobre a avaliação tem o seu cerne nas teorias construtivistas. Nestas o
papel do aluno é central enquanto o papel do professor é o de gestor/orientador da ação
educativa. Este passa sobretudo, de acordo com Santos (2008), a assumir a responsabilidade
de “construir e propor contextos favoráveis e adequados de aprendizagem e de gerir e orientar
o aluno no desenvolvimento de tais contextos” (p.4). Do aluno é esperado que evolua e vá
mudando de modo estável através da sua própria ação, pelos contextos de interação sociais
facilitadores preconizados pelo professor.
Neste seguimento o erro é encarado como um meio de aceder aos processos mentais do
aluno, que possibilita ao professor compreender a forma como este pensa, assim como as
relações que estão a ser estabelecidas num determinado momento (Santos, 2008). O erro é
assim entendido como uma fonte de informação, tanto para o professor como para o aluno, a
compreensão do erro e o desejo do aluno de o corrigir é o que conduz às aprendizagens e a
que estas permaneçam no tempo. Assim, é o aluno o protagonista da avaliação de caráter
regulador, sendo a autoavaliação o modo privilegiado de avaliação. Santos (2008) refere que
esta forma de regulação pedagógica, da autoavaliação regulada, consiste num processo de
metacognição, constituindo deste modo, um meio de aprendizagem.
Pinto e Santos (2006) demonstram a relação entre a interação avaliativa como
metacognição com a avaliação como um instrumento de aprendizagem, exemplificado pela
Figura 5.
16
Figura 5 - Avaliação como assistência à aprendizagem (adaptado de Pinto & Santos, 2006).
Segundo Pinto e Santos (2006), nesta perspetiva, em que o professor procura conhecer
as razões que levaram o aluno no desenvolvimento de uma tarefa, a dar determinada resposta,
aponta no sentido de o professor o confrontar com as mesmas e o motivo pelo qual ele deu
determinada resposta e não outra. Para tal, o professor não pode prender a sua atenção
unicamente no perfecionismo da resposta do aluno. Esta ação envolve uma interação
privilegiada entre o professor e o aluno, a qual passa pelo feedback que é dado ao aluno durante
os processos de ensino e aprendizagem.
Mas para que a avaliação se assuma como um processo de regulação das aprendizagens,
a atitude do professor reveste-se de um caráter fundamental neste processo, como tal importa
explicitar o papel do professor como avaliador e as suas práticas avaliativas.
De acordo com Jorro (2000, citado por Pinto & Santos 2006), distinguem-se quatro
atitudes do professor enquanto avaliador: de fiscalizador; de observação de sinais; de
aconselhamento; e de consultor.
A atitude de fiscalizador não contempla a ajuda ao aluno no processo de construção do
conhecimento, não se integrando assim na perspetiva formadora da avaliação. A atenção do
professor prende-se com os produtos finais indicando uma grande preocupação com a
verificação do desempenho escolar dos alunos, no que respeita aos conhecimentos adquiridos
e às provas.
Avaliação como instrumento de aprendizagem:
a interação avaliativa como metacognição.
Avaliação sumativa: fiscalização da
aprendizagem
AVALIAÇÃO NO QUOTIDIANO
Realização da
Tarefa
(Execução)
Representação
da Tarefa
(Orientação)
Ação do sujeito
AVALIAÇÃO NO QUOTIDIANO
Avaliação formativa: assistência à
aprendizagem
17
Já a atitude de observador de sinais é caracterizada pela capacidade do professor de
observar e prever o percurso escolar do aluno, que lhe permite tomar decisões sobre os
momentos em que a sua ação reguladora se faz necessária para poder ajudar os alunos. A
avaliação destaca-se, desta forma, ao tornar-se reveladora da situação do aluno. Neste sentido,
a atitude de observador de sinais enquadra-se na avaliação formativa, no entanto, Pinto e
Santos (2006) advertem que o professor corre o risco de se tornar “um autómato” pois o
espírito de vigilância e correção seguindo os progressos dos alunos em direção ao domínio
dos objetivos, pode conduzi-lo a só ser capaz de intervir de forma correta quando surge algum
disfuncionamento. Assim, a turma pode tornar-se um palco onde se destacam os casos que
precisam de uma intervenção particular.
A atitude de aconselhamento coloca o professor no papel de um conselheiro ou como
designado por Develay (1996, citado por Pinto & Santos, 2006) num “mestre em didática”,
pois este adota uma postura de aconselhamento através do diálogo estabelecido com os alunos
sobre as produções destes. Pinto e Santos (2006) referem que o professor/avaliador,
é alguém que possui um saber profissional capaz de pôr em prática um
dispositivo didático que garanta as melhores condições de aprendizagem ao
aluno para que este se aproprie dos saberes de modo a ser capaz de os utilizar
em situações reais. Há uma preocupação com a representação que o aluno
faz do saber, mas também, com o seu confronto, utilização, interrogação e
reconstrução (p.81).
Concebendo esta atitude de conselheiro, o professor apoia o aluno na sua aprendizagem,
sendo o aluno encarado como construtor do seu conhecimento. A atenção do professor centra-
se na adequação de dispositivos que ajudem o aluno no seu processo de apropriação de
conhecimentos, para que este os possa transpor para a vida real.
São as atitudes de aconselhamento e de consultor que vão ao encontro da perspetiva
formativa da avaliação. O consultor encoraja os alunos a exprimirem as suas dificuldades,
para assim poder compreender e adequar a sua intervenção (Gonçalves, 2008). Pinto e Santos,
2006) referem que “o consultor é um par com um papel de questionar e de fazer circular a
comunicação pelo grupo” (p. 82). Estes autores reforçam ainda que o consultor, quer no
questionamento como na partilha de pontos de vista, procura reforçar nos alunos, quer o
conhecimento dos processos de aprendizagem, quer o desenvolvimento da sua autonomia
moral e cognitiva.
18
Tendo em conta que a avaliação formativa é um processo de regulação que pode
acontecer em diferentes momentos, Allal (1986, citado por Gonçalves, 2008), sublinha a
existência de três tipos de regulação, de acordo com a circunstância em que o processo
acontece: a regulação proactiva, a regulação interativa e a regulação retroativa. A primeira
refere-se ao que acontece no início de uma tarefa ou situação didática, enquanto a segunda se
relaciona com a regulação que acontece durante todo o processo de aprendizagem e a terceira,
considerada a mais comum, a que surge após uma sequência de aprendizagens mais ou menos
longa. No entanto, Pinto e Santos (2006) consideram que este último tipo de regulação, se for
a mais realizada não conduz a um grande envolvimento do aluno pois confronta-o de forma
retardada com os seus erros, e não produz de forma imediata a compreensão da razão porque
errou. Os autores referidos advertem que este último tipo de regulação pode ser facilmente
associado a processos de regulação de natureza sumativa.
Santos (2002) refere-se à avaliação formativa como um processo de regulação que é
externo ao aluno, pois esta responsabilidade cabe ao professor. Refere ainda os momentos em
que esta pode acontecer, (regulação proactiva; regulação interativa; regulação retroativa),
como referido anteriormente. Também esta autora enuncia, que embora estes três tipos de
regulação, de acordo com o contexto real de ensino, sejam adequados e pertinentes, considera
que a intervenção atempada da parte do professor se torna mais significativa para o aluno,
elegendo a regulação interativa como a que garante melhores resultados, na medida em que
esta acompanha o processo de ensino/aprendizagem. “A regulação interativa operacionaliza-
se, no geral, através de uma observação e intervenção em tempo real e em situação. É um ato
avaliativo que tem por intenção intervir sobre a própria aprendizagem” (Santos, 2002, p.1).
Este tipo de regulação é designado por Perrenoud (1999, citado por Santos, 2002) como
uma “regulação por falta”. No entanto, esta designação não é de forma alguma diminutiva do
papel do professor, ao invés disso, ela procura enfatizar que se deve caminhar no sentido de
que o aluno desenvolva de tal forma a sua autoavaliação, que a intervenção do professor deixa
de ser necessária. Esta regulação externa que o professor desenvolve deve acontecer apenas
quando as outras práticas de regulação não funcionam.
Nunziati (1990, citado por Santos, 2002) refere-se-lhe como um recurso derradeiro,
“não é mais do que uma via de recurso alternativa, quando os mecanismos de auto-regulação
do aluno estão gripados” (p.1).
19
Pinto e Santos (2006) explicitam que “é neste quadro que a avaliação formativa ganha
um sentido e uma pertinência no campo pedagógico, porque não só contribui para o
desenvolvimento profissional do professor, como se torna num instrumento ao serviço das
aprendizagens dos alunos” (p. 113).
Pais e Monteiro (2004, citados por Gonçalves, 2008) expõem “a avaliação formativa
assegura que os processos se vão adequando às caraterísticas dos alunos, permitindo a
adaptação do ensino às diferenças individuais” (p. 69). É neste enquadramento, que ressalta a
diferenciação pedagógica que procura respeitar cada aluno, as suas caraterísticas particulares
e diferentes ritmos de aprendizagem.
Destes tipos de regulação, surge uma pluralidade de processos de regulação, como
enuncia Santos (2002) “a avaliação formativa, a co-avaliação entre pares e a auto-avaliação”
(p.1).
Santos (2008) refere ainda outras formas possíveis de concretização de práticas
reguladoras de avaliação, na prática letiva, que se apresentam no Quadro 1.
Quadro 1- Práticas de avaliação reguladora (adaptado de Santos, 2008).
Processos de avaliação reguladora Possíveis atividades
Questionamento oral Questionamento professor/turma
Questionamento professor/aluno
Questionamento aluno/aluno
Escrita avaliativa Feedback escrito a produções dos alunos
Autoavaliação Explicitação/negociação de critérios pelo professor
Avaliação desenvolvida pelo próprio
Avaliação desenvolvida por pares
Poderiam ainda ser enunciadas outras práticas reguladoras da avaliação, Santos (2008),
sublinha no entanto, que não se pode “falar em práticas de avaliação reguladora sem falar
obrigatoriamente numa destas” (p. 9).
Relacionam-se assim, o questionamento oral e a escrita avaliativa (designada também
por feedback escrito) como as práticas de avaliação formativa protagonizadas pelo professor,
ao passo que as práticas de autoavaliação e de coavaliação são protagonizadas pelo
aluno/alunos. Podemos ainda referir para além das práticas mencionadas, o feedback oral dado
20
pelo professor às produções dos alunos e a heteroavaliação que é realizada pelos alunos às
produções de um colega ou mais, mas nas quais os que avaliam não participaram.
1.2.1. A importância do feedback oral e escrito
De acordo com o exposto no ponto anterior, a avaliação só poderá considerar-se
realmente formativa se existir a intencionalidade da avaliação ser utilizada com o objetivo de
melhorar as aprendizagens dos alunos, e que esta intencionalidade tenha consequências nas
aprendizagens (Pinto & Santos, 2006).
Para que a avaliação tenha uma função reguladora, como já foi exposto, não poderemos
deixar de utilizar práticas de avaliação reguladora. Neste ponto aborda-se mais profundamente
a prática de avaliação reguladora do feedback que é fornecido aos alunos. Este poderá ser
escrito mas também oral, sob a forma de questionamento e resposta ao trabalho desenvolvido
pelos alunos.
Segundo Black e Wiliam (1998, citados por Santos & Dias, 2009), torna-se
imprescindível “o feedback regular enquanto forma de comunicação entre o professor e os
alunos é um conceito central na avaliação formativa” (p. 502). Tunstall e Gipps (1996),
referidos pelas mesmas autoras, dizem que o feedback é um “requisito obrigatório para existir
progresso nas aprendizagens dos alunos” (p.502). É ainda uma condição necessária à
regulação das aprendizagens. Santos (2008) destaca que vários estudos são demonstrativos
que nas práticas pedagógicas onde o feedback é utilizado de forma sistemática às produções
dos alunos, estas originam proveitos significativos nessas aprendizagens.
Menino (2004, citado por Santos & Dias, 2009) aponta que num estudo realizado sobre
o uso de feedback se comprova que “o feedback é essencial nas aprendizagens dos alunos pois
“guiam” [os alunos] no sentido de superar os erros e conseguir aprendizagens mais
significativas” (p. 502).
Referindo-se ao feedback oral, Folque (2012) por sua vez, considera que “ a natureza do
feedback também mostra as relações de poder nas atividades de ensino/aprendizagem e tem
impacto nas disposições das crianças para aprender (motivação, reação ao sucesso ao
insucesso ou à dificuldade), bem como nas suas identidades como aprendentes” (p.94).
21
Santos (2008), ressalta ainda que,
a escrita avaliativa ou feedback é uma outra forma possível de criar
contextos de aprendizagem que ajudem o aluno a ir desenvolvendo a sua
capacidade de auto-avaliação. Por outras palavras, a sua existência, quando
adequada a este objetivo, poderá constituir uma estratégia facilitadora para
o aluno ser levado a tomar consciência dos seus erros, e de os autocorrigir
(p.14).
Seguindo esta orientação, é dado ao aluno a possibilidade de melhorar as suas
produções, não se devendo esperar que as produções dos alunos se realizem logo na primeira
tentativa, pois este deve ter a oportunidade de melhorar, de ter consciência do que errou e de
corrigir esses erros.
Importa referir a natureza do feedback, Gipps (1999, referido por Santos, 2008) aponta
dois tipos de feedback: o avaliativo e o descritivo. O avaliativo significa emitir um juízo de
valor, com a utilização explícita ou implícita de normas, que terá poucos efeitos de regulação
das aprendizagens. O descritivo tem o seu enfoque na realização do aluno e na tarefa proposta.
A autora, aponta ainda neste último tipo de feedbck, dois subtipos: o que indica o progresso
dos alunos e o que constrói o caminho a seguir. É este último, que estimula uma compreensão
mais profunda acerca das tarefas, incitando os alunos a refletir sobre o que fizeram. Pinto e
Santos (2006), referindo o mesmo autor, esquematizam os tipos de feedback, demonstrados
na Figura 6.
Figura 6 - Tipos de feedback (adaptado de Gipps, 1999 citado por Pinto & Santos, 2006).
Jorro (2000, citado por Santos, 2008) também distingue dois tipos de escrita avaliativa,
ou feedback: a anotação como transmissão de informação, que se manifesta por enunciados
Feedback avaliativo
- Formação de juízos de valor, com utilização implícita ou explícita
de normas
Feedback descritivo
- Desempenho dos alunos, o que conseguem fazer
Especificando o progresso (professor para o aluno)
Construindo o caminho seguinte (professor com o aluno)
22
vagos ou juízos de valor, com pouco contributo para a aprendizagem; “e a anotação como
diálogo que procura questionar, dar pistas e incentivar a reflexão por parte do aluno” (Veslin
& Veslin, 1992, citados por Santos, 2008, p.15).
A investigação realizada sobre o uso de feedback tem demonstrado que não é qualquer
tipo de feedback que garante uma ação de natureza reguladora. William (1999, citado por
Santos, 2008), partindo da revisão realizada a 131 estudos, enuncia que em 40% destes, o
feedback surtiu um efeito negativo sobre o desempenho dos alunos, em dois casos de cada
cinco, o uso de feedback originou piores desempenhos do que se não houvesse sido dado
nenhum. Santos (2008) aponta ainda, que no estudo realizado, no âmbito do Projeto AREA,
com alunos do 7.º ano de escolaridade, na área da Matemática, que o mesmo feedback escrito
não ajuda do mesmo modo todos os alunos. “É importante conhecer os alunos e dar um
feedback adequado ao perfil académico de cada um. Este estudo parece indicar que os alunos
com desempenho médio a Matemática necessitam de um feedback mais descritivo e menos
simbólico” (Santos, 2008, p.15).
Estes estudos apontam no sentido de que não é qualquer feedback escrito que irá garantir
uma regulação pedagógica. O feedback será um contributo para o aperfeiçoamento dos alunos,
e consequentemente para a sua aprendizagem, quando a escrita avaliativa se foca no que deve
ser realizado para melhorar o desempenho. Particularmente, quando são fornecidas indicações
mais pormenorizadas acerca do procedimento a seguir (Wiliam, 1999 citado por Santos,
2008).
Tunstall e Gipps (1996, citados por Folque, 2012), com base numa investigação que
realizaram em escolas do 1.º ciclo, definiram quatro tipos de feedback:
Tipo A – recompensa/castigo;
Tipo B – aprovação/desaprovação;
Tipo C – indicação de um resultado ou melhoria;
Tipo D – construção do resultado e de um caminho.
Através desta investigação, concluem que os tipos C e D são aqueles que ligam a
avaliação com aprender, pois promovem orientações para a aprendizagem, ao passo que os
tipos A e B promovem orientações para o desempenho.
Também dos estudos desenvolvidos por Kamis e Dweek (1999, referidos por Folque,
2012) sobressaem três tipos de feedback:
23
Feedback estratégico (que sugere estratégias diversas);
Feedback de adequação do comportamento;
Feedback sob a forma de crítica à própria pessoa.
Os estudos demonstraram como resultado que existiu maior positividade e sucesso no grupo
de crianças que foi alvo de feedback estratégico. Pinto e Santos (2006), indicam ainda que se
o feedback dado for “telegráfico, profético em relação à desgraça, ou culpabilizante,
certamente que não terá grandes efeitos no seu destinatário” (p.107). Ao invés disso, se este
incentivar e mobilizar o diálogo pode ser muito útil como instrumento de ajuda ao aluno.
De acordo com Santos (2003b, citado por Pinto & Santos, 2006), o feedback avaliativo
(ou escrita avaliativa) que leva à regulação por parte do aluno deve ter as características
seguintes:
Dever ser clara para que de forma autónoma o aluno a compreenda;
Apontar pistas do que deve fazer de seguida, para que a partir dela o aluno saiba como
deve prosseguir;
Incentivadora, no sentido do aluno reanalisar a sua resposta;
Não deve incluir a correção do erro, permitindo ao aluno ser ele próprio a identificar
e alterar o erro, para que permita uma aprendizagem duradoura;
Identificar o que está correto, permitindo dar autoconfiança, assim como possibilitar
que o saber seja reconhecido de forma consciente.
Conclui-se, deste modo, que este diálogo avaliativo integra o próprio processo de
regulação, pois condiciona-o de forma negativa ou positiva. “O seu grande objetivo é
sobretudo perceber o que se passa para agir de forma pertinente do ponto de vista do aluno e
do professor e não apenas descrever ou quantificar essa realidade” (Pinto & Santos, 2006,
p.107).
1.2.2. O questionamento oral
Uma prática comum, em qualquer método de ensino é a interação professor-aluno.
Santos (2008), no entanto enuncia caraterísticas para que esta interação contribua para
a aprendizagem, ou seja, para que se possa chamar de reguladora:
Ser intencional;
Que todos os elementos que constituem a comunidade nela participem;
Não se destaquem os alunos que erram dos que acertam, ou seja, o erro deve ser
considerado um estatuto indiferenciado;
24
Os diferentes modos de pensar devem ser privilegiados e respeitados;
A turma, como comunidade, deve ser reconhecida como “campo legítimo de
validação ou correcção de raciocínios e processos, ou seja as diferentes
interacções permitidas e mesmo incentivadas pelo professor constituem
contextos para o desenvolvimento da auto-avaliação e co-avaliação dos
alunos”(Santos, 2008, p.9).
Siraj-Blatchford et al., (2002, citado por Folque, 2012) indica que as interações adulto-
criança de qualidade são,
“partilha sustentada de pensamento” (sustained share thinking) em que tanto
o adulto como a criança estão profundamente envolvidos, num processo de
co-construção através de uma mobilização cognitiva, em que o adulto usa
técnicas de ensino, tais como a modelização e a demonstração, a explicação
e o questionamento (p. 90).
Folque (2012) sublinha a importância dos diálogos interativos referindo investigações
realizadas, demonstrativas de como a colocação de perguntas é um instrumento que potencia
o desenvolvimento do pensamento, estimula o pensamento metacognitivo, crítico e
especulativo, assim como o raciocínio.
Stenmark (1989 citado por Santos, 2008) declara que saber colocar a pergunta correta é
uma arte que deve ser praticada por todos os profissionais de educação. Parece pois, que esta
interação é mais difícil do que se supõe. Esta autora, referindo-se a Gipps (1999), realça que
este é da opinião de que colocar questões em sala de aula pode não ser assim tão simples
quanto parece.
Um aspeto que evidencia a dificuldade encontrada pelos docentes refere-se com o tipo
de perguntas que são realizadas pelo professor, é se estas são abertas ou fechadas. De acordo
com Gipps (1999), as perguntas fechadas referem-se a um tipo de questionamento de
diagnóstico, para as quais os alunos procuram a resposta correta sem desenvolverem um
raciocínio elevado, que parece conduzir ao desenvolvimento de estratégias para tentar
perceber a resposta que é esperada pelo professor. Este tipo de perguntas procuram avaliar o
que o aluno sabe, o que ainda não sabe, o que consegue ou não fazer, não permitem estimular
o pensamento, pois a pergunta limita-se a verificar os conhecimentos do aluno, a sua
concentração prende-se com um aspeto ou situação de uma tarefa (Folque, 2012).
25
Por outro lado, as perguntas abertas, segundo Folque (2012) permitem mais do que uma
resposta e conduzem a um nível de exigência maior, pois a criança tem que avaliar e pensar
na pergunta para poder dar uma resposta. Gipps (1999, citado por Santos, 2008), refere que
este tipo de questionamento (perguntas abertas) permite aos alunos: uma interpretação de
partilha de controlo; de poder; assim como do que são considerados conhecimentos
satisfatórios e aceitáveis.
Fisher; MacNaughton e Williams, (2001, 2004, citados por Folque, 2012) realçam “as
boas perguntas são, também as que fazem sentido para as crianças, não lhes provocando
sentimentos de embaraço, humilhação ou desrespeito pelos seus direitos, e que lhes ofereçam
a possibilidade de dar uma resposta (não sendo por isso demasiado complexas)” (p.93).
Outro aspeto a ter em conta na colocação de perguntas pelo professor é o tempo dado,
ou wait time da resposta. No estudo desenvolvido por Rowe (1974, in Black et al., 2003, citado
por Santos, 2008) concluiu-se que o tempo médio de espera pela resposta dos alunos era de
0,9 segundos. Decidiu este investigador estudar o efeito do aumento do tempo de espera,
concluindo:
As respostas dadas pelos alunos tornaram-se mais longas;
Existiu uma diminuição do insucesso nas respostas;
Os alunos revelaram mais confiança nas respostas dadas;
Os alunos desafiaram e/ou contribuíram para que os colegas aperfeiçoassem as
suas respostas;
Passou a haver maior número de respostas alternativas.
Aponta-se no entanto, a dificuldade encontrada nas mudanças de práticas pelos
professores que participaram neste estudo, em dar tempo para a resposta. Assumem que este
processo foi doloroso, considerando até como “antinatural” a existência de momentos mortos.
Black e Wiliam; Fernandes; Santos (1998b; 2005; 2004, citados por Santos, 2008)
referem as condições para que o questionamento seja potencialmente regulador: “ ser
intencional por parte do professor; ser feito sem constrangimentos de tempo; fazer parte de
um processo de comunicação bilateral e formado essencialmente por perguntas de tipo
aberto”(p.13). Conclui, com a afirmação de que o questionamento oral é um dos processos de
avaliação reguladora mais utilizado pelos professores em sala de aula, visto que:
(i) acontece a par com as experiências de aprendizagem, permitindo uma
regulação no momento; (ii) recorre à forma mais habitual de comunicação
26
entre professor e alunos – a forma oral, e (iii) a sua responsabilidade pode
deslocar-se do professor para o aluno sem constrangimentos de qualquer
espécie, para além naturalmente do nível de desenvolvimento da capacidade
dos alunos para o fazerem (Santos, 2008, p.13).
1.3. Os intervenientes na avaliação
Neste subponto procura-se compreender mais aprofundadamente algumas das práticas
de avaliação reguladora, ou processos de regulação distinguindo os agentes que participam
nesses processos. Destacam-se a autoavaliação, a heteroavaliação e a coavaliação.
Como já vimos o conceito de avaliação nos dias de hoje é complexo. Cabe ao
educador/professor o desenvolvimento de noções sobre o que pretende avaliar para assim
estabelecer critérios, de recolher, analisar e discutir os dados, e deste modo conceber as
condições de regulação das práticas, com o objetivo de melhorar a qualidade do
ensino/aprendizagem (Gonçalves, 2008).
Vejamos, na Figura 7 representada as práticas de avaliação reguladora e a sua relação
com os intervenientes nas mesmas, distinguidas por Régnier (2002).
Figura 7 - Práticas de avaliação reguladora (adaptado de Régnier, 2002).
AvaAva avaliação
heteroavaliação
coavaliação
autoavaliação
O avaliador é o autor da ação, da
produção ou da performance
avaliada
O avaliador é um par da ação, da
produção ou da performance
realizada
O avaliador é um ator de
competência superior e em posição
dominante em relação ao autor da
produção ou da performance
realizada
27
Assim, a autoavaliação é desenvolvida pelo próprio executor da tarefa proposta, pois é
o próprio que avalia o que produziu e como produziu. Santos (2002) refere que “a
autoavaliação é o processo de regulação por excelência, por ser um processo interno ao próprio
sujeito” (p.2)
A coavaliação é realizada entre os pares da ação, envolve em simultâneo o próprio
sujeito e os outros, sendo portanto um processo externo e ao mesmo tempo interno ao próprio
executor da produção ou ação.
Na heteroavaliação, de acordo com este autor, a avaliação é realizada por alguém que
possui mais conhecimentos sobre a produção/ação desenvolvida e que possui uma posição
dominante em relação àquele que produz ou desenvolve a ação. No entanto, a definição no
Dicionário Priberam da Língua Portuguesa, de heteroavaliação, indica-nos que é a avaliação
de outrem, realizada por uma ou mais pessoas que não estão a ser avaliadas nesse momento.
Neste sentido, a heteroavaliação é a avaliação de um sujeito (objeto) que é realizada por
diferentes sujeitos.
Depreende-se então que a heteroavaliação em sala de aula pode ser a avaliação realizada
pelo professor ou a avaliação realizada pelos pares a uma produção/objeto de um colega.
Neste trabalho entende-se a prática da heteroavaliação como a avaliação que é
desenvolvida pelos pares a um objeto/produção de um colega, na medida em que esta se
considera uma interação entre pares, em que a aprendizagem e o conhecimento são partilhados
e co-construídos pelos indivíduos, onde uns auxiliam os outros, num processo social de
comunicação verbal.
1.3.1. A autoavaliação
Ribeiro (1999, citado por Gonçalves, 2008) é defensor da importância da autoavaliação,
designando-a de “processo de regulação por excelência” pois contribui para o
desenvolvimento de capacidades metacognitivas, “dando sentido aos saberes adquiridos e
favorecendo a aprendizagem ao longo da vida” (p.70). Também, Silva e Sá (2003, citados por
Santos, 2008) salientam o papel da autoavaliação como uma regulação que é desenvolvida
pelo próprio, como um conjunto de ações que são autodirigidas para alterar o estado atual dos
acontecimentos.
28
Segundo Black e William (1998, citados por Gonçalves, 2008), a autoavaliação em
contexto de sala de aula implica da parte dos alunos,
Thus self-assessment by pupils, far from being a luxury, is in the fact an
essential component of formative assessment. When anyone is trying to
learn, feedback about the effort has three elements: recognition of the
desired goal, evidence about present position and some understanding of a
way to close the gap between the two (p. 70).
Nesta perspetiva ao falarmos de autoavaliação, necessariamente encontramos duas
fases, sendo que na primeira o aluno deve ser capaz de fazer a confrontação entre o que fez
com o que era esperado que fizesse (pelo menos perceber que existe uma diferença entre essas
duas situações) e na segunda o aluno deve ter a capacidade de agir de modo a reduzir ou a
eliminar essa diferença (Santos, 2008).
Mas para que o aluno possa realizar essa confrontação, (entre o que realizou e o que era
esperado) tem que conhecer os critérios estabelecidos, que são um referente para que a
autoavaliação aconteça. Estes são fundamentais, quer para o processo de autoavaliação, quer
na tomada de decisões que permitam agir de acordo com essa avaliação (Santos, 2008). Esta
autora citando Sá, (2004) aponta ainda que a definição de critérios é essencial para o processo
de autorregulação, pois “ a existência de um objetivo, padrão, critério ou valor de referência
que pode servir de bitola para avaliar a acção (…) e orientar os processos de regulação”
(Santos, 2008, p.19).
Nunziati (1990, referido por Gonçalves, 2008) refere-se à autoavaliação como um
processo onde uma das vantagens é ser intrínseco ao aluno na medida em que este regula o
seu próprio percurso de aprendizagem. É neste enquadramento, que cabe ao professor a
responsabilidade de promover contextos que facilitem o processo de autoavaliação,
promovendo a autonomia do aluno. Santos (2002), refere ainda que a autoavaliação regulada
implica que o professor adote estratégias diversificadas, apontando possíveis intervenções da
parte deste. Enunciam-se:
A adoção de uma abordagem positiva face ao erro, onde o papel do feedback
fornecido é primordial. O professor deve dar pistas ou levantar questões que
orientem a ação a desenvolver pelo aluno, que permitam que este identifique e
corrija o erro.
29
Tenha uma atitude de questionamento continuada, visto esta atitude permitir
desenvolver nos alunos a capacidade de autoquestionamento.
A explicitação e negociação de critérios, visto a apropriação dos critérios de
avaliação de determinada tarefa ser imperativo para desenvolver a
autorregulação e para que o processo de metacognição possa acontecer.
Perrenoud (1999, citado por Gonçalves, 2008) refere “toda a acção educativa só pode
estimular o autodesenvolvimento, a auto-aprendizagem, a auto-regulação de um sujeito,
modificando o seu meio, entrando em interação com ele. Não se pode apostar, afinal de contas,
senão na auto-regulação” (p.70).
1.3.2. A heteroavaliação
Neste subponto, refere-se a heteroavaliação, como foi exposto, como a avaliação que é
realizada pelos pares a uma produção de um colega. Neste sentido, os pares perante um
trabalho individual de um colega ou uma apresentação/exposição tornam-se avaliadores desse
trabalho, na medida em que emitem uma opinião, uma crítica construtiva apresentando
sugestões para o melhoramento do objeto avaliado. Desta forma, a heteroavaliação é uma
interação entre pares.
Esta prática de avaliação pode funcionar melhor do que a avaliação preconizada pelo
professor, na medida em que são os pares que emitem uma apreciação/avaliação e a relação
entre estes é de estatuto de igualdade o que “liberta a criança da autoridade do adulto”
(DeVries, 1997, citado por Folque, (2012, p.97)). A autora refere ainda, que com vista à
cooperação, existe da criança uma análise dos seus pontos de vista, levando a que se
descentrem e se envolvam em conflitos cognitivos.
Folque (2012) referindo-se a um estudo realizado por Fisher (1992); Mercer (1994);
Mercer e Wegerif (2004) aponta três tipos de conversação definidos através deste em classes
de escolas de 1.º ciclo: a conversação de disputa, a conversação cumulativa e a conversação
exploratória. A conversação de disputa não apresenta uma crítica construtiva sob a forma de
sugestões, os diálogos são curtos e baseiam-se em afirmações e contestações ou em afirmações
opostas. Já na conversação cumulativa, os envolvidos utilizam a conversação para construir
um conhecimento comum, pela acumulação. Este tipo de discurso tem como características
as repetições, confirmações e elaborações. Por sua vez, na conversação exploratória os
parceiros apresentam afirmações e sugestões para apreciação em conjunto.
30
Folque (2012) refere que,
A importância da conversação exploratória decorre de ser uma modalidade
em que as crianças experienciam o pensamento crítico e a colaboração para
co-construírem o conhecimento…, o controlo (poder) é partilhado e
negociado. A utilização da conversação exploratória implica um
envolvimento crítico dos participantes (p.98).
Os professores do 1.º ciclo e os educadores de infância, de acordo com Mercer; Amante
(2000; 2004, citados por Folque, 2012) ao apoiarem as interações sustentadas entre as crianças
e ao modelizarem a conversação cumulativa e exploratória, desempenham um papel
importante no desenvolvimento da conversação exploratória.
Mercer (2000, citado por Folque 2012) concluiu,
os professores podem tornar-se mais eficazes se encararem a aprendizagem
como um processo social de comunicação, organizando intercâmbios de
ideias e um apoio mútuo entre alunos, incentivando-os a desempenharem
um papel mais activo e verbal nos acontecimentos da sala de aula,
relacionando explicitamente a atividade presente com a experiência passada
e usando as suas contribuições como um recurso para construir o
conhecimento comum do grupo (p.99).
Estas interações podem ser preconizadas em diversos momentos da vida do grupo na
sala de aula, no entanto, a heteroavaliação é sem dúvida uma das práticas que promove e
regula a aprendizagem, através da partilha de ideias e opiniões entre as crianças, onde a
comunicação é o meio pelo qual todas contribuem para o conhecimento do grupo, conduzindo-
nos para o socio construtivismo e subsequentemente para as comunidades de aprendizagem.
1.3.3. A coavaliação
Perrenoud (1999, citado por Gonçalves 2008) refere-se ao conceito de coavaliação da
seguinte forma “em situações de confronto, de troca, de interação, de decisão, que os forcem
a explicar, a justificar, a argumentar, expor ideias, dar ou receber informações para tomar
decisões, planear ou dividir o trabalho, obter recursos” (p.71).
A coavaliação é assim uma interação entre os alunos, na avaliação de uma produção
comum, onde podem receber ajuda e ajudar os seus pares, promovendo a regulação das suas
aprendizagens assim como da autonomia e responsabilidade.
31
Para tal, é necessário no entanto, que se encare o erro com naturalidade e não como algo
negativo que seja alvo de penalização. Esta prática de avaliação reguladora possibilita a
autorregulação da aprendizagem na medida em que os alunos se transformam em
coavaliadores das suas próprias produções/ações, assim como das dos seus colegas. A criação
de um ambiente favorável pelo professor em sala de aula para que se desenvolvam tais práticas
é fundamental assim como a relação que é estabelecida pelo professor com os alunos e com a
turma, pois esta influencia de forma significativa o processo de ensino e aprendizagem.
Amado e Freire (2005, citados por Favinha & Moreira, 2012) referem que um dos papéis
que compete ao professor é o de contribuir “para a formação de cidadãos livres, valorizados
na sua interioridade, identidade e individualidade mas também responsáveis, solidários,
abertos ao diálogo e à livre troca de opiniões” (p.2).
Assim, subentende-se que o trabalho em pequenos grupos, grande grupo e pares são
propícios para um ambiente que favorece quer a autoavaliação como a coavaliação. Aliás,
Black et al. (2012, citado por Santos, 2008) afirma “assim, existe toda a vantagem da auto-
avaliação ser trabalhada em conjugação com a co-avaliação” (p. 21).
Neste seguimento, as práticas de avaliação para que efetivamente se tornem reguladoras
devem considerar os seguintes aspetos, essenciais: serem dirigidas ao aluno; integrarem o
processo de ensino e aprendizagem; admitirem que os objetivos de aprendizagem sejam
conhecidos pelo professor e pelos alunos e que ambos se apropriem deles (professor e alunos);
que o seu foco seja quer os resultados quer os processos; serem proporcionadoras da
compreensão e da reflexão dos processos de aprendizagem dos alunos, não só pelo professor
mas também pelos próprios alunos; incentivarem a autoconfiança dos alunos na
aprendizagem; e desenvolverem uma atitude reflexiva a partir dos dados recolhidos dos
diferentes intervenientes que estão envolvidos no processo, para que todos compreendam o
que fazem e porque o fazem.
Considerando os fundamentos teóricos expostos procurei na prática desenvolvida seguir
estas linhas orientadoras, consciente de que a avaliação é um instrumento de regulação
pedagógica, sendo a avaliação formativa, um processo que acompanha e regula o ensino e a
aprendizagem, cujo objetivo é principalmente ajudar o professor a compreender o
funcionamento cognitivo do aluno dado uma determinada situação proposta por este, para
deste modo intervir de forma adequada. São os diversos momentos de aprendizagem que são
32
desenvolvidos diariamente, o centro da atenção do professor, observando os sinais vindos dos
alunos, realizando a sua interpretação e agindo de acordo com os mesmos. Assim, cabe ao
professor desenvolver contextos que favoreçam a atividade de regulação por parte do aluno,
procurando que este seja cada vez mais autónomo na sua autorregulação.
Considera-se pois, neste seguimento, que a avaliação é um processo importante com
vista à melhoria da qualidade do ensino e da aprendizagem, que acontece num contexto
relacional, através de um processo de comunicação interpessoal, onde o papel das interações
operadas pelos seus intervenientes assumem um papel central para que esta aconteça. Desta
forma, a avaliação descentraliza-se da função de medida de saberes e passa a ser um
instrumento de regulação ao serviço da aprendizagem, constituindo uma prática complexa
construída socialmente ao serviço dos atores que a incorporam.
33
Capítulo II - Contextos da Prática de Ensino
Supervisionada
No presente capítulo apresentam-se os contextos de intervenção da PES em pré-escolar
e 1.º ciclo. O mesmo tem como objetivo situar a ação nos respetivos contextos educativos,
dando ênfase aos aspetos relevantes para a investigação-ação realizada: a função reguladora
da avaliação. Como refere Leal (1992, citado por Santos, 2002), a avaliação é um ato de
comunicação e interação entre diferentes pessoas e objetos de avaliação, que acontece num
determinado contexto social e é por ele determinado.
2.1. Contexto da prática de ensino supervisionada no pré-escolar.
O contexto onde desenvolvi a PES em pré-escolar pertence ao Agrupamento de Escolas
n.º 4, e faz parte da rede pública de ensino. A prática de ensino supervisionada teve lugar no
Jardim de Infância dos Canaviais, concretamente na sala A desta instituição, com durabilidade
de cerca de 4 meses (desde a 2.ª semana de fevereiro até ao final de maio de 2014).
O agrupamento de Escolas n.º 4 de Évora é constituído por 6 Jardins de Infância, um
deles como polo itinerante, 6 Escolas do 1.º Ciclo do Ensino Básico, 2 Centros Escolares com
1.º Ciclo e Pré-Escolar (Canaviais e Bacelo) e a EB2,3 Conde de Vilalva (escola sede),
distribuídas por diversas Freguesias um pouco por todo o concelho de Évora (Bacelo, Azaruja,
Canaviais, Graça do Divor, N.ª Sr.ª de Machede e S. Miguel de Machede). O Quadro 2
representa a distribuição geográfica das respetivas escolas e jardins-de-infância que
constituem este agrupamento.
Quadro 2 - Escolas e Jardins-de-Infância do Agrupamento n.º 4 e respetiva localização geográfica.
Escola Localização
Escola EB2, 3 Conde de Vilalva Évora
Escola Básica do Frei Aleixo Évora
EB/JI Canaviais Évora
Escola Básica de Azaruja Azaruja
Escola Básica de Graça do Divor Graça do Divor
Escola Básica de N.ª Sr.ª de Machede Nª Sr.ª de Machede
Escola Básica de S. Miguel de Machede S. Miguel de Machede
EB/JI Bacelo Évora
34
Escola Localização
Jardim-de-Infância de Penedo de Ouro Évora
Jardim-de-Infância da Azaruja Azaruja
Jardim-de-Infância de Graça do Divor Graça do Divor
Jardim-de-Infância de N.ª Sr.ª de Machede Nª Sr.ª de Machede
Pólo do Pré-Escolar Itinerante de S. Miguel de Machede S. Miguel de Machede
Pela observação da tabela é percetível a dimensão geográfica do agrupamento, pois
muitas das escolas e jardins-de-infância encontram-se no meio rural, dificultando a articulação
entre os docentes, muitos destes estabelecimentos do meio rural ainda não dispõem de internet,
tornando mais difícil o contato entre os professores e os educadores dos diversos
estabelecimentos, e desta forma o trabalho de equipa. Esta dificuldade evidenciou-se na
realização de projetos comuns, como foi o caso do projeto “Uma história em rede” que contou
com a participação de todos os estabelecimentos de ensino mencionados.
Os princípios definidos pelo projeto educativo do agrupamento procuram respeitar a
diversidade das famílias e das comunidades e estabelecer parcerias entre estas e as escolas. As
suas decisões ao nível da política educacional seguida, são sustentadas pelo direito das
crianças em ter as suas culturas, identidades, reconhecendo, valorizando e dando resposta à
complexidade das crianças e das vidas das famílias.
Reconhecem a existência de barreiras ao sucesso educativo das crianças, para alcançar
este sucesso, existe a necessidade de se desenvolverem práticas que contribuam para promover
a inclusão e a participação de todas as crianças, criando condições de suporte e apoio para
estas, especialmente as crianças com necessidades educativas especiais, contando com uma
equipa de técnicos especializados para o efeito como: psicólogo, terapeuta da fala e
enfermeiros do centro de saúde.
Procurando estruturar a sua função e valores, definiram-se as linhas que orientam a ação,
em quatro dimensões:
1.ª - Dimensão – Promoção no agrupamento, de uma cultura de excelência;
2.ª - Dimensão - Promoção da educação para a cidadania, cultura e valores;
3.ª – Dimensão - Promoção da educação para a sustentabilidade;
4.ª – Dimensão - Promoção da Educação para a Saúde;
35
Cabe a cada um dos educadores/professores pôr em prática estas dimensões que devem
ser projetadas no plano de turma. A perceção destes princípios, assim como das linhas
orientadoras da ação, permitiram-me atuar de forma refletida e adequada a este contexto,
procurando ir ao encontro das necessidades e interesses descritos.
O centro escolar EB/JI dos Canaviais abrange não só a população residente no bairro,
como também alunos oriundos de outras zonas da cidade, tanto no 1.º ciclo, como no pré-
escolar. No entanto, esta situação verifica-se maiormente neste último, devido à não existência
de vagas noutros jardins-de-infância da rede pública da cidade e bairros limítrofes,
especialmente nas idades de 3 e 4 anos. Houve também crianças que vieram de instituições
privadas de pré-escolar. Esta confluência originou uma grande heterogeneidade cultural, que
propiciou a partilha de saberes, vivências e relações, dado que cada criança é única e influencia
e é influenciada pelos múltiplos contextos onde se relaciona.
O centro escolar foi inaugurado em 2012, no início do ano letivo, resultante de um
projeto co-financiado pelo FEDER, à responsabilidade da Câmara Municipal de Évora, sendo,
portanto, um edifício de construção recente, que foi desenhada considerando a amplitude dos
espaços, a luminosidade natural, as questões de segurança, os espaços de arrumação e de
higiene, das crianças e adultos, e os espaços exteriores quer para o jardim-de-infância quer
para o 1º ciclo. Dispõe de uma biblioteca espaçosa, equipada com computadores e internet,
que também é local de exposições e de diversas atividades, e de um espaço polivalente amplo,
onde decorrem as aulas de expressão físico motora e que funciona como sala de espetáculos
e apresentações. Este espaço foi um recurso constante ao longo da minha prática, na pesquisa
de informação para o trabalho de projeto, na requisição de livros para a nossa sala, para contar
e ouvir histórias.
A cantina constitui um espaço de encontro entre o pré-escolar e o 1.º ciclo, apesar dos
horários diferenciados de almoço. Aqui, as crianças dispõem de um acompanhamento na
refeição pelas auxiliares e educadoras, respeitando os ritmos de cada criança na refeição e
apelando para hábitos alimentares saudáveis. Esta preocupação reflete-se no lanche da manhã
do pré-escolar, que consiste numa peça de fruta que a criança traz de casa.
Verifica-se a existência de um espírito de cooperação e de partilha entre os educadores
e os professores do centro escolar, que trocam impressões e opiniões que são atitudes
promotoras de um clima relacional calmo, seguro e de respeito uns pelos outros. Foram
desenvolvidas algumas atividades que promoveram as interações entre os profissionais e todas
36
as crianças do centro escolar e respetivas famílias, como por exemplo, o concurso de máscaras
de Carnaval, o peddy paper na Páscoa e o dia Mundial da Criança.
Por outro lado, o contato estabelecido entre as famílias e a escola é diário, na troca de
recados e informações sobre a criança e a sua vida casa/escola, transpondo para a criança o
sentido de continuidade entre estes dois contextos, o que lhe dá segurança e estabilidade e
facilita a sua integração no grupo.
Na prática que desenvolvi, procurei estreitar a relação escola/família, realizando
atividades que aproximaram os pais/encarregados de educação e familiares das crianças,
nomeadamente o lanche e jogos entre os pais e as crianças nos dias do Pai e dia da Mãe, que
passaram o dia com as crianças na escola, a participação na recolha de materiais reutilizáveis,
e outras iniciativas que envolveram as famílias.
Sendo a família, a primeira educadora das crianças, o seu papel na vida escolar é
essencial para o seu sucesso escolar. A interação entre os pais/encarregados de educação e os
educadores/professores, estabelecendo relações respeitosas e amigáveis, trocando ideias e
opiniões acerca das crianças é um veículo de comunicação entre os dois contextos principais
da vida das crianças, que deve ser cultivado pelos profissionais.
2.1.1. Caraterização do grupo
Idades das crianças e género
O grupo era composto por 25 crianças, com idades compreendidas entre os 3 e os 6 anos
de idade. No início do ano letivo eram 23 crianças, em janeiro entraram mais duas, os gémeos,
ambos com 3 anos, mantendo-se este número até ao final do ano letivo. Em relação ao género,
o grupo era composto por 14 rapazes e 11 raparigas, o que não representa uma diferença
considerável, pode-se afirmar que existe equilíbrio nesta dimensão.
No Quadro 3, agregam-se as idades das crianças distribuídas pelo sexo correspondente,
(levantamento em 21-02-2014) e que foram tidas em conta nas planificações.
37
Quadro 3 - Distribuição do grupo de crianças do pré-escolar, por sexo e idades (em 21-02-2014).
Fazendo uma análise deste fatores, o grupo revela uma heterogeneidade etária, o grupo
dos três anos era o maior, seguindo-se o grupo dos quatro anos, o grupo dos cinco anos era
composto por uma crianças e o de seis por duas crianças. Em relação ao sexo verifica-se que
o número de rapazes é 14 e o de raparigas é 11, não consistindo numa diferença substancial.
Considera-se que existem diversos fatores, que de acordo com as OCEPE, “influenciam
o modo próprio de funcionamento de um grupo, tais como, as características individuais das
crianças que o compõem, o maior ou menor número de crianças de cada sexo, a diversidade
de idades das crianças, a dimensão do grupo” (Ministério da Educação, 1997, p. 35).
Tempo de frequência na instituição
Do grupo das 25 crianças, 13 vieram de novo para a instituição, sendo que 10 são
oriundas de outras instituições da cidade e três não frequentaram a creche, ficando até aos 3
anos com a mãe ou outro familiar. O grupo de 12 crianças que já frequentava a instituição no
ano letivo anterior estavam na mesma sala, portanto já tinham uma relação mais próxima e já
estavam integradas na dinâmica do contexto. O Gráfico 1 é demonstrativo do contexto no qual
as crianças se encontravam no ano letivo anterior.
Sexo 3 anos 4 anos 5 anos 6 anos Total
Feminino 5 5 0 1 11
Masculino 7 5 1 1 14
Total 12 10 1 2 25
38
Gráfico 1 – Tempo de frequência na instituição.
As 13 crianças que integraram neste ano letivo na instituição, na minha chegada no
início de fevereiro, com exceção dos gémeos e de duas crianças que não frequentavam o
jardim-de-infância a tempo inteiro e assiduamente, já se encontravam integradas nas rotinas
da sala e demonstravam à vontade nas brincadeiras com os pares, assim como com a
educadora e a animadora.
A análise de todas estas informações, conjuntamente com a recolha de dados sobre o
contexto familiar das crianças (idades e habilitações literárias dos pais/encarregados de
educação; n.º de irmãos; tipo de agregado familiar) permitiram-me planear a ação educativa
tendo em conta a sua individualidade, as suas preferências, competências, assim como as suas
dificuldades. É a partir deste conhecimento que é possível perceber o contexto familiar de
cada uma das crianças e as suas vivências, o seu contexto sociocultural, que permite ao
educador valorizar os conhecimentos de cada criança; valorizar a contribuição de cada um e
os seus papéis na vida de cada criança; estabelecer relações de confiança mútua; comunicar
livremente e respeitosamente uns com os outros; compartilhar ideias e perspetivas sobre cada
criança e envolver-se em tomadas de decisões compartilhadas.
Interesses e necessidades
A recolha de informação sobre os interesses e as necessidades das crianças basearam-se
nas respetivas fichas de avaliação de cada uma delas do 1.º período, no plano de turma, nas
minhas observações e notas de campo, assim como nas conversas informais estabelecidas com
10; 40%
12; 48%
3; 12%
Outras instuições/creches
Jardim-de-Infância dos Canaviais - Sala A
Não frequência de Creche
39
a educadora e a animadora. Estas permitiram-me conhecer as crianças, planeando a minha
ação de forma a alargar os seus conhecimentos, potencialidades e a ajudá-las a superar
dificuldades.
Drummond (1993, citado por Gonçalves, 2008) atenta que “a avaliação consiste no
modo como, na prática diária, se observa as crianças no seu processo de aprendizagem, no
esforço de as compreender e posteriormente fazer bom uso desse entendimento” (p.75).
A observação é um processo contínuo, onde se procura conhecer cada criança
individualmente, as suas aprendizagens e desenvolvimento, ao educador o observar permite-
-lhe pesquisar para compreender a ação e a aprendizagem da criança. Importa também que ao
observar se compreenda os diversos contextos: a família, a comunidade, a sociedade e a
escola. Define-se a observação como um processo que se constrói na participação e também
na reflexão, que deverá ser feita de forma partilhada com os envolvidos no processo de
aprendizagem e desenvolvimento da criança (Oliveira-Formosinho, 2007; 2011).
O grupo, de uma forma geral, apresentava alguns interesses em comum, como o gosto
em ouvir música e cantar, andar de triciclo no recreio, brincar na caixa de areia, explorar o
exterior e na expressão motora. Era um grupo muito ativo, como muita necessidade de libertar
energia, como tal o exterior, sempre que as condições meteorológicas o permitiam, era o seu
espaço de eleição.
Aderiam com muita facilidade e com entusiasmo às propostas da educadora, assim como
às propostas emergentes do grupo, especialmente se estas constituíssem uma novidade, no
entanto, dado que a maioria das crianças tinha 3 e 4 anos, o tempo de concentração era
reduzido, deixando uma atividade a meio e passando para outra área que lhe despertasse a
atenção.
Na sala demostravam maior interesse em algumas áreas, sendo as mais escolhidas as
áreas da casinha, da pintura e das construções. A área das ciências e a área da escrita, no 3.º
período, foram também uma escolha (a primeira especialmente para a realização de
experiências e exploração dos materiais), principalmente nas crianças na faixa etária dos 4, 5
e 6 anos. As mais novas demonstravam um interesse maior nas áreas do faz de conta e nas
construções e posteriormente na área dos fantoches.
40
Uma necessidade que verifiquei nas crianças era a de cumprirem as regras da sala e de
aprenderem a estar em grupo, especialmente em grande grupo, e de respeitar o adulto e os
pares nas suas intervenções. Procurando que as crianças interiorizassem a importância das
regras para podermos conviver num espaço (ou numa sociedade), respeitando o lugar e os
outros, incentivei o diálogo nos momentos de grande grupo, para que fossem elas, através de
acontecimentos originados devido ao não cumprimento de regras (por ex: não respeitar o
espaço das construções, interferindo com a área do desenho) a justificar a sua necessidade.
Foi a partir dos aspetos referidos, assim como do registo diário das áreas escolhidas
pelas crianças, que procedi à identificação individual dos principais interesses e necessidades
de cada uma delas, apresentados no Quadro 4.
Quadro 4 – Principais interesses e necessidades demonstrados pelas crianças (final de fevereiro de 2014).
Interessa-se por: Necessita de:
J. P. Desenhar e pintar; jogar no
computador e construções.
Superar a timidez que o impede
de participar ativamente na
dinâmica da sala e de mobilizar
as suas competências.
B. Q. Área do faz de conta; jogo
simbólico; dançar e cantar;
desenhar e pintar; participar.
Desenvolver competências na
área da matemática.
G. Livros, construções, jogar no
computador.
Respeitar as opiniões dos
colegas; lidar com a frustração.
M. E. Área do faz de conta; desenhar e
pintar; cantar e dançar.
Superar a timidez; frequentar
assiduamente o jardim de
Infância.
M. Área do faz de conta; desenhar
e pintar, cantar; participar;
ajudar.
Controlar o seu impulso de falar
pelos colegas.
D. Ver livros; jogar no
computador; jogos; construções.
Aprender a trabalhar em grupo
ou a pares; controlar os seus
impulsos e medos; respeitar as
regras da sala.
J. M. Jogos; desenhar; construções e
jogar no computador.
Superar a timidez e ser mais
confiante, o que o impede de ser
mais participativo e de
expressar as suas ideias e
opiniões.
C. F. Área do faz de conta; ver livros;
cantar e dançar.
Superar a timidez.
R. O. Área do faz de conta; pintar;
desenhar; participar; cantar e
dançar.
Ter mais autoconfiança,
respeitar as regras da sala.
J. L. Brincar nas construções;
atividades livres; área do faz de
conta.
Muito apoio do adulto para
superar as dificuldades;
terapeuta da fala.
A. B. Jogar no computador; música;
brincar na área do faz de conta.
Controlar a sua impulsividade;
pensar antes de fazer; estímulo
para concretizar os trabalhos.
41
Interessa-se por: Necessita de:
M. S. Desenhar, pintura; modelagem;
área do faz de conta; participar;
ajudar.
Respeitar as ideias e as opiniões
dos colegas.
D. R. Fazer construções; jogar no
computador; ver livros;
desenhar no quadro, música.
Apoio do adulto para
concretizar os trabalhos; ter
mais autoconfiança; superar
dificuldades na linguagem.
D. L. Jogos; desenhar; jogar no
computador.
Estar mais atento nos momentos
de grande grupo; respeitar as
regras da sala.
A. A. Fazer construções; área do faz
de conta; jogos; falar com os
amigos.
Ter mais autoestima; não se
deixar influenciar pelos pares.
J. R. Área do faz de conta; pintar;
jogos.
Ter mais concentração e
persistência nas atividades.
C. R. Ver livros; jogos; área do faz de
conta; recorte e modelagem.
Ser mais autoconfiante; prestar
atenção nos momentos de
grande grupo.
I. Z. Jogos; área do faz de conta;
desenhar; pintar.
Superar a timidez que a impede
de participar nos momentos de
grande grupo.
M. B. Desenhar e pintar; área do faz
de conta.
Frequentar assiduamente o
jardim-de-infância; superar a
timidez.
M. B. L. Ver livros; desenhar; pintar;
área do faz de conta; ajudar;
jogos.
Completar as atividades que
realiza com concentração e
empenho; superar a timidez.
B. C. Jogos; construções; área do faz
de conta, conversar com os
amigos.
Prestar atenção nos momentos
de grande grupo e às histórias;
relacionar-se com os pares.
A. C. Brincar nas construções; jogos;
área do faz de conta.
Cumprir as regras da sala; apoio
do adulto na realização das
tarefas; frequentar o jardim-de-
infância a tempo inteiro;
desenvolver a linguagem.
M. F. Brincar com os animais nas
construções; jogar no
computador; pintura.
Ter mais autoconfiança; superar
a timidez; desenvolver a
linguagem; relacionar-se com os
pares.
M. F. Brincar com os animais nas
construções; jogar no
computador; desenhar no
quadro.
Mais empenho nas atividades,
ser mais autónomo, desenvolver
a linguagem; relacionar-se com
os pares.
D. L. Jogos; brincar nas construções;
brincadeiras na área do faz de
conta.
Aprender a aceitar o “não”;
respeitar as regras da sala; apoio
do adulto na realização das
tarefas.
Reconhecendo os interesses e necessidades mencionados e a existência de obstáculos
para o sucesso educativo das crianças, procurei desenvolver a minha prática de forma a
contribuir para a promoção da inclusão e da participação de todas as crianças.
42
2.1.2. Organização da ação educativa
Fundamentos da ação educativa
No contexto aqui descrito, onde desenvolvi a prática pedagógica, não existia a adoção
de um modelo curricular em concreto. A prática educativa tinha como suporte de base os
princípios da Pedagogia em Participação, assim como as OCEPE (Orientações Curriculares
para o Ensino Pré-escolar) e recorria ao quadro de presenças e ao plano semanal em reunião
de conselho, instrumentos de regulação do MEM (Movimento da Escola Moderna).
A opção pedagógica do educador permite-lhe adotar ou não um modelo curricular.
Oliveira-Formosinho diz, “não se devem impor modelos curriculares, até porque não é papel
do estado arbitrar questões científicas” (1996, p.12). Os modelos contemplados pelo educador
poderão estar associados a outros, podendo ser adaptados, considerando-se as caraterísticas
do grupo e as opções educativas da equipa.
Oliveira-Formosinho (2001), define modelo curricular como um “sistema educacional
compreensivo que se carateriza por combinar a teoria e a prática. Dispõe, portanto, de uma
teoria e uma base de conhecimentos explícita, desde o nível fundamentador da filosofia
educacional, passando pelos níveis de uma teoria de ensino aprendizagem” (2001, p. 109).
O grande enfoque da pedagogia em participação é que considera todos os envolvidos no
processo educativo como sujeitos ativos, obreiros de um contexto educativo que é feito na
partilha, na vivência de experiências e na construção de saberes (Oliveira-Formosinho, 2007).
Oliveira-Formosinho (2007, pp.18-19) apresenta a seguinte definição:
a pedagogia em participação centra-se nos autores que constroem o
conhecimento para que participem progressivamente, através do processo
educativo, da (s) cultura (s) que os constituem como seres sócio-histórico-
culturais. A pedagogia da participação realiza um diálogo constante entre a
intencionalidade conhecida para o ato educativo e a sua prossecução no
contexto com os autores, porque esses são pensados como ativos,
competentes e com direito a co-definir o itinerário do projeto de apropriação
da cultura que chamamos de educação.
O desenvolvimento da pedagogia em participação baseia-se num processo, em primeiro
lugar, de valorização das relações, de ouvir a criança, da observação continuada, e de valorizar
as relações adulto-criança, considerando-se o centro da intencionalidade pedagógica, sendo
43
este o meio através do qual se distingue uma pedagogia participativa de uma pedagogia
transmissiva. Oliveira-Formosinho; Lino e Niza (2007) referem que as interações são centrais,
o adulto deve apoiar e encorajar as crianças nas aprendizagens, através do diálogo, procurando
dar-se a conhecer e a conhecê-las, “é neste clima que a criança desenvolve a autonomia, a
capacidade para a independência, a exploração e as ligações afetivas e sociais” (p.76).
Oliveira-Formosinho (2011) alude, que a investigação longitudinal nos reporta que o
impacto duradouro e eficaz na vida das crianças resulta das expressões participativas da
pedagogia.
Nesta lógica a relevância dos espaços, dos materiais, do tempo, a qualidade das
interações, a observação, a planificação/avaliação, a documentação pedagógica, o
envolvimento dos pais, famílias e comunidades, a integração de áreas curriculares são
promotores de uma pedagogia participativa.
À criança é dado o direito de construir a sua própria aprendizagem, proporcionada
através de relações verdadeiras e identitárias, como condição prévia de aprendizagem
experiencial.
A organização dos grupos de aprendizagem, na pedagogia em participação, favorece os
grupos heterogéneos, pela oportunidade de aprendizagem partilhada entre as crianças mais
velhas e as mais novas. Também as OCEPE orientam neste sentido “sabe-se, no entanto, que
a interação entre crianças em momentos diferentes de desenvolvimento e com saberes
diversos, é facilitadora do desenvolvimento e da aprendizagem” (Ministério da Educação,
1997, p. 37).
Como já foi referido, a educadora da sala utilizava alguns dos instrumentos de regulação
que são caraterísticos do MEM (movimento da escola moderna), nomeadamente o quadro de
presenças e o plano da semana em reunião de conselho.
O quadro de presenças é um quadro de dupla entrada, a coluna do lado esquerdo tinha a
fotografia e o nome de cada uma das crianças, em sentido decrescente de idades, a primeira
linha tinha os dias do mês. Os fins-de-semana eram marcados, com cor diferente, pela criança
responsável pelas tarefas à segunda-feira, que desenhava uma casinha em cada linha, de cor
castanha. Ao mapa de presenças acrescentei, após os nomes das crianças, a identificação para
que as crianças fizessem o registo das presenças, das faltas e o total de faltas e de presenças.
Todos os dias a criança responsável pelas tarefas, realiza a contagem das presenças e das faltas
44
e a soma entre estes dois, com o apoio do educador ou de uma criança mais velha, pois estas
já realizam essa contagem e a respetiva soma sozinhas. Este instrumento permite para além
da função designada, o desenvolvimento de competências nas áreas da matemática, estudo do
meio e ainda a identificação de códigos escritos (nome das crianças, mês) como a interpretação
de um código que permitia identificar as faltas e as presenças, assim como os fins-de-semana
e os dias de escola.
Figura 8 - Quadro de presenças.
Mantive a ordem decrescente nos nomes no quadro, pois as crianças mais novas ainda
tinham dificuldade em identificar a correspondência na tabela, e como as crianças só passaram
a fazer a marcação das presenças autonomamente em abril (à medida que chegavam iam
marcar a sua presença), considerei que ao dificultar a tarefa, muitas não conseguiriam fazê-la
sem ajuda.
O plano da semana era realizado na segunda-feira de manhã em reunião de grande grupo
e servia como um instrumento orientador das principais ações a desenvolver na semana. Estas
partiam das sugestões das crianças e do adulto e da participação em projetos do
estabelecimento. Todos os dias de manhã quando reuníamos em grande grupo relembrávamos
o que estava no plano para esse dia, recorrendo ao registo. Este instrumento era muito útil pois
permitia que as crianças percebessem a função e a importância da escrita enquanto meio de
comunicação e o registo do que é dito (oral) para o registo escrito que pode ser consultado a
qualquer momento, sempre que se apresente essa necessidade. Uma lacuna que senti na
utilização deste instrumento foi na confrontação entre o plano da semana e a sua realização
efetiva, não existindo um momento para avaliar o trabalho da semana e a realização, ou não,
45
do que havia sido planificado. Posteriormente introduzi a reunião de avaliação semanal em
grande grupo à sexta-feira à tarde.
Figura 9 - Plano da Semana.
Estes instrumentos de pilotagem, como refere Folque, (2012, p.55) “ajudam o educador
e as crianças a orientar/regular (planear e avaliar) o que acontece (individualmente e em
grupo) na sala” e constituem-se “informantes da regulação formativa” Niza (1996, citado por
Folque, 2012, p.55).
Igualmente as OCEPE, quadro referência para todos os educadores, serviram de
orientação da minha prática, na medida em que referem um conjunto de princípios gerais que
apoiam os educadores na forma como dirigem o processo educativo a desenvolver com as
crianças.
Deste modo, os princípios que sustentaram a minha prática focaram-se em ajudar as
crianças a fazer progressos nas suas aprendizagens. A prática pedagógica baseou-se na
sustentação teórica considerada, que assenta em valores, crenças e princípios baseados na
democracia e na vivência de um quotidiano que deve fazer sentido, cuja prioridade são a
qualidade das relações e das interações.
Neste desenvolvimento, o ambiente deve ser seguro, respeitoso e rico em interações.
Procurei assim, compreender os pensamentos e sentimentos das crianças de modo a apoiar o
seu desenvolvimento, dar apoio e bem-estar. As interações basearam-se num ambiente de
positividade com a criança na sua aprendizagem.
46
Através de uma rede segura do alargamento das relações estabelecidas, as crianças
desenvolvem a confiança, e sentem-se respeitadas e valorizadas. Tornam-se cada vez mais
capazes de reconhecer e respeitar os sentimentos dos outros e interagir positivamente com
eles.
Organização do cenário educativo
O espaço físico é um elemento indispensável a considerar se se pretende o sucesso na
aprendizagem e no desenvolvimento das crianças. Este deve ser organizado com o princípio
de ser acolhedor e estimulante, onde a criança se sinta à vontade e independente, onde sinta
prazer em estar e alegria, um lugar onde sinta bem-estar. Um lugar onde as crianças se
encontram, onde brincam, trabalham e se sentem em segurança.
Deve considerar-se um lugar para todos, promotor das interações: criança-criança;
adulto-criança e que permite também um espaço individual, onde a criança possa estar sozinha
a brincar. Devem ser ainda espaços amplos, arejados, com boa iluminação natural, que
permitam a livre circulação das crianças e adultos, aberto para os outros espaços do ambiente
educativo.
O espaço das salas dedicadas à educação de infância encontram-se normalmente
organizadas em áreas de atividades diferenciadas, que permitem variadas aprendizagens
plurais (Oliveira-Formosinho, 2007). De acordo com esta autora, cada uma das áreas permite
experimentar e viver papéis sociais, relações interpessoais e estilos de interação que são o
reflexo da textura social básica.
Também as OCEPE referem “o tipo de equipamento, assim como os materiais existentes
e o modo como estão dispostos condicionam, de uma forma significativa, o que as crianças
podem fazer e aprender” (Ministério da Educação, 1997, p. 39).
No decorrer da minha prática fui percebendo que as crianças recorriam constantemente
ao adulto sempre que pretendiam transitar de área, perguntando se podiam ir para a área X ou
Y, o que condicionava a sua autonomia e a perceção da ocupação de cada área. Outras vezes
transitavam de área, excedendo o número limite combinado para cada uma, o que provocava
conflitos com os colegas. Verifiquei a necessidade de as áreas estarem devidamente
identificadas, o que foi realizado na interrupção letiva de abril.
47
Foi também nesta altura que procedi à reorganização de todo o espaço, de modo a
conseguir criar três novas áreas: das ciências, da escrita e dos fantoches. Na área das ciências
identifiquei os materiais que coloquei. Estes já existiam na escola, no entanto, estavam
arrumados num dos armários e não eram utilizados. Levei conchas, rolhas de cortiça, rochas,
assim como pregos. Incentivei também a que as crianças trouxessem de casa alguns objetos,
o que aconteceu como alguns ímanes mais pequenos e rochas.
Para que o crescimento e a envolvimento das crianças seja durável e aconteça é
necessária uma reorganização e uma reestruturação nas áreas de aprendizagem, baseadas nas
necessidades observadas. É necessário que os educadores estejam atentos para que situações
como o desinteresse e desmotivação das crianças não aconteçam, sendo importante que se
promova o prazer e a satisfação em estar na escola. A Figura 9 exemplifica a planta da sala,
após a sua reorganização.
Figura 10 - Planta da sala A (após alteração realizada na interrupção letiva da Páscoa).
O espaço foi assim dividido num total de 8 áreas de interesse: expressão plástica que se
subdivide em 5 espaços (modelagem; recorte/colagem; cavalete de pintura, desenho, desenho
no quadro), a área da escrita, área das ciências, área do faz de conta (casinha e fantoches),
livros, construções, computador e jogos de mesa.
48
Na zona de acolhimento foram colocados sofás que permitem alterar o espaço,
possibilitando que a zona dos fantoches possa acolher duas crianças, e que se reposicione a
mesa da área dos livros. A estante de apoio contém, de um lado os jogos de mesa e do outro
lado os livros, que ficam acessíveis com a modificação dos sofás depois do acolhimento e da
hora da história. Também, a colocação das mesas é alterada de acordo com as atividades em
curso, para os momentos de grande grupo à volta da mesa grande, as mesas são colocadas de
modo a formar um retângulo, paralelas umas às outras, para a modelagem e recorte/colagem
as mesas de apoio identificadas na planta são separadas, permitindo pequenos grupos
separadamente.
Cada uma das áreas foi identificada com uma imagem e com o algarismo representativo
do número de crianças por área e respetiva quantidade representada com figuras geométricas
(retângulos, triângulos, círculos e quadrados em tamanhos e cores diferentes em cada uma).
As áreas encontram-se bem definidas e todos os materiais estão ao alcance das crianças, fator
encorajador da sua autonomia. Alguns dos materiais estão devidamente etiquetados e
identificados, no entanto, não consegui proceder à identificação de todos, como gostaria.
Figura 11 - Identificação da área da escrita.
Realizarei de seguida uma exposição das áreas que sofreram maior intervenção e das
alterações realizadas em cada uma delas, para as quais, devo realçar, o apoio incondicional da
educadora cooperante nestas decisões.
49
Área da expressão plástica
A área da expressão plástica é a mais enriquecida da sala, pois possui uma diversidade
de espaços, como já referi, apetrechados com muitos materiais.
Uma das estratégias que adotei, na promoção de valores de partilha e interajuda, foi
organizar uma mesa para a realização da pintura, possibilitando pinturas coletivas, a pares ou
ainda individual mas com quatro crianças ao mesmo tempo, o que possibilitou que as mais
velhas auxiliassem as mais novas e estas muitas vezes procuravam imitar as suas produções.
Também a utilização de materiais reutilizáveis na área da pintura foi uma preocupação que
tive em conta, pois constituem oportunidades de experimentar outros materiais com texturas
diferentes, de explorar a criatividade (caixas de ovos, cartão, esferovite,…) e de educar para
a sustentabilidade.
A oportunidade de modelar com outros materiais como barro, terracota ou gesso seria
enriquecedor desta área, mas por uma questão de rentabilização de materiais existentes, não
foram adquiridos, utilizando-se a plasticina e a pasta de moldar.
Área dos livros
A área dos livros permite desenvolver a atenção e o espírito crítico. Neste espaço de
leitura, as crianças simulam o ato de ler, através das pistas contidas nas imagens e na sua
memória visual, onde a ampliação do vocabulário, a capacidade crítica e a pronúncia clara das
palavras acontecem. Procedeu-se ainda à substituição dos livros existentes por outros, assim
como a colocação de histórias conhecidas pelas crianças só com imagens em tamanho grande,
que as crianças recontavam oralmente quando escolhiam este espaço. Numa das visitas à
biblioteca da escola requisitámos livros para a nossa sala, escolhidos pelas crianças. Também
no trabalho de projeto requisitámos livros na biblioteca sobre as formigas que as crianças
utilizaram e exploraram com interesse.
Área das ciências
A área das ciências possui lupas, um íman, pregos, rolhas de cortiça, tampas de plástico,
conchas de tamanhos diferentes, rochas diferentes (granito, mármore, xisto), uma balança
grande com pesos, uma balança de madeira mais pequena, imagens de insetos e de animais,
de plantas em diferentes fases de crescimento, plantas naturais, um microscópio e os bichos-
da-seda. Houve também caracóis numa caixa mas depois soltámo-los, pois considerámos que
estariam melhor no seu habitat natural. Algumas das crianças disponibilizaram-se para trazer
50
folhas de amoreira para os bichos-da-seda, o que incentivei. Logo de manhã alimentavam-nos
e observavam o seu crescimento, esta é também uma forma de promover a responsabilidade
das crianças e o seu interesse.
A área das ciências era uma lacuna que na minha opinião faltava na sala. Esta permite
que as crianças explorem os materiais e observem elementos da natureza, observem os
comportamentos de alguns materiais (atração/não atração de materiais por um íman),
reconhecerem caraterísticas específicas de alguns materiais, observar diferentes tipos de
rochas, assim como realizar pesagens e fazer comparações, possibilitando também
desenvolver noções matemáticas.
Sempre que as condições meteorológicas permitiam colocava no exterior uma banheira
de plástico com água, contendo materiais diversos, garrafas de plástico, peças de madeira,
pregos, cortiça um funil, etc. Este era um espaço pelo qual as crianças demonstravam um
grande interesse e entusiasmo, experimentavam o comportamento dos materiais na água,
enchiam e despejavam recipientes, reproduzindo algumas das experiências que realizámos na
sala.
Área dos jogos
Outra alteração foi na área dos jogos, retirei jogos que as crianças já conheciam e
realizavam sem dificuldade por jogos diferentes, que possibilitam a aquisição de novas
competências e aprendizagens, nomeadamente na área da matemática, pois introduzi um jogo
de associação de quantidades a algarismos e novos puzzles, com mais peças. Também
coloquei jogos relacionados com a natureza/ciência: um jogo de animais da quinta e da selva
e seus habitats e um jogo do corpo humano e a sua composição interna (esqueleto, músculos,
órgãos e pele), e um jogo de imagens de encaixe que representa crianças de várias culturas e
etnias, o tipo de vestuário e estilo de habitações.
Na área dos jogos, a criança tem a oportunidade de trabalhar sozinha ou a pares.
Os jogos realizam-se na mesa de apoio da sala destinada para o mesmo. Esta permite
desenvolver noções de comparação, classificação e de seriação, desenvolver a motricidade
fina e a destreza manual, estabelecer semelhanças e diferenças, para tal é fundamental a
diversificação dos materiais.
51
Área da escrita
A área da escrita, sendo um espaço novo, teve um grande investimento da minha parte
para que fosse estimulante e apelativa para as crianças. Foi equipada com uma caixa
identificada, com lápis de carvão e canetas, borrachas, cadernos de linhas individuais para as
crianças, imagens de números, as letras do alfabeto afixadas na parede em frente e imagens
com palavras. Existia também um jogo de associação de nomes às respetivas imagens.
Existiam ainda letras e números em duas dimensões, assim como carimbos com letras e
números. Para as crianças que transitam para o 1.º ciclo foi criando um Kit individual com os
materiais de escrita, que no entanto se estendeu a mais crianças pelo interesse demonstrado
nesta área.
Esta área permite a utilização de instrumentos de escrita, que a criança transcreva e
reconheça letras, algumas palavras e números, fazendo a distinção entre estes últimos e as
letras, associe imagens à palavra escrita, identifique o início e o fim de uma palavra e que a
escrita transmite informação. A criança nos seus cadernos é livre de fazer as suas tentativas
de escrita, desenhar as palavras e números, fazer desenhos, carimbar, escrever palavras que
reproduz a partir de cartões, revistas ou de livros.
No entanto seria promotor da interajuda e cooperação se nesta área pudessem estar pelo
menos duas crianças, mas devido à limitação do espaço, esta era individual.
A recetividade das crianças à identificação das áreas e às alterações realizadas foi muito
boa e suscitou muito interesse, no Caderno de Formação - Reflexão 9, Semana de 22 a 24 de
Abril de 2014 (em apêndice), refiro:
As alterações que realizámos na sala tiveram o efeito pretendido, as crianças
aderiram com muito entusiamo à organização do espaço e com bastante
curiosidade às novas áreas, identificam-nas e aos respetivos espaços com
facilidade, assim como a mudança de uma área para a outra, olhando para
as fotografias dos colegas afixadas em cada uma e o algarismo associado à
quantidade. Usámos figuras geométricas para indicar a quantidade de
crianças em cada uma, associadas ao algarismo. A adoção das figuras
geométricas levou a que as crianças se interessassem pelas mesmas, assim
na próxima semana iremos realizar colagens com figuras geométricas de
diversas cores e tamanhos, associando-as a objetos que nos rodeiam
diariamente.
52
No que respeita à pluralidade, existiam na sala jogos, livros e imagens, demonstrativos
da diversidade pessoal, social e cultural.
Todos os elementos considerados são um instrumento fundamental para o crescimento
e a autonomia da criança, que lhes permite construir individualmente o seu processo de
crescimento criando a sua forma de estar em sociedade.
Organização do tempo
Também a organização do tempo deve ser pensada pelo educador, de modo a permitir
às crianças uma perceção do seu dia e do que se segue a seguir a cada um dos momentos.
O tempo educativo é por norma organizado numa rotina simples, que pode ser flexível,
com o objetivo de dar resposta às necessidades das crianças e à intenção educativa, refletindo
as interações das crianças com o adulto e das crianças entre elas, assim como os momentos de
grande grupo, pequeno grupo e individuais.
Zabalza refere as rotinas como, “as organizadoras estruturais das experiências
quotidianas, pois esclarecem a estrutura e possibilitam o domínio do processo a ser seguido e,
ainda, substituem a incerteza do futuro…” (1998, p. 52)
Esta rotina é também estabelecida em função de uma rotina geral estabelecida pela
instituição. As rotinas da instituição vão ao encontro da necessidade da gestão dos recursos
humanos e dos horários de almoço do pré-escolar e do 1.º ciclo, procurando gerir o pessoal
auxiliar nas horas de acolhimento, almoço, recreios e após a atividade letiva da parte da tarde,
assim como no assegurar da limpeza da instituição, procurando ir ao encontro das
necessidades das famílias.
Para Hohmann e Weikart a “rotina permite às crianças antecipar aquilo que se passará
a seguir e dá-lhes um grande sentido de controlo sobre aquilo que fazem em cada momento
do seu dia pré-escolar” (1997, p. 8).
A rotina diária, ajuda a criança a compreender a continuidade dos acontecimentos,
ajudando também, os adultos a organizar o seu tempo, de forma a oferecer-lhes experiências
de aprendizagem ativas.
A sequência das rotinas transmite segurança às crianças, permitindo que as crianças
apreendam as noções temporais: o passado, o presente e o futuro.
Indo ao encontro da organização das rotinas diárias da sala e da instituição, procurei
enriquecer os momentos de rotina, quer diária, quer semanal, atendendo aos momentos de
53
organização do grupo, contemplando os momentos individuais com as crianças, a pares, em
pequenos grupos e em grande grupo.
No momento do acolhimento e das tarefas do dia, incentivei as conversas e a partilha de
acontecimentos e vivências das crianças. Neste tempo de grande grupo, as canções foram
sempre uma constante, ensinei uma nova canção do dia, que veio enriquecer este momento,
que apesar de extensa, as crianças aprenderam com muita facilidade e que sentiam prazer em
cantar.
Nas tarefas diárias, para além destas, as crianças passaram também a identificar a
estação do ano em que nos encontrávamos. A visualização e audição de músicas recorrendo
ao computador foi também prática quase diária, para além das rimas e trava-línguas que fui
ensinado às crianças.
A rotina da manhã na chegada à sala foi alterada, começando com a realização de jogos
de mesa, entre as 9h e as 9h40min. A cooperação, a interajuda e o trabalho a pares foram
valorizados, pois incentivei a realização de jogos entre duas crianças, normalmente uma mais
velha e outra mais nova.
Figura 12 - Tempo dos jogos de manhã.
Esta alteração surgiu na consequência da observação e posterior reflexão, da dificuldade
das crianças na realização dos jogos e revelou-se muito enriquecedora na contribuição para o
desenvolvimento e as aprendizagens das crianças na área da matemática e na motricidade fina.
Transcrevo do Caderno de Formação – Reflexão 7, Semana de 31 de Março a 04 de
Abril de 2014 (em apêndice) o seguinte:
Nos jogos de mesa de manhã, verifico de um modo geral a evolução das
crianças na sua realização, especialmente o A. C. (3:10) que já consegue
54
realizar os puzzles sozinho, do A. B. (4:7), que embora ainda sinta alguma
dificuldade nalguns dos jogos, já realiza os puzzles, da R. (4:10) que realiza
construções elaboradas com o tangram.
Também, os momentos de interação individual do adulto com a criança ganharam mais
espaço, pois neste tempo, a atenção recaía sobre cada um ou no par, colocando questões sobre
o jogo, auxiliando o seu raciocínio. Permitiu também a perceção de dificuldades e de
necessidades das crianças, de atenção e de apoio, de se sentirem escutadas e valorizadas.
Esta alteração também contribuiu para a cooperação e a autonomia, na medida em que
as presenças passaram a ser marcadas à medida que as crianças iam chegando, ou enquanto
realizavam os jogos, que da sua iniciativa se levantavam para a marcar ou os colegas que já
haviam marcado vinham trazer a caneta a outro que ainda não o tivesse feito. As crianças mais
velhas ajudavam algumas das mais novas nesta tarefa, auxiliando na identificação da
quadrícula correspondente.
A reunião de avaliação do dia, com o registo no “diário da nossa sala”, instrumento que
adotei, veio alterar a rotina ao final do dia, que passou a terminar com um momento de grande
grupo, assim como a reunião de avaliação semanal à sexta-feira. De seguida procede-se à
exposição das práticas de avaliação adotadas e instrumentos utilizados.
Organização do planeamento e da avaliação
Como foi exposto, a educadora utilizava alguns instrumentos do modelo curricular
MEM, a ação educativa baseava-se na pedagogia em participação e nas OCEPE, que
consideram o sistema de avaliação e planificação integradas no próprio processo de
desenvolvimento da educação, orientações que segui e que iam ao encontro dos meus
objetivos da investigação-ação, assim como dos meus princípios e conceções sobre a educação
em pré-escolar.
O planeamento semanal, como referido anteriormente, era realizado com as crianças, às
segundas de manhã, e os temas a trabalhar surgiam, a partir das observações das necessidades
do grupo, de projetos do estabelecimento, de épocas festivas e dos interesses demonstrados
pelas crianças. Mantive a planificação com as crianças às segundas de manhã, de acordo com
a rotina semanal estabelecida.
Também durante a minha PES a planificação semanal e diária que realizava tinha em
conta os interesses e as necessidades do grupo, os conhecimentos do seu contexto social e
55
familiar, assim como a participação em projetos comuns do estabelecimento de ensino, como
a temática da primavera, da páscoa e do projeto “Ler +”. Baseava-me na observação
naturalista, nas notas de campo diárias e nas áreas curriculares, assim como nas competências
e objetivos a atingir pelas crianças em cada uma delas. As planificações eram sempre
discutidas com a educadora e se necessário eram alteradas de acordo com as necessidades do
grupo ou com alguma saída inesperada ou acontecimento.
Como instrumento de avaliação, a educadora organizava com as crianças um dossiê
individual de cada uma, onde eram guardados pelas próprias os seus trabalhos, ordenados por
cada mês, com uma folha de rosto mensal que consiste no recorte e colagem das presenças e
das faltas de cada um e na sua contabilização e identificação. As crianças, à sexta-feira
arrumavam os trabalhos da semana nesse dossiê, verificando o que foi produzido, como e
porquê. Ao realizarem o arquivo conversávamos (eu e a educadora) com as crianças sobre os
seus trabalhos, revendo em conjunto o que a criança realizou, efetuando uma avaliação com
ela, numa conversa informal sobre as suas produções. Mantive esta prática, dada a importância
deste momento na promoção da autoavaliação pela criança e a sua perceção do trabalho
realizado durante a semana.
Implementei o instrumento “diário da nossa sala”, que era composto por três colunas (o
que fizemos, o que correu bem, o que correu mal), e consistia num registo semanal, dos
acontecimentos diários da vida do grupo. Procurei que as crianças recorressem ao diário para
realizar registos dos acontecimentos da vida do grupo ou pedindo ao adulto para o fazer ou
através do desenho, mas no início da implementação as crianças não revelavam grande
interesse por este instrumento. Resolvi então, no final do dia reunirmos em grande grupo para
leitura do diário e nesta ocasião surgiam sempre acontecimentos, ou incidentes a registar, o
que era importante pois indicava que as crianças se estavam a apropriar deste instrumento
como uma forma de registar as suas ideias, desejos e acontecimentos da vida do grupo.
Pretendi ainda com a reunião do final do dia em grande grupo, fomentar nas crianças a
prática da autoavaliação e da heteroavaliação, enquanto formadoras de pessoas críticas e
interventivas na sociedade, nomeadamente nas apresentações diárias que passámos a realizar,
das produções das crianças, incentivando a comentar os seus trabalhos e os dos colegas. Nesta
ocasião, realçava aspetos, como a evolução das crianças na pintura, desenho, na escrita
autónoma do seu nome ou de uma determinada atividade que já realiza sozinha, procurando
desenvolver nas crianças uma autoestima positiva e um sentimento de valorização pessoal.
56
Na reunião do final da semana, à sexta-feira à tarde, tudo o que havia sido escrito no
plano da semana e no diário era lido, confrontando a realização ou não do que estava no plano
e conversando sobre o porquê de não se ter realizado e sobre as situações relatadas.
Figura 13 - Registo da avaliação da semana.
Esta estratégia surgiu por considerar a avaliação realizada com as crianças, quer dos
acontecimentos, quer dos seus trabalhos, uma questão importante no desenvolvimento e na
aprendizagem das crianças, que lhe permite refletir sobre o que a rodeia e sobre si e os outros,
conversando e expondo as suas ideias e opiniões.
A avaliação realizada com as crianças é uma atividade educativa,
constituindo também uma base de avaliação para o educador. A sua
reflexão, a partir dos efeitos que vai observando, possibilita-lhe estabelecer
a progressão das aprendizagens a desenvolver com cada criança. Neste
sentido, a avaliação é suporte do planeamento (Ministério da Educação,
1997, p.27).
As OCEPE referem ainda que “planear e avaliar com as crianças, individualmente, em
pequenos grupos ou no grande grupo são oportunidades de participação das crianças e meios
de desenvolvimento cognitivo e da linguagem” (Ministério da Educação, 1997, p. 37).
57
O excerto que transcrevo do Caderno de Formação explicita a realização da primeira
reunião de avaliação da semana, com as crianças sentadas à volta da mesa grande:
A reunião de grande grupo, na avaliação da semana, originou alguma
curiosidade nas crianças, visto que para organizar o espaço é necessário
mudar toda a disposição das mesas e das cadeiras. Como foi a primeira
reunião, para a qual dei um enfâse especial, as crianças estiveram atentas,
embora nem todas participassem, apesar de direcionar algumas questões
para as que raramente participam, como a I. (4:1), o J. P. (6:5), a Carolina
(4:10), o Z. L. (4:8), e a M. (4: 0), incentivando-as a participar e a dar a sua
opinião sobre os trabalhos, os seus e os dos colegas.
Realizei a leitura do plano da semana e do diário, as crianças enumeraram
os trabalhos que realizámos, a árvore da Primavera, as pinturas da árvore
com caixas de ovos, os pássaros e as flores com materiais diversos.
A minha intenção é que as crianças partilhem e deem a sua opinião sobre os
acontecimentos da semana, sobre os trabalhos realizados, as atividades,
levando-as a refletir sobre o que poderia estar melhor, ou a elogiar um bom
trabalho de um colega, pretendendo envolver as crianças na avaliação e que
desenvolvam a prática da autoavaliação e heteroavaliação, considerando a
importância que esta tem ao longo das suas vidas na regulação das
aprendizagens. Assim, peço às crianças para darem a sua opinião, sugestão
sobre a semana e os trabalhos realizados. Realizamos ainda uma
confrontação entre o plano da semana e o que foi realizado, ou não,
justificando o porquê de não se ter realizado determinada atividade.
A M. foi a criança que mais participou, recordava os acontecimentos da
semana, participou na avaliação dos trabalhos, assim como recordou as
histórias que contei nesta semana, que decidi introduzir também na
avaliação, “as Histórias que ouvimos esta semana”, levando as crianças a
recordar as histórias e a dizer as que mais gostaram e porquê. Sei que este
processo da avaliação da semana, ainda está agora em fase de início, e que
demorará ainda algum tempo para que as crianças participem e avaliem
tanto os seus trabalhos como os dos colegas, no entanto é uma rotina que
irei manter, assim como o preenchimento do diário de turma, e leitura no
final do dia em reunião de grande grupo, pois reconheço a sua importância
na participação das crianças em toda a envolvência do jardim-de-infância e
na construção de práticas de democracia e cidadãos interessados e
participativos na sociedade. (Caderno de Formação - Reflexão 6, Semana de
24 a 28 de Março de 2014).
Simultaneamente a avaliação era contemplada diariamente na planificação diária
(organização da avaliação) e pretendia avaliar se os objetivos para as áreas curriculares, eram
ou não atingidos, onde a observação das crianças, os registos, as produções realizadas, as suas
intervenções, assim como o registo fotográfico, serviam de suporte desta avaliação.
58
Por outro lado as conversas informais que tinha diariamente com a educadora nos
momentos de descanso, sobre as atividades, ou sobre cada uma das crianças ou do grupo em
geral serviam de também de apoio para a avaliação, assim como as notas de campo diárias de
momentos do dia.
Todos os aspetos considerados serviam de suporte e orientação da minha prática
pedagógica, tendo presente que a avaliação acompanha todo o processo de ensino e
aprendizagem, recorri a diversas estratégias de avaliação: a observação espontânea, os registos
coletivos e individuais de produção; a participação nos momentos de grande grupo e na
planificação, o acompanhamento dos processos de produção; a diversidade individual de
aprendizagens tendo em conta as diferenças e os ritmos de aprendizagem de cada criança.
2.2. Contexto da prática de ensino supervisionada em 1.º ciclo
O contexto onde desenvolvi a PES em 1.º ciclo pertence ao Agrupamento de Escolas
Manuel Ferreira Patrício (antigo Agrupamento de Escolas n.º1 de Évora) da rede pública de
ensino. A minha PES ocorreu concretamente na EB1 S.ª da Glória, escola de construção do
plano dos centenários que está inserida (como é possível antever pela sua designação) no
bairro S.ª da Glória.
Este Agrupamento de escolas é constituído por diversos polos:
Escola Manuel Ferreiro Patrício – Pré-Escolar, 1.º ciclo, 2.º ciclo e 3.º ciclo do
Ensino Básico;
EB1 da Cruz da Picada e J. Infância da Cruz da Picada – 1.º ciclo e Pré-Escolar;
EB1 S.ª da Glória – 1.ºciclo;
EB1da Quinta da Vista Alegre – 1.º ciclo;
EB1 de Valverde e J. Infância de Valverde – 1.º ciclo e Pré-Escolar.
Todos estes polos se situam na cidade de Évora, na antiga Freguesia da Malagueira,
agora denominada, após a última reorganização administrativa do território das freguesias em
outubro de 2013, na União de Freguesias da Malagueira e Horta das Figueiras, com exceção
da EB1 de Valverde e J. Infância de Valverde que se situam na aldeia de Valverde, União das
Freguesias de N.ª S.ª da Tourega e N.ª S.ª de Guadalupe, que dista cerca de 12Km da cidade
de Évora.
59
O Projeto Educativo do Agrupamento é designado “A Bússola, orientação e autonomia”,
que entrou em vigor no ano letivo anterior e perdurará até 2017. Este define como objetivos
estratégicos:
Valorizar o saber e o conhecimento, fomentando a aquisição de competências
essenciais;
Promover o sucesso educativo, garantindo diferentes ritmos de aprendizagem;
Promover valores de cidadania ativa e participada;
Promover a literacia e valorização da Língua Portuguesa no desenvolvimento de
projetos;
Promover a Educação para a saúde;
Fomentar o trabalho colaborativo e articulado, incentivando a partilha de
práticas, experiências e saberes;
Promover a inclusão e o respeito pela diferença;
Promover uma cultura de colaboração interna e externa;
Adaptar respostas educativas ao contexto socioeconómico, político e cultural (p.
5).
Foram estes objetivos ao nível da estratégia educativa a seguir, sustentadores da ação
educativa, que serviram de suporte para a minha ação de forma orientada e refletida, que
procurou ir ao encontro das necessidades e interesses mencionados no Projeto Educativo.
A EB1 S.ª da Glória abrange uma população muito heterogénea em termos culturais e
socioeconómicos, proveniente não só do próprio bairro, como dos outros bairros da União de
Freguesias. Sendo esta freguesia a que apresenta o maior índice populacional do concelho,
abrange uma área geográfica alargada composta por vários bairros da cidade de Évora, assim
são muitas as diferenças sociais, económicas e culturais entre a população residente.
Esta heterogeneidade cultural reflete-se no espaço escola, como acontece na EB1 S.ª da
Glória, e é enriquecedora da comunidade escolar, pela partilha de diferentes vivências,
experiências e ideias, ou não fosse através da diversidade com interatividade que advém um
melhor respeito pelo outro e a promoção de uma cidadania responsável e respeitadora das
diferenças.
Assim, nesta escola, sobressai nos profissionais que a integram, uma preocupação com
a inclusão e a promoção de valores de igualdade e equidade, assim como valores cívicos e
democráticos nas crianças e em todos os atores do cenário educativo.
No que concerne ao espaço físico da escola, esta é composta por 4 salas de aula, duas
delas no rés-do-chão e duas no 1.º andar, do 1.º ao 4.º ano de escolaridade respetivamente,
num total de cerca de 95 crianças, com um professor titular por cada turma e um professor de
60
apoio para todas as turmas. Conta ainda com uma técnica de ensino especial do Agrupamento
que aqui se desloca, acompanhando algumas crianças com necessidades educativas especiais.
Uma das lacunas sentidas é a não existência de um pavilhão desportivo, facto que
impossibilita a realização das aulas de expressão físico motora ou de outra atividade extra
curricular, como as aulas de hip-hop, em dias de chuva, obrigando as crianças a ficarem na
sala de aula com os professores das respetivas atividades. Também o facto de não existir um
espaço como biblioteca, polivalente, sala de informática ou outro espaço livre, condiciona a
realização de trabalho em pequenos grupos sem ser na sala de aula, e que as crianças possam
ter acesso aos meios informáticos na pesquisa de informação e na escrita de texto em
computador, especialmente em trabalho de projeto. A sala de professores funciona em
simultâneo como sala onde o professor de apoio e a técnica de educação especial trabalham
com as crianças.
2.2.1. Caraterização do grupo
O grupo de crianças, onde desenvolvi a minha PES é do 3.º ano de escolaridade, a
professora titular é a professora Leonor Rosário, que é também coordenadora da equipa
pedagógica do 3.º ano de escolaridade do Agrupamento de Escolas Manual Ferreira Patrício.
A turma é composta por 23 crianças, das quais 7 são do sexo feminino e 16 do sexo masculino.
As idades contabilizadas no dia 24 de setembro estão compreendidas entre os 8 e os 9 anos de
idade. No entanto, a 29 de setembro recebemos um aluno transferido da EB1 de Monte de
Trigo, com 9 anos de idade, com Necessidades Educativas Especiais. Deste modo, ficámos
com a seguinte composição na turma em relação às idades e ao sexo das crianças, conforme
demonstrado no Quadro 5.
Quadro 5 - Distribuição do grupo de crianças do 1.º ciclo, por sexo e idades (em 29-09-14).
Idades Sexo Feminino Sexo Masculino Nº Total Crianças
9 - 2 2
8 7 14 21
Nº Total 7 16 23
Realizando a sua análise, verificamos que em relação ao sexo predomina o género
masculino, sendo uma diferença de mais do dobro em relação ao género feminino, o que
influenciou bastante o funcionamento do grupo. Este fator foi motivo de várias alterações em
61
relação à organização dos lugares na sala, procurando equilibrar a distribuição das raparigas
e assim melhorar os comportamentos entre os pares. Esta foi uma das estratégias utilizadas,
assim como procurar que alguns alunos com comportamentos desviantes ficassem junto de
outros mais calmos e menos conflituosos.
Porém, houve sempre muita mobilidade na troca de lugares, porque algumas das
crianças se queixavam que não conseguiam ver bem o quadro, ou porque se sentiam
incomodadas com o comportamento do(s) colega(s) do lado. Em relação às idades, a maioria
(21 crianças) completou 8 anos de idade no ano de 2014, a criança mais nova completou os 8
anos no dia 20 de setembro, as duas mais velhas tinham 9 anos, no entanto, uma delas
completou em novembro de 2014, dez anos de idade.
As crianças que compõem o grupo estão juntas desde o 1.º ano de escolaridade, exceto
três que vieram de novo para esta turma, uma porque ficou retida no 3.º ano e duas que vieram
de outras escolas. A professora titular da turma acompanha a turma desde o 1.º ano de
escolaridade e tem com eles uma boa relação. Percebe-se que as crianças confiam na docente
e nutrem por ela carinho e amizade.
Interesses e necessidades
Os interesses e as necessidades do grupo de crianças foram recolhidos através da
observação direta, dos diálogos informais mantidos com as crianças e da avaliação diária
comtemplada na planificação, atendendo aos objetivos e metas de aprendizagem para cada
área curricular de acordo com o ano de escolaridade.
A turma, numa perspetiva global, demonstrava muita energia e vontade de aprender,
com muito dinamismo e com muita vida, eram muito recetivas a propostas diferentes e
curiosas sobre o mundo que as rodeava. Também atividades que constituíssem um desafio
eram muito bem recebidas pelas crianças, como os desafios de cálculo mental ou as atividades
matemáticas em pequenos grupos e ainda no trabalho de projeto que desenvolvemos.
Nas áreas curriculares demonstravam maior interesse, de uma forma geral pela
matemática e estudo do meio do que pela área de português. A expressão musical veio a
revelar-se ao longo do tempo uma área do seu interesse, principalmente em cantar e aprender
canções do reportório do cante tradicional alentejano.
62
De modo geral, não revelavam grandes dificuldades de aprendizagem em nenhuma das
áreas, exceto seis alunos que na área da matemática demonstravam mais dificuldades na
compreensão e no raciocínio matemático. Na área de português, eram quatro alunos que
necessitavam de apoio individualizado. Destes, os mais preocupantes são o H., que tem
dislexia e o T., que demonstrava muita dificuldade na ortografia e na caligrafia, não
completando as palavras que escreve e trocando muitos grafemas cujos fonemas são
parecidos, no entanto, até agora, não tem identificado nenhum problema mais grave.
Algumas crianças demonstram alguma dificuldade na ortografia, cometendo muitos
erros. Em relação à competência compositiva, verifiquei a necessidade do grupo desenvolver
competências neste domínio, pois a maioria apresentava dificuldades em estruturar um
pequeno texto e em ordenar ideias nas frases.
Ao nível das competências de leitura verificava-se uma grande heterogeneidade no
grupo em relação à fluência da leitura oral. Para tal, concorrem as capacidades de decifração
que se correlacionam com a velocidade de leitura (n.º de palavras lidas por minuto) de cada
aluno e com a prosódia. Se por um lado algumas crianças tinham uma leitura fluente, outras
apresentavam ainda uma leitura incorreta e silábica, o que evidenciava alguma dificuldade em
descodificar e compreender um texto.
No entanto, salvo alguns casos pontuais numa ou noutra área, o grupo correspondia aos
objetivos e metas de aprendizagem estipulados, em relação ao ano de escolaridade.
Revelavam muita vontade em participar e em partilhar ideias, mas principalmente nos
momentos de grande grupo, de forma geral (existem exceções) tinham muita dificuldade em
cumprirem as regras dentro da sala de aula, apesar de as reconhecerem, nomeadamente: não
respeitarem os colegas nas suas intervenções; interromperem constantemente o adulto
inoportunamente, fora da temática com perguntas ou observações díspares; conversarem e
brincarem muito entre eles. Um fator que me preocupava era a existência de conflitos diários
entre os rapazes da turma e com os colegas do 4.º ano de escolaridade, nos intervalos, devido
a comportamentos desviantes de algumas crianças que chegavam a situações de agressividade.
Embora os conflitos façam parte da vida em sociedade e portanto sejam naturais e nos ajudem
a crescer como pessoas, constituem, no entanto, um aspeto para o qual o professor deve dar
atenção na vida diária do grupo. Deste modo, eu ou a professora cooperante e, por vezes, as
duas procurávamos mediar os conflitos através do diálogo, algumas vezes com toda a turma,
63
outras só com os alunos intervenientes, ouvindo as partes envolvidas e pedindo às crianças
propostas de resolução pacíficas para os mesmos.
À parte deste problema, no entanto, verificava-se um sentimento de amizade entre eles,
brincavam juntos no recreio, tinham amigos preferidos dentro da turma, que consideravam os
seus melhores amigos, o que era também fruto do incentivo da professora, que estimulava os
sentimentos de partilha, amizade e de entreajuda. Os rapazes gostavam muito de jogar futebol
no recreio e de brincar com carros ou outros brinquedos que traziam de casa. As raparigas
brincavam mais entre elas e com as outras colegas, especialmente do 2.º e do 4.º ano de
escolaridade, os seus interesses eram brincadeiras com bonecas, ouvir música, dançar e andar
nos baloiços.
Alguns alunos e alunas demonstravam muito interesse pela leitura, gostavam de ler e de
escrever. As tecnologias, especialmente o computador eram também um ponto de interesse
em comum entre vários alunos, no entanto, na turma nem todos possuíam computador ou
tinham acesso a um, sendo que na escola apenas disponhamos de um computador na sala de
aula o que dificultava as possibilidades de utilização por todos.
Considerando todos estes fatores, resultantes da observação e da interação e posterior
reflexão, conhecendo o grupo mas também cada uma das crianças individualmente, a minha
ação na planificação de atividades e tarefas foi pensada tendo em conta a diferenciação
pedagógica, o que levou a um processo educativo que correspondesse aos interesses e
necessidades referidos, procurando atender quer à individualidade, quer ao grupo como um
todo.
2.2.2. Organização da ação educativa
Fundamentos da ação educativa
Qualquer processo educativo tem subjacente um quadro de referências teóricas,
curriculares, éticas e pedagógicas. O docente na sua prática adota uma postura sobre o
processo de ensino/aprendizagem, elegendo princípios alicerçados na teoria e na ética. Estes
devem fazer sentido para o docente, neles se fundamenta a sua ação educativa.
A professora cooperante não adotou um modelo concreto, a sua prática era baseada na
teoria socio-construtivista da aprendizagem, em que a educação é entendida como um
processo onde a criança tem um papel ativo na sua aprendizagem e na dos seus pares. Assim
64
o processo educativo assume a sua centralidade na criança, ao professor cabe o papel de
impulsionador das aprendizagens. Ao mesmo tempo vai utilizando estratégias diversificadas
e procura ajustar a sua ação de acordo com o que considera que melhor se adequa à turma e
às suas necessidades e interesses. Tem um papel ativo na promoção de valores nas crianças
como a amizade, a igualdade, fraternidade e justiça, procurando a inclusão de todos e
respeitando as diferenças individuais e diferentes ritmos de aprendizagem.
Neste sentido, e partindo da conceção da professora cooperante sobre o processo de
aprendizagem, a minha ação foi sustentada no referencial das comunidades de aprendizagem,
que tem o seu cerne no socio-construtivismo, o que quer dizer que o próprio conhecimento é
construído pela partilha de saberes com os outros. Assim é através da socialização e da
interação, que a aprendizagem é um processo de participação, todos partilham e todos
aprendem. (Watkins, 2005).
Foram estes fundamentos da ação educativa que me permitiram desenvolver práticas de
avaliação reguladora com sentido, pertinentes para a regulação das aprendizagens e para
conduzir o aluno a aprender a aprender, num contexto facilitador da metacognição que a este
processo está implícito.
Numa comunidade de aprendizagem ou comunidade de aprendizes, como também é
designada por alguns autores, o adulto tem um papel de orientador, que vai liderando o grupo,
as crianças contribuem com as suas ideias e opiniões. Neste modelo, a aprendizagem é
coletiva, aprender é um processo de diálogo e negociação entre os membros da comunidade.
Assim as aprendizagens resultam das relações com os outros e das interações que se
estabelecem, na construção social. (Watkins, 2005).
Também Matusov; Rogoff e White (2000) defendem que, numa comunidade de
aprendizes, todos os que nela participam têm um papel ativo, a responsabilidade é partilhada
por todos. As crianças assumem um papel ativo na administração da sua aprendizagem, em
coordenação com os adultos que contribuem dirigindo a atividade, ao mesmo tempo que
fornecem orientações aos alunos.
Então, a comunidade de aprendizagem é um grupo ou comunidade, onde todos
aprendem em conjunto e aprendem a aprender, isto é, aprendem sobre os processos de
65
aprendizagem, “existe um controlo progressivo do aprendente sobre os seus processos de
aprendizagem” (Folque, 2012, p.75).
Watkins (2005) refere que uma comunidade de aprendizagem possui um conjunto de
características próprias:
Diferença significa riqueza;
Agência;
Diálogo;
Negociação;
Diversidade;
Coesão no sentido de pertença;
Colaboração;
Corresponsabilidade.
Procurei assim desenvolver estas características com o grupo e com a professora
cooperante, que me deu apoio e corroborou a minha ação, proporcionando-me autonomia para
trabalhar com o grupo sem restrições.
Apresentarei de seguida, cada uma das características mencionadas, explicitando como
foram desenvolvidas com as crianças, embora estas não se dissociem, umas implicam as outras
e acontecem, por vezes, em simultâneo.
A diferença contribui para o enriquecimento cultural da comunidade, tornando-a mais
rica, pois temos algo a transmitir, a partilhar com os outros.
No grupo esta característica foi evidenciada na partilha de conhecimentos sobre os
costumes e hábitos de crianças de nacionalidades diferentes. Tínhamos na sala crianças de
nacionalidades diversas e em muitas ocasiões falavam sobre os países de origem e nos seus
familiares, sobre a gastronomia de cada um deles e sobre o clima desses países. Também
tínhamos uma criança com naturalidade da Ilha Terceira que contribuiu com a partilha de
conhecimentos, para a aprendizagem de todos no grupo, trouxe fotografias que projetámos,
rochas magmáticas e um livro sobre a ilha que todos exploraram. Também o D., que tem um
currículo diferenciado, enriqueceu muito as aprendizagens com o seu conhecimento sobre o
Cante Alentejano. Ensinou-nos várias canções e a cantar à alentejana, que nos proporcionou
a todos uma ótima atuação na festa de natal com as famílias e a turma do 4.º ano de
escolaridade, enriqueceu a divulgação do projeto “Livros com Rugas”, e a apropriação de
elementos da nossa cultura.
66
A agência é a predisposição para aprender e contribuir, participando de forma ativa
nessa aprendizagem, o que implica ter opinião sobre algo e partilhá-la com o grupo.
Esta característica foi evidenciada com a atividade “Ler, Aprender e Apresentar” e
“Escrever, Ler e Apresentar” em que as crianças participavam por sua iniciativa, apresentando
para os colegas o livro que tinham lido ou o texto da sua autoria que haviam escrito,
contribuindo para a aprendizagem de todos e aprendendo também elas próprias. No final das
apresentações havia o momento dos comentários dos colegas, que davam a sua opinião sobre
o reconto da história ou sobre o texto. Esta opinião era ouvida e respeitada pelos colegas, que
nem sempre concordavam mas que justificavam porquê, desenvolvendo assim também a
heteroavaliação e a autoavaliação. As crianças participavam muito nesta atividade, existindo
sempre três a quatro apresentações por semana.
O diálogo é o meio pelo qual se faz a aprendizagem. Vygotsky (1978, citado por Folque,
2012) refere-se à linguagem como “o instrumento dos instrumentos”, pois para este autor “a
linguagem é não só um instrumento de comunicação usado para partilhar, co-construir o
conhecimento e desenvolver a cultura, como ainda um instrumento psicológico para organizar
o pensamento e regular o comportamento (refletir, planear) ” (p.67).
Esta é sem dúvida a característica mais presente no grupo, o diálogo faz parte de toda a
interação da criança, nos trabalhos de grupo, a pares, nos momentos de negociação, na partilha
de ideias e opiniões, na partilha de conhecimento, no momento das novidades e
acontecimentos do fim-de-semana, nas apresentações, na discussão de ideias, nas reuniões de
avaliação da semana, nas práticas de heteroavaliação e de coavaliação desenvolvidas. Este é
sem dúvida o instrumento de partilha e veículo da aprendizagem.
A negociação consiste na exposição de ideias e opiniões sobre assuntos diversos da vida
do grupo. Todos são ouvidos e tidos em conta, no entanto tem que existir consenso e para tal
é necessário negociar. Nem sempre as nossas opiniões prevalecem, mas temos que aprender
a conviver com esse fato, pois a democracia é isso mesmo, aprender a viver com diferentes
ideias e opiniões.
Existiram vários momentos de negociação no grupo, nomeadamente na tomada de
decisão sobre a organização das tarefas diárias, para a qual as crianças deram várias sugestões,
negociando e evidenciando os prós e contras de cada uma. No entanto, não existindo consenso,
67
decidiu-se pela sugestão da maioria, embora algumas crianças ficassem descontentes.
Também nas reuniões de avaliação da semana, surgiram assuntos da vida do grupo que
implicaram opiniões diversas, por exemplo na proposta, devido aos conflitos diários com os
colegas do 4.º ano pela disputa do campo de futebol, de deixarem de brincar e falar com os
colegas do 4.º ano nos intervalos, sugestão apresentada por uma aluna para terminar com os
conflitos. Esta gerou muita discussão com opiniões a favor e contra, sendo a negociação e o
consenso a forma de resolver a questão, reconhecendo as crianças que esta não seria a melhor
solução, existindo outras formas de resolver estes conflitos, e que estas passam pela
necessidade de cumprir as regras estabelecidas para o uso do espaço e pela negociação. No
entanto poderia ter negociado com as crianças mais vezes, nomeadamente sobre as atividades
a desenvolver, no entanto a pressão sentida pelo cumprimento dos conteúdos dos programas,
dificultou esta negociação.
A diversidade nas comunidades de aprendizagem consiste na existência de atividades
diversas, que constituem um meio de aprender de modos diferentes.
Existiu da minha parte um investimento na diversidade de atividades, o trabalho em
pequenos grupo, a pares e em grande grupo foi uma constante, assim como apresentações em
power point, vídeos sobre determinadas temáticas, leitura a pares, trabalho de projeto, desafios
matemáticos recorrendo a jogos, escrita de texto a pares, planificação da escrita de texto
partindo de uma chuva de ideias, tarefas matemáticas semanais em pequenos grupos. Estas
proporcionaram a aquisição de novos conhecimentos e também a noção de que se pode
aprender de formas diferentes. Também procurei a diversidade de práticas de avaliação,
nomeadamente a autoavaliação, a heteroavaliação e a coavaliação que sustentavam a
regulação das aprendizagens nas atividades realizadas.
A coesão significa que a comunidade é unida, sentimos que fazemos parte dela, que lhe
pertencemos, as diferenças são tidas como fator unificador e não como motivo de desunião.
Esta foi sem dúvida a característica que se revelou mais difícil no sentido de união do
grupo, pois nem sempre este sentimento se revelava nas crianças, especialmente com duas
crianças que devido às suas características não eram bem aceites pelo grupo, para tal existiu
da minha parte e da professora cooperante muito diálogo com as crianças sobre respeitarmos
o outro como é, com as suas diferenças, pois não somos todos iguais e a importância da união
do grupo, que se apoia e ajuda.
68
A colaboração é a interajuda entre todos, ajudar os outros e ser ajudado, todos aprendem
e contribuem para a aprendizagem.
Esta foi também uma característica que procurei desenvolver, promovendo o trabalho a
pares e em pequenos grupos, incentivando a participação de todos e procurando que as
crianças com mais facilidade numa área ajudassem outra com mais dificuldades. Muitas vezes
promovia a interajuda, pedindo às crianças que já tinham terminado uma tarefa a ajudar os
colegas que tinham dúvidas e dificuldades, permitindo também que assim pudesse dar atenção
diferenciada às crianças que precisavam de mais acompanhamento.
Por fim, a corresponsabilidade, todos temos que responder pelas nossas ações, que
influenciam os outros, todos têm responsabilidade pelo que acontece na vida do grupo.
Para tal contribuíram as tarefas diárias e a responsabilidade dos respetivos presidente e
secretário de cada reunião de avaliação semanal em redigirem as atas da reunião, da recolha
de imagens e informação sobre os símbolos nacionais e locais (trabalho autónomo), a
realização das árvores genealógicas para apresentar à turma (trabalho autónomo) e a
participação no projeto “Livros com Rugas” para o qual a crianças ficaram responsáveis em
trazer materiais reutilizáveis, implicando uma responsabilidade com todo o grupo. Também a
adoção do instrumento “Diário de Turma”, possibilitou que as crianças sentissem a
responsabilidade pelas suas ações e como estas, por vezes, afetavam os colegas. O diário era
constituído por três colunas: o que gostei; o que não gostei; e sugestões para melhorar. Este
instrumento foi muito bem aceite pelas crianças, utilizando-o como um registo dos
acontecimentos da vida do grupo. Os registos do diário eram lidos pelo presidente da reunião
de avaliação semanal e debatidos entre todos, sendo as ações de cada uma das crianças
sentidas pelo grupo e pela própria, o que também originou um sentimento de
corresponsabilidade pelos acontecimentos.
Tenho consciência de que muito ainda havia a fazer para que o grupo constituísse uma
verdadeira comunidade de aprendizagem, no entanto, acredito que este é o caminho a seguir
e foi através dele que consegui superar algumas dificuldades de gestão de comportamentos do
grupo, mas este ainda é um pequeno passo, no caminho a percorrer.
Para além do suporte teórico das comunidades de aprendizagem, também as Metas de
Aprendizagem e os programas para cada uma das áreas disciplinares, serviram de âncora para
69
a minha prática, assim como a planificação trimestral do Agrupamento para o 3.º ano,
realizada pela equipa pedagógica, me auxiliaram a definir objetivos e a avaliar as
aprendizagens das crianças.
Neste seguimento, procurei continuamente meios para construir e desenvolver os meus
conhecimentos profissionais assim como a minha aprendizagem, mantendo uma constante
atitude reflexiva e questionadora da minha prática, almejando formas de a melhorar e
procurando soluções para questões do dia-a-dia relacionadas com a vida do grupo.
70
Capítulo III – Dimensão Investigativa da Prática de
Ensino
Neste capítulo apresenta-se a investigação realizada em ambas as PES que teve como
objetivos orientadores da ação compreender como as práticas de avaliação desenvolvidas
contribuíram para a regulação das aprendizagens. A investigação-ação foi sustentada pelos
princípios da perspetiva formativa da avaliação e da ecologia do desenvolvimento humano,
nos quais, a conceção que se tem da avaliação é de que o desenvolvimento e a aprendizagem
dependem, não só do sujeito, mas também das relações que ocorrem no seu ambiente
ecológico e nos vários contextos onde este se relaciona.
A investigação do professor é fundamental para que possa melhorar a sua prática, no
sentido de obter informações que lhe permitam diagnosticar os problemas com se depara na
sua profissão. Ao aferir os pontos a melhorar, ao procurar respostas para os problemas nas
diferentes dimensões que compõem a vida de um profissional de educação, a investigação é
um instrumento de suporte para que o educador/professor possa fundamentar as suas
propostas, como profissional ativo na participação da vida escolar (Ponte, 2002).
Ponte, refere “a investigação é um processo privilegiado de construção do
conhecimento” (2002, p. 3). De facto, é com base na investigação do professor que a sua
prática é construída, proporcionando a base para o desenvolvimento profissional dos que nela
se envolvem. (Ponte, 2002).
Apontam-se dois grandes objetivos da investigação sobre a prática dos docentes: alterar
aspetos da mesma e a compreensão do cerne dos problemas que a afetam. Com base nestes o
educador/professor define as estratégias a adotar, colocando em ação, baseada nos resultados
da sua investigação, as reformulações necessárias. Às alterações realizadas importa que
posteriormente, também elas sejam objeto de avaliação, permitindo a reestruturação, que
alimenta o processo de melhoria da qualidade da prática do profissional (Ponte, 2002).
Neste sentido a prática reflexiva é uma forma de aprendizagem contínua que envolve
questões de filosofia, de ética e da prática. A intenção é reunir informações, conhecimento de
apoio, de modo a enriquecer a tomada de decisão sobre a aprendizagem das crianças. Como
profissionais, os educadores de infância assim como os professores, devem examinar o que
acontece na sua prática e refletir sobre o que podem mudar para a tornarem mais eficaz. A
71
reflexão crítica envolve examinar profundamente todos os aspetos dos acontecimentos e
experiências sob diferentes perspetivas.
3.1. Objetivos
No contexto de Pré-escolar, tendo em conta as observações realizadas, as notas de
campo diárias e as reflexões, verificava-se que de uma forma geral, o grupo de crianças num
primeiro momento aderia com muito entusiasmo às atividades, mas depressa se
desinteressavam, parecendo desfrutar pouco do programa educativo que lhes era oferecido.
Muitas saltitavam de área em área, sem demonstrarem grande motivação.
Também as competências demonstradas por algumas crianças, atendendo à idade,
revelavam um nível de desempenho abaixo do estimado, na realização de alguns jogos e
puzzles simples e no desenvolvimento da linguagem-raciocínio.
Senti então a necessidade de averiguar até que ponto as áreas e os materiais presentes
na sala eram diversificados e estimulantes, e o seu impacto sobre a implicação das crianças,
assim como o uso da linguagem oral de modo informal e formal era promotora de
desenvolvimento das crianças e das suas capacidades de raciocínio. Também a autonomia
proporcionada às crianças, assim como o tempo de atenção individual do adulto com a criança,
que lhe permitisse conhecê-la melhor e conversar com ela incentivando o seu sentimento de
sentir-se escutada e valorizada, foram questões que coloquei.
No contexto de 1.º ciclo, partindo das necessidades detetadas ao nível da aquisição de
competências de leitura oral e compositivas, adotei como prática avaliativa o uso de feedback.
Assim, pretende-se compreender de que forma o feedback oral fornecido à leitura realizada
pelos alunos contribui para que estes melhorem o seu desempenho. Por outro lado procura-se
compreender quais as caraterísticas que o feedback escrito deve ter para que os alunos
melhorem o seu desempenho na escrita de textos (competência compositora) e assuma uma
função de regulação das aprendizagens.
Resumindo, este processo de investigação-ação pressupôs os seguintes objetivos:
Melhorar a prática ao nível da qualidade do feedback oral e escrito fornecido aos
alunos;
Desenvolver atitudes e atividades que promovam e facilitem as aprendizagens;
72
Promover contextos de aprendizagem estimulantes e potenciadores do
desenvolvimento das crianças;
Melhorar a prática pedagógica em relação à estimulação, autonomia e
sensibilidade nas interações com as crianças, visando o seu desenvolvimento
pessoal e social;
Refletir sobre o trabalho desenvolvido e a ação;
Potenciar aprendizagens significativas, através de uma ação planificada e
adequada às necessidades das crianças.
3.2. Metodologia
A investigação na PES em pré-escolar e 1.º CEB seguiu uma metodologia de
investigação-ação com recurso a métodos de análise qualitativos. Neste sentido recorri a
instrumentos de pesquisa e a materiais que me auxiliaram a atingir os objetivos a que me
propus neste trabalho.
Um dos métodos que foi unânime em ambas as PES foi a observação, que se assume
como uma componente fundamental da avaliação em educação. Para tal é preciso saber o que
se quer observar, é necessário treinar esta competência de forma sistemática, com rigor e
disciplina. Sousa (2005) refere que “com uma adequada estratégia, bem planeada e
sistematizada, a observação pode apresentar resultados com rigor próximo dos da
experimentação, onde é muitas vezes empregue como instrumento de avaliação” (p.109). Pode
no entanto o investigador participar na observação que realiza. Sousa (2005) frisa que a
observação participante “consiste no envolvimento pessoal do observador na vida da
comunidade educacional que pretende estudar, como se fosse um dos seus elementos,
observando a vida do grupo a partir do seu interior, como seu membro” (p.113).
No intuito de analisar de que forma o ambiente e a minha ação durante o estágio em
Pré-escolar, poderiam ser melhorados, recorri a instrumentos de avaliação concretos, que
permitissem aferir alguns aspetos da mesma. Procedi, desta forma à análise investigativa do
ambiente educativo em dois domínios: avaliação da linguagem-raciocínio e avaliação de
algumas atividades proporcionadas às crianças, para as quais utilizei a escala de avaliação do
ambiente educativo (ECERS – Edição Revista).
Utilizei também o Sistema de Acompanhamento de Crianças (SAC), que permite
realizar a avaliação da qualidade do contexto, em duas dimensões: o bem-estar emocional e a
implicação das crianças no contexto educativo.
73
Laevers (2003, citado por Portugal & Laevers, 2010) afirma que “quando queremos
saber como cada criança está num contexto, primeiro temos que explorar o grau em que as
crianças se sentem à vontade, agem espontaneamente, mostram vitalidade e autoconfiança”
(p. 20). Estes são fatores relevantes que nos indicam como está o bem-estar emocional da
criança e se as suas necessidades afetivas e físicas são satisfeitas. A implicação é uma
dimensão que avalia o processo de envolvimento da criança e leva a que o adulto crie um
ambiente estimulante, para que este envolvimento seja favorecido.
Instrumento de avaliação SAC (Sistema de Acompanhamento de Crianças)
O bem-estar emocional é o 1.º indicador a analisar no SAC, e é definido em Laevers et al.,
(1997, 2005b, citados por Portugal & Laevers, 2010) como “um estado particular de
sentimentos que pode ser reconhecido pela satisfação e prazer, enquanto a pessoa está relaxada
e expressa serenidade interior, sente a sua energia e vitalidade e está acessível e aberta ao que
o rodeia” (p. 20).
O 2.º indicador refere-se à implicação e é definido por Laevers (1994b, citado por Portugal &
Laevers),
como uma qualidade da atividade humana que pode ser reconhecida pela
concentração e persistência, caraterizando-se por motivação, interesse e
fascínio, abertura aos estímulos, satisfação e um intenso fluxo de energia. É
determinada pela necessidade de exploração e pelo nível de
desenvolvimento. Em resultado: o desenvolvimento acontece. (2010, p. 25)
A implicação não pode ser entendida como uma caraterística que se mantém mais ou
menos fixa da criança, mas sim como a forma como ela funciona num determinado contexto
educativo. É um processo dinâmico, que não serve para rotular a criança, mas sim, como o
resultado de uma interação entre caraterísticas do contexto educativo, as caraterísticas do
educador e as caraterísticas da criança (Portugal & Laevers, 2010).
Esta avaliação, quer do bem-estar emocional, quer da implicação, suporta-se em escalas,
que indicam o nível a atribuir a cada criança nestes dois parâmetros.
74
A avaliação do bem-estar emocional das crianças fornece indicadores ao educador sobre
a organização e a dinâmica da sala, ajuda as crianças na assunção de quem são, e da satisfação
das suas necessidades.
Os indicadores do bem-estar emocional considerados são:
- Abertura e recetividade;
- Flexibilidade;
- Autoconfiança e autoestima;
- Assertividade;
- Vitalidade;
- Tranquilidade;
- Alegria;
- Ligação consigo próprio.
Os níveis considerados são:
Nível 1 – Muito baixo;
Nível 2 – Baixo;
Nível 3 – Médio/neutro ou flutuante;
Nível 4 – Alto;
Nível 5 – Muito Alto.
Os indicadores que permitem avaliar a implicação nos diferentes níveis, devem ser
usados para analisar a qualidade da oferta educativa, indicando caminhos para o educador, no
sentido de melhorar. A implicação é um indicador de qualidade, que auxilia o educador a
tomar consciência sobre a organização e a dinâmica educativa, em benefício do bem-estar, da
aprendizagem e do desenvolvimento das crianças.
Os indicadores de implicação considerados são:
- Concentração;
- Energia;
- Complexidade e criatividade;
- Expressão facial e postura;
- Persistência;
- Precisão;
- Tempo de reação;
- Expressão verbal;
- Satisfação.
Os níveis considerados são:
Nível 1 – Muito baixo – ausência de atividade;
Nível 2 – Baixo – atividade esporádica ou frequentemente interrompida;
Nível 3 – Médio – atividade mais ou menos continuada ou atividade sem grande intensidade;
Nível 4 – Alto – atividades com momentos intensos;
75
Nível 5 – Muito alto – atividade intensa e continuada.
De acordo com Portugal e Laevers, “sabemos bem que as competências das crianças
mais pequenas são dependentes da situação ou contexto…” (2010, p. 10).
Laevers (2003, citado por Portugal & Laevers, 2010) refere ainda que a observação e a
documentação são fundamentais para a identificação das forças e das áreas de fragilidade que
necessitam de atenção e de intervenção prioritárias, tendo em conta os processos de
implicação e de bem-estar emocional que as crianças experimentam. Estes permitem o
controlo dos progressos e a fundamentação das decisões acerca da intervenção que daí advém.
Instrumento de avaliação ECERS (escala de avaliação do ambiente em educação de infância)
Com o objetivo de avaliar a qualidade do ambiente educativo no contexto da sala onde
desenvolvi a prática de ensino supervisionada em pré-escolar, utilizei a escala de avaliação do
ambiente em educação de infância (ECERS – Edição Revista). Esta escala encontra-se
dividida em subescalas, que avaliam de forma específica aspetos do espaço e do mobiliário
existente, as rotinas diárias e os cuidados pessoais, a linguagem-raciocínio, as atividades
desenvolvidas, a interação entre os intervenientes (pessoal-criança, criança-adulto; criança-
criança); a estrutura do programa, a relação e as condições deste ambiente com os pais e o
pessoal.
A classificação é realizada através de questões orientadas por níveis, desde o 1 (mínimo) ao 7
(máximo) e segue os critérios a seguir explanados:
O nível 1 corresponde à classificação 1 – Inadequado; atribui-se quando todas as
respostas neste nível são sim.
O nível 2 atribui-se quando as respostas em 1 são todas não, mas pelo menos uma
ou mais questões do nível 3 se atribui como resposta não.
O nível 3 corresponde à classificação 3 – Mínimo; atribui-se sempre que todas as
respostas são sim, mas as respostas do nível 5 são não.
O nível 4 é intermédio entre o 3 e o 5, atribui-se sempre que todas as respostas a 3
são sim, mas metade das respostas do nível 5 não são.
O nível 5 corresponde à classificação 5 – Bom; atribui-se quando todas as respostas
ao nível 3 são sim, e todas em 5 também o são, mas nenhuma do nível 7 é sim.
76
O nível 6 é intermédio entre o 5 e o 7, atribui-se quando todas as respostas ao nível
5 são sim, e metade do nível 7 é não.
O nível 7 corresponde à classificação 7 – Excelente; atribui-se quando todas as
respostas do nível 7 são sim.
A avaliação realizada com a utilização desta escala incidiu nos seguintes domínios:
- Linguagem-Raciocínio, subescalas: 15 – Livros e imagens; 16 – Encorajar as crianças a
comunicar; 17 – Uso da Linguagem para desenvolver competências de raciocínio e 18 – Uso
informal da Linguagem.
- Atividades, selecionando as subescalas: 19 – Motricidade fina; 20 – Arte; 23 – Areia/água;
25 – Natureza/Ciência; 26 – Matemática/número.
Notas de Campo e Caderno de Formação
Em ambas as práticas o registo diário sob a forma de notas de campo foi sem dúvida o
método que me permitiu recolher dados a partir da observação, que posteriormente serviam
de base para as reflexões semanais realizadas, que constituíram o caderno de formação.
As notas eram registadas num pequeno bloco que trazia sempre comigo, por vezes não
conseguia registar no momento, mas assim que tinha oportunidade realizava esse registo. Por
vezes as crianças perguntavam-me o que é que eu escrevia naquele bloco e respondia-lhes que
eram coisas importantes sobre o que nós fazíamos durante o dia. Assim ficava com um registo
sobre as ações, as conversas, sobre as crianças e os adultos e sobre o contexto.
Através das notas de campo pude registar acontecimentos e situações que ocorriam e
sobre as quais realizava uma reflexão aprofundada. Também o registo fotográfico foi um
instrumento importante que associado às notas de campo auxiliavam na recordação de
interações e dos processos desenvolvidos.
O caderno de formação (reflexões semanais) foi um elemento essencial pois permitiu-
me refletir sobre os acontecimentos e situações da semana, tornando-se um instrumento
investigativo muito útil. As reflexões semanais eram realizadas no final da semana e
contemplavam a dimensão descritiva, reflexiva e projetiva da minha atuação e foram um
77
contributo significativo para analisar o desenvolvimento da minha ação e procurar adequá-la
ao contexto.
Planificações
Também as planificações foram um instrumento importante na regulação e na
orientação da prática. Estas tinham duas componentes: as planificações semanais e as
planificações diárias. As primeiras, projetavam para a semana as atividades planificadas a
cada dia, permitindo ter uma ação atempada sobre as atividades a desenvolver. Ambas eram
realizadas com o apoio da educadora (Pré-escolar) e da professora (1.º CEB) cooperantes e
serviam de orientação da prática, descrevendo as atividades a desenvolver e como iriam ser
desenvolvidas, considerando os aspetos enunciados.
Nas segundas, enunciavam-se os objetivos e metas de aprendizagem a desenvolver para
cada uma das áreas do currículo, definia-se a organização do tempo, do espaço, dos recursos
materiais e humanos, e a forma como se planeava o trabalho com as crianças (grande grupo,
pequenos grupos, individual) e da avaliação. Consideravam ainda o “grande sentido do dia”
que era definido como o significado central das ações desse dia, ou seja, o grande objetivo
que o educador/professor tinha em mente para esse dia.
Estes foram os instrumentos que me permitiram sustentar a prática e realizar as
alterações/melhorias na minha atuação, no sentido de promover a qualidade das aprendizagens
das crianças e simultaneamente o meu desenvolvimento enquanto profissional.
3.3. Apresentação, análise e interpretação dos dados
Na utilização do instrumento SAC os dados recolhidos para a avaliação do grupo, foram
fruto da observação de cada uma das crianças em momentos distintos (atividades diferentes;
momentos de grande grupo; pequenos grupos; individual) em relação aos sinais demonstrados
pela criança, quer para a implicação quer para o bem-estar. As observações foram realizadas
individualmente por mim e pela educadora cooperante. A avaliação realizada por cada uma
de nós foi depois confrontada e debatida, encontrando-se poucas diferenças entre as duas, pelo
que, nos aspetos divergentes, voltámos a observar a criança e a avaliar esses aspetos. As
78
situações em que existiu dúvida em relação à classificação atribuída estão assinaladas com
interrogação.
Relativamente à escala de avaliação do ambiente educativo ECERS, no que respeita ao
domínio da Linguagem-Raciocínio foi aplicada por mim, nas duas observações realizadas, no
domínio das Atividades, foi aplicada em conjunto com a educadora, nas duas observações
realizadas.
No 1.º ciclo os dados apresentados sobre o uso de feedback oral, fornecido à leitura das
crianças, partiu da criação de uma tabela de avaliação da fluência da leitura oral de cada uma
das crianças. A primeira avaliação teve um caráter diagnóstico e observou-se se o feedback
fornecido à leitura oral contribuiu para melhorar o desempenho das crianças e a segunda
avaliação pretendeu analisar se o uso de feedback regular dado à leitura oral dos alunos
produzia um efeito regulador, potenciador da aquisição de competências e das aprendizagens.
Nesta estabeleciam-se os critérios de avaliação com base no programa e nas metas de
aprendizagem para o 3.º ano de escolaridade. A fluência da leitura oral tem origem na
aplicação automática de regras fónicas, assim como no reconhecimento instantâneo de muitas
palavras com visualização comum. As crianças que conseguem atingir um grau de fluência
dominam o texto de forma mais suave, tendo assim mais energia e disponibilidade mental
para criarem significado das palavras que descodificam. Assim, a criança que lê com precisão
e rapidez, consegue dar atenção para a compreensão do texto.
Os critérios considerados foram: a correção, a velocidade e a prosódia. A correção
consiste na capacidade para descodificar corretamente as palavras e requer o desenvolvimento
da consciência fonológica e a identificação da correspondência fonema-grafema. A
velocidade é a capacidade de ler corretamente sílabas e palavras frequentes com pouco
esforço. A prosódia consiste na qualidade da leitura oral (articulação, expressão, volume e
entoação). Dado que a fluência na leitura oral, por ser um desempenho complexo e
multifacetado, pode ser usada com credibilidade para indicar a perícia da criança na leitura
(Penner-Wilger, 2008).
Os dados apresentados em relação ao uso de feedback escrito, foram fruto das próprias
produções escritas dos alunos e do respetivo feedback escrito fornecido a essas produções. Os
critérios estabelecidos para a avaliação das produções dos alunos foram definidos tendo em
conta as metas de aprendizagem e o programa.
79
Os critérios considerados são a utilização de vocabulário adequado e diversificado, não
repetir palavras ou expressões; utilizar de forma adequada os sinais de pontuação e sinais
auxiliares de escrita; escrever textos narrativos respeitando o tema e a estrutura (título,
introdução, desenvolvimento, conclusão); utilizar uma caligrafia legível; evitar erros
ortográficos.
3.3.1. Avaliação geral do grupo de Pré-escolar em relação ao bem-estar emocional e à
implicação.
Apresenta-se de seguida a avaliação geral do grupo em relação aos indicadores bem-
estar emocional e implicação. Os Quadro 6 e 7 apresentam os níveis obtidos na 1.ª avaliação
e na 2.ª avaliação, respetivamente, para cada uma das crianças. Como já foi referido quer a
avaliação do bem-estar emocional, quer da implicação, não pretende avaliar as crianças, mas
sim a qualidade do contexto. Como referem Portugal e Laevers (2010), “os níveis de bem-
estar e implicação tornam-se pontos de referência para os profissionais que pretendem
melhorar a qualidade do seu trabalho, promovendo o desenvolvimento e a aprendizagem”.
(p.20). Realiza-se de seguida a análise dos dados obtidos em cada uma das observações,
culminando com a comparação dos resultados entre a 1.ª e a 2.ª avaliação do grupo nos
indicadores bem-estar emocional e implicação.
1.ª Avaliação: início de março 2014
Quadro 6 - 1.ª avaliação do grupo em relação ao bem-estar emocional e à implicação.
Crianças Nível geral de
bem-estar
Nível geral de
Implicação Comentários
Nomes * 1 2 3 4 5 ? 1 2 3 4 5 ?
1.J. P. C. * ? * ? É uma criança pouco expressiva com o
adulto e nos momentos de grande grupo.
2. B. Q. * *
Gosta muito de brincar na casinha e no
geral de todas as áreas de expressão. Tem
uma atitude responsável e protetora com as
crianças mais novas.
3. G. G. * * Dificuldade em lidar com a frustração,
auto-estima elevada.
4. M. E. S. * * É muito introvertida.
80
Crianças Nível geral de
bem-estar
Nível geral de
Implicação Comentários
Nomes * 1 2 3 4 5 ? 1 2 3 4 5 ?
5. M. R. * * Atenta e interessada.
6.D. P. C. * * Extremamente irrequieto, concentra-se nas
atividades se estiver sozinho.
7. J. M. * ? * Introvertido, por vezes apático.
8. C. F. * * ? Muito pouco participativa
9. R. O. * * Atenta e interessada
10. J. L. C. * * Dificuldade em acompanhar o grupo e em
escutar e concentrar-se.
11. A. B. * * ? Pouca concentração, pouco interesse nas
atividades
12. D. R. * * Revela muita insegurança
13. M. S. * * Autónoma, muito irrequieta.
14. D. L. * * Pouca concentração, pouco aberta e
espontânea.
15. A. G. A. * * Muito influenciável pelos pares.
16. J. R. * * Curioso, distrai-se com facilidade
17. C. R. * * Muito insegura
18. I. Z. * ? * ? Tímida e introvertida
19. M. B. * * Tímida e insegura
20. M. B. L. * * ? Pouco interesse nas atividades
21. B. C. * ? * ? Grande dificuldade em concentrar-se
22. A. C. * * ? Revela dificuldades ao nível da expressão
oral e pouco interesse pelas atividades
23. M. F. * * ? Revela alguma insegurança
24. M. F. * * ? Pouco envolvimento nas atividades
25. D. L. * *
Demonstra instabilidade emocional (lida
mal com a frustração; agressividade
gratuita)
Vermelho: assinala as crianças que suscitam preocupação em termos de bem-estar ou implicação (níveis baixos) Laranja: assinala as crianças que parecem funcionar em níveis médios, tendencialmente baixos, ou crianças que suscitam dúvidas Verde: assinala as crianças que, claramente, parecem usufruir bem da sua permanência no jardim-de-infância (níveis altos)
O Gráfico 2 a seguir apresentado demonstra os resultados do grupo no indicador bem-
estar emocional em relação aos níveis de classificação geral e o número de ocorrências em
cada um deles.
81
Gráfico 2 – Número de incidências no indicador bem-estar emocional (1.ª avaliação).
Verifica-se que o bem-estar emocional do grupo apresenta uma maior incidência nos
níveis 4 – Alto, com 10 crianças do grupo e 3 – Médio/Neutro ou flutuante com 7 crianças.
Segue-se o nível 2 – Baixo com 6 incidências, o nível 5 – Muito Alto, apresenta 2 incidências
e o nível 1 – Muito baixo, tem 0 crianças.
Gráfico 3 – Número de incidências no indicador implicação (1.ª avaliação).
Analisando o Gráfico 3, no que respeita ao indicador implicação os níveis de maior
incidência situam-se no 3, com um total de 8 crianças que apresentam um nível de implicação
médio (atividade mais ou menos continuada ou atividade sem grande intensidade), seguindo-
se os níveis 2 e 4 ambos com um total de 7 crianças. O nível 5 apresenta 2 incidências, ou seja
duas crianças apresentam um nível de implicação muito alto (atividade intensa e continuada),
0
6
7
10
2
Nível 1 Nível 2 Nível 3 Nível 4 Nível 5
1
7
8
7
2
Nível 1 Nível 2 Nível 3 Nível 4 Nível 5
82
no nível 1 existe uma incidência, uma criança revela um nível muito baixo (ausência de
atividade) na implicação.
Gráfico 4 – Comparação entre os indicadores implicação e bem-estar emocional (1.ª avaliação).
Pela comparação entre os dois indicadores, verifica-se pela análise do Gráfico 4 que
os níveis três e quatro são os que apresentam maior número de incidências, nos dois
indicadores, seguindo-se o nível dois, que apresenta valores muito próximos em ambos. O
nível cinco apresenta duas incidências em cada indicador, seguindo-se o nível um com uma
incidência.
Cotação Média em relação ao indicador bem-estar emocional:
Média ponderada = soma do número de incidências em cada nível ÷ 25
Média ponderada = (12+21+40+10) ÷25 = 83÷25 = 3,32
Cotação Média em relação ao indicador implicação:
Média ponderada = soma do número de incidências em cada nível ÷25
Média ponderada = (1+14+24+28+10) ÷25 = 3,08
2.ª Avaliação: final de maio de 2014
0
67
10
21
78
7
2
0
2
4
6
8
10
12
Nível 1 Nível 2 Nível 3 Nível 4 Nível 5
Bem-estar emocional Implicação
83
Quadro 7 - 2.ª avaliação do grupo em relação ao bem-estar emocional e à implicação.
Crianças Nível geral de
bem-estar
Nível geral de
Implicação Comentários
Nomes * 1 2 3 4 5 ? 1 2 3 4 5 ?
1. J. P. C. * ? *
É uma criança tímida, pouco expressiva, só
participa se questionado diretamente,
principalmente nos momentos de grande
grupo.
2. B. Q. * *
Gosta muito de brincar na casinha e no geral
de todas as áreas de expressão. Tem uma
atitude responsável e protetora com as
crianças mais novas; excelente
desenvolvimento.
3. G. G. * * Dificuldade em lidar com a frustração, auto-
estima elevada.
4. M. E. S. * *
É muito introvertida, mas no último período
revelou-se mais participativa, bom
desenvolvimento.
5. M. R. * * Atenta e interessada, muito participativa;
excelente desenvolvimento.
6.D. P. C. * * ?
Extremamente irrequieto, concentra-se nas
atividades se estiver sozinho, dificuldade em
estar com atenção nos momentos de grande
grupo.
7. J. M. * ? * Está mais extrovertido no último período,
embora ainda revele momentos de apatia.
8. C. F. * * ? Tímida, por vezes revela alguma insegurança.
9. R. O. * * Atenta e interessada, grandes progressos no
último período; bom desenvolvimento.
10. J. L. C. * * Dificuldade em acompanhar o grupo e em
escutar e concentrar-se.
11. A. B. * ? *
Tem vindo a demonstrar maior interesse nas
atividades, embora o tempo de implicação seja
reduzido.
12. D. R. * ? * Revela muita insegurança, atitudes que são
chamadas de atenção do adulto.
13. M. S. * * Autónoma, muito irrequieta, alegre e bem-
disposta.
14. D. L. * *
Revela maior capacidade de concentração,
mais interessado nas atividades e mais
participativo.
15. A. G. A. * * Muito influenciável pelos pares, em atividades
individuais revela concentração e persistência.
16. J. R. * * Curioso, gosta de participar nos trabalhos e
projetos, mas distrai-se com facilidade.
17. C. R. * ? * Revela muita insegurança, baixa auto estima.
18. I. Z. * * Tímida e introvertida, concentrada e
persistente;
19. M. B. * ? * Tímida e insegura; revela muita insegurança
na realização das atividades.
20. M. B. L. * * ? Pouco interesse nas atividades, a concentração
é limitada e por vezes superficial
21. B. C. * ? * ? Grande dificuldade em concentrar-se; vive
num mundo só dela
84
Crianças Nível geral de
bem-estar
Nível geral de
Implicação Comentários
Nomes * 1 2 3 4 5 ? 1 2 3 4 5 ?
22. A. C. * * ?
Melhorou significativamente na participação
em grande grupo, assim como na interação
com os pares e os adultos.
23. M. F. * * ? Revela alguma insegurança; pouco
envolvimento nas atividades.
24. M. F. * * ? Pouco envolvimento nas atividades.
25. D. L. * * Demonstra instabilidade emocional (lida mal
com a frustração; agressividade gratuita)
Vermelho: assinala as crianças que suscitam preocupação em termos de bem-estar ou implicação (níveis baixos) Laranja: assinala as crianças que parecem funcionar em níveis médios, tendencialmente baixos, ou crianças que suscitam dúvidas Verde: assinala as crianças que, claramente, parecem usufruir bem da sua permanência no jardim-de-infância (níveis altos)
Os Gráficos 5 e 6 apresentam as incidências no grupo em relação ao indicador do bem-estar
emocional e da implicação.
Gráfico 5 – Número de incidências no indicador bem-estar emocional (2.ª avaliação).
Pela análise do Gráfico 5 verifica-se no indicador bem-estar emocional, que o nível
com maior incidência é o 3 – Médio/neutro ou flutuante, com 11 crianças que parecem
funcionar neste nível, seguindo-se o nível 4 – Alto, com 9 incidências, surge depois o nível 5
– Muito alto, com 3 crianças, e por último o nível 2 com duas crianças que apresentam um
nível de implicação baixo.
0
2
119
3
Nível 1 Nível 2 Nível 3 Nível 4 Nível 5
85
Gráfico 6 – Número de incidências no indicador implicação (2.ª avaliação).
No indicador implicação o nível com maior incidência é o 4, com 9 crianças do grupo
que funcionam num nível alto (atividade com momentos intensos), seguindo-se o nível 3 –
médio (atividade mais ou menos continuada ou atividade sem grande intensidade) com 8
incidências, o nível 2 – baixo (atividade esporádica ou frequentemente interrompida) com 4
incidências, o 5 apresenta 3 crianças que funcionam num nível muito alto (atividade intensa e
continuada)
No Gráfico 7 realiza-se a comparação entre os dois indicadores, verificando-se que o
nível 3 é o que apresenta maior número de incidências, principalmente no indicador bem-estar
emocional, seguindo-se depois o nível 4 com igualdade de ocorrências em ambos os
indicadores. Os níveis 5, 2 e 1, apresentam as incidências mais baixas, em sentido decrescente.
Gráfico 7 – Comparação entre os indicadores implicação e bem-estar emocional (2.ª avaliação).
1
4
8
9
3
Nível 1 Nível 2 Nível 3 Nível 4 Nível 5
0
2
11
9
3
1
4
89
3
0
2
4
6
8
10
12
Nível 1 Nível 2 Nível 3 Nível 4 Nível 5
Bem-estar emocional Implicação
86
Cotação Média em relação ao indicador bem-estar emocional:
Média ponderada = soma do número de incidências em cada nível ÷ 25
Média ponderada = (4+33+36+15) ÷25 = ÷25 = 3,52
Cotação Média em relação ao indicador implicação:
Média ponderada = soma do número de incidências em cada nível ÷25
Média ponderada = (1+8+24+36+15) ÷25 = 3,36
No Gráfico 8 comparam-se as médias obtidas nos indicadores bem-estar emocional e
implicação na 1.ª e na 2.ª avaliação.
Gráfico 8 – Comparação das médias obtidas na 1.ª e na 2.ª avaliação para os indicadores implicação e bem-
estar emocional.
Na 1.ª avaliação a média obtida no indicador bem-estar emocional foi de 3, 32 e na 2.ª
o valor médio foi de 3,52, verificando-se uma ligeira subida neste indicador, revelando que o
grupo de forma geral apresentava um nível médio/neutro ou flutuante.
O indicador implicação na 1.ª avaliação resultou na média de 3,08, sendo na 2.ª
avaliação de 3,36, verificando-se também neste indicador um ligeiro aumento, revelando que
o grupo de forma geral apresenta um nível de implicação médio de atividade.
2,8
2,9
3
3,1
3,2
3,3
3,4
3,5
3,6
1ª avaliação 2ª avaliação
3,32
3,52
3,08
3,36
Bem-estar emocional Implicação
87
3.3.2. Avaliação do ambiente educativo em Pré-escolar em relação às atividades
disponíveis.
Neste subponto apresentam-se os resultados da avaliação do ambiente educativo para as
subescalas avaliadas na escala atividades e a respetiva análise da classificação atribuída em
cada uma delas, na primeira e na segunda observação realizada. As subescalas avaliadas são:
motricidade fina; arte; areia/água; e natureza/ciência (quadros de avaliação em anexo),
seguindo-se a comparação entre os resultados obtidos na 1.ª e na 2.ª avaliação e respetiva
análise.
Observação 1
Data da Observação – Dia 28 de Março
Subescala n.º 19 – Motricidade Fina
Classificação = 5
Existem diversos materiais de motricidade fina na sala, tesouras de vários tamanhos e
com recorte diferente, os jogos encontram-se organizados numa área e arrumados em caixas
e de acordo com as suas caraterísticas, os puzzles que existem encontram-se arrumados pela
ordem de dificuldade, com mais peças e irregulares num lado, os mais simples e regulares
noutro, os jogos de pinos são em quantidade suficiente para todas as crianças, encontram-se
arrumados ao lado dos quadros e em caixas com tamanhos diferentes.
Item 7.1. - Os materiais são os mesmos desde o início do 2.º período, as crianças começam a
perder o interesse. As caixas e as prateleiras estão acessíveis mas não estão rotuladas.
Subescala nº 20 - Arte
Classificação = 6
Os materiais de arte que existem são numerosos e variados, encontram-se acessíveis
durante todo o dia, as crianças possuem muitas opções para desenvolverem trabalhos de arte,
a expressão individual das crianças nos seus trabalhos é valorizado, estas podem escolher entre
os materiais para desenvolverem os seus trabalhos, estas não seguem um modelo ou exemplos.
88
Os materiais para trabalhos em três dimensões estão sempre presentes, a plasticina está
sempre disponível, também a realização de trabalhos com pasta de moldar acontece com
frequência.
Item 7.3. - As crianças de 4 ou mais anos não têm mais tempo para desenvolver os seus
trabalhos de arte por períodos longos de tempo, o trabalho em projeto em várias etapas não é
encorajado.
Subescala nº 23 – Areia/Água
Classificação = 3
Item 5.1. - Não existe a possibilidade de brincar com água nem no exterior nem no interior.
Item 5.2. - Os brinquedos existentes destinam-se exclusivamente para o uso na areia.
Item 5.3. - Não existe a possibilidade de brincar pelo menos uma hora por dia na areia.
Os itens 7.1. e 7.2 não obtiveram resposta, pois de acordo com o sistema de cotação as
respostas assinaladas com não nos itens 5, impossibilitam a transição para os itens seguintes.
Subescala nº 25 – Natureza/ciência
Classificação = 2
Existem jogos e livros de natureza ciência acessíveis para as crianças durante uma parte
substancial do dia, adequados ao desenvolvimento e de duas categorias diferentes.
Item 3.3. - As crianças não são encorajadas a trazer de casa objetos da natureza/ciência para
partilhar com os colegas.
De acordo com o sistema de cotação da escala, uma resposta negativa nos itens 3,
impossibilita as respostas aos itens seguintes.
Subescala nº 26 – Matemática/número
Classificação = 4
Os materiais estão acessíveis durante grande parte do dia encontram-se bem organizados
e em boas condições. São realizadas atividades diárias para promover a aprendizagem da
89
matemática/número: contagem de presenças e de faltas; contar as cadeiras necessárias para o
pequeno ou grande grupo à volta da mesa; lugares disponíveis nos sofás e nas áreas.
Item 5.1. - Não existem muitos materiais para contar, para pesar ou para medir, não existem
materiais acessíveis na sala, só materiais com diferentes formas e tamanhos e de raciocínio
lógico.
Como tal, de acordo com as instruções do sistema de cotação da escala, desde que exista
pelo menos uma questão no nível 5 cuja resposta seja não, não se pode dar resposta às questões
em 7.1 e 7.2.
Como se pode observar a cotação média obtida é 4,00 ou seja o ambiente educativo da
sala A no que respeita às atividades analisadas classifica-se numa posição intermédia entre o
mínimo e o bom, de acordo com a escala utilizada.
Observação 2
Data da Observação – Dia 27 de Maio
Subescala nº 19 – Motricidade fina
Classificação = 6
Procedeu-se à colocação de novos materiais e foram retirados aqueles pelos quais as
crianças já não demonstravam interesse.
Item 7.2. - As caixas e as prateleiras estão acessíveis mas ainda não se encontram todas
rotuladas.
Subescala nº 20 - Arte
Classificação = 7
A. Subescala (Itens 19 – 20 – 23 – 25 – 26) Pontuação = 20
B. Número de itens cotados = 05
ATIVIDADES Cotação Média (A ÷ B) = 4,00
90
Item 7.3. - O trabalho de projeto em várias etapas com as crianças mais velhas foi realizado,
nomeadamente no trabalho de projeto das formigas, dando o tempo necessário para que as
crianças concluam as suas atividades de arte.
Subescala nº 23 – Areia/Água
Classificação = 4
Item 5.3. - Embora se tenha proporcionado a possibilidade de brincar com água, com a
colocação de uma banheira no exterior, com materiais para encher e vazar, funis, passadores
e objetos que permitem realizar experiências, esta não acontece com a periodicidade desejada.
Não existe a possibilidade de brincar pelo menos uma hora por dia na areia ou na água pois
só é possível realizar estas atividades no exterior, logo estão dependentes das condições
meteorológicas. O fato de não existir sombra durante uma grande parte do dia no local da areia
e água é um fator impeditivo destas atividades em dias de muito calor.
Subescala nº 25 – Natureza/ciência
Classificação = 7
Item 3.3. - As crianças trazem de casa materiais como pedras e ímanes, ainda são incentivadas
a trazer plantas e insetos para observar na sala, que são posteriormente, em momento de grande
grupo ou em pequeno grupo, explorados pelo educador, conversando sobre eles com as
crianças. São depois colocados na área das ciências, que foi criada no início do 3.º período.
Colocaram-se mais jogos relacionados com três categorias de natureza ciência e
imagens sobre o crescimento de plantas e de animais. Os materiais encontram-se bem
organizados, acondicionados em caixas e cestos, estão acessíveis durante todo o dia, e estão
em boas condições.
Foram realizadas experiências simples, visitas de estudo, plantámos a horta e
observámos o crescimento dos legumes plantados, as crianças têm alimentado os bichos-da-
seda e observado com as lupas o seu crescimento. As crianças mais velhas limpam a caixa dos
bichos-da-seda.
No decorrer do trabalho de projeto foram utilizadas imagens e livros temáticos, assim
como pesquisa na internet de informações e de imagens.
91
Subescala nº 26 – Matemática/número
Classificação = 6
Foram colocados mais jogos que permitem a contagem, assim como duas balanças com
pesos e objetos na área das ciências que permitem a realização de pesagens. Também a
colocação de números associados a imagens representativas da quantidade na área da escrita
possibilitam a associação do algarismo à quantidade e a contagem.
Os materiais de pesagem são substituídos, as crianças podem utilizar diferentes
materiais da área das ciências, assim como os materiais de contagem.
Item 7.1. - Para além das referidas não são realizadas outras atividades de matemática que
requeiram maior contribuição do pessoal.
Pode-se verificar que a média obtida na observação 2 é de 6,00 o que equivale a um nível
intermédio entre o bom e o excelente no que concerne às atividades avaliadas.
Perfil Obtido
O perfil da sala A no parâmetro Atividades é o seguinte:
Itens (19 – 20 – 23 – 25 - 26)
19. Motricidade fina
20. Arte
23. Areia/água
25. Natureza/Ciência
26. Matemática/número
- Cotação Média: Obs. 1 = 4,00
- Cotação Média: Obs. 2 = 6,00
C. Subescala (Itens 19 – 20 – 23 – 25 – 26) Pontuação = 30
D. Número de itens cotados = 05
ATIVIDADES Cotação Média (C ÷ D) = 6,00
92
O Gráfico 9 compara os níveis obtidos nas observações 1 e 2.
Gráfico 9 – Perfil obtido na escala atividades.
Verifica-se em relação à cotação média uma diferença de 2,00 entre a classificação
obtida na observação 1 e na observação 2.
A maior diferença entre as duas observações regista-se na subescala natureza/ciência,
na observação 1 o nível de classificação foi 2, na observação 2 o nível de classificação foi 7.
Nas outras atividades analisadas também entre a observação 1 e a 2 se obtiveram resultados
superiores nesta última.
O objetivo da primeira avaliação foi o de perceber o ambiente educativo, avaliar para
regular a ação, através da investigação suportada em instrumentos que permitem a regulação
e a reflexão e consequentemente intervir, com o objetivo de melhorar a prática. Permitiram-
me também ter uma noção mais clara e objetiva de onde atuar, investindo de forma sustentada
para melhorar a qualidade do ambiente educativo e consequentemente as competências e
aprendizagens das crianças, assim como o bem-estar emocional e a implicação.
A segunda avaliação realizada foi essencial para perceber até que ponto as alterações
introduzidas conduziram a melhorias e forneceram pistas para a atuação futura na prática,
permitindo novas reformulações no sentido de alcançar a qualidade desejável.
0
1
2
3
4
5
6
7
8
Item 19 Item 20 Item 23 Item 25 Item 26
Obs. 1 Obs. 2
93
3.3.3. Avaliação do ambiente educativo em Pré-escolar em relação à
linguagem/raciocínio.
Neste subponto apresentam-se os resultados da avaliação do ambiente educativo para a
escala linguagem/raciocínio, nas subescalas: livros e imagens; encorajar as crianças a
comunicar; uso da linguagem para desenvolver competências de raciocínio; e uso informal da
linguagem. Procede-se à respetiva análise da classificação atribuída em cada uma delas, na
primeira e na segunda observação realizada (quadros de avaliação em anexo), seguindo-se a
comparação dos resultados obtidos na primeira e na segunda observação.
Observação 1
Data da Observação – Dias 27 e 30 de Março
Subescala nº 15 – Livros e Imagens
Classificação = 4
Existe uma vasta seleção de livros na sala, organizada numa área, acessíveis às crianças
durante todo o dia. Realiza-se a leitura diária de uma história, com suporte de um livro e texto,
ou só de imagens. Existem imagens disponíveis na sala em revistas ou histórias com imagens
grandes. Os livros adequam-se às idades e às crianças do grupo.
Item 5.5 - A leitura informal de livros para as crianças acontece com pouca frequência, sendo
a classificação neste item de 4 (situa-se entre o suficiente e o bom).
De acordo com a indicação de preenchimento da escala, uma resposta negativa no nível
5 é impeditivo de transitar para as questões em 7.1 e 7.2.
Subescala nº 16 – Encorajar as crianças a comunicar
Classificação = 6
Existem muitos momentos em que as crianças são encorajadas a comunicar, assim como
diversos materiais e brinquedos que as estimulam a expressar ideias e a colocar questões, tais
como adereços diversos e bonecas na área da casinha, diversos animais na área dos blocos,
bonecos em miniatura nos jogos de legos, carros pequenos e grandes,…
94
As crianças conversam sobre os seus trabalhos, desenhos ou pinturas, pela sua iniciativa
ou dos adultos, nas atividades livres também existem conversas sobre o que a criança faz,
incentivando à explicitação das suas ações.
Item 7.2. - A relação da comunicação falada das crianças com a linguagem escrita não
acontece com frequência, ou seja pode acontecer duas vezes na semana, normalmente no plano
da semana ou na escrita de uma mensagem.
Subescala nº 17 – Uso da Linguagem para desenvolver competências de raciocínio
Classificação = 6
Na realização de jogos de manhã e no decorrer do dia, os adultos falam com as crianças
sobre relações lógicas, encorajando-as a falar sobre o seu raciocínio, como agruparam os
materiais ou as quantidades que correspondem a determinado algarismo, na realização de
jogos de sequências, na identificação de sequências em imagens,…
Item 7.1. - A frequência com que as crianças são encorajadas a raciocinar ao longo do dia
através de acontecimentos ou experiências reais acontece com pouca frequência.
Subescala nº 18 - Uso informal da linguagem
Classificação = 7
As conversas informais ocorrem em diversos momentos do dia e com a maior parte do
grupo (lanche da manhã, recreio, almoço, higiene, lanche, acolhimento…), as questões que
são colocadas encorajam as crianças a alongar as respostas dadas, por exemplo a partir do que
as crianças contam, os adultos incentivam a criança a aprofundar o assunto. Muitas vezes esse
assunto é transportado para outras crianças no grupo, envolvendo-as na conversa.
Itens 7.1. e 7.2. No período dos jogos de manhã e nas atividades nas áreas, o pessoal mantém
conversas individuais com as crianças, acrescentando informação ao que a criança diz sobre
os jogos ou algo que conta sobre acontecimentos exteriores à vida do jardim-de-infância (uma
ida às compras com os pais, ao parque, uma festa de aniversário, sobre o que fizeram no fim-
de-semana, etc…). Nestas conversas o pessoal coloca questões que as encorajam a dar
respostas mais longas e complexas.
95
Como se pode observar a cotação média obtida é 5,75, ou seja o ambiente educativo da sala
A no que respeita ao uso da linguagem do pessoal com as crianças na promoção do
desenvolvimento da expressão oral e do raciocínio é considerado bom de acordo com a escala
utilizada.
Observação 2
Data da Observação – Dias 26 e 28 de Maio
Subescala nº 15 – Livros e imagens
Classificação = 4
Item 5.5 - Apesar de ocorrerem momentos de leitura informal para as crianças, estes são pouco
frequentes, por exemplo, na leitura de uma revista ou livro que uma criança trouxe de casa,
ou de uma informação de um folheto, mantendo-se a classificação neste item de 4.
Subescala nº 16 – Encorajar as crianças a comunicar
Classificação = 7
Item 7.2. - A comunicação oral das crianças passou a ser relacionada com a linguagem escrita
diariamente, na escrita de mensagens em desenhos das crianças, nos registos das visitas
realizadas, nas mensagens para “a mãe”, no decorrer do projeto, assim como no
preenchimento do diário da nossa sala, onde o adulto escreve o que as crianças dizem em cada
uma das colunas: “o que fizemos hoje, o que correu bem, o que correu mal”.
Subescala nº 17 – Uso da linguagem para desenvolver competências de raciocínio.
Classificação = 7
A. Subescala (Itens 15 – 18) Pontuação = 23
B. Número de itens cotados = 04
LINGUAGEM E RACIOCINIO Cotação Média (A ÷ B) = 5,75
96
Item 7.1. - Verificou-se um aumento substancial no que respeita ao encorajamento dos adultos
no raciocínio das crianças ao longo do dia através de acontecimentos ou experiências reais,
colocando questões sobre o crescimento das plantas da horta, dos insetos que surgem no pátio,
o que fazemos ao longo do dia e da semana, as etapas que seguiram na realização de um
trabalho.
Subescala nº 18 – Uso informal da linguagem
Classificação = 7
Itens 7.1. e 7.2. - As conversas informais ocorrem em diversos momentos do dia e com a maior
parte do grupo (lanche da manhã, recreio, almoço, higiene, lanche,…), as questões que são
colocadas encorajam as crianças a alongar as respostas dadas, incentivando-as a
desenvolverem frases maiores e mais complexas.
Nesta última observação a cotação média obtida é 6,25, ou seja o ambiente educativo
da sala A no que respeita ao uso da linguagem do pessoal com as crianças na promoção do
desenvolvimento da expressão oral e do raciocínio está num nível intermédio, entre o bom e
o excelente de acordo com a escala utilizada.
Perfil Obtido
O perfil da sala A no parâmetro Linguagem-Raciocínio é o seguinte:
Itens (15-16-17-18)
15. Livros e Imagens
16. Encorajar as crianças a comunicar
17. Uso da Linguagem para Desenvolver Competências de Raciocínio
18. Uso Informal da Linguagem
Cotação Média: Obs. 1 = 5,75
C. Subescala (Itens 15 – 18) Pontuação = 25
D. Número de itens cotados = 04
LINGUAGEM E RACIOCINIO Cotação Média (C ÷ D) = 6,25
97
Cotação Média: Obs. 2 = 6,25
O Gráfico 10 é ilustrativo dos resultados obtidos nas observações 1 e na 2.
Gráfico 10 – Perfil obtido na escala linguagem-raciocínio.
Os níveis obtidos nas duas observações permitem constatar, no que concerne à
Linguagem-Raciocínio, a existência de uma melhoria da qualidade do uso da linguagem no
desenvolvimento do raciocínio das crianças, a cotação obtida da primeira para a segunda
observação registou um aumento de 0,50 na cotação média.
A realização desta avaliação permitiu aferir aspetos do uso da linguagem no contexto
entre adultos-crianças e crianças-crianças e o uso da linguagem enquanto promotora do
raciocínio das crianças, e do seu desenvolvimento. Os momentos de linguagem escrita,
daquilo que as crianças diziam passaram a ser realizados com frequência, na escrita de frases
e mensagens sobre o dia da mãe, escrita de postais, no registo do diário da nossa sala, na
avaliação da semana, nos desenhos da família, no trabalho de projeto e nos convites realizados.
No entanto, a leitura de livros em momentos informais não se considerou relevante em
termos de ocorrência, mantendo-se este item com a mesma classificação.
0
1
2
3
4
5
6
7
8
Item 15 Item 16 Item 17 Item 18Obs. 1 Obs. 2
98
Conclusões da Investigação-ação em Pré-Escolar
A realização desta investigação permitiu-me aferir aspetos sobre a organização do
ambiente educativo, nas áreas de atividades, nos materiais existentes e na interação adulto-
criança, na contribuição para o desenvolvimento e aprendizagens das crianças.
Ao realizar a avaliação das atividades oferecidas no ambiente educativo e a avaliação
geral do grupo em relação ao bem-estar emocional e implicação, refleti sobre a sua
importância e o impacto destas, sentindo a necessidade de intervir, alterando a organização da
sala, a criação de duas novas áreas, e a identificação de todas as áreas da sala, promovendo a
autonomia das crianças. Também os materiais presentes foram trocados por outros mais
estimulantes e com maior diversidade.
Entre a base que é considerada a atitude experiencial das crianças, e a sustentação do
bem-estar emocional e da implicação, estão os pilares da prática experiencial: o
enriquecimento do meio/estimulação; a livre iniciativa da criança/autonomia e o diálogo
experiencial/sensibilidade. São pois, estes pilares que vão permitir estabelecer a ligação entre
a experiência e o desenvolvimento pessoal e social, apontada como a finalidade da educação
(Portugal & Laevers, 2010).
Assim, a partir da 1.ª avaliação geral do grupo e das avaliações do ambiente educativo,
impõe-se a necessidade de tomar medidas no sentido de melhorar a qualidade do ambiente e
da minha prática.
Com base na 1.ª avaliação e nos resultados na escala Linguagem-Raciocínio, foi
pertinente a necessidade de criar duas novas áreas, a das ciências e da escrita, relacionando-
as com a matemática. A recolocação de novos materiais nas áreas da sala, nomeadamente
jogos e puzzles, relacionados com a matemática, as ciências e a motricidade fina foram
também aspetos considerados.
A avaliação realizada ao nível da linguagem-raciocínio foi importante pois permitiu-me
enriquecer o meu desempenho, no que concerne ao desenvolvimento da linguagem e a relação
da linguagem falada das crianças com a escrita. Recorri a um instrumento, o diário da sala, e
à realização de uma reunião diária no final do dia, onde as crianças expunham as suas ideias
sobre o dia, e sobre o que tínhamos realizado no mesmo, contribuindo também para o
desenvolvimento da identificação das rotinas diárias e da sequencialidade dos acontecimentos
99
no espaço e no tempo, assim como para a sua formação pessoal e social. Ainda a criação de
uma área destinada aos fantoches foi promotora não só do desenvolvimento da linguagem
verbal e não-verbal, como estimulou a participação em atividades de faz de conta.
A realização da 2.ª avaliação permitiu averiguar até que ponto as medidas tomadas
surtiram o efeito desejado, se os níveis gerais de bem-estar e de implicação se situavam acima
ou abaixo da 1.ª avaliação realizada. Apesar de a diferença entre ambas não ser muito alta,
verificou-se uma subida nas duas dimensões, ou seja, de forma geral o bem-estar e a
implicação das crianças aumentaram.
No decorrer da minha prática não pude já realizar nenhuma intervenção sustentada pelos
resultados obtidos na 2.ª avaliação, pois esta chegou ao fim, mas forneceu-me a possibilidade
de refletir sobre a necessidade do educador/professor recorrer a instrumentos que lhe
permitam ter feedback e avaliar a adequabilidade da sua prática pedagógica, pois deste modo
poderá atuar fundamentando-se nos resultados obtidos e na reflexão crítica sobre estes.
O realizar desta investigação sobre a qualidade do ambiente educativo, e das dimensões
bem-estar emocional e implicação do grupo de crianças, forneceu-me ainda a noção de que a
investigação é uma ferramenta poderosa que o educador/professor pode e deve usar para
melhorar a sua prática. Esta é construtora de um profissional de qualidade, pois permite-lhe
avaliar aspetos sobre acontecimentos e experiências e reformular, baseado na reflexão crítica,
e na posterior avaliação dessas reformas, acerca do seu contributo na qualidade do
ensino/aprendizagem. Neste sentido, a avaliação desempenha a função de regulação das
aprendizagens.
3.3.4. Avaliação do uso de feedback oral no desenvolvimento de competências de leitura
no 1.º ciclo.
Neste subponto apresentam-se as tabelas da 1.ª e da 2.ª avaliação da fluência da leitura
oral e o respetivo feedback fornecido a cada uma das crianças. Realiza-se ainda uma análise
do uso do feedback e a sua contribuição no desempenho da leitura oral de cada uma das
crianças.
100
1.ª Avaliação de fluência da leitura e respetivo feedback – Levantamento a 13 de outubro de
2014
Esclarece-se que um leitor fluente é aquele que possui competências para descodificar
eficazmente um texto escrito, com pouco esforço, que lhe possibilita compreender o que lê.
Para além da velocidade e da correção da leitura, ler fluentemente inclui também a
expressividade e a naturalidade com que o aluno lê, para tal é necessário compreender o que
está a ler com pouco esforço (Walker et al., 2006). Assim, a fluência da leitura é a capacidade
para descodificar e compreender um texto com pouco esforço.
Leitura do excerto do texto “Romance de Pedro e Inês” de Álvaro Magalhães.
Quadro 8 - Registo da 1.ª avaliação de leitura oral.
Nomes
Prosódia (tom,
expressão; separação
de frases; pontuação;
entoação)
Correção (n.º de erros
cometidos num texto)
Velocidade
(automatização) – Ler
65 palavras
sublinhadas num texto
num minuto
Feedback fornecido à
leitura oral
A. S. Lê sem respeitar a
estrutura das frases
nem a pontuação. Sem
entoação. Hesitações e
interrupções.
Comete cerca de 6
erros na leitura de 110
palavras de um texto.
Não consegue ler 65
palavras sublinhadas
num texto num
minuto.
Tens que dar mais
entoação ao que lês e
respeitar a pontuação
do texto. Precisas de
ler mais, só lendo
muito conseguimos ler
bem.
A. R. A leitura soa com
entoação ao longo do
texto, mas por vezes
sem respeitar a
estrutura das frases.
Lê com correção 110
palavras de um texto.
Lê sem esforço 65
palavras sublinhadas
num texto num
minuto.
Como queres sempre
ler muito depressa, não
respeitas a pontuação,
também tens que ler
mais alto para que
todos possamos ouvir.
A. M. Por vezes lê sem
expressão, mas com
entoação ao longo de
grande parte do texto.
Comete cerca de 4
erros na leitura de 110
palavras de um texto.
Lê 65 palavras
sublinhadas num texto
num minuto.
Precisas de treinar a
leitura em voz alta, a
entoação e o ritmo têm
que ser melhorados.
A. Com entoação
nalgumas passagens
do texto.
Comete cerca de 7 a 8
erros na leitura de 110
palavras de um texto.
Não lê 65 palavras
sublinhadas num texto
num minuto.
Precisas de ler mais,
só lendo muito se
consegue ler bem.
Ainda lês com muitas
hesitações.
D. Lê com pausas, em
algumas passagens
consegue uma leitura
que soa de forma
natural e com
entoação.
Comete cerca de 4 a 5
erros na leitura de 110
palavras de um texto.
Lê com esforço 65
palavras sublinhadas
num texto num
minuto.
Tens de ler mais alto,
temos dificuldade em
ouvir-te. Ao lermos
temos que dar
entoação e respeitar a
pontuação.
(exemplifiquei).
G. Respeita a estruturação
das frases e a
pontuação; lê todo o
texto com boa
entoação.
Lê com correção 110
palavras num texto.
Lê sem esforço 65
palavras sublinhadas
num texto num
minuto.
Lês bem, podes ainda
melhorar, mudando o
tom da voz nos
diálogos das
personagens do texto.
101
Nomes
Prosódia (tom,
expressão; separação
de frases; pontuação;
entoação)
Correção (n.º de erros
cometidos num texto)
Velocidade
(automatização) – Ler
65 palavras
sublinhadas num texto
num minuto
Feedback fornecido à
leitura oral
H. Lê sem entoação, lê
grupos de três ou
quatro palavras (leitura
entrecortada).
Comete cerca de 7 a 8
erros na leitura de 110
palavras de um texto.
Não lê 65 palavras
sublinhadas num texto
num minuto.
Precisas de ler mais,
só lendo muito se
consegue ler bem.
Ainda lês com muitas
hesitações.
J. Lê todo o texto com
entoação adequada;
leitura expressiva com
variações de volume;
respeita a estrutura das
frases e a pontuação.
Lê com correção 110
palavras num texto.
Lê sem esforço e sem
sinais de cansaço 65
palavras sublinhadas
num texto.
Vê-se que lês muito e
que gostas de ler.
Deves continuar…
J. V. A leitura soa com
entoação ao longo da
maior parte do texto;
respeita a estrutura das
frases e a pontuação.
Lê com correção 110
palavras de um texto.
Lê sem esforço 65
palavras sublinhadas
num texto num
minuto.
Já lês muito bem, mas
podes melhorar, na
forma como lês os
diálogos das diferentes
personagens.
M. I.
F.
Lê com acelerações e
pausas, por vezes sem
respeitar a estrutura
das frases; tom de voz
muito baixo; leitura
com pouca entoação.
Comete cerca de 3 a 4
erros na leitura de 110
palavras de um texto.
Lê com algum esforço
65 palavras
sublinhadas num texto
num minuto.
Precisas de treinar a
leitura, tens que dar
mais entoação ao que
lês e respeitar a
pontuação do texto. A
voz tem que ser
projetada para que
consigamos ouvir.
M. I.
S.
Leitura com entoação
ao longo de quase todo
o texto; respeita a
estrutura das frases e
os sinais de pontuação;
tom de voz baixo.
Lê com correção 110
palavras num texto.
Lê sem esforço 65
palavras sublinhadas
num texto num
minuto.
Lês com entoação e
respeitas a pontuação,
mas precisas de ler
mais alto, temos
alguma dificuldade em
ouvir-te.
M. A leitura soa com
entoação ao longo de
grande parte do texto;
respeita a estrutura das
frases e a pontuação.
Lê com correção 110
palavras num texto.
Lê sem esforço e sem
sinais de cansaço 65
palavras sublinhadas
num texto num
minuto.
Lês com desembaraço
mas podes melhorar,
como queres ler muito
depressa não dás
sempre a entoação que
devias.
M. M.
Não respeita a
estrutura das frases e
nem sempre a
pontuação; a entoação
por vezes não
acompanha toda a
leitura do texto.
Comete cerca de 6 a 7
erros na leitura de 110
palavras num texto.
Lê com esforço 65
palavras sublinhadas
num texto num
minuto.
Tens que ler mais, só
lendo muito
conseguimos ler bem.
Ainda lês sem
respeitar a pontuação e
precisas de melhorar a
entoação.
M. G.
Por vezes começa a ler
de forma menos
expressiva; tom de voz
apropriado ao longo de
quase todo o texto;
respeita os sinais de
pontuação.
Comete cerca de 2 a 3
erros na leitura de 110
palavras num texto.
Lê sem esforço 65
palavras sublinhadas
num texto num
minuto.
Precisas de ler mais,
podes melhorar a
entoação e ainda te
enganas na leitura de
algumas palavras.
102
Nomes
Prosódia (tom,
expressão; separação
de frases; pontuação;
entoação)
Correção (n.º de erros
cometidos num texto)
Velocidade
(automatização) – Ler
65 palavras
sublinhadas num texto
num minuto
Feedback fornecido à
leitura oral
M.
Lê com entoação ao
longo da maior parte
do texto; leitura com
tom de voz
excessivamente baixo
(quase inaudível).
Comete cerca de 1 erro
na leitura de 110
palavras num texto.
Lê sem esforço 65
palavras sublinhadas
num texto num
minuto.
Tens que ler mais alto,
nós quase que não te
ouvimos. A voz tem
que ser projetada
(exemplifiquei).
R. Ocasionalmente
começa a ler de forma
menos expressiva, por
vezes não respeita a
pontuação e a estrutura
das frases.
Comete cerca de 4 a 5
erros na leitura de 110
palavras de um texto.
Lê com esforço 65
palavras sublinhadas
num texto num
minuto.
Tens que ler mais.
Precisas de melhorar a
entoação e a
pontuação do texto.
R. Lê todo o texto com
entoação adequada;
leitura expressiva com
variações de volume;
respeita a estrutura das
frases e a pontuação.
Lê com correção 110
palavras de um texto.
Lê sem esforço 65
palavras sublinhadas
num texto num
minuto.
Lês muito bem, vê-se
que tens prazer na
leitura e que gostas de
ler. Deves continuar…
R. Lê grupos de três a
quatro palavras,
produzindo uma
leitura entrecortada;
nalgumas partes do
texto tem uma leitura
com entoação.
Comete cerca de 5 a 6
erros na leitura de 110
palavras num texto.
Lê com esforço 65
palavras sublinhadas
num texto.
Precisas de ler mais,
ainda lês com algumas
paragens, o que não
ajuda à compreensão
do texto. Só a ler
muito se consegue ler
bem.
S. Lê com tom de voz
demasiado baixo; sem
entoação; não respeita
a estrutura das frases e
por vezes os sinais de
pontuação.
Comete cerca de 6 a 7
erros na leitura de 110
palavras de um texto.
Não lê 65 palavras
sublinhadas num texto
num minuto.
Tens que ler mais, não
só na escola como em
casa. Também tens
que fazer um esforço
para projetar a voz,
não conseguimos
ouvir-te.
T. Lê grupos de duas a
três palavras
produzindo uma
leitura entrecortada;
algumas partes do
texto a leitura soa com
naturalidade e
entoação.
Comete cerca de 8 a 9
erros na leitura de 110
palavras de um texto.
Não lê 65 palavras
sublinhadas num texto
num minuto.
Também precisas de
ler mais, ainda lês com
paragens e hesitações
e não consegues dar
entoação ao que lês.
T. F. Lê palavra a palavra; a
leitura não soa com a
naturalidade da
linguagem oral.
Comete cerca de 8 a 9
erros na leitura de 110
palavras de um texto.
Não lê 65 palavras
sublinhadas num texto
num minuto.
Precisas de ler mais,
não só na escola como
em casa. A forma
como lês não te ajuda
a compreender bem o
texto.
V. Lê com acelerações e
pausas, por vezes sem
respeitar a estrutura
das frases e a
pontuação; leitura
pouco expressiva.
Comete cerca de 3 a 4
erros na leitura de 110
palavras num minuto.
Lê com esforço 65
palavras sublinhadas
num texto num
minuto.
Podes melhorar a tua
leitura, precisas de dar
entoação e de fazer as
paragens da pontuação
(exemplifiquei).
103
Nota: as metas de aprendizagem para o 3º ano de escolaridade referem como descritor
de desempenho a leitura de 80 palavras por minuto de uma lista de palavras apresentadas num
texto “quase” aleatoriamente. No entanto, como estávamos no início do ano letivo e
considerando a progressão ao longo do ano, iniciou-se com 65 palavras por minuto.
Importa esclarecer que esta avaliação foi de função diagnóstica, que como o respetivo
feedback fornecido não teve um caráter classificatório, procurou-se dar pistas e orientações
para os alunos melhorarem o seu desempenho, compreendendo os critérios para um bom
desempenho de leitura oral. Foram definidos e explicitado estes critérios antes da avaliação:
ler com entoação, com ritmo, sem errar ou gaguejar, ler num minuto 65 palavras sublinhadas
num texto; com volume audível; respeitar as pausas da pontuação e da estrutura das frases.
Na primeira fase da avaliação começava-se com a leitura oral cronometrada (1minuto)
e depois seguia-se a leitura do texto até cerca de 110 palavras. À medida que as crianças liam
ia tomando notas sobre o seu desempenho e no final da leitura de cada uma dava o feedback,
procurando dar orientações dos aspetos a melhorar e por vezes recorrendo à exemplificação
(tom de voz, entoação, respeitar a estrutura das frases e a pontuação).
Após todas as crianças terem lido e recebido o feedback, pedi que cada uma realizasse
a leitura de novo, e verifiquei um esforço das crianças em seguir as orientações dadas.
Percebi claramente que as crianças que demonstravam mais dificuldades na leitura, não
conseguiam ultrapassá-las só com o feedback dado. Se para algumas, como a M., o A. R., o
M. G., a M.I.S, o J. V., o V., o R., o D., e o G. que apresentavam uma leitura oral, com
velocidade e correção, o feedback ajudou a perceberem e a corrigir alguns aspetos da prosódia,
para os que ainda tinham dificuldades de decifração, como o T.F., o A. F., a S, o T., o H., o
Al. e o R., não se revelou de grande utilidade, as dificuldades em relação à decifração e à
velocidade mantinham-se o que também impedia um bom desempenho ao nível da prosódia.
Menciono um excerto das notas de campo do dia 13 de Outubro:
o A. R. na segunda leitura do texto, após o feedback, subiu o tom de voz e
leu mais pausadamente, já com entoação e a respeitar a pontuação. A M.
também conseguiu melhorar, assim como a M.I.S., o V., e o J. V. Mas o
feedback parece não ter sido de grande auxílio para o R., o H., a S., o T., o
A. F. e o T.F.. A M. fez um esforço para ler mais alto.
104
No entanto, um dos objetivos, que advém também do uso do feedback e da própria
avaliação, como processo de regulação da aprendizagem, é a explicitação dos critérios de
avaliação com as crianças. Penso que o uso do feedback ajudou as crianças a perceber os
critérios de avaliação do professor em relação à leitura oral e a apropriarem-se destes critérios
procurando ajustar a sua leitura de acordo com os mesmos.
Desta forma, constato que o feedback dado não serviu a todas as crianças da mesma
forma, se para algumas foi evidente a sua utilidade, para outras não as ajudou a superar as
dificuldades. Assim, verifiquei a necessidade de recorrer a outras estratégias para promover a
leitura em sala de aula, visto que a compreensão do que se lê está relacionada com a
competência de descodificar e compreender um texto. Esta avaliação deu-me informação e às
crianças sobre as suas competências e o que necessitavam de trabalhar. Neste sentido teve
implicações nos objetivos e nas atividades que foram definidas.
Procurei deste modo, desenvolver diversas atividades de leitura, nomeadamente a leitura
autónoma em sala de aula de livros à escolha das crianças, para o qual dedicávamos cerca de
15min a 20min diários após a hora de almoço. Esta iniciativa culminava com a atividade “Ler,
Aprender e Apresentar”. Da reflexão 3 da semana de 13/10 a 17/10/2014 (em apêndice)
transcrevo:
O M.M. apresentou a história “A Sereia”, começou, como a J., pela
apresentação da capa, do autor e ilustrador. No final surgiram logo crianças
a quererem dar a sua opinião. O texto escrito pelo T. F. também foi alvo de
interesse e de comentários dos colegas, o J. disse: “Gostei muito do texto,
mas foste buscar ideias ao texto do livro de português?”
O H. disse: “Leste muito a gaguejar, houve coisas que não percebi”.
A I., perguntou: “Não percebi quem era o Afonso! Não explicas bem essa
parte da história!” e o A. R. disse: “Gostei do texto mas devias ter treinado
a leitura do texto mais vezes”.
No final de todos terem feito os seus comentários disse-lhe: “Podes melhorar
o teu texto, descreveres as personagens e dizeres onde se passava a ação da
história. Concordo com os teus colegas sobre a leitura que fizeste, devias ter
treinado mais, no entanto estás de parabéns pelo esforço que fizeste em
escrever o texto, pois sabemos as dificuldades que tens nas produções
escritas, assim como na leitura. Deves continuar a esforçar-te e a trabalhar,
pois só assim conseguimos melhorar.
105
Também, todos os dias pedia às crianças alternadamente para lerem para toda a turma
os enunciados das tarefas a realizar e conteúdos dos programas dos manuais escolares e
fornecia feedback sobre esses momentos, fornecendo pistas sobre o que precisavam de
melhorar. Os momentos de leitura de textos sobre os quais trabalhávamos constituíam sempre
um momento de leitura oral. Todas as crianças liam um excerto desse texto e fornecia sempre
feedback, seguindo os critérios definidos. Outra estratégia foi a leitura de poemas e textos
dialogais a pares em voz alta, que para além de proporcionar às crianças a compreensão
imediata dos aspetos a trabalhar (volume, entoação, expressão) ajudava a perceber o ritmo e
a correção na leitura, pois tinham que acompanhar o colega. Também o recurso à
exemplificação de aspetos da prosódia ajudou as crianças a compreender e a reconhecerem os
aspetos a melhorar.
2.ª Avaliação de fluência da leitura e respetivo feedback – Levantamento a 24 de Novembro
de 2014
Leitura do excerto do texto “Ratinho, gatarrão, passarito e franganota” de Alice Vieira.
Quadro 9 - Registo da 2.ª avaliação de leitura oral.
Nomes
Prosódia (tom,
expressão; separação
de frases; pontuação)
Correção (n.º de erros
cometidos num texto)
Velocidade
(automatização) – Ler
cerca de 80 palavras
sublinhadas num texto
num minuto
Feedback fornecido à
leitura oral
A. S. A leitura apresenta já
entoação em grande
parte do texto. Ainda
com acelerações e
pausas, mas procura
respeitar a pontuação.
Comete cerca de 5
erros na leitura de 110
palavras de um texto.
Lê com esforço 80
palavras sublinhadas
num texto num
minuto.
Podes ainda melhorar
a entoação ao longo do
texto e na leitura de
algumas palavras.
A. R. A leitura soa com
entoação ao longo do
texto, respeita a
estrutura das frases e a
pontuação. O ritmo da
leitura ajuda a dar
sentido ao texto.
Lê com correção 110
palavras de um texto.
Lê sem esforço 80
palavras sublinhadas
num texto num
minuto.
Melhoras-te a tua
leitura, já lês com a
entoação devida e com
um tom mais alto.
Podes ainda melhorar
a forma como
interpretas os diálogos
das personagens.
106
Nomes
Prosódia (tom,
expressão; separação
de frases; pontuação)
Correção (n.º de erros
cometidos num texto)
Velocidade
(automatização) – Ler
cerca de 80 palavras
sublinhadas num texto
num minuto
Feedback fornecido à
leitura oral
A. M. Lê com entoação todo
o texto. Volume
apropriado; respeita a
estrutura das frases e a
pontuação.
Lê com correção 110
palavras de um texto.
Lê 80 palavras
sublinhadas num texto
num minuto.
Podes ainda melhorar
na forma como
interpretas os diálogos
das personagens,
mudar o tom de voz.
Al. A leitura soa com
entoação ao longo da
maior parte do texto
mas por vezes lê de
forma menos
expressiva; respeita a
pontuação.
Comete cerca de 6
erros na leitura de 110
palavras de um texto.
Lê com esforço 80
palavras sublinhadas
num texto num
minuto.
Já lês com entoação
mas podes ainda
melhorar, deves
continuar a ler muito.
D. Já lê com um tom mais
alto ao longo de quase
todo o texto; entoação
ao longo de quase todo
o texto; por vezes
ainda não respeita a
estrutura das frases e a
pontuação.
Comete cerca de 2 a 3
erros na leitura de 110
palavras de um texto.
Lê com esforço 80
palavras sublinhadas
num texto num
minuto.
Já lês mais alto, mas
precisas de respeitar a
pontuação e a estrutura
das frases
(exemplifiquei).
G. Respeita a estruturação
das frases e a
pontuação; o ritmo da
leitura ajuda a dar
sentido ao texto; lê
todo o texto com boa
entoação;
Lê com correção 110
palavras num texto.
Lê sem esforço 80
palavras sublinhadas
num texto num
minuto.
Lês bem, podes ainda
melhorar, mudando o
tom da voz nos
diálogos das
personagens do texto.
H. Lê com acelerações e
pausas por vezes sem
respeitar a estrutura do
texto.
Comete cerca de 5 a 6
erros na leitura de 110
palavras de um texto.
Não lê 80 palavras
sublinhadas num texto
num minuto.
Precisas de ler mais,
só lendo muito se
consegue ler bem.
Ainda lês com muitas
hesitações.
J. Lê todo o texto com
entoação adequada;
leitura expressiva com
variações de volume;
respeita a estrutura das
frases e a pontuação;
lê com gosto e aprecia
a leitura.
Lê com correção 110
palavras num texto.
Lê sem esforço e sem
sinais de cansaço 80
palavras sublinhadas
num texto.
Vê-se que lês muito e
que gostas de ler.
Deves continuar…
J. V. Lê todo o texto com
boa entoação; respeita
a estrutura das frases e
a pontuação;
Lê com correção 110
palavras de um texto.
Lê sem esforço 80
palavras sublinhadas
num texto num
minuto.
Já lês muito bem, mas
podes melhorar, na
forma como lês os
diálogos das diferentes
personagens, mudando
o tom de voz.
107
Nomes
Prosódia (tom,
expressão; separação
de frases; pontuação)
Correção (n.º de erros
cometidos num texto)
Velocidade
(automatização) – Ler
cerca de 80 palavras
sublinhadas num texto
num minuto
Feedback fornecido à
leitura oral
M. I.
F.
Respeita a estrutura
das frases e a
pontuação; tom de voz
apropriado ao longo de
quase todo o texto;
leitura com entoação
ao longo de quase todo
o texto.
Comete cerce de 3
erros na leitura de 110
palavras de um texto.
Lê com algum esforço
80 palavras
sublinhadas num texto
num minuto.
Já lês melhor, já
respeitas a pontuação e
a estrutura das frases,
mas deves continuar a
treinar a leitura.
M. I.
S.
Leitura com entoação
ao longo de quase todo
o texto; respeita a
estrutura das frases e
os sinais de pontuação;
tom de voz apropriado
ao longo de quase todo
o texto.
Lê com correção 110
palavras num texto.
Lê sem esforço 80
palavras sublinhadas
num texto num
minuto.
Lês com entoação e
respeitas a pontuação,
já lês mais alto mas
podes ainda melhorar
o tom de voz.
M. O ritmo da leitura
ajuda a dar sentido ao
texto; lê todo o texto
com boa entoação.
Lê com correção 110
palavras num texto.
Lê sem esforço e sem
sinais de cansaço 80
palavras sublinhadas
num texto num
minuto.
Já lês muito bem,
nota-se que melhoras-
te a entoação ao longo
do texto. Podes ainda
melhorar na forma
como lês os diálogos,
mudando o tom de voz
de acordo com os
personagens.
M. M.
Respeita a pontuação;
a entoação por vezes
não acompanha toda a
leitura do texto,
volume apropriado.
Comete cerca de 4 a 5
erros na leitura de 110
palavras num texto.
Lê 80 palavras
sublinhadas num texto
num minuto.
Tens que treinar a
leitura para melhorar a
entoação, mas já lês
melhor.
M. G.
Tom de voz
apropriado de todo o
texto; respeita os
sinais de pontuação;
com entoação
adequada ao longo de
quase todo o texto.
Comete cerca de 2 a 3
erros na leitura de 110
palavras num texto.
Lê sem esforço 80
palavras sublinhadas
num texto num
minuto.
Podes ainda melhorar
a entoação,
principalmente nos
diálogos das
personagens.
M.
Lê com entoação ao
longo da maior parte
do texto; leitura com
tom apropriado;
respeita os sinais de
pontuação.
Lê com correção 110
palavras num texto.
Lê sem esforço 80
palavras sublinhadas
num texto num
minuto.
Parabéns, já lês com
um tom de voz que
todos conseguimos
ouvir. Podes ainda
melhorar a entoação.
R. Já respeita a pontuação
e a estrutura das
frases; tom de voz
apropriado; entoação
adequada na maior
parte do texto.
Comete cerca de 2 a 3
erros na leitura de 110
palavras de um texto.
Lê 80 palavras
sublinhadas num texto
num minuto.
Já lês melhor, mas
podes ainda melhorar
a entoação ao longo do
texto.
108
Nomes
Prosódia (tom,
expressão; separação
de frases; pontuação)
Correção (n.º de erros
cometidos num texto)
Velocidade
(automatização) – Ler
cerca de 80 palavras
sublinhadas num texto
num minuto
Feedback fornecido à
leitura oral
R. Lê todo o texto com
entoação adequada;
leitura expressiva com
variações de volume;
respeita a estrutura das
frases e a pontuação;
lê com gosto e aprecia
a leitura.
Lê com correção 110
palavras de um texto.
Lê sem esforço e sem
sinais de cansaço 80
palavras sublinhadas
num texto num
minuto.
Lês muito bem, vê-se
que tens prazer na
leitura e que gostas de
ler. Deves continuar…
R. Lê com acelerações e
pausas; nalgumas
partes do texto tem
uma leitura com
entoação.
Comete cerca de 4 a 5
erros na leitura de 110
palavras num texto.
Lê com esforço 80
palavras sublinhadas
num texto.
Podes melhorar a
entoação e a forma
como lês. Só a ler
muito se consegue ler
bem.
S. Lê com tom de voz
ainda baixo; alguma
entoação ao longo do
texto; não respeita a
estrutura das frases e
por vezes os sinais de
pontuação.
Comete cerca de 3 a 4
erros na leitura de 110
palavras de um texto.
Lê com esforço 80
palavras sublinhadas
num texto num
minuto.
Já lês mais alto mas
precisas de continuar a
ler muito, ainda não
respeitas a pontuação
no texto.
T. Lê utilizando
acelerações e pausas;
nalgumas partes do
texto a leitura soa com
naturalidade e
entoação.
Comete cerca de 5 a 6
erros na leitura de 110
palavras de um texto.
Não lê 80 palavras
sublinhadas num texto
num minuto.
Tens que continuar a
ler muito, mas já
melhoras-te.
T. F. Lê utilizando
acelerações e pausas;
nalgumas partes do
texto a leitura soa com
naturalidade e
entoação; tom de voz
apropriado ao longo de
quase todo o texto.
Comete cerca de 6 a 7
erros na leitura de 110
palavras de um texto.
Não lê 80 palavras
sublinhadas num texto
num minuto.
Deves continuar a ler
muito, mas já
melhoras-te a entoação
e o tom de voz.
V. Leitura já com
entoação ao longo de
quase todo o texto;
tom de voz
apropriado; respeita a
pontuação.
Comete cerca de 2 a 3
erros na leitura de 110
palavras num minuto.
Lê 80 palavras
sublinhadas num texto
num minuto.
Podes ainda melhorar
a entoação, mas já
respeitas a pontuação.
Deves continuar a
treinar a leitura.
Nota: nesta avaliação aumentou-se o número de palavras a ler num minuto, de 65
palavras passou-se para 80, pretendendo estimular as crianças com mais competências e aferir
a sua progressão.
Nesta segunda avaliação, da fluência da leitura das crianças constatei a melhoria em
relação aos aspetos relacionados essencialmente com a pontuação e a entoação, especialmente
do J.V. do V., do M.G., do M.M. e do G. Em relação ao volume também a S., o D., a M.I.F.,
109
a M.I.S. e principalmente a M. que já lê com um tom de voz audível e com maior segurança,
se verificaram melhorias significativas. Também na decifração e na velocidade se constatam
melhorias, sobretudo no Al., na S., no M.G. e no R.. O T., o T.F., o H., ainda apresentam
dificuldades na velocidade e na decifração, mas já se verificam aspetos da prosódia na sua
leitura e algumas melhorias na velocidade e na decifração. No entanto, as dificuldades ao nível
da leitura prendem-se com fatores relacionados com o desenvolvimento das representações
fonológicas das palavras, ou seja, a conversão grafema/fonema, e a capacidade em processá-
las rapidamente.
De forma geral constatei a evolução do grupo, o que me leva a concluir que o uso regular
do feedback oral, associado às diversas atividades de leitura realizadas, conjuntamente com
práticas de heteroavaliação, preconizadas em diversas atividades de leitura dos alunos (leitura
de textos escritos pelos próprios para o grupo; apresentações de livros; apresentações do
trabalho de projeto; leitura no âmbito do Projeto “Livros com Rugas”) contribuíram para o
desenvolvimento e as aprendizagens do grupo.
Também a explicitação dos critérios de avaliação de leitura contribuíram para o
desenvolvimento de competências ao nível da fluência da leitura. Posso assim constatar, que
as práticas de avaliação formativa, para que tenham a função de regulação das aprendizagens
devem ser desenvolvidas no dia-a-dia em sala de aula e em momentos de aprendizagem e de
reflexão sobre essas mesmas aprendizagens. No entanto, sublinho uma lacuna da minha parte,
pois vim a refletir sobre a contribuição que teria acrescentado para o desempenho dos alunos
a afixação da tabela de avaliação na sala de aula. Entretanto, senti alguma relutância em o
fazer pois esta poderia assumir-se como um fator de competição entre as crianças, o que não
era de todo o seu objetivo. Mas, refletindo posteriormente, verifico que a possibilidade das
crianças observarem a tabela e verificarem a sua evolução e os aspetos a melhorar poderia ter
sido uma mais-valia, tornando-se este instrumento fator de regulação para o grupo.
3.3.5. Avaliação do uso de feedback escrito no desenvolvimento de competências de
produções escritas.
Esta atividade foi realizada em três fases. Na primeira foi proposto às crianças a escrita
de um texto individual partindo de uma chuva de ideias coletiva. O tema inicial era uma gota
de água que queria fazer a diferença, ou seja, ela queria ser útil, saber que ao cair iria ajudar
alguém que precisasse dela. As crianças deram várias sugestões que foram escritas por mim
110
no quadro da sala de aula e depois escritas por elas no respetivo caderno diário. Com a
participação de todos, foi relembrada a estrutura de um texto narrativo (título, introdução,
desenvolvimento, conclusão) e o que em cada uma destas partes se deve referir. Foram ainda
recordados os critérios para se escrever um texto com sentido e coerência.
Na segunda fase cada uma escolheu, a partir da chuva de ideias, um dos possíveis
destinos da gota de água. Foi estabelecido o tempo para a realização do texto, à medida que
as crianças iam terminando liam com atenção o que haviam escrito e por vezes corrigiam ou
reescreviam algumas frases. Após isso, lia os textos de cada uma delas e fornecia feedback ou
escrita avaliativa. Na terceira fase as crianças recebiam os cadernos, liam e a partir do feedback
fornecido procuravam melhorar as suas produções.
Exemplo 1
Observando o texto produzido pelo aluno, apresentado na Figura 14, analisando o
feedback que foi fornecido e observando com atenção o texto é possível perceber a utilidade
do feedback na melhoria do texto. As correções dos erros ortográficos (nas palavras jardim,
quase, caíram, Rosinha, Bonitinha) e da pontuação (ponto final, vírgula, ponto de exclamação)
aparecem evidenciadas com um tom mais forte. A conclusão foi alterada, pois não fazia
sentido e pode-se verificar onde o aluno apagou e reescreveu, procurando dar sentido à frase.
No entanto o feedback fornecido deveria ter dado indicações para ter em atenção o tema
principal “a gota de água” e que a personagem principal do texto é a “Rosinha Bonitinha”. No
entanto, reflito que esta é uma tarefa que demora tempo ao professor e como o tempo é um
fator importante na gestão das tarefas, acontecem estes lapsos.
111
Mas verifica-se que o feedback fornecido ajudou o aluno a identificar os erros e a
corrigi-los e a dar sentido ao texto.
Figura 14 - Exemplo 1 (texto escrito pelo aluno e respetivo feedback).
112
Exemplo 2
O texto da Figura 15 refere-se a um aluno que redigiu um texto confuso, com
personagens que apareciam de repente e a ação não se conseguia compreender. O feedback
fornecido aponta nesse sentido, da clarificação da ação e do sentido do texto. Verifica-se que
o aluno reescreveu as frases, procurando esclarecer a ação e dar sentido ao texto, apesar de
manter as personagens. A primeira tentativa de escrita de um diálogo contínua confusa, pois
não se compreende de onde surge a múmia, neste sentido o feedback deveria ter sido mais
específico, questionando o aluno sobre o surgimento da personagem e a sua intervenção na
ação, assim como na ação da gota de água. Verifica-se que o feedback ajudou o aluno a
melhorar, mas deveria ter sido mais concreto, colocando questões que levassem à reflexão
pelo aluno, sobre as personagens e a ação desenvolvida por estas.
Figura 15 - Exemplo 2 (texto escrito pelo aluno e respetivo feedback).
Exemplo 3
A Figura 16 apresenta a produção de um aluno que escreve com uma letra muito
pequena e que por vezes não se consegue ler. Neste texto, a ação ocorre em dois locais
diferentes, o aluno pretendeu dar mais do que um destino às gotas de água e assim enriquecer
o texto. O feedback frisa o tamanho da letra e a existência de algumas frases muito confusas.
113
É visível, pela letra maior no título e no texto, onde o aluno reescreveu as frases procurando
já aumentar o tamanho da letra e dar sentido à ação, enquanto noutras partes do texto a letra
continua muito pequena. As palavras “passou”, “no” “e” e “mas” vieram dar sentido à frase e
verifica-se no último parágrafo que o aluno apagou e escreveu de novo. Pode-se assim afirmar
que o feedback fornecido ajudou o aluno a melhorar, a identificar e a corrigir onde errou.
Figura 16 - Exemplo 3 (texto escrito pelo aluno e respetivo feedback).
Conclusões da Investigação-ação no 1.º CEB
A realização desta investigação permitiu-me refletir antes de mais sobre o uso do
feedback e a adequação deste às caraterísticas de cada aluno. O feedback oral fornecido num
primeiro momento parece ter ajudado os alunos a melhorar a qualidade da leitura oral, mas
aponta no sentido de que apenas os alunos com um desempenho satisfatório e bom ao nível
da decifração e velocidade beneficiaram com o uso de feedback.
Após as diversas atividades desenvolvidas e o uso regular do feedback, sobre os aspetos
a melhorar, ao longo do tempo, na segunda avaliação os resultados apontam que o uso de
feedback parece ter conseguido ajudar todos os alunos. Apesar de alguns alunos apresentarem
pequenos progressos, verifica-se já uma maior fluência na leitura. Daqui posso concluir que o
114
feedback fornecido parece ter sido adequado, dando pistas e sugestões dos aspetos a melhorar
e principalmente na contribuição para os alunos identificarem por si onde podiam melhorar e
como melhorar. Neste sentido o feedback oral corresponde a um processo de regulação pois
foi usado pelos alunos para melhorar a sua aprendizagem.
Salienta-se, que a investigação, sobre o uso de feedback, revela que este tem mais
utilidade nos alunos que revelam mais dificuldades, no entanto a melhoria não é imediata,
comparativamente aos alunos com menos dificuldades. Os resultados devem ser observados
a médio e a longo prazo e não apenas a curto prazo.
O uso do feedback escrito ou escrita avaliativa, permitiu-me aferir aspetos sobre os quais
este deve incidir mais especificamente. Apesar de conhecer os fundamentos e as orientações
teóricas sobre o feedback escrito regulador das aprendizagens, na prática existem ainda
aspetos a melhorar. A colocação de questões no exemplo 2, mais específicas, poderia ter
ajudado o aluno a compreender mais concretamente onde errou e assim poder corrigir esse
erro. Já no exemplo 3, as pistas apontavam para as frases e o tamanho da letra, auxiliando o
aluno a corrigir os erros e a melhorar o seu texto, conseguindo que este tivesse coerência e
sentido e aumentando o tamanho da letra em algumas frases e no título. No exemplo 1 o
feedback também ajudou o aluno a identificar e a corrigir os erros, no entanto deveria ter
colocado questões que levassem o aluno a refletir sobre o tema proposto para o texto e sobre
o que o aluno escreveu.
Deste modo, concluo que o fornecimento de feedback oral ou escrito é uma prática mais
difícil do que parece, é necessário que o professor/educador tenha uma perceção muito clara
do que pretende e alguma prática para poder dar feedback de qualidade tendo em conta as
caraterísticas de cada aluno e os objetivos pretendidos. Apesar de procurar com o feedback
escrito fornecido, levar à reflexão do aluno e à identificação dos erros ou onde pode melhorar,
ainda tenho um percurso de trabalho e reflexão pela frente de forma a conseguir fornecer um
feedback escrito eficaz e de qualidade que ajude os alunos a melhorar as suas aprendizagens.
115
Considerações Finais
Verifica-se nos últimos anos um interesse crescente em investigação pelo tema da
avaliação formativa e das práticas de avaliação reguladoras desenvolvidas pelos professores.
Com a teoria sócio construtivista dos modelos de ensino e aprendizagem, os métodos
avaliativos tradicionais deixam de fazer sentido, a conceção que se tinha sobre a avaliação
altera-se, o seu enfoque desloca-se da avaliação dos conhecimentos adquiridos pelos alunos,
após um determinado período de ensino/aprendizagem, para um processo interativo, entre os
alunos e o educador/professor, que regula e permite desenvolver as aprendizagens. Neste
sentido, seria de esperar que as práticas de avaliação em sala de aula fossem desenvolvidas
pelos professores e alunos, como uma prática diária, cujo objetivo seria ajudar os alunos a
aprender e a aprender a aprender e ajudar os professores a regularem o seu ensino.
No entanto, as investigações realizadas apontam no sentido de que esta não é uma tarefa
fácil para o professor e que a avaliação, sendo uma das dimensões que maior visibilidade dá
à profissão dos docentes, nem sempre pressupõe coerência na forma como esta é entendida
pelos profissionais. Parece ainda existir uma forte tendência ao falarmos de avaliação, para
relacionar a avaliação com a realização de testes e provas e com a certificação dos alunos.
Não desconsiderando a importância desta função da avaliação considero, no entanto, que as
práticas de avaliação formativa são fundamentais, conduzindo a aprendizagens significativas
e relevantes, e que é a atuação no imediato da parte do professor a ajudar o aluno a aprender
por si e com os outros, que faz todo o sentido para o uso da avaliação. Penso que é deste modo
que se consegue atingir a qualidade em educação, que tanto se almeja, quer pelos profissionais,
como pela própria sociedade.
Sendo o objetivo da investigação-ação aqui relatada, compreender de que forma as
práticas de avaliação assumem uma função de regulação do ensino e da aprendizagem,
verifico que esta função é multifacetada, que a avaliação é um tema muito abrangente, que
envolve múltiplos fatores que concorrem nesta função reguladora da avaliação. Esta
investigação levou-me a compreender que a avaliação é um processo contínuo interativo, que
ocorre nos momentos de ensino e aprendizagem envolvendo os intervenientes nessa avaliação,
mas que também não se pode dissociar a qualidade do ambiente educativo, do contexto
educacional. As aprendizagens das crianças são avaliadas neste contexto, assim este contexto
também deve ser objeto de avaliação. Ainda, para que a avaliação formativa aconteça, as
116
práticas educativas desenvolvidas devem comtemplar não só a própria criança, como as
relações que ocorrem no contexto educacional.
Assim, procurei estabelecer com todas as crianças uma relação de confiança, colocando-
me como igual a elas, que aprende com elas e ao mesmo tempo as conduz no processo de
aprendizagem. Consegui-o sendo autêntica, sem me impor, mas negociando e partilhando,
ouvindo a criança, cuidando dela e das suas necessidades, tendo em conta o conceito de
educare, que engloba o afeto, o carinho e atenção dada a cada criança e a disponibilidade da
minha parte para a ouvir e apoiar.
Penso que ser educador/professor não é muito diferente, em ambos os estágios a minha
prática procurou ser coerente com os meus princípios, assumindo uma postura ética, onde os
valores de partilha, entreajuda, igualdade, respeito pelas diferenças e valorização destas para
a aprendizagem foram uma preocupação constante.
Acredito que a criança que sente que a escola é uma extensão da sua casa, um lugar
seguro e onde é acolhida, com respeito e carinho, um local onde não temos que saber todos o
mesmo ao mesmo tempo, onde as suas opiniões e interesses são valorizados, aprende e partilha
com vontade e interesse, fatores essenciais para o seu sucesso escolar.
Com base na investigação-ação que desenvolvi, coloquei questões sobre aspetos da
minha prática que pretendia melhorar, que me levaram à adoção de instrumentos de avaliação
que considerei pertinentes para a recolha de informação sobre cada uma das crianças, e sobre
o ambiente educativo, considerando ainda os papéis a desempenhar pelos intervenientes do
processo avaliativo: eu e os alunos. Assumir esta conceção, não foi fácil numa primeira
abordagem, pois ainda tenho enraizadas as minhas experiências como aluna, acerca da
avaliação. No entanto, recuando no tempo, também recordo a sensação de angústia que sentia
sempre que errava, pois este tinha como consequência uma punição da parte da professora do
ensino primário. Este não é de todo o sentimento que quero que os meus alunos tenham.
Essencialmente, permitiu melhorar a minha prática, nomeadamente as práticas de
avaliação, passando a utilizar questões que levassem a criança a pensar e refletir para poder
dar uma resposta, a considerar o erro como um sinal positivo que me permitia perceber o
raciocínio da criança e colocar-lhe questões que a ajudassem a pensar e a corrigir esse erro, a
desenvolver atividades cuja avaliação era desenvolvida pelos alunos, autoavaliação,
117
coavaliação e heteroavaliação, algumas vezes separadamente, outras em conjunto e observar
os progressos das crianças ao longo do tempo na regulação das suas aprendizagens e nas dos
seus pares. Também o feedback oral foi uma constante, mais do que o feedback escrito, por
ser mais fácil e demorar menos tempo, no entanto procurei usar o feedback escrito sempre que
possível, procurando que este fosse um auxílio para a criança, que a ajudasse a aprender e a
desenvolver a sua autorregulação.
Constato, que este percurso enquanto aluna estagiária veio fortalecer e enriquecer os
meus conhecimentos, que me permitiu rever metodologias e estratégias, realizar pesquisas,
refletir sobre o meu desempenho, numa atitude de autoavaliação e de projeção da
adequabilidade das práticas de acordo com o contexto. A atitude reflexiva suportou-se nas
planificações, nas reflexões semanais e na investigação realizada, permitindo-me reformular
aspetos sobre a minha intervenção e deste modo envolver as crianças no processo de
aprendizagem. Só através do auto questionamento sobre a nossa ação, pela adoção de uma
atitude reflexiva, desenvolvida ao longo da nossa profissão, poderemos ser profissionais de
qualidade.
Acredito ainda, que os educadores e professores que mantêm altas expetativas em
relação às aprendizagens dos alunos garantem que estes consigam melhores resultados,
conjugando estes fatores com um relação de confiança e respeito mútuo entre as famílias e a
escola, será mais fácil ultrapassar dificuldades e cooperar esforços no sentido de garantir o
sucesso escolar das crianças.
Não posso deixar de referir que futuramente, seguindo esta linha concetual sobre a
avaliação, gostaria de investigar o uso do portefólio, principalmente no 1.º ciclo (pois é aqui
que na minha opinião as práticas atuais de avaliação carecem de inovação) como instrumento
de regulação, no desenvolvimento de práticas de autoavaliação e do pensamento reflexivo do
aluno. Penso que este instrumento pode ir ainda mais longe, na medida em que permite e
facilita a metacognição, portanto seria de grande interesse desenvolver um trabalho
investigativo sobre o uso do portfólio como instrumento de avaliação reguladora no 1.º ciclo.
Considero, que uma cultura viva na investigação profissional é estabelecida quando os
docentes e aqueles com quem trabalham se envolvem num processo de reflexão, através do
qual, as práticas atuais são examinadas, os resultados divulgados e a partir daqui surgem novas
ideias. Neste ambiente, as questões relativas à avaliação como reguladora da aprendizagem,
118
podem ser amplamente debatidas, favorecendo os alunos e os professores nas suas práticas
avaliativas.
119
Referências Bibliográficas
APEI – Carta de Princípios para uma Ética Profissional. Acedido a 12 de fevereiro de 2014,
disponível em, http://apei.pt/associacao/carta-etica.pdf
Buescu, H. C., Rocha, M. R. & Magalhães, V. F. (s/d) Metas Curriculares de Português –
Ensino Básico 1.º Ciclo. O domínio da Leitura e da Escrita. Lisboa: Ministério da
Educação e Ciência.
Favinha, M. & Moreira, J. (2012). Desenvolver relações positivas com os alunos: o caminho
para a cooperação e sucesso académico. Atas do 12.º Colóquio Psicologia e Educação,
Lisboa ISPA, 754-765.
Folque, M. A. (2012). O Aprender a Aprender no Pré-Escolar: o modelo pedagógico do
Movimento da Escola Moderna. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian.
Gonçalves, I. G. (2008). Avaliação em Educação de Infância – das conceções às práticas.
Porto: Editorial Novembro.
Harms, T., Clifford, R., M. & Cryer, D. (2008). Escala de Avaliação do Ambiente em
Educação de Infância. Edição Revista. Porto: Legis Editora.
Hohman, M., & Weikart, D., P. (1997). Educar a criança. Lisboa: Fundação Calouste
Gulbenkian.
Ministério da Educação. (1997). Orientações Curriculares para a Educação Pré-Escolar.
Lisboa: ME - Departamento da Educação Básica.
Ministério da Educação. (2006). Organização Curricular e Programas. Lisboa: ME -
Departamento da Educação Básica.
Oliveira-Formosinho, J. (1996). Modelos Curriculares para a Educação de Infância. Porto:
Porto Editora.
Oliveira-Formosinho, J. (2001). Os modelos pedagógicos para a educação de infância e o
desafio da diversidade pedagógica. Pensar o Currículo em Educação de Infância
(pp.107-120). Lisboa: Associação de Profissionais de Educação de Infância.
Oliveira-Formosinho, J. (2007). Pedagogia(s) da Infância: Dialogando com o Passado,
Construindo o Futuro. Porto Alegre: Artmed.
Oliveira-Formosinho, J. Lino D. & Niza S. (2007). Modelos Curriculares para a Educação
de Infância: Construindo uma práxis de participação. (3ªed). Porto: Porto Editora.
Oliveira-Formosinho, J. & Andrade, F. (2011). O espaço na Pedagogia-em-Participação. In J.
Oliveira-Formosinho. O Espaço e o Tempo na Pedagogia-em-Participação, (pp.9-63).
Porto: Porto Editora.
Penner-Wilger, M. (2008). Building and assessing reading fluency: Academy of reading with
oral reading fluency. Ottawa: AutoSkill Internacional.
Pinto, J. & Santos, L. (2006). Modelos de Avaliação das Aprendizagens. Lisboa: Universidade
Aberta.
Ponte, J. P. (2002). Investigar a nossa própria prática. Acedido em 12 de janeiro de 2014,
disponível em, http://www.educ.fc.ul.pt/docentes/jponte/docs-pt/02-
Ponte%20(GTI).pdf
120
Portugal, G. & Laevers, F. (2010). Avaliação em Educação Pré-Escolar. Sistema de
Acompanhamento das Crianças. Porto: Porto Editora.
Projeto Educativo do Agrupamento de Escolas nº4 de Évora. (2009/2012). Acedido em 16 de
fevereiro de 2014, disponível em, http://condevilalva.drealentejo.pt/
Projeto Educativo do Agrupamento de Escolas Manuel Ferreira Patrício-Évora. A Bússola,
orientação em autonomia. Volume I. Quadriénio 2013/2014 a 2016/2017. Acedido em
15 de setembro de 2014, disponível em,
http://www.ebim.pt/Documentos/Vol1_PE_definitivo2.pdf
Régnier, J. C. (2002). A auto-avaliação na prática pedagógica. Acedido em 26 de janeiro de
2015, disponível em, http://www2.pucpr.br/reol/index.php/dialogo?dd99=pdf&dd1=688
Rogoff, B., Matusov, E. & White, C. (1996). Models of teaching and learning: Participation
in a community of learners. In D. Olson & N. Torrance (Eds.), Handbook of Education
and Human Development: New Models of Learning, Teaching and Schooling (pp.388-
414). Oxford, England: BasilBlackwellPublishers.
Santos, L. (2002) Auto-avaliação regulada: porquê, o quê e como? Acedido em 17 de
novembro de 2014, disponível em,
http://www.educ.fc.ul.pt/docentes/msantos/textos/DEBfinal.pdf
Santos, L. (2008). Dilemas e desafios da avaliação reguladora. In: L. Menezes, L. Santos, H.
Gomes, C. & Rodrigues (Org.) Avaliação em Matemática: problemas e desafios, (pp.
11-35). Viseu: SPCE.
Santos, L. & Dias, S. (2009). Avaliação reguladora, feedback escrito, conceitos matemáticos.
Um Triângulo de Difícil Construção. Acedido em 5 de outubro de 2014, disponível em,
http://area.fc.ul.pt/pt/publicacoes%20projecto.htm
Sousa, A., B. (2005). Investigação em Educação. Lisboa: Livros Horizonte.
Walker, B. J., Mokhtari, K. & Sargent, S. (2006). Reading fluency: More than fast and
accurate reading. In T. V. Rasinski, C. Blanchowicz & K. Lems (Eds.). Fluency
Instruction: Research-Based Best Practices (pp. 86-105). New York: Guilford.
Watkins, C. (2005). Classrooms as learning communities: a review of research. Reviw of
Education, 3(1).
Zabalza, M., A. (1998). Qualidade em Educação Infantil. Porto Alegre: Artmed.
Legislação:
Decreto-Lei n.º 240/2001 de, 30 de Agosto – Perfil geral de desempenho profissional do
educador de infância e dos professores dos ensinos básico e secundário.
Decreto-Lei n.º 241/2001 de, 30 de Agosto – Perfil específico de desempenho profissional do
educador de infância e do professor de 1.º ciclo do ensino básico.
Lei n.º 49/2005, de 30 de Agosto: Lei de Bases do Sistema Educativo.
Anexos
122
Anexo 1 – (SAC) – Avaliação do bem-estar emocional
Sistema de Acompanhamento de Crianças (SAC) – Avaliação do bem-estar emocional
(Portugal & Laevers, 2010, pp.20-23)
Laevers define bem-estar emocional como um estado particular de sentimentos que
pode ser reconhecido pela satisfação e prazer, enquanto a pessoa está relaxada e expressa
serenidade interior, sente a sua energia e vitalidade e está acessível e aberta ao que a rodeia.
Isto porque a situação conjuga-se com as suas necessidades, a pessoa tem um autoconceito
positivo e está bem consigo própria.
Em resultado; a sua saúde emocional está garantida (Laevers et al., 1997, 2005b).
O grau de bem-estar evidenciado pelas crianças num contexto educativo indicará o
quanto a organização e dinâmica do contexto ajuda as crianças a “sentirem-se em casa”, a
serem elas mesmas e a terem as suas necessidades satisfeitas.
Indicadores de bem-estar emocional
Abertura e recetividade – a criança está recetiva ao contexto e disponível para
interagir e explorar; não evidencia comportamentos evitantes em relação ao adulto ou outras
crianças, estímulos ou atividades em oferta.
Flexibilidade – perante situações novas ou diferentes, a criança não evidencia
perturbação significativa, adaptando-se de forma rapidamente e desfrutando bem das novas
oportunidades. As situações-problema ou frustrações não manietam a criança, apresentando
uma orientação para considerar várias alternativas ou para fazer compromissos.
Autoconfiança e autoestima – a criança irradia autoconfiança. Expressa-se à vontade
e, quando confrontada com novos desafios, enfrenta-os, arriscando a possibilidade de
insucesso. Se este acontece, a criança não fica “arrasada” nem atribui esse fracasso ao seu
falhanço enquanto pessoa. Admite que há coisas que que (ainda) não é capaz de fazer sem se
sentir um zero enquanto pessoa.
123
Assertividade – a criança que se sente bem, à vontade, adota uma atitude assertiva no
seu grupo, procurando ser tida em consideração e respeitada por aquilo que é. Evidencia força
suficiente para pedir ajuda ou conforto e sabe solicitar algo de forma apropriada (e.g., pedir
um brinquedo); se algo de injusto é dito ou feito, a criança é capaz de objetar. A criança
assertiva não aceita facilmente as sugestões ou pressões do grupo, se estas colidirem com o
seu interesse ou ideia.
Vitalidade – a criança transborda de vida e energia, visíveis nas suas expressões facial
e postura. Os olhos brilham e raramente se deteta lassidão ou lentidão de movimentos. Trata-
se de uma forma de estar que se distancia daquela da criança de olhar vazio, que
frequentemente parece cansada, esfrega os olhos, e a última a levantar-se…
Tranquilidade – trata-se de vitalidade/atividade, mas associada a um estado de calma
e relaxamento. Globalmente a postura muscular não evidencia tensão e os movimentos são
suaves. Depois de uma atividade mais excitante ou de um jogo mais intenso, a criança retoma
facilmente o estado de tranquilidade.
Alegria – a criança demonstra contentamento, retira prazer do que está a fazer e a
experienciar, de forma “certa” (não se trata de prazer associado ao magoar os outros, destruir
material, humilhar um colega etc.). Se a alegria da criança é, muitas vezes, visível e audível
(e.g., rir cantar espontaneamente, olhos a brilhar), outras vezes as crianças poderão expressar
o seu prazer e entusiasmo de formas muito mais discretas.
Ligação consigo próprio – a criança que experiencia bem-estar estabelece uma boa
relação e contacto consigo própria, conhecendo as suas necessidades, e desejos, sentimentos
e pensamentos. Temporariamente, a criança pode conhecer sentimentos negativos e
desagradáveis, mas aceita-os e lida com eles de uma forma construtiva, não os reprimindo,
expressando-os adequadamente, na maior parte das vezes. A criança está bem consigo mesma
e estabelece uma boa ligação com o mundo.
Níveis de bem-estar emocional
1. Muito baixo – este nível atribui-se a crianças que usualmente estão tristes,
evidenciando frequentemente sinais claros de desconforto: choramingando, chorando,
gritando; evidenciando medo, raiva ou simplesmente tristeza; tensão corporal;
124
quebrando coisas ou magoando outras crianças; evidenciando tiques ou maneirismos,
chuchando no dedo; evitando o olhar do adulto; não reagindo ao contexto, evitando o
contacto, isolando-se; com medo de falhar; magoando-se a si própria (e.g., batendo
com a cabeça, caindo deliberadamente no chão); sujando as calças o/ou a cama; com
queixas psicossomáticas. A satisfação das necessidades destas crianças estará
ameaçada, predominando na sua experiência frustração e mal-estar, sendo o seu
funcionamento global negativamente afetado. Estas crianças não demonstram
vitalidade ou autoconfiança, possuem pouca flexibilidade e dificuldades de
assertividade, não estão bem consigo próprias e as suas relações com o mundo são
difíceis e insatisfatórias, necessitando de ajuda ou de apoios continuados.
2. Baixo – neste nível, as crianças evidenciam frequentemente sinais de desconforto
emocional, embora sinais positivos de bem-estar alternem com sinais mais negativos:
a postura a expressão facial e as ações indicam que a criança não se sente à vontade:
Os sinais são menos explícitos do que os evidenciados em 1 e o sentimento de
desconforto não se expressa tão permanentemente. Frequentemente, esta crianças
estão tensas e raramente evidenciam vitalidade. A sua confiança e autoestima são
baixas. Por vezes, evidenciam prazer em coisas “negativas” (e. g., magoando ou
aborrecendo outra criança, exigindo excessiva proteção). O sentimento de desconforto
pode evidenciar-se mais numa determinada esfera relacional (e. g., relação com o
adulto ou relação com outras crianças), sendo que facilmente outras áreas de ação da
criança são afetadas.
O nível 2 pode ainda atribuir-se a crianças que normalmente evidenciam um relativo
bem-estar emocional, mas que, pontualmente, expressam elevado desconforto, por
exemplo, quando se despedem dos pais ou quando um desconhecido entra na sala. Se
estes momentos de desconforto acontecem frequentemente e persistentemente,
assume-se o nível 2. Se acontecem esporadicamente, assume-se o nível 3.
3. Médio/Neutro ou flutuante – as crianças cotadas com o nível 3 parecem estar “bem
“. Ocasionalmente, evidenciam sinais de desconforto (comportamentos sintomáticos),
mas estes não são predominantes, pois frequentemente verificam-se sinais positivos
125
de bem-estar. Frequentemente, as crianças aparentam estar relaxadas, com relativa
vitalidade e autoconfiança.
O nível 3 é também atribuído a crianças que podem aparentar uma postura neutra; não
existem sinais claros indicando propriamente tristeza ou prazer, conforto ou
desconforto. As relações destas crianças com o mundo não são as ideais mas também
não são propriamente negativas e muito menos alarmantes. Muitas vezes “desligam”
do contexto e, embora haja momentos de abertura, estes são poucos intensos. Estas
crianças podem adotar atitudes assertivas e expressar os seus desejos e necessidades
de formas adequadas, embora tenham momentos significativos em que experienciam
sofrimento emocional, podendo necessitar de apoios pontuais para ultrapassar certas
dificuldades.
4. Alto – em geral, estas crianças evidenciam sinais claros de satisfação/felicidade. Os
momentos de bem-estar superam claramente os momentos de desconforto. As suas
relações com o mundo são boas. Na maior parte do tempo, as crianças parecem estar
bem, podendo manifestar, ocasionalmente, sinais de desconforto. Poderão, por
exemplo, ficar temporariamente perturbadas com a entrada de um desconhecido na
sala, mas, na generalidade, na interação com o contexto, percebe-se que existe uma
adequada satisfação das suas necessidades.
5. Muito alto – estas crianças, claramente, parecem sentir-se como “peixe na água,
confortáveis. Irradiam vitalidade e tranquilidade, autoconfiança e autoestima.
Evidenciam alegria e simpatia, sorrindo, rindo, gritando de prazer, cantarolando,
conversando com outras crianças; expressando autenticidade e espontaneidade;
segurança e abertura a novas atividades e experiências, sem sinais de tensão, com
energia e vitalidade. Notoriamente, a criança está bem consigo própria, estabelecendo
facilmente relações positivas com as outras pessoas. Tem autoconfiança suficiente
para ultrapassar situações de frustração sem se deixar abater. Uma situação de
frustração apenas atinge o seu equilíbrio de forma passageira.
126
Anexo 2 – (SAC) – Avaliação da implicação
Sistema de Acompanhamento de Crianças (SAC) – Avaliação da implicação (Portugal
& Laevers, 2010, pp.25-29)
No que respeita ao segundo indicador processual de qualidade, Laevers (1994b) define
implicação como uma qualidade da atividade humana que pode ser reconhecida pela
concentração e persistência, caracterizando-se por motivação, interesse e fascínio, abertura
aos estímulos, satisfação e um intenso fluxo de energia. É determinada pela necessidade de
exploração e pelo nível de desenvolvimento. Em resultado: o desenvolvimento acontece.
Utilizar a análise dos níveis de implicação para analisar a qualidade daquilo que se
oferece à criança aponta direções aos educadores para fazerem melhor. Trata-se de um
indicador de qualidade que ajuda o educador a tomar consciência sobre as possíveis limitações
da organização e dinâmica educativa, ainda que este procure trabalhar da melhor forma
possível, em prol do bem-estar, aprendizagem e desenvolvimento das crianças.
Indicadores de implicação
Concentração – a atenção da criança focaliza-se na atividade que realiza. Apenas
estímulos intensos parecem poder atingir e possivelmente distrair a criança. O principal ponto
de referência para o observador é o olhar da criança (este fixa-se essencialmente na atividade
ou vagueia pela sala?).
Energia – a criança investe muito esforço e entusiasmo na atividade. Esta energia é
frequentemente demonstrada pelo falar alto ou pela pressão que faz sobre o objeto que utiliza.
A energia mental pode ser inferida através das expressões faciais, as quais revelam que a
criança está concentrada no que está a fazer, mentalmente ativa.)
Complexidade e criatividade – observáveis quando a criança mobiliza as suas
capacidades para se dedicar a uma atividade mais complexa e desafiadora do que uma mera
rotina. A criança altamente implicada está a dar o seu melhor, encontra-se nos limites das suas
127
atuais capacidades. Criatividade significa que a criança introduz um toque pessoal na forma
como realiza a atividade, introduz novos elementos ou mostrando algo inesperado e novo.
Expressão facial e postura – os indicadores não verbais são de extrema importância
para apreciar o nível de implicação da criança. É possível distinguir olhos perdidos no vazio
e deambulantes, sem direção, de um olhar intenso e focalizado. A postura pode revelar alta
concentração, entusiasmo ou tédio. Pela expressão facial e postura adivinham-se sentimentos
e, mesmo de costas, é possível perceber na criança a forma como esta vive a atividade em
curso.
Persistência – quando concentradas, as crianças dirigem a sua atenção e energia para
um ponto, que é o da sua atividade. Não abandonam facilmente o que estão a fazer. A
persistência refere-se ao tempo de concentração. Procuram a sensação de satisfação que a
realização da atividade lhes traz, resistindo a estímulos distratores e atraentes que possam
surgir. O tempo de concentração depende, naturalmente, da idade e nível de desenvolvimento
da criança.
Precisão – as crianças muito implicadas mostram um cuidado especial com o seu
trabalho, sendo meticulosas e atentas aos pormenores. As crianças pouco implicadas
preocupam-se pouco com a qualidade da realização e com detalhes, preocupando-se sobretudo
em “despachar”.
Tempo de reação – as crianças que estão implicadas estão atentas e reagem com
rapidez a estímulos interessantes. Correm para a atividade e evidenciam grande motivação
para passar à ação. Também respondem com vivacidade a estímulos relevantes que ocorram
no decurso do jogo ou da tarefa.
Expressão verbal – os comentários que as crianças realizam são também indicadores
do seu grau de implicação (“é tão bom!”, “fazemos outra vez, sim?!), bem como a descrições
entusiásticas sobre o que fizeram ou o que estão a fazer, o que descobriram, o que
conseguiram.
128
Satisfação – elevada implicação associa-se, normalmente, a prazer. Se este prazer está,
muitas vezes, implicitamente presente, também é possível percebê-lo quando a criança aprecia
o seu trabalho ou realização, com satisfação, tocando e acariciando o seu resultado.
Níveis de implicação
1. Muito baixo – ausência de atividade – este nível é atribuído às crianças que
usualmente não se envolvem nas atividades (não faz nada, apenas “está ali”.
Frequentemente, estas crianças estão mentalmente ausentes; olham no vazio e a
atitude é passiva, não se verificando sinais de exploração ou de interesse. Se existe
alguma ação, esta é somente uma repetição estereotipada de movimentos muito
simples, sem que a criança pareça ter consciência da própria ação.
2. Baixo – atividade esporádica ou frequentemente interrompida – este nível
atribui-se à criança que apenas ocasionalmente realiza uma atividade (faz um
puzzle, escuta uma história ou faz um desenho), embora, a maior parte do tempo,
a criança não esteja verdadeiramente envolvida em qualquer atividade (anda de um
lado para o outro, mentalmente ausente, eventualmente perturbando outras
crianças). Também se atribui o nível 2 à criança que, costumando realizar
atividades, estas são frequentemente interrompidas. A concentração é limitada e
superficial (a criança olha em volta durante a atividade, distrai-se facilmente) e a
ação conduz a resultados muito limitados. A complexidade da atividade em curso
situa-se abaixo das capacidades da criança.
3. Médio – atividade mais ou menos continuada ou atividade sem grande
intensidade – o nível 3 atribui-se às crianças que estão usualmente envolvidas em
diversas atividades, mas raramente ou nunca se verifica “intensidade”. A criança
está ocupada numa atividade de forma mais ou menos contínua, mas falta
verdadeira concentração, motivação e prazer. É um funcionamento rotineiro, sem
grande investimento de energia. A motivação e entrega na tarefa é limitada, a
criança não se sente desafiada nem a sua imaginação é “espicaçada”.
Contrariamente aos níveis 1 e 2, a atividade não se resume a uma repetição de
129
movimentos básicos, mas envolve objetos e intenção, ainda que facilmente se
interrompa a atividade quando um estímulo atraente surge.
4. Alto – atividade com momentos intensos – o nível 4 atribui-se às crianças que
usualmente estão ativas, verificando-se frequentemente sinais claros de
implicação. A atividade é significativa para a criança, que parece funcionar nos
limites das suas capacidades. Acontecem momentos de intensa atividade mental, a
criança sente-se desafiada e a sua imaginação é estimulada. A criança envolve-se
na atividade praticamente sem interrupções, embora por breves momentos a
atenção seja mais superficial, necessitando, por vezes, de incentivo por parte do
educador ou de outras crianças para continuar a atividade.
5. Muito alto – atividade intensa e continuada - este nível destina-se a crianças
que, com muita frequência, evidenciam elevada implicação nas atividades. As
crianças escolhem facilmente a atividade e, uma vez iniciada, fica totalmente
absorvida. A criança está natural e intrinsecamente motivada, a atividade flui e
acontecem momentos de intensa atividade mental. Existe grande implicação,
expressa em elevada concentração, energia, persistência e criatividade. Outros
estímulos, mesmo que atraentes, não conseguem seduzir realmente a criança,
sendo as eventuais interrupções sempre seguidas de uma atividade intensa.
Qualquer perturbação ou interrupção é experienciada como uma rutura frustrante
da atividade em curso.
130
Anexo 3 – ECERS – Escala Linguagem-Raciocínio: Subescala 15. Livros e Imagens
Escala de Avaliação do Ambiente em Educação de Infância (adaptado de Harms, T., Clifford, R. M. & Cryer, D., 2008, p.30).
Classificação: 4 - Obs. 1 e Obs. 2
Observação 1 – Observação 2 –
Item Inadequado Mínimo Bom Excelente
1 2 3 4 5 6 7
Escala Linguagem – Raciocínio: Subescala 15. Livros e Imagens
1.1 Muitos poucos livros são
acessíveis.
1.2 O pessoal raramente lê livros
às crianças (Ex. ausência de uma
história diária, pouca leitura
individual às crianças).
3.1 Alguns livros acessíveis às
crianças (Ex. durante as
atividades livres as crianças têm
livros suficientes para evitar
conflitos).
3.2 Pelo menos uma atividade de
linguagem recetiva, iniciada pelo
adulto, realizada diariamente (Ex.
ler livros às crianças, contar
histórias, utilizar histórias
representadas em flanelógrafo.
5.1. Uma vasta seleção de livros
está acessível durante uma parte
substancial do dia.
5.2. Algum material adicional de
linguagem é usado diariamente.
5.3. Os livros estão organizados
numa área de leitura.
5.4. Livros, materiais de
linguagem e atividades adequados
às crianças do grupo.
5.5. O pessoal lê informalmente
livros às crianças (Ex. durante as
atividades livres, na hora do sono,
como extensão de uma atividade).
7.1. Livros e material de
linguagem são mudados
regularmente para manter o
interesse.
7.2. Alguns livros relacionam-se
com atividades ou temas correntes
da sala (Ex. livros sobre tema
sazonal requisitados na
biblioteca).
131
Anexo 4 – ECERS – Escala Linguagem-Raciocínio: Subescala 16. Encorajar as crianças a comunicar
Escala de Avaliação do Ambiente em Educação de Infância (adaptado de Harms, T., Clifford, R. M. & Cryer, D., 2008, p.31).
Item Inadequado Mínimo Bom Excelente
1 2 3 4 5 6 7
Escala Linguagem – Raciocínio: Subescala 16. Encorajar as crianças a comunicar
1.1. Nenhuma atividade é utilizada
pelo pessoal com as crianças para
as encorajar a comunicar (Ex. não
há conversas acerca dos desenhos,
não se conta histórias, não se
partilham ideias no tempo de
grande grupo, não se brinca com
os dedos, não se canta).
1.2. Muitos poucos materiais
acessíveis para encorajar as
crianças a comunicar.
3.1.Algumas atividades utilizadas
pelo pessoal com as crianças para
as encorajar a comunicar.
3.2. Alguns materiais acessíveis
para encorajar as crianças a
comunicar.
3.3. Atividades de comunicação
são geralmente adequadas às
crianças no grupo.
5.1. Atividades de comunicação
ocorrem tanto durante as
atividades livres como nas
atividades de grupo (Ex. uma
criança conta uma história acerca
da pintura; um pequeno grupo
discute uma ida à loja).
5.2. Materiais que encorajam as
crianças a comunicar estão
acessíveis em várias áreas de
interesse (Ex. pequenas figuras e
animais nas áreas dos blocos;
brinquedos para jogo dramático
no interior e no exterior).
7.1. O pessoal mantém um
equilíbrio entre ouvir e falar de
forma adequada à idade e
capacidades das crianças durante
as atividades de comunicação (Ex.
dar tempo para as crianças
responderem; verbalizar pela
criança com capacidades de
comunicação limitadas).
7.2. O pessoal relaciona a
comunicação falada das crianças
com linguagem escrita (Ex.
escreve o que as crianças contam
e lê-lhes o que escreveu; ajuda-as
a escreverem pequenas
mensagens para os pais).
Classificação: 6 - Obs.1 / Classificação: 7 – Obs. 2
Observação 1 – Observação 2 –
132
Anexo 5 – ECERS – Escala Linguagem-Raciocínio: Subescala 17. Uso da linguagem para desenvolver competências
de raciocínio
Escala de Avaliação do Ambiente em Educação de Infância (adaptado de Harms, T., Clifford, R. M. & Cryer, D., 2008, p.32).
Item Inadequado Mínimo Bom Excelente
1 2 3 4 5 6 7
Escala Linguagem – Raciocínio: Subescala 17. Uso da Linguagem para Desenvolver Competências de Raciocínio
1.1. O pessoal não fala com as
crianças sobre relações lógicas
(Ex. ignora as questões e a
curiosidade das crianças sobre o
porquê das coisas, não chama a
atenção para a sequência dos
acontecimentos do dia, para as
diferenças e semelhanças em
número, tamanho e forma, causa e
efeito).
1.2. Os conceitos são introduzidos
de forma inadequada (Ex.
conceitos demasiado difíceis para
a idade e capacidades das
crianças; utilização de métodos de
ensino inadequados tais como
folhas de exercícios sem
experiências concretas; o educador
dá as respostas sem ajudar as
crianças a raciocinar.
3.1. Às vezes o pessoal fala sobre
relações lógicas ou conceitos (Ex.
explica que o período para brincar
no exterior vem depois das
refeições, realça diferenças no
tamanho dos blocos que a criança
utilizou).
3.2. Alguns conceitos são
introduzidos de forma adequada
para as idades e capacidades das
crianças no grupo, usando
palavras e experiências concretas
(Ex. orientam as crianças com
questões e palavras para separar
blocos grandes e pequenos ou
para descobrir porque derrete o
gelo).
5.1. O pessoal fala sobre as
relações lógicas enquanto as
crianças brincam com materiais
que estimulam o raciocínio (Ex.
cartões com sequencias, jogos de
igual/diferente, brinquedos com
formas e tamanhos, jogos de
classificação, jogos de números e
matemática).
5.2. As crianças são encorajadas a
falar alto ou a explicar o seu
raciocínio enquanto resolvem
problemas (Ex. porque é que
separaram objetos em grupos
diferentes; em que medida duas
imagens são iguais ou diferentes).
7.1. O pessoal encoraja as
crianças a raciocinar ao longo do
dia, usando acontecimentos e
experiências reais como base para
o desenvolvimento de conceitos
(Ex. as crianças aprendem
sequências falando sobre a sua
experiência na rotina diária ou
relembrando a sequência de um
projeto de culinária).
7.2. Os conceitos são introduzidos
em resposta aos interesses ou
necessidades das crianças na
resolução de problemas (Ex. falar
com as crianças sobre como
equilibrar uma construção de
blocos; ajudar as crianças a
descobrir quantas colheres são
precisas para pôr a mesa).
Classificação: 6 - Obs.1 / Classificação: 7 – Obs. 2 Observação 1 – Observação 2 –
133
Anexo 6 – ECERS – Escala Linguagem-Raciocínio: Subescala 18. Uso informal da linguagem
Escala de Avaliação do Ambiente em Educação de Infância (adaptado de Harms, T., Clifford, R. M. & Cryer, D., 2008, p.33).
Classificação: 7 – Obs. 1 e Obs. 2 Observação 1 – Observação 2 –
Item Inadequado Mínimo Bom Excelente
1 2 3 4 5 6 7
Escala Linguagem – Raciocínio: Subescala 18. Uso Informal da Linguagem
1.1. O pessoal fala com as crianças
essencialmente para controlar o seu
comportamento e gerir as rotinas.
1.2. O pessoal raramente responde
ao que as crianças dizem.
1.3. As conversas das crianças são
desencorajadas durante a maior
parte do dia.
3.1. Algumas conversas entre o
pessoal e as crianças (Ex. fazem
perguntas de sim/não ou de
resposta curta; dão respostas curtas
às questões das crianças).
3.2. É permitido que as crianças
falem durante a maior parte do dia.
5.1. Muitas conversas entre o
pessoal e as crianças durante o
tempo de jogo livre e rotinas.
5.2. A linguagem é usada pelo
pessoal essencialmente para troca
de informação com as crianças e
para interação social.
5.3. O pessoal acrescenta
informação para expandir as ideias
apresentadas pelas crianças.
5.4. O pessoal encoraja a
comunicação entre as crianças
incluindo as crianças com
incapacidades (Ex. relembra às
crianças para se ouvirem umas às
outras; ensina todas as crianças a
utilizar gestos se uma das crianças
do grupo utiliza língua gestual).
7.1. O pessoal tem conversas
individuais com a maioria das
crianças.
7.2. São colocadas questões às
crianças para as encorajar a dar
respostas mais longas e
complexas.
134
Anexo 7 – ECERS – Escala Atividades: Subescala 19. Motricidade fina
Escala de Avaliação do Ambiente em Educação de Infância (adaptado de Harms, T., Clifford, R. M. & Cryer, D., 2008, p.34).
Classificação: 5 – Obs.1 / Classificação: 6 – Obs. 2 Observação 1 – Observação 2 –
Item Inadequado Mínimo Bom Excelente
1 2 3 4 5 6 7
Escala Atividades: Subescala 19. Motricidade Fina
1.1. Muitos poucos materiais de
motricidade fina adequados ao
desenvolvimento acessíveis para
utilização diária.
1.2. Materiais de motricidade fina
estão geralmente em mau estado
de conservação ou incompletos
(Ex. puzzles têm falta de peças,
poucos pinos para quadros de
pinos).
3.1. Algum material de
motricidade fina de cada tipo
adequado ao desenvolvimento
está acessível.
3.2. A maioria dos materiais está
em bom estado de conservação e
completo.
5.1. Muitos materiais de
motricidade fina de cada tipo
adequados ao desenvolvimento,
estão acessíveis durante uma parte
substancial do dia.
5.2. Os materiais estão bem
organizados (Ex. pinos e quadros
de pinos arrumados juntamente;
diferentes tipos de brinquedos de
construção arrumados
separadamente).
5.3. Materiais de diferentes níveis
de dificuldade acessíveis (Ex.
puzzles com as peças regulares e
irregulares para as crianças com
diferentes competências de
motricidade fina).
7.1. Rotatividade de materiais
para manter o interesse (Ex.
materiais que já não têm interesse
são retirados, materiais diferentes
são introduzidos).
7.2. Caixas e prateleiras de
arrumo acessíveis e com rótulos
para encorajar a autonomia (Ex.
imagens ou formas utilizadas
como rótulos nas caixas e
prateleiras; rótulos escritos
adicionais para as crianças mais
velhas).
1
135
Anexo 8 – ECERS – Escala Atividades: Subescala 20. Arte
Escala de Avaliação do Ambiente em Educação de Infância (adaptado de Harms, T., Clifford, R. M. & Cryer, D., 2008, p.35).
Classificação: 6 – Obs.1 / Classificação: 7 – Obs. 2 Observação 1 – Observação 2 –
Item Inadequado Mínimo Bom Excelente
1 2 3 4 5 6 7
Escala Atividades: Subescala 20. Arte
1.1. Atividades de arte raramente
disponíveis para as crianças.
1.2. Ausência de expressão
individual nas atividades de arte
(Ex. colorir folhas com desenhos;
projetos orientados pelo educador
em que é pedido às crianças para
copiar um exemplo).
3.1. Alguns materiais de arte
acessíveis pelo menos uma hora
por dia.
3.2. É permitida alguma expressão
individual com materiais de arte
(Ex. é permitido que as crianças
decorem, à sua maneira, formas
previamente recortadas; além dos
projetos orientados pelo educador
é permitido algum trabalho
individualizado).
5.1. Materiais de arte, numerosos
e variados, acessíveis durante uma
parte substancial do dia.
5.2. Muita expressão individual na
utilização de materiais de arte
(Ex. projetos que seguem um
exemplo são raramente utilizados;
o trabalho das crianças é variado e
individual).
7.1. Materiais de arte
tridimensionais incluídos pelo
menos mensalmente (Ex. barro,
plasticina, colagem com peças de
madeira, carpintaria).
7.2. Algumas atividades de arte
são relacionados com outras
experiências da sala (Ex. pintar
utilizando cores outonais quando
se aprendem as estações do ano;
as crianças são convidadas a fazer
desenhos na sequência de uma
saída).
7.3. São dadas condições às
crianças com 4 anos e mais velhas
para desenvolverem as suas
atividades de arte ao longo de
vários dias (Ex. projetos
guardados para que o trabalho
possa continuar; o trabalho em
projetos com várias etapas é
encorajado).
136
Anexo 9 – ECERS – Escala Atividades: Subescala 23. Areia/água
Escala de Avaliação do Ambiente em Educação de Infância (adaptado de Harms, T., Clifford, R. M. & Cryer, D., 2008, p.38).
Classificação: 3 – Obs.1 / Classificação: 5 – Obs. 2 Observação 1 – Observação 2 –
Item Inadequado Mínimo Bom Excelente
1 2 3 4 5 6 7
Escala Atividades: Subescala 23. Areia/água
1.1. Não há condições para
brincar com areia ou com água,
no exterior ou no interior.
1.2. Inexistência de brinquedos
para utilizar em brincadeiras com
areia ou água.
3.1. Há algumas condições para
brincar com areia ou com água
acessíveis no exterior ou no
interior.
3.2. Estão acessíveis alguns
brinquedos para utilizar em
brincadeiras com areia.
5.1. Há condições para brincar
com areia e com água (no exterior
e/ ou no interior).
5.2. Uma variedade de
brinquedos está acessível para
brincar (Ex. recipientes, colheres,
funis, conchas, pás, tachos e
panelas, formas, animais e
pessoas em miniatura e camiões).
5.3. Possibilidade para as crianças
brincarem com areia ou água pelo
menos uma hora por dia.
7.1. Há condições para brincar
com areia e com água tanto no
exterior como no interior (sempre
que o tempo permita).
7.2. Diferentes atividades feitas
com areia e água (Ex. espuma de
sabão na água, o material na mesa
de areia é mudado, ou seja, areia
substituída por arroz).
137
Anexo 10 – ECERS – Escala Atividades: Subescala 25. Natureza/ciência
Escala de Avaliação do Ambiente em Educação de Infância (adaptado de Harms, T., Clifford, R. M. & Cryer, D., 2008, p.40).
Item Inadequado Mínimo Bom Excelente
1 2 3 4 5 6 7
Escala Atividades: Subescala 25. Natureza/ciência
1.1. Inexistência de jogos,
materiais ou atividades para
natureza/ciência.
3.1. Alguns jogos, materiais ou
atividades adequados ao
desenvolvimento de duas
categorias de natureza/ciência
estão acessíveis.
3.2. Materiais acessíveis
diariamente.
3.3. As crianças são encorajadas a
trazer itens da natureza para
partilhar com os outros ou para
adicionar a coleções (Ex. no
Outono trazer folhas caídas no
recreio; trazer um animal de
estimação).
5.1. Muitos jogos, materiais e
atividades adequados ao
desenvolvimento, de três
categorias, estão acessíveis.
5.2. Os materiais estão acessíveis
durante uma parte substancial do
dia.
5.3. Materiais de natureza/ciência
estão bem organizados e em boas
condições (Ex. coleções
arrumadas em caixas separadas,
gaiolas dos animais limpas).
5.4. Acontecimentos do dia-a-dia
utilizados como base para
aprender acerca da
natureza/ciência (Ex. falar sobre o
tempo, observar insetos ou
pássaros, discutir a mudança das
estações do ano, fazer bolas de
sabão ou lanças papagaios num
dia de vento, ver a neve derreter e
congelar).
7.1. Atividades de
natureza/ciência que exigem
maior contribuição do pessoal são
proporcionadas pelo menos uma
vez em cada duas semanas (Ex.
cozinhar, experiências simples
como medir o volume de
precipitação, visitas de estudo).
7.2. Livros, imagens e/ou
materiais audiovisuais utilizados
para adicionar informação e
expandir as experiências concretas
das crianças.
Classificação: 2 – Obs.1 / Classificação: 7 – Obs. 2 Observação 1 – Observação 2 –
138
Anexo 11 – ECERS – Escala Atividades: Subescala 26. Matemática/número
Escala de Avaliação do Ambiente em Educação de Infância (adaptado de Harms, T., Clifford, R. M. & Cryer, D., 2008, p.41).
Classificação: 4 – Obs.1 / Classificação: 6 – Obs. 2 Observação 1 – Observação 2 –
Item Inadequado Mínimo Bom Excelente
1 2 3 4 5 6 7
Escala Atividades: Subescala 26. Matemática/número
1.1. Inexistência de materiais de
matemática/número acessíveis.
1.2. Matemática/número
ensinados essencialmente através
da contagem por repetição
mecânica ou folhas de exercícios.
3.1. Alguns materiais de
matemática/número adequados ao
desenvolvimento estão acessíveis.
3.2. Materiais acessíveis
diariamente.
5.1. Muito materiais adequados ao
desenvolvimento, de vários tipos,
estão acessíveis (Ex, materiais
para contar, medir e aprender
formas e tamanhos).
5.2. Os materiais estão acessíveis
durante uma parte substancial do
dia.
5.3. Os materiais estão bem
organizados e em boas condições
(Ex. arrumados por tipo, todas as
peças necessárias para os jogos
estão arrumadas juntas).
5.4. Atividades diárias usadas
para promover a aprendizagem da
matemática/número (Ex. pôr a
mesa, contar enquanto sobe
degraus, usar cronómetros para
esperar ou dar a vez).
7.1Atividades de
matemática/número que exigem
maior contribuição do pessoal são
proporcionadas pelo menos uma
vez em cada duas semanas (Ex.
fazer um gráfico para comparar a
altura das crianças, contar e
registar o número de pássaros no
comedouro).
7.2. Os materiais são alternados
para manter o interesse (Ex. ursos
para contar substituídos por
dinossauros, diferentes objetos
para pesar).
139
Anexo 12 – Texto da 1.ª Avaliação de fluência de leitura oral
140
Anexo 13 – Texto da 2.ª Avaliação da fluência de leitura oral
Apêndices
142
Apêndice 1 – Reflexão 6
Segunda-feira
Dia 24-03-2014
Notas:
Hoje foi o J. M. (4:11) a marcar as presenças, identifica todas as fotografias e os nomes
dos colegas no quadro das presenças, ajudando os mais novos a identificar a quadrícula que
lhes corresponde. Identifica os dias da semana, mas no dia fica hesitante, disse-lhe para olhar
para o calendário e ver os dias que tinham passado, então se na sexta foi 21, sábado foi 22,
domingo 23, e hoje segunda-feira é …24. Na identificação do mês e do ano alguns colegas
auxiliaram-no, o D. L. (3:5), apesar de ser o mais novo, foi das crianças que mais participou,
identificando corretamente o dia, o mês, o ano e estação em que estamos.
Notas:
Reunidos no tapete em roda, realizei o acolhimento de manhã, iniciando com as
novidades do fim-de-semana, hoje todas as crianças, com exceção do J. P. (6:5), participaram
e contaram novidades, incluindo o A. C. (3:11) que nunca participa livremente, hoje pediu a
palavra para participar. Disse: Fui com o meu pai às compras ao Pingo Doce no fim-de-
semana…Perguntei-lhe: Então o que compraram? “ Leite e morangos” - respondeu-me. Foi
difícil perceber o que ele disse, fui perguntando e tentando compreender, incentivando-o a
articular as palavras, a soletrar, para conseguirmos entender o que nos dizia. Perguntei ao J.
P. se não tinha nada que quisesse contar, o que tinha feito no fim-de-semana, se tinha ficado
em casa, ou tinha ido passear, mas limitou-se a sorrir e não disse nada.
Mestrado em Educação Pré-Escolar e Ensino do 1º
Ciclo do Ensino Básico
Prática Ensino Supervisionada em Pré-Escolar
2013/2014
Descrição, Reflexão e Projeção
Semana de 24/03 a
28/03/2014
ORIENTADORA DE PES:
PROF. DR.ª ISABEL
FIALHO
143
Situação – Visita à Quinta
As crianças exploraram a quinta, foram ver os animais, identificaram as plantas
cultivadas, estando presente o avô do J. R., a avó, o pai e o tio. Lanchámos na quinta, no
exterior, sentados em bancos e cadeiras espalhados debaixo de um sombreiro. As crianças
estavam muito curiosas e com muita vontade de explorar o espaço. O Pai fez o papel de
anfitrião com o J., foram mostrar-nos os animais: o cão, as galinhas, o porco, os pintos, as
cabrinhas e chibos e o pónei. As crianças gostaram sobretudo do pónei, das cabras e dos
chibos, puderam alimentá-los com folhas de couve que apanharam na quinta. Depois fomos
ver as plantações da quinta: as alfaces, as couves, as favas, os brócolos, os coentros, os alhos,
a salsa e a hortelã. Fui dizendo o nome das plantas, apanhando algumas para as crianças
cheirarem e sentirem as folhas e a sua textura. Vimos ainda o viveiro de plantas para colocar
na terra que o avô do João tinha semeado. Couves, tomateiros, pimenteiros…Algumas delas,
o avô do J. irá oferecer-nos para a nossa mini horta, pois ele virá como nosso convidado,
ensinar-nos e ajudar-nos a plantar na quarta-feira. Combinámos assim que as plantas iriam
ficar num vaso e cada criança teria a sua. As sementes iriam ser semeadas nos contentores de
plástico.
No regresso a D. (5:3) disse: “Hoje foi o dia mais divertido na escola”.
Imagem 1- As crianças a lancharem a sua fruta e a observarem e a tocarem no pintainho.
144
Imagem 2 - A observarem as cabras e as plantações.
Pelo comportamento das crianças e pelo seu evidente entusiasmo pude concluir que esta
visita foi importante para as crianças, e que contribuiu para a aquisição de conhecimentos
sobre as plantas e os animais, que embora algumas já conhecessem, nem todas identificavam
as plantas cultivadas ou já tinham observado os animais da quinta.
Trouxemos coentros, salsa e hortelã para a nossa sala, que observámos e cheirámos,
comparando as suas folhas e textura.
Verifico a necessidade de saídas regulares ao exterior, pois estas proporcionam
momentos e vivências que não são possíveis de ocorrer dentro da sala. A exploração do
exterior, a observação e o contato com outros ambientes são potenciadores de conhecimentos
diversos, em várias áreas de desenvolvimento da criança, alargando a sua visão sobre o
mundo. As saídas ao exterior e as visitas de estudo são oportunidades para as crianças
aprenderem, conhecerem, observarem e de respeitarem o mundo que as rodeia. São também
uma oportunidade de contatarem com novas situações e de experimentar outras vivências.
Notas:
Hoje na avaliação do dia, introduzi o diário de grupo, com três colunas para escrevermos
o que fizemos, o que correu bem, o que correu mal. As crianças participaram com interesse,
identificando o que tínhamos feito nesse dia, a visita, a árvore da Primavera, e a caixa mágica
da história em rede. O G. (5:7) disse: “fomos à quinta do J. R. e foi muito divertido.”
A M. (5:5) disse: “ o que correu mal foi ter chovido quando fomos fazer a visita”.
145
A introdução do diário vem no âmbito de cultivar nas crianças o hábito da avaliação do dia,
realçando tanto os aspetos negativos como os positivos, levando também as crianças a
identificarem o que ocorreu nesse dia, importante para a sua estruturação do tempo e da sua
vivência. A avaliação do dia, para além de pretender incentivar as crianças a apropriarem-se
do diário do grupo, proporciona um momento de comunicação e de partilha de opiniões, sendo
que também mostramos os trabalhos realizados nesse dia pelas crianças, onde promovo a
prática da autoavaliação do trabalho e a heteroavaliação, incentivando as crianças a relatar o
processo de produção, e a dar opiniões e sugestões sobre os trabalhos dos colegas.
Terça-feira
Dia 25-03-2014
Notas:
O D. (5:2) hoje no acolhimento de manhã demonstrou ainda mais dificuldade do que é
habitual em conseguir prestar atenção e em participar nas tarefas do dia. Esteve sempre muito
agitado, rebola para fora do tapete, dispara com os dedos como se tivesse uma pistola, dá aos
pés, praticamente todo o tempo em que estivemos reunidos de manhã. É uma criança cujo
comportamento me preocupa, pois está quase sempre ao longo do dia assim, agitado, nervoso,
parece estar num mundo só seu. Nos momentos de grande grupo são poucos os momentos em
que consegue estar com atenção, nas atividades só se concentra nas que são do seu agrado,
demonstra especial preferência pelas áreas do computador e da biblioteca, pela sua vontade
só escolhia estas duas áreas. Hoje no entanto ainda foi mais evidente este comportamento,
como se algo o perturbasse. Disse-lhe várias vezes para ficar quieto pois estava a incomodar
os colegas, olha-me e uns segundos depois recomeça a mesma agitação. Optei por sentá-lo
entre as minhas pernas, e ir fazendo-lhe festinhas no cabelo, verifiquei que assim fica mais
calmo. Poderia questionar-me se seria da minha presença, de não conseguir chegar até ele,
mas pela minha observação e em conversa com a educadora, esta é um comportamento que
demonstra desde o início do ano. Assim tentei uma outra estratégia, que irei adotar, tentando
chegar a um compromisso com ele, estabelecendo uma cumplicidade entre os dois, reforçando
positivamente sempre que os seus comportamentos vão ao encontro do que combinámos.
146
Quarta-feira
Dia 26-03-2014
Notas:
As crianças identificaram pela imagem do pacote das sementes as cenouras, os
rabanetes, a salsa, os coentros e a hortelã, que lhes mostrei no momento de grande grupo de
manhã, a M. (4:5) recordou: “é hoje que vem cá o avô do J. R. para irmos plantar as sementes”.
Disse que sim, por isso eu tinha trazido os pacotes das sementes.
O Sr. Gaudêncio, o avô do J. R., trouxe alguns utensílios para preparar a terra. As
crianças puderam ajudar a retirar ervas daninhas e a arranjar a terra, pedi ao avô do J. que nos
dissesse para que serviam os utensílios que haviam trazido e como se chamavam.
Imagem 3- O Sr. Gaudêncio a mostrar os utensílios
No entanto, como os contentores com a terra foram colocados encostados à parede,
dificultou o acesso de todas as crianças junto dos mesmos, causando alguma perturbação no
grupo, pois nem todas as crianças conseguiam ver e todas estavam curiosas e queriam
participar.
Já previa que tal acontecesse, mas como os contentores estavam já assim colocados e
cheios de terra quando iniciei o estágio, não era possível conseguirmos deslocá-los para outro
local ou que ficassem afastados da parede, permitindo assim o acesso das crianças, permitindo
147
que todas pudessem observar e participar com o Sr. Gaudêncio na preparação da terra e a
semear.
Imagem 4- A alisar a terra
Imagem 5- As crianças a lançarem as sementes à terra.
Notas:
O momento de higiene antes de almoço decorreu nas casas de banho junto ao refeitório.
As raparigas foram para uma e os rapazes para a outra, para ser mais rápido. Estavam já todas
as crianças a lavar as mãos e dei pela falta do D. L. (3:5). Fui ver o que estava a fazer e estava
a tentar fechar o trinco da porta da casa de banho. Disse-lhe que não podia fazer isso, pois
ficava lá trancado e depois não conseguia sair. Começou a fazer uma birra e a chorar, quando
o levei pela mão para ir lavar as mãos, que estavam cheias de terra. Chorou o tempo todo, não
queria lavar as mãos, apesar de lhe dizer que tinha as mãos muito sujas e que tinha que lavar.
148
Debateu-se e bateu-me nas mãos, pois obriguei-o a lavá-las. Questionei-me se teria tido a
melhor atitude com ele, se não deveria tê-lo deixado sentar à mesa sem almoçar até ir lavar as
mãos da sua iniciativa. Penso que esta teria sido a melhor opção, evitando assim o confronto
que surgiu. O D. é uma criança que faz muitas birras quando é contrariado, e que reage de
forma agressiva quando isso acontece, no entanto já verifiquei que muitas vezes pelo diálogo
consigo que ele entenda as situações, o que nem sempre acontece, apesar de tentar.
Quinta-feira
Dia 27-03-2014
Notas:
Fiquei a dar apoio na mesa de construção das flores e dos pássaros. A realização dos
pássaros incluía uma dobragem com folhas de papel em leque. O J. M. (4:11) demonstrou
muita dificuldade em realizar a dobragem, esteve quase sempre a solicitar a minha ajuda,
apesar de ter realizado as primeiras dobragens com ele.
No geral as crianças demonstraram autonomia e mostraram-se implicadas na atividade.
A B. C. (3:11) foi quem demonstrou uma menor implicação, especialmente na picotagem da
flor, distraindo-se com facilidade e observando as outras crianças. O D. R. (4:6) também
esteve num nível de implicação baixo nesta atividade, fica a observar o que se passa em seu
redor e diz constantemente que não consegue fazer a tarefa. Já verifiquei esta atitude em várias
atividades que realiza, incluindo nos jogos de mesa de manhã, onde só os realiza se
acompanhado por um adulto ou outra criança ao seu lado, que saiba fazê-los, especialmente
se não é um jogo que realiza habitualmente. É uma criança com baixa auto estima e que revela
insegurança.
Sexta-feira
Dia 28-03-2014
Notas:
Na hora da história, as crianças mantiveram-se atentas, ouviram a história com atenção,
e fizeram algumas perguntas no início, quando leio o título do livro. O D. R. (4:6) perguntou
149
“o que são bolotas?”, respondi-lhe que são um fruto, que existe no Alentejo, das árvores que
se chamam carvalhos, azinheiras e sobreiros.
O G. (5:7) no fim da história disse “Porque é que o Jaime é pequeno no começo do livro e
depois é velho?”
A M. (5:5) respondeu-lhe “porque passou muito tempo”.
Esta pergunta deu oportunidade para que explorássemos os acontecimentos do livro,
sem necessitar de realizar questões, pois foram as crianças que as fizeram e que responderam,
só intervim como mediadora da conversa que se estabeleceu em torno da história. Sinto que
cada vez mais as crianças demonstram maior interesse na hora da história, e que participam
cada vez mais nos momentos de pré-leitura e pós-leitura.
Situação – Reunião de avaliação da semana
A reunião de grande grupo, na avaliação da semana, originou alguma curiosidade nas
crianças, visto que para organizar o espaço é necessário mudar toda a disposição das mesas e
das cadeiras. Como foi a primeira reunião, para a qual dei um enfâse especial, as crianças
estiveram atentas, embora nem todas participassem, apesar de direcionar algumas questões
para as que raramente participam, como a I. (4:1), o J. P. (6:5), a C. (4:10), o Z. L. (4:8), e a
M. (4: 0), incentivando- as a participar e a dar a sua opinião sobre os trabalhos, os seus e os
dos colegas.
Realizei a leitura do plano da semana e do diário, as crianças enumeraram os trabalhos
que realizámos, a árvore da Primavera, as pinturas da árvore com caixas de ovos, os pássaros
e as flores com materiais diversos.
A minha intenção é que as crianças partilhem e deem a sua opinião sobre os
acontecimentos da semana, sobre os trabalhos realizados, as atividades, levando-as a refletir
sobre o que poderia estar melhor, ou a elogiar um bom trabalho de um colega, pretendo
envolver as crianças na avaliação e que desenvolvam a prática da autoavaliação e
heteroavaliação, considerando a importância que esta tem ao longo das suas vidas, sobretudo
na regulação das aprendizagens. Assim, peço para as crianças darem a sua opinião, sugestão
sobre a semana e os trabalhos. Realizamos ainda uma confrontação entre o plano da semana
150
e o que foi realizado, ou não, justificando o porquê de não se ter realizado determinada
atividade planeada.
A M. foi a criança que mais participou, recordava os acontecimentos da semana,
participou na avaliação dos trabalhos, assim como recordou as histórias que contei nesta
semana, que decidi introduzir também na avaliação, “as Histórias que ouvimos esta semana”,
levando as crianças a recordar as histórias e a dizer as que mais gostaram e porquê. Sei que
este processo da avaliação da semana, ainda está agora em fase de início, e que demorará ainda
algum tempo para que as crianças participem e avaliem tanto os seus trabalhos como os dos
colegas, no entanto é uma rotina que irei manter, assim como o preenchimento do diário de
turma, no final do dia, reunião de grande grupo, pois reconheço a sua importância na
participação das crianças em toda a envolvência do jardim-de-infância e na construção de
práticas de democracia e cidadãos interessados e participativos na sociedade.
Irei futuramente, eleger com as crianças o presidente da reunião, sendo essa criança que
irá mediar a participação e promover o debate que ocorrer.
151
Apêndice 2 – Reflexão 7
Segunda-feira
Dia 31-03-2014
Notas:
Fiquei a dar apoio, na realização dos trabalhos da Páscoa. As crianças escolheram o que
queriam realizar, entre dois coelhos diferentes e uma galinha com um cesto feito com os
pacotes de leite. O J. R. (4:2) escolheu um coelho com um cesto, também feito dos pacotes de
leite. O trabalho incluía recortar ou picotar, e depois pintar o coelho e colar os olhos, as orelhas
e um pompom no rabo do coelho. O J. R. demonstrou um nível de implicação baixo na
atividade, já verifiquei esta atitude do J. noutras atividades que realiza, inicia a atividade,
ocupa-se na mesma, mas a um nível desprendido, sem demonstrar real interesse pelo que
realiza. Distrai-se com muita facilidade com o que o rodeia à sua volta, o que acontece
sobretudo na expressão plástica, área que não é das suas preferidas.
A M. (4:5), que também esteve a realizar o coelho da Páscoa que ela escolheu,
demonstrou um nível de implicação alto na atividade, empenhada em fazer o seu coelho.
Demonstra uma grande autonomia, em quase todas as áreas, mas especialmente na expressão
plástica, identifica os materiais e a sua utilidade, recorta e cola, identifica os locais onde os
materiais estão arrumados e da sua iniciativa vai buscá-los.
Situação – Mesa de trabalho de ofertas da Páscoa
Como tinha nesta mesa 5 crianças a trabalharem comigo, e como não tínhamos decidido
na sexta-feira as ofertas que iríamos realizar, foi difícil gerir e acompanhar as crianças, pois
Mestrado em Educação Pré-Escolar e Ensino do 1º
Ciclo do Ensino Básico
Prática Ensino Supervisionada em Pré-Escolar
2013/2014
Descrição, Reflexão e Projeção
Semana de 31/03 a
04/03/2014
ORIENTADORA DE PES:
PROF. DR.ª ISABEL
FIALHO
152
ainda estive a desenhar alguns moldes e a ajudar as crianças a recortar os restos de folha eva
que estávamos a aproveitar. Entre dar apoio, ir colocando questões às crianças e desenhar
moldes, recortar as caixas, e orientar as crianças que foram fazer a pintura dos rolos de papel
higiénico para o outro coelho, houve algum tempo de espera para algumas crianças menos
autónomas, tais como o A. C. (3:10), que como só frequenta o jardim-de-infância da parte da
manhã, tentamos sempre que seja uma das primeiras crianças a iniciar os seus trabalhos (como
aconteceu hoje) e que como tal não identifica muitos dos materiais ou os seus locais de arrumo.
Depois de refletir sobre esta parte da manhã, concluo que teria sido mais proveitoso para
as crianças se tivéssemos iniciado só na parte da tarde as ofertas, o que me daria o tempo
necessário para orientar os desenhos e alguns dos materiais a utilizar, ou ter limitado o número
de crianças nesta atividade. Procuro sempre que as crianças identifiquem os materiais e os
locais onde estes se encontram na sala, peço-lhes que vão buscar os rolos de papel, os copos
da tinta, os pincéis, as colas, as tesouras, os jornais para forrarem as mesas para pintar, pois
utilizamos as mesas quando temos este tipo de materiais para pintar e não o cavalete da
pintura, que não é adequado, ou seja, todos os materiais necessários para a realização dos
trabalhos em curso. Procuro também que as crianças reconheçam os processos necessários
para a realização dos trabalhos e a sua sequencialização. Se tivesse organizado os desenhos
para as crianças recortarem teria conseguido dar apoio individualmente a cada uma delas, pois
sendo um grupo grande e como temos falta de pessoal auxiliar, pois a animadora que dá apoio
começou a entrar às 10h só há uma semana e não temos auxiliar, torna-se muitas vezes difícil
conseguir fazê-lo como gostaria.
Terça-feira
Dia 01-04-2014
Notas:
A experiência do corante e das flores que realizámos hoje foi um momento em que todas
as crianças demonstraram interesse e curiosidade. Preparei as mesas para que ficassem à sua
volta, cada uma das crianças tinha uma garrafa plástica cortada, uma caneta e um cartão para
identificarem a garrafa com o seu nome. Informei as crianças de novo da realização da
experiência que iriamos fazer, pois costumo ler a planificação do dia no momento de
acolhimento de manhã.
153
O D. L. (4:4) perguntou: “Isa o que é experiência?”, logo o G. (5:7) respondeu, “é ver”. Disse-
lhe que tinha razão experiência também é ver, é observar, mas não é só isso, a palavra
experiência nasceu da palavra experimentar, e nós vamos experimentar a misturar corante na
água e ver o que acontece com a água e com as flores.
Imagem 1 - A escrever o seu nome para identificarem a garrafa
Comecei por perguntar à B. L. (4:00) o que tinha à sua frente, que objeto era aquele. Ela
não respondeu. O João M. (4:11) disse: “é uma garrafa”. Perguntei então qual é o material de
que é feita a garrafa, o J. não respondeu, a M. (5:3) pediu para falar: “é de plástico”.
Colocámos então a água nas garrafas, e perguntei depois o que acham que está dentro
destas garrafas pequeninas à minha frente? A maioria respondeu água, menos a M. (4:5) que
respondeu “é o corante”. E estas garrafas são feitas de que material?
- De vidro. – responderam todas. E conseguimos ver o corante que está dentro da garrafa de
vidro e a água na garrafa de plástico porque elas são…esperei pelas respostas, como não houve
nenhuma, reformulei a questão: então conseguimos ver dentro das garrafas porque elas são
opacas ou transparentes? A M. respondeu “transparentes, porque conseguimos ver lá dentro”.
Então e se fossem opacas? “Não víamos nada lá dentro” – tornou a responder a M..
Perguntei então o que acham que vai acontecer quando misturarmos o corante na água, o G.
respondeu logo “ a água vai ficar com cor”.
Então o que irá acontecer à flor daqui a um ou dois dias?
- Vai ficar pequenina…”- disse o J. R. A M. e o A. A. (4:2) contrapuseram, “não vai, vai ficar
grande”. O G. disse:” vai mudar de cor, mas não sei qual cor”.
154
Refletindo sobre as respostas das crianças, seria importante ter-lhes pedido que
justificassem as respostas dadas, pois assim poderia ter percebido os esquemas concetuais das
crianças e poderia tê-las ajudado a desenvolver. No entanto, numa próxima oportunidade irei
fazê-lo.
Colocámos o corante na água e as crianças observaram o corante a misturar-se na água.
- “A água ficou com cor”- disse o J. R.
Imagem 2 - A observarem a mistura do corante na água
Explorei depois com as crianças a flor, o seu nome comum, e os seus constituintes: o
caule e as pétalas. Informei que esta flor é uma gerbera e que a flor nasce a partir de uma
planta com folhas compridas, verde escuro. As plantas têm raízes? – Perguntei. O G.
respondeu que não, e o J. R. disse que o caule era para elas beberem água, a M. respondeu que
as raízes eram para levarem a água. Explicitei que as plantas não bebem, elas absorvem a água
pelas raízes e neste caso pelo caule.
Depois cada um das crianças colocou a sua flor dentro da garrafa com água e o corante
e foram colocá-la no parapeito da janela, onde pudemos observar o que vai acontecer com as
flores.
155
Imagem 3 - As flores na água com o corante.
O A. B. (4:7) pediu: Isa, podes colocar outra vez o corante na água?
Disse que sim e aproveitando uma jarra de vidro transparente da sala, coloquei umas gotas de
corante vermelho.
O G. disse: “parece fumo… podes meter verde?” Misturei umas gotas de corante verde…
A M. disse “parece quase um arco-íris, pois porque faltam-lhe as outras cores”.
Perguntei-lhes se queriam saber porque surge o arco-íris, responderam-me todos que
sim com entusiasmo, disse então que iríamos realizar uma experiência noutro dia, onde
podiam ver o arco-íris.
Situação – Realização da Experiência
Apesar de ter sido uma atividade sugerida por mim as crianças demonstraram muito interesse
na mesma, para elas foi algo novo, com materiais diferentes, que proporcionou a oportunidade
de aprendizagens diversificadas, quer na área das ciências, neste caso Área do Conhecimento
do Mundo, como é designada nas Orientações Curriculares para a Educação Pré-Escolar, quer
nas outras áreas de conteúdo.
A próxima experiência que iremos realizar será a flutua ou afunda, impulsionando o seu
entusiasmo e o seu interesse que espero que as crianças irão experimentar assim que colocar
na sala o recipiente com água e materiais diversos, com o objetivo de explorarem e realizarem
as suas descobertas que conduzem à explicação da realidade, desviando-se de uma
interpretação dos fenómenos naturais na magia, impedindo ou desconstruindo as conceções
alternativas das crianças sobre os fenómenos que acontecem à sua volta.
156
Pretendo assim implementar na sala a área das ciências, pois, e como já venho a defender, a
construção do conhecimento das crianças e a sua interpretação do mundo, decorre das
observações e da sua interação e exploração do meio, onde a sua curiosidade natural e o
contato com novas situações, baseadas na investigação e na ciência é fundamental para a
interpretação que dele fazem.
O educador deve planificar atividades que partam do interesse das crianças, no entanto nem
sempre isso acontece, devendo o educador atuar procurando que as crianças possam viver uma
diversidade de situações que lhes suscitem a curiosidade em saber, a vontade de experimentar,
serem capaz de observar e ainda o interesse sobre o mundo, oferecendo-lhes uma diversidade
de possibilidades de aprendizagem.
A realização de experiências é uma atividade que pretendo continuar a desenvolver com o
grupo no 3.º período, visto o entusiasmo e o interesse nesta primeira experiência que
realizámos.
Quinta-feira
Dia 03-04-2014
Notas:
Nos jogos de mesa de manhã, verifico de um modo geral a evolução das crianças na
sua realização, especialmente o Afonso C. (3:10) que já consegue realizar os puzzles sozinho,
do Afonso Belbute (4:7), que embora ainda sinta alguma dificuldade nalguns dos jogos, já
realiza os puzzles, da Rafaela (4:10) que realiza construções elaboradas com o tangram.
Imagem 4 - Construções com o Tangram
157
Verifico também que no jogo dos picos, no qual as crianças se limitavam a colocar os
picos na base desordenadamente, ultimamente as crianças já constroem com sentido,
organizando as cores e os tamanhos dos picos, reproduzindo objetos ou elementos da natureza.
Imagem 5 - Construção com o jogo dos picos.
Notas:
Hoje esteve cá a nossa convidada Margarida Junça, que veio realizar uma sessão de
histórias. Reunimos as crianças de todas as salas do Jardim de Infância no polivalente, sendo
que o custo da sessão não era viável para que ocorresse para uma só sala de cada vez. As
crianças sentaram-se em meia-lua no chão e nos sofás disponíveis, pois eram muitas crianças
e tive algum receio de que a sessão não corresse bem.
Foi notório o interesse e a atenção com que as crianças ouviram e participaram na sessão,
acompanhando a Margarida sempre que ela solicitava a intervenção das crianças. Contou
várias histórias e no final as crianças estavam curiosas por verem de perto alguns dos livros e
dos materiais que ela trouxe, como os pássaros e a caixa de música.
Imagem 6 - A Margarida Junça.
158
Foi sem dúvida um momento de promoção da leitura e do interesse das crianças pelas
histórias e o contato com os mundos inimagináveis que elas proporcionam.
As crianças estavam cativadas pela forma como ela explorava as histórias, a sua voz, e
a dinâmica que deu a cada uma. Contou algumas histórias que as crianças já conheciam, mas
nem por isso a sua atenção foi menor, apesar de ser uma sessão que durou 45 minutos.
Na hora de almoço fiquei sentada com as crianças, o D. (5:2) disse-me: “ Gostei muito do
Bichinho, daquele do susto, o Cuquedo.”
O D. R. (4:6) dizia-me também “gostei muito das histórias”. Na parte de tarde, no tapete as
crianças falavam das histórias umas com as outras, cada uma do que mais tinha gostado, o
Cuquedo tinha sido a que mais os cativou.
Notas:
Hoje da parte da tarde não contei a história, pois tínhamos assistido à sessão de histórias
da parte da manhã. Fomos observar as flores e verificar o que tinha acontecido. Retirei
algumas das flores das garrafas e passei-as para as crianças observarem. Começaram a dizer
que estavam a mudar de cor, o G. (5:7) disse “as flores do corante vermelho estão a mudar a
cor para vermelhas e as do corante verde, já têm as pontas das pétalas com verde”. Nas flores
do corante amarelo é que se notava muito pouco a mudança de cor. Perguntei então o que
aconteceu com as flores, a M. (4:5) respondeu “mudaram de cor, para a cor do corante”. Li
então para o grupo, o que algumas das crianças tinham dito que aconteceria às flores, que
ficavam pequenas ou cresciam e o que realmente aconteceu.
- “Pois elas beberam a água e estão a mudar de cor…” – disse o J. R..
- “Pois mas não têm raízes e bebem água na mesma…”- afirmou o G..
Então as flores absorvem a água também pelo caule, não é? – perguntei.
- “Sim, elas absorvem pelo caule…”- respondeu a M..
159
Imagem 7 - Resultado da experiência
Sexta-feira
Dia 04-04-2014
Notas:
A participação das crianças no Peddy Paper proporcionou um momento de socialização
com os alunos do 1.º ciclo, pois as equipas eram constituídas por crianças do jardim-de-
infância e do 1.º ciclo. Como fiquei num dos postos, pude observar e interagir com as crianças,
o D. R. (4:6) estava muito entusiasmado, ao passar pelo meu posto com a sua equipa disse-
me “Isa, estou a gostar muito do Peddy Paper”.
Notas:
O J. P. (6:5) na parte da tarde escolheu ir para o computador escrever as frases que anotei
ontem sobre as conclusões da experiência para fazermos o registo. Como não é uma das áreas
que costuma escolher, verifiquei que reconhece as letras escritas no papel, mas não as
identifica a todas no teclado, sendo uma tarefa morosa que requere a presença constante do
adulto ao seu lado. Escreveu duas frases curtas, com a minha ajuda, sendo esta uma das áreas
que necessita de ser mais explorada por todas as crianças do grupo, pois habitualmente só
costumam realizar jogos e não utilizam software ou o computador para a realização de
pesquisas.
160
Situação – Área do Computador
Esta é uma das áreas que no próximo período darei mais atenção, procurando que as crianças
recorram ao computador não só para jogar mas para fazer um desenho para um postal de
aniversário, escrever textos pequenos para realização dos registos, ou outras atividades que
estejamos a desenvolver inseridas no projeto, sendo que a presença de um adulto nesta área é
essencial para que apoie as crianças e interaja com elas, promovendo o seu interesse pela
escrita e pelo desenho no computador, assim como na utilização em pesquisas relacionadas
com trabalhos que decorrem.
Brito (2010) refere que
o computador numa sala de jardim-de-infância deverá constituir-se como
um instrumento que as crianças utilizam como um meio cultural, de que se
apropriam no sentido de realizar atividades que assumem significado real e
que se inserem num contexto integrado e social de aprendizagem. Uma
utilização adequada da tecnologia é aquela que permite expandir,
enriquecer, diferenciar e implementar a globalidade dos objetivos
curriculares (p. 4).
Atualmente o computador é um objeto com o qual a criança começa a contatar desde
muito cedo, sendo portanto um meio que promove o desenvolvimento da criança, no que
respeita à sua autonomia e na construção do conhecimento, proporcionado uma visão mais
ampla do mundo, abrindo as portas à curiosidade das crianças.
Referências Bibliográficas
Brito, R.. (2010). As TIC em educação pré-escolar portuguesa: atitudes, meios e práticas de
educadores e crianças. In A. P., Osório. I Encontro @rcaComum. Braga: Instituto de
Educação da Universidade do Minho (pp.3-11)
Comentário: As reflexões revelam equilíbrio entre as dimensões descritiva, analítica e
projetiva, os diálogos são importantes e enriquecem os registos.
Isolinda, não tem que fazer reflexões diárias, mantém as notas de campo diárias e depois elege
apenas duas ou três situações que considere mais significantes.
161
Apêndice 3 – Reflexão 7
Terça-feira
Dia 22-04-2014
Notas:
Hoje foi um dia de surpresas para as crianças. Na interrupção letiva da Páscoa, de acordo
com o que já havia planeado, eu e a educadora alterámos toda a organização da sala.
Colocámos os sofás, no lugar do tapete, no canto da sala, onde afixámos os quadros das
presenças, do tempo, o calendário, o plano da semana, os quadros dos aniversários e o diário
de turma. As áreas foram todas alteradas e como já havia projetado na reflexão anterior,
criámos as áreas da escrita e das ciências, visto estas não existirem, o que levou também às
alterações em todas as outras áreas. Na área da escrita, coloquei palavras com imagens, um
jogo de associação de palavras às imagens, cadernos de linhas para cada uma das crianças,
lápis de carvão, canetas e borrachas. A área das ciências carece ainda de mais alguns materiais,
de momento coloquei uma balança, lupas, um íman, rolhas de cortiça, pregos, pedras, conchas,
um microscópio e imagens de insetos e ainda de alguns animais e plantas e os nossos bichos-
da-seda.
As crianças quando entraram na sala ficaram admiradas com as alterações, o espaço
estava muito diferente. Foram escolher os jogos e também aqui ficaram surpreendidas, pois
estes também eram novos, trocámos os jogos, colocando outros que apresentam novos
desafios e proporcionam novas aprendizagens.
A M. (4:6) disse-me: “Isa, a sala está muito gira, gosto mais…”
Mestrado em Educação Pré-Escolar e Ensino do 1º
Ciclo do Ensino Básico
Prática Ensino Supervisionada em Pré-Escolar
2013/2014
Descrição, Reflexão e Projeção
Semana de 22/04 a
24/04/2014
ORIENTADORA DE PES:
PROF. DR.ª ISABEL
FIALHO
162
Realizámos também a identificação de cada uma das áreas, com o número de crianças
em cada uma delas, que ao escolherem determinada área, colocam a sua fotografia na
identificação, proporcionando às crianças maior autonomia na transição entre as áreas, e a
noção de quantas crianças podem estar em cada uma.
Também a casinha foi alterada quer de lugar quer em organização. Ficou mais ampla, e
coloquei uma cortina de fios azuis na porta que conferiu alguma separação do espaço, mais
cor e maior sentido estético.
Imagem 1 - Entrada da Casinha
Imagem 2 - Interior da Casinha
163
O tempo da manhã revelou-se muito pouco para tantas novidades, ficámos muito tempo
no canto dos sofás, a conversar sobre as alterações da sala, a contar as novidades das férias e
a adaptarmo-nos ao espaço nas tarefas do dia.
O que havia planificado para este dia acabou por não se concretizar da mesma forma,
pois da parte da manhã, a exploração dos materiais novos da área das ciências e algumas das
novidades nas outras áreas, a identificação das áreas e como seria o seu funcionamento, foi
realizada em grande grupo e não nas respetivas áreas, pois verifiquei a necessidade de
exploração com todas as crianças, revelando-se um momento de grande interesse da parte das
crianças, o que veio na minha opinião, fomentar o seu interesse pelas novas áreas e pela
exploração dos objetos. Deste modo, a planificação que realizei para este dia não foi adequada,
sendo que os objetivos propostos eram orientados para atividades dirigidas e foi
essencialmente um dia de exploração dos espaços e dos objetos.
Quarta-feira
Dia 23-04-2014
Notas: Reunião de Grande Grupo
A reunião em grande grupo para decidir o que vamos realizar para festejar o dia da mãe
foi um momento rico, onde as crianças participaram com entusiasmo, apresentando algumas
propostas. Depois de debatermos algumas sugestões, ficou decidido entre o grupo que iriamos
convidar as mães para um pic-nic no jardim público, na zona do parque infantil se o bom
tempo se mantivesse. A M. (5:4) sugeriu a realização de um ramo de flores para colocarmos
na toalha do pic-nic, logo a M. (4:6), a C. (4:11), o J. R. (4:3), a C. (4:2) e o A. B. (4:8)
disseram que queriam fazer as flores.
A escolha das ofertas para as mães recaíram na realização de um colar, algumas
sugeriram molduras como no dia do pai, mas logo algumas disseram que não pois era igual e
já não era surpresa e as crianças que haviam dito que queriam oferecer molduras desistiram
da ideia perante os argumentos dos colegas. Assim apresentei algumas sugestões, utilizando
os materiais disponíveis na escola, mas todas optaram pelo colar, umas escolheram só com
bolas outras com peixes e bolas. Em conjunto conferimos os materiais que seriam necessários,
a pasta de moldar, as tintas de acrílico, os pincéis finos, as fitas e os fechos, que não tínhamos
e ainda vamos ter que comprar.
164
Combinámos ainda os trabalhos a realizar para o nosso placard no corredor sobre o dia
da mãe. As crianças escolheram desenhar a sua mãe, como se fosse uma moldura e fazer um
pequeno texto com as frases de cada uma sobre “O que é ser mãe?”.
Notas: Atividades nas Áreas das Ciências e da Escrita
Na parte da tarde o D. (5:3) escolheu a área da escrita. Identificou o seu caderno,
explorou os materiais, as palavras e os números e disse-me: “Olha Isa, vou escrever números,
este é o 0 não é?
É sim D., esse é o zero…-respondi-lhe.
Pois, é que aqui a galinha não tem nenhum ovo… - respondeu-me.
Esteve compenetrado na escrita dos números, copiando-os das imagens, com muita
atenção e cuidado, começou a fazer filas de números na linha do caderno, mas não fez o 0,
começou pelo algarismo um, mas já identifica o zero como um algarismo.
Imagem 3 - Na área da escrita
O D. é uma criança que nos momentos de grande grupo tem dificuldade em estar
concentrado e em ouvir, estando sempre muito agitado, no entanto quando se interessa por
uma atividade, implica-se na mesma, principalmente se estiver sozinho. Quando o vi a apagar
perguntei-lhe: “então D. o que aconteceu?”
165
“Foi o D. L. que me bateu no braço e eu fiz um risco no caderno, agora estou a apagar”. Fiquei
surpreendida com a sua preocupação, demonstra que se preocupa com a parte estética e que
quer o seu caderno limpinho. Demonstra também que procura soluções para os problemas e
neste caso em particular não se zangou com o amigo, resolveu o problema sem o culpar pelo
sucedido.
O G. (5:8) escolheu a área das ciências, explorou os materiais, o íman, experimentando
os materiais expostos e o efeito do íman sobre eles, a balança, realizando pesagens, as lupas,
observando as rochas e os bichos de seda que são ainda muito pequenos.
Imagem 4 - Na área das Ciências a observar com a lupa os bichos de seda
Situação – A dinâmica da sala de aula
As alterações que realizámos na sala tiveram o efeito pretendido, as crianças aderiram
com muito entusiamo à organização do espaço e com bastante curiosidade às novas áreas,
identificam-nas e aos respetivos espaços com facilidade, assim como a mudança de uma área
para a outra, olhando para as fotografias dos colegas afixadas em cada uma e o número
associado à quantidade. Usámos figuras geométricas para indicar a quantidade de crianças em
cada uma, associadas ao algarismo. A adoção das figuras geométricas levou a que as crianças
se interessassem pelas mesmas, assim na próxima semana iremos realizar colagens com
figuras geométricas de diversas cores e tamanhos, associando-as a objetos que nos rodeiam
diariamente.
Verifico que existe maior autonomia das crianças na sala, assim como uma maior
definição dos espaços, a disposição dos armários entre a área dos jogos e da biblioteca permite
que estas não interfiram, a área das construções está numa zona em que não se circula, não
166
sendo atravessada pelas outras crianças, a área da escrita fica junto do computador e o armário
das construções separa-a desta área, ficando assim mais isolada. A casinha com a cortina
permite que os adultos possam ver o que lá acontece mas confere-lhe maior privacidade, para
além de que está mais ampla. Os sofás, depois de arrumados noutra disposição diferente dos
momentos de grande grupo, permitem que as crianças possam ter um espaço para os fantoches
acolhedor e separam a área do quadro dos fantoches e da biblioteca. No total a sala tem 12
áreas definidas, sendo 4 delas de expressão plástica: modelagem; recorte/colagem; desenho;
pintura. Pretendo ainda, visto existir na escola uma banheira para o efeito, colocar a zona da
água para a exploração de materiais, para verter água de um recipiente para outro, fazer bolas
de sabão, encher recipientes diversos. Esta ficará na porta de entrada para o pátio, pois na sala
não tem espaço para a sua colocação, assim com a chegada do tempo quente poderá funcionar
com a porta aberta, logo na entrada, pois esta não é uma zona de circulação.
Quinta-feira
Dia 24-04-2014
Notas:
Não foi possível realizarmos a saída ao campo para observarmos os insetos como
havíamos planificado pois começou a chover. Assim ficámos na sala, iniciando os desenhos
da mãe e a modelagem dos colares.
Contudo as crianças estavam entusiasmadas com os trabalhos, principalmente com a
modelagem e o pequeno grupo (o J. R. (4:3), a B. Q. (6:5), a M. (5:4) e o G. (5:8)), que realizou
esta atividade de manhã esteve muito implicado na tarefa. Realizaram a modelagem sem
dificuldade, eu fui fazendo os furos nas bolas para depois passar a fita, conversando com elas,
perguntando quantas bolinhas já tinham feito, ajudando a organizar alguns materiais.
A B. Q. dizia: “tenho que fazer muitas bolinhas para o colar ficar bonito, já tenho 12.
Ainda vou fazer mais…”
A B. adere com muito entusiasmo nas atividades de expressão plástica, sendo uma das
suas áreas preferidas conjuntamente com a casinha das bonecas e a dança.
167
Notas:
Sendo véspera do dia 25 de Abril, e tendo já conversado com as crianças no momento
do plano da semana sobre o que se comemora neste dia, decidi contar uma história relacionada
com esta temática: “A Fábula dos Feijões Cinzentos” da autoria de José Vaz. Perguntei ao
grupo se sabiam o que é uma fábula, responderam-me que não, então conversámos sobre as
fábulas, porque se chamam assim e a diferença entre as histórias.
Apresentei a história em power point, projetando para o quadro cinzento da sala. No
início as crianças estavam atentas fazendo perguntas, mas a história era um pouco extensa e
começou a haver alguma agitação das crianças, principalmente o A. A. (4:3), a B. C. (4:0) e o
D. L. (4:5) que cochichavam entre eles, mas que distraiam os colegas. Ultimamente verifico
que o A. A. está quase sempre distraído, principalmente se ficar ao lado da sua amiga
preferida, a B. C. Gostam muito de estar juntos, mas a B. C. está sempre no seu mundo,
participa muito pouco na vida do grupo, e o A. A. acompanha-a.
A M. (4:6) e a M. (5:4) estiveram muito atentas á fábula, no final colocaram perguntas
que proporcionaram um pequeno debate entre o grupo dos valores inerentes à mesma, que
ajudou a esclarecer algumas das ações dos feijões.
168
Apêndice 4 – Reflexão 3
Reflexão n.º3
Esta foi a minha terceira semana de intervenção. A minha reflexão incidirá com maior
destaque sobre o início da atividade “Ler, Aprender e Apresentar” e “Escrever, Ler e
Apresentar”, (ver planificação em apêndice) que decidimos (alunos, eu e a professora
cooperante) dar continuidade, pois esta já havia sido posto em prática no ano letivo anterior
pela professora cooperante.
Na segunda-feira realizámos a avaliação de leitura oral, o A. R. na segunda leitura do
texto, após o feedback, subiu o tom de voz e leu mais pausadamente, já com entoação e a
respeitar a pontuação. A M. também conseguiu melhorar, assim como a M.I.S., o V., e o J. V.
Mas o feedback parece não ter sido de grande auxílio para o R., o H., a S., o T., o A. F. e o
T.F.. A M. fez um esforço para ler mais alto. A realização desta avaliação aos aspetos da
velocidade, da correção e da prosódia, permitiram-me aperceber que o uso de feedback oral
tem que ser uma constante, para que tenha uma função de regulação das aprendizagens. Os
alunos que apresentam mais dificuldades continuam a tê-las, apesar do feedback fornecido.
Assim, verifico a necessidade de desenvolver diversas atividades que promovam a leitura oral,
irei doravante, organizar momentos de leitura a pares de diferentes tipos de texto para além
da atividade “Ler, Aprender e Apresentar” e “Escrever, Ler e Apresentar”, assim como a
leitura de textos escritos pelos alunos em sala de aula noutras atividades. A todos os momentos
de leitura dos alunos irei fornecer feedback oral, pretendendo que este promova o
desenvolvimento de competências na leitura oral. No entanto, considero que ajudou os alunos
com menos dificuldades nesta área, mas que podem ainda melhorar, com o feedback
Mestrado em Educação Pré-Escolar e Ensino do 1º
Ciclo do Ensino Básico
Prática Ensino Supervisionada em 1º Ciclo
2014/2015
Reflexão Semanal
Semana de 13/10 a
17/10/2014
ORIENTADORA DE PES:
PROF. DR.ª CONCEIÇÃO
LEAL DA COSTA
169
sistemático e contínuo e com a apropriação dos critérios de avaliação para a leitura oral. Ou
seja, penso que os alunos ao perceberem o que é esperado que seja o seu desempenho,
procurem regular a sua leitura ao encontro dos objetivos.
Considero também importante referir a conversa estabelecida com as crianças na
negociação na forma de chegarmos a consenso sobre os responsáveis pelas tarefas diárias.
Realço ainda a apresentação do A.M. de fotografias, um livro e rochas magmáticas do
arquipélago dos Açores, do qual é natural, concretamente da ilha Terceira.
Em relação à continuidade da atividade mencionada no 1.º parágrafo, considero
pertinente continuá-la pela importância manifesta que desempenha na promoção da leitura e
da escrita nos alunos, assim como no desenvolvimento de competências leitoras e de produção
escrita de textos, esta última que a turma de modo geral (com exceção da J., da R. e da I.)
manifesta algumas dificuldades. Assim, procurando desenvolver esta competência nas
crianças tenho proposto a escrita de diferentes tipos de texto (poesia, narrativo, prosa…), que
realizamos semanalmente, individualmente ou a pares, assim como um dos trabalhos de casa
propostos para o fim-de-semana, consiste na produção escrita de texto, livre ou partindo de
um tema. Esta é também uma forma de promover a escrita de texto, assim como de partilhar
aprendizagens com os colegas e de aprender com as críticas e as sugestões dadas e de
incentivar à produção livre.
Como tal decidimos dedicar o tempo do Apoio ao Estudo para a atividade, tempo este,
que até agora estava a dedicar para desenvolver conteúdos programáticos de português e de
estudo do meio, para o qual, o tempo semanal estabelecido no horário é só de 3h 30m
semanais, o que se revela claramente insuficiente. Assim a 1h30m semanais para o Apoio ao
Estudo será dedicada às apresentações das crianças dos livros lidos e dos textos produzidos
individualmente, deste modo, a atividade incidirá sobre duas componentes, a leitura de obras
literárias à escolha dos alunos disponíveis na sala de aula para o efeito e na
leitura/apresentação dos textos escritos da autoria dos alunos.
É importante referir que os livros disponíveis na sala foram trazidos por alguns alunos,
outros que fomos buscar à estante com livros que a escola possui e ainda alguns que requisitei
na Biblioteca Pública de Évora, procurando também que estivessem presentes obras
recomendadas pelo Ministério da Educação no PNL, (Plano Nacional de Leitura) para o 3º
ano de escolaridade, pois sei que a leitura de obras integrais não deverá ser substituída pelos
170
“excertos” dos manuais, que se apresentam redutoras das potencialidades que uma obra
apresenta.
Pois não é igual lermos um excerto de um livro, do que termos na nossa mão o livro na
íntegra. O professor deverá ter uma atitude reflexiva e crítica sobre os mesmos e optar por
textos literários da sua escolha, tendo no entanto o cuidado de adequá-los à turma que tem
perante si, fazendo escolhas adequadas e com sentido e não se ficar pelas listas de autores e
obras disponibilizadas pelo PNL (Balça, A., 2013).
Imagem 1- Placard de inscrição do projeto.
Neste sentido, todos os dias serão dedicados 15m após a hora de almoço (tempo da hora
da história), logo que entramos na sala para leitura autónoma, onde cada criança lê o livro que
escolheu. Depois de terminar a sua leitura deve preparar-se para apresentar o livro, caso o
livro tenha mais do que uma história seleciona uma para recontar à turma. Para tal, devem
inscrever-se no placard criado para o efeito, afixado na sala de aula.
Neste seguimento foram apresentados dois livros: “A menina dos cabelos de oiro” da
autora Luísa Ducla Soares com ilustrações de Fátima Afonso e “Seis histórias às avessas” da
mesma autora foi apresentada a história “A Sereia”. Houve ainda uma apresentação de um
texto escrito pelo T. F. “O Outono”.
A J. começou por mostrar a capa do livro, referir a autora e a ilustradora, recontou a
história por palavras suas, e no final mostrou as respetivas imagens. No final os colegas
171
apreciaram a sua apresentação e colocaram questões sobre a história. Surgiram comentários
como o da I.:
- “Não percebi muito bem o que aconteceu, porque é que a menina ficou sem cabelo?”
O A. R. disse: “Gostei da tua apresentação e de teres mostrado as imagens, fiquei com vontade
de ler essa história”.
A R. perguntou “Mas porque é a menina no final fugiu?”
A J. respondeu às perguntas colocadas pelos colegas, esclarecendo os colegas, o T. que
percebeu muito bem o sentido da história disse: “As pessoas só viam a menina com interesse
pelo dinheiro, não quiseram saber dos seus sentimentos”.
No final das intervenções, a J. disse: “Agora vejo que deveria ter preparado melhor a
apresentação, faltou dizer alguns acontecimentos importantes, na próxima vou-me preparar
melhor”.
A J. é uma aluna que lê muito e redige textos muito criativos, que não demonstra
dificuldades em nenhuma das áreas disciplinares, sobressaindo principalmente na leitura e na
escrita de textos, que faz com regularidade. No entanto, tem uma personalidade forte, onde a
opinião dela tem que prevalecer, com dificuldade em aceitar criticas ou sugestões, quer sejam
das professoras, quer dos colegas. Ela muitas vezes responde pelos colegas, intervindo em
qualquer momento, com dificuldade em respeitar as regras da sala. Esta foi uma oportunidade,
na qual, ao expor-se perante os colegas, foi alvo de críticas mas aceitou-as de forma positiva
e admitiu que poderia melhorar.
No final dei-lhe os parabéns pela apresentação realizada, que foi importante referir a
autora e a ilustradora, o título e mostrar a capa e a contracapa, assim como as imagens da
história, que recontou o essencial, mas que realmente deveria ter lido a história mais vezes,
assim poderia ter feito uma apresentação mais rica e esclarecedora.
O M.M. apresentou a história “A Sereia”, começou, como a J., pela apresentação da
capa, do autor e ilustrador. No final surgiram logo crianças a quererem dar a sua opinião. O
texto escrito pelo T. F. também foi alvo de interesse e de comentários dos colegas, o J. disse:
“Gostei muito do texto, mas foste buscar ideias ao texto do livro de português?”
O H. disse: “Leste muito a gaguejar, houve coisas que não percebi”.
172
A I, perguntou: “Não percebi quem era o Afonso! Não explicas bem essa parte da
história!” e o A. R. disse: “Gostei do texto mas devias ter treinado a leitura do texto mais
vezes”.
No final de todos terem feito os seus comentários disse-lhe: “Podes melhorar o teu texto,
descreveres as personagens e dizeres onde se passava a ação da história. Concordo com os
teus colegas sobre a leitura que fizeste, devias ter treinado mais, no entanto estás de parabéns
pelo esforço que fizeste em escrever o texto, pois sabemos as dificuldades que tens nas
produções escritas, assim como na leitura. Deves continuar a esforçar-te e a trabalhar, pois só
assim conseguimos melhorar.”
Este foi um momento enriquecedor, as crianças demonstraram uma capacidade crítica e
autocrítica, conseguindo transmitir críticas construtivas e que permitiram aos colegas perceber
o que podem melhorar nas futuras apresentações, promovendo a heteroavaliação entre pares
e a autoavaliação, fornecendo posteriormente os professores feedback oral que ajuda as
crianças a regular as suas aprendizagens, e sem dúvida promovendo a formação de leitores
competentes. Sendo as competências da oralidade e a capacidade de síntese da história lida,
os objetivos predominantes, também as competências de auto e hétero-crítica, e de análise são
desenvolvidas. Neste sentido, com a continuidade da atividade as crianças irão adquirir uma
maior capacidade reflexiva sobre si próprios, sobre os seus erros e as suas dúvidas, aprendendo
também com os erros e o sucesso dos colegas, conduzindo ao seu crescimento pessoal e social,
desenvolvendo assim a autoavaliação e a heteroavaliação na regulação das aprendizagens.
Na quarta-feira, na aula de estudo do meio, o M. M. e a I. trouxeram imagens do brasão
e da bandeira da cidade de Évora e da freguesia da Malagueira que pesquisaram, (trabalho
autónomo) para mostrarem na aula. Como já tínhamos as imagens do A. M. das ilhas do
arquipélago dos Açores, e as rochas para observar, e ainda alguns exercícios do livro de fichas
acabámos por prolongar o tempo previsto para o estudo do meio, mas considerei importante
valorizar a iniciativa, o interesse e a motivação dos alunos.
De fato foi um momento de aprendizagem para toda a turma, e para mim que
desconhecia algumas tradições, como a técnica de cozer os alimentos nas furnas, que foi
proporcionada pelo A. M. com a partilha dos seus conhecimentos sobre as ilhas dos Açores e
algumas das suas caraterísticas, assim como as rochas que fazem parte da constituição do
próprio arquipélago.
173
Foram sem dúvida, momentos de aprendizagem em comunidade, que segundo Watkins,
nos quais aprendemos em conjunto, partilhando e refletindo sobre as mesmas, e adquirindo as
aprendizagens de cada membro da comunidade. (Watkins, 2005)
Por último irei referir a gestão das tarefas diárias, a distribuição e recolha dos manuais
escolares, apagar o quadro da sala e a distribuição de alguns materiais necessários, que até
agora estavam a ser realizados pelos alunos que se voluntariavam, mas acontece que algumas
crianças queriam ser sempre elas a realizarem as tarefas, não deixando por vezes que outros
colegas as realizassem, surgindo reclamações. Como esta não era a uma opção justa, decidi
conversar com as crianças para encontrarmos uma solução. Surgiram algumas hipóteses,
como votarem e aqueles que tivessem mais votos seriam os responsáveis pelas tarefas, outras
sugeriram sortear, mas a sugestão consensual foi a realização de uma tabela de registo,
seguindo a ordem alfabética com os nomes dos alunos, e cada dia serão duas crianças as
responsáveis.
No entanto, algumas não concordaram, (R., J., G., e J.) pois afirmavam que assim elas
seriam poucas vezes. Apesar de os colegas lhes explicitarem que não seria assim, que todos
tinham as mesmas oportunidades, recusaram-se a participar. Contudo, como a maioria
concordou esta foi a estratégia que foi implementada. Este momento proporcionou, para além
de dar poder de decisão às crianças sobre a gestão na sala de aula, a oportunidade de
experienciarmos a vivência em democracia, na qual todos foram ouvidos, mas onde temos que
aprender a aceitar as decisões da maioria e ainda vivermos com as consequências das nossas
opções.