UNIVERSIDADE DE LISBOA...Em Portugal, a RNCCI foi criada através do decreto -lei n.º101/2006, de 6...

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UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE MEDICINA DA UNIVERSIDADE DE LISBOA Cuidados à boca ao doente em fase paliativa: envolvimento dos enfermeiros João André Rebelo Gomes Orientador: Professor Doutor Paulo Reis Pina Dissertação especialmente elaborada para obtenção do grau de Mestre em Cuidados Paliativos 2017

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  • UNIVERSIDADE DE LISBOA

    FACULDADE DE MEDICINA DA UNIVERSIDADE DE LISBOA

    Cuidados à boca ao doente em fase paliativa: envolvimento dos enfermeiros

    João André Rebelo Gomes

    Orientador: Professor Doutor Paulo Reis Pina

    Dissertação especialmente elaborada para obtenção do

    grau de Mestre em Cuidados Paliativos

    2017

  • UNIVERSIDADE DE LISBOA

    FACULDADE DE MEDICINA DA UNIVERSIDADE DE LISBOA

    Cuidados à boca ao doente em fase paliativa: envolvimento dos enfermeiros

    João André Rebelo Gomes

    Orientador: Professor Doutor Paulo Reis Pina

    Dissertação especialmente elaborada para obtenção do

    grau de Mestre em Cuidados Paliativos

    2017

  • “ A impressão desta dissertação foi aprovada pelo Conselho

    Científico da Faculdade de Medicina de Lisboa em reunião

    de 24 de Outubro de 2017”

  • “Todo o trabalho da equipa profissional é permitir que o moribundo viva até morrer, com o seu máximo potencial e que possa ter um desempenho até ao limite de sua capacidade física e mental com controlo e independência, sempre que possível”.

    Cicely Saunders

  • AGRADECIMENTOS

    A realização deste trabalho não teria sido possível sem a colaboração imprescindível de

    algumas pessoas, a quem quero agradecer.

    Ao meu Orientador, Professor Doutor Paulo Pina, pela orientação, apoio, dedicação, sapiência

    e disponibilidade dispensada em todo o percurso deste processo de investigação.

    Aos meus pais, irmã, avós, namorada e à Carolina por todo o apoio e incentivo, por não me

    deixarem desistir e por serem o meu porto de abrigo.

    A todos os outros que de alguma forma contribuíram, colaborando quase que anonimamente,

    para que este trabalho fosse uma realidade, pelas opiniões ou pela presença, todos merecem um

    agradecimento.

    E, por último, mas com elevada consideração e agradecimento, aos enfermeiros que aceitaram

    fazer parte deste estudo, o que me deixou com uma maior certeza de que o caminho é este e que

    só com a manifestação da evidência podemos continuar a trilhar um caminho que queremos de

    mudança.

    Obrigado.

  • RESUMO

    Enquadramento: Os cuidados à boca no doente paliativo é uma intervenção dos enfermeiros,

    fundamental na promoção da qualidade de vida e da dignidade humana.

    Objetivos: Compreender a importância e o conhecimento atribuídos pelos enfermeiros em

    relação aos cuidados à boca no doente paliativo; identificar a existência de protocolos em

    relação aos cuidados à boca no doente paliativo; conhecer a opinião dos enfermeiros e dos

    cuidadores face aos cuidados à boca no doente paliativo.

    Métodos: Estudo qualitativo, com recurso a uma entrevista semiestruturada, cujos resultados

    foram analisados de forma descritiva, seguindo-se a análise de conteúdo. A amostra é

    constituída por 14 enfermeiros que exercem no internamento do Instituto Português de

    Oncologia de Lisboa, mais concretamente no Serviço Oncologia Médica e no serviço de apoio

    ao domicílio do Instituto Português de Oncologia de Lisboa.

    Resultados: Os enfermeiros entrevistados consideram que os cuidados à boca dos doentes

    paliativos são uma prioridade, devendo ser parte integrante do planeamento dos cuidados, de

    modo a proporcionar-se-lhes bem-estar e conforto. A invisibilidade que existe dos cuidados à

    boca nos registos de enfermagem deve-se particularmente à disparidade do rácio

    enfermeiro/doente, uma constatação sugestiva de que a elevada carga de trabalho condiciona

    quer os cuidados à boca, quer todos os cuidados que podem ser complexos, à pessoa em

    cuidados paliativos. Quase todos enfermeiros são unânimes em relação aos cuidados à boca

    estarem devidamente protocolados, como forma de garantir cuidados mais unificados, num

    contexto de uma prática profissional mais rigorosa. Os enfermeiros consideram que deveria

    constar no protocolo o tempo, a frequência mínima, a gravidade, o grau da lesão e a técnica a

    utilizar. Reforçaram a importância da criação de um protocolo, como garantia de cuidados à

    boca de excelência capazes de promover o conforto a todos os doentes em fase paliativa.

    Conclusão: O tema em questão deve assumir um papel de relevo ao nível de futuras

    investigações, as quais poderão ser complementares aos resultados alcançados, possibilitando

    aumentar conhecimentos e melhorar a prática dos cuidados à boca em cuidados paliativos,

    resultando em diretrizes que suportem a identificação e monitorização das alterações e

    realização de registos.

    Palavras-chave: Cuidados à boca; Cuidados Paliativos; Protocolo; Enfermagem.

  • ABSTRACT

    Background: The mouth care in palliative patients is a fundamental nursing intervention to

    promote the quality of life and human dignity.

    Objectives: To understand the importance and the knowledge assigned by nurses to mouth care

    in palliative patient; To identify the existence of standard operating procedures regarding mouth

    care in palliative patient; To know the nurses and caregivers’ opinion regarding mouth care in

    palliative patient.

    Methods: Qualitative study, using a semi-structured interview, whose results were analyzed in

    a descriptive way, followed by content analysis. The sample is made up of 10 nurses who work

    at Instituto Português de Oncologia de Lisboa, more specifically in the Medical Oncology Ward

    and in the Community.

    Results: Interviewed nurses consider mouth care in palliative patients a priority and that it

    should be an integral part of the care planning in order to provide them wellbeing and comfort.

    The invisibility of oral care in nursing records is particularly due to the disparity in the ratio

    nurses/patient, which suggests that the high workload conditions both the mouth care and all

    the care that can be delivered to the palliative care patient. Almost all nurses are unanimous in

    regard to mouth care being a standardized operating procedure, to guarantee more unified care,

    in the context of a more rigorous professional practice. The nurses consider that the standard

    operating procedure should include time, minimum frequency, severity, degree of mouth lesion

    and technique to be used. They reinforced the importance of creating a standard operating

    procedure, as a guarantee of excellent mouth care capable of promoting comfort to all palliative

    patients.

    Conclusion: This subject should play a major role in future researches, which may be

    complementary to the results achieved, allowing to increase knowledge and improve the

    practice of mouth care in palliative patients, resulting in guidelines that support the

    identification and monitoring of changes and its recording.

    Keywords: Mouth care; Palliative care; Standard Operating Procedure; Nursing.

  • ÍNDICE

    INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 10

    PARTE I – FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA .............................................................. 12

    1. CUIDADOS PALIATIVOS ....................................................................................... 12

    2. CUIDADOS À BOCA NO DOENTE PALIATIVO ................................................. 18

    PARTE II – ESTUDO EMPÍRICO ................................................................................ 22

    1. MÉTODOS ................................................................................................................. 22

    1.1. Desenho de investigação ..................................................................................... 22

    1.2. Problemática ........................................................................................................ 22

    1.3. Questões e objetivos do estudo ............................................................................ 23

    1.4. Tipo de estudo ..................................................................................................... 24

    1.5. População e amostra ............................................................................................ 24

    1.6. Instrumentos de colheita de dados ....................................................................... 25

    1.7. Análise dos dados ................................................................................................ 25

    1.8. Procedimentos formais e éticos ........................................................................... 25

    2. APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS ................................................................. 27

    3. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS .......................................................................... 35

    CONCLUSÃO ................................................................................................................ 41

    REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................... 42

    APÊNDICES .................................................................................................................. 46

    Apêndice 1 - Guião da entrevista

    Apêndice 2 - Consentimento informado aos participantes

    Apêndice 3 - Pedido à direção de enfermagem e às Comissões de Ética do IPO para a realização

    deste estudo

  • Índice de Tabelas

    Tabela 1 - Caraterização pessoal dos entrevistados.................................................................. 27

    Tabela 2 – Tempo despendido para os CAB aos doentes em fase paliativa ............................ 28

    Tabela 3 – Tipo de atenção prestada aos CAB aos doentes em fase paliativa ......................... 29

    Tabela 4 – Alterações mais frequentes encontradas na boca dos doentes em fase paliativa .... 30

    Tabela 5 – Intervenções mediante as alterações encontradas na boca dos doentes em fase

    paliativa .................................................................................................................................... 31

    Tabela 6 – Motivo para a boca dos doentes nem sempre estar visível nos registos de

    enfermagem .............................................................................................................................. 32

    Tabela 7 – Opinião sobre os CAB serem protocolados ............................................................ 33

    Tabela 8 – Elementos a considerar no protocolo ...................................................................... 34

  • LISTA DE SIGLAS

    CAB - Cuidados à boca

    CP - Cuidados paliativos

    DGS - Direção Geral de Saúde

    OMS - Organização Mundial de Saúde

    PNCP - Programa Nacional de Cuidados Paliativos

    QDV - Qualidade de vida

    RNCCI - Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados

    UCP - Unidades de Cuidados Paliativos

  • 10

    INTRODUÇÃO

    No doente paliativo, os cuidados à boca (CAB) constituem uma intervenção dos

    enfermeiros, fundamental na promoção da qualidade de vida (QDV) e da dignidade humana.

    Este cuidado de enfermagem assume uma importante repercussão junto dos doentes e

    familiares. Os indivíduos, quer pelas características das doenças debilitantes e terminais, quer

    pelo efeito de tratamentos realizados, muitas vezes apresentam alterações bastante

    condicionantes da sua QDV (Wilkin, 2002). Os CAB exigem dos enfermeiros várias

    competências que abarcam: a avaliação do estado da boca, o reconhecimento precoce de

    alterações, o planeamento das intervenções, uma cuidadosa higiene, a avaliação das

    intervenções e a elaboração de registos de enfermagem dirigidos. Estes devem conter

    referências às alterações encontradas, ao impacto nessas pessoas, à especificação dos cuidados

    prestados e à evolução das alterações encontradas (Costello & Coyne, 2008).

    Desta feita, os CAB no doente paliativo assumem um papel relevante para a enfermagem

    hospitalar, pois, além de serem alvo de registo diário (independentemente da instituição) são

    também uma prática fundamental; porém, são uma enorme fonte de dúvidas e preocupação por

    parte dos familiares dos doentes internados. A enfermagem hospitalar é privilegiada no contacto

    com a família e com o doente internado, tendo os seus profissionais a possibilidade de “atender

    a pormenores” que podem fazer a diferença na vida das pessoas.

    É sabido que atualmente se morre mais no hospital, o que não significa que se morra

    melhor e com um atendimento personalizado e dignificante que esta fase da vida carece. Neste

    sentido, os CAB no doente paliativo devem ser levados muito a sério; donde, a extrema

    relevância de existirem mais estudos para que se possa promover um conforto ainda maior.

    Tendo por base tudo o que foi referido, devem sensibilizar-se todos os profissionais de

    saúde para a importância de efetuar bons CAB, sendo imperioso, cada vez mais, formalizar e

    protocolar estudos que ajudem na sua execução. Devem igualmente desenvolver-se as

    capacidades referentes à execução dos CAB e sensibilizar para a sua importância, assim como

    promover um maior conforto para o doente paliativo.

    Neste sentido, realizou-se o presente trabalho, o qual seguiu um método qualitativo,

    procurando dar-se resposta às seguintes questões de investigação:

  • 11

    (i) Qual o conhecimento dos enfermeiros em relação aos CAB?

    (ii) Que tipos de CAB são realizados e como os priorizam?

    (iii) Há protocolos de atuação nos serviços onde trabalham em relação aos CAB?

    (iv) Existe um esforço dos serviços em ter protocolos de atuação normalizada sobre

    os CAB no doente paliativo?

  • 12

    PARTE I – FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

    1. CUIDADOS PALIATIVOS

    Em 2002, surgiu o conceito de Cuidados Paliativos (CP) num documento emitido pela

    Organização Mundial de Saúde (OMS), que os definiu como

    uma abordagem que visa melhorar a QDV dos doentes, e suas famílias, que enfrentam problemas

    decorrentes de uma doença incurável e/ou grave e com prognóstico limitado, através da

    prevenção e alívio do sofrimento e com recurso à identificação precoce e tratamento rigoroso

    dos problemas não só físicos, como a dor, mas também dos psicossociais e espirituais (OMS,

    2002).

    O Plano Nacional de Saúde 2004-2010 identifica os CP como uma área prioritária de

    intervenção, reconhecendo-os como um elemento essencial dos cuidados de saúde que

    requerem apoio qualificado. Representam uma necessidade em termos de saúde pública, e um

    imperativo ético que promove os direitos fundamentais e são uma obrigação social. O Programa

    Nacional de Cuidados Paliativos (PNCP) inclui os CP na Rede Nacional de Cuidados

    Continuados Integrados (RNCCI).

    Em Portugal, a RNCCI foi criada através do decreto-lei n.º101/2006, de 6 de junho, cujo

    artigo 5º, p. 3858, define os cuidados continuados integrados como incluídos

    no Serviço Nacional de Saúde e no sistema de segurança social, assentando nos paradigmas da

    recuperação global e da manutenção, e entendidos como processo activo e contínuo. Ademais os

    CP compreendem a provisão e manutenção de conforto e QDV, mesmo em situações

    irrecuperáveis.

    O decreto-lei n.º101/2006, de 6 de Junho no artigo 19.º, n.º1, p. 3861, define a unidade

    de CP como

    …uma unidade de internamento, com espaço físico próprio, preferencialmente localizada num

    hospital, para acompanhamento, tratamento e supervisão clínica a doentes em situação clínica

    complexa e de sofrimento decorrentes de doença severa e/ou avançada, incurável e progressiva,

    nos termos do consignado no PNCP do Plano Nacional de Saúde.

    Para Santana et al. (2009, p. 78), as unidades de CP fornecem também os cuidados

    necessários à reabilitação dos doentes, para que possam conviver com suas limitações,

    providos por uma equipe interdisciplinar bem capacitada.

  • 13

    A Direção Geral de Saúde (DGS), no Manual de Acreditação de Unidades de Saúde

    (2011, p.47), refere que

    o cidadão é o centro do Sistema Nacional de Saúde. Por isso, as suas necessidades, os seus

    pedidos, as suas expectativas e a sua satisfação convertem-se em objetivos primordiais. A

    qualidade percebida pelo utente depende da satisfação das suas necessidades e expectativas.

    A Associação Portuguesa de Cuidados Paliativos preconiza que os CP constituem

    uma resposta ativa aos problemas decorrentes da doença prolongada, incurável e progressiva,

    tentam prevenir o sofrimento e proporcionar a máxima QDV possível a estes doentes e suas

    famílias. São cuidados de saúde rigorosos que combinam ciência e humanismo.

    Como diz Antunes (2016) no prefácio da obra Manual de Cuidados Paliativos,

    É no tocar de um corpo arruinado que se experimenta uma particular emoção física, um

    sentimento brutal que ultrapassa muito a piedade ou o afecto: é, na palavra do escritor, a ternura

    egoísta do homem para com o homem. Os antropólogos demonstraram que não há criatura neste

    mundo que exija mais amor e nenhuma outra está menos apta a sobreviver sem ele. Mesmo

    quando a sobrevivência já não é possível, é nosso dever nunca o esquecermos.

    Quem trabalha em CP tem de estar disponível não só para cuidados técnicos mas, para

    conjugar o estado da arte com as verdadeiras necessidades dos doentes. Muitas vezes vê-se a

    dificuldade daqueles que não têm formação em CP aceitarem que, em algumas situações, o

    melhor a fazer é confortar, evitando a futilidade diagnóstica e terapêutica.

    Em relação aos CP, o Serviço Nacional de Saúde no seu portal, diz-nos o seguinte:

    São cuidados prestados a doentes em situação de intenso sofrimento decorrente de doença

    incurável em fase avançada e rapidamente progressiva. O objectivo consiste em promover, tanto

    quanto possível e até ao fim, o bem-estar e a QDV destes doentes.

    A proposta de revisão do PNCP 2008-2016, da Direção Geral da Saúde (2007, p. 5),

    acrescenta que os CP

    são cuidados activos, coordenados e globais, que incluem o apoio à família, prestados por

    equipas e unidades específicas, em internamento ou no domicílio, segundo níveis de

    diferenciação.

    Parece, assim, importante que os CP sejam vistos como um recurso a ser implementado

    atempadamente. Este recurso deve ser reconhecido por aqueles que se encontram no terreno,

    sobretudo aqueles que primeiramente se apercebem do declínio do doente. Para Lynn e

    Admson, referenciados por Isselt, Spruit, Groenewegen-Sipkema, Chavannes e Achterberg,

    (2013, p. 142), os CP devem começar no início da trajetória da doença (quando os doentes se

  • 14

    tornam sintomáticos) e deve ser combinada com tratamento ativo e cuidados para prolongar a

    vida.

    Quando uns dizem que já não há nada a fazer, aqueles que trabalham em CP têm de

    pensar que ainda há muito a fazer. Como refere Saunders (2013), faremos tudo o que pudermos,

    não apenas para te ajudar a morrer serenamente, mas também para viveres até à morte. Quem

    trabalha em CP percebe que o objetivo maior é a QDV. Esta congrega uma perceção altamente

    individual, devendo ajustar-se a cada momento do ciclo vital.

    “Não podemos acrescentar dias à nossa vida, mas podemos acrescentar vida aos nossos

    dias”, como nos diz Cora, a QDV é isso. Um dos princípios que regem a prática dos CP

    preconiza, na sua alínea g), que estes cuidados assentam na conceção central de que não se pode

    dispor da vida do ser humano, pelo que não antecipa nem atrasa a morte, repudiando a eutanásia,

    o suicídio assistido e a futilidade diagnóstica e terapêutica” (Proposta de Revisão do PNCP

    2008-2016, Direcção-Geral da Saúde, DGS, p.6).

    Sendo o cidadão o centro do sistema de saúde como refere a DGS, no Manual de

    Acreditação de Unidades de Saúde (2011, p.47), é importante que o doente tenha um papel pró-

    ativo. No mesmo documento, pode ler-se que “para que a pessoa esteja verdadeiramente no

    centro do sistema é necessário garantir a sua participação nas decisões relativas ao processo

    assistencial…”, sempre que o cidadão se encontra capaz de demonstrar a sua opinião, o mesmo

    deve ser ouvido e atuar em conformidade, claro está que deve existir um esclarecimento prévio

    das opções a tomar.

    A atuação de todos aqueles que fazem parte da equipa multidisciplinar em CP faz-se no

    garante de que os “procedimentos diagnósticos e terapêuticos que são desadequados e inúteis,

    face à situação evolutiva e irreversível da doença, e que podem causar sofrimento acrescido ao

    doente e à família” não irão ser postos em prática. Tal é mencionado na Proposta de Revisão

    do PNCP 2008-2016 (2007, p. 5), na sua definição de Futilidade Diagnóstica e Terapêutica.

    Importa, assim, revermos alguns conceitos. A DGS na sua Proposta de Revisão do

    PNCP, propõe os seguintes conceitos (2007, p. 5):

    Paliação

    Alívio do sofrimento do doente.

  • 15

    Acção Paliativa

    Qualquer medida terapêutica, sem intuito curativo, que visa minorar, em internamento ou no

    domicílio, as repercussões negativas da doença sobre o bem-estar global do doente. As acções

    paliativas são parte integrante da prática profissional, qualquer que seja a doença ou a fase da

    sua evolução.

    Cuidados Paliativos

    Cuidados prestados a doentes em situação de intenso sofrimento, decorrente de doença incurável

    em fase avançada e rapidamente progressiva, com o principal objectivo de promover, tanto

    quanto possível e até ao fim, o seu bem-estar e QDV. Os CP são cuidados activos, coordenados

    e globais, que incluem o apoio à família, prestados por equipas e unidades específicas de CP, em

    internamento ou no domicílio, segundo níveis de diferenciação.

    Como já referimos, no nosso dia-a-dia percebemos a dificuldade e a estranheza, por

    parte dos colegas que sempre estiveram empenhados em salvar vidas, em lidar com os doentes

    em Unidades de Cuidados Paliativos (UCP). Para alguns profissionais, a morte é tida como um

    falhanço dos serviços de saúde. Contudo, e porque a esperança de vida tem vindo a aumentar e

    as causas de morte se vão alterando, estando as doenças respiratórias e as neoplasias a ganharem

    terreno face às restantes, facilmente percebemos a importância que assumem os CP.

    A Proposta de Revisão do PNCP 2008-2016 (2007, p. 4), é um documento importante,

    dizendo-nos o seguinte:

    Com efeito, a abordagem da fase final da vida continua a ser encarada, em muitos serviços de

    saúde, como uma prática estranha e perturbadora, com a qual é difícil lidar. Urge, portanto,

    colmatar esta carência. Tanto mais que o envelhecimento da população, o aumento da incidência

    do cancro e a emergência da SIDA tornam os doentes que carecem de CP um problema de

    enorme impacto social e de importância crescente em termos de saúde pública.

    A resposta para um problema de tão grande dimensão social dificilmente assenta na simples

    manutenção de respostas híbridas, simultaneamente curativas e paliativas, mas antes, no que nas

    últimas décadas tem sido proposto e realizado pelo movimento internacional dos CP,

    preconizando uma atitude de total empenho na valorização do sofrimento e da qual dade de vida,

    como objecto de tratamento e de cuidados activos e organizados.

    De facto, a complexidade do sofrimento e a combinação de factores físicos, psicológicos e

    existenciais na fase final da vida, obrigam a que a sua abordagem, com o valor de cuidado de

    saúde, seja sempre uma tarefa multidisciplinar, que congrega, além da família do doente,

    profissionais de saúde com formação e treino diferenciados, voluntários preparados e dedicados

    e a própria comunidade.

  • 16

    Por estas razões, a Organização Mundial de Saúde considera os CP como uma prioridade da

    política de saúde, recomendando a sua abordagem programada e planificada, numa perspectiva

    de apoio global aos múltiplos problemas dos doentes que se encontram na fase mais avançada

    da doença e no final da vida.

    A Proposta de Revisão do PNCP 2008-2016 (2007, p. 5-6), refere que as intervenções

    das UCP prendem-se com os seguintes aspetos fundamentais:

    …o alívio dos sintomas; o apoio psicológico, espiritual e emocional; o apoio à família; o apoio durante o luto e a interdisciplinaridade.

    A família deve ser activamente incorporada nos cuidados prestados aos doentes e, por sua vez,

    ser ela própria objecto de cuidados, quer durante a doença, quer durante o luto. Para que os

    familiares possam, de forma concertada e construtiva, compreender, aceitar e colaborar nos

    ajustamentos que a doença e o doente determinam, necessitam de receber apoio, informação e

    educação.

    Este projeto também nos aponta os Princípios da Prática em CP, dizendo que estes

    assentam nos seguintes aspetos (2007, p. 6):

    a) Afirma a vida e encara a morte como um processo natural;

    b) Encara a doença como causa de sofrimento a minorar;

    c) Considera que o doente vale por quem é e que vale até ao fim;

    d) Reconhece e aceita em cada doente os seus próprios valores e prioridades;

    e) Considera que o sofrimento e o medo perante a morte são realidades

    humanas que podem ser médica e humanamente apoiadas;

    f) Considera que a fase final da vida pode encerrar momentos de reconciliação

    e de crescimento pessoal;

    g) Assenta na concepção central de que não se pode dispor da vida do ser

    humano, pelo que não antecipa nem atrasa a morte, repudiando a eutanásia, o suicídio

    assistido e a futilidade diagnóstica e terapêutica.

    h) Aborda de forma integrada o sofrimento físico, psicológico, social e

    espiritual do doente;

    i) É baseada no acompanhamento, na humanidade, na compaixão, na

    disponibilidade e no rigor científico;

    j) Centra-se na procura do bem-estar do doente, ajudando-o a viver tão

    intensamente quanto possível até ao fim;

  • 17

    k) Só é prestada quando o doente e a família a aceitam;

    l) Respeita o direito do doente escolher o local onde deseja viver e ser

    acompanhado no final da vida;

    m) É baseada na diferenciação e na interdisciplinaridade.

    Turner, Tookman, Bristowe e Maddocks (2011, p. 211) referem que o conceito de

    declínio apesar do exercício não recebeu reconhecimento na literatura, mas é importante para

    a reabilitação em CP reconhecer esse facto e compreendê-lo. Aquando da nossa intervenção

    temos de ter consciência de que, apesar de estarmos a intervir de forma adequada e de acordo

    com os objetivos do doente/família/cuidador, chegámos a uma fase em que o declínio será

    implacável. Independentemente da nossa intervenção, chegamos a um ponto de não retorno.

  • 18

    2. CUIDADOS À BOCA NO DOENTE PALIATIVO

    No doente paliativo, uma boa prática de CAB assume uma grande importância, de modo

    a manter a QDV, contribuindo-se para o conforto, bem-estar, autoestima e imagem corporal.

    Os CAB são igualmente essenciais para a manutenção do estado nutricional, da saúde da

    cavidade oral e para a prevenção de infeções (Honnor & Law, 2002; Cohn & Fulton, 2006).

    A boca é um órgão complexo, constituído por variadas estruturas com funções

    específicas, nomeadamente a alimentação e a comunicação. Outro aspeto importante das

    pessoas em CP é a administração da terapêutica via oral, quando esta ainda se mantém

    disponível. Esta é considerada uma das principais vias de administração de medicação e é útil,

    eficaz, barata, segura e confortável para o doente. Contudo, a boca ao apresentar lesões,

    decorrentes de xerostomia, mucosite e infeções, poderá comprometer o processo de absorção

    da terapêutica ingerida. De igual modo, a autoestima, a comunicação verbal, a expressão de

    sentimentos e o conforto poderão estar também comprometidos se as condições da boca não o

    permitirem (Serrano, 2009).

    A xerostomia é um sintoma frequente em doentes em CP. A sua prevalência é de 60 a

    88% na doença oncológica progressiva e avançada, com consequências físicas, psicológicas e

    sociais (Feio & Sapeta, 2005). No estudo de Cooke, Ahmedzai e Mayberry (1996), que contou

    com uma amostra de 99 doentes com doença oncológica avançada, verificou-se uma

    prevalência de 88%. Sweeney, Bagg, Baxter e Aitchinson (1998) verificaram, através do seu

    estudo com 70 doentes, uma prevalência de 66% de casos em que os doentes tinham dificuldade

    em falar, 51% em deglutir e 31% tinham glossodinia. A xerostomia foi associada a alterações

    da micro-flora bucal.

    Feio e Sapeta (2005) salienta que a diminuição da quantidade e qualidade de saliva

    predispõe ao surgimento de lesões com variável gravidade na boca. Os doentes, dada a sua

    dificuldade em falar, a halitose e a dor decorrentes da secura das mucosas, evitam contactos

    sociais e muitos deles isolam-se, o que interfere negativamente no seu bem-estar e conforto e,

    por inerência, na sua QDV. Estes factos têm de ser avaliados e atendidos na estratégia

    terapêutica.

    Outra complicação é a mucosite oral que se caracteriza pela inflamação e ulceração da

    mucosa oral, que se torna edemaciada, eritematosa e friável, tendo como consequência a dor, o

    desconforto, a disfagia e a debilidade sistémica (Santos, Borges & Donoso, 2013). Consiste

  • 19

    numa complicação frequente (85-100%) em doentes oncológicos que foram submetidos a

    tratamentos de quimio e radioterapia, com um impacto significativo na saúde, na QDV dos

    doentes, bem como ao nível económico pelos gastos que o seu tratamento requer (Santos,

    Borges & Donoso, 2013). Todavia, como referem os mesmos autores, este não é um fenómeno

    restrito a doentes submetidos a quimio e a radioterapia.

    Os sinais e os sintomas iniciais da mucosite oral compreendem o eritema, o edema, a

    sensação de ardência e aumento da sensibilidade a alimentos quentes ou ácidos. Podem ocorrer

    ulcerações dolorosas recobertas por exsudato fibrinoso (pseudomembrana) de coloração

    esbranquiçada ou opalescente (Santos, Messaggi, Mantesso & Magalhães, 2009). Essas úlceras,

    ainda na perspetiva dos autores citados, podem ser múltiplas e extensas, resultando na má

    nutrição e em desidratação, fazem aumentar o risco de infeção local e sistémica,

    comprometendo a função oral. Ademais, interferem no tratamento antineoplásico, podendo

    resultar na sua suspensão, comprometendo a sobrevida do doente. A mucosite é um processo

    biológico complexo, que pode ser dividido em cinco fases sequenciais: início; sinalização;

    ampliação; ulceração e cicatrização (Santos et al., 2009).

    A fase inicial é assintomática, ocorrendo a lesão direta no DNA das células basais do

    epitélio e a manifestação de radicais oxidativos. Na fase de sinalização, as enzimas podem ser

    ativadas diretamente quer pela radioterapia, quer pela quimioterapia ou indiretamente pelos

    radicais oxidativos formados na fase anterior, resultando em apoptose. Na fase da ampliação

    ocorre uma série de ciclos retroalimentados, fazendo com que aumente significativamente a

    lesão celular, em consequência da produção exacerbada de citocinas inflamatórias. Na fase

    ulcerativa ocorre a perda da integridade da mucosa, que se assume como um meio para a entrada

    de bactérias fungos e vírus, acompanhada de sintomatologia dolorosa. Na fase de cicatrização,

    ocorre a proliferação, diferenciação e migração das células epiteliais, bem como o

    restabelecimento da integridade da mucosa (Santos et al., 2009). Uma vez instalada, a mucosite

    limita a ingestão alimentar por via oral, em função da dor e do desconforto para mastigar e/ou

    deglutir, podendo ocorrer um agravamento do estado nutricional, contribuindo para um

    aumento da morbilidade e do tempo de internamento hospitalar.

    A dor associada à mucosite é a queixa mais frequente dos doentes e relaciona-se com a

    alta sensibilidade das terminações nervosas localizadas na cavidade oral. A dor resulta na

    dificuldade em falar, comunicar e deglutir, afeta o estado nutricional dos doentes (Robinson,

    2008). Através de medidas preventivas pode melhorar-se o estado da boca, obter-se uma

  • 20

    diminuição da incidência ou de gravidade das dores ou odores, recuperar-se a capacidade

    funcional, o paladar, o apetite, a deglutição e a comunicação, bem como evitar as infeções da

    cavidade oral e digestiva (Wiseman, 2006).

    São vários os fatores que levam à ocorrência de mucosite, nomeadamente os

    relacionados com o doente, de entre os quais, a idade, o género, a higiene oral antes e durante

    os tratamentos, o diagnóstico, a função imunológica comprometida e o estado nutricional. Dos

    factores relacionados com a terapia, destacam-se: o tipo de fármaco, a dose e a frequência do

    tratamento (Huskinson & Lloyd, 2009).

    O desconforto do doente em CP pode resultar de fatores externos, os quais em parte

    podem ser controlados pelos enfermeiros. Os CAB do doente paliativo circunscrevem-se no

    universo de medidas físicas, que podem promover o conforto (Constance & Golsmith, 2001).

    Deste modo, como sustentam os referidos autores, para uma correta prestação de CAB do

    doente paliativo, os enfermeiros devem possuir conhecimentos sobre: a anatomia da boca, a

    função das estruturas nela contida, a forma correta de efetuar a avaliação do estado da boca, as

    modificações que podem ocorrer e as formas ajustadas de as cuidar. Todavia, de acordo com

    Serrano (2009), há evidência de que, embora os enfermeiros reconheçam a importância dos

    CAB no doente paliativo, atribuem-lhe uma prioridade baixa, estando subjacente a falta de

    conhecimentos sobre esta temática. Como referem Cohn e Fulton (2006), há enfermeiros que

    consideram que os CAB dos doentes paliativos são uma tarefa desagradável. Deste modo, ainda

    em conformidade com os mesmos autores, os deficientes CAB podem resultar em complicações

    graves, o que pode ser considerado negligência em algumas situações. A necessidade de

    cuidados orais nos doentes paliativos é, em muito casos, subvalorizada.

    A consubstanciar o anteriormente referido, o estudo de Serrano (2009) revela que os

    enfermeiros, embora reconheçam a importância dos CAB e o seu impacto na QDV da pessoa

    em CP, atribuem a estes cuidados uma baixa prioridade e, por sua vez, uma prestação pouco

    sistemática. É consensual a dificuldade dos enfermeiros em prestarem cuidados direcionados à

    boca, uma vez que, segundo a mesma autora, a definição de um plano de cuidados depende de

    quem avalia e dos instrumentos que utiliza, necessitando de um método científico e de um

    protocolo de atuação uniformizado e adequado aos contextos, que possibilitará a continuidade

    dos cuidados prestados ao doente.

    Os CAB do doente paliativo são de extrema importância em termos de comunicação e

    interação social, cujas alterações causam perturbações psicológicas que podem originar

  • 21

    sentimentos de exclusão, diminuição da autoestima e levar o isolamento social. Deste modo, é

    fundamental uma boa higiene oral para manter a boca íntegra, pelo contrário pode causar dor,

    alterações do paladar e redução da ingestão que pode levar a perda de peso (Barbosa & Neto,

    2010). Os mesmos autores referem que os objetivos dos CAB do doente paliativo consistem

    em: manter a mucosa e lábios húmidos, íntegros, limpos e suaves; eliminar a placa bacteriana

    e restos de alimentos; prevenção de infeções, de complicações e da dor e evitar o isolamento

    social. Deve-se fazer-se uma avaliação de anteriores problemas estomatológicos, verificar a

    presença de dor, secura, anorexia, dismastia, disfagia, disfonia, alterações do paladar, a

    terapêutica seguida e os tratamentos (cirurgia, quimioterapia, radioterapia). Deste modo, é

    importante que se faça um exame à boca (lábios, dentes, gengivas, palatos, peças dentárias ou

    próteses dentárias) (Barbosa & Neto, 2010).

    Os cuidados gerais implicam a higiene da boca quatro vezes por dia (depois das

    refeições e ao deitar), uso de uma escova de dentes suave, compressas ou esponja (dentes e

    língua), limpeza dos lábios delicadamente e aplicar batom do cieiro ou creme hidratante;

    remoção de próteses dentárias e escovar com escova dura sob água corrente e produtos

    adequados; mergulhar as próteses dentárias em soluções de hipoclorito de sódio a 1% ou

    soluções de clorohexidina durante a noite; verificar a integridade das próteses e o seu ajuste;

    inspeção regular da boca, pelos doentes e profissionais de saúde; comunicar qualquer alteração

    como dor, fissura ou eritema; ingestão de proteínas e vitaminas; evitar bebidas gaseificadas e

    bebidas com cafeína; evitar estímulos dolorosos, como alimentos quentes ou frios,

    condimentos, bebidas alcoólicas, entre outras (Barbosa & Neto, 2010).

  • 22

    PARTE II – ESTUDO EMPÍRICO

    1. MÉTODOS

    1.1. Desenho de investigação

    Em termos práticos, o estudo seguirá uma matriz de natureza qualitativa.

    1.2. Problemática

    Os CAB ao doente em fase paliativa devem desde sempre ser muito valorizados. Pode

    dizer-se que são dos cuidados mais importantes para manter o bem-estar e conforto no doente

    paliativo, já que, entre outras causas, a utilização frequente de opióides nesta fase traz consigo,

    para além do conforto procurado, a xerostomia e mucosite fazendo assim emergir a necessidade

    de abordar este tema. Assim, denota-se bastante pertinente e importante a valorização deste

    cuidado. Ao realizarem os CAB aprende-se a reconhecer, a dar significado, baseado na

    necessidade que o doente sente ao ter a cavidade oral higienizada. Esta aprendizagem deveria

    começar, portanto, muito antes da vida profissional. Na escolarização deveria ser dada mais

    atenção a este aspeto.

    Por isso, ao profissional de saúde compete aprender, informar-se e só depois praticar da

    melhor forma a higienização da mucosa oral pois só assim será capaz de produzir o seu próprio

    conhecimento.

    Pode dizer-se, então, que o papel do enfermeiro é crucial nos CAB do doente paliativo

    em vários aspectos, uma vez que a promoção dos cuidados de higiene são uma intervenção de

    enfermagem bastante importante também para a criação de um vínculo com o próprio doente e,

    por conseguinte, sua família. Todavia, a ação de prestar CAB ao doente em fase paliativa não

    se resume apenas aos cuidados por si só, mas sim a todo o ambiente que envolve esse momento,

    a interação enfermeiro-doente, a forma como o enfermeiro os realiza e envolve todos os

    familiares e como estes se sentirão ao realizar este ato.

    Por vezes, por falta de tempo dos enfermeiros, os CAB podem ficar em segundo plano.

    Isto deve ser mudado, pois deve ter-se noção de que os CAB representam uma experiência

  • 23

    interior para o doente de valor incalculável e que não podem ser substituídos por outro tipo de

    ato: só assim o doente paliativo pode conseguir atingir o pleno conforto e bem-estar. No entanto,

    atravessa-se uma época em que a falta de profissionais de saúde nos internamentos é cada vez

    maior, os recursos começam a ser cada vez menos e, por isso, a falta de tempo começa a ser

    uma constante.

    Só quem trabalha com doentes paliativos e lida diretamente com esta temática, se

    consegue aperceber do bem essencial que são estes cuidados para a manutenção da dignidade

    do doente. Cada enfermeiro é responsável por recriar novas formas de atuação nos cuidados

    gerais à boca; porém, é necessário saber escolher qual a forma mais adequada de assim o

    produzir.

    Para tal, é urgente desenvolver aspetos fundamentais como a criação de mais protocolos,

    mais incentivos, um maior número de recursos humanos, mais tempo para este tipo de cuidados,

    comparecer e realizar um maior número de formações em serviço, reconhecer uma maior

    importância por parte dos serviços nesta temática, etc. É necessário, ainda, que as entidades

    responsáveis saibam valorizar este tipo de cuidados para que sejam uma fonte ou um reforço

    de aprendizagem para bem do doente paliativo.

    Existe um vasto leque de instrumentos e de formas de desenvolvimento de competências

    e aprendizagens que permite a todos os enfermeiros proporcionarem o máximo o conforto

    possível do doente, quer em termos práticos, quer de enriquecimento pessoal. Cabe a cada

    enfermeiro, através da prática baseada na evidência, utilizar as competências adquiridas da

    forma mais correta e eficaz para cada doente.

    1.3. Questões e objetivos do estudo

    Definiram-se como questões de investigação deste estudo:

    Qual o conhecimento dos enfermeiros em relação aos CAB?

    Que tipos de CAB realizam e como os priorizam?

    Há protocolos de atuação nos seus serviços onde trabalham?

    Existe um esforço dos serviços em ter protocolos de atuação normalizada sobre os CAB

    no doente paliativo?

    Os objetivos principais que se delinearam para este estudo consistem em:

  • 24

    Compreender a importância e o conhecimento atribuídos pelos enfermeiros em relação

    aos CAB no doente paliativo;

    Identificar a existência de protocolos em relação aos CAB no doente paliativo;

    Conhecer a opinião dos enfermeiros e dos cuidadores face aos CAB no doente paliativo.

    1.4. Tipo de estudo

    Considerando o tema proposto, o tipo de estudo aqui desenvolvido insere-se no

    paradigma qualitativo.

    Este estudo segue também a metodologia fenomenológica, na medida em que a

    realidade se enfoca nas perceções dos enfermeiros acerca dos CAB ao doente paliativo, cujo

    objetivo é compreender e encontrar significados por meio de narrativas verbais (Bogdan &

    Biklen, 1994).

    Este método tem como características sistematizar os dados de natureza qualitativa,

    possibilitando compreender como os participantes experienciam determinada situação,

    percebem, pensam e sentem as suas vivências, tomando como ponto de partida a expressão

    pessoal desse processo (Flick, 2005).

    Por conseguinte, a presente investigação pretende centrar-se em procedimentos

    interpretativos e heurísticos de análise e interpretação dos dados, com recurso a entrevistas

    semiestruturadas e análise bibliográfica. As diversas alternativas metodológicas de recolha e

    análise de dados sugerem a necessidade de tomar uma decisão alicerçada no próprio estudo, nas

    questões de investigação e no grupo alvo (Flick, 2005).

    1.5. População e amostra

    A população que se definiu para este estudo são 14 enfermeiros que exercem no

    internamento do Instituto Português de Oncologia (IPO) de Lisboa, mais concretamente no

    Serviço Oncologia Médica e no serviço de apoio ao domicílio do IPO de Lisboa.

    Os critérios de inclusão consistiram em: capacidade de compreensão da língua

    portuguesa; conhecerem a situação atual do doente; serem participantes voluntários no estudo,

    autorizando a gravação áudio de uma entrevista.

  • 25

    1.6. Instrumentos de colheita de dados

    O instrumento de recolha de dados selecionado para este estudo foi a entrevista

    semiestruturada, cujo guião se apresenta no Apêndice 1.

    Esse guião teve, no presente caso, como objetivo orientar a entrevista e estimular o

    pensamento livre dos participantes.

    1.7. Análise dos dados

    Toda a informação recolhida foi tratada de forma descritiva, seguindo-se a análise de

    conteúdo, sendo esta apontada como uma das técnicas de tratamento de dados em pesquisa

    qualitativa (Bardin, 2015).

    Realizada a transcrição das entrevistas, recorreu-se, de seguida, à técnica de análise de

    conteúdo, seguindo-se os critérios propostos por Bardin (2015).

    No que diz respeito a esta pesquisa, a técnica de análise eleita foi a análise categorial

    temática. Esta técnica permitiu-nos condensar os dados, categorizando e uniformizando-os de

    forma a tornar mais acessível a análise das respostas e suas interpretações.

    Neste estudo, delineou-se uma abordagem exploratória, com uma categorização a

    posteriori.

    1.8. Procedimentos formais e éticos

    Esta investigação foi realizada com base no princípio da não maleficência (reduzindo

    ao máximo os inconvenientes que a investigação pudesse trazer aos participantes) e no princípio

    da beneficência (procurando que os participantes obtenham o maior número possível de

    vantagens, como, por exemplo, contribuir para o avanço dos conhecimentos neste tema e, assim,

    beneficiar outras pessoas com as descobertas feitas no decurso desta investigação) (Fortin,

    2009).

    Para além disso, foram respeitados os direitos e liberdade dos participantes, tal como o

    direito à confidencialidade, à intimidade e ao anonimato, uma vez que foi assegurado que as

  • 26

    informações obtidas do estudo não seriam comunicadas a terceiros e a identidade do

    participante não podia ser descoberta por nenhum meio, nem mesmo pelo investigador (Fortin,

    2009).

    Foi também respeitado o direito à autonomia, uma vez que participantes decidiram

    livremente se queriam participar ou não na investigação (Ferrito, 2010). Assim, após a aquisição

    do consentimento informado aos participantes (cf. Apêndice 2), foi elaborado um guião de

    entrevista, em que esta é focalizada em determinados blocos temáticos.

    Deste modo, no decorrer do presente estudo, assegurou-se que todos os aspetos éticos e

    legais decorrentes da investigação eram preservados. Foi efetuado, numa fase primária, um

    pedido à direção de enfermagem e às Comissões de Ética do IPO para a realização deste estudo

    (cf. Apêndice 3).

    Como a colheita de dados, numa fase inicial foi efetuada através de uma entrevista não

    estruturada, foi facultado a cada um dos intervenientes um documento com o termo de

    Consentimento Livre e Esclarecido, os quais foram assinados pelos participantes.

    Cada Enfermeiro teve um número de acordo com a ordem cronológica da realização das

    entrevistas (Exemplo: Enf 1, Enf 2, etc.).

  • 27

    2. APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS

    Participaram no estudo 14 enfermeiros, dos quais 11 são do género feminino e 3 do

    masculino, com idades compreendidas entre os 23 e os 41 anos, sendo todos licenciados,

    estando o E2 a terminar o mestrado e a E13 possui a especialidade e mestrado em enfermagem

    de reabilitação. Quanto ao tempo de serviço, verifica-se um mínimo de 1 ano e o máximo de

    15 anos. Apenas três entrevistados (EE7, E8 e E10) trabalham noutras instituições, como

    segundo emprego (cf. Tabela 1).

    Tabela - Caraterização pessoal dos entrevistados

    Entr. Idade Género Habilitações literárias Tempo de serviço

    Trabalhar noutras instituições, como segundo emprego

    E1 34 anos Masculino Licenciatura 9 anos Sim

    E2 27 anos Masculino Licenciatura e a terminar o mestrado 5 anos Não

    E3 23 anos Feminino Licenciatura 1 ano Não

    E4 26 anos Masculino Licenciatura 1 ano e 9 meses Não

    E5 31 anos Feminino Licenciatura 8 anos Não

    E6 33 anos Feminino Licenciatura 5 anos Não

    E7 27 anos Feminino Licenciatura 6 anos Sim, 1 ano

    E8 33 anos Feminino Licenciatura 9 anos Sim, 2 anos

    E9 41 anos Feminino Licenciatura 15 anos Não

    E10 28 anos Feminino Licenciatura 2 anos Sim

    E11 31 anos Feminino Licenciatura 9 anos Não

    E12 34 anos Feminino Licenciatura 1 ano Não

    E13 37 anos Feminino

    Licenciatura e especialidade e mestrado em enfermagem de

    reabilitação

    16 anos Não

    E14 41 anos Feminino Licenciatura 9 anos e 8 meses Não

    Categoria 1 - Tempo despendido para os CAB aos doentes em fase paliativa

    Em conformidade com os resultados, constata-se que a maioria dos enfermeiros

    explicitou o tempo despendido para os CAB aos doentes em fase paliativa, variando entre

    alguns minutos, como referiu a E5, e os 30 minutos (E6). Sobressaem os enfermeiros que

    admitem despender entre 5-10 minutos e 10 minutos para prestar CAB aos doentes em fase

  • 28

    paliativa. A E10 referiu que, por norma, despende de 5 minutos para prestar CAB aos doentes

    paliativos, todavia, com a salvaguarda de que esse tempo depende de como se encontra a boca

    do doente. Verifica-se também que 3 entrevistados referiram eu o tempo gasto para os CAB ao

    doente paliativo é variável, dependendo de muitos fatores, como o demonstram as suas unidades

    de registo: “(…) devido a vários fatores, como, por exemplo, o estado de higiene da cavidade

    oral, complicações, etc.” (E11); “depende de cada situação, ou seja, patologia de base (doente

    de cabeça e pescoço, por exemplo), se está a fazer quimioterapia ou não” (E13); “Depende do

    tipo de cuidados que o doente necessita e depende do estado clínico do doente” (E14). A E12

    não especificou o tempo de que despende para prestar CAB ao doente em fase paliativa, tendo

    argumentado que “Caso se justifique no doente em questão faz-se o ensino dos CAB”.

    Tabela 2 – Tempo despendido para os CAB aos doentes em fase paliativa

    Categoria Subcategorias Unidades de registo F

    Tempo despendido para os CAB aos doentes em fase paliativa

    5-10 minutos E1 “5 a 10 minutos a cada doente”. E2 “5-10 minutos” 2

    10 minutos E8 “10 minutos por turno”. E9 “10 minutos por turno”. 2

    3-6 minutos E3 “3 a 6 minutos”. 1 3-5 minutos E4 “3 a 5 minutos”. 1 Alguns minutos E5 “Alguns minutos”. 1 30 minutos E6 “30 minutos”. 1 20 minutos E7 “20 minutos por turno”. 1

    5 minutos

    E10 “Depende como a boca se encontra, mas por norma, os primeiros 5 minutos antes dos cuidados de higiene são dedicados aos cuidados orais”.

    1

    Variável o tempo despendido

    E11 “É muito variável o tempo despendido”. E13 “Não consigo quantificar o tempo, depende de cada situação (…)”. E14 “Depende do tipo de cuidados que o doente necessita e depende do estado clínico do doente”.

    3

    Ensino dos cuidados à boca ao doente

    E12 “Caso se justifique no doente em questão faz-se o ensino dos cuidados à boca”. 1

    Total 14

    Categoria 2 - Tipo de atenção prestada aos CAB aos doentes em fase paliativa

    Partindo do pressuposto que a boca reflete, de algum modo, o estado destes doentes, procurou-se saber qual o tipo de atenção que os enfermeiros prestam à boca dos doentes em

    fase paliativa, tendo-se verificados que, na globalidade, os entrevistados assumiram que esta é

    uma prioridade e que é parte integrante do planeamento dos cuidados, uma vez que são

  • 29

    promotores do bem-estar e conforto, o que implica que tenham de realizar esses cuidados,

    dando-lhe a devida atenção. De acordo com o E2 “No doente paliativo a alimentação nem

    sempre é prioridade, o cuidado à boa assume uma importância suplementar para o conforto

    do doente, ocupando, por isso, um lugar de destaque no planeamento dos cuidados”. Por sua

    vez, a E10 admitiu que a sua atenção é redobrada, de modo a alcançar “a manutenção da

    qualidade de vida, influenciando o seu conforto, bem-estar, autoestima e auto e hétero-imagem

    e prevenção de infeções”. De igual modo, a E13 reforçou a necessidade de atenção redobrada:

    “Se o meu foco de atenção é o aumento de conforto e qualidade de vida, sabendo que as

    alterações da mucosa oral podem provocar por dor, odor, paladar e deglutição. Dou a máxima

    atenção aos cuidados orais”.

    Tabela 3 – Tipo de atenção prestada aos CAB aos doentes em fase paliativa

    Categoria Subcategorias Unidades de registo F

    Tipo de atenção que presta aos CAB aos doentes em fase paliativa

    Muita atenção

    E2 “(…) lugar de destaque no planeamento dos cuidados”. E3 “Muita atenção (…)”. E4 “(…) especial atenção (…)”. E7 “Muita atenção (…)”. E10 “Atenção redobrada para manutenção da qualidade de vida (…)”. E11 “Muita atenção. Faz parte do plano de cuidados de todos os doentes”. E13”(…) Dou a máxima atenção aos cuidados orais”.

    7

    Atenção diária E1 “Atenção diária”. 1 Duas vezes por dia E5 “Duas vezes por dia”. 1

    Dois turnos em cada 6 E6 “Uma média de dois turnos em cada 6, normalmente mais no turno das manhãs”. 1

    Higiene profunda E8 “Faço uma higiene oral mais profunda no turno da manhã”. 1

    A necessária E9 “A necessária para cada doente” 1 Observação direta E12”Observação direta (…)”. 1 Ensino E12 “(…) ensino (…)”. 1

    Facultar material E12 “ (…) faculta-se material para os cuidados específicos”. 1

    Muita periodicidade E14 “(…)cuidados importantes que devem ser feitos a todos os doentes com muita periocidade”.

    1

    Total 16

    Categoria 3 - Alterações mais frequentes encontradas na boca dos doentes em fase

    paliativa

  • 30

    As alterações mais frequentes que os enfermeiros encontram na boca dos doentes em

    fase terminal consistem na mucosite oral (n=12), xerostomia (n=8), a candidíase oral (n=4),

    secreções/acumulação de restos de comida (n=4), halitoses (n=3), infeções fúngicas (n=3),

    tártaro/cárie (n=2), falta de peças dentárias (n=2) e dor (n=1) (cf. Tabela 4).

    Tabela 4 – Alterações mais frequentes encontradas na boca dos doentes em fase paliativa

    Categoria Indicadores de resposta F

    Alterações mais frequentes encontradas na boca dos doentes em fase paliativa

    Mucosite oral 12

    Xerostomia 8 Candidíase oral 4 Secreções/acumulação de restos de comida 4 Tártaro/cárie 2 Falta de peças dentárias 2 Halitose 3 Infeções fúngicas 3 Dor 1

    Total 39

    Categoria 4 - Intervenções mediante as alterações encontradas na boca dos doentes

    em fase paliativa

    Constatou-se que, mediante as alterações encontradas na boca dos doentes em fase

    paliativa, os enfermeiros intervêm através da aplicação de elixir/bochecos compostos (nistatina,

    miscotantim/tantum) (n=14), higiene oral adequada e regular (escovas próprias) (n=10),

    aumento da hidratação da mucosa oral e dos lábios (água, chá, com esponjas adequadas) (n=6),

    aumento da frequência dos CAB (n=1), avaliação do estado da boca (n=1), articulação com o

    médico (n=1) e realização de ensinos/educação ao doente e família para uma higiene oral mais

    eficaz/tipo de alimentos (quente ou frio) (n=1) (c. Tabela 5).

  • 31

    Tabela 5 – Intervenções mediante as alterações encontradas na boca dos doentes em fase paliativa

    Categoria Indicadores de resposta F

    Intervenções mediante as alterações encontradas na boca dos doentes em fase paliativa

    Aplicação de elixir/bochechos compostos 14 Higiene oral adequada e regular (escovas próprias) 10 Aumento da hidratação da mucosa oral e dos lábios (água, chá, com esponjas adequadas) 6

    Aumento da frequência dos CAB 1 Avaliação do estado da boca 1 Articulação com o médico 1 Realização de ensinos/educação ao doente e família para uma higiene oral mais eficaz/tipo de alimentos (quente ou frio)

    1

    Total 34

    Categoria 5 - Motivos para a boca dos doentes nem sempre estar visível nos registos

    de enfermagem

    Procurou-se saber qual a opinião dos enfermeiros sobre o motivo para a boca dos

    doentes nem sempre estar visível nos registos de enfermagem, tendo-se verificado que a maioria

    (n=7) referiu a disparidade do rácio enfermeiro/doentes, resultando na consequente dificuldade

    de gestão de tempo. Verificou-se também que 3 enfermeiros são de opinião que a boca nem

    sempre está visível nos registos de enfermagem porque há uma desvalorização deste tipo de

    cuidados por parte dos enfermeiros. De acordo com 2 entrevistados, esta lacuna deve-se ao

    facto de a maioria dos enfermeiros considerar que, a priori, os CAB são parte integrante da

    higiene. Neste âmbito, o E10 argumentou que “Por se pensar que tem apenas um papel a nível

    da dimensão física e estar inerente aos cuidados de higiene, ficando esquecida a dimensão

    psicológica e social”. Outros participantes consideram que a invisibilidade dos CAB nos

    registos de enfermagem se deve ao facto de os enfermeiros não os considerarem prioritários,

    por falta de consciencialização, por falta de recursos materiais e de protocolos, e por

    esquecimento (cf. Tabela 6).

  • 32

    Tabela 6 – Motivo para a boca dos doentes nem sempre estar visível nos registos de enfermagem

    Categoria Subcategorias Unidades de registo F

    Disparidade do rácio enfermeiro/doentes

    E3 “Devido ao rácio enfermeiro/utente”. E4 “Rácios enfermeiros/doentes”. E5 “Falta de tempo para registar todas as intervenções” E6 “Número inadequado de enfermeiros por turno impossibilitando um rácio doente/enfermeiro ideal”. E7 “Pouco tempo para os registos escritos das notas de enfermagem (devido ao rácio de número de enfermeiros/doentes)”. E9 “Falta de tempo”. E12 “Pelo pouco tempo de observação aos utentes (…)”.

    7

    Não valorização deste tipo de cuidado

    E11 “A não valorização deste tipo de cuidados de enfermagem”. E13 “Desvalorização dos enfermeiros dos cuidados à boca”. E14 “Os enfermeiros não considerarem importante estes cuidados”.

    3

    Por se pensar, a priori, que integra os cuidados de higiene

    E8 “Esta faz parte dos cuidados de higiene e só em caso de alteração se for referência”. E10 “(…) estar inerente aos cuidados de higiene (…).

    2

    Falta de consciencialização

    E2 “A não consciencialização da importância desses cuidados”. 1

    Falta de recursos materiais

    E4 “(…) falta de material”. 1

    Falta de protocolos E9 “Falta de protocolos”. 1

    Não ser prioritário

    E1 “Não ser considerado prioritário de forma a ser escrito nos registos. Extensão de registos de maior relevância”.

    1

    Esquecimento E12 “(…) por esquecimentos dos profissionais de saúde em registar o que observou”. 1

    Total 17

    Categoria 6 – Opinião sobre os CAB serem protocolados

    Verificou-se que quase todos os enfermeiros são unânimes ao considerarem que os CAB

    de doentes em situação palitava deveriam ser protocolados, tendo alguns deles justificado da

    seguinte forma:

    “Se garantisse a sua efetivação, porque não, acho que sim, senão houvesse efetividade

    a prática seria de todo desnecessário”. E1

    “Existe pouca documentação relativa a este tema com bases científicas”. E3

  • 33

    “Óbvio, para uniformizar e orientar os cuidados, promovendo a sua implementação”. E4

    “Sim, sem dúvida, de forma a prevenir problemas ou tratar complicações de forma mais eficaz”. E13

    Importa referir que o E8 não concorda com a existência de um protocolo para os CAB

    de doentes em situação paliativa.

    Tabela 7 – Opinião sobre os CAB serem protocolados

    Categoria Indicadores de resposta F

    Opinião sobre os CAB serem protocolados

    Sim 13 Não 1

    Total 14

    Categoria 7 – Elementos a considerar no protocolo

    Desta categoria emergiram seis subcategorias, conforme se expõe seguidamente:

    procedimentos/técnicas de higienização, tempo dedicado/frequência mínima, grau de

    gravidade, produtos/material a utilizar, cuidados especiais específicos, grau de

    mucosite/procedimentos de acordo com o grau da mucosite, avaliação diária em

    documentos/espaço próprio, tipos de infeção, dor, observação/avaliação das características da

    boca (gengivas, dentes, mucosa oral), alterações observadas (espaço para os enfermeiros

    registarem a intervenção), ensinos ao doente/família (cf. Tabela 8).

  • 34

    Tabela 8 – Elementos a considerar no protocolo

    Categoria Indicadores de resposta F

    Elementos a considerar no protocolo

    Procedimentos/técnicas de higienização 7 Tempo dedicado/frequência mínima 7 Observação/avaliação das características da boca (gengivas, dentes, mucosa oral) 3

    Produtos/material a utilizar 2 Alterações observadas (espaço para os enfermeiros registarem a intervenção) 2

    Ensinos ao doente/família 2 Grau de gravidade 1 Cuidados especiais específicos 1 Grau de mucosite/procedimentos de acordo com o grau da mucosite 1

    Avaliação diária em documentos/espaço próprio 1 Tipos de infeção 1 Dor 1

    Total 29

    Ainda neste âmbito, verificou-se que quase todos os participantes, à exceção do E8,

    consideram que a existência de um protocolo poderá ser um meio facilitador da continuidade

    dos cuidados e que poderão prevenir situações que possam ser perturbadoras do conforto dos

    doentes:

    “A criação de protocolos é uma maneira de padronizar os cuidados, mantendo uma

    padrão adequado aos mesmos”. E2

    “Sim, porque exige que todos os profissionais realizem estes cuidados”. E4

    “Podem aumentar a frequência da prestação dos cuidados e aumentar a qualidade”. E5

    “Sim, por antecipação de possíveis complicações”. E6

    “Sim, porque através dos protocolos vai facilitar os CAB por parte do enfermeiro”. E9

    “Sim. De forma a dar continuidade ao trabalho desenvolvido e que muitas vezes não

    fica registado”. E10

    “A existência de um protocolo permite a uniformização do procedimento na equipa e a

    melhor integração de outros elementos na equipa”. E11

    “Sim, podem facilitar a observação correta por parte dos profissionais, à sua interação

    e continuidade de cuidados”. E12

    “Sim, na medida em que são estabelecidas avaliações regulares que possam detetar

    precocemente complicações ou tratar mais eficazmente as mesmas”. E13

    “Podem fomentar a realização de cuidados que evitem o desconforto”. E14

  • 35

    3. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

    Os cuidados à boca no doente paliativo é uma intervenção dos enfermeiros, fundamental

    na promoção da qualidade de vida e da dignidade humana.

    No que se refere à categoria 1, o tempo que se deveria despender para os CAB aos

    doentes em fase paliativa é cerca de 5 a 10 minutos consoante o estado da cavidade oral que

    cada doente apresenta, o que poderá justificar o facto de se ter verificado uma variação de

    tempo, de acordo com os entrevistados. Considera-se esta situação legítima, pois alguns

    enfermeiros, referem que não conseguem quantificar o tempo, na medida que o mesmo depende

    de cada situação, do tipo de cuidados que o doente necessita e do estado clínico.

    No que se refere à Categoria 2, tipo de atenção prestada aos CAB aos doentes em fase

    paliativa, constatou-se que, na globalidade, os enfermeiros assumiram que esta é uma

    prioridade. É parte integrante do planeamento dos cuidados, uma vez que são promotoras do

    bem-estar e conforto, o que implica que tenham de realizar esses cuidados, dando-lhe a devida

    atenção. Esta valorização dos CAB surge no discurso dos enfermeiros participantes como uma

    referência à importância de cuidar a boca desses doentes, o que requer também que se dedique

    tempo a esse cuidado. O estudo de Serrano (2009) revela que os enfermeiros, apesar de

    reconhecerem a importância dos CAB e o seu impacto na QDV da pessoa em CP, atribuem-

    lhes baixa prioridade e, por sua vez, uma prestação pouco sistemática. Neste sentido, importa

    referir que é comumente aceite a dificuldade dos enfermeiros em prestarem cuidados

    direcionados à boca, na medida em que, segundo a autora supracitada, a definição de um plano

    de cuidados depende de quem avalia e dos instrumentos que utiliza. É necessário um método

    científico e de um protocolo de atuação uniformizado e adequado aos contextos, que

    possibilitará a continuidade dos cuidados prestados ao doente.

    Atendendo ao facto de a flora endógena normal da boca, que envolve bactérias gram-

    positivas e gram-negativas, fungos e vírus, poder infetar as áreas onde a integridade da mucosa

    está comprometida, e que as infeções localizadas podem transmitir-se facilmente através da

    corrente sanguínea, por meio dos leitos capilares que perfundem a mucosa, podendo, inclusive

    resultar a septicemia (Pinho, Misorelli, Misorelli & Longato, 2010), assume grande relevância

    a atenção prestada aos CAB aos doentes em fase paliativa. Estes, devido à patologia, aos

    tratamentos e aos seus efeitos secundários, encontram-se muito debilitados, necessitando de

  • 36

    cuidados de saúde que lhes garantam conforto. Assim sendo, tem de haver uma sistematização

    dos CAB, os quais devem ocupar um lugar de destaque nas intervenções de enfermagem.

    Por conseguinte, é de extrema importância a realização de uma apreciação do estado da

    cavidade oral de forma sistemática dos doentes, sendo esta uma fase fundamental na deteção

    de problemas e na implementação correta dos cuidados a serem prestados (Guillam & Guillam,

    2006; Shragge, Wismer, Olson & Baracos, 2006). De igual modo, Smeltzer e Bare (2005)

    referem que a boca tem de ser observada e avaliada na prática diária dos enfermeiros, devendo

    igualmente envolver-se os doentes e a família, pois, em caso de alta, estes devem ser capazes

    de detetar precocemente as possíveis alterações na mucosa oral que possam surgir. Neste

    sentido, tem de se observar a mucosa jugal, o palato, a língua, a região sublingual, as gengivas,

    os lábios e a orofaringe (Silva & Dias, 2007; Reis, 2014).

    É de referir também que a desidratação se assume como uma complicação muito

    frequente em doentes paliativos, estando a mesma relacionada com a diminuição da

    permeabilidade da via oral (Barbosa & Neto, 2010). De acordo com Navarro, Puchades, Bernal,

    Vela e Sanz (2008), há muitos doentes que não beneficiam com a hidratação artificial. As

    queixas de sede e xerostomia podem ser aliviadas com os CAB, bem como a com a

    administração de pequenas quantidades de líquidos (Chustecka, 2010).

    Como se tem vindo a expor, uma boa prática de CAB é indispensável para que possa

    manter a QDV dos doentes, influenciando o seu conforto, bem-estar, autoestima e imagem

    corporal, sendo igualmente importante para a manutenção do estado nutricional, da saúde da

    cavidade oral e para a prevenção de infeções (Wilkin, 2002; Costello & Coyne, 2008).

    Relativamente à Categoria 3, alterações mais frequentes encontradas na boca dos

    doentes em fase paliativa, verificou-se que as alterações mais frequentes encontrados pelos

    entrevistados foram a mucosite e a xerostomia, pois são dois grandes “problemas” que nesta

    fase de vida aparecem com grande frequência e, por isso, é necessário arranjar métodos para

    evitar ou pelo menos minimizar o seu aparecimento. Estes problemas estão em consonância

    com a literatura (Honnor, 2002; Cohn & Fulton, 2006; Shragge, Wismer, Olson & Baracos,

    2007; Serrano, 2009). Uma boca limpa e saudável é menos propícia a desenvolver problemas

    como a mucosite (Benito, 2006). A mucosite oral tem como manifestações e consequências a

    ulceração, a xerostomia, a ageusia, a dor, as infeções, o sangramento e a alteração do estado

    nutricional, condições que interferem na QDV do doente (Pinho, Misorelli, Montelli

  • 37

    & Longato, 2010), o que implica uma avaliação sistemática e rigorosa da boca, a fim de se

    poderem promover cuidados que minimizem e/ou evitem essas complicações.

    Quanto à Categoria 4, intervenções mediante as alterações encontradas na boca dos

    doentes em fase paliativa, os enfermeiros referiram várias intervenções, sendo as mais

    utilizadas a aplicação de elixir e de bochechos compostos e a realização de uma higiene oral

    adequada, utilizando escovas apropriadas. Neste âmbito, refere-se que podem existir várias

    intervenções para minimizar/evitar o aparecimento de complicações na mucosa oral,

    dependendo, assim, de cada profissional de saúde o meio a utilizar, com a devida formação. As

    intervenções dos enfermeiros corroboram a literatura, uma vez que, como sustenta Reis (2014),

    a higiene oral e os protocolos de cuidados orais abarcam os “bochechos” com fármacos

    específicos, o que se constitui como uma medida preventiva, parte integrante das intervenções

    autónomas de enfermagem. A literatura é unânime ao referenciar que a higiene oral antes,

    durante e após os tratamentos, sobretudo no que se refere à quimioterapia e radioterapia, é

    fundamental de modo a poder-se minimizar e/ou atenuar a ocorrência da mucosite oral, na

    medida em que permite reduzir o desenvolvimento de microrganismos, bem como o risco de

    desenvolvimento da mucosite severa (Albuquerque & Camargo, 2007; Huskinson & Lloyd,

    2009). É importante igualmente os cuidados com os dentes, os quais, segundo a literatura,

    devem ser escovados em todas as suas faces, de preferência, durante 90 segundos, no mínimo

    duas vezes por dia, o que corresponde ao após pequeno-almoço e antes de deitar, escovados

    com escova macia (Sieracki, Voelz, Johannik, Kopaczewski & Hubert, 2009), o que foi

    corroborado no presente estudo.

    Verificou-se, no que diz respeito à Categoria 5, motivos para a boca dos doentes nem

    sempre estar visível nos registos de enfermagem, que, segundo os entrevistados, a invisibilidade

    que existe dos CAB nos registos de enfermagem se deve a maior parte das vezes à “disparidade

    do rácio enfermeiro/doente”, assumindo-se como um fator bastante impeditivo, uma vez que o

    tempo é escasso. Estes resultados corroboram os encontrados por Serrano (2009), na medida

    em que a autora também verificou que algumas das enfermeiras entrevistadas apontaram a

    sobrecarga de trabalho, resultante da disparidade de rácio enfermeiro/doentes, como um dos

    entraves à visibilidade dos CAB nos registos de enfermagem. Deste modo, infere-se que a

    elevada carga de trabalho condiciona quer os CAB, quer todos os cuidados que podem ser

    complexos, à pessoa em CP, porque nem sempre os enfermeiros, como demonstram alguns dos

    seus relatos, têm a maior disponibilidade para tratar doentes em fase terminal.

  • 38

    Todavia, considera-se que seria importante que todos os enfermeiros deixassem

    registadas todas as atuações que praticam durante o turno, nomeadamente, dos CAB. A

    importância dos registos de enfermagem é atualmente reconhecida e indispensável para

    assegurar a continuidade dos cuidados, elevando a sua função de comunicação dos fatores

    resultantes deste processo de cuidados (Martins, Pinto, Lourenço, Pimentel et al., 2008). Assim,

    é imperativo construir uma linguagem em que os CAB estejam bem visíveis. Esta é uma

    realidade prioritária, porquanto permitem dar resposta às necessidades dos doentes no que diz

    respeito às especificidades das intervenções dirigidas, bem como possibilitam a continuidade

    dos cuidados, fundamentais perante as alterações observadas. Desta forma, os registos de

    enfermagem potenciam, quando elaborados adequada e atempadamente, fundamentar tomadas

    de decisão e intervenções, no que concerne à dinâmica individual e à situação clínica de cada

    doente (Martins et al., 2008).

    Estes assumem-se como uma forma de transmissão de informação entre os enfermeiros

    e entre os restantes elementos da equipa de saúde, que estão durante um período de tempo mais

    reduzido em contacto com os doentes. Os registos de enfermagem descrevem as reações dos

    doentes, as observações realizadas, as intervenções planeadas e as avaliações efetuadas, ao

    longo de todo o dia e noite, podendo mesmo ser considerados como o “reflexo de uma

    determinada filosofia do cuidar”. Realizar registos de enfermagem constitui-se como um dever

    de todos os enfermeiros, como preconiza o Código Deontológico do Enfermeiro, que no Art.

    83º, alínea d), onde refere que é dever do enfermeiro “Assegurar a continuidade dos cuidados,

    registando fielmente as observações e intervenções realizadas”. Este registo indispensável para

    a visibilidade das intervenções que se realizam, dado que “a ausência de registo pode ser

    assumida como ausência de realização, com as implicações que decorrem desta possibilidade”.

    Quando se trata dos CAB, é condição sine qua non dar-se-lhe a devida importância para que

    haja a continuidade dos cuidados e para se promover a prevenção de alterações que podem

    adquirir dimensões gravosas para o doente paliativo. Deste modo, todas as observações da

    cavidade oral e respetivos achados devem ser devidamente registadas, para além das

    intervenções efetuadas, da evolução e do impacte que as situações podem ter no doente (Cawley

    & Benson, 2005).

    A promoção de conforto aos doentes em fase paliativa passa também, como já referido,

    pelos CAB, que devem assumir-se como uma prioridade na prestação de cuidados. Nesta fase,

    de modo a satisfazerem-se as suas necessidades físicas, assume muita importância o controlo

    dos sintomas que interferem na QDV (Gomes, 2010).

  • 39

    Ainda neste âmbito, refere-se o estudo de Serrano (2009), onde as enfermeiras

    entrevistadas consideram que a não visibilidade dos CAB nos registos de enfermagem se deve

    ao facto de o registo dos CAB não estar associado a uma rotina ou a um hábito de registo. Por

    outro lado, a autora constatou que não efetuar os registos sobre os CAB pode igualmente estar

    relacionado com o facto de que os enfermeiros considerarem que muito do que fazem não é

    valorizado pelos mesmos e, como tal, não fazem o seu registo, sendo a higiene oral uma situação

    dessas, resultando na pouca visibilidade dos CAB nos registos de enfermagem. No presente

    estudo, também se verificou que houve enfermeiros entrevistados a relatarem que a não

    visibilidade dos CAB nos registos de enfermagem se deve em parte ao facto de os enfermeiros

    não consideram prioritário de forma a ser escrito nos registos, bem como à não

    consciencialização da importância desses cuidados.

    Categoria 6, opinião sobre os CAB serem protocolados, constatou uma unanimidade em

    relação aos CAB estarem devidamente protocolados. De acordo com o estudo de Fulton,

    Middleton e McPhail (2002), os enfermeiros referem que o planeamento e execução dos CAB

    não se baseiam na existência de protocolos. Os resultados apurados no presente estudo estão

    em conformidade com os alcançados por Cohn e Fulton (2006), onde os enfermeiros também

    confirmaram que a utilização de protocolos sobre os CAB é fundamental para uma prestação

    de cuidados uniformes, adequados e continuados. De acordo com os enfermeiros entrevistados,

    não existe qualquer protocolo sobre os CAB, existindo, assim, por parte dos mesmos a vontade

    de melhorar essa lacuna, o que, segundo deixou transparecer os seus testemunhos, seria uma

    mais-valia, pois este tipo de cuidados ficaria mais unificado, enquadrando-se numa prática mais

    rigorosa.

    Assim, é importante o uso sistemático de um método científico que suporte os cuidados

    prestados, os quais devem ser a base do planeamento dos cuidados, tendo em conta que as

    intervenções relacionadas com os CAB, segundo a maioria dos entrevistados, são baseadas em

    rotinas estabelecidas e costumes, em vez de princípios científicos e evidência existente, o que

    pode, na perspetiva de Cohn e Fulton (2006), resultar em práticas subjetivas. Os testemunhos

    dos enfermeiros do presente estudo sugerem que há evidência que providenciam os CAB em

    conformidade com um ritual, pois foi sempre assim que se prestaram os cuidados, tal como

    verificado no estudo de Honnor e Law (2002). Por conseguinte, é fundamental que os

    enfermeiros contribuam em áreas que não a prestação direta de cuidados, cooperando para a

    melhoria e evolução dos cuidados de enfermagem, designadamente através da elaboração de

    “protocolos e sistemas de informação adequados para a prestação dos cuidados” (Regulamento

  • 40

    do Exercício Profissional dos Enfermeiros, 2009, Artg. 9º), porquanto a existência de

    protocolos promove a direção para o cuidado, assumindo-se como uma oportunidade para a

    participação dos vários elementos da equipa multidisciplinar (Fulton, Middleton & McPhail,

    2002).

    Por último e no que concerne à Categoria 7, o que deveria constar no protocolo teria que

    ser bem estuado e avaliado, mas existem vários fatores, como o tempo, a frequência mínima, a

    gravidade, o grau da lesão, a técnica a utilizar, entre outras, que também foi referido pelos

    entrevistados. De uma forma geral, para todos os entrevistados seria importante a criação de

    um protocolo, como um meio facilitador para todos os profissionais de saúde se guiarem e

    prestarem CAB de excelência com o intuito de promover o conforto a todos os doentes. Importa

    a este respeito referir que os protocolos clínicos devem assumir-se como diretrizes terapêuticas

    alicerçadas em evidências científicas e práticas de consenso. Estes promovem o

    desenvolvimento significativo da segurança e qualidade dos cuidados prestados, uma vez que

    atenua a variabilidade da conduta clínica.

    Antes de se dar por terminado este trabalho, refere-se que se encontram algumas

    limitações ao longo da sua elaboração, nomeadamente a escassez de estudos no âmbito dos

    CAB dos doentes em fase paliativa, constituindo-se também uma limitação o número de

    participantes, o que não permite que se façam generalizações dos resultados encontrados. No

    entanto, considera-se que a sua realização contribuiu para o engrandecimento pessoa e

    profissional.

  • 41

    CONCLUSÃO

    O presente trabalho permitiu alcançar os objetivos inicialmente delineados, concluindo-

    se que o tempo que se deveria despender para os CAB aos doentes em fase paliativa é cerca de

    5 a 10 minutos consoante o estado da cavidade oral que cada doente apresenta. Na globalidade,

    os enfermeiros entrevistados consideram que os CAB são uma prioridade, devendo ser parte

    integrante do planeamento dos cuidados, de modo a proporcionar-se bem-estar e conforto aos

    doentes. Concluiu-se que as alterações que mais se encontram na boca dos doentes em fase

    paliativa foram a mucosite e a xerostomia. No que respeita às intervenções mediante as

    alterações encontradas na boca dos doentes em fase paliativa, registaram-se várias intervenções,

    sendo as mais utilizadas a aplicação de elixir e de bochechos compostos e a realização de uma

    higiene oral adequada, utilizando escovas apropriadas.

    De acordo com os entrevistados, a invisibilidade que existe dos CAB nos registos de

    enfermagem deve-se sobretudo à disparidade do rácio enfermeiro/doente, sendo esta

    constatação indicativa de que a elevada carga de trabalho condiciona quer os CAB, quer todos

    os cuidados que podem ser complexos, à pessoa em CP. Constatou-se que quase todos

    enfermeiros são unânimes em relação aos CAB estarem devidamente protocolados, sendo este

    um meio de garantir cuidados mais unificados, num contexto de uma prática profissional mais

    rigorosa. Concluiu-se igualmente que, segundo os testemunhos dos enfermeiros, deveria

    constar no protocolo o tempo, a frequência mínima, a gravidade, o grau da lesão e a técnica a

    utilizar. Tendo reforçado a importância da criação de um protocolo, como garantia de CAB de

    excelência capazes de promover o conforto a todos os doentes em fase paliativa.

    Os resultados obtidos neste estudo levam a sugerir que o tema em questão deve assumir

    um papel de relevo ao nível de futuras investigações, as quais poderão ser complementares aos

    resultados alcançados, permitindo aumentar conhecimentos e melhorar a prática dos CAB em

    CP, resultando em diretrizes que suportem a identificação e monitorização das alterações e

    realização de registos.

  • 42

    REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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