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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE ENGENHARIA DE LORENA JULIA MARIA DE ARAUJO FARIA Validação de método analítico para análise de um pesticida em feijão por cromatografia líquida de alta eficiência acoplada a espectrometria de massas CLAE - EM/EM Lorena 2015

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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

ESCOLA DE ENGENHARIA DE LORENA

JULIA MARIA DE ARAUJO FARIA

Validação de método analítico para análise de um pesticida em feijão por

cromatografia líquida de alta eficiência acoplada a espectrometria de massas

– CLAE - EM/EM

Lorena

2015

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AUTORIZO A REPRODUÇÃO E DIVULGAÇÃO TOTAL OU PARCIAL DESTE TRABALHO, POR QUALQUER MEIOCONVENCIONAL OU ELETRÔNICO, PARA FINS DE ESTUDO E PESQUISA, DESDE QUE CITADA A FONTE

Ficha catalográfica elaborada pelo Sistema Automatizadoda Escola de Engenharia de Lorena,

com os dados fornecidos pelo(a) autor(a)

Faria, Júlia Maria de Araújo Validação de método analítico para análise de umpesticida em feijão por cromatografia líquida dealta eficiência acoplada a espectrometria de massas –CLAE - EM/EM / Júlia Maria de Araújo Faria;orientadora Jayne Carlos de Souza Barboza. - Lorena,2015. 48 p.

Monografia apresentada como requisito parcialpara a conclusão de Graduação do Curso de EngenhariaIndustrial Química - Escola de Engenharia de Lorenada Universidade de São Paulo. 2015Orientadora: Jayne Carlos de Souza Barboza

1. Validação. 2. Pesticida. 3. Clae. 4. Boaspráticas de laboratório. 5. Feijão. I. Título. II.Barboza, Jayne Carlos de Souza, orient.

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JULIA MARIA DE ARAUJO FARIA

Validação de método analítico para análise de um pesticida em feijão por

cromatografia líquida de alta eficiência acoplada a espectrometria de massas –

CLAE - EM/EM

Monografia apresentada à Escola de

Engenharia de Lorena da Universidade

de São Paulo como requisito para

graduação em Engenharia Industrial

Química.

Orientadora: Profa. Dra. Jayne Carlos de

Souza Barboza

LORENA

2015

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Dedico esta monografia a minha família,

amigos, professores e principalmente a

Deus.

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Agradecimentos

Agradeço primeiramente a Deus que me deu o dom da vida e colocou em meu

caminho pessoas e oportunidades que me ajudaram a chegar onde estou hoje. À

minha mãe Ednéia, por ser um exemplo para mim, por me amar incondicionalmente e

por todos ensinamentos. Ao meu pai, que sempre me deu suporte e conselhos durante

sua vida. À minha querida professora Mara, que foi a primeira pessoa a acreditar no

meu potencial e me dar a oportunidade que mudou a minha vida. Agradeço também

aos amigos que fiz durante este período.

Agradeço a todos os professores da EEL pelos ensinamentos na sala de aula.

Agradeço ao meu namorado Wallace, que esteve comigo em todos os momentos me

dando força e me ajudando a crescer como pessoa.

Agradeço também aos amigos do trabalho onde esta monografia foi desenvolvida, em

especial Matheus, Marcella, Roberta, por me ajudarem com o desenvolvimento da

parte experimental e com meu desenvolvimento profissional.

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“O único lugar aonde o sucesso vem antes

do trabalho é no dicionário. ”

Albert Einstein

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RESUMO

FARIA, J. M. de. A. Validação de método analítico para análise de um pesticida em feijão por cromatografia líquida de alta eficiência acoplada a espectrometria de massas – CLAE - EM/EM Monografia (Conclusão do curso Engenharia Industrial Química) – Escola de Engenharia de Lorena, Universidade de São Paulo, 2015.

O trabalho demonstrou como é feita a validação de um método analítico

para análise de um pesticida seguindo-se as normas exigidas pelos órgãos

reguladores brasileiros. A validação de uma metodologia analítica é uma ferramenta

que visa evidenciar e garantir a confiabilidade dos resultados obtidos através da

mesma. No Brasil, qualquer laboratório que pretenda gerar estudos de resíduo para

as agências regulatórias, para fins de submissão de registro de pesticidas, deve

validar toda metodologia envolvida nas análises necessárias para o estudo no

laboratório em que foram gerados os dados. Além disso, deve garantir que todos os

dados foram gerados seguindo-se os princípios de boas práticas de laboratório, por

tratar-se de um estudo que envolve a segurança alimentar do ser humano. Neste

trabalho realizou-se a validação da metodologia de análise para cultura do feijão, que

é cultura representativa do grupo de alto teor de proteína, segundo a RDC nº4 da

ANVISA. Esta validação teve como objetivo possibilitar a execução de qualquer

estudo de amostras contendo resíduo de um dado pesticida, que será chamado de

composto X. Por tratar-se de um estudo de pesquisa e desenvolvimento não foram

citados o nome do pesticida, dos solventes utilizados nas etapas de extração,

purificação e análise cromatográfica, uma vez que o objetivo era a avaliação dos

critérios de validação, que são aplicáveis a qualquer pesticida. O método de análise

baseou-se na extração do pesticida utilizando-se um solvente orgânico, seguido de

partição líquido-líquido com solvente orgânico e aquoso e evaporação com

ressuspensão com solvente apropriado para injeção no sistema de cromatografia

líquida de alta eficiência. O método foi validado com sucesso e obedeceu a todos os

critérios descritos no artigo 23 da RDC Nº4 de 18 de janeiro de 2012.

Palavras-chave: Validação; Pesticida; CLAE; Boas Práticas de Laboratório; Feijão

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LISTA DE EQUAÇÕES

Equação 1. Equação da reta .................................................................................... 23

Equação 2. Cálculo do coeficiente de variação ........................................................ 24

Equação 3. Cálculo da influência de matriz .............................................................. 44

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1. Agrupamento de culturas para validação e estudos de estabilidade de

resíduos de pesticida ............................................................................................... 21

Tabela 2.Exemplo de preparo das soluções padrão de fortificação .......................... 33

Tabela 3.Exemplo de preparo das soluções padrão de calibração ........................... 34

Tabela 4. Resultados de recuperação da validação em feijão – Transição de

quantificação ............................................................................................................. 39

Tabela 5. Resultados de recuperação da validação em feijão – Transição de

confirmação ............................................................................................................... 40

Tabela 6. Influência da matriz na resposta do equipamento – Transição de

quantificação ............................................................................................................. 43

Tabela 7.Influência da matriz na resposta do equipamento – Transição de confirmação

.................................................................................................................................. 43

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1. Estrutura de um pleito de registro.............................................................. 19

Figura 2. Esquema de um sistema modular de CLAE .............................................. 26

Figura 3. Linearidade da curva de calibração – Transição de quantificação ............ 35

Figura 4. Linearidade da curva de calibração – Transição de confirmação .............. 36

Figura 5. Cromatograma da SPC de concentração 0,200 ng/mL ............................. 37

Figura 6. Cromatograma do branco de reagentes .................................................... 37

Figura 7. Cromatograma da amostra testemunha utilizada para fortificação ........... 38

Figura 8. Cromatograma da amostra fortificada no nível do LOQ ............................ 38

Figura 9. Cromatograma da amostra testemunha com adição de padrão de

concentração 0,500 ng/mL ........................................................................................ 41

Figura 10. Cromatograma da amostra testemunha com adição de padrão de

concentração 1,00 ng/mL .......................................................................................... 41

Figura 11. Cromatograma da amostra testemunha com adição de padrão de

concentração 2,00 ng/mL .......................................................................................... 41

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LISTA DE SIGLAS

ANVISA Agência Nacional de Vigilância Sanitária

BPL Boas Práticas de Laboratório

CLAE Cromatografia Líquida de Alta Eficiência

EM Espectrometria de massas

EMBRAPA Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária

IBAMA Instituto Brasileiro do Meio Ambiente

INMETRO Instituto Nacional de Metrologia

LMR Limite máximo de resíduo

LOD Limite de detecção (limit of detection)

LOQ Limite de quantificação (limit of quantification)

MAPA Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

MMA Ministério do Meio Ambiente

MS Ministério da Saúde

OCDE Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico

RDC Resolução da Diretoria Colegiada

RET Registro Especial Temporário

SPE Solução Padrão Estoque

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 14

2. OBJETIVOS ............................................................................................................. 15

2.1.Objetivos específicos ............................................................................................. 15

3. JUSTIFICATIVA ....................................................................................................... 16

4. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ..................................................................................... 16

4.1.Cultura do feijão no Brasil ....................................................................................... 16

4.2. Legislação de Agrotóxicos ................................................................................. 17

4.3. Princípios das Boas Práticas de Laboratório .................................................... 18

4.4. Registro de pesticidas no Brasil ........................................................................ 19

4.5. Critérios de validação ......................................................................................... 20

4.5.1. Especificidade/ seletividade ............................................................................ 22

4.5.2. Curva de calibração e linearidade ................................................................... 22

4.5.3. Sensibilidade .................................................................................................. 23

4.5.4. Precisão ......................................................................................................... 23

4.5.5. Exatidão/Recuperação ................................................................................... 24

4.5.6. Limite de detecção ......................................................................................... 24

4.5.7. Limite de quantificação ................................................................................... 25

4.6. Cromatografia líquida de alta eficiência – CLAE ............................................... 25

4.6.1. O início da cromatografia líquida de alta eficiência ......................................... 25

4.6.2. Equipamentos para CLAE .............................................................................. 26

4.6.2.1. Reservatórios de fase móvel e desgaseificador ....................................... 27

4.6.2.2. Bombeamento ......................................................................................... 27

4.6.2.3. Injetores de amostra ................................................................................ 28

4.6.2.4. Colunas ................................................................................................... 28

4.6.2.5. Fases estacionárias ................................................................................. 29

4.6.2.6. Fases móveis .......................................................................................... 29

4.6.2.7. Detectores ............................................................................................... 30

4.6.2.8. Espectrometria de massas Tandem (EM/EM).......................................... 30

5. MATERIAIS E MÉTODOS ........................................................................................ 31

5.1.Materiais .................................................................................................................... 31

5.1.1. Solventes, reagentes e padrões ..................................................................... 31

5.1.2. Equipamentos ................................................................................................. 31

5.1.3. Vidrarias ......................................................................................................... 32

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5.1.4. Outros materiais ............................................................................................. 32

5.2. Métodos ................................................................................................................ 33

5.2.1. Preparo das soluções padrão ......................................................................... 33

5.2.2. Extração, purificação e quantificação ............................................................. 34

6. Resultados e discussão.......................................................................................... 35

6.1. Linearidade da curva de calibração ................................................................... 35

6.2. Especificidade/seletividade ................................................................................ 36

6.3. Precisão/exatidão ................................................................................................ 39

6.4. Influência da matriz na resposta do equipamento ............................................ 40

7. Conclusão ................................................................................................................ 44

REFERÊNCIAS ................................................................................................................... 46

Anexo A – Termo de permissão de uso de informações ................................................ 48

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1. INTRODUÇÃO

A agricultura exerce um papel fundamental na sociedade e tem como

desafio a produção de alimentos em áreas cada vez menores e com a incidência

de pragas e doenças. Para que seja possível alcançar uma produtividade que

atenda a demanda do mercado faz-se necessário o uso de defensivos agrícolas.

No Brasil a Lei 7.802/89 condicionou os agrotóxicos à obtenção de um registro,

baseado na submissão pela empresa requerente de um conjunto de dados de

desempenho agronômico e de estudos de toxicologia ambiental e humana perante

os três entes públicos reguladores (MAPA, IBAMA e ANVISA) (FRANCO, 2014).

Em 1994, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais

Renováveis (IBAMA), exigiu que a condução dos estudos eco toxicológicos fosse

feita por laboratórios que trabalhassem de acordo com as Boas Práticas de

Laboratório (BPL), e em 1997 juntamente com o Instituto Nacional de Metrologia

Qualidade e Tecnologia (INMETRO) publicou uma portaria estabelecendo os critérios

de BPL para o credenciamento feito pelo INMETRO (RODRIGUES; SOUZA;

WATANABE, 2012).

Boas Práticas de Laboratório é um sistema de garantia da qualidade

que abrange as condições nas quais os estudos não clínicos de saúde e de

segurança ao meio ambiente são planejados, desenvolvidos, monitorados,

registrados, arquivados e relatados (INMETRO; NIT-DICLA-035, 2011). A

Resolução da ANVISA – RDC nº4 de 18 de janeiro de 2012 ainda dispõe sobre

todos os critérios para realização de estudos de resíduo de agrotóxicos para fins

de registro no Brasil e o presente trabalho utilizou estes critérios para a validação

da metodologia de análise.

Esta resolução declara no Artigo 20º, parágrafo 1º, inciso I que “a

validação do método deve ser feita no laboratório executor das análises, garantindo

que o procedimento analítico empregado seja adequado às especificações requeridas

para tal análise, quando produzidas no próprio laboratório” (ANVISA; RDC Nº4, 2012).

A validação do método deve ser realizada para evidenciar e garantir que o

método é adequado ao objetivo desejado. O método deve ser testado para avaliar a

sensibilidade, média das recuperações e precisão. Os estudos de recuperação são

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utilizados para verificar a acurácia do método. São necessárias, no mínimo, 5

replicatas, para verificar a precisão, tanto nos limites de quantificação, quanto em um

nível de maior concentração (ANVISA; RE nº 899, 2003).

O feijão é um dos alimentos mais consumidos no Brasil, ele é a principal

fonte proteica de origem vegetal nos países em desenvolvimento, com um teor de

proteína de 20 a 30%. O Brasil além de ser um dos maiores consumidores deste

grão, também é o maior produtor do chamado feijoeiro comum (Phaseolus vulgaris

L.), seguido pelo México (EMBRAPA, 2015). Esta leguminosa que é produzida

durante o ano todo sofre com uma variedade de pragas e doenças que podem

minar a produtividade e qualidade do produto final.

No presente trabalho foi realizada a validação da metodologia analítica

na cultura do feijão, que pode ser considerada uma cultura representativa do grupo

de alto conteúdo de proteína. Assim, será possível não somente realizar estudos

cuja matriz seja feijão, como todas culturas que façam parte deste grupo.

2. OBJETIVOS

Este trabalho de conclusão de curso teve como objetivo principal a

validação de um método para análise de um pesticida (composto X) utilizando-se

cromatografia líquida acoplada à espectrometria de massas para que a

metodologia possa ser utilizada no laboratório para posteriores estudos de

resíduos deste pesticida em culturas que fazem parte do grupo de alto conteúdo

de proteína.

2.1.Objetivos específicos

Validação da metodologia seguindo-se os critérios da RDC Nº4/2012

para análise do composto X em feijão;

Avaliação do efeito desta matriz na resposta do equipamento;

Aplicação dos princípios de boas práticas de laboratório.

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3. JUSTIFICATIVA

A importância deste trabalho é assegurar a confiabilidade e rastreabilidade,

por meio dos princípios de Boas Práticas de Laboratório, dos dados gerados em

estudos que envolvem a avaliação da segurança alimentar e ambiental no uso de um

agrotóxico. Além disso a necessidade da validação de um método analítico no

laboratório executor de tais estudos é uma exigência do órgão regulamentador federal.

4. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

4.1.Cultura do feijão no Brasil

Por ser um dos alimentos mais consumidos no Brasil o feijão é a

principal fonte proteica de origem vegetal no país, com um teor de proteína de 20

a 30%. Além disso o Brasil é um dos maiores produtores deste grão, chamado

feijoeiro comum (Phaseolus vulgaris L.), seguido pelo México (EMBRAPA, 2015).

A safra do grão é dividida em três etapas, a primeira, conhecida como safra das águas

é assim chamada porque o plantio e a colheita são beneficiados pelo alto índice de

chuvas. O plantio dessa safra na região Centro-Sul vai de agosto a dezembro e no

Nordeste, de outubro a fevereiro. Feita no período com o menor índice de chuva no

país, a segunda safra é chamada de safra da seca. O plantio acontece de dezembro

a março. A terceira safra é a irrigada, é assim conhecida por se referir à colheita do

feijão irrigado, que têm a concentração do plantio na região Centro-Sul, de abril a

junho. O feijão pode ser colhido em média após 90 dias de plantado (MAPA, 2015).

Com isso consegue-se a disponibilidade desta leguminosa durante o ano

todo. O feijoeiro comum é afetado por diversas pragas e doenças, que comprometem

não só a produtividade como também a qualidade do produto final. Por isso se faz

necessário o uso de métodos para minimizar estas pragas por meio de controle

químico.

Para que haja no mercado, cada vez mais, opções de controle para as mais

variadas doenças é necessário o desenvolvimento de novos produtos e consequente

pesquisa, dentre as quais se encontra a presente neste trabalho.

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4.2. Legislação de Agrotóxicos

No Brasil a regulamentação do uso de agrotóxicos foi feita por meio da lei

7.802 elaborada em 11 de julho de 1989. Ela dispõe sobre a experimentação,

produção, comercialização, entre outros aspectos que tangem a utilização de

agroquímicos tanto para fins de exportação quanto de importação. Ela define

agrotóxico como:

“Produtos e os agentes de processos físicos, químicos ou biológicos, destinados ao uso nos setores de produção, no armazenamento e beneficiamento de produtos agrícolas, nas pastagens, na proteção de florestas, nativas ou implantadas, e de outros ecossistemas e também de ambientes urbanos, hídricos e industriais, cuja finalidade seja alterar a composição da flora ou da fauna, a fim de preservá-las da ação danosa de seres vivos considerados nocivos” (Artigo 2º, Lei 7.802 de 1989).

Esta lei define como obrigatório o registro do produto no órgão federal antes

de sua utilização. Para fins de pesquisa e experimentação há a concessão de um

registro especial temporário (RET) que permite a utilização do produto em testes em

quantidades e localização controlada. Ela também define que somente serão

concedidos registros a produtos que apresentem maior eficácia agronômica e menor

toxicidade do que os já existentes no mercado. Além disso, estabelece critérios de

rejeição para aqueles que os estudos toxicológicos, eco toxicológicos evidenciem

risco de câncer, danos ao aparelho reprodutor humano e danos ao meio ambiente.

A Lei nº 7.802/89 define que a aceitação do registro de um agrotóxico

depende de três órgãos de regulação, sendo cada um deles a competência da análise

dos seguintes aspectos:

Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA): eficiência e necessidade

agronômica;

Ministério da Saúde (MS) / ANVISA: análise toxicológica para o ser humano na

exposição de trabalhadores que lidam com agrotóxicos e segurança alimentar

do consumidor;

Ministério do Meio Ambiente (MMA) / IBAMA: impactos ambientais.

Após a análise e aceitação dos estudos requeridos pelos três órgãos, é

papel do MAPA conceder o registro (FRANCO, 2014).

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4.3. Princípios das Boas Práticas de Laboratório

Todos os dados apresentados neste trabalho de conclusão de curso foram

gerados segundo os princípios de BPL uma vez que esta validação será apresentada

no pacote de dados para submissão no pleito de registro do composto X para a cultura

do feijão.

Boas Práticas de Laboratório é um sistema de qualidade que abrange o

processo organizacional e as condições nas quais estudos não-clínicos de saúde e

de segurança ao meio ambiente são planejados, desenvolvidos, monitorados,

registrados, arquivados e relatados (INMETRO; NIT-DICLA-035, 2011).

O IBAMA, por meio da portaria nº139, de 21 de dezembro de 1994, definiu

que os estudos toxicológicos, eco toxicológicos e físico-químicos para avaliação de

agrotóxicos deveriam ser realizados por laboratórios acreditados pelo INMETRO,

segundo os princípios de BPL. Assim, em 1995 iniciou-se no Brasil um programa de

reconhecimento de conformidade aos princípios de BPL e a partir daí o INMETRO

tomou várias ações como a criação de um curso para inspetores em BPL e a

publicação da NIT-DICLA-035, que é uma tradução do documento da Organização

para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico – OCDE chamado “OECD Series

on Principles of Good Laboratory Practice”.

O programa brasileiro BPL passou por uma avaliação da OCDE, em

novembro de 2009, e em maio de 2011 obteve a aceitação mútua de dados para

Avaliação de Produtos Químicos, incluindo testes não-clínicos de segurança

ambiental e saúde humana para as substâncias "agrotóxicos, seus componentes e

afins". Ou seja, a partir de 2011, os estudos desse tipo, gerados no Brasil por

laboratórios em conformidade com a BPL, podem ser aceitos nos países membros da

OCDE e não membros com adesão plena à aceitação mútua de dados (INMETRO,

2015).

Isso foi de grande importância para a comercialização internacional dos

produtos agrícolas brasileiros.

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4.4. Registro de pesticidas no Brasil

Como dito, no Brasil qualquer agrotóxico deve possuir um registro antes de

qualquer atividade, seja ela de experimentação, produção ou utilização. O MAPA tem

o papel de concessão do registro desde que a ANVISA e o IBAMA tenham aceitos os

estudos cuja análise esteja sob sua responsabilidade. A estrutura de um pleito de

registro está apresentada na Figura 1.

Figura 1.Estrutura de um pleito de registro

Fonte: Adaptado do Manual de procedimentos para registro de agrotóxicos

São exigidos um grande número de estudos de âmbito agronômico,

toxicológico e eco toxicológico. Um destes estudos é o estudo de resíduos de

agroquímicos que permanecem no alimento. E para que um laboratório possa

executar tal estudo é necessário que ele possua a metodologia analítica validada, de

acordo com critérios que serão explorados, mais adiante, na cultura na qual pretende-

se obter o registro ou em uma cultura representativa da qual esta cultura faz parte.

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4.5. Critérios de validação

As diretrizes para a realização de um estudo de resíduos de agrotóxicos para

fins de registro no Brasil estão estabelecidas na RDC nº 4 de 18 de janeiro de 2012.

Esta resolução estabelece no artigo 3º, parágrafo 1º a obrigatoriedade da validação

do método no laboratório que executa a análise para garantir que o procedimento seja

adequado às especificações requeridas. No artigo 23 ela dispõe sobre os critérios

mínimos que devem ser avaliados em uma validação, são eles:

Especificidade/seletividade;

Curva de calibração/ linearidade;

Sensibilidade;

Precisão;

Exatidão/ recuperação;

Limite de detecção;

Limite de quantificação.

Estabelece ainda no artigo 23, parágrafo 4º o conceito de cultura representativa

que permite que a validação seja estendida para matrizes que pertençam a um mesmo

grupo de cultura. O agrupamento de culturas é apresentado na tabela1:

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Tabela 1. Agrupamento de culturas para validação e estudos de estabilidade de resíduos de pesticida

Categoria da cultura

Cultura Cultura típica representativa

Alto conteúdo de água

Pomáceas Frutas com caroço, vegetais de bulbos, frutificação legumes /cucurbitáceas, brássicas vegetais folhosos e ervas frescas caule e vegetais caule, legumes frescos tubérculos, cana de açúcar, chá verde, cogumelo oleaginosas, azeitonas, abacate, lúpulo, cacau, grãos de café, especiarias

Maçã, Pêra, damasco, cereja, pêssego, cebola, tomate, melão, pimentão, pepino, melancia, couve-flor, couve de bruxelas, couve, repolho, alface, espinafre, alho-poró, salsão, aspargo, tabaco ervilha em fava, grão de bico, feijão em fava

Alto conteúdo de óleo

Frutos de casca dura Noz, avelã, castanha, colza, girassol, algodão, soja, amendoim

Alto conteúdo de proteína

Legumes secos Feijão, ervilha, lentilha

Alto conteúdo de amido

Grão de cereal, tubérculos, raízes Trigo, centeio, cevada, arroz e aveia, beterraba (tubérculo), cenoura, batata, batata doce, inhame, cará, mandioca

Alto conteúdo ácido

Frutas cítricas, frutas pequenas, groselhas, uvas, kiwis, abacaxi ruibarbo

Limão, mandarina, tangerina, laranja, morango, amora, framboesa

Fonte: Adaptação do anexo II da RDC nº4 de 18 de janeiro de 2012

Antes de falar sobre cada um destes critérios é necessário introduzir a

terminologia utilizada em estudos de resíduo que também está definida nesta

resolução:

Amostra-tratada: Parte do sistema teste que foi submetida ao tratamento com o

pesticida em experimentação, com a dose, forma de aplicação e carência pretendidos

para registro

Amostra-testemunha: Parte do sistema teste mantido nas mesmas condições das

amostras tratadas, mas que não foi submetida ao tratamento com o pesticida

Limite de quantificação – LOQ: valor mínimo de resíduo de agrotóxico que pode ser

quantitativamente identificado pelo método empregado

Limite de detecção – LOD: valor mínimo que pode ser detectado, não quantitativo,

pelo método empregado

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Limite máximo de resíduo – LMR: valor máximo de resíduo encontrado no estudo de

resíduo

Amostra fortificada: Amostra na qual foi colocada uma quantidade conhecida do

analito, através dela é possível observar as perdas que ocorrem durante a rota

analítica.

Em uma validação de uma metodologia para análise de resíduos de

pesticida deve-se conduzir no mínimo dois níveis de fortificação, sendo que o menor

deles deve ser o LOQ do método, repetidos pelo menos 5 vezes. A recuperação média

de cada nível deve estar compreendida entre 70-120% e possuir um coeficiente de

variação menor que 20%. Outros critérios de uma validação serão descritos adiante.

4.5.1. Especificidade/ seletividade

A amostra pode possuir substâncias que interferem na análise. Estes

interferentes podem reduzir ou aumentar o sinal. Além disso esta interferência pode

depender da concentração. Para avaliar a seletividade de uma metodologia podem

ser feitos ensaios com padrões de referência com amostras com e sem o analito. Se

não for possível assegurar a seletividade da metodologia outros parâmetros como

linearidade, recuperação e precisão estarão prejudicados.

Ainda neste critério de validação, a RDC Nº 4/2012 especifica no artigo 23,

parágrafo 3º, inciso I que a amostra-testemunha utilizada para fortificação na

validação não deverá apresentar interferentes em concentrações iguais ou superiores

a 30% (trinta por cento) do limite de quantificação – LOQ do método (ANVISA; RDC

Nº4, 2012).

4.5.2. Curva de calibração e linearidade

Os equipamentos de medição, em sua maioria, estabelecem a sua faixa

dinâmica linear. É preciso, porém, constatar até quando esta faixa de concentração

do analito conjuga-se com a faixa dinâmica linear do equipamento. É importante que

seja conhecida a interdependência entre a resposta medida e a concentração do

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analito. A linearidade é obtida por padronização interna ou externa e a equação da

reta que relaciona as duas variáveis é (Equação 1):

Equação 1. Equação da reta

y = a + bx

Sendo:

y = resposta medida (altura ou área do pico, etc.);

x = concentração;

a = interseção com o eixo y, quando x = 0;

b = inclinação da curva analítica

Vários níveis de concentração do analito são necessários para avaliação

da linearidade da curva de calibração sendo necessários no mínimo 5 pontos (DOQ-

CGCRE-008, 2011). A RDC nº4 ainda diz que cada um deles deverá ser injetado pelo

menos três vezes e que a curva deve apresentar coeficiente de correlação maior ou

igual a 0,99.

4.5.3. Sensibilidade

O método é considerado mais sensível quando pequenas variações de

concentração produzem uma grande variação na resposta, resultando em uma maior

inclinação da reta (b).

4.5.4. Precisão

A precisão é utilizada para avaliar a dispersão dos resultados e é verificada

através das replicatas dos pontos da curva de calibração que não devem apresentar

um coeficiente de variação maior que 20%. O mesmo critério se aplica para as

amostras fortificadas em um mesmo nível, ou até mesmo em dois níveis diferentes. O

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coeficiente de variação, conhecido também como desvio padrão relativo, pode ser

calculado através da seguinte fórmula (Equação 2):

Equação 2. Cálculo do coeficiente de variação

CV = DVR = DPMD ×

Onde:

CV: Coeficiente de variação;

DVR: Desvio padrão relativo;

DP: Desvio padrão;

MD: Média dos valores encontrados.

4.5.5. Exatidão/Recuperação

Tanto nos padrões da curva quanto nas amostras fortificadas, a

concentração teórica do analito é conhecida e através dos valores de recuperação

apresentados pelos padrões da curva de calibração e das amostras fortificadas é

possível analisar a exatidão comparando-se o valor teórico com o real. Como dito,

cada um dos níveis de fortificação deve apresentar média de recuperação entre 70-

120%, enquanto para os padrões da curva devem estar compreendidos entre 70-

130%. As recuperações acima de 100 % podem ser causadas por pequenas

contaminações na rota analítica, erros no preparo do padrão de fortificação, efeito da

matriz na resposta do equipamento, entre outros.

4.5.6. Limite de detecção

Quando a análise envolve analitos que apareçam como traços na amostra

é importante definir o limite de detecção do método que será o menor valor o qual

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pode ser identificado o analito sem poder dizer com certeza sua quantidade. Nos

estudos de resíduo ele é considerado 20% do valor do limite de quantificação.

4.5.7. Limite de quantificação

Em um estudo de resíduo o limite de quantificação do método é o menor

valor que pode ser obtido quantitativamente pela metodologia empregada. Este valor

será utilizado na validação como menor nível de fortificação.

4.6. Cromatografia líquida de alta eficiência – CLAE

De todas as técnicas cromatográficas nas quais a fase móvel é líquida, a

cromatografia líquida de alta eficiência talvez seja a melhor. Seu campo de aplicação

ultrapassa o da cromatografia gasosa, sendo capaz de efetuar análise de compostos

não voláteis, que tendem a se decompor com calor, muito polares ou com um peso

molecular elevado. Outro ponto importante desta técnica é a seletividade que pode

ser alcançada explorando-se as muitas interações que podem ocorrer entre a coluna,

fase móvel e o analito (ROUESSAC,1994). Esta técnica de separação é utilizada para

análise de uma variedade de compostos de interesse industrial como: aminoácidos,

proteínas, hidrocarbonetos, drogas, pesticidas, entre outros.

4.6.1. O início da cromatografia líquida de alta eficiência

A CLAE é uma técnica analítica derivada de uma antiga forma de

cromatografia líquida. A cromatografia líquida foi feita inicialmente utilizando-se

colunas de vidro com diâmetros de 1 a 5 cm e comprimentos de 50 a 500 cm. Para

que a vazão da coluna fosse razoável, o diâmetro de partícula da fase estacionária

deveria estar entre 150 a 200 µm. A despeito disso, as vazões obtidas eram muito

pequenas, na ordem de décimos de milímetros por minuto levando a tempos de

separação em horas.

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Tentativas de aumentar a vazão por meio da aplicação de bombeamento

não trouxeram bons resultados pois diminuíam a eficiência da coluna. Mais tarde os

cientistas descobriram que a diminuição do tamanho das partículas da fase

estacionária conduzia a um aumento da eficiência. A tecnologia necessária para

produção e uso destas fases estacionárias, com partículas de 3 a 10 µm só foi

desenvolvida no fim da década de 60. Necessitava-se de equipamentos que

operassem a altas pressões, bem diferentes das colunas de vidro utilizadas na técnica

anterior (SKOOG, 2002). A técnica moderna melhorou em relação a antiga em termos

de seletividade, resolução através da miniaturização e do uso de fases estacionárias

mais elaboradas.

4.6.2. Equipamentos para CLAE

Um sistema de CLAE é composto por várias unidades específicas que

podem ser encontradas separadamente ou integradas. Um esquema é mostrado na

figura 2.

Figura 2.Esquema de um sistema modular de CLAE

Fonte: Adaptado do livro de Francis Rouessac

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27

O sistema modular facilita a adaptação da instalação de acordo com a

aplicação a ser feita. O modelo vertical dos diferentes módulos oferece uma economia

espacial

.

4.6.2.1. Reservatórios de fase móvel e desgaseificador

Os sistemas modulares de CLAE possuem um ou mais reservatórios para

solventes utilizados como fase móvel durante a análise, que podem ser de vidro ou

aço inoxidável. Estes reservatórios estão ligados a um sistema de remoção dos gases

dissolvidos - geralmente oxigênio e nitrogênio – que se não forem retirados causam

bolhas que acarretam alargamento do pico e atrapalham na eficiência do detector.

Podem haver também filtros para conter particulados que causariam danos no sistema

CLAE. Um sistema de eluição onde emprega-se apenas um solvente com

composição constante é chamado de isocrático. A razão de haver mais de um

reservatório se dá pela possibilidade de eluição com utilização de gradiente, onde são

empregados vários solventes com composição variada ao longo da corrida de injeção.

O gradiente geralmente aumenta a eficiência de separação dos analitos (SKOOG,

2002).

4.6.2.2. Bombeamento

Para atuar em cromatografia líquida de alta eficiência o sistema de

bombeamento precisa dos seguintes requisitos:

Gerar pressões de até 6.000 psi;

Ausência de pulsos na saída;

Velocidade de fluxo que varie de 0,1 a 10 mL/min;

Controle de fluxo

Componentes resistentes à corrosão.

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Três tipos de bombas podem ser encontrados: bombas recíprocas, bombas

seringa e bombas pneumáticas. A mais utilizada delas, cerca de 90% dos sistemas

de CLAE, é a bomba recíproca que tem como vantagens seu pequeno volume interno

(35 a 400µL), pressão de saída de até 10.000 psi e fácil adaptabilidade à eluição com

gradiente e vazões constantes (SKOOG, 2002).

4.6.2.3. Injetores de amostra

Em CLAE, a injeção de um volume preciso de amostra na coluna deve ser

feita tão rápido quanto possível para causar o menor distúrbio no regime dinâmico do

fluxo de fase móvel, que deve ser estável desde a coluna até o detector. O método

mais comum de injeção está baseado em alças (em inglês, loop) que é uma válvula

de duas posições:

Carregar: A amostra em solução é introduzida à pressão atmosférica com o

auxílio de uma seringa em um pequeno tubo chamado de loop. Ele possui um

volume definido.

Injetar: A amostra, agora contida no loop, é inserida no fluxo de fase móvel por

meio de uma rotação de 60º de uma parte da válvula (ROUESSAC,1994).

4.6.2.4. Colunas

As colunas para cromatografia líquida geralmente são feitas de aço

inoxidável, podem ser encontradas também em vidro, mas estas últimas são limitadas

a uma pressão de trabalho de no máximo 600 psi. As colunas analíticas possuem um

comprimento de 10 a 30 cm em geral e diâmetro interno de 4 a 10 mm. O tamanho de

partícula da fase estacionária varia de 5 a 10 µm. Também existem as chamadas pré-

colunas, que são colocadas antes da coluna analítica para reter material particulado,

contaminantes presentes nos solventes e algum componente de amostra que possa

se ligar irreversivelmente à fase estacionária, protegendo-a (SKOOG, 2002).

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29

4.6.2.5. Fases estacionárias

De acordo com a natureza da fase estacionária a cromatografia líquida

pode ser classificada de duas formas:

Fase normal: a fase estacionária apresenta maior polaridade que a fase móvel;

Fase reversa: a fase estacionária apresenta menor polaridade que a fase

móvel.

A fase reversa é usada mais comumente para CLAE por apresentar uma

série de vantagens em relação à fase normal, são elas: menor toxicidade dos

solventes da fase móvel, custo menor de solventes como metanol e água, maior

facilidade de trabalhar com gradiente, boa reprodutibilidade em tempos de retenção

(TONHI et al., 2002).

O material básico para confecção de colunas de fase reversa é a sílica gel,

um sólido rígido e amorfo com fórmula molecular SiO2(H2O)n, onde n é muito próximo

de zero. Ela está na forma de partículas esféricas, que podem ser porosas, com

diâmetro entre 2 a 5 µm. Isso facilita o empacotamento, na coluna, compacto e

homogêneo, permitindo uma circulação regular da fase móvel, sem a formação de

caminhos preferenciais (ROUESSAC,1994).

4.6.2.6. Fases móveis

O grau de interação entre a fase móvel e a fase estacionária irá afetar o

tempo de retenção dos analitos. Por exemplo, ao utilizar fase reversa compostos

apolares serão retidos e os polares sairão da coluna mais rapidamente. Isso dificulta

a separação dos compostos polares, mas ao utilizar-se um gradiente de solventes na

fase móvel é possível melhorar a separação. A escolha da fase móvel e gradiente a

ser utilizada na análise deve ser feita com base no grau de separação que espera

obter do analito de interesse.

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4.6.2.7. Detectores

Existem muitos tipos de detectores para cromatografia líquida de alta

eficiência, são eles: absorbância, fluorescência, eletroquímico, índice de refração,

condutividade, espectrometria de massas, entre outros. Neste trabalho o foco será

dado a este último tipo, por ser o detector utilizado para a validação.

Ao empregar-se cromatografia líquida acoplada a um espectrômetro de

massas, depara-se com incompatibilidades quanto à vazão do eluente do sistema

cromatográfico com relação à velocidade de bombeamento do sistema de vácuo e o

projeto da fonte de íons do espectrômetro de massas. As vazões encontradas em

CLAE são grandes (da ordem de 1,0mL min-1), não sendo possível bombear o eluente

de um cromatógrafo à líquido diretamente para o interior da fonte do espectrômetro,

que opera a pressões de cerca de 1,3 x 10-4Pa. Por isso, é de grande importância

remover toda ou, pelo menos, uma parte significativa da fase móvel (FM) (CHIARADIA

et al., 2008).

Outro problema encontrado no acoplamento de CLAE à espectrometria de

massas é o fato de os compostos em análise apresentarem pouca sensibilidade à

temperatura e baixa volatilidade. Isso torna difícil a ionização, que é um processo

essencial para uma análise espectrométrica.

Várias técnicas de ionização para compostos não voláteis e pouco

sensíveis à temperatura foram desenvolvidas e ajudaram a contornar este problema,

são eles:

Eletro nebulização (Eletrospray ionization)

Ionização química à pressão atmosférica

Fotoionização à pressão atmosférica

4.6.2.8. Espectrometria de massas Tandem (EM/EM)

É um sistema em que dois espectrômetros de massa são utilizados em

sequência, separados por uma câmara de colisão. Esta técnica se sobressai por conta

da sua alta especificidade analítica quando empregada em modo “Multiple Reaction

Monitoring” (MRM), no qual os analisadores de massas Q1 e Q3, selecionam os íons

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precursor e produto, respectivamente, definindo uma transição de m/z específica.

Neste modo, o segundo quadrupolo (Q2) funciona como uma cela de colisão, onde os

íons precursores selecionados de acordo com as razões m/z em Q1, são

fragmentados por dissociação induzida por colisão, após colisões com um gás inerte

sob uma energia específica. Ao se otimizar o detector para um experimento contendo

mais de uma transição para o mesmo íon precursor, gera-se um método confirmatório,

que traz grande confiabilidade aos resultados analisados (MARTINS JÚNIOR et al.,

2006).

5. MATERIAIS E MÉTODOS

A metodologia de pesquisa empregada neste trabalho foi experimental –

Ex post facto, pois a validação da metodologia já tinha sido realizada quando o projeto

de monografia foi escrito. Por esta validação fazer parte de um pacote que ainda será

submetido aos órgãos regulamentadores não serão citados quais os solventes

utilizados, nem quantidades. Foi utilizada uma amostra-testemunha de feijão

proveniente de um estudo de resíduo para realizar a validação nos dois níveis de

fortificação requeridos. Os dados foram avaliados para garantir que todos os critérios

para aceitação da validação, pelos órgãos regulamentadores, fossem obedecidos.

5.1.Materiais 5.1.1. Solventes, reagentes e padrões

Solventes orgânicos de alta pureza para análise em CLAE;

Padrão de referência do composto X;

Água purificada para análise em CLAE

5.1.2. Equipamentos

Agitador mecânico

Balança analítica

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Balança semi-analítica

Banho de ultrassom

Centrífuga

Coluna de cromatografia líquida

Cromatógrafo líquido

Dispensete analógico

Espectrômetro de massas

Homogeneizador

Mesa agitadora

Pipetador automático

Sistema concentrador de amostras

Sistema de purificação de água

5.1.3. Vidrarias

Balões volumétricos calibrados

Béquer

Frasco âmbar

Proveta

Vial para cromatografia

5.1.4. Outros materiais

Espátula metálica

Filtro de celulose regenerada

Frascos de plástico para extração

Pipeta Pasteur

Seringa de plástico descartável

Tubos de centrífuga de polipropileno

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5.2. Métodos

5.2.1. Preparo das soluções padrão Pesou-se em balança analítica com 5 casas de precisão cerca de 10 mg

(corrigindo-se o valor exato pela pureza do padrão) de padrão de referência do

composto X com o auxílio de um béquer de 10 mL e uma espátula metálica. Após

dissolução com um pequeno volume de solvente apropriado, transferiu-se para um

balão volumétrico calibrado de 10 mL, rinsando-se duas vezes o béquer utilizado na

pesagem. Após isso, o volume do balão foi completado até o menisco. A solução

resultante foi transferida para frasco âmbar e armazenada em condições de

temperatura que garantam a estabilidade da mesma. Esta solução foi chamada de

solução padrão estoque (SPE) e tem concentração 1,00 x 106ng/mL. A partir dela

foram feitas as soluções padrão de fortificação (SPF) como mostra a tabela 2.

Tanto no preparo das soluções padrão de fortificação quanto das soluções

padrão de calibração (SPC) foram utilizados solventes/soluções compatíveis com o

analito, e no caso da SPC, com as condições cromatográficas.

Tabela 2.Exemplo de preparo das soluções padrão de fortificação

Solução Concentração

(ng/mL)

Alíquota

(mL)

Volume do

balão (mL)

Nome da

solução

Concentração

(ng/mL)

SPE 1,00x106 0,500 50,0 SPF F 1,00x104

SPF F 1,00x104 0,500 50,0 SPF A 100,0

Fonte: Autoria própria

Para o preparo da curva de calibração foi utilizada a SPF A e as diluições

feitas são demonstradas na tabela 3.

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Tabela 3.Exemplo de preparo das soluções padrão de calibração

Solução Concentração

(ng/mL)

Alíquota

(mL)

Volume do

balão (mL)

Nome da

solução

Concentração

(ng/mL)

SPF A 100,0 5,00 50,0 SPC F 10,0

SPF A 100,0 1,25 25,0 SPC E 5,00

SPF A 100,0 0,500 25,0 SPC D 2,00

SPC E 10,0 2,50 25,0 SPC C 1,00

SPC E 10,0 1,25 25,0 SPC B 0,500

SPC E 10,0 0,500 25,0 SPC A 0,200

Fonte: Autoria própria

Para todas as diluições foram utilizados balões volumétricos calibrados e

pipetadores automáticos calibrados. As SPF’s e SPC’s também foram transferidas

para frascos âmbar e armazenadas em temperatura adequada.

5.2.2. Extração, purificação e quantificação

O método de análise consistiu na pesagem de uma quantidade de amostra-

testemunha, seguida da fortificação nos níveis de fortificação estabelecidos (LOQ e

100 x LOQ). Após isso, foi feita a adição de um solvente orgânico e extração em

homogeneizador. Em seguida retirou-se uma alíquota do extrato e seguiu-se com uma

partição líquido-líquido para purificação da amostra e eliminação de interferentes.

Uma alíquota de fase orgânica foi levada para evaporação para troca de fase. O

resíduo da evaporação foi dissolvido com solução apropriada para injeção, filtrado e

injetado no sistema cromatográfico.

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6. Resultados e discussão

A validação da metodologia foi feita no laboratório de análise de resíduos e

parâmetros como linearidade da curva de calibração, especificidade/seletividade,

precisão/exatidão, influência da matriz na resposta do equipamento foram analisados.

6.1. Linearidade da curva de calibração Para provar a linearidade da curva de calibração foi feita a injeção de 6

padrões em quadruplicata para as duas transições de massa na qual o método foi

validado. A transição mais intensa foi chamada de transição de quantificação (figura

3) e a menos intensa de transição de confirmação (figura 4). O range onde a

linearidade foi testada variou de 0,200 ng/mL a 10,0 ng/mL.

Figura 3.Linearidade da curva de calibração – Transição de quantificação

Fonte: Autoria própria

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Figura 4.Linearidade da curva de calibração – Transição de confirmação

Fonte: Autoria própria

Como se observa na figura 3 e 4, a curva de calibração do composto X

atende aos critérios estabelecidos pela norma RDC nº 4 pois apresenta coeficiente de

correlação maior que 0,99.

6.2. Especificidade/seletividade

Para provar a especificidade e seletividade da metodologia é necessário

observar os cromatogramas do padrão utilizado na curva de calibração de menor

concentração, do branco de reagentes, da amostra testemunha que foi utilizada para

fortificação e da fortificada no nível do LOQ e garantir que não há picos interferentes

no tempo de retenção do analito de interesse. Nas figuras 5 a 8 são apresentados os

cromatogramas obtidos na transição de quantificação. Os cromatogramas da

transição de confirmação apresentaram características similares e, portanto, não

serão apresentados neste trabalho. O tempo de retenção do analito é

aproximadamente 2,1 min.

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Figura 5.Cromatograma da SPC de concentração 0,200 ng/mL

Fonte: Software Analyst

A figura 5 também prova que o equipamento possui a sensibilidade

requerida pela norma pois apresenta uma razão sinal/ruído maior que 3 (relação

sinal/ruído igual a 65 aproximadamente). Essa relação é calculada dividindo-se a

altura do pico (intensity) pela altura do ruído.

Figura 6.Cromatograma do branco de reagentes

Fonte: Software Analyst

A figura 6 demonstra que não há interferentes provenientes dos reagentes e

solventes utilizados na rota analítica. Na figura 6 e 7 observa-se que os picos da linha de base

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não ultrapassam 40 cps de intensidade, sendo que o pico do padrão de menor concentração

(figura 5) possui uma altura aproximada de 1300 cps.

Figura 7.Cromatograma da amostra testemunha utilizada para fortificação

Fonte: Software Analyst

A figura 7 demonstra que a amostra testemunha de feijão utilizada para fazer as

amostras fortificadas da validação não possui interferentes no tempo de retenção do

composto X e também não possui nenhum resíduo do mesmo, pode-se dizer que está “limpa”.

Figura 8.Cromatograma da amostra fortificada no nível do LOQ

Fonte: Software Analyst

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A figura 8 demonstra que o pico do analito não apresenta interferentes

próximos ao seu tempo de retenção e ainda que a presença da matriz não influenciou

no seu formato.

6.3. Precisão/exatidão

Neste trabalho a exatidão do método foi chamada de recuperação e a

precisão é medida pelo coeficiente de variação entre os valores de recuperação. Nas

tabelas 4 e 5 são demostrados os resultados obtidos nas duas transições de massa

para a metodologia validada no nível do LOQ (0,01 mg/Kg) e 100 vezes o LOQ (1

mg/Kg).

Tabela 4.Resultados de recuperação da validação em feijão – Transição de quantificação

Cultura/Parte Analisada

Transição de massa de quantificação

Concentrações Encontradas (mg/kg)

Recuperações (%)

0,010 mg/kg 1,0 mg/kg 0,010 mg/kg

1,0 mg/kg

Feijão

0,00716 0,831 71,6 83,1

0,00774 0,750 77,4 75,0

0,00742 0,828 74,2 82,8

0,00715 0,783 71,5 78,3

0,00753 0,793 75,3 79,3

Média: 74,0 79,7

Desvio padrão: 2,5 3,4

Coeficiente de variação: 3,4 4,2

Média: 76,9

Desvio padrão: 4,1

Coeficiente de variação: 5,3

Fonte: Autoria própria

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Tabela 5. Resultados de recuperação da validação em feijão – Transição de confirmação

Cultura/Parte Analisada

Transição de massa de confirmação

Concentrações Encontradas (mg/kg)

Recuperações (%)

0,010 mg/kg 1,0 mg/kg 0,010 mg/kg

1,0 mg/kg

Feijão

0,00731 0,741 73,1 74,1

0,00721 0,836 72,1 83,6

0,00792 0,781 79,2 78,1

0,00805 0,833 80,5 83,3

0,00799 0,702 79,9 70,2

Média: 77,0 77,9

Desvio padrão: 4,0 5,8

Coeficiente de variação: 5,2 7,5

Média: 77,4

Desvio padrão: 4,7

Coeficiente de variação: 6,1

Fonte: Autoria própria

Observa-se nas tabelas 4 e 5 que a metodologia empregada nesta

validação foi adequada pois obedeceu aos critérios exigidos pela norma RDC Nº4.

Ela apresentou recuperações dentro do intervalo de 70 a 120 % e um

coeficiente de variação menor que 20%, em ambas as transições de massa

estudadas.

6.4. Influência da matriz na resposta do equipamento

É importante conhecer o comportamento do analito quando em contato com

a matriz, pois esta pode influenciar na resposta do equipamento tanto suprimindo o

sinal quanto aumentando-o. Assim podem ser gerados resultados maiores ou

menores do que o real, e por se tratar de uma metodologia que será mais tarde

empregada em estudos que envolvem segurança alimentar isso pode ser desastroso.

Para saber quanto a matriz feijão influencia na resposta do analito no equipamento,

foi feita a adição de três padrões de diferentes concentrações (0,500 ng/mL; 1,00

ng/mL; 2,00 ng/mL) na amostra testemunha.

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As figuras 9 a 11 apresentam os cromatogramas obtidos neste teste de

influência de matriz.

Figura 9.Cromatograma da amostra testemunha com adição de padrão de concentração 0,500 ng/mL

Fonte: Software Analyst

Figura 10.Cromatograma da amostra testemunha com adição de padrão de concentração 1,00 ng/mL

Fonte: Software Analyst

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Figura 11. Cromatograma da amostra testemunha com adição de padrão de concentração 2,00

ng/mL

Fonte: Software Analyst

Para determinar se a influência da matriz era significante a ponto de ser

necessária a utilização de curva diluída com matriz no estudo de validação utilizou-se

a comparação dos três padrões misturados com matriz com os correspondentes

padrões diluídos em solvente. Cada um deles foi injetado em triplicata, e os resultados

obtidos são mostrados nas tabelas 6 e 7.Verifica-se que a influência da matriz pode

ser considerada insignificante pois apresentou médias inferiores a 20%.

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Tabela 6.Influência da matriz na resposta do equipamento – Transição de quantificação

Transição de massa quantificação

Padrão diluído com solvente

Padrão diluído com matriz

Concentração nominal [ng/mL]

Concentração calculada [ng/mL]

Média das concentrações

calculadas [ng/mL]

Concentração calculada [ng/mL]

Média das concentrações

calculadas [ng/mL]

Interferência de matriz [%]1

0,500

0,517

0,501

0,500

0,469 6,4 0,485 0,459

0,502 0,448

1,00 1,00

0,973 1,01

1,04 6,5 0,972 1,09 0,947 1,01

2,00

2,03

1,84

1,80

1,75 5,1 1,75 1,69 1,74 1,75

Interferência de matriz média

[%] 6,0

Fonte: Autoria própria

Tabela 7.Influência da matriz na resposta do equipamento – Transição de confirmação

Transição de massa confirmação

Padrão diluído com solvente

Padrão diluído com matriz

Concentração nominal [ng/mL]

Concentração calculada [ng/mL]

Média das concentrações

calculadas [ng/mL]

Concentração calculada [ng/mL]

Média das concentrações

calculadas [ng/mL]

Interferência de matriz [%]1

0,500

0,554

0,478

0,479

0,519 8,7 0,429 0,525 0,450 0,554

1,00 0,976

0,926 1,03

1,0700 15,6 0,916 1,11 0,885 1,07

2,00

1,89

1,83

1,77

1,7700 3,1 1,79 1,78

1,80 1,76

Interferência de matriz média

[%] 9,1

Fonte: Autoria própria

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O cálculo da interferência de matriz foi feito utilizando-se a equação 3:

Equação 3. Cálculo da influência de matriz

% Interferência de Matriz = (Conc. média padrão em solvente) - (Conc. média padrão em matriz) x 100

(Conc. média padrão em solvente)

Fonte: Autoria própria

7. Conclusão

Uma metodologia de análise de um pesticida foi validada, utilizando-se

cromatografia líquida de alta eficiência acoplada ao espectrômetro de massas, de

acordo com os critérios da RDC nº 4 da ANVISA, que dispõe sobre a pesquisa e

experimentação de agrotóxicos. Obteve-se na validação recuperações de 70 – 84 %

nas duas transições de massa estudadas, sendo que os valores apresentaram boa

reprodutibilidade. O coeficiente de variação destas recuperações foi menor que 7%.

Dessa forma o método utilizado foi considerado exato e preciso para a análise do

composto X.

A curva de calibração utilizada apresentou coeficiente de correlação maior

que 0,99 demonstrando a linearidade do intervalo de trabalho utilizado (0,200 ng/mL

a 10,0 ng/mL). O coeficiente de variação dos padrões na curva, injetados em

quadruplicata, manteve-se abaixo de 20%, comprovando que o equipamento não

apresentava variação na sua resposta em diferentes injeções.

Outro aspecto estudado na validação foi a influência do matriz feijão na

resposta do equipamento, que foi menor que 20%, comprovando que a matriz possui

efeito insignificante, sendo possível a utilização da curva de calibração somente em

solvente. Ainda em relação à matriz, após as etapas de extração e purificação não se

observou interferentes advindos da mesma no tempo de retenção do composto X nas

duas transições de massa avaliadas. Também não foram notados interferentes

derivados dos solventes e reagentes utilizados na análise.

A amostra testemunha utilizada na validação não apresentou resíduos do

composto X.

Os picos cromatográficos apresentaram relação sinal/ruído maior que 3

comprovando a sensibilidade do equipamento requerida pela legislação.

Com base em todos os resultados obtidos conclui-se que a metodologia

aplicada para a análise do composto X foi adequada pois obedeceu a todos os critérios

normativos e a análise foi conduzida seguindo-se as boas práticas de laboratório,

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garantindo-se a rastreabilidade e confiabilidade dos dados gerados e

consequentemente a segurança alimentar dos consumidores.

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REFERÊNCIAS

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Anexo A – Termo de permissão de uso de informações