Universidade de São Paulo - luzimarteixeira.com.br …  · Web viewO Diabetes Tipo 2 é o mais...

62
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE EDUCAÇÃO FÍSICA E ESPORTE O EXERCÍCIO FÍSICO NO TRATAMENTO DO DIABETES MELLITUS GESTACIONAL Ana Rosa Debastiani SÃO PAULO 2007

Transcript of Universidade de São Paulo - luzimarteixeira.com.br …  · Web viewO Diabetes Tipo 2 é o mais...

Page 1: Universidade de São Paulo - luzimarteixeira.com.br …  · Web viewO Diabetes Tipo 2 é o mais parecido com o DMG, porém é um estado permanente de resistência à insulina, enquanto

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULOESCOLA DE EDUCAÇÃO FÍSICA E ESPORTE

O EXERCÍCIO FÍSICO NO TRATAMENTO DO DIABETES MELLITUS GESTACIONAL

Ana Rosa Debastiani

SÃO PAULO2007

Page 2: Universidade de São Paulo - luzimarteixeira.com.br …  · Web viewO Diabetes Tipo 2 é o mais parecido com o DMG, porém é um estado permanente de resistência à insulina, enquanto

O EXERCÍCIO FÍSICO NO TRATAMENTO DO DIABETES MELLITUS GESTACIONAL

ANA ROSA DEBASTIANI

Monografia apresentada à Escola de Educação Física e Esporte da Universidade de São Paulo, como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Educação Física.

ORIENTADOR: PROF. DR. LUZIMAR RAIMUNDO TEIXEIRA

Page 3: Universidade de São Paulo - luzimarteixeira.com.br …  · Web viewO Diabetes Tipo 2 é o mais parecido com o DMG, porém é um estado permanente de resistência à insulina, enquanto

i

1. Introdução......................................................................................................................1

2. Revisão Bibliográfica.....................................................................................................3

2.1. Diabetes Mellitus Gestacional........................................................................5

2.1.1. Diagnóstico do DMG e controle glicêmico..........................................7

2.2. Exercício Físico no Controle do DMG..........................................................15

2.2.1. Benefícios do Exercício Físico..........................................................15

2.2.2. Prescrição de um Programa de Exercícios.......................................20

2.2.3. Contra-Indicações e Riscos do Exercício Físico...............................24

2.3. Recuperação do DMG.............................................................................29

3. Discussão....................................................................................................................31

4. Considerações Finais..................................................................................................35

5. Referências Bibliográficas...........................................................................................36

SUMÁRIO

Page 4: Universidade de São Paulo - luzimarteixeira.com.br …  · Web viewO Diabetes Tipo 2 é o mais parecido com o DMG, porém é um estado permanente de resistência à insulina, enquanto

ii

Tabela 1 – Fatores de Risco para DMG............................................................................8

Tabela 2 – Exercícios Recomendáveis, Aceitáveis e Não-Aceitáveis.............................22

Tabela 3 – Recomendações ACOG................................................................................26

LISTA DE TABELAS

Page 5: Universidade de São Paulo - luzimarteixeira.com.br …  · Web viewO Diabetes Tipo 2 é o mais parecido com o DMG, porém é um estado permanente de resistência à insulina, enquanto

iii

O presente trabalho visa compreender a inter-relação entre a prática de exercícios

físicos e o tratamento do Diabetes Mellitus Gestacional (DMG), importante doença que

se manifesta principalmente em gestantes anteriormente sedentárias. Para tanto foi feita

uma revisão bibliografia de autores que estudam o assunto, incluindo livros, artigos

científicos, monografias, dissertações, teses e variados trabalhos acadêmicos. Embora

haja poucos estudos que tratem da prescrição de um programa de exercícios físicos

para gestantes com DMG e que especifiquem recomendações referentes à freqüência,

duração e intensidade dos exercícios, houve uma concordância unânime entre os

autores sobre os benefícios dos exercícios físicos, principalmente aeróbios, no que se

refere ao controle glicêmico das gestantes e diminuição de complicações diversas.

Exercícios de fortalecimento muscular, de resistência e de flexibilidade também se

mostraram importantes no programa a ser prescrito.

RESUMO

O EXERCÍCIO FÍSICO NO TRATAMENTO DO DIABETES MELLITUS GESTACIONAL

Orientador: PROF. DR. LUZIMAR RAIMUNDO TEIXEIRAAutor: ANA ROSA DEBASTIANI

Page 6: Universidade de São Paulo - luzimarteixeira.com.br …  · Web viewO Diabetes Tipo 2 é o mais parecido com o DMG, porém é um estado permanente de resistência à insulina, enquanto

O Exercício Físico no Tratamento do Diabetes Mellitus Gestacional 1

1. Introdução

O presente trabalho traz uma revisão da literatura referente à terapêutica do

Diabetes Mellitus Gestacional através do exercício físico. É importante ressaltar que

esta revisão bibliográfica está intimamente inserida no contexto da Educação Física,

posto que cada vez mais gestantes com um quadro diabético procuram a prática de

atividades físicas com a orientação de profissionais da área como meio de manter uma

gestação o mais saudável possível, tanto no âmbito biológico quanto no social (sócio-

afetivo).

O Diabetes Mellitus Gestacional (DMG) é uma doença que atinge

aproximadamente 5% das gestantes. Ele é caracterizado por um quadro de

hiperglicemia, hiperinsulinemia e resistência periférica à insulina, ocorrido pela primeira

vez durante a gestação, podendo causar diversas complicações tanto para a mãe

(gestante) quanto para o feto, como morte intra-uterina, morbidades perinatais e risco de

diabetes futuro na mãe e na criança.

O exercício físico visa ao aumento da captura e utilização da glicose pelas células

através do aumento da sensibilidade à insulina nos tecidos periféricos e através de

transportadores GLUT4, que se direcionam para a membrana plasmática com o

estímulo do exercício. Esses mecanismos de captura e utilização de glicose promovem

um melhor controle glicêmico e, portanto, auxiliam no controle e tratamento do DMG.

Entretanto, é importante ressaltar que apenas o exercício físico isoladamente não é

suficiente para atingir esse objetivo. A dieta mostra-se de extrema importância para um

controle glicêmico ideal, fatores afetivos também podem influenciar na adesão ou não

de alguma estratégia de controle da doença e, muitas vezes, a insulinoterapia se faz

necessária. Assim sendo, é importante a presença de uma equipe multidisciplinar,

constituída por médicos especialistas em diabetes, educadores físicos, obstetras,

nutricionistas, fisioterapeutas, psicólogos, entre outros, para que a gestante diabética

obtenha um acompanhamento pautado em diferentes perspectivas e a possibilidade de

diferentes intervenções.

Page 7: Universidade de São Paulo - luzimarteixeira.com.br …  · Web viewO Diabetes Tipo 2 é o mais parecido com o DMG, porém é um estado permanente de resistência à insulina, enquanto

O Exercício Físico no Tratamento do Diabetes Mellitus Gestacional 2

Contudo, tornar-se-ia impossível um estudo que abordasse detalhadamente todos

esses aspectos e alternativas terapêuticas. Portanto, este trabalho focar-se-á nos

aspectos biológicos, mais especificamente fisiológicos, acerca dos efeitos do exercício

físico no controle do DMG, abordando os tópicos principais que dizem respeito a essa

alternativa terapêutica. Tendo como objetivo identificar os efeitos do exercício no

controle do DMG, assim como os tipos, intensidade e freqüência de exercícios físicos

mais utilizados para esse fim, este trabalho se constituirá numa revisão bibliográfica dos

principais autores que tratam do assunto, prioritariamente na perspectiva da Educação

Física.

Page 8: Universidade de São Paulo - luzimarteixeira.com.br …  · Web viewO Diabetes Tipo 2 é o mais parecido com o DMG, porém é um estado permanente de resistência à insulina, enquanto

O Exercício Físico no Tratamento do Diabetes Mellitus Gestacional 3

2. Revisão Bibliográfica

No que se refere às adaptações fisiológicas, a gravidez é conhecida por acarretar

diversos ajustes, inclusive endócrinos, a fim de criar um ambiente ideal para o feto em

desenvolvimento (ARTAL, DRINKWATER & WISWELL, 1999). Os níveis de estrógenos

se elevam, estimulando o crescimento do útero e dos seios, e os níveis de progesterona

também sobem, ajudando no espessamento das paredes uterinas e na inibição da

contração da musculatura lisa (miométrio inclusive) (HANLON & YMCA dos EUA, 1999).

Outra adaptação presente no estado gravídico é o aumento da glicemia, com o

intuito de proporcionar mais combustível (energia) para o desenvolvimento fetal. Essa

hiperglicemia é mais pronunciada no último trimestre da gestação, quando a demanda

fetal por energia se torna maior (CONNOLLY, 1994). Como conseqüência à

hiperglicemia, existe um aumento das concentrações de insulina (hormônio

hipoglicemiante secretado pelas células β do pâncreas) no plasma, porém sua ação se

vê diminuída durante a gestação, através do estado de resistência periférica à insulina

instalado no organismo materno, para garantir um transporte maior de glicose para o

feto (ARTAL, DRINKWATER & WISWELL, 1999). Segundo Ryan, O’Sullivan e Skyler

(1985), o estado de resistência à insulina pode ser caracterizado por uma alteração na

sensibilidade à insulina, na responsividade à insulina, ou em ambos. De acordo com

Catalano (1993) apud Hicks (200), a sensibilidade periférica à insulina durante o terceiro

trimestre de gestação diminui 50% em relação ao primeiro trimestre e a liberação

hepática basal de glicose é 30% mais alta, apesar dos altos níveis de insulinemia.

Devido a esse quadro, a gravidez vem sendo identificada como um estado insulino-

resistente e diabetogênico (CONNOLLY, 1994). Autores sugerem que a sensibilidade à

insulina durante a gravidez é um quinto da observada na mulher não-grávida (ARTAL,

DRINKWATER & WISWELL, 1999). Para Ryan, O’Sullivan e Skyler (1985), durante a

gestação normal há uma diminuição na responsividade “máxima” da insulina e em

mulheres com DMG essa resistência à insulina é ainda maior.

Page 9: Universidade de São Paulo - luzimarteixeira.com.br …  · Web viewO Diabetes Tipo 2 é o mais parecido com o DMG, porém é um estado permanente de resistência à insulina, enquanto

O Exercício Físico no Tratamento do Diabetes Mellitus Gestacional 4

As mudanças hormonais durante a gravidez levam ao incremento da produção e

liberação de insulina pelo pâncreas, numa tentativa de manter a concentração de

glicose materna abaixo do normal e garantir assim o aporte energético para o feto

(VOLPATO et al., 2005). Porém, em algumas mulheres, o pâncreas não é capaz de

sustentar essa demanda aumentada de insulina e então desenvolve-se o diabetes

gestacional (GATLING, HILL & KIRBY, 1998).

Page 10: Universidade de São Paulo - luzimarteixeira.com.br …  · Web viewO Diabetes Tipo 2 é o mais parecido com o DMG, porém é um estado permanente de resistência à insulina, enquanto

O Exercício Físico no Tratamento do Diabetes Mellitus Gestacional 5

2.1. Diabetes Mellitus GestacionalO DMG é um estado diabetogênico diagnosticado durante a gestação, que se

caracteriza por uma hiperglicemia materna (mesmo na presença de hiperinsulinemia),

intolerância à glicose e resistência periférica à insulina. Ou seja, mesmo uma alta

produção de insulina pancreática não é suficiente para manter a euglicemia materna

devido ao processo de resistência periférica à insulina.

O DMG atinge cerca de 2% a 5% das gestantes, embora um estudo de Mello e

Prada (2003) indique incidência de até 12%, geralmente no segundo ou terceiro

trimestre da gravidez (24 a 34 semanas). Essa doença resulta de fatores que aumentam

a síntese de glicose ou a resistência periférica à insulina, tais como degradação

placentária da insulina, aumento do nível sérico de ácidos graxos, elevação de

glicocorticóides no plasma, elevação de estrogênios e progestogênios e crescente

produção placentária de hormônio lactogênico (REY, 2003).

Segundo estudo com ratas Wistar virgens e prenhes (LETURQUE et al., 1986), a

resistência à insulina parece resultar de uma queda na sensibilidade do fígado e tecidos

periféricos à insulina. Estes autores mediram a utilização de glicose pelo tecido

muscular, adiposo e cerebral de ratas virgens e prenhes (fase final da gestação) em

condições basais e durante estado euglicêmico-hiperinsulinêmico (400µU/ml), sendo

que a utilização fetal e placentária de glicose também foi medida nas ratas prenhes.

Para atingir o estado euglicêmi-hiperinsulinemico, foi injetada insulina exógena numa

taxa constante de 0,4U/kg/h pela veia safena das ratas e o sangue foi monitorado a

cada 5 minutos, sendo praticada a infusão de glicose exógena para se manter a

euglicemia.

Como resultados, enquanto a utilização fetal de glicose foi alta sem depender do

estado hiperinsulinêmico materno, a utilização placentária foi aumentada em 30%

durante a hiperinsulinemia materna. Em estado basal, a utilização materna de glicose

não foi alterada pela gravidez nos tecidos musculares estudados, nem no tecido adiposo

e cerebral. Já em estado hiperinsulinêmico, a utilização de glicose no tecido muscular e

adiposo das ratas prenhes foi 30-70% mais baixa comparada às ratas virgens. A

Page 11: Universidade de São Paulo - luzimarteixeira.com.br …  · Web viewO Diabetes Tipo 2 é o mais parecido com o DMG, porém é um estado permanente de resistência à insulina, enquanto

O Exercício Físico no Tratamento do Diabetes Mellitus Gestacional 6

sensibilidade à insulina de todos os tecidos testados (com exceção do cérebro, o qual

não foi afetado nem pela gravidez, nem pelo estado hiperinsulinêmico) foi 50% mais

baixa nas ratas prenhes que nas ratas virgens, o que confirma o estado de resistência

periférica à insulina durante período tardio da gestação, embora os mecanismos pelos

quais essa resistência ocorre ainda permaneçam incertos (LETURQUE et al., 1986).

É importante ressaltar que o DMG é muito distinto do Diabetes pré-gestacional, que

se divide entre Diabetes Tipo 1, em que a paciente/gestante não é capaz de produzir

insulina e necessita a aplicação de insulina exógena, e o Diabetes Tipo 2, em que a

paciente/gestante produz insulina, mas é resistente a sua ação. O Diabetes Tipo 2 é o

mais parecido com o DMG, porém é um estado permanente de resistência à insulina,

enquanto que a maioria das mulheres com DMG volta à normalidade após o parto.

Contudo, de 30 a 60% das mulheres que desenvolvem o DMG progridem para um

quadro de Diabetes Mellitus Tipo 2 (não insulino-dependente) em 5 a 10 anos após o

término da gestação (BRINKMAN III, LIEB & NUWAYHID, 1987).

Segundo Brinkman III, Lieb e Nuwayhid (1987), fatores que contribuem para a

intolerância à glicose, principalmente na fase final da gestação, são a produção

insuficiente de insulina, juntamente com o aumento endógeno dos hormônios

tireoidianos (T3 e T4), GH, cortisol, estrogênio, progesterona e lactogênio placentário

(hPL), a degradação placentária de insulina e os anticorpos contra a insulina. Para Hicks

(2000), o hPL tem um papel muito importante no aumento da intolerância à glicose,

devido aos seus efeitos lipolíticos e anti-insulínicos.

Na presença do DMG, os ácidos graxos livres, as cetonas, a glicose, o lactato e os

aminoácidos estão aumentados no sangue materno (cetoacidose diabética). Todos,

exceto os ácidos graxos livres, estão elevados também no feto, sendo que este reage

com hiperinsulinemia e transforma esses substratos em gorduras e proteínas,

resultando na macrossomia típica observada em gestações diabéticas (ARTAL,

DRINKWATER & WISWELL, 1999). Anomalias congênitas como regressão caudal,

defeitos no desenvolvimento do tubo neural e problemas cardíacos e renais afetam 7 a

10% dos filhos de mulheres diabéticas (BLOOMGARDEN, 2003). Outros riscos para o

Page 12: Universidade de São Paulo - luzimarteixeira.com.br …  · Web viewO Diabetes Tipo 2 é o mais parecido com o DMG, porém é um estado permanente de resistência à insulina, enquanto

O Exercício Físico no Tratamento do Diabetes Mellitus Gestacional 7

feto são abortos espontâneos e morte perinatal (BRINKMAN III, LIEB & NUWAYHID,

1987).

Embora a glicose seja transportada do organismo materno para o feto através de

difusão facilitada pela placenta, a insulina materna não atravessa a barreira placentária

(ARTAL, DRINKWATER & WISWELL, 1999). A hiperglicemia fetal, como já foi dito, pode

levar à macrossomia, pois o excesso de glicose é captado pelas células dos tecidos

fetais através da ação da insulina e transformado em gordura. Este estado

hiperglicêmico também promove a hiperplasia das células β do pâncreas fetal, devido a

exigência aumentada de produção e secreção insulínica (BRINKMAN III, LIEB &

NUWAYHID, 1987), causando a sua maturação precoce (ARTAL, DRINKWATER &

WISWELL, 1999). Segundo Mumtaz (2000), os bebês de gestantes com DMG têm risco

elevado de mortalidade perinatal, macrossomia, icterícia, policitemia, hipocalcemia e

distocia de ombro. A hipoglicemia neonatal transitória é mais comum na presença de

DMG, atingindo 50% dos bebês macrossômicos e 5 a 15% dos bebês nascidos com

peso controlado, porém com mães que desenvolveram DMG. (LANDON, 1996 apud

Mumtaz, 2000).

O excesso de atividade também pode levar o pâncreas materno à falência e,

assim, à interrupção de produção e secreção de insulina. Neste caso, é necessária a

insulinoterapia, ou seja, a infusão de insulina exógena no organismo materno.

2.1.1. Diagnóstico do DMG e controle glicêmicoO DMG deve ser detectado e controlado o quanto antes possível, a fim de se evitar

complicações materno-fetais, como a morte fetal, algumas morbidades perinatais (a

exemplo da hipoglicemia neonatal), risco de diabetes futuro na mãe e na criança, risco

aumentado de pré-eclâmpsia, que é o desenvolvimento de hipertensão com edema e/ou

proteinúria devido à gestação, e polidrâmnio, que é o excesso de líquido aminiótico,

caracterizado por volume ≥ 2000ml, sendo que o normal é 1000ml na 38ª semana e

300ml no feto a termo. Na gravidez polidrâmnica, constata-se forte redução na

Page 13: Universidade de São Paulo - luzimarteixeira.com.br …  · Web viewO Diabetes Tipo 2 é o mais parecido com o DMG, porém é um estado permanente de resistência à insulina, enquanto

O Exercício Físico no Tratamento do Diabetes Mellitus Gestacional 8

concentração de lipídios no líquido amniótico (5 vezes menor), o que mostra haver um

distúrbio metabólico e não simples acúmulo de água. Malformações do concepto, como

anencefalia, atresia do esôfago ou do duodeno, hidrocefalia e espinha bífida estão

muitas vezes relacionadas com esse distúrbio (REY, 2003). Segundo Mumtaz (2000), a

gestante com DMG ainda está sob um risco aumentado de desenvolver hipertensão e

hiperlipidemia.

Para Veciana et al. (1995), a obesidade, idade da mãe superior a 35 anos,

glicosúria, histórico de diabetes em parentes de primeiro grau, natimorte ou aborto

anteriores são considerados os principais fatores de risco para o DMG. Já para Reichelt,

Oppermann e Schmidt (2002), os fatores de risco para o DMG são: idade materna

superior a 25 anos, obesidade ou ganho excessivo de peso na gravidez atual,

deposição central excessiva de gordura corporal, história familiar de diabetes em

parentes de 1º grau, baixa estatura (≤ 1,50m), crescimento fetal excessivo, polidrâmnio,

hipertensão ou pré-eclâmpsia na gravidez atual e antecedentes obstétricos de morte

fetal ou neonatal, de macrossomia ou de diabetes gestacional.

Naylor et al. (1997) propõem uma classificação entre os grupos de risco para o

DMG. Na tabela a seguir, são apresentadas as variáveis utilizadas em seu estudo e a

classificação de cada uma delas de acordo com o risco que oferecem para o

desenvolvimento do DMG:

Tabela 1 – Fatores de Risco para DMGFator de Risco Pontuação

Idade ≤ 30 anos 0Idade entre 31 e 34 anos 1Idade ≥ 35 anos 2IMC ≤ 22,0 0IMC entre 22,1 e 25,0 2IMC ≥ 25,1 3Raça Branca 0Raça Negra 0Raça Asiática 5Outras raças 2

Page 14: Universidade de São Paulo - luzimarteixeira.com.br …  · Web viewO Diabetes Tipo 2 é o mais parecido com o DMG, porém é um estado permanente de resistência à insulina, enquanto

O Exercício Físico no Tratamento do Diabetes Mellitus Gestacional 9

São classificadas como grupo de baixo risco as mulheres com scores igual a 0 ou

1. As mulheres com scores de 2 ou 3 são classificadas como de médio risco e as com

scores iguais ou superiores a 4 são classificadas como de alto risco.

Tradicionalmente, todas as gestantes são submetidas a um teste de tolerância à

glicose entre a 24ª e 28ª semana de gestação. O teste normalmente utilizado para

diagnosticar o DMG é o GST (Glucose Screening Test) – 1h – 50g, o qual pode ser

aplicado a qualquer hora do dia, sendo que a gestante não precisa estar em jejum. O

teste consiste na administração de 50g de glicose em solução via oral e medição da

concentração de glicose plasmática após 1 hora. O valor limite de glicemia é de

140mg/dL, sendo que se a gestante atingir ou ultrapassor esse valor, pode ser

diagnosticado o DMG (HICKS, 2000). Naylor et al. (1997) propõem ajustes nos valores

de referência para este teste. Segundo estes autores, para gestantes de baixo risco

(scores entre 0 e 1) o GST – 1h – 50g não precisa ser aplicado, por existir uma

probabilidade muito pequena de diagnóstico do DMG. Para gestantes de médio risco

(scores entre 2 e 3), o valor limite de glicemia após 1 hora do início do teste deve ser

mantido em 140mg/dL e para gestantes de alto risco (scores acima de 3) este valor

deve ser ajustado para 128 a 130mg/dL.

Coustan et al. (1989) apud Hicks (2000) constatou que 10% das mulheres

diagnosticadas com DMG através de um outro teste, o GTT – 3h – 100g, obtiveram

resultado negativo no GST – 1h – 50g sem os ajustes propostos por Naylor et al.,

obtendo resultados entre 130 e 139mg/dL. Portanto, para gestantes que apresentam

esses resultados limítrofes, é necessário um re-teste com o GTS – 1h – 50g após uma

semana ou a aplicação do teste GTT – 3h – 100g.

O GTT possui um procedimento muito parecido com o do GST, porém são

administradas 100g de glicose em solução via oral e a glicemia da gestante é medida

após 1, 2 e 3 horas. A gestante deve estar em jejum de 8 a 14 horas para se submeter a

esse teste e a glicemia limite para o jejum é de 95mg/dL. Os valores limites para 1, 2 e 3

horas são, respectivamente, 180mg/dL, 155mg/dL e 140mg/dL. O DMG é diagnosticado

Page 15: Universidade de São Paulo - luzimarteixeira.com.br …  · Web viewO Diabetes Tipo 2 é o mais parecido com o DMG, porém é um estado permanente de resistência à insulina, enquanto

O Exercício Físico no Tratamento do Diabetes Mellitus Gestacional 10

se a gestante atingir ou ultrapassar pelo menos dois dos valores limites do teste

glicêmico (HICKS, 2000).

Segundo Reichelt, Oppermann e Schmidt (2002), a 2ª Reunião do Grupo de

Trabalho em Diabetes e Gravidez recomenda um rastreamento universal para o DMG

através da medição da glicemia de jejum, independente da presença de fatores de risco.

Se executado antes da 20ª semana de gestação, esse teste pode indicar uma diabetes

pré-gestacional, caso o resultado seja positivo (glicemia ≥ 85 ou 90mg/dL), ou a

necessidade de repetição do teste após a 20ª semana de gestação, caso o resultado

seja negativo.

No caso de rastreamento positivo, ou seja, resultado positivo no teste de glicemia

de jejum após a 20ª semana de gestação, é necessária a aplicação de um teste

diagnóstico, o qual pode ser uma repetição do teste de jejum (se o valor obtido no

primeiro teste de jejum for superior a 110mg/dL) ou o teste padronizado de 75g de

glicose em 2 horas (se o valor obtido no primeiro teste de jejum for inferior a 110mg/dL).

Para o teste de 75g – 2h, os valores limites são 110mg/dL em jejum e 140mg/dL após 2

horas. (REICHELT, OPPERMANN & SCHMIDT, 2002)

Diagnosticado o DMG, a gestante deve se submeter diariamente à medição da

glicemia (por meio do uso de um glicosímetro) antes do café da manhã (jejum) e 2 horas

após esta refeição. Os valores máximos aceitáveis para a medição da glicemia em jejum

é de 95mg/dL ou 105mg/dL. Para a medição 2 horas após o café da manhã, o valor

máximo aceitável é de 120mg/dL (Hicks, 2000). Segundo Langer et al. (1991) apud

Hicks (2000), essa pequena faixa entre os valores máximos de glicemia de jejum (95 a

105mg/dL) pode acarretar diferenças drásticas. Esses autores encontraram que a

incidência de bebês grandes para a idade gestacional (LGA – Large for Gestational Age)

é de 28% a 29% em mulheres com glicemia de jejum aceitável até 105mg/dL, enquanto

que a incidência de bebês LGA em mulheres com glicemia de jejum aceitável até

95mg/dL é de apenas 5%. Frente a esses dados, pode-se dizer que para um controle

glicêmico ideal, deve-se manter como parâmetro para glicemia de jejum o valor de

Page 16: Universidade de São Paulo - luzimarteixeira.com.br …  · Web viewO Diabetes Tipo 2 é o mais parecido com o DMG, porém é um estado permanente de resistência à insulina, enquanto

O Exercício Físico no Tratamento do Diabetes Mellitus Gestacional 11

95mg/dL, afim de diminuir a probabilidade de bebês grandes para a idade gestacional

em gestantes com DMG.

O monitoramento e controle glicêmico é muito importante para o desenvolvimento

de uma gestação saudável. Segundo a American Diabetes Association (2004), valores

glicêmicos acima de 105mg/dL em jejum também podem estar associados com o

aumento do risco de morte intra-uterina.

Veciana et al. (1995) comparou o efeito do controle glicêmico através de

monitoramento pré e pós-prandial. O monitoramento glicêmico pré-prandial se constituía

na medição da glicemia em jejum, antes das refeições e à noite, próximo à hora da

gestante ir dormir. No monitoramento pós-prandial, eram medidas a glicemia de jejum

(antes do café da manhã) e uma hora após cada refeição do dia. Todas as gestantes

estavam submetidas à insulinoterapia e tinham sua dieta controlada, sem a presença de

exercícios físicos. O monitoramento da glicemia orientava os ajustes nas doses de

insulina a fim de manter a glicemia ideal para cada caso.

Esses autores encontraram diferenças significativas entre os dois grupos de

gestantes (grupo pré e grupo pós-prandial). Os bebês das gestantes do grupo pós-

prandial nasceram com menor peso e houve menos casos de bebês grandes para a

idade gestacional e macrossômicos. Neste grupo também houve menor ocorrência de

parto por cesárea e hipoglicemia neonatal, além de menor incidência de distocia de

ombro (luxação do ombro por tração na hora do

parto, devido a macrossomicidade do bebê e/ou demora no parto, ocasionando lesão no

plexo braquial) nos bebês nascidos por parto natural.

Além do monitoramento glicêmico e dieta, existe mais uma opção para controle da

glicemia materna. Quando a dieta apenas não é mais suficiente para um bom controle

glicêmico, passa-se a utilizar insulinoterapia como estratégia para se manter a

euglicemmia.

Levando-se em consideração os resultados do estudo de Veciana et al. (1995),

pode-se dizer que o monitoramento glicêmico pós-prandial (1 hora após cada refeição),

em combinação com o monitoramento da glicemia de jejum, é mais efetivo para

Page 17: Universidade de São Paulo - luzimarteixeira.com.br …  · Web viewO Diabetes Tipo 2 é o mais parecido com o DMG, porém é um estado permanente de resistência à insulina, enquanto

O Exercício Físico no Tratamento do Diabetes Mellitus Gestacional 12

determinar a dosagem insulínica de gestantes sob insulinoterapia e assim promover um

melhor controle glicêmico. Uma questão ainda a ser esclarecida é se esse

monitoramento também pode ser aplicado a gestantes que controlam a glicemia através

da atividade física e não por insulinoterapia. Em caso afirmativo, devem-se confirmar os

valores limítrofes para o monitoramento glicêmico e quais as intervenções referentes à

atividade física (tipo, volume, intensidade e freqüência) que devem ser praticadas para

atingir os valores glicêmicos ideais. Para tal, são necessários mais estudos na área de

atividade física, gestação e DMG.

Sem entrar no mérito da atividade física, Crowther et al. (2005) comparou a

incidência de morbidades perinatais (morte, distocia de ombro, fratura e paralisia

nervosa) em filhos de mulheres que tratavam seu DMG com dieta, insulinoterapia e

monitoramento glicêmico (grupo intervenção) e aquelas que possuíam os cuidados

médicos rotineiros de gestantes normais (grupo controle). Como resultado, teve-se que

taxa de morbidades perinatais foi significantemente menor no grupo intervenção (1%)

comparado com o grupo controle (4%). A indução de parto foi maior no grupo

intervenção, embora a incidência de cesárea tenha sido similar nos dois grupos.

Conseqüentemente, os filhos de mulheres do grupo intervenção apresentaram menor

peso ao nascer e menor idade gestacional. A incidência de bebês grandes para a idade

gestacional (LGA) e de macrossomia foi significantemente menor no grupo intervenção

e menos gestantes desse grupo receberam o diagnóstico de pré-eclampsia durante o

período pré-natal comparado com o grupo controle. Também não ocorreu morte

perinatal no grupo intervenção, enquanto que houve três abortos e duas mortes

perinatais no grupo controle. Não houve diferença na incidência de distocia de ombro

entre o grupo intervenção e o grupo controle e nenhum dos bebês do grupo intervenção

sofreu fratura ou paralisia nervosa.

Além desses resultados, menos mulheres no grupo intervenção apresentaram um

score sugestivo de depressão através de questionários aplicados três meses após o

parto, embora o nível de ansiedade tenha sido similar nos dois grupos. Em resumo, este

estudo reafirma a necessidade do controle dietético, insulinoterapia e do monitoramento

Page 18: Universidade de São Paulo - luzimarteixeira.com.br …  · Web viewO Diabetes Tipo 2 é o mais parecido com o DMG, porém é um estado permanente de resistência à insulina, enquanto

O Exercício Físico no Tratamento do Diabetes Mellitus Gestacional 13

glicêmico em mulheres com DMG, confirmando-se que o tratamento dessa doença

reduz a incidência de morbidades perinatais sérias e também melhora a qualidade de

vida materna no que diz respeito à sua saúde.

Mais uma alternativa para manter o controle glicêmico é o uso de hipoglicemiantes

(ou anti-hiperglicemiantes) orais. Essas drogas são mais baratas e de mais fácil

administração que a insulina, porém seu uso durante a gestação ainda é polêmico

devido à preocupação com possíveis anomalias congênitas, causadas pelo transpasse

dessas substâncias através da placenta, interferindo no metabolismo fetal.

Langer et al. (2000) afirma que já foi documentada a capacidade da primeira-

geração de sulfoniluréias (anti-hiperglicemiantes usados por gestantes diabéticas) de

transpassar a placenta causando hipoglicemia fetal. Como alternativa, administrava-se

metformina em seu lugar, porém esta não era tão eficiente em controlar a hiperglicemia

materna. Frente a esses dados, procurou-se mais uma opção, a qual seria o uso de

segunda-geração de sulfoniluréias, que também não transpassam a barreira placentária.

Em estudo de Langer et al. (2000) comparou-se o uso de insulina e de um

hipoglicemiante de segunda-geração de sulfoniluréia (glyburide). Como resultados, não

se observaram diferenças na incidência de bebês grandes para a idade gestacional,

macrossômicos, com complicações pulmonares, hipoglicemia ou anomalias fetais.

Corrêa & Gomes (2004) não encontraram nenhuma complicação relacionada ao

uso de antidiabetogênicos orais durante a gestação, porém afirmam a necessidade de

mais estudos que confirmem seus resultados. Os antidiabetogênicos em uso neste

estudo eram sulfoniluréias e/ou metformina e os autores não encontraram diferença

para o controle glicêmico entre essas drogas e a insulina. Referente às complicações

secundárias, os autores observaram a ocorrência de hipoglicemia, icterícia e policitemia

(aumento do número de hemácias no sangue circulante, com conseqüente aumento do

volume globular e viscosidade sangüínea) em proporções semelhantes àquelas

encontradas com o uso de insulina. Não houve ocorrência de hipoglicemia ou pré-

eclâmpsia nas gestantes em uso da metformina, porém todos os filhos destas gestantes

foram macrossômicos.

Page 19: Universidade de São Paulo - luzimarteixeira.com.br …  · Web viewO Diabetes Tipo 2 é o mais parecido com o DMG, porém é um estado permanente de resistência à insulina, enquanto

O Exercício Físico no Tratamento do Diabetes Mellitus Gestacional 14

Silva et al. (2005) comparou a eficácia da glibenclamida e da arcabose com a

insulina no tratamento do DMG. A glibenclamida, sengundo observado em ensaio clínico

com mais de 400 gestantes com DMG, é um anti-hiperglicemiante que não cruza a

barreira placentária, não altera os níveis de insulina fetal e não está associada ao

aumento da mortalidade perinatal, apresentando resultados perinatais próximos aos da

insulina. A arcabose atrasa a digestão e distribuição dos carboidratos ingeridos,

resultando numa elevação menos acentuada da glicemia pós-prandial. No estudo de

Silva et al. (2005), o grupo controle utilizou insulina humana para manter o controle

gilcêmico, enquanto um primeiro grupo experimental utilizou glibenclamida

(ambulatorialmente) e um segundo grupo utilizou arcabose antes das principais

refeições. Como resultado, observou-se a incidência de fetos grandes para idade

gestacional igual a 5,5%, 31,5% e 11,1% nos grupos tratados com insulina,

glibenclamida e arcabose, respectivamente. Houve macrossomia apenas no grupo

glibenclamida, no qual a incidência de hipoglicemia neonatal foi de 21% (quatro casos).

Nenhum óbito perinatal ou caso de tocotraumatismo foi observado em quaisquer dos

grupos. Houve necessidade de mudança da terapêutica para insulinoterapia em sete

pacientes que utilizaram arcabose (38,8%) e em três que utilizaram glibenclamida

(15,7%), o que demonstra uma menor efetividade da arcabose comparada à

glibenclamida para o controle glicêmico. Através deste estudo, observou-se que a

arcabose e a glibenclamida representam alternativas promissoras para a terapêutica do

DMG, embora sua eficiência ainda seja menor que a da insulina.

Frente a isso, coloca-se em questão se o exercício físico seria uma alternativa

viável para controlar a glicemia materna, podendo assim reduzir, ou até eliminar a

necessidade de insulinoterapia ou de hipoglicemiantes orais.

Page 20: Universidade de São Paulo - luzimarteixeira.com.br …  · Web viewO Diabetes Tipo 2 é o mais parecido com o DMG, porém é um estado permanente de resistência à insulina, enquanto

O Exercício Físico no Tratamento do Diabetes Mellitus Gestacional 15

2.2. Exercício Físico no Controle do DMGAo longo da história, acreditou-se que o exercício físico em nada auxiliaria na

saúde e bem estar da gestante. Pelo contrário, o exercício era tido como um fator de

risco, por expor a gestante a condições adversas como hipertermia e redirecionamento

do fluxo sangüíneo para a periferia do corpo, diminuindo o aporte de oxigênio para o

feto e aumentando as chances de complicações na gestação e aborto.

Hoje, porém, sabe-se que o exercício físico bem estruturado e orientado é de

extremo benefício para a gestação. Deve-se lembrar, primeiramente, que existem

diferentes razões que levam as gestantes a procurarem um programa de exercício

físico, entre elas a necessidade de companhia, a formação de novos laços sociais, a

participação de grupos sociais com mesmos interesses que os seus (outras gestantes) e

o alívio do estresse mental/emocional causado pela gestação (HARTMANN & BUNG,

1999).

2.2.1. Benefícios do Exercício FísicoSegundo revisão bibliográfica de Batista et al. (2003), o exercício físico durante a

gestação tem sido considerado benéfico por prevenir e reduzir lombalgias, fortalecer a

musculatura pélvica, diminuir a taxa de nascimentos por cesárea, melhorar a

flexibilidade e tolerância à dor (inclusive a dor do parto), além de elevar a auto-estima da

gestante.

Alguns dos benefícios adquiridos pelo exercício físico durante a gestação são

citados por Hartmann e Bung (1999): melhora no bem estar psicológico (aumento da

auto-confiança, satisfação, etc), manutenção do condicionamento físico, redução do

estresse cardio-vascular, prevenção do ganho de peso exagerado, prevenção de

tromboses e varizes, prevenção de dores nas costas e recuperação pós-parto mais

rápida. Segundo esses e outros autores, exercícios físicos dentro da água parecem ser

os mais indicados para gestantes devido à pressão hidrostática que favorece a

passagem do fluido extravascular para o espaço intravascular, aumentando a diurese e

Page 21: Universidade de São Paulo - luzimarteixeira.com.br …  · Web viewO Diabetes Tipo 2 é o mais parecido com o DMG, porém é um estado permanente de resistência à insulina, enquanto

O Exercício Físico no Tratamento do Diabetes Mellitus Gestacional 16

a natriurese. Batista et al. (2003) também concluíram em seu estudo de revisão

bibliográfica que os exercícios em meio aquático são os mais indicados para as

gestantes.

Executados num nível de baixa intensidade, esses exercícios reduzem a retenção

de líquidos, diminuindo os edemas característicos da gestação. A água, numa

temperatura entre 28 e 30°C, funciona como um termorregulador, prevenindo contra o

aumento exagerado da temperatura intra-uterina. Nos exercícios aquáticos, a freqüência

cardíaca, a pressão arterial e a capacidade vital da gestante é menor comparado com

exercícios em terra. Essas adaptações ocorrem principalmente nas atividades em que a

gestante está imersa até a altura do peito. Na natação, a gestante está com uma porção

menor do seu corpo em imersão, sendo menos afetada pelas forças hidrostáticas da

água. Contudo a natação é um exercício executado em posição horizontal, o que pode

provocar redistribuição de volume central moderada. Além da melhor termorregulação

oferecida pela água, o principal substrato energético utilizado pela gestante nas

atividades em meio aquático é a glicose, o que auxilia na diminuição da hiperglicemia

materna (HARTMANN & BUNG, 1999; ARTAL, DRINKWATER & WISWELL, 1999).

“A aeróbica na água é uma forma segura e benéfica de exercício na gravidez”

(ARTAL, DRINKWATER & WISWELL, 1999).

Segundo Mello e Prada (2003) o exercício físico, principalmente aeróbio, vem

sendo utilizado tanto para o tratamento quanto para a prevenção do DMG, pois aumenta

a tolerância à glicose e diminui a ascensão de insulina plasmática após a ingestão de

glicose. Juntamente com uma dieta apropriada, o exercício pode servir como uma

eficiente manobra terapêutica, posto que aumenta o metabolismo de carboidratos e a

sensibilidade à insulina, ajudando a manter a normoglicemia (ARTAL, 1996;

HARTMANN & BUNG, 1999).

Para Metzger & Coustan (1998) apud Hicks (2000), a gestante deve praticar

atividade física no mínimo em 3 sessões por semana, sendo a duração de pelo menos

15 minutos por sessão, com o intuito de manter um controle glicêmico favorável.

Segundo Hicks (2000), o controle glicêmico ideal (<120mg/dL 2 horas após refeição e

Page 22: Universidade de São Paulo - luzimarteixeira.com.br …  · Web viewO Diabetes Tipo 2 é o mais parecido com o DMG, porém é um estado permanente de resistência à insulina, enquanto

O Exercício Físico no Tratamento do Diabetes Mellitus Gestacional 17

<95 ou 105mg/dL em jejum) é normalmente atingido nas primeiras duas semanas de

adesão a um programa de exercício físico juntamente com controle dietético. Hartmann

e Bung (1999) ainda afirmam que os exercícios aeróbios de intensidade leve à

moderada são as melhores opções para a gestante com DMG e que sessões de

treinamento continuas são melhores que as intermitentes.

Dye et al. (1997) encontraram, em seu estudo, que o exercício físico para

gestantes obesas mórbidas está relacionado com uma menor prevalência de DMG.

Mulheres com IMC≤33 não apresentaram diferenças significativas entre o grupo que se

exercitou e o grupo que não se exercitou. Entre as gestantes com IMC>33, a

porcentagem de presença de DMG foi de 10,1% nas que não se exercitaram e 5,7% nas

que se exercitaram, independente do número de sessões de atividades física ao longo

da semana.

Porém este estudo (DYE et al., 1997) considerou “exercício” qualquer tipo de

atividade física além das atividades diárias das gestantes, com duração mínima de 30

minutos. Esse “exercício” era reportado pela própria gestante e não importava, para a

pesquisa, qual o tipo de atividade praticada (aeróbica, resistência muscular, força

muscular, etc). Isso dificulta conclusões sobre qual tipo de exercício realmente oferece

benefício para gestantes com DMG ou previne o aparecimento desta doença, seja em

gestantes obesas ou não obesas.

Segundo Maganha et al. (2003), um estudo verificou que há melhora no controle

glicêmico após 3 semanas de dieta controlada na presença de um programa de

exercício físico com 3 sessões semanais de 20 minutos de duração. Autores citados

ainda por Maganha et al. (2003) afirmam que os parâmetros mais importantes a serem

avaliados durante o exercício, visando o bem-estar materno-fetal, são a freqüência

cardíaca materna, a pressão arterial materna, a temperatura e a dinâmica uterina

materna e a freqüência cardíaca fetal. Lokey et al. (1991 apud Mumtaz, 2000) afirma

que gestantes podem ser exercitar 3 vezes por semana, 40 minutos por sessão, sem

oferecer riscos para si mesma e para o feto.

Page 23: Universidade de São Paulo - luzimarteixeira.com.br …  · Web viewO Diabetes Tipo 2 é o mais parecido com o DMG, porém é um estado permanente de resistência à insulina, enquanto

O Exercício Físico no Tratamento do Diabetes Mellitus Gestacional 18

O exercício visa diminuir a intolerância à glicose através do condicionamento

cardiovascular (o qual gera o aumento da afinidade da insulina por seu receptor nos

tecidos), do aumento dos transportadores de glicose sensíveis à insulina no músculo, do

aumento do fluxo sangüíneo para tecidos sensíveis à insulina e da redução dos níveis

de ácidos graxos livres (MAGANHA et al, 2003). Segundo Martins (2000), o exercício

aumenta a sensibilidade à insulina em até 40%, porém esse efeito parece ser agudo e

perdido em 2 a 3 dias por inatividade física (ressalta-se que esses dados são referentes

a pessoas diabéticas e não gestantes). Ainda segundo esta autora, em diabéticos não

dependentes de insulina, o exercício moderado pode melhorar a hemoglobina glicosada

e a secreção de insulina sem que seja necessária a manutenção da massa corporal.

Hartmann e Bung (1999), baseados em um estudo de Bung (1991), concordam que

exercícios que envolvem grandes grupos musculares permitem uma melhor utilização

de glicose por aumentar a sensibilidade dos tecidos à insulina.

O músculo em exercício também utiliza glicose independentemente da insulina,

com o transporte direto através do transportador GLUT4, que, estimulado pelo exercício,

migra do citossol para a membrana plasmática para captar a glicose circulante.

Atualmente não são bem conhecidos os mecanismos envolvidos no aumento da

absorção de glicose pelo músculo ativo (durante o exercício), embora algumas

hipóteses têm sido propostas, como o aumento da perfusão do leito vascular, o aumento

do número de receptores com os quais a insulina interage, a atividade de outros fatores

humorais que não a insulina e o aumento da permeabilidade das membranas para com

a glicose (MARTINS, 2000).

Segundo Artal (1996), embora não tenham sido feitos estudos em gestantes sobre

o processo de transporte de glicose em células insulino-sensitivas, devido ao fato de o

DMG ser uma doença que envolve um estado de sensibilidade à insulina alterado, a

atividade física parece ser uma terapia logicamente eficiente, pois a contração muscular

estimula o transporte de glicose através de GLUT4 para dentro das células.

Jaconis (1999) e Hartmann e Bung (1999) alertam para a importância do

fortalecimento dos músculos abdominais e dorsais, com o intuito de, respectivamente,

Page 24: Universidade de São Paulo - luzimarteixeira.com.br …  · Web viewO Diabetes Tipo 2 é o mais parecido com o DMG, porém é um estado permanente de resistência à insulina, enquanto

O Exercício Físico no Tratamento do Diabetes Mellitus Gestacional 19

facilitar a expulsão do feto e evitar dores lombares na gestante. Estes exercícios são

indicados para gestantes com ou sem o DMG. Com o fortalecimento da musculatura

abdominal e facilitação da expulsão do feto, o parto se torna mais rápido e menos

doloroso. Jaconis (2005) também recomenda a execução de exercícios respiratórios

para fortalecer o vínculo materno-fetal e facilitar o parto.

Em resumo, os principais benefícios orgânicos do exercício físico para as

gestantes, tanto as com DMG quanto as não diabéticas, são o aumento da captação de

glicose pelo músculo (GLUT4) e aumento da sensibilidade à insulina no tecido muscular

e adiposo; a redução do LDL colesterol e triglicérides no sangue, aumentando os níveis

de HDL, ou seja, diminuição do risco de aterosclerose; o aumento da força muscular e

conseqüente redução nas dores lombares muito comuns nas gestantes devido à lordose

ocasionada pela mudança no centro de gravidade com o crescimento do útero; a

melhora na tolerância à glicose; a diminuição da resistência periférica à insulina; a

diminuição da concentração de glicose no sangue durante e após o exercício; a melhora

no condicionamento cardiovascular através de exercícios aeróbios; e o maior controle

do peso corporal, prevenindo contra o ganho de peso exagerado (MARTINS, 2000;

DAVIDSON, 1998; HARTMANN & BUNG, 1999).

No âmbito sócio-afetivo, ou seja, no que diz respeito ao estado emocional da

gestante, pode-se dizer que os principais benefícios promovidos pelo exercício físico

são a melhora na disposição geral e sensação de bem-estar, a melhora na auto-imagem

e auto-confiança, a melhora no controle do estresse e a diminuição da depressão que

atinge grande parte das gestantes, principalmente no pós-parto (MARTINS, 2000;

DAVIDSON, 1998; HARTMANN & BUNG, 1999). Ainda para Hartmann e Bung (1999) o

exercício físico proporciona uma sensação de bem-estar, agilidade e capacidade física,

o que é importante não só no parto, mas também para preparar a gestante para a

função materna.

Page 25: Universidade de São Paulo - luzimarteixeira.com.br …  · Web viewO Diabetes Tipo 2 é o mais parecido com o DMG, porém é um estado permanente de resistência à insulina, enquanto

O Exercício Físico no Tratamento do Diabetes Mellitus Gestacional 20

2.2.2. Prescrição de um Programa de ExercíciosÉ importante lembrar que a escolha do programa de exercícios físicos deve levar

em consideração o interesse e idade da gestante, além de seu estado de saúde e

condicionamento físico. Deve-se ter especial atenção com as contra-indicações para a

execução de atividades físicas, por exemplo, doença cardíaca, pouco controle glicêmico,

retinopatia proliferativa, hipertensão não tratada e hipoglicemia (DAVIDSON, 1998).

Para uma eficiente prescrição de programa de exercícios físicos, é importante que o

profissional de Educação Física tenha bem claro o tipo, intensidade, duração e

freqüência do exercício que melhor se aplica ao caso da gestante com a qual trabalha.

TipoSegundo as recomendações do ACOG, é importante trabalhar tanto a capacidade

aeróbia quanto a resistência e flexibilidade muscular com todas as gestantes. Porém

existe uma grande diferença na escolha do programa de exercício para gestantes

anteriormente ativas ou sedentárias.

Muitos autores concordam que as mulheres que já se exercitavam anteriormente à

gestação deveriam continuar seu programa de exercício físico da maneira mais

confortável possível, mesmo que seja necessária uma diminuição na intensidade,

duração e/ou freqüência da atividade. Essas adaptações devem ser iniciadas

imediatamente no caso da gestante sentir náuseas, insônia e mal-estar geral

(HARTMANN & BUNG, 1999). Para Reichelt, Oppermann e Schmidt (2002), a atividade

física deve fazer parte da estratégia de tratamento do DMG, sendo que gestantes

anteriormente ativas devem manter suas atividades, evitando exercícios de alto impacto

ou que predisponham à perda de equilíbrio.

Mulheres anteriormente sedentárias, que é o caso da maioria das gestantes com

DMG, também podem se exercitar, porém em intensidades mais leves que as

anteriormente ativas. Gestantes anteriormente sedentárias estão sob maior risco de

sofrer lesões no tecido muscular e outros tecidos (ARTAL, 1990), portanto o profissional

de Educação Física que acompanhará esta gestante deve tomar as precauções

Page 26: Universidade de São Paulo - luzimarteixeira.com.br …  · Web viewO Diabetes Tipo 2 é o mais parecido com o DMG, porém é um estado permanente de resistência à insulina, enquanto

O Exercício Físico no Tratamento do Diabetes Mellitus Gestacional 21

necessárias para que essas lesões não aconteçam, mantendo o exercício numa

intensidade ideal para a gestante com a qual trabalha. Reichelt, Oppermann e Schmidt

(2002) e Harris (2005) sugerem a caminhada como uma boa opção para controlar o

ganho de peso ocasionado pela gestação, a glicemia e os níveis de colesterol. Outras

atividades de leve intensidade e baixo impacto, que não ofereçam risco de queda,

hipertermia e demais contra-indicações também podem ser praticadas. Hartmann e

Bung (1999) também apóiam o início de um programa de exercícios para gestantes

anteriormente sedentárias.

O profissional de Educação Física que irá orientar a gestante durante seu

programa de exercícios deve atentar para a necessidade de uma boa hidratação e da

execução das atividades em ambientes não muito quentes, para que não haja o risco de

hipertermia, a qual pode ser extremamente prejudicial tanto para a mãe quanto para o

feto. A desidratação causada pelo exercício em ambiente quente pode ser um fator para

a precipitação de trabalho de parto. Uma opção seria os exercícios em meio aquático,

como já citado neste trabalho, a fim de manter um melhor controle térmico. Outra seria a

prática de atividades físicas em períodos matutinos, quando o clima é mais ameno,

utilizando roupas adequadas que permitam livre evaporação do suor e ingerindo água

antes, durante e após os exercícios (ARTAL, DRINKWATER & WISWELL, 1999). Um

sintoma a ser observado para identificar situação de hipertermia é o aumento da

freqüência cardíaca fetal. A temperatura do feto, em condições normais, é 0,5°C mais

alta que a da mãe, o que facilita a dissipação do calor metabólico fetal para o sistema

circulatório materno. Quando a temperatura materna sobe durante o exercício, o

gradiente térmico pode ser revertido dificultando a dissipação de calor pelo feto. Como

conseqüência, a circulação umbilical se eleva e essa demanda circulatória aumentada

leva à taquicardia fetal, um sintoma de sofrimento do feto (ARTAL, DRINKWATER &

WISWELL, 1999).

Embora haja pouca informação sobre programas de fortalecimento muscular

durante a gravidez, exercícios incluindo levantamento de pesos relativamente leves,

com múltiplas repetições, parecem ser seguros e eficazes para gestantes. Porém,

Page 27: Universidade de São Paulo - luzimarteixeira.com.br …  · Web viewO Diabetes Tipo 2 é o mais parecido com o DMG, porém é um estado permanente de resistência à insulina, enquanto

O Exercício Físico no Tratamento do Diabetes Mellitus Gestacional 22

exercícios com contração isométrica, com cargas elevadas ou que favoreçam o

aumento da pressão arterial não são recomendados e podem oferecer sérios riscos. Já

o trabalho de flexibilidade necessita ser bastante individualizado, levando-se em

consideração o aumento da frouxidão ligamentar durante a gestação. Rotinas de

exercícios de alongamento leves a moderados parecem ser indicados para essa

população.

Segundo Hartmann e Bung (1999), os exercícios aeróbicos são os mais indicados

para qualquer gestante, principalmente aqueles que não envolvam levantamento de

pesos. Estes autores relatam que exercícios aquáticos, como natação, e exercícios

cíclicos, como o ciclismo, são as melhores opções para a gestante, por não colocá-las

em risco devido à sua frouxidão ligamentar. Eles ainda classificam alguns outros

exercícios em “recomendáveis”, “aceitáveis” e “não-aceitáveis”, como na seguinte

tabela:

Tabela 2 – Exercícios Recomendáveis, Aceitáveis e Não-AceitáveisExercícios

RecomendáveisExercícios Aceitáveis Exercícios Não-Aceitáveis

Natação Aeróbica Jogos com bolasCaminhada Corrida Levantamento de pesoCiclismo (bicicleta estacionária)

Natação com snorkel Exercícios com risco de quedaExercício em altitude superior a 2500m Mergulho, entre outros

(HARTMANN & BUNG, 1999).

IntensidadeExercícios moderados e até mesmo vigorosos, segundo Harris (2005), podem ser

executados se a gestante está condicionada e acostumada com essa intensidade e se

não houver nenhuma contra-indicação obstétrica, embora a maioria das mulheres

grávidas diminua voluntariamente a intensidade de seus exercícios devido às mudanças

fisiológicas de seu organismo. Segundo Harris (2005), mulheres anteriormente ativas

podem continuar a se exercitar em até 80% a 90% de sua freqüência cardíaca máxima e

70% a 85% de seu VO2máx. Porém, estes dados se referem a gestantes normais não

diabéticas. Talvez essa intensidade seja muito alta para gestantes com DMG,

Page 28: Universidade de São Paulo - luzimarteixeira.com.br …  · Web viewO Diabetes Tipo 2 é o mais parecido com o DMG, porém é um estado permanente de resistência à insulina, enquanto

O Exercício Físico no Tratamento do Diabetes Mellitus Gestacional 23

principalmente devido ao risco de hipoglicemia. Para Hartmann e Bung (1999), não

existem ainda evidências científicas que suportem a prática de exercícios intensos e

prolongados, os quais levem a freqüências cardíacas superiores à 170 bpm. Exercícios

nessa intensidade podem ocasionar dores abdominais e sangramentos em atletas que

continuam seu treinamento vigoroso na gestação (HARTMANN & BUNG, 1999). Batista

et al. (2003) ainda afirmam em seu artigo de revisão que a prática excessiva tanto de

atividades físicas como ocupacionais, ou a alta intensidade de exercícios físicos pode

levar a partos prematuros ou mesmo abortos.

Segundo recomendações do ACOG (American College of Obstetricians and

Gynecologists), atividades aeróbias de intensidades próximas a 60% da FCmáx ou 50%

do VO2máx parecem ser apropriadas para gestantes anteriormente sedentárias,

enquanto intensidades próximas a 70% da FCmáx e 60% do VO2máx são mais

indicadas a gestantes anteriormente ativas que queiram manter seu condicionamento

cardiovascular (ARTAL, O’TOOLE & WHITE, 2003).

O ACOG ainda sugere que um melhor controle da intensidade do exercício pode

ser feito através do esforço percebido e não pelo controle da freqüência cardíaca, a qual

se torna muito variável em resposta ao exercício durante a gestação. Para exercícios

moderados, o score de esforço percebido deve estar entre 12 e 14 (“um tanto difícil”),

numa escala de 6 a 20.

DuraçãoPouco se tem na literatura sobre a duração ideal dos exercícios físicos para

gestantes. O maior problema na prescrição do tempo das sessões de exercícios é o

risco de hipertemia. O ACOG alerta sobre a importância de se manter uma boa

termorregulação, principalmente em sessões de exercício superiores a 45 minutos.

Como alternativa para se evitar a hipertermia, se recomenda a divisão das sessões de

exercício em menores períodos, como por exemplo, mini sessões de 15 minutos de

duração.

Page 29: Universidade de São Paulo - luzimarteixeira.com.br …  · Web viewO Diabetes Tipo 2 é o mais parecido com o DMG, porém é um estado permanente de resistência à insulina, enquanto

O Exercício Físico no Tratamento do Diabetes Mellitus Gestacional 24

É importante alertar também sobre o risco de hipoglicemia nas sessões de

exercícios muito prolongados, principalmente se a intensidade do exercício for alta.

Para mulheres anteriormente sedentárias recomenda-se um tempo máximo de 30

minutos por dia de atividade física, ou seja, um aumento discreto no nível de atividade

da gestante, já que este não é um período ideal para grandes incrementos (ARTAL,

O’TOOLE & WHITE, 2003).

FreqüênciaO ACOG não apresenta recomendações específicas quanto à freqüência das

sessões de exercícios físicos para gestantes. O que se sugere é a adoção da mesma

estratégia recomendada a mulheres não grávidas pelo ACSM: acumular 30 minutos de

exercício físico por dia, na maioria dos dias da semana.

2.2.3. Contra-Indicações e Riscos do Exercício FísicoEm contrapartida aos benefícios da atividade física, deve-se ressaltar que o

exercício pode oferecer riscos para o feto por redirecionar o fluxo sangüíneo para os

músculos e pele da mãe, diminuindo o aporte de oxigênio e nutrientes para o feto.

Também há o risco de hipertermia (principalmente em exercício fora da água),

intensificação das contrações uterinas e acidose respiratória fetal. Contudo, existem

evidências científicas de que o feto consegue suportar bem esses fatores estressores

por curtos períodos de tempo, sem que seu bem estar seja afetado (HARTMANN &

BUNG, 1999).

Além da hipertermia, também existe risco de hipóxia aguda, hipoglicemia aguda,

diminuição crônica do aporte de oxigênio e energia (nutrientes) levando à redução do

período de gestação, retardo do desenvolvimento fetal e subseqüente menor peso ao

nascer. Já os principais riscos para a gestante são as lesões músculo-esqueléticas, as

complicações cardio-vasculares, o parto prematuro, o aborto durante o primeiro

trimestre e a hipoglicemia aguda (HARTMANN & BUNG, 1999).

Page 30: Universidade de São Paulo - luzimarteixeira.com.br …  · Web viewO Diabetes Tipo 2 é o mais parecido com o DMG, porém é um estado permanente de resistência à insulina, enquanto

O Exercício Físico no Tratamento do Diabetes Mellitus Gestacional 25

As contra-indicações para a prática de atividade física podem ser doenças

presentes junto com o DMG e riscos para a saúde tanto da mãe quanto do feto.

Doenças cardíacas, arritmias ou palpitações não explicadas podem ser um sinal de

alerta contra a prática de exercício físico, assim como algumas outras doenças, a

exemplo da tromboflebite, que se caracteriza por veias inflamadas com coágulos de

sangue e da embolia pulmonar recente, caracterizada por coágulo de sangue nos

pulmões. Sangramento vaginal ou ruptura de membranas, retardo do crescimento intra-

uterio, risco de parto prematuro, suspeita de sofrimento fetal (assinalado por uma

redução nos movimentos fetais), hipertensão não controlada, hiperglicemia acentuada,

hipoglicemia, anemia, doença tireoidiana, bronquite crônica, limitações ortopédicas,

obesidade excessiva ou peso corporal muito baixo, histórico de abortos, gestação

múltipla e pré-eclampsia também são fatores que levam à contra-indicação dos

exercícios físicos. (MARTINS, 2000; HANLON & YMCA dos EUA, 1999; DAVIDSON,

1998; ARTAL, 1996; ARTAL, 1990).

Artal (1990) afirma que gestantes sob o risco de parto prematuro não devem se

exercitar, pois o exercício aumenta a secreção de noradrenalina, a qual é responsável

por iniciar a irritabilidade do útero e assim ocasionar contrações precoces e um parto

prematuro. O parto prematuro pode ser muito complicado para bebês de gestantes com

DMG. Devido a hiperinsulinemia fetal, a produção de substância surfactante dos

pulmões do feto fica comprometida. O pulmão fetal ainda não está maduro até a 38ª

semana de gestação, sendo que um parto prematuro anterior a esse período leva à

necessidade de cuidados especiais com o feto, a exemplo da suplementação de

oxigênio, suporte ventilatório e possível reposição de substância surfactante. Neste

caso, segundo Hicks (2000), também é de extrema importância o acompanhamento de

um neonatologista.

É necessária muita atenção na escolha dos exercícios a serem aplicados à

gestante com DMG. Alguns exercícios contra-indicados, citados por Harris (2005), são

saltos, exercícios que envolvem mudanças rápidas de direção (devido ao risco de

lesões nas articulações, dado que no período de gestação os ligamentos ficam mais

Page 31: Universidade de São Paulo - luzimarteixeira.com.br …  · Web viewO Diabetes Tipo 2 é o mais parecido com o DMG, porém é um estado permanente de resistência à insulina, enquanto

O Exercício Físico no Tratamento do Diabetes Mellitus Gestacional 26

frouxos e elásticos por causa das mudanças hormonais ocorridas neste período),

exercícios em altitudes elevadas, atividades que envolvam mudanças na pressão

atmosférica, esportes de contato como hockey, kickboxe, futebol, entre outros (devido

ao risco de choque mecânico na região abdominal), passeios a cavalo (devido ao risco

de queda) e exercícios na posição supinada (devido ao aumento da pressão intra-

abdominal e comprometimento do fluxo sangüíneo para o feto).

Jaconis (1999) também cita alguns exercícios que não devem ser executados

durante a gestação, mesmo nas gestações em que o DMG não está presente:

mergulho, nado borboleta, salto de trampolim, tênis, corrida, basquete, vôlei,

motociclismo, equitação e atletismo. Hartmann e Bung (1999) ainda citam que

exercícios como levantamento de pesos devem ser evitados por provocarem a Manobra

de Valsalva. Estes autores também alertam para o risco da prática de mergulho pela

gestante, pois o feto é submetido a condições hiperbáricas e pode sofrer embolia

quando da descompressão (volta da gestante à superfície).

Harris (2005), contrariando alguns autores, defende que as mulheres que

praticavam jogging e levantamento de pesos antes da gravidez devem continuar sua

prática, contanto que as devidas precauções sejam tomadas. Contudo, durante o

primeiro trimestre, se a gestante apresentar náusea, vômito ou pouco ganho de peso,

ela deve cessar a prática desses exercícios.

A seguir, estão as recomendações da ACOG (American College of Obstetricians

and Gynecologists), segundo Artal, Drinkwater e Wiswell (1999), para a prática de

atividades físicas por gestantes:

Tabela 3 – Recomendações ACOG

GRAVIDEZ E PÓS-PARTO

O exercício regular (pelo menos três vezes por semana) é preferível à atividade

intermitente. Atividades competitivas devem ser desencorajadas;

Exercício vigoroso não deve ser realizado em clima quente e úmido ou durante um

período de doenças febris;

Page 32: Universidade de São Paulo - luzimarteixeira.com.br …  · Web viewO Diabetes Tipo 2 é o mais parecido com o DMG, porém é um estado permanente de resistência à insulina, enquanto

O Exercício Físico no Tratamento do Diabetes Mellitus Gestacional 27

Movimentos balísticos (movimentos bruscos e saltos) devem ser evitados. O exercício

deve ser feito em chão de madeira ou com carpete firme para reduzir o choque e fornecer

segurança para pisar;

Flexão ou extensão profundas das articulações devem ser evitadas devido à frouxidão do

tecido conjuntivo. Atividades que exigem movimentos de saltar e choques ou alterações

rápidas de direção devem ser evitadas devido à instabilidade articular;

O exercício vigoroso deve ser precedido por um período de 5 minutos de aquecimento

muscular. Isso pode ser conseguido andando lentamente ou em bicicleta ergométrica com

baixa resistência;

Exercício vigoroso deve ser seguido por um período de atividade gradualmente

declinante, incluindo alongamento estacionário suave. Como a frouxidão do tecido

conjuntivo aumenta o risco de lesão articular, os alongamentos não devem ser feitos até o

ponto de resistência máxima;

A freqüência cardíaca deve ser verificada em momentos de atividade máxima, As

freqüências máximas e os limites estabelecidos em consulta com o médico não devem ser

excedidos;

Deve-se tomar o cuidado de levantar-se gradualmente do chão para evitar hipotensão

ortostática. Alguma forma de atividade envolvendo as pernas deve ser mantida durante

em pequeno período;

Os líquidos devem ser ingeridos liberalmente antes e depois do exercício para evitar

desidratação. Se necessário, a atividade deve ser interrompida para repor líquidos;

Mulheres que levaram estilos de vida sedentários devem começar com atividade física de

muito baixa intensidade e aumentar os níveis de atividade gradualmente;

A atividade deve ser interrompida e consultado o médico se aparecerem sintomas

imprevistos.

APENAS GRAVIDEZ

A freqüência cardíaca materna não deve excede 140 bpm;

Atividades extenuantes não devem exceder 15 minutos de duração;

Nenhum exercício deve ser realizado em posição supina depois de completado o quarto

mês de gestação;

Exercícios que empreguem a manobra de Valsalva devem ser evitados;

A ingestão calórica deve ser adequada para atender não apenas às necessidades extras

de energia da gravidez, mas também às do exercício realizado;

Page 33: Universidade de São Paulo - luzimarteixeira.com.br …  · Web viewO Diabetes Tipo 2 é o mais parecido com o DMG, porém é um estado permanente de resistência à insulina, enquanto

O Exercício Físico no Tratamento do Diabetes Mellitus Gestacional 28

A temperatura central materna não deve exceder 38°C.

(ARTAL, DRINKWATER & WISWELL, 1999)

Existem alguns sinais para os quais o profissional de Educação Física deve estar

atento quando orienta o programa de exercícios de uma gestante, principalmente aquela

que possui DMG. Estes sinais indicam a necessidade de cessar a prática de exercício e

de recorrer a uma orientação médica. Alguns dos principais sinais citados por Hanlon e

YMCA dos EUA (1999) são: sangramento vaginal, dor no abdômen ou no peito, perda

de líquido pela vagina, inchaço repentino nas mãos, face ou pés, dor de cabeça forte e

persistente, tonturas ou sensação de luzes piscando, redução perceptível dos

movimentos fetais, áreas avermelhadas e doloridas nas pernas, dor forte na área púbica

ou nos quadris, dor ou sensação de ardência ao urinar, fluido vaginal que provoca

irritação, temperatura oral acima de 38°C, náuseas ou vômitos persistentes, contrações

uterinas, palpitações no coração e sensação de falta de ar.

Page 34: Universidade de São Paulo - luzimarteixeira.com.br …  · Web viewO Diabetes Tipo 2 é o mais parecido com o DMG, porém é um estado permanente de resistência à insulina, enquanto

O Exercício Físico no Tratamento do Diabetes Mellitus Gestacional 29

2.3. Recuperação do DMGNormalmente, o DMG regride após o parto, sendo que o problema da intolerância à

glicose é resolvido alguns dias ou semanas após o nascimento do bebê. Os níveis de

cortisol, hPL e estrógeno caem e a demanda por insulina também diminui rapidamente

(HICKS, 2000).

Alguns autores citados por Hicks (2000) estimaram que a probabilidade da mulher

que teve DMG desenvolver Diabetes Mellitus Tipo 2 futuramente é de 30% a 50% e

segundo Brinkman, Lieb e Nuwayhid (1987) a probabilidade da mulher desenvolver

Diabetes Mellitus Tipo 2 em 5 a 10 anos após o parto é de 30% a 60%. Já o risco de um

segundo DMG é de 50% a 70% (HICKS, 2000). Portanto, seis semanas após o parto, a

mulher deve se submeter ao teste GTT – 2h – 75g, que consiste na ingestão de 75g de

glicose em solução via oral e medição da glicemia da paciente em jejum de 8 horas e

após 2 horas do início do teste. O Diabetes é diagnosticado no caso da glicemia de

jejum resultar em valor igual ou superior a 110mg/dL e a glicemia após 2 horas ser igual

ou superior a 140mg/dL. Se, no entanto, este teste resultar negativamente, sugere-se

repeti-lo a cada 3 anos para um melhor acompanhamento.

Por esse motivo é importante que a mulher continue com uma dieta saudável e um

programa de exercício físico, dado o alto risco de desenvolvimento de Diabetes

futuramente (HICKS, 2000). É necessária a observação dos níveis de glicemia dos

primeiros dias após o parto. Reichelt, Oppermann e Schmidt (2002) ainda recomendam

estimular o aleitamento materno e evitar a prescrição de dietas hipocalóricas durante o

período de amamentação. No caso de hiperglicemia nesse período, esses autores

recomendam o uso de insulinoterapia.

Também existe maior risco de desenvolvimento de obesidade, intolerância à

glicose e diabetes mellitus em filhos de mulheres que tiveram DMG (ADA, 2004; CDA,

2003; MUMTAZ, 2000; HICKS, 2000). A intolerância à glicose se dá, principalmente,

durante e após a puberdade dos filhos de gestantes que tiveram DMG, porém a

amamentação parece diminuir o risco de desenvolvimento dessa doença. A obesidade

Page 35: Universidade de São Paulo - luzimarteixeira.com.br …  · Web viewO Diabetes Tipo 2 é o mais parecido com o DMG, porém é um estado permanente de resistência à insulina, enquanto

O Exercício Físico no Tratamento do Diabetes Mellitus Gestacional 30

também é uma doença que comumente atinge filhos de gestantes com DMG. (CDA,

2003).

Page 36: Universidade de São Paulo - luzimarteixeira.com.br …  · Web viewO Diabetes Tipo 2 é o mais parecido com o DMG, porém é um estado permanente de resistência à insulina, enquanto

O Exercício Físico no Tratamento do Diabetes Mellitus Gestacional 31

3. Discussão

Um dos pontos a serem discutidos é como deve ser feito o diagnóstico do DMG.

Alguns autores defendem o rastreamento universal, enquanto que outros tentam traçar

fatores de risco para determinar a probabilidade da gestante desenvolver tal doença e

assim pré-selecionar aquelas que devem executar os testes para diagnóstico do DMG.

Dado que o primeiro teste diagnóstico é o GST (Glucose Screening Test) – 1h – 50g, o

qual pode ser aplicado a qualquer hora do dia, sendo que a gestante não precisa estar

em jejum, parece razoável um rastreamento universal, já que este teste é de simples

aplicação e total viabilidade. Além disso, ainda não se tem embasamento científico

suficiente para determinar com certeza e pontualidade os fatores de risco para o

desenvolvimento do DMG, embora alguns estudos já tenham sido conduzidos com esse

objetivo. Portanto um rastreamento universal se mostra como melhor opção, já que

aumenta as chances de se diagnosticar com rapidez um possível quadro de DMG.

Outro ponto importante a ser discutido é o seguinte: diagnosticado o DMG, quais

seriam os valores glicêmicos de referência e melhor estratégia de medição para

assegurar um bom monitoramento glicêmico?

Normalmente a medição glicêmica é feita quando a gestante está em jejum e 2

horas após o café da manhã. Segundos Hicks (2000), as concentrações glicêmicas

máximas aceitáveis em jejum vão de 95 mg/dL a 105 mg/dL, enquanto o valor pós-

prandial (2 horas após café da manhã) máximo aceitável é 120mg/dL. Porém existem

evidências de que uma glicemia de jejum próxima a 105 mg/dL já representa um score

muito alto, acarretando maior incidência de bebês grandes para a idade gestacional

(LGA – Large for Gestational Age) e maior risco de morte intra-uterina. Portanto o ideal

seria ter como parâmetro de controle a concentração glicêmica de 95 mg/dL para

glicemia de jejum, por se constituir um valor mais seguro.

Outra estratégia de monitoramento e controle glicêmico foi proposta por Veciana et

al. (1995), num estudo em que se comparou a eficiência do monitoramento glicêmico

pré e pós-pradial em gestantes submetidas a insulinoterapia e que não praticavam

Page 37: Universidade de São Paulo - luzimarteixeira.com.br …  · Web viewO Diabetes Tipo 2 é o mais parecido com o DMG, porém é um estado permanente de resistência à insulina, enquanto

O Exercício Físico no Tratamento do Diabetes Mellitus Gestacional 32

exercícios físicos. Esses autores encontraram maior eficiência no monitoramento

glicêmico pós-prandial, no qual eram medidas a glicemia de jejum (antes do café da

manhã) e a glicemia 1 hora após cada refeição do dia. O grupo que se submeteu a essa

estratégia de monitoramento glicêmico apresentou menor incidência de bebês grandes

para a idade gestacional, parto por cesárea, hipoglicemia neonatal e distocia de ombro.

Frente a esses resultados, conclui-se que o monitoramento pós-prandial é preferível ao

monitoramento pré-prandial.

Outra forma de se controlar a glicemia durante o DMG, como foi exposto neste

trabalho, é a prática de exercícios físicos. Embora hoje já estejam claros e reconhecidos

os benefícios da atividade física durante a gestação, inclusive aquela com DMG, não se

têm parâmetros muito exatos para a prescrição de um programa de exercícios físicos.

Não há um consenso sobre tipo, intensidade e volume de exercícios físicos aplicáveis a

essa população. O que ocorre é uma certa concordância entre a maioria dos autores

sobre determinados tipos de exercícios e intensidade de execução dos mesmos. Não se

recomenda a prática de exercícios em elevadas altitudes, exercícios com pesos, jogos

com rápidos deslocamentos e mudanças de direção, corrida, mergulho ou atividades

que ofereçam risco de queda. O que se têm como recomendação geral é a prescrição

de exercícios aeróbios, para uma melhora no condicionamento cardio-respiratório da

gestante, e de exercícios de fortalecimento de músculos abdominais e dorsais,

intencionando uma melhora no trabalho de parto. Deve-se manter em mente também

que os exercícios aeróbios são os principais responsáveis pelo aumento da captura de

glicose sangüínea pelas células (tecido muscular) através de um mecanismo

independente da ação insulínica. Esse processo auxilia enormemente o controle

glicêmico da gestante e funciona como eficiente alternativa para prevenção/tratamento

do DMG.

A maioria dos autores revisados neste trabalho concorda quanto à prescrição de

exercícios em meio líquido para gestantes em geral, inclusive aquelas que apresentam o

DMG. Por reduzir edema e ajudar no controle térmico da gestante, a água se mostra

como uma alternativa interessando a ser trabalhada com essa população. Exercícios na

Page 38: Universidade de São Paulo - luzimarteixeira.com.br …  · Web viewO Diabetes Tipo 2 é o mais parecido com o DMG, porém é um estado permanente de resistência à insulina, enquanto

O Exercício Físico no Tratamento do Diabetes Mellitus Gestacional 33

água também possuem menor impacto articular, o que é de grande valia para as

gestantes, já que seus ligamentos apresentam uma frouxidão característica. Natação,

hidroginástica ou atividades recreativas em imersão são atividades viáveis e devem ser

escolhidas respeitando-se as necessidades e preferências da cliente.

Também se deve atentar para a boa hidratação da gestante durante as sessões de

exercício físico, sendo que o professor de Educação Física deve estar sempre

preocupado em minimizar qualquer tipo de risco tanto para a gestante quanto para o

feto.

Pouca informação se tem acerca da freqüência, intensidade e duração das

sessões de exercício físico a serem prescritos às gestantes, principalmente aquelas

diabéticas. Quanto à intensidade, a maioria dos autores revisados concorda com a

prescrição de exercícios leves a moderados, nos quais a gestante mantenha sua

freqüência cardíaca abaixo dos 70% da sua FC máx, muito embora Harris (2005) alegue

que gestantes atletas possam se beneficiar de uma rotina de exercícios vigorosos sem

apresentar riscos tanto para sua saúde quanto a de seu feto. Contudo, este foi o único

autor revisado que defendeu a prática de exercícios vigorosos durante a gestação.

Entende-se como melhor opção, portanto, a prescrição de exercícios de leve

intensidade para gestante anteriormente sedentárias (que é o caso da maioria das

gestantes com DMG) e exercícios de intensidade moderada para gestantes

anteriormente ativas, promovendo-se assim os benefícios da atividade física sem expor

a gestante a riscos associados à alta intensidade da mesma (hipertermia e hipoglicemia,

por exemplo).

Quanto à duração e freqüência da atividade física para gestantes, se têm ainda

menos informações e pesquisas conclusivas. Como não existem recomendações

específicas sobre freqüência dos exercícios físicos para gestantes, o que se sugere é o

mesmo recomendado para mulheres não gestantes: acumular 30 minutos de atividade

física por dia, na maioria dos dias da semana. Já quanto à duração das sessões de

exercício, sugere-se o máximo de 30 minutos por dia de atividade física, podendo ser

divididos em mini sessões de mais curta duração. Para sessões mais longas (duração

Page 39: Universidade de São Paulo - luzimarteixeira.com.br …  · Web viewO Diabetes Tipo 2 é o mais parecido com o DMG, porém é um estado permanente de resistência à insulina, enquanto

O Exercício Físico no Tratamento do Diabetes Mellitus Gestacional 34

igual ou superior a 45 minutos), deve-se prestar especial atenção à termorregulação da

gestante para evitar a hipertermia e complicações decorrentes. Essas recomendações,

porém, são apenas uma orientação bastante superficial para prescrição de um programa

de exercícios físicos, principalmente para gestantes com DMG, dado que se tem muito

poucas pesquisas sendo desenvolvidas e muito poucos dados coletados para se

embasar cientificamente parâmetros seguros para essa prescrição. Daí a extrema

importância e necessidade de mais pesquisas científicas com o intuito de melhor

conhecer as necessidades das gestantes e o impacto da atividade física no processo de

gestação e prevenção/controle do DMG.

Quanto ao tipo de exercício, a maioria dos autores parece concordar que a melhora

na sensibilidade dos tecido à insulina e a melhora na utilização de glicose pelos tecidos

de modo independente da ação insulínica se dá com a prática de exercícios aeróbios.

Porém, estes não são os únicos exercícios a serem trabalhados durante a gestação. É

de extrema importância que o programa de atividades físicas da gestante envolva,

também, exercícios de fortalecimento e resistência muscular, além do trabalho com a

flexibilidade. De um modo geral, vários autores concordam que exercícios que envolvam

contrações isométricas, aumento da pressão arterial, risco de queda, mudanças rápidas

de direção e mudanças na pressão do meio (por exemplo, mergulho) não são indicados

durante a gestação. Há uma certa discordância no que diz respeito aos exercícios com

levantamento de pesos livres e corrida. Já exercícios como natação, hidroginástica e

caminhada se mostram como os mais bem recomendados entre diversos autores.

Há, indubitavelmente, a necessidade de mais estudos sobre DMG e exercício físico

para que o profissional de Educação Física possa ter maior embasamento quando

estruturar um programa de exercícios para gestantes diabéticas. Uma das suposições

levantadas por Raul Artal, grande pesquisador nesta área, é se o exercício físico bem

estruturado seria capaz de controlar tão bem a glicemia no DMG de modo a substituir a

insulinoterapia. Muito ainda se tem a pesquisar nesta área, que se mostra um amplo

campo de estudo e trabalho.

Page 40: Universidade de São Paulo - luzimarteixeira.com.br …  · Web viewO Diabetes Tipo 2 é o mais parecido com o DMG, porém é um estado permanente de resistência à insulina, enquanto

O Exercício Físico no Tratamento do Diabetes Mellitus Gestacional 35

4. Considerações Finais

Inegavelmente o exercício auxilia no tratamento do DMG, por aumentar a utilização

de glicose pelo tecido muscular e aumentar a sensibilidade periférica à insulina.

Entretanto, os mecanismos pelos quais essas modificações ocorrem ainda não são bem

conhecidos, o que remete à necessidade de estudos mais aprofundados. A maioria dos

autores concorda que os exercícios mais indicados são os aeróbios, os quais

possibilitam um melhor condicionamento cardiovascular e aumentam a afinidade da

insulina por seu receptor nos tecidos musculares. Porém, exercícios de resistência

muscular e alongamento, sem que se atinja a extensibilidade máxima do músculo,

também são importantes.

Exercícios que envolvam qualquer tipo de risco para a gestante, como quedas,

lesões musculares, condições hiperbáricas e dificuldade no retorno venoso são contra-

indicados. A hipertermia também é um grave risco e deve ser controlada, não só na

gestante diabética, mas nas gestantes em geral. Exercícios em imersão com a

temperatura da água controlada são uma boa estratégia tanto para controlar a

temperatura materna quanto para diminuir edemas e retenção de líquidos.

É de extrema importância o trabalho do profissional de Educação Física para a

adequada prescrição do programa de exercícios com o intuito de prevenir e/ou controlar

o DMG, levando-se em consideração todas as particularidades bordadas ao longo deste

trabalho e ainda as características individuais da gestante.

Page 41: Universidade de São Paulo - luzimarteixeira.com.br …  · Web viewO Diabetes Tipo 2 é o mais parecido com o DMG, porém é um estado permanente de resistência à insulina, enquanto

O Exercício Físico no Tratamento do Diabetes Mellitus Gestacional 36

5. Referências Bibliográficas

LIVROS, MONOGRAFIAS, DISSERTAÇÔES E TESES 1. Artal, R., Drinkwater, B. L., Wiswell, R. A. O exercício na gravidez. 2ª edição

brasileira, Ed. Manole Ltda 1999, São Paulo, SP

2. Brinkman III, C. R.; Lieb, S. M.; Nuwayhid, B. S. Management of the diabetic

pregnancy. Ed. Elsevier 1987. New York, New York

3. Connolly, C. C. The liver and glucose homeostasis during pregnancy in The hole of

the liver in maintaining glucose homeostasis. Ed. RG Landes Company – Austin 1994

4. Davidson, M. B. Diabetes Mellitus – Diagnosis and Treatment. 4ª edição, Ed. W. B.

Saunders Company 1998

5. Gatling, W.; Hill, R.; Kirby, M. Pregnancy, contraception and HRT in Shared Care for

Diabetes. Ed. Isis Medical Midia 1998, Oxford

6. Guyton, A. C.; Hall, J. E. Tratado de Fisiologia Médica. 10º Edição, Ed. Guanabara

Koogan, 2002 (tradução), Rio de janeiro, RJ

7. Hanlon, T. W. & YMCA dos EUA. Ginástica para gestantes. 1ª edição brasileira, Ed.

Manole 1999, São Paulo, SP

8. Jaconis, D. N. Interesses/Necessidades da Mulher Fisicamente Ativa na Gestação e

Adequação dos Programas de Atividades Físicas Específicos. 1999, 65f, Monografia

(Graduação em Educação Física) – Escola de Educação Física e Esporte da

Universidade de São Paulo

Page 42: Universidade de São Paulo - luzimarteixeira.com.br …  · Web viewO Diabetes Tipo 2 é o mais parecido com o DMG, porém é um estado permanente de resistência à insulina, enquanto

O Exercício Físico no Tratamento do Diabetes Mellitus Gestacional 37

9. Martins, D. M. Exercício físico no controle do diabetes mellitus. Ed. Phorte Editora

Ltda 2000, São Paulo, SP

10.Rey, L. Dicionário de termos técnicos de medicina e saúde. 2ª Edição, Ed.

Guanabara Koogan 2003, Rio de Janeiro, RJ

ARTIGOS1. American Diabetes Association (ADA). Gestational Diabetes Mellitus. Diabetes Care,

v.27 suppl.1 pp:S88-S90, Jan 2004

2. Artal, R. Exercise: An Alternative Therapy for Gestational Diabetes. The Physycian

and Sportsmedicine, v.24 n.3, 1996

3. Artal, R. Exercise and Diabetes Mellitus in Pregnancy: A Brief Review. Sports

Medicine, v.9 n.5 pp: 261-5, 1990

4. Artal, R.; O’Toole, M.; White, S. Guidelines of the American College of obstetricians

and Gynecologists for Exercise During Pregnancy and the Postpartum Period. Br. J.

Sports Med., v.37 pp:6-12, 2003

5. Batista, D. C.; Chiara, V. L.; Gugelmin, S. A.; Martins, P. D. Atividade Física e

Gestação: Saúde da gestante Não Atleta e Crescimento Fetal. Rev. Bras. Saúde

Matern. Infant., v.3 n.2 pp:151-158, 2003

6. Bloomgarden, Z. T. Diabetes Issues in Women and Children. Diabetes Care, v.26

n.8, 2003

Page 43: Universidade de São Paulo - luzimarteixeira.com.br …  · Web viewO Diabetes Tipo 2 é o mais parecido com o DMG, porém é um estado permanente de resistência à insulina, enquanto

O Exercício Físico no Tratamento do Diabetes Mellitus Gestacional 38

7. Canadian Diabetes Association (CDA). Gestational Diabetes Mellitus. Clinical

Practice Guidelines pp:S99-S105, 2003

8. Corrêa, F. H. S.; Gomes, M. B. Acompanhamento Ambulatorial de Gestantes com

Diabetes Mellitus no Hospital Universitário Pedro Ernesto – UERJ. Arq. Brás.

Endocrinol. Metab., vol.48 n.4 pp:499-503, 2004

9. Crowther, C.A.; Hiller, J. E.; Moss, J. R.; McPhee, A. J.; Jeffries, W. S.; Robinson, J.

S. Effect of Treatment of Gestational Diabetes Mellitus on Pregnancy Outcomes. The

New England Journal of Medicine, v.352 n.24 pp:2477-86, 2005

10.Dye, T. D.; Knox, K. L.; Artal, R.; Aubry, R. H.; Wojtowycz, M. A. Physical Activity,

Obesity, and Diabetes in Pregnancy. American Journal of Epidemiology, v.146 n.11

pp:961-5, 1997

11.Harris, G. D. Exercise and the Pregnant Patient. Women’s Health in Primmary Care,

v.8 n.2, 2005

12.Hartmann, S.; Bung, P. Physical exercise during pregnancy – physiological

considerations and recommendations. J. Perinat. Med., v.27 pp:204-215, 1999

13.Hicks, P. Gestational Diabetes in Primary Care. Medscape General Medicine, v.2 n.1,

2000

14.Langer, O.; Conway, D. L.; Berkus, M. D., et al. A comparison of glyburide and insulin

in women with gestational diabetes mellitus. N. Engl. J. Med., v.343 pp:1134-1138,

2000

Page 44: Universidade de São Paulo - luzimarteixeira.com.br …  · Web viewO Diabetes Tipo 2 é o mais parecido com o DMG, porém é um estado permanente de resistência à insulina, enquanto

O Exercício Físico no Tratamento do Diabetes Mellitus Gestacional 39

15.Leturque, A.; Ferre, O.; Burnol, A-F.; Kande, J.; Maulard, P.; Girard, J. Glucose

Utilization Rates and Insulin Sensitivity In Vivo in Tissues of Virgin and Pregnant

Rats. Diabetes, v.35 pp:172-7, 1986

16.Maganha, C. A.; Vanni, D. G. B. S.; Bernardini, M. A.; Zugaib, M. Tratamento do

Diabetes Melito Gestacional. Rev Assoc Med Bras, v.49 n. 3 pp:330-4, 2003

17.Mumtaz, M. Gestational Diabetes Mellitus. Malaysian Journal of Medical Sciences,

v.7 n.1 pp:4-9, 2000

18.Naylor, C. D.; Phil, D.; Sermer, M.; Chen, E.; Farne, D. Selective Screening for

Gestational Diabetes Mellitus. The New England Journal of Medicine, v.337 n.22

pp:1591-6, 1997

19.Prada A. C. B., Mello, M. A. R. Modulação pelo exercício físico da ação periférica da

insulina durante a prenhez em ratas. Revista Mackenzie de Educação Física, v.2 n.2

pp:85-99, 2003

20.Reichelt, Oppermann e Schmidt Recomendações da 2ª Reunião do Grupo de

Trabalho em Diabetes e Gravidez. Arq Brás Endocrinol Metab, v.46 n.5 pp:574-81,

2002

21.Ryan, E. A.; O’Sullivan, M. J.; Skyler, J. S. Insulin Action During Pregnancy: Studies

with the Euglicemic Clamp Technique. Diabetes, v.34 pp: 380-9, 1985

22.Silva, J. C.; Taborda, W.; Becker, F.; Aquim, G.; Viese, J.; Bertini, A. M. Resultados

Preliminares do Uso de Anti-hiperglicemiantes Orais no Diabete Melito Gestacional.

Ver. Brás. Ginecol. Obstet., v.27 n.8 pp:461-6, 2005

Page 45: Universidade de São Paulo - luzimarteixeira.com.br …  · Web viewO Diabetes Tipo 2 é o mais parecido com o DMG, porém é um estado permanente de resistência à insulina, enquanto

O Exercício Físico no Tratamento do Diabetes Mellitus Gestacional 40

23.Veciana, M.; Major, C. A.; Morgan, M. A.; Asrat, T.; Toohey, J. S.; Lien, J. M.; Evans,

A. T. Postprandial versus Preprandial Blood Glucose Monitoring in Women with

Gestational Diabetes Mellitus Requiring Insulin Therapy. The New England Journal of

Medicine, v.333 n.19 pp:1237-1241, 1995

24.Volpato, G. T.; Damasceno, D. C.; Rocha, R.; Campos, K. de E.; Rudge, M. V. C.;

Calderon, I. de M. P. Diabetes, Exercício Físico e Gestação Diabetes Clínica, v.9 n.4

pp:275-9, 2005